Última atualização: Fanfic Finalizada.

 

 

Prólogo


Água.
Água gelada.
Água gelada descendo por sua garganta e curando essa sede insaciável da qual ele não sabia da onde tinha vindo. null tentou esticar a mão, porém havia um peso sobre ela. Mexeu-a um pouco para perceber que se tratava de uma pessoa. A cabeça de uma pessoa. De repente não tinha mais peso nenhum e ele conseguiu se mexer, e a primeira coisa que fez foi esticar o braço para o lado a fim de pegar o copo que sempre deixava ao lado da sua cama, porém ele não estava lá. null achou esquisito e decidiu que já não estava em casa, ou muito menos em sua cama, e de alguma maneira ele precisava descobrir o que estava acontecendo. null tentou abrir os olhos de uma vez, mas a claridade o incomodou como nunca antes, será que tinha bebido na noite anterior e não lembrava o que tinha acontecido? Será que ele tinha acabado de acordar na cama de algum desconhecido com a pior ressaca do mundo?
Quando null conseguiu abrir os olhos, a primeira coisa que ele viu foi uma mulher, vestida de enfermeira, que tinha a mão na boca e os olhos vermelhos. Ela era linda, foi a primeira que ele pensou. Depois olhou ao redor e percebeu que estava no quarto que sua família tinha, no principal hospital da metrópole em que ele morava.
– Água. – ele disse, e a enfermeira que estava chorando pegou um copo d'água e o ajudou a beber.
– Você quer mais? – ela perguntou, e null olhou para ela, dando uma boa olhada naquela garota que mais parecia um anjo. Se de longe ela era linda, de perto ela era mais ainda. Seus olhos estavam vermelhos, como se estivesse chorando por longos períodos de tempo, e suas mãos estavam tremendo. null só conseguiu assentir, não sabia por quê, mas essa garota tinha feito com que ele perdesse a linha de raciocínio, perdesse as palavras. A garota colocou mais água e o ajudou a beber. – Melhor?
– Sim, obrigado, enfermeira – ele respondeu enquanto ela se afastava da sua cama. Ela o olhou, confusa, fazendo null pensar que tinha feito algo de errado.
– Enfermeira? – ela perguntou, olhando pra ele com lágrimas nos olhos. – Você acha que eu sou sua enfermeira? Só isso?
– E, não é? Você é médica? – Ela abaixou a cabeça e murmurou algo que ele não pôde escutar. Uma outra enfermeira entrou no quarto, e, quando null virou a cabeça em sua direção, ela quase derrubou o que estava segurando. Ela olhou para a outra enfermeira, que já estava no quarto e estava de cabeça baixa.
– Não. – Ela levantou a cabeça. – Eu não sou ninguém, apenas uma enfermeira. – A garota olhou para a outra enfermeira, limpando o seu rosto. – Eu vou chamar o médico e os seus familiares, eles vão ficar felizes em saber que você finalmente acordou. – A garota saiu do quarto mais rápido do que uma bala. null olhou para a enfermeira que ainda estava no quarto, olhando-o confusa. O que foi que ele tinha feito para aquela garota que a fez chorar? E o que ele podia fazer para parar? Uma mulher linda como aquela não merecia chorar, especialmente se tinha sido por causa dele.
– Como você está, null? – a enfermeira que ficou no quarto perguntou. – Está sentindo alguma coisa? Alguma dor?
– Só uma sensação da pior ressaca do mundo.
– Você lembra de alguma coisa que aconteceu? Você lembra por que está aqui no hospital?
– Não.
– Você lembra da sua família?
– Sim.
– Você é casado e tem filhos?
– Não, eu sou solteiro.
– Solteiro?
– É. – Ele queria perguntar mais alguma coisa, mas foi logo depois que sua família entrou no quarto. Sofia, sua irmã, foi a primeira que o abraçou, quase o esmagando em um abraço. Ela também parecia estar chorando.
– Você me assustou, seu ridículo! – Ela se afastou dele, dando um soco em seu braço.
– Sofia, pega leve. – Seu pai, Camilo, puxou sua irmã para o lado e parou em frente à null. – Que susto você nos deu, filho! Fico feliz que tenha acordado, nós sentimos sua falta.
– Há quanto tempo eu fiquei apagado? E por que eu estou no hospital? – Ambos se entreolharam, antes de voltar o olhar para null.
– Você não sabe por que está aqui? – null apenas balançou a cabeça enquanto seu pai olhava para a enfermeira. – Você sofreu um acidente há pouco mais de um ano, teve uma lesão que foi preciso fazer uma cirurgia, houve algumas complicações no processo e você ficou em coma por um ano.
– Um ano?
– É, todos os médicos já tinham perdido a esperança que você fosse acordar, mas você sabe como é sua mãe, ela sempre teve esperança que você fosse voltar.
– Como é que eu não me lembro de nada disso?
– Uma das sequelas seria a perda temporária de memória.
– Bem, eu não esqueci nada, acho que é uma coisa boa, certo?! Minha família está aqui, com exceção da mamãe.
null, espero que pelo amor de Deus você não esteja fazendo nenhuma brincadeira de mau gosto! – Sofia disse, cerrando os punhos. – Você acabou de acordar, mas eu te encho de porrada, mesmo que a null não deixe.
– Quem é null? – null perguntou, confuso. Sofia e Camilo se entreolharam, e depois para a enfermeira, que olhava para null.
– Ele disse que é solteiro e sem filha.
– Meu filho! – Constance null entrou no quarto do filho e o abraçou forte. Constance sempre foi apaixonada pelo seu filho, Sofia gostava de dizer que ele era um filhinho da mamãe. Sua mãe era super protetora, o que parecia mais uma maldição do que benção. – Eu estava tão preocupada, eu pensei que você nunca ia acordar. – Ela se afastou dele, se sentando na cama. – Mas é claro que eu nunca perdi a esperança, o meu filho favorito nunca iria me abandonar. – Ela passou a mão pelo rosto de null, e Sofia rolou os olhos. – Como você está? Está tudo bem? Está sentindo alguma coisa?
– Está tudo bem. – null olhou para o seu pai e sua irmã. – Por que vocês estão agindo como se eu tivesse esquecido alguma coisa? Tem alguma coisa que eu preciso saber?
– Não, querido, mas é claro que não. Tudo está no seu perfeito lugar. – Constance acariciou o rosto do filho.
– Então, o que aconteceu nesse tempo em que eu fiquei dormindo? Alguma novidade?
– Eu vou me casar – Sofia disse, o que fez null arregalar os olhos.
– O quê?


Capítulo 1


null olhava o salão estonteada com a beleza da decoração, seu amigo e decorador Raul realmente tinha se superado, não que ela duvidasse da sua capacidade de transformar um dos dias mais felizes de uma mulher em realidade, mas ele e Sofia juntos era porque Deus tinha inventado a palavra indecisão. E o que falar da noiva mais linda e feliz que ela já tinha visto na vida? Sofia parecia que tinha saído de um livro de princesas, Maria concordaria com isso, e andava pelo salão com o maior sorriso que ela já tinha visto em seu rosto nos anos em que a conhecia, um sorriso que ela tinha quando se casou. Para com isso, null, essa vida não mais te pertence, você tem uma filha pra cuidar!
Foi nesse momento que null levantou a cabeça e olhou diretamente para a razão pela qual ela não conseguia dormir. Deliciosamente em um terno, sorrindo largamente enquanto conversava com seu pai, null estava do jeito que ela lembrava e gostava: seu cabelo estava maior, mas já não tinha mais sua barba. null tinha quase certeza que Sofia o tinha obrigado a tirá-la para o casamento, ela sabia que ele tinha voltado a treinar, por isso ficava desleixado em relação à sua aparência. Sofia fazia questão de mantê-la atualizada da sua condição enquanto insistia que ela contasse a verdade. Mas ela sabia que se ao menos chegasse a um metro de null, ela perderia não só ele, perderia sua filha também, e ela não poderia arriscar perder mais alguém na vida. Quando null jogou a cabeça pra trás, gargalhando alto, null sentiu uma pontada no coração, e foi aí que ela teve a certeza que ainda o amava, não que em algum momento do ano em que eles passaram separados ela tenha parado. null queria andar para o outro lado do salão e beijar null, mesmo que ele achasse que ela fosse uma louca, ela precisava senti-lo, nem que fosse uma última vez. Ela morreria em paz se o fizesse, porém não o fez, ela poderia encontrar paz em casa enquanto contava uma história para sua filha antes de dormir.
null se levantou, indo em direção aos noivos. Sofia tinha pedido que ela viesse ao casamento e ela o fez, não precisava passar nenhum tempo a mais lembrando da vida que ela levava até dois anos atrás. Quando null estava perto dos noivos, algo bloqueou sua passagem, ou melhor dizendo, alguém. null não precisou levantar o olhar pra saber quem era, ela sabia muito bem quem era o dono daquele terno, ela estava o encarando descaradamente durante a noite inteira.
– Sinto lhe informar que os noivos não podem ser incomodados. – Ele disse, tomando o seu champanhe e apontando um dedo pra ela. null levantou o olhar, o encarando perplexa, ele ainda era o mesmo brincalhão de sempre.
– Eu só vou me despedir – ela respondeu, tentando desviar dele, mas ele ficou em sua frente de novo.
– Se despedir? Mas a festa acabou de começar, aposto que ninguém te chamou pra dançar ainda.
– Eu não gosto de dançar, agora se você me dá licença.
– Mas isso é uma mentira, eu vi você dançando da sua mesa. – null olhou pra ele surpresa. – Mexendo os ombros ao som da música. – Ele mexeu os ombros de um lado pro outro.
– Andou me observando, null? – null cruzou os braços e o encarou. Era muito fácil cair nos encantos de null, pior ainda quando ela sentia tanta falta dele. Foco, null! – Se você me der licença! – Ela conseguiu passar por ele e andar até onde os noivos estavam. Sofia virou o rosto pro lado e, quando a viu, acenou para ela, pedindo para ela esperar.
– Você estava no hospital, não estava? – ele disse ao seu lado, fazendo com que ela ficasse tensa. – Quando eu acordei do coma. Você era uma das enfermeiras.
– Sim.
– E você é amiga da minha irmã?
– Sou.
– Nós nos conhecemos então? Eu conheço todas as amigas da minha irmã.
– Você lembra de mim? – As palavras tinham saído da boca de null antes mesmo de ela processar o que estava falando. Ela se virou para null, esperando uma resposta que ela sabia que não vinha.
– Infelizmente, não.
– Então você não me conhece.
– Mas se eu não te conheço, por que você estava chorando quando eu acordei no hospital? – O poder observador de null era uma das coisas que null mais gostava e também mais odiava, era quase impossível escapar dele.
– Eu tinha acabado de perder alguém. – null abaixou a cabeça. Droga, mesmo depois de um ano ela ainda podia sentir a dor do dia em que acordou e null não se lembrava dela.
– Eu sinto muito.
– Não precisa, aparentemente, ele está bem melhor sem mim.
– Eu duvido. – null estava prestes a responder quando Sofia chamou sua atenção, quase a esmagando em um abraço.
– Eu estou casada! – Sofia se separou da amiga, a segurando pelos ombros. – Dá pra acreditar nisso, null? – Sofia olhou para o irmão e depois voltou seu olhar para null.
– E eu fico muito feliz por você, Sofia, você merece toda a felicidade do mundo. – null segurou suas mãos. – Eu vim me despedir.
– Mas já?
– Já é tarde, eu preciso voltar pra casa, você sabe. – Sofia bufou alto com a resposta da amiga e se virou para null.
null, o que você está fazendo aqui?
– Tentando convencer sua amiga a dançar comigo. – Sofia se surpreendeu com a resposta do irmão, mas isso não a impossibilitou de sorrir sugestivamente para null.
– Eu acho isso uma ideia maravilhosa.
– Sofia...
– Por mim, null, por favor. – Sofia fez cara de cachorrinho sem dono e null sabia que não tinha pra onde escapar.
– Tudo bem. – Ela se deu por vencida. Uma dança, nada iria mudar com uma dança, certo? null estendeu a mão para ela, que relutantemente a pegou, deixando-se levar para a pista de dança. null passou o braço pela cintura de null, que não resistiu em se aproximar dele, o que fez null sorrir. I'll be do Edwin McCain começou a tocar, e null olhou por cima do ombro, vendo Sofia sorrir de lado. Claro que tinha tocado a música que tocou no casamento deles, claro que Sofia tinha que armar toda a atmosfera romântica, aquela bruxinha!
– Você dança bem pra quem diz que não gosta de dançar.
– Eu tenho meus momentos. – null continuou com o olhar para todos os cantos exceto nos olhos de null, que a encarava sem nem ao menos piscar os olhos. null não queria olhar nos olhos de null, porque sabia que se apenas olhasse em seus olhos, ela se perderia por completo. Capaz até de deixar a sua razão de lado e fazer alguma besteira da qual ela não se arrependeria, mas provavelmente afastaria null pra mais longe do que ele já estava. – Já conseguiu sua dança, satisfeito?
– Ainda não. – Ele se afastou dela, tirando seu celular do bolso e o estendendo. – Seu celular. Eu quero o número do seu celular.
– Pra quê?
– Pra te levar pra jantar. Ou assistir um filme, qualquer programa, contanto que seja com você.
null sentiu seu corpo borbulhar, mas não pelo fato que a atração que null sentia por ela ainda era real, mas sim pelo fato de ele esquecer tudo que eles já viveram juntos. null tinha duas opções: ou ela se deixava cair nas graças de null outra vez e machucava mais seu coração ou ela protegia o que mais tinha de sagrado.
null deu um tapa no celular de null, fazendo com que caísse no chão, e disse:
– Nos seus sonhos, null. Passar bem! – null se virou pra saída, praticamente correndo pra fora da tenda onde ocorria a recepção. null ouviu alguém a seguindo, fazendo com a garota apressasse o passo, mas logo que escutou a voz da sua melhor amiga, parou no mesmo instante.
– Você sabe o quão difícil é correr nesse vestido? – Sofia colocou as mãos na cintura, encarando a amiga. – O que foi aquilo, null?
– Ele estava dando em cima de mim! Seu irmão é um atrevido! Teve a cara de pau de me mostrar aquele sorriso de lado que eu mais gosto!
– Você ficou com raiva porque ele está dando em cima de você, esposa dele e amor da sua vida?
– Ela não se lembra de mim, Sofia, eu sou nada pra ele.
null...
– Eu prefiro não falar sobre isso.
– Oh, eu entendo tudo agora. null, você odeia o null por ele não se lembrar de você? – null apenas abaixou a cabeça, não querendo encarar a amiga. – Eu acho que você deveria contar a verdade pra ele, dá pra ver que está te matando por dentro.
– Sofia...
– Não é justo com nenhum de vocês dois, vocês viverem uma vida separados, vocês se amam, pelo amor de Deus!
– Eu o amo, Sofia, mas ele não. – null levantou a cabeça, deixando que sua amiga visse as lágrimas que formavam em seus olhos. – Ele nem ao menos sabe que eu existo, ainda mais que nós somos casados e temos uma filha.
– Eu ainda acho que você deveria contar pra ele.
– Eu não posso fazer isso com null, eu não posso insistir que ele tenha uma vida que ele não se lembra, não seria justo com ele.
– Você sabe que ele está voltando pra corrida, não sabe? Daqui duas semanas vai ser a volta dele, você não vai impedi-lo?
– Correr sempre foi a paixão dele, e eu o amo demais pra exigir que ele viva uma vida que já não lhe pertence mais.
null, minha mãe não teve nada a ver com isso não, né? Nessa sua relutância em contar a verdade pro null?
– Eu preciso ir, Sofia, parabéns outra vez.
null...
– Me ligue quando terminar a lua de mel, Maria vive perguntando quando a tia dela vai visitar.

null assistiu quando a amiga de Sofia saiu do salão praticamente correndo, alguma coisa dentro dele queria correr atrás dela, porém ele não o fez. Ele passou a noite inteira a observando de longe, desde a igreja até a festa, foi impossível não a encarar quando ela passou em sua frente naquele vestido vermelho que parecia ter sido feito especialmente para ela e que iria atormentá-lo em seus sonhos. Ele rapidamente a reconheceu, para falar a verdade, ele não conseguiu tirar a expressão triste dela da mente quando ela o viu acordando no hospital. Ele a viu sorrir, é claro, mas pelo resto da noite ele viu a expressão triste cravada em seu rosto. Ele não sabia o porquê, mas teve a sensação de que deveria colocar um sorriso naquele rosto, melhor ainda, tinha que conhecê-la.
– Pensando em quê, meu filho? – Seu pai apareceu ao seu lado, segurando duas bebidas. Ele estendeu uma para null, que pegou e a bebeu de uma vez.
– O que você sabe sobre null, amiga da Sofia? – O pai de null quase engasgou na própria bebida. Camilo sempre soube, desde o momento que null falou sobre null pela primeira vez, que ela era o amor da vida do seu filho. Camilo quis contar a verdade para null, mas Constance nunca o permitiu. Até tentou conversar com null sobre o assunto, mas ela apenas disse que, se null a amasse do jeito que ele dizia que a amava, ele se lembraria dela. Camilo sabia que null estava na defensiva, conhecia a garota desde que era uma criança, por ser filha de um dos seus grandes amigos do colégio. Algo o dizia que null não estava contando toda a verdade, e ele sabia que tinha dedo da sua ex-mulher no meio.
– Você se lembra do Rick, meu amigo do colégio? – Seu pai perguntou, e null assentiu. – Ela é filha dele, passou a maior parte da vida morando do outro lado do oceano até voltar pra perto da família pra trabalhar como...
– Enfermeira. – null completou. – Eu lembro dela. Quando eu acordei no hospital, ela foi a primeira pessoa que eu vi. – Camilo sorriu de lado, deixando null continuar. – Ela tem namorado?
– Por que, null? Está interessado?
– Só curiosidade.
null, por favor, eu já fui jovem.
– Às vezes eu esqueço disso, quando eu nasci você já tinha cabelo branco. – null tomou um pouco da sua bebida. – Tudo bem, eu estou interessado, satisfeito?
– Mais do que você imagina. – Camilo riu mais uma vez. – Ela vai estar na sua corrida daqui duas semanas.
– Como é que você pode ter tanta certeza disso?
– Acredite, filho, null null vai estar na sua corrida. Melhor ainda, ela vai estar na primeira fila.

null chegou em casa, ou melhor dizendo, na casa dos seus pais, mais de meia noite, e todas as luzes já estavam desligadas. O motorista foi o caminho inteiro lhe entregando lenços enquanto null chorava, ela sabia que comparecer ao casamento de Sofia ia ser a sua recaída, mas ela não podia resistir, fazia mais de um ano que null não via seu marido, o amor da sua vida, algo dentro dela esperava que, assim que ele a visse, ele correria em sua direção e declararia seu amor por ela da mesma forma que ele fazia quando passava tanto tempo longe dela. Só que todos os cenários que null imaginou não aconteceram, e ela voltou pra casa pior do que antes e querendo chorar até dormir.
Depois que chegou em casa, null foi direto para o quarto, a fim de tomar um banho e tirar o cheiro de null da sua roupa. As memórias que tinham dos momentos que já haviam vivido juntos já a atormentavam diariamente, o cheiro dele só faria mal a sua sanidade. Ela precisava ficar mais sã, o suficiente a fim de não deixar o seu inconsciente falar mais alto, porque, senão, ela podia fazer uma loucura, e a última coisa que sua filha precisava era de uma mãe desequilibrada.
– Mamãe? – null virou-se assustada para a porta, avistando sua filha ali, segurando o urso que o pai dela tinha comprado antes da perda de memória.
– Maria, o que você está fazendo acordada, minha filha? – null andou em direção à filha, se abaixando na altura dela.
– Posso dormir com você?
– Você teve outro pesadelo? – Maria assentiu devagar, fazendo o coração de null apertar dentro do peito. – A rainha má conseguia te levar embora outra vez? – Maria abraçou a mãe pelo pescoço. null se levantou, andando em direção à cama. – Que tal você dormir aqui e me contar o seu pesadelo?
– Mas eu não quero. – Maria se agarrou mais ao urso em seus braços, fazendo com que null a abraçasse mais forte.
– A rainha má aparecia de novo? – null perguntou, e Maria assentiu. – E ela conseguia te levar embora outra vez? – Ela assentiu de novo.
– Só que dessa vez o príncipe me salvava junto com o Sid. – Maria olhou para a mãe e apontou para o urso em seus braços. – Quando é que eu vou poder conhecer o príncipe, mamãe?
– Ainda vai demorar um pouquinho, minha filha. – Maria abaixou a cabeça, e null respirou fundo. – Mas eu posso te dizer que ele já está mais perto do que você imagina. – Maria abriu o maior sorriso.
– Então eu vou poder conhecer o príncipe, mamãe?
– Calma, filha, ele ainda tem que descobrir quem ele é. Depois ele vai voltar pra gente, vestido de príncipe e no cavalo branco.
– Espero que ele descubra logo, eu quero conhecer o príncipe.
– Eu também, minha filha, eu também.


Capítulo 2


– Maria, sua pequena bruxinha, você pensa que vai escapar do banho? – null gritou, andando pela casa, tentando pegar sua filha. Maria estava na beira de fazer quatro anos, e a sua última travessura era não querer tomar banho. Aparentemente, ela achava que os banhos no chuveiro não eram tão divertidos quanto os banhos na banheira, e se recusava a tomar banho a não ser que fosse lá.
null quase morria por dentro quando a filha falava isso, era a mesma coisa que null fazia quando null o pegava com os dedos enrugados e um patinho de borracha na banheira da casa deles. Casa da qual null se recusava até a chegar perto.
– Maria, onde você está? – null escutou a risada da filha, mas como a casa dos seus pais era grande e produzia ecos quase em todos os cômodos, era difícil saber da onde vinha. – Tudo bem, Maria, você venceu! – null jogou as mãos pro alto, se tomando por vencida. – Você pode tomar banho na banheira, agora pode sair da onde você está. – null escutou a risada da sua filha vinda do lado de fora da casa. Ela andou em direção ao quintal, quando viu sua filha saindo de dentro da casa de Sansão, o golden retriever que era braço direito de Maria nas suas traquinagens.
– Seu traidor! – null disse, logo quando o cachorro se aproximou dela, fazendo carinho nele. – Escondendo Maria atrás de você outra vez, eu já deveria saber a essa altura do campeonato. – Maria gargalhou alto e correu em direção à mãe, a abraçando pelas pernas.
– Eu posso mesmo tomar banho na banheira, mamãe? – Ela disse, olhando pra mãe. Todas as vezes que Maria olhava pra null pedindo alguma coisa, com aqueles olhos que lembravam tanto os de null, a garota se derretia toda.
– Claro que sim. – null olhou para a filha, a abraçando forte. – Só porque é o mês do seu aniversário, mocinha, depois desse mês você vai começar a tomar banho no chuveiro.
– Palavra de escoteiro. – Maria respondeu, levantando a mão.
– Você não sabe nem o que é ser escoteiro, Maria. – null riu da sua filha, segurando sua mão e a guiando em direção ao banheiro.
– Mas o vovô era, então eu também sou.
– Então tá certo, se você diz. – Maria começou a tirar todas as suas roupas enquanto null enchia a banheira. A menina andou em direção à pequena caixa que null deixava perto da banheira e pegou o seu brinquedo favorito: o patinho de borracha de null.
null deveria já ter se acostumado com a ideia, mas a cada dia que passava, ela ficava ainda mais surpresa pelo fato de que Maria ficava mais parecida com o pai.
null ajudou Maria a tomar banho, e, como de costume, deixou a filha um pouco na banheira para que ela brincasse até os seus dedos ficarem enrugados.
null? – As duas viraram a cabeça para a porta, dando de cara com Rick, o pai de null, e Camilo, o pai de null.
– Oi, vovôs – Maria disse, acenando pros dois.
– Olá, querida – os dois responderam ao mesmo tempo, o que fez o seu coração dar um pulo. Desde o primeiro dia que Maria conheceu Camilo, ela insistia em chamá-lo de vovô, às vezes a garota achava que sua filha tinha um sexto sentido e sabia de tudo que ela tentava esconder.
– Você pode vir aqui pra nós conversamos, null? – A garota sabia muito bem do que essa conversa se tratava, mas preferiu ignorar e disse:
– Não posso deixar Maria sozinha na banheira.
– Por isso que Mia está aqui. – A babá de Maria, que null tinha dado folga, entrou no banheiro. Fudeu! Agora não tem como eu fingir que não posso ir pra corrida de null, null pensou, se levantando. – Vamos, null, você sabe do que isso se trata. Estamos te esperando lá fora. null se deu por vencida, dando um beijo no topo da cabeça da filha, e começou a seguir os dois. O plano que ela tinha armado de dispensar a babá e passar o resto do dia com sua filha, ignorando o fato de hoje ser a primeira corrida de null desde que ele voltou a treinar, tinha afundando mais rápido do que o Titanic.
– Eu não vou. – Foi a primeira coisa que a garota disse quando parou na frente dos dois no corredor.
null, null gostaria que você estivesse na primeira corrida dele de volta – Camilo disse, cruzando os braços.
– Mas aí é que está, Camilo, null não faz ideia de que eu existo.
– Isso não é completamente verdade e você sabe disso. Você é o amor da vida dele, null, dentro daquela cabeça dura dele, ele sabe que ama você.
– Só porque ele deu em cima de mim no casamento da Sofia, não quer dizer que ele saiba que eu sou esposa dele, muito menos que ele me ama.
– Por que você está sendo tão resistente a contar a verdade pro null? – seu pai perguntou. – Primeiro, você se recusa a contar a verdade pra ele, se privando de ver o cara que você ama, seu próprio marido, até sua filha e agora deu pra ignorar que null até existe. Você não ama mais ele, é isso?
Se null estivesse em um desenho animado, você poderia ver que sua cara estava vermelha de ódio e com fumaça saindo pelos seus ouvidos. Como é que seu pai tinha a audácia de dizer que ela não amava null quando ele era a primeira coisa que ela pensava quando acordava e a última quando ia dormir?
– Como você se atreve, ou melhor, vocês dois se atrevem a questionar o amor que eu sinto por null?! Eu amo aquele homem mais do que é permitido pra um ser humano, e passar um ano longe dele foi uma das piores torturas da minha vida, muito mais do que qualquer tortura que a cobra da sua mulher me fez passar. – Ela apontou pra Camilo e continuou: – E é por esse amor que eu não conto a verdade pra ele, porque eu o amo demais pra exigir que ele viva uma vida da qual ele não mais se lembra que teve, sem falar na nossa filha, o maior presente que eu já tive na minha vida, vocês já pararam pra pensar na Maria nessa história toda? Você sabe o quanto iria machucá-la o fato do pai dela nem ao menos lembrar que ela existe? Vai machucá-la, e eu prefiro mil vezes sofrer do que machucar qualquer um deles.
null estava ofegante quando terminou, mas o que ela mais achou estranho foi que tanto o seu pai quanto o seu sogro estavam sorrindo. Eles estavam armando pra saber o que ela estava sentindo, já que ela se recusava a dizer qualquer coisa, e ela tinha caído como um patinho.
– Vocês dois armaram pra mim – ela disse, chocada. – Vocês armaram pra eu dizer o que eu sinto e eu caí como um patinho.
– Você não nos deu escolha, minha filha, uma das coisas que você conseguiu herdar da sua mãe foi o poder de esconder o que sente.
– Existe uma razão pra isso, sabia?!
– Autopreservação, eu sei disso. – Rick andou em direção à filha e a abraçou de lado. – Nós vimos como você estava no casamento de Sofia depois do seu encontro com null, e, francamente, null, você estava acabada. Ainda está. Eu sei que você não quer contar a verdade pra ele, mas acha que esse plano de ficar o mais longe possível está dando certo?
– É a melhor solução – null resmungou.
– Pra quem? – Camilo perguntou, fazendo com que ela olhasse pra ele. – Pra Constance, que finalmente conseguiu separar vocês dois? Você acha mesmo que null ia querer que você não lutasse por ele e cedesse às chantagens da mãe dele?
– Ficar perto ou longe de null vai me machucar do mesmo jeito, pra falar a verdade, ficar perto machuca mais, porque eu não posso ficar com ele. – null limpou as lágrimas, olhando pros dois. – Vocês sabem o quanto dói saber que eu não posso tocá-lo? Que eu não posso confessar todo o meu amor por ele? Que eu não posso ter a minha família reunida e feliz?
– Nós só queríamos ajudar, filha, nós somos os maiores torcedores pra que null e você fiquem juntos. Achar amor nos filmes e livros é fácil, na vida real as coisas são diferentes, até mais difíceis, então quando a gente acha alguém que nos ama do mesmo jeito que nós sabemos que vocês se amam, vale a pena lutar por isso.
– Então vocês esperam que eu faça o quê? Me jogue nos braços de null e declare todo o meu amor por ele?
– Não, null, só não deixe Constance ganhar.
– Por que você insiste em dizer que sua ex-mulher tem alguma coisa a ver com isso?
– Porque eu sei que ela tem, mesmo você fingindo que não, então a gente finge que acredita.
– Você sempre foi apaixonada por corridas, null, lembra quando você costumava se vestir de piloto e acordava às oito da manhã pra que a gente pudesse ir pro autódromo?
– Mamãe ficava louca toda vez que eu dizia que iria ser piloto de corrida. – A garota riu, se afastando de seu pai. – Vocês dois podem esperar enquanto eu me arrumo?
– Nós estaremos lá embaixo.
null deu um beijo na bochecha de cada um e correu de volta para o seu quarto. Talvez essa tática de ficar longe de null não estivesse dando certo, ou melhor, nunca deu certo, pra falar a verdade. Ficar longe dele foi uma tortura durante um ano, se não fosse por Maria, null teria perdido a cabeça. Vê-lo no casamento de Sofia fez com que todos os sentimentos que ela insistia em fingir que não existiam voltassem à superfície mais fortes do que nunca. Talvez estivesse na hora de mudar de tática, e isso significava que ela conquistaria o seu marido de volta. E ela sabia exatamente o que fazer e que roupas usar.

null estava nervoso e não sabia o porquê, já tinha corrido mais corridas do que podia se lembrar – literalmente –, correr sempre foi sua paixão e ele não se via fazendo mais nada no mundo. Se correr era tudo pra ele, por que sentia um extremo vazio dentro do peito como se algo estivesse faltando? Ele tinha brigado com sua mãe e irmã, que estavam convencidas que ele não precisava mais correr, tinha treinado durante um ano pra sua volta, até o seu médico disse que ele poderia correr, então por que tudo parecia diferente? Por que, de alguma forma, tudo ainda parecia sem sentido? Talvez seja pelo fato de você ter esquecido uma boa parte da sua vida, idiota. Claro, os anos que ele esqueceu por conta de complicações em uma cirurgia que ele teve que fazer na cabeça por causa de uma batida. Os anos dos quais ninguém queria comentar e fingiam que não aconteceram. Sua mãe apenas dizia que ele tinha continuado o que sempre fez: correr; Sofia ficava tensa e dizia que não cabia a ela contar nada; seu pai, então, era bem pior, apenas sorria e dizia que um dia ele iria lembrar e que não via a hora de isso acontecer. Resumindo: tinha acontecido alguma coisa, mas ninguém tinha coragem de dizer o quê.
null, meu camarada. – null levantou o olhar, avistando o amigo de seu pai, Rick, entrando na sua estação.
null se levantou do sofá e andou até ele, o cumprimentando. Rick era um amante de corrida, null sabia disso, tanto que ele tinha uma cabine exclusiva no autódromo onde ele e a sua filha ficavam. E o que falar da garota que não saiu de sua cabeça desde o casamento de sua irmã?! null estava convencido que null era alguma espécie de tormento que tinha sido feito especialmente para ele, um tormento que ele aceitava de braços abertos e, se possível, queria até o telefone.
– Rick, que bom que você veio – ele disse, olhando por cima do ombro do amigo de seu pai a fim de descobrir se o seu tormento tinha vindo também. – Veio sozinho? – null não queria parecer desesperado pra saber se null tinha vindo, mas, aparentemente, era mais forte do que ele, precisava vê-la outra vez. – Meu pai veio com você? Digo, ele disse que ia passar na sua casa antes de vir pra cá.
Rick riu e balançou a cabeça.
– Ele veio comigo, sim, foi apenas comprar pipoca, mas já está voltando.
– Que tal nós irmos lá pra fora e esperar por ele? Eu preciso falar com ele sobre algumas coisas do meu novo apartamento.
– Saindo da casa da sua mãe de vez agora?
– É, eu preciso me mudar pra minha cobertura, já adiei por tempo demais. – Os dois começaram a andar em direção à pista lateral do autódromo, onde os corredores e seus carros ficavam. – Eu já tenho 33 anos, sei me cuidar sozinho, e por mais que eu adore o fato de minha mãe querer cuidar de mim, eu já não sou nenhuma criança e eu preciso do meu espaço.
– Imagino que ficar com ela sozinha naquela casa não seja uma tarefa fácil.
– Parece que eu voltei a ter nove anos, até café na cama ela trouxe pra mim, acredita?! – Rick riu, enquanto null apenas olhou para ele, parando de andar logo em seguida. Seu pai estava sim na pista, mas não estava sozinho, do seu lado, com um sorriso de orelha a orelha e um refrigerante enorme em suas mãos, estava a garota dos seus sonhos.
– Ah, e eu quase me esqueci de dizer: null veio com a gente. – Rick bateu nas costas de null, vendo que ele ficou parado encarando sua filha. – Você lembra da null, minha filha?
null sentiu como se já tivesse vivido aquela cena, uma espécie de déjà vu com null andando em sua direção, em câmera lenta, chamando a atenção de todos os marmanjos que estavam ao seu redor. null achava que era impossível que ela ficasse mais linda, aliás, o que ganhava de um vestido longo vermelho, não é verdade?! Porém, null com seu tênis detonado, jeans de lavagem escura e camisa que dizia "Boy Bye" estava ainda mais linda do que ele se recordava.
Quando ela desviou o olhar do seu pai e olhou diretamente para ele, null sentiu seu coração começar a bater mais forte. null não sabia ao certo o que estava acontecendo com ele, ou por que ele sentia essa necessidade de ficar perto de null e se pegava pensando nela uma boa parte do seu dia, mas o que ele sabia era que era uma sensação boa. Tão boa que ele não queria que parasse nunca.
null, meu filho. – Camillo o cumprimentou, porém os olhos de null estavam focados em null. – Lembra da null?
– Claro que sim. – null abaixou a cabeça, a balançando. – Do casamento de Sofia. Olá, null.
– E você lembra do null, null?! – null olhou para o seu pai, sorrindo sem os dentes.
– Como é que eu poderia esquecer?! – null disse, se virando para null. – Olá, null. Pronto pra voltar para as pistas? – De repente uma ideia apareceu na cabeça de null e ela o olhou, confusa, e continuou: – Seu médico sabe que você está voltando a correr, null? Você pode correr, null?
– Meu médico me liberou há alguns meses e eu estou treinando há mais ou menos um ano, desde que eu acordei. – null cruzou os braços, a olhando de lado. – null null, você está preocupada comigo?
– Claro que não! – Ela disse rápido demais, fazendo com que null sorrisse largamente. – A gente não tem que ir pra cabine, não?! A corrida está prestes a começar. – Ela olhou para o seu pai e o seu sogro. – E você, null, não tem que fazer um ritual estranho antes da corrida? – null falava rápido, mexendo com as mãos, quase derrubando o refrigerante que segurava.
– Tenho. – Ele deu um passo, ficando em frente a ela. – E esse ritual requer um beijo da mulher mais linda do autódromo. – null olhou em volta e depois voltou seu olhar pra null. – E pelo o que eu percebi, você é a mulher mais linda que eu vi hoje, null.
– Vai sonhando, null! – null rolou os olhos e começou a se afastar dele.
– E o meu beijo? – null gritou, fazendo com que ela parasse e se virasse pra ele. – Como é que eu vou ganhar a corrida sem o meu beijo da sorte?
– Você arruma um jeito! – null gritou, voltando a andar, sem nem ao menos olhar pra trás.
null apenas sorriu de lado, segurando a vontade de correr atrás dela.
– Nós vamos com ela, null – Camillo começou, chamando a atenção do filho. – null não consegue assistir nada sem pipoca. Boa sorte, filho. – Camillo o abraçou e Rick fez o mesmo.
– O que eu tenho que fazer pra conquistar sua filha, Rick? – null falou, em um impulso, e quase no mesmo momento se arrependeu de ter aberto a boca. Porém, de alguma maneira, aquela parecia uma cena que ele já tinha vivido. Rick olhou para null com um sorriso no rosto.
– Você sabe que é da minha filha que nós estamos falando, não sabe? Você não pode brincar com os sentimentos dela como você fazia com as outras garotas.
– Que outras garotas, Rick? – null sentiu seu sangue ferver. – Desde que eu acordei eu não me interessei por nenhuma mulher, claro que minha mãe me fez ir a alguns encontros e a comparecer a algumas festas, mas nenhuma mulher é interessante o suficiente pra ter alguma coisa, eu simplesmente me vejo em uma mesa de jantar contando os minutos pra ir embora. Bem, até eu ver a sua filha no casamento de Sofia com aquele vestido vermelho. Tem alguma coisa sobre null que não me faz parar de pensar nela. – Ele olhou pra Rick, que o olhava com o sorriso de lado. – Mas parece que ela me odeia, pra eu conseguir dançar com ela foi preciso Sofia intervir, sem falar do meu celular que ela trincou a tela.
null passou por alguns maus bocados nos últimos anos, null, ela ainda está com o coração machucado por conta disso. Então pra null deixar alguém entrar logo quando ela está começando a sarar, principalmente alguém que pode machucá-la, é difícil. – Rick colocou a mão no ombro do seu genro e continuou: – Mas, alguma coisa me diz que você vai fazer bem pra ela. Então, quando seu pai for me visitar sexta que vem, por que que você não vai com ele? Finge que não sabia que era minha casa ou que null estaria lá. – null olhou sorrindo para Rick. – Bom levar roupa de banho, sextas são os dias que null tem o dia da piscina.
– Rick, você está me ajudando a conquistar sua filha mesmo sabendo que ela me odeia e provavelmente me jogará na piscina quando me ver?
– Ah, null, ódio é a última coisa que null sente por você. – Rick se afastou dele, começando a andar de costas, ainda encarando null. – Te vejo na sexta, genro querido.
E de alguma forma, saber que null estava o assistindo fez com que null quisesse fazer o seu melhor pra ganhar essa corrida. Parecia que ele tinha achado algum sentido em sua vida pela primeira vez desde que acordou.

null estava comendo seus sentimentos. Não só pelo fato de que ela queria ter dado o beijo mais demorado e gostoso possível em null antes da corrida, mas também pelo fato de que essa era a primeira corrida que ele iria participar sem ela dar um beijo de boa sorte nele desde o dia em que eles se conheceram. Ela queria, sim, dar um beijo de boa sorte nele, e como queria, porém null esquecer o pequeno detalhe de que eles são casados e têm uma filha meio que a atrapalhou, além do seu plano de beijá-lo como se não houvesse amanhã.
null estava agarrada ao balde de pipoca enorme, comendo tudo como um homem das cavernas que tinha acabado de descobrir comida, sem tirar os olhos da pista. null estava em terceiro lugar, o que não era nada mal, já que fazia anos que ele não competia, porém null sabia que null não queria que sua volta fosse em vão, ela sabia que null faria de tudo pra ganhar. O cara adorava uma plateia louca gritando o seu nome, secretamente, ela sabia que null não tinha descendência de gregos à toa, o cara adorava ser vangloriado.
– Eu não acredito que você veio. – null pulou da cadeira, derrubando um pouco da sua pipoca no chão.
null olhou para cima, dando de cara com a Mulher Dragão, ou melhor dizendo, sua sogra, Constance.
– Que susto, assombração! – null disse, se levantando e ficando em frente à Constance. – Olá, sogrinha.
– Se eu não me engano, meu filho esqueceu totalmente da sua existência.
– Pode até ter esquecido, mas eu tenho um anel de noivado, uma aliança e certidão de casamento pra provar que ele ainda é meu marido, então você ainda é minha sogrinha. – null se virou de volta pra pista, vendo que faltavam apenas duas voltas para a corrida terminar e que null estava em segundo lugar.
– Eu pensei que você tinha prometido que não ia chegar perto do meu filho.
– Correção: você me encurralou em um momento de fraqueza e de uma maneira bizarra me convenceu que a vida de null era melhor sem mim, que eu não deveria me meter no processo de recuperação dele, e eu aceitei. – null riu sem humor. – Mas não se preocupe, sogrinha, eu já voltei aos meus sentidos e vou conquistar meu marido de volta.
null, eu juro por Deus, se você chegar ao menos perto de null, eu vou transformar sua vida em um inferno.
– O que você vai fazer, Constance? – null colocou o balde em cima da cadeira e se virou para a sogra. Já estava mais do que na hora de null parar de ceder às chantagens da sogra, ela já era mulher, pelo amor de Deus, dona da sua própria vida, com um emprego incrível que ela amava, uma filha linda e saudável e um marido que podia ter se esquecido dela, mas que ela sabia que em algum lugar dentro dele ainda a amava. Constance poderia ir para o inferno com as suas ameaças e seu ódio gratuito por ela! – Vai ameaçar anular o meu casamento com null? Porque essa já está velha e eu já fiz minha pesquisa, você não pode fazer nada em relação a isso, então aceita que dói menos. – null podia ver Constance fulminando.
– Eu tiro Maria de você! – Ela apontou o dedo na cara de null, fazendo com que ela desse um passo pra trás. – Eu arrumo um juiz e tiro a guarda da sua filha de você se não ficar longe do meu filho.
null viu sua visão ficar vermelha de tanto ódio que sentia. Ela podia aceitar muitas coisas de Constance, porém ameaças em relação à sua filha não era uma delas. null deu um passo pra frente, ficando a um palmo da sua sogra, e disse:
– Não se atreva a falar no nome da minha filha, não se atreva nem a pensar nela, você não tem o direito de ao menos cogitar ela como sua neta quando você a renegou antes mesmo dela nascer. Arrume um juiz, arrume o melhor advogado, arrume até o Diabo, mas a minha filha você não tira de mim, Constance. Você pode ter vencido a batalha quando algo na cirurgia de null deu errado e ele se esqueceu da vida que teve comigo, mas você pode apostar uma coisa, sogrinha, eu vou conquistar meu marido de volta, e pode apostar que dessa vez ele vai se lembrar de mim.
null estava ofegante quando terminou, porém, a gratificação que sentia por ter falado tudo o que pensava valeu a pena, especialmente a cara de assustada de Constance. De repente, as pessoas dentro da cabine começaram a comemorar, e null olhou para o telão, vendo null no primeiro lugar do pódio jogando champanhe em todo mundo. Foi impossível não sorrir, null sabia que a corrida era a maior paixão de null, sabia o quão difícil foi pra ele ter que dar uma pausa na carreira antes do acidente, ela só poderia imaginar o quanto foi difícil pra ele acordar, sem memória, com apenas um aviso de que a vida que ele conhecia não lhe pertencia mais.
null só podia imaginar a felicidade que null sentia agora e também o quanto ela queria correr e pular nos seus braços.
Porém, a felicidade durou pouco, um dos oponentes de null o acertou em cheio na mandíbula fazendo com que ele caísse e batesse a cabeça. null viu um monte de gente ao redor de null, impossibilitando que ela visse o que estava acontecendo, o corredor que tinha batido em null estava sendo arrastado pra longe do pódio, enquanto null estava sendo levado inconsciente em direção aos ambulatórios.
null! – Seu pai apareceu em sua frente, chamando sua atenção. – null, você está bem? Você está pálida!
null... Ele bateu em null.
– Eu sei, Camillo correu para o ambulatório. – Rick segurou os ombros da filha, a sacudindo um pouco. – Vamos, eu vou te levar até lá.
Rick passou o braço por cima dos ombros da filha, a levando em direção ao ambulatório. null ainda estava um pouco zonza pelo que tinha acontecido, ela não sabia ao certo como tinha chegado à porta do ambulatório, mas quando viu estava parada ao lado de Constance e Camillo.
– Ele vai ficar bem – o médico disse, fazendo com que null acordasse do transe. – Ele vai precisar descansar pelos próximos dias e também fazer uma visita ao médico que cuidou do trauma que ele teve na cabeça.
– Eu posso ir com ele – Camillo começou. – O médico é meu amigo, eu posso falar com ele essa semana pra null fazer todos os exames e ver se tudo está bem.
– Isso é bom. – O médico respirou fundo. – Creio que vocês querem vê-lo, mas eu só posso permitir uma pessoa de cada vez.
null vai primeiro! – Camillo e Rick falaram ao mesmo tempo.
– Mas eu sou a mãe dele! – Constance retrucou, fazendo com que seu ex-marido rolasse os olhos.
– E null é a mulher dele, mesmo que você esqueça desse pequeno detalhe mais vezes do que deveria. – Camillo disse, fazendo com que Constance cruzasse os braços. – Vai, null, a gente vai depois.
null apenas assentiu e seguiu o médico para dentro de um dos ambulatórios. null estava deitado em uma das macas, com uma bolsa térmica em sua testa. O médico fechou a porta, fazendo com que null soltasse um suspiro.
– Mãe, não precisa se preocupar, eu estou bem – null falou, sem nem ao menos olhar pra frente.
– Eu não sou sua mãe – null disse, fazendo com que null olhasse pra ela e depois se sentasse na maca.
– Como é que você está se sentindo? Sua cabeça está doendo? Foi um belo de um soco que você levou.
– Pra falar a verdade, ela está doendo um pouco – ele disse, fazendo uma careta.
– Sério? Onde que está doendo? – null praticamente correu para frente de null, colocando as mãos em seu rosto. – Você quer que eu chame o médico? – null sorriu largamente com a preocupação de null com ele, enquanto null o olhava confuso. – Você é um idiota, null! – null deu um soco no braço dele e deu um passo pra trás.
– Ei, você não pode bater no seu paciente! Eu estou machucado. – null fez cara de cachorro pidão, o que fez null rolar os olhos.
– Você sempre se preocupa assim com todos os seus ex-pacientes, ou eu ocupo um lugar especial no seu coração?
– Até parece, null. – null cruzou os braços. – Como você está se sentindo? O que o médico disse?
– Alguma coisa sobre exames, eu não estava prestando atenção.
– Você tem que levar isso a sério, null, da última vez você deixou uma pancada na cabeça pra lá e olha o que aconteceu! Eu quase...
– E se eles disserem que eu não posso mais correr? – null disse e abaixou a cabeça, fazendo com que o coração de null apertasse dentro do peito. null andou em direção à maca, parando em frente ao null e segurando seu rosto entre suas mãos, fazendo com que ele olhasse pra ela.
– Ei, não precisa se preocupar, eu tenho quase certeza que você vai poder continuar correndo. E se eles não permitirem você correr, eu tenho certeza que você arruma outra coisa pra quase matar as pessoas que você ama do coração. – null sorriu, fazendo com que null sorrisse também.
– Sabe o que me faria sentir melhor?
– Outra bolsa térmica?
– Não, o seu número.
– Eu posso fazer melhor do que isso. – null sorriu, e, antes que null pudesse falar qualquer coisa, ela colocou seus lábios nos dele em um selinho demorado.
– Isso é, definitivamente, muito melhor – null respondeu, passando os braços ao redor da cintura de null e a puxando pra perto. null jurava que estava no céu, quase um ano sem nem ao menos ver null e agora ele estava em sua frente e ela tinha tomado coragem pra dar um selinho nele. Tudo bem que era só um selinho, mas era muita coisa comparado ao fato de que os únicos beijos que ela recebia de null eram aqueles dos seus sonhos. – Então, você vai me dar seu número, ou eu vou ter que lutar por ele? – null sorriu de lado. – Você vai fazer eu lutar por ele.
– Você me conhece melhor do que você imagina. – null se afastou dele e começou a andar em direção à porta. – A gente se vê por aí, null.
– Mais cedo do que você imagina, null. – null sorriu, a vendo sair do ambulatório. E foi naquele momento que ele percebeu que null null tinha entrado na sua vida e entrado pra ficar. E ele não estava reclamando nem um pouco disso.


Capítulo 3


null se sentou no sofá da sala de espera do hospital, com seu pai ao seu lado, esperando que alguma enfermeira ou enfermeiro entrasse para lhe explicar o procedimento que ele estava a ponto de fazer. null compareceu ao escritório do seu médico um dia depois do ocorrido da corrida, ele disse que tudo estava aparentemente bem, mas por conta do seu histórico com pancadas na cabeça, era bom que ele fizesse alguns testes apenas por preocupação. Hoje era o segundo dia de testes, o único que ele não conseguiu fazer no dia anterior, e null não via a hora de tudo isso acabar e ele poder provar pra todo mundo que ele está melhor e mais saudável do que nunca, especialmente para continuar correndo. E se null estivesse lá, seria mais um bônus.
null não conseguiu tirar null da sua cabeça, pra falar a verdade, todos os dias ele sonhava com ela, e em cenários completamente diferentes. Noite passada ele tinha sonhado que a levava para um imenso parque de diversões que ficava há algumas horas da cidade em que eles moravam, no sonho null sorria de orelha a orelha e saía do parque carregando a maior quantidade de ursos de pelúcia que ele poderia imaginar, errado estava quem achou que ele ganhou todos os ursos para ela. Antes fosse! null tinha surpreendido não só a null, quanto ao dono da barraca quando acertou o menor alvo ganhando assim o maior prêmio. Pra não dizer que null não tinha feito nada, ele ganhou dois prêmios: uma caixa de mentos e o menor urso de pelúcia que tinha na barraca.
Por que null estava sonhando com null ele não sabia, mas ele tinha certeza que não queria que os sonhos acabassem, já que null parecia aparecer e desaparecer em sua vida como em um passe de mágica. O que ele não daria pra vê-la outra vez e dessa vez conseguir o seu número…
— Boa tarde, senhor Lancaster! – null levantou o olhar e logo sorriu largamente, parecia que, qualquer que fosse a pessoa que estava lá em cima, estava do seu lado. – Lancaster? – null olhou para a prancheta com uma cara confusa e depois pra null.
null? O que você está fazendo aqui?
— Eu vim te ver. – null se encostou no sofá e sorriu para null. Ela estava vestida de enfermeira, com o cabelo preso em um coque e nenhuma maquiagem no rosto. null tinha acabado de perceber que não importava o que null vestia, ela ficava linda de qualquer jeito.
— Ele veio fazer um exame pra ver se está tudo bem.

— Ressonância Magnética, certo?! – null perguntou e Camillo assentiu. – — Okay. Eu preciso que você tire tudo, incluindo roupas e acessórios, e coloque dentro daquele armário.
— Tudo? Você ainda nem me levou a um encontro, null, e já quer me ver pelado?
— Acredite, não tem nada aí que eu já não vi. – null andou até o armário, tirando a chave, e estendeu uma bata, junto com a chave, para ele. – Você pode se trocar dentro do banheiro.
— Ou eu posso me trocar aqui. – null tirou a camisa, fazendo com que null respirasse fundo, ele sorriu, vendo que ela o encarava, e, quando começou a tirar as calças, esperava que ela se virasse, mas ela apenas continuou olhando em seus olhos.
— Quando você terminar, eu vou estar esperando aqui fora. Camillo, você lembra onde fica a sala de espera? – Ela olhou para ele, que assentiu. – Você pode ficar lá, e quando o exame tiver terminado, eu levo null até lá. – Ela se virou e saiu da sala, sem dizer mais nada.
— Você deveria parar de provocar a garota, null.
— Como? – Ele colocou a bata e logo depois começou a dobrar suas roupas. – Como eu vou fazer isso se ela não sai da minha cabeça?! Eu juro que null null vai me pôr a louco algum dia.
— Acredite, você faz o mesmo com ela. – Camillo bateu nas costas do seu filho. – Agora vamos, nós ainda temos que passar na casa do Rick, eu tenho alguns negócios pra tratar com ele.

null e Camillo saíram da sala e logo avistaram null conversando com outra enfermeira, ela a abraçou e andou em direção a null. Camillo abraçou null e depois seu filho antes de desaparecer pelo corredor.
— Vamos? – null assentiu e começou a segui-la. Eles não andaram muito até entrarem em uma sala com alguns computadores, null olhou pro lado e viu o enorme vidro que separava a outra sala, onde havia uma máquina gigante que ele supôs que seria usada pra fazer o exame. null entregou a prancheta para o médico sentado em frente ao computador e ele se levantou para cumprimenta-lo.
— Eu sou o doutor Borges, senhor Lancaster, vou ser responsável pelo seu exame hoje. Seu médico, Sam, não pode estar aqui hoje, mas ele me falou tudo sobre o seu caso.
— É um prazer lhe conhecer.
— Se você seguir null, ela vai te levar pra outra sala. – null assentiu com a cabeça e abriu a porta para ele. null parou ao lado da máquina, perto da parte que parecia uma maca, enquanto null pegava alguns degraus.
— Primeiro, eu preciso que você se deite. – null subiu nos degraus e fez como null disse, ele olhou pra ela, que colocou a mão em seu braço. – Segundo, tente ficar parado ao máximo quando entrar na máquina e não precisa se assustar com o barulho, é normal. – Ela começou a colocar fios por todo o seu corpo, primeiro na testa e depois em seu peitoral e braços. – Você tem alguma pergunta?
— Você pode segurar minha mão durante o procedimento? – ele perguntou, fazendo com que ela sorrisse.
— Não, mas eu vou estar do outro lado do vidro, tudo bem?! – null acariciou seu rosto antes de sair da sala, sem olhar para trás.
null estava com o coração na boca, era a segunda vez que null fazia esse exame, e, da última vez, as coisas saíram pior do que ela imaginava, a prova disso era o fato de não poder ficar com seu próprio marido.
— Você ainda não contou pra ele? – Doutor Borges perguntou, fazendo com que null se virasse pra ele. – Você não contou que vocês são casados?
— Como é que o senhor sabe disso?
— Sam me contou tudo.
— Será que ninguém nesse hospital consegue ficar com a boca fechada?
— Você tem muita sorte, null, eu não sei como é que você conseguiu ficar tanto tempo sem null descobrir a verdade.

— Pode ter certeza, doutor, existe alguém muito poderosa por trás disso. – null desviou seu olhar para o monitor. – Está tudo bem com ele? Ele não tem nenhuma lesão? Nenhuma sequela? Ele realmente pode voltar a correr?
— Sim, ele está muito melhor do que antes, pra falar a verdade, tirando a falta de memória, é claro. – Doutor Borges se levantou e continuou: — Você não precisa cuidar dos exames, deixa que eu levo e peço para as outras enfermeiras cuidarem disso.
— Mas eu sou a enfermeira encarregada.
— Você acha que eu não sei o que acontece no meu próprio hospital, null Lancaster? Seu turno acabou faz horas, eu sei que você está cobrindo alguma das enfermeiras, provavelmente Diana, que ainda não apareceu do encontro que ela teve ontem.
— Como o senhor...
— Como você mesma disse, ninguém nesse hospital consegue ficar com a boca fechada. Vá pra casa, null, você está aqui há mais de 18 horas. Descanse, você está com uma cara péssima. – Doutor Borges saiu da sala, deixando uma null incrédula para trás.
— Olá? Será que eu já posso sair? – null olhou para null, que continuava parado como uma estátua. Ela andou em direção a ele e tirou todos os fios. – O exame sai dentro de 5 dias a uma semana, dependendo do que seu médico pediu. – Ela o guiou de volta para a sala, onde ele trocou de roupa. – Você pode colocar a bata dentro do cesto no banheiro e colocar sua roupa enquanto eu preparo sua via pro dia em que você vier pegar os exames, tudo bem? – null assentiu, e null saiu da sala direto para a bancada, a fim de fazer a solicitação de entrega dos exames de null. Quando ela estava prestes a acabar, null saiu da sala, olhando pros lados, até que seus olhos pairaram em null e na enfermeira ao seu lado, a mesma que estava em seu quarto depois que ele acordou.

— Ei, eu me lembro de você! – null se apoiou na bancada, apontando pra enfermeira ao lado de null. – Você é a outra enfermeira que estava no quarto quando eu acordei.
— Olá, null. – Ela sorriu, colocando a mão no ombro de null. – Eu sou Rose, é um prazer revê-lo e, pelo visto, mais saudável do que nunca.
— Na verdade, minha garganta dói um pouco. – Ele tossiu e colocou a mão no peito logo em seguida. – Talvez eu precise de alguém pra cuidar de mim. – Rose olhou pra null, que balançou a cabeça e estendeu um papel para null.
— Aqui está sua via. Você pode vir buscar daqui uma semana.
— Muito obrigado, null.
— De nada, null. – null sorriu, se apoiando na bancada ao seu lado. – Você precisa que eu te leve até seu pai?
— Não precisa, eu sei onde fica a sala de espera.
— Então eu acho que isso é um adeus.
— Nunca diga adeus, sempre diga até logo. – Rose disse, fazendo com que os dois rissem. null balançou a cabeça e se virou para o corredor, mais uma vez ele tinha encontrado null e não tinha ideia de como agir, de como conquista-la, ele não sabia nem como tinha conseguido conversar com ela sem gaguejar. Essa mulher vai ser a minha morte! , pensou olhando por cima do ombro vendo que null andava há alguns passos atrás dele concentrada com a pasta em suas mãos.
— Eu sabia que você não conseguia ficar muito tempo longe de mim, null null! – null disse, virando-se para ela e andando para trás. null levantou o olhar apenas pra rolar os olhos para ele.
— Você está completamente certo, null, eu não consigo viver sem você. – null colocou a mão no coração. – E se eu fosse você, olharia por onde anda. – null virou a cabeça para o lado, a olhando confuso, porém logo soube do que ela estava falando, quando suas pernas bateram em alguma coisa e ele se desequilibrou e caiu de bunda no chão. A gargalhada de null ecoou pelo corredor, o que fez com que null se sentasse no chão e olhasse pra ela de cima abaixo.
— Você está adorando isso.
— Cada minuto. – null cruzou os braços, sorrindo largamente.
— Você não vai me ajudar a levantar?
— Você já é bem grandinho, pode levantar sozinho.
— Devo perguntar o que aconteceu aqui? – Os dois se viraram, dando de cara com Camillo, que os olhava confuso.
null só estava sendo o mesmo desastrado de sempre. – null disse quando null se levantou, ficando ao seu lado.
— Você está indo pra casa, null? A gente pode te dar uma carona, eu preciso pegar uns papéis com seu pai.
— Claro que quero, se vocês me esperarem na entrada do hospital, eu só preciso trocar de roupa e encontro vocês lá. – Camillo acenou com a cabeça e null desapareceu pelo corredor.
— Essa mulher vai me deixar louco, pai! Louco! – null disse, jogando os braços para o alto o que fez Camillo soltar uma gargalhada.
— Não seria a primeira vez. – null olhou para o seu pai, confuso, e ele apenas deu de ombros. – Vamos, null, você não vai querer deixar sua amada esperando.

null apareceu um pouco depois que eles estacionaram o carro em frente ao hospital, null percebeu que, mesmo cansada, ela não tirava o sorriso do rosto, e que fez questão de cumprimentar todos antes de sair. Cada pedacinho que null descobria sobre null fazia com que ele adicionasse mais uma peça no quebra cabeça que era null null, porém, parecia que ele sempre sentia que não ficaria satisfeito até que descobrisse tudo que ele podia sobre ela. De alguma maneira muito louca, ele sentia que era uma grande peça no quebra-cabeça que era sua própria vida. Como se ela fosse a peça que faltava pra tudo voltar a ser completo outra vez.
Camillo passou o caminho inteiro tentando puxar assunto, tanto com seu filho quanto com null, mas parecia que null estava perdido em seus pensamentos enquanto ela estava muita cansada para responder. Quando eles chegaram na casa dos null, null olhou para o relógio e finalmente percebeu o que estava prestes a acontecer. Ela olhou pelo retrovisor apavorada, porém Camillo sabia que estava mais do que na hora de dar mais uma ajudinha para que seu filho e sua nora finalmente vivessem o “felizes para sempre ” que eles mereciam e não tiveram a oportunidade de ter.
— Obrigada pela carona – null disse rápido, quando eles pararam em frente à casa dos seus pais. Ela desceu do carro como uma bala e se virou para eles, continuando: — Se vocês fizerem a volta, Percy vai abrir o portão pra vocês saírem.
— Quem disse alguma coisa sobre carona? Nós vamos entrar com você. – null e Camillo desceram do carro, fazendo com que ela os olhasse assustados.
— O quê? O que vocês estão fazendo? — ela disse, se afastando do carro.
— Eu preciso tratar de uns assuntos com o seu pai.
— Mas meu pai não está em casa. – A essa altura null já estava entrando em completo estado de pânico, a única coisa que separava null de descobrir sobre Maria era uma porta.
— Camillo! null! – Uma porta que tinha acabado de ser aberta pelo seu pai. – Finalmente vocês chegaram.
— Você sabia que eles vinham? – null se virou para o seu pai, que andou em direção a eles. – Por que não me avisou?
— Ops! – Rick riu, sem graça, e deu de ombros. null sabia exatamente o que estava acontecendo e o que seu pai e seu sogro estavam fazendo, a única coisa que ela esperava era que Maria ainda estivesse na escola.
— Mamãe! – Maria saiu pela porta, com Sansão logo atrás dela, e correu para os braços da mãe. null se abaixou e abraçou forte a filha, a colocando no colo logo em seguida. Sansão, porém, nem se importou com null e passou direto, pulando em cima de null, que caiu no chão e deixou o cachorro lamber seu rosto. null tinha um sorriso no rosto enquanto fazia carinho em Sansão, parecia que null não tinha sido a única que tinha sentido falta dele.
— Ele é sempre assim com os visitantes? – null perguntou, quando Sansão se deitou no chão para que ele fizesse carinho na sua barriga. Ele olhou pra null, que riu de lado e disse:
— Só com os que ele gosta, e aparentemente, ele gostou muito de você.
— Será que o mesmo se aplica pra dona? – null sorriu de lado e depois seu olhar pairou sobre Maria. – E quem é essa princesinha?
— Mamãe, ele me chamou de princesa! – Maria disse, batendo as mãos. – Ele é o príncipe!
— Ou ele é um sapo! – null respondeu rápido. – Isso a gente ainda tem que descobrir.
— Ai, eu não acredito! E como a gente descobre isso?
— No meus contos de fadas, pra saber se um sapo é um príncipe, a rainha tem que beijar o sapo. – null deu uma piscadela pra null, que balançou a cabeça. – Ou nos dia de hoje tudo que é preciso é dar seu número pra ele.
— O que são números, mamãe? – Maria perguntou, olhando pra null.
— Você ainda vai aprender, meu amor. – null sorriu para a filha.
— Que tal nós entrarmos, hein?! – Rick sugeriu, fazendo com que null olhasse para ele. – Maria estava dizendo o quanto queria que você fizesse o seu sanduíche favorito.
— Com muito queijo, mamãe. – null se virou para entrar em casa, enquanto Maria continuava falando sobre o seu sanduíche favorito.
— Você pode ficar com ela enquanto eu preparo o sanduíche? – Ela perguntou à Mia, que esperava no corredor.
— Claro! Ela passou a manhã inteira falando de como você não fez o sanduíche dela hoje de manhã. – null entregou Maria para ela e foi direto para a cozinha, sem nem ao menos olhar para trás. No automático, ela foi tirando as coisas e montando o sanduíche de Maria, e, quando terminou, ela se apoiou na bancada e sentiu as lágrimas começarem a rolar por seu rosto. Claro, mas é claro que null iria encontrar Maria! Claro que ela iria descobrir logo de primeira que ele é o príncipe da história! Claro que seria na pior das circunstâncias! Mas é claro que esse segredo, agora mais do que nunca, iria me matar aos poucos , null pensou, começando a limpar suas lágrimas.
— Então é por isso que você não quer sair comigo? – null disse, fazendo com que null ficasse tensa. – Por que você tem uma filha? – null viu as mãos de null pararem de cada lado do balcão e sentiu o calor do corpo dele logo atrás dela. Ela queria tanto apenas jogar os braços ao redor dos ombros dele e se deixar perder neles.
— Maria é muito importante pra mim, null. – null se virou, se encostando no balcão atrás dela. – Ela sempre virá primeiro, não importa a situação.
— E eu não estou pedindo pra isso mudar, null, eu só estou pedindo um encontro. Só isso. – null abaixou e balançou a cabeça. – Você ainda ama o pai da Maria, é isso?
— É complicado, null, é tudo muito complicado. – null o encarou, e ela pôde ver o quanto ele estava sendo sincero. Fazia meses que null não olhava pra null tão de perto, a ponto de ver tudo o que ele estava sentindo em seus olhos, e encará-lo depois de tanto tempo fez com que ela se perguntasse mais uma vez o porquê de não ter contado toda a verdade no dia em que ele acordou. – Mas quem sabe está na hora de descomplicar – null disse, sorrindo largamente. – Me chama pra sair de novo, null.
null null, você quer sair comigo? – null disse, sorrindo de volta.
— Pensei que você nunca ia perguntar. – null jogou as mãos para o alto e soltou um "Glória a Deus!”, o que fez com que null soltasse uma gargalhada. – Você é um idiota!
— Cuidado, null null, você vai em um encontro com esse idiota.
— Sim, eu vou.
— Senhora null – Mia disse da porta da cozinha, fazendo com que os dois olhassem pra ela.
— Olá, Mia. – null olhou em seu relógio e viu que já passava das dez da manhã. – Deixa só eu pegar o seu dinheiro.
— Não precisa, o senhor Rick já me deu antes de ir para o escritório com o senhor Camillo. Se a senhora quiser eu posso ficar mais um pouco cuidando de Maria.
— Não, Mia, nós vamos resolver algumas coisas do aniversário dela, então eu vou passar o resto do dia com ela. Muito obrigada pela sua ajuda.
— Até amanhã, senhora. – Mia desapareceu de onde veio e null se virou para null.
null, será que você pode olhar Maria enquanto eu tomo banho? – null perguntou, e viu que null olhou pra ela assustado. – Não precisa se preocupar, eu prometo não demorar muito, só preciso tirar o cheiro de hospital de mim. Maria não vai te dar trabalho, provavelmente vai perguntar várias coisas sobre você ser um príncipe e como é seu reino, cavalo e afins.
— Então tudo bem. – null se afastou, começando a andar em direção à porta da cozinha. null o observou com um sorriso no rosto, o que ela não daria pra só abraçá-lo mais uma vez.
null – ela disse, fazendo com que ele parasse e se virasse. – Me dá um abraço? – null sorriu sem os dentes e andou em direção à null, a abraçando forte pelo pescoço. Pela primeira vez em quase dois anos depois que null acordou, null sentiu que estava segura. Ela não queria sair desse abraço nem que fosse forçada.
null...
— Só mais um pouquinho, null. Eu só preciso de mais um pouco de você. – null disse, e null a abraçou mais forte.
— Mamãe. – null escutou a voz da filha, fazendo com que ela se separasse dele. Maria estava com uma boneca no braço e com Sansão ao seu lado, ambos olhando para null com a adoração nos olhos. – Será que eu posso brincar com o príncipe um pouco?
— Eu não estou vendo nenhum príncipe – null respondeu, olhando ao redor da cozinha e fazendo com que Maria risse e Sansão latisse. null a cutucou, fazendo com que ela se afastasse um pouco dele. – Ué, mas eu estou falando a verdade, você não chegou aqui em um cavalo branco.
— Príncipes modernos têm carros brancos, para sua informação.
— Você tem um carro branco? – Maria perguntou, com os olhos brilhando. – Acho que ele está certo, mamãe, um carro é bem melhor do que um cavalo.
— E você está certíssima, Maria. – null a pegou nos braços, fazendo com que ela gargalhasse. – Agora vamos, eu tenho muito pra falar sobre príncipes modernos enquanto sua mãe toma banho. – Ele começou a andar em direção à sala, com Sansão logo atrás. – E cá entre nós, nós dois sabemos que ela está precisando. – null gritou da sala, fazendo com que Maria gargalhasse outra vez.
E foi a primeira vez que null sentiu uma real esperança de que poderia ter sua família completa novamente.


null não viu as horas passarem enquanto brincava com Maria. A menina parecia uma força da natureza, e não parava de fazer perguntas sobre como era ser um príncipe moderno, como era seu castelo e seus carros. null fez o seu melhor pra contar a melhor história de príncipe moderno, lembrando-se de todos os contos de fadas que assistiu com Sofia. Como isso não era o suficiente, Maria queria ver fotos, e, como um bom príncipe, null mostrou fotos do seu novo apartamento, dos seus carros e até de seu carro de corrida, onde ele prometeu pedir permissão de null para poder levar Maria algum dia. Claro, uma corrida não era um lugar em que uma criança deveria estar, algo de ruim poderia acontecer e null não queria que Maria soubesse que existiam coisas ruins no mundo, porém, como é que ele resistiria àqueles olhinhos de cachorro pidão que sabia serem os mesmos que ele usava quando queria pedir alguma coisa? Nem que null quisesse ele poderia resistir, agora ele só tinha que pedir permissão à null pra fazer um grande tour sobre a vida de um príncipe moderno com Maria.
— Então esse desenho parece o seu carro? – Maria estendeu o desenho na frente de null. Ela tinha decidido que precisava de um lembrete de como são príncipes modernos, então começou a fazer desenhos parecidos com as fotos que null tinha mostrado a ela.
— Maria, você é quase uma pintora! – null pegou o desenho, o inspecionando. – Nós provavelmente deveríamos colocá-lo em algum museu.
— Bem que mamãe disse que o príncipe seria exagerado – Maria disse, se sentando no colo de null. – Você pode ficar com esse desenho, eu já tenho vários.
— Muito obrigada, Vossa Majestade. – null tirou sua carteira do bolso e colocou o desenho dobrado dentro dela. – Falando em sua mãe, você não acha que ela está demorando muito? – null abraçou Maria.
— Ela dormiu! – Maria disse, começando a rir. – Mamãe fica muito cansada e dorme depois que chega em casa.
— Que tal a gente ir lá conferir? – Maria balançou a cabeça, e null se levantou rápido, a levando junto.
— Você tem boas intenções com minha mãe? – Maria perguntou séria, fazendo com que null a olhasse assustado.
— O quê?
— É que a mamãe disse que existem muitas pessoas com más intenções no mundo – Maria disse, enquanto eles subiam as escadas.
— Eu tenho a melhor das intenções com sua mãe, Maria.
— Bom! Mamãe precisa ser feliz.
— E você não acha que ela é feliz?
— Acho, mas falta alguma coisa. Você vai cuidar da minha mãe, príncipe?
— Não só dela, de você também. – null fez cócegas em Maria, que o abraçou pelo pescoço.
— Mamãe estava errada, você não é um sapo, é o príncipe mesmo.
— Esse é o quarto da sua mãe? – null parou em frente a uma porta, da qual ele nem ao menos sabia como havia chegado. Maria assentiu, e null tomou a liberdade de bater na porta antes de abrí-la. Como se era esperado, null estava deitada na cama, toda encolhida e agarrada em um travesseiro. – Você acha que a gente deve acordá-la? – Maria balançou a cabeça e pediu pra que null a colocasse no chão. Ela correu em direção à cama e se aninhou nos braços da mãe. null viu null sorrir e abrir os olhos um pouco. Ela olhou pra Maria, depois para null, e disse:
— Deita aqui, null.
null, eu não acho...
— Cala a boca e vem logo. – null respirou fundo, fechando a porta atrás de si, e depois andou em direção à cama, se deitando do outro lado. null estendeu a mão e disse: – Mais perto. – null foi pra mais perto, assim a mão de null podia tocar seu ombro. null sorriu de lado antes de voltar a dormir, e null olhou pra Maria, que também parecia ter caído no sono.
E de alguma maneira, olhando para aquela mulher e aquela menina, ele sentiu como se estivesse completo outra vez.


Capítulo 4

Quando null acordou, a primeira coisa que ela viu foi null abraçado com Maria ao seu lado, dormindo serenamente. Foi impossível não sorrir. Quantas não tinham sido as vezes em que null sonhou com essa cena? Quantas não tinham sido as vezes em que ela tinha chorado até dormir pensando no mal que estava fazendo, tanto pra null quanto para Maria, os privando de saber a verdade? Não adianta chorar sobre o leite derramado, esquece o passado e foca no futuro! , a garota pensou, se levantando da cama.
null olhou para o relógio depois de tomar banho e trocar de roupa, percebendo que já passava das duas da tarde. Maria provavelmente acordaria cheia de disposição e pronta para sair, hoje era o dia que as duas pegariam suas fantasias para o aniversário da pequena, daqui a algumas semanas. Maria ia fazer quatro anos e insistia que sua festa fosse à fantasia, onde ela seria uma astronauta enquanto sua mãe seria uma rainha esperando pelo seu príncipe encantado. Claro que null insistiu que não precisava de príncipe nenhum, e elas duas poderiam comandar o reino sozinhas, mas Maria apenas dizia que algo estava faltando para a história ter o final feliz que merece.
null – null chamou baixinho, se sentando na cama ao lado de Maria. null apenas abraçou mais Maria, que sorriu ainda dormindo. Se o coração podia explodir de tanta fofura, a garota tinha certeza que ela teria que fazer um transplante mais cedo do que imaginava, porque não tinha como aguentar a fofura dos dois por muito tempo. – null, acorda. – Ela passou a mão por seu rosto, vendo-o abrir os olhos lentamente. null virou o rosto para null, e, quando a viu, sorriu largamente.
— Será que eu estou sonhando? – ele disse, colocando a mão por trás da sua cabeça e olhando diretamente para null. – Não é possível que você seja real, não tão de perto assim.
— Eu sou bem real, null, e se você não levantar dessa cama agora eu vou te mostrar o quão real eu sou.
— Você me deixou intrigado, null null, e agora não me resta nenhuma opção a não ser descobrir seus métodos. – null sorriu de lado, do jeitinho que ela gostava, e a garota mal esperava a hora de fazê-lo engolir cada palavra e tirar aquele sorriso da sua cara. null se esticou, começado a fazer cócegas em null. – Ah, porra, cócegas não! – Maria acordou no meio de null se contorcendo, e, quando viu as mãos de sua mãe em null enquanto ele se contorcia, ela se levantou, sentando em cima do peitoral dele e começando a fazer cócegas em seu pescoço.
— Guerra de cócegas! – Maria gritou, gargalhando alto, enquanto null continuava a se contorcer debaixo dela.
— Isso não é justo, são dois contra um! – null gritou, começando a fazer cócegas em Maria, que tentou escapar mas só conseguia rir.
— Não, eu perdi um soldado – null disse, caindo na cama ao lado deles. – Cansei! — Ela se sentou, olhando para os dois. — Vamos se arrumar, Maria? Nós temos um longo dia pela frente.
— A gente não pode ficar em casa hoje? — Maria abraçou null pelo pescoço, o que fez o coração de null apertar.
— Como assim ficar em casa? Faz dias que você espera pra ver como sua fantasia ficou e agora você quer ficar em casa? Aconteceu alguma coisa? Você não quer mais ir de astronauta?
— Quero, mas é que se a gente for, o null vai ter que ir embora e eu ainda tenho que dizer todos os nomes das minhas bonecas pra ele outra vez, ele não decorou nada.
— O que eu posso fazer se você tem um milhão de bonecas?! — null se defendeu, abrindo os braços.
— Bem que a mamãe disse que você era exagerado.
— O null pode vir com a gente. — null engoliu em seco logo depois de falar. — Digo, se ele não tiver nenhum compromisso, é claro.
— Sim! — Maria gritou, jogando os braços para o alto. — E ele pode escolher uma fantasia pro meu aniversário também! — Ela se virou para ele. — Você vem pro meu aniversário não é? — null fez a cara mais fofa quando foi pego de surpresa com a pergunta de Maria, e null apenas riu de lado quando ele se virou para ela procurando alguma saída. Meu Deus, tem como eu me apaixonar ainda mais por esse homem?!
— Acho que sim?! — Saiu mais como uma pergunta do que uma resposta, fazendo com que null gargalhasse.
— Claro que vai, Maria, null não perderia essa festa por nada. — null se levantou da cama e continuou: — Agora vamos se arrumar porque a gente já está atrasada. — Maria correu para os braços da mãe, se jogando neles.
— Eu vou, mas eu tenho uma condição. — null disse, fazendo com que null parasse e se virasse para ele com os olhos cerrados.
— Que condição, null null?
— É, que condição? — Maria disse, cruzando os braços.
— Sabe o que é, Maria, hoje, sua mãe… Ela me derrubou! — null apontou o dedo para null.
— O quê? — null gritou, incrédula, o que fez com que Maria tapasse os ouvidos. — Desculpa, meu amor, mas eu não tô acreditando no que essa pessoa está dizendo! Que horas eu te derrubei, null?
— Foi por sua causa que eu tropecei e levei um tombo hoje! Você me machucou e ainda deu uma gargalhada, você tem que dar um beijinho para sarar! — null cruzou os braços, como uma criança fazendo birra.
null null, você não tem vergonha nessa sua cara, não? — null estava prestes a dar um soco no braço de null quando Maria fez cara feia.
— Você fez isso, mamãe? — Maria perguntou, olhando para null de modo julgador.
— Mas é claro que não. Ele caiu sozinho!
— Por sua causa! — Se fosse em outra situação null já tinha enchido null de tapas, que não fariam nenhuma diferença, já que ele era muito mais forte do que ela, e os dois acabariam abraçadinhos na cama tendo a melhor sessão de amassos.
— Eu acho que você deveria dar um beijinho pra sarar, mamãe. Quando você beija os meus machucados eles saram mais rápido.
— Aqui, ó, null null, e eu quero um bem demorado. — null apontou para a sua bochecha, e null se deu por vencida. Entretanto, era claro que um jogo podia ter dois jogadores, e null sabia como jogar baixo.
— Se você insiste. — null colocou Maria no chão e andou até a cama, parando ao lado, onde null esperava com seu rosto estendido. A garota o segurou e deu um beijo no canto da sua boca, o que fez ele olhá-la surpreso. — Um jogo tem dois jogadores, null, e pode ter certeza que eu não vim pra perder. Vamos, Maria! — null saiu do quarto com um sorriso vitorioso nos lábios, enquanto null apenas a olhava, desnorteado.
Que mulher!, null pensou, pulando da cama e saindo do quarto. Ele resistiu à vontade de procurar o quarto de Maria e dar um susto em null apenas para ver sua cara de indignada, quando percebeu que não estava no direito de atrapalhar um momento de mãe e filha, já bastava ter vindo sem ser chamado e se intrometido no dia das duas. Na mesma hora, null pensou sobre o pai de Maria, onde é que ele estaria pra não estar vivendo com elas? Será que tinha ido embora e simplesmente as abandonado? Tinha outra família? Ou, na pior das hipóteses, tinha morrido? Desde o primeiro momento em que viu null chorando no hospital sentiu que ela parecia alguém que tinha passado por uma grande perda, e no dia do casamento da sua irmã, quando ela confirmou suas suspeitas, null fez a sua missão de arrancar pelo menos um sorriso dela. Uma mulher tão linda como ela não deveria manter uma feição triste no rosto.
Claro que era apenas uma brincadeira inocente, porém, o que ele não esperava era que null tomaria conta dos seus pensamentos apenas com uma dança, pior, depois de jogar seu celular no chão e trincar a tela. Ela era mesmo uma mulher fenomenal, e ele não esperava pela hora de ser um dos motivos de sua felicidade.
Quando null chegou na sala de estar, deixou a curiosidade falar mais alto e partiu à procura de, pelo menos, uma foto do pai de Maria. Tinham várias fotos de Maria em várias idades, algumas com null, com Rick e com uma mulher que ele não conhecia, fotos até de Sansão, mas nenhuma com um possível pretendente que poderia ser pai de Maria. Como uma deixa, o cachorro lambeu sua mão, fazendo com que null se assustasse. Sansão o encarou, virando a cabeça para o lado, o que o fez pensar que tinha feito algo de errado.
— Nem pense em me julgar, campeão, eu apenas estou fazendo uma pesquisa com a concorrência. — null se abaixou, acariciando a cabeça do cachorro. — Será que ele é mais bonito do que eu? Acho meio difícil, você sabe, eu sou muito lindo! — Sansão latiu, fazendo com que null se assustasse. — Eu sabia que você concordaria. — Sansão latiu mais algumas vezes, balançando o rabo. — Se eu tivesse um cachorro, Sansão seria o seu nome, sabia? Ah, e se eu tivesse uma filha, seu nome seria Maria. Parece que eu e null temos os mesmos gostos, eu sabia que meu coração daria um pulo toda vez que eu a visse, não era só um crush. — null riu da própria piada.
— Oh, olá, senhor null! — null se levantou, se virando para a voz que tinha chamado pelo seu nome. — Há quanto tempo não o vejo, está de visita? — A mulher, que ele nunca viu na vida, perguntou, fazendo com que ele franzisse o cenho. — null está com você? E a pequena Maria, aposto que já está grande.
— Hum… Me desculpe, mas eu te conheço?
A mulher estava prestes a responder quando outra mulher, que parecia muito como a versão mais velha de null, a mesma senhora das fotos, entrou na sala segurando uma tesoura de poda.
— Vanda, eu estava te procurando! — Ela tirou o chapéu e o colocou debaixo do braço. — Você trouxe os adubos que eu pedi? Da última vez você esqueceu e eu tive que arrastar o meu corpo preguiçoso até sua loja. — Ela sorriu largamente antes de se virar para null, e, então, ela fez a última coisa que ele imaginaria que ela faria: soltou um grito como se tivesse acabado de ver um fantasma. — Ai meu Deus! O que você está fazendo aqui, null? Você lembrou?
— Ele está comigo. — null apareceu na sala, com Maria ao seu lado. A mulher olhou para null com o queixo caído. — null foi no hospital fazer alguns exames e depois ele e seu pai vieram fazer uma visita ao papai. Ele vai com a gente buscar as fantasias e arrumar uma pra ele.
— Ele é o príncipe, vovó! — Maria disse, correndo até null e agarrando suas pernas. Ele se abaixou, a pegando nos braços.
— Ou um sapo — null disse, cruzando os braços. A mulher olhou para ela e sorriu largamente, fazendo com que ela balançasse a cabeça.
— Eu aposto as minhas fichas na Maria, ele, com certeza, tem jeito de príncipe. — Ela andou em direção ao null, estendendo sua mão e dizendo: — Eu sou Antonieta, mãe de null, é um prazer conhecê-lo, null.
— O prazer é meu. — Ele a cumprimentou.
— Vejo que você já conquistou Maria e até Sansão, só falta agora mesmo a fera. — null mordeu o lábio, suprindo uma risada.
— Mãe! — null gritou incrédula, abrindo os braços. — Sério?!
— Boa sorte, null, você vai precisar muito mais dessa vez e foi um prazer revê-lo. — Antonieta saiu da sala, levando junto a outra mulher. null apenas fechou os olhos e respirou fundo.
— Eu não te disse, mamãe, ele é o príncipe. — Maria abraçou null, que apenas segurou o riso outra vez.
— Nem pense em dar aquele sorrisinho seu, null. — Ela apontou o dedo para ele, cerrando os olhos. — Vamos logo, nós já estamos atrasados!
— Sim, Vossa Majestade — null respondeu o que fez null bufar alto. Maria soltou uma gargalhada, o que fez ele acompanhá-la. — Sua mãe parece ter certeza que eu não sou o príncipe, Maria.
— Ela sabe que você é, ela só tá fazendo jogo duro. — null a olhou confuso, andando em direção à porta. — Vovó disse que ela faria isso quando o príncipe aparecesse.
— E o que vai acontecer se o príncipe aparecer? — Ele deu um último carinho em Sansão e fechou a porta atrás de si.
— Nós vamos viver felizes para sempre, dã! — null olhou para frente, onde null estava arrumando a cadeirinha no banco de trás do carro. Mas não era um carro qualquer, e sim o carro dos seus sonhos. Parado, brilhante e perfeitamente polido estava o último modelo Jaguar F-Pace do qual null ainda não teve a chance de comprar porque não teve tempo, e sua mãe e irmã insistiam que ele contratasse um motorista. Ah, o que ele não daria para dirigir uma máquina como essa.
— Você está babando, null — null disse, se encostando no carro. null andou até ela, hipnotizado com o carro. A garota rolou os olhos e pegou Maria em seus braços, a colocando na cadeirinha. Ele passou a mão no carro, como se estivesse acariciando o seu bem mais precioso, e só quando null fechou a porta que acordou do transe. — Você dirige! — Ela jogou as chaves no ar e null as pegou.
— Sério? — Ele olhou para a chave e depois para ela. — Você vai me deixar dirigir essa máquina?
— Eu não gosto de dirigir, não nos dias de hoje, pelo menos.
— Então por que comprou esse carro? — null apenas deu de ombros e entrou no carro.
— Porque alguém tem um ótimo poder de persuasão. Vamos logo, null. – null entrou no banco do passageiro, enquanto null correu para o banco de motorista como um adolescente que tinha acabado de comprar o seu primeiro carro. Quando ele entrou no veículo, acariciou o volante e o painel, e null olhou para Maria, que apenas balançou o dedo perto da cabeça indicando que null não batia bem da cabeça, o que fez com que ela colocasse a mão na boca para esconder o riso.
— Eu vi isso, senhorita Maria! – null olhou para Maria pelo retrovisor.
— Mas eu não fiz nada! – ela disse levantando os braços. – Vamos, que a gente ‘tá atrasado. Ah, e não esquece a minha playlist favorita, mamãe sabe qual é.
A tal playlist que Maria queria era composta de todas as músicas dos filmes de desenho animado, e apenas uma música do Aerosmith, feita para o filme do Armagedon. null achava que o fato de Maria gostar tanto da música tinha a ver com o fato de que a garota a escutava sem parar toda a vez que sentia muita falta de null, o que era extremamente irônico, já que toda vez que null colocava a música ela tampava os ouvidos.
Quando a introdução da música começou, null agradeceu que eles estavam parados no sinal, pois null virou a cabeça tão rápido que ela jurou que ele machucaria o pescoço. Ele a olhou surpreso, e ela apenas deu de ombros e apontou para Maria, que começava a cantar. Os dois decidiram colocar a música no modo repetir e foram o resto do caminho cantando (lê-se: gritando). null nada disse, apenas ficou admirando o quanto os dois, mesmo se conhecendo havia poucas horas, já pareciam em sincronia como pai e filha.
Depois que eles chegaram na loja de fantasia, Maria pediu especificamente que null a ajudasse a sair da cadeira, e null apenas ficou observando ele todo atrapalhado tentando tirar o cinto da cadeira.
— Você não vai me ajudar, não, null? – ele disse, olhando para ela. – Isso é muito complicado.
— Mas é claro que... Não! Boa sorte, null. – null mandou um beijo no ar para ele e foi em direção à loja.
null, você chegou! – A dona da loja, Erica, disse vindo abraçá-la. – Onde está Maria? A fantasia dela ficou absolutamente linda, você tem que ver.
— Ela está saindo do carro. – null apontou para a rua e Erica olhou por cima do ombro, seu queixo quase caindo no chão.
null, quem é esse deus grego vindo com a sua filha nos braços? É seu namorado? Por que você estava o escondendo?
— É meu marido. – null disse, sorrindo largamente, mas logo percebeu os olhos de Erica arregalarem e percebeu o que tinha dito.
— Eu não sabia que você tinha marido.
— É complicado, então eu peço que você não comente nada com os dois.
— Tudo bem, eu não falo nada, mas eu digo isso: você está de parabéns, garota. — Erica desviou o olhar para null e Maria, que tinham acabado de parar ao lado de null. – Olá, Maria, como você está, minha linda?
— Bem, minha fantasia ‘tá pronta? Eu quero mostrar pro null – ela disse, sorrindo largamente. – Ah, esse é o null, ele vai ser o príncipe.
— Sua fantasia está pronta, e eu tenho a fantasia perfeita para o seu príncipe.
— Eu sou null, o príncipe. – Ele estendeu a mão para ela, que a apertou.
— Eu sou Erica, dona da loja. Vocês dois podem esperar perto dos provadores enquanto eu pego as fantasias. – Erica começou a andar e eles a seguiram. – Maria, vamos primeiro, sua mãe e o príncipe vão ter que esperar para ver sua fantasia. – Maria assentiu e saiu saltitando enquanto segurava a mão de Erica.
— Não tem problema eu ir para o aniversário da Maria, certo? – null disse enquanto os dois se sentavam no sofá.
— Claro que não, Maria quer que você vá. A lista de convidados é dela, ela convida quem ela quiser.
— Mesmo um estranho que está tentando levar a mãe dela a um encontro? – null sentiu o seu coração começar a bater mais rápido dentro do peito. Não importava que null fosse seu marido – mesmo ele não se lembrando disso –, ela estava sentindo as mesmas sensações que sentiu da primeira que eles dois se conheceram, null arriscava até dizer que estava se apaixonando pela segunda vez consecutiva. E você sabe o que dizem sobre a segunda vez, ela é ainda melhor.
— Você quer me levar a um encontro? Tipo, filme, pipoca, refrigerante e sorvete depois disso?
— Bem, agora eu vou ter que planejar um novo, já que você parece ter desvendado o meu plano. – null se virou para frente e null segurou em seu braço.
— Não, não, eu quero. – null abriu um sorriso grande, o puxando para perto. – Eu quero o filme, a pipoca, o refrigerante e o sorvete. Ah, e mais uma coisa: você. Eu quero você também. – null deu de ombros levemente e viu null sorrir de lado.
— Você complica muito as coisas, null null.
— Por quê?
— Porque você me faz não querer ficar um minuto longe de você.
— Então não fique.
— Mamãe, príncipe! – Maria disse, saindo do provador vestindo sua roupa de astronauta.
— Maria, você está incrível! – null se levantou e pegou Maria nos braços. — A astronauta mais linda que eu já vi.
— Eu vou ser a melhor astronauta do mundo.
— Agora, melhor astronauta do mundo, você vai me ajudar a escolher a minha roupa de príncipe.
— A mamãe pode vir?
— Mas é claro que não. – null se fingiu de ofendido.
— Ei! Eu pensei que você era o meu príncipe, eu tenho total direito de ver sua roupa! – null se levantou, abrindo os braços. – Eu sou a rainha, pelo amor de Deus!
— Eu pensei que eu era o sapo, mudou de ideia, nullzinha?! – null disse, rindo de lado, e null respirou fundo. – Vamos escolher minha roupa, enquanto sua mãe morre de curiosidade.
null viu os dois desaparecerem, mas não antes de null dar uma piscadela por cima do ombro para ela. Ela balançou a cabeça, sorrindo de lado, e quando a levantou viu null em sua frente. Ele riu e deu um beijo no canto da boca de null, fazendo com que ela sentisse as bochechas queimarem.
— Duas semanas. Te pego às sete.
E então ele desapareceu de novo, e, em vez de sentir o coração apreensivo como em toda vez em que ele sumia, ela sentiu uma pontada de esperança de que ele voltaria, e que dessa vez para ficar.


Capítulo 5


— Vamos, pai, a gente vai chegar atrasado! — null andava a passos largos em direção ao buffet onde seria o aniversário de Maria. Parecia que o dia hoje tinha sido feito especialmente para que tudo desse errado para ele. Para começar o dia de cão, ele acordou atrasado para o treino, foi correndo para o autódromo apenas pra chegar lá e o chefe da sua equipe proibi-lo de correr sem antes ver os seus exames. null, com a paciência de mil monges, pegou seu carro e foi correndo para o hospital a fim de conversar com o seu médico entre uma consulta e outra, porém, quando ele chegou, o hospital estava um caos por conta de um acidente que tinha ocorrido na estrada, deixando vários feridos. null esperou por mais de três horas antes de conseguir falar com seu médico, e o pior de tudo foi que Amélia tinha tirado o dia de folga para arrumar o aniversário de Maria, então ele tinha que esperar mais algumas horas para poder vê-la. Ele esperava ao menos roubar-lhe um beijo depois de duas semanas de apenas mensagens durante o dia e ligações durante a noite, onde null dormia no meio de tão cansada e null se pegava sorrindo bobo, escutando a respiração dela do outro lado da linha. A única notícia boa até o momento era que seu médico o tinha liberado para voltar às pistas, e ele podia fazer o que amava sem nenhuma preocupação.
A música tocava alto e o lugar já estava lotado de gente com fantasias de todos os tipos, null se sentiu um pouco descolado, até, já que Maria e Erica, a dona da loja, tinham insistido que ele fosse de príncipe. A decoração era exuberante, parecia a exata cópia do universo que null tinha estudado nos livros de ciências quando era mais novo, com todos os planetas suspensos no teto e os pequenos pontos de luz que lembravam vagamente as estrelas. null realmente tinha transformado todos os sonhos de Maria em realidade, e, falando nela, null não precisou procurar muito. Pra ele não importava o lugar, a situação, o horário, null sempre capturava a sua total atenção. Parecia que ela era um campo de força que mesmo sem querer o arrastava para sua órbita, e a única coisa que lhe restava era admirá-la de longe, esperando um dia conseguir tocá-la. Ela estava completamente linda, parecia que toda vez que ele a encontrava ela conseguia ficar ainda mais maravilhosa, especialmente quando usava um vestido digno de rainha, a exata cópia do vestido usado na adaptação de Cinderela que null tinha assistido, mas não se lembrava com quem. null parou de sorrir para a foto e colocou Maria no chão, as duas estava perto da mesa de aniversário, e de longe dava para perceber que nem null nem Maria queriam estar em qualquer outro lugar senão ali, null sabia que null provavelmente estava se arrependendo de ter contratado um fotógrafo para a festa.
Maria foi a primeira a vê-lo, ela abriu o maior sorriso, o que fez null sorrir também, ele não sabia o porquê, mas sentia como se ele e Maria tivessem uma conexão de outro mundo, e, toda vez que ele a via, seu coração enchia dentro do peito, null se sentia exatamente como no dia em que descobriu que queria ser piloto; como se finalmente tivesse encontrado um lugar onde pertencia.
— Príncipe! – null se abaixou, abrindo os braços, e Maria o abraçou pelo pescoço.
— Oi, minha astronauta! – null a abraçou de volta e se levantou com Maria em seus braços. – Como está sua festa? Está gostando?
— Sim, você viu que parece o universo?! E tem todos os meus brinquedos favoritos! A única coisa chata é que eu tenho que tirar um monte de fotos chatas e não posso brincar. – Maria fez cara de emburrada, o que fez null sorrir largamente.
— Tenho certeza que você já vai poder brincar. – null olhou para frente, vendo null junto com seus pais começarem a andar em sua direção. Por uma fração de segundos parecia que nenhuma decoração existia, tudo ficou em total e completo silêncio, e a única coisa que null conseguia ver era null andando para ele, com um sorriso no rosto e em um vestido de rainha mais lindo do que nunca, null podia sentir seu coração bater mais forte no peito e formigamentos nas pontas dos dedos. Ai, meu Deus, não me deixe morrer antes de provar o gosto doce dos lábios dessa mulher!
— Olá, Camillo! – null abraçou meu pai pelo pescoço antes de se virar para mim e dizer: — Vejo que as fantasias de sapos acabaram – null disse, parando em frente a ele com os braços cruzados. – Até que você não fica feio de príncipe.
null! – Sua mãe lhe deu um beliscão, fazendo com que ela massageasse o local. – Isso é jeito de tratar os convidados, garota?! – Ela se virou para null e Camillo. – Que bom que vocês chegaram, nós estávamos só os esperando para as últimas fotos.
— O quê? – null olhou surpresa para a mãe. O que é que ela estava aprontando?
— Foi Maria quem disse que queria tirar foto com o príncipe. – Antonieta deu de ombros, e null olhou para sua filha, que encostou a cabeça no ombro de null. null sentiu seu coração dar um pulo no peito, fazia exatamente dois aniversários que só ela estava nas fotos com Maria, null só esteve presente no aniversário de um ano de sua filha, no mês seguinte ele descobriu que precisaria fazer uma cirurgia por conta do seu acidente, depois de mais de um ano deste. A desculpa que null deu na época para não contar das suas dores de cabeça para null era que ele não queria preocupá-la, eles tinham acabado de ter Maria e cuidar de um bebê já era trabalhoso o suficiente, ele não queria que ela tivesse que cuidar dele também. Talvez, se ele tivesse contado tudo desde o começo, as coisas seriam diferentes, eles poderiam ser uma família de verdade e null não andaria por aí sentindo o peso das costas no mundo e com um pedaço do seu coração faltando.
null? – null chamou a sua atenção, fazendo com que ela voltasse seu olhar para ele. – Você está bem?
— Que tal nós tirarmos as fotos, hein?! Já está mais do que na hora de Maria poder brincar com os seus amigos. – null não esperou a resposta de ninguém, apenas andou em direção à mesa, onde o bolo se encontrava, e assumiu sua posição. null parou ao seu lado, com Maria em seus braços, e o resto das duas famílias se acomodaram em ambos os lados da mesa. null nem soube falar quantas fotos foram tiradas, mas sabia que tinham sido de todas as possibilidades que aquele grupo de pessoas podia fazer. No final, null se encontrou parada ao lado da fotógrafa, vendo null e Maria fazerem as mais diversas caretas para a câmera. A garota sorriu, boba, e a cada caras e bocas que os dois faziam ela podia ver que Maria tinha vários dos trejeitos dela, mas que simplesmente era a cara do pai. null sempre achou que fosse forte o suficiente para aguentar, afinal de contas, ela tinha perdido o marido, mas ao menos tempo não, ele estava vivinho da Silva, só não sabia que ela existia, e, se ela conseguiu “superar” isso, ela superaria quaisquer coisas. Só que ver null e Maria juntos, no maior momento pai e filha que ela já tinha visto, vendo o que eles poderiam ter juntos, fez com que a máscara que null usara durante esse último amo desmoronasse na frente dela.
null, por que você está chorando? – Antonieta perguntou, fazendo com que null olhasse para ela. – Está tudo bem?
— Não deixe que a Maria me veja assim. – null se virou de costas. – Eu vou me acalmar em outro lugar, diga à Maria que eu fui resolver coisas do aniversário e que ela pode brincar com seus amigos.
null nunca correu tão rápido em saltos antes na sua vida, ela agradeceu mentalmente pelo buffet ter um jardim um pouco afastado que era usado para festas na parte do dia. A garota se jogou no banco em frente a uma fonte e procedeu a chorar, com direito à soluços e tudo, null já tinha chorado muito nesses últimos anos, mas nada se comparava ao choro de ter tudo ao seu alcance e ao mesmo tempo nada ser seu. Ela sentia como se seu coração fosse explodir a qualquer minuto. Ela se deixou ser forte por tanto tempo para ser uma mãe melhor para Maria que se esqueceu de ser forte para si mesma.
A garota escutou o barulho de gravetos quebrando, mas nem ao menos conseguia parar de chorar ou abrir os olhos, apenas sentiu a pessoa sentar ao seu lado e puxá-la para um abraço. null teve a esperança de que fosse sua mãe que tinha vindo atrás dela ou até seu pai ou Camillo, mas não, ela reconheceria aquele perfume de longe, e não podia acreditar que não conseguia parar de chorar, então apenas procedeu a abraçá-lo forte pela cintura enquanto ele acariciava suas costas.
null segurava null em seus braços sem saber o que falar, quando ele a viu saindo correndo enquanto tirava fotos com Maria sabia que algo estava errado. Ele não conhecia null por muito tempo, mas parecia conseguir lê-la como um livro aberto, e vê-la chorar daquele jeito fazia com que seu coração apertasse dentro do peito, ele só queria saber como colocar um sorriso em seu rosto outra vez. Ele então se perguntou o que poderia ter feito null chorar tanto, ou melhor dizendo, quem, null sabia que o pai de Maria não tinha aparecido na festa, seu pai teria comentado se ele tivesse vindo, talvez null tivesse triste porque seu ex não tinha aparecido para o próprio aniversário da filha.
null se mexeu, fazendo com que null soltasse um pouco seus braços ao redor dela, ela se afastou dele enquanto limpava suas lágrimas.
— Sua maquiagem está intacta. – null quis bater com a cabeça na parede. Quem em sã consciência fala da maquiagem de alguém depois de vê-la chorar? Muito bem, null, você fez papel de bobo na frente de null outra vez só para não perder o costume.
null apenas balançou a cabeça e não pôde esconder o sorriso, null viu uma lágrima descer pelo rosto dela e automaticamente a limpou com seu dedo. null fechou os olhos, sentindo null acariciar seu rosto com o polegar. Quando ela abriu os olhos, viu o rosto de null perto do seu, e por um momento ela pensou que ele iria beijá-la, porém null apenas sorriu e depositou um beijo demorado em sua bochecha.
— Você quer conversar sobre o porquê de você estar chorando?
— Eu não estava chorando. – null respondeu rápido, fazendo com que null sorrisse enquanto tirava sua mão do rosto dela. Ela quase pediu que ele continuasse a acariciando, era difícil ficar sem o toque dele depois de senti-lo após tanto tempo.
— Se você diz, eu não vou te forçar a nada.
— Você foi sempre muito bom em me dar o espaço que eu preciso. – null tinha que começar a pensar muito antes de ter qualquer conversa com null, ela simplesmente entrava em um universo alternativo onde ela partilhava tudo com ele sem nem ao menos saber o que estava falando. Era nisso que dava estar no mesmo espaço que o amor da sua vida, ela se sentia confortável demais e tinha uma diarréia verbal.
— O quê? – null a olhou confuso.
— Um dia, null null, um dia eu te conto tudo, e você vai entender.
— Por que não me conta agora?
— Porque eu ainda quero muito tempo com você.
— Às vezes você não faz o menor sentido, null null.
— Eu nunca disse que faria, agora aguenta, bebê.
— Com prazer – null respondeu, rindo largamente. – Você não quer mesmo conversar sobre? Eu tenho dois ouvidos e dois ombros prontos para uso. Ah, e uma boca também, se você quiser.
— Essa é uma proposta e tanto, olha que eu aceito. – null deu uma gargalhada, porém por dentro ela queria gritar e se jogar nos braços de null. – Às vezes na vida a gente não precisa conversar ou de palavras, só precisa dar uma boa chorada pra lavar a alma.
— Você quem perde, eu sou um partidão.
null deixou as inibições de lado e passou os braços ao redor do pescoço de null, o abraçando pela cintura. Ela não estava nem um pouco se importando em parecer uma louca carente, só queria sentir null o mais perto possível, especialmente quando ela sentia que o seu tempo com ele estava contado.
— Tudo poderia ser diferente se você não fosse tão cabeça dura – null sussurrou, antes de se afastar de null e se levantar. – Você tem um espelho?
— Um espelho? – null se levantou também, ficando em frente a ela. – Você realmente acha que eu carregaria um espelho?
— Vai que veio com a fantasia. – null deu de ombros. – Claro que se você tivesse vindo de sapo com certeza teria um. – Ela balançou a cabeça. – Que decepção, null null. – null balançou a cabeça, com um sorriso no rosto. Por Deus, de onde essa mulher tinha vindo e por que diabos ele simplesmente não conseguia ficar longe dela? Ele estava ficando louco, só pode!
— Você pode se olhar com o meu celular. – null estendeu o celular para null, que logo abriu a câmera frontal. Ela mexeu um pouco no rosto com as pontas dos dedos, mas null não notou muita diferença, como ele tinha dito, sua maquiagem tinha ficado intacta.
— Vamos voltar para a festa? Nós temos que cantar os parabéns ainda. – null estendeu a mão para null, que a segurou e começou a guiá-la de volta para dentro.
— Tia null! – null olhou para a garota que tinha quase a derrubado em um abraço. – Você parece mesmo uma princesa! E o tio null ainda veio de príncipe!
— Olá, Julieta, como você está, minha linda? – null olhou para null, que olhava para a garota confusa, antes de abraçá-la. – Onde estão seus pais? Sophie? Bernardo?
— Estamos aqui. – null levantou seu olhar, dando de cara com seus antigos vizinhos. Ariella e null trabalhavam no mesmo hospital, porém, como Ariella era médica, as duas raramente se viam.
— Mamãe, tia null e tio null vieram de príncipe e princesa igual a Cinderela! – Julieta apontou para os dois, o que fez null sorrir nervosa.
— Está mais para a Bela Adormecida, meu amor. – Ariella riu, passando a mão pelos cabelos de sua filha. – Por que você não vai brincar, hein?! – Sophie assentiu e saiu correndo em direção a um grupo de crianças. Ariella e Chase olharam para null e depois para null, ela os olhou confusa, até que percebeu que null não se lembrava deles.
null, esses são Ariella e Chase, eles são nosso viz... Amigos. Eles são meus amigos.
— É um prazer conhecê-los. – null cumprimentou Ariella antes de se virar para Chase.
— E aí, null, como você está, cara?! – null estendeu a mão para Chase, porém ficou assustado quando ele o puxou para um abraço. Ariella e null se entreolharam, segurando o riso. Ariella e Chase eram os vizinhos da casa que null e null tinham se mudado depois de casados, Chase e null viraram melhores amigos quando descobriram que torciam para o mesmo time de futebol, e, desde então, tinham se tornado inseparáveis. A maioria dos amigos de null, tirando alguns dos caras da sua equipe, eram solteiros, tipo aqueles milionários que todo mundo sempre lia nos romances e que tiravam o fôlego, exceto que eles eram um bando de idiotas e nem no fundo das suas almas eram bons moços debaixo da aparência de playboy. Quando null e null se casaram eles aproveitaram bastante o casamento, principalmente com as primas da noiva, mas perceberam que as coisas estavam prestes a mudar e decidiram se afastar de null. A vida de solteiro era completamente diferente da vida de casado, null sabia disso, porém ele sempre gostou muito dos seus amigos e estava disposto a continuar a amizade mesmo que não fosse para ir para balada de quinta à domingo e sair com uma mulher diferente todo dia. null viu o esforço que seu marido fazia quando os chamavam para tomar uma cerveja, ou apenas para assistir um jogo na casa de alguém, e eles simplesmente davam a desculpa de que estavam muito “ocupados”. Um dia, null, querendo levantar o espírito do seu marido, colocou o seu melhor vestido depois de um turno de 19 horas e foi para uma balada com null, só para que ele saísse com os seus amigos, porém, naquele mesmo dia, null percebeu que seus amigos não eram tão seus amigos como diziam e decidiu cortar laços de vez.
Para ser completamente sincera, null não enxergou como uma coisa ruim, na verdade, tinha sido um livramento null cortar laços com aquele bando de mauricinho, chatos e mimados, que só atrasavam a vida de null. Quando null e Chase se tornaram amigos, null agradeceu a todas as entidades divinas que existiam por null ter arrumado um amigo que preste. Junto com Noah, o marido de Sofia, eles formavam os três mosqueteiros mais sexys que ela já tinha visto. null sabia, pelo jeito que Chase abraçava null, que ela não tinha sido a única que sentia sua falta.
— Eu estou bem, obrigado. – null se afastou, olhando para Chase um pouco confuso. – Nós já nos vimos antes? Seu rosto não me é estranho.
— Talvez em um passado nem tão distante. – Chase passou o braço pela cintura da sua esposa. – Eu já te vi no autódromo algumas vezes.
— Você também corre?
— Não, Ariella me mataria antes de eu entrar em um carro se fosse para correr. – Chase riu. – Eu sou muito fã de corridas e você é um dos melhores.
— Obrigado. – null olhou sem jeito para null, que apenas sorria para ele. – Então, como vocês se conheceram?
— Nós fomos vizinhos por um tempo – Ariella respondeu, e null viu o sorriso de null desaparecer. – Antes de null se mudar de volta para a casa dos pais dela.
— É verdade? Vocês moram por onde então?
null... – null segurou no braço de null, fazendo com que ele olhasse para ela. – Você pode ir buscar Maria? Acho que está na hora de cantar os parabéns.
— Claro. Foi um prazer conhecê-los – null disse antes de dar um beijo na bochecha de null e sair a procura de sua filha.
— Uau! É extremamente bizarro conversar com ele quando ele nem ao menos se lembra que somos amigos – Chase disse, balançando a cabeça.
— E você acha que eu não sei?! Eu estou tendo que conquistar o meu marido outra vez.
— E pelo jeito você não está fazendo muito esforço, ele está tão apaixonado por você como antes – Ariella disse, segurando a mão de sua amiga.
— Não quer dizer que não doa menos. – Ela olhou para null, que levava Maria nos braços em direção à mesa do bolo e doces. – Toda vez que eu olho para ele, pior, toda vez que eu olho para ele e Maria juntos, eu fico pensando no que eu tirei deles dois. Será que esconder a verdade foi realmente a melhor alternativa? O que teria acontecido se eu tivesse contado tudo pra ele, será que nós teríamos o nosso “felizes para sempre” ou ele iria embora de vez?
— Você não teve alternativa, null, nada disso é culpa sua. – null se virou para Ariella.
— Será mesmo, Ari? – null deu um sorriso triste antes de continuar: – Deixa eu ir, quero logo cantar os parabéns que ainda tenho que voltar para o hospital hoje à noite.
null chamou todos os convidados pelo microfone, e aos poucos eles foram se aglomerando ao redor da mesa. Maria se recusou a sair dos braços de null, e null estava muito esgotada emocionalmente para discutir, talvez fosse uma boa memória para Maria ter o pai ao seu lado, mesmo que nenhum dos dois fizessem a menor ideia. Depois dos parabéns, null e Maria foram distribuir as lembrancinhas para as crianças, e Maria fez tudo na velocidade da luz, porque estava doida para voltar a brincar, ou, para ser mais precisa, brincar com Bernardo, filho de Ariella e Chase.
null se sentou em uma das mesas e colocou seus pés na cadeira à sua frente. Ela precisaria de pelo menos duas xícaras grandes de café para ficar acordada para o turno que estava prestes a enfrentar. Ela conseguiria algumas horas de sono antes de sair de madrugada antes mesmo de Maria acordar, odiava ter que fazer isso, mas era os sacrifícios que ela tinha que fazer pra ficar mais tempo com sua filha.
— Cansada? – null abriu os olhos e deu de cara com null, parado ao lado da cadeira que tinha os seus pés. null assentiu, tirando os pés da cadeira, e null se sentou logo em seguida.
— Um pouco. E esses saltos estão me matando. – null pegou os pés de null e os colocou em seu colo, ele então prosseguiu a tirar seus saltos, fazendo com que ela soltasse um suspiro de alívio. null começou a massagear os seus pés, fazendo com que null relaxasse ainda mais.
— Melhor?
— Muito melhor, você sempre dá as melhores massagens.
— Como você sabe disso? Teve muitos caras massageando seus pés?
— É a melhor porque é com você. – null abriu os olhos, olhando para ele. – Obrigada por ter vindo, Maria simplesmente adorou que você veio, ainda mais vestido de príncipe.
— Foi um prazer ter vindo, eu não me lembro de ter ido em muitos aniversários de criança no passado.
— Claro que não, a maioria dos seus amigos correm quando escutam a palavra casamento e filhos.
— Falando em amigos, quem é o pirralho que fica o tempo todo com Maria?
— Cuidado de como você fala do pirralho, ele é meu filho. – Chase bateu nas costas de null antes de se sentar ao seu lado. – Você devia se acostumar, Maria e Bernardo são inseparáveis mesmo antes de nascerem. null e Ariella ficaram grávidas praticamente na mesma época.
— Mas null, como uma péssima amiga, teve Maria antes do nosso combinado. – Ariella completou, e null soltou uma gargalhada. – Nós tínhamos combinado em ter nossos filhos no mesmo dia.
— O que eu posso fazer? Maria estava louca para conhecer o mundo e ver a mãe incrível que ela tem.
— E humilde.
— Mamãe! – Maria veio correndo e se jogou no colo de null. – Eu quero ir embora.
— Mas já? Não quer brincar mais? – null viu Bernardo correr até elas e parar ao lado de null.
— Eu quero ir para casa dormir e abrir meus presentes. – Maria se virou para null. – Você vem com a gente, não é, príncipe?
— Que tal você dormir e abrir seus presentes só amanhã com mais calma? – Maria subiu no colo de null e o abraçou pelo pescoço.
— Mas mamãe não vai estar em casa, ela tem que trabalhar.
— Eu posso abrir os presentes com você, e a gente pode mandar um monte de fotos para sua mãe para ela ficar morrendo de inveja. – Os olhos de Maria brilharam e ela olhou para null.
— Você é uma péssima influência, null.
— Euzinho? – null se levantou com Maria no colo. – Agora vamos, nós temos que pegar todos os seus presentes.
— Ei, eu quero ir também! – Bernardo gritou, puxando a calça de null.
— Vamos, filhão, vamos ajudar Maria. – Chase se levantou, pegando Bernardo no colo.
— Olha, papai, eles dois se parecem muito! – Bernardo apontou para Maria e para null. – Tem certeza que ele não é o príncipe, Ma?
— Mamãe continua dizendo que ele é um sapo, então eu não sei. – Maria deu de ombros. – Agora vamos, eu quero pegar meus presentes.
— Que tal a gente apostar uma corrida, hein, null?! – Chase disse, olhando para null.
— No três – null disse, abraçando Maria mais forte, e Chase fez o mesmo com Bernardo. – Um, três! – null saiu correndo na frente, fazendo com que Chase o olhasse perplexo antes de sair correndo atrás dele.
— Vejo que ele continua com ciúmes da ideia de Maria e Bernardo juntos – Ariella disse, fazendo com que null olhasse para ela. – Quando você pretende contar a verdade para ele?
— Em breve, Ari, muito em breve.


Capítulo 6

null ficou de frente para o espelho, aplicando outra camada de rímel, e percebeu que sua mão tremia um pouco, e ela queria dizer que era por conta da quantidade de café que tomou para ficar acordada durante seu longo turno no hospital, mas enganar a si mesma era um dos maiores erros que o ser humano podia cometer. Ah, não, a garota sabia muito bem que todo o seu nervosismo era porque ela estaria em um encontro com o seu marido nas próximas horas. No tempo em que a garota ficou longe de null, ela sempre sonhava acordada com os momentos que eles passaram juntos, os encontros, as noites em que ficavam até tarde assistindo filmes, as corridas que assistiam juntos quando null não estava competindo, e as noites onde os dois apenas ficavam juntos agarradinhos, conversando sobre tudo. nullsentia tanto a falta de null que às vezes achava que ia entrar em um estado de combustão, foram inúmeras as vezes em que ela pensou em apenas aparecer na porta de null, se jogar nos braços dele e contar toda a verdade, mas sempre tinha algo que a impedia, ou melhor, alguém, do qual null chamava de mãe e null de Mulher Dragão.
nullescutou a campainha tocar e os latidos de Sansão ecoarem pela casa, logo depois ela escutou o grito alegre de Maria chamando pelo nome de null, fazendo com que ela sorrisse involuntariamente.
— Seu marido chegou! – Antonieta entrou no quarto da filha, fazendo com que ela tomasse um susto.
— Mãe! Precisa entrar no meu quarto desse jeito? – null pegou a bolsa, a colocando no ombro. – Em algumas culturas bater antes de entrar é conhecido como um ato de pedir permissão para entrar no quarto de alguém.
— Por que eu pediria permissão pra entrar em algum cômodo da minha própria casa?
— Porque esse é o meu quarto.
— A casa ainda é minha, se você quer que alguém bata antes de entrar no seu quarto, tenha sua própria casa. – Antonieta deu de ombros, estendo alguns envelopes para null. – Aliás, as contas da sua casa chegaram. – null pegou os envelopes e os colocou em cima da mesa. – Eu passei por lá pra checar a caixa de correio, e também pra dar uma olhada na casa. Aquele lugar está um poço de poeira, null, seu jardim está uma negação, amanhã mesmo vou levar Seu Jorge e dona Magda pra dar uma geral em tudo. Quer vir comigo?
— Mãe...
— Eu adoro ter você aqui pertinho de mim, minha filha, mas está na hora de você voltar para sua casa. – Antonieta segurou a filha pelos ombros e continuou: – De preferência com o bonitão que está lá embaixo, tão nervoso quanto da primeira vez que veio te buscar pra sair com ele.
— Eu não consigo. – nullolhou para sua mãe. – Toda vez que eu olho pra aquela casa eu só lembro dos momentos que eu e null tivemos juntos, e eu sinto como se meu coração fosse explodir pelo fato de que eu não posso ter minha família completa.
— Então conte a verdade pra ele, null, você já esperou muito tempo.
— É muito mais complicado do que todos vocês imaginam, eu posso perder muito mais do que o null se eu contar a verdade pra ele.
null...
— Eu preciso ir, null está me esperando.
null saiu do quarto quase correndo, descendo as escadas apenas pra encontrar null sentado no sofá com Maria em seu colo, com um livro de histórias nas mãos e Sansão deitado em cima dos seus pés. null fechou o livro quando percebeu que Maria já estava dormindo e se levantou, indo em direção à escada e vendo nullparada no último degrau, olhando para ele com um sorriso nos lábios. Ele passou por ela, sussurrando que colocaria Maria na cama, e Sansão foi atrás, quando ele voltou já não estava mais com ele; provavelmente tinha ficado no quarto junto com Maria.
— Sansão está lá dentro, eu deixei a porta do quarto dela aberta caso ele queira sair. – Ele desceu o último degrau, parando em frente à null, ela virou a cabeça para o lado e sorriu para ele. Deus, será que era possível explodir de tanto amor?
- Por que você está me olhando desse jeito?
— Por nada. – null abriu os braços e continuou: - Será que eu não ganho nenhum abraço? – null sorriu e abraçou nullpela cintura, a garota não resistiu e o apertou forte pelo pescoço sentindo seu corpo tão perto do meu.
— Você está toda cheirosa só pra mim?
— Você tem que acabar com o momento, hein, null?! – nullse afastou dele e andou em direção à porta. null gargalhou alto, passando pela porta e dando um beijo na bochecha de nullantes de andar em direção ao carro. A garota. Balançou a cabeça e fechou a porta atrás de si, andando até o carro onde null a esperava com a porta do passageiro aberta. Ela deu um selinho nele, o deixando estonteado, enquanto fechava a porta do carro. null tentou abrir a porta novamente, porém, null foi mais rápida e trancou a porta, dando a língua para ele. Ele apenas balançou a cabeça e seguiu para o lado do motorista.
— Um dia, nullnull Potts, você vai me matar. – null apenas sorriu largamente enquanto null ligava o carro.
Os dois foram em silêncio no veículo, pois null estava completamente concentrado no trânsito. null desconfiava que estava relacionado ao seu acidente, a garota sabia que tanto Sofia quanto Constance enchiam a cabeça dele com suas preocupações desde que ele acordou. Segundo Rick, tinha sido uma luta para que null pudesse voltar às pistas e convencer as duas de que ele estava pronto para correr novamente, ele treinou arduamente durante um ano para que estivesse completamente preparado para voltar às corridas. Ela mesma não gostava nada da ideia de null dirigindo outra vez, especialmente quando um acidente em uma das corridas havia levado a separação dos dois. Entretanto, ela sabia que, mesmo com o coração apreensivo, nunca cogitaria pedir que ele parasse de competir, não quando era algo que ele amava tanto, e vê-lo fazer algo que amava fazia seu coração bater forte dentro do peito, e um sorriso bobo aparecer em seus lábios.
— No que você está pensando? – null perguntou quando os dois pararam em um sinal.
— Em você – null falou, sem nem ao menos hesitar, e depois virou o rosto para null, sentindo suas bochechas queimarem. Meu Deus, null, você está corando em um encontro com o seu marido que não sabe que é o seu marido! Realmente, eu já fiz de tudo nessa vida! , a garota pensou, sorrindo sem os dentes. – Digo, nas suas corridas. Isso, nas suas corridas! Quando você vai correr de novo? – null arqueou as sobrancelhas para ela antes de balançar a cabeça e voltar seu olhar para a estrada novamente.
— Daqui duas semanas eu tenho uma corrida, é só um evento pré-GP fornecido por alguns patrocinadores.
—Então quer dizer que você vai começar a viajar outra vez. – nullabaixou a cabeça, lembrando das vezes em que null precisou viajar, algumas ela podia acompanhá-lo depois de cumprir algumas horas a mais no hospital, mas é claro, que, na maioria das vezes, ela não podia ir, e tinha que assistir tudo de casa com o coração na mão.
— Sim, mas isso é só daqui a uns meses. – Ele colocou sua mão em cima da dela, fazendo com que ela voltasse seu olhar para ele. – Não se preocupe, null, até lá você vai enjoar de tanto me ver.
— Eu duvido. – A garota riu, olhando para frente. null tinha acabado de parar em frente ao Acapella, o mesmo restaurante que ele a levou no primeiro encontro deles. null sentiu seus olhos encherem d’agua, mas engoliu o choro. Como é que, mesmo sem nem ao menos lembrar do que eles tiveram, null parecia reescrever a história de amor dos dois? Seria cômico e romântico se da última vez não tivesse terminado em tragédia. – Você que escolheu esse restaurante?
— É, o nome me veio à cabeça do nada e eu só conseguia lembrar que tinha vindo e gostado muito.
— Mas você lembra o porquê? – null aceitou a ajuda de null para descer do carro, e logo depois ele entregou as chaves para o manobrista.
— Pra falar a verdade, não. Eu só lembro de ter sentido algo muito bom enquanto estava aqui. – null riu de lado. – Eu não sei se você sabe, mas eu não lembro de muita coisa.
— Eu sei.
— Então Sofia te contou. – null entrelaçou seus dedos com os de Amelia, a guiando pelo restaurante.
— Algo desse tipo.
Mi lady! – null puxou a cadeira e apontou para o objeto. null olhou ao redor e viu exatamente o lugar que ela queria, e se virou para o garçom dizendo: – Será que a gente poderia ficar com aquela cabine ali no fundo?
— Claro, senhorita. Me sigam. – nullolhou para null, dando de ombros, e entrelaçou seus dedos nos dele. null sentou e puxou null para sentar ao seu lado, a cabine era a mesma que eles tinham sentado no seu primeiro encontro mais de nove anos atrás. Ela se lembrou que tinha escolhido o local porque tinha esquecido completamente do encontro com null, por conta da faculdade, e que ele apareceu na frente do seu apartamento todo arrumado e com uma rosa na mão.



null andou em passos lentos até o portão do seu prédio, ela só queria deitar na sua cama e dormir o resto do final de semana inteiro, suas provas de Microbiologia e Parasitologia tinham acabado com seus neurônios, e ela precisava repor suas energias com um longo banho, a melhor comida japonesa e uma boa noite de sono.
null? – A garota virou o seu rosto para o lado, dando de cara com null null, o filho de um dos melhores amigos do seu pai e um de seus corredores favoritos. Ela o olhou confusa, por que diabos esse deus grego estava na portaria de seu apartamento com uma rosa na mão?
Então como nas Visões da Raven, null se lembrou que, uma semana atrás, no aniversário da sua melhor amiga e irmã de null, Sofia, ela tinha ficado completamente bêbada e passou a noite inteira conversando e dançando com null null, e, no meio dessa loucura de dizer que ela não o queria, ela aceitou jantar com ele.
— Ai, meu Deus, null! Eu esqueci completamente! – Ela andou até ele, segurando seus livros contra o peito. – Eu tive que estudar pra duas provas péssimas essa semana, eu nem olhei meu celular direito, sem falar que eu estava pra lá de Bagdá quando aceitei seu convite. – null andou até a porta de trás do carro de null e jogou seus livros e sua bolsa no banco de trás. Ela olhou no seu relógio e soltou um palavrão. – Mas a gente vai, não se preocupe, você é gato e gostoso demais pra eu te deixar esperando. Não vai dar tempo de eu me arrumar, se você me aceitar completamente cansada e descabelada a gente pode ir agora. – Ela abriu a porta do carro e pulou no banco do motorista.
null apenas continuou olhando para null, como se ela fosse de outro mundo, quando ela bateu no vidro foi que ele balançou a cabeça e entrou do lado do motorista.
— Você me acha gato e gostoso? – null disse, rindo de lado, fazendo com que null balançasse a cabeça.
— Foi só isso que você pegou do meu monólogo?
— É a parte mais relevante. – Ele começou a dirigir enquanto null se olhava no espelho do quebra-sol, tentando arrumar seu cabelo. Para null, tudo que null fazia era motivo pra um sorriso bobo brotar em seu rosto, ele tinha acabado de conhecer a garota e sentia uma vontade enorme de saber tudo que ela quisesse compartilhar. Na primeira vez que ele a viu foi na primeira corrida de sua volta depois de uma turnê pelo mundo correndo em vários países diferentes. null sentiu seu coração pular dentro do peito quando a viu, a garota vinha conversando alegremente com seu pai segurando um saco de pipoca enorme na mão. Seu pai tinha comentado da amiga da sua irmã que era apaixonada por corrida e que ela até era fã dele, o que ele não esperava era sentir como se seu coração fosse pular do peito quando a conhecesse e também não para de pensar nela o percurso inteiro. null prosseguiu com suas corridas como se nada tivesse acontecido, tinha até tentado roubar o celular de nullcom sua irmã, mas Sofia tinha deixado claro que se ele quisesse o telefone dela tinha que pedir ele mesmo. Então ele esperou a melhor oportunidade e quando sua irmã decidiu fazer uma festa de aniversário, ele pegou o primeiro voo de volta a fim de conseguir o telefone de nullantes que a noite acabasse. Claro que null, a mulher mais imprevisível que ele já tinha conhecido, tinha superado todas as suas expectativas e o convidado para jantar, logo depois de desmaiar em cima do sofá da casa de Sofia e não sem antes colocar seu número no celular dele, junto com uma foto dela sorrindo completamente bêbada.
null olhou para o lado, vendo nulltentar arrumar seu cabelo, ela fechou o quebra-sol depois de colocar o cabelo em um rabo de cavalo e abriu o porta-luvas, null pegou o perfume que ele tinha esquecido lá dentro e começou a borrifar por todo seu corpo. Ele não conseguiu se segurar e soltou uma gargalhada, fazendo com que null parasse o que estava fazendo.
— O quê?
— Você é uma das mulheres mais peculiares que eu já conheci.
— Vindo de você, com toda certeza é um elogio, já que eu sei que esse rostinho deve ter conquistado muita mulher por aí. – null riu, balançando a cabeça e parando o carro.
— A pergunta que não quer calar é, se esse rostinho bonito já te conquistou.
— Precisa mais do que um rostinho bonito pra me conquistar. – null disse antes de sair do carro. Pra falar a verdade, null não tinha que fazer muita coisa pra conquistar null, porque o crush que ela tinha nele podia ser visto a anos luz de distância. Ela sempre ouviu falar do irmão irritante de Sofia, porém nunca se interessou muito em saber quem ele era ou o que ele fazia, até que um dia Sofia falou alguma coisa sobre seu irmão participar do GP de Mônaco, e finalmente mostrou a sua foto. Era fato que null tinha uma queda por corredores, tinha até namorado alguns, mas alguma coisa sobre null tinha chamado a atenção dela. Provavelmente foram as fotos sem camisa mostrando sua tatuagem uma parte do seu peitoral e ombro e tanquinho, mas nulltinha certeza que tinha muito haver com o jeito que ele sorria largamente mostrando suas covinhas e deixando os olhos pequenos. nullnão resistia a um sorriso lindo, especialmente, um em um cara tão gato quanto null.
nullsentiu null entrelaçar seus dedos com os dela e a guiar pelo restaurante, a garota olhou para ele com as sobrancelhas arqueadas, porém null estava muito ocupado seguindo o garçom para notar a cara que ela fez. Ela o seguiu pelo restaurante e começou a olhar ao redor e percebeu que eles estavam em um dos restaurantes mais caros da cidade, Acapella, rodeados de gente elegante e ela estava usando uma das calças e a camisas, um tênis completamente sujo, nenhuma maquiagem no rosto e o cabelo preso em um rabo de cavalo. nullparou fazendo com que null parasse de andar e olhasse para ela.
— O que foi, null?
— O que foi?! Nós estamos no restaurante mais chique da cidade e eu estou usando a pior roupa.
— Pra mim você está linda.
— Isso eu sou sempre, mas não ia doer nada me arrumar mais um pouco. – null sorriu e nullse virou para o garçom antes que ela fizesse alguma coisa e continuou: - Será que a gente não pode ficar com algumas das cabines?
— Claro, senhorita, me sigam. – Nós continuamos seguindo o garçom para uma das cabines do restaurante, eu entrei primeiro e null se sentou ao meu lado. – O que o eu posso servi-los essa noite?
— Uma garrafa de Elvio Cogno, Bricco Pernice, por favor. – null disse, começando a olhar o cardápio enquanto null apenas a olhava com um sorriso no rosto com a mão apoiada no queixo. – O quê? Para de me olhar assim!
— Não dá, você fica ainda mais linda a cada minuto.
— Você fala esse papinho pra todas as mulheres que vão à encontros com você?
— Elas sempre são lindas, devo admitir, mas você ganha de todas de lavada de nullnull Potts.
— Qual é a sua obsessão em dizer meu nome completo?
— Não sei, eu apenas gosto de dizer seu nome. null, null, null... – nullcolocou a mão em cima da boca de null, porém ele continuou falando seu nome.
— Quem vê cara, realmente não vê coração. Quem diria que por trás de um rostinho bonito como o seu, teria um péssimo xavequeiro.
— Ei, eu não sou um péssimo xavequeiro, eu só não sei como agir quando o assunto é você. – Ele disse se afastando dela. O garçom chegou na mesma hora colocando uma taça de vinho para os dois, nulltomou a sua em um gole. Ela estendeu a mão para pegar a garrafa, mas null foi mais rápido e afastou a garrafa dela.
— Nem pense nisso, null null, dessa vez não, você vai ficar sóbria enquanto a gente conversa. Eu não vou arriscar você esquecer de tudo, mesmo sendo uma das bêbadas mais fofas que eu já vi. Você quer ver?
— Como assim “você quer ver”?
— Pega o seu celular e liga pra mim. – null pegou seu celular, ignorando as notificações e procurando o número de null. null virou seu celular para null, e ela deixou o seu cair no chão, no celular de null tinha uma foto sua completamente bêbada e sorridente.
— Apaga isso. – null tentou pegar o celular dele, mas ele foi mais rápido e afastou o celular.
— Agora olha a minha foto no seu celular. – null ligou para null, e ela olhou para a foto de null, onde ele sorria largamente e seu nome dizia “null lindo???”. E bota lindo nisso..., null pensou, guardando seu celular.
— Agora, null, me diga mais sobre você, especialmente sobre essas provas que quase acabaram com o nosso encontro.
— Nossa! As piores provas que eu tive de Microbiologia e Parasitologia. Nosso professor quer que a gente decore quase o livro inteiro e eu entendo que a gente tem saber de muita coisa, nós estamos lidando com a vida de pessoas, mas não dá decorar um livro inteiro. Me poupe!
E a noite resumiu de nullfalando sobre sua vida, faculdade, amigos enquanto null falava das suas aventuras nas corridas pelo mundo. Os dois tinham vidas completamente diferentes, mas algo eles tinham em comum, sabiam que conversar um com outro sobre tudo vinha fácil e trazia um sentimento muito bom, e nenhum deles queria que esse sentimento acabasse.



null, você está chorando? – null passou o dedo no rosto de null, limpando as lágrimas que ela nem sabia que estavam rolando por seus olhos. – O que foi? Você está se sentindo bem?
— Nunca me senti melhor. – null sorriu para ele, limpando seu rosto e fungando alto. – Eu só lembrei de uma coisa.
— Algo coisa ruim?
— Não, algo muito bom. – Ela segurou a mão dele por cima da mesa. – Não precisa se preocupar.
— Tem certeza? A gente pode fazer isso outro dia, se você quiser.
null, não tem lugar no mundo que eu prefira estar nesse momento, exceto se fosse com você, aí eu ia pra qualquer canto. E aposto que a Maria e o Sansão também.
— Boa noite. O que eu posso servi-los esta noite? – O garçom perguntou.
— Uma garrafa de Elvio Cogno, Bricco Pernice, por favor – null disse, fazendo com que null sorrisse para ele.
— O quê?
— Nada. – null se ajeitou, ficando mais perto de null, apoiando seu cotovelo na mesa e olhando para ele, dizendo: – Então, null, conte-me mais sobre você, especialmente sobre suas corridas e sua recuperação.
Então naquela noite, enquanto o garçom servia uma taça de vinho atrás da outra, null contou todas as suas aventuras sobre as corridas e o seu processo de recuperação, com direito a chiliques tanto de Cassandra como de Sofia, enquanto null contava as aventuras de Maria e Sansão e também a dos pacientes do hospital, os dois sentiam que nada no mundo se comparava ao sentimento que estava transbordando naquele momento.
E enquanto o restaurante se esvaziava, null sentia que seu peito se enchia de esperança. Ela sabia que não podia mudar o passado, às vezes desejava que as coisas tivessem sido diferentes, porém, escutando seu marido gargalhar alto enquanto os dois falavam sobre suas vidas, ela sentia que eles poderiam construir um futuro juntos, com direito a uma filha que sonhava em ser astronauta, um cachorro brincalhão e um casal tão apaixonado que chegava a dar nojo, do jeitinho que ela sempre sonhou.
null, eu quero te perguntar algo. – null disse, virando seu rosto para ele. Já passava das quatro da manhã, e o dono do restaurante pediu, com muita delicadeza, para que os dois se retirassem para que pudessem fechar. A garota nem ao menos percebeu que se tinha passado tanto tempo, acho que quando estava se fazendo algo que adorava com alguém que se ama o tempo realmente não passa. Os seguiram pelo caminho de volta até que nullavistou um parque do qual ela sempre visitava e pediu que null parasse no mesmo. E foi assim que os dois pararam deitados na grama, olhando para as estrelas.
— Pode perguntar. – Ele se apoiou em sua mão, olhando para ela de cima pra baixo.
— Você não lembra de nada? Nadica de nada dos últimos anos?
— Não. – null se sentou, o que fez com que null fizesse a mesma coisa. – E isso é um dos piores sentimentos que eu já senti na minha vida. Eu acordei depois de um ano em coma por conta de uma cirurgia da qual eu nem lembro porque fiz em primeiro lugar. O médico disse que esqueci quase seis anos da minha vida. Seis anos! Pode ter acontecido tanta coisa, eu posso ter encontrado o amor da minha vida e eu não iria lembrar nem ao menos o nome dela. Já imaginou se algo assim tivesse acontecido?! Você está com alguém e na reviravolta dos fatos a pessoa simplesmente esquece que você existe? Pra onde esse amor todo iria? Como é que você parte daquele momento: começa tudo de novo ou continua de um lugar que você nem ao menos sabia que estava? E a outra pessoa, imagina como ela se sentiria?
— Como se o mundo estivesse desmoronando e você não pudesse fazer nada pra parar. – null respondeu, respirando fundo.
— Minha mãe disse que eu fiz muito do mesmo, que a corrida sempre foi minha prioridade e que eu não consegui ninguém. A Sofia só me deu a coleção dos filmes do Nicholas Sparks e pediu pra eu ter bastante atenção em uma mulher que perde a memória, acho que ela quis fazer alguma brincadeira de mal gosto ou algo do tipo. Já meu pai, apenas sorriu e diz: um dia você vai saber. – null riu sem humor. – Resumindo: ninguém me conta nada, porém às vezes eu sinto que algo está faltando, sabe? Parece que meu coração sabe que ele não estava sentindo as mesmas coisas que antes e anseia por sentir tudo aquilo de novo. – null olhou para ela, e riu de lado. – E sabe o que é mais louco disso tudo? Que quando eu estou com você parece que tudo para, como se tudo estivesse onde deveria estar. Louco, hein?!
— É, louco. – Então null fez o que qualquer mulher faria na presença do seu marido depois de um discurso como esse, segurou null pelo rosto e lhe deu um selinho demorado. Depois que o choque inicial passou, null passou o braço pela cintura de null, a puxando para perto e aprofundando o beijo. null sentiu que, naquele momento, beijando null null, tudo estava finalmente no lugar onde deveria estar. Tê-la em seus braços dessa maneira, enquanto ela puxava os cabelos da sua nuca, o beijando como ninguém nunca fez, parecia um gostinho do paraíso do qual ele nunca queria abdicar.
null... – null sussurrou, se afastando dela. A garota sorriu, dando um selinho demorado nele e se levantando logo em seguida.
— Vamos? – null estendeu a mão para ele, que a pegou e se levantou também. – Falta pelo menos uma hora pra eu poder deixar Maria na escola, você acha que consegue ficar acordado até lá?
— Claro que sim. – null riu, levantando as sobrancelhas para ele. – Que cara é essa?
— Um dia você vai saber, null. – nullcomeçou a andar de costas, de frente para ele, e continuou: - Agora nós temos que comprar o melhor café pra te manter acordado, porque eu tenho certeza que Maria vai querer que você a leve pra escola. E se duvidar, até Sansão vai entrar nessa equação. – null começou a andar em direção à null, quando ele parou em sua frente, a empurrou de leve no capô do carro e roubou um selinho demorado.
— Vamos, null null, nós temos uma astronauta pra levar pra escola.
— De fato, nós temos. Nós com certeza temos.


Capítulo 7

null acordou com um sorriso naquela manhã, pra ele não era uma surpresa, ele passou a semana inteira acordando cedo para levar Maria na escola, e, algumas vezes, até buscando e deixando null no trabalho. O plano era passar a maior quantidade de tempo possível com as duas, porém, como ele tinha uma corrida no final de semana, precisava focar em seus treinos, o que era completamente difícil, já que null continuava mandando fotos das traquinagens de Maria com Sansão, e, às vezes, até alguma história engraçada que ela tinha passado no trabalho. null não sabia ao certo como tinha chegado nessa situação, esperando fotos da filha e do cachorro da garota que ele estava saindo em vez de pensar em ganhar o primeiro lugar na corrida que decidiria se ele iria ou não para o grande GP de Mônaco. Todos esses pensamentos sempre levavam a questão que não queria calar: quem era o pai de Maria e por que ele nem ao menos ligava para a filha?
null sempre ficava tensa toda vez que null ao menos citava o assunto, e, mesmo sem querer, isso fazia com que ele pensasse que qualquer que fosse a relação que ela teve com o pai de sua filha provavelmente não terminou bem. null não sabia qual era essa necessidade de saber sobre o passado de null, especialmente sobre o cara com quem ela tinha tido um relacionamento sério a ponto de terem uma filha juntos, ele apenas queria dar uma conferida na concorrência e também conhecer o cara que ele nunca nem viu visitar a própria filha. null tinha conhecido null e Maria fazia apenas algumas semanas, mas toda vez que ficava longe das duas já sentia um enorme aperto no peito de saudades, ele realmente não sabia como o pai de Maria tinha deixado as duas escapar, não quando ele mesmo não conseguia ficar longe por muito tempo. Talvez ele estivesse ficando louco, tinha conhecido null e Maria havia pouco tempo, mas por uma razão inexplicável ele se sentia completo, como se eles, incluindo Sansão, fossem a família da qual ele nem ao menos sabia que queria.
null pegou a carteira em cima da mesa e foi em direção à porta, porém, quando a abriu, deu de cara com sua mãe. Constance null era uma mulher que sempre andava elegante, não importava a ocasião, ela estava sempre com suas melhores roupas, sapatos de grife, jóias brilhantes, e, claro, com um cabelo e rosto de quem acabou de sair do salão. Eram raras as vezes da qual null tinha visto sua mãe usando algo como um jeans e uma camiseta, uma vez até chegou a perguntar por que sua mãe se arrumava tanto, e ela apenas disse que Constance null era muito mais intimidadora usando os seus melhores acessórios.
— Mãe? O que a senhora está fazendo aqui? – null perguntou, fechando a porta atrás de si. – Eu tenho que ir pro autódromo.
— Eu sei, eu vim te buscar para que nós fossemos juntos. – Constance segurou o braço do filho enquanto o guiava até o elevador. – Você tem falado com sua irmã?
— Nada mais do que uma foto aqui e acolá da lua de mel. – null apertou o botão da portaria. – Por quê? Vocês duas brigaram outra vez?
— Sofia está apenas fazendo birra.
— Mãe, Sofia está com quase trinta anos, tenho certeza que ela já passou da fase de “fazer birra”. Qual foi o motivo dessa vez?
— Você conhece Sofia, null, ela gosta das coisas do jeito dela.
— Me pergunto de quem ela puxou isso. – null segurou a porta do carro para que sua mãe entrasse. Ele cumprimentou o motorista e entrou em seguida. – Você ainda não disse o motivo.
— Sofia apenas não concorda comigo. – Ela deu de ombros.
— Só isso?
— Ela não aceita que eu só quero o melhor pra todos. – Ela se virou para ele, acariciando seu rosto. – Que eu quero o melhor pra você.
— Então vocês estão brigando por minha causa?
— Não foi nada relacionado a você, meu querido, nós apenas estamos tendo um desentendimento que vai passar. – null logo percebeu que esse era um assunto do qual sua mãe não queria discutir. Ela se virou para ele e continuou: — Agora, me conte sobre você, o que você tem feito?
— Eu conheci uma garota. – null encostou a cabeça no banco, virando-se para sua mãe com um sorriso.
— Uma garota? Conte-me mais, null. – Constance se virou para seu filho com um sorriso no rosto.
— Ela é incrível, mãe. Eu a vi pela primeira vez no casamento de Sofia, ela estava linda usando seu vestido vermelho e balançando seus ombros junto com a música. Eu a chamei para dançar, mas claro que ela recusou, porém Sofia me ajudou. Eu tentei pegar seu número, mas ela apenas deu um tapa no meu celular e trincou a tela. – null se afastou do banco, se virando para sua mãe com um sorriso no rosto. – Eu a vi novamente no autódromo, parecendo uma deusa enquanto andava até mim. Ela é enfermeira e estava no hospital quando eu fui fazer meus exames, ela tem uma filha chamada Maria e um cachorro chamado Sansão, eu os conheci quando papai foi visitar Rick, seu pai. – null sorriu largamente, o que fez Constance sorrir sem os dentes. – E eu finalmente consegui sair com ela, e foi um dos melhores encontros que eu já tive. Ela é maravilhosa, mãe, a senhora tem que conhecê-la!
— Eu já a conheço – Constance respondeu, virando seu rosto para a frente. – null null é amiga da sua irmã, nós nos conhecemos há alguns anos.
— Ela não é incrível, mãe?! Me pergunto se nós nos conhecemos antes de eu perder a memória, tem algo familiar sobre ela.
null, você e null não tiveram absolutamente nada antes de você perder a memória, entendeu? Você só pensava em corrida, viajava muito e não tinha tempo para ficar de conversinha com qualquer uma, você está me entendendo, null?! – Constance segurou seu filho pelos ombros, que a olhou assustado.
— Nós chegamos – o motorista disse, fazendo com que Constance se afastasse do filho.
— Você não deveria estar preocupado com uma garota da qual você vai esquecer novamente em alguns meses, null, e sim na sua carreira. – Constance se virou para o filho. — Você passou muito tempo treinando pra voltar às pistas, mesmo contra a minha vontade, eu sugiro que você foque em você ao invés de focar em null null e a filha dela. – Ela se virou para frente e continuou: — Agora, se você me der licença, eu tenho uma reunião muito importante no momento.
— Você não vai assistir minha corrida?
— Eu tenho outros compromissos, mas eu tenho certeza que você vai ganhar. – Constance deu um beijo na bochecha de seu filho. – Agora vá, você precisa se preparar.
— Foi bom te ver, mãe. – null saiu do carro, indo em direção ao portão.
Depois de pegar sua credencial, null seguiu para o box do seu time, cumprimentando seus companheiros, e foi direto para o vestiário. Essa era a hora que null tinha para se concentrar antes de uma corrida, alguns minutos pra pensar no quão importante seria se ele fosse classificado para o GP de Mônaco, o seu sonho de carreira sempre foi correr em Mônaco, ganhar era algo que ele almejava muito, mas só em participar ele estaria feliz.
Quando null acordou em uma cama de hospital depois de quase um ano em coma por conta de uma complicação em uma cirurgia na cabeça, ele nunca se sentiu mais perdido em toda a sua vida. Deitado em uma cama de hospital, sem nem ao menos conseguir se mexer direito, estava o garoto que sua mãe sempre reclamava que não parava quieto e o homem que era apaixonado por esportes, mas que agora precisaria aprender tudo de novo. Ele entrou em um estado de pânico quando não conseguir nem ao menos segurar um copo de água e quando o médico começou a fazer perguntas sobre sua vida das quais null não conseguia responder, ele sabia que sua vida estava prestes a mudar de jeito que ele nem imaginava.
Então null passou meses no hospital passando por um intenso programa de fisioterapia para recuperar os movimentos que tinha perdido, foram os meses mais difíceis para ele, em alguns momentos ele se via tão frustrado que começava a chorar e até pensava em desistir, porém, o apoio da equipe do hospital junto com a sua família, especialmente Sofia, que insistia em tirar foto do seu progresso, o deixaram mais forte. Logo depois de receber alta, null tinha apenas uma meta de vida: voltar às pistas. Ele sabia que não seria algo fácil, foram quase dois anos sem nem ao menos pegar em um volante e ainda existia uma grande possibilidade que todo esse tempo o seu time tivessem achado alguém para substituí-lo, entretanto, no momento em que null pisou no prédio e foi recebido com o maior carinho pelos seus companheiros de time, ele sabia que ainda existia uma faísca de esperança.
Então ele treinou arduamente por mais ou menos um ano para voltar às pistas, superando até seu medo de entrar em um carro novamente, e mesmo sentindo o gosto das suas vitórias a cada corrida que ele ganhava, nunca que ele imaginaria que chegaria tão longe a ponto de participar de uma corrida para classificatórias do GP de Mônaco. O medo ainda era algo muito presente em todas as suas corridas, e ele gostava de pensar que era o que mantinha vivo, null nunca mais queria acordar em uma cama de hospital como acordou há um ano. Se bem que, se null null estivesse ao seu lado todas as vezes, ele cogitava até em correr o risco.
null? – Seu chefe de corrida, Eric, entrou no vestiário com um sorriso no rosto. – Você tem visitas.
— Eu já disse que não vou falar com repórter nenhum. – null fechou a porta do seu armário, se virando para Eric. – Esses caras não desistem.
— Eu tenho quase certeza que essa visita você vai gostar bastante. – Eric deu uma piscadela e saiu do vestiário. null fechou seu macacão e seguiu Eric para fora. A primeira pessoa que ele viu foi seu pai, e logo depois Rick. null não estava com eles, provavelmente tinha ficado presa no trabalho.
— Príncipe! – null sorriu quando viu Maria correndo em sua direção. Ele se abaixou e logo ela se jogou em seus braços, o abraçando pelo pescoço. – Uau! No meu próximo aniversário você deveria usar essa fantasia, combina com você.
— Muito obrigada, astronauta. – null fez cócegas em Maria, que começou a gargalhar. – Pensei que vocês não vinham.
— Mamãe conseguiu sair do trabalho mais cedo então a gente veio. Cadê seu carro, príncipe? – null sorriu e levou Maria em direção ao seu carro. – Uau! Muito mais legal que um cavalo branco. Já sei como vou fazer meus próximos desenhos de você. Ah, eu fiz um desenho pra você! – Maria entregou o desenho para ele, e logo depois que os dois entraram no carro, os olhos da menina brilharam enquanto ela segurava o volante, virando-o para o lado e pro outro. null abriu o desenho, sorrindo largamente logo em seguida, no desenho estava ele segurando um troféu com null e Maria ao seu lado, pelo menos essa era a sua interpretação.
— Maria, você acha que eu vou ganhar?
— Sim, mamãe disse que você é o melhor em corridas.
— Ela disse isso mesmo?
— Eu disse um dos melhores, não o melhor. – null apareceu ao lado deles, fazendo com que null sorrisse para ela.
— Por que você maltrata meu coração assim, null null?
— Seu coração não, seu ego. – null parou ao lado do carro, cruzando os braços. – Você já entregou seu desenho da sorte para null, Maria?
— Já sim, agora ele vai ganhar com certeza. – Ela sorriu para sua mãe e continuou: — Mãe, tira uma foto nossa?
— E eu? Não vou aparecer na foto, não?
— Não, eu já tenho muita foto com você. – null deixou o queixo cair enquanto null soltava uma gargalhada alta. null tirou o celular do bolso e procedeu a tirar fotos dos dois juntos, enquanto ambos faziam várias caretas. A cada foto que ela tirava dos dois bem juntinhos ela sentia uma pontada no peito, null e Maria, mesmo não sabendo que eram pai e filha, eram mais parecidos do que ela imaginava. Claro que sua filha tinha muitos dos seus trejeitos por ter passado seus primeiros anos de vida sem a presença do pai, mas era assustador o quanto Maria ainda parecia mais com o pai do que com ela, especialmente fisicamente. Parece que o universo gostava de jogar na cara dela o que ela fez quando não contou a verdade para null e Maria.
— Deixa que eu tiro uma foto de vocês. – Seu pai tirou o celular de sua mão, fazendo com que null olhasse para ele agradecida. Ela se abaixou ao lado do carro, e null passou o braço pelos seus ombros, a puxando um pouco para perto. Rick tirou várias fotos, incluindo uma em que null roubou um selinho demorado de null, até que ela decidiu que já não aguentava mais ficar na mesma posição.
null, você tem cinco minutos – Eric disse, abrindo o maior sorriso para null enquanto ela tirava Maria do colo de null.
— Droga! Eu esqueci meu capacete lá dentro – null disse, pulando do carro. Ele parou em frente à null e segurou seu pescoço, lhe dando um selinho demorado, e disse: — Meu beijo da sorte. – Ele riu de lado, deu um beijo estalado na bochecha de Maria e desapareceu pelo vestiário.
— A última vez que eu vi Maria, ela ainda era um bebê. – Eric parou em frente à null. – Quantos anos ela já tem?
— Acabou de fazer quatro. Maria, esse é Eric.
— Oi. Você trabalha com o príncipe?
— Na verdade, eu sou chefe dele. – Ele sorriu e continuou: — Nossa! É assustador como eles dois se parecem.
— Em mais jeitos do que eu gosto de admitir – ela respondeu, balançando a cabeça. – Você pode avisar pro null que eu estou indo pra cabine e que a gente se vê depois da corrida? Eu ainda preciso comprar comida.
— Claro que sim. – null começou a andar em direção à saída, quando Eric a chamou novamente e disse: — Se ele soubesse da verdade, eu tenho certeza que ele se sentiria completo novamente. Pensa nisso, null.
— Você acha que eu não sei? – Ela riu sem humor. – Eu só preciso de um pouco mais de tempo. Foi bom te ver, Eric.

null entrou no carro, colocando seu cinto de segurança. O desenho de Maria estava dentro da sua luva, ele estava mais nervoso do que o normal, e não era pra pouco, foi exatamente nessa corrida, a classificatória pro GP de Mônaco, em que ele sofreu um acidente que levou à sua cirurgia, ao seu coma e, por fim, à sua perda de memória. Se ele dissesse que não estava com medo estaria mentindo, perder a classificatória para Mônaco não era nada comparado a sofrer outro acidente e perder a memória outra vez.
A perda de memória sempre foi uma das coisas que deixava um gosto um pouco amargo na sua boca, ao mesmo tempo em que todo mundo dizia que ele não tinha perdido nada de especial, null tinha a sensação de que tinha perdido algo transformador que preencheria o vazio que sentia dentro do peito desde que acordara. Sentia não, sentiu. Desde que null entrou na sua vida, junto com a filha que sonhava em ser astronauta e seu cachorro que não sabia o significado de espaço pessoal, ele se sentia completo novamente.
Ele sorriu, se lembrando do beijo da sorte que conseguiu roubar dela dessa vez. O que ele sentia por null era algo que ele não conseguia explicar, mas só em pensar na possibilidade de perder a memória e se esquecer dela, de Maria e Sansão, ele já sentia um calafrio percorrer seu corpo. Por isso, null voltou a sua atenção para a corrida, esperando que o desenho que Maria lhe entregou trouxesse a sorte que ele desesperadamente precisava.

null estava comendo o seu balde de pipoca como uma pessoa que tinha acabado de descobrir o quão delicioso era esse petisco. Ela agradeceu mentalmente ao seu sogro, Camillo, quando ele colocou Maria em seus ombros para que ela pudesse assistir à corrida de um dos locais mais altos, parecia que o seu nervosismo estava mais difícil de esconder agora, mais do que nunca. Não que ela não ficasse nervosa quando null estava correndo, claro que ficava, porém tudo era diferente agora, especialmente quando ela tinha acabado de sentir o gostinho da família que lhe fora tirada da pior maneira possível. Quando null esqueceu da vida com a null pela primeira vez, ela demorou anos pra se recompor, até hoje ela não havia superado o fato de ver null acordando e a olhando como se nunca a tivesse visto na vida, se acontecesse outra vez, null não sabia se conseguiria levantar novamente.
Da primeira vez que null se esqueceu de null, ela virou um completo zumbi por algumas semanas, Maria tinha acabado de fazer um ano e Sansão estava enorme, muito mais exigente. Sua mãe se prontificou a ajudá-la, ou, como null se lembrava, a tomar conta de tudo enquanto ela entrava em luto pelo seu marido, que tinha acabado de voltar dos mortos mas que não fazia ideia de quem ela era. Em uma das noites que sua mãe havia ido para casa, Maria começou a chorar como se não houvesse amanhã, null tentou de tudo para fazê-la se acalmar, até que não se segurou e chorou também. Vendo as duas chorando, Sansão se deitou nos pés de null, fazendo com que ela o olhasse antes de voltar a olhar para sua filha novamente. Naquele momento, null sabia que tinha que tomar uma decisão: ou ela passava o resto da vida sofrendo pelo seu marido esperando que ele um dia acordasse e se lembrasse dela negligenciando tanto Maria quanto Sansão, ou ela podia pegar as rédeas de sua vida novamente. Ela escolheu a segunda opção.
null nunca esqueceu de null, por mais que ela tentasse, ele estava em todos os aspectos da sua vida, mesmo que ela gostasse de negar, como por exemplo quando Maria falava uma nova palavra ou chorava até que null a deixasse tomar banho na banheira com sua coleção de patinhos, ou quando Sansão corria atrás do gato da vizinha e comia os tênis que null usava para trabalhar, a garota se pegava abrindo o maior sorriso, louca para que seu marido chegasse em casa pra poder contar tudo o que acontecia. Até que a verdade atingia null como uma onda traiçoeira: seu marido não se lembrava da sua família e, provavelmente, não voltaria para casa.
Então null arrumou uma parte das suas coisas, pegou Sansão e Maria e voltou a morar com seus pais. Seu plano de tentar viver a vida livre de null estava funcionando até o casamento de Sofia, quando ela viu seu marido pela primeira vez ao vivo e em cores depois de mais de um ano, e sentiu como se seu coração fosse explodir dentro do peito. null até tentou fazer jogo duro, ignorar a existência de null novamente, mas o jeito que ele a tratava ou como tratava Sansão e Maria faziam com que ela se lembrasse de tudo aquilo que fora tirado deles. null estava cansada de resistir ao amor da sua vida, e foi deixando-o entrar em sua vida novamente só pra ter a certeza de algo que ela sabia, mas ignorava: ela nunca esqueceu null null.
Por isso, null estava completamente decidida que contaria a verdade para null e o mais rápido possível. Ela não sabia quando ou como, mas iria contar a verdade para ele, mesmo que ele a odiasse no começo. null conhecia seu marido melhor do que ninguém, sabia que null ia odiar a ideia de todos à sua volta mentindo para ele, especialmente ela, mas ela também sabia que, depois que a raiva passasse, ele a procuraria pra entender o seu lado, porque se tinha uma coisa que null tinha era um enorme coração.
null escutou todos na cabine gritarem, fazendo com que ela olhasse para frente, null tinha conseguido ultrapassar os dois primeiros colocados e agora estava em primeiro lugar, era a última volta da corrida e Maria gritava em cima dos ombros do avô.
— Mamãe, o príncipe vai ganhar! – null viu sua filha sorrir largamente. – Ele é o melhor corredor do mundo, mamãe!
— Com certeza, ele é. – null sorriu, vendo a bandeira quadriculada no telão anunciar o final da corrida, e logo a foto de null aparecer no telão com a palavra “campeão” ao lado.
— Uhul! Eu sabia que o príncipe ia ganhar, mamãe! – Maria estendeu os braços e null a pegou em seu colo. – Agora você tem que admitir, mamãe, ele é o príncipe que a gente tava procurando.
— Sabe de uma coisa, filha? Ele é sim! – Maria sorriu largamente. – Mas ele ainda não sabe, então esse vai ser o nosso segredo.
— Quando é que a gente vai poder contar pra ele, mamãe? Ele pensa que é o sapo por sua causa.
— Só mais um pouquinho, minha filha, mas eu prometo que vai ser logo.
— De verdade?
— Palavra de escoteiro. – null levantou a mão, fazendo com que Maria cerrasse os olhos.
— Mas você não é escoteira, mamãe. – null soltou uma gargalhada e Maria deu de ombros. – Agora vamos, eu quero falar com o príncipe.
No final das contas, null e Maria só conseguiram falar com null mais de uma hora depois que a corrida acabou, pois, aparentemente, null tinha feito história voltando para as pistas depois de quase dois anos do seu acidente, e garantindo a terceira colocação na largada do GrandPix de Mônaco, então todos os repórteres queriam um pouco do seu tempo sobre sua história de superação. Já passava das nove da noite, e Maria lutava para ficar acordada, null viu que a maioria dos convidados já tinham ido embora e que uma boa parte da equipe de null tinha ido para casa. Seu pai, Camillo e Eric a fizeram companhia, mas com Maria dormindo em seu colo a garota acabou se lembrando do seu próprio cansaço.
— Pai, vamos para casa. – null se levantou, fazendo com que Maria levantasse a cabeça. – Eu ligo pro null amanhã.
— Tem certeza, null? Você não quer nem se despedir dele?
— Ele está muito ocupado e eu não tenho coragem de tirá-lo dos holofotes, o GP de Mônaco sempre foi o seu sonho. Maria está quase dormindo e eu também preciso de uma boa noite de sono. – Seu pai assentiu, e logo null se despediu de Eric e Camillo. A garota estava indo em direção à saída quando escutou a voz de null.
— Nem pense em dar outro passo, null null. – Ela se virou, vendo null entrar no recinto com uma sacola da sua hamburgueria favorita em uma mão e um troféu na outra. – Você ia embora sem me dar um beijo da vitória? – Ele correu em direção à null, dando-lhe um selinho demorado. – Gostou do meu troféu?
— É bonitinho. – null deu de ombros, fazendo com que null balançasse a cabeça.
— O que eu tenho que fazer pra te impressionar, hein, null null?
— Só seja você, null null. – null acariciou Maria, fazendo com que ela abrisse os olhos lentamente.
— Príncipe, você ganhou! – Maria disse entre bocejos.
— E tudo graças a você, minha astronauta favorita. – Ele tirou o desenho de Maria de dentro do seu macacão. – Eu vou levar seu desenho comigo pra todas as corridas.
— Então você vai ganhar todas as corridas. – Maria bocejou e se encostou no ombro de null novamente.
— Você ia embora sem se despedir, null?
— Você estava ocupado e eu não queria atrapalhar, Maria estava muito cansada e quase dormindo. – null olhou para a filha, e depois para ele. – Corrigindo: ela está dormindo. Eu ia te ligar quando chegasse em casa ou amanhã.
— Mas eu comprei seu hambúrguer favorito pra gente comemorar juntos, eu comprei até batata frita extra, porque eu sei que você gosta. – null sorriu largamente, mas logo seu sorriso desapareceu. Em nenhum momento ela disse o nome da sua hamburgueria preferida ou do seu sanduíche preferido, e muito menos que ela amava tanto batata frita, e que sempre pedia uma porção extra. Ai, meu Deus, ele está lembrando! ELE ESTÁ LEMBRANDO DE MIM! MANDA AJUDA, MEU DEUS!
— Que tal você ir com o null e eu levo Maria para casa?! – Rick disse, pegando Maria no colo. – Vocês dois podem ir comemorar juntos, o que acham? – null sorriu largamente e olhou para null. Ela continuou olhando para o seu marido, fascinada enquanto assentia.
— Fechou! – null passou um braço ao redor dos ombros de null e começou a puxá-la em direção à saída. – Tchau, pai e sogrão! – Ele disse por cima do ombro. – Eu tenho que correr antes que null acorde do transe e mude de ideia. Tchauzinho, Eric!
— Eu escutei, viu, null – null falou, dando um tapa em seu peitoral.
— Um homem desesperado tem que fazer o que pode pra conquistar a garota que ele gosta.
null cumprimentou o motorista enquanto null abria a porta do carro, ela entrou primeiro, e null entregou seu troféu para ela.
— Você deve estar muito feliz, hein?! – Ela admirou seu troféu. – Participar do GP de Mônaco sempre foi seu sonho.
— Pra falar a verdade, eu estava apavorado antes de entrar na pista, há dois anos foi a corrida em que eu sofri um acidente e minha vida deu uma reviravolta de trezentos e sessenta graus. Eu me sinto aliviado que tirei essa superstição dos meus ombros, agora eu posso ir pra Mônaco tranquilo sem medo de nada.
— Que bom que você pensa assim, null, não tem coisa mais linda do que ver alguém realizando seus sonhos. Você merece.
— Você vai me ver correr em Monâco? – null se apoiou no banco e aproximou seu rosto do de null, continuando: — Você vai levar Maria também?
— Eu posso ver, quando é a corrida?
— Daqui três semanas.
— Eu vou falar com Maria...
— Deixa que eu falo com ela – null interrompeu null, fazendo com que ela sorrisse. – Eu aposto que ela vai querer fazer outro desenho pra mim.
— Então eu acho que você vai ter que arrumar muito espaço, você é o tema favorito dos desenhos de Maria ultimamente.
— Verdade? Agora só resta saber se eu também sou o tema favorito dos sonhos da mãe dela.
— Especialmente aqueles em que você está sem camisa. – null sorriu de lado, e null mordeu seu lábio pra conter o sorriso. – Isso me lembra...
null colou seus lábios nos de null em um selinho demorado, porém, logo null decidiu aprofundar os beijos, puxando os cabelos da nuca de null e apertando sua cintura. Quase dois anos sem beijar seu marido fizeram com que null se transformasse em uma mulher desesperada por seus beijos, null podia achar que eles estavam indo rápido demais, porém a única coisa que ela conseguia pensar era no quanto ela sentia falta de estar perto dele. Ela subiu no colo de null, colocando uma perna de cada lado dele. As mãos dele desceram por suas costas, até que chegaram em suas coxas, onde ele apertou suas pernas enquanto ela mordia seu lábio. Ela sabia muito bem o que deixava seu marido louco e iria usar todas as suas armas para conquistá-lo outra vez.
null null, o que você está fazendo comigo? – null disse ofegante, interrompendo o beijo.
— Espero que o mesmo que você vem fazendo comigo há algum tempo. – null a olhou confuso, fazendo com que null sorrisse e roubasse alguns selinhos demorados dele. – Um dia você vai entender. – Ela saiu do seu colo, pegando o saco ao lado dele. – Agora vamos comer? Eu estou faminta!
Os dois foram o caminho inteiro comendo e conversando, o apartamento de null ficava do outro lado da cidade, longe do autódromo. null sugeriu que eles fossem para outro lugar, porém null estava decidido a comemorar apenas com ela e mais ninguém. Quando os dois chegaram, null ajudou null a descer do carro, enquanto os dois se despediam do motorista. null ainda não tinha visitado o novo apartamento de null, já que eles passavam a maior parte do tempo na casa dos pais dela com Maria e Sansão. Pra falar a verdade, os dois não tinham passado um tempo sozinhos desde o seu encontro, e só a ideia de passar uma noite sozinha com null já fazia os dedos dela formigarem.
— Bem-vinda à minha humilde residência – null disse, ligando a luz do seu apartamento. O lugar era grande e perfeitamente decorado, null sabia que tinha um dedo da sua sogra em cada detalhe, desde a mesa de centro até as cores dos lençóis da cama de null. Se tinha uma coisa que Constance sabia fazer era transformar um cômodo qualquer em tudo aquilo que você não sabia que queria, mas desesperadamente precisava. Não era à toa que Constance Serrano era a melhor designer de interiores da cidade. – Minha mãe me ajudou a decorar o lugar. – null pegou uma das fotos, onde Constance segurava null no colo quando ele ainda era um bebê, e se virou para ele. – Ela adora fotos, e como a casa dela está lotada, ela trouxe uma parte das fotos pra cá. Entretanto, ela não trouxe as melhores. – null sorriu largamente e pegou null pela mão, indo em direção ao corredor. – Essas são as melhores. – null segurou os ombros de null, a virando para uma das paredes do corredor. null sorriu largamente quando viu que as fotos favoritas de null eram fotos de Maria, Sansão, dos desenhos da sua filha e também dela. – Maria que me desculpe, mas essa daqui é a que eu mais gosto. – null apontou para a foto dela, onde ela sorria largamente enquanto olhava para câmera, null estava com a pior cara de cansada depois de um longo dia no hospital, porém null insistiu que só iria embora se ela sorrisse para câmera, o que ela eventualmente fez, sem nenhum esforço.
— Sabe qual é a minha foto favorita? – null perguntou, se virando para ele e tirando o celular do bolso. null cruzou os braços, olhando para ela com os olhos cerrados, ela estendeu o celular para que ele olhasse para a foto e logo null viu o rosto do seu marido corar. – Eu durmo me perguntando quando, em nome de todos os anjos, eu vou poder ter essa visão ao vivo e a cores. – null tinha escolhido a foto de uma matéria de revista, onde null tinha posado sem camisa há alguns meses.
null, eu não quero estragar o que a gente tem. Eu quero fazer tudo certo, especialmente porque se eu fizer alguma merda eu vou estar decepcionando você, Maria e até Sansão, e eu não quero isso. Por isso eu acho que a gente deve ir com calma.
null, limites foram feitos para serem ultrapassados. – null ficou na ponta dos pés, passando seus braços ao redor dos ombros do seu marido. – E sim, um dia você pode vir a me decepcionar, ou Maria ou Sansão, mas se existe uma coisa que eu tenho certeza é que você nunca vai perder nenhum de nós.
null...
— E mais uma coisa: a gente não está indo rápido demais, pra falar a verdade, é algo do tipo que já passou foi da hora. – null deu uma gargalhada, passando os braços ao redor da cintura de null. Os dois se aproximaram, até que seus lábios se tocaram em um beijo do qual ambos podiam sentir um arrepio percorrer pela espinha, null apertava null contra seu peito a medida que aprofundava o beijo, enquanto ela bagunçava seus cabelos e tentava puxá-lo para mais perto. null sentiu as mãos de null descerem por suas costas até chegarem em sua bunda, a apertando, e logo depois null a pegou no colo, descendo seus beijos por seu pescoço enquanto a carregava em direção ao quarto.
E cada toque sublime marcado na pele mostrava que o amor estava preso na memória, e a única coisa que restava a se fazer era recordar.


Capítulo 8


null abriu os olhos lentamente, sentindo os raios do sol em seu rosto. Ela fez uma careta, tentando se lembrar o porquê de não ter fechado as cortinas. Ela se sentou na cama, olhando ao seu redor e não reconhecendo o quarto que estava, foi então que imagens do dia anterior passaram por seus olhos e ela se deu conta que estava no apartamento de null, especificamente em seu quarto e completamente nua. Ela se jogou na cama, sorrindo largamente, era impossível não sorrir, se ela fosse bastante sincera, mesmo sem memórias do que eles dois viveram, null sabia exatamente o que fazer para levá-la à loucura. Uma vez ela leu em algum lugar que o toque é sobre criar memórias detalhadas e duradouras, e ela apenas dera de ombros achando aquilo um monte de baboseira, porém, depois dessa noite onde null parecia saber exatamente tudo o que ela gostava, talvez aqueles estudiosos tivessem razão. E como null queria que eles estivessem certos, porque então, em algum lugar do subconsciente de null, ele se lembrava dela, e como null queria que ele lembrasse de tudo o que os dois passaram juntos.
null sentiu sua mão tocar em um pedaço de papel que dizia: Sua mãe me deu algumas de suas roupas quando eu fui buscar Maria para levá-la pra escola. Fui comprar um café da manhã pra gente. Volto já! * , null deu um beijo no papel e se levantou da cama, pegando a mala em cima da poltrona e indo em direção ao banheiro. Ela praticamente cantou a discografia inteira da Alina Baraz enquanto tomava banho, de tão feliz que estava, ela agradeceu mentalmente por null ser tão vaidoso a ponto de ter um secador em sua casa, ela se vestiu e logo escutou o barulho na porta da frente. Ela sorriu largamente e foi praticamente correndo em direção à entrada do apartamento de null, ela o encontrou equilibrando as sacolas enquanto tentava fechar a porta.
- Bom dia! – null disse, andando em direção a ele e jogando os braços ao redor do seu pescoço, dando-lhe um beijo longo. null sorriu, deixando as sacolas caírem no chão enquanto a abraçava pela cintura. – Por que você não me acordou pra levar a Maria na escola?
- Eu até tentei te chamar algumas vezes, mas você parecia um anjo dormindo então achei melhor não te acordar. Maria disse que agora quer ir pra escola todos os dias comigo. – null respondeu, começando a beijar o pescoço de null, fazendo com que ela sorrisse largamente. Ah, como ela sentia falta dessas manhãs. – Eu comprei algumas coisas que você pode gostar da padaria, já deixei o café pronto. – null se deixou levar por null enquanto ela colocava todo o café da manhã dos dois em cima da bancada. null apoiou seu queixo em uma de suas mãos e encarou null com um sorriso no rosto.
- Alguém já disse que você fica extremamente atraente cozinhando?
- Considerando os números de mulheres das quais eu cozinhei nesses últimos anos, eu acho que não. – O sorriso de null desapareceu na mesma hora e ela abaixou a cabeça. Nos últimos anos dos quais ela se afastou de null, ela fez questão de não pesquisar nada sobre o que null estava fazendo, as notícias que ela tinha eram através do seu sogro e Sofia. Entretanto, ninguém era de ferro, e, uma vez ou outra, ela se pegava na internet pesquisando o nome do seu marido, algumas das vezes eram notícias sobre suas corridas, mas algumas eram fotos dele saindo de algum restaurante com alguma mulher. O coração de null apertava dentro do peito toda vez que ela viu uma notícia do tipo, por essa razão ela simplesmente parou de usar a internet, esse era o preço que ela tinha que pagar por não contar a verdade para o seu marido no momento em que ele acordou do coma.
- null... – Ela escutou a voz de null e logo os seus dedos em seu queixo, fazendo com que ela levantasse a cabeça e olhasse para ele.
- Eu não quero saber, null.
- Mas não existe nada pra saber, null.
- Como assim? – Ela o olhou confuso. – Eu vi fotos suas saindo com algumas mulheres, null, eu vi os sites de fofoca.
- Eu saí sim com algumas mulheres depois que acordei do coma, nós saímos pra jantar e conversamos a noite toda.
- Eu não preciso saber disso, null. – Ela se afastou dele, se virando para frente.
- Por Deus, null, deixa eu terminar. – Ela olhou para ele de lado. – Mas era só isso: um jantar e uma conversa, nada demais. Nenhuma delas, por mais legais que fossem, me interessavam nem um pouco. Eu fui mais por conta da minha mãe, ela que me colocava nesses encontros às escondidas, até que um dia eu disse que não queria saber de namorar ou nada do tipo porque eu precisava me concentrar em voltar para as pistas, então ela parou. – null segurou as mãos de null. – Eu não estava interessado em namorar ninguém, até o dia que eu te vi no casamento de Sofia, com aquele vestido vermelho, com um sorriso largo de orelha a orelha enquanto olhava para os noivos. Eu te reconheci de primeira, bem difícil de esquecer quando você foi a primeira pessoa que vi logo que eu acordei, eu sempre me perguntei porque você nunca mais voltou para o meu quarto, então eu passei o resto da noite te observando de longe, você tinha um sorriso no rosto, mas que não chegava aos seus olhos, sabe? Quando eu te vi andando em direção aos noivos, eu tinha que fazer alguma coisa, eu sabia que você estava prestes a ir embora, eu precisava de pelo menos uma dança pra que eu pudesse te convencer a sair comigo. Demorou um tempo, você me desafiou a cada encontro que tivemos, mas valeu a pena, agora eu não me vejo sem você na minha vida, o que é absolutamente louco já que a gente não se conhece há tanto tempo. Você acha que eu estou louco?
- Não, mas é claro que não. – null se levantou, passando os braços ao redor dos ombros de null. – Obrigada por não desistir de mim, null null, você não sabe o que quanto isso significa pra mim.
- De nada, null null, eu imagino que não seja fácil pra você colocar um homem na vida da sua filha, então eu me sinto honrado de fazer parte de alguns momentos da sua família. – null deu um selinho demorado em null fazendo com que ela mordesse o lábio. É agora ou nunca!
- null, eu...
- null null! – A fala de null foi cortada quando alguém chamou o nome de null do outro lado da porta. null sorriu sem graça e andou em direção à porta, null viu a Mulher Dragão mais conhecida também como sua sogra, entrar no apartamento de null com um sorriso no rosto. É claro que quando Constance viu null, seu sorriso desapareceu. – O que você está fazendo aqui?
- Tomando café com o seu filho, é claro. – null cruzou os braços, sorrindo sem os dentes. – O que você está fazendo aqui, senhora null?
- É senhora Bellucci, null, eu e o pai de null não estamos mais juntos. – Constance respondeu, cruzando os braços. – Você dormiu aqui, null?
- Mãe! – null parou ao lado de null, olhando confuso para sua mãe.
- Eu tenho completo e total direito de saber se você está ou não namorando alguém, eu sou sua mãe. Então, vocês estão juntos? – null olhou para null, que apenas sorriu para ela antes de responder sua mãe.
- Sim, mãe, nós estamos juntos.
- Então ela vai para o jantar na casa de Sofia hoje?
- Droga! Eu esqueci total do jantar na casa de Sofia. – null olhou para null e continuou: - Você pode ir?
- Eu preciso estar no hospital depois do almoço, mas claro que sim, eu posso ir do hospital direto pra lá.
- Espetacular. – Constance disse, fazendo com que null olhasse para ela. null podia não sentir o sarcasmo escorrendo das palavras de sua mãe, mas null era profissional no quesito “falas de sua sogra” pra saber que sua presença na vida de null não tinha nada de espetacular. – null, querido, será que tem como você pegar o quadro que eu deixei no quarto de hóspedes? Eu preciso dele para minha casa. – null assentiu, dando um beijo na testa de null murmurando um “volto já” e desaparecendo pelo corredor. – null, você lembra do dia em que null acordou? – null sentiu seu sangue gelar. – Difícil de esquecer, não é? – Constance andou em direção a ela. – Eu não esqueci, espero que você não tenha esquecido.
- Eu não tenho medo de você, Constance, eu não vou ficar mais um minuto longe do meu marido porque você queria que ele casasse com uma das suas candidatas.
- Ele não é seu marido! – Ela disse entre os dentes. – Ele nem ao menos se lembra de você!
- Ele é meu marido, sim, e você sabe muito bem disso, Constance. Nós tivemos uma filha juntos, um cachorro e uma casa, coisas das quais você nunca conheceu, pois sempre achou que eu não fosse boa suficiente para o seu filho. Você pode dizer o quanto quiser que você ama null, mas amor também feito em ações e sua negligência para com a vida de null depois que ele se casou comigo mostra que você nunca amou o seu filho de verdade. Oh, não, você amava o controle que tinha sobre ele, com quem ele saia, com que ele namorava e null nunca viu as suas más intenções porque achava que você estava cuidado dele, afinal de contas, é isso que as mães fazem, procuram o melhor para os seus filhos, não estou certa, sogrinha? Você, Constance null, não ama ninguém, você ama controlar os outros e não é surpresa nenhuma que sua filha não quer ter um relacionamento com você, seu marido agora é ex-marido e sua neta nem ao menos sabe que você existe. Manipular os outros pra fazer o que você quer só vai te trazer uma coisa, Constance: uma vida completamente sozinha.– null estava sem ar quando terminou de falar e ela não se arrependia nenhum pouco de tudo que tinha tido, ela tentou de todas as formas ter uma relação saudável com sua sogra, mas toda oportunidade que ela tinha preferia colocá-la para baixo. Ela não iria mais deixar Constance se intrometer na sua vida, ela iria lutar com unhas e dentes pela sua família dessa vez.
- Aqui o seu quadro, mãe. – As duas escutaram a voz de null, fazendo com que elas se afastassem.
- Oh, muito obrigada, meu filho. – Constance abraçou null fazendo com que ele sorrisse. – Eu preciso ir agora, vejo vocês esta noite. – Constance saiu batendo a porta fazendo com que null me olhasse confuso.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não sei, ela recebeu um telefonema e ficou assim. – null deu de ombros.
- Provavelmente alguma coisa deu errado nas várias festas que ela organiza. – null respondeu, abraçando null pela cintura. – Eric me chamou para ir ao autódromo, alguma coisa sobre algumas modificações no meu carro. Você quer ir ao autódromo comigo checar meu novo carro?
- Oh, null, não fala assim que eu gamo. – null gargalhou alto antes de beijá-la. null sentia que estava nas nuvens e nada nem ninguém iriam atrapalhar sua felicidade dessa vez.

Após tomar café, null e null seguiram ao autódromo, claro que null foi o caminho todo cantando músicas extremamente bregas fazendo com que ela gargalhasse alto. null sentia como seu coração fosse explodir de tanta felicidade, aos poucos, mesmo sem saber, null fazia pequenas coisas que enchiam seu coração de esperança que um dia, ele lembraria dela. O jeito que ele segurar sua mão enquanto dirigia; como ele lembrou da sua comida preferida, da sua padaria favorita; o restaurante em que eles tiveram o seu primeiro encontro e, é claro, tudo que os dois fizeram na noite passada. Olhando para null de lado enquanto ele dirigia null sabia que não tinha mais como esperar, ela não aguentaria ficar mais nenhum momento longe do seu marido, especialmente sem contar tudo para ele, por isso ela fez um pacto com ela mesma: ela iria contar a verdade para null até o final da semana, nem um dia a menos, nem um dia a mais, ela estava pronta pra ter sua família completa novamente.
- null. – null disse, mas ela murmurou, não prestando muita atenção. Meu Deus, como eu amo esse homem! null sorriu largamente, encostada no banco, enquanto imaginava tudo o que eles poderiam fazer juntos como uma família. – null, nós chegamos.
- Hum... O quê? – null olhou ao seu redor e viu que os dois estavam no estacionamento do autódromo. – Oh, nós chegamos.
- Não precisa ficar vermelha, null, eu entendo completamente você ficar babando por mim. Eu sou o cara mais lindo que você já viu. – null riu de lado, fazendo com que null rolasse os olhos e saísse do carro.
- Você é muito convencido, sabia? – Ela disse, vendo null sair do carro.
- Quando você me olha daquele jeito, não tem como não ser. – Ele passou o braço ao redor dos ombros dela, beijando o topo da sua cabeça. Os dois foram em direção à pista onde os companheiros de equipe de null estava rodeando seu novo carro.
- Olha se não é o meu casal favorito. – Eric disse se aproximando dos dois. – Os patrocinadores mandaram o seu novo carro, do qual eles esperam que você vá competir no GP de Mônaco. Eles acham que o seu carro antigo não é bom o suficiente para uma corrida tão importante. Eu acho isso a maior idiotice, então nós tivemos uma ideia de colocar os dois carros pra correr pra saber qual o melhor.
- E você quer que eu corra com o novo enquanto você vai ao velho?
- Na verdade, nós estamos fazendo um pequeno jogo pra ver quem vai correr contra você, aparentemente, ninguém quer ir contra você. – Eric olhou para null e, de repente, uma ideia lhe veio à cabeça. – Seria incrível se eu achasse uma pessoa da qual tivesse experiência em corridas, uma pessoa que eu confio, que eu gosto e que eu sou fã. – Eric olhou para null e respirou fundo, ela cerrou os olhos para ele e deu um soco em seu braço. – Você conhece alguém assim, null?
- Tudo bem, eu vou.
- Vai pra onde? O que está acontecendo aqui? – null olhou entre Eric e null.
- null não te disse? Ela queria ser piloto quando criança, até licença ela tirou, mas depois ela se apaixonou por Enfermagem, ela deixou esse sonho de lado.
- Eu pensei que você não dirigisse.
- Eu disse que dirigir me trazia memorias ruins, eu nunca disse que não sabia. – null cruzou os braços, se virando para ele. – O que foi, null? Como medo de perder pra mim?
- Claro que não.
- Então vamos logo, eu não tenho o dia todo pra ganhar de você. – null começou a andar em direção ao antigo carro de null.
- É isso que nós vamos ver, null null! – null gritou para ela que apenas gargalhou alto.
Depois de se equipar com um macacão novo e capacete, null entrou no antigo carro de null se familiarizando com tudo ao seu redor. Fazia alguns anos que ela não entrava em um carro desses, pra falar a verdade, fazia anos que ela não entrava no carro e ficava atrás de um volante, ela meio que sentia falta do jeito que dirigir era quase como se fosse terapêutico. Não era à toa que ela queria ser piloto de corrida quando criança, falar sobre carros e assistir corridas era uma das suas coisas favoritas de se fazer com o seu pai, era uma das coisas que eles tinham em comum. Seu maior sonho sempre foi conseguir sua carteira de motorista porque aí ela estaria a um ponto de realizar seu sonho de ser piloto, porém, a vida tinha dessa de seguir seu próprio curso e logo null se viu apaixonada por Enfermagem e deixou a parte de ser piloto de lado, mas sua paixão por corridas ainda continuava lá. Entretanto, mesmo sendo apaixonada por corridas, null nunca pensou que acabaria se casando com um piloto.
null parou o carro atrás da linha de partida enquanto null parou ao seu lado, ele levantou a viseira do seu capacete e mandou um beijo para ela. Ela colocou as mãos no volante, olhando para o sinal a sua frente indicando que a corrida estava prestes a começar, null viu o mesmo ficar verde e logo arrancou com o carro. Pra ela, não tinha sentimento tão maravilhoso quanto está atrás do volante, era a primeira vez, desde o acidente de null que ela dirigia, depois de tudo que tinha acontecido com ele e o jeito que tudo resultou no momento mais difícil da sua vida, ela não conseguia nem ao menos olhar para o carro que ele comprou para ela.
O seu medo de dirigir foi melhorando a partir do momento que ela começou a ir para terapia para tentar resolver tudo que estava acontecendo em sua vida, com as melhoras de null e a volta dele as pistas, null podia sentir sua aversão a dirigir desaparecendo aos poucos e a sua vontade de ficar atrás do volante aumentando. Se null era corajoso o suficiente para voltar a fazer o que ele amava, ela também poderia ser.
null viu null ultrapassar seu carro fazendo com que ela voltasse sua atenção completamente para a corrida, eles já estavam na última volta e ela precisava ganhar dele. Ela sorriu de lado trocando de machas e pisando fundo no acelerador, null veio pela direita, ponto fraco de null quando se tratava de corridas, ficando estrategicamente em seu ponto cego, logo ela viu a linha de cegada e acelerou seu carro saindo de trás de null e ficando ao seu lado. null viu Eric arquear a bandeira indicando o final da corrida e logo depois ela dirigiu ao box da equipe, ela saiu do carro e logo todos os companheiros de null a colocaram nos ombros. null saiu do carro com um sorriso no rosto e andou em direção a eles, ele tirou null dos ombros dos seus companheiros e logo lhe dê um beijo de tirar o folego.
- Onde você aprendeu a dirigir desse jeito? – null deu de ombros.
- Eu te disse que eu sempre quis ser piloto. – null sorriu para ela antes de lhe beijá-la novamente.
- Aha! Eu disse que seu carro antigo era melhor. – Eric falou interrompendo os dois. – null, você correu como uma verdadeira campeã, nós temos que mostrar esse vídeo na reunião.
- Que reunião? – null perguntou, olhando para null confusa.
- Aparentemente, eu preciso ficar para uma reunião. – null abraçou null pelo pescoço.
- Eu posso pedir para um dos motoristas levar null. – Eric sugeriu, mas null balançou a cabeça e disse:
- Não, eu vou levar null para casa.
- Se você insiste. – Eric deu de ombros. – Agora vão trocar de roupa.
Depois de trocar de roupa e se despedirem do resto da equipe, null deixou null dirigir seu carro na volta, segundo ele, ele estava muito cansado e agora que ele sabia que ela dirigia muito bem, ela que iria levá-los para encontros.
- Eu ainda não acredito que você sabe dirigir daquele jeito. Você é incrível, null null, onde você esteve toda a minha vida? – null gargalhou alto. – Sério, null, onde você esteve?
- Estudando, trabalhando enquanto você saia por aí pelo mundo correndo no seu carrinho.
- Então você era uma fã? Hum... Eu nunca namorei uma fã.
- Claro, você nunca ficava em uma mesma cidade mais de um dia, impossível arrumar uma namorada. – null deu língua para ele antes de voltar sua atenção para o trânsito. – Eu queria ser uma corredora quando criança, meu pai passou uma boa parte da minha infância me levando para corridas. Minha mãe não gostava muito, ele achava que eu passava mais tempo com meu pai do que com ela e, sem falar que eu queria ir para todo lugar de macacão e capacete. Claro que fui crescendo e descobrindo aos poucos que o que eu queria realmente fazer era Enfermagem, eu ainda era apaixonada por corrida, mas cuidar dos outros sempre foi minha vocação.
- E você fica ainda mais linda com roupa de enfermeira.
- E bem melhor sem ela. – null deu uma piscadela para ele enquanto parava o carro em frente à sua casa.
- Nisso, eu tenho que concordar. – null se apoiou no consolo do meio do carro, aproximando seu rosto do dela. null sorriu antes de lhe dar um selinho. – Eu tenho que voltar pro autódromo, aparentemente, eu ainda tenho algumas reuniões sobre o GP de Mônaco.
- Então você não vai poder buscar Maria comigo?
- Infelizmente não, mas hoje tem o jantar de boas-vindas na casa de Sofia, então você está convidada para ir comigo. Tenho certeza que Sofia vai adorar te ver.
- Eu adoraria.
- E quem sabe você pode dormir lá em casa de novo.
- Por mais que eu adore a ideia de dormir com você e acordar ao seu lado, eu não posso dormir todos os dias na sua casa. Eu não me sinto bem ficando longe de Maria por muito tempo.
- Você pode trazer Maria com você, ela poderia dormir em uns dos quartos de hóspedes e pela manhã a gente poderia levá-la para a escola. – null sorriu largamente, acariciando o rosto do seu marido.
- null, que tal nós irmos com calma hein? Eu sei que “com calma” foi a única coisa que a gente não fez desde que se conheceu, mas quem sabe esteja na hora da gente ir devagar, pelo menos por um tempo. – null respirou fundo, e continuou: - E eu preciso te conversar com você.
- Pode falar.
- Não agora, depois do jantar de Sofia a gente conversa.
- Então você vai dormir na minha casa?
- Depende de como a nossa conversar acontecer.
- Você está me assustando, null.
- Não precisa ficar assustado, null, é algo importante que eu preciso te contar antes da gente seguir em frente.
- É sobre o pai de Maria?
- Também. – null acariciou o rosto dele, null estava prestes a falar novamente quando seu celular começou a tocar. Ele grunhiu alto quando viu que Eric o ligava.
- Eu preciso voltar para o autódromo.
- Sem problema, eu te vejo hoje a noite. – null pretendia dar um selinho em null, mas ele segurou seu rosto aprofundando o beijo enquanto segurava seu rosto.
- Hoje a noite.
- Hoje a noite. – null respondeu antes de dar um selinho em null e sair do carro. Ela acenou para ele quando o viu mudar para o banco do motorista e dirigir em direção aos portões da sua casa. Ela entrou em casa com um sorriso no rosto, o seu celular tocou dentro do seu bolso fazendo com que ela atendesse no primeiro toque.
- Alô? – null disse, se jogando no sofá.
- Boa tarde. null null, mãe de Maria null null?
- Sim, sou eu.
- Aqui é do Colégio Yolanda Bellucci, eu sou Joyce, a nova auxiliar da sala da Maria. Eu estou ligando, pois, a avó dela veio buscar ela, posso liberar?
- Claro que sim.
- Tudo bem, então, senhora null, tenha um bom dia.
- Você também. – null desligou o celular e se jogou no sofá.
- Olá, filha querida. – A mãe de null entrou na sala, tirando suas luvas de jardinagem.
- Mãe, o que a senhora está fazendo em casa? – null, se levantou.
- Como assim? Do que você está falando?
- A escola de Maria acabou de ligar pedindo permissão para que ela fosse embora com a avó.
- O quê? – Na mesma hora, o telefone tocou, fazendo com que null atendesse na primeira chamada.
- null, é você?
- Olá diretora Harper, o que aconteceu? Cadê Maria? Cadê a minha filha?
- null, eu sinto muito. – O coração de null parou pro um segundo, fazendo com que sua respiração ficasse pesada. – A nova auxiliar deixou com que Maria fosse embora com a avó.
- Mas minha mãe está aqui na minha frente! Como ela foi embora com a avó? Vocês deixaram minha filha ir embora com uma desconhecida?
- Eu não estou falando de sua mãe, null, eu estou falando de Constance, a mãe do seu marido.
- Jane, eu especificamente disse que ninguém além de mim e dos meus pais poderiam buscar Maria na escola. Como você deixa uma coisa dessas acontecer? Você sabe muito bem que eu não quero aquela mulher perto da minha filha! – null não era o tipo de pessoa que gritava com os outros, mas quando se tratava do bem-estar da sua filha ela simplesmente se transformava um monstro que só queria o bem de Maria.
- Eu sei, null, e eu realmente sinto muito. Constance chegou falando que era a mãe do príncipe, Maria logo ficou alegre quando a viu com uns dos desenhos da sua filha. Até foto com o null e Maria no colo ela mostrou, a auxiliar de sala, que estava sozinha e viu null chegando com Maria essa manhã apenas a deixou eu ir. Em nome da escola, eu quero pedir minhas sinceras desculpas.
- Eu não quero saber, Jane! – null gritou no telefone, fazendo com que sua mãe segurasse seu braço. – Nós estamos falando da minha filha aqui, e por mais que Constance seja sim a avó dela, ela não tem nenhum direito de pegar minha filha na escola! Você não sabe do que aquela mulher é capaz! Ela é uma desequilibrada! Eu... Ei, me devolve esse telefone, mãe! – null tentou pegar o celular, mas sua mãe apenas foi para o outro lado da sala.
- Olá Jane, nós falamos com você depois, nós vamos atrás de Maria. Beijos! – A mãe de null desligou o celular, e olhou para ela. – Em vez de gritar com a diretora, você deveria estar indo atrás da sua filha.
- Mãe, eles são uns irresponsáveis! Como é que eles deixam minha filha ir embora com a Mulher Dragão?
- null, Constance é avó de Maria, você tem que aceitar.
- Eu não tenho que aceitar nada! Quer saber, eu não vou ter essa discussão, eu vou atrás da minha filha e dessa vez Constance vai escutar tudo que está entalado! – null pegou as chaves do carro em cima da mesa e foi em direção à porta. Antes mesmo que ela pudesse chegar em seu carro, o carro de Constance parou em frente à sua casa e logo depois Maria saiu do carro, correndo em direção a sua mãe.
- Mamãe! – null sentiu um alívio percorrer por todo o seu corpo quando abraçou sua filha. – Sabia que a mãe do príncipe foi me buscar na escola? Ela disse que ele não pode ir, então ela foi no lugar dele. – Maria se aproximou de null e sussurrou no seu ouvido. – Eu sei que ela é a bruxa, mamãe, ela me deu doce antes do almoço. – Maria segurou o rosto da sua mãe e disse: - Não se preocupe, mamãe, eu não disse nada pra ela sobre a nossa história. Talvez ela não seja tão má assim se ela é mãe do príncipe. – Maria se virou para Constance e disse: - Tchau, bruxa má, obrigada por me buscar na escola e não me comer. – null deveria repreender a filha, não era nada educado que ela saísse por aí chamado a sua avó de bruxa, porém ela queria que Constance soubesse o papel que ela tinha na vida de Maria: o de bruxa má, a vilã da história. Maria correu para dentro de casa, sendo acompanhada por Mia, sua babá.
- O que você pensa que está fazendo, Constance? – null perguntou, se levantando.
- Eu apenas fui buscar minha neta na escola.
- Você nunca foi a nenhum aniversário de Maria, no dia que ela nasceu, você nem ao menos estava lá e agora vem com essa história de minha neta? Faça-me o favor!
- Eu só queria que você se lembrasse, null.
- Lembrasse de quê?
- De que tudo que você mais ama pode ser tirado de você em um piscar de olhos, então, querida, mantenha seus olhos bem abertos. – Constance riu de lado enquanto entrava em seu carro, fazendo com que null sentisse seu sangue borbulhar. Ela pegou uma das pás de sua mãe e jogou no carro de sua sogra, infelizmente, a pá só pegou no vidro de trás.
- null, você não deveria ter feito. – Sua mãe disse, fazendo com que ela olhasse para ela, incrédula.
- Mãe, eu posso aceitar qualquer coisa vindo de Constance, contanto que seja comigo. Se ela mexer com Maria, eu juro que não respondo pelas minhas ações.
- null, eu entendo o que você está sentindo.
- Aí é que está, mãe, ninguém entende o que eu estou sentindo. Foi minha família que foi praticamente destruída! O meu marido nem ao menos lembra de tudo que vivemos juntos, minha filha passou três anos da sua vida sem nem ao menos ver o seu pai, o Sansão chorava todas as noites com saudades do null e eu não consigo ao menos entra na minha própria casa porque tudo lembra o que eu vive com null e ele nem ao menos se lembra. Eu não aguento mais, eu não posso mais fazer isso. – null sentiu seus joelhos virarem gelatina e logo ela cair no chão, sua mãe, a abraçou forte enquanto ela chorava e soluçava. – Eu não posso mais mentir pra ele, mãe, eu preciso contar a verdade pro null.
- Então conte, null, pelo amor de Deus conte. O que você não pode fazer é se matar aos poucos, minha filha.
- Ele vai me odiar.
- Mas é melhor ele escutar de você do que qualquer outra pessoa. – A mãe de null limpou suas lágrimas, segurando seu rosto. – Conte para ele, null, conquiste sua família de volta.
- Eu vou contar, mãe. – null abraçou sua mãe forte pela cintura. Logo depois ela sentiu a língua de Sansão na sua bochecha fazendo com que ela sorrisse de lado, Maria estava ao lado dele, e depois se sentou no colo dela. Sansão, como não é bobo nem nada, se deitou nas pernas de null colocando a cabeça no colo de Maria.
- Mamãe, por favor, não deixa mais a rainha má me buscar na escola. Eu não gostei, eu prefiro o príncipe. – null riu entre as lagrimas.
- Pode deixar, se depender de mim o príncipe vai te buscar todo dia na escola.
- Você vai contar pra ele que ele é o príncipe?
- Vou, sim, minha filha. Hoje à noite, eu vou contar tudo para o príncipe.
- Finalmente, hein, mamãe. – Maria disse fazendo com que null gargalhasse.
- É, filha, finalmente o príncipe vai voltar pra casa.


***



null entrou na casa de sua irmã depois de um dia exaustivo de reuniões, aparentemente sua história de superação tinha dado o que falar e agora todos as emissoras de tv queriam uma entrevista com ele. Essa era a parte do seu trabalho que ele não gostava, ser usado como garoto propaganda de várias marcas, dar entrevistas onde as perguntam se resumiam o que ele gostava em uma mulher e se ele estava solteiro. Ele tinha conseguido se safar desde que voltou as pistas, mas agora parecia inevitável, ele teria que dar pelo menos uma entrevista contando sobre sua história. null não gostava nem um pouco, mas seu agente tinha prometido que seria apenas uma então ele se deu por vencido e concordou.
- Eles estão na biblioteca, senhor null. – Mary, a governanta de Sofia, disse. Ele agradeceu e seguiu pelo corredor, não demorou muito para ele achar a biblioteca, especialmente pelos gritos vindos da mesma.
- Eu tenho que contar a verdade para null! – null escutou sua mãe gritar fazendo com que ele parasse na porta. – Nós já adiamos demais, ele precisa saber a verdade!
- Você não tem o direito de contar nada para null! – null escutou sua irmã gritar de volta. – Você sabe muito bem quem deve contar a verdade para ele e não é você, Constance.
- Eu sou a mãe dele! Ele deve escutar a verdade de mim! – null escutou Sofia gargalhar alto.
- Mas é muito conveniente, Constance null, você querer contar a verdade para null agora.
- E o que você quer dizer com isso, Sofia?!
- Que, como sempre, você só faz o que é conveniente pra você! null não precisa das suas meias verdades, mamãe.
- Meias verdades?! Como você se atreve a falar comigo dessa maneira Sofia null White?! Eu sou sua mãe!
- Tem momentos que eu desejo que você não fosse.
- Que tal nós nos acalmarmos hein?! – null escutou a voz do seu pai. – null pode chegar a qualquer momento e escutar vocês duas gritando não vai ser uma boa ideia.
- Eu quero mais é que ele escute! Ele precisa saber que vocês dois vem mentindo para ele desde que ele acordou! Vocês e aquela mulher!
- Aquela mulher tem nome e é null! Você acha que eu não sei que você fez alguma coisa que fez com que null escondesse a verdade de null nesses últimos anos? Eu sei que você fez alguma coisa, Mulher Dragão, especialmente para ela seguir com aquela ideia estupida de ficar longe de null.
- Eu não fiz nada, ela que desistiu de null no momento em que ele acordou e não lembrava dela. Aparentemente, eu estava certa afinal de contas, ela não o amava tanto assim.
- Como é que você tem coragem de dizer isso? null sofreu todo esse tempo tendo que ver seu marido nem ao menos saber da sua existência, ou pior saber da existência da sua própria filha. Você sabe como null ficou quando Maria nasceu, eu nunca vi um homem tão feliz em limpar cocô, null ia contar a verdade para ele, mas você interviu, você tinha que arrancar o “felizes para sempre” porque você não aguenta ver ninguém feliz.
null sentiu como se tivesse acabado de levar uma facada no meio do peito, o seu coração doía tanto fazendo com que ele caísse de joelhos no chão. Ele se recordou de todos os momentos com null desde o dia que a viu logo quando abriu os olhos, ele sentiu como se ela fosse um anjo ao lado da sua cama de hospital que segurava sua mão, o puxando de volta para o mundo real. Ele ficou um hipnotizado assim que a viu sorrir largamente, mesmo como os olhos vermelhos de tanto chorar, ele sempre se perguntou por quem ela chorava, e pelo visto ela chorava por ele.
De uma maneira da qual null não sabia explicar, ele sempre sentiu uma conexão extremamente forte com null, era como se existisse uma energia que o puxava para ela e toda vez que os dois estavam juntos ele se sentia completo. Era por isso ele ignorava todas as esquivadas de null ao falar do pai de Maria, os seus olhos tristes mesmo com o sorriso largo nos lábios toda vez que ela o via com Maria, os pequenos comentários que ela soltava como se soubesse de alguma coisa que ele não sabia. Ele ignorava tudo isso porque gostava dela e esperava que um dia ela finalmente se sentiria segura o suficiente e contaria tudo para ele, null não era bobo nem nada, ele sabia que null estava escondendo alguma coisa dele, a única coisa que ele não imaginava era que esse segredo tinha tudo a ver com ele. Ai meu Deus, eu tenho uma esposa! Uma filha! , null sorriu entre as lágrimas sentindo seu coração apertar dentro do peito.
Por Deus, null, a mulher que ele gostava, se duvidar, até amava, era sua esposa e Maria, a garotinha que sonhava em ser astronauta, era sua filha! Quantas não foram as noites que ele sonhava com todos juntos em um dia ensolarado aproveitando um dia na piscina com direito a Sansão molhando null enquanto null e Maria riam sem parar. null não via a hora deles serem a família que ele nem ao menos sonhava que queria.
E então a realidade lhe atingiu como um raio: eles poderiam ter sido uma família, null só precisava ter falado a verdade.
- null? – Ele escutou a voz de null e por um momento achou que era uma alucinação, porém ela falou outra vez. – null, você está bem? – Ele escutou os passos dela e limpou suas lágrimas levantando logo em seguida. – Por que você estava no chão? Você está sentindo alguma dor? – null estava de cabeça abaixada encarando os pés de null. – Você quer que eu chame o seu médico? – null estendeu o braço para toca-lo, porém ele se afastou.
- Não toca em mim! – null disse entre os dentes, levantando a cabeça.
- null, aconteceu alguma coisa?
- Não sei, null, aconteceu alguma coisa? – null gritou, sentindo seu sangue borbulhar. null se afastou dele, o olhando assustada.
- Por que você está gritando?
- Porque eu sou um completo idiota!
- null, do que você está falando?
- Não age como se você não soubesse, null null null, fui eu que perdi a memória não você. – null falou com tanto ódio na voz que null sentiu um arrepio passar pela espinha, olhando-o com os olhos arregalados.
- null? null? – Sofia saiu da biblioteca com Constance e Camillo logo atrás. – Vocês chegaram há muito tempo? – Sofia se aproximou do seu irmão e franziu o cenho. – null, você está chorando? Por que você está chorando? – Sofia tentou tocar em seu irmão, porém ele se afastou.
- Não toca em mim! – null gritou fazendo com que Sofia o olhasse assuntada. – Eu não quero que nenhum de vocês chegue perto de mim!
- Por que você está gritando null?
- Porque todos vocês mentiram pra mim! – null apontou o dedo para todos eles. – Porque todo esse tempo eu sempre soube que existia algo que ninguém estava me contando, eu sempre achei que fosse algo que me machucaria então eu deixei pra lá. Não era nada importante, certo? Se fosse algo que mudaria minha vida, eles me contariam, certo? Imagina minha surpresa quando eu descobri que não só eu sou casado como tenho uma filha! – null olhou de null para Sofia. – Eu pensei que você tinha prometido não mentir para mim, irmãzinha.
- null, não era minha história para contar.
- Para o inferno, Sofia! Você sabia que eu sentia algo por null desde o momento que eu dancei com ela no seu casamento, você me viu falar sem parar sobre ela como um perfeito idiota sobre a garota incrível que eu conheci. Porra, Sofia, você me escutou dizendo que nunca tinha sentindo dessa maneira por uma mulher antes, você me escutou dizer que queria montar uma família com ela. Por que você não me disse nada? Foi engraçado pra você ver seu irmão que nem um cachorro sem dono correr atrás da própria esposa?
- null não foi assim que as coisas aconteceram, você precisa deixar que a gente te explique tudo que aconteceu.
- Vocês tiveram quase dois anos pra me explicar e não falaram nada! – null se virou para null que chorava descontroladamente a esse ponto completamente petrificada no mesmo lugar apenas encarando seu marido. – Você teve dois anos pra me contar e não falou nada! – null apontou para null que viu a dor nos olhos do seu marido enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto. Não era assim que ela queria que null soubesse da verdade, não era assim, com a mágoa estampada em seu rosto que ela queria que ele olhasse para ela. – Você não me disse que eu tenho filha! Uma filha, null, da qual eu não vi crescer porque você não me disse a verdade!
- null, deixa eu te explicar. – null conseguiu falar, entre os soluços, dando alguns passos na direção de seu marido. – Se você me deixar explicar, eu posso te contar tudo.
- Não, null, agora quem não quer escutar sou eu! – null correu em direção à saída da casa de sua irmã, null tentou segurá-lo, mas não conseguiu. Eu não vou perder meu marido outra vez, não quando eu acabei de tê-lo de volta. , null correu atrás de null, deixando os saltos no meio do caminho, como uma cena clichê de um filme, a chuva caiu forte a molhando da cabeça aos pés, null tinha acabado de ligar seu carro e estava prestes a dar a partida quando null parou na frente do mesmo com as mãos em cima do capô.
- Sai desse carro agora, null null! – null gritou, olhando para o seu marido, que apenas pressionou a buzina no carro fazendo com que ela fizesse uma careta. – Você vai ter que fazer melhor do que isso! Eu não vou te perder outra vez, não quando eu acabei de te ter de volta!
- Eu vou passar por cima de você, null!
- Não vai não, você me ama demais pra fazer isso. – null viu a feição de null mudar de neutra para raivosa em questão de segundos, e, logo em seguida, ele desligar o carro. null saiu do mesmo pegando null pelo braço e a arrastando para longe do carro, ele estava prestes a voltar para o mesmo quando null o segurou pelos ombros e disse: - null, me deixa explicar, por favor. – null segurou os pulsos de null e os tirou de seus ombros.
- Eu não quero escutar, você teve todo esse tempo pra me contar a verdade, desde o momento que eu abri os meus olhos, mas você preferiu mentir pra mim. E o pior, você me negou fazer parte da vida da minha própria filha, null! Minha filha, null, a mesma garotinha que todos os dias eu pedia a Deus que fosse minha filha! – null começou a chorar, fazendo com que null chorasse com ele. – Eu sempre me perguntei o que tinha acontecido com o pai de Maria, eu sempre achei que ele era um idiota por abandonar vocês duas, que idiota escolheria deixar de lado essa mulher maravilhosa e essa garotinha incrível? Sendo que o idiota nunca teve escolheu porque o idiota era eu e você, null null null, nunca me deu a escolha de fazer parte da sua família. Você mentiu pra mim, brincou com meus sentimentos me vendo correr atrás de você como um cachorro sem dono, e o pior, me negou a família que eu sempre sonhei em ter.
- null, por favor, eu queria te contar tudo, mas eu tinha tanto medo do que você podia dizer. Você não lembrava de nada, eu tive medo que você achasse que eu estava mentindo, que você renegasse Maria e a mim. Eu só não queria que nossa filha sofresse com um pai que nem ao menos lembrava dela. – null colocou suas mãos no rosto de null, o aproximando para perto fazendo com que ele olhasse para ela.
- Não justifica, null! Você deveria ter me dito a verdade desde o início. – null, que ainda segurava os pulsos de null, tirou as mãos delas de seu rosto e se afastou dela.
- null, por favor... – null tentou se aproximar dele, mas ele apenas balançou a cabeça e disse:
- Eu não quero te ver, null, mas eu quero ver minha filha. Eu espero que você tenha um bom advogado porque eu vou lutar pela guarda da Maria com tudo que eu tenho. Se prepare, null null. – null entrou no carro, arrancando com o mesmo.
null ficou parada, no meio da chuva, vendo o amor da sua vida escapar por seus dedos novamente e prestes a perder sua filha.


Capítulo 9


null entrou no tribunal sentindo o cansaço de uma noite puxada, ela tinha acabado de vir de um turno de mais de doze horas e tinha passado em casa a tempo de levar Maria para a escola. null fez exatamente o que tinha prometido, nem duas semanas depois do desastre na casa de Sofia, null recebeu uma intimação para comparecer a uma audiência relacionada à guarda da sua filha junto com os papéis do seu divórcio. Se null achou que chegou no fundo do poço quando null esqueceu da vida que os dois construíram juntos, ela não imaginava que o poço era muito mais fundo do que ela presumia. Entretanto, mesmo a ponto de entrar em uma batalha judicial com seu marido, null se sentia mais forte do que nunca para lutar com unhas e dentes pela sua filha. Ela estava cansada de se martirizar pelas decisões que tomou desde que null perdeu a memória, tudo o que ela fez foi para proteger sua filha e o resto de coração que ela tinha, se ela perdesse Maria, ela não saberia como seguir em frente. Sua filha era uma das melhores coisas que aconteceu em sua vida, sem falar que ela é das últimas lembranças boas que ela tinha do seu amor com null e ai de quem tentasse tirá-la dela.
Então, nos últimos meses, null passou travando uma batalha com seu marido - futuro ex-marido –, sobre a guarda de sua filha. Foram meses de espera, de idas e vindas de audiências sem nenhuma solução e conversas com sua advogada, Marta Lawrence, sobre como ganhar a guarda de sua filha. null sabia que null estava furioso, foram poucas as vezes que ela o viu perder o controle e deixar o pior lado dele vir à tona, e mesmo sendo poucas as vezes, ela não gostou nenhum pouco do que tinha visto especialmente quando direcionado a ela. Ela não tirava o seu direito e razão de ficar chateado com tudo o que tinha acontecido, ela provavelmente sentiria o mesmo se todas as pessoas ao seu redor mentissem sobre a verdade sobre a sua vida, especialmente com fatos tão importante como uma esposa e uma filha, porém ela sabia que quando a raiva passasse, se fosse ela no lugar dele, ela queria saber o porquê das coisas acontecessem do jeito que aconteceram. null tinha uma pontinha de esperança que quando a raiva, o ressentimento, a tristeza passassem, null a procuraria para escutar o seu lado da história, no entanto, tudo o que ela recebeu nesses últimos meses foi a indiferença de null em qualquer audiência que eles se encontravam. null estava querendo machucá-la da pior maneira possível, e sinceramente, ele estava conseguindo.
null simplesmente estava exausta, a única coisa que ela queria era chegar em casa sem sentir como se o mundo estivesse desabando em cima da sua cabeça.
– Eu ainda não acredito que null está fazendo isso com você, null! É surreal - Amélia estava na sala de espera junto com sua advogada e seus pais quando Sofia entrou na sala batendo a porta. – Você acredita que ele está me ignorando completamente? Ele teve a coragem de dizer para o segurança que eu não podia entrar na sala de espera, acredita? – Sofia se jogou do sofá e continuou: - Ah, quando tudo isso terminar, null null, vai me comprar um guarda roupa inteiro de novos sapatos! E todos azuis – null riu sem humor. – Como você está, null?
– Pior não poderia estar – null se levantou. – É como Newton disse: “Toda ação tem uma reação.” Eu não culpo seu irmão por tudo que está acontecendo, Sofia, mas isso não quer dizer que não esteja me matando por dentro. – Sofia estava a ponto de responder quando sua advogada entrou na sala e disse:
– Está na hora, null – null sentiu seu coração apertar dentro do peito e respirou fundo.
– Boa sorte, minha filha, tudo vai passar – a mãe de null a abraçou forte.
– É, filhota, nós estaremos aqui pra te apoiar em tudo – seu pai a abraçou mais forte ainda, o que fez null engolir o choro. – Nós estaremos no tribunal te dando o maior suporte.
– Nós também estaremos ao seu lado, null – Sofia a abraçou forte e logo null seguiu sua advogada para onde ocorreria a audiência. – Lembre-se do que eu te disse null, você não precisa falar nada, deixa tudo comigo. Eu sei que parece tudo mais assustador por conta do tribunal, as testemunhas e um juiz, mas eu te garanto, tudo vai ficar bem. Você é uma mãe maravilhosa, faz tudo por sua filha, Maria te ama incondicionalmente, nós não precisamos mentir ou provocar ninguém. Nós vamos ganhar.
– Obrigada pela a ajuda, Marta, e pelas palavras encorajadoras, porém, mesmo ganhando a guarda da minha filha, eu ainda estarei perdendo uma das pessoas mais importantes da minha vida. Então parece que eu vou perder, não importa a sentença – null sentiu as pernas bambas quando entrou no tribunal, porém continuou com a melhor “poker face” como se essa situação não a estivesse matando por dentro. A primeira pessoa que ela viu foi null, era inevitável a esse ponto fingir que null não procurava o seu olhar toda vez que estivesse no mesmo recinto que ele, ela parou na mesa ao lado, olhando para ele, porém null mantinha seus olhos fixados na juíza a nossa frente.
– Olá, boa tarde, eu sou a juíza Alice Baxter, e estarei cuidando do processo. É do meu entendimento que estamos reunidos aqui hoje sobre a guarda definitiva da menor Maria null null e durante as audiências de conciliação não foi possível um acordo entre ambas as partes? – ambos advogados responderam ao mesmo tempo “Sim, Meritíssima!” fazendo com que ela continuasse: - Muito bem, desejo sorte para ambas as partes. A advogada do autor, null null, pode começar a apresentar seu caso – a advogada de null, Charlote Dean, se levantou e logo começou o seu discurso.
– Meritíssima, meu cliente, null null, foi negado uma das coisas que ele mais almejava na vida: o direito de ser pai. null foi casado com a ré, null null null por mais ou menos dois anos antes de sofrer um grave acidente. null é piloto de corrida e as pistas sempre foram a sua maior paixão, até que conheceu a ré e se apaixonou, os dois começaram a namorar e depois de alguns anos namorando, os dois se casaram. null sempre sonhou em ter uma família por isso a notícia de que null estava gravida o fez o homem mais feliz do mundo, ele sempre esteve ao seu lado durante a gravidez e também no nascimento de sua filha. null se tornou completo quando se tornou pai, porém, esse sonho foi interrompido quando null sofreu um grave acidente nas pistas que resultou em uma contusão grave do qual foi necessário que ele fizesse uma cirurgia. Maria já tinha quase dois anos quando null entrou na sala de cirurgia, ele entrou esperançoso que voltaria para voltar para sua família, porém, complicações em sua cirurgia fizeram com que null null ficasse em coma por mais de um ano. Quando null finalmente acordou, ele tinha perdido a memória de uma boa parte da sua vida, para ser exato desde o momento que ele conheceu a ré, esquecendo assim do seu casamento e da sua filha. null então decidiu que era melhor mentir para o seu marido e fingir que não o conhecia e por mais de um ano null negou a null a verdade sendo assim negando a ele o direito de ser pai que ele tanto queria – a advogada de null se virou para null e continuou: - E é por isso, Meritíssima, que null null não deveria obter a guarda definitiva de Maria. Alguém que omite a verdade e priva um pai e uma filha de terem um relacionamento, definitivamente, não está apto para criar outro ser humano. Obrigada, Meritíssima. – Charlote sorriu de lado, o que fez com que null tivesse vontade de socá-la. Como é que essa mulherzinha tinha a coragem de falar sobre a história de null como se ela soubesse de alguma coisa?
– Boa tarde, Meritíssima – Martha se levantou e continuou: - Primeiramente, eu quero parabenizar a senhorita Dean pela história digna de uma péssima crítica no IMDB, quiçá, deve ser por isso que a carreira como escritora não engatou – null viu Marta dar uma piscadela para Charlote e a juíza segurar o riso. – Bem, como a minha colega já contou a história de null e null, acho que devo começar pelo fato mais importante e porque estamos aqui hoje: Maria, a filha do casal. Veja bem, Meritíssima, null e null eram aquele tipo de casal que você só estava acostumada a ver em livros de tão perfeitos que eles eram e por muito tempo tudo estava perfeito para os dois, até, é claro, o dia em que null acordou de um coma sem memória da sua esposa e filha. Agora, imagine comigo como seria ver seu marido acordar de um coma de mais de um ano e o primeiro olhar que recebe é como se você não passasse de uma desconhecida, uma simples enfermeira? null sentiu como se seu mundo inteiro tivesse desabando, porém, a primeira pessoa que ela pensou foi em Maria: como sua filha iria se sentir quando seu pai não se lembrasse dela? null só pensou no bem-estar da sua filha quando não contou a verdade para null, e, se estamos sendo sinceros, no bem-estar de null também. Imagine ter que tomar a decisão de esconder a verdade do seu marido porque você sente como se não pertencesse ao seu lado? Imagine não ter forças para entrar na casa que os dois compraram juntos porque a memoria do que viveram é dura demais? E o pior, imagine ver seu marido seguir em frente em encontros com outras mulheres enquanto você fica em casa cuidado da sua filha? – Marta respirou fundo e continuou: - Eu não tiro a razão de null null de querer a guarda de sua filha dado as circunstâncias peculiares, Meritíssima, mas se o acusador tinha esse desejo enorme dentro de si de ser pai, por que então não tentou descobrir o que aconteceram nos anos que ele não lembrava? Por que não saiu em busca da verdade em vez de voltar às pistas? Obrigada, Meritíssima – Marta sentou ao lado de null, apertando sua mão.
– Por favor, a primeira testemunha, Chase Miller, vizinho do casal – a juíza disse e em seguida o oficial abriu a porta guiando Chase até a bancada. Depois do juramento, sorriu para null, porém, seu olhar ficou fixando em null. – A testemunha é toda sua, senhora Lawrence.
– Boa tarde, senhor Miller – Marta se levantou, andando em direção a bancada. – Como você conhece a ré, null?
– Eu conheci null e null quando os dois se mudaram para a casa ao lado da nossa, os dois tinham acabado de se casar e eram o único outro casal jovem na nossa vizinhança.
– E você e sua mulher eram muito amigos do casal?
– Sim, nós sempre fazíamos programas de casal. Minha mulher e null viraram amigas logo de primeira, depois que null se casou todos os seus amigos se afastaram dele, nós viramos amigos porque torcíamos pelo mesmo time de futebol então sempre íamos ao estádio juntos. Nós sempre dizíamos que tínhamos uma conexão de outro mundo, especialmente pelo fato de null e Ariella, minha esposa, engravidarem ao mesmo tempo.
– E depois que seu filho e Maria nasceram...
– Bem, nós dois focamos em ajudar ao máximo nossas esposas, é claro. Eu ainda tinha que trabalhar, mas null passava a maior parte em casa com Maria, ele deu uma pausa na carreira para que null pudesse trabalhar tranquilamente enquanto ele cuidava de Maria.
– E quanto a perda de memória de null? O que aconteceu?
– Quando null fez a cirurgia, foi logo depois do aniversário de um ano de Maria, nós estávamos todos na sala de espera do hospital quando o médico disse que a cirurgia foi um sucesso, porém null entrou em coma – Chase balançou a cabeça e continuou: - Eu nunca vi alguém tão inconsolável quanto null naquele dia, ela chorou tanto que acabou desidratando e tendo que tomar soro. null vivia praticamente no hospital junto com Maria durante todo o ano que null ficou internado, eu pensei que tinha visto minha amiga triste, porém nada superou quando ele acordou e tinha perdido a memória.
– Você acha que null fez maliciosamente quando não contou a verdade para null?
– Eu nunca entendi o porquê null não disse a verdade logo de primeira, até que um dia conversando com minha mulher, eu me coloquei no lugar de null: se minha esposa perdesse a memória e se esquecesse da nossa família, como eu iria me sentir? E se eu visse minha esposa seguir com a vida sem mim, será que valeria a pena contar a verdade?
– Ela poderia ter tentado – foi a primeira vez que null pode escutar a voz do seu marido, null sentiu as lágrimas começarem a formas em seus olhos. – Mas nem isso ela fez, ela me tinha na ponta dos dedos, mas nunca disse a verdade!
– Se você acha que foi fácil para null não te contar a verdade, especialmente quando ela te tinha “nas pontas dos dedos” talvez você não voltou a ser o cara que merece uma mulher com ela. Eu te amo, null, você é o meu melhor amigo, mas o fato de você não ver além da sua dor e ignorar o quanto null sofreu e teve que batalhar desde que você entrou em coma faz com que eu não goste de você tanto assim.
– Obrigada pelo o seu depoimento, senhor Miller – Marta se sentou ao lado de null enquanto Charlote se levantou e foi em direção a bancada.
– Senhor Miller, você se diz melhor amigo de null, certo?
– Eu sou o melhor amigo de null, ou, pelo menos, eu era.
– Você acha que meu cliente seria um ótimo pai?
– Mas é claro que sim, null é um ótimo pai, porém o que null faz...
– É o suficiente, senhor Miller.
– Protesto, Meritíssima! – Marta falou, fazendo com que Charlote a olhasse com ódio nos olhos. – A pergunta é essencial para ambas as partes, afinal de conta estamos aqui para decidir a guarda de Maria então qualquer informação relacionada a criação de Maria é válida.
– Prossiga, senhor Miller – A juíza disse.
– Como eu estava dizendo, null faz exatamente tudo para dar a melhor criação para Maria, às vezes, ela passa horas trabalhando no hospital, mas mesmo assim sempre tira um tempo para deixar e buscar Maria na escola. Nos últimos dois anos ela vem criando Maria praticamente sozinha fazendo tudo que ela pode para dar tudo o de melhor pra sua filha – Chase se virou para a Charlote e disse: - Você me perguntou se null é um ótimo pai e a resposta é sim, mas nada se compara a mãe maravilhosa que null é. null não sabe a primeira coisa sobre criar uma criança tendo em vista que ele passou uma boa parte da vida da sua própria filha em coma ou treinando para voltar às pistas.
– Mais alguma pergunta, senhorita Charlote?
– Não, Meritíssima, isso é tudo. Eu gostaria de chamar a próxima testemunha, se possível.
– Claro. Senhor Miller, obrigada pela sua presença, você pode voltar ao seu lugar – Chase se levantou e foi em direção à frente do tribunal onde ficavam os bancos, sentando-se ao lado da sua esposa. Se um olhar pudesse matar, Chase estaria no chão pelo jeito que null o olhava com tanto ódio nos olhos. – Senhorita Dean, acredito que seja sua vez de chamar sua testemunha.
– Sim, Meritíssima, por favor, senhora Constance Jones, mãe de null. – null sentiu o sangue ferver quando viu a Mulher Dragão andando em direção a bancada com um sorriso de lado a lado. Enquanto ela fazia o juramento, Constance fez questão de fixar seu olhar em direção a null, ela sabia que sua sogra tinha uma carta na manga, ela só não sabia o que.
– Constance, você acompanhou todo o processo de recuperação de null, certo? Nesse tempo, null tentou ter algum contato com o seu filho?
– Sim, null passou um tempo morando em minha casa antes de se mudar para uma cobertura perto do centro da cidade e não, null nunca tentou contatar meu filho enquanto ele estava se recuperando, o que pra mim não foi uma surpresa.
– Por que diz isso, senhora Jones?
– Bem, null apareceu na vida do meu filho em dois períodos diferentes, porém eles tinham algo em comum: null estava no auge da sua carreira em ambos. Por ser mãe, eu sempre prestei muito atenção com que meus filhos se relacionavam, o mundo que nós vivemos é um lugar perigoso cheia de pessoas que querem tirar proveito umas das outras – null viu as lágrimas começarem a rolar pelo rosto de Constance fazendo com que ela respirasse fundo, a única coisa que null queria era gritar com a Mulher Dragão pela cena patética que ela estava proporcionando. – Quando null acordou, ele estava tão frágil e teve que passar por um longo processo de recuperação para aprender tudo novamente. Eu sempre o apoiei em tudo, entretanto, sempre achei que se ele tivesse mais pessoas para apoiá-lo, especialmente sua esposa e sua filha, o processo teria sido mais doloroso.
– E sua neta, senhora Jones? Como você descreve a relação de null e Maria?
null sempre foi um pai coruja, ele tem uma conexão inexplicável com sua filha. Claro que eu não posso elaborar mais já que null não gostava que eu ficasse perto da minha neta e do meu filho, especialmente depois que ele perdeu a memória.
– Muito obrigada pela sua contribuição, senhora Jones. A testemunha é sua, senhora Lawrence.
– Senhora Jones, você citou que null nunca deixou que você tivesse contato com sua neta, porém, a senhora, em algum momento tentou se comunicar com sua nora?
null e eu tivemos nossas diferenças ao longo dos anos.
– Essa não foi a minha pergunta, senhora Jones, eu quero saber se você tentou alguma vez iniciar contato com null enquanto ela estava casada com seu filho? É uma pergunta simples de sim ou não.
– Algumas vezes.
– E depois que null perdeu a memória?
– Eu estava muito ocupada cuidando do meu filho.
– E sua neta? Algum contato?
– Apenas antes de null perder a memória.
– Tem certeza, senhora Jones? Você não teve nenhum contato com sua neta desde que seu filho perdeu a memória? – Marta cruzou os braços, desafiando Constance que logo olhou para a juíza que esperava sua resposta.
– Uma vez.
– Essa vez da qual a senhora citou teria sido a vez que você foi até a escola de Maria pegá-la sem nem ao menos consultar sua nora ou seu filho? – Marta andou até sua mesa, pegou as fotos da câmera de segurança de Maria colocando em frente à juíza. – Agora imagine, senhora Jones, você deixa o seu filho na escola e do nada uma mulher aparece para pegá-lo, como você se sentiria?
– Eu não sou qualquer mulher, eu sou a avó dela.
– Uma total desconhecida para Maria já que você mesma afirmou que não manteve contato com sua nora ou neta desde que seu filho perdeu a memória. Agora me diga, senhora Jones, é verdade que a senhora pegou Maria na escola sem consultar null ou null primeiro?
– Eu não acredito que tenha cometido algum crime ao pegar minha neta na escola.
– Crime não é, porém, a senhora consultar algum dos responsáveis pela criança? Você ligou para null ou null antes do ocorrido?
– Eu apenas queria fazer uma surpresa.
– Poderia até ser, se o número de vezes que você tentou contato com sua neta fosse igual a zero desde que seu filho perdeu a memória. Para você, senhora Constance, foi bastante conveniente a perda de memória de seu filho, não foi? Você finalmente se livrou da nora que você nunca pediu a Deus sem nem ao menos levar um dedo para isso.
– Protesto, Meritíssima, a senhora Lawrence está atacando minha testemunha.
– Senhora Lawrence, por favor, mantenha o foco ao questionar a testemunha.
– Não tenho mais nada a declarar, Meritíssima.
– Dito isso, essa sessão está temporariamente suspensa. Acredito que o senhor null está partindo para Mônaco em algumas horas, certo? – Charlotte respondeu um “Sim, Meritíssima!” que fez com que null rolasse os olhos. – Então, nós retomaremos em três dias o que seja tempo suficiente para que ele retorne.
– Meritíssima, nós temos um requerimento para que a menor em questão, Maria null null, possa acompanhar o senhor null null até Mônaco.
– Bem, senhora null, você aceita? – a juíza se virou para null que apenas sussurrou no ouvido da sua advogada que disse:
– O senhor null pode vir pegar Maria daqui uma hora.
– Excelente! A sessão está suspensa.

null chegou em casa mais cansado do que o normal, nunca em sua vida que uma manhã no tribunal seria muito mais cansativa do que algumas horas na academia. null entrou debaixo do chuveiro e a única coisa que conseguiu fazer foi deixar as lágrimas rolarem por seu rosto, quando null acordou e lhe avisaram que ele tinha perdido parte da sua memória e por conta disso ele teria que reaprender andar, escrever, dirigir, e até falar, ele achou que o ano do qual ele passou em tratamento tinha sido umas das coisas mais difíceis que tinha feito. Não foi fácil em nenhum momento, a frustração era algo que ele lidava diariamente, especialmente por não conseguir fazer coisas que para ele vinham como extintas ao longo da vida.
Entretanto, nada se comparava ao fato dele descobrir que tinha uma esposa e filha e que elas eram a mulher que habita dentro da sua mente e da garotinha que tinha conquistado seu coração. null se lembrou da vez da qual se perguntou como um cara deixava alguém como null e Maria para trás, ele o xingou de todos os nomes conhecidos pelo homem, agora, chegava até sarcástico que “aquele homem” era ele e nenhuma escolha ele teve de sair da vida de sua filha e esposa.
null vasculhou todos os seus momentos com null procurando por sinais que ele não tinha visto, sabendo do que ele sabe agora, todos eles eram tão claros quanto o céu em dia ensolarado, os olhares tristes de null para ele, as pequenas frases que ela soltava sem nem ao menos perceber, os pequenos detalhes sobre ele que só ela sabia, a sua relutância em relação a Maria. Porém tinha algo que null não via em todos esses momentos era vontade de null em contar a verdade para ele, pra falar a verdade, ninguém ao seu redor, tentou chamá-lo para conversar sobre os anos que ele não se lembrava, todos eles apenas viram null correr atrás da sua própria esposa e não falaram nada. Pra falar a verdade, o que o matava por dentro era não poder ser parte da vida da sua filha, Maria, a garotinha da qual ele tinha sentido uma conexão de outro mundo desde que a conheceu, só em pensar nos anos que null perdeu sem ficar ao lado da sua filha fazia seu sangue borbulhar.
null estava destrancando sua porta quando deu de cara com seu pai parado ali.
– Eu estou de saída para buscar Maria e depois ir ao aeroporto – null disse, entrando em seu apartamento novamente.
– Eu sei disso e lembro bem que nós tínhamos combinado de ir juntos. A não ser que os planos tenham mudado já que você não fala comigo direito há meses.
– E o que você esperava que eu fizesse depois que eu descobri toda a verdade? Te chamasse para uma breja na sexta?
– Você não tem problema nenhum em falar com sua mãe.
– Isso é porque ela não mentiu para mim como todos vocês mentiram.
– Ah, por favor, null, você realmente acha que todos nós queríamos mentir pra você? E que sua mãe não mentiu também?
– Bem, eu não vi nenhum de vocês pelo ao menos interessado em me contar a verdade, todos vocês só ficaram me olhando enquanto eu corria atrás da minha própria esposa.
– Mas você também não perguntou, null! Você perguntou uma vez e o que? Voltou a treinar para que pudesse voltar para as pistas, você estava muito contente em ter sua vida antes de null aparecer de volta.
– Não toque no nome dela!
– E por que não? Por que você a ama e está fazendo papel de imbecil com essa história de guarda definitiva?
– Maria também é minha filha!
– Você passou mais de dois anos fora da vida dela, null! Você não tem ideia de como criar uma criança.
– Não por escolha minha!
– Mas está sendo escolha sua ser um babaca! – null realmente não sabe como aconteceu, a única coisa que ele viu na sua frente foi tudo vermelho e logo depois seu pulso em contato com o rosto do seu pai. null viu seu pai cair no chão e logo depois olhos para o seu pulso. O que diabos eu acabei de fazer?
– Pai, me desculpe – null se ajoelhou em frente ao seu pai tentando ver o tamanho do estrago que tinha feito em seu rosto. – Eu não sei o que deu em mim, eu juro que não queria fazer isso. Eu não sei o que está acontecendo comigo, eu apenas sinto tanta raiva dentro de mim – as lágrimas começaram a descer pelo seu rosto enquanto ele balançava a cabeça. – Eu só queria que as coisas fossem mais simples, por que as coisas não podem ser menos complicadas?
– A vida não é simples, meu filho – Camillo abraçou seu filho enquanto ele chorava em seu ombro. – É uma constante corrida de obstáculos, alguns serão fáceis, porém a maioria deles serão mais difíceis do que nós podemos imaginar. E você sabe qual foi o obstáculo mais difícil da minha vida? – null se afastou do seu pai e ele continuou: - Me separar da sua mãe.
– Eu sempre pensei que você não visse a hora de se separar.
– Eu amei sua mãe, null, como eu nunca amei outra mulher na vida. Eu dei tudo de mim no nosso relacionamento e por um tempo, ela também. As nossas brigas só começaram depois de anos tentando ter filhos e falhamos miseravelmente, quando você nasceu foi como assistir um milagre acontecer, tudo na nossa vida começou a melhorar. Sofia não sabe disso, mas ela foi um acidente, nós não planejávamos ter outro filho, mas nós aceitamos o desafio – Camillo respirou fundo antes de continuar: - Sua mãe teve depressão pós-parto depois que a Sofia nasceu, ela não segurou sua irmã, sendo bem sincero, nem ao menos olhar para ela sua mãe conseguia. Constance passou um longo tempo em tratamento para aceitar Sofia, ela só veio segura-la quando Sofia tinha mais de um ano, às vezes eu acho que é por isso que a relação de mãe e sua irmã só piorou ao longo dos anos, sua mãe nunca criou um laço com Sofia do mesmo jeito que ela criou com você. Você sempre foi o menino prodígio dela.
– Por que você está me contando isso?
– Porque sua mãe sempre te superprotegeu, null, quando null apareceu em sua vida e você se apaixonou perdidamente por ela, sua mãe viu seu interesse em passar mais tempo com null do que com ela como uma ameaça na relação de vocês. null fez de tudo para sua mãe gostar dela, eu lembro aos inúmeros eventos que null se forçava a ir apenas para agradar sua mãe, porém nada do que ela fazia era suficiente, sua mãe sempre a esnobava, até que um dia null simplesmente deixou de tentar e, eventualmente, quando você e null se casaram, você ficou mais focado em começar uma família do que acompanhar sua mãe para algum evento da high society – Camillo segurou o rosto de seu filho e disse: - Eu sei que você está com raiva, meu filho, mas um dia você vai ter que deixar toda essa raiva de lado senão é capaz de te consumir por inteiro.
– Você quer que eu abandone o processo não quer?!
– O que eu quero não importa, null, tudo só depende de você – Camillo se levantou fazendo com que seu filho fizesse o mesmo. – Agora vamos, você ainda tem que pegar sua filha antes de irmos para o aeroporto.
– Você acredita que eu estou indo para o Grand Pix de Mônaco com minha filha?! É inacreditável!
– Eu sempre acreditei em você, meu filho – Camillo abriu a porta indo em direção ao corredor, porém, não resistiu e perguntou:
– Por que null nunca me contou a verdade, pai?
– Bem, meu filho, isso é algo que você precisa perguntar para ela.


Capítulo 10


null levantou o zíper do seu macacão enquanto arrumava seu cabelo no espelho da garagem. Esse era o dia que ele tinha esperado por toda a sua vida e ele finalmente tinha chegado, as suas mãos suavam, o seu coração palpitava dentro do peito e ele sentia que podia correr uma maratona inteira sem nem ao menos parar para tomar um copo d’água. null não conseguia lembrar-se algum dia da sua vida ele tinha ficado tão nervoso e logo em seguida pensou: Você já foi um cara casado! e ele logo imaginou null andando em sua direção mais linda do que nunca. null sabia que a mente poderia pregar pegadinhas em você, mas ele nunca pensou que pra um cara que perdeu a memória e esqueceu da própria esposa e filha essas pegadinhas seriam traiçoeiras. Era verdade ou não? Será que era esse vestido que null estava vestindo quando os dois se casaram?
Quando null desceu do carro para buscar Maria dois dias atrás, null estava de uniforme na porta de sua casa enquanto abraçava Maria em um abraço esmagador, sua filha, é claro, abriu um maior sorriso quando o viu e correu para os seus braços, Sansão apareceu logo em seguida quase o derrubando no chão. null sorriu largamente pegando sua filha nos braços enquanto acariciava Sansão com a outra mão, ele olhou para null que apenas passou por ele sem nem ao menos virar o rosto em sua direção, entrou em seu carro e logo saiu arrancando em direção à rua. null sentiu seu coração apertar dentro do peito, null o estava ignorando do mesmo jeito que ele a estava ignorando desde que descobriu a verdade, se null estivesse sendo completamente honesto ele poderia escutar a palavra covarde ecoando por sua cabeça toda a vez que ele via sua, agora, ex-mulher. Ele sabia que se seus olhos se encontrassem pelo menos uma vez, ele não se aguentaria e choraria em sua frente tudo o que ele chorava escondido em seu apartamento.
Desde que null descobriu a verdade sobre os anos que todos esconderam dele, a única coisa que ele conseguiu sentir no começo foi raiva. Raiva do mundo, raiva da sua família, raiva da família de null, raiva do tempo que perdeu sem sua filha, do seu cachorro, raiva das mentiras, simplesmente, transbordando raiva por todos os poros do seu corpo. Entretanto, quanto a raiva passou e toda sua rotina de dois dias tentando achar um sentido para a vida no fundo de uma garrafa de uísque se tornou demais para ele aguentar, ele se pegou chorando no meio da cozinha enquanto não conseguia fazer um café para curar a ressaca.
Por mais que null tentasse procurar uma razão pela qual null mentiu para ele, nenhuma delas parecia plausível o suficiente para ser dada como solução, ele simplesmente não via como null, que o olhava com os olhos cheios de ternura e o sorriso mais largo toda vez que o via, podia esconder tudo que os dois viveram juntos. As mentiras de null fizeram com que sua mente trabalhasse como uma oficina do Diabo a mil por hora: Será que eles estavam prestes a se divorciar e ela viu a sua perda de memória como uma oportunidade para apagar os erros? E se sim, que erros? Será que eles realmente eram felizes juntos? Será que eles ainda se amavam? Ou será que amor era a única coisa que lhes faltavam?
– Eu não vejo null com você – Eric disse fazendo com que null virasse o rosto vendo sua filha concentrada enquanto desenhava em seu carro.
null não vem?
– E você ainda tem coragem de me perguntar isso? É claro que não! – Eric balançou a cabeça e cruzou os braços. – E não me venha com esse olhar cheio de julgamentos, você sabe o que ela fez.
– Realmente, null mentiu para você por anos, não só ela, mas todos ao seu redor, inclusive eu, então você também vai parar de falar comigo?
– É diferente.
– Só é diferente porque o que você sente por ela é mais forte que tudo que você já sentiu por qualquer coisa ou pessoa na sua vida, até pela corrida – null balançou a cabeça, travando o maxilar enquanto olhava para o seu técnico. – Não é meu papel te convencer as razões pela qual você deve escutar a mulher que você ama, null, eu posso numera-las para você, mas no final a decisão é sua – Eric tirou algo do bolso e continuou: - Eu não sei porque ela escondeu a verdade de você, pra falar a verdade, eu nunca concordei com essa história, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que aquela mulher te ama mais do que tudo na vida – Eric estendeu um papel do para ele, fazendo com que ele aproximasse seu rosto para conseguir ver. Na foto que Eric o mostrava, null estava com Maria no colo, ela não deveria passar de alguns meses de vida por estar tão pequena enquanto seu outro braço abraçava null pelos ombros, era a primeira vez que ele estava vendo uma foto da sua vida antes de perder a memória. null a pegou em suas mãos e a colocou em seu bolso, perto do seu coração. – Sabe por que eu acreditei em você quando você bateu na minha porta com toda a prepotência do mundo dizendo que iria ser o melhor piloto do mundo? Sabe por que eu te aceitei de volta depois que você acordou do coma? Você tinha aquele olhar determinado e uma sede de responder todos os questionamentos do mundo. Então me diga, null, por que você ainda não procurou as respostas para a sua maior dúvida?
– Eu não sei, honestamente, eu não sei mais de nada – null deixou com que seus ombros caíssem, Eric abraçou seu corredor pelos ombros.
– Está tudo bem não saber de nada – Eric se afastou dele.
– Eu só sei que esse não é o melhor momento para tudo isso, por isso vou me concentrar em ganhar essa corrida. Eu prometi a uma garotinha que iria ganhar por ela – null sorriu, virando o seu rosto para olhar para Maria que estava abraçando as pernas da mãe de null, Antonieta.
– Papai, a vovó veio te ver! – Maria falou correndo em direção a null que se abaixou pegando-a nos braços. Antonieta olhou para null com os olhos arregalados.
– Você contou para ela?
– Eu não precisei, ela está me chamando de pai desde que nós chegamos.

null se assustou da primeira vez com que Maria o chamou de pai, os dois tinham acabado de voltar de um dos mais famosos parques de diversões em Mônaco depois de uma série de entrevistas, o jeito que olhos de Maria brilharam quando ela viu a roda gigante fez com que null deixasse o dia cansativo que teve de lado e fosse se divertir com sua filha. null não se lembrava de ter se divertido tanto, ver o sorriso de Maria fazia com que ele sorrisse mais ainda. E pensar que ele passou meses desejando que Maria fosse sua filha, pensando até no futuro onde ele poderia adotá-la. E assim, em uma fração de segundo, null se deixava levar pelos “E se? ” que lhe passavam na cabeça desde o dia que descobriu a verdade e logo a imagem de null sorrindo fez com que seu sorriso desaparecesse enquanto ele segurava os ursos de pelúcia que tinha ganhado para Maria.
Por mais que ele tentasse se distrair, null sempre voltava aos seus pensamentos, especialmente quando Maria sorria para ele e tudo o que ele via era o sorriso da sua, agora, ex-esposa. O coração dele apertou dentro do peito quando imaginou que em três dias ele estaria em um tribunal lutando pela guarda de Maria, nunca em seus pensamentos mais loucos desde que acordou, ele imaginaria que essa seria sua vida, a única coisa que ele conseguia fazer era respirar fundo e focar em outras coisas.
– Príncipe, por que a mamãe não veio? – null virou para o lado dando de cara com Maria com um pijama igual ao dele e segurando um dos ursos de pelúcia que eles tinham ganhado.
– Sua mãe precisou trabalhar – null respondeu tentando dar seu melhor sorriso. – E você, mocinha, precisa ir dormir porque já está muito tarde – ele andou em direção à filha, pegando-a nos braços e se jogando na cama com ela. Maria gargalhou alto e logo se escondeu debaixo do edredom. – Tudo bem você dormir sozinha?
– Sim, eu não sou mais um bebê. E eu tenho todos os meus ursinhos novos pra dormir comigo.
– Ok então, se você diz. Boa noite, filha – só quando começou a andar em direção a porta que se tocou que tinha acabado de chamar Maria de filha.
– Boa noite, papai – null parou e se virou para Maria com os olhos marejados.
– Do que você me chamou, Maria?
– De papai, não é isso que você é? – Maria perguntou, olhando-o confusa.
– Quem te disse isso? Sua mãe?
– Bem, mamãe contou uma estória sobre o príncipe encantado, é a estória que ela me conta todas as noites antes de dormir, você quer ver?
– Ver?
– Sim, mamãe colocou o meu livro dentro da bolsa – null andou em direção a bolsa de Maria e depois de procurar em todos os bolsos, conseguiu achar um livro completamente feito à mão. – Você pode contar pra mim? – null assentiu e se deitou ao lado de sua filha com o livro em suas mãos, null abriu o mesmo vendo desenhos provavelmente feito por Maria. – Eu fiz todos os desenhos e a mamãe escreveu! – null apenas respirou fundo e começou:

– “Era uma vez, uma princesa que por muitos anos andava pelos cantos do seu palácio tristonha porque estudava demais e não conseguia fazer as coisas que gostava – o desenho de Maria mostrava uma princesa sozinha, com uma cara triste no topo de uma das torres do castelo. – Até que um dia ensolarado, o seu pai, o rei, a levou para o seu lugar favorito: a corrida de cavalos. A princesa adorava as corridas e essa era extremamente especial porque o seu corredor favorito iria participar, o príncipe encantado – null viu um desenho de uma princesa, o rei e vários cavalheiros em seus cavalos. – A princesa não conheceu o seu cavaleiro favorito naquele dia, mas ela sabia que ele era diferente porque fazia coisas estranhas no seu coração. Dias depois a princesa foi para um baile, ela dançou a noite toda com sua amiga que ficou completamente tonta e quando finalmente ela estava perto do príncipe acabou desmaiando, mas não sem antes de chamá-lo para um passeio – null escutou Maria rir baixinho enquanto via o desenho da princesa deitada e dormindo com o príncipe ao seu lado e logo depois continuou: - A princesa e o príncipe se tornaram inseparáveis, os dois iam a passeios, andavam de barco, andavam até de cavalo, dançavam a noite inteira em bailes, e o que ambos sentiam só vinha crescendo dentro dos seus corações. O príncipe viu que não podia mais viver sem a princesa e em uma noite estrelada, no meio de uma pista de corrida, ele a pediu em casamento para que eles ficassem juntos para sempre – o desenho mostrava a princesa e o príncipe juntos, com cavalos ao seu redor e debaixo de um céu estrelado. – E quando eles, que não poderiam ficar mais felizes, tiveram uma pequena princesinha, e a sua felicidade se tornou completa – o próximo desenho mostrava a princesa, o príncipe e a pequena princesa. – Os três eram a família perfeita, entretanto, o príncipe, sendo um cavalheiro nobre, precisou defender seu posto como melhor cavaleiro e acabou sofrendo um acidente grave. O príncipe desapareceu na sua longa jornada e ainda não tinha encontrado seu caminho de volta, mas a princesa, agora rainha, junto com sua filha, continuam a esperar que o príncipe ache o seu caminho de volta. Fim” – null enxugou as lágrimas, olhando para sua filha que sorria para ele.
– A mamãe nunca disse se você era o príncipe ou não, mas ela é a princesa da história, mesmo dizendo não sempre – Maria deu de ombros e null sorriu largamente.
– E como você sabe que ela é?
– A vovó sempre diz que a mamãe era tristonha antes de conhecer o príncipe e depois que a mamãe te conheceu ela parou de ficar triste.
– Você é uma menina muito inteligente para sua idade – Maria apenas abraçou seu urso mais ainda. – Eu queria que ela estivesse aqui.
– Eu também – null confessou, sorrindo de lado. – Mas já que ela não está aqui, nós podemos dormir juntinhos – null disse, abraçando Maria que o abraçou forte pelo pescoço.
– Príncipe?
– Sim?
– Pode te chamar de papai agora?
– Claro que sim, filha.
null abraçou sua filha, mas não sem antes sentir que alguém estava faltando.


– A sua conexão com Maria sempre foi algo inexplicável, parece que desde o começo ela já sabia que você era pai dela.
– Engraçado como eu fui o último a saber – null disse, cruzando os braços. Antonieta sorriu fazendo com que ele a olhasse completamente confuso.
– Eu não vim aqui para defender minha filha, null, ou nem para numerar as razões pela qual ela fez o que fez ou até pra dizer que você deveria escuta-la antes de tomar qualquer decisão.
– Então por que você veio?
– Porque apesar de todas as complicações, você é se o meu genro favorito.
– Eu sou o seu único genro, Antonieta.
– Mas não quer dizer que você não seja o meu favorito – ela sorriu fazendo com que ele sorrisse também e a abraçasse logo em seguida. – Boa sorte, na sua corrida. – Antonieta se afastou dele, segurando seu rosto. – Eu só espero que você ganhe tudo aquilo que você sempre desejou na vida – o alarme avisando que a corrida começaria em 10 minutos ecoou pelo autódromo fazendo com que o coração de null desse um pulo dentro do peito. – Eu levo Maria para cabine – null viu sua filha correr até ele com os braços aberto e se abaixou para abraçá-la.
– Boa sorte, papai! Você vai ganhar – Antonieta pegou Maria em seus braços e logo as duas saíram acenando para ele, null respirou fundo e foi em direção ao seu carro.
null viu o sinal ficar verde e logo pisou fundo no acelerador, se concentrando na corrida, ele começou em quinto lugar que era uma posição favorável, porém, nada tiraria o seu lugar no pódio. Esse era o momento pelo o qual ele esperou e se preparou a sua vida toda, se null ganhasse a corrida de Mônaco, ele sabia que não existiria felicidade no mundo que pudesse superar isso e, era por isso que ele sentia seu coração bater tão forte dentro do peito. Naquele exato momento, sentando naquele carro, segurando aquele volante como se ele fosse deslizar dos seus dedos, tudo o que null viveu nos últimos meses passou como um filme em frente aos seus olhos, desde o momento que ele acordou desnorteado e deu de cara com null até o momento que Maria o chamou de pai, tudo o que ele viveu o levou para esse momento.
null sempre achou que quando ele estivesse na pista ele teria que esquecer tudo o que ele era e se concentrar no null corredor, porém, se tinha uma coisa que ele tinha aprendido desde que acordou do coma era que todas as suas partes se completavam, o null filho da Cassandra e Camillo, o irmão de Sofia, o null corredor, parte de uma das melhores equipes de corrida do mundo, o null ex-marido de null e, agora, pai de Maria, todas eram suas partes, por mais frágeis que elas fossem, o tornavam o homem que ele era hoje, então dessa vez ele não as ignoraria, ele as receberia de braços abertos.
A corrida no total durou três horas e a cada volta null se mantinha calmo e concentrado, aos poucos ele foi conquistando uma nova posição e quando chegou na última volta, ele estava em segundo, atrás do seu concorrente mais forte, Dean. null viu a linha de chegada à sua frente e o carro de Dean no meio de realizar o seu maior sonho, null cortou pela direita fazendo com que Dean puxasse seu carro para a mesma direção, porém, em um movimento rápido, ele puxou seu carro para a esquerda, trocou de marcha e pisou fundo no acelerador ficando à frente de Dean. null sentiu suas mãos suarem, e um pedaço do carro de Dean aparecer em sua janela, porém, ele ainda estava à frente dele então quando ele viu a bandeira preta e branca balançar em seu retrovisor, ele sabia que tinha acabado de realizar o seu maior sonho.
null soltou o grito mais alto que podia e sorriu largamente, ele tinha acabado de ganhar o Grand Pix de Mônaco, algo que ele sonhava desde que apareceu com toda a marra do mundo no escritório de Eric dizendo que seria o melhor corredor que ele já viu, agora ele podia gritar para os quatro ventos que tinha conseguido vencer tudo aquilo que ele almejou em sua vida, o troféu de Mônaco ficaria perfeito na sua estante.
Quando null estacionou o seu carro em frente ao box da sua equipe, ele pode ver todos o esperando com sorrisos nos rostos, null saltou do carro e abraçou cada um dos membros da sua equipe, ele poderia estar dirigindo o carro, porém, eram eles que o ajudaram a conquistar o seu maior sonho.
– Papai, você ganhou! – null virou seu rosto para o lado dando de cara com Maria correndo em sua direção, ele se abaixou e a abraçou forte.
– Se eu ganhei foi porque você estava aqui pra me dar sorte – null disse fazendo com que Maria gargalhasse alto.
null, você precisa ir ao pódio receber seu troféu – Eric pegou em seu braço, o puxando em direção ao pódio. null estava rodeado de pessoas, porém seus olhos estavam focados em Maria extremamente preocupado com as reações da sua filha. As preocupações foram todas pela janela quando ele viu Maria sorrindo enquanto olhava ao seu redor, aparentemente sua filha gostava tanto de ser o centro das atenções quanto ele.
– Filha, você quer subir no pódio comigo pra pegar o troféu?
– Sim! – Maria jogou os braços pra cima, fazendo com que ele gargalhasse alto.
Quando null subiu ao pódio depois de chamarem o seu nome, ele não estava segurando um champanhe pronto para despejá-lo em todos ao seu redor e sim com sua filha, e o maior sorriso no rosto que ele podia imaginar. E mesmo realizando o maior sonho da sua vida, em pé no primeiro lugar no pódio do Grand Pix de Mônaco, com sua filha sorridente em um braço e o troféu na outra, null se pegou olhando ao seu redor procurando pela a única pessoa que não estava ali pra comemorar junto com ele.



null não acreditava que tinha passado os três melhores dias da sua vida se divertindo com sua filha e aproveitando sua vitória, especialmente pela expressão completamente miserável que ele tinha no rosto enquanto sentava na audiência da guarda de Maria. Ele achou que as coisas seriam diferentes depois de Mônaco, que ele teria certeza mais do que nunca que estava fazendo a coisa certa, porém, seu coração parecia pesado dentro do peito e a ideia de que para ter sua filha em sua vida, ele teria que machucar null, fazia com que seu coração apertasse dentro do peito. Ele virou o rosto para o lado dando de cara com o perfil da sua ex-esposa, ele podia ver as olheiras debaixo dos seus olhos, provavelmente, ela não tinha conseguido dormir direito pensando na última audiência que eles teriam para decidir o destino da guarda de sua filha.
– Você não precisa se preocupar, null, nós vamos ganhar essa – sua advogada disse fazendo com que ele virasse o rosto para ela.
– Como você pode ter tanta certeza disso?
– Eu tenho uma carta na manga.
– Do que você está falando, Charlotte? – a juíza Baxter entrou na sala fazendo com que Charlotte se levantasse e o ignorasse. null balançou a cabeça e se levantou também.
– Boa tarde! Eu sou a juíza Baxter e hoje nós teremos a última audiência relacionada a guarda definitiva da menor Maria null null, dessa forma, a minha decisão já está tomada. Algumas das partes desejam adicionar algo a mais ao caso?
– Não, Meritíssima – a advogada de null disse.
– Eu tenho, Meritíssima – Charlotte disse, fazendo com que todos a olhassem surpresos. A juíza Baxter gesticulou para que ela prosseguisse. – Nos últimos dias chegou à minha posse um documento que eu acredito que seja crucial para a decisão de quem é mais apto a ter a guarda de Maria.
– Protesto, Meritíssima! – Marta se apoiou na mesa a sua frente, olhando para Charlotte e logo depois para juíza. – De que documento a advogada está falando e como ela o adquiriu?
– Bem, devo admitir que até eu fiquei curiosa, prossiga a responder, senhorita Dean.
– Nós o adquirimos há alguns dias, meritíssima, logo depois que o meu cliente viajou para Mônaco. – Charlotte andou em direção a juíza, lhe entregando o documento – Nesse documento consta a assinatura da ré, null null null, renunciando a guarda da sua filha, Maria. – null viu os olhos de null marejarem e logo em seguida ela respirou fundo.
– Evidentemente você tem uma cópia de tal documento, advogada.
– Mas é claro – Charlotte entregou uma cópia para advogada de null, porém ela nem ao menos se interessou em olhar.
– Senhorita null, você assinou tal documento? – a juíza Baxter perguntou, olhando para null.
– Sim, meritíssima, porém quando eu o assinei não estava me sentindo bem, null tinha acabado de perder a memória, e não li nada direito e só assinei.
– Mas se você não leu nada direito como sabe que é o mesmo documento? Por acaso, você o viu depois que assinou? – Charlotte perguntou fazendo com que Marta, a advogada de null, a fuzilasse com os olhos.
– Responda à pergunta, senhorita null, você viu tal documento depois que assinou?
– Sim, meritíssima, eu tenho uma cópia, mas... – null respondeu, gesticulando suas mãos em meio às lágrimas.
– Senhorita null, eu sinto muito, mas esse documento comprova a sua renúncia à guarda da Maria e como a senhorita tinha completa consciência dele, creio que não me resta outra solução – a juíza respirou fundo e continuou: - A guarda definitiva da menor Maria null null vai para null null.
null sentiu o coração quebrar dentro do peito, ele tinha acabado de conseguir a guarda de sua filha, ele tinha ganhado pela segunda vez no espaço de três dias então por que ele se sentia como um total perdedor?
null virou seu rosto para o lado a tempo de ver os olhos de null se fecharem, ele se moveu rápido e logo depois se sentou no chão com null em seus braços no meio do tribunal, ele tirou seu cabelo do rosto e limpou as lágrimas que rolavam por seu rosto mesmo com os olhos fechados. Em seguida, ele viu a sua visão embaçar e as lágrimas rolarem por seu rosto
– A advogada da ré tem 15 dias para... – a juíza começou, porém null a interrompeu.
– Juíza Baxter, eu retiro o pedido de guarda definitiva.
null... – Charlotte começou, porém null não conseguia sentir mais nada a não ser raiva.
– Você trabalha para mim então faça o que eu mando! – null disse entre os dentes. – Eu quero aquele documento desvalidado imediatamente.
– O senhor tem completa consciência do que isso significa, não sabe, senhor null?
– Sim, não tem melhor pessoa no mundo para ter a guarda de Maria do que null, meritíssima.
– Pois muito que bem, senhora Lawrence e senhorita Dean, as duas fiquem no tribunal, senhor null, você pode levar sua ex-esposa para a sala de espera – null assentiu, pegando null em seus braços e andando em direção a porta da sala. Os guardas que ali se encontravam abriram a porta e ele foi em direção a sua sala de espera, null colocou null em cima do sofá e prosseguiu a abrir as janelas. null se virou para trás vendo Antonieta entrar na sala e se abaixar em frente à sua filha, seu pai e Rick entraram logo atrás.
– Como você está meu filho?
– Bem melhor, na verdade, eu venho me sentindo como um merda desde o primeiro dia.
– Nós sabemos, dava pra ver em seu rosto – Rick disse, colocando sua mão em seu ombro, fazendo com que null se sentisse pior ainda.
– Eu fui um completo babaca, eu nunca deveria ter levado as coisas a esse ponto.
null...
– Eu não quero falar sobre isso agora, pai, não quando null está desse jeito. Eu acho melhor vocês a levarem ao hospital, ela está com a aparência mais cansada do que o normal e acredito que ela não esteja comendo direito.
– Você acha?
– Em situações de tremendo estresse, null tende a focar na resolução do problema mais do que em sua própria saúde. Eu lembro claramente quando ela estava fazendo seu trabalho de conclusão de curso, ela não dormia pensando nas melhores maneiras de melhorar o seu trabalho e por isso vivia anotando tudo no bloco de notas do celular para não perder as boas ideias. Até que um dia ela desmaiou no meio do seu estágio por não estar se alimentando bem, acredito que até hoje ela deve se irritar com as constantes mensagens que mandava para ela durante o dia.
null, como você sabe disso?
– Como assim?
null se formou há seis anos atrás. – null olhou para Rick confuso até que os seus olhos se arregalaram. – Você lembrou de tudo?
– Não, eu não lembrei – null respirou fundo antes de continuar: - Às vezes, especialmente quando se trata de null, eu apenas sei. Eu pensei que eram pensamentos que se passavam em minha cabeça, mas desde que eu descobri a verdade, eu realmente não sei se são pensamentos ou memórias que eu tenho com ela – null viu null se mexer no sofá fazendo com que ele ficasse em pânico, como é que ele poderia encará-la depois de tudo que eles passaram nos últimos meses?
– Eu acho melhor eu não estar aqui quando ela acordar.
null...
– Eu vou ver como as coisas andam no tribunal, não a deixem sair daqui – null saiu da sala de espera e começou a andar a sala da audiência.
– Eu não acredito que você a deixou ganhar – null parou no meio do corredor e se virou para trás dando de cara com sua mãe. – O documento com a renúncia de null para com a guarda da sua filha era tudo o que você precisava para ganhar. Por que diabos vocês a deixou ganhar, null? Por quê? – null olhou para sua mãe completamente incrédulo com tudo o que ela estava falando.
– Mãe, isso não é uma competição, eu não sei se você percebeu, mas não importava o resultado, todo mundo sairia perdendo.
– Não, null, null sairia perdedora e você sairia com sua filha, não era isso que você queria?
– Era, mas não a ponto de destruir null no processo, eu posso ser um bom pai com null por perto, mas sem ela eu não sei nem ao menos por onde começar.
– Eu poderia ajudar.
– Contratar uma babá não é a mesma coisa, Cassandra.
null!
– Não, mãe, eu simplesmente cansei! Por que você não me contou a verdade, hein? Sofia, null, Rick, Antonieta e meu pai eu entendo, mas você? Você passou todos aqueles meses comigo e nenhum deles você pensou que poderia me contar a verdade?
null, meu filho, eu só queria te proteger.
– Não, mãe, você sabia o que eu estava passando depois de perder a memória, você sabia que eu não estava bem, por que você não me contou sobre null?
– Eu não achei que valeria a pena, é só isso, você precisava se concentrar na sua corrida.
– O fato de ser um cara casado, com uma e filha e o cachorro “não valia a pena”? – null balançou a cabeça incrédulo e logo todos os olhares de lado que ele viu sua mãe dar para null fizeram todo o sentido. – Então é verdade, você não gosta de null, é por isso que você armou todos aqueles encontros, você queria que eu esquecesse de null – e como se ele tivesse descoberto a pólvora, null percebeu o quanto sua mãe não gosta de null. – Foi você, não foi? Você fez com que null assinasse aquele documento, não foi?
– Eu não me arrependo de nada do que eu fiz – Cassandra disse dando de ombros e a única coisa que null sentiu foi aversão pela sua própria mãe. – null...
– Eu não quero te ver, por favor, vai embora.
null, meu filho, eu fiz tudo pra te proteger.
– Não, mãe, você viu a oportunidade de me moldar do jeito que você queria que eu vivesse a minha vida e, ainda por cima, tentou machucar a mulher que eu amo e a minha filha. Eu não quero te ver, não tão cedo, pra mim, o que você fez foi extremamente perverso.
E como Cassandra não saiu de uma briga como perdedora, ela apenas levantou o queixo e seguiu em direção ao corredor completamente ignorando seu filho.
– Que bom que você colocou a mulher dragão no seu devido lugar – null se virou para trás dando de cara com Chase.
– Ela ainda é minha mãe.
– Mas não quer dizer que o que ela fez todos aqueles anos com você e null não tenha sido errado.
– E aparentemente você sabe de tudo, não sabe?
– E não vou te contar nadinha – null riu de lado e logo Chase estendeu um papel para ele.
– O que é isso?
– O endereço da sua casa.
– Mas esse não é o endereço do meu apartamento.
– Claro que não é, é da sua casa com null – null olhou para ele assustado. – Está mais do que na hora de você parar de deixar os outros contarem a sua história e começar a pegar as rédeas e procurar as respostas, você não acha, null? – Chase deu de ombros e continuou andando pelo corredor até encontrar sua esposa.
null sabia que nos últimos meses tinha se comportado como um completo idiota e, honestamente, ele estava cansado de fugir da verdade, dessa vez ele iria escutar a história da fonte, mesmo que ela não quisesse vê-lo nem pintado de ouro. E ele sabia exatamente a quem pedir ajuda.
– Oh Chase! – null gritou fazendo com que Chase parasse no meio do corredor e se virasse para ele. – Eu preciso da sua ajuda!
E por mais que null não lembrasse de Chase como seu melhor amigo, o sorriso dele fez com que ele tivesse certeza que, com ele, tinha um verdadeiro amigo.


Capítulo 11


Quando null acordou, foi apenas para encontrar uma agulha em seu braço, um suporte de soro ao seu lado e o olhar preocupado de sua mãe sobre ela. Ela olhou ao seu redor e percebeu que estava em seu quarto, na casa dos seus pais. Demorou um tempo para que ela tomasse completa consciência do que tinha acabado de acontecer e, quando ela o fez, em questão de segundos estava sentada na cama, tentando tirar a agulha de seu braço.
- null, minha filha, se acalme. – Antonieta segurou os ombros da filha.
- Não, eu preciso voltar naquele tribunal e explicar tudo pra juíza. – null olhou para sua mãe com as lágrimas rolando em seu rosto. – Eu não posso perder minha filha também.
- null, você ganhou. – null olhou para sua mãe, completamente paralisada.
- O quê? – Ela sussurrou, a ponto de que sua mãe quase não a escutou.
- A guarda da Maria é sua.
- Mas a juíza, ela disse... O documento da advogada de null, ele...
- O documento foi anulado, null. – null se assustou quando viu sua advogada do outro lado do quarto. Marta era uma das melhores amigas da sua mãe e praticamente da família, e, quando sua mãe ligou pedindo ajuda, ela encaminhou seus casos para outros advogados e veio ajudá-las. – Quando você desmaiou no meio do tribunal, antes de você cair no chão, null correu e te pegou nos braços. – Marta se sentou ao lado de Antonieta. – Pelo o jeito que ele te segurou nos braços, te olhando como se tivessem arrancado um pedaço do coração dele, eu diria que aquele homem ainda te ama da mesma maneira que antes de perder a memória, se duvidar um pouco mais. – null respirou fundo, tentando não chorar mais. – Foi realmente uma cena de filme, ele se virou para a juíza retirando o pedido da guarda definitiva e depois ordenou que Charlotte arrumasse uma maneira de desvalidar o documento. Algo que, com minha ajuda, não foi nada complicado.
- null fez isso? – null perguntou, incrédula.
- Ele ficou com você até o médico chegar, null. – Antonieta acariciou o rosto de sua filha. – Ele estava igual ao dia em que sua bolsa estourou, completamente assustado e preocupado com o que iria acontecer. Ele não tirava os olhos de você.
- Então por que ele não está aqui?
- Porque vocês precisam de tempo pra absorver tudo o que aconteceu, null. O que vocês dois passaram não foi fácil para ambas as partes, o tempo pode não curar as feridas completamente, mas é preciso deixá-las respirarem. O momento agora é de respirar fundo e reavaliar tudo que aconteceu.
- Falando em “tudo o que aconteceu”. – Marta começou. – Por que você não nos contou sobre aquele documento, null? E por que diabos você assinou algo como aquilo?
- Foi logo depois que null acordou. Você lembra, mãe? – null enxugou as lágrimas que continuavam rolando em seu rosto. – Quando meu marido, o amor da minha vida, acordou do coma e simplesmente olhou para mim como se nunca tivesse me visto na vida, meu coração despedaçou dentro do peito. Eu cogitei contar tudo para ele, mas Constance me impediu.


null podia jurar que acabaria cavando um buraco no meio da sala de espera. Fazia exatamente meia hora que ela andava de um lado pro outro, tomando coragem para entrar no quarto do seu marido, que tinha esquecido completamente da sua existência. De todas as coisas que null já viveu, um parto de mais de um dia sendo uma delas, ver null acordando e olhando para ela como se nunca a tivesse visto na vida tinha machucado muito mais. Ele tinha passado um ano em coma e não tinha um dia que null não segurasse em sua mão e pedisse para ele acordar. Até mesmo Maria, que tinha acabado de completar dois anos, quando o foi visitar, ficava falando “papai” enquanto olhava para ele. E era por isso que ela se encontrava no eterno dilema: conta ou não conta a verdade?
Ela sabia que, para null, seria um grande baque acordar de um coma depois de ter perdido a memória dos últimos anos de sua vida e simplesmente estar casado e com uma filha pequena. Porém, se tem uma coisa que null tinha certeza era de que null gostaria que ela o contasse a verdade, por mais doloroso que fosse. null sentiu o coração apertar dentro do peito enquanto andava em direção ao quarto do seu marido, porém, uma mão em seu pulso fez com que ela parasse e virasse seu rosto para trás, dando de cara com sua sogra, a mulher dragão.
- Eu não acho que isso seria uma boa ideia, null. – null respirou fundo, se afastando de sua sogra.
- E por que não, Constance?
- null ainda está um pouco sensível com tudo o que aconteceu. Nesse momento, ele está descansando, saber que ele vai precisar fazer fisioterapia e que não vai poder correr nos próximos meses fez com que ele ficasse bastante chateado.
- Eu ainda não vejo como eu não posso contar para null a verdade.
- null, eu sei o quanto você se importa com meu filho. – Constance pegou as mãos de null, fazendo com que ela a olhasse completamente confusa. – Eu sei que eu não fui uma das melhores sogras para você nos últimos anos, mas eu quero que isso mude a partir de agora. Deu pra perceber o quanto você ama o meu filho. – Foram os olhos de Constance cheios de lágrimas que fizeram com que o coração de null amolecesse dentro do peito e com que ela acreditasse em cada palavra que Constance disse. – Você aceita minhas desculpas, null?
- É claro, Constance, eu sei o quanto você se importa com null, e ele precisa de todo o apoio nesse momento.
- Que bom que você compreende, null. – Constance abraçou null forte pelo pescoço e ela se sentiu um pouco melhor por ter sua sogra ao seu lado. – Amanhã, quando null acordar, a primeira coisa que eu quero que ele veja é você e Maria. Nós contaremos a verdade para ele juntas.
- Verdade?
- Nada mais justo do que termos a família completa quando contarmos a verdade.
- Muito obrigada, Constance.
- Agora, null, vá para casa e descanse, porque amanhã temos um grande dia pela frente. – null abraçou Constance pela última vez e se virou em direção a saída. – null, eu quase esqueci. Uma das enfermeiras pediu que você assinasse um dos papeis relacionados a fisioterapia de null.
- Oh, mas é claro. – null pegou a caneta e assinou sem nem ler o que lá estava escrito.
null saiu do hospital sentindo como se tudo estivesse entrando nos eixos, mesmo com o mundo estando de cabeça para baixo. O que ela não sabia era que tinha acabado de assinar um acordo com o Diabo.


- No dia seguinte, antes mesmo de sair pra trabalhar, eu recebi uma cópia do documento entregue nas minhas mãos pelo o advogado de Constance com um aviso de que se eu contasse a verdade para null, eu perderia a guarda de Maria. – null limpou as lágrimas. – Como uma bela bruxa de qualquer conto de fadas, ela me encantou com promessas vazias e uma falta sensação de segurança. Eu pensei que ela finalmente tinha me aceitado, porém, ela me pegou desprevenida em um dos meus momentos mais vulneráveis.
- Por que você não nos contou, null?
- Mãe, e o que vocês poderiam fazer sobre isso? null tinha perdido a memória, ele me olhou nos olhos e eu só vi o vazio. – null riu sem humor. – Ele se lembrou de absolutamente tudo, menos dos anos que passamos juntos e da nossa filha, como você acha que eu me senti? Me matou lentamente por dentro, parecia que todos os anos que Constance falou que nós não éramos feitos um para o outro eram verdade! Eu já tinha perdido meu marido, eu não podia perder a minha filha também. Então eu simplesmente continuei com minha vida, esperando que a memória de null voltasse, porém, ela nunca voltou. Eu tentei, eu juro que tentei, mas o que eu posso fazer? Aquele homem tem o meu coração nas mãos sem nem ao menos saber e quando ele parou em minha frente, todo confiante, admitindo que estava me olhando no casamento de Sofia, eu não pude resistir. Eu só quero a minha família de volta, é pedir muito?
- É claro que não, minha filha. – Antonieta abraçou null forte pelo pescoço. – Que tal você tomar um banho para relaxar um pouco?
- Eu quero ver minha filha.
- Primeiro você precisa relaxar um pouco, especialmente porque Maria não sabe de nada do que está acontecendo. Você pode fazer isso por mim, meu amor? – null apenas assentiu e se levantou da cama ainda um pouco zonza. Sua mãe a ajudou até que ela conseguisse andar sozinha até o banheiro.
Enquanto a água descia pelo corpo de null, ela podia sentir uma parte do peso do mundo cair dos seus ombros aos poucos. Nos últimos meses, a sua vida tinha se transformado em um completo inferno com toda as idas ao tribunal e a briga pela guarda de Maria. Não tinha coisa pior do que ver null a olhando como se ela fosse a pior pessoa do mundo. null não precisava de mais um lembrete de que o que ela fez foi completamente errado, porém, ela não tinha escolha; ela já tinha perdido seu marido, não sobreviveria se perdesse sua filha também.
A total aversão de null para com a sua sogra não era sem motivo, ela sempre soube que Constance a olhava torto e não gostava nem um pouco dela. Em seu casamento, ela tinha a completa convicção de que quando Constance chorou foi de tristeza, porque estava perdendo controle sobre seu filho, em vez de estar emocionada pelo casamento em si. Entretanto, ela nunca pensou que o ódio de Constance corria tão profundo dentro de suas veias que ela não sentia nenhum remorso ao ameaçar tirar Maria dos seus cuidados.
Enquanto null colocava uma roupa, ela escutou o grito de sua filha ecoar pela casa fazendo com que ela saísse do seu quarto correndo e fosse direto para o de sua filha. null encontrou sua mãe tentando acalmar Maria, que chorava completamente desconsolada, agarrada ao urso de pelúcia que tinha ganhado de null.
- Maria, minha filha, por que você está chorando? – null sentou ao lado da filha, a abraçando de lado.
- Eu quero meu pai! – null gelou e olhou para sua mãe. – Eu quero meu pai aqui comigo. – Maria soluçava enquanto continuava chorando.
- Maria, seu pai está um pouco ocupado no momento, ele não pode vir.
- Não! – Maria se levantou, batendo o pé no chão enquanto se agarrava no urso que tinha ganhado de null na viagem. – Eu esperei o príncipe por muito tempo, nós procuramos por ele por muito tempo, mamãe. – Maria falou entre soluços, fazendo com que o coração de null apertasse dentro do peito. – Por que a gente não pode ficar juntos? Por que a gente não pode ir pro nosso castelo?
- Maria, por favor, se acalme.
- Não! Eu quero meu pai agora! – null viu sua filha andar me direção ao seu guarda-roupa e logo fechar as portas. Qualquer outro pai ou mãe ficaria assustado, porém null já estava acostumada em ver sua filha se trancar dentro do guarda-roupa quando não conseguia algo que queria. Eram raros os momentos que Maria fazia algo do tipo, mas eles aconteciam. Ela era uma criança como outra qualquer, no final das contas.
- O que você vai fazer, null?
- Esperarei que ela durma para poder botá-la na cama.
- Eu só vou sair daqui quando eu ver meu pai! - null escutou sua filha gritar do guarda-roupa e logo balançou a cabeça. Sansão entrou no quarto, carregando seu brincando favorito e se deitou em frente ao guarda roupa de Maria.
- Eu acho que você está em desvantagem, null. – Antonieta cruzou os braços, olhando para a filha.
- Eu não consigo, mãe, eu não posso ligar para null.
- Sem problema, eu ligo. – Antonieta tirou o celular do bolso, fazendo com que null a olhasse incrédula.
- O que aconteceu com “vocês precisam digerir tudo que aconteceu”?
- Faz mais de dois anos que essa digestão está acontecendo, está mais do que na hora de você parar de deixar o destino agir por você. – Antonieta colocou o celular na orelha, fazendo com que o coração de null pulasse dentro do peito. Ai meu Deus, o que está acontecendo? - null? Olá, meu amor. – null fez uma careta e sussurrou:
- Meu amor?
- Não, null está melhor. Nós chamamos o médico da família e ele deu um pouco de soro, já que ela estava um pouco desnutrida. No final das contas, você estava certo, ela não estava se alimentando direto por conta do estresse. – null se aproximou da mãe, tentando escutar o que null estava dizendo, mas Antonieta a empurrou para longe. – O motivo de eu ligar é porque Maria insiste em te ver, até dentro do guarda-roupa ela se trancou e disse que só vai sair quando você estiver na frente dele. – Antonieta riu alto. – É claro, meu querido, nós estamos te esperando. – null sentiu seu coração bater mais forte dentro do peito. – Sim, pra mim nada, mas null não comeu nada hoje, então você pode trazer o prato favorito. É o... Sim, é esse mesmo. Tchau querido, te vejo em breve.
- O que ele disse?
- Por que você não pergunta pra ele quando ele chegar? – Antonieta saiu do quarto com null logo atrás.
- Mãe! – null grunhiu alto. – Como é que você pode fazer isso comigo? – Antonieta apenas deu de ombros e soltou uma gargalhada. – Espere um segundo! Ele está vindo pra cá?
- E ainda trazendo o seu jantar favorito!
- Aonde você vai?
- Vou esperar meu genro, é claro, quer me fazer companhia?
- Talvez. – null desceu as escadas de dois em dois e logo se jogou ao lado da sua mãe no sofá. – E agora, o que eu faço?
- Eu não sei, minha filha, só você sabe. Não existe mais nada impedindo que você e null fiquem juntos, a não ser, é claro, o pequeno fato de que você mentiu para ele todos aqueles anos. – Antonieta olhou para a sua filha de lado.
- null não quer me ver nem pintada de ouro, mãe.
- Bem, null, é claro que não, você ainda precisava fazer a única coisa que você ainda não fez.
- Do que você está falando?
- Veja bem, minha filha, quando null descobriu a verdade, você tentou explicar, certo? – null assentiu com a cabeça e Antonieta continuou: - Porém, você nunca pediu perdão pelo o que fez. Imagina se você que tivesse perdido a memória, que null tivesse escondido toda a verdade de você, que por anos você ficou longe do seu marido, da sua filha, do seu cachorro e da sua casa porque todos ao seu redor mentiram para você. Como você se sentiria?
- Eu não conseguiria colocar em palavras.
- Às vezes, para os problemas complexos da vida, existem maneiras simples de resolução. Comece com um pedido de perdão e depois veja aonde as coisas levam vocês. – null respirou fundo, analisando tudo o que fez nos últimos meses desde que null descobriu a verdade, nem ao menos olhar em seus olhos ela conseguia, quiçá ficar as sós com ele para proclamar uma explicação ou um pedido de desculpa. Pra falar a verdade, null nunca nem ao menos cogitou pedir perdão. Ela só queria explicar o porquê de todas as suas ações pra ver se conseguia salvar a sua família e, pensando bem, se os papeis fossem invertidos, pedir desculpa seria a primeira coisa que null faria. Ele sempre foi melhor em expressar seus sentimentos do que ela.
null estava perdida em seus pensamentos quando viu os faróis do carro de null pela janela. Seu coração começou a bater forte dentro do peito. Ela se levantou de uma vez quando escutou a porta do carro bater, enquanto Antonieta andou em direção a porta.
- Papai! – null viu Maria descendo as escadas com Sansão do lado e logo null apareceu em seu campo de visão com Maria nos braços e uma sacola do seu restaurante favorito.
- Ouvi dizer que você está se recusando a ir pra cama sem antes me ver. – null viu Maria se aninhar no pescoço de null. – Você sabe que não pode fazer isso, não sabe, minha filha? Você precisa obedecer a sua mãe.
- Eu estava com saudades, papai.
- Eu também, minha filha, mas da próxima vez você precisar obedecer a sua mãe, ok? Ou então peça pra ela me ligar, ok?
- Tudo bem, papai. – Maria bocejou alto e se virou para null. – Desculpa, mamãe. – null viu o completo choque na feição de null quando ele virou seu rosto dando de cara com ela.
- Olá, null. – null disse e ela sentiu um arrepio correr pela sua espinha.
- Olá, null.
- Que tal você colocar Maria na cama? – Antonieta começou tirando as sacolas da mão de null. – Eu vou levar essas coisas para a cozinha para que null possa comer.
- Dê boa noite para sua mãe e sua avó.
- Boa noite, mamãe. Boa noite, vovó. – Maria bocejou novamente e fechou os olhos. null sorriu de lado e subiu as escadas com Sansão logo atrás.
- Vamos, null, você precisa comer e null trouxe o seu favorito. – null seguiu sua mãe até a cozinha e ,enquanto ela desembalava tudo, sua mãe colocou um talhe em sua frente.
- Você não vai comer também?
- Não, minha filha, eu vou dormir, porque eu já tive emoções demais pra um dia. – Antonieta abraçou a filha. – Não se esqueça de que semana que vem Maria vai dormir na casa de uma das suas amiguinhas da escola.
- Já é semana que vem? Tem certeza?
- Sim, e Maria está muito animada em dormir fora de casa.
- Não acho que isso seja uma boa ideia, talvez seja melhor que ela não vá. – null começou a comer e fechou os olhos sentindo o gosto da sua comida favorita.
- Qualquer coisa, se ela não se acostumar, você pode ir buscá-la. – Antonieta deu um beijo na cabeça de sua filha. – Durma bem, minha filha.
null continuou comendo sem parar. Ela não lembrava da última vez que tinha aproveitado uma refeição inteira e não um lanche qualquer entre um turno e outro. O estresse sempre foi um agravante para ela perder o apetite. Ainda assim, isso não era nenhuma novidade, pois na época da faculdade, ela fazia a mesma coisa, e null, como um perfeito namorado, fazia exatamente o que ele fez hoje: trazia sua comida favorita na esperança que ela tirasse sua mente dos problemas. Para null, era extremamente surpreendente que null conseguia lembrar de pequenos detalhes da vida que os dois dividiram, sem ao menos lembrar de tudo o que eles viveram juntos.
- Como você está? – null engasgou com a comida depois que escutou a voz de null ecoar pela cozinha. null estava do seu lado, acariciando suas costas, enquanto null colocava os braços pra cima. – Você está bem? – null saiu pela cozinha abrindo os armários enchendo um copo logo em seguida. – Aqui, tome um pouco de água. – null tomou o conteúdo inteiro do copo e já pôde sentir sua respiração voltar ao normal. null apenas a encarava, sentado na cadeira ao seu lado. – Você está bem? – null assentiu com a cabeça fazendo com que null se afastasse dela. – Maria já dormiu, Sansão ficou no quarto com ela, por isso eu deixei a porta aberta caso ele queira sair mais tarde.
- Obrigada por ter vindo.
- Qualquer coisa pela minha filha. – null sentiu um aperto no peito e suas mãos suarem.
- null...
- Eu preciso ir, foi muito bom te ver, null. – null viu null andar em direção a saída e com ele levando o pedaço de esperança de que as coisas podiam melhorar entre os dois. Não dessa vez! , null se levantou, deixando a cadeira cair atrás de si, passando por null. Ela parou em frente a ele, de costas para a porta.
- null, nós precisamos conversar. – Ela disse, respirando fundo.
- Eu não acho que isso seja uma boa ideia, null, você ainda está se recuperando.
- Não, tem que ser agora. Eu não faço a menor ideia de quando vamos nos ver novamente e, francamente, eu não sei quando eu terei coragem novamente então precisa ser agora.
- Eu não sei se deveria ficar assustado com tal sinceridade. – null sorriu de lado. – Que tal nós irmos para a sala? – null segurou em sua mão, a levando em direção ao sofá. Ela se sentou enquanto ele se sentou ao seu lado, virado para ela. – E então, null, sobre o que você quer conversar?
- Eu não sei nem ao menos por onde começar. – null soltou o ar dos seus pulmões. – Talvez eu deva começar agradecendo pelo o que você fez no tribunal. Eu nunca imaginei que você fosse retirar o pedido da guarda de Maria, eu sei o quanto vocês são importantes um para o outro, mesmo quando não sabiam da verdade. – null viu null se virar para frente, evitando o seu olhar. – Eu sei que você deve ter milhões de perguntas...
- Por que você mentiu, null? – null a interrompeu, se virando para ele. – Por que você mentiu por tanto tempo? Por que você não ficou ao meu lado?
- Você lembra do dia que você acordou? – null assentiu e null encarou suas mãos enquanto continuava: - Eu nunca acreditei em todas as descrições dos livros quando eles falavam de corações partidos, mas quando você acordou e olhou diretamente para mim sem nem ao menos saber quem eu era; me encarando sem nenhum tipo de sentimento por trás do seu olhar, eu posso jurar que eu senti meu coração quebrar em milhões de pedaços. Você já estava há, mais ou menos, um ano em coma e eu posso dizer que mesmo que eu sempre tivesse uma faísca de esperança que você poderia acordar, eu a sentia apagar lentamente todos os dias que você não acordava. Então, quando você finalmente acordou e não lembrou de mim, eu senti que aquilo era um sinal.
- Um sinal de quê?
- De que todas as minhas inseguranças que diziam que nós não deveríamos ficar juntos estavam certas, você era muito melhor sem mim. Então eu fui pra casa, chorei agarrada a minha mãe por horas enquanto ela tentava me consolar em vão. Até que Maria acordou do seu cochilo, entrando no quarto, agarrada ao urso que você tinha comprado para ela antes mesmo dela nascer, e eu percebi que eu tinha interpretado errado o sinal. Eu tinha que lutar pela minha família e que mesmo que você não lembrasse de mim, de nós, eu te amaria por nós dois até que você lembrasse. – null enxugou as lágrimas enquanto respirava fundo. – Eu fui pro hospital decidida a te contar a verdade, eu quase cavei um buraco na sala de espera antes de entrar no seu quarto, porém, quando eu tomei coragem, a sua mãe me parou falando que você precisava de um tempo para poder lidar com todas as suas emoções. Especialmente porque você tinha acabado de descobrir que não ia poder correr novamente e que precisaria fazer fisioterapia. Nós nunca fomos melhores amigas, a sua mãe e eu, porém naquele momento ela parecia disposta a melhorar a nossa relação. Então, no meu momento mais vulnerável, ela me enganou, fazendo com que eu assinasse aquele documento da renúncia da guarda de Maria, dizendo que era algo relacionado a sua reabilitação. Eu recebi uma cópia no dia seguinte, junto com um aviso de que se eu ao menos chegasse perto de você, eu perderia a guarda de Maria. Eu já tinha te perdido, eu não podia perder a nossa filha também. Por isso, eu esperei.
- Pelo que exatamente? – null virou o rosto para ela e finalmente null pode ver que ele também chorava.
- Pela volta da sua memória. Todos os dias, eu acordava com a esperança de receber uma ligação sua perguntando onde nós estávamos; de ver você aparecendo na porta pra vir nos buscar. Porém, depois de meses sem nenhuma notícias sua, a não ser pelas atualizações do seu tratamento que Sofia me mandava, eu perdi as esperanças quando saiu a primeira foto sua com uma das filhas de uma das amigas da sua mãe. E, então, no ápice da minha loucura, eu tomei uma garrafa inteira de vodca que eu achei no escritório do meu pai, chamei um táxi e fui parar na casa da sua mãe.
- Eu nunca fiquei sabendo disso.
- Sua mãe chamou a policia enquanto eu gritava seu nome no portão, exigindo falar com você. Sofia me levou para casa e, enquanto eu estava abraçada a um vaso colocando tudo para fora e chorando, eu percebi que eu não podia viver a minha vida em função do passado. Eu tinha nossa filha pra criar, um emprego para me dedicar e se você tinha seguido em frente, eu também deveria seguir.
- Então você simplesmente desistiu da gente?
- Por um tempo eu achei que eu conseguia. Eu deletei qualquer aspecto da sua existência da minha vida, exceto, é claro, do conto de fadas que eu contava para Maria todas as noites. Eu tinha perdido qualquer e total esperança de você lembrar da gente, eu já tinha aceitado a minha vida sem você, porém, no dia do casamento da Sofia, você apareceu na minha frente. Parecia que o tempo não tinha passado, meu coração palpitou do mesmo jeito, minhas mãos suaram e um arrepio passou pela minha espinha quando nós dançamos juntos. Eu sabia que você não lembrava de mim, mas te ter por perto de novo fez com que todas as barreiras que eu montei desmoronassem lentamente. Eu tentei, só Deus sabe o quanto eu tentei manter a distância, mas eu simplesmente não conseguia. Eu te amo demais pra voltar a ser uma completa estranha, então eu vivi nosso romance novamente, me agarrando às migalhas dos lapsos de memória que você tinha em relação a nós dois.
- E depois que nós estávamos juntos, você não quis contar a verdade para mim? – null virou seu corpo completamente para null, ela então estendeu sua mão limpando as lágrimas que caíam do seu rosto.
- Eu estava planejando contar a verdade para você sim, mas eu sabia que quando eu o fizesse, tudo mudaria completamente. Eu falei para a Sofia dos meus planos de contar a verdade, ela provavelmente falou com sua mãe e acredito que seja por isso que elas discutiram no dia do jantar na casa dela. Sua mãe queria contar antes que eu pudesse. – null segurou as mãos de null, fazendo com que ele olhasse em seus olhos. – Uma das coisas que eu mais me arrependo desde que você acordou foi não ter contato a verdade para você e para Maria. Ver vocês dois juntos, a conexão que vocês têm, fez com que eu percebesse que eu deveria ter mandado tudo para o alto e entrado no seu quarto contando toda a verdade, mesmo que você não acreditasse em mim. A minha mãe falou uma coisa que eu não percebi até hoje, eu sempre quis uma oportunidade de contar toda a verdade com as minhas palavras, agora que eu já o fiz, a única coisa que eu te peço é perdão, null. Me perdoa por ter mentido pra você todos esses anos. Me perdoa, por favor, só isso que eu te peço. – null deixou as lágrimas que estava segurando rolarem por seu rosto. Ela viu null começar a chorar junto e, logo depois, sentiu seus braços a abraçarem forte pela cintura.
- Eu te perdoo, é claro que eu te perdoo. – null se separou de null, fazendo com que ela olhasse para ele com um sorriso no rosto. – Eu entendo que você fez tudo em seu poder para proteger Maria e o que a minha mãe fez é imperdoável. Eu nunca senti por ninguém nem um terço do que eu sinto por você, mesmo sem lembranças do que vivemos juntos, o que eu sinto por você é mais forte do que uma perda de memória. – null sorriu, fazendo com que ele sorrisse também. – Mas eu preciso de tempo pra absorver tudo o que você me disse, eu preciso colocar as ideias no lugar, você entende, certo?
- É claro que sim, não deve ser fácil receber essa carga de informações que você recebeu nos últimos meses.
- Você não precisa ficar decepcionada, null, só existe uma mulher pra mim nesse mundo e é você. – null sorriu largamente. – Eu só preciso de um tempo.
- O que é um tempo pra quem já esperou anos. – null deu de ombros e null sorriu largamente. Ele acariciou o rosto dela e deu um beijo demorado em sua testa.
- Eu acho melhor eu ir pra casa, eu tenho que lidar com as consequências das minhas ações nos últimos meses, eu preciso pedir desculpas pra muita gente. – null se levantou e null fez o mesmo. Ele segurou em sua mão, fazendo com que ela fosse à porta com ele. null abriu a porta e antes que null pudesse passar por ela, ele a abraçou forte pelo pescoço. – Eu senti sua falta. – null sussurrou em seu ouvido.
- Eu também senti a sua falta.
- Até mais, null.
- Até mais, null. – Depois que null foi embora, ela fechou a porta com um sorriso no rosto.
- Você está bem, minha filha? – Ela se virou, dando de cara com sua mãe no meio da escada.
- Melhor do que nunca. – null subiu as escadas, passando pela sua mãe com um sorriso no rosto.

Capítulo betado por Madô



Capítulo 12 - Parte I

>- Encarar esse celular não vai fazê-lo ligar para null. - null deixou o celular cair em cima da mesa e virou seu rosto para Eric. Fazia exatamente duas semanas que null tinha lhe contado a verdade, masess null não conseguia ao menos reunir forças para ligá-la. E por que, devo perguntar, ele não tinha forças pra ligar para a sua ex-esposa? Porque nada o assombrava mais naquele momento do que saber que ele tinha esquecido de sua história de amor com null. null se deu muito tempo para analisar todos os seus encontros com null, especialmente aqueles dos quais que ele podia ver um brilho de esperança em seus olhos quando ele falava algo que agora ele sabia que fazia parte do que os dois viveram juntos, e em todos esses momentos a única coisa que lhe vinha na cabeça eram as novas lembranças que eles dois viveram juntos.
null sabia que não podia se culpar pelo o que aconteceu, pra falar a verdade, nem mesmo do seu acidente ele se lembrava, porém ele estava com medo da sua história com null fosse ser sempre uma sombra daquilo que eles já viveram e ele não lembrava. Antes de descobrir a verdade, os olhares tristes de null para ele, pareciam ser sobre alguma lembrança sobre o seu ex-marido e pai de Maria, e o mais irônico de tudo isso era que ele era o ex-marido de null e pai de Maria.
A sua terapeuta disse que ele não deveria forçar o seu cérebro a lembrar, as memórias viriam aos poucos, em momentos que ele mesmo não poderia controlar, porém, já fazia mais de dois anos desde que ele acordou, e a única coisa que ele se lembrava era do amor que sentia por null.
- Você ainda está brigado com null?
- Não, nós conversamos, ela me contou toda a verdade. - null viu Eric se sentar ao seu lado, virando a cadeira para encará-lo.
- Então por que vocês dois não estão juntos?
- Eu não sei.
- Você pode não se lembrar, null, mas eu te conheço há muito tempo, então sei quando algo está te incomodando.
- Esse é o problema, Eric. - null se levantou, começando a andar de um lado para o outro. - Durante esse tempo desde que acordei eu nunca me importei com todos os “você pode não se lembrar, mas… ”, eu sempre achei que essas poderiam ser histórias que com o tempo eu iria me lembrar ou acabariam perdidas no tempo e só as taxaria como “boas memórias das quais eu não lembro”, porém não com a null.
- Você pode pedir pra ela te contar, null, eu tenho certeza que ela pode te contar tudo.
- Eu sei disso, Eric, mas eu quero lembrar, entende? Eu quero saber qual foi o meu primeiro pensamento quando eu a vi, como nós conseguimos sair pela primeira vez, nosso primeiro beijo, nosso casamento, o nascimento de Maria. Eu quero sentir tudo aquilo que eu vivi com ela, entende?
- Eu não posso te dizer que entendo, meu filho, mas eu não sei o que eu pensaria se esquecesse da minha esposa e das minhas filhas.
- Exatamente! Eu posso pedir pra todos me contarem sobre a minha história com null, eu posso pedir pra ela me contar, porém nada se compararia se eu lembrasse de tudo. Você não acha estranho quando eu te pergunto algo que eu já te perguntei antes de perder a memória?
- null, eu sei o que aconteceu com você, eu não me importo de te contar tudo.
- Mas eu me importo! - null se exaltou, não exatamente com Eric, mas com toda situação pela qual estava passando. – Eu me importo de não lembrar dos momentos mais importante da minha vida, é como se tivesse um buraco dentro do meu peito.
- Então você deveria conversar com alguém sobre isso. – Eric olhou por cima do seu ombro. – Talvez mais cedo do que você espere. – Ele apontou com a cabeça, fazendo com que null se virasse para trás e desse de cara com null vestida com roupas do trabalho e sacolas na mão.
- null, o que você está fazendo aqui? – null não conseguiu conter o sorriso largo que apareceu em seu rosto.
- Eu vim te ver e eu trouxe algo pra gente comer. – null começou a andar em direção a null.
- Eu vou deixar vocês sozinhos, muito bom te ver, null. – Eric abraçou null antes de sair da garagem.
- Maria passou o dia falando que queria você estivesse com ela quando a mãe da sua amiguinha viesse buscá-la pra dormir na casa dela, mas Eric disse que você tinha treino hoje, então eu apenas prometi que falaria com você para buscá-la amanhã.
- E você não poderia dizer isso com uma simples mensagem?
- Poderia, mas aí eu perderia o prazer de te ver. – null tentou esconder o sorriso, mas foi mais forte que ele, ver null segurando sacolas do seu restaurante favorito enquanto suas bochechas ficavam levemente rosadas fazia com que ele sentisse o amor transbordando nos pequenos detalhes. Oh, null, como eu queria me lembrar de todos os momentos que tivemos juntos.
Então null fez a única coisa aceitável a se fazer enquanto se encara o amor da sua vida: andou a passos largos até ela, segurou-a pelos ombros e lhe tascou um beijo digno de cinema. null deixou as sacolas caírem no chão enquanto passava os braços ao redor do pescoço de null, ele então a puxou mais para perto pela cintura enquanto aprofundava o beijo. null já tinha beijado null inúmeras vezes, porém nada se comparava a um beijo que matava toda a saudade que ele sentia dela desde o bendito dia que ele descobriu toda a verdade.
- Se é assim que você vai me receber quando eu te visitar, talvez eu venha mais vezes. – null riu de lado enquanto null acariciava seu rosto.
- Eu sinto sua falta, null.
- Então por que você não me ligou? Não é como se eu não estivesse esperando ouvir notícias suas.
- Que tal eu contar todos os meus segredos enquanto comemos? – null pegou as sacolas do chão e andou em direção à mesa de centro do escrito de Eric. Um flashback passou diante de seus olhos e da visão de null sentada no chão, em frente a mesa com as mesmas sacolas do seu restaurante favorito. – Você costumava fazer isso?
- Costumava fazer o quê? – null olhou confusa para null, enquanto se sentava no chão.
- Trazer comida pra gente. – null colocou as sacolas em cima da mesa, se sentando ao lado de null. – Eu acabei de ter uma visão de você, sentada nesse mesmo lugar, com as mesas sacolas do meu restaurante favorito.
- Pode se dizer que eu era uma visitante ávida do autódromo, especialmente quando nós estávamos brigados. – null sorriu de lado e continuou: - Essa foi uma das promessas que a gente fez quando ainda namorávamos, nunca dormirmos brigados, porém, como você sempre achou muito clichê, nós decidimos que toda as vezes que estivéssemos brigados ainda jantaríamos juntos. Segundo você, não tinha nada melhor pra resolver qualquer conflito do que uma boa refeição.
- Você sente falta?
- De brigar com você? É claro que sim! Eu sempre perco quando se trata de Maria, você sempre me deixava ganhar. – null bateu no ombro de null usando o seu.
- null, não é disso que estou falando.
- Se eu sinto sua falta? Todos os dias desde o dia que você entrou naquela sala de cirurgia, null. – null viu null abaixar a cabeça e continuou: - Eu sempre achei que o terceiro dia mais feliz da minha vida seria quando sua memória voltasse e nós, finalmente, poderíamos ser uma família completa. – null segurou o rosto de null, fazendo com que ele olhasse para ela. – Só que eu percebi, especialmente depois que eu te vi com Maria, que eu nunca precisei que você recuperasse sua memória, null, eu só preciso de você. Só você, null, com ou sem memória.
- Você não acha que o fantasma do nosso passado vai nos assombrar?
- O nosso passado contém, sim, muita história, mas eu não me importo em te contar tudo de novo.
- Eu não lembro do nosso casamento, null, eu não lembro do nascimento da nossa filha.
- Você não precisa se preocupar com isso, na nossa casa tem tudo guardado em vídeos e fotos. – null começou a tirar as embalagens da sacola. – Você é obcecado em documentar tudo.
- O que eu fiz pra te merecer, hein, null?
- O mesmo que eu fiz pra te merecer, null. – null sorriu de lado, fazendo com que null sorrisse largamente. – O nosso passado não é um fantasma ruim que vai nos assombrar, null. Eu entendo a sua frustação em relação a não se lembrar de tudo que vivemos, porém, para que a gente se agarraria ao passado, quando escrevemos uma história de amor muito mais emocionante da segunda vez? – null apenas encarou null enquanto ela começava a comer e antes mesmo que ele pudesse se segurar, as palavras saíram de seus lábios.
- Eu te amo, null. – null parou de comer, olhando assustada para null.
- null, você não precisa...
- Eu acho que eu sei que te amo desde o dia que eu te vi no casamento da Sophia, você passou a festa inteira tentando se esconder, chegando até atrasada pra ninguém perceber que você estava lá, e hoje eu sei que foi a sua melhor tentativa de driblar minha mãe. Eu não consegui tirar os olhos de você a cerimônia inteira, e na época eu não entendia porque eu sentia o que eu sentia, mas hoje eu tenho certeza que é porque eu posso até ter esquecido do que a gente viveu juntos, mas meu coração nunca esqueceu. – null limpou as lágrimas que caíram pelo rosto de null e continuou: - Eu te amo, null, e eu amo a nossa filha e o nosso cachorro que quase me derruba toda vez que eu apareço. Eu quero você de volta, eu quero nossa família de volta.
- Eu também te amo, null. – null abraçou null forte pelo pescoço enquanto deixava as lágrimas rolarem pelo seu rosto. Finalmente, ela podia sentir que teria sua família de volta.
- Sabe o que faria esse momento ficar ainda mais perfeito? – null se afastou de null, encostando sua testa na dela. – Se você aceitasse casar comigo.
- O quê? – null gritou tão alto que fez com que null se afastasse dela.
- Casa comigo, null.
- Eu espero que quando você me pedir em casamento da segunda vez, seja tão criativo quanto da primeira. – null tirou o celular do bolso avistando a mensagem da chefe de enfermagem. – Ai meu Deus, eu preciso ir! – null começou a se levantar, porém null a puxou de volta fazendo com que ela caísse em seu colo.
- Aonde você pensa que vai?
- Teve um acidente e eles estão precisando de toda ajuda possível, eu preciso ir para o hospital agora.
- Você quer que eu te leve?
- Não precisa, eu vim de carro. – null deu um selinho demorado em null. – Amanhã a tarde, não se esqueça, nós vamos buscar Maria na casa da amiga.
- Não tem nenhuma chance de você dormir comigo essa noite?
- Provavelmente eu vou passar o resto do dia ajudando no hospital, normalmente quando temos acidentes graves todo mundo fica até de madrugada acordado. – null se levantou e null se levantou logo depois, a puxando para um abraço. – A gente se vê amanhã quando formos buscar Maria. Tchau, null.
- Tchau, futura esposa. – null mandou um beijo para ele, que pegou e colocou no peito. null não podia conter o sorriso que brotava em seu rosto, ele finalmente ia conseguir o seu final feliz e sabia exatamente por onde começar.


null parou em frente ao endereço que Chase tinha mandado e logo avistou a casa da foto que seu amigo mandou. Olhando para o lado, ele pôde ver o carro de Chase estacionado na garagem da casa ao lado. null desceu do carro, segurando as chaves reserva que Chase lhe tinha dado; aparentemente, por segurança, eles mantinham uma chave reserva das suas respectivas casas em caso de emergências. Suas mãos suavam de maneira absurda e a cada passo que ele dava o seu coração parecia que iria pular dentro do peito. A mansão era exatamente do jeito que null imaginou que sua casa seria, no futuro quando casasse e tivesse filhos, um grande espaço na frente para os seus filhos e seu cachorro brincarem, vários quartos para os três filhos que ele imaginou que teria e uma grande garagem com seus carros favoritos. Aparentemente ele tinha conseguido tudo o que tinha sonhado, mas não tinha memória alguma disso.
Chase contou para null que null nunca conseguiu voltar à casa deles depois que ele acordou sem memória alguma do que eles viveram juntos, Antonieta era que visitava o lugar, trazia uma equipe de limpeza, pegava as correspondências e depois ia embora. Chase disse que null simplesmente não conseguia viver em uma casa cheia de lembranças de sua vida com null quando ele nem ao menos se lembrava dela. E quem era null para julgá-la? Ele mesmo tinha ignorado a vontade de bater na porta da casa de null e declarar seu amor para ela, com medo que o seu passado os assombrasse pelo resto da vida caso eles ficassem juntos de novo.
Uma visão de null em frente à casa com um sorriso enquanto acariciava sua barriga passou pelos olhos de null, fazendo com sorrisse de lado. Ele colocou a chave e girou a maçaneta, escutando seu coração nos ouvidos. null empurrou a porta e entendeu o porquê de null não conseguir nem ao menos visitar a casa que os dois tinham. Quando o lugar veio à vida com as luzes, null percebeu que cada pedaço da casa estava coberto de pedaços deles, os sapatos de trabalho de null estavam logo na entrada junto com os seus tênis favoritos e uma coleira de Sansão. null andou em direção à cozinha, onde ele encontrou um lugar no mesmo formato da casa dos pais de null, porém, com os toques especiais dela. Um calendário de mais ou menos três anos atrás estava pregado na parede com pequenos lembretes como “corrida de null”, “aniversário de null”, “consulta com a pediatra”, “cirurgia de null”, “almoço na casa de Chase e Ariella”. null viu as várias fotos dos encontros que ele teve com null ao logo dos anos, desde o primeiro encontro que eles tiveram quando null esqueceu que eles iam sair juntos, até o dia que ele a pediu e casamento no meio da pista do autódromo enquanto as suas famílias assistiam. null lembrava bem desse dia, suas mãos suavam exatamente como eles suavam agora.
null seguiu pela escada e quando abriu primeira porta a sua esquerda deu de cara com o berço de Maria. Foi impossível se segurar e logo as lágrimas desceram por seu rosto. Um flashback passou pelos olhos de null, null estava com uma barriga de mais ou menos sete meses enquanto segurava um pincel em mãos e pintava a parede.

- Eu ainda não entendi por que nós estamos pintando a parede se contratamos uma arquiteta pra fazer isso. – null disse, fazendo com que null se virasse lentamente para ele.
- Você quer ser um pai legal ou um pai careta, null?
- Um pai legal.
- Pais legais pintam as paredes do quarto da filha.
- Eu posso ser um pai legal levando-a pra dar uma volta no meu carro.
- Nem pense nisso, null! Já basta você mexer com meus nervos com as suas corridas, não leve nossa filha pra esse caminho.
- Cadê a bad girl que habita em você, null? – null abraçou null por trás.
- Se aposentou depois que deixou um certo corredor seduzi-la. – null passou os braços ao redor do pescoço dele. null sorriu de lado e lhe deu um sorriso demorado.
- Tudo bem, você venceu, mas eu vou escolher a decoração.
- Tudo menos o tema de corrida, eu te proíbo.
- Que tal astronauta?
- Eu não acho... – null parou de falar e olhou para a sua barriga.
- O que foi, null? O bebê está bem? Aconteceu alguma coisa?
- Eu acho que a nossa filha gostou do tema de astronauta, ela acabou de chutar. – null sorriu largamente.
- Está vendo, eu sempre tenho as melhores ideias!
- Pois trate de pegar um pincel e começar.
- Sim, senhora.


null olhou ao redor do quarto de Maria com a decoração que a sua própria filha tinha escolhido quando estava na barriga da mãe. Ele pôde ver que o lugar estava lotado de brinquedos e fotos, desde o nascimento de sua filha até dos seus aniversários; e em todas elas null segurava Maria no colo enquanto olhava para null como se elas fossem tudo de mais precioso que ele tinha.
Ele então saiu do quarto de Maria, guardando uma foto dos três junto dentro do bolo, e logo foi para o quarto no final do corredor, que ele sabia ser o dele com null. A essa hora as lágrimas já rolavam livremente por seu rosto, e não tinha nada que ele pudesse fazer para que elas parassem. null empurrou a porta do quarto, e a primeira coisa que ele percebeu foi que o lugar cheirava à null. O quarto era enorme, com uma cama grande demais para os dois, mas que ele sabia que não importava o tamanho, null sempre acabaria em seus braços. null andou pelo closet, encontrando algumas das suas blusas favoritas e algumas roupas de null, inclusive os seus uniformes.
null avistou a enorme televisão e uma prateleira cheia de DVDs, abriu-a e viu a sua história com null arquivada, desde o seu pedido de casamento até o dia em que ele entrou na sala de cirurgia. Ele pegou o primeiro, porque fazia sentido, colocou no DVD Player, se sentou na cama, pegou o controle e apertou o play. Entretanto, logo na primeira cena dele no meio da pista, de joelhos enquanto null chorava e sorria ao mesmo tempo, null nem precisou prestar atenção, porque o filme da sua vida passou diante dos seus olhos desde o dia em que ele viu null pela primeira vez no autódromo, carregando um saco de pipoca em uma mão e um refrigerante na outra enquanto sorria largamente, até o dia que ele a viu com Maria nos braços e desapareceu pelo corredor do hospital quando ele entrava na sala de cirurgia.
Ele lembrou do primeiro beijo que deu em null logo depois do seu segundo encontro, que tinha sido um completo desastre porque ele tinha escolhido logo o prato ao qual null era alérgica. Batatas, null, era alérgica a batatas. Ele lembrou das inúmeras vezes que procurou null nas multidões depois de qualquer corrida porque ele sabia que ela estaria sorrindo pra ele com os olhos cheios de lágrimas. Fazer null feliz tinha se tornado uma das suas metas de vida desde o dia que ele a viu sorrir para ele. Ele lembrou do dia que a pediu em casamento e ela simplesmente perguntou se ele tinha certeza já que eles dois tinham brigado na mesma manhã por conta de uma toalha molhada em cima da cama. null prometeu que qualquer vez que deixasse uma toalha em cima da cama, teria que fazer strip-tease para ela, o que fez null sorrir e fazer questão de cobrar cada toalha molhada.
Ele lembrou do dia do seu casamento, quando ele tremia desde a hora em que acordou, mas só foi ver null sorrindo para ele que seu coração se acalmou quando ele percebeu que estava casando com o amor da sua vida e eles teriam um filho juntos. null não sabia, mas null tinha achado o teste de gravidez quando colocou o lixo para fora na noite anterior, ele sabia que ela iria esperar para contar, da mesma maneira que ele esperou pra contar que tinha comprado a casa dos sonhos para eles.
Ele lembrou do dia do nascimento de Maria, quando null o xingou de todos os nomes possíveis na hora do parto, mas logo depois chorava emocionada com Maria nos braços e ainda fazendo questão de confirmar que Maria e Sansão seriam melhores amigos para sempre.
Foi então que null percebeu que desde que entrou na sua casa as lacunas da sua vida que ele tinha esquecido estavam voltando aos poucos e a única coisa que ele conseguiu fazer foi continuar chorando. O seu maior medo era nunca poder recuperar sua memória de volta, mas null tinha acalmado seu coração com a conversa que os dois tiveram mais cedo. null estava completamente satisfeito em viver o resto da sua vida sem suas memórias, contanto que fosse ao lado da sua família, mas parecia que o destino era mesmo incerto e ali estava ele, revivendo as suas antigas memórias atrelando às novas.
- null? – null olhou para a porta do seu quarto, dando de cara com seu melhor amigo segurando um taco de beisebol na mão. – O que você está fazendo aqui? – Chase abaixou o taco e entrou no quarto. – Por que você não avisou que vinha? Por que você não respondeu quando eu chamei? Eu pensei que um ladrão tinha invadido a casa, eu estava pronto pra chamar a polícia. – null apenas sorriu e andou até o seu amigo, o abraçando forte pelo pescoço. Chase demorou um pouco para reagir, porém logo o abraçou de volta.
- Que bom te ver novamente, meu amigo.
- null, você está bem?
- Nunca estive melhor. – null se afastou de Chase, limpando suas lágrimas.
- Você tem certeza?
- Tanta certeza como eu sei que você ainda não comprou o meu fardo de cerveja que prometeu quando eu ganhasse o Grand Pix de Mônaco. – Chase olhou confuso para null, mas logo seus olhos se arregalaram.
- Você lembrou? – Chase segurou null pelos ombros. – Você lembrou de tudo?
- De absolutamente, meu amigo.
- Como?
- Eu não faço ideia, mas isso é conversa pra outra hora, agora eu preciso ver null.
- Pode deixar que eu fecho tudo, você pode pegar a chave comigo depois.
- Muito obrigado, Chase, eu senti sua falta. – null abraçou Chase mais uma vez e saiu correndo em direção ao seu carro.
null tentou obedecer às leis de trânsito inúmeras vezes, mas parecia que todos os sinais estavam ficando vermelhos antes dele passar, os carros pareciam andar mais lentos e tudo parecia estar contra a chegada dele ao hospital. Quando ele chegou, estacionou na primeira vaga que achou e desceu do carro quase na velocidade da luz. Ele nem ao menos se importou em cumprimentar as pessoas que falavam com ele no caminho, sabia exatamente onde encontrar null e nada nem ninguém iria impedi-lo.
Ele saiu do elevador corredor e procurou por null pelos corredores do seu andar, andou a passos largos em direção à sala de convivência das enfermeiras e quando abriu a porta deu de cara com o diretor do hospital, Antonieta, Rick e um homem engravatado que ele nunca viu na vida.
- null, o que você está fazendo aqui? – Antonieta limpou as lágrimas enquanto andava até ele.
- Eu estou procurando por null, onde ela está?
- null, eu acho melhor você sentar.
- Antonieta, por que eu me sentaria? Cadê null? Eu preciso vê-la agora.
- Meu jovem, nós precisamos que você se acalme. – O homem do qual null não conhecia disse.
- E quem é você?
- Eu sou o detetive Stokes.
- Detetive? O que está acontecendo?
- null foi sequestrada, null. – null se virou para trás, dando de cara com sua mãe.


Capítulo 12 - Parte II



null sentiu suas pernas bambas e logo em seguida suas costas bateram no sofá atrás dele. Sua mente parecia a própria corrida Mônaco: a cento e cinquenta quilômetros por hora enquanto seu coração batia rápido dentro do peito, tanto que ele podia senti-lo nos ouvidos. null foi sequestrada, null foi sequestrada, null foi sequestrada, se repetia como uma música irritante que ele detestava, mas que não conseguia tirar da cabeça. De todas as coisas que null achava que poderia acontecer no pouco tempo que recuperou a memória, perder sua esposa pela terceira vez não estava em seus planos.
Apenas o pensamento de que ele poderia perder null fazia com que seu coração apertasse dentro do peito, e como a mente era o seu pior inimigo em momentos de tensão, ele lembrou da primeira vez que ele e null brigaram sério com direito a gritos e lágrimas de ambos por algum motivo bobo do qual ele não lembrava no momento, porém a imagem de ver null indo embora nunca saiu da sua mente. Ele não iria perdê-la outra vez, não quando eles estavam tão perto de voltarem a ser uma família.
null voltou a si a ponto de ver Rick segurando Antonieta, que tentava a todos os custos chegar em sua mãe enquanto seu pai protegia a mesma.
- O que você sabe, Cassandra? – Antonieta falou enquanto Rick a abraçava pela cintura. – E não venha me dizer que você não sabe o que está acontecendo, eu tenho certeza que você sabe do que se trata o sequestro da minha filha.
- Se ela tivesse ficado longe de null como eu mandei, nada disso teria acontecido. – Cassandra gritou de volta. – Mas o que esperar de alguém que foi criada por uma hipster como você, só poderia ser outra revoltada.
- Ofensas não te caem bem, querida Cassandra, não quando nenhum dos seus filhos não aguenta ao menos ficar no mesmo recinto que você. Pelo menos a minha filha me ama, você pode dizer o mesmo? – Antonieta se soltou dos braços dos seu marido, arrumando a sua roupa.
- Acredito que estamos todos com as emoções à flor da pele, que tal nos acalmarmos? – Stokes disse enquanto direcionava Antonieta para o lado oposto da sala.
- Como você espera que tenhamos calma quando alguém sequestra null? – null disse, se levantando. – Como isso aconteceu? Faz poucas horas que eu a vi, ela saiu do autódromo diretamente pro hospital, disse que teve um acidente grave e precisava vir correndo. Eu sabia que deveria ter vindo com ela, eu não deveria tê-la deixando sozinha. Meu Deus, isso é culpa minha! – null andava de um lado para o outro e continuou: - Por que alguém faria isso? null nunca fez mal a ninguém, ela não brigou com ninguém, ela sempre teve um ótimo relacionamento com todo mundo.
- O sequestro de null foi apenas dano colateral.
- Dano colateral? Como assim? – null viu Stokes olhar para Cassandra que desviou o olhar para suas mãos. – Foi você, não foi, Cassandra? Você tem alguma coisa a ver com isso, não tem?
- Eu não sei do que você está falando, null. Por que diabos eu sequestraria sua ex-esposa? Não é como se eu gostasse dela.
- Acredito que seja melhor abrir o jogo, senhora null.
- Vargas. Meu sobrenome é Vargas.
- Que se dane seu sobrenome! – null andou a passos largos em direção à sua mãe, fazendo com que ela se assustasse. – O que você fez com null? O que você sabe sobre o sequestro dela?
- Você fale direito comigo, null, eu ainda sou sua mãe.
- Se eu me lembro bem, eu te disse que eu nunca mais te chamaria de mãe se você maltratasse null mais uma vez. – Cassandra franziu o cenho antes de arregalar os olhos.
- Você lembrou? Como...
- Sem a sua ajuda, é claro. Eu lembro de tudo, Cassandra.
- null, meu filho... – Cassandra tentou se aproximar, mas null se afastou.
- Você não acha que causou sofrimento demais não, Cassandra? – null sentiu as lágrimas rolarem por seu rosto. – Todos os anos que eu e a null estávamos juntos, você sempre a tratou mal e sabe quantas vezes ela me falou sobre o assunto? Nenhuma vez! Ela apenas dava de ombros e fingia que nada acontecia, porque sabia que podia abalar nosso relacionamento. Então, pelo menos uma vez na sua vida, mostre consideração por alguém que não seja você mesma e conte o que sabe.
- Eu nunca quis que as coisas tomassem as proporções que tomaram. – Pela primeira vez na vida, null viu sua mãe completamente vulnerável e derrotada. – Sofia sempre foi apegada ao seu pai enquanto você sempre foi muito apegado a mim, eu te vi crescer, amadurecer, realizar seus sonhos, mas eu nunca imaginei que você se apaixonaria, especialmente quando nenhuma mulher segurava sua atenção por muito tempo, até, é claro, você conhecer null. – Cassandra levantou o olhar, limpando as lágrimas. – Eu sentia, a cada segundo que você passava com ela, que você estava deslizando por meus dedos e eu estava te perdendo, que você não precisava mais de mim e eu estava sendo deixada de lado. Eu sempre fui muito cuidadosa em relação a null, eu não podia bater de frente diretamente com ela, porque eu podia te perder pra sempre então eu fazia das maneiras mais sutis pra você não perceber. Até que um dia você percebeu, Sofia fez questão de contar tudo que sabia e você me deu um ultimato: ou eu tratava null bem ou nossa relação acabava naquele momento. Eu fiquei tão furiosa com você, como é que você podia tratar assim a sua própria mãe? Como é que você podia me trocar por ela? Você não me deu escolha, null.
- O que você fez, Cassandra?
- Eu conheci Lars em uma das suas corridas, nós ficamos muito próximos e ele disse que podia me ajudar. Era pra ser só um pequeno acidente, algo pra assustar null pra fazer com que ela fosse embora, mas ela ficou mesmo com a possibilidade de você não correr mais. E então você teve que fazer aquela cirurgia e eu pensava que tudo estava perdido. Ela ficou ao seu lado o tempo todo e vocês ainda tiveram uma filha. Só que parecia que a sorte estava do meu lado e você perdeu a memória, null assinou aquela procuração então não podia ficar perto de você e as coisas voltaram ao normal novamente. Tudo estava bem.
- Como é que você pode dizer que está tudo bem? – null se levantou, furioso. – Eu quase morri por sua causa! Duas vezes, devo ressaltar! Ou você acha que eu entrei naquela sala de cirurgia sem saber dos riscos que eu podia não acordar? – null sentiu as lágrimas rolarem por seu rosto. – Como é que você teve coragem de sabotar o meu carro? Como é que você fez isso comigo, mãe? Como é que você tem coragem de dizer que me ama depois de tudo que você fez?
- Tudo que eu fiz foi por amor! – Cassandra se levantou, e continuou: – Eu só queria que você fosse meu. Só meu!
- Isso não é amor, é obsessão. Você precisa de ajuda, Cassandra, você precisa de tratamento e, acima de tudo, precisa ficar longe de mim.
- null...
- Eu não quero te ver nunca mais, Cassandra, não depois do que você fez.
- Você não pode fazer isso comigo, null. Eu sou sua mãe!
- Honestamente? Eu não sei quem é você.
- Vamos, Cassandra, deixe null pensar um pouco. – Camilo passou o braço pelos os ombros de sua ex-mulher, tirando-a da sala de espera. null se deu por vencido pela segunda vez no dia, sentindo o peso do mundo nos seus ombros: o sequestro de null era sua culpa.
- Eu sei o que você está pensando, null, e pode ter certeza que nada disso é sua culpa. – Antonieta andou até null, o abraçando de lado. – Sua mãe precisa de ajuda e de tratamento, quem sou eu pra dar algum diagnóstico, mas o que ela fez não é normal. – Antonieta se virou para o detetive e perguntou: – Se vocês sabem do envolvimento de Cassandra, quer dizer que a investigação está acontecendo há algum tempo, certo?
- Desde que null sofreu o acidente, para falar a verdade, Lars está sob investigação quando foi suspeito de causar o acidente de outros competidores ao longo dos anos. Ele é dono de um sistema de apostas no mundo da corrida, porém ele começou a perder dinheiro nas competições e decidiu colocar a mão na massa e não deixar nas mãos da sorte.
- Como Cassandra entra nisso?
- Sua mãe o denunciou, nós oferecemos proteção, mas ela recusou, então é claro que nós sabíamos que ela estava envolvida de alguma maneira. Há alguns dias, descobrimos que ele a estava chantageando em troca de dinheiro, mas ela se recusou a ceder às chantagens. Lars, que não é bobo nem nada, disse para ela que teriam consequências, então ele sequestrou null a fim de tirar dinheiro de vocês.
- Como vocês sabem de tudo isso?
- Nós interceptamos os telefones da sua mãe, é claro.
- E null? O que vocês estão fazendo para achar null?
- Bem, null, nós não precisamos fazer nada.
- Do que você está falando? – null se levantou. – Como assim vocês não vão fazer nada?
- null está no posto rodoviário da saída dois, aparentemente, sua esposa é mais esperta do que todos imaginávamos.
- null está bem? Ela está segura? – Antonieta sentiu as lágrimas rolarem por seus olhos.
- Sim, nós podemos ir pra lá agora.
- Por favor, nos leve até ela.


2 horas atrás...


null estava irritada, extremamente irritada. Muitos em seu lugar, depois de ter sido colocada em um carro contra a sua vontade, amarrada pelas mãos e tendo uma arma apontada a sua cabeça, estariam com medo, mas null simplesmente não podia acreditar na incompetência dos seus sequestradores. Primeiro, apenas um deles tinha uma arma de verdade, enquanto o outro tinha uma arma de brinquedo da qual null podia ver a diferença, pois já tinha visto nas aulas de krav maga às quais tinha ido com as outras enfermeiras logo depois que null perdeu a memória. Ela precisa exalar todos os sentimentos que ela tinha dentro de si que não conseguia trabalhar na terapia de alguma maneira.
Um dos primeiros erros dos sequestradores foi apenas jogar o celular de null pela janela, esquecendo-se do pager que ela tinha dentro do bolso do seu uniforme. Ambos os sequestradores não sabiam, mas null tinha mandado um pedido de ajuda depois de ativar o sistema de gps que nele tinha. Graças a Deus, doutor Borges ainda era fã das antigas tecnologias e não acreditava no celular como uma ferramenta de trabalho, tendo optado por uma comunicação mais profissional usando o bom e velho pager.
- Posso perguntar novamente por que estou sendo sequestrada? – null escondeu o pager dentro do banco de trás depois de colocá-lo no silencioso. – Pelo o que eu saiba, eu não estou devendo dinheiro a ninguém.
- Você é apenas um meio para um fim, null, nosso assunto é com outra pessoa.
- Então vocês me sequestraram pra chantagear alguém? Posso perguntar quem? Vocês estão com a pessoa certa mesmo? – null viu a paisagem fora do carro mudar aos poucos, ela sabia que em alguns minutos estaria entrando na avenida principal pra sair da cidade. A essa altura do campeonato todos já deviam saber o que aconteceu com ela. null estava contando com o compromisso das suas colegas em relação aos seus pagers; se bem que, se tivessem uma emergência no hospital, era capaz do seu pedido de socorro ser deixado de lado. – O timing de vocês no meu sequestro foi péssimo, o hospital precisa de toda ajuda possível.
- Espero que você não se importe, mas nós precisamos contar uma pequena mentira pra você.
- Então não tem nenhum acidente grave? – Um dos sequestradores deu uma gargalhada e balançou a cabeça.
- Outros na sua situação já estariam pedindo socorro, implorando pela a vida e oferecendo dinheiro em troca da sua vida.
- Eu fui treinada para controlar minhas emoções em situações de estresse. E, surpreendentemente, vocês são tão ruins assim.
- E agora? – Um dos sequestradores apontou a arma para ela, para sua sorte, aquele que estava com a arma de brinquedo. – Você não acha que somos tão ruins assim?
- Vocês não têm cara de serem bandidos de baixo calão, suas roupas são muito elegantes, assim como seus sapatos e os modelos das suas armas. Não acho que vocês me matariam apenas por matar, não antes de conseguirem o que vocês querem. – null viu um leve sorriso se formar no rosto de um dos sequestradores. – Dinheiro, eu sei o que vocês querem, é dinheiro.
- Na verdade, nós queremos algo do seu marido.
- null? O que vocês querem com null?
- É algo simples, mas que requer muito esforço da parte dele.
- O que null pode oferecer, já que vocês não querem dinheiro? – null perguntou para os seus sequestradores confusos, mas logo depois uma luz acendeu na sua cabeça. – As corridas. Vocês querem que null perca alguma corrida?
- Aparentemente, você é muito mais que um rostinho bonito.
- Eu não entendo, null é muito bom, porque vocês simplesmente usam o talento dele ao seu favor.
- Bem, null, nem todo mundo é fã do seu marido e a monopolização dos pódios nas corridas pelo seu marido não é bom pros negócios.
- Mas vocês têm que admitir, ele é muito bom. – Eles não responderam, mas Amélia pode ver que um deles sorriu de lado.
Ela viu que eles seguiram pela estrada chegando a uma das saídas da cidade, null sabia que precisava pensar em alguma coisa pra sair dessa situação logo e voltar para casa, para seu marido e para sua filha, agora o quê, ela não sabia ao certo. null não era o tipo de pessoa que desistia fácil, todos os dias desde que seu marido entrou no coma, ela nunca desistiu da ideia que um dia ele acordaria e a procuraria, da mesma maneira quando null perdeu a memória, ela sabia, ou pelo menos esperava, que ele se lembrasse dela.
Foi então que null o viu, brilhando como o próprio sol e a alguns metros de distância, um posto da polícia rodoviária lotado de policiais. Ela viu seus sequestradores ficarem tensos, porém, ela esperava que a reza deles não se comparasse nenhum pouco com o poder de reza dela. Eles aceleraram o carro e null pode sentir seu coração bater nos ouvidos, aparentemente, alguém lá em cima estava ao seu lado porque quatro policiais se meterem no meio do carro pedindo para que eles encostassem.
Os policiais avaliaram os documentos assim como andaram ao redor do carro, null sabia que precisava fazer alguma coisa e dar a sua melhor atuação de toda a sua vida então ela segurou a sua barriga e gritou.
- Meu Deus, que dor! – null se moveu no banco de trás, fazendo com que o policial olhasse para ela. – Ai meu Deus, que dor insuportável! Pelo amor de Deus alguém chama um médico.
- Senhorita, você está bem? – O policial perguntou, mas antes que eu pudesse responder, um dos meus sequestradores respondeu.
- Está sim, é só uma dor de barriga.
- Eu acho que é apendicite. Ai meu Deus, como dói!
- Não é apendicite, eu tenho certeza.
- Eu sou enfermeira então sei como é. É apendicite, sim! – O policial olhou para ela, depois olhou para os homens dentro do carro.
- Senhorita, eu preciso que você saia do veículo. – O policial abriu a porta do carro.
- Não é necessário, nós a levaremos para o hospital. – Um dos sequestradores falou e a única coisa que a null conseguiu fazer foi gritar mais alto de dor.
- Nós podemos ajudá-la, temos um médico de plantão que pode aliviar a dor até que ela faça o procedimento necessário. – Outro policial parou ao lado de seu parceiro, estendendo a mão para ajudá-la a sair do carro. null podia sentir o gostinho de liberdade e uma vontade imensa de chorar quando colocou seus pés para fora daquele carro. Colocando as suas melhores performances em ação, ela se abaixou, segurando a barriga, enquanto o policial passava o seu braço por seus ombros enquanto a levava em direção à parte interna do posto.
null olhou para trás vendo seus sequestradores serem interrogados pelos policiais e foi impossível esconder o sorriso de lado que brotou em seus lábios. Agora ela sabia que não deveria ter virado para trás e muito menos sorrir porque logo depois os sequestradores abriram a porta do carro apontando suas armas para ela. Aconteceu tudo tão rápido que ela nem ao menos teve tempo de registrar em sua mente, a única coisa que ela sentiu foi uma dor e queimação no braço enquanto o corpo do policial ao seu lado caiu por cima do seu.
null escutou gritos, barulhos de armas que ela só tinha escutado em filmes, além do movimento de mais policiais saindo do posto, mas a única coisa que ela conseguia fazer era sentir as lágrimas rolarem por seu rosto enquanto ela pensava na sua família. Ela pensou em seus pais e como eles foram a alicerce necessário para ela e Maria depois do que aconteceu com null; pensou em Camillo e Sophia, que nunca a fizeram perder as esperanças que null se lembraria da sua vida e por último ela pensou em null e nos dois anos que passou sofrendo longe da sua família. null estava cansada de deixar suas inseguranças falarem mais alto, ela iria lutar pela sua família, e, dessa vez, ela conseguiria o final feliz que ela sabia que merecia.
- Senhora null, você está bem? – O policial saiu de cima de null ajudando-a a levantar.
- Como você sabe meu nome?
- A sua foto apareceu em um alerta de pessoas sequestradas no nosso sistema, um de nossos policiais a reconheceu com a esposa do corredor null null. – O policial a ajudou a se sentar dentro do posto policial e logo um médico apareceu ao seu lado. – Nós vamos pegar o seu depoimento enquanto nosso médico te examina, ok? – null apenas conseguiu assentir, sentindo as lágrimas caírem por seu rosto. – Você está a salvo, senhora null, nós vamos avisar aos seus familiares.
Enquanto o médico estava cuidado do ferimento que a bala de raspão deixou em seu braço, o policial interrogava null, desde os primeiros acontecimentos quando os sequestradores a pegaram na porta do hospital, ele então explicou que eles faziam parte de uma gangue que apostava em corridas e tentavam ao máximo manipular os resultados. null sentiu seu coração apertar dentro do peito quando ele disse que várias autoridades estavam à procura deles nos últimos dias, depois que tiveram a confirmação que eles causaram acidentes com diferentes corredores, inclusive seu marido. null queria perguntar mais, porém, logo que o médico terminou de enrolar a atadura em seu braço, ela viu a porta da frente do posto bater na parede ao lado dela e null entrar olhando freneticamente para os lados. Ela sabia que não deveria estar reparando em tal detalhe, mas null nunca viu seu marido tão incrivelmente atraente quanto agora.
Seus olhos pairaram sobre ela e logo ele estava andando em sua direção e a abraçando em um abraço esmagador.
- Eu pensei que eu nunca mais ia te ver.
- Está tudo bem, null.
- Você foi baleada? – null disse, se afastando dela e olhando para o seu braço. – Como é que vocês não dizem que minha esposa foi baleada?
- null, eu estou bem, foi só de raspão.
- Eu não estou nem aí! O mínimo que eles poderiam fazer depois do fiasco de não conseguir te proteger.
- null...
- Meu Deus, null, eu juro que vou contratar um segurança e você não vai andar desacompanhada pra canto nenhum a partir de agora.
- null, eu preciso te falar uma coisa.
- Eu juro que um dia eu vou ter um ataque do coração de tanta preocupação com você.
- null, você não está me escutando. – null segurou o rosto de null, fazendo com que ele parasse de falar e olhasse para ela. – Eu preciso te falar uma coisa.
- O que de tão importante você tem pra falar em um momento como este, null Reinaldo null? – null riu de lado e respondeu:
- Eu aceito. – null passou os braços pelo pescoço de null, o puxando para perto. – Eu aceito me casar com você.
- Mas eu pensei que você quisesse outro pedido, a lá digno de foto de Pinterest.
- Não, null, eu só preciso de você.
- Você tem certeza?
- Pra falar a verdade, eu nem preciso de casamento, eu só preciso de você, da Maria, do Sansão e da nossa casa. Só nós três juntos, pra mim, já tá de bom tamanho. - null segurou o rosto de null e selou seus lábios nos dela, enquanto ela passava os braços por seu pescoço, ele a abraçava pela cintura como se nada no mundo pudesse separá-los. Os dois escutaram algum policial tossir alto e se tocaram que sua demonstração de afeto estava ficando um pouco exagerada para os olhos do público ao seu redor.
null e null saíram sorrindo do posto, indo em direção ao carro de null, os policiais apenas acenaram enquanto eles passavam soltando comentários sobre as corridas de null e parabenizando null pela ideia genial.
- Ideia genial? O que você de tão genial pra conseguir fugir?
- Eu fingi que estava com apendicite.
- Mas você removeu seu apêndice antes da gravidez de Maria, foi assim que você descobriu que estava grávida.
- É, mas eles não sabiam disso. – null riu de lado, e logo parou de andar, fazendo com que null se virasse para ela com um sorriso no rosto. – Como você sabe disso?
- Ora, null, da mesma maneira que eu sei absolutamente tudo sobre você. – null começou a andar em passos lentos até ela. – Eu sei que você esqueceu completamente do nosso primeiro encontro por conta das suas provas; do dia que eu te chamei pra me ver correr pela primeira vez e você me prometeu uma noite inteira de perguntas sobre você, depois de eu ter reclamado do fato de você não se abrir comigo, mas mesmo saindo da sua zona de conforto, você fez, com um sorriso no rosto, enquanto eu me apaixonava mais e mais por você. – null passou os braços pela cintura. – Eu lembro do dia em que eu te pedi em casamento no meio da pista, de você andando até mim no altar, da gente pintando o quarto de Maria e de você me xingando. Hoje eu sei que minha cabeça pode ter te esquecido, mas meu coração nunca esqueceu. – null abraçou null forte pelo pescoço e logo colou seus lábios nos deles, sentindo toda a saudade exalar na maneira à qual os dois se apertavam em seu abraço e seus lábios se moviam um contra o outro.
- Você sabe que eu não me importaria, certo? Se você tivesse ou não recuperado a memória, não tinha nada nesse mundo que fizesse nossa família ficar separada.
- Bem, minha querida futura esposa, pra falar a verdade, eu também não me importaria, porém tem um detalhe muito importante do qual eu nunca me perdoaria se esquecesse. – null olhou confusa para o seu futuro marido que apenas sorriu de lado e sussurrou em seu ouvido:
- Que você prometeu cuidar de mim usando uma roupa de enfermeira que não deixa nada pra imaginação. – null olhou para null e logo soltou uma gargalhada.
- Você não existe, null.
- Não só existo, como sou completo quando estou com você. - null deu um selinho demorado em null e disse: - Vamos para casa.
- Finalmente vamos para casa.


Epílogo


Se null soubesse que o remédio para curar a amnésia de null era amá-lo como ela sempre fez, ela teria se jogado nos braços dele no momento que ele acordou do coma. Entretanto, a vida tinha as suas maneiras inusitadas de criar obstáculos no caminho, nos quais você tropeçava, cambaleava e uma vez ou outra conseguia driblar, até conseguir chegar no seu destino. Hoje null sabia que tudo que aconteceu com null fazia parte da sua épica história de amor, a qual só poderia ser contada nos livros de romance que ela tinha na estante de sua casa.
Logo depois do incidente com os sequestradores, null e null se mudaram para a sua antiga casa ao lado de Ariella e Chase, Maria chegou da escola no mesmo dia e se jogou nos braços do seu pai, enquanto null chorava como um bebê. Nem null ou null precisou contar a verdade para Maria, a garotinha tinha entendido perfeitamente o que estava acontecendo e as palavras “Nós sentimentos sua falta, pai.” rolaram por seus lábios fazendo com que null chorasse ainda mais. Assim, os três e Sansão se mudaram para a sua antiga casa no dia seguinte.
null, que não era boba nem nada, fez cada minuto em família entre eles valer a pena. Agora que null estava de folga e ela tinha tirado férias do hospital, os dois puderam construir uma nova vida no lugar que eles chamavam de casa. null não se importou nenhum pouco com a história de casamento, ela já tinha a sua família de volta e pra ela não tinha nada no mundo que fosse mais importante do que o que eles tinham juntos. null, pelo contrário, só queria levar a sua esposa para o altar mais uma vez, mesmo ela insistindo que eles já estavam morando juntos, já tinham uma filha, sem se importar com casamento, quando o que eles já tinham era perfeito. Então null fez sua missão: pedir null em casamento a todo momento que ele tivesse vontade.
O primeiro pedido aconteceu no meio da cozinha enquanto null fazia o jantar, o segundo quando os dois estavam comemorando o aniversário de null, o terceiro quando os dois assistiam uma nova animação com Maria e Sansão dormindo no sofá ao seu lado. Durante cinco anos, null nunca disse não aos pedidos de null, da mesma maneira que ela nunca disse sim, ela apenas sorria de lado e continuava com o seu dia, mesmo null fazendo questão de pedi-la nos momentos mais inoportunos. Até que, um dia após o aniversário de quatro anos de Maria, null finalmente aceitou o pedido de null, da mesma maneira que o primeiro aconteceu: os dois fazendo café da manhã no meio da cozinha.
E agora os dois se encontravam rodeados pela família, celebrando o casamento de null e null.
- Boa noite a todos. - Maria disse no microfone, fazendo com que todos olhassem para ela. null e null estava sentados na mesa enquanto o jantar estava sendo servido. - Depois de cinco longos anos, minha mãe, finalmente, aceitou os inúmeros pedidos de casamento do meu pai. - Todos os convidados riram, enquanto null abraçava null de lado. - A jornada foi longa e, como toda épica história de amor, a deles precisa ser contada. - Maria juntou todos os seus desenhos em uma pasta, e, assim que ela começou a escrever, decidiu continuar a história que sua mãe contava todas as noites depois que seu pai perdeu a memória.
- “Era uma vez, uma princesa, que por muitos anos andava pelos cantos do seu palácio tristonha, porque estudava demais e não conseguia fazer as coisas que gostava. Até que um dia ensolarado, o seu pai, o rei, a levou para o seu lugar favorito: a corrida de cavalos. A princesa adorava as corridas e essa era extremamente especial, porque o seu corredor favorito iria participar, o príncipe encantado. A princesa não conheceu o seu cavaleiro favorito naquele dia, mas ela sabia que ele era diferente, porque fazia coisas estranhas no seu coração. Dias depois a princesa foi para um baile, ela dançou a noite toda com sua amiga, que ficou completamente tonta, e quando finalmente ela estava perto do príncipe, acabou desmaiando, mas não sem antes chamá-lo para um passeio. A princesa e o príncipe se tornaram inseparáveis, os dois iam a passeios, andavam de barco, andavam até de cavalo, dançavam a noite inteira em bailes, e o que ambos sentiam só vinha crescendo dentro dos seus corações. O príncipe viu que não podia mais viver sem a princesa e em uma noite estrelada, no meio de uma pista de corrida, ele a pediu em casamento para que eles ficassem juntos para sempre. E quando eles, que não poderiam ficar mais felizes, tiveram uma pequena princesinha, sua felicidade se tornou completa. Os três eram a família perfeita, entretanto, o príncipe, sendo um cavalheiro nobre, precisou defender seu posto como melhor cavaleiro e acabou sofrendo um acidente grave. O príncipe desapareceu na sua longa jornada e ainda não tinha encontrado seu caminho de volta, mas a princesa, agora rainha, junto com sua filha, continuam a esperar que o príncipe achasse o seu caminho de volta. - Maria levantou os olhos, dando de cara com o sorriso no rosto do seu pai e lágrimas rolando pelo rosto de sua mãe. - Mas como qualquer história épica de amor, a rainha deu de cara com o príncipe no primeiro baile que ela foi em anos, os dois dançaram e mesmo que ele não se lembrasse do que eles viveram juntos, o seu coração o guiava em direção a ela. A rainha, guardando o seu coração, tentou fugir, mas como um dos melhores e mais rápidos corredores do reino, o príncipe ficou logo atrás, tentando de todas as formas mostrar à rainha que seu coração era dela, da mesma maneira que o dela era dele. Os dois se desencontraram no caminho, nenhuma história de amor é contada sem os obstáculos da vida, porém, se tem uma coisa que ambos aprenderam, é que com as coisas do coração não se brinca, e hoje eles podem afirmar com todo a certeza desse mundo que o amor é a lembrança que nem mesmo a mente pode esquecer. Fim!


FIM.



Nota da autora: Em algum momento da minha vida eu vi, escutei ou li que a vida é uma montanha russa da qual você pode se preparar pra próxima curva, mas nunca está preparado o suficiente pra enfrentar o que vem pela frente. Então aqui estou eu, terminando uma das histórias que me fez crescer como escritora. Posso admitir que a maior parte do tempo eu não sabia o que fazer, como também eu sabia o que ia acontecer, mas nunca saía do jeito que eu imaginava. Reminiscência foi a minha montanha russa e eu não mudaria nada nessa história porque o jeito que ela se desenvolveu, carregada de sentimentos, especialmente os que a gente ignora no nosso dia, ela termina com uma sensação de dever cumprido, coração quentinho, sorriso no rosto, e perfeita do jeito que eu nunca imaginei que ela seria. Eu queria agradecer primeiramente a Mia por ter betado essa história maravilhosa, você foi luz! E também a todas as pessoas que leram Reminiscência ao longo desses anos. Eu espero que vocês tenham gostado dessa montanha russa que foi Reminiscência e estejam lendo o final com um sorriso no rosto da mesma maneira da qual eu o escrevi. Muito obrigada pelo apoio durante todos esses anos e eu sei que eu sou uma autora fantasma, mas eu realmente aprecio de vocês tirarem um tempo dos seus dias corridos para dar uma chance para uma das minhas histórias. Muito obrigada do fundo do meu coração.



Nota da beta: "Então fez a única coisa aceitável a se fazer enquanto se encara o amor da sua vida: andou a passos largos até ela, segurou-a pelos ombros e lhe tascou um beijo digno de cinema." COMO PODE UMA SIMPLES FRASE TER FICADO TÃO BOA? SKJDSDKJS EU AMEI ISSO AQUI!!!!!!!!! 😭 Esse final foi repleto de emoções, meu Deus! Adorei ver o Nate enfrentando a mãe dele. Finalmente o bichinho teve a chance de se lembrar de quem é de verdade. As lembranças voltando foi TÃO LINDO! Me emocionei junto vendo ele se lembrar da própria história enquanto fazia um tour por seu passado através da casa deles. Chorei MUITO com esse final. Ver a Maria recitando a história dos pais através do conto de sua mãe foi o chef kiss pra essa obra de arte. Sempre tive curiosidade de ouvir a história da princesa e do príncipe e ver os detalhezinhos dela bem no final foi emocionante demais. Robins, quero que saiba que você é uma autora INCRÍVEL. Betar esta história me fez conhecer o seu trabalho e ver o quanto você é talentosa. E como escreve BEM! Não me conformo! Hahahaha. Obrigada mesmo por ter me dado essa chance de entregar sua história ao FFOBS. Foi um prazer imenso acompanhar tamanha história de amor. Você arrasa.

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