Erster Teil
observava atentamente a feição relaxada do marido pelos reflexos da lua que chegavam pelas frestas da varanda. O dia havia sido extremamente exaustivo e estressante, fazendo a mulher se sentir minimamente aliviada por ver finalmente adormecido.
O aspecto abatido que refletiu o rosto do homem durante todo o tempo que permaneceu acordado, fez o coração de apertar-se, dolorido. Não gostava de ver o rapaz que amava daquele jeito.
sempre fora a rocha que sustentava não só a ela e o relacionamento de ambos, mas toda a família que construíram juntos. Enquanto para ele, a esposa era o “norte” que o direcionava aos melhores lugares e escolhas.
e haviam se conhecido quando a garota havia se mudado de Leverkusen para Bergisch Gladbach anos antes, devido ao emprego do seu pai - que decidira expandir seus negócios na cidade vizinha.
O moreno logo tratou de fazer amizade com os irmãos da alemã, a partir do momento em que a família comprara uma casa na região de Frankenforst, bairro em que os também moravam.
Inicialmente, e não haviam se dado bem.
Muito pelo contrário.
O garoto achava um absurdo ter que brincar com uma menina que, de acordo com sua visão infantil, era um pequeno monstro, cheia de piolhos, que tentava encobrir a sua maldade enchendo-se da cor rosa da cabeça aos pés.
Por outro lado, expressava toda a sua indignação por ter que dividir seus irmãos mais velhos com um menino sem a menor classe e que se achava o centro do universo por saber chutar uma bola.
Foram diversas as tentativas para fazê-los, ao menos, conviverem pacificamente. Resultando sempre em empurrões em poças de lama, beliscões doloridos, ou até derrubadas de cabeça em bolos de aniversário e chicletes colados na extensão do cabelo.
Eles eram terríveis.
Todavia, enquanto abominava com todo o seu ser , o sentimento não prevalecia o mesmo para com o irmão caçula do rapaz.
e Jonas eram como unha e carne.
Inicialmente, a menina se aproximou do mais novo apenas como forma de se vingar de , por pegar a atenção dos seus próprios irmãos para si, mas o que antes era apenas uma provocação, acabou-se por tornar uma linda amizade.
Por possuírem a mesma idade, ambos estudavam na mesma classe e na mesma escola. Assim, além de serem inseparáveis no recreio, também o eram fora do mundo acadêmico.
Jonas e criaram para si o que chamaram de dia do grude, dia este em que se dedicavam a aproveitar a companhia um do outro da melhor forma possível.
Quando crianças, o momento resumia-se a dividir brincadeiras de carrinho, boneca ou pique-pega e pique-esconde - a última sendo a favorita deles.
Já durante a pré-adolescência e adolescência, a diversão infantil passou a ser substituída por idas aos fliperama localizado na esquina de suas casas; à locadora do Senhor Witzel ou ainda por momentos de desabafo, em que Jonas relatava suas frustrações amorosas com Emmeline Eldeman - paixão platônica do rapaz, enquanto desabafava sobre o quanto o outro a irritava.
Inicialmente, Jonas até gostava do fato da melhor amiga e do irmão não se bicarem muito. Afinal, desse jeito, não precisaria dividir duas de suas pessoas favoritas. Devido ao puro sentimento de insegurança, o mais novo tinha medo de que e , por serem muito parecidos entre si - fato que ambos negavam veementemente - acabassem por preteri-lo de suas interações, colocando-o para escanteio.
Todavia, com o passar do tempo, tal receio acabou por se dissipar completamente.
Por ter uma família completamente alucinada por futebol, Jonas de forma colateral, interessou-se pelo esporte.
Hermann , seu pai, era um jogador de futebol aposentado que atuou em clubes como o Bonn SC e o Bad Honeff. O homem também trabalhou como técnico, tendo o privilégio de orientar Jürgen Klopp num passado nem tão distante assim. Além disso, sua mãe, Ulla Hulthoff era uma grande jornalista esportiva, sendo conhecida como mãe do futebol moderno pela imprensa local.
A mais velha havia sido a primeira mulher a comentar uma partida da Bundesliga na televisão alemã em uma época que o machismo era eminente no país. Assumindo, logo em seguida, o comando do principal programa esportivo da emissora em que trabalhava. Atualmente, era a responsável por redigir as pautas abordadas pelos apresentadores; preferindo ficar nos bastidores do mundo televisivo.
Devido a esse grande apelo pelo esporte em sua família, era bastante comum que ele, e Hermann - às vezes Ulla também se juntava aos rapazes - disputassem partidas entre si no grande quintal da família.
, inclusive, já treinava nas bases infantis, desde os seus sete anos, do Bayer Leverkusen*, amada equipe da região em que viviam.
Por compartilharem dessa paixão pelo Fußball, mesmo que tardia no caso de Jonas, o laço dos irmãos , que já era estreito, passou a ser consolidado de forma inquestionável.
Por isso, o atrito existente entre e passou a ser um obstáculo. Constantemente, o mais novo convidava a melhor amiga para assisti-lo jogar ou até participar de algumas partidas junto dele e do irmão, mas a menina negava-se a dividir o mesmo espaço com o ridículo inominável.
Por vezes, deixara de aparecer nos dias do grude de ambos - inventando as desculpas mais esdrúxulas possíveis - para não ter que cruzar com , uma vez que sabia que Jonas tentaria fazê-los se acertarem. Situação que, para ela, era inconcebível. A garota era extremamente orgulhosa e, mesmo tendo vergonha desse traço de sua personalidade, não sabia como evitar e ser mais maleável.
Isso, contudo, era um receio exclusivo de ; não compartilhava do mesmo ponto de vista.
De fato, quando a conheceu, o primogênito dos não suportava e tinha prazer em tirá-la do sério. Era divertido ver aquela menina miúda vermelha de raiva e esganiçando agudamente sua indignação. Todavia, enquanto amadurecia e consolidava um pensamento mais consistente, passou a enxergar outra .
A irritante irmã caçula de Anthony e Benjamin já não parecia tão irritante assim para o rapaz.
passou a ver como a garota inteligente, bonita e perspicaz que era.
Por vezes, pegou-se encarando o rosto salpicado de sardas da menina, tentando guardar em sua mente a imagem dela mordendo distraída os lábios rosados; ou até mesmo vincando as sobrancelhas e franzindo o nariz arrebitado quando se sentia confusa.
passou a reparar verdadeiramente em .
Ele tinha noção de que a menina não superara a birra infantil de ambos, por isso, continuava provocando-a para, desse modo, ter a atenção de para si, mesmo que não fosse do modo que julgava ideal.
De acordo com Jonas, estava sendo ridículo, uma vez que essa atitude fazia a moça distanciar-se e criar uma antipatia ainda maior por ele.
Ben e Ant também acreditavam que o amigo era um trouxa.
Conheciam bem a irmã que tinham e sabiam que esse posicionamento fazia preferir qualquer ser humano do mundo ao alemão perto de si.
O fato era que os irmãos já haviam desistido de conciliar e há tempos. Sua última tentativa se consistiu no momento em que decidiram escrever cartas no nome da irmã e do amigo, pedindo desculpas por todo o histórico conturbado, e entregaram-nas com o intuito de fazerem-nos, ao menos, conversarem sobre o conteúdo destas. Todavia, o tiro saíra pela culatra quando reconheceu a letra de Anthony em sua carta e, ao invés de conversar com para fazer as pazes, acabara alugando os ouvidos do mais velho com uma série de reclamações sobre como era absurdo e de uma intromissão tamanha o que estavam fazendo.
Assim, era notória a admiração que os filhos mais velhos dos possuíam por Jonas pelo fato do mais novo acreditar que era possível fazerem os dois, finalmente, se darem bem.
Jonas realmente não aguentava mais esse cenário conflituoso entre seu irmão e sua melhor amiga. Compadecendo-se também pela paixonite que o primogênito dos havia desenvolvido pela mais nova dos .
Portanto, decidiu elaborar um plano, juntamente com os seus pais e os pais da amiga, além dos irmãos da garota - que praguejaram em descontentamento, por acreditarem que este seria um fracasso - para fazê-los, ao menos, conviverem pacificamente.
* Na verdade, o já começou jogando na base do Bayern München, porém, para um melhor andamento do enredo da história, preferi colocá-lo como pupilo do Leverkusen.
Flashback: Maio de 2005
“Schatzi, vai lá em casa depois da aula? Tenho uma surpresa para ti.
J.H”
Foi o bilhete que encontrou dentro de sua agenda do Ursinho Pooh ao organizar o seu material para ir para casa.
A menina estava sedenta por sua cama após enfrentar dois períodos seguintes de física com a temática de eletromagnetismo.
Para , a regra da mão direita, esquerda, ou seja lá o que fosse relacionado a esse assunto, não fazia o menor sentido.
Sendo bem sincera, nada daquela matéria fazia.
Ela não se importava com o tipo de propagação das ondas, ou o valor do potencial elétrico dentro de uma determinada esfera.
Não mesmo.
Para , a única coisa que as matérias de ciências exatas eram interessantes para ela, era para explicar, com uma analogia, que estas e a menina eram como água e óleo; definitivamente não se misturavam.
não podia esperar para ingressar no ensino superior e assim, finalmente, poder estudar o que lhe era interessante.
Com isso em mente, suspirou cansada para o papel que lhe fora enviado pelo melhor amigo.
Jonas havia sido liberado mais cedo devido ao fato de seu último período ser Educação Física, disciplina que o rapaz possuía liberação devido ao fato de fazer parte do time de futebol sub-15 da escola.
Então, muito provavelmente, o garoto não possuía metade da exaustão que ela sentia no momento.
Todavia, a curiosidade de era maior do que a vontade de se deitar na cama e acordar apenas na hora do jantar. Assim, terminou de guardar seus cadernos na mochila e seguiu para a saída da sala, percebendo que apenas ela restava no local.
Não possuía tantos amigos assim na escola, e os poucos que tinha - infelizmente - não faziam aquela aula com ela.
ainda distribuiu alguns sorrisos e acenos para alguns colegas no corredor, logo apressando o passo para encontrar a sua bicicleta e poder pedalar em direção à sua casa, que ficava ao lado da dos .
Cantarolando Boulevard of Broken Dreams, matutava em sua cabeça qual era a surpresa que Jonas havia preparado.
“Será que ele finalmente havia se acertado com a Emmeline?”, pensava.
não era a maior fã da garota de cabelos loiros platinados pelo fato de achá-la muito prepotente, mas por torcer demasiadamente pela felicidade do amigo, ficaria feliz caso a outra resolvesse notá-lo; uma vez que o garoto realmente gostava dela.
Ao observar a grande casa com cerca viva e paredes pintadas de branco gelo, foi diminuindo a velocidade em que pedalava.
Pensou rapidamente e decidiu não passar em casa antes para deixar a mochila e a bicicleta - esta que havia sido colocada despreocupadamente ao lado da verde que pertencia a - dirigindo-se para a porta da residência dos .
percebeu que a bicicleta vermelha de Jonas não se encontrava no local, mas deu de ombros com indiferença. Talvez o rapaz apenas tivesse a estacionado em outro local; atitude desleixada que lhe era bastante costumeira.
Caminhando sem muita pressa, bateu na grande porta de madeira e esperou alguém da família vir recebê-la. Poucos segundos depois, a porta foi aberta e a mãe dos garotos lhe encarou, sorrindo docemente.
- Hallo, ! Como vai, querida? - a mais velha falou, convidando a outra para entrar, puxando-a para um abraço em seguida.
- Oi, Tante Ulla. Estou bem e a senhora? - cumprimentou de volta, dando um sorriso para a outra, que logo pegou a sua mochila e andou para a antessala para guardá-la.
- Tudo ótimo também! – sorriu. - O Jonas está lá em cima, no quarto dele. Pode ir lá, querida. - disse, apontando para as escadas posicionadas atrás de ambas.
apenas sorriu e assentiu, subindo as escadas com pressa para chegar logo ao quarto do amigo. Queria saber logo que surpresa era aquela para poder ir descansar em sua cama.
Ao ver a porta com um pôster da banda Avenged Sevenfold e algumas placas com os dizeres de 'Nicht überschreiten', como forma de evitar intrusos em seu santuário - palavras de Jonas -, tratou de abri-la, ficando confusa ao não encontrar o mais novo ali.
- Jon? - chamou, verificando rapidamente o closet e o banheiro do adolescente; percebendo, enfim, que ele não estava mesmo ali.
, sentindo-se consternada e já se arrependendo de ter ido até ali - afinal, estava bastante cansada - dirigiu-se à cama de casal para sentar-se e esperar o melhor amigo. O garoto tinha a mania de deixá-la esperando – sempre -, fato que tirava a menina dos eixos. Enquanto se esticava na cama para ficar mais confortável e pegava um dos muitos HQ's da DC Comics de Jonas, ela escutou um barulho na porta do quarto, desviando o seu olhar para lá, no mesmo instante que observou o único que não tinha simpatia adentrar no local.
O rapaz estava com uma calça de moletom cinza e uma regata branca, que destacava os crescentes músculos em seus braços, oriundo dos treinos que o rapaz fazia por ser um aspirante a jogador de futebol. Não que reparasse nos atributos físicos de - não mesmo -, mas ela tinha que admitir que ele era uma visão até que agradável.
- Papa, você tem certeza de que a minha chuteira tá no quarto do Jonas? - gritou para Hermann, olhando em direção ao corredor. – Por que o mole... - interrompeu a própria fala, percebendo encarando-o com os braços cruzados. A garota havia arrumado a sua posição desde o momento que havia percebido que não estava mais sozinha no espaço e ao ver que quem havia entrado não era o que esperava. - O que você está fazendo aqui? - indagou, arqueando a sobrancelha em confusão. Pelo o que o primogênito sabia, Jonas não estava em casa - havia ido devolver alguns filmes na locadora local - então não fazia sentido estar ali. Até porque, pelo o que conhecia do irmão, o garoto iria rodar o máximo da cidade que conseguisse antes de voltar para casa.
- Esperando o Jon. - falou como se fosse óbvio, o que para ela, era. - Sua mãe disse para eu subir, então, aqui estou eu. - completou dando de ombros, vendo a face de confusão do outro aumentar.
- Mas o Jonas não está aqui, . - respondeu o outro, entrando no quarto e olhando rapidamente para os lados para confirmar a sua tese. - Ele foi dar um pulo lá no Senhor Witsel. Não sei de que horas volta. - adicionou, vendo uma careta estranha se formar no rosto da mais nova.
- Ué, então por quê...? - tentou balbuciar sem entender nada. Por qual motivo a mãe dos garotos havia mentido para ela? Enquanto refletia sobre isso, ouviu um barulho de porta batendo e de uma chave sendo girada no trinco. Olhando para , conseguiu ver uma face de desespero e confusão que provavelmente era reflexo da sua. Se fosse em outro momento, gargalharia daquilo, mas não era propício. - Mas que diabos...? - levantou , indo em direção à saída do quarto e tentando abrir a porta sem sucesso.
- O que está acontecendo? - indagou, juntando-se a ela. Com desespero, chegou à mesma conclusão que : estavam trancados. - Papa! Mama! - bateu na madeira insistentemente enquanto chamava os mais velhos. - Abram a porta!
- Onkel! Tante! - agora era quem gritava pelos dois adultos. Em sua cabeça, não fazia o menor sentido encontrar-se trancada com dentro do quarto do melhor amigo. “Já não bastava a mentira de Ulla, agora isso?”, pensava. - Nos tirem daqui! Bitte, meine Onkel und Tanten!
- Esquece, . - falou, resignado, afastando-se da garota. - Eles fizeram tudo isso de caso pensado. - bufou, olhando para cima.
- Do que você está falando, idiota? - questionou em um suspiro, voltando-se a sentar na cama de Jonas. A garota sabia que uma hora ou outra a sua curiosidade iria colocá-la em encrencas. No final das contas, estava certa. Sinceramente, não sabia o que havia feito para ter merecido ser trancada com o garoto que mais lhe tirava do sério em todo o mundo. Muito menos para ter tal situação criada por quem considerava seus "tios".
- Não é óbvio? - retrucou, andando em direção ao puff no formato de bola de futebol do irmão caçula. - Eles estão tentando fazer com que nós façamos as pazes. - deu de ombros.
- E por que eles fariam isso? - devolveu a pergunta, levantando a cabeça do travesseiro do amigo. Havia se jogado ali logo após absorver a sua situação adversa.
- Porque não dá mais para suportar essa situação, . - falou baixo - São quase dez anos de implicância e brincadeiras infantis.
- Você está reclamando de "implicância e brincadeiras infantis"? – perguntou, incrédula. - Você?! - exclamou em um tom esganiçado. - Você, ?! - reiterou a pergunta, levantando-se em um rompante. - Você que estragou minha festa de aniversário de oito anos empurrando a minha cabeça no bolo na hora do parabéns?! - apontou. permaneceu observando, com uma careta de descontentamento. Sabia que a menina tinha um ponto, mas não era agradável ouvir algumas verdades, que para ele já eram passado, sendo jogadas em seu colo. Ainda provocava a menina, obviamente, porém, os anos de pegadinhas já haviam se dissipado. - Você que pintou o cabelo da minha barbie favorita com corretivo, porque disse que ela merecia ficar com um loiro mais "platinado''? - falou em um berro. - Você que pegou o recheio de baunilha dos biscoitos recheados da minha lancheira, trocou por pasta de dente e me deu para comer?! - respirou fundo, controlando-se para não pular na cara do mais velho. não conseguia acreditar o quão sonso podia ser. Como assim ia vir com um discurso de "maturidade" para cima dela, acerca de suas implicâncias, sendo que ele não era nem um pouco inocente nessa história? - Sério isso?!
- Calma lá, . - começou, também se levantando. - Não finja que eu sou o único culpado dessa nossa relação conturbada! – respondeu, indignado. - Você já fez coisas horríveis comigo também! - queria, de todo o coração, fazer as pazes com a garota, mas não se rebaixaria ao ponto de fingir que era o único com culpa no cartório. A relação problemática que dividiam era alimentada por ambos em um mesmo grau.
- Eu apenas respondia ao mesmo nível! - defendeu-se . - Você queria que eu aceitasse tudo o que você fazia de forma inerte? - devolveu o questionamento.
- Então, você está me dizendo que colocou chiclete no meu cabelo, enquanto eu dormia; - começou a enumerar com os dedos. - Pegou e escondeu as minhas roupas, enquanto eu tomava banho no lago; e falou para a garota mais fofoqueira do meu ano que eu mantinha um caso “sórdido” com um dos meus melhores amigos, apenas para se defender?! – berrou, inconformado.
- Bom, eu não tenho culpa se você e o Julian pareciam íntimos até demais. - deu de ombros, risonha. A garota sabia que debochar da sexualidade alheia, mesmo que não fosse verídico no caso de , era uma atitude extremamente imatura e desrespeitosa; todavia, também tinha noção de que a masculinidade do homem hétero era algo extremamente frágil para estes. Assim, essa era uma provocação muito boa, em sua opinião, para ser descartada facilmente. - Mas, respondendo à sua pergunta: sim, tudo foi em legítima defesa.
- Mein Gott!. - disse em tom estrangulado, fechando os olhos com força. - Você é impossível, . Impossível! – suspirou. - Será que você realmente não pode nos dar uma trégua?
- Sinceramente? Não. - debochou, estalando o céu da boca com a língua. - Não acho que será possível, perdão. - piscou, jogando-se novamente na cama de Jonas.
- Na boa, você não percebe o quanto está sendo egoísta?! - alterou o tom de voz, deixando sua face levemente avermelhada; ilustrando o seu nervosismo. - Pare de agir como uma criança mimada, ! Você não tem mais 10 anos há um certo tempo!
- Não me chame de criança, seu prepotente desnecessário! - levantou o tronco de supetão para encarar o rapaz à sua frente - Muito menos de egoísta! - apontou efusivamente para ele.
- Mas é exatamente assim que você está agindo! - respirou fundo, sentando-se novamente no puff do irmão. - Você não percebe que está machucando o Jonas com toda essa implicância comigo? – “E a mim também?”, completou mentalmente. adorava deixar a menina com as bochechas vermelhinhas de irritação, mas as respostas ácidas que ela lhe direcionava quando estava nesse estado deixavam seu coração apertado.
Estava bastante chateado com os rumos daquela conversa. Não tinha nada a ver com o plano que a sua família e, muito provavelmente, a da garota haviam elaborado; contudo, havia apreciado a intenção deles; mesmo que tenha se sentindo levemente desnorteado inicialmente. Todavia, da forma que ambos estavam conduzindo o diálogo, acreditava que iriam sair pior do que entraram. Fato que o assustava demasiadamente.
- Do que você está falando, ? - questionou, verdadeiramente confusa, amassando o tecido de sua blusa do uniforme entre seus dedos inquietos. - O que o Jon tem a ver com isso?
- Sério mesmo que irá se fazer de desentendida? - arqueou a sobrancelha, uma atitude que lhe era costumeira. - Não conseguiu notar o quanto o moleque fica chateado ao ver que nós dois não conseguimos ficar muito tempo sozinhos no mesmo lugar? - cruzou os braços, encarando a outra com seriedade. - Vocês, inclusive, diminuíram o tempo que passavam juntos fora da escola, não? - questionou retoricamente. Jonas alugara bastante os ouvidos do irmão mais velho para se queixar de como estava difícil encontrar fora do colégio.
Mesmo sendo vizinhos, a garota parecia inventar diversas desculpas para não encontrar o mais novo em qualquer ambiente que não fosse a sua sala de aula; sempre com um receio tremendo que o outro levasse a sua pedra no sapato de brinde.
- Sim, mas achei que com o tempo ele iria superar e aceitar essa situação. - defendeu-se, agarrando o pequeno Chewbacca que Jonas tinha em sua cama, presente dado por ela no último aniversário dele. - Ele nunca se opôs às nossas provocações antes.
- Claro, até porque antes ele era uma criança e não queria dividir a amiga com o irmão e vice-versa. Ele já tinha ciúmes da minha relação com o Anthony e o Benjamin, então não iria suportar "te perder" também. – explicou, como se fosse óbvio. - Você sabe como o Jon é ciumento. – adicionou. - Agora é diferente. O pirralho está se esforçando para jogar bola e quer nós dois... - apontou de si para ela. - Acompanhando essa fase dele. Jonas precisa de apoio, . Você como melhor amiga dele deveria saber disso.
- Agora você está dizendo que eu não sou uma boa amiga?! - devolveu, estupefata com a insinuação de .
- Scheiße, ! - a voz do rapaz era de pura frustração. - Eu desisto. - disse, batendo ambas as mãos em suas coxas para demonstrar a sua desistência. - Não dá para conversar civilizadamente com você.
- Não seja exagerado. - retrucou, balançando a cabeça em negação, com um bico infantil nos lábios finos, mostrando como estava emburrada.
- Exagerado? Eu? - apontou para si com incredulidade. - Você está distorcendo tudo que eu estou te dizendo, . - suspirou profundamente. - Não dá para manter um diálogo saudável assim. - adicionou, com um tom de voz sofrido. Estava realmente chateado com toda aquela situação.
permaneceu um tempo em silêncio, olhando para o teto branco, pensando no que o rapaz havia dito. Será que ela era realmente uma egoísta, que preferia manter um relacionamento repleto de brincadeirinhas infantis com - este que já não a empolgava como antes - ao invés de tentar manter a paz pelo bem do melhor amigo? tinha noção de que Jonas precisava de seu apoio, sobretudo, nesse início de carreira. Gostaria de ter a menina ali, torcendo e incentivando-o a fazer o seu melhor, nessa carreira que era tão incerta. Afinal, não bastava jogar um bom futebol para ter sucesso e ser bem-sucedido; principalmente em um país com tantos talentos como a Alemanha. Também sabia que a presença do irmão mais velho do garoto era imprescindível. Por mais que lhe doesse admitir, era um excelente jogador de futebol - sobretudo agora que estava treinando nas bases de um grande clube alemão -, e uma boa inspiração para seu amigo. Sabia que um dia o mais velho seria um grande zagueiro, podendo até chegar na seleção de seu país! Além disso, era interessante que os conhecimentos práticos de se juntassem aos do pai dos garotos. O universo futebolístico poderia ser bastante dinâmico, assim, a visão de Hermann acerca do esporte era bastante válida, porém, era necessário que essa se mesclasse à de , que vivia o futebol na atualidade.
- Certo. - quebrou o silêncio - O que você propõe para que nós possamos dar uma trégua?
- Você tá falando sério? - a surpresa foi tamanha que o outro levantou do puff em um pulo. - Quer realmente começar uma relação saudável comigo? - um fio de alegria pode ser ouvido em sua voz, mas pensou que era coisa de sua cabeça criativa.
- Sim. - respirou fundo. Era visível o quão pesaroso estava sendo para a adolescente passar por cima de seu orgulho para promover uma bandeira branca com seu desafeto infantil. - Pelo Jonas. Faço qualquer coisa para fazer aquela criatura feliz.
- Pelo Jonas. - repetiu o mais velho. - Ant e Ben também vão ficar satisfeitos com isso. Além dos nossos pais.
- Que seja. - deu de ombros, com uma pequena careta nos lábios. - Mas, e aí? O que você propõe? - reinterou a pergunta.
- Bom... - respirou fundo para começar. - Acho que podemos só não sermos hostis um com o outro. - pediu, caminhando para sentar na cama ao lado da menina, essa que fez um semblante estranho ao observar a atitude do rapaz, mas ficou calada. - Eu sei que as provocações dificilmente vão se anular de forma imediata, mas podemos tentar, certo?
- Certo. - assentiu após ponderar por alguns segundos, vendo promover um aperto de mão. - O que é isso? - apontou para a mão estendida do rapaz.
- Um acordo oficial de paz. - respondeu, com a mão ainda estendida na direção de .
- Você é estranho, . - implicou com o mais velho, vendo uma careta, que ela julgou fofa, aparecer em suas feições, mas aceitou o aperto do rapaz.
- Não estrague o momento, . - devolveu o alemão, fazendo a garota soltar um pequeno riso com o jeito do rapaz.
- E agora? O que fazemos? - questionou após alguns segundos em silêncio, observando as mãos de ambos ainda juntas. Por algum motivo, tal ação não lhe parecera estranha ou desconfortável.
- Agora nós fazemos nossa família nos tirar daqui. – soltou, de certa forma, contrariado, a mão da garota, levantando-se para poder ir em direção à porta de madeira e pedir por libertação do quarto do irmão caçula.
tinha esperanças de que essa trégua pudesse, no futuro, resultar em algo mais. Algo esse em que o entrelaçar de mãos poderia ser duradouro sem causar o menor sinal de estranheza.
*Vocabulário:
- Hallo - Olá;
- Nicht überschreiten - Não ultrapasse;
- Tante - Tia;
- Onkel - Tio;
- Bitte - Por favor;
- Meine Onkel und Tanten - Meus tios;
- Mein Gott - Meu Deus;
- Scheiße - Merda.
Flashback's End
O aspecto abatido que refletiu o rosto do homem durante todo o tempo que permaneceu acordado, fez o coração de apertar-se, dolorido. Não gostava de ver o rapaz que amava daquele jeito.
sempre fora a rocha que sustentava não só a ela e o relacionamento de ambos, mas toda a família que construíram juntos. Enquanto para ele, a esposa era o “norte” que o direcionava aos melhores lugares e escolhas.
e haviam se conhecido quando a garota havia se mudado de Leverkusen para Bergisch Gladbach anos antes, devido ao emprego do seu pai - que decidira expandir seus negócios na cidade vizinha.
O moreno logo tratou de fazer amizade com os irmãos da alemã, a partir do momento em que a família comprara uma casa na região de Frankenforst, bairro em que os também moravam.
Inicialmente, e não haviam se dado bem.
Muito pelo contrário.
O garoto achava um absurdo ter que brincar com uma menina que, de acordo com sua visão infantil, era um pequeno monstro, cheia de piolhos, que tentava encobrir a sua maldade enchendo-se da cor rosa da cabeça aos pés.
Por outro lado, expressava toda a sua indignação por ter que dividir seus irmãos mais velhos com um menino sem a menor classe e que se achava o centro do universo por saber chutar uma bola.
Foram diversas as tentativas para fazê-los, ao menos, conviverem pacificamente. Resultando sempre em empurrões em poças de lama, beliscões doloridos, ou até derrubadas de cabeça em bolos de aniversário e chicletes colados na extensão do cabelo.
Eles eram terríveis.
Todavia, enquanto abominava com todo o seu ser , o sentimento não prevalecia o mesmo para com o irmão caçula do rapaz.
e Jonas eram como unha e carne.
Inicialmente, a menina se aproximou do mais novo apenas como forma de se vingar de , por pegar a atenção dos seus próprios irmãos para si, mas o que antes era apenas uma provocação, acabou-se por tornar uma linda amizade.
Por possuírem a mesma idade, ambos estudavam na mesma classe e na mesma escola. Assim, além de serem inseparáveis no recreio, também o eram fora do mundo acadêmico.
Jonas e criaram para si o que chamaram de dia do grude, dia este em que se dedicavam a aproveitar a companhia um do outro da melhor forma possível.
Quando crianças, o momento resumia-se a dividir brincadeiras de carrinho, boneca ou pique-pega e pique-esconde - a última sendo a favorita deles.
Já durante a pré-adolescência e adolescência, a diversão infantil passou a ser substituída por idas aos fliperama localizado na esquina de suas casas; à locadora do Senhor Witzel ou ainda por momentos de desabafo, em que Jonas relatava suas frustrações amorosas com Emmeline Eldeman - paixão platônica do rapaz, enquanto desabafava sobre o quanto o outro a irritava.
Inicialmente, Jonas até gostava do fato da melhor amiga e do irmão não se bicarem muito. Afinal, desse jeito, não precisaria dividir duas de suas pessoas favoritas. Devido ao puro sentimento de insegurança, o mais novo tinha medo de que e , por serem muito parecidos entre si - fato que ambos negavam veementemente - acabassem por preteri-lo de suas interações, colocando-o para escanteio.
Todavia, com o passar do tempo, tal receio acabou por se dissipar completamente.
Por ter uma família completamente alucinada por futebol, Jonas de forma colateral, interessou-se pelo esporte.
Hermann , seu pai, era um jogador de futebol aposentado que atuou em clubes como o Bonn SC e o Bad Honeff. O homem também trabalhou como técnico, tendo o privilégio de orientar Jürgen Klopp num passado nem tão distante assim. Além disso, sua mãe, Ulla Hulthoff era uma grande jornalista esportiva, sendo conhecida como mãe do futebol moderno pela imprensa local.
A mais velha havia sido a primeira mulher a comentar uma partida da Bundesliga na televisão alemã em uma época que o machismo era eminente no país. Assumindo, logo em seguida, o comando do principal programa esportivo da emissora em que trabalhava. Atualmente, era a responsável por redigir as pautas abordadas pelos apresentadores; preferindo ficar nos bastidores do mundo televisivo.
Devido a esse grande apelo pelo esporte em sua família, era bastante comum que ele, e Hermann - às vezes Ulla também se juntava aos rapazes - disputassem partidas entre si no grande quintal da família.
, inclusive, já treinava nas bases infantis, desde os seus sete anos, do Bayer Leverkusen*, amada equipe da região em que viviam.
Por compartilharem dessa paixão pelo Fußball, mesmo que tardia no caso de Jonas, o laço dos irmãos , que já era estreito, passou a ser consolidado de forma inquestionável.
Por isso, o atrito existente entre e passou a ser um obstáculo. Constantemente, o mais novo convidava a melhor amiga para assisti-lo jogar ou até participar de algumas partidas junto dele e do irmão, mas a menina negava-se a dividir o mesmo espaço com o ridículo inominável.
Por vezes, deixara de aparecer nos dias do grude de ambos - inventando as desculpas mais esdrúxulas possíveis - para não ter que cruzar com , uma vez que sabia que Jonas tentaria fazê-los se acertarem. Situação que, para ela, era inconcebível. A garota era extremamente orgulhosa e, mesmo tendo vergonha desse traço de sua personalidade, não sabia como evitar e ser mais maleável.
Isso, contudo, era um receio exclusivo de ; não compartilhava do mesmo ponto de vista.
De fato, quando a conheceu, o primogênito dos não suportava e tinha prazer em tirá-la do sério. Era divertido ver aquela menina miúda vermelha de raiva e esganiçando agudamente sua indignação. Todavia, enquanto amadurecia e consolidava um pensamento mais consistente, passou a enxergar outra .
A irritante irmã caçula de Anthony e Benjamin já não parecia tão irritante assim para o rapaz.
passou a ver como a garota inteligente, bonita e perspicaz que era.
Por vezes, pegou-se encarando o rosto salpicado de sardas da menina, tentando guardar em sua mente a imagem dela mordendo distraída os lábios rosados; ou até mesmo vincando as sobrancelhas e franzindo o nariz arrebitado quando se sentia confusa.
passou a reparar verdadeiramente em .
Ele tinha noção de que a menina não superara a birra infantil de ambos, por isso, continuava provocando-a para, desse modo, ter a atenção de para si, mesmo que não fosse do modo que julgava ideal.
De acordo com Jonas, estava sendo ridículo, uma vez que essa atitude fazia a moça distanciar-se e criar uma antipatia ainda maior por ele.
Ben e Ant também acreditavam que o amigo era um trouxa.
Conheciam bem a irmã que tinham e sabiam que esse posicionamento fazia preferir qualquer ser humano do mundo ao alemão perto de si.
O fato era que os irmãos já haviam desistido de conciliar e há tempos. Sua última tentativa se consistiu no momento em que decidiram escrever cartas no nome da irmã e do amigo, pedindo desculpas por todo o histórico conturbado, e entregaram-nas com o intuito de fazerem-nos, ao menos, conversarem sobre o conteúdo destas. Todavia, o tiro saíra pela culatra quando reconheceu a letra de Anthony em sua carta e, ao invés de conversar com para fazer as pazes, acabara alugando os ouvidos do mais velho com uma série de reclamações sobre como era absurdo e de uma intromissão tamanha o que estavam fazendo.
Assim, era notória a admiração que os filhos mais velhos dos possuíam por Jonas pelo fato do mais novo acreditar que era possível fazerem os dois, finalmente, se darem bem.
Jonas realmente não aguentava mais esse cenário conflituoso entre seu irmão e sua melhor amiga. Compadecendo-se também pela paixonite que o primogênito dos havia desenvolvido pela mais nova dos .
Portanto, decidiu elaborar um plano, juntamente com os seus pais e os pais da amiga, além dos irmãos da garota - que praguejaram em descontentamento, por acreditarem que este seria um fracasso - para fazê-los, ao menos, conviverem pacificamente.
* Na verdade, o já começou jogando na base do Bayern München, porém, para um melhor andamento do enredo da história, preferi colocá-lo como pupilo do Leverkusen.
Flashback: Maio de 2005
“Schatzi, vai lá em casa depois da aula? Tenho uma surpresa para ti.
J.H”
Foi o bilhete que encontrou dentro de sua agenda do Ursinho Pooh ao organizar o seu material para ir para casa.
A menina estava sedenta por sua cama após enfrentar dois períodos seguintes de física com a temática de eletromagnetismo.
Para , a regra da mão direita, esquerda, ou seja lá o que fosse relacionado a esse assunto, não fazia o menor sentido.
Sendo bem sincera, nada daquela matéria fazia.
Ela não se importava com o tipo de propagação das ondas, ou o valor do potencial elétrico dentro de uma determinada esfera.
Não mesmo.
Para , a única coisa que as matérias de ciências exatas eram interessantes para ela, era para explicar, com uma analogia, que estas e a menina eram como água e óleo; definitivamente não se misturavam.
não podia esperar para ingressar no ensino superior e assim, finalmente, poder estudar o que lhe era interessante.
Com isso em mente, suspirou cansada para o papel que lhe fora enviado pelo melhor amigo.
Jonas havia sido liberado mais cedo devido ao fato de seu último período ser Educação Física, disciplina que o rapaz possuía liberação devido ao fato de fazer parte do time de futebol sub-15 da escola.
Então, muito provavelmente, o garoto não possuía metade da exaustão que ela sentia no momento.
Todavia, a curiosidade de era maior do que a vontade de se deitar na cama e acordar apenas na hora do jantar. Assim, terminou de guardar seus cadernos na mochila e seguiu para a saída da sala, percebendo que apenas ela restava no local.
Não possuía tantos amigos assim na escola, e os poucos que tinha - infelizmente - não faziam aquela aula com ela.
ainda distribuiu alguns sorrisos e acenos para alguns colegas no corredor, logo apressando o passo para encontrar a sua bicicleta e poder pedalar em direção à sua casa, que ficava ao lado da dos .
Cantarolando Boulevard of Broken Dreams, matutava em sua cabeça qual era a surpresa que Jonas havia preparado.
“Será que ele finalmente havia se acertado com a Emmeline?”, pensava.
não era a maior fã da garota de cabelos loiros platinados pelo fato de achá-la muito prepotente, mas por torcer demasiadamente pela felicidade do amigo, ficaria feliz caso a outra resolvesse notá-lo; uma vez que o garoto realmente gostava dela.
Ao observar a grande casa com cerca viva e paredes pintadas de branco gelo, foi diminuindo a velocidade em que pedalava.
Pensou rapidamente e decidiu não passar em casa antes para deixar a mochila e a bicicleta - esta que havia sido colocada despreocupadamente ao lado da verde que pertencia a - dirigindo-se para a porta da residência dos .
percebeu que a bicicleta vermelha de Jonas não se encontrava no local, mas deu de ombros com indiferença. Talvez o rapaz apenas tivesse a estacionado em outro local; atitude desleixada que lhe era bastante costumeira.
Caminhando sem muita pressa, bateu na grande porta de madeira e esperou alguém da família vir recebê-la. Poucos segundos depois, a porta foi aberta e a mãe dos garotos lhe encarou, sorrindo docemente.
- Hallo, ! Como vai, querida? - a mais velha falou, convidando a outra para entrar, puxando-a para um abraço em seguida.
- Oi, Tante Ulla. Estou bem e a senhora? - cumprimentou de volta, dando um sorriso para a outra, que logo pegou a sua mochila e andou para a antessala para guardá-la.
- Tudo ótimo também! – sorriu. - O Jonas está lá em cima, no quarto dele. Pode ir lá, querida. - disse, apontando para as escadas posicionadas atrás de ambas.
apenas sorriu e assentiu, subindo as escadas com pressa para chegar logo ao quarto do amigo. Queria saber logo que surpresa era aquela para poder ir descansar em sua cama.
Ao ver a porta com um pôster da banda Avenged Sevenfold e algumas placas com os dizeres de 'Nicht überschreiten', como forma de evitar intrusos em seu santuário - palavras de Jonas -, tratou de abri-la, ficando confusa ao não encontrar o mais novo ali.
- Jon? - chamou, verificando rapidamente o closet e o banheiro do adolescente; percebendo, enfim, que ele não estava mesmo ali.
, sentindo-se consternada e já se arrependendo de ter ido até ali - afinal, estava bastante cansada - dirigiu-se à cama de casal para sentar-se e esperar o melhor amigo. O garoto tinha a mania de deixá-la esperando – sempre -, fato que tirava a menina dos eixos. Enquanto se esticava na cama para ficar mais confortável e pegava um dos muitos HQ's da DC Comics de Jonas, ela escutou um barulho na porta do quarto, desviando o seu olhar para lá, no mesmo instante que observou o único que não tinha simpatia adentrar no local.
O rapaz estava com uma calça de moletom cinza e uma regata branca, que destacava os crescentes músculos em seus braços, oriundo dos treinos que o rapaz fazia por ser um aspirante a jogador de futebol. Não que reparasse nos atributos físicos de - não mesmo -, mas ela tinha que admitir que ele era uma visão até que agradável.
- Papa, você tem certeza de que a minha chuteira tá no quarto do Jonas? - gritou para Hermann, olhando em direção ao corredor. – Por que o mole... - interrompeu a própria fala, percebendo encarando-o com os braços cruzados. A garota havia arrumado a sua posição desde o momento que havia percebido que não estava mais sozinha no espaço e ao ver que quem havia entrado não era o que esperava. - O que você está fazendo aqui? - indagou, arqueando a sobrancelha em confusão. Pelo o que o primogênito sabia, Jonas não estava em casa - havia ido devolver alguns filmes na locadora local - então não fazia sentido estar ali. Até porque, pelo o que conhecia do irmão, o garoto iria rodar o máximo da cidade que conseguisse antes de voltar para casa.
- Esperando o Jon. - falou como se fosse óbvio, o que para ela, era. - Sua mãe disse para eu subir, então, aqui estou eu. - completou dando de ombros, vendo a face de confusão do outro aumentar.
- Mas o Jonas não está aqui, . - respondeu o outro, entrando no quarto e olhando rapidamente para os lados para confirmar a sua tese. - Ele foi dar um pulo lá no Senhor Witsel. Não sei de que horas volta. - adicionou, vendo uma careta estranha se formar no rosto da mais nova.
- Ué, então por quê...? - tentou balbuciar sem entender nada. Por qual motivo a mãe dos garotos havia mentido para ela? Enquanto refletia sobre isso, ouviu um barulho de porta batendo e de uma chave sendo girada no trinco. Olhando para , conseguiu ver uma face de desespero e confusão que provavelmente era reflexo da sua. Se fosse em outro momento, gargalharia daquilo, mas não era propício. - Mas que diabos...? - levantou , indo em direção à saída do quarto e tentando abrir a porta sem sucesso.
- O que está acontecendo? - indagou, juntando-se a ela. Com desespero, chegou à mesma conclusão que : estavam trancados. - Papa! Mama! - bateu na madeira insistentemente enquanto chamava os mais velhos. - Abram a porta!
- Onkel! Tante! - agora era quem gritava pelos dois adultos. Em sua cabeça, não fazia o menor sentido encontrar-se trancada com dentro do quarto do melhor amigo. “Já não bastava a mentira de Ulla, agora isso?”, pensava. - Nos tirem daqui! Bitte, meine Onkel und Tanten!
- Esquece, . - falou, resignado, afastando-se da garota. - Eles fizeram tudo isso de caso pensado. - bufou, olhando para cima.
- Do que você está falando, idiota? - questionou em um suspiro, voltando-se a sentar na cama de Jonas. A garota sabia que uma hora ou outra a sua curiosidade iria colocá-la em encrencas. No final das contas, estava certa. Sinceramente, não sabia o que havia feito para ter merecido ser trancada com o garoto que mais lhe tirava do sério em todo o mundo. Muito menos para ter tal situação criada por quem considerava seus "tios".
- Não é óbvio? - retrucou, andando em direção ao puff no formato de bola de futebol do irmão caçula. - Eles estão tentando fazer com que nós façamos as pazes. - deu de ombros.
- E por que eles fariam isso? - devolveu a pergunta, levantando a cabeça do travesseiro do amigo. Havia se jogado ali logo após absorver a sua situação adversa.
- Porque não dá mais para suportar essa situação, . - falou baixo - São quase dez anos de implicância e brincadeiras infantis.
- Você está reclamando de "implicância e brincadeiras infantis"? – perguntou, incrédula. - Você?! - exclamou em um tom esganiçado. - Você, ?! - reiterou a pergunta, levantando-se em um rompante. - Você que estragou minha festa de aniversário de oito anos empurrando a minha cabeça no bolo na hora do parabéns?! - apontou. permaneceu observando, com uma careta de descontentamento. Sabia que a menina tinha um ponto, mas não era agradável ouvir algumas verdades, que para ele já eram passado, sendo jogadas em seu colo. Ainda provocava a menina, obviamente, porém, os anos de pegadinhas já haviam se dissipado. - Você que pintou o cabelo da minha barbie favorita com corretivo, porque disse que ela merecia ficar com um loiro mais "platinado''? - falou em um berro. - Você que pegou o recheio de baunilha dos biscoitos recheados da minha lancheira, trocou por pasta de dente e me deu para comer?! - respirou fundo, controlando-se para não pular na cara do mais velho. não conseguia acreditar o quão sonso podia ser. Como assim ia vir com um discurso de "maturidade" para cima dela, acerca de suas implicâncias, sendo que ele não era nem um pouco inocente nessa história? - Sério isso?!
- Calma lá, . - começou, também se levantando. - Não finja que eu sou o único culpado dessa nossa relação conturbada! – respondeu, indignado. - Você já fez coisas horríveis comigo também! - queria, de todo o coração, fazer as pazes com a garota, mas não se rebaixaria ao ponto de fingir que era o único com culpa no cartório. A relação problemática que dividiam era alimentada por ambos em um mesmo grau.
- Eu apenas respondia ao mesmo nível! - defendeu-se . - Você queria que eu aceitasse tudo o que você fazia de forma inerte? - devolveu o questionamento.
- Então, você está me dizendo que colocou chiclete no meu cabelo, enquanto eu dormia; - começou a enumerar com os dedos. - Pegou e escondeu as minhas roupas, enquanto eu tomava banho no lago; e falou para a garota mais fofoqueira do meu ano que eu mantinha um caso “sórdido” com um dos meus melhores amigos, apenas para se defender?! – berrou, inconformado.
- Bom, eu não tenho culpa se você e o Julian pareciam íntimos até demais. - deu de ombros, risonha. A garota sabia que debochar da sexualidade alheia, mesmo que não fosse verídico no caso de , era uma atitude extremamente imatura e desrespeitosa; todavia, também tinha noção de que a masculinidade do homem hétero era algo extremamente frágil para estes. Assim, essa era uma provocação muito boa, em sua opinião, para ser descartada facilmente. - Mas, respondendo à sua pergunta: sim, tudo foi em legítima defesa.
- Mein Gott!. - disse em tom estrangulado, fechando os olhos com força. - Você é impossível, . Impossível! – suspirou. - Será que você realmente não pode nos dar uma trégua?
- Sinceramente? Não. - debochou, estalando o céu da boca com a língua. - Não acho que será possível, perdão. - piscou, jogando-se novamente na cama de Jonas.
- Na boa, você não percebe o quanto está sendo egoísta?! - alterou o tom de voz, deixando sua face levemente avermelhada; ilustrando o seu nervosismo. - Pare de agir como uma criança mimada, ! Você não tem mais 10 anos há um certo tempo!
- Não me chame de criança, seu prepotente desnecessário! - levantou o tronco de supetão para encarar o rapaz à sua frente - Muito menos de egoísta! - apontou efusivamente para ele.
- Mas é exatamente assim que você está agindo! - respirou fundo, sentando-se novamente no puff do irmão. - Você não percebe que está machucando o Jonas com toda essa implicância comigo? – “E a mim também?”, completou mentalmente. adorava deixar a menina com as bochechas vermelhinhas de irritação, mas as respostas ácidas que ela lhe direcionava quando estava nesse estado deixavam seu coração apertado.
Estava bastante chateado com os rumos daquela conversa. Não tinha nada a ver com o plano que a sua família e, muito provavelmente, a da garota haviam elaborado; contudo, havia apreciado a intenção deles; mesmo que tenha se sentindo levemente desnorteado inicialmente. Todavia, da forma que ambos estavam conduzindo o diálogo, acreditava que iriam sair pior do que entraram. Fato que o assustava demasiadamente.
- Do que você está falando, ? - questionou, verdadeiramente confusa, amassando o tecido de sua blusa do uniforme entre seus dedos inquietos. - O que o Jon tem a ver com isso?
- Sério mesmo que irá se fazer de desentendida? - arqueou a sobrancelha, uma atitude que lhe era costumeira. - Não conseguiu notar o quanto o moleque fica chateado ao ver que nós dois não conseguimos ficar muito tempo sozinhos no mesmo lugar? - cruzou os braços, encarando a outra com seriedade. - Vocês, inclusive, diminuíram o tempo que passavam juntos fora da escola, não? - questionou retoricamente. Jonas alugara bastante os ouvidos do irmão mais velho para se queixar de como estava difícil encontrar fora do colégio.
Mesmo sendo vizinhos, a garota parecia inventar diversas desculpas para não encontrar o mais novo em qualquer ambiente que não fosse a sua sala de aula; sempre com um receio tremendo que o outro levasse a sua pedra no sapato de brinde.
- Sim, mas achei que com o tempo ele iria superar e aceitar essa situação. - defendeu-se, agarrando o pequeno Chewbacca que Jonas tinha em sua cama, presente dado por ela no último aniversário dele. - Ele nunca se opôs às nossas provocações antes.
- Claro, até porque antes ele era uma criança e não queria dividir a amiga com o irmão e vice-versa. Ele já tinha ciúmes da minha relação com o Anthony e o Benjamin, então não iria suportar "te perder" também. – explicou, como se fosse óbvio. - Você sabe como o Jon é ciumento. – adicionou. - Agora é diferente. O pirralho está se esforçando para jogar bola e quer nós dois... - apontou de si para ela. - Acompanhando essa fase dele. Jonas precisa de apoio, . Você como melhor amiga dele deveria saber disso.
- Agora você está dizendo que eu não sou uma boa amiga?! - devolveu, estupefata com a insinuação de .
- Scheiße, ! - a voz do rapaz era de pura frustração. - Eu desisto. - disse, batendo ambas as mãos em suas coxas para demonstrar a sua desistência. - Não dá para conversar civilizadamente com você.
- Não seja exagerado. - retrucou, balançando a cabeça em negação, com um bico infantil nos lábios finos, mostrando como estava emburrada.
- Exagerado? Eu? - apontou para si com incredulidade. - Você está distorcendo tudo que eu estou te dizendo, . - suspirou profundamente. - Não dá para manter um diálogo saudável assim. - adicionou, com um tom de voz sofrido. Estava realmente chateado com toda aquela situação.
permaneceu um tempo em silêncio, olhando para o teto branco, pensando no que o rapaz havia dito. Será que ela era realmente uma egoísta, que preferia manter um relacionamento repleto de brincadeirinhas infantis com - este que já não a empolgava como antes - ao invés de tentar manter a paz pelo bem do melhor amigo? tinha noção de que Jonas precisava de seu apoio, sobretudo, nesse início de carreira. Gostaria de ter a menina ali, torcendo e incentivando-o a fazer o seu melhor, nessa carreira que era tão incerta. Afinal, não bastava jogar um bom futebol para ter sucesso e ser bem-sucedido; principalmente em um país com tantos talentos como a Alemanha. Também sabia que a presença do irmão mais velho do garoto era imprescindível. Por mais que lhe doesse admitir, era um excelente jogador de futebol - sobretudo agora que estava treinando nas bases de um grande clube alemão -, e uma boa inspiração para seu amigo. Sabia que um dia o mais velho seria um grande zagueiro, podendo até chegar na seleção de seu país! Além disso, era interessante que os conhecimentos práticos de se juntassem aos do pai dos garotos. O universo futebolístico poderia ser bastante dinâmico, assim, a visão de Hermann acerca do esporte era bastante válida, porém, era necessário que essa se mesclasse à de , que vivia o futebol na atualidade.
- Certo. - quebrou o silêncio - O que você propõe para que nós possamos dar uma trégua?
- Você tá falando sério? - a surpresa foi tamanha que o outro levantou do puff em um pulo. - Quer realmente começar uma relação saudável comigo? - um fio de alegria pode ser ouvido em sua voz, mas pensou que era coisa de sua cabeça criativa.
- Sim. - respirou fundo. Era visível o quão pesaroso estava sendo para a adolescente passar por cima de seu orgulho para promover uma bandeira branca com seu desafeto infantil. - Pelo Jonas. Faço qualquer coisa para fazer aquela criatura feliz.
- Pelo Jonas. - repetiu o mais velho. - Ant e Ben também vão ficar satisfeitos com isso. Além dos nossos pais.
- Que seja. - deu de ombros, com uma pequena careta nos lábios. - Mas, e aí? O que você propõe? - reinterou a pergunta.
- Bom... - respirou fundo para começar. - Acho que podemos só não sermos hostis um com o outro. - pediu, caminhando para sentar na cama ao lado da menina, essa que fez um semblante estranho ao observar a atitude do rapaz, mas ficou calada. - Eu sei que as provocações dificilmente vão se anular de forma imediata, mas podemos tentar, certo?
- Certo. - assentiu após ponderar por alguns segundos, vendo promover um aperto de mão. - O que é isso? - apontou para a mão estendida do rapaz.
- Um acordo oficial de paz. - respondeu, com a mão ainda estendida na direção de .
- Você é estranho, . - implicou com o mais velho, vendo uma careta, que ela julgou fofa, aparecer em suas feições, mas aceitou o aperto do rapaz.
- Não estrague o momento, . - devolveu o alemão, fazendo a garota soltar um pequeno riso com o jeito do rapaz.
- E agora? O que fazemos? - questionou após alguns segundos em silêncio, observando as mãos de ambos ainda juntas. Por algum motivo, tal ação não lhe parecera estranha ou desconfortável.
- Agora nós fazemos nossa família nos tirar daqui. – soltou, de certa forma, contrariado, a mão da garota, levantando-se para poder ir em direção à porta de madeira e pedir por libertação do quarto do irmão caçula.
tinha esperanças de que essa trégua pudesse, no futuro, resultar em algo mais. Algo esse em que o entrelaçar de mãos poderia ser duradouro sem causar o menor sinal de estranheza.
*Vocabulário:
- Hallo - Olá;
- Nicht überschreiten - Não ultrapasse;
- Tante - Tia;
- Onkel - Tio;
- Bitte - Por favor;
- Meine Onkel und Tanten - Meus tios;
- Mein Gott - Meu Deus;
- Scheiße - Merda.
Flashback's End
Zweiter Teil
Após e definirem uma "trégua", a relação de ambos passou a ser moldada em outros aspectos. Alfinetadas e alguns comentários ácidos ainda permaneceram, mas ambos, sobretudo , esforçavam-se para manter o clima de paz. Mesmo que tivesse que morder a língua e respirar fundo em alguns - vários - momentos específicos.
Era um fato que, mesmo que houvessem arquitetado todo o plano para conciliá-los, as famílias dos dois estava bastante surpresa com o sucesso deste. Ulla e Hermann, nos minutos que se seguiram após trancar os dois adolescentes no quarto de Jon, ficaram sentados no corredor da casa responsável por direcioná-los ao dormitório, prontos para intervir caso os ânimos se aflorassem e a situação saísse do controle, como era de costume. Conheciam bem o histórico de ambos e, mesmo que eles já houvessem colocado para escanteio as provocações mais pesadas, sabiam que uma recaída era possível.
Todavia, de forma surpreendente, isso não aconteceu.
O casal chegou a se assustar levemente com algumas exclamações agitadas, mas nada muito preocupante ou do nível que ambos esperavam.
Inclusive, a cara de choque dos pais de ao verem os dois jovens saindo intactos, sem escoriações visíveis ou rostos avermelhados de raiva, após os libertarem do cômodo, causou diversas gargalhadas no garoto e em . Afinal, era impressionante a falta de fé - mesmo que com motivos - que depositavam nos dois.
Mesmo sabendo que o primogênito possuía uma paixonite pouco explorada e entendida pela caçula dos , e, por isso, queria desesperadamente fazer as pazes com a garota, também tinham noção de que ele era esquentadinho e birrento demais para deixar passar as provocações que certamente viriam da mais nova.
Já Anthony e Benjamin, ao saberem do sucesso do enclausuramento, passaram horas resmungando sobre como o plano era tolo demais para não terem pensando nisso antes. Os dois argumentaram que era um absurdo terem passado anos aguentando reclamações e lamúrias incessantes vindas de e , além de serem alvos de respingos de algumas das pegadinhas mais pesadas, sendo que a solução para dar um basta nesse inconveniente era simples e óbvia até demais.
A incredulidade inicial os motivou, inclusive, a fazer um quadro temático com os termos e estão sem brigar sério há "x'' dias; nosso recorde é "x" dias; fazendo-os ficarem ainda mais chocados ao perceberem que o número de dias sem conflitos sérios cada vez mais se afastava do zero.
Enquanto isso, Leona e Klaus , pais de , passaram a planejar secretamente um relacionamento amoroso e todos os seus possíveis percalços, entre a filha e o garoto , no que chamavam de planner do futuro. O tal planner era um pequeno caderno, em um tom de preto já desbotado por causa do passar dos anos, que o casal adquiriu pouco tempo depois do nascimento de Anthony.
O objetivo dele era listar os planos que ambos tinham para o pequeno Ant, que depois foram estendidos para Ben e , e compará-los com o que o futuro havia reservado para os filhos; não como forma de crítica e julgamentos, mas com o intuito de analisar as boas surpresas dessa belíssima aventura que era a vida.
Os mais velhos eram verdadeiros fãs de histórias de amor e ódio - muito pelo fato de não se suportarem no período inicial em que se conheceram - e, por isso, viam muito de si no relacionamento dos mais novos; facilitando o desenrolar da narrativa que imaginavam que iria se consolidar em um futuro nem tão distante assim.
O casal tinha certeza de que seria o seu genro um dia, mesmo indo contra todas as variáveis prováveis, e mesmo que demorasse para tal relacionamento se consolidar.
Eles só sabiam.
Contudo, juntando a surpresa, estupor e alegria de todos os 's e 's, o resultado final não chegava nem perto do que Jonas sentiu com a conciliação do irmão e da melhor amiga.
Com tal situação aparentemente superada, os empecilhos que antes impediam os dois jovens de viverem grudados como quando eram crianças foram quase que dizimados por completo.
passou a acompanhar os treinos de Jonas, com e Hermann, percebendo que, como o irmão mais velho, o amigo era realmente bom e tinha bastante potencial para representar a Alemanha num futuro nem tão distante assim.
A menina já tinha visto o rapaz jogando nas partidas de futebol organizadas pela escola que estudavam, porém, era diferente analisar o desempenho dele em um espaço em que os outros presentes eram profissionais ou, pelo menos, faziam alguma ideia do que estavam fazendo.
Na escola, era notável que os colegas de time de Jonas não eram exímios atletas; eles apenas corriam desenfreados atrás da bola, dificultando o fluir do jogo e do talento do adolescente, além de ilustrar com veemência o porquê de sua escola não ganhar alguma competição interescolar há anos.
estava presente no momento em que um olheiro do Bayer Leverkusen chegou à casa dos e demonstrou interesse no caçula da família; tal como haviam demonstrado pelo primogênito anos antes.
também acompanhou o exato momento em que a feição de choque e incredulidade de Jonas fora substituída por uma de total alegria, enquanto era parabenizado por seus pais e irmão.
A moça também esteve ali quando o garoto foi convocado para treinar pela primeira vez pela categoria sub-15 da equipe alemã; gritando ensandecida pelo amigo em uma das arquibancadas do centro esportivo e conseguindo a proeza de deixá-lo mais vermelho do que o normal; porém, bastante agradecido pelo apoio incondicional que estava recebendo dela.
passou realmente a acompanhar toda a precoce carreira de Jon no futebol, apaixonando-se - quase que com a mesma intensidade do amor que os possuíam - pelo esporte.
comprou camisas, decorou hinos - os oficiais e os famosos entre a torcida - e passou a incorporar o sentimento de uma verdadeira torcedora de futebol.
A garota até havia se matriculado em uma escolinha de futebol, desistindo semanas mais tarde após perceber que não possuía a agressividade necessária para ter o mínimo de destaque no esporte.
Na verdade, ela só não aguentava mais receber marcas de chuteiras doloridas em suas canelas ou boladas demasiadamente fortes em seu rosto.
Todavia, quebrando a expectativa de e Jonas, não era pelo Leverkusen que a menina passara a torcer; muito menos pelo Bayern München - equipe que ocupava a coração da maioria da população alemã, além de ser o time do peito da família .
Não, não conseguiu ser arrematada por nenhum dos dois clubes em questão.
A equipe que se alucinou completamente foi a do Borussia Dortmund. Compartilhando da mesma opinião de Anthony e Benjamin, passou a endeusar o clube aurinegro; encantando-se com todas as façanhas que o constituíam.
Após assistir a um jogo do clube profissional do Bayer Leverkusen contra o BVB, no Westfalenstadion, a convite de Ulla e Hermann, a menina passou a entender o porquê do clube ser tão amado mundo afora, não só na Alemanha; a atmosfera era simplesmente incrível.
Tal paixão pelo time do Vale do Ruhr, de forma inesperada, acabou por estreitar a relação de e .
Devido à obsessão do rapaz em tentar desconstruir todo o amor que a menina sentia pelo Dortmund, - muito pelo fato de querer ser admirado por ela, nem que fosse apenas por vestir a camisa da base de seu time do coração - convites para assistir treinos, sem a presença de Jonas; como chamadas para visitar a BayArena e conhecer os colegas de profissão de eram feitos aos montes, tudo para tentar conquistar de algum jeito.
Inicialmente, a adolescente achava tudo muito estranho.
Afinal, há pouquíssimo tempo os dois não conseguiam nem ficar em um mesmo ambiente sem que houvesse diversas alfinetadas e brincadeiras pesadas, para estranha e inesperadamente, jogarem-se em uma intensa relação de amizade.
Não fazia muito sentido para .
Só que, com o empurrão de Jon, que era quem mais apoiava e , em todos os âmbitos possíveis, a garota passou a aceitar alguns dos convites de .
Qual mal isso poderia fazer, não é?, era o que tinha em mente.
Com isso, ao passar a realmente conviver com o mais velho, passou a notar que o garotinho metido e pretensioso que ele era, já não se fazia mais tão presente assim em sua personalidade de quase adulto.
Na verdade, era divertido, com seu humor bastante peculiar; inteligente e, mesmo que custasse admitir, muito bonito; principalmente se o colocasse lado a lado de seus colegas de classe.
Para , se o aspirante a jogador tivesse mais espinhas espalhadas pelo rosto alvo; os dentes mais tortos e amarelados, além de, obviamente, cecê, como parte dos garotos que conhecia, sua vida seria mais fácil.
Jogadores deveriam ser fedidos, não?!
Tal aproximação resultou em não só a criação de um trio entre os dois e , mas também em um sexteto, com a adição de Anthony, Benjamin e Julian - melhor amigo dos mais velhos -, o que antes era inviável devido às constantes farpas entre a garota e o aspirante a jogador.
O novo grupo era bastante unido e, mesmo com as constantes adversidades devido aos ainda presentes choques de personalidade, eles conseguiam, de uma forma estranha, fazer aquilo ali dar certo.
FLASHBACK: agosto de 2005
Era uma tarde atipicamente ensolarada e calorenta em Bergisch Gladbach. Os seis jovens estavam jogados embaixo de um guarda-sol posicionado estrategicamente no grande quintal dos enquanto decidiam como prosseguir o andamento da partida de futebol que haviam prometido jogar.
- Beleza, vamos nos dividir em duas equipes. - Anthony começou, bebendo um longo gole de água. - Já adianto que os dois não irão ficar no mesmo grupo. - apontou, ouvindo gritos de confirmação e de revolta dos outros cinco presentes no quintal.
- Olha a injustiça aí, meu povo. - Jonas contestou, colocando as mãos na cintura de forma cômica. - Isso é um boicote na cara dura. - adicionou em um tom risonho, recebendo um manear positivo de cabeça de e um rolar de olhos da melhor amiga. - Não temos culpa de sermos maravilhosos.
- Injustiça por que, cabeção? - logo tratou de rebater, desviando a sua atenção das chuteiras envelhecidas de Benjamin que pegara para usar. A garota estava vestida com um short de lycra que costumava utilizar nas aulas de educação física, juntamente com uma camisa da seleção alemã, estampada com o nome e número de seu mais novo ídolo do esporte, Miroslav Klose. - Você e o são quase profissionais. Nós... - apontou para si e para o restante que não possuía o sobrenome . - Não podemos competir com isso de forma equitativa. - completou de forma óbvia. Benjamin e Anthony eram bons jogadores, nem perto do que e Jonas eram, mas eram eficientes. Porém, a falta de habilidade de e Julian pareciam liquidar o esforço dos ’s mais velhos.
- Está com medo, zinha? - O mais velho, que estava apenas observando toda a discussão que se desenvolvia em sua frente, decidiu se pronunciar. O alemão estava bastante animado em poder jogar com os amigos e mostrar - além do que já viam em seus jogos oficiais - o quanto estava evoluindo como jogador de futebol.
O rapaz estava ficando realmente bom no esporte, tendo a certeza de que logo passaria para o grupo profissional, seja em seu atual time, ou em uma outra equipe da Alemanha ou, sendo bastante otimista, no mundo. ansiava em poder vestir a camisa do Bayern München, time do seu coração e de sua família, um dia. Obviamente, o carinho e respeito que possuía pelo Leverkusen - devido a tudo que fizeram por ele e pelo irmão mais novo - era gigantesco, mas seu coração era inteiramente bávaro. Então ele ansiava pelo dia que algum olheiro oriundo de Munique se interessaria por suas habilidades. O jovem sentia, em uma parte considerável de si, que esse sonho estava prestes a virar realidade.
- De você? - arqueou a sobrancelha em resposta à provocação do mais velho. – Puff. - deu um abano no ar com a mão direita. - , respeite a minha história. - disse, fazendo pouco caso. - Você tem que comer muito Bratkartoffeln para conseguir esse feito. - adicionou, recebendo um estirar de língua bastante infantil do alemão.
- O casalzinho aí já terminou a DR? - Benjamin intrometeu-se, em um tom entediado. - Eu quero jogar, porra! - enfatizou.
- Finíssimo você. - a única menina presente no local resmungou para o irmão, recebendo um esguichar de água de Anthony, bem no rosto, e gritinhos zombeteiros dos demais. -Vocês são muito infantis. Não sei por que me dou ao trabalho. - cruzou os braços com um bico infantil nos lábios finos. Nesses momentos, se perguntava o porquê de não ter investido em amizades com seres do sexo feminino. Garotos poderiam ser bastante imaturos às vezes.
- Ich liebe dich auch, mana. - respondeu Ben, mandando um beijo para a outra, que apenas deu um sorriso irônico para ele.
- Tá bom, crianças. Não se exaltem. - o único que ainda não havia falado, Julian, deixou a sua voz se fazer presente no recinto. - Vamos fazer assim, ó... - começou a propor, levantando-se e batendo em seu calção para tirar o pouco de terra que se agrupara ali. - Eu, e Ben de um lado. - à medida que falava, apontava para os donos dos respectivos nomes. - , Jonas e Ant no outro. Fechou? - questionou, encarando os amigos.
- Por mim, beleza. - a caçula dos concordou, levantando-se. Viu, em seguida, os acenos positivos e os resmungos em confirmação dos demais.
- Espera aí... Quem é que vai ser o juiz? - Jonas trouxe a questão à tona após terminar de amarrar as suas chuteiras. - Nós precisamos de um juiz. - afirmou categoricamente, levantando-se e encarando com um olhar cheio de recriminação.
Era sabido por todos ali que a adolescente era bastante efusiva - se assim pode-se dizer - nos jogos que disputava com os amigos. Por ser mais baixa e bastante franzina, ela sabia que era um alvo fácil para faltas e dribles feitos pelos rapazes; assim, assumia a face de atacar para não ser atacada. Todavia, às vezes esse lema ia um pouco longe demais - como na vez que quase quebrou um dos dedos do pé de Julian - precisando, desse modo, de um mediador, responsável por tentar diminuir os danos.
- Nós não precisamos de um juiz. - rebateu prontamente. - Somos perfeitamente capazes de jogar sem alguém com um apito irritante correndo atrás de nós. - garantiu, colocando as mãos na cintura em sinal de desafio.
- Nós... - apontou para si e para os amigos, excluindo a menina. - Não precisamos de um juiz. Você precisa. - completou Jonas.
- Eu não sei do que você está falando. - desconversou , arqueando a sobrancelha em desafio.
- Diz isso para minha mãe, que teve que aguentar o filhinho dela agredido por uma monstra irremediável no mês passado! - Julian declarou em um tom altamente afetado, erguendo o dedo de forma acusadora para . - Precisamos de um juiz! - buscou frisar bem, recebendo um revirar de olhos e um “dramático” resmungado por parte da única garota presente.
- Tá, tá, tá... - fez pouco caso. - E quem os cavalheiros irão convocar para poder mediar essa incrível partida? - perguntou a jovem, com o sarcasmo pingando demasiadamente em toda a sua fala.
- Não faço ideia. - foi Anthony quem respondeu, dando de ombros. - Você bem que poderia arranjar algumas amigas bonitinhas para poder embelezar o nosso jogo, hein, maninha? - deu um sorriso malicioso, aproximando-se da irmã para abraçá-la lateralmente.
- E você acha que alguma pobre coitada, boa o suficiente para ser minha amiga, perderia o tempo com você? - debochou ao perceber o tom sugestivo do garoto, tirando o braço dele de seu corpo. - Eu amo você, meu irmão, por isso, tenho que acordá-lo para a dura realidade. - deu leves tapinhas na bochecha de Ant, depositando um beijo no local em seguida, ao ver o bico emburrado do outro.
- Assim você me magoa... - fez uma falsa cara de choro, bagunçando os cabelos da mais nova, recebendo um “EI!” gritado em resposta.
- Vocês tão fugindo do assunto. - começou. - Decidam logo quem vai ser a porra do juiz. Não temos o dia todo. – declarou, de forma impaciente.
- Minha nossa... - Benjamin fez uma falsa cara de surpresa, colocando a mão na boca, e apontando para em seguida. - Nem chegou à categoria de jogador profissional e já tá cheio de estrelismo para cima da gente. - balançou a cabeça em uma decepção fingida. - Tsc, tsc, tsc... Esperava mais de você, .
- Deixa de ser besta. - jogou a bola que seria utilizada na partida na direção do rapaz, que logo desviou, rindo. - Só quero ir logo direto ao ponto. - recebeu quatro olhares debochados em resposta. Ir direto ao ponto realmente não era uma das qualidades de .
- Direto ao ponto, hã?! - o responsável por exteriorizar o pensamento do grupo foi Julian; adotando um tom insinuativo. - Interessante seu ponto de vista, meu amigo... - continuou a provocação, alternando o olhar do primogênito para , que estava distraída jogando a bola de futebol que havia caído ao seu lado e já não prestava atenção no teor da conversa dos demais.
- Vocês são insuportáveis. - reclamou, levantando-se em um rompante e pegando a bola das mãos da garota, que olhou enfurecida para ele. Após dar de ombros para a reprimenda, continuou. - Vamos jogar sem juiz mesmo. - afirmou, adiantando a sua fala ao ver que Julian iria rebater. - . - direcionou o olhar para mais nova, que já o encarava com tédio, prevendo o discurso que viria. - Isso é futebol, não MMA. Pelo amor de Deus, não tente matar ninguém. - finalizou em tom suplicante, ouvindo um “não prometo nada” rebatido dela. - ! - pressionou a garota, cruzando os braços, e marcando bem os seus músculos recém adquiridos, com um semblante sério. - Por favor!
- Vocês são muito dramáticos, por Deus! - reclamou, mas logo suspirou em rendição; assentindo resignada para o mais velho.
Não era uma batalha que estava disposta a lutar, afinal.
- Ótimo, agora podemos jogar.
XX
Com os times previamente definidos, a partida começou.
Julian e Anthony se acomodaram no gol enquanto os demais constituíram a base ofensiva de suas respectivas equipes; distribuídos na espécie de campo de futebol construído no quintal dos .
Em relação às estratégias, Benjamin e eram mais incisivos no ataque, conseguindo driblar com certa facilidade, mas possuindo dificuldades para passar pelos bloqueios fatais de Jonas e, assim, poder marcar no gol de Anthony.
Já o outro time, trabalhava na ideia de contra-ataque, fechando a defesa e tentando fazer com que o elemento surpresa os levasse ao tão ansiado gol.
- Aqui, Ben! - indicou sua posição para o amigo, que estava sendo marcado fortemente pelo outro .
Todavia, ao depositar toda a sua atenção na bola e em Benjamin, acabou não percebendo uma criatura loira e com sangue nos olhos vindo em sua direção rapidamente.
estava com um semblante bastante assustador, um que era adquirido todas as vezes em que a garota se envolvia numa competição que desejava ganhar - o que acontecia sempre.
A jovem havia interpretado as intenções do aspirante a jogador e logo tratou de impedir que a jogada estimada se concluísse. Assim, rapidamente se movimentou com a intenção de marcar , enquanto Jonas tentava roubar a bola de Ben.
Contudo, a menina não avaliou muito bem a intensidade do impulso que havia dado para aproximar-se do primogênito dos e, desse modo, realizar a interceptação da jogada.
- CARALHO! - um berro chamou atenção de quatro dos seis presentes no local. - ME NOCAUTEARAM! - continuou a reclamação, tentando se livrar do peso que sentia em cima de si.
- Falta sem bola! Falta sem bola! - Julian se aproximou, apontando incisivamente para os dois corpos largados em meio ao tapete de grama sintética. - Tá vendo o porquê de precisarmos de um juiz?! - perguntou retoricamente, colocando as mãos na cintura.
- Foi sem querer! - logo tratou de se defender, rolando o corpo para longe do de ; levemente envergonhada por ter caído em cima do rapaz.
- , você sabe que eu te amo, mas você tem que ser proibida de jogar esportes coletivos! - Julian continuou a reclamar em seu tom ultrajado. - A não ser naqueles em que a agressão está liberada!
Enquanto isso, Benjamin e Anthony tentavam esconder as risadas estrondosas que queriam escapar; afinal, a cena que se estendia na frente deles era hilária: com as mãos nas costas e uma cara de dor, gemendo alguns xingamentos; Julian indignado e com o seu melhor tom estridente, e , com as bochechas ardendo em brasa, tentando se defender inutilmente dos argumentos de Julian.
Já Jonas não se encontrava tão feliz assim.
Tendo em mente que os amigos dificilmente o deixariam jogar no mesmo time que o irmão, ele havia apostado com que quem saísse o vencedor da partida escolhia um desafio para o outro cumprir.
O mais novo não fazia ideia do que o irmão iria pedir, mas ele sabia que iria desafiar a abrir o jogo de seus sentimentos, ou o que fosse aquilo, para .
Era a única forma que havia encontrado de fazer o outro parar de ser frouxo.
Só que, com essa situação que poderia levar à expulsão de ou, sei lá, uma cobrança direta no gol, ele já sentia a vitória esvair dentre os seus dedos e o gosto da derrota amargar o seu paladar.
Jonas, inclusive, apostava na ideia de que o outro só estava fazendo tanto drama para facilitar o seu próprio jogo e, assim, evitar que o mais novo ganhasse a aposta.
Afinal, uma garota de menos de 50 quilos como não poderia causar tanto estrago assim, poderia?!
- JÁ ENTENDI, JULIAN! Por Deus!- deu um grito, já exausta com a falação infinita do amigo. - Desculpa, . Não foi minha intenção te machucar. - direcionou seus grandes olhos para o menino, que ainda esganiçava em seu eterno drama.
apenas assentiu, ainda fazendo algumas caras e bocas, o que fez os restantes - menos Julian, que ainda tentava argumentar sobre a violência descabida de - rolar os olhos frente o desenrolar da cena.
- Vão punir o nosso time ou podemos continuar com o jogo logo? - Jonas perguntou, impaciente, chutando a panturrilha do irmão para fazê-lo levantar logo e parar com o teatro.
- Falta sem bola leva à expulsão! - Julian mais uma vez se fez presente, fazendo respirar fundo para não pular na jugular do ruivo e dar mais motivos para ele reclamar.
- Ei, expulsão é muito exagerado! - Anthony largou o semblante risonho e logo tratou de defender seu time e sua irmã. - A menina não fez por querer, porra!
- Mas fez! - Julian continuava batendo na mesma tecla, conseguindo irritar todos os demais com a sua ladainha repetitiva. - Por isso precisamos de um juiz; vocês são muito parciais!
- Vamos fazer assim: - Jonas tomou a palavra, em um tom aborrecido. - cobra um “pênalti”. - fez o sinal de aspas com os dedos. - leva uma advertência e Julian volta para casa. Todos de acordo? - olhou para os amigos e para o irmão, que já havia se levantado e se posicionado ao lado dos .
- Ja! - um coro de quatro vozes foi entoado com convicção.
- Ei...! – Jonas, ao perceber que Julian ia começar com mais uma de suas reclamações, logo tratou de interromper o garoto.
- Que bom que todos vocês concordam! – disse, cínico. - Agora voltemos às nossas posições, sim?
Todos os presentes, menos o garoto ruivo, assentiram e começaram a se acomodar novamente nas posições de jogo.
- Até você, , concorda com essa palhaçada? - indagou o amigo, que já caminhava em direção à “marca do pênalti” para poder realizar a cobrança. - Cadê todo o lance de “eu fui agredido” de minutos atrás?! - cruzou os braços. A indignação do garoto era realmente genuína, porém, extremamente insuportável de se presenciar.
- A pancada que eu levei da foi menos agressiva do que o efeito da sua voz irritante em meus ouvidos. - respondeu em um tom levemente debochado, fazendo uma careta no final da frase.
Julian queria continuar discutindo, mas sabia que isso apenas iria aborrecer os amigos ainda mais.
Então, decidiu apelar para o ponto fraco de e Benjamim:
- Se vocês me excluírem, vão ficar sem goleiro e com um jogador a menos.
Com o fim da declaração do garoto, e Benjamin se entreolharam, decidindo o que fazer.
Eles não queriam perder, afinal.
Só não sabiam se valia a pena aguentar o poço de lamúrias que estava Julian não só naquele dia, mas nos últimos tempos.
O ruivinho era, normalmente, uma pessoa bastante agradável e engraçada, sempre capaz de tirar um sorriso do rosto de quem convivia com ele.
Todavia, após levar um pé na bunda da ex-namorada, o menino havia ficado, digamos que... Insuportável; qualquer coisa era um bom motivo para ele fazer um escarcéu dramático.
Os amigos de Julian compreendiam bem a situação, uma vez que sabiam que o ruivo era bastante apaixonado pela até então namorada.
Só que, após 4 meses no mesmo estado de espírito, a paciência que sentiam já estava no limite, sabendo que era momento ideal para acordá-lo para a vida.
Enquanto isso, , Anthony e Jonas, afastados mais ao canto, confabulavam se não era a hora para largar o jogo e comer o Strudel de maçã que Ulla fazia dentro de casa. Quando eles estavam prestes a dizer que iriam desistir da partida devido à demora, a voz de fez-se presente.
- Tá, que seja... – suspirou. - Você volta. - ao ver o garoto abrindo a boca para replicar alguma coisa, logo emendou. - Mas, *Um Himmels willen, cala a boca!
* Ich Liebe Dich Auch - Também amo você.
*Um Himmels willen - Pelo amor de Deus!
XX
Após as aparentes divergências terem sido dissipadas, se posicionou - mais uma vez - para cobrar o pênalti.
Já Anthony, após ouvir alguns gritos de incentivo de , correu para se colocar em frente à trave.
- Agora é só contar uma, duas, meia e já? - perguntou, olhando para a cena que se desenrolava a poucos metros de si.
- Basicamente. - a respondeu, olhando rapidamente para trás e dando uma piscadinha para a garota, que apenas balançou a cabeça.
Depois da confirmação do que deveria fazer, a menina aproximou-se de onde os dois protagonistas do lance que estava para acontecer.
- Então, jovens cavalheiros. - utilizou do seu melhor tom pomposo para a introdução. - Cobrem logo isso que eu não aguento mais! - finalizou com um gritinho afetado, vendo os outros dois assentirem, concentrados. - A cobrança está autorizada, .
Respirando fundo, ele olhou para a bola e desta para Anthony, concentrando-se o máximo que podia. Contou mentalmente até três e...
- PERDEU! - eram os gritos ouvidos pelo campo improvisado, sendo as vozes mais alteradas as de Jonas e , bastante eufóricos com o resultado.
A bola que o alemão havia chutado tinha sobrevoado o gol que Ant defendia, só não indo parar fora da casa devido à elevada altura do muro desta.
Enquanto se martirizava por ter feito uma cobrança tão ruim assim, Anthony apenas dava seu característico sorriso sarcástico, erguendo a irmã no ar como se fosse um troféu que havia acabado de ganhar.
Já Julian e Benjamin aproximaram-se de com bicos gigantes de indignação, questionando o amigo como ele havia conseguido a proeza de perder um pênalti e, por consequência, a vitória do time deles.
- Porra, ! Como tu me erra um pênalti desses, bro?
- A vitória era nossa, ! Eu deveria ter ficado no outro time!
- CHEGA! - disse, impaciente. O garoto era bastante competitivo e autocrítico, então perder um pênalti em uma partida que de nada valia, com um goleiro que não era profissional, sendo que estava se matando nos treinos de seu clube para potencializar o seu desempenho, era bastante indigesto. - Eu perdi, superem! Podemos continuar logo?
- Na verdade... - fez uma pausa nas comemorações e se aproximou do trio emburrado, logo começando a explicar o seu ponto. - Está quase na hora do lanche e, sinceramente, comer é muito mais prazeroso do que ficar aqui nesse sol quente discutindo com vocês. Então, anuncio a minha saída. - disse de forma performática, fazendo uma leve reverência aos rapazes que lhe observavam, seguindo imediatamente para o interior da residência.
- Seguindo os passos da minha sábia irmãzinha, eu também me retiro do jogo. Um empate, após pegar um pênalti do ... - deu uma piscadinha para o amigo. - Está de bom tamanho para mim. - Dessa vez, foi Anthony quem se pronunciou, dando uma pequena corrida para alcançar os passos da irmã.
- Quer saber? - Benjamin deu de ombros após avaliar a situação em que se encontrava por alguns segundos. - Comer o Strudel de maçã da tante Ulla, em um ambiente refrigerado, é uma forma muito mais gratificante de gastar o meu tempo. - completou, dando uma piscadinha para os três que restaram ali.
Ao observarem os três espécimes da família que se distanciavam, Julian quebrou o silêncio:
- A gente tinha tudo para ganhar esse jogo. - cruzou os braços.
- Tem razão, bro! - Jonas se intrometeu, abraçando o ruivo lateralmente. - Agora que tal você relatar o modo como vocês quase... - enfatizou a palavra em um tom debochado. - Ganharam a partida, para a minha mãe, huh? Ela adora as suas histórias! – finalizou, prendendo um riso teimoso que queria sair.
Ulla, de fato, adorava Julian, e sentia um grande carinho pelo menino que havia visto crescer, mas, nesses últimos tempos, a consideração era mais visivelmente explorada quando o rapaz estava calado.
- Mas...! - ele tentou rebater, recebendo um leve empurrão de Jon e tapinhas nas costas para se apressar.
- Se você não for agora, a comida vai acabar! - e essa foi a deixa necessária para Julian deixar os dois irmãos sozinhos. O ruivo adorava argumentar e mostrar o seu ponto de vista exaustiva vezes, mas gostava ainda mais de comer, principalmente os doces que a matriarca tão bem cozinhava.
- Então... - Jonas começou, dando um soquinho no ombro do irmão, que até o momento se manteve calado e pensativo. - Deveria ter filmado essa cobrança e mandado pro teu técnico avaliar. O que foi isso, ? – concluiu, rindo da careta do outro.
- Ahn... Sei lá! - deu de ombros após respirar profundamente. - Não se pode ser bom sempre, mesmo que eu seja maravilhoso 99% do tempo. - logo tratou de complementar em seu melhor tom convencido.
- Idiota. - o mais novo rolou os olhos para a fala cheia de pretensão do irmão. - Mas que bom que perdeu, não queria cumprir nenhum desafio tosco que você fosse me propor.
- Tosco?! - o primogênito colocou as mãos na cintura, estupefato, seguindo com o adolescente para a saída do campinho e consequente caminho para a entrada de sua casa.
- Meu querido, você mal perdia por esperar! - disse, fazendo o mais novo encará-lo com uma feição de puro deboche.
- Bro, você tem que admitir que não é nem um pouco criativo. - Jon provocou, diminuindo o ritmo das passadas ao começar ouvir as vozes animadas que vinham de dentro da casa.
Depois de ouvir o que o caçula havia proferido, tentou rebater, explicando qual era a sua incrível ideia de prenda que havia elaborado após assistir alguns episódios de Full House, sendo interrompido mais uma vez por Jon - Já eu, menos inteligente, pensei em uma coisa que faria você me agradecer por ter te proposto realizar. – disse, convencido, já abrindo a porta da cozinha que dava para o quintal da família.
- Ah, é? - fez pouco caso, escolhendo ignorar a forma pela qual o irmão o havia chamado; adentrando o cômodo. Olhando para frente, observou a cena que se desenrolava a poucos metros de si: dando uma de suas estrondosas gargalhadas, provavelmente após Anthony contar alguma de suas anedotas cômicas, com direito à extensão de seu corpo arqueada e algumas lágrimas escapando pelo rosto alvo.
não conseguiu evitar encarar a cena com um sorriso bastante abobalhado.
Afinal, ele queria ser aquele capaz de fazer a menina sorrir desse jeito tão bonito, que parecia iluminar tudo e a todos que a rodeavam.
Vendo a cena que o irmão observava vidrado, Jonas colocou uma das mãos nos ombros de e respondeu ao questionamento inicial dele
- Ja! Mas, relaxa que logo logo você irá realizar esse meu desafio.
Flashback's End.
Era um fato que, mesmo que houvessem arquitetado todo o plano para conciliá-los, as famílias dos dois estava bastante surpresa com o sucesso deste. Ulla e Hermann, nos minutos que se seguiram após trancar os dois adolescentes no quarto de Jon, ficaram sentados no corredor da casa responsável por direcioná-los ao dormitório, prontos para intervir caso os ânimos se aflorassem e a situação saísse do controle, como era de costume. Conheciam bem o histórico de ambos e, mesmo que eles já houvessem colocado para escanteio as provocações mais pesadas, sabiam que uma recaída era possível.
Todavia, de forma surpreendente, isso não aconteceu.
O casal chegou a se assustar levemente com algumas exclamações agitadas, mas nada muito preocupante ou do nível que ambos esperavam.
Inclusive, a cara de choque dos pais de ao verem os dois jovens saindo intactos, sem escoriações visíveis ou rostos avermelhados de raiva, após os libertarem do cômodo, causou diversas gargalhadas no garoto e em . Afinal, era impressionante a falta de fé - mesmo que com motivos - que depositavam nos dois.
Mesmo sabendo que o primogênito possuía uma paixonite pouco explorada e entendida pela caçula dos , e, por isso, queria desesperadamente fazer as pazes com a garota, também tinham noção de que ele era esquentadinho e birrento demais para deixar passar as provocações que certamente viriam da mais nova.
Já Anthony e Benjamin, ao saberem do sucesso do enclausuramento, passaram horas resmungando sobre como o plano era tolo demais para não terem pensando nisso antes. Os dois argumentaram que era um absurdo terem passado anos aguentando reclamações e lamúrias incessantes vindas de e , além de serem alvos de respingos de algumas das pegadinhas mais pesadas, sendo que a solução para dar um basta nesse inconveniente era simples e óbvia até demais.
A incredulidade inicial os motivou, inclusive, a fazer um quadro temático com os termos e estão sem brigar sério há "x'' dias; nosso recorde é "x" dias; fazendo-os ficarem ainda mais chocados ao perceberem que o número de dias sem conflitos sérios cada vez mais se afastava do zero.
Enquanto isso, Leona e Klaus , pais de , passaram a planejar secretamente um relacionamento amoroso e todos os seus possíveis percalços, entre a filha e o garoto , no que chamavam de planner do futuro. O tal planner era um pequeno caderno, em um tom de preto já desbotado por causa do passar dos anos, que o casal adquiriu pouco tempo depois do nascimento de Anthony.
O objetivo dele era listar os planos que ambos tinham para o pequeno Ant, que depois foram estendidos para Ben e , e compará-los com o que o futuro havia reservado para os filhos; não como forma de crítica e julgamentos, mas com o intuito de analisar as boas surpresas dessa belíssima aventura que era a vida.
Os mais velhos eram verdadeiros fãs de histórias de amor e ódio - muito pelo fato de não se suportarem no período inicial em que se conheceram - e, por isso, viam muito de si no relacionamento dos mais novos; facilitando o desenrolar da narrativa que imaginavam que iria se consolidar em um futuro nem tão distante assim.
O casal tinha certeza de que seria o seu genro um dia, mesmo indo contra todas as variáveis prováveis, e mesmo que demorasse para tal relacionamento se consolidar.
Eles só sabiam.
Contudo, juntando a surpresa, estupor e alegria de todos os 's e 's, o resultado final não chegava nem perto do que Jonas sentiu com a conciliação do irmão e da melhor amiga.
Com tal situação aparentemente superada, os empecilhos que antes impediam os dois jovens de viverem grudados como quando eram crianças foram quase que dizimados por completo.
passou a acompanhar os treinos de Jonas, com e Hermann, percebendo que, como o irmão mais velho, o amigo era realmente bom e tinha bastante potencial para representar a Alemanha num futuro nem tão distante assim.
A menina já tinha visto o rapaz jogando nas partidas de futebol organizadas pela escola que estudavam, porém, era diferente analisar o desempenho dele em um espaço em que os outros presentes eram profissionais ou, pelo menos, faziam alguma ideia do que estavam fazendo.
Na escola, era notável que os colegas de time de Jonas não eram exímios atletas; eles apenas corriam desenfreados atrás da bola, dificultando o fluir do jogo e do talento do adolescente, além de ilustrar com veemência o porquê de sua escola não ganhar alguma competição interescolar há anos.
estava presente no momento em que um olheiro do Bayer Leverkusen chegou à casa dos e demonstrou interesse no caçula da família; tal como haviam demonstrado pelo primogênito anos antes.
também acompanhou o exato momento em que a feição de choque e incredulidade de Jonas fora substituída por uma de total alegria, enquanto era parabenizado por seus pais e irmão.
A moça também esteve ali quando o garoto foi convocado para treinar pela primeira vez pela categoria sub-15 da equipe alemã; gritando ensandecida pelo amigo em uma das arquibancadas do centro esportivo e conseguindo a proeza de deixá-lo mais vermelho do que o normal; porém, bastante agradecido pelo apoio incondicional que estava recebendo dela.
passou realmente a acompanhar toda a precoce carreira de Jon no futebol, apaixonando-se - quase que com a mesma intensidade do amor que os possuíam - pelo esporte.
comprou camisas, decorou hinos - os oficiais e os famosos entre a torcida - e passou a incorporar o sentimento de uma verdadeira torcedora de futebol.
A garota até havia se matriculado em uma escolinha de futebol, desistindo semanas mais tarde após perceber que não possuía a agressividade necessária para ter o mínimo de destaque no esporte.
Na verdade, ela só não aguentava mais receber marcas de chuteiras doloridas em suas canelas ou boladas demasiadamente fortes em seu rosto.
Todavia, quebrando a expectativa de e Jonas, não era pelo Leverkusen que a menina passara a torcer; muito menos pelo Bayern München - equipe que ocupava a coração da maioria da população alemã, além de ser o time do peito da família .
Não, não conseguiu ser arrematada por nenhum dos dois clubes em questão.
A equipe que se alucinou completamente foi a do Borussia Dortmund. Compartilhando da mesma opinião de Anthony e Benjamin, passou a endeusar o clube aurinegro; encantando-se com todas as façanhas que o constituíam.
Após assistir a um jogo do clube profissional do Bayer Leverkusen contra o BVB, no Westfalenstadion, a convite de Ulla e Hermann, a menina passou a entender o porquê do clube ser tão amado mundo afora, não só na Alemanha; a atmosfera era simplesmente incrível.
Tal paixão pelo time do Vale do Ruhr, de forma inesperada, acabou por estreitar a relação de e .
Devido à obsessão do rapaz em tentar desconstruir todo o amor que a menina sentia pelo Dortmund, - muito pelo fato de querer ser admirado por ela, nem que fosse apenas por vestir a camisa da base de seu time do coração - convites para assistir treinos, sem a presença de Jonas; como chamadas para visitar a BayArena e conhecer os colegas de profissão de eram feitos aos montes, tudo para tentar conquistar de algum jeito.
Inicialmente, a adolescente achava tudo muito estranho.
Afinal, há pouquíssimo tempo os dois não conseguiam nem ficar em um mesmo ambiente sem que houvesse diversas alfinetadas e brincadeiras pesadas, para estranha e inesperadamente, jogarem-se em uma intensa relação de amizade.
Não fazia muito sentido para .
Só que, com o empurrão de Jon, que era quem mais apoiava e , em todos os âmbitos possíveis, a garota passou a aceitar alguns dos convites de .
Qual mal isso poderia fazer, não é?, era o que tinha em mente.
Com isso, ao passar a realmente conviver com o mais velho, passou a notar que o garotinho metido e pretensioso que ele era, já não se fazia mais tão presente assim em sua personalidade de quase adulto.
Na verdade, era divertido, com seu humor bastante peculiar; inteligente e, mesmo que custasse admitir, muito bonito; principalmente se o colocasse lado a lado de seus colegas de classe.
Para , se o aspirante a jogador tivesse mais espinhas espalhadas pelo rosto alvo; os dentes mais tortos e amarelados, além de, obviamente, cecê, como parte dos garotos que conhecia, sua vida seria mais fácil.
Jogadores deveriam ser fedidos, não?!
Tal aproximação resultou em não só a criação de um trio entre os dois e , mas também em um sexteto, com a adição de Anthony, Benjamin e Julian - melhor amigo dos mais velhos -, o que antes era inviável devido às constantes farpas entre a garota e o aspirante a jogador.
O novo grupo era bastante unido e, mesmo com as constantes adversidades devido aos ainda presentes choques de personalidade, eles conseguiam, de uma forma estranha, fazer aquilo ali dar certo.
FLASHBACK: agosto de 2005
Era uma tarde atipicamente ensolarada e calorenta em Bergisch Gladbach. Os seis jovens estavam jogados embaixo de um guarda-sol posicionado estrategicamente no grande quintal dos enquanto decidiam como prosseguir o andamento da partida de futebol que haviam prometido jogar.
- Beleza, vamos nos dividir em duas equipes. - Anthony começou, bebendo um longo gole de água. - Já adianto que os dois não irão ficar no mesmo grupo. - apontou, ouvindo gritos de confirmação e de revolta dos outros cinco presentes no quintal.
- Olha a injustiça aí, meu povo. - Jonas contestou, colocando as mãos na cintura de forma cômica. - Isso é um boicote na cara dura. - adicionou em um tom risonho, recebendo um manear positivo de cabeça de e um rolar de olhos da melhor amiga. - Não temos culpa de sermos maravilhosos.
- Injustiça por que, cabeção? - logo tratou de rebater, desviando a sua atenção das chuteiras envelhecidas de Benjamin que pegara para usar. A garota estava vestida com um short de lycra que costumava utilizar nas aulas de educação física, juntamente com uma camisa da seleção alemã, estampada com o nome e número de seu mais novo ídolo do esporte, Miroslav Klose. - Você e o são quase profissionais. Nós... - apontou para si e para o restante que não possuía o sobrenome . - Não podemos competir com isso de forma equitativa. - completou de forma óbvia. Benjamin e Anthony eram bons jogadores, nem perto do que e Jonas eram, mas eram eficientes. Porém, a falta de habilidade de e Julian pareciam liquidar o esforço dos ’s mais velhos.
- Está com medo, zinha? - O mais velho, que estava apenas observando toda a discussão que se desenvolvia em sua frente, decidiu se pronunciar. O alemão estava bastante animado em poder jogar com os amigos e mostrar - além do que já viam em seus jogos oficiais - o quanto estava evoluindo como jogador de futebol.
O rapaz estava ficando realmente bom no esporte, tendo a certeza de que logo passaria para o grupo profissional, seja em seu atual time, ou em uma outra equipe da Alemanha ou, sendo bastante otimista, no mundo. ansiava em poder vestir a camisa do Bayern München, time do seu coração e de sua família, um dia. Obviamente, o carinho e respeito que possuía pelo Leverkusen - devido a tudo que fizeram por ele e pelo irmão mais novo - era gigantesco, mas seu coração era inteiramente bávaro. Então ele ansiava pelo dia que algum olheiro oriundo de Munique se interessaria por suas habilidades. O jovem sentia, em uma parte considerável de si, que esse sonho estava prestes a virar realidade.
- De você? - arqueou a sobrancelha em resposta à provocação do mais velho. – Puff. - deu um abano no ar com a mão direita. - , respeite a minha história. - disse, fazendo pouco caso. - Você tem que comer muito Bratkartoffeln para conseguir esse feito. - adicionou, recebendo um estirar de língua bastante infantil do alemão.
- O casalzinho aí já terminou a DR? - Benjamin intrometeu-se, em um tom entediado. - Eu quero jogar, porra! - enfatizou.
- Finíssimo você. - a única menina presente no local resmungou para o irmão, recebendo um esguichar de água de Anthony, bem no rosto, e gritinhos zombeteiros dos demais. -Vocês são muito infantis. Não sei por que me dou ao trabalho. - cruzou os braços com um bico infantil nos lábios finos. Nesses momentos, se perguntava o porquê de não ter investido em amizades com seres do sexo feminino. Garotos poderiam ser bastante imaturos às vezes.
- Ich liebe dich auch, mana. - respondeu Ben, mandando um beijo para a outra, que apenas deu um sorriso irônico para ele.
- Tá bom, crianças. Não se exaltem. - o único que ainda não havia falado, Julian, deixou a sua voz se fazer presente no recinto. - Vamos fazer assim, ó... - começou a propor, levantando-se e batendo em seu calção para tirar o pouco de terra que se agrupara ali. - Eu, e Ben de um lado. - à medida que falava, apontava para os donos dos respectivos nomes. - , Jonas e Ant no outro. Fechou? - questionou, encarando os amigos.
- Por mim, beleza. - a caçula dos concordou, levantando-se. Viu, em seguida, os acenos positivos e os resmungos em confirmação dos demais.
- Espera aí... Quem é que vai ser o juiz? - Jonas trouxe a questão à tona após terminar de amarrar as suas chuteiras. - Nós precisamos de um juiz. - afirmou categoricamente, levantando-se e encarando com um olhar cheio de recriminação.
Era sabido por todos ali que a adolescente era bastante efusiva - se assim pode-se dizer - nos jogos que disputava com os amigos. Por ser mais baixa e bastante franzina, ela sabia que era um alvo fácil para faltas e dribles feitos pelos rapazes; assim, assumia a face de atacar para não ser atacada. Todavia, às vezes esse lema ia um pouco longe demais - como na vez que quase quebrou um dos dedos do pé de Julian - precisando, desse modo, de um mediador, responsável por tentar diminuir os danos.
- Nós não precisamos de um juiz. - rebateu prontamente. - Somos perfeitamente capazes de jogar sem alguém com um apito irritante correndo atrás de nós. - garantiu, colocando as mãos na cintura em sinal de desafio.
- Nós... - apontou para si e para os amigos, excluindo a menina. - Não precisamos de um juiz. Você precisa. - completou Jonas.
- Eu não sei do que você está falando. - desconversou , arqueando a sobrancelha em desafio.
- Diz isso para minha mãe, que teve que aguentar o filhinho dela agredido por uma monstra irremediável no mês passado! - Julian declarou em um tom altamente afetado, erguendo o dedo de forma acusadora para . - Precisamos de um juiz! - buscou frisar bem, recebendo um revirar de olhos e um “dramático” resmungado por parte da única garota presente.
- Tá, tá, tá... - fez pouco caso. - E quem os cavalheiros irão convocar para poder mediar essa incrível partida? - perguntou a jovem, com o sarcasmo pingando demasiadamente em toda a sua fala.
- Não faço ideia. - foi Anthony quem respondeu, dando de ombros. - Você bem que poderia arranjar algumas amigas bonitinhas para poder embelezar o nosso jogo, hein, maninha? - deu um sorriso malicioso, aproximando-se da irmã para abraçá-la lateralmente.
- E você acha que alguma pobre coitada, boa o suficiente para ser minha amiga, perderia o tempo com você? - debochou ao perceber o tom sugestivo do garoto, tirando o braço dele de seu corpo. - Eu amo você, meu irmão, por isso, tenho que acordá-lo para a dura realidade. - deu leves tapinhas na bochecha de Ant, depositando um beijo no local em seguida, ao ver o bico emburrado do outro.
- Assim você me magoa... - fez uma falsa cara de choro, bagunçando os cabelos da mais nova, recebendo um “EI!” gritado em resposta.
- Vocês tão fugindo do assunto. - começou. - Decidam logo quem vai ser a porra do juiz. Não temos o dia todo. – declarou, de forma impaciente.
- Minha nossa... - Benjamin fez uma falsa cara de surpresa, colocando a mão na boca, e apontando para em seguida. - Nem chegou à categoria de jogador profissional e já tá cheio de estrelismo para cima da gente. - balançou a cabeça em uma decepção fingida. - Tsc, tsc, tsc... Esperava mais de você, .
- Deixa de ser besta. - jogou a bola que seria utilizada na partida na direção do rapaz, que logo desviou, rindo. - Só quero ir logo direto ao ponto. - recebeu quatro olhares debochados em resposta. Ir direto ao ponto realmente não era uma das qualidades de .
- Direto ao ponto, hã?! - o responsável por exteriorizar o pensamento do grupo foi Julian; adotando um tom insinuativo. - Interessante seu ponto de vista, meu amigo... - continuou a provocação, alternando o olhar do primogênito para , que estava distraída jogando a bola de futebol que havia caído ao seu lado e já não prestava atenção no teor da conversa dos demais.
- Vocês são insuportáveis. - reclamou, levantando-se em um rompante e pegando a bola das mãos da garota, que olhou enfurecida para ele. Após dar de ombros para a reprimenda, continuou. - Vamos jogar sem juiz mesmo. - afirmou, adiantando a sua fala ao ver que Julian iria rebater. - . - direcionou o olhar para mais nova, que já o encarava com tédio, prevendo o discurso que viria. - Isso é futebol, não MMA. Pelo amor de Deus, não tente matar ninguém. - finalizou em tom suplicante, ouvindo um “não prometo nada” rebatido dela. - ! - pressionou a garota, cruzando os braços, e marcando bem os seus músculos recém adquiridos, com um semblante sério. - Por favor!
- Vocês são muito dramáticos, por Deus! - reclamou, mas logo suspirou em rendição; assentindo resignada para o mais velho.
Não era uma batalha que estava disposta a lutar, afinal.
- Ótimo, agora podemos jogar.
Com os times previamente definidos, a partida começou.
Julian e Anthony se acomodaram no gol enquanto os demais constituíram a base ofensiva de suas respectivas equipes; distribuídos na espécie de campo de futebol construído no quintal dos .
Em relação às estratégias, Benjamin e eram mais incisivos no ataque, conseguindo driblar com certa facilidade, mas possuindo dificuldades para passar pelos bloqueios fatais de Jonas e, assim, poder marcar no gol de Anthony.
Já o outro time, trabalhava na ideia de contra-ataque, fechando a defesa e tentando fazer com que o elemento surpresa os levasse ao tão ansiado gol.
- Aqui, Ben! - indicou sua posição para o amigo, que estava sendo marcado fortemente pelo outro .
Todavia, ao depositar toda a sua atenção na bola e em Benjamin, acabou não percebendo uma criatura loira e com sangue nos olhos vindo em sua direção rapidamente.
estava com um semblante bastante assustador, um que era adquirido todas as vezes em que a garota se envolvia numa competição que desejava ganhar - o que acontecia sempre.
A jovem havia interpretado as intenções do aspirante a jogador e logo tratou de impedir que a jogada estimada se concluísse. Assim, rapidamente se movimentou com a intenção de marcar , enquanto Jonas tentava roubar a bola de Ben.
Contudo, a menina não avaliou muito bem a intensidade do impulso que havia dado para aproximar-se do primogênito dos e, desse modo, realizar a interceptação da jogada.
- CARALHO! - um berro chamou atenção de quatro dos seis presentes no local. - ME NOCAUTEARAM! - continuou a reclamação, tentando se livrar do peso que sentia em cima de si.
- Falta sem bola! Falta sem bola! - Julian se aproximou, apontando incisivamente para os dois corpos largados em meio ao tapete de grama sintética. - Tá vendo o porquê de precisarmos de um juiz?! - perguntou retoricamente, colocando as mãos na cintura.
- Foi sem querer! - logo tratou de se defender, rolando o corpo para longe do de ; levemente envergonhada por ter caído em cima do rapaz.
- , você sabe que eu te amo, mas você tem que ser proibida de jogar esportes coletivos! - Julian continuou a reclamar em seu tom ultrajado. - A não ser naqueles em que a agressão está liberada!
Enquanto isso, Benjamin e Anthony tentavam esconder as risadas estrondosas que queriam escapar; afinal, a cena que se estendia na frente deles era hilária: com as mãos nas costas e uma cara de dor, gemendo alguns xingamentos; Julian indignado e com o seu melhor tom estridente, e , com as bochechas ardendo em brasa, tentando se defender inutilmente dos argumentos de Julian.
Já Jonas não se encontrava tão feliz assim.
Tendo em mente que os amigos dificilmente o deixariam jogar no mesmo time que o irmão, ele havia apostado com que quem saísse o vencedor da partida escolhia um desafio para o outro cumprir.
O mais novo não fazia ideia do que o irmão iria pedir, mas ele sabia que iria desafiar a abrir o jogo de seus sentimentos, ou o que fosse aquilo, para .
Era a única forma que havia encontrado de fazer o outro parar de ser frouxo.
Só que, com essa situação que poderia levar à expulsão de ou, sei lá, uma cobrança direta no gol, ele já sentia a vitória esvair dentre os seus dedos e o gosto da derrota amargar o seu paladar.
Jonas, inclusive, apostava na ideia de que o outro só estava fazendo tanto drama para facilitar o seu próprio jogo e, assim, evitar que o mais novo ganhasse a aposta.
Afinal, uma garota de menos de 50 quilos como não poderia causar tanto estrago assim, poderia?!
- JÁ ENTENDI, JULIAN! Por Deus!- deu um grito, já exausta com a falação infinita do amigo. - Desculpa, . Não foi minha intenção te machucar. - direcionou seus grandes olhos para o menino, que ainda esganiçava em seu eterno drama.
apenas assentiu, ainda fazendo algumas caras e bocas, o que fez os restantes - menos Julian, que ainda tentava argumentar sobre a violência descabida de - rolar os olhos frente o desenrolar da cena.
- Vão punir o nosso time ou podemos continuar com o jogo logo? - Jonas perguntou, impaciente, chutando a panturrilha do irmão para fazê-lo levantar logo e parar com o teatro.
- Falta sem bola leva à expulsão! - Julian mais uma vez se fez presente, fazendo respirar fundo para não pular na jugular do ruivo e dar mais motivos para ele reclamar.
- Ei, expulsão é muito exagerado! - Anthony largou o semblante risonho e logo tratou de defender seu time e sua irmã. - A menina não fez por querer, porra!
- Mas fez! - Julian continuava batendo na mesma tecla, conseguindo irritar todos os demais com a sua ladainha repetitiva. - Por isso precisamos de um juiz; vocês são muito parciais!
- Vamos fazer assim: - Jonas tomou a palavra, em um tom aborrecido. - cobra um “pênalti”. - fez o sinal de aspas com os dedos. - leva uma advertência e Julian volta para casa. Todos de acordo? - olhou para os amigos e para o irmão, que já havia se levantado e se posicionado ao lado dos .
- Ja! - um coro de quatro vozes foi entoado com convicção.
- Ei...! – Jonas, ao perceber que Julian ia começar com mais uma de suas reclamações, logo tratou de interromper o garoto.
- Que bom que todos vocês concordam! – disse, cínico. - Agora voltemos às nossas posições, sim?
Todos os presentes, menos o garoto ruivo, assentiram e começaram a se acomodar novamente nas posições de jogo.
- Até você, , concorda com essa palhaçada? - indagou o amigo, que já caminhava em direção à “marca do pênalti” para poder realizar a cobrança. - Cadê todo o lance de “eu fui agredido” de minutos atrás?! - cruzou os braços. A indignação do garoto era realmente genuína, porém, extremamente insuportável de se presenciar.
- A pancada que eu levei da foi menos agressiva do que o efeito da sua voz irritante em meus ouvidos. - respondeu em um tom levemente debochado, fazendo uma careta no final da frase.
Julian queria continuar discutindo, mas sabia que isso apenas iria aborrecer os amigos ainda mais.
Então, decidiu apelar para o ponto fraco de e Benjamim:
- Se vocês me excluírem, vão ficar sem goleiro e com um jogador a menos.
Com o fim da declaração do garoto, e Benjamin se entreolharam, decidindo o que fazer.
Eles não queriam perder, afinal.
Só não sabiam se valia a pena aguentar o poço de lamúrias que estava Julian não só naquele dia, mas nos últimos tempos.
O ruivinho era, normalmente, uma pessoa bastante agradável e engraçada, sempre capaz de tirar um sorriso do rosto de quem convivia com ele.
Todavia, após levar um pé na bunda da ex-namorada, o menino havia ficado, digamos que... Insuportável; qualquer coisa era um bom motivo para ele fazer um escarcéu dramático.
Os amigos de Julian compreendiam bem a situação, uma vez que sabiam que o ruivo era bastante apaixonado pela até então namorada.
Só que, após 4 meses no mesmo estado de espírito, a paciência que sentiam já estava no limite, sabendo que era momento ideal para acordá-lo para a vida.
Enquanto isso, , Anthony e Jonas, afastados mais ao canto, confabulavam se não era a hora para largar o jogo e comer o Strudel de maçã que Ulla fazia dentro de casa. Quando eles estavam prestes a dizer que iriam desistir da partida devido à demora, a voz de fez-se presente.
- Tá, que seja... – suspirou. - Você volta. - ao ver o garoto abrindo a boca para replicar alguma coisa, logo emendou. - Mas, *Um Himmels willen, cala a boca!
* Ich Liebe Dich Auch - Também amo você.
*Um Himmels willen - Pelo amor de Deus!
Após as aparentes divergências terem sido dissipadas, se posicionou - mais uma vez - para cobrar o pênalti.
Já Anthony, após ouvir alguns gritos de incentivo de , correu para se colocar em frente à trave.
- Agora é só contar uma, duas, meia e já? - perguntou, olhando para a cena que se desenrolava a poucos metros de si.
- Basicamente. - a respondeu, olhando rapidamente para trás e dando uma piscadinha para a garota, que apenas balançou a cabeça.
Depois da confirmação do que deveria fazer, a menina aproximou-se de onde os dois protagonistas do lance que estava para acontecer.
- Então, jovens cavalheiros. - utilizou do seu melhor tom pomposo para a introdução. - Cobrem logo isso que eu não aguento mais! - finalizou com um gritinho afetado, vendo os outros dois assentirem, concentrados. - A cobrança está autorizada, .
Respirando fundo, ele olhou para a bola e desta para Anthony, concentrando-se o máximo que podia. Contou mentalmente até três e...
- PERDEU! - eram os gritos ouvidos pelo campo improvisado, sendo as vozes mais alteradas as de Jonas e , bastante eufóricos com o resultado.
A bola que o alemão havia chutado tinha sobrevoado o gol que Ant defendia, só não indo parar fora da casa devido à elevada altura do muro desta.
Enquanto se martirizava por ter feito uma cobrança tão ruim assim, Anthony apenas dava seu característico sorriso sarcástico, erguendo a irmã no ar como se fosse um troféu que havia acabado de ganhar.
Já Julian e Benjamin aproximaram-se de com bicos gigantes de indignação, questionando o amigo como ele havia conseguido a proeza de perder um pênalti e, por consequência, a vitória do time deles.
- Porra, ! Como tu me erra um pênalti desses, bro?
- A vitória era nossa, ! Eu deveria ter ficado no outro time!
- CHEGA! - disse, impaciente. O garoto era bastante competitivo e autocrítico, então perder um pênalti em uma partida que de nada valia, com um goleiro que não era profissional, sendo que estava se matando nos treinos de seu clube para potencializar o seu desempenho, era bastante indigesto. - Eu perdi, superem! Podemos continuar logo?
- Na verdade... - fez uma pausa nas comemorações e se aproximou do trio emburrado, logo começando a explicar o seu ponto. - Está quase na hora do lanche e, sinceramente, comer é muito mais prazeroso do que ficar aqui nesse sol quente discutindo com vocês. Então, anuncio a minha saída. - disse de forma performática, fazendo uma leve reverência aos rapazes que lhe observavam, seguindo imediatamente para o interior da residência.
- Seguindo os passos da minha sábia irmãzinha, eu também me retiro do jogo. Um empate, após pegar um pênalti do ... - deu uma piscadinha para o amigo. - Está de bom tamanho para mim. - Dessa vez, foi Anthony quem se pronunciou, dando uma pequena corrida para alcançar os passos da irmã.
- Quer saber? - Benjamin deu de ombros após avaliar a situação em que se encontrava por alguns segundos. - Comer o Strudel de maçã da tante Ulla, em um ambiente refrigerado, é uma forma muito mais gratificante de gastar o meu tempo. - completou, dando uma piscadinha para os três que restaram ali.
Ao observarem os três espécimes da família que se distanciavam, Julian quebrou o silêncio:
- A gente tinha tudo para ganhar esse jogo. - cruzou os braços.
- Tem razão, bro! - Jonas se intrometeu, abraçando o ruivo lateralmente. - Agora que tal você relatar o modo como vocês quase... - enfatizou a palavra em um tom debochado. - Ganharam a partida, para a minha mãe, huh? Ela adora as suas histórias! – finalizou, prendendo um riso teimoso que queria sair.
Ulla, de fato, adorava Julian, e sentia um grande carinho pelo menino que havia visto crescer, mas, nesses últimos tempos, a consideração era mais visivelmente explorada quando o rapaz estava calado.
- Mas...! - ele tentou rebater, recebendo um leve empurrão de Jon e tapinhas nas costas para se apressar.
- Se você não for agora, a comida vai acabar! - e essa foi a deixa necessária para Julian deixar os dois irmãos sozinhos. O ruivo adorava argumentar e mostrar o seu ponto de vista exaustiva vezes, mas gostava ainda mais de comer, principalmente os doces que a matriarca tão bem cozinhava.
- Então... - Jonas começou, dando um soquinho no ombro do irmão, que até o momento se manteve calado e pensativo. - Deveria ter filmado essa cobrança e mandado pro teu técnico avaliar. O que foi isso, ? – concluiu, rindo da careta do outro.
- Ahn... Sei lá! - deu de ombros após respirar profundamente. - Não se pode ser bom sempre, mesmo que eu seja maravilhoso 99% do tempo. - logo tratou de complementar em seu melhor tom convencido.
- Idiota. - o mais novo rolou os olhos para a fala cheia de pretensão do irmão. - Mas que bom que perdeu, não queria cumprir nenhum desafio tosco que você fosse me propor.
- Tosco?! - o primogênito colocou as mãos na cintura, estupefato, seguindo com o adolescente para a saída do campinho e consequente caminho para a entrada de sua casa.
- Meu querido, você mal perdia por esperar! - disse, fazendo o mais novo encará-lo com uma feição de puro deboche.
- Bro, você tem que admitir que não é nem um pouco criativo. - Jon provocou, diminuindo o ritmo das passadas ao começar ouvir as vozes animadas que vinham de dentro da casa.
Depois de ouvir o que o caçula havia proferido, tentou rebater, explicando qual era a sua incrível ideia de prenda que havia elaborado após assistir alguns episódios de Full House, sendo interrompido mais uma vez por Jon - Já eu, menos inteligente, pensei em uma coisa que faria você me agradecer por ter te proposto realizar. – disse, convencido, já abrindo a porta da cozinha que dava para o quintal da família.
- Ah, é? - fez pouco caso, escolhendo ignorar a forma pela qual o irmão o havia chamado; adentrando o cômodo. Olhando para frente, observou a cena que se desenrolava a poucos metros de si: dando uma de suas estrondosas gargalhadas, provavelmente após Anthony contar alguma de suas anedotas cômicas, com direito à extensão de seu corpo arqueada e algumas lágrimas escapando pelo rosto alvo.
não conseguiu evitar encarar a cena com um sorriso bastante abobalhado.
Afinal, ele queria ser aquele capaz de fazer a menina sorrir desse jeito tão bonito, que parecia iluminar tudo e a todos que a rodeavam.
Vendo a cena que o irmão observava vidrado, Jonas colocou uma das mãos nos ombros de e respondeu ao questionamento inicial dele
- Ja! Mas, relaxa que logo logo você irá realizar esse meu desafio.
Flashback's End.
Dritter Teil
ATUALMENTE
permanecia adormecido, alheio aos olhares atentos que lhe direcionava. O rapaz estava completamente exausto após a partida contra Portugal.
O casal sabia que estava descumprindo inúmeros protocolos feitos pela delegação alemã e pela própria UEFA para a realização da Eurocopa, mas não conseguiam se importar com aquilo no momento. Ambos estavam vacinados contra o coronavírus e previamente testados, visto que, mesmo imunizados, ainda poderiam transmitir o vírus para outras pessoas. Então utilizaram alguns dos favores que deviam a e infiltraram para dentro do quarto de hotel que ele deveria dividir com Manuel Neuer, que, no momento, estava com Kimmich e Toni Kroos no outro lado do corredor.
Precisava lembrar de agradecer os amigos depois, pensou , enquanto assistia o ressonar baixinho de .
O estresse do alemão era algo que gritava por seus poros. Embora tenham vencido a partida contra os portugueses, pelo placar de 4x2, a oscilação de rendimento que os alemães vinham tendo desde a Copa do Mundo de 2018 era algo que os assombrava. A eliminação vexatória na fase de grupos para uma subestimada Coreia do Sul, era algo que martelava dentro dos remanescentes do ciclo passado, como um estigma a ser superado.
Para piorar, a Alemanha foi novamente humilhada na Nations League, uma recente competição entre nações europeias. Os alemães sofreram seis gols dos espanhóis, sendo a primeira vez, em jogos oficiais, que a seleção alemã sofreu uma goleada com mais de cinco gols de diferença desde 1954. Desastroso, era o pensamento geral. O começo da Eurocopa, por sua vez, também não contribuía para o otimismo com a seleção. O gol contra de foi o responsável por dar a vitória aos franceses no chamado grupo da morte, que além da Alemanha, França e Portugal, contava também com a Hungria, que seria o próximo adversário dos alemães.
A frustração de com a partida só atenuou ao saber que Luka e Liam, filhos gêmeos de e , haviam comemorado o gol do pai como se fosse um grande motivo de orgulho. Os pequenos ainda não sabiam diferenciar os tipos de gols, ficando extremamente felizes ao verem que o pai deles havia sido o responsável por empurrar a bola para a rede, mesmo que esta rede fosse a de Manuel Neuer. Os meninos, no momento, se encontravam em Munique, com os avós, esperando a seleção que iria embarcar lá para enfrentar os húngaros.
Enquanto isso, os pais se encontravam em um hotel renomado de Budapeste, preocupados com o futuro da seleção alemã na segunda competição entre clubes mais importante, perdendo apenas para a Copa do Mundo, que aconteceria no ano seguinte. , após se perder em pensamentos, decidiu tentar dormir também. O próximo dia seria cheio e ela precisava descansar. Todavia, antes que pudesse sequer fechar os olhos, sentiu um braço a puxando para se aconchegar mais em si.
- Por que está tão longe, schatzi? - perguntou com a voz rouca de sono. O rosto do zagueiro estava enterrado nos cabelos da mulher e os olhos permaneciam fechados, sem forças para permanecer abertos.
- Não estou longe não, manhoso. – disse, rindo baixinho, tentando arrumar o corpo em uma conchinha desajeitada, visto a posição transpassada que se encontrava.
- Não discuta comigo, mocinha. - disse, inspirando o aroma de morango que vinha de seus cabelos, deixando em seguida um beijo na nuca exposta da esposa. Em resposta ao contato, o corpo de arrepiou levemente, fazendo com que risse abafado no seu pescoço. Mesmo após anos juntos, ainda era extremamente satisfatório observar os efeitos que causava em , principalmente ao lembrar de toda a dificuldade que passou para ficarem, finalmente, juntos. - Eu sou o mais velho…
- E o mais idiota também. - retrucou, revirando os olhos. - Vai dormir, criatura. - implicou, virando o corpo para encarar o marido. O homem possuía o rosto levemente inchado, em decorrência do sono que ainda o assolava. Os cabelos estavam totalmente despenteados, fazendo com que os acariciasse levemente, tirando os fios que estavam nos olhos do rapaz. sorriu em resposta ao ato carinhoso de , feliz por ela estar ali.
Embora considerasse Neuer um irmão, ele não seria capaz de transmitir para si o apoio que a esposa transmitia apenas por estar presente. A verdade era que não sabia mais se era uma adição necessária para a seleção. O seu maior sonho sempre foi representar o seu país em competições internacionais, e ter chegado até ali era um motivo diário de orgulho. Mas, depois de tantas derrotas, não sabia mais se ali era o seu lugar. O zagueiro apenas queria dar orgulho para a sua família e seus fãs, mas sentia que estava falhando há muito tempo. Tinha sorte por seus filhos ainda serem pequenos e não entenderem muito bem o significado de partidas ruins, mas o resto do mundo não possuía a inocência infantil, e as críticas eram pesadas. Fazia algum tempo que a mídia questionava se já não era tempo para finalizar o ciclo de Joachim Löw dentro da seleção alemã. Um ciclo que se consagrou campeão em 2014, mas que, desde lá, não conseguia engatar uma sequência vitoriosa. E, com isso, vinha a grande questão de quais jogadores acompanhariam o treinador em sua aposentadoria da seleção. A renovação já era uma realidade, mas a pressão de ser um veterano era algo que o perseguia junto com as derrotas vexatórias.
sabia do valor dele como jogador.
Era um dos melhores zagueiros do mundo e, mesmo após algumas polêmicas pelas suas transferências de clube entre o Bayern e o Borússia Dortmund, sabia que os torcedores alemães o tinham em grande estima. Por isso mesmo, pensava se não deveria levar a Eurocopa como última competição a ser disputada. Era mais sensato sair enquanto ainda era amado, do que persistir durante mais tempo e ver a admiração sendo convertida em rancor.
- Não sei se consigo… - suspirou, fechando os olhos ao sentir um beijo em suas têmporas.
- Estava até agora roncando. - provocou a mulher. , por sua vez, estirou a língua infantilmente em resposta. - Claro que consegue. - completou, rindo baixinho do ato infantil do marido.
- Estou falando sério, bobona. - falou, puxando para mais perto de si. deitou o rosto no peito desnudo do marido, aproveitando o calor que emanava dali. - Muita coisa na cabeça. - fez uma careta, que foi aumentada devido ao bocejo que saiu sem querer de sua boca.
- Então, isso é um verdadeiro milagre. - implicou, beliscando de leve a barriga do jogador. Mesmo após anos juntos, as provocações ainda eram rotineiras no relacionamento dos dois. gostava de dizer que cada dia sem zoar era um dia perdido. O jogador também levava essa máxima a sério, irritando a mulher de inúmeros jeitos possíveis, só ficando satisfeito quando ela ameaçava jogar algum objeto nele ou, de fato, jogava. A única diferença da situação atual em relação a quando eram adolescentes, era que agora as provocações acabavam em beijos e carícias, quase nunca resultando em pensamentos homicidas. O que era um grande avanço, na concepção dos amigos do casal, sobretudo de Jonas.
- … - repreendeu, rindo em seguida. A mulher era realmente impossível - Estou tentando manter um diálogo aqui. - fez uma careta, tentando parecer sério.
- Desculpe. - pediu, sem realmente se sentir culpada. - O que te aflige, amor? - acariciou o rosto do mais velho, adotando uma postura preocupada. Por mais que tirar uma com a cara de fosse sua atividade favorita, a preocupação que sentia pelo marido era algo tão grande quanto. O amava irremediavelmente, mesmo que ainda se questionasse como puderam sair de uma relação permanente de guerra, para um casamento saudável e feliz com dois filhos. O mundo não gira, ele capota, com certeza seria a legenda responsável por definir a sua vida.
- Você acha que está na hora de eu me aposentar da seleção? - suspirou, exausto, arrumando a sua posição para que pudesse olhar para o rosto da esposa.
, por sua vez, franziu o cenho, confusa. Não esperava que estivesse com esse tipo de pensamento em mente. Obviamente, tinha conhecimento das críticas que o zagueiro recebia e de como isso o afetava, tanto em campo quanto nas relações familiares, mesmo que ele tentasse ao máximo desvincular o trabalho de casa. Mas nunca pensou que o alemão realmente pensasse em largar o seu maior sonho de forma precoce. já possuía 32 anos e não era nenhum menino, mas tinha plenas condições de disputar a Copa de 2022 e, dependendo das circunstâncias, até a de 2026. Então, se continuasse sendo convocado, não via motivos para o jogador abandonar a camisa 5 que tanto se orgulhava em vestir.
- Por quê, exatamente? - respondeu após alguns segundos de silêncio, encarando os olhos que tanto amava.
- Porque… - hesitou em um suspiro. - Eu não sei se sou mais o suficiente. - terminou, levemente envergonhado. Não possuía larga experiência em expor as suas inseguranças, nem mesmo para . Gostava que a mulher pensasse que ele era uma rocha, sempre capaz de aguentar os percalços da vida sem se abalar. Não tinha vergonha de chorar e se mostrar fraco, não era esse o ponto. Tentava mostrar para os filhos que homens choram sim e que era normal se sentir triste e perdido às vezes. Ele não gostava de se mostrar assim para ela. Mesmo que a mulher já tenha ralhado com o marido inúmeras vezes afirmando como era idiota esse modo de pensar. Eles se amavam e estavam casados. O apoio deveria ser mútuo, não unilateral. E mesmo que ainda se sentisse levemente estranho ao expor seus medos, sabia que não iria julgá-lo, muito pelo contrário.
- Ei… - chamou, levantando o corpo para poder se sentar, encostando na cabeceira da cama de casal. resmungou, contrariado ao ter o corpo da mulher afastado do seu, mas permaneceu na mesma posição, cansado demais para se movimentar. - Amor, olha para mim. - pediu ao ver os olhos do marido fechados. Sem saber como negar o pedido, abriu os olhos, deitando a cabeça no colo da esposa, que estava coberta com um grosso edredom. A Europa estava entrando no verão, mas o ar-condicionado no mínimo dava a impressão, para , que a tinham soltado de lingerie no inverno da Sibéria. Poderia parecer exagero, mas a mulher era extremamente friorenta, mesmo que tivesse nascido e vivido toda a sua vida na Alemanha. Percebendo que tinha a atenção de , voltou a falar.
- , eu sei que a seleção não está no seu melhor momento, mas isso não te diminui como jogador, amor. – falou, carinhosa, acariciando os cabelos macios do marido. - Olhe, o Borussia terminou a Bundesliga em terceiro lugar… E, sim, eu sei que terceiro não é primeiro. - revirou os olhos ao ver que iria retrucar. , por sua vez, fez um bico, contrariado, lembrando que, por um ponto, não haviam pego a vice-liderança do RB Leipzig, na temporada passada. - Mas é o suficiente para se classificar para a Champions League e tentar mais um título. - respirou fundo, continuando. - Na temporada passada, vocês caíram para o City, que chegou na final. - revirou os olhos mais uma vez ao ver a boca do alemão abrir novamente. - E, sim, perderam para o Chelsea, mas não muda o fato de que chegaram na final. - prosseguiu, suspirando de leve. - O ponto que eu quero chegar é… - pigarreou, para deixar a voz mais firme. - O desempenho abaixo do esperado da seleção não é culpa sua, . Vocês são uma equipe e um jogador só não faz milagres. Só observar a posição do Messi na Argentina e no próprio Barcelona. - fez uma pausa antes de continuar. - Então, sim, é frustrante para caralho sair da posição de campeão do mundo para a protagonista de vexames históricos, eu sei disso. - apertou de leve o nariz do rapaz. - Embora não esteja em campo, além de sua esposa, sou torcedora e sinto a dor de não ver a minha seleção brilhando como sei que é capaz de brilhar. Mas não acho que se abandonar a sua posição dentro do time, vai mudar muita coisa, amor. - suspirou, encarando o olhar cansado do marido. - O time precisa de você, . Pegue cada crítica que escuta e transforme em motivos para melhorar, não para desistir. - inclinou o pescoço para depositar um selinho nos lábios de , que tentou aprofundar o beijo. - Quer me beijar, bonitinho? – indagou, ironicamente. - Então se ajeite. Não estou a fim de ter um torcicolo amanhã.
- Ridícula. - implicou, mas fez o que lhe foi pedido, levantando do colo da mulher e encostando as suas costas na cabeceira da cama como ela fazia. - Obrigado. - disse simplesmente, continuando a explicação ao ver o arquear de sobrancelha que recebeu em resposta. - Obrigado por estar aqui.
- Sempre estarei aqui, bärchen. - respondeu, dando um beijo na bochecha de .
- Eu sei. - falou, antes de puxar a alemã para um beijo. Sabia que o melhor jeito de esquecer os problemas era nos lábios da mulher que amava.
xX
Os dias passaram rapidamente e o dia da partida contra a Hungria havia finalmente chegado. havia marcado de se encontrar com Ulla e Jonas para assistirem o jogo na Allianz Arena, que aconteceria dentro de poucas horas. A psicóloga havia decidido levar os filhos consigo após inúmeros pedidos de , que havia usado a carta de pode ser a última chance dos meninos me verem defendendo a camisa da Alemanha. Não que a alemã tivesse levado a sério o discurso dramático de , mas após a última conversa que tiveram acerca de uma aposentadoria da seleção, decidiu ceder e levar Liam e Luka para o jogo. As crianças estavam extremamente animadas, perguntando a todo instante se o pai iria fazer gols ou se a Alemanha iria sair campeã do jogo. Depois de explicar pela quinta vez que o jogo não valia nenhum título, desistiu de tentar explicar e passou a responder “vamos ver, amorzinhos” para cada indagação que os filhos, extremamente ansiosos, dirigiam a si.
A família estava hospedada no apartamento que mantinham desde a época que jogava no Bayern, enquanto Jonas e Ulla estavam em um hotel, mesmo após as insistências de para que ficassem junto a ela e às crianças. Após colocar os meninos na cadeirinha do carro, dirigiu até o estádio, estacionando na área destinada aos familiares dos jogadores. Depois de ajustar a máscara no rosto dos filhos, que já estavam acostumados ao adereço devido a recorrência do uso na escolinha que frequentavam, saíram em direção à área VIP. Por mais que tivesse o Dortmund como o time de sua vida, com toda a atmosfera apaixonante que rondava o clube, que era ilustrada pela sua torcida apaixonada e os jogadores extremamente simpáticos e amáveis, a mulher até que sentia falta dos bávaros. Embora morresse antes de admitir isso em voz alta.
Chegando no lugar marcado, sinalizou para os filhos sentarem, sendo rapidamente atendida. Mesmo sendo demasiadamente agitados, visto que só possuíam três anos, os gêmeos eram crianças muito obedientes e que não faziam muita manha, o que gostava de jogar na cara de que era uma característica herdada dela. O jogador, por sua vez, só revirava os olhos e respondia em um tom debochado ”acredite no que te fizer dormir à noite, querida”.
Depois de se certificar que os meninos estavam sentados em seus lugares, pegou o celular para ligar para Jonas e saber onde diabos eles estavam. Havia percebido a presença de Jessica, esposa de Kroos, bem como de Alexis, esposa de Müller, mas não era muito próxima das mulheres. Sendo sincera, Alexis era uma boa amiga, mas acabaram se afastando após a volta de para o Dortmund e, desde lá, não conversavam mais, mesmo que ainda sentissem um grande carinho uma pela outra. Balançando a cabeça para dispersar a onda de pensamentos aleatórios que lhe assolou, discou o número do melhor amigo rapidamente.
- Fala, ! - Jonas falou, animado, em um cumprimento que costumava usar desde que havia se casado com .
- , onde você está?! - perguntou de volta, em um tom baixo para não alertar os gêmeos, que olhavam animados para todos os lados.
- Estamos chegando, cunha! - respondeu, ainda animado. somente revirou os olhos para o vocativo utilizado, mesmo sabendo que ele não poderia ver. - Parece até que nasceu de sete meses, .
- Você ficou mais ridículo com os anos ou é impressão minha? - retrucou, bufando levemente. Odiava esperar as pessoas, principalmente quando se sentia deslocada nos lugares. Bem, pelo menos os meninos estavam quietos, pensou, olhando para os filhos que conversavam entre si.
- Depois que começou a trocar fluidos corporais com o meu irmão, você ficou muito atrevida, . - debochou, em brincadeira. No fundo, conseguiu ouvir um “Jonas!” em tom de repreensão, que sabia pertencer à sua sogra. Sentindo as suas bochechas esquentarem em vergonha, retrucou.
- Eu só não te xingo de um nome muito feio porque os gêmeos estão me encarando nesse momento. - falou entredentes, ainda envergonhada por Ulla ter ouvido a brincadeira de Jonas. Já estava acostumada com o humor deturpado do melhor amigo, mas era diferente quando a sua sogra estava escutando tudo. - Mas saiba que você é algo bem ridículo.
- Ich liebe dich auch, ! - declarou, rindo, sabendo que tinha concluído seu objetivo em irritar a cunhada - Chego já!
Depois de cerca de trinta minutos, avistou Ulla e Jonas na área vip da Allianz Arena. Ambos vestidos como ela própria, com uma calça jeans e uma camisa da seleção alemã, que estampava o número 5 e o sobrenome nas costas. Ao ver o tio e a avó, Luka e Liam se levantaram em um rompante, correndo o máximo que suas pernas gordinhas e pequenas permitiam.
- Luka! Liam! - repreendeu , levantando-se também e seguindo em direção à sua família.
- Não seja rabugenta, ! - brincou Jonas, abraçando a mulher de lado, enquanto com o outro braço, segurava um animado Liam. apenas revirou os olhos, retribuindo o abraço e cumprimentando Ulla, que tinha Luka no colo. Após conversarem brevemente, seguiu com os recém-chegados para a área que estava anteriormente com os filhos, assistindo a interação dos quatro.
- Onkel Jonas, o senhor acha que papai vai fazer algum gol? - questionou Liam, segurando uma corrente de ouro que adornava o pescoço do tio. riu ao ouvir a pergunta pelo que achava ser a sexta vez.
- Se for igual ao gol que fez contra a França, espero que não faça. - riu ao ver a cara confusa do sobrinho. - Não sei, pirralho. Vamos esperar, ok? - bagunçou os cachos do mais novo, que reclamou.
- Eu não sou pirraio, titio. - falou com a voz embolada. - Sou menino grande! - Jonas apenas riu, assim como , que assistia a cena calada. Luka e Liam estavam ficando cada vez mais independentes, já repreendendo quando os pais se referiam a eles como bebês, o que assustava e , que queriam os filhos como criancinhas dependentes para sempre, mesmo sabendo que isso não era possível.
Enquanto isso, Luka e Ulla estavam gravando algum vídeo que apostava ser para Hermann. Mesmo após o divórcio, o antigo casal permanecia próximo e costumavam trocar vídeos e fotos dos netos sempre que os encontravam.
Após mais algumas conversas paralelas sobre assuntos cotidianos, a ansiedade tomou conta quando os dois times entraram em campo. O ambiente já estava levemente exaltado devido às questões extracampo que envolviam a Hungria proibindo falar sobre a homossexualidade nas escolas do país. Extremamente patético e retrógrado, era o que pensava. Por que as pessoas se incomodavam tanto com a sexualidade alheia? Era o que dizia, irritada. Fazia questão de mostrar para os filhos que todos mereciam respeito, independente de cor, credo e sexualidade, e, para ela, era extremamente ultrajante ver como o continente que se autodenominava de primeiro mundo conseguia andar para trás em algumas questões progressistas.
Em resposta a essa lei, a prefeitura de Munique havia tentando colocar as cores da bandeira LGBTQI+ na iluminação do estádio, mas a UEFA, em sua típica postura isentona, havia negado, o que causou revolta em parte dos torcedores. Em conversa com , horas antes, ele havia lhe dito que Neuer, como capitão da equipe alemã, iria usar uma braçadeira em arco-íris, como forma de representar respeito a esse grupo, já tão estigmatizado pela sociedade. O próprio , na entrevista que havia dado antes do começo da partida, havia usado uma camiseta multicolorida com o termo Love Unites, de modo a demonstrar que a seleção da Alemanha repudiava veementemente os atos retrógrados aprovados pelo seu adversário de campo. E isso era só o contexto externo. Dentro de campo, dependendo do resultado, em consonância com o resultado da partida entre Portugal e França, que acontecia ao mesmo tempo, a Alemanha poderia dar adeus à Eurocopa. Então o nervosismo era um sentimento bastante plausível.
Para coadunar com os ânimos exaltados, começou a chover forte em Munique, deixando a visão que tinham do campo mais precária e aumentando o frio da barriga que sentia. A execução dos hinos dos países, por sua vez, só deixava a situação mais tensa e real, visto que os próximos 90 minutos mais acréscimos seriam responsáveis por determinar o futuro da seleção não só no torneio, mas em toda sua estruturação. começou a rezar baixinho, pedindo para que Deus abençoasse o marido e os amigos de forma a possibilitar o melhor resultado para o grupo. Sabia que esse jogo era de extrema importância e desejava toda a sorte do mundo para .
O jogo começou pegado, fazendo com que contivesse o instinto de roer as unhas. A seleção alemã trocava passes, tentando estudar o adversário e administrar a vantagem que tinha de jogar em casa. No quarto minuto, o húngaro Sallai começou uma jogada na área de ataque, sendo interceptado por , que retomou a posse de bola para os alemães. Depois disso, Kimmich teve uma chance de abrir o placar, mas a bola havia sido defendida pelo goleiro adversário.
A chuva atrapalhava os jogadores e os torcedores, que não conseguiam observar o campo com clareza. Quando se distraiu por alguns segundos, após Luka reclamar de sede, ouviu uma comemoração de gol. A Hungria havia marcado com Szalai.
- Scheiße! - xingaram Jonas e , em um uníssono perfeito. Ulla tentou repreender, mas estava tão chateada quanto o filho e a nora. As crianças, por outro lado, ficaram confusas com a atmosfera que os rodeava. Sabiam que não deviam comemorar devido à expressão nos rostos dos adultos, mas não entendiam que a Alemanha estava na desvantagem.
- Gol? - perguntou Luka com sua voz infantil, sentado no colo da avó.
- Gol do time do mal, tampinha. - respondeu Jonas, ainda alterado pelo gol sofrido, olhando de soslaio para o sobrinho.
- Papai triste? - dessa vez foi Liam quem perguntou, em um bico de choro. , tempos atrás, havia explicado para os meninos que quando o time do mal, que era qualquer adversário que enfrentasse , marcava, ficava triste. Desde então, sempre que estavam em desvantagem, Luka e Liam faziam cara de choro até algum adulto avisá-los de alguma mudança do placar. Na pior das hipóteses, os meninos choravam e só se acalmavam depois de ver que o pai estava bem e não chorando desconsolado.
- Todo mundo triste, bärchen. - respondeu , com cuidado, pegando o menino do colo de Jonas e tentando fazê-lo esquecer do que parecia ser o começo do fim dentro do campo. A tensão já era grande, passou a explodir dos poros dos torcedores alemães ali presentes. Com o atual resultado, a Alemanha estava dando adeus à Eurocopa 2021 ainda na fase de grupos.
O tempo passava e nada mudava. A tetracampeã mundial possuía 70% de posse de bola, mas sem muitas chances de marcar. A melhor chance havia sido aos 22 minutos, quando cabeceou uma bola no travessão, fazendo com que sua família sobressaltasse levemente. As crianças chegaram a gritar gol, mas logo voltando ao bico de chateação ao serem informados pela mãe que o pai não havia conseguido marcar.
Com o tempo passando no relógio, o nervosismo pareceu tomar conta dos alemães. Passes errados eram trocados e, embora liderassem nas finalizações, nenhuma era realmente perigosa ao gol da Hungria. O primeiro tempo foi finalizado e os adultos da família se entreolharam preocupados. Não imaginavam que o jogo seria tão complicado assim. Sabiam que não deveriam subestimar o adversário, mas após o jogo contra Portugal, havia sido revigorada a esperança de dias melhores, pelo menos nos torcedores mais otimistas.
- Eu vou ao banheiro, crianças, querem algo? - perguntou Ulla, passando Luka para o colo de Jonas e se levantando.
- Do banheiro, mama? - questionou Jonas em uma carteira enojada, fazendo rir em resposta. - Não, obrigado.
- Deixe de ser bobo, Jonas ! - ralhou a matriarca, rolando os olhos pela brincadeira do filho.
- Estamos bem, Ulla. Obrigada. - respondeu ao ver que o cunhado iria continuar com a provocação besta. Ao ver a mais velha assentir e ir em direção aos banheiros, olhou para o cunhado, preocupada.
- Você acha que vamos ser eliminados, Jon? - suspirou, procurando na pequena mochila dos meninos o pote de frutas que havia separado para dá-los no momento do intervalo como lanche.
- Sinceramente? - arqueou a sobrancelha, ajudando a amiga a organizar os meninos para a pequena refeição. - Não faço ideia. - crispou os lábios, também preocupado.
- Espero que o Löw faça um milagre ali embaixo, não aguento mais humilhações no futebol. - bufou, frustrada.
- Parece que até hoje estamos pagando os juros daquele 7x1 em cima do Brasil. - coçou a cabeça em uma mania que tinha quando estava nervoso.
- Alexis Müller uma vez me disse que praga de brasileiro pega. Pelo visto, é verdade mesmo. - suspirou, dando os pedaços de maçã para as crianças e torcendo internamente para que desse tudo certo.
Xx
Ulla tinha voltado minutos antes do começo do segundo tempo. Os times, por sua vez, haviam retornado sem nenhuma mudança para a segunda etapa do jogo. Todavia, a partida entre França e Portugal estava causando certa reviravolta na classificação do grupo. A vitória parcial da França por 2x1 eliminava Portugal, o atual campeão da Euro, enquanto Hungria e Alemanha passavam na segunda e terceira classificação, respectivamente.
Com quatorze minutos de jogo, Löw fez a primeira mudança da partida. Gundogan saiu para a entrada de Goretzka. Um minuto depois, a Hungria teve mais uma chance de ampliar o placar, com Fiola, errando na finalização. Após mais alguns erros e chances desperdiçadas, aos 23 minutos do segundo tempo, depois de uma falta proveniente de uma confusão na pequena área, o goleiro húngaro não conseguiu cortar a batida de Havertz e a Alemanha empatou o jogo.
- GOL, PORRA! - xingava e gritava Jonas, tampando os ouvidos de Luka para que ele não ouvisse os palavrões. pulava sozinha em seu próprio assento, estimulando Liam a gritar junto a si. Ulla abraçava lateralmente o filho enquanto batia palmas, animada com o empate. A alegria, contudo, não durou muito. Após a entrada de Müller, dois minutos após o gol alemão, em um contra-ataque, Schafer tirou a bola dos zagueiros e conseguiu finalizar no gol, não dando chances para Neuer defender.
- SÓ PODE SER BRINCADEIRA! - berrou , indignada com a má sorte. As crianças, ainda animadas com o gol que haviam feito, tornaram a comemorar, felizes, fazendo com que alguns outros convidados que ali estavam olhassem feio para eles. , ao notar isso, encarou os três homens de volta, com a maior cara de raiva que conseguiu fazer - a qual, devido às circunstâncias, não foi difícil de construir. Ao perceberem o olhar enfezado da alemã, os homens desviaram o olhar, xingando baixo.
- Eu vou comprar uma cidadania de outro país. Estou falando sério! - disse Jonas, indignado. - A Copa de 2014 foi comprada de Satanás, por isso nunca mais ganhamos nada! - continuava indignado, fazendo com que as mulheres rissem baixinho, embora concordassem, em partes, com o rapaz. - Ele só está cobrando o preço dele!
Após isso, houve outra modificação. Sai Gnabry e entra Werner. Mas nada parecia realmente dar certo para os alemães. Aos 36 minutos, Kroos entrou em um lance de perigo, mas a bola acabou indo para fora. O nervosismo já era visível em , que segurava Liam como forma de apoio, já que o menino já se mostrava levemente sonolento e abraçava a mãe como sustento para o seu corpinho. Mais duas modificações na Alemanha foram solicitadas. Gosens sai para a entrada de Musiala e Ginter por Volland.
Após mais alguns minutos, quando todos já acreditavam na eliminação…
- GOOOOOL! - , Jonas e Ulla gritaram, se levantando, balançando as crianças que acompanhavam os gritos animados dos adultos, jogando os bracinhos para cima e entoando o canto de “gol, gol, gol”.
- SE EU ALGUM DIA FALEI MAL DO GORETZKA, NÃO ERA EU! - gritava Jonas enquanto pulava com Luka pela área vip da Allianz. A animação era contagiante, mas ainda havia alguns minutos restantes e o futebol já havia mostrado que o jogo só termina quando acaba. Então não podiam comemorar com antecedência.
Mais alguns minutos tensos se passaram, com os alemães tentando gastar o tempo restante para que a partida finalizasse logo e confirmasse a sua classificação. Enquanto isso, os húngaros buscavam pelo terceiro gol, correndo contra o relógio que estava contra si.
- ACABOU! - gritou , aliviada ao ouvir o apito do juiz, ao passo que a torcida alemã a acompanhava em gritos animados.
- VAMOS PARA AS OITAVAS, PORRA! - gritava Jonas, com a voz levemente embargada. Fazendo uma careta logo em seguida ao sentir o tapa que levou de sua mãe pelo palavrão usado. Enquanto os presentes se abraçavam e faziam com que Ulla questionasse se todos ali estavam vacinados, olhou para o céu, ainda chuvoso, fazendo um agradecimento silencioso. Apesar do nervoso, estava muito grata pelo resultado. Tudo havia dado certo, afinal de contas.
permanecia adormecido, alheio aos olhares atentos que lhe direcionava. O rapaz estava completamente exausto após a partida contra Portugal.
O casal sabia que estava descumprindo inúmeros protocolos feitos pela delegação alemã e pela própria UEFA para a realização da Eurocopa, mas não conseguiam se importar com aquilo no momento. Ambos estavam vacinados contra o coronavírus e previamente testados, visto que, mesmo imunizados, ainda poderiam transmitir o vírus para outras pessoas. Então utilizaram alguns dos favores que deviam a e infiltraram para dentro do quarto de hotel que ele deveria dividir com Manuel Neuer, que, no momento, estava com Kimmich e Toni Kroos no outro lado do corredor.
Precisava lembrar de agradecer os amigos depois, pensou , enquanto assistia o ressonar baixinho de .
O estresse do alemão era algo que gritava por seus poros. Embora tenham vencido a partida contra os portugueses, pelo placar de 4x2, a oscilação de rendimento que os alemães vinham tendo desde a Copa do Mundo de 2018 era algo que os assombrava. A eliminação vexatória na fase de grupos para uma subestimada Coreia do Sul, era algo que martelava dentro dos remanescentes do ciclo passado, como um estigma a ser superado.
Para piorar, a Alemanha foi novamente humilhada na Nations League, uma recente competição entre nações europeias. Os alemães sofreram seis gols dos espanhóis, sendo a primeira vez, em jogos oficiais, que a seleção alemã sofreu uma goleada com mais de cinco gols de diferença desde 1954. Desastroso, era o pensamento geral. O começo da Eurocopa, por sua vez, também não contribuía para o otimismo com a seleção. O gol contra de foi o responsável por dar a vitória aos franceses no chamado grupo da morte, que além da Alemanha, França e Portugal, contava também com a Hungria, que seria o próximo adversário dos alemães.
A frustração de com a partida só atenuou ao saber que Luka e Liam, filhos gêmeos de e , haviam comemorado o gol do pai como se fosse um grande motivo de orgulho. Os pequenos ainda não sabiam diferenciar os tipos de gols, ficando extremamente felizes ao verem que o pai deles havia sido o responsável por empurrar a bola para a rede, mesmo que esta rede fosse a de Manuel Neuer. Os meninos, no momento, se encontravam em Munique, com os avós, esperando a seleção que iria embarcar lá para enfrentar os húngaros.
Enquanto isso, os pais se encontravam em um hotel renomado de Budapeste, preocupados com o futuro da seleção alemã na segunda competição entre clubes mais importante, perdendo apenas para a Copa do Mundo, que aconteceria no ano seguinte. , após se perder em pensamentos, decidiu tentar dormir também. O próximo dia seria cheio e ela precisava descansar. Todavia, antes que pudesse sequer fechar os olhos, sentiu um braço a puxando para se aconchegar mais em si.
- Por que está tão longe, schatzi? - perguntou com a voz rouca de sono. O rosto do zagueiro estava enterrado nos cabelos da mulher e os olhos permaneciam fechados, sem forças para permanecer abertos.
- Não estou longe não, manhoso. – disse, rindo baixinho, tentando arrumar o corpo em uma conchinha desajeitada, visto a posição transpassada que se encontrava.
- Não discuta comigo, mocinha. - disse, inspirando o aroma de morango que vinha de seus cabelos, deixando em seguida um beijo na nuca exposta da esposa. Em resposta ao contato, o corpo de arrepiou levemente, fazendo com que risse abafado no seu pescoço. Mesmo após anos juntos, ainda era extremamente satisfatório observar os efeitos que causava em , principalmente ao lembrar de toda a dificuldade que passou para ficarem, finalmente, juntos. - Eu sou o mais velho…
- E o mais idiota também. - retrucou, revirando os olhos. - Vai dormir, criatura. - implicou, virando o corpo para encarar o marido. O homem possuía o rosto levemente inchado, em decorrência do sono que ainda o assolava. Os cabelos estavam totalmente despenteados, fazendo com que os acariciasse levemente, tirando os fios que estavam nos olhos do rapaz. sorriu em resposta ao ato carinhoso de , feliz por ela estar ali.
Embora considerasse Neuer um irmão, ele não seria capaz de transmitir para si o apoio que a esposa transmitia apenas por estar presente. A verdade era que não sabia mais se era uma adição necessária para a seleção. O seu maior sonho sempre foi representar o seu país em competições internacionais, e ter chegado até ali era um motivo diário de orgulho. Mas, depois de tantas derrotas, não sabia mais se ali era o seu lugar. O zagueiro apenas queria dar orgulho para a sua família e seus fãs, mas sentia que estava falhando há muito tempo. Tinha sorte por seus filhos ainda serem pequenos e não entenderem muito bem o significado de partidas ruins, mas o resto do mundo não possuía a inocência infantil, e as críticas eram pesadas. Fazia algum tempo que a mídia questionava se já não era tempo para finalizar o ciclo de Joachim Löw dentro da seleção alemã. Um ciclo que se consagrou campeão em 2014, mas que, desde lá, não conseguia engatar uma sequência vitoriosa. E, com isso, vinha a grande questão de quais jogadores acompanhariam o treinador em sua aposentadoria da seleção. A renovação já era uma realidade, mas a pressão de ser um veterano era algo que o perseguia junto com as derrotas vexatórias.
sabia do valor dele como jogador.
Era um dos melhores zagueiros do mundo e, mesmo após algumas polêmicas pelas suas transferências de clube entre o Bayern e o Borússia Dortmund, sabia que os torcedores alemães o tinham em grande estima. Por isso mesmo, pensava se não deveria levar a Eurocopa como última competição a ser disputada. Era mais sensato sair enquanto ainda era amado, do que persistir durante mais tempo e ver a admiração sendo convertida em rancor.
- Não sei se consigo… - suspirou, fechando os olhos ao sentir um beijo em suas têmporas.
- Estava até agora roncando. - provocou a mulher. , por sua vez, estirou a língua infantilmente em resposta. - Claro que consegue. - completou, rindo baixinho do ato infantil do marido.
- Estou falando sério, bobona. - falou, puxando para mais perto de si. deitou o rosto no peito desnudo do marido, aproveitando o calor que emanava dali. - Muita coisa na cabeça. - fez uma careta, que foi aumentada devido ao bocejo que saiu sem querer de sua boca.
- Então, isso é um verdadeiro milagre. - implicou, beliscando de leve a barriga do jogador. Mesmo após anos juntos, as provocações ainda eram rotineiras no relacionamento dos dois. gostava de dizer que cada dia sem zoar era um dia perdido. O jogador também levava essa máxima a sério, irritando a mulher de inúmeros jeitos possíveis, só ficando satisfeito quando ela ameaçava jogar algum objeto nele ou, de fato, jogava. A única diferença da situação atual em relação a quando eram adolescentes, era que agora as provocações acabavam em beijos e carícias, quase nunca resultando em pensamentos homicidas. O que era um grande avanço, na concepção dos amigos do casal, sobretudo de Jonas.
- … - repreendeu, rindo em seguida. A mulher era realmente impossível - Estou tentando manter um diálogo aqui. - fez uma careta, tentando parecer sério.
- Desculpe. - pediu, sem realmente se sentir culpada. - O que te aflige, amor? - acariciou o rosto do mais velho, adotando uma postura preocupada. Por mais que tirar uma com a cara de fosse sua atividade favorita, a preocupação que sentia pelo marido era algo tão grande quanto. O amava irremediavelmente, mesmo que ainda se questionasse como puderam sair de uma relação permanente de guerra, para um casamento saudável e feliz com dois filhos. O mundo não gira, ele capota, com certeza seria a legenda responsável por definir a sua vida.
- Você acha que está na hora de eu me aposentar da seleção? - suspirou, exausto, arrumando a sua posição para que pudesse olhar para o rosto da esposa.
, por sua vez, franziu o cenho, confusa. Não esperava que estivesse com esse tipo de pensamento em mente. Obviamente, tinha conhecimento das críticas que o zagueiro recebia e de como isso o afetava, tanto em campo quanto nas relações familiares, mesmo que ele tentasse ao máximo desvincular o trabalho de casa. Mas nunca pensou que o alemão realmente pensasse em largar o seu maior sonho de forma precoce. já possuía 32 anos e não era nenhum menino, mas tinha plenas condições de disputar a Copa de 2022 e, dependendo das circunstâncias, até a de 2026. Então, se continuasse sendo convocado, não via motivos para o jogador abandonar a camisa 5 que tanto se orgulhava em vestir.
- Por quê, exatamente? - respondeu após alguns segundos de silêncio, encarando os olhos que tanto amava.
- Porque… - hesitou em um suspiro. - Eu não sei se sou mais o suficiente. - terminou, levemente envergonhado. Não possuía larga experiência em expor as suas inseguranças, nem mesmo para . Gostava que a mulher pensasse que ele era uma rocha, sempre capaz de aguentar os percalços da vida sem se abalar. Não tinha vergonha de chorar e se mostrar fraco, não era esse o ponto. Tentava mostrar para os filhos que homens choram sim e que era normal se sentir triste e perdido às vezes. Ele não gostava de se mostrar assim para ela. Mesmo que a mulher já tenha ralhado com o marido inúmeras vezes afirmando como era idiota esse modo de pensar. Eles se amavam e estavam casados. O apoio deveria ser mútuo, não unilateral. E mesmo que ainda se sentisse levemente estranho ao expor seus medos, sabia que não iria julgá-lo, muito pelo contrário.
- Ei… - chamou, levantando o corpo para poder se sentar, encostando na cabeceira da cama de casal. resmungou, contrariado ao ter o corpo da mulher afastado do seu, mas permaneceu na mesma posição, cansado demais para se movimentar. - Amor, olha para mim. - pediu ao ver os olhos do marido fechados. Sem saber como negar o pedido, abriu os olhos, deitando a cabeça no colo da esposa, que estava coberta com um grosso edredom. A Europa estava entrando no verão, mas o ar-condicionado no mínimo dava a impressão, para , que a tinham soltado de lingerie no inverno da Sibéria. Poderia parecer exagero, mas a mulher era extremamente friorenta, mesmo que tivesse nascido e vivido toda a sua vida na Alemanha. Percebendo que tinha a atenção de , voltou a falar.
- , eu sei que a seleção não está no seu melhor momento, mas isso não te diminui como jogador, amor. – falou, carinhosa, acariciando os cabelos macios do marido. - Olhe, o Borussia terminou a Bundesliga em terceiro lugar… E, sim, eu sei que terceiro não é primeiro. - revirou os olhos ao ver que iria retrucar. , por sua vez, fez um bico, contrariado, lembrando que, por um ponto, não haviam pego a vice-liderança do RB Leipzig, na temporada passada. - Mas é o suficiente para se classificar para a Champions League e tentar mais um título. - respirou fundo, continuando. - Na temporada passada, vocês caíram para o City, que chegou na final. - revirou os olhos mais uma vez ao ver a boca do alemão abrir novamente. - E, sim, perderam para o Chelsea, mas não muda o fato de que chegaram na final. - prosseguiu, suspirando de leve. - O ponto que eu quero chegar é… - pigarreou, para deixar a voz mais firme. - O desempenho abaixo do esperado da seleção não é culpa sua, . Vocês são uma equipe e um jogador só não faz milagres. Só observar a posição do Messi na Argentina e no próprio Barcelona. - fez uma pausa antes de continuar. - Então, sim, é frustrante para caralho sair da posição de campeão do mundo para a protagonista de vexames históricos, eu sei disso. - apertou de leve o nariz do rapaz. - Embora não esteja em campo, além de sua esposa, sou torcedora e sinto a dor de não ver a minha seleção brilhando como sei que é capaz de brilhar. Mas não acho que se abandonar a sua posição dentro do time, vai mudar muita coisa, amor. - suspirou, encarando o olhar cansado do marido. - O time precisa de você, . Pegue cada crítica que escuta e transforme em motivos para melhorar, não para desistir. - inclinou o pescoço para depositar um selinho nos lábios de , que tentou aprofundar o beijo. - Quer me beijar, bonitinho? – indagou, ironicamente. - Então se ajeite. Não estou a fim de ter um torcicolo amanhã.
- Ridícula. - implicou, mas fez o que lhe foi pedido, levantando do colo da mulher e encostando as suas costas na cabeceira da cama como ela fazia. - Obrigado. - disse simplesmente, continuando a explicação ao ver o arquear de sobrancelha que recebeu em resposta. - Obrigado por estar aqui.
- Sempre estarei aqui, bärchen. - respondeu, dando um beijo na bochecha de .
- Eu sei. - falou, antes de puxar a alemã para um beijo. Sabia que o melhor jeito de esquecer os problemas era nos lábios da mulher que amava.
Os dias passaram rapidamente e o dia da partida contra a Hungria havia finalmente chegado. havia marcado de se encontrar com Ulla e Jonas para assistirem o jogo na Allianz Arena, que aconteceria dentro de poucas horas. A psicóloga havia decidido levar os filhos consigo após inúmeros pedidos de , que havia usado a carta de pode ser a última chance dos meninos me verem defendendo a camisa da Alemanha. Não que a alemã tivesse levado a sério o discurso dramático de , mas após a última conversa que tiveram acerca de uma aposentadoria da seleção, decidiu ceder e levar Liam e Luka para o jogo. As crianças estavam extremamente animadas, perguntando a todo instante se o pai iria fazer gols ou se a Alemanha iria sair campeã do jogo. Depois de explicar pela quinta vez que o jogo não valia nenhum título, desistiu de tentar explicar e passou a responder “vamos ver, amorzinhos” para cada indagação que os filhos, extremamente ansiosos, dirigiam a si.
A família estava hospedada no apartamento que mantinham desde a época que jogava no Bayern, enquanto Jonas e Ulla estavam em um hotel, mesmo após as insistências de para que ficassem junto a ela e às crianças. Após colocar os meninos na cadeirinha do carro, dirigiu até o estádio, estacionando na área destinada aos familiares dos jogadores. Depois de ajustar a máscara no rosto dos filhos, que já estavam acostumados ao adereço devido a recorrência do uso na escolinha que frequentavam, saíram em direção à área VIP. Por mais que tivesse o Dortmund como o time de sua vida, com toda a atmosfera apaixonante que rondava o clube, que era ilustrada pela sua torcida apaixonada e os jogadores extremamente simpáticos e amáveis, a mulher até que sentia falta dos bávaros. Embora morresse antes de admitir isso em voz alta.
Chegando no lugar marcado, sinalizou para os filhos sentarem, sendo rapidamente atendida. Mesmo sendo demasiadamente agitados, visto que só possuíam três anos, os gêmeos eram crianças muito obedientes e que não faziam muita manha, o que gostava de jogar na cara de que era uma característica herdada dela. O jogador, por sua vez, só revirava os olhos e respondia em um tom debochado ”acredite no que te fizer dormir à noite, querida”.
Depois de se certificar que os meninos estavam sentados em seus lugares, pegou o celular para ligar para Jonas e saber onde diabos eles estavam. Havia percebido a presença de Jessica, esposa de Kroos, bem como de Alexis, esposa de Müller, mas não era muito próxima das mulheres. Sendo sincera, Alexis era uma boa amiga, mas acabaram se afastando após a volta de para o Dortmund e, desde lá, não conversavam mais, mesmo que ainda sentissem um grande carinho uma pela outra. Balançando a cabeça para dispersar a onda de pensamentos aleatórios que lhe assolou, discou o número do melhor amigo rapidamente.
- Fala, ! - Jonas falou, animado, em um cumprimento que costumava usar desde que havia se casado com .
- , onde você está?! - perguntou de volta, em um tom baixo para não alertar os gêmeos, que olhavam animados para todos os lados.
- Estamos chegando, cunha! - respondeu, ainda animado. somente revirou os olhos para o vocativo utilizado, mesmo sabendo que ele não poderia ver. - Parece até que nasceu de sete meses, .
- Você ficou mais ridículo com os anos ou é impressão minha? - retrucou, bufando levemente. Odiava esperar as pessoas, principalmente quando se sentia deslocada nos lugares. Bem, pelo menos os meninos estavam quietos, pensou, olhando para os filhos que conversavam entre si.
- Depois que começou a trocar fluidos corporais com o meu irmão, você ficou muito atrevida, . - debochou, em brincadeira. No fundo, conseguiu ouvir um “Jonas!” em tom de repreensão, que sabia pertencer à sua sogra. Sentindo as suas bochechas esquentarem em vergonha, retrucou.
- Eu só não te xingo de um nome muito feio porque os gêmeos estão me encarando nesse momento. - falou entredentes, ainda envergonhada por Ulla ter ouvido a brincadeira de Jonas. Já estava acostumada com o humor deturpado do melhor amigo, mas era diferente quando a sua sogra estava escutando tudo. - Mas saiba que você é algo bem ridículo.
- Ich liebe dich auch, ! - declarou, rindo, sabendo que tinha concluído seu objetivo em irritar a cunhada - Chego já!
Depois de cerca de trinta minutos, avistou Ulla e Jonas na área vip da Allianz Arena. Ambos vestidos como ela própria, com uma calça jeans e uma camisa da seleção alemã, que estampava o número 5 e o sobrenome nas costas. Ao ver o tio e a avó, Luka e Liam se levantaram em um rompante, correndo o máximo que suas pernas gordinhas e pequenas permitiam.
- Luka! Liam! - repreendeu , levantando-se também e seguindo em direção à sua família.
- Não seja rabugenta, ! - brincou Jonas, abraçando a mulher de lado, enquanto com o outro braço, segurava um animado Liam. apenas revirou os olhos, retribuindo o abraço e cumprimentando Ulla, que tinha Luka no colo. Após conversarem brevemente, seguiu com os recém-chegados para a área que estava anteriormente com os filhos, assistindo a interação dos quatro.
- Onkel Jonas, o senhor acha que papai vai fazer algum gol? - questionou Liam, segurando uma corrente de ouro que adornava o pescoço do tio. riu ao ouvir a pergunta pelo que achava ser a sexta vez.
- Se for igual ao gol que fez contra a França, espero que não faça. - riu ao ver a cara confusa do sobrinho. - Não sei, pirralho. Vamos esperar, ok? - bagunçou os cachos do mais novo, que reclamou.
- Eu não sou pirraio, titio. - falou com a voz embolada. - Sou menino grande! - Jonas apenas riu, assim como , que assistia a cena calada. Luka e Liam estavam ficando cada vez mais independentes, já repreendendo quando os pais se referiam a eles como bebês, o que assustava e , que queriam os filhos como criancinhas dependentes para sempre, mesmo sabendo que isso não era possível.
Enquanto isso, Luka e Ulla estavam gravando algum vídeo que apostava ser para Hermann. Mesmo após o divórcio, o antigo casal permanecia próximo e costumavam trocar vídeos e fotos dos netos sempre que os encontravam.
Após mais algumas conversas paralelas sobre assuntos cotidianos, a ansiedade tomou conta quando os dois times entraram em campo. O ambiente já estava levemente exaltado devido às questões extracampo que envolviam a Hungria proibindo falar sobre a homossexualidade nas escolas do país. Extremamente patético e retrógrado, era o que pensava. Por que as pessoas se incomodavam tanto com a sexualidade alheia? Era o que dizia, irritada. Fazia questão de mostrar para os filhos que todos mereciam respeito, independente de cor, credo e sexualidade, e, para ela, era extremamente ultrajante ver como o continente que se autodenominava de primeiro mundo conseguia andar para trás em algumas questões progressistas.
Em resposta a essa lei, a prefeitura de Munique havia tentando colocar as cores da bandeira LGBTQI+ na iluminação do estádio, mas a UEFA, em sua típica postura isentona, havia negado, o que causou revolta em parte dos torcedores. Em conversa com , horas antes, ele havia lhe dito que Neuer, como capitão da equipe alemã, iria usar uma braçadeira em arco-íris, como forma de representar respeito a esse grupo, já tão estigmatizado pela sociedade. O próprio , na entrevista que havia dado antes do começo da partida, havia usado uma camiseta multicolorida com o termo Love Unites, de modo a demonstrar que a seleção da Alemanha repudiava veementemente os atos retrógrados aprovados pelo seu adversário de campo. E isso era só o contexto externo. Dentro de campo, dependendo do resultado, em consonância com o resultado da partida entre Portugal e França, que acontecia ao mesmo tempo, a Alemanha poderia dar adeus à Eurocopa. Então o nervosismo era um sentimento bastante plausível.
Para coadunar com os ânimos exaltados, começou a chover forte em Munique, deixando a visão que tinham do campo mais precária e aumentando o frio da barriga que sentia. A execução dos hinos dos países, por sua vez, só deixava a situação mais tensa e real, visto que os próximos 90 minutos mais acréscimos seriam responsáveis por determinar o futuro da seleção não só no torneio, mas em toda sua estruturação. começou a rezar baixinho, pedindo para que Deus abençoasse o marido e os amigos de forma a possibilitar o melhor resultado para o grupo. Sabia que esse jogo era de extrema importância e desejava toda a sorte do mundo para .
O jogo começou pegado, fazendo com que contivesse o instinto de roer as unhas. A seleção alemã trocava passes, tentando estudar o adversário e administrar a vantagem que tinha de jogar em casa. No quarto minuto, o húngaro Sallai começou uma jogada na área de ataque, sendo interceptado por , que retomou a posse de bola para os alemães. Depois disso, Kimmich teve uma chance de abrir o placar, mas a bola havia sido defendida pelo goleiro adversário.
A chuva atrapalhava os jogadores e os torcedores, que não conseguiam observar o campo com clareza. Quando se distraiu por alguns segundos, após Luka reclamar de sede, ouviu uma comemoração de gol. A Hungria havia marcado com Szalai.
- Scheiße! - xingaram Jonas e , em um uníssono perfeito. Ulla tentou repreender, mas estava tão chateada quanto o filho e a nora. As crianças, por outro lado, ficaram confusas com a atmosfera que os rodeava. Sabiam que não deviam comemorar devido à expressão nos rostos dos adultos, mas não entendiam que a Alemanha estava na desvantagem.
- Gol? - perguntou Luka com sua voz infantil, sentado no colo da avó.
- Gol do time do mal, tampinha. - respondeu Jonas, ainda alterado pelo gol sofrido, olhando de soslaio para o sobrinho.
- Papai triste? - dessa vez foi Liam quem perguntou, em um bico de choro. , tempos atrás, havia explicado para os meninos que quando o time do mal, que era qualquer adversário que enfrentasse , marcava, ficava triste. Desde então, sempre que estavam em desvantagem, Luka e Liam faziam cara de choro até algum adulto avisá-los de alguma mudança do placar. Na pior das hipóteses, os meninos choravam e só se acalmavam depois de ver que o pai estava bem e não chorando desconsolado.
- Todo mundo triste, bärchen. - respondeu , com cuidado, pegando o menino do colo de Jonas e tentando fazê-lo esquecer do que parecia ser o começo do fim dentro do campo. A tensão já era grande, passou a explodir dos poros dos torcedores alemães ali presentes. Com o atual resultado, a Alemanha estava dando adeus à Eurocopa 2021 ainda na fase de grupos.
O tempo passava e nada mudava. A tetracampeã mundial possuía 70% de posse de bola, mas sem muitas chances de marcar. A melhor chance havia sido aos 22 minutos, quando cabeceou uma bola no travessão, fazendo com que sua família sobressaltasse levemente. As crianças chegaram a gritar gol, mas logo voltando ao bico de chateação ao serem informados pela mãe que o pai não havia conseguido marcar.
Com o tempo passando no relógio, o nervosismo pareceu tomar conta dos alemães. Passes errados eram trocados e, embora liderassem nas finalizações, nenhuma era realmente perigosa ao gol da Hungria. O primeiro tempo foi finalizado e os adultos da família se entreolharam preocupados. Não imaginavam que o jogo seria tão complicado assim. Sabiam que não deveriam subestimar o adversário, mas após o jogo contra Portugal, havia sido revigorada a esperança de dias melhores, pelo menos nos torcedores mais otimistas.
- Eu vou ao banheiro, crianças, querem algo? - perguntou Ulla, passando Luka para o colo de Jonas e se levantando.
- Do banheiro, mama? - questionou Jonas em uma carteira enojada, fazendo rir em resposta. - Não, obrigado.
- Deixe de ser bobo, Jonas ! - ralhou a matriarca, rolando os olhos pela brincadeira do filho.
- Estamos bem, Ulla. Obrigada. - respondeu ao ver que o cunhado iria continuar com a provocação besta. Ao ver a mais velha assentir e ir em direção aos banheiros, olhou para o cunhado, preocupada.
- Você acha que vamos ser eliminados, Jon? - suspirou, procurando na pequena mochila dos meninos o pote de frutas que havia separado para dá-los no momento do intervalo como lanche.
- Sinceramente? - arqueou a sobrancelha, ajudando a amiga a organizar os meninos para a pequena refeição. - Não faço ideia. - crispou os lábios, também preocupado.
- Espero que o Löw faça um milagre ali embaixo, não aguento mais humilhações no futebol. - bufou, frustrada.
- Parece que até hoje estamos pagando os juros daquele 7x1 em cima do Brasil. - coçou a cabeça em uma mania que tinha quando estava nervoso.
- Alexis Müller uma vez me disse que praga de brasileiro pega. Pelo visto, é verdade mesmo. - suspirou, dando os pedaços de maçã para as crianças e torcendo internamente para que desse tudo certo.
Ulla tinha voltado minutos antes do começo do segundo tempo. Os times, por sua vez, haviam retornado sem nenhuma mudança para a segunda etapa do jogo. Todavia, a partida entre França e Portugal estava causando certa reviravolta na classificação do grupo. A vitória parcial da França por 2x1 eliminava Portugal, o atual campeão da Euro, enquanto Hungria e Alemanha passavam na segunda e terceira classificação, respectivamente.
Com quatorze minutos de jogo, Löw fez a primeira mudança da partida. Gundogan saiu para a entrada de Goretzka. Um minuto depois, a Hungria teve mais uma chance de ampliar o placar, com Fiola, errando na finalização. Após mais alguns erros e chances desperdiçadas, aos 23 minutos do segundo tempo, depois de uma falta proveniente de uma confusão na pequena área, o goleiro húngaro não conseguiu cortar a batida de Havertz e a Alemanha empatou o jogo.
- GOL, PORRA! - xingava e gritava Jonas, tampando os ouvidos de Luka para que ele não ouvisse os palavrões. pulava sozinha em seu próprio assento, estimulando Liam a gritar junto a si. Ulla abraçava lateralmente o filho enquanto batia palmas, animada com o empate. A alegria, contudo, não durou muito. Após a entrada de Müller, dois minutos após o gol alemão, em um contra-ataque, Schafer tirou a bola dos zagueiros e conseguiu finalizar no gol, não dando chances para Neuer defender.
- SÓ PODE SER BRINCADEIRA! - berrou , indignada com a má sorte. As crianças, ainda animadas com o gol que haviam feito, tornaram a comemorar, felizes, fazendo com que alguns outros convidados que ali estavam olhassem feio para eles. , ao notar isso, encarou os três homens de volta, com a maior cara de raiva que conseguiu fazer - a qual, devido às circunstâncias, não foi difícil de construir. Ao perceberem o olhar enfezado da alemã, os homens desviaram o olhar, xingando baixo.
- Eu vou comprar uma cidadania de outro país. Estou falando sério! - disse Jonas, indignado. - A Copa de 2014 foi comprada de Satanás, por isso nunca mais ganhamos nada! - continuava indignado, fazendo com que as mulheres rissem baixinho, embora concordassem, em partes, com o rapaz. - Ele só está cobrando o preço dele!
Após isso, houve outra modificação. Sai Gnabry e entra Werner. Mas nada parecia realmente dar certo para os alemães. Aos 36 minutos, Kroos entrou em um lance de perigo, mas a bola acabou indo para fora. O nervosismo já era visível em , que segurava Liam como forma de apoio, já que o menino já se mostrava levemente sonolento e abraçava a mãe como sustento para o seu corpinho. Mais duas modificações na Alemanha foram solicitadas. Gosens sai para a entrada de Musiala e Ginter por Volland.
Após mais alguns minutos, quando todos já acreditavam na eliminação…
- GOOOOOL! - , Jonas e Ulla gritaram, se levantando, balançando as crianças que acompanhavam os gritos animados dos adultos, jogando os bracinhos para cima e entoando o canto de “gol, gol, gol”.
- SE EU ALGUM DIA FALEI MAL DO GORETZKA, NÃO ERA EU! - gritava Jonas enquanto pulava com Luka pela área vip da Allianz. A animação era contagiante, mas ainda havia alguns minutos restantes e o futebol já havia mostrado que o jogo só termina quando acaba. Então não podiam comemorar com antecedência.
Mais alguns minutos tensos se passaram, com os alemães tentando gastar o tempo restante para que a partida finalizasse logo e confirmasse a sua classificação. Enquanto isso, os húngaros buscavam pelo terceiro gol, correndo contra o relógio que estava contra si.
- ACABOU! - gritou , aliviada ao ouvir o apito do juiz, ao passo que a torcida alemã a acompanhava em gritos animados.
- VAMOS PARA AS OITAVAS, PORRA! - gritava Jonas, com a voz levemente embargada. Fazendo uma careta logo em seguida ao sentir o tapa que levou de sua mãe pelo palavrão usado. Enquanto os presentes se abraçavam e faziam com que Ulla questionasse se todos ali estavam vacinados, olhou para o céu, ainda chuvoso, fazendo um agradecimento silencioso. Apesar do nervoso, estava muito grata pelo resultado. Tudo havia dado certo, afinal de contas.
Vierter Teil
ATUALMENTE
A partida acabou e o sentimento de esperança entre os alemães se fez presente. Enquanto caminhavam para o estacionamento da Allianz Arena, e Jonas discutiam entre si sobre as expectativas para o jogo contra a Inglaterra, que aconteceria dentro de seis dias. Enquanto o mais novo gostava de apontar as estatísticas que eram historicamente favoráveis à Alemanha, afirmava que jogo não se decide com probabilidades, mas em campo. A alemã tinha pavor de quem defendia o argumento de camisa mais pesada ou adversário freguês, visto que acreditava que isso era um modo de relaxar perante o adversário, dando brecha para as chamadas zebras dentro do futebol. Fizeram isso em 2018 e a Alemanha, na época, atual campeã do mundo, caiu para a seleção da Coreia do Sul. E a Inglaterra, embora não estivesse unanimemente na prateleira mais alta do futebol, não era um time de várzea e contava com grandes nomes, como Harry Kane.
Após a troca de mais alguns palpites, Jonas e Ulla se despediram de e dos gêmeos, rumando para o hotel em que estavam hospedados, enquanto a pequena família seguia para o seu apartamento. No caminho, músicas infantis tocavam baixinho, de modo a entreter e acalmar as crianças que já se encontravam sonolentas. Já havia passado do horário que os meninos geralmente dormiam e sabia que muito provavelmente eles estariam cansados até para tomar banho. Lembrando de como era complicado dar banho em gêmeos estando sozinha, suspirou, exausta. Antes de irem ao estádio, a alemã havia demorado cerca de duas horas para conseguir arrumar os gêmeos, arrependendo-se amargamente de ter negado a ajuda que a sogra havia oferecido mais de uma vez.
Normalmente, e ela revezavam, cada um com uma criança, uma vez que quatro mãos eram bem mais efetivas que apenas duas. Mas, mesmo assim, não foram poucas as vezes que foram vencidos pelos dois meninos, que costumeiramente jogavam água para todos os lados e não costumavam relaxar facilmente quando estavam na banheira.
Ao estacionar o carro e guiar as duas crianças para o elevador do prédio, sentiu o celular tocando em sua bolsa. Nice to Meet Ya entoava no máximo volume, irritando Liam, que tinha o rosto escondido na cintura da mãe. Quando o elevador apitou a chegada ao décimo segundo andar, a psicóloga achou o celular na bagunça organizada que era a sua bolsa. Enquanto segurava a mão de Liam, que segurava a mão de Luka, como faziam sempre que estavam com só um dos pais, atendeu a ligação, que nada mais era do que uma vídeo chamada de .
- Baby, está tudo preto. Não consigo ver vocês! - reclamou o alemão ao perceber que a ligação não mostrava o rosto da esposa ou dos filhos. Por estar ocupada digitando a senha da fechadura eletrônica do apartamento da família, escondeu o telefone embaixo de um dos braços, ignorando, por um instante, a falta de visão que o marido teria. - ?!
- Calma, homem! - retrucou a alemã, colocando os filhos para dentro e sinalizando para ambos passarem o álcool em gel que deixavam em cima do aparador da sala. Ao confirmar que as crianças tinham feito o que ela havia pedido, repetiu o ato, ignorando mais uma vez o jogador alemão, que não parecia entender o que estava acontecendo.
- Acabamos de chegar em casa. - explicou, puxando as crianças para sentarem junto a si na sala, ouvindo alguns protestos em resposta. Tinha noção de que eles estavam com sono, mas também tinha a certeza de que ambos ficariam chateados caso não falassem com o pai antes de dormir. Era uma tradição que gostavam de cultivar nos meninos, de modo a não sentirem falta de quando ele, em virtude de algum jogo fora de Dortmund, não dormisse em casa.
Ignorando por um momento que o certo era trocar as roupas que estavam usando, bem como tomar um longo banho, decidiu acreditar nos estudos recentes acerca da improbabilidade de contrair o coronavírus por meio de roupas e ficar do mesmo jeito que estavam na rua. Sabia que precisava dormir e gostaria muito de falar com o marido antes de ela própria ir descansar. Acreditava também na eficácia da vacina que havia tomado, agradecendo a Deus diariamente por ter nascido em um país que respeita a ciência e que possui um plano eficiente de vacinação. A Alemanha estava vencendo a pandemia e, aos poucos, a normalidade estava aparecendo. Os jogos com público eram um grande sinalizador dessa realidade.
- Vocês atrasaram mais do que eu, que vim no ônibus do time. - zombou, abrindo um sorriso alegre ao ver o rosto da esposa e dos filhos pela tela do celular. revirou os olhos para a implicação implícita de , que gostava de dizer que ela dirigia tão depressa quanto uma tartaruga em cima de um skate. Não que essa comparação fizesse sentido para ou para qualquer outra pessoa que a ouvisse, mas a repetia como se fosse um grande fato. - Hallo, meus bebês! - cumprimentou os meninos, animado, em um tom que fez o coração de ficar pequenininho. Era apaixonada pela relação de com os gêmeos, achando extremamente bonito o modo como que aquele garoto insuportável havia crescido e se tornado um homem. O homem por quem era apaixonada.
- Bebê não, papa! - reclamou Liam, que estava sentado no colo da mãe para conseguir uma visão melhor do pai. - Menino grande!
- Grande! - Luka reafirmou a tese do irmão, como se estivesse confirmando algo realmente sério.
- Oh, claro! - riu, fazendo uma falsa cara de culpado. - Esqueci que meus meninos já possuem… - hesitou, fingindo pensar. - Vocês têm quantos anos mesmo? - tombou a cabeça para o lado, como se realmente estivesse em dúvida.
- Três, papa! - Luka quem tomou a voz, empurrando levemente o irmão para poder ficar centralizado na câmera do celular. – Assim, ó. - sinalizou, fazendo o número três com os dedos gordinhos.
- Isso tudo? - abriu a boca em uma feição de choque. - Daqui a pouco estão dirigindo!
- Papa vai dar carro? - indagou Liam, mexendo nos longos cabelos da mãe, que havia arrumado a posição que pudesse ver os três com clareza. A alemã permanecia calada, apenas admirando o diálogo do marido com os filhos. - Igual hotweels?
- Hotweels é pequeno, Liam. - respondeu Luka, usando um tom de superioridade que não condizia com a pouca idade dele. - Papai vai dar uma lamboguini! - retrucou, lembrando do carro que seu tio Benjamin havia comentado como sendo o melhor de todos. Embora fosse muito novo, o menino já apresentava certo fascínio por carros, principalmente os de corrida, fazendo com que Anthony e Benjamin, irmãos mais velhos de , constantemente afirmassem que ele iria representar a Alemanha na Fórmula 1, reafirmando a glória que o país já possuí no esporte. resmungava sempre que ouvia essa conversa, afirmando que era tradição dos se arriscarem dentro do futebol. Enquanto isso, , a única adulta sensata, mandava eles calarem a boca e esperarem os meninos, ao menos, conseguirem pronunciar Schweinsteiger antes de começarem a discutir a carreira deles.
- Lamborghini? - riu, levemente surpreso com a resposta da criança. - Os pirralhos estão achando que são filhos do Cristiano Ronaldo. - zombou para , que riu, revirando os olhos pelo comentário.
- Oh, pobre . - debochou a psicóloga. - Daqui a pouco está pedindo auxílio emergencial. - zombou, tombando a cabeça para o lado em uma falsa feição de pena.
- Ridícula. - estirou a língua para a esposa, que repetiu o gesto infantil do marido. As crianças, as verdadeiras, no caso, apenas observavam os pais, com menos sono do que estavam ao chegar em casa. Situação que concebia já com preguiça, visto que antecipava o drama que seria para banhar os gêmeos. - Você entendeu.
- Que seja! - revirou os olhos, abrindo um sorriso leve em seguida. - Como está tudo, amor? – perguntou, carinhosa. - Estamos nas oitavas!
- Estamos nas oitavas! - deu um soquinho no ar, animado. - E vamos enfrentar um freguês!
- Você também está com essa história de freguês, ? - bufou, irritada. - Mein Gott, homem!
- Ah, Liebe… - mexeu nos cabelos, levemente encabulado pela represália que havia recebido. - Não dá para ignorar os fatos…
- Vocês começam com isso e na terça-feira eu tenho que aguentar aquele bando de inglês insuportável cantando Football's coming home! - falou, em uma referência ao lema da seleção da Inglaterra eternizado na canção “Three Lions”, que era entoada pelos seus torcedores sempre que o país conseguia resultados satisfatórios em competições mundiais. Havia sido um inferno aguentar isso em 2018 e seria tão desagradável quanto aguentar a mesma situação em 2021, pensava, já irritada.
- Ok, ok, parei. - levantou as mãos em sinal de rendição, logo encarando os filhos, que permaneciam calados. - E vocês dois, meninos grandes? - frisou o vocativo, chamando a atenção dos filhos que já estavam em um mundinho compartilhado apenas entre os dois. - O que acharam do jogo?
- Mama e Onkel Jonas pularam muito! - falou Liam, no meio de um bocejo.
- E falaram palavras feias também, papa! - entregou Luka, em um tom meio sussurrado para que a mãe não escutasse. , por sua vez, corou de leve, não imaginando que os filhos tinham entendido os xingamentos que gritou junto ao melhor amigo enquanto assistiam ao jogo.
- Foi mesmo? - questionou em uma risada, repetindo o bocejo do filho. - Vocês reclamaram com eles?
- Não deu tempo, papa. - foi Liam quem respondeu. - Jogo animado! - balançou a cabeça positivamente inúmeras vezes como se fosse para afirmar o seu ponto.
- Animado até demais… - coçou a nuca, rindo baixinho. - Vocês já tomaram banho? - perguntou, mesmo sabendo que a resposta era óbvia. e as crianças permaneciam com as camisas da seleção alemã e com uma cara de cansaço que não condizia com um banho quente e relaxante.
- Banho não, papai! - Luka cruzou os bracinhos, em uma feição de irritação. - Banho é ruim!
- Ruim ou bom, você vai tomar daqui a pouco. - tomou a frente, apertando de leve o nariz do filho, que fez uma careta em resposta. - Ou você acha que meninos grandes ficam sujos?
- Sua mãe tem razão, meninos. - concordou o jogador. - Todo menino grande toma banho e não reclama.
- Então eu não quero mais ser menino grande. - resmungou Liam com o irmão, que concordou efusivamente. Os pais apenas riram, já acostumados com a aversão que as crianças tinham para com o banho.
- Já vi que terei trabalho… - suspirou a alemã, cansada.
- Queria estar aí para te ajudar, schatzi. - desculpou-se, culpado. Uma das coisas que o jogador alemão mais detestava quando passava a noite fora era a sensação de que estava sobrecarregando . Quando decidiram ter filhos e planejaram a gravidez da alemã, quatro anos atrás, prometeram estar sempre presentes um para o outro, e o alemão odiava mais do que tudo descumprir essa promessa, mesmo que não tivesse culpa. - Deveria ter trazido Nikolina com você. - falou, fazendo referência à babá dos gêmeos, que os auxiliava sempre que estavam atolados com o trabalho.
- Claro que não, . - abanou o ar, com displicência. - Eu consegui mais cedo, vou conseguir de novo. - respondeu com a feição neutra, tentando não transpassar o estresse que havia sido arrumar os meninos para irem ao estádio. - Você sabe como eu sou incrível. - gabou-se, jogando o cabelo para o lado.
- E extremamente modesta também. - riu, balançando a cabeça em negação. - Certeza que está tudo certo? - inquiriu, preocupado.
- Está sim. – confirmou. - Não se preocupe. - reafirmou, já se sentindo momentaneamente triste por saber que a despedida se aproximava. - Então, vou lá banhar os meninos, sim?! - falou baixinho, sentindo-se patética por já sentir saudades antecipadas do marido.
- Certo…. - pigarreou para deixar a voz mais firme. - Eu amo você, sim?! - declarou o alemão em um sorriso carinhoso. - Amo muito os três. - continuou, olhando para os filhos que o encaravam, quietos.
- A gente te ama muito também, meu amor. - devolveu, ouvindo os filhos falarem “Ich Liebe Dich, papa” para o jogador, que abriu um sorriso bobo em resposta. - Boa noite.
- Boa noite, linda. - desejou de volta. - Durma bem e sonhe comigo.
- Claro, Claro. - zombou, rolando os olhos, mas sorrindo antes de desligar a chamada com o marido. Depois de ver a tela se apagar, ainda passou alguns segundos a encarando, sendo despertada por um bocejo sonolento de Luka. A sua função de mãe a chamava.
xX
O tempo se passou rapidamente e, quando percebeu, já era o fatídico jogo contra a Inglaterra. A partida ocorreria no estádio de Wembley, em Londres, e, por isso, a alemã achou melhor deixar os filhos em Dortmund com seus pais. Uma viagem internacional acabaria por cansar muito os filhos, mesmo que após uma curta análise, fosse notável que a distância entre Dortmund e Londres se assemelha à distância entre a primeira e Munique.
Por sua vez, Jonas e Ulla também não conseguiram largar os seus compromissos para acompanharem a nas terras inglesas, o que a deixou totalmente desgostosa. odiava veementemente ir para estádios sozinha, principalmente pelo fato de não ter ninguém para comentar os absurdos ocorridos no jogo. A psicóloga havia apelado até para Anthony e Benjamin, mas ambos também tinham afirmado não poderem sair de Frankfurt para assistir à partida. A alemã só não havia desistido de acompanhar o marido porque sabia que era importante para ele a presença dela, caso contrário, teria ficado no conforto de seu lar, a quilômetros de distância de onde se encontrava agora, na região VIP do estádio londrino.
Com sua costumeira camisa da seleção, que estampava o número cinco e o sobrenome na região das costas, a mulher mexia no celular, distraída. Rolava a sua timeline do Twitter, sem realmente prestar atenção, dando algumas curtidas nos tweets que seus olhos desatentos reconheciam ser de alguém conhecido. Por conta de seu estado distraído, não percebeu a presença de Alexis Müller ao seu lado, dando um pulinho assustado quando escutou a voz da brasileira próxima a si.
- Nossa, , eu sou tão feia assim?! - perguntou a morena, dando um sorriso zombeteiro quando a alemã lhe encarou com os olhos arregalados, ainda assustada com a presença inesperada da mulher. - Eu nem tenho a cara do seu marido! - implicou, fazendo com que rolasse os olhos e risse em seguida. Alexis amava implicar com , afirmando que tinha muito potencial para ter se casado com o mais bobão dos jogadores alemães. Não que os xingamentos fossem reais, visto que Alexis e se adoravam, mas gostavam de alimentar uma relação implicante.
- Você e as suas entradas dramáticas. – falou, rindo, após cumprimentar a velha amiga. - Está sozinha também? - questionou ao não ver ninguém rondando a brasileira.
- Infelizmente. – bufou, irritada. - Como eu vou xingar meu marido no meio desse mar de desconhecidos? - revirou os olhos dramaticamente, fazendo a alemã rir. Fazia muito tempo que não conversava com Lexi, já que a transferência de para o Dortmund acabou afastando o casal dos amigos que tinham ficado em Munique. Mas sempre que se encontravam, era como se nada houvesse mudado. Eram como uma grande e confusa família.
- Vou contar para o Thomas que você não confia no potencial dele. - zombou , vendo Lexi estirar o dedo em sua direção. - Quanta agressividade, Lexi! - riu mais ainda, vendo a brasileira revirar os olhos.
- Você sabe que não é isso. - estirou a língua infantilmente. - Mas… - hesitou, pigarreando para deixar a voz mais firme. - Você também está com uma sensação de que tudo vai dar errado? - perguntou, exteriorizando a preocupação que tinha desde que os alemães se classificaram para as oitavas de final.
- Eu tenho essa sensação desde 2018. - respondeu, rindo fraco. - E o fato de estar na casa do adversário, com o príncipe William e o Ed Sheeran... - enfatizou o nome do cantor que, em sua visão, era bem mais importante do que a família real. - Assistindo, não deixa as coisas mais fáceis.
- Por que não o Mick Jagger, Deus?!- questionou retoricamente, lembrando da fama de pé frio que o vocalista do Rolling Stones carregava consigo. - Ainda não acredito que o Ed Sheeran também está aqui...
- SIM! – concordou, animada. - E eu ouvi um casal falando aqui do lado que o Jason Mraz também está no estádio.
- O Jason? - gargalhou a brasileira, lembrando da gafe que tinha visto no Twitter, minutos atrás, de um dos narradores de um canal brasileiro, confundindo o Ed Sheeran com o cantor de I Won’t Give Up. - Que bom saber! - concluiu, franzindo os lábios para evitar que outra gargalhada escapasse e aumentasse o vinco de confusão que estampava na testa da alemã.
- Enfim… - abanou o ar, ignorando o motivo de riso da Müller. Alexis tinha um gosto peculiar e geralmente ria de coisas sem sentido, bem como seu marido. - E como está a Eileen? - perguntou da filha do casal Müller, que estava prestes a completar um ano.
- Enorme! - riu, lembrando com carinho da filha, que havia deixado com seus sogros em Munique. - Agora que aprendeu a andar, sinto que vai me fazer ter um troço!
- Vai se acostumando. - balançou a cabeça positivamente. - Morro de vontade de comprar uma daquelas coleiras para crianças e prender nos gêmeos sempre que saímos.
- É… - suspirou, contemplativa. - E agora que vamos ter mais um… - insinuou, olhando para a barriga ainda lisa, coberta com uma camisa idêntica à de , só que com o número 25 e o sobrenome Müller. demorou alguns segundos para assimilar o que a amiga havia dito. Até pensou ter ouvido errado, mas ao olhar para o rosto da brasileira, que estampava um sorriso besta, percebeu que era verdade.
- Você está grávida?! - exclamou em um gritinho esganiçado, vendo a outra responder um shiiiiiu, agoniada com o tom elevado da alemã. - Desculpe. - pediu, mas ao ver que ninguém prestava atenção nelas, continuou. - O Thomas já sabe?
- Ainda não contei. - negou em uma careta. - Deixei para falar depois da partida. - começou a explicação. - Se eles passarem, isso vai aumentar a comemoração…
- E se eles forem eliminados, isso animará ele. - concluiu , vendo a amiga assentir em concordância. - Vamos torcer pela primeira opção.
- Vamos sim. – suspirou. - Seja o que Deus quiser.
xX
Depois de conversarem amenidades acerca das rotinas em Munique e em Dortmund, e Alexis se calaram ao ver as duas equipes entrarem em campo. Os ingleses, em resposta à entrada dos alemães, vaiaram sem culpa, o que fez ter vontade de falar a boca de cada um pessoalmente.
- Tão se achando demais esses inglês… - falou Lexi, sentindo o estádio tremer ao som de God Save The Queen. - Eu sinceramente espero que os meninos não passem vergonha.
- Idem! - assentiu com veemência. - O pior será aguentar os olhares de zombaria para as nossas camisas se o resultado não for satisfatório…
- Ah, mas só quero ver um inglês safado querer tirar onda comigo! - olhou para a amiga, cruzando os braços. - Os caras não ganham nada desde… - hesitou, dando de ombros, em seguida. - Sei lá… 1966? - chutou, sem certeza do ano. - E querem zombar da campeã de 2014?!
- Você está mais defensora da seleção alemã do que eu, que nasci no país. - riu da postura da brasileira.
- Minha amiga... - suspirou, olhando de soslaio para a , visto que a partida já havia iniciado. - Depois de passar por duas humilhações históricas por causa do seu país... - fez referência ao fatídico 7x1 sofrido pela seleção brasileira e pelo 8x2 que o Barcelona tomou do Bayern. - Aprendi a respeitar vocês na marra. - concluiu, vendo a outra rir em concordância.
O começo da partida já começou nervoso, com Müller fazendo falta no Maguire e colocando a bola na área alemã.
- Pelo amor de Deus, Thomas! - brigou Alexis, devido ao erro do marido, voltando a prestar atenção no jogo.
Por sorte, Shaw cobrou a falta e afastou a bola de cabeça. Logo em seguida, a chance foi dos alemães. Goretzka tentou a sorte em um chute fora da área e Pickford, goleiro da seleção inglesa, agarrou a bola sem muita dificuldade. A Alemanha passou a trocar passes, característica da seleção, irritando a torcida adversária, que respondeu com vaias.
- VAI VAIAR A SUA MÃE, SEUS DESGRAÇADOS. - xingou Alexis em inglês, encarando feio um casal que estava ao lado dela e de , que revirou os olhos em resposta. , por sua vez, somente ria, repreendendo a amiga levemente por sua exaltação, visto que a brasileira estava grávida e não deveria se estressar.
Pouco tempo depois, falta a favor da Alemanha. Goretzka foi puxado por Rice e o jogador inglês foi punido com um cartão amarelo. Depois da cobrança de Havertz, a bola acertou a barreira e a zaga afastou do gol de Pickford. Os minutos iam passando e ficava cada vez mais nervosa com o trabalho de bola dos alemães, com sua troca de passes monótona ainda no campo de defesa.
- Essa calma deles está me irritando. - comentou a alemã com a amiga, que assentiu. - SE MOVIMENTEM, INFERNO! - gritou a alemã, já estressada.
O movimento aconteceu, só que para os ingleses, com Sterling chutando forte na intermediária e fazendo com que Neuer se esticasse todo para espalmar a bola para linha de fundo.
- Eu não vou aguentar a zoação de perder para a seleção do Southgate. - choramingou . - É humilhação demais para um país só. - completou. Alexis assentiu, rindo, mas também preocupada.
Trippier cobrou o escanteio e Maguire cabeceou sem força, o que fez Neuer segurar firme a bola em suas mãos. Tempos depois, Müller tentou cruzar para Werner, mas Walker estava atento e interceptou a jogada do alemão. O relógio mostrava o passar do primeiro tempo e o jogo permanecia igual, tanto em chances quanto em posse de bola. A torcida inglesa tentava incentivar o time cantando, enquanto aos alemães restava torcer e pedir aos céus para que tudo desse certo. A melhor chance veio aos 32 minutos, em uma jogada de Kimmich para Gosens, que não alcançou a bola e a deixou parar nas mãos do goleiro. Logo em seguida, Havertz recuperou a bola para a Alemanha e lançou para Werner finalizar, o que resultou em uma defesa de Pickford. Já no final da primeira etapa, a chance foi dos ingleses. Sterling rolou dentro da área para Kane, que conseguiu tirar Neuer de cena, mas chegou na hora certa e impediu o gol do centroavante inglês.
- Juro que vou passar um mês sem falar mal do seu marido só por causa desse lance. - falou Lexi, observando o bater de palmas animado de , que estava feliz com a interceptação do marido.
- Ele vai ficar encantado. - riu, dando graças a Deus por ver o juiz apitar o final do primeiro tempo. Já sentia o estômago embrulhar em nervosismo por saber que o segundo tempo seria extremamente acirrado.
As mulheres decidiram não se levantar, esperando sentadas o intervalo entre os dois períodos de jogo.
- Você ainda tem contato com a Elena? - perguntou , lembrando da ex-namorada de James Rodriguez, a quem nutria grande carinho, embora não fossem próximas como ela era de Alexis. O jogador colombiano se transferiu para Munique na época que havia engravidado dos gêmeos, então quando todos estavam nas costumeiras festas que os Müller costumavam sediar para comemorar os resultados do time, o casal curtia apenas em família, preservando a gravidez da alemã. Apesar disso, tinha muito estima pelo casal, ficando verdadeiramente triste quando soube do término e extremamente confusa ao saber que o jogador colombiano iria se casar com uma modelo qualquer.
- Sim, somos bem amigas. - concordou a outra. - Agora que as crianças estão mais crescidas e aproveitando enquanto não estou com uma barriga imensa, deveríamos marcar de sair juntas. - convidou Lexi, vendo assentir, animada. - Só precisamos decidir um lugar, já que cada uma está em um canto diferente. - riu.
- Madrid, com certeza. - enfatizou , querendo se afastar do frio alemão. - Faz séculos que não vou pra lá.
- Eu fui há pouco tempo e a cidade é realmente incrível. - assentiu a brasileira, fazendo uma careta em seguida. - Mesmo que o time principal deles seja a personificação do mal e da destruição.
- Ainda odiando o Real Madrid, Lexi? - zombou a alemã, recebendo um revirar de olhos em resposta.
- Claro, meu caráter está em dia. - piscou, vendo a outra balançar a cabeça em negação. A brasileira, como boa torcedora do Barcelona, odiava o Real Madrid com todas as forças, ameaçando pedir o divórcio sempre que Thomas insinuava que estava prestes a assinar um contrato com eles.
Após alguns minutos, os times voltaram para campo e o segundo tempo começou. Dois minutos após o início da segunda etapa, Havertz chutou forte de canhota, fazendo o goleiro Pickford espalmar a bola para linha de fundo. Cobrança de escanteio marcada por Kimmich e rapidamente Trippier tirou o perigo da área inglesa. Nos primeiros momentos, a Alemanha já se mostrava mais ofensiva do que se mostrou na etapa passada.
- Vem aí, amiga. - Alexis bateu palminhas animadas, vendo repetir o seu gesto.
Depois disso, mais algumas tentativas de finalização no gol foram feitas. Aos oito minutos, Kimmich cruzou na direita, vendo Gosens cabecear para o alto e Pickford dar um soco na bola. No minuto seguinte, chocou com Kane e o capitão inglês ficou caído, solicitando atendimento médico.
- Deus me perdoe, mas bem que o poderia ter tirado o Kane do jogo, né?! - falou , em um tom levemente culpado.
- Não acho que iria mudar muita coisa, . - rebateu a brasileira. - O Kane está numa seca de gols nessa Eurocopa, parece até o Suarez em jogo da Champions League fora do Camp Nou.
- Não diz isso, Lexi. - olhou para a amiga, alarmada. Vendo a careta de confusão da morena, continuou. - Você acabou de zicar o time e o Kane vai fazer pelo menos um gol. Já ‘tô vendo tudo! - colocou as mãos na cabeça em sinal de preocupação.
- Relaxa, Miazinha. - estalou o céu da boca com a língua. - Não seja pessimista.
- Não foi você quem começou com o lance de parece que tudo vai dar errado hoje?! - retrucou.
- Foi. - assentiu com a cabeça, vendo de soslaio que Kane voltava para o campo após o atendimento. - E ainda acho que dará, mas não pelo pés do Kane.
- Extremamente motivador. - zombou a alemã, rindo baixinho quando a outra deu de ombros.
O jogo pareceu ficar mais tenso para ambos os lados. Finalizações eram perdidas e passes eram interceptados pelos dois times, fazendo a temperatura ficar ainda mais quente. Para ver se conseguia mais efetividade da equipe, Löw trocou Werner por Gnabry, e Southgate mudou Saka por Grealish.
Sentindo o novo ritmo de jogo, faltas duras foram distribuídas em campo. Grealish derrubou Havertz e Gosens levou um cartão amarelo após entrar em choque com Trippier, que também precisou de atendimento médico. Com o camisa 12 já recuperado, a Inglaterra atacou o time adversário através de uma boa entrada na área. Shaw cruzou rasteiro e acionou Sterling, que marcou o primeiro gol para os ingleses.
- Fick dich! -xingou , levantando, irritada, ao ver a marcação do adversário.
- VAI TOMAR NO CU, PORRA! - Alexis bradava a plenos pulmões, em português.
Após o gol dos ingleses, o nervosismo que já era grande passou a extravasar pelos poros da torcida alemã. Já passava da metade do segundo tempo e o time precisou se abrir completamente para tentar ao menos um empate e, assim, levar a partida para a prorrogação.
A exaltação das mulheres foi tanta que não chegaram a perceber a cobrança de falta em cima de Kimmich, na entrada da área. Müller foi o escolhido para cobrar e acabou jogando a bola na barreira.
- Thommy do céu, faz alguma coisa! - choramingava Lexi. já sentia os olhos embargando e o corpo se abastecendo do chamado DNA do fracasso. A mulher não sabia lidar com derrotas e sempre ficava extremamente mal quando algum dos times que torcia perdia ou era eliminado.
A torcida inglesa fazia festa enquanto os alemães se entreolhavam, nervosos, mas ainda confiantes com a vitória. A confiança aumentou quando viram Thomas Müller sozinho pelo meio, ficando cara a cara com o goleiro, finalizando à esquerda do gol.
- Não me diz que ele errou. - pediu , fechando os olhos com força para evitar xingar o amigo de todos os nomes que conhecia, na frente de sua esposa e do seu filho que ainda nem havia nascido. - Eu realmente não posso acreditar nisso.
- Meu filho ainda nem nasceu e já está vendo o pai passando vergonha. - choramingou Lexi, alisando a barriga lisa para se acalmar. - Hoje não vai ser uma noite fácil…
- Nem me diga. - suspirou a alemã, já se preparando psicologicamente para acalentar o marido após mais uma eliminação precoce.
Mas, não há nada ruim que não possa piorar. Com isso, aos 41 minutos da segunda etapa, Grealish desceu pela esquerda, mandou para o meio da área e Harry Kane cabeceou para dentro da área. Segundo gol da Inglaterra.
- Eu disse! - balançou a cabeça, indignada. - Zicamos a seleção! - puxou os cabelos de leve, como forma de atenuar o estresse. - Agora já era!
- Não acredito que vamos ser eliminados com um gol do Kane! – bufou, irritada. - Eu não vou aguentar passar a noite nesse país, . - reclamou a brasileira. - Se eu ouvir Three Lions alguma vez hoje, serei capaz de cometer um crime de ódio!
- Eu falei a mesma coisa para o ontem, mas ele não levou a sério! - bufou, cruzando os braços. Não sabia se estava mais irritada pela derrota ou chateada pela iminente eliminação. - Eu só queria saber aparatar para poder dormir na minha caminha, longe de tudo isso aqui. - apontou para a torcida, que apresentava um grande contraste. Enquanto os ingleses riam e cantavam aos berros, os alemães tinham feições tristes e até chorosas, arrasados com o resultado negativo.
- Olha pelo lado bom... - Lexi começou, tentando soar positiva. - Pelo menos Portugal e França também caíram.
- E como isso deixa as coisas melhores, Lexi?
- Pior que perder é perder sabendo que os franceses ou o Cristiano Ronaldo ainda podem ganhar. - disse, simplesmente. - Eu não aguentaria tamanho sofrimento.
somente riu, mas sem realmente se sentir alegre. Sabia que o marido iria sair arrasado desse jogo e que ela precisava ser forte para acalentá-lo em mais uma derrota. Era hora de mostrar para , novamente, qual era o significado de família.
A partida acabou e o sentimento de esperança entre os alemães se fez presente. Enquanto caminhavam para o estacionamento da Allianz Arena, e Jonas discutiam entre si sobre as expectativas para o jogo contra a Inglaterra, que aconteceria dentro de seis dias. Enquanto o mais novo gostava de apontar as estatísticas que eram historicamente favoráveis à Alemanha, afirmava que jogo não se decide com probabilidades, mas em campo. A alemã tinha pavor de quem defendia o argumento de camisa mais pesada ou adversário freguês, visto que acreditava que isso era um modo de relaxar perante o adversário, dando brecha para as chamadas zebras dentro do futebol. Fizeram isso em 2018 e a Alemanha, na época, atual campeã do mundo, caiu para a seleção da Coreia do Sul. E a Inglaterra, embora não estivesse unanimemente na prateleira mais alta do futebol, não era um time de várzea e contava com grandes nomes, como Harry Kane.
Após a troca de mais alguns palpites, Jonas e Ulla se despediram de e dos gêmeos, rumando para o hotel em que estavam hospedados, enquanto a pequena família seguia para o seu apartamento. No caminho, músicas infantis tocavam baixinho, de modo a entreter e acalmar as crianças que já se encontravam sonolentas. Já havia passado do horário que os meninos geralmente dormiam e sabia que muito provavelmente eles estariam cansados até para tomar banho. Lembrando de como era complicado dar banho em gêmeos estando sozinha, suspirou, exausta. Antes de irem ao estádio, a alemã havia demorado cerca de duas horas para conseguir arrumar os gêmeos, arrependendo-se amargamente de ter negado a ajuda que a sogra havia oferecido mais de uma vez.
Normalmente, e ela revezavam, cada um com uma criança, uma vez que quatro mãos eram bem mais efetivas que apenas duas. Mas, mesmo assim, não foram poucas as vezes que foram vencidos pelos dois meninos, que costumeiramente jogavam água para todos os lados e não costumavam relaxar facilmente quando estavam na banheira.
Ao estacionar o carro e guiar as duas crianças para o elevador do prédio, sentiu o celular tocando em sua bolsa. Nice to Meet Ya entoava no máximo volume, irritando Liam, que tinha o rosto escondido na cintura da mãe. Quando o elevador apitou a chegada ao décimo segundo andar, a psicóloga achou o celular na bagunça organizada que era a sua bolsa. Enquanto segurava a mão de Liam, que segurava a mão de Luka, como faziam sempre que estavam com só um dos pais, atendeu a ligação, que nada mais era do que uma vídeo chamada de .
- Baby, está tudo preto. Não consigo ver vocês! - reclamou o alemão ao perceber que a ligação não mostrava o rosto da esposa ou dos filhos. Por estar ocupada digitando a senha da fechadura eletrônica do apartamento da família, escondeu o telefone embaixo de um dos braços, ignorando, por um instante, a falta de visão que o marido teria. - ?!
- Calma, homem! - retrucou a alemã, colocando os filhos para dentro e sinalizando para ambos passarem o álcool em gel que deixavam em cima do aparador da sala. Ao confirmar que as crianças tinham feito o que ela havia pedido, repetiu o ato, ignorando mais uma vez o jogador alemão, que não parecia entender o que estava acontecendo.
- Acabamos de chegar em casa. - explicou, puxando as crianças para sentarem junto a si na sala, ouvindo alguns protestos em resposta. Tinha noção de que eles estavam com sono, mas também tinha a certeza de que ambos ficariam chateados caso não falassem com o pai antes de dormir. Era uma tradição que gostavam de cultivar nos meninos, de modo a não sentirem falta de quando ele, em virtude de algum jogo fora de Dortmund, não dormisse em casa.
Ignorando por um momento que o certo era trocar as roupas que estavam usando, bem como tomar um longo banho, decidiu acreditar nos estudos recentes acerca da improbabilidade de contrair o coronavírus por meio de roupas e ficar do mesmo jeito que estavam na rua. Sabia que precisava dormir e gostaria muito de falar com o marido antes de ela própria ir descansar. Acreditava também na eficácia da vacina que havia tomado, agradecendo a Deus diariamente por ter nascido em um país que respeita a ciência e que possui um plano eficiente de vacinação. A Alemanha estava vencendo a pandemia e, aos poucos, a normalidade estava aparecendo. Os jogos com público eram um grande sinalizador dessa realidade.
- Vocês atrasaram mais do que eu, que vim no ônibus do time. - zombou, abrindo um sorriso alegre ao ver o rosto da esposa e dos filhos pela tela do celular. revirou os olhos para a implicação implícita de , que gostava de dizer que ela dirigia tão depressa quanto uma tartaruga em cima de um skate. Não que essa comparação fizesse sentido para ou para qualquer outra pessoa que a ouvisse, mas a repetia como se fosse um grande fato. - Hallo, meus bebês! - cumprimentou os meninos, animado, em um tom que fez o coração de ficar pequenininho. Era apaixonada pela relação de com os gêmeos, achando extremamente bonito o modo como que aquele garoto insuportável havia crescido e se tornado um homem. O homem por quem era apaixonada.
- Bebê não, papa! - reclamou Liam, que estava sentado no colo da mãe para conseguir uma visão melhor do pai. - Menino grande!
- Grande! - Luka reafirmou a tese do irmão, como se estivesse confirmando algo realmente sério.
- Oh, claro! - riu, fazendo uma falsa cara de culpado. - Esqueci que meus meninos já possuem… - hesitou, fingindo pensar. - Vocês têm quantos anos mesmo? - tombou a cabeça para o lado, como se realmente estivesse em dúvida.
- Três, papa! - Luka quem tomou a voz, empurrando levemente o irmão para poder ficar centralizado na câmera do celular. – Assim, ó. - sinalizou, fazendo o número três com os dedos gordinhos.
- Isso tudo? - abriu a boca em uma feição de choque. - Daqui a pouco estão dirigindo!
- Papa vai dar carro? - indagou Liam, mexendo nos longos cabelos da mãe, que havia arrumado a posição que pudesse ver os três com clareza. A alemã permanecia calada, apenas admirando o diálogo do marido com os filhos. - Igual hotweels?
- Hotweels é pequeno, Liam. - respondeu Luka, usando um tom de superioridade que não condizia com a pouca idade dele. - Papai vai dar uma lamboguini! - retrucou, lembrando do carro que seu tio Benjamin havia comentado como sendo o melhor de todos. Embora fosse muito novo, o menino já apresentava certo fascínio por carros, principalmente os de corrida, fazendo com que Anthony e Benjamin, irmãos mais velhos de , constantemente afirmassem que ele iria representar a Alemanha na Fórmula 1, reafirmando a glória que o país já possuí no esporte. resmungava sempre que ouvia essa conversa, afirmando que era tradição dos se arriscarem dentro do futebol. Enquanto isso, , a única adulta sensata, mandava eles calarem a boca e esperarem os meninos, ao menos, conseguirem pronunciar Schweinsteiger antes de começarem a discutir a carreira deles.
- Lamborghini? - riu, levemente surpreso com a resposta da criança. - Os pirralhos estão achando que são filhos do Cristiano Ronaldo. - zombou para , que riu, revirando os olhos pelo comentário.
- Oh, pobre . - debochou a psicóloga. - Daqui a pouco está pedindo auxílio emergencial. - zombou, tombando a cabeça para o lado em uma falsa feição de pena.
- Ridícula. - estirou a língua para a esposa, que repetiu o gesto infantil do marido. As crianças, as verdadeiras, no caso, apenas observavam os pais, com menos sono do que estavam ao chegar em casa. Situação que concebia já com preguiça, visto que antecipava o drama que seria para banhar os gêmeos. - Você entendeu.
- Que seja! - revirou os olhos, abrindo um sorriso leve em seguida. - Como está tudo, amor? – perguntou, carinhosa. - Estamos nas oitavas!
- Estamos nas oitavas! - deu um soquinho no ar, animado. - E vamos enfrentar um freguês!
- Você também está com essa história de freguês, ? - bufou, irritada. - Mein Gott, homem!
- Ah, Liebe… - mexeu nos cabelos, levemente encabulado pela represália que havia recebido. - Não dá para ignorar os fatos…
- Vocês começam com isso e na terça-feira eu tenho que aguentar aquele bando de inglês insuportável cantando Football's coming home! - falou, em uma referência ao lema da seleção da Inglaterra eternizado na canção “Three Lions”, que era entoada pelos seus torcedores sempre que o país conseguia resultados satisfatórios em competições mundiais. Havia sido um inferno aguentar isso em 2018 e seria tão desagradável quanto aguentar a mesma situação em 2021, pensava, já irritada.
- Ok, ok, parei. - levantou as mãos em sinal de rendição, logo encarando os filhos, que permaneciam calados. - E vocês dois, meninos grandes? - frisou o vocativo, chamando a atenção dos filhos que já estavam em um mundinho compartilhado apenas entre os dois. - O que acharam do jogo?
- Mama e Onkel Jonas pularam muito! - falou Liam, no meio de um bocejo.
- E falaram palavras feias também, papa! - entregou Luka, em um tom meio sussurrado para que a mãe não escutasse. , por sua vez, corou de leve, não imaginando que os filhos tinham entendido os xingamentos que gritou junto ao melhor amigo enquanto assistiam ao jogo.
- Foi mesmo? - questionou em uma risada, repetindo o bocejo do filho. - Vocês reclamaram com eles?
- Não deu tempo, papa. - foi Liam quem respondeu. - Jogo animado! - balançou a cabeça positivamente inúmeras vezes como se fosse para afirmar o seu ponto.
- Animado até demais… - coçou a nuca, rindo baixinho. - Vocês já tomaram banho? - perguntou, mesmo sabendo que a resposta era óbvia. e as crianças permaneciam com as camisas da seleção alemã e com uma cara de cansaço que não condizia com um banho quente e relaxante.
- Banho não, papai! - Luka cruzou os bracinhos, em uma feição de irritação. - Banho é ruim!
- Ruim ou bom, você vai tomar daqui a pouco. - tomou a frente, apertando de leve o nariz do filho, que fez uma careta em resposta. - Ou você acha que meninos grandes ficam sujos?
- Sua mãe tem razão, meninos. - concordou o jogador. - Todo menino grande toma banho e não reclama.
- Então eu não quero mais ser menino grande. - resmungou Liam com o irmão, que concordou efusivamente. Os pais apenas riram, já acostumados com a aversão que as crianças tinham para com o banho.
- Já vi que terei trabalho… - suspirou a alemã, cansada.
- Queria estar aí para te ajudar, schatzi. - desculpou-se, culpado. Uma das coisas que o jogador alemão mais detestava quando passava a noite fora era a sensação de que estava sobrecarregando . Quando decidiram ter filhos e planejaram a gravidez da alemã, quatro anos atrás, prometeram estar sempre presentes um para o outro, e o alemão odiava mais do que tudo descumprir essa promessa, mesmo que não tivesse culpa. - Deveria ter trazido Nikolina com você. - falou, fazendo referência à babá dos gêmeos, que os auxiliava sempre que estavam atolados com o trabalho.
- Claro que não, . - abanou o ar, com displicência. - Eu consegui mais cedo, vou conseguir de novo. - respondeu com a feição neutra, tentando não transpassar o estresse que havia sido arrumar os meninos para irem ao estádio. - Você sabe como eu sou incrível. - gabou-se, jogando o cabelo para o lado.
- E extremamente modesta também. - riu, balançando a cabeça em negação. - Certeza que está tudo certo? - inquiriu, preocupado.
- Está sim. – confirmou. - Não se preocupe. - reafirmou, já se sentindo momentaneamente triste por saber que a despedida se aproximava. - Então, vou lá banhar os meninos, sim?! - falou baixinho, sentindo-se patética por já sentir saudades antecipadas do marido.
- Certo…. - pigarreou para deixar a voz mais firme. - Eu amo você, sim?! - declarou o alemão em um sorriso carinhoso. - Amo muito os três. - continuou, olhando para os filhos que o encaravam, quietos.
- A gente te ama muito também, meu amor. - devolveu, ouvindo os filhos falarem “Ich Liebe Dich, papa” para o jogador, que abriu um sorriso bobo em resposta. - Boa noite.
- Boa noite, linda. - desejou de volta. - Durma bem e sonhe comigo.
- Claro, Claro. - zombou, rolando os olhos, mas sorrindo antes de desligar a chamada com o marido. Depois de ver a tela se apagar, ainda passou alguns segundos a encarando, sendo despertada por um bocejo sonolento de Luka. A sua função de mãe a chamava.
O tempo se passou rapidamente e, quando percebeu, já era o fatídico jogo contra a Inglaterra. A partida ocorreria no estádio de Wembley, em Londres, e, por isso, a alemã achou melhor deixar os filhos em Dortmund com seus pais. Uma viagem internacional acabaria por cansar muito os filhos, mesmo que após uma curta análise, fosse notável que a distância entre Dortmund e Londres se assemelha à distância entre a primeira e Munique.
Por sua vez, Jonas e Ulla também não conseguiram largar os seus compromissos para acompanharem a nas terras inglesas, o que a deixou totalmente desgostosa. odiava veementemente ir para estádios sozinha, principalmente pelo fato de não ter ninguém para comentar os absurdos ocorridos no jogo. A psicóloga havia apelado até para Anthony e Benjamin, mas ambos também tinham afirmado não poderem sair de Frankfurt para assistir à partida. A alemã só não havia desistido de acompanhar o marido porque sabia que era importante para ele a presença dela, caso contrário, teria ficado no conforto de seu lar, a quilômetros de distância de onde se encontrava agora, na região VIP do estádio londrino.
Com sua costumeira camisa da seleção, que estampava o número cinco e o sobrenome na região das costas, a mulher mexia no celular, distraída. Rolava a sua timeline do Twitter, sem realmente prestar atenção, dando algumas curtidas nos tweets que seus olhos desatentos reconheciam ser de alguém conhecido. Por conta de seu estado distraído, não percebeu a presença de Alexis Müller ao seu lado, dando um pulinho assustado quando escutou a voz da brasileira próxima a si.
- Nossa, , eu sou tão feia assim?! - perguntou a morena, dando um sorriso zombeteiro quando a alemã lhe encarou com os olhos arregalados, ainda assustada com a presença inesperada da mulher. - Eu nem tenho a cara do seu marido! - implicou, fazendo com que rolasse os olhos e risse em seguida. Alexis amava implicar com , afirmando que tinha muito potencial para ter se casado com o mais bobão dos jogadores alemães. Não que os xingamentos fossem reais, visto que Alexis e se adoravam, mas gostavam de alimentar uma relação implicante.
- Você e as suas entradas dramáticas. – falou, rindo, após cumprimentar a velha amiga. - Está sozinha também? - questionou ao não ver ninguém rondando a brasileira.
- Infelizmente. – bufou, irritada. - Como eu vou xingar meu marido no meio desse mar de desconhecidos? - revirou os olhos dramaticamente, fazendo a alemã rir. Fazia muito tempo que não conversava com Lexi, já que a transferência de para o Dortmund acabou afastando o casal dos amigos que tinham ficado em Munique. Mas sempre que se encontravam, era como se nada houvesse mudado. Eram como uma grande e confusa família.
- Vou contar para o Thomas que você não confia no potencial dele. - zombou , vendo Lexi estirar o dedo em sua direção. - Quanta agressividade, Lexi! - riu mais ainda, vendo a brasileira revirar os olhos.
- Você sabe que não é isso. - estirou a língua infantilmente. - Mas… - hesitou, pigarreando para deixar a voz mais firme. - Você também está com uma sensação de que tudo vai dar errado? - perguntou, exteriorizando a preocupação que tinha desde que os alemães se classificaram para as oitavas de final.
- Eu tenho essa sensação desde 2018. - respondeu, rindo fraco. - E o fato de estar na casa do adversário, com o príncipe William e o Ed Sheeran... - enfatizou o nome do cantor que, em sua visão, era bem mais importante do que a família real. - Assistindo, não deixa as coisas mais fáceis.
- Por que não o Mick Jagger, Deus?!- questionou retoricamente, lembrando da fama de pé frio que o vocalista do Rolling Stones carregava consigo. - Ainda não acredito que o Ed Sheeran também está aqui...
- SIM! – concordou, animada. - E eu ouvi um casal falando aqui do lado que o Jason Mraz também está no estádio.
- O Jason? - gargalhou a brasileira, lembrando da gafe que tinha visto no Twitter, minutos atrás, de um dos narradores de um canal brasileiro, confundindo o Ed Sheeran com o cantor de I Won’t Give Up. - Que bom saber! - concluiu, franzindo os lábios para evitar que outra gargalhada escapasse e aumentasse o vinco de confusão que estampava na testa da alemã.
- Enfim… - abanou o ar, ignorando o motivo de riso da Müller. Alexis tinha um gosto peculiar e geralmente ria de coisas sem sentido, bem como seu marido. - E como está a Eileen? - perguntou da filha do casal Müller, que estava prestes a completar um ano.
- Enorme! - riu, lembrando com carinho da filha, que havia deixado com seus sogros em Munique. - Agora que aprendeu a andar, sinto que vai me fazer ter um troço!
- Vai se acostumando. - balançou a cabeça positivamente. - Morro de vontade de comprar uma daquelas coleiras para crianças e prender nos gêmeos sempre que saímos.
- É… - suspirou, contemplativa. - E agora que vamos ter mais um… - insinuou, olhando para a barriga ainda lisa, coberta com uma camisa idêntica à de , só que com o número 25 e o sobrenome Müller. demorou alguns segundos para assimilar o que a amiga havia dito. Até pensou ter ouvido errado, mas ao olhar para o rosto da brasileira, que estampava um sorriso besta, percebeu que era verdade.
- Você está grávida?! - exclamou em um gritinho esganiçado, vendo a outra responder um shiiiiiu, agoniada com o tom elevado da alemã. - Desculpe. - pediu, mas ao ver que ninguém prestava atenção nelas, continuou. - O Thomas já sabe?
- Ainda não contei. - negou em uma careta. - Deixei para falar depois da partida. - começou a explicação. - Se eles passarem, isso vai aumentar a comemoração…
- E se eles forem eliminados, isso animará ele. - concluiu , vendo a amiga assentir em concordância. - Vamos torcer pela primeira opção.
- Vamos sim. – suspirou. - Seja o que Deus quiser.
Depois de conversarem amenidades acerca das rotinas em Munique e em Dortmund, e Alexis se calaram ao ver as duas equipes entrarem em campo. Os ingleses, em resposta à entrada dos alemães, vaiaram sem culpa, o que fez ter vontade de falar a boca de cada um pessoalmente.
- Tão se achando demais esses inglês… - falou Lexi, sentindo o estádio tremer ao som de God Save The Queen. - Eu sinceramente espero que os meninos não passem vergonha.
- Idem! - assentiu com veemência. - O pior será aguentar os olhares de zombaria para as nossas camisas se o resultado não for satisfatório…
- Ah, mas só quero ver um inglês safado querer tirar onda comigo! - olhou para a amiga, cruzando os braços. - Os caras não ganham nada desde… - hesitou, dando de ombros, em seguida. - Sei lá… 1966? - chutou, sem certeza do ano. - E querem zombar da campeã de 2014?!
- Você está mais defensora da seleção alemã do que eu, que nasci no país. - riu da postura da brasileira.
- Minha amiga... - suspirou, olhando de soslaio para a , visto que a partida já havia iniciado. - Depois de passar por duas humilhações históricas por causa do seu país... - fez referência ao fatídico 7x1 sofrido pela seleção brasileira e pelo 8x2 que o Barcelona tomou do Bayern. - Aprendi a respeitar vocês na marra. - concluiu, vendo a outra rir em concordância.
O começo da partida já começou nervoso, com Müller fazendo falta no Maguire e colocando a bola na área alemã.
- Pelo amor de Deus, Thomas! - brigou Alexis, devido ao erro do marido, voltando a prestar atenção no jogo.
Por sorte, Shaw cobrou a falta e afastou a bola de cabeça. Logo em seguida, a chance foi dos alemães. Goretzka tentou a sorte em um chute fora da área e Pickford, goleiro da seleção inglesa, agarrou a bola sem muita dificuldade. A Alemanha passou a trocar passes, característica da seleção, irritando a torcida adversária, que respondeu com vaias.
- VAI VAIAR A SUA MÃE, SEUS DESGRAÇADOS. - xingou Alexis em inglês, encarando feio um casal que estava ao lado dela e de , que revirou os olhos em resposta. , por sua vez, somente ria, repreendendo a amiga levemente por sua exaltação, visto que a brasileira estava grávida e não deveria se estressar.
Pouco tempo depois, falta a favor da Alemanha. Goretzka foi puxado por Rice e o jogador inglês foi punido com um cartão amarelo. Depois da cobrança de Havertz, a bola acertou a barreira e a zaga afastou do gol de Pickford. Os minutos iam passando e ficava cada vez mais nervosa com o trabalho de bola dos alemães, com sua troca de passes monótona ainda no campo de defesa.
- Essa calma deles está me irritando. - comentou a alemã com a amiga, que assentiu. - SE MOVIMENTEM, INFERNO! - gritou a alemã, já estressada.
O movimento aconteceu, só que para os ingleses, com Sterling chutando forte na intermediária e fazendo com que Neuer se esticasse todo para espalmar a bola para linha de fundo.
- Eu não vou aguentar a zoação de perder para a seleção do Southgate. - choramingou . - É humilhação demais para um país só. - completou. Alexis assentiu, rindo, mas também preocupada.
Trippier cobrou o escanteio e Maguire cabeceou sem força, o que fez Neuer segurar firme a bola em suas mãos. Tempos depois, Müller tentou cruzar para Werner, mas Walker estava atento e interceptou a jogada do alemão. O relógio mostrava o passar do primeiro tempo e o jogo permanecia igual, tanto em chances quanto em posse de bola. A torcida inglesa tentava incentivar o time cantando, enquanto aos alemães restava torcer e pedir aos céus para que tudo desse certo. A melhor chance veio aos 32 minutos, em uma jogada de Kimmich para Gosens, que não alcançou a bola e a deixou parar nas mãos do goleiro. Logo em seguida, Havertz recuperou a bola para a Alemanha e lançou para Werner finalizar, o que resultou em uma defesa de Pickford. Já no final da primeira etapa, a chance foi dos ingleses. Sterling rolou dentro da área para Kane, que conseguiu tirar Neuer de cena, mas chegou na hora certa e impediu o gol do centroavante inglês.
- Juro que vou passar um mês sem falar mal do seu marido só por causa desse lance. - falou Lexi, observando o bater de palmas animado de , que estava feliz com a interceptação do marido.
- Ele vai ficar encantado. - riu, dando graças a Deus por ver o juiz apitar o final do primeiro tempo. Já sentia o estômago embrulhar em nervosismo por saber que o segundo tempo seria extremamente acirrado.
As mulheres decidiram não se levantar, esperando sentadas o intervalo entre os dois períodos de jogo.
- Você ainda tem contato com a Elena? - perguntou , lembrando da ex-namorada de James Rodriguez, a quem nutria grande carinho, embora não fossem próximas como ela era de Alexis. O jogador colombiano se transferiu para Munique na época que havia engravidado dos gêmeos, então quando todos estavam nas costumeiras festas que os Müller costumavam sediar para comemorar os resultados do time, o casal curtia apenas em família, preservando a gravidez da alemã. Apesar disso, tinha muito estima pelo casal, ficando verdadeiramente triste quando soube do término e extremamente confusa ao saber que o jogador colombiano iria se casar com uma modelo qualquer.
- Sim, somos bem amigas. - concordou a outra. - Agora que as crianças estão mais crescidas e aproveitando enquanto não estou com uma barriga imensa, deveríamos marcar de sair juntas. - convidou Lexi, vendo assentir, animada. - Só precisamos decidir um lugar, já que cada uma está em um canto diferente. - riu.
- Madrid, com certeza. - enfatizou , querendo se afastar do frio alemão. - Faz séculos que não vou pra lá.
- Eu fui há pouco tempo e a cidade é realmente incrível. - assentiu a brasileira, fazendo uma careta em seguida. - Mesmo que o time principal deles seja a personificação do mal e da destruição.
- Ainda odiando o Real Madrid, Lexi? - zombou a alemã, recebendo um revirar de olhos em resposta.
- Claro, meu caráter está em dia. - piscou, vendo a outra balançar a cabeça em negação. A brasileira, como boa torcedora do Barcelona, odiava o Real Madrid com todas as forças, ameaçando pedir o divórcio sempre que Thomas insinuava que estava prestes a assinar um contrato com eles.
Após alguns minutos, os times voltaram para campo e o segundo tempo começou. Dois minutos após o início da segunda etapa, Havertz chutou forte de canhota, fazendo o goleiro Pickford espalmar a bola para linha de fundo. Cobrança de escanteio marcada por Kimmich e rapidamente Trippier tirou o perigo da área inglesa. Nos primeiros momentos, a Alemanha já se mostrava mais ofensiva do que se mostrou na etapa passada.
- Vem aí, amiga. - Alexis bateu palminhas animadas, vendo repetir o seu gesto.
Depois disso, mais algumas tentativas de finalização no gol foram feitas. Aos oito minutos, Kimmich cruzou na direita, vendo Gosens cabecear para o alto e Pickford dar um soco na bola. No minuto seguinte, chocou com Kane e o capitão inglês ficou caído, solicitando atendimento médico.
- Deus me perdoe, mas bem que o poderia ter tirado o Kane do jogo, né?! - falou , em um tom levemente culpado.
- Não acho que iria mudar muita coisa, . - rebateu a brasileira. - O Kane está numa seca de gols nessa Eurocopa, parece até o Suarez em jogo da Champions League fora do Camp Nou.
- Não diz isso, Lexi. - olhou para a amiga, alarmada. Vendo a careta de confusão da morena, continuou. - Você acabou de zicar o time e o Kane vai fazer pelo menos um gol. Já ‘tô vendo tudo! - colocou as mãos na cabeça em sinal de preocupação.
- Relaxa, Miazinha. - estalou o céu da boca com a língua. - Não seja pessimista.
- Não foi você quem começou com o lance de parece que tudo vai dar errado hoje?! - retrucou.
- Foi. - assentiu com a cabeça, vendo de soslaio que Kane voltava para o campo após o atendimento. - E ainda acho que dará, mas não pelo pés do Kane.
- Extremamente motivador. - zombou a alemã, rindo baixinho quando a outra deu de ombros.
O jogo pareceu ficar mais tenso para ambos os lados. Finalizações eram perdidas e passes eram interceptados pelos dois times, fazendo a temperatura ficar ainda mais quente. Para ver se conseguia mais efetividade da equipe, Löw trocou Werner por Gnabry, e Southgate mudou Saka por Grealish.
Sentindo o novo ritmo de jogo, faltas duras foram distribuídas em campo. Grealish derrubou Havertz e Gosens levou um cartão amarelo após entrar em choque com Trippier, que também precisou de atendimento médico. Com o camisa 12 já recuperado, a Inglaterra atacou o time adversário através de uma boa entrada na área. Shaw cruzou rasteiro e acionou Sterling, que marcou o primeiro gol para os ingleses.
- Fick dich! -xingou , levantando, irritada, ao ver a marcação do adversário.
- VAI TOMAR NO CU, PORRA! - Alexis bradava a plenos pulmões, em português.
Após o gol dos ingleses, o nervosismo que já era grande passou a extravasar pelos poros da torcida alemã. Já passava da metade do segundo tempo e o time precisou se abrir completamente para tentar ao menos um empate e, assim, levar a partida para a prorrogação.
A exaltação das mulheres foi tanta que não chegaram a perceber a cobrança de falta em cima de Kimmich, na entrada da área. Müller foi o escolhido para cobrar e acabou jogando a bola na barreira.
- Thommy do céu, faz alguma coisa! - choramingava Lexi. já sentia os olhos embargando e o corpo se abastecendo do chamado DNA do fracasso. A mulher não sabia lidar com derrotas e sempre ficava extremamente mal quando algum dos times que torcia perdia ou era eliminado.
A torcida inglesa fazia festa enquanto os alemães se entreolhavam, nervosos, mas ainda confiantes com a vitória. A confiança aumentou quando viram Thomas Müller sozinho pelo meio, ficando cara a cara com o goleiro, finalizando à esquerda do gol.
- Não me diz que ele errou. - pediu , fechando os olhos com força para evitar xingar o amigo de todos os nomes que conhecia, na frente de sua esposa e do seu filho que ainda nem havia nascido. - Eu realmente não posso acreditar nisso.
- Meu filho ainda nem nasceu e já está vendo o pai passando vergonha. - choramingou Lexi, alisando a barriga lisa para se acalmar. - Hoje não vai ser uma noite fácil…
- Nem me diga. - suspirou a alemã, já se preparando psicologicamente para acalentar o marido após mais uma eliminação precoce.
Mas, não há nada ruim que não possa piorar. Com isso, aos 41 minutos da segunda etapa, Grealish desceu pela esquerda, mandou para o meio da área e Harry Kane cabeceou para dentro da área. Segundo gol da Inglaterra.
- Eu disse! - balançou a cabeça, indignada. - Zicamos a seleção! - puxou os cabelos de leve, como forma de atenuar o estresse. - Agora já era!
- Não acredito que vamos ser eliminados com um gol do Kane! – bufou, irritada. - Eu não vou aguentar passar a noite nesse país, . - reclamou a brasileira. - Se eu ouvir Three Lions alguma vez hoje, serei capaz de cometer um crime de ódio!
- Eu falei a mesma coisa para o ontem, mas ele não levou a sério! - bufou, cruzando os braços. Não sabia se estava mais irritada pela derrota ou chateada pela iminente eliminação. - Eu só queria saber aparatar para poder dormir na minha caminha, longe de tudo isso aqui. - apontou para a torcida, que apresentava um grande contraste. Enquanto os ingleses riam e cantavam aos berros, os alemães tinham feições tristes e até chorosas, arrasados com o resultado negativo.
- Olha pelo lado bom... - Lexi começou, tentando soar positiva. - Pelo menos Portugal e França também caíram.
- E como isso deixa as coisas melhores, Lexi?
- Pior que perder é perder sabendo que os franceses ou o Cristiano Ronaldo ainda podem ganhar. - disse, simplesmente. - Eu não aguentaria tamanho sofrimento.
somente riu, mas sem realmente se sentir alegre. Sabia que o marido iria sair arrasado desse jogo e que ela precisava ser forte para acalentá-lo em mais uma derrota. Era hora de mostrar para , novamente, qual era o significado de família.
Frohe Weihnachten!
olhava para as prateleiras sem ter a menor ideia do que comprar. Ela possuía uma lista que tinha feito no dia anterior, com tudo o que era preciso para fazer a ceia de Natal da família. Possuía. Em algum momento de distração, enquanto colocava os meninos dentro do carrinho de supermercado, Luka pegou o papel das mãos de sua mãe e acabou o jogando para longe, em uma pilha de neve do lado de fora do local. Quando a mulher se aproximou para buscá-lo, por sua vez, a tinta da caneta já havia escorrido por todo o papel, fazendo-a, com um semblante derrotado, jogá-lo fora. Felizmente, ela nem precisou repreender o filho, já que Liam tinha feito esse trabalho por ela. As crianças, antes do pequeno recesso para os feriados, tinham aprendido na escola o quão errado era jogar lixo nas ruas. A professora deles, a Tante Maisie, também havia explicado que era necessário repreender - sempre com muita educação - as pessoas que ainda tinham esse mau hábito. Aparentemente, Liam havia levado essas palavras bem a sério, enquanto Luka simplesmente as ignorou.
Então, ali estava , no supermercado, na véspera da véspera de Natal, com duas crianças com indícios de hiperatividade e sem saber o que precisava comprar. A mulher era uma péssima cozinheira. A sua capacidade culinária era do nível de conseguir queimar até água. Definitivamente, ela não tinha nascido para isso. Por outro lado, sempre foi um chef de mão cheia, o maior responsável pelo fato de seus dois filhos, além do próprio e de , estarem salvos de uma grande intoxicação alimentar. Mas, no momento, toda a experiência do marido não poderia ajudá-la, uma vez que o homem estava sem celular após, acidentalmente, tê-lo deixado cair na banheira dos meninos. Embora a marca afirmasse que seus aparelhos eram à prova d ' água, a realidade não era bem essa. Além disso, há muitos anos o casal não possuía um telefone fixo, então, a não ser que cruzasse toda a cidade novamente para ir até em casa, não teria condições de falar com .
Ótimo. Maravilhoso. Fantástico.
Deveria ter aceitado quando o marido se ofereceu para acompanhá-la até o mercado. Ou quando disse que não era uma boa ideia levar as crianças com ela. Mas, nãããão, ela precisava insistir para que ele ficasse em casa descansando, sozinho, já que, no dia seguinte, passaria todo o tempo trabalhando na cozinha. Parabéns, . Genial. A mulher fez menção de ligar para os seus pais ou sogros, contudo, acabou lembrando que estavam todos dentro de um avião a caminho de Dortmund, com o intuito de passarem o feriado juntos. Sem ideias, passou a olhar para as pessoas que andavam apressadas ao seu redor, tentando copiar o conteúdo do carrinho delas.
- Mama, por que você está encarando o carrinho da moça? - perguntou Luka inocentemente, puxando levemente a manga da roupa da mãe. Ouvindo a indagação da criança, a moça da qual o menino se referia virou para olhar para os três , franzindo o cenho em confusão para a família e logo saindo de perto deles. Fazendo uma careta por ter perdido a fonte de informação mais próxima a si, olhou para o filho, dando um sorriso para o menino que já não se importava com a resposta da mãe, indicando para Liam algumas guloseimas que estavam perto deles.
Suspirando, desanimada, olhou para os céus em busca de alguma resposta. Maldito e a sua incapacidade de fazer uma lista virtual.
- O que eu vou fazer, Senhor?! - lamentou baixinho, sofrendo um sobressalto ao sentir um cutucão em seu ombro.
- Falando sozinha, ? - olhou para o local que vinha a voz e se assustou quando viu quem falava com ela - Eu sei que sou mais bonito que o seu marido, mas não pode deixar tão na cara assim, . Vai traumatizar as crianças. - gracejou, apontando com a cabeça para as crianças que estavam alheias aos adultos ali presentes, conversando apenas entre si.
- Marco! - exclamou a mulher, cumprimentando o amigo de longe. Embora já estivesse vacinada com as três doses da vacina contra a COVID 19, não queria dar sorte ao azar e acabar contaminando a si e a sua família por descuido. Por esse motivo, ela ainda não tinha abolido as máscaras e evitava aglomerações que não fossem totalmente indispensáveis, como era o fato de fazer compras em pleno dia 23 de dezembro. Desse modo, ainda não tinha encontrado Elena e Alexis, como tinha combinado meses antes, na Eurocopa. As amigas acharam melhor esperar a gestação de Lexi finalizar e o bebê, que era um menino e iria se chamar Charles, completar alguns meses de vida, para poderem se ver em segurança. Por isso, a mulher recebia alguns olhares e comentários emburrados, mas nada que não pudesse lidar.
- ! - devolveu com a mesma animação da mulher, rindo levemente ao ver que chamou a atenção dos gêmeos - Luka! Liam! - repetiu dessa vez para os meninos, vendo eles entoarem algo que soava como “Onkel Marco!”, mas, provavelmente por recomendações dos pais, não levantaram do carrinho em que estavam para falar com Reus.
- Vamos ser expulsos do mercado. - falou ao dar espaço para uma mulher que a olhou feio por obstruir a passagem - O que está fazendo aqui, Reus? - perguntou para o amigo, seguindo com o homem para uma região mais vazia do corredor, o que foi facilitado pelo homem não estar com nenhum carrinho.
- Eu vim pegar os produtos da ceia que a Scarlett encomendou. - respondeu como se fosse óbvio, mexendo nos cabelos. Até porque era, levando em consideração que o supermercado era o mais próximo do condomínio que ambos moravam e que o jogador costumava ir com frequência para o local - E você, desde quando sabe fazer uma feira de Natal? Pensei que já tínhamos combinado que você nunca mais cozinharia nada.
- Hilário. - devolveu, revirando os olhos pela provocação - Eu não vou cozinhar, eu só vim comprar.
- Nem comprar você veio, certo, ?! Já que o seu carrinho ainda está vazio. - riu, apontando para o carrinho que apenas guardava Luka e Liam.
- Luka estragou minha lista, está incomunicável e eu não faço a menor ideia do que eu preciso levar para a ceia. - confessou em um suspiro, vendo que o rapaz achou graça do seu drama.
- E o preguiçoso do seu marido achou que era uma boa ideia você vir com eles - apontou para os gêmeos - fazer compras sozinha no dia que antecede a véspera de natal? – perguntou, incrédulo - Ele enlouqueceu?!
- Fui eu quem sugeriu isso, na verdade. - suspirou, saindo em defesa do marido. Apesar de que sim, concordava com o choque do amigo. Quando se falava em voz alta, a situação realmente não era favorável para si - Ele insistiu para vir, mas…
- Mas cedeu à sua teimosia. - completou o loiro, fazendo uma careta aparecer no rosto da mulher, que foi escondida pela máscara que ela usava.
- Sei que você passaria o dia questionando minhas decisões caso pudesse, mas eu preciso descobrir o que comprar para não deixar a minha família sem ceia de natal. - suspirou novamente, acenando para se despedir do amigo, que adorava a deixar irritada com seus comentários.
- Ei, calma! Eu posso te ajudar. - falou, parando na frente da para impedir que ela passasse com o carrinho.
- Você?! - retrucou com incredulidade - Eu posso ser um desastre na cozinha, mas você não fica atrás, Reus.
- Não vou me ofender com isso porque estou sensibilizado com os feriados. - fez um gesto de displicência com as mãos, fazendo com que a mulher arqueasse a sobrancelha - E eu sou a melhor alternativa que você tem. Pelos menos, eu terei uma ceia pronta esperando o clã Reus em casa.
- A melhor alternativa que eu tenho é pedir ajuda a algum funcionário do supermercado. - corrigiu o amigo, vendo ele dar de ombros.
- Verdade, mas nenhum é tão legal e bonito quanto eu.
- Desde quando você é legal e bonito? - cruzou os braços, vendo que mais ao fundo uns dois garotos encaravam o homem ao seu lado fixamente - Mas, como eu estou em um nível de desespero muito alto, vou aceitar a sua ajuda. - falou, puxando o amigo para longe do olhar dos garotos para que não chamassem atenção. O mercado já estava com muitas pessoas, então seria um tormento ver toda aquela gente assediando Reus, mesmo que já tivessem acostumados com a presença recorrentes de jogadores do Borussia Dortmund no lugar.
- Você não vai se arrepender, Miazinha. - piscou para a mulher, pegando para si a condução do carrinho em que estavam os meninos para auxiliar a amiga com os produtos que precisava comprar.
Xx
No final, Reus realmente a tinha ajudado. Após irem pegar os itens do rapaz, eles replicaram tudo que tinha na cesta encomendada pela esposa do jogador e encheram o carrinho de . Os gêmeos também ajudaram, apontando para os alimentos que eles conheciam, como chocolates e outras besteiras que seriam utilizadas nas sobremesas. não fazia ideia se os itens de Reus eram os mesmos que havia pedido. A mulher se envergonhava um pouco por ser alheia à ceia de sua família, mas a sua ajuda sempre foi referente à limpeza e ao cuidado com as crianças. Desse modo, o seu único contato com as comidas era no momento de bem… comer. E, como no ano anterior a família não tinha se reunido por conta da pandemia, a sua frágil memória não tinha sido capaz de lembrar todos os pratos servidos pelos . Mas, ela tinha feito o que podia, mediante as condições.
Por isso, quando estacionou em frente à sua casa, depois de comprar tudo e de se despedir de Marco, suspirou em alívio, sentindo um grande peso sair de seus ombros após ter finalmente saído daquele supermercado. Depois de tirar os meninos do carro, pediu para que eles chamassem , que provavelmente estava jogado no sofá. Enquanto isso, foi até a mala do carro para começar a retirar os itens comprados.
- Hey, liebe. - chamou o jogador, chegando de repente ao seu lado - Deu tudo certo lá? – perguntou, preocupado, depositando um beijo na cabeça da mulher e a ajudando a retirar as ecobags do carro.
- Sobre isso… - começou, hesitante - Na verdade não. - fez uma careta, retirando a máscara para o descarte e indo higienizar as suas mãos.
- Como assim, ? – questionou, se virando para ela, após entrar com as sacolas em casa. - O que aconteceu?
- Luka estragou a lista que você fez e eu fiquei sem saber o que fazer. - suspirou, após colocar todos os produtos, ainda nas sacolas, no balcão da cozinha. Mais tarde iria higienizar e guardar tudo. - Por sorte, encontrei o Marco lá e ele me ajudou a comprar tudo.
- O Marco? - perguntou, exasperado - Marco Reus? - perguntou novamente para ter certeza. Depois de vê-la confirmar, bagunçou os cabelos em nervosismo. - Amor, era mais proveitoso voltar para casa e me deixar ir lá do que aceitar conselhos culinários do Reus!
- Mas não foram conselhos do Reus, foram da Scarlett. - explicou, vendo o marido relaxar a expressão - Apenas copiei tudo o que ela pediu para eles.
- Certo… - assentiu, ainda receoso e confuso com a situação - Posso dar uma olhada? - apontou para as sacolas.
- Fique à vontade. - concordou, dando espaço para que o marido fizesse o que queria.
Após mexer em todos os produtos comprados por , finalmente se acalmou, vendo que a lista que tinha mandado para a esposa era praticamente idêntica aos itens reservados por Scarlett Reus. Não poderiam culpá-lo por ficar desconfiado da capacidade do loiro de selecionar comidas para alimentar outras pessoas. Mesmo que a sua própria esposa não ficasse muito atrás.
- Acho que só faltaram as nozes e os damascos para o Stollen, fora isso, temos tudo conosco. - afirmou quando conferiu tudo, levantando-se e indo até a esposa. - Vou pedir aos meus pais para que, antes de virem aqui, passarem no mercado para comprar.
- Danke Gott! - respondeu dramaticamente, levantando as mãos aos céus em agradecimento. Felizmente, tinha dado sorte e as coisas acabaram se encaixando. - Agora que tudo deu certo, você cuida dos meninos porque eu estou destruída. - falou, deixando um selinho nos lábios do homem e seguindo para as escadas para subir em direção ao seu quarto. Precisava urgentemente de um banho quente e relaxante.
Xx
Finalmente dia 24. poderia dizer que era um grande espírito natalino. Desde criança fora ensinada que a data era o momento de reencontro, perdão e, sobretudo, união da família e dos amigos. E, quando construiu a sua própria família, tentou repassar isso para os meninos, que, como ela, também amavam o natal.
Por ter o aniversário no final do ano, não era tão fã assim do feriado. Embora amasse cozinhar as típicas comidas alemãs para a família, o jogador não se sentia muito animado com o feriado do bom velhinho. Quando o chamava de Grinch, ele replicava, afirmando que era um trauma infantil, já que costumava ter seu aniversário ofuscado por toda a atmosfera de Natal. Mas, desde que os gêmeos tinham nascido, a negatividade do rapaz tinha diminuído consideravelmente e ele já se empolgava para montar a árvore de Natal e para comprar os presentes.
Levantando, ainda preguiçosa, deixou dormindo, a fim de que o marido descansasse antes de ir para a cozinha. fez a sua higiene pessoal e foi em direção ao quarto dos gêmeos, com o intuito de acordá-los para tomar café. Mas, chegando lá, teve uma surpresa, encontrando os meninos já acordados e conversando entre si, ambos na cama de Liam.
- Os meus monstrinhos já estão acordados, é?! - perguntou com uma voz engraçada, fazendo garras com as mãos e se aproximando dos filhos para fazer cócegas. Depois de ouvir muitas risadas, alguns gritinhos e pedidos de “Para, mamãe”, parou de provocar os filhos, apertando-se junto a eles na pequena cama.
- Por que estão acordados tão cedo, meus bebês?!
- Bebê não, mamãe! - Luka corrigiu, com sua fala que já vinha perdendo o embolado há um certo tempo.
- Bebê sim! - retrucou, beijando a bochecha do filho - Vocês sempre serão meus bebês. Mesmo quando já estiverem com barba na cara e com vontade de desbravar o mundo sozinhos.
- A gente vai ter barba? - Liam perguntou, interessado, tocando no próprio rosto enquanto esperava a resposta da mãe - Igual ao papai?
- Se puxarem à minha família, sim. - riu levemente - Porque nós não podemos chamar aquilo no rosto do seu pai de barba… - vendo que as crianças fizeram caretas idênticas de confusão, riu novamente, balançando a cabeça - Mas vocês estão me enrolando! - fingiu que brigava, apertando de leve a barriga de Liam - O que fazem já acordados?
- Natal, mamãe! - Liam respondeu como se fosse óbvio - Animados!
- Estão animados, é?! - perguntou, recebendo acenos empolgados com a cabeça, fazendo-a rir - Então vamos descer para comer e começar nosso dia?! – perguntou, animada, vendo os filhos se entreolharem em dúvida.
- Papai acordou? - Luka perguntou, tombando a cabeça de leve.
- Ainda não, por quê, filho?
- Sem fome, mamãe. - ele respondeu, recebendo um aceno do irmão - Depois come.
- Depois vocês comem? – perguntou, desconfiada, entendendo o que os filhos estavam tentando lhe dizer - Eu não vou cozinhar nada, seus pestinhas. Vocês vão comer as frutas que já estão cortadas.
- Então podemos ir, mamãe. - Liam respondeu, pulando da cama e dando as mãos para o irmão e a mãe fazerem o mesmo. Quando os três já estavam de pé, fez uma careta, pensando que deveria fazer um curso de culinária. Ninguém acreditava nas suas capacidades na cozinha. - Mama! Fome! Vamos! - Liam falou com sua vozinha autoritária, o que fez com que o olhasse, chocada.
- Eu deveria doar vocês, seus monstrinhos. – falou, fingindo chateação - Ninguém me valoriza nessa casa…
- Não chora, mamãe! - Luka falou, preocupado, agarrando-se às pernas da mãe - Não chora!
- Desculpa, mamãe! - Liam imitou o irmão, mas com uma voz de choro - Desculpa! A gente come sua comidinha!
- E comem, é?! - perguntou para os filhos, que permaneciam agarrados juntos a si. Os meninos assentiram enfaticamente - Eu agradeço, mas não precisam. Agora vamos, sem enrolação! - mandou, dando tapinha nas costas deles e os apressando para saírem do quarto.
Depois de alimentados, levou os meninos para escovarem os dentes e tirarem os pijamas. Então, quando finalmente estavam prontos, olhou o horário no celular e percebeu que já estava no horário que tinha pedido para ela acordá-lo. O homem tinha um sério problema com alarmes e sempre apelava para a esposa em momentos que precisava seguir hora marcada.
- Meninos, o que vocês acham de irem lá acordar o papai? - questionou, abaixando-se para ficar na altura dos gêmeos.
- Papai dorminhoco! - Liam falou, recebendo apoio do irmão.
- Papai dorminhoco. - assentiu - Vamos acordá-lo? - sugeriu, vendo os gêmeos concordarem e saírem correndo em direção ao quarto dos pais.
- Sem correr! - advertiu ela, mas sem muito sucesso - Crianças… - suspirou, balançando a cabeça em negação e seguindo pelo mesmo caminho que os filhos.
Chegando no quarto, viu o marido na mesma posição que o havia deixado tempos antes. estava sem camisa e com um edredom cobrindo a parte inferior de seu corpo, enquanto o rosto estava enterrado no travesseiro. Liam e Luka estavam parados ao lado do pai, sem saber o que lhes era permitido para despertá-lo.
- Vão lá. - incentivou , fazendo um gesto de abano com as mãos - Podem acordar o pai de vocês. - depois disso, não foi necessário falar novamente. Com certa dificuldade, os gêmeos subiram na cama do casal e demoraram alguns segundos para se equilibrarem em pé. Ao verem que estavam firmes no colchão, começaram a pular em cima do pai, entoando gritos de “Acorda, papa!”. apenas resmungou, tentando virar para o lado oposto, sem sucesso, já que, após isso, os meninos passaram a jogar travesseiros no jogador para que ele finalmente acordasse.
- Chega, meninos! - a mulher falou, vendo que já estava com os olhos abertos e tentava desviar dos golpes - Papai já acordou.
- Papai acordou? - Liam perguntou, olhando para baixo para conferir - Papai acordou! - confirmou, continuando a pular junto a Luka em cima de .
- Papai acordou. - confirmou com a voz rouca, pigarreando para manter o tom mais firme - Bom dia, família. - falou em uma careta, meio atordoado pelo modo que tinha sido acordado.
- Bom dia, meu amor. - falou, se aproximando do marido e deixando um beijo em sua bochecha - Dormiu bem? – questionou, risonha, vendo que os meninos continuavam pulando na cama - E vocês, pestinhas, parem de pular! Vão acabar se machucando. - repreendeu os gêmeos, sendo atendida de prontidão pelos filhos.
- Como um bebê. – respondeu, sincero, já mais desperto e arrumando a sua postura na cama - Os meninos já comeram? - perguntou, vendo a mulher assentir - Você não cozinhou, não é?! - questionou em uma careta.
- Eu vou aprender a cozinhar só para calar a boca de vocês. - a mulher bufou, revirando os olhos, chamando os filhos para descer, a fim de que o marido se arrumasse.
- Confio no seu potencial, meine liebe. - respondeu, risonho, colocando os braços na frente do rosto para se proteger do travesseiro que a mulher arremessou nele.
- Vê se não demora a descer, seu insuportável.
Xx
O dia prosseguiu tranquilo. se sentia bastante à vontade na cozinha e dispensou a ajuda de todos que lhe ofereceram auxílio, como a sua mãe, que tinha passado mais cedo na residência do casal para deixar os produtos pedidos pelo filho. Mas, obviamente, ele não faria tudo sozinho. Ulla ficou responsável pela salada de batatas e pelas salsichas cozidas, enquanto Leona, sua sogra, faria o assado de carne bovina e os típicos biscoitos natalinos. , por sua vez, ficou responsável pelo ganso recheado, pelos legumes gratinados e pelo Stollen, um famoso panetone alemão. Ele apenas negligenciou a ceia por alguns minutos com o intuito de preparar o almoço da família, mas após comerem e de colocarem a louça na máquina, já voltou para os preparativos. queria que tudo saísse perfeito.
Todos os membros da família - estavam hospedados nas casas que ambas as famílias tinham no mesmo condomínio do casal. Depois que os gêmeos nasceram, apesar de e acharem um absurdo e uma tremenda besteira, os seus pais e irmãos afirmavam que era inviável que todos se hospedassem na casa do jogador, acreditando que seria um tumulto desnecessário e estressante. Mesmo que a casa fosse bastante espaçosa e tivesse quartos de sobra. Até porque Benjamin e Anthony também haviam constituído famílias e, embora Jonas continuasse - nas palavras de - um encalhado, ele provavelmente também se casaria um dia e seriam mais pessoas para um lugar só. Por isso, estavam todos distribuídos em duas casas diferentes.
até tentou argumentar, afirmando que as duas casas também ficariam tumultuadas e que poderiam ceder espaço em sua própria residência a fim de gerar mais conforto para todos, mas foi ignorada e eles acabaram seguindo o planejamento inicial. Por esse motivo, a casa dos estava bastante silenciosa, a não ser por alguns barulhos de na cozinha e pelos gêmeos que conversavam entre si enquanto montavam, com ajuda da mãe, uma pista gigantesca de carrinhos.
Durante à tarde, iria tentar colocá-los para dormir para ver se conseguiam ficar acordados para o jantar, mesmo achando que as crianças iriam capotar assim que possível. Enquanto se distraía junto aos filhos, a mulher ouvia cantando algumas músicas famosas, como Livin’ On a Prayer, de uma forma bastante exagerada e desafinada. não poderia enxergar, mas se pudesse apostar, tinha a certeza de que veria o jogador utilizando seus utensílios de cozinha como microfone e guitarra.
Ao ver que já eram cinco da tarde, levantou preguiçosamente do tapete em que estava sentada, levemente dolorida devido ao tempo que passou na mesma posição. Recebendo alguns protestos dos filhos que, apesar de cansados, queriam continuar brincando, a mulher guiou os meninos até o quarto deles, colocando-os na cama e os assistindo adormecer alguns minutos depois. Percebendo que eles realmente estavam dormindo e não a enrolando como já fizeram algumas vezes, ela cuidadosamente saiu do cômodo, seguindo rapidamente para a cozinha a fim de encontrar .
Chegando lá, não conseguiu segurar a gargalhada ao ver a cena que se desenrolava em sua frente. estava com um avental rosa e cheio de florzinhas, que tinha comprado para ela anos antes quando achou que iria aprender a cozinhar; uma touca amarela na cabeça para proteger os seus cachos e uma faca na mão, enquanto cantava uma música que ela reconheceu como sendo da One Direction. A caixa de som que ela não tinha percebido estar ligada anteriormente, visto que a voz do marido se sobressaía às vozes dos cantores, tocava Last First Kiss em um volume alto o suficiente para que não percebesse a presença da esposa no local.
-I wanna be last, yeah - jogou um braço para cima, enquanto cortava alguns legumes - Baby let me be your… - continuou performando enquanto descascava uma batata - Let me be your last first kiss… - terminou, mexendo na sua touca, virando-se para pegar algo na geladeira e dando um pulinho em sobressalto em ver de braços cruzados e uma feição risonha.
- Vou avisar ao BVB que eles vão ficar sem zagueiro… - começou, debochada, ainda parada na entrada da cozinha - Porque o show business está perdendo um grande artista!
- Bobona! - resmungou ele, levemente envergonhado por ter sido pego pela mulher, abrindo a geladeira e pegando algumas cenouras. Após fechá-la, foi até a caixa de som abaixar o seu volume a fim de conversarem com maior clareza - Você está com inveja do meu talento! - decidiu entrar na brincadeira, dando uma piscadela para e rebolando de forma afetada, fazendo-a rir mais um pouco.
- Brincadeiras à parte… - balançou a cabeça, ainda com uma feição de riso - Vim ver se precisava de alguma coisa. – falou, se aproximando do homem e abraçando a sua cintura, dando um beijinho em suas costas.
- Pode ir descansar, amor. - ele dispensou a ajuda, virando-se para e deixando um selinho em seus lábios - Os meninos foram dormir? - perguntou, vendo-a assentir - Então, vá dormir também. - incentivou, continuando a mexer nos legumes.
- Eu me sinto mal em ficar de pernas para o ar enquanto você está aqui ralando. – protestou, contrariada, vendo o marido soltar os utensílios que usava no balcão para virar de frente para ela e poder abraçá-la decentemente.
- , por Deus! Somos uma equipe, certo?! – perguntou, olhando para os olhos da mulher, continuando ao vê-la confirmar - Você passou o dia todo com os nossos filhos, agora precisa descansar para aguentar virar à noite. Não se preocupe comigo. Estou bem aqui com as minhas músicas. - sinalizou a caixa de som, colocando as mãos na cintura de forma dramática e depositando mais um selinho na boca da esposa ao ver que ela iria protestar. - Deixa de ser teimosa, mulher! - repreendeu, empurrando-a de leve para sair do cômodo - Se aqui tivesse uma porta, eu fecharia de forma dramática, mas o bendito conceito aberto me impede de fazer isso. Então, finja que eu fiz assim e saia daqui! – falou, se fingindo de autoritário e vendo a mulher assentir conformada, sem vontade de contrariar o marido, sabendo que não iria convencê-lo. Ao ver que ela estava indo em direção às escadas que davam para os quartos, voltou a ligar a sua caixa de som e a trabalhar nos seus pratos. Tinha uma família para alimentar.
Xx
nem percebeu quando adormeceu. O cansaço que nem sabia que estava sentindo pesou sobre seus ombros e ela caiu no sono logo após deitar em sua cama. A mulher só acordou horas depois, quando entrou no cômodo prestes a tomar banho, após finalizar todo o trabalho na cozinha.
- Desculpe te acordar, amor. - pediu, aproximando-se da esposa para beijar a sua cabeça - Pensei que já estava desperta. - completou, afastando-se dela para tirar a roupa que vestia.
- Eu acabei dormindo demais. - falou, esticando os braços e arrumando a postura - Estou muito atrasada? – questionou, preocupada.
- Não, pode ficar tranquila. - a acalmou, já de cueca e seguindo para o banheiro da suíte - Mamãe já chegou, mas foi porque eu pedi. - completou rapidamente, vendo o olhar alarmado da esposa - Eu sabia que você precisaria de um tempo para se arrumar e não poderíamos deixar os meninos sozinhos. Ela deu um banho neles e já está os arrumando.
-Mein Gott, ! Não deveríamos ter estressado a sua mãe com isso. Nós daríamos um jeito. – resmungou, contrariada, pensando no trabalho que estava dando à sogra na véspera de natal.
- Deixe de besteira, . - negou, sua voz vindo mais abafada por estar dentro do banheiro - Ela se ofereceu e eu aceitei. Fazia um tempo que ela não via os meninos e, por isso, fez questão de passar um tempo a mais com eles, antes de todos chegarem.
- Mesmo assim… - falou, se levantando e indo até o banheiro, visto que já não conseguia ouvir o marido com tanta facilidade. - Seu pai veio com ela? – perguntou, já dentro do cômodo, vendo o jogador totalmente desnudo, já debaixo do chuveiro. A água estava tão quente que, mesmo com poucos segundos ligado, o vapor já tinha se espalhado pelo lugar, começando a embaçar os vidros.
- Não. - negou enquanto se ensaboava - Mamãe disse que ele vai vir com Jonas mais tarde. Eles são o casal divorciado mais estranho que eu conheço. - fez uma careta e ouviu risos em concordância, já que , por vezes, esquecia que os sogros não estavam mais juntos devido à dinâmica que eles compartilhavam - Agora, sabe o que estou pensando? – questionou, sugestivo, aproximando-se da esposa que estava no começo do box - Que você poderia tomar um banho comigo… - continuou, jogando um pouquinho de água no rosto da mulher e recebendo um olhar de censura em resposta.
- ! - repreendeu o marido, afastando-se dele porque sabia que era capaz de ser levada para debaixo de chuveiro de roupa mesmo - Comporte-se!
- Só banho mesmo, amor… - continuou, arqueando a sobrancelha - Você pensa muito mal de mim. - fez uma cara de ofendido, voltando para a água após começar a sentir um princípio de frio.
- Eu penso coisas muito reais de você. - corrigiu, mas cedeu ao pensar que, de fato, seria mais rápido se banhar com o marido do que esperá-lo terminar o banho dele para, assim, começar o seu - Mas, até que você deu uma boa ideia…
- Eu sempre dou boas ideias. – afirmou, presunçoso, assistindo a esposa se despir das roupas que vestia e logo após entrando no espaço do chuveiro, afastando-se a fim de dar espaço para que ela lavasse o cabelo - Você já deveria saber disso. - completou, dando um selinho na mulher.
- Sem gracinhas! - apontou para ele, vendo-o erguer os braços em sinal de inocência - Somos os anfitriões, temos que dar o exemplo de pontualidade!
- Pontualidade? - riu, pegando o shampoo para começar a passar nos cabelos de - Você realmente conhece a nossa família?
- Para poder criticá-los, precisamos fazer diferente, oras! - retrucou, fechando os olhos para aproveitar o carinho que fazia no seu couro cabeludo.
- Você quem sabe, capi! - bateu continência para a mulher, recebendo um tapinha em resposta pela provocação - Agora vamos aproveitar nosso banho, vem…
Xx
Eles acabaram passando mais tempo do que o necessário no banho, o que fez com que ouvisse algumas reclamações de por causa do horário. Em resposta, o homem replicou, dizendo que quanto mais ela reclamasse, mais ela se atrasaria. Assim, passou a focar na sua arrumação e deixou que também focasse na sua própria. Depois de uma hora, o casal estava pronto. estava com um vestido vermelho longo, que possuía uma fenda lateral que valorizava as suas pernas, enquanto nos pés calçava uma sandália meia pata preta, que possuía alguns adornos em dourado. Já usava uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa social também vermelha, embora ele tivesse argumentado que era extremamente clichê usar esses tons na noite de Natal. Comentário este que foi completamente ignorado pela .
Após terminar a maquiagem leve que tinha feito, ambos deram as mãos e desceram as escadas com cuidado, visto que não era nenhum exemplo de coordenação e tinha pavor de cair do salto. Chegando na sala, tiveram uma leve surpresa. Além de Ulla e dos gêmeos, Hermann e Jonas, além de Leona e Klaus, pais de , estavam sentados no sofá conversando amenidades, levantando do móvel quando viram a aproximação do casal.
- Meu bebê! - Leona falou, abraçando a filha com força, fazendo com que a mais nova fizesse uma careta pelo apelido. Talvez ela entendesse um pouquinho da indignação dos filhos. - Está tão linda!
- Obrigada, mamãe. – falou, sincera, soltando-se da mulher para abraçar o pai - Papai!
- Bärchen! - falou, carinhoso, deixando um beijo na cabeça da filha - Pensei que tinham desistido de descer. Já estava roubando a comida do e levando para casa. - brincou, quando soltou a mais nova.
- Eles estavam querendo te dar mais um neto, Onkel. - Jonas provocou, se aproximando para abraçar a melhor amiga - Dar uma irmãzinha para os gêmeos… - falou, recebendo um tapão na cabeça vindo da mulher - Eu gostava mais de você quando não trocava fluidos com meu irmão, .
- E eu gostava mais de você quando mantinha essa sua língua malcriada dentro da boca. - devolveu, estirando o dedo do meio para ele ao ver que os seus filhos estavam distraídos com seus bonecos de Toy Story.
- ! - ouvia a repreensão de sua mãe, mas deu de ombros. Eles já deveriam estar acostumados à dinâmica dos amigos.
- Estamos dando abraços demais, preciso cultivar o meu estereótipo de alemão sombrio. - Jonas mudou de assunto depois de abraçar o irmão. - Felizmente estamos todos vacinados e isolados, caso contrário, uma nova cepa do vírus iria sair dessa sala...
- Hoje é natal, Jon. Até o Grinch do seu irmão já se rendeu a esse feriado maravilhoso. - Ulla retrucou, depois de cumprimentar o filho e a nora, sendo seguida pelo ex-marido.
- Eu não sou o Grinch. - resmungou, sentando-se no sofá ao lado de Liam - Eu apenas nunca fui muito natalino…
- E sempre tentou fazer com que ninguém fosse também. - completou sua mãe, fazendo uma careta aparecer na face do jogador, que deu de ombros em seguida.
- Onde estão Anthony e Benjamin? - perguntou após algum tempo de conversa - Eu quero ver os meus sobrinhos!
- Estão vindo, acabaram de mandar uma mensagem. - respondeu Klaus - Eles demoraram porque Raika estava com um pouco de cólica e o choro dela deixou Charlie inquieto. - explicou, fazendo referência aos filhos de Ant e de Ben, respectivamente, que ainda eram bebês. Fora os dois, ainda tinha Matteo, que era um menino de quatro anos e o filho mais velho de Anthony.
- Essa é uma fase que eu definitivamente não sinto falta. - suspirou, olhando para os filhos que estavam alheios à presença dos adultos - Já é difícil cuidar de um bebê doente, mas de dois, ao mesmo tempo… - balançou a cabeça - Tempos muito complicados.
- Por isso que eu não tenho filhos. - Jonas falou em uma careta - Acho que choraria mais do que eles em casos assim.
- Você não tem filhos porque é um encalhado, Jonas. - corrigiu o irmão, rindo ao desviar de uma almofada por ele jogada - E eu ainda tenho dúvidas da sua capacidade de alimentar e de cuidar de uma criança de forma decente.
- Se a consegue, qualquer um consegue também. - retrucou, recebendo um “Ei!” bastante afetado em resposta.
- Sério, eu realmente vou aprender a cozinhar e vocês todos vão morder a língua por causa dessas provocações ridículas! – a mulher falou, ouvindo a campainha tocar e se levantando para abrir a porta.
- Se você não matar ninguém no processo, já é um lucro, Miazinha. - Jonas devolveu, recebendo outro gesto obsceno em resposta, antes que a mulher abrisse a porta para o restante da família.
- Mal chegamos e já tem confusão? - Ant perguntou ao ver a cara emburrada da irmã, puxando-a para um abraço - O que você fez, ? - perguntou para o cunhado, vendo ele negar com a cabeça, ofendido com a acusação.
- Ei, eu sou inocente! Foi o mais feio quem provocou tudo isso. - apontou para o irmão mais novo, que também tinha se levantado para falar com os convidados.
- mais feio é a minha…
- JONAS! - Ulla exclamou, horrorizada, olhando rapidamente para as crianças - Comporte-se! – repreendeu.
- Desculpe, mamãe. – pediu, ainda contrariado, após cumprimentar todos. - Mas foi o quem começou!
- Vocês são mais infantis do que as crianças da família, por Deus! - quem respondeu, pegando Charlie do colo da cunhada e brincando com o bebê.
- Vocês são mais infantis do que as crianças da família. - Jonas imitou a cunhada com uma voz irritantemente infantil, fazendo-a revirar os olhos com tédio.
Enquanto retrucava Jonas e reafirmava o quanto ele era infantil, Raika começou um choro inesperado. Anthony e Lola, sua esposa, se assustaram ao pensar que a cólica tinha recomeçado, mas viram que isso era devido aos gêmeos que, junto a Matteo, estavam fazendo caretas na direção da menina, o que acabou a assustando. Sempre que se juntavam, o trio deixava a todos com os cabelos em pé devido às travessuras que aprontavam. Ao ouvir o choro da prima, Charlie a acompanhou, incomodado com o pranto repentino da menina. Assim, os mais velhos se dividiram entre tentar acalmar os bebês, repreender as crianças arteiras e cessar as provocações infantis entre os próprios adultos, o que gerou um misto de vozes e um pequeno tumulto no meio da sala. Era apenas mais um natal comum na residência dos .
Então, ali estava , no supermercado, na véspera da véspera de Natal, com duas crianças com indícios de hiperatividade e sem saber o que precisava comprar. A mulher era uma péssima cozinheira. A sua capacidade culinária era do nível de conseguir queimar até água. Definitivamente, ela não tinha nascido para isso. Por outro lado, sempre foi um chef de mão cheia, o maior responsável pelo fato de seus dois filhos, além do próprio e de , estarem salvos de uma grande intoxicação alimentar. Mas, no momento, toda a experiência do marido não poderia ajudá-la, uma vez que o homem estava sem celular após, acidentalmente, tê-lo deixado cair na banheira dos meninos. Embora a marca afirmasse que seus aparelhos eram à prova d ' água, a realidade não era bem essa. Além disso, há muitos anos o casal não possuía um telefone fixo, então, a não ser que cruzasse toda a cidade novamente para ir até em casa, não teria condições de falar com .
Ótimo. Maravilhoso. Fantástico.
Deveria ter aceitado quando o marido se ofereceu para acompanhá-la até o mercado. Ou quando disse que não era uma boa ideia levar as crianças com ela. Mas, nãããão, ela precisava insistir para que ele ficasse em casa descansando, sozinho, já que, no dia seguinte, passaria todo o tempo trabalhando na cozinha. Parabéns, . Genial. A mulher fez menção de ligar para os seus pais ou sogros, contudo, acabou lembrando que estavam todos dentro de um avião a caminho de Dortmund, com o intuito de passarem o feriado juntos. Sem ideias, passou a olhar para as pessoas que andavam apressadas ao seu redor, tentando copiar o conteúdo do carrinho delas.
- Mama, por que você está encarando o carrinho da moça? - perguntou Luka inocentemente, puxando levemente a manga da roupa da mãe. Ouvindo a indagação da criança, a moça da qual o menino se referia virou para olhar para os três , franzindo o cenho em confusão para a família e logo saindo de perto deles. Fazendo uma careta por ter perdido a fonte de informação mais próxima a si, olhou para o filho, dando um sorriso para o menino que já não se importava com a resposta da mãe, indicando para Liam algumas guloseimas que estavam perto deles.
Suspirando, desanimada, olhou para os céus em busca de alguma resposta. Maldito e a sua incapacidade de fazer uma lista virtual.
- O que eu vou fazer, Senhor?! - lamentou baixinho, sofrendo um sobressalto ao sentir um cutucão em seu ombro.
- Falando sozinha, ? - olhou para o local que vinha a voz e se assustou quando viu quem falava com ela - Eu sei que sou mais bonito que o seu marido, mas não pode deixar tão na cara assim, . Vai traumatizar as crianças. - gracejou, apontando com a cabeça para as crianças que estavam alheias aos adultos ali presentes, conversando apenas entre si.
- Marco! - exclamou a mulher, cumprimentando o amigo de longe. Embora já estivesse vacinada com as três doses da vacina contra a COVID 19, não queria dar sorte ao azar e acabar contaminando a si e a sua família por descuido. Por esse motivo, ela ainda não tinha abolido as máscaras e evitava aglomerações que não fossem totalmente indispensáveis, como era o fato de fazer compras em pleno dia 23 de dezembro. Desse modo, ainda não tinha encontrado Elena e Alexis, como tinha combinado meses antes, na Eurocopa. As amigas acharam melhor esperar a gestação de Lexi finalizar e o bebê, que era um menino e iria se chamar Charles, completar alguns meses de vida, para poderem se ver em segurança. Por isso, a mulher recebia alguns olhares e comentários emburrados, mas nada que não pudesse lidar.
- ! - devolveu com a mesma animação da mulher, rindo levemente ao ver que chamou a atenção dos gêmeos - Luka! Liam! - repetiu dessa vez para os meninos, vendo eles entoarem algo que soava como “Onkel Marco!”, mas, provavelmente por recomendações dos pais, não levantaram do carrinho em que estavam para falar com Reus.
- Vamos ser expulsos do mercado. - falou ao dar espaço para uma mulher que a olhou feio por obstruir a passagem - O que está fazendo aqui, Reus? - perguntou para o amigo, seguindo com o homem para uma região mais vazia do corredor, o que foi facilitado pelo homem não estar com nenhum carrinho.
- Eu vim pegar os produtos da ceia que a Scarlett encomendou. - respondeu como se fosse óbvio, mexendo nos cabelos. Até porque era, levando em consideração que o supermercado era o mais próximo do condomínio que ambos moravam e que o jogador costumava ir com frequência para o local - E você, desde quando sabe fazer uma feira de Natal? Pensei que já tínhamos combinado que você nunca mais cozinharia nada.
- Hilário. - devolveu, revirando os olhos pela provocação - Eu não vou cozinhar, eu só vim comprar.
- Nem comprar você veio, certo, ?! Já que o seu carrinho ainda está vazio. - riu, apontando para o carrinho que apenas guardava Luka e Liam.
- Luka estragou minha lista, está incomunicável e eu não faço a menor ideia do que eu preciso levar para a ceia. - confessou em um suspiro, vendo que o rapaz achou graça do seu drama.
- E o preguiçoso do seu marido achou que era uma boa ideia você vir com eles - apontou para os gêmeos - fazer compras sozinha no dia que antecede a véspera de natal? – perguntou, incrédulo - Ele enlouqueceu?!
- Fui eu quem sugeriu isso, na verdade. - suspirou, saindo em defesa do marido. Apesar de que sim, concordava com o choque do amigo. Quando se falava em voz alta, a situação realmente não era favorável para si - Ele insistiu para vir, mas…
- Mas cedeu à sua teimosia. - completou o loiro, fazendo uma careta aparecer no rosto da mulher, que foi escondida pela máscara que ela usava.
- Sei que você passaria o dia questionando minhas decisões caso pudesse, mas eu preciso descobrir o que comprar para não deixar a minha família sem ceia de natal. - suspirou novamente, acenando para se despedir do amigo, que adorava a deixar irritada com seus comentários.
- Ei, calma! Eu posso te ajudar. - falou, parando na frente da para impedir que ela passasse com o carrinho.
- Você?! - retrucou com incredulidade - Eu posso ser um desastre na cozinha, mas você não fica atrás, Reus.
- Não vou me ofender com isso porque estou sensibilizado com os feriados. - fez um gesto de displicência com as mãos, fazendo com que a mulher arqueasse a sobrancelha - E eu sou a melhor alternativa que você tem. Pelos menos, eu terei uma ceia pronta esperando o clã Reus em casa.
- A melhor alternativa que eu tenho é pedir ajuda a algum funcionário do supermercado. - corrigiu o amigo, vendo ele dar de ombros.
- Verdade, mas nenhum é tão legal e bonito quanto eu.
- Desde quando você é legal e bonito? - cruzou os braços, vendo que mais ao fundo uns dois garotos encaravam o homem ao seu lado fixamente - Mas, como eu estou em um nível de desespero muito alto, vou aceitar a sua ajuda. - falou, puxando o amigo para longe do olhar dos garotos para que não chamassem atenção. O mercado já estava com muitas pessoas, então seria um tormento ver toda aquela gente assediando Reus, mesmo que já tivessem acostumados com a presença recorrentes de jogadores do Borussia Dortmund no lugar.
- Você não vai se arrepender, Miazinha. - piscou para a mulher, pegando para si a condução do carrinho em que estavam os meninos para auxiliar a amiga com os produtos que precisava comprar.
No final, Reus realmente a tinha ajudado. Após irem pegar os itens do rapaz, eles replicaram tudo que tinha na cesta encomendada pela esposa do jogador e encheram o carrinho de . Os gêmeos também ajudaram, apontando para os alimentos que eles conheciam, como chocolates e outras besteiras que seriam utilizadas nas sobremesas. não fazia ideia se os itens de Reus eram os mesmos que havia pedido. A mulher se envergonhava um pouco por ser alheia à ceia de sua família, mas a sua ajuda sempre foi referente à limpeza e ao cuidado com as crianças. Desse modo, o seu único contato com as comidas era no momento de bem… comer. E, como no ano anterior a família não tinha se reunido por conta da pandemia, a sua frágil memória não tinha sido capaz de lembrar todos os pratos servidos pelos . Mas, ela tinha feito o que podia, mediante as condições.
Por isso, quando estacionou em frente à sua casa, depois de comprar tudo e de se despedir de Marco, suspirou em alívio, sentindo um grande peso sair de seus ombros após ter finalmente saído daquele supermercado. Depois de tirar os meninos do carro, pediu para que eles chamassem , que provavelmente estava jogado no sofá. Enquanto isso, foi até a mala do carro para começar a retirar os itens comprados.
- Hey, liebe. - chamou o jogador, chegando de repente ao seu lado - Deu tudo certo lá? – perguntou, preocupado, depositando um beijo na cabeça da mulher e a ajudando a retirar as ecobags do carro.
- Sobre isso… - começou, hesitante - Na verdade não. - fez uma careta, retirando a máscara para o descarte e indo higienizar as suas mãos.
- Como assim, ? – questionou, se virando para ela, após entrar com as sacolas em casa. - O que aconteceu?
- Luka estragou a lista que você fez e eu fiquei sem saber o que fazer. - suspirou, após colocar todos os produtos, ainda nas sacolas, no balcão da cozinha. Mais tarde iria higienizar e guardar tudo. - Por sorte, encontrei o Marco lá e ele me ajudou a comprar tudo.
- O Marco? - perguntou, exasperado - Marco Reus? - perguntou novamente para ter certeza. Depois de vê-la confirmar, bagunçou os cabelos em nervosismo. - Amor, era mais proveitoso voltar para casa e me deixar ir lá do que aceitar conselhos culinários do Reus!
- Mas não foram conselhos do Reus, foram da Scarlett. - explicou, vendo o marido relaxar a expressão - Apenas copiei tudo o que ela pediu para eles.
- Certo… - assentiu, ainda receoso e confuso com a situação - Posso dar uma olhada? - apontou para as sacolas.
- Fique à vontade. - concordou, dando espaço para que o marido fizesse o que queria.
Após mexer em todos os produtos comprados por , finalmente se acalmou, vendo que a lista que tinha mandado para a esposa era praticamente idêntica aos itens reservados por Scarlett Reus. Não poderiam culpá-lo por ficar desconfiado da capacidade do loiro de selecionar comidas para alimentar outras pessoas. Mesmo que a sua própria esposa não ficasse muito atrás.
- Acho que só faltaram as nozes e os damascos para o Stollen, fora isso, temos tudo conosco. - afirmou quando conferiu tudo, levantando-se e indo até a esposa. - Vou pedir aos meus pais para que, antes de virem aqui, passarem no mercado para comprar.
- Danke Gott! - respondeu dramaticamente, levantando as mãos aos céus em agradecimento. Felizmente, tinha dado sorte e as coisas acabaram se encaixando. - Agora que tudo deu certo, você cuida dos meninos porque eu estou destruída. - falou, deixando um selinho nos lábios do homem e seguindo para as escadas para subir em direção ao seu quarto. Precisava urgentemente de um banho quente e relaxante.
Finalmente dia 24. poderia dizer que era um grande espírito natalino. Desde criança fora ensinada que a data era o momento de reencontro, perdão e, sobretudo, união da família e dos amigos. E, quando construiu a sua própria família, tentou repassar isso para os meninos, que, como ela, também amavam o natal.
Por ter o aniversário no final do ano, não era tão fã assim do feriado. Embora amasse cozinhar as típicas comidas alemãs para a família, o jogador não se sentia muito animado com o feriado do bom velhinho. Quando o chamava de Grinch, ele replicava, afirmando que era um trauma infantil, já que costumava ter seu aniversário ofuscado por toda a atmosfera de Natal. Mas, desde que os gêmeos tinham nascido, a negatividade do rapaz tinha diminuído consideravelmente e ele já se empolgava para montar a árvore de Natal e para comprar os presentes.
Levantando, ainda preguiçosa, deixou dormindo, a fim de que o marido descansasse antes de ir para a cozinha. fez a sua higiene pessoal e foi em direção ao quarto dos gêmeos, com o intuito de acordá-los para tomar café. Mas, chegando lá, teve uma surpresa, encontrando os meninos já acordados e conversando entre si, ambos na cama de Liam.
- Os meus monstrinhos já estão acordados, é?! - perguntou com uma voz engraçada, fazendo garras com as mãos e se aproximando dos filhos para fazer cócegas. Depois de ouvir muitas risadas, alguns gritinhos e pedidos de “Para, mamãe”, parou de provocar os filhos, apertando-se junto a eles na pequena cama.
- Por que estão acordados tão cedo, meus bebês?!
- Bebê não, mamãe! - Luka corrigiu, com sua fala que já vinha perdendo o embolado há um certo tempo.
- Bebê sim! - retrucou, beijando a bochecha do filho - Vocês sempre serão meus bebês. Mesmo quando já estiverem com barba na cara e com vontade de desbravar o mundo sozinhos.
- A gente vai ter barba? - Liam perguntou, interessado, tocando no próprio rosto enquanto esperava a resposta da mãe - Igual ao papai?
- Se puxarem à minha família, sim. - riu levemente - Porque nós não podemos chamar aquilo no rosto do seu pai de barba… - vendo que as crianças fizeram caretas idênticas de confusão, riu novamente, balançando a cabeça - Mas vocês estão me enrolando! - fingiu que brigava, apertando de leve a barriga de Liam - O que fazem já acordados?
- Natal, mamãe! - Liam respondeu como se fosse óbvio - Animados!
- Estão animados, é?! - perguntou, recebendo acenos empolgados com a cabeça, fazendo-a rir - Então vamos descer para comer e começar nosso dia?! – perguntou, animada, vendo os filhos se entreolharem em dúvida.
- Papai acordou? - Luka perguntou, tombando a cabeça de leve.
- Ainda não, por quê, filho?
- Sem fome, mamãe. - ele respondeu, recebendo um aceno do irmão - Depois come.
- Depois vocês comem? – perguntou, desconfiada, entendendo o que os filhos estavam tentando lhe dizer - Eu não vou cozinhar nada, seus pestinhas. Vocês vão comer as frutas que já estão cortadas.
- Então podemos ir, mamãe. - Liam respondeu, pulando da cama e dando as mãos para o irmão e a mãe fazerem o mesmo. Quando os três já estavam de pé, fez uma careta, pensando que deveria fazer um curso de culinária. Ninguém acreditava nas suas capacidades na cozinha. - Mama! Fome! Vamos! - Liam falou com sua vozinha autoritária, o que fez com que o olhasse, chocada.
- Eu deveria doar vocês, seus monstrinhos. – falou, fingindo chateação - Ninguém me valoriza nessa casa…
- Não chora, mamãe! - Luka falou, preocupado, agarrando-se às pernas da mãe - Não chora!
- Desculpa, mamãe! - Liam imitou o irmão, mas com uma voz de choro - Desculpa! A gente come sua comidinha!
- E comem, é?! - perguntou para os filhos, que permaneciam agarrados juntos a si. Os meninos assentiram enfaticamente - Eu agradeço, mas não precisam. Agora vamos, sem enrolação! - mandou, dando tapinha nas costas deles e os apressando para saírem do quarto.
Depois de alimentados, levou os meninos para escovarem os dentes e tirarem os pijamas. Então, quando finalmente estavam prontos, olhou o horário no celular e percebeu que já estava no horário que tinha pedido para ela acordá-lo. O homem tinha um sério problema com alarmes e sempre apelava para a esposa em momentos que precisava seguir hora marcada.
- Meninos, o que vocês acham de irem lá acordar o papai? - questionou, abaixando-se para ficar na altura dos gêmeos.
- Papai dorminhoco! - Liam falou, recebendo apoio do irmão.
- Papai dorminhoco. - assentiu - Vamos acordá-lo? - sugeriu, vendo os gêmeos concordarem e saírem correndo em direção ao quarto dos pais.
- Sem correr! - advertiu ela, mas sem muito sucesso - Crianças… - suspirou, balançando a cabeça em negação e seguindo pelo mesmo caminho que os filhos.
Chegando no quarto, viu o marido na mesma posição que o havia deixado tempos antes. estava sem camisa e com um edredom cobrindo a parte inferior de seu corpo, enquanto o rosto estava enterrado no travesseiro. Liam e Luka estavam parados ao lado do pai, sem saber o que lhes era permitido para despertá-lo.
- Vão lá. - incentivou , fazendo um gesto de abano com as mãos - Podem acordar o pai de vocês. - depois disso, não foi necessário falar novamente. Com certa dificuldade, os gêmeos subiram na cama do casal e demoraram alguns segundos para se equilibrarem em pé. Ao verem que estavam firmes no colchão, começaram a pular em cima do pai, entoando gritos de “Acorda, papa!”. apenas resmungou, tentando virar para o lado oposto, sem sucesso, já que, após isso, os meninos passaram a jogar travesseiros no jogador para que ele finalmente acordasse.
- Chega, meninos! - a mulher falou, vendo que já estava com os olhos abertos e tentava desviar dos golpes - Papai já acordou.
- Papai acordou? - Liam perguntou, olhando para baixo para conferir - Papai acordou! - confirmou, continuando a pular junto a Luka em cima de .
- Papai acordou. - confirmou com a voz rouca, pigarreando para manter o tom mais firme - Bom dia, família. - falou em uma careta, meio atordoado pelo modo que tinha sido acordado.
- Bom dia, meu amor. - falou, se aproximando do marido e deixando um beijo em sua bochecha - Dormiu bem? – questionou, risonha, vendo que os meninos continuavam pulando na cama - E vocês, pestinhas, parem de pular! Vão acabar se machucando. - repreendeu os gêmeos, sendo atendida de prontidão pelos filhos.
- Como um bebê. – respondeu, sincero, já mais desperto e arrumando a sua postura na cama - Os meninos já comeram? - perguntou, vendo a mulher assentir - Você não cozinhou, não é?! - questionou em uma careta.
- Eu vou aprender a cozinhar só para calar a boca de vocês. - a mulher bufou, revirando os olhos, chamando os filhos para descer, a fim de que o marido se arrumasse.
- Confio no seu potencial, meine liebe. - respondeu, risonho, colocando os braços na frente do rosto para se proteger do travesseiro que a mulher arremessou nele.
- Vê se não demora a descer, seu insuportável.
O dia prosseguiu tranquilo. se sentia bastante à vontade na cozinha e dispensou a ajuda de todos que lhe ofereceram auxílio, como a sua mãe, que tinha passado mais cedo na residência do casal para deixar os produtos pedidos pelo filho. Mas, obviamente, ele não faria tudo sozinho. Ulla ficou responsável pela salada de batatas e pelas salsichas cozidas, enquanto Leona, sua sogra, faria o assado de carne bovina e os típicos biscoitos natalinos. , por sua vez, ficou responsável pelo ganso recheado, pelos legumes gratinados e pelo Stollen, um famoso panetone alemão. Ele apenas negligenciou a ceia por alguns minutos com o intuito de preparar o almoço da família, mas após comerem e de colocarem a louça na máquina, já voltou para os preparativos. queria que tudo saísse perfeito.
Todos os membros da família - estavam hospedados nas casas que ambas as famílias tinham no mesmo condomínio do casal. Depois que os gêmeos nasceram, apesar de e acharem um absurdo e uma tremenda besteira, os seus pais e irmãos afirmavam que era inviável que todos se hospedassem na casa do jogador, acreditando que seria um tumulto desnecessário e estressante. Mesmo que a casa fosse bastante espaçosa e tivesse quartos de sobra. Até porque Benjamin e Anthony também haviam constituído famílias e, embora Jonas continuasse - nas palavras de - um encalhado, ele provavelmente também se casaria um dia e seriam mais pessoas para um lugar só. Por isso, estavam todos distribuídos em duas casas diferentes.
até tentou argumentar, afirmando que as duas casas também ficariam tumultuadas e que poderiam ceder espaço em sua própria residência a fim de gerar mais conforto para todos, mas foi ignorada e eles acabaram seguindo o planejamento inicial. Por esse motivo, a casa dos estava bastante silenciosa, a não ser por alguns barulhos de na cozinha e pelos gêmeos que conversavam entre si enquanto montavam, com ajuda da mãe, uma pista gigantesca de carrinhos.
Durante à tarde, iria tentar colocá-los para dormir para ver se conseguiam ficar acordados para o jantar, mesmo achando que as crianças iriam capotar assim que possível. Enquanto se distraía junto aos filhos, a mulher ouvia cantando algumas músicas famosas, como Livin’ On a Prayer, de uma forma bastante exagerada e desafinada. não poderia enxergar, mas se pudesse apostar, tinha a certeza de que veria o jogador utilizando seus utensílios de cozinha como microfone e guitarra.
Ao ver que já eram cinco da tarde, levantou preguiçosamente do tapete em que estava sentada, levemente dolorida devido ao tempo que passou na mesma posição. Recebendo alguns protestos dos filhos que, apesar de cansados, queriam continuar brincando, a mulher guiou os meninos até o quarto deles, colocando-os na cama e os assistindo adormecer alguns minutos depois. Percebendo que eles realmente estavam dormindo e não a enrolando como já fizeram algumas vezes, ela cuidadosamente saiu do cômodo, seguindo rapidamente para a cozinha a fim de encontrar .
Chegando lá, não conseguiu segurar a gargalhada ao ver a cena que se desenrolava em sua frente. estava com um avental rosa e cheio de florzinhas, que tinha comprado para ela anos antes quando achou que iria aprender a cozinhar; uma touca amarela na cabeça para proteger os seus cachos e uma faca na mão, enquanto cantava uma música que ela reconheceu como sendo da One Direction. A caixa de som que ela não tinha percebido estar ligada anteriormente, visto que a voz do marido se sobressaía às vozes dos cantores, tocava Last First Kiss em um volume alto o suficiente para que não percebesse a presença da esposa no local.
-I wanna be last, yeah - jogou um braço para cima, enquanto cortava alguns legumes - Baby let me be your… - continuou performando enquanto descascava uma batata - Let me be your last first kiss… - terminou, mexendo na sua touca, virando-se para pegar algo na geladeira e dando um pulinho em sobressalto em ver de braços cruzados e uma feição risonha.
- Vou avisar ao BVB que eles vão ficar sem zagueiro… - começou, debochada, ainda parada na entrada da cozinha - Porque o show business está perdendo um grande artista!
- Bobona! - resmungou ele, levemente envergonhado por ter sido pego pela mulher, abrindo a geladeira e pegando algumas cenouras. Após fechá-la, foi até a caixa de som abaixar o seu volume a fim de conversarem com maior clareza - Você está com inveja do meu talento! - decidiu entrar na brincadeira, dando uma piscadela para e rebolando de forma afetada, fazendo-a rir mais um pouco.
- Brincadeiras à parte… - balançou a cabeça, ainda com uma feição de riso - Vim ver se precisava de alguma coisa. – falou, se aproximando do homem e abraçando a sua cintura, dando um beijinho em suas costas.
- Pode ir descansar, amor. - ele dispensou a ajuda, virando-se para e deixando um selinho em seus lábios - Os meninos foram dormir? - perguntou, vendo-a assentir - Então, vá dormir também. - incentivou, continuando a mexer nos legumes.
- Eu me sinto mal em ficar de pernas para o ar enquanto você está aqui ralando. – protestou, contrariada, vendo o marido soltar os utensílios que usava no balcão para virar de frente para ela e poder abraçá-la decentemente.
- , por Deus! Somos uma equipe, certo?! – perguntou, olhando para os olhos da mulher, continuando ao vê-la confirmar - Você passou o dia todo com os nossos filhos, agora precisa descansar para aguentar virar à noite. Não se preocupe comigo. Estou bem aqui com as minhas músicas. - sinalizou a caixa de som, colocando as mãos na cintura de forma dramática e depositando mais um selinho na boca da esposa ao ver que ela iria protestar. - Deixa de ser teimosa, mulher! - repreendeu, empurrando-a de leve para sair do cômodo - Se aqui tivesse uma porta, eu fecharia de forma dramática, mas o bendito conceito aberto me impede de fazer isso. Então, finja que eu fiz assim e saia daqui! – falou, se fingindo de autoritário e vendo a mulher assentir conformada, sem vontade de contrariar o marido, sabendo que não iria convencê-lo. Ao ver que ela estava indo em direção às escadas que davam para os quartos, voltou a ligar a sua caixa de som e a trabalhar nos seus pratos. Tinha uma família para alimentar.
nem percebeu quando adormeceu. O cansaço que nem sabia que estava sentindo pesou sobre seus ombros e ela caiu no sono logo após deitar em sua cama. A mulher só acordou horas depois, quando entrou no cômodo prestes a tomar banho, após finalizar todo o trabalho na cozinha.
- Desculpe te acordar, amor. - pediu, aproximando-se da esposa para beijar a sua cabeça - Pensei que já estava desperta. - completou, afastando-se dela para tirar a roupa que vestia.
- Eu acabei dormindo demais. - falou, esticando os braços e arrumando a postura - Estou muito atrasada? – questionou, preocupada.
- Não, pode ficar tranquila. - a acalmou, já de cueca e seguindo para o banheiro da suíte - Mamãe já chegou, mas foi porque eu pedi. - completou rapidamente, vendo o olhar alarmado da esposa - Eu sabia que você precisaria de um tempo para se arrumar e não poderíamos deixar os meninos sozinhos. Ela deu um banho neles e já está os arrumando.
-Mein Gott, ! Não deveríamos ter estressado a sua mãe com isso. Nós daríamos um jeito. – resmungou, contrariada, pensando no trabalho que estava dando à sogra na véspera de natal.
- Deixe de besteira, . - negou, sua voz vindo mais abafada por estar dentro do banheiro - Ela se ofereceu e eu aceitei. Fazia um tempo que ela não via os meninos e, por isso, fez questão de passar um tempo a mais com eles, antes de todos chegarem.
- Mesmo assim… - falou, se levantando e indo até o banheiro, visto que já não conseguia ouvir o marido com tanta facilidade. - Seu pai veio com ela? – perguntou, já dentro do cômodo, vendo o jogador totalmente desnudo, já debaixo do chuveiro. A água estava tão quente que, mesmo com poucos segundos ligado, o vapor já tinha se espalhado pelo lugar, começando a embaçar os vidros.
- Não. - negou enquanto se ensaboava - Mamãe disse que ele vai vir com Jonas mais tarde. Eles são o casal divorciado mais estranho que eu conheço. - fez uma careta e ouviu risos em concordância, já que , por vezes, esquecia que os sogros não estavam mais juntos devido à dinâmica que eles compartilhavam - Agora, sabe o que estou pensando? – questionou, sugestivo, aproximando-se da esposa que estava no começo do box - Que você poderia tomar um banho comigo… - continuou, jogando um pouquinho de água no rosto da mulher e recebendo um olhar de censura em resposta.
- ! - repreendeu o marido, afastando-se dele porque sabia que era capaz de ser levada para debaixo de chuveiro de roupa mesmo - Comporte-se!
- Só banho mesmo, amor… - continuou, arqueando a sobrancelha - Você pensa muito mal de mim. - fez uma cara de ofendido, voltando para a água após começar a sentir um princípio de frio.
- Eu penso coisas muito reais de você. - corrigiu, mas cedeu ao pensar que, de fato, seria mais rápido se banhar com o marido do que esperá-lo terminar o banho dele para, assim, começar o seu - Mas, até que você deu uma boa ideia…
- Eu sempre dou boas ideias. – afirmou, presunçoso, assistindo a esposa se despir das roupas que vestia e logo após entrando no espaço do chuveiro, afastando-se a fim de dar espaço para que ela lavasse o cabelo - Você já deveria saber disso. - completou, dando um selinho na mulher.
- Sem gracinhas! - apontou para ele, vendo-o erguer os braços em sinal de inocência - Somos os anfitriões, temos que dar o exemplo de pontualidade!
- Pontualidade? - riu, pegando o shampoo para começar a passar nos cabelos de - Você realmente conhece a nossa família?
- Para poder criticá-los, precisamos fazer diferente, oras! - retrucou, fechando os olhos para aproveitar o carinho que fazia no seu couro cabeludo.
- Você quem sabe, capi! - bateu continência para a mulher, recebendo um tapinha em resposta pela provocação - Agora vamos aproveitar nosso banho, vem…
Eles acabaram passando mais tempo do que o necessário no banho, o que fez com que ouvisse algumas reclamações de por causa do horário. Em resposta, o homem replicou, dizendo que quanto mais ela reclamasse, mais ela se atrasaria. Assim, passou a focar na sua arrumação e deixou que também focasse na sua própria. Depois de uma hora, o casal estava pronto. estava com um vestido vermelho longo, que possuía uma fenda lateral que valorizava as suas pernas, enquanto nos pés calçava uma sandália meia pata preta, que possuía alguns adornos em dourado. Já usava uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa social também vermelha, embora ele tivesse argumentado que era extremamente clichê usar esses tons na noite de Natal. Comentário este que foi completamente ignorado pela .
Após terminar a maquiagem leve que tinha feito, ambos deram as mãos e desceram as escadas com cuidado, visto que não era nenhum exemplo de coordenação e tinha pavor de cair do salto. Chegando na sala, tiveram uma leve surpresa. Além de Ulla e dos gêmeos, Hermann e Jonas, além de Leona e Klaus, pais de , estavam sentados no sofá conversando amenidades, levantando do móvel quando viram a aproximação do casal.
- Meu bebê! - Leona falou, abraçando a filha com força, fazendo com que a mais nova fizesse uma careta pelo apelido. Talvez ela entendesse um pouquinho da indignação dos filhos. - Está tão linda!
- Obrigada, mamãe. – falou, sincera, soltando-se da mulher para abraçar o pai - Papai!
- Bärchen! - falou, carinhoso, deixando um beijo na cabeça da filha - Pensei que tinham desistido de descer. Já estava roubando a comida do e levando para casa. - brincou, quando soltou a mais nova.
- Eles estavam querendo te dar mais um neto, Onkel. - Jonas provocou, se aproximando para abraçar a melhor amiga - Dar uma irmãzinha para os gêmeos… - falou, recebendo um tapão na cabeça vindo da mulher - Eu gostava mais de você quando não trocava fluidos com meu irmão, .
- E eu gostava mais de você quando mantinha essa sua língua malcriada dentro da boca. - devolveu, estirando o dedo do meio para ele ao ver que os seus filhos estavam distraídos com seus bonecos de Toy Story.
- ! - ouvia a repreensão de sua mãe, mas deu de ombros. Eles já deveriam estar acostumados à dinâmica dos amigos.
- Estamos dando abraços demais, preciso cultivar o meu estereótipo de alemão sombrio. - Jonas mudou de assunto depois de abraçar o irmão. - Felizmente estamos todos vacinados e isolados, caso contrário, uma nova cepa do vírus iria sair dessa sala...
- Hoje é natal, Jon. Até o Grinch do seu irmão já se rendeu a esse feriado maravilhoso. - Ulla retrucou, depois de cumprimentar o filho e a nora, sendo seguida pelo ex-marido.
- Eu não sou o Grinch. - resmungou, sentando-se no sofá ao lado de Liam - Eu apenas nunca fui muito natalino…
- E sempre tentou fazer com que ninguém fosse também. - completou sua mãe, fazendo uma careta aparecer na face do jogador, que deu de ombros em seguida.
- Onde estão Anthony e Benjamin? - perguntou após algum tempo de conversa - Eu quero ver os meus sobrinhos!
- Estão vindo, acabaram de mandar uma mensagem. - respondeu Klaus - Eles demoraram porque Raika estava com um pouco de cólica e o choro dela deixou Charlie inquieto. - explicou, fazendo referência aos filhos de Ant e de Ben, respectivamente, que ainda eram bebês. Fora os dois, ainda tinha Matteo, que era um menino de quatro anos e o filho mais velho de Anthony.
- Essa é uma fase que eu definitivamente não sinto falta. - suspirou, olhando para os filhos que estavam alheios à presença dos adultos - Já é difícil cuidar de um bebê doente, mas de dois, ao mesmo tempo… - balançou a cabeça - Tempos muito complicados.
- Por isso que eu não tenho filhos. - Jonas falou em uma careta - Acho que choraria mais do que eles em casos assim.
- Você não tem filhos porque é um encalhado, Jonas. - corrigiu o irmão, rindo ao desviar de uma almofada por ele jogada - E eu ainda tenho dúvidas da sua capacidade de alimentar e de cuidar de uma criança de forma decente.
- Se a consegue, qualquer um consegue também. - retrucou, recebendo um “Ei!” bastante afetado em resposta.
- Sério, eu realmente vou aprender a cozinhar e vocês todos vão morder a língua por causa dessas provocações ridículas! – a mulher falou, ouvindo a campainha tocar e se levantando para abrir a porta.
- Se você não matar ninguém no processo, já é um lucro, Miazinha. - Jonas devolveu, recebendo outro gesto obsceno em resposta, antes que a mulher abrisse a porta para o restante da família.
- Mal chegamos e já tem confusão? - Ant perguntou ao ver a cara emburrada da irmã, puxando-a para um abraço - O que você fez, ? - perguntou para o cunhado, vendo ele negar com a cabeça, ofendido com a acusação.
- Ei, eu sou inocente! Foi o mais feio quem provocou tudo isso. - apontou para o irmão mais novo, que também tinha se levantado para falar com os convidados.
- mais feio é a minha…
- JONAS! - Ulla exclamou, horrorizada, olhando rapidamente para as crianças - Comporte-se! – repreendeu.
- Desculpe, mamãe. – pediu, ainda contrariado, após cumprimentar todos. - Mas foi o quem começou!
- Vocês são mais infantis do que as crianças da família, por Deus! - quem respondeu, pegando Charlie do colo da cunhada e brincando com o bebê.
- Vocês são mais infantis do que as crianças da família. - Jonas imitou a cunhada com uma voz irritantemente infantil, fazendo-a revirar os olhos com tédio.
Enquanto retrucava Jonas e reafirmava o quanto ele era infantil, Raika começou um choro inesperado. Anthony e Lola, sua esposa, se assustaram ao pensar que a cólica tinha recomeçado, mas viram que isso era devido aos gêmeos que, junto a Matteo, estavam fazendo caretas na direção da menina, o que acabou a assustando. Sempre que se juntavam, o trio deixava a todos com os cabelos em pé devido às travessuras que aprontavam. Ao ouvir o choro da prima, Charlie a acompanhou, incomodado com o pranto repentino da menina. Assim, os mais velhos se dividiram entre tentar acalmar os bebês, repreender as crianças arteiras e cessar as provocações infantis entre os próprios adultos, o que gerou um misto de vozes e um pequeno tumulto no meio da sala. Era apenas mais um natal comum na residência dos .
Fim!
Nota da autora: Fim? Pois é, fim. Schwein Haben surgiu em 2018 com a proposta de narrar a construção do relacionamento de um casal que se conhecia desde a infância, mas que nunca se deu bem. Ele é aspirante a jogador e ela a melhor amiga do irmão mais novo dele. A história já começaria com eles casados, vivendo a amarga eliminação alemã para os coreanos, na Copa do Mundo. Contudo, a vida adulta chegou e as dificuldades para escrever chegaram com ela. Desse modo, retirei a fanfic em 2019 e em 2020 tentei retomar, mas o enredo já não fazia tanto sentido assim e as ideias não se conectavam muito bem. No fim, SH acabou virando apenas uma série de shorts sobre um casal só. Um dia, pretendo voltar aqui e modificar as coisas que me incomodam, mas hoje eu me despeço de Schwein Haben, do , da , dos gêmeos... Enfim. Não é um adeus, mas um até logo. Muito obrigada a quem leu e perdeu um tempinho para comentar. Se eu não desisti muito antes, foi por causa de vocês. Um beijo e até a próxima!
Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI
Nota da beta: Eu amei que essa fic tenha sido repostada, porque tive a chance de te acompanhar nela! Amei a história desses dois, apesar de achar que nem lembro como ela começou, com essa demora toda! Hahahaha Nem acredito que acabou, eu achei que íamos ver tão mais deles, por isso espero muito por esse até logo, porque quero estar aqui pra aproveitar mais desse amor, dos flashbacks e dessas crianças maravilhosas. Você é uma autora incrível, parabéns <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações somente no e-mail.
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