Capítulo Único
A mulher encarava atônita a televisão ligada.
Oito gols.
Oito.
Gols.
Vexame.
Humilhação.
Desgraça.
Se sentia o Kovu durante Rei Leão 2, em que todos os animais entoavam odiosamente Um de Nós.
Era apenas isso que se passava na cabeça de . O Barcelona havia sido massacrado, nas quartas de final, pelo Bayern.
Como toda torcedora culé, devido à crise interna do time, não achou que a equipe blaugrana iria passar pelos bávaros, afinal, a organização entre os times era totalmente desigual. Resumindo, o Barcelona só tinha um goleiro e um camisa 10.
Mas aquele resultado em específico, era algo inimaginável.
Oito gols.
O número fazia loopings na cabeça da brasileira.
A mulher passou a semana fazendo piadas acerca do jogo, dizendo até que o uniforme preto, que seria utilizado na próxima temporada, era uma manifestação de luto devido ao atropelamento que o clube catalão iria sofrer. Mas, sinceramente, oito gols?! Não, nem o torcedor mais pessimista imaginou isso.
Anos antes, vivera uma sensação parecida.
Na Copa de 2014, a seleção brasileira foi atropelada pelos alemães. Sete gols em pleno Mineirão lotado.
se lembrava das lágrimas, da tristeza, e do sentimento de revolta que lhe acometeram na época. Como sua seleção poderia ter se rebaixado tanto? Como os jogadores e a comissão técnica poderiam desprezar tanto as cinco estrelas bordadas no uniforme? Não bastando o placar, o resultado foi diante de sua torcida. Numa copa no Brasil, com a seleção sendo uma das favoritas. Deprimente, era esse o sentimento.
Questionamentos acerca dessa gestão foram frequentes no período.
E agora, seis anos depois, a garota sentia o mesmo sentimento. Com um acréscimo: estava grávida de um dos seus algozes. Algoz este que estava presente em suas duas maiores decepções no futebol. . Marido de .
O casal havia se conhecido em um barzinho de Munique, no aniversário de 21 anos da mulher. estava morando com a avó paterna, que se mudou para a Alemanha após enviuvar, para poder estudar fotografia, sua maior paixão. Ao mesmo tempo, a moça amparava a jovem senhora que, por se achar jovem demais, recusava a ajuda de outras pessoas que não a neta. Então, juntando o útil ao agradável, a morena se mudou para a cidade alemã.
Não esperava, contudo, encontrar .
Não por ele ser um jogador de futebol famoso, mas por ele ser um potencial namorado. A garota tinha veemência ao afirmar que não sairia com ninguém em terras alemãs. Não era esse o seu objetivo. Além disso, tinha acabado de terminar um relacionamento monótono de 5 anos com seu namorado de escola. A comodidade era o maior motivo para ter mantido um namoro com Gustavo por tanto tempo. Acreditava também que, se não tivesse se mudado, iria acabar casando com o ruivo e tendo filhos mauricinhos e sardentos.
Felizmente, não foi isso o que aconteceu.
Todavia, naquele momento, ela pensou se não era melhor ter ficado no país natal, em sua cidade, que, apesar de ser uma capital, parecia mais com um município do interior. Pelo menos aassi não teria que aguentar as piadinhas de sobre o jogo.
“ - Schatzi, eu prometo pegar leve com seu clubinho, sim?! - falou, enquanto abraçava a cintura da esposa de modo cuidadoso, deixando um beijo carinhoso em sua bochecha.
-Vai se foder, ! - desvencilhou-se do loiro, virando de frente para ele com as mãos na cintura. - Vamos destruir vocês! - replicou com uma falsa convicção. Uma coisa era admitir para todos os conhecidos que sabia que o Barcelona seria massacrado, outra, totalmente diferente, era admitir para o seu marido metido que eles estavam com a vantagem. Nunca faria isso.
- Uh, é mesmo? - se aproximou da mulher, com um sorriso ladino. - Que tal fazer uma aposta, então? - concluiu, puxando levemente para o sofá da sala. A barriga crescida da mulher aparentava ser bastante pesada, então, todo descanso era necessário.
- Que tipo de aposta? – devolveu, desconfiada, ajeitando o corpo no grande sofá branco. Ou quase branco. e não serviam para ter móveis brancos. , e uma cria deles serviam menos ainda para ter qualquer coisa em tons claros. O sofá precisaria ser trocado em breve.
- Se eu ganhar, eu escolho o nome da nossa filha. Se você ganhar, você escolhe. - respondeu, olhando para o rosto chocado da esposa. - O que acha?
- Como?! – exclamou, indignada, quase levantando em um rompante. Quase, porque o loiro percebeu as intenções da mulher, segurando-a delicadamente no lugar. - De jeito nenhum!
- Mas você não tinha tanta certeza de que iria ganhar? Por que o medo? – piscou, provocador, vendo as bochechas da mulher ganharem um tom rosado. Maldita hora em que foi abrir a sua boca, pensou . Agora sua filha iria ter algum nome estranho como Sansa ou Fleur.
Ou pior ainda, Ginevra.
tinha uma paixão inacreditável por Game of Thrones e Harry Potter, acreditando que tudo que era vivo poderia ser nomeado com alguma referência a essas obras. Seus cachorros Snow e Padfoot eram prova viva disso.
Toda vez que via alguma publicação de Tom Fletcher, guitarrista de sua banda favorita, com os filhos, perguntava-se como diabos sua esposa tinha admitido aqueles nomes nas crianças. Buzz Michelangelo, Buddy Bob, Max Mario... Agora, no entanto, estava na mesma situação. Vai que a Giovanna perdeu alguma aposta com o homem também? Não poderia mais julgá-la.
Carma é uma vadia mesmo, pensou, amargurada.
- Não estou com medo. – devolveu baixinho, evitando o olhar o azulado de . – Só penso em todas as alternativas, e não quero minha filha chamando Hermione. – completou, ouvindo uma gargalhada em resposta.
- Olha para mim, amor. – pediu carinhosamente, segurando a mão da brasileira. – Quando eu ganhar...
- Se você ganhar...- interrompeu o marido.
- Quando eu ganhar... – continuou, sem se importar com a careta da menor. – Prometo que vou escolher um nome bem bonito. – finalizou, beijando a têmpora esquerda da esposa.
- Não conte vitória antes do tempo, loirinho. O tombo é maior.”
No final de tudo, quem tombou foi .
-- X --
Já passava das 3h da manhã quando chegou em casa. Padfoot e Snow fizeram uma festa nada silenciosa ao verem o dono, que tentava exasperadamente fazer com que os dois labradores fizessem silêncio.
- Pads, pelo amor de Deus, faz silêncio! – suplicava, alisando a cabeça de cor chocolate do animal. – Não faz assim, filho, sua mãe vai me matar... – terminou, em tom choroso, vendo Snow pular por cima do irmão para falar com o homem, começando uma bagunça maior ainda. Enquanto tentava fazer com que os dois cachorros ficassem quietos, não percebeu que a esposa descia as escadas lentamente, encarando o marido com olhos divertidos.
- Sempre espalhafatoso, não é, ?! – questionou retoricamente, arqueando uma sobrancelha, vendo o homem levantar a cabeça num rompante, assustado. – Nossa, amor. Estou tão feia assim? – indagou mais uma vez ao ver a cara mais pálida do que o normal do marido.
- Liebe, não faz isso comigo. – disse, levantando e começando a normalizar a sua frequência cardíaca. – São 3 horas da manhã. Não se chega assim do nada. Pensei que era a Maria Sangrenta catalã tentando me levar.
- Maria Sangrenta catalã? – gargalhou de , que já vinha em sua direção. – Você não existe, . – terminou, colocando os braços ao redor do pescoço do homem, que já havia parado em sua frente.
- Claro! – replicou com obviedade, vendo que os cachorros já haviam se cansado da novidade e voltado para suas camas. Ou somente tomaram o mesmo susto que o pai humano e foram se esconder. – Até os espíritos da Catalunha devem ser nacionalistas. Então, nada mais comum do que querer se vingar daquele que ajudou com dois gols na maior humilhação do clubinho deles na Champions League. – falou, puxando a mulher escadas acima, em direção ao quarto deles.
Claro que não deixaria de comentar a vitória esmagadora de seu time mediante o Barcelona. Claro.
Não esperou nem o corpo do defunto esfriar e já estava jogando terra em cima.
- Estou morrendo de rir. Hahahaha. – falou, ironicamente, deitando cuidadosamente na cama king size do casal. – Parabéns. Por quanto tempo pensou nessa piada incrível? – completou, ajeitando-se nos travesseiros de forma mais confortável. A grande barriga de oito meses já era bastante incômoda. Só queria que sua filha nascesse logo e acabasse com aquela tormenta. Amava seu bebê, mas odiava estar grávida. Queria sentir aquela plenitude e leveza que Hollywood associava à gravidez.
Até sentiu isso, no começo. Mas prestes a dar à luz, com certeza não estava mais apreciando aquele momento.
- Obrigado. – agradeceu, ignorando o sarcasmo da mulher. – Acredita que pensei nisso agora? – completou, deitando-se ao lado de . adorava provocar a esposa. Era extremamente adorável o jeito com que ela emburrava e fazia caretas quando se sentia contrariada. O loiro esperava que a sua filha herdasse esses pequenos traços da mulher. Estava extremamente ansioso com o nascimento de sua pequena, que já se aproximava. Queria saber como seriam seus olhos, cabelos, trejeitos... Mal podia se aguentar de tamanha excitação. Seu maior sonho, antes ainda de virar um jogador de futebol, era construir uma família, afinal de contas.
- Ai, amor, fica caladinho para eu te amar mais, sim?! – virou o rosto para . – Tenha pena da mulher que está carregando a sua filha! – exclamou com um bico, que rapidamente foi desmanchado pelo alemão com um beijo.
- Relaxa, liebe. – acariciou a barriga avantajada de . – Nossa filha nem nasceu ainda e já teve dois gols dedicados a ela. – mudou de assunto. – É bom que isso afaste os pirralhos da minha princesa. – disse, ciumento. – Coloquei os padrões lá em cima hoje. – completou, orgulhoso.
- E os gols tinham que ser logo contra o Barcelona, ? – resmungou, contrariada. – Ela ficaria satisfeita com gols contra o Chelsea. – completou, fazendo referência à partida anterior, em que o time bávaro havia conseguido o agregado de 7x1 contra os ingleses. De fato, um rolo compressor.
- Nein. – discordou, risonho. – Isso já induz a pirralha a escolher o time certo para torcer. O Chelsea não era uma opção. – terminou, sugando de leve o lábio inferior da brasileira.
- Que seja. Vamos dormir. – finalizou a conversa, já fechando os olhos, mas com um persistente sorrisinho nos lábios. Mesmo que tenha sido responsável por suas duas maiores decepções no futebol, ela tinha muito orgulho do marido. Ele era o seu jogador favorito e sempre torceria pela sua vitória. – Amor? – chamou após alguns minutos de silêncio. – Parabéns, viu?! Você é o meu maior orgulho. – falou baixinho, ainda com os olhos fechados. Em resposta, recebeu braços carinhosos ao seu redor e um beijo em sua têmpora.
Ele sabia que, apesar das provocações, sempre torceria por ele.
-- X --
23 de agosto de 2020. Um dia inesquecível para e .
Depois de eliminar o Lyon na semifinal da Champions League, o Bayern foi para a final contra o Paris Saint-German. Os alemães eram os favoritos, mas o talento de Neymar, Mbappé e Di Maria poderia mudar tudo.
Mas, não mudou.
Com um gol de Kingsley Coman, o Bayern conseguiu a orelhuda da temporada 2019 – 2020.
Munique estava em festa. Embora ainda houvesse restrições devido à pandemia que ainda vigorava, era possível ouvir comemorações, fogos de artifício e as mais diversas manifestações de felicidade.
Era oficial, o Bayern München era o campeão da Europa.
estava eufórico. Tinha falado com a esposa minutos antes da partida começar e já sentia saudades. Queria pegar um voo para casa o mais rápido possível. A comemoração dos amigos e colegas de clube estava contagiante, todavia, não havia lugar no mundo que mais gostaria de estar do que ao lado de . De e de sua bebê, ainda sem nome. O alemão já havia pensando em alguns, mas ainda não tinha chegado em um que achasse perfeito. Acreditava que só teria certeza ao ver o rostinho de sua pequena.
Enquanto pensava como sair daquela confusão de jogadores extasiados sem gerar grande alarde, foi tirado de seus devaneios por um Lewandowski esbaforido. O polonês vinha em direção ao alemão com o rosto pálido e olhos arregalados, assustando-o, já que o ambiente não ornava com a situação do amigo.
- Rob? – indagou, colocando a mão nos ombros do moreno, que olhou para ele com os olhos mais arregalados ainda. – O que houve, mate?
- Puta que pariu, ! – exclamou de repente, saindo do seu estado catatônico e fazendo o loiro se sobressaltar. – A tá doida atrás de você! Atende a porra do telefone! – completou, esbaforido, já empurrando o amigo para fora do vestiário. Enquanto o camisa 9 olhava para todos os lados procurando alguém que não sabia quem era, foi a vez dele ficar em choque.
? O que houve com ? Por que ela ligou para o Robert?
Os questionamentos vinham em looping, mas ele não conseguia externá-los. A espinha do jogador simplesmente gelou.
Vendo o aparente choque do loiro, e se sentindo culpado por tê-lo deixado nesse estado, Robert logo tratou de explicar a situação.
– Sua filha vai nascer, cara! Minha afilhada tá chegando! – falou um pouco alto demais, chamando a atenção de quem estava ao redor. Depois do choque inicial, a animação tomou conta do polonês.
Seus melhores amigos iam ter um bebê, caralho!
O anúncio de Robert, previsivelmente, ocasionou um pequeno rebuliço, fazendo com que diversos companheiros fossem na direção de com a intenção de parabenizá-lo. Assim, Lewandowski, impedindo os demais colegas de chegarem perto dos dois para não atrasá-los mais ainda, foi puxando mais rapidamente, quase correndo em direção a um carro preto que parecia estar esperando por eles.
- Foi mal, galera! – gritou sobre os ombros para os colegas. – Se esse magrelo não chegar imediatamente na Alemanha, eu vou ser assassinado por uma brasileira de 1.60. – completou, correndo com o amigo para o veículo estacionado. – E EU AINDA QUERO GANHAR O PRÊMIO DE MELHOR DO MUNDO! – gritou, já dentro do carro, pela janela, com o carro já ganhando velocidade e indo em direção a um pequeno aeroporto da cidade portuguesa. Não interessava como, mas, se dependesse de Robert Lewandowski, veria o nascimento de sua filha.
-- X --
Chegando ao hospital que fora informado a Lewa por , foi logo correndo para a recepção, que tinha uma jovem ruiva de olhos arregalados. Certamente, não estava esperando dois dos maiores jogadores da atualidade na sua frente.
- Com licença, minha esposa está tendo nossa filha! – falou , exasperado, engolindo as palavras tamanho a rapidez, bem como olhando para todos os lados em uma falha tentativa de encontrar algum rastro da mulher. – . – continuou, ao ver os olhos confusos da garota.
- Calma, cara. – sentiu a presença do camisa nove ao seu lado. – Oi, Verena. – disse suavemente, após se inclinar levemente e ler o nome da mais nova em seu crachá. – Esse desengonçado está colocando uma pobre criatura no mundo. – provocou, olhando de soslaio a careta do alemão e o rosto comicamente confuso da recepcionista. Realmente, não estava esperando por aquilo. – Eu sei que o certo seria cobrar uma indenização, porque ninguém merece mais uma criança com essas pernas magrelas, mas vamos fazer uma caridade, ok? – suspirou dramaticamente, tentando desviar do soco que tentava. – Qual o quarto da ? – questionou pomposamente, inclinando-se em direção à moça.
- Quarto 215, senhor Lewandowski. – respondeu, tentando permanecer séria. – Segundo quarto à esquerda. – orientou, vendo os dois homens saírem apressados em direção aos comandos dados por Verena.
Chegando na frente da grande porta de número 215, Robert tomou a palavra:
- É aqui que eu me despeço de vocês. – disse, já tratando de continuar ao ver que o amigo ia começar um protesto. – Eu amo vocês e já amo a minha afilhada, . Mas nada no mundo me faz querer ver um parto. Já sofri demais com os nascimentos da Klara e da Laura. – falou em uma careta, lembrando-se de como foi traumático para ele ver suas duas princesinhas virem ao mundo. – E só porque a Anna me ameaçou!
- Mas...
- Sabia que você iria entender. – interrompeu o loiro, já indo em direção à saída. – Boa sorte! Me mandem notícias!
-- X --
Após a despedida confusa com o polonês, respirou fundo e entrou no quarto do hospital, vendo com leves caretas de dor. A mulher não havia percebido a presença do marido, permanecendo de olhos fechados e cantarolando alguma canção que não entendia, provavelmente em português.
- Promete que não vai crescer distante, promete que vai ser pra sempre assim... – continuou cantando, sem saber que o loiro a encarava com um olhar abobalhado. Estava sozinha devido à dificuldade que havia de viajar em virtude da pandemia. Seus pais e irmã estavam no Brasil, enquanto seus sogros não haviam conseguido sair de Dresden, visto que não estavam esperando o nascimento da neta ainda. A previsão era para que a bebê nascesse só dentro de duas semanas. Suas amigas, por outro lado, haviam sido desaconselhadas de aparecerem por lá. Hospitais não eram lugares muito seguros e, devido à questão da disseminação da Covid-19, pessoas que não estavam em quarentena com e poderiam levar algum perigo para a gestante e para a criança. Além de tudo, não havia conseguido falar com . Seu celular estava desligado, como sempre fazia durante os jogos. A brasileira tinha conseguido se comunicar com Lewa, padrinho e melhor amigo de e , mas não sabia como a situação tinha se desenrolado após falar com o polonês. O moreno parecia bastante abalado com a notícia e a brasileira não fazia ideia se o estado catatônico do amigo havia se dissipado. Esperava sinceramente que sim.
Odiava sentir dor. Odiava hospitais. Odiava aquele cheiro de álcool e formol. Odiava tudo. Não sabia até o presente momento como seus pais puderam cogitar que ela fizesse medicina. Certamente, desmaiaria no primeiro dia de aula laboratorial. Então, estar num ambiente horrível e sozinha, de fato, não era o parto dos sonhos que havia desejado quando descobriu que estava grávida. Pensando nisso, começou a cantarolar músicas que acreditava que iriam acalmar a sua filha, de forma a estimulá-la a não destruir sua mãe durante o parto. – Promete esse sorriso radiante, todas as vezes que você pensar em mim...
- Queria muito meu celular aqui para gravar você toda linda cantando essa música que eu não entendo nada. – finalmente se pronunciou, assustando a mulher à sua frente. – Não queria te assustar. – desculpou-se, aproximando-se e sentando na poltrona preta posicionada ao lado da cama de . – Como está, schatzi? – acariciou suavemente a mão gelada da esposa.
- Dando graças a Deus por aquele polonês ter passado o recado. – suspirou, encarando os olhos claros do homem. – Cadê ele, inclusive? – indagou, percebendo a ausência do citado.
- Fugiu. – disse simplesmente, fazendo a mais nova revirar os olhos teatralmente. Era típico de Robert fugir de situações que considerava incômodas. Pobre, Anna. – Ainda acho que deveríamos reconsiderar o padrinho da nossa filha.
- Você só está dizendo isso porque não pode fugir igual ao Rob, amor. – provocou, com malícia. – Infelizmente, vai ter que ficar para assistir dor, gritos e sangue. Quase uma releitura de Psicose.
- Eu não gostaria de fugir! – protestou, vendo a cara de incredulidade de . – Eu só acredito que os partos não são tão bonitos assim. Qual é, eu assisti Um Bebê Por Minuto! – concluiu, com toda a convicção que tinha, acreditando que tinha cessado as provocações da mulher. Ambos concordavam que Um Bebê Por Minuto era responsável por grandes traumas.
- Tá, tá. – concordou, displicentemente. – Agora fica quietinho me dando apoio moral, porque foi você que fez isso comigo!
-- X --
Horas se passaram e nada da criança nascer. já havia proferido todos os xingamentos em português, inglês e alemão que conhecia para , que não sabia se o que mais incomodava eram os gritos de dor da esposa ou os fortes apertos que ela dava em suas mãos quando sentia alguma contração vindo.
- PELO AMOR DE DEUS, ALGUÉM TIRA ESSA CRIANÇA DE DENTRO DE MIM! – gritava histericamente, fazendo o loiro se sobressaltar e se apressar para chamar uma enfermeira. – , SEJA ÚTIL PARA ALGUMA COISA E COLOQUE SUA FILHA NO MUNDO! – continuou, vendo de relance uma enfermeira chegar, acompanhada de sua obstetra, Jenna.
- Vamos examiná-la, . Ver como está indo a sua dilatação. – a médica aproximou-se da gestante, colocando seu par de luvas para poder fazer a medição necessária. – Dez centímetros! - exclamou, vendo o rosto aliviado do casal à sua frente. – Você está pronta, mamãe. Podemos começar!
não saberia dizer quanto tempo passou fazendo força, gritando e sentindo a pior dor que já havia sentido na vida. Nunca foi uma mulher de ter tantas cólicas, então sentia que seu útero estava compensando tudo naquele momento. Mas, em meio à agonia causada pelo procedimento, um chorinho fino fez tudo valer a pena.
Sua filha havia nascido.
Com 50 centímetros e 3 quilos, Sem nome havia nascido. Sim, ainda não havia decidido, e, se tivesse, não tinha informado nada para a esposa. Então, certamente, sua filha iria acabar se chamando Sem Nome. Como a água-viva roxa de Bob Esponja, seu desenho favorito.
Depois de limparem e vestirem a criança, uma enfermeira entregou a bebê aos pais de primeira viagem, que possuíam olhos marejados e sorriso bobos no rosto.
- Ela é tão linda, schatzi. – foi quem quebrou o confortável silêncio, após passarem alguns minutos encarando a obra de arte que eles haviam feito. – Obrigado.
- Obrigada pelo o que, menino? – rebateu, sem entender o motivo do agradecimento.
- Obrigado por tudo. Por ser minha melhor amiga, minha esposa, torcedora, e agora, por ter dado a coisa mais preciosa da minha vida. Muito obrigado. – disse em tom choroso, tentando disfarçar algumas lágrimas que queriam sair de seus olhos.
- Estamos sempre aqui, meu bem. Não esquece nunca. – sorriu em direção ao marido. – Eu amo você.
- Eu amo muito você, . – devolveu, beijando suavemente a testa ainda suada da brasileira, tomando cuidado para não acordar a pequena, que dormia tranquilamente.
- Agora, interrompendo o momento meloso... – disse em tom decidido. – Qual nome você escolheu?
- Não foi fácil escolher um nome, admito. – começou, encarando os olhos ansiosos da esposa. – Mas depois de muito pensar, de ver o rostinho da nossa princesa, eu tenho um veredito. – declarou.
- Qual, ? – suplicou baixinho. – Desembucha!
- Eileen . O que acha? – respondeu, também ansioso pela reação da mulher. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, contudo, Eileen abriu os pequenos olhos e sorriu, como se aprovasse a escolha do pai.
- Eileen. – repetiu, sentindo o som que saía de seus lábios. – Ótimo nome, amor.
- Sabe o melhor de tudo? – questionou, logo respondendo ao ver a cabeça da brasileira balançando em negação. – Você nem percebeu que essa é uma homenagem à mãe de Severo Snape. – concluiu, esperto, vendo a esposa rolar os olhos.
- Pelo menos não é algo como Daenerys ou Arya.
- Esses nomes aí deixamos para a próxima. Tenho certeza de que você perderá alguma aposta para mim até lá. – provocou, levando a pequena Eileen para o berço branco que tinha em um dos cantos do espaçoso quarto.
- Cala a boca, !
Oito gols.
Oito.
Gols.
Vexame.
Humilhação.
Desgraça.
Se sentia o Kovu durante Rei Leão 2, em que todos os animais entoavam odiosamente Um de Nós.
Era apenas isso que se passava na cabeça de . O Barcelona havia sido massacrado, nas quartas de final, pelo Bayern.
Como toda torcedora culé, devido à crise interna do time, não achou que a equipe blaugrana iria passar pelos bávaros, afinal, a organização entre os times era totalmente desigual. Resumindo, o Barcelona só tinha um goleiro e um camisa 10.
Mas aquele resultado em específico, era algo inimaginável.
Oito gols.
O número fazia loopings na cabeça da brasileira.
A mulher passou a semana fazendo piadas acerca do jogo, dizendo até que o uniforme preto, que seria utilizado na próxima temporada, era uma manifestação de luto devido ao atropelamento que o clube catalão iria sofrer. Mas, sinceramente, oito gols?! Não, nem o torcedor mais pessimista imaginou isso.
Anos antes, vivera uma sensação parecida.
Na Copa de 2014, a seleção brasileira foi atropelada pelos alemães. Sete gols em pleno Mineirão lotado.
se lembrava das lágrimas, da tristeza, e do sentimento de revolta que lhe acometeram na época. Como sua seleção poderia ter se rebaixado tanto? Como os jogadores e a comissão técnica poderiam desprezar tanto as cinco estrelas bordadas no uniforme? Não bastando o placar, o resultado foi diante de sua torcida. Numa copa no Brasil, com a seleção sendo uma das favoritas. Deprimente, era esse o sentimento.
Questionamentos acerca dessa gestão foram frequentes no período.
E agora, seis anos depois, a garota sentia o mesmo sentimento. Com um acréscimo: estava grávida de um dos seus algozes. Algoz este que estava presente em suas duas maiores decepções no futebol. . Marido de .
O casal havia se conhecido em um barzinho de Munique, no aniversário de 21 anos da mulher. estava morando com a avó paterna, que se mudou para a Alemanha após enviuvar, para poder estudar fotografia, sua maior paixão. Ao mesmo tempo, a moça amparava a jovem senhora que, por se achar jovem demais, recusava a ajuda de outras pessoas que não a neta. Então, juntando o útil ao agradável, a morena se mudou para a cidade alemã.
Não esperava, contudo, encontrar .
Não por ele ser um jogador de futebol famoso, mas por ele ser um potencial namorado. A garota tinha veemência ao afirmar que não sairia com ninguém em terras alemãs. Não era esse o seu objetivo. Além disso, tinha acabado de terminar um relacionamento monótono de 5 anos com seu namorado de escola. A comodidade era o maior motivo para ter mantido um namoro com Gustavo por tanto tempo. Acreditava também que, se não tivesse se mudado, iria acabar casando com o ruivo e tendo filhos mauricinhos e sardentos.
Felizmente, não foi isso o que aconteceu.
Todavia, naquele momento, ela pensou se não era melhor ter ficado no país natal, em sua cidade, que, apesar de ser uma capital, parecia mais com um município do interior. Pelo menos aassi não teria que aguentar as piadinhas de sobre o jogo.
“ - Schatzi, eu prometo pegar leve com seu clubinho, sim?! - falou, enquanto abraçava a cintura da esposa de modo cuidadoso, deixando um beijo carinhoso em sua bochecha.
-Vai se foder, ! - desvencilhou-se do loiro, virando de frente para ele com as mãos na cintura. - Vamos destruir vocês! - replicou com uma falsa convicção. Uma coisa era admitir para todos os conhecidos que sabia que o Barcelona seria massacrado, outra, totalmente diferente, era admitir para o seu marido metido que eles estavam com a vantagem. Nunca faria isso.
- Uh, é mesmo? - se aproximou da mulher, com um sorriso ladino. - Que tal fazer uma aposta, então? - concluiu, puxando levemente para o sofá da sala. A barriga crescida da mulher aparentava ser bastante pesada, então, todo descanso era necessário.
- Que tipo de aposta? – devolveu, desconfiada, ajeitando o corpo no grande sofá branco. Ou quase branco. e não serviam para ter móveis brancos. , e uma cria deles serviam menos ainda para ter qualquer coisa em tons claros. O sofá precisaria ser trocado em breve.
- Se eu ganhar, eu escolho o nome da nossa filha. Se você ganhar, você escolhe. - respondeu, olhando para o rosto chocado da esposa. - O que acha?
- Como?! – exclamou, indignada, quase levantando em um rompante. Quase, porque o loiro percebeu as intenções da mulher, segurando-a delicadamente no lugar. - De jeito nenhum!
- Mas você não tinha tanta certeza de que iria ganhar? Por que o medo? – piscou, provocador, vendo as bochechas da mulher ganharem um tom rosado. Maldita hora em que foi abrir a sua boca, pensou . Agora sua filha iria ter algum nome estranho como Sansa ou Fleur.
Ou pior ainda, Ginevra.
tinha uma paixão inacreditável por Game of Thrones e Harry Potter, acreditando que tudo que era vivo poderia ser nomeado com alguma referência a essas obras. Seus cachorros Snow e Padfoot eram prova viva disso.
Toda vez que via alguma publicação de Tom Fletcher, guitarrista de sua banda favorita, com os filhos, perguntava-se como diabos sua esposa tinha admitido aqueles nomes nas crianças. Buzz Michelangelo, Buddy Bob, Max Mario... Agora, no entanto, estava na mesma situação. Vai que a Giovanna perdeu alguma aposta com o homem também? Não poderia mais julgá-la.
Carma é uma vadia mesmo, pensou, amargurada.
- Não estou com medo. – devolveu baixinho, evitando o olhar o azulado de . – Só penso em todas as alternativas, e não quero minha filha chamando Hermione. – completou, ouvindo uma gargalhada em resposta.
- Olha para mim, amor. – pediu carinhosamente, segurando a mão da brasileira. – Quando eu ganhar...
- Se você ganhar...- interrompeu o marido.
- Quando eu ganhar... – continuou, sem se importar com a careta da menor. – Prometo que vou escolher um nome bem bonito. – finalizou, beijando a têmpora esquerda da esposa.
- Não conte vitória antes do tempo, loirinho. O tombo é maior.”
No final de tudo, quem tombou foi .
Já passava das 3h da manhã quando chegou em casa. Padfoot e Snow fizeram uma festa nada silenciosa ao verem o dono, que tentava exasperadamente fazer com que os dois labradores fizessem silêncio.
- Pads, pelo amor de Deus, faz silêncio! – suplicava, alisando a cabeça de cor chocolate do animal. – Não faz assim, filho, sua mãe vai me matar... – terminou, em tom choroso, vendo Snow pular por cima do irmão para falar com o homem, começando uma bagunça maior ainda. Enquanto tentava fazer com que os dois cachorros ficassem quietos, não percebeu que a esposa descia as escadas lentamente, encarando o marido com olhos divertidos.
- Sempre espalhafatoso, não é, ?! – questionou retoricamente, arqueando uma sobrancelha, vendo o homem levantar a cabeça num rompante, assustado. – Nossa, amor. Estou tão feia assim? – indagou mais uma vez ao ver a cara mais pálida do que o normal do marido.
- Liebe, não faz isso comigo. – disse, levantando e começando a normalizar a sua frequência cardíaca. – São 3 horas da manhã. Não se chega assim do nada. Pensei que era a Maria Sangrenta catalã tentando me levar.
- Maria Sangrenta catalã? – gargalhou de , que já vinha em sua direção. – Você não existe, . – terminou, colocando os braços ao redor do pescoço do homem, que já havia parado em sua frente.
- Claro! – replicou com obviedade, vendo que os cachorros já haviam se cansado da novidade e voltado para suas camas. Ou somente tomaram o mesmo susto que o pai humano e foram se esconder. – Até os espíritos da Catalunha devem ser nacionalistas. Então, nada mais comum do que querer se vingar daquele que ajudou com dois gols na maior humilhação do clubinho deles na Champions League. – falou, puxando a mulher escadas acima, em direção ao quarto deles.
Claro que não deixaria de comentar a vitória esmagadora de seu time mediante o Barcelona. Claro.
Não esperou nem o corpo do defunto esfriar e já estava jogando terra em cima.
- Estou morrendo de rir. Hahahaha. – falou, ironicamente, deitando cuidadosamente na cama king size do casal. – Parabéns. Por quanto tempo pensou nessa piada incrível? – completou, ajeitando-se nos travesseiros de forma mais confortável. A grande barriga de oito meses já era bastante incômoda. Só queria que sua filha nascesse logo e acabasse com aquela tormenta. Amava seu bebê, mas odiava estar grávida. Queria sentir aquela plenitude e leveza que Hollywood associava à gravidez.
Até sentiu isso, no começo. Mas prestes a dar à luz, com certeza não estava mais apreciando aquele momento.
- Obrigado. – agradeceu, ignorando o sarcasmo da mulher. – Acredita que pensei nisso agora? – completou, deitando-se ao lado de . adorava provocar a esposa. Era extremamente adorável o jeito com que ela emburrava e fazia caretas quando se sentia contrariada. O loiro esperava que a sua filha herdasse esses pequenos traços da mulher. Estava extremamente ansioso com o nascimento de sua pequena, que já se aproximava. Queria saber como seriam seus olhos, cabelos, trejeitos... Mal podia se aguentar de tamanha excitação. Seu maior sonho, antes ainda de virar um jogador de futebol, era construir uma família, afinal de contas.
- Ai, amor, fica caladinho para eu te amar mais, sim?! – virou o rosto para . – Tenha pena da mulher que está carregando a sua filha! – exclamou com um bico, que rapidamente foi desmanchado pelo alemão com um beijo.
- Relaxa, liebe. – acariciou a barriga avantajada de . – Nossa filha nem nasceu ainda e já teve dois gols dedicados a ela. – mudou de assunto. – É bom que isso afaste os pirralhos da minha princesa. – disse, ciumento. – Coloquei os padrões lá em cima hoje. – completou, orgulhoso.
- E os gols tinham que ser logo contra o Barcelona, ? – resmungou, contrariada. – Ela ficaria satisfeita com gols contra o Chelsea. – completou, fazendo referência à partida anterior, em que o time bávaro havia conseguido o agregado de 7x1 contra os ingleses. De fato, um rolo compressor.
- Nein. – discordou, risonho. – Isso já induz a pirralha a escolher o time certo para torcer. O Chelsea não era uma opção. – terminou, sugando de leve o lábio inferior da brasileira.
- Que seja. Vamos dormir. – finalizou a conversa, já fechando os olhos, mas com um persistente sorrisinho nos lábios. Mesmo que tenha sido responsável por suas duas maiores decepções no futebol, ela tinha muito orgulho do marido. Ele era o seu jogador favorito e sempre torceria pela sua vitória. – Amor? – chamou após alguns minutos de silêncio. – Parabéns, viu?! Você é o meu maior orgulho. – falou baixinho, ainda com os olhos fechados. Em resposta, recebeu braços carinhosos ao seu redor e um beijo em sua têmpora.
Ele sabia que, apesar das provocações, sempre torceria por ele.
23 de agosto de 2020. Um dia inesquecível para e .
Depois de eliminar o Lyon na semifinal da Champions League, o Bayern foi para a final contra o Paris Saint-German. Os alemães eram os favoritos, mas o talento de Neymar, Mbappé e Di Maria poderia mudar tudo.
Mas, não mudou.
Com um gol de Kingsley Coman, o Bayern conseguiu a orelhuda da temporada 2019 – 2020.
Munique estava em festa. Embora ainda houvesse restrições devido à pandemia que ainda vigorava, era possível ouvir comemorações, fogos de artifício e as mais diversas manifestações de felicidade.
Era oficial, o Bayern München era o campeão da Europa.
estava eufórico. Tinha falado com a esposa minutos antes da partida começar e já sentia saudades. Queria pegar um voo para casa o mais rápido possível. A comemoração dos amigos e colegas de clube estava contagiante, todavia, não havia lugar no mundo que mais gostaria de estar do que ao lado de . De e de sua bebê, ainda sem nome. O alemão já havia pensando em alguns, mas ainda não tinha chegado em um que achasse perfeito. Acreditava que só teria certeza ao ver o rostinho de sua pequena.
Enquanto pensava como sair daquela confusão de jogadores extasiados sem gerar grande alarde, foi tirado de seus devaneios por um Lewandowski esbaforido. O polonês vinha em direção ao alemão com o rosto pálido e olhos arregalados, assustando-o, já que o ambiente não ornava com a situação do amigo.
- Rob? – indagou, colocando a mão nos ombros do moreno, que olhou para ele com os olhos mais arregalados ainda. – O que houve, mate?
- Puta que pariu, ! – exclamou de repente, saindo do seu estado catatônico e fazendo o loiro se sobressaltar. – A tá doida atrás de você! Atende a porra do telefone! – completou, esbaforido, já empurrando o amigo para fora do vestiário. Enquanto o camisa 9 olhava para todos os lados procurando alguém que não sabia quem era, foi a vez dele ficar em choque.
? O que houve com ? Por que ela ligou para o Robert?
Os questionamentos vinham em looping, mas ele não conseguia externá-los. A espinha do jogador simplesmente gelou.
Vendo o aparente choque do loiro, e se sentindo culpado por tê-lo deixado nesse estado, Robert logo tratou de explicar a situação.
– Sua filha vai nascer, cara! Minha afilhada tá chegando! – falou um pouco alto demais, chamando a atenção de quem estava ao redor. Depois do choque inicial, a animação tomou conta do polonês.
Seus melhores amigos iam ter um bebê, caralho!
O anúncio de Robert, previsivelmente, ocasionou um pequeno rebuliço, fazendo com que diversos companheiros fossem na direção de com a intenção de parabenizá-lo. Assim, Lewandowski, impedindo os demais colegas de chegarem perto dos dois para não atrasá-los mais ainda, foi puxando mais rapidamente, quase correndo em direção a um carro preto que parecia estar esperando por eles.
- Foi mal, galera! – gritou sobre os ombros para os colegas. – Se esse magrelo não chegar imediatamente na Alemanha, eu vou ser assassinado por uma brasileira de 1.60. – completou, correndo com o amigo para o veículo estacionado. – E EU AINDA QUERO GANHAR O PRÊMIO DE MELHOR DO MUNDO! – gritou, já dentro do carro, pela janela, com o carro já ganhando velocidade e indo em direção a um pequeno aeroporto da cidade portuguesa. Não interessava como, mas, se dependesse de Robert Lewandowski, veria o nascimento de sua filha.
Chegando ao hospital que fora informado a Lewa por , foi logo correndo para a recepção, que tinha uma jovem ruiva de olhos arregalados. Certamente, não estava esperando dois dos maiores jogadores da atualidade na sua frente.
- Com licença, minha esposa está tendo nossa filha! – falou , exasperado, engolindo as palavras tamanho a rapidez, bem como olhando para todos os lados em uma falha tentativa de encontrar algum rastro da mulher. – . – continuou, ao ver os olhos confusos da garota.
- Calma, cara. – sentiu a presença do camisa nove ao seu lado. – Oi, Verena. – disse suavemente, após se inclinar levemente e ler o nome da mais nova em seu crachá. – Esse desengonçado está colocando uma pobre criatura no mundo. – provocou, olhando de soslaio a careta do alemão e o rosto comicamente confuso da recepcionista. Realmente, não estava esperando por aquilo. – Eu sei que o certo seria cobrar uma indenização, porque ninguém merece mais uma criança com essas pernas magrelas, mas vamos fazer uma caridade, ok? – suspirou dramaticamente, tentando desviar do soco que tentava. – Qual o quarto da ? – questionou pomposamente, inclinando-se em direção à moça.
- Quarto 215, senhor Lewandowski. – respondeu, tentando permanecer séria. – Segundo quarto à esquerda. – orientou, vendo os dois homens saírem apressados em direção aos comandos dados por Verena.
Chegando na frente da grande porta de número 215, Robert tomou a palavra:
- É aqui que eu me despeço de vocês. – disse, já tratando de continuar ao ver que o amigo ia começar um protesto. – Eu amo vocês e já amo a minha afilhada, . Mas nada no mundo me faz querer ver um parto. Já sofri demais com os nascimentos da Klara e da Laura. – falou em uma careta, lembrando-se de como foi traumático para ele ver suas duas princesinhas virem ao mundo. – E só porque a Anna me ameaçou!
- Mas...
- Sabia que você iria entender. – interrompeu o loiro, já indo em direção à saída. – Boa sorte! Me mandem notícias!
Após a despedida confusa com o polonês, respirou fundo e entrou no quarto do hospital, vendo com leves caretas de dor. A mulher não havia percebido a presença do marido, permanecendo de olhos fechados e cantarolando alguma canção que não entendia, provavelmente em português.
- Promete que não vai crescer distante, promete que vai ser pra sempre assim... – continuou cantando, sem saber que o loiro a encarava com um olhar abobalhado. Estava sozinha devido à dificuldade que havia de viajar em virtude da pandemia. Seus pais e irmã estavam no Brasil, enquanto seus sogros não haviam conseguido sair de Dresden, visto que não estavam esperando o nascimento da neta ainda. A previsão era para que a bebê nascesse só dentro de duas semanas. Suas amigas, por outro lado, haviam sido desaconselhadas de aparecerem por lá. Hospitais não eram lugares muito seguros e, devido à questão da disseminação da Covid-19, pessoas que não estavam em quarentena com e poderiam levar algum perigo para a gestante e para a criança. Além de tudo, não havia conseguido falar com . Seu celular estava desligado, como sempre fazia durante os jogos. A brasileira tinha conseguido se comunicar com Lewa, padrinho e melhor amigo de e , mas não sabia como a situação tinha se desenrolado após falar com o polonês. O moreno parecia bastante abalado com a notícia e a brasileira não fazia ideia se o estado catatônico do amigo havia se dissipado. Esperava sinceramente que sim.
Odiava sentir dor. Odiava hospitais. Odiava aquele cheiro de álcool e formol. Odiava tudo. Não sabia até o presente momento como seus pais puderam cogitar que ela fizesse medicina. Certamente, desmaiaria no primeiro dia de aula laboratorial. Então, estar num ambiente horrível e sozinha, de fato, não era o parto dos sonhos que havia desejado quando descobriu que estava grávida. Pensando nisso, começou a cantarolar músicas que acreditava que iriam acalmar a sua filha, de forma a estimulá-la a não destruir sua mãe durante o parto. – Promete esse sorriso radiante, todas as vezes que você pensar em mim...
- Queria muito meu celular aqui para gravar você toda linda cantando essa música que eu não entendo nada. – finalmente se pronunciou, assustando a mulher à sua frente. – Não queria te assustar. – desculpou-se, aproximando-se e sentando na poltrona preta posicionada ao lado da cama de . – Como está, schatzi? – acariciou suavemente a mão gelada da esposa.
- Dando graças a Deus por aquele polonês ter passado o recado. – suspirou, encarando os olhos claros do homem. – Cadê ele, inclusive? – indagou, percebendo a ausência do citado.
- Fugiu. – disse simplesmente, fazendo a mais nova revirar os olhos teatralmente. Era típico de Robert fugir de situações que considerava incômodas. Pobre, Anna. – Ainda acho que deveríamos reconsiderar o padrinho da nossa filha.
- Você só está dizendo isso porque não pode fugir igual ao Rob, amor. – provocou, com malícia. – Infelizmente, vai ter que ficar para assistir dor, gritos e sangue. Quase uma releitura de Psicose.
- Eu não gostaria de fugir! – protestou, vendo a cara de incredulidade de . – Eu só acredito que os partos não são tão bonitos assim. Qual é, eu assisti Um Bebê Por Minuto! – concluiu, com toda a convicção que tinha, acreditando que tinha cessado as provocações da mulher. Ambos concordavam que Um Bebê Por Minuto era responsável por grandes traumas.
- Tá, tá. – concordou, displicentemente. – Agora fica quietinho me dando apoio moral, porque foi você que fez isso comigo!
Horas se passaram e nada da criança nascer. já havia proferido todos os xingamentos em português, inglês e alemão que conhecia para , que não sabia se o que mais incomodava eram os gritos de dor da esposa ou os fortes apertos que ela dava em suas mãos quando sentia alguma contração vindo.
- PELO AMOR DE DEUS, ALGUÉM TIRA ESSA CRIANÇA DE DENTRO DE MIM! – gritava histericamente, fazendo o loiro se sobressaltar e se apressar para chamar uma enfermeira. – , SEJA ÚTIL PARA ALGUMA COISA E COLOQUE SUA FILHA NO MUNDO! – continuou, vendo de relance uma enfermeira chegar, acompanhada de sua obstetra, Jenna.
- Vamos examiná-la, . Ver como está indo a sua dilatação. – a médica aproximou-se da gestante, colocando seu par de luvas para poder fazer a medição necessária. – Dez centímetros! - exclamou, vendo o rosto aliviado do casal à sua frente. – Você está pronta, mamãe. Podemos começar!
não saberia dizer quanto tempo passou fazendo força, gritando e sentindo a pior dor que já havia sentido na vida. Nunca foi uma mulher de ter tantas cólicas, então sentia que seu útero estava compensando tudo naquele momento. Mas, em meio à agonia causada pelo procedimento, um chorinho fino fez tudo valer a pena.
Sua filha havia nascido.
Com 50 centímetros e 3 quilos, Sem nome havia nascido. Sim, ainda não havia decidido, e, se tivesse, não tinha informado nada para a esposa. Então, certamente, sua filha iria acabar se chamando Sem Nome. Como a água-viva roxa de Bob Esponja, seu desenho favorito.
Depois de limparem e vestirem a criança, uma enfermeira entregou a bebê aos pais de primeira viagem, que possuíam olhos marejados e sorriso bobos no rosto.
- Ela é tão linda, schatzi. – foi quem quebrou o confortável silêncio, após passarem alguns minutos encarando a obra de arte que eles haviam feito. – Obrigado.
- Obrigada pelo o que, menino? – rebateu, sem entender o motivo do agradecimento.
- Obrigado por tudo. Por ser minha melhor amiga, minha esposa, torcedora, e agora, por ter dado a coisa mais preciosa da minha vida. Muito obrigado. – disse em tom choroso, tentando disfarçar algumas lágrimas que queriam sair de seus olhos.
- Estamos sempre aqui, meu bem. Não esquece nunca. – sorriu em direção ao marido. – Eu amo você.
- Eu amo muito você, . – devolveu, beijando suavemente a testa ainda suada da brasileira, tomando cuidado para não acordar a pequena, que dormia tranquilamente.
- Agora, interrompendo o momento meloso... – disse em tom decidido. – Qual nome você escolheu?
- Não foi fácil escolher um nome, admito. – começou, encarando os olhos ansiosos da esposa. – Mas depois de muito pensar, de ver o rostinho da nossa princesa, eu tenho um veredito. – declarou.
- Qual, ? – suplicou baixinho. – Desembucha!
- Eileen . O que acha? – respondeu, também ansioso pela reação da mulher. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, contudo, Eileen abriu os pequenos olhos e sorriu, como se aprovasse a escolha do pai.
- Eileen. – repetiu, sentindo o som que saía de seus lábios. – Ótimo nome, amor.
- Sabe o melhor de tudo? – questionou, logo respondendo ao ver a cabeça da brasileira balançando em negação. – Você nem percebeu que essa é uma homenagem à mãe de Severo Snape. – concluiu, esperto, vendo a esposa rolar os olhos.
- Pelo menos não é algo como Daenerys ou Arya.
- Esses nomes aí deixamos para a próxima. Tenho certeza de que você perderá alguma aposta para mim até lá. – provocou, levando a pequena Eileen para o berço branco que tinha em um dos cantos do espaçoso quarto.
- Cala a boca, !
Fim!
Nota da autora: As vezes no silêncio da noite, eu fico lembrando dos OITO GOLS. Então, como forma de deixar essa derrota menos amarga, decidi escrever algo bem fofinho sobre esse jogo porque, mesmo com toda a humilhação que ele me faz sentir, eu amo o Müller e preciso enaltecê-lo.
Não esqueçam de comentar o que acharam! Beijo, e até a próxima.
Nota da beta: Eu confesso que eu acabo de me apaixonar por esse homem por causa dessa história, meu Deus! Ele brincando com ela e essa paixão por Harry Potter me mataram de amores hahahaha Que personagens maravilhosos que você trouxe, eu amei muito! <3
Qualquer erro nessa atualização ou reclamações somente no e-mail.
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Nota da beta: Eu confesso que eu acabo de me apaixonar por esse homem por causa dessa história, meu Deus! Ele brincando com ela e essa paixão por Harry Potter me mataram de amores hahahaha Que personagens maravilhosos que você trouxe, eu amei muito! <3