Ela é uma estudante de moda, filha de pais famosos e tem uma amiga sem filtro que a acompanha desde sempre. Ela o conhece em uma das últimas festas que vai na faculdade e, se alguém contasse a ela todos os momentos que eles passariam juntos, a estudante provavelmente teria uma crise de risos. Ela não era de namorar, principalmente com um garoto com a fama dele.
– Meu amor – ela acariciava os cabelos negros e rebeldes do garoto, que mantinha os olhos fechados –, eu te amei desde que te vi pela primeira vez. Isso você sabe, mas vou te contar uma coisa que você ainda não sabe – ela respirou fundo e, com um sorriso no rosto, prosseguiu: – Apesar de tudo, eu ainda te amo – a declaração foi seguida por uma lágrima única.
Ali, naquele quarto, ela se lembrou de todos os momentos bons que tiveram juntos, como a noite em que conversaram pela primeira vez...
– Layla, eu não quero ir! Já disse que tenho que estudar para as provas finais e todos sabemos que nas festas deste tal de Steve só tem drogas e bebidas – colocou o travesseiro em cima da cabeça, evitando olhar a amiga.
– , colega, me fala de uma festa que não tenha drogas nem bebida na faculdade que aí te poupo dessa – Layla falou com a típica voz ácida que usava quando não aprovava o comportamento da amiga.
– Mas as provas começam semana que vem, me livra dessa, amiga – a estudante de moda implorava.
– Não mesmo e é por este mesmo motivo que vou te arrastar para essa festa. , você ficou um ano inteiro trancada no quarto com seus croquis, quando não estava lá estava na sala comum, estudando, estudando e estudando. Se existe alguém preparada para a vida lá fora e para essas provas é você e por isso merece um descanso – Layla despejou em cima da amiga. – Se veste e em cinco minutos volto aqui, se não estiver pronta te levo de pijama – e com isso saiu, deixando de baixo da coberta, com um bico quase chegando nos seus joelhos.
Ela sabia, pelo tom da amiga, que ela não estava brincando e com certa raiva cedeu à pressão. Levantou-se, tirando o pijama de coraçõezinhos e vestiu uma pequena peça de jeans preto uma regata soltinha branca, um colete com franjas, preto e uma bota de cano médio.
– Você ainda me paga, Layla – ela disse olhando com desaprovação para si mesma, no grande espelho que havia entre sua cama e a da amiga.
Exatos cinco minutos depois, quando ela colocava um colar e algumas pulseiras, os cabelos cor de fogo da estudante de Publicidade e Propaganda apareceram atrás da porta. Layla estava com uma pequena garrafa de Absolut na mão. Pelo visto a festa já havia começado no restante da casa.
– Que bom que não vai precisar mostrar seu pijama para todo o campus! – Layla falou, revelando um sorriso com dentes extremamente brancos. – Veste isso – ela pegou dentro da cômoda que dividia com uma sandália estilo gladiadora, com um salto impossivelmente alto.
– Olha, já estou indo nesta festa ridícula com você, você sabe o que acho dessas festas. Não vou ceder mais uma vez com você, senhorita Campbell – pegou uma pequena bolsa preta, colocou no ombro e com as mãos na cintura olhou a amiga. – Ou vou com minha bota ou não vou – Layla colocou as mãos na cintura, olhando para baixo, para a amiga, ligeiramente mais baixa, mas um tanto intimidadora.
A amiga era realmente linda, ficaria melhor com os saltos, mas como já estava ganhando muito fazendo com que ela fosse à festa não abusaria da sorte.
– Tá linda assim. Agora vamos logo que a festa já está bombando – a ruiva pegou a amiga pelo braço e a puxou para fora do pequeno dormitório, fechando a porta as suas costas.
The Illest tocava alto quando elas se aproximaram da Psi Upsilon, a fraternidade dos meninos no campus. A cem metros da entrada já olhava horrorizada os efeitos da festa. Várias colegas apenas com roupas intimas faziam bodyshot com vários meninos que ela nunca havia visto e enquanto seguia para a entrada da casa teve que pular várias possas de vômito pelo gramado.
– Steve sabe como dar uma festa – Layla gritou acima da música, com os olhos brilhando.
Ali definitivamente poderia ser o seu lugar, mas a estudante de moda se sentia deslocada. Layla estava certa quando disse que fazia um ano que ela não saia de seu quarto, um ano que não sabia o que eram as festas de faculdade.
– Vem, vamos entrar – a ruiva pegou no braço da amiga novamente e a puxou para dentro da casa.
A música estava mais alta lá dentro, era difícil enxergar qualquer coisa por conta do gelo seco que de minuto a minuto invadia todos os cômodos e a concentração de pessoas também era maior. não sabia que podia ter tantas pessoas por metro quadrado em um local, mas aquela sala estava desafiando a lógica.
– Vou pegar bebidas – Layla gritou e a amiga concordou com a cabeça, dando mais um passo para dentro da casa.
– Opa, gata, foi mal – um garoto com a cabeça raspada e com uma camiseta do AC/DC se desculpou quando tropeçou e derramou um copo inteiro de cerveja na regata de .
– Porra cara, é cego? – ela levantou as mãos, indicando a blusa, que agora estava grudada em seu corpo, mas foi como se estivesse falado sozinha, pois o garoto já tinha saído do seu campo de visão.
– Sabia que faltava pouco para você libertar sua vadia interior – Layla gritou ao seu lado, entregando a amiga uma garrafa verde, de Stella Artois e tomando um gole direto da boca da sua própria. Ela se referia à blusa, agora transparente da amiga, que estava colada ao corpo.
– Isso foi um idiota que me deu um banho – reclamou, com vincos na testa.
¬– Idiota ou não, foi uma boa ideia – a ruiva mordeu o lábio inferior e sorriu para um rapaz que as estava encarando a algum tempo. Ela então levou a garrafa de cerveja até seu decote e mantendo o sorriso sedutor virou o conteúdo da mesma em seu corpo, fazendo a blusa azul, soltinha, ficar justa ao corpo, onde o liquido percorria.
– Você não presta, não sei como ainda ando com você – balançou a cabeça com desaprovação, mas sorrindo para a amiga.
– Anda comigo porque no high school era pior que eu e sente saudade da putaria – Layla disse, sorrindo e a amiga ponderou, tomando um gole longo e refrescante de sua cerveja. – Agora vem, eu quero te apresentar às pessoas que você deve manter contato se quiser curtir pra valer os últimos seis meses da faculdade – Layla puxou pelo braço, para o meio da pista de dança, atravessando e seguindo em direção ao bar.
[...]
Somebody say: hey we want some pussy
– Hey, we want some pussy – seis caras brotaram no meio da pista de dança, vestidos como Village People.
estava com os cotovelos apoiados no balcão do bar há aproximadamente uma hora, bebendo sua sexta ou sétima Stella quando os garotos entraram. No meio de toda a agitação ela pode reconhecer , estudante de economia, vestido de policial, enquanto Pete, amigo de , estava de índio. Os outros garotos ela não reconheceu, mas julgou serem parte da fraternidade dos garotos.
You see, me and my homies like to play this game We call it amtrak but some call it the train
Ela se levantou da banqueta para ter uma melhor visão do show que estava acontecendo no meio da pista de dança e um sorriso logo surgiu em seu rosto quando viu tirar o quepe e o atirar para cima, com um sorriso safado no rosto, o que já era marca registrada e começar a dançar no ritmo da música. Os outros Village People seguiram seu exemplo e começaram uma série de movimentos obscenos, coreografados, no espaço que tinham ali.
Algumas pessoas, um pouco conservadoras ou que apenas não estavam gostando da exibição de movimentos sexuais no meio da sala, se retiraram, mas muitas outras vieram para ver os garotos mais cobiçados do campus darem um show proibido para menores de dezoito anos.
– Isso não devia ser permitido para pessoas com problemas cardíacos – murmurou, sem se dar conta de que estava de boca aberta e com o mesmo sorriso bobo nos lábios.
Os garotos se espalharam na sala depois de um minuto de muito exibicionismo; cada um puxou uma garota para dançar. A atenção da futura estilista estava voltada para e seu olhar o seguiu até o garoto puxar uma garota loira, que estava ao seu lado, no bar e começar a dançar com ela.
A história com era um tanto clichê: ele era melhor amigo do melhor amigo dela, sempre estava com alguma garota, mas isso não impedia de ter um queda gigante pelo garoto de cabelos escuros e olhos desde que entrara na faculdade...
A música acabou, dando inicio à 23, da Miley com Wiz e Juicy J. voltou sua atenção para o bar, pegou sua garrafa de Stella, que estava pela metade e bebeu um longo gole, sentindo um gosto um pouco amargo, mas o apaziguando com outro grande gole.
– Sabia que posso te prender por isso? – ela sentiu uma respiração quente em sua nuca e do lado direito de sua visão viu uma algema enrolada em pelúcia vermelha.
– Por beber em uma festa? Pode tentar – a estudante respondeu com acidez na voz. Não estava com paciência para lidar com nenhum bêbado saliente aquela noite.
– Não desafiaria as autoridades se fosse você – mãos firmes a viraram de costas para o bar e a colocaram de frente a um corpo escultural, vestido de couro, que ela reconheceria de longe.
– – ela gaguejou o nome do rapaz.
– Hime – ele abriu o famoso sorriso de lado, fazendo o coração da estudante dar um solavanco, depois de uma brusca parada.
Ela assumiu uma postura séria, estendendo a mão e logo se arrependendo profundamente daquilo, recolhendo a mão, sem graça.
– – ele simplificou –, dança comigo – ignorou o gesto constrangido da garota e estendeu uma mão a ela.
– Eu não... Não danço. Não acho que esteja bêbada o suficiente para tentar, pelo menos – ela respondeu, sincera.
– Michael! – gritou o nome do rapaz que estava responsável pelo bar, acima da música – Vamos resolver o seu problema agora – ele disse sorrindo para a garota.
[...]
– Shiu! Você vai acordar a Layla – praticamente gritava, no corredor.
Eram cinco horas da manhã de um sábado que prometia muita ressaca para todos que estavam na festa e os dois estavam chegando agora.
– Mas você não disse que ela ia dormir com o Pete? – tentou sussurrar, mas saiu mais alto do que ele planejava.
– Ih, é mesmo – a estudante de moda tentou segurar o riso em uma tentativa inútil e soltou uma alta gargalhada enquanto se apoiava no ombro do rapaz, que a segurava pela cintura.
Os dois estavam ligeiramente embriagados e em uma intimidade maior do que jamais sonhara.
– Meu melhor amigo tá dormindo com sua melhor amiga – declarou – Sabe o que isso significa? – ele perguntou, parando de andar e girando o corpo em direção à garota, que passou a encará-lo.
– Significa que: a) amanhã ela vai estar nas nuvens e fazendo planos para um futuro casamento ou b) amanhã ela vai passar o dia de pantufa e pijama, vendo De Repente 30 e Diário de Uma Paixão – a garota respondeu em um lapso de sobriedade.
– Alguém já te disse que você fica linda quando fala sério? – se distraiu da sua pergunta inicial, enquanto passava o indicador em um vinco que se formava na testa de .
– Alguém já disse que você, apesar de toda a sensualidade, não tem muita criatividade para cantadas? – ela perguntou, encostando na parede enquanto o garoto dava um passo para frente.
– Então quer dizer que você vai dormir comigo? – ele perguntou aleatoriamente, a distraindo com seu famoso sorriso, que tinha marca registrada.
– Essas palavras nunca saíram da minha boca – a garota sorriu, tímida, mas ao contrário do que seu corpo revelava, seu olhar ardia em chamas.
– Precisa que eu as faça sair daí? – o jovem questionou, roçando seus lábios nos dela, sorrindo de leve.
– Acho que quem está precisando de alguma coisa aqui é você – ela sorriu de olhos fechados enquanto projetava o quadril para frente, encontrando um volume extra nas calças de .
– Vai me ajudar? – ele perguntou, ofegante e chegando mais perto, causando um atrito que levou a garota às alturas.
Sem forças para responder, lançou suas mãos à nuca do rapaz, o puxando para um beijo ofegante.
[...]
Escuro e doloroso. Eram as percepções da estudante quando abriu os olhos. A palavra ressaca veio como um murro em seu estômago, a fazendo choramingar por ter bebido tanto. Ela esticou braços e pernas, se espreguiçando e soltou um longo suspiro, se lembrando de que havia passado a noite com . Como é? Havia mesmo passado a noite com ele? Onde ele estava então?
Como se estivesse esperando por essa pergunta ele abriu a porta silenciosamente e entrou, carregando um saco de papel pardo na mão direita.
– Então quer dizer que a dorminhoca acordou? – ele sorriu ao depositar o saco de papel, ainda sem revelar o conteúdo, em cima do criado mudo e se sentar aos pés da cama da garota.
– Você saiu assim? – ela perguntou, intrigada com a semi nudez do rapaz.
– Acho que ontem nos empolgamos de mais. Quem diria que você tem todo esse fogo em?! – ele respondeu, subindo sua mão nas pernas de , que congelou – Enfim, hoje só encontrei minha calça – ele terminou, se jogando de costas na cama. – Trouxe café da manhã.
Sem responder nada a garota logo se pôs de pé, pois uma fome descomunal a possuía. Só então ela se deu conta de que estava apenas de roupas íntimas – e a parte de baixo nem era dela.
– Agora sei onde a minha cueca foi parar – riu sacana, sem tirar os olhos da bunda da garota, que ruborizava em um vermelho escarlate.
– Eu... Eu.. Eu já te entrego – a garota respondeu, sem pensar, deixando o saco de papel de volta em cima do criado.
– Ah sim, eu espero com todo o prazer – ele respondeu, aumentando o sorriso e só então se deu conta do que tinha falado.
– Babaca! – ela disse, em meio as gargalhadas de e as suas risadas constrangidas.
– Vem cá, vem – ele a puxou pela cintura, ainda rindo. – Adoro você assim, toda timidazinha, mas se tem uma coisa que adoro mais é sexo matinal e com você tenho certeza de que vou passar a gostar mais...
– Aqui amiga, espero que goste e use no grande dia – Layla estendeu uma pequena caixa de veludo vermelho em direção à , que com os olhos já banhados em lágrimas pegou a caixinha com as duas mãos, sorrindo fraco.
– Vai me fazer borrar a maquiagem – ela disse em uma voz fraca.
– Estamos aqui para fazer o teste, pode borrar o quanto quiser, não é, dona moça? – Layla sorriu para a loira que estava com a paleta de maquiagens na mão e olhou atravessado para ela. – É uma gargantilha. Algo velho. Agora precisa de algo novo, algo azul e algo emprestado, é assim, não é?
– É, amiga, é assim que funciona – a estilista respondeu à amiga, pegando a gargantilha de ouro da caixinha. Um pingente de coração com pequenos brilhantes reluziu, pendurado na correntinha.
se assustou ao ver o pequeno coração balançando, e então não conseguiu conter as lágrimas.
– Porque tá fazendo isso comigo, amiga? – ela perguntou, passando os dois braços pelo pescoço de Layla, a apertando em um abraço.
– Me desculpa se não gostou – a amiga se desculpou. – Eu só não queria que você se esquecesse. Não queria que virasse as costas e ignorasse o seu passado. Fiz mal? – ela perguntou com cara de cachorro que cai de mudança.
– Não, amiga, não fez mal – ela limpou as lágrimas e esboçou um sorriso. – Agora você tem que me ajudar. Eu sei que os rapazes estão aprontando alguma coisa, ainda não sei o que, mas me ajuda.
– Pode falar, não é à toa que vou ser a sua madrinha nesse casamento – Layla inflou o peito, convencida.
– Eu sei que ele está por trás disso, eu não me importo com a surpresa, confesso que estou até um pouco ansiosa, mas não deixa eles mudarem a cor das gravatas. Todas devem ser cinza, obedecendo o degradê que agente escolheu aquele dia lembra?
– Meu Deus, como você não está surtando? Onde tá a porra do lance emprestado, que eu não acho em lugar nenhum? – Layla jogava as almofadas do salão onde estavam se arrumando para cima a fim de achar a presilha que a mãe de havia emprestado para a filha prender o cabelo em um coque.
– Imagino como a coitada vai ficar quando for a sua vez de subir no altar – Anna, mãe da estilista, apareceu com uma presilha cravejada de esmeraldas na mão – Aqui querida – entregou-a para a moça que estava fazendo o penteado e então ela e Layla deram um passo para trás, observando a garota.
A presilha, no cabelo era algo emprestado, o anel no dedo médio algo novo, a calcinha algo azul e a gargantilha com o coração algo velho.
– A limo chegou. Pronta para casar? – uma das maquiadoras colocou a cabeça para dentro da grande sala, avisando.
– Arrasa amiga! – Layla gritou, e sorriu, pegando involuntariamente o pingente de coração e respirando fundo. Era agora o tão esperado dia.
– Vocês estão saindo todos os finais de semana desde aquela noite, quando ele não dorme aqui em casa você dorme na casa dele, não param de se falar pelo celular, se isso não for um namoro, ai querida, eu não sei de mais nada.
– Mas amiga, é o , todos conhecem a fama dele, ele não é de namorar.
– , ele podia não ser de namorar, mas acho que todos aqui concordamos que houve uma mudança nos últimos tempos, não acha? Ou melhor, no último mês.
– Bem, disso não posso discordar, em todo esse tempo de curso nunca vi ele com uma menina assim como ele está comigo – quase não estava conseguindo conter minha animação. – Layla, você acha que ele está apaixonado por mim?
Antes que ela pudesse abrir a boca para responder, meu celular começou a tocar uma música conhecida. Na verdade era a que mais havia tocado no último mês. Friends, o toque do .
– Falando no diabo, aparece o rabo – Layla riu e se jogou na cama enquanto eu atendia a ligação, com um sorriso no rosto. A conversa foi rápida e logo desliguei, suspirando.
– Ele me chamou para sair hoje à noite!
– Jantar em plena terça-feira. Se ele não te quer como companheira para a vida, eu não sei qual é a desse garoto.
– Te respondo hoje – eu disse determinada.
– Como assim? – Layla se sentou na cama.
– Vou perguntar o que a gente é – respondi simples, em um surto de coragem que deixou ela sem fala pela primeira vez na vida. – Agora vem, me ajuda a escolher uma roupa.
[...]
– Então é aqui que Edwards traz suas conquistas diárias? – perguntei em um tom brincalhão, assim que me sentei em uma cadeira de veludo vermelha com o estofado alto, em um restaurante chique fora do campus.
– Limito minhas conquistas a minha cama – ele respondeu com um olhar sagaz.
– Fico grata ao saber que não sou considerada apenas mais uma conquista diária, então. Acredite, isso faz muito bem ao meu ego – eu tentava manter o tom de brincadeira, mas a pergunta voltou a minha mente. Respirei, tentando manter a conversa no mesmo tom: – O que eu sou?
– Não acredito! Edwards? É você mesmo, cara? – uma voz o chamou do fundo do restaurante, as minhas costas.
– Brad, é você? – se levantou para dar um abraço no rapaz que acabara de chegar. Um amigo de longa data supus.
– Cara, quanto tempo a gente não se vê! Desde o último ano, quando você recusou a bolsa de futebol para ir fazer Economia, não é?
– Foi isso mesmo, cara, e você, tá fazendo bom proveito dela?
– O futebol abre portas, cara e pernas também. Mas quem é a gata? – Brad perguntou, se referindo a mim presumi.
– Essa é minha amiga, . , esse é o Brad, jogava comigo no time da escola – respondeu com um sorriso de várias lembranças.
Bem, a pergunta tinha sido respondida afinal. Uma amiga. Era aquilo.
O tempo foi se estendendo e Bradley não tinha semancol, pois depois de uns dez minutos em pé ele me pediu licença e se sentou na cadeira ao meu lado. Nos primeiros cinco minutos eu concluí que não tinha ido com a cara dele, nem era por causa do olhar presunçoso, os olhos azuis, acompanhados pelo cabelo ruivo e bíceps extraordinários; ele era espaçoso, prepotente e, pela parte que prestei atenção da conversa, tratava as mulheres como lixo. Tirando o fato dele ainda não ter percebido que aquilo era um jantar a dois.
Mais alguns minutos se passaram e eu já havia estralado meus dedos de todas as maneiras possíveis, a fim de mostrar meu desconforto com toda aquela situação. Levantei-me para ir ao banheiro quando Bradley começou a contar sobre suas aventuras sexuais na Polônia. Eu não era obrigada.
Liguei para Layla três vezes, uma chamou até cair e as outras duas “desligado ou fora da área de cobertura”, o que era sinal de “estou com algum boy, não me incomode”. Certo, se até minha amiga tinha me abandonado, eu ia tomar uma providência. Voltei para a mesa decidida.
– , eu tenho alguns croquis para entregar – falei quando cheguei ao seu lado na mesa, interrompendo Brad, que ria sem parar de alguma piada que ele mesmo contou, aposto. – O jantar foi ótimo – falei com a voz pingando ironia e virei as costas, deixando o restaurante em passos firmes.
Não demorou muito para que eu escutasse seus passos atrás de mim.
– , , , espera! – ele dizia ofegante e alguns instantes depois senti sua mão me segurar o ombro.
– Esperar o que, ? Você encontrar outro amigo e ficar compartilhando suas atividades sexuais enquanto eu escuto? Esperar você me ignorar em um jantar que era para ser a dois? Não, obrigada, eu realmente tenho coisas melhores para fazer – tentei me virar, mas ele soltou meu ombro e me segurou pelo punho, me fazendo ficar completamente de frente para ele e então se ajoelhou.
– Mas que porra você...
– Cala a boca – ele me interrompeu, com um sorriso tímido no rosto e aquilo era novo.
Logo fiz o que ele pediu, pois um frio correu por todo o meu corpo. Que merda ele estava fazendo?
– Eu estava nervoso e usei o Brad como distração, me desculpa, foi um grande erro da minha parte, que prometo nunca mais cometer – ele começou e então trocou de posição, ficando ajoelhado apenas no joelho direito – , todo esse mês que passamos juntos foi um mês de várias descobertas para mim e a maior descoberta foi que eu gostei de ficar com você, só com você, durante esse tempo. Você sabe qual era a minha fama, mas eu estou disposto a mudar isso – ele colocou a mão no bolso da camisa e só então pude notar um volume extra ali. Ele tirou uma pequena caixinha de veludo azul dali de dentro.
– Mas...
– Cala a boca – ele brigou de novo, com o sorriso sacana dessa vez – O-Que-Quer-Que-Seja-Hime, você quer namorar comigo e cuidar do meu coração? – o sorriso tímido voltou e, junto com ele, ele puxou da caixinha de veludo uma gargantilha de ouro, com um coração cravejado de pequenos brilhantes.
– Porra – falei o que veio em minha mente.
– Posso tomar isso como um sim? – ele tombou a cabeça para o lado, esperando ansiosamente e então o puxei para cima, colando nossos lábios em um beijo apaixonado.
– É claro que sim, O-Que-Quer-Que-Seja-Edwards – eu disse em meio aos seus lábios e pude senti-lo sorrindo.
Estava faltando exatamente um mês para o fim das aulas, para nossa formatura e para finalmente a vida adulta. Eu estava me arrumando para jantar na casa dos pais do , fora do campus. Estávamos num recesso de uma semana para nos prepararmos para as provas finais.
– Sexy na medida certa e sem um pingo de vulgaridade! – Layla aplaudiu quando parei em frente ao espelho que ficava no meio de nossas camas.
Eu estava com um vestido creme rendado, de mangas compridas e um pouco abaixo do joelho, um scarpin da mesma cor e uma bolsa de mão perolada. A maquiagem estava básica, como gostava e eu estava ansiosa em um nível que não consigo descrever.
– Você tem noção de que depois de quatro meses namorando o eu vou conhecer os pais dele? Tipo, essa noite! – eu me sentei na cama, estralando meus dedos. – Será que eles vão gostar de mim?
– Eles vão te amar – respondeu, abrindo a porta do nosso quarto, com seu sorriso de lado disposto em seus lábios rosados.
– Ei garoto! Você tem noção de que poderia me pegar pelada? A gente não entra assim no quarto das pessoas – Layla começou a reclamar, mas foi como se ela estivesse no mudo, enquanto ele caminhava em minha direção. Estava com uma camisa branca, uma calça jeans escura e um sapatênis preto; seus cabelos, que geralmente estavam bagunçados, foram penteados para o lado – não sei como conseguiu, mas ele tinha ficado mais lindo assim.
– Você está mais linda ainda hoje – ele sussurrou em meu ouvido, depositando a mão na base de minhas costas e colando nossos corpos.
– Estou ansiosa – eu disse soltando um riso nervoso e o olhando nos olhos.
– Vai dar tudo certo – ele piscou para mim, me dando um beijo casto e me puxando para fora do quarto.
– Usem camisinha! – Layla gritou, enquanto fechava a porta atrás dela.
[...]
Da Columbia University até New Jersey, onde os pais de moravam era cerca de duas horas e meia; saímos do campus quatro da tarde, chegaríamos em tempo para o jantar e passaríamos dois dias com eles.
– Se importa de ir dirigindo? – ele perguntou assim que chegamos ao estacionamento.
– Mas eu não sei o caminho – argumentei.
– Eu te ensino – ele abriu a porta do carona e entrou no carro, me deixando plantada do lado de fora.
Afundei no banco de couro do seu Mustang Shelby 67 e respirei fundo, inalando seu cheiro concentrado que o carro possuía.
– Pega a saída 16E – ele disse, me olhando e assim ficou.
– Posso ligar o rádio? – olhei para ele de rabo de olho, ele mantinha os olhos em mim com um sorriso preguiçoso em seus lábios.
– À vontade – ele estendeu a mão para o painel e eu apertei o maior botão, acendendo as luzes do som.
Estava ligado em uma rádio meio alternativa e sorri quando Fucked Up Kids do The Maine começou a tocar.
– There's a crowd inside free in spirit, nothing dazzling in appearance. We do the best with, with what we have. No, no, no – cantarolei, mas parei quando se virou completamente no banco, ficando de frente para mim. – Que foi? – perguntei corando.
– Continua, não para por minha causa – ele pediu sorrindo fraco.
Eu ri, corando e resolvi puxar outro assunto, para tirar o foco de mim.
– Por que pediu para eu vir dirigindo? Pensei que tivesse ciúmes do seu carro – lembrei quando ele me disse que não deixaria nem o papa dirigi-lo.
– Eu só gosto de te olhar e com você dirigindo tenho quatro horas para olhar pra você sem que me faça parar – eu o olhei confusa, não eram apenas duas horas e alguns minutos de viagem? Ele logo adivinhou o que estava pensando. – Sim, quatro horas, porque você dirige pior do que a minha avó com catarata, brigando com a minha mãe, no banco do carona – ele aumentou o rádio e sorriu, não me deixando responder e eu apenas ri quando ele começou a cantar, ignorando minha cara indignada. – We're searching for something, just trying to make it happen. We listen to no one, don't forget we won't forgive. They'll write a story of the lives we lived – naquele momento eu não queria saber de mais nada, apenas dele e do nosso momento.
[...]
– A sua mãe é um amor – deitei a cabeça em seu peito.
– Agora você sabe quem eu puxei – ele disse e eu podia jurar que estava com aquele sorriso relaxado no rosto.
– Convencido – eu ri e ele se sentou.
– Eu sei que agora eu vou te dar motivo pra me encher o saco o resto da vida e que você vai me lembrar disso sempre – ele começou –, mas eu queria que neste momento o tempo parasse. Entende o que eu to querendo dizer? – ele perguntou, olhando sedento para os meus olhos enquanto eu confirmava com a cabeça. – Eu queria que tudo parasse pra gente ficar aqui, no nosso mundo pra sempre – ele indicou o lago Tomahawk e voltou os olhos para mim, segurando minha cintura com as duas mãos. – Meu mundo começa e termina com você, – um arrepio subiu pela minha coluna quando ele usou o meu nome inteiro – e eu sei que eventualmente vou ter que dividir a sua atenção com um cachorro, um gato, uns pirralhinhos, mas é aí que tá... – ele suspirou e eu pude sentir meus olhos banhados em lágrimas. – Eu quero isso com você. Eu quero, daqui a uns anos, ter que acordar no meio da noite para ir ninar uma praguinha que não para de chorar, nossa praguinha. Eu quero ter que levar nosso cachorro para passear, quero ter que dividir nosso sofá com seus gatos. Eu quero você, de todas as formas que eu posso ter.
Sem que eu percebesse uma lágrima escorreu do meu olho e ele logo a secou com as costas dos dedos.
– Eu sei que muita gente pode criticar a minha atitude, falar que somos novos de mais, irresponsáveis, que nem começamos a viver nossas vidas adultas para tomarmos tal decisão e essas idiotices, mas eu já sei o que eu quero. Eu já sei o que estou disposto a fazer para que isso dê certo... – ele me olhou nos olhos e se levantou, me puxando junto.
Por eu estar chorando já estava atraindo vários olhares na minha direção, mas quando ajoelhou na minha frente, metade das pessoas que estavam fazendo piqueniques com a família olharam, prevendo o que viria em seguida.
– Giacomelli Evans Grace Hime, você quer se casar comigo? – seus olhos estavam banhados em lágrimas.
Eu não conseguia falar nada, estava chorando feito uma criança agora. Balancei a cabeça afirmativamente e ele se levantou e me abraçou. E ali, com a cabeça enterrada em seu pescoço, molhando o ombro da sua camiseta branca e inalando o seu cheiro, eu encontrei meu lar.
– LAYLA, larga esse celular e me ajuda agora! – eu gritei, parada em frente a ela e ela apenas desviou a atenção da tela do celular, no qual respondia alguma mensagem importante, ou tentava passar mais uma fase de Candy Crush e me olhou de cima a baixo.
– Fala.
– Me ajuda a escolher a roupa para hoje à noite – juntei as palmas das mãos, fazendo uma cara de cachorrinho que caiu da mudança.
– Não sei – ela voltou a encarar o celular. – Ainda estou brava com você porque não vai no Black Valentine’s Day esse ano.
– LAYLA, você mesma sempre fala que esse Black Valentine’s Day é uma grande ironia, porque é uma festa para quem não tem date pra noite, mas sempre traz alguém de lá pra sua cama.
Ela estava tentando segurar a risada, mas não conseguiu por muito tempo e logo estávamos rindo juntas.
– Ok, Ok. Quais são as opções? – sentou-se na cama, deixando o celular de lado e cruzou as pernas, me olhando atentamente.
Duas horas, muita discussão, um banho e maquiagem depois, eu estava pronta. Estava com um vestido de lã na atura dos joelhos, rosa envelhecido, de magas cumpridas e uma bota marrom, estava frio, mas eu estava bem agasalhada.
– Onde vocês vão, afinal? – Layla perguntou, após acertar os últimos detalhes de seu vestido preto, que fazia par com a maquiagem preta, a meia preta e o scarpin preto.
– Ele disse que é uma surpresa – estralei os dedos, ansiosa. Na deixa meu celular vibrou com uma mensagem de . “Estou na porta.”
Me despedi de Layla, que pediu para eu não voltar antes de ligar, porque se não poderia ver alguma coisa que não gostaria de ver, peguei minha bolsa em cima da cama e rumei porta afora.
– Posso tirar agora? – estávamos em um elevador e eu estava vendada “para não estragar a surpresa”, tinha dito.
– Espera, coisa ansiosa – ele estava com uma mão na base das minhas costas e outra segurando a minha. Se bem o conhecia, ele estava sorrindo também. Seu sorriso ansioso.
Depois de mais alguns instantes no elevador, o mesmo parou e me guiou para fora. Pelo vento que uivava em meus ouvidos tive certeza de que estávamos em um terraço.
– Ok, mais dois passos – ele andou comigo – e agora... Tira – ele me soltou.
Fiz o que ele disse e quando tirei a venda me deparei com uma toalha de piquenique no chão com várias comidas que pareciam deliciosas em cima e várias velas iluminando o terraço.
– Happy Valentine’s Day! – ele me entregou uma enorme cesta com um cartão, um urso grande marrom e várias caixas de chocolate.
– Tudo bem, vamos fazer um quiz – eu disse, deitando minha cabeça sobre suas coxas, enquanto ele fazia carinho na minha cabeça.
– Um quiz? – Ele perguntou achando graça.
– É, pra gente aumentar o conhecimento sobre o outro. Qual a sua cor preferida? – Eu comecei.
– Acho que nunca parei para pensar nisso, mas ultimamente quem sabe a cor dos seus olhos – ele sorriu malicioso e me deu um beijo casto.
Depois daquilo não consegui controlar o meu sorriso. Quem diria que ele algum dia fosse dizer isso para alguém... O que eu conhecia antes não era dado a expressão de sentimentos e quem diria que eu estaria completamente apaixonada por ele, a ponto de não conseguir pensar em mais nada além do quanto o seu sorriso me acalmava.
– A sua, amor? – ele perguntou intrigado, como se já estivesse repetindo a pergunta pela décima vez.
– Eu gosto de azul – sorri. – Todos os tons de azul.
Depois de mais algum tempo respondendo perguntas sobre nós mesmos chegou a hora da pergunta inevitável.
– Qual o seu nome completo? – Ele perguntou com um sorriso sacana.
– Você não desiste mesmo, não é? – balancei a cabeça negativamente, não conseguindo evitar o sorriso fraco. – Já disse, Grace Hime.
– Você não me engana, amor. Vou ter que perguntar pra Layla mesmo? – levantou uma sobrancelha.
– Fiz ela jurar pela morte do Piccles que não contaria – eu dei de ombros.
– Você fez ela jurar pelo gato dela? Isso só prova que terei mesmo que pegar sua identidade para descobrir o que você esconde.
– Ok, eu te falo o meu nome completo. Mas só se você prometer não rir, não sair correndo ou me fazer muitas perguntas sobre isso – fiz um bico involuntário.
– Prometo – ele abriu um sorriso vitorioso.
– E você vai ter que me contar o seu também – eu disse por fim e seu sorriso diminuiu, mas ele concordou.
– Giacomelli Evans Grace Hime – eu disse em um só fôlego, de olhos fechados.
Esperei por sua reação, pela sua surpresa, pelos comentários que eu sabia que viriam, depois de descobrir de quem eu era filha, mas quando abri os olhos ele só me olhava com um olhar curioso.
– Você é da realeza ou alguma coisa assim? Pra que tanto sobrenome?
Soltei o ar aliviada por ele não ter reconhecido o sobrenome. Mas também era um garoto e creio que não era tão ligado no mundo da moda.
– Nem meu pai e nem minha mãe queriam abrir mão dos sobrenomes – eu dei de ombros, contando a verdade. – Mas agora vamos lá, o que você esconde entre Edwards? – perguntei me levantando de sua perna e olhando-o nos olhos.
– Meu nome completo é Parveau Edwards – ele soltou um suspiro.
– Você é francês? – perguntei surpresa com a descoberta.
– Eu não. A minha avó por parte de mãe era. Ela veio passar as férias aqui em New York e conheceu o meu avô, então tiveram a minha mãe e ela acabou se mudando de vez para cá, mais exatamente para New Jersey, na verdade – ele deu de ombros.
– Então quer dizer que meu namorado consegue falar fazendo biquinho? – perguntei de uma maneira sedutora, mas segurando a risada.
– Sinto decepcionar, amor, mas a única coisa de francês que tenho é o nome do meio – ele riu da minha cara de desapontada e me deu um beijo. Um daqueles que começam calmos, com você tendo tempo de explorar todo o território e terminam sem fôlego, com algumas partes de roupa a menos.
– Mãe, terminei esses dois croquis para a próxima coleção – segurava uma pasta de papel na mão direita, enquanto jogava o sobretudo marrom sobre o ombro, me equilibrando sem problemas sobre o Louboutin 15.
– Deixe em cima da mesa, , estou sem tempo agora – minha mãe respondeu.
Logo sua secretária disse que a editora da Vogue francesa estava subindo e ela pediu para que a garota loira arrumasse sua mesa, o que resultou em ela pegar todos os papeis que estavam em cima da mesa e espalhar na estante ao fundo do escritório. Salvei meus croquis no último instante e, suspirando, virei as costas para deixar o escritório de mamãe.
Anna Giacomelli Evans, a grande estilista de New York, conhecida por sua excelência em vestidos de noiva, idolatrada por pelo menos metade de toda a população mundial, requisitada por revistas famosas para publicar seus ensaios e minha mãe. Desde que me entendo por gente quis seguir os passos dos meus pais, sim, papai, Louis Grace Hime, estilista referência em sapatos em todo o mundo e igualmente requisitado, como mamãe.
– , querida – minha mãe chamou. – Estou feliz que não esteja usando os do seu pai – ela disse sorrindo vitoriosa e indicando os meus pés.
Baixei os ombros e ao sair do escritório imponente joguei os meus últimos croquis no cesto de lixo, na porta do escritório de mamãe.
Entrei na limusine na porta do grande prédio em que se situava o escritório de mamãe e pedi para que Jack me deixasse em casa. Alguns minutos depois, após enfrentar o trânsito carregado de Manhattan, chegamos no apartamento em SoHo. Agradeci e entrei em casa, esperando encontrá-la vazia, mas o que encontrei me fez paralisar na porta do apartamento.
[...]
– Eu não quero saber, , não quero saber o que ela estava fazendo aqui em casa, não quero saber por que ela estava com o braço sobre seus ombros, não quero saber o motivo de você ter aberto um vinho e por que tinha duas taças em cima da mesa de centro – eu gritei, exasperada, sentindo meus olhos queimarem, o que acontecia quando estava prestes a chorar, me deixando com mais raiva.
– , não é o que você está pensando – ele disse erguendo as mãos, o que me fez soltar uma risada carregada de ironia.
– Não é o que eu to pensando? É sério isso? Você realmente está falando isso para mim, ? – eu me afastei dois passos e já não conseguia conter minhas lágrimas.
– , deixa eu te explicar, me escuta – ele se aproximou e eu me afastei.
– A Lindsay, , a Lindsay – eu balancei a cabeça negativamente. Não sabia o que era maior: a raiva ou a decepção.
– Amor...
– Hoje não, . Eu não quero saber de nada hoje – as lágrimas corriam pelo meu rosto e ele me olhava assustado.
Fui para o quarto, peguei seu travesseiro e sua coberta e coloquei no chão, do lado de fora do quarto, passei para o lado de dentro e tranquei a porta. Eu não acreditava que ele tinha colocado aquela biscate de quinta para dentro da nossa casa.
A Lindsay era o pior tipo de pesadelo que eu poderia ter. Um mês antes de terminarmos o curso eu consegui um estágio na Vogue de New York. Precisava entregar três croquis para confirmar o estágio, mas no grande dia passei a maior vergonha da minha vida, pois quando abri minha pasta de papel com todas as minhas criações, não tinha nenhum croqui lá. Todos os meus desenhos tinham sumido e eles disseram que não tinham tempo para enrolações. Uma semana depois descobri que a Lindsay tinha conseguido a vaga no estágio e, por um contato que eu tinha na revista, descobri que seus croquis eram na verdade os meus croquis.
Vocês podem estar se perguntando como eu, sendo filha de quem sou, não consegui um estágio na revista. Bem, digamos que eu ficava o mais fora da mídia possível e omitia o meu sobrenome quando me apresentava.
O que importava era que sabia de toda a história e ainda trouxe a biscate de quinta para dentro da minha casa! Minha visão ficou vermelha de ódio e não conseguia pensar em nada, a não ser no quanto eu queria socar sua cara.
O dia amanheceu e eu rolei na cama, sentindo-a estranhamente vazia e fria. não estava lá e eu suspirei. Sem ao menos ir ao banheiro, abri a porta do quarto e ele estava deitado no sofá, ainda dormindo, todo torto. Sorri ao ver o seu rosto relaxado e sua boca entreaberta devido a sua posição no sofá. Ele com certeza ia ter um torcicolo.
Depositei um beijo em seu pescoço e segui uma linha imaginária até a sua testa, o vendo suspirar pesadamente. Ele abriu os olhos, devagar e, ao me ver, os arregalou.
– Bom dia – eu disse sorrindo fraco.
– Bom dia – ele respondeu um pouco receoso. – Eu posso me explicar agora? – ele se sentou, apenas de cueca e eu sorri mordendo os lábios.
– Não – respondi simples. – Preciso me preocupar com o que você fez com ela? – perguntei, apertando os olhos.
– Você sabe que eu nunca faria algo assim com você, meu amor – ele encostou a sua testa na minha, já que eu estava ajoelhada no chão.
– Então eu não me importo. Eu não quero saber – ri, fraco. – Só me promete que nunca mais vai colocar aquela vadia na nossa casa de novo. E muito menos servir do nosso vinho para ela – fechei a cara.
– Eu prometo – ele sorriu, aliviado eu penso. – Eu chamei ela aqui para...
– Shiu – colei nossos lábios. – Nossa cama tá muito vazia e senti sua falta hoje à noite – eu disse com a voz manhosa e foi o que bastou para ele me pegar no colo e me levar para o nosso quarto, para o nosso cantinho, com um sorriso safado.
No fundo, bem no fundo eu queria saber o motivo para ele ter colocado ela ali, mas algo me dizia que eu não deveria apertar aquela tecla. Eu tinha sentido sua falta, ele tinha sentido a minha, eu me sentia completa com ele, ele me fazia sorrir quando as coisas estavam indo de mal a pior com mamãe e era isso que importava.
Coloquei a beca preta e me olhei uma última vez no espelho de corpo inteiro que ficava entre minha cama e a de Layla.
– Essa beca destrói completamente o modelito, não é, amiga? – Layla apareceu as minhas costas, tentando arrumar seu cabelo de um jeito que sua franja não ficasse bagunçada – Onde tá o boy? – ela perguntou, se sentando na cama.
– Ele disse que me encontraria no estádio – eu disse olhando para ela. – Vamos?
– Começar o resto de nossas vidas, dizer olá à vida adulta e a ter responsabilidades? Fazer o que né... Vamos lá – ela deu de ombros, rindo.
Chegamos ao estádio faltando exatamente meia hora para a formatura começar. Encontramos os pais da Layla do lado de fora e eles nos acompanharam até a entrada. Nos sentamos nos lugares reservados e pelo sobrenome da Layla começar com “C” e o meu com “H” ficamos longe uma da outra. Corri os olhos por toda a parte reservada para os formandos e não encontrei . Chegaria atrasado.
Uma hora depois Layla se levantou para fazer seu discurso de oradora e então os nomes começaram a ser chamados. Apenas quando chamaram o seu nome eu o vi levantar. Ele subiu no palco decidido e com um grito que animou todo o estádio pegou o seu diploma, com um sorriso gigante no rosto. Sorri por ele, mas estava ansiosa de mais para manter o sorriso.
– Giacomelli Evans Grace Hime – amaldiçoei o moço por ter dito meu nome completo, quando havia avisado no mínimo três vezes para não o fazer e levantei do meu lugar sob uma salva de palmas. Subi no placo, peguei o canudo e acenei para a multidão de familiares e formandos lá em baixo. No fundo do estádio, nas últimas cadeiras, pude notar a cabeça loira do meu pai. Mamãe não estava lá, mas já era esperado.
[...]
– Pai, não precisava – eu repeti, olhando o anel com cinco safiras azuis, reluzentes, o meu anel de formatura.
– É lógico que precisa, princesa – ele disse depositado um beijo nos meus cabelos.
– Obrigada! – agradeci, emocionada, pela décima vez naquela noite.
– Você sabe que se algum dia se interessar em desenhar sapatos sempre vai ter um lugar para trabalhar comigo, certo? – ele piscou e naquele momento deu vontade de colocá-lo em um potinho e guardá-lo comigo para sempre. Meu velho pai.
– Eu sei, senhor Louis Grace Hime! – eu ri, mas logo o sorriso se desmanchou.
– Anna não veio, não é? – ele perguntou por mamãe.
– Deve estar ocupada com o pessoal da revista, os portfólios, entrevistas, desfiles, sei lá – eu dei de ombrso e ele me beijou a cabeça mais uma vez.
– E aí, senhor Louis, beleza? – Layla chegou ao nosso lado. Era engraçado como ela era a única que não tratava o meu pai como o deus dos sapatos. Ela e .
– Tudo bem, Layla? – ele riu da garota.
Os dois começaram uma conversa sobre a última coleção lançada do meu pai. Layla queria um estágio na agência que trabalhava com papai e estava usando seus contatos para isso. Ou seja, eu e meu próprio pai. logo apareceu no meu campo de visão. Estava cumprimentando alguns colegas e quando me viu abriu um sorriso estonteante, vindo em minha direção.
– Como está se sentindo agora que é uma estilista formada? – ele perguntou, me abraçando e apoiando minha cabeça em seu peito.
– Estou com medo, para falar a verdade – eu ri, nervosa. – E você, que é agora um economista formado? – voltei a pergunta para ele.
– Aterrorizado – ele riu e então me afastou, me fitando com seus olhos –, mas eu sei que tenho você para me acalmar quando eu preciso. Sei que tenho você para me colocar nos eixos, se alguma coisa acontecer. Eu sei que eu tenho você para todo o sempre agora e isso me deixa mais calmo – ele desabafou.
– Para todo o sempre – eu sorri, me derretendo sob seu olhar e então ele colou nossos lábios em um beijo apaixonado e eu não me importei com a quantidade de pessoas ali, não me importei com os repórteres que tinham ido cobrir a formatura da mais nova promessa da moda (obrigada pai, obrigada mãe), não me importava com nada, pois estar ali com ele me fazia esquecer de todo o resto.
– Eu não acredito que ele tenha feito uma coisa dessas comigo, amiga, eu não consigo acreditar – eu chorava copiosamente e as palavras não saiam bem compreensíveis, mas Layla me entendeu.
– Eu sei que é difícil amiga, vocês estão juntos há tanto tempo, estão levando uma vida juntos, tem um apartamento, o Billy e a Joe, eu sei o quanto...
– Estávamos juntos. Estávamos, Layla, porque se tem uma coisa que eu não suporto nessa vida, e você sabe muito bem, é traição. E ele também sabia disso. Ele sabia. Ele sabia – eu repetia, baixando o tom de voz cada vez que falava a frase.
– Mas, , você tem certeza de que essa foto não é montagem? – Layla perguntou com a voz baixa.
– Eu tenho certeza dessa porra. Eu sei reconhecer uma montagem, a gente aprendeu isso na faculdade – eu gritei. – Agora me fala se uma porra dessas – abri a foto na galeria –, me fala se uma porra dessas é montagem, Layla? – não dei tempo para que ela respondesse e joguei meu celular na parede, atrás dela. A tela dele se espatifou em mil pedacinhos, mas ainda era possível vê-lo sentado no sofá, com um sorriso sacana depositado nos lábios, enquanto Lindsay estava sentada no colo dele com a boca fazendo não sei o que em seu pescoço.
Layla me olhava assustada e eu então despenquei de novo em seu colo em uma crise compulsiva de choro. Tudo doía, o meu peito queimava, minha cabeça estava latejando, mas o pior era o meu coração, que eu sentia estar se partindo em milhares de pedacinhos.
6 horas antes
’s POV.
Era noite de quinta-feira, saí da empresa mais cedo e mandei uma mensagem para Pete, confirmando a saída de hoje. Mandei outra para , a lembrando de que hoje sairia com os meninos e ela logo respondeu, dizendo que ia dar uma volta com a Layla. Desde que nos formamos e passamos a morar juntos a gente tinha combinado que duas vezes por mês eram os dias de sair com os amigos. normalmente saía com a Layla e algumas amigas do escritório ou alguma revista. Eu saía com Pete e as vezes algum cara do escritório.
Chegamos finalmente ao 1920 Bunker Club, o bar que Pete tinha escolhido dessa vez, dizendo ser a grande promessa do ano. Fomos logo para o bar e cada um pediu uma caneca de chopp. Conversa vai conversa vem quando de repente Pete surgiu na mesa com Lindsay a tiracolo.
– Olha quem encontrei no bar – ela sorria de orelha a orelha e empinava os peitos no pequeno vestido vermelho que parecia estar dois números menores do que o que ela usava normalmente.
– Boa noite, Lindsay – eu disse seco, me lembrando do que ela tinha feito com e da situação que se formou da última vez que a chamei para ir ao nosso apartamento, a fim de comprar seu imóvel melhor localizado para nós.
O tempo se passou rápido desde que ela aparecera e quando o relógio marcava uma da manhã eu anunciei minha partida.
– A saideira, cara – Pete colocou outra caneca de chopp na minha frente. – Não vai fazer desfeita – ele sorriu e eu concordei.
– Mas preciso mijar, cara, porque não cabe tanto líquido dentro de mim – eu me levantei e fui em direção ao banheiro. Logo voltei e me sentei. Lindsay estava na minha frente, sorrindo sem parar, enquanto Pete conversava com Miller. Bebi a caneca pela metade e então não me lembro mais do que aconteceu, quando o pior dia da minha vida aconteceu.
End of flashback
’s POV.
– Eu fiz minhas malas, elas estão lá em baixo, no carro – eu me sentei no sofá do apart hotel de Layla.
– E o apartamento? – Ela perguntou com medo.
– Eu não quero ficar com uma coisa que me lembre dele diariamente, amiga. E não vai me fazer falta nenhuma, você sabe – pisquei para ela.
– Billy e Joe? – Ela perguntou sobre nosso cachorro e a gata.
– Ainda não discutimos sobre isso, mas se ele quiser ficar com eles vamos ter que discutir isso na justiça, porque não abro mão dos meus filhos – eu disse determinada.
– Vocês já conversaram?
– Mostrei a foto, ele não disse nada, peguei minhas coisas e vim embora. Ele não impediu. Ficou lá, no meio da sala do momento em que mostrei a foto até quando passei por ele com as malas. Acho que isso significa alguma coisa – suspirei.
Estava mais controlada hoje, extremamente magoada, machucada e decepcionada, mas pelo menos tinha conseguido parar de chorar.
– As coisas vão se acertar amiga e o que tiver de acontecer para você ficar melhor ainda vai acontecer. O mundo gira, até a gente encontrar nosso lugar – ela disse do meu lado e não consegui segurar aquela lágrima teimosa, que saiu quente, correndo por todo o meu rosto e pingando na minha mão. Envolvi-a num abraço apertado e desejei que toda aquela dor passasse. Desejei nunca tê-lo conhecido para não ter que passar por todo esse sofrimento. – O mundo gira até a gente encontrar o nosso lugar – ela repetiu.
– Bom dia! – ouvi a voz de no quarto e rolei na cama, tentando alcançá-lo, abri os olhos quando não o encontrei. – Aqui, dorminhoca – ele me chamou da porta do quarto.
Quando nossos olhares se cruzaram vi que ele sorria, o seu sorriso sacana e carregava uma bandeja com um café da manhã completo e uma rosa vermelha depositada em cima.
– Servida? – ele deu uma volta e então caí na gargalhada ao descobrir que ele estava com um avental e vestia somente isso!
– Por que não começamos todos os dias assim? – perguntei quando consegui controlar a risada e ele sorria convencido, ao meu lado na cama.
– Porque não é todo dia que fazemos dois anos de namoro – ele disse enquanto tomava um gole de chá gelado.
– Então quer dizer que só vai me paparicar assim quando for aniversário de namoro? – perguntei em uma falsa indignação.
– E casamento, eventualmente – ele piscou e me deu um beijo casto. – Mas me diz, não fico uma delícia de cozinheiro? – ele se levantou e deu outra volta, deixando a bunda à mostra e eu não perdi a oportunidade de dar um tapa ali.
– Você me deixa perdida, garoto – eu sorri.
– Essa é uma das minhas funções – ele sorriu, desamarrando o avental e se deitando sobre mim na cama.
[...]
– Se veste logo, mulher. Quero te mostrar a surpresa número dois – andava de um lado para o outro no nosso quarto.
– A chata do andar de baixo logo cutuca o teto com o cabo de vassoura de novo se você não parar quieto – eu ri de sua ansiedade. – Estou pronta.
Saí do banheiro com um vestido preto, um scarpin creme e um sobretudo da mesma cor. Peguei minha bolsa na cama e logo me puxou pelo braço, para fora do apartamento. Lá em baixo pegamos um taxi e ele disse ao motorista que iríamos para o Upper East Side.
Do nosso apartamento até o local em que paramos no Upper demorou em uns vinte e cinco minutos, tempo este que passamos nos beijando e conversando trivialidades.
pagou o taxi e me guiou para dentro de um prédio de apartamentos. O porteiro o cumprimentou pelo nome... Estranho. Entramos no elevador e ele não abria a boca para dizer uma única palavra. Eu olhava curiosa para ele, mas ele mantinha os olhos fixos a sua frente e um sorriso no rosto. O elevador se abriu e ele me entregou uma chave presa em um laço vermelho.
– Mas que porra...
– Cala a boca – ele me cortou, como fizera dois anos atrás, quando uma situação semelhante acontecia – Feliz dois anos de namoro – ele sorriu tímido e apertou a minha mão que segurava a chave.
– Você está me dando o caralho de um apartamento no Upper East Side de aniversário de namoro? – eu perguntei de olhos esbugalhados.
– Você não gostou? Eu vinha juntando as economias da empresa, os bônus e coisas assim. Comprei quando você arrumou briga com a vizinha de baixo, mas resolvi esperar uma boa ocasião para entregar. Mas se você não gostou tudo bem, a gente pode vender de novo e talvez com...
– Cala a boca – foi a minha vez de dizer e com um sorriso maior do que pensei ser capaz lhe dei um beijo.
Ele tomou a chave da minha mão e, sem interromper o beijo, abriu a porta, entrando e depois fechando-a com o pé.
– Acho que agora é a minha vez de te entregar o presente de aniversário de namoro – sorri, o empurrado para o quarto, que acertei de primeira e que, para minha surpresa, estava todo mobiliado. Empurrei-o na cama e sem precisar da sua ajuda tirei o sobretudo e o vestido, ficando apenas com minha lingerie branca e o sapato de salto.
Mais tarde lhe dei o relógio que havia comprado enquanto jantávamos em comemoração ao novo apartamento e ao nosso novo início.
Narradora
– Mas querida, não era qualquer vestido, era um Giacomelli Grace, aquele que a Cara estava usando na última edição na Vogue. Sim, peça única e consegui colocar as minhas mãos nele! Este é o melhor dia da minha vida! – ouvia uma moça beirando os trinta falando ao celular na sua frente, enquanto se dirigia para a limusine na saída do aeroporto. Ela sorria ao ouvir a moça falar bem de sua marca.
No começo houve um pouco de confusão. O nome da marca de sua mãe era Giacomelli Evans, a de seu pai era Grace Hime e ela pegou um pouco de cada, fazendo a sua própria, Giacomelli Grace. Hoje já era reconhecida mundialmente e ainda era tida como a grande promessa, o grande legado da moda. Estava no Paris Fashion Week e o desfile principal da noite serie da sua marca.
– Não sei por que ainda sou sua amiga – Layla fez bico após a impedir de beber o champanhe que estava em um balde de gelo, no balcão de sua suíte.
– É minha amiga porque sou estilista, te dou consultoria de graça e te levo para eventos como a semana de moda de Paris – disse, calçando os seu Louboutin preto (sorry, papai).
– Como sempre, você me lembra do porquê eu ainda te aturo – Layla riu, calçando os seus Grace Hime sob medida. – Você não acha que vai fazer a imprensa cair matando porque você não está usando nenhum modelo do seu pai e nem da sua mãe? – Layla perguntou, enquanto caminhavam em direção ao carro.
– Eu não gosto de causar intrigas entre eles, então eles sabem que o tanto que puder evitar de usar a marca de qualquer um dos dois, eu farei. Lembra daquela vez quando usei os sapatos de papai para ir ao shopping, algum paparazzi tirou fotos e mamãe ficou sem falar comigo uma semana? Ou quando fui ao aniversário de papai com um modelo de mamãe e ele me fez trocar de roupa?
– E olha que eles são de ramos diferentes da moda, pensa se fossem do mesmo – Layla completou e, rindo, entraram na limusine em direção à um dos maiores desfiles do mundo.
[...]
– Não pude deixar de notar que está sozinha – uma voz grave disse ao lado de e ela deu um longo gole no seu Sidecar antes de se virar para ver quem dirigia a palavra a ela.
Ele era alto – seus olhos bateram em seu peitoral – loiro, com um porte físico bem definido e olhos bem azuis. Podia jurar que era um modelo.
– É sempre observador assim? – ela perguntou um pouco sarcástica, mas não conseguindo evitar o sorriso.
– Só quando a garota vale a pena – ele piscou, arrancando uma risada da jovem estilista.
– Giaco...
– Giacomelli Evans Grace Hime. É um prazer – ele pegou sua mão, que estava pousada em seu colo e depositou ali um beijo enquanto olhava a garota em seus olhos. Só então ela percebeu o sotaque francês. – Pierre Beaumont a seu dispor.
– Me faça companhia, Pierre. Minha acompanhante encontrou algo que eu não posso proporcionar a ela e me abandonou – fez um bico involuntário, enquanto olhava atrás do francês para Layla, que conversava com um engravatado, algum executivo ou editor ela chutou.
O rapaz riu e mais do que depressa se sentou ao lado da estilista no bar do hotel, pedindo um drinque para acompanhá-la. No decorrer da noite se comprovou que ele era mesmo modelo, tinha vinte e dois anos (dois anos mais novo do que ela) e que sonhava em viver em New York. se divertiu naquela noite como não se divertia há muito tempo. Para ser mais exata, ela se divertiu naquela noite como não se divertia havia oito meses.
A garota pensava nisso enquanto Pierre contava alguma história engraçada, ora tocando em sua mão, ora em seu joelho descoberto. Ela o olhava nos olhos, que tinham um tom de piscina e sorria tranquila. Aqueles olhos eram aquecedores e a transmitiam calma, então resolveu mergulhar ali. Ela merecia.
De quem foi a estúpida ideia de que a noiva tem que passar a véspera do casamento sem ver o noivo? Se descobrisse mandava matar. Ou melhor, ela mesmo estava quase se matando por ter concordado com aquela estupidez. Sentia falta de seu noivo, de Pierre, sentia falta de seu cheiro e de seu toque e a um dia do seu grande dia estava quase arrancando seus cabelos de ansiedade. Ela estava sozinha no seu grande apartamento em Tribeca e estava gastando todo o porcelanato italiano de tanto andar de um lado para o outro, à espera de Layla, que havia prometido que estaria ali em – ela olhou o relógio – cinco minutos.
Essa coisa de casamento não era fácil, de morar junto pior ainda. Ela não tinha um bom histórico de memórias sobre isso e ainda se lembrava dolorosamente de todas as vezes que Pierre havia insistido para morarem juntos antes do casamento. A estilista bateu o pé. Estava decidida, só morariam juntos depois de casados. Layla descordava piamente da amiga, mas não havia nada que ela dissesse que a fizesse mudar de ideia.
já havia pegado o celular e estava começando a discar o número quando a campainha tocou.
– Finalmente, eu não aguentava mais andar de um lado para o outro te... – a garota perdeu a fala, a cor e a força nas pernas quando viu que quem estava do outro lado da porta não era sua amiga de longa data e sim Parveau Edwards, seu ex.
– Não vai me convidar para entrar? – ele perguntou, sorrindo de lado.
– E... Entra – ela gaguejou.
O agora empresário entrou e se sentou em seu sofá de couro branco. A estilista ainda estava na porta, de costas para ele, paralisada.
– – ele a chamou pelo nome, fazendo aquele arrepio que ela não sentia a muito tempo, correr de novo pela sua espinha.
– O que você está fazendo aqui? – ela saiu do transe, sacudindo a cabeça e fechando a porta.
– Eu fiquei sabendo que vai se casar amanhã – ele disse, dando de ombros. – Vim desejar felicidades.
– Como você sabe? – ela ignorou a ironia do rapaz.
– A nota que saiu no Times. Promessa da moda, filha dos dois maiores estilistas que o mundo já conheceu, se casa neste sábado no Plaza. Meio mundo está sabendo – ele sorriu de lado.
– Ah – a garota se sentou ao seu lado, no sofá.
– Ele é francês, não é? – perguntou, cruzando as pernas como índio, no sofá, ficando de frente para ela.
– É – a garota foi sucinta.
– Você o ama?
– O quê? – ela o olhou, confusa.
– Você o ama? Esse tal de Pierre, é amor o que você sente por ele? – se moveu para ficar mais perto dela.
– É lógico que é amor, , que tipo de pergunta é essa? – Ela se afastou.
– Eu vim na verdade pedir desculpas – ele mudou de assunto. – Por... Você sabe, aquele dia.
– Tudo bem – a estilista falou baixo.
– Você pode não acreditar em mim, mas a Lindsay me dopou aquele dia.
– Eu sei.
– Não, eu estou falando sério. Eu me levantei para ir ao banheiro e quando voltei e bebi o meu chopp, eu apaguei e não me lembro de mais nada. Ela me dopou e arrumou alguém para tirar aquelas fotos nojentas. Eu te juro, – ele segurou as mãos da mulher entre as suas, olhando-a desesperadamente.
– Eu sei – ela disse calma.
– Como assim você sabe? – ele soltou uma risada nervosa.
– Cinco dias atrás ela me procurou, a Lindsay. Ela vai se casar e mudar para Dubai, me disse que queria deixar as coisas esclarecidas por aqui e disse que colocou alguma coisa na sua bebida aquela noite. Disse que queria nos separar porque queria algo com você, mas o plano dela foi por água abaixo quando você...
– Não quis nada com ela porque continuo apaixonado por você – ele completou e a garota arregalou os olhos, que estavam marejados depois daquela declaração.
Mas o que era aquilo. O que estava acontecendo? Ele achava que podia aparecer em sua casa, na véspera de seu casamento, fazê-la relembrar tudo aquilo e ainda dizer que continuava apaixonado por ela? De fato, ele podia, era ela quem não podia estar quase chorando por causa disso!
– , eu vou me casar amanhã, a gente já esclareceu essa história, agora você pode por favor ir embora? – ela pediu, olhando para frente e evitando os olhos penetrantes do empresário.
– , não casa com ele, não – ele pediu com a voz baixa e ela sentiu um frio imediato e as velhas borboletas em sua barriga. Mas que diabos, ela não devia se sentir assim!
– , não – ela pediu, mas o pedido saiu mais fraco do que realmente gostaria e ele segurou suas mãos novamente.
– , me fala que você ama ele – ele segurou seu rosto com as duas mãos, forçando-a a olhar para ele. – Me fala que você ama esse francês que eu sumo da sua frente, da sua vida, para sempre – ele também estava com os olhos marejados e ela sentia suas mãos frias segurando seu rosto.
Ela não disse nada. Também pudera, não havia nada o que dizer. Ele esperava ansioso, com as mãos tremendo e sem desviar por um instante os seus olhos dos dela. Se os olhos de Pierre eram como uma piscina, os de eram como o mar. Ora revoltos e incontroláveis, ora calmos, pacíficos. Ela ficou perdida em seu olhar por muito tempo, até perceber sua testa encostada à dele e então o beijo inevitável aconteceu.
Como uma corrente elétrica correndo por seu corpo, ela se sentiu viva depois de tanto tempo. tirou a blusa da garota com uma facilidade surpreendente e ela ficou por conta de sua camisa com milhares de botões. Muitos foram perdidos durante o processo, mas ele não ligava. Estava com ela, depois de todo esse tempo e era isso que importava.
[...]
– Eu vou te dar o tempo que você precisa para pensar. Você ainda tem o meu número, me liga que eu te busco onde for – depositou um beijo na testa de , na porta de seu apartamento e virou as costas, chamando o elevador.
A garota fechou a porta em suas costas e se sentou no chão, ali mesmo. Que merda ela tinha acabado de fazer? Ia se casar em menos de dez horas e tinha acabado de transar com o seu ex – e graças a isso ela havia descoberto que ainda tinha sentimentos, muito fortes por acaso, por ele e agora não sabia mais o que fazer da vida. Estava definitivamente perdida.
Pegou o celular no bolso do short jeans e ligou para a única pessoa que saberia o que fazer com aquela situação.
– Vem pra cá agora. Eu preciso de você!
’s POV.
Segurei o pingente de coração mais uma vez e então entrei no salão, ao som da famosa marcha nupcial. Quando coloquei os pés ali pareceu que o tempo congelou – ou ficou mais devagar e eu pude ver todos ali. Estavam todos de pé, para me receber, com grandes sorrisos depositados nos rostos. Algumas mulheres limpavam as lágrimas, outras sorriam e acenavam com a cabeça, minha mãe estava no altar, lá na frente, contentíssima com sua mais nova e exclusiva criação, que tinha feito especialmente para mim. Meu pai me acompanhava, segurando meu braço e seu sorriso não teria como ficar maior. E sim, eu estava usando um modelo exclusivo seu também, criado especialmente para o meu grande dia.
Ao lado de mamãe estava Pierre, muito bem vestido e elegante com um terno que mamãe fez questão de fazer também, quebrando o seu tabu de “só desenho vestidos, principalmente os de noiva”. Ele sorria abertamente e eu sorri fraco para ele. Eu era realmente uma pessoa horrível, mas tinha que melhorar minha cara se quisesse sair dali com um marido perfeito e sem perguntas se eu tinha comido algo que me fez mal.
Ao dar o segundo passo algo refletiu ao meu lado esquerdo, me chamando a atenção e, quando olhei, pensei que fosse desmaiar ali mesmo. Digo, se não fosse papai me guiando, eu travaria e não conseguiria tirar os pés do chão. O que refletiu foi um relógio – e não o de qualquer um. Quem estava na última fila, ao meu lado esquerdo, era Parveau Edwards, de terno e gravata e o seu imponente relógio que lhe dei em nosso último aniversário.
[...]
Não consegui me concentrar em nenhuma parte da cerimônia. Não com ele ali, me fitando com aquele sorriso torto em seus lábios rosados, aqueles mesmos lábios que haviam beijado meu corpo todo a menos de dez horas atrás, aqueles lábios macios, aqueles beijos que me deixavam sem fôlego. NÃO! , foco, foco. Ele foi um deslize. era passado. O seu futuro estava na sua frente, olha só o quanto ele era lindo! Obriguei-me a olhar para Pierre e, para meu desespero, ele estava dizendo aquelas palavras.
– Eu, Pierre Beaumont, aceito você, Giacomelli Evans Grace Hime, para amá-la e respeitá-la até que a morte nos separe – eu olhava para , que agora tinha os dois pés voltados para o corredor da igreja. Ele estava me esperando, eu sabia disso.
Eu não conseguiria, não conseguiria dizer nada, não conseguiria me casar, não conseguiria ir embora com ele. Eu estava travada. Assim que o juiz perguntou se eu estava bem eu lhe pedi um copo com água.
– Amor, está tudo bem? – Pierre passou a mão em meu rosto e eu assenti, olhando disfarçadamente para que, para meu espanto, não estava mais no fundo da igreja.
A cerimonial veio com um copo com água, mas assim que ela o estendeu para mim pude ouvir o barulho de um carro cantando pneu lá fora e, cinco segundos depois, o pior som que já ouvi em toda a minha vida. Uma batida forte e eu já sabia.
Empurrei a mão da cerimonial e segurei a barra do meus vestido com as duas mãos, correndo para fora da igreja, correndo para ele. Mesmo sendo um grande empresário o apresso por carros antigos fez manter o seu Mustang Shelby 67 e o meu coração parou quando eu vi o carro preto de rodas para cima, no meio do cruzamento.
[...]
– Pelo amor de Deus, pelo amor de Deus ajudem ele, não deixem ele ir, ele não pode ir, ele não pode morrer! – eu estava em prantos no corredor do hospital, gritando, enquanto eles levavam desacordado e com vários ferimentos pelo corpo para dentro de uma sala na qual me impediram de entrar.
A quantidade de médicos que entrou correndo em seguida me fez ter ciência da condição em que ele estava e eu despenquei ali mesmo, no saguão de entrada.
– Ele não pode, Layla, ele não pode morrer – eu repetia para ela, que se sentou ao meu lado não se importando em sujar o vestido de noiva e me abraçou.
– Ele não vai, amiga, ele é teimoso, você sabe disso melhor do que ninguém, ele vai sair dessa – ela disse, mas sua voz não saiu muito convincente, porque ela chorava também.
Quando vi seu carro não pensei duas vezes em sair correndo e me jogar ali de baixo, ver como ele estava. Ele estava jogado de mau jeito dentro do carro, sem cinto e estava meio grogue quando coloquei a minha cabeça para dentro da janela aberta.
– Fica comigo – ele disse com uma voz fraca e então apagou. Eu não sabia, até então, o tamanho do sentimento que eu nutria por ele por todos esses anos, mas naquele momento eu soube e aquilo estava me sufocando.
– Ajuda! – eu gritei, sem tirar a cabeça de fora do carro, passando a mão em sua bochecha, ensanguentada. Eu iria ficar ali. Ficaria com ele para sempre.
[...]
Sete horas tinham se passado desde que chagamos ao hospital. Uma enfermeira saiu da grande porta onde tinham levado ele por um corredor. Sentei-me ereta, interrompendo minha oração e olhei para ela, desesperada.
– Quem está com Edwards? – ela leu seu nome em uma ficha e eu e Layla levantamos logo. – Vocês são parentes? – perguntou desconfiada.
– Somos amigas, os pais dele estão em uma viagem internacional, estão pegando um voo direto para cá, mas acho que só chegam amanhã à noite – Layla respondeu por mim, olhando no grande relógio na recepção, que marcava onze da noite.
– Bem – ela olhou a ficha –, ele quebrou o braço, a perna direta e uma costela, teve escoriações por todo o corpo, bateu a cabeça com força, mas graças a Deus não quebrou nada por ali – ela ainda lia a ficha. – Todos os exames já foram feitos e também as cirurgias necessárias. Ele está em observação pela pancada na cabeça e está dormindo – só então ela nos olhou.
– Eu posso vê-lo? – perguntei segurando forte suas duas mãos. Ela me olhou de cima a baixo e eu devia estar a visão do inferno. Então, mais por pena do que tudo ,eu acho, ela me deixou entrar e me acompanhou até o quarto em que ele estava.
Entrei em um quarto todo branco e prendi a respiração ao vê-lo desacordado e preso àquele tanto de fios e cabos. Andei devagar até chegar ao lado de sua cama.
– Meu amor... – eu acariciei seus cabelos negros e rebeldes. – Eu te amei desde que te vi pela primeira vez. Isso você sabe, mas vou te contar uma coisa que você ainda não sabe – eu respirei fundo, e com um sorriso no rosto, prossegui: – apesar de tudo, eu ainda te amo – uma única lágrima escorreu do meu olho. – E sim, eu fico com você hoje, amanhã, daqui um mês, durante um ano, eu fico com você pra sempre, . Eu fico com você para todo o sempre, meu amor.
Então um barulho contínuo e incessante encheu meus ouvidos. O aparelho que monitorava suas funções vitais marcava uma linha reta e eu não estava entendendo. A enfermeira não disse que ele estava bem? Ela não disse que ele estava bem?
– ELA DISSE QUE ELE ESTAVA BEM! – eu gritava enquanto me tiravam à força do quarto. Alguns enfermeiros preparavam o aparelho de reanimação e eu não conseguia acreditar naquilo, eu não podia acreditar naquilo o que meus olhos me mostravam. estava morto e, junto com ele, parte de mim morreu.
– Eu não aguentava mais aquela comida – ele disse abocanhando um Big Mac.
– E eu não aguentava mais você me enchendo o saco por causa daquela comida – eu ri e tomei um gole da minha coca.
– Há quanto tempo não vamos em um Mc Donalds? – perguntou de boca cheia.
– Desde a época da faculdade eu acho – eu respondi, rindo.
– Por que está tão risonha assim hoje? – ele perguntou, com seu sorriso intrigado.
– É só que é tão bom te ver fora daquele hospital – eu suspirei.
– Então você ficou preocupada?
– Se com preocupada você quer dizer abandonar meu ex-noivo no altar, rasgar e sujar o vestido exclusivo que mamãe fez, me declarar para você em um leito de hospital, ver você morrer, descobrir que entrou em choque por uma hemorragia que não tinha sido identificada, ver você receber transfusão, sem nenhuma garantia de que ia melhorar, ficar dois dias sem tomar banho, até que você acordasse do coma induzido e praticamente morar durante dois meses no hospital com você, sim, eu fiquei um pouco preocupada – eu dei de ombros.
– Eca, porca, dois dias sem tomar banho? – ele tampou o nariz e riu.
– Tudo que fiz e você foi focar na pior parte? – fiz bico e ele riu, me dando um selinho.
– Obrigado – ele começou – por não me deixar, por me aturar, por ter ido atrás de mim quando eu não era mais da sua conta, por me amar – ele colou sua testa na minha.
– Não vai se achando, é só um pouquinho – eu sussurrei e ele gargalhou, dando outra mordida no sanduíche.
Mais tarde naquele dia fomos para casa, o apartamento que tinha comprado no Upper East Side. Billy e Joe vieram correndo nos receber e depois de dar bastante carinho para eles fiz ele ir para a cama, pois deveria descansar, ordens médicas.
– Sabe o que me descansa? – ele perguntou, com seu sorriso safado, se deitando um pouco sem jeito, pela perna quebrada, em nossa cama.
– Nem vem, Edwards, ordens médicas – eu me deitei de costas para ele e ele me abraçou por trás.
– Mas eu estou com saudades – ele disse com voz de choro.
– Mas eu não vou a lugar algum – me virei dentro de seu abraço. – Sou só sua... Para todo o sempre – sussurrei.
– Parece bom para mim – ele sorriu satisfeito e me deu um beijo casto, escondendo o rosto na base do meu pescoço.
Ficamos ali por um bom tempo e acho que ele logo adormeceu. Respirei fundo, inalando o cheiro que vinha de seu cabelo, seu cheiro. Entendi, então, o que Layla disse quando terminamos. Depois de tanto tempo, depois de tanto o mundo girar, eu finalmente encontrei o meu lugar.