Capítulo Único
- Quantas sequências faltam? Eu não aguento mais, ! - Bufei enquanto subia na corda vertical até atingir o pequeno sino no topo.
Estava pensando seriamente em largar a academia, não aguentava mais ter calos nas mãos e sair mancando todos os dias.
- Mais três. Quero ver você sair daqui suando horrores. - Revirei os olhos para o homem lindo diante de mim. Não é nem mesmo justo que um cara desses exista. Respirei fundo e olhei para minhas mãos calejadas. Os nós dos dedos estavam vermelhos e ásperos, minhas mãos tremiam pelo esforço de subir a corda pela segunda vez naquela semana.
- Você não precisa me ver subir na corda para me fazer suar, sabe disso, não é? - arqueou a sobrancelha e desviou o olhar.
- Entrenador, pode me ajudar com um exercício? Não sei como fazer. - Uma morena apareceu e sorriu para , ele sorriu de volta e a seguiu para o leg press. Desci da enorme corda assassina e corri para o próximo aparelho. Depois diria ao que apenas sou muito rápida para subir cordas. Ele, com certeza, vai acreditar.
Inspirei e expirei enquanto fazia os exercícios abdominais. Precisava ficar arrumando a blusa a cada abdominal porque, aparentemente, eu havia escolhido uma apertada demais. Droga de gordura localizada. Não que eu me incomodasse - na maior parte do tempo - com meu corpo. Eu não estava na academia para emagrecer, mas para cuidar de minha saúde.
Três anos atrás, o médico me deu a notícia de uma pré-diabetes que poderia se alterar rapidamente para um quadro de diabetes, além do índice de obesidade. Meu corpo não aguentava mais e eu comecei a me incomodar tendo apenas vinte anos. Com vinte e um, dois anos atrás, enquanto fazia a faculdade de moda, fiz alguns ensaios usando minhas próprias roupas e algumas pessoas curtiram o trabalho. Acabei me envolvendo em alguns projetos e agora sou sócia de uma marca de roupas plus size, além de fazer eventuais ensaios para a marca, El Sol. A marca é meu bebê, não posso medir em palavras o quão orgulhosa eu sou deste projeto.
- Eu te vi escapando da corda. - apareceu ao meu lado com um sorriso sarcástico.
- Eu não escapei, eu escalei e fiquei cansada. Apenas.
- Você não me engana, .
Ok, três itens necessários a se saber sobre Camboja: 1) há três anos ele é meu treinador na academia que frequento; 2) ele é um homem demasiado guapo para mí, mas este detalhe técnico não me faz ter sonhos menos perturbadores com essa rodovia de mau caminho; 3) ele parece uma máquina de flerte, mas não sei dizer se sou a única que os recebe ou se sou a única que realmente conseguiu resistir até agora e estou por um fiapo. Quer dizer, há rumores de que ele namorou algumas alunas da academia, mas nunca perguntei diretamente para elas ou ele. Não é de minha conta.
- Não engano mesmo, porque não é de minha natureza extraordinária fazer esse tipo de coisa. - revirou os olhos enquanto se afastava para imprimir o treino de um homem negro e alto que havia acabado de entrar na academia.
O horário do almoço é muito tranquilo por aqui, há apenas alguns gatos pingados que trabalham por perto ou simplesmente não trabalham. Me encaixo na primeira descrição. O estúdio ficava a apenas seis quarteirões de distância. Sempre que os clientes iam ao estúdio, ficavam levemente chocados por não se localizar em um local mais elegante - em um bairro cheio de modelos ou o que quer que fosse. A verdade é que eu prefiro estar em um local familiar, não no meio de pessoas que não conheço que vivem para roubar o trabalho alheio. Talvez daqui alguns anos, caso a empresa venha a crescer mais, eu possa abrir um outro atelier apenas com trabalhos horrendos que venham a servir de inspiração para os surrupiadores.
Larguei a bola de pilates no canto e arrumei novamente a blusa. Talvez devesse comprar roupas mais largas para os treinos de abdominal.
Ouvi o beep do celular no bolso e o peguei rapidamente. Poderia ser do trabalho. Faltava apenas quarenta e cinco minutos para acabar meu horário de almoço. Precisava correr para o estúdio que, por coincidência, vinha a ser minha casa, e tomar um banho. , a assistente, deveria estar subindo pelas paredes para me ligar àquela hora.
- . - Atendi profissionalmente o telefone. poderia muito bem estar com um cliente.
- E aí, patrón.
- Tem algum motivo específico para eu estar ouvindo sua doce voz a esta hora? - Corri para o banheiro com um sorriso no rosto. Já estava colocando minhas coisas na bolsa quando soltou uma risada alta.
- Apenas queria confirmar se vai querer ir à festa de hoje. Vai ser apenas reggaetón e muita dança. Vamos, vamos. Prometo que é um lugar legal. Eu conheço o dono, é um senhor de idade super gente fina que administra o bar há décadas. - Fechei o armário e fiz um malabarismo enquanto segurava o celular entre o pescoço e a orelha e amarrava os cadarços.
- Não sei, . Tenho que terminar os orçamentos da próxima coleção. Preciso entregar os materiais até semana que vem.
- Sabia que diria isso, por isso já terminei os orçamentos. Só preciso da sua aprovação.
- Hm, uma festa era o que faltava para te fazer ficar cem por cento produtiva? Acho que vou marcar mais festas por mês. - soltou uma risada irônica - Estou brincando. Obrigada. Sempre posso contar com você para tudo.
- Eu sei, eu sei. Sou uma jovem adulta competente, não? Então, vamos à festa? Não queria ir sozinha. - Vamos. Vou ficar pouco tempo, tenho que voltar para o estúdio e terminar alguns outros projetos.
- Claro, senhora. Vai ser divertido, prometo!
- Ahã. Não confio muito em você, .
- Você vai ver. - Ela afirmou e só pude sorrir enquanto saía do local acenando para que, sorridente, acenou de volta.
*
Às oito horas, quis correr de volta para o edredom e não sair até o dia seguinte.
Mesmo aos vinte e três, não aguentava ficar de pé à noite toda dançando, por mais que amasse dançar.
Observei minha imagem no espelho e sorri levemente. Estava bonita. Não estava tão maquiada, sabia que não tiraria bem a maquiagem quando voltasse, então passei um batom vermelho forte, delineador e máscara - que triplicou o tamanho de meus cílios. Às vezes, menos é mais. Além disso, a maquiagem combinou com o vestido vermelho solto. O decote era chamativo, mas combinava comigo. Mesmo que eu usasse um sobretudo, os seios provavelmente ainda seriam chamativos para algumas pessoas. São seios, por Díos.
- Uau! Mira, mami. ¿Que pása, guapa? - Sorri ao ver entrar no quarto carregando uma garrafa de vinho.
- Você também está muy guapa, . A que horas saímos? - checou o relógio dourado de pulso e arqueou as sobrancelhas bem feitas.
- Em meia hora. Um amigo meu vai vir nos buscar.
- Quê?
- Ué, eu te falei isso!
- Não falou, não. Vou com o meu carro. - suspirou pesadamente e se jogou na cama com as duas taças na mão.
- Não queria que você fosse com o carro porque quero aproveitar a noite com você! Desde que os negócios têm ficado mais sérios, você só se prende neste estúdio. Isso não é saudável. É daqui para a academia e reuniões. Você precisa fazer algo divertido, novo! Talvez te traga até mais inspiração para as próximas coleções. Vendemos bastante a coleção inspirada na Frida Khalo, lembra? E lembra de onde veio a ideia?
- Da visita que fizemos à sua amiga sempre chapada. - revirou os olhos.
- Chapada, talvez. Mas as pinturas da casa dela eram lindas. E para a sua informação, ela já voltou da reabilitação e está ótima.
- Não posso tirar o crédito dela por isso. - encheu a taça de vinho das duas e entregou uma em minhas mãos. Ela estava certa. Minha pele parecia estar até clareando de tanto tempo que não ficava exposta ao sol. A ironia de ser sócia de uma marca chamada El Sol enquanto não tomo sol.
- Um brinde ao sucesso da El Sol e a você, por sair do estúdio para se divertir! - Sorri enquanto batia com a ponta da taça contra a de .
Eu realmente deveria dar um tempo para dançar. Há meses não saio para espairecer.
sabia que havia acertado ao me chamar para dançar.
Reggaetón é meu ponto fraco, não consigo ficar parada quando ouço. Por este motivo, todas as coleções de verão da El Sol têm os ensaios fotográficos feitos ao som do estilo musical mais envolvente do mundo.
- Você realmente está muito bonita, .
- Você também, . Obrigada por me levar. Você é uma amiga incrível. - piscou os olhos esfumados e se levantou da cama, terminando a taça de vinho. Seu corpo pequeno e curvilíneo estava marcado por um cropped preto, uma calça envelope florida e um salto preto tão alto que quase a deixava da minha altura.
- Uh, Carlos chegou. Vamos? - Assenti e peguei meu celular e carteira de identidade. Coloquei todo o dinheiro dentro do pequeno plástico e em seguida guardei no bolso com zíper do sobretudo. Estava consideravelmente frio do lado de fora e minhas pernas à mostra não facilitavam o processo de aquecimento corpóreo.
- Quem é Carlos?
- Um amigo da faculdade. Ele é legal.
Caminhamos para fora do estúdio em direção a um Jeep parado no meio fio. Um homem nos aguardava. A cabeça raspada, os ombros largos e braços musculosos cobertos por tatuagens tribais o deixaram parecido com o estereótipo de Prision Break.
- Ele faz moda? - Perguntei levemente hipnotizada. Carlos era realmente bonito.
- Não, faz engenharia. O conheci em uma festa da faculdade.
- Buenas noches, mamis. - Arquei a sobrancelha.
- Boa noite, Carlos. Obrigada por nos levar! - soltou um pulinho de felicidade enquanto corria para o banco da frente. Arrumei a bainha do vestido ao entrar no banco de trás do carro. O vestido vermelho soltinho de alças era confortável, mas não me preparava para o frio que estava do lado de fora do estúdio quentinho.
Atravessamos parte da cidade com lentidão. O trânsito de sexta à noite era capaz de tirar o ânimo de qualquer um, menos de . A mulher cantava qualquer música tocada no rádio e eu a acompanhava. Não a deixaria decepcionada àquela noite. Seria a pessoa mais animada que conhecia - mesmo que fosse a tarefa mais árdua de minha vida mortal.
- Chegamos! - Carlos anunciou fervorosamente sobre a música alta.
Olhei pela janela para o estabelecimento parecido realmente com um bar antigo, uma casa antiga, na verdade. Mordi os lábios ao ouvir a música soar. Era música boa, bem como havia dito. Minhas pernas já começavam a se mexer no ritmo do reggaetón.
Carlos nos deixou na frente da casa e foi atrás de um local para estacionar o Jeep. Olhei para toda a estrutura do lugar e sorri ao ver que realmente era uma casa. Caminhamos pelo jardim ladrilhado com pedras irregulares servindo de caminho até a porta de entrada. A luz da lua brilhava fortemente àquela noite e contrastava belamente com as luzes alaranjadas espalhadas por todo o jardim, enroladas nas árvores e que contornavam a casa toda. Havia pessoas no jardim com garrafas de cerveja apoiadas sobre barris de metal. Os bancos no jardim também eram de metal. O local todo parecia usar material reciclável.
- Gostou, não é? - perguntou com os olhos brilhando.
- Muito. Mas quero ver o lado de dentro.
O interior conseguiu me surpreender ainda mais que o exterior. A parte de fora se assemelhava a uma casa, mas a parte de dentro era um bar. Havia uma parede inteira para o bar em si, as paredes cintilavam e diversas garrafas estavam expostas em prateleiras de madeira, assim como o balcão e três bartenders revezavam para atender os clientes. O local estava consideravelmente cheio, pessoas de idade mais avançada e jovens estavam espalhados por toda a parte. Parecia um ponto de encontro confortável. A pista de dança no meio do bar estava cheia de casais dançando agarrados, quase se engolindo entre passos. Sorri automaticamente.
- Vamos sentar. - anunciou e correu para pegar uma mesa perto da janela. Sorri largamente para a pista de dança quando a música mudou e uma que estava tocando muito nas rádios começou a tocar. A cantora era brasileira, Anitta, se não estava enganada. Diversas pessoas se moveram para a pista a fim de dançar mais ainda.
- Vou pegar alguma coisa para beber, você quer? - Perguntei à enquanto deixava o casaco sobre a cadeira. Agora meus ombros estavam expostos, assim como as alças cruzadas em minhas costas.
- Quero uma cerveja, por favor. Aqui o dinheiro. - colocou as notas em minha mão e assenti. Andei pelo canto da pista até o bar. Levei um tempo até ser atendida e pedi uma cerveja e um martini. O cheiro de cerveja me enjoava um pouco. Sorri para o bartender quando me entregou as bebidas e pisquei rapidamente. Poderia me divertir por uma noite, não? Levei as bebidas até a mesa e me sentei de frente para com um sorriso enorme rasgando o rosto.
- Por que não vai dançar? - perguntou enquanto saboreava sua Heineken.
- Porque estou esperando ficar menos envergonhada. - Apontei para a bebida e deu uma risada rouca.
- Boa sorte! - Ela sorriu para um ponto atrás de mim. Carlos apareceu e colocou os braços enormes sobre os ombros de - Vou dançar. Quer ir?
- Vou ficar mais um pouco a sós com meu martini. Aproveitem. - Carlos sorriu e puxou pela mão até a pista de dança. Tomei mais dois goles do martini e deixei que meus olhos vagassem pelos corpos brilhantes de suor.
Alguns dançavam bem, outros estavam tímidos, enquanto algumas outras pessoas simplesmente mexiam os braços e bebericavam suas cervejas ao apreciar seus parceiros dançando. Vi um casal mais velho dançando colados ao som da música. Será que algum dia acharia alguém para dançar reggaetón comigo até não conseguir mais? Suspirei e desviei o olhar, olhando para a janela.
Puta merda.
?
O homem estava caminhando pelo caminho ladrilhado com um olhar curioso para a fachada do bar. Usava uma blusa verde musgo justa e uma calça jeans preta. A verdadeira perdição mexicana.
- Merda! - Tomei todo o martini de uma vez e me coloquei em pé. Uma onda de calor tomou todo meu corpo e mordi os lábios com força. Estava feliz e assustada por ele estar ali. Quer dizer, nunca o havia visto fora do ambiente da academia. Olhei mais uma vez pela janela, mas perdi o sorriso dos lábios ao vê-lo acompanhado por uma morena magra com os peitos do tamanho de melões.
Droga, eu realmente criei mil expectativas em cinco segundos.
Dei de ombros e fui para o bar novamente. Pedi um refrigerante e olhei tentada para a pista de dança. Precisava dançar. Dançar mais e criar menos expectativas. Sim, isso parecia uma boa.
- ! Ah! Estou tão feliz que a bebida fez efeito rápido! - gritou enquanto ria. Carlos me pegou pela mão e girou tão rápido que senti a bebida revirar em meu estômago.
- A bebida não fez efeito, só quis vir dançar! Estava na hora de perder a vergonha na cara!
E, por mais mentirosa que tivesse sido na hora, ainda havia parte de verdade. Estava realmente cansada de ficar envergonhada por dançar em público. Não dançava mal, conseguia mexer os quadris. Acho que passar a adolescência toda insegura acarretou em alguns problemas a mais do que o esperado. Mas estava na hora de começar a encarar essa droga toda de frente. E dançar.
Sim, eu sou Troy Bolton se descobrindo no mundo da dança. O mundo que me julgasse por tornar a dança um grande assunto digno de discussão filosófica.
"Clandestino", talvez uma de minhas músicas favoritas, começou a tocar e sorri para , reconhecendo o vício imediatamente.
Olhei para um homem sentado sozinho em uma mesa. Ele bebericava sua cerveja e parecia levemente entediado. Talvez pudesse usá-lo como parceiro de dança. Arrumei o vestido e caminhei lentamente até a muralha humana.
- Você parece entediado. - Comentei deitando a cabeça para o lado. O homem levantou o olhar e sorriu fracamente.
- Acertou. Meu amigo me abandonou aqui para dançar. - Soltei uma risada e o homem de olhos claros retribuiu.
- Quer dançar comigo? Minha amiga também me abandonou. - Arquei a sobrancelha esperando a negativa, mas me surpreendi quando o moreno levantou e segurou minha mão, puxando meu corpo para o meio da concentração de corpos.
As luzes dentro do bar também eram alaranjadas e fracas como as do lado de fora, dando ao local uma intimidade incrível que não é facilmente acertada.
- Uau, você dança bem! - Comentei conforme o meu parceiro colocava as mãos em minha cintura e me guiava ao som da música. Nossos passos aceleraram e senti o calor na boca do estômago aumentar. A felicidade parecia beirar ao extremo dentro de mim. Grudei meu corpo ao do estranho e deixei que seus braços fortes me puxassem para perto.
- Qual o seu nome? - Perguntei ao estranho ao fim da música. Pequenos fios de cabelo grudavam ao suor de meu rosto.
Único ponto negativo do local: falta de ventilação digna.
- Francisco, e o seu?
- . Isco, posso te chamar assim? - Ele assentiu sorridente - Foi um prazer dançar com você. Vou ao banheiro. Podemos dançar outra música depois, que tal?
- Seria um prazer. - Sorri e me afastei gradativamente, indo em direção às cortinas feitas de CD. Entrei pela persiana improvisada até o banheiro. As paredes eram feitas de capas de discos de vinil e a iluminação era igual ao lado de fora do bar. Todo o local era lindo e único.
Observei-me no espelho e sorri ao ver os cabelos cacheados selvagens, o sorriso felino e a maquiagem intacta. Foi uma ótima escolha não ter passado base, apenas o pó compacto. Mordi os lábios e passei as mãos sobre o vestido decotado.
já estava dentro do bar, com certeza. Se o visse, o que diria? "Hola, papi. Muito bom ver seu corpo incrível fora da academia. Ahora, gostaria que você saísse da minha frente antes que eu cometa uma loucura e me arrependa amanhã de manhã"?
Hm, essa não é realmente uma boa ideia.
Peguei meu celular e resolvi tirar uma foto. Precisava aproveitar a beleza que havia dado ao mundo naquela noite.
"O local certo pode ser a única coisa necessária para uma noite incrível." Postei a foto com a legenda e marquei o lugar.
Guardei o celular novamente e voltei para a pista. Olhei rapidamente ao redor do bar, mas não vi , apenas a morena peituda sentada em uma mesa distante. Meus olhos foram atraídos para Isco apoiado no balcão. Sua bunda era incrível, não havia como negar.
"Asesina" foi a próxima música do repertório. Respirei fundo e me aproximei de Isco.
- Eu realmente gosto desta música. - Comentei em seu ouvido. Isco se virou levemente e sorriu largamente para mim. Eu estava gostando do ritmo que as coisas estavam levando.
- Eu também. - Foi o suficiente para que eu puxasse sua mão novamente para a massa de pessoas, mas dessa vez um pouco mais afastados. Coloquei minhas mãos na cintura de Isco e me aproximei um pouco mais, mexendo os quadris junto com a música. Virei de costas e deixei que o homem colocasse suas mãos em meus quadris, guiando nossos corpos. Fechei os olhos por alguns milésimos e senti um arrepio ao imaginar no lugar de Isco. Balancei a cabeça para espantar o pensamento.
Isco, não .
Virei-me de frente e senti o choque correr todo o meu corpo quando encarei
em minha diagonal, perto do bar. Um sorriso apareceu em seu rosto rapidamente e sumiu com a mesma rapidez. Acenei para o treinador estupidamente. Voltei a dançar com Isco, mas não parecia mesma coisa. Droga de . - Está tudo bem? - Ele perguntou ao acariciar minha bochecha.
- Sim, sim. Vou ao bar, desculpe.
- Não quer que eu vá pegar algo?
- Ah, não precisa. Vi um amigo meu ali. Já volto.
Embestadamente, atravessei o mar de pessoas até chegar em . Eu realmente iria fazer papel de ridícula àquela noite, com certeza. Se estivesse em casa, não estaria próxima de prestar o papel ao qual me prestarei neste momento.
- Você não parece muito diferente de quando está na academia. - Comentei ao me colocar ao lado de . Seu perfume era cheiroso demais para que meu corpo pudesse aguentar. virou lentamente o rosto e analisou meu corpo de cima abaixo rapidamente, prendendo o olhar em meu rosto.
- Você parece muito diferente de quando está na academia.
- Isso é bom, não é? - Sentei no banco reutilizável ao lado do treinador. Acenei para o garçom pedindo uma garrafa d’água.
- Sim, é bom. - Comentou enquanto virava outro gole de cerveja sem sequer me olhar nos olhos.
- Hey, tudo bem? - virou os olhos castanhos em minha direção e quis sair gritando por todo o bar o quão perdida estava.
- Tudo bem. Você dança muito bem, sabia? - Mordi o lábio levemente e passei as unhas pelo pescoço, movimento que acompanhou com olhos atentos.
- Obrigada. Mas ainda estou tímida demais para dançar. - O treinador arqueou a sobrancelha e batucou com a cerveja na mesa.
- Aquilo era timidez? - Sua voz pareceu áspera.
- , entendo que você precise ser gentil comigo na academia porque sou sua aluna. Não imaginava que você só era legal porque estava sendo pago por isso. - Peguei a garrafa d’água e me dirigi até a mesa em que Carlos e estavam sentados. Os dois riam e bebiam juntos. Ao me ver, me chamou com um sorriso.
- E aí, vi você conversando com o gostoso do seu professor. Te fiz um favorzão, não? - Sentei-me na cadeira e processei as palavras de .
- Como assim, me fez um favor?
- Ué, eu o chamei para vir hoje. Frequentamos a mesma academia, lembra? Apenas em horários diferentes. O meu professor não é o , mas o chamei de qualquer forma.
- E você fez isso em nome de quem?
- Ora, do meu - suspirei - e do seu. - Meu coração acelerou e quis enfiar a garrafa de cerveja de em sua goela.
- Você perdeu o seu juízo?! !
- O quê? Ele é gato! Puedo hacerle un daño.
- Eu sei disso, mas ele não sabe que eu sei!
- Mira, guapa, homens não são complicados. Ele não gostou de te ver dançar com aquele cara, eu e acabamos de comentar. Ele ficou olhando para os dois o tempo todo. Relaxa, ele veio porque quer te traçar. - Arregalei os olhos e soltou uma risada alta.
- Que tipo de cara você arruma, ! - Ela deu de ombros e deu um beijo em Carlos.
Me traçar? Que tipo de expressão é essa? Só falta ele dizer bagaçar. Acho que esse teria sido o cúmulo. Deixei e Carlos a sós com suas ogrisses e fui ao banheiro novamente. Talvez estivesse na hora de ir embora. Já passei por emoções o suficiente. E estaria em meu pensamento até segunda de manhã, já estava me acostumando com isso.
Não creio que tenha sentimentos por ele, não de verdade. Talvez apenas carência, mas não sentimentos. E tem mais, mesmo que ele não tenha gostado de me ver dançando com Isco, por que agir daquela maneira? Ele estava acompanhado, de qualquer forma!
Além disso, esta era a primeira vez que eu realmente saía depois de meses para dançar e me divertir e havia sido, em parte, um fiasco. Não deveria deixar afetar meu corpo daquela forma. Isco poderia justamente ser o que eu precisava para me desintoxicar do professor.
Isso, eu beijaria Isco e ignoraria , porque eu simplesmente posso fazer isso. Sou uma mulher linda, cheirosa, gostosa e não iria deixar estragar a minha noite. Poderia dançar com Isco a noite inteira. Faria justamente aquilo. Decidida a sair daquele lugar com os pés doendo de tanto dançar, saí do banheiro com ombros altos e sorriso estampado no rosto.
- ¿Baila conmigo, mami? - Observei se colocar em minha frente com o mesmo sorriso largo de quando me via pela tarde na academia.
Ah, droga. E todo o meu papo empoderado no banheiro?
Diga alguma coisa, mulher! Você tem capacidade de fala, por que não consegue colocar em prática agora?
- Hã…
- Vamos. - Não tive tempo para responder propriamente antes que ele me guiasse para um dos únicos locais disponíveis para dançar. Passamos por algumas pessoas até nos fundirmos entre os outros corpos. Minhas pernas pareciam feitas de geleia e minhas mãos tremiam levemente. Senti meu corpo arder com pura adrenalina quando colocou sua mão em minha cintura e a outra com a minha. Mal conhecia a música que tocava, mas nossos corpos desajeitadamente se conectaram. Ele não era um pé de valsa, mas estava tentando. - Falei que você dançava bem, mas não falei nada sobre mim, guapa. - Senti minhas pernas tremerem levemente. Eu sou uma adolescente perto de , não consigo nem mesmo disfarçar o quão perdida fico perto dele.
- Desde quando você me chama de guapa? - Perguntei novamente em seu ouvido, guiando suas mãos para minha cintura. Coloquei minhas mãos na mesma altura de sua cintura e comecei a guiar nossos movimentos levemente ao som de "Cuando te besé".
- Desde que você colocou esse vestido e esse batom. - ¡Aí, Díos! - Mas quero te chamar de guapa há um tempo.
Puxei ainda mais nossos corpos. Parecia uma drogada, precisava mais e mais dele, de sua voz firme e arrastada. Giramos uma vez pelo salão e senti todo o meu corpo reverberar animadamente quando o vi batendo palmas para mim durante o refrão. Acompanhei o ritmo com meu quadril e pés. Algumas pessoas abriram espaço para nós dois e me senti uma rainha. Balancei meus cabelos e encarei com um sorriso largo. Suas bochechas estavam vermelhas e seu corpo me fez morder levemente os lábios. Ao término do refrão, as mãos de puxaram meus quadris novamente, batendo nossos corpos com uma fricção quase pecaminosa. Sorri largamente e deixei que nossos corpos dançassem espontaneamente até o final da música, e da próxima, e da seguinte até que meus pés doessem. Em algum momento, Camboja apenas balançava nossos corpos ao ritmo lento e viciante da música. Suspirei descaradamente em seu ouvido e sorri ao sentir seus pelos do pescoço se arrepiarem.
- Le encata que la vean cuando ella perrea, ela encanta que la vean cuando se remenea. - Mordi os lábios ao ouvir sussurrar a música em meu ouvido e seus dentes morderem o lóbulo de minha orelha.
Em algum momento, meu corpo estava de costas para o dele e suas mãos nos guiavam cegamente. Expus meu pescoço em uma tentativa desesperada de fazer com que seus lábios tocassem minha nuca. O primeiro beijo em meu cangote me fez revirar os olhos involuntariamente. Soltei um murmúrio baixo e me virei para com os olhos mais loucos que ele deve ter visto, pois soltou uma risada que mais pareceu um rugido.
Arranhei levemente seu pescoço e senti meu mundo virar pó de fada e pimenta quando seus lábios tocaram os meus, ali no meio dos corpos suados. Suspirei no meio do beijo, sem saber o que fazer a não ser me entregar ao homem com o beijo mais gostoso do mundo. As mãos de me puxaram para mais perto, segurando minhas costas e meu pescoço. Apertei sua cintura, sem saber o que fazer com as mãos a não ser tocá-lo.
O reggaetón ecoava ao nosso redor, os corpos queimando lado a lado, chamas vivas e brasa envolvente. Parei o beijo para respirar, atordoada demais para fazer algo além de encarar e perceber que eu queria beijar aquela boca a todo o tempo.
- Você está com olhar de louca. Sabe disso, não é? - Assenti cegamente e o puxei para outro beijo desesperado. Suas mãos acariciavam meu pescoço e seu polegar tocava levemente minha bochecha. Senti meu corpo inteiro arrepiar descaradamente.
- Você sempre me deixa assim, guapo. - Murmurei em seu ouvido e soltei um suspiro quando suas mãos encontraram a linha abaixo de minha cintura. Eu não sobreviveria, não havia dúvidas.
- Quero ver esse olhar de louca segunda-feira. - Me afastei levemente e soltei uma risada - Estraguei o flerte com isso, não foi?
- Você é fofo demais para isso, fica tranquilo.
- Sabe do que mais? Acho que quero te beijar mais. - Ele comentou com um risinho tímido.
- Hm, eu também.
- Sempre soube que você tinha uma quedinha por mim, bebé. Quando eu mostrava os exercícios de agachamento siempre estabas mirándome de pies a cabeza.
- Que? Não estava!
- , guapa, eu te via pelo espelho. Você não é sutil. - Eu pude sentir todo o meu rosto ficar escarlate de um segundo para o outro. Se eu pudesse me enfiar em um buraco naquele momento, me enfiaria.
- Quando foi que você quis começar a me chamar de guapa?
Eu e já estávamos caminhando para o lado de fora do bar.
Avistei Isco no canto com uma ruiva alta. Ele já parecia tão entretido quanto eu.
- Quando você fez uma piada muito ruim no teste físico. Eu quis morrer de dar risada. Você é realmente algo más, . - Mordi os lábios e suspirei ao apoiar as costas contra o tronco de uma árvore iluminada.
- Eu realmente quero te beijar. - Sussurrei ao som da música abafada pela porta da frente fechada. Algumas pessoas espalhadas pelo jardim estavam ocupadas demais com seus problemas para prestar atenção no farol iluminado que vinha de meu corpo na direção do belo moreno parado diante de mim com as mãos dentro dos bolsos. Sorri fracamente. Teria uma boa história para contar amanhã de manhã.
Os lábios de encontraram os meus violentamente, meu corpo se envergou sobre a árvore, dando mais espaço, tudo o que eu poderia entregar a ele naquele momento. Meu interior inteiro revirava por sentir o calor de suas mãos, o ar faltava em meus pulmões e meus dedos dos pés se retorciam nos saltos. Estar ali com era bem melhor do que estar em casa assistindo Encantada, sem dúvidas. Puxei-o pelo cós da calça para beijá-lo novamente.
- ? - Senti falta do contato imediato dos lábios do treinador quando ele se afastou. A morena de antes estava emburrada e o encarava da porta do bar.
Eu havia esquecido da peituda! Droga! Os dois estavam juntos e mesmo assim estava me beijando!
- Você deveria ir. - Comentei ainda em transe pelo beijo.
- Calma, já volto. Não saia daqui, . - Assenti fracamente e correu para dentro do bar. Senti o frio cobrir todos os cantos em que a mão do homem tocara. Olhei ao redor completamente atordoada.
Eu precisava ir embora, não queria ser a responsável pelo término do relacionamento de duas pessoas, mesmo que me parecesse estupidez da parte de trair a namorada na frente dela. E eu deixei, mesmo imaginando o que estava acontecendo. Ah, meu Deus!
Minha mãe me bateria tanto se me visse naquele momento. Fiz uma prece de perdão a Deus e corri em direção à porta do bar. Não vi ou a peituda em canto algum. Andei rapidamente até a mesa em que e Carlos estavam sentados se beijando enlouquecidamente. Peguei meu casaco e saí sem me despedir. Depois iria mandar uma mensagem avisando o que havia acontecido. Cheguei na calçada e abri o aplicativo do Uber. Não conseguiria fugir de se estivesse parada na frente do bar! Andei para a rua de trás do local, sentando-me no meio fio a espera do Uber. Deixei que o vento frio acalmasse meu corpo em chamas.
Beijar fora a melhor experiência amorosa de minha vida. Meu corpo estava em chamas flamejantes, mas aos poucos a realidade vinha ao meu encalço. Ele estava com a peituda, não havia espaço para nós dois depois daquela noite e precisaria me acostumar com este fato. Não há contos de fada, por mais carinhosas que fossem as palavras . Quer dizer, qualquer homem consegue ser um doce quando quer traçar alguma mulher, nas palavras do filósofo contemporâneo, Carlos.
Observei um carro vindo devagar pela rua cheia de outros estacionados e assumi que aquele deveria ser o Renault Sandero que o aplicativo dizia ser o carro do meu motorista. Suspirei aliviada ao entrar no veículo e deitar a cabeça contra o estofado.
Ao chegar em casa, larguei o casaco sobre a cadeira, tirei o vestido, escovei os dentes e me joguei na cama. Precisava dormir, mas meu sistema não conseguia processar a necessidade do sono, apenas estar com .
- Você precisa se livrar disso, . - Murmurei virando pela cama. Fiz uma oração antes de dormir e me forcei a parar de pensar em , em como seria estar com ele todos os dias dali para frente, abraçar seu corpo para dormir e cheirar seu cabelo extremamente cheiroso - Ok, chega!
Peguei o celular e mandei uma mensagem para avisando que estava em casa. Havia uma mensagem de logo embaixo do chat com minha amiga.
"Não precisa fugir de mim. Beijo tão mal? Espero que esteja bem. Durma bem, mami. Estaba muy guapa y chingona* hoy, ."
Pisquei diversas vezes ao ler a mensagem e apenas bloqueei o celular. Não lidaria com aquele drama, não àquela hora.
Deixe para segunda os problemas de segunda.
Desliguei o celular e, inconscientemente, permiti que meu sono fosse tomado por beijos molhados e reggaetón lento.
*chingona: bem vestida, bonita
*
Segunda-feira é o dia mais injusto da semana. Passamos três dias inteiros felizes por descansar e a segunda vem como um balde de água fria para acabar com nossa felicidade. Arg!
- Alguém está de mau humor hoje, hein? - sorriu e colocou uma xícara enorme de café na minha frente. Segurei a xícara como se minha vida dependesse daquilo.
Não consegui fazer absolutamente nada naquele domingo. Sempre que começava a fazer o catálogo da coleção de verão, vinha à mente e meu corpo inteiro formigava. Ah, minha nossa, eu realmente beijei um homem em um relacionamento.
- Estou apenas estressada. Não consegui fazer nada ontem! Não deveria ter ido à festa, . - A morena bufou e se sentou em sua cadeira, colocando a sua própria xícara de café perto do computador. Que perigo.
- Deveria, sim! Você está fervilhando por dentro, não está? Você me falou brevemente o que aconteceu com . Sinto muito pela peituda, mas não pode deixar que isso afete seu trabalho, ! Você é a mente criativa desta marca, precisa canalizar todo esse constrangimento em ideias. - estava séria, algo que raramente acontecia fora do horário de trabalho. Assenti levemente e olhei para o café preto dentro do recipiente. Ela estava certa.
- Sim, tem razão. Não sei porque me deixei afetar tanto por isso. Além do mais, ele que foi o cabrón por ter traído a namorada, não eu.
- Corretíssimo! Pessoas que traem merecem um soco na cara. - Soltei uma risada ao ver fingindo acertar com golpes de luta.
- Acho que eu levaria uma rasteira antes de sequer chegar perto de . - deu de ombros e girou a cadeira de frente para o computador.
- Agora vamos trabalhar. Você tem uma coleção a terminar e eu tenho vários fornecedores para puxar o saco.
- Obrigada, . - Comentei com um sorriso sincero enquanto entrava em meu escritório, atrás da mesa da recepção.
- Para tudo o que precisar, jefe.
*
Às 13h00, a coleção de verão já estava praticamente pronta e os designs estavam incríveis. Precisaria encaminhar o material para o designer gráfico e ver se havia alguma correção a ser feita. Sorri ao analisar a base do catálogo pronto. Mandaria todo o material no final do dia e na segunda que vem já esperava estar com todo o material finalizado em minha mesa para a revisão final antes de ser encaminhado para as lojas e revistas.
- ! Pode ir almoçar primeiro! Vou comer por aqui mesmo.
- O quê? - A cabeça de apareceu pela fresta da porta e apenas movi o óculos para cima sem observá-la nos olhos.
- É isso aí. Não estou afim de treinar hoje. Pode ir. - Acompanhei a silhueta de minha secretária parar na frente da mesa e suspirei antes de me preparar para ouvir o sermão de .
- Isso é por causa do ? Sério? - Não a respondi, apenas fechei a janela do Google - ! Não acredito que você vai deixar de fazer seu treino sagrado por causa dele! É um homem, apenas.
- Nem todos os homens beijam como ele! Além do mais, vai ser estranho. Mira, , no puedo hacer esto.
- Pode, sim! Você vai lá treinar com a mesma normalidade de sempre. Se ele traiu a namorada dele, esse é um fardo que ele precisa carregar, não você. Pelo amor de Deus! - Por mais certa que estivesse, ainda doía imaginar que eu fazia parte da equação, mais ainda, que eu havia nutrido esperança de que hoje eu poderia até mesmo chamá-lo para sair comigo. Sério, o quão estúpida eu sou?
- Eu sei disso, ! Mas eu estou chateada, ok? - O entendimento atingiu como um choque, com certeza, pois ela se sentou em uma das duas cadeiras na frente de minha mesa e mordeu os lábios vermelhos.
- Você realmente gosta dele, huh?
- Não sei, acho que sim. Quer dizer, eu não deveria estar chateada por não conseguir mais nada com ele, deveria?
- É, não deveria. Tem certeza que não é só carência por não poder beijar aquela boca linda?
- Sim. Tive sabádo e domingo inteiros de procrastinação involuntária para pensar nisso. Acho que realmente gosto dele. Eu estou apaixonada por um traidor. Isso é plot de telenovela, não é? - Bufei ironicamente e fechei o computador de vez. Não havia chance de trabalhar depois desta conversa.
- Não, é comum, na verdade. Homens de telenovela não prestam, homens da vida real são mil vezes piores! - Assenti e tomei um gole de água. Estava nervosa, batia os pés no chão insistentemente.
- Acho que você tem razão, . Eu vou lá. Se é um traidor, não devo me sentir culpada por isso! Foi ele quem me beijou, eu não o forcei a nada. Além do mais, vou precisar superar essa paixão de qualquer forma, não adianta ficar me escondendo em uma cova. Minha razão é minha maior arma.
- Isso aí, garota! Coloque aquela legging preta e aquela blusa de academia colada que eu amo!
- Mas eu só vou fazer os exercícios, não me mostrar.
- Quem se importa, ? Mostre essas mamas para ele e prove que ele nunca vai poder vê-las porque é um babaca! - A animação nos olhos de era assustadoramente incentivadora. Sorri largamente e peguei minha bolsa no divã próximo ao banheiro e fui me trocar. Sim, eu iria passar por cima. É apenas uma crush, passará tão rápido que mal vou perceber. Estou acostumada a me apaixonar mil vezes por dia, agora vou precisar me acostumar a não me apaixonar apenas por .
- Posso comer seu almoço? - perguntou do outro lado da porta. Soltei uma risada enquanto colocava os tênis de corrida.
- Pode! É pasta com molho rosé. Está gostoso.
- Hm, sabes cómo dejarme feliz.
- Bom almoço. - Comentei ao sair do banheiro vestindo a roupa de academia.
maneou com a cabeça enquanto devorava a pasta.
- Bom treino. Depois quero o relatório completo.
- Falando em relatório, preciso da resposta dos fornecedores até o final do dia.
- Pra já, jefe.
*
Subi as escadas da academia com uma confiança tão grande que poderia beirar à arrogância.
- Boa tarde, Carmen. - Cumprimentei uma senhora que frequentava a academia no mesmo horário que eu e estava de saída. Cheguei alguns minutos mais atrasada do que o normal.
Forcei-me a não procurar no ponto em que ele sempre ficava, esperando um aluno chegar. "I Like It" da Cardi B tocava por todo o interior da academia e comecei a balançar a cabeça ao ritmo da música ao caminhar até o vestiário.
Já sabia qual seria o meu treino, havia decorado há algumas semanas para não precisar gastar papel da impressora. Guardei minha mala no armário e caminhei até o primeiro aparelho, o leg press. Coloquei trinta quilos de cada lado e comecei a sequência. Cometi o erro de olhar para o lado e ver me encarando seriamente. Se fosse possível, seu olhar conseguiu queimar ainda mais meu interior.
Fechei os olhos e inclinei a cabeça para cima, esperando terminar o treino de hoje tranquilamente.
Terminei a sequência e me dirigi para o próximo, o step. Comecei a fazer a sequência de passos ao redor do aparelho. havia perguntado o que eu mais gostava de fazer ali, meses atrás, e respondi que era dançar, então ele montara o treino com movimento ritmados que parecessem dança. Lembro-me que ao dizer isso, quis abraçá-lo com toda a força. Realmente, eu sou boba demais para este mundo.
- Está fora de ritmo, . - A voz de reverberou por toda a minha miserável existência e o encarei com o melhor olhar de indiferença.
- Como se você entendesse de ritmo.
- Você não pareceu se incomodar sexta à noite.
- Você não pareceu se incomodar com muitas coisas sexta à noite.
- Quê? - O encarei de soslaio e ele parecia realmente confuso. Meu Deus, tem como ser mais fingido? De repente, comecei a sentir raiva, não mais tensão sexual acumulada. Raiva.
- Você realmente vai fingir que não traiu sua namorada?
- Quê? - Os olhos de se arregalaram e a confusão se fez clara em seu rosto.
- Professor? Pode me ajudar? Não sei que movimento é esse. - Margarete, uma mulher que também malhava junto comigo, atrapalhou o momento de falsidade clara no rosto de e o puxou para perto da bola de pilates. Cerrei o maxilar com força. Continuei o treino sem mais problemas, chegando à última sequência sem a interrupção de , já que ele estava ocupado com Margarete e sua dificuldade em entender exercícios que faz há dois anos.
Na última sequência, olhei ao redor da academia e suspirei ao perceber que estava sozinha com . Margarete deveria estar fazendo esteira no andar de baixo.
- Podemos conversar agora como adultos? - se sentou no colchonete ao meu lado enquanto me preparava para ficar na prancha por um minuto.
- Você já se desculpou com a sua namorada?
- Minha nossa, do que você está falando, ? Eu não namoro! - Forcei meu pescoço para cima a fim de encará-lo no meio da prancha. Meu rosto deveria estar vermelho pelo esforço e pela raiva.
- A menina que veio te chamar puta da vida quando viu você me beijando não era sua namorada? - Díos, !¿Qué pasa? Claro que não! Aquela era a minha irmã - O quê? - Ela veio me chamar porque um cabrón passou a mão nela e tentou beijá-la a força. Fui até lá assustá-lo! Não consegui te explicar porque você fugiu! - Praticamente me joguei de barriga no colchonete e não tive coragem de levantar os olhos para . Ah, que boba!
- Vocês dois não se parecem. - Sério, é a melhor coisa em que consigo pensar?
- Somos meio irmãos. Dividimos o pai, não a mãe.
- Ah. - Levantei os olhos para encará-lo e mordi o canto dos lábios nervosamente. Fiz papel de otária novamente. Este cenário é muito comum em minha vida.
- Por isso você fugiu? Por causa da minha irmã?
- Eu não achei que ela fosse sua irmã.
- Você acha que eu trairia a minha namorada na frente dela? Minha nossa, ! Para início de conversa, eu jamais trairia alguém. Já sofri deste mal antes, não o desejo para ninguém. - Sentei-me no colchonete e respirei fundo.
- Foi mal.
- Ainda bem que é só isso. Achei que tivesse ido embora porque beijo mal. - Arquei a sobrancelha e soltei uma risada rouca pela falta de água.
- Você não beija mal, fica tranquilo. - Passei a mão pela testa suada e cruzei as pernas.
sorriu largamente e se aproximou um pouco.
- Tem certeza? Não quer testar mais uma vez? - Olhei ao redor do andar e realmente não havia ninguém ali, as câmeras ficavam apenas no andar de baixo.
- Hmm… - Sorri e me levantei rapidamente, puxando o pescoço de e o beijando novamente. Senti-me sendo arrebatada para longe dali, o som dos ventiladores sumiram, assim como a música ambiente. Suspirei entre os beijos e me afastei.
- Eu vim aqui para mostrar que nunca mais poderia me tocar, sabia? - respirou pesadamente e mordeu meu lábio antes de se afastar lentamente.
- Acho que você falhou na sua missão.
- É, eu teria sucedido se sua irmã não fosse sua irmã. - soltou uma risada alta.
- Já que o mal entendido já foi resolvido, o que acha de sair sexta à noite? Dessa vez podemos ir a algum lugar em que não precisemos dançar.
- Mas qual a graça? Preciso de uma desculpa para colocar suas mãos em mim. - arqueou a sobrancelha e sorriu.
- Se for assim, eu topo. - Ouvimos sons de risada das escadas e se levantou rapidamente. Voltei a me colocar na prancha.
Sorri para mim mesma enquanto observava aquela bunda linda se mexer entre os aparelhos. Eu poderia lidar com a felicidade em observá-lo daquela posição. Fui pega de surpresa pelo olhar de e pisquei o olho para ele que retribuiu com um sorriso delicioso.
Estava ansiosa para sexta-feira. Dançaria a noite toda o reggaetón mais lento apenas para tê-lo em meus braços.
Estava pensando seriamente em largar a academia, não aguentava mais ter calos nas mãos e sair mancando todos os dias.
- Mais três. Quero ver você sair daqui suando horrores. - Revirei os olhos para o homem lindo diante de mim. Não é nem mesmo justo que um cara desses exista. Respirei fundo e olhei para minhas mãos calejadas. Os nós dos dedos estavam vermelhos e ásperos, minhas mãos tremiam pelo esforço de subir a corda pela segunda vez naquela semana.
- Você não precisa me ver subir na corda para me fazer suar, sabe disso, não é? - arqueou a sobrancelha e desviou o olhar.
- Entrenador, pode me ajudar com um exercício? Não sei como fazer. - Uma morena apareceu e sorriu para , ele sorriu de volta e a seguiu para o leg press. Desci da enorme corda assassina e corri para o próximo aparelho. Depois diria ao que apenas sou muito rápida para subir cordas. Ele, com certeza, vai acreditar.
Inspirei e expirei enquanto fazia os exercícios abdominais. Precisava ficar arrumando a blusa a cada abdominal porque, aparentemente, eu havia escolhido uma apertada demais. Droga de gordura localizada. Não que eu me incomodasse - na maior parte do tempo - com meu corpo. Eu não estava na academia para emagrecer, mas para cuidar de minha saúde.
Três anos atrás, o médico me deu a notícia de uma pré-diabetes que poderia se alterar rapidamente para um quadro de diabetes, além do índice de obesidade. Meu corpo não aguentava mais e eu comecei a me incomodar tendo apenas vinte anos. Com vinte e um, dois anos atrás, enquanto fazia a faculdade de moda, fiz alguns ensaios usando minhas próprias roupas e algumas pessoas curtiram o trabalho. Acabei me envolvendo em alguns projetos e agora sou sócia de uma marca de roupas plus size, além de fazer eventuais ensaios para a marca, El Sol. A marca é meu bebê, não posso medir em palavras o quão orgulhosa eu sou deste projeto.
- Eu te vi escapando da corda. - apareceu ao meu lado com um sorriso sarcástico.
- Eu não escapei, eu escalei e fiquei cansada. Apenas.
- Você não me engana, .
Ok, três itens necessários a se saber sobre Camboja: 1) há três anos ele é meu treinador na academia que frequento; 2) ele é um homem demasiado guapo para mí, mas este detalhe técnico não me faz ter sonhos menos perturbadores com essa rodovia de mau caminho; 3) ele parece uma máquina de flerte, mas não sei dizer se sou a única que os recebe ou se sou a única que realmente conseguiu resistir até agora e estou por um fiapo. Quer dizer, há rumores de que ele namorou algumas alunas da academia, mas nunca perguntei diretamente para elas ou ele. Não é de minha conta.
- Não engano mesmo, porque não é de minha natureza extraordinária fazer esse tipo de coisa. - revirou os olhos enquanto se afastava para imprimir o treino de um homem negro e alto que havia acabado de entrar na academia.
O horário do almoço é muito tranquilo por aqui, há apenas alguns gatos pingados que trabalham por perto ou simplesmente não trabalham. Me encaixo na primeira descrição. O estúdio ficava a apenas seis quarteirões de distância. Sempre que os clientes iam ao estúdio, ficavam levemente chocados por não se localizar em um local mais elegante - em um bairro cheio de modelos ou o que quer que fosse. A verdade é que eu prefiro estar em um local familiar, não no meio de pessoas que não conheço que vivem para roubar o trabalho alheio. Talvez daqui alguns anos, caso a empresa venha a crescer mais, eu possa abrir um outro atelier apenas com trabalhos horrendos que venham a servir de inspiração para os surrupiadores.
Larguei a bola de pilates no canto e arrumei novamente a blusa. Talvez devesse comprar roupas mais largas para os treinos de abdominal.
Ouvi o beep do celular no bolso e o peguei rapidamente. Poderia ser do trabalho. Faltava apenas quarenta e cinco minutos para acabar meu horário de almoço. Precisava correr para o estúdio que, por coincidência, vinha a ser minha casa, e tomar um banho. , a assistente, deveria estar subindo pelas paredes para me ligar àquela hora.
- . - Atendi profissionalmente o telefone. poderia muito bem estar com um cliente.
- E aí, patrón.
- Tem algum motivo específico para eu estar ouvindo sua doce voz a esta hora? - Corri para o banheiro com um sorriso no rosto. Já estava colocando minhas coisas na bolsa quando soltou uma risada alta.
- Apenas queria confirmar se vai querer ir à festa de hoje. Vai ser apenas reggaetón e muita dança. Vamos, vamos. Prometo que é um lugar legal. Eu conheço o dono, é um senhor de idade super gente fina que administra o bar há décadas. - Fechei o armário e fiz um malabarismo enquanto segurava o celular entre o pescoço e a orelha e amarrava os cadarços.
- Não sei, . Tenho que terminar os orçamentos da próxima coleção. Preciso entregar os materiais até semana que vem.
- Sabia que diria isso, por isso já terminei os orçamentos. Só preciso da sua aprovação.
- Hm, uma festa era o que faltava para te fazer ficar cem por cento produtiva? Acho que vou marcar mais festas por mês. - soltou uma risada irônica - Estou brincando. Obrigada. Sempre posso contar com você para tudo.
- Eu sei, eu sei. Sou uma jovem adulta competente, não? Então, vamos à festa? Não queria ir sozinha. - Vamos. Vou ficar pouco tempo, tenho que voltar para o estúdio e terminar alguns outros projetos.
- Claro, senhora. Vai ser divertido, prometo!
- Ahã. Não confio muito em você, .
- Você vai ver. - Ela afirmou e só pude sorrir enquanto saía do local acenando para que, sorridente, acenou de volta.
*
Às oito horas, quis correr de volta para o edredom e não sair até o dia seguinte.
Mesmo aos vinte e três, não aguentava ficar de pé à noite toda dançando, por mais que amasse dançar.
Observei minha imagem no espelho e sorri levemente. Estava bonita. Não estava tão maquiada, sabia que não tiraria bem a maquiagem quando voltasse, então passei um batom vermelho forte, delineador e máscara - que triplicou o tamanho de meus cílios. Às vezes, menos é mais. Além disso, a maquiagem combinou com o vestido vermelho solto. O decote era chamativo, mas combinava comigo. Mesmo que eu usasse um sobretudo, os seios provavelmente ainda seriam chamativos para algumas pessoas. São seios, por Díos.
- Uau! Mira, mami. ¿Que pása, guapa? - Sorri ao ver entrar no quarto carregando uma garrafa de vinho.
- Você também está muy guapa, . A que horas saímos? - checou o relógio dourado de pulso e arqueou as sobrancelhas bem feitas.
- Em meia hora. Um amigo meu vai vir nos buscar.
- Quê?
- Ué, eu te falei isso!
- Não falou, não. Vou com o meu carro. - suspirou pesadamente e se jogou na cama com as duas taças na mão.
- Não queria que você fosse com o carro porque quero aproveitar a noite com você! Desde que os negócios têm ficado mais sérios, você só se prende neste estúdio. Isso não é saudável. É daqui para a academia e reuniões. Você precisa fazer algo divertido, novo! Talvez te traga até mais inspiração para as próximas coleções. Vendemos bastante a coleção inspirada na Frida Khalo, lembra? E lembra de onde veio a ideia?
- Da visita que fizemos à sua amiga sempre chapada. - revirou os olhos.
- Chapada, talvez. Mas as pinturas da casa dela eram lindas. E para a sua informação, ela já voltou da reabilitação e está ótima.
- Não posso tirar o crédito dela por isso. - encheu a taça de vinho das duas e entregou uma em minhas mãos. Ela estava certa. Minha pele parecia estar até clareando de tanto tempo que não ficava exposta ao sol. A ironia de ser sócia de uma marca chamada El Sol enquanto não tomo sol.
- Um brinde ao sucesso da El Sol e a você, por sair do estúdio para se divertir! - Sorri enquanto batia com a ponta da taça contra a de .
Eu realmente deveria dar um tempo para dançar. Há meses não saio para espairecer.
sabia que havia acertado ao me chamar para dançar.
Reggaetón é meu ponto fraco, não consigo ficar parada quando ouço. Por este motivo, todas as coleções de verão da El Sol têm os ensaios fotográficos feitos ao som do estilo musical mais envolvente do mundo.
- Você realmente está muito bonita, .
- Você também, . Obrigada por me levar. Você é uma amiga incrível. - piscou os olhos esfumados e se levantou da cama, terminando a taça de vinho. Seu corpo pequeno e curvilíneo estava marcado por um cropped preto, uma calça envelope florida e um salto preto tão alto que quase a deixava da minha altura.
- Uh, Carlos chegou. Vamos? - Assenti e peguei meu celular e carteira de identidade. Coloquei todo o dinheiro dentro do pequeno plástico e em seguida guardei no bolso com zíper do sobretudo. Estava consideravelmente frio do lado de fora e minhas pernas à mostra não facilitavam o processo de aquecimento corpóreo.
- Quem é Carlos?
- Um amigo da faculdade. Ele é legal.
Caminhamos para fora do estúdio em direção a um Jeep parado no meio fio. Um homem nos aguardava. A cabeça raspada, os ombros largos e braços musculosos cobertos por tatuagens tribais o deixaram parecido com o estereótipo de Prision Break.
- Ele faz moda? - Perguntei levemente hipnotizada. Carlos era realmente bonito.
- Não, faz engenharia. O conheci em uma festa da faculdade.
- Buenas noches, mamis. - Arquei a sobrancelha.
- Boa noite, Carlos. Obrigada por nos levar! - soltou um pulinho de felicidade enquanto corria para o banco da frente. Arrumei a bainha do vestido ao entrar no banco de trás do carro. O vestido vermelho soltinho de alças era confortável, mas não me preparava para o frio que estava do lado de fora do estúdio quentinho.
Atravessamos parte da cidade com lentidão. O trânsito de sexta à noite era capaz de tirar o ânimo de qualquer um, menos de . A mulher cantava qualquer música tocada no rádio e eu a acompanhava. Não a deixaria decepcionada àquela noite. Seria a pessoa mais animada que conhecia - mesmo que fosse a tarefa mais árdua de minha vida mortal.
- Chegamos! - Carlos anunciou fervorosamente sobre a música alta.
Olhei pela janela para o estabelecimento parecido realmente com um bar antigo, uma casa antiga, na verdade. Mordi os lábios ao ouvir a música soar. Era música boa, bem como havia dito. Minhas pernas já começavam a se mexer no ritmo do reggaetón.
Carlos nos deixou na frente da casa e foi atrás de um local para estacionar o Jeep. Olhei para toda a estrutura do lugar e sorri ao ver que realmente era uma casa. Caminhamos pelo jardim ladrilhado com pedras irregulares servindo de caminho até a porta de entrada. A luz da lua brilhava fortemente àquela noite e contrastava belamente com as luzes alaranjadas espalhadas por todo o jardim, enroladas nas árvores e que contornavam a casa toda. Havia pessoas no jardim com garrafas de cerveja apoiadas sobre barris de metal. Os bancos no jardim também eram de metal. O local todo parecia usar material reciclável.
- Gostou, não é? - perguntou com os olhos brilhando.
- Muito. Mas quero ver o lado de dentro.
O interior conseguiu me surpreender ainda mais que o exterior. A parte de fora se assemelhava a uma casa, mas a parte de dentro era um bar. Havia uma parede inteira para o bar em si, as paredes cintilavam e diversas garrafas estavam expostas em prateleiras de madeira, assim como o balcão e três bartenders revezavam para atender os clientes. O local estava consideravelmente cheio, pessoas de idade mais avançada e jovens estavam espalhados por toda a parte. Parecia um ponto de encontro confortável. A pista de dança no meio do bar estava cheia de casais dançando agarrados, quase se engolindo entre passos. Sorri automaticamente.
- Vamos sentar. - anunciou e correu para pegar uma mesa perto da janela. Sorri largamente para a pista de dança quando a música mudou e uma que estava tocando muito nas rádios começou a tocar. A cantora era brasileira, Anitta, se não estava enganada. Diversas pessoas se moveram para a pista a fim de dançar mais ainda.
- Vou pegar alguma coisa para beber, você quer? - Perguntei à enquanto deixava o casaco sobre a cadeira. Agora meus ombros estavam expostos, assim como as alças cruzadas em minhas costas.
- Quero uma cerveja, por favor. Aqui o dinheiro. - colocou as notas em minha mão e assenti. Andei pelo canto da pista até o bar. Levei um tempo até ser atendida e pedi uma cerveja e um martini. O cheiro de cerveja me enjoava um pouco. Sorri para o bartender quando me entregou as bebidas e pisquei rapidamente. Poderia me divertir por uma noite, não? Levei as bebidas até a mesa e me sentei de frente para com um sorriso enorme rasgando o rosto.
- Por que não vai dançar? - perguntou enquanto saboreava sua Heineken.
- Porque estou esperando ficar menos envergonhada. - Apontei para a bebida e deu uma risada rouca.
- Boa sorte! - Ela sorriu para um ponto atrás de mim. Carlos apareceu e colocou os braços enormes sobre os ombros de - Vou dançar. Quer ir?
- Vou ficar mais um pouco a sós com meu martini. Aproveitem. - Carlos sorriu e puxou pela mão até a pista de dança. Tomei mais dois goles do martini e deixei que meus olhos vagassem pelos corpos brilhantes de suor.
Alguns dançavam bem, outros estavam tímidos, enquanto algumas outras pessoas simplesmente mexiam os braços e bebericavam suas cervejas ao apreciar seus parceiros dançando. Vi um casal mais velho dançando colados ao som da música. Será que algum dia acharia alguém para dançar reggaetón comigo até não conseguir mais? Suspirei e desviei o olhar, olhando para a janela.
Puta merda.
?
O homem estava caminhando pelo caminho ladrilhado com um olhar curioso para a fachada do bar. Usava uma blusa verde musgo justa e uma calça jeans preta. A verdadeira perdição mexicana.
- Merda! - Tomei todo o martini de uma vez e me coloquei em pé. Uma onda de calor tomou todo meu corpo e mordi os lábios com força. Estava feliz e assustada por ele estar ali. Quer dizer, nunca o havia visto fora do ambiente da academia. Olhei mais uma vez pela janela, mas perdi o sorriso dos lábios ao vê-lo acompanhado por uma morena magra com os peitos do tamanho de melões.
Droga, eu realmente criei mil expectativas em cinco segundos.
Dei de ombros e fui para o bar novamente. Pedi um refrigerante e olhei tentada para a pista de dança. Precisava dançar. Dançar mais e criar menos expectativas. Sim, isso parecia uma boa.
- ! Ah! Estou tão feliz que a bebida fez efeito rápido! - gritou enquanto ria. Carlos me pegou pela mão e girou tão rápido que senti a bebida revirar em meu estômago.
- A bebida não fez efeito, só quis vir dançar! Estava na hora de perder a vergonha na cara!
E, por mais mentirosa que tivesse sido na hora, ainda havia parte de verdade. Estava realmente cansada de ficar envergonhada por dançar em público. Não dançava mal, conseguia mexer os quadris. Acho que passar a adolescência toda insegura acarretou em alguns problemas a mais do que o esperado. Mas estava na hora de começar a encarar essa droga toda de frente. E dançar.
Sim, eu sou Troy Bolton se descobrindo no mundo da dança. O mundo que me julgasse por tornar a dança um grande assunto digno de discussão filosófica.
"Clandestino", talvez uma de minhas músicas favoritas, começou a tocar e sorri para , reconhecendo o vício imediatamente.
Olhei para um homem sentado sozinho em uma mesa. Ele bebericava sua cerveja e parecia levemente entediado. Talvez pudesse usá-lo como parceiro de dança. Arrumei o vestido e caminhei lentamente até a muralha humana.
- Você parece entediado. - Comentei deitando a cabeça para o lado. O homem levantou o olhar e sorriu fracamente.
- Acertou. Meu amigo me abandonou aqui para dançar. - Soltei uma risada e o homem de olhos claros retribuiu.
- Quer dançar comigo? Minha amiga também me abandonou. - Arquei a sobrancelha esperando a negativa, mas me surpreendi quando o moreno levantou e segurou minha mão, puxando meu corpo para o meio da concentração de corpos.
As luzes dentro do bar também eram alaranjadas e fracas como as do lado de fora, dando ao local uma intimidade incrível que não é facilmente acertada.
- Uau, você dança bem! - Comentei conforme o meu parceiro colocava as mãos em minha cintura e me guiava ao som da música. Nossos passos aceleraram e senti o calor na boca do estômago aumentar. A felicidade parecia beirar ao extremo dentro de mim. Grudei meu corpo ao do estranho e deixei que seus braços fortes me puxassem para perto.
- Qual o seu nome? - Perguntei ao estranho ao fim da música. Pequenos fios de cabelo grudavam ao suor de meu rosto.
Único ponto negativo do local: falta de ventilação digna.
- Francisco, e o seu?
- . Isco, posso te chamar assim? - Ele assentiu sorridente - Foi um prazer dançar com você. Vou ao banheiro. Podemos dançar outra música depois, que tal?
- Seria um prazer. - Sorri e me afastei gradativamente, indo em direção às cortinas feitas de CD. Entrei pela persiana improvisada até o banheiro. As paredes eram feitas de capas de discos de vinil e a iluminação era igual ao lado de fora do bar. Todo o local era lindo e único.
Observei-me no espelho e sorri ao ver os cabelos cacheados selvagens, o sorriso felino e a maquiagem intacta. Foi uma ótima escolha não ter passado base, apenas o pó compacto. Mordi os lábios e passei as mãos sobre o vestido decotado.
já estava dentro do bar, com certeza. Se o visse, o que diria? "Hola, papi. Muito bom ver seu corpo incrível fora da academia. Ahora, gostaria que você saísse da minha frente antes que eu cometa uma loucura e me arrependa amanhã de manhã"?
Hm, essa não é realmente uma boa ideia.
Peguei meu celular e resolvi tirar uma foto. Precisava aproveitar a beleza que havia dado ao mundo naquela noite.
"O local certo pode ser a única coisa necessária para uma noite incrível." Postei a foto com a legenda e marquei o lugar.
Guardei o celular novamente e voltei para a pista. Olhei rapidamente ao redor do bar, mas não vi , apenas a morena peituda sentada em uma mesa distante. Meus olhos foram atraídos para Isco apoiado no balcão. Sua bunda era incrível, não havia como negar.
"Asesina" foi a próxima música do repertório. Respirei fundo e me aproximei de Isco.
- Eu realmente gosto desta música. - Comentei em seu ouvido. Isco se virou levemente e sorriu largamente para mim. Eu estava gostando do ritmo que as coisas estavam levando.
- Eu também. - Foi o suficiente para que eu puxasse sua mão novamente para a massa de pessoas, mas dessa vez um pouco mais afastados. Coloquei minhas mãos na cintura de Isco e me aproximei um pouco mais, mexendo os quadris junto com a música. Virei de costas e deixei que o homem colocasse suas mãos em meus quadris, guiando nossos corpos. Fechei os olhos por alguns milésimos e senti um arrepio ao imaginar no lugar de Isco. Balancei a cabeça para espantar o pensamento.
Isco, não .
Virei-me de frente e senti o choque correr todo o meu corpo quando encarei
em minha diagonal, perto do bar. Um sorriso apareceu em seu rosto rapidamente e sumiu com a mesma rapidez. Acenei para o treinador estupidamente. Voltei a dançar com Isco, mas não parecia mesma coisa. Droga de . - Está tudo bem? - Ele perguntou ao acariciar minha bochecha.
- Sim, sim. Vou ao bar, desculpe.
- Não quer que eu vá pegar algo?
- Ah, não precisa. Vi um amigo meu ali. Já volto.
Embestadamente, atravessei o mar de pessoas até chegar em . Eu realmente iria fazer papel de ridícula àquela noite, com certeza. Se estivesse em casa, não estaria próxima de prestar o papel ao qual me prestarei neste momento.
- Você não parece muito diferente de quando está na academia. - Comentei ao me colocar ao lado de . Seu perfume era cheiroso demais para que meu corpo pudesse aguentar. virou lentamente o rosto e analisou meu corpo de cima abaixo rapidamente, prendendo o olhar em meu rosto.
- Você parece muito diferente de quando está na academia.
- Isso é bom, não é? - Sentei no banco reutilizável ao lado do treinador. Acenei para o garçom pedindo uma garrafa d’água.
- Sim, é bom. - Comentou enquanto virava outro gole de cerveja sem sequer me olhar nos olhos.
- Hey, tudo bem? - virou os olhos castanhos em minha direção e quis sair gritando por todo o bar o quão perdida estava.
- Tudo bem. Você dança muito bem, sabia? - Mordi o lábio levemente e passei as unhas pelo pescoço, movimento que acompanhou com olhos atentos.
- Obrigada. Mas ainda estou tímida demais para dançar. - O treinador arqueou a sobrancelha e batucou com a cerveja na mesa.
- Aquilo era timidez? - Sua voz pareceu áspera.
- , entendo que você precise ser gentil comigo na academia porque sou sua aluna. Não imaginava que você só era legal porque estava sendo pago por isso. - Peguei a garrafa d’água e me dirigi até a mesa em que Carlos e estavam sentados. Os dois riam e bebiam juntos. Ao me ver, me chamou com um sorriso.
- E aí, vi você conversando com o gostoso do seu professor. Te fiz um favorzão, não? - Sentei-me na cadeira e processei as palavras de .
- Como assim, me fez um favor?
- Ué, eu o chamei para vir hoje. Frequentamos a mesma academia, lembra? Apenas em horários diferentes. O meu professor não é o , mas o chamei de qualquer forma.
- E você fez isso em nome de quem?
- Ora, do meu - suspirei - e do seu. - Meu coração acelerou e quis enfiar a garrafa de cerveja de em sua goela.
- Você perdeu o seu juízo?! !
- O quê? Ele é gato! Puedo hacerle un daño.
- Eu sei disso, mas ele não sabe que eu sei!
- Mira, guapa, homens não são complicados. Ele não gostou de te ver dançar com aquele cara, eu e acabamos de comentar. Ele ficou olhando para os dois o tempo todo. Relaxa, ele veio porque quer te traçar. - Arregalei os olhos e soltou uma risada alta.
- Que tipo de cara você arruma, ! - Ela deu de ombros e deu um beijo em Carlos.
Me traçar? Que tipo de expressão é essa? Só falta ele dizer bagaçar. Acho que esse teria sido o cúmulo. Deixei e Carlos a sós com suas ogrisses e fui ao banheiro novamente. Talvez estivesse na hora de ir embora. Já passei por emoções o suficiente. E estaria em meu pensamento até segunda de manhã, já estava me acostumando com isso.
Não creio que tenha sentimentos por ele, não de verdade. Talvez apenas carência, mas não sentimentos. E tem mais, mesmo que ele não tenha gostado de me ver dançando com Isco, por que agir daquela maneira? Ele estava acompanhado, de qualquer forma!
Além disso, esta era a primeira vez que eu realmente saía depois de meses para dançar e me divertir e havia sido, em parte, um fiasco. Não deveria deixar afetar meu corpo daquela forma. Isco poderia justamente ser o que eu precisava para me desintoxicar do professor.
Isso, eu beijaria Isco e ignoraria , porque eu simplesmente posso fazer isso. Sou uma mulher linda, cheirosa, gostosa e não iria deixar estragar a minha noite. Poderia dançar com Isco a noite inteira. Faria justamente aquilo. Decidida a sair daquele lugar com os pés doendo de tanto dançar, saí do banheiro com ombros altos e sorriso estampado no rosto.
- ¿Baila conmigo, mami? - Observei se colocar em minha frente com o mesmo sorriso largo de quando me via pela tarde na academia.
Ah, droga. E todo o meu papo empoderado no banheiro?
Diga alguma coisa, mulher! Você tem capacidade de fala, por que não consegue colocar em prática agora?
- Hã…
- Vamos. - Não tive tempo para responder propriamente antes que ele me guiasse para um dos únicos locais disponíveis para dançar. Passamos por algumas pessoas até nos fundirmos entre os outros corpos. Minhas pernas pareciam feitas de geleia e minhas mãos tremiam levemente. Senti meu corpo arder com pura adrenalina quando colocou sua mão em minha cintura e a outra com a minha. Mal conhecia a música que tocava, mas nossos corpos desajeitadamente se conectaram. Ele não era um pé de valsa, mas estava tentando. - Falei que você dançava bem, mas não falei nada sobre mim, guapa. - Senti minhas pernas tremerem levemente. Eu sou uma adolescente perto de , não consigo nem mesmo disfarçar o quão perdida fico perto dele.
- Desde quando você me chama de guapa? - Perguntei novamente em seu ouvido, guiando suas mãos para minha cintura. Coloquei minhas mãos na mesma altura de sua cintura e comecei a guiar nossos movimentos levemente ao som de "Cuando te besé".
- Desde que você colocou esse vestido e esse batom. - ¡Aí, Díos! - Mas quero te chamar de guapa há um tempo.
Puxei ainda mais nossos corpos. Parecia uma drogada, precisava mais e mais dele, de sua voz firme e arrastada. Giramos uma vez pelo salão e senti todo o meu corpo reverberar animadamente quando o vi batendo palmas para mim durante o refrão. Acompanhei o ritmo com meu quadril e pés. Algumas pessoas abriram espaço para nós dois e me senti uma rainha. Balancei meus cabelos e encarei com um sorriso largo. Suas bochechas estavam vermelhas e seu corpo me fez morder levemente os lábios. Ao término do refrão, as mãos de puxaram meus quadris novamente, batendo nossos corpos com uma fricção quase pecaminosa. Sorri largamente e deixei que nossos corpos dançassem espontaneamente até o final da música, e da próxima, e da seguinte até que meus pés doessem. Em algum momento, Camboja apenas balançava nossos corpos ao ritmo lento e viciante da música. Suspirei descaradamente em seu ouvido e sorri ao sentir seus pelos do pescoço se arrepiarem.
- Le encata que la vean cuando ella perrea, ela encanta que la vean cuando se remenea. - Mordi os lábios ao ouvir sussurrar a música em meu ouvido e seus dentes morderem o lóbulo de minha orelha.
Em algum momento, meu corpo estava de costas para o dele e suas mãos nos guiavam cegamente. Expus meu pescoço em uma tentativa desesperada de fazer com que seus lábios tocassem minha nuca. O primeiro beijo em meu cangote me fez revirar os olhos involuntariamente. Soltei um murmúrio baixo e me virei para com os olhos mais loucos que ele deve ter visto, pois soltou uma risada que mais pareceu um rugido.
Arranhei levemente seu pescoço e senti meu mundo virar pó de fada e pimenta quando seus lábios tocaram os meus, ali no meio dos corpos suados. Suspirei no meio do beijo, sem saber o que fazer a não ser me entregar ao homem com o beijo mais gostoso do mundo. As mãos de me puxaram para mais perto, segurando minhas costas e meu pescoço. Apertei sua cintura, sem saber o que fazer com as mãos a não ser tocá-lo.
O reggaetón ecoava ao nosso redor, os corpos queimando lado a lado, chamas vivas e brasa envolvente. Parei o beijo para respirar, atordoada demais para fazer algo além de encarar e perceber que eu queria beijar aquela boca a todo o tempo.
- Você está com olhar de louca. Sabe disso, não é? - Assenti cegamente e o puxei para outro beijo desesperado. Suas mãos acariciavam meu pescoço e seu polegar tocava levemente minha bochecha. Senti meu corpo inteiro arrepiar descaradamente.
- Você sempre me deixa assim, guapo. - Murmurei em seu ouvido e soltei um suspiro quando suas mãos encontraram a linha abaixo de minha cintura. Eu não sobreviveria, não havia dúvidas.
- Quero ver esse olhar de louca segunda-feira. - Me afastei levemente e soltei uma risada - Estraguei o flerte com isso, não foi?
- Você é fofo demais para isso, fica tranquilo.
- Sabe do que mais? Acho que quero te beijar mais. - Ele comentou com um risinho tímido.
- Hm, eu também.
- Sempre soube que você tinha uma quedinha por mim, bebé. Quando eu mostrava os exercícios de agachamento siempre estabas mirándome de pies a cabeza.
- Que? Não estava!
- , guapa, eu te via pelo espelho. Você não é sutil. - Eu pude sentir todo o meu rosto ficar escarlate de um segundo para o outro. Se eu pudesse me enfiar em um buraco naquele momento, me enfiaria.
- Quando foi que você quis começar a me chamar de guapa?
Eu e já estávamos caminhando para o lado de fora do bar.
Avistei Isco no canto com uma ruiva alta. Ele já parecia tão entretido quanto eu.
- Quando você fez uma piada muito ruim no teste físico. Eu quis morrer de dar risada. Você é realmente algo más, . - Mordi os lábios e suspirei ao apoiar as costas contra o tronco de uma árvore iluminada.
- Eu realmente quero te beijar. - Sussurrei ao som da música abafada pela porta da frente fechada. Algumas pessoas espalhadas pelo jardim estavam ocupadas demais com seus problemas para prestar atenção no farol iluminado que vinha de meu corpo na direção do belo moreno parado diante de mim com as mãos dentro dos bolsos. Sorri fracamente. Teria uma boa história para contar amanhã de manhã.
Os lábios de encontraram os meus violentamente, meu corpo se envergou sobre a árvore, dando mais espaço, tudo o que eu poderia entregar a ele naquele momento. Meu interior inteiro revirava por sentir o calor de suas mãos, o ar faltava em meus pulmões e meus dedos dos pés se retorciam nos saltos. Estar ali com era bem melhor do que estar em casa assistindo Encantada, sem dúvidas. Puxei-o pelo cós da calça para beijá-lo novamente.
- ? - Senti falta do contato imediato dos lábios do treinador quando ele se afastou. A morena de antes estava emburrada e o encarava da porta do bar.
Eu havia esquecido da peituda! Droga! Os dois estavam juntos e mesmo assim estava me beijando!
- Você deveria ir. - Comentei ainda em transe pelo beijo.
- Calma, já volto. Não saia daqui, . - Assenti fracamente e correu para dentro do bar. Senti o frio cobrir todos os cantos em que a mão do homem tocara. Olhei ao redor completamente atordoada.
Eu precisava ir embora, não queria ser a responsável pelo término do relacionamento de duas pessoas, mesmo que me parecesse estupidez da parte de trair a namorada na frente dela. E eu deixei, mesmo imaginando o que estava acontecendo. Ah, meu Deus!
Minha mãe me bateria tanto se me visse naquele momento. Fiz uma prece de perdão a Deus e corri em direção à porta do bar. Não vi ou a peituda em canto algum. Andei rapidamente até a mesa em que e Carlos estavam sentados se beijando enlouquecidamente. Peguei meu casaco e saí sem me despedir. Depois iria mandar uma mensagem avisando o que havia acontecido. Cheguei na calçada e abri o aplicativo do Uber. Não conseguiria fugir de se estivesse parada na frente do bar! Andei para a rua de trás do local, sentando-me no meio fio a espera do Uber. Deixei que o vento frio acalmasse meu corpo em chamas.
Beijar fora a melhor experiência amorosa de minha vida. Meu corpo estava em chamas flamejantes, mas aos poucos a realidade vinha ao meu encalço. Ele estava com a peituda, não havia espaço para nós dois depois daquela noite e precisaria me acostumar com este fato. Não há contos de fada, por mais carinhosas que fossem as palavras . Quer dizer, qualquer homem consegue ser um doce quando quer traçar alguma mulher, nas palavras do filósofo contemporâneo, Carlos.
Observei um carro vindo devagar pela rua cheia de outros estacionados e assumi que aquele deveria ser o Renault Sandero que o aplicativo dizia ser o carro do meu motorista. Suspirei aliviada ao entrar no veículo e deitar a cabeça contra o estofado.
Ao chegar em casa, larguei o casaco sobre a cadeira, tirei o vestido, escovei os dentes e me joguei na cama. Precisava dormir, mas meu sistema não conseguia processar a necessidade do sono, apenas estar com .
- Você precisa se livrar disso, . - Murmurei virando pela cama. Fiz uma oração antes de dormir e me forcei a parar de pensar em , em como seria estar com ele todos os dias dali para frente, abraçar seu corpo para dormir e cheirar seu cabelo extremamente cheiroso - Ok, chega!
Peguei o celular e mandei uma mensagem para avisando que estava em casa. Havia uma mensagem de logo embaixo do chat com minha amiga.
"Não precisa fugir de mim. Beijo tão mal? Espero que esteja bem. Durma bem, mami. Estaba muy guapa y chingona* hoy, ."
Pisquei diversas vezes ao ler a mensagem e apenas bloqueei o celular. Não lidaria com aquele drama, não àquela hora.
Deixe para segunda os problemas de segunda.
Desliguei o celular e, inconscientemente, permiti que meu sono fosse tomado por beijos molhados e reggaetón lento.
*chingona: bem vestida, bonita
*
Segunda-feira é o dia mais injusto da semana. Passamos três dias inteiros felizes por descansar e a segunda vem como um balde de água fria para acabar com nossa felicidade. Arg!
- Alguém está de mau humor hoje, hein? - sorriu e colocou uma xícara enorme de café na minha frente. Segurei a xícara como se minha vida dependesse daquilo.
Não consegui fazer absolutamente nada naquele domingo. Sempre que começava a fazer o catálogo da coleção de verão, vinha à mente e meu corpo inteiro formigava. Ah, minha nossa, eu realmente beijei um homem em um relacionamento.
- Estou apenas estressada. Não consegui fazer nada ontem! Não deveria ter ido à festa, . - A morena bufou e se sentou em sua cadeira, colocando a sua própria xícara de café perto do computador. Que perigo.
- Deveria, sim! Você está fervilhando por dentro, não está? Você me falou brevemente o que aconteceu com . Sinto muito pela peituda, mas não pode deixar que isso afete seu trabalho, ! Você é a mente criativa desta marca, precisa canalizar todo esse constrangimento em ideias. - estava séria, algo que raramente acontecia fora do horário de trabalho. Assenti levemente e olhei para o café preto dentro do recipiente. Ela estava certa.
- Sim, tem razão. Não sei porque me deixei afetar tanto por isso. Além do mais, ele que foi o cabrón por ter traído a namorada, não eu.
- Corretíssimo! Pessoas que traem merecem um soco na cara. - Soltei uma risada ao ver fingindo acertar com golpes de luta.
- Acho que eu levaria uma rasteira antes de sequer chegar perto de . - deu de ombros e girou a cadeira de frente para o computador.
- Agora vamos trabalhar. Você tem uma coleção a terminar e eu tenho vários fornecedores para puxar o saco.
- Obrigada, . - Comentei com um sorriso sincero enquanto entrava em meu escritório, atrás da mesa da recepção.
- Para tudo o que precisar, jefe.
*
Às 13h00, a coleção de verão já estava praticamente pronta e os designs estavam incríveis. Precisaria encaminhar o material para o designer gráfico e ver se havia alguma correção a ser feita. Sorri ao analisar a base do catálogo pronto. Mandaria todo o material no final do dia e na segunda que vem já esperava estar com todo o material finalizado em minha mesa para a revisão final antes de ser encaminhado para as lojas e revistas.
- ! Pode ir almoçar primeiro! Vou comer por aqui mesmo.
- O quê? - A cabeça de apareceu pela fresta da porta e apenas movi o óculos para cima sem observá-la nos olhos.
- É isso aí. Não estou afim de treinar hoje. Pode ir. - Acompanhei a silhueta de minha secretária parar na frente da mesa e suspirei antes de me preparar para ouvir o sermão de .
- Isso é por causa do ? Sério? - Não a respondi, apenas fechei a janela do Google - ! Não acredito que você vai deixar de fazer seu treino sagrado por causa dele! É um homem, apenas.
- Nem todos os homens beijam como ele! Além do mais, vai ser estranho. Mira, , no puedo hacer esto.
- Pode, sim! Você vai lá treinar com a mesma normalidade de sempre. Se ele traiu a namorada dele, esse é um fardo que ele precisa carregar, não você. Pelo amor de Deus! - Por mais certa que estivesse, ainda doía imaginar que eu fazia parte da equação, mais ainda, que eu havia nutrido esperança de que hoje eu poderia até mesmo chamá-lo para sair comigo. Sério, o quão estúpida eu sou?
- Eu sei disso, ! Mas eu estou chateada, ok? - O entendimento atingiu como um choque, com certeza, pois ela se sentou em uma das duas cadeiras na frente de minha mesa e mordeu os lábios vermelhos.
- Você realmente gosta dele, huh?
- Não sei, acho que sim. Quer dizer, eu não deveria estar chateada por não conseguir mais nada com ele, deveria?
- É, não deveria. Tem certeza que não é só carência por não poder beijar aquela boca linda?
- Sim. Tive sabádo e domingo inteiros de procrastinação involuntária para pensar nisso. Acho que realmente gosto dele. Eu estou apaixonada por um traidor. Isso é plot de telenovela, não é? - Bufei ironicamente e fechei o computador de vez. Não havia chance de trabalhar depois desta conversa.
- Não, é comum, na verdade. Homens de telenovela não prestam, homens da vida real são mil vezes piores! - Assenti e tomei um gole de água. Estava nervosa, batia os pés no chão insistentemente.
- Acho que você tem razão, . Eu vou lá. Se é um traidor, não devo me sentir culpada por isso! Foi ele quem me beijou, eu não o forcei a nada. Além do mais, vou precisar superar essa paixão de qualquer forma, não adianta ficar me escondendo em uma cova. Minha razão é minha maior arma.
- Isso aí, garota! Coloque aquela legging preta e aquela blusa de academia colada que eu amo!
- Mas eu só vou fazer os exercícios, não me mostrar.
- Quem se importa, ? Mostre essas mamas para ele e prove que ele nunca vai poder vê-las porque é um babaca! - A animação nos olhos de era assustadoramente incentivadora. Sorri largamente e peguei minha bolsa no divã próximo ao banheiro e fui me trocar. Sim, eu iria passar por cima. É apenas uma crush, passará tão rápido que mal vou perceber. Estou acostumada a me apaixonar mil vezes por dia, agora vou precisar me acostumar a não me apaixonar apenas por .
- Posso comer seu almoço? - perguntou do outro lado da porta. Soltei uma risada enquanto colocava os tênis de corrida.
- Pode! É pasta com molho rosé. Está gostoso.
- Hm, sabes cómo dejarme feliz.
- Bom almoço. - Comentei ao sair do banheiro vestindo a roupa de academia.
maneou com a cabeça enquanto devorava a pasta.
- Bom treino. Depois quero o relatório completo.
- Falando em relatório, preciso da resposta dos fornecedores até o final do dia.
- Pra já, jefe.
*
Subi as escadas da academia com uma confiança tão grande que poderia beirar à arrogância.
- Boa tarde, Carmen. - Cumprimentei uma senhora que frequentava a academia no mesmo horário que eu e estava de saída. Cheguei alguns minutos mais atrasada do que o normal.
Forcei-me a não procurar no ponto em que ele sempre ficava, esperando um aluno chegar. "I Like It" da Cardi B tocava por todo o interior da academia e comecei a balançar a cabeça ao ritmo da música ao caminhar até o vestiário.
Já sabia qual seria o meu treino, havia decorado há algumas semanas para não precisar gastar papel da impressora. Guardei minha mala no armário e caminhei até o primeiro aparelho, o leg press. Coloquei trinta quilos de cada lado e comecei a sequência. Cometi o erro de olhar para o lado e ver me encarando seriamente. Se fosse possível, seu olhar conseguiu queimar ainda mais meu interior.
Fechei os olhos e inclinei a cabeça para cima, esperando terminar o treino de hoje tranquilamente.
Terminei a sequência e me dirigi para o próximo, o step. Comecei a fazer a sequência de passos ao redor do aparelho. havia perguntado o que eu mais gostava de fazer ali, meses atrás, e respondi que era dançar, então ele montara o treino com movimento ritmados que parecessem dança. Lembro-me que ao dizer isso, quis abraçá-lo com toda a força. Realmente, eu sou boba demais para este mundo.
- Está fora de ritmo, . - A voz de reverberou por toda a minha miserável existência e o encarei com o melhor olhar de indiferença.
- Como se você entendesse de ritmo.
- Você não pareceu se incomodar sexta à noite.
- Você não pareceu se incomodar com muitas coisas sexta à noite.
- Quê? - O encarei de soslaio e ele parecia realmente confuso. Meu Deus, tem como ser mais fingido? De repente, comecei a sentir raiva, não mais tensão sexual acumulada. Raiva.
- Você realmente vai fingir que não traiu sua namorada?
- Quê? - Os olhos de se arregalaram e a confusão se fez clara em seu rosto.
- Professor? Pode me ajudar? Não sei que movimento é esse. - Margarete, uma mulher que também malhava junto comigo, atrapalhou o momento de falsidade clara no rosto de e o puxou para perto da bola de pilates. Cerrei o maxilar com força. Continuei o treino sem mais problemas, chegando à última sequência sem a interrupção de , já que ele estava ocupado com Margarete e sua dificuldade em entender exercícios que faz há dois anos.
Na última sequência, olhei ao redor da academia e suspirei ao perceber que estava sozinha com . Margarete deveria estar fazendo esteira no andar de baixo.
- Podemos conversar agora como adultos? - se sentou no colchonete ao meu lado enquanto me preparava para ficar na prancha por um minuto.
- Você já se desculpou com a sua namorada?
- Minha nossa, do que você está falando, ? Eu não namoro! - Forcei meu pescoço para cima a fim de encará-lo no meio da prancha. Meu rosto deveria estar vermelho pelo esforço e pela raiva.
- A menina que veio te chamar puta da vida quando viu você me beijando não era sua namorada? - Díos, !¿Qué pasa? Claro que não! Aquela era a minha irmã - O quê? - Ela veio me chamar porque um cabrón passou a mão nela e tentou beijá-la a força. Fui até lá assustá-lo! Não consegui te explicar porque você fugiu! - Praticamente me joguei de barriga no colchonete e não tive coragem de levantar os olhos para . Ah, que boba!
- Vocês dois não se parecem. - Sério, é a melhor coisa em que consigo pensar?
- Somos meio irmãos. Dividimos o pai, não a mãe.
- Ah. - Levantei os olhos para encará-lo e mordi o canto dos lábios nervosamente. Fiz papel de otária novamente. Este cenário é muito comum em minha vida.
- Por isso você fugiu? Por causa da minha irmã?
- Eu não achei que ela fosse sua irmã.
- Você acha que eu trairia a minha namorada na frente dela? Minha nossa, ! Para início de conversa, eu jamais trairia alguém. Já sofri deste mal antes, não o desejo para ninguém. - Sentei-me no colchonete e respirei fundo.
- Foi mal.
- Ainda bem que é só isso. Achei que tivesse ido embora porque beijo mal. - Arquei a sobrancelha e soltei uma risada rouca pela falta de água.
- Você não beija mal, fica tranquilo. - Passei a mão pela testa suada e cruzei as pernas.
sorriu largamente e se aproximou um pouco.
- Tem certeza? Não quer testar mais uma vez? - Olhei ao redor do andar e realmente não havia ninguém ali, as câmeras ficavam apenas no andar de baixo.
- Hmm… - Sorri e me levantei rapidamente, puxando o pescoço de e o beijando novamente. Senti-me sendo arrebatada para longe dali, o som dos ventiladores sumiram, assim como a música ambiente. Suspirei entre os beijos e me afastei.
- Eu vim aqui para mostrar que nunca mais poderia me tocar, sabia? - respirou pesadamente e mordeu meu lábio antes de se afastar lentamente.
- Acho que você falhou na sua missão.
- É, eu teria sucedido se sua irmã não fosse sua irmã. - soltou uma risada alta.
- Já que o mal entendido já foi resolvido, o que acha de sair sexta à noite? Dessa vez podemos ir a algum lugar em que não precisemos dançar.
- Mas qual a graça? Preciso de uma desculpa para colocar suas mãos em mim. - arqueou a sobrancelha e sorriu.
- Se for assim, eu topo. - Ouvimos sons de risada das escadas e se levantou rapidamente. Voltei a me colocar na prancha.
Sorri para mim mesma enquanto observava aquela bunda linda se mexer entre os aparelhos. Eu poderia lidar com a felicidade em observá-lo daquela posição. Fui pega de surpresa pelo olhar de e pisquei o olho para ele que retribuiu com um sorriso delicioso.
Estava ansiosa para sexta-feira. Dançaria a noite toda o reggaetón mais lento apenas para tê-lo em meus braços.
Fim.
Nota da autora: Olá, chicas! Obrigada por lerem a minha primeira short publicada no Obsession. Comenta aí, estou ansiosa para saber o que vocês acharam!
A short tem uma playlist no Spotify, o link está aqui embaixo.
Até a próxima, chicas ;)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Quer saber quando esta fic irá atualizar? Acompanhe aqui.
A short tem uma playlist no Spotify, o link está aqui embaixo.
Até a próxima, chicas ;)
Quer saber quando esta fic irá atualizar? Acompanhe aqui.