Capítulo 23
Cheguei do trabalho sozinho no carro, já na correria para colocar as coisas no táxi que nos levaria ao aeroporto. Eu tinha trabalhado meio período naquele dia, já não tinha ido por conta do pequeno recesso anual que o Sr. Williams dava da lanchonete para poder passar a virada de ano em outra cidade com a família. Fui à empresa somente para colocar as coisas em ordem e deixei o prédio já praticamente vazio, com apenas a segurança operando normalmente.
Já tínhamos nos despedido de Elisabeta, que não conseguiu nos acompanhar naquela viagem. Era compreensível ela querer passar aquela data do ano com a família e longe do trabalho. Além disso, aqueles três dias de descanso também eram intencionais para que pudéssemos aproveitar e cuidarmos dela sem precisar dos serviços da babá.
Bufei fechando o porta-malas do Siena amarelo enquanto ouvia as vozes detestáveis tagarelarem sem parar. Tom estava parado no meio fio, sorrindo de leve e sem tirar os olhos da boca de , que falava mais do que papagaio com Salém nos braços. Por conta da fuga do bichano, decidiu que Dormian seria uma boa escolha para deixar o gato enquanto estivéssemos fora, visto que da primeira vez o médico cuidou bem dele.
Discutimos aquilo porque era óbvio que poderia tê-lo deixado com Tiffany ou Anne, mas ela insistiu que Fanny não tinha responsabilidade e que o gato de Annelise não se daria bem com Salém. Teria que ser o babaca do Tom então, mais um favor que iria dever a ele e que não me deixava nem um pouco tranquilo.
Eu era homem e nos conhecia o bastante para ter certeza de que uma hora Tom arranjaria um jeito de cobrar por tudo o que lhe fez. Nenhum de nós é altruísta de verdade com uma mulher que estamos a fim de pegar, sempre há segundas ou terceiras intenções e eu sabia que ele tinha milhões delas com , apenas confirmei minhas suspeitas depois de ver o jeito como ele tocou o corpo dela na noite de Natal.
Tom iria vir em busca de mais, eu tinha certeza daquilo.
— Vamos, , não podemos chegar atrasados! — Berrei após terminar de afivelar a cadeirinha de .
— Eu já vou! — Abanou o ar, voltando a se virar para Tom e deixando-me estressado.
enfim deu o gato para o loiro, não antes de beijar e apertar o coitado com força. Eu tinha certeza de que se Salém falasse ele mesmo já teria enxotado dali só para ter a paz de se livrar dela novamente.
Rumamos para o aeroporto em silêncio, com apenas o rádio do carro tocando baixinho e embalando o sono de , que estava prestes a fazer sua primeira viagem internacional e de avião. Esperava que ela se comportasse, as pessoas não costumam ter a noção de que não controlamos o choro dos bebês e fazem reclamações quando eles choram, como se nunca tivessem sido daquele tamanho e já tivessem nascido adultos.
Eu realmente não estava a fim de arranjar briga no voo, então torci para que tudo desse certo.
Esperamos uns minutinhos já no aeroporto e logo pudemos embarcar. O pessoal já tinha ido no dia anterior e, por conta das passagens compradas com intervalo de tempo, só conseguimos para aquela data, então iríamos sozinhos, para o meu mais profundo alívio. A viagem duraria dez horas com apenas uma conexão, mas mesmo assim seria muito estressante ficar preso num avião e ainda por cima me preocupar em alimentar aquela mentira.
— Não vai me dizer que tem medo? — Observei quando respirou fundo, ansiosa, praticamente se fundindo ao assento quando os avisos das comissárias acabaram e fomos instruídos a colocar o cinto de segurança.
— Não é medo, eu só não me sinto confortável. — Era medo sim. Eu a conhecia bem o bastante para saber mesmo que negasse.
Neguei com a cabeça, segurando o riso ao ver sua expressão genuína de pavor quando o avião começou a se mover na pista do aeroporto. Suas mãos apertaram os dois lados do banco enquanto a loira fechou os olhos com força, respirando irregularmente.
— Já vai passar. — Suspirei, sentindo-me incomodado com o modo como aquilo afetava .
Eu nunca tive medo de aviões, tinha praticamente nascido em um de tanto que já voei desde que era do tamanho de , então sempre me compadeci das pessoas que tinham medo. Peguei sua mão, que esmagava o assento, e acariciei o dorso, vendo-a entrelaçar nossos dedos, ainda trêmula.
Quando fomos autorizados a retirar o cinto e tudo se estabilizou, pareceu ficar mais tranquila. dormia com os algodões nos ouvidos, que colocamos para evitar as dores enquanto via um filme qualquer de fones de ouvido. Comemos um pouco e lá se foram três horas de viagem.
A bebê chorou um pouco, conseguimos acalmá-la sem que alguém reclamasse de seu barulho e ficamos acordados durante as primeiras cinco horas de voo, já que teríamos uma conexão em Dallas e faltavam apenas duas horas para pousarmos. Já no outro voo, coloquei meu travesseiro de pescoço, pronto para dormir. Além de estar exausto, eu sabia que ainda teria que dirigir mais uma hora e meia até chegar à casa alugada em Tulum.
— Sabia que estava esquecendo algo. — A loira bateu na própria testa, frustrada.
— Se não tivesse perdido os últimos minutos em casa falando com o idiota do Tom, talvez aproveitasse o tempo para lembrar de pegar suas coisas. — Murmurei, cruzando os braços e relaxando meu corpo na poltrona, já de olhos fechados.
— Eu não tenho culpa se ele é o único que pode ficar com Salém sem matá-lo. Não deixaria meu filho com aquelas desmioladas. — Ralhou, referindo-se a Anne e Tiffany, fazendo-me abrir os olhos para enxergar o cinismo em seu rosto.
— Nós temos literalmente milhares de vizinhos, era só deixar com um deles. São só três dias, não vamos nos mudar para Tulum, mas não! Você tinha que escolher justo ele quando tem Victoria, por exemplo, que tenho certeza que não te negaria ajuda.
— Os filhos dela são alérgicos, seu idiota.
Dei de ombros, nem um pouco a fim de continuar aquela discussão. Eu só queria dormir e já tinha falado o que estava entalado em minha garganta, que era o fato de não ter gostado de ver incluindo Tom em nosso plano. E mais! Lhe dando satisfações de quando voltamos e afins. Não era da conta dele, Dormian já sabia até demais sobre nós dois, qualquer informação a mais era desnecessária.
— Eu estou falando com você, . — Bateu em meu braço, tentando me fazer abrir os olhos. — Não acredito que vai me deixar discutindo sozinha. — Normalmente eu não recusava uma boa e velha briga com , mas eu estava tão cansado que tudo o que queria era apreciar o silêncio, ou pelo menos a ausência da voz dela.
— Vamos dormir, . Esse seu mau humor todo é sono acumulado. — Murmurei, ainda impassível. — Embora eu ache que você sempre está com sono, porque está sempre de mau humor. — Segurei o riso, ouvindo-a bufar ao meu lado.
— Eu não estou confortável. — Fez manha, fazendo-me abrir um dos olhos para ver o bico que se formou em seus lábios, como eu já previa.
Respirei fundo, puxando seu pescoço para perto de meu ombro, onde ela cedeu, encostando-se ali e se aconchegando, finalmente ficando calada. ressonava tranquilamente em seus braços e foi assim que passamos as últimas cinco horas de voo que tínhamos pela frente.
— É calor aqui, né? — andava agoniada pelo grande aeroporto de Cancún, onde desembarcamos quase cinco da manhã. O dia já estava clareando e o sol já aumentava a temperatura. Não estávamos mais na Londres gélida. Ainda bem!
Tirei meu casaco quando pegamos o carro alugado, colocando as malas na Land Rover preta enquanto já colocava a bebê na cadeirinha. Analisei suas roupas e entendi aquele calor todo. Ela usava uma calça jeans junto com um suéter simples escuro e um par de all stars. Estava mal agasalhada para o tempo londrino e muito vestida para o verão de Cancún.
— Se troque no carro. Você vai morrer vestida assim. — Sugeri, vendo-a olhar em volta, constrangida.
O estacionamento estava cheio, afinal, era fim de ano e praticamente todo mundo estava viajando para passar a virada em outros lugares, ainda mais para destinos praianos. Ainda estava com o porta malas aberto, esperando-a se decidir.
— Pegue algo mais leve. Na estrada você se troca, então. — assentiu, abrindo a própria mala e pegando um vestido qualquer para si.
Seguimos viagem e resolveu se trocar quando pegamos uma estrada mais deserta. Foi difícil me concentrar no caminho enquanto ela fazia seus malabarismos no banco de trás. Vi quando tirou o suéter, revelando sua pele pálida fazendo contraste com o sutiã preto que apertava seus seios pequenos, dando-lhe um pouco de volume. Infelizmente não cheguei a ver muita coisa depois disso, já que colocou o vestido antes de se livrar de seus jeans, deixando-me curioso para vê-la de calcinha novamente.
Disfarcei que estava espiando pelo retrovisor quando ela se ajeitou no banco, colocando o cinto de segurança novamente. Liguei o rádio, deixando uma música qualquer rolando.
Era ridículo se esforçar tanto para vê-la seminua, comprou biquinis dias antes de viajarmos e me lembro de ter tirado da minha cabeça a possibilidade de ficar secando . Teria várias mulheres por lá, eu tinha que parar de pensar em daquele jeito, tinha que esquecer meu desejo em seu corpo e aquela viagem iria me ajudar naquilo. Era minha última esperança já que nem mesmo Dafne conseguiu me tirar as lembranças que tinha de em minha cabeça.
Desci do carro, abrindo os portões da enorme casa em que ficaríamos hospedados. Tinha uma vista incrível para o mar, que estava calmo naquela hora da manhã. Estacionei ao lado de um dos veículos ali e me virei, encontrando as duas dormindo pesadamente. tinha que aprender a dirigir. Se ela soubesse, ao menos teríamos revezado o volante e eu não estaria tão quebrado.
— . — Lhe cutuquei diversas vezes, mas ela não acordava de jeito nenhum. Voltei a ligar o carro e buzinei, fazendo-a dar um pulo de susto no banco traseiro. — Nós chegamos — disse, rindo de sua cara amassada e de seus olhos esbugalhados.
— Idiota. — Ralhou, coçando os olhos, ainda sonolenta.
— Você tem é que me agradecer por não entrar e te deixar aí. — revirou os olhos e eu tratei de sair do carro, sentindo minhas costas doerem depois de tanto tempo sentado. Peguei as chaves da casa e apenas tirei do carro a bolsa de , deixando o resto lá dentro para depois. — Vamos, . — Já no topo das escadas, a apressei quando a vi parada com a bebê no colo, encarando o mar como se nunca tivesse visto tanta água num lugar só na vida.
's point of view.
Aquele lugar era...
Eu estava completamente estupefata, nem tinha uma palavra para descrevê-lo. O sol surgia majestoso por cima do mar calmo, o céu era bem azul com algumas nuvens desenhadas, como se fosse uma pintura, era de tirar o fôlego.
Fui interrompida por , que estava estressado, fazendo valer a própria teoria idiota sobre mim. O sono deixava as pessoas daquele jeito, não que o caso dele fosse só sono. era insuportável daquele jeito desde sempre, nem que hibernasse por mil anos iria mudar.
Adentramos a casa silenciosa, iluminada pelo sol que vinha de fora por conta das grandes janelas de vidro da sala de estar. Os móveis da casa eram inteiramente rústicos e simplistas, a natureza parecia fazer parte da casa com as árvores e a vegetação rodeando-a por completo. Todo aquele verde fazia parte da decoração do local e deixava tudo mais aconchegante. Entramos num dos quartos carregando o essencial: e sua bolsa.
se jogou na cama do jeito que estava, apenas preocupando-se em tirar a camisa e os sapatos. Já eu, que estava mais descansada, esperei que a bebê acordasse para mamar, visto que estava quase dando o horário. A deitei entre nós dois, lutando contra o sono que insistia em me pegar. Estava com medo de dormir e acordar em cima da pobrezinha.
chorou quando despertou, com fome, fazendo-me pegá-la e sair do quarto, indo até a cozinha vazia onde preparei seu leite, tentando fazê-la parar de fazer barulho, com medo de acordar o restante da casa tão cedo.
— Bom dia! — Dei um pulo ao ouvir uma voz masculina soar arrastada atrás de mim. Virei-me, tendo a visão de Chace parado do outro lado da cozinha, apenas com uma samba canção azul estampada e com as mãos no rosto, amassado. Que bela visão! Tulum parecia-se muito com o paraíso. — Me desculpe, não queria te assustar. — Sorriu fraco, despertando-me da contagem de gominhos em sua barriga.
O que diabos eu estava fazendo?
— Bom dia! Eu é que peço desculpas por ter te acordado. — Desviei o olhar para enquanto ela pegava o bico da mamadeira, sugando-o desesperada. Estava com fome, a pobrezinha. — não entende muito de horários, apenas abre o berreiro até alguém acordar e alimentá-la. — Ele riu de minha fala, apoiando-se na bancada e encarando-me com seus olhos azuis como o céu de lá fora.
— Sei como é — disse sorrindo, olhando com fascínio para , totalmente alheia à conversa sobre si.
— Tem filhos? — Indaguei, confusa. não tinha me dito nada! Eu não sabia nem se ele era solteiro. sempre fez questão de não me contar absolutamente nada sobre os amigos.
Eu sabia que ele não me queria em sua vida e estava tentando me excluir ao menos de uma parte dela, mas não era justo até porque ele conhecia minhas amigas. Anne até demais, diga-se de passagem.
— Ah, não. — Riu minimamente, negando com a cabeça. — Apenas um sobrinho um ano mais velho que . — Assenti, em compreensão. — Mas acho que estou começando a ter vontade de ser pai, sabe? não para de falar um segundo sequer dela. Devo confessar que me dá uma pontinha de inveja. — Murmurou, sem graça, arrancando um sorriso meu por sua sinceridade. — Desde que meu sobrinho nasceu eu tenho pensado em como deve ser ter nos braços um filho meu.
O encarei por tempo demais, segurando-me para não suspirar em sua frente. Como que aquele homem poderia ser amigo de ?
— Ainda me falta achar alguém disposta a me dar um, é claro. — Deu de ombros, levantando seu olhar para meu rosto.
Ok, um clima estranho estava rolando ali.
— Ah, mas você vai achar. Tenho certeza disso. — Disfarcei, soltando um risinho sem graça.
— Sim, não me parece mais tão impossível. Até , que era a última pessoa que imaginei casando, te achou, não é? — Brincou, ainda encarando-me de um jeito intenso.
Quem era mesmo?
— Sim, não é impossível. — Concordei, sorrindo amarelo. Era bizarro como aquelas alianças de casamento vieram com verdadeiros imãs para confusão. Eu mesma já tinha um homem como Tom na minha cola e estava conversando com Chase que... só estava sendo educado, mas ainda assim nunca olharia pra mim no passado.
— Devo confessar que seu casamento me pegou de surpresa, ainda é surreal vê-lo casado e sendo pai. — Era surreal pra mim também, ainda mais sendo a esposa e mãe da filha dele. era um sonho no meio daquele meu maior pesadelo. — Ele comentou que vocês costumavam ficar na adolescência, porém nunca davam certo. — Confirmei a mentira de . — E agora estão casados. Algumas coisas simplesmente demoram para acontecer, mas quando acontecem...
— Pois é, nós costumávamos nos odiar. — Pelo menos até há alguns minutos atrás, já que a única forma de não brigarmos era quando um de nós estava inconsciente.
— Sério? — Ficou surpreso e ao mesmo tempo confuso. — É engraçado que nunca se relacionou com mulheres que brigavam e questionavam ele, mas foi se casar justo com a que fez tudo isso e mais um pouco. — Zombou, fazendo-me arquear a sobrancelha, lembrando-me das nossas brigas em que saímos nos tapas quando crianças. — Acho que ele sentiu falta de um pouco de emoção na vida.
Ri de sua fala. Era realmente emocionante, a cada segundo que passávamos juntos um de nós preparava em segredo um jeito de matar um ao outro. Era como viver perigosamente.
recusou o restante da mamadeira e eu bocejei ao deixá-la em cima da pia, chamando a atenção de Chace.
— Você deveria dormir um pouco e eu estou aqui te atrapalhando ir descansar.
— Que isso, não atrapalhou. Na verdade me distraiu enquanto a princesa Diana enchia a barriguinha. — Ri, deitando-a em meu peito para esperá-la arrotar. Bocejei novamente. — Mas acho que vou dormir um pouco, sim.
— Boa noite, . — Sorri em agradecimento, voltando para o quarto.
Após fazê-la dormir, resolvi me deitar bem longe dela, agradecendo pela cama ser enorme e me possibilitar evitar machucá-la. Estava destruída pela viagem cansativa, mas apesar de tudo ainda tinha medo de fechar os olhos e cair no mundo aleatório dos sonhos.
Desde a noite de Natal eu vinha tendo alguns pesadelos tão realistas que me faziam pingar de suor e me despertavam na noite, assustada. Era sempre o corredor escuro da casa onde cresci, o que dava para a sala de estar, que ficava toda rubra quando estava amanhecendo por conta da luz do dia refletida na grande cortina vermelha. Eu estava na porta do meu quarto e conseguia ouvir os gritos de minha mãe e a voz serena de meu pai lhe fazendo ameaças e proferindo insultos, como se comentasse sobre a previsão do tempo.
Eu tentava correr até lá, mas não conseguia mover meus pés. Eu o ouvia se aproximar, seus passos vinham em direção ao corredor e eu esperava, aterrorizada, o momento em que veria a silhueta de meu pai surgir em meio a vermelhidão do cômodo. Não conseguia me mexer, não conseguia gritar, nem ao menos fechar os olhos para não vê-lo chegar até mim.
A única coisa que me tirava daquela agonia e me despertava era a voz de me chamando. Ele me cutucava durante a noite, reclamando que eu estava me mexendo demais. Sempre acordava sem entender aqueles sonhos, eram todos iguais, mas eu nunca conseguia chegar na parte em que ele surgia no corredor e me pegaria.
Passei a ter medo de cair no sono, principalmente durante a noite, quando a escuridão tomava nosso quarto e me deixava apreensiva. Felizmente, deixei de ter aquele sonho dias atrás e estava dormindo mais tranquila desde então.
Despertei um tempo depois com o sol invadindo o quarto vazio, já que não havia sinal de nem de . Me levantei, vendo nossas malas em um dos cantos do quarto, e tomei um banho rápido, indecisa se colocava o biquíni ou não. Por via das dúvidas, vesti um dos que comprei, encarando-me receosa no espelho que tinha ali.
Era um vermelho vivo que eu tinha escolhido apenas para não ter que levar um modelo super cavado que Anne queria que eu comprasse. Era um top reto na parte de cima, o que estava de bom tamanho para mim, já que não tinha seios grandes para exibir nos modelos menores, e a calcinha era normal, mostrando todas as minhas celulites quando me virei de costas para olhar. Suspirei frustrada. Eu não iria ter coragem de sair daquele jeito na frente dos amigos de . Não estava feio, mas ao mesmo tempo não me senti confortável.
Vesti uma saída de praia branca e simples, fresquinha, assim não morreria de calor com ela lá fora. Finalmente deixei o quarto e encontrei a casa vazia. Ouvi barulhos do lado de fora e segui em direção à onde eles vinham, em um dos corredores brancos da casa que dava para os fundos. Estavam todos lá, os três homens na piscina de borda infinita, que dava uma vista incrível para a praia ao longe. Encarei aquela paisagem, mais um vez sem palavras.
— Olhe só, sua bela adormecida acordou. — A mulher de cabelos escuros e curtos bateu de leve em com o pano de prato que tinha nas mãos, vindo até mim e pegando-me de surpresa pelo abraço que me deu. — Bom dia, . Sou Suzanne, namorada do panaca do Jack. — Olhei perdida para . Quem diabos era Jack? — Esta é Caroline, minha amiga. — A ruiva veio até mim, sorrindo simpática e abraçando-me.
— é uma graça. — Ela comentou, fazendo-me olhar para a bebê vestida apenas com uma calcinha e fralda, pelo calor que fazia. Lhe agradeci, indo até sob o olhar dos amigos dele na piscina.
— Bom dia. — Selei nossos lábios, pegando a bebê de seus braços e beijando sua barriguinha antes de apoiá-la em meu braço. se viu livre da responsabilidade e logo se livrou de suas roupas, se jogou na piscina junto dos amigos dele, que começaram a jogar água em sua direção por pura implicância. — Caramba, eles acordam animados! — Murmurei risonha, vendo engolir metade da água da piscina.
Se ele estava triste, então eu estava feliz.
— Já, já nos juntamos a eles. — Suzanne comentou, do meu lado. — Estamos só terminando de preparar o almoço para ir para a praia bem alimentados.
— Não está cedo demais para falar em almoço? — Ri, confusa.
— Temos que sair cedo e alimentados, aproveitar o dia. Quanto mais cedo irmos, mais tempo teremos.
— Ih, já baixou a mãezona em você, amiga. — Caroline zombou, fazendo-me perceber que ambas já estavam com a parte de cima do biquíni à mostra, vestindo apenas saias bem parecidas que só mudavam as cores. — Lorenzo não está aqui, sabe que pode relaxar.
— vai me entender agora, mas acho que nunca vamos relaxar quando o assunto é nossos filhos, não importa o quão longe eles estejam.
— Tem filhos? — A observei direito. Elas pareciam ser mais velhas que eu, mesmo, só que não conseguia adivinhar suas idades.
— Um só. Um menino de quatro anos. — Assenti, com compreensão, vendo seus olhos claros brilharem. — Está com o pai. Passou o Natal comigo e tive que dividi-lo com ele, deixando-o no ano novo. — Suspirei, encarando-a cabisbaixa.
Imaginei como seria com quando e eu nos divorciássemos, seria tão estranho passar datas especiais longe dela. Será que quando arranjasse alguma namorada eu teria medo de perder meu posto de mãe? Parei de pensar um pouco em mim e imaginei sua cabeça enquanto crescia, será que ela entenderia tudo o que fizemos para tê-la conosco? Sentiria toda a angústia que os filhos de pais separados sentiam?
— Ele deve estar se divertindo horrores, Su. Não se preocupe tanto com Lorenzo, sabe que Damien é um ótimo pai. — A ruiva a abraçou de lado, consolando-a.
— Eu sei, amiga, mas ainda assim eu morro de saudade. — Riu fraco e a acompanhamos na risada. Ela logo mudou de assunto, voltando a rondar a panela de comida na pequena cozinha instalada na área da piscina.
Tomei meu café da manhã com a bebê em meus braços, ficando com ela por um tempo até que as meninas terminaram o preparo do almoço. Suzanne se livrou de sua saia e caiu na piscina, jogando água pra todo lado e arrancando risos dos demais.
— Vem, ! — A morena berrou após recuperar o fôlego e emergir da água. Neguei com a cabeça, ainda com nos braços. Eu queria muito entrar, estava morta de calor, mas ao mesmo tempo estava com vergonha.
— Pode ir, eu fico com ela. — Caroline surgiu ao meu lado, sorrindo solícita. Neguei por educação, afinal, eu era a mãe da bebê. Não era justo impedi-la de se divertir na piscina para ficar com minha filha. — É sério, , eu não sou muito fã de piscinas, prefiro nadar no mar. Pode me dar ela. — Lhe entreguei a menina, ainda receosa, e fui em direção a piscina, já descalça e soltando meus cabelos.
A madeira do chão estava pegando fogo, por isso acelerei meus passos, logo entrando devagar na água fria. Me arrepiei dos pés a cabeça com o contato com a temperatura, bem diferente do exterior da piscina. Respirava fundo enquanto entrava cada vez mais, sentindo vontade de desistir de fazê-lo.
— Entra de uma vez só. — Chace aconselhou, ainda observando-me sofrer ao me adaptar com a diferença de temperatura.
— Tá uma delícia! — Su exclamou, já agarrada ao namorado. — Acho que se esqueceu de tirar a saída de praia. — Comentou, estranhando, após me ver entrar de uma vez, afundando-me e logo subindo de volta à superfície.
Quando abri os olhos irritados, já pude ver emergindo após mergulhar até mim.
— Não esqueci não, estou bem assim. — Lhe sorri amarelo, vendo-a assentir em compreensão enquanto via me puxar para perto, levando-me consigo para a parte mais funda.
— Não. — Me soltei dele, vendo-o me encarar confuso. — É que eu não sei nadar e essa parte não me dá pé. — Expliquei encolhendo os ombros, sem graça.
Eu não sabia fazer nada. Nem nadar, nem dirigir direito, tinha medo de altura, de velocidade, de voar de avião. Me senti uma completa idiota ali.
— Por que está vestida dentro da piscina? — Seus olhos verdes me analisaram, estranhando a roupa molhada, colada em meu corpo. Olhei para o lado, onde Suzanne passou por nós nadando e exibindo seu corpo perfeito. Nem parecia que ela já era mãe. — Não me diga que está com vergonha do seu corpo. — Riu desacreditado, dando-me vontade de socá-lo por achar uma insegurança minha engraçada.
— Olhe para elas, ! Suzanne já é mãe e não tem nenhuma celulite sequer! E nem vou falar dos seios de Caroline. — Ele me encarou com a testa franzida. — Não me sinto confortável me expondo diante deles.
— Não está planejando ficar vestida a viagem toda, está? — Ponderei, sem saber a resposta. Eu queria, mas não sabia se iria pegar bem. Uma louca vestida em meio a uma praia inteira com roupas de banho, como pessoas normais. — , essa é a maior bobagem que eu já vi na vida! — Seus dedos foram até o nó que dei na saída de praia, desfazendo-o com facilidade.
— ! — Protestei, sendo ignorada por ele, que me envolveu em seus braços, colando seu corpo no meu por debaixo da água.
— Deixe de bobagem, . — Sua mão grande passeou pelos meus quadris, fazendo-me arregalar os olhos com aquele toque inesperado. — Você tem uma bunda linda. — Apertou ambos os glúteos, fazendo-me ofegar próxima de seu ouvido.
logo deslizou o tecido encharcado pelos meus ombros, despindo-me com meu consentimento. Tentei ficar tranquila quando vi que a tinha jogado numa das bordas da piscina e estava longe para que eu pudesse me esticar e pegá-la caso ainda quisesse me esconder debaixo dos panos.
— , o que está fazendo... — Não tive tempo de terminar minha frase, pois ele já me puxava pela piscina, colocando minhas coxas em volta de seu quadril. Agarrei-me em seu corpo quando vi que já não tinha mais como colocar meus pés no piso da piscina. — Eu vou te matar. — Disse entredentes, fazendo-o rir.
— Você é muito medrosa para sua idade, sabia? — Fiquei ultrajada, não ignorando o fato de ter me chamado de velha.
— Eu não tenho culpa se não cresci em família rica com acesso a piscinas, aviões e viagens. — revirou os olhos verdes em pura implicância. — É tudo muito novo para mim. — Acho que por ter crescido com tudo aquilo tão longe da minha realidade nunca me preocupei em me desfazer de meus medos, afinal, eram situações que eu achava que nunca viveria.
— Eu sei. — O olhei desconfiada, estava mesmo sendo compreensivo? — Está gostando?
Do quê? Do meu corpo colado ao seu enquanto não vestimos nada além de roupas de banho ou da viagem em si?
Assenti, olhando em volta, ainda com os braços envolvendo seu pescoço. Aquela resposta valia para as duas perguntas? Bom, meu cérebro insistia em negar, mas meu corpo deixava explícito o quanto estava aproveitando aquele momento totalmente atípico entre nós. Principalmente quando deitei minha cabeça em seu ombro, ainda sendo abraçada por ele, que passou a correr a ponta dos dedos em minhas costas, esbarrando no nó do meu biquíni.
A água se movia tranquilamente e de repente me vi totalmente alheia ao barulho da conversa do pessoal próximo de nós. Era esquisito me sentir tão bem ao lado dele, mas também era bom dar uma trégua do estresse dos últimos tempos. Relaxar daquele jeito era tudo o que eu precisava.
— Quem diria que se odiavam, não é? — Ouvimos a voz de Chace e nos dispersamos.
— A gente ainda se odeia às vezes. — Sempre, para falar a verdade. Ele riu junto de mim enquanto continuou sério. — O que foi?
— Como ele sabe disso?
— Nós conversamos hoje cedo. — Comentei casualmente, não vendo sua expressão mudar. — chorou com fome, a levei para a cozinha para não te acordar e preparei a mamadeira dela. Ele apareceu por lá e conversamos um pouco.
— E falaram sobre o quê? — Franzi o cenho diante daquela pergunta.
— Sei lá, ! Sobre nós dois, sobre ... — Dei de ombros, não entendendo seu interesse naquilo. — Ele estava me falando que queria ser pai. Coisas assim.
encarou o amigo pelas costas antes de nadar para mais longe do pessoal, comigo ainda agarrada nele.
— O que foi? — Questionei sua cara fechada.
— Nada, eu só não gostei de saber que andaram conversando sobre isso. — A cada vez que abria a boca, menos eu entendia seu comportamento.
— Não vai me dizer que acha que eu dei em cima dele! — Sussurrei, enfezada. Pronto! Os cinco minutos da paz selada entre nós já tinha acabado. Eu não tinha feito nada, ele quem tinha puxado assunto comigo.
— Não estou me referindo a você. — ainda se virava, observando o amigo de longe e deixando-me completamente boquiaberta com aquela insinuação. Não era possível que ele estivesse dando em cima de mim! Eu era esposa do melhor amigo dele! — Conheço Chace há anos, ele nunca comentou que queria ser pai tão cedo.
— Vai ver ele mudou de ideia e não comentou nada com você. — Dei de ombros, tentando contornar a situação que achei que tinha acabado de criar. Longe de mim querer incitar uma briga entre os dois.
— É, vai ver ele se esqueceu. — Sorriu irônico, beijando-me sem aviso prévio após encarar o amigo mais uma vez e trocar olhares com ele.
O correspondi, sendo prensada na parede da piscina sem ao menos me dar conta de que estávamos tão perto da borda. Dei passagem para sua língua e, de pálpebras pesadas, correspondi ao beijo calmo, sentindo suas mãos passearem pelas minhas coxas e seu membro duro sendo forçado contra minha intimidade, fazendo-me arfar ao pé de seu ouvido quando desgrudou a boca da minha e migrou seus beijos molhados pelo meu rosto em direção a minha orelha.
— ... — Suspirei, sentindo-o avançar o quadril no meu novamente, levando-me à loucura. — Eles estão olhando... — Ainda trêmula, o vi se afastar minimamente, virando-se em direção aos amigos.
— Arranjem um quarto. — Jack jogou água em nossa direção, arrancando risos nossos. Eu queria enfiar minha cara no ralo da piscina e ser sugada para onde quer que fosse, menos ali, com todos rindo maliciosos de nós.
— Vai se fuder. — xingou risonho, apenas deixando-os mais inspirados em jogar água em nós.
nos puxou para o fundo da piscina e me levou junto de si até outro ponto dela, fugindo da guerra de água que havia começado. Emergimos ofegantes, ainda rindo. Logo começou a chorar, provavelmente assustada com a algazarra que fizemos.
me levou até onde me dava pé e, após selar nossos lábios, deixei a água, indo atrás de uma toalha rápido, evitando olhar em volta para ver se reparavam em minhas celulites. Assim que me sequei e me cobri, peguei a pequena, acalmando-a.
— Vamos almoçar, pessoal. Andem! — Suzanne também deixou a piscina, fazendo todo mundo sair contra a própria vontade para comer, como uma boa mãe faria.
Quando estávamos à mesa, finalmente fui apresentada aos outros. Jack, o namorado de Suzanne, Nicholas, que pediu para ser chamado apenas de Nick, e Jacob, o mais novo do bando, que estava dando ideia em Caroline desde que se sentou ao lado dela na mesa. Chace eu já conhecia e não parecia muito a fim de falar com o amigo naquele momento, porém, não protestou quando ele pegou de meus braços, brincando com a bebê após terminar de comer.
Acabei me dando muito bem com todo mundo, era um grupo animado e cheio de conversas paralelas, porém, todo mundo parecia se entender bem no meio daquela bagunça. Até mesmo , que não estava habituada com tanta gente em volta de si, estava se adaptando aos amigos do pai.
Pegamos nossas coisas um tempo depois de terminarmos de almoçar e rumamos para a praia enquanto meu coração batia, ansioso. Era minha segunda vez na vida vendo o mar de tão perto e mesmo assim o mar azul cristalino de Tulum jamais mereceria ser comparado às águas frias e escuras da praia que visitei na Inglaterra.
Nos hospedamos em uma das tendas de frente para o mar que era cortesia do bar em que os meninos pediram bebidas e de onde consumiríamos alguns petiscos ao longo do dia. Segundo Su, o itinerário daquele dia seria apenas curtir a praia, porém, nos próximos dois dias já tinha coisas planejadas em mente. Não era sua primeira vez ali e a morena parecia conhecer bem Tulum, o que me dava cem por cento de confiança no que ela dizia e eu com certeza iria pegar suas dicas, quem sabe até seguir seu itinerário. Eu estava completamente fascinada por aquele lugar. Quanto mais eu explorasse, melhor!
— ! — Chamei a bebê, que olhou para a câmera do meu celular no momento exato em que eu tiraria sua foto.
Por ser muito pequena, não tivemos coragem de colocá-la na água do mar por medo das ondas que atingiam até mesmo a região mais rasa da praia. Tínhamos levado uma pequena piscina inflável para refrescá-la enquanto a segurava vestida no pequeno maiô que eu tinha comprado combinando com seu chapeuzinho para protegê-la do sol. Eu fazia praticamente um book fotográfico da menininha dos olhos verdes, que parecia estar amando ficar na água, batendo as mãozinhas de vez em quando.
— Não vão dar um mergulho? Eu olho ela pra vocês. — Encarei , sem graça. Não queria dar trabalho para ninguém. — Andem, passem protetor solar e vão se divertir um pouco!
Fiz o que Suzanne me instruiu e peguei o protetor, enchendo minha mão do produto esbranquiçado, pronta para me besuntar, já que eu estava mais branca que a areia macia abaixo de meus pés.
— Passa nas minhas costas, por favor? — Aproveitei o que tinha em mãos e espalhei o produto em , reparando como sempre em seus ombros largos que eu particularmente achava muito sexy.
Massageei sua pele clara enquanto ele, sentado, passava protetor no próprio peito e braços, fazendo-me lamentar por não poder espalhar por aquela barriga, que não era definida como a de Chace, mas ainda assim era maravilhosa, assim como seu peito tatuado.
Assim que terminei, deixei seu corpo quente, tratando de voltar ao meu e passando por meu tronco e braços. Levei o décimo quinto susto só naquele dia ao sentir as mãos melecadas de entrando em contato com minha pele, deslizando firme pela parte detrás das minhas coxas e subindo conforme ele espalhava.
— Dá pra tirar as mãos da minha bunda? — Exclamei ultrajada, ouvido Suzanne e Jack rindo, deitados na tenda com . — Eu alcanço ela, preciso de ajuda com minhas costas.
— Não consigo evitar, amor. — Arqueou as sobrancelhas, fazendo graça para o casal, que se divertia às nossas custas. realmente me ajudou com as costas, suas mãos grandes passearam pelo meu colo, nuca e quadris, e eu me permiti até fechar os olhos sob seu toque suave.
Comecei a me arrepender de ter ido para o mar junto de no momento em que ele me agarrou, mergulhando junto de mim mesmo sabendo que eu não sabia nadar e muito menos era habituada com o mar. Tentei sair algumas vezes, porém, ele sempre me puxava de volta, alegando que eu tinha que perder o medo e que não havia nada demais ali, que ele estava do meu lado o tempo todo caso algo acontecesse.
Como confiar em alguém que está o tempo todo tentando te matar afogado?
Quando eu finalmente saía da água, sentindo o peso do mar em minhas pernas que andavam contra ele, uma onda forte me derrubou, fazendo-me afundar de uma só vez. Fechei meus olhos com força, sentindo o desespero me tomar enquanto era levada pela correnteza.
A vida da gente realmente passa pela nossa frente quando estamos prestes a morrer e eu percebi que a minha era muito chata e que as únicas coisas diferentes que estava vivendo foi depois de ter me casado com . Dinheiro realmente trazia felicidade, quem dizia que não estava sendo um puta hipócrita. Não era justo morrer afogada sem ao menos completar vinte e quatro horas em Tulum.
— Te peguei! — Ouvi a voz e me agarrei a ele, sendo carregada para fora do mar. — Você está bem? Eu te disse para não se afastar, !
— Eu sei! — Tossia, ofegante, enquanto os outros se aglomeravam em volta de mim, apenas aumentando minha sensação de pânico. — Eu só queria sair, estava com medo!
— Se não tivesse puxado ela pro fundo, isso não teria acontecido. — Chace murmurou, atraindo o olhar raivoso de .
— Eu estava segurando ela o tempo todo. Acha que eu queria que minha mulher se afogasse? — Suas cordas vocais se destacaram em seu pescoço, fazendo todos se entreolharem, um pouco pasmos com aquela discussão desnecessária.
— Gente, eu estou bem! A culpa foi minha, eu que me soltei dele e tentei sair sem avisar. — Já mais calma, me levantei da areia, batendo as mãos na bunda a fim de me limpar.
— Se não sabe nadar, vamos então visitar os cenotes! — Suzanne se pronunciou, ajudando-me a diminuir a tensão. — Tinha deixado para amanhã, mas podemos ir hoje. Você vai adorar, , as águas são bem mais tranquilas. — Me abraçou de lado, levando-me para a cabana.
Sorri amarelo, já temendo ter que entrar na água novamente. Tinha ficado tão assustada que achava que nem mesmo na piscina eu entraria mais. Se antes eu já tinha medo, depois de quase ter me afogado meu pavor à água somente triplicou.
No fim das contas apenas eu, , Suzanne e Jack fomos para os tais cenotes, deixando os solteiros na praia, aproveitando todos os turistas que ali haviam. Senti tanta saudade de ser solteira e o pior de tudo era saber que nem tinha aproveitado minha solteirice indo à praia ou aproveitando o verão com todos aqueles caras gatos sem camisa.
Combinamos de nos encontrar mais tarde na casa, onde nos arrumaríamos para ir jantar em um dos restaurantes à beira mar. Pelo que ouvi dizer, a noite ali era animada e não acabava tão cedo.
Chamamos um carro para que fôssemos até lá e vi que a maioria das pessoas ia de bicicleta, mas com não seria possível. Queria poder pedalar de novo, sentia tanta falta depois de ter perdido minha Amy para aquele acidente ridículo. Quando chegamos havia uma pequena fila para entrar, porém, era apenas um grupo de pessoas que logo estava de saída. Pagamos uma pequena taxa de entrada e finalmente pudemos adentrar a grandiosa caverna. Segundo o funcionário, o nome do cenote era Suytun, que significava Centro de pedra. Ao passarmos pela grande passarela rochosa e contemplarmos o local inteiro, dava para saber o motivo daquele nome.
Havia apenas uma abertura no teto da caverna, repleto de estalactites que mais pareciam pingos de água em forma de rochas descendo sobre nós. Através do buraco vinha a luz do sol, tão forte que conseguia iluminar o local inteiro apenas com um simples feixe de luz. A passarela ia até por cima das águas azuis, onde viviam alguns peixes de água doce.
Jack e Suzanne deram um mergulho rápido, descrevendo as águas cristalinas como frias demais, porém, pareceram aproveitar muito a experiência. Enquanto isso, eu, e apenas ficamos olhando em volta, boquiabertos, feito bobos.
— Me deixe tirar uma foto de vocês. — Assenti, me posicionando abaixo do feixe de luz e sorrindo verdadeiramente por estar explodindo de felicidade, de tanto que estava amando aquele lugar.
Fiquei feliz de estarmos tirando fotos, afinal, nem que eu descrevesse Tulum nos mínimos detalhes Fanny e Anne iriam conseguir compreender ou imaginar a magnitude da natureza em sua mais bela forma.
veio até mim, mostrando-me o resultado da foto e fazendo-me sorrir abertamente ao notar a carinha de . A câmera tinha captado tudo o que meus olhos viam numa riqueza de detalhes impressionante e eu suspirei, ainda incrédula com a perfeição daquela caverna. Parecia um cenário de um filme de fantasia.
— Olhe esse lugar... — Reparei o casal nadando e logo depois meus olhos foram até os verdes de , que já estavam focados em mim há um tempo, fazendo-me ficar envergonhada com a intensidade de seu olhar. — Muito obrigada por isso, eu não tenho mais nem palavras para agradecer. Talvez eu nunca conheceria esse paraíso se não fosse por você.
O senti se aproximar mais ainda na passarela, chegando tão perto que me permitiu sentir sua respiração batendo contra meu rosto. Vidrada em seus lábios, fechei meus olhos, permitindo-me senti-lo tão próximo de mim e esperando até que quebrasse de vez qualquer distância entre nós e me beijasse logo. Porque, apesar de ter sido ele quem se aproximou e tomou iniciativa, eu ainda tinha receio de ser um joguinho idiota vindo dele para depois jogar na minha cara que eu o queria.
Querer eu até queria, mas não era para ficar tão explícito daquele jeito.
Quando ele finalmente colou nossos lábios, envolvi sua nuca com minha mão livre, tentando trazê-lo mais para perto. ainda estava entre nós, lembrando-nos de tomar cuidado para não esmagá-la e também nos alertando silenciosamente de que aquilo era um erro terrível. Não deveríamos nos envolver daquele jeito, deixar o desejo nos sucumbir.
Mas que erro delicioso! Sua língua enroscava-se na minha com calma, como da última vez na piscina, só que daquela vez estávamos longe e eu senti falta de ter seu peito colado ao meu para saber o quão rápido seu coração batia, porque o meu eu já sentia quase saindo pela boca.
Um flash nos atingiu, dando-me um susto e afastando , que ria da minha situação enquanto Jack ainda tinha o próprio celular nas mãos.
— Parem de se agarrar e façam uma pose com a bebê. — Suzanne berrou, ainda arrancando-nos sorrisos sem graça enquanto fazíamos o que nos foi mandado por livre e espontânea pressão.
— Uma família feliz na lua de mel. — Jack caçoou, fazendo-me lembrar de que ele tinha razão, nós não tínhamos tido lua de mel. Não que tivéssemos pensado naquilo quando nos casamos, há três meses atrás. e eu ainda queríamos nos matar.
Algumas coisas mudaram, ultimamente queríamos nos matar de prazer... Mas assim como a nossa primeira vontade, não iria acontecer.
Ao sairmos dali, fomos em direção aos outros vários cenotes que haviam por Tulum, um mais lindo que o outro, fazendo-me encher a galeria do celular de tantas fotos tiradas. Daquela vez paramos em um aberto, sem cavernas e apenas com a luz do sol entrando em contato conosco. Havia algumas pedras que possibilitavam que eu entrasse na água refrescante e até ficasse com em meu colo para banhá-la também. Os outros três me abandonaram e foram mergulhar nas regiões mais fundas da água cristalina.
Ficamos a tarde toda daquele jeito, conhecendo a cidade e as histórias do povo maia que cada pedacinho ali contava. Não precisávamos de guias quando tínhamos Su conosco, aquela mulher era muito inteligente, além de linda e simpática. Jack e ela faziam um casal incrível! Ele prestava atenção em tudo o que ela explicava com o maior interesse do mundo, era atencioso e carinhoso, inclusive fazia muitos planos de revisitar cada lugar que passamos com Lorenzo, o filho dela.
's point of view.
— E ai, cara, como foi o passeio de casais? — Parei meu caminho até o quarto que dividia com , deixando-a com adormecida nos braços. — Você fez falta, hein... — Soltei um riso sem graça. Eu queria muito ter ficado a tarde toda na praia pegando várias, mas por incrível que poderia parecer...
— Foi bom... — Chace me olhou desconfiado. — É sério, cara, foi ótimo. Conhecemos mais a cidade, nadamos um pouco... Até entrou na água um pouquinho.
— Sobre mais cedo... Me desculpe, não quis insinuar nada. — Se levantou do sofá, que estava jogado, vindo me abraçar.
Bati nas suas costas vermelhas fazendo-o reclamar de dor. O bom de ficar durante a viagem com duas mães por perto era que eu nunca me esquecia de retocar o protetor solar. Aliás, tinha acabado de descobrir que precisava retocar.
— Tudo bem, cara. — O desculpei genuinamente, apesar de não ter me esquecido da sensação que tive mais cedo em relação a ele conversar com . Ele era meu melhor amigo, talvez ainda não estivesse acostumado a me ver casado como sempre fazia questão de destacar, sempre impressionado com o fato de eu ter ido primeiro. — Não se preocupe tanto com , ela é daquele jeitinho mesmo, assustada, meio atrapalhada, nós nem estávamos tão no fundo. — Gargalhei junto dele, me lembrando da cena.
Pelo menos serviu para eu rir um pouco da cara dela, que quase perdeu a parte de cima do biquíni naquela brincadeira toda de se afogar no raso.
— Vamos, vamos. Quero chegar cedo no restaurante para jantar em paz antes que comece a música. — Su apareceu com suas toalhas molhadas, indo estendê-las do lado de fora da casa.
— Não gosta de baladas?
— Eu adoro, por isso estou falando para chegarmos cedo. Depois do jantar eu vou beber até esquecer meu nome. — A morena respondeu Chace, refazendo o caminho até os quartos e arrancando risadas de nós.
— Esse é o plano. — Ele murmurou, ainda risonho.
— Não vai tomar banho? Está cheio de areia ainda. — Ri do seu estado. Seus cabelos estavam duros pelo sal do mar e ele estava praticamente à milanesa, não se importando em sujar o sofá da sala.
— Só tem quatro banheiros na casa, estou esperando minha vez.
— Vá tomar banho lá no quarto, . Ainda vai dar banho na bebê antes de começarmos a nos arrumar. — Sugeri, sendo seguido por Chace até o quarto.
murmurava uma música infantil qualquer enquanto segurava a bebê dentro da banheira de plástico, lavando seu cabelinho com seu shampoo que tinha um cheiro gostoso de bebê. Ela nos espiou por cima do ombro e viu quando Chace sorriu amarelo em sua direção, fechando-se no nosso banheiro.
— Cuidado com meu vestido. — Disse ainda calma, com as atenções voltadas a .
Coloquei meu celular no carregador já que a bateria tinha morrido no meio da tarde. Fui até elas, fazendo uma pequena festa com a bebê na água. Ela era tão inteligente, já batia as mãozinhas e nos molhava enquanto soltava seus gritinhos agudos. Beijei seu pescocinho, fazendo-a encolher o ombro e sorrir.
— Vai tomar seu banho, ainda vou ter que hidratar o cabelo. — me apressou assim que vimos Chace deixar o banheiro apenas com uma toalha enrolada na cintura. deu uma espiadinha de leve no corpo dele enquanto ele se esgueirava para fora de nossas vistas, agradecendo pela gentileza que me arrependi de ter lhe dado.
Assim que saí do banho, vesti roupas leves já que estava muito calor e o ambiente era mais descontraído, sentei-me na cama olhando para que pudesse se arrumar.
Trocava mensagens com Dafne contando como estava sendo a viagem e tentando me esquivar de seu assunto preferido: Meu casamento. Lhe disse que estava indo tudo bem e mandei algumas fotos minhas que tinha tirado, estava falando com ela desde o avião, quando eu não tinha nada pra fazer para passar o tempo. Já era madrugada em Londres pelo fuso de cinco horas de diferença, e como era uma sexta a noite Dafne estava disponível para jogar conversa fora. Ela me enviou uma foto que ainda carregava por conta do sinal ruim da internet.
saiu do banheiro já vestida num vestido longo e estampado, que continha duas fendas nas coxas. Seus cabelos loiros lhe tapavam as costas.
Desviei meu olhar para a tela do celular vendo o par de seios de Dafne sorrirem para mim naquele nude maravilhoso que ela havia acabado de me enviar.
— , amarra aqui pra mim, fazendo o favor. — afastou os cabelos longos e úmidos das costas, revelando seu tronco inteiro nu. Mordi meu lábio ao me deparar com aquela pele macia enquanto ainda segurava as pontas do tecido, apoiando uma das mãos nos seios para que eles não ficassem à mostra.
Seria muita sem-vergonhice dizer que eu estava torcendo para que o tecido escapasse de sua mão?
Larguei o celular, esquecendo-me completamente de responder Dafne, e fui até ainda sem entender o motivo do meu nervosismo ao apenas lhe fazer um favor simples. No fundo eu estava com medo de não me segurar e puxá-la para um beijo, como fiz mais cedo no primeiro lugar que visitamos.
— Eu fico com medo de não amarrar direito e soltar. — Sorriu, olhando-me pelo espelho. Engoli a seco, fazendo o que ela me pediu e pensando o que diabos estava acontecendo comigo. Porque não estava fazendo absolutamente nada e mesmo assim eu estava louco de vontade de agarrá-la.
Assim que terminei, peguei sua mão que segurava seus cabelos, puxando-a e soltando os fios cheirosos para suas costas, franziu o cenho com aquela minha atitude, eu vi pelo espelho quando ela tentou se virar para me perguntar o motivo de eu estar com as mãos em seus cabelos macios. A impedi de fazê-lo, deslizando as pontas dos meus dedos pela sua pele exposta, contornando seu tronco até chegar em sua cintura e segurá-la ali com firmeza. Se se virasse para me perguntar o que eu estava fazendo, não saberia responder.
Talvez, seguindo meus instintos?
O calor humano que emanava do corpo dela era completamente agradável ao toque, senti quando suspirou em meus braços, levando as mãos até as minhas repousadas no próprio corpo enquanto já virava o pescoço fino, deixando-o livre para que eu pudesse distribuir beijos na região, e foi o que eu fiz após umedecer meus lábios, arrancando-lhe mais suspiros. chegou a fechar os olhos, ficando totalmente entregue a mim, que se não fosse pela situação em si, faria questão de desamarrar aquela droga de vestido e jogá-la na cama atrás de nós.
— Me beija... — O sussurro sôfrego saiu de sua boca enquanto eu ainda era privado de olhar para dentro daqueles olhos azuis. Aproximei meu rosto da lateral do seu, querendo alcançar seus lábios o quanto antes e fazer o que ela tinha me pedido com tanta sede.
— , você... — Respirei fundo, soltando-a quando a cabeleira ruiva de Caroline apareceu na porta. — Me desculpa interromper, é que Suzanne está te chamando para se arrumar lá com a gente. — Seu rosto ganhou uma colocação vermelha e me encarou, ainda atordoada antes de assentir e deixar o quarto junto dela.
Sentei-me na beira da cama levando as mãos aos cabelos, puxando-os num claro sinal de nervosismo. O que estava acontecendo comigo? Aquela viagem era para acabar com aquele desejo em olhando outras mulheres mais atraentes que ela, e não para saciar minha vontade de pegá-la.
Peguei , sua bolsa e meu celular, indo para a sala e encontrando os outros rapazes, juntando-me a eles na espera das noivas enfurnadas no quarto de Suzanne. Conversamos um pouco e finalmente as três deram o ar da graça, fazendo-me repensar meu pensamento de minutos atrás, quando achei que ir para Tulum me faria prestar atenção em outras mulheres e me esquecer completamente do meu desejo em .
Mas, como fazer aquilo se ela ainda era a mais linda em meio às outras? Sério, eu já a achava gostosa antes, mas parecia que o sol de Cancún tinha feito muito bem a ela. Seu rosto corado pelo bronzeado estava com pouca maquiagem, mas mesmo maquiada sua pele brilhava, o sorriso aberto e os olhos mais azuis que o normal. Seus cabelos foram presos num penteado que ainda os deixavam um pouco soltos atrás, revelando os ombros desnudos pelo vestido frente única.
— Nossa, vocês estão maravilhosas. — Ouvi a voz de Chace ainda longe, mesmo com ele ao meu lado. Quando me dei conta de seu tom, o encarei, pegando-o fitando uma pessoa em especial. — Com todo o respeito, caras. — Direcionou-se a mim e Jack, sorrindo sem graça.
Fui até guiando-a para fora da casa junto com o resto do pessoal. Chace tinha que aprender a disfarçar melhor suas opiniões, ainda mais quando se tratava da mulher dos outros.
Pegamos os carros e fomos em direção ao restaurante, que mais uma vez era um lugar de tirar o fôlego. No andar debaixo havia uma pequena queda d'água na parede, ela desaguava numa pequena piscina que contrastava perfeitamente com os parapeitos rústicos do outro lado, que nos proporcionavam uma vista linda da praia. Ali, segundo Suzanne, seria onde aconteceria a festa ao chegar da meia noite. Notei um pequeno bar ao canto, comprovando o que ela tinha dito.
Subimos uma das duas escadas de madeira que nos levariam até a área das mesas. Nos acomodamos e alugamos um carrinho para deitar , onde ela dormiu a maior parte do tempo em que ficamos ali, jantando a comida deliciosa e típica do local enquanto conversávamos e ríamos juntos. A noite estava fresca e agradável, o restaurante estava cheio, em sua maioria eram turistas como nós.
— Que perfume é esse? — Aproximei-me de sua cadeira, puxando-a e fazendo rir ao ver o quão fácil foi para mim trazê-la para perto. — Me deixe sentir... — Impliquei com a loira, que após me olhar desconfiada, sorriu tímida, tirando os cabelos do pescoço e se debruçando próxima de mim. — Que delicia. — Passei a ponta do nariz por sua pele, vendo-a engolir a seco e se arrepiar por completo antes de depositar um beijo naquela região.
— Suzanne me emprestou. — Murmurou trêmula, se afastando vermelha. Suspirei frustrado, ainda com os olhos cerrados e já sentindo falta de tê-la tão perto. — Eu nem me lembro mais o nome direito.
— 4160 Tuesdays, dizem por aí que é literalmente sexo engarrafado. — A morena se intrometeu na conversa, fazendo todos da mesa nos encarar com malícia. — Não que vocês precisem disso, né. — Trocou olhares significativos com Caroline, que riu junto dela numa comunicação silenciosa. Com certeza a amiga contou o que viu no quarto.
Quando deu meia noite, a música começou a tocar no andar debaixo, atraindo frequentadores para a pista, logo víamos copos de drinks nas mãos deles enquanto dançavam descontraídos. Meu celular bipou, fazendo-me desbloqueá-lo sem me dar conta da última coisa que fiz nele quando o bloqueei pela última vez. A foto que Dafne me enviou estava aberta, apertei o botão único do aparelho voltando a tela inicial e olhei em volta num reflexo para ver se tinha alguém olhando minha tela. Dei de cara com , encarando-me com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso sem humor nos lábios.
— Vamos dançar, meninas? — Nem sequer esperou resposta, levantando-se e deixando a mesa rapidamente.
As outras pareceram não perceber nada, já que estavam entretidos numa conversa quando chequei o celular. Me levantei, indo atrás dela, consegui pegá-la ainda na entrada da escada, já que teve que parar para esperar um garçom passar.
— O que foi? — Senti a raiva em sua voz quando a puxei pelo braço.
— O que foi digo eu. Por que saiu da mesa daquele jeito?
— Ah, você percebeu quando eu saí da mesa? Achei que estava ocupado demais olhando para os peitos de Dafne. — Franzi a testa, tentando entender o que estava acontecendo ali. — Abriu aquela porra de nude no meio dos seus amigos, , e se alguém ve? Eu mereço o mínimo de respeito!
— Está com ciúmes? — Segurei um riso ao ver o estado dela, que já era caótico, triplicar em questão de segundos.
— Eu? Com ciúmes de você? Por acaso bebeu?
— Quem parece que bebeu aqui é você, . Me pede um beijo, age como se nada tivesse acontecido e depois quando me aproximo se afasta. — vociferei, agradecendo pela música alta encobrir nossa pequena discussão, que por incrível que pareça ainda estava discreta.
— Aquilo foi apenas uma... coisa de momento. — Piscou algumas vezes, contrariada. Senti meu sangue ferver ao ouvi-la dizer aquela desculpa esfarrapada. — Eu não sou o seu brinquedinho, , aquele que você pega quando os outros não estão disponíveis. Não se preocupe, daqui a dois dias nós voltaremos para Londres e vai poder ir para a casa de Dafne e passar outra noite inteira com ela com o celular ligado, porque eu não vou perder meu tempo em te ligar para atrapalhar o seu momento.
— De onde você tirou essa história de brinquedo, ?
— De lugar nenhum, é só o jeito como eu me sinto agora que sei que tudo o que você fez comigo hoje foi por carência, por estar longe de Dafne.
Dafne não tinha aquela importância toda na minha vida! Era recém chegada e não era como se ela tivesse ficado na minha cabeça o dia todo enquanto eu estava curtindo as férias em Tulum, eu só falei com ela porque não tinha nada pra fazer enquanto esperava tomar seu banho.
— Eu não fiz nada de diferente hoje, . Te tratei do jeito que sempre trato, cuidei de você do jeito que sempre cuido, sem ter nada por trás disso. — A olhei nos olhos, transmitindo sinceridade.
— Não, esse não é você, . Não em relação a mim. — Eu sabia que ela tinha razão.
— E se eu tiver mudado? — me encarou confusa. — , eu não te vejo mais como via antes, já assumo pra mim mesmo que me sinto atraído por você. — E agora, assumia para ela, ferindo meu orgulho. abriu a boca, pronta para falar algo, porém se calou ainda sem conseguir vociferar o que sentia. — E acho que já está mais do que na hora de você fazer o mesmo, porque eu sei que me quer também.
baixou o olhar por alguns segundos antes de se soltar de minha mão e voltar a levantar a cabeça, balançando-a minimamente. A loira soltou um riso sem humor e encarou algum ponto atrás de mim antes de abrir a boca e finalmente me responder.
— Eu não faço a mínima ideia do que está falando. — Seu olhar opaco voltou-se para o meu e eu comprimi meus lábios sentindo o impacto que aquela resposta teve. Foi como levar um tapa bem dado na cara.
Eu, , tinha acabado de levar um fora de .
Puta que pariu. tinha me dado um fora.
Inacreditável. Mais do que isso, ridículo! Principalmente pelo fato de eu saber que era uma mentira deslavada. sabia muito bem do que eu falava, ela também sentia tudo o que eu sentia, tanto que nem coragem de dizer aquilo olhando nos meus olhos ela teve.
— Então você é uma hipócrita. — Disse entredentes, vendo-a reagir ofendida. — Diz que eu acho que você é meu brinquedo, mas me usa sempre que quer algo que sabe que não vai conseguir fora de casa. Ah, e não me venha pedir respeito, sendo que você mesma secou Chace de toalha lá no quarto na minha frente e nem faz questão de esconder que é a fim dele. Me respeite você, ! Porque Dafne não é nada sua, já Chace é o meu melhor amigo. Do mesmo jeito que me pediu pra dar um fora em Anne, faça-me o favor de dar um chega pra lá nele.
Lhe dei as costas, respirando com dificuldade e tentando me estabilizar antes de retornar a mesa, onde meus amigos me encararam sem jeito, provavelmente por terem presenciado a discussão mesmo que de longe.
— Tá tudo bem, cara? — Nick indagou, receoso. Me joguei na cadeira ao seu lado, ainda me recompondo.
— Está sim, acho que preciso beber. — Jack assentiu compreensivo, fazendo sinal para o garçom, já que eu não queria ficar perto de e o bar era lá embaixo, onde ela já estava junto das meninas, dançando.
Relaxei um pouco quando engatamos uma conversa sobre futebol, mais precisamente sobre o último campeonato. Era sempre uma discussão acalorada, já que torcíamos para times diferentes, mas ainda assim era divertido vê-los se alterar quando não concordavam uns com os outros.
Jack e eu observamos de lá de cima as meninas dançando músicas latinas com algumas mulheres que pareciam ser de nativas de Cancún, já que mexiam os quadris no ritmo da música quase como a Shakira fazia, as tentativas de imitação de , Suzanne e Carolina nos arrancou risadas. Definitivamente não era a praia delas, porém as três pareciam estar curtindo a experiência.
estava adorando Tulum, como eu já imaginava após lhe dar a notícia de que iríamos para lá e ouvi-la tagarelar por dias com Anne e Tiffany. Estava feliz por vê-la mais descansada, apesar de ainda estar puto com ela.
Nick, Jacob e Chace avistaram duas garotas que segundo eles estavam na praia durante a tarde, desceram para tentar algo com elas me deixando sozinho com Jack na mesa. Ele até tentou me perguntar o que tinha acontecido, já que tinha sido uma briga muito do nada, estávamos bem na mesa durante o jantar. Claramente não nos conhecia juntos, aquilo era a coisa mais normal do universo para nós dois.
O motivo da briga que era uma novidade. Uma grande novidade. Me arrependi tanto de ter aberto minha boca, queria voltar no tempo só para ter me auto impedido de falar para que a desejava. Eu tinha certeza que era recíproco, só não contava que ela fosse ser tão orgulhosa ao ponto de ter a coragem de negar na minha cara! Mas a quem eu estava querendo enganar? não tinha fama de intocável no tempo da escola por acaso, não é?
— Eu não sei o que aconteceu, mas trate de ir lá e fazer as pazes com sua esposa. — Suzanne surgiu atrás de mim, sentando-se ao lado do namorado, cansada. — Vá, nós cuidamos da .
Olhei para a pista de dança e encontrei os meninos dançando perto de e Carolina, meu olhar se direcionou a Chace, que conversava interessado com . Me levantei e fui até as escadas, porém quando cheguei lá embaixo me dei conta do que estava fazendo. Eu não devia ficar me importando com Chace ou com e o fato de eles quererem tanto se pegar, sabia das consequências caso correspondesse às investidas dele, e ele, bom.... Iria perder o melhor amigo e de brinde levaria um soco bem dado na cara.
Passei reto por eles, indo até um dos banheiros e me recompondo por lá. Não iria mais fazer ceninha de ciúmes, que se danasse junto com todo o resto! Quando deixei o banheiro Beyoncé ainda tocava embalando as pessoas na pista. Me sentei no banco do bar após pedir uma dose de whisky, passei a observá-la ainda conversando com meu amigo. Levantei a sobrancelha quando me procurou com o olhar e finalmente me encontrou.
Neguei com a cabeça quando ela me chamou com a mão. suspirou frustrada batendo as mãos nas coxas antes de deixar os ombros caírem e murmurar um pedido de desculpas. Franzi a testa, ela não sentia muito, sequer tinha entendido que o que me deixou puto foi o fora que me deu e não toda a discussão em si.
"You're so sexy, tonight I am all yours boy"
Você é tão sexy, esta noite eu sou toda sua, garoto.
E então ela começou a dançar enquanto sorria na minha direção. Fingi desdenhar, afinal de contas o que ela dublou com aqueles lábios rosados não iria acontecer. nunca iria ser minha, seu orgulho não a deixava tentar nada.
Se se permitisse experimentar ao menos uma vez, eu faria valer a pena, lhe daria a melhor noite de sua vida. Mas não, não conseguia se entregar, apenas fechar os olhos e mergulhar nas sensações. Ela tinha que insistir em se lembrar de quem eu era e me rejeitar por isso. achava que seria fácil pra mim levá-la para cama após tantos anos de ódio acumulado?
"The way your body moves across the floor"
O jeito que seu corpo se move no chão.
Tomou a liberdade de trocar a letra, falando sobre o próprio corpo enquanto descia até o chão com apenas o tecido do vestido de fendas impedindo quem assistia a cena de ver sua calcinha. Ofeguei sem conseguir tirar os olhos dela, que tinha um sorriso vencedor nos lábios por ter minha atenção toda voltada para si. Engoli a seco levando um pouco do meu orgulho garganta a baixo. Não dava para resistir a aquilo, mas eu tentaria o máximo que conseguisse.
ainda dançava jogando os cabelos e rebolando aquela bunda maravilhosa em evidência naquele vestido. Os olhos voltados para ela se direcionavam para mim vez ou outra, como se quisessem ver a minha reação ao assistir de camarote aquele show particular feito pra mim. Tentei permanecer impassível enquanto controlava minha respiração já completamente sem ar, estava duro dentro da calça. Aquela cena era a coisa mais sexy que eu já havia visto na vida.
E eu estava me sentindo privilegiado em finalmente tê-la dançando para mim e dando duro para conseguir o meu perdão. Quando, há anos atrás, eu iria imaginar aquela cena? A insuportável fazendo-me preferi-la no lugar das lideres de torcida da escola? O de dezesseis anos se reviraria em agonia se me visse naquele estado por ela.
"Tonight I'll be your naughty girl"
Esta noite eu serei sua garota safada.
Me deu as costas movendo os quadris devagar, virando-se minimamente para checar minha reação, que a única que conseguia esboçar em público era morder meu lábio em pura excitação.
"I know you want my body"
Eu sei que você quer meu corpo.
Passou as mãos pelo próprio corpo, fazendo-me ofegar. Queria poder abrir aquela calça que já estava insuportavelmente apertada e libertar meu membro, que implorava para ser aliviado por aquele par de mãos. Mas só de eu mesmo poder tocá-lo ao mesmo tempo em que a tinha dançando daquele jeito diante de mim, já completaria minha fantasia.
"I see you look me up and down. And I came to party"
Te vejo me olhando de cima a baixo. E eu vim para festejar.
me chamou com a mão novamente, já cansada de dançar. Neguei com a cabeça de novo, bebendo mais um pouco da minha bebida. Não seria tão fácil assim me fazer ceder, eu ainda a queria admitindo para mim que me queria. Ri minimamente, vendo a reação do pessoal em volta, revoltados porque eu a recusei. Até mesmo Suzanne e Jack, lá do andar de cima, gritaram em reprovação.
movia a cabeça em negação de braços cruzados, praticamente sozinha na pista. Tá, talvez ela até tenha se esforçado para conseguir meu perdão visto que era um pouco tímida e tinha acabado de se soltar diante de tanta gente. Me endireitei no banco quando a vi andar em minha direção.
— O que mais eu tenho que fazer para você me desculpar, hein, ? Seus amigos já nos viram brigar, colabore comigo e finja que estamos bem. — Se inclinou sobre mim, fazendo-me afastar assim que a vi querendo me beijar.
— Você sabe o que tem que fazer. — Foquei-me no pessoal voltando a tomar a pista e terminar de dançar aquela música.
— Porque é tão importante que eu assuma isso, ? Nós não podemos nos envolver assim, vamos estragar tudo e está no meio disso! — Revirei os olhos diante aos seus argumentos dispensáveis.
— Você por acaso já ouviu falar em sexo casual? — Afastei seu cabelo de seu rosto.
— Isso nunca dá certo. — Tirou minha mão de perto.
— Nos filmes nunca dá certo. — Ironizei, fazendo-a bufar. — Eu faço desde os dezesseis e sempre funcionou. — Lhe assegurei com toda a certeza do mundo ao dar a última golada no meu copo e colocá-lo sob o balcão.
— Nós somos casados, . É totalmente diferente.
— Não, não é. , sexo é sexo em qualquer lugar do mundo e em qualquer status de relacionamento. — Argumentei já impaciente com seu dom de complicar tudo que era bom. — A não ser que... Tenha medo de se apaixonar por mim como nos filmes água com açúcar que você anda vendo.
— Você é uma piada, . O único sentimento que você me desperta é ódio. — Levei a mão ao peito, fingindo-me ofendido. — Se eu tivesse medo de me apaixonar, não teria nem me casado pra começo de conversa, só para não correr o risco de passar minha vida ao seu lado.
— Mais uma razão pra não se preocupar com isso, Amélia disse que é bem provável que a audiência de guarda definitiva seja quando completar um ano de vida. — me olhou, espantada com a informação, acho que me esqueci de comentar com ela quando fiquei sabendo.
— Ótimo, então faltam apenas nove meses. — Desdenhou, ainda processando tudo.
— Que poderíamos deixar mais leves transando de vez em quando... — Lhe peguei pela cintura, colocando-a entre minhas pernas.
— Mais leves? Isso daria numa confusão absurda, isso sim. — Se afastou quando tentei beijá-la.
— Será que vou ter que dançar pra te convencer a me dar? — riu gostosamente, negando com a cabeça em resposta. — Pare de complicar algo tão simples como o sexo, .
— Nada do que você faça vai me fazer mudar de ideia, . — Meu Deus, que teimosia do caramba. — Continue saindo com a tal Dafne que eu me viro com alguém que conhecer por aí, estamos bem assim, você é quem quer complicar tudo.
Eu já tinha dormido com Dafne, a abstinência não era o problema, eu poderia sair e transar com quantas mulheres quisesse. O problema real naquilo tudo era que eu queria , e justamente ela resolveu que não iria rolar.
— Só enquanto o ano não acaba, . — Propus, vendo-a revirar os olhos ao notar o quão insistente eu poderia ser. — Amanhã é a virada, depois vamos pra casa e nunca mais falamos sobre isso.
Só uma noite, era tudo o que eu precisava para desencanar de vez daquela história de desejar minha arqui-inimiga. Sanar as vontades que tinha dentro de mim desde o dia em que a vi naquela camisola transparente, descontar na pessoa certa todas as frustrações que ela vinha me causando desde que nos casamos.
— Eu amo essa música! — Exclamou se afastando e claramente querendo mudar de assunto.
— , eu estou falando sério, não te perdoo e dançar de novo não vai me convencer.
"Kiss it, kiss it better, baby"
Beije, beije para sarar, querido.
A loira me ignorava, puxando-me em direção a pista, já dançando no meio do caminho. Parou no centro, cantando a letra junto de Rihanna aos pulmões enquanto mexia o corpo no ritmo.
— Can't do it like that, no one else gon' get it like that (Não consigo fazer assim, ninguém mais faz desse jeito) — Encostou-se em meu peito, jogando a cabeça para trás em meu ombro. — So why argue? You yell, but ya take me back. (Então discutir para quê? Você grita, mas me aceita de volta.) — Sorriu sugestiva, cantarolando próxima do meu ouvido, fazendo-me sorrir junto.
Eu estava fazendo aquilo naquele exato momento. Me deixando levar, hipnotizado por aquele corpo que se movia sensualmente tão perto do meu. Eu tinha acabado de dizer que não seria convencido daquele jeito novamente, mas lá estava eu, sendo feito de trouxa.
— Who cares when it feels like crack? Boy, ya know that you always do it right. (Quem se importa quando vicia como crack? Garoto, você sabe que sempre faz do jeito certo) — Apertei sua cintura, colando ela ainda mais a mim, sentindo-a suspirar ao ter as costas tocadas pelo meu peito novamente naquele dia. Mas eu queria mais, queria nossos corpos se tocando sem roupa nenhuma atrapalhando.
— Man, fuck yo pride! Just take it on back, boy, take it on back, boy. (Cara, foda-se seu orgulho! Só me faça sua de novo, me faça sua de novo, garoto.) — Beijei seu pescoço, tendo esfregando sua bunda em meu pau à medida em que rebolava na minha frente. Tirei seus cabelos do caminho, mordiscando sua orelha e vendo-a encolher os ombros, arrepiada dos pés a cabeça. — Take it back all night, just take it on back, take it on back. (Me faça sua a noite toda, só me faça sua de novo, me faça sua de novo.)
Puxei seus cabelos, que àquela altura já estavam soltos da arrumação que fez ao sair de casa. Ela soltou um gemido, rindo safada em seguida. Com a outra mão lhe apertei a bunda com força, sentindo seu corpo ceder um pouco de tão mole que minha esposa ficou em meus braços.
Por que resistia tanto? Se nós dois sabíamos que ela queria parar na minha cama.
— Mmm, do what you gotta do, keep me up all night. (Faça o que for, me faça ficar acordada a noite toda.) — Deslizou a bunda contra meu membro, daquela vez indo até o chão e deixando-me passar minhas mãos descaradamente por seu corpo enquanto descia. — What are you willing to do? Oh, tell me what you’re willing to do. (O que você está disposto a fazer? Oh, me diga o que está disposto a fazer?)
A agarrei com firmeza, virando-a de frente para mim quando subiu, seu rosto grudado no meu, olhos vidrados em uma conexão impressionante, ofegava contra seus lábios entreabertos. Eu nunca tinha sentido tal coisa na vida.
"Kiss it, kiss it better, baby"
Beije, beije para sarar, querido.
Sua boca encostou-se na minha e, após uma pequena tortura dela, finalmente pude tomá-la por completo, beijando-a avidamente enquanto a segunda parte da música tocava em nossos ouvidos e ainda dançávamos mais grudados do que nunca. Uma de minhas mãos estava enterrada em seus cabelos enquanto a outra passeava pelas costas desnudas, sentindo cada centímetro de sua pele quente.
"Hurtin' vibe, man, it hurts inside, when I look you in yo eye."
Me machuca muito, cara, dói por dentro quando olho em seus olhos.
Oh, sim, doía e muito. Não somente pela frustração de querer algo que está tão perto de si e conseguindo esticar o braço, podendo tocar e mesmo assim não poder ter.
— I've been waitin' up all night. Baby, tell me what's wrong? Gonna make it right, make it all night long. (Estou esperando acordada a noite toda. Querido, me diga o que há de errado? Vamos fazer tudo ficar certo, fazer durar a noite toda.) — Ela passou os braços pelo meu pescoço, colando nossas testas e cantando a música, esticando-se para atacar meu pescoço com seus beijos e mordidas.
— Porra, . — Gemi ao pé do seu ouvido, sentindo-a sorrir com o ato.
— Man, fuck yo pride! Just take it on back, boy, take it on back, boy. (Cara, foda-se seu orgulho! Só me faça sua de novo, me faça sua de novo, garoto.) — Suas mãos desceram do meu pescoço para meu peitoral, agarrou minha camisa levantando o rosto e roçando os lábios em meu queixo. — Mmm, do what you gotta do, keep me up all night. Hurtin' vibe, man, it hurts inside, when I look you in yo eye. (Faça o que for, me faça ficar acordada a noite toda. Me machuca muito, cara, dói por dentro quando olho em seus olhos.)
Mordi seu lábio inferior, sugando-o lentamente ao mesmo tempo em que espalmei minhas mãos em sua bunda, colando nossos quadris e fazendo-a sentir o tamanho de minha excitação.
"What are you willing to do? Ooh, tell me what you're willing to do"
O que você está disposto a fazer? Ah, me diga o que está disposto a fazer.
— Kiss it, kiss it better, baby (Beije, beije para sarar, querido). — Cantava contra minha boca, ainda de olhos fechados.
"Ooh, tell me (baby) what you're willing to do"
Ah, me diga (amor) o que está disposto a fazer.
Suspirei contra seu rosto, apenas segurando-a pela cintura e aproveitando o instrumental da música que já estava no seu fim. Meu coração parecia querer sair pela boca e eu nem tinha me dado conta de quando ele tinha acelerado daquela maneira. Levei sua mão até meu peito, vendo-a olhar-me nos olhos quando o sentiu batendo descompensado.
"(Kiss it, kiss it better, baby)"
"Kiss it, kiss it better, baby"
“Kiss it, kiss it better, baby"
Beije, beije para sarar, querido.
— Preciso de um drink. — Ofegou contra meu rosto quando me aproximei. então saiu de repente deixando-me plantado ali, mais uma vez a vi escorrendo feito areia pelos vãos de meus dedos.
Estava para nascer uma mulher mais difícil de se levar para cama que . Aliás, esperava que já tivesse nascido e que aquela fosse quando virasse adulta. Acho que nunca vou conseguir lidar com o fato de que ela vai crescer um dia e arrumar namorados, ou namoradas, tanto faz.
Subi atrás dela, querendo puxá-la para um canto e pedir explicações sobre tudo o que aconteceu lá embaixo quando a música estava nos guiando. Não era possível que estivesse brincando comigo aquele tempo todo e iria sair pela tangente daquele jeito! Quando voltei a mesa, Caroline estava sentada em meu antigo lugar, sobrando para mim apenas a cadeira em frente a , com a porra da mesa nos separando.
— Já que chegaram, eu queria contar algo que Jack e eu estávamos pensando sobre vocês dois. — Su trocou olhares com meu amigo, deixando-me confuso junto de . — Como acabamos de ver, vocês precisam arrumar um quarto urgentemente e transar. — levou a mão ao rosto, envergonhada, enquanto eu apenas ria, ignorando os gritinhos afetados dos presentes na mesa. — Mas sei que com junto é meio impossível, então tivemos a ideia de ficarmos de babá hoje a noite e metade do dia de amanhã para deixar vocês namorarem um pouco. Afinal de contas, essa é a lua de mel de vocês, certo?
— Mas só se vocês quiserem, é claro. — Jack encolheu os ombros, alternando os olhos castanhos entre nós dois.
mordeu o lábio, ainda constrangida, e eu a encarei fixamente, esperando uma resposta vinda dela. O que ela decidisse estaria decidido. Se negasse a ajuda deles, automaticamente estaria me dizendo um não definitivo à minha proposta. E eu não iria mais insistir, nunca tinha feito aquilo na vida, acho que até lhe dei chances demais.
Se ela dissesse sim, as coisas ficariam interessantes a partir daquele ponto.
— Eu não sei... O que acha, amor? — Levantei uma das sobrancelhas sugestivamente, fazendo-a me encarar séria do outro lado da mesa. respirou fundo e o que pareceu uma eternidade finalmente aconteceu. A loira assentiu com a cabeça, deixando-me ansioso no mesmo instante.
Queria me levantar dali, pegá-la nos braços e sair literalmente correndo até a casa em que estávamos hospedados, só Deus sabia o quão louco eu estava para arrancar aquele vestido do corpo dela e realizar todos os meus desejos. Mas ao invés disso fiquei lá, paradão, olhando para seu rosto de bochechas ainda vermelhas e notando sua ansiedade.
O tempo que durou nossa espera para não sairmos correndo e denunciar nosso desespero pareceu uma eternidade. Mas a hora finalmente chegou, e quando nos despedimos dos meus amigos, infelizmente não fomos poupados das piadinhas e insinuações.
's point of view.
Ele abriu a porta do quarto numa rapidez impressionante, puxando-me para dentro e logo jogando meu corpo contra a madeira escura, prensando-me ali e me fazendo relembrar o tamanho de sua excitação. Ofeguei contra seus lábios, procurando desesperadamente pelo seu peito os botões daquela camisa fina. Quando os achei foi questão de segundos para que estivessem abertos, revelando seu peitoral tatuado que me dava vontade de beijar cada centímetro de pele exposta.
puxava minha coxa, encaixando-se em meu quadril, que estava descoberto uma hora daquelas devido a grande fenda do vestido leve que eu usava. A noite estava fresca, mas naquele momento chegávamos a pingar, suados de tanto calor.
Tratei de tirar sua camisa, deslizando o tecido claro por aquele par de braços fortes que me soltaram apenas para se livrar da peça, porém logo voltaram a me envolver, puxando-me em meio a meia luz do quarto.
Seus dedos ágeis desamarraram o vestido de meu pescoço, deixando-o cair no chão pelo caminho até a cama, onde fui praticamente jogada quando chegamos. Soltei um riso junto dele, deixando-me relaxar em meio aos lençóis macios enquanto me deleitava ao assisti-lo tirar a bermuda branca que vestia. Com o pé, acariciei seu membro, deslizando os dedos por toda sua extensão que já era bem visível dentro da cueca apertada.
gemeu em reprovação antes de apanhar meu pé e massageá-lo com suas mãos firmes, beijando seu dorso, olhando-me com aqueles olhos de esmeralda. Sorri, mordendo o lábio, ansiosa para que pudéssemos ir logo para o que interessava. Depois daquela noite toda cheia de provocações, era tudo o que eu mais queria.
Estava louca para ver do que era capaz.
Com aqueles lábios rosados recém umedecidos, ele voltou a me tocar a pele, daquela vez beijando minha panturrilha e subindo à medida em que abria minhas pernas vagarosamente. Sua língua acompanhada de mordidas pelas minhas pernas me arrepiava da cabeça aos pés. Eu já me revirava de prazer na cama e ainda nem tinha me tocado direito.
Quando suas mãos macias finalmente chegaram até meus quadris, ele levou embora minha última peça de roupa: A calcinha vermelha ensopada que eu usava.
Voltou a se posicionar entre minhas pernas, sua respiração bateu contra minha intimidade exposta, eu estava completamente sedenta e entregue. Só de imaginar o que viria a seguir, minha cabeça já dava voltas deixando-me tonta. Eu estava louca por ele e sabia muito bem daquilo, sabia do poder que tinha em mãos naquele momento.
Passou o indicador de leve entre meus lábios, fazendo-me contrair com o estímulo. Maneei meu quadril involuntariamente, olhando-o desejosa. deu um de seus sorrisos safados antes de levar o próprio dedo à boca, chupando-o e provando do meu gosto antes de se deliciar por completo.
— Oh, , você é afrodisíaca. — Minha respiração falhou enquanto eu ainda ansiava pelo seu toque. Ouvi-lo pronunciar meu sobrenome como sempre fazia, mas naquele tom sôfrego me fez deleitar de prazer.
Quando ele finalmente o fez, beijando minha intimidade antes de separar os grandes lábios e estimular meu clítoris com sua língua habilidosa, fui ao céu e voltei, sentindo meu corpo todo se estremecer quando me sugou, apertando minhas coxas com força. Ele estava literalmente pagando com a língua por todas as vezes em que desdenhou de mim.
Gemi sôfrega. Engoli a seco jogando minha cabeça para trás enquanto tentava restabelecer o controle de minhas ações. Àquela altura eu já não respirava direito e minha única saída para externalizar o que estava sentindo era esmagar os lençóis com ambas as mãos. Eu estava prestes a explodir, mas não queria que fosse daquele jeito. O queria dentro de mim e não podia mais esperar.
— ... — Ele me ignorou, fazendo-me voltar a revirar os olhos de prazer. — Por favor... sem mais preliminares. Me fode logo. — supliquei ofegante.
Ele me encarou fixamente ao escalar meu corpo, mordendo o próprio lábio inferior com força. me cobriu por inteira quando abri mais as pernas para recebê-lo no meio delas. Seu peito tocou meus mamilos, causando-me palpitação. Seu coração batia descompassado assim como o meu.
E então me tomou os lábios em um beijo molhado cheio de desejo, onde sua língua se enroscou com a minha, fazendo-me sentir meu próprio gosto. Apertei minhas coxas em volta de seus quadris, ainda sentindo o tecido da maldita cueca que nos separava.
— Tira essa droga de cueca, . Eu quero te sentir... — Gemi manhosa, tentando me esticar e abaixar a peça, sem sucesso. Ele riu gostoso, avançando com o quadril e pressionando minha intimidade molhada com seu pau ainda coberto.
— Oh, ... — Passou o nariz por minha bochecha, roçando sua boca pelo meu rosto até chegar no pé do meu ouvido. — Te ouvir falando isso... Depois de negar tanto... — Ofegou, ainda fazendo movimentos de vai e vem, como se já estivesse me fodendo. — Chega a ser engraçado.
Afastou-se minimamente para me encarar, ainda confusa. Sua mão me tocou o rosto suavemente e o polegar ficou posicionado sobre minha boca entreaberta. A abri, prendendo seu dedo ali entre os dentes, ainda sob seu olhar intenso e estupidamente sexy de .
— Parece que a menina intocável de Holmes Campbell não é mais tão impossível de se ter. — O soltei, deixando que deslizasse para fora de minha boca.
— O quê? — Franzi a testa enquanto ele sorria, afastando meus cabelos loiros de meu colo.
— Os garotos daquela escola, todos eram loucos para ter você assim, , entregue desse jeito... — Desenhou meu seio com a ponta dos dedos, abaixando-se para sugá-lo lentamente, arrancando soluços meus. Puxei seus cabelos castanhos quando senti a ponta da sua língua contornar minha aréola rosada. — Agora tem Tom e até mesmo Chace não consegue resistir a você. — Delirava, ainda sentindo-o massagear meus seios com aquele par de mãos habilidosas. — Não é engraçado que eu, o cara que você mais odeia na vida, seja o único que conseguiu?
O empurrei pelos ombros, jogando seu corpo para o lado. Aqueles meninos nojentos da escola pensavam em mim daquela forma? Espera! estava incluso naquele grupo? Ele me desejava no tempo da escola? Aquele era o maior plot twist da história!
Puxei sua cueca, finalmente deixando seu membro livre, que pulou para fora ereto e majestoso. me ajudou, tirando o restante com os pés antes que eu subisse de volta na cama e me sentasse de pernas abertas sobre aquele par de coxas deliciosas. Seu braço me prendeu contra seu peito, colando nossas peles quentes, gemi ao sentir seu pau encostar-se em minha intimidade. Foi como se uma corrente elétrica atravessasse meu corpo inteiro.
— Pois ligue para os seus amiguinhos babacas diga a eles que conseguiu me foder. — Joguei meus cabelos pra trás, deixando os fios caírem pelas minhas costas nuas. começou a se tocar diante de mim, movimentando a mão lentamente. — Mas só porque eu quis dar pra você. — Segurei seu queixo, onde sua barba rala já ameaçava a voltar a crescer novamente.
— Gostosa. — Apertou-me uma das nádegas com a mão livre, fazendo-me arfar contra sua boca. — Prometo te dar seu orgasmo. — Ri junto dele. — Afinal de contas, esta noite é especial. É nossa lua de mel.
— Cala a boca. — Gargalhamos. A situação já era bizarra o bastante e ainda tinha que lembrar o fato de estarmos casados?
Levei a mão até seu pau, masturbando-o por cima de sua mão, que em uma infeliz coincidência era a mesma que ele usava a aliança. Ignorei aquele detalhe quando o senti pincelar de leve a cabeça rosa na minha entrada e percebi que já não aguentava mais esperar. Quase tinha cometido a loucura de colocá-lo dentro de mim.
— Cadê a camisinha? — Olhei em seu rosto e ficou sério no mesmo instante. — , me diga que trouxe algum preservativo...
— Não trouxe. — Murmurou, comprimindo os lábios em seguida. Sai de cima dele na hora, com medo de cometer algum deslize e transar com ele desprotegida.
Passei a mão no rosto com a força que eu queria usar para bater nele.
— Como que você vem para um lugar desses e não traz uma camisinha, ? — Tulum estava lotado naquela época do ano e lotado de mulheres! Como ele ia viajar para um paraíso tropical daqueles e não levava nada?
— Aqui no México também vendem, sabia? — Encarou-me de canto de olho. — É claro que eu trago! Sempre uso camisinha, não queria ser pai tão cedo. Mas olhe só, não adiantou porra nenhuma.
Ainda se sentia no direito de ficar bravo! Quem estava brava era eu! E com tesão também. Ou seja, duplamente brava e frustrada.
Estava começando a me questionar se era para eu tentar transar outra vez, porque ultimamente estava dando tudo errado! Talvez eu devesse, sei lá, fazer um voto de castidade em um convento.
— Ah, sério, gênio? — sorri irônica. — E onde você vai achar uma farmácia aqui perto uma hora dessas? — A não ser que vendessem nos quiosques à beira-mar, o que eu duvidava seriamente, a noite já tinha sido completamente arruinada. — Quer saber, deixa quieto, perdi a vontade.
Mentira!
Mas não era a hora de ser honesta também. não tinha sido nem um pouco quando me encheu a paciência para ir pra cama com ele e depois de tudo aquilo só me avisar que não tinha preservativo justo na hora H.
Pesquei minha calcinha no chão e puxei da mala uma camiseta qualquer, que ao julgar pelo tamanho era dele. Deitei-me na cama, soltando fogo pelas ventas, e soquei o travesseiro com a desculpa de estar amaciando, mas na verdade estava era descontando minha raiva contra o universo e os homens.
O que uma mulher tinha que fazer para conseguir ter um orgasmo, afinal? Porque eu faria se soubesse qual era o grande segredo.
— Qual é, , nadamos até aqui para morrer na praia? — Eu já odiava quem falava aquelas frases de efeito normalmente, imagine naquele momento então!
chegou perto, enterrando seu rosto em meu pescoço, deixando beijos ali. Tentei ignorá-lo ao máximo.
— Eu prometo que tiro quando for gozar. — revirei os olhos e continuei impassível. — Por favor, , só a cabecinha então... — Meu sangue ferveu e quando vi já estava estapeando aquele imbecil.
— Vai dormir, me deixe em paz! — esbravejei, voltando para meu cantinho da cama.
— Eu não vou conseguir dormir, . Não depois de quase... De ter tido você nos braços e não poder fazer nada de novo, não depois de ter provado seu gosto e imaginar como seria estar dentro de você. — Eu estava ali, de olhos bem abertos encarando a escuridão no canto do quarto sem nem me lembrar mais como respirar. — Sem saber se você soluça sempre que está gozando ou não...
— Como você sabe disso? — Me virei rapidamente, encarando-o deitado ao meu lado. mordeu o lábio, negando com a cabeça, soltando um pequeno riso com os olhos fixos no teto branco do quarto.
— Eu te vi uma vez no seu quarto com aquele brinquedinho que te deram naquele dia. — Fiquei boquiaberta, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Não me julgue, a porta estava entreaberta.
— E você simplesmente foi me espionar!
— Não! Estava ali porque desci para beber água, mas quando passei pelo seu quarto te ouvi... Fiquei me sentindo a merda de um adolescente pervertido te vendo se masturbar, mas foi inevitável, eu não consegui parar de olhar.
Suspirei, ainda encarando seu perfil iluminado pela pouca luz do ambiente.
— Eu não consegui seguir meu caminho de volta para o meu quarto e fingir que não te vi. , eu senti vontade de invadir seu quarto, jogar aquele brinquedo longe e assumir seu lugar no meio de suas pernas. — Imaginei o que poderia ter sido, e seria tão bom que me deu vontade de chorar por já saber o fim daquela história. — Te mostrar como é ter um homem de verdade, te fazer gritar e te foder a noite toda.
passou a mão pelo próprio membro, chamando e tendo minha total atenção para aquele mastro viril e cheio de veias. Estiquei minha mão, lhe tocando a cabeça e vendo-o gemer gostosamente.
— Porra, , olha o que faz comigo. — Passei a masturbá-lo, correndo meus dedos por toda a extensão daquela carne dura e quente que pulsava em minha mão. — A noite toda me provocando, fazendo esse desejo crescer... Eu só queria experimentar... Saber como é te ter. Eu nunca quis tanto algo como quero agora...
me beijou devagar, invadindo minha camiseta com suas mãos ágeis, que massagearam meus seios, deixando-me trêmula. Meu corpo foi puxado pelo colchão até se encontrar com o dele, arrancando-me murmúrios desconexos quando o senti puxar minha calcinha para o lado e se encaixar ali, agarrando minha coxa e puxando-a pra cima de seu quadril.
Na primeira estocada eu já o senti fundo, invadindo-me por completo. era grande, mas não me causou dor, pelo contrário, cheguei a delirar quando o senti tirar tudo para voltar a meter com força. realmente fazia jus à sua fama na cama, conseguiu até superar o que os boatos diziam sobre ele.
Abri os olhos em meio àquela explosão de êxtase, encontrando-o já com suas esmeraldas vidradas em mim, gemia rouco enquanto puxava cada vez mais meu corpo para cima do seu. Mesmo adorando tudo aquilo, eu ainda era a única de nós que parecia raciocinar. Me afastei dele bruscamente, recebendo reclamações enquanto ainda respirava ofegante e completamente trêmula.
— Não podemos fazer isso, . Eu não estou tomando remédio e foi exatamente assim que Grace engravidou. — Tirei meus cabelos de minha testa molhada de suor. — Não podemos correr um risco desses.
concordou com a cabeça, levando as mãos até ela e puxando os próprios cabelos, provavelmente em frustração.
— Ok, sem penetração. — Nos entreolhamos desejosos. Seus olhos tinham uma coloração escura, era pura luxúria estampada ali. A atmosfera daquele quarto estava insuportável, sentia que poderia morrer se não me entregasse a ele naquela noite. — Talvez pudéssemos fazer de outro jeito. — Olhou-me já com segundas intenções. — que tal um 69? É um prazer mútuo... Nós dois podemos nos divertir juntos. — Sussurrou a última parte ao pé do ouvido fazendo-me suspirar.
— E-Eu nunca fiz assim... — O jeito como ele me olhou, eu tinha certeza que poderia desmanchar ali mesmo.
— Oh, você vai amar. — Sorriu malicioso, beijando-me, já deslizando a calcinha por minhas coxas pela segunda vez naquela noite.
Tirei a camiseta já sendo agarrada pela cintura, me torturou juntando nossos corpos nus. Pele com pele, sem nenhuma peça sequer nos separando. Tê-lo ali e saber que nada do que minha cabeça projetava poderia acontecer era horrível, chegava a me causar dor física.
Ele se deitou enquanto eu, ainda ajoelhada sob o colchão, esperava ansiosa para receber instruções. me fez sentar em sua barriga, de costas para ele. Logo puxou minhas pernas para trás, deixando-me deitada sobre seu corpo quente, deslizando minha pele arrepiada pela a sua.
Soltei um risinho com a situação, porém meu sorriso desapareceu quando o senti abrir minhas pernas e me sugar o clítoris, sem nem me dar tempo de me preparar.
Ofeguei de olhos fechados, aproveitando minha posição para agarrar seu mastro com minhas mãos. Assim que voltei a abrir os olhos o encarei diante de mim, satisfeita em saber que finalmente iria poder fazer o que tive vontade na primeira vez que o vi. O levei até a boca, beijando a cabeça inchada devagar para logo depois passar a língua nela em movimentos circulares. O masturbei antes de colocá-lo de vez na boca, ouvindo gemer enquanto usava os dedos para me estimular, levando-me à loucura.
Rebolava em sua cara enquanto ainda tentava colocá-lo inteiro em minha boca ao mesmo tempo em que massageava suas bolas. apertava meu bumbum e coxas com força, fazendo-me prever as marcas que ficariam no dia seguinte.
Ele foi o primeiro a atingir o ápice, explodindo dentro de minha boca e sujando-me o rosto quando o tirei de dentro para poder engolir um pouco do seu gosto. Continuei a movimentar minha mão escorregadia, voltando a abocanhar sua cabeça, recebendo outro jato quente e viscoso. era doce, delicioso. Sentia os músculos de seu abdômen se contraírem a cada jato que saia de seu membro pulsante.
Logo era eu quem gozava, já sentada sobre ele, movendo meus quadris em direção a sua boca úmida e quente, sendo estimulada pelos seus dedos largos enquanto escorria para dentro da sua boca, onde nenhuma gota tinha sido desperdiçada.
Cai trêmula ao seu lado, ainda de cabeça para baixo, sentindo o corpo dormente e agradecida por finalmente ter tido meu sonhado orgasmo. Ainda tremia e sentia os espasmos espalhados pelo meu corpo. O espiei do lado de cima, onde já ria da loucura que tinha sido aquela noite.
— Acho que preciso de um pouco de água. — Murmurei risonha. Minha voz chegou a falhar, de tão cansada que eu estava.
se levantou, vestindo sua cueca e jogando-me a camiseta e a calcinha que eu tinha acabado de tirar. Bebi o copo num gole só, agradecendo e voltando a deitar minha cabeça no travesseiro. Ele deitou-se ao meu lado e passamos a nos encarar sem ter muito o que dizer.
Não que precisasse, não é mesmo?
Ouvimos barulhos vindos do andar debaixo e presumimos que era o pessoal chegando do restaurante com . Ainda bem que eles tinham chegado depois.
— Ninguém vai saber disso. — Sussurrou, fazendo-me confirmar com uma negação de cabeça.
Ele se referia a Tiffany, Anne e até mesmo Amélia, as únicas pessoas que sabiam de nossa farsa. Também tinha Tom, mas eu não gostava de incluí-lo naquele grupo justamente por ele não pertencer à ele.
— Ninguém. — Respondi, já sentindo minhas pálpebras pesarem toneladas. Fechei os olhos respirando devagar, já querendo cair no sono.
— Vem cá. — Puxou-me pela barra da calcinha, arrancando um riso meu. Me arrastei até ele, que selou nossos lábios algumas vezes antes de passar a me olhar bem de pertinho. — Como se sente depois de fazer as duas coisas que disse que nunca faria na vida? — Franzi o cenho, sonolenta. — Dançou pra mim e depois transou comigo, tudo na mesma noite. Acho bom começar a parar de dizer nunca, ...
— Isso não foi uma transa, . — Fingi desdenhar, ouvindo sua risada. — Me deixe dormir, eu estou cansada. — Ele se aproximou de novo, beijando minha bochecha.
— Boa noite, . — Sussurrou em meu ouvido.
— Boa noite, .
Já tínhamos nos despedido de Elisabeta, que não conseguiu nos acompanhar naquela viagem. Era compreensível ela querer passar aquela data do ano com a família e longe do trabalho. Além disso, aqueles três dias de descanso também eram intencionais para que pudéssemos aproveitar e cuidarmos dela sem precisar dos serviços da babá.
Bufei fechando o porta-malas do Siena amarelo enquanto ouvia as vozes detestáveis tagarelarem sem parar. Tom estava parado no meio fio, sorrindo de leve e sem tirar os olhos da boca de , que falava mais do que papagaio com Salém nos braços. Por conta da fuga do bichano, decidiu que Dormian seria uma boa escolha para deixar o gato enquanto estivéssemos fora, visto que da primeira vez o médico cuidou bem dele.
Discutimos aquilo porque era óbvio que poderia tê-lo deixado com Tiffany ou Anne, mas ela insistiu que Fanny não tinha responsabilidade e que o gato de Annelise não se daria bem com Salém. Teria que ser o babaca do Tom então, mais um favor que iria dever a ele e que não me deixava nem um pouco tranquilo.
Eu era homem e nos conhecia o bastante para ter certeza de que uma hora Tom arranjaria um jeito de cobrar por tudo o que lhe fez. Nenhum de nós é altruísta de verdade com uma mulher que estamos a fim de pegar, sempre há segundas ou terceiras intenções e eu sabia que ele tinha milhões delas com , apenas confirmei minhas suspeitas depois de ver o jeito como ele tocou o corpo dela na noite de Natal.
Tom iria vir em busca de mais, eu tinha certeza daquilo.
— Vamos, , não podemos chegar atrasados! — Berrei após terminar de afivelar a cadeirinha de .
— Eu já vou! — Abanou o ar, voltando a se virar para Tom e deixando-me estressado.
enfim deu o gato para o loiro, não antes de beijar e apertar o coitado com força. Eu tinha certeza de que se Salém falasse ele mesmo já teria enxotado dali só para ter a paz de se livrar dela novamente.
Rumamos para o aeroporto em silêncio, com apenas o rádio do carro tocando baixinho e embalando o sono de , que estava prestes a fazer sua primeira viagem internacional e de avião. Esperava que ela se comportasse, as pessoas não costumam ter a noção de que não controlamos o choro dos bebês e fazem reclamações quando eles choram, como se nunca tivessem sido daquele tamanho e já tivessem nascido adultos.
Eu realmente não estava a fim de arranjar briga no voo, então torci para que tudo desse certo.
Esperamos uns minutinhos já no aeroporto e logo pudemos embarcar. O pessoal já tinha ido no dia anterior e, por conta das passagens compradas com intervalo de tempo, só conseguimos para aquela data, então iríamos sozinhos, para o meu mais profundo alívio. A viagem duraria dez horas com apenas uma conexão, mas mesmo assim seria muito estressante ficar preso num avião e ainda por cima me preocupar em alimentar aquela mentira.
— Não vai me dizer que tem medo? — Observei quando respirou fundo, ansiosa, praticamente se fundindo ao assento quando os avisos das comissárias acabaram e fomos instruídos a colocar o cinto de segurança.
— Não é medo, eu só não me sinto confortável. — Era medo sim. Eu a conhecia bem o bastante para saber mesmo que negasse.
Neguei com a cabeça, segurando o riso ao ver sua expressão genuína de pavor quando o avião começou a se mover na pista do aeroporto. Suas mãos apertaram os dois lados do banco enquanto a loira fechou os olhos com força, respirando irregularmente.
— Já vai passar. — Suspirei, sentindo-me incomodado com o modo como aquilo afetava .
Eu nunca tive medo de aviões, tinha praticamente nascido em um de tanto que já voei desde que era do tamanho de , então sempre me compadeci das pessoas que tinham medo. Peguei sua mão, que esmagava o assento, e acariciei o dorso, vendo-a entrelaçar nossos dedos, ainda trêmula.
Quando fomos autorizados a retirar o cinto e tudo se estabilizou, pareceu ficar mais tranquila. dormia com os algodões nos ouvidos, que colocamos para evitar as dores enquanto via um filme qualquer de fones de ouvido. Comemos um pouco e lá se foram três horas de viagem.
A bebê chorou um pouco, conseguimos acalmá-la sem que alguém reclamasse de seu barulho e ficamos acordados durante as primeiras cinco horas de voo, já que teríamos uma conexão em Dallas e faltavam apenas duas horas para pousarmos. Já no outro voo, coloquei meu travesseiro de pescoço, pronto para dormir. Além de estar exausto, eu sabia que ainda teria que dirigir mais uma hora e meia até chegar à casa alugada em Tulum.
— Sabia que estava esquecendo algo. — A loira bateu na própria testa, frustrada.
— Se não tivesse perdido os últimos minutos em casa falando com o idiota do Tom, talvez aproveitasse o tempo para lembrar de pegar suas coisas. — Murmurei, cruzando os braços e relaxando meu corpo na poltrona, já de olhos fechados.
— Eu não tenho culpa se ele é o único que pode ficar com Salém sem matá-lo. Não deixaria meu filho com aquelas desmioladas. — Ralhou, referindo-se a Anne e Tiffany, fazendo-me abrir os olhos para enxergar o cinismo em seu rosto.
— Nós temos literalmente milhares de vizinhos, era só deixar com um deles. São só três dias, não vamos nos mudar para Tulum, mas não! Você tinha que escolher justo ele quando tem Victoria, por exemplo, que tenho certeza que não te negaria ajuda.
— Os filhos dela são alérgicos, seu idiota.
Dei de ombros, nem um pouco a fim de continuar aquela discussão. Eu só queria dormir e já tinha falado o que estava entalado em minha garganta, que era o fato de não ter gostado de ver incluindo Tom em nosso plano. E mais! Lhe dando satisfações de quando voltamos e afins. Não era da conta dele, Dormian já sabia até demais sobre nós dois, qualquer informação a mais era desnecessária.
— Eu estou falando com você, . — Bateu em meu braço, tentando me fazer abrir os olhos. — Não acredito que vai me deixar discutindo sozinha. — Normalmente eu não recusava uma boa e velha briga com , mas eu estava tão cansado que tudo o que queria era apreciar o silêncio, ou pelo menos a ausência da voz dela.
— Vamos dormir, . Esse seu mau humor todo é sono acumulado. — Murmurei, ainda impassível. — Embora eu ache que você sempre está com sono, porque está sempre de mau humor. — Segurei o riso, ouvindo-a bufar ao meu lado.
— Eu não estou confortável. — Fez manha, fazendo-me abrir um dos olhos para ver o bico que se formou em seus lábios, como eu já previa.
Respirei fundo, puxando seu pescoço para perto de meu ombro, onde ela cedeu, encostando-se ali e se aconchegando, finalmente ficando calada. ressonava tranquilamente em seus braços e foi assim que passamos as últimas cinco horas de voo que tínhamos pela frente.
— É calor aqui, né? — andava agoniada pelo grande aeroporto de Cancún, onde desembarcamos quase cinco da manhã. O dia já estava clareando e o sol já aumentava a temperatura. Não estávamos mais na Londres gélida. Ainda bem!
Tirei meu casaco quando pegamos o carro alugado, colocando as malas na Land Rover preta enquanto já colocava a bebê na cadeirinha. Analisei suas roupas e entendi aquele calor todo. Ela usava uma calça jeans junto com um suéter simples escuro e um par de all stars. Estava mal agasalhada para o tempo londrino e muito vestida para o verão de Cancún.
— Se troque no carro. Você vai morrer vestida assim. — Sugeri, vendo-a olhar em volta, constrangida.
O estacionamento estava cheio, afinal, era fim de ano e praticamente todo mundo estava viajando para passar a virada em outros lugares, ainda mais para destinos praianos. Ainda estava com o porta malas aberto, esperando-a se decidir.
— Pegue algo mais leve. Na estrada você se troca, então. — assentiu, abrindo a própria mala e pegando um vestido qualquer para si.
Seguimos viagem e resolveu se trocar quando pegamos uma estrada mais deserta. Foi difícil me concentrar no caminho enquanto ela fazia seus malabarismos no banco de trás. Vi quando tirou o suéter, revelando sua pele pálida fazendo contraste com o sutiã preto que apertava seus seios pequenos, dando-lhe um pouco de volume. Infelizmente não cheguei a ver muita coisa depois disso, já que colocou o vestido antes de se livrar de seus jeans, deixando-me curioso para vê-la de calcinha novamente.
Disfarcei que estava espiando pelo retrovisor quando ela se ajeitou no banco, colocando o cinto de segurança novamente. Liguei o rádio, deixando uma música qualquer rolando.
Era ridículo se esforçar tanto para vê-la seminua, comprou biquinis dias antes de viajarmos e me lembro de ter tirado da minha cabeça a possibilidade de ficar secando . Teria várias mulheres por lá, eu tinha que parar de pensar em daquele jeito, tinha que esquecer meu desejo em seu corpo e aquela viagem iria me ajudar naquilo. Era minha última esperança já que nem mesmo Dafne conseguiu me tirar as lembranças que tinha de em minha cabeça.
Desci do carro, abrindo os portões da enorme casa em que ficaríamos hospedados. Tinha uma vista incrível para o mar, que estava calmo naquela hora da manhã. Estacionei ao lado de um dos veículos ali e me virei, encontrando as duas dormindo pesadamente. tinha que aprender a dirigir. Se ela soubesse, ao menos teríamos revezado o volante e eu não estaria tão quebrado.
— . — Lhe cutuquei diversas vezes, mas ela não acordava de jeito nenhum. Voltei a ligar o carro e buzinei, fazendo-a dar um pulo de susto no banco traseiro. — Nós chegamos — disse, rindo de sua cara amassada e de seus olhos esbugalhados.
— Idiota. — Ralhou, coçando os olhos, ainda sonolenta.
— Você tem é que me agradecer por não entrar e te deixar aí. — revirou os olhos e eu tratei de sair do carro, sentindo minhas costas doerem depois de tanto tempo sentado. Peguei as chaves da casa e apenas tirei do carro a bolsa de , deixando o resto lá dentro para depois. — Vamos, . — Já no topo das escadas, a apressei quando a vi parada com a bebê no colo, encarando o mar como se nunca tivesse visto tanta água num lugar só na vida.
's point of view.
Aquele lugar era...
Eu estava completamente estupefata, nem tinha uma palavra para descrevê-lo. O sol surgia majestoso por cima do mar calmo, o céu era bem azul com algumas nuvens desenhadas, como se fosse uma pintura, era de tirar o fôlego.
Fui interrompida por , que estava estressado, fazendo valer a própria teoria idiota sobre mim. O sono deixava as pessoas daquele jeito, não que o caso dele fosse só sono. era insuportável daquele jeito desde sempre, nem que hibernasse por mil anos iria mudar.
Adentramos a casa silenciosa, iluminada pelo sol que vinha de fora por conta das grandes janelas de vidro da sala de estar. Os móveis da casa eram inteiramente rústicos e simplistas, a natureza parecia fazer parte da casa com as árvores e a vegetação rodeando-a por completo. Todo aquele verde fazia parte da decoração do local e deixava tudo mais aconchegante. Entramos num dos quartos carregando o essencial: e sua bolsa.
se jogou na cama do jeito que estava, apenas preocupando-se em tirar a camisa e os sapatos. Já eu, que estava mais descansada, esperei que a bebê acordasse para mamar, visto que estava quase dando o horário. A deitei entre nós dois, lutando contra o sono que insistia em me pegar. Estava com medo de dormir e acordar em cima da pobrezinha.
chorou quando despertou, com fome, fazendo-me pegá-la e sair do quarto, indo até a cozinha vazia onde preparei seu leite, tentando fazê-la parar de fazer barulho, com medo de acordar o restante da casa tão cedo.
— Bom dia! — Dei um pulo ao ouvir uma voz masculina soar arrastada atrás de mim. Virei-me, tendo a visão de Chace parado do outro lado da cozinha, apenas com uma samba canção azul estampada e com as mãos no rosto, amassado. Que bela visão! Tulum parecia-se muito com o paraíso. — Me desculpe, não queria te assustar. — Sorriu fraco, despertando-me da contagem de gominhos em sua barriga.
O que diabos eu estava fazendo?
— Bom dia! Eu é que peço desculpas por ter te acordado. — Desviei o olhar para enquanto ela pegava o bico da mamadeira, sugando-o desesperada. Estava com fome, a pobrezinha. — não entende muito de horários, apenas abre o berreiro até alguém acordar e alimentá-la. — Ele riu de minha fala, apoiando-se na bancada e encarando-me com seus olhos azuis como o céu de lá fora.
— Sei como é — disse sorrindo, olhando com fascínio para , totalmente alheia à conversa sobre si.
— Tem filhos? — Indaguei, confusa. não tinha me dito nada! Eu não sabia nem se ele era solteiro. sempre fez questão de não me contar absolutamente nada sobre os amigos.
Eu sabia que ele não me queria em sua vida e estava tentando me excluir ao menos de uma parte dela, mas não era justo até porque ele conhecia minhas amigas. Anne até demais, diga-se de passagem.
— Ah, não. — Riu minimamente, negando com a cabeça. — Apenas um sobrinho um ano mais velho que . — Assenti, em compreensão. — Mas acho que estou começando a ter vontade de ser pai, sabe? não para de falar um segundo sequer dela. Devo confessar que me dá uma pontinha de inveja. — Murmurou, sem graça, arrancando um sorriso meu por sua sinceridade. — Desde que meu sobrinho nasceu eu tenho pensado em como deve ser ter nos braços um filho meu.
O encarei por tempo demais, segurando-me para não suspirar em sua frente. Como que aquele homem poderia ser amigo de ?
— Ainda me falta achar alguém disposta a me dar um, é claro. — Deu de ombros, levantando seu olhar para meu rosto.
Ok, um clima estranho estava rolando ali.
— Ah, mas você vai achar. Tenho certeza disso. — Disfarcei, soltando um risinho sem graça.
— Sim, não me parece mais tão impossível. Até , que era a última pessoa que imaginei casando, te achou, não é? — Brincou, ainda encarando-me de um jeito intenso.
Quem era mesmo?
— Sim, não é impossível. — Concordei, sorrindo amarelo. Era bizarro como aquelas alianças de casamento vieram com verdadeiros imãs para confusão. Eu mesma já tinha um homem como Tom na minha cola e estava conversando com Chase que... só estava sendo educado, mas ainda assim nunca olharia pra mim no passado.
— Devo confessar que seu casamento me pegou de surpresa, ainda é surreal vê-lo casado e sendo pai. — Era surreal pra mim também, ainda mais sendo a esposa e mãe da filha dele. era um sonho no meio daquele meu maior pesadelo. — Ele comentou que vocês costumavam ficar na adolescência, porém nunca davam certo. — Confirmei a mentira de . — E agora estão casados. Algumas coisas simplesmente demoram para acontecer, mas quando acontecem...
— Pois é, nós costumávamos nos odiar. — Pelo menos até há alguns minutos atrás, já que a única forma de não brigarmos era quando um de nós estava inconsciente.
— Sério? — Ficou surpreso e ao mesmo tempo confuso. — É engraçado que nunca se relacionou com mulheres que brigavam e questionavam ele, mas foi se casar justo com a que fez tudo isso e mais um pouco. — Zombou, fazendo-me arquear a sobrancelha, lembrando-me das nossas brigas em que saímos nos tapas quando crianças. — Acho que ele sentiu falta de um pouco de emoção na vida.
Ri de sua fala. Era realmente emocionante, a cada segundo que passávamos juntos um de nós preparava em segredo um jeito de matar um ao outro. Era como viver perigosamente.
recusou o restante da mamadeira e eu bocejei ao deixá-la em cima da pia, chamando a atenção de Chace.
— Você deveria dormir um pouco e eu estou aqui te atrapalhando ir descansar.
— Que isso, não atrapalhou. Na verdade me distraiu enquanto a princesa Diana enchia a barriguinha. — Ri, deitando-a em meu peito para esperá-la arrotar. Bocejei novamente. — Mas acho que vou dormir um pouco, sim.
— Boa noite, . — Sorri em agradecimento, voltando para o quarto.
Após fazê-la dormir, resolvi me deitar bem longe dela, agradecendo pela cama ser enorme e me possibilitar evitar machucá-la. Estava destruída pela viagem cansativa, mas apesar de tudo ainda tinha medo de fechar os olhos e cair no mundo aleatório dos sonhos.
Desde a noite de Natal eu vinha tendo alguns pesadelos tão realistas que me faziam pingar de suor e me despertavam na noite, assustada. Era sempre o corredor escuro da casa onde cresci, o que dava para a sala de estar, que ficava toda rubra quando estava amanhecendo por conta da luz do dia refletida na grande cortina vermelha. Eu estava na porta do meu quarto e conseguia ouvir os gritos de minha mãe e a voz serena de meu pai lhe fazendo ameaças e proferindo insultos, como se comentasse sobre a previsão do tempo.
Eu tentava correr até lá, mas não conseguia mover meus pés. Eu o ouvia se aproximar, seus passos vinham em direção ao corredor e eu esperava, aterrorizada, o momento em que veria a silhueta de meu pai surgir em meio a vermelhidão do cômodo. Não conseguia me mexer, não conseguia gritar, nem ao menos fechar os olhos para não vê-lo chegar até mim.
A única coisa que me tirava daquela agonia e me despertava era a voz de me chamando. Ele me cutucava durante a noite, reclamando que eu estava me mexendo demais. Sempre acordava sem entender aqueles sonhos, eram todos iguais, mas eu nunca conseguia chegar na parte em que ele surgia no corredor e me pegaria.
Passei a ter medo de cair no sono, principalmente durante a noite, quando a escuridão tomava nosso quarto e me deixava apreensiva. Felizmente, deixei de ter aquele sonho dias atrás e estava dormindo mais tranquila desde então.
Despertei um tempo depois com o sol invadindo o quarto vazio, já que não havia sinal de nem de . Me levantei, vendo nossas malas em um dos cantos do quarto, e tomei um banho rápido, indecisa se colocava o biquíni ou não. Por via das dúvidas, vesti um dos que comprei, encarando-me receosa no espelho que tinha ali.
Era um vermelho vivo que eu tinha escolhido apenas para não ter que levar um modelo super cavado que Anne queria que eu comprasse. Era um top reto na parte de cima, o que estava de bom tamanho para mim, já que não tinha seios grandes para exibir nos modelos menores, e a calcinha era normal, mostrando todas as minhas celulites quando me virei de costas para olhar. Suspirei frustrada. Eu não iria ter coragem de sair daquele jeito na frente dos amigos de . Não estava feio, mas ao mesmo tempo não me senti confortável.
Vesti uma saída de praia branca e simples, fresquinha, assim não morreria de calor com ela lá fora. Finalmente deixei o quarto e encontrei a casa vazia. Ouvi barulhos do lado de fora e segui em direção à onde eles vinham, em um dos corredores brancos da casa que dava para os fundos. Estavam todos lá, os três homens na piscina de borda infinita, que dava uma vista incrível para a praia ao longe. Encarei aquela paisagem, mais um vez sem palavras.
— Olhe só, sua bela adormecida acordou. — A mulher de cabelos escuros e curtos bateu de leve em com o pano de prato que tinha nas mãos, vindo até mim e pegando-me de surpresa pelo abraço que me deu. — Bom dia, . Sou Suzanne, namorada do panaca do Jack. — Olhei perdida para . Quem diabos era Jack? — Esta é Caroline, minha amiga. — A ruiva veio até mim, sorrindo simpática e abraçando-me.
— é uma graça. — Ela comentou, fazendo-me olhar para a bebê vestida apenas com uma calcinha e fralda, pelo calor que fazia. Lhe agradeci, indo até sob o olhar dos amigos dele na piscina.
— Bom dia. — Selei nossos lábios, pegando a bebê de seus braços e beijando sua barriguinha antes de apoiá-la em meu braço. se viu livre da responsabilidade e logo se livrou de suas roupas, se jogou na piscina junto dos amigos dele, que começaram a jogar água em sua direção por pura implicância. — Caramba, eles acordam animados! — Murmurei risonha, vendo engolir metade da água da piscina.
Se ele estava triste, então eu estava feliz.
— Já, já nos juntamos a eles. — Suzanne comentou, do meu lado. — Estamos só terminando de preparar o almoço para ir para a praia bem alimentados.
— Não está cedo demais para falar em almoço? — Ri, confusa.
— Temos que sair cedo e alimentados, aproveitar o dia. Quanto mais cedo irmos, mais tempo teremos.
— Ih, já baixou a mãezona em você, amiga. — Caroline zombou, fazendo-me perceber que ambas já estavam com a parte de cima do biquíni à mostra, vestindo apenas saias bem parecidas que só mudavam as cores. — Lorenzo não está aqui, sabe que pode relaxar.
— vai me entender agora, mas acho que nunca vamos relaxar quando o assunto é nossos filhos, não importa o quão longe eles estejam.
— Tem filhos? — A observei direito. Elas pareciam ser mais velhas que eu, mesmo, só que não conseguia adivinhar suas idades.
— Um só. Um menino de quatro anos. — Assenti, com compreensão, vendo seus olhos claros brilharem. — Está com o pai. Passou o Natal comigo e tive que dividi-lo com ele, deixando-o no ano novo. — Suspirei, encarando-a cabisbaixa.
Imaginei como seria com quando e eu nos divorciássemos, seria tão estranho passar datas especiais longe dela. Será que quando arranjasse alguma namorada eu teria medo de perder meu posto de mãe? Parei de pensar um pouco em mim e imaginei sua cabeça enquanto crescia, será que ela entenderia tudo o que fizemos para tê-la conosco? Sentiria toda a angústia que os filhos de pais separados sentiam?
— Ele deve estar se divertindo horrores, Su. Não se preocupe tanto com Lorenzo, sabe que Damien é um ótimo pai. — A ruiva a abraçou de lado, consolando-a.
— Eu sei, amiga, mas ainda assim eu morro de saudade. — Riu fraco e a acompanhamos na risada. Ela logo mudou de assunto, voltando a rondar a panela de comida na pequena cozinha instalada na área da piscina.
Tomei meu café da manhã com a bebê em meus braços, ficando com ela por um tempo até que as meninas terminaram o preparo do almoço. Suzanne se livrou de sua saia e caiu na piscina, jogando água pra todo lado e arrancando risos dos demais.
— Vem, ! — A morena berrou após recuperar o fôlego e emergir da água. Neguei com a cabeça, ainda com nos braços. Eu queria muito entrar, estava morta de calor, mas ao mesmo tempo estava com vergonha.
— Pode ir, eu fico com ela. — Caroline surgiu ao meu lado, sorrindo solícita. Neguei por educação, afinal, eu era a mãe da bebê. Não era justo impedi-la de se divertir na piscina para ficar com minha filha. — É sério, , eu não sou muito fã de piscinas, prefiro nadar no mar. Pode me dar ela. — Lhe entreguei a menina, ainda receosa, e fui em direção a piscina, já descalça e soltando meus cabelos.
A madeira do chão estava pegando fogo, por isso acelerei meus passos, logo entrando devagar na água fria. Me arrepiei dos pés a cabeça com o contato com a temperatura, bem diferente do exterior da piscina. Respirava fundo enquanto entrava cada vez mais, sentindo vontade de desistir de fazê-lo.
— Entra de uma vez só. — Chace aconselhou, ainda observando-me sofrer ao me adaptar com a diferença de temperatura.
— Tá uma delícia! — Su exclamou, já agarrada ao namorado. — Acho que se esqueceu de tirar a saída de praia. — Comentou, estranhando, após me ver entrar de uma vez, afundando-me e logo subindo de volta à superfície.
Quando abri os olhos irritados, já pude ver emergindo após mergulhar até mim.
— Não esqueci não, estou bem assim. — Lhe sorri amarelo, vendo-a assentir em compreensão enquanto via me puxar para perto, levando-me consigo para a parte mais funda.
— Não. — Me soltei dele, vendo-o me encarar confuso. — É que eu não sei nadar e essa parte não me dá pé. — Expliquei encolhendo os ombros, sem graça.
Eu não sabia fazer nada. Nem nadar, nem dirigir direito, tinha medo de altura, de velocidade, de voar de avião. Me senti uma completa idiota ali.
— Por que está vestida dentro da piscina? — Seus olhos verdes me analisaram, estranhando a roupa molhada, colada em meu corpo. Olhei para o lado, onde Suzanne passou por nós nadando e exibindo seu corpo perfeito. Nem parecia que ela já era mãe. — Não me diga que está com vergonha do seu corpo. — Riu desacreditado, dando-me vontade de socá-lo por achar uma insegurança minha engraçada.
— Olhe para elas, ! Suzanne já é mãe e não tem nenhuma celulite sequer! E nem vou falar dos seios de Caroline. — Ele me encarou com a testa franzida. — Não me sinto confortável me expondo diante deles.
— Não está planejando ficar vestida a viagem toda, está? — Ponderei, sem saber a resposta. Eu queria, mas não sabia se iria pegar bem. Uma louca vestida em meio a uma praia inteira com roupas de banho, como pessoas normais. — , essa é a maior bobagem que eu já vi na vida! — Seus dedos foram até o nó que dei na saída de praia, desfazendo-o com facilidade.
— ! — Protestei, sendo ignorada por ele, que me envolveu em seus braços, colando seu corpo no meu por debaixo da água.
— Deixe de bobagem, . — Sua mão grande passeou pelos meus quadris, fazendo-me arregalar os olhos com aquele toque inesperado. — Você tem uma bunda linda. — Apertou ambos os glúteos, fazendo-me ofegar próxima de seu ouvido.
logo deslizou o tecido encharcado pelos meus ombros, despindo-me com meu consentimento. Tentei ficar tranquila quando vi que a tinha jogado numa das bordas da piscina e estava longe para que eu pudesse me esticar e pegá-la caso ainda quisesse me esconder debaixo dos panos.
— , o que está fazendo... — Não tive tempo de terminar minha frase, pois ele já me puxava pela piscina, colocando minhas coxas em volta de seu quadril. Agarrei-me em seu corpo quando vi que já não tinha mais como colocar meus pés no piso da piscina. — Eu vou te matar. — Disse entredentes, fazendo-o rir.
— Você é muito medrosa para sua idade, sabia? — Fiquei ultrajada, não ignorando o fato de ter me chamado de velha.
— Eu não tenho culpa se não cresci em família rica com acesso a piscinas, aviões e viagens. — revirou os olhos verdes em pura implicância. — É tudo muito novo para mim. — Acho que por ter crescido com tudo aquilo tão longe da minha realidade nunca me preocupei em me desfazer de meus medos, afinal, eram situações que eu achava que nunca viveria.
— Eu sei. — O olhei desconfiada, estava mesmo sendo compreensivo? — Está gostando?
Do quê? Do meu corpo colado ao seu enquanto não vestimos nada além de roupas de banho ou da viagem em si?
Assenti, olhando em volta, ainda com os braços envolvendo seu pescoço. Aquela resposta valia para as duas perguntas? Bom, meu cérebro insistia em negar, mas meu corpo deixava explícito o quanto estava aproveitando aquele momento totalmente atípico entre nós. Principalmente quando deitei minha cabeça em seu ombro, ainda sendo abraçada por ele, que passou a correr a ponta dos dedos em minhas costas, esbarrando no nó do meu biquíni.
A água se movia tranquilamente e de repente me vi totalmente alheia ao barulho da conversa do pessoal próximo de nós. Era esquisito me sentir tão bem ao lado dele, mas também era bom dar uma trégua do estresse dos últimos tempos. Relaxar daquele jeito era tudo o que eu precisava.
— Quem diria que se odiavam, não é? — Ouvimos a voz de Chace e nos dispersamos.
— A gente ainda se odeia às vezes. — Sempre, para falar a verdade. Ele riu junto de mim enquanto continuou sério. — O que foi?
— Como ele sabe disso?
— Nós conversamos hoje cedo. — Comentei casualmente, não vendo sua expressão mudar. — chorou com fome, a levei para a cozinha para não te acordar e preparei a mamadeira dela. Ele apareceu por lá e conversamos um pouco.
— E falaram sobre o quê? — Franzi o cenho diante daquela pergunta.
— Sei lá, ! Sobre nós dois, sobre ... — Dei de ombros, não entendendo seu interesse naquilo. — Ele estava me falando que queria ser pai. Coisas assim.
encarou o amigo pelas costas antes de nadar para mais longe do pessoal, comigo ainda agarrada nele.
— O que foi? — Questionei sua cara fechada.
— Nada, eu só não gostei de saber que andaram conversando sobre isso. — A cada vez que abria a boca, menos eu entendia seu comportamento.
— Não vai me dizer que acha que eu dei em cima dele! — Sussurrei, enfezada. Pronto! Os cinco minutos da paz selada entre nós já tinha acabado. Eu não tinha feito nada, ele quem tinha puxado assunto comigo.
— Não estou me referindo a você. — ainda se virava, observando o amigo de longe e deixando-me completamente boquiaberta com aquela insinuação. Não era possível que ele estivesse dando em cima de mim! Eu era esposa do melhor amigo dele! — Conheço Chace há anos, ele nunca comentou que queria ser pai tão cedo.
— Vai ver ele mudou de ideia e não comentou nada com você. — Dei de ombros, tentando contornar a situação que achei que tinha acabado de criar. Longe de mim querer incitar uma briga entre os dois.
— É, vai ver ele se esqueceu. — Sorriu irônico, beijando-me sem aviso prévio após encarar o amigo mais uma vez e trocar olhares com ele.
O correspondi, sendo prensada na parede da piscina sem ao menos me dar conta de que estávamos tão perto da borda. Dei passagem para sua língua e, de pálpebras pesadas, correspondi ao beijo calmo, sentindo suas mãos passearem pelas minhas coxas e seu membro duro sendo forçado contra minha intimidade, fazendo-me arfar ao pé de seu ouvido quando desgrudou a boca da minha e migrou seus beijos molhados pelo meu rosto em direção a minha orelha.
— ... — Suspirei, sentindo-o avançar o quadril no meu novamente, levando-me à loucura. — Eles estão olhando... — Ainda trêmula, o vi se afastar minimamente, virando-se em direção aos amigos.
— Arranjem um quarto. — Jack jogou água em nossa direção, arrancando risos nossos. Eu queria enfiar minha cara no ralo da piscina e ser sugada para onde quer que fosse, menos ali, com todos rindo maliciosos de nós.
— Vai se fuder. — xingou risonho, apenas deixando-os mais inspirados em jogar água em nós.
nos puxou para o fundo da piscina e me levou junto de si até outro ponto dela, fugindo da guerra de água que havia começado. Emergimos ofegantes, ainda rindo. Logo começou a chorar, provavelmente assustada com a algazarra que fizemos.
me levou até onde me dava pé e, após selar nossos lábios, deixei a água, indo atrás de uma toalha rápido, evitando olhar em volta para ver se reparavam em minhas celulites. Assim que me sequei e me cobri, peguei a pequena, acalmando-a.
— Vamos almoçar, pessoal. Andem! — Suzanne também deixou a piscina, fazendo todo mundo sair contra a própria vontade para comer, como uma boa mãe faria.
Quando estávamos à mesa, finalmente fui apresentada aos outros. Jack, o namorado de Suzanne, Nicholas, que pediu para ser chamado apenas de Nick, e Jacob, o mais novo do bando, que estava dando ideia em Caroline desde que se sentou ao lado dela na mesa. Chace eu já conhecia e não parecia muito a fim de falar com o amigo naquele momento, porém, não protestou quando ele pegou de meus braços, brincando com a bebê após terminar de comer.
Acabei me dando muito bem com todo mundo, era um grupo animado e cheio de conversas paralelas, porém, todo mundo parecia se entender bem no meio daquela bagunça. Até mesmo , que não estava habituada com tanta gente em volta de si, estava se adaptando aos amigos do pai.
Pegamos nossas coisas um tempo depois de terminarmos de almoçar e rumamos para a praia enquanto meu coração batia, ansioso. Era minha segunda vez na vida vendo o mar de tão perto e mesmo assim o mar azul cristalino de Tulum jamais mereceria ser comparado às águas frias e escuras da praia que visitei na Inglaterra.
Nos hospedamos em uma das tendas de frente para o mar que era cortesia do bar em que os meninos pediram bebidas e de onde consumiríamos alguns petiscos ao longo do dia. Segundo Su, o itinerário daquele dia seria apenas curtir a praia, porém, nos próximos dois dias já tinha coisas planejadas em mente. Não era sua primeira vez ali e a morena parecia conhecer bem Tulum, o que me dava cem por cento de confiança no que ela dizia e eu com certeza iria pegar suas dicas, quem sabe até seguir seu itinerário. Eu estava completamente fascinada por aquele lugar. Quanto mais eu explorasse, melhor!
— ! — Chamei a bebê, que olhou para a câmera do meu celular no momento exato em que eu tiraria sua foto.
Por ser muito pequena, não tivemos coragem de colocá-la na água do mar por medo das ondas que atingiam até mesmo a região mais rasa da praia. Tínhamos levado uma pequena piscina inflável para refrescá-la enquanto a segurava vestida no pequeno maiô que eu tinha comprado combinando com seu chapeuzinho para protegê-la do sol. Eu fazia praticamente um book fotográfico da menininha dos olhos verdes, que parecia estar amando ficar na água, batendo as mãozinhas de vez em quando.
— Não vão dar um mergulho? Eu olho ela pra vocês. — Encarei , sem graça. Não queria dar trabalho para ninguém. — Andem, passem protetor solar e vão se divertir um pouco!
Fiz o que Suzanne me instruiu e peguei o protetor, enchendo minha mão do produto esbranquiçado, pronta para me besuntar, já que eu estava mais branca que a areia macia abaixo de meus pés.
— Passa nas minhas costas, por favor? — Aproveitei o que tinha em mãos e espalhei o produto em , reparando como sempre em seus ombros largos que eu particularmente achava muito sexy.
Massageei sua pele clara enquanto ele, sentado, passava protetor no próprio peito e braços, fazendo-me lamentar por não poder espalhar por aquela barriga, que não era definida como a de Chace, mas ainda assim era maravilhosa, assim como seu peito tatuado.
Assim que terminei, deixei seu corpo quente, tratando de voltar ao meu e passando por meu tronco e braços. Levei o décimo quinto susto só naquele dia ao sentir as mãos melecadas de entrando em contato com minha pele, deslizando firme pela parte detrás das minhas coxas e subindo conforme ele espalhava.
— Dá pra tirar as mãos da minha bunda? — Exclamei ultrajada, ouvido Suzanne e Jack rindo, deitados na tenda com . — Eu alcanço ela, preciso de ajuda com minhas costas.
— Não consigo evitar, amor. — Arqueou as sobrancelhas, fazendo graça para o casal, que se divertia às nossas custas. realmente me ajudou com as costas, suas mãos grandes passearam pelo meu colo, nuca e quadris, e eu me permiti até fechar os olhos sob seu toque suave.
Comecei a me arrepender de ter ido para o mar junto de no momento em que ele me agarrou, mergulhando junto de mim mesmo sabendo que eu não sabia nadar e muito menos era habituada com o mar. Tentei sair algumas vezes, porém, ele sempre me puxava de volta, alegando que eu tinha que perder o medo e que não havia nada demais ali, que ele estava do meu lado o tempo todo caso algo acontecesse.
Como confiar em alguém que está o tempo todo tentando te matar afogado?
Quando eu finalmente saía da água, sentindo o peso do mar em minhas pernas que andavam contra ele, uma onda forte me derrubou, fazendo-me afundar de uma só vez. Fechei meus olhos com força, sentindo o desespero me tomar enquanto era levada pela correnteza.
A vida da gente realmente passa pela nossa frente quando estamos prestes a morrer e eu percebi que a minha era muito chata e que as únicas coisas diferentes que estava vivendo foi depois de ter me casado com . Dinheiro realmente trazia felicidade, quem dizia que não estava sendo um puta hipócrita. Não era justo morrer afogada sem ao menos completar vinte e quatro horas em Tulum.
— Te peguei! — Ouvi a voz e me agarrei a ele, sendo carregada para fora do mar. — Você está bem? Eu te disse para não se afastar, !
— Eu sei! — Tossia, ofegante, enquanto os outros se aglomeravam em volta de mim, apenas aumentando minha sensação de pânico. — Eu só queria sair, estava com medo!
— Se não tivesse puxado ela pro fundo, isso não teria acontecido. — Chace murmurou, atraindo o olhar raivoso de .
— Eu estava segurando ela o tempo todo. Acha que eu queria que minha mulher se afogasse? — Suas cordas vocais se destacaram em seu pescoço, fazendo todos se entreolharem, um pouco pasmos com aquela discussão desnecessária.
— Gente, eu estou bem! A culpa foi minha, eu que me soltei dele e tentei sair sem avisar. — Já mais calma, me levantei da areia, batendo as mãos na bunda a fim de me limpar.
— Se não sabe nadar, vamos então visitar os cenotes! — Suzanne se pronunciou, ajudando-me a diminuir a tensão. — Tinha deixado para amanhã, mas podemos ir hoje. Você vai adorar, , as águas são bem mais tranquilas. — Me abraçou de lado, levando-me para a cabana.
Sorri amarelo, já temendo ter que entrar na água novamente. Tinha ficado tão assustada que achava que nem mesmo na piscina eu entraria mais. Se antes eu já tinha medo, depois de quase ter me afogado meu pavor à água somente triplicou.
No fim das contas apenas eu, , Suzanne e Jack fomos para os tais cenotes, deixando os solteiros na praia, aproveitando todos os turistas que ali haviam. Senti tanta saudade de ser solteira e o pior de tudo era saber que nem tinha aproveitado minha solteirice indo à praia ou aproveitando o verão com todos aqueles caras gatos sem camisa.
Combinamos de nos encontrar mais tarde na casa, onde nos arrumaríamos para ir jantar em um dos restaurantes à beira mar. Pelo que ouvi dizer, a noite ali era animada e não acabava tão cedo.
Chamamos um carro para que fôssemos até lá e vi que a maioria das pessoas ia de bicicleta, mas com não seria possível. Queria poder pedalar de novo, sentia tanta falta depois de ter perdido minha Amy para aquele acidente ridículo. Quando chegamos havia uma pequena fila para entrar, porém, era apenas um grupo de pessoas que logo estava de saída. Pagamos uma pequena taxa de entrada e finalmente pudemos adentrar a grandiosa caverna. Segundo o funcionário, o nome do cenote era Suytun, que significava Centro de pedra. Ao passarmos pela grande passarela rochosa e contemplarmos o local inteiro, dava para saber o motivo daquele nome.
Havia apenas uma abertura no teto da caverna, repleto de estalactites que mais pareciam pingos de água em forma de rochas descendo sobre nós. Através do buraco vinha a luz do sol, tão forte que conseguia iluminar o local inteiro apenas com um simples feixe de luz. A passarela ia até por cima das águas azuis, onde viviam alguns peixes de água doce.
Jack e Suzanne deram um mergulho rápido, descrevendo as águas cristalinas como frias demais, porém, pareceram aproveitar muito a experiência. Enquanto isso, eu, e apenas ficamos olhando em volta, boquiabertos, feito bobos.
— Me deixe tirar uma foto de vocês. — Assenti, me posicionando abaixo do feixe de luz e sorrindo verdadeiramente por estar explodindo de felicidade, de tanto que estava amando aquele lugar.
Fiquei feliz de estarmos tirando fotos, afinal, nem que eu descrevesse Tulum nos mínimos detalhes Fanny e Anne iriam conseguir compreender ou imaginar a magnitude da natureza em sua mais bela forma.
veio até mim, mostrando-me o resultado da foto e fazendo-me sorrir abertamente ao notar a carinha de . A câmera tinha captado tudo o que meus olhos viam numa riqueza de detalhes impressionante e eu suspirei, ainda incrédula com a perfeição daquela caverna. Parecia um cenário de um filme de fantasia.
— Olhe esse lugar... — Reparei o casal nadando e logo depois meus olhos foram até os verdes de , que já estavam focados em mim há um tempo, fazendo-me ficar envergonhada com a intensidade de seu olhar. — Muito obrigada por isso, eu não tenho mais nem palavras para agradecer. Talvez eu nunca conheceria esse paraíso se não fosse por você.
O senti se aproximar mais ainda na passarela, chegando tão perto que me permitiu sentir sua respiração batendo contra meu rosto. Vidrada em seus lábios, fechei meus olhos, permitindo-me senti-lo tão próximo de mim e esperando até que quebrasse de vez qualquer distância entre nós e me beijasse logo. Porque, apesar de ter sido ele quem se aproximou e tomou iniciativa, eu ainda tinha receio de ser um joguinho idiota vindo dele para depois jogar na minha cara que eu o queria.
Querer eu até queria, mas não era para ficar tão explícito daquele jeito.
Quando ele finalmente colou nossos lábios, envolvi sua nuca com minha mão livre, tentando trazê-lo mais para perto. ainda estava entre nós, lembrando-nos de tomar cuidado para não esmagá-la e também nos alertando silenciosamente de que aquilo era um erro terrível. Não deveríamos nos envolver daquele jeito, deixar o desejo nos sucumbir.
Mas que erro delicioso! Sua língua enroscava-se na minha com calma, como da última vez na piscina, só que daquela vez estávamos longe e eu senti falta de ter seu peito colado ao meu para saber o quão rápido seu coração batia, porque o meu eu já sentia quase saindo pela boca.
Um flash nos atingiu, dando-me um susto e afastando , que ria da minha situação enquanto Jack ainda tinha o próprio celular nas mãos.
— Parem de se agarrar e façam uma pose com a bebê. — Suzanne berrou, ainda arrancando-nos sorrisos sem graça enquanto fazíamos o que nos foi mandado por livre e espontânea pressão.
— Uma família feliz na lua de mel. — Jack caçoou, fazendo-me lembrar de que ele tinha razão, nós não tínhamos tido lua de mel. Não que tivéssemos pensado naquilo quando nos casamos, há três meses atrás. e eu ainda queríamos nos matar.
Algumas coisas mudaram, ultimamente queríamos nos matar de prazer... Mas assim como a nossa primeira vontade, não iria acontecer.
Ao sairmos dali, fomos em direção aos outros vários cenotes que haviam por Tulum, um mais lindo que o outro, fazendo-me encher a galeria do celular de tantas fotos tiradas. Daquela vez paramos em um aberto, sem cavernas e apenas com a luz do sol entrando em contato conosco. Havia algumas pedras que possibilitavam que eu entrasse na água refrescante e até ficasse com em meu colo para banhá-la também. Os outros três me abandonaram e foram mergulhar nas regiões mais fundas da água cristalina.
Ficamos a tarde toda daquele jeito, conhecendo a cidade e as histórias do povo maia que cada pedacinho ali contava. Não precisávamos de guias quando tínhamos Su conosco, aquela mulher era muito inteligente, além de linda e simpática. Jack e ela faziam um casal incrível! Ele prestava atenção em tudo o que ela explicava com o maior interesse do mundo, era atencioso e carinhoso, inclusive fazia muitos planos de revisitar cada lugar que passamos com Lorenzo, o filho dela.
— E ai, cara, como foi o passeio de casais? — Parei meu caminho até o quarto que dividia com , deixando-a com adormecida nos braços. — Você fez falta, hein... — Soltei um riso sem graça. Eu queria muito ter ficado a tarde toda na praia pegando várias, mas por incrível que poderia parecer...
— Foi bom... — Chace me olhou desconfiado. — É sério, cara, foi ótimo. Conhecemos mais a cidade, nadamos um pouco... Até entrou na água um pouquinho.
— Sobre mais cedo... Me desculpe, não quis insinuar nada. — Se levantou do sofá, que estava jogado, vindo me abraçar.
Bati nas suas costas vermelhas fazendo-o reclamar de dor. O bom de ficar durante a viagem com duas mães por perto era que eu nunca me esquecia de retocar o protetor solar. Aliás, tinha acabado de descobrir que precisava retocar.
— Tudo bem, cara. — O desculpei genuinamente, apesar de não ter me esquecido da sensação que tive mais cedo em relação a ele conversar com . Ele era meu melhor amigo, talvez ainda não estivesse acostumado a me ver casado como sempre fazia questão de destacar, sempre impressionado com o fato de eu ter ido primeiro. — Não se preocupe tanto com , ela é daquele jeitinho mesmo, assustada, meio atrapalhada, nós nem estávamos tão no fundo. — Gargalhei junto dele, me lembrando da cena.
Pelo menos serviu para eu rir um pouco da cara dela, que quase perdeu a parte de cima do biquíni naquela brincadeira toda de se afogar no raso.
— Vamos, vamos. Quero chegar cedo no restaurante para jantar em paz antes que comece a música. — Su apareceu com suas toalhas molhadas, indo estendê-las do lado de fora da casa.
— Não gosta de baladas?
— Eu adoro, por isso estou falando para chegarmos cedo. Depois do jantar eu vou beber até esquecer meu nome. — A morena respondeu Chace, refazendo o caminho até os quartos e arrancando risadas de nós.
— Esse é o plano. — Ele murmurou, ainda risonho.
— Não vai tomar banho? Está cheio de areia ainda. — Ri do seu estado. Seus cabelos estavam duros pelo sal do mar e ele estava praticamente à milanesa, não se importando em sujar o sofá da sala.
— Só tem quatro banheiros na casa, estou esperando minha vez.
— Vá tomar banho lá no quarto, . Ainda vai dar banho na bebê antes de começarmos a nos arrumar. — Sugeri, sendo seguido por Chace até o quarto.
murmurava uma música infantil qualquer enquanto segurava a bebê dentro da banheira de plástico, lavando seu cabelinho com seu shampoo que tinha um cheiro gostoso de bebê. Ela nos espiou por cima do ombro e viu quando Chace sorriu amarelo em sua direção, fechando-se no nosso banheiro.
— Cuidado com meu vestido. — Disse ainda calma, com as atenções voltadas a .
Coloquei meu celular no carregador já que a bateria tinha morrido no meio da tarde. Fui até elas, fazendo uma pequena festa com a bebê na água. Ela era tão inteligente, já batia as mãozinhas e nos molhava enquanto soltava seus gritinhos agudos. Beijei seu pescocinho, fazendo-a encolher o ombro e sorrir.
— Vai tomar seu banho, ainda vou ter que hidratar o cabelo. — me apressou assim que vimos Chace deixar o banheiro apenas com uma toalha enrolada na cintura. deu uma espiadinha de leve no corpo dele enquanto ele se esgueirava para fora de nossas vistas, agradecendo pela gentileza que me arrependi de ter lhe dado.
Assim que saí do banho, vesti roupas leves já que estava muito calor e o ambiente era mais descontraído, sentei-me na cama olhando para que pudesse se arrumar.
Trocava mensagens com Dafne contando como estava sendo a viagem e tentando me esquivar de seu assunto preferido: Meu casamento. Lhe disse que estava indo tudo bem e mandei algumas fotos minhas que tinha tirado, estava falando com ela desde o avião, quando eu não tinha nada pra fazer para passar o tempo. Já era madrugada em Londres pelo fuso de cinco horas de diferença, e como era uma sexta a noite Dafne estava disponível para jogar conversa fora. Ela me enviou uma foto que ainda carregava por conta do sinal ruim da internet.
saiu do banheiro já vestida num vestido longo e estampado, que continha duas fendas nas coxas. Seus cabelos loiros lhe tapavam as costas.
Desviei meu olhar para a tela do celular vendo o par de seios de Dafne sorrirem para mim naquele nude maravilhoso que ela havia acabado de me enviar.
— , amarra aqui pra mim, fazendo o favor. — afastou os cabelos longos e úmidos das costas, revelando seu tronco inteiro nu. Mordi meu lábio ao me deparar com aquela pele macia enquanto ainda segurava as pontas do tecido, apoiando uma das mãos nos seios para que eles não ficassem à mostra.
Seria muita sem-vergonhice dizer que eu estava torcendo para que o tecido escapasse de sua mão?
Larguei o celular, esquecendo-me completamente de responder Dafne, e fui até ainda sem entender o motivo do meu nervosismo ao apenas lhe fazer um favor simples. No fundo eu estava com medo de não me segurar e puxá-la para um beijo, como fiz mais cedo no primeiro lugar que visitamos.
— Eu fico com medo de não amarrar direito e soltar. — Sorriu, olhando-me pelo espelho. Engoli a seco, fazendo o que ela me pediu e pensando o que diabos estava acontecendo comigo. Porque não estava fazendo absolutamente nada e mesmo assim eu estava louco de vontade de agarrá-la.
Assim que terminei, peguei sua mão que segurava seus cabelos, puxando-a e soltando os fios cheirosos para suas costas, franziu o cenho com aquela minha atitude, eu vi pelo espelho quando ela tentou se virar para me perguntar o motivo de eu estar com as mãos em seus cabelos macios. A impedi de fazê-lo, deslizando as pontas dos meus dedos pela sua pele exposta, contornando seu tronco até chegar em sua cintura e segurá-la ali com firmeza. Se se virasse para me perguntar o que eu estava fazendo, não saberia responder.
Talvez, seguindo meus instintos?
O calor humano que emanava do corpo dela era completamente agradável ao toque, senti quando suspirou em meus braços, levando as mãos até as minhas repousadas no próprio corpo enquanto já virava o pescoço fino, deixando-o livre para que eu pudesse distribuir beijos na região, e foi o que eu fiz após umedecer meus lábios, arrancando-lhe mais suspiros. chegou a fechar os olhos, ficando totalmente entregue a mim, que se não fosse pela situação em si, faria questão de desamarrar aquela droga de vestido e jogá-la na cama atrás de nós.
— Me beija... — O sussurro sôfrego saiu de sua boca enquanto eu ainda era privado de olhar para dentro daqueles olhos azuis. Aproximei meu rosto da lateral do seu, querendo alcançar seus lábios o quanto antes e fazer o que ela tinha me pedido com tanta sede.
— , você... — Respirei fundo, soltando-a quando a cabeleira ruiva de Caroline apareceu na porta. — Me desculpa interromper, é que Suzanne está te chamando para se arrumar lá com a gente. — Seu rosto ganhou uma colocação vermelha e me encarou, ainda atordoada antes de assentir e deixar o quarto junto dela.
Sentei-me na beira da cama levando as mãos aos cabelos, puxando-os num claro sinal de nervosismo. O que estava acontecendo comigo? Aquela viagem era para acabar com aquele desejo em olhando outras mulheres mais atraentes que ela, e não para saciar minha vontade de pegá-la.
Peguei , sua bolsa e meu celular, indo para a sala e encontrando os outros rapazes, juntando-me a eles na espera das noivas enfurnadas no quarto de Suzanne. Conversamos um pouco e finalmente as três deram o ar da graça, fazendo-me repensar meu pensamento de minutos atrás, quando achei que ir para Tulum me faria prestar atenção em outras mulheres e me esquecer completamente do meu desejo em .
Mas, como fazer aquilo se ela ainda era a mais linda em meio às outras? Sério, eu já a achava gostosa antes, mas parecia que o sol de Cancún tinha feito muito bem a ela. Seu rosto corado pelo bronzeado estava com pouca maquiagem, mas mesmo maquiada sua pele brilhava, o sorriso aberto e os olhos mais azuis que o normal. Seus cabelos foram presos num penteado que ainda os deixavam um pouco soltos atrás, revelando os ombros desnudos pelo vestido frente única.
— Nossa, vocês estão maravilhosas. — Ouvi a voz de Chace ainda longe, mesmo com ele ao meu lado. Quando me dei conta de seu tom, o encarei, pegando-o fitando uma pessoa em especial. — Com todo o respeito, caras. — Direcionou-se a mim e Jack, sorrindo sem graça.
Fui até guiando-a para fora da casa junto com o resto do pessoal. Chace tinha que aprender a disfarçar melhor suas opiniões, ainda mais quando se tratava da mulher dos outros.
Pegamos os carros e fomos em direção ao restaurante, que mais uma vez era um lugar de tirar o fôlego. No andar debaixo havia uma pequena queda d'água na parede, ela desaguava numa pequena piscina que contrastava perfeitamente com os parapeitos rústicos do outro lado, que nos proporcionavam uma vista linda da praia. Ali, segundo Suzanne, seria onde aconteceria a festa ao chegar da meia noite. Notei um pequeno bar ao canto, comprovando o que ela tinha dito.
Subimos uma das duas escadas de madeira que nos levariam até a área das mesas. Nos acomodamos e alugamos um carrinho para deitar , onde ela dormiu a maior parte do tempo em que ficamos ali, jantando a comida deliciosa e típica do local enquanto conversávamos e ríamos juntos. A noite estava fresca e agradável, o restaurante estava cheio, em sua maioria eram turistas como nós.
— Que perfume é esse? — Aproximei-me de sua cadeira, puxando-a e fazendo rir ao ver o quão fácil foi para mim trazê-la para perto. — Me deixe sentir... — Impliquei com a loira, que após me olhar desconfiada, sorriu tímida, tirando os cabelos do pescoço e se debruçando próxima de mim. — Que delicia. — Passei a ponta do nariz por sua pele, vendo-a engolir a seco e se arrepiar por completo antes de depositar um beijo naquela região.
— Suzanne me emprestou. — Murmurou trêmula, se afastando vermelha. Suspirei frustrado, ainda com os olhos cerrados e já sentindo falta de tê-la tão perto. — Eu nem me lembro mais o nome direito.
— 4160 Tuesdays, dizem por aí que é literalmente sexo engarrafado. — A morena se intrometeu na conversa, fazendo todos da mesa nos encarar com malícia. — Não que vocês precisem disso, né. — Trocou olhares significativos com Caroline, que riu junto dela numa comunicação silenciosa. Com certeza a amiga contou o que viu no quarto.
Quando deu meia noite, a música começou a tocar no andar debaixo, atraindo frequentadores para a pista, logo víamos copos de drinks nas mãos deles enquanto dançavam descontraídos. Meu celular bipou, fazendo-me desbloqueá-lo sem me dar conta da última coisa que fiz nele quando o bloqueei pela última vez. A foto que Dafne me enviou estava aberta, apertei o botão único do aparelho voltando a tela inicial e olhei em volta num reflexo para ver se tinha alguém olhando minha tela. Dei de cara com , encarando-me com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso sem humor nos lábios.
— Vamos dançar, meninas? — Nem sequer esperou resposta, levantando-se e deixando a mesa rapidamente.
As outras pareceram não perceber nada, já que estavam entretidos numa conversa quando chequei o celular. Me levantei, indo atrás dela, consegui pegá-la ainda na entrada da escada, já que teve que parar para esperar um garçom passar.
— O que foi? — Senti a raiva em sua voz quando a puxei pelo braço.
— O que foi digo eu. Por que saiu da mesa daquele jeito?
— Ah, você percebeu quando eu saí da mesa? Achei que estava ocupado demais olhando para os peitos de Dafne. — Franzi a testa, tentando entender o que estava acontecendo ali. — Abriu aquela porra de nude no meio dos seus amigos, , e se alguém ve? Eu mereço o mínimo de respeito!
— Está com ciúmes? — Segurei um riso ao ver o estado dela, que já era caótico, triplicar em questão de segundos.
— Eu? Com ciúmes de você? Por acaso bebeu?
— Quem parece que bebeu aqui é você, . Me pede um beijo, age como se nada tivesse acontecido e depois quando me aproximo se afasta. — vociferei, agradecendo pela música alta encobrir nossa pequena discussão, que por incrível que pareça ainda estava discreta.
— Aquilo foi apenas uma... coisa de momento. — Piscou algumas vezes, contrariada. Senti meu sangue ferver ao ouvi-la dizer aquela desculpa esfarrapada. — Eu não sou o seu brinquedinho, , aquele que você pega quando os outros não estão disponíveis. Não se preocupe, daqui a dois dias nós voltaremos para Londres e vai poder ir para a casa de Dafne e passar outra noite inteira com ela com o celular ligado, porque eu não vou perder meu tempo em te ligar para atrapalhar o seu momento.
— De onde você tirou essa história de brinquedo, ?
— De lugar nenhum, é só o jeito como eu me sinto agora que sei que tudo o que você fez comigo hoje foi por carência, por estar longe de Dafne.
Dafne não tinha aquela importância toda na minha vida! Era recém chegada e não era como se ela tivesse ficado na minha cabeça o dia todo enquanto eu estava curtindo as férias em Tulum, eu só falei com ela porque não tinha nada pra fazer enquanto esperava tomar seu banho.
— Eu não fiz nada de diferente hoje, . Te tratei do jeito que sempre trato, cuidei de você do jeito que sempre cuido, sem ter nada por trás disso. — A olhei nos olhos, transmitindo sinceridade.
— Não, esse não é você, . Não em relação a mim. — Eu sabia que ela tinha razão.
— E se eu tiver mudado? — me encarou confusa. — , eu não te vejo mais como via antes, já assumo pra mim mesmo que me sinto atraído por você. — E agora, assumia para ela, ferindo meu orgulho. abriu a boca, pronta para falar algo, porém se calou ainda sem conseguir vociferar o que sentia. — E acho que já está mais do que na hora de você fazer o mesmo, porque eu sei que me quer também.
baixou o olhar por alguns segundos antes de se soltar de minha mão e voltar a levantar a cabeça, balançando-a minimamente. A loira soltou um riso sem humor e encarou algum ponto atrás de mim antes de abrir a boca e finalmente me responder.
— Eu não faço a mínima ideia do que está falando. — Seu olhar opaco voltou-se para o meu e eu comprimi meus lábios sentindo o impacto que aquela resposta teve. Foi como levar um tapa bem dado na cara.
Eu, , tinha acabado de levar um fora de .
Puta que pariu. tinha me dado um fora.
Inacreditável. Mais do que isso, ridículo! Principalmente pelo fato de eu saber que era uma mentira deslavada. sabia muito bem do que eu falava, ela também sentia tudo o que eu sentia, tanto que nem coragem de dizer aquilo olhando nos meus olhos ela teve.
— Então você é uma hipócrita. — Disse entredentes, vendo-a reagir ofendida. — Diz que eu acho que você é meu brinquedo, mas me usa sempre que quer algo que sabe que não vai conseguir fora de casa. Ah, e não me venha pedir respeito, sendo que você mesma secou Chace de toalha lá no quarto na minha frente e nem faz questão de esconder que é a fim dele. Me respeite você, ! Porque Dafne não é nada sua, já Chace é o meu melhor amigo. Do mesmo jeito que me pediu pra dar um fora em Anne, faça-me o favor de dar um chega pra lá nele.
Lhe dei as costas, respirando com dificuldade e tentando me estabilizar antes de retornar a mesa, onde meus amigos me encararam sem jeito, provavelmente por terem presenciado a discussão mesmo que de longe.
— Tá tudo bem, cara? — Nick indagou, receoso. Me joguei na cadeira ao seu lado, ainda me recompondo.
— Está sim, acho que preciso beber. — Jack assentiu compreensivo, fazendo sinal para o garçom, já que eu não queria ficar perto de e o bar era lá embaixo, onde ela já estava junto das meninas, dançando.
Relaxei um pouco quando engatamos uma conversa sobre futebol, mais precisamente sobre o último campeonato. Era sempre uma discussão acalorada, já que torcíamos para times diferentes, mas ainda assim era divertido vê-los se alterar quando não concordavam uns com os outros.
Jack e eu observamos de lá de cima as meninas dançando músicas latinas com algumas mulheres que pareciam ser de nativas de Cancún, já que mexiam os quadris no ritmo da música quase como a Shakira fazia, as tentativas de imitação de , Suzanne e Carolina nos arrancou risadas. Definitivamente não era a praia delas, porém as três pareciam estar curtindo a experiência.
estava adorando Tulum, como eu já imaginava após lhe dar a notícia de que iríamos para lá e ouvi-la tagarelar por dias com Anne e Tiffany. Estava feliz por vê-la mais descansada, apesar de ainda estar puto com ela.
Nick, Jacob e Chace avistaram duas garotas que segundo eles estavam na praia durante a tarde, desceram para tentar algo com elas me deixando sozinho com Jack na mesa. Ele até tentou me perguntar o que tinha acontecido, já que tinha sido uma briga muito do nada, estávamos bem na mesa durante o jantar. Claramente não nos conhecia juntos, aquilo era a coisa mais normal do universo para nós dois.
O motivo da briga que era uma novidade. Uma grande novidade. Me arrependi tanto de ter aberto minha boca, queria voltar no tempo só para ter me auto impedido de falar para que a desejava. Eu tinha certeza que era recíproco, só não contava que ela fosse ser tão orgulhosa ao ponto de ter a coragem de negar na minha cara! Mas a quem eu estava querendo enganar? não tinha fama de intocável no tempo da escola por acaso, não é?
— Eu não sei o que aconteceu, mas trate de ir lá e fazer as pazes com sua esposa. — Suzanne surgiu atrás de mim, sentando-se ao lado do namorado, cansada. — Vá, nós cuidamos da .
Olhei para a pista de dança e encontrei os meninos dançando perto de e Carolina, meu olhar se direcionou a Chace, que conversava interessado com . Me levantei e fui até as escadas, porém quando cheguei lá embaixo me dei conta do que estava fazendo. Eu não devia ficar me importando com Chace ou com e o fato de eles quererem tanto se pegar, sabia das consequências caso correspondesse às investidas dele, e ele, bom.... Iria perder o melhor amigo e de brinde levaria um soco bem dado na cara.
Passei reto por eles, indo até um dos banheiros e me recompondo por lá. Não iria mais fazer ceninha de ciúmes, que se danasse junto com todo o resto! Quando deixei o banheiro Beyoncé ainda tocava embalando as pessoas na pista. Me sentei no banco do bar após pedir uma dose de whisky, passei a observá-la ainda conversando com meu amigo. Levantei a sobrancelha quando me procurou com o olhar e finalmente me encontrou.
Neguei com a cabeça quando ela me chamou com a mão. suspirou frustrada batendo as mãos nas coxas antes de deixar os ombros caírem e murmurar um pedido de desculpas. Franzi a testa, ela não sentia muito, sequer tinha entendido que o que me deixou puto foi o fora que me deu e não toda a discussão em si.
"You're so sexy, tonight I am all yours boy"
Você é tão sexy, esta noite eu sou toda sua, garoto.
E então ela começou a dançar enquanto sorria na minha direção. Fingi desdenhar, afinal de contas o que ela dublou com aqueles lábios rosados não iria acontecer. nunca iria ser minha, seu orgulho não a deixava tentar nada.
Se se permitisse experimentar ao menos uma vez, eu faria valer a pena, lhe daria a melhor noite de sua vida. Mas não, não conseguia se entregar, apenas fechar os olhos e mergulhar nas sensações. Ela tinha que insistir em se lembrar de quem eu era e me rejeitar por isso. achava que seria fácil pra mim levá-la para cama após tantos anos de ódio acumulado?
"The way your body moves across the floor"
O jeito que seu corpo se move no chão.
Tomou a liberdade de trocar a letra, falando sobre o próprio corpo enquanto descia até o chão com apenas o tecido do vestido de fendas impedindo quem assistia a cena de ver sua calcinha. Ofeguei sem conseguir tirar os olhos dela, que tinha um sorriso vencedor nos lábios por ter minha atenção toda voltada para si. Engoli a seco levando um pouco do meu orgulho garganta a baixo. Não dava para resistir a aquilo, mas eu tentaria o máximo que conseguisse.
ainda dançava jogando os cabelos e rebolando aquela bunda maravilhosa em evidência naquele vestido. Os olhos voltados para ela se direcionavam para mim vez ou outra, como se quisessem ver a minha reação ao assistir de camarote aquele show particular feito pra mim. Tentei permanecer impassível enquanto controlava minha respiração já completamente sem ar, estava duro dentro da calça. Aquela cena era a coisa mais sexy que eu já havia visto na vida.
E eu estava me sentindo privilegiado em finalmente tê-la dançando para mim e dando duro para conseguir o meu perdão. Quando, há anos atrás, eu iria imaginar aquela cena? A insuportável fazendo-me preferi-la no lugar das lideres de torcida da escola? O de dezesseis anos se reviraria em agonia se me visse naquele estado por ela.
"Tonight I'll be your naughty girl"
Esta noite eu serei sua garota safada.
Me deu as costas movendo os quadris devagar, virando-se minimamente para checar minha reação, que a única que conseguia esboçar em público era morder meu lábio em pura excitação.
"I know you want my body"
Eu sei que você quer meu corpo.
Passou as mãos pelo próprio corpo, fazendo-me ofegar. Queria poder abrir aquela calça que já estava insuportavelmente apertada e libertar meu membro, que implorava para ser aliviado por aquele par de mãos. Mas só de eu mesmo poder tocá-lo ao mesmo tempo em que a tinha dançando daquele jeito diante de mim, já completaria minha fantasia.
"I see you look me up and down. And I came to party"
Te vejo me olhando de cima a baixo. E eu vim para festejar.
me chamou com a mão novamente, já cansada de dançar. Neguei com a cabeça de novo, bebendo mais um pouco da minha bebida. Não seria tão fácil assim me fazer ceder, eu ainda a queria admitindo para mim que me queria. Ri minimamente, vendo a reação do pessoal em volta, revoltados porque eu a recusei. Até mesmo Suzanne e Jack, lá do andar de cima, gritaram em reprovação.
movia a cabeça em negação de braços cruzados, praticamente sozinha na pista. Tá, talvez ela até tenha se esforçado para conseguir meu perdão visto que era um pouco tímida e tinha acabado de se soltar diante de tanta gente. Me endireitei no banco quando a vi andar em minha direção.
— O que mais eu tenho que fazer para você me desculpar, hein, ? Seus amigos já nos viram brigar, colabore comigo e finja que estamos bem. — Se inclinou sobre mim, fazendo-me afastar assim que a vi querendo me beijar.
— Você sabe o que tem que fazer. — Foquei-me no pessoal voltando a tomar a pista e terminar de dançar aquela música.
— Porque é tão importante que eu assuma isso, ? Nós não podemos nos envolver assim, vamos estragar tudo e está no meio disso! — Revirei os olhos diante aos seus argumentos dispensáveis.
— Você por acaso já ouviu falar em sexo casual? — Afastei seu cabelo de seu rosto.
— Isso nunca dá certo. — Tirou minha mão de perto.
— Nos filmes nunca dá certo. — Ironizei, fazendo-a bufar. — Eu faço desde os dezesseis e sempre funcionou. — Lhe assegurei com toda a certeza do mundo ao dar a última golada no meu copo e colocá-lo sob o balcão.
— Nós somos casados, . É totalmente diferente.
— Não, não é. , sexo é sexo em qualquer lugar do mundo e em qualquer status de relacionamento. — Argumentei já impaciente com seu dom de complicar tudo que era bom. — A não ser que... Tenha medo de se apaixonar por mim como nos filmes água com açúcar que você anda vendo.
— Você é uma piada, . O único sentimento que você me desperta é ódio. — Levei a mão ao peito, fingindo-me ofendido. — Se eu tivesse medo de me apaixonar, não teria nem me casado pra começo de conversa, só para não correr o risco de passar minha vida ao seu lado.
— Mais uma razão pra não se preocupar com isso, Amélia disse que é bem provável que a audiência de guarda definitiva seja quando completar um ano de vida. — me olhou, espantada com a informação, acho que me esqueci de comentar com ela quando fiquei sabendo.
— Ótimo, então faltam apenas nove meses. — Desdenhou, ainda processando tudo.
— Que poderíamos deixar mais leves transando de vez em quando... — Lhe peguei pela cintura, colocando-a entre minhas pernas.
— Mais leves? Isso daria numa confusão absurda, isso sim. — Se afastou quando tentei beijá-la.
— Será que vou ter que dançar pra te convencer a me dar? — riu gostosamente, negando com a cabeça em resposta. — Pare de complicar algo tão simples como o sexo, .
— Nada do que você faça vai me fazer mudar de ideia, . — Meu Deus, que teimosia do caramba. — Continue saindo com a tal Dafne que eu me viro com alguém que conhecer por aí, estamos bem assim, você é quem quer complicar tudo.
Eu já tinha dormido com Dafne, a abstinência não era o problema, eu poderia sair e transar com quantas mulheres quisesse. O problema real naquilo tudo era que eu queria , e justamente ela resolveu que não iria rolar.
— Só enquanto o ano não acaba, . — Propus, vendo-a revirar os olhos ao notar o quão insistente eu poderia ser. — Amanhã é a virada, depois vamos pra casa e nunca mais falamos sobre isso.
Só uma noite, era tudo o que eu precisava para desencanar de vez daquela história de desejar minha arqui-inimiga. Sanar as vontades que tinha dentro de mim desde o dia em que a vi naquela camisola transparente, descontar na pessoa certa todas as frustrações que ela vinha me causando desde que nos casamos.
— Eu amo essa música! — Exclamou se afastando e claramente querendo mudar de assunto.
— , eu estou falando sério, não te perdoo e dançar de novo não vai me convencer.
"Kiss it, kiss it better, baby"
Beije, beije para sarar, querido.
A loira me ignorava, puxando-me em direção a pista, já dançando no meio do caminho. Parou no centro, cantando a letra junto de Rihanna aos pulmões enquanto mexia o corpo no ritmo.
— Can't do it like that, no one else gon' get it like that (Não consigo fazer assim, ninguém mais faz desse jeito) — Encostou-se em meu peito, jogando a cabeça para trás em meu ombro. — So why argue? You yell, but ya take me back. (Então discutir para quê? Você grita, mas me aceita de volta.) — Sorriu sugestiva, cantarolando próxima do meu ouvido, fazendo-me sorrir junto.
Eu estava fazendo aquilo naquele exato momento. Me deixando levar, hipnotizado por aquele corpo que se movia sensualmente tão perto do meu. Eu tinha acabado de dizer que não seria convencido daquele jeito novamente, mas lá estava eu, sendo feito de trouxa.
— Who cares when it feels like crack? Boy, ya know that you always do it right. (Quem se importa quando vicia como crack? Garoto, você sabe que sempre faz do jeito certo) — Apertei sua cintura, colando ela ainda mais a mim, sentindo-a suspirar ao ter as costas tocadas pelo meu peito novamente naquele dia. Mas eu queria mais, queria nossos corpos se tocando sem roupa nenhuma atrapalhando.
— Man, fuck yo pride! Just take it on back, boy, take it on back, boy. (Cara, foda-se seu orgulho! Só me faça sua de novo, me faça sua de novo, garoto.) — Beijei seu pescoço, tendo esfregando sua bunda em meu pau à medida em que rebolava na minha frente. Tirei seus cabelos do caminho, mordiscando sua orelha e vendo-a encolher os ombros, arrepiada dos pés a cabeça. — Take it back all night, just take it on back, take it on back. (Me faça sua a noite toda, só me faça sua de novo, me faça sua de novo.)
Puxei seus cabelos, que àquela altura já estavam soltos da arrumação que fez ao sair de casa. Ela soltou um gemido, rindo safada em seguida. Com a outra mão lhe apertei a bunda com força, sentindo seu corpo ceder um pouco de tão mole que minha esposa ficou em meus braços.
Por que resistia tanto? Se nós dois sabíamos que ela queria parar na minha cama.
— Mmm, do what you gotta do, keep me up all night. (Faça o que for, me faça ficar acordada a noite toda.) — Deslizou a bunda contra meu membro, daquela vez indo até o chão e deixando-me passar minhas mãos descaradamente por seu corpo enquanto descia. — What are you willing to do? Oh, tell me what you’re willing to do. (O que você está disposto a fazer? Oh, me diga o que está disposto a fazer?)
A agarrei com firmeza, virando-a de frente para mim quando subiu, seu rosto grudado no meu, olhos vidrados em uma conexão impressionante, ofegava contra seus lábios entreabertos. Eu nunca tinha sentido tal coisa na vida.
"Kiss it, kiss it better, baby"
Beije, beije para sarar, querido.
Sua boca encostou-se na minha e, após uma pequena tortura dela, finalmente pude tomá-la por completo, beijando-a avidamente enquanto a segunda parte da música tocava em nossos ouvidos e ainda dançávamos mais grudados do que nunca. Uma de minhas mãos estava enterrada em seus cabelos enquanto a outra passeava pelas costas desnudas, sentindo cada centímetro de sua pele quente.
"Hurtin' vibe, man, it hurts inside, when I look you in yo eye."
Me machuca muito, cara, dói por dentro quando olho em seus olhos.
Oh, sim, doía e muito. Não somente pela frustração de querer algo que está tão perto de si e conseguindo esticar o braço, podendo tocar e mesmo assim não poder ter.
— I've been waitin' up all night. Baby, tell me what's wrong? Gonna make it right, make it all night long. (Estou esperando acordada a noite toda. Querido, me diga o que há de errado? Vamos fazer tudo ficar certo, fazer durar a noite toda.) — Ela passou os braços pelo meu pescoço, colando nossas testas e cantando a música, esticando-se para atacar meu pescoço com seus beijos e mordidas.
— Porra, . — Gemi ao pé do seu ouvido, sentindo-a sorrir com o ato.
— Man, fuck yo pride! Just take it on back, boy, take it on back, boy. (Cara, foda-se seu orgulho! Só me faça sua de novo, me faça sua de novo, garoto.) — Suas mãos desceram do meu pescoço para meu peitoral, agarrou minha camisa levantando o rosto e roçando os lábios em meu queixo. — Mmm, do what you gotta do, keep me up all night. Hurtin' vibe, man, it hurts inside, when I look you in yo eye. (Faça o que for, me faça ficar acordada a noite toda. Me machuca muito, cara, dói por dentro quando olho em seus olhos.)
Mordi seu lábio inferior, sugando-o lentamente ao mesmo tempo em que espalmei minhas mãos em sua bunda, colando nossos quadris e fazendo-a sentir o tamanho de minha excitação.
"What are you willing to do? Ooh, tell me what you're willing to do"
O que você está disposto a fazer? Ah, me diga o que está disposto a fazer.
— Kiss it, kiss it better, baby (Beije, beije para sarar, querido). — Cantava contra minha boca, ainda de olhos fechados.
"Ooh, tell me (baby) what you're willing to do"
Ah, me diga (amor) o que está disposto a fazer.
Suspirei contra seu rosto, apenas segurando-a pela cintura e aproveitando o instrumental da música que já estava no seu fim. Meu coração parecia querer sair pela boca e eu nem tinha me dado conta de quando ele tinha acelerado daquela maneira. Levei sua mão até meu peito, vendo-a olhar-me nos olhos quando o sentiu batendo descompensado.
"(Kiss it, kiss it better, baby)"
"Kiss it, kiss it better, baby"
“Kiss it, kiss it better, baby"
Beije, beije para sarar, querido.
— Preciso de um drink. — Ofegou contra meu rosto quando me aproximei. então saiu de repente deixando-me plantado ali, mais uma vez a vi escorrendo feito areia pelos vãos de meus dedos.
Estava para nascer uma mulher mais difícil de se levar para cama que . Aliás, esperava que já tivesse nascido e que aquela fosse quando virasse adulta. Acho que nunca vou conseguir lidar com o fato de que ela vai crescer um dia e arrumar namorados, ou namoradas, tanto faz.
Subi atrás dela, querendo puxá-la para um canto e pedir explicações sobre tudo o que aconteceu lá embaixo quando a música estava nos guiando. Não era possível que estivesse brincando comigo aquele tempo todo e iria sair pela tangente daquele jeito! Quando voltei a mesa, Caroline estava sentada em meu antigo lugar, sobrando para mim apenas a cadeira em frente a , com a porra da mesa nos separando.
— Já que chegaram, eu queria contar algo que Jack e eu estávamos pensando sobre vocês dois. — Su trocou olhares com meu amigo, deixando-me confuso junto de . — Como acabamos de ver, vocês precisam arrumar um quarto urgentemente e transar. — levou a mão ao rosto, envergonhada, enquanto eu apenas ria, ignorando os gritinhos afetados dos presentes na mesa. — Mas sei que com junto é meio impossível, então tivemos a ideia de ficarmos de babá hoje a noite e metade do dia de amanhã para deixar vocês namorarem um pouco. Afinal de contas, essa é a lua de mel de vocês, certo?
— Mas só se vocês quiserem, é claro. — Jack encolheu os ombros, alternando os olhos castanhos entre nós dois.
mordeu o lábio, ainda constrangida, e eu a encarei fixamente, esperando uma resposta vinda dela. O que ela decidisse estaria decidido. Se negasse a ajuda deles, automaticamente estaria me dizendo um não definitivo à minha proposta. E eu não iria mais insistir, nunca tinha feito aquilo na vida, acho que até lhe dei chances demais.
Se ela dissesse sim, as coisas ficariam interessantes a partir daquele ponto.
— Eu não sei... O que acha, amor? — Levantei uma das sobrancelhas sugestivamente, fazendo-a me encarar séria do outro lado da mesa. respirou fundo e o que pareceu uma eternidade finalmente aconteceu. A loira assentiu com a cabeça, deixando-me ansioso no mesmo instante.
Queria me levantar dali, pegá-la nos braços e sair literalmente correndo até a casa em que estávamos hospedados, só Deus sabia o quão louco eu estava para arrancar aquele vestido do corpo dela e realizar todos os meus desejos. Mas ao invés disso fiquei lá, paradão, olhando para seu rosto de bochechas ainda vermelhas e notando sua ansiedade.
O tempo que durou nossa espera para não sairmos correndo e denunciar nosso desespero pareceu uma eternidade. Mas a hora finalmente chegou, e quando nos despedimos dos meus amigos, infelizmente não fomos poupados das piadinhas e insinuações.
Ele abriu a porta do quarto numa rapidez impressionante, puxando-me para dentro e logo jogando meu corpo contra a madeira escura, prensando-me ali e me fazendo relembrar o tamanho de sua excitação. Ofeguei contra seus lábios, procurando desesperadamente pelo seu peito os botões daquela camisa fina. Quando os achei foi questão de segundos para que estivessem abertos, revelando seu peitoral tatuado que me dava vontade de beijar cada centímetro de pele exposta.
puxava minha coxa, encaixando-se em meu quadril, que estava descoberto uma hora daquelas devido a grande fenda do vestido leve que eu usava. A noite estava fresca, mas naquele momento chegávamos a pingar, suados de tanto calor.
Tratei de tirar sua camisa, deslizando o tecido claro por aquele par de braços fortes que me soltaram apenas para se livrar da peça, porém logo voltaram a me envolver, puxando-me em meio a meia luz do quarto.
Seus dedos ágeis desamarraram o vestido de meu pescoço, deixando-o cair no chão pelo caminho até a cama, onde fui praticamente jogada quando chegamos. Soltei um riso junto dele, deixando-me relaxar em meio aos lençóis macios enquanto me deleitava ao assisti-lo tirar a bermuda branca que vestia. Com o pé, acariciei seu membro, deslizando os dedos por toda sua extensão que já era bem visível dentro da cueca apertada.
gemeu em reprovação antes de apanhar meu pé e massageá-lo com suas mãos firmes, beijando seu dorso, olhando-me com aqueles olhos de esmeralda. Sorri, mordendo o lábio, ansiosa para que pudéssemos ir logo para o que interessava. Depois daquela noite toda cheia de provocações, era tudo o que eu mais queria.
Estava louca para ver do que era capaz.
Com aqueles lábios rosados recém umedecidos, ele voltou a me tocar a pele, daquela vez beijando minha panturrilha e subindo à medida em que abria minhas pernas vagarosamente. Sua língua acompanhada de mordidas pelas minhas pernas me arrepiava da cabeça aos pés. Eu já me revirava de prazer na cama e ainda nem tinha me tocado direito.
Quando suas mãos macias finalmente chegaram até meus quadris, ele levou embora minha última peça de roupa: A calcinha vermelha ensopada que eu usava.
Voltou a se posicionar entre minhas pernas, sua respiração bateu contra minha intimidade exposta, eu estava completamente sedenta e entregue. Só de imaginar o que viria a seguir, minha cabeça já dava voltas deixando-me tonta. Eu estava louca por ele e sabia muito bem daquilo, sabia do poder que tinha em mãos naquele momento.
Passou o indicador de leve entre meus lábios, fazendo-me contrair com o estímulo. Maneei meu quadril involuntariamente, olhando-o desejosa. deu um de seus sorrisos safados antes de levar o próprio dedo à boca, chupando-o e provando do meu gosto antes de se deliciar por completo.
— Oh, , você é afrodisíaca. — Minha respiração falhou enquanto eu ainda ansiava pelo seu toque. Ouvi-lo pronunciar meu sobrenome como sempre fazia, mas naquele tom sôfrego me fez deleitar de prazer.
Quando ele finalmente o fez, beijando minha intimidade antes de separar os grandes lábios e estimular meu clítoris com sua língua habilidosa, fui ao céu e voltei, sentindo meu corpo todo se estremecer quando me sugou, apertando minhas coxas com força. Ele estava literalmente pagando com a língua por todas as vezes em que desdenhou de mim.
Gemi sôfrega. Engoli a seco jogando minha cabeça para trás enquanto tentava restabelecer o controle de minhas ações. Àquela altura eu já não respirava direito e minha única saída para externalizar o que estava sentindo era esmagar os lençóis com ambas as mãos. Eu estava prestes a explodir, mas não queria que fosse daquele jeito. O queria dentro de mim e não podia mais esperar.
— ... — Ele me ignorou, fazendo-me voltar a revirar os olhos de prazer. — Por favor... sem mais preliminares. Me fode logo. — supliquei ofegante.
Ele me encarou fixamente ao escalar meu corpo, mordendo o próprio lábio inferior com força. me cobriu por inteira quando abri mais as pernas para recebê-lo no meio delas. Seu peito tocou meus mamilos, causando-me palpitação. Seu coração batia descompassado assim como o meu.
E então me tomou os lábios em um beijo molhado cheio de desejo, onde sua língua se enroscou com a minha, fazendo-me sentir meu próprio gosto. Apertei minhas coxas em volta de seus quadris, ainda sentindo o tecido da maldita cueca que nos separava.
— Tira essa droga de cueca, . Eu quero te sentir... — Gemi manhosa, tentando me esticar e abaixar a peça, sem sucesso. Ele riu gostoso, avançando com o quadril e pressionando minha intimidade molhada com seu pau ainda coberto.
— Oh, ... — Passou o nariz por minha bochecha, roçando sua boca pelo meu rosto até chegar no pé do meu ouvido. — Te ouvir falando isso... Depois de negar tanto... — Ofegou, ainda fazendo movimentos de vai e vem, como se já estivesse me fodendo. — Chega a ser engraçado.
Afastou-se minimamente para me encarar, ainda confusa. Sua mão me tocou o rosto suavemente e o polegar ficou posicionado sobre minha boca entreaberta. A abri, prendendo seu dedo ali entre os dentes, ainda sob seu olhar intenso e estupidamente sexy de .
— Parece que a menina intocável de Holmes Campbell não é mais tão impossível de se ter. — O soltei, deixando que deslizasse para fora de minha boca.
— O quê? — Franzi a testa enquanto ele sorria, afastando meus cabelos loiros de meu colo.
— Os garotos daquela escola, todos eram loucos para ter você assim, , entregue desse jeito... — Desenhou meu seio com a ponta dos dedos, abaixando-se para sugá-lo lentamente, arrancando soluços meus. Puxei seus cabelos castanhos quando senti a ponta da sua língua contornar minha aréola rosada. — Agora tem Tom e até mesmo Chace não consegue resistir a você. — Delirava, ainda sentindo-o massagear meus seios com aquele par de mãos habilidosas. — Não é engraçado que eu, o cara que você mais odeia na vida, seja o único que conseguiu?
O empurrei pelos ombros, jogando seu corpo para o lado. Aqueles meninos nojentos da escola pensavam em mim daquela forma? Espera! estava incluso naquele grupo? Ele me desejava no tempo da escola? Aquele era o maior plot twist da história!
Puxei sua cueca, finalmente deixando seu membro livre, que pulou para fora ereto e majestoso. me ajudou, tirando o restante com os pés antes que eu subisse de volta na cama e me sentasse de pernas abertas sobre aquele par de coxas deliciosas. Seu braço me prendeu contra seu peito, colando nossas peles quentes, gemi ao sentir seu pau encostar-se em minha intimidade. Foi como se uma corrente elétrica atravessasse meu corpo inteiro.
— Pois ligue para os seus amiguinhos babacas diga a eles que conseguiu me foder. — Joguei meus cabelos pra trás, deixando os fios caírem pelas minhas costas nuas. começou a se tocar diante de mim, movimentando a mão lentamente. — Mas só porque eu quis dar pra você. — Segurei seu queixo, onde sua barba rala já ameaçava a voltar a crescer novamente.
— Gostosa. — Apertou-me uma das nádegas com a mão livre, fazendo-me arfar contra sua boca. — Prometo te dar seu orgasmo. — Ri junto dele. — Afinal de contas, esta noite é especial. É nossa lua de mel.
— Cala a boca. — Gargalhamos. A situação já era bizarra o bastante e ainda tinha que lembrar o fato de estarmos casados?
Levei a mão até seu pau, masturbando-o por cima de sua mão, que em uma infeliz coincidência era a mesma que ele usava a aliança. Ignorei aquele detalhe quando o senti pincelar de leve a cabeça rosa na minha entrada e percebi que já não aguentava mais esperar. Quase tinha cometido a loucura de colocá-lo dentro de mim.
— Cadê a camisinha? — Olhei em seu rosto e ficou sério no mesmo instante. — , me diga que trouxe algum preservativo...
— Não trouxe. — Murmurou, comprimindo os lábios em seguida. Sai de cima dele na hora, com medo de cometer algum deslize e transar com ele desprotegida.
Passei a mão no rosto com a força que eu queria usar para bater nele.
— Como que você vem para um lugar desses e não traz uma camisinha, ? — Tulum estava lotado naquela época do ano e lotado de mulheres! Como ele ia viajar para um paraíso tropical daqueles e não levava nada?
— Aqui no México também vendem, sabia? — Encarou-me de canto de olho. — É claro que eu trago! Sempre uso camisinha, não queria ser pai tão cedo. Mas olhe só, não adiantou porra nenhuma.
Ainda se sentia no direito de ficar bravo! Quem estava brava era eu! E com tesão também. Ou seja, duplamente brava e frustrada.
Estava começando a me questionar se era para eu tentar transar outra vez, porque ultimamente estava dando tudo errado! Talvez eu devesse, sei lá, fazer um voto de castidade em um convento.
— Ah, sério, gênio? — sorri irônica. — E onde você vai achar uma farmácia aqui perto uma hora dessas? — A não ser que vendessem nos quiosques à beira-mar, o que eu duvidava seriamente, a noite já tinha sido completamente arruinada. — Quer saber, deixa quieto, perdi a vontade.
Mentira!
Mas não era a hora de ser honesta também. não tinha sido nem um pouco quando me encheu a paciência para ir pra cama com ele e depois de tudo aquilo só me avisar que não tinha preservativo justo na hora H.
Pesquei minha calcinha no chão e puxei da mala uma camiseta qualquer, que ao julgar pelo tamanho era dele. Deitei-me na cama, soltando fogo pelas ventas, e soquei o travesseiro com a desculpa de estar amaciando, mas na verdade estava era descontando minha raiva contra o universo e os homens.
O que uma mulher tinha que fazer para conseguir ter um orgasmo, afinal? Porque eu faria se soubesse qual era o grande segredo.
— Qual é, , nadamos até aqui para morrer na praia? — Eu já odiava quem falava aquelas frases de efeito normalmente, imagine naquele momento então!
chegou perto, enterrando seu rosto em meu pescoço, deixando beijos ali. Tentei ignorá-lo ao máximo.
— Eu prometo que tiro quando for gozar. — revirei os olhos e continuei impassível. — Por favor, , só a cabecinha então... — Meu sangue ferveu e quando vi já estava estapeando aquele imbecil.
— Vai dormir, me deixe em paz! — esbravejei, voltando para meu cantinho da cama.
— Eu não vou conseguir dormir, . Não depois de quase... De ter tido você nos braços e não poder fazer nada de novo, não depois de ter provado seu gosto e imaginar como seria estar dentro de você. — Eu estava ali, de olhos bem abertos encarando a escuridão no canto do quarto sem nem me lembrar mais como respirar. — Sem saber se você soluça sempre que está gozando ou não...
— Como você sabe disso? — Me virei rapidamente, encarando-o deitado ao meu lado. mordeu o lábio, negando com a cabeça, soltando um pequeno riso com os olhos fixos no teto branco do quarto.
— Eu te vi uma vez no seu quarto com aquele brinquedinho que te deram naquele dia. — Fiquei boquiaberta, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Não me julgue, a porta estava entreaberta.
— E você simplesmente foi me espionar!
— Não! Estava ali porque desci para beber água, mas quando passei pelo seu quarto te ouvi... Fiquei me sentindo a merda de um adolescente pervertido te vendo se masturbar, mas foi inevitável, eu não consegui parar de olhar.
Suspirei, ainda encarando seu perfil iluminado pela pouca luz do ambiente.
— Eu não consegui seguir meu caminho de volta para o meu quarto e fingir que não te vi. , eu senti vontade de invadir seu quarto, jogar aquele brinquedo longe e assumir seu lugar no meio de suas pernas. — Imaginei o que poderia ter sido, e seria tão bom que me deu vontade de chorar por já saber o fim daquela história. — Te mostrar como é ter um homem de verdade, te fazer gritar e te foder a noite toda.
passou a mão pelo próprio membro, chamando e tendo minha total atenção para aquele mastro viril e cheio de veias. Estiquei minha mão, lhe tocando a cabeça e vendo-o gemer gostosamente.
— Porra, , olha o que faz comigo. — Passei a masturbá-lo, correndo meus dedos por toda a extensão daquela carne dura e quente que pulsava em minha mão. — A noite toda me provocando, fazendo esse desejo crescer... Eu só queria experimentar... Saber como é te ter. Eu nunca quis tanto algo como quero agora...
me beijou devagar, invadindo minha camiseta com suas mãos ágeis, que massagearam meus seios, deixando-me trêmula. Meu corpo foi puxado pelo colchão até se encontrar com o dele, arrancando-me murmúrios desconexos quando o senti puxar minha calcinha para o lado e se encaixar ali, agarrando minha coxa e puxando-a pra cima de seu quadril.
Na primeira estocada eu já o senti fundo, invadindo-me por completo. era grande, mas não me causou dor, pelo contrário, cheguei a delirar quando o senti tirar tudo para voltar a meter com força. realmente fazia jus à sua fama na cama, conseguiu até superar o que os boatos diziam sobre ele.
Abri os olhos em meio àquela explosão de êxtase, encontrando-o já com suas esmeraldas vidradas em mim, gemia rouco enquanto puxava cada vez mais meu corpo para cima do seu. Mesmo adorando tudo aquilo, eu ainda era a única de nós que parecia raciocinar. Me afastei dele bruscamente, recebendo reclamações enquanto ainda respirava ofegante e completamente trêmula.
— Não podemos fazer isso, . Eu não estou tomando remédio e foi exatamente assim que Grace engravidou. — Tirei meus cabelos de minha testa molhada de suor. — Não podemos correr um risco desses.
concordou com a cabeça, levando as mãos até ela e puxando os próprios cabelos, provavelmente em frustração.
— Ok, sem penetração. — Nos entreolhamos desejosos. Seus olhos tinham uma coloração escura, era pura luxúria estampada ali. A atmosfera daquele quarto estava insuportável, sentia que poderia morrer se não me entregasse a ele naquela noite. — Talvez pudéssemos fazer de outro jeito. — Olhou-me já com segundas intenções. — que tal um 69? É um prazer mútuo... Nós dois podemos nos divertir juntos. — Sussurrou a última parte ao pé do ouvido fazendo-me suspirar.
— E-Eu nunca fiz assim... — O jeito como ele me olhou, eu tinha certeza que poderia desmanchar ali mesmo.
— Oh, você vai amar. — Sorriu malicioso, beijando-me, já deslizando a calcinha por minhas coxas pela segunda vez naquela noite.
Tirei a camiseta já sendo agarrada pela cintura, me torturou juntando nossos corpos nus. Pele com pele, sem nenhuma peça sequer nos separando. Tê-lo ali e saber que nada do que minha cabeça projetava poderia acontecer era horrível, chegava a me causar dor física.
Ele se deitou enquanto eu, ainda ajoelhada sob o colchão, esperava ansiosa para receber instruções. me fez sentar em sua barriga, de costas para ele. Logo puxou minhas pernas para trás, deixando-me deitada sobre seu corpo quente, deslizando minha pele arrepiada pela a sua.
Soltei um risinho com a situação, porém meu sorriso desapareceu quando o senti abrir minhas pernas e me sugar o clítoris, sem nem me dar tempo de me preparar.
Ofeguei de olhos fechados, aproveitando minha posição para agarrar seu mastro com minhas mãos. Assim que voltei a abrir os olhos o encarei diante de mim, satisfeita em saber que finalmente iria poder fazer o que tive vontade na primeira vez que o vi. O levei até a boca, beijando a cabeça inchada devagar para logo depois passar a língua nela em movimentos circulares. O masturbei antes de colocá-lo de vez na boca, ouvindo gemer enquanto usava os dedos para me estimular, levando-me à loucura.
Rebolava em sua cara enquanto ainda tentava colocá-lo inteiro em minha boca ao mesmo tempo em que massageava suas bolas. apertava meu bumbum e coxas com força, fazendo-me prever as marcas que ficariam no dia seguinte.
Ele foi o primeiro a atingir o ápice, explodindo dentro de minha boca e sujando-me o rosto quando o tirei de dentro para poder engolir um pouco do seu gosto. Continuei a movimentar minha mão escorregadia, voltando a abocanhar sua cabeça, recebendo outro jato quente e viscoso. era doce, delicioso. Sentia os músculos de seu abdômen se contraírem a cada jato que saia de seu membro pulsante.
Logo era eu quem gozava, já sentada sobre ele, movendo meus quadris em direção a sua boca úmida e quente, sendo estimulada pelos seus dedos largos enquanto escorria para dentro da sua boca, onde nenhuma gota tinha sido desperdiçada.
Cai trêmula ao seu lado, ainda de cabeça para baixo, sentindo o corpo dormente e agradecida por finalmente ter tido meu sonhado orgasmo. Ainda tremia e sentia os espasmos espalhados pelo meu corpo. O espiei do lado de cima, onde já ria da loucura que tinha sido aquela noite.
— Acho que preciso de um pouco de água. — Murmurei risonha. Minha voz chegou a falhar, de tão cansada que eu estava.
se levantou, vestindo sua cueca e jogando-me a camiseta e a calcinha que eu tinha acabado de tirar. Bebi o copo num gole só, agradecendo e voltando a deitar minha cabeça no travesseiro. Ele deitou-se ao meu lado e passamos a nos encarar sem ter muito o que dizer.
Não que precisasse, não é mesmo?
Ouvimos barulhos vindos do andar debaixo e presumimos que era o pessoal chegando do restaurante com . Ainda bem que eles tinham chegado depois.
— Ninguém vai saber disso. — Sussurrou, fazendo-me confirmar com uma negação de cabeça.
Ele se referia a Tiffany, Anne e até mesmo Amélia, as únicas pessoas que sabiam de nossa farsa. Também tinha Tom, mas eu não gostava de incluí-lo naquele grupo justamente por ele não pertencer à ele.
— Ninguém. — Respondi, já sentindo minhas pálpebras pesarem toneladas. Fechei os olhos respirando devagar, já querendo cair no sono.
— Vem cá. — Puxou-me pela barra da calcinha, arrancando um riso meu. Me arrastei até ele, que selou nossos lábios algumas vezes antes de passar a me olhar bem de pertinho. — Como se sente depois de fazer as duas coisas que disse que nunca faria na vida? — Franzi o cenho, sonolenta. — Dançou pra mim e depois transou comigo, tudo na mesma noite. Acho bom começar a parar de dizer nunca, ...
— Isso não foi uma transa, . — Fingi desdenhar, ouvindo sua risada. — Me deixe dormir, eu estou cansada. — Ele se aproximou de novo, beijando minha bochecha.
— Boa noite, . — Sussurrou em meu ouvido.
— Boa noite, .
Capítulo 24
Despertei sentindo um peso sobre meu rosto, estranhei abrindo os olhos e encontrando toda torta na cama, bem próxima de mim e com o dorso da mão repousando em minha bochecha. Ri pelo nariz, ainda piscando devagar e tentando me acostumar com a claridade. Apanhei sua mão com delicadeza para não acordá-la e a coloquei no travesseiro que abrigava sua cabeleira loira. Me aproximei ao sentir o cheiro bom de seu shampoo, tive cuidado para não ser pego cheirando seus cabelos. Imagine só o que falaria se me pegasse naquele flagrante? Nem eu mesmo sabia como reagiria.
já iria se gabar o bastante por ontem à noite, pela minha insistência em tê-la e por todas as coisas que falei na hora do tesão. Levei a mão à cabeça, fechando os olhos com força. Me sentia um idiota, estava cego, tudo saiu da minha boca sem que eu ao menos pudesse raciocinar um pouco para não falar algo comprometedor. Levando em consideração que eu lhe tinha confessado que a tinha assistido se masturbar e revelado meus maiores desejos, reforçando o quanto eu queria estar dentro dela. Minha única arma contra seria jogar em sua cara que ela tinha cedido a mim.
Dei graças aos céus por saber que aquilo duraria apenas até a virada daquele dia e que logo iríamos embora, sem uma palavra sobre o que quer que tenhamos feito em Tulum. Não que eu não estivesse gostando, inclusive, se tivéssemos preservativos, acho que teríamos ficado acordados a noite inteira matando nossas vontades. Mas apesar de ser muito bom, ainda tinha toda aquela implicância mútua sobre quem cedeu a quem, quem beijou quem primeiro, quem tomou a iniciativa... Para mim, aquilo era a coisa mais ridícula do mundo! Digo, o que importava quem fez o quê? Estava nítido que era recíproco! E também, era só sexo! Não deveríamos ficar contando placares, e sim aproveitarmos enquanto estávamos experimentando um ao outro.
se remexeu, ainda de olhos fechados, murmurou algo que não consegui decifrar o que era. Tamanha era sua manha, que me fez sorrir sem mostrar os dentes observando-a. Ainda deslizava as pontas dos dedos em seu braço esticado sobre mim quando vi seus olhos azuis irritados pela claridade que vinha da janela. me espiou pela pequena fenda que abriu e logo voltou a fechá-los, se afastando do meu toque e virando para o outro lado da cama.
Por mim, continuaríamos o que começamos ali, mesmo quando chegássemos em casa. Eram apenas nove meses, poderíamos ficar daquele jeito, transando casualmente quando não tivéssemos parceiros por fora ou simplesmente quiséssemos nos pegar eventualmente. Porém eu sabia que ela não toparia, noite passada quando lhe propus e ouvi sua negativa tive certeza de que não rolaria. Por sorte, aproveitei que ela estava completamente entregue e achei uma brecha em suas condições impostas, iríamos apenas nos permitir até que o calendário mudasse para 2021.
Se bem que, após vê-la se afastar de mim na cama, cheguei a ter minhas dúvidas se já não queria mais cumprir nosso trato da noite passada. Encarei sua bunda descoberta pelo lençol. ainda estava apenas de blusa e a calcinha. Suspirei derrotado, lembrando-me de tudo o que fizemos antes de pegar no sono, mordi o lábio sentindo aquele frio na barriga e a vontade de fazer de novo e de novo veio à tona. Torci para que aquilo tivesse sido apenas uma impressão minha, afinal, ainda era muito cedo para pensar em algo e ainda devia estar cansada. Eu também estava, não tinha dormido o suficiente para recarregar minhas energias.
Voltei a fechar os olhos, ainda repassando as imagens na minha cabeça e revisitando as sensações. O cheiro do perfume que estava em seu pescoço quando lhe beijei a pele recém bronzeada, daquelas coxas que estiveram envolta de meu rosto e quadris, do seu gosto doce e do modo como sua boca me envolveu com maestria, fazendo-me gozar enquanto escorria garganta a dentro sem que ela cuspisse uma gota sequer. era espetacular e eu ainda nem tinha experimentado a sensação de fodê-la. Suspeitei que seria ainda melhor quando acontecesse.
Ofeguei antes de me entregar ao sono, afinal de contas, o dia ainda estava amanhecendo e meus planos com aconteceriam antes que nosso tempo juntos acabasse. Se ela topasse, claro.
Quando voltei a abrir os olhos já havia se passado algum tempo. Tateei pela cama e me vi sozinho ali, o quarto também estava vazio, restando-me apenas verificar se não estaria no banheiro. Quando percebi que ela já devia ter levantado, tomei uma ducha rápida e escovei os dentes, indo para a cozinha.
estava por lá, mexia numa frigideira no fogão quando me aproximei, silencioso. Não queria assustá-la, por isso apenas lhe toquei suavemente a cintura, sentindo sua barriga descer e subir rapidamente quando ela ofegou ao me ter agarrando-a por trás. Lhe desejei um bom dia por meio de um sussurro ao pé do ouvido, mordisquei o lóbulo de sua orelha logo em seguida, fazendo minha esposa encolher o ombro enquanto ria sem graça.
— Eu dormi muito? — Indaguei ao notar o silêncio da casa. Cheguei a pensar que estávamos sozinhos ali.
— Não, eu acabei de acordar também. O pessoal está lá fora. — Murmurou, checando o omelete na frigideira antes de se virar para mim. — Seus amigos queriam ir te acordar com um balde de água. — Ri junto dela, inclinando-me para beijar seu pescoço. — Eu que não deixei, me agradeça depois. — Hasteou o dedo, afastando-se ainda sorrindo.
— Eles sempre fazem isso. — Revirei os olhos, lembrando-me das peças que pregávamos uns nos outros em todas as viagens que fazíamos.
Reparei que o status de um homem casado e de pai me deu uma quase imunidade naquelas brincadeiras. Só foi proibi-los de ir ao quarto me sacanear que eles a obedeceram prontamente. Quem diria que eu algum dia iria encontrar algo bom na vida de casado?
— Onde está ?
— Lá fora. Caroline está dando mamadeira para ela, disse que está treinando pro futuro. — Soltou uma risadinha e eu assenti, já morto de saudades da minha bebê. Desde que ela tinha chegado até nós, acho que nunca tinha ficado tanto tempo sem vê-la, a não ser quando estava no trabalho.
— Quero vê-la. — Murmurei, ansioso. me encarou de um jeito estranho antes de falar.
— Só eu me senti culpada por tê-la deixado de lado ontem a noite inteira?
Cocei a nuca, vendo-a tão receosa. Se estava se sentindo daquela maneira só por ter deixado com Jack e Suzann por algumas horas durante a noite, não iria mais querer deixá-los de babás durante o dia.
— Eu soaria muito desnaturado se dissesse que não? — Encolhi os ombros, vendo-a suspirar derrotada. Provavelmente achava que eu iria concordar com ela. — Pais também também precisam de um descanso, . Precisam dormir uma noite toda sem interrupções, namorar... — Me aproximei, deslizando minhas mãos pela cintura fina de e juntando nossos quadris. A loira a minha frente riu fraco, abaixando a cabeça. Ela estava sem graça comigo? Por isso estava me afastando tanto? — Não vá me dizer que vai recusar a ajuda da Suzanne e Jack hoje.
— Não... — Disse exasperada. — É que eu sinto como se estivesse abusando da boa vontade deles. E também estou me achando a pior mãe do mundo por querer um dia inteiro longe de .
— , você não vai ser menos mãe dela só por ter saído para se distrair um pouco por um dia. — Mordeu o lábio duvidosa, esticando-se para apagar a boca do fogão. — A não ser que o problema seja outro. O que foi, se arrependeu de ontem? — Procurei seu olhar e a vi respirar fundo antes de negar com a cabeça. — Então não há problema nenhum. Pare de se culpar e vamos aproveitar para namorar um pouco, quem sabe terminar o que começamos ontem...
Lhe beijei a boca devagar, sentindo-a ceder aos poucos, colocando os braços envolta de meu pescoço enquanto eu lhe apertava a cintura.
— Ontem foi... — Ofegou contra meus lábios, não terminando sua fala, apenas sugerindo algo com o sorriso safado que brotou em sua boca vermelha por conta do beijo.
— Acredite, eu também estou sem palavras para descrever. — negou com a cabeça ao rir da minha piada, que não tinha sido apenas uma brincadeira, afinal, eu realmente não conseguia descrever em palavras as sensações da noite passada. — Consegue imaginar o que vai acontecer quando nós finalmente irmos até o fim? — Deslizei minha testa pela dela, parando próximo de seu ouvido. suspirou, apertando meus bíceps, e eu sorri com aquilo. — O quão delicioso será quando eu finalmente estiver dentro de você, te fodendo até estar cansada demais para andar com as pernas trêmulas. — Minha mão passeou por aquele corpo coberto apenas por um vestido leve. Senti sua calcinha quando tateei sua bunda a fim de apertá-la. — Eu mal posso esperar, . Se pudesse, arrancaria nossas roupas agora mesmo.
Mais uma vez eu estava falando sem parar, expondo tudo o que estava sentindo enquanto ela apenas se limitava em demonstrar. O que eu não estava achando nem um pouco ruim, porém queria ouvir sua voz e saber o que se passava em sua cabeça.
puxou-me pela nuca, colando nossos lábios, e abafou os pequenos gemidos que soltou ao ser prensada pelo meu corpo contra a pia da casa. Seus dedos me puxaram os cabelos, forçando-me a morder seu lábio para descontar a tensão crescente que ela estava me causando. Era tentador demais estar ali com todos na área da piscina e ocupados demais para checar onde estávamos.
Seu corpo estava tão convidativo e entregue a mim que acabei esquecendo-me de que não estávamos sozinhos e puxei a barra de seu vestido para cima, sentindo sua pele com a ponta dos dedos e assustando-a de imediato.
— ! — Tirou minha mão de sua coxa, aos risos. — Está louco? E se alguém aparece? — Arregalou os olhos, tentando me afastar. Era hilário vê-la tímida daquele jeito. Desde que conheci nunca a tinha visto daquela forma, ainda mais em relação a mim.
Tirei minhas mãos dela, apoiando-me na pia e prendendo-a ali. Era difícil parar de tocá-la, eu não sei o que estava acontecendo comigo naquele dia.
— Me diga que nosso trato de ontem ainda está de pé... — A olhei nos olhos, inclinando-me sobre ela, que mordeu o lábio, levantando o queixo e encarando-me na mesma intensidade. E então, sorriu, assentindo e fazendo-me agarrá-la, animado.
Sim, eu não conseguia tirar as mãos de seu corpo.
— Mas só se arranjarmos uma camisinha. — Alertou-me após ter os lábios libertos pelos meus. Assenti em concordância, fazendo-a passar os braços pelos meus ombros.
— Uma? — Exclamei ironicamente. — O centro da cidade fica há uns quarenta minutos daqui, vamos comprar várias. Quero passar o dia inteiro te fod...
— Chace! Oi. — Franzi o cenho, percebendo seu olhar esbugalhado para outro ponto atrás de mim na cozinha. Comprimi os lábios ao ouvir seus passos se aproximando.
— Bom dia, cara! Achei que ia dormir o dia todo! — se soltou de mim enquanto ele vinha em nossa direção, dando tapinhas em minhas costas com um prato na outra mão.
— Um dia de folga de pais é dormir o dia todo mesmo. — Murmurei, sorrindo amarelo, vendo lhe servir o omelete que estava preparando a pouco. — Dormir e fazer o que estávamos fazendo antes de você atrapalhar. — me beliscou como punição pela minha falta de descrição. Devia beliscar ele, que entrou onde não foi chamado.
— Desculpa por demorar tanto. me distraiu um pouco. — Lhe beijei a nuca, vendo-a encolher os ombros. Chace sorriu fraco para ela, ainda segurando o prato já abastecido.
— Tudo bem, eu é quem peço desculpas pelo incômodo. — Fiquei ali no meio dos dois, sentindo um climão estranho se instalar no cômodo.
Eu conhecia os dois há muitos anos. Não poderia falar nada sobre , mas Chace estava escancaradamente com os olhos nela de um jeito nada amigável. Ele nunca me olhou daquele jeito e seria muito estranho se o fizesse.
A abracei de lado após concluir minha análise, chamando sua atenção para mim.
— sentou à mesa e eu fiquei com água na boca... — Arquei as sobrancelhas com a porra do duplo sentido em sua fala. — com o omelete dela.
— Chace sempre foi assim, amor, sempre cresceu os olhos no prato alheio. — Ele me encarou com o cenho franzido. Agora quem estava alheia à conversa era , que nem sequer imaginava que não falávamos mais de um simples omelete.
Estávamos falando de garotas, que ele e eu sabíamos que foram "roubadas" de mim por Chace na nossa época de faculdade. Era sempre assim, íamos nas festas de recepção dos calouros apenas para ver as novidades do campus, a disputa sempre foi muito acirrada. Chegávamos a beijar a mesma garota na mesma noite, porém, eu não era o segundo a pegar. Chace sempre queria a que eu escolhia e quando eu já não ligava mais para a caloura, ele ia atrás para conseguir beijá-la.
Mais uma vez, a situação atual era bem diferente das anteriores. era minha esposa, não uma caloura qualquer para apenas trocar beijos ou uma mulher para sexo sem compromisso.
— Não tem problema, eu adoro cozinhar. — sorriu, ainda alternando os olhos entre nós dois, que ainda estávamos sérios numa comunicação silenciosa. Chace estava confuso, já eu estressado. — Se quiser eu faço um pra você. — Se virou para mim.
— Não precisa, estou bem. — Beijei sua testa, ainda sob o olhar do meu melhor amigo.
— Eu vou indo lá. — O ignorei, tomando os lábios de .
— Onde estávamos? — Voltei a beijar seu pescoço e encolheu o ombro, rindo baixinho e espiando para ver se ele tinha mesmo ido embora.
— Na parte em que estávamos estabelecendo as regras. — Revirei os olhos. tinha mesmo que ser tão certinha ao ponto de impor regras até para transar? — Temos só até meia noite de hoje. — Lembrei-me de que eu quem tinha proposto aquele prazo na hora do desespero e me arrependi de não ter escolhido outro critério, como o nosso tempo de permanência ali. Teríamos mais dois dias ao invés de só um.
— Ótimo, temos o dia inteiro para transar. — A loira negou com a cabeça, em reprovação, mas o sorriso em seus lábios contrariava sua farsa em desaprovar minha fala. — De todos os jeitos possíveis e impossíveis...
— Oh, céus, você está parecendo um virgem indo ter a primeira vez. — Debochou.
— Três meses, . Você sabe o que são três meses sem sexo? — assentiu. É claro que ela sabia, afinal, também tinha ficado o mesmo período de seca junto de mim.
Mas ao que parecia estava tranquila. Eu também estava, afinal já tinha dormido com Dafne e quebrado aquele jejum que pareceu interminável, porém com iria ser uma experiência completamente nova, que eu já fantasiava desde que nos casamos e passamos a dividir a mesma casa. Além de, claro, ser com o meu maior desafeto. O quão louco eu não estava para desferir alguns tapas em sua bunda para descontar meu ódio interior? Sabia que também mal podia esperar para me puxar os cabelos ou arranhar minhas costas. Seria... interessante fazer aquela junção entre ódio e sexo.
— E Dafne? — Arqueou a sobrancelha, cínica.
Eu não tocaria naquele assunto com . Não depois da noite passada e da briga que aquilo causou. Apesar de estar mais do que habituado em discutir com , naquele dia eu apenas queria gastar minhas energias para ouvi-la gemer em meu ouvido, e não reclamando como sempre fazia.
— Vamos tomar café da manhã? — Selei nossos lábios, encerrando o assunto. — Temos que estar bem alimentados porque o dia de hoje vai ser longo. — revirou os olhos, indo na frente.
Chegamos sendo recebidos pelo pessoal animado como sempre, mesmo ainda sendo cedo para aquilo. Tulum tinha aquela energia, se pudesse me mudaria para um lugar como aquele, perto do mar, onde era verão o ano inteiro e que parecia nunca cair na mesmice por receber muitos turistas.
— Já que está de pé, , vou dar o meu presente de casamento atrasado para vocês. — Suzanne anunciou, levantando-se próxima da mesa. Me sentei, puxando para meu colo, esperando para ver qual seria a peripécia da namorada de Jack daquela vez. — Aqui em Tulum tem um spa que é famoso por receber muitos casais na lua de mel, eles até oferecem desconto! Então, como eu não estava presente no casamento, resolvi tentar reservas lá para vocês e deu certo! — Bateu palminhas entusiasmada, fazendo-me trocar olhares com .
Jack e Suzanne se conheciam há um tempo, mas nunca tinha sido nada sério apesar de meu amigo ser louco por ela. Su tinha medo de tentar algo a mais por conta de Lorenzo, temia que o filho se apegasse demais ao namorado e ele lhe desse um pé na bunda. O que não aconteceu em relação a Jack, que simplesmente adorou Lorenzo no momento em que o conheceu, lhe passando a segurança que ela precisava para recebê-lo de vez em sua vida. Engataram o namoro há apenas dois meses, por isso ele não a levou como acompanhante para meu casamento.
— Não precisa, Su! — sorriu amarelo, sem graça. Ela tinha urgentemente que parar de ser orgulhosa e aprender a aceitar presentes. Não adiantava falar que não precisava se Suzanne já tinha feito as reservas, aquilo era uma desfeita! Porém, vi a morena relevar por perceber que aquele era apenas o jeito de . — Você já está nos dando um presente só de ficar de babá de . — Argumentou, gesticulando nervosamente com as mãos.
— Obrigada, aos dois — disse, segurando as mãos inquietas de , que apenas encolheu os ombros, sorrindo contida ao perceber que estava falando demais.
— De nada! Eu marquei para mais tarde, acho que vocês vão adorar. Estão precisando relaxar, receber uma massagem, ficar um tempo a sós... O lugar é incrível, vocês precisam ver! — Achei interessante a parte do ficar a sós, mesmo de ainda não tendo nem sinal dos preservativos que exigiu.
Mas, por hora, poderíamos repetir a noite passada e ficar nas preliminares. Apesar de ser uma tortura não poder consumar o ato, eu até que curtia aquele joguinho de gato de rato, explorar todo seu corpo antes de finalmente chegarmos até a parte que realmente interessava.
— Nossa, está fazendo tanta propaganda que até fiquei interessado em ir passar a lua de mel lá. — Jack zombou da namorada, abraçando-a de lado.
— Isso foi um pedido de casamento? — Arquei as sobrancelhas, soltando gritinhos junto dos outros presentes na mesa. O casal riu, beijando-se com cumpricidade na nossa frente. Eu realmente via potencial naqueles dois para formar uma família.
Era real o que sentiam, transbordava para os olhos, deixando escancarado para quem quer que os visse de fora por conta do brilho que continha em ambos. Nunca fui de reparar naquelas melosidades, porém conhecendo-o como eu conhecia, notava-se que Jack estava rendido por Suzanne há tempos e já não fazia nada para disfarçar aquilo.
Me perguntei como deveria ser aquela sensação. Será que ele sabia que faltava babar quando parava para encará-la por muito tempo? Sério, era bizarro como os olhos de Jack ficavam vidrados nos de Su, como se fossem a coisa mais interessante do mundo todo.
— Ainda não. — Lamentamos juntos. Ri, negando com a cabeça. Arregou demais. — O título de casal do ano ainda é de vocês dois, está muito cedo para nós. — A morena concordou de imediato, abraçando-o de lado.
recebia dos braços de Caroline, ainda no meu colo. Me inclinei sobre seu ombro, beijando a bochecha grande da bebê, apertando ambas em meus braços.
Tomamos o café da manhã tranquilos, aproveitamos um pouco a piscina e logo íamos de carro até o tal spa. ficou receosa enquanto se despedia da bebê. Realmente estava se sentindo culpada por estar saindo e deixando para trás.
— Ela vai ficar bem, relaxa. — Apoiei a mão que estava na marcha em sua coxa, acariciando devagar enquanto manobrava o carro com a outra.
— Eu sei. — Sorriu fraco, encarando a paisagem na janela. — Vou tentar me esquecer disso. Sei que Suzanne é mãe e que está em boas mãos. — Assenti, de olho no GPS do celular. — Estou precisando muito desligar um pouco do resto do mundo e relaxar. — Encostou a cabeça no encosto do banco, atraindo meu olhar para si.
O vento que vinha da janela em seus cabelos, bagunçando-os à medida em que o carro acelerava, os óculos de sol impediram-me de ver seus olhos, porém um sorriso calmo estava instalado em seus lábios. Inclinei-me em sua direção quando paramos em um semáforo, puxando-a pela nuca e selando minha boca na dela.
Quando chegamos no local, observei de canto do olho uma empolgada e impressionada com as instalações. Era engraçado pensar que antes eu costumava ficar irritado com o fato de ela ser uma intrusa no meu mundo, hoje eu posso ver que na verdade eu é que não entendia nossas diferenças e não sabia lidar com o ciúmes que tinha de Grace.
Depois de todos aqueles anos implicando com pelo fato de ela ser pobre, me vi feliz em poder lhe proporcionar suas primeiras vezes em lugares incríveis como aqueles. A loira adentrou a recepção comigo, fingindo costume, tentando disfarçar que era sua primeira ida a um spa na vida.
Fomos guiados pelo local pela guia simpática que tinha um sotaque forte e muito bonito. Thalia parecia ser mexicana, porém, não consegui identificar de onde ela realmente era apenas pelo seu modo de falar. Após guardar nossos pertences num armário, saímos já vestindo roupões brancos com apenas roupas de banho por baixo.
— Não temos uma programação fixa aqui, vocês quem decidem o que querem fazer primeiro. — Olhei para minha esposa, que encolheu os ombros sem saber o que escolher. — Se me permitem sugerir algo, a massagem com pedras quentes é um bom começo, assim já ficam relaxados o bastante para curtir o resto das atividades do spa.
Seguimos a recomendação de Thalia, indo em direção ao corredor onde ficavam os massagistas. O spa era enorme, por isso tinha que ser dividido por atividades. As piscinas ficavam do outro lado enquanto a área de massagem era mais próxima da entrada e, bom, o resto iríamos descobrir aos poucos.
Me deitei de bruços, sendo imitado por , já sem o roupão. Havia um compartimento para abrigar o rosto, então encaixei-me ali sendo coberto pela toalha felpuda enquanto ouvia tagarelar com a mulher que lhe daria massagem sobre as próximas atividades. Ela estava tão empolgada que já estava pensando nos próximos passos.
Minhas costas começaram a ser tocadas pelas mãos macias da mulher de pé ao meu lado. Fechei os olhos, aproveitando o momento de descanso e relaxei meus ombros tensos quando as pontas de seus dedos trabalharam neles, próximos de minha nuca. A tensão da crise financeira da empresa foi embora ali, me esqueci de meu pai e de meu tio, esqueci até mesmo meu sobrenome de peso que andava prejudicando minhas costas de tanto que o carregava sozinho ultimamente.
Ouvi e a outra voz feminina comentarem sobre uma hidromassagem e pensei sobre aquilo. Depois que saíssemos dali até que seria uma boa ideia. Ficar a sós com numa banheira, ela vestindo apenas aquele biquíni de amarrar... Minha cabeça já criava planos mirabolantes, imaginado o que poderíamos fazer por ali.
— Senhor , desculpe interromper, mas meu óleo acabou, irei buscar outro frasco e já venho, sim? — Murmurei algo sonolento, percebendo que tinha viajado para outra dimensão naquele curto período de tempo em que divaguei pela minha cena com na banheira.
— , ainda está neste planeta? — Zombei, soando abafado. Ela finalmente tinha calado a boca, então presumi que tinha dormido enquanto recebia a massagem.
Levantei a cabeça, encontrando a maca vazia ao meu lado. Franzi o cenho, já sentando-me e derrubando a toalha que me cobria do quadril para baixo. Quando foi que ela saiu que não vi? E porque não tinha me chamado? Desci dali calçando os chinelos e colocando a toalha em cima da maca vazia, deixando a sala ao mesmo tempo em que vestia meu roupão.
Procurei pelas placas, encontrando a área onde devia estar. Os corredores eram todos iguais e haviam funcionários transitando entre eles. Dei sorte de abrir a primeira porta e já avista-lá dentro da hidro, com o tronco encostado na borda e com duas rodelas de pepino nos olhos. Cara de pau, tinha saído de fininho na cara dura!
— Te achei! — deu um pulo de susto hilário, tirando um dos pepinos do olho para me lançar um de seus olhares mortais. — Porque não me chamou?
— Eu tentei, mas você estava lá praticamente babando, no décimo quinto sono... — Deu de ombros, voltando o pepino para o lugar. — Decidi deixar a massagem para depois, a hidro me pareceu mais interessante.
Reparei em seu corpo seminu submerso nas águas agitadas e concordei com a cabeça, mesmo que ela não estivesse me vendo. Era sim, muito mais interessante. Mordi o lábio em excitação, aproximando-me dela.
— Pois então hoje é seu dia de sorte, . — Sorri presunçoso, posicionando-me detrás de seu tronco. — Poderá aproveitar a hidro e ganhar uma massagem ao mesmo tempo. — Pressionei seus ombros tensos, fazendo-a comprimi-los enquanto se afastava de meu toque, rindo.
— Desde quando você sabe fazer massagem, ? — Tirou minhas mãos de si, sem sucesso, já que a abracei, prendendo-a ali e desferindo beijos atrás de sua orelha, fazendo-a se encolher.
— Saí com uma mulher que estava fazendo um cursinho, você já ouviu falar em massagem tântrica? — gargalhou, desdenhando de minhas habilidades. — Não estou entendendo a graça. — Murmurei, ofendido com seu divertimento às minhas custas.
— É impressão minha ou todas as mulheres com quem você sai te usam como cobaia? — Debochou.
Eu nunca tinha parado para reparar naquilo, mas ela até que não estava de todo errada. Dafne mesmo fazia aquilo sem ao menos perceber ao me metralhar com perguntas pessoais, mesmo eu tendo todo o cuidado do mundo para não me expor muito a ela, sempre acabava cedendo e lhe dando o que ela queria. Já a massagista, na época eu que saí no lucro naquela história, ela realmente tinha mãos ótimas de um dom maravilhoso.
— Parece que você é uma exceção, , já que não sabe fazer... Nada. — Alfinetei, sentindo-a ofegar, ofendida. Me diverti com a cena dela retirando os pepinos dos olhos e me olhando com raiva.
— Eu vou me formar na faculdade e vou fazer você engolir todas essas palavras, . — Hasteou o dedo em minha direção. Gargalhei, beijando sua bochecha.
— Quero só ver — A olhei, vendo seu sorriso diminuir um pouquinho. — Vai ter que me fazer roupas. — A beijei mais uma vez, tentando animá-la e apertando-a em meus braços. — Bom, acho que minhas medidas você já tem... — revirou os olhos teatralmente. — Me deixe te fazer uma massagem, sim? Por favor... — Sussurrei ao pé do ouvido enquanto deslizava minha mão vagarosamente em seu abdômen debaixo da água.
— Tá bom... — Suspirou, remexendo-se na banheira. — Vamos ver se é bom nisso, mesmo. — Seu tom desafiador apenas serviu para me incentivar a levá-la à loucura naquela banheira. Quem iria fazê-la engolir as palavras seria eu.
Desamarrei seu biquíni da nuca, jogando as duas pontas caídas para frente, deixando livre a sua clavícula proeminente. Deslizei minhas mãos naquela região, sentindo os movimentos de seu peito, ritmados à sua respiração lenta. Em movimentos circulares, massageei sua pele macia, descendo vagarosamente para seus seios ainda cobertos pelo biquíni escuro.
Me livrei dele rapidamente, já podendo contemplá-lá praticamente nua pela água da banheira. A parte debaixo logo iria pelos ares também. Porém, no momento me preocupei apenas com a parte de cima de seu corpo, talvez uma das minhas favoritas no corpo feminino.
Espalmei minhas mãos em seus seios, sentindo seus mamilos rijos enquanto explorava os dois em conjunto. ofegava, segurando-me pelo antebraço enquanto mantinha os olhos fechados, finalmente se entregando de verdade às sensações que eu estava mais do que disposto a proporcionar a ela.
— Olhe para eles, . Veja como eles preenchem minhas mãos perfeitamente. — Segurei seus seios firmemente, aproximando-os e vendo o quão volumosos ficavam daquele jeito. — Como se tivessem sido feitos sob medida para mim. — Ansiei, lambendo os lábios e querendo colocá-los na boca, porém, minha posição não tornava aquilo possível.
Seus olhos azuis se abriram e ela envolveu minhas mãos com as suas, já respirando rápido, ofegando enquanto virava o pescoço em minha direção. Sorri quando deixou dois beijos lentos em meu queixo, onde ela conseguia alcançar. Observei suas pernas se agitarem debaixo da água, sua inquietação denunciava o quão ansiosa estava para que eu fosse direto ao ponto.
Mas não teria graça se fosse assim, não é mesmo?
Estimulei seus mamilos rosados com meu polegar, brincando com os bicos duros enquanto a ouvia suspirar audivelmente ainda de olhos cerrados. Era uma delícia vê-la sentir prazer em algo tão simples como uma simples massagem que ainda estava apenas começando. Adorava ver sua sensibilidade, o quão à flor da pele ficava quando tocada do jeito certo.
Os pelos eriçados, a boca entreaberta e os suspiros soltos. Até mesmo os movimentos involuntários com os quadris.
Assisti-la caminhar em direção ao êxtase era, sem dúvidas, uma das coisas mais sensuais que eu já tinha visto numa mulher. E saber que eu era o responsável por levá-la até o clímax me dava um enorme sensação de poder, parecia que por se tratar de minha nêmesis, aquela sensação chegava a triplicar e beirar ao prazer.
Desci minhas mãos por seu abdômen, vendo-a sorrir ao pensar que finalmente seria tocada lá. Fiz um pequeno suspense, descendo pelas laterais de seus quadris, esbarrando os dedos nos laços do biquíni e parando em sua bunda, onde apertei ao mesmo tempo em que beijei seu pescoço avidamente.
pegou uma de minhas mãos e a levou até sua intimidade, arrancando-me um sorriso malicioso quando a vi gemer ao pressionar a minha abaixo da dela ali, estimulando-se com a ponta dos meus dedos.
— , ... para que essa pressa toda? — Afastei sua mão, repousando a minha na parte interna de sua coxa, deixando meu polegar esticado a fim de provocá-la enquanto o movimentava sobre o tecido da calcinha, bem em cima de seu clítoris. — Temos o dia inteiro para fazer isso.
então começou a avançar com o quadril em direção ao meu dedo, rebolando em busca de mais contato.
— Mas eu quero a-agora. — Pegou-me pela nuca, emaranhado os dedos em meus cabelos.
Suspirei diante de sua expressão sôfrega. estava desesperada para ter logo minhas mãos dedilhando sua intimidade. Não nego que também estava ansioso, seria como tocar meu violão, onde cada ponto ali tocado resultaria numa melodia deliciosa vindo dos lábios de .
— Já que insiste tanto... — Desamarrei os laços em seus quadris, sentindo-a rir contra meus lábios.
A beijei, invadindo sua boca quente com minha língua quando levantou minimamente para me ajudar a me livrar da parte debaixo do biquíni, tendo-a finalmente nua, a mercê de meus toques.
Minha esposa mordeu meu lábio devagar, fazendo-me fechar os olhos durante o outro beijo molhado que ela começou, enquanto minhas mãos lhe acariciavam a região próxima de sua virilha.
— Isso, amor, se abra para mim... — Ofeguei, excitado com a cena que presenciava diante de meus olhos.
já flexionava uma das pernas enquanto mantinha a outra debaixo da água, abrindo-se inteiramente para mim. Me posicionei melhor atrás da banheira, daquela vez ficando por cima de seu campo de visão. A loira levantou o rosto, encarando-me desejos. Seus olhos azuis chegaram a brilhar quando aproximei meu toque de sua intimidade, que independente de estar submersa na banheira, estava molhada há tempos.
— Assim? — Seu tom sedutor contrastou com perfeição com o sorriso safado que ela me deu ao perceber como um simples movimento seu me deixou daquele jeito, completamente duro dentro da cueca que usava.
— Isso...
A peguei com uma das mãos, encaixando meu polegar e o restante dos dedos em sua mandíbula, segurando seu rosto e forçando seu pescoço para trás. A beijei devagar, adorando aquele controle todo sobre .
— Eu sei o quanto você gosta de abrir essas pernas para mim. — Proferi aquelas palavras, olhando-a no fundo dos olhos. Suas bochechas ganharam um tom rosado e ela gemeu contra a minha boca sem que eu ao menos tivesse encostado nela.
Parei de enrolar e aproveitei minha mão repousada em sua barriga, descendo vagarosamente. Assim que cheguei onde deveria, enterrei meu dedo médio no vão entre seus grandes lábios, separados por sua posição na banheira. Ali me demorei enquanto fazia movimentos circulares, ouvindo gemer baixinho após soltar um suspiro aliviado ao finalmente ter seu desejo atendido.
A masturbei, assistindo seu corpo entrar em colapso enquanto a ouvia praguejar e dizer coisas incompreensíveis ao mesmo tempo em que rebolava contra meus dedos, que ainda a tocavam superficialmente, porém, já a levavam a caminho de um orgasmo. Sua intimidade pulsava e eu conseguia senti-la ao movimentar meus dedos cada vez mais rápido e observá-la ir à loucura aos poucos.
Senti-la daquela maneira me fez lembrar da noite passada, quando tive um vislumbre de como era estar dentro dela. Precisava daquilo de novo, mas precisava ir até o fim, preenchê-la por completo, fazê-la atingir seu Nirvana.
Barulhos no corredor foram ouvidos, eram conversas entre funcionárias ao julgar pelo carrinho de serviço que se fazia presente por suas rodas irritantemente barulhentas. Parei o que estava fazendo, atraindo um olhar mortal de , que estava quase pronta para gozar.
Sabia que iria me olhar daquele jeito e desaprovar aquela pausa infortunada, porém, ela iria me agradecer por parar e não correr o risco de ser pega no flagrante por desconhecidos. Eu não ligaria nem um pouco, porém, a conhecia o bastante para saber que iria querer ir embora no exato momento. Imaginei seu constrangimento, afinal, aquilo era um spa, não um motel!
Esperei até que o silêncio voltasse a reinar no local, porém, ainda respirava ofegante, encarando-me ansiosa.
— ... — Sussurrou, recebendo uma negativa com a cabeça. Apurei meus ouvidos, percebendo que as funcionárias tinham parado em algum ponto do corredor.
tentou se tocar, fazendo-me segura-lá pelos pulsos, observando do alto seu rosto rubro e suado.
— Quem está fazendo a massagem aqui sou eu, . — Diminuí meu tom de voz, falando ao pé do ouvido.
— Por favor... — Gemeu, esfregando uma perna na outra em busca de algo que a fizesse voltar a ter o prazer que lhe foi tirado bruscamente.
— Abra. — Ordenei, desferindo um tapa em sua coxa.
— , por favor... — Mais uma vez o barulho das rodinhas, só que daquela vez foi ficando mais distante e sumindo aos poucos. — por favor...
Sua inquietação me divertiu, porém, ainda preferia vê-la desmanchando-se em prazer, por isso resolvi continuar a estimular . Mas não sem antes alfinetá-la um pouquinho.
— Você fica tão linda quando está implorando. — Lhe ataquei o pescoço ao mesmo tempo em que voltei a lhe tocar o meio das pernas. Daquela vez não fiz cerimônias, introduzi dois dedos em sua entrada, penetrando-a forte e fazendo-a revirar os olhos instantaneamente. — Era isso o que você queria? — A penetrei mais algumas vezes, já vendo que era questão de segundos para que a loira começasse a se debater na água da banheira.
não me respondeu, nem poderia, estava ocupada demais gozando em meus dedos. Aquela pergunta foi respondida através de gemidos abafados por meus lábios, que mordi ao vê-la se contorcer, soluçando e arfando sem o mínimo controle sobre si mesma.
Após voltar a si, ainda trêmula, tentou sentar-se de volta na banheira já que seu corpo tinha escorregado devido à intensa movimentação que todo aquele frenesi causou. Continuei com a mão ali entre suas pernas, daquela vez apenas a dedilhando devagar.
— Gostou da massagem? — Beijei sua testa, atraindo sua atenção para meu rosto. me tocou o braço, acariciando meu antebraço enquanto piscava devagar, sentindo as ondas de prazer lhe atingirem novamente.
— Isso é tão b-bom. — Gemeu, manhosa. Lhe beijei devagar, já vendo seu abdômen anunciar que ela gozaria novamente. — N-Não pare, . Por favor, não pare...
— Não vou... — Aumentei a velocidade, mal tendo noção do quão rápido movia minha mão, esfregando sua intimidade e vendo se desmanchando de prazer diante de mim.
— Porra... — Mordeu o lábio com força, tentando disfarçar o grito preso em sua garganta. atingiu o ápice novamente, porém, daquela vez pareceu cansada demais para tentar se ajeitar na banheira.
Afundei meu rosto no vão de seu pescoço, sentindo seu cheiro e seus dedos emaranhados em meu cabelo com o carinho gostoso que fazia ali, ainda esmaecida descansando na água.
Ali fiquei, sem saber o que fazer e morto de excitação. Nunca tinha tido aquele receio em relação à ninguém, sobre o que fazer numa hora daquelas. Era sempre muito prático com as mulheres com quem costumava sair, se fosse com outra eu já teria entrado naquela banheira e a tomado em meus braços, porém, era quem estava ali e saber daquilo me deixava sem ação.
Primeiro porque eu sabia que teria que me segurar, já que não tínhamos proteção conosco. Aquele havia sido o trato de mais cedo, sem camisinha, sem chance. E também porque já não conseguia mais fechar a porra da minha boca quando estava com ela em momentos como aquele. Sempre acabava falando demais, tinha medo de me expor ainda mais.
— Você não vem? — Levantou o rosto em busca do meu olhar e pisquei algumas vezes, saindo do meu devaneio enquanto respirava fundo.
Ela que estava me chamando. Eu tinha provas.
Talvez não houvesse problema, era só eu me controlar, só isso... Tentei soar para mim mesmo como se fosse fácil, uma tarefa simples do cotidiano entrar nu em uma banheira com já despida, me esperando.
O que poderia dar errado, não é mesmo?
Soltei um risinho com aquele pensamento, tirando o roupão e indo até a lateral da banheira, ainda vestindo minha cueca. Talvez fosse melhor continuar com ela, seria minha garantia de que não perderia o controle diante dela, já que meu amiguinho estaria devidamente guardado, tornando impossível que ele fosse parar em outros lugares além do tecido preto que o envolvia.
levantou seu tronco, ficando de joelhos na água. Me interceptou quando coloquei um dos pés para dentro da banheira e puxou minha cueca para baixo, revelando o que eu tanto queria esconder de seus olhos famintos.
— Porque ainda está vestindo isso, ? — Deslizou a peça pelas minhas pernas, fazendo-me suspirar em derrota. Quer dizer, quem falou em derrota? Era quem estava tomando iniciativa, portanto não poderia me culpar caso algo acontecesse ali.
Fechei os olhos quando senti sua mão quente me envolver, começando os movimentos de cima para baixo, arrancando suspiros involuntários de meus lábios. Quando senti sua língua circular na cabeça inchada, os abri para me deleitar com a cena. As mãos dela faziam movimentos suaves, pareciam-se mais com carícias, enquanto seus olhos azuis estavam vidrados nele, como se estivesse hipnotizada. Logo eles focaram-se nos meus, ainda boquiaberto. Gemi, comprimindo os lábios.
Apesar de estar louco para que ela me colocasse por completo em sua boca, não queria apressá-la, poderia ficar ali, vendo-a de joelhos diante de mim o dia todo.
— O que foi? — O colocou na boca, chupando rapidamente. Meu coração se acelerou enquanto meu abdômen passou a subir e descer de forma descompensada. — Nunca viu? — Riu com os lábios recém umidificados por sua saliva, voltando a beijar a cabeça rosada.
— Na verdade não. — Retruquei, pegando em seu rosto, acariciando suas bochechas rosadas pelo calor do momento. Ao mesmo tempo, o abocanhava, fazendo-me sentir tonto de tanto prazer. — Ontem eu apenas senti sua boca e devo confessar que é mil vezes melhor te assistir me chupar. — sorriu ao tirá-lo da boca, voltando a masturbá-lo.
Quando voltou a me envolver com seus lábios, a vi colocá-lo por completo, sentindo sua garganta se fechando em volta do meu membro. Gemi, deliciando-me ao vê-la fazer aquilo repetidas vezes.
— Oh, , você faz isso tão bem... — Entrei em êxtase, segurando seus cabelos loiros num rabo de cabelo e forçando sua cabeça contra meu quadril, sem medo de engasgá-la. se afastou, ofegante, quando me soltou, ainda me olhando com aqueles olhos brilhantes, transbordando luxúria.
— Eu tive um ex, sabe? — Não sabia se ela estava blefando, rindo das minhas histórias com outras mulheres que me ensinaram coisas, ou se estava falando sério. Gargalhei junto dela, sentindo os níveis de serotonina me deixarem leve como um pena, tendo-a me estimulando daquele jeito e ainda rindo com ela.
Quem diria que algum dia, além de me fazer gozar, ainda me faria rir de suas piadas ruins?
— Ah, ex-namorados. Eles só servem para te ensinar a fazer, para depois usar com quem realmente importa. — Acariciei seus cabelos, fazendo-a revirar os olhos.
— Convencido. — Riu, fazendo-me negar com a cabeça e me inclinar diante dela, beijando sua boca enquanto entrava na banheira.
Eu não estava mais aguentando. Sabia que aquele não era o combinado, mas meu tesão não estava dando a mínima para aquilo. Num impulso, a puxei pelas coxas para meu colo, tendo seus braços abraçando-me pelo pescoço.
— ... — Seu tom de voz me pedia para ter cautela, porém, ela sorria, deixando-me confuso.
Qual era o significado? Era um sim ou um não? Aquela mulher ainda me deixaria louco.
— Não vou fazer nada que você não queira fazer. — Beijei seu rosto, mordiscando sua orelha de leve.
— É esse o problema, eu quero. Quero muito... — Suspirou, olhando-me nos olhos.
Eu, que já não tinha mais autocontrole, ao ouvi-la confessar aquilo já a puxava para mais perto, tendo sua intimidade colada com meu pau ainda ereto.
gemeu manhosa, cedendo de vez e levantando-se diante de mim, me encaixando em sua entrada antes de descer devagar, preenchendo-se por completo quando terminou de sentar. Joguei minha cabeça para trás, sentindo aquela sensação extasiante. não estava diferente, se demorou ali, sentindo-me pulsar dentro de si e rebolando antes de começar a movimentar o quadril, cavalgando-me com maestria.
Aproveitei sua proximidade para abocanhar seu seio, sugando um por vez enquanto se desfalecia em cima de mim, tentando em vão não fazer mais barulho já que o som que a água fazia por conta da agitação na banheira já era o suficiente. Não queríamos chamar atenção, porém, estava ficando difícil não gemer e externar todas aquelas sensações juntas de uma vez só.
A segurava pelos quadris, passei a pegar em sua bunda gostosa, tão forte que já via sua pele pálida ficar avermelhada com a marca de meus dedos. parecia não se importar enquanto sentava sem parar, fazendo-me apenas relaxar e assisti-la em movimento, acariciando sua cintura e medindo-a de cima a baixo, reparando no quão lindo era seu corpo e o quão satisfatório era vê-la naquele estado quase que delirante.
tinha os olhos fechados, ao contrário de mim que nem ao menos piscava, a fim de não perder nenhum segundo daquele momento.
Quando vi que estava cansada, a lacei pela cintura e passei a movimentar meu quadril de encontro ao dela, colando seus seios no meu peito, sentindo sua respiração cada vez mais acelerada, assim como as batidas de seu coração. Ouvi gemer baixinho em meu ouvido, me abraçando pelos ombros enquanto eu a fodia cada vez mais forte e rápido.
Já sentindo o ápice se aproximar, senti seus lábios em meu pescoço, beijando e mordiscando minha pele, arrepiando-me por completo. Diminui a velocidade e realmente pensei em sair de dentro dela. Porém, não consegui. Quando a senti rebolar devagar e sua língua se enroscando na minha, apenas continuei o que estava fazendo, agarrando-a com possessividade ao mesmo tempo em que gozava deliciosamente, jogando a cabeça para trás enquanto puxava meus cabelos.
A acompanhei, ainda vidrado nela, tão excitado que acabei explodindo dentro dela, que estava tão absorta em seu orgasmo que nem ao menos se lembrou de me repelir ou me repreender por ter gozado dentro. ainda segurava meu antebraço quando deixou de tremer e soluçar, ganhando um beijo no queixo assim que voltava à sua posição inicial no meu colo.
Ainda respirando ofegante, juntei nossas testas suadas, vendo-a abrir os olhos e piscar algumas vezes para tentar se situar de volta. Quando o fez, vi seu rosto se contorcer em uma expressão que imprimia um arrependimento tão palpável que fiquei com vontade de poder voltar no tempo e ter nos impedido de transar.
A loira levou as mãos à boca, cobrindo-a em descrença ao olhar para baixo e ver que eu ainda estava dentro dela. se afastou de mim em uma rapidez impressionante, indo parar do outro lado da banheira como se eu tivesse alguma doença altamente transmissível pelo tato.
Passei a mão pelo rosto, estressado. O drama iria começar...
— Meu Deus, o que eu fiz? — Arquei as sobrancelhas ao ouvi-la sussurrar para si mesma. Me senti pessoalmente ofendido. Tinha levado ao paraíso mais de duas vezes e ela não me dava os devidos créditos?
— Nós... — Apontei para nós dois, atraindo seu olhar. — transamos... — Disse como se fosse óbvio, porque era óbvio até demais!
— N-Não podíamos ter feito isso, ! — Revirei os olhos ao vê-la insistir naquilo. Já tinha acontecido, de que iria adiantar entrar em um colapso nervoso daqueles? — Esse não foi o combinado!
— Eu não teria entrado na banheira se não tivesse me chamado. Muito menos transado contigo se soubesse que iria ficar brava do nada. — Cruzei os braços irritado.
— Ah, me perdoe por não estar te agradecendo por ter tido a oportunidade de transar com você, ó deus do sexo. — Sua voz carregada de sarcasmo fez minha cabeça latejar. A encarei em tédio, devia me agradecer mesmo. — Eu estou mais preocupada em não ficar grávida. Não quero ser a mãe dos seus filhos. — Cruzou os braços também, ainda emburrada.
falava como se uma conjunção carnal entre nós fosse resultar em um alien.
— E nem eu o pai dos seus! — Respondi entre dentes, encarando-a com raiva. — Já basta ter que dividir a guarda de .
— é nossa filha, porém, as coisas são diferentes. Eu não quero gerar um filho por nove meses na barriga e ouvir ele te chamar de pai. Quando tudo isso acabar, vou querer distância de você, .
— , não.tem.bebê.nenhum! — Disse pausadamente enquanto puxava os próprios cabelos com raiva. — Você não vai ficar grávida!
— Como vamos saber? — Insistiu, exasperada. — É por isso que eu não queria fazer nada sem camisinha, . É por isso que eu disse que isso não daria certo, eu sabia que iria dar merda! — Abraçou as pernas, ainda apreensiva.
— Não, não foi por isso que você não quis ceder. Foi porque você não queria assumir que também me queria. Não minta pra si mesma, . — Ralhei, vendo-a virar o rosto, evitando olhar em minha direção.
— Isso tudo foi um erro terrível. — Levou as mãos à cabeça.
— Vai me dizer que se arrependeu, que não gostou da noite passada e nem do que acabou de acontecer aqui. — Ri de escárnio. permaneceu impassível, fazendo-me ficar impressionado com sua frieza.
Depois eu era quem tinha a má fama de mulherengo, sem coração, sendo que estava ali na minha frente, mentindo na cara dura do mesmo jeito que fez noite passada. Tudo aquilo para não ferir o próprio orgulho.
Não adiantava ela negar até a morte sendo que eu tinha visto com meus próprios olhos seu corpo se contorcer em prazer em cima do meu. Senti seus pelos eriçarem e ouvi seus murmúrios e gemidos. Não era possível que soubesse fingir tudo aquilo tão bem.
E nem precisaria fingir! não tinha sido obrigada a nada.
— Nosso único erro foi ter metido os pés pelas mãos e transarmos sem preservativo. Mas isso não, . Não é errado quando os dois querem.
— Tá, tá. Já entendi! Você já conseguiu o que queria, . — desdenhou, fazendo-me arquear as sobrancelhas. Errada não estava, eu realmente só queria transar com ela, porém, falava como se não tivesse feito o mesmo comigo.
E estava tudo bem! Não estávamos cometendo nenhum crime. Era quase 2021 e as pessoas continuavam a ver sexo casual como um bicho de sete cabeças quando na verdade era tão fácil que nem precisaria ser explicado.
— Agora, por favor, me deixe sozinha. — Não movi um só músculo do meu corpo.
Ela estava falando sério? Iria mesmo me enxotar e quebrar todo o clima incrível que estava entre nós só por causa daquilo?
Tudo bem, não dava para descredibilizar sua preocupação, afinal, tinha fundamento quando dizia que estava com medo de engravidar. Era um risco real principalmente para , que se ficasse grávida teria que gerar uma criança enquanto estava aprendendo a lidar com outra.
Mas também não precisava me tratar daquele jeito! tinha tanta culpa quanto eu, e sozinha não conseguiria resolver aquela questão. Tentei pensar numa forma de ajudá-la a chegar a uma solução, afinal, estávamos juntos naquela confusão toda desde o dia em que veio à este mundo.
— Vai dar tudo certo, . — Me aproximei, recebendo um olhar ainda ameaçador da loira à minha frente, mas pelo menos ela pareceu aberta a ouvir. — Nós não iríamos ao centro atrás de preservativos? Então! Vamos à farmácia e te compramos uma pílula. Que tal?
— É uma ótima ideia. — Franziu a testa, massageando as têmporas. — Eu não tinha pensado nisso... — riu sem humor, sorri com sua trapalhada e me aproximei mais, atraindo seus olhos novamente.
— Estava muito ocupada imaginando um bebê que não existe e nem vai existir. — Gargalhei junto dela, que finalmente parecia mais relaxada ao ponto de rir da situação.
— Caramba, como que a gente conseguiu chegar a esse ponto... — Murmurou, rindo desacreditada. Mordi meu lábio, escondendo um sorriso e aproximando meu rosto do dela.
— Quer mesmo que eu fale? — Prendi seu lábio entre meus dentes, sentindo-a suspirar, fechando os olhos e cedendo. Beijei sua boca devagar, finalizando com alguns selinhos. — Acho que já sabe a resposta. — Minhas mãos passearam pelo seu corpo nu e molhado.
A porta foi aberta após algumas suaves batidinhas. se inclinou sobre mim, tentando me cobrir pelo fato de serem duas funcionárias do spa. Sorri sínico para as duas, que esboçaram surpresa ao me verem ali.
— Não sabíamos que estava aqui, Sr. . Desculpe a intromissão. — Thalia disse envergonhada, com as bochechas proeminentes e rubras. Olhou para a colega parada na porta e depois se focou em , sem conseguir me encarar de novo. Soltei um pequeno riso com a situação. — Viemos te trazer champanhe, alguns morangos com chocolate... — Apontou para o carrinho que a outra mulher tinha junto de si. — Marina, pegue outra taça para ele.
Fomos servidos pelas duas, que deixaram a sala rapidamente, nos avisando que o almoço logo seria servido. Tentaria convencer a ficar para comer antes de irmos em busca da farmácia no centro de Tulum. Sabia que minha esposa tinha relaxado um pouco, mas a conhecia o bastante para ter certeza de que aquela preocupação ainda estava em segundo plano naquela cabecinha dura dela.
— Su tinha razão, esse lugar é incrível mesmo. — comentou, reparando na própria taça decorada com detalhes em dourado após bebericar a bebida gelada. — Estamos sendo muito mimados. — Peguei um dos morangos grandes, mergulhando-o no chocolate e levando até sua boca.
— Eles pensam que estamos em lua de mel. — Levei a boca o que restou da fruta vermelha, reparando no lábio sujo de . Assim que terminei de mastigar, a puxei pela nuca, lambendo o local. — Esse chocolate está divino, prove ele sozinho. — Mergulhei o indicador no pote, lhe oferecendo o doce.
Seus olhos azuis olharam no fundo dos meus e soltou um risinho sacana antes de pegar minha mão, puxando-a para si e colocando meu dedo todo em sua boca, chupando-o como tinha feito com meu pau enquanto eu assistia a cena, extasiado. Ofeguei, revisitando as sensações que me proporcionou quando esteve de joelhos diante de mim.
Ataquei seus lábios enroscando minha língua na sua, sentindo seu beijo doce e o chocolate tornar tudo ainda mais saboroso. Estiquei a mão até o pote e repeti o processo, daquela vez melando um de seus mamilos rosados, arrancando-lhe uma expressão de puro prazer quando apenas me imaginou chupando o local.
Quando o fiz, a loira arqueou as costas, reagindo a mim e soltando um gemido tão delicioso que fez meu membro voltar a latejar. Tentei subi-la em minhas coxas, louco para tê-la sentando ali de novo, porém, se desvencilhou, fazendo que o sabia fazer de melhor: acabar com o clima e com a minha farra.
— Temos que ir. — A mantive presa em meu abraço, cheirando seu pescoço.
— , nós vamos almoçar antes de ir. — Lhe informei, vendo-a revirar os olhos em implicância.
— Mais um motivo para irmos logo. Quanto mais cedo comermos, mais cedo nós vamos. — Terminou sua bebida, saindo da banheira e se secando para ir atrás do biquíni.
(...)
Suspirei, levando a mão à cabeça e olhando em volta, tendo a certeza de que estávamos passando por aquela mesma estrada praticamente deserta pela milésima vez. Chega estava tonto de tanto que tínhamos dirigido em círculos.
— Estamos nesse carro há um tempão e não saímos do lugar. — Encarei possesso, apertando o volante com força. A loira me devolveu o olhar, ainda jogada no banco do passageiro.
Saímos do spa um pouco tarde. Eu insisti para que ficássemos mais um pouco depois do almoço, afinal, nós só tínhamos aproveitado a banheira e era um desperdício ir embora tão cedo sem aproveitar nada.
— Não me diga? Eu jurava que estávamos indo embora para Londres de carro. — Freei na porra do acostamento, tentando respirar fundo e raciocinar um pouco. — Você não está ajudando nem um pouco.
— Estou fazendo mais que esse seu GPS de bosta. — O sinal de internet daquele lugar era uma negação, a rota estava carregando há tempos e desde então inventei de tentar seguir o fluxo de carros e chegar no centro sozinho.
Resumindo: Nem o GPS destravou, nem eu consegui chegar a algum lugar. As placas tinham tradução em inglês, deveria ser fácil segui-las até o nosso destino, porém, todas as ruas e estradas daquela cidade pareciam ser idênticas!
Encarei o ponteiro da gasolina, já sabendo que talvez poderíamos ficar ainda mais na merda do que já estávamos. Não que fosse alguma novidade para nós, afinal, tudo o que tinha eu e envolvidos no planejamento era fadado ao fracasso. Esperava que ao menos fosse poupada daquela maldição que aparentemente nos assolava.
Resolvi descer do carro e tentar parar alguém para pedir informações. Se achasse um ser humano que falasse inglês, é claro.
— Estou tentando ligar para alguém, mas a ligação não completa. Que saco! — Encostei-me no veículo, ouvindo a voz de reclamar e fechei os olhos com força. Tudo o que ela fez desde que percebeu que estávamos perdidos foi reclamar!
A culpa não era minha, porra! Sabia que tinha lhe prometido que arranjaria uma pílula do dia seguinte para ela, mas pelo visto o destino não estava querendo colaborar conosco. Estava começando a ficar preocupado com mais aquilo.
Consegui parar alguns carros, porém, a barreira linguística nos atrapalhou bastante. Quando finalmente consegui alguém para ajudar, descobri que tínhamos ido para mais longe do centro naquela brincadeira toda. Não comuniquei daquela informação, apenas entrei no carro e segui as instruções que me foram dadas, torcendo para que a gasolina milagrosamente rendesse até que chegássemos perto de algum posto para abastecer.
Quando finalmente chegamos no centro, fomos direto para o posto encher o tanque, foi um alívio grande ver finalmente descer do carro e ir em direção a farmácia. Ela finalmente iria calar a boca e me deixar em paz sobre aquele assunto. Fui atrás, adentrando o estabelecimento e pegando alguns preservativos como tinha planejado antes de tudo dar errado. Mesmo após todos aqueles eventos de má sorte, eu ainda tinha fé de que poderíamos ficar de novo até que desse meia noite.
Olhei para o relógio pendurado em cima do caixa. Eram seis da tarde, voltaríamos para casa e eu a levaria para o quarto para que pudéssemos fechar nosso trato com chave de ouro. Quer dizer, era o que eu queria fazer, mas imaginar o que se passava na cabeça de depois daquele dia completamente atípico era um desafio e tanto para mim.
Parei em frente ao caixa, já vendo-a chegar ao meu lado. A loira procurou algo com os olhos e disparou em direção a geladeira que tinha na lateral do balcão. Cumprimentei a funcionária, lhe entregando o que eu iria levar e quando dei por mim, já abria a embalagem da pílula com uma rapidez impressionante, a enfiando na boca e abrindo a garrafa de água rapidamente, virando metade dela em puro desespero.
Foi constrangedor reparar a cara da mulher à nossa frente, que parou para analisar a cena já calculando que eu era o atrasado da história, comprando camisinhas enquanto já tomava a pílula do dia seguinte. Apesar de tudo, seu olhar demonstrava tédio. Será que ela já havia visto aquela cena em outra véspera de ano novo? Porque eu mesmo jamais tinha presenciado uma mulher com tanto pavor à ideia ter um filho meu na vida.
E olha que algumas até queriam, propositalmente.
— Vou esperar no carro. — Deixou a garrafa pela metade sobre o caixa e saiu porta a fora, fazendo-me dar um sorrisinho sem graça para a moça, lhe estendendo a caixinha da pílula e a garrafa para que ela cobrasse.
Que vergonha! Ainda bem que eu nunca mais a veria na vida.
Voltei para o carro, jogando a sacola de qualquer jeito no banco traseiro. Pegamos a estrada de volta para a casa de praia em um completo silêncio. Respirei fundo, guiando o carro, estava melhor do que o trajeto de ida, que foi regado à discussões e frustrações. Naquela altura nem eu sabia mais se ainda rolaria sexo e estava cansado demais para pensar sobre, iria esperar chegar em casa para descobrir.
— Que barulho é esse? — Franzi a testa após notar o ruído que comentou, percebendo que era do nosso carro.
O veículo começou a morrer aos poucos, somente dando-me tempo de jogá-lo para o canto da pista antes de parar de vez. Bati no volante em puro ódio ao perceber que nossa maré de azar ainda parecia longe de ter seu fim.
já iria se gabar o bastante por ontem à noite, pela minha insistência em tê-la e por todas as coisas que falei na hora do tesão. Levei a mão à cabeça, fechando os olhos com força. Me sentia um idiota, estava cego, tudo saiu da minha boca sem que eu ao menos pudesse raciocinar um pouco para não falar algo comprometedor. Levando em consideração que eu lhe tinha confessado que a tinha assistido se masturbar e revelado meus maiores desejos, reforçando o quanto eu queria estar dentro dela. Minha única arma contra seria jogar em sua cara que ela tinha cedido a mim.
Dei graças aos céus por saber que aquilo duraria apenas até a virada daquele dia e que logo iríamos embora, sem uma palavra sobre o que quer que tenhamos feito em Tulum. Não que eu não estivesse gostando, inclusive, se tivéssemos preservativos, acho que teríamos ficado acordados a noite inteira matando nossas vontades. Mas apesar de ser muito bom, ainda tinha toda aquela implicância mútua sobre quem cedeu a quem, quem beijou quem primeiro, quem tomou a iniciativa... Para mim, aquilo era a coisa mais ridícula do mundo! Digo, o que importava quem fez o quê? Estava nítido que era recíproco! E também, era só sexo! Não deveríamos ficar contando placares, e sim aproveitarmos enquanto estávamos experimentando um ao outro.
se remexeu, ainda de olhos fechados, murmurou algo que não consegui decifrar o que era. Tamanha era sua manha, que me fez sorrir sem mostrar os dentes observando-a. Ainda deslizava as pontas dos dedos em seu braço esticado sobre mim quando vi seus olhos azuis irritados pela claridade que vinha da janela. me espiou pela pequena fenda que abriu e logo voltou a fechá-los, se afastando do meu toque e virando para o outro lado da cama.
Por mim, continuaríamos o que começamos ali, mesmo quando chegássemos em casa. Eram apenas nove meses, poderíamos ficar daquele jeito, transando casualmente quando não tivéssemos parceiros por fora ou simplesmente quiséssemos nos pegar eventualmente. Porém eu sabia que ela não toparia, noite passada quando lhe propus e ouvi sua negativa tive certeza de que não rolaria. Por sorte, aproveitei que ela estava completamente entregue e achei uma brecha em suas condições impostas, iríamos apenas nos permitir até que o calendário mudasse para 2021.
Se bem que, após vê-la se afastar de mim na cama, cheguei a ter minhas dúvidas se já não queria mais cumprir nosso trato da noite passada. Encarei sua bunda descoberta pelo lençol. ainda estava apenas de blusa e a calcinha. Suspirei derrotado, lembrando-me de tudo o que fizemos antes de pegar no sono, mordi o lábio sentindo aquele frio na barriga e a vontade de fazer de novo e de novo veio à tona. Torci para que aquilo tivesse sido apenas uma impressão minha, afinal, ainda era muito cedo para pensar em algo e ainda devia estar cansada. Eu também estava, não tinha dormido o suficiente para recarregar minhas energias.
Voltei a fechar os olhos, ainda repassando as imagens na minha cabeça e revisitando as sensações. O cheiro do perfume que estava em seu pescoço quando lhe beijei a pele recém bronzeada, daquelas coxas que estiveram envolta de meu rosto e quadris, do seu gosto doce e do modo como sua boca me envolveu com maestria, fazendo-me gozar enquanto escorria garganta a dentro sem que ela cuspisse uma gota sequer. era espetacular e eu ainda nem tinha experimentado a sensação de fodê-la. Suspeitei que seria ainda melhor quando acontecesse.
Ofeguei antes de me entregar ao sono, afinal de contas, o dia ainda estava amanhecendo e meus planos com aconteceriam antes que nosso tempo juntos acabasse. Se ela topasse, claro.
Quando voltei a abrir os olhos já havia se passado algum tempo. Tateei pela cama e me vi sozinho ali, o quarto também estava vazio, restando-me apenas verificar se não estaria no banheiro. Quando percebi que ela já devia ter levantado, tomei uma ducha rápida e escovei os dentes, indo para a cozinha.
estava por lá, mexia numa frigideira no fogão quando me aproximei, silencioso. Não queria assustá-la, por isso apenas lhe toquei suavemente a cintura, sentindo sua barriga descer e subir rapidamente quando ela ofegou ao me ter agarrando-a por trás. Lhe desejei um bom dia por meio de um sussurro ao pé do ouvido, mordisquei o lóbulo de sua orelha logo em seguida, fazendo minha esposa encolher o ombro enquanto ria sem graça.
— Eu dormi muito? — Indaguei ao notar o silêncio da casa. Cheguei a pensar que estávamos sozinhos ali.
— Não, eu acabei de acordar também. O pessoal está lá fora. — Murmurou, checando o omelete na frigideira antes de se virar para mim. — Seus amigos queriam ir te acordar com um balde de água. — Ri junto dela, inclinando-me para beijar seu pescoço. — Eu que não deixei, me agradeça depois. — Hasteou o dedo, afastando-se ainda sorrindo.
— Eles sempre fazem isso. — Revirei os olhos, lembrando-me das peças que pregávamos uns nos outros em todas as viagens que fazíamos.
Reparei que o status de um homem casado e de pai me deu uma quase imunidade naquelas brincadeiras. Só foi proibi-los de ir ao quarto me sacanear que eles a obedeceram prontamente. Quem diria que eu algum dia iria encontrar algo bom na vida de casado?
— Onde está ?
— Lá fora. Caroline está dando mamadeira para ela, disse que está treinando pro futuro. — Soltou uma risadinha e eu assenti, já morto de saudades da minha bebê. Desde que ela tinha chegado até nós, acho que nunca tinha ficado tanto tempo sem vê-la, a não ser quando estava no trabalho.
— Quero vê-la. — Murmurei, ansioso. me encarou de um jeito estranho antes de falar.
— Só eu me senti culpada por tê-la deixado de lado ontem a noite inteira?
Cocei a nuca, vendo-a tão receosa. Se estava se sentindo daquela maneira só por ter deixado com Jack e Suzann por algumas horas durante a noite, não iria mais querer deixá-los de babás durante o dia.
— Eu soaria muito desnaturado se dissesse que não? — Encolhi os ombros, vendo-a suspirar derrotada. Provavelmente achava que eu iria concordar com ela. — Pais também também precisam de um descanso, . Precisam dormir uma noite toda sem interrupções, namorar... — Me aproximei, deslizando minhas mãos pela cintura fina de e juntando nossos quadris. A loira a minha frente riu fraco, abaixando a cabeça. Ela estava sem graça comigo? Por isso estava me afastando tanto? — Não vá me dizer que vai recusar a ajuda da Suzanne e Jack hoje.
— Não... — Disse exasperada. — É que eu sinto como se estivesse abusando da boa vontade deles. E também estou me achando a pior mãe do mundo por querer um dia inteiro longe de .
— , você não vai ser menos mãe dela só por ter saído para se distrair um pouco por um dia. — Mordeu o lábio duvidosa, esticando-se para apagar a boca do fogão. — A não ser que o problema seja outro. O que foi, se arrependeu de ontem? — Procurei seu olhar e a vi respirar fundo antes de negar com a cabeça. — Então não há problema nenhum. Pare de se culpar e vamos aproveitar para namorar um pouco, quem sabe terminar o que começamos ontem...
Lhe beijei a boca devagar, sentindo-a ceder aos poucos, colocando os braços envolta de meu pescoço enquanto eu lhe apertava a cintura.
— Ontem foi... — Ofegou contra meus lábios, não terminando sua fala, apenas sugerindo algo com o sorriso safado que brotou em sua boca vermelha por conta do beijo.
— Acredite, eu também estou sem palavras para descrever. — negou com a cabeça ao rir da minha piada, que não tinha sido apenas uma brincadeira, afinal, eu realmente não conseguia descrever em palavras as sensações da noite passada. — Consegue imaginar o que vai acontecer quando nós finalmente irmos até o fim? — Deslizei minha testa pela dela, parando próximo de seu ouvido. suspirou, apertando meus bíceps, e eu sorri com aquilo. — O quão delicioso será quando eu finalmente estiver dentro de você, te fodendo até estar cansada demais para andar com as pernas trêmulas. — Minha mão passeou por aquele corpo coberto apenas por um vestido leve. Senti sua calcinha quando tateei sua bunda a fim de apertá-la. — Eu mal posso esperar, . Se pudesse, arrancaria nossas roupas agora mesmo.
Mais uma vez eu estava falando sem parar, expondo tudo o que estava sentindo enquanto ela apenas se limitava em demonstrar. O que eu não estava achando nem um pouco ruim, porém queria ouvir sua voz e saber o que se passava em sua cabeça.
puxou-me pela nuca, colando nossos lábios, e abafou os pequenos gemidos que soltou ao ser prensada pelo meu corpo contra a pia da casa. Seus dedos me puxaram os cabelos, forçando-me a morder seu lábio para descontar a tensão crescente que ela estava me causando. Era tentador demais estar ali com todos na área da piscina e ocupados demais para checar onde estávamos.
Seu corpo estava tão convidativo e entregue a mim que acabei esquecendo-me de que não estávamos sozinhos e puxei a barra de seu vestido para cima, sentindo sua pele com a ponta dos dedos e assustando-a de imediato.
— ! — Tirou minha mão de sua coxa, aos risos. — Está louco? E se alguém aparece? — Arregalou os olhos, tentando me afastar. Era hilário vê-la tímida daquele jeito. Desde que conheci nunca a tinha visto daquela forma, ainda mais em relação a mim.
Tirei minhas mãos dela, apoiando-me na pia e prendendo-a ali. Era difícil parar de tocá-la, eu não sei o que estava acontecendo comigo naquele dia.
— Me diga que nosso trato de ontem ainda está de pé... — A olhei nos olhos, inclinando-me sobre ela, que mordeu o lábio, levantando o queixo e encarando-me na mesma intensidade. E então, sorriu, assentindo e fazendo-me agarrá-la, animado.
Sim, eu não conseguia tirar as mãos de seu corpo.
— Mas só se arranjarmos uma camisinha. — Alertou-me após ter os lábios libertos pelos meus. Assenti em concordância, fazendo-a passar os braços pelos meus ombros.
— Uma? — Exclamei ironicamente. — O centro da cidade fica há uns quarenta minutos daqui, vamos comprar várias. Quero passar o dia inteiro te fod...
— Chace! Oi. — Franzi o cenho, percebendo seu olhar esbugalhado para outro ponto atrás de mim na cozinha. Comprimi os lábios ao ouvir seus passos se aproximando.
— Bom dia, cara! Achei que ia dormir o dia todo! — se soltou de mim enquanto ele vinha em nossa direção, dando tapinhas em minhas costas com um prato na outra mão.
— Um dia de folga de pais é dormir o dia todo mesmo. — Murmurei, sorrindo amarelo, vendo lhe servir o omelete que estava preparando a pouco. — Dormir e fazer o que estávamos fazendo antes de você atrapalhar. — me beliscou como punição pela minha falta de descrição. Devia beliscar ele, que entrou onde não foi chamado.
— Desculpa por demorar tanto. me distraiu um pouco. — Lhe beijei a nuca, vendo-a encolher os ombros. Chace sorriu fraco para ela, ainda segurando o prato já abastecido.
— Tudo bem, eu é quem peço desculpas pelo incômodo. — Fiquei ali no meio dos dois, sentindo um climão estranho se instalar no cômodo.
Eu conhecia os dois há muitos anos. Não poderia falar nada sobre , mas Chace estava escancaradamente com os olhos nela de um jeito nada amigável. Ele nunca me olhou daquele jeito e seria muito estranho se o fizesse.
A abracei de lado após concluir minha análise, chamando sua atenção para mim.
— sentou à mesa e eu fiquei com água na boca... — Arquei as sobrancelhas com a porra do duplo sentido em sua fala. — com o omelete dela.
— Chace sempre foi assim, amor, sempre cresceu os olhos no prato alheio. — Ele me encarou com o cenho franzido. Agora quem estava alheia à conversa era , que nem sequer imaginava que não falávamos mais de um simples omelete.
Estávamos falando de garotas, que ele e eu sabíamos que foram "roubadas" de mim por Chace na nossa época de faculdade. Era sempre assim, íamos nas festas de recepção dos calouros apenas para ver as novidades do campus, a disputa sempre foi muito acirrada. Chegávamos a beijar a mesma garota na mesma noite, porém, eu não era o segundo a pegar. Chace sempre queria a que eu escolhia e quando eu já não ligava mais para a caloura, ele ia atrás para conseguir beijá-la.
Mais uma vez, a situação atual era bem diferente das anteriores. era minha esposa, não uma caloura qualquer para apenas trocar beijos ou uma mulher para sexo sem compromisso.
— Não tem problema, eu adoro cozinhar. — sorriu, ainda alternando os olhos entre nós dois, que ainda estávamos sérios numa comunicação silenciosa. Chace estava confuso, já eu estressado. — Se quiser eu faço um pra você. — Se virou para mim.
— Não precisa, estou bem. — Beijei sua testa, ainda sob o olhar do meu melhor amigo.
— Eu vou indo lá. — O ignorei, tomando os lábios de .
— Onde estávamos? — Voltei a beijar seu pescoço e encolheu o ombro, rindo baixinho e espiando para ver se ele tinha mesmo ido embora.
— Na parte em que estávamos estabelecendo as regras. — Revirei os olhos. tinha mesmo que ser tão certinha ao ponto de impor regras até para transar? — Temos só até meia noite de hoje. — Lembrei-me de que eu quem tinha proposto aquele prazo na hora do desespero e me arrependi de não ter escolhido outro critério, como o nosso tempo de permanência ali. Teríamos mais dois dias ao invés de só um.
— Ótimo, temos o dia inteiro para transar. — A loira negou com a cabeça, em reprovação, mas o sorriso em seus lábios contrariava sua farsa em desaprovar minha fala. — De todos os jeitos possíveis e impossíveis...
— Oh, céus, você está parecendo um virgem indo ter a primeira vez. — Debochou.
— Três meses, . Você sabe o que são três meses sem sexo? — assentiu. É claro que ela sabia, afinal, também tinha ficado o mesmo período de seca junto de mim.
Mas ao que parecia estava tranquila. Eu também estava, afinal já tinha dormido com Dafne e quebrado aquele jejum que pareceu interminável, porém com iria ser uma experiência completamente nova, que eu já fantasiava desde que nos casamos e passamos a dividir a mesma casa. Além de, claro, ser com o meu maior desafeto. O quão louco eu não estava para desferir alguns tapas em sua bunda para descontar meu ódio interior? Sabia que também mal podia esperar para me puxar os cabelos ou arranhar minhas costas. Seria... interessante fazer aquela junção entre ódio e sexo.
— E Dafne? — Arqueou a sobrancelha, cínica.
Eu não tocaria naquele assunto com . Não depois da noite passada e da briga que aquilo causou. Apesar de estar mais do que habituado em discutir com , naquele dia eu apenas queria gastar minhas energias para ouvi-la gemer em meu ouvido, e não reclamando como sempre fazia.
— Vamos tomar café da manhã? — Selei nossos lábios, encerrando o assunto. — Temos que estar bem alimentados porque o dia de hoje vai ser longo. — revirou os olhos, indo na frente.
Chegamos sendo recebidos pelo pessoal animado como sempre, mesmo ainda sendo cedo para aquilo. Tulum tinha aquela energia, se pudesse me mudaria para um lugar como aquele, perto do mar, onde era verão o ano inteiro e que parecia nunca cair na mesmice por receber muitos turistas.
— Já que está de pé, , vou dar o meu presente de casamento atrasado para vocês. — Suzanne anunciou, levantando-se próxima da mesa. Me sentei, puxando para meu colo, esperando para ver qual seria a peripécia da namorada de Jack daquela vez. — Aqui em Tulum tem um spa que é famoso por receber muitos casais na lua de mel, eles até oferecem desconto! Então, como eu não estava presente no casamento, resolvi tentar reservas lá para vocês e deu certo! — Bateu palminhas entusiasmada, fazendo-me trocar olhares com .
Jack e Suzanne se conheciam há um tempo, mas nunca tinha sido nada sério apesar de meu amigo ser louco por ela. Su tinha medo de tentar algo a mais por conta de Lorenzo, temia que o filho se apegasse demais ao namorado e ele lhe desse um pé na bunda. O que não aconteceu em relação a Jack, que simplesmente adorou Lorenzo no momento em que o conheceu, lhe passando a segurança que ela precisava para recebê-lo de vez em sua vida. Engataram o namoro há apenas dois meses, por isso ele não a levou como acompanhante para meu casamento.
— Não precisa, Su! — sorriu amarelo, sem graça. Ela tinha urgentemente que parar de ser orgulhosa e aprender a aceitar presentes. Não adiantava falar que não precisava se Suzanne já tinha feito as reservas, aquilo era uma desfeita! Porém, vi a morena relevar por perceber que aquele era apenas o jeito de . — Você já está nos dando um presente só de ficar de babá de . — Argumentou, gesticulando nervosamente com as mãos.
— Obrigada, aos dois — disse, segurando as mãos inquietas de , que apenas encolheu os ombros, sorrindo contida ao perceber que estava falando demais.
— De nada! Eu marquei para mais tarde, acho que vocês vão adorar. Estão precisando relaxar, receber uma massagem, ficar um tempo a sós... O lugar é incrível, vocês precisam ver! — Achei interessante a parte do ficar a sós, mesmo de ainda não tendo nem sinal dos preservativos que exigiu.
Mas, por hora, poderíamos repetir a noite passada e ficar nas preliminares. Apesar de ser uma tortura não poder consumar o ato, eu até que curtia aquele joguinho de gato de rato, explorar todo seu corpo antes de finalmente chegarmos até a parte que realmente interessava.
— Nossa, está fazendo tanta propaganda que até fiquei interessado em ir passar a lua de mel lá. — Jack zombou da namorada, abraçando-a de lado.
— Isso foi um pedido de casamento? — Arquei as sobrancelhas, soltando gritinhos junto dos outros presentes na mesa. O casal riu, beijando-se com cumpricidade na nossa frente. Eu realmente via potencial naqueles dois para formar uma família.
Era real o que sentiam, transbordava para os olhos, deixando escancarado para quem quer que os visse de fora por conta do brilho que continha em ambos. Nunca fui de reparar naquelas melosidades, porém conhecendo-o como eu conhecia, notava-se que Jack estava rendido por Suzanne há tempos e já não fazia nada para disfarçar aquilo.
Me perguntei como deveria ser aquela sensação. Será que ele sabia que faltava babar quando parava para encará-la por muito tempo? Sério, era bizarro como os olhos de Jack ficavam vidrados nos de Su, como se fossem a coisa mais interessante do mundo todo.
— Ainda não. — Lamentamos juntos. Ri, negando com a cabeça. Arregou demais. — O título de casal do ano ainda é de vocês dois, está muito cedo para nós. — A morena concordou de imediato, abraçando-o de lado.
recebia dos braços de Caroline, ainda no meu colo. Me inclinei sobre seu ombro, beijando a bochecha grande da bebê, apertando ambas em meus braços.
Tomamos o café da manhã tranquilos, aproveitamos um pouco a piscina e logo íamos de carro até o tal spa. ficou receosa enquanto se despedia da bebê. Realmente estava se sentindo culpada por estar saindo e deixando para trás.
— Ela vai ficar bem, relaxa. — Apoiei a mão que estava na marcha em sua coxa, acariciando devagar enquanto manobrava o carro com a outra.
— Eu sei. — Sorriu fraco, encarando a paisagem na janela. — Vou tentar me esquecer disso. Sei que Suzanne é mãe e que está em boas mãos. — Assenti, de olho no GPS do celular. — Estou precisando muito desligar um pouco do resto do mundo e relaxar. — Encostou a cabeça no encosto do banco, atraindo meu olhar para si.
O vento que vinha da janela em seus cabelos, bagunçando-os à medida em que o carro acelerava, os óculos de sol impediram-me de ver seus olhos, porém um sorriso calmo estava instalado em seus lábios. Inclinei-me em sua direção quando paramos em um semáforo, puxando-a pela nuca e selando minha boca na dela.
Quando chegamos no local, observei de canto do olho uma empolgada e impressionada com as instalações. Era engraçado pensar que antes eu costumava ficar irritado com o fato de ela ser uma intrusa no meu mundo, hoje eu posso ver que na verdade eu é que não entendia nossas diferenças e não sabia lidar com o ciúmes que tinha de Grace.
Depois de todos aqueles anos implicando com pelo fato de ela ser pobre, me vi feliz em poder lhe proporcionar suas primeiras vezes em lugares incríveis como aqueles. A loira adentrou a recepção comigo, fingindo costume, tentando disfarçar que era sua primeira ida a um spa na vida.
Fomos guiados pelo local pela guia simpática que tinha um sotaque forte e muito bonito. Thalia parecia ser mexicana, porém, não consegui identificar de onde ela realmente era apenas pelo seu modo de falar. Após guardar nossos pertences num armário, saímos já vestindo roupões brancos com apenas roupas de banho por baixo.
— Não temos uma programação fixa aqui, vocês quem decidem o que querem fazer primeiro. — Olhei para minha esposa, que encolheu os ombros sem saber o que escolher. — Se me permitem sugerir algo, a massagem com pedras quentes é um bom começo, assim já ficam relaxados o bastante para curtir o resto das atividades do spa.
Seguimos a recomendação de Thalia, indo em direção ao corredor onde ficavam os massagistas. O spa era enorme, por isso tinha que ser dividido por atividades. As piscinas ficavam do outro lado enquanto a área de massagem era mais próxima da entrada e, bom, o resto iríamos descobrir aos poucos.
Me deitei de bruços, sendo imitado por , já sem o roupão. Havia um compartimento para abrigar o rosto, então encaixei-me ali sendo coberto pela toalha felpuda enquanto ouvia tagarelar com a mulher que lhe daria massagem sobre as próximas atividades. Ela estava tão empolgada que já estava pensando nos próximos passos.
Minhas costas começaram a ser tocadas pelas mãos macias da mulher de pé ao meu lado. Fechei os olhos, aproveitando o momento de descanso e relaxei meus ombros tensos quando as pontas de seus dedos trabalharam neles, próximos de minha nuca. A tensão da crise financeira da empresa foi embora ali, me esqueci de meu pai e de meu tio, esqueci até mesmo meu sobrenome de peso que andava prejudicando minhas costas de tanto que o carregava sozinho ultimamente.
Ouvi e a outra voz feminina comentarem sobre uma hidromassagem e pensei sobre aquilo. Depois que saíssemos dali até que seria uma boa ideia. Ficar a sós com numa banheira, ela vestindo apenas aquele biquíni de amarrar... Minha cabeça já criava planos mirabolantes, imaginado o que poderíamos fazer por ali.
— Senhor , desculpe interromper, mas meu óleo acabou, irei buscar outro frasco e já venho, sim? — Murmurei algo sonolento, percebendo que tinha viajado para outra dimensão naquele curto período de tempo em que divaguei pela minha cena com na banheira.
— , ainda está neste planeta? — Zombei, soando abafado. Ela finalmente tinha calado a boca, então presumi que tinha dormido enquanto recebia a massagem.
Levantei a cabeça, encontrando a maca vazia ao meu lado. Franzi o cenho, já sentando-me e derrubando a toalha que me cobria do quadril para baixo. Quando foi que ela saiu que não vi? E porque não tinha me chamado? Desci dali calçando os chinelos e colocando a toalha em cima da maca vazia, deixando a sala ao mesmo tempo em que vestia meu roupão.
Procurei pelas placas, encontrando a área onde devia estar. Os corredores eram todos iguais e haviam funcionários transitando entre eles. Dei sorte de abrir a primeira porta e já avista-lá dentro da hidro, com o tronco encostado na borda e com duas rodelas de pepino nos olhos. Cara de pau, tinha saído de fininho na cara dura!
— Te achei! — deu um pulo de susto hilário, tirando um dos pepinos do olho para me lançar um de seus olhares mortais. — Porque não me chamou?
— Eu tentei, mas você estava lá praticamente babando, no décimo quinto sono... — Deu de ombros, voltando o pepino para o lugar. — Decidi deixar a massagem para depois, a hidro me pareceu mais interessante.
Reparei em seu corpo seminu submerso nas águas agitadas e concordei com a cabeça, mesmo que ela não estivesse me vendo. Era sim, muito mais interessante. Mordi o lábio em excitação, aproximando-me dela.
— Pois então hoje é seu dia de sorte, . — Sorri presunçoso, posicionando-me detrás de seu tronco. — Poderá aproveitar a hidro e ganhar uma massagem ao mesmo tempo. — Pressionei seus ombros tensos, fazendo-a comprimi-los enquanto se afastava de meu toque, rindo.
— Desde quando você sabe fazer massagem, ? — Tirou minhas mãos de si, sem sucesso, já que a abracei, prendendo-a ali e desferindo beijos atrás de sua orelha, fazendo-a se encolher.
— Saí com uma mulher que estava fazendo um cursinho, você já ouviu falar em massagem tântrica? — gargalhou, desdenhando de minhas habilidades. — Não estou entendendo a graça. — Murmurei, ofendido com seu divertimento às minhas custas.
— É impressão minha ou todas as mulheres com quem você sai te usam como cobaia? — Debochou.
Eu nunca tinha parado para reparar naquilo, mas ela até que não estava de todo errada. Dafne mesmo fazia aquilo sem ao menos perceber ao me metralhar com perguntas pessoais, mesmo eu tendo todo o cuidado do mundo para não me expor muito a ela, sempre acabava cedendo e lhe dando o que ela queria. Já a massagista, na época eu que saí no lucro naquela história, ela realmente tinha mãos ótimas de um dom maravilhoso.
— Parece que você é uma exceção, , já que não sabe fazer... Nada. — Alfinetei, sentindo-a ofegar, ofendida. Me diverti com a cena dela retirando os pepinos dos olhos e me olhando com raiva.
— Eu vou me formar na faculdade e vou fazer você engolir todas essas palavras, . — Hasteou o dedo em minha direção. Gargalhei, beijando sua bochecha.
— Quero só ver — A olhei, vendo seu sorriso diminuir um pouquinho. — Vai ter que me fazer roupas. — A beijei mais uma vez, tentando animá-la e apertando-a em meus braços. — Bom, acho que minhas medidas você já tem... — revirou os olhos teatralmente. — Me deixe te fazer uma massagem, sim? Por favor... — Sussurrei ao pé do ouvido enquanto deslizava minha mão vagarosamente em seu abdômen debaixo da água.
— Tá bom... — Suspirou, remexendo-se na banheira. — Vamos ver se é bom nisso, mesmo. — Seu tom desafiador apenas serviu para me incentivar a levá-la à loucura naquela banheira. Quem iria fazê-la engolir as palavras seria eu.
Desamarrei seu biquíni da nuca, jogando as duas pontas caídas para frente, deixando livre a sua clavícula proeminente. Deslizei minhas mãos naquela região, sentindo os movimentos de seu peito, ritmados à sua respiração lenta. Em movimentos circulares, massageei sua pele macia, descendo vagarosamente para seus seios ainda cobertos pelo biquíni escuro.
Me livrei dele rapidamente, já podendo contemplá-lá praticamente nua pela água da banheira. A parte debaixo logo iria pelos ares também. Porém, no momento me preocupei apenas com a parte de cima de seu corpo, talvez uma das minhas favoritas no corpo feminino.
Espalmei minhas mãos em seus seios, sentindo seus mamilos rijos enquanto explorava os dois em conjunto. ofegava, segurando-me pelo antebraço enquanto mantinha os olhos fechados, finalmente se entregando de verdade às sensações que eu estava mais do que disposto a proporcionar a ela.
— Olhe para eles, . Veja como eles preenchem minhas mãos perfeitamente. — Segurei seus seios firmemente, aproximando-os e vendo o quão volumosos ficavam daquele jeito. — Como se tivessem sido feitos sob medida para mim. — Ansiei, lambendo os lábios e querendo colocá-los na boca, porém, minha posição não tornava aquilo possível.
Seus olhos azuis se abriram e ela envolveu minhas mãos com as suas, já respirando rápido, ofegando enquanto virava o pescoço em minha direção. Sorri quando deixou dois beijos lentos em meu queixo, onde ela conseguia alcançar. Observei suas pernas se agitarem debaixo da água, sua inquietação denunciava o quão ansiosa estava para que eu fosse direto ao ponto.
Mas não teria graça se fosse assim, não é mesmo?
Estimulei seus mamilos rosados com meu polegar, brincando com os bicos duros enquanto a ouvia suspirar audivelmente ainda de olhos cerrados. Era uma delícia vê-la sentir prazer em algo tão simples como uma simples massagem que ainda estava apenas começando. Adorava ver sua sensibilidade, o quão à flor da pele ficava quando tocada do jeito certo.
Os pelos eriçados, a boca entreaberta e os suspiros soltos. Até mesmo os movimentos involuntários com os quadris.
Assisti-la caminhar em direção ao êxtase era, sem dúvidas, uma das coisas mais sensuais que eu já tinha visto numa mulher. E saber que eu era o responsável por levá-la até o clímax me dava um enorme sensação de poder, parecia que por se tratar de minha nêmesis, aquela sensação chegava a triplicar e beirar ao prazer.
Desci minhas mãos por seu abdômen, vendo-a sorrir ao pensar que finalmente seria tocada lá. Fiz um pequeno suspense, descendo pelas laterais de seus quadris, esbarrando os dedos nos laços do biquíni e parando em sua bunda, onde apertei ao mesmo tempo em que beijei seu pescoço avidamente.
pegou uma de minhas mãos e a levou até sua intimidade, arrancando-me um sorriso malicioso quando a vi gemer ao pressionar a minha abaixo da dela ali, estimulando-se com a ponta dos meus dedos.
— , ... para que essa pressa toda? — Afastei sua mão, repousando a minha na parte interna de sua coxa, deixando meu polegar esticado a fim de provocá-la enquanto o movimentava sobre o tecido da calcinha, bem em cima de seu clítoris. — Temos o dia inteiro para fazer isso.
então começou a avançar com o quadril em direção ao meu dedo, rebolando em busca de mais contato.
— Mas eu quero a-agora. — Pegou-me pela nuca, emaranhado os dedos em meus cabelos.
Suspirei diante de sua expressão sôfrega. estava desesperada para ter logo minhas mãos dedilhando sua intimidade. Não nego que também estava ansioso, seria como tocar meu violão, onde cada ponto ali tocado resultaria numa melodia deliciosa vindo dos lábios de .
— Já que insiste tanto... — Desamarrei os laços em seus quadris, sentindo-a rir contra meus lábios.
A beijei, invadindo sua boca quente com minha língua quando levantou minimamente para me ajudar a me livrar da parte debaixo do biquíni, tendo-a finalmente nua, a mercê de meus toques.
Minha esposa mordeu meu lábio devagar, fazendo-me fechar os olhos durante o outro beijo molhado que ela começou, enquanto minhas mãos lhe acariciavam a região próxima de sua virilha.
— Isso, amor, se abra para mim... — Ofeguei, excitado com a cena que presenciava diante de meus olhos.
já flexionava uma das pernas enquanto mantinha a outra debaixo da água, abrindo-se inteiramente para mim. Me posicionei melhor atrás da banheira, daquela vez ficando por cima de seu campo de visão. A loira levantou o rosto, encarando-me desejos. Seus olhos azuis chegaram a brilhar quando aproximei meu toque de sua intimidade, que independente de estar submersa na banheira, estava molhada há tempos.
— Assim? — Seu tom sedutor contrastou com perfeição com o sorriso safado que ela me deu ao perceber como um simples movimento seu me deixou daquele jeito, completamente duro dentro da cueca que usava.
— Isso...
A peguei com uma das mãos, encaixando meu polegar e o restante dos dedos em sua mandíbula, segurando seu rosto e forçando seu pescoço para trás. A beijei devagar, adorando aquele controle todo sobre .
— Eu sei o quanto você gosta de abrir essas pernas para mim. — Proferi aquelas palavras, olhando-a no fundo dos olhos. Suas bochechas ganharam um tom rosado e ela gemeu contra a minha boca sem que eu ao menos tivesse encostado nela.
Parei de enrolar e aproveitei minha mão repousada em sua barriga, descendo vagarosamente. Assim que cheguei onde deveria, enterrei meu dedo médio no vão entre seus grandes lábios, separados por sua posição na banheira. Ali me demorei enquanto fazia movimentos circulares, ouvindo gemer baixinho após soltar um suspiro aliviado ao finalmente ter seu desejo atendido.
A masturbei, assistindo seu corpo entrar em colapso enquanto a ouvia praguejar e dizer coisas incompreensíveis ao mesmo tempo em que rebolava contra meus dedos, que ainda a tocavam superficialmente, porém, já a levavam a caminho de um orgasmo. Sua intimidade pulsava e eu conseguia senti-la ao movimentar meus dedos cada vez mais rápido e observá-la ir à loucura aos poucos.
Senti-la daquela maneira me fez lembrar da noite passada, quando tive um vislumbre de como era estar dentro dela. Precisava daquilo de novo, mas precisava ir até o fim, preenchê-la por completo, fazê-la atingir seu Nirvana.
Barulhos no corredor foram ouvidos, eram conversas entre funcionárias ao julgar pelo carrinho de serviço que se fazia presente por suas rodas irritantemente barulhentas. Parei o que estava fazendo, atraindo um olhar mortal de , que estava quase pronta para gozar.
Sabia que iria me olhar daquele jeito e desaprovar aquela pausa infortunada, porém, ela iria me agradecer por parar e não correr o risco de ser pega no flagrante por desconhecidos. Eu não ligaria nem um pouco, porém, a conhecia o bastante para saber que iria querer ir embora no exato momento. Imaginei seu constrangimento, afinal, aquilo era um spa, não um motel!
Esperei até que o silêncio voltasse a reinar no local, porém, ainda respirava ofegante, encarando-me ansiosa.
— ... — Sussurrou, recebendo uma negativa com a cabeça. Apurei meus ouvidos, percebendo que as funcionárias tinham parado em algum ponto do corredor.
tentou se tocar, fazendo-me segura-lá pelos pulsos, observando do alto seu rosto rubro e suado.
— Quem está fazendo a massagem aqui sou eu, . — Diminuí meu tom de voz, falando ao pé do ouvido.
— Por favor... — Gemeu, esfregando uma perna na outra em busca de algo que a fizesse voltar a ter o prazer que lhe foi tirado bruscamente.
— Abra. — Ordenei, desferindo um tapa em sua coxa.
— , por favor... — Mais uma vez o barulho das rodinhas, só que daquela vez foi ficando mais distante e sumindo aos poucos. — por favor...
Sua inquietação me divertiu, porém, ainda preferia vê-la desmanchando-se em prazer, por isso resolvi continuar a estimular . Mas não sem antes alfinetá-la um pouquinho.
— Você fica tão linda quando está implorando. — Lhe ataquei o pescoço ao mesmo tempo em que voltei a lhe tocar o meio das pernas. Daquela vez não fiz cerimônias, introduzi dois dedos em sua entrada, penetrando-a forte e fazendo-a revirar os olhos instantaneamente. — Era isso o que você queria? — A penetrei mais algumas vezes, já vendo que era questão de segundos para que a loira começasse a se debater na água da banheira.
não me respondeu, nem poderia, estava ocupada demais gozando em meus dedos. Aquela pergunta foi respondida através de gemidos abafados por meus lábios, que mordi ao vê-la se contorcer, soluçando e arfando sem o mínimo controle sobre si mesma.
Após voltar a si, ainda trêmula, tentou sentar-se de volta na banheira já que seu corpo tinha escorregado devido à intensa movimentação que todo aquele frenesi causou. Continuei com a mão ali entre suas pernas, daquela vez apenas a dedilhando devagar.
— Gostou da massagem? — Beijei sua testa, atraindo sua atenção para meu rosto. me tocou o braço, acariciando meu antebraço enquanto piscava devagar, sentindo as ondas de prazer lhe atingirem novamente.
— Isso é tão b-bom. — Gemeu, manhosa. Lhe beijei devagar, já vendo seu abdômen anunciar que ela gozaria novamente. — N-Não pare, . Por favor, não pare...
— Não vou... — Aumentei a velocidade, mal tendo noção do quão rápido movia minha mão, esfregando sua intimidade e vendo se desmanchando de prazer diante de mim.
— Porra... — Mordeu o lábio com força, tentando disfarçar o grito preso em sua garganta. atingiu o ápice novamente, porém, daquela vez pareceu cansada demais para tentar se ajeitar na banheira.
Afundei meu rosto no vão de seu pescoço, sentindo seu cheiro e seus dedos emaranhados em meu cabelo com o carinho gostoso que fazia ali, ainda esmaecida descansando na água.
Ali fiquei, sem saber o que fazer e morto de excitação. Nunca tinha tido aquele receio em relação à ninguém, sobre o que fazer numa hora daquelas. Era sempre muito prático com as mulheres com quem costumava sair, se fosse com outra eu já teria entrado naquela banheira e a tomado em meus braços, porém, era quem estava ali e saber daquilo me deixava sem ação.
Primeiro porque eu sabia que teria que me segurar, já que não tínhamos proteção conosco. Aquele havia sido o trato de mais cedo, sem camisinha, sem chance. E também porque já não conseguia mais fechar a porra da minha boca quando estava com ela em momentos como aquele. Sempre acabava falando demais, tinha medo de me expor ainda mais.
— Você não vem? — Levantou o rosto em busca do meu olhar e pisquei algumas vezes, saindo do meu devaneio enquanto respirava fundo.
Ela que estava me chamando. Eu tinha provas.
Talvez não houvesse problema, era só eu me controlar, só isso... Tentei soar para mim mesmo como se fosse fácil, uma tarefa simples do cotidiano entrar nu em uma banheira com já despida, me esperando.
O que poderia dar errado, não é mesmo?
Soltei um risinho com aquele pensamento, tirando o roupão e indo até a lateral da banheira, ainda vestindo minha cueca. Talvez fosse melhor continuar com ela, seria minha garantia de que não perderia o controle diante dela, já que meu amiguinho estaria devidamente guardado, tornando impossível que ele fosse parar em outros lugares além do tecido preto que o envolvia.
levantou seu tronco, ficando de joelhos na água. Me interceptou quando coloquei um dos pés para dentro da banheira e puxou minha cueca para baixo, revelando o que eu tanto queria esconder de seus olhos famintos.
— Porque ainda está vestindo isso, ? — Deslizou a peça pelas minhas pernas, fazendo-me suspirar em derrota. Quer dizer, quem falou em derrota? Era quem estava tomando iniciativa, portanto não poderia me culpar caso algo acontecesse ali.
Fechei os olhos quando senti sua mão quente me envolver, começando os movimentos de cima para baixo, arrancando suspiros involuntários de meus lábios. Quando senti sua língua circular na cabeça inchada, os abri para me deleitar com a cena. As mãos dela faziam movimentos suaves, pareciam-se mais com carícias, enquanto seus olhos azuis estavam vidrados nele, como se estivesse hipnotizada. Logo eles focaram-se nos meus, ainda boquiaberto. Gemi, comprimindo os lábios.
Apesar de estar louco para que ela me colocasse por completo em sua boca, não queria apressá-la, poderia ficar ali, vendo-a de joelhos diante de mim o dia todo.
— O que foi? — O colocou na boca, chupando rapidamente. Meu coração se acelerou enquanto meu abdômen passou a subir e descer de forma descompensada. — Nunca viu? — Riu com os lábios recém umidificados por sua saliva, voltando a beijar a cabeça rosada.
— Na verdade não. — Retruquei, pegando em seu rosto, acariciando suas bochechas rosadas pelo calor do momento. Ao mesmo tempo, o abocanhava, fazendo-me sentir tonto de tanto prazer. — Ontem eu apenas senti sua boca e devo confessar que é mil vezes melhor te assistir me chupar. — sorriu ao tirá-lo da boca, voltando a masturbá-lo.
Quando voltou a me envolver com seus lábios, a vi colocá-lo por completo, sentindo sua garganta se fechando em volta do meu membro. Gemi, deliciando-me ao vê-la fazer aquilo repetidas vezes.
— Oh, , você faz isso tão bem... — Entrei em êxtase, segurando seus cabelos loiros num rabo de cabelo e forçando sua cabeça contra meu quadril, sem medo de engasgá-la. se afastou, ofegante, quando me soltou, ainda me olhando com aqueles olhos brilhantes, transbordando luxúria.
— Eu tive um ex, sabe? — Não sabia se ela estava blefando, rindo das minhas histórias com outras mulheres que me ensinaram coisas, ou se estava falando sério. Gargalhei junto dela, sentindo os níveis de serotonina me deixarem leve como um pena, tendo-a me estimulando daquele jeito e ainda rindo com ela.
Quem diria que algum dia, além de me fazer gozar, ainda me faria rir de suas piadas ruins?
— Ah, ex-namorados. Eles só servem para te ensinar a fazer, para depois usar com quem realmente importa. — Acariciei seus cabelos, fazendo-a revirar os olhos.
— Convencido. — Riu, fazendo-me negar com a cabeça e me inclinar diante dela, beijando sua boca enquanto entrava na banheira.
Eu não estava mais aguentando. Sabia que aquele não era o combinado, mas meu tesão não estava dando a mínima para aquilo. Num impulso, a puxei pelas coxas para meu colo, tendo seus braços abraçando-me pelo pescoço.
— ... — Seu tom de voz me pedia para ter cautela, porém, ela sorria, deixando-me confuso.
Qual era o significado? Era um sim ou um não? Aquela mulher ainda me deixaria louco.
— Não vou fazer nada que você não queira fazer. — Beijei seu rosto, mordiscando sua orelha de leve.
— É esse o problema, eu quero. Quero muito... — Suspirou, olhando-me nos olhos.
Eu, que já não tinha mais autocontrole, ao ouvi-la confessar aquilo já a puxava para mais perto, tendo sua intimidade colada com meu pau ainda ereto.
gemeu manhosa, cedendo de vez e levantando-se diante de mim, me encaixando em sua entrada antes de descer devagar, preenchendo-se por completo quando terminou de sentar. Joguei minha cabeça para trás, sentindo aquela sensação extasiante. não estava diferente, se demorou ali, sentindo-me pulsar dentro de si e rebolando antes de começar a movimentar o quadril, cavalgando-me com maestria.
Aproveitei sua proximidade para abocanhar seu seio, sugando um por vez enquanto se desfalecia em cima de mim, tentando em vão não fazer mais barulho já que o som que a água fazia por conta da agitação na banheira já era o suficiente. Não queríamos chamar atenção, porém, estava ficando difícil não gemer e externar todas aquelas sensações juntas de uma vez só.
A segurava pelos quadris, passei a pegar em sua bunda gostosa, tão forte que já via sua pele pálida ficar avermelhada com a marca de meus dedos. parecia não se importar enquanto sentava sem parar, fazendo-me apenas relaxar e assisti-la em movimento, acariciando sua cintura e medindo-a de cima a baixo, reparando no quão lindo era seu corpo e o quão satisfatório era vê-la naquele estado quase que delirante.
tinha os olhos fechados, ao contrário de mim que nem ao menos piscava, a fim de não perder nenhum segundo daquele momento.
Quando vi que estava cansada, a lacei pela cintura e passei a movimentar meu quadril de encontro ao dela, colando seus seios no meu peito, sentindo sua respiração cada vez mais acelerada, assim como as batidas de seu coração. Ouvi gemer baixinho em meu ouvido, me abraçando pelos ombros enquanto eu a fodia cada vez mais forte e rápido.
Já sentindo o ápice se aproximar, senti seus lábios em meu pescoço, beijando e mordiscando minha pele, arrepiando-me por completo. Diminui a velocidade e realmente pensei em sair de dentro dela. Porém, não consegui. Quando a senti rebolar devagar e sua língua se enroscando na minha, apenas continuei o que estava fazendo, agarrando-a com possessividade ao mesmo tempo em que gozava deliciosamente, jogando a cabeça para trás enquanto puxava meus cabelos.
A acompanhei, ainda vidrado nela, tão excitado que acabei explodindo dentro dela, que estava tão absorta em seu orgasmo que nem ao menos se lembrou de me repelir ou me repreender por ter gozado dentro. ainda segurava meu antebraço quando deixou de tremer e soluçar, ganhando um beijo no queixo assim que voltava à sua posição inicial no meu colo.
Ainda respirando ofegante, juntei nossas testas suadas, vendo-a abrir os olhos e piscar algumas vezes para tentar se situar de volta. Quando o fez, vi seu rosto se contorcer em uma expressão que imprimia um arrependimento tão palpável que fiquei com vontade de poder voltar no tempo e ter nos impedido de transar.
A loira levou as mãos à boca, cobrindo-a em descrença ao olhar para baixo e ver que eu ainda estava dentro dela. se afastou de mim em uma rapidez impressionante, indo parar do outro lado da banheira como se eu tivesse alguma doença altamente transmissível pelo tato.
Passei a mão pelo rosto, estressado. O drama iria começar...
— Meu Deus, o que eu fiz? — Arquei as sobrancelhas ao ouvi-la sussurrar para si mesma. Me senti pessoalmente ofendido. Tinha levado ao paraíso mais de duas vezes e ela não me dava os devidos créditos?
— Nós... — Apontei para nós dois, atraindo seu olhar. — transamos... — Disse como se fosse óbvio, porque era óbvio até demais!
— N-Não podíamos ter feito isso, ! — Revirei os olhos ao vê-la insistir naquilo. Já tinha acontecido, de que iria adiantar entrar em um colapso nervoso daqueles? — Esse não foi o combinado!
— Eu não teria entrado na banheira se não tivesse me chamado. Muito menos transado contigo se soubesse que iria ficar brava do nada. — Cruzei os braços irritado.
— Ah, me perdoe por não estar te agradecendo por ter tido a oportunidade de transar com você, ó deus do sexo. — Sua voz carregada de sarcasmo fez minha cabeça latejar. A encarei em tédio, devia me agradecer mesmo. — Eu estou mais preocupada em não ficar grávida. Não quero ser a mãe dos seus filhos. — Cruzou os braços também, ainda emburrada.
falava como se uma conjunção carnal entre nós fosse resultar em um alien.
— E nem eu o pai dos seus! — Respondi entre dentes, encarando-a com raiva. — Já basta ter que dividir a guarda de .
— é nossa filha, porém, as coisas são diferentes. Eu não quero gerar um filho por nove meses na barriga e ouvir ele te chamar de pai. Quando tudo isso acabar, vou querer distância de você, .
— , não.tem.bebê.nenhum! — Disse pausadamente enquanto puxava os próprios cabelos com raiva. — Você não vai ficar grávida!
— Como vamos saber? — Insistiu, exasperada. — É por isso que eu não queria fazer nada sem camisinha, . É por isso que eu disse que isso não daria certo, eu sabia que iria dar merda! — Abraçou as pernas, ainda apreensiva.
— Não, não foi por isso que você não quis ceder. Foi porque você não queria assumir que também me queria. Não minta pra si mesma, . — Ralhei, vendo-a virar o rosto, evitando olhar em minha direção.
— Isso tudo foi um erro terrível. — Levou as mãos à cabeça.
— Vai me dizer que se arrependeu, que não gostou da noite passada e nem do que acabou de acontecer aqui. — Ri de escárnio. permaneceu impassível, fazendo-me ficar impressionado com sua frieza.
Depois eu era quem tinha a má fama de mulherengo, sem coração, sendo que estava ali na minha frente, mentindo na cara dura do mesmo jeito que fez noite passada. Tudo aquilo para não ferir o próprio orgulho.
Não adiantava ela negar até a morte sendo que eu tinha visto com meus próprios olhos seu corpo se contorcer em prazer em cima do meu. Senti seus pelos eriçarem e ouvi seus murmúrios e gemidos. Não era possível que soubesse fingir tudo aquilo tão bem.
E nem precisaria fingir! não tinha sido obrigada a nada.
— Nosso único erro foi ter metido os pés pelas mãos e transarmos sem preservativo. Mas isso não, . Não é errado quando os dois querem.
— Tá, tá. Já entendi! Você já conseguiu o que queria, . — desdenhou, fazendo-me arquear as sobrancelhas. Errada não estava, eu realmente só queria transar com ela, porém, falava como se não tivesse feito o mesmo comigo.
E estava tudo bem! Não estávamos cometendo nenhum crime. Era quase 2021 e as pessoas continuavam a ver sexo casual como um bicho de sete cabeças quando na verdade era tão fácil que nem precisaria ser explicado.
— Agora, por favor, me deixe sozinha. — Não movi um só músculo do meu corpo.
Ela estava falando sério? Iria mesmo me enxotar e quebrar todo o clima incrível que estava entre nós só por causa daquilo?
Tudo bem, não dava para descredibilizar sua preocupação, afinal, tinha fundamento quando dizia que estava com medo de engravidar. Era um risco real principalmente para , que se ficasse grávida teria que gerar uma criança enquanto estava aprendendo a lidar com outra.
Mas também não precisava me tratar daquele jeito! tinha tanta culpa quanto eu, e sozinha não conseguiria resolver aquela questão. Tentei pensar numa forma de ajudá-la a chegar a uma solução, afinal, estávamos juntos naquela confusão toda desde o dia em que veio à este mundo.
— Vai dar tudo certo, . — Me aproximei, recebendo um olhar ainda ameaçador da loira à minha frente, mas pelo menos ela pareceu aberta a ouvir. — Nós não iríamos ao centro atrás de preservativos? Então! Vamos à farmácia e te compramos uma pílula. Que tal?
— É uma ótima ideia. — Franziu a testa, massageando as têmporas. — Eu não tinha pensado nisso... — riu sem humor, sorri com sua trapalhada e me aproximei mais, atraindo seus olhos novamente.
— Estava muito ocupada imaginando um bebê que não existe e nem vai existir. — Gargalhei junto dela, que finalmente parecia mais relaxada ao ponto de rir da situação.
— Caramba, como que a gente conseguiu chegar a esse ponto... — Murmurou, rindo desacreditada. Mordi meu lábio, escondendo um sorriso e aproximando meu rosto do dela.
— Quer mesmo que eu fale? — Prendi seu lábio entre meus dentes, sentindo-a suspirar, fechando os olhos e cedendo. Beijei sua boca devagar, finalizando com alguns selinhos. — Acho que já sabe a resposta. — Minhas mãos passearam pelo seu corpo nu e molhado.
A porta foi aberta após algumas suaves batidinhas. se inclinou sobre mim, tentando me cobrir pelo fato de serem duas funcionárias do spa. Sorri sínico para as duas, que esboçaram surpresa ao me verem ali.
— Não sabíamos que estava aqui, Sr. . Desculpe a intromissão. — Thalia disse envergonhada, com as bochechas proeminentes e rubras. Olhou para a colega parada na porta e depois se focou em , sem conseguir me encarar de novo. Soltei um pequeno riso com a situação. — Viemos te trazer champanhe, alguns morangos com chocolate... — Apontou para o carrinho que a outra mulher tinha junto de si. — Marina, pegue outra taça para ele.
Fomos servidos pelas duas, que deixaram a sala rapidamente, nos avisando que o almoço logo seria servido. Tentaria convencer a ficar para comer antes de irmos em busca da farmácia no centro de Tulum. Sabia que minha esposa tinha relaxado um pouco, mas a conhecia o bastante para ter certeza de que aquela preocupação ainda estava em segundo plano naquela cabecinha dura dela.
— Su tinha razão, esse lugar é incrível mesmo. — comentou, reparando na própria taça decorada com detalhes em dourado após bebericar a bebida gelada. — Estamos sendo muito mimados. — Peguei um dos morangos grandes, mergulhando-o no chocolate e levando até sua boca.
— Eles pensam que estamos em lua de mel. — Levei a boca o que restou da fruta vermelha, reparando no lábio sujo de . Assim que terminei de mastigar, a puxei pela nuca, lambendo o local. — Esse chocolate está divino, prove ele sozinho. — Mergulhei o indicador no pote, lhe oferecendo o doce.
Seus olhos azuis olharam no fundo dos meus e soltou um risinho sacana antes de pegar minha mão, puxando-a para si e colocando meu dedo todo em sua boca, chupando-o como tinha feito com meu pau enquanto eu assistia a cena, extasiado. Ofeguei, revisitando as sensações que me proporcionou quando esteve de joelhos diante de mim.
Ataquei seus lábios enroscando minha língua na sua, sentindo seu beijo doce e o chocolate tornar tudo ainda mais saboroso. Estiquei a mão até o pote e repeti o processo, daquela vez melando um de seus mamilos rosados, arrancando-lhe uma expressão de puro prazer quando apenas me imaginou chupando o local.
Quando o fiz, a loira arqueou as costas, reagindo a mim e soltando um gemido tão delicioso que fez meu membro voltar a latejar. Tentei subi-la em minhas coxas, louco para tê-la sentando ali de novo, porém, se desvencilhou, fazendo que o sabia fazer de melhor: acabar com o clima e com a minha farra.
— Temos que ir. — A mantive presa em meu abraço, cheirando seu pescoço.
— , nós vamos almoçar antes de ir. — Lhe informei, vendo-a revirar os olhos em implicância.
— Mais um motivo para irmos logo. Quanto mais cedo comermos, mais cedo nós vamos. — Terminou sua bebida, saindo da banheira e se secando para ir atrás do biquíni.
Suspirei, levando a mão à cabeça e olhando em volta, tendo a certeza de que estávamos passando por aquela mesma estrada praticamente deserta pela milésima vez. Chega estava tonto de tanto que tínhamos dirigido em círculos.
— Estamos nesse carro há um tempão e não saímos do lugar. — Encarei possesso, apertando o volante com força. A loira me devolveu o olhar, ainda jogada no banco do passageiro.
Saímos do spa um pouco tarde. Eu insisti para que ficássemos mais um pouco depois do almoço, afinal, nós só tínhamos aproveitado a banheira e era um desperdício ir embora tão cedo sem aproveitar nada.
— Não me diga? Eu jurava que estávamos indo embora para Londres de carro. — Freei na porra do acostamento, tentando respirar fundo e raciocinar um pouco. — Você não está ajudando nem um pouco.
— Estou fazendo mais que esse seu GPS de bosta. — O sinal de internet daquele lugar era uma negação, a rota estava carregando há tempos e desde então inventei de tentar seguir o fluxo de carros e chegar no centro sozinho.
Resumindo: Nem o GPS destravou, nem eu consegui chegar a algum lugar. As placas tinham tradução em inglês, deveria ser fácil segui-las até o nosso destino, porém, todas as ruas e estradas daquela cidade pareciam ser idênticas!
Encarei o ponteiro da gasolina, já sabendo que talvez poderíamos ficar ainda mais na merda do que já estávamos. Não que fosse alguma novidade para nós, afinal, tudo o que tinha eu e envolvidos no planejamento era fadado ao fracasso. Esperava que ao menos fosse poupada daquela maldição que aparentemente nos assolava.
Resolvi descer do carro e tentar parar alguém para pedir informações. Se achasse um ser humano que falasse inglês, é claro.
— Estou tentando ligar para alguém, mas a ligação não completa. Que saco! — Encostei-me no veículo, ouvindo a voz de reclamar e fechei os olhos com força. Tudo o que ela fez desde que percebeu que estávamos perdidos foi reclamar!
A culpa não era minha, porra! Sabia que tinha lhe prometido que arranjaria uma pílula do dia seguinte para ela, mas pelo visto o destino não estava querendo colaborar conosco. Estava começando a ficar preocupado com mais aquilo.
Consegui parar alguns carros, porém, a barreira linguística nos atrapalhou bastante. Quando finalmente consegui alguém para ajudar, descobri que tínhamos ido para mais longe do centro naquela brincadeira toda. Não comuniquei daquela informação, apenas entrei no carro e segui as instruções que me foram dadas, torcendo para que a gasolina milagrosamente rendesse até que chegássemos perto de algum posto para abastecer.
Quando finalmente chegamos no centro, fomos direto para o posto encher o tanque, foi um alívio grande ver finalmente descer do carro e ir em direção a farmácia. Ela finalmente iria calar a boca e me deixar em paz sobre aquele assunto. Fui atrás, adentrando o estabelecimento e pegando alguns preservativos como tinha planejado antes de tudo dar errado. Mesmo após todos aqueles eventos de má sorte, eu ainda tinha fé de que poderíamos ficar de novo até que desse meia noite.
Olhei para o relógio pendurado em cima do caixa. Eram seis da tarde, voltaríamos para casa e eu a levaria para o quarto para que pudéssemos fechar nosso trato com chave de ouro. Quer dizer, era o que eu queria fazer, mas imaginar o que se passava na cabeça de depois daquele dia completamente atípico era um desafio e tanto para mim.
Parei em frente ao caixa, já vendo-a chegar ao meu lado. A loira procurou algo com os olhos e disparou em direção a geladeira que tinha na lateral do balcão. Cumprimentei a funcionária, lhe entregando o que eu iria levar e quando dei por mim, já abria a embalagem da pílula com uma rapidez impressionante, a enfiando na boca e abrindo a garrafa de água rapidamente, virando metade dela em puro desespero.
Foi constrangedor reparar a cara da mulher à nossa frente, que parou para analisar a cena já calculando que eu era o atrasado da história, comprando camisinhas enquanto já tomava a pílula do dia seguinte. Apesar de tudo, seu olhar demonstrava tédio. Será que ela já havia visto aquela cena em outra véspera de ano novo? Porque eu mesmo jamais tinha presenciado uma mulher com tanto pavor à ideia ter um filho meu na vida.
E olha que algumas até queriam, propositalmente.
— Vou esperar no carro. — Deixou a garrafa pela metade sobre o caixa e saiu porta a fora, fazendo-me dar um sorrisinho sem graça para a moça, lhe estendendo a caixinha da pílula e a garrafa para que ela cobrasse.
Que vergonha! Ainda bem que eu nunca mais a veria na vida.
Voltei para o carro, jogando a sacola de qualquer jeito no banco traseiro. Pegamos a estrada de volta para a casa de praia em um completo silêncio. Respirei fundo, guiando o carro, estava melhor do que o trajeto de ida, que foi regado à discussões e frustrações. Naquela altura nem eu sabia mais se ainda rolaria sexo e estava cansado demais para pensar sobre, iria esperar chegar em casa para descobrir.
— Que barulho é esse? — Franzi a testa após notar o ruído que comentou, percebendo que era do nosso carro.
O veículo começou a morrer aos poucos, somente dando-me tempo de jogá-lo para o canto da pista antes de parar de vez. Bati no volante em puro ódio ao perceber que nossa maré de azar ainda parecia longe de ter seu fim.
Capítulo 25
— Eu não acredito que isso está acontecendo... — Levei ambas as mãos ao rosto, tentando controlar minha respiração, que já voltava a se alterar.
Era só o que faltava para completar nossa maré de azar daquele dia. Não sabia ao certo se dava para compilar tudo o que aconteceu naquele dia inteiro e dizer que as coisas deram errado. Porque mesmo sendo um tremendo acidente, eu conseguia admitir pelo menos para mim mesma de que o sexo na banheira tinha sido um dos melhores da minha vida.
Não era fácil colocar uma experiência com em rankings de melhores momentos da minha vida, eu ainda sentia uma resistência dentro de mim me impedindo de gostar de algo vindo dele. Porém era inevitável ignorar aquele fato, tudo o que aconteceu naquele spa foi excitante demais para não ser apreciado e reconhecido. Desde a massagem deliciosa que recebi daquele par de mãos grandes e firmes até ser preenchida por seu membro e delirar de prazer até chegar no meu tão sonhado ápice.
Ele era muito bom no que fazia, seu corpo era como uma máquina incansável, que só parou de operar quando me teve desfalecida em cima de si.
— Vou ver o que aconteceu. — Saiu do carro estressado, deixando-me ainda mais impaciente por já saber que ele não tinha conhecimento algum de mecânica e se tentasse mexer poderia piorar ainda mais nossa situação.
Não que já não estivesse ruim o bastante, considerando que estávamos em um país estranjeiro que não tinha o inglês como língua oficial, ainda por cima tínhamos uma filha de apenas dois meses longe de nós e o prazo que nossos amigos nos deram de cuidar dela já tinha acabado. Tive vontade de chorar de arrependimento. Aquela viagem tinha sido para ficarmos um pouco off do trabalho e aproveitar , porém a última coisa que fizemos foi ficar com a bebê.
Já eram quase sete da noite e o céu estava escuro, apenas aumentando o meu desespero ao ficar parada naquele lugar desconhecido na beira da estrada movimentada por grandes caminhões e carretas. Além de tudo, tínhamos uma festa de ano novo para organizar com os outros, que deveriam estar preocupados conosco porque já era para termos retornado pra casa há muito tempo.
abriu o capô do carro e de repente uma fumaça preta começou a sair dali, formando uma nuvem escura, fazendo meu marido tossir e abanar o ar poluído em volta de si. Afundei-me no banco pensando que talvez pudesse piorar sim, estava claramente querendo desencadear em si mesmo um ataque asmático respirando aquela fumaça para nada, já que ele não sabia resolver merda nenhuma. Era só o que me faltava, ele começar a passar mal numa situação daquelas.
— Acho que é o carburador. — A fumaça o afetou tanto que ele voltou falando gregro, trazendo-me aquela informação que não significava absolutamente nada para mim. Eu nem ao menos sabia o que um carburador fazia num veículo, eu nem sabia o que era um! — Terei que acionar o seguro do carro. — Sacou o celular nem um pouco surpreso quando viu os ponteiros de rede desaparecidos na tela.
Aquelas operadoras vagabundas sempre nos abandonavam nos piores momentos possíveis! Nem me dei ao trabalho de checar o meu, já tinha feito várias tentativas quando estávamos perdidos no caminho de ida. Às vezes acho que e eu gostávamos de insistir em erros, porque parecia que nossa ida turbulenta até o centro já era um presságio do que estava por vir. E eu que achava que tinha passado raiva o suficiente quando estávamos com o carro em movimento, descobri que era muito pior quando nem ele colaborava em andar.
— Vamos tentar do meu jeito. — Suspirei, desembarcando do veículo e dando a volta. abriu a porta, indo atrás de mim enquanto eu ia para a ponta da estrada e ascendia minha lanterna do celular, tentando sinalizar para um dos carros que passava em alta velocidade pela pista extensa e escura.
— Boa sorte com isso. Da última vez fiquei um tempão para achar alguém que falasse inglês para me ajudar. — Revirei os olhos, espiando-o encostado na lataria do carro, de braços cruzados e rindo da minha cara.
— Se você fosse ao menos um pouquinho inteligente perceberia que dá para se comunicar com gestos ao invés do espanhol. — Rebati, ainda agitando o celular no ar.
Fiquei um tempo ali, com o braço já dolorido de tanto movê-lo, já tinha aberto a porta do motorista e se aconchegado no banco para poder me ver passando aquela vergonha de camarote. Apesar de estar me irritando, eu via que ele estava bem atento a qualquer movimentação, por isso não estava com medo de alguém mal intencionado aparecer de repente. Na verdade, não estava me preocupando muito com intenções naquele momento, a única coisa que eu queria era ir para casa e ver .
Um veículo finalmente reduziu a velocidade, chegando no acostamento e parando ao lado do carro onde estava. Assim que viu o homem desembarcar e dar a volta no próprio veículo, correu até mim, direcionando-me um sorrisinho sarcástico quando o desconhecido desatou a falar em espanhol.
— Eu preciso de um celular emprestado. — Não sabia bem o motivo de eu estar falando devagar, como se estivesse explicando algo a uma criança, o cara só era latino, não burro! Burros éramos nós que estávamos no país dele achando que ele era obrigado a nos entender.
Peguei meu próprio aparelho e desbloqueei, mostrando-o que estava sem rede, ele assentiu compreendendo, fazendo-me sorrir vitoriosa para o meu marido, que lhe indicou o carro seguindo-o até o capô e abrindo-o para mostrá-lo. Iluminei todas aquelas peças confusas para o homem, que falou sozinho algumas coisas com uma cara nada boa. Logo, ele me estendia o celular, fazendo-me passá-lo para .
Sorri agradecida para o homem alto enquanto falava com a atendente do seguro, informando-a do que aconteceu com o carro e solicitando um resgate para nós. Quando foi preciso falar onde nós estávamos, o homem assumiu o telefone, lhe dando as coordenadas. Logo finalizava a ligação respirando mais tranquilo. Ele não era o único, apesar de que eu só iria cantar vitória quando estivesse com minha filha dos braços e devidamente arrumada para a festa.
— Gracias. — Era a única coisa que eu sabia falar em espanhol, o homem riu pegando o celular de volta e entrando no carro, indo embora e sumindo de nossas vistas. — Está vendo? É assim que se faz. — Voltei para meu banco e me aconcheguei ali, subindo o vidro da janela ao ouvir o barulho dos grilos no matagal próximo dali, afinal eu não precisava de mais um inseto me infernizando.
sozinho já me tirava do sério o bastante.
Não tinha ficado nem um pouco surpresa ao ver que, se não fosse por mim improvisar um jeito de sair daquela furada, ainda estaria ali, parado diante do carro se lamentando porque deu ruim e sem saber o que fazer ao se ver sem sinal no celular. Rico geralmente não sabe se virar sozinho, sempre dependem de um empregado para facilitar a vida que já é fácil até demais para eles, jamais saberiam improvisar um reparo em algum móvel ou sei lá, ter a ideia de colocar um prego num chinelo quebrado.
— Agora é só esperar o guincho vir junto com a carona para casa. — suspirou, em meio ao silêncio no interior do veículo.
— Será que demora muito? — Chequei meu celular vendo-o marcar oito de noite, frustrada, sentei-me de lado apoiando a cabeça no braço sobre o encosto do banco.
— Com sorte, logo estaremos indo para casa. — Neguei com a cabeça, em reprovação.
Eu tinha até medo de, quando chegasse meia noite, nós fizéssemos algum pedido para o próximo ano. Pelo andar da carruagem, o melhor mesmo era ficar calado. Só naquele dia, ambos tínhamos feito planos para depois, confiando que os problemas que surgiram iriam se resolver. E de fato se resolveram, mas logo depois apareceram piores no lugar!
Se bem que comprar uma possível gravidez com o que estávamos passando era até idiota da minha parte. Tá, talvez não estivéssemos tão na merda assim.
— Nós poderíamos aproveitar e matar tempo fazendo outras coisas, não? — Sua mão tirou fios de cabelo do caminho e acariciou meu rosto antes de tê-lo se aproximando, fazendo-me sentir sua respiração calma. — Não podemos desperdiçar o tempo que ainda temos. — Cedi a seus lábios quentes, também me inclinado em sua direção. A mão de desceu pela lateral do meu corpo pousando-se em minha cintura e apertando a região devagar, causando-me pequenas correntes elétricas.
— Eu admiro sua esperança de achar que chegaremos em casa logo. — Não perdi a oportunidade de rir dele, recebendo beijos na bochecha enquanto ele descia os lábios para meu pescoço. — Porque com a sorte que nós estamos... — Mordi o lábio em excitação sentindo chupar a região de leve, apertando aquele bíceps fortes e tatuados quando seus dentes puxaram minha pele devagar, arrepiando-me.
voltou a me tomar os lábios fazendo-me correspondê-lo imediatamente. Porém o que passou pela minha cabeça me tirou a concentração e arrancou-me uma gargalhada sonora, fazendo-o se afastar para me olhar confuso. Mesmo não entendendo nada, sorriu em minha direção esperando-me tentar me recompor.
— Eu acho que tenho uma teoria que explica toda essa onda de má sorte. — Murmurei tentando conter meu sorriso, que praticamente me rasgava o rosto de tanta vontade de rir que eu estava.
— Lá vem... — revirou os olhos, com tédio na voz. — Vai, , me conte sua teoria. — Sua mão continuava na minha cintura, afagando-a superficialmente.
Ignorei sua ironia e respirei fundo, controlando-me antes de começar a falar.
Era óbvio que eu não acreditava na minha própria baboseira, era mais uma implicância com mesmo. Apesar daquilo, era inegável que mesmo que não fosse real, minha teoria fazia sentido sim.
Porque em outra ocasião, a ideia de de ficarmos juntos até que o relógio batesse meia noite seria negada por mim no mesmo instante, se não fosse o tesão e a tensão sexual que tínhamos alimentado nos últimos dias, jamais estaríamos aos beijos naquele carro e em lugar nenhum. Era algo completamente absurdo se fôssemos considerar todos os nossos anos de ódio mútuo. e eu nascemos para nos odiar e viver em pé de guerra, era simples! A nossa sina, a ordem natural das coisas.
Se eu não passasse um dia sequer sem me estressar com a presença de no recinto, teria algo de errado comigo. Da mesma forma que eu estranharia caso deixasse de ser aquele babaca que ele sabia ser como ninguém quando estava perto de mim.
E a nossa simples menção de inverter aquela ordem resultou naquele desequilíbrio bizarro daquele dia caótico que estávamos vivenciando.
Ou poderia ter sido apenas um dia normal onde tudo deu errado porque tinha que dar.
Na real aquela minha hipótese era bem furada mesmo, me surpreendi ao perceber que gastei tanto tempo montando tudo dentro da minha cabeça. Mas ainda assim a teoria não seria completamente inútil, muito pelo contrário! Ela seria válida para zombar de porque a ideia de nos permitirmos curtir um ao outro tinha sido dele e eu, claro, a usaria para jogar na cara dele.
Mas como eu explicaria aquilo...
— Sabe quando o Flash volta no tempo para salvar a mãe dele e quando retorna ao presente vê que bagunçou a linha do tempo? — Não era possível que não entendesse aquela referência. assentiu, ainda um pouco confuso. — Então! Estamos na mesma situação e a culpa disso tudo é sua, já que a ideia de transarmos foi sua. Nós dois fomos feitos para brigar, não dar tréguas ou sair transando por aí. O que fizemos hoje cedo desequilibrou tudo à nossa volta. — Ainda com o dedo hastado em sua direção, esperei uma reação dele.
soltou uma risada sonora, fazendo-me revirar os olhos ao ver que o tiro que eu havia dado tinha saído pela culatra, afinal, não tinha ficado bravo com a provocação, muito pelo contrário, ele tinha achado engraçado!
— Pare de ser nerd, . — Se eu fechasse meus olhos, poderia facilmente me sentir na época da escola novamente. Era típico de homem, levar décadas para amadurecer. No caso de , a maturidade estava chegando a passos de tartaruga. — Criou essa história furada toda só para não admitir que amou o que fizemos hoje naquela banheira?
Soltei um riso desacreditado. Era muito egocentrismo para uma pessoa só.
— Amar é uma palavra bem forte, não acha não? — Ele teve a audácia de discordar com a cabeça antes de me roubar um beijo rápido. — Você é só um corpo gostoso, . Não se ache tanto. — Me diverti com seu rosto se retorcendo em indignação enquanto sua mão grande foi subindo vagarosamente pela minha coxa exposta.
— Vai mesmo ter coragem de continuar negando que eu sou o único que sabe exatamente onde te tocar para te fazer desfalecer em prazer, ?
Exemplificando em tempo real o que dizia, invadiu meu vestido e, com as pontas dos dedos, sem a mínima pressa, trilhou um caminho até minha barriga, onde passeou com seu toque leve até chegar na barra da minha calcinha. Não consegui segurar o suspiro audível que soltei ao sentir meu corpo todo se estremecer com aquele simples toque superficial abaixo do meu umbigo.
— Não perca seu tempo, nós dois sabemos que eu faço tudo exatamente do jeito que você gosta e que nós dois somos muito bons juntos. — Continuou as carícias, mas daquela vez desceu até minha intimidade, onde passou a fazer carinho com o indicador por cima do tecido do biquíni, que àquela altura já estava molhado. — Não tem ninguém aqui, , pode admitir que você gosta. — Engoli a seco diante de seu semblante sério e concentrado. Mais embaixo, sua mão continuava a se mover contra mim, deixando-me completamente mole.
— Como pais da ? Sim, somos muito bons nisso. — Me fiz de desentendida, tentando manter minha voz firme.
negou outra vez, forçando o dedo contra meu clítoris, fazendo-me gemer em desespero. Sua mão me largou de repente, indo parar em meu rosto em uma velocidade absurda.
— Sabe , eu adoro essa sua carinha de sonsa, me mata de tesão. — Seus dedos me apertavam as bochechas enquanto ainda segurava-me pela mandíbula, forçando-me a encará-lo no fundo de seus olhos verdes, que ganhavam um tom cada vez mais escuro.
Gemi contra seu rosto, mesmo estando livre de seus toques em minha intimidade, ela ainda pulsava em desejo e ver falar com aquela autoridade toda e senti-lo me pegar daquele jeito, tudo aquilo combinado a aquela voz rouca estava me deixando louca.
— Mas devo admitir que a carinha que você faz quando está brava ultimamente tem me deixado duro dentro da calça. — Lhe sorri safada, aproximando o rosto do dele, que afrouxou sua mão, permitindo-me chegar mais perto.
— Mas eu sempre estou brava com você. — Para completar tudo, apenas moveu as sobrancelhas, sorrindo sugestivo para mim.
Ataquei seus lábios rosados, mordendo-os enquanto avançava cada vez mais meu corpo contra o seu. Daquela vez era eu quem estava com as mãos em suas coxas deliciosas, porém fui mais prática e sem muitas delongas agarrei seu volume perceptível debaixo do tecido fino da calça.
— Sabe o que você faz que me deixa completamente louca? — Deslizei minha mão por seu mastro pulsante. estremeceu sob meu toque, tentando me responder sem fala. — Quando você chega do trabalho, sobe pro quarto e começa a se despir, tira aquele terno e fica de camisa de botões, quando você abre cada um deles revelando suas tatuagens e seu abdômen maravilhoso. — Mordi o lábio inferior, imaginando se eu era única pessoa que achava um homem como vestido formalmente a coisa mais deliciosa do universo. — Tira o cinto daquela calça que define perfeitamente suas pernas e sua bunda, fora o volume que fica aparente na frente, que me deixa com água na boca cada vez que eu reparo nele. — Beijei sua boca entreaberta descendo os lábios por seu pescoço exposto enquanto jogava a cabeça para trás, imerso em prazer.
A aquela altura eu já não sabia o que estava fazendo, confessando-lhe um dos meus maiores segredos daquele jeito, mas era justo. tinha me dito primeiro, aliás, ele sempre falava e falava coisas deliciosas quando estávamos juntos daquele jeito e eu, por medo de me expor, apenas ouvia e retribuía com o corpo contra o dele.
Mas cheguei em um ponto que sentia que se não falasse explodiria. E também, já tinha se exposto o suficiente para que eu tivesse vários argumentos caso algum dia ele me jogasse na cara algo que falei ali, naquele carro.
— Minha vontade é te seguir até o banheiro e finalmente descobrir o que acontece ali dentro quando você está sozinho, completamente nu... — A mão grande de alcançou a minha, pressionando-a contra o próprio pau enquanto ele gemia audivelmente com o rosto encostado no meu. — enquanto a água quente que sai do chuveiro percorre todo o seu corpo tatuado, fazendo o exato trajeto que quero fazer com minha língua. — Sussurrei a última parte contra seu ouvido, sentindo-a estremecer.
movimentou nossas mãos por toda a extensão de seu membro, subindo e descendo, masturbando-se por cima da calça com tanta força que acho que me traria dor pelo contato de minha pele com o tecido áspero caso eu estivesse realmente sentindo algo além de tesão.
— Porque nunca entrou? — Ri de sua pergunta. Não era óbvio? me odiava e eu também o odiava. Imagine o desastre que seria se invadisse o banheiro no meio do banho dele? — Eu nunca te diria não, . — Neguei, ainda sorrindo e sentindo-o colar sua testa na minha. — Agora toda vez que voltar do trabalho vou me lembrar disso... Não vou conseguir tirar isso da minha cabeça. — Soltou um risinho nervoso, passando as mãos pelos cabelos e puxando-os.
E eu? Que infelizmente era extremamente expressiva e não sabia disfarçar principalmente quando estava brava? Ainda mais com ! Minha expressão de ódio era reflexo do meu estado de espírito quando ele estava por perto.
Como nós dois iríamos coexistir na mesma casa sem enlouquecer um ao outro após todas aquelas revelações?
— Eu vou ficar te esperando... — Puxou-me pela nuca, me beijando avidamente.
— Não podemos... — Sussurrei risonha quando abri os olhos e foquei na sua boca vermelha de tanto se chocar com a minha.
— Então vou te puxar para dentro do banheiro comigo. — Foi difícil distinguir se aquilo era uma ameaça ou um flerte.
— Pare, nós não podemos, ! — Murmurei ainda rindo do meu último pensamento. Segurei sua mão ainda pousada em meu rosto, divertindo-me com sua expressão de pura insatisfação.
— Por que não? Deixe de ser chata, ! — Resmungou como uma criança mimada, fazendo-me revirar os olhos.
— Por acaso se esqueceu que nosso trato não valerá até chegarmos em casa?
— Foda-se o acordo, eu não queria cumpri-lo mesmo. — Avançou sobre mim, quase não dando chances de me esquivar dele.
— Eu não sei você, mas irei cumpri-lo. — Lhe respondi irritadiça. sabia o quanto eu odiava quando ele fazia aquilo, decidir as coisas por mim.
Mesmo sabendo bem daquilo, insistia em fazê-lo, como quando comprou o presente para a minha mãe ou quando me pediu em casamento naquele restaurante sem combinar nada comigo antes. Mas se tinha algo que não teria poder era sobre meu corpo, não sobre tomar decisões. Infelizmente no outro quesito eu não poderia impedi-lo de me afetar ativamente, afinal de contas, ainda me sentia extremamente atraída por ele e lhe correspondia quase que inconscientemente quando suas mãos estavam sobre mim.
— Está fazendo a cara de brava. — Passou o indicador pelo meio da minhas sobrancelhas, que eu juntava formando aquele semblante duro quando estava brigando com alguém. — Você está me deixando louco, . — Beijou minha bochecha, indo com seus beijos até minha orelha, onde aproveitou a proximidade para mordiscar meu lóbulo. Fechei os olhos, mordendo os lábios.
não ia desistir até me matar do coração, o que não iria demorar, já que meu pobre coraçãozinho batia to forte que eu já começava a ficar tonta de tanto que minha respiração falhava diante do modo com que apertava meu corpo no dele.
— Você nunca foi muito normal, . — Emaranhei meus dedos em seus cabelos sedosos, puxando-os levemente quando vi suas mãos agarrarem meus seios firmemente, arrancando-me gemidos contidos. Seu dedão passeou em movimentos circulares sobre meus mamilos já rijos, que praticamente rasgavam minhas roupas de tão excitada que eu estava.
— Pare de joguinhos, . — Mordiscou meu lábio inferior, encarando-me sensualmente. — Venha aqui, vamos acabar logo com isso. — Mais um beijo molhado foi depositado na minha boca, sua língua explorou a minha de um jeito tão gostoso que me arrepiou dos pés a cabeça.
Abri meus olhos vendo-o bater de leve uma das mãos na própria coxa, chamando-me para me sentar ali, exatamente como fiz mais cedo, só que sem as roupas nos atrapalhando de finalmente acabar com aquela urgência desesperadora. Apesar de estar louca de vontade de voltar a ser preenchida por e ser levada novamente ao paraíso pela segunda vez só naquele dia, eu tinha medo.
Nós estávamos no meio do nada, com o carro quebrado e esperando ajuda. Imagina se eu cedesse e alguém chegasse e nos pegasse no flagra? Eu não saberia nem onde enfiar a cara de tanto constrangimento.
Neguei, chocando meu nariz contra o dele, sorrindo contida ao perceber sua respiração entrecortada.
— Por favor, amor... — Me deu um selinho, fazendo-me rir baixinho ao perceber do que fui chamada por , que de olhos entreabertos, nem ao menos tinha se dado conta do que falou entre murmúrios.
Senti um frio na barriga enquanto era puxada por ele, deixando-me levar completamente entregue após tentar a todo custo negar meu desejo e não ceder a ele.
Porém, no momento em que me sentei sobre e suas mãos grandes encaixaram-se em meus quadris, posicionando-me exatamente sobre seu membro ereto. Desfaleci por breves segundos, gemendo contra seu ouvido e agarrando-me a ele, passando os braços pelo seu pescoço e esquecendo-me completamente do que estava tentando evitar.
Era engraçado ver meu corpo cair em contradição tão rapidamente ao mesmo tempo em que minha boca lhe dizia não, esfregar minha intimidade sobre seu pau apenas fez com que eu me abrisse ainda mais para ele, que num movimento rápido empurrou o banco para trás, deitando-se junto comigo e ficando fora do alcance das janelas do carro.
Enquanto rebolava sobre , senti meu biquíni ficar folgado nas laterais do meu quadril. Assim que desgrudei a boca de , pude ver ambas as cordinhas soltas e a peça ser puxada por ele.
— ... — Não podia ceder de novo, não da mesma forma. Por mais gostoso que estivesse, ali não era um lugar adequado para continuar com aquilo.
— O que foi dessa vez, ? — Sussurrou jogando-se sobre o banco enquanto mantinha ambas as mãos em meus quadris desnudos, acariciando minha pele devagar, subindo minha roupa com o ato. — Ao menos deixe ter isso pela última vez.— Tentou me tirar o vestido ao levantar o tronco para próximo do meu.
— Não será a última vez. — O impedi, ouvindo-o suspirar alto, descansando a testa em meu ombro desnudo. A alça do vestido já estava caída há muito tempo, só havia restado a corda da amarração da parte de cima do biquíni que cobria meus seios. — Quando chegarmos na casa podemos terminar isso. — Seus olhos verdes focaram-se em mim e assentiu em silêncio, porém conformado. — Não vou transar com você aqui no meio do nada dentro de um carro!
— Tem razão, me desculpe, acho que me animei um pouco. — Ri de sua fala, saindo de cima de seu membro e me sentando mais atrás, em seu colo. — Vá para o seu lugar, eu não confio muito no meu autocontrole com você assim em cima de mim. — Me beijou a boca antes de praticamente me empurrar de volta.
— Calminha aí, bonitão! Olhe o que você fez! — Apontei para minha parte debaixo do biquíni, que foi amarrado de volta por nós dois.
Retornei para o meu banco, deitando minha cabeça no encosto, finalmente podendo voltar a respirar normalmente, sem em cima de mim fazendo-me perder o fôlego. Devo dizer que estava preferindo me enroscar com ele como estávamos fazendo anteriormente. Fazia tanto tempo que eu não era agarrada daquele jeito.
Tudo bem, teve Tom na noite de Natal, mas... Não me senti à vontade com ele, não tinha sido... Tão bom quanto .
Caralho!
O encarei de canto de olho tentando disfarçar meu desespero ao repassar os pensamentos que tinha acabado de ter, que se pareciam mais com um filme de terror sendo contado em audiodescrição de tão assustador que me soou. Como Tom Dormian tinha se tornado desinteressante para mim quando era comparado a ?
Me preocupei e reparei que aquela era a primeira e única vez que tinha parado para pensar sobre nosso trato inofensivo e em como ele poderia nos afetar a longo prazo. Porque o que tinha acabado de acontecer naquele carro apenas serviu para me deixar com não só uma, mas milhões de pulgas atrás da minha orelha sobre a nossa volta para Londres.
Se eu quase não tinha resistido a naquela hora e já tinha cedido a ele mais cedo, correndo o enorme risco até de engravidar, como seria quando voltássemos para casa? Porque dava sinais de que queria continuar com aquilo mesmo após nosso prazo expirar. O que eu faria para resistir a ele caso aquelas provocações quase irresistíveis continuassem?
Quando o guincho finalmente chegou o céu já estava tomado por estrelas e eram quase nove da noite, e eu embarcamos no veículo no banco traseiro e ali me permiti fechar os olhos e respirar em alívio. Ainda não estava onde queria estar, porém, só de estar em um carro com alguém que sabia o caminho e nos levaria até já era uma esperança e tanto de que aquele dia estava perto do seu fim.
Assim que o carro estacionou na frente da casa, pulei para fora, nem me importando em esperar , que teve que assinar uns papéis antes de entrar para dentro comigo.
— Aí, meu Deus, ! Ainda bem que chegaram, estávamos morrendo de preocupação! — Suzanne exclamou assim que me viu passar pela porta.
Poderia soar muito coisa de mãe ouvi-la falar daquele jeito, mas não conseguia julgá-la pelo exagero. Se alguém daquele grupo desaparecesse por tantas horas eu já teria chamado a polícia.
— O que houve? Porque não atenderam o telefone? — Os olhos azuis de Chace se focaram atrás de mim.
— É uma longa história. — Senti quando a mão de envolveu meu ombro e entendi que era melhor não lhes contar da nossa presepada de ir até o centro atrás de preservativos e principalmente do desespero atrás da pílula. — Ficamos um tempo aproveitando o spa, porém, nos perdemos no caminho de volta. O celular não estava dando sinal.
— E para completar tudo, o carro ainda quebrou no meio da estrada. — Suspirei, sentindo-me cansada só de relembrar tudo que tinha acontecido.
— Vocês estão péssimos. — A morena riu, sendo acompanhada pelos presentes na sala. — Vão tomar um banho e se arrumar, já está tarde.
Todos já estavam devidamente arrumados e vestidos de branco, fazendo-me perceber pela primeira vez que estava realmente entre os ricos porque na minha realidade ninguém usava só branco no réveillon. Tudo tem a ver com cores e o que queremos atrair pro próximo ano, algumas trazem sorte, amor, dinheiro... Acho que no mundo deles, onde tudo se compra, a única coisa que deve faltar é paz, por isso o branco excessivo em roupas e até na decoração da festa. Pelo visto a simpatia deles deve servir apenas para as roupas íntimas.
— Onde está ? — Olhei em volta, preocupada, porém, fiquei mais aliviada quando notei a ausência de Caroline no local. Provavelmente estava com ela e não com nenhum dos meninos, que eram ótimos, mas me deixavam em dúvidas se sabiam ao menos segurar um bebê no colo.
— Está no quarto de Carol, ela está tentando acalmá-la, acho que sua filha aprendeu a fazer manha. — Caçoou, fazendo-me trocar olhares confusos com .
Onde é que os bebês aprendiam a fazer aquelas falcatruas? Ela só tinha três meses! Lembrei-me de um comentário que Elisabeta tinha feito dias atrás, sobre estar chorando falsamente só para ser pega no colo quando queria. Ela disse que caso a bebê tentasse aquele truque comigo ou com , que a ignorássemos para que não ficasse mal acostumada.
Na hora concordei, porém, não sabia se teria esse sangue frio de ouvi-la chorar e fingir que nada estava acontecendo.
— Vamos lá, ela talvez se acalme quando ouvir sua voz e sentir seu cheiro. — Pegou-me pela mão, arrastando-me pela sala. — E você, pro banho, já.
Os olhos verdes pidões de fizeram-me sorrir amarelo em sua direção enquanto deixava a sala acompanhada de Suzanne.
No fundo eu também estava meio decepcionada. Queria mais, não podia negar, nem que tentasse conseguiria. era irritantemente viciante e saber que nunca mais o teria dentro de mim era frustrante. A única coisa que teria dele dali para frente seria beijos na frente das pessoas para quem estávamos mentindo.
Pensando bem, não dava nem pra julgar por mentir daquele jeito mesmo sendo tão nova, olhe o ambiente que ela estava vivendo! e eu éramos a personificação da palavra mentira. Nós éramos o mal exemplo.
E pensar que no início daquilo tudo eu cheguei a planejar ficar o mais longe possível de todos recém conhecidos só para não ter que beijá-lo para manutenção de nossa farsa. tinha razão sobre eu estar pagando com a língua por tudo o que eu disse que jamais faria na vida.
Lá estava eu, bolando planos para ter desculpas para beijá-lo usando nossos vizinhos do condomínio como bode expiatório para mascarar meu desejo. Sabia que se lhe pedisse iria ter que dar o braço a torcer sobre aquela coisa toda de sexo sem compromisso, e eu não o faria, estava completamente fora de cogitação.
Olha eu, de novo, colocando possibilidades bem possíveis como impossíveis. Que o universo não me ouvisse pensar aquilo. Não que eu fosse ligar se ele ouvisse, até porque de qualquer forma, ceder a naquele sentido era tão delicioso que não sabia bem se seria um castigo ouvi-lo se gabar, contanto que ele estivesse em cima de mim me dando um dos orgasmos maravilhosos de sempre.
— Me conta, como foi lá? Conseguiram se divertir? — Soltei um riso sem graça diante da falta de descrição dela. — Vamos lá, , não precisa ter vergonha. Eu sei o que fizeram nesta tarde sumidos por aí... — Deixou no ar, abrindo a porta.
Me esqueci do meu raciocínio no momento em que foquei meus olhos na bebê chorosa com a cabeça deitada no ombro de Caroline. Dei passos ansiosos até elas, recebendo um sorriso carinhoso da ruiva, que me deu devagar enquanto ela continuava a choramingar baixinho.
— Mamãe está aqui, meu amor. — Recoloquei sua chupeta, beijando sua testa e olhando no fundo daqueles olhos de esmeraldas, que de tanto derramarem lágrimas ganharam um verde ainda mais intenso. — Me desculpe por sumir o dia todo. — Beijei sua testa devagar, vendo sua chupeta azul bebê subir e descer em suas bochechas fofas. — Me senti a pior mãe do mundo, me desculpem também? Quando eu vi tudo dando tão errado só conseguia pensar no trabalho que vocês estavam tendo com ela enquanto eu estava longe.
— Que trabalho o que, ! só tem três meses, o máximo que ela pode fazer é chorar. — Caroline riu junto da morena, que negou com a cabeça caçoando de minha paranoia.
Deitei a bebê sobre meu braço, observando-a piscar devagarzinho, com seus olhinhos sonolentos.
— Agora pare de enrolar e nos conte como foi sua amostra de lua de mel. — Guiaram-me para a cama, sentando-se empolgadas ao meu lado.
Ainda estranhava o fato das pessoas ainda quererem saber sobre a vida sexual alheia mesmo após a adolescência passar. Me perguntei se também iria falar tudo em detalhes para os amigos dele, ou se era só eu que era azarada o bastante para ser questionada sobre aquilo.
— Ah, foi bom... — Elas se entreolharam assentindo compreensivas ao perceberem o rubor em minhas bochechas.
Para ambas eu e já tínhamos transado várias vezes ao longo do nosso relacionamento duradouro que começou desde que éramos adolescentes, porém, a realidade era bem diferente daquilo. Seria bizarro estar empolgada demais como se fosse a primeira vez, mesmo que em lua de mel.
— Deu pra aproveitar bastante, o spa era incrível, fomos tratados como reis. Muito obrigada pelo presente, aliás. — Completei ao vê-las em silêncio diante da minha falta de empolgação ao falar sobre minha tarde com meu marido.
Eu nunca iria saber quanto era o bastante na hora de descrever meu relacionamento com e as coisas que o envolviam. Era para soar sempre feliz demais? Mas aí não iriam desconfiar? Nem tudo está às mil maravilhas o tempo todo. Era para deixar transparecer que brigávamos? Não iríamos parecer tóxicos aos olhos dos outros? Parecia que eu nunca tinha feito parte de um relacionamento sério em toda a minha vida e eu simplesmente não sabia como agir como alguém que já era casado, até porque eu não era casada de verdade.
— Não precisa agradecer, . — Suzanne alcançou minha perna, deixando um afago ali. — E nem se desculpar ou se sentir culpada por terem demorado enquanto estavam fora. Não há nada de errado em você querer um tempo pra si longe de , de ou de tudo. — Encarei a bebê, mordendo meu lábio inferior, completamente indecisa sobre o que pensar sobre aquilo.
Não imaginava que ser mãe pudesse trazer todo aquele turbilhão de sentimentos à tona, alguns eu nem sabia que era capaz de sentir até conhecer . Eu não sabia se algum dia conseguiria pensar daquela forma, a cada dia que se passava, mais eu amava e me apegava a bebê, sentia que não tinha forças para ficar longe dela, não conseguia me imaginar passando mais um dia inteiro longe dela.
Até mesmo sair para trabalhar era doloroso, um dos poucos sacrifícios que eu fazia por mim. Ultimamente não tinha muitos pensamentos egoístas, porém, pensava em minha liberdade financeira quando saía porta a fora indo atender e servir clientes naquela lanchonete. Quando retornava para minha casa estava morta de saudades e meu coração se encolhia a cada coisa que Elisabeta me contava que minha filha tinha feito de novo em minha ausência. tinha só três meses de vida, tudo o que fazia dia após dia era uma grande novidade. Tinha medo de que, se continuasse daquele jeito, perdesse coisas importantíssimas como os primeiros passinhos ou a primeira palavra.
Eu sentia que morreria de desgosto se ela falasse "papai" primeiro. Não que fosse uma competição, mas quando tinha na jogada, ele sempre virava meu oponente.
— Sei que é difícil desgrudar desse serzinho. — Ela riu, provavelmente detectando aquela confusão de pensamentos em minha expressão facial. — Mas você precisa entender que não é só mãe da , você é e também precisa de um tempo. Não deixe o peso da maternidade cair sobre suas costas.
Ela tinha razão em dizer que a maternidade era pesada, ao contrário do que eu ouvia quando nem sonhava em ser mãe. Pensei nas meninas do condomínio e em como elas ficaram encantadas com o fato de meu marido me ajudar com . Era louco pensar que alguns pais nunca nem trocaram as fraldas de seus filhos e quando o faziam eram colocados em verdadeiros pedestais por fazerem o básico.
— também faz a parte dele, não me sinto sobrecarregada, só me senti... culpada, sabe? Deixá-la para trás, como se quiséssemos nos livrar dela...
— Vai por mim, vai ter vezes que você vai querer. — A morena gargalhou, fazendo-me arregalar os olhos com a possibilidade de algum dia sentir algo parecido. — E está tudo bem! Não precisa se sentir um monstro por querer dormir uma noite inteira ou desejar ficar em silêncio por um dia inteiro. Você e são recém casados, deixem ela com alguém confiável nem que seja por uma noite sequer e aproveitem essa fase. Compre uma lingerie e o surpreenda, saiam pra jantar... Antes de serem pais, vocês são marido e mulher.
Poderia parecer só implicância e orgulho ferido toda a minha resistência em relação a , e até era, eu não poderia mentir e dizer que era fácil sucumbir ao desejo e me entregar em seus braços. Meu corpo tinha um alarme de segurança que disparava a cada vez que eu sentia tesão ou qualquer sentimento bom por , até mesmo a proximidade de seu corpo gostoso do meu fazia o alarme soar e as luzinhas vermelhas piscarem diante de meus olhos. Mas na verdade ainda era minha maior preocupação naquela história toda. Se nós já vivíamos em pé de guerra sem motivos, imagine se nos envolvêssermos de alguma forma.
Ainda não sabia bem classificar meu receio em relação a aquele assunto, só sabia que estava muito errado quando se gabou dizendo que eu tinha medo de me apaixonar, afinal, eu me conhecia o bastante para ter certeza de que aquilo era impossível. Porém imaginava que, se topasse aquela coisa de sexo sem compromisso, ambos iríamos ter mais de um parceiro e aquilo poderia gerar brigas e até sentimentos... controversos, como por exemplo o de posse. Não, eu não estou falando de ciúmes, até porque sei bem que ele normalmente está atrelado ao amor.
Jamais me imaginei em relações casuais justamente por achar que nunca conseguiria me envolver com algum cara pra depois vê-lo com outra na minha frente e agir normalmente. Só não sabia se aquilo se aplicaria à e, sinceramente, não queria descobrir. Me bateria se ficasse brava por vê-lo com outra, aquilo já seria demais para minha cabeça lidar.
— Se um dia quiser sair para beber, se distrair, só as garotas, estamos aqui. — Caroline sorriu amável em minha direção. Assenti imensamente agradecida por ter conhecido as duas e os outros amigos de . Ao que parecia, ele era o único insuportável que destoava do grupo.
— Muito obrigada meninas, pode deixar que vou seguir seus conselhos. — Suzanne me parecia ser uma mãe maravilhosa, e eu ainda estava aprendendo a lidar com tudo aquilo, então ficava feliz de tê-la me ajudando, saber que poderia contar com ela e Caroline.
Anne que não iria gostar muito daquela história de sair só as garotas, ciumenta do jeito que era...
— Agora vá tomar seu banho, já deve ter saído. — Me levantei, levando a bebê ainda acordada para o quarto junto de mim.
O cômodo estava vazio, podia-se ouvir a voz rouca de cantarolando uma música qualquer vinda do banheiro. Suspirei, me sentando na beirada da cama, esperando-o para poder trocar de lugar com ele. Os olhinhos verdes de se abriram assim que ela ouviu o pai, procurando-o enquanto se remexia agitada em meu colo. Parecia que ela não dormiria tão cedo.
Ele passou pela porta ainda penteando os cabelos castanhos. Soltei um sorriso sem graça quando seus olhos focaram-se em mim. parou onde estava, soltando um breve risinho irônico antes de prosseguir seus passos e sentar-se ao meu lado, ainda em silêncio. Ele juntou ambas as mãos grandes sobre as coxas, que ficaram ainda mais deliciosas naquela calça de linho clara e suspirou audivelmente, olhando para frente.
Os suspiros... No meu caso era pura frustração, não sabia se o dele também significava aquilo. Para falar a verdade, era difícil saber o que ele estava sentindo quando era algo negativo. sempre estava impassível, sorrindo, era como se nada o atingisse no seu mundinho perfeito de pessoas ricas. As poucas vezes que o vi fragilizado foi quando Grace se foi ou quando ele desabafou sobre a situação da empresa do pai. Até hoje me pergunto o motivo de ele ter sentido vontade de desabafar comigo sobre algo tão íntimo.
Eu não me sentia confortável em fazê-lo com . Ainda temia lhe dar munições para possíveis futuros ataques vindos dele, apesar de duvidar que ele seria maldoso ao ponto de usar algo tão sério para me atingir, eu ainda tinha medo de tê-lo jogando algo na minha cara para defender a própria família. Na verdade, não me sentia confortável em falar sobre meu pai com ninguém, só com minha mãe que passou por tudo comigo, mas mesmo assim ela o defendia. Se ela, que tinha visto e vivido tudo o que aquele infeliz fez, ainda me julgava por ter ódio dele e queria que eu o perdoasse, eu imaginava o que alguém de fora pudesse me falar caso eu me abrisse.
Ainda não sabia qual seria a reação de diante de tudo o que aconteceu no meu passado. Por isso não falava nada. Estava bem do jeito que estava.
— Qual a probabilidade de ela dormir e nós darmos uma rapidinha antes de você entrar no banho? — Fui dispersa de meus pensamentos por seus cabelos molhados em contato com minha pele enquanto tinha o pescoço beijado por ele.
Guerreiro mesmo, tentando fazer gol aos 45 do segundo tempo.
Ri encolhendo o ombro, logo voltando minhas atenções a , que mais uma vez desistiu de pegar no sono só para prestar atenção no pai. Neguei com a cabeça, vendo-o encarar o rostinho miúdo dela de volta.
— Acho meio impossível, já que ela parece super interessada no que você diz. — A única pessoa do sexo feminino a conseguir tal proeza, visto que era só um corpo gostoso e não devia ser bom de papo, como a maioria dos homens gostosos.
Ele se inclinou, beijando a mãozinha da bebê, logo depois atacando-lhe a bochecha, agitou os bracinhos em resposta. Ela sempre o amou, desde antes de chegar a este mundo. Grace me contava que quando chutava muito, se acalmava ouvindo a voz do tio cantando para ela.
Ainda sorria assistindo-o brincar com ela quando percebi seu olhar sobre mim. Tentei desmanchar meu sorrisinho ao vê-lo me encarar tão intensamente enquanto sua mão vinha até meu queixo, puxando meu rosto para perto. Tomou meus lábios devagar, entreabrindo sua boca quente e invadindo a minha com sua língua. Lhe retribuí, fechando os olhos e sentindo-o respirar fundo ao separar-se minimamente de mim.
— Então é isso... — Murmurou com o rosto colado ao meu, mordi o lábio antes de chocar-me contra os dele novamente, num selinho rápido.
— Me desculpa. — No fundo eu tinha ciência de que eu mesma estava me pedindo desculpas por ser tão idiota. O tempo em que esperamos dentro daquele carro... ali sim daria para ter uma rapidinha sem sermos pegos por ninguém. Odiava me arrepender, principalmente ao perceber que tinha perdido uma chance daquelas. — Sei que disse que aquela não seria a última vez mas... enfim, você sabe o que aconteceu.
juntou nossas bocas mais uma vez, acariciando minha nuca no ato.
— Vá tomar seu banho e me dê ela aqui. — Assenti, lhe entregando . Olhei em volta, tentando me situar no quarto que fiquei um bom tempo sem entrar e procurando a mala onde tinha meu vestido. — Ah, antes de ir, já que vamos mesmo acabar com isso, queria saber algo sobre... sobre nós. — Coçou o nariz com o indicador, constrangido por se referir daquela forma a nós dois, como se algum dia já tivesse existido um "nós". — Como fica isso de ter que fingir? Digo, em público eu já sei, mas a sós... Nós voltamos como antes, não? — Franzi a testa, tentando entender o que ele quis dizer após tantos rodeios. — Quero dizer, sem beijos ou contato físico... — Assenti contra minha vontade, concordando veemente. — Ah, que bom. Melhor assim.
Soltei um risinho sem humor, ainda sentada ao lado dele. Por aquela eu não esperava! Será que estava bravinho porque eu não queria continuar transando com ele e resolveu fingir que não gostou de ficar comigo para disfarçar?
— É, era melhor do jeito que estava. — Arqueei a sobrancelha, vendo-o se aproximar de meu rosto.
— Até porque antes não sabíamos o gosto um do outro e agora que provei do seu, ... — Tirou meus cabelos de meu pescoço, arrancando-me um suspiro audível quando senti sua respiração bater contra minha pele, arrepiando-me dos pés a cabeça. — será difícil manter distância. — Sussurrou, fazendo-me ofegar. Fechei os olhos ao sentir seus beijos molhados. — Não posso mais ficar tão perto, te beijar quando não tiver ninguém olhando, porque sei que vai dar vontade de tirar a roupa... — Subiu seus beijos para minha bochecha e virei o rosto, tentando alcançar seus lábios. — Você já disse que não quer continuar com isso. — Abri os olhos com seu afastamento repentino. — Então vou apenas respeitar sua decisão. — Finalizou com um sorriso fechado, deixando à mostra suas covinhas.
Engoli a seco diante do seu olhar predador. Bom, eu que estava preocupada sobre não resistir a ele devia estar mais do que tranquilizada e feliz, afinal, aquele era meu medo, não? não ia tentar nada comigo, nem me beijaria ou provocaria em respeito a minha decisão.
E aquilo significava que eu não o teria mais do jeito que tive em Tulum.
— A não ser, é claro, que você me peça. — Arquei as sobrancelhas com o que ouvi. Quem ele estava achando que era? — Repetindo o que disse anteriormente, não vou te dizer não.
Respirei fundo, vendo-o usar minhas próprias palavras e decisões contra mim.
— Vou tomar meu banho. — Me esquivei das armadilhas que eram aqueles beijos e toques no pescoço e me levantei, indo para o banheiro, segurando-me para não socar a porta ou gritar para descontar minha raiva.
Me arrumei até que rápido, após tomar um banho que me relaxou depois de tudo o que passamos naquele dia. Saí do banheiro renovada, pronta para festejar a virada de mais um ano e talvez até fazer minha lista de desejos mental que deixei para a última hora.
Meu primeiro desejo não era muito diferente do resto da população mundial. Após perder alguém tão importante como Grace, eu só pedia a Deus que não existisse mais sentimentos de luto ou perda no ano que viria. Queria as melhores coisas para , que ela crescesse saudável e ao nosso lado não só naquele ano vindouro, mas também nos próximos que viessem.
Desejei também que eu e aprendêssemos a lidar melhor com tudo aquilo, principalmente com o divórcio iminente, que pudéssemos agir com sabedoria para proporcionarmos a melhor criação para a bebê. E claro que naquele pedido tinha outro embutido, porém não tive coragem sequer de falar ele em pensamento sem que me sentisse um extraterrestre:
Me dar bem com .
Pronto, pensei! Fechei os olhos com força, balançando a cabeça para afastá-lo de minha mente. Ter aquilo rondando meu pensamento uma vez só já tinha sido terrível demais, não precisava de outra.
Por mais que fosse contra a vontade de ambos, aquilo tinha que acontecer, eu não queria ser aquele tipo de mãe que xinga o pai da criança na frente dela e a faz ficar confusa sobre o que sentir em relação a ele, até porque não merecia aquilo sendo o pai que era.
Terminei de aplicar o batom vermelho, checando meu reflexo no espelho. Se eu ficasse com a boca fechada e parada num canto, ninguém diria que eu era uma das garçonetes do Sud's. Ri sozinha antes de borrifar um pouco do perfume de Suzanne em meu cangote, onde tinha certeza que não iria se aguentar e colaria o nariz ali, tentando me provocar. Meus cabelos estavam presos em um coque baixo, expondo a região. Não coloquei acessórios além de um par de brincos e calçar a sandália prata que deixei do Natal passado para usar ali. Ela me deixaria exatamente da altura da orelha de e eu iria abusar daquela minha vantagem de altura naquela noite.
Se estava pensando que iria fingir que não tinha gostado de ficar comigo apenas porque levou um fora, ele estava muito enganado. Naquela noite ele não conseguiria nem mentir pra si mesmo de tanto que eu iria provocá-lo. A começar pelo vestido branco que ele mesmo tinha comprado e me dado de presente de Natal, sem sequer imaginar que estaria me dando de bandeja uma arma contra si.
Desci as escadas respirando fundo, já atraindo olhares nos últimos degraus. Jack exclamou surpreso chamando a atenção dos outros que pousavam para fotos, estava de costas para a escada com um celular em mãos tirando a foto e com no outro braço, encostada em seu peito. Ignorei todos os outros par de olhos direcionados a mim quando o vi se virar para olhar o que todos tanto elogiavam.
— Caralho, ! — Caroline exclamou, fazendo-me rir envergonhada. — Ainda bem que já é casada porque não daria pra competir, não. — Revirei os olhos, negando com a cabeça. Ela e Su vieram até mim, agarrando-me pela cintura e pedindo para tirar uma foto nossa juntas.
— E eu sou o marido... — Murmurou, focando a câmera do Iphone em nós. As duas fizeram poses, enquanto eu permaneci parada do jeito que estava, mantendo o contato visual com . — Sorte a minha. — Arqueou a sobrancelha.
Sorri safada em sua direção, piscando um dos olhos para ele, que após tirar a foto com o flash rápido, apenas negou com a cabeça passando a língua entre os dentes, me olhando de cima a baixo. Cheguei a ficar com sede tamanha a secada que me deu enquanto devolvia o celular para a ruiva e vinha até mim praticamente babando, como imaginei que seria.
— Esse vestido... — Deslizou suavemente os dedos na lateral da minha costela, que ficou exposta pela frente única cavada. Segurei as pontas, conseguindo me manter impassível apesar de ser quase impossível não reagir àquele toque. — Quando comprei já devia imaginar o quão maravilhoso iria ficar nesse seu corpo. — Colou a boca em meu ouvido, firmando sua mão grande em minha cintura.
Tentei ignorá-lo, levando minha atenção até que estava em seu colo, tirando a mãozinha da bebê da própria boca. Respirei fundo, ainda sentindo seus dedos descendo pelas minhas costas. Estremecia diante do seu olhar atento nas minhas reações. sabia o quanto eu adorava ser tocada daquele jeito, ter meu corpo sendo apreciado devagar, explorado em regiões onde ninguém mais tinha acesso ou permissão de encostar.
— Parece que consegui seguir o dress code direitinho. — Murmurei olhando em volta, notando que além de nós, havia mais algumas pessoas na festa, provavelmente convidados do resto do pessoal, todo mundo igualmente de branco, até mesmo vestia a cor! Que tipo de estresse um bebê de três meses tem para querer atrair paz no ano novo? — Bom, de acordo com a simpatia, além de paz, no próximo ano eu vou ter sorte.
Lhe lancei um olhar sugestivo, fazendo-o franzir o cenho antes de sorrir sacana ao se dar conta do que eu estava falando.
— Me deixe adivinhar, sua calcinha é... Azul? — Ri, negando com a cabeça.
— Errou feio. — Peguei em sua bochecha, apertando-a. — Eu não estou usando calcinha. — Deixei um beijinho no canto de sua boca entreaberta e lhe dei as costas, indo até Caroline, que servia bebida para si e Suzanne.
Enquanto enchiam um copo para mim, espiei por cima do meu ombro, flagrando-o de olhos fixos nos meus quadris, tentando ver se dava para enxergar ao menos a costura da minha calcinha por debaixo do vestido. Voltei a prestar atenção nas meninas, engatando um papo descontraído, deixando-o sozinho com sua cabeça indo a mil só de me imaginar naquele vestido sem calcinha e tão perto dele.
E ainda não tinha dado meia noite.
Talvez se ele não tivesse desdenhado de mim poderíamos dar um jeito de ficar a sós em algum canto daquela casa... Eu sabia que era mentira dele quando o ouvi dizer que era melhor antes, não esqueceria seu desejo à flor da pele na noite anterior querendo começar tudo o que tivemos naquela viagem, muito menos sua vontade de continuar quando estivéssemos em Londres.
As horas se passaram rapidamente a partir dali. Era engraçado como o tempo se recusou a passar quando estávamos presos naquele carro quebrado, no meio da estrada, mas na festa que estava ótima ele passou voando. Logo daria meia noite.
Após dançar um pouco tendo cuidando da bebê, foi minha vez de pegar a menina, que acabou dormindo no meu colo no sofá, fiquei um tempo com ela, junto do meu peito, matando a saudade que estava daquele cheirinho de neném enquanto assistia o pessoal dançar na pista improvisada no meio da sala.
saiu da rodinha de amigos e veio até mim com um copo em mãos. O peguei quando me foi estendido, cheirando antes de virá-lo em minha boca, não confiando nem um pouco nele. Era cerveja e eu dei um gole grande matando minha sede, nem sabia onde tinha largado a minha.
— Leve-a lá para cima, venha dançar um pouco comigo. — Ele se aproximou por conta da música. Assenti, percebendo que ela talvez ficasse mais à vontade longe do barulho.
A deixei no quarto junto de Suzanne, que me ajudou a arrumá-la na cama com os travesseiros em volta de seu corpinho. Lembrei-me de trancar a janela que dava acesso ao lado de fora da casa, depois de ouvir durante anos sobre o desaparecimento da garotinha loira em plenas férias de família. Passei a temer que não estivesse segura, além de já ser paranoica naturalmente por conta de Miguel.
me fez largar a babá eletrônica sobre o sofá e me convenceu a relaxar, dizendo que poderíamos ir até o quarto de vez em quando checar se ela não tinha se virado na cama ou até mesmo acordado.
Dançamos algumas músicas, a que tocava era uma baladinha do Bruno Mars, que me fez ceder e encostar minha cabeça no ombro de . Maquiagem cara era outro nível e quando me toquei de que poderia manchar a camisa clara de com minha base, levantei o rosto, vendo o tecido continuar branco.
— Achei que tinha te sujado de maquiagem. — Ri minimamente quando ele procurou meu olhar intrigado pelo movimento rápido.
— Sua boca está linda com esse batom vermelho. — Pegou meu queixo, fazendo-me sorrir. — Mas estou doido pra tirá-lo. — Neguei com a cabeça, reprovando sua preocupação boba antes de avançar contra seu rosto, beijando-o avidamente a medida em que dançávamos com os corpos praticamente colados um no outro.
O jogo tinha virado tão rápido entre nós. Antes eu era quem estava com medo de não resistir a ele quando chegássemos em casa, quem tinha relutado em aceitar sua proposta de transar até que o ano findasse. O relógio batia vinte para meia noite e tudo tinha se invertido.
— Aí, ! — Jack berrou, balançando uma garrafa de bebida transparente. se afastou, espiando o amigo. Fiquei em dúvida do que era aquilo.
— Tequila. — Selou nossos lábios. — Vamos? — Puxou-me pela mão, ignorando minha cara de preocupada com aquilo.
Eu não era a pessoa mais forte para bebida desse mundo, tinha tomado algumas cervejas e já sentia meu corpo ficando mais leve, porém, sabia que mais algumas e eu estaria alterada o bastante para não ser considerada sóbria. Se misturasse bebidas, então? Estaria louca em pouquíssimo tempo.
— Só um shot, . Está com medo do quê? — Revirei os olhos. achava que estava falando com a de oito anos que lhe dava ouvidos quando ele me provocava insinuando que era medrosa.
— Vou só cortar os limões, pegar o sal... — Respirei fundo, parada diante da bancada da cozinha ao lado de um animadinho, esfregando uma mão na outra.
Jack colocou os três copos sobre o móvel branco e distribuiu as fatias de limão. Lhe estendi a mão já com o limão posicionado entre meu indicador e o polegar, puxando-a de volta devagar para não derrubar o sal depositado no dorso lateral da minha mão.
— Arriba! Abajo! Al centro y Adentro! — O espanhol carregado de sotaque de Jack era hilário.
Os acompanhei no brinde antes de lamber o sal e virar o shot de uma vez só, levando o limão à boca e chupando-o, aproveitando o gosto bom que aquela combinação trazia, mesmo tendo a garganta queimando pela bebida forte.
Ambos completaram o ritual batendo o copo contra a bancada, assustando-me com o barulho. Ri junto deles, sentindo-me idiota pelo susto gratuito e coloquei o copo junto do deles, sem aquela violência toda.
— Não está acostumada, não é? — Neguei com a cabeça, ainda risonha. — Parece que encontrou seu equilíbrio, . — gargalhou, aproximando-se de mim. — Seu marido bebia mais que Opala velho.
— É, eu sei. — Ri mais da lembrança de Grace reclamando de nas festas que os pais dela nos deixavam ir, do que da piada propriamente dita. Eu não entendia de carros e nem sabia o que era um Opala.
beijou o topo da minha cabeça, abraçando-me de lado.
— Mais um ano juntos, cara... — Troquei olhares cômicos com . Jack não parecia estar bêbado, porém, seu papo estava começando a ficar parecido com o de um. — Fiquei muito feliz quando Chace me disse que mudou de ideia sobre não vir pra cá.
A o quê? Onde eu, em sã consciência, recusaria uma viagem daquelas?
soltou minha cintura, respirando desconfortavelmente e levando a mão à nuca. Se fosse em qualquer outra situação eu até imaginaria que ele estivesse passando mal, já que ficou branco como a roupa que usava. Porém, após ouvir aquilo estava convicta de que nada o livraria de uma briga. Nem que estivesse tendo um ataque de asma teria que me ouvir. Eu faria questão de buscar sua bombinha enquanto o xingava.
— Amor! — A voz de Suzanne se fez presente no cômodo, atraindo a atenção do namorado dela. e eu ainda nos encarávamos, sérios como nunca. — Nick precisa de um isqueiro para quando for soltar os fogos. — Disse do batente da porta. O amigo de assentiu, indo até ela. — Venham, gente, logo dará meia noite!
— Nós já estamos indo. — Forcei um sorriso.
— Estaremos reunidos na área da piscina! — Ambos sumiram do nosso campo de visão, fazendo-me soltar o ar que nem tinha percebido que segurava em meus pulmões, de tão tensa que tinha ficado.
Dei passos para longe de , levando minha mão ao rosto enquanto soltava um risinho incrédulo.
Eu era uma trouxa mesmo, uma idiota.
— Refresca minha memória, por favor, porque eu não lembro de ter me recusado a vir. — Sentia minha frequência respiratória subir à medida em que tentava me acalmar, sem muito sucesso. Já sentia os olhos ardendo quando me focava em seu rosto.
— Fui eu quem disse isso. — Engoli em seco, nem um pouco surpresa ao saber daquela informação. Jack não tinha inventado aquela informação, só tinham mentido para ele, mesmo. — Chace tinha nos convidado pra vir um tempo antes e eu recusei porque não te queria aqui conosco. — Seu olhar baixou. sequer olhava na minha cara ao dizer aquilo em voz alta. — Não queria que eles te conhecessem, não queria vir para um lugar desses enquanto estava casado, não queria ter que fingir com você na frente deles o tempo todo... Não te contei do convite porque sabia que você iria querer vir.
Mordi o lábio com força, tentando segurar o choro que já extravasava minha garganta, rasgando-a ao ponto de doer. Meu queixo tremeu quando as lágrimas começaram a cair sem permissão pelo rosto.
— Claro, a pobretona aqui jamais recusaria uma viagem pra Tulum! — Exclamei, recebendo um olhar censurador vindo dele. Respirei fundo, secando minhas lágrimas. Tinha que me controlar porque alguém podia entrar. — Um lugar como esse provavelmente só veria em fotos já que só fui à praia uma vez na vida, nunca andei de avião ou sequer saí de Londres. Aceitei vir porque achei que você estava sendo legal comigo. Como eu sou burra, meu Deus! — Solucei, lhe dando as costas. Já não conseguia controlar as lágrimas por mais que tentasse, elas não paravam de descer.
— Eu estava! , isso foi um mal entendido.
— Onde isso foi um mal entendido, ? — Me virei bruscamente, fazendo-o regressar os passos que deu até mim. — Qual parte dessa história inteira foi um mal entendido? Só está tentando se justificar porque foi pego mentindo. Sua manipulação quase funcionou porque se Jack não tivesse me contado isso eu estaria aqui que nem uma otária te agradecendo por ter me trazido. — Ele ofegou, sem saber o que dizer. Provavelmente porque não tinha argumentos. — Você é tão egoísta que mentiu para todo mundo só para que sua vontade fosse feita! Viu o quanto eu estava cansada, , o quanto estava com medo de Miguel voltar e fazer algo contra nós e ainda assim quis me negar uma oportunidade de sair para espairecer! Que mal teria em conhecer seus amigos, ? Você conhece os meus, entrou na minha vida, me fez mentir para minha mãe. Você conheceu até meu chefe!
— É diferente, . — Hasteou o dedo, ficando vermelho de raiva. — Suas amigas sabem a verdade, você pode sair com elas e ficar com quem quiser enquanto estou preso a você mesmo quando não estamos juntos. Assumo que fui estúpido mentindo no início, mas abri mão da minha vontade para te trazer justamente porque vi seu estado e soube que merecia essas férias. Além do mais, estávamos nos dando bem. Não vamos brigar e estragar isso, .
— Então você me trouxe aqui porque apresentei um bom comportamento. — Senti a garganta voltar a arder, fazendo minha voz sair esganiçada.
Meu queixo tremia e eu cerrava tanto os punhos que minhas unhas chegaram a marcar as palmas das mãos de tanto ódio que estava sentindo. Jamais imaginei que poderia odiar mais do que era considerado normal, mas como ele sempre adorou me surpreender se apresentando cada vez mais insuportável, chegar naquele pico de raiva não deveria ser uma grande novidade para mim.
Nós dois éramos como bombas relógio próximas da implosão. Sabíamos que algum dia iríamos explodir.
Eu só não sabia que iria pelos ares sozinha e que doeria tanto. Meu coração estava despedaçado e eu não imaginava que justo ele seria o responsável por aquilo. Na minha cabeça, jamais conseguiria acessar aquela parte em mim. Tudo que já me fez passou longe de me magoar e no máximo me causava estresse.
Para mim, a mágoa sempre esteve ligada a algo de ruim que o amor causa na gente de alguma forma e eu não o amava, era o contrário! Apesar de confusa sobre a origem daquele sentimento, eu o sentia. Daquilo tinha plena certeza. A mágoa transbordava pelos meus olhos quando os batia na figura à minha frente.
— A que devo esse merecimento todo, ? — Estávamos falando de Tulum! Eu tinha que saber o que fiz para merecer ir conhecer um paraíso como aqueles! — Foi porque te deixei me beijar e me despir naquele banheiro? Ou quando sentei no seu colo e praticamente implorei para que me fodesse enquanto estava bêbada? Me diga! Isso aumentou seu ego gigantesco?
— , eu não...
— Ah, agora você resolveu falar as coisas na minha cara! — O interrompi, controlando-me para não exceder meu tom de voz. — Mas me diga, qual vai ser minha recompensa dessa vez agora que já conseguiu o que queria e transou comigo? — Me aproximei do seu rosto, vendo seus olhos verdes marejados. tentou negar mais uma vez, mas eu estava farta daquela palhaçada. — O que vou ganhar dessa vez? Um carro novinho em folha?
— , pretendo sim te dar um carro, mas não vai ser... — O impacto da minha mão em seu rosto reproduziu um som característico e eu senti minha palma queimar enquanto levava sua mão ao rosto.
Aquele tapa era apenas o início da minha liberação de raiva. Eu infelizmente não o bateria mais, não resolveria. sempre será , não importa o quão mudado pareça estar.
Me sentia a pessoa mais estúpida do mundo por algum dia ter comprado aquela ideia de que ele era uma nova pessoa e que dinheiro e posições sociais já não importavam mais entre nós. Não era porque dividíamos o mesmo endereço naquele condomínio caríssimo e até dividíamos a mesma cama que estávamos no mesmo nível. provou que sempre iria se enxergar um nível acima de mim e nada parecia ser capaz de mudar aquilo.
— Eu não preciso da porra do seu dinheiro e nem conviver com gente esnobe que nem você — disse entre dentes, ainda sentido as lágrimas descendo pelo rosto e os soluços dificultarem a fala e respiração. — Não preciso da casa que me deu, de carro nenhum e nem de viagens caríssimas como essa. Eu vivia uma vida maravilhosa longe dos milhares da sua conta bancária. — Passei as mãos pelo rosto, já sabendo que arruinaria minha maquiagem da noite de ano novo, mas que diferença fazia se a noite toda já tinha sido estragada? — Se não me queria aqui era só ter vindo sozinho. Se fosse para ser assim, eu preferia não ter vindo.
10, 9, 8...
levou as mãos à cabeça, puxando os cabelos que antes estavam arrumados. Seu semblante era abatido e os olhos verdes cintilavam por conta de lágrimas presas em sua linha d'água. Eu ainda soluçava sem parar, encolhida em um canto do balcão da cozinha que naquela manhã tinha sido palco de nossos amassos matinais.
Ouvimos a contagem regressiva e sabiamos que tínhamos demorado tempo demais imersos naquele rio de mágoas e ódio, mas eu não me sentia em condições alguma de enfrentar as pessoas lá fora sem me sentir uma intrusa no meio deles. Não devia e nem queria mais estar ali.
7, 6...
— Venha, vamos lá pra fora. Depois conversamos sobre isso. — Senti sua mão pegar a minha e puxei de volta, com brutalidade.
Eu não era um robô sem emoções. Não iria sair dali naquele estado.
— Me deixe em paz! — Ofeguei, chorosa. suspirou, deixando os ombros caírem e encarando-me com pena.
— ! — Vozes masculinas vinham do lado de fora da casa e se aproximavam à medida em que os amigos dele avançavam em direção à cozinha.
5, 4, 3...
— Por favor, .
Abaixei-me no balcão e me encostei ali, tentando segurar os soluços. Seu corpo cobriu meu campo de visão quando me imitou, encarando-me preocupado.
— Me deixe sozinha! — Abracei meus joelhos, esquivando-me de sua mão, que tentava me colocar de pé.
— Syles, qual é! Vamos lá para fora ver os fogos!
me olhou pela última vez e assentiu, compreensivo, levantando-se e seguindo os amigos pra fora.
2, 1...
Feliz ano-novo!
Capítulo 26
Eu estava sem reação.
Tinha tentado recuperar meus sentidos e falar algo que pudesse prestar para resolver uma situação daquelas, mas simplesmente não me deixava sequer concluir um pensamento para poder formular um argumento de defesa.
Tinha mais aquela questão: eu não tinha defesa.
Seus olhos claros transbordavam e molhavam cada vez mais seu rosto miúdo, deixando-o vermelho; sua voz chegava a tremer, denunciado seu estado emocional. Mesmo com nós dois negando até a morte, não daria mais para afirmar com todas as palavras que não íamos com a cara um do outro. Me incomodava saber que a tinha machucado, e só o fato de estar naquele estado já demonstrava que ela se importava ao menos um pouco com minhas atitudes. Saber que confiava em mim – mesmo que fosse lá no fundo, bem no fundo, nas profundezas do seu ser – e se sentiu traída, de alguma forma me deixou balançado.
Os caras vieram me chamar em meio à barulheira dos fogos de artifício e da festa que acontecia do lado de fora da casa. Todos comemoravam a renovação que o próximo ano traria, enquanto eu me frustrava pensando no problema que aquela discussão iria me arranjar com . Eu e ela havíamos começado o ano já revivendo coisas do que acabava de se findar.
Olhei para trás quando alcancei a soleira da porta e, por um instante, na cozinha vazia, podia-se ouvir os sons de seus soluços. Meu coração se apertou ao me lembrar da cena que vi, antes de me levantar e decidir ir embora. encolhida no chão. Nunca pensei que poderia sentir tanta compaixão por ela. Era a primeira vez na história que brigávamos e eu conseguia dar o braço a torcer e assumir que estava errado. Porque sim, eu estava errado pra caralho. Eu era o culpado pelo choro e pela mágoa dela.
Estava me sentindo mal, realmente mal, com raiva de mim mesmo por ter falado algo dias atrás e sem grandes intenções de causar algo como aquela discussão. Se pudesse, voltaria no tempo só para me impedir de ter inventado aquela mentira inocente. Era idiota como, às vezes, criávamos situações desnecessárias. No início, eu estava querendo impedi-la de ir àquela viagem por pura implicância. Mas, depois, percebi que a própria estava deixando a viagem mais divertida.
Eu era um idiota mesmo.
— Feliz ano-novo — coloquei um sorriso falso no rosto quando me deparei com Nick parado próximo à saída da casa. Dei-lhe um abraço forte, batendo em suas costas algumas vezes.
Fui andando pela área externa ainda no automático, abraçando Caroline e fazendo o mesmo com quem eu encontrava em meu caminho até próximo à piscina, onde estavam Jack e Suzanne. Abracei-os em conjunto, sendo acolhido pelos meus amigos.
— Onde está ?
Olhei para Suzanne sem saber o que dizer. Se lhe dissesse que ela estava jogada no chão da cozinha, chorando, eu seria visto como um péssimo marido?
Sim, foi uma pergunta retórica.
Chace, que falava ao telefone um pouco afastado, se juntou a nós, vindo me abraçar e me desejar votos para o ano que havia chegado.
— Ali está ela!
Segui o olhar do loiro, vendo se esgueirar pelos meus amigos e convidados, abraçando um por um assim como eu havia feito anteriormente.
Ao contrário de mim, não sabia muito bem disfarçar a cara de que tinha algo errado consigo. Aliás, nem se ela tentasse teria algum êxito. A ponta de seu nariz estava avermelhada, assim como a área ao redor dos olhos, brilhantes por ainda estarem molhados. Estava nítido que ela andou chorando. Su foi a primeira a reparar quando chegou até nós, abraçando Jack primeiro.
— O que houve com ela? — a mulher sussurrou próxima de mim, fazendo-me encolher os ombros como se não soubesse do que ela estava falando. — Está tudo bem, ? — preocupada, Su pegou-a pelos ombros, analisando-a.
assentiu veemente, forçando-se a sorrir para tranquilizá-la antes de partir para o abraço.
— Eu estava numa ligação com minha mãe. Sabe como é, né, ficamos emotivas nessa época do ano — ela a soltou, beijando a amiga na bochecha. — Eu estou bem, não precisa se preocupar — mentiu, olhando em seus olhos.
Prendi a respiração quando ela se virou em minha direção, já abrindo os braços e colando seu corpo ao meu, abraçando-me pelo pescoço e me desejando um feliz ano-novo. Ainda sob o olhar curioso de Suzanne, correspondi ao abraço, fingindo naturalidade ao pegar pela cintura e depositar um beijo em seu rosto colado ao meu. Ela virou o pescoço, permitindo-me beijá-la e me fazendo estranhar suas atitudes. Afinal, mesmo que estivéssemos fingindo para o pessoal, não estaria tão aberta daquele jeito depois da briga que tínhamos acabado de ter.
Quando sua boca se entreabriu e ela me permitiu passagem com a língua, senti um gosto forte instigar meu paladar. Quebrei o beijo no mesmo momento e me afastei para olhá-la, assustado. Alcancei o copo em sua mão e levei-o ao rosto para cheirar a bebida, apenas comprovando o motivo do meu espanto.
— , onde você achou vodka?
era a pessoa mais fraca para bebida que eu conhecia. Lembro-me do dia do nosso casamento e do estado que ela tinha ficado só com os drinks que misturou durante a festa.
já tinha bebido uma quantidade considerável de cerveja além do shot de tequila que tínhamos virado há pouco. Mas vodka já era demais! Eu não gostava nem um pouco de imaginar a confusão que ela me traria se continuasse a beber daquele jeito naquela noite. Tentei tirar o copo dela, porém se afastou bruscamente. Suspirei, desistindo, por medo de chamar a atenção.
— O que pensa que está fazendo, ? — confrontei-a, ainda incrédulo.
— Sendo sua esposa, não é óbvio? — ela ironizou, tentando se soltar de meu abraço e apenas me fazendo agarrá-la mais firme. — Não foi por isso que me trouxe nessa viagem?
Respirei fundo, me preparando para tentar amenizar aquele assunto para que deixássemos aquilo para outra hora. Porém, mais uma vez, não me deixou falar.
— Me deixe ao menos encher a cara para não ter que fingir que gosto de você sóbria — ela virou o copo de vez, fechando os olhos fortemente ao sentir a bebida descer rasgando sua garganta. — Me solte e vá cuidar da sua vida.
Mesmo tentando me afastar de si, continuei segurando-a, o que apenas deixou a loira ainda mais irritada. Eu não sabia o que fazer com ela. Não podia deixá-la solta naquele estado sabendo que, com certeza, iria atrás de mais álcool. Eu entendia sua mágoa, porém não poderíamos colocar tudo a perder com atitudes precipitadas – não agora que tínhamos conosco e estávamos tão próximos da nossa primeira audiência de custódia.
— Chega de beber por hoje — a repreendi, vendo a indignação tomar conta de sua expressão facial. — Eu estou falando sério, .
— Você não manda em mim — ela rangeu os dentes, ainda tentando se soltar. Porém, disfarçou quando viu alguém se aproximando, beijando minha boca enquanto envolvia meu pescoço com seus braços finos.
Retribuí o beijo, tomando seus lábios devagar, acariciando suas costas desnudas e deslizando minha língua contra a sua. Tentei acalmá-la, porém, acho que surtiu o efeito contrário. Senti seu abdômen subir e descer rapidamente contra o meu. Logo seu corpo se projetou para fora dos meus braços – se aproveitou que afrouxei minhas mãos de si e saiu do meu controle.
— Eu vou roubar sua esposa um pouco, nós queremos dançar — Caroline era quem tinha se aproximado. Eu nem tinha me dado conta por estar ocupado durante o beijo. Antes que eu pudesse protestar e arranjar uma desculpa para ter comigo e evitar algum risco, a loira já seguia a mulher em direção à sala, onde estava a pista de dança.
Tentei puxá-la pela mão, porém seus dedos deslizaram sobre os meus, deixando-me sozinho na área da piscina. Levei as mãos ao rosto, esfregando-o e tentando colocar meus pensamentos em ordem para poder bolar um plano para que a noite não fosse um completo desastre.
Já havia passado da meia-noite, e conseguiu o que queria: me deixar completamente louco, mesmo que não fosse do modo como eu esperava que fosse.
Adentrei a casa cheia e fui atrás de uma garrafinha de cerveja. Ao mesmo tempo em que andava pela sala, procurando a fonte dos meus problemas e preocupações com os olhos, a avistei na pista, dançando ao lado de Suzanne e Caroline. Ao menos ela estava de mãos vazias. Um alívio me atingiu de imediato.
Me juntei aos meus amigos numa roda de conversa e comecei a colocar meu plano em prática. Ele se resumia em disfarçar e beber aquela garrafa aos poucos, porque seria a última coisa que eu beberia. Afinal, eu tinha que estar 100% sóbrio para vigiar .
Passou-se algum tempo desde que tinha começado a dançar com as amigas. Eu já estava com a garrafa vazia em minhas mãos e a apertava em meus dedos cada vez que assistia, completamente duro de excitação, descer até o chão naquele vestido branco. A loira, por sua vez, estava fingindo que eu não existia, sem ao menos olhar de relance em minha direção. Vez ou outra ela dava alguns goles nas bebidas das meninas, porém nada que eu sentisse que deveria intervir.
— , estamos falando com você, cara — ouvi a voz de Chace e senti seu tapinha na minha cabeça. Desviei meus olhos do corpo de , que ainda rebolava na pista, e me voltei aos meus amigos.
Tá, talvez eu estivesse aproveitando o fato de estar de vigia para vê-la dançar.
— Deixe sua esposa pra lá um pouquinho, você tem a vida inteira pra ela — Nick riu e foi acompanhado pelos outros, fazendo-me soltar um risinho forçado.
— Se bem que, tratando-se de , eu não estranharia se ele fosse um Ross Geller da vida — senti uma irritação ao ouvir Chace fazer aquela piadinha. Não era a primeira vez que tinha aquele sentimento por uma fala dele. Ultimamente, tudo que envolvia em nossas conversas me despertava aquilo.
Não tive tempo de respondê-lo, mas Jack foi mais rápido:
— Do jeito que está de quatro por , duvido muito que tenha um divórcio vindo por aí.
Revirei os olhos com sua fala. Eu? , de quatro por alguém? Nunca!
Os outros caras envolvidos na conversa concordaram com Jack, além de terem olhado torto para Chace quando ele soltou aquela pérola, como se o repreendessem por falar de divórcio para um casal praticamente recém-casado. Parecia que ele torcia para que aquilo acontecesse.
Apesar de saber que me odiava profundamente e que, provavelmente, naquela noite em especial ela me odiasse um pouco a mais que o normal, eu sabia que não teria coragem de ficar com meu melhor amigo, mesmo após tudo aquilo acabar. Ou será que ficaria?
Sabia que não tinha moral alguma para cobrar algo dela, afinal, eu tinha ficado com Anne. Porém, era uma situação diferente – a amiga de sabia que era tudo uma farsa. Apesar de ficar com a pulga atrás da orelha com aquilo, eu não cobraria nada dela. não me devia satisfações sobre quem ficava ou deixava de ficar.
— Sim, está fora de cogitação — disse com convicção.
Fora de cogitação: daqui a nove meses.
— Está bebendo pouco hoje, . O que houve? — Jacob franziu o cenho, olhando intrigado para a garrafa vazia que estava na minha mão há um tempo.
— Estou responsável por olhar a bebê — menti, vendo de relance sair do lado das amigas e ir apressada até a cozinha. — Mas vou lá buscar outra cerveja, já venho — saí rapidamente da roda onde estava, não percebendo nenhum deles estranhando minha pressa toda.
Até que aquela desculpa era boa. Me impressionava ver que, após entrar naquela roubada com , mentir tinha se tornado algo tão natural para nós que o fazíamos sem esforço algum. Estava virando patológico já, tanto que comecei a mentir para mim mesmo sobre coisas que nem ao menos sabia que era possível.
Me desvencilhei das pessoas no meu caminho, percebendo que tinha muito mais gente do que quando começamos aquela festa. Apesar disso, estava tudo sob controle: todos conversando, dançando e bebendo normalmente. Eu estaria adorando tudo aquilo. Provavelmente, até conseguiria descolar alguma mulher para dar uns amassos escondido num dos quartos, se não fosse por me dando trabalho.
Na verdade, se ela mesma não fosse tão cabeça dura, talvez estaríamos nós dois nos pegando escondidos em algum lugar daquela casa. Eu sabia que tinha feito merda, mas tinha mesmo que levar tudo ao pé da letra daquele jeito?
— , acho que isso é seu — Jack me interceptou, estendendo-me a babá eletrônica do nada. Confuso, peguei o aparelho, querendo passar logo. — Tinha um pessoal sentado em cima dela lá no sofá, achei melhor te dar pra não quebrar.
— Valeu, cara — sorri amarelo, lhe dando batidinhas no ombro antes de sumir do seu campo de visão.
Adentrei a cozinha em passos largos, encontrando a loira de pé sobre o balcão e de costas para a porta, fazendo o que eu já imaginava que iria encontrá-la fazendo: servindo uma bebida num copo que eu não precisava pensar muito para saber de quem era.
— Já disse que está proibida de beber mais, — tirei o copo de sua mão, lhe dando um susto ao percebê-la dar um pequeno pulo, ainda com a garrafa cheia empunhada em uma mão.
— Ah, qual é, ? Você não acha que já me encheu demais por hoje, não? — ela bradou, dando passos em minha direção. Neguei com a cabeça, ignorando seus resmungos dignos de uma adolescente revoltada que não tinha idade para beber, e fui até a pia com ela em meu enlace. — , se você jogar essa bebida fora, eu…
Ela não teve tempo de alcançar meu antebraço – eu já despejava o líquido transparente sobre o ralo sem ao menos hesitar.
— Puta que pariu, que saco! Me deixe em paz ao menos uma vez na vida!
Tomei a garrafa dela enquanto a tinha vermelha de raiva com um olhar raivoso. foi tentar recuperá-la, ainda desferindo-me xingamentos que eu nunca tinha ouvido sair de sua boca. Quanto mais eu afastava o vidro dela, mais se inclinava contra meu corpo.
Quem entrasse naquela cozinha e nos visse brigando daquele jeito por uma garrafa de bebida como duas crianças que disputam um brinquedo, acharia a cena, no mínimo, bizarra. e eu nos enfiávamos em situações como aquelas com uma naturalidade impressionante. Cheguei à conclusão que o que vivi com ela, durante todos os anos que a conhecia, às vezes ultrapassava as barreiras da intimidade que duas pessoas poderiam ter. Já me peguei em situações com que jamais tive nem com minhas namoradas.
Na tentativa de alcançar meu braço levantado no alto de sua cabeça, escorregou em seus saltos, fazendo-me agarrá-la com o membro que eu ainda tinha disponível, trazendo seu corpo em segurança para perto do meu enquanto depositava a maldita garrafa na pia.
— Chega de beber — repeti pela enésima vez, pausadamente.
— Você não manda em mim.
Parecia uma espécie de flashback, déjà vu, sei lá – nós já tínhamos vivido aquela cena minutos antes. E eu sabia que tudo iria se repetir de novo e de novo até que eu conseguisse fazer com que se aquietasse.
— Você vai estragar tudo, . Pare de ser mimada! — perdi a paciência, já cansado daquele joguinho. Minha vontade era jogá-la em meu ombro e levá-la para o quarto. só sairia de lá quando estivesse sóbria o bastante para não corrermos o risco de ter nosso segredo revelado.
— Você quem estragou tudo! — ela hasteou o dedo em meu rosto, fazendo-me encarar a parede atrás dela e respirar fundo. — Eu estava me esforçando pra fazer tudo certo. Achava que éramos amigos. Você quem foi desonesto, você quem mentiu para me prejudicar.
— Me desculpe, ok? — eu ainda a apertava contra mim, tentando fazê-la ao menos me ouvir.
Eu sabia que não tinha mais o que fazer, reconhecia que eu era mesmo culpado. Só me restava demonstrar meu arrependimento e tentar resolver aquilo numa conversa.
— Esqueça o que eu disse. Não quis dizer aquilo, foi da boca pra fora. Mudei de ideia porque queria que descansasse, te trouxe porque queria te fazer bem de alguma forma! — eu procurava por seu olhar, porém se recusava a olhar em meu rosto; apenas tentava se soltar de meus braços que nem a última vez. Pelo menos, daquela vez, ela estava me ouvindo. — Não é por dinheiro, . Se eu posso te proporcionar viagens como essa, ou te dar um carro, eu vou te dar! Estamos juntos nessa.
— Eu não acredito mais em você. Me poupe desse seu papinho furado — ela tentou esticar a mão para pegar a garrafa de novo.
O sentimento de frustração me tomou. O que mais queria, afinal? Que eu me ajoelhasse diante dela e beijasse seus pés? Porra, até um tapa eu já tinha levado calado! Inverti nossas posições, encostando-a na pia e, numa tentativa de impedi-la de alcançar a bebida, a segurei pelos pulsos. Eu só precisava que ela me escutasse. Estava tentando ficar bem com de novo, apesar de tudo. Ou ao menos adiar aquela discussão para o dia seguinte sem álcool no meio.
— Me solta! — sua expressão facial mudou da água para o vinho, assustando-me um pouco. Eu não estava usando força, apenas segurando.
— , por favor, me deixe explicar — insisti, tendo-a nervosa, tentando se soltar. Afrouxei meus dedos em volta de sua pele, porém ainda estava inquieta. Como era teimosa! E quando bebia, parecia ficar dez vezes pior!
— Se você me machucar, eu vou gritar — seus olhos azuis se encheram de lágrimas, e sua voz saiu trêmula.
Soltei-a de imediato, sentindo-me um monstro só pelo jeito como ela me olhava, como se estivesse com medo de mim. Ninguém nunca tinha me olhado daquela forma, muito menos se sentido ameaçado com minha presença daquele jeito.
— Eu jamais te machucaria — tentei tocá-la, ainda impactado com o modo como seu corpo se encolheu diante de mim. A loira se arrastou pela lateral, saindo de perto.
— N-Não me toque! — ela sussurrou, empurrando minhas mãos de si como se meu toque a queimasse. Assisti sair, quase correndo da cozinha, enquanto eu me encostava ali, ainda sem entender nada e com o coração batendo tão forte que parecia que sairia pela boca.
Eu estava completamente indignado com apenas a menção do que deve ter se passado em sua cabeça naquele momento. Encarei minhas mãos, que, àquela altura, estavam tremendo, e fiquei sem saber o que pensar. Me arrependi de tê-la prendido ali e me perguntei se realmente não estava usando a força quando tentei contê-la. Até mesmo pensei ser alguma lembrança dela de quando éramos menores e saíamos nos tapas que a bebida devia ter trazido à tona de um jeito errado.
Engoli a seco, pensando se talvez a lembrança que viera à tona não fosse de outro homem; se algum namorado já tinha a agredido ou sido violento com ela. Lembrei-me de nossa discussão quando descobriu sobre a tentativa de Colin de beijar Grace, de tê-la ouvido falar que achava que ele tinha sido o único homem que passou em sua vida com quem teve um relacionamento saudável. Me perguntei o que devia ter acontecido no seu último relacionamento. Não parecia ser bom, já que ouvia Grace resmungar com ela frequentemente sobre o cara da faculdade de , cujo rosto eu nunca tinha visto.
Saí da cozinha e passei os olhos pelas pessoas da sala, procurando para tentar me desculpar por mais aquilo. Estava me sentindo tão mal que já estava me vendo lhe pedindo perdão até por coisas ditas e feitas em 2006 – ano em que nos conhecemos e começamos a querer nos matar à primeira vista.
Não a encontrei em lugar nenhum do andar de baixo da casa. Os caras e as garotas estavam por lá, agindo normalmente, alheios à confusão de nós dois. Senti um alívio quando pensei em procurá-la no quarto, onde ela provavelmente devia estar sozinha. Eu esperava que ela se desse conta de que estava bêbada e que se deitasse, para evitar que o pior acontecesse.
— ! Venha cá! — quando estava no primeiro degrau, ouvi Jack me berrar do sofá, onde estava rodeado de pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida. — Estou contando daquele dia em Miami, que você quase morreu praticando wakeboard*.
Soltei um riso involuntário ao me lembrar daquele dia. Tinha dado um problema no cabo ligado à lancha que me puxava pelo mar, e eu acabei caindo na água e me afogado um pouco. Me recordava de ter sido resgatado e dos lábios carnudos da mulher loira que, aos meus olhos, se pareceu com a Pamela Anderson quando tentou me fazer uma respiração boca a boca. Transamos mais tarde num dos quartos do hotel, onde eu e o pessoal estávamos hospedados, só para agradecer a gentileza, é claro.
— Vem! Estou na melhor parte!
Revirei os olhos, retrocedendo meus passos. teria que esperar, afinal de contas, ela estava sob controle enquanto estivesse longe do pessoal.
— Esse cara aqui é uma lenda, senhoras e senhores.
Ri, negando com a cabeça, já percebendo que não era a única bêbada demais naquela festa. Fiquei um tempo ali, ouvindo-o contar a história de forma exagerada, como se tivesse sido mil vezes pior do que realmente foi. Era engraçado ver a reação das pessoas que ouviam Jack e o modo como eles acreditavam piamente no que um cara naquele grau de embriaguez dizia.
— E depois de ser salvo por aquela deusa, ele ainda dormiu com ela e passou o dia seguinte todo se gabando — Jack continuou. Todos os caras ficaram de olho nela quando chegamos na lancha, porém, só um de nós foi escolhido por ela. Eu, lógico, não pude fazer nada além de me vangloriar. — Mas, hoje em dia, é um homem muito bem casado — ele finalizou, ficando sério de repente e abraçando-me pelo ombro.
As mulheres presentes na roda me encararam com algum interesse, fazendo-me sentir um merda por ter deixado Tulum como roteiro de viagem para depois. Quando era solteiro, lá tinha belezas estonteantes, e agora eu estava casado. Ao lembrar-me daquele triste fato, me despertei para o que eu iria fazer antes de ser solicitado ali.
— Ok, já terminou de contar, agora eu realmente preciso dar um pulo lá em cima — me soltei de seu abraço, pedindo licença ao pessoal e, no caminho, pude ouvir meu amigo justificar minha saída pelo fato de eu ter uma filha. Subi as escadas rindo de seu tom sentimental ao falar de , e em como ele estava feliz em ser tio e algo sobre querer ser o padrinho dela.
Estranhamente, e eu nunca tínhamos sequer discutido aquilo. Não planejávamos batizar pelo fato de não seguirmos nenhuma religião, apesar de acreditarmos em Deus. Na verdade, a mentira na qual estávamos envolvidos desde a adoção de não me parecia contrastar bem com algo tão sagrado. Fora que a briga seria grande para escolher um casal de padrinhos só, ao julgar pelo número de pessoas que conhecíamos e fazíamos cada vez mais amigos em comum.
Assim que abri a porta do quarto, me deparei com sua figura no reflexo do espelho, próximo da cama onde dormia tranquila. estava no chão, com o celular aceso em meio ao escuro do cômodo que só era iluminado pelas frestas da janela fechada. Parei ali, ainda do lado de fora, quando a ouvi soluçar enquanto passava uma das mãos pelo rosto.
— Alô, ?
A loira continuou a chorar enquanto a voz masculina soava, fazendo-me esforçar para tentar reconhecer quem falava com em meio ao barulho da ligação.
— Está chorando? O que houve?
— Tom, eu devia ter ido com você — ela soluçou contra o celular. Arquei as sobrancelhas, sentindo a raiva me tomar.
Quer dizer que ia esquecer do quanto nos divertimos naquela viagem toda só por conta de uma briguinha boba e, ainda por cima, estava correndo para os braços de Tom na primeira oportunidade? Eu sabia que ele saber do nosso segredo não daria certo! O que ele tinha a ver com o que acontecia entre nós dois?
— O que houve, ? — ele repetiu, preocupado. Ri de escárnio. Lá vinha ele, mais uma vez, sair como o super-homem da história. O homem compreensivo que largava tudo para socorrê-la. Ah, pelo amor de Deus! — Está tudo bem com você?
Se caísse no papinho furado de bom samaritano dele, eu ia rir muito da cara dela quando Tom lhe desse um pé na bunda.
— não me quer aqui! — sua voz embargada soou pelo quarto. Respirei fundo, fechando os olhos com força.
Mas que droga, por que mesmo Jack tinha que ter tocado naquele assunto? A culpa era toda minha, afinal, eu quem fui babaca. Mas jamais saberia daquela conversa se o boca-aberta não tivesse falado nada. Nós estaríamos lá embaixo, rindo, dançando e nos divertindo juntos, com direito a beijos e toda nossa encenação padrão de casal feliz.
Aquele era o plano. Mas eu estava começando a acreditar na teoria furada de sobre termos bagunçado a ordem natural do Universo com apenas uns amassos e uma transa. Era ridículo, porém, era a única explicação para tudo o que nos aconteceu desde que havíamos deixamos aquele spa. Nada, absolutamente nada tinha dado certo.
Não que algum dia as coisas já deram, quando se tratava de nós dois. Estávamos juntos e casados justamente por conta de algo que deu muito errado.
Avancei para dentro do quarto assim que vi terminar de virar um litro da bebida que eu nem ao menos notei que estava no chão ao lado dela.
— O que… — seus olhos azuis se arregalaram pelo susto de me ter ali, de repente, de pé diante dela. — , me dê isso! — ela tentou se levantar sem sucesso, derrubando o celular no chão. Quando encarei a garrafa, vi a bebida pela metade e fiquei incrédulo.
Onde diabos tinha encontrado aquela garrafa?
— Fique quieta! Vai acordar a bebê — sussurrei, vendo-a se encolher ao olhar para cima da cama, culpada. Me abaixei e peguei o telefone, finalizando a chamada e ainda ouvindo o insuportável do Tom chamá-la alto na ligação.
— O que foi agora? Eu não posso mais falar com ninguém? — ela cruzou os braços, ainda jogada no chão.
Minha vontade era de falar não. De falar que, se esse alguém fosse Tom, ela estaria proibida de sequer respirar o mesmo ar que ele. Mas eu sabia que as coisas não funcionavam daquele jeito; primeiro porque eu não era ninguém para mandar nela, e segundo porque era teimosa. Ela continuaria arrastando asa para aquele otário mesmo correndo o risco de arruinar nossos planos.
— Me dê meu celular!
Mandei-a falar baixo de novo, estendendo-lhe a droga do aparelho.
A loira soluçou fortemente e projetou o corpo para frente, fazendo a característica careta de quem colocaria até a alma para fora. Pelo visto, aquilo era algo corriqueiro nas poucas vezes em que bebia. Eu já tinha visto aquela cena antes, e não estava nem um pouco a fim de revê-la.
— Droga, — levantei-a com dificuldade, por conta do seu grau de embriaguez e os saltos que ela usava. — Segura! — exclamei, vendo-a tampar a boca com uma das mãos enquanto ainda corríamos em direção ao banheiro.
Abri a tampa do vaso sanitário, só dando tempo de pegá-la pela cintura, tentando mantê-la de pé à medida que ela vomitava tudo o que tinha bebido nas últimas horas. Me perguntei por que bebia tanto se sabia que não iria aguentar e ficar mal daquele jeito. Coloquei-a no chão devagar, e agarrou as laterais da privada, tossindo incessantemente. Preocupado, chequei se ela não havia se engasgado. Constatei que ela estava bem quando a observei levantar o braço e fechar o vaso de volta, deitando a cabeça na tampa branca.
Acionei a descarga, respirando em profundo alívio, enquanto me esforçava para não inspirar muito o ar e detectar algum tipo de odor desagradável. Sabia que éramos casados, mas estava levando a sério demais aquele negócio de “na saúde e na doença”. Eu estava cuidando mais dela que de !
— Venha, saia desse chão gelado — pedi, e se apoiou em mim, subindo seu corpo fraco e cambaleante até que estivesse devidamente sentada sobre o vaso.
E, mesmo assim, preferia ter ido viajar com Tom? Faça-me o favor! Sabia que não era perfeito, mas também não se esforçava para me deixar provar meu valor. Ela sempre duvidava de mim, mesmo quando eu tentava mudar o jeito como a tratava, pelo bem de .
O celular dela começou a tocar insistentemente em cima da cama, fazendo-me alarmar por conta da bebê dormindo. Já não bastava o barulho de música alta no andar de baixo. Apanhei sua escova de dentes e uma pasta, dando-lhe em suas mãos, e fui em disparada até o causador da minha recém-adquirida dor de cabeça, querendo praticamente jogá-lo longe ao ver o nome de Dormian piscar no visor.
— O que você quer, cara? — eu ia recusar a chamada, mas, quando vi, já levava o celular ao ouvido, explodindo de raiva.
— Cadê a ? O que você fez com ela?
Franzi a testa.
— Do que porra você está falando? — eu não falaria onde ela estava, não era da conta dele. Tom já estava se intrometendo demais para o meu gosto.
— Falou pra ela que não a queria aí, depois a tratou mal, lhe arrancou o celular das mãos... Se não quisesse levá-la nesta viagem, devia tê-la deixado livre para vir comigo para outro lugar! — ele continuou, e eu passei a mão no rosto com força, soltando um riso irônico.
— Está insinuando que eu fui agressivo com ela? — eu estava indignado com toda aquela palhaçada. — e eu nunca fomos o amor da vida um do outro, mas eu jamais faria algo para machucá-la.
— Me deixe falar com ela, quero ouvir da boca dela — Dormian pediu, mas eu neguei com a cabeça mesmo sendo inútil, já que ele não me via. Dei passos pelo quarto, na tentativa de dissipar o ódio que se apossou do meu corpo. Eu queria ser agressivo era com ele, isso sim! — Anda, , me pareceu assustada…
— Claro que ficou assustada, eu cheguei de repente! — me esforcei para não berrar ao telefone. Ele não via que estava atrapalhando? Sem noção de merda. — Vá cuidar da sua vida, Dormian. Eu já não queria que você se metesse entre nós. Você descobriu, tudo bem, agora te deixar palpitar em algo que não te diz respeito já é demais!
— Se envolve , me diz respeito sim — ah, meu Deus, eu devia estar sendo pago para ouvir tanta ladainha, porque de graça estava sendo sofrido. — Sou amigo dela. Se ela estiver em perigo, eu preciso saber…
— Então vamos fazer assim, amigo da — frisei a última parte, irônico. — Amanhã, quando ela acordar, eu dou o recado que você ligou querendo se meter na vida dela…
— Eu quero falar com ela hoje, agora, .
Respirei fundo, tentando manter a paciência, se é que eu ainda tinha alguma àquela altura. Não que aquele prepotente merecesse algo do tipo vindo de mim.
— Amanhã — falei mais firme —, quando minha esposa acordar, eu aviso que você ligou. Se ela quiser falar com você, ela te retorna, caso contrário, faça o favor de esquecê-la e de deixá-la em paz.
O que me deixava mais puto da vida era que não era a primeira vez que Tom bancava o namorado ciumento de . Não era a primeira vez que eu o pedia para deixá-la em paz. Ele parecia não entender! E também tinha culpa no cartório. Por que diabos ela teve que ligar para ele naquela hora da noite?
— …
— Feliz ano-novo, Dormian. Procure alguém para foder, está precisando — desliguei o celular, deixando-o em cima da cômoda para evitar futuros incômodos. Pelo menos por aquela madrugada, já que, infelizmente, na vida real, não podíamos desligar pessoas indesejadas.
Pensei seriamente se iria mesmo passar aquele recado à . Tudo dependeria do meu humor no dia seguinte.
Voltei ao banheiro e a encontrei de volta ao vaso, com a escova de dentes molhada entre os dedos e o que restou de seu batom vermelho borrado nas bordas de seus lábios. Tentei me acalmar, visto que, aparentemente, eu estava agindo de modo agressivo sem perceber, já que Tom foi o segundo só naquela noite a notar aquilo em mim.
Parecia que eu estava ficando louco. Eu tinha sido incisivo algumas vezes com ? Sim, mas era para o bem dela, porque ficava igual criança quando bebia daquele jeito. Eu estava cuidando dela, só isso!
— Por que tinha que ligar justo para aquele imbecil?
Tinha tentado recuperar meus sentidos e falar algo que pudesse prestar para resolver uma situação daquelas, mas simplesmente não me deixava sequer concluir um pensamento para poder formular um argumento de defesa.
Tinha mais aquela questão: eu não tinha defesa.
Seus olhos claros transbordavam e molhavam cada vez mais seu rosto miúdo, deixando-o vermelho; sua voz chegava a tremer, denunciado seu estado emocional. Mesmo com nós dois negando até a morte, não daria mais para afirmar com todas as palavras que não íamos com a cara um do outro. Me incomodava saber que a tinha machucado, e só o fato de estar naquele estado já demonstrava que ela se importava ao menos um pouco com minhas atitudes. Saber que confiava em mim – mesmo que fosse lá no fundo, bem no fundo, nas profundezas do seu ser – e se sentiu traída, de alguma forma me deixou balançado.
Os caras vieram me chamar em meio à barulheira dos fogos de artifício e da festa que acontecia do lado de fora da casa. Todos comemoravam a renovação que o próximo ano traria, enquanto eu me frustrava pensando no problema que aquela discussão iria me arranjar com . Eu e ela havíamos começado o ano já revivendo coisas do que acabava de se findar.
Olhei para trás quando alcancei a soleira da porta e, por um instante, na cozinha vazia, podia-se ouvir os sons de seus soluços. Meu coração se apertou ao me lembrar da cena que vi, antes de me levantar e decidir ir embora. encolhida no chão. Nunca pensei que poderia sentir tanta compaixão por ela. Era a primeira vez na história que brigávamos e eu conseguia dar o braço a torcer e assumir que estava errado. Porque sim, eu estava errado pra caralho. Eu era o culpado pelo choro e pela mágoa dela.
Estava me sentindo mal, realmente mal, com raiva de mim mesmo por ter falado algo dias atrás e sem grandes intenções de causar algo como aquela discussão. Se pudesse, voltaria no tempo só para me impedir de ter inventado aquela mentira inocente. Era idiota como, às vezes, criávamos situações desnecessárias. No início, eu estava querendo impedi-la de ir àquela viagem por pura implicância. Mas, depois, percebi que a própria estava deixando a viagem mais divertida.
Eu era um idiota mesmo.
— Feliz ano-novo — coloquei um sorriso falso no rosto quando me deparei com Nick parado próximo à saída da casa. Dei-lhe um abraço forte, batendo em suas costas algumas vezes.
Fui andando pela área externa ainda no automático, abraçando Caroline e fazendo o mesmo com quem eu encontrava em meu caminho até próximo à piscina, onde estavam Jack e Suzanne. Abracei-os em conjunto, sendo acolhido pelos meus amigos.
— Onde está ?
Olhei para Suzanne sem saber o que dizer. Se lhe dissesse que ela estava jogada no chão da cozinha, chorando, eu seria visto como um péssimo marido?
Sim, foi uma pergunta retórica.
Chace, que falava ao telefone um pouco afastado, se juntou a nós, vindo me abraçar e me desejar votos para o ano que havia chegado.
— Ali está ela!
Segui o olhar do loiro, vendo se esgueirar pelos meus amigos e convidados, abraçando um por um assim como eu havia feito anteriormente.
Ao contrário de mim, não sabia muito bem disfarçar a cara de que tinha algo errado consigo. Aliás, nem se ela tentasse teria algum êxito. A ponta de seu nariz estava avermelhada, assim como a área ao redor dos olhos, brilhantes por ainda estarem molhados. Estava nítido que ela andou chorando. Su foi a primeira a reparar quando chegou até nós, abraçando Jack primeiro.
— O que houve com ela? — a mulher sussurrou próxima de mim, fazendo-me encolher os ombros como se não soubesse do que ela estava falando. — Está tudo bem, ? — preocupada, Su pegou-a pelos ombros, analisando-a.
assentiu veemente, forçando-se a sorrir para tranquilizá-la antes de partir para o abraço.
— Eu estava numa ligação com minha mãe. Sabe como é, né, ficamos emotivas nessa época do ano — ela a soltou, beijando a amiga na bochecha. — Eu estou bem, não precisa se preocupar — mentiu, olhando em seus olhos.
Prendi a respiração quando ela se virou em minha direção, já abrindo os braços e colando seu corpo ao meu, abraçando-me pelo pescoço e me desejando um feliz ano-novo. Ainda sob o olhar curioso de Suzanne, correspondi ao abraço, fingindo naturalidade ao pegar pela cintura e depositar um beijo em seu rosto colado ao meu. Ela virou o pescoço, permitindo-me beijá-la e me fazendo estranhar suas atitudes. Afinal, mesmo que estivéssemos fingindo para o pessoal, não estaria tão aberta daquele jeito depois da briga que tínhamos acabado de ter.
Quando sua boca se entreabriu e ela me permitiu passagem com a língua, senti um gosto forte instigar meu paladar. Quebrei o beijo no mesmo momento e me afastei para olhá-la, assustado. Alcancei o copo em sua mão e levei-o ao rosto para cheirar a bebida, apenas comprovando o motivo do meu espanto.
— , onde você achou vodka?
era a pessoa mais fraca para bebida que eu conhecia. Lembro-me do dia do nosso casamento e do estado que ela tinha ficado só com os drinks que misturou durante a festa.
já tinha bebido uma quantidade considerável de cerveja além do shot de tequila que tínhamos virado há pouco. Mas vodka já era demais! Eu não gostava nem um pouco de imaginar a confusão que ela me traria se continuasse a beber daquele jeito naquela noite. Tentei tirar o copo dela, porém se afastou bruscamente. Suspirei, desistindo, por medo de chamar a atenção.
— O que pensa que está fazendo, ? — confrontei-a, ainda incrédulo.
— Sendo sua esposa, não é óbvio? — ela ironizou, tentando se soltar de meu abraço e apenas me fazendo agarrá-la mais firme. — Não foi por isso que me trouxe nessa viagem?
Respirei fundo, me preparando para tentar amenizar aquele assunto para que deixássemos aquilo para outra hora. Porém, mais uma vez, não me deixou falar.
— Me deixe ao menos encher a cara para não ter que fingir que gosto de você sóbria — ela virou o copo de vez, fechando os olhos fortemente ao sentir a bebida descer rasgando sua garganta. — Me solte e vá cuidar da sua vida.
Mesmo tentando me afastar de si, continuei segurando-a, o que apenas deixou a loira ainda mais irritada. Eu não sabia o que fazer com ela. Não podia deixá-la solta naquele estado sabendo que, com certeza, iria atrás de mais álcool. Eu entendia sua mágoa, porém não poderíamos colocar tudo a perder com atitudes precipitadas – não agora que tínhamos conosco e estávamos tão próximos da nossa primeira audiência de custódia.
— Chega de beber por hoje — a repreendi, vendo a indignação tomar conta de sua expressão facial. — Eu estou falando sério, .
— Você não manda em mim — ela rangeu os dentes, ainda tentando se soltar. Porém, disfarçou quando viu alguém se aproximando, beijando minha boca enquanto envolvia meu pescoço com seus braços finos.
Retribuí o beijo, tomando seus lábios devagar, acariciando suas costas desnudas e deslizando minha língua contra a sua. Tentei acalmá-la, porém, acho que surtiu o efeito contrário. Senti seu abdômen subir e descer rapidamente contra o meu. Logo seu corpo se projetou para fora dos meus braços – se aproveitou que afrouxei minhas mãos de si e saiu do meu controle.
— Eu vou roubar sua esposa um pouco, nós queremos dançar — Caroline era quem tinha se aproximado. Eu nem tinha me dado conta por estar ocupado durante o beijo. Antes que eu pudesse protestar e arranjar uma desculpa para ter comigo e evitar algum risco, a loira já seguia a mulher em direção à sala, onde estava a pista de dança.
Tentei puxá-la pela mão, porém seus dedos deslizaram sobre os meus, deixando-me sozinho na área da piscina. Levei as mãos ao rosto, esfregando-o e tentando colocar meus pensamentos em ordem para poder bolar um plano para que a noite não fosse um completo desastre.
Já havia passado da meia-noite, e conseguiu o que queria: me deixar completamente louco, mesmo que não fosse do modo como eu esperava que fosse.
Adentrei a casa cheia e fui atrás de uma garrafinha de cerveja. Ao mesmo tempo em que andava pela sala, procurando a fonte dos meus problemas e preocupações com os olhos, a avistei na pista, dançando ao lado de Suzanne e Caroline. Ao menos ela estava de mãos vazias. Um alívio me atingiu de imediato.
Me juntei aos meus amigos numa roda de conversa e comecei a colocar meu plano em prática. Ele se resumia em disfarçar e beber aquela garrafa aos poucos, porque seria a última coisa que eu beberia. Afinal, eu tinha que estar 100% sóbrio para vigiar .
Passou-se algum tempo desde que tinha começado a dançar com as amigas. Eu já estava com a garrafa vazia em minhas mãos e a apertava em meus dedos cada vez que assistia, completamente duro de excitação, descer até o chão naquele vestido branco. A loira, por sua vez, estava fingindo que eu não existia, sem ao menos olhar de relance em minha direção. Vez ou outra ela dava alguns goles nas bebidas das meninas, porém nada que eu sentisse que deveria intervir.
— , estamos falando com você, cara — ouvi a voz de Chace e senti seu tapinha na minha cabeça. Desviei meus olhos do corpo de , que ainda rebolava na pista, e me voltei aos meus amigos.
Tá, talvez eu estivesse aproveitando o fato de estar de vigia para vê-la dançar.
— Deixe sua esposa pra lá um pouquinho, você tem a vida inteira pra ela — Nick riu e foi acompanhado pelos outros, fazendo-me soltar um risinho forçado.
— Se bem que, tratando-se de , eu não estranharia se ele fosse um Ross Geller da vida — senti uma irritação ao ouvir Chace fazer aquela piadinha. Não era a primeira vez que tinha aquele sentimento por uma fala dele. Ultimamente, tudo que envolvia em nossas conversas me despertava aquilo.
Não tive tempo de respondê-lo, mas Jack foi mais rápido:
— Do jeito que está de quatro por , duvido muito que tenha um divórcio vindo por aí.
Revirei os olhos com sua fala. Eu? , de quatro por alguém? Nunca!
Os outros caras envolvidos na conversa concordaram com Jack, além de terem olhado torto para Chace quando ele soltou aquela pérola, como se o repreendessem por falar de divórcio para um casal praticamente recém-casado. Parecia que ele torcia para que aquilo acontecesse.
Apesar de saber que me odiava profundamente e que, provavelmente, naquela noite em especial ela me odiasse um pouco a mais que o normal, eu sabia que não teria coragem de ficar com meu melhor amigo, mesmo após tudo aquilo acabar. Ou será que ficaria?
Sabia que não tinha moral alguma para cobrar algo dela, afinal, eu tinha ficado com Anne. Porém, era uma situação diferente – a amiga de sabia que era tudo uma farsa. Apesar de ficar com a pulga atrás da orelha com aquilo, eu não cobraria nada dela. não me devia satisfações sobre quem ficava ou deixava de ficar.
— Sim, está fora de cogitação — disse com convicção.
Fora de cogitação: daqui a nove meses.
— Está bebendo pouco hoje, . O que houve? — Jacob franziu o cenho, olhando intrigado para a garrafa vazia que estava na minha mão há um tempo.
— Estou responsável por olhar a bebê — menti, vendo de relance sair do lado das amigas e ir apressada até a cozinha. — Mas vou lá buscar outra cerveja, já venho — saí rapidamente da roda onde estava, não percebendo nenhum deles estranhando minha pressa toda.
Até que aquela desculpa era boa. Me impressionava ver que, após entrar naquela roubada com , mentir tinha se tornado algo tão natural para nós que o fazíamos sem esforço algum. Estava virando patológico já, tanto que comecei a mentir para mim mesmo sobre coisas que nem ao menos sabia que era possível.
Me desvencilhei das pessoas no meu caminho, percebendo que tinha muito mais gente do que quando começamos aquela festa. Apesar disso, estava tudo sob controle: todos conversando, dançando e bebendo normalmente. Eu estaria adorando tudo aquilo. Provavelmente, até conseguiria descolar alguma mulher para dar uns amassos escondido num dos quartos, se não fosse por me dando trabalho.
Na verdade, se ela mesma não fosse tão cabeça dura, talvez estaríamos nós dois nos pegando escondidos em algum lugar daquela casa. Eu sabia que tinha feito merda, mas tinha mesmo que levar tudo ao pé da letra daquele jeito?
— , acho que isso é seu — Jack me interceptou, estendendo-me a babá eletrônica do nada. Confuso, peguei o aparelho, querendo passar logo. — Tinha um pessoal sentado em cima dela lá no sofá, achei melhor te dar pra não quebrar.
— Valeu, cara — sorri amarelo, lhe dando batidinhas no ombro antes de sumir do seu campo de visão.
Adentrei a cozinha em passos largos, encontrando a loira de pé sobre o balcão e de costas para a porta, fazendo o que eu já imaginava que iria encontrá-la fazendo: servindo uma bebida num copo que eu não precisava pensar muito para saber de quem era.
— Já disse que está proibida de beber mais, — tirei o copo de sua mão, lhe dando um susto ao percebê-la dar um pequeno pulo, ainda com a garrafa cheia empunhada em uma mão.
— Ah, qual é, ? Você não acha que já me encheu demais por hoje, não? — ela bradou, dando passos em minha direção. Neguei com a cabeça, ignorando seus resmungos dignos de uma adolescente revoltada que não tinha idade para beber, e fui até a pia com ela em meu enlace. — , se você jogar essa bebida fora, eu…
Ela não teve tempo de alcançar meu antebraço – eu já despejava o líquido transparente sobre o ralo sem ao menos hesitar.
— Puta que pariu, que saco! Me deixe em paz ao menos uma vez na vida!
Tomei a garrafa dela enquanto a tinha vermelha de raiva com um olhar raivoso. foi tentar recuperá-la, ainda desferindo-me xingamentos que eu nunca tinha ouvido sair de sua boca. Quanto mais eu afastava o vidro dela, mais se inclinava contra meu corpo.
Quem entrasse naquela cozinha e nos visse brigando daquele jeito por uma garrafa de bebida como duas crianças que disputam um brinquedo, acharia a cena, no mínimo, bizarra. e eu nos enfiávamos em situações como aquelas com uma naturalidade impressionante. Cheguei à conclusão que o que vivi com ela, durante todos os anos que a conhecia, às vezes ultrapassava as barreiras da intimidade que duas pessoas poderiam ter. Já me peguei em situações com que jamais tive nem com minhas namoradas.
Na tentativa de alcançar meu braço levantado no alto de sua cabeça, escorregou em seus saltos, fazendo-me agarrá-la com o membro que eu ainda tinha disponível, trazendo seu corpo em segurança para perto do meu enquanto depositava a maldita garrafa na pia.
— Chega de beber — repeti pela enésima vez, pausadamente.
— Você não manda em mim.
Parecia uma espécie de flashback, déjà vu, sei lá – nós já tínhamos vivido aquela cena minutos antes. E eu sabia que tudo iria se repetir de novo e de novo até que eu conseguisse fazer com que se aquietasse.
— Você vai estragar tudo, . Pare de ser mimada! — perdi a paciência, já cansado daquele joguinho. Minha vontade era jogá-la em meu ombro e levá-la para o quarto. só sairia de lá quando estivesse sóbria o bastante para não corrermos o risco de ter nosso segredo revelado.
— Você quem estragou tudo! — ela hasteou o dedo em meu rosto, fazendo-me encarar a parede atrás dela e respirar fundo. — Eu estava me esforçando pra fazer tudo certo. Achava que éramos amigos. Você quem foi desonesto, você quem mentiu para me prejudicar.
— Me desculpe, ok? — eu ainda a apertava contra mim, tentando fazê-la ao menos me ouvir.
Eu sabia que não tinha mais o que fazer, reconhecia que eu era mesmo culpado. Só me restava demonstrar meu arrependimento e tentar resolver aquilo numa conversa.
— Esqueça o que eu disse. Não quis dizer aquilo, foi da boca pra fora. Mudei de ideia porque queria que descansasse, te trouxe porque queria te fazer bem de alguma forma! — eu procurava por seu olhar, porém se recusava a olhar em meu rosto; apenas tentava se soltar de meus braços que nem a última vez. Pelo menos, daquela vez, ela estava me ouvindo. — Não é por dinheiro, . Se eu posso te proporcionar viagens como essa, ou te dar um carro, eu vou te dar! Estamos juntos nessa.
— Eu não acredito mais em você. Me poupe desse seu papinho furado — ela tentou esticar a mão para pegar a garrafa de novo.
O sentimento de frustração me tomou. O que mais queria, afinal? Que eu me ajoelhasse diante dela e beijasse seus pés? Porra, até um tapa eu já tinha levado calado! Inverti nossas posições, encostando-a na pia e, numa tentativa de impedi-la de alcançar a bebida, a segurei pelos pulsos. Eu só precisava que ela me escutasse. Estava tentando ficar bem com de novo, apesar de tudo. Ou ao menos adiar aquela discussão para o dia seguinte sem álcool no meio.
— Me solta! — sua expressão facial mudou da água para o vinho, assustando-me um pouco. Eu não estava usando força, apenas segurando.
— , por favor, me deixe explicar — insisti, tendo-a nervosa, tentando se soltar. Afrouxei meus dedos em volta de sua pele, porém ainda estava inquieta. Como era teimosa! E quando bebia, parecia ficar dez vezes pior!
— Se você me machucar, eu vou gritar — seus olhos azuis se encheram de lágrimas, e sua voz saiu trêmula.
Soltei-a de imediato, sentindo-me um monstro só pelo jeito como ela me olhava, como se estivesse com medo de mim. Ninguém nunca tinha me olhado daquela forma, muito menos se sentido ameaçado com minha presença daquele jeito.
— Eu jamais te machucaria — tentei tocá-la, ainda impactado com o modo como seu corpo se encolheu diante de mim. A loira se arrastou pela lateral, saindo de perto.
— N-Não me toque! — ela sussurrou, empurrando minhas mãos de si como se meu toque a queimasse. Assisti sair, quase correndo da cozinha, enquanto eu me encostava ali, ainda sem entender nada e com o coração batendo tão forte que parecia que sairia pela boca.
Eu estava completamente indignado com apenas a menção do que deve ter se passado em sua cabeça naquele momento. Encarei minhas mãos, que, àquela altura, estavam tremendo, e fiquei sem saber o que pensar. Me arrependi de tê-la prendido ali e me perguntei se realmente não estava usando a força quando tentei contê-la. Até mesmo pensei ser alguma lembrança dela de quando éramos menores e saíamos nos tapas que a bebida devia ter trazido à tona de um jeito errado.
Engoli a seco, pensando se talvez a lembrança que viera à tona não fosse de outro homem; se algum namorado já tinha a agredido ou sido violento com ela. Lembrei-me de nossa discussão quando descobriu sobre a tentativa de Colin de beijar Grace, de tê-la ouvido falar que achava que ele tinha sido o único homem que passou em sua vida com quem teve um relacionamento saudável. Me perguntei o que devia ter acontecido no seu último relacionamento. Não parecia ser bom, já que ouvia Grace resmungar com ela frequentemente sobre o cara da faculdade de , cujo rosto eu nunca tinha visto.
Saí da cozinha e passei os olhos pelas pessoas da sala, procurando para tentar me desculpar por mais aquilo. Estava me sentindo tão mal que já estava me vendo lhe pedindo perdão até por coisas ditas e feitas em 2006 – ano em que nos conhecemos e começamos a querer nos matar à primeira vista.
Não a encontrei em lugar nenhum do andar de baixo da casa. Os caras e as garotas estavam por lá, agindo normalmente, alheios à confusão de nós dois. Senti um alívio quando pensei em procurá-la no quarto, onde ela provavelmente devia estar sozinha. Eu esperava que ela se desse conta de que estava bêbada e que se deitasse, para evitar que o pior acontecesse.
— ! Venha cá! — quando estava no primeiro degrau, ouvi Jack me berrar do sofá, onde estava rodeado de pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida. — Estou contando daquele dia em Miami, que você quase morreu praticando wakeboard*.
Soltei um riso involuntário ao me lembrar daquele dia. Tinha dado um problema no cabo ligado à lancha que me puxava pelo mar, e eu acabei caindo na água e me afogado um pouco. Me recordava de ter sido resgatado e dos lábios carnudos da mulher loira que, aos meus olhos, se pareceu com a Pamela Anderson quando tentou me fazer uma respiração boca a boca. Transamos mais tarde num dos quartos do hotel, onde eu e o pessoal estávamos hospedados, só para agradecer a gentileza, é claro.
— Vem! Estou na melhor parte!
Revirei os olhos, retrocedendo meus passos. teria que esperar, afinal de contas, ela estava sob controle enquanto estivesse longe do pessoal.
— Esse cara aqui é uma lenda, senhoras e senhores.
Ri, negando com a cabeça, já percebendo que não era a única bêbada demais naquela festa. Fiquei um tempo ali, ouvindo-o contar a história de forma exagerada, como se tivesse sido mil vezes pior do que realmente foi. Era engraçado ver a reação das pessoas que ouviam Jack e o modo como eles acreditavam piamente no que um cara naquele grau de embriaguez dizia.
— E depois de ser salvo por aquela deusa, ele ainda dormiu com ela e passou o dia seguinte todo se gabando — Jack continuou. Todos os caras ficaram de olho nela quando chegamos na lancha, porém, só um de nós foi escolhido por ela. Eu, lógico, não pude fazer nada além de me vangloriar. — Mas, hoje em dia, é um homem muito bem casado — ele finalizou, ficando sério de repente e abraçando-me pelo ombro.
As mulheres presentes na roda me encararam com algum interesse, fazendo-me sentir um merda por ter deixado Tulum como roteiro de viagem para depois. Quando era solteiro, lá tinha belezas estonteantes, e agora eu estava casado. Ao lembrar-me daquele triste fato, me despertei para o que eu iria fazer antes de ser solicitado ali.
— Ok, já terminou de contar, agora eu realmente preciso dar um pulo lá em cima — me soltei de seu abraço, pedindo licença ao pessoal e, no caminho, pude ouvir meu amigo justificar minha saída pelo fato de eu ter uma filha. Subi as escadas rindo de seu tom sentimental ao falar de , e em como ele estava feliz em ser tio e algo sobre querer ser o padrinho dela.
Estranhamente, e eu nunca tínhamos sequer discutido aquilo. Não planejávamos batizar pelo fato de não seguirmos nenhuma religião, apesar de acreditarmos em Deus. Na verdade, a mentira na qual estávamos envolvidos desde a adoção de não me parecia contrastar bem com algo tão sagrado. Fora que a briga seria grande para escolher um casal de padrinhos só, ao julgar pelo número de pessoas que conhecíamos e fazíamos cada vez mais amigos em comum.
Assim que abri a porta do quarto, me deparei com sua figura no reflexo do espelho, próximo da cama onde dormia tranquila. estava no chão, com o celular aceso em meio ao escuro do cômodo que só era iluminado pelas frestas da janela fechada. Parei ali, ainda do lado de fora, quando a ouvi soluçar enquanto passava uma das mãos pelo rosto.
— Alô, ?
A loira continuou a chorar enquanto a voz masculina soava, fazendo-me esforçar para tentar reconhecer quem falava com em meio ao barulho da ligação.
— Está chorando? O que houve?
— Tom, eu devia ter ido com você — ela soluçou contra o celular. Arquei as sobrancelhas, sentindo a raiva me tomar.
Quer dizer que ia esquecer do quanto nos divertimos naquela viagem toda só por conta de uma briguinha boba e, ainda por cima, estava correndo para os braços de Tom na primeira oportunidade? Eu sabia que ele saber do nosso segredo não daria certo! O que ele tinha a ver com o que acontecia entre nós dois?
— O que houve, ? — ele repetiu, preocupado. Ri de escárnio. Lá vinha ele, mais uma vez, sair como o super-homem da história. O homem compreensivo que largava tudo para socorrê-la. Ah, pelo amor de Deus! — Está tudo bem com você?
Se caísse no papinho furado de bom samaritano dele, eu ia rir muito da cara dela quando Tom lhe desse um pé na bunda.
— não me quer aqui! — sua voz embargada soou pelo quarto. Respirei fundo, fechando os olhos com força.
Mas que droga, por que mesmo Jack tinha que ter tocado naquele assunto? A culpa era toda minha, afinal, eu quem fui babaca. Mas jamais saberia daquela conversa se o boca-aberta não tivesse falado nada. Nós estaríamos lá embaixo, rindo, dançando e nos divertindo juntos, com direito a beijos e toda nossa encenação padrão de casal feliz.
Aquele era o plano. Mas eu estava começando a acreditar na teoria furada de sobre termos bagunçado a ordem natural do Universo com apenas uns amassos e uma transa. Era ridículo, porém, era a única explicação para tudo o que nos aconteceu desde que havíamos deixamos aquele spa. Nada, absolutamente nada tinha dado certo.
Não que algum dia as coisas já deram, quando se tratava de nós dois. Estávamos juntos e casados justamente por conta de algo que deu muito errado.
Avancei para dentro do quarto assim que vi terminar de virar um litro da bebida que eu nem ao menos notei que estava no chão ao lado dela.
— O que… — seus olhos azuis se arregalaram pelo susto de me ter ali, de repente, de pé diante dela. — , me dê isso! — ela tentou se levantar sem sucesso, derrubando o celular no chão. Quando encarei a garrafa, vi a bebida pela metade e fiquei incrédulo.
Onde diabos tinha encontrado aquela garrafa?
— Fique quieta! Vai acordar a bebê — sussurrei, vendo-a se encolher ao olhar para cima da cama, culpada. Me abaixei e peguei o telefone, finalizando a chamada e ainda ouvindo o insuportável do Tom chamá-la alto na ligação.
— O que foi agora? Eu não posso mais falar com ninguém? — ela cruzou os braços, ainda jogada no chão.
Minha vontade era de falar não. De falar que, se esse alguém fosse Tom, ela estaria proibida de sequer respirar o mesmo ar que ele. Mas eu sabia que as coisas não funcionavam daquele jeito; primeiro porque eu não era ninguém para mandar nela, e segundo porque era teimosa. Ela continuaria arrastando asa para aquele otário mesmo correndo o risco de arruinar nossos planos.
— Me dê meu celular!
Mandei-a falar baixo de novo, estendendo-lhe a droga do aparelho.
A loira soluçou fortemente e projetou o corpo para frente, fazendo a característica careta de quem colocaria até a alma para fora. Pelo visto, aquilo era algo corriqueiro nas poucas vezes em que bebia. Eu já tinha visto aquela cena antes, e não estava nem um pouco a fim de revê-la.
— Droga, — levantei-a com dificuldade, por conta do seu grau de embriaguez e os saltos que ela usava. — Segura! — exclamei, vendo-a tampar a boca com uma das mãos enquanto ainda corríamos em direção ao banheiro.
Abri a tampa do vaso sanitário, só dando tempo de pegá-la pela cintura, tentando mantê-la de pé à medida que ela vomitava tudo o que tinha bebido nas últimas horas. Me perguntei por que bebia tanto se sabia que não iria aguentar e ficar mal daquele jeito. Coloquei-a no chão devagar, e agarrou as laterais da privada, tossindo incessantemente. Preocupado, chequei se ela não havia se engasgado. Constatei que ela estava bem quando a observei levantar o braço e fechar o vaso de volta, deitando a cabeça na tampa branca.
Acionei a descarga, respirando em profundo alívio, enquanto me esforçava para não inspirar muito o ar e detectar algum tipo de odor desagradável. Sabia que éramos casados, mas estava levando a sério demais aquele negócio de “na saúde e na doença”. Eu estava cuidando mais dela que de !
— Venha, saia desse chão gelado — pedi, e se apoiou em mim, subindo seu corpo fraco e cambaleante até que estivesse devidamente sentada sobre o vaso.
E, mesmo assim, preferia ter ido viajar com Tom? Faça-me o favor! Sabia que não era perfeito, mas também não se esforçava para me deixar provar meu valor. Ela sempre duvidava de mim, mesmo quando eu tentava mudar o jeito como a tratava, pelo bem de .
O celular dela começou a tocar insistentemente em cima da cama, fazendo-me alarmar por conta da bebê dormindo. Já não bastava o barulho de música alta no andar de baixo. Apanhei sua escova de dentes e uma pasta, dando-lhe em suas mãos, e fui em disparada até o causador da minha recém-adquirida dor de cabeça, querendo praticamente jogá-lo longe ao ver o nome de Dormian piscar no visor.
— O que você quer, cara? — eu ia recusar a chamada, mas, quando vi, já levava o celular ao ouvido, explodindo de raiva.
— Cadê a ? O que você fez com ela?
Franzi a testa.
— Do que porra você está falando? — eu não falaria onde ela estava, não era da conta dele. Tom já estava se intrometendo demais para o meu gosto.
— Falou pra ela que não a queria aí, depois a tratou mal, lhe arrancou o celular das mãos... Se não quisesse levá-la nesta viagem, devia tê-la deixado livre para vir comigo para outro lugar! — ele continuou, e eu passei a mão no rosto com força, soltando um riso irônico.
— Está insinuando que eu fui agressivo com ela? — eu estava indignado com toda aquela palhaçada. — e eu nunca fomos o amor da vida um do outro, mas eu jamais faria algo para machucá-la.
— Me deixe falar com ela, quero ouvir da boca dela — Dormian pediu, mas eu neguei com a cabeça mesmo sendo inútil, já que ele não me via. Dei passos pelo quarto, na tentativa de dissipar o ódio que se apossou do meu corpo. Eu queria ser agressivo era com ele, isso sim! — Anda, , me pareceu assustada…
— Claro que ficou assustada, eu cheguei de repente! — me esforcei para não berrar ao telefone. Ele não via que estava atrapalhando? Sem noção de merda. — Vá cuidar da sua vida, Dormian. Eu já não queria que você se metesse entre nós. Você descobriu, tudo bem, agora te deixar palpitar em algo que não te diz respeito já é demais!
— Se envolve , me diz respeito sim — ah, meu Deus, eu devia estar sendo pago para ouvir tanta ladainha, porque de graça estava sendo sofrido. — Sou amigo dela. Se ela estiver em perigo, eu preciso saber…
— Então vamos fazer assim, amigo da — frisei a última parte, irônico. — Amanhã, quando ela acordar, eu dou o recado que você ligou querendo se meter na vida dela…
— Eu quero falar com ela hoje, agora, .
Respirei fundo, tentando manter a paciência, se é que eu ainda tinha alguma àquela altura. Não que aquele prepotente merecesse algo do tipo vindo de mim.
— Amanhã — falei mais firme —, quando minha esposa acordar, eu aviso que você ligou. Se ela quiser falar com você, ela te retorna, caso contrário, faça o favor de esquecê-la e de deixá-la em paz.
O que me deixava mais puto da vida era que não era a primeira vez que Tom bancava o namorado ciumento de . Não era a primeira vez que eu o pedia para deixá-la em paz. Ele parecia não entender! E também tinha culpa no cartório. Por que diabos ela teve que ligar para ele naquela hora da noite?
— …
— Feliz ano-novo, Dormian. Procure alguém para foder, está precisando — desliguei o celular, deixando-o em cima da cômoda para evitar futuros incômodos. Pelo menos por aquela madrugada, já que, infelizmente, na vida real, não podíamos desligar pessoas indesejadas.
Pensei seriamente se iria mesmo passar aquele recado à . Tudo dependeria do meu humor no dia seguinte.
Voltei ao banheiro e a encontrei de volta ao vaso, com a escova de dentes molhada entre os dedos e o que restou de seu batom vermelho borrado nas bordas de seus lábios. Tentei me acalmar, visto que, aparentemente, eu estava agindo de modo agressivo sem perceber, já que Tom foi o segundo só naquela noite a notar aquilo em mim.
Parecia que eu estava ficando louco. Eu tinha sido incisivo algumas vezes com ? Sim, mas era para o bem dela, porque ficava igual criança quando bebia daquele jeito. Eu estava cuidando dela, só isso!
— Por que tinha que ligar justo para aquele imbecil?
Capítulo 27
A loira abaixou a cabeça, encolhendo os ombros. achava mesmo que bancar a bêbada chorosa iria livrá-la de levar uma bronca?
— , estou falando com você.
— É que as meninas não me atendiam! — ela levantou o rosto, revelando seus olhos azuis já sujos de maquiagem, completamente fora dos devidos lugares. Ignorei o modo como eles marejaram. Era drama, somente isso.
Anne e Tifanny já deviam estar iguais ou piores que numa hora daquelas. Minha esposa recusou alguns convites das amigas para sair, convites estes que aconteciam todo fim de semana. Algumas semanas anteriores a nossa viagem, ouvi ao telefone com uma delas, reclamando que estava se sentindo excluída. Era engraçado pensar que, por mais que tentássemos fugir da tenebrosa vida de casados, aquele casamento conseguia nos fazer agir como se realmente fôssemos marido e mulher, com uma casa para cuidar e uma filha para olhar.
— E eu queria ter alguém para falar mal de você — levei a mão ao rosto, ultrajado, ao mesmo tempo que queria rir do que escutei. — Sinto falta da Grace. Ela nunca deixava de me atender quando eu precisava dela.
Flexionei as pernas, encostando-me na parede fria do banheiro e agachando-me diante dela, quando ouvi aquele nome soar.
Diferente do Natal, decidi que não iria encarar mais aquela data com melancolia, mesmo que sentisse a falta da minha irmã todos os dias desde que ela foi embora. Mas já que tinha tocado no assunto, suspirei, pensando em como seria bom tê-la conosco naquela viagem. Vendo bem, era mesmo estranho pensar que estávamos virando o ano e não a teríamos mais. Visto que, no Réveillon passado, me lembrava de ter feito uma chamada de vídeo com ela, que estava distante, porém não se esqueceu de me ligar assim que os primeiros fogos iluminaram os céus.
— Espere um pouco, minha irmã falava mal de mim com você?
Que absurdo! Grace me adorava! Não era possível que a tenha feito se bandear para seu lado e colocado minha irmã mais nova contra mim!
— Ela sempre ficou calada, mas às vezes balançava a cabeça, concordando.
Ainda boquiaberto com a informação, observei com estranheza puxar um de seus cílios que caía de um dos olhos molhados por suas lágrimas de crocodilo. Eu nunca entenderia como as mulheres conseguiam pendurar e colar tantas coisas falsas em si e ainda agir com naturalidade em cima de saltos altos.
Balancei a cabeça, me livrando daqueles questionamentos dispensáveis. Eu tinha uma bêbada para colocar na cama e me asseguraria de que mais nada desse errado, pelo menos até tê-la finalmente dormindo e calada.
— Da próxima vez que ninguém te atender, fale comigo — não consegui segurar a risada ao notá-la ficar confusa com meu pedido. Até porque era complemente estúpido lhe pedir aquilo, visto que fala mal de mim na minha cara desde sempre. — Me xingue, mas não invente de recorrer a Tom, .
— Não inverta a história a seu favor, . O fato de eu ter ligado para ele não muda que você está errado! — ela hasteou o dedo em minha cara, fazendo-me respirar fundo. Lá íamos nós de novo. — Eu continuo magoada, e a culpa continua sendo sua!
— Eu sei! — disse, exasperado.
Aquela conversa não poderia acontecer enquanto ela estivesse alterada daquele jeito. Ficaríamos naquele looping a vida inteira, já que parecia ter dificuldade em identificar o que minha voz dizia quando eu admitia que estava errado! Porque eu já o tinha feito, mas, para , devia soar como o completo contrário!
— Olha, vamos conversar sobre isso amanhã, sim? Mas eu te peço, por favor, , não coloque Tom entre nós… — nós? Nós o quê? — Digo, não o inclua em nossos assuntos! Ele não é nosso amigo. Não confio nele nem um pouco.
— Só se jurar não falar nada para Dafne — ela cruzou os braços, fazendo-me jogar a cabeça para trás, frustrado.
Dafne era a única que conseguia tentar me ajudar a entendê-la. não sabia, mas minha “amante” estava só tentando ajudá-la. Não me parecia justo, visto que Dafne não tinha conhecimento de nossa farsa, já Tom sim! Ela não nos colocaria em risco, não chegava nem perto de ser uma ameaça.
— Tudo bem — murmurei, relutante.
— Você jura? Por ?
Porra, por já era demais! sabia o quanto aquele bebê era importante para mim. Sabia que minha droga de consciência iria pesar caso eu quebrasse aquela promessa.
— Tá bom, que seja — peguei sua mão estendida a contragosto.
Era Tom. Mesmo que fosse difícil dobrar Dafne e fugir de suas perguntas sobre meu casamento, eu teria que fazê-lo. Mesmo que ela me ajudasse e fosse uma ótima ouvinte para os meus desabafos.
— … … — olhei para a porta, esperando Caroline aparecer na soleira. — Ah, estão aí. Estávamos procurando vocês.
— Alguém exagerou na bebida e vai ficar de castigo — indiquei a loira, que sorria amarelo e encolhia os ombros diante do olhar divertido da ruiva. — Ficaremos bem. Vá aproveitar a festa por nós.
— Precisa de ajuda com ela? — Caroline perguntou, e eu neguei com a cabeça. Primeiro porque ter bêbada conversando com quem quer que fosse era um risco iminente de alguém ficar sabendo de algo. Segundo que eu já sabia lidar com quando ela ficava naquele estado. — Acho que vai precisar disso aqui — ela murmurou, após abrir o armário do banheiro e puxar de lá um pacote com lenços. Franzi o cenho. Onde eu passaria aquilo? — A maquiagem, — Caroline riu da minha expressão vazia. — Bom, vou indo. Boa noite para vocês.
— Obrigado, boa noite.
— Boa noite! — levei o indicador até a boca de , tentando fazê-la parar de ser tão escandalosa. — Coloque esse dedo aqui de novo, para você ver se eu não mordo ele — ela ralhou, emburrada, cruzando os braços.
Ri baixinho e peguei o saco de lenços. o puxou da minha mão, pegando um e passando-o nos olhos com força, fazendo-me evidenciar uma careta de dor.
— Vai se machucar! Me dê isso — tirei o lenço de sua mão, suspirando ao ver a que ponto eu tinha chegado. Estava tirando a maquiagem dela.
Eu até que levava jeito pra coisa. Segurei outro riso ao ter aquele pensamento, enquanto tinha finalmente quietinha e de olhos fechados. Ao terminar de tirar o que sobrou no outro lado, sem querer puxei seu cílio, assustando-me quando ele ameaçou sair do olho dela. Então, o soltei de repente.
— Ele é falso — levou a mão até ali, terminando de puxá-lo. — Não dói — soltou uma risadinha, colando-o na pia do banheiro. Respirei aliviado do susto que tomei, jogando o último lenço sujo no lixo e contemplando-a já de cara limpa.
— Vamos, você vai direto pra cama — puxei-a pela mão, ouvindo reclamações.
— Estou com sono!
Ignorei-a, guiando seus passos cambaleantes até a cama, onde ela se jogou, fazendo-me repreendê-la por conta de . Eu tinha dito que virava uma criança quando ficava embriagada. Retiro o que disse – ela ficava pior do que uma! Depois reclamava quando eu brigava com ela.
Peguei um de seus pés, apoiando-o em uma das minhas pernas quando me agachei de novo diante dela, a fim de desafivelar sua sandália. tentou fugir de minhas mãos, mas eu consegui imobilizá-la ali.
— Você gosta de pés, ? — ela esticou a perna, passando os dedos pelo meu membro, me arrancando um suspiro involuntário.
Aquele tom sedutor combinado com o sorriso safado… Não sabia o que acontecia com ela quando bebia, mas eu gostava daquela versão mais… aberta dela. sóbria só sabia dizer não e não.
— Não provoque, — segurei seu pé, ouvindo-a rir ao jogar a cabeça para trás.
— Não é justo. Eu vou ficar aqui fechada e você vai beber com seus amigos — ela reclamou quando a ajudei a se levantar e puxei as alças de seu vestido, revelando seus seios e barriga.
— Eu não vou mais descer. Vou ficar aqui, te vigiando — falei, e voltou a se sentar, emburrada. Assim que deslizei o restante de seu vestido, me vi curioso para checar se ela estava mesmo sem calcinha. — O que é isso?
— Eu disse que estava sem calcinha — ela arqueou as sobrancelhas, sorrindo faceira.
Minha esposa vestia uma espécie de short da cor da pele, fino como uma meia-calça. Nunca tinha visto um daqueles na vida, e ele fez cair por terra aquela crença idiota de que a cor bege era broxante. Independente de sua cor, eu continuava querendo arrancá-lo do corpo dela e terminar o que começamos mais cedo no carro.
Deixei aquela ideia para lá ao ver que, obviamente, não estava em plenas faculdades mentais e, assim como da última vez, eu não poderia fazer nada com ela. Olhei em volta, procurando desesperadamente por algo para cobri-la. Afinal de contas, eu não era de ferro, né?
— Sua camiseta, ali! — ela apontou para uma das peças deixadas de canto. Encontrei uma camiseta de banda. Eu estava pensando mais num pijama mesmo, mas já que estava por ali, a peguei e lhe estendi, vendo-a se vestir. — Eu gosto dela, é tão confortável e cheirosa.
— Eu sou cheiroso, é? — apoiei-me na cama, enterrando meu rosto na curva de seu pescoço. não respondeu, apenas riu baixinho. Aproveitei a deixa para procurar uma calcinha quando a vi se livrando do short que não parecia confortável para dormir. — Pronto, agora pra cama — não resisti e lhe desferi um tapinha na bunda quando a loira se virou para deitar ao lado da bebê.
Enquanto se ajeitava num dos travesseiros, eu tirava minhas calças e a camisa que usava. Vesti um short de tecido leve e fui me deitar ao lado dela, já que ocupava grande parte da cama para si. Observei a loira se inclinar sobre o rostinho dela, beijando-a e acariciando sua barriguinha. Me alarmei quando vi a bebê mexer os bracinhos. Não era a hora de acordar – se acordasse, daria trabalho para dormir de novo.
— Acho melhor você ficar desse lado — puxei-a sobre meu corpo, empurrando-a para o lado oposto da bebê.
— AI! Pare de me tratar como uma boneca! — ela exclamou aos sussurros, fazendo-me rir da sua cara fechada ao ser tirada de perto de . — Me deixe sair!
Neguei com a cabeça, ainda segurando-a deitada em meu peito. Sabia que se arriscasse soltá-la, poderia fechar os olhos e acabar por encontrá-la no meio da festa.
— , pelo amor de Deus, já chega de show! Fique quieta ao menos uma vez! — a repreendi, vendo um bico se formar em seus lábios.
Achei que pagaria pelos meus pecados com quando ela crescesse e me desse trabalho, porém, ao que parecia, também estava inclusa no pacote. A loira acatou minha ordem, finalmente fechando a boca, porém ainda encarando o teto de olhos bem abertos.
— — chamei-a, em meio à música abafada que vinha do andar de baixo.
Não sabia se era uma boa hora para indagar aquilo. Na verdade, aquele assunto era tão obscuro que acho que jamais encontraria uma boa hora para fazer aquele tipo de pergunta. Talvez o fato de estar bêbada a deixasse mais relaxada para responder. Eu só sabia que não conseguiria pregar os olhos sem colocar aquilo a limpo.
— Achei que era para ir dormir — ela disse, e eu revirei os olhos. Como era malcriada.
— , hoje na cozinha, você… se assustou comigo te pegando pelo braço — senti ela se remexer sobre mim. Engoli em seco. Pensei em deixar para lá, mas já tinha começado, e minha curiosidade estava tão aguçada que decidi prosseguir. — O que aconteceu ali? Se lembrou de algo, algum namorado seu já foi violento com você… — mal terminei a frase ao sentir o coração apertar.
Digo, a gente vê sobre isso em todos os lugares, e por mais que fosse minha inimiga número um, ainda era estranho pensar que ela talvez já tenha sido agredida. Me deixava com um sentimento ruim que eu não sabia explicar.
— ... — ela suspirou audivelmente e ajeitou a cabeça em meu peito, deslizando os dedos por minhas tatuagens expostas. Estiquei o pescoço para encará-la. tinha o costumeiro olhar longe. — Não quero ter pesadelos essa noite, quero ter um sonho bom — murmurou, fechando os olhos.
Assenti em compreensão. não queria falar sobre.
— Sobre o que quer sonhar essa noite? — apertei-a em meus braços quase involuntariamente, vendo um sorrisinho se formar em meus lábios.
— Deixe-me ver… Hum… Com — ainda de olhos fechados, abriu um sorriso grande, atiçando-me a imitá-la.
— I live for you, I long for you, Olivia (Eu vivo por você, eu anseio por você, Olivia) — cantarolei baixinho uma música qualquer que tinha o mesmo nome da nossa menina. — I've been idolising the light in your eyes, Olivia (Eu tenho idolatrado a luz em seus olhos, Olivia).
abriu um dos olhos para me espiar, curiosa. Acho que ela não conhecia a melodia. Na verdade, nem eu mesmo conhecia a música inteira. Cantarolei até a outra parte que eu sabia além do refrão.
— When you go and I'm alone, you live in my imagination (Quando você sai e eu fico sozinho, você vive em minha imaginação) — minha esposa já começava a respirar mais lentamente contra meu peito. — The summertime and butterflies, all belong to your creation (O verão e as borboletas, tudo pertence à sua criação) — acariciei sua bochecha, vendo-a suspirar durante sua entrada no mundo dos sonhos. — I love you, it's all I do… I lov… (Eu te amo, é tudo o que eu faço… eu te am…) — parei quando percebi o que estava fazendo. — Merda, merda, merda…
Fechei os olhos com força ao perceber que meu estômago estava se revirando, e não era de nojo ou por algo ruim. Eu estava tão confortável ali, deitado com seu corpo sobre o meu, que nem ao menos me dei conta do momento em que passei a querer tocá-la. Senti meus lábios formigarem de vontade de tocar os dela… De testa franzida, voltei a encará-la, dormindo tranquila em meus braços.
Eu não podia estar… Podia?
Ah, merda!
se remexeu sobre o colchão, e seu choro ecoou pelo silêncio do quarto. Aliviado por ter um motivo para deixar aquele quarto, saí debaixo de , deixando-a deitada confortavelmente no travesseiro, e peguei para ir até a cozinha atrás de uma mamadeira. A bebê era o menor dos meus problemas naquele momento.
Literalmente.
's point of view.
Respirei fundo, sentindo minha cabeça praticamente explodir quando fiz menção de me mover na cama. Abri os olhos e encarei a claridade que invadia o quarto pela droga da janela aberta. Pisquei algumas vezes, me acostumando com a luz, e ouvi um barulho característico seguido pela risada de . Franzi o cenho, esticando a cabeça para ver melhor a cena que acontecia na beirada da cama.
— Não acredito que ensinou ela a fazer barulho de peido com a boca — levei a mão à testa, atraindo sua atenção. deu de ombros, fazendo o barulho e incentivando a repeti-lo. E a bebê o fez, se babando toda.
Oh, céus, ele iria ensiná-la coisa pior quando crescesse mais um pouco.
— Como está a ressaca? — senti a pontinha de ironia em sua fala e preparei-me para me levantar. O ato de sentar nunca tinha sido tão difícil na minha vida. Parecia que tudo estava girando e girando. — Se lembra de algo da noite passada?
Aquela era um tipo de pergunta que me assustava. O que poderia ter acontecido para que ele estivesse rindo da minha cara daquele jeito?
— Não sei o que é pior, acordar com essa dor de cabeça ou já me deparar com você debochando de mim — tentei dar um jeito no meu cabelo, que ainda estava preso igual noite passada, porém todo desgrenhado. Enquanto o prendia num coque alto, tentava puxar em minha memória para saber o que tinha acontecido. — A última coisa que me lembro foi de dançar com as meninas… — murmurei, pensativa. — Ah, e do ódio que eu estava sentindo de você.
suspirou, já terminando de trocar a bebê, que tinha as perninhas levantadas. Quando me levantei com cuidado, vi colocando nela uma fralda limpa.
— De qualquer forma, vamos conversar mais tarde como combinamos ontem — a naturalidade com que ele falava me fez franzir o cenho. Que combinado?
Era estranho. Nós já tínhamos conversado noite passada? Se sim, o que falamos um para o outro? Meu Deus, eu precisava urgentemente parar de beber. Se todas as vezes que eu ingerisse muito álcool fosse aquele “se beber, não case” no dia seguinte, talvez fosse a minha hora de ficar só no suco ou refrigerante.
— Porque você pode não se lembrar, mas eu te pedi desculpas — segurou minha mão, impedindo-me de chegar até o banheiro. — E eu realmente sinto muito.
Encarei seus olhos verdes e logo desviei meu olhar para nossas mãos juntas, me perguntando como nós tínhamos chegado naquele nível de… civilização.
Sim, civilização. Antes, e eu apenas brigávamos, gritávamos um com o outro e seguíamos nossas vidas. Nunca houve aquela cerimônia de pedido de desculpas. Na verdade, sempre achei que nunca tinha sido alfabetizado com tal palavra em seu vocabulário. Eu sabia que tinha a ver com o fato de estarmos sendo obrigados a conviver, mas, ainda assim, me assustava ao ver a rapidez com que aquela “relação” – dentro de muitas aspas, devo acrescentar – estava evoluindo.
Parece que foi ontem quando ele me deixou na beira de uma estrada porque discutimos sobre uma banalidade enquanto acompanhávamos Grace até o parque, onde foram feitas as fotos de gestante dela.
Espere, foi ontem, quase quatro meses atrás… Como passava rápido.
— Podemos conversar quando o mundo parar de girar pra mim?
Ele soltou um risinho sem graça ao notar que ainda segurava minha mão na sua e concordou, voltando suas atenções a , que, apesar de termos esquecido, tinha completado seus três meses de vida.
Assim que tomei um banho e um analgésico, desci as escadas já me sentindo um pouco melhor. A casa estava silenciosa mais uma vez. Eu nem sabia que horas eram, nem o celular tinha me lembrado de checar. Devia ter várias mensagens das meninas bêbadas comemorando o ano-novo como fizemos ano passado. Que saudades do ano passado.
— Cadê todo mundo? — daquela vez, fui da cozinha para a área da piscina e encontrei apenas e , que, no colo do pai, aproveitava uma mamadeira cheia.
— Foram passear de barco. Suzanne queria que eu te chamasse, mas falei para ela que você é medrosa e, provavelmente, não iria querer ir.
Joguei nele uma bolinha feita de papel toalha, vendo-o desviar enquanto ria.
— Seu almoço está na mesa.
Almoço? Ok, talvez eu tenha dormido demais.
— Não sou medrosa, apenas gosto de manter meus pés bem seguros no chão.
Em terra firme, e não no ar ou sobre as águas. Sabia que era paranoia minha, porém, eu não controlava minha própria mente. Parecia que só o ato de pisar num barco ou avião já desencadearia um acidente terrível, e eu iria morrer das piores formas possíveis! Medrosa talvez não fosse só uma das coisas que poderia me chamar, louca também se encaixaria bem.
— Aham, sei — ele riu, maldoso. — Quer ir à praia depois de comer? Aproveitar o resto do dia.
Mordi meu lábio, frustrada. Eu não acreditava que tinha passado tão rápido! Nós já iríamos embora.
— Vamos, apesar de eu não estar pronta para me despedir desse paraíso — aceitei em meus braços quando me trouxe à mesa.
— Vou lá em cima preparar as coisas — ele nos deixou a sós e foi para o segundo andar.
O sol estava forte naquele horário; o céu azul límpido só deixava a paisagem da área da piscina ainda mais paradisíaca. O mar ao fundo, as ondas quebrando devagar. Minha meta de vida era voltar a estudar e juntar muito dinheiro para poder envelhecer num lugar daqueles.
Terminei minha refeição rápido – não tinha conseguido comer muito, pois ainda estava enjoada pela ressaca. desceu um tempo depois com as coisas de devidamente organizadas na bolsa dela. Eu estava fazendo minha digestão no sofá da sala quando surgiu digitando algo no celular.
— Podemos conversar agora?
Assenti, encarando o lado de fora pelo vidro. O sol já estava dando uma trégua para que pudéssemos sair com a bebê. Enquanto aquilo não acontecia, deitei no sofá, e ela ficou mais uma vez entre nós. Daquela vez, a bebê presenciaria uma reconciliação. Acho que nem ela esperava aquela surpresa de ano novo.
— Ontem eu te disse pra esquecer o que tinha ouvido de Jack, que não tinha sido minha intenção… mas você me conhece, , e durante a discussão, te falei quais eram minhas intenções quando menti pro Chace.
Daquilo eu me lembrava bem, de cada palavra dita. As coisas que o álcool devia ter apagado estavam ali, intactas em minha memória. E mesmo estando calejada de tanto presenciar a estupidez de , a rejeição era um sentimento tão doloroso que sempre seria igual, independente de onde viesse. E foi daquele jeito que me senti ontem, rejeitada.
passou a mão pelos cabelos castanhos; parecia nervoso. Sem brincadeira, parecia que era a primeira vez que ele formulava um pedido de desculpas na vida.
Ele parecia escolher bem as palavras, como se tivesse medo de falar demais… O que ele escondia? Vindo dele, devia ser algo que não piorasse sua situação, que já não era boa diante de mim.
— Na verdade, é até engraçado — falou, e eu arqueei as sobrancelhas. Ele já tinha começado mal. — Nós temos um vasto passado de brigas, um presente também, e provavelmente teremos um futuro cheio de desentendimentos...
Concordei.
Na real, acho que só pararíamos de brigar quando um de nós partisse. E eu esperava que ele fosse primeiro. Mesmo assim, acho que iria ao menos uma vez ao ano visitar seu túmulo só pra deixar uma ofensa ou chutar sua lápide… e talvez colocar algumas rosas.
— Me surpreendeu você ter ficado tão brava com algo que, se comparado às nossas outras discussões e até brigas físicas, era bobo.
E era mesmo. Porém, algo tinha mudado: não éramos mais a criança birrenta e o pré-adolescente com síndrome de valentão de filme americano. Éramos adultos e estávamos casados, mesmo que de mentira. O mínimo que eu esperava era uma consideração da parte dele.
Mas tinha razão – eu não devia ter dado aquela importância toda ao que ele dizia. Aliás, nem sei por que aquilo me atingiu tanto! Eu não significava nada para , não era ninguém além da pessoa que ele se livraria daqui a nove meses.
— E aí eu percebi que você ficou magoada.
— Magoada não, mas fiquei com raiva — hasteei o dedo para protestar. Eu tinha ficado chateada, mas ele não precisava saber daquilo.
Nem eu mesma sabia o que fazer quando me dei conta de que tinha como me desestabilizar daquela forma. Imagine se ele soubesse do poder que tinha e o usasse contra mim? Aquele era um segredo que eu guardaria a sete chaves.
— , você me disse ontem — ele continuou, e eu desmanchei minha pose. Droga! Pra quê eu fui beber, hein? — Sei que é difícil admitir mais isso. Eu também estou tendo dificuldades, tanto que não está sendo fácil estar aqui te pedindo desculpas ou te ver chorando ontem por minha culpa.
Como se transar já não tivesse sido íntimo demais, lá estávamos nós falando que nos preocupávamos um com o outro.
— Acho que já poderemos ser considerados amigos. Aliás, só amigos não — franzi a testa, já ficando tensa. Se antes eu tinha pavor de me tornar algo além de inimiga de , naquela hora, meu desespero triplicou. Afinal de contas, passamos de ofensas para sexo em questão de meses. E amigos não faziam aquilo. Bom, não que eu saiba. — Uma família.
Soltei um riso de puro nervoso.
— Ok, acho que você forçou um pouco a barra agora.
Não era a primeira vez que eu ouvia aquilo de um . E depois do pé na bunda que me deram quando descobriram da gravidez de Grace, não sabia bem se podia confiar em e me deixar levar por seu papinho sentimental de família.
— Mas nós somos uma família! Querendo ou não, você é a mãe da minha filha, mesmo que não tenha sido feita por nós. Sei que não te amo como familiares meus, na verdade, eu te acho intragável, .
Arqueei a sobrancelha ao ouvir aquela palavra incomum no meu vocabulário, mas que não parecia significar algo bom. Não era um elogio, mas não me surpreendi, porque estava vindo de .
— Não te suporto, nós dois faltamos nos matar. Acho você ignorante, mandona…
— Isso continua sendo um pedido de desculpas ou você está querendo começar outra discussão? — indaguei, genuinamente confusa, vendo-o franzir a testa e se dar conta do que estava fazendo, direcionando-me aquela enxurrada de ofensas gratuitas. Era algo tão natural que nem deve ter se dado conta.
desatou a rir, deixando-me ainda mais confusa.
— Eu não terminei meu raciocínio — ele murmurou, ainda risonho.
Suspirei em tédio, observando seus olhos cheios d’água de vontade de rir mais. Revirei os meus, soltando uma risada junto dele. Era o que nos restava fazer: rir.
— Está vendo? Eu não posso dizer que te odeio, , você até me faz rir de vez em quando. Admito que até vou com a sua cara quando isso acontece.
— Eu te faço rir quando estou ferrada, isso sim — cruzei os braços em deboche, apenas arrancando-lhe mais uma gargalhada.
— Que seja — desdenhou. — O que estou querendo dizer é que, como uma família, é normal que briguemos.
Discordei mentalmente. Na minha cabeça, aquilo nunca seria normal. Eu tinha uma concepção muito diferente de brigas de família das dele. Invejava e Grace por não terem presenciado brigas entre os pais. Na casa onde cresci, as coisas evoluíam de gritos para chutes e socos muito rapidamente.
— E nós já estamos acostumados com isso, porém, agora é diferente por conta de . Então queria te propor uma trégua, ou que ao menos, quando brigarmos, tentássemos resolver o problema.
Ainda desorientada por ouvir aquilo sair da boca de , pisquei algumas vezes, me perguntando seriamente se ainda não estava bêbada.
— Por que isso agora? — indaguei, confusa. — Digo, já está conosco há um tempinho…
— Porque ontem você passou um pouco do ponto por conta da bebida, , e quase colocou tudo a perder — engoli em seco, abaixando a cabeça. — Eu não estou querendo brigar agora, mas você sabe, não é a primeira vez que você e eu brigamos e te vejo querer jogar tudo pro alto…
Encarei-o, percebendo seus ombros largos levemente encolhidos. estava com… medo de me ofender?
Tulum estava mesmo parecendo um universo paralelo.
— Eu sei, me lembro bem da última vez — cocei a cabeça, constrangida. Pior é que ele tinha razão, e estar levando aquela lição de moral de e ainda não poder falar nada por não ter o que falar era, sem dúvidas, a coisa mais difícil que eu estava fazendo. — Desculpe por isso, é que eu… não tive a mesma criação que a sua, … Eu não fui ensinada a pedir perdão.
As coisas lá em casa simplesmente não se resolviam, nem quando meu pai acabava descontando a raiva na minha mãe, ou quando ela e eu discutíamos por seja qual for o motivo. Nós apenas continuávamos vivendo sob o mesmo teto e fingíamos que nada tinha acontecido, mesmo que muita coisa tivesse acontecido – coisas que não davam para ser ignoradas.
No dia em que finalmente explodi e decidi sair daquele teatro grotesco, meu pai se juntou a ela numa briga enorme contra mim. Foi a última gota. Não havia pedido de desculpas que amenizaria minhas mágoas adquiridas naquela noite.
— Mas eu concordo com você. Está na hora de tentarmos mudar isso.
Já tínhamos conversado sobre parar de discutir sobre as acusações de em cima de mim pelo fato de Grace ter engravidado do idiota do Miguel, e, por incrível que pudesse parecer, deu certo.
Por mais impossível que pudesse parecer aquela história de virarmos amigos, valia a pena ao menos tentar, não é mesmo?
— Tudo bem, então chegamos num acordo — ri do modo como ele tinha falado. parecia ter acabado de fechar um negócio na empresa, com direito até a um aperto de mãos. Me levantei do sofá num impulso, após vê-lo fazer o mesmo. — Você acha que cabe um… abraço agora?
Dei de ombros, incerta, não sabendo se ia para frente ou se esperava parada onde estava. estava na mesma, então os dois avançaram e caímos na risada ao levarmos um susto. Ele finalmente colocou os braços à minha volta e me puxou para perto. O mais esquisito era me juntar a daquele jeito após termos estado muito mais próximos e sem roupas. Juntar meu peito ao dele me pareceu tão natural que cheguei a fechar os olhos durante o abraço.
Quando me soltou, nos afastamos devagar. Sem perceber, acabei virando o rosto, encostando-o no dele, sentindo sua respiração bater em minha bochecha. Encarei-o nos olhos e engoli em seco, tentando me distrair da visão de seus lábios rosados que me pareceram extremamente convidativos naquele momento. Só faltou um bando de extraterrestres junto de nós para completar a bizarrice.
— V-Vamos para a praia? — cocei a garganta, tentando disfarçar a irregularidade que o nervosismo de tê-lo tão perto me trouxe.
balançou a cabeça em concordância, pegando do sofá enquanto eu subia para buscar minhas coisas.
's point of view.
Pegamos um dos carros que deixaram para nós em caso de alguma emergência, já que, pela previsão da seguradora, só iríamos pegar outro veículo para irmos até o aeroporto mais tarde. Estava na hora de me despedir daquele paraíso. Apesar de concordar com sobre não estar preparado para deixar Tulum, eu voltaria pra casa mais descansado do que nunca.
A praia estava cheia, o sol não estava mais tão forte quanto mais cedo e o dia estava perfeito para ter conosco ali. O Beach Club que nos alugou a tenda no dia anterior estava abrigando uma festa animada. Troquei olhares preocupados com , por ver que, aparentemente, todas as tendas estavam ocupadas. Resolvemos entrar e perguntar para ter certeza antes de tentarmos ir para outro lugar.
O balcão estava rodeado de pessoas com roupas de banho, conversando encostadas nele. No caminho, e eu nos desvencilhamos dos clientes nas mesas menores, que aproveitavam drinks com os amigos. Estava um clima incrível no lugar. Se fosse em outra época, poderia me imaginar com os caras numa das rodas de mulheres que tinha ali, conversando e vendo com qual delas eu iria me divertir um pouco antes de partir para outra. Se não fosse por , tinha certeza que estaria fazendo o mesmo se pudesse.
— Boa tarde, sabe me dizer se ainda conseguimos uma tenda lá fora? — indaguei ao atendente, que preparava um drink enquanto papeava com um grupo de descamisados reunidos ao lado do balcão.
— Nós pegamos a última — um dos caras disse, sorrindo amarelo. — Mas já que estão com um bebê, podemos ceder a vocês sem problemas.
Arqueei as sobrancelhas. Bebês eram vantajosos daquele jeito? Estava pensando em levar em todos os lugares para ter privilégios como aquele.
— Não vai atrapalhar? — perguntou sem graça, atraindo os olhares para si, ainda com nos braços. — Podemos ir para outro lugar...
— Não, quê isso! Nós disponibilizamos para vocês. O pessoal que estava conosco já deve ter se dispersado pela praia. Não vamos precisar dela de qualquer forma — o outro cara se prontificou a respondê-la, observando-a com um olhar de interesse. — E eu também estou disponível, caso precise de algo — ele soltou uma risadinha na direção dela.
sorriu envergonhada, deixando eu e o restante dos amigos dele alheios ao flerte explícito que estava acontecendo ali.
Eles já deviam estar me chamando de corno, chifrudo e todas as variantes diferentes de nomes que se dava para alguém casado que tem uma mulher que fica com outros. O cara que falou comigo primeiro passou o olho pela minha mão – provavelmente checando se eu usava uma aliança – e deu um tapinha de leve no ombro do amigo quando constatou que sim, eu estava com uma.
Tá que eu e não éramos realmente casados, mas, porra, eu não gostava nem um pouco da possibilidade de ser corno, mesmo que não fosse verdade.
— Tá bom, caras! Deixem o casal aproveitar as férias em paz — um deles, já bem alterado, se intrometeu no assunto, apoiando-se no ombro deles. Concordei com ele mentalmente.
Tínhamos um problema, resolvemos e pronto, já estava bom de conversas.
— Ah, nós não somos um casal — exclamou, fazendo-me comprimir os lábios ao reparar na expressão de alegria que o loiro com shape de surfista esboçou ao saber do estado civil de .
Minha frequência cardíaca aumentou estranhamente. De repente, me deu uma vontade súbita de ir pra fora tomar um ar fresco.
— Obrigado, caras — cortei a empolgação, já dando as costas para eles e guiando pela cintura para longe, antes mesmo de ouvi-los responder algo.
Aquele lugar parecia me sufocar. Cheguei a começar a suar.
— Espera, não vamos pedir nada? — ela se virou de cenho franzido, fazendo-me lembrar daquele detalhe.
— Vá indo na frente e pegue a tenda, vou fazer os pedidos — falei. A loira deu de ombros e foi sozinha para fora, fazendo-me soltar o ar que nem mesmo percebi que tinha prendido em meus pulmões. — Vamos querer duas água de coco — por conta da ressaca, talvez fosse bom para .
Enquanto aguardava no balcão, senti alguém se aproximando ao meu lado. Olhei de canto de olho, nem um pouco surpreso ao ver o loiro de olhos castanhos parado ali.
— Algum problema com a tenda?
— Não — ele riu sem graça, apoiando-se pelo cotovelo antes de fechar a cara para os amigos, que, detrás de mim, soltavam piadinhas idiotas. Eles pareciam ter saído do jardim de infância. De certo, eram universitários. Deviam ter a mesma idade de , porém, ela me parecia ser anos mais madura. — Eu queria saber sobre a moça que estava te acompanhando. Ela é sua irmã ou…
— Amiga, é uma amiga — continuei a encará-lo, já sabendo o que viria a seguir.
— Qual o nome dela? Ela é solteira?
Segurei minha vontade de revirar os olhos. Por que não perguntava a ela? Meu Deus, só me fazia passar nervoso com os caras que se interessavam por ela.
— Se chama . Sim, ela está solteira, livre e desimpedida — murmurei, tentando não soar muito impaciente. Para o meu alívio, o atendente me trouxe logo o pedido, dando-me um pretexto para sair logo de lá de dentro.
— Valeu, cara — ele projetou a mão num soquinho estúpido. Encarei seu dorso com as mãos ocupadas com os cocos que levava. Ele sorriu sem graça e me deu dois tapinhas irritantes no ombro, antes de finalmente sair da minha frente e me deixar seguir o meu caminho.
Encontrei já passando protetor na própria perna enquanto apenas babava a própria mão, deitada de barriga para cima, já vestida apenas com sua fralda e uma calcinha de babados. Estendi-lhe o seu coco, me jogando na espreguiçadeira ao lado da bebê e finalmente relaxando ao reparar na belíssima vista através dos meus óculos de sol. Reparei nos biquínis que via à minha frente quando as mulheres passavam e, às vezes, até dava algumas olhadas para o corpo deitado ao meu lado.
estava deitada de barriga para baixo enquanto parecia tirar uma soneca. Não tive como não reparar naquela bunda, que, independente de ter celulites ou não, era linda demais para ser ignorada. Ainda mais estando tão perto.
Desviei meu olhar quando, um tempo depois, a loira se virou de barriga para cima. Avistei no mar, bem ao fundo, uma lancha branca se aproximando. Ajeitei em meu colo, apontando como se ela entendesse algo quando lhe disse que era o barco onde os amigos do papai estavam. Às vezes me sentia idiota por conversar tanto com um bebê de três meses, mas ela parecia entender tudo. E eu achava adorável a forma como seus olhinhos atentos se focavam em mim enquanto batíamos um papo.
— São eles mesmo? — estreitava os olhos, esticando-se para tentar ver melhor.
— Não sei — ri, vendo-a revirar os olhos. — Mas pelo horário que saíram, só pode ser eles. O mergulho não deve durar tanto tempo assim.
— Coragem. Eu não iria nem que me pagassem — neguei com a cabeça, desaprovando seu jeito medroso. não via o quanto perdia sendo daquele jeito? A vida era muito melhor quando a gente se permitia arriscar. — Morro de medo de mar, dos animais… — ela encolheu os ombros involuntariamente, fazendo-me jogar a cabeça para trás e gargalhar.
— Não seja boba, . É uma experiência incrível. Você devia tentar um dia — seus olhos azuis me encararam de um jeito cínico. — Pare de ter medo de tudo. Você nunca vai saber o quanto as coisas são boas se não tentar experimentá-las.
— Não, estou bem assim, vivendo sem tentar me matar — ela abraçou as próprias pernas. — Grace me contava que você gosta dessas coisas de se pendurar pra fora do barco e ser puxado em cima de uma prancha. Você é louco.
— Eu? — me fiz de ofendido enquanto ria. — Você quem gosta de andar de moto e eu quem sou o maluco? , tem noção de quantos acidentes acontecem com motociclistas por dia em um ano?
Eu ainda queria vê-la pilotando uma. devia parecer uma lesma. Não devia nem pegar velocidade por medo.
— Na moto sou eu quem está controlando. Eu sei os limites e posso parar quando tiver vontade. Já nessas loucuras que você se mete, está à mercê dos outros ou da sorte.
Desaprovei sua opinião, percebendo que o buraco ali era bem mais embaixo. não tinha medo só de fazer coisas radicais; ela temia tudo o que não podia controlar, e aquilo incluía até mesmo o que sentia. Ela achava mesmo que eu tinha caído naquele papo de que não queria transar comigo porque ia estragar nossos planos com ? tinha medo era de se deixar levar e começar a gostar, isso sim. Ela sabia que era algo que não se podia controlar, por isso não quis arriscar.
Devia ser muito fácil viver daquele jeito, sempre com os pés no chão e na zona de conforto. Mas eu não saberia imitá-la, não curtia coisas monótonas e paradas demais. Sentia pena de quem escolhia aquela vida. não sabia o que a esperava no momento em que quisesse parar de se segurar ou temer isso e aquilo. Muitas vezes, o que tememos nunca vem. Pelo contrário – às vezes, temos surpresas maravilhosas apenas no ato de tentar algo novo.
Queria vê-la do jeito que vi durante aquela viagem mais vezes. Algumas coisas deram errado? Sim, mas, pelo menos, se permitiu viver coisas novas. Ao que parecia, não fazia aquilo com muita frequência. Sempre parecia presa a um passado.
— Você é uma medrosa, isso sim — impliquei com ela, recebendo um tapa em resposta. — Ai, , agressiva — parei de gargalhar quando vi uma silhueta vinda do Beach Club se aproximando de nós. — Parece que alguém quer falar com você, .
— Oi, desculpa atrapalhar.
Meu sorriso foi morrendo aos poucos quando o vi se sentar no espaço vago da espreguiçadeira dela. , ainda sem reação, apenas se aprumou onde estava, puxando a canga para cobrir suas pernas e bunda. — Será que eu poderia falar com você a sós um momento?
“Falar”… Quase soltei um riso sarcástico. Que cara ruim de papo era aquele. Nem chegar numa mulher direito ele sabia.
me encarou, em pânico. Dei de ombros ao notar o sorrisinho dela quando voltou seus olhos para ele, que sorriu em expectativa. A loira assentiu com a cabeça, ainda nervosa demais para respondê-lo. Que tédio, pareciam dois adolescentes inexperientes. Era patético, porque eu sabia que não era daquele jeito.
A loira se levantou, amarrando a saída de praia na cintura, e o cara sorrindo abobado foi na frente, puxando-a pela mão. Porém, ela o fez parar para me encarar ainda em silêncio. Entendi o que quis dizer e maneei a cabeça, exasperado.
— Não vá muito longe — murmurei, vendo-a assentir prontamente —, o pessoal já está por perto — completei, disfarçando minha preocupação para que não ficasse estranho.
— Vou ficar onde possa nos ver.
Não tive tempo de protestar; já ia pela areia com o idiota lhe puxando para um canto do lado de fora do clube.
Pelo canto de olho, observei quando ambos pararam de andar e ele a encostou numa das paredes debaixo de uma varanda que tinha ali. Vi quando ele lhe disse algo que a fez rir, e suspirei derrotado. Sim, eu tinha concordado em ficar de olho, mas só conseguia me sentir estúpido ao perceber que tinha virado babá em dobro. Já não bastava o bebê em meus braços, ainda tinha que vigiar se engolindo com outro cara.
Apesar do meu total asco, sabia que tinha que fazê-lo. Não era difícil ouvir histórias de turistas que desapareciam e acabavam encontradas mortas em vários lugares paradisíacos como aquele. Se pareciam com o paraíso, porém tinha muita gente mal-intencionada pronta para se aproveitar da sensação de segurança que as construções luxuosas que cercavam o local passavam aos estrangeiros.
— Jamais beije alguém daquele jeito, . É feio, muito feio — coloquei a mão em seu rostinho, virando-a para o lado oposto da cena que a mãe dela protagonizava.
O cara praticamente esmagava a coitada enquanto enfiava a língua na boca dela. Era impossível achar aquele desespero todo normal. Suas mãos grandes desciam pelo corpo de com força – ele chegava a apertar sua bunda por baixo do pano que ela tinha levado para se cobrir. Não consegui desfazer minha cara de nojo, muito menos deixei de reparar no modo como tinha ambas as mãos espalmadas no peitoral dele; vez ou outra flexionando o cotovelo como se o empurrasse um pouco para trás. Ela devia estar era sufocada com o modo como ele avançava sobre seu corpo.
Olhei para o lado, para dar privacidade ao “casal”, e me deparei com a lancha já bem próxima da praia, me lembrando daquele detalhe bem oportuno no momento. Olhei para a bebê e me perguntei se deveria me levantar e ir até os dois para acabar com a festa deles. Porém, decidi não me esforçar tanto. Apenas assoviei com os dedos, chamando-lhes a atenção. Quando me encarou de longe, indiquei o mar com o queixo, vendo-a desgrudar do surfista e dar uma desculpa, dando-lhe um beijo rápido antes de voltar ao seu lugar.
Continuei vendo o barco chegar, mesmo quando a loira se sentou ao meu lado, levemente descabelada e com os lábios ainda avermelhados. Ajeitei no meu colo, colocando a chupeta em sua boca ao vê-la bocejar e piscar devagar. Já , visivelmente sem graça, passou a mexer no celular.
— Eu liguei para Tom ontem à noite?
Encarei-a, fazendo-me de desentendido.
Até tinha me lembrado de contar a ela sobre a ligação quando acordei mais cedo, porém ele tinha me irritado tanto noite passada que decidi não falar nada. Até porque eles iam se ver logo, e aí o que conversariam não era da minha conta, e eu nem queria saber. Tom já iria fazer minha caveira de qualquer forma.
— Por quê? Ele te disse algo?
Ela voltou a checar o telefone.
— “Oi, , estou te enviando essa mensagem porque não aguento mais esperar. Queria saber se está tudo bem” — encolhi meus ombros quando seus olhos se voltaram a mim, em dúvida. — “Desculpa te incomodar. Esperei sua ligação e, como não me retornou, decidi checar” — ela encarou o horizonte, provavelmente tentando se lembrar de algo. — O que aconteceu ontem à noite? Por que eu liguei para ele?
Suspirei, derrotado. Dormian não perdia a oportunidade de ser inconveniente, não é mesmo?
— Depois que brigamos ontem, você ficou com raiva e ligou para as meninas para falar mal de mim. Mas como nenhuma delas te atendeu, você resolveu ligar para a única pessoa além delas que sabe da nossa mentira — tentei disfarçar o tédio em minha voz. — Eu te peguei no quarto com uma garrafa de bebida e a tirei da sua mão junto do celular. Ele ouviu tudo e me acusou de ser agressivo com você.
A testa dela franziu em puro estranhamento.
De alguma forma, fiquei aliviado em vê-la achando aquilo um absurdo. Queria dizer que não achava realmente que eu a machucaria. Não sabia se deveria lhe contar sobre sua reação quando a peguei pelos pulsos. Talvez não quisesse falar sobre, até porque, mesmo embriagada, aquele assunto pareceu perturbá-la.
Falando em sua reação, me lembrei do nosso trato e percebi que não se lembrava mesmo da noite passada. De repente, me vi num impasse: lhe contava do trato e não incluiria mais Tom nos nossos assuntos como deveria ser, ou não contava e poderia continuar com a ajuda de Dafne para entender ?
O barco finalmente chegou, e meus amigos nos avistaram de longe enquanto desembarcavam animados. Acenei para eles, suspirando.
— , ontem combinamos uma coisa — não queria, porém pensei melhor, e seria ridículo da minha parte esconder aquilo dela. Da última vez que tentei manipular situações em relação a , acabamos na briga feia da noite de ontem. Nunca fui de tirar vantagem das coisas daquela maneira e, depois de tudo o que aconteceu, decidi que era a hora de parar e ser sincero. — Tom foi um filho da puta ontem, insinuando coisas. Por isso decidimos que você não vai incluí-lo em nada que envolva nós. Em troca, farei o mesmo com Dafne — a encarei, incerto.
— E você decidiu isso enquanto eu estava bêbada?
— Eu não fazia ideia de que você não se lembraria!
— , sua boba, você perdeu o mergulho mais maravilhoso do mundo! — Suzanne exclamou enquanto vinha até nós, sendo seguida pelos demais.
A loira suspirou antes de sorrir para a morena que se aproximava, e se virou para mim, séria.
— É, talvez seja melhor assim.
se virou para Su, que lhe abraçou e perguntou se ela estava melhor, comentando algo sobre a festa de ontem.
Eu não sabia se estava certa do que disse. A única coisa que pairava em minha cabeça era como eu iria descobrir seu segredo para tentar ajudá-la sozinho, sem a ajuda da Dafne.
Ficamos um tempo ali, na praia. Deixei já adormecida no colo de e dei um mergulho rápido antes de irmos para casa, quando já estava entardecendo. Iríamos lanchar e começar a arrumar nossas coisas para a viagem à noite. No carro, foi calada no banco de trás, e nem ao menos o rádio eu liguei. Estranhei o silêncio e espiei pelo retrovisor, me deparando com seu olhar no espelho pequeno.
— Então quer dizer que você tem um tipo preferido — falei em tom de implicância, coçando o nariz enquanto olhava para a rua.
— O quê? — ela franziu o nariz.
— Você sabe, , um tipo de cara — batuquei o volante, parando no trânsito que se formou próximo à saída da praia. — Gosta de loiro, alto... — arqueei a sobrancelha, sorrindo cinicamente.
— Eu não tenho um tipo — ela alegou. Eu ri, discordando. — Você quer saber mais do que eu agora? — cruzou os braços.
— Você nem percebe, mas tem. Primeiro Tom, Chace e, agora, o cara da praia — enumerei os três loiros, vendo-a revirar os olhos.
— Tá bom, tá bom, . Agora me diga você, qual é o seu tipo?
A pista ficou livre e eu segui em frente. O caminho até a casa que estávamos hospedados não era longe. Agradeci por aquilo, afinal, logo iria dirigir um trajeto grande até o aeroporto.
— Eu não tenho um — respondi.
arqueou as sobrancelhas e negou com a cabeça, rindo sarcástica.
— É óbvio que tem! Todas as suas namoradas que conheci na época do colégio eram iguais! Loiras, altas e com corpos perfeitos.
Nem sempre eram loiras. Eu me interessava por outros tipos também – a própria Dafne era um exemplo. Discordei, olhando para o trânsito que parou novamente. Era fim de tarde; talvez demorasse um pouco mais para chegar por conta de tantos carros indo embora no mesmo horário.
— Deve ser por isso que seus amigos não estranharam quando te viram noivo de mim. Eu sou exatamente seu tipo! — ela exclamou, como se tivesse descoberto a América novamente. Encarei-a pelo retrovisor, e sua animação em caçoar de mim se esvaiu um pouco. Suas bochechas ganharam um rubor quase instantâneo. — Quer dizer, devem ter estranhado um pouco quando viram que eu tenho celulites, e não um corpo de modelo de lingerie…
— Qual é a sua com essa coisa de celulite, ?
Não entrava na minha cabeça que algo tão bobo como aqueles risquinhos na pele a deixassem tão insegura, sendo que ela, antes de ter que tirar a roupa na frente dos meus amigos, nunca tinha demonstrado ter aquela questão com o próprio corpo.
abriu a boca, mas parou ao se dar conta do que ia dizer.
— O quê? — a incentivei, vendo-a me olhar ainda incerta.
— Se você rir, eu te mato — não segurei a risada. Fazia tempo que não me ameaçava de morte. Antigamente, costumava acontecer todos os dias. — Eu tive um namorado na faculdade… Estávamos no quarto dele uma vez. Ele me viu vestindo a roupa depois do banho e… — ela suspirou, colocando os cabelos atrás da orelha antes de terminar de contar. — … Ele me disse que eu até devia enganar os homens bem, porque, enquanto estava vestida, ninguém imaginava que eu tinha todas aquelas celulites.
Ao contrário do que pensei quando me ameaçou, quando ela terminou eu não dei risada. Pisquei algumas vezes, tentando assimilar o que ouvi, confuso sobre por quê um cara falaria aquilo para a própria namorada. Aliás, pra quê manter um relacionamento com alguém que não te agradava daquela forma?
— E o que você respondeu? — eu já não procurava olhar em seu rosto pelo retrovisor. O trânsito já tinha cessado, e seguíamos apenas pelo caminho que dava para a entrada da casa que alugamos.
— Nada… Eu meio que fiquei sem reação — sua voz foi morrendo aos poucos. Me esforcei para não virar para encará-la e engoli em seco, ainda focado no caminho. — Dei risada, não me lembro. Eu não tinha entendido direito na hora que ele me disse isso, então apenas ri junto.
— Por que não xingou ele? — adentrei o quintal da casa, ouvindo rir fraco. — É sério, se fosse comigo você xingaria! Mandaria eu ir me fuder. Devia ter feito isso com ele!
— Eu estava cega e surda. Você está certo em não sair por aí se apaixonando, — estacionei o carro e virei o pescoço, pronto para rebater aquela crítica sobre eu ser galinha. — Não nos leva a lugar algum — ela sorriu forçadamente em minha direção antes de desafivelar o cinto da cadeirinha da bebê para deixar o carro.
Nossas últimas horas na casa foram bem descontraídas. Ficamos juntos conversando sobre como tinham sido nossos dias ali e fofocando sobre os acontecimentos da festa. Tinha rolado algo entre Jacob e Caroline, finalmente. Porém, eles não estavam sozinhos no quarto quando aconteceu o que deixaram subentendido que aconteceu. Parece que Nick e uma das meninas da praia participaram também.
Eu sentia vontade de socar aqueles dois. Justo quando eu não estava disponível, decidiram fazer uma festinha particular.
Esperamos o famoso bolo de floresta negra de Suzanne ficar pronto. Quando esfriou, acendemos um isqueiro e cantamos parabéns para pelos seus recém-completos três meses de vida. Logo cada um foi para seu quarto a fim de ajeitar tudo para a viagem de volta.
Já escurecia quando a galera se dispersou ainda no quintal, e combinamos o trajeto que faríamos até ao aeroporto para irmos todos juntos. Os outros caras seguiriam Jack, assim como fizeram na ida; já eu e iríamos por conta própria, já que tínhamos nos virado bem quando chegamos. Fui calado o caminho todo. dormiu o trajeto todo, e eu fiquei sozinho com o rádio ligado e meus pensamentos enquanto me mantinha concentrado ao volante.
Embarcamos um tempo depois de devolvermos os veículos. e eu ficamos algumas poltronas atrás dos demais, já que as passagens tinham sido compradas mais tarde. Mesmo assim, se se esticasse um pouco, poderia ver Jack e Suzanne à frente, sentados próximo do restante do pessoal. estava agitada, porém a mãe se prontificou a cuidar dela para que eu pudesse dormir – e foi o que fiz pelas próximas quatro horas e meia seguintes. Acordei com seu choro e tentei acalmá-la ao ver que estava cansada.
Na conexão em Dallas, aproveitamos para comer alguma coisa rápida. O pessoal pegou a bebê para distraí-la, brincando de aviãozinho com ela pelo aeroporto. e eu apenas observávamos, advertindo vez ou outra para que não a derrubassem. , por outro lado, parecia ser o contrário da mãe e adorar voar.
— Não tem jeito, não. Você vai ter que dar filho para Jack logo — encaramos Caroline, e eu desatei a rir da cara de pânico que Su fez pelo comentário da amiga.
Apesar de vê-lo amar brincar com , eu sabia que aquilo não significava querer ter um filho. Eu mesmo, se Grace ainda estivesse viva, seria o tio mais babão da face da Terra. Brincaria com a bebê e compraria o que quer que fosse para ela, mas nem passava pela minha cabeça a ideia de ter um filho.
— Deus me livre! — gargalhou, me olhando de canto de olho. Mal sabia ela que nós dois tínhamos passado todo aquele perrengue apenas para evitar uma gravidez. — Nós ainda estamos começando. Calma, vocês estão muito apressados. Por enquanto, me contento em ser mãe de Lorenzo e madrinha de , nem que seja apenas de consideração.
— Acho quase impossível entrarmos em consenso sobre ser apadrinhada. Seria uma briga grande.
Concordei com , passando o braço por cima de sua cabeça e afundando-me na cadeira da padaria onde estávamos.
Logo nosso segundo voo foi anunciado. Sentamos nos mesmos lugares e passamos um tempo com . tirou uma soneca, e, como a bebê estava agitada, liguei o monitor da poltrona e coloquei um desenho animado, aproveitando que a loira não estava vendo. Já imaginava o show que daria se me pegasse deixando ela assistir, já que diziam que era prejudicial e isso e aquilo.
Eu já iria estragá-la se fosse tio mesmo, agora era filha. Mas eu continuaria com meu plano de mimá-la a todo custo.
despertou um tempo depois, quando eu já tinha desligado o monitor e a feito dormir. Suzanne pediu a bebê para ficarem com ela pelo restante da viagem, mas não queria dar, porque não queria incomodar ninguém. Eu era indiferente. Afinal, estávamos conseguindo nos virar bem apesar de sermos pais de primeira viagem.
— Precisam de alguma coisa? — a comissária gostosa viu sinalizando feito doida para Suzanne no corredor à frente e, provavelmente, pensou que estava sendo solicitada.
— Sim. Você poderia levar a bebê até aquela moça que está ali na frente? — me intrometi, lhe estendendo e ignorando os resmungos de . — Se eles querem pegá-la, aproveite e descanse, oras!
A loira ao meu lado apenas negou com a cabeça, reprovando.
— Entregue — a morena voltou, sorrindo abertamente para mim. Soltei uma risadinha quando a vi nos dar as costas rebolando em seu uniforme sexy.
— , por Deus, ela está trabalhando!
— Ué, eu não fiz nada de mais! — arfei, ofendido. — Ela quem começou sorrindo pra mim daquele jeito!
Não consegui segurar o riso ao ver revirando os olhos teatralmente.
— Vocês, homens, só pensam em sexo.
— Vai me dizer que nunca pensou em transar num avião?
me encarou como se eu fosse louco.
— , eu tenho medo de aviões. Não me imagino fazendo nada dentro de um — ela falou pausadamente, como se explicasse algo a uma criança.
— Melhor ainda! — afirmei, e riu desacreditada. — Além da adrenalina que deve ser correr o risco de ser pego, ainda teria a sensação de estar fazendo algo arriscado — a loira desaprovou minha fala, repetindo o que sempre falava quando eu tentava lhe mostrar que algo que ela considerava ser errado, na verdade, era uma delícia: me chamou de louco. — Vai me dizer que você não tem nenhum fetiche em lugares?
— Não, , eu não tenho.
Revirei os olhos. Como podia ser tão monótona?
— Pois eu tenho, em aviões — dei de ombros, atraindo seu olhar curioso.
— Você já…
— Não, quem me dera — passei meus olhos sobre e logo tratei de tentar afastar aquela ideia da mente. Antes mesmo de começar, meu membro já deu sinal de vida com apenas a menção de consumar aquele desejo com . Ah, seria tão incrível… Fecharíamos nosso trato com chave de ouro. — Se bem que não seria uma má ideia… Alguém me prometeu algo e até agora não cumpriu.
— Nem vem, , o combinado era só até o ano-novo — ela hasteou o dedo em minha direção, fazendo a carinha de irritada que me fazia ficar duro só de olhá-la.
Suas bochechas estavam mais vermelhas, indicando que, nem que fosse por um milissegundo, algo impróprio tinha se passado por sua cabeça. Era só instigá-la a pensar de novo e de novo, tentar trazer à tona as memórias fresquinhas de nossos corpos nus em sua cabeça. tinha aquele orgulho insuportável que a impedia de dizer o que realmente queria, e eu vi em seus olhos o quanto ela estava querendo aquilo.
— Ah, vamos lá, . Eu ainda estou com as camisinhas que compramos aqui na minha carteira, e nem chegamos a usar! — insisti, vendo-a negar com a cabeça, relutante, porém já com a respiração irregular. — Além do mais, todo mundo sabe que o ano só começa de verdade na segunda-feira.
Seus olhos azuis se focaram em meu rosto ao ouvir aquilo. Vi ela mexer a boca sem ter o que falar para protestar, afinal de contas, eu meio que estava certo.
Beijei sua bochecha antes de migrar para o canto de sua boca. fechou os olhos e respirou fundo.
— … — aquele tom ameaçador nunca tinha saído tão trêmulo de seus lábios. Ri, antes de encostar de leve minha boca na dela.
— Só estou te propondo que, talvez, possamos prolongar um pouco nosso combinado. Olhe só, faltam só quarenta minutos para dar meia-noite e ser oficialmente segunda-feira — mostrei-lhe o relógio que ela tinha me dado em meu pulso, esperando que tomasse uma decisão logo. — E então, , o que vai ser?
respirou fundo, apenas me deixando mais ansioso.
— Vai na frente — ela disse, e eu quase fiz uma comemoração exagerada. — Se eu não chegar em cinco minutos, é porque eu desisti.
— Você não vai — tomei sua boca, puxando-a pela nuca antes de deixar minha poltrona e rumar para o banheiro.
Notei seu corpo se tensionar na poltrona e, quando olhei para trás, vi seus dedos apertarem a lateral do assento. Era engraçadinho de se ver o quanto tinha medo de fazer coisas erradas. Pelo visto, não era somente quem eu estragaria; precisava correr riscos para saber qual era o real lado bom da vida.
Adentrei o banheiro grande e me encostei numa das paredes, ansioso, realmente pensando se havia mesmo a possibilidade de dar para trás justo quando eu já estava louco, com pensamentos a mil sobre nós dois nos pegando naquele espaço.
Ouvi batidas na porta e a abri prontamente, já sentindo meu coração batendo forte dentro do peito. Me deparei com do lado de fora, quase pálida de nervosismo. Puxei-a para dentro rapidamente, prendendo-a contra a porta antes de me esticar para trancá-la.
— T-Tem certeza que não vão nos escutar aqui dentro? — beijei seu pescoço após assentir prontamente. Na verdade, eu não sabia se ouviriam ou não, nem ao menos me importava com aquele detalhe. — , é sério — ela se desvencilhou de mim, dando passos até o centro do banheiro e olhando cada detalhe, boquiaberta.
Sim, o banheiro da primeira classe era magnífico, mas nem se comparava com a visão de seu corpo nu que eu estava doido para ter de novo.
— O que será que acontece se eles nos pegam transando nesse banheiro? — ela me encarou pelo espelho à sua frente.
Agarrei-a por trás, sentindo sua bunda em meu membro pulsante. Apertei seus quadris, sentindo-a arfar com as costas coladas em meu peito. Deslizei ambas as mãos, chegando até seus seios. Olhei nosso reflexo no espelho – nos encaixávamos tão bem que chegava a dar ódio. Era extremamente irônico pensar que era a dona do corpo que me dava mais prazer ultimamente.
Eu lá ia saber o que aconteceria? me fez uma pergunta difícil numa hora daquelas. Eu nem ao menos conseguia me concentrar no que estávamos fazendo naquele exato momento. Minha cabeça sempre ia além, imaginando nossos próximos passos. Ainda estávamos vestidos, mas eu já podia me imaginar fodendo com em todos os cantos possíveis daquele banheiro, beijando cada centímetro de sua pele e tirando toda a tensão de seus ombros.
Sim, eu estava indo com muita sede ao pote. Geralmente, não agia daquela forma em situações como aquelas. Sempre fui mais racional e agi com calma, observando e decidindo o caminho mais seguro para ir. Mas, com , eu não corria o risco de errar o tal caminho. Afinal, tudo entre nós era um desastre de qualquer forma mesmo. E se tratando de sexo, éramos um desastre delicioso.
— Não é como se eles pudessem nos expulsar do voo — soltei uma risadinha ao pé de seu ouvido, beijando a região. sorriu e levou a mão até minha nuca, acariciando o local. — De qualquer forma, eles terão que esperar do lado de fora, porque eu só saio daqui depois de acabar com toda a minha vontade de você — apertei sua bunda, vendo-a sorrir safada antes de morder o lábio e se virar em minha direção.
— Então vamos acabar logo com isso — ela beijou minha boca, envolvendo-me com seus braços.
Minhas mãos passearam por suas costas, por baixo da jaqueta jeans que ela usava. Afastei-a de mim para ajudá-la a se despir da peça. Logo me deu as costas, foi em direção à pia do banheiro e colocou a peça estendida sobre o mármore. Eu a segui quase cegamente, pegando-a pelos quadris e içando seu corpo até que estivesse sentada ali. Voltei a beijar sua boca, puxando-a para mais perto e segurando uma de suas pernas que já envolvia minha cintura. Apoiei a mão na pia e inclinei-me sobre ela, enquanto nossas línguas se entrelaçavam como se não houvesse amanhã. Nossas respirações ofegantes contrastavam perfeitamente com os corações batendo forte. O oxigênio se tornava um item cada vez mais dispensável para nós, já que não conseguíamos mais desgrudar nossas bocas.
Minhas mãos foram inconscientemente para seus seios, ainda cobertos pela blusa branca fina que usava. Percebi, com muito pesar, que não poderíamos nos despir por completo. O risco de alguém nos pegar era real, e, se acontecesse, ao menos com um pouco de roupa teríamos que estar para não ficar tão vergonhoso. Levantei o tecido branco, revelando seus seios empinados, abrigados num sutiã claro, que, para a minha sorte, tinha um fecho na frente.
Meus dedos trêmulos não me possibilitaram abri-lo com facilidade. deixou meus lábios e substituiu minhas mãos, finalmente abrindo o sutiã e me deixando ter a visão que eu tanto queria ter. Umedeci o indicador com o polegar em minha língua antes de levá-los até um de seus mamilos rosados e começar a brincar com seu bico, arrancando-lhe murmúrios de pura satisfação. Antes de me inclinar para enfim abocanhar seu seio, olhei para seu rosto e a vi se deleitar com a ideia de ter minha boca deslizando por sua pele. Meu membro latejou ainda dentro da calça, fazendo-me querer pular as preliminares e estar logo dentro dela.
também estava com aquela urgência aparente, empurrando-me pelos ombros e levando a mão até o cós da minha calça após passar os dedos por toda a extensão do meu pau superficialmente. Gemi contra seu rosto, abrindo as calças. Antes de baixá-las, tirei minha carteira do bolso, abrindo-a e pegando o preservativo.
Rasguei a embalagem com os dentes, já tendo invadindo minha cueca e tirando meu membro para fora, masturbando-o devagar enquanto me beijava o pescoço. Coloquei o preservativo e subi sua saia, que, àquele ponto, já estava levantada quase na altura de sua cintura. Afastei sua calcinha para o lado, já sentindo-a molhada e pronta para me receber. Dedilhei sua intimidade, arrancando-me um sorrisinho antes de puxar ainda mais seu corpo em direção ao meu.
— Sem torturas — ela me repreendeu, fazendo-me rir do seu desespero.
— Pra quem não queria vir, você bem que está apressadinha — pincelei sua entrada, apenas pelo prazer de vê-la irritada. Arfei junto dela, com a sensação extasiante que senti com o ato.
— …
Sorri, pegando-a pela nuca e beijando seus lábios à medida em que avançava para dentro, preenchendo-a aos poucos. mordeu meu lábio e deslizou a mão pelo meu braço, apertando meu bíceps quando saí e entrei novamente, daquela vez, indo mais fundo.
— Que delícia… — ela cravou as unhas curtas em minha pele, arrepiando-me dos pés à cabeça.
Quase revirei os olhos ao ouvi-la falar daquele modo. Sua voz embargada denunciava o quanto estava se segurando para não fazer barulho, para não demonstrar o quão gostoso estava. Meu olhar não saía de seu rosto. Eu estava completamente extasiado por toda a situação. Realizar aquele fetiche não poderia ser com outra pessoa além dela; eu estava unindo as duas coisas que mais me excitavam em uma só. Queria poder gravar o momento para poder revisitar e assisti-lo quantas vezes quisesse.
Continuei estocando devagar, explorando seu corpo com as mãos e vendo como seus pelos estavam eriçados. Dei beijos molhados em seu pescoço, adorando o modo como me prendia entre as pernas e tinha os braços envoltos dos meus ombros. A sensação de ser preso daquele jeito era… eu não encontrava uma palavra que pudesse traduzir o que eu estava sentindo naquele momento, só sabia que queria senti-la cada vez mais e mais. Era a coisa mais louca do universo me dar conta daquilo, se tratando de .
Os únicos sons que se podia ouvir ali eram os das nossas respirações aceleradas e o barulho característico de nossos corpos se chocando. Ainda de olhos cravados em seu rosto, eu observava fechar os dela, imersa na atmosfera que tínhamos criado à nossa volta, nem um pouco preocupada em ser pega no flagra ou algo do tipo.
— Mais rápido — ela pediu, ofegando e colando a testa na minha.
Puxei-a ainda mais para perto, praticamente deitando-a sobre a pia e apoiando uma das mãos no espelho atrás de seus cabelos desgrenhados. Passei a meter com força, entrando, junto de , num outro patamar de prazer, praticamente descontrolado e inconsciente. Eu apertava seu quadril, descontando a tensão de não poder fazer barulho.
chegou ao ápice, apertando meu membro dentro de si e me levando à loucura. Enquanto tinha seus espasmos do orgasmo duradouro, ela escorregou da pia, fazendo-me, num movimento rápido, pegá-la no colo e encostá-la em uma das paredes que havia ali.
Enquanto ainda soluçava e soltava murmúrios desconexos de olhos fechados, eu a estocava ainda em busca do meu ápice. Minha esposa me ajudou, subindo e descendo em meu membro à medida que me beijava o pescoço. Gozei demoradamente, tomando seus lábios de um jeito tão brusco que, com certeza, os deixaria vermelhos e inchados.
Voltei a colocá-la sobre a pia, tentando normalizar a respiração. levou as mãos aos cabelos loiros, prendendo-os num coque a fim de refrescar o calor que estava sentindo. Voltamos a nos encarar, ainda ofegantes, e soltamos um riso desacreditado. Eu por finalmente realizar meu desejo de transar num avião; com certeza por ter tido coragem de topar fazer algo errado.
Descartei o preservativo e subi minhas calças, vendo também tentar ajeitar as próprias roupas e dando impulso para descer da pia.
— Espera, não vai agora — entrei em sua frente. arregalou os olhos, assustada.
— Por quê? Acha que nos descobriram?
— Não, — ri baixinho, passando as mãos pelo cabelo. — É que… Ainda não deu meia-noite — mostrei o relógio a ela. Faltavam apenas dez minutos.
— Mas não dá pra fazer mais nada em dez minutos…
era impossível. Ainda sem conter a risada, neguei com a cabeça, concordando. Precisaríamos de muito mais tempo caso fôssemos recomeçar tudo o que havíamos acabado de fazer ali.
Queria eu ter mais tempo.
— Só… fica mais um pouco — me encaixei entre suas pernas. Ela me olhou e finalmente entendeu o que quis dizer, assentindo em silêncio antes que eu me aproximasse para beijá-la.
Tomei seus lábios de maneira diferente de como fiz anteriormente. Agora a calmaria reinava naquele banheiro, devido ao nosso completo silêncio confortável. Minhas mãos pareciam ter um imã invisível, atraídas pela pele macia dela. Eu não conseguia resistir por muito tempo e logo estava tocando-a em algum lugar. Eu fazia carinho em suas coxas por baixo da saia que ela usava, já suas mãos estavam espalmadas em meu peito. Diferente do surfista metido a besta da praia, me acariciava, não empurrava. Não se sentia presa ou sufocada ali.
Quando nos separamos, a única coisa que deu tempo de fazer foi olhar em seus olhos. colou a testa na minha, e daquele jeito ficamos até que o relógio chegasse à meia-noite e encerrasse de vez aquele trato.
Me separei dela, dando-lhe espaço para descer. e eu nos ajeitamos em frente ao espelho, tentando colocar tudo no lugar até que ficássemos no mínimo apresentáveis.
— Então é isso… — ela suspirou, ainda de frente para o próprio reflexo.
— Foi um bom trato — balancei a cabeça, sorrindo amarelo.
Seus olhos azuis focaram-se em mim, e permaneceu séria por algum tempo. Após piscar algumas vezes para voltar a se situar, olhou para a porta atrás de nós.
— Eu vou primeiro — ela disse e eu concordei, vendo-a dar passos incertos até lá. Comprimi meus lábios, observando-a dar as costas e destrancar a porta.
— Ei, — chamei, esperando que virasse, confusa. Ela me encarou já com a porta aberta à sua frente. — Eu te odeio.
Seu sorriso se abriu no mesmo instante, fazendo-me imitá-la involuntariamente.
— Eu também te odeio, — ela riu.
E então saiu, deixando-me a sós comigo mesmo. Encarei o espelho mais uma vez antes de ligar a torneira e jogar um pouco de água no rosto. Respirei fundo ainda molhado, olhando para meu rosto no reflexo.
Era o fim daquele trato e de qualquer outro tipo de desejo como os que tive no passado relacionados a . Acabou. Tivemos curiosidade, sanamos as dúvidas e pronto.
Aquele era o início de uma linda amizade.
Tá, talvez não tão linda assim.
— , estou falando com você.
— É que as meninas não me atendiam! — ela levantou o rosto, revelando seus olhos azuis já sujos de maquiagem, completamente fora dos devidos lugares. Ignorei o modo como eles marejaram. Era drama, somente isso.
Anne e Tifanny já deviam estar iguais ou piores que numa hora daquelas. Minha esposa recusou alguns convites das amigas para sair, convites estes que aconteciam todo fim de semana. Algumas semanas anteriores a nossa viagem, ouvi ao telefone com uma delas, reclamando que estava se sentindo excluída. Era engraçado pensar que, por mais que tentássemos fugir da tenebrosa vida de casados, aquele casamento conseguia nos fazer agir como se realmente fôssemos marido e mulher, com uma casa para cuidar e uma filha para olhar.
— E eu queria ter alguém para falar mal de você — levei a mão ao rosto, ultrajado, ao mesmo tempo que queria rir do que escutei. — Sinto falta da Grace. Ela nunca deixava de me atender quando eu precisava dela.
Flexionei as pernas, encostando-me na parede fria do banheiro e agachando-me diante dela, quando ouvi aquele nome soar.
Diferente do Natal, decidi que não iria encarar mais aquela data com melancolia, mesmo que sentisse a falta da minha irmã todos os dias desde que ela foi embora. Mas já que tinha tocado no assunto, suspirei, pensando em como seria bom tê-la conosco naquela viagem. Vendo bem, era mesmo estranho pensar que estávamos virando o ano e não a teríamos mais. Visto que, no Réveillon passado, me lembrava de ter feito uma chamada de vídeo com ela, que estava distante, porém não se esqueceu de me ligar assim que os primeiros fogos iluminaram os céus.
— Espere um pouco, minha irmã falava mal de mim com você?
Que absurdo! Grace me adorava! Não era possível que a tenha feito se bandear para seu lado e colocado minha irmã mais nova contra mim!
— Ela sempre ficou calada, mas às vezes balançava a cabeça, concordando.
Ainda boquiaberto com a informação, observei com estranheza puxar um de seus cílios que caía de um dos olhos molhados por suas lágrimas de crocodilo. Eu nunca entenderia como as mulheres conseguiam pendurar e colar tantas coisas falsas em si e ainda agir com naturalidade em cima de saltos altos.
Balancei a cabeça, me livrando daqueles questionamentos dispensáveis. Eu tinha uma bêbada para colocar na cama e me asseguraria de que mais nada desse errado, pelo menos até tê-la finalmente dormindo e calada.
— Da próxima vez que ninguém te atender, fale comigo — não consegui segurar a risada ao notá-la ficar confusa com meu pedido. Até porque era complemente estúpido lhe pedir aquilo, visto que fala mal de mim na minha cara desde sempre. — Me xingue, mas não invente de recorrer a Tom, .
— Não inverta a história a seu favor, . O fato de eu ter ligado para ele não muda que você está errado! — ela hasteou o dedo em minha cara, fazendo-me respirar fundo. Lá íamos nós de novo. — Eu continuo magoada, e a culpa continua sendo sua!
— Eu sei! — disse, exasperado.
Aquela conversa não poderia acontecer enquanto ela estivesse alterada daquele jeito. Ficaríamos naquele looping a vida inteira, já que parecia ter dificuldade em identificar o que minha voz dizia quando eu admitia que estava errado! Porque eu já o tinha feito, mas, para , devia soar como o completo contrário!
— Olha, vamos conversar sobre isso amanhã, sim? Mas eu te peço, por favor, , não coloque Tom entre nós… — nós? Nós o quê? — Digo, não o inclua em nossos assuntos! Ele não é nosso amigo. Não confio nele nem um pouco.
— Só se jurar não falar nada para Dafne — ela cruzou os braços, fazendo-me jogar a cabeça para trás, frustrado.
Dafne era a única que conseguia tentar me ajudar a entendê-la. não sabia, mas minha “amante” estava só tentando ajudá-la. Não me parecia justo, visto que Dafne não tinha conhecimento de nossa farsa, já Tom sim! Ela não nos colocaria em risco, não chegava nem perto de ser uma ameaça.
— Tudo bem — murmurei, relutante.
— Você jura? Por ?
Porra, por já era demais! sabia o quanto aquele bebê era importante para mim. Sabia que minha droga de consciência iria pesar caso eu quebrasse aquela promessa.
— Tá bom, que seja — peguei sua mão estendida a contragosto.
Era Tom. Mesmo que fosse difícil dobrar Dafne e fugir de suas perguntas sobre meu casamento, eu teria que fazê-lo. Mesmo que ela me ajudasse e fosse uma ótima ouvinte para os meus desabafos.
— … … — olhei para a porta, esperando Caroline aparecer na soleira. — Ah, estão aí. Estávamos procurando vocês.
— Alguém exagerou na bebida e vai ficar de castigo — indiquei a loira, que sorria amarelo e encolhia os ombros diante do olhar divertido da ruiva. — Ficaremos bem. Vá aproveitar a festa por nós.
— Precisa de ajuda com ela? — Caroline perguntou, e eu neguei com a cabeça. Primeiro porque ter bêbada conversando com quem quer que fosse era um risco iminente de alguém ficar sabendo de algo. Segundo que eu já sabia lidar com quando ela ficava naquele estado. — Acho que vai precisar disso aqui — ela murmurou, após abrir o armário do banheiro e puxar de lá um pacote com lenços. Franzi o cenho. Onde eu passaria aquilo? — A maquiagem, — Caroline riu da minha expressão vazia. — Bom, vou indo. Boa noite para vocês.
— Obrigado, boa noite.
— Boa noite! — levei o indicador até a boca de , tentando fazê-la parar de ser tão escandalosa. — Coloque esse dedo aqui de novo, para você ver se eu não mordo ele — ela ralhou, emburrada, cruzando os braços.
Ri baixinho e peguei o saco de lenços. o puxou da minha mão, pegando um e passando-o nos olhos com força, fazendo-me evidenciar uma careta de dor.
— Vai se machucar! Me dê isso — tirei o lenço de sua mão, suspirando ao ver a que ponto eu tinha chegado. Estava tirando a maquiagem dela.
Eu até que levava jeito pra coisa. Segurei outro riso ao ter aquele pensamento, enquanto tinha finalmente quietinha e de olhos fechados. Ao terminar de tirar o que sobrou no outro lado, sem querer puxei seu cílio, assustando-me quando ele ameaçou sair do olho dela. Então, o soltei de repente.
— Ele é falso — levou a mão até ali, terminando de puxá-lo. — Não dói — soltou uma risadinha, colando-o na pia do banheiro. Respirei aliviado do susto que tomei, jogando o último lenço sujo no lixo e contemplando-a já de cara limpa.
— Vamos, você vai direto pra cama — puxei-a pela mão, ouvindo reclamações.
— Estou com sono!
Ignorei-a, guiando seus passos cambaleantes até a cama, onde ela se jogou, fazendo-me repreendê-la por conta de . Eu tinha dito que virava uma criança quando ficava embriagada. Retiro o que disse – ela ficava pior do que uma! Depois reclamava quando eu brigava com ela.
Peguei um de seus pés, apoiando-o em uma das minhas pernas quando me agachei de novo diante dela, a fim de desafivelar sua sandália. tentou fugir de minhas mãos, mas eu consegui imobilizá-la ali.
— Você gosta de pés, ? — ela esticou a perna, passando os dedos pelo meu membro, me arrancando um suspiro involuntário.
Aquele tom sedutor combinado com o sorriso safado… Não sabia o que acontecia com ela quando bebia, mas eu gostava daquela versão mais… aberta dela. sóbria só sabia dizer não e não.
— Não provoque, — segurei seu pé, ouvindo-a rir ao jogar a cabeça para trás.
— Não é justo. Eu vou ficar aqui fechada e você vai beber com seus amigos — ela reclamou quando a ajudei a se levantar e puxei as alças de seu vestido, revelando seus seios e barriga.
— Eu não vou mais descer. Vou ficar aqui, te vigiando — falei, e voltou a se sentar, emburrada. Assim que deslizei o restante de seu vestido, me vi curioso para checar se ela estava mesmo sem calcinha. — O que é isso?
— Eu disse que estava sem calcinha — ela arqueou as sobrancelhas, sorrindo faceira.
Minha esposa vestia uma espécie de short da cor da pele, fino como uma meia-calça. Nunca tinha visto um daqueles na vida, e ele fez cair por terra aquela crença idiota de que a cor bege era broxante. Independente de sua cor, eu continuava querendo arrancá-lo do corpo dela e terminar o que começamos mais cedo no carro.
Deixei aquela ideia para lá ao ver que, obviamente, não estava em plenas faculdades mentais e, assim como da última vez, eu não poderia fazer nada com ela. Olhei em volta, procurando desesperadamente por algo para cobri-la. Afinal de contas, eu não era de ferro, né?
— Sua camiseta, ali! — ela apontou para uma das peças deixadas de canto. Encontrei uma camiseta de banda. Eu estava pensando mais num pijama mesmo, mas já que estava por ali, a peguei e lhe estendi, vendo-a se vestir. — Eu gosto dela, é tão confortável e cheirosa.
— Eu sou cheiroso, é? — apoiei-me na cama, enterrando meu rosto na curva de seu pescoço. não respondeu, apenas riu baixinho. Aproveitei a deixa para procurar uma calcinha quando a vi se livrando do short que não parecia confortável para dormir. — Pronto, agora pra cama — não resisti e lhe desferi um tapinha na bunda quando a loira se virou para deitar ao lado da bebê.
Enquanto se ajeitava num dos travesseiros, eu tirava minhas calças e a camisa que usava. Vesti um short de tecido leve e fui me deitar ao lado dela, já que ocupava grande parte da cama para si. Observei a loira se inclinar sobre o rostinho dela, beijando-a e acariciando sua barriguinha. Me alarmei quando vi a bebê mexer os bracinhos. Não era a hora de acordar – se acordasse, daria trabalho para dormir de novo.
— Acho melhor você ficar desse lado — puxei-a sobre meu corpo, empurrando-a para o lado oposto da bebê.
— AI! Pare de me tratar como uma boneca! — ela exclamou aos sussurros, fazendo-me rir da sua cara fechada ao ser tirada de perto de . — Me deixe sair!
Neguei com a cabeça, ainda segurando-a deitada em meu peito. Sabia que se arriscasse soltá-la, poderia fechar os olhos e acabar por encontrá-la no meio da festa.
— , pelo amor de Deus, já chega de show! Fique quieta ao menos uma vez! — a repreendi, vendo um bico se formar em seus lábios.
Achei que pagaria pelos meus pecados com quando ela crescesse e me desse trabalho, porém, ao que parecia, também estava inclusa no pacote. A loira acatou minha ordem, finalmente fechando a boca, porém ainda encarando o teto de olhos bem abertos.
— — chamei-a, em meio à música abafada que vinha do andar de baixo.
Não sabia se era uma boa hora para indagar aquilo. Na verdade, aquele assunto era tão obscuro que acho que jamais encontraria uma boa hora para fazer aquele tipo de pergunta. Talvez o fato de estar bêbada a deixasse mais relaxada para responder. Eu só sabia que não conseguiria pregar os olhos sem colocar aquilo a limpo.
— Achei que era para ir dormir — ela disse, e eu revirei os olhos. Como era malcriada.
— , hoje na cozinha, você… se assustou comigo te pegando pelo braço — senti ela se remexer sobre mim. Engoli em seco. Pensei em deixar para lá, mas já tinha começado, e minha curiosidade estava tão aguçada que decidi prosseguir. — O que aconteceu ali? Se lembrou de algo, algum namorado seu já foi violento com você… — mal terminei a frase ao sentir o coração apertar.
Digo, a gente vê sobre isso em todos os lugares, e por mais que fosse minha inimiga número um, ainda era estranho pensar que ela talvez já tenha sido agredida. Me deixava com um sentimento ruim que eu não sabia explicar.
— ... — ela suspirou audivelmente e ajeitou a cabeça em meu peito, deslizando os dedos por minhas tatuagens expostas. Estiquei o pescoço para encará-la. tinha o costumeiro olhar longe. — Não quero ter pesadelos essa noite, quero ter um sonho bom — murmurou, fechando os olhos.
Assenti em compreensão. não queria falar sobre.
— Sobre o que quer sonhar essa noite? — apertei-a em meus braços quase involuntariamente, vendo um sorrisinho se formar em meus lábios.
— Deixe-me ver… Hum… Com — ainda de olhos fechados, abriu um sorriso grande, atiçando-me a imitá-la.
— I live for you, I long for you, Olivia (Eu vivo por você, eu anseio por você, Olivia) — cantarolei baixinho uma música qualquer que tinha o mesmo nome da nossa menina. — I've been idolising the light in your eyes, Olivia (Eu tenho idolatrado a luz em seus olhos, Olivia).
abriu um dos olhos para me espiar, curiosa. Acho que ela não conhecia a melodia. Na verdade, nem eu mesmo conhecia a música inteira. Cantarolei até a outra parte que eu sabia além do refrão.
— When you go and I'm alone, you live in my imagination (Quando você sai e eu fico sozinho, você vive em minha imaginação) — minha esposa já começava a respirar mais lentamente contra meu peito. — The summertime and butterflies, all belong to your creation (O verão e as borboletas, tudo pertence à sua criação) — acariciei sua bochecha, vendo-a suspirar durante sua entrada no mundo dos sonhos. — I love you, it's all I do… I lov… (Eu te amo, é tudo o que eu faço… eu te am…) — parei quando percebi o que estava fazendo. — Merda, merda, merda…
Fechei os olhos com força ao perceber que meu estômago estava se revirando, e não era de nojo ou por algo ruim. Eu estava tão confortável ali, deitado com seu corpo sobre o meu, que nem ao menos me dei conta do momento em que passei a querer tocá-la. Senti meus lábios formigarem de vontade de tocar os dela… De testa franzida, voltei a encará-la, dormindo tranquila em meus braços.
Eu não podia estar… Podia?
Ah, merda!
se remexeu sobre o colchão, e seu choro ecoou pelo silêncio do quarto. Aliviado por ter um motivo para deixar aquele quarto, saí debaixo de , deixando-a deitada confortavelmente no travesseiro, e peguei para ir até a cozinha atrás de uma mamadeira. A bebê era o menor dos meus problemas naquele momento.
Literalmente.
's point of view.
Respirei fundo, sentindo minha cabeça praticamente explodir quando fiz menção de me mover na cama. Abri os olhos e encarei a claridade que invadia o quarto pela droga da janela aberta. Pisquei algumas vezes, me acostumando com a luz, e ouvi um barulho característico seguido pela risada de . Franzi o cenho, esticando a cabeça para ver melhor a cena que acontecia na beirada da cama.
— Não acredito que ensinou ela a fazer barulho de peido com a boca — levei a mão à testa, atraindo sua atenção. deu de ombros, fazendo o barulho e incentivando a repeti-lo. E a bebê o fez, se babando toda.
Oh, céus, ele iria ensiná-la coisa pior quando crescesse mais um pouco.
— Como está a ressaca? — senti a pontinha de ironia em sua fala e preparei-me para me levantar. O ato de sentar nunca tinha sido tão difícil na minha vida. Parecia que tudo estava girando e girando. — Se lembra de algo da noite passada?
Aquela era um tipo de pergunta que me assustava. O que poderia ter acontecido para que ele estivesse rindo da minha cara daquele jeito?
— Não sei o que é pior, acordar com essa dor de cabeça ou já me deparar com você debochando de mim — tentei dar um jeito no meu cabelo, que ainda estava preso igual noite passada, porém todo desgrenhado. Enquanto o prendia num coque alto, tentava puxar em minha memória para saber o que tinha acontecido. — A última coisa que me lembro foi de dançar com as meninas… — murmurei, pensativa. — Ah, e do ódio que eu estava sentindo de você.
suspirou, já terminando de trocar a bebê, que tinha as perninhas levantadas. Quando me levantei com cuidado, vi colocando nela uma fralda limpa.
— De qualquer forma, vamos conversar mais tarde como combinamos ontem — a naturalidade com que ele falava me fez franzir o cenho. Que combinado?
Era estranho. Nós já tínhamos conversado noite passada? Se sim, o que falamos um para o outro? Meu Deus, eu precisava urgentemente parar de beber. Se todas as vezes que eu ingerisse muito álcool fosse aquele “se beber, não case” no dia seguinte, talvez fosse a minha hora de ficar só no suco ou refrigerante.
— Porque você pode não se lembrar, mas eu te pedi desculpas — segurou minha mão, impedindo-me de chegar até o banheiro. — E eu realmente sinto muito.
Encarei seus olhos verdes e logo desviei meu olhar para nossas mãos juntas, me perguntando como nós tínhamos chegado naquele nível de… civilização.
Sim, civilização. Antes, e eu apenas brigávamos, gritávamos um com o outro e seguíamos nossas vidas. Nunca houve aquela cerimônia de pedido de desculpas. Na verdade, sempre achei que nunca tinha sido alfabetizado com tal palavra em seu vocabulário. Eu sabia que tinha a ver com o fato de estarmos sendo obrigados a conviver, mas, ainda assim, me assustava ao ver a rapidez com que aquela “relação” – dentro de muitas aspas, devo acrescentar – estava evoluindo.
Parece que foi ontem quando ele me deixou na beira de uma estrada porque discutimos sobre uma banalidade enquanto acompanhávamos Grace até o parque, onde foram feitas as fotos de gestante dela.
Espere, foi ontem, quase quatro meses atrás… Como passava rápido.
— Podemos conversar quando o mundo parar de girar pra mim?
Ele soltou um risinho sem graça ao notar que ainda segurava minha mão na sua e concordou, voltando suas atenções a , que, apesar de termos esquecido, tinha completado seus três meses de vida.
Assim que tomei um banho e um analgésico, desci as escadas já me sentindo um pouco melhor. A casa estava silenciosa mais uma vez. Eu nem sabia que horas eram, nem o celular tinha me lembrado de checar. Devia ter várias mensagens das meninas bêbadas comemorando o ano-novo como fizemos ano passado. Que saudades do ano passado.
— Cadê todo mundo? — daquela vez, fui da cozinha para a área da piscina e encontrei apenas e , que, no colo do pai, aproveitava uma mamadeira cheia.
— Foram passear de barco. Suzanne queria que eu te chamasse, mas falei para ela que você é medrosa e, provavelmente, não iria querer ir.
Joguei nele uma bolinha feita de papel toalha, vendo-o desviar enquanto ria.
— Seu almoço está na mesa.
Almoço? Ok, talvez eu tenha dormido demais.
— Não sou medrosa, apenas gosto de manter meus pés bem seguros no chão.
Em terra firme, e não no ar ou sobre as águas. Sabia que era paranoia minha, porém, eu não controlava minha própria mente. Parecia que só o ato de pisar num barco ou avião já desencadearia um acidente terrível, e eu iria morrer das piores formas possíveis! Medrosa talvez não fosse só uma das coisas que poderia me chamar, louca também se encaixaria bem.
— Aham, sei — ele riu, maldoso. — Quer ir à praia depois de comer? Aproveitar o resto do dia.
Mordi meu lábio, frustrada. Eu não acreditava que tinha passado tão rápido! Nós já iríamos embora.
— Vamos, apesar de eu não estar pronta para me despedir desse paraíso — aceitei em meus braços quando me trouxe à mesa.
— Vou lá em cima preparar as coisas — ele nos deixou a sós e foi para o segundo andar.
O sol estava forte naquele horário; o céu azul límpido só deixava a paisagem da área da piscina ainda mais paradisíaca. O mar ao fundo, as ondas quebrando devagar. Minha meta de vida era voltar a estudar e juntar muito dinheiro para poder envelhecer num lugar daqueles.
Terminei minha refeição rápido – não tinha conseguido comer muito, pois ainda estava enjoada pela ressaca. desceu um tempo depois com as coisas de devidamente organizadas na bolsa dela. Eu estava fazendo minha digestão no sofá da sala quando surgiu digitando algo no celular.
— Podemos conversar agora?
Assenti, encarando o lado de fora pelo vidro. O sol já estava dando uma trégua para que pudéssemos sair com a bebê. Enquanto aquilo não acontecia, deitei no sofá, e ela ficou mais uma vez entre nós. Daquela vez, a bebê presenciaria uma reconciliação. Acho que nem ela esperava aquela surpresa de ano novo.
— Ontem eu te disse pra esquecer o que tinha ouvido de Jack, que não tinha sido minha intenção… mas você me conhece, , e durante a discussão, te falei quais eram minhas intenções quando menti pro Chace.
Daquilo eu me lembrava bem, de cada palavra dita. As coisas que o álcool devia ter apagado estavam ali, intactas em minha memória. E mesmo estando calejada de tanto presenciar a estupidez de , a rejeição era um sentimento tão doloroso que sempre seria igual, independente de onde viesse. E foi daquele jeito que me senti ontem, rejeitada.
passou a mão pelos cabelos castanhos; parecia nervoso. Sem brincadeira, parecia que era a primeira vez que ele formulava um pedido de desculpas na vida.
Ele parecia escolher bem as palavras, como se tivesse medo de falar demais… O que ele escondia? Vindo dele, devia ser algo que não piorasse sua situação, que já não era boa diante de mim.
— Na verdade, é até engraçado — falou, e eu arqueei as sobrancelhas. Ele já tinha começado mal. — Nós temos um vasto passado de brigas, um presente também, e provavelmente teremos um futuro cheio de desentendimentos...
Concordei.
Na real, acho que só pararíamos de brigar quando um de nós partisse. E eu esperava que ele fosse primeiro. Mesmo assim, acho que iria ao menos uma vez ao ano visitar seu túmulo só pra deixar uma ofensa ou chutar sua lápide… e talvez colocar algumas rosas.
— Me surpreendeu você ter ficado tão brava com algo que, se comparado às nossas outras discussões e até brigas físicas, era bobo.
E era mesmo. Porém, algo tinha mudado: não éramos mais a criança birrenta e o pré-adolescente com síndrome de valentão de filme americano. Éramos adultos e estávamos casados, mesmo que de mentira. O mínimo que eu esperava era uma consideração da parte dele.
Mas tinha razão – eu não devia ter dado aquela importância toda ao que ele dizia. Aliás, nem sei por que aquilo me atingiu tanto! Eu não significava nada para , não era ninguém além da pessoa que ele se livraria daqui a nove meses.
— E aí eu percebi que você ficou magoada.
— Magoada não, mas fiquei com raiva — hasteei o dedo para protestar. Eu tinha ficado chateada, mas ele não precisava saber daquilo.
Nem eu mesma sabia o que fazer quando me dei conta de que tinha como me desestabilizar daquela forma. Imagine se ele soubesse do poder que tinha e o usasse contra mim? Aquele era um segredo que eu guardaria a sete chaves.
— , você me disse ontem — ele continuou, e eu desmanchei minha pose. Droga! Pra quê eu fui beber, hein? — Sei que é difícil admitir mais isso. Eu também estou tendo dificuldades, tanto que não está sendo fácil estar aqui te pedindo desculpas ou te ver chorando ontem por minha culpa.
Como se transar já não tivesse sido íntimo demais, lá estávamos nós falando que nos preocupávamos um com o outro.
— Acho que já poderemos ser considerados amigos. Aliás, só amigos não — franzi a testa, já ficando tensa. Se antes eu tinha pavor de me tornar algo além de inimiga de , naquela hora, meu desespero triplicou. Afinal de contas, passamos de ofensas para sexo em questão de meses. E amigos não faziam aquilo. Bom, não que eu saiba. — Uma família.
Soltei um riso de puro nervoso.
— Ok, acho que você forçou um pouco a barra agora.
Não era a primeira vez que eu ouvia aquilo de um . E depois do pé na bunda que me deram quando descobriram da gravidez de Grace, não sabia bem se podia confiar em e me deixar levar por seu papinho sentimental de família.
— Mas nós somos uma família! Querendo ou não, você é a mãe da minha filha, mesmo que não tenha sido feita por nós. Sei que não te amo como familiares meus, na verdade, eu te acho intragável, .
Arqueei a sobrancelha ao ouvir aquela palavra incomum no meu vocabulário, mas que não parecia significar algo bom. Não era um elogio, mas não me surpreendi, porque estava vindo de .
— Não te suporto, nós dois faltamos nos matar. Acho você ignorante, mandona…
— Isso continua sendo um pedido de desculpas ou você está querendo começar outra discussão? — indaguei, genuinamente confusa, vendo-o franzir a testa e se dar conta do que estava fazendo, direcionando-me aquela enxurrada de ofensas gratuitas. Era algo tão natural que nem deve ter se dado conta.
desatou a rir, deixando-me ainda mais confusa.
— Eu não terminei meu raciocínio — ele murmurou, ainda risonho.
Suspirei em tédio, observando seus olhos cheios d’água de vontade de rir mais. Revirei os meus, soltando uma risada junto dele. Era o que nos restava fazer: rir.
— Está vendo? Eu não posso dizer que te odeio, , você até me faz rir de vez em quando. Admito que até vou com a sua cara quando isso acontece.
— Eu te faço rir quando estou ferrada, isso sim — cruzei os braços em deboche, apenas arrancando-lhe mais uma gargalhada.
— Que seja — desdenhou. — O que estou querendo dizer é que, como uma família, é normal que briguemos.
Discordei mentalmente. Na minha cabeça, aquilo nunca seria normal. Eu tinha uma concepção muito diferente de brigas de família das dele. Invejava e Grace por não terem presenciado brigas entre os pais. Na casa onde cresci, as coisas evoluíam de gritos para chutes e socos muito rapidamente.
— E nós já estamos acostumados com isso, porém, agora é diferente por conta de . Então queria te propor uma trégua, ou que ao menos, quando brigarmos, tentássemos resolver o problema.
Ainda desorientada por ouvir aquilo sair da boca de , pisquei algumas vezes, me perguntando seriamente se ainda não estava bêbada.
— Por que isso agora? — indaguei, confusa. — Digo, já está conosco há um tempinho…
— Porque ontem você passou um pouco do ponto por conta da bebida, , e quase colocou tudo a perder — engoli em seco, abaixando a cabeça. — Eu não estou querendo brigar agora, mas você sabe, não é a primeira vez que você e eu brigamos e te vejo querer jogar tudo pro alto…
Encarei-o, percebendo seus ombros largos levemente encolhidos. estava com… medo de me ofender?
Tulum estava mesmo parecendo um universo paralelo.
— Eu sei, me lembro bem da última vez — cocei a cabeça, constrangida. Pior é que ele tinha razão, e estar levando aquela lição de moral de e ainda não poder falar nada por não ter o que falar era, sem dúvidas, a coisa mais difícil que eu estava fazendo. — Desculpe por isso, é que eu… não tive a mesma criação que a sua, … Eu não fui ensinada a pedir perdão.
As coisas lá em casa simplesmente não se resolviam, nem quando meu pai acabava descontando a raiva na minha mãe, ou quando ela e eu discutíamos por seja qual for o motivo. Nós apenas continuávamos vivendo sob o mesmo teto e fingíamos que nada tinha acontecido, mesmo que muita coisa tivesse acontecido – coisas que não davam para ser ignoradas.
No dia em que finalmente explodi e decidi sair daquele teatro grotesco, meu pai se juntou a ela numa briga enorme contra mim. Foi a última gota. Não havia pedido de desculpas que amenizaria minhas mágoas adquiridas naquela noite.
— Mas eu concordo com você. Está na hora de tentarmos mudar isso.
Já tínhamos conversado sobre parar de discutir sobre as acusações de em cima de mim pelo fato de Grace ter engravidado do idiota do Miguel, e, por incrível que pudesse parecer, deu certo.
Por mais impossível que pudesse parecer aquela história de virarmos amigos, valia a pena ao menos tentar, não é mesmo?
— Tudo bem, então chegamos num acordo — ri do modo como ele tinha falado. parecia ter acabado de fechar um negócio na empresa, com direito até a um aperto de mãos. Me levantei do sofá num impulso, após vê-lo fazer o mesmo. — Você acha que cabe um… abraço agora?
Dei de ombros, incerta, não sabendo se ia para frente ou se esperava parada onde estava. estava na mesma, então os dois avançaram e caímos na risada ao levarmos um susto. Ele finalmente colocou os braços à minha volta e me puxou para perto. O mais esquisito era me juntar a daquele jeito após termos estado muito mais próximos e sem roupas. Juntar meu peito ao dele me pareceu tão natural que cheguei a fechar os olhos durante o abraço.
Quando me soltou, nos afastamos devagar. Sem perceber, acabei virando o rosto, encostando-o no dele, sentindo sua respiração bater em minha bochecha. Encarei-o nos olhos e engoli em seco, tentando me distrair da visão de seus lábios rosados que me pareceram extremamente convidativos naquele momento. Só faltou um bando de extraterrestres junto de nós para completar a bizarrice.
— V-Vamos para a praia? — cocei a garganta, tentando disfarçar a irregularidade que o nervosismo de tê-lo tão perto me trouxe.
balançou a cabeça em concordância, pegando do sofá enquanto eu subia para buscar minhas coisas.
's point of view.
Pegamos um dos carros que deixaram para nós em caso de alguma emergência, já que, pela previsão da seguradora, só iríamos pegar outro veículo para irmos até o aeroporto mais tarde. Estava na hora de me despedir daquele paraíso. Apesar de concordar com sobre não estar preparado para deixar Tulum, eu voltaria pra casa mais descansado do que nunca.
A praia estava cheia, o sol não estava mais tão forte quanto mais cedo e o dia estava perfeito para ter conosco ali. O Beach Club que nos alugou a tenda no dia anterior estava abrigando uma festa animada. Troquei olhares preocupados com , por ver que, aparentemente, todas as tendas estavam ocupadas. Resolvemos entrar e perguntar para ter certeza antes de tentarmos ir para outro lugar.
O balcão estava rodeado de pessoas com roupas de banho, conversando encostadas nele. No caminho, e eu nos desvencilhamos dos clientes nas mesas menores, que aproveitavam drinks com os amigos. Estava um clima incrível no lugar. Se fosse em outra época, poderia me imaginar com os caras numa das rodas de mulheres que tinha ali, conversando e vendo com qual delas eu iria me divertir um pouco antes de partir para outra. Se não fosse por , tinha certeza que estaria fazendo o mesmo se pudesse.
— Boa tarde, sabe me dizer se ainda conseguimos uma tenda lá fora? — indaguei ao atendente, que preparava um drink enquanto papeava com um grupo de descamisados reunidos ao lado do balcão.
— Nós pegamos a última — um dos caras disse, sorrindo amarelo. — Mas já que estão com um bebê, podemos ceder a vocês sem problemas.
Arqueei as sobrancelhas. Bebês eram vantajosos daquele jeito? Estava pensando em levar em todos os lugares para ter privilégios como aquele.
— Não vai atrapalhar? — perguntou sem graça, atraindo os olhares para si, ainda com nos braços. — Podemos ir para outro lugar...
— Não, quê isso! Nós disponibilizamos para vocês. O pessoal que estava conosco já deve ter se dispersado pela praia. Não vamos precisar dela de qualquer forma — o outro cara se prontificou a respondê-la, observando-a com um olhar de interesse. — E eu também estou disponível, caso precise de algo — ele soltou uma risadinha na direção dela.
sorriu envergonhada, deixando eu e o restante dos amigos dele alheios ao flerte explícito que estava acontecendo ali.
Eles já deviam estar me chamando de corno, chifrudo e todas as variantes diferentes de nomes que se dava para alguém casado que tem uma mulher que fica com outros. O cara que falou comigo primeiro passou o olho pela minha mão – provavelmente checando se eu usava uma aliança – e deu um tapinha de leve no ombro do amigo quando constatou que sim, eu estava com uma.
Tá que eu e não éramos realmente casados, mas, porra, eu não gostava nem um pouco da possibilidade de ser corno, mesmo que não fosse verdade.
— Tá bom, caras! Deixem o casal aproveitar as férias em paz — um deles, já bem alterado, se intrometeu no assunto, apoiando-se no ombro deles. Concordei com ele mentalmente.
Tínhamos um problema, resolvemos e pronto, já estava bom de conversas.
— Ah, nós não somos um casal — exclamou, fazendo-me comprimir os lábios ao reparar na expressão de alegria que o loiro com shape de surfista esboçou ao saber do estado civil de .
Minha frequência cardíaca aumentou estranhamente. De repente, me deu uma vontade súbita de ir pra fora tomar um ar fresco.
— Obrigado, caras — cortei a empolgação, já dando as costas para eles e guiando pela cintura para longe, antes mesmo de ouvi-los responder algo.
Aquele lugar parecia me sufocar. Cheguei a começar a suar.
— Espera, não vamos pedir nada? — ela se virou de cenho franzido, fazendo-me lembrar daquele detalhe.
— Vá indo na frente e pegue a tenda, vou fazer os pedidos — falei. A loira deu de ombros e foi sozinha para fora, fazendo-me soltar o ar que nem mesmo percebi que tinha prendido em meus pulmões. — Vamos querer duas água de coco — por conta da ressaca, talvez fosse bom para .
Enquanto aguardava no balcão, senti alguém se aproximando ao meu lado. Olhei de canto de olho, nem um pouco surpreso ao ver o loiro de olhos castanhos parado ali.
— Algum problema com a tenda?
— Não — ele riu sem graça, apoiando-se pelo cotovelo antes de fechar a cara para os amigos, que, detrás de mim, soltavam piadinhas idiotas. Eles pareciam ter saído do jardim de infância. De certo, eram universitários. Deviam ter a mesma idade de , porém, ela me parecia ser anos mais madura. — Eu queria saber sobre a moça que estava te acompanhando. Ela é sua irmã ou…
— Amiga, é uma amiga — continuei a encará-lo, já sabendo o que viria a seguir.
— Qual o nome dela? Ela é solteira?
Segurei minha vontade de revirar os olhos. Por que não perguntava a ela? Meu Deus, só me fazia passar nervoso com os caras que se interessavam por ela.
— Se chama . Sim, ela está solteira, livre e desimpedida — murmurei, tentando não soar muito impaciente. Para o meu alívio, o atendente me trouxe logo o pedido, dando-me um pretexto para sair logo de lá de dentro.
— Valeu, cara — ele projetou a mão num soquinho estúpido. Encarei seu dorso com as mãos ocupadas com os cocos que levava. Ele sorriu sem graça e me deu dois tapinhas irritantes no ombro, antes de finalmente sair da minha frente e me deixar seguir o meu caminho.
Encontrei já passando protetor na própria perna enquanto apenas babava a própria mão, deitada de barriga para cima, já vestida apenas com sua fralda e uma calcinha de babados. Estendi-lhe o seu coco, me jogando na espreguiçadeira ao lado da bebê e finalmente relaxando ao reparar na belíssima vista através dos meus óculos de sol. Reparei nos biquínis que via à minha frente quando as mulheres passavam e, às vezes, até dava algumas olhadas para o corpo deitado ao meu lado.
estava deitada de barriga para baixo enquanto parecia tirar uma soneca. Não tive como não reparar naquela bunda, que, independente de ter celulites ou não, era linda demais para ser ignorada. Ainda mais estando tão perto.
Desviei meu olhar quando, um tempo depois, a loira se virou de barriga para cima. Avistei no mar, bem ao fundo, uma lancha branca se aproximando. Ajeitei em meu colo, apontando como se ela entendesse algo quando lhe disse que era o barco onde os amigos do papai estavam. Às vezes me sentia idiota por conversar tanto com um bebê de três meses, mas ela parecia entender tudo. E eu achava adorável a forma como seus olhinhos atentos se focavam em mim enquanto batíamos um papo.
— São eles mesmo? — estreitava os olhos, esticando-se para tentar ver melhor.
— Não sei — ri, vendo-a revirar os olhos. — Mas pelo horário que saíram, só pode ser eles. O mergulho não deve durar tanto tempo assim.
— Coragem. Eu não iria nem que me pagassem — neguei com a cabeça, desaprovando seu jeito medroso. não via o quanto perdia sendo daquele jeito? A vida era muito melhor quando a gente se permitia arriscar. — Morro de medo de mar, dos animais… — ela encolheu os ombros involuntariamente, fazendo-me jogar a cabeça para trás e gargalhar.
— Não seja boba, . É uma experiência incrível. Você devia tentar um dia — seus olhos azuis me encararam de um jeito cínico. — Pare de ter medo de tudo. Você nunca vai saber o quanto as coisas são boas se não tentar experimentá-las.
— Não, estou bem assim, vivendo sem tentar me matar — ela abraçou as próprias pernas. — Grace me contava que você gosta dessas coisas de se pendurar pra fora do barco e ser puxado em cima de uma prancha. Você é louco.
— Eu? — me fiz de ofendido enquanto ria. — Você quem gosta de andar de moto e eu quem sou o maluco? , tem noção de quantos acidentes acontecem com motociclistas por dia em um ano?
Eu ainda queria vê-la pilotando uma. devia parecer uma lesma. Não devia nem pegar velocidade por medo.
— Na moto sou eu quem está controlando. Eu sei os limites e posso parar quando tiver vontade. Já nessas loucuras que você se mete, está à mercê dos outros ou da sorte.
Desaprovei sua opinião, percebendo que o buraco ali era bem mais embaixo. não tinha medo só de fazer coisas radicais; ela temia tudo o que não podia controlar, e aquilo incluía até mesmo o que sentia. Ela achava mesmo que eu tinha caído naquele papo de que não queria transar comigo porque ia estragar nossos planos com ? tinha medo era de se deixar levar e começar a gostar, isso sim. Ela sabia que era algo que não se podia controlar, por isso não quis arriscar.
Devia ser muito fácil viver daquele jeito, sempre com os pés no chão e na zona de conforto. Mas eu não saberia imitá-la, não curtia coisas monótonas e paradas demais. Sentia pena de quem escolhia aquela vida. não sabia o que a esperava no momento em que quisesse parar de se segurar ou temer isso e aquilo. Muitas vezes, o que tememos nunca vem. Pelo contrário – às vezes, temos surpresas maravilhosas apenas no ato de tentar algo novo.
Queria vê-la do jeito que vi durante aquela viagem mais vezes. Algumas coisas deram errado? Sim, mas, pelo menos, se permitiu viver coisas novas. Ao que parecia, não fazia aquilo com muita frequência. Sempre parecia presa a um passado.
— Você é uma medrosa, isso sim — impliquei com ela, recebendo um tapa em resposta. — Ai, , agressiva — parei de gargalhar quando vi uma silhueta vinda do Beach Club se aproximando de nós. — Parece que alguém quer falar com você, .
— Oi, desculpa atrapalhar.
Meu sorriso foi morrendo aos poucos quando o vi se sentar no espaço vago da espreguiçadeira dela. , ainda sem reação, apenas se aprumou onde estava, puxando a canga para cobrir suas pernas e bunda. — Será que eu poderia falar com você a sós um momento?
“Falar”… Quase soltei um riso sarcástico. Que cara ruim de papo era aquele. Nem chegar numa mulher direito ele sabia.
me encarou, em pânico. Dei de ombros ao notar o sorrisinho dela quando voltou seus olhos para ele, que sorriu em expectativa. A loira assentiu com a cabeça, ainda nervosa demais para respondê-lo. Que tédio, pareciam dois adolescentes inexperientes. Era patético, porque eu sabia que não era daquele jeito.
A loira se levantou, amarrando a saída de praia na cintura, e o cara sorrindo abobado foi na frente, puxando-a pela mão. Porém, ela o fez parar para me encarar ainda em silêncio. Entendi o que quis dizer e maneei a cabeça, exasperado.
— Não vá muito longe — murmurei, vendo-a assentir prontamente —, o pessoal já está por perto — completei, disfarçando minha preocupação para que não ficasse estranho.
— Vou ficar onde possa nos ver.
Não tive tempo de protestar; já ia pela areia com o idiota lhe puxando para um canto do lado de fora do clube.
Pelo canto de olho, observei quando ambos pararam de andar e ele a encostou numa das paredes debaixo de uma varanda que tinha ali. Vi quando ele lhe disse algo que a fez rir, e suspirei derrotado. Sim, eu tinha concordado em ficar de olho, mas só conseguia me sentir estúpido ao perceber que tinha virado babá em dobro. Já não bastava o bebê em meus braços, ainda tinha que vigiar se engolindo com outro cara.
Apesar do meu total asco, sabia que tinha que fazê-lo. Não era difícil ouvir histórias de turistas que desapareciam e acabavam encontradas mortas em vários lugares paradisíacos como aquele. Se pareciam com o paraíso, porém tinha muita gente mal-intencionada pronta para se aproveitar da sensação de segurança que as construções luxuosas que cercavam o local passavam aos estrangeiros.
— Jamais beije alguém daquele jeito, . É feio, muito feio — coloquei a mão em seu rostinho, virando-a para o lado oposto da cena que a mãe dela protagonizava.
O cara praticamente esmagava a coitada enquanto enfiava a língua na boca dela. Era impossível achar aquele desespero todo normal. Suas mãos grandes desciam pelo corpo de com força – ele chegava a apertar sua bunda por baixo do pano que ela tinha levado para se cobrir. Não consegui desfazer minha cara de nojo, muito menos deixei de reparar no modo como tinha ambas as mãos espalmadas no peitoral dele; vez ou outra flexionando o cotovelo como se o empurrasse um pouco para trás. Ela devia estar era sufocada com o modo como ele avançava sobre seu corpo.
Olhei para o lado, para dar privacidade ao “casal”, e me deparei com a lancha já bem próxima da praia, me lembrando daquele detalhe bem oportuno no momento. Olhei para a bebê e me perguntei se deveria me levantar e ir até os dois para acabar com a festa deles. Porém, decidi não me esforçar tanto. Apenas assoviei com os dedos, chamando-lhes a atenção. Quando me encarou de longe, indiquei o mar com o queixo, vendo-a desgrudar do surfista e dar uma desculpa, dando-lhe um beijo rápido antes de voltar ao seu lugar.
Continuei vendo o barco chegar, mesmo quando a loira se sentou ao meu lado, levemente descabelada e com os lábios ainda avermelhados. Ajeitei no meu colo, colocando a chupeta em sua boca ao vê-la bocejar e piscar devagar. Já , visivelmente sem graça, passou a mexer no celular.
— Eu liguei para Tom ontem à noite?
Encarei-a, fazendo-me de desentendido.
Até tinha me lembrado de contar a ela sobre a ligação quando acordei mais cedo, porém ele tinha me irritado tanto noite passada que decidi não falar nada. Até porque eles iam se ver logo, e aí o que conversariam não era da minha conta, e eu nem queria saber. Tom já iria fazer minha caveira de qualquer forma.
— Por quê? Ele te disse algo?
Ela voltou a checar o telefone.
— “Oi, , estou te enviando essa mensagem porque não aguento mais esperar. Queria saber se está tudo bem” — encolhi meus ombros quando seus olhos se voltaram a mim, em dúvida. — “Desculpa te incomodar. Esperei sua ligação e, como não me retornou, decidi checar” — ela encarou o horizonte, provavelmente tentando se lembrar de algo. — O que aconteceu ontem à noite? Por que eu liguei para ele?
Suspirei, derrotado. Dormian não perdia a oportunidade de ser inconveniente, não é mesmo?
— Depois que brigamos ontem, você ficou com raiva e ligou para as meninas para falar mal de mim. Mas como nenhuma delas te atendeu, você resolveu ligar para a única pessoa além delas que sabe da nossa mentira — tentei disfarçar o tédio em minha voz. — Eu te peguei no quarto com uma garrafa de bebida e a tirei da sua mão junto do celular. Ele ouviu tudo e me acusou de ser agressivo com você.
A testa dela franziu em puro estranhamento.
De alguma forma, fiquei aliviado em vê-la achando aquilo um absurdo. Queria dizer que não achava realmente que eu a machucaria. Não sabia se deveria lhe contar sobre sua reação quando a peguei pelos pulsos. Talvez não quisesse falar sobre, até porque, mesmo embriagada, aquele assunto pareceu perturbá-la.
Falando em sua reação, me lembrei do nosso trato e percebi que não se lembrava mesmo da noite passada. De repente, me vi num impasse: lhe contava do trato e não incluiria mais Tom nos nossos assuntos como deveria ser, ou não contava e poderia continuar com a ajuda de Dafne para entender ?
O barco finalmente chegou, e meus amigos nos avistaram de longe enquanto desembarcavam animados. Acenei para eles, suspirando.
— , ontem combinamos uma coisa — não queria, porém pensei melhor, e seria ridículo da minha parte esconder aquilo dela. Da última vez que tentei manipular situações em relação a , acabamos na briga feia da noite de ontem. Nunca fui de tirar vantagem das coisas daquela maneira e, depois de tudo o que aconteceu, decidi que era a hora de parar e ser sincero. — Tom foi um filho da puta ontem, insinuando coisas. Por isso decidimos que você não vai incluí-lo em nada que envolva nós. Em troca, farei o mesmo com Dafne — a encarei, incerto.
— E você decidiu isso enquanto eu estava bêbada?
— Eu não fazia ideia de que você não se lembraria!
— , sua boba, você perdeu o mergulho mais maravilhoso do mundo! — Suzanne exclamou enquanto vinha até nós, sendo seguida pelos demais.
A loira suspirou antes de sorrir para a morena que se aproximava, e se virou para mim, séria.
— É, talvez seja melhor assim.
se virou para Su, que lhe abraçou e perguntou se ela estava melhor, comentando algo sobre a festa de ontem.
Eu não sabia se estava certa do que disse. A única coisa que pairava em minha cabeça era como eu iria descobrir seu segredo para tentar ajudá-la sozinho, sem a ajuda da Dafne.
Ficamos um tempo ali, na praia. Deixei já adormecida no colo de e dei um mergulho rápido antes de irmos para casa, quando já estava entardecendo. Iríamos lanchar e começar a arrumar nossas coisas para a viagem à noite. No carro, foi calada no banco de trás, e nem ao menos o rádio eu liguei. Estranhei o silêncio e espiei pelo retrovisor, me deparando com seu olhar no espelho pequeno.
— Então quer dizer que você tem um tipo preferido — falei em tom de implicância, coçando o nariz enquanto olhava para a rua.
— O quê? — ela franziu o nariz.
— Você sabe, , um tipo de cara — batuquei o volante, parando no trânsito que se formou próximo à saída da praia. — Gosta de loiro, alto... — arqueei a sobrancelha, sorrindo cinicamente.
— Eu não tenho um tipo — ela alegou. Eu ri, discordando. — Você quer saber mais do que eu agora? — cruzou os braços.
— Você nem percebe, mas tem. Primeiro Tom, Chace e, agora, o cara da praia — enumerei os três loiros, vendo-a revirar os olhos.
— Tá bom, tá bom, . Agora me diga você, qual é o seu tipo?
A pista ficou livre e eu segui em frente. O caminho até a casa que estávamos hospedados não era longe. Agradeci por aquilo, afinal, logo iria dirigir um trajeto grande até o aeroporto.
— Eu não tenho um — respondi.
arqueou as sobrancelhas e negou com a cabeça, rindo sarcástica.
— É óbvio que tem! Todas as suas namoradas que conheci na época do colégio eram iguais! Loiras, altas e com corpos perfeitos.
Nem sempre eram loiras. Eu me interessava por outros tipos também – a própria Dafne era um exemplo. Discordei, olhando para o trânsito que parou novamente. Era fim de tarde; talvez demorasse um pouco mais para chegar por conta de tantos carros indo embora no mesmo horário.
— Deve ser por isso que seus amigos não estranharam quando te viram noivo de mim. Eu sou exatamente seu tipo! — ela exclamou, como se tivesse descoberto a América novamente. Encarei-a pelo retrovisor, e sua animação em caçoar de mim se esvaiu um pouco. Suas bochechas ganharam um rubor quase instantâneo. — Quer dizer, devem ter estranhado um pouco quando viram que eu tenho celulites, e não um corpo de modelo de lingerie…
— Qual é a sua com essa coisa de celulite, ?
Não entrava na minha cabeça que algo tão bobo como aqueles risquinhos na pele a deixassem tão insegura, sendo que ela, antes de ter que tirar a roupa na frente dos meus amigos, nunca tinha demonstrado ter aquela questão com o próprio corpo.
abriu a boca, mas parou ao se dar conta do que ia dizer.
— O quê? — a incentivei, vendo-a me olhar ainda incerta.
— Se você rir, eu te mato — não segurei a risada. Fazia tempo que não me ameaçava de morte. Antigamente, costumava acontecer todos os dias. — Eu tive um namorado na faculdade… Estávamos no quarto dele uma vez. Ele me viu vestindo a roupa depois do banho e… — ela suspirou, colocando os cabelos atrás da orelha antes de terminar de contar. — … Ele me disse que eu até devia enganar os homens bem, porque, enquanto estava vestida, ninguém imaginava que eu tinha todas aquelas celulites.
Ao contrário do que pensei quando me ameaçou, quando ela terminou eu não dei risada. Pisquei algumas vezes, tentando assimilar o que ouvi, confuso sobre por quê um cara falaria aquilo para a própria namorada. Aliás, pra quê manter um relacionamento com alguém que não te agradava daquela forma?
— E o que você respondeu? — eu já não procurava olhar em seu rosto pelo retrovisor. O trânsito já tinha cessado, e seguíamos apenas pelo caminho que dava para a entrada da casa que alugamos.
— Nada… Eu meio que fiquei sem reação — sua voz foi morrendo aos poucos. Me esforcei para não virar para encará-la e engoli em seco, ainda focado no caminho. — Dei risada, não me lembro. Eu não tinha entendido direito na hora que ele me disse isso, então apenas ri junto.
— Por que não xingou ele? — adentrei o quintal da casa, ouvindo rir fraco. — É sério, se fosse comigo você xingaria! Mandaria eu ir me fuder. Devia ter feito isso com ele!
— Eu estava cega e surda. Você está certo em não sair por aí se apaixonando, — estacionei o carro e virei o pescoço, pronto para rebater aquela crítica sobre eu ser galinha. — Não nos leva a lugar algum — ela sorriu forçadamente em minha direção antes de desafivelar o cinto da cadeirinha da bebê para deixar o carro.
Nossas últimas horas na casa foram bem descontraídas. Ficamos juntos conversando sobre como tinham sido nossos dias ali e fofocando sobre os acontecimentos da festa. Tinha rolado algo entre Jacob e Caroline, finalmente. Porém, eles não estavam sozinhos no quarto quando aconteceu o que deixaram subentendido que aconteceu. Parece que Nick e uma das meninas da praia participaram também.
Eu sentia vontade de socar aqueles dois. Justo quando eu não estava disponível, decidiram fazer uma festinha particular.
Esperamos o famoso bolo de floresta negra de Suzanne ficar pronto. Quando esfriou, acendemos um isqueiro e cantamos parabéns para pelos seus recém-completos três meses de vida. Logo cada um foi para seu quarto a fim de ajeitar tudo para a viagem de volta.
Já escurecia quando a galera se dispersou ainda no quintal, e combinamos o trajeto que faríamos até ao aeroporto para irmos todos juntos. Os outros caras seguiriam Jack, assim como fizeram na ida; já eu e iríamos por conta própria, já que tínhamos nos virado bem quando chegamos. Fui calado o caminho todo. dormiu o trajeto todo, e eu fiquei sozinho com o rádio ligado e meus pensamentos enquanto me mantinha concentrado ao volante.
Embarcamos um tempo depois de devolvermos os veículos. e eu ficamos algumas poltronas atrás dos demais, já que as passagens tinham sido compradas mais tarde. Mesmo assim, se se esticasse um pouco, poderia ver Jack e Suzanne à frente, sentados próximo do restante do pessoal. estava agitada, porém a mãe se prontificou a cuidar dela para que eu pudesse dormir – e foi o que fiz pelas próximas quatro horas e meia seguintes. Acordei com seu choro e tentei acalmá-la ao ver que estava cansada.
Na conexão em Dallas, aproveitamos para comer alguma coisa rápida. O pessoal pegou a bebê para distraí-la, brincando de aviãozinho com ela pelo aeroporto. e eu apenas observávamos, advertindo vez ou outra para que não a derrubassem. , por outro lado, parecia ser o contrário da mãe e adorar voar.
— Não tem jeito, não. Você vai ter que dar filho para Jack logo — encaramos Caroline, e eu desatei a rir da cara de pânico que Su fez pelo comentário da amiga.
Apesar de vê-lo amar brincar com , eu sabia que aquilo não significava querer ter um filho. Eu mesmo, se Grace ainda estivesse viva, seria o tio mais babão da face da Terra. Brincaria com a bebê e compraria o que quer que fosse para ela, mas nem passava pela minha cabeça a ideia de ter um filho.
— Deus me livre! — gargalhou, me olhando de canto de olho. Mal sabia ela que nós dois tínhamos passado todo aquele perrengue apenas para evitar uma gravidez. — Nós ainda estamos começando. Calma, vocês estão muito apressados. Por enquanto, me contento em ser mãe de Lorenzo e madrinha de , nem que seja apenas de consideração.
— Acho quase impossível entrarmos em consenso sobre ser apadrinhada. Seria uma briga grande.
Concordei com , passando o braço por cima de sua cabeça e afundando-me na cadeira da padaria onde estávamos.
Logo nosso segundo voo foi anunciado. Sentamos nos mesmos lugares e passamos um tempo com . tirou uma soneca, e, como a bebê estava agitada, liguei o monitor da poltrona e coloquei um desenho animado, aproveitando que a loira não estava vendo. Já imaginava o show que daria se me pegasse deixando ela assistir, já que diziam que era prejudicial e isso e aquilo.
Eu já iria estragá-la se fosse tio mesmo, agora era filha. Mas eu continuaria com meu plano de mimá-la a todo custo.
despertou um tempo depois, quando eu já tinha desligado o monitor e a feito dormir. Suzanne pediu a bebê para ficarem com ela pelo restante da viagem, mas não queria dar, porque não queria incomodar ninguém. Eu era indiferente. Afinal, estávamos conseguindo nos virar bem apesar de sermos pais de primeira viagem.
— Precisam de alguma coisa? — a comissária gostosa viu sinalizando feito doida para Suzanne no corredor à frente e, provavelmente, pensou que estava sendo solicitada.
— Sim. Você poderia levar a bebê até aquela moça que está ali na frente? — me intrometi, lhe estendendo e ignorando os resmungos de . — Se eles querem pegá-la, aproveite e descanse, oras!
A loira ao meu lado apenas negou com a cabeça, reprovando.
— Entregue — a morena voltou, sorrindo abertamente para mim. Soltei uma risadinha quando a vi nos dar as costas rebolando em seu uniforme sexy.
— , por Deus, ela está trabalhando!
— Ué, eu não fiz nada de mais! — arfei, ofendido. — Ela quem começou sorrindo pra mim daquele jeito!
Não consegui segurar o riso ao ver revirando os olhos teatralmente.
— Vocês, homens, só pensam em sexo.
— Vai me dizer que nunca pensou em transar num avião?
me encarou como se eu fosse louco.
— , eu tenho medo de aviões. Não me imagino fazendo nada dentro de um — ela falou pausadamente, como se explicasse algo a uma criança.
— Melhor ainda! — afirmei, e riu desacreditada. — Além da adrenalina que deve ser correr o risco de ser pego, ainda teria a sensação de estar fazendo algo arriscado — a loira desaprovou minha fala, repetindo o que sempre falava quando eu tentava lhe mostrar que algo que ela considerava ser errado, na verdade, era uma delícia: me chamou de louco. — Vai me dizer que você não tem nenhum fetiche em lugares?
— Não, , eu não tenho.
Revirei os olhos. Como podia ser tão monótona?
— Pois eu tenho, em aviões — dei de ombros, atraindo seu olhar curioso.
— Você já…
— Não, quem me dera — passei meus olhos sobre e logo tratei de tentar afastar aquela ideia da mente. Antes mesmo de começar, meu membro já deu sinal de vida com apenas a menção de consumar aquele desejo com . Ah, seria tão incrível… Fecharíamos nosso trato com chave de ouro. — Se bem que não seria uma má ideia… Alguém me prometeu algo e até agora não cumpriu.
— Nem vem, , o combinado era só até o ano-novo — ela hasteou o dedo em minha direção, fazendo a carinha de irritada que me fazia ficar duro só de olhá-la.
Suas bochechas estavam mais vermelhas, indicando que, nem que fosse por um milissegundo, algo impróprio tinha se passado por sua cabeça. Era só instigá-la a pensar de novo e de novo, tentar trazer à tona as memórias fresquinhas de nossos corpos nus em sua cabeça. tinha aquele orgulho insuportável que a impedia de dizer o que realmente queria, e eu vi em seus olhos o quanto ela estava querendo aquilo.
— Ah, vamos lá, . Eu ainda estou com as camisinhas que compramos aqui na minha carteira, e nem chegamos a usar! — insisti, vendo-a negar com a cabeça, relutante, porém já com a respiração irregular. — Além do mais, todo mundo sabe que o ano só começa de verdade na segunda-feira.
Seus olhos azuis se focaram em meu rosto ao ouvir aquilo. Vi ela mexer a boca sem ter o que falar para protestar, afinal de contas, eu meio que estava certo.
Beijei sua bochecha antes de migrar para o canto de sua boca. fechou os olhos e respirou fundo.
— … — aquele tom ameaçador nunca tinha saído tão trêmulo de seus lábios. Ri, antes de encostar de leve minha boca na dela.
— Só estou te propondo que, talvez, possamos prolongar um pouco nosso combinado. Olhe só, faltam só quarenta minutos para dar meia-noite e ser oficialmente segunda-feira — mostrei-lhe o relógio que ela tinha me dado em meu pulso, esperando que tomasse uma decisão logo. — E então, , o que vai ser?
respirou fundo, apenas me deixando mais ansioso.
— Vai na frente — ela disse, e eu quase fiz uma comemoração exagerada. — Se eu não chegar em cinco minutos, é porque eu desisti.
— Você não vai — tomei sua boca, puxando-a pela nuca antes de deixar minha poltrona e rumar para o banheiro.
Notei seu corpo se tensionar na poltrona e, quando olhei para trás, vi seus dedos apertarem a lateral do assento. Era engraçadinho de se ver o quanto tinha medo de fazer coisas erradas. Pelo visto, não era somente quem eu estragaria; precisava correr riscos para saber qual era o real lado bom da vida.
Adentrei o banheiro grande e me encostei numa das paredes, ansioso, realmente pensando se havia mesmo a possibilidade de dar para trás justo quando eu já estava louco, com pensamentos a mil sobre nós dois nos pegando naquele espaço.
Ouvi batidas na porta e a abri prontamente, já sentindo meu coração batendo forte dentro do peito. Me deparei com do lado de fora, quase pálida de nervosismo. Puxei-a para dentro rapidamente, prendendo-a contra a porta antes de me esticar para trancá-la.
— T-Tem certeza que não vão nos escutar aqui dentro? — beijei seu pescoço após assentir prontamente. Na verdade, eu não sabia se ouviriam ou não, nem ao menos me importava com aquele detalhe. — , é sério — ela se desvencilhou de mim, dando passos até o centro do banheiro e olhando cada detalhe, boquiaberta.
Sim, o banheiro da primeira classe era magnífico, mas nem se comparava com a visão de seu corpo nu que eu estava doido para ter de novo.
— O que será que acontece se eles nos pegam transando nesse banheiro? — ela me encarou pelo espelho à sua frente.
Agarrei-a por trás, sentindo sua bunda em meu membro pulsante. Apertei seus quadris, sentindo-a arfar com as costas coladas em meu peito. Deslizei ambas as mãos, chegando até seus seios. Olhei nosso reflexo no espelho – nos encaixávamos tão bem que chegava a dar ódio. Era extremamente irônico pensar que era a dona do corpo que me dava mais prazer ultimamente.
Eu lá ia saber o que aconteceria? me fez uma pergunta difícil numa hora daquelas. Eu nem ao menos conseguia me concentrar no que estávamos fazendo naquele exato momento. Minha cabeça sempre ia além, imaginando nossos próximos passos. Ainda estávamos vestidos, mas eu já podia me imaginar fodendo com em todos os cantos possíveis daquele banheiro, beijando cada centímetro de sua pele e tirando toda a tensão de seus ombros.
Sim, eu estava indo com muita sede ao pote. Geralmente, não agia daquela forma em situações como aquelas. Sempre fui mais racional e agi com calma, observando e decidindo o caminho mais seguro para ir. Mas, com , eu não corria o risco de errar o tal caminho. Afinal, tudo entre nós era um desastre de qualquer forma mesmo. E se tratando de sexo, éramos um desastre delicioso.
— Não é como se eles pudessem nos expulsar do voo — soltei uma risadinha ao pé de seu ouvido, beijando a região. sorriu e levou a mão até minha nuca, acariciando o local. — De qualquer forma, eles terão que esperar do lado de fora, porque eu só saio daqui depois de acabar com toda a minha vontade de você — apertei sua bunda, vendo-a sorrir safada antes de morder o lábio e se virar em minha direção.
— Então vamos acabar logo com isso — ela beijou minha boca, envolvendo-me com seus braços.
Minhas mãos passearam por suas costas, por baixo da jaqueta jeans que ela usava. Afastei-a de mim para ajudá-la a se despir da peça. Logo me deu as costas, foi em direção à pia do banheiro e colocou a peça estendida sobre o mármore. Eu a segui quase cegamente, pegando-a pelos quadris e içando seu corpo até que estivesse sentada ali. Voltei a beijar sua boca, puxando-a para mais perto e segurando uma de suas pernas que já envolvia minha cintura. Apoiei a mão na pia e inclinei-me sobre ela, enquanto nossas línguas se entrelaçavam como se não houvesse amanhã. Nossas respirações ofegantes contrastavam perfeitamente com os corações batendo forte. O oxigênio se tornava um item cada vez mais dispensável para nós, já que não conseguíamos mais desgrudar nossas bocas.
Minhas mãos foram inconscientemente para seus seios, ainda cobertos pela blusa branca fina que usava. Percebi, com muito pesar, que não poderíamos nos despir por completo. O risco de alguém nos pegar era real, e, se acontecesse, ao menos com um pouco de roupa teríamos que estar para não ficar tão vergonhoso. Levantei o tecido branco, revelando seus seios empinados, abrigados num sutiã claro, que, para a minha sorte, tinha um fecho na frente.
Meus dedos trêmulos não me possibilitaram abri-lo com facilidade. deixou meus lábios e substituiu minhas mãos, finalmente abrindo o sutiã e me deixando ter a visão que eu tanto queria ter. Umedeci o indicador com o polegar em minha língua antes de levá-los até um de seus mamilos rosados e começar a brincar com seu bico, arrancando-lhe murmúrios de pura satisfação. Antes de me inclinar para enfim abocanhar seu seio, olhei para seu rosto e a vi se deleitar com a ideia de ter minha boca deslizando por sua pele. Meu membro latejou ainda dentro da calça, fazendo-me querer pular as preliminares e estar logo dentro dela.
também estava com aquela urgência aparente, empurrando-me pelos ombros e levando a mão até o cós da minha calça após passar os dedos por toda a extensão do meu pau superficialmente. Gemi contra seu rosto, abrindo as calças. Antes de baixá-las, tirei minha carteira do bolso, abrindo-a e pegando o preservativo.
Rasguei a embalagem com os dentes, já tendo invadindo minha cueca e tirando meu membro para fora, masturbando-o devagar enquanto me beijava o pescoço. Coloquei o preservativo e subi sua saia, que, àquele ponto, já estava levantada quase na altura de sua cintura. Afastei sua calcinha para o lado, já sentindo-a molhada e pronta para me receber. Dedilhei sua intimidade, arrancando-me um sorrisinho antes de puxar ainda mais seu corpo em direção ao meu.
— Sem torturas — ela me repreendeu, fazendo-me rir do seu desespero.
— Pra quem não queria vir, você bem que está apressadinha — pincelei sua entrada, apenas pelo prazer de vê-la irritada. Arfei junto dela, com a sensação extasiante que senti com o ato.
— …
Sorri, pegando-a pela nuca e beijando seus lábios à medida em que avançava para dentro, preenchendo-a aos poucos. mordeu meu lábio e deslizou a mão pelo meu braço, apertando meu bíceps quando saí e entrei novamente, daquela vez, indo mais fundo.
— Que delícia… — ela cravou as unhas curtas em minha pele, arrepiando-me dos pés à cabeça.
Quase revirei os olhos ao ouvi-la falar daquele modo. Sua voz embargada denunciava o quanto estava se segurando para não fazer barulho, para não demonstrar o quão gostoso estava. Meu olhar não saía de seu rosto. Eu estava completamente extasiado por toda a situação. Realizar aquele fetiche não poderia ser com outra pessoa além dela; eu estava unindo as duas coisas que mais me excitavam em uma só. Queria poder gravar o momento para poder revisitar e assisti-lo quantas vezes quisesse.
Continuei estocando devagar, explorando seu corpo com as mãos e vendo como seus pelos estavam eriçados. Dei beijos molhados em seu pescoço, adorando o modo como me prendia entre as pernas e tinha os braços envoltos dos meus ombros. A sensação de ser preso daquele jeito era… eu não encontrava uma palavra que pudesse traduzir o que eu estava sentindo naquele momento, só sabia que queria senti-la cada vez mais e mais. Era a coisa mais louca do universo me dar conta daquilo, se tratando de .
Os únicos sons que se podia ouvir ali eram os das nossas respirações aceleradas e o barulho característico de nossos corpos se chocando. Ainda de olhos cravados em seu rosto, eu observava fechar os dela, imersa na atmosfera que tínhamos criado à nossa volta, nem um pouco preocupada em ser pega no flagra ou algo do tipo.
— Mais rápido — ela pediu, ofegando e colando a testa na minha.
Puxei-a ainda mais para perto, praticamente deitando-a sobre a pia e apoiando uma das mãos no espelho atrás de seus cabelos desgrenhados. Passei a meter com força, entrando, junto de , num outro patamar de prazer, praticamente descontrolado e inconsciente. Eu apertava seu quadril, descontando a tensão de não poder fazer barulho.
chegou ao ápice, apertando meu membro dentro de si e me levando à loucura. Enquanto tinha seus espasmos do orgasmo duradouro, ela escorregou da pia, fazendo-me, num movimento rápido, pegá-la no colo e encostá-la em uma das paredes que havia ali.
Enquanto ainda soluçava e soltava murmúrios desconexos de olhos fechados, eu a estocava ainda em busca do meu ápice. Minha esposa me ajudou, subindo e descendo em meu membro à medida que me beijava o pescoço. Gozei demoradamente, tomando seus lábios de um jeito tão brusco que, com certeza, os deixaria vermelhos e inchados.
Voltei a colocá-la sobre a pia, tentando normalizar a respiração. levou as mãos aos cabelos loiros, prendendo-os num coque a fim de refrescar o calor que estava sentindo. Voltamos a nos encarar, ainda ofegantes, e soltamos um riso desacreditado. Eu por finalmente realizar meu desejo de transar num avião; com certeza por ter tido coragem de topar fazer algo errado.
Descartei o preservativo e subi minhas calças, vendo também tentar ajeitar as próprias roupas e dando impulso para descer da pia.
— Espera, não vai agora — entrei em sua frente. arregalou os olhos, assustada.
— Por quê? Acha que nos descobriram?
— Não, — ri baixinho, passando as mãos pelo cabelo. — É que… Ainda não deu meia-noite — mostrei o relógio a ela. Faltavam apenas dez minutos.
— Mas não dá pra fazer mais nada em dez minutos…
era impossível. Ainda sem conter a risada, neguei com a cabeça, concordando. Precisaríamos de muito mais tempo caso fôssemos recomeçar tudo o que havíamos acabado de fazer ali.
Queria eu ter mais tempo.
— Só… fica mais um pouco — me encaixei entre suas pernas. Ela me olhou e finalmente entendeu o que quis dizer, assentindo em silêncio antes que eu me aproximasse para beijá-la.
Tomei seus lábios de maneira diferente de como fiz anteriormente. Agora a calmaria reinava naquele banheiro, devido ao nosso completo silêncio confortável. Minhas mãos pareciam ter um imã invisível, atraídas pela pele macia dela. Eu não conseguia resistir por muito tempo e logo estava tocando-a em algum lugar. Eu fazia carinho em suas coxas por baixo da saia que ela usava, já suas mãos estavam espalmadas em meu peito. Diferente do surfista metido a besta da praia, me acariciava, não empurrava. Não se sentia presa ou sufocada ali.
Quando nos separamos, a única coisa que deu tempo de fazer foi olhar em seus olhos. colou a testa na minha, e daquele jeito ficamos até que o relógio chegasse à meia-noite e encerrasse de vez aquele trato.
Me separei dela, dando-lhe espaço para descer. e eu nos ajeitamos em frente ao espelho, tentando colocar tudo no lugar até que ficássemos no mínimo apresentáveis.
— Então é isso… — ela suspirou, ainda de frente para o próprio reflexo.
— Foi um bom trato — balancei a cabeça, sorrindo amarelo.
Seus olhos azuis focaram-se em mim, e permaneceu séria por algum tempo. Após piscar algumas vezes para voltar a se situar, olhou para a porta atrás de nós.
— Eu vou primeiro — ela disse e eu concordei, vendo-a dar passos incertos até lá. Comprimi meus lábios, observando-a dar as costas e destrancar a porta.
— Ei, — chamei, esperando que virasse, confusa. Ela me encarou já com a porta aberta à sua frente. — Eu te odeio.
Seu sorriso se abriu no mesmo instante, fazendo-me imitá-la involuntariamente.
— Eu também te odeio, — ela riu.
E então saiu, deixando-me a sós comigo mesmo. Encarei o espelho mais uma vez antes de ligar a torneira e jogar um pouco de água no rosto. Respirei fundo ainda molhado, olhando para meu rosto no reflexo.
Era o fim daquele trato e de qualquer outro tipo de desejo como os que tive no passado relacionados a . Acabou. Tivemos curiosidade, sanamos as dúvidas e pronto.
Aquele era o início de uma linda amizade.
Tá, talvez não tão linda assim.
Capítulo 28
's point of view.
Caminhei por entre as poltronas, ainda sentindo a sensação pós-sexo deixar meu corpo aos poucos. A cada passo que eu dava, parecia que estava flutuando. A serotonina combinada a endorfina ainda percorriam minhas veias e artérias, deixando-me levemente sonolenta pelo grande esforço físico que tivemos. Sentei-me no meu lugar, olhando em volta e certificando-me de que ninguém estava me olhando de um jeito estranho ou acusando-me de ter transado no banheiro.
Caraca! Eu transei no banheiro do avião.
Comprimi meus lábios, vendo que tínhamos saído ilesos. Afinal, tudo estava normal à minha volta. Ouvi passos vindos do corredor e tratei de colocar meu protetor de olhos e me recostar no assento. Era , e eu não sabia se tinha coragem de encará-lo sem ficar vermelha ao me relembrar das cenas que protagonizamos há pouco. Ele passou por mim, sentou-se ao meu lado e recolocou o cinto em volta de si, fazendo-me dar conta de que eu tinha me esquecido daquele detalhe. Senti as mãos de virem até meu tronco, segurando ambas as pontas do cinto de segurança e fechando-o em mim também. Ainda imóvel, o observei de canto de olho se ajeitar e deitar-se para trás, colocando seu travesseiro de pescoço antes de ter novamente uma de suas mãos em mim. Daquela vez, me puxou devagar pelo pescoço, deitando minha cabeça na lateral de seu travesseiro antes de voltar sua palma para a parte de cima de sua coxa torneada.
Encarei sua mão tatuada e adornada com a nossa aliança de casamento. Suspirei, voltando a fechar os olhos, e tentei dormir um pouco. Antes de cair no sono, pensei em como aquela viagem foi atípica – não somente por ser minha primeira vez saindo do país e explorando outros cantos do mundo, mas também por ter explorado outra coisa durante nossa estadia em Tulum. Muito mais que o corpo de , eu explorei um lado de minha relação com ele que nem sabia que algum dia poderia ser possível existir. Aliás, se dependesse de mim, nunca aconteceria se eu parasse para pensar no que a do passado faria numa situação como aquela.
Ela provavelmente não só lavaria a boca com água sanitária, como tomaria um banho com o produto somente para se livrar dos rastros que os lábios e o corpo de tinham deixado para trás.
Antes, nem poderíamos chamar nada que envolvia nós dois de relação. Éramos apenas duas pessoas que se odiavam e eram obrigadas a conviver por ter uma pessoa amada em comum nos juntando. Analisando nossa situação atual, estávamos praticamente na mesma, com sendo nosso elo de ligação. Porém, parecia tudo tão diferente. Tentando olhar de fora pela primeira vez, eu não sabia dizer quando aquilo tinha mudado tão rápido. Chegamos a Tulum como inimigos e saímos como amigos e... Bom, eu nem sabia se dava para classificar aquele acordo doido que fizemos.
Só sabia que era um relacionamento, bem complicado e ainda em desenvolvimento. Mas era um.
Aqueles dias longe do trabalho, de Miguel e dos nossos vizinhos foram necessários para que estabelecêssemos tudo aquilo. Estávamos voltando para casa dispostos a tentar fazer dar tudo certo. Tínhamos uma audiência bem próxima, e aquela seria nossa primeira batalha pela nossa filha. No fim das contas, estava certo – éramos mesmo uma família. Até mesmo nossa briga foi proveitosa para tentarmos proporcionar um lar mais estável para . A pobrezinha devia odiar presenciar tantas brigas.
O caminho até nossa casa foi cansativo. Enquanto dormia todo torto e encostado na janela, eu mantinha uma conversa tranquila com a taxista sobre como o mundo era terrível com as mulheres e como lidar com clientes homens era um pé no saco. No fim do dia, ou você voltava para casa enojada por uma piadinha, ou uma cantada estúpida, ou nem voltava.
— Lar doce lar — murmurou, se espreguiçando após largar a última mala próxima da porta.
Tranquei a porta, já sentindo o vento frio invadir a sala. Sim, estávamos em casa. Adeus sol, praia e tudo de divertido que o verão nos trazia. Apesar de querer morar naquele paraíso, eu estava feliz por estar em casa.
Não pude deixar de reparar na fala de . Parecia até coisa de filme infantil pensar num lugar como referência de lar, conforto e sensação de segurança. Para mim, aquele pensamento era ainda mais louco, visto que o lugar que eu devia sentir tudo aquilo – a casa que cresci e morei por anos junto de meus pais – não me passava aquela sensação.
E justo naquela casa enorme, completamente fora da minha realidade, dividindo o teto com – e até mesmo com as noites em claro e o choro de –, eu podia dizer que sentia como se estivesse em casa. Era esquisito pensar naquilo àquela altura do campeonato, assim como minha relação com . Nossa rotina ali havia se tornado confortável sem que eu percebesse. De repente, me dei conta do quanto eu adorava chegar do trabalho e encontrar Elisabeta, como sempre cuidadosa, me entregando e saindo porta afora. De como eu amava me deitar no sofá e assistir aquela televisão enorme, ou tomar banho de banheira depois de um dia estressante… Até mesmo os convites das meninas para sair eu andava recusando. Quando não estava com , eu só pensava em estar com ela no conforto da minha casa.
também parecia confortável ali – tinha seu videogame, seu escritório no fim do corredor, e também aproveitava o sofá da sala para ver seus jogos de futebol aos fim de semana, acompanhado de sua cerveja e sempre com no colo. O tamanho da casa realmente não nos dava chances de nos encontrar muito quando não queríamos olhar na cara um do outro. No fim das contas, ainda poderíamos nos considerar solteiros. saiu algumas vezes com Dafne, e eu, bom, não estava no clima para aquilo.
— Acho melhor deixar essas malas para pegar amanhã — sugeri, vendo-o colocar uma das mãos na cadeira após pegar uma das alças e fazer menção de levantá-la.
Estava ficando velho. Ri baixinho do meu pensamento. Engraçado que, para me pegar no colo daquele jeito no banheiro, ele não sentia dor.
Peguei da cadeirinha e sua pequena mala de ombro que abrigava suas coisas, sabendo que era a única bagagem que eu iria levar para cima. que se virasse com o resto sozinho. A bebê estava com um cheirinho estranho que, infelizmente, eu já conhecia de outros carnavais. Provavelmente, estava de fralda cheia.
— E então, quer tomar um banho?
Engoli em seco, paralisada no meio do quarto. Tentei identificar algo em seu semblante sério, porém estava vazio.
Aquilo era um... convite?
— Me dê ela aqui, depois você fica com ela para eu ir.
Pisquei rapidamente, soltando o ar que nem percebi que prendi, junto de um risinho sem humor. Que engraçado ele.
Pior que não aparentou ter feito de propósito. Mas aquilo lá era coisa de se dizer para alguém com quem você passou os últimos dois dias transando? Ok, talvez eu estivesse ficando louca e enxergando segundas intenções onde não tinha. Mas era . Além de seu histórico de pervertido, não seria a primeira nem a segunda vez que ele me desmontava ao falar besteiras daquele tipo.
— Não, eu vou dar um banho nela. Acho que ela fez o número dois — apalpei sua fralda, sentindo-a pesar enquanto fazia uma careta. — Vai você primeiro.
Ele não protestou, apenas assentiu e foi até a cômoda para pegar uma toalha. Pelo canto do olho, o observei caminhar até o banheiro e fechar a porta atrás de si.
Suspirei, ainda imóvel, encarnado a madeira branca. O pensamento que surgiu em minha cabeça me arrancou um risinho desacreditado, sem graça. Era óbvio que nem se lembrava da nossa conversa no carro. Ele não estava me esperando, mesmo que não estivesse ali.
Ele só estava blefando. Deve ter soltado todas aquelas coisas desconexas na hora do tesão. Aliás, fiquei surpreendida ao ver o modo como agia naqueles momentos. Se me pedissem para imaginá-lo na cama antes de ter ido com ele, jamais o descreveria do jeito que foi comigo.
Era até bizarro de se ver. Ele me olhava como se eu fosse uma deusa, praticamente se ajoelhava aos meus pés e beijava minha pele como se nunca mais quisesse desgrudar os lábios de mim. O jeito como me tocava, até mesmo sua voz, que ficava deliciosamente mais rouca enquanto ele descrevia tudo o que queria e iria fazer comigo… A luxúria escancarada devia ser sua marca registrada entre as mulheres. Não era à toa que carregava sua boa fama. De certo ele fazia o mesmo com todas, por isso não era difícil para ele arranjar alguém quando queria. Até mesmo eu caí em seus encantos.
Mas acabou, foram só por dois dias, para experimentar. Pronto. Eu provei, gostei muito, até mais do que deveria, mas era completamente errado.
Apesar de ter tido uma amostra do errado no banheiro daquele avião, e de repente tudo que me era ilícito pareceu tentador aos meus olhos.
Não!
Era . Só por esse nome eu já deveria entender que era errado, e não havia brechas para aquela nova regra. Sim, estava criando uma regra para mim mesma. Nunca pensei que algum dia criaria uma regra para resistir a ele. Minha preocupação não era mais somente o fato de estarmos em casa e não mais nos permitindo durante uma viagem, mas também tinha medo de me iludir com aquela história toda de amizade.
Eu vi com meus próprios olhos o modo como me dobrava em duas e me colocava no bolso de trás quando decidia agir como um ser humano normal, me respeitando e até me agradando. Quando ele assumia aquela postura de cara legal, era uma questão de minutos até eu parar em seu colo. E mesmo que nossas brigas estivessem prestes a cessar com as bandeiras brancas que foram alçadas, eu não poderia me esquecer de todo nosso histórico.
Sabia que poderia estar sendo desconfiada demais ao manter minhas duas visões de bem claras em minha mente: a antiga e a nova, que, vez ou outra, pareciam se embaralhar em minha cabeça, deixando-me confusa. Por mais que eu acreditasse que estávamos evoluindo, queria me prevenir de novas decepções. Ainda estava tentando entender a primeira e o modo como ela havia me afetado.
Entreguei-lhe , já vestida no seu macacão de frio, e o escutei falar que iria até a cozinha preparar a mamadeira dela. Tomei meu banho, ainda muito reflexiva, mas tentei mudar o rumo dos meus pensamentos, senão ficaria louca. Não importava o que eu pensava – de algum jeito, e me vinham à tona. Não podia culpar meu cérebro, afinal, foi com eles que passei os últimos três dias seguidos. No fim das contas, estava feliz até mesmo por estar de volta ao trabalho. Eu me distrairia e mataria as saudades das minhas amigas.
Tentei fazer uma skincare para tentar dar um jeito no meu rosto após os últimos vinte anos de vida com um esfoliante que só usei duas vezes desde que comprei. Eu não costumava dormir de maquiagem e usava protetor solar – esperava que somente aquilo me deixasse com a pele boa. A ideia de gastar dinheiro em produtos caríssimos sempre me fez desistir de cuidar mais da minha pele. Talvez agora com a divisão de contas da casa, eu poderia investir em algo do tipo.
— Caramba, acho que dei um mau jeito nas costas com aquelas malas — comentou, indo até a porta com adormecida em seus braços. Ele iria levá-la para o quarto dela.
No fundo, eu ainda tinha uma certa resistência com ela dormindo só em um cômodo diferente, mas sabia que devíamos acostumá-la daquela forma. Afinal, ela já tinha três meses – o que na minha cabeça não significava nada, porque sempre seria um bebezinho para mim.
Arqueei as sobrancelhas e segurei o riso, espiando-o pelo espelho enquanto terminava de passar o hidratante, que já devia estar vencido de tanto tempo que eu não o usava. Pensando bem, não devia ser uma boa ideia gastar dinheiro com aquilo. Eu provavelmente iria me esquecer de usar.
— Se você soubesse dirigir, talvez eu não estivesse com dor, — voltou reclamando, com uma das mãos dentro da camiseta branca, massageando a própria lombar como um velho reclamão. Revirei os olhos, sentando-me na cama. — Aliás, quando vamos começar suas aulas?
Confesso que eu não havia prestado atenção em sua fala. Meus olhos foram inconscientemente até as entradas de seu abdômen, aparentes no elástico da calça de moletom quando sua barriga ficou à mostra.
— Eu sei dirigir, não comprei minha carteira — até porque nem dinheiro para aquilo eu tinha na época. — Não tenho culpa se está fora de forma, .
— Passei horas dirigindo enquanto você estava no seu décimo quinto cochilo, babando no banco de trás.
Pior que não dava nem para negar aquela informação. Eu realmente babava quando cochilava.
— Se realmente sabe dirigir, por que então não pegou o carro e revezou comigo? — ele perguntou.
era quem estava incitando confusão, justo ele quem propôs nosso cessar-fogo. Foi daquele jeito que Hitler causou a Segunda Guerra. Infelizmente, eu era minha única testemunha daquilo.
— E dirigir numa estrada cheia de carretas e caminhões enormes? Nunca! — eu me encolhia de medo somente daquela menção.
— Nós vamos sair para trabalhar qualquer dia desses com você levando o carro.
Me deitei de barriga para cima, suspirando. Eu tinha medo não só de estradas e rodovias; as ruas eram meu principal pavor! Imagine se eu atropelasse um pedestre?
— Mas sobre eu estar fora de forma, acho que tem razão. Preciso voltar para a academia. A que tem perto da empresa agora tem crossfit…
Soltei um riso debochado.
Era só o que me faltava, virando um crossfiteiro! Para piorar, só faltava me dizer que tinha virado coach. Sim, eu fazia parte da grande maioria da população que tinha preconceito contra aqueles dois grupos específicos. Ambos eram insuportáveis.
Aquele acordo sobre tentarmos ser amigos estava começando a me sair caro demais. Se ele viesse com aquele papo chato de academia, eu seria obrigada a voltar a odiá-lo – até mais do que antes, se pudesse. Fora que ele iria virar um daqueles brutamontes musculosos, e não precisava de nada daquilo. Seu corpo já era delicioso do jeito que estava.
— Por favor, não faça isso — soltei sem querer, vendo-o franzir a testa em minha direção. — Quer dizer… Eu acho que crossfit deixa os homens feios e… muito musculosos… E você está… b-bem do jeito que está — soei tão fria que acho que precisava de um outro banho naquele momento.
ainda me encarava, sentado na cama, olhando-me com um de seus sorrisinhos de canto de boca.
— Chace faz crossfit — ele comentou. Arqueei as sobrancelhas, surpresa. Então existia um crossfiteiro que não era insuportável! Não conheci uma exceção daquelas. — Não te vi reclamando do corpo dele — ele sorriu, irônico.
Não tinha o que reclamar, só agradecer todas as vezes que aquele deus grego apareceu disposto a entrar na piscina ou no mar em Tulum. Eram sempre roupas bem reveladoras, expondo as coxas torneadas, bíceps e abdômen definidos na medida certa, sem ficarem muito exagerados. Mas, ao mesmo tempo, sem serem discretos como os de .
— Vamos marcar essa coisa de ir trabalhar comigo dirigindo — mudei de assunto, cobrindo-me com um dos cobertores.
Vi que foi uma provocação pelo fato de eu ter babado em Chace durante a viagem, e eu não cairia na pilha dele. Até porque achei melhor não cutucá-lo muito. nem ao menos se deu conta de que eu praticamente o chamei de gostoso, então era melhor deixar do jeito que estava.
Ele me imitou, ajeitando-se para deitar na cama. Porém, ao se virar sobre o colchão, reproduziu uma expressão de dor que me fez analisá-lo, preocupada.
— Quer que eu tente te fazer uma massagem? — me arrependi de falar assim que terminei minha frase. As lembranças daquele dia na banheira do spa me vieram à mente. E pela cara que fez, eu não fui a única a reviver aquele momento extremamente excitante.
— Massagem…
Aquele tom de voz…
Merda. Merda. Merda.
— S-Sim… Pra ver se alivia sua dor… — complementei, tentando deixar claro que tinha me oferecido para uma massagem normal.
Que estúpida. Até mesmo eu tinha pensado besteira, quem dirá , cuja mente gira em torno de sexo vinte e quatro horas por dia.
Apesar dos pesares, sabia que ele talvez entendesse o fato de eu me oferecer para tentar ajudar. Afinal, foi praticamente meu enfermeiro enquanto estive com o tornozelo machucado. Não me custaria nada retribuir o cuidado.
— Não custa nada tentar, né?
Me levantei da cama e fui atrás de um creme, enquanto me esperava sentado, me observando de longe.
Pelo espelho, percebi que ele abaixou a cabeça, sem graça ao ser flagrado com os olhos em mim. Me perguntei quantos dias aquele constrangimento mútuo iria durar, porque seria difícil fingir normalidade quando a simples menção de um banho já nos deixava engatilhados pelo que vivemos em Tulum.
— Tenho que tirar a camisa? — ele perguntou. Balancei a cabeça, sem saber o que dizer.
Encarei seus ombros largos e suas escápulas proeminentes, antes de descer meu olhar por sua cintura e região lombar desnudas, onde dava para ver a barra de sua cueca por baixo do moletom escuro que ele usava. Mordi meu lábio, reprimindo minha vontade de me inclinar sobre e beijar toda a extensão de sua pele exposta. Engraçado que eu nunca tinha feito aquilo, e, de repente, me bateu um arrependimento de não ter dado a atenção que seus ombros tanto mereciam. Afinal, junto com seu par de coxas, suas costas eram as minhas partes favoritas de seu corpo.
Tinha outra parte que eu também achava digna de tombamento para um monumento. Mas, para o bem da minha saúde mental, resolvi fingir que não o tinha visto, tocado ou colocado na boca.
Fui até a cômoda, pegando um hidratante para ajudar minhas mãos a deslizarem melhor por sua pele, e, após lambuzar ambas, lhe toquei ainda receosa, sem saber o que fazer direito.
Decidi começar por sua lombar, posicionando minhas duas mãos próximo da barra de sua calça e massageando o local. Sentei-me bem perto de seu corpo, tendo a visão de seu rosto deitado lateralmente no travesseiro. suspirou assim que comecei a tocá-lo. Ele murmurou de dor no início, porém, após uns minutos, pareceu relaxar sob meu toque.
Subi os dedos por toda a extensão de sua coluna, colocando precisão no que fazia. Reparei em alguns arranhados recentes e me dei conta de que nem me recordava de ter invadido sua camisa no avião e ter feito aquele pequeno estrago. Ofeguei, me recordando da cena e das sensações que senti ao ser fodida na pia do banheiro de um avião. Ironicamente, tinha razão. Era inexplicável o fato de estarmos correndo o risco de sermos pegos. Aquela adrenalina apenas fez triplicar o meu tesão.
Continuei a subir em direção aos seus ombros, vendo-o se contorcer de dor assim que massageei o local, distraindo-me de minhas lembranças. Eu realmente tinha que parar de relembrar o que vivemos em Tulum ou no caminho de volta. Tudo aquilo tinha que ficar lá. Aquele era o combinado.
— Eu acho melhor você ir ao médico ver isso — analisei seu rosto antes de continuar, mais devagar e com cuidado, vendo-o ainda esboçar dor.
— Não, acho que foi só um mau jeito.
Revirei os olhos. Homens. Só iam ao médico quando estavam nas últimas. Geralmente, ficavam se lamentando para as mulheres como se estivessem morrendo e não levantavam a bunda para procurar ajuda profissional para nada.
— Mais umas três massagens dessas e eu estarei novinho em folha.
Soltei um riso debochado. sonhava que eu ia ficar servindo de massagista para ele.
— Sua ingrata, eu te dei banho e te carreguei pra cima e pra baixo por dias — sua mão alcançou uma de minhas coxas e beliscou a região interna de uma delas, fazendo-me dar um pulo de susto e de dor.
— Ei, isso doeu! — me afastei, massageando o local vermelho que ainda pulsava. Ouvi a risada de quando ele se virou para ver sua obra de arte.
— Você mereceu.
Dei-lhe um tapa na mão quando o vi fazer menção de me tocar, porém aquilo não o impediu de burlar minha barreira e pousar sua mão grande ali, fazendo um frio inexplicável me subir na barriga.
O que diabos estava acontecendo comigo? só tinha me tocado! Não era nada de mais. Eu não deveria ter ficado excitada com aquela bobagem.
— Quer que eu dê um beijinho pra sarar?
Apenas a imagem, ou melhor, miragem de com aquela boca macia subindo pela minha perna tão perto do meu sexo me fez suspirar em desejo. Mas tê-lo fazendo aquilo me despertaria desejos proibidos, completamente fora de cogitação.
Não consegui impedir minha cabeça de repassar a noite em que me chupou naquele quarto quente em Tulum. Do quanto eu estava louca para dar para ele quando estávamos naquele restaurante, depois que neguei que o queria, tentando reprimir meu próprio corpo de ficar excitado com a ideia de ter o dele colado ao meu. Aquela dança, o modo como ele me agarrou naquela pista cheia de gente, de como simplesmente não conseguia disfarçar o quão sedento estava por mim… Conseguia sentir até meu coração bater acelerado, no mesmo ritmo que o tinha batendo dentro do peito na ocasião.
— Acho que já está bom de massagem por hoje, não? — saí de perto dele num pulo. Não sabia se dava para confiar em mim mesma.
Fui até a cômoda para devolver o creme ao lugar e alcancei o interruptor, apagando a luz. Fui respirando fundo em direção à cama, ainda nervosa com o que tinha acabado de acontecer. Estiquei o braço, tateando até que estivesse na cabeceira, então me deitei em silêncio, ajeitando meus travesseiros e alinhando a coberta grossa ao meu corpo.
Estávamos de lados opostos. Suspirei, encarando a escuridão diante de meu rosto. Eu não estava com um pingo de sono. se remexeu atrás de mim, provavelmente também sem previsão de pegar no sono tão cedo. Se teve algo que fizemos naquela viagem foi dormir, e bom… outras coisas mais, mas não vinha ao caso. Estávamos mais do que descansados para enfim começarmos o ano recém-chegado.
O colchão se movimentou um pouco. Virei levemente o pescoço e senti seu corpo grande se arrastar perigosamente mais próximo do meu, à medida em que virava na cama. Respirei fundo, sentindo o insistente frio na barriga. Estava ficando preocupada. Aquelas reações estavam ficando estranhamente frequentes.
Arrastei uma das pernas para trás, projetando meu quadril junto, e ouvi sua respiração em meio ao silêncio. se aproximou mais um pouco. Finalmente senti meu corpo aquecido com seu calor humano sendo emanado de tão perto. Mas não parecia o suficiente, eu ainda o queria mais perto.
Quis descartar aquela ideia do meu pensamento. Porém, qualquer coisa que pairasse em minha cabeça que não fosse relacionado a corresponder era automaticamente descartado como se não importasse.
Empinei a bunda, roçando-me em sua virilha, e o ouvi praguejar num sussurro. Sorri, satisfeita. Ele estava brincando comigo, achando que eu não iria resistir e lhe pediria para que me beijasse ou tocasse meu corpo. Não poderia negar que estava louca de vontade de me jogar em cima dele e acabar com aqueles joguinhos, porém não o faria. Não lhe daria aquele gostinho, não outra vez. Eu provocaria de volta, só para ver até onde ele resistia sem começar a apelar. Queria ver se era a única que estava subindo pelas paredes desde que pisamos os pés em casa.
Na minha nuca um ar quente soprou, fazendo todos os pelos existentes do meu corpo se eriçarem. Fechei os olhos, respirando com dificuldade.
Me agarra logo, . Eu sei que você quer. Me quer.
Rebolei contra seu membro aprisionado naquela calça de moletom. Não me segurei e arfei quando sua mão grande envolveu meu quadril com a irresistível firmeza de sempre. Eu não sabia qual era o segredo por trás do modo como me tocava. Só sabia que, quando o fazia, eu sentia como se ele pudesse fazer o que quisesse de mim, contanto que estivesse me pegando daquele jeito.
Ok, eu consegui o que tanto queria: vê-lo ceder e apelar. tinha me agarrado. Era para eu pará-lo, jogar em sua cara que ele tinha dito que iria respeitar minha decisão de não continuarmos transando quando chegássemos em casa.
Era.
Mordi o lábio inferior, sentindo-o esfregar-se em minha bunda, já ereto e impondo-me seu tamanho grande. Praticamente desfaleci contra a cama. Joguei minhas costas para trás, sentindo seu peito coberto pela camiseta fina me amparar. Seu tórax subia e descia ritmado com o meu na mesma velocidade. A temperatura debaixo daquelas cobertas comparava-se a labaredas de fogo. Estava difícil até de respirar.
estava certo. Por mais que fosse completamente estranho aquele evento acontecer mais de uma vez ao ano, eu concordava com ele sobre não podermos mais ficar perto um do outro, sozinhos. Realmente dava vontade de tirar a roupa – e eu estava louca para aquilo –, porém sentia que ainda precisava muito manter meu orgulho intacto.
Infelizmente, acho que perdi o pouco de orgulho que tinha quando me casei com , porque não tive forças para me desvencilhar de seu braço que deslizou por minha barriga e quando sua mão subiu até um de meus seios. Fiz foi o contrário – me alinhei ainda mais a ele, reparando na maneira bizarra que tudo em nós se encaixava perfeitamente bem. Como se tivéssemos sido feitos a molde para nos encontramos.
O tesão me deixou meio poética, não?
— Caralho, , que pé gelado! — ele se afastou num pulo, deixando-me frustrada e confusa, mas também muito brava e aliviada ao mesmo tempo. Nem eu mesma saberia relatar minhas reações naquele momento. — Parece que morreu e esqueceram de enterrar — ele ralhou, saindo da cama em meio ao escuro.
Bufei de onde estava, de braços cruzados. Levei um susto quando senti suas mãos puxando a coberta dos meus dois picolés, que, assumo, demoravam um pouco para se aquecer em temperaturas baixas como aquela. Mas precisava mesmo daquilo tudo?
— Ai! Solta meu pé! — chutei sua mão, já enfurecida. Agora pronto, ele ia querer mandar no que eu tinha ou não que usar para dormir.
Pois bem. Se achava que tocaria num fio de cabelo meu quando retornasse para a cama depois de literalmente me obrigar a vestir meias, ele estava redondamente enganado.
— Não adianta colocar essas meias pequenas, idiota. Eu vou tirá-las enquanto estiver dormindo — exemplifiquei, tirando a que ele tinha me vestido com o outro pé, numa facilidade quase mágica.
foi até a gaveta novamente, deixando meus pés descobertos, apenas aumentando ainda mais minha raiva dele. Ele retornou com um par de meias de futebol, que me cobririam os tornozelos indo até a parte inferior da minha panturrilha.
— Me dê isso aqui, eu tenho duas mãos — me sentei ainda enfurecida, arrancando a outra meia de sua mão e vestindo-a na força do ódio.
— Da próxima vez, vou te deixar sem. Aí fica resfriada e quero só ver.
Revirei os olhos em meio ao breu do quarto. Com certeza teriam próximas vezes. Eu tinha acabado de descobrir a kryptonita de e iria usá-la sempre que precisasse para afastá-lo e fazê-lo acalmar o que ele tinha entre as pernas.
O colchão afundou quando retornou ao seu lugar, voltando a se virar em minha direção. Sua mão voltou a circundar meu quadril. Apesar do arrepio, resisti bravamente.
— Respeite meu lado na cama — afastei sua mão, arrastando-me para longe da tentação.
— Quem estava vindo para o meu lado era você — ele resmungou.
— Nem você acredita nisso, — ajeitei meu travesseiro, descontando minha frustração no coitado.
Eu iria correr atrás do meu orgulho perdido, ou não me chamava .
Ou , quem se importa?
's point of view.
Despertei com meu celular tocando loucamente na cômoda. Estiquei o braço, peguei-o de qualquer jeito e encarei o visor, lembrando-me de que tinha programado o despertador noite passada.
se revirou sobre a cama, invadindo meu espaço e jogando a perna próxima de mim. Levantei o pescoço e me estiquei para vê-la melhor – estava praticamente em cima de mim. Ri pelo nariz. Pelo menos o pé que encostava em mim estava coberto pela meia. Recordar-me daquela cena antes de dormir me fez encarar seu rosto, intrigado.
Tá bom, eu sabia que tinha começado a provocar. Não tinha resistido. Quando a vi toda solícita querendo resolver minha dor nas costas, fui amolecendo. Quando tive suas mãos e seu toque gostoso sobre minha pele, minha cabeça já começou a bolar um plano para tê-la antes mesmo que eu pudesse me dar conta e intervir.
Devo dizer que não esperava que fosse passar por cima do que prometeu que não faria mais uma vez. Me perguntei o que aconteceria se eu tentasse dar em cima dela, se minha esposa cairia em tentação novamente. Já foram três vezes que a tive completamente entregue a mim e ao tesão do momento. Me perguntei onde iríamos parar com aquela história toda.
Porque, no início, era só curiosidade. Mas eu já havia estado com ela mais vezes do que poderia ser considerado algo experimental. Já sabia onde ela gostava de ser tocada, o que a deixava louca, o que ela gostava de ouvir e fazer na cama. E confessaria para qualquer um que, ainda assim, queria continuar a tê-la comigo para poder continuar descobrindo mais coisas. Melhor, lhe mostrar coisas novas.
— Que horas são? — sua voz sonolenta me despertou de meus devaneios.
Decidi me levantar logo. Ficar ali pensando em coisas que não iriam acontecer era uma tremenda perda de tempo. podia até ceder de vez em quando por carência, mas duvidava muito que ela iria querer fazer o que lhe propus naquele dia. não iria querer se envolver casualmente comigo até aquele casamento acabar.
— Não está na sua hora. Volte a dormir, sim?
A loira assentiu, revirando-se sobre o colchão. Me estiquei e ajeitei o cobertor pelos seus ombros, sentindo-me tentado a voltar a me deitar ao seu lado e ignorar minhas responsabilidades.
Escovei os dentes e lavei o rosto, já sentindo falta do clima de verão que estava acostumado a ter, mesmo que tenham sido apenas três dias naquele paraíso. Mas é o que a tal Blair Waldorf diz naquela série que Grace era viciada: “depois de provar caviar, você não se contenta mais com sardinha”. Mas acho que não poderia desdenhar tanto de Londres assim. Apesar de ter adorado o tempo que passei em Tulum, era sempre maravilhoso voltar para casa.
abriu o berreiro em seu quarto, e, assim como fiz de madrugada, fui até seu encontro, aprovando a ideia que teve em deixar a porta dela entreaberta para escutarmos melhor caso ela fizesse algum barulho. Claro, além daquele truque, contávamos com a babá eletrônica. Nunca seria demais protegê-la. Se pudesse, faria muito mais coisas para deixá-la 100% fora de perigo.
Peguei-a no colo e fui até o trocador, já que tinha certeza que, além de fome, devia estar com a fralda cheia.
Enquanto a limpava e me livrava do que a incomodava, não pude deixar de pensar naquela questão toda que envolvia a segurança dela e de , principalmente de . estaria segura enquanto estivesse em casa. Tanto eu quanto confiávamos em Elisabeta de olhos fechados, e apesar de Miguel ter tentado contra minha esposa na porta de nosso condomínio, eu sabia que ele não conseguia penetrar aqueles muros altos e não passaria pela portaria tão facilmente.
Mas era lá fora que me preocupava. Principalmente pelo fato de ser teimosa e orgulhosa, sem contar que ela já tinha um alvo praticamente pintado na testa. A culpa seria toda minha caso algo acontecesse com alguma das duas. só virou alvo daquele desgraçado porque entrou naquela farsa comigo. Mesmo que a ideia tenha vindo dela e estivesse tão comprometida quanto eu naquele plano de conseguir a guarda definitiva de , eu ainda me sentia culpado pelo fato de não estar lá quando ela precisou e enfrentou os ataques de Miguel sozinha.
Levei a bebê para baixo e fui até a cozinha preparar sua mamadeira. Eu simplesmente adorava nossos momentos a sós e em silêncio; assumiria a qualquer um que perguntasse o quão de joelhos eu estava por . Desde a primeira vez que coloquei os olhos em seu rostinho miúdo, mesmo com meu luto e minha revolta querendo me fazer negar sua existência, eu a amei desde o primeiro minuto. Já a amava quando ela sequer veio a este mundo. Nunca teria palavras para agradecer por ter insistido naquele dia.
Fui até o escritório já com a menina deitada sobre o carrinho. Enquanto mastigava uma maçã que encontrei perdida na geladeira, respondi uns emails e revisei os últimos relatórios expedidos. Suspirei ao me dar conta de que tinha retornado ao mundo real, onde o mar não podia ser visto e os problemas eram bem maiores do que uma das bebedeiras de .
Assim que terminei, senti meu estômago roncar. O relógio que marcava as horas parecia ter parado no tempo. Ainda faltava muito para acordar, e eu estava me sentindo um idiota por depender dela para comer. Era ridículo! tinha medo de dirigir, mas ao menos se virava para ir e vir sem mim. Eu tinha que ser independente naquela parte também.
Recorri à internet para procurar uma receita fácil de waffle. Não iria fazer o omelete que tinha me ensinado, porque queria mostrar que eu também sabia fazer outras coisas sozinho. Despejei os ingredientes, e a massa ficou até que convincente. Porém, eu ainda estava com medo de ficar péssimo – daria arsenal para me zoar por pelo menos duas semanas inteiras. Me senti naqueles programas culinários onde tem um chefe carrasco pronto para detonar o prato do participante.
Enquanto fechava a máquina redonda com a massa já dentro, a campainha tocou, fazendo-me franzir o cenho. Quem poderia ser naquele horário? Fui abrir a porta pensando ser Elizabeta, que, por algum motivo, poderia estar horas adiantada. Mas minha cara de bunda foi notória quando me deparei com Tom parado ali.
— O que quer aqui?
— Vim ver . Onde ela está?
Respirei fundo, segurando minha vontade crescente de agarrá-lo por aquela camiseta polo ridícula e colocá-la pra fora no maior estilo “Um Maluco no Pedaço”, arremessando-o sem dó nem piedade.
Eu até estava de bom humor, mas passou.
— está dormindo, volte outra hora. Aliás, nem precisa voltar — o segui até a cozinha, ainda perplexo com sua cara de pau de ir entrando daquele jeito na minha casa.
— Vou esperá-la. Tenho certeza que, se eu for embora, você não lhe dará o recado de que vim vê-la — ele se sentou na cadeira da bancada, sorrindo cinicamente em minha direção.
— Não sou secretário dela — confirmei que não daria recado nenhum vindo dele, e sua expressão me causou riso. Tom realmente achou que eu iria colaborar para que ficasse com ele? — Aliás, acho que o pedido dela para que você se afastasse não surtiu muito efeito, não é? O fato de você praticamente ter que marcar um horário para vê-la ou falar com ela já não te diz muita coisa? — encarei-o por cima dos ombros, enquanto retirava meus waffles quentinhos e os colocava num prato.
me disse com todas as letras na noite de Natal que não pretendia ficar com Tom por agora, enquanto não tivéssemos a guarda de e estivéssemos fora daquele casamento. Tinha quase certeza que ela disse o mesmo a ele. Mas, por algum motivo, ele continuava a ficar em cima, numa marcação cerrada e desnecessária. Tom mal a deixava respirar, sempre investindo contra . Ele era tão burro que não via que iria cansá-la de ver sua cara, sendo que não tinha motivo para aquele alarde todo, visto que não existia concorrência.
— Diz, me diz que você não a quer comigo e que você chega a ser abusivo com ela, só para me tirar da jogada — o loiro cruzou os braços, com a maior pose de dono da razão. Revirei os olhos, rindo sarcástico e levando uma das mãos à cintura.
— Eu não devia — hasteei o dedo, atraindo sua atenção —, mas vou te dar um conselho que eu daria para qualquer amigo meu — não que aquela fosse a situação, até porque até mesmo Chace tem alguma noção quando se trata de mulheres. — Desencana dessa sua pose de bom moço, de salvador dos fracos e oprimidos, cara. não vai dar pra você.
Além de me irritar profundamente, eu imaginava o que sua postura causava nas mulheres. Estávamos em 2021. Nenhuma queria um marmanjo daquele tamanho em cima delas jurando que iria protegê-las de todo mal, a ponto de sufocá-las. sabia se virar bem sozinha, até. Se não fosse por Miguel, eu mesmo estaria tranquilo em relação a ela. E Tom devia fazer o mesmo, não só porque não era nada dela, mas também porque eu era o último cara que lhe faria mal.
— Nem pra você.
Desconcentrei-me do que eu estava fazendo, despejando um pouco de massa a mais na máquina com minha reação àquela resposta. Mordi o lábio, ainda de costas para ele, segurando a risada que me veio forte.
Mal sabe você, Tom… Mal sabe você...
Minha língua estava praticamente em brasa, coçando para lhe dar uma palinha de como tinha sido nossa viagem e em como eu a tinha feito gozar várias vezes. Queria lhe contar com riqueza de detalhes como foi transar com minha esposa naquele avião e até mesmo descrever o modo como a agarrei na nossa cama noite passada.
Mas não. Ele merecia ficar se gabando daquele jeito que nem um imbecil por algo que achava ser real, quando, na verdade, a realidade era outra. Bem diferente da versão dele.
— Desculpe, acho que não ouvi o que disse… — cocei o nariz com o indicador, com a voz carregada de cinismo.
Aquela piada era ótima. Aliás, eu com certeza me lembraria dela mais tarde, e aí sim poderia gargalhar à vontade.
— não vai dar pra você. Ela te odeia, , não só me contou isso como deu pra ver o modo como ela te trata quando não estão fingindo ser um casal...
Meu Deus, eu não conseguiria segurar o riso por muito tempo. Será que Tom algum dia já considerou ser comediante?
Ele me contou que me odiava como se fosse uma grande novidade. Aliás, arrisco dizer que Tom estava bem atrasado naquela fofoca. Ele falava que me destratava porque não a viu massagear minhas costas noite passada, toda preocupada com minha dor.
— … Eu posso estar muito errado no que penso sobre suas atitudes...
E quem se importa com seus pensamentos, Tom? Ele continuava falando e falando. Será que não sabia que ninguém suportava tanta palestrinha?
— … Mas acho que você a quer pra si, e por isso tenta nos atrapalhar.
Olhe só, se não é mais outra piada hilária vinda do bobo da corte. Agora eu não somente nunca teria , mas também era um louco ciumento e possessivo! Se eu era tudo aquilo que ele pensava, por que então se preocupar tanto comigo? Afinal de contas, nunca se relacionaria com um homem assim!
Espera um pouco, Tom achava que eu era concorrência?
— Oi, meu amor! Que saudades que eu tava de você! — a voz que usava para falar com crianças e animais foi ouvida da sala. Estranhei ao vê-la agarrada ao gato preto, que miou emburrado ao ser esmagado pela dona. A presença de Tom me distraiu tanto que nem notei que ele tinha trazido Salém consigo. — Oi, Tom.
— Bom dia, — sua expressão mudou da água para o vinho, e seus olhos passaram a brilhar ao encarar a loira que ainda vestia seu pijama curto e as meias que vesti nela noite passada. — Feliz ano-novo! — ele se levantou, abraçando-a apertado.
Troquei um olhar com , que era esmagada por ele por mais tempo do que um simples abraço. Está vendo? Eu sabia que aquilo era um personagem mal feito. Ele nem tinha me dado um feliz ano-novo… Soltei um risinho ao pensar naquilo com muito sarcasmo envolvido.
— Obrigada. Pra você também, Tom — quando finalmente foi solta, passou para trás do balcão, vindo parar ao meu lado. Pelo menos estava sendo esperta ao fugir das mãos pegajosas dele. — O que temos aqui? Senti o cheiro da sala, mas achei que estava delirando de fome — ela riu, sarcástica, arrancando risadas do loiro sentado à sua frente.
— Acho bom estar com fome mesmo, porque é você quem vai provar primeiro — abri a gaveta, tirando de lá um garfo e vendo-a se afastar, já olhando a comida com uma cara nada boa. — Qual é, , você mesma disse que está cheirando bem. Venha, olha, vou até colocar um pouco de mel — despejei o líquido viscoso por cima do waffle, logo depois cortando um pequeno pedaço com o garfo.
— Não se preocupe, . Se você passar mal, eu te socorro.
Ignorei Tom, me aproximando da loira que tinha as duas mãos na boca e um olhar risonho. nos observava do carrinho, atenta.
— Tá bom, tá bom, me dê aqui — estendeu a mão, e eu neguei com a cabeça, ainda segurando o garfo. Ela revirou os olhos e desistiu de resistir, abrindo a boca para que eu lhe desse a comida.
Um fio de mel escorreu do pedaço, caindo no canto de sua boca e respingando em sua clavícula. Segurei-me ao máximo onde estava para não trazê-la para perto e chupar sua pele, subir por seu pescoço fino e só parar em sua boca, após limpar o canto dela com minha língua.
arregalou os olhos assim que começou a mastigar, praticamente gemendo enquanto me encarava, ainda surpresa pelo waffle ter ficado bom. Ao menos era o que parecia. Eu estava louco para provar o gosto, mas tinha que ser da boca dela. Encarei a região por tempo demais. Senti meu pau endurecer quando a vi usar o polegar para limpar o mel da boca e chupá-lo, ainda me olhando com aqueles olhos claros.
— Gostou? — praticamente não pisquei, mordendo meu próprio lábio para evitar de ir até morder o dela.
Minha esposa assentiu, passando a língua nos lábios. Ela terminou a cena quase pornográfica sorrindo safada em minha direção.
— Está uma delícia — manteve o contato visual.
— Você é uma delícia… — soltei a primeira coisa que me veio à mente, completamente inconsciente, ainda sentindo meu corpo inteiro se aquecer.
— Ah, qual é, vocês transaram?
Caminhei por entre as poltronas, ainda sentindo a sensação pós-sexo deixar meu corpo aos poucos. A cada passo que eu dava, parecia que estava flutuando. A serotonina combinada a endorfina ainda percorriam minhas veias e artérias, deixando-me levemente sonolenta pelo grande esforço físico que tivemos. Sentei-me no meu lugar, olhando em volta e certificando-me de que ninguém estava me olhando de um jeito estranho ou acusando-me de ter transado no banheiro.
Caraca! Eu transei no banheiro do avião.
Comprimi meus lábios, vendo que tínhamos saído ilesos. Afinal, tudo estava normal à minha volta. Ouvi passos vindos do corredor e tratei de colocar meu protetor de olhos e me recostar no assento. Era , e eu não sabia se tinha coragem de encará-lo sem ficar vermelha ao me relembrar das cenas que protagonizamos há pouco. Ele passou por mim, sentou-se ao meu lado e recolocou o cinto em volta de si, fazendo-me dar conta de que eu tinha me esquecido daquele detalhe. Senti as mãos de virem até meu tronco, segurando ambas as pontas do cinto de segurança e fechando-o em mim também. Ainda imóvel, o observei de canto de olho se ajeitar e deitar-se para trás, colocando seu travesseiro de pescoço antes de ter novamente uma de suas mãos em mim. Daquela vez, me puxou devagar pelo pescoço, deitando minha cabeça na lateral de seu travesseiro antes de voltar sua palma para a parte de cima de sua coxa torneada.
Encarei sua mão tatuada e adornada com a nossa aliança de casamento. Suspirei, voltando a fechar os olhos, e tentei dormir um pouco. Antes de cair no sono, pensei em como aquela viagem foi atípica – não somente por ser minha primeira vez saindo do país e explorando outros cantos do mundo, mas também por ter explorado outra coisa durante nossa estadia em Tulum. Muito mais que o corpo de , eu explorei um lado de minha relação com ele que nem sabia que algum dia poderia ser possível existir. Aliás, se dependesse de mim, nunca aconteceria se eu parasse para pensar no que a do passado faria numa situação como aquela.
Ela provavelmente não só lavaria a boca com água sanitária, como tomaria um banho com o produto somente para se livrar dos rastros que os lábios e o corpo de tinham deixado para trás.
Antes, nem poderíamos chamar nada que envolvia nós dois de relação. Éramos apenas duas pessoas que se odiavam e eram obrigadas a conviver por ter uma pessoa amada em comum nos juntando. Analisando nossa situação atual, estávamos praticamente na mesma, com sendo nosso elo de ligação. Porém, parecia tudo tão diferente. Tentando olhar de fora pela primeira vez, eu não sabia dizer quando aquilo tinha mudado tão rápido. Chegamos a Tulum como inimigos e saímos como amigos e... Bom, eu nem sabia se dava para classificar aquele acordo doido que fizemos.
Só sabia que era um relacionamento, bem complicado e ainda em desenvolvimento. Mas era um.
Aqueles dias longe do trabalho, de Miguel e dos nossos vizinhos foram necessários para que estabelecêssemos tudo aquilo. Estávamos voltando para casa dispostos a tentar fazer dar tudo certo. Tínhamos uma audiência bem próxima, e aquela seria nossa primeira batalha pela nossa filha. No fim das contas, estava certo – éramos mesmo uma família. Até mesmo nossa briga foi proveitosa para tentarmos proporcionar um lar mais estável para . A pobrezinha devia odiar presenciar tantas brigas.
O caminho até nossa casa foi cansativo. Enquanto dormia todo torto e encostado na janela, eu mantinha uma conversa tranquila com a taxista sobre como o mundo era terrível com as mulheres e como lidar com clientes homens era um pé no saco. No fim do dia, ou você voltava para casa enojada por uma piadinha, ou uma cantada estúpida, ou nem voltava.
— Lar doce lar — murmurou, se espreguiçando após largar a última mala próxima da porta.
Tranquei a porta, já sentindo o vento frio invadir a sala. Sim, estávamos em casa. Adeus sol, praia e tudo de divertido que o verão nos trazia. Apesar de querer morar naquele paraíso, eu estava feliz por estar em casa.
Não pude deixar de reparar na fala de . Parecia até coisa de filme infantil pensar num lugar como referência de lar, conforto e sensação de segurança. Para mim, aquele pensamento era ainda mais louco, visto que o lugar que eu devia sentir tudo aquilo – a casa que cresci e morei por anos junto de meus pais – não me passava aquela sensação.
E justo naquela casa enorme, completamente fora da minha realidade, dividindo o teto com – e até mesmo com as noites em claro e o choro de –, eu podia dizer que sentia como se estivesse em casa. Era esquisito pensar naquilo àquela altura do campeonato, assim como minha relação com . Nossa rotina ali havia se tornado confortável sem que eu percebesse. De repente, me dei conta do quanto eu adorava chegar do trabalho e encontrar Elisabeta, como sempre cuidadosa, me entregando e saindo porta afora. De como eu amava me deitar no sofá e assistir aquela televisão enorme, ou tomar banho de banheira depois de um dia estressante… Até mesmo os convites das meninas para sair eu andava recusando. Quando não estava com , eu só pensava em estar com ela no conforto da minha casa.
também parecia confortável ali – tinha seu videogame, seu escritório no fim do corredor, e também aproveitava o sofá da sala para ver seus jogos de futebol aos fim de semana, acompanhado de sua cerveja e sempre com no colo. O tamanho da casa realmente não nos dava chances de nos encontrar muito quando não queríamos olhar na cara um do outro. No fim das contas, ainda poderíamos nos considerar solteiros. saiu algumas vezes com Dafne, e eu, bom, não estava no clima para aquilo.
— Acho melhor deixar essas malas para pegar amanhã — sugeri, vendo-o colocar uma das mãos na cadeira após pegar uma das alças e fazer menção de levantá-la.
Estava ficando velho. Ri baixinho do meu pensamento. Engraçado que, para me pegar no colo daquele jeito no banheiro, ele não sentia dor.
Peguei da cadeirinha e sua pequena mala de ombro que abrigava suas coisas, sabendo que era a única bagagem que eu iria levar para cima. que se virasse com o resto sozinho. A bebê estava com um cheirinho estranho que, infelizmente, eu já conhecia de outros carnavais. Provavelmente, estava de fralda cheia.
— E então, quer tomar um banho?
Engoli em seco, paralisada no meio do quarto. Tentei identificar algo em seu semblante sério, porém estava vazio.
Aquilo era um... convite?
— Me dê ela aqui, depois você fica com ela para eu ir.
Pisquei rapidamente, soltando o ar que nem percebi que prendi, junto de um risinho sem humor. Que engraçado ele.
Pior que não aparentou ter feito de propósito. Mas aquilo lá era coisa de se dizer para alguém com quem você passou os últimos dois dias transando? Ok, talvez eu estivesse ficando louca e enxergando segundas intenções onde não tinha. Mas era . Além de seu histórico de pervertido, não seria a primeira nem a segunda vez que ele me desmontava ao falar besteiras daquele tipo.
— Não, eu vou dar um banho nela. Acho que ela fez o número dois — apalpei sua fralda, sentindo-a pesar enquanto fazia uma careta. — Vai você primeiro.
Ele não protestou, apenas assentiu e foi até a cômoda para pegar uma toalha. Pelo canto do olho, o observei caminhar até o banheiro e fechar a porta atrás de si.
Suspirei, ainda imóvel, encarnado a madeira branca. O pensamento que surgiu em minha cabeça me arrancou um risinho desacreditado, sem graça. Era óbvio que nem se lembrava da nossa conversa no carro. Ele não estava me esperando, mesmo que não estivesse ali.
Ele só estava blefando. Deve ter soltado todas aquelas coisas desconexas na hora do tesão. Aliás, fiquei surpreendida ao ver o modo como agia naqueles momentos. Se me pedissem para imaginá-lo na cama antes de ter ido com ele, jamais o descreveria do jeito que foi comigo.
Era até bizarro de se ver. Ele me olhava como se eu fosse uma deusa, praticamente se ajoelhava aos meus pés e beijava minha pele como se nunca mais quisesse desgrudar os lábios de mim. O jeito como me tocava, até mesmo sua voz, que ficava deliciosamente mais rouca enquanto ele descrevia tudo o que queria e iria fazer comigo… A luxúria escancarada devia ser sua marca registrada entre as mulheres. Não era à toa que carregava sua boa fama. De certo ele fazia o mesmo com todas, por isso não era difícil para ele arranjar alguém quando queria. Até mesmo eu caí em seus encantos.
Mas acabou, foram só por dois dias, para experimentar. Pronto. Eu provei, gostei muito, até mais do que deveria, mas era completamente errado.
Apesar de ter tido uma amostra do errado no banheiro daquele avião, e de repente tudo que me era ilícito pareceu tentador aos meus olhos.
Não!
Era . Só por esse nome eu já deveria entender que era errado, e não havia brechas para aquela nova regra. Sim, estava criando uma regra para mim mesma. Nunca pensei que algum dia criaria uma regra para resistir a ele. Minha preocupação não era mais somente o fato de estarmos em casa e não mais nos permitindo durante uma viagem, mas também tinha medo de me iludir com aquela história toda de amizade.
Eu vi com meus próprios olhos o modo como me dobrava em duas e me colocava no bolso de trás quando decidia agir como um ser humano normal, me respeitando e até me agradando. Quando ele assumia aquela postura de cara legal, era uma questão de minutos até eu parar em seu colo. E mesmo que nossas brigas estivessem prestes a cessar com as bandeiras brancas que foram alçadas, eu não poderia me esquecer de todo nosso histórico.
Sabia que poderia estar sendo desconfiada demais ao manter minhas duas visões de bem claras em minha mente: a antiga e a nova, que, vez ou outra, pareciam se embaralhar em minha cabeça, deixando-me confusa. Por mais que eu acreditasse que estávamos evoluindo, queria me prevenir de novas decepções. Ainda estava tentando entender a primeira e o modo como ela havia me afetado.
Entreguei-lhe , já vestida no seu macacão de frio, e o escutei falar que iria até a cozinha preparar a mamadeira dela. Tomei meu banho, ainda muito reflexiva, mas tentei mudar o rumo dos meus pensamentos, senão ficaria louca. Não importava o que eu pensava – de algum jeito, e me vinham à tona. Não podia culpar meu cérebro, afinal, foi com eles que passei os últimos três dias seguidos. No fim das contas, estava feliz até mesmo por estar de volta ao trabalho. Eu me distrairia e mataria as saudades das minhas amigas.
Tentei fazer uma skincare para tentar dar um jeito no meu rosto após os últimos vinte anos de vida com um esfoliante que só usei duas vezes desde que comprei. Eu não costumava dormir de maquiagem e usava protetor solar – esperava que somente aquilo me deixasse com a pele boa. A ideia de gastar dinheiro em produtos caríssimos sempre me fez desistir de cuidar mais da minha pele. Talvez agora com a divisão de contas da casa, eu poderia investir em algo do tipo.
— Caramba, acho que dei um mau jeito nas costas com aquelas malas — comentou, indo até a porta com adormecida em seus braços. Ele iria levá-la para o quarto dela.
No fundo, eu ainda tinha uma certa resistência com ela dormindo só em um cômodo diferente, mas sabia que devíamos acostumá-la daquela forma. Afinal, ela já tinha três meses – o que na minha cabeça não significava nada, porque sempre seria um bebezinho para mim.
Arqueei as sobrancelhas e segurei o riso, espiando-o pelo espelho enquanto terminava de passar o hidratante, que já devia estar vencido de tanto tempo que eu não o usava. Pensando bem, não devia ser uma boa ideia gastar dinheiro com aquilo. Eu provavelmente iria me esquecer de usar.
— Se você soubesse dirigir, talvez eu não estivesse com dor, — voltou reclamando, com uma das mãos dentro da camiseta branca, massageando a própria lombar como um velho reclamão. Revirei os olhos, sentando-me na cama. — Aliás, quando vamos começar suas aulas?
Confesso que eu não havia prestado atenção em sua fala. Meus olhos foram inconscientemente até as entradas de seu abdômen, aparentes no elástico da calça de moletom quando sua barriga ficou à mostra.
— Eu sei dirigir, não comprei minha carteira — até porque nem dinheiro para aquilo eu tinha na época. — Não tenho culpa se está fora de forma, .
— Passei horas dirigindo enquanto você estava no seu décimo quinto cochilo, babando no banco de trás.
Pior que não dava nem para negar aquela informação. Eu realmente babava quando cochilava.
— Se realmente sabe dirigir, por que então não pegou o carro e revezou comigo? — ele perguntou.
era quem estava incitando confusão, justo ele quem propôs nosso cessar-fogo. Foi daquele jeito que Hitler causou a Segunda Guerra. Infelizmente, eu era minha única testemunha daquilo.
— E dirigir numa estrada cheia de carretas e caminhões enormes? Nunca! — eu me encolhia de medo somente daquela menção.
— Nós vamos sair para trabalhar qualquer dia desses com você levando o carro.
Me deitei de barriga para cima, suspirando. Eu tinha medo não só de estradas e rodovias; as ruas eram meu principal pavor! Imagine se eu atropelasse um pedestre?
— Mas sobre eu estar fora de forma, acho que tem razão. Preciso voltar para a academia. A que tem perto da empresa agora tem crossfit…
Soltei um riso debochado.
Era só o que me faltava, virando um crossfiteiro! Para piorar, só faltava me dizer que tinha virado coach. Sim, eu fazia parte da grande maioria da população que tinha preconceito contra aqueles dois grupos específicos. Ambos eram insuportáveis.
Aquele acordo sobre tentarmos ser amigos estava começando a me sair caro demais. Se ele viesse com aquele papo chato de academia, eu seria obrigada a voltar a odiá-lo – até mais do que antes, se pudesse. Fora que ele iria virar um daqueles brutamontes musculosos, e não precisava de nada daquilo. Seu corpo já era delicioso do jeito que estava.
— Por favor, não faça isso — soltei sem querer, vendo-o franzir a testa em minha direção. — Quer dizer… Eu acho que crossfit deixa os homens feios e… muito musculosos… E você está… b-bem do jeito que está — soei tão fria que acho que precisava de um outro banho naquele momento.
ainda me encarava, sentado na cama, olhando-me com um de seus sorrisinhos de canto de boca.
— Chace faz crossfit — ele comentou. Arqueei as sobrancelhas, surpresa. Então existia um crossfiteiro que não era insuportável! Não conheci uma exceção daquelas. — Não te vi reclamando do corpo dele — ele sorriu, irônico.
Não tinha o que reclamar, só agradecer todas as vezes que aquele deus grego apareceu disposto a entrar na piscina ou no mar em Tulum. Eram sempre roupas bem reveladoras, expondo as coxas torneadas, bíceps e abdômen definidos na medida certa, sem ficarem muito exagerados. Mas, ao mesmo tempo, sem serem discretos como os de .
— Vamos marcar essa coisa de ir trabalhar comigo dirigindo — mudei de assunto, cobrindo-me com um dos cobertores.
Vi que foi uma provocação pelo fato de eu ter babado em Chace durante a viagem, e eu não cairia na pilha dele. Até porque achei melhor não cutucá-lo muito. nem ao menos se deu conta de que eu praticamente o chamei de gostoso, então era melhor deixar do jeito que estava.
Ele me imitou, ajeitando-se para deitar na cama. Porém, ao se virar sobre o colchão, reproduziu uma expressão de dor que me fez analisá-lo, preocupada.
— Quer que eu tente te fazer uma massagem? — me arrependi de falar assim que terminei minha frase. As lembranças daquele dia na banheira do spa me vieram à mente. E pela cara que fez, eu não fui a única a reviver aquele momento extremamente excitante.
— Massagem…
Aquele tom de voz…
Merda. Merda. Merda.
— S-Sim… Pra ver se alivia sua dor… — complementei, tentando deixar claro que tinha me oferecido para uma massagem normal.
Que estúpida. Até mesmo eu tinha pensado besteira, quem dirá , cuja mente gira em torno de sexo vinte e quatro horas por dia.
Apesar dos pesares, sabia que ele talvez entendesse o fato de eu me oferecer para tentar ajudar. Afinal, foi praticamente meu enfermeiro enquanto estive com o tornozelo machucado. Não me custaria nada retribuir o cuidado.
— Não custa nada tentar, né?
Me levantei da cama e fui atrás de um creme, enquanto me esperava sentado, me observando de longe.
Pelo espelho, percebi que ele abaixou a cabeça, sem graça ao ser flagrado com os olhos em mim. Me perguntei quantos dias aquele constrangimento mútuo iria durar, porque seria difícil fingir normalidade quando a simples menção de um banho já nos deixava engatilhados pelo que vivemos em Tulum.
— Tenho que tirar a camisa? — ele perguntou. Balancei a cabeça, sem saber o que dizer.
Encarei seus ombros largos e suas escápulas proeminentes, antes de descer meu olhar por sua cintura e região lombar desnudas, onde dava para ver a barra de sua cueca por baixo do moletom escuro que ele usava. Mordi meu lábio, reprimindo minha vontade de me inclinar sobre e beijar toda a extensão de sua pele exposta. Engraçado que eu nunca tinha feito aquilo, e, de repente, me bateu um arrependimento de não ter dado a atenção que seus ombros tanto mereciam. Afinal, junto com seu par de coxas, suas costas eram as minhas partes favoritas de seu corpo.
Tinha outra parte que eu também achava digna de tombamento para um monumento. Mas, para o bem da minha saúde mental, resolvi fingir que não o tinha visto, tocado ou colocado na boca.
Fui até a cômoda, pegando um hidratante para ajudar minhas mãos a deslizarem melhor por sua pele, e, após lambuzar ambas, lhe toquei ainda receosa, sem saber o que fazer direito.
Decidi começar por sua lombar, posicionando minhas duas mãos próximo da barra de sua calça e massageando o local. Sentei-me bem perto de seu corpo, tendo a visão de seu rosto deitado lateralmente no travesseiro. suspirou assim que comecei a tocá-lo. Ele murmurou de dor no início, porém, após uns minutos, pareceu relaxar sob meu toque.
Subi os dedos por toda a extensão de sua coluna, colocando precisão no que fazia. Reparei em alguns arranhados recentes e me dei conta de que nem me recordava de ter invadido sua camisa no avião e ter feito aquele pequeno estrago. Ofeguei, me recordando da cena e das sensações que senti ao ser fodida na pia do banheiro de um avião. Ironicamente, tinha razão. Era inexplicável o fato de estarmos correndo o risco de sermos pegos. Aquela adrenalina apenas fez triplicar o meu tesão.
Continuei a subir em direção aos seus ombros, vendo-o se contorcer de dor assim que massageei o local, distraindo-me de minhas lembranças. Eu realmente tinha que parar de relembrar o que vivemos em Tulum ou no caminho de volta. Tudo aquilo tinha que ficar lá. Aquele era o combinado.
— Eu acho melhor você ir ao médico ver isso — analisei seu rosto antes de continuar, mais devagar e com cuidado, vendo-o ainda esboçar dor.
— Não, acho que foi só um mau jeito.
Revirei os olhos. Homens. Só iam ao médico quando estavam nas últimas. Geralmente, ficavam se lamentando para as mulheres como se estivessem morrendo e não levantavam a bunda para procurar ajuda profissional para nada.
— Mais umas três massagens dessas e eu estarei novinho em folha.
Soltei um riso debochado. sonhava que eu ia ficar servindo de massagista para ele.
— Sua ingrata, eu te dei banho e te carreguei pra cima e pra baixo por dias — sua mão alcançou uma de minhas coxas e beliscou a região interna de uma delas, fazendo-me dar um pulo de susto e de dor.
— Ei, isso doeu! — me afastei, massageando o local vermelho que ainda pulsava. Ouvi a risada de quando ele se virou para ver sua obra de arte.
— Você mereceu.
Dei-lhe um tapa na mão quando o vi fazer menção de me tocar, porém aquilo não o impediu de burlar minha barreira e pousar sua mão grande ali, fazendo um frio inexplicável me subir na barriga.
O que diabos estava acontecendo comigo? só tinha me tocado! Não era nada de mais. Eu não deveria ter ficado excitada com aquela bobagem.
— Quer que eu dê um beijinho pra sarar?
Apenas a imagem, ou melhor, miragem de com aquela boca macia subindo pela minha perna tão perto do meu sexo me fez suspirar em desejo. Mas tê-lo fazendo aquilo me despertaria desejos proibidos, completamente fora de cogitação.
Não consegui impedir minha cabeça de repassar a noite em que me chupou naquele quarto quente em Tulum. Do quanto eu estava louca para dar para ele quando estávamos naquele restaurante, depois que neguei que o queria, tentando reprimir meu próprio corpo de ficar excitado com a ideia de ter o dele colado ao meu. Aquela dança, o modo como ele me agarrou naquela pista cheia de gente, de como simplesmente não conseguia disfarçar o quão sedento estava por mim… Conseguia sentir até meu coração bater acelerado, no mesmo ritmo que o tinha batendo dentro do peito na ocasião.
— Acho que já está bom de massagem por hoje, não? — saí de perto dele num pulo. Não sabia se dava para confiar em mim mesma.
Fui até a cômoda para devolver o creme ao lugar e alcancei o interruptor, apagando a luz. Fui respirando fundo em direção à cama, ainda nervosa com o que tinha acabado de acontecer. Estiquei o braço, tateando até que estivesse na cabeceira, então me deitei em silêncio, ajeitando meus travesseiros e alinhando a coberta grossa ao meu corpo.
Estávamos de lados opostos. Suspirei, encarando a escuridão diante de meu rosto. Eu não estava com um pingo de sono. se remexeu atrás de mim, provavelmente também sem previsão de pegar no sono tão cedo. Se teve algo que fizemos naquela viagem foi dormir, e bom… outras coisas mais, mas não vinha ao caso. Estávamos mais do que descansados para enfim começarmos o ano recém-chegado.
O colchão se movimentou um pouco. Virei levemente o pescoço e senti seu corpo grande se arrastar perigosamente mais próximo do meu, à medida em que virava na cama. Respirei fundo, sentindo o insistente frio na barriga. Estava ficando preocupada. Aquelas reações estavam ficando estranhamente frequentes.
Arrastei uma das pernas para trás, projetando meu quadril junto, e ouvi sua respiração em meio ao silêncio. se aproximou mais um pouco. Finalmente senti meu corpo aquecido com seu calor humano sendo emanado de tão perto. Mas não parecia o suficiente, eu ainda o queria mais perto.
Quis descartar aquela ideia do meu pensamento. Porém, qualquer coisa que pairasse em minha cabeça que não fosse relacionado a corresponder era automaticamente descartado como se não importasse.
Empinei a bunda, roçando-me em sua virilha, e o ouvi praguejar num sussurro. Sorri, satisfeita. Ele estava brincando comigo, achando que eu não iria resistir e lhe pediria para que me beijasse ou tocasse meu corpo. Não poderia negar que estava louca de vontade de me jogar em cima dele e acabar com aqueles joguinhos, porém não o faria. Não lhe daria aquele gostinho, não outra vez. Eu provocaria de volta, só para ver até onde ele resistia sem começar a apelar. Queria ver se era a única que estava subindo pelas paredes desde que pisamos os pés em casa.
Na minha nuca um ar quente soprou, fazendo todos os pelos existentes do meu corpo se eriçarem. Fechei os olhos, respirando com dificuldade.
Me agarra logo, . Eu sei que você quer. Me quer.
Rebolei contra seu membro aprisionado naquela calça de moletom. Não me segurei e arfei quando sua mão grande envolveu meu quadril com a irresistível firmeza de sempre. Eu não sabia qual era o segredo por trás do modo como me tocava. Só sabia que, quando o fazia, eu sentia como se ele pudesse fazer o que quisesse de mim, contanto que estivesse me pegando daquele jeito.
Ok, eu consegui o que tanto queria: vê-lo ceder e apelar. tinha me agarrado. Era para eu pará-lo, jogar em sua cara que ele tinha dito que iria respeitar minha decisão de não continuarmos transando quando chegássemos em casa.
Era.
Mordi o lábio inferior, sentindo-o esfregar-se em minha bunda, já ereto e impondo-me seu tamanho grande. Praticamente desfaleci contra a cama. Joguei minhas costas para trás, sentindo seu peito coberto pela camiseta fina me amparar. Seu tórax subia e descia ritmado com o meu na mesma velocidade. A temperatura debaixo daquelas cobertas comparava-se a labaredas de fogo. Estava difícil até de respirar.
estava certo. Por mais que fosse completamente estranho aquele evento acontecer mais de uma vez ao ano, eu concordava com ele sobre não podermos mais ficar perto um do outro, sozinhos. Realmente dava vontade de tirar a roupa – e eu estava louca para aquilo –, porém sentia que ainda precisava muito manter meu orgulho intacto.
Infelizmente, acho que perdi o pouco de orgulho que tinha quando me casei com , porque não tive forças para me desvencilhar de seu braço que deslizou por minha barriga e quando sua mão subiu até um de meus seios. Fiz foi o contrário – me alinhei ainda mais a ele, reparando na maneira bizarra que tudo em nós se encaixava perfeitamente bem. Como se tivéssemos sido feitos a molde para nos encontramos.
O tesão me deixou meio poética, não?
— Caralho, , que pé gelado! — ele se afastou num pulo, deixando-me frustrada e confusa, mas também muito brava e aliviada ao mesmo tempo. Nem eu mesma saberia relatar minhas reações naquele momento. — Parece que morreu e esqueceram de enterrar — ele ralhou, saindo da cama em meio ao escuro.
Bufei de onde estava, de braços cruzados. Levei um susto quando senti suas mãos puxando a coberta dos meus dois picolés, que, assumo, demoravam um pouco para se aquecer em temperaturas baixas como aquela. Mas precisava mesmo daquilo tudo?
— Ai! Solta meu pé! — chutei sua mão, já enfurecida. Agora pronto, ele ia querer mandar no que eu tinha ou não que usar para dormir.
Pois bem. Se achava que tocaria num fio de cabelo meu quando retornasse para a cama depois de literalmente me obrigar a vestir meias, ele estava redondamente enganado.
— Não adianta colocar essas meias pequenas, idiota. Eu vou tirá-las enquanto estiver dormindo — exemplifiquei, tirando a que ele tinha me vestido com o outro pé, numa facilidade quase mágica.
foi até a gaveta novamente, deixando meus pés descobertos, apenas aumentando ainda mais minha raiva dele. Ele retornou com um par de meias de futebol, que me cobririam os tornozelos indo até a parte inferior da minha panturrilha.
— Me dê isso aqui, eu tenho duas mãos — me sentei ainda enfurecida, arrancando a outra meia de sua mão e vestindo-a na força do ódio.
— Da próxima vez, vou te deixar sem. Aí fica resfriada e quero só ver.
Revirei os olhos em meio ao breu do quarto. Com certeza teriam próximas vezes. Eu tinha acabado de descobrir a kryptonita de e iria usá-la sempre que precisasse para afastá-lo e fazê-lo acalmar o que ele tinha entre as pernas.
O colchão afundou quando retornou ao seu lugar, voltando a se virar em minha direção. Sua mão voltou a circundar meu quadril. Apesar do arrepio, resisti bravamente.
— Respeite meu lado na cama — afastei sua mão, arrastando-me para longe da tentação.
— Quem estava vindo para o meu lado era você — ele resmungou.
— Nem você acredita nisso, — ajeitei meu travesseiro, descontando minha frustração no coitado.
Eu iria correr atrás do meu orgulho perdido, ou não me chamava .
Ou , quem se importa?
's point of view.
Despertei com meu celular tocando loucamente na cômoda. Estiquei o braço, peguei-o de qualquer jeito e encarei o visor, lembrando-me de que tinha programado o despertador noite passada.
se revirou sobre a cama, invadindo meu espaço e jogando a perna próxima de mim. Levantei o pescoço e me estiquei para vê-la melhor – estava praticamente em cima de mim. Ri pelo nariz. Pelo menos o pé que encostava em mim estava coberto pela meia. Recordar-me daquela cena antes de dormir me fez encarar seu rosto, intrigado.
Tá bom, eu sabia que tinha começado a provocar. Não tinha resistido. Quando a vi toda solícita querendo resolver minha dor nas costas, fui amolecendo. Quando tive suas mãos e seu toque gostoso sobre minha pele, minha cabeça já começou a bolar um plano para tê-la antes mesmo que eu pudesse me dar conta e intervir.
Devo dizer que não esperava que fosse passar por cima do que prometeu que não faria mais uma vez. Me perguntei o que aconteceria se eu tentasse dar em cima dela, se minha esposa cairia em tentação novamente. Já foram três vezes que a tive completamente entregue a mim e ao tesão do momento. Me perguntei onde iríamos parar com aquela história toda.
Porque, no início, era só curiosidade. Mas eu já havia estado com ela mais vezes do que poderia ser considerado algo experimental. Já sabia onde ela gostava de ser tocada, o que a deixava louca, o que ela gostava de ouvir e fazer na cama. E confessaria para qualquer um que, ainda assim, queria continuar a tê-la comigo para poder continuar descobrindo mais coisas. Melhor, lhe mostrar coisas novas.
— Que horas são? — sua voz sonolenta me despertou de meus devaneios.
Decidi me levantar logo. Ficar ali pensando em coisas que não iriam acontecer era uma tremenda perda de tempo. podia até ceder de vez em quando por carência, mas duvidava muito que ela iria querer fazer o que lhe propus naquele dia. não iria querer se envolver casualmente comigo até aquele casamento acabar.
— Não está na sua hora. Volte a dormir, sim?
A loira assentiu, revirando-se sobre o colchão. Me estiquei e ajeitei o cobertor pelos seus ombros, sentindo-me tentado a voltar a me deitar ao seu lado e ignorar minhas responsabilidades.
Escovei os dentes e lavei o rosto, já sentindo falta do clima de verão que estava acostumado a ter, mesmo que tenham sido apenas três dias naquele paraíso. Mas é o que a tal Blair Waldorf diz naquela série que Grace era viciada: “depois de provar caviar, você não se contenta mais com sardinha”. Mas acho que não poderia desdenhar tanto de Londres assim. Apesar de ter adorado o tempo que passei em Tulum, era sempre maravilhoso voltar para casa.
abriu o berreiro em seu quarto, e, assim como fiz de madrugada, fui até seu encontro, aprovando a ideia que teve em deixar a porta dela entreaberta para escutarmos melhor caso ela fizesse algum barulho. Claro, além daquele truque, contávamos com a babá eletrônica. Nunca seria demais protegê-la. Se pudesse, faria muito mais coisas para deixá-la 100% fora de perigo.
Peguei-a no colo e fui até o trocador, já que tinha certeza que, além de fome, devia estar com a fralda cheia.
Enquanto a limpava e me livrava do que a incomodava, não pude deixar de pensar naquela questão toda que envolvia a segurança dela e de , principalmente de . estaria segura enquanto estivesse em casa. Tanto eu quanto confiávamos em Elisabeta de olhos fechados, e apesar de Miguel ter tentado contra minha esposa na porta de nosso condomínio, eu sabia que ele não conseguia penetrar aqueles muros altos e não passaria pela portaria tão facilmente.
Mas era lá fora que me preocupava. Principalmente pelo fato de ser teimosa e orgulhosa, sem contar que ela já tinha um alvo praticamente pintado na testa. A culpa seria toda minha caso algo acontecesse com alguma das duas. só virou alvo daquele desgraçado porque entrou naquela farsa comigo. Mesmo que a ideia tenha vindo dela e estivesse tão comprometida quanto eu naquele plano de conseguir a guarda definitiva de , eu ainda me sentia culpado pelo fato de não estar lá quando ela precisou e enfrentou os ataques de Miguel sozinha.
Levei a bebê para baixo e fui até a cozinha preparar sua mamadeira. Eu simplesmente adorava nossos momentos a sós e em silêncio; assumiria a qualquer um que perguntasse o quão de joelhos eu estava por . Desde a primeira vez que coloquei os olhos em seu rostinho miúdo, mesmo com meu luto e minha revolta querendo me fazer negar sua existência, eu a amei desde o primeiro minuto. Já a amava quando ela sequer veio a este mundo. Nunca teria palavras para agradecer por ter insistido naquele dia.
Fui até o escritório já com a menina deitada sobre o carrinho. Enquanto mastigava uma maçã que encontrei perdida na geladeira, respondi uns emails e revisei os últimos relatórios expedidos. Suspirei ao me dar conta de que tinha retornado ao mundo real, onde o mar não podia ser visto e os problemas eram bem maiores do que uma das bebedeiras de .
Assim que terminei, senti meu estômago roncar. O relógio que marcava as horas parecia ter parado no tempo. Ainda faltava muito para acordar, e eu estava me sentindo um idiota por depender dela para comer. Era ridículo! tinha medo de dirigir, mas ao menos se virava para ir e vir sem mim. Eu tinha que ser independente naquela parte também.
Recorri à internet para procurar uma receita fácil de waffle. Não iria fazer o omelete que tinha me ensinado, porque queria mostrar que eu também sabia fazer outras coisas sozinho. Despejei os ingredientes, e a massa ficou até que convincente. Porém, eu ainda estava com medo de ficar péssimo – daria arsenal para me zoar por pelo menos duas semanas inteiras. Me senti naqueles programas culinários onde tem um chefe carrasco pronto para detonar o prato do participante.
Enquanto fechava a máquina redonda com a massa já dentro, a campainha tocou, fazendo-me franzir o cenho. Quem poderia ser naquele horário? Fui abrir a porta pensando ser Elizabeta, que, por algum motivo, poderia estar horas adiantada. Mas minha cara de bunda foi notória quando me deparei com Tom parado ali.
— O que quer aqui?
— Vim ver . Onde ela está?
Respirei fundo, segurando minha vontade crescente de agarrá-lo por aquela camiseta polo ridícula e colocá-la pra fora no maior estilo “Um Maluco no Pedaço”, arremessando-o sem dó nem piedade.
Eu até estava de bom humor, mas passou.
— está dormindo, volte outra hora. Aliás, nem precisa voltar — o segui até a cozinha, ainda perplexo com sua cara de pau de ir entrando daquele jeito na minha casa.
— Vou esperá-la. Tenho certeza que, se eu for embora, você não lhe dará o recado de que vim vê-la — ele se sentou na cadeira da bancada, sorrindo cinicamente em minha direção.
— Não sou secretário dela — confirmei que não daria recado nenhum vindo dele, e sua expressão me causou riso. Tom realmente achou que eu iria colaborar para que ficasse com ele? — Aliás, acho que o pedido dela para que você se afastasse não surtiu muito efeito, não é? O fato de você praticamente ter que marcar um horário para vê-la ou falar com ela já não te diz muita coisa? — encarei-o por cima dos ombros, enquanto retirava meus waffles quentinhos e os colocava num prato.
me disse com todas as letras na noite de Natal que não pretendia ficar com Tom por agora, enquanto não tivéssemos a guarda de e estivéssemos fora daquele casamento. Tinha quase certeza que ela disse o mesmo a ele. Mas, por algum motivo, ele continuava a ficar em cima, numa marcação cerrada e desnecessária. Tom mal a deixava respirar, sempre investindo contra . Ele era tão burro que não via que iria cansá-la de ver sua cara, sendo que não tinha motivo para aquele alarde todo, visto que não existia concorrência.
— Diz, me diz que você não a quer comigo e que você chega a ser abusivo com ela, só para me tirar da jogada — o loiro cruzou os braços, com a maior pose de dono da razão. Revirei os olhos, rindo sarcástico e levando uma das mãos à cintura.
— Eu não devia — hasteei o dedo, atraindo sua atenção —, mas vou te dar um conselho que eu daria para qualquer amigo meu — não que aquela fosse a situação, até porque até mesmo Chace tem alguma noção quando se trata de mulheres. — Desencana dessa sua pose de bom moço, de salvador dos fracos e oprimidos, cara. não vai dar pra você.
Além de me irritar profundamente, eu imaginava o que sua postura causava nas mulheres. Estávamos em 2021. Nenhuma queria um marmanjo daquele tamanho em cima delas jurando que iria protegê-las de todo mal, a ponto de sufocá-las. sabia se virar bem sozinha, até. Se não fosse por Miguel, eu mesmo estaria tranquilo em relação a ela. E Tom devia fazer o mesmo, não só porque não era nada dela, mas também porque eu era o último cara que lhe faria mal.
— Nem pra você.
Desconcentrei-me do que eu estava fazendo, despejando um pouco de massa a mais na máquina com minha reação àquela resposta. Mordi o lábio, ainda de costas para ele, segurando a risada que me veio forte.
Mal sabe você, Tom… Mal sabe você...
Minha língua estava praticamente em brasa, coçando para lhe dar uma palinha de como tinha sido nossa viagem e em como eu a tinha feito gozar várias vezes. Queria lhe contar com riqueza de detalhes como foi transar com minha esposa naquele avião e até mesmo descrever o modo como a agarrei na nossa cama noite passada.
Mas não. Ele merecia ficar se gabando daquele jeito que nem um imbecil por algo que achava ser real, quando, na verdade, a realidade era outra. Bem diferente da versão dele.
— Desculpe, acho que não ouvi o que disse… — cocei o nariz com o indicador, com a voz carregada de cinismo.
Aquela piada era ótima. Aliás, eu com certeza me lembraria dela mais tarde, e aí sim poderia gargalhar à vontade.
— não vai dar pra você. Ela te odeia, , não só me contou isso como deu pra ver o modo como ela te trata quando não estão fingindo ser um casal...
Meu Deus, eu não conseguiria segurar o riso por muito tempo. Será que Tom algum dia já considerou ser comediante?
Ele me contou que me odiava como se fosse uma grande novidade. Aliás, arrisco dizer que Tom estava bem atrasado naquela fofoca. Ele falava que me destratava porque não a viu massagear minhas costas noite passada, toda preocupada com minha dor.
— … Eu posso estar muito errado no que penso sobre suas atitudes...
E quem se importa com seus pensamentos, Tom? Ele continuava falando e falando. Será que não sabia que ninguém suportava tanta palestrinha?
— … Mas acho que você a quer pra si, e por isso tenta nos atrapalhar.
Olhe só, se não é mais outra piada hilária vinda do bobo da corte. Agora eu não somente nunca teria , mas também era um louco ciumento e possessivo! Se eu era tudo aquilo que ele pensava, por que então se preocupar tanto comigo? Afinal de contas, nunca se relacionaria com um homem assim!
Espera um pouco, Tom achava que eu era concorrência?
— Oi, meu amor! Que saudades que eu tava de você! — a voz que usava para falar com crianças e animais foi ouvida da sala. Estranhei ao vê-la agarrada ao gato preto, que miou emburrado ao ser esmagado pela dona. A presença de Tom me distraiu tanto que nem notei que ele tinha trazido Salém consigo. — Oi, Tom.
— Bom dia, — sua expressão mudou da água para o vinho, e seus olhos passaram a brilhar ao encarar a loira que ainda vestia seu pijama curto e as meias que vesti nela noite passada. — Feliz ano-novo! — ele se levantou, abraçando-a apertado.
Troquei um olhar com , que era esmagada por ele por mais tempo do que um simples abraço. Está vendo? Eu sabia que aquilo era um personagem mal feito. Ele nem tinha me dado um feliz ano-novo… Soltei um risinho ao pensar naquilo com muito sarcasmo envolvido.
— Obrigada. Pra você também, Tom — quando finalmente foi solta, passou para trás do balcão, vindo parar ao meu lado. Pelo menos estava sendo esperta ao fugir das mãos pegajosas dele. — O que temos aqui? Senti o cheiro da sala, mas achei que estava delirando de fome — ela riu, sarcástica, arrancando risadas do loiro sentado à sua frente.
— Acho bom estar com fome mesmo, porque é você quem vai provar primeiro — abri a gaveta, tirando de lá um garfo e vendo-a se afastar, já olhando a comida com uma cara nada boa. — Qual é, , você mesma disse que está cheirando bem. Venha, olha, vou até colocar um pouco de mel — despejei o líquido viscoso por cima do waffle, logo depois cortando um pequeno pedaço com o garfo.
— Não se preocupe, . Se você passar mal, eu te socorro.
Ignorei Tom, me aproximando da loira que tinha as duas mãos na boca e um olhar risonho. nos observava do carrinho, atenta.
— Tá bom, tá bom, me dê aqui — estendeu a mão, e eu neguei com a cabeça, ainda segurando o garfo. Ela revirou os olhos e desistiu de resistir, abrindo a boca para que eu lhe desse a comida.
Um fio de mel escorreu do pedaço, caindo no canto de sua boca e respingando em sua clavícula. Segurei-me ao máximo onde estava para não trazê-la para perto e chupar sua pele, subir por seu pescoço fino e só parar em sua boca, após limpar o canto dela com minha língua.
arregalou os olhos assim que começou a mastigar, praticamente gemendo enquanto me encarava, ainda surpresa pelo waffle ter ficado bom. Ao menos era o que parecia. Eu estava louco para provar o gosto, mas tinha que ser da boca dela. Encarei a região por tempo demais. Senti meu pau endurecer quando a vi usar o polegar para limpar o mel da boca e chupá-lo, ainda me olhando com aqueles olhos claros.
— Gostou? — praticamente não pisquei, mordendo meu próprio lábio para evitar de ir até morder o dela.
Minha esposa assentiu, passando a língua nos lábios. Ela terminou a cena quase pornográfica sorrindo safada em minha direção.
— Está uma delícia — manteve o contato visual.
— Você é uma delícia… — soltei a primeira coisa que me veio à mente, completamente inconsciente, ainda sentindo meu corpo inteiro se aquecer.
— Ah, qual é, vocês transaram?
Capítulo 29
— Não!
— Sim!
— ! — arregalou os olhos em minha direção, censurando-me.
Eu estava ultrajado. Entendia o fato de não querer contar sobre nós para as amigas dela. O medo de ter que dar o braço a torcer depois de tanto tempo falando mal de mim devia ser dos grandes mesmo. Mas Tom? Ele não importava!
— O quê?! — indaguei, ainda com raiva ao vê-la tentar negar o óbvio. Não adiantava tentar disfarçar depois da cena que tínhamos acabado de protagonizar. Até mesmo Dormian tinha sacado tudo. — Estou mentindo por acaso? Nós transamos sim, fora as preliminares e as provocações.
ainda estava estarrecida, alternando os olhos entre nós dois.
— Me poupe dos detalhes, .
Encarei Tom, confuso. Poupá-lo do quê, afinal? Ele estava agindo como se tivesse acabado de descobrir uma traição. O cara se dava tanta importância na vida de que chegava a me dar pena.
nem ao menos se lembrou que ele existia enquanto se desmanchava de prazer em todas as vezes que estive dentro dela.
— Eu não tenho que te poupar de nada, até porque isso não é da sua conta.
— Quando foi que isso aconteceu? Foi antes ou depois de ele arrancar o celular das suas mãos e te ameaçar?
Meu sangue ferveu ao vê-lo arquear as sobrancelhas, assumindo um tom de voz carregado de cinismo. A própria franziu o cenho ao ouvi-lo trazer aquele assunto à tona novamente.
— Eu vou ameaçar vai ser você se continuar com essa história inventada da sua cabeça — me preparei para dar a volta no balcão, porém se prostrou na minha frente. Mas, se fosse preciso, eu o socaria por cima do móvel mesmo.
— Meu Deus, parem vocês dois! Olhe ali — ela apontou exasperada para a bebê quieta no carrinho. — Tom, nunca me fez nada. O que aconteceu foi um mal entendido. Na verdade, cuidou de mim e me colocou para dormir.
Quem sabe ouvindo uma resposta definitiva da própria , Tom não deixava de tentar usar aquela história sem pé nem cabeça para tentar colocá-la contra mim. Como se nós dois precisássemos de terceiros para arranjarmos defeitos uns nos outros ou declararmos uma trégua. e eu nos conhecíamos há anos e nos entendíamos muito bem sozinhos.
— , não faça isso. Sei que você o conhece há mais tempo do que eu e o odeia por algum motivo, então lembre-se disso antes de começar a se envolver com alguém como ele. Isso não dará certo. vai quebrar seu coração.
Tentei outra vez passar, porém espalmou ambas as mãos em meu peito, tentando empurrar-me para trás e me afastar até mesmo do balcão, provavelmente presumindo que eu tentaria ter acesso ao rosto do Tom daquele modo.
Aquela foi a coisa mais estúpida que já ouvi em toda a minha vida. Eu não quebraria o coração de . Ela jamais se permitiria chegar àquele ponto, ficar comigo a ponto de conseguir se apaixonar por mim! se segurava demais até mesmo para coisas simples como apenas sexo. Eu duvidava muito que algum dia poderíamos ir além daquilo. Aliás, eu nem queria que aquilo acontecesse.
E era por aquele motivo que eu lhe propus que tivéssemos algo casual, porque, além de achá-la gostosa e descobrir que tínhamos uma química irresistível na cama, eu sabia que e eu éramos incompatíveis naquele quesito. Colocaria minha mão no fogo, confiando que não nos envolveríamos daquela forma. Eu me conhecia e a conhecia bem o bastante para poder dizer com todas as letras que, se estivéssemos numa situação diferente da nossa atual, nunca escolheríamos um ao outro para casar e ter filhos.
Não era apenas pelo ódio mútuo, mas também pelo fato de um não fazer o tipo do outro. Não fisicamente, é claro. No meu caso, com certeza era meu tipo. Se cruzasse com ela em uma balada qualquer, com certeza chegaria nela. Porém, a conhecendo como eu conhecia, jamais iria querer me aproximar dela, quem dirá dividir a vida com ela! E o contrário também já estava óbvio. gostava de homens sensíveis como Chace, carinhosos, responsáveis e mais vários outros adjetivos que descreviam um príncipe encantado dos tempos modernos. E eu nunca seria um daqueles, tampouco tinha cabelos loiros.
— Saia da minha casa ou eu juro que vou quebrar sua cara — minha voz saiu mais agressiva que o usual. A garganta chegou a arder, tamanha era a compressão que a região fazia por conta da minha pressão alterada.
— Calma, . Não entendi por que ficou tão alterado — Tom riu, irônico, fazendo-me avançar. A única coisa que me manteve parado no lugar foi o fato de estar na minha frente, tornando impossível meu ato de sair dali sem que a empurrasse contra o balcão. E claro, presenciar a cena do pai dela socando a cara de alguém. — Quem não deve, não teme, certo?
— Tom, por favor.
“Por favor” é o caralho! Encarei , ainda sem entender o motivo de ela estar sendo tão educada para o lado dele. O cara tinha praticamente a chamado de burra por me defender, sendo que, segundo ele, eu era um escroto agressivo.
— Eu vou — ele se levantou, fazendo menção de se aproximar. — Mas ainda quero conversar com você. A sós — seu olhar direcionado a mim me fez ficar receoso sobre o tal encontro que ele queria ter com para “conversar”. Tinha quase certeza que ele tentaria enfiar na cabeça dela que eu era o monstro que ele mesmo criou na cabeça dele.
Pelo visto, eu realmente representava uma ameaça para Tom. E depois que ficou sabendo que eu e transamos então, ele faria de tudo para me ter fora do caminho. E eu nem estava no caminho dele! Era nítido que tinha perdido um pouco do tesão que tinha quando o conheceu. Depois de um pouco de convivência, ele passou de um bom partido para um mala irritante.
Ela só não se deu conta daquilo por ainda se sentir atraída pela “beleza” dele. E eu não lhe diria aquela minha percepção. Apesar de ser colocado naquele disputa por Tom, eu não faria questão alguma de tentar sabotar a imagem que estava construindo dele. Até porque sentia que nem precisava; ele mesmo estava fazendo um péssimo trabalho agindo daquele jeito.
— Isso tem que parar. Chega, me ouviu bem? Era só algo nas férias. Acabou, estamos em casa e vamos dar um fim nisso — a loira, ainda assustada e um pouco ofegante pela briga que quase presenciou, desatou a falar ainda parada onde estava.
Soltei um riso desacreditado, levando as mãos à cintura. Tom tinha mesmo que estragar até mesmo o que não sabia que estava acontecendo? Puta merda, se aquele imbecil não tivesse inventado de vir nos infernizar logo cedo com a desculpa de devolver o gato, estaríamos aos beijos numa hora daquelas. Porque eu juro que, no momento em que falei aquelas coisas para ela, nem sequer me lembrei que aquele imbecil estava ali conosco.
— Você quer mesmo acabar ou está falando isso por conta do que acabou de acontecer? — me aproximei, vendo-a recuar. — Qual, é ! Não vai me dizer que acredita nesse papinho furado sobre eu quebrar seu coração.
Era ridículo. Ontem à noite e agora há pouco ela estava cedendo. E quando se tratava de mim, nem ao menos tinha um coração! Era nossa normalidade. Entre nós, tudo o que sempre reinou foi a razão misturada com algum sentimento predominante. Ora era a raiva, medo, algumas vezes felicidade e o tesão, mas nós nunca usávamos o coração.
— Eu acho que Tom pode estar certo — puta merda, só podia ser uma piada de muito mau gosto. — Não nessa questão de você quebrar meu coração, mas sim de não dar certo e acabar dificultando nossas coisas em relação a . Eu te disse que iria dar confusão, , e agora tendo a opinião de alguém de fora…
O estranho era perceber que estava genuinamente confusa, sem saber o que fazer naquele momento. É realmente a sensação de estar perdido quando temos algo decidido em nossa cabeça, e, de repente, chega alguém e nos faz pensar diferente.
Mas, naquele caso, não dava para levar Tom a sério. Qual é, o cara arrasta asa para ela desde a primeira vez que a viu. Fora que aquele argumento de estragar tudo com o lance da nem era válido! Era para fingirmos ser um casal, certo? Pois então, estávamos sendo um, tirando a parte dos sentimentos, é claro.
— O que combinamos, hein? — me aproximei novamente, tendo-a imersa em pensamentos diante de mim, com uma das mãos sobre o rosto e me encarando, ainda perdida. — Não deixaremos Tom se meter em nada. Não devíamos nem ao menos ter tentado explicar nada a ele.
assentiu, suspirando ao murmurar um “eu sei”.
Era para ser uma manhã tranquila. Acabaram com a paz que trouxemos conosco das nossas férias. Era horrível estar de volta aos mesmos dilemas que tínhamos no ano que se passou e nos depararmos com os mesmos problemas. Em Tulum, parecíamos inalcançáveis e incomunicáveis longe de Tom ou das outras pessoas que nos rodeavam.
— Então pronto, esqueça o que ele disse — peguei-a pela cintura, sentindo-a respirar fundo ao mesmo tempo que vinha até mim, permitindo-me encostar meu corpo sobre o balcão e colar meu corpo ao dela, prendendo-a em meus braços. — Eu quero você — sussurrei em seu ouvido, vendo-a encolher o ombro instantaneamente. — Você me quer também? — depositei um beijo em sua mandíbula.
— Por que quer tanto me ouvir admitir isso, ? — ela se afastou minimamente, ainda sorrindo abertamente. — Vai gravar para usar contra mim no futuro ou…
— Não, não vou gravar. Meu celular está lá em cima carregando — a loira revirou os olhos diante da minha implicância, então lhe roubei um beijo rápido. — Só quero ter certeza que você quer, porque eu sinto que quer. Mas preciso ouvir da sua boca, antes que Tom venha encher sua cabeça com teorias mirabolantes de que eu quero te controlar.
— Nem nos seus maiores sonhos — ela murmurou, rindo sarcástica.
Ignorei sua fala, ainda a esperando responder minha pergunta em voz alta, porque seu corpo já me deixava saber que era recíproco. Mesmo com meu abraço frouxo, ainda se mantinha ali com os braços em volta do meu tronco.
Nunca sequer passou pela minha cabeça a ideia de controlar . Tentar mudar seu jeito ou fazê-la mudar de opinião sobre algo era completamente inútil para mim, visto que, daqui a nove meses, iríamos nos separar.
Todas as coisas que fiz a ela até aquele momento foram para tentar tirá-la daquela zona de conforto entediante que ela vivia. E todas as vezes que intervi para fazer aquilo foi por saber que podia muito mais do que aquilo que tinha antes. Ela trabalhava muito naquela lanchonete. A própria Grace vivia reclamando que não tinha tempo para vê-la às vezes. Lhe dar aquela casa foi algo que fiz sabendo que ela merecia, e também por saber que teria aquela estabilidade. Assim como levá-la para viajar, e outras coisas que já fizemos juntos, seja para fazê-la viver algo novo ou apenas para tirar seus medos bobos. Tudo o que eu fazia para era para vê-la sair um pouco da monotonia que era sua vida.
tinha muito potencial e desperdiçava tudo naquela rotina maçante de ficar o dia servindo clientes na lanchonete que não lhe dava oportunidades de crescer na vida. Ia para casa, às vezes saía com as amigas e só… Eu sentia que tinha sido um presente em sua vida, lhe dado um propósito, alguma emoção. Era nítido que ela parecia mais feliz após a chegada da bebê naquela casa.
— Você não respondeu a minha pergunta — apertei sua cintura.
— Sim — ela expirou o ar, evitando meu olhar.
— Sim o quê? — arqueei minhas sobrancelhas.
— Eu te odeio, — joguei a cabeça para trás, gargalhando da sua pose de brava. — Sim, , eu quero. Mas…
— Ah, não, lá vem você com esse “mas”.
— Vamos com calma.
Assenti, num gesto totalmente mentiroso. Até parece que eu teria calma. me fazia perdê-la em questão de segundos sempre que me beijava.
— Sem mais ninguém sabendo disso.
Daquela vez concordei de verdade, até porque eu não teria ninguém para contar, já que, com o acordo, Dafne não saberia de nada envolvendo nós dois. Também não teria o porquê de contar aos meus amigos, como se transar com minha esposa fosse uma novidade.
— Se controlando na frente dos outros e…
Beijei , não esperando que ela terminasse sua lista gigante de exigências que se resumiam em esconder até de seu gato que estávamos nos pegando. Ainda não entendia direito como aquela dinâmica iria funcionar, visto que já estávamos vivendo uma vida dupla, escondendo uma mentira dos nossos vizinhos e dos meus colegas de trabalho. E agora estávamos o quê, vivendo uma vida tripla?
Ao fim daquela experiência toda, já poderíamos nos considerar atores e fazer audições para Hollywood. Afinal, naquela história toda, já interpretávamos ao menos dois personagens distintos todos os dias: fingir que nos odiávamos para os que sabiam da mentira e fingir que nos amávamos para os que não sabiam. No fim das contas, eu até cheguei a entender o que Tom tinha dito para sobre nada daquilo dar certo. Eu continuava acreditando que seria impossível nos apaixonarmos, porém, também achava bem possível nos perdermos nos personagens em algum momento. Como fizemos na frente de Tom, por exemplo.
Desci meus lábios pelo pescoço dela, sentindo suas mãos deslizarem por minhas costas num carinho gostoso. Uma de minhas mãos estava emaranhada em seus cabelos macios, já a outra, nada respeitosa, descia em direção à sua bunda. Ainda não sabia se aqueles beijos iriam evoluir para algo mais quente. Na verdade, pela primeira vez eu não estava preocupado com aquilo. Devia ser pelo fato de que agora eu sabia que poderia ter sempre que quisesse, sem prazos ou horário certo para nos separarmos.
Quer dizer… Ainda tínhamos que ir trabalhar.
— … — murmurei algo contra sua pele e a tive insistindo para chamar minha atenção. Teimei ao tirar meu rosto da curva de seu pescoço. — Ela está olhando…
Me afastei um pouco, vendo a bebê com os dedinhos na boca, para variar, nos encarando fixamente.
— E?
Ela sempre fazia isso. Era uma das poucas coisas que um bebê de três meses fazia além de babar, chorar, sujar a fralda e mamar.
— É estranho — ela tentou sair dos meus braços.
— Não tem nada de estranho nisso. Ela está vendo o pai beijar a mãe dela. Vai me dizer que nunca viu seus pais juntos desse jeito?
Infelizmente, já tive o desprazer até de ouvir coisas que não deveria. Foi traumatizante. Portanto, jamais faria algo do tipo perto de , mas uns beijinhos não fazia mal, não?
— Ela nem entende nada ainda — finalizei.
continuou a encarar e a ser encarada de volta. A bebê sorriu, deixando à mostra sua gengiva desprovida de dentes, e sua baba escorreu. Parecia até que sabia que estava atrapalhando e estava se divertindo com a situação. Fui até ela e virei seu carrinho.
— ! — exclamou, horrorizada.
Puxei-a de volta, voltando a fazer o que estávamos fazendo antes. Só que, daquela vez, ataquei seus lábios e fui correspondido, apesar de saber que era sentimental demais para não se sentir culpada por simplesmente virar o carrinho da bebê para o armário.
Subi meu toque por dentro de sua blusa, sentindo sua pele macia se arrepiar com o ato e sua barriga denunciar sua frequência respiratória irregular. Agarrei um de seus seios e massageei a região, tendo-a suspirando contra minha boca e deixando-me louco por saber que eu estava deixando-a excitada.
O celular de começou a tocar em cima do balcão. Tentei afastá-lo de nós, porém se esticou e conseguiu pegá-lo, o atendendo sem nem olhar no visor.
— Alô? — com o indicador, ela me pediu para ficar em silêncio. Aliás, pediu não, mandou. — Oi, amiga! Que saudades!
Suspirei, derrotado, ainda com as mãos dentro de sua blusa. se remexeu, tentando tirá-las, mas sem muito sucesso.
— N-Nada, eu não estava fazendo nada. É que o celular estava no andar de baixo, então tive que vir correndo e descer as escadas — ela riu, nervosa, tirando minhas mãos de si.
— Quem é? — sussurrei, vendo-a me censurar com o olhar, sendo que quase não emiti som algum. Parecia que ela estava abrigando o Osama bin Laden dentro de casa. Já vi que levaria aquilo como se estivesse guardando um segredo de Estado. Tive vontade de rir ao pensar aquilo.
— Se e eu podemos te dar uma carona hoje na saída? Com a Anne junto?
Suspirei, assentindo. Eu adorava Tiffany, mas não sabia explicar – Anne e eu ainda tínhamos uma barreira. E não era a de proteção que eu tinha por saber que ela era doida por mim.
— Sim, amiga, podemos sim.
e Fanny engataram num assunto sobre a virada do ano das meninas e eu encarei o relógio da cozinha, presumindo que elas nunca mais parariam de falar. Logo daria a hora de me arrumar para o trabalho e não teríamos mais tempo. Resolvi atrapalhar a conversa, já que Tiffany teria consigo para fofocar o dia todo, e eu, não.
— O que está fazendo? — fiz a leitura labial dela quando me aproximei, espalmando ambas as mãos em seus quadris. Mordi o lábio e me aproximei de seu rosto, enquanto já perdia o rumo da conversa e apenas concordava vez ou outra, meio desconcertada. Voltei a invadir sua blusa e a prensei no móvel atrás dela, deslizando a língua pela região próxima do lóbulo de sua orelha enquanto tornava a lhe massagear os seios. — A-Amiga, eu t-tenho que desligar. está com as mãos em um lugar perigoso. Tchau, beijo, até mais tarde.
— Lugar perigoso? — ri alto, tendo-a emburrada na minha frente, ainda com o celular em mãos.
— O que você queria que eu dissesse? Que você estava me tarando?
Eu não conseguia parar de rir, ainda mais vendo-a ainda séria e me encarando com a costumeira ruguinha entre as sobrancelhas. Bravinha, ficava ainda mais sexy aos meus olhos.
— É sério, . Você tem que aprender a se comportar.
— Tá bom, mãe — beijei sua bochecha, vendo-a suavizar a expressão assim que a abracei de leve.
parecia ser mãe há mais tempo do que realmente era, aliás, nem mesmo minha mãe era daquele jeito! Eu não levava broncas, ela não me chamava a atenção, e tudo isso me levava a crer que Theresa realmente tinha criado eu e Grace quando chegou naquela casa. Me dei conta que estava em ótimas mãos com e suas regras, até as paranoias. Parecia que era para ser daquele jeito desde o começo.
A barriga da minha esposa roncou, fazendo-me soltá-la para que ela pudesse enfim terminar de saborear seu waffle e tocar seu café da manhã. Fui até o carrinho, não só virando-o, mas também pegando a bebê no colo para aproveitá-la um pouquinho enquanto terminava de preparar o resto dos waffles que faltavam.
Comi junto dela em silêncio. Logo o celular de despertou, fazendo-a subir para o andar de cima, onde ela provavelmente iria tomar banho para trabalhar. Queria estar junto dela no banheiro, porém Elisabeta ainda não tinha chegado, e eu estava de olho na bebê. Pouco tempo depois, a babá chegou e desceu, indo ao seu encontro na cozinha já arrumada.
— Feliz ano-novo, Sra. — Elisabeta a cumprimentou. A loira a abraçou calorosamente, sendo correspondida na mesma intensidade. Era engraçado como gostávamos tanto de Elisabeta. Parecia que ela já trabalhava conosco há anos. — Os dois estão lindos, com cara de saúde. A viagem deve ter sido incrível.
A cara de saúde era resultado de alguns dias de descanso, um solzinho na cara e, claro, o atraso tirado após quase três meses sem transar. Tudo o que um ser humano normal precisava para recarregar as energias.
Subi para o banheiro, deixei-as tagarelando sobre Tulum e fui para o meu banho. Cruzei casualmente com Salém no corredor do quarto. Às vezes, eu me esquecia que tínhamos um gato em casa. Ele não era muito presente ali desde que nos mudamos. Por esse motivo, eu preferia cachorros – não que eu desgostasse de felinos, porém cães nos faziam mais companhia naquele sentido. Ou talvez Salém só estivesse querendo desesperadamente fugir de .
Desci, já vestindo meu blazer, e me juntei a a caminho da garagem, não antes de deixar tantos beijos nas bochechas de a ponto de ela reclamar do excesso de carinho. Nunca iria me cansar do cheirinho de bebê que emanava de seus cabelinhos ralos.
Dirigi até a lanchonete para deixar , enquanto ela apenas encarava a janela e observava o céu nublado acima de nós. Não sabia se era pelo tempo feio em Londres, mas, assim que coloquei o pé pra fora de casa, toda a animação crescente que senti quando acordei – tirando o trecho que envolvia Tom, é claro – se dissipou. Como se deixar nossa casa fosse uma péssima opção.
Apesar de confuso, eu entendia um pouco de onde vinha aquela sensação. Era uma segunda-feira nublada e sem graça, e eu teria que voltar ao trabalho. Normalmente, dias como aquele não nos davam vontade de fazer nada além de ficar na cama o dia todo, ainda mais após voltar de uma viagem daquelas.
Mas tudo bem. Afinal de contas, aquele era meu primeiro dia de trabalho daquele ano, e eu sentia que seria um bom ano. Apesar de o ano novo na prática ser apenas um ou dois dígitos que mudam nas datas terrenas, eu ainda tentava encará-lo com a mesma perspectiva de quando era criança: a de que virar um ano significava um recomeço. E mesmo que meu recomeço tenha sido recente, com a partida de Grace e a chegada de , eu ainda estava disposto a me reinventar profissionalmente.
Eu precisava daquilo. Afinal, além de ter uma pequena vida em minha casa dependendo de mim juntamente de , aquela empresa também estava em minhas mãos. Cheguei a senti-las tremerem ao pressionar o botão do elevador que me levaria até o último andar daquele prédio, que costumava abrigar um negócio muito bem sucedido. Mas que hoje estava prestes a ruir, dependendo de minhas atitudes para mantê-lo de pé para as próximas gerações da minha família.
Só de pensar aquilo, minhas costas voltaram a doer um pouco. Eu tinha muito trabalho pela frente. Lembrei-me das piadinhas de sobre nepotismo e não pude deixar de rir sozinho no elevador. Talvez, no meu caso, ser o filho do chefe tenha dado muito errado.
— Ah, Sr. ! — me deparei com Jordyn deixando minha sala, equilibrando nos braços uma bandeja com a garrafa de café. Ela estava vermelha e assustada. — B-Bom dia — Jordyn deixou a porta entreaberta e saiu o mais rápido possível, deixando-me ali, plantado sem entender merda nenhuma. Parecia que ela tinha acabado de ver um fantasma.
Abri a porta, pensando se não deveria ir atrás dela e perguntar se estava tudo bem e o motivo de ela estar exercendo a função da copeira do prédio. Porém, minha curiosidade se aguçou e tendeu mais para o lado de dentro da sala.
Engoli em seco ao encarar a imagem do homem à minha frente. Juro que preferia receber dez visitas do tio Edward do que apenas o vislumbre de ter meu pai parado na minha frente. Bom, contrariando o meu querer, lá estava ele, com sua feição dura e sentado no lugar que me pertenceu nos últimos anos.
— Não tinha ninguém melhor para contratar, não?
Ainda atônito, eu o encarava sem fala, surpreso com sua presença completamente inesperada. Quando abri a boca para falar algo, fui interrompido pela secretária, que estava de volta com uma xícara em mãos. Ela lhe entregou sob meu olhar perdido. Meu pai provou o conteúdo e a dispensou com um gesto de mãos, fazendo-a praticamente sair correndo dali.
Eu tinha tantas perguntas e imaginava tantos cenários para justificar a presença dele ali, mas a que mais me deixou hesitante foi imaginar que tinha algo a ver com a adoção de . E aquele era o pior de todos que eu poderia pensar.
— Pelo menos é bonita — ele bebericou a bebida quente, ainda encarando a porta. — Imaginei que faria escolhas na vida baseadas num rabo de saia, mas nunca pensei que você chegaria ao ponto de cometer a burrice de se casar com a filha da empregada.
Com certeza era sobre . Citar naquele momento era apenas o começo da sucessão de “erros” que ele jogaria na minha cara antes de jogar a bomba principal.
— Quando chegou aqui? — franzi a testa, ainda tentando absorver aquele amontoado de informações. Achei que chegaria naquela sala, ligaria meu computador e retornaria a fazer meu trabalho tranquilo, na medida do possível. Aquele imprevisto com certeza nunca passou pela minha cabeça. — Por que não avisou que vinha?
— Avisar o que mais? Que me hospedaria em sua casa? Te pedir para me buscar no aeroporto? Me poupe dessas banalidades, . Você não me quer aqui, vendo-o afundar essa empresa e manchar o nome da nossa família com aquela bastarda.
Respirei fundo, tentando controlar a onda de ódio que me tomou ao ouvi-lo falar daquele jeito de . Sentia que poderia socá-lo a qualquer momento.
— Eu não estou afundando nada, estou tentando tirá-la da lama que o senhor deixou quando cheguei — desviei o assunto, tentando tirar o foco da menina. Ela não merecia sequer estar nos pensamentos dele. Tudo o que meu pai faria envolvendo minha filha seria na base do ódio e rancor, e eu queria mais do que tudo afastá-la daquilo.
Parei para pensar em minha discussão com na noite de Natal, em como eu estava cego e ela me abriu os olhos em relação aos meus pais. Eu era ingênuo a ponto de achar que algum dia eles iriam querer se aproximar da neta, e que viveria em família conosco exatamente do modo como tenho certeza que Grace um dia sonhou em silêncio para não dar o braço a torcer, porque estava magoada com o modo como foi tratada.
Manchar a imagem da família? Encarei-o, enojado. Eles nunca iriam querer ter contato com a menina. Eles nunca iriam merecê-la. não tinha que pagar pelos erros da mãe, que, aliás, não tinha cometido um crime hediondo como meus pais sempre fizeram a gravidez dela parecer.
— Parece que não está fazendo o suficiente — ele sorriu, irônico, reparando em minha aliança e deixando a xícara de lado para me analisar, com seus olhos verdes como os meus cheios de cinismo. — Me pergunto o que foi que aconteceu para fazê-lo mudar de ideia em relação a filha da empregada… De repente ficou cego? Recebeu o beijo de amor verdadeiro? Se esqueceu de todas as vezes que desdenhou e com razão daquela pirralha? Por Deus, . Sua secretária calça sapatos mais sofisticados que aquela menina!
Meu pai sempre tinha sido indiferente em relação a , tanto que a viu no velório de Grace mas sequer se moveu do lugar e desviou seu olhar, continuando a ser bajulado por seus amigos milionários. Para ele, era aquilo: alguém invisível, como todos os empregados da casa em que cresci. Ela própria parecia perceber bem a sua apatia. sempre o evitou, mesmo sempre frequentando nosso espaço enquanto crescia.
Apesar de não gostar do modo como meu pai falava, eu entendi o que ele quis dizer ao praticamente se referir a mim como burro por ter me casado com . Quando éramos menores, todo ano Grace queria presenteá-la com os melhores presentes; às vezes, queria levá-la para os passeios considerados caros conosco. Quando crescemos, Grace convenceu minha mãe a pagar metade da bolsa de estudos dela no colégio de classe alta em que estudávamos. Meu pai devia achar que era uma interesseira de mão cheia, desde pequena, no meio de nós, gozando dos privilégios que o dinheiro dele podiam comprar.
Confesso que eu também não suportava grudada na gente quando éramos menores. Achava um saco ela querer se encaixar onde não lhe cabia. Mas não a achava interesseira por conta daquilo, até porque ela era apenas uma criança. Sempre vi que ela e Grace realmente eram amigas, apesar do meu ciúmes. Mais tarde, confirmei que eram muito mais do que aquilo, chegando a compará-las como irmãs. Uma simples amiga jamais faria o que já fez e estava fazendo por Grace.
— Se quiser conversar sobre a empresa, tudo bem. Mas não admito que o senhor se intrometa na minha vida pessoal — o ódio se juntou ao nervosismo e ao medo de pensar que ele talvez pudesse ligar os pontos e descobrir que adotamos a partir de todas aquelas mentiras sobre nos amarmos e chegarmos a nos casar. — Houve uma razão para que eu não te chamasse para meu casamento e nem ter te telefonado uma vez sequer desde então. Sim, eu quero o senhor longe da minha família.
— Sua família? — ele se levantou, possesso. Não tinha jeito, eu tentava mudar o rumo daquela discussão disfarçada de conversa, porém meu pai sempre dava um jeito de focar nas duas. — Sua família somos eu e sua mãe, que chora porque acha que você a trocou por meras desconhecidas — franzi o cenho, completamente horrorizado com tamanha falta de respeito. — Devia ter feito o que eu te mandei fazer no dia em que enterramos sua irmã.
Meu queixo tremeu, e eu recuei por um instante.
Nunca pensei que iria ouvi-lo tocar naquele assunto novamente. Após sua primeira tentativa de se livrar da neta, que foi tentando convencer a filha de vinte anos que um aborto seria a melhor opção, o que ele me disse no velório me destruiu ainda mais por dentro. Mais ainda que a morte da minha irmã.
— Eu jamais faria aquilo com minha sobrinha! — as lágrimas quentes desceram pelo meu rosto. Através da minha visão turva pelo choro, eu enxergava meu pai negar com a cabeça, em clara decepção.
Deixar que ela fosse para a adoção e espalhar a história que ela também não tinha sobrevivido ao parto parecia um plano mirabolante de um vilão de filme. Quando o escutei falar aquelas palavras para mim, sequer o reconheci como pai. E pensar que, no momento em que me vi sem minha irmã, cogitei a possibilidade de permitir que fosse dada a outra família…
Achava que sua única neta o faria mudar de ideia, assim como fez comigo. Quando a vi pela primeira vez, desisti de tudo por ela imediatamente.
— Você não é o homem que eu criei para ser.
Quase soltei um riso irônico. Ele nem ao menos tinha se dado ao trabalho de me criar. Eu sim tinha que ser chamado de pai, e iria assim que começasse a crescer e aprendesse suas primeiras palavras. Eu estaria presente para ouvi-las, assim como estive presente nas noites que passei com ela chorando em meu colo, nas fraldas trocadas e banhos dados. Eu sim era pai, mesmo que de uma criança que não era minha e somente há três meses. Tinha certeza que, quando tivesse a minha idade, ela não me olharia do jeito que eu estava olhando para ele naquele momento.
— Que bom — segurei meu choro diante dele, que caminhou em minha direção com aquela porra de queixo erguido, vestido em um de seus ternos caros. — Porque o senhor também não é o homem que eu queria ser quando crescesse.
— Está facilitando muito mais as coisas, agindo feito um idiota — ele me deu as costas, deixando-me confuso.
— Facilitando as coisas?
— Seu tio me ligou logo que saiu da empresa, dias atrás. Ele me contou o que houve, e eu concordei com suas exigências. Vamos vender a parte dele da empresa.
— Eu compro! — exclamei, em desespero. Sabia que poderia estar jogando mais uma das várias pás de terra em cima de mim, mesmo. Afinal, caso comprasse a empresa, corria o risco de terminar de afundá-la e perder dinheiro com a compra.
— Não seja estúpido. Ao contrário de você, eu estou tentando salvar isso aqui. Já tenho um comprador.
Foi difícil me segurar de pé diante daquela notícia. Meu pai preferia deixar a empresa nas mãos de pessoas estranhas ao confiar em mim para dar conta de tudo sozinho. Só podia ser uma represália ao fato de eu ter adotado .
— Em breve irá conhecê-lo.
— Por que não me demite de vez, hein? — com a voz embargada, mantive-me estático, tentando imitá-lo ao manter minha cabeça erguida diante do homem que passei anos admirando e planejando seguir os passos. Mas que, hoje, me fazia repensar em quem eu tinha sido em todos os meus vinte e quatro anos de vida.
E pensar que eu tinha cogitado a ideia de salvar a empresa dele para que o deixasse menos bravo quando ele descobrisse sobre . Lembrar-me daquilo me deixava envergonhado. Eu não devia me esforçar tanto para agradar alguém que se preocupava mais com a própria empresa do que com a neta.
— Porque, apesar de tudo o que está fazendo contra nós, eu ainda sou o seu pai e não vou te deixar de mãos abanando quando você acordar pra vida e perceber a grande merda que fez — que grande pai amoroso e generoso era aquele que eu tinha. — Aproveite enquanto é tempo, . Sua irmã não conseguiu voltar para nós — seus olhos se enchendo de lágrimas só me dava mais raiva.
Talvez Grace não acabaria sua vida magoada com os próprios pais se eles não tivessem a expulsado de casa e deixado claro que não queriam saber dela nem da criança que ela estava esperando. Talvez ela até estivesse viva caso não a fizessem passar tanto nervoso e se sentir desamparada durante a gravidez… Eram tantas suposições que era até difícil aceitar o fato de que, se tivesse acontecido diferente, minha irmã ainda estaria conosco, vendo a filha crescer.
— Ah, espero que não tenha registrado a menina com nosso sobrenome. Ela não é uma . Infelizmente, cheguei tarde demais, e até a filha da empregada conseguiu pegá-lo para si.
— . Ela tem um nome, e sim, pretendo registrar , que também tem nome, com o meu sobrenome, que é o mesmo da mãe dela — parecia que a língua do meu pai cairia caso ele pronunciasse os nomes delas. — Elas são sim, o senhor queira ou não.
Tenho certeza que nenhuma das duas fazia questão daquilo.
— Você ainda vai se arrepender de ter feito isso — ele finalmente deixou a sala, batendo a porta ao sair.
Ali, sozinho, permiti desabar minha postura e sentei-me numa das cadeiras, deixando que as lágrimas descessem enquanto tentava me acalmar e controlar minha respiração. Ouvi batidas na porta e me recompus, esperando não aparentar ter chorado. Autorizei a entrada de Jordyn, que adentrou minha sala em silêncio e com passos receosos.
— O que ele disse? — indaguei, vendo-a recolher a xícara que trouxera há pouco. Quando seus olhos claros se voltaram para mim, virei-me para o lado, fungando e tentando disfarçar meu estado emocional.
— Nada, só chegou entrando. Eu perguntei quem ele era, porque não o tinha reconhecido. Perguntei se tinha marcado horário com o senhor.
Se estivesse numa situação diferente, eu não seguraria meu riso ao imaginar a carranca que Joseph deve ter feito ao ser confundido com uma pessoa qualquer dentro da própria empresa.
— Depois que entendi quem ele era — Jordyn continuou. — Seu pai me pediu chá para beber e só tinha café, a copeira ainda não tinha chegado e e-eu… — seu nervosismo era nítido.
Meu pai tinha aquele efeito em seus subordinados. Menos Theresa, a mãe de . Ele nunca conseguiu domá-la. Ela sempre discutia com ele quando não concordava com alguma ordem. puxou aquilo dela.
— Tudo bem, Jordyn, essa não é sua função — massageei as têmporas, já sentindo a dor de cabeça chegar. — Pode ir. Desmarque a reunião com os meninos pra amanhã, não estou com cabeça para planejamento anual nenhum.
— Er… Seu pai reservou a sala de reuniões para amanhã.
Esfreguei o rosto com as mãos. Ele não mentiu quando me disse que conheceria o comprador em breve. Suspirei, sem respondê-la. Eu não tinha mais o que fazer.
— Se precisar, é só chamar.
(...)
Deixei a empresa sentindo-me pesado. Minhas costas ainda doíam. Depois da massagem de , tinham melhorado, mas eu acreditava piamente que aquela dor era algo psicológico. Eu não queria ver ninguém; só queria tomar um banho e sumir dentro das cobertas da minha cama. Segurei aquele sentimento ruim que perdurou o dia todo, e nem almoçar direito fiz.
Uma fina garoa caía do céu, prometendo mais uma noite fria. Estacionei do outro lado da rua e vi deixar a lanchonete com as amigas após ajudarem o Sr. Williams com a porta de ferro.
Suspirei, fechando os olhos por um instante. Tinha esquecido completamente da carona que prometi. Naquele momento, se pudesse, nem mesmo eu teria ido buscar. Queria desesperadamente ir para casa e ficar sozinho.
— Oi! — Tiffany e Anne adentraram o carro junto de minha esposa. As três riam de algo que uma delas falou no caminho enquanto correram da chuva.
Não respondi, apenas arranquei com o carro e esperei que aquilo fosse um sinal de que eu não estava de bom humor.
— Amanhã vai ficar até tarde comigo, graças a Deus. Não te aguentava mais reclamando no meu ouvido — Anne implicou com Fanny, fazendo-me lembrar que iria voltar a sair do trabalho em seu horário normal, já que já tinha três meses completos.
— está descansada, nada mais justo que fique até o fechamento. Desfrutou de Tulum, das praias e dos homens. Não vai ser grande coisa pra ela — a morena cutucou do banco de trás. se remexeu desconfortável no banco, olhando-me de canto de olho. Suspirei, ainda prestando atenção no trânsito. — Aliás, diz aí, . Você viu quem foi o cara que deu o melhor sexo da vida de ?
Encarei Tifanny pelo retrovisor com a testa franzida.
— Eu não disse melhor sexo da vida — se justificou, ficando vermelha no banco do carona.
— Não disse, mas estava na sua cara quando você chegou no trabalho hoje, quase escrito na testa que tinha transado muito nas férias — as três riram juntas, enquanto eu ainda estava alheio ao assunto. Eu só queria ir o mais rápido possível. — Nem ia contar pra gente, nós que desconfiamos.
— Fora que foi em Tulum, não foi em qualquer lugar — Anne completou, sorrindo maliciosa. — E também deixou marcas. Quando deixa marcas, a gente sabe que o negócio foi bom — ela esticou o braço, tirando os cabelos loiros de do pescoço, fazendo-a bater na mão da amiga.
Não desviei meu olhar do trânsito para checar se havia deixado marcas em sua pele. Eu não queria saber com quem tinha transado ou deixado de transar. Já sabia que era eu, e também não seria relevante se não fosse.
— — senti minha cabeça latejar quando ouvi aquele nome. — Você não respondeu minha pergunta.
— Era um surfista, não vi direito — respondi de qualquer jeito, já sabendo que elas não me deixariam em paz se eu não falasse.
As duas enlouqueceram no banco de trás, causando riso em , que tampava o rosto, vermelha de vergonha. Não sei o que ela disse para ambas, mas a verdade é que não foi. Aquele surfista babaca apenas deu uns beijos de desentupidor de pia nela. Quem fez o trabalho de verdade fui eu, porém confirmei sua versão.
Elas continuaram a conversar, daquela vez sobre um cliente da lanchonete, rindo muito como sempre. Soltavam várias piadas internas que eu não entendia e nem me esforçava para tal. Quando elas desembarcaram, quase as agradeci ao invés de receber um obrigado pelo favor feito.
Continuei impassível quando ambas deixaram o veículo. se remexeu inquieta no banco, as observando atravessar ainda fugindo da chuva, que estava mais intensa daquela vez. Ouvi a loira suspirar em meio ao silêncio dentro do carro.
— Eu não falei nada, tá? — ela riu. — Elas que começaram com essa história de…
— Não importa — a interrompi, ainda olhando para a rua e acelerando mais um pouco, a fim de ultrapassar o sinal antes que fechasse.
não falou mais nada. Acho que tinha entendido bem o recado.
Estacionei na garagem, deixando o carro junto dela. Do outro lado da rua, havia um veículo escuro parado. Eu não o conhecia da região. Olhei desconfiado, enquanto entrou para dentro. Logo vi Elisabeta sair correndo de dentro da minha casa e me dar um tchauzinho, adentrado o carro, deixando-me como um idiota por desconfiar de seu filho, que, segundo ela, sempre ia buscá-la.
— É um milagre ela estar dormindo uma hora dessa. Vai me dar tempo de preparar o jantar.
Ignorei sentada sobre o sofá com adormecida e rumei para cima.
Adentrei o quarto já me livrando de meus sapatos e blazer. Meu celular tocou, mostrando no visor o nome de meu pai. Bati a porta do banheiro com força, tentando descontar minha raiva ao adentrá-lo. O que porra ele queria daquela vez?
Fechei os olhos com força ao ouvir, ao fundo, o choro estridente de soar. iria me esganar.
O celular voltou a bipar, fazendo-me desistir do banho e ir até ele. Tinha uma mensagem de meu pai, mandando-me checar os emails que ele tinha me mandado. Desci as escadas, tendo me encarando feio enquanto tentava fazer parar de chorar. Eu sabia que estava sendo um arrogante filho da puta, mas sentia que iria explodir. Não aguentava mais fingir que estava tudo bem. Eu tinha feito aquilo o dia todo.
Fui até o escritório e iniciei o computador, esperando-o ligar para poder logar no email. Assim que consegui, abri alguns arquivos referentes ao novo comprador. Meu pai tinha montado quase que um dossiê sobre o cara, seu passado e presente na área em que atuava. Pelo menos, aquilo me deixou menos estressado – ver que não tinha sido o cuzão do Edward quem tinha escolhido o comprador, e que meu pai não tinha escolhido qualquer um. Mas ainda não era aquilo que eu queria e tinha planejado.
Recebi outra ligação dele. Encarei o celular vibrando sobre a mesa, já de olhos marejados novamente. Relutei muito e, por fim, tive que atendê-lo.
— Estou em frente à sua casa. Esqueci de te dar a cópia do contrato de venda, e você deve estudá-lo para a reunião de amanhã.
Me levantei rapidamente, desligando em sua cara ao me dar conta de que estava na sala com .
— Suba pra cima com ela — falei para a loira, que franziu o cenho.
— O quê? Eu não vou subir com ela, . Quem devia estar acalmando ela é você. Você a assustou! — ela esbravejou em meio ao choro da bebê.
A campainha tocou.
— , por favor, faça o que te pedi — lhe dei as costas, indo até o hall de entrada. Abri a porta e dei de cara com meu pai pela segunda vez naquele maldito dia que parecia não ter fim.
— Aqui está.
Peguei o envelope grande de sua mão e, quando reparei em seu rosto, vi seu olhar pairar por cima de meu ombro.
Puta que pariu, , precisava ser teimosa numa hora dessas?
— Boa noite, Sr. — a voz dela soou, e não precisei terminar de virar o rosto para saber que se aproximava da porta. — Já terminaram?
Assenti, ainda atônito. O olhar do meu pai não se desgrudou da bebê chorosa em seu colo. A loira empurrou a porta, fechando-a na cara dele. Ofeguei, surpreendido, porém não tornei a abri-la, foi… satisfatório.
— Da próxima vez que tiver a porra de um problema, fale de uma vez, ou ao menos aja como um homem e resolva sem descontar a raiva nos outros — ela me deu as costas, deixando-me plantado na porta.
— Sim!
— ! — arregalou os olhos em minha direção, censurando-me.
Eu estava ultrajado. Entendia o fato de não querer contar sobre nós para as amigas dela. O medo de ter que dar o braço a torcer depois de tanto tempo falando mal de mim devia ser dos grandes mesmo. Mas Tom? Ele não importava!
— O quê?! — indaguei, ainda com raiva ao vê-la tentar negar o óbvio. Não adiantava tentar disfarçar depois da cena que tínhamos acabado de protagonizar. Até mesmo Dormian tinha sacado tudo. — Estou mentindo por acaso? Nós transamos sim, fora as preliminares e as provocações.
ainda estava estarrecida, alternando os olhos entre nós dois.
— Me poupe dos detalhes, .
Encarei Tom, confuso. Poupá-lo do quê, afinal? Ele estava agindo como se tivesse acabado de descobrir uma traição. O cara se dava tanta importância na vida de que chegava a me dar pena.
nem ao menos se lembrou que ele existia enquanto se desmanchava de prazer em todas as vezes que estive dentro dela.
— Eu não tenho que te poupar de nada, até porque isso não é da sua conta.
— Quando foi que isso aconteceu? Foi antes ou depois de ele arrancar o celular das suas mãos e te ameaçar?
Meu sangue ferveu ao vê-lo arquear as sobrancelhas, assumindo um tom de voz carregado de cinismo. A própria franziu o cenho ao ouvi-lo trazer aquele assunto à tona novamente.
— Eu vou ameaçar vai ser você se continuar com essa história inventada da sua cabeça — me preparei para dar a volta no balcão, porém se prostrou na minha frente. Mas, se fosse preciso, eu o socaria por cima do móvel mesmo.
— Meu Deus, parem vocês dois! Olhe ali — ela apontou exasperada para a bebê quieta no carrinho. — Tom, nunca me fez nada. O que aconteceu foi um mal entendido. Na verdade, cuidou de mim e me colocou para dormir.
Quem sabe ouvindo uma resposta definitiva da própria , Tom não deixava de tentar usar aquela história sem pé nem cabeça para tentar colocá-la contra mim. Como se nós dois precisássemos de terceiros para arranjarmos defeitos uns nos outros ou declararmos uma trégua. e eu nos conhecíamos há anos e nos entendíamos muito bem sozinhos.
— , não faça isso. Sei que você o conhece há mais tempo do que eu e o odeia por algum motivo, então lembre-se disso antes de começar a se envolver com alguém como ele. Isso não dará certo. vai quebrar seu coração.
Tentei outra vez passar, porém espalmou ambas as mãos em meu peito, tentando empurrar-me para trás e me afastar até mesmo do balcão, provavelmente presumindo que eu tentaria ter acesso ao rosto do Tom daquele modo.
Aquela foi a coisa mais estúpida que já ouvi em toda a minha vida. Eu não quebraria o coração de . Ela jamais se permitiria chegar àquele ponto, ficar comigo a ponto de conseguir se apaixonar por mim! se segurava demais até mesmo para coisas simples como apenas sexo. Eu duvidava muito que algum dia poderíamos ir além daquilo. Aliás, eu nem queria que aquilo acontecesse.
E era por aquele motivo que eu lhe propus que tivéssemos algo casual, porque, além de achá-la gostosa e descobrir que tínhamos uma química irresistível na cama, eu sabia que e eu éramos incompatíveis naquele quesito. Colocaria minha mão no fogo, confiando que não nos envolveríamos daquela forma. Eu me conhecia e a conhecia bem o bastante para poder dizer com todas as letras que, se estivéssemos numa situação diferente da nossa atual, nunca escolheríamos um ao outro para casar e ter filhos.
Não era apenas pelo ódio mútuo, mas também pelo fato de um não fazer o tipo do outro. Não fisicamente, é claro. No meu caso, com certeza era meu tipo. Se cruzasse com ela em uma balada qualquer, com certeza chegaria nela. Porém, a conhecendo como eu conhecia, jamais iria querer me aproximar dela, quem dirá dividir a vida com ela! E o contrário também já estava óbvio. gostava de homens sensíveis como Chace, carinhosos, responsáveis e mais vários outros adjetivos que descreviam um príncipe encantado dos tempos modernos. E eu nunca seria um daqueles, tampouco tinha cabelos loiros.
— Saia da minha casa ou eu juro que vou quebrar sua cara — minha voz saiu mais agressiva que o usual. A garganta chegou a arder, tamanha era a compressão que a região fazia por conta da minha pressão alterada.
— Calma, . Não entendi por que ficou tão alterado — Tom riu, irônico, fazendo-me avançar. A única coisa que me manteve parado no lugar foi o fato de estar na minha frente, tornando impossível meu ato de sair dali sem que a empurrasse contra o balcão. E claro, presenciar a cena do pai dela socando a cara de alguém. — Quem não deve, não teme, certo?
— Tom, por favor.
“Por favor” é o caralho! Encarei , ainda sem entender o motivo de ela estar sendo tão educada para o lado dele. O cara tinha praticamente a chamado de burra por me defender, sendo que, segundo ele, eu era um escroto agressivo.
— Eu vou — ele se levantou, fazendo menção de se aproximar. — Mas ainda quero conversar com você. A sós — seu olhar direcionado a mim me fez ficar receoso sobre o tal encontro que ele queria ter com para “conversar”. Tinha quase certeza que ele tentaria enfiar na cabeça dela que eu era o monstro que ele mesmo criou na cabeça dele.
Pelo visto, eu realmente representava uma ameaça para Tom. E depois que ficou sabendo que eu e transamos então, ele faria de tudo para me ter fora do caminho. E eu nem estava no caminho dele! Era nítido que tinha perdido um pouco do tesão que tinha quando o conheceu. Depois de um pouco de convivência, ele passou de um bom partido para um mala irritante.
Ela só não se deu conta daquilo por ainda se sentir atraída pela “beleza” dele. E eu não lhe diria aquela minha percepção. Apesar de ser colocado naquele disputa por Tom, eu não faria questão alguma de tentar sabotar a imagem que estava construindo dele. Até porque sentia que nem precisava; ele mesmo estava fazendo um péssimo trabalho agindo daquele jeito.
— Isso tem que parar. Chega, me ouviu bem? Era só algo nas férias. Acabou, estamos em casa e vamos dar um fim nisso — a loira, ainda assustada e um pouco ofegante pela briga que quase presenciou, desatou a falar ainda parada onde estava.
Soltei um riso desacreditado, levando as mãos à cintura. Tom tinha mesmo que estragar até mesmo o que não sabia que estava acontecendo? Puta merda, se aquele imbecil não tivesse inventado de vir nos infernizar logo cedo com a desculpa de devolver o gato, estaríamos aos beijos numa hora daquelas. Porque eu juro que, no momento em que falei aquelas coisas para ela, nem sequer me lembrei que aquele imbecil estava ali conosco.
— Você quer mesmo acabar ou está falando isso por conta do que acabou de acontecer? — me aproximei, vendo-a recuar. — Qual, é ! Não vai me dizer que acredita nesse papinho furado sobre eu quebrar seu coração.
Era ridículo. Ontem à noite e agora há pouco ela estava cedendo. E quando se tratava de mim, nem ao menos tinha um coração! Era nossa normalidade. Entre nós, tudo o que sempre reinou foi a razão misturada com algum sentimento predominante. Ora era a raiva, medo, algumas vezes felicidade e o tesão, mas nós nunca usávamos o coração.
— Eu acho que Tom pode estar certo — puta merda, só podia ser uma piada de muito mau gosto. — Não nessa questão de você quebrar meu coração, mas sim de não dar certo e acabar dificultando nossas coisas em relação a . Eu te disse que iria dar confusão, , e agora tendo a opinião de alguém de fora…
O estranho era perceber que estava genuinamente confusa, sem saber o que fazer naquele momento. É realmente a sensação de estar perdido quando temos algo decidido em nossa cabeça, e, de repente, chega alguém e nos faz pensar diferente.
Mas, naquele caso, não dava para levar Tom a sério. Qual é, o cara arrasta asa para ela desde a primeira vez que a viu. Fora que aquele argumento de estragar tudo com o lance da nem era válido! Era para fingirmos ser um casal, certo? Pois então, estávamos sendo um, tirando a parte dos sentimentos, é claro.
— O que combinamos, hein? — me aproximei novamente, tendo-a imersa em pensamentos diante de mim, com uma das mãos sobre o rosto e me encarando, ainda perdida. — Não deixaremos Tom se meter em nada. Não devíamos nem ao menos ter tentado explicar nada a ele.
assentiu, suspirando ao murmurar um “eu sei”.
Era para ser uma manhã tranquila. Acabaram com a paz que trouxemos conosco das nossas férias. Era horrível estar de volta aos mesmos dilemas que tínhamos no ano que se passou e nos depararmos com os mesmos problemas. Em Tulum, parecíamos inalcançáveis e incomunicáveis longe de Tom ou das outras pessoas que nos rodeavam.
— Então pronto, esqueça o que ele disse — peguei-a pela cintura, sentindo-a respirar fundo ao mesmo tempo que vinha até mim, permitindo-me encostar meu corpo sobre o balcão e colar meu corpo ao dela, prendendo-a em meus braços. — Eu quero você — sussurrei em seu ouvido, vendo-a encolher o ombro instantaneamente. — Você me quer também? — depositei um beijo em sua mandíbula.
— Por que quer tanto me ouvir admitir isso, ? — ela se afastou minimamente, ainda sorrindo abertamente. — Vai gravar para usar contra mim no futuro ou…
— Não, não vou gravar. Meu celular está lá em cima carregando — a loira revirou os olhos diante da minha implicância, então lhe roubei um beijo rápido. — Só quero ter certeza que você quer, porque eu sinto que quer. Mas preciso ouvir da sua boca, antes que Tom venha encher sua cabeça com teorias mirabolantes de que eu quero te controlar.
— Nem nos seus maiores sonhos — ela murmurou, rindo sarcástica.
Ignorei sua fala, ainda a esperando responder minha pergunta em voz alta, porque seu corpo já me deixava saber que era recíproco. Mesmo com meu abraço frouxo, ainda se mantinha ali com os braços em volta do meu tronco.
Nunca sequer passou pela minha cabeça a ideia de controlar . Tentar mudar seu jeito ou fazê-la mudar de opinião sobre algo era completamente inútil para mim, visto que, daqui a nove meses, iríamos nos separar.
Todas as coisas que fiz a ela até aquele momento foram para tentar tirá-la daquela zona de conforto entediante que ela vivia. E todas as vezes que intervi para fazer aquilo foi por saber que podia muito mais do que aquilo que tinha antes. Ela trabalhava muito naquela lanchonete. A própria Grace vivia reclamando que não tinha tempo para vê-la às vezes. Lhe dar aquela casa foi algo que fiz sabendo que ela merecia, e também por saber que teria aquela estabilidade. Assim como levá-la para viajar, e outras coisas que já fizemos juntos, seja para fazê-la viver algo novo ou apenas para tirar seus medos bobos. Tudo o que eu fazia para era para vê-la sair um pouco da monotonia que era sua vida.
tinha muito potencial e desperdiçava tudo naquela rotina maçante de ficar o dia servindo clientes na lanchonete que não lhe dava oportunidades de crescer na vida. Ia para casa, às vezes saía com as amigas e só… Eu sentia que tinha sido um presente em sua vida, lhe dado um propósito, alguma emoção. Era nítido que ela parecia mais feliz após a chegada da bebê naquela casa.
— Você não respondeu a minha pergunta — apertei sua cintura.
— Sim — ela expirou o ar, evitando meu olhar.
— Sim o quê? — arqueei minhas sobrancelhas.
— Eu te odeio, — joguei a cabeça para trás, gargalhando da sua pose de brava. — Sim, , eu quero. Mas…
— Ah, não, lá vem você com esse “mas”.
— Vamos com calma.
Assenti, num gesto totalmente mentiroso. Até parece que eu teria calma. me fazia perdê-la em questão de segundos sempre que me beijava.
— Sem mais ninguém sabendo disso.
Daquela vez concordei de verdade, até porque eu não teria ninguém para contar, já que, com o acordo, Dafne não saberia de nada envolvendo nós dois. Também não teria o porquê de contar aos meus amigos, como se transar com minha esposa fosse uma novidade.
— Se controlando na frente dos outros e…
Beijei , não esperando que ela terminasse sua lista gigante de exigências que se resumiam em esconder até de seu gato que estávamos nos pegando. Ainda não entendia direito como aquela dinâmica iria funcionar, visto que já estávamos vivendo uma vida dupla, escondendo uma mentira dos nossos vizinhos e dos meus colegas de trabalho. E agora estávamos o quê, vivendo uma vida tripla?
Ao fim daquela experiência toda, já poderíamos nos considerar atores e fazer audições para Hollywood. Afinal, naquela história toda, já interpretávamos ao menos dois personagens distintos todos os dias: fingir que nos odiávamos para os que sabiam da mentira e fingir que nos amávamos para os que não sabiam. No fim das contas, eu até cheguei a entender o que Tom tinha dito para sobre nada daquilo dar certo. Eu continuava acreditando que seria impossível nos apaixonarmos, porém, também achava bem possível nos perdermos nos personagens em algum momento. Como fizemos na frente de Tom, por exemplo.
Desci meus lábios pelo pescoço dela, sentindo suas mãos deslizarem por minhas costas num carinho gostoso. Uma de minhas mãos estava emaranhada em seus cabelos macios, já a outra, nada respeitosa, descia em direção à sua bunda. Ainda não sabia se aqueles beijos iriam evoluir para algo mais quente. Na verdade, pela primeira vez eu não estava preocupado com aquilo. Devia ser pelo fato de que agora eu sabia que poderia ter sempre que quisesse, sem prazos ou horário certo para nos separarmos.
Quer dizer… Ainda tínhamos que ir trabalhar.
— … — murmurei algo contra sua pele e a tive insistindo para chamar minha atenção. Teimei ao tirar meu rosto da curva de seu pescoço. — Ela está olhando…
Me afastei um pouco, vendo a bebê com os dedinhos na boca, para variar, nos encarando fixamente.
— E?
Ela sempre fazia isso. Era uma das poucas coisas que um bebê de três meses fazia além de babar, chorar, sujar a fralda e mamar.
— É estranho — ela tentou sair dos meus braços.
— Não tem nada de estranho nisso. Ela está vendo o pai beijar a mãe dela. Vai me dizer que nunca viu seus pais juntos desse jeito?
Infelizmente, já tive o desprazer até de ouvir coisas que não deveria. Foi traumatizante. Portanto, jamais faria algo do tipo perto de , mas uns beijinhos não fazia mal, não?
— Ela nem entende nada ainda — finalizei.
continuou a encarar e a ser encarada de volta. A bebê sorriu, deixando à mostra sua gengiva desprovida de dentes, e sua baba escorreu. Parecia até que sabia que estava atrapalhando e estava se divertindo com a situação. Fui até ela e virei seu carrinho.
— ! — exclamou, horrorizada.
Puxei-a de volta, voltando a fazer o que estávamos fazendo antes. Só que, daquela vez, ataquei seus lábios e fui correspondido, apesar de saber que era sentimental demais para não se sentir culpada por simplesmente virar o carrinho da bebê para o armário.
Subi meu toque por dentro de sua blusa, sentindo sua pele macia se arrepiar com o ato e sua barriga denunciar sua frequência respiratória irregular. Agarrei um de seus seios e massageei a região, tendo-a suspirando contra minha boca e deixando-me louco por saber que eu estava deixando-a excitada.
O celular de começou a tocar em cima do balcão. Tentei afastá-lo de nós, porém se esticou e conseguiu pegá-lo, o atendendo sem nem olhar no visor.
— Alô? — com o indicador, ela me pediu para ficar em silêncio. Aliás, pediu não, mandou. — Oi, amiga! Que saudades!
Suspirei, derrotado, ainda com as mãos dentro de sua blusa. se remexeu, tentando tirá-las, mas sem muito sucesso.
— N-Nada, eu não estava fazendo nada. É que o celular estava no andar de baixo, então tive que vir correndo e descer as escadas — ela riu, nervosa, tirando minhas mãos de si.
— Quem é? — sussurrei, vendo-a me censurar com o olhar, sendo que quase não emiti som algum. Parecia que ela estava abrigando o Osama bin Laden dentro de casa. Já vi que levaria aquilo como se estivesse guardando um segredo de Estado. Tive vontade de rir ao pensar aquilo.
— Se e eu podemos te dar uma carona hoje na saída? Com a Anne junto?
Suspirei, assentindo. Eu adorava Tiffany, mas não sabia explicar – Anne e eu ainda tínhamos uma barreira. E não era a de proteção que eu tinha por saber que ela era doida por mim.
— Sim, amiga, podemos sim.
e Fanny engataram num assunto sobre a virada do ano das meninas e eu encarei o relógio da cozinha, presumindo que elas nunca mais parariam de falar. Logo daria a hora de me arrumar para o trabalho e não teríamos mais tempo. Resolvi atrapalhar a conversa, já que Tiffany teria consigo para fofocar o dia todo, e eu, não.
— O que está fazendo? — fiz a leitura labial dela quando me aproximei, espalmando ambas as mãos em seus quadris. Mordi o lábio e me aproximei de seu rosto, enquanto já perdia o rumo da conversa e apenas concordava vez ou outra, meio desconcertada. Voltei a invadir sua blusa e a prensei no móvel atrás dela, deslizando a língua pela região próxima do lóbulo de sua orelha enquanto tornava a lhe massagear os seios. — A-Amiga, eu t-tenho que desligar. está com as mãos em um lugar perigoso. Tchau, beijo, até mais tarde.
— Lugar perigoso? — ri alto, tendo-a emburrada na minha frente, ainda com o celular em mãos.
— O que você queria que eu dissesse? Que você estava me tarando?
Eu não conseguia parar de rir, ainda mais vendo-a ainda séria e me encarando com a costumeira ruguinha entre as sobrancelhas. Bravinha, ficava ainda mais sexy aos meus olhos.
— É sério, . Você tem que aprender a se comportar.
— Tá bom, mãe — beijei sua bochecha, vendo-a suavizar a expressão assim que a abracei de leve.
parecia ser mãe há mais tempo do que realmente era, aliás, nem mesmo minha mãe era daquele jeito! Eu não levava broncas, ela não me chamava a atenção, e tudo isso me levava a crer que Theresa realmente tinha criado eu e Grace quando chegou naquela casa. Me dei conta que estava em ótimas mãos com e suas regras, até as paranoias. Parecia que era para ser daquele jeito desde o começo.
A barriga da minha esposa roncou, fazendo-me soltá-la para que ela pudesse enfim terminar de saborear seu waffle e tocar seu café da manhã. Fui até o carrinho, não só virando-o, mas também pegando a bebê no colo para aproveitá-la um pouquinho enquanto terminava de preparar o resto dos waffles que faltavam.
Comi junto dela em silêncio. Logo o celular de despertou, fazendo-a subir para o andar de cima, onde ela provavelmente iria tomar banho para trabalhar. Queria estar junto dela no banheiro, porém Elisabeta ainda não tinha chegado, e eu estava de olho na bebê. Pouco tempo depois, a babá chegou e desceu, indo ao seu encontro na cozinha já arrumada.
— Feliz ano-novo, Sra. — Elisabeta a cumprimentou. A loira a abraçou calorosamente, sendo correspondida na mesma intensidade. Era engraçado como gostávamos tanto de Elisabeta. Parecia que ela já trabalhava conosco há anos. — Os dois estão lindos, com cara de saúde. A viagem deve ter sido incrível.
A cara de saúde era resultado de alguns dias de descanso, um solzinho na cara e, claro, o atraso tirado após quase três meses sem transar. Tudo o que um ser humano normal precisava para recarregar as energias.
Subi para o banheiro, deixei-as tagarelando sobre Tulum e fui para o meu banho. Cruzei casualmente com Salém no corredor do quarto. Às vezes, eu me esquecia que tínhamos um gato em casa. Ele não era muito presente ali desde que nos mudamos. Por esse motivo, eu preferia cachorros – não que eu desgostasse de felinos, porém cães nos faziam mais companhia naquele sentido. Ou talvez Salém só estivesse querendo desesperadamente fugir de .
Desci, já vestindo meu blazer, e me juntei a a caminho da garagem, não antes de deixar tantos beijos nas bochechas de a ponto de ela reclamar do excesso de carinho. Nunca iria me cansar do cheirinho de bebê que emanava de seus cabelinhos ralos.
Dirigi até a lanchonete para deixar , enquanto ela apenas encarava a janela e observava o céu nublado acima de nós. Não sabia se era pelo tempo feio em Londres, mas, assim que coloquei o pé pra fora de casa, toda a animação crescente que senti quando acordei – tirando o trecho que envolvia Tom, é claro – se dissipou. Como se deixar nossa casa fosse uma péssima opção.
Apesar de confuso, eu entendia um pouco de onde vinha aquela sensação. Era uma segunda-feira nublada e sem graça, e eu teria que voltar ao trabalho. Normalmente, dias como aquele não nos davam vontade de fazer nada além de ficar na cama o dia todo, ainda mais após voltar de uma viagem daquelas.
Mas tudo bem. Afinal de contas, aquele era meu primeiro dia de trabalho daquele ano, e eu sentia que seria um bom ano. Apesar de o ano novo na prática ser apenas um ou dois dígitos que mudam nas datas terrenas, eu ainda tentava encará-lo com a mesma perspectiva de quando era criança: a de que virar um ano significava um recomeço. E mesmo que meu recomeço tenha sido recente, com a partida de Grace e a chegada de , eu ainda estava disposto a me reinventar profissionalmente.
Eu precisava daquilo. Afinal, além de ter uma pequena vida em minha casa dependendo de mim juntamente de , aquela empresa também estava em minhas mãos. Cheguei a senti-las tremerem ao pressionar o botão do elevador que me levaria até o último andar daquele prédio, que costumava abrigar um negócio muito bem sucedido. Mas que hoje estava prestes a ruir, dependendo de minhas atitudes para mantê-lo de pé para as próximas gerações da minha família.
Só de pensar aquilo, minhas costas voltaram a doer um pouco. Eu tinha muito trabalho pela frente. Lembrei-me das piadinhas de sobre nepotismo e não pude deixar de rir sozinho no elevador. Talvez, no meu caso, ser o filho do chefe tenha dado muito errado.
— Ah, Sr. ! — me deparei com Jordyn deixando minha sala, equilibrando nos braços uma bandeja com a garrafa de café. Ela estava vermelha e assustada. — B-Bom dia — Jordyn deixou a porta entreaberta e saiu o mais rápido possível, deixando-me ali, plantado sem entender merda nenhuma. Parecia que ela tinha acabado de ver um fantasma.
Abri a porta, pensando se não deveria ir atrás dela e perguntar se estava tudo bem e o motivo de ela estar exercendo a função da copeira do prédio. Porém, minha curiosidade se aguçou e tendeu mais para o lado de dentro da sala.
Engoli em seco ao encarar a imagem do homem à minha frente. Juro que preferia receber dez visitas do tio Edward do que apenas o vislumbre de ter meu pai parado na minha frente. Bom, contrariando o meu querer, lá estava ele, com sua feição dura e sentado no lugar que me pertenceu nos últimos anos.
— Não tinha ninguém melhor para contratar, não?
Ainda atônito, eu o encarava sem fala, surpreso com sua presença completamente inesperada. Quando abri a boca para falar algo, fui interrompido pela secretária, que estava de volta com uma xícara em mãos. Ela lhe entregou sob meu olhar perdido. Meu pai provou o conteúdo e a dispensou com um gesto de mãos, fazendo-a praticamente sair correndo dali.
Eu tinha tantas perguntas e imaginava tantos cenários para justificar a presença dele ali, mas a que mais me deixou hesitante foi imaginar que tinha algo a ver com a adoção de . E aquele era o pior de todos que eu poderia pensar.
— Pelo menos é bonita — ele bebericou a bebida quente, ainda encarando a porta. — Imaginei que faria escolhas na vida baseadas num rabo de saia, mas nunca pensei que você chegaria ao ponto de cometer a burrice de se casar com a filha da empregada.
Com certeza era sobre . Citar naquele momento era apenas o começo da sucessão de “erros” que ele jogaria na minha cara antes de jogar a bomba principal.
— Quando chegou aqui? — franzi a testa, ainda tentando absorver aquele amontoado de informações. Achei que chegaria naquela sala, ligaria meu computador e retornaria a fazer meu trabalho tranquilo, na medida do possível. Aquele imprevisto com certeza nunca passou pela minha cabeça. — Por que não avisou que vinha?
— Avisar o que mais? Que me hospedaria em sua casa? Te pedir para me buscar no aeroporto? Me poupe dessas banalidades, . Você não me quer aqui, vendo-o afundar essa empresa e manchar o nome da nossa família com aquela bastarda.
Respirei fundo, tentando controlar a onda de ódio que me tomou ao ouvi-lo falar daquele jeito de . Sentia que poderia socá-lo a qualquer momento.
— Eu não estou afundando nada, estou tentando tirá-la da lama que o senhor deixou quando cheguei — desviei o assunto, tentando tirar o foco da menina. Ela não merecia sequer estar nos pensamentos dele. Tudo o que meu pai faria envolvendo minha filha seria na base do ódio e rancor, e eu queria mais do que tudo afastá-la daquilo.
Parei para pensar em minha discussão com na noite de Natal, em como eu estava cego e ela me abriu os olhos em relação aos meus pais. Eu era ingênuo a ponto de achar que algum dia eles iriam querer se aproximar da neta, e que viveria em família conosco exatamente do modo como tenho certeza que Grace um dia sonhou em silêncio para não dar o braço a torcer, porque estava magoada com o modo como foi tratada.
Manchar a imagem da família? Encarei-o, enojado. Eles nunca iriam querer ter contato com a menina. Eles nunca iriam merecê-la. não tinha que pagar pelos erros da mãe, que, aliás, não tinha cometido um crime hediondo como meus pais sempre fizeram a gravidez dela parecer.
— Parece que não está fazendo o suficiente — ele sorriu, irônico, reparando em minha aliança e deixando a xícara de lado para me analisar, com seus olhos verdes como os meus cheios de cinismo. — Me pergunto o que foi que aconteceu para fazê-lo mudar de ideia em relação a filha da empregada… De repente ficou cego? Recebeu o beijo de amor verdadeiro? Se esqueceu de todas as vezes que desdenhou e com razão daquela pirralha? Por Deus, . Sua secretária calça sapatos mais sofisticados que aquela menina!
Meu pai sempre tinha sido indiferente em relação a , tanto que a viu no velório de Grace mas sequer se moveu do lugar e desviou seu olhar, continuando a ser bajulado por seus amigos milionários. Para ele, era aquilo: alguém invisível, como todos os empregados da casa em que cresci. Ela própria parecia perceber bem a sua apatia. sempre o evitou, mesmo sempre frequentando nosso espaço enquanto crescia.
Apesar de não gostar do modo como meu pai falava, eu entendi o que ele quis dizer ao praticamente se referir a mim como burro por ter me casado com . Quando éramos menores, todo ano Grace queria presenteá-la com os melhores presentes; às vezes, queria levá-la para os passeios considerados caros conosco. Quando crescemos, Grace convenceu minha mãe a pagar metade da bolsa de estudos dela no colégio de classe alta em que estudávamos. Meu pai devia achar que era uma interesseira de mão cheia, desde pequena, no meio de nós, gozando dos privilégios que o dinheiro dele podiam comprar.
Confesso que eu também não suportava grudada na gente quando éramos menores. Achava um saco ela querer se encaixar onde não lhe cabia. Mas não a achava interesseira por conta daquilo, até porque ela era apenas uma criança. Sempre vi que ela e Grace realmente eram amigas, apesar do meu ciúmes. Mais tarde, confirmei que eram muito mais do que aquilo, chegando a compará-las como irmãs. Uma simples amiga jamais faria o que já fez e estava fazendo por Grace.
— Se quiser conversar sobre a empresa, tudo bem. Mas não admito que o senhor se intrometa na minha vida pessoal — o ódio se juntou ao nervosismo e ao medo de pensar que ele talvez pudesse ligar os pontos e descobrir que adotamos a partir de todas aquelas mentiras sobre nos amarmos e chegarmos a nos casar. — Houve uma razão para que eu não te chamasse para meu casamento e nem ter te telefonado uma vez sequer desde então. Sim, eu quero o senhor longe da minha família.
— Sua família? — ele se levantou, possesso. Não tinha jeito, eu tentava mudar o rumo daquela discussão disfarçada de conversa, porém meu pai sempre dava um jeito de focar nas duas. — Sua família somos eu e sua mãe, que chora porque acha que você a trocou por meras desconhecidas — franzi o cenho, completamente horrorizado com tamanha falta de respeito. — Devia ter feito o que eu te mandei fazer no dia em que enterramos sua irmã.
Meu queixo tremeu, e eu recuei por um instante.
Nunca pensei que iria ouvi-lo tocar naquele assunto novamente. Após sua primeira tentativa de se livrar da neta, que foi tentando convencer a filha de vinte anos que um aborto seria a melhor opção, o que ele me disse no velório me destruiu ainda mais por dentro. Mais ainda que a morte da minha irmã.
— Eu jamais faria aquilo com minha sobrinha! — as lágrimas quentes desceram pelo meu rosto. Através da minha visão turva pelo choro, eu enxergava meu pai negar com a cabeça, em clara decepção.
Deixar que ela fosse para a adoção e espalhar a história que ela também não tinha sobrevivido ao parto parecia um plano mirabolante de um vilão de filme. Quando o escutei falar aquelas palavras para mim, sequer o reconheci como pai. E pensar que, no momento em que me vi sem minha irmã, cogitei a possibilidade de permitir que fosse dada a outra família…
Achava que sua única neta o faria mudar de ideia, assim como fez comigo. Quando a vi pela primeira vez, desisti de tudo por ela imediatamente.
— Você não é o homem que eu criei para ser.
Quase soltei um riso irônico. Ele nem ao menos tinha se dado ao trabalho de me criar. Eu sim tinha que ser chamado de pai, e iria assim que começasse a crescer e aprendesse suas primeiras palavras. Eu estaria presente para ouvi-las, assim como estive presente nas noites que passei com ela chorando em meu colo, nas fraldas trocadas e banhos dados. Eu sim era pai, mesmo que de uma criança que não era minha e somente há três meses. Tinha certeza que, quando tivesse a minha idade, ela não me olharia do jeito que eu estava olhando para ele naquele momento.
— Que bom — segurei meu choro diante dele, que caminhou em minha direção com aquela porra de queixo erguido, vestido em um de seus ternos caros. — Porque o senhor também não é o homem que eu queria ser quando crescesse.
— Está facilitando muito mais as coisas, agindo feito um idiota — ele me deu as costas, deixando-me confuso.
— Facilitando as coisas?
— Seu tio me ligou logo que saiu da empresa, dias atrás. Ele me contou o que houve, e eu concordei com suas exigências. Vamos vender a parte dele da empresa.
— Eu compro! — exclamei, em desespero. Sabia que poderia estar jogando mais uma das várias pás de terra em cima de mim, mesmo. Afinal, caso comprasse a empresa, corria o risco de terminar de afundá-la e perder dinheiro com a compra.
— Não seja estúpido. Ao contrário de você, eu estou tentando salvar isso aqui. Já tenho um comprador.
Foi difícil me segurar de pé diante daquela notícia. Meu pai preferia deixar a empresa nas mãos de pessoas estranhas ao confiar em mim para dar conta de tudo sozinho. Só podia ser uma represália ao fato de eu ter adotado .
— Em breve irá conhecê-lo.
— Por que não me demite de vez, hein? — com a voz embargada, mantive-me estático, tentando imitá-lo ao manter minha cabeça erguida diante do homem que passei anos admirando e planejando seguir os passos. Mas que, hoje, me fazia repensar em quem eu tinha sido em todos os meus vinte e quatro anos de vida.
E pensar que eu tinha cogitado a ideia de salvar a empresa dele para que o deixasse menos bravo quando ele descobrisse sobre . Lembrar-me daquilo me deixava envergonhado. Eu não devia me esforçar tanto para agradar alguém que se preocupava mais com a própria empresa do que com a neta.
— Porque, apesar de tudo o que está fazendo contra nós, eu ainda sou o seu pai e não vou te deixar de mãos abanando quando você acordar pra vida e perceber a grande merda que fez — que grande pai amoroso e generoso era aquele que eu tinha. — Aproveite enquanto é tempo, . Sua irmã não conseguiu voltar para nós — seus olhos se enchendo de lágrimas só me dava mais raiva.
Talvez Grace não acabaria sua vida magoada com os próprios pais se eles não tivessem a expulsado de casa e deixado claro que não queriam saber dela nem da criança que ela estava esperando. Talvez ela até estivesse viva caso não a fizessem passar tanto nervoso e se sentir desamparada durante a gravidez… Eram tantas suposições que era até difícil aceitar o fato de que, se tivesse acontecido diferente, minha irmã ainda estaria conosco, vendo a filha crescer.
— Ah, espero que não tenha registrado a menina com nosso sobrenome. Ela não é uma . Infelizmente, cheguei tarde demais, e até a filha da empregada conseguiu pegá-lo para si.
— . Ela tem um nome, e sim, pretendo registrar , que também tem nome, com o meu sobrenome, que é o mesmo da mãe dela — parecia que a língua do meu pai cairia caso ele pronunciasse os nomes delas. — Elas são sim, o senhor queira ou não.
Tenho certeza que nenhuma das duas fazia questão daquilo.
— Você ainda vai se arrepender de ter feito isso — ele finalmente deixou a sala, batendo a porta ao sair.
Ali, sozinho, permiti desabar minha postura e sentei-me numa das cadeiras, deixando que as lágrimas descessem enquanto tentava me acalmar e controlar minha respiração. Ouvi batidas na porta e me recompus, esperando não aparentar ter chorado. Autorizei a entrada de Jordyn, que adentrou minha sala em silêncio e com passos receosos.
— O que ele disse? — indaguei, vendo-a recolher a xícara que trouxera há pouco. Quando seus olhos claros se voltaram para mim, virei-me para o lado, fungando e tentando disfarçar meu estado emocional.
— Nada, só chegou entrando. Eu perguntei quem ele era, porque não o tinha reconhecido. Perguntei se tinha marcado horário com o senhor.
Se estivesse numa situação diferente, eu não seguraria meu riso ao imaginar a carranca que Joseph deve ter feito ao ser confundido com uma pessoa qualquer dentro da própria empresa.
— Depois que entendi quem ele era — Jordyn continuou. — Seu pai me pediu chá para beber e só tinha café, a copeira ainda não tinha chegado e e-eu… — seu nervosismo era nítido.
Meu pai tinha aquele efeito em seus subordinados. Menos Theresa, a mãe de . Ele nunca conseguiu domá-la. Ela sempre discutia com ele quando não concordava com alguma ordem. puxou aquilo dela.
— Tudo bem, Jordyn, essa não é sua função — massageei as têmporas, já sentindo a dor de cabeça chegar. — Pode ir. Desmarque a reunião com os meninos pra amanhã, não estou com cabeça para planejamento anual nenhum.
— Er… Seu pai reservou a sala de reuniões para amanhã.
Esfreguei o rosto com as mãos. Ele não mentiu quando me disse que conheceria o comprador em breve. Suspirei, sem respondê-la. Eu não tinha mais o que fazer.
— Se precisar, é só chamar.
Deixei a empresa sentindo-me pesado. Minhas costas ainda doíam. Depois da massagem de , tinham melhorado, mas eu acreditava piamente que aquela dor era algo psicológico. Eu não queria ver ninguém; só queria tomar um banho e sumir dentro das cobertas da minha cama. Segurei aquele sentimento ruim que perdurou o dia todo, e nem almoçar direito fiz.
Uma fina garoa caía do céu, prometendo mais uma noite fria. Estacionei do outro lado da rua e vi deixar a lanchonete com as amigas após ajudarem o Sr. Williams com a porta de ferro.
Suspirei, fechando os olhos por um instante. Tinha esquecido completamente da carona que prometi. Naquele momento, se pudesse, nem mesmo eu teria ido buscar. Queria desesperadamente ir para casa e ficar sozinho.
— Oi! — Tiffany e Anne adentraram o carro junto de minha esposa. As três riam de algo que uma delas falou no caminho enquanto correram da chuva.
Não respondi, apenas arranquei com o carro e esperei que aquilo fosse um sinal de que eu não estava de bom humor.
— Amanhã vai ficar até tarde comigo, graças a Deus. Não te aguentava mais reclamando no meu ouvido — Anne implicou com Fanny, fazendo-me lembrar que iria voltar a sair do trabalho em seu horário normal, já que já tinha três meses completos.
— está descansada, nada mais justo que fique até o fechamento. Desfrutou de Tulum, das praias e dos homens. Não vai ser grande coisa pra ela — a morena cutucou do banco de trás. se remexeu desconfortável no banco, olhando-me de canto de olho. Suspirei, ainda prestando atenção no trânsito. — Aliás, diz aí, . Você viu quem foi o cara que deu o melhor sexo da vida de ?
Encarei Tifanny pelo retrovisor com a testa franzida.
— Eu não disse melhor sexo da vida — se justificou, ficando vermelha no banco do carona.
— Não disse, mas estava na sua cara quando você chegou no trabalho hoje, quase escrito na testa que tinha transado muito nas férias — as três riram juntas, enquanto eu ainda estava alheio ao assunto. Eu só queria ir o mais rápido possível. — Nem ia contar pra gente, nós que desconfiamos.
— Fora que foi em Tulum, não foi em qualquer lugar — Anne completou, sorrindo maliciosa. — E também deixou marcas. Quando deixa marcas, a gente sabe que o negócio foi bom — ela esticou o braço, tirando os cabelos loiros de do pescoço, fazendo-a bater na mão da amiga.
Não desviei meu olhar do trânsito para checar se havia deixado marcas em sua pele. Eu não queria saber com quem tinha transado ou deixado de transar. Já sabia que era eu, e também não seria relevante se não fosse.
— — senti minha cabeça latejar quando ouvi aquele nome. — Você não respondeu minha pergunta.
— Era um surfista, não vi direito — respondi de qualquer jeito, já sabendo que elas não me deixariam em paz se eu não falasse.
As duas enlouqueceram no banco de trás, causando riso em , que tampava o rosto, vermelha de vergonha. Não sei o que ela disse para ambas, mas a verdade é que não foi. Aquele surfista babaca apenas deu uns beijos de desentupidor de pia nela. Quem fez o trabalho de verdade fui eu, porém confirmei sua versão.
Elas continuaram a conversar, daquela vez sobre um cliente da lanchonete, rindo muito como sempre. Soltavam várias piadas internas que eu não entendia e nem me esforçava para tal. Quando elas desembarcaram, quase as agradeci ao invés de receber um obrigado pelo favor feito.
Continuei impassível quando ambas deixaram o veículo. se remexeu inquieta no banco, as observando atravessar ainda fugindo da chuva, que estava mais intensa daquela vez. Ouvi a loira suspirar em meio ao silêncio dentro do carro.
— Eu não falei nada, tá? — ela riu. — Elas que começaram com essa história de…
— Não importa — a interrompi, ainda olhando para a rua e acelerando mais um pouco, a fim de ultrapassar o sinal antes que fechasse.
não falou mais nada. Acho que tinha entendido bem o recado.
Estacionei na garagem, deixando o carro junto dela. Do outro lado da rua, havia um veículo escuro parado. Eu não o conhecia da região. Olhei desconfiado, enquanto entrou para dentro. Logo vi Elisabeta sair correndo de dentro da minha casa e me dar um tchauzinho, adentrado o carro, deixando-me como um idiota por desconfiar de seu filho, que, segundo ela, sempre ia buscá-la.
— É um milagre ela estar dormindo uma hora dessa. Vai me dar tempo de preparar o jantar.
Ignorei sentada sobre o sofá com adormecida e rumei para cima.
Adentrei o quarto já me livrando de meus sapatos e blazer. Meu celular tocou, mostrando no visor o nome de meu pai. Bati a porta do banheiro com força, tentando descontar minha raiva ao adentrá-lo. O que porra ele queria daquela vez?
Fechei os olhos com força ao ouvir, ao fundo, o choro estridente de soar. iria me esganar.
O celular voltou a bipar, fazendo-me desistir do banho e ir até ele. Tinha uma mensagem de meu pai, mandando-me checar os emails que ele tinha me mandado. Desci as escadas, tendo me encarando feio enquanto tentava fazer parar de chorar. Eu sabia que estava sendo um arrogante filho da puta, mas sentia que iria explodir. Não aguentava mais fingir que estava tudo bem. Eu tinha feito aquilo o dia todo.
Fui até o escritório e iniciei o computador, esperando-o ligar para poder logar no email. Assim que consegui, abri alguns arquivos referentes ao novo comprador. Meu pai tinha montado quase que um dossiê sobre o cara, seu passado e presente na área em que atuava. Pelo menos, aquilo me deixou menos estressado – ver que não tinha sido o cuzão do Edward quem tinha escolhido o comprador, e que meu pai não tinha escolhido qualquer um. Mas ainda não era aquilo que eu queria e tinha planejado.
Recebi outra ligação dele. Encarei o celular vibrando sobre a mesa, já de olhos marejados novamente. Relutei muito e, por fim, tive que atendê-lo.
— Estou em frente à sua casa. Esqueci de te dar a cópia do contrato de venda, e você deve estudá-lo para a reunião de amanhã.
Me levantei rapidamente, desligando em sua cara ao me dar conta de que estava na sala com .
— Suba pra cima com ela — falei para a loira, que franziu o cenho.
— O quê? Eu não vou subir com ela, . Quem devia estar acalmando ela é você. Você a assustou! — ela esbravejou em meio ao choro da bebê.
A campainha tocou.
— , por favor, faça o que te pedi — lhe dei as costas, indo até o hall de entrada. Abri a porta e dei de cara com meu pai pela segunda vez naquele maldito dia que parecia não ter fim.
— Aqui está.
Peguei o envelope grande de sua mão e, quando reparei em seu rosto, vi seu olhar pairar por cima de meu ombro.
Puta que pariu, , precisava ser teimosa numa hora dessas?
— Boa noite, Sr. — a voz dela soou, e não precisei terminar de virar o rosto para saber que se aproximava da porta. — Já terminaram?
Assenti, ainda atônito. O olhar do meu pai não se desgrudou da bebê chorosa em seu colo. A loira empurrou a porta, fechando-a na cara dele. Ofeguei, surpreendido, porém não tornei a abri-la, foi… satisfatório.
— Da próxima vez que tiver a porra de um problema, fale de uma vez, ou ao menos aja como um homem e resolva sem descontar a raiva nos outros — ela me deu as costas, deixando-me plantado na porta.
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Nota da autora: QUEIMA QUENGARAL! Taca o pau doido! ihiii, eu amo escrever esses dois brigando pela pp, me sinto vingada por ter lido e até ter escrito antigamente tanta rivalidade feminina, ver dois homens brigando por uma mulher é quase uma reparação histórica hahaha Enfim mais uma noite indo mimir com ódio ao mesmo tempo em que quero pegar o no colo hahahaha Me digam o que estão achando e o que acham que vai acontecer agora com o pai do pp na história.
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