Última atualização: 22/01/2021

Capítulo 17

— Amiga! Aí está você! Venha apagar a vela comigo! — Fui até ela, ainda com os olhos vidrados em Miguel, e assim que me aproximei senti meu estômago se revirar por estar tão perto do homem que invadiu minha casa e me fez mal.
Por incrível que parecesse, o fato dele querer tanto tirar de nós pesava mais na balança do que o empurrão que levei naquela noite.
Um covarde. Miguel era um covarde. Fez tudo o que fez a Grace, a largou grávida, depois a perseguiu contribuindo para o risco de sua gravidez, tornando-a conturbada, e nunca arcou com as consequências dos seus atos. Eu nunca iria descobrir o que foi que Grace viu naquele homem para chegar ao ponto de ir para cama com ele. Seu olhar era sombrio, sempre foi, Miguel jamais demonstrou ter boas intenções. Talvez ele tenha se mostrado tentador para Grace com aquela postura de bad boy. Era tudo o que Margot jamais aprovaria para sua filha e aquilo deve ter atraído a atenção dela.
Infelizmente eu teria algo em comum com minha sogra e não permitiria que ele tocasse em um fio de cabelo de . Só por cima do meu cadáver! Como se já não bastasse todo o estrago causado, ainda estava ali, usando Annelise para me atazanar e impor sua presença em minha vida.
— O que está fazendo aqui? — disse entredentes, assim que junto de Fanny, Anne se virou para a mesa a fim de cortar o bolo.
Lhe agarrei pelo antebraço, guiando-o para um canto daquele camarote. Estava cega de raiva, nem ao menos percebi que tinha me aproximado o bastante ao ponto de facilitar caso Miguel tentasse me fazer mal. A questão era que eu estava farta dele, e não seria como Grace que hesitou em denunciá-lo e ferrar com a vida dele.
Se Miguel insistisse em me perseguir ou tentar se aproximar da minha filha eu iria até o fim, faria de tudo para colocá-lo bem longe de nós.
— Então você é a famosa ! — Puxo o próprio braço com força, porém mantendo o sorriso sínico no rosto. — Anne não deve ter falado muito sobre mim, não é? Eu pedi segredo. Queria que fosse uma surpresa.
Ele tinha manipulado Anne para que ela fizesse toda aquela merda de suspense sobre sua identidade, se aproveitado da fragilidade emocional que ela tinha em relação a homens e era visível em suas redes sociais, tudo para poder chegar até nós.
Lhe soquei o peito repetidas vezes, sentindo o ódio me consumir por inteira e lágrimas transbordarem pelos olhos.
— Escuta aqui, seu filho da puta, acho melhor você ir embora e nunca mais se aproximar de mim! — hasteei o dedo em seu rosto num tom de ameaça. — Eu tenho um boletim de ocorrência contra você e não hesitarei em fazer quantos forem necessários para te fazer desaparecer da minha vida. — minha voz saiu trêmula devido ao meu nervosismo, o coração palpitava, eu já não conseguia controlar o que sentia.
? O que está acontecendo aqui? — Respirei fundo, fechando meus olhos com força, ainda com as mãos agarradas na gola de sua camiseta. — Largue ele! — A loira veio até nós, tirando-me de perto dele.
— Está tudo bem? Ele te fez algo? — Tiffany interviu, me pegando pelos ombros preocupada.
Anne me encarava boquiaberta, provavelmente se perguntando que bicho tinha me mordido. Acho que nenhuma das minhas duas amigas jamais esperou me encontrar numa situação daqueles com outro homem que não fosse .
Surpreendentemente, eu percebi que o ódio que sentia por virava um amor fraternal ao lado do que Miguel me despertava.
— Sim! Ele me fez algo. — Afirmei, encarnado-o atrás de Anne, parecendo assustado com minha agressividade. Ele e eu sabíamos bem quem era o agressivo ali.
E se eu estava agindo daquela forma, foi porque tive motivos.
— Lembram-se daquele meu machucado no rosto? Que eu disse que tinha apenas batido a cabeça num móvel? Foi ele! — Tiffany levou as mãos a boca assustada.
e eu tínhamos decidido não contar a ninguém além de Amélia sobre Miguel, qualquer um que se envolvesse poderia correr perigo. O modo como Miguel ameaçou Grace tinha nos provado que ele sabia como ninguém como infernizar a vida de alguém.
Mas como aparentemente aquilo foi inevitável, era a hora de contar as meninas. Até mesmo para alertá-las. Principalmente Annelise, que estava namorando aquele traste.
— Assim como também foi ele quem engravidou Grace a ameaçou a gestação inteira e agora quer tirar de nós!
— Vou lhe dar um preço, vocês pagam e eu desisto. — Avancei em sua direção sentindo o sangue ferver.
Aquele desgraçado estava mesmo tratando como uma mercadoria? Lhe soquei o nariz e fui afastada por um segurança, que me tirou do chão numa facilidade absurda e me colocou para fora do camarote, sendo seguido pelas minhas amigas desesperadas.
— Me coloque no chão seu brutamontes!
Se eu pudesse batia mais, me debatia nos braços do armário vestido de terno até que finalmente fui solta, já no meio das pessoas dançando na ponta da escadaria. Avancei novamente, cega, doida pra subir aqueles degraus, ir ao encontro de Miguel novamente e terminar o serviço que comecei no rosto dele. Porém aquele gigante se meteu na minha frente de imediato.
— Se arranjar mais confusão irá para o olho da rua! — Sua voz grave berrou próxima de meu rosto, fazendo-me esbravejar antes de tomar fôlego para xingá-lo e explicar o motivo de ter socado a cara daquele infeliz.
— Está tudo bem? — O bonitinho que eu estava beijando praticamente brotou do chão no meio da confusão. Arregalei os olhos ao perceber que nós estávamos nos beijando em público e Miguel poderia ter nos visto.
E se ele usasse aquilo para desmascarar meu casamento falso com ? Uma das nossas vantagens sobre ele na disputa pela guarda de é justamente nossa união estável! Meu Deus, será que eu coloquei tudo a perder? iria me matar, e pior, eu o ajudaria.
— Licença. — Annelise me agarrou pelo braço, praticamente me arrastando pela boate enquanto eu sentia tudo a minha volta girar em puro nervosismo e por conta da quantidade de álcool que tinha ingerido.
A loira não se importou nem um pouco com a fila grande que já estava formada do lado de fora da porta de madeira, simplesmente passou reto empurrando todas as mulheres que aguardavam a vez de usar o banheiro e me puxou para dentro, em meio a protestos e xingamentos nada agradáveis. Se ela fosse apanhar eu iria junto de tabela.
, que porra foi aquela? — Atrás de Anne, Tiffany segurava a porta, que era quase derrubada por todas as mulheres raivosas do lado de fora. O caos estava formado. — Você tinha que estragar tudo?
— Eu? Estragar tudo? — Apontei para mim mesma desacreditada. — Anne, aquele cara é um criminoso, ele acabou com a vida de Grace e agora quer acabar com a minha e você quer que eu fique quieta vendo acontecer e não fazer nada?
— Ele é ex da sua melhor amiga, e daí? — Ela revirou os olhos desdenhando. — Eu não vou acabar tudo com ele só porque você não vai com a cara dele, .
— Você ouviu o que eu acabei de dizer? O que eu disse lá em cima? — Ri incrédula. — Anne, eu só estou querendo te proteger!
— Não, , você está afastando mais um homem que demonstrou interesse em mim. — Tiffany franziu o cenho atrás dela, tão confusa quanto eu. — Com foi assim, ou você se esqueceu que no momento em que ele e eu ficamos você veio com aquela historinha de que iria pegar mal se fôssemos vistos juntos? — Ainda bem que ela não sabia que eu tinha mandado dispensá-la. — O que foi, ? Você quer todos os homens pra si?
Arregalei os olhos, tamanho foi o absurdo que saiu dos lábios pintados de vermelho de Annelise. Seus olhos claros estavam vermelhos também, lágrimas lutavam para sair e seus punhos cerrados demonstravam que ela realmente estava muito puta da vida. Mas acontece que não havia motivo nenhum para estar.
Tudo bem, eu havia acabado de socar o namorado dela no rosto? Sim. Mas, mais uma vez, lá estava eu tentando explicar meus motivos para ter feito o que fiz. Ninguém queria me ouvir, me sentia como se fosse uma louca, com provas concretas contra Miguel e sendo silenciada por quem deveria me ouvir e me dar suporte.
— Meu Deus, Anne! Você está se ouvido? — Novamente, testei seu nível de audição, porque não era possível que ela estivesse tão absorta naquela situação toda ao ponto de ignorar tudo o que foi dito e feito até aquele ponto. — Eu não quero o e muito menos o Miguel! — Exclamei enojada. Mais ainda quando parei por um segundo para raciocinar e, se comparasse os dois, iria escolher , que era o menos pior.
— Minta para si mesma, , mas para mim não, eu vi vocês dois naquela droga de casamento! — Acusou, deixando-me confusa. Eu não poderia negar algo que não me lembrava de ter feito, certo? Me preocupei ao me recordar das fotos que vi ao lado de minha mãe. — Ficaram se beijando por horas e você ainda tem a cara de pau de me negar que o quer? — Balancei a cabeça completamente muda. — Você sabia que eu gostava dele e agora quer tirar Miguel de mim?
Lágrimas grossas desceram pelo seu rosto rubro. Resolvi mudar de assunto, não valia a pena ficar brigando por homem, ainda mais quando se tratava de homens que eu queria era distância. Seria melhor que deixássemos aquele assunto para um outro momento, sóbrias e com a cabeça no lugar. Eu só queria fazê-la entender o real motivo da minha implicância com Miguel. Queria que Anne o deixasse para sua própria segurança.
— Eu só estou fazendo isso para o seu bem! Miguel não gosta de você, só está te usando para me atingir, chegar até mim e continuar o inferno que começou na vida de Grace! Anne, esse cara é perigoso, me ouça por favor!
— Eu não acredito que está fazendo isso... — Levou as mãos aos cabelos curtos, exasperada. — Está tornando tudo sobre você. Acorde, , o mundo não gira em torno de você! Eu também mereço ser amada!
— E você será, Anne! Mas não com um traste desses!
— Não vou terminar com ele! — Decretou, fazendo-me arquear as sobrancelhas já sentindo meus olhos arderem.
— Quer saber, Anne, fique com ele. — Sorri sem humor. Eu estava tão decepcionada, nunca imaginei que ela ou Tiffany algum dia iria brigar comigo por aquele motivo tão estúpido, por causa de um homem. — Mas nós duas acabamos por aqui. — Mantive minha voz firme, mesmo com o nó enorme que se formava em minha garganta.
— Podem ir parando vocês duas! — Tiffany largou a porta e veio até nós preocupada. — Ninguém vai parar de falar com ninguém aqui.
— Eu só estou protegendo a minha família. — Cruzei os braços, com os olhos vidrados na figura a minha frente. Annelise soltou um riso sarcástico.
— Eu sempre soube que você algum dia iria nos trocar por ele. — Mais uma vez vinha a tona naquela discussão.
Quando falei em família, ele tinha surgido em minha cabeça sim, mas junto de e minha mãe. Sabia que faria o mesmo por mim e me protegeria caso Miguel tentasse algo.
— Tire da sua cabeça pelo menos um segundo, Anne! — Exclamei, já farta de toda aquela infantilidade dela. — Isso não é sobre ele e sim sobre . E sim, eu trocaria quem quer que fosse por ela. — Fanny assentiu compreensiva. Ela sabia que eu a amava como uma irmã, porém tinha ciência do lugar dela em minha vida e jamais tentaria se colocar acima ou abaixo de ninguém. — Mas você não entende, pelo menos ainda não.
Era por toda a consideração que eu tinha por Anne que tinha decidido não ficar ali, ouvindo-a berrar absurdos em plenos pulmões. Eu sabia que ela iria falar coisas das quais se arrependeria, e eu não queria prolongar aquele ódio que estava sentindo dela, porque sabia da importância que elas duas tinham para mim.
Deixei um afago no antebraço de Fanny e desviei de Anne, pronta para deixar o banheiro.
— Você não é a porra da mãe dela. — Ouvi Anne debochar pelas minhas costas. Respirei fundo sentindo o coração acelerar em raiva.
— Vai se foder. — Abri a porta do banheiro, desviando-me das pessoas que ainda protestavam do lado de fora querendo entrar.
Fui até o bar cheio, ainda sendo espremida pelas pessoas dançantes, a música alta estava começando a me irritar e eu queria desesperadamente sair daquele lugar. Mas antes, queria algo para empurrar aquele nó garganta a baixo.
Vi o bartender enfileirar vários copinhos para um grupo de caras animados em frente ao balcão e quando ele virou o conteúdo transparente da garrafa de vidro em todos, roubei dois deles e os virei um atrás do outro recebendo as atenções deles, que vibravam animados enquanto eu me esforçava para não tossir, de tanto que aquela bebida era forte e tinha descido queimando tudo por dentro.
— Vim acertar minha conta.
— Esses dois são por nossa conta! — Um dos caras berrou para o funcionário. O ignorei, já sabendo que homem nenhum costuma pagar bebidas para mulheres sem querer algo em troca.
— Está com a aniversariante da noite? — Assenti em contragosto. — É por conta da casa.
Saí antes mesmo do barman terminar sua frase, esbarrei-me com alguém que segurava um copão de cerveja, levando um banho daqueles como consequência.
— Me desculpa! — O encarei ainda brava, porém desviei, deixando para lá e seguindo meu caminho até a saída daquele inferno. — Espera!
Continuei andando, mesmo ouvindo seus berros pela calçada. Por que homem era tão insistente? Nós só demos alguns beijos, não era como se fôssemos nos casar!
— Espera! Desculpa por ter derrubado cerveja em você. — Peguei meu celular dentro da bolsa, dando-me conta de que ele estava descarregando e eu ainda tinha que pedir um Uber para voltar. — Só queria saber se estava tudo bem.
Suspirei com dó. Parei meus passos, virando-me e o encontrando sem jeito, com as mãos nos bolsos do jeans que usava. Eu odiava homens bonzinhos, não conseguia ser cruel com eles.
— Eu sou casada. — Decidi falar a verdade, ele iria desistir de ir atrás de mim e eu finalmente poderia ir para casa.
— Mentira. — Riu alto, fazendo-me revirar os olhos. — Cara, esse foi o fora mais mentiroso que já levei na vida. — Completou ainda risonho. Soltei um riso sarcástico, bem que eu queria que fosse mesmo uma mentira.
Quer dizer, até era, mas ao mesmo tempo não era. Até mesmo eu ficava confusa com toda aquela história, ficava até feliz em não poder contar a ninguém, eu não saberia explicar mesmo.
— É sério. — Abri a bolsa e do bolsinho interno lateral, puxei a aliança de casamento. A estendi em sua direção e o vi arregalar os olhos ao constatar que era real.
— Não brinca! — Exclamou, vindo até mim. — Quantos anos você tem? 22? — Pegou minha mão, analisando-a já com a aliança em seu devido lugar.
— Na verdade eu tenho 20. — Ri sem graça, vendo-o apenas ficar ainda mais confuso com minha resposta.
— Você não tem nem idade para beber direito, como pode estar casada?
— Ah, é uma longa história. — Lhe dei as costas, voltando a andar pela calçada deserta.
— Eu tenho tempo. — Ele começou a me seguir.
— Não quero ter que envolver mais ninguém nessa bagunça.
— Como não? Imagine: eu, Alex — então aquele era o nome dele! —, amante de uma casada gostosa dessas! — Ele surgiu na minha frente, dando-me um susto. — Vai agregar muito no meu currículo. — Ri de sua fala, negando com a cabeça.
Casada gostosa?
— Que horror! Parece um título de filme pornô. — Ele me acompanhou na risada.
— Vamos pra minha casa? A câmera eu já tenho.
— Vai sonhando. — Ironizei. Eu jamais confiaria em algum homem ao ponto de transar em frente uma câmera.
— Por favor... — Agarrou-me pela cintura, fazendo-me encará-lo sem ar. — Tudo bem, sem câmeras, é que eu realmente gostei de te conhecer. — Selou os lábios nos meus, lembrando-me de quanto tempo fazia que eu não ia para a cama com ninguém.
E recusar um convite daqueles em tempos de seca...
— Ok, vamos pra sua casa. — Alex comemorou, voltando a me beijar avidamente. — Mas será só por essa noite. — Anunciei, já cortando aquele papinho dele se gostar de me conhecer. Alex nunca mais me veria, se eu algum dia por acaso o visse na rua, atravessaria.
— Combinado. — Tentou ficar sério, porém um sorriso brincou em seus lábios. — A não ser que você queria largar o seu marido corno pra ficar comigo. — Revirei os olhos. Eu trocaria por muito menos.
— Podemos não falar sobre ele? — Mesmo quando não estava ali, ainda conseguia me assombrar! Tudo parecia envolver ele, eu hein!
— Seu desejo é uma ordem. — Fingiu fazer uma reverência antes de puxar do bolso as chaves do seu carro, que estava estacionado no final da rua deserta. — Vou te fazer esquecer que é casada. — Sussurrou ao pé do ouvido quando sua mão deslizou pelo meu corpo até chegar na minha bunda, onde ele apertou com força fazendo-me ofegar.
— Por favor. — Supliquei enquanto já andávamos até o carro escuro.
— Mas diz aí, quantos anos o coroa tem? — Respirei fundo, irritada com aquela insistência toda.
— Ele tem 24 anos e achei ter te ouvido prometer que não falaria mais dele.
— Desculpa, é que você me deixou curioso. — Me impedi de revirar os olhos. Ele tinha sorte que eu estava sem sexo há muito tempo, caso o contrário, já o teria dispensado. — Aliás, você ainda não me disse seu nome. — Prensou meu corpo contra a porta do carro, fechei os olhos inalando seu perfume. Pelo menos tinha pegada.
— Não vou dizer meu nome. — Quanto menos ele soubesse sobre mim, melhor.
— Eu adoro esse clima de mistério, você parece uma espiã russa. — Lhe dei as costas rindo, Alex parecia ter saído de um sitcom americana e aquilo me divertia.
Entrei no carro e ele dirigiu. No caminho, aproveitei para atiçar um pouco e estiquei-me, acariciando seu membro por cima da calça e deixando-o nervoso por estar dirigindo.
— Não brinca com fogo, loirinha... — Ri e continuei a desenhar seu mastro duro no tecido do jeans, com movimentos para cima e para baixo, louca para abrir aquele zíper e masturbá-lo. Mas me controlei, não querendo arriscar um acidente já que Alex já havia bebido naquela noite.
Ele entrou na garagem de uma casa enorme e linda, ficava impressionada em como eu atraía playboys mesmo não me importando nem um pouco com a conta bancária deles. Adentramos a casa aos beijos e amassos, Alex ascendeu as luzes da sala, revelando a decoração simplista e sofisticada, fomos para o sofá, onde ele se sentou e eu me sentei em seu colo, largando minha bolsa no chão mesmo.
Meu celular bipou enquanto ele já tinha o rosto nos meus seios, o decote de minha camisa facilitava seus beijos em meu colo, mas não satisfeito, Alex forçava os botões, tentando me despir. Em um de seus puxões, ele estourou todos eles, fazendo-me exclamar em reprovação, porém não me importei o bastante, já estava com a saia levantada na altura da cintura e sentia seu membro roçando contra minha intimidade, instigando-me a rebolar sobre ele em busca de mais contato.
— Você poderia me arrumar um carregador? — Indaguei ofegante, já planejando que quando acabássemos o meu celular já teria carga o bastante para que eu chamasse um Uber para casa.
— Claro, um minutinho. — Saí de cima dele, sentando-me e descendo minha sala, sem me preocupar em cobrir meu sutiã à mostra. Ele se levantou, passando os olhos castanhos pelo meu corpo. — Olhe o que fez comigo. — Sorri safada, reparando no volume entre suas pernas.
— A gente já resolve isso. — Pisquei reparando em seu corpo quando ele virou as costas para mim.
Alex era magro, não tão mais alto que eu, não tinha os ombros largos, nem coxas avantajadas, não era o tipo de homem que me atrairia de imediato, mas estava até de bom tamanho visto que eu não tinha me esforçado muito para ficar com ele. Fora que ele beijava muito bem.
— Vamos tomar algo para animar as coisas. — Veio com dois copos de whisky e o carregador em mãos. Embora eu não fosse a maior fã de bebidas como aquelas, aceitei de bom grado, indo colocar meu celular para carregar.
Tomei alguns goles, trocamos carícias, apesar de estar curtindo o momento eu não conseguia desgrudar os olhos do relógio digital da parede, tanto que Alex percebeu e estranhou meu olhar fixo. Acho que estava ficando bêbada, tinha misturado tanta bebida naquela noite.
— Casa bonita. — Disfarcei, colocando o copo pela metade em cima da mesa de centro.
— Obrigada, meus pais estão viajando, moro com eles. — Voltei a me sentar em seu colo, eu queria ir para casa logo, estava com saudades de .
— Por um segundo eu me esqueci que temos quase a mesma idade. — Ri, apoiando os braços em seus ombros. — E quando vou conhecer seu quarto, hein? — Lhe beijei o pescoço enquanto uma de suas mãos acariciou minha coxa.
— Vamos lá pra cima. Já vi que está com pressa. — Deixou o copo junto ao meu e me puxou escada acima.
Tiramos a roupa numa rapidez agoniante, seu quarto era enorme e a cama seguia o mesmo padrão. Alex se esticou até a cômoda e pegou a camisinha, me penetrando com urgência, deixando-me louca com suas investidas rápidas e fortes, fiquei por cima de seu corpo sentando em seu membro e apoiando-me em seu peito liso.
Ele não tinha tatuagens, seus cabelos eram tão curtos que eu não conseguia emaranhar meus dedos nos fios. Estranhei ter reparado naqueles detalhes e continuei a subir e descer, arrancando gemidos sôfregos dele, que pegava-me pelos quadris com firmeza.
Apesar de ser até bom de cama, Alex não tinha me dado o meu tão almejado orgasmo, depois que ele gozou eu ainda tinha tentado chegar lá sozinha, porém desisti, caindo cansada ao seu lado. Talvez eu não tenha me concentrado o bastante no que estávamos fazendo.
— Desculpe por isso. — Ri, apoiando a cabeça no travesseiro fofo. Ele tinha sido tão legal comigo que eu até estava arranjando desculpas para justificar o fato de ele não ter me feito gozar.
— Pelo menos você não fingiu, apesar que deve estar acostumada com o casamento, né? — Gargalhei encarando o teto.
— Pois é, nós mulheres sofremos. — Ironizei. Apesar de não acreditar que teria que fingir um orgasmo com .
, apesar de ser desprezível, parecia ser uma máquina de sexo. Se ele fizesse metade do que eu ouvia que ele fazia já no tempo da escola, então não teria motivos para fingir.
— Deixe eu me redimir. — Seu corpo cobriu o meu quando Alex me beijou, enroscando sua língua na minha enquanto sua mão me tocou a intimidade, dedilhando-a devagar.
Tentei relaxar sobre o colchão, lhe dando aquela chance, afinal, eu tinha ido até lá para isso. Quando Alex passou a me chupar comecei a sentir que poderia rolar, afinal de contas ele parecia ser mais experiente ali, já que o fazia com maestria arrancando-me gemidos altos e fazendo-me revirar os olhos ao gozar em sua boca quente.
Fiquei deitada ao lado dele por um tempo, descansando meu corpo trêmulo e ainda sentindo os espasmos por toda parte. Logo já me levantava e ia em busca de minhas peças de roupa, mesmo que no escuro.
— Quer que eu te leve? Está tarde para pegar uber sozinha. — Calcei meu sapato ainda sentada na ponta da cama.
— Sei me virar bem sozinha. — Enfiei as pontas da minha camisa cruzadas, uma de cada lado, para dentro da saia que usava. Deu para disfarçar um pouco que tinha sido praticamente rasgada. — Tchau, Alex.
— Adeus, Michelle.
— Michelle? — Parei diante da porta de seu quarto.
— É, você não me disse seu nome, aí eu pensei nesse. A Michelle da música... — Pensei na dos The Beatles, porém o que ele me disse antes de cair no sono tinha me deixado seriamente em dúvidas.
Saí da casa e tranquei a porta da frente, jogando as chaves por uma das janelas da sala. Alex não parecia bater muito bem da cabeça, como ele ia dormir e deixava uma desconhecida sozinha na casa dele? E se eu fosse uma ladra?
No caminho de casa, pesquisei na internet que raios de música era aquela, e descobri que havia uma que falava sobre Michelle, uma mulher que ele se referia como um monstro do inferno, porém ao meu ver ela era muito sedutora e cruel. Levei como um elogio por via das dúvidas.
Cheguei inteira, apesar de meio zonza, o motorista estava se achando um piloto de fórmula 1 de tão rápido que dirigia pelas ruas vazias de Londres. Abri a porta e fui cambaleando até as escadas, onde desisti de usar aqueles saltos e decidi ir descalça até meu quarto, encontrando deitado.
Não tive muito tempo de chegar ao banheiro e acabei vomitando ali mesmo.
? — Ouvi sua voz rouca pelo sono e fiquei em silêncio, como se fosse adiantar alguma coisa. — Puta que pariu, !
O barulho da porta do quarto ao lado se abrindo fez minha cabeça latejar, era minha mãe e ela iria me matar.

's point of view.


Me levantei, sentindo aquele cheiro azedo horrível e fui até o interruptor, me deparando com aquela cena deplorável. Theresa chegou em seguida.
, você me disse que não iria beber muito! — Esbravejou aos sussurros, provavelmente tentando não acordar . O que era inevitável já que, pelos meus cálculos, ela logo acordaria com fome.
— Eu não bebi. — Soluçou, fazendo-me cruzar os braços desacreditando de sua cara de pau. — Não muito. — cambaleou, quase escorregando na própria arte.
, querido, leve ela para tomar um banho, vou limpar isso. — Paralisei onde estava. Eu teria que tirar as roupas dela? — Anda, acorda! — Guiou até mim, despertando-me de meus pensamentos.
A loira se apoiou em meu ombro e fomos para o banheiro, onde a deixei encostada na pia enquanto tentava pensar em como aquilo iria funcionar.
— Ai, , por que você faz isso comigo? — murmurei com as mãos no rosto, sem saber se começava a despi-la ou se simplesmente a deixava fazer as coisas sozinha e ficar alerta para caso dela caísse.
O pior de tudo era que desde o incidente com as lingeries, ou aquela noite que a assisti se masturbar, até aquele momento em que eu a colocaria no banho, nada que fazia que me deixava daquela forma, excitado, era proposital! Sempre era um acidente infeliz.
nunca tinha sido daquele jeito, pelo menos não que eu saiba. Desde nossa adolescência, quando as meninas estavam vestindo roupas curtas e tentando ser sexy, não fazia o mesmo. E agora adulta aquilo parecia não ter mudado.
— Eu não fiz nada... — Respondeu, soluçando.
Reparei em sua camisa e, que eu me lembrava, não estava daquele jeito quando ela saiu.
— O que aconteceu com sua blusa, afinal? — Franzi o cenho.
— Aconteceu um pequeno acidente com os botões, você sabe, eu não tenho muita sorte com minhas roupas. — Riu. Assenti tentando não levar meus pensamentos para o acontecido naquele banheiro na casa de Megan.
Outra ocasião não planejada. Era completamente bizarro como nós dois ultimamente estávamos sempre nos envolvendo em situações como aquelas. Parecia que a vida estava nos tentando a transar a cada cinco minutos que passávamos juntos sozinhos. Ou era apenas eu pensando com a cabeça de baixo e me esquecendo que estava me referindo a .
— Vamos acabar logo com isso. — Puxei o zíper de sua mini saia, puxando-a para baixo. — , onde foi parar sua calcinha? — A encarei pelo espelho, vendo-a bater na própria testa.
Imagine se Theresa tivesse se voluntariado a dar banho em ? Como ela explicaria aquilo?
— Deve ter ficado na casa de Alex. — Franzi a testa. Provavelmente era o responsável pelo acidente em sua camisa também.
— Ele viu essa aliança no seu dedo?
— Não só viu, como ficou louco! — Se virou para mim, sorrindo maliciosa. — Até estourou os botões da minha camisa. — Puxou as pontas do tecido preto, abrindo-as e deixando seus seios cobertos pelo sutiã escuro a mostra.
A encarei, intrigado. gostava daquelas coisas mais selvagens? Digo, rasgar roupas ou até apanhar na cama? não tinha cara de quem curtia, porém, aquela dúvida me pegou pelo fato de que ela pareceu não se importar com o tal Alex estragando sua roupa.
Ao contrário de mim, que quase apanhei só por estourar o zíper daquele vestido barato.
— Fetiche em mulher casada. Essa é nova... — Ri desacreditado enquanto tirava a própria blusa.
— Ele ficou todo emocionado em ser amante por uma noite. — Revirou os olhos. — Foi uma pena que não acabou muito bem.
— O que houve? — se encostou na pia, praticamente nua, como se nada estivesse acontecendo. Evitei olhar para seu corpo focando em sua imagem do pescoço para cima.
Apesar de ser difícil conter meus olhos, que praticamente me imploravam por uma espiadinha sequer.
— Ele... Eu não gozei. — respondeu, ficando vermelha. Assenti calado, não parecia ser tão difícil agradar . Digo, eu já havia visto acontecer na minha frente, parecia ser sensível ao toque.
A não ser que ele não a tivesse tocado direito.
— Você... Não fingiu? — Cocei a cabeça, imaginando o constrangimento que deve ter sido para o pobre coitado.
— Ele me disse a mesma coisa. — riu nervosamente, envolvendo a cerâmica da pia com seus dedos largos. — Disse que por ser casada eu já devia estar acostumada a fingir.
Mesmo não sendo casado de verdade com , me senti ofendido. Ele devia estar lá, se achando o garanhão só porque levou minha mulher para a cama e me chamando de corno.
— Se fosse comigo não precisaria. — Soltei sem pensar. — Digo, nenhuma mulher nunca precisou fingir nada comigo.
— Eu pensei a mesma coisa. — Roeu as unhas distraidamente fazendo-me encará-la confuso.
Ela tinha concordo comigo mesmo, dizendo que eu era bom de cama? Sem sarcasmo ou ironia? realmente estava embriagada, minha vontade era de correr para pegar o celular e filmá-la dizendo aquilo só para não correr o risco de vê-la negar no dia seguinte.
— Se bem que se alguma fingiu, você nunca irá saber, né? — A boa e velha implicância dando as caras.
— Eu sei muito bem quando estou agradando uma mulher na cama, . — Lhe virei de costas, a fim de desabotoar aquele sutiã e colocá-la logo debaixo daquele chuveiro.
Aquela conversa não iria nos levar a lugar algum, éramos só dois idiotas com abstinência sexual falando sobre algo que não poderíamos fazer juntos. Eu mesmo parecia mais um daqueles cães em frente a máquina de frango assado com uma mulher seminua diante de mim sem poder tocá-la.
A parte da abstinência talvez não se aplicasse a , mas pobrezinha, o cara se divertiu mais que ela naquela noite.
— Mas ele se redimiu no final, me fez gozar fazendo um oral. — concluiu sorrindo, olhando-me através do espelho. Grandes coisas. Pelo menos aquilo ele tinha que ter feito por ela, não é mesmo? — Olha, rimou!
— Não rimou, não. — desmanchou o sorriso brincalhão do rosto, divertindo-me. — Você até que fica legalzinha quando está bêbada, devia fazer mais vezes.
Era estranho demais ter aquele tipo de conversa que eu normalmente teria com um amigo, com ela. sempre foi reservada sobre tudo o que envolvia sexo, menos para Grace, e consequentemente eu sempre fiquei sabendo das coisas por ouvir conversas. Vê-la falar sobre tudo aquilo diante de mim também devia ser estranho para .
Claro, se ela estivesse sóbria.
me mostrou o dedo do meio quando a porta do banheiro foi aberta por Theresa. Ao fundo dava para ouvir o choro estridente de .
— Que bom que ainda não deu o banho nela, vamos trocar, sim? sujou a fralda e eu não sei onde ficam as coisinhas dela. Pode deixar que a mamadeira eu dou quando terminar aqui. — Aceitei na hora, correndo daquele banheiro o mais rápido possível.
Preferia milhões de fraldas sujas a ficar trancado com em algum lugar. Ainda mais quando um de nós não estava em plenas faculdades mentais.
Troquei a neném, que para a minha sorte não estava tão podre como da última vez, e surpreendente adormeceu em meu colo. Eu não sabia se deveria acordá-la para mamar ou esperar que ela sentisse fome, então a deixei no quarto de Theresa e voltei para minha cama.
— Pronto. Está limpinha e cheirosinha. — engoli a seco quando vi que apenas usava uma blusinha de alças e calcinha.
Não era possível que aquele pesadelo não iria acabar! Como se não bastasse vê-la quase nua, eu ainda teria que dormir com ela vestida daquele jeito? Nem sabia dizer se o termo vestida se encaixava naquele caso.
subiu na cama, ainda aparentemente embriagada, e para o meu total desespero, se jogou contra mim, sentando-se sobre minhas pernas. Theresa assistia a cena risonha, achando graça da traquinagem da filha, que beijava minha bochecha com insistência.
— Parece que quanto mais velhos ficam, mais trabalho dão. — Eu concordei, ainda sendo esmagado pelo abraço de . Desejei que nunca crescesse. — Vou deixar vocês dormirem, boa noite.
— Boa noite, obrigada Theresa. — sorri pra ela, que deixou o quarto e fechou a porta atrás de si. — , o que diabos você está fazendo?
— Atuando. — A olhei confuso. Existiam tantas outras formas de fazer aquilo sem praticamente sentar no meu colo, por que ela tinha decidido escolher justo a mais sôfrega pra mim? — Ué, você não reconhece toda vez que uma mulher finge?
— Ela já foi, pode sair de cima de mim. — A coloquei sentada na cama, afundando-me entre as cobertas a fim de esconder a merda da minha ereção.
se levantou, indo até o interruptor, dando-me uma vista privilegiada de sua bunda pequena. E não, eu não estava mais me privando de olhar, minha cota já tinha acabado por aquela noite.
Virei-me para o lado oposto, tentando ao máximo chegar na ponta do colchão só para não correr o risco de ter seu corpo descoberto encostando-se no meu. Mas como , mesmo sem ter noção, me provocava, senti quando seu corpo quente se arrastou até próximo do meu e estacionou ali. Fechei os olhos quando senti sua respiração bater contra minha nuca.
. — murmurei algo incompreensível, fingindo estar quase dormindo. — Esse é o meu lado da cama hoje.
— Me deixe aqui hoje que você poderá ficar com ele o resto dos dias que sua mãe passará aqui. — Esperei que ela se afastasse, sem sucesso. — , dá pra se afastar?
— Por quê? Não gosta de ficar juntinho assim? — Seu tom sedutor me fez virar na cama, devido ao susto.
— O que você tomou naquela boate? Viagra?
— Não, bobinho, nós mulheres não precisamos de Viagra. — riu, sentando-se novamente em meu colo, deixando-me tenso novamente. — Eu só queria que você... – Soluçou. — me fizesse sentir como naquela noite na casa de Megan. Você pode fazer de novo?
, eu sei que está frustrada pelo que aconteceu com o tal Alex, mas eu não posso te ajudar com isso. — Até poderia e naquele momento queria, não tinha nem como negar. Mas não daquele jeito.
Aliás, tratando-se dela, de jeito nenhum!
— Mas você é meu marido, devia me dar um orgasmo. — ri de sua fala, tentando tirá-la de cima de mim.
— Você mesma disse que a responsável pelo seu orgasmo tinha sido aquela calcinha. — Tentei implicar com para ver se ela se tocava de quem estava quando dar em cima.
— Não, foi você. Só você. — Surpreendi-me com sua certeza ao afirmar aquilo. — O jeito como beijou minha boca, seus lábios deslizando pela minha pele... — Ofeguei junto dela, tentando ver seu rosto em meio a escuridão do quarto. — Fico toda arrepiada só de me lembrar. — Pegou uma de minhas mãos, passando pelo próprio braço de pelos eriçados.
Deixei que juntasse nossos lábios num beijo lento, suas duas mãos seguravam meu rosto enquanto as minhas já passeavam pelas coxas e bumbum dela. Que pele macia, meu Deus. Era como tocar uma seda.
Eu sabia que havia acabado de afirmar que não ficaria com de jeito nenhum. Mas tinha como resistir a aquilo? Talvez houvesse um jeito em que nós poderíamos ir pra cama sem estragar tudo.
Ainda beijava seu pescoço quando percebi que se esticava em direção ao abajur na cômoda ao lado da cama. A ajudei, puxando a cordinha, e iluminado parcialmente o quarto com o ato.
— Tira. — Sua voz demonstrava ansiedade, puxou minha camisa para cima, fazendo-me tirá-la como ela queria que fosse feito. — Eu quero ver suas tatuagens, beijar cada uma delas. — Senti um frio na barriga.
— Até as da coxa? — Ri de seu olhar fixo nos desenhos do meu peito.
— Cada. Uma. Delas. — lhe mordi o lábio inferior, colando ainda mais meu corpo ao dela.
— É mesmo? — assentiu, murmurando algo indecifrável. Passei as pontas dos dedos na parte interna da sua coxa, fazendo-a estremecer antes de lhe tocar a intimidade por cima da calcinha. — Então faça. — Lhe beijei antes de vê-la curvar seu tronco e deslizar os lábios pelo meu peito descoberto.
Aproveitei sua distração para abaixar uma das alças finas da sua blusa, revelando um de seus seios. Antes de tocá-lo, umedeci as pontas do polegar e indicador na língua e brinquei com seu mamilo rijo, provocando uma reação instantânea nela, que largou minha pele arrepiada para soltar um gemido arrastado.
Muito sensível ao toque, não disse?
— Ele não soube te tocar... — suguei seu mamilo, tendo-a completamente mole, entregue em meus braços. — nem onde te tocar... — subi minha boca para seu pescoço fino.
— E você sabe? — Invadi sua calcinha com meus dedos, estimulando-a e fazendo com que movesse o quadril involuntáriamnete, reagindo a meu torque. — Então me dê o que eu quero... Me dê um orgasmo. — lhe beijei o canto da boca, vendo-a praticamente suspirar quando apertei aquela bunda gostosa, aumentando o contato de nossas intimidades.
Quase sorri irônico contra seus lábios. Como a vida era engraçada, eu estava com se jogando em cima de mim, implorando-me para fodê-la.
, a intocável, entregue a mim daquele jeito.
Não parecia ser real.
Senti sua mão me tocar por cima da calça e ofeguei quando ela apertou meu membro e mordeu minha boca. Iria mesmo rolar? Eu já estava quase chegando a um ponto em que não conseguiria mais me segurar. Se ela continuasse ali, iríamos passar a noite em claro e não iria ser naquela brincadeirinha de gato e rato. Eu lhe daria o que ela tanto estava querendo.
Mas e depois? Como as coisas iriam ficar entre nós, visto que não existe e nem nunca existiu um nós.
Eu sabia que aquela coisa de sexo sem compromisso não iria prestar para nós, primeiro porque infelizmente já tínhamos um compromisso maior e envolvia uma criança, segundo que nós não nos suportávamos. Logo estaríamos brigando pela casa e jogando na cara um do outro coisas que não deveriam ser ditas em voz alta.
, tem certeza disso? — A loira assentiu, rindo arrastada enquanto ainda tinha a mão me masturbando por cima do tecido do pijama. Peguei seus pulsos, afastando seu toque na tentativa de parar aquela distração. — , olhe para mim. — com seu rosto em mãos, afastei seus cabelos rebeldes para encará-la direito.
— O que foi, ? — Gargalhou contra meu rosto, fazendo-me dar conta de seus olhos caídos e pupilas dilatadas.
— Está bêbada. — A tirei de cima de mim com uma rapidez impressionante, saindo da cama num pulo só.
— O que foi? Onde você vai? — Antes de encarar a figura sentada na cama, abri a porta do banheiro.
— Quando eu sair quero que esteja vestida e no seu lugar na cama. — Apertei a maçaneta da porta na mesma intensidade que meu pau doía, duro, e sem poder aproveitar aquele momento pelo qual tinha se preparado e estava prontíssimo para começar.
Tranquei a porta atrás de mim, só para não correr o risco de me arrepender ou de tê-la entrando ali.
Eu não iria transar com ela bêbada, já sabia no que aquilo daria e que não era o certo a se fazer. A que estava ali não era a mesma que eu odiava e tinha sido obrigado a me casar, aquilo explicava muita coisa. Claro que nunca iria me abordar daquela maneira, ainda era a mesma do banheiro minutos atrás.
Não podia negar que continuava a preferindo bêbada do que a sã.
Esperava que não se recordasse nos dia seguinte, porque logo ficaria jogando na minha cara que cedi a ela ao ponto de quase transarmos. Pior, com eu estando completamente sóbrio.

Capítulo 18

's point of view.


Despertei sentindo o corpo pesado, abri os olhos e foi como se tivessem soltado uma bigorna de desenhos animados na minha cabeça, de tanto que ela latejou. Ao virar meu corpo sobre o colchão fiquei aliviada por não encontrar ali. Devia ter saído para correr como sempre fazia. Arrastei-me até o banheiro dando de cara com um reflexo cansado e completamente bagunçado. Lavei meu rosto perdendo alguns cílios ao esfregar o resquício de rímel de meus olhos e escovei os dentes, aproveitando a água da pia para engolir um analgésico.
Eu geralmente não me arrependia de ter enchido a cara, muito pelo contrário, na maioria das vezes valia a pena ter uma ressaca no dia seguinte, costumavam ser noites divertidas quando eu saía com minhas amigas. Mas, pela primeira vez, me arrependi amargamente até mesmo de ter saído de casa noite passada.
Ao contrário da maioria das minhas bebedeiras, eu tinha lembranças de tudo o que havia acontecido, e sinceramente preferia não ter. Relembrar tudo o que foi dito me fez cerrar os punhos em puro ódio, revisitei as sensações que senti quando ouvi tudo o que foi dito por Anne e pela mera existência de Miguel, que de anjo não tinha nada. A imagem de Alex também me tinha vindo a tona, fiz uma nota mental de nunca mais me envolver com caras com fetiches loucos como o dele em mulheres casadas.
O idiota tinha ficado tão deslumbrado em ser amante por uma noite que se esqueceu da principal função deles: Ser bom de cama. Pelo que me lembrava ele até era, mas começou e não terminou e ainda por cima só priorizou o próprio prazer, esquecendo-se de mim. Meu próprio marido tinha me excitado muito mais sem nem ao menos se esforçar muito ou consumar o ato.
Meu marido...
Fechei os olhos com força, balançando minha cabeça como se aquele gesto fosse espantar meu pensamentos e as cenas da noite passada. Carência combinada com álcool jamais daria um bom resultado, comprovei aquela minha tese ontem, quando me joguei em cima de , praticamente implorando para que ele transasse comigo.
Tá bom, não foi praticamente, eu realmente me lembrava de ter implorado.
E minha cabeça doía como se aquele flashback fosse capaz de me causar dor física, saber que deve ter se achado com toda a situação também me causava fortes dores no meu interior, meu orgulho estava mais do que ferido, tinha sido nocauteado!
Decidi parar de me torturar com aquilo, afinal, já tinha passado, não é? Eu não poderia fazer nada além de fingir que não me recordava, seria menos vergonhoso e talvez, só talvez, tivesse pena de mim e não tocaria naquele assunto. Deixar minha dignidade nas mãos dele estava se tornando uma rotina torturante para mim, iria ter que me privar de insultá-lo para não correr o risco de ter tudo o que fiz bêbada sendo jogado na minha cara. Porque conhecendo-o como eu conhecia, ele iria usar aquilo contra mim sim.
Fui para o andar debaixo encontrando somente minha mãe e , para meu alívio conseguiria me ver livre de por mais um tempo. Ao me ver entrar na cozinha, mamãe soltou um riso baixo, provavelmente pensando no que eu lhe tinha dito ontem antes de sair. Eu disse que não iria beber muito, mas não tive outra opção senão beber, deu tudo tão errado, a noite havia sido um erro em tantos aspectos que eu mal sabia se conseguiria enumerá-los.
— Bom dia. — Lhe cumprimentei, indo até ela e dando um beijo estalado na bebê que se mexia devagar deitada no peito de minha mãe. Fui até as costas dela, onde tinha a cabecinha encostada no ombro e encarei aquele rostinho miúdo de perto. Como podia ser tão linda? — saiu cedo, não é? O vi passar correndo aqui em frente, estava acompanhado de uma mulher muito bonita.
Mesmo de costas, preparando meus ingredientes para um omelete, senti a acidez de seu comentário. Respirei fundo, tentando raciocinar em meio a toda a lentidão que meu cérebro estava funcionando. Eu definitivamente não era uma pessoa matinal, e quando estava de ressaca então, preferia não ser incomodada com especulações envolvendo meus chifres. Minha cabeça já estava pesada o bastante sem eles.
— Morena, gostosona e mais velha? — Minha mãe confirmou. — Deve ser Megan, é só uma corrida mãe, e ainda por cima ela é casada. — Não que aquilo a impeça de dar em cima dele, mas minha mãe não precisava saber daquela informação. — E também, é claro. — Completei ao vê-la me encarando intrigada.
— Não acha que deveria acompanhá-lo? — Soltei um riso desacreditado, parecia que ela não sabia com quem estava falando. ou qualquer outro homem no mundo poderia me chifrar a vontade se usassem a desculpa de ir para academia ou praticar exercícios, eu jamais iria querer acompanhá-los ou ir atrás. — Ela é bem bonita, e, você sabe, depois que casamos costumamos dar uma engordadinha...
— Mãe, ou a senhora enaltece e acha ele um marido maravilhoso ou a senhora insinua que ele me trocará por qualquer outra mulher mais atraente que aparecer, porque os dois não está dando. — Levei a mão na cintura enquanto ainda preparava meu café da manhã.
— Onde eu insinuei isso? — Exclamou ultrajada. Eu amava minha mãe, mas acho que já estava mais do que na hora de assumirmos para nós mesmas que ficamos melhor longe uma da outra. Nos três dias que ela esteve em casa, brigamos pelo menos uma vez em cada um deles.
— Mãe, a senhora contratou a governanta mais velha entre as candidatas apenas para não trazer uma mulher mais nova para dentro da minha casa.
— Mas é porque eu conheço homens, sei como são, . Eu só estou querendo ajudar...
— Não, mãe, você conhece o seu homem e eu espero muito que todos os outros não sejam iguais a ele. — Me referir ao meu pai sem citar seu nome ou muito menos falar em voz alta nosso grau de parentesco havia se tornando um jeito meu de apagar sua existência de minha vida. Infelizmente, com memórias, aquela técnica nunca funcionou, eu me lembrava de tudo o que sofremos nas mãos dele.
, não leve as coisas para esse lado, eu não estou dizendo que é como seu pai. Só estou te dando um conselho, justamente por ser esse marido maravilhoso que é! — Me esforcei para não revirar os olhos. — Cuide do que tem em casa, minha filha, é muito fácil perder tudo o que tem por falta de atenção.
Apoiei-me na pia respirando fundo. Falta de atenção? Não tinha sido aquilo que havia acabado com o casamento de meus pais e vê-la usando aquela desculpa esfarrapada me tirava do sério. O que seria aquele falta de atenção? Não fazer o jantar dele na hora? Não lavar as roupas dele e guardá-las do jeito que ele queria? Minha mãe cuidava de meu pai sim, com todas aquelas mordomias incluídas, como se ele fosse um filho dela. E o que ela havia recebido de volta? Hematomas pelo corpo e até mesmo um osso quebrado.
— Eu cuido do meu marido, mãe. — Resolvi encerrar o assunto que eu mais do que ninguém sabia que, se dependesse da nossa teimosia, nunca teria seu fim. Ela assentiu concordando.
Apesar dos nossos problemas de convivência, e eu estávamos nos saindo bem com aquela coisa de fingir ser um casal dentro de casa. Para evitar o falatório, fiz questão de preparar o jantar numa das noites que minha mãe não preparou, apenas para fingir que as coisas funcionavam daquele jeito em sua ausência. Na verdade, nós não tínhamos uma rotina estabelecida. Ainda estávamos nos adaptando a nossa nova vida.
Me perguntava o que um casal de verdade fazia no começo do casamento e me vi sem ter o que imaginar. Na hora de mentir as coisas sempre fluíam melhor, as pessoas a nossa volta sempre chegam até nós com um conceito pré definido, então e eu apenas seguimos o raciocínio deles. É, estávamos indo bem mentindo para todo mundo. Pelo menos até o momento ninguém tinha desconfiado de nós. Ainda.
— Falando em cuidar, quando é que a babá chega? — Desliguei o fogo e tratei de mudar de assunto, tentando dissipar a tensão que se instalou no cômodo.
— Elisabeta vem daqui a pouco, acho que nem vai dar tempo de pegar vocês em casa. — Minha mãe checou o relógio na parede. — Vou ensinar tudo o que ela precisa saber sobre a rotina de vocês e de , amanhã a tarde já estou pegando meu ônibus pra casa. — A tristeza em seu tom de voz me apertou o coração, mamãe tinha se apegado tanto a naquele pouco tempo que ficou conosco.
A porta da frente se abriu e eu automaticamente tensionei os músculos sem ao menos notar, o som abafado da música que ouvia nos fones se aproximou até cessar quando seus passos progrediram pelo piso liso da casa.
— Ah, , já ia me esquecendo! Falei para Elisabeta trazer a documentação como me pediu. — Não me virei para trás, ainda encarava meu omelete pronto, estava morta de fome, mas se quisesse comer teria que esperar que saísse da cozinha, se não teria que olhar em sua cara... E não sei se conseguiria depois da noite passada. — Quando você vier nos buscar mais tarde, te entrego tudo.
Franzi a testa e não consegui evitar, virei o pescoço e meus olhos focaram na figura parada próxima da mesa. Seus olhos verdes estavam em mim, o percebi disfarçar e voltar a olhar minha mãe.
— Onde vocês vão hoje? — Estranho, ninguém tinha me dito nada... Um silêncio se instalou no local, esperou que minha mãe respondesse, porém a mesma estava ocupada tirando os cabelos dos vãos dos dedinhos da neta.
Ele também estava me evitando.
— Vou levar sua mãe e no médico, hoje é dia da vacina dela.
— Nem me chamaram... — Murmurei magoada. Eu queria ir junto! Estar presente na primeira vacina da bebê.
Minha mãe tinha levado em um pediatra que arranjou por indicação, ele parecia ser muito bom, pelo menos foi o que ela disse quando nos contou sobre como tinha sido a consulta. O tal doutor Sharman seria o médico dela, quando a pesou, disse que estava um pouco abaixo do peso normal para um bebê de dois meses, porém terminou sua avaliação dizendo que a acompanharia, e na próxima consulta faria uma reavaliação.
Eles chegaram a discutir o caso de substituir o leite materno doado por um leite de fórmula para ajudá-la a ganhar peso. Meu coração pesou dentro do peito, eu não queria tirá-la do leite materno, sabia o quão importante era para a nutrição de . Me sentia incapaz como mãe, como eu queria poder amamentá-la...
— Podemos passar na lanchonete e te buscar para ir junto, não te chamei porque achei que não poderia sair. — Ela se virou na cadeira me olhando, mordi o lábio pensativa. Às vezes ela parecia ser a mãe de , e até preferi-lo mais do que eu. Ou talvez eu que fosse insegura com a fragilidade da nossa relação. — O que acha, ?
Seu olhar pairou sobre mim e ele concordou em silêncio, ainda inquieto, veio em minha direção. Me virei de volta para o fogão, prendendo a respiração por já saber o que iria acontecer. Aquela droga de farsa estava me enlouquecendo aos poucos, faziam dias que nós tínhamos que nos cumprimentar toda manhã com beijos e trocar elogios durante as refeições.
— Bom dia. — Aquela voz soou próxima de meu ouvido causando-me um arrepio na espinha, seus lábios quentes me tocaram a pele do pescoço, deixou um beijo estalado ali e quando pensei que não tinha como piorar, ele foi lá e fez o que sabia fazer de melhor, me irritar.
Ao invés de se afastar e me dar espaço para enfim voltar a respirar normalmente, o idiota inventou de querer passar no vão da cadeira onde minha mãe estava com e eu, de pé em frente ao fogão. Aquele brutamontes quase não cabia ali, mas ele forçou a passagem, tendo a audácia de me pegar pela cintura para me tirar do caminho enquanto atravessava para o outro lado.
Arfei silenciosamente, sentindo aquele par de mãos em meu corpo e seu quadril avantajado coberto apenas pelo fino tecido da bermuda que usava roçando-se em minha bunda. Não consegui frear minha cabeça de reproduzir as cenas do noite passada. Por um segundo me perguntei onde nós chegaríamos se ele não tivesse tido o bom senso de ter me afastado de si.
Tentar imaginar uma noite ao lado de sempre havia me dado ânsia de vômito, me embrulhava o estômago só de pensar na possibilidade. E naquela manhã eu ainda sentia tudo aquilo ao pensar em como seria transar com ele. Porém era de um jeito totalmente diferente. O ranço tinha dado lugar a uma curiosidade tão tentadora que cheguei a me assustar ao me dar conta dos pensamentos pecaminosos que andava despertando em mim.
O encarei tentando entender o que diabos ele estava fazendo me pegando daquele jeito sem motivo algum, ele ficou sem graça, virou o copo de água que tinha ido buscar de uma vez só, mais uma vez evitando me olhar. Será que tinha sido sem intenção? Mas que droga, até quando ele não tinha intenção de provocar estava conseguindo me tirar do sério?
Quando minha mãe fosse embora eu faria questão de medir um metro de distância dele e me manter longe, como se ele tivesse alguma doença contagiosa mesmo, só daquele jeito evitaríamos situações bizarramente esquisitas como a que tinha acabado de acontecer. devia pegar na cintura de todas daquela maneira, não deve ter se dado conta de que era eu quem estava em sua frente.
— Eu vou tomar um banho. — Desconversou, deixando o copo sobre a pia.
Me lembrei de que precisava falar com ele sobre Miguel e tentei procurar um jeito de interceptá-lo para conversarmos. Aquele não era o tipo de conversa que eu teria com no caminho do trabalho, enquanto ele dirigia. Já previa que ele iria ficar furioso quando eu citasse o nome do pai de .
— Eu vou junto. — Quando vi, a merda já estava feita, quer dizer, dita.
, que já se encontrava na porta para deixar a cozinha, se virou no momento em que me ouviu, minha mãe se entortou na cadeira para me encarar e até mesmo abriu os olhinhos preguiçosos para me julgar.
— N-Nós já vamos sair juntos mesmo, não é? Pelo menos economizamos água. — Dei uma risadinha, indo até ele, que ainda me analisava intrigado. — Guarde meu omelete, sim? Vou tomar café quando voltar.
— Divirtam-se no banho. — Lhe dei as costas sentindo meu rosto inteiro queimar em vergonha. Minha mãe tendia a ser bem inconveniente às vezes, mas ultimamente estava passando dos limites.
me seguiu até as escadas, eu andava em passos largos, mas suas pernas eram muito mais longas que as minhas, quando chegamos em um ponto que não podíamos mais ser vistos, ele me parou encostando-me na parede.
— O que foi? Quer falar sobre ontem? Porque se...
— O que? Não! — Exclamei aos sussurros, encolhendo os ombros. Ele achava que eu iria confrontá-lo? Ali, literalmente encurralada, decidi seguir o plano inicial e me fazer de desentendida. — O que aconteceu ontem?
— Não se lembra? — Franziu o cenho enquanto eu tentava manter minha expressão de confusão. — Se você não quer falar sobre ontem, então... quer realmente tomar banho comigo? — Por incrível que pudesse parecer, sua confusão ali era genuína.
— Óbvio que não! — Pisquei rapidamente, sentindo meu rosto voltar a esquentar. — Na verdade, é sim sobre ontem, mas não sobre ontem.
Me atrapalhei toda ao notar que eu não poderia fingir que não me lembrava da noite passada se o que eu tinha para contar tinha acontecido justamente na noite passada.
— O que? — Exclamou. — , quer saber, está me atrasando. Quando resolver assumir as merdas que faz quando está bêbada aí a gente conversa. — Passou por mim, deixando-me boquiaberta onde estava.
O ódio me subiu e eu tratei de ir atrás dele, bufando de raiva. Quem aquele idiota achava que era para falar aquele jeito comigo?
— Eu fiz? Eu não estava no meu estado normal! — Exclamei incrédula adentrando o quarto. — Não fiz nada sozinha, você estava aqui comigo e eu não te obriguei a nada! — Cruzei os braços emburrada.
— Eu não consegui te afastar, , tinha acabado de ser acordado às duas da manhã, estava sonolento ainda! — Arquei as sobrancelhas, ele até tinha tentado me tirar de cima uma vez, mas não fez o mesmo após minha segunda investida, muito pelo contrário, tinha me puxado para mais perto.
E, convenhamos, um homem daquele tamanho poderia muito bem dar conta de me afastar com uma facilidade ridícula.
— Não estava sonolento merda nenhuma, estava de olhos abertos e seu amiguinho aí embaixo também estava bem acordado! — O afrontei.
Era a mais pura verdade, não tinha como me acusar de dar em cima dele porque o próprio demonstrou que estava gostando e ele, mais que ninguém, sabia daquilo.
— Agora você lembra da noite passada? — Riu irônico, puxando o zíper da corta vento vermelha que usava, revelando uma camiseta branca por baixo.
Desviei o olhar de seu rosto, constrangida. Era por aquele motivo que eu odiava mentir, sempre era pega em contradição! Do que adiantou tentar fingir que não me lembrava? Nada! No fundo só estava mesmo esperando o momento certo para me jogar na cara.
— Isso não é justo, eu estava bêbada e não vou me desgastar discutindo isso. — Respirei fundo, tentando fazer a linha de pessoa equilibrada. — Eu jamais faria tudo o que fiz se estivesse sã.
Com toda a certeza, eu tinha senso do ridículo! Jamais me jogaria no colo de , muito menos o imploraria para me levar pra cama.
— É, , eu sei. Esta é você, escolhe tanto, se priva tanto que acaba sem ninguém. — Soltei um riso desacreditado, desde quando aquilo era da conta dele? — Ah, e da próxima vez que for transar, procura um idiota que pelo menos te faça gozar pra depois não sobrar pra mim.
— Ah, está tudo explicado! — fingi estar impressionada, chamando sua atenção após vê-lo tirar a camisa. — Você, como o bom samaritano que é, quis me ajudar quando me pegou na cama.
— Sim, eu estava querendo ajudar. — Cruzei os braços sorrindo debochada. — Fiquei com pena. Mas parei quando percebi que você estava bêbada, que não estava no seu normal.
Eu não sabia explicar o que senti quando o ouvi dizer que tudo o que tinha acontecido noite passada tinha sido por pena. Eu odiava quando sentiam dó de mim, tinha vivido aquela situação muitas vezes ao me infiltrar no mundo de riquinhos de Grace. Quando a pena era por eu ser de classe inferior eu até poderia deixar para lá, mas o que tinha acabado de me dizer tinha me deixado possessa.
— Ah, obrigada por me explicar o conceito de concessão, eu não sabia o que significava. — Revirei os olhos.
— De nada! — Bufei ainda o encarando. Que vontade que eu tinha de socar aquele rosto bonito. Com alguns dentes a menos eu queria ver se ainda faria sucesso com as mulheres, porque por trás daquele corpo gostoso e aquele rostinho bonito, não passava de um babaca. — A gente ajuda e ainda reclamam... — Ironizou, tirando os tênis de corrida.
— Você não fez mas que a sua obrigação em parar.
— Chega, . — Me interrompeu, levando as mãos no rosto já impaciente.
— Quer que eu te aplauda por ter feito o mínimo? — continuei infernizando sua vida, pelo puro prazer de vê-lo perder a cabeça.
— Quer saber? — O olhei atenta para ver o que mais ele tinha para me falar, e me deparei com abaixando a bermuda. Me virei rapidamente, assustada.
— O que diabos você está fazendo, ? — esbravejei, encarando a parede a minha frente. Como ele simplesmente abaixava as calças no meio de uma discussão? O intuito era me calar? Porque se sim, tinha funcionando.
— Eu ainda estou de cueca, . — Ouvi o tédio em sua voz e virei o pescoço devagar, com medo de ele estar blefando. — Eu ia dizer que você está me atrasando a vida, vamos esquecer o que aconteceu ontem, sim? Foi um erro, não irá se repetir mais.
Me deu as costas revelando seus ombros largos e sua bunda bonita, coberta pela boxer preta que ele usava. Lembrei-me do propósito da nossa conversa e tratei de impedi-lo de entrar no banheiro.
, espera, não era sobre isso que eu queria falar com você. — Ele se virou intrigado. Passei a mão pelos meus cabelos, respirando fundo antes de lhe dar aquela notícia. — Encontrei Miguel ontem.
— O quê? Onde? — Seu semblante mudou, contorcendo-se em preocupação.
— Estava segurando o bolo de aniversário de Anne, ela o beijou após apagar as velas. — ficou surpreso. — Pois é, aquele mistério todo para revelar que está namorando aquele filho da puta.
O dedo de Anne para homens era tão podre que estava quase necrosando, e parecia que logo iria cair. Primeiro ela me vinha com aquele crush sem sentido em , para logo depois pegar Miguel? Se Anne continuasse a pegar todos os homens que eu odiava, logo assumiria um romance com meu pai.
— Ele te fez alguma coisa? Te disse algo?
— Não, não de novo. — Suspirei, sentando-me na cama. — Na verdade fui eu quem fez algo a ele... Eu meio que soquei a cara dele. — Fiz uma careta, lembrando-me da dor em minha mão no momento da pancada.
Nunca iria me esquecer do dia em que Miguel invadiu meu apartamento, quebrou minha janela e ainda me fez bater a cabeça com o empurrão que me deu. O ódio me consumiu enquanto eu contava a o que tinha acontecido.
— Porque não me ligou, ? — Vociferou, visivelmente alterado. Eu sabia que além de mim, só Miguel poderia tirá-lo do sério. Arriscava a dizer que, assim como acontecia comigo, odiava muito mais aquele desgraçado do que a mim. — Eu iria, no mesmo segundo eu pegaria o carro e iria!
— Ele me ofereceu dinheiro, . Disse que iria nos dar um preço e se pagássemos, ele desistia de . — Murmurei com os olhos já ardendo. Ele jogou as roupas no chão, esbravejando e vermelho de raiva. — Como se ela fosse a porra de uma mercadoria!
— Ele deu sorte que ainda não nos cruzamos por aí, porque eu juro que sou capaz de matar aquele desgraçado. — Neguei com a cabeça, tentando segurar o choro.
Era por isso que não tinha ligado, conhecia , sabia que ele não estava blefando no que acabou de falar. Queria evitar uma tragédia, apesar de saber que Miguel merecia sim uma surra bem dada.
— Miguel fez de propósito! Todo o mistério que Anne fez envolta desse namoro, foi tudo um plano dele, ele sabia que ela era minha amiga, armou tudo para que eu o encontrasse! — Solucei, secando minhas lágrimas.
— Acha que ele está atrás de você? — Assim como tinha feito com Grace, tornando a vida dela um inferno sem fim. Concordei com a cabeça, incapaz de responder em voz alta. Eu não tinha medo dele, só temia o que ele poderia fazer caso conseguisse chegar perto de . — Nós não podemos deixar que isso se repita, ! Vamos na delegacia, fazer uma medida protetiva para você! — Se abaixou diante de mim na cama. Cobria meu rosto com as mãos, tentando abafar o choro.
— E depois? Ficamos anos fugindo daquele imbecil? Deixamos ele ganhar por nos ver encurralados e temendo sua aproximação? — Esbravejei, ainda sentindo o rosto molhado. — E o que vamos dizer a polícia? Hã? Que minha amiga está namorando um idiota que eu não vou com a cara? Não temos provas contra ele, ! — respirou fundo, levantando-se com as mãos na cabeça.
— Na próxima vez que ver ele, saia de perto e me ligue, me ouviu bem? — Assenti apenas para encerrar aquela discussão, eu não ligaria para ele, se fizesse uma besteira colocaria todo o processo de adoção de a perder!
— Vai ser meio impossível não cruzar com Miguel agora, Anne não terminou com ele, eu contei tudo a ela, ! E ela não quis me ouvir!
— Qual o problema dessa garota, afinal? — Realmente, Anne tinha um problema bem sério quando o assunto envolvia homens, não era possível ser tão cega ao ponto de ignorar tantas placas de aviso de perigo! Aquela ali gostava de quebrar a cara.
— Eu não sei! Ela me disse tantas coisas ontem e nem estava bêbada ainda. — Suspirei, vendo-o me encarar em expectativa. Eu teria mesmo que contar as asneiras que ouvi noite passada? — Anne disse que eu acho que o mundo gira em torno de mim e que eu quero todos os homens que se interessam por ela.
Ele arqueou as sobrancelhas numa pergunta muda, eu assenti. Sim, Anne tinha incluído quando insinuou que eu queria roubar todos os homens dela.
— Ela está ficando louca? Anne sabe de toda a verdade e ainda veio com essa? — Concordei com ele, estava tão óbvio que e eu não tínhamos nada, que era até idiota Anne chegar a aquela conclusão. — De onde ela tirou isso, afinal?
— Ela citou o casamento, disse que tinha nos visto juntos.
— É claro que viu, era nosso casamento, fazia parte de toda a farsa! — Ele também estava incomodado com aquilo, eu não tinha sido a única.
Saber que também estava presente no casamento e se lembrava de tudo por não ter bebido tanto quanto eu era aliviador, provava que nós não tínhamos feito nada demais naquele dia. Apesar de tudo, eu ainda queria ver a filmagem do casamento, ver com meus próprios olhos e tirar minhas conclusões.
— Eu disse a ela que não importava, e realmente não importa o que ela acha ou deixa de achar. — passei as mãos pelos cabelos exasperada. — é a pessoa mais importante no meio disso tudo, já disse e repito quantas vezes forem necessárias que não vou permitir que façam mal a ela, por isso decidi cortar relações com Anne. — concordou em silêncio, compreensivo. — Me dói muito perder mais uma amiga, mas enquanto ela estiver com Miguel, quero distância.
O celular de começou a tocar em cima da cômoda e o vi ir até ele atender. Sequei meu rosto levantando-me da cama, peguei as roupas dele e fui até o banheiro, colocando-a no cesto de roupas sujas, voltei cedo o bastante para ouvir o fim de sua conversa.
— Tudo bem, já chegou na empresa? — Ele estava sério ao telefone, apesar da tensão toda que aquela manhã estava sendo, não pude deixar de achar engraçado sua figura à minha frente. vestia apenas uma cueca preta e um par de meias brancas enquanto resolvia negócios ao telefone. — Ok, tio, te vejo lá.
Arquei as sobrancelhas. desligou respirando fundo, algo me dizia que aquela também era uma manhã difícil para ele.
— Tio?
— Sim, Edward está em Londres. — Imaginei que pudesse ter algo de errado na empresa, algo bem grave, e alguma coisa me dizia que era culpa de ! Eu sabia que ele não duraria muito tempo sem a supervisão do pai sem fazer alguma merda. — Tenho que ir, vou tomar café com ele. Temos assuntos a tratar.
Ele passou por mim como um furacão, fazendo-me arregalar os olhos, parecia prestes a explodir!
— Tudo bem, eu vou pegar um... — A porta do banheiro foi fechada, dando-me um pequeno susto. — Uber... Vou pegar um Uber para a lanchonete. — Murmurei sozinha, voltando a me sentar na cama, afinal, minha mãe achava que eu e estávamos no banho juntos.
Separei minhas roupas e fiquei na cama, encarando o teto. Por sorte tinha ficado tão avoado com aquela ligação que apenas tomou um banho rápido, desocupando o banheiro para mim, que estava morta de fome por ainda não ter comido nada.
— Estou indo. — Anunciei chegando na sala, onde minha mãe lia um livro na companhia de , que para variar estava dormindo.
já foi, saiu praticamente correndo daqui. — Ela comentou, baixando o livro para me olhar.
— É, ele recebeu uma ligação importante. — Deixei um beijo no topo da cabeça da bebê, sentindo o cheirinho bom do seus cabelos claros e dei um na bochecha da minha mãe. — Bom, vou indo, qualquer coisa liga, até mais tarde, mãe.
Entrei no Uber de má vontade, o motorista tinha demorado horrores para chegar até minha casa e o anterior tinha cancelado a corrida. Odiava depender dos outros, se fosse com Amy já estaria na metade do caminho.
era outro sem noção, veio com aquele papo de que eu deveria chamá-lo caso encontrasse Miguel outra vez, fingindo-se de preocupado, mas na primeira oportunidade me deixou para trás. Eu não iria ligar mesmo! Ele achava que era quem? O Superman? Eu não era nenhuma donzela indefesa, sabia muito bem me defender sozinha.
As primeiras horas do dia sempre foram as mais corridas para nós, era a hora do café da manhã e pela localização do estabelecimento muitos trabalhadores iam até a lanchonete fazer aquela refeição reforçada e em grupos com colegas de trabalho, foi tanta movimentação que nem ao menos consegui ficar a sós com Anne. Dei graças aos céus, apesar de estar magoada, tinha a consciência tranquila de que eu estava certa daquela vez, e não iria pedir perdão por um erro que não cometi.
— Oi, meu amor! — Exclamei sorridente ao adentrar o carro de após atravessar a rua debaixo de uma garoa fina. O tempo finalmente estava mudando, fazendo-nos começar a dar adeus ao calorzinho que tinha feito nos últimos dias.
me olhou com seus olhinhos verdes brilhantes e mexeu os bracinhos e perninhas em resposta. Como eu a amava! Não sabia que era possível sentir algo tão forte e avassalador por um ser tão pequeno que ainda só mamava, dormia e sujava fraldas. Ela só existia e já me desmontava inteirinha!
Chegamos no hospital e já fomos chamados para a sala de vacinas, era pintada em tons pastéis e tinha nuvenzinhas e um solzinho em uma das paredes. Tudo aquilo para disfarçar a carnificina que acontecia ali ao furar bebezinhos com agulhas enormes. A enfermeira chegou a estranhar a quantidade de pessoas junto de , mas explicamos que aquela era sua primeira vacina e queríamos estar presentes, todos nós.
— Tem certeza de que quer segurá-la? — Minha mãe perguntou a receosa. Ele afirmou que sim, estranhando a pergunta. — Tudo bem, não me diga que não avisei.
Quando a mulher de jaleco se virou com a seringa já em mãos, arregalei meus olhos sentindo meu corpo todo se arrepiar. Pobrezinha! Eu não queria nem ver mais, lhes dei as costas cobrindo meu rosto em agonia.
— Calma, está tudo bem, só preciso que segure as perninhas dela, por favor. — Logo o choro estridente e desesperado de ecoou pelo local, quebrando meu coração em micro pedacinhos. — Pronto, pronto, já foi .
Quando me virei de volta vi seu rostinho vermelho e molhado em lágrimas, já comprimia os lábios com a testa franzida, seus olhos verdes estavam cheios e ele encarava a sobrinha com pena. Provavelmente arrependido de tê-la segurado para que a furassem.
— Vocês dois tem que parar de serem moles! — Minha mãe resmungou, pegando a bebê chorosa dos braços de , que ficou calado passando as mãos pelos olhos, disfarçando o choro. — É para o bem dela, e daqui para frente serão só vocês dois, terão que ser fortes.
Nos entreolhamos refletindo o que nos foi dito. Minha mãe iria embora no dia seguinte, quando Elisabeta não estivesse em casa seríamos só nós dois mesmo, tínhamos feito aquele curso rápido e sabíamos o básico.
Mas era um ser humano, teria coisas que nós iríamos ter que fazer mesmo não gostando da ideia. Como por exemplo sair para trabalhar e deixá-la em casa, aquilo doía muito mais do que vê-la tomando uma injeção, mas era preciso ser feito.
— Daqui há três dias completará dois meses de vida. — Encarei surpresa, mas já? — É, crianças, vai passar bem rápido, aproveitem esse bebêzinho enquanto é tempo. — Suspirei encarando-a do banco da frente. — Vão comemorar o mêsversário dela?
Eu sempre via famílias ricas comemorando mêsversários de seus filhos e confesso que nunca tinha entendido o conceito de fazer uma festinha para um bebê que não entende nada do que está rolando a sua volta. Porém não poderia negar que achava uma gracinha as fotos que via e as recordações que ficavam depois.
— Não sei, que tal um jantar simples? — sugeriu, concentrado no trânsito. — Aí, aproveitamos e já nos despedimos de você, Theresa. — Minha mãe sorriu sem graça.
— Tudo bem, vou preparar um bolo e o jantar especial para essa princesa. — Ri do seu tom meloso.
— Podemos chamar Amélia. — Sugeri, recebendo uma concordância vinda de . — Estou com saudades dela.
O restante do curto percurso foi apenas sobre os preparativos para mais tarde. Fui deixada de volta na lanchonete, preparei um lanche para mim e fui almoçar nos fundos do estabelecimento, onde ficava a pequena área de funcionários.
— E aí, como foi lá? — Tiffany foi bisbilhotar lá nos fundos, fiz uma cara de desaprovação quando ela se sentou à minha frente. — O Sr. Williams não está e não tem clientes por enquanto. — Deu de ombros, fazendo-me rir enquanto negava com a cabeça. Cara de pau.
— Foi horrível, você precisava ter visto o tamanho da agulha. — Meus olhos se marejaram só de me lembrar.
— Eu não quis falar para não te dar medo, mas minha amiga disse que chorou em todas as vacinas que o filho dela tomou. — Ri junto dela, imaginando quantos mais teria que tomar. — Você é oficialmente uma mãe, amiga. — Pegou minha mão por cima da mesa. Baixei meu olhar ao me recordar do que foi dito por Anne. — , eu sei que ela fez merda, mas fala com ela, por favor, não gosto de ver vocês assim.
— Nós não temos mais nada para falar, Fanny. — Murmurei cabisbaixa.
Eu nem sabia se queria ouvir mais coisas vindas de Anne, depois de tudo o que ela me disse, tinha até medo se tinha mais algo a sair da boca dela.
— Na verdade nós temos. — A loira adentrou a salinha, fazendo Fanny se levantar de onde estava. — Cuida da loja, por favor? — Ela assentiu saindo e nos deixando a sós. — , podemos conversar? — Olhei seu rosto pálido e concordei, somente pela consideração que tinha por ela. — Me desculpe por ontem, acabou que você estava certa sobre Miguel.
Eu queria gritar na cara dela que tudo aquilo poderia ser evitado se ela não tivesse se deixado manipular por ele, esfregar na cara dela que eu estava certa desde o início. Mas não o fiz, estava feliz que ela tinha reconhecido seus erros e estava ali me pedindo perdão.
— Ele terminou com você?
— Não, eu terminei. — Pelo menos tinha recuperado seu orgulho. — O confrontei e ele me disse que era um plano para se aproximar, ele queria negociar a guarda de . — Senti meu estômago embrulhar naquele momento. — Não vou mais vê-lo, eu prometo.
— Anne, você contou a ele alguma coisa sobre eu e ? — Ela negou veemente e me perguntei porque Miguel se aproximaria dela se não fosse para pegar informações. — Tem certeza, nunca sequer comentou algo sobre nosso casamento falso ou a adoção da ?
— Não, eu apenas falava de você como uma amiga, que trabalha comigo, nem sequer citei seu estado civil ou algo do tipo, eu juro que só disse seu nome e mostrei uma foto de nós três juntas. — Não era preciso mostrar foto alguma, o desgraçado já sabia que Anne era próxima de mim, será que ele estava me investigando desde o dia que invadiu minha casa?
— Anne, isso é muito perigoso, ele pode usar algo contra mim para tirar de nós. Você tem certeza que ele não chegou a me ver beijar aquele carinha na boate?
— Tenho, ! Quando ele chegou, me mandou mensagem para encontrá-lo lá fora, Miguel fumou e depois entramos. Ele não tinha te notado até a hora que você subiu pro camarote. — Explicou, deixando-me mil vezes mais aliviada. — Agora vamos, por favor, voltar a nos falar! Eu senti sua falta e você estava ao meu lado, não gosto de brigar com vocês.
Suspirei concordando, levantando-me junto dela e recebendo um abraço apertado. Eu a amava como uma irmã, e apesar de ser filha única, eu sabia como a relação de irmãos poderia ser conturbada de vez em quando, mas ainda assim ter muito amor envolvido.
— Tiffany! A lanchonete! — Exclamei quando senti mais um par de braços nos envolvendo no abraço.
— Eu também faço parte desse trio, ora! — Anne soltou uma gargalhada ao ouvir o drama da morena.
— Aproveitando que estamos todas aqui, quero convidar vocês para um jantar em casa hoje a noite, vamos comemorar o mêsversário da .
— Desde quando você acha legal comemorar mêsversário de bebês? — Tiffany riu debochada.
— Desde que se casou com um homem rico, que pode dar festas sem motivos aparentes. — Rimos da fala de Anne.
Estava explicado o meu pensamento sobre achar aquela comemoração sem sentido, eu era pobre, e nós pobres não fazíamos festa sempre daquele jeito.
— Ela é mãe, Fanny, mães fazem essas coisas bregas mesmo. — Sorri diante da implicância, era bom tê-la de volta.


(...)


Cheguei em casa acompanhada de , fui no lavabo para higienizar minhas mãos antes de ir para a sala e pegar um pouquinho, ele foi depois de mim, estava calado e aparentava estar cansado. No caminho não nos falamos, era melhor daquele jeito. Se já brigávamos quando estávamos com um humor normal, imagine o que não poderia sair quando um de nós estava de mau humor.
— Elisa, esta é , minha filha que te falei a respeito. — Sorri para a mulher madura a minha frente, tinha olhos castanhos e cabelos meio que grisalhos.
— Muito bonita. — Comentou ao vir me cumprimentar com um beijo na bochecha, achei ela simpática, gostei da primeira impressão. — é um amor de menina, quase não dá trabalho. — Sorri agradecida. A bebê soltou um espirro no colo de minha mãe, chamando nossa atenção. — Ela está espirrando o dia todo, pobrezinha.
— Será que não é reação à vacina? — Franzi o cenho preocupada.
— Acho que não, geralmente é febre ou enjoo. — Explicou. Minha mãe tinha me dito que Elisabeta era uma enfermeira aposentada. Eu confiava nela por saber de suas qualificações. — Mas vou ficar de olho nisso. — Notei que ela tinha a bolsa nas mãos e que estava de saída.
— Ué, não vai ficar para o jantar?
— Não posso, tenho outro compromisso, perdoe minha desfeita. — Sorriu sem graça, assenti em concordância. — Já estou atrasada aliás, tchau, até amanhã! Obrigada pela hospitalidade.
A acompanhei com os olhos até a porta, minha mãe a tinha levado, antes de chegar até lá, as interceptou. Ele cumprimentou Elisabeta com um beijo na bochecha, queria saber porque ele tratava todo mundo a sua volta como uma pessoa normal e quando era comigo, virava um idiota.
Não que eu quisesse que ele tratasse os outros mal! Mas ele tinha conhecido ela mais cedo quando foi buscar minha mãe e para tomar a vacina! Ele parecia gostar dela e tinha acabado de conhecê-la.
— Vão tomar um banho! Os convidados já estão pra chegar!
— Convidados? Não era só Amélia que viria? — indagou, fazendo-me encolher os ombros.
Eu tinha ligado para minha mãe e lhe pedido para colocar mais pratos na mesa, pois as meninas iriam também. Mas não falei nada para ele.
A campainha tocou e minha mãe foi atender, me dando para segurar. A porta se abriu, revelando Tiffany e Anne ainda com seus uniformes de trabalho reclamando da chuva que caía.
— O que ela faz aqui? — Indagou, já enfezado.
Lembrei-me de nunca mais contar briga nenhuma para ele, era a mesma coisa de contar para as amigas o que o namorado nos faz, depois voltamos e elas continuam odiando o cara. Se bem que naquela vez eu não tive escolhas, envolvia Miguel e aquele era um assunto que envolvia também.
— Eu vou explicar, só um minutinho, sim? — Passei para o colo dele, indo até onde elas estavam. — Mãe, essas são Tiffany e Anne, minhas amigas do trabalho. — Elas se cumprimentaram em meio a sorrisos e elogios.
— Tudo bem, agora vão para o banho os dois. — Minha mãe tirou dos braços de , empurrando-nos pelas costas. — Vão economizar água como fizeram de manhã, andem!
Subimos para cima e parecia que a manhã daquele dia estava se repetindo, mas daquela vez foi na frente por pura impaciência mesmo.
— Ela me pediu desculpas, ok? Disse que Miguel não sabe de nada, que não disse nada sobre nós. — Desatei a falar quando entramos no quarto.
, você tem certeza que Anne terminou tudo com ele? — Indagou afrouxando a gravata. Assenti com certeza, pelo menos era o que ela tinha me dito, e eu acreditei nela.
— Licença. — Ouvimos a voz feminina e olhamos para a porta, onde a cabeleira loira de Anne estava. — Sei que não vieram realmente tomar banho juntos, então aproveitei que iria pegá-los aqui. — Adentrou o cômodo sem jeito. — , eu quero te pedir desculpas, já falei com mais cedo mas acho que te devo isso por ter colocado em risco. Não era a minha intenção, eu juro.
— Tudo bem, Anne. — e encarou ainda sério demais, parecia que ainda não tinha comprado o arrependimento da minha amiga, mas eu via nos olhos dela que ela falava a verdade. — Desculpas aceitas.
— Anne, querida, cadê a fralda? — A voz da minha mãe ecoou abafada, fazendo-a recuar seus passos para fora.
— Tenho que ir. — Sorriu amarelo. — Obrigada, .
Ficamos encarando a porta de madeira por um tempo, logo ele começou a se despir de seu terno e eu me sentei na cama, teria que esperá-lo sair para poder entrar. O que era injusto já que eu trabalhava mais duro que ele e estava mais cansada.
— Estou aliviada que isso acabou. — Suspirei, jogando-me de costas no colchão.
— Espero mesmo que tenha acabado. — Me deu as costas revelando seus ombros tensionados por debaixo da camisa social escura que usava.
Pensando bem, parecia estar mais cansado que eu sim, desde a ligação do tio mais cedo, parecia que estava com um peso invisível nas costas. Eu tinha me livrado do meu, mas o dele estava ali presente e podia não ter relação com ou nossa situação.
Após esperá-lo tomar banho, entrei em seguida, apreciando o cheiro de seu shampoo, que permaneceu no box mesmo após ele ter saído. Me troquei no banheiro mesmo, vestindo uma camiseta simples e preta, junto de um jeans de lavagem escura que tinha, quando saí me surpreendi em ainda encontrá-lo ali, concentrado no próprio celular.
— Achei que já tinha descido. — Comentei indo até a penteadeira, onde desfiz o coque que tinha feito no banho e passei a pentear meus cabelos loiros.
— Estava te esperando para irmos juntos. — Assenti, passando algumas gotas de lip tint nos lábios, deixando-os mais avermelhados, o rímel que passei mais cedo ainda estava intacto. — Para quê essa arrumação toda? — Levantou-se, encarando-me pelo espelho.
— Fotos. — Passei os dedos por debaixo dos olhos retirando um resquício de maquiagem. — Minha mãe vira a louca das fotos em comemorações, depois sai mostrando para todo mund... Espera, ela não pode tirar fotos da gente, vão nos descobrir!
Do jeito que aquela cidade era pequena, só bastaria uma pessoa vendo a foto que minha mãe com certeza exibiria para que quer que tivesse duvidado que um dia eu me casaria, que já era equivalente a dez pessoas, de tão rápido que as notícias voam por lá. Com certeza logo chegaria nos .
— Será que seu tio já contou a eles?
Lembrava-me de ter ouvido falar que tinha bloqueado a família em todas as redes sociais, tentando retardar a velocidade com que as informações sobre o casamento e a adoção de chegariam em seus pais, não sabíamos o que esperar das reações deles.
— Será que não mandaram ele aqui para averiguar?
soltou um riso fraco. Eu não tinha entendido, aquele questionamento me pareceu bem válido.
— Qual é a graça? — Arquei uma sobrancelha.
— Isso não é um filme de espionagem, . — Sorriu divertido, fazendo-me revirar os olhos. — Não foi esse o motivo da vinda do meu tio, para falar a verdade eu até preferia que tivesse sido. — Passou a mão nos cabelos castanhos, exasperado. — Edward viu a aliança e já ouviu comentários sobre um certo bebê no meio de reuniões minhas, ao certo meu pai também deve estar a par das novidades na empresa.
Fiquei tentada a perguntar o que diacho o estava incomodando tanto, mas sabia que orgulhoso como era, não se abriria para mim. Não o julgava por não fazê-lo, eu também tinha questões pessoais e familiares que nunca dividi com ninguém, nem senti confiança em compartilhar, a única pessoa que eu queria ter contado já não estava mais entre nós para me ouvir.
Uma movimentação aconteceu no andar de baixo e nos entreolhamos ao reconhecer aquela voz.
— Amélia chegou, vamos descer. — Como se tivesse lido meus pensamentos sobre querer invadir sua privacidade. seguiu na frente, abrindo a porta para que eu pudesse ir atrás.
— Podemos deixar essa história do Miguel entre nós? — Indaguei no corredor, fazendo-o parar de andar na hora e se virar para me olhar, aquele olhar, eu sabia o que ele queria dizer. — Na próxima vez que ele aprontar faremos algo a respeito, tudo do jeito que você quiser. — Lhe garanti, com esperança de ser deixada em paz por Miguel.
Ele não merecia aquela compaixão vinda de mim, na verdade, não era nem aquele o motivo de eu estar tão relutante ao contra atacar com a medida protetora e até mesmo com uma surra bem dada, eu só pensava em . Não saberia como iríamos explicar tudo aquilo a ela anos mais tarde. Quanto menos complicado tudo se tornasse, mais fácil seria.
— Há quanto tempo! — A loira sorriu abertamente, abrindo um dos braços para me abraçar, enquanto o outro já estava ocupado pelo pequeno corpo de . — Já peguei a aniversariante para mim! — Riu junto de mim. A soltei dando espaço para , que apesar de no começo não ter dado o braço a torcer, gostava muito da advogada.
— Bom, já que estamos todos aqui, vamos jantar? — Todos concordaram e fomos para a cozinha, ocupando todos os lugares da mesa. Eu sentiria falta da casa cheia quando tudo voltasse ao seu "normal". — Eu estou morta de fome.
Me servi e coloquei no carrinho, próxima da minha cadeira e de , que estava na ponta da mesa. O clima estava descontraído, minha mãe tagarelava sobre minha infância para Fanny e Anne enquanto o restante de nós ríamos e fazíamos comentários vez ou outra.
— Como estão as coisas, hein? já tem dois meses! Já vi que vai passar voando. — Amélia sorriu ao ver o bico que se formou em meus lábios.
Ao passar meus olhos pelas pessoas presentes ali, vi os olhos claros da minha mãe nos espiar. Se não fosse por ela ali, e eu estaríamos nos tratando como sempre fazíamos: Na base do ódio. Ela era a única que não sabia da farsa que estávamos metidos, por isso teríamos que bancar o casal do mesmo jeito.
— Estamos indo bem. — Estiquei-me, afundando meus dedos em seu cabelo próximo a orelha. — Acho que formamos um bom time, não é? — concordou forçando um sorriso, pegando minha mão e depositando beijos no dorso. A cara de Amélia, Tiffany e Anne ao presenciar nosso teatro era impagável. — Minha mãe ajudou muito, mas acho que de agora em diante damos conta.
— E como agradecimento pela ajuda, e eu temos um presente para você, sogrinha. — As meninas exclamaram em surpresa, enquanto minha mãe fazia uma linha modesta, dizendo que não precisava.
Eu sorria forçadamente, querendo socar a cara de . Ele estava fazendo de novo, fazendo coisas sem me consultar antes e me deixando sem saber como agir. Eu sabia o quão difícil era aceitar, mas infelizmente éramos uma dupla! Tínhamos que trabalhar em conjunto se quiséssemos fazer aquilo funcionar e dar certo. estava desesperado para voltar a ser solo.
Apesar de estar furiosa com o improviso dele, achei incrível ter pensado num presente para minha mãe, ela realmente estava merecendo por tudo o que fez por nós. Admitia que por conta de nossa relação estremecida eu não tinha pensado numa forma de recompensá-la, mas reconhecia seus feitos, afinal de contas ela não tinha obrigação nenhuma de nos ajudar. Se ela não tivesse ao menos me atendido quando liguei não ficaria surpresa, mamãe estaria na razão dela.
— Eu fico até emocionada. — Ela murmurou com os olhos prestes a transbordar. O envelope que lhe deu estava em suas mãos trêmulas. Exclamou em felicidade quando abriu e os papéis e folhetos ficaram visíveis, senti meu coração se aquecer. — Que presente maravilhoso!
— O que é? — Tiffany indagou curiosa. Quase agradeci a ela por perguntar no meu lugar, eu só tinha visto as imagens, porém ainda não sabia do que se tratava.
— São duas passagens para o Rio de Janeiro, num resort em Arraial do cabo. — explicou, já que minha mãe estava emocionada demais para falar.
Lembrava-me de ter ouvido Grace rasgar elogios a aquele lugar, em uma das férias da família , Joseph tinha aproveitado uma viagem de negócios para levar a família para conhecer o Brasil, onde iria abrir uma filial. As fotos da minha amiga ficaram lindas com aquele mar azul ao fundo, aproveitou bastante a estadia, segundo Grace, o irmão passou o rodo por onde andou por lá.
— A senhora e seu marido vão adorar o lugar, tem passagens de ida e volta, para aproveitar o restante de suas férias. — Meu sorriso murchou quando ouvi falar de meu pai. — Vai ser uma segunda lua de mel.
Dei um longo gole no meu suco, tentando empurrar o nó que se formou em minha garganta. Não falei nada, apenas fiquei observando-a folhear as páginas e mostrar para as meninas toda animada.
— Muito obrigada, eu amo vocês, mas realmente não precisavam se preocupar com isso, cuidei de com todo o amor do mundo e se precisarem podem me chamar de novo! — Ela sorriu para a bebê no carrinho. — Matthew e eu vamos aproveitar bastante. — Seus olhos focaram-se em mim e abaixei minha cabeça, deixando a mesa já impaciente.
Ele não merecia viajar com ela, não merecia que minha mãe ainda estivesse ao seu lado depois de tudo o que ele tinha feito. Saí de casa justamente por não suportar mais aquela banalização, porque ela não o deixava? Eu a ajudava financeiramente, sempre lhe mandei dinheiro apesar de tudo, minha mãe tinha um emprego fixo, saberia se virar sozinha, porque insistia em ficar com aquele homem?
— Vamos comer o bolo? — A voz de mamãe exclamou e as cadeiras foram arrastadas. Apoiei-me na pia, respirando fundo e engolindo o choro.
, está tudo bem? — A mão de Anne me tocou o ombro, balancei a cabeça em afirmativo.
— Sim, é só um mal estar. — Disfarcei, sorrindo minimamente. — Só estou cansada.
— Vamos tirar fotos! — Ri fraco me aproximando junto de Anne, minha mãe já tinha o celular em mãos.
Ela fez todo mundo tirar foto com , dizia que era para quando a bebê crescesse, iria ver quem a acompanhou desde pequenininha. E ela realmente guardava todas aquelas imagens, em casa minha mãe tinha fotos minhas bebê no colo de pessoas que nunca vi na vida.
— Agora só a família. — Empurrou pelo ombro em minha direção após pegar o celular das mãos dele.
Era sempre um constrangimento atuar ao lado de , mas daquela vez era pior ainda, ter que trocar carinhos com ele em frente às únicas pessoas que sabiam da nossa farsa era vergonhoso. Justamente por imaginar o que se passava na cabeça de cada uma delas, que prenderam o riso ao vê-lo se aproximar sem saber onde se posicionar.
ficou atrás de mim e passou os braços pelos meus, eu segurava e sorria amarelo, esperando-o se decidir o que ele faria com as mãos. Por fim, pousou as mãos em minha cintura, abraçando-me por trás enquanto se curvava levemente para ficar mais próximo.
Anne e Tiffany se entreolharam, provavelmente estranhando a naturalidade com que agi com aquela interação dele, elas não sabiam que noite passada aquele par mãos tinha passeado pelo meu corpo diversas vezes. E se dependesse de mim, jamais saberiam. Eu não teria coragem de admitir que sentia desejo por aquele ser desprezível, muito menos que algumas vezes me rendi a aquelas vontades insanas.
— Ela está sorrindo! — Amélia sacou o celular, maravilhada, todas elas se derretiam com a cena.
— Não se mexam! — Obedecemos minha mãe, sorrindo junto. Quase morri de amores quando ela mostrou o resultado da foto.
nunca tinha sorrido, a apertei em meus braços beijando sua bochecha repetidamente. Era tão incrível saber que estávamos fazendo-a feliz e que nosso compromisso com ela estava sendo cumprido. Mesmo nos odiando, e eu nos sacrificamos para cuidar de , e tudo aquilo estava valendo a pena.
Após comer o bolo, jogar um pouco de conversa fora e paparicar a bebê, elas foram embora e nos deixaram na cozinha.
— Vão dormir, vocês dois. Eu limpo essa bagunça e coloco para dormir. — Mamãe interviu quando viu recolhendo os pratos da mesa.
— Não, mãe, a senhora viaja amanhã, precisa arrumar suas coisas e descansar. — Protestei, bocejando em seguida.
— Nada disso, vocês trabalham amanhã, eu só viajo a tarde. Vão descansar tranquilos. — Beijou minha testa e a de em seguida.
Antes de subir, beijei mais milhões de vezes e segui para o quarto. Tirei meus sapatos e me sentei na cama esperando atravessar a porta, quando ele o fez, a fechei já me preparando para confrontá-lo.
— O que foi aquilo?
— O quê? O presente? — Franziu o cenho.
— Porque não me disse nada? — Cruzei os braços, arrancando um riso sem humor dele.
— Por que eu que paguei, quis comprar e o fiz, não tinha porque te falar nada. — Passei a mão no rosto impaciente. — Meu Deus, ! Sua mãe merece aquele presente, porque está achando ruim? — O problema não era o presente, era o fato de ele ter comprado uma passagem para aquele ser.
— Concordo com você, ela merece o presente. — arqueou a sobrancelha, visto que eu tinha argumentado com a mesma coisa que ele tinha acabado de me falar. — Mas... — me freei na hora, eu não iria falar daquele assunto com ele. — Mas ele não. — Entrelacei minhas mãos, tentando disfarçar a tremedeira.
— Ele? Seu pai você quis dizer. — Desviei meu olhar do seu, ele não tinha noção do que falava, e era aquilo que me enfurecia, tinha que parar de se intrometer nos meus assuntos familiares! Ele não sabia de nada! — Sua mãe me contou sobre um passado seu... — Gelei onde estava, e não esperei sequer concluir seu raciocínio.
— O que ela te disse? Hã? — Tentei controlar minha voz trêmula.
Se minha mãe tivesse contado a sobre as agressões de meu pai e ele estivesse tratando tudo aquilo com aquela naturalidade toda...
Sei que nunca fui de esperar boas atitudes vindas de , mas aquilo já era demais! Eu me recusava a acreditar que tinha coragem de apoiar um agressor de mulheres, e pior! Lhe presentear com uma viagem para o Rio.
— Nada... Não me disse nada, ela acha que você e eu já conversamos sobre... — Respirei aliviada, sentindo a lágrima solitária escorrer pelo meu rosto. — Que passado é esse ? — Neguei com a cabeça comprimindo meu choro. — Ela disse que eu ajudaria a apagar o que aconteceu, mas como vou fazê-lo sem saber o que houve?
Eu não dividiria minhas fraquezas com , nem com ninguém. Não queria que ele me tratasse diferente após saber dos meus traumas com violência doméstica, nós vivíamos brigando e aquilo era algo normal de nós dois, não queria que aquilo mudasse. Não queria ver aquele olhar de pena que ele estava me dando naquele momento.
— Não é da sua conta.
— Como quiser. — deu de ombros, sorrindo irônico. — Você nunca aceita ajuda de ninguém, não é, ?
— Eu não preciso da sua ajuda. — O olhei com desprezo. — Não sei se já percebeu, mas você só está atrapalhando. — soltou um suspiro cansado.
— O que quer que eu faça então? Cancele a estadia deles no resort, tome as passagens da sua mãe? — Encarou-me bravo. — Isso vai fazer a vossa majestade feliz? — Ironizou.
— Não, já fez demais por uma noite, não acha? — Passei por ele, indo em direção ao banheiro. — Como você mesmo disse, , o dinheiro é seu, não é? Eu não participo de decisão nenhuma nessa porra de plano, sou apenas um fantoche, não sou?
... — Fechei a porta na cara dele, do mesmo jeito que foi feito comigo mais cedo, o ouvi bater algumas vezes e o ignorei.
Encostei-me na parede ao lado, esbarrando no interruptor e acendendo as luzes. Alguns soluços escaparam antes que eu pudesse tapar minha própria boca para abafá-los. Após algum tempo ali, depois de conseguir acalmar as batidas do meu coração e cessar os soluços, deixei o banheiro e troquei de roupas ali mesmo. tinha passado por mim, entrando em seguida.
Adormeci rápido, sabendo que no dia seguinte as coisas iriam estar um pouco melhores já que minha mãe iria embora e não teria que fingir gostar de o tempo todo.


(...)


O dia seguinte tinha sido bem corrido, o trabalho foi estressante por conta da visita da vigilância sanitária, que fez sua inspeção anual na lanchonete deixando o Sr. Williams uma pilha de nervos, e ele não nos poupou nem um pouco.
Tinha me despedido de minha mãe antes de sair, apesar de tudo, lhe desejei uma boa viagem de férias e que ela aproveitasse muito as praias para descansar. Se é que ela conseguiria relaxar com aquele encosto junto dela. Esbarramos com Elisabeta quando estávamos de saída e eu surpreendentemente consegui deixar a casa tranquila, a nova babá passava uma credibilidade aliviante.
Saí mais uma vez uma hora mais cedo do trabalho, o acordo com o Sr. Williams era até os três meses completos de . Começava a escurecer quando peguei Amy e fui, como sempre fiz, acompanhando o trânsito com minhas pedaladas e numa velocidade segura. Quando me aproximei da entrada do condomínio, percebi uma luz forte vinda detrás de mim.
Apertei os freios quando ouvi o barulho de pneus gastando-se no asfalto, tinha tentado parar para deixar o apressadinho passar antes de fazer a curva e entrar para dentro da portaria. Mas a caminhonete grande foi jogada em cima de mim, mesmo após eu ter parado, acertando-me em cheio.
Tudo aconteceu tão rápido, só tive tempo de fechar meus olhos e sentir o forte impacto antes de ser lançada pelos ares junto da bicicleta frágil.

Capítulo 19

O medo nos deixa frágeis, antes eu não tinha medo de morrer, sempre achei que aquilo acontecia na hora que tinha que acontecer e nada nem ninguém podia impedir a morte de chegar. Mas depois de , a ideia de deixar este mundo me apavorava.
O impacto do meu corpo indo ao chão me tirou de órbita por um milissegundo, a única coisa que consegui pensar foi em proteger minha cabeça de bater, sabia que era minha única chance de defesa e foi a única coisa que tive tempo de fazer.
Sempre fui uma criança agitada, vivia correndo para lá e pra cá, aquilo sempre resultou em muitas quedas, por isso mamãe tinha me ensinado a proteger meu rosto colocando as mãos na minha frente, para amortecer a queda. Foi inevitável não me lembrar do dia em que fui arremessada longe, pelo meu próprio pai. Fiz o que mamãe me ensinou e aquilo me causou um braço quebrado.
Meu corpo caiu num matagal que tinha na beira da estrada que comportava o condomínio onde morávamos, não antes de pegar um pedaço do asfalto e ralar minhas costas com o contato. Quando o mundo parou de girar para mim, ouvi vozes abafadas se aproximarem, sentindo minha pele queimando em brasa.
— Oh, meu Deus... — Uma voz feminina exclamou, vi alguns feixes de luz sendo apontados para mim, já estava escurecendo, eu podia perceber pelo tom de azul escuro que cobria os céus. — Aqui está ela.
— Ela está bem? — Um homem daquela vez. Eu conseguia ouvir seus passos se aproximarem pela folhagem verde do local.
Consegui me mexer um pouco, gemendo de dor ao fazê-lo. Tentei levantar o tronco, mas meu corpo simplesmente doía e não obedecia aos meus comandos. Lágrimas molharam meu rosto enquanto a minha única ação possível naquele momento era chorar, e até mesmo algo simples me causava desconforto.
— Calma, moça, nós vamos te ajudar. — Deixei-me cair no chão, sem mais forças para tentar fazer algo, o vento me atingiu em cheio, fazendo-me fechar os olhos em agonia quando tudo começou a ser arrastado pelo ar gelado.
— O que houve? Cadê a vítima? — Abri uma fenda em meus olhos ao ouvir uma voz familiar no meio de tanta confusão. — ? — Se ajoelhou próximo de mim, sacando o próprio celular e ligando a lanterna.
Me senti aliviada quando notei Tom, além de médico, ele era um rosto conhecido ao menos. Lembrei-me de que estava praticamente na portaria do condomínio quando fui acertada, era natural que iria atrair moradores curiosos.
— Você me ouve? — Seu toque morno me despertou do sono que eu lutava contra. — Não durma, fique comigo, você está bem.
— Tom? — Minha voz saiu arrastada, pisquei algumas vezes até conseguir focá-lo completamente. — M-Me leve pra casa? — Me calei diante da negativa dele, que ficou sem entender meu pedido. — A , ela... Precisa de mim em casa...
— Não, nada disso, nós vamos para o hospital! — Tentei protestar, porém minhas pálpebras foram se fechando, de tão pesadas que estavam — Fique aqui com ela, sim? Vou na portaria pegar a maca e trazer meu carro para perto.
Caí num sono leve, ouvi os pneus do veículo de Tom se aproximarem e o barulho das portas sendo abertas.
? O que eu disse sobre dormir? — A calma com que ele estava lidando com a situação toda era impressionante. — Me ajude aqui, eu vou pegá-la pelo tronco e você pega as pernas.
Acho que jamais senti dor parecida na vida. Quando o homem tocou meu tornozelo eu juro que cheguei a ver estrelas, de tão agudo e forte que foi o que senti, chorei ainda sendo retirada do chão.
— M-Me deixe no chão, p-por favor, me deixe aqui. — Implorei quando fui colocada sobre uma maca. Tive meu pescoço preso, forçando-me a olhar para cima. — Tom, você tem que me levar pra casa, ... ela... está... — Chorava sem parar, ainda sentindo minha perna latejar.
— Eu vou avisar alguém, . está com alguém, tenho certeza disso. — Fui colocada na parte detrás do veículo, que teve os bancos detrás deitados para comportar a maca. — — Preocupe-se com você agora.
iria me encher a paciência quando ficasse sabendo...
No chão, próximo de onde caí, estava Amy, toda estraçalhada. Meu coração se apertou dentro do peito, eu tinha juntado dinheiro para comprá-la. Sabia que era apenas um bem material, mas quando nos esforçamos tanto para ter algo, ver tudo destruído traz a tona sentimentos péssimos.
O trajeto foi rápido, ele provavelmente me levou até o hospital mais próximo, tentou me manter acordada, enquanto eu implorava para ir para casa. Elisabeta estava com , mas o horário dela já devia ter acabado, como a bebê ficaria? Eu queria ir para casa e ficar com ela. Não entendia o motivo de me levarem para o hospital. Eu não estava sangrando!
Ou estava?
O pânico me tomou quando fui transportada para uma daquelas camas de rodinhas e vi o teto branco dos corredores do hospital passar cada vez mais rápido, deixando-me zonza. Procurei Tom com o olhar, ainda ouvia sua voz, porém a mulher que me guiava na cama não se parecia nada com ele.
Será que eu corria risco de vida? Alguma fratura exposta, eu tinha batido a cabeça?
— Trata-se de um acidente de bicicleta, um carro a derrubou. — Ele explicava enquanto alguns flashbacks me atingiam em cheio.
Lembrava-me de quase nada, apenas de ter visto um farol alto atrás de mim, um carro estava querendo me ultrapassar e então eu sai da frente. Não era para ter acabado daquela forma, eu tinha lhe dado passagem, porque aquela pessoa tinha jogado o carro em cima de mim?
Pareceu... Proposital.
— Coloque-a aqui. — Mais uma vez, fui passada para outra superfície, daquela vez era uma cama de verdade. Estava me sentindo um boneco. — Qual é o seu nome? — Pisquei algumas vezes, sem entender que era comigo.
, o nome dela é . — Eu não estava enxergando nada além do rosto da médica, que pegou uma pequena luz, apontando-a em meus olhos, pisquei em irritação.
— Pupilas isocóricas... — Murmurou pra si mesma, puxando o esfigmomanômetro e colocando em meu braço. — normotensa...
Ela checou todos os meus sinais vitais, murmurando vez ou outra resultados em termos que eu não era nem um pouco familiarizada. Não demonstrou alarde algum, o que já me acalmou sobre meu estado de saúde apesar do silêncio dela.
— Sou a doutora Cecília Mitchell, vou atendê-la esta noite. — Retirou o estetoscópio do ouvido e finalmente me dirigiu a palavra. — E o senhor deve ser o pai. — Se eu não estivesse com tanto medo de morrer, eu até daria risada daquilo.
— Eu? Não, não, eu sou um amigo. — Revirei os olhos me remexendo na cama, sentindo pontadas pelo corpo todo.
Reparei que aquele poderia ser um bom sinal, pelo menos eu sentia tudo, desde a unha do pé até meu último fio de cabelo. E tudo doía como se eu tivesse acabado de ser atropelada por dois caminhões e uma carreta.
— Vamos ver... Sem presença de sangue. — Sumiu do meu campo de vista deixando-me atenta, logo passou a mexer em minhas roupas. Eu estava me sentindo um cachorro com aqueles cones envolta da cabeça. — Alguns hematomas e arranhões... Consegue se comunicar, Sra. ?
Mais uma vez houve um delay para a minha resposta, daquela vez era apenas um estranhamento ao ser chamada de Sra. . Eu jamais iria acreditar que tinha realmente entrado para aquela família péssima e ainda por cima me casado com um dos piores deles.
— S-Sim. — Minha voz saiu fraca.
— Sente dor em algum lugar? — Confirmei de imediato. — Onde dói?
— O tornozelo d-direito. — Respondi nervosa, já imaginando o que viria a seguir.
Sua mão gelada entrou em contato com minha pele exposta pelo vão entre o minha meia preta e a barra da minha calça jeans. Embora fosse apenas uma inspeção, Mitchell pareceu não entender que eu havia acabado de relatar dor naquela região. Ela pegou meu pé, movendo-o devagar para os dois lados.
Encolhi meu corpo todo em agonia, ofegando e praticamente implorando para que ela parasse com aquela cessão de tortura.
— Não me parece estar quebrado...
— Me desculpe? — A doutora cortou Tom no meio de seu diagnóstico. — O senhor acha que tem conhecimento o bastante para atendê-la no meu lugar?
— Certamente que sim. Prazer, sou Tom Dormian, cirurgião cardiotorácico. — Aquilo talvez pudesse explicar o poder que aquele homem tinha sobre meu coração toda vez que soltava seus sorrisos sedutores, de palpitação ele entendia muito bem.
Mas era mesmo o momento certo de se gabar com diplomas e especializações médicas um para o outro? Meu Deus, eu havia acabado de achar uma espécie com ego mais inflado que o de : Os médicos em geral. Acho que eles faziam a mesma cadeira que os estudantes de direito na graduação para se acharem tanto daquele jeito.
— Então presumo que não irá se incomodar em me ajudar com as roupas dela. — Franzi o cenho. O que tinha minhas roupas?
Eu morreria de dor, já estava até vendo o trabalho que seria tirar aquele jeans skinny de minha perna com o tornozelo do jeito que estava. Comecei seriamente a pensar em implorar por uma anestesia apenas para ser despida.
— Sra. , vamos te despir, a senhorita irá para o andar debaixo, tirar uma radiografia de tornozelo e outra de crânio para ver se está tudo ok. — Respirei fundo, aliviada por estar casada com .
Ok, devo ter batido a cabeça sim.
Mas aquele alívio se dava pela conta hospitalar, que iria exceder o meu limite de gastos com toda a certeza. Não que precisasse de muito para conseguir tal proeza. Mas como iria para a conta de graças ao convênio que ele pagava, eu estava tranquila. Era ridículo se preocupar com dinheiro naquela hora, mas era daquele jeito que o mundo dos pobres funcionava.
Fora a preocupação de não estar presente no trabalho no dia seguinte. Se o Sr. Williams não me demitisse daquela vez, não me demitiria mais.
Senti o tecido da calça se desprender de meu corpo aos poucos, eu conhecia aquele barulho, era o barulho de uma tesoura cortando a peça! Daqui a pouco eu andaria pelada na rua, porque eu me metia em cada confusão, e em cada uma delas eu perdia uma peça de roupas no caminho. Que ódio!
Senti outro par de mãos do meu lado esquerdo. Era Tom, me vendo nua a cada pedaço de calça que era cortado. Enrubesci quando o senti puxar a barra da minha calcinha e cortá-la de uma vez só. Eu sabia que para eles que eram médicos, nudez não significava nada, Tom já devia ter visto milhares de corpos nus. Mas eu não estava confortável! O atendimento médico humilhava.
Eu estava depilada? Oh, o alívio me preencheu ao me recordar de que uma semana antes eu e Fanny tínhamos aproveitado nosso almoço para ir na depiladora que tinha um estabelecimento próximo da lanchonete.
— Não é querendo me meter no trabalho de vocês não, — Meu curso de moda trancado não me dava credibilidade no meio da conversa de dois médicos. — mas eu acho que consigo tirar a blusa. — Me pronunciei, sendo liberta do colar cervical.
A médica séria aceitou minha sugestão, ajudando-me a me sentar e tirar minha blusa sob o olhar analitico e nada discreto de Tom. O loiro percebeu meus olhos nele e baixou a cabeça sem graça, vendo que foi pego na flagrante enquanto eu dei uma espiada para ver que sutiã eu estava usando. Era novo, vermelho, lindíssimo, pelo menos aquela humilhação eu não passei.
Fui vestida naquela camisola hospitalar horrível e Tom me tirou da cama, colocando-me numa cadeira de rodas que um enfermeiro havia trago. Só naquela hora notei que estava em seus braços fortes. Só sendo uma paciente dele eu teria aquele privilégio pelo visto.
— Está usando brincos ou aliança? — Eu me alarmei no mesmo momento, tinha esquecido de pegar o celular na bolsa para ligar para o !
Tom disse que avisaria alguém, mas até o momento não o vi fazendo mínimo de esforço para que aquilo acontecesse. Tirei a aliança e meus brincos pequenos, deixando-os junto do que restou da minha calça e das outras peças que tirei.
— Ligue para o , por favor? — Me dirigi a ele, vendo-o assentir calado, dando espaço para que me levasse corredor a fora.
Subi de volta para a enfermaria um tempo depois, onde fui colocada na cama e com exame em mãos a Dra. Mitchell pôde enfim me dar um diagnóstico animador. Eu não iria morrer, estava tudo bem com minha cabeça e o fato de eu tê-la protegido na queda talvez tenha ajudado, eu já não poderia dizer a mesma coisa do meu tornozelo. Não fraturou, graças aos céus, apesar de não conseguir me imaginar colocando os pés no chão sem chorar de dor. Era uma entorse, com um gesso se resolveria em dias ou semanas.
— Fico feliz que está bem. — Tom sorriu com as mãos nos bolsos, observando o enfermeiro preparar-se para me furar o braço.
— Eu vou poder ir pra casa hoje? — Indaguei, ajeitando-me na cama, segurando minha expressão de dor. O bom era saber que logo eu estaria dopada de medicação e aquela sensação horrível seria apenas uma lembrança distante.
— Acho que sim, tem que ver com a doutora, ás vezes me esqueço como é disputado um diagnóstico quando não se está no comando. — Entortou a boca soltando um sorrisinho sapeca, ri minimamente, recordando-me do embate dos dois quando cheguei. — Você está bem para ir, mas ela talvez queira te deixar em observação.
— Odeio agulhas. — Ralhei, arrancando risos de Tom e do enfermeiro, que nos deixou a sós após fechar as cortinas para nos dar privacidade.
Eu estava tomando um medicamento para dor, esperava poder ir logo pra casa. não chegava logo e a médica não dava as caras desde que eu tinha subido.
— Eu sou suspeito pra falar, elas são minhas melhores amigas. — Encolhi os ombros só de pensar. — Fazia tempo que eu não atendia alguém numa enfermaria, me lembrou meus tempos de estagiário. — Sorriu nostálgico. Devia fazer muito tempo mesmo, não por ele ser mais velho, mas sim porque Tom deve ter estudado muito para chegar a ser um cirurgião.
Sorri contida, sentindo-me mal por ter sido tão seca com ele. Não sabia porque o estava tratando com indiferença. Tudo bem, ele tinha errado quando fez aquele comentário na casa de Megan naquela noite, mas Tom estava me ajudando também, não? Tinha largado tudo o que provavelmente iria fazer para me socorrer! Tá, ele fez um juramento na faculdade, mas ele ainda era um amigo em potencial, certo?
Nos últimos dias em que tivemos minha mãe conosco, não cheguei a falar com os vizinhos muitas vezes, apenas cumprimentos quando cruzávamos em algum lugar. Não queria que minha mãe os conhecesse, achava melhor separá-los, tinha medo de cometer um equívoco e acabar me enforcando com minha própria corda. E também porque minha mãe sacaria os olhares de Tom em mim e vice e versa, coisa que ela não devia ter visto nem quando era entre e Megan.
Se minha mãe sequer desconfiasse de que o amor eterno e perfeito entre mim e era falso, estava tudo acabado porque sim, ela iria dar com a língua nos dentes sem pensar duas vezes.
— Muito obrigada, mesmo, não precisava ter feito tudo isso por mim. — Falei sendo sincera. Estava me sentindo mal por não ter agradecido antes, afinal aquele fim de dia tinha sido uma correria horrível, e pensar que mais cedo eu estava reclamando do estresse do trabalho. Mal sabia eu que poderia piorar. Sempre piorava. — Inclusive, se quiser ir para casa, eu vou entender, deve estar cansado.
— Não vou mentir para você, , hoje foi um dia e tanto. — Puxou a cadeira para perto da cama e se sentou, de pernas abertas. Meus olhos passaram por aquele par de coxas evidenciadas pela lavagem clara da calça. Meu pai amado, acho que minha pressão até caiu por um segundo. — Fiz uma cirurgia que durou a tarde inteira, mas não importa, faço questão de ficar até que seu marido chegue.
Oh, sim, o , ele ainda existia. Desviei o olhar para minhas mãos, que pareciam ser mais inofensivas que o corpo daquele homem.
— Eu odeio a sensação de estar atrapalhando. — Tom pegou minha mão com delicadeza, deixando um afago no dorso dizendo-me para ficar tranquila. — Já era para ele ter chegado, não? — Respirei fundo, envergonhada com o contato.
— Quando liguei lhe disse para te trazer algumas roupas, ele deve ter passado em casa primeiro.
Enrubesci quando me lembrei de ter sido vista nua por Tom. Depois dos meus dezoito anos, passei a desenvolver uma espécie de baixa autoestima pelo meu corpo, que com certeza teve influência do meu ex namorado na época da faculdade.
Sempre gostei do que vi no espelho, mesmo com o aparecimento de algumas estrias na região do bumbum, me sentia bem com o corpo que tinha. Mas ele não, sempre me falava que eu "enganava" muito bem quando estava vestida, pois com a pele escondida dos olhos de todos, ninguém imaginava que eu tinha estrias. Desde então passei a ficar desconfortável em frente a alguém do sexo masculino.Tinha medo de algum deles reparar e fazer o mesmo comentário, ou mesmo que eu não ouvisse, ao menos pensasse aquilo.
Com Alex, além de estar bêbada, estava escuro no quarto. E , bom, eu não dava a mínima para o que ele pensava sobre meu corpo, não era como se eu quisesse que ele sentisse atração por mim. E eu no fundo sabia que com certeza era do tipo que reparava nesse tipo de coisa, principalmente pelo perfil de suas antigas namoradas. Todas tinham corpos dignos de modelos da Victoria Secrets.
tinha aquela coisa com o próprio corpo, estava sempre praticando esportes e querendo comer saudável, credo! Me passava a impressão de que buscava o mesmo nas mulheres com quem se relacionava.
— Minhas calças foram cortadas, que vergonha, meu Deus. — Levei minha mão ao rosto, sentindo-o esquentar. — Esse tipo de coisa só acontece comigo. — Murmurei inconformada.
— Não se preocupe com isso, ! — Riu negando com a cabeça. — Quando estamos a trabalho não ligamos para isso, um corpo é só um corpo. — Seus olhos tornaram-se um azul intenso enquanto ele me encarava fixamente.
— M-Mas você não está a trabalho, nem ao menos está de jaleco! — Impliquei, ainda querendo cavar um buraco e enfiar minha cara dentro.
— Agora você me pegou. — Sorriu malicioso, arqueando as sobrancelhas. — Sei que não deveria ter reparado — continuei a cobrir meu rosto, na tentativa falha de disfarçar que estava completamente afetada por aquela voz intensa me falando todas aquelas coisas. —, mas droga, ! Você me faz jogar toda a minha ética médica pelos ares, mas não tive como não olhar, seu corpo é magnífico, eu já te disse isso uma vez e posso repetir quantas vezes forem necessárias.
Ofeguei ainda sem saber como reagir a tudo aquilo. Eu não fazia ideia de que tinha aquele poder sobre alguém, nossa, era impressão minha ou estava soando frio?
— Tom, eu...
— Não, , me deixe terminar por favor. — Me interrompeu, sorrindo nervoso. — Queria me desculpar pelo que disse naquela noite na casa de Megan, eu acho você uma mulher incrível, não foi minha intenção te rebaixar e acho que me expressei mal.
Não acho que ele tenha realmente se expressado mal, na verdade, continuava achando que era o que Tom realmente pensava quando disse aquilo. Mas eu não seria ingrata de não perdoá-lo, ainda mais depois de ter recebido sua ajuda. Se Dormian estava se desculpando era porque não pretendia cometer o mesmo erro novamente. Bom, pelo menos era o que eu esperava.
— Tudo bem, Tom, deixemos isso para lá... — Ponderei, sorrindo fraco.
Apesar de estar achando toda aquela conversa um máximo por ter um homem daqueles me desejando assim na cara dura, eu ainda tinha consciência de que Tom não valia a pena quando colocado numa balança ao lado da guarda de . Se eu cedesse a ele, poderia estragar tudo.
— Fico lisonjeada pelos elogios, mas peço que pare. — Aí, que dor no coração! Naquele local os medicamentos não fariam efeito, infelizmente. — Eu sou casada.
— Eu sei. — Baixou a cabeça sem graça. — Sei que tem ele, que vocês tem uma filha para criar... — Suspirou derrotado, fazendo-me sentir mal por estar sendo sensata. — é um homem de muita sorte em ter se casado com alguém como você, queria ter te conhecido antes dele.
— O quê, quando ela tinha 8 anos de idade? — A voz carregada de sarcasmo de era inconfundível aos meus tímpanos, a gente decora depois de ter escutado por tantos anos.
A cortina foi aberta revelando-o sério, ainda vestia seus trajes formais do trabalho e tinha o semblante cansado. Segurava uma sacola com o que provavelmente devia ser as mudas de roupas que lhe foram solicitadas por Tom e nenhum sinal de , fazendo-me deduzir que ele a tinha deixado com alguém de confiança.

's point of view.


Saí de casa avoado, deixando até mesmo para trás. Sabia que teríamos que lidar com a história de Miguel uma hora ou outra, mas não é como se fosse morrer só porque deixei para resolver aquilo pra depois. No momento eu tinha outro problema para resolver, e aquele era dos grandes.
Edward era uma bomba relógio e estava dentro da minha empresa. Eu só ainda não tinha noção se ele já estava ativado, fazendo a contagem regressiva para explodir, ou se ainda era apenas uma ameaça contornável. Se ele tivesse acesso ao departamento financeiro iria dar uma merda das grandes.
Meu pai estava confiando em mim, aquele era mais um dos dois anos que eu assumi aquele cargo na presidência, já que meu pai estava cansado de ter que ir e vir da nossa cidade natal para Londres e deixar alguém de confiança ali era essencial para ele. Edward queria me infernizar, queria que vendesse tudo de qualquer maneira, e o jeito dele de convencer meu pai era provar por A + B que estávamos muito próximos de fechar as portas. Faltava apenas um mês para o final daquele ano, ou seja, Edward estava atrás do balanço de lucros dos últimos onze meses em que estive no comando.
Eu odiava aquela mania dele de ficar se metendo onde não era chamado. Tudo bem, aquela empresa também o pertencia, mas somado ao meu pai, minhas ações eram muito maiores do que a pequena porcentagem dele! Ele deveria se tocar que estava em minoria. Claro que tudo poderia mudar quando meu pai descobrisse que adotei . Eu ainda não tinha calculado direito que consequências aquela ação me traria, só sabia que tinha sido a melhor coisa que tinha feito em toda a minha vida.
Me tornar pai, mesmo que do dia pra noite — literalmente — havia me feito conhecer um sentimento que jamais pensei que algum dia senti por alguém. Sentimentos fortes como aquele costumavam me apavorar, eu era mestre em fugir de relacionamentos intensos, geralmente a única intensidade que eu oferecia às mulheres com quem saia era um noite regada a sexo.
Com o amor era tudo muito complicado, burocrático, e para mim nunca valeu a pena me desgastar por outra pessoa daquela forma.
Mas com não, claro que eu tinha ciência de que eram amores diferentes, mas mesmo sendo um amor paternal, eu achei que seria mais difícil lidar com tudo. E não foi, na verdade aquele pequeno ser tornou tudo tão fácil que ás vezes me pegava olhando naqueles olhinhos verdes e me via chocado. Como um bebê de apenas dois meses pode se tornar tão importante na vida de outra pessoa? Como meu pai pôde negar um sentimento tão forte como aquele por Grace e deixá-la ir justo quando ela mais precisou dele?
Ele faria o mesmo comigo quando descobrisse que, assim como minha irmã, eu tinha escolhido aquele bebê ao invés de fazer suas vontades?
Eu tinha feito tudo o que ele queria sempre, a própria jogava aquele fato na minha cara! Era completamente esquisito adentrar aquele prédio enorme com uma incerteza como aquela em meu coração, eu havia me dedicado tanto ao meu trabalho, a seguir com o legado de minha família para depois de dois anos ser descartado apenas por fazer o que era certo?
Sabia que poderia e estava sofrendo por antecedência, afinal, a ida do tio Edward até ali não parecia ser coisa de meu pai, mas mesmo assim me peguei pensando naquela possibilidade. Apesar de ser o filho do chefe como eu sabia que as pessoas caçoavam pelas minhas costas, e zombava na minha cara, não me garantia apenas ali. Tinha um ótimo currículo, se precisasse sair dali, logo estaria recolocado, e faria questão de ir justo para a concorrente da minha família.
Tinha muitos planos para tentar tirar a empresa da lama, porém meu tio parecia disposto a me impedir de realizá-los. Consegui alguns contatos na América do Sul e esperava finalmente conseguir abrir mais uma filial no Brasil e quem sabe num dos outros países latinos, estava quase conseguindo algo com alguns franceses também. Estava preparando o terreno para fazer negócios, aquilo levava algum tempo. E pelo visto meu tio não queria me dar a oportunidade de reverter as coisas.
— Olha, se não é o meu sobrinho preferido! — Eu era o único sobrinho dele.
O sorriso prepotente nos lábios e os olhos azuis brilhando em uma alegria quase que palpável por já imaginar que eu estava na merda, aquele era o tio Edward, e ele estava na minha sala, ocupando a minha cadeira.
— Fique a vontade, tio. — Larguei minha bolsa na cadeira a frente da minha mesa. — O que te traz a Terra da rainha? — Mantive meu sorriso falso intacto.
— Acho que estou meio atrasado para o casamento, não? — Seu olhar se focou em minha aliança. Respirei fundo ajeitando meu terno. Iria começar... — Não recebi nenhum convite, a filha da empregada não quis me chamar? Eu lhe daria um bom presente. — Meu estômago se revirou com seu sorriso malicioso.
— Se veio ver se eram verdadeiros os boatos, já confirmou, pode voltar para o avião. — Fechei a cara, sentando-me ainda o fuzilando com o olhar.
— Eu não preciso disso, . — Se recostou na cadeira. — Tive acesso às suas solicitações recentes e inclusões de dependentes, convênio médico... Seguro de vida. — Folheou alguns papéis que pegou de cima da mesa. — Não vou julgar por ter se casado com , sempre foi gostosinha mesmo sendo pobrezinha. — Encarou por um tempo a cópia da identidade de , que tinha saído péssima por sinal. — Mas, de repente, me surgiu isso...
— O que você quer aqui? — Tentei me conter ainda vendo a foto de em um dos documentos. Ele soltou um risinho, descartando os papéis no lixeiro.
— Que família linda que construiu. Mas, me conta, seu pai sabe que adotou sua sobrinha? — Arqueou a sobrancelha. Pelo visto ainda não, mas saberia muito em breve.
Tive vontade de socar a cara dele. A ele poderia até pensar em atacar, mas falar de ? Ela era só um bebê, era doentio usá-la para me insultar.
— Isso não é da sua conta. — Rangi os dentes.
— Ah, é sim. — Riu, levantando-se. — Quanto mais a família cresce, mais gastos nos trás, ninguém te contou? Uma casa bonita daquelas, num condomínio tão caro... — Bufei de raiva.
— Não sei se percebeu, mas eu trabalho, não estou gastando seu dinheiro e muito menos te devo satisfações sobre como escolho gastar o meu.
— Trabalha muito mal, vamos combinar? — Sorriu irônico, ficando diante de mim e me confrontando. — Eu estou avisando, , o Titanic vai afundar e não terão botes para todos. — Revirei os olhos, diante daquela analogia estúpida. — Eu não vou pagar pra ver, você vai? Pense na sua família feliz. — Apontou para o lixo, onde ainda era possível ver as fotos de ambas dentro.
— Não meta as duas no meio disso. — Ralhei, fazendo-o arquear as sobrancelhas sorrindo em diversão. Me tirar do sério devia mesmo ser muito engraçado. Eu queria poder quebrar todos aqueles dentes de uma vez só. — Se está com tanto medo de ficar na merda, me venda sua parte e vá viver sua vida sem dar palpites na minha.
— Ah, não vamos falar de negócios agora. — Abanou o ar. — Vamos tomar café, você sabe como eu fico mal humorado de barriga vazia. — Abriu a porta, indicando-me a saída.
Aquele ali era mais ranzinza que , parecia que estava sempre com fome, porque ele era sempre insuportável.
Seguimos em silêncio para o café que tinha próximo da empresa, escolhemos uma mesa na janela e nos acomodamos quando uma das garçonetes se prontificou a nos atender.
— Tinha me esquecido como essa cidade tem mulheres bonitas. — Murmurou secando a mulher, que nos deu as costas. Imaginei quantos não faziam o mesmo com e me senti incomodado de olhar para a tal garçonete.
Por trás dele, a gerente passou, parando quando me viu sentado ali. Piscou um de seus olhos castanhos carregados de rímel e me sorriu maliciosa, fazendo-me lembrar de que a chamaria para sair. Depois que tinha chegado em casa, não tive cabeça para aquilo. Mas como tinha saído dias atrás, eu também tinha aquele direito.
Estava precisando, depois de tudo o que houve entre nós, toda aquela tensão sexual que eu estava acumulando, estava louco para finalmente sair com alguém e descontar toda a frustração logo. estava me deixando daquele jeito, e já que entre nós não rolaria nada, eu iria atrás de companhia em outro lugar, assim como ela tinha feito.
— Vou no banheiro, já venho. — Assim que me afastei da mesa e verifiquei que ele não tinha espiado, fiz um sinal silencioso para a morena, que entendeu o recado e me encontrou no corredor dos sanitários. — Nunca consegui vir aqui sem deixar de reparar em você. — Passei os olhos pelas pernas expostas pela saia do uniforme.
— É, eu percebo seus olhares. — Sorriu com aquela boca carnuda pintada num vinho intenso, mordi meu lábio louco para beijá-la. — Sua mulher não iria gostar nem um pouco de saber disso. — Indicou minha mão esquerda com o queixo.
Levei a mão até a aliança, lembrando-me de sua existência.
— Relaxa, ela não é ciumenta. — Apoiei uma mão na parede onde a mulher um tanto baixa estava encostada. — Na verdade ela não dá a mínima. — Rocei meu nariz no dela, deixando-a sem ar.
— Se eu tivesse um homem como você, teria os olhos bem abertos. — Brincou com minha gravata, arrancando-me um riso baixo. — Como se chama?
. — Não disse meu sobrenome, mas ele estava estampado na fachada do prédio daquela avenida. — E o seu?
— Dafne. — Sussurrou contra minha boca, fazendo-me lhe roubar um selinho diante da provocação. Ela riu baixinho, mordendo o lábio em seguida.
— Dafne, que acha de me dar seu número e sairmos juntos qualquer hora dessas?
— Não sei, não vai dar problema?
— É isso que torna tudo mais interessante, não acha? — Arquei a sobrancelha, recebendo um aceno como afirmativa. Seu sorriso só fez aumentar, deixando-me intrigado com mais uma pessoa tendo tesão em gente casada. — Pode anotar aqui. — Lhe estendi o celular que tirei do bolso.
Após ter o aparelho devolvido, lhe puxei pela cintura, beijando aquela boca maravilhosa. Ela se soltou de meus braços, retornando ao café, enquanto eu fui até o banheiro para acalmar meus ânimos e limpar a mancha de batom que Dafne deixou em meus lábios.


(...)


O dia tinha se passado devagar, tive que fazer um tour pela empresa com meu tio, lhe mostrar o setor financeiro e tudo o que tinha entrado e saído de dinheiro. Aproveitei para escolher os próximos funcionários que subiriam de cargo. Os dois que imprimiram relatórios antigos sem que Edward se desse conta das datas passadas. Não estavam muito bons, mas pelo menos estavam melhores que o último que vi semana passada.
Estava arrumando minhas coisas para ir embora, com a cabeça explodindo e implorando por um banho relaxante. Queria meu sofá, beber uma cerveja enquanto assistia um jogo qualquer na televisão e ficar com deitada em meu peito, aquela seria a única coisa que me acalmaria naquele dia de merda.
— Com licença, Sr. . — Jordyn deu batidas na porta antes de abri-la, levantei meu olhar reparando em sua saia justa, ô tentação dos infernos. — Seu tio te espera na sala de reuniões.
Olhei para meu celular reparando que já estava mais do que na hora de ir embora, respirei fundo assentindo contrariado.
— Obrigado, Jordyn, já estou indo. — A loira me sorriu antes de sair porta a fora.
Deixei minha bolsa na cadeira e fui até a sala de reuniões, o encontrando com mais dois homens engravatados.
— Chegou. — Sorriu para ambos. — Senhores, conheçam , meu querido sobrinho. — Os cumprimentei ainda confuso. — , estes são os possíveis compradores.
O encarei em puro ódio.
— Os senhores vão me desculpar, mas esta empresa não está a venda. — Meu tio negou com a cabeça ao ver a cara de desentendido dos dois. — Estou de saída, tenham um ótimo fim de tarde.
— A minha parte está a venda. — Girei os calcanhares ao ouvi-lo falar, ou melhor, bostejar, e retrocedi meus passos.
— Tudo bem, tio. Você venceu, venda a sua parte para quem quiser, se isso significar me deixar em paz, vá em frente! — Me sentei numa das cadeiras da grande mesa, cruzando os braços impaciente.
O que me deixava possesso era aquela pirraça toda! Eu tinha me oferecido para comprar a parte dele mais cedo, mas ele estava mais interessado em colocar a empresa da família nas mãos de dois desconhecidos. Não sabia que birra que Edward tinha com meu avô ou com meu pai, mas ele tinha que parar urgentemente de me sabotar para atingir um dos dois.
— Então vamos a apresentação, — Virou-se para a tela que era projetada, fazendo-me afundar meu corpo na cadeira quando vi a quantidade de slides que tinham pela frente. Aquilo com certeza deveria ser utilizado como um método de tortura. — quando finalizarmos vocês poderão fazer suas propostas, quem sabe o valor não agrade o meu sobrinho? Sinto cheiro de negócio fechado. — Sorriu confiante.
Mas nem que me dessem todo o dinheiro do mundo! Eu não venderia minha parte e nem estava de acordo com aquela venda relâmpago. Sabia que, muito mais do que o nome da minha família, havia funcionários de anos que trabalhavam ali e poderiam ser prejudicados com grandes mudanças na presidência. Talvez a vinda de meu tio não fosse tão repentina quanto pareceu, Edward deve ter vindo a Londres justamente para fazer aquela droga de reunião. Não avisou para não ser pego de surpresa.
Depois de meia hora eu já estava no meu milésimo bocejo, pensando em como aqueles dois eram loucos, porque os gráficos mostrados até então não me pareciam nada atrativos. Nem eu compraria aquela proposta, nem mesmo só a parte do meu tio, quem dirá todas as ações!
Meu celular começou a vibrar insistentemente, fazendo-me levantar e sair de fininho no meio do monólogo entediante de meu tio. Quase agradeci por ter me ligado e me tirado daquela sala. Estranhei aquela ligação, afinal, não se preocuparia comigo o bastante para me ligar, mesmo que já tivesse passado meia hora do meu horário de chegar em casa.
, graças a Deus, nunca pensei que algum dia iria te agradecer por me tirar de uma reunião. — Encostei-me na parede, respirando fundo.
— Hum... Alô, ? — Aquela voz grossa não era de ...
— Tom? — Me desencostei tentando entender o que diabos ele fazia com o telefone dela.
— Sim, você deve estar estranhando eu estar te ligando. — Porque será, não é? Além de médico ele sabia ler mentes. — Estou com no hospital.
Não seja , não seja ...
Fechei os olhos com força, sentindo o coração se acelerar.
— Ela sofreu um acidente na rodovia do condomínio, um carro a jogou pra fora da pista. — Arregalei os olhos assustado, levei a mão a cabeça engolindo a seco. Meu Deus! — desceu agora a pouco para fazer alguns exames... Bom, só liguei para avisar, estamos aqui no Saint peace.
— Sei onde fica, estou indo para aí agora. — Suspirei já sem saber o que fazer direito.
— Ok. Traga algumas mudas de roupas, tivemos que cortar os jeans dela. — Tivemos? Oi? — Tenho que desligar, acho que ela está subindo. Até mais, .
— Filho da puta. — Esbravejei ao ouvir a ligação sendo finalizada.
Ele estava agindo como se fosse o marido dela! O diabos tinha acontecido para que fosse lembrar de mandar me avisarem só naquela hora? Estava inconsciente? Meu Deus, a ! Elisabeta devia estar lá ainda, depois do horário combinado! Corri para minha sala para apanhar minha bolsa, teria que passar em casa antes de ir para o hospital
— Onde pensa que vai, ? — Edward me interceptou já na área dos elevadores. — Se acha que vai estragar meus negócios assim está muito enganado! Volte para aquela sala agora mesmo ou vou ligar para o seu pai.
O encarei com o cenho franzido. Quantos anos ele achava que eu tinha, 10? Eu não era mais uma criança que fazia tudo o que meu pai queria para tentar agradá-lo, deixei de ser aquele menino há muitos anos! Eu já não me importava mais com o que Joseph pensava ou deixava de pensar, aquela ameaça estúpida não me faria recuar.
Fui desviar dele quando a porta metálica se abriu e meu tio deu um passo para o lado, mantendo-se em meu caminho.
— Minha esposa acabou de sofrer um acidente, saia da minha frente e deixe de ser egoísta ao menos uma vez na sua droga de vida. — Disse entredentes, empurrando-o com o ombro para o lado.
— Amanhã estarei na sua sala, isso não vai ficar assim! — Hasteou o dedo em meu rosto, afastei sua mão rapidamente. Eu odiava que me afrontassem daquele jeito.
— Não seja estúpido! Sua parte vale uma mixaria, porque você e eu sabemos que na situação em que está, não irá valer quase nada. Devia se juntar a mim e tentar reerguer a empresa de novo. — Adentrei o elevador, encarando-o plantado do lado de fora. Meu tio me olhou de volta em silêncio. — Amanhã conversamos sobre isso.
As portas se fecharam e pude respirar fundo. Era cômico nós dois combinarmos de conversar no outro dia, sendo que havíamos acabado de quase sair no soco, com direito a empurrões, no meio dos corredores da empresa.
Dirigi feito um doido pelas ruas de Londres, cortando caminho por lugares que o GPS me jogava para evitar o trânsito do horário de pico. Ao chegar na entrada do condomínio pude ver um rastro de pneu no asfalto, não precisaria procurar muito, logo a bicicleta lilás se destacava no local do acidente. Com os faróis altos, reparei no que restou de Amy, como apelidou.
Se a bicicleta fosse um reflexo do que tinha acontecido com , então a coisa era grave. Eu só consegui enxergar a roda dianteira e o guidão, sabe se lá onde foi parar as outras peças. Eu falei tanto para , mais de duas vezes até! Lhe avisei que poderia ser perigoso, mas ela me ouviu? Não! não ouvia ninguém, conseguia ser mais teimosa que eu!
Já em casa, encontrei Elisabeta preocupada, ela pensava que eu e iríamos do trabalho para casa juntos e ficou preocupada quando não aparecemos no horário. Lhe expliquei o que houve e prometi que pagaria as horas extras que ela tinha ultrapassado, a babá aceitou de bom grado e ficou com a bebê enquanto eu iria para o hospital. Não era bom expor a um ambiente daqueles, ainda mais porque segundo Elisabeta, a menina estava resfriada.
Eu não sabia que roupa levar, procurei algo fácil de vestir, e acabei pegando um vestido simples que achei em seu guarda roupas. Escolhi uma calcinha que as mulheres chamam de confortável e reparei que só tinha daquelas mesmo. Não era a hora de reparar naquele tipo de coisa, por isso me apressei em sair de casa, indo para o hospital.
A burocracia para entrar só me irritou mais ainda, principalmente por saber que não me deixaram entrar de primeira porque já tinha dado entrada com outro acompanhante. Quando consegui, fui guiado por uma enfermeira até a área da enfermaria, que tinha algumas cortinas fechadas. Perdido, procurei durante um tempo, até que ouvi vozes familiares numa conversa um tanto estranha.
Principalmente a voz masculina, que se declarava descaradamente. Dormian era um cara de pau mesmo, não é? Não bastava ter acabado de sair de um acidente e ele estar dando em cima dela explicitamente, ainda mentia daquele jeito! Ele não estava apaixonado por ela, não a achava uma mulher incrível.
Aquele era um papo furado que nós homens usamos para levar mulheres pra cama! E era exatamente aquilo que Tom queria com ela, sexo, apenas! Fiquei um tempo ouvido o rumo que aquela conversa ridícula estava tomando, queria ver o que iria responder a ele, com certeza jogaria na cara dela depois, caso ela cedesse a ele. Era contra as regras e sabia daquilo!
— Olhe só, quem chegou. — Tom soltou um risinho ao me ver andar em direção a cama.
Fiquei mais aliviado quando pude contemplá-la por inteira. estava bem, bom, pelo menos era o que aparentava. Eu podia odiá-la, mas jamais desejaria que algo de ruim lhe acontecesse, ainda mais depois que entramos naquela confusão. já tinha perdido a mãe, não podia perder também. E, claro, eu não conseguiria cuidar dela sozinho.
Satisfeito com o chega pra lá que deu em Tom, me inclinei sobre a cama pegando-a pelo pescoço delicadamente e selando nossos lábios algumas vezes.
— Você está bem? — A loira assentiu veemente enquanto eu observei em seu braço um acesso venoso ligado a uma bolsa de medicação, pelo menos já estava sendo tratada.
— Cadê ? Onde ela está? — A preocupação estava estampada em seu rosto, mesmo naquela situação, ainda colocava a bebê em primeiro lugar.
— Ela está em casa com Elisabeta, está bem. — Lhe expliquei, afastando seus cabelos de seu rosto. — , o que aconteceu?
Os olhos azuis focaram-se primeiro em Tom e depois se desviaram para mim, assenti entendendo que era algo particular e já colocando minha cabeça para funcionar. Miguel não tinha passado pela minha mente quando soube da notícia do acidente, mas talvez ele estivesse envolvido. Eu só saberia depois que o médico de merda saísse e nos deixasse a sós.
— Não a pressione para lembrar, provavelmente não viu o que a atingiu. — Revirei os olhos ainda de costas para ele. — O casal que presenciou o acidente disse que o motorista que a acertou não deve tê-la visto, mas que ele fugiu sem prestar socorro. — O encarei por cima do ombro, vendo-o explicar como se estivesse lá para saber.
— Vou solicitar câmeras de segurança para tentar descobrir a placa. — Olhei para , que me devolveu um olhar receoso.
— Cabe um processo de omissão de socorro. — Dormian concluiu, ele era um gênio mesmo, não? Sabia até sobre advocacia!
As imagens das câmeras poderiam nos levar ao real culpado de tudo aquilo: Miguel Rodriguez. E mais do que um processinho de omissão de socorro, ele seria preso por tentativa de homicídio, porque claramente tentou contra a vida de naquele fim de tarde. Eu só não sabia se ela tinha se dado conta daquilo ou se ainda achava que as coisas se resolveriam com o tempo e o que acabou de lhe acontecer tinha sido apenas um susto.
Tínhamos que reunir todas as provas que conseguíssemos contra aquele imbecil, desde o primeiro boletim de ocorrência do dia em que ele começou a ir atrás de , até os exames de corpo de delito e os que ela fez no hospital quando chegou. E eu iria até o fim com a ideia de lhe fazer uma medida protetiva, querendo ela ou não.
— Onde está o médico de plantão?
— A médica. — Mais uma vez, o loiro intrometido respondeu por , fazendo-me bufar de raiva. Até onde eu sabia, as cordas vocais de ainda estavam intactas. — Deve estar ocupada com outro paciente, mas se quiser o diagnóstico de eu posso te dizer, já que ajudei a atendê-la.
Depois era eu quem tinha o ego inflado. O que tinha visto naquele babaca?
— Se eu quisesse saber algo de você, teria te perguntado. Vou esperar a médica que a atendeu. — Até porque era com ela que os exames que eu queria estavam. — Aliás, não acha que já está na sua hora, não?
! — me repreendeu com os olhos esbugalhados diante da minha falta de delicadeza. — Tom me ajudou muito hoje! — O defendeu fazendo meu sangue ferver.
— Não, , está tudo bem, eu fiz o que fiz por você, seu marido não me deve nada. — Um soco bem dado no meio da cara, talvez? — Mas já vou indo mesmo, te prometi ficar até que ele chegasse. — Foi até do outro lado da cama e depositou um beijo demorado em sua testa.
— Finalmente vai deixá-la respirar. — Ri irônico, atraindo seu olhar raivoso.
— Do que está falando, ? Eu estava com sua mulher porque ela estava sozinha, aliás, que belo marido você é! Deixando se arriscar todos os dias indo e vindo do trabalho numa bicicleta frágil! — Olhei para , que encolheu os ombros em resposta.
Era só o que me faltava! Eu sairia como marido desnaturado só por culpa da teimosia de .
— Na verdade, ele já me disse para não... — Ouvi a voz de se pronunciar mas a ignorei, assim como ele fez.
— Ah, conta outra Dormian! Você ficou grudado nela o tempo todo, tanto que demorou um tempão para me contatar e avisar o que houve! Nem ao menos esperou que ela terminasse a medicação e já estava dando em cima dela! Até se gabou pra mim no telefone de tê-la despido! — o fitou boquiaberta.
Tudo bem, Tom não tinha se gabado explicitamente. Mas eu, como homem, soube muito bem interpretar seu tom de voz quando me deu aquela informação desnecessária! Ele poderia apenas me dizer para levar roupas para , mas não! Tom fez questão de destacar a parte em que ele ajudou e a viu nua!
— Eu estava apenas ajudando! — Exclamou, fazendo-se de ofendido. Faça-me o favor! Aquele idiota dava em cima de todas as pacientes?
— Ah, mas que sacrifício esse o seu!
— Chega vocês dois! — A voz de soou incrivelmente mais alta que a nossa e paramos para ver o que ela queria. — Isso aqui é um hospital, pelo amor de Deus! — Esbravejou, como se fôssemos duas crianças. — Tom, muito obrigada pela ajuda, mas acho melhor você ir.
— Como você quiser, . — Afagou sua mão, fazendo-me encará-lo irritadiço. Ele fazia de propósito! — Vou te visitar amanhã, ver como está, tudo bem? — assentiu. Ri de escárnio, era melhor me esperar sair para trabalhar, porque Tom e eu no mesmo lugar não iria prestar.
O observei ir embora e cruzar com um funcionário no caminho, ele chegava até nós cheio de aparatos médicos e fechou a cortina atrás de si quando entrou.
— Vamos dar um jeito nesse tornozelo? — O enfermeiro disse, já preparando os materiais para engessar . Ele passou os olhos pelo prontuário da minha esposa e logo começou o trabalho. — É apenas uma entorse, logo a senhorita estará livre de muletas, se seguir todas as recomendações em semanas estará andando normalmente.
Me sentei na cadeira que havia ali e liguei a televisão, distraindo-me enquanto o procedimento era feito. O homem nos deixou a sós depois de colocar uma pequena bolsa de soro no acesso ligado a veia de , nos prometeu que logo a Doutora Mitchell viria reavaliar e, se estivesse tudo certo, lhe dar alta.
Estava distraído com o filme que passava, que nem percebi quando passou a me encarar por tempo demais.
— O que foi? — Me desencostei do apoio da cadeira. — Está sentindo algo, quer que eu chame alguém?
— Você está doente? — Franzi a testa confuso, quem estava doente era ela! Que tipo de pergunta era aquela, afinal? — Sério que não vai passar na minha cara que me avisou sobre a bicicleta várias vezes?
— Por que? Quer que eu brigue com você? — Por incrível que poderia parecer, eu não estava com um pingo de vontade de fazê-lo.
Além de ter me salvado da reunião de meu tio, tinha me dado um susto e tanto! Não tinha nem coragem de arranjar uma briga por aquele motivo. Todas as três vezes que me lembrava de tê-la alertado sobre o perigo de andar de bicicleta foram apenas por... preocupação.
Por mais estranho que aquilo poderia soar.
— Não, por favor, me poupe de mais sofrimento por hoje. — Ri de sua cena dramática, porém real até demais. — Nossa, eu estava esperando seu sermão, foi um dos meus primeiros pensamentos quando acordei no chão. — Sua voz ficou mais baixa e seu olhar fixo em algum ponto da cortina azul que separava os leitos.
Nunca tinha sofrido nenhum acidente na vida, nem ao menos quebrado um osso sequer, tentei imaginar o que ela devia ter sentido e me arrepiei ao me recordar do matagal escuro e da bicicleta desmontada jogada em qualquer canto.
— Então quer dizer que pensou em mim? — Tentei quebrar o gelo, fazendo-a rir com a implicância. levou a mão a costela, respirando mais devagar por ter sentido dor na região.
— Não. A primeira coisa que me veio á cabeça foi . — Assenti em compreensão. — Sei que foi só um tornozelo engessado e alguns arranhões, mas eu não estava entendendo nada... Tom foi tão rápido em me imobilizar e me trazer para cá... Por um momento achei que era algo grave, que eu iria morrer, sei lá. — Balançou a cabeça, afastando os pensamentos.
— Vira essa boca pra lá. — Murmurei incomodado, arrancando um riso fraco dela. — Agora me conta, o que aconteceu de verdade?
— Eu sinceramente não sei o que pensar, ... — Suspirou, fitando as próprias mãos. — Sei que Tom e o casal dizem que foi um acidente, mas eu juro que pareceu proposital. Não tinha como quem quer que estivesse dirigindo aquela caminhonete não ter me visto! Os faróis estavam altos, me lembro de ter saído do caminho para que ele me ultrapasse logo e eu pudesse virar para dentro do condomínio. — me encarou com os olhos marejados e hesitou antes de continuar. — Eu estou com medo de estar certa, mas acho que era Miguel naquele carro. Eu parei a bicicleta, ele não jogou o carro em cima de mim sem querer, ele quis me acertar!
— Entende agora o porquê eu quero a ordem de restrição? — A loira assentiu, secando as lágrimas que caíram. — Esse filho da puta é perigoso, temos que colocá-lo atrás das grades o quanto antes.
O que me deixava mais possesso era ver que ele só ia para cima de , no elo mais fraco entre nós dois. Tinha medo de descuidarmos e Miguel tentasse algo contra . Eu estava ansioso para que ele viesse até mim, se fosse corajoso o suficiente e tentasse algo comigo, lhe daria o que ele tanto queria. Uma surra muito bem dada.
Afundei-me na cadeira ao notar que o soro já estava chegando ao fim, faltava pouco para ir para casa. O estômago de roncou alto, atraindo minha atenção.
— Eu tô morrendo de fome. — Levou a mão a barriga.
— Vamos ter que pedir pizza.
— Que saudável. — Riu irônica. — Sério, você precisa aprender a cozinhar.
— E você a dirigir! — negou com a cabeça. — Não me venha com essa, . Depois de hoje eu te proíbo de comprar outra bicicleta, você precisa perder esse medo!
A loira arqueou as sobrancelhas quando falei em proibição. Eu já estava tendo que treinar as broncas que daria em .
— Você me ensina a dirigir e eu te ensino a cozinhar. — Estendeu a mão em minha direção. Selei o trato sem pensar muito, afinal, cozinhar não me parecia ser tão difícil assim.
Olhei de relance pela fresta da cortina e vi um par de olhos nos espiando de longe. Era um adolescente e ele não fazia a mínima questão de disfarçar que estava nos assistindo, chegando até a esticar o pescoço. Puxei mais pra perto pela mão, a loira se preparou para me questionar quando eu a beijei rapidamente.
— Não olhe agora, mas tem um adolescente pervertido nos vigiando pela cortina. — Sussurrei contra sua boca. franziu o cenho.
— Como você sabe que ele...
— Ele está com a mão debaixo do lençol. — arregalou os olhos numa reação cômica. — Deve ter uns dezessete anos, eu tive essa idade, qualquer coisinha vira um filme adulto. — Lhe beijei novamente, daquela vez mordiscando de leve seu lábio inferior. — Vamos torturá-lo um pouquinho, sim?
— Você é um idiota. — Revirou os olhos, porém, se deixou ser beijada novamente.
levou sua mão livre do acesso venoso até minha nuca, arranhando a região com suas unhas curtas, arrancando-me um arrepio inesperado. Uma de minhas mãos desceu pelo corpo dela, tocando-a devagar para não apertar nenhuma região dolorida. soltou um suspiro quando meus dedos passearam pela coxa e eu sorri satisfeito mantendo minha mão ali, mesmo por cima do lençol. Ataquei sua língua e finalizei o beijo sugando seus lábios devagar, deixando-os inchados e avermelhados com o contato.
Espiei o meliante quando passei a beijar sua mandíbula e ir em direção a sua orelha, voltei a fechar os olhos quando mordisquei o lóbulo, fazendo-a apertar o tecido da minha camisa branca em resposta.
O barulho do menino passando aos tropeços de muletas em direção ao banheiro nos dispersou. Desenterrei o rosto da curva de seu pescoço, vendo-a tentar segurar a gargalhada que escapou e foi abafada pela mão dela. Voltei a me sentar, rindo junto.
— Que maldade, . — negou com a cabeça enquanto ainda tinha um sorriso aberto nos lábios vermelhos.
— Boa noite. — A doutora Mitchell finalmente apareceu, sorrindo em minha direção quando me viu. aproveitou sua distração para se recompor. — Você deve ser o marido, certo? — Assenti, me levantando e lhe cumprimentando com um aperto de mãos. — está liberada para ir, só preciso que tenha alguns cuidados com ela. Aqui está a lista de medicamentos e os resultados dos exames feitos.
Apanhei os papéis dando uma rápida olhada antes de voltar a prestar atenção na mulher de jaleco branco.
— Trouxe a muda de roupa? — Assenti apanhando a sacola que tinha trago de casa. — Deixe-me ver. — Analisou o vestido solto por um tempo. — Este serve. Me ajude a despi-la, sim?
Após tirar o acesso venoso de , a despimos do pijama hospitalar. Assim que a mulher puxou as amarras das costas, encolhi meus ombros ao ver a pele toda ralada nas costas. Aquilo deve ter doído muito.
— Está vendo? — Concordei em silêncio, mordendo o lábio em agonia. — Eu receitei um anti-séptico e uma pomada que irá ajudar a sarar, mas enquanto a pele não absorver, não pode abafar o ferimento. Tem que deixá-la despida, sem cobertores nem nada, até que seque tudo. — me encarou por cima do ombro, ainda abraçando o próprio corpo a fim de cobrir os seios. — Quanto ao tornozelo, quando ela estiver sentada ou deitada, eleve o membro e faça compressas de gelo durante o dia.
Colocamos o vestido mesmo com alguns protestos de dor vindos dela, a coloquei numa cadeira de rodas e finalmente fomos para o carro. Tive que fazer uma parada na farmácia e na pizzaria. Já era onze da noite quando pisamos os pés em casa. Quer dizer, eu pisei. Tive que carregá-la para dentro no colo até que amanhecesse e conseguíssemos um par de muletas.
já tinha mamado quando chegamos, Elisabeta foi para casa depois que eu a coloquei num táxi e lhe dei seu pagamento extra. Jantamos e após colocar a bebê para dormir, fui para o andar debaixo buscar , que ainda precisava de um banho. E já previa que eu só dormiria depois de colocá-la na cama.
Aquele negócio de na saúde e na doença era sério mesmo, não? Mesmo que eu e não fôssemos um casal real, me prontifiquei a cuidar dela. Talvez eu estivesse me sentindo um pouco culpado por não tê-la ido buscar na lanchonete, se o tivesse feito, o final daquele dia podia ter sido diferente.
— Quer tomar banho na banheira? Fica mais fácil de não molhar o pé. — Me remexi desconfortável diante dela, que não estava diferente, sentada na cama. deu de ombros e fui encher a banheira para depois colocá-la.
Arregacei as mangas da minha camisa e verifiquei a temperatura antes de ir buscá-la. me olhou envergonhada enquanto eu ia até ela, aquela era uma situação estranha para ambos. Nunca pensei que um dia eu estaria ali, dando banho em , e tinha certeza que a mesma jamais se imaginou comigo daquela forma.
Deslizei o vestido pelo corpo dela antes de pegá-la no colo completamente nua. Respirei fundo quando senti uma lufada de ar entrar em contato com meu pescoço, estava cansada, quase tombou a cabeça em meu ombro no caminho até o banheiro. Sua pele se eriçou por completo, o frio que fazia naquela noite estava dificultando tudo ainda mais para ela.
A coloquei sentada lá dentro, tomando cuidado para que seu pé engessado não entrasse na banheira junto. tinha os olhos fechados com força, provavelmente sentindo as costas queimarem em contato a água. Comprimi os lábios em agonia, deixando seu corpo acomodado na cerâmica branca. Não saberia dizer se acomodado poderia ser a palavra certa para usar, parecia evitar se movimentar para não sentir dor.
— Você poderia pegar um elástico pra mim, por favor? — Seus cabelos loiros quase molhavam caídos nas costas.
Assenti em silêncio, indo até o quarto, onde peguei um e retornei para o banheiro. fez menção de levantar os braços, porém a dor estampada em seu rosto me fez decidir prender seus cabelos por ela.
Juntei os fios sedosos com os dedos sem saber direito como amontoá-los, como as mulheres faziam. Parecia muito mais fácil quando estávamos olhando de longe. Fiz o que pude, deixando um pouco frouxo, na verdade eu tinha ficado com medo de apertar demais. Vê-la naquele estado estava me fazendo provar a empatia em doses grandes e concentradas, era quase como se eu pudesse sentir o que ela estava sentindo naquele momento.
Me levantei e decidi me virar de costas para lhe dar mais privacidade, encarei o céu escuro pelo vidro da janela fechada, alguns raios caíam indicando que havia uma tempestade se aproximando.
? — Fui até ela, ainda de braços cruzados. — Você poderia me deixar sozinha um pouquinho?
— Claro. — Mexi a cabeça em concordância, esboçou um meio sorriso claramente forçado. — Me chame se precisar de alguma coisa, sim? — Ela concordou, ainda de cabeça baixa. Suspirei, indo para o quarto, onde dormia no seu berço portátil ao lado da cama.
Me deitei ali, com cuidado para não empurrar a toalha que estendi na cama para quando tirasse do banho. Encarei e fiquei observando-a ressonar tranquila, com seu narizinho mexendo vez ou outra enquanto ela respirava devagar. Passei a entender a paranóia das mães de verificar se os bebês estavam respirando, não fazia nenhum barulho sequer.
Pensar que alguém poderia tirá-la de nossos cuidados e fazer mal a ela me inquietava. Pensar que estava machucada, mas poderia ter sido muito pior me deixava furioso. E se ela tivesse batido a cabeça? Ou, sei lá, ficado numa cadeira de rodas para sempre? Como aquele imbecil poderia viver solto por aí depois de quase ter feito um estrago daqueles na vida de alguém?
Eu ligaria para Amélia e no dia seguinte iríamos discutir formas de bloqueá-lo de nossas vidas, porque se ele tentasse algo novamente eu seria capaz de matá-lo com minhas próprias mãos.
? — Me dispersei de meus pensamentos, indo até o banheiro.
A ajudei a se levantar, tremeu dos pés à cabeça quando saiu da água morna e se viu na temperatura baixa que fazia. A peguei no colo com cuidado, praticamente tomando um banho sem querer ao julgar pelas minhas roupas molhadas.
— Cuidado para não me derrubar. — Se agarrou em meu pescoço com medo. Mordi o lábio inferior reprimindo um riso quando, no caminho até o quarto, fingi que iria derrubá-la. — ! — Desferiu um tapa em meu ombro.
— Está escorregando. — Disse em meio a risos, levando mais alguns tapas em resposta. — Não é uma boa hora para me bater, . — A coloquei na cama vendo-a se segurar para não me acompanhar nas risadas.
Abri sua gaveta de calcinhas pela segunda vez naquele interminável dia. Me perguntava o quão íntima nossa relação ainda iria ficar depois de dar banho nela e mexer em sua roupa íntima. Alguns casais reais já transaram, mas nunca chegaram naquele nível.
Não prolonguei o momento e escolhi uma simples que tinha me chamado a atenção desde a primeira vez que tive que mexer ali, um preta com um lacinho pequeno enfeitando-a. Nunca tinha entendido aquela coisa com laços em lingeries, mas pensando bem, em algumas mulheres eles representavam um laço de presente de tão incríveis que ficavam em seus corpos. Parecia que vinham embrulhadas para nós.
Limpei a garganta após perceber que fiquei tempo demais encarando aquela peça nas minhas mãos e peguei uma calça conjunto de um pijama de inverno dela.
— Será que isso ainda pode piorar? — indagou com as bochechas vermelhas enquanto eu, agachado diante dela, passava a calcinha por suas pernas.
A puxei pelas mãos, ajudando-a se levantar quando subi pelos seus quadris e terminei de colocá-la. se apoiava em mim, segurando-me pelos braços. Olhei para seu rosto ainda com as mãos em seu corpo, seus olhos vieram de encontro com os meus fazendo meu coração palpitar, senti quando seus dedos finos apertavam-me os bíceps de leve.
Não era uma boa hora para sentir tesão, aliás, tratando-se de , qualquer hora era péssima.
Voltei a me agachar, passando o tecido da calça pelo gesso branco, lembrando-me de ter mandado alguém escrever "loser" no gesso de quando éramos menores e ela tinha quebrado o braço.
— Se lembra quando você ficou puta da vida quando deixou Joshua escrever no seu gesso e ele te chamou de perdedora? — Indaguei não conseguindo segurar o riso. ficou boquiaberta, desferindo mais tapas contra mim.
— Eu sabia que tinha dedo seu nessa história! — Segurei suas mãos ainda rindo. — Seu idiota.
— Me deixe escrever nesse? — Provoquei, fazendo-a esbravejar.
— Escreva na cara da sua mãe! — Ralhou, ainda tentando se soltar.
— Não está compensando te ajudar, , você só me bate e ainda ofende minha mãe! — A sentei de volta na cama, tirando a toalha molhada antes.
Fui até a cômoda pegando a sacola de medicamentos, retornando com os dois itens indicados pela doutora em mãos.
— Essa vai ser sua parte favorita, . — Se referiu ao ardor que o antisséptico traria.
Ignorei sua fala ao me sentar atrás dela na cama. Não seria minha parte favorita, na verdade naquela história toda não havia como ter, que tipo de monstro eu seria se gostasse de assistir o sofrimento alheio? Era aquela visão que tinha de mim?
Apertei o spray contra os arranhões nas costas dela, ouvindo-a grunhir de dor enquanto apertava os lençóis da cama. Me perguntei como os profissionais de saúde conseguiam fazer aquele tipo de coisa, eu sabia que era para o bem dela, mas mesmo assim tinha pena de causar aquela reação em alguém. Era a mesma história da vacina de , eu não me sentia confortável naquela posição.
— Acho que está bom. — Murmurei, ainda vendo-a abraçar a própria perna com força. Tentei abanar um pouco para que secasse logo, quando aconteceu, abri a pomada e comecei a espalhá-la nos ferimentos. — Isso dói? — A loira negou com a cabeça, relaxando os ombros gradualmente.
Quando finalizei, guardei tudo no mesmo lugar, virando-me para o closet e procurando alguma blusa que pudesse colocar.
— Se está procurando algo com as costas a mostra, esqueça. Eu não tenho roupas assim. — Desisti, voltando para o seu campo de visão. Ela se encolheu na cama, ainda usando a perna para se cobrir.
Grace costumava ter, mas as roupas dela já tinham sido doadas há dias. Me perguntei o porquê de não ter blusas daquele estilo, ela tinha costas lindas.
Que diabos de elogio tinha sido aquele?
— Vai ter que dormir assim... — Cocei a cabeça, sem saber muito o que fazer.
— Que seja, hoje eu tive que me acostumar a ficar exposta mesmo. — Deu de ombros, fazendo-me arquear as sobrancelhas.
— Fique tranquila, ao contrário de Tom eu não vou ficar te secando. — Até porque eu já tinha visto, tocado, beijado...
Afastei-me de tais pensamentos e lembranças, puxando os cobertores e deixando o espaço vago para que ela se deitasse.
se arrastou até lá e eu lhe ajudei com a perna machucada, teve que se deitar de bruços por conta das costas machucadas. A cobri até a altura dos quadris, peguei alguns travesseiros e elevei seu membro engessado como a médica tinha recomendado. Após deixá-la confortável fui direto para o banho, estava morto de cansaço, por isso não me prolonguei muito, logo estava de volta ao quarto.
Como tinha esquecido a toalha, passei nu rapidamente para o closet, achando que estava no décimo quinto sono, mas reparei os seus olhos azuis esbugalhados quando focaram-se em mim. Teria sido cômico se não tivesse sido tão constrangedor.
— Eu pensei que estava dormindo! — Exclamei quando saí, já devidamente vestido em meus moletons.
— E eu que estava coberto. Não existe toalha? — Respirei fundo, entrando debaixo das cobertas e apagando a luz. — Como que eu iria adivinhar que num frio desses você iria resolver zanzar por aí pelado?
— Não é como se nunca tivesse visto um homem nú, , não faça esse drama por nada. — Retruquei, encarando o teto parcialmente escuro. A luz da lua que vinha da varanda nos permitia enxergar silhuetas e sombras.
Ela ficou em silêncio e me cobri por inteiro, tentando fugir do frio que fazia. A encarei de canto de olho, com metade do corpo descoberto esperando que a pomada secasse logo para poder se cobrir também.
— Está com frio?
— Sim, mas eu já vou dormir, não tem o que fazer de qualquer forma... — Orgulhosa demais, como sempre.
— Venha aqui. — levantou a cabeça confusa. — Venha, chegue mais perto, vai amenizar o frio.
Seu corpo se arrastou até o meu, a acomodei em meu peito sentindo seus mamilos rijos se encostarem em meu tórax, sua respiração quente bateu em meu pescoço deixando-me estranhamente excitado. Ofeguei em silêncio. Não era hora para ter uma ereção.
— Obrigada.
Levantou um pouco a cabeça, esbarrando o nariz em meu queixo. Abaixei a cabeça, encostando sem querer os lábios ali. Senti sua respiração contra minha boca, rocei meus lábios contra os finos dela, que se esticou um pouco, os entreabrindo. Tomei sua boca, pegando-a pela nuca. Não usei a língua, também não o fez, então apenas finalizamos com alguns selinhos antes de voltarmos a fingir que nada tinha acontecido e cairmos no sono.
Sim, , tinha sim como ficar pior.

Capítulo 20

Despertei sem a mínima vontade de sair da cama, sentia que poderia ficar ali o dia todo, não iria trabalhar, só me daria o trabalho de respirar. Apertei os olhos, encolhendo-me contra a superfície macia que abrigava meu tórax. Estava tão confortável, quentinho, se movimentava devagar num balanço ritmado. Logo um barulho irritante quebrou o silêncio confortável e a atmosfera aconchegante em que eu estava imersa, meu corpo se movimentou levemente, após sentir a cama se mexer, o som cessou e eu voltei a suspirar e planejar meu dia ali sem fazer nada.
Logo senti um toque gentil arrumar minha cabeça no travesseiro enquanto meu corpo era devolvido ao colchão igualmente macio, porém sem aquele calor humano que emanava do peito que me abrigou durante a noite. Sentia os cobertores serem recolocados em meus ombros e não me recordava de ter me coberto, cai no sono antes que a pomada secasse e me permitisse me abrigar do frio.
Oh, aquele era ...
O observei de olhos cerrados, ele se sentou na ponta da cama, passou as mãos no rosto e o apoiou ali, soltando um suspiro cansado, como se tivesse algum trabalho na empresa do pai. Ok, ontem eu tinha dado um pouco de trabalho, daquela vez iria relevar seu drama.
Seus olhos sonolentos checaram minha perna, torta sobre os travesseiros que a elevavam. Ele se levantou, indo até a ponta da cama, e a ajeitou como tinha feito na noite passada. Continuei fingindo que ainda estava dormindo, o vi caminhar até o banheiro e parar no caminho para se espreguiçar, fazendo seu moletom subir um pouco e revelar um pouco de sua pele...
Fechei os olhos ao reparar nas entradas de seu abdômen, que desapareciam no elástico de seu moletom folgado, o tecido evidenciava seu volume entre as pernas. Foi inevitável não lembrar da noite passada, aquela cena que começou a ser repassada em minha cabeça em câmera lenta. correndo nu pelo quarto tentando evitar ser visto. Como se desse para não reparar.
Ele era... lindo, grosso, grande. Já podia imaginar a cabeça rosada deslizando pelos meus lábios enquanto minha mão passeava por sua extensão repleta de veias, masturbando-o até que ele explodisse em prazer e respingasse em meu corpo e rosto...
Abri os olhos com um baque vindo do banheiro e ofeguei, percebendo a merda que estava pensando. Apesar de ser totalmente odiável, eu não poderia negar que era um pedaço de mal caminho, extremamente aproveitável se colocassem um grande pedaço de silver tape naquela boquinha. Aliás, talvez não fosse tão bom tapar algo que, quando queria, sabia usar com maestria.
Nunca iria me esquecer de Brittany Stevenson, uma garota da sala de , que espalhou um boato que ele tinha lhe feio um oral escondido no ginásio da escola. Ele se gabou por dias enquanto aproveitou muito bem a fama que ganhou no auge dos dezessete anos por ser muito bom no que fazia, segundo a própria Brittany fez questão de destacar para quem quisesse ouvir.
Eu nunca conseguiria saber se eram boatos verdadeiros ou se ela era apenas emocionada demais, mas eu sabia que beijava muito bem e não duvidava nem um pouco do que ele poderia fazer com a boca.
Fui dispersada de meus pensamentos pelo choro estridente de . Tentei me arrastar pelo colchão em vão, já que o berço estava do outro lado da cama grande e minha perna latejou na minha primeira menção de me mover do lugar.
Deitei-me de barriga pra cima, levando o braço até minha testa, segurando o grunhido de dor. A porta do banheiro se abriu e saiu de lá já vestido com suas roupas de corrida. Puxei as cobertas tentando tapar meus seios enquanto ainda me recuperava.
— Pega ela pra mim? — Sentei-me no meio da cama, ainda trazendo o cobertor comigo.
— Não vai voltar a dormir? Ainda são sete horas. — Pegou a chupeta, colocando-a na boca da bebê, que pareceu se acalmar um pouco.
— Tenho que ficar acordada, daqui a pouco tenho que tomar o remédio. — Segurei-me para não gemer de dor quando tentei mexer a perna. — Eu não aguento mais... — Choraminguei, levando as mãos ao rosto.
Toda vez que me lembrava que Miguel tinha me machucado outra vez, eu tinha vontade de caçá-lo até o inferno e quebrar sua cara em milhões de pedacinhos. Ele sequer me deu chance de defesa! Eu simplesmente odiava covardes como ele e meu pai.
— Toma, vista isso. — Abri meus olhos e vi o moletom que usou para dormir ser jogado para mim. O peguei, vestindo-o e infelizmente sentindo o cheiro bom dele quando o deslizei pelo meu rosto.
O que estava acontecendo comigo, afinal?
— Vou levar vocês lá pra baixo, dar algumas voltas no quarteirão e volto para preparar o café. — Franzi a testa com o que ouvi, encarando-o em dúvida. — O que foi?
— Você? Preparando o café da manhã? — Ri gostosamente, jogando a cabeça para trás e esquecendo-me da dor em minha perna, que se fez presente num movimento brusco meu. — Ai! — Mordi o lábio com força.
— Isso mesmo, continue rindo. — Me encarou sério. — Você vai me ajudar, não era esse o combinado? Quando estiver com a patinha boa, vou te ensinar a dirigir. — Se aproximou de mim, recebendo um chute na coxa pela piadinha idiota.
me pegou no colo, levando-me até o banheiro enquanto eu me recordava da noite passada quando ele me deu banho. Era engraçado pensar como as coisas tinham mudado em tão pouco tempo de convivência, em que mundo iria demonstrar empatia por mim ao ponto de cuidar e me dar banho? Meu Deus, ele tinha me abraçado durante a noite e me abrigado do frio! Parecia que tinha sido abduzido e passado por lavagem cerebral.
Era assustador às vezes olhar para ele e enxergar outra pessoa. Porém, o mesmo rostinho bonito estava ali, estampado, e sua face do mal sempre retornava hora ou outra. Talvez só tivesse sido substituído por outro idêntico a ele.
Por mais esquisita que aquela situação toda poderia parecer, eu ainda o enxergava como um inimigo em potencial, tanto que ainda pensava nele como um vilão de Star Wars que vivia no lado negro da força, mas suas atitudes estavam me deixando confusa sobre o que pensar. Será que algum dia poderíamos ser amigos e conviver como seres humanos normais?
me colocou no chão em frente a pia do banheiro, eu ainda não tinha me acostumado com a ideia de que não conseguia pisar com o lado machucado no chão, e foi exatamente ele que escolhi para tentar apoiar meu corpo. Sorte que estava atrás de mim, quer dizer, azar, não sei. Já não sabia mais como classificar as sensações que a proximidade do corpo dele com o meu me traziam.
Suas mãos me pegaram rapidamente, impedindo-me de ir ao chão enquanto fui apoiada em seu peitoral atrás de mim. Seria estranho dizer que tinha ficado tonta com aquele contato? Além de estar confusa sobre o que pensar do caráter ainda duvidoso de , eu ainda estava tentando entender o que diabos estava acontecendo comigo em relação a presença de .
Sim, eu separava o caráter do seu corpo. Tive que fazê-lo! Depois que comecei a me sentir estranhamente atraída por ele, aquele havia sido o único jeito de aceitar o fato da minha calcinha molhar a cada beijo que me dava. Eu estava começando a entender que sim, eu o achava gostoso e que sim, ele era incrível como homem e eu o desejava. Mas, NÃO, eu jamais me envolveria emocionalmente com ele, porque NÃO, não seria o tipo de cara por quem eu me apaixonaria e escolheria para passar minha vida junto. Inclusive, quanto mais longe de mim estivesse, melhor.
Era péssimo e, ao mesmo tempo, prazeroso repetir um conceito machista contra um homem, mas não era homem para casar. Eu sabia bem daquilo desde que passei a frequentar a escola onde tive o desprazer de estudar com ele. estava sempre pelos corredores rodeado de admiradoras, depois de crescido aquilo pareceu não mudar nem um pouco, pelo contrário, fez foi piorar!
— Marquei de me encontrar com Amélia no escritório, vamos falar sobre Miguel e as medidas cabíveis contra ele. — Tirei a escova da boca ao encará-lo pelo espelho.
— Vai pedir as filmagens das câmeras de segurança? — assentiu, deixando-me apreensiva. Eu não podia negar, tinha ficado com um pouco de medo de sair de casa depois do acidente. Será que ele iria tentar algo de novo? — Tenho medo de Miguel voltar, agora ele sabe onde nós moramos.
— Não se preocupe, está segura aqui dentro. Vou reforçar aos porteiros que não o deixem entrar de jeito nenhum. — Ele já tinha feito aquilo alguma vez? — Logo Miguel estará atrás das grades e não vai poder nos perseguir mais.
— E também vai estar fora da disputa de guarda, não é? — assentiu, encostando-se no batente da porta. Respirei fundo mais tranquila, seria incrível se ele fosse pego o mais rápido possível. — Temos que conseguir, pela .
Aquela era a nossa frase motivacional, tudo o que tivemos que fazer até ali tinha sido por ela.
— Falando nisso, a primeira audiência está chegando. — Assenti, secando minha boca e rosto na toalha. — Vou aproveitar e tentar saber algo com Amélia hoje.
Logo faria três meses de vida, como passava rápido! Sua primeira audiência estava a um mês de distância, e eu ficava nervosa só de pensar na possibilidade de tirarem ela de nós. Sabia que ficaríamos sob avaliação até conseguir a guarda definitiva, mas acho que por ser a primeira, aquela data me assustava tanto.
Eu tinha ideia mais ou menos do que o juiz avaliaria até ali, o que me acalmava um pouco era saber que e eu estávamos nos esforçando para fazer o nosso melhor por , e eu esperava que aquilo ficasse bem claro no momento da decisão de mantê-la conosco. Mas ainda tinha medo de quererem dar alguma chance a Miguel de tê-la, ele era o pai biológico dela, apesar de já ter me dito com todas as letras que estava disposto a vendê-la para nós.
— Você pode me dar licença? — franziu o cenho até perceber que eu indicava o vaso sanitário com o queixo. Não era possível que até para fazer minhas necessidades eu teria que precisar dele. — Acho que posso fazer xixi sozinha... — Ele entendeu o recado e me deu as costas, saindo. — Espera! Me ajuda a chegar no vaso primeiro, né!
— Ué, você não é independente? — Debochou, fazendo-me revirar os olhos. — Vamos. — Me ajudou, dando-me apoio no lado machucado do meu tornozelo. Quando chegamos lá, me olhou em dúvida.
— Eu ainda sei como se faz. — Sorri irônica, vendo-o assentir um pouco sem graça. levantou as mãos em sinal de rendição e foi saindo até a porta com um pouco de rubor nas bochechas, coisa que eu não me lembrava de ter visto em seu rosto até então.
Fui levada para o andar debaixo e acomodada no sofá e o pé suspenso na mesa de centro. Eu não via a hora de tomar meu remédio logo, a dor estava começando a me incomodar. pegou no quarto e depois de trocar suas fraldas a colocou em meu colo, olhando para o relógio o tempo todo, parecia com pressa.
, a mamadeira! — Berrei ao vê-lo pegar as chaves da porta.
Ele bateu a mão na própria testa e foi para a cozinha, deixando-me com um enorme ponto de interrogação desenhado na testa. Ele estava todo apressadinho daquele jeito para ir ver Megan? Pensei no que minha mãe tinha me dito, que os viu correndo juntos pelo condomínio, corria todos os dias, mas naquele frio só podia estar indo para vê-la!
— Está com toda essa pressa para ver Megan? Esqueceu-se até da mamadeira de !
Longe de mim criticar sua postura de pai, até porque nem que eu quisesse implicar com eu conseguiria. Ele estava se mostrando um ótimo pai, e aquilo era surpreendente para mim! Jamais imaginei sendo pai, ainda mais sendo tão cuidadoso e responsável. Ás vezes eu tinha dificudades de reconhecê-lo como um homem adulto, visto que algumas atitudes dele me lembravam do idiota com quem convivi na escola.
— O quê?
— Megan, nossa vizinha. — Revirei os olhos, com raiva da sua expressão confusa.
— Eu sei quem é Megan, não sou estúpido. — Discordei mentalmente. — Do que está falando, ?
— Minha mãe disse que te viu correndo ao lado de uma mulher e eu tenho certeza que era de Megan que ela estava falando. — Arquei as sobrancelhas, sugestiva.
— E? Por acaso ela me viu beijando Megan? — O olhei boquiaberta.
— Beijou ela? — Eu não podia acreditar que tinha realmente feito aquilo, era contra as regras!
— Não, , eu não beijei Megan. Sua mãe não viu nada demais. — Passou a mão pelo rosto, impaciente. — Eu nem ao menos combino de correr com ela, Megan simplesmente me encontra casualmente. — Todos os dias, no mesmo horário? Ele sabia o significado da palavra casualmente?
— Ah, sim! É sempre uma simples coincidência. — Sorri sínica. — Como se ela já não desse em cima de você o suficiente. Se faz na minha frente, pelas minhas costas deve ser mil vezes pior!
já estava visivelmente alterado e tomou fôlego para me rebater, mas foi interrompido por batidas na porta. Nos encaramos em dúvida, Elisabeta não deveria chegar tão cedo e tinha a chave da casa.
! Não vai correr hoje? — Soltei um pequeno riso desacreditada quando ouvi aquela voz. E ele ainda tinha a cara de pau de me dizer que não combinavam de se encontrar!
— Bom dia, Megan. — Deu espaço para a mulher, que encarava dentro de casa com uma curiosidade nada discreta. — Eu até ia, mas acho que vou ficar com hoje. — Segurei minha vontade de xingá-lo quando vi os olhos claros de Megan me focarem lá da porta.
— Ah, claro! Fiquei sabendo o que houve. — Entrou, vindo até mim com sua costumeira legging reveladora. Atrás dela, sinalizava que não tinha combinado nada com ela. E ele pareceu tão surpreso quanto eu quando ouviu que tinha alguém na porta. — , querida, como está?
Dei um olhar feio para , que saiu do lado dela e veio se sentar ao meu lado no sofá.
— Eu estou bem, Megan, obrigada pela visita. — Sorri falsamente, vendo-a se sentar no sofá lateral.
— Ah, que isso! — Desdenhou, abanando o ar. — Na verdade, vim chamar para correr comigo, sempre o encontro no meio do percurso. Seu marido é uma ótima companhia, , e tem um gosto musical incrível. — Lógico, ouvia as bandas que Megan costumava ser fã na adolescência, de tão velhas que elas eram.
passou o braço por cima da minha cabeça, apoiando-se no sofá, e encarou-me com a sobrancelha arqueada, como se estivesse se gabando de ter falado a verdade. Ele não fazia mais que sua obrigação em escolher não se agarrar por aí com Megan. Era parte das regras e eu não lhe daria um prêmio por cumpri-las.
Megan sorriu na direção dele, que devolveu um sorriso mais contido.
— Pois é, é um ótimo marido. — Levantei o queixo, tentando parecer mais superior. — E está se saindo um ótimo enfermeiro também, não é amor? — Espalmei a mão em sua coxa, subindo-a em direção a sua virilha.
Era quase possível ver uma gota de suor escorrer por sua têmpora, de tão frio que suou com meu toque. Sua mão segurou a minha, impedindo-a de continuar seu caminho rumo ao seu membro.
— Como pode ver, eu estou sendo muito bem cuidada. — Tirei minha mão debaixo da dele e a cobri, num gesto claro de companheirismo, ainda sorrindo para a vizinha, que engoliu a seco desde o momento em que seu olhar tinha acompanhado a subida de meu toque na coxa de meu marido.
— É muito bom saber disso, mas vocês sabem, se precisarem de qualquer coisa, estarei ali do lado. — Infelizmente. — Já vou indo, vou te deixar descansar. — Levantou-se, sendo imitada por , que se prontificou a acompanhá-la até a porta. — Fica para uma próxima então, . — Eu, de lá do sofá, pude ouvir o estalo que o beijo que Megan deu na bochecha de fez.
Ele fechou a porta e respirou fundo antes de se virar novamente em minha direção.
— Viu? Megan disse que me encontra no meio do caminho. Satisfeita? — Ajeitei em meu colo contrariada. — Precisava mesmo disso tudo?
— Eu só estava marcando território. — Dei de ombros. negou com a cabeça, soltando um risinho sem humor. — Ué, eu não tinha patas até minutos atrás? Quem sabe agora Megan se toca e para de ficar atrás de você.
— Você não tem nem um pouco de moral para me jogar isso na cara, ! — Se aproximou do sofá, — Tom vive em cima de você e nem por isso eu "marco território"! — Arquei a sobrancelha.
— E o que você faz é o que, se não marcar território? — Esbravejei, tentando manter meu tom normal para não assustar a neném em meu colo. — , vocês dois só faltaram sair no soco naquele hospital, você só falta mijar em mim quando Tom está por perto!
— Se você não correspondesse ao interesse dele eu não precisaria bancar o marido ciumento. — Revirei os olhos. Agora a culpa era minha! — Eu jamais correspondi Megan, e não foi por falta de tentativas dela. — Senti o sangue ferver. Eu me esquecia até da palavra sororidade quando Megan me vinha à cabeça depois daquilo.
— Eu correspondo Tom? Onde? — Bem que eu queria poder corresponder ele! — Você mesmo viu que eu deixei bem claro para ele que era casada. E pode não correspondê-la com palavras, mas com atitudes com certeza faz, porque ela não viria aqui te chamar se não achasse que tinha intimidade pra isso.
— Engraçado te ouvir falar isso, pensei ter ouvido Tom combinar de vir te visitar hoje. — Meus argumentos acabaram. Era verdade.
— Ele... Ele vai vir me visitar como médico, ora!
— Oh, sim, do mesmo jeito que ele deve ter te secado quando você estava nua na frente dele, como médico, é claro.
— Eu não sei de onde você tira essa cisma toda com Tom, está na cara que eu não passo de uma diversão para ele. E de quebra ele ainda te provoca fingindo ter interesse em mim. — me encarou como se eu fosse louca. — Ele deixou isso bem claro naquele episódio na casa de Megan que nunca ficaria com uma garçonete como eu.
— Acha que ele não te pegaria se tivesse chance? — Ergueu as sobrancelhas e eu neguei com a cabeça.
Por mais explícito que fosse seu interesse em mim, parecia que Tom estava apenas blefando quando me dizia todas aquelas coisas. As meninas do condomínio já deram a entender que ele costumava pegar mulheres casadas e eu era apenas a "carne nova no pedaço", mas não iria querer fazer parte de coleção alguma.
— Aqui, eu faço questão de te provar que está errada. — Mostrou-me a aliança antes de colocá-la sobre a mesa de centro. — Te deixo livre para tentar algo com ele hoje. O trato que fizemos não valerá nas próximas horas.
Encarei o metal sobre a mesa branca por um tempo. Eu sabia que éramos uma farsa e que nenhum de nós devia fidelidade ao outro, mas eu também sabia que tínhamos que fazer valer aquele casamento, mesmo que aquilo significasse deixar de ficar com alguém que queríamos muito pegar! ainda era mais importante.
Além de tudo, eu achava a infidelidade extremamente nojenta e não daria o gostinho a Megan ou as outras de saberem que fiz o que tinha dito que jamais faria. Também tinha , que com certeza iria querer tentar o mesmo com Megan, e eu sabia bem que ela não pensaria duas vezes na hora de ceder a ele. Aliás, ela estava louca por uma oportunidade.
— Recolha sua aliança, não vou ceder a Tom só pra te provar algo. — Ralhei ofendida, vendo-o mover a cabeça em concordância e fazer o que lhe foi dito. — Isso é ridículo! Deveríamos nos afastar deles. — Sugeri, já que com toda aquela confusão com Miguel, quanto menos pessoas nos envolvêssemos, melhor.
— Pela primeira vez concordamos em algo, . — Se jogou no sofá ao meu lado. — Você está certa, não fique com Tom e eu vou passar longe de Megan. Apesar de desejá-la na mesma medida em que você o deseja — o espiei pelo canto de olho. Desde quando desejava Megan? —, isso pode colocar tudo a perder. Vamos resistir aos dois. Casamento é isso, não? Sentir tesão por outras pessoas, mas não fazer nada, porque há um contrato assinado que custa caro para ser desfeito.
Tive que concordar com . No nosso caso, o dinheiro de quebra de contrato virava uma esmola ao lado da derrota de perder .
— Será que Megan ainda está casada por conta disso? — e eu ficamos pensativos. — Porque Tom é solteiro, é diferente, mas ela tem Javier e mesmo assim dá em cima do primeiro cara gostoso que aparece na frente dela! — Continuei teorizando sozinha, já que quando olhei para o lado, estava parado me olhando.
— Você me acha gostoso? — Encarei o sorrisinho pretensioso que crescia em seus lábios.
Sim, que inferno.
— Eu? — Me apontei, exasperada por conta da gafe que dei. — N-Não estou falando de mim, estou falando de Megan, tipo, de como ela deve pensar...
— Aham, claro. — Inclinou-se sobre mim, encaixando o rosto na curva do meu pescoço enquanto me cutucava a cintura, dei um pulo do sofá já segurando o riso que veio com as cócegas. — Eu não acredito em você, . Pode admitir, eu sei que sou irresistível.
, para! — Gargalhei, tentando empurrá-lo pelo cotovelo. Apesar de estar rindo, eu estava irritada, odiava cócegas e não estava conseguindo me defender de suas mãos por estar com a bebê no colo. — está mamando! — Consegui controlar a voz quando ele parou de me importunar. — Esse insuportável não te deixa mamar em paz, não é, meu amor? — Fiz voz melosa, observando-a me procurar atenta com os olhinhos.
— Acho que ela não quer mais, não. — A bebê virou o rostinho, sujando-se de leite quando o bico de plástico saiu de sua boca.
Virei a mamadeira de pé, vendo que ainda faltava um pouquinho.
— Ah, vamos lá, , falta só mais um pouco. — Tentei retornar a mamadeira em sua boca, porém ela virou o rostinho novamente. — Tudo bem. — Murmurei chateada. Eu ainda estava com sua avaliação de estar abaixo do peso na cabeça. Me preocupava saber daquilo e não saber o que fazer para ajudar.
A deixei em pé, enquanto pegou o paninho e limpou sua boca pequena. Logo a apoiei em meu tórax, deixando sua cabeça apoiada em meu ombro na espera de ouvir o arroto.
inclinou-se sobre ela, beijando sua mãozinha e cheirando seus cabelos. Pelo visto eu não era a única a ser viciada naquela fragrância gostosa que nenhum perfume conseguiria se igualar. Me perguntei como iríamos viver sem aquilo quando crescesse. Por mim ela seria aquele bebezinho para sempre, de tão maravilhosa que era a sensação de tê-la nos braços.
A neném arrotou, fazendo-me desencosta-lá dali e segurar seu corpo pequeno diante de mim para encará-la por inteira. Ela seria alta, assim como o tio e a mãe, o pediatra tinha achado ela enorme para o seu pouco tempo de nascida. Suas roupinhas eram sempre de cores consideradas unisex, tudo porque Grace não quis saber seu sexo quando estava grávida.
Pensando bem aquilo até que lhe deu uma pequena vantagem, tinha roupinhas de todas as cores imagináveis, fugindo do convencional rosa para meninas. Ela era tão linda que qualquer cor que vestisse ficaria magnífica, mas estava especialmente mais linda naquela manhã vestida naquele macacão amarelo mostarda com bichinhos de pelúcia.
— Me deixe tirar uma foto dela. — A virei para , esperando-o tirar a foto enquanto tentava fazê-la olhar para a câmera a qualquer custo. Ele tirou algumas quando finalmente conseguiu ter a atenção de seus olhos verdes. — Agora as duas.
— Nem pensar! Eu nem penteei o cabelo hoje. — A ajeitei no meu colo. Estava com o cabelo todo amassado, a cara de sono e ainda por cima vestida em seu moletom todo abarrotado, parecia que eu tinha acabado de ser atropelada de novo.
— Para de frescura, ! — O olhei feio com ele ainda apontando o celular em minha direção. — Olha, essa ficou ótima! — Bufei de ódio quando ele me mostrou a imagem, claramente iria usar para me atormentar pelo resto da vida. — Vai, termos que registrar momentos com ela bebê, vai passar muito rápido e não vamos ter lembranças de pequena.
Revirei os olhos diante da chantagem emocional, que infelizmente funcionou, porque ele meio que tinha razão. Me posicionei com a bebê, esperando-o tirar logo as benditas fotos, logo desatou a rir ao me ver parada parecendo uma idiota, quando na verdade ele estava filmando. Sim, em plenos 24 anos ele ainda fazia aquele tipo de brincadeira besta. Homens nunca amadurecem mesmo.
— Agora que ela já está de barriguinha cheia, temos que preparar o café da manhã. — O encarei ainda sem acreditar que iria mesmo cozinhar. Iria cair uma tempestade maior que a de madrugada.
— O que o chef tem em mente? — Zombei, já sentada num dos bancos da bancada da cozinha, no carrinho estava , que nos observava ainda bem agitada mexendo os bracinhos.
— O que é mais fácil de fazer? — O encarei incrédula, não devia nem saber fazer nem gelo!
— Omelete. — Dei de ombros, como se fosse óbvio. pegou a panela e os ingredientes na geladeira. — Quando for me ensinar a dirigir vou aprender só o básico também. — Provoquei.
— Não vai não! Isso aqui é só um café da manhã, , logo eu vou estar te preparando um prato de caviar. — Fiz cara de nojo vendo-o se deleitar com meu embrulho no estômago. — E você vai aprender a dirigir, sim! Vai deixar Lewis Hamilton comendo poeira! — Ri de seu excesso de confiança. Eu queria ver se ele iria ter aquela paciência toda comigo.
Enquanto se virava no fogão, eu aproveitava para espremer algumas laranjas para beber o suco junto do omelete. Para ajudar a descer, porque eu não confiava nas mãos de quando o assunto era alimentação. Podia ter se passado dois meses, mas eu acho que jamais me acostumaria com a ideia de estar no mesmo ambiente que ele, com uma faca próxima e ainda não ter pensado em milhares de formas de matá-lo.
— Prontinho! — Anunciou, vindo com a frigideira grande em direção ao prato em cima da bancada. Me afastei, com medo de ser queimada por aquele ser desastrado, e vi quando virou o omelete no prato. — Voilà. — Torci o nariz para a aparência um tanto alaranjada do que estava a minha frente.
— Você primeiro. — Lhe estendi a colher na esperança de usá-lo como cobaia. Se não passasse mal, eu comeria.
— Nada disso, você que me ensinou, se estiver ruim vai ser culpa sua. Você deve se arriscar a provar. — Revirei os olhos pegando um pedaço minúsculo. — , eu não coloquei veneno. — Foi a vez dele de revirar os olhos, tirou a colher da minha mão, pegando um pedaço maior e me dando pra provar na boca, não e dando chances de recusar ou dosar a quantidade.
Mastiguei observando-o comer em seguida, não estava tão ruim assim, só um pouco sem sal. Para uma primeira vez, eu tinha que admitir que estava ótimo. Também, com eu como professora, não dava para se esperar menos que aquilo! Claro que se tratando de eu já naturalmente não esperava nada, mas daquela vez fui surpreendida.
— E então. — Me encarou em expectativa, roubando meu copo de suco para si.
— Isso está péssimo. — Retorci meu rosto em nojo teatralmente.
— Sério? — Se fosse qualquer outra pessoa, eu ficaria com dó da expressão em seu rosto, mas quando se tratava de , todo tipo de sofrimento era bem vindo.
Não consegui segurar a risada e seu rosto se suavizou. estranhamente tinha mesmo esperado um feedback meu, como se minha palavra realmente importasse, quando na verdade era apenas sobre um omelete! Engraçado que em todo o resto, não se importava nem um pouco com minha opinião. Tanto que sempre fazia decisões sozinho e me deixava descobrir depois.
! Sua mentirosa. — As malditas cócegas voltaram a me assombrar, fazendo-me tentar bater em a fim de tirar suas mãos de mim. Infelizmente ele ainda era muito mais forte e sabia como me deixar sem defesa alguma.
— Eu vou cair! — Depois de implorar muito para que ele parasse, senti meu corpo escorregar pela lateral do banco. Me segurei em seus braços sendo suspensa no ar. Minha perna ainda estava em cima de outro banco, como a médica tinha recomendado. — , é sério! — Supliquei ainda ofegante. Ele riu tranquilamente, negando com a cabeça. — Se você me deixar cair...
— Bom dia. — A voz de Elisabeta soou de repente na cozinha, assustando nós dois, mas não o suficiente para fazê-lo me deixar escapar no chão. — Está tudo bem?
me levantou rapidamente sob o olhar esquisito da mulher a nossa frente. Ela devia achar que éramos loucos. E depois de tantos anos convivendo com aquele ser, eu acho que concordava com Elisabeta.
— Sim, só estava arranjando um jeito de me matar, primeiro pela boca, aí não conseguiu e tentou manualmente mesmo. — Brinquei, sentindo seus braços me envolverem num abraço por trás. — Você acaba de salvar minha vida! — Ela riu de onde estava, enquanto eu recebia beijos na bochecha e tentava disfarçar a vermelhidão em meu rosto. Porque diabos ele tinha que ficar tão carinhoso na frente dos outros?
— Que calúnia! — exclamou ofendido, apertando-me contra si. — Eu cuidei tão bem de você, não te deixei triscar o pé no chão desde que viemos para casa e é assim que me retribui?
Elisabeta riu alto de nossa discussão, provavelmente achando que era apenas uma brincadeira, mas tratando-se de e eu, nada que envolvesse uma briga poderia ser brincadeira. Era tudo muito sério e proposital.
, seus pais são duas crianças. — A menina mexeu os bracinhos e perninhas no carrinho, arrancando um sorriso nosso.
Eu não sabia relacionar muito bem a ideia de ser chamada de mãe, nem ao menos falar que era pai de em voz alta. Sabia que uma hora teríamos que começar a nos tratar como tal, até mesmo para que a bebê nos reconhecesse assim. Mas ainda não entrava na minha cabeça quando alguém chegava e falava em voz alta que éramos pais dela.
Elisabeta foi até a sala para guardar a bolsa, nos deixando a sós na cozinha.
— Cuidou bem. — Ri irônica. — Quase me derrubou no chão duas vezes! — Sussurrei, gesticulando em sua direção. me soltou, encarando-me com as sobrancelhas juntas.
— Eu estava brincando. — Seu tom de voz me chamou a atenção, olhei para trás vendo-o visivelmente bravo com minha fala. — Eu nunca te deixaria cair, você deveria saber disso. — saiu da cozinha em passos largos, encontrando Elisabeta na entrada e depositando um beijo na bochecha dela antes de subir.
Eu fiquei ali, encarando a porta que passou como um furacão, sem entender nada.
— Ué, ele já vai trabalhar? Está cedo ainda, não? — Foi até mim confusa.
— É, eu acho que sim. — Apoiei o queixo na mão, ainda confusa.
— Fiquei preocupada ontem, o Sr. saiu correndo para o hospital quando chegou. — Cutuquei a comida, sem apetite algum.
— Não foi nada, — sorri fraco. — só uma entorse de tornozelo e alguns arranhões. — indiquei o gesso debaixo da mesa lembrando-me de algo logo em seguida. — Meu remédio! Esqueci de tomar. — Bati na minha própria testa.
Eu tinha levantado mais cedo justamente para não esquecer de tomar! Fiquei frustrada, era como acordar mais cedo e ainda assim se atrasar para o trabalho. O que era bem a minha cara fazer.
— A senhora e seu marido se distraíram tanto que até se esqueceram do remédio. — Me trouxe o frasco fazendo-me franzir o cenho com sua fala, porque era verdade.
E pior! e eu passamos uma manhã juntos por livre e espontânea vontade, já que não tinha ninguém por perto para enganar. Eu tinha ficado tão dispersa com ele que nem ao menos me lembrei da dor que estava sentindo.
— É muita serotonina agindo nesse corpinho. — A mais velha riu, enquanto eu tomava o suco para ajudar o comprimido a descer junto daquela sensação estranha.
De estar se sentindo traída por mim mesma. Onde já se viu, se divertir com ? Aquilo era confraternizar com o inimigo e parecia muito errado. Eu precisava me lembrar de todas as implicâncias desnecessárias e a soberba de desde que o conheci. Aquele homem gentil era apenas parte de uma farsa, ele jamais iria existir na vida real.
Ouvimos batidas na porta e nos entreolhamos, Elisabeta foi até lá deixando-me curiosa, quem seria uma hora daquelas? A nossa casa era mais movimentada do que eu imaginei que iria ser, ainda bem, sempre achei que seria difícil viver aquela nova vida e estava conseguindo tirar de letra, apesar das dificuldades.
— Bom dia. — A voz de Tom soou e me vi nervosa, ele deveria ao menos ter esperado sair para trabalhar, não? Eu não queria que Elisabeta os assistisse brigando, era vergonhoso demais! Não gostava de especulações sobre minha fidelidade, mesmo sendo tudo uma mentira.
— Aceita alguma coisa? — A babá indagou cordialmente, mas mesmo que ela estivesse apenas sendo educada eu via seus olhinhos brilhando ao focar naquele monumento de homem.
— Não, não se preocupe comigo, eu já estou de saída! — A tranquilizou, vindo até mim e depositando um beijo no topo da minha cabeça. — Vim te ver como o prometido.
Encarei Elisabeta um pouco sem graça, ela ficou no canto da cozinha sem saber muito o que fazer, se nos deixava a sós ou se ficava. Eu podia ouvir os questionamentos surgindo em sua cabeça, sobre quem era aquele cara e porque ele me olhava daquele jeito nada discreto. Até mesmo o sorrisinho de segundas intenções era nítido.
— Não precisava ter se preocupado Tom, estou sendo muito bem cuidada, logo estarei boa novamente. — A babá decidiu por fim deixar a cozinha junto de em seu carrinho, me remexi desconfortável no banco, escolhendo as palavras antes de usá-las. — Na verdade, acho melhor não nos vermos mais.
Péssima escolha de palavras, aliás. Qualquer idiota que ouvisse aquela fala naquele diálogo um tanto estranho, acharia que ele e eu tínhamos algo, sendo que não tínhamos nada e, por mais gostoso que Tom fosse, não teríamos tão cedo enquanto eu fosse casada. O jeito como ele levantou as sobrancelhas me deu a entender que tinha interpretado de maneira errônea, e o que ele falou apenas confirmou minhas suspeitas.
— Porquê? te proibiu de me ver? Se ele o fez, isso é totalmente errado, . — Neguei com a cabeça, afinal, e eu tínhamos um combinado e a motivação daquele afastamento não era ciúmes como casais tóxicos faziam. Mas Tom não entenderia, se eu fosse lhe explicar teria que contar a verdade a ele. — Ele se sente inseguro em relação a mim? Eu sou uma ameaça ao casamento de vocês?
Talvez ele estivesse se achando um pouco demais. Mas, não estava de todo errado, não. Ele havia conseguido a façanha de estremecer até mesmo uma relação de mentira, imagine o que Tom não devia fazer num casamento de verdade? Ele era o próprio destruidor de lares e agia como se não estivesse fazendo nada de errado, como se estivesse acima de tudo e todos.
E aquilo, de certa forma, me broxou um pouco em relação a ele. O mesmo excesso de confiança de com as mulheres que me irritava tanto estava presente ali, só que muito pior, já que até onde eu sabia, pelo menos poupava mulheres comprometidas de seus encantos.
— Não, Tom, eu estou fazendo isso por vontade própria. nunca controlou minha vida, não será agora depois de casados que vai começar a fazê-lo. — Justifiquei irritadiça com aquele pensamento dele. — Eu sou muito grata a você, já te agradeci e sinto que não o fiz o suficiente. — Disse exasperada.
Odiava aquela sensação de sentir que o estava tratando mal, como se apenas um favor que ele me fez desse a ele algum crédito, como se Tom pudesse pintar e bordar comigo e eu não pudesse falar nada porque ele me ajudou uma vez. Era a mesma sensação estúpida de quando saímos para um encontro pela primeira vez com algum cara e ele insiste em pagar a conta, quantas vezes eu já não me senti na obrigação de transar por sentir que eu devia algo a ele? Homens tinham aquela coisa, sabe? De te fazer sentir na obrigação de retribuir um favor que você às vezes nem queria ter ganhado.
— Mas depois de tudo o que me disse ontem... Tom, eu me sinto mal, não quero que pense que permito que outro homem seja evasivo do jeito que você foi comigo...
— Então você sentiu algo ontem? — Quase bati na minha própria testa. De tudo o que eu tinha lhe falado, Tom só tinha absorvido aquilo? Sério mesmo?
— Não, Tom, eu não senti nada. — Menti, eu até senti sim, mas era só tesão e ele passava a cada vez que eu o observava naturalizar traições. — Eu gosto muito da sua amizade, mas sinto que isso pode interferir no meu casamento. E eu estou muito feliz com e e amo minha família. — Frisei que eu não era do tipo que traía, caso ainda houvesse dúvidas.
— Tudo bem, . Fico triste de te ver se afastar, mas vou fazer o que me pediu. — Esticou o braço, pegando em minha mão, afagando-a. — Ainda estarei por perto caso precise ser salva outra vez. — Ri junto dele, voltando a achá-lo o homem mais lindo do mundo quando ele demonstrava não ser um babaca.
Reparei um grande arranhão em seu antebraço esticado. Franzi o cenho.
— Nossa, o que foi isso? — Perguntei para só depois sentir que fui evasiva demais. Qual era a minha afinal? Tinha acabado de dizer para Tom se afastar e estava conversando como se nada tivesse acontecido. — Desculpa, as vezes sou muito curiosa.
— Tudo bem, — Riu fraco, também checando o arranhão. — Encontrei um gato no meu quintal há alguns dias atrás. Tentei ficar com ele, mas acho que ele não vai muito com a minha cara.
— Espera, como é esse gato?
— Preto, olhos castanho mel, ele é bem gordinho, acho que tinha dono antes de se perder na minha casa.
Salém, aquele desalmado!
— É esse aqui? — Lhe estendi o celular após achar a foto daquele filho ingrato.
Eu não acreditava que ele tinha fugido pra procurar outro dono! Eu não era uma boa dona? Não poderia ser ciúmes de já que Salém tinha sumido antes da bebê chegar em casa. Tom confirmou de imediato.
— Eu vou matar esse gato! — A expressão em seu rosto me fez parecer uma louca. — Estou há dias atrás dele, coloco a ração para fora esperando que ele volte e ele está na casa dos outros como se nada tivesse acontecido?
— Ele não me pareceu ser do tipo apegado, a culpa não é sua, . — Tentou me consolar. O pior é que ele tinha razão, era difícil aceitar que aquele filhotinho que peguei da rua tinha crescido e se tornado um ingrato daqueles. Mas eu o amava mesmo assim, e estava mais do que aliviada por ele ter sido encontrado. — Te trago ele quando voltar do trabalho, pode ser?
Assenti de imediato, eu estava morta de saudades daquela bola de pelos enorme e fofinha, apesar de seu temperamento. Era mais outro favor que eu devia a Tom e não fazia a mínima ideia de como retribuir sem que fosse do jeito dele. Talvez tivesse razão, talvez Tom não fosse só fogo de palha e realmente me quisesse caso eu cedesse a ele. Mas ainda assim eu mantinha minha decisão sobre me afastar.
— Eu vou indo, tenho uma cirurgia marcada...
adentrou a cozinha já vestido em seu terno escuro e sendo extremamente cheiroso sem qualquer necessidade para tanto. Ajeitava os cabelos que caiam ondulados enquanto carregava sua maleta escura junto de si. Ele passou por Tom como se ele não estivesse ali, para o meu total alívio.
— Estou indo, qualquer coisa me liga, sim? — Assenti quando o vi se aproximar.
Não sabia direito o porquê, mas fiquei nervosa, trêmula, quando sua mão grande entrou em contato com minha nuca, puxando-me para si. beijou-me devagar, como se tivesse tempo para ficar ali a tarde inteira. Quando me largou, vi com minhas pálpebras pesadas a imagem de Tom, que ainda estava ali, totalmente alheio à situação.
— Te amo, bom trabalho. — Murmurei contra seu rosto. Ele demorou um pouquinho para entrar na encenação, mas quando o fez, retribuiu minha fala e selou nossos lábios pela última vez antes de deixar a cozinha.
— Fico feliz que tenha você, já que o pai dela é bem mal educado. — Riu sozinho, vindo até mim, não senti o mesmo que tinha sentido anteriormente. — Como eu ia dizendo, estou indo. Até mais, . — Beijou minha bochecha demoradamente e saiu porta a fora.
Elisabeta apareceu de fininho quando me viu sozinha na cozinha, sua expressão era engraçada, a pobrezinha não tinha entendido nada, e não tinha sido a única. A dor de cabeça de administrar homens me atingiu, imaginei como mulheres conseguiam fazer aquilo todos os dias e as invejei. Eu não sabia lidar com tal situação e era por saber daquilo que eu tive a certeza de que não me envolveria de maneira séria com ninguém enquanto estivesse metida naquela confusão de casamento.

's point of view.

Saí de casa ainda controlando-me para não dirigir a palavra a aquele ser que estava em minha cozinha com . Esperava que aquela fosse a última vez que o veria por ali. Tinha ciência de que Tom ainda estava incluído no nosso ciclo de "amizades" naquele condomínio, mas quando estivéssemos todos reunidos eu poderia estar próximo para impedi-lo de tentar colocar um par de chifres na minha cabeça.
Era impressionante como era ingênua! Com aquele papo de que achava que Dormian não ficaria com ela caso tivesse chances, ele só não a beijou ainda porque ao menos um pouco de noção tinha! Mas se o deixasse se aproximar... Fiquei aliviado que não tinha aceitado a minha proposta mais cedo. Se Tom tivesse ao menos um vislumbre de tê-la em seus braços, iria se gabar pra cima de mim a vida toda.
Tirava o carro da garagem quando o vi surgir na porta que eu tinha acabado de sair. Ele andava despreocupado pelo jardim da minha casa enquanto o portão elétrico descia, Tom passou por debaixo e quando me viu manobrar o carro deu uma acenada em minha direção.
— Idiota. — Arranquei com o veículo apertando o volante, a fim de descontar minha raiva. O que me tranquilizava era saber que e eu tínhamos feito outro trato, e esse não incluía sua presença em nossas vidas.
Nem a de Megan, mas por incrível que possa parecer, eu estava satisfeito com aquela decisão. Megan tinha Javier, que era uma cara legal, ele não merecia a infidelidade da esposa, e se fosse para ser corno não seria por minha causa. Eu adorava flertar com ela, era divertido e ela tinha um corpo maravilhoso, mas já estava me cansando de só ouvi-la falar e não poder agir.
Ação, era aquilo que eu precisava. Depois da noite de ontem em casa e todas as esquisitices que e eu nos envolvemos, eu estava começando a perceber que tudo aquilo que ela me fazia sentir, toda aquela vontade reprimida era apenas carência. Eu nunca tinha ficado tanto tempo sem sexo, então estava sentindo tudo em dobro com absolutamente qualquer coisa que um corpo feminino fazia diante de mim. E aquele corpo pertencia a , era louco como a abstinência nos fazia agir ao contrário do que o normal.
Dafne me veio à mente, e como eu não tinha tomado um café da manhã decente em casa, iria remarcar o meu local de encontro com Amélia para o café próximo da empresa. Até porque eu sabia bem que meu tio ainda estava a espera da tal conversa, e eu queria adiá-la o máximo que pudesse. Ainda tinha que preparar propostas para evitar a venda da empresa e, além do mais, eu estava tendo uma manhã agradável apesar dos pesares.

: "Bom dia, linda. Estou a caminho do café. É louco como quero marcar todas as minhas reuniões aí, só para poder ver você e esse seu corpo maravilhoso.”

Digitei quando parei num sinal vermelho. Infelizmente a parte de marcar reuniões no café era tudo mentira, com a contratação de Elisabeta e toda a encenação de família feliz, quando tudo voltasse a normalidade, eu teria que fazer minha primeira refeição do dia em casa. Não que eu achasse ruim, afinal, quanto mais tempo eu passasse em casa, mais eu teria junto de mim.
A única coisa que estava me incomodando com a novidade de ter mais alguém lá em casa, era saber que eu não poderia mais voltar para o meu quarto. Elisabeta transitava pela residência toda, lavava as roupinhas da bebê, tinha acesso a cômodos como o quarto que eu dividi com quando Theresa estava por lá, ela iria estranhar caso percebesse que dormíamos em quartos separados.
Assim que adentrei o estabelecimento, vi a loira sentada já me esperando. No balcão, ao fundo, estava Dafne, que me deu uma piscadela antes de abrir um sorriso grande para mim. Seus cabelos pretos estavam presos no alto, deixando seu pescoço e nuca aparentes, eu amava quando as mulheres faziam aquilo, me dava vontade de puxar os fios, beijar toda aquela pele exposta e vê-la se arrepiar em meus braços.
— Bom dia. — Amélia sorriu quando lhe dei um beijo na bochecha, indo me sentar à sua frente. — Como está ?
Como toda mãe, Amélia tinha sua preferida. Claro que a advogada era muito nova para ter filhos com a nossa idade, mas era daquela forma que a víamos . Amélia era a única depois de Grace a nos aguentar brigando nos ouvidos dela e ainda assim conseguir nos fazer calar a boca.
— Ela está bem, ainda com dor, mas está sendo medicada e logo estará recuperada.
— E ? Ai, eu sinto tanta saudades que às vezes acho que não estou sendo nada profissional quando o assunto é vocês três. — Ri junto dela. Até mesmo Amélia já se sentia parte daquela família. — Depois daquele dia com a mãe de , não tive tempo de contatar vocês.
— Pois é, tem sido dias loucos. — E não era exagero da minha parte, desde que me casei com , minha vida tinha se tornado tudo, menos pacata como me diziam que o casamento era. Muito pelo contrário! Havia sido uma sequência de acontecimentos e confusões que nunca imaginei viver na minha vida de antes.
Abri a galeria do meu celular e lhe estendi o aparelho, mostrando as fotos que tirei da bebê mais cedo, passei para o lado deixando-a ver o vídeo que filmei sacaneando .
está usando um moletom seu? — Meu sorriso morreu no mesmo momento, fiquei tão sem reação que tive que olhar o vídeo para me lembrar que tinha lhe oferecido minha peça de roupa, e que estava com a cara de sono e os cabelos amassados. Não tive como julgar Amélia por fazer aquela associação, mas com ? Sério? — Vocês dois finalmente pararam de brigar? — Seu tom malicioso continuou.
O que ela quis dizer com "finalmente"?
— Bom dia, me chamo Dafne e irei atendê-los. — Vi quando eu olhar se demorou na tela do meu celular onde o vídeo se reproduzia em looping, quase bati em minha própria testa. Eu não queria que Dafne visse , muito menos ! Afinal iria ser apenas sexo casual.
— Bom dia, Dafne, eu vou querer apenas um café puro. — Amélia se voltou para a gerente séria, ficando incomodada com a curiosidade da funcionária, que passou a me encarar intrigada. Talvez porque eu não tinha citado a existência de uma filha? Não importava! Desde quando os amantes se preocupam com os filhos do casal? — Me ouviu?
— Sim, desculpe. E o senhor?
— O mesmo que ela. — Perdi a fome, encarando-a anotar os pedidos e sair sem olhar em meu rosto.
— Acho que acabou de arruinar meu plano para o fim de semana. — Sorri amarelo vendo-a cobrir a boca com a mão. — e eu nunca vamos parar de brigar, Amélia. É só um moletom. foi a pessoa perfeita para entrar comigo nessa farsa, ela não faz o meu tipo e nunca vai rolar nada entre nós.
Me excedi um pouco nas minhas explicações. Senti o coração acelerar e estava torcendo para minha linguagem corporal não denunciar minha mentira. Bom, não era tão mentira assim, nós andamos nos pegando vez ou outra sim, mas com exceção da noite em que voltou bêbada, todas as outras foram em prol de nossa mentira. Por mais gostoso que tenha sido, ainda era encenação.
Mas eu não iria perder meu tempo explicando isso a Amélia, visto que só de saber que usou uma roupa minha ela já tirou conclusões demais sozinha, imagine se soubesse o que fazíamos juntos entre quatro paredes?
— Desculpe. — Assenti em compreensão. — Se quiser, eu falo com ela... — Neguei de imediato, imaginando o constrangimento que aquilo seria. Amélia realmente estava agindo como se fosse minha mãe que tinha acabado de me envergonhar em frente de uma garota.
— Depois eu conserto isso. — Se não tivesse conserto, tudo bem, procuraria outra companhia, o que era uma pena, pois Dafne realmente tinha me interessado. — Aqui, trouxe as filmagens das câmeras de segurança. O porteiro me deu uma cópia, do pouco que vi do vídeo, dá para ver a placa da caminhonete e o exato momento do ataque.
— Ataque. — Ela repetiu receosa. — Vamos conseguir provas antes de sair acusando, sim? — Bufei de raiva, enquanto uma outra garçonete vinha com nossos pedidos. — Sei que vocês já sabem que foi Miguel por todo o histórico que tem com ele, mas para que funcione mesmo, temos que ir com calma, ok?
— Eu sei, eu sei, mas saber que aquele filho da puta está livre depois de nos infernizar há tanto tempo e ainda mais tê-lo como concorrente da guarda de me deixa possesso.
— Quanto a isso, fique tranquilo, . Vai correr tudo bem na audiência, vocês só precisam se preparar e manter a calma, sejam sinceros! Conhecendo vocês como conheço, sei que o juiz saberá que o melhor para ela é estar com vocês. — Amélia afagou minha mão por cima de mesa, tentando me acalmar.
— Não tão sinceros, não é? — Passei a mão no rosto, tentando segurar o riso que me veio. Se contássemos tudo nos mínimos detalhes, talvez não ficaria com nenhum de nós. Pobrezinha, olhe onde a vida a colocou para crescer.
— Que nada, vocês são pais maravilhosos, tiraram de letra. — Sorriu orgulhosa. — Eu já disse, imaginava que vocês colocariam fogo naquela casa morando juntos, e estou muito feliz de ser surpreendida com toda a maturidade e responsabilidade de vocês dois. — Ainda me dava vontade de rir ao ouvir aquilo. — Se comprometeram a cuidar de e estão cumprindo!
— O que vai fazer com isso? — Indiquei o CD que ela guardava dentro de sua bolsa.
— Vou dar para um amigo que tenho na polícia, vamos rastrear o veículo e interrogar o dono. — Terminou seu café, deixando a xícara sobre a mesa. — Qualquer novidade eu te aviso.
— Mas e a ordem de restrição para ?
— Querido, infelizmente ainda não podemos fazer nada quanto a isso, não sem provas de que foi Miguel que a atacou. — Suspirei derrotado. E o que eu faria até lá? Enrolaria em plástico bolha? A trancava em casa para não correr risco de ser atacada de novo? — Quanto ficou?
— Não se preocupe com isso, mulher! — Amélia riu, guardando a carteira de volta.
— Vai dar tudo certo, eu te mantenho informado, sim? — Se levantou, ajeitando o blazer que vestia. — Dê um beijo nas meninas por mim e vá se resolver com seu plano do fim de semana. — Caçoou do código que tínhamos criado para se referir a Dafne, deixou um beijo em minha bochecha e saiu porta a fora.
Suspirei ouvindo o par de saltos se aproximarem devido ao barulho que fazia no chão enquanto Dafne praticamente marchou até minha mesa.
— A conta. — Deixou o livreto sobre a mesa. — E eu estou fora, apague meu contato, por favor.
— O que houve?
— O que houve? Vocês têm uma filha! — Céus, como pode aceitar sair com alguém casado e ainda querer ser moralista daquele jeito? Enfim, a hipocrisia.
— Ela não é nossa. — Senti-me mal no momento em que aquelas palavras saíram de minha boca. Afinal, mesmo que eu não fosse o pai biológico, o meu sangue corria nas veias de . — Eu já disse que não tem problema nenhum, que minha esposa não liga. O que mais você quer para sair comigo?
— Você tem certeza disso? — Revirei os olhos. Ela queria que eu assinasse um termo de consentimento também? Eu sabia o que eu queria, se tivesse dúvidas nem a teria abordado.
— Sim, eu tenho certeza. — Respondi, colocando o dinheiro no livreto. — Você é que parece não saber o que quer...
— Eu quero você. — Mordi o lábio ao notar a urgência em sua voz. — Mas fico receosa...
— Vai estar livre esse fim de semana? — Me levantei, ajeitando o terno, e ficando bem perto de seu corpo. Dafne sentiu meu perfume e sorriu em resposta, antes de assentir com a cabeça. — Mando mensagem para combinarmos algo, ok?
— Eu mal posso esperar. — Suspirou, fazendo-me medi-la dos pés à cabeça e ficar ansioso também.
Lhe dei as costas, deixando o café, e fui andando até a empresa, onde o causador do meu estresse estava. Esperava não encontrá-lo em minha sala novamente. Assim que o elevador abriu, avistei Jordyn em sua mesa, digitando algo enquanto trabalhava tranquilamente. Nenhum sinal de estresse por ali, talvez Edward tivesse decidido me deixar em paz, pelo menos durante o começo do expediente.
— Bom dia, Sr. . — Sua voz amena soou no silêncio quando ela notou minha aproximação de sua mesa. — Em que posso ajudar?
Exitei antes de começar a falar, sabia que seria um papo meio estranho. Mas eu não iria entrar numa loja de lingerie sozinho, muito menos entendia daquilo. Eu só entendia de tirar, agora comprar para alguém vestir já era outra história.
— Sim... Jordyn, eu preciso que faça uma compra para mim, você é mulher, entende dessas coisas... — A expressão em seu rosto se tornava cada vez mais preocupada a cada palavra dita por mim. — Eu preciso que compre uma camisola, mas tem que ter a parte das costas aberta. — A mulher assentiu anotando no bloquinho de notas.
— Uma frente única. — murmurou, deixando-me confuso. — Preciso só saber o tamanho, se o senhor tem preferência de cor... Se é algo mais elaborado... — Franzi o cenho enquanto a observava fazer gestos sem saber como descrever. — mais sensual...
— Ah, não. — Murmurei, já ficando vermelho. — sofreu um acidente noite passada, está machucada, então queria algo para deixá-la confortável durante a noite. — E me deixar confortável também, porque dormir com uma mulher seminua sobre mim e não poder fazer absolutamente nada com ela tinha me dado palpitações durante a noite.
— Entendo, mas ela está bem?
— Sim, foi apenas um susto. — Sorri amarelo, ainda vendo-a assentir em compreensão. — Bom, é só isso mesmo, Jordyn. — Quanto ao tamanho... — Me calei pensativo.
— Imagino que deva ser um P, não é. — Ela sugeriu, fazendo-me tentar me lembrar do corpo de .
Tentar... Não era preciso fazer muito esforço, conseguia me recordar inclusive da textura de sua pele, ou do cheiro... Eu não era bom era com tamanhos mesmo.
— Ou talvez um M, é uma mulher alta, tem um corpo com curvas... — Me perdi um pouco naquela descrição, lembrando-me da noite em que a tive em meu colo, das minhas mãos delineando aquela cintura... — Pode deixar comigo, vou sair daqui a pouco para comprar.
— Obrigada. — Entrei em minha sala já afrouxando a gravata que, de repente, pareceu ficar mais apertada, deixando-me sufocado.
Sentei-me na cadeira, encostando minhas costas, relaxando meus ombros e minha cabeça no estofado macio. Eu estava ficando louco, não havia outra explicação para aqueles pensamentos. Estava passando tempo demais ao lado de e o pior era saber que aquele casamento ainda não tinha um prazo estabelecido para acabar. Sabe-se lá quando eu iria me livrar dela e daquelas sensações que me visitavam quando me vinha à cabeça.
Decidi me focar no trabalho, liguei para a secretária pedindo o contato do fornecedor que tinha me ligado anteriormente e eu não tive tempo de retornar. Aquele acidente, a chegada de , o casamento e a mudança para a casa nova me fizeram invejar os homens que já eram casados e conseguiam lidar com os negócios e a família. Poucos conseguiam, e meu medo era virar um robô e me esquecer da família.
No auge do meu cansaço, a única conclusão que eu chegava era que nós homens não tínhamos medo de casamento por nos prender a uma só mulher, não poder transar com várias e tudo o que a solteirice nos proporciona. Nós tínhamos medo era do compromisso que assumimos, de ter que administrar o trabalho com a vida pessoal. O problema nunca foi a quantidade de mulheres, mas sim os problemas que ter uma família trazia. Apesar de estar meio cansado, ainda me acostumando com aquela vida, eu não me arrependia nem um segundo de tudo o que fiz por . Faria de novo sem pensar duas vezes.
Meu celular bipou enquanto eu revisava alguns relatórios semanais. Geralmente eu demorava a responder, na minha tela inicial tinha algumas mensagens de Chace, que era preguiçoso o bastante para entrar no elevador e ir até minha sala, mas a que chegou chamou minha atenção imediatamente. Era Dafne, que tinha me enviado uma foto.

Dafne: "Até quando vai se contentar em apenas olhar?"

E a foto? Bom, quando abri a imagem fiquei duro, ofeguei em desejo. A morena estava com a mesma roupa de anteriormente, uma camisa de botões que agora estava aberta, revelando seus seios fartos aprisionados num sutiã escuro. A foto ainda me permitia ver seus lábios grossos pintados num vinho intenso, deixando-me louco para mordê-los.
— Eai, cara? — Chace adentrou a sala fazendo-me dar um pulo da cadeira e bloquear o celular. — O que foi? O que está vendo aí que está tão assustado? — Gargalhou, jogando-se na cadeira em frente a mesa.
— Nada, eu só estava matando a saudades da minha filha. — Menti, me sentindo um monstro por usar . Ele me olhou ainda desconfiado, fazendo-me desbloquear e ir até a galeria para lhe mostrar a foto que tirei mais cedo.
— Cara, como ela é linda, me dá até vontade de ter filhos. — Tirou o aparelho das minhas mãos deixando-me nervoso. Se ele inventasse de passar para o lado e visse a foto de Dafne eu estaria ferrado.
A voz de Amélia repetia na minha cabeça aquela baboseira de que éramos para fingir ter um casamento perfeito. E traição não era incluso naquilo. Chace sabia como era fisicamente, e Dafne não se parecia nada com minha esposa.
Seu sorriso foi se fechando aos poucos quando ele passou o dedo para a próxima imagem. Segurei-me na cadeira já preparando meu discurso vitimista de que Dafne não significava nada, que eu amava , que tinha sido apenas um deslize, que eu era um pai de família e jamais faria algo para magoar . Enfim, todas as desculpas que homens usavam quando eram pegos com a boca na botija.
— Com todo o respeito, está muito bonita. — Me devolveu o celular, ainda sem graça. Franzi a testa e reparei que ele estava apenas vendo o vídeo sem som que gravei de com de manhã. — E parece muito feliz com vocês.
— É, é uma ótima mãe. — Foi um elogio sincero. Nós dois estávamos aprendendo rápido a lidar com um bebê tão novo e como Amélia mesma tinha dito, estávamos indo muito bem. — Adotar foi ideia dela.
— Cara, ainda não entra na minha cabeça essa sua versão casada. Parece que foi ontem que nós nos esbaldamos naquela boate em Miami. — ri junto dele, aquela noite tinha sido incrível. — Como pode ter se casado assim do nada? Você nem ao menos falava dela para nós!
Engoli a seco. Chace era um dos meus melhores amigos, era natural ele se sentir confuso com aquela história toda de casamento, afinal, qualquer pessoa normal contaria que iria se casar, não? Mentir para ele seria difícil, tão difícil quanto foi enganar Theresa. Tínhamos conseguido dobrar minha sogra, mas daquela vez eu estava sozinho.
— Conheço há muitos anos, nós ficamos na adolescência, mas nunca dávamos certo juntos. Aí depois de alguns anos nos reencontramos, em outras circunstâncias, mais maduros e... aconteceu. — Resumi a mesma historinha que contávamos para todos, sem muitos detalhes e nem coisinhas melosas, aquela parte sempre ficava com .
— Era amor, não era? — Assenti comprimindo os lábios. Era bem o contrário, mas tudo bem. — Minha mãe sempre diz que quando ele te acha, não tem escapatória. — sorriu sozinho, cruzando os braços, pensativo. — Deve valer muito a pena, largar a vida de solteiro para ser de uma só. Vejo que é alguém muito especial, tão especial que você guardou a sete chaves escondida de todos.
Eu não tinha escondido de ninguém, mas após ouvi-lo falar toda aquela baboseira que toda mulher gostaria de ouvir, pensei se não seria bom esconder minha próxima namorada de Chace. O infeliz era bom de lábia.
Ouvimos batidas na porta e, após receber um comando, Jordyn adentrou a sala, trazendo consigo uma sacola de papel cor de rosa nada discreta.
— Se não for do seu agrado, eu posso tentar trocar por outra. — Estendi a mão, pegando a sacola e abrindo-a sem cerimônia sob o olhar curioso de meu melhor amigo.
Puxei o tecido leve, era uma seda deliciosa de se tocar, na cor branca. Frente única, do jeito que eu havia pedido. Era curta, devia bater no meio da coxa de , deixar a polpa de seu bumbum à mostra. Naquele momento me arrependi de ter inventado de tentar cobrir o corpo de . Aquela noite seria pior que a anterior, e olhe que estava seminua. Eu não tinha sorte quando se tratava de e suas camisolas.
— Essa está boa, Jordyn. Obrigada. — Contrariado, a vi caminhar para fora da sala enquanto eu ainda sentia o tecido suave em minhas mãos e imaginava a roubada em que tinha me metido.
— Parece que alguém ainda está em clima de lua de mel. — Chace se pronunciou após soltar um pequeno assobio. — Não sabia que curtia esse tipo de coisa mais ousada. Ela sempre pareceu tão tímida pra mim.
Eu o conhecia o bastante para saber que não, aquele comentário não tinha sido intencional, que Chace não tinha imaginado minha esposa naquela camisola. Nós dois tínhamos uma vasta lista de ex ficantes e até mesmo já compartilhamos algumas delas, costumávamos falar sobre elas daquele jeito casual. Mas ele ainda não tinha entendido que era diferente daquela vez, eu estava casado e não dava para deixá-lo falar de daquela forma tão íntima.
— Comigo ela não é, afinal, eu sou o marido dela. — Dobrei a camisola e a joguei de volta na sacola.
— É claro. — Riu minimamente. — Eu vim aqui te propor algo que não foi ideia minha, tá? O pessoal adorou e queria conhecê-la melhor. Eu disse a eles que vocês dois talvez fossem querer finalmente ter uma lua de mel, sozinhos. Mas eles insistiram e aqui estou eu.
Adoraram ? O nível de bêbada que ela estava no casamento devia ter ajudado naquele veredito. Se passassem um segundo com sóbria, sairiam correndo.
— Ah, está falando da viagem de ano novo. — Tinha me esquecido completamente daquilo. Tudo estava tão corrido que eu nem ao menos tinha percebido que tínhamos acabado de entrar no mês de de dezembro.
Eu não sabia nem onde passaríamos o Natal, já que eu não tinha mais a casa dos meus pais para ir me reunir com a família. Não que eu tenha sido banido ou algo do tipo, eu apenas queria adiar ao máximo ter que contar a eles que adotei . E, também, estar com eles sem Grace seria a coisa mais difícil do mundo, minha irmã sempre amenizou tudo com seu espírito natalino exagerado. Os pais de estavam viajando, mas ela também não parecia fazer questão de se juntar a eles numa ceia.
Todos os anos desde que eu assumi a presidência, juntava-me a Chace e os outros solteirões para fazer uma viagem e passar a virada de ano em lugares diferentes. Naquele ano, não era só eu que tinha sido abatido como soldado, Jack também já tinha sido roubado de nós, estava namorando.
Não teria a mesma graça indo com , a única coisa boa seria fugir do clima gélido de Londres para ir às praias e aproveitar o verão em outro país. Não teria as mulheres internacionais e toda a diversão que elas traziam. Seria por apenas três dias, mas ainda assim já dava para renovar as energias e começar o ano mais relaxado.
— Qual será o destino esse ano?
— Tulum, no México. — A imagem da areia branquinha e das águas cristalinas me vieram à cabeça. — Cara, Jack conseguiu uma casa enorme com vista para o mar. — Fechei os olhos e respirei fundo, quase sentindo a brisa do mar me atingir o rosto. Eu precisava tanto daquele descanso... — Mas e aí? Vocês topam ir com a gente?
Mas expor para meus colegas de trabalho só iria estragar meu único refúgio daquela bagunça que era nosso casamento de mentira: A empresa. Eles sabiam que eu tinha me casado, porém não tinham contato com minha esposa, o que me dava total liberdade de transitar pelos corredores sem receber perguntas evasivas. Nunca perguntavam nada sobre , era como se ela não existisse. E eu estava feliz daquele jeito.
— Não sei, tenho que decidir com . Você sabe, ainda é muito novinha para fazer viagens e essas coisas. — Dei uma enrolada básica.
nem poderia saber daquela viagem, era lógico que ela iria querer ir. Nunca saiu da Inglaterra e foi à praia apenas uma vez na vida, claro que nem poderia se comprar com as paisagens paradisíacas que existiam em Tulum.
— Tudo bem, vou avisar o pessoal. — Murmurou, cabisbaixo. — Tente convencê-la a ir, irmão, não vai ser a mesma coisa sem você. — Ri de seu drama. Se eu fosse para lá casado seria a mesma coisa de não ir. — Me avise se for, aí organizamos as coisas. Vou te deixar trabalhar um pouco.
— Na verdade eu estou indo almoçar. Vamos? — Chace se levantou, assentindo com a cabeça.
Bloqueei meu computador, apanhei meu celular e deixamos a empresa antes que meu tio nos encontrasse. Por incrível que pudesse parecer, ele ainda não tinha dado as caras por ali.
Quando voltei de um almoço divertido, regado a lembranças e risadas das nossas viagens anteriores, continuei focado em revisar os relatórios quando a porta da minha sala foi aberta de repente.
— Jordyn não está na mesa dela? — Nem precisei levantar o olhar para saber quem era.
— Quem, sua secretária bonitinha? Está sim.
— Então qual o problema de ser anunciado?
— Não preciso disso, sou o dono daqui.
— Eu também sou, esta é minha sala. — Parei de mexer nos papéis para encará-lo.
— Vamos pular toda essa baboseira e ir direto para a parte que me interessa. Você disse que quer reerguer a empresa, certo? — Confirmei, ainda encarando-o, impassível. — Então me mostre como pretende fazer isso, me prove que é possível e eu me junto a você. Mas se nã...
— Eu sei, você vende sua parte, já entendi. — Revirei os olhos, observando-o se sentar na cadeira diante de mim. — Agora eu não posso, estou ocupado. Me encontre na sala de reuniões após o expediente.
As horas se passaram voando, logo eu já apagava as luzes e ia cansado em direção a sala onde marquei com meu tio. Me despedi de Jordyn invejando-a por poder ir embora na hora certa.
Passei um tempo com ele ali, trancafiado, mostrando gráficos e projeções das coisas que eu queria fazer, quem eram os possíveis fornecedores com quem eu estava quase fechando negócios, tudo o que poderia nos ajudar a sair da crise.
— Só um minuto. — Me afastei um pouco, pegando meu celular que vibrava no bolso. Meu tio bufou enquanto revirava os olhos, mas o ignorei levando o aparelho ao ouvido. — Estou um pouco ocupado agora, o que houve, ?
A ouvi fungar algumas vezes e estremeci, percebendo seu choro.
, o que aconteceu? — Repeti a pergunta, daquela vez com um desespero crescente dentro do peito.
— A , ela... — Ofeguei no mesmo instante. — ela está resfriada, Elisabeta já foi embora. — Falava com a voz embargada. — M-Mas elas está ardendo em febre e-e eu não sei o que fazer!
— Calma, eu estou indo pra casa. — Tentei raciocinar um pouco. estava com a perna engessada, mesmo que não estivesse, estava sem carro e nem dirigia. Pensei, pensei e algo me veio a cabeça. — Ligue para alguma das suas amigas do condomínio, a mãe dos gêmeos, sei lá. Acho que elas saberão o que fazer.
— Tudo bem, vou fazer isso. — Soluçou, fazendo-me suspirar e sentir minha garganta formar um nó.
— Eu estou indo. — Finalizei a ligação e tratei de organizar os papéis sobre a mesa com os olhos querendo marejar a qualquer momento.
— De novo, ? Ainda não acabamos por aqui. — Fechei os olhos com força, tentando controlar minha raiva.
— Surgiu uma emergência, precisam de mim em casa. — Lhe respondi com a voz contida, tentando manter um pouco do nível de educação que tínhamos conseguido. — Amanhã terminamos.
Caminhei apressado até a porta, ainda cheio de pastas nos braços, jogaria tudo na minha sala e correria para poder sair o mais rápido possível.
— Não, , não haverá amanhã. — Parei onde estava. — Amanhã cedo estarei pegando meu voo de volta a Nova Iorque. Eu já te dei sua chance, não vou ficar parado vendo você se afundar e me levar junto de si. Vou falar com seu pai sobre isso. Não dá para confiar uma empresa do tamanho dessa nas mãos de um cara que só pensa em mulher e filhos.
Soltei um riso desacreditado, voltando a caminhar pra fora da sala.
— É por isso que você é um solteirão de merda e vai morrer sem ninguém ao seu lado.

Capítulo 21

Um resfriado ou até uma febre era algo tão comum de se acontecer que geralmente nunca me causaria tamanha preocupação, mas era tão pequena e tão frágil aos meus olhos que eu tinha vontade de entrar em seu sistema imunológico e expulsar aquele vírus aos chutes e pontapés. Sentia que era capaz de qualquer coisa por ela.
Peguei meu carro no estacionamento já vazio, dirigi o mais rápido que pude, porém não consegui me livrar do trânsito que peguei ao tentar me desviar na avenida principal que era meu caminho usual. Fiquei parado por um tempo e me permiti respirar fundo, tentar me acalmar, afinal, eu não poderia fazer nada de longe. Esperava que conseguisse fazer algo. Sabia que ela daria um jeito, mas queria estar lá para ajudar.
Quando entrei na garagem de casa e estacionei de qualquer jeito, já podia ouvir uma movimentação intensa lá dentro. Assim que entrei, dei de cara com Anne e Tiffany juntas na cozinha, cortando legumes e preparando o jantar. Mais a frente na sala, o choro abafado de que era ouvido de lá de fora se fez mais presente, esmagando meu coração.
— Boa noite. — Tirei o paletó e o deixei junto de minhas coisas sobre o sofá.
Já tinha ficado mais tranquilo ao ver Victoria com a bebê chorosa nos braços, com a máscara pequena do inalador em seu rostinho molhado por lágrimas. Sentia dó ao vê-la daquele jeito, sua barriguinha subia e descia rapidamente, seu choro saía anasalado, demonstrando que ela estava mesmo bem resfriada.
— Olha, o papai chegou. — Murmurou enquanto se balançava devagar de pé, sorriu pra mim e voltou a conversar com , que já estava com o rostinho vermelho de tanto chorar.
Fui até elas, beijando o topo da cabeça dela com as costas da mão, senti sua pele pálida, não estava quente, provavelmente já tinha sido medicada. queria ir para o hospital, entendia o pânico que sentiu, afinal, no lugar dela faria o mesmo, mas talvez não fosse pra tanto. Pais de primeira viagem levam seus sustos de vez em quando e aquele era apenas o primeiro de muitos que ainda nos daria.
Aquilo era o que me preocupava, afinal, eu e tínhamos um prazo determinado para nos separarmos, mas como faríamos com a bebê depois? Porque teríamos que lidar com ela separadamente e, a menos que o prazo fosse muito longo, eu não sei se saberia lidar com uma criança tão nova sozinho. Talvez eu pudesse levar Elisabeta comigo, seria difícil e, apesar disso passar pela minha cabeça algumas vezes, eu sabia que não poderia fazer muitos planos. Afinal, nem Amélia sabia direito a duração daquele casamento.
Era engraçado pensar que até uns dias atrás eu estava pensando o quanto era fácil cuidar de , mais cedo tinha conversado com Amélia sobre como e eu estávamos tirando de letra. Iludido, manter um bebê vivo era mais difícil do que eu tinha pensado. No fim, eu estava até aliviado que era apenas um resfriado, poderia ser muito pior.
— Console sua esposa, sim? Ela está uma pilha de nervos desde que me ligou.
estava no sofá, encolhida, tinha o rosto enterrado nas mãos e nem fez menção de levantá-lo, nem mesmo quando me ouviu chegar. Fui até ela, sentando-me junto de si e a abraçando de lado, afagando sua cintura devagar. Beijei sua cabeça, puxando seu tronco em minha direção. soluçou, finalmente me deixando ver seu rosto vermelho quando avançou sobre mim, abraçando-me pelo pescoço e escondendo-se ali.
— Me desculpe por não poder estar aqui. — Sussurrei em seu ouvido.
, está tudo bem agora, não se preocupe tanto! É só um resfriado, é a coisa mais normal do mundo. — Concordei em silêncio, ainda mexendo em seus cabelos loiros e os afastando de seu rosto molhado. — Eu sei do que falo, tive dois filhos de uma vez e já passei muito sufoco quando eles eram do tamaninho de . Era eles chorando de um lado e eu do outro. — Riu fraco, lembrando-se da cena, que devia ter sido desesperadora.
— Victoria tem experiência no assunto, se ela diz que é normal, então é mesmo. — A cutuquei pela cintura e consegui arrancar um sorrisinho da loira ao meu lado. Victoria nos observou sorrindo, antes de desligar o inalador e ir se sentar ao lado de .
— Pessoal, o jantar está pronto. — Anne disse de repente, nos fazendo perceber sua presença na sala.
O meio sorriso em seus lábios desapareceu logo que seus olhos claros focaram-se em nós, mais precisamente no jeito como me abraçava e era consolada. Provavelmente porque não estava acostumada a nos ver juntos daquela forma.
Até eu, que era o menos beneficiado naquela farsa, estava me acostumando com aquela troca de carinhos de mentira, logo ela e Tiffany também teriam que tentar nos encarar com normalidade.
— Nós já vamos, obrigada amiga. — sorriu fraco em sua direção após tentar secar o rosto.
— A pior parte já acabou, agora temos que aspirar o narizinho. — A ouvi atentamente, já que se houvesse uma próxima vez teríamos que nos virar sozinhos. — Vocês querem fazer para aprender?
Assentimos prontamente, mesmo sem saber o que era aquele objeto azul ainda na embalagem.
— Podem ficar com esse, está em casa há tempos, ganhei presentes duplicados e esse aí nem foi usado ainda. — pegou a menina nos braços, pegando o pequeno frasco de soro fisiológico e colocando um pouco do liquido transparente na narina de . — Isso serve para aspirar o catarro, vai ajudá-la a respirar melhor.
Após receber instruções, colocou o bico de silicone no narizinho de , que no início tentou impedir com a mãozinha, afinal, estava irritadiça e doentinha, a pobrezinha. Quando conseguiu encaixar o aspirador, o apertou e vimos o aparelho fazer o efeito esperado. Ela repetiu o processo algumas vezes, aliviando aos poucos.
— Isso! Está vendo? É simples, enquanto ela estiver doentinha, vocês podem aspirar para ajudá-la. — Assenti ainda atento às recomendações. — Ah, seria bom comprar um inalador, ajuda muito nessas situações.
Adicionei o item na minha lista mental, juntando com as muletas que me esqueci de comprar para . Lá ia eu, carregá-la para cima e para baixo de novo. Lembrei de comprar a maldita camisola e me esqueci do principal.
— Vamos jantar? — anunciou, após observarmos que a bebê estava mais tranquila nos braços da mãe. — Você fica conosco, Victoria?
— Tudo bem, já que insiste. — Sorriu faceira, fazendo-nos rir junto. — Me dê ela aqui, seu marido terá que te carregar até a cozinha.
— Eu me esqueci de comprar as muletas. — Sorri amarelo, pegando minha esposa nos braços. A coloquei em uma das cadeiras da mesa de jantar, ainda sob os olhares de suas amigas, que nos observavam como se fôssemos extraterrestres.
, eu coloquei sua comida, sabia que não iria conseguir vir até o fogão. — Fanny lhe passou o prato e os talheres, recebendo um agradecimento rápido em troca.
— E então, de onde vocês conhecem e ? — Victoria indagou, ainda com a bebê no colo. Ela tinha um olhar meio desconfiado para cima de Anne, que por alguma razão desconhecida ainda encarava vidrada minhas mãos apoiadas nos ombros de .
— Tiffany e Anne trabalham comigo. — sorriu para as amigas. — Elas vieram me ver hoje porque souberam do acidente e acabaram me pegando no meio do surto. — Riu sozinha, ainda envergonhada pelo drama que fez.
Senti um pouco de culpa novamente, era a mesma história da noite passada, as coisas aconteceram justo quando eu não estava por perto, me senti mal por ter ficado até mais tarde no trabalho e ter deixado sozinha com os problemas de novo. Eu não queria ser o que meu tio queria que eu fosse, tinha uma família para cuidar e ela era mais importante que qualquer reuniãozinha com alguém que tinha intenções nada boas, tão pouco ligava para o crescimento da empresa.
— Fiquei preso no trabalho, queria poder estar aqui... — Cocei a nuca, ressentido e sem graça. — Mas muito obrigada pela ajuda. — Encarei as três, ainda envergonhado. Não era obrigação de nenhuma delas ajudar , era minha e eu não a cumpri.
— Tudo bem, não foi nada, . — Victoria desdenhou. — Se acostumem com essa correria, dizem que dura até os dezoito. — Rimos junto dela e tratei de pegar a menina de seu colo para que ela pudesse comer.
— Não deve ser nada fácil conseguir manter um bebê vivo, acho vocês incríveis só por estarem tentando. — Fanny disse entre uma garfada e outra.
— E conseguindo. — Anne completou, cutucando-a com o cotovelo. Ri pelo nariz, trocando olhares com .
— Acho que depois de hoje, sobrevivemos a qualquer coisa. — observou a bebê sonolenta no meu colo.
Seu rostinho estava encostado em meu antebraço, adorava ficar deitada daquele jeito comigo, a barriguinha descansando em meu braço enquanto ela respirava devagarzinho e chupava a chupeta com os olhinhos quase se fechando.
— Mas, e aí, vocês pretendem ter outro logo? — Arqueou as sobrancelhas animada, fazendo-me engolir a seco só de pensar no assunto.
Tiffany engasgou-se com a comida enquanto Anne desatou a rir da pergunta simples que Victoria fez. Encarei , ainda sem entender absolutamente nada e vi a interrogação enorme se formando na testa da nossa vizinha.
— Desculpa, é que e ... eles...
— Nós não tínhamos planejado ter filhos tão cedo, é por isso que estão rindo. — A loira interrompeu Anne, que ainda vermelha e sem ar, tentou se retratar com Victoria. — Nós planejamos curtir o casamento antes, mas tudo aconteceu tão rápido que quando vimos já estávamos dando entrada nos papéis de .
Apesar da ordem invertida, tinha razão em dizer que tudo aconteceu rápido. Parece que foi ontem que eu estava colocando Grace no carro na noite em que ela entrou em trabalho de parto. Depois de enterrar minha irmã, foi questão de dias para a nossa vida virar de cabeça para baixo.
Às vezes eu sentia que ainda não a tinha deixado ir completamente, era uma sensação estranha, como se ela estivesse apenas viajando e que voltaria logo. Não tive muito tempo para processar sua partida, ou talvez não quisesse fazê-lo. Grace era uma das mulheres mais importantes da minha vida. Aceitar que não a veria mais era doloroso demais. O meu único consolo e minha fonte de força era aquela bebê que nos foi deixada de presente.
— Porém não nos arrependemos de ter tomado essa decisão. — Concluí meus pensamentos em voz alta. concordou prontamente do meu lado, passando a mão pelos cabelos ralos da bebê. — foi a melhor coisa que nos aconteceu.
Tudo bem, ela era a razão de estarmos casados, mas nada parecia mudar ou diminuir o que sentíamos por . Ainda era surreal pensar que existia realmente um amor como aquele no mundo, capaz de te fazer realizar verdadeiras loucuras e simplesmente largar tudo para trás só para ter a oportunidade de senti-lo. Se Grace não a tivesse deixado conosco, sabe-se lá onde eu estaria naquele momento. Sempre que parava para imaginar, pensamentos muito sombrios me atingiam a cabeça, fazendo-me pensar que estaria no fundo do poço sem minha irmã ou algo a que me agarrar por perto.
— Mas não pretendemos ter mais filhos tão cedo. — Concordei, como se realmente conversássemos sobre o assunto e fizéssemos planos como todo casal normal.
Na realidade eu sabia o que queria para mim. Independentemente de quando o divórcio saísse, eu iria fazer tudo, menos ter mais um filho ou me enfiar em outro compromisso.
— Sim, será irmã mais velha, mas só daqui há alguns anos. — As duas amigas de comiam caladas, sem expressões faciais ou comentários adicionais. Tinham aprendido com a gafe passada.
— Ah, mas eu espero que estejam se cuidando direitinho, porque com o fogo que vocês tem, é bem capaz da cegonha vir bater na porta mais cedo do que imaginam.
Soltei meus talheres no susto e um silêncio se instalou entre nós. A única coisa que era ouvida era a risada de Victoria enquanto nós nos encarávamos estáticos. passou a acompanhá-la na risada, mesmo que sem graça para disfarçar, já eu tentei arranjar outro assunto para puxar e tirar o foco daquele.
— Nunca vou me esquecer do showzinho que vocês deram naquele banheiro. — meu Deus, só piorava. — Foi muito bom conhecer vocês dois, sabe? Nós daqui precisávamos da juventude e da paixão de vocês entre nós. Nos divertimos demais naquele jantar.
O celular de Victoria bipou em seu bolso, fazendo-a deixar o prato que ela colocava sobre a pia para poder atendê-lo. Era seu marido, e pelo visto ele estava tendo problemas em domar os gêmeos. Ela teve uma rápida conversa e decidiu então ir para casa.
— Desculpe, problemas no paraíso. — Sorriu amarelo após finalizar a ligação. — Vou ter que ir agora, deixemos o jantar para uma outra ocasião. — Assenti já me levantando para acompanhá-la até a porta. — Não precisa, . — Abanou o ar.
— Muito obrigada por hoje, sério, eu nem sei o que faria se não tivesse vindo. — virou-se em sua direção, recebendo um beijo na bochecha.
— Não há de que, sempre que precisar pode chamar, vou ajudar no que estiver ao meu alcance. — A vizinha se foi pelo corredor fora após se despedir das meninas.
Soltei o ar que nem ao menos percebi que segurava e finalmente pude me levantar dali e ir atrás do carrinho para colocar deitada. Não iria sair e deixar sozinha com aquelas três, era um perigo eu estando junto, imagine na minha ausência?
— Tá bom, quem vai começar a falar? — Me virei, encarando do outro lado da mesa.
Aproveitei o prato que Victoria tinha começado a fazer e esperei que o silêncio continuasse a reinar na cozinha quando retornei. A única que cooperou para que aquilo acontecesse foi Anne.
— Falar o que? — se fez de desentendida, o que só aumentou o sorriso de Fanny.
— Do show que deram por aí no banheiro dos outros. — A malícia em sua voz me deixou nervoso, sabia o que se passava naquela cabecinha e infelizmente era exatamente tudo o que ela estava pensando. — Andem, queremos saber!
— Queremos? — Anne indagou, olhando-a pelo canto dos olhos.
— Sim! Vai dizer que não está nem um pouco curiosa? — A encarou indignada. — Vamos, quem vai começar a falar?
abriu e fechou a boca algumas vezes, sem ter o que dizer. Me apressei em pensar em algo, minha cabeça não estava funcionando direito naquele dia quando era para colocá-la em ação para mentir. Mas talvez fosse melhor contar logo a verdade, já que toda a situação tinha sido armada mesmo.
Era importante só nos lembrarmos de ocultar o final daquela história, porque aí sim, iria pegar mal se disséssemos o que realmente aconteceu naquele banheiro. Eu nem ao menos saberia dizer o que houve, e olhe que eu estava lá naquela noite. Havia sido algo completamente feito por impulso, o tesão nos cega de uma maneira inexplicável, e eu tinha cedido aos meus desejos naquela ocasião. Mas as meninas não precisavam ficar sabendo disso, é claro.
me obrigou a ir! — foi mais rápida que eu, acusando-me na cara dura. — Foi ideia dele. — Hasteou o dedo em minha direção, fazendo as amigas me encararem.
— Quem foi mesmo que inventou para Megan que eu era broxa? — Exclamei incrédulo com a cara de pau dela, nem ficava vermelha pra mentir.
Tiffany e Anne desataram a rir enquanto me encarou de sobrancelhas arqueadas. Aquela eu mereci, quem mandou eu não medir minhas palavras?
— Meu Deus, vocês realmente transaram no banheiro dos outros só pra provar que não era broxa? — Anne indagou, já sem ar enquanto a morena ainda ria com lágrimas nos olhos.
— Nós não transamos de verdade. — esclareceu, cruzando os braços emburrada.
— Fizeram um teatro então?
— Quase isso...
ganhou de presente uma calcinha vibradora, eu a levei para o banheiro durante o jantar e, bem... ela não precisou fingir muito para ficar realista. — A loira levou a mão ao rosto já vermelha, enquanto eu me auto impedi de repassar as imagens dela naquele banheiro na minha cabeça.
Infelizmente, quando se tratava de , nada do que eu fizesse me impedia de acessar tais lembranças. Logo minha esposa me vinha a cabeça, no chão, movendo os quadris enquanto tinha a boca entreaberta de onde os gemidos mais gostosos saiam e preenchiam o cômodo todo. Se fechasse os olhos poderia até ouvi-los seguidos os barulho que o zíper de seu vestido fez quando eu finalmente coloquei as mãos nela a fim de libertar aqueles seios pequenos e deliciosos. Me lembrava de seus olhos entreabertos, sua expressão de prazer, seus soluços...
— No fim, os boatos foram desmentidos e eu aprendi minha lição. — se apressou para explicar como se estivesse livrando-se de responder por um crime.
— Foi um bom plano. — Anne analisou, ainda pensativa.
— Espera, então foi só isso? — Tiffany piscou os olhos rapidamente, confusa.
— Sim, amiga, o que você esperava? Que e eu iríamos transar de verdade? — riu irônica. — Isso nunca vai acontecer! — Havia certeza em sua voz.
Eu não entendia o motivo, mas juro que senti raiva. Me senti ofendido, mas por quê? Devia ser porque eu sabia que ela queria, tinha certeza! A mesma que ela tinha ao cuspir aquelas palavras sentada naquela mesa. Eu já tinha tido nos braços, sabia o quão entregue ela ficava diante de meus toques e beijos. Como ela tinha a coragem de falar daquele jeito que nunca iria acontecer?
Eu sabia que se a pegasse de novo, a colocasse contra a parede ou até mesmo em meu colo, se abriria para mim sem sequer pestanejar. Já havia visto mais de uma vez como seu corpo reagia ao meu, era desejo puro, mas negava e negaria até a morte que me queria. E eu sabia exatamente o porquê.
— Nossa, ! Você fala como se fosse alérgica a ele! — Anne franziu o cenho. me encarou de onde estava. Semblante fechado, impassível.
— E eu sou! — Exclamou como se fosse óbvio. Cerrei os punhos onde estava, respirando fundo ao ainda encarar seu rosto, que se transformou em um sorriso prepotente. — E ele também é a mim.
Dei de ombros quando as meninas me espiaram, buscando uma comprovação de minha parte.
Eu queria tanto poder falar, expor tudo o que aconteceu entre nós nos últimos dias, contar a elas o que houve naquele quarto quando a amiga delas chegou em casa bêbada praticamente me implorando para fodê-la. Eu pagaria a quantia que fosse só para ver a cara de quando enfim terminasse de falar.
— Qual é, gente! Somos e ! Continuamos nos odiando como sempre, não é um casamento de mentira que irá mudar isso.
— Que susto, por um momento eu achei que vocês...
— Nem pense nisso. — Interrompi Tiffany antes que ela terminasse seu raciocínio. — Ouviram a , nunca vai acontecer. — Caminhei até o carrinho e peguei a bebê sob os olhares confusos delas. — Vou levar para o berço dela, aqui embaixo está frio. — Menti, carregando a bebê sob o peito, que abrigava um coração frenético, de tanta raiva que senti do que ouvi.
A deixei no berço e enfim pude desmanchar minha cara de paisagem, esbravejei baixinho com medo de acordar a bebê. Eu não entendia porque aquilo estava me incomodando tanto! Quem se importa se daria pra mim ou não? Eu a queria longe mesmo! Sempre foi assim, e daquela vez eu teria que concordar com sua fala, não era aquela porra de casamento que mudaria algo entre nós. Eu continuava odiando na mesma medida ou até mais!
Continuava detestando aquela pose de superior que ela assumia quando o assunto era sexo, sendo que há dias atrás tinha transado com um panaca qualquer que nem conseguiu satisfazê-la na cama!
Por que comigo era diferente? Se ela sabia que eu lhe daria prazer, que a levaria ao ápice quantas vezes fossem necessárias? Odiava o fato de sempre achar que eu não era digno de tocá-la, que seria uma vergonha expor para as amigas que sentia desejo por mim, quando na verdade gemia em meu ouvido sem que eu ao menos a tocasse direito!
Queria tê-la de novo me pedindo um orgasmo, eu juro que por mais que quisesse muito tê-la, eu negaria!
Peguei meu celular e fui atrás da foto que Dafne tinha me enviado mais cedo. Porque eu estava me importando tanto com a opinião de quando tinha uma mulher como Dafne entre meus contatos? Mandei uma mensagem perguntando se ela estava ocupada, deixei o celular de lado e fui para o banheiro, tomando um banho longo e relaxante. Eu me sentia mais cansado do que nunca, era uma pena ter que recusar aquela viagem com os caras, Tulum era tudo o que eu precisava naquele fim de ano difícil.
Quando retornei do banho, vi meu celular aceso e fechei as portas do closet quando ouvi vozes se aproximando. Eram mensagens de Dafne me dizendo que já estava deitada para dormir. Mais uma foto dela enfeitava minha galeria, daquela vez era ela apenas de blusa e calcinha na frente de um espelho. Ela me disse que dormiria sozinha naquela noite, mas que não precisava ser sempre daquele jeito. Mordi o lábio ligando para ela no mesmo instante que vi aquela foto.
— Oi. — Sua voz suave soou do outro lado da linha. — Você pode falar agora? — Tinha me esquecido completamente que era casado e que ela sabia daquilo. Aliás, estava ligando justamente para me esquecer da pessoa com quem estava casado.
Ao olhar para aquele corpo e ouvir aquela voz no telefone, se tornava uma memória bem distante em minha mente.
— Posso sim. — Encostei-me numa das prateleiras ainda vazias. — Desculpa por querer conversar tão tarde.
— Sem problemas, acho que vai ser maravilhoso ir dormir depois de ter ouvido essa voz maravilhosa. — Mordi o lábio encarando a parede à minha frente.
— Há boatos de que ela é melhor ainda pessoalmente ao pé do ouvido, hein. — Me arrepiei por completo ao ouvi-la suspirar pesadamente do outro lado.
— Mal posso esperar para poder te ver de novo, ficar a sós com você. — Ainda era começo de semana, e aquilo significava que ainda demoraria um pouco para eu finalmente poder tirar meu atraso. A minha única consolação era saber que Dafne me mandaria fotos no decorrer dos dias. — Imagino que esteja ligando essa hora por conta da sua esposa. Onde ela está?
Meu sorriso morreu aos poucos. Ela tinha mesmo que citar ? Era a última coisa que imaginei conversar com Dafne. Aliás, era o último assunto que eu queria falar com qualquer pessoa! Mas infelizmente estava entrando na minha vida aos poucos e à medida que aquilo acontecia, mais as pessoas vinham falar dela para mim.
Entendo que quando se ama alguém falar sobre ela é a melhor coisa do mundo, mas conosco as coisas eram bem o contrário e acabava se tornando tudo um pesadelo.
— Está dormindo. — Desdenhei de má vontade. Esperava que meu tom de voz fosse claro sobre a minha falta de vontade de falar sobre .
— Vocês brigam muito? — Franzi o cenho sem entender de onde vinha aquele interesse todo em minha relação. — Me desculpe, acho que estou sendo evasiva demais, mas não pude deixar de ouvir a mulher com quem estava hoje, ela disse que vocês finalmente pararam de brigar ou algo do tipo...
— Não, não está. — Cruzei os braços e respirei fundo antes de responder. Já que Dafne insistia tanto em saber sobre algo tão insignificante. — E sim, nós brigamos muito. Minha esposa é fria, não divide os problemas que tem comigo e acha que eu jamais serei bom o bastante para ela. — Desabafei tudo o que eu queria ir até e berrar em sua cara.
Me senti aliviado por enfim colocar pra fora o que estava me enchendo a cabeça ao ponto de me causar dor, mas ao mesmo tempo senti como se eu fosse um idiota. Qual era o problema comigo, afinal? Uma mulher gostosa daquelas numa ligação tarde da noite, deitada em sua cama vestindo nada além de uma blusinha e calcinha, e eu começava a falar sobre meu casamento de merda?
Eu devia pegar o carro e ir até onde Dafne estivesse, matar logo a vontade que eu estava de sexo. Sabia que com ela não teria burocracia, ela me parecia ser uma mulher prática, iríamos transar e eu pegaria minhas coisas, vestiria minhas roupas e iria embora. Não teria medo de assumir nada, eu não me sentiria travado ao imaginar o que ela estaria pensando sobre mim ou me daria o trabalho de esconder que a desejava.
Mas que porra! Por que tinha que dificultar algo tão bom e tão simples como o sexo? Eu tinha exatamente o que eu precisava em casa a um lance de escadas de distância e teria que sair a aquela hora da noite para ir procurar e achar em outro lugar?
— Mas não vamos falar disso, não importa. — Suspirei pesadamente.
Não podia deixar sozinha naquele estado, sem muletas e com ainda doente. Eu não seria covarde a aquele ponto, mas sim, eu sentia um impulso forte de fazê-lo, deixá-la sozinha e ir atrás de Dafne. Ela alimentava meu ego, fazia-me sentir que era desejado e demonstrava aquilo abertamente, não somente quando estávamos juntos aos beijos.
— Não importa mesmo? Vocês não têm muito tempo de casados, ou têm?
— Dois meses, quase três. — Calculei o tempo de . Passou tão rápido que se não fosse por isso, talvez eu nem tivesse me dado conta da passagem de tempo.
— Não é muito cedo para estarem brigando, não? — Levei a mão ao rosto rindo verdadeiramente de sua confusão.
e eu só não temos mais anos de brigas porque nossas mães só se conheceram anos depois. Caso contrário, seríamos o primeiro caso de bebês brigando dentro do útero das mães.
— Não era para estarem, sei lá, transando loucamente e super apaixonados? — Quis contar a verdade a ela, mas sabia que era extremamente contra as regras fazê-lo.
Eu já estava ficando louco sem ter alguém que sabia daquela farsa para desabafar! As únicas pessoas que sabiam eram claramente a favor de em qualquer assunto, até mesmo Amélia não escondia seu favoritismo. Eu queria poder ter alguém para conversar sobre isso sem que fosse a própria ou suas amigas!
Desisti, já pensando na dor de cabeça que aquilo poderia dar. Eu tinha acabado de conhecer Dafne, não era a pessoa mais indicada para confiar, afinal, eu não sabia do que ela poderia ser capaz caso se sentisse ameaçada de alguma forma. Não podia confiar um segredo tão importante a ela, por mais que eu quisesse muito desabafar.
— Subtraia o loucamente e o super... e talvez o transando também... — Dafne gargalhou gostosamente. Não era engraçado, na realidade seria bem triste se fosse uma relação de verdade.
— Olha, eu não sou um gênio da matemática, mas acho que algo não está indo muito bem entre vocês. — Zombou, fazendo-me revirar os olhos. Tudo sempre estava indo de mal a pior entre nós, mas tratando-se de , aquele era o nosso normal. — Pelo menos ainda estão apaixonados.
— É o amor, não dá para escapar dele, não é mesmo? — Plagiei a frase melosa de Chace, tentando encerrar o assunto e deixando subentendido que eu e nos amávamos, porém, estávamos vivendo uma crise precoce no casamento. — Mas e nós dois? Onde eu posso te levar para jantar?
— Acho que é algo pessoal, não é possível que você não seja bom de cama. — Insistiu no assunto, fazendo-me sorrir malicioso com seu comentário. — Eu me sinto mais confortável em falar dos meus problemas e dividir minhas fraquezas quando a outra pessoa faz primeiro. É uma via de mão dupla, afinal, o quão arriscado é mostrar fragilidade diante de alguém que consideramos mais fortes? — Franzi a testa, impressionado com seu raciocínio. — Tente resolver com ela isso primeiro, depois vocês vão para o sexo, nisso eu tenho certeza que ela não deve ver problema algum.
Dafne estava mesmo me dando conselhos matrimoniais? Sério? Para o cara casado que ela pretendia sair no fim de semana?
— Eu devo dizer que estou impressionado, já pensou em ser terapeuta de casais? — Ela riu brevemente.
— Que bom que levo jeito pra coisa, estou quase me formando em psicologia, então obrigada pelo elogio. — Ouvi a voz de Tiffany ao fundo e me afastei da entrada do closet para que Dafne não a ouvisse. — Ah, e eu gosto de comida japonesa.
— Você tem um daqueles divãs de terapeutas? Poderíamos transar nele. — Provoquei, ouvido sua respiração do outro lado da linha.
— E posso saber o que você planeja fazer comigo nele? É para o meu tcc... — Ri, mordendo o lábio e já sentindo o coração se acelerar à medida em que meu corpo foi se aquecendo.
— Estou louco para arrancar suas roupas e te fo...
? — A voz de berrou lá do quarto, de onde começou a vir o barulho do choro da bebê.
— Acho que estão... te chamando.
— Só um minuto, não desligue. — Abri a porta, levando o celular comigo. — É só um probleminha que tenho que resolver aqui.
— Pegue ela para mim? — Fiz sinal para que ficasse quieta, fazendo-a arquear as sobrancelhas. — Olhe, , seu pai estava ignorando seu choro porque estava ocupado numa ligação. — Cruzou os braços, sorrindo sínica.
— Pai? Você não tinha dito que ela não era sua. — Bufei ao ouvir a voz de Dafne no telefone. tinha que estragar até mesmo o que não sabia?
— Eu já disse, ela não é minha filha. — Expliquei ao mesmo tempo em que pegava a bebê, com o celular apoiado em meu ombro.
— Ah, não? E o que é para você então, ? — pegou a menina de mim, já com um olhar de decepção. Fiquei sem ação, mas que droga!
— Dafne, vou ter que desligar, me desculpe por isso. — Murmurei ainda sob o olhar de .
— Tudo bem, conversamos depois. Boa sorte, aí, acho que vai precisar. — Finalizei a chamada, jogando o celular na cama.
— Você precisa mesmo estragar tudo sempre? — baixou o olhar, ainda segurando a bebê chorosa. — Quando você quis sair e transar com quem quisesse eu não te atrapalhei em nada! Deixe-me ter a minha vez.
— Eu não ligo se você vai ou não comer alguém, ! — Desdenhou, trocando de posição em seu colo, tentando acalmá-la. — Eu só te fiz uma pergunta! Por acaso acha que é uma boneca? Que eu entrei nessa apenas por diversão? Nós a adotamos, , vamos criá-la juntos, estaremos com ela pelo resto de nossas vidas! — O choro dela continuava a soar pelos nossos ouvidos.
— Me dê ela, gosta de ficar de pé. — Estendi as mãos para , que me ignorou, tomando impulso para se levantar sozinha.
— O que você é dela, ? Responda!— Sua voz saiu trêmula. Levei a mão à cabeça exasperado, vendo-a quase se desequilibrar por conta da perna machucada.
— Me dê , , você vai cair! — Tirei a bebê de seu colo.
— Mas que droga, será que eu não posso mais nem pegá-la no colo por causa dessa merda de perna machucada! — caiu sentada na cama e logo suas mãos foram, em forma de punho, contra o gesso em sua perna. — Eu quase não consegui pedir ajuda por estar longe da porra do telefone porque não conseguia andar sozinha com esse troço. — Chorava enquanto ainda se punia, arranhando-se e me deixando assustado.
, pare já com isso, está se machucando! — Com a mão livre lhe toquei o ombro, fazendo-a finalmente parar onde estava, ofegante. Com os cabelos bagunçados levou as mãos trêmulas ao rosto.
— Eu sou uma péssima mãe... — Fungou, sua voz saiu abafada, mas logo ela revelou o rosto molhado por lágrimas. — Depois de hoje fico pensando de ela não merecia alguém melhor para cuidar dela. — Levantou o rosto, olhando para a bebê em meu colo.
— Do que está falando, ? Você é uma ótima mãe. — Ela negou com a cabeça, fungando baixinho.
— Não, eu não sou, e precisei ver queimando em febre e me ver sem saber o que fazer para poder entender isso. — Me balancei de leve, vendo que o choro da bebê estava cessando.
— Victoria disse que isso é normal! Foi só um resfriado, não foi culpa sua. — soluçou, fazendo-me ter o impulso de afagar suas costas.
— Claro que foi! Eu devo ter cometido algum erro, não a cobri direito para dormir, eu não sei! — Esfregou os olhos molhados enquanto eu ainda discordava dela. Se fosse por isso, eu também seria culpado. — , ela está abaixo do peso dela! Que tipo de mãe eu sou para não conseguir deixá-la saudável?
— Mas ela é saudável! Não se culpe por isso, . O médico disse que iria observá-la de perto e o que estava no nosso alcance a gente já fez! Não fique se torturando. — A abracei de lado, tendo-a escondida na curva do meu pescoço novamente naquela noite. — Você foi a que mais lutou por e pela adoção dela, tenho certeza que isso é o mais importante de tudo.
— Você acha? — Levantou o rosto minimamente, dando-me a visão de seus olhos vermelhos e o nariz da mesma coloração.
— Você é a melhor mãe que ela poderia ter, . — Disse como se fosse óbvio, e na realidade, era mesmo. podia ter todos os defeitos do mundo, e eram todos mesmo, mas naquele ponto eu não tinha nem de onde tirar argumentos contra ela. — Uma péssima esposa, mas uma ótima mãe.
— Idiota. — Ela riu, afastando-se. Passou as mãos pelo rosto secando-o enquanto eu parei para observá-la.
— Desculpe por dizer aquilo, acho que me expressei mal. É claro que a considero minha filha. É que às vezes é difícil, não é como se tivéssemos esperado nove meses por ela como se fosse nossa filha.
— Desculpe estragar sua ligação com essa tal de... como é o nome dela mesmo?
— Dafne. — assentiu em resposta. — Relaxa, ao contrário de você com Alex, acho que estou com sorte. Amanhã falo com ela e resolvo tudo.
— Nem me fale de Alex. — Revirou os olhos, arrancando-me um risinho. — Alguém tem que ter sorte nessa casa, não é.
— Vou colocá-la no carrinho e vamos para o banho, sim? — Fui até o andar debaixo e busquei o carrinho, colocando mais calma ali e levando-o para o banheiro. Logo seria a hora da mamadeira dela, esperava que ela pudesse aguentar um pouquinho até eu colocar na cama.
— Amanhã compro as muletas, sem falta.
— Vai ser ótimo, você não imagina o sufoco que passei hoje com Elisabeta, a pobrezinha parecia mais minha babá do que de . — Gargalhei no caminho até o banheiro. — Fora que Tiffany quase me derrubou da escada agora há pouco. E ainda queria me ajudar a tomar banho!
Tirei suas calças e puxei junto a calcinha, tendo-a apoiando-se em meus ombros para manter o equilíbrio. Era engraçado que apesar de ser a segunda vez que eu fazia aquilo, estávamos tão familiarizados que nem tínhamos mais vergonha um do outro.
— Tiffany continua desconfiada que nós dois estamos... Sabe, transando. — Olhei para cima, ainda agachado diante dela, passando as roupas pelo gesso. Antes ela estivesse certa. — Eu disse que ela não precisava me dar banho porque você me ajudaria e ela ainda percebeu que dormimos na mesma cama. — Levou as mãos à cabeça, percebendo que não nos ajudou muito ao revelar aquelas coisas.
— E o que disse a ela? — Fiquei de pé, próximo de seu corpo. me olhou nos olhos antes de piscar algumas vezes e tomar fôlego para responder.
— A verdade, ora. — Deu de ombros como se fosse óbvio. Não era.
Haviam duas verdades sobre nós. Numa delas, e eu continuávamos a nos odiar e jamais pensaríamos em nos tocar ou beijar mesmo que fosse na frente de outras pessoas. E na outra verdade, já havíamos feito muito mais do que simplesmente tocar ou beijar, e quando estávamos sozinhos.
— Que não estamos juntos, que nunca aconteceu nada entre nós. — Completou, desviando o olhar de meu rosto.
Ela insistia em negar a nossa outra verdade. Como se apenas eu lembrasse de tudo.
Não lhe disse nada, afinal, seria uma tremenda perda de tempo. Apenas tirei o meu moletom que vestia, a despindo por completo. A deixei sentada igual a noite anterior, sentindo minhas costas doerem quando decidi me sentar encostado na lateral da banheira, próximo de sua perna engessada.
Ao focar nela, repassei a cena que vi no quarto em minha cabeça à medida em que subia os olhos pelo gesso branco, encontrando sua pele arranhada no local ainda vermelho. Percebi os olhos de sobre mim, que quando viu onde eu olhava, se encolheu na banheira.
— Você... já se machucou desse jeito outras vezes? — Indaguei, já imaginando que talvez não teria respostas.
— Algumas vezes, quando eu era criança... — Remexeu-se, desconfortável. Fiquei confuso.
— Por quê? Que problemas você teria quando era só uma criança ao ponto de te fazer se machucar? — Insisti no assunto, talvez ela se sentisse a vontade de se abrir, ou talvez não.
Não custava tentar, na verdade. Se não gostasse, o mínimo que faríamos era brigar. E nós já fazíamos aquilo o tempo todo.
— Sempre tive dificuldades para aceitar o que não posso mudar. — Traduzindo: teimosia. — E pra mudar as coisas eu... teria que pedir ajuda, outra coisa que nunca soube fazer direito. — Apoiou o braço na banheira e logo depois deitou a cabeça ali.
A observei por um tempo, voltou a fazer o que sempre fazia quando o assunto era o passado que tinha, passou a encarar o nada fixadamente. Era estranho saber que eu a conhecia desde seus oito anos de idade, mas nunca soube o que a deixava daquele jeito. Eu queria poder ajudar, mas ela sempre levantava um muro em volta de si.
— É, eu percebi. — Sorri minimamente, atraindo seu olhar triste.
Não sabia se continuava a lhe fazer perguntas, não gostava do jeito que ficava quando se calava e desmanchava o sorriso costumeiro no rosto, ou até mesmo sua expressão de braveza. Ela virava uma completa desconhecida pra mim quando assumia aquela postura de fragilidade.
encheu as mãos e molhou o rosto, suspirando enquanto movia as mãos pela água morna, reproduzindo um barulho satisfatório aos nossos ouvidos. Do carrinho, nos assistia curiosa. escorregou na banheira, encostando a cabeça na borda, e passou a encarar o teto, agora mais dispersa.
— Estou cansada de ficar em casa... — A encarei, percebendo que ela falava comigo. — Estou com saudades até do trabalho, apesar de saber que precisava descansar daquela lanchonete agitada. — Riu, ainda movendo a água.
— Eu queria ficar em casa. — levantou uma das sobrancelhas, pronta para debochar de mim.
— Por quê? O que há de tão trabalhoso em ler relatórios e ficar sentado dando ordens, Sr. ? — Sabia que ela não se aguentaria. Nem nos momentos em que eu pensava que ficaríamos em paz conseguia segurar aquela língua afiada.
Resolvi tentar colocar em prática o que Dafne tinha me dito para fazer, lhe revelaria algo íntimo e veria que efeito surtiria nela. Aquele era um segredo que eu não dividi com ninguém, nem mesmo com as pessoas envolvidas na história. veria uma das minhas maiores fragilidades.
— Eu não te contei, aliás, isso é um segredo meu, do papai e de meu tio. — Brinquei com o tecido do pijama que vestia, tentando não olhar em seu rosto por vergonha. — A empresa está no vermelho, meu pai me passou ela desse jeito. — Senti minha garganta se fechar pelo nó que se formou. — Eu tenho tentado restabelecê-la, mas meu tio quer vender, e... e-eu tenho medo de que ele consiga o que quer, ou de falhar e colocar tudo a perder. — Sequei meus olhos, que ameaçaram transbordar.
Eu nunca tinha demonstrado temer algo, não na frente deles. A única pessoa que sabia que eu não estava tão confiante assim com o crescimento da empresa era Grace, a única que me viu chorar por aquilo e que eu permiti me dar colo.
— Seu pai ama aquela empresa como se fosse um filho. — Apoiou o queixo no joelho bom, curvada para frente e encarando-me de perto. — E, me desculpe, mas seu tio Edward é um tremendo de um invejoso. — Soltei um riso inesperado, encarando-a confuso. De onde tinha tirado aquilo? — Minha mãe e eu sempre comentávamos, nas festas da empresa lá na sua casa, ele sempre olhava para seu pai junto dos filhos e da esposa com olhares pesarosos. — Passei a mão no rosto, ainda rindo e negando com a cabeça. — Não acredita em mim?
— Pior que acredito. — A olhei, percebendo que ela sabia mais sobre minha família do que eu, que sempre estive ali e não os olhei direito por estar preocupado com minha vida.
A única que sempre teve minha total atenção foi Grace e vice e versa, nós dois sempre nos protegemos e nos cuidamos quando nossos pais estavam ocupados demais fazendo mais dinheiro e conseguindo status.
— Hoje ele me disse que eu não poderia estar na presidência de uma empresa tão grande se só pensasse na minha mulher e filha.
— Como se a empresa importasse mais que ! — Exclamou, ofendida. Concordei com ela. — Sabe, Anne também me veio com essa papo de que eu iria trocar minha amizade com ela por . Chegou a até me dizer que eu não era a mãe dela.
— É daí que vieram seus pensamentos sobre achar que ela estaria melhor com outra mãe?
— Não posso culpá-la por isso. — Passou pano para Anne, fazendo-me revirar os olhos. — Não implique com ela assim, ! — Riu, repreendendo-me. — Eu já me questionei sobre minha capacidade de cuidar de outro ser, é tão pequena ainda!
— Mas ao mesmo tempo sente que pode ser capaz de qualquer coisa por ela... — Conclui seu raciocínio, fazendo-a sorrir e assentir em concordância.
Ok, terminar a frase do outro tinha sido esquisitice demais pra uma noite só.
— Acho que ele está errado. — Disse, após um tempo em silêncio. A olhei em dúvida. — Seu tio, . — Riu, lembrando-me do assunto anterior. — Eu também estava errada, por mais que me doa admitir isso. — Fez uma expressão de dor, teatralmente. — Não imaginava que estava passando por isso, mas sei que você vai conseguir reerguer a empresa por .
"Por ", aquele mantra nosso havia sido algo completamente espontâneo, mas que nos deu impulso para fazer a maior loucura de nossas vidas: nos casar. Naquele momento eu acreditei no que ela estava me dizendo, porque se consegui subir ao altar com e dividir o mesmo teto que ela usando aquele mantra, eu conseguiria fazer qualquer coisa que quisesse.
— Espero que esteja certa. — Suspirei entrelaçando meus dedos envolta do joelho. — Meu pai confiou essa empresa a mim desde que eu estava no útero da minha mãe. — Zombei, fazendo-a rir junto de mim.
Apesar de ser uma história bizarra, minha mãe realmente contava que quando descobriram o meu sexo, papai já dizia que eu iria ser seu sucessor. Frase que ele repetiu quatro anos depois, quando Grace nasceu. Foi completamente machista da parte dele não dizer o mesmo quando soube que teria uma menina, mas no fim ele estava certo, Grace jamais demonstrou interesse pelos negócios de família.
— Realmente, lembra daquele curso de finanças que ele te colocou aos quinze anos. — se matou de rir, me levando até uma lembrança esquecida na minha cabeça. — Que tipo de adolescente quer aprender a empreender aos quinze anos?
— Eu só fiquei porque ele me deixou estudar música junto. — Me justifiquei, ainda vendo-a rir.
— Você sempre fez tudo o que ele queria, né? — Daquela vez não era uma provocação.
— Não dessa vez. — Troquei um olhar cúmplice com . — Por isso quero fazer isso, deixar a empresa a salvo. Quem sabe assim ele não fica menos bravo quando souber de . — A loira revirou os olhos. — Ah, vai dizer que nunca fez nada para agradar seu pai? Ainda mais sendo filha única.
Joguei verde de novo, vendo-a olhar para o lado pensativa. respirou fundo, remexendo-se desconfortável. Seus olhos encheram-se de lágrimas e as ela disfarçou piscando rapidamente.
— Meu pai... ele... — Engoliu a seco, encarando-me receosa demais para quem apenas ia contar uma história engraçada. — Quer saber, acho que já chega de banho por hoje, não? — Se esquivou, fazendo-me respeitar seu silêncio.
Não podia obrigá-la a falar, mas esperava que depois daquela conversa soubesse que poderia conversar comigo, independente do que fosse o problema.
deve estar morta de fome, pobrezinha.
A peguei, levando-a no colo e depois voltei para pegar . já se secava, sentada na cama, quando me lembrei do que tinha comprado mais cedo. Com toda a pressa que estava, acabei deixando dentro do carro, no banco do passageiro.
— Eu comprei algo pra você. — A loira me olhou, confusa. — Deixei no carro, espere um instante. — Lá fui eu na garagem buscar a droga da camisola que seria meu instrumento de tortura naquela noite.
Parecia que dividir a cama com era uma caixa de surpresas ou uma prova de resistência física. Independente de qual fosse a nomenclatura eu poderia dizer com todas as letras que ou acabava morto de tesão sem ao menos poder tirar uma casquinha, ou amanhecia sem coberta e com uma mão na minha cara, um corpo atravessado na cama ou com um travesseiro em cima de mim, de tanto que se mexia durante a noite.
— Aqui. — Lhe entreguei a sacola, vendo-a curiosa ao puxar o tecido para fora. — Espero que sirva.
, que linda! — Ainda analisava a camisola, encantada. — Você que escolheu? — Quando seus olhos focaram-se em mim, cocei a nuca sem graça.
— Pedi para Jordyn escolher, mas que bom que gostou. — Lhe estendi a mão para que ela me desse a roupa e deslizei o tecido macio pelo seu corpo nu, vendo-o ficar mais bonito ainda adornado com a peça. — Acho que ficou um pouco curta, não? — Comentei, ainda sem ter muito o que dizer para . O que eu mais temia aconteceu, e olhe que ela ainda estava sentada na cama.
Ela me estendeu as mãos, pedindo ajuda para ficar de pé, e a segurei pelos antebraços, vendo suas curvas dos quadris serem praticamente esculpidas ali, na camisola branca.
— Eu acho que o tamanho é proposital. — Riu baixinho. Abaixei meu olhar, finalmente vendo suas coxas descobertas e sentindo meu coração errar as batidas.
— Tudo bem, eu acho. É só para dormir enquanto ainda está machucada. — Desdenhei, voltando a encarar seu rosto. sentiu-se incomodada com algo e enfiou os dedos por dentro da lateral do busto da camisola, puxando a etiqueta para fora.
, você pagou tudo isso numa camisola? — Exclamou, assustando-me com seu tom. — Não é possível que vendam uma roupa de dormir por um valor desse, ela não cobre nem minha coxa! — Ri ajudando ela e se sentar para ir atrás de uma tesoura e cortar fora a etiqueta. — Não! Você não vai tirar etiqueta nenhuma, eu não posso aceitar, . É muito caro!
— É um presente. Só aceite, . — Cortei, recebendo um olhar de reprovação, como se eu estivesse cometendo um crime.
— Você gosta de ser roubado, hein. — Arquei a sobrancelha, olhando-a curioso. — , eu conheço muitas lojas que vendem a mesma camisola por muito mais barato! — Revirei os olhos diante daquela indignação toda por causa de uma mixaria daquelas.
— Não seja boba, , terá que se acostumar a vestir coisas mais sofisticadas. — Ela ainda tinha os braços cruzados. — Olhe esse tecido, já sentiu a maciez dele? — franziu o cenho, segurando o riso. — O que foi?
— Está parecendo um stylist gay falando assim de tecidos e me dando dicas do que vestir. — Não me ofendi com o comentário, afinal, eu sabia que apenas tinha um bom gosto e aquilo talvez nunca entraria na cabeça de .
Pagar mais caro em algo de grife ou de qualidade superior era uma garantia e tanto quando se tratava de roupas. Aliás, se comparada às camisolas de seda da minha mãe, aquela ali estava bem abaixo do preço. Sabia que não tinha a mesma criação que tive, por isso relevei sua piada.
Quer dizer, eu quase consegui ter maturidade o bastante para fazê-lo. Não tinha uma masculinidade frágil ao ponto de me importar em ser taxado de feminino às vezes, mas não resisti e levei minha mão até sua coxa, acariciando-a devagar enquanto a sentia tensionar o corpo ao mesmo tempo em que ofegou profundamente, olhando-me nos olhos. Mordi o lábio, inclinando-me sobre , e umedeci os mesmos antes de deixar um beijo demorado em seu ombro desnudo, ouvindo sua respiração pesada de perto em meu ouvido.
Teria minha vingança mais cedo do que eu esperava. Sorri internamente ao ter aquele pensamento.
Seu queixo se abaixou em minha direção e eu levantei a cabeça, encostando meu rosto ao dela, suas pálpebras se fecharam lentamente à medida em que nossos lábios se aproximaram. Quando estava prestes a entreabrir aquela boca maravilhosa...
— Achei que era alérgica a mim. — Me afastei, vendo de perto seu semblante mudar da água para o vinho. Antes estava desejosa, agora, parecia prestes a me matar. Não demorou muito e seu sorrisinho irritante deu o ar da graça.
— Não acredito que está bravinho por isso. — Fez um biquinho, imitando a voz que usava para falar com . — Eu machuquei seu ego, foi? — Sua mão veio até meu rosto, onde ela tentou apertar minha bochecha. Meu sangue ferveu.
— Não seja presunçosa, , você é tão insignificante pra mim que nem chega perto de me afetar dessa forma. — Minha esposa sorriu provocativa, passando a língua nos dentes enquanto eu engoli a seco com a cena.
— Que seja, , eu não me importo o bastante para querer discutir sobre isso. — Lhe dei as costas, indo até a cômoda atrás dos remédios dela. — ... — Virei-me, atendendo seu chamado. — A calcinha. Estou sem. — Quase esboçou um sorriso quando percebeu que estremeci ao saber daquela informação.
A ajudei a vestir a maldita calcinha e fomos dormir logo que acabei de cuidar de seus machucados e dei a mamadeira de , colocando-a para dormir. Daquela vez cada um dormiu para seu lado, mesmo que ainda estivesse frio. sequer deitou-se com a cabeça virada em minha direção e eu entendi que ela não queria ser amparada do frio, então me deitei de costas para ela e peguei no sono rapidamente.
Despertei no dia seguinte e não fui acompanhado por , então decidi sair para correr rápido, pois logo teria que voltar e ir preparar a mamadeira da bebê. Mudei minha rota, saindo do condomínio ao invés de correr por ali e ter o risco de me encontrar com Megan. Quando voltei, avistei Tom na porta da minha casa sem entender absolutamente nada, então fui até ele, percebendo a grande caixa em suas mãos.
está dormindo. De qualquer forma, está com a perna imobilizada, não vai descer para falar com você. — Ele se virou em minha direção, encarando-me com aquela expressão de deboche que eu tanto odiava.
já me disse para ficar longe por causa do seu ciúmes, não precisava deixá-la presa na torre. — Riu irônico, surpreendendo-me com sua resposta. tinha mesmo feito aquilo?
— Não sei do que está falando, mas se ela te pediu mesmo para se afastar, o que faz aqui? — Destranquei a porta, desviando-me dele para entrar. — O que mais você quer para entender que ela me ama e que não pretende me chifrar com você?
— Eu vim trazer Salém para ela. Viria ontem, mas tive imprevistos no hospital. — Me estendeu a caixa, deixando-me confuso. O que diabos era Salém? — Quanto ao seu par de chifres, não se preocupe, só vou te colocar um quando ela quiser algo comigo. Se confia tanto assim no seu taco, não deveria se importar tanto com minha presença na vida de .
Ri sem humor, pegando a caixa de suas mãos. Que vontade de virar um soco bem dado na cara daquele babaca! Tom era pretensioso demais quando o assunto era , mal conseguia esconder o sorriso ao se gabar que percebia os suspiros dela quando estava por perto. Estava mais tranquilo ao saber que tinha lhe dado um gelo e esperava que aquilo bastasse para ele se tocar.
— Ah, Javier me disse que joga bola. É atacante, certo? — Assenti, estranhando aquele papo amigável vindo dele. — Sábado tem treino, está interessado em entrar para o time? — Concordei, novamente. — Começa às uma da tarde, mas esteja lá cedo porque eu sou o capitão e exijo pontualidade.
Tom me deu as costas, indo embora, fazendo-me bufar em implicância. Até mesmo no futebol eu teria que aguentar aquele cara insuportável? Não poderia marcar uma faltinha sequer naquele imbecil, afinal, iríamos jogar no mesmo time, mas não queria dizer que eu não arriscaria numa disputa de bola. Tom era um inimigo, mesmo usando a mesma camisa que eu.
Subi para o andar de cima ainda intrigado com a caixa de papelão cheia de furos. Assim que entrei no quarto vi se espreguiçando na cama e quando abriu os olhos, ainda sonolentos, encarou-me curiosa.
— O que é isso? — Coloquei a caixa no chão e a abri, dando de cara com o gato preto de .
O peguei, tirando-o de dentro e vendo seu rosto se iluminar no mesmo instante. soltou um gritinho agudo, estendendo as mãos em minha direção. Suspirei em tédio, levando o bichano para ela na cama.
— Eu achei que nunca mais iria te ver, meu amor! — Ri pelo nariz, observando-a segurar o rosto do gato com as mãos e falar com ele como se estivesse conversando com um ser humano. — Nunca mais faça isso, ouviu? A mamãe ficou preocupada. — Praticamente esmagou o pobre gato preto, que miou em reclamação, já ameaçando colocar as garras para fora.
— Acho que já sabemos o motivo da fuga. — O tal Salém tinha a própria Felícia como dona, quem em sã consciência não fugiria?
— Vá tomar seu banho, . — Ralhou ainda vidrada no animal, fazendo-me negar com a cabeça durante minha ida ao banheiro.

's point of view.


As duas semanas que se passaram foram tranquilas quando comparadas aos últimos dias naquela casa. e eu brigamos muito, como sempre, porém não nos estranhamos quando estávamos sozinhos, ele passou a me evitar depois que aquele fim de semana passou. tinha saído com a tal Dafne, voltou cedo até, pelo visto não teve sexo naquela noite, mas não perguntei nada, afinal, não me interessava. Ao que parecia, eles iriam repetir a dose, já que eu o peguei algumas vezes fechado naquela droga de closet tagarelando e rindo com alguém ao telefone.
Tom não voltou a me procurar, assim como Megan também nunca mais foi vista por nós. Victoria nos ajudou com algumas coisas relacionadas a , dentre elas a compra de algumas coisas que facilitariam nossas vidas como pais, como por exemplo uma babá eletrônica. Apesar da nossa resistência em deixá-la dormindo longe de nós, a bebê teve uma de suas primeiras noites em seu próprio quarto. Não tinha funcionado muito bem. Poderia ser bobagem de nossa parte, mas e eu achávamos que havia sentido a nossa falta durante a noite. Mesmo que ela tivesse dois meses e ainda não entendesse muito bem o mundo a sua volta.
Tomei um banho e arrumei , vestindo-me com a camiseta vermelha e branca do time do condomínio, combinando com o body das mesmas cores da bebê. Peguei seu chapéu de sol e terminei de arrumar os lanches na cesta. Era bizarro olhar em volta e perceber que parecíamos uma família real, indo curtir um fim de semana no parque juntos.
— Olhe só quem vai torcer para o papai hoje! — adentrou a cozinha e roubou de mim, beijando repetidamente seu pescocinho, fazendo-a se encolher enquanto reproduzia sons parecidos com risadas.
— Espero que a pobrezinha ganhe pelo menos um gol em sua homenagem. — Debochei, vendo-o colocá-la no carrinho para finalmente irmos para o local do jogo.
— Relaxa, amor, faço um pra você também. — Revirei os olhos, apanhando a cesta enquanto o observei ir na frente, já com a bolsa da bebê no ombro.
vestia aquela covardia em formato de shorts de futebol e eu não poderia negar, assim como a maioria dos homens, que ficava uma delícia vestindo aquele uniforme vermelho. Suas coxas à mostra prenderam minha atenção por uns instantes, ele esteve esperando entrar em forma para poder finalmente entrar para o time, e se tinha uma coisa que estava, era em forma.
, aqui! — Assim que chegamos, ouvimos a quase esquecida voz de Megan berrando ao fundo. Encarei no mesmo instante em que ele me olhou e me virei, fazendo sinal para que ela esperasse. Infelizmente as outras também estavam sentadas com ela nas arquibancadas, então eu teria que ir para não ficar chato.
— É justo. Você aguenta a Megan, e eu o Tom. — Ele riu, divertindo-se com minha falta de animação.
— Não podemos trocar? — Suspirei derrotada quando beijou a bochecha rosada de .
— Não, não era esse o combinado, engraçadinha. — Pegou-me pela cintura, beijando minha boca algumas vezes antes de ir com os colegas de time.
Respirei fundo antes de colocar um sorriso falso no rosto e ir até as meninas. As cumprimentei, ouvindo que estava sumida e que elas sentiram a minha falta nas reuniões que faziam sempre. Se teve algo que aprendi após minha chegada naquele condomínio, foi que eu não pertencia àquele mundo e que nem valia a pena me esforçar para entrar. Eu simplesmente não cabia ali e estava melhor longe das confusões que eles provavelmente me meteriam junto com .
— Como estão as coisas? — Victoria, a única que eu sentia que realmente saia da bolha de vez em quando, pegou de meu colo. A bebê já estava familiarizada com ela e eu também.
Engatamos uma conversa rápida sobre filhos e como eu estava lidando com a minha volta ao trabalho depois de recuperada. tinha me lavado ao hospital para enfim retirar o gesso, porém eu ainda tinha aquele fim de semana com , e já estava morta de saudades dela e de seu cheirinho.
Algumas coisas mudaram, a levei numa consulta com o pediatra que minha mãe escolheu, ele me deixou mais tranquila sobre muitos medos que eu tinha em relação a bebê e o jeito que cuidávamos dela. Mudamos o leite materno para um de fórmula, apesar do meu medo de que talvez lhe faltasse nutrição, ao menos ganharia mais peso.
O jogo começou já com alguns sustos do time adversário. Por sorte, Henri, marido de Victoria, até que era um bom goleiro. e Tom tiveram muitas disputas de bola agressivas, chegaram a se derrubar várias vezes em pura implicância. realmente fez os dois gols que prometeu, indo comemorar perto de nós enquanto sorria para o pai, vendo-o fazer graça para ela.
Apesar da companhia de Megan, foi uma partida muito divertida e agitada. Vencemos por 4 a 2, pelos dois gols de , um de Tom e outro de Jorge, o marido de Sophia. Quando acabou, os caras começaram a tirar as camisetas, devido ao calor excessivo.
— Nossa, , não sabia que tinha tantas tatuagens. — A encarei e reparei seu olhar de desejo para cima do corpo de , vendo que ela só faltou babar onde estava quando ele sorriu para seu marido, cumprimentando-o com soquinhos de héteros.
Seus bíceps ficaram evidentes e ele não nos poupou nem um pouco da visão do paraíso que foi vê-lo beber a água e aproveitando o restante da garrafa para molhar o corpo suado, fazendo-me sentir sede involuntariamente, querendo lamber cada mínima gotícula que deslizava em sua barriga.
— Ele está em forma, né? — Ri incrédula, ainda impressionada com a inconveniência dela.
— Seu marido foi para aquele lado lá. — Disse antes de ir até , praticamente jogando-me em cima dele.
— O que está fazendo, ?
— Me beija. — me encarou confuso. — Megan está te secando, me beija logo!
— Seu desejo é uma ordem. — Tomou meus lábios, colando meu corpo no seu.
Entrelacei meus braços em seu pescoço quando o senti descer sua mão pelas minhas costas, parando na minha bunda, onde desferiu um tapa antes de apertá-la com força, deixando-me sentir seu membro dentro daquele short fino.
— Satisfeita? — Disse contra minha boca enquanto eu engolia a seco, ainda prendendo minha respiração. Assenti, separando-me dele quando ouvi Tom chamar todos para o piquenique.
Fomos para o pequeno campo que havia ao lado da quadra de futebol onde tinha um parquinho para as crianças. Deixei Victoria levar a bebê para as outras crianças verem, por conta de ser a única neném ali, e estendi o pano para que nos sentássemos embaixo da árvore por conta do sol.
— Amélia disse que encontraram o dono do carro que te atropelou. — Tirei os óculos de sol, encarando-o atentamente, e sentei-me, esperando-o terminar de falar. — Não é de Miguel.
— Eu já imaginava. — Ri sem humor, observando o pessoal atacar a comida. — Será que ele foi contratado?
— Com certeza. — Virou a garrafinha de cerveja. — Mas vão interrogar ele e se conseguirem ligá-lo a Miguel, pegamos aquele desgraçado.
Suspirei apoiando meu tronco em meus cotovelos, estava com medo e meu estômago chegou a revirar só de pensar em voltar para o trabalho com aquele homem à solta.
— Não se preocupe, vou te levar e buscar no trabalho, ele não vai mais chegar perto de você. — Olhou-me atenciosamente, deixando-me menos nervosa. — Nós vamos nos livrar dele, , eu prometo. — Aproximou o rosto do meu, dando-me um selinho.
Decidi mudar de assunto, não queria que Miguel ficasse nos assombrando até mesmo nos momentos em que estávamos descansando. Já não bastava a loucura toda que estávamos vivendo, quando podíamos deixar tudo aquilo mais leve, deveríamos aproveitar.
— Sabe que te ver jogando me deu até uma nostalgia dos tempos de escola? — Sorri divertida, lembrando que todos os jogos e campeonatos costumavam ser verdadeiros eventos naquele tempo.
— Você ia nos jogos?
— Claro que sim! Eu ia ver Collin jogar. — Revirei os olhos. — Mas você não deve ter percebido minha presença, mesmo. Quando não estava de olho na bola estava secando as cheerleaders.
— Não tenho culpa se elas dançavam para mim. — Exclamei, não acreditando em como se achava. O pior é que até era verdade. — Agora você é a minha cheerleader, , já agradeceu por ter essa honra?
— Você é ridículo. — Gargalhei, tendo um beijo roubado. — Eu nunca vou dançar pra você, .
— Pelo menos eu jogo bem, ao contrário do perna de pau do seu ex namoradinho. — Mordeu meu lábio inferior antes de tomar minha boca novamente, pegando-me pela nuca e finalizando o beijo. — E pare de falar nunca pra tudo, olhe onde viemos parar, . — Migrou com os lábios quentes em direção ao meu ouvido enquanto eu me aproveitava do fato de estar sem camisa para poder explorar aqueles ombros desnudos.
— Oi, casal, desculpa atrapalhar. — Cynthia se aproximou, nos dispersando da atmosfera em que entramos sem sequer nos darmos conta. — Vim trazer . — A recebi em meus braços, deitando seu corpinho em minhas coxas, beijando sua barriguinha. — E também lhes fazer um convite, queria saber se aceitam passar o Natal conosco. Todos os anos fazemos uma ceia juntos. — Explicou, fazendo-me olhar para , em dúvida. — Vocês já tem planos?
— Não... Na verdade nem pensamos nisso direito. — respondeu, incerto.
— Então, pronto, já tem onde passar o Natal! Será na minha casa, espero vocês lá. — Sorriu animada antes de voltar a mesa onde Megan e as outras tagarelavam sem parar.
No fim de tarde mais uma vez flagrei em uma de suas conversas dentro do closet. Era engraçado como ele realmente agia como se estivesse tendo um caso mesmo, mas talvez a discussão que comecei naquele dia o tenha deixado com o pé atrás. Não iria atrapalhar mais, aliás, da última vez não havia sido proposital.
O ouvi marcar outro encontro com a tal Dafne no dia seguinte, fazendo-me estranhar o fato de ter um segundo encontro entre eles.

Capítulo 22

Ainda tinha em meus braços esperando-a arrotar para colocá-la para dormir, iríamos ter nossa primeira de muitas noite das garotas, já que eu dormiria com ela em meu quarto ao invés de deixá-la no seu. estava no banheiro, arrumando-se para o tal encontro, parecia mais que estava prestes a se casar de novo.
Sentei-me na cama observando-o pentear os cabelos e logo depois ficar indeciso sobre qual perfume usar. Era engraçado assisti-lo tomar decisões como aquelas, sempre me perguntei como os homens lidavam com toda aquela ansiedade de encontros e afins, e nunca achei que iria ver passando por aquilo na vida. Não parecia que ele se importava com aqueles detalhes, sempre pensei que sabia que era bonito e que não precisaria se esforçar para parecer bem. Eu estava me surpreendendo mais uma vez com aquele ser à minha frente.
Nunca imaginei que ele poderia ser a pessoa que estava sendo comigo nos últimos meses. era sim educado, ajudava sempre que podia e até era cavalheiro, mas com outras pessoas. Comigo era bem o contrário, chegava a duvidar que poderia algum dia demonstrar algo bom quando o assunto era eu. E depois de tudo o que passamos juntos, das últimas semanas em que ele foi gentil, me ajudou até a tomar banho e me deu até mesmo uma casa! Eu me vi pensando se talvez não tivesse mudado.
Apesar de tudo, ainda não me sentia cem por cento segura daquelas minhas teorias de mudanças de , tudo ainda me soava falso por conta do contexto em que estávamos vivendo. Digo, era meu marido, o que os outros iriam pensar caso vissem que ele me maltratava dentro de casa? Talvez ele tenha feito tudo o que fez apenas por obrigação. O que, apesar de soar ruim, vindo dele ainda assim me surpreendia.
— Usa o amadeirado. Mulheres acham sexy. — murmurei encarando a bebê em meu colo.
virou o pescoço minimamente, espiando-me pelo canto do olho antes de pegar o Paco Rabanne e borrifar o perfume em seu cangote e pulsos, fazendo o cheiro emanar pelo cômodo. Prendi a respiração, evitando entrar em contato com a fragrância. Sem sucesso.
— Ela vai dormir aqui de novo? — Indagou, ainda arrumando-se diante do espelho. Não sabia o que tanto ele ajeitava em si, estava tudo em seu devido lugar ali e não era como se os dois já não tivessem saído antes.
— Sim, vai ser mais fácil pegá-la durante a noite e... eu não quero ficar sozinha.
Evitei o contato visual com , que ignorou o que eu disse, apenas vindo até mim e dando beijos na bochecha de antes de sair porta afora avisando que trancaria a casa quando saísse.
Cheguei a sentir inveja da tal de Dafne, ela teria um jantar pelo menos antes de transar com ele, e o que me deixava mais frustrada ainda, teria sexo garantido com direito a orgasmos múltiplos que eu sabia que sabia proporcionar a uma mulher.
Me sentia estúpida por ficar imaginando o que eles fariam naquela noite, talvez porque quando saí da última vez meti os pés pelas mãos e estraguei tudo dando pro idiota do Alex. Eu devia ter feito as coisas do jeito "certo", conhecido alguém legal, ter sido levada num encontro antes de ir parar na cama de alguém.
Era um domingo à noite e apesar de saber que eu iria ter que voltar para o trabalho no dia seguinte, tudo o que eu queria era passar a noite em claro transando. Tudo o que a tal Dafne iria ter. E aquela parte do encontro eu nem precisava me esforçar muito para imaginar. Pelo visto e ela ainda não tinham feito nada e desde o casamento já se passou um bom tempo, ou seja, estava há meses na seca, sendo assim ele lhe daria o melhor sexo da vida dela pelo simples fato de que iria tirar o atraso.
Eu sabia bem daquilo porque já havia experimentado uma pequena amostra da vontade dele, o jeito como me correspondeu naquela noite em que cheguei bêbada, sem sequer pestanejar, o modo como ele me despiu no banheiro de Megan e até mesmo naquela noite em que nos beijamos na cama antes de dormir... estava louco por contato físico, mesmo quando tinha que me beijar em público, colava meu corpo ao seu em busca de mais proximidade e ele descontaria tudo aquilo em Dafne quando saíssem do restaurante em que jantariam.
— Parece que alguém terá uma noite incrível hoje... — Suspirei sob o olhar curioso da bebê em meu colo, que havia aprendido a levantar a cabeça. — Ora, não me olhe assim, foi só um comentário. — Revirei os olhos, tentando desdenhar. — É a minha carência, faz tempo que eu nã... — Me dei conta do que eu estava conversando com e balancei a cabeça, rindo da minha própria idiotice. — Esquece, você não tem idade pra entender essas coisas, mocinha.
A coloquei para dormir e fui escovar os dentes para fazer o mesmo, ainda sentindo o cheiro do perfume que deixou para trás antes de ir. Deitei-me na cama e minha única felicidade foi saber que eu poderia dormir no lado que eu quisesse, esparramada no colchão como fazia antes de ter que dividir a cama com . Logo caí num sono tão gostoso que nem ao menos percebi quando apaguei.

's point of view.


Parei o carro em frente ao prédio de Dafne esperando-a descer, já que a própria disse que eu não precisaria subir para encontrá-la. Pelo retrovisor, observei já sem fôlego a mulher sedutora caminhar pela calçada até chegar em meu carro, onde ela entrou e invadiu por completo com seu perfume doce e marcante.
— Boa noite. — Inclinou-se para me beijar. Aprofundei o que era para ser um simples selinho e a fiz soltar um risinho no final. Deixei claro que daquela vez iria rolar, independente de qualquer imprevisto que poderia acontecer, ela iria finalmente ser minha. — Hum, está cheiroso. — Sorri com o elogio, arrepiado com o modo como ela fungou meu pescoço, demonstrando interesse de volta.
tinha razão, mas não precisaria ser um gênio para saber que tanto ela quanto eu estávamos loucos para arrancar as roupas e acabar com aquela espera toda ali mesmo. Quase sugeri pularmos o jantar e irmos direto para a sobremesa, porém não tinha sido daquele jeito que minha mãe tinha me educado. Primeiro o jantar, depois iríamos para o que realmente interessava.
— Está maravilhosa nesse vestido. — Mordi o lábio, vendo-a colocar o cinto de segurança. — Mas mal posso esperar para te ver sem ele.
— Vamos com calma, apressadinho. — Apressadinho? Eu estava há quase três meses sem sexo! Dormindo com uma mulher gostosa e ao mesmo tempo detestável ao meu lado. Eu merecia um desconto.
Dafne usava um daqueles vestidos de seda que me lembravam muito aquela camisola que comprei para quando estava machucada. Freei meus pensamentos ao ver para onde estavam me levando: de novo pensando em . Quando parei no sinal vermelho, a primeira coisa que fiz foi reparar em seu decote, que era destacado pelos seus seios volumosos.
não tinha seios grandes como os de Dafne. Está vendo, ? Porque se lembrar de quando se tem uma deusa daquelas ao seu lado? Ela era muito mais interessante, mesmo que nenhuma palavra tivesse sido trocada durante o trajeto até o restaurante, que era francês daquela vez.
Quem disse que o silêncio poderia ser confortável com certeza jamais passou por uma situação daquelas na vida. Era superestimado, isso sim. Dafne e eu nos entreolhamos algumas vezes, porém não existia muito assunto entre nós quando estávamos a sós daquele jeito.
Nosso último encontro tinha sido agradável, conversamos sobre nossas vidas enquanto comíamos comida japonesa, eu falei o mínimo possível de detalhes sobre mim e vi que ela tinha percebido minhas esquivadas de perguntas pessoais demais. Além disso, ainda tinha o fato dela se sentir travada ao sair em público comigo num lugar tão cheio. Acho que Dafne não tinha muita experiência com homens comprometidos.
. — Me virei para ela, tirando meu cinto e preparando-me para descer na porta do restaurante. — A aliança...
— Ah, me esqueci de tirar. — Sorri amarelo, jogando-a dentro de um dos compartimentos do veículo. Eu também não tinha muita experiência em trair. Afinal, a maioria das vezes nunca tive compromissos sérios como aquele.
Entreguei as chaves para o manobrista e adentramos o estabelecimento praticamente vazio, com a decoração mais intimista do que eu achava que talvez pudesse fazê-la se sentir mais à vontade ao meu lado. Puxei a cadeira para ela e fui para o meu lugar. O garçom veio nos atender e fizemos nosso pedido com um dos vinhos mais caros do restaurante para acompanhar a refeição. A encarei do outro lado da mesa, sorrindo ao reparar no quão linda Dafne estava com seus cabelos escuros modelados em várias ondas que caiam pelos seus ombros desnudos pelo vestido.
— Eu amo essa época do ano. — Comentou casualmente, com os olhos vidrados na grande árvore de Natal que tinha num canto do restaurante, adornada com luzes piscantes e enfeites vermelhos.
Sorri triste em sua direção. Passei a odiar aquela época do ano depois que Grace nos deixou. Tudo me lembrava ela, sempre que eu via uma árvore daquelas me lembrava de todos os anos em que a via animada para montar a de casa. Ela e Theresa eram as únicas que se empenhavam naquilo. A época de Natal era para reunir a família, e sem ela comigo parecia que nada mais tinha graça. Odiava aquela felicidade que todos emanavam e não tinha motivos para ficar feliz naquele ano, pois na minha ceia faltaria a pessoa principal.
— O que foi?
— Eu não suporto o Natal. — Confidenciei, vendo-a ficar boquiaberta.
— Não acredito que estou jantando com o Grinch! — Soltei um riso ao ouvir aquela comparação. — Mas você nunca gostou? Nem mesmo quando criança? — Era engraçado vê-la completamente desacreditada por algo tão simples que falei.
— Eu costumava gostar, até ano passado. — Nossos pedidos chegaram, deixando-me aliviado por finalmente podermos mudar de assunto.
— E o que mudou? — Dafne insistiu após a saída do garçom.
Eu tinha percebido aquilo nela, a morena conseguia tirar qualquer coisa de quem quer que fosse com aquele jeito insistente de querer saber intimidades das pessoas. Como uma boa psicóloga, ela fazia perguntas e esperava respostas, já pensando nas próximas indagações. Não me dava tempo de pensar do que falar, me deixava acuado e eu não sabia se gostava daquela sensação.
Eu não estava ali para uma sessão de terapia, pelo menos não uma real. Tinha brincado sobre o divã, mas jamais tive fetiche em profissões, ainda mais algo sério como a área da saúde. Sentir tesão em jalecos de médicos era completamente bizarro para mim.
Me perguntei se alguma vez já pensou em Tom vestido a caráter de um jeito sujo e logo tratei de afastar aquele pensamento ridículo da minha mente. E também, que mais uma vez se fazia presente em meus pensamentos.
— Minha irmã faleceu e isso mudou tudo. — Dei uma garfada na massa, engolindo a seco ao encará-la e perceber seus olhos castanhos me analisando. — Mas não quero falar sobre a morte dela. Vamos mudar de assunto, por favor.
, eu entendo que deve ter sido muito doloroso para você mas... — Soltei um risinho antes de bebericar meu vinho. Aquele "mas" viria acompanhado de algo que, na cabeça dela, iria acabar com meu sofrimento. Não iria. E eu não queria escutar frases prontas de autoajuda — falar sobre isso pode te ajudar a se conformar.
Não disse?
— Dafne, me desculpe, mas acho que você não entende. — A única que me entendia era , que tinha Grace como uma irmã também e estava passando pelas mesmas coisas que eu em relação a . era a única com quem eu aceitava falar sobre Grace e tudo o que houve com ela. — Vamos mudar de assunto, sim? — Ela assentiu, compreensiva, olhando-me daquele seu jeito avaliador. — Eu não preciso de terapia esta noite, preciso de um encontro. — Peguei sua mão por cima da mesa e afaguei seu dorso devagar, arrancando um riso dela.
— Eu quem peço desculpas, ! Às vezes me esqueço de separar as coisas — disse, sem graça. — Será um prazer ser seu date esta noite, mas se precisar conversar saiba que pode me procurar, sim? — Assenti em silêncio antes do meu celular chamar minha atenção.
Era um número desconhecido me ligando. Rejeitei a chamada e decidi desligar o aparelho para que não fôssemos interrompidos mais.
— Tem certeza que vai desligar o celular? E se algo acontecer na sua casa?
Era só enquanto estivéssemos juntos. Apesar de ser compreensível sua indagação, eu estava mais tranquilo em relação a e estarem sozinhas em casa. já estava andando e sem o gesso, a bebê nunca mais nos deu sustos e a mãe dela estava mais esperta com emergências. E também, eu sabia que Victoria estava a apenas algumas casas de distância. Elas ficariam bem.
— Depois eu ligo para ver se está tudo bem. El... minha esposa é uma mãe incrível, vai conseguir cuidar da bebê sozinha. — Dafne levantou a sobrancelha enquanto bebia seu vinho.
— O que disse para ela hoje?
Dafne não comprava de jeito nenhum a ideia que lhe apresentei sobre ser uma esposa liberal, que não se importava que eu saísse sozinho com meus amigos, como menti da última vez.
— Falei que era uma pequena viagem de negócios e disse que ficaria na estrada a noite toda, mas que voltaria ao amanhecer.
— A noite toda? — Sorri safado ao identificar a malícia em sua voz. Senti quando ela cruzou as pernas debaixo da mesa. — Parece que essa será uma noite incrível. — Seus olhos faiscaram em minha direção, deixando-me duro instantaneamente.
Quando o jantar acabou, finalmente saímos daquele restaurante e rumamos em direção ao apartamento dela. Era tarde quando deixamos o local, por isso as ruas de Londres já estavam vazias e eu não me importei nem um pouco de ultrapassar alguns sinais vermelhos e até mesmo aumentar a velocidade do veículo, tamanha minha ansiedade de tê-la.
Adentramos o elevador e eu tratei de acabar com a distância entre nós, prensando-a pela cintura na parede fria de metal. Dafne riu contra meus lábios antes de me beijar com avidez, apertando-me entre seus braços finos e colando nossos corpos. Porém, ela partiu o beijo, tentando me afastar quando se deu conta do que estávamos fazendo.
— O que foi? — Ainda com o rosto colado ao dela, indaguei, vendo-a tirar minhas mãos de seu copo.
— Não é melhor esperar para quando estivermos a sós?
— Não, Dafne, o seu porteiro não vai me reconhecer pela câmera do elevador, relaxa. — Beijei seu pescoço, sentindo-a menos tensa. — Eu não posso mais esperar para te beijar... — Sussurrei em seu ouvido, aproveitando-me de minha posição.
— Sabe, isso até que é interessante... — Murmurou, colando a boca na minha. — Essa coisa toda de ser proibido e escondido. — Ri, andando junto dela pelo corredor do andar onde paramos. — E para completar tudo, você ainda é uma delícia.
Dafne gemeu quando lhe agarrei por trás no momento em que ela se virou para destrancar a porta. Eu já segurava seus cabelos pretos com uma das mãos, afastando os fios do pescoço que já chupava e beijava, arrepiando-a inteira no caminho que fizemos pela sala escura.
— Olha quem fala. — A vi se afastar de mim e pude enxergar com mais clareza quando ela acendeu as luzes do apartamento. Era pequeno, pois ela devia morar sozinha, a decoração era simples e sofisticada e tudo estava extremamente arrumado. — Tira esse vestido pra mim, tira.
Ela sorriu, descendo dos saltos enormes que usava e revelando sua real altura. Dafne era baixinha, mas tudo era muito bem distribuído naquele corpo maravilhoso. Ela me olhou desejosa ao colocar uma das mãos para trás e puxar o zíper do vestido, livrando-se dele logo em seguida e me deixando vê-la só de lingerie vermelha. Sem laços ou rendas, apenas aquela bunda lisinha e os seios fartos, com a marquinha de biquíni aparecendo, mostrando seu bronzeado leve.
Não pude deixar de comparar seu corpo com o de . Minha esposa tinha seios pequenos e algumas celulites no bumbum, não era nem um pouco adepta a exercícios físicos, ao contrário de Dafne, que me contou que treinava e praticava esportes. Mesmo achando-a incrivelmente linda, me peguei preferindo o corpo de , que me parecia mais natural e bonito.
Voltei a me concentrar no que estávamos fazendo, afinal, finalmente poderia tocar no que eu até então só tinha visto por fotos, e não interessava muito minha preferência naquele momento. Dafne estava ali, pronta para mim, ao contrário de certas pessoas.
A agarrei pela cintura, colando sua pele arrepiada no meu corpo, que ainda estava devidamente vestido. Dafne notou a desvantagem e passou a me despir enquanto seus lábios ainda estavam grudados nos meus e sua língua explorava minha boca. Logo só restava minha calça para ser tirada e foi o que ela fez, abaixando-se diante de mim e encarando fixamente meu membro já ereto dentro da cueca.
Me encostei na parte detrás do sofá quando a senti abocanhá-lo com vontade logo após me deixar nú por completo. Ofeguei ao sentir sua boca quente me envolver com habilidade e me sujar com o batom que delineava seus lábios carnudos. Peguei seus cabelos em um rabo de cavalo enquanto forçava meu membro em sua boca, movimentando meus quadris para simular uma penetração. Seus olhos castanhos me encaravam enquanto Dafne se deliciava de boca cheia.
A peguei pela nuca, atacando sua boca, e ela nos guiou até seu quarto, onde a joguei na cama e a vi tirar o sutiã ao mesmo tempo em que eu tirava sua calcinha fio dental, finalmente contemplando seu corpo inteiro nú e à minha disposição. Dafne se ajoelhou sobre o colchão, beijando meu pescoço, e quando menos esperei ela virou-se de costas para mim, olhando-me maliciosa por cima do ombro.
Coloquei a camisinha e me posicionei atrás de seus quadris, onde a estimulei com os dedos antes de encaixar-me em sua entrada e forçar para dentro. A morena rugiu em prazer na minha primeira investida, que foi forte e sem escrúpulos. Desferi alguns tapas em sua bunda, vendo Dafne movimentar os quadris contra o meu enquanto eu ainda a estocava, descontando cada maldito dia em que passei sem sexo e apenas me aliviando sozinho no banho.
Dafne pareceu não se importar com minha violência e, porque não dizer, urgência durante a transa. O sorriso em seu rosto e seus gemidos altos me faziam ver que na verdade ela estava adorando tudo aquilo. Puxei seus cabelos entre meus dedos, forçando seu pescoço para trás, colando suas costas em meu peito nu, e passei a beijar seu pescoço enquanto Dafne gozava, estimulando a própria intimidade e soltando murmúrios indecifráveis.
Meti mais algumas vezes, chegando suado no ápice logo depois dela, que caiu cansada sobre o colchão quando soltei seus quadris, que não me lembrava de ter segurado com tanta força. Deitei-me ao lado dela, encarando o teto ao esperar minha respiração voltar ao normal e meu coração acelerado se acalmar.
— Isso foi...
— Incrível. — Concluí sua frase, arrancando um riso dela, que ainda tinha as mãos na cabeça. A encarei ainda exausto, recebendo um olhar de volta.
Tinha sido incrível, mesmo. Dafne era incrível, mas outras que já estiveram comigo na cama também já foram, nada a tornava especial. Era estranho pensar naquilo justo naquele momento, mas não era algo que eu nunca tinha percebido antes. Já havia tido muitos momentos pós-sexo como aqueles, sabe? Em que o frenesi acaba e nós percebemos que estávamos numa montanha russa, onde recebemos uma dose de adrenalina muito grande e quando é a hora de descer não há... nada.
Foi uma noite longa regada a sexo, sem muitas palavras trocadas, apenas gemidos e murmúrios, mas eu não estava reclamando, afinal de contas, Dafne era muito boa no que fazia e me manteve acordado por horas. Quando já se passava das quatro da manhã, me levantei a fim de ir embora, afinal, ainda teria que ir trabalhar e a tão temida segunda feira havia chegado. Tomei um banho após Dafne sair do chuveiro e a encontrei me esperando sentada na cama de lençóis abarrotados.
— Você nem se lembrou de ligar para casa. — Indicou o celular em cima da cômoda ao lado da cama.
Fui até ele me sentindo culpado por ter esquecido e, com medo de ter acontecido algo, pressionei o botão lateral e esperei até o aparelho se ascender. Sentei-me ao lado dela, ainda com a toalha enrolada em minha cintura, verificando a tela inicial.
— Viu? Tudo sob controle. — lhe mostrei que não havia nenhuma notificação sequer. Se tivesse me ligado ou mandado mensagem, eu ficaria preocupado, mas pelo visto estava tudo bem.
Seus olhos se demoraram na tela, onde tinha uma foto de de plano de fundo. Tinha tirado há alguns dias quando a deixei deitada na cama e o pouco de sol que vinha de fora refletiu em seu rostinho. Era a foto mais linda que já tirei na vida.
— Disse que ela não era sua, mas se parece muito com você. — Sorri orgulhoso, encarando a foto também.
— Ela é minha sobrinha. Minha irmã se parecia muito comigo, então acho que é só nossa genética.
— Sua irmã, aquela que... — assenti em silêncio, já sabendo que Dafne tinha entendido. — Então acho que é compreensível que você ainda não tenha costume de chamá-la de filha.
— Eu chamo! Naquele dia houve um mal entendido. — Lembrei-me daquela discussão que Dafne tinha ouvido pelo telefone. — Eu me expressei mal, sabemos que ela é nossa filha, inclusive já até nos resolvemos naquele dia.
Depois que disse à sobre o que estava passando na empresa, passou a aliviar mais para o meu lado e já não fazia mais piadinhas ou debochava sobre eu ser filho do chefe. Esperei que ela se sentisse confortável para conversar comigo, porém, não aconteceu e eu sinceramente achava que talvez nunca acontecesse.
— Se resolveram, foi? — Cutucou-me com o cotovelo, sugestiva.
— Não desse jeito. Não resolvemos as coisas desse jeito há muito tempo. — A vida inteira, mais precisamente.
Ri de nervoso junto dela, que apesar de estar achando engraçado, também estava assustada.
— Posso ver uma foto dela? Naquele dia eu vi, mas olhei de relance. — Eu já tinha entendido qual era a dela: ver se era feia porque não parecia possível que recém casados tão jovens e saudáveis simplesmente não transassem.
Dei de ombros, procurando minha conversa com Theresa, que me fez enviar a ela todas as fotos do casamento. Abri uma delas, que tinha nós dois no altar logo após encenarmos o beijo, já oficialmente casados. Lhe estendi o aparelho e a cara que Dafne fez foi impagável.
, ela é linda! — Tomou o celular da minha mão, olhando de perto. — Qual é o seu problema?
— Meu problema? — indaguei, ultrajado.
— Como pode estar casado com uma mulher tão bonita dessas e sair para procurar sexo em outro lugar? — Não entendi sua fala. Se fosse feia não seria traição? — Por que você não está com ela nesse exato momento?
Neguei com a cabeça diante de sua indignação. Ela falava como se fosse fácil, o que até era se fôssemos um casal real, mas a verdade era que fazia a equação matemática mais complicada do mundo ser fácil de se resolver quando colocada ao seu lado.
— Ela é...
Estúpida, mesquinha, se acha intocável, me provocava sem perceber e estava me deixando louco.
— Complicada. — Foi só o que eu consegui falar diante de seus olhos castanhos, que pareciam ler minha mente ou pelo menos tentavam.
— Acho que você gosta de coisas complicadas. Aliás, gostar não, você ama. — Quase esbocei uma reação àquela afirmação e não seria de concordância.
Eu, , amando ? Nem que estivesse louco. Aliás, no dia em que aquilo acontecesse, eu mesmo me internaria numa clínica psiquiátrica e declararia insanidade mental.
— Mas o que a faz tão complicada assim?
— Você não vai desistir de fazer uma sessão de terapia, não é? — Suspirei derrotado, ouvindo um gritinho agudo da morena animada.
— Me desculpe, mas é que você e esse seu casamento me intrigam! — Sorri amarelo. Se ela soubesse ao menos metade da história... — Quer ir para o divã? — Lembrei-me da nossa conversa por telefone e ri pelo nariz.
— Nunca pensei que algum dia diria isso, mas acho que chega de sexo por hoje.
— Idiota, eu estou falando sério! — Estapeou meu braço. — Você falou com ela sobre o que eu disse antes?
— Sim, eu expus minhas fraquezas e ela esteve prestes a me falar algo, mas desistiu antes. — Disse exasperado. Todas as vezes que parava para pensar naquele diálogo nosso, só conseguia me sentir impotente por não ter sido capaz de descobrir o que a incomodava tanto. — Acho que ela não confia em mim para falar, parece ser algo bem sério e me mata por dentro não saber o que é.
Me matava de curiosidade e causava uma estranha sensação de medo, como se eu estivesse tentando abrir uma espécie de caixa de pandora com uma picareta e quanto mais eu forçava, mais temia o que poderia encontrar e libertar de dentro de .
Poderia ser qualquer coisa! A única coisa que eu sabia era que escondia algo que a magoava muito, mas mais do que isso, a amedrontava. Não sabia dizer se era uma lembrança ou um perigo real que ela ainda poderia correr caso contasse. Eu tinha medo de descobrir algo que poderia envolver outras pessoas, mexer em coisas do passado nem sempre me parecia ser uma boa ideia, principalmente quando tais coisas deixavam alguém do jeito que ficava quando aquele assunto vinha à tona.
— Você já tentou confrontá-la alguma vez? Tocou diretamente no assunto? — Assenti, pensando que a palavra certa talvez fosse "ferida". Recordava-me do dia em que toquei na ferida de e da nossa pequena discussão naquela manhã. parecia sentir dor, como se um quilo de sal fosse jogado em um machucado aberto. — E como ela reagiu?
— Se esquivou, ficou agressiva e se trancou no banheiro. — Me lembrava de tê-la ouvido chorar lá dentro. — A mãe dela fala de um passado que eu posso ajudar a apagar, mas não sei como posso fazer algo assim sem saber do que se trata!
— Será um trauma de infância? — Balancei a cabeça, sem saber a resposta.
— Não sei dizer, eu a conheci com oito anos e ela sempre me pareceu uma criança normal — Insuportável e detestável, mas normal. — Ela não gosta muito de falar do pai. Na verdade, nem mesmo de falar essa palavra. Acha que pode ter algo a ver?
— Como você já disse anteriormente, é complicado. — Riu nervosa, concordando comigo quando descrevi assim. — Pode ser qualquer coisa, uma traição do pai que a deixou com raiva e ela nutriu esse ódio com o passar dos anos, mas também algo mais grave como, sei lá, um abuso. Não posso dar certeza de um diagnóstico sem conversar com ela e ter mais detalhes. — Encolheu os ombros, incerta.
Abuso.
Me arrepiei dos pés a cabeça com a simples menção àquela palavra, não somente por conta de , mas também por saber que Grace frequentava a casa dela desde que se conheceram e não desgrudaram mais. Ela chegou a até dormir lá uma ou duas vezes. Se o pai de fazia algo com ela, minha irmã corria um grande risco de ser vítima... Mas não, se ele tivesse ao menos tocado nela, Grace me contaria. Ela sempre me contou tudo!
— Acho que nunca vamos saber então, porque você não pode falar com ela. — Dafne concordou de imediato, achando que era por conta do nosso envolvimento.
Na verdade, o único impedimento para elas conversarem era o fato de que me mataria se soubesse que estava falando tudo aquilo para alguém. já sentia vontade de me matar naturalmente, mas tratando-se daquele segredo que ela escondia a sete chaves, sua raiva só aumentaria ainda mais.
— Mas não desista dela, . — Pegou minha mão, afagando-a carinhosamente. — Por favor, tente conversar. Pare de brigar com sua esposa e, não sei, aconselhe ela a procurar ajuda profissional. — De todos aqueles concelhos, o único que eu não seguiria era parar de brigar com . Aquilo era impossível.
Até porque, caso tentasse colocar em prática outra vez suas recomendações, tentar conversar e mandá-la fazer terapia com toda a certeza resultaria em briga.
Como eu tinha acabado de falar, acho que nunca iria saber o que era aquele segredo, ficava tão brava quando eu tentava ao menos espiar por cima dos muros que ergueu em volta de si, e eu não era o único. Até mesmo Theresa já havia sido vítima de sua ignorância quando foi nos visitar. era daquele jeito, na defensiva, até consigo mesma.
— Ela... Se machucou esses dias atrás, propositalmente. — Troquei um olhar aflito com a morena. — Eu nunca tinha visto alguém fazer aquilo. Me assustou um pouco.
— Imagino que deve ter doído em você vê-la se punir. — Ainda não sabia descrever a sensação que senti, um incômodo dentro do peito. — Cuide dela, ela precisa de você. — De novo aquele papo de que precisava de mim. Eu já tinha cuidado dela outra vez, mas as coisas eram bem diferentes agora. — Sua esposa é uma mulher linda e merece ser feliz, livrar-se das coisas que a impedem de seguir em frente.
— Eu já a faço feliz. — Menti, fazendo-a me olhar desconfiada. — Eu faço o que posso, ok? A culpa das nossas brigas não é só minha. — Ralhei como uma criança malcriada.
— Não sei, viu? Você me parece ser bem encrenqueiro. — Dafne zombou, fazendo-me revirar os olhos. — Sério, , vocês formam uma família tão bonita! Conserte seu casamento antes que seja tarde demais.
Suspirei, encarando seu rosto. Estava em paz sabendo que não havia casamento nenhum para ser consertado e com dó de vê-la perder seu tempo dando conselhos matrimoniais que eu jamais usaria.
— Você não me deixa fazer isso. — Enterrei meu rosto em seu pescoço, beijando sua pele exposta pelo pijama que usava.
— Agora a culpa é minha! — Me afastou, ultrajada.
— Sim! Você é muito sexy, Dafne. Não há homem que resista. — Forcei uma voz sedutora, fazendo-a gargalhar alto.
— Vista suas roupas e vá logo embora, . — Empurrou-me para fora da cama, ainda rindo. — Já está amanhecendo, sua esposa vai ficar preocupada.
A olhei por cima do ombro após vestir minha cueca e, com a testa franzida, passei a estranhar sua fala.
— Eu tenho a leve impressão de que você se preocupa mais com minha esposa do que comigo, que estou aqui e te dei uma noite inteira de prazer com direito a orgasmos múltiplos! — Hasteei o dedo, chamando sua atenção em forma de bronca.
— É lógico que me preocupo com ela! Eu estou pegando o marido dela emprestado, o mínimo que posso fazer é tentar ajudá-la.
Aquela variante do feminismo eu não conhecia, mas achei interessante, não vou mentir.
Assim que terminei de me vestir, me despedi de Dafne com alguns beijos antes de deixar seu prédio e ir dirigindo mais devagar que o normal, a julgar pelo meu nível de sonolência. Eu iria me jogar na cama e dormiria até a hora que conseguisse. Me atrasaria um pouco para o trabalho, mas sentia que precisava daquilo para sobreviver àquela segunda feira.
Já eram quase seis da manhã quando estacionei dentro da garagem. O céu ainda estava um pouco escuro e a luz da sala acesa me chamou a atenção junto do choro que vinha de dentro da casa. Me apressei a entrar, encontrando andando em círculos com no colo, tentando acalmá-la.
— O que houve? — Me aproximei delas, dando um passo para trás assim que se virou em minha direção.
Ela estava péssima! Os cabelos despenteados e os olhos fundos, como se não tivesse pregado os olhos naquela noite. Já chorava, sôfrega, quebrando meu coração em milhões de pedaços ao vê-la naquele estado de novo.
— Cólica, isso é o que houve. — Ainda andava pela sala vestindo seu pijama azul. — A noite inteira. — Sua voz saiu trêmula e os olhos azuis se encheram instantaneamente. exalava cansaço.
— Me dê ela, vá dormir. — voltaria ao trabalho horas mais tarde e eu daria um jeito de ir virado mesmo.
— Você está caindo de sono, !
— Você também! — Estendi os braços em sua direção, vendo-a se esquivar para o lado.
— Me dê licença, . — Foi para a cozinha e me deixou falando sozinho.
Subi para o quarto, fazendo o planejado e caindo na cama do jeito que estava, dormindo as três horas mais rápidas da minha vida. Parecia que tinha piscado e o celular já despertou do sono gostoso que eu estava. Tomei um banho para acordar e desci já pronto para ir para o trabalho.
Encontrei tomando café na xícara em uma só golada, apressada. Franzi o cenho quando a vi subir para escovar os dentes praticamente correndo. Quando desceu, foi até Elisabeta, que estava com nos braços, e beijou a bebê, se despedindo.
— Ué, não vai comigo? — Indaguei, vendo-a arrumando a bolsa em cima da mesa.
— Não posso esperar, é meu primeiro dia de volta. — Apanhou a bolsa, contornando a mesa. — Já pedi um Uber. — Ia passando por mim, porém, a impedi de avançar seus passos, pegando-a pela cintura ainda sentado na cadeira próximo a saída da cozinha.
— Não vai me dar tchau? — Me levantei, puxando-a para perto. me encarou ainda irritadiça, porém, com o semblante cabisbaixo.
Eu sabia que tinha dado mancada ficando a noite toda fora e deixando-a sozinha. Era por aquele motivo que estava estressada daquele jeito e mal me olhou na cara desde que desci. Ela normalmente já se sentia daquele jeito em relação a mim, mas piorou e com razão.
Quando foi a vez dela sair, Theresa ainda estava conosco ajudando a cuidar da bebê, e ainda assim tinha voltado "cedo" para casa. Eu não fiz o mesmo e ainda por cima passei a noite inteira fora. Mesmo que tivesse me ligado, eu não atenderia porque tinha desligado o celular. Tinha sido um egoísta filho da puta na noite anterior.
— O que houve, Sra. ? Não parece muito bem hoje. — sorriu fraco para Elisabeta enquanto ainda mantinha as mãos em meu peito, tentando sair de meus braços.
— Nada, Elisabeta, só estou cansada. — Nem mesmo a maquiagem tinha dado conta de esconder seu cansaço. Olhar para seu rosto só me fazia sentir mais culpado ainda.
Lhe beijei, puxando-a pela cintura e reparando em seus ombros tensos tentando relaxar. Pedi passagem com a língua e percebi quando suas mãos perderam as forças e consegui tê-la mais perto, aproveitando a proximidade para pegá-la pela nuca e afagar seus cabelos.
— Hum... Meu Uber chegou. — Murmurou contra minha boca assim que ouvimos uma buzina soar em frente de casa. A soltei, vendo-a caminhar até a porta e acenar para a babá atrás de mim.
— Bom trabalho. Qualquer coisa me liga. — Lhe disse antes da porta ser fechada, fazendo-me soltar um suspiro. Quando voltei a encará-la, Elisabeta sorriu amarelo.
— O senhor também não parece muito descansado. — Soltei um pequeno riso sem graça.
— Foi uma noite difícil. — Para , no caso, mas para todos os efeitos eu também tinha passado a noite em claro cuidado de .
Após tomar café da manhã, rumei para a empresa ainda refletindo sobre meus erros da noite passada. Pensei em como tinha sido hipócrita ao ficar bravo quando tio Edward quis que eu colocasse a empresa acima de e sendo que na primeira oportunidade que encontrava as trocava por uma noite com outra mulher.
Minha filha tinha passado a noite com dor, chorando no ouvido de , e eu não estava ali para ampará-la. De novo.
— Bom dia, Jordyn, como vai? — A secretária pregava uma guirlanda em sua mesa, relembrando-me que o Natal estava próximo quando tudo que eu queria era esquecer de sua existência.
Infelizmente não poderia fazê-lo já que fomos convidados por Cynthia para passar o Natal junto dela e demais vizinhos. Teríamos que trocar presentes e tudo, eu não fazia a mínima ideia do que daria a já que o combinado foi presentear alguém que more na mesma casa que você. era fácil de agradar, qualquer coisa que piscasse ou fizesse barulho a deixaria entretida por horas.
— Bem. — Sorriu, voltando a se sentar em seu lugar. — Como estão os preparativos para o Natal? Irá passar com a família?
— Eu acho que minha definição de família foi atualizada esse ano. — Ri fraco, atraindo seu olhar para minha aliança. O número diminuiu drasticamente para apenas duas pessoas. — Mas sim, vou passar com minha família. E você?
— Vou aproveitar o feriado e ir para a casa dos meus pais. — Assenti, lembrando-me de tê-la ouvido dizer algo sobre uma cidade do interior, onde cresceu, quando estava entrevistando-a para o cargo em minha cama.
— Tem algum recado para mim? — Tratei de encerrar o assunto ali após me lembrar daquele episódio entre nós. Ela negou após vasculhar o computador atrás de algo. — Tudo bem. Obrigada, Jordyn.
Joguei-me na minha cadeira, fechando os olhos por um milésimo de segundo antes de começar a trabalhar. Aquele dia prometia ser longo e a minha urgência em ir pra casa dormir me deixava inquieto.
Após quase cochilar algumas vezes sobre o teclado do computador, fui desperto pelo meu telefone tocando. Era Jordyn anunciando a presença de Amélia. Lhe autorizei a entrar, estranhando sua visita, e vendo-a surgir na porta trajando suas roupas formais e o costumeiro sorriso no rosto.
— Bom dia, , espero não estar atrapalhando. — Pisquei rapidamente, indo até ela e dando-lhe um beijo na bochecha antes de voltar para o meu lugar.
— Não está. Aliás, eu estava mesmo precisando de uma distração para não cair no sono. — Ri, passando as mãos sobre o rosto.
não está facilitando? — Amélia sorriu, compreensiva. — Os primeiros meses vão ser assim, mas relaxa porque logo vocês voltam a dormir. — Assenti, ficando calado.
Eu estava mentindo até mesmo para Amélia sobre ter ficado a noite inteira acordado com e sua cólica, logo ela que sabia de Dafne e de toda a minha farsa com ! A verdade era que eu estava com vergonha do péssimo pai que estava me saindo ultimamente.
Finalmente entendi o que estava passando naquela noite e me perguntei se ser pai de alguém era aquilo, se sentir insuficiente quando algo acontecia com seu filho. Me perguntei também se algum dia aquela sensação iria embora. Amava e me sentia a pior pessoa do mundo quando não estava presente quando algo acontecia com ela.
— Mas não foi para conversar sobre que vim aqui, por mais que eu ame aquela coisinha como se fosse da minha família. — A advogada se remexeu na cadeira, ficando séria logo em seguida. — Acabo de vir da delegacia onde meu amigo trabalha. , o carro havia sido roubado dias antes do ataque e o homem que foi interrogado era o dono. O veículo foi encontrado abandonado em uma rua deserta, completamente sem evidências de quem pode ter sido.
— Mas o dono não prestou queixa? Não tem como pegar o assaltante? — A loira comprimiu os lábios pintados, negando com a cabeça.
— Em depoimento ele apenas o descreveu como um cara alto, mais de 1,80 metros de altura e encapuzado. Segundo ele, só deu para ver a cor dos olhos, que eram escuros. — Suspirei, afundando-me na cadeira. — A polícia vai começar a procurar a partir dessa descrição.
Teria como considerar suspeito um homem alto que tinha dois olhos? Faça-me o favor!
iria ficar uma pilha de nervos quando descobrisse que a única pista que a polícia tinha do cara que supostamente a atropelou era um retrato falado mais vago que o que fizeram do caso Madeleine Mccann. Que bando de incompetentes aqueles policiais eram!
— Vim falar com você pessoalmente para te preparar para dar a notícia a . Meu colega disse que não há o que fazer. Você entende, não é? Eles provavelmente tratariam o caso de como um acidente e como não temos como acusar Miguel sem provas...
— Acho melhor não contarmos nada a ela. — Amélia me repreendeu com o olhar. — vai ficar paranoica sabendo que esse cara está por aí, solto. No dia do acidente ela já estava com medo, então é melhor esse assunto ficar apenas entre nós e eu a acompanho na ida e saída do trabalho, pelo menos por um tempo para vermos como as coisas vão indo.
, precisa saber! Diz respeito à ela! Sei que você quer protegê-la, mas não estará com ela a todo o momento. Ela precisa saber para poder se preparar caso sinta que está em perigo. — Respirei fundo, concordando. — Vai mesmo falar com ela? — Olhou-me desconfiada, fazendo-me revirar os olhos.
— Vou. Daqui a pouco irei na lanchonete, já tenho alguns assuntos para tratar com ela, mesmo. — A loira assentiu, levantando-se. — Já vai?
— Estou atarefada hoje. Só passei para te dar a notícia infelizmente nada animadora. — Veio até mim, abraçando-me. — Provavelmente não nos veremos até o ano que vem, então Feliz Natal e ano novo. Dê um beijo nas meninas por mim. — Assenti, saindo do abraço. — E tome um café para acordar.
A acompanhei até a porta e voltei a me acomodar em minha mesa, discando o número do ramal da secretária de Chace.
— Olá, Tatiana, poderia me passar para o Chace? — Ela confirmou sem ao menos checar com ele, sabendo que nunca estaríamos ocupados um para o outro.
— A que devo a honra dessa ligação? — Ri de sua fala, antes de suspirar audivelmente.
Odiava voltar atrás em minhas decisões, ainda mais quando era para dar o braço a torcer a favor de , mas não conseguia deixar de lembrar do jeito como ela estava mais cedo, de tudo o que lhe aconteceu nos últimos dias e em como aquele mês tinha sido difícil. Havia dito pra mim mesmo que recusaria a viagem a Tulum por não querer misturar com meus colegas de trabalho, porém, era inegável que ela estava precisando daquele descanso.
— Consegui convencer a ir pra Tulum. — Murmurei, já passando a mão no rosto em plena derrota. O ouvi comemorar do outro lado da linha. — Queria saber a data da viagem direitinho para comprar as passagens já que acho que não vamos conseguir ir no mesmo voo.
— Vou pedir à Tatiana para comprar as passagens já que ela que fez isso para todos nós. — Soltei uma risadinha. Chace, ao invés de uma secretária, tinha uma mãe. Ele ficaria perdido sem aquela mulher para direcioná-lo. — Te aviso quando estiver tudo certo, ok?
Almocei no restaurante que geralmente ia com meus colegas e fui direto para o trabalho de . Estacionei em frente e ouvi o sino tocar quando atravessei a porta de vidro. O local estava cheio, a julgar pelo horário parecia ser daquele modo todos os dias. Tiffany me cumprimentou ao passar por mim com sua bandeja lotada e Anne estava mais ao fundo, anotando pedidos em seu bloco. Encontrei o Sr. Williams no balcão e me dirigi até lá, já sendo notado pelo velho de bigode grande.
— Sua esposa está lá atrás. Acho que está dormindo... — Nem me esperou cumprimentá-lo, apenas apontou para a porta, que era restrita aos funcionários, sem ao menos sair do lugar.
Assenti, empurrando a porta branca e me deparando com um corredor curto onde havia um banheiro junto de alguns armários. Avancei meus passos e adentrei em um cômodo que parecia ser a cozinha, com apenas uma pia pequena e um balcão com microondas em cima. Havia uma mesa com dois bancos largos e, em um dos cantos, abaixo de uma janela grande, tinha um sofá grande e verde, onde minha esposa estava deitada e, como o chefe comentou, dormindo em um sono profundo.
Sentei-me no espacinho vago, onde seu corpo encolhido não cobria, e cutuquei seu braço devagar, chamando pelo seu nome repetidas vezes. Ela deu sinais de que iria despertar após tirar minha mão de cima de si antes de abrir uma fenda nos olhos para espiar quem a estava incomodando.
? — Franziu o nariz, provavelmente ainda não me enxergando direito. Após algumas piscadas, ela se sentou rapidamente no sofá, coçando os olhos ao fazê-lo. — O que faz aqui? Aconteceu algo com ? — Disparou assustada, fazendo-me negar com a cabeça.
— Eu tenho que falar com você e tinha que ser pessoalmente. — Ponderei, vendo-a me olhar atentamente enquanto tentava ajeitar os cabelos amassados.
— Está me deixando preocupada. — Você não imagina o quanto vai ficar depois que eu falar, .
— A primeira coisa que eu quero te falar é que você não precisa se preocupar com isso, vou dar um jeito, prometo! Quando as festas de fim de ano passarem, eu vou atrás disso. — Expliquei, apenas aumentando ainda mais a confusão em sua cabeça. — Amélia passou na empresa e me disse que o carro tinha sido roubado. O dono não conseguiu identificar o assaltante. — A loira levou as mãos ao rosto.
— Então não temos nada. — Riu sem humor, encarando-me em desespero. — , como eu posso viver tranquila sabendo que tem alguém atrás de mim querendo me machucar?
, eu já disse que vou estar por perto sempre. — Tentei acalmá-la sem sucesso, já que ela me encarou em puro deboche, deixando-me ofendido.
Tudo bem, eu não era lá o cara mais musculoso do universo, mas conseguiria protegê-la caso Miguel tentasse algo! Claro, caso ele não tivesse uma arma ou estivesse atrás do volante de um carro, mas em qualquer outra situação eu poderia e iria lhe dar uma surra muito bem dada!
— E se ele me pegar sozinha de novo? Se m-me machucar seriamente ou... — Disparou a falar, começando a hiperventilar.
— Ei, isso é temporário, ! — Peguei seu rosto entre minhas mãos, fazendo-a me olhar nos olhos e tentando acalmá-la. — Nós vamos dar um jeito nisso, sim? Não precisa ter medo. Se ele aparecer você faz o que combinamos naquele dia, ok?
— O que nós combinamos? — Franziu a testa, fazendo-me rir de sua confusão.
— Se afaste dele e me ligue. — Seus olhos azuis vacilaram por um segundo. Como ela mesma já tinha me dito antes, não era do seu feitio pedir ajuda para ninguém. — , me prometa que vai fazer isso! — tirou minhas mãos do próprio rosto, suspirando, aflita.
— Me prometa primeiro que você vai se controlar se algum dia cruzar com ele.
— Não posso prometer o que não vou cumprir. — Eu sentia tanto ódio por aquele filho da puta que acho que seria capaz de matá-lo com minhas próprias mãos para me vingar de todo o mal que Miguel trouxe para minha vida e de Grace.
Vi bufar antes de tomar impulso para começar a falar, o que não adiantaria, pois eu nunca mudaria de opinião quando o assunto era ele, que depois de tudo o que fez a e correndo o risco de conseguir chegar em , apenas havia terminado de pintar um alvo enorme em si.
— Eu tenho outra coisa para falar com você, . — Saquei o celular, vendo-a cruzar os braços e me olhar intrigada enquanto acessava o site que pesquisei mais sobre o nosso destino das "férias".
— Por favor, que não seja outra notícia ruim. — Juntou as mãos no próprio queixo.
— Isso se parece com uma notícia ruim para você? — Lhe estendi o celular, mostrando-a o mar azul de águas cristalinas de Tulum.
— Ok, é uma foto de praia. O que isso significa, ? — Deu de ombros, olhando-me por cima do aparelho.
— Primeiro não é qualquer praia, isso é Tulum! — desdenhou com o olhar. — E segundo que eu espero que você tenha biquíni porque estaremos lá dentro de alguns dias. — Esperei uma reação dela, que não foi a que eu tinha em mente.
— Está brincando comigo, né? — Riu sarcástica, cruzando os braços. Neguei com a cabeça, sério, só então vendo a reação esperada acontecer. — N-Não está brincando? Está falando sério? — Assenti, fechando os olhos ao ouvir o grito agudo que soltou ao mesmo tempo em que se jogou em meus braços, abraçando-me forte e arrancando-me uma risada alta de sua animação exagerada. — Meu Deus, eu não acredito que vou pra Tulum! Olha isso, ! — Pegou o celular de minha mão, reparando mais na foto que tinha desdenhado anteriormente. — Realmente vai fazer isso por mim? Muito obrigada! — Senti o beijo que ela me deu na bochecha e sem querer virei o rosto, recebendo um selinho seguido por outros.
estava tão animada que nem ao menos parou para se dar conta do que tinha acabado de fazer. E eu, tão extasiado e sem reação, apenas fiquei parado retribuindo.
— Vamos passar três dias lá, incluindo a noite da virada. — Seus olhos se arregalaram de imediato e um sorriso enorme ocupou seu rosto. Se é que ainda tinha espaço ali.
— Eu não tenho nem roupa pra isso! — Exclamou ainda em cima de mim, com as mãos apoiadas em meus ombros. A segurei pela cintura, impedindo-a de escorregar do sofá para o chão.
Não sabia se aquilo tinha sido uma piada ou se ela falava sério.
— Só tem um pequeno probleminha... — desmanchou o sorriso.
— Estava bom demais para ser verdade! — Murmurou, cruzando os braços. Neguei com a cabeça, rindo fraco.
— Vamos junto do pessoal da empresa, ou seja, teremos que ficar juntos por lá. — Tulum e compromisso não combinavam na mesma frase. Seria tão esquisito e triste ir para um lugar paradisíaco, cheio de mulheres maravilhosas, durante um verão cheio de praias e ter que ser fiel a minha "esposa".
— O Chace vai? — Sorriu maliciosa, atraindo meu olhar de repreensão.
...
— Estou brincando! — Abanou o ar, ainda rindo da minha cara fechada. Se tivesse que ser o marido fiel, o mesmo tinha que valer para . Se bem que ela não seria louca de dar em cima dele.
— Engraçadinha. — Ralhei, ainda vendo-a se divertir às custas do meu estresse. A porta se abriu revelando Anne, que nos olhou curiosa por conta da proximidade.
Assim que percebeu a amiga chegar, pulou para longe, fazendo-me bufar por conta daquela idiotice de insistir que não poderíamos sequer respirar o mesmo ar perto das amigas dela.
— Que barulheira é essa? — Anne levou a mão à cintura quando foi com o celular até ela, lhe mostrando a foto. — Tulum. O que é que tem? — Minha esposa apenas a olhou e ela já tinha entendido tudo. — Mentira!
— Siim! — deu pulinhos como se fosse uma criança.
— Temos que comprar roupas, amiga! Você não tem um biquíni decente para usar num lugar desses! — Por que será que eu não estava surpreso? não tinha uma marquinha sequer no corpo, já devia estar com deficiência de vitamina D de tanto que fugia do sol. — Não só o biquíni, também tem a saída de praia, protetor solar...
— Temos que comprar para também! — me olhou de longe. Concordei, porém, deixaria para elas comprarem. Além de não entender nada do assunto, vi que as duas estavam animadas o bastante para irem atrás sem reclamações.
— Annelise, o que está fazendo aqui? A mesa cinco está esperando o pedido. — Me levantei do sofá, ajeitando meu terno quando o velho Williams adentrou, guiando a loira pelos ombros para fora, de volta à lanchonete.
— Eu já vou indo também. — Anunciei, me aproximando deles. — Depois nós conversamos sobre isso direitinho, sim? — sorriu abertamente. Era impressionante como seu semblante tinha mudado desde mais cedo. Sorri satisfeito e passei o braço por sua cintura fina, trazendo-a para mais perto. — Tchau, até mais tarde. — Beijei sua boca de leve, ainda sob o olhar de seu chefe. — Tchau, Sr. Williams, tenha uma boa tarde.

's point of view.

Ajeitava o decote do vestido longo e vermelho que vestia enquanto passava a língua por cima dos dentes da frente para ter certeza de que o batom nude que passei não estava sujando meu sorriso. suspirou pela milésima vez, sentado na cama atrás de mim.
estava deitada na cama, já vestida com seu vestidinho vermelho também, para combinar com a mamãe e seu laço na cabeça que a incomodou nos primeiros minutos de uso. Estava uma verdadeira princesa e eu fiquei triste de não termos levado-a para tirar sua primeira foto com o papai Noel.
— Ao invés de ficar apressando, você devia me agradecer por eu ter me arrumado. Com a falta de animação que estou para esse Natal, eu quase fui de pijama mesmo. — Não iria ser fácil passar aquele Natal sem ela, jamais seria a mesma coisa, nós já sabíamos. Aquela época do ano nunca mais passaria em branco sem que lembrássemos de Grace e suas decorações e animação exagerada. — Eu ainda tenho que esperar as meninas me responderem com qual sapato vou.
— Está brincando, né? — Neguei com a cabeça, passando mais uma camada de máscara em meus cílios. — Porra, . — Lhe repreendi pelo palavrão em frente de .
— Me ajude você, então. — Fui até o closet, calçando uma sandália em cada pé e voltando para onde ele estava esperando. — Qual combina mais com o vestido?
— Não acredito que estou fazendo isso... — levou a mão ao rosto, lamentando-se.
— É, , eu sei! Uma hora dessa você estaria caindo de bêbado em uma festa rodeado de mulheres. — Revirei os olhos, afinal, eu também não estaria nem perto de estar sóbria às oito da noite na véspera de Natal. — Sinto muito por você. Eu também não queria estar casada, mas aqui estamos nós.
— Você não vai pedir minha opinião e depois vai usar o contrário do que eu escolhi não, né? — Neguei com a cabeça, sendo sincera. até tinha um bom senso de moda. — A preta. — Assenti, voltando para dentro do closet. Usaria a prata no ano novo.

EM TULUM!
Eu estava tão animada para aquela viagem que às vezes me pegava pensando que aquele dia na lanchonete tinha sido um sonho ou surto coletivo entre mim, Anne e Fanny, que só falávamos daquele assunto na última semana.
Comprei três biquínis lindos, porém, iria com um enorme receio de expor meu corpo na frente de todas as pessoas que estariam lá conosco. Tinha certeza de que teriam mulheres com corpos esculturais, seja de cirurgias plásticas ou prática de exercícios, muito mais bonitas que eu e aquilo, de certa forma, me fazia querer ir para a praia em uma calça jeans.
— Pronto, apressadinho. Vamos. — teve uma reação estranha ao ser chamado daquele modo, porém, logo se levantou da cama, pegando nos braços.
Eu desci na frente já com a bolsa da bebê, onde coloquei apenas a mamadeira e seu leite, pendurando-a no ombro de antes de pegar os presentes e a torta de morango que fiz. Felizmente estávamos com o carrinho de , então pude colocar os presentes no compartimento de baixo porque éramos só nós dois e um monte de coisas para carregar.
Chegamos por último, encontrando a casa de Cynthia já cheia de crianças correndo pelo quintal dos fundos e o mesmo pessoal do jantar na casa de Megan. Naquela noite em especial até mesmo Ivan, marido de Alyssa, estava presente e finalmente nos foi apresentado. Todos estavam incrivelmente bem vestidos e um clima agradável pairava pela casa decorada com um grande pinheiro verde cheio de enfeites e com as meias das crianças penduradas na lareira. Tudo o que se falava entre os pequenos era o momento em que o papai Noel daria as caras.
Nunca acreditei naquela história mesmo quando criança. Se fosse pela lógica das outras famílias, meu pai deveria se vestir de bom velhinho e me surpreender com presentes na noite de vinte e quatro para vinte e cinco de dezembro. Porém, tudo o que ele sabia me trazer era desgosto e tristeza, porque costumava beber muito durante as festas de fim de ano. Era sempre um alívio muito grande ser convidada para passar pelo menos o Natal com os .
Grace sempre acreditou que aquele homem alto e barbudo que lhe trazia presentes era realmente o tal do Noel, mesmo sendo nítido que quando não era Jeremy, era algum outro parente que se fantasiava para entregar os presentes. Nunca quis acabar com a graça dela, então apenas entrava na brincadeira.
Não sabia o que faria para contar aquelas histórias sem pé nem cabeça para a pequena quando ela tivesse idade o bastante para entender, mas tinha ciência de que teríamos que nos esforçar para fazê-la acreditar como sua mãe acreditava. Se eu não mentisse sobre a existência do papai Noel, era capaz de Grace voltar para puxar meu pé a noite de tão sério que minha amiga levava aquela coisa de espírito natalino.
Sem muita opção, fui puxada para a cozinha, onde as outras mulheres bebericavam suas taças de vinho e tagarelavam sem parar sobre os mais diversos assuntos. Os homens permaneceram nos sofás e se enfiou no assunto sobre o último jogo de sábado. Lhe perguntei se ele queria me dar a menina, porém, o mesmo negou, ainda com ela relaxada em seu colo.
Fui até ele para lhe dar o paninho de caso ela gorfasse ou babasse e dei de cara com os olhos azuis de Tom me espiando do sofá ao lado.
— Daqui a pouco é a hora da mamadeira dela. — Pendurei o pano em seu ombro, recebendo um aceno em resposta. A pequena bateu os bracinhos em volta do tatuado do pai, fazendo-me sorrir ao ver como ela estava cada dia mais esperta. — Quando quiser me dar ela, estarei na cozinha.
— Olá, . — Olhei em sua direção, sorrindo amarelo e vendo-o lindo com aquela camisa vermelha que destacava ainda mais sua beleza e os olhos claros. — Parece até que combinamos. — Apontou para si, rindo fraco. O acompanhei, reparando na cara de paisagem de . — Está linda esta noite.
— Obrigada, Tom. — Dei passos para trás, sem graça. Eu não poderia lhe dar confiança, ainda mais após meu trato com . — Eu vou indo lá. — Lhes dei as costas, pretendendo sumir dali o mais rápido possível.
— Ei! — Girei os calcanhares ao ouvir a voz rouca de . — Vem cá! — Franzi a testa, retrocedendo meus passos, curiosa, e curvei-me sobre ele quando o mesmo me chamou para mais perto com a mão. Achei que ele queria me falar algo em particular, porém, apenas pegou-me pela nuca, beijando meus lábios suavemente. — Era só isso mesmo. — Revirei os olhos enquanto voltava para a cozinha.
Fiquei um tempo entrando e saindo das conversas entre elas, que ajudavam a governanta de Cynthia com a preparação da ceia. Quando deu a hora, preparei a mamadeira da bebê, levando-a até o pai dela e retornando ao cômodo cheio de mulheres. O assunto da vez eram as cores usadas no reveillon. Logo Megan, marketeira que era, começou a falar de lingerie e de sua loja, dizendo que a cor da calcinha usada na virada do ano era mais importante que a roupa em si.
adentrou a cozinha carregando nos braços, chamando a atenção das demais.
— Eu vou usar calcinha vermelha esse ano, sabe? Para atrair mais amor. — Coitado de Javier, que tinha uma esposa daquelas ao seu lado.
não esboçou nenhuma reação enquanto vinha até mim, me entregando a mamadeira vazia. Ela tinha feito de propósito para que ele a ouvisse dizer a cor de sua roupa íntima, sendo que nem iria lembrar da existência dela onde iríamos passar o ano novo. Teria tantas mulheres por lá que era capaz até mesmo de eu ser esquecida na hora de voltar para casa.
— Vou ficar sem calcinha. — Os olhos verdes de focaram-se em mim e suas sobrancelhas se arquearam enquanto ele ria, se divertindo com aquela maluquice minha. — Dizem que traz sorte e, bom, eu acho que já tenho amor de sobra. — Beijei a bochecha de quando se aproximou.
— Olha a cara do maridão. — Victoria gargalhou com as outras.
— Adorei a ideia. — Ele me beijou no rosto, dando-me a mamadeira suja que peguei para lavar e guardar de volta na bolsa para não esquecer.
Apesar de não acreditar em simpatias ou até mesmo naquele papo de calcinha colorida, eu realmente cogitei não usar nada na noite da virada. Tinha usado uma vermelha despretensiosamente ano passado e tive tudo menos um amor na minha vida. Ainda por cima acabei casada com aquele ser.
Um pouco antes de jantarmos, nos reunimos na sala diante da árvore e começamos a troca de presentes. Primeiro assistimos Megan e Javier, seguidos de Alyssa e Ivan. Como éramos os próximos na ordem dos sofás, me levantei indo até o centro e apanhei o presente de , sendo seguida pelo próprio.
— Eu vou primeiro? — Ele deu de ombros enquanto os outros nos encaravam em expectativa. Assenti com a cabeça e apertei a caixinha com minhas mãos trêmulas. Era meio assustador contracenar com numa situação daquelas. Nós estávamos mentindo! — Bom, eu me perguntei muito o que comprar para alguém que já tem tudo. — Ri nervosa.
Foi uma luta ir atrás daquele presente, primeiro porque realmente tinha tudo e segundo que tudo que ele usava era caro demais para caber em meu orçamento apertado. Pensei até em comprar um perfume, já que reza a lenda que se presentearmos nosso parceiro com um, o amor acaba junto com a fragrância.
Mas dei pra trás, afinal, o que e eu sentíamos um pelo outro era ódio, e se o ódio acabasse... Bom, nunca dava para saber qual sentimento surgiria no lugar e eu sinceramente tinha medo de tentar descobrir, então decidi não arriscar.
— Mas reparei que te falta uma coisa... — Lhe estendi a caixa, vendo sua reação ao abri-la após desfazer o laço por cima. — É um relógio para te ajudar a voltar pra casa na hora certa. — Murmurei rindo, contagiando-o assim como o restante das pessoas na sala.
— Muito obrigado, amor. — Retirou o relógio prata de pulso de dentro da caixa, mostrando para os outros. — Eu nunca tive costume de usar, mas depois dessa indireta... — Encolhi os ombros, rindo. — Agora é minha vez.
Peguei a caixa bem maior que a minha, tirando de lá um vestido branco que quando o estendi diante de mim, o reconheci. Aquele tinha sido o amor da minha vida no dia em que saí com Tiffany e Anne para comprar as coisas para a viagem e os presentes para o Natal. Me apaixonei por ele, porém, estava saindo os olhos da cara e então apenas me contentei em olhá-lo pela vitrine da loja que nem me atreveria a entrar por conta do trauma da loja de noivas.
— Eu não acredito! — A abracei forte, ainda mantendo os olhos no vestido que eu com certeza passaria o ano novo.
— Agradeça Tiffany depois. — Sussurrou em meu ouvido. Eu sabia! nunca iria imaginar meu gosto para roupas daquele jeito.
— Nossa, ele é bem revelador. — Victoria exclamou, observando-o ainda com nos braços. — Acho que irá passar frio se ficarem por aqui na virada do ano.
Era mesmo. Frente única, descia aberto até a base das costas e, para completar, tinha uma fenda que batia bem acima do joelho. Na frente era simples até, com duas alcinhas finas e só.
— Nós vamos para Tulum. — Lhe respondi, segurando o sorriso exagerado e o grito que queria soltar toda vez que me lembrava daquilo. Tinha que fingir costume, acho que iria explodir daquele jeito. — Vamos passar na praia. — Passei um braço por cima do ombro de , que me puxou pela cintura, beijando minha bochecha.
seria o marido perfeito se não fosse tão babaca e não fosse ele mesmo. Dava os melhores presentes, me ajudava quando estava doente e ainda por cima era gostoso. Me vi criando um plano mirabolante digno de desenho animado ao pensar que a ciência já poderia ter avançado ao ponto de possibilitar trocar a mente das pessoas de corpo. Eu arranjaria um cara legal para ocupar o corpo tatuado de e seríamos felizes para sempre.
— Agora é a vez de . — Exclamei, pegando o embrulho dela e abrindo, revelando as várias roupinhas que comprei para ela.
Enquanto as crianças torcem para ganhar brinquedos em datas comemorativas, as mães queriam roupas e eu era aquele tipo de mãe. E também, ela era muito pequena para entender brinquedos.
— Esse é o meu. — tirou de seu embrulho um jacaré de pelúcia, deixando todos nós confusos. Que diabos de presente era aquele? Digo, o bichinho era bonitinho, mas um jacaré? — Quando eu era bebê, meu pai me comprou um desses e me apeguei tanto a ele que simplesmente não dormia sem. Queria dar um pra também, para que ela se sinta segura com ele do mesmo jeito que eu me sentia.
As mulheres acharam aquilo o suprassumo da fofura enquanto eu só ria, lembrando-me de uma ameaça que Grace fazia a sobre contar do amiguinho de infância que ele guardou consigo até os dezoito anos.
— Preparem-se para a dor de cabeça quando ele sumir. — Levei a mão à cabeça só de imaginar passar a noite em claro com outra vez. — É bom comprar outro igual, sabe? Só para emergências. — Fiz uma nota mental, agradecendo Victoria mais uma vez por suas dicas preciosas.
— Deixe eu tirar uma foto. — Peguei , segurando-a em meu colo junto do seu novo brinquedo ao lado de , que nos abraçou, sorrindo para a foto.
Logo depois foi a vez dos outros casais trocarem presentes e declarações. Fomos para a mesa para finalmente fazer a ceia. Já estava ficando tarde e o plano de Megan e dos demais era vestir Javier com sua fantasia e distribuir os presentes das crianças quando o relógio marcasse o início de vinte e cinco de Dezembro.
Jantamos e enquanto conversávamos na mesa após comer a sobremesa, vi Javier levantar para ir se trocar no andar de cima. Ele tentou sair de fininho, mas pela sua altura aquilo não foi possível, arrancando risadas de nós ao vê-lo tentar. Senti um cheirinho vindo de e fui junto de até o banheiro para trocar sua fraldinha.
Estendi o trocador da bebê sobre o gabinete e coloquei em cima, vendo-a colocar a mãozinha na boca e praticamente devorá-la como se fosse a comida mais gostosa do mundo. já pegava a fralda da bolsa, porém, se afastou bruscamente quando eu tirei a que ela vestia. O cheiro subiu, intoxicando nós dois fechados daquele lavabo pequeno.
— Eu realmente queria saber como é possível ela fazer algo tão fedido se tudo o que ela come é leite! — Praguejou, abrindo a porta enquanto eu ria, tampando o nariz por um segundo. Infelizmente tive que destampar, afinal, não daria para trocar ela só com uma mão.
Quando a limpei, deixando-a cheirosinha outra vez, coloquei sua fralda limpa, ainda brincando com ela para distraí-la.
— Seu celular está tocando. — murmurou atrás de mim, mostrando-me o aparelho vibrando com o visor aceso pelo espelho. Era uma chamada de vídeo e o nome de minha mãe estava na tela, fazendo-me suspirar antes de negar com a cabeça. — Não vai atender sua mãe? Ela deve estar ligando para desejar feliz Natal e ver .
— Tudo bem. Atenda. — Suspirei, derrotada. Minha mãe mandava mensagens semanalmente perguntando da bebê, não seria justo impedi-la de ver a menina. Eu só... Não estava me sentindo bem para falar com ela. Aquela época do ano me trazia memórias ruins.
— Olá, feliz Natal! — atendeu a chamada, sorrindo abertamente.
— Feliz Natal, querido! — acenou para a câmera, olhando curioso para a tela. — , este é Matthew, o pai de . Não sei se lembra dele. — o cumprimentou, espiando-me receoso pelo espelho. Abaixei minha cabeça, apoiando-me na pia. Minhas mãos começaram a soar. — Cadê e ?
está aí? — Ofeguei ao apurar meus ouvidos e identificar o dono daquela vez.
Ouvir sua voz foi como... como voltar a viver naquela casa. E o mais engraçado de tudo era que mesmo ouvido-o falar com calma e normalmente, tudo o que me vinha à cabeça eram seus gritos nos momentos de descontrole. Tremi ao visualizar as cenas que ainda estavam guardadas em minha cabeça e vez ou outra voltavam a me perturbar. Fui até e tirei o celular de sua mão, desligando-o e segurando bem forte com meus dedos em volta do aparelho. Com a raiva que me subiu, eu estava prestes a arremessá-lo longe.
— Porque fez isso? — Ainda perturbada, levei as mãos à cabeça, andando de um lado para o outro. — É ele, não é? O que ele fez pra te fazer reagir assim, ? Você está tremendo! — O encarei através das lágrimas que transbordavam de meus olhos. Eu estava com raiva de meu pai, de minha mãe, mas principalmente de .
Por que ele teve que insistir para que eu atendesse aquela merda de ligação? Sabia que era algo ruim, sentia que daria algo errado e minha intuição não tinha falhado daquela vez!
— Fale comigo, . O que aconteceu para te causar esse trauma? — O encarei com a testa franzida.
— Trauma? Do que diabos você está falando, ? Eu não tenho trauma nenhum! — Nunca permitiria que aquele homem me causasse um mal daqueles! Deixá-lo fazer parte de quem eu era, me amedrontar e perseguir mesmo após eu ter seguido em frente e o deixado para trás.
— Dafne disse que pode ser um trauma. — Soltou, após ficar receoso antes de falar. Arqueei minhas sobrancelhas, surpresa. A noite não deve ter sido tão incrível assim, não é mesmo? Para terem tido tempo de cuidar da minha vida, deve ter sido uma porcaria. — Ela é estudante de psicologia, entende do que fala. , acho que você deveria procurar ajuda profissional. — Soltei um riso desacreditado.
— Ah, e você foi lá e contou coisas pessoais minhas para que eu servisse de cobaia para a sua amante. — Sorri irônica. Eu tinha vontade de socar todinho!
— Eu sei que fiz errado, me desculpe. — Neguei com a cabeça. Ele não entendia que eu não queria e nem precisava da sua ajuda? não via que eu não iria falar com ele e nem com ninguém sobre aquilo? — Eu só queria te ajudar.
— Porque você não liga para os seus pais? — Cruzei os braços, não lhe dando tempo de responder. — Não quer falar com eles, não é? Por acaso é traumatizado também? Meu diagnóstico está correto, querido? Porque acho que para palpitar na vida dos outros nem deve precisar de diploma! — Estava me segurando para não aumentar meu tom de voz. — Na próxima vez que for encontrar essa tal de Dafne, preocupe-se apenas em fodê-la, não precisa se lembrar da minha existência. Pelo visto você só se esqueceu de voltar pra casa, não é? Já que naquela noite eu precisei de você e fiquei sozinha com .
— Me desculpe por aquilo, eu fui irresponsável por ter desligado o celular. — Sequei meu rosto, nem um pouco surpresa com aquela revelação. Eu não tinha tentado ligar para naquela noite, mas se tivesse e soubesse que ele tinha desligado o celular ele iria ouvir poucas e boas quando chegasse em casa. — Você sabe muito bem que nossa situação é muito diferente, sabe que o problema com meus pais pode se resolver numa simples conversa.
— Não sei como você algum dia vai conseguir, com uma simples conversa, perdoá-los por todo o desprezo que deram à Grace justo quando ela mais precisou deles. — Funguei, encarando-o chorosa. — Eu não perdoo as coisas que já fizeram contra mim, quem dirá as que alguém possa fazer contra quem eu amo, contra . — Passei meus olhos pela bebê, quietinha e deitada, sentindo o coração doer.
— Eles não fizeram nada contra ela e eu acredito que é quem deveria avaliar isso quando estiver mais velha, já que é algo entre ela e eles.
Estava demorando para o antigo dar as caras, o filhinho de papai que o defendia de tudo e todos como se ele estivesse sempre certo, como se Jeremy fosse uma criança e não entendesse o peso das próprias ações na vida dos outros. Eu não iria ficar vendo-o passar a mão na cabeça dele e ficar quieta.
— Nada, exatamente! Foi isso o que eles fizeram, . vai decidir, sim, quando crescer. Fique tranquilo que eu não vou precisar colocá-la contra ninguém, ela simplesmente vai ver que as únicas pessoas que estiveram com ela, que a criaram desde pequena fomos nós dois. — Era dilacerante saber que iria ter que entender tudo aquilo no futuro, sendo que eu com vinte anos ainda não entendia como existiam seres humanos como eles. — Vai ver que os avós dela a rejeitaram como se ela tivesse morrido com a mãe, vai se dar conta de todo o sacrifício que estamos fazendo agora, do casamento falso e de todo o nosso esforço para fingir que nos amamos só para conseguir a guarda dela.
Olhei de relance para a porta e encontrei Tom parado do lado de fora. Meu coração chegou a errar as batidas e eu engoli em seco, ficando pálida. Jurava que iria desmaiar a qualquer momento.
— T-Tom? — olhou na mesma direção que eu, finalmente se dando conta de que éramos observados. — O que faz aqui... Quanto você ouviu? — Indaguei, exasperada. Se ele contasse para os outros, se alguém acionasse a justiça... Estávamos perdidos!
— O suficiente para saber que vocês são uma farsa. — foi pra cima dele, jogando-o contra a parede e alarmando-me.
, que porra você está fazendo? Largue-o! — Fechei a porta para tentar abafar a confusão que se iniciava.
— Se você contar para alguém eu...
— Solte ele, ! — Puxei seu braço, que estava se forçando contra o pescoço de Tom, vendo que ele o encarava fixamente, vermelho de raiva. — Tom, nos deixe explicar... por favor. — Implorei, fazendo-o assentir.
— Eu vou fazer isso, mas é por você. — O agradeci em sussurros, derramando lágrimas enquanto meu coração batia frenético. — Vamos para a casa de vocês.
— V-Vamos dizer o seguinte: passou mal e você o levou para casa. — Ambos se encararam feio, porém, concordaram com o plano. — Vão na frente enquanto eu explico para o pessoal e pego as coisas na sala. — Secava meu rosto, ainda trêmula.
O plano deu certo porque enquanto os dois saíam porta a fora, o barulho que vinha do quintal indicava que Javier já havia descido e estava distraindo as crianças e o resto das pessoas. Entrei na sala vazia com cuidado para não fazer barulho e peguei tudo que era nosso, deixando a casa ao ouvir a contagem regressiva deles e das outras residências ao redor, que explodiu em fogos de artifício quando o relógio bateu meia noite.
Respirei fundo antes de abrir a porta e entrar em casa, encontrando ambos em lados opostos da sala. Pelo menos não estavam se pegando no soco e respeitaram , que estava deitada no sofá nem imaginando que seu futuro estava nas mãos cirúrgicas de Tom. Se ele nos denunciasse poderíamos até parar na cadeia por forjar um casamento e eu não tinha nem um diploma para ao menos ficar na cela especial do presídio.

's point of view.

chegou ainda chorosa, fazendo-me querer socar Tom por tê-la deixado daquele jeito pelo modo como falou. Ele estava adorando todo aquele poder nas mãos, dava para ver em seus olhos azuis o prazer de ter completamente desesperada nas mãos. Eu não iria implorar para não ser revelado. Tom sabia que se falasse algo, jamais olharia em sua cara de novo e eu não sabia nem o que era capaz de fazer caso ele arruinasse tudo.
Se ele realmente gostasse de o tanto que dizia gostar, iria pensar mil vezes antes de nos delatar. Meu medo era justamente aquele. Dominam gostava de ou só queria levá-la pra cama? Eu ainda apostava todas as minhas fichas na segunda opção, e se estivesse certo, aquele talvez fosse o fim da linha para nós.
— Já que estamos todos aqui, podem começar a falar. — Endireitou-se no sofá, atraindo meu olhar raivoso para sua pose de superioridade.
— Você está adorando isso, não é mesmo? — Ralhei, vendo passar as mãos pelos cabelos, exasperada. — Agora tem à sua disposição e ainda por cima praticamente de joelhos te implorando para não contar.
— Será que dá para conversarmos como seres humanos normais pelo menos uma vez na vida? — Me calei, respirando fundo ao encarar o loiro, que concordou com ela. Afinal de contas, ele estava se fazendo de compreensivo para . — Obrigada por nos deixar explicar antes de decidir o que fazer.
, eu não tenho que decidir nada, não vou contar a ninguém. Eu só quero entender os motivos.
iria para um orfanato, para uma família que talvez não conseguisse criá-la do melhor jeito, iria para longe de nós, sem sequer ter a chance de nos conhecer ou saber quem foi sua mãe. Esse é um motivo bem válido, não? — Sorri irônico, ainda sendo analisado por seus olhos azuis.
— Grace faleceu no parto, como na história que contamos a vocês anteriormente. Nós dois realmente nos odiamos desde que nos conhecemos por conta da minha mãe trabalhar como empregada na residência dos , mas quando vimos que seus avós não iriam querer ficar com ela e que o pai era a pior pessoa do universo, tivemos que fazer alguma coisa!
— E então forjaram um casamento. — Tom concluiu, passando as mãos pelo rosto. — Vocês têm nos enganado desde que chegaram aqui.
— Não havia outra opção. não tinha ninguém e eu também não, nós acompanhamos a gestação de Grace do começo ao fim e estávamos envolvidos demais emocionalmente com a bebê. Quando ela nasceu, órfã, sabíamos que ela tinha que ser nossa.
— Então vocês não estão juntos de verdade. — Que surpresa, não? De tudo o que contamos para Tom, aquela foi a única informação que ele tinha guardado.
— Não. e eu nunca fomos nem amigos, quem dirá um casal. — Passou os olhos de mim para Tom rapidamente.
Eu já tinha me irritado com negando seu envolvimento comigo para as amigas, mas para Tom já era demais! E tudo bem que nós realmente não nos suportávamos, mas depois de tudo que passamos juntos, acho que pelo menos dava para nos rotular como amigos.
— Então você está solteira. — Bufei vendo seus olhos brilharem em excitação. Ué, achei que a graça em fosse o fato de ela ser casada. Se tecnicamente ela estava solteira, o que ele ainda procurava nela?
— Não, ela continua casada. — franziu o cenho com minha fala enquanto Tom me encarou com um sorriso cheio de cinismo nos lábios. — Nós temos um acordo, só podemos sair com pessoas fora do nosso círculo social que não sabem quem somos ou que possam estragar nosso plano, pelo menos até que o divórcio aconteça.
— Eu já disse que não vou contar a ninguém, nem pretendo estragar o plano de vocês. — respirou mais aliviada. — E acho que quem decide se está casada ou não é , não é? — Se virou para a loira, que ficou nervosa com o ultimato.
— Tom, eu...
— Você poderia nos dar licença, ? — Levantei minhas sobrancelhas. — Quero conversar com e queria um pouco de privacidade. — Saí do sofá, pegando e indo para a cozinha em passos largos, respirando fundo para não xingá-lo.
Quem aquele imbecil achava que era para dar ordens na minha casa?
Fui em direção a geladeira, pegando uma garrafinha de cerveja, abrindo-a e tomando um grande gole da bebida amarga e gelada.
Sentei-me próximo da porta, tendo uma pequena visão do que acontecia na sala. O vi sentar ao lado dela no outro sofá, pegando suas mãos devagar. Ele sorria, exibindo aqueles dentes que eu queria quebrar um por um. parecia confusa, porém, também sorria de cabeça baixa, provavelmente envergonhada com as cantadas baratas que aquele idiota devia estar fazendo para ela.
E então ele fez o que eu sabia que faria, levou a mão ao rosto dela, tirando os fios loiros do caminho, e avançou pelo sofá segurando seu queixo e beijando sua boca. respirou fundo, se aproximando mais e levando a mão até o rosto de Tom. Não demorou muito para que ele largasse seu rosto e descesse as mãos pelo corpo dela, agarrando-a forte pela cintura, tentando colar seu corpo ao dela.
— Filho da puta. — Praguejei enojado, ainda sem conseguir tirar os meus olhos dos dois e sentindo meu sangue ferver. Ele tinha conseguido o que queria e era bom eu me acostumar com sua desagradável presença já que Tom continuaria a nos infernizar agora que sabia de tudo e estava ficando com .
Aliás, que mal gosto para homens tinha! Falava de Anne, mas era ainda pior que ela. Primeiro transava com o tal Alex, agora estava toda derretida com Tom. Se ela viesse reclamar para mim de novo que não tinha sido satisfeita na cama... O que estava esperando de Tom, que tinha quarenta anos?
Talvez o Viagra a salvasse daquele pesadelo.
Logo Dormian avançou a mão pela coxa de , subindo por dentro do vestido e fazendo meu coração se acelerar. Além de querer mandar na minha casa, ainda estava se aproveitando de minha esposa em cima do meu sofá! Do que Tom iria se apossar depois? Meu cargo na empresa?
segurou sua mão, afastando-a de si enquanto ela se endireitava no sofá, vermelha e muito sem graça. Ela falou algo com ele, que a beijou de novo, porém, o beijo foi interrompido pela loira, que o olhou nos olhos enquanto verbalizava algo aparentemente sério. Dormian assentiu, levantando-se junto dela, que o abraçou forte, fechando os olhos antes de se soltar dele e o acompanhar até a porta. Como eu queria saber ler lábios para saber do que tanto falavam.
Assim que ouvi o barulho das chaves trancando a casa, me apressei em ir para o canto oposto da cozinha, onde disfarcei que estava olhando para , parado próximo da pia.
— Ai, tudo o que eu precisava. — Adentrou a cozinha e já apanhou a garrafa sobre a mesa, entornando-a.
— Ei, isso é meu! — Praguejei, olhando para seu rosto e vendo que seu batom tinha desaparecido da boca, provavelmente tirado por Tom.
— É só um gole! — Devolveu a cerveja para a mesa, virando-se e pegando uma pra si na geladeira. — Egoísta.
A ignorei, pegando minha cerveja, bebendo mais um pouco e já prevendo que aquela seria apenas a primeira de muitas. Se antes eu já queria me embriagar para esquecer que era Natal por conta de Grace, agora queria beber para ver se a ressaca do dia seguinte conseguiria me fazer esquecer daquela noite desastrosa.
— Do que está rindo? — Observei seu sorrisinho quando ela deu outro gole em sua garrafa.
— Você acabou de beijar Tom por tabela. — Senti meu estômago se revirar e empurrei a cerveja pelo balcão para que ela pegasse para si.
— Beijou ele? — Perguntei, fingindo-me de desentendido. apenas respirou fundo antes de assentir com a cabeça. — Então estão juntos?
— O quê? Não! — Sua indignação me deixou confuso. Tom não era o sonho de consumo dela? — O que há com vocês, homens, afinal? Não é porque eu beijei Tom que vou ficar com ele pra sempre. Ele acabou de me chamar para viajar ao invés de ir com vocês pra Tulum. — Ponderei, ainda encarando-a.
Tudo bem que eu não queria ir para lá casado, mas vê-la ir com Dormian para qualquer outro lugar me dava nos nervos.
— E o que disse a ele?
— Não. — Disse como se fosse óbvio. — Eu não trocaria Tulum por homem nenhum e também não vou passar o ano novo longe de . Acabei de explicar isso a ele, disse que não ficaria com ele por agora porque é minha prioridade. Depois de hoje vou tomar cuidado redobrado com tudo que faço em relação a essa mentira.
— E ele entendeu? Porque se for usar o que sabe sobre nós para te chantagear...
— Sim, , ele entendeu e não vai contar. Tom prometeu que não o faria. — Acreditando em promessas de homens, que decadência! — Ainda bem que foi ele e não outra pessoa a nos pegar no flagra. Não consigo nem imaginar o que poderia acontecer caso fôssemos denunciados.
Fui até a geladeira, abrindo outra cerveja para mim.
— Não, imagine! — Dei de ombros. — Esse Natal com eles tinha tudo para dar errado. Aliás, o Natal em si já era uma tragédia anunciada.
— Está falando de Grace, não é? — Me olhou pesarosa e eu baixei o olhar, reparando em . — Também senti uma saudade imensa dela no dia de hoje. É tão difícil, né? Sei que ela não vai mais voltar, entendi no dia em que a vi dentro daquele caixão, mas quando o Natal chegou ou quando vejo algo que me lembra ela... Meu coração acelera em ansiedade, como se Grace fosse vir para o Natal ou como se ela fosse aparecer no fim de semana de estréia do filme baseado no livro que nós torcemos tanto para sair. É difícil se desapegar assim...
— Às vezes acho que nunca vou conseguir. — Nos olhamos, com o rosto já molhado em lágrimas.
tinha falado tudo que eu sentia com uma facilidade absurda, como se lesse meus pensamentos, mas na verdade ela nem precisaria fazer tanto para saber o que eu estava pensando ou sentindo em relação a minha irmã porque também sentia o mesmo.
— Nós temos que conseguir seguir em frente por . — Olhei para a menininha em meu braço com os olhinhos pesados e respiração lenta. — Esse ano ainda está muito recente, mas a partir do ano que vem podemos viver o Natal do mesmo jeito que ela vivia. Vamos enfeitar tudo, mentir sobre o papai Noel para e fazer biscoitos. Combinado?
A olhei contrariado, recebendo um sorriso reconfortante. Eu sabia que ela tinha razão, mas me sentia estranho fazendo planos para o futuro sem incluir Grace. Não queria esquecê-la, mas também sabia que me segurar a ela estava me machucando. Suspirei, assentindo, e brindou sua garrafa com a minha.
— Feliz Natal, .
Olhei para o relógio na parede da cozinha. Já era uma e meia da manhã.
— Feliz Natal, .


Continua...



Nota da autora: Enfim, o cabaré abriu hahahahaha Sinto que esse capítulo vai ser o favorito de vocês assim como ele se tornou o meu! Enfim, as músicas usadas nesse capítulo maravilhoso foram escolhidas a dedo, primeiro tivemos Beyoncé com Naughty girl e depois a minha preferida da rainha Rihanna, Kiss it better. Não sei se deu pra perceber mas eu amo colocar música nos capítulos. Enfim, espero que tenham gostado e me deixem saber nos comentários. Até o próximo, amigas!



Outras Fanfics:
* It's a Match!
* The Enemy

Nota da Scripter: Mais capítulos e cá estou eu cadelando! Sei nem o que dizer desses dois cada vez mais amorzinhos um com o outro, apenas amo eles! Toda vez que você diz que não gostou de um capítulo eu fico muito triste, Sasa, porque pra mim todos são incríveis e adorei os refrescos das cenas do jogador mesmo com ele sendo mais perna de pau hahahaha. Amo a forma como eles estão trocando carícias naturalmente e os momentos família e permaneço refém dessa fic, é isso!
Enfim, como sempre, sigo extremamente ansiosa e curiosa para os próximos capítulos! ❤

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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