Capítulo Único
Enterrar um pai não era nada fácil, porém, ainda assim, estava lidando com aquilo melhor do que havia imaginado.
Como o primeiro príncipe herdeiro, o filho mais velho, foi criado sob crenças absurdas e ensinado a fingir que não sentia; fosse dor, afeto, carinho, qualquer coisa. Numa situação daquelas não seria diferente.
Seu pai estava morto e ele assumiria o trono. Simples assim, como se nada mais importasse. Contudo, no fundo de seu âmago, sentia a dor da perda. Era como uma praga que se espalhava por todo seu corpo, corroendo-o aos poucos, queimando-o de dentro para fora. E ele não podia derramar uma lágrima sequer — não que fosse fazê-lo na frente de alguém, de qualquer modo, havia sido ensinado a não chorar também.
Após a passeata por todo o reino, com o caixão do antigo Rei sendo carregado pelos quatro filhos homens, retornaram para o castelo real. O local estava silencioso e calmo, ao contrário de alguns dias antes onde o falecido saltitava e brincava com todos ao redor.
Seokmin foi um homem amado e idolatrado; pela família, pelo povo, pelos aliados. Era um homem que prezava pela honestidade e bravura. Criou filhos com o próprio suor, deu o que comer para todos daquele reino — o qual herdara à beira da miséria e no ápice de uma doença desconhecida que estava acabando com grande parte dos moradores —, deu educação da forma que pôde, ajudou a todos que lhe pediram e encerrou uma guerra que acontecia por mais de dez anos; fora um homem e tanto. O melhor rei que Goryeo havia visto.
E agora tudo aquilo pertencia a , o filho mais velho entre os quatro. A pressão de ser tão bom quanto Seokmin o sufocava, porém fingia não sentir. As aulas de teatro lhe eram muito úteis naquele momento, mesmo que a arte não fosse bem vista — seu pai nunca o proibiu de nada, sua única condição era: não faltar aos compromissos reais, às aulas de Geografia e idiomas, além, é claro, das de estratégias militares e tiro ao alvo.
Com isso, ganhava o direito de receber aulas particulares de música — que incluíam canto e instrumentos —, literatura, pintura e teatro; artes que ele adorava, principalmente música. E, de brinde, descobriu que tinha irmãos talentosos e que amavam artes assim como ele.
, o segundo herdeiro, dançava como ninguém; além de ter uma voz macia e suave, apesar de um tanto aguda. Cantava feito um anjo. , o terceiro, escrevia como o maior dos poetas já vistos por todo o mundo; era bom com as palavras faladas, escritas e cantadas. Dominava-as com destreza e era o responsável pelos discursos reais desde seus 12 anos. Um prodígio da literatura e leitura. Todos em Goryeo o conheciam. E , o caçula, era como um faz tudo; um combo completo. Dançava, atuava, cantava, escrevia e pintava. Os quatro irmãos formavam um time extremamente artístico, para o orgulho de Daehee, a rainha, que também era artista — era uma excelente pintora e era responsável por todos os retratos pintados e espalhados pelo castelo.
fitava o céu pela sacada de seu quarto enquanto recordava-se daqueles momentos simples da vida. Gostava de saber que ainda carregava o dom artístico e podia usá-lo quando estivesse livre de suas obrigações de herdeiro — e que agora seriam de rei. Seria difícil acostumar-se com a nova agenda, as novas funções, as novas formas de portar-se perante a sociedade, mas sabia que daria conta. Desde seu primeiro dia de vida era treinado para aquele momento, mesmo que seu coração estivesse aos pedaços.
Com um suspiro fraco, o jovem rei pediu para que sua serva pessoal o deixasse sozinho e a mulher o obedeceu em silêncio. ainda a observou por alguns segundos; Hana cuidava de todas as suas coisas — desde banhos às alimentações — desde que ele tinha seus cinco meses de vida. E a mulher já se mostrava extremamente cansada e prestes a deixar aquele cargo.
Hana não era idosa, longe disso, devia ser da idade da rainha. No entanto, o trabalho braçal, na cozinha e os cuidados do herdeiro acabaram deixando-a mais velha do que realmente era. Os cabelos estavam sempre desgrenhados, as mãos eram ásperas, as pernas finas e a magreza em excesso. Por mais que Seokmin tivesse salvado boa parte de Goryeo e ainda tivesse cuidado com seus empregados, era impossível que aquelas pessoas aguentassem realmente todo o trabalho que tinham. O dinheiro que ganhavam era bom, mas ainda não era o suficiente para lhes dar uma vida digna como a que a família real tinha. Hana vivia com os filhos nos fundos do castelo, acordava às quatro da manhã e dormia às onze da noite. Todos os dias, de domingo a domingo, apenas para servir a família . Há mais de 20 anos.
sentia por ela, então sempre que podia a dispensava para que ela pudesse descansar e cuidar de seus filhos, mesmo que eles já fossem grandes — o mais velho tinha certeza de que era apenas um ano mais novo, e o outro aparentava ser da idade de .
O agora Rei saiu de seus devaneios e não tardou em desatar os nós de suas roupas. Tirou a capa azul marinho que representava a cor de Goryeo e depois arrancou as botas e calças pretas, ficando apenas com a longa camisa preta e branca que vestia por baixo da capa. Encarou-se no espelho e suspirou.
Era um homem bonito, sua mãe sempre dizia, mas não conseguia sentir-se assim. Sabia que era muito cobiçado entre as pessoas dos reinos ao redor e os aliados, principalmente por ainda estar solteiro. Mas achava que era apenas isso: cobiça. Não gostava do tom extremamente negro de seus cabelos, nem de seus lábios grossos, tampouco do buraquinho que surgia em sua bochecha quando sorria; achava-se esquisito demais. Magro demais. Alto demais.
Suspirou de novo e arrancou o resto das roupas que ainda lhe cobriam. Seguiu até à banheira disposta no meio do quarto e não se importou com a água que jazia ali fria e abandonada desde a manhã. Precisava se distrair de alguma forma. E nada melhor que fazer isso em seu habitat natural, como naquela banheira, com a água tão gelada quanto seu ser. sentia-se congelar; sob aquele pequeno mar em sua banheira e pela dor que acalentava seu peito.
Estava quase pegando no sono mesmo que o corpo tremesse levemente quando duas batidas na porta ecoaram pelo local, despertando-o. Não respondeu de imediato, entretanto, uma voz suave tomou todo o ambiente, deixando-o curioso e inebriado. Não lembrava de tê-la ouvido alguma outra vez, então continuou em silêncio, ansiando por ouvi-la outra vez.
— Senhor ? — a voz chamou novamente, desta vez mais alto.
— Entre — pediu sem sequer mover um dedo, continuando deitado e de olhos fechados.
— Com licença, desculpe incomodá-lo — a voz suave ecoou trêmula desta vez, o que chamou a atenção do Rei.
E quando abriu os olhos sentiu o ar lhe faltar os pulmões. O rapaz à sua frente era tão bonito que parecia ser alguém da realeza. Os lábios carnudos, os olhos pequenos e o rosto bem desenhado, além dos cabelos num tom de dourado que não se lembrava ser possível existir em Goryeo naturalmente, sem uma mistura química.
Os olhos do Rei continuaram a correr pelo jovem de roupas vagabundas, caindo sobre seus braços fortes à mostra, as coxas grossas e os pés descalços, como um rapazola bagunceiro que se misturava entre as crianças e corria o dia inteiro. gostou daquilo.
No entanto, teve de se recompor ao notar o rubor nas bochechas alheias. E só então o se deu conta de que estava encarando-o por tempo demais.
E que ainda estava nu dentro da banheira, com todo seu corpo exibido, sem uma rodela de pano sequer. Nu como veio ao mundo.
— Oh… Desculpe-me — o rei sussurrou. — O que deseja? Aliás, quem é você?
— Eu que peço desculpas, senhor. — O rapaz desviou o olhar. — Sou o filho mais velho de Hana: . Vim apenas lhe dar um recado da rainha; minha mãe precisou assumir a cozinha para preparar o jantar. Enfim. A rainha deseja vê-lo agora.
— Muito obrigado, , diga a minha mãe que já estou indo.
— Não há de quê, senhor, com licença.
Com um sorriso pequeno e educado na boca, saiu.
E viu-se hipnotizado pelo simples plebeu. Riu de si mesmo e saiu da banheira, sem importar-se em molhar todo o chão. Sua mãe aparentemente tinha pressa e ele não pretendia irritá-la por se atrasar.
Porém, mesmo assim, o sorriso de não saiu de sua cabeça. Nem a forma que seu corpo era desenhado; os braços grossos, as pernas fartas.
Aquele plebeu era deveras interessante — e exalava sedução.
seguiu pelos extensos corredores do castelo já devidamente vestido com roupas pretas e brancas, a capa azul sobre os ombros e uma coroa fina sobre os cabelos bem penteados. Bateu na porta do salão de reuniões e aguardou pela voz de sua mãe, que não demorou a ordenar que os soldados a abrissem para ele.
O jovem Rei adentrou o salão e reverenciou a mãe respeitosamente. Seus irmãos também estavam por ali, com os rostos abatidos e olheiras sob os olhos. Nenhum dos três falava ou olhava para algum lugar que não fosse o chão. Estavam sofrendo demais para isso. A família era muito unida para lidar com tamanha perda.
— O que deseja, minha mãe?
— Sua coroação acontecerá amanhã e iremos oferecer um banquete para nossos aliados. Seu pai não gostaria que demorássemos tanto para anunciá-lo — a rainha respondeu com pesar enquanto tentava esconder os olhos marejados.
Quando um Rei morria, tudo caía nas costas da atual Rainha. O velório, a organização da passeata, o banquete de despedida, a coroação do herdeiro mais velho, a missa de sétimo dia; tudo, absolutamente tudo era sua responsabilidade até que seu filho mais velho assumisse o trono. E sentia o coração apertar ao ver sua amada mãe naquela situação horrorosa, onde sequer poderia sofrer seu luto em paz.
— Podemos deixar para depois, mamãe — sussurrou. — Não precisamos correr com isso. Nosso povo entenderá.
— Já está decidido e nosso mensageiro já informou todo o Reino. Você será coroado amanhã às dez. Não se atrase e se vista da melhor maneira possível, meu Rei — Daehee respondeu firme e com carinho, deixando um beijo simples na bochecha do filho, logo seguindo em direção aos outros três e fazendo o mesmo. — Vocês também precisarão melhorar essas carinhas para prestigiar seu irmão.
Os irmãos apenas assentiram de forma positiva e observaram a mãe se retirar do local. Após alguns segundos, tirou a coroa sem muito valor dos cabelos e a capa, colocando ambos os itens no trono em que outrora estava sentado.
— Como vocês estão? — perguntou, aproximando-se dos mais novos. — Acham que conseguirão participar da cerimônia?
— Estamos tão mal quanto você, irmão — respondeu. — Nós nascemos prontos para vê-lo brilhar e tomar Goryeo para si. Aguentaremos.
— Além do mais — a voz grossa de chamou a atenção —, preparei seu discurso e me dei a liberdade de desenhar e costurar suas roupas. Mamãe aprovou, então acredito que você também irá, meu Rei.
sorriu para o irmão e assentiu em agradecimento.
— E eu irei cantar logo depois que você assumir o trono — murmurou, levantando-se e seguindo até o irmão mais velho, escondendo-se entre os braços fortes e longos. — E se me permitir, gostaria de fazer um retrato seu.
— Você sempre poderá fazer um retrato meu, Gukkie. Fico feliz por vocês estarem comigo e me aceitarem como Rei. Obrigado. Prometo que farei tudo como o papai gostaria.
— Apenas seja você e tudo dará certo — disse enquanto sorria. — Vamos lá, temos muita coisa para preparar. Preciso organizar o banquete.
— Às vezes esqueço que você é louco por organização e pensa que comanda a cozinha do castelo — provocou.
— Eu comando aquela cozinha, meu irmão, não há dúvidas quanto a isto.
Os irmãos riram e continuaram se provocando como forma de camuflar a dor que sentiam. Saíram do salão de reuniões juntos enquanto conversavam e se separaram ao chegarem à sala de estar alguns minutos depois. Cada um tinha algo especial para fazer — e um luto para chorar às escondidas.
A manhã seguinte não demorou a chegar. Todos no castelo estavam exaustos demais e antes das dez da noite tudo ficou silencioso, com cada morador em seu respectivo aposento.
foi acordado bem cedo e recebeu um banho demorado e caprichado, com pétalas de flores que exalavam um odor doce e maravilhoso; teve os cabelos penteados para trás e foi vestido de maneira impecável com as peças que havia costurado com maestria. A capa azul marinho foi vestida por último, faltando dez minutos para sua coroação. A tiara de prata já estava sobre os cabelos, simples e bonita, como a que seu pai costumava usar para caminhar pelo reino.
Os olhos do herdeiro brilhavam lágrimas de dor, alegria, orgulho e saudade. Mas não podia chorar. Não podia envergonhar sua família e seu povo demonstrando sentimentos. Então respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os e dando de cara com Hana atrás de si no reflexo do espelho. Sorriu.
— Você está lindo, pequeno — a mulher murmurou. — Não tinha esperanças de estar viva para vesti-lo para o dia de hoje.
— Já eu sempre tive certeza de que você estaria aqui para me ajudar e prestigiar. — Virou-se para a mais velha e segurou suas mãos gastas de trabalho. — Obrigado por tudo, Hana. Prometo que serei um Rei tão bom quanto meu pai e irei lhe dar umas férias. Você não merece trabalhar tanto. Nenhum de vocês.
— Não diga isso, meu amor. — Hana sorriu. — Nós ganhamos muito bem para trabalhar aqui. Está tudo bem. Meus filhos tiveram educação graças ao seu pai e agora continuarão tendo um teto e um trabalho graças a você, eu espero.
— Jamais irei tirá-los daqui. — sorriu e beijou as mãos da serva. — Você é como minha segunda mãe. Ainda terei o prazer de torná-la parte da realeza, me aguarde.
Hana riu e soltou suas mãos, logo começando a ajustar os últimos detalhes da vestimenta do rei.
— Não diga besteiras — murmurou, enquanto ajustava a capa azul sobre os ombros largos. — Sua mãe jamais permitirá tal audácia; e com razão. Estou bem como sou. Não preciso ser da família real para lhe dar e receber amor, nem para que meus filhos vivam bem.
— Tudo bem, não está mais aqui quem falou. — O jovem deu de ombros. — Seus filhos são ótimos, farei questão de dá-los empregos melhores para que você não trabalhe mais. Encontrei-me com ontem — comentou. — Ele é um rapaz forte, pode se tornar um dos soldados.
— Oh, nem pensar. — Hana riu. — é diferente. Não gosta de armas, guerra, militarismo. Arriscaria dizer que ele é um plebeu revoltado e ativista. É um artista nato, gosta de cantar e dançar e ajuda as crianças do reino com isso, mesmo que os pais destes pequenos batam em minha porta todos os dias querendo que ele pare com aulas. Homens velhos não aceitam que os garotos jovens gostam de dançar. Dizem ser coisa de menina e acusam-me de ser uma bruxa sem vergonha por deixar meu menino fazer o que bem deseja.
— Imagine se soubessem que os quatro príncipes dançam desde crianças… é nosso melhor bailarino. adoraria passar um tempo com ele.
— É verdade, aqueles brutamontes iriam engolir as palavras rudes que dizem ao meu filho. E ah, e são muito amigos, você não sabia? Eles dançam juntos todos os domingos e pedem a permissão de sua mãe para que eu assista todas as apresentações que criam. Estão cada vez melhores.
— Oh… eu não sabia — piscou os olhos algumas vezes, logo voltando-se para o espelho. — Eu gostaria de vê-los dançar.
— Você sempre esteve muito ocupado, meu amor. Agora talvez seja pior, não se incomode com isso. Aliás, já está na hora. Vamos? Estarei na plateia te ovacionando com orgulho.
apenas sorriu e assentiu, pronto para ser levado após soltar um suspiro.
Quando subiu no palanque que havia sido colocado no quintal do castelo e onde toda a população de Goryeo estava presente, sentiu o ar lhe faltar. Sufocou-se por alguns segundos e ficou paralisado encarando aquelas milhares de pessoas que queriam ouvir suas promessas.
Sorriu para seu povo, tentando esconder o nervosismo e deixou que o discurso decorado escapasse de sua garganta de uma só vez. Pausou uma vez ou outra para que pudesse respirar normalmente e agradeceu aos céus por todos estarem felizes e lhe enchendo de aplausos e palavras bonitas. Ao seu lado, sua mãe segurava sua mão gelada sutilmente. Logo atrás, estavam seus irmãos lado a lado e tão bem arrumados quanto ele — e também ostentavam coroas de prata.
Não demorou muito para sua mãe honrá-lo oficialmente como Rei de Goryeo, colocando-o uma coroa de ouro enorme e com detalhes em azul, vermelho, preto e branco. sabia que aquela era a coroa que seu pai havia usado durante a vida inteira. Assim como seu avô. E o bisavô. E todos os herdeiros da família que o antecederam.
A rainha deixou que um par de lágrimas escapasse de seus olhos e logo voltou-se para seu lugar, observando o filho ser ovacionado pela população enquanto finalizava seu discurso.
— Eu, IV, prometo que irei honrar este reino; farei o possível e impossível para mantê-los a salvo, sem guerras e sem passar necessidade. Manterei este lugar nas perfeitas condições que meu pai criou. Não irei desapontá-los. Eu os amo e prometo-me a vocês.
terminou de falar sentindo o peito aquecer em orgulho e carinho. Estava sendo aceito mesmo sendo um Rei jovem e solteiro; sabia que deveria se casar o mais rápido possível, porque logo começariam a reclamar que estava governando todo um reino sob as saias de sua mãe e isso não soava bem para um rei. Ainda mais um de seu porte, de um reino como Goryeo.
Como se lhe pregasse uma peça, seu olhar seguiu para a primeira fileira de moradores embaixo do palanque, encontrando com um enorme sorriso na boca enquanto abraçava sua mãe, que sorria igualmente.
E um pensamento estranho lhe ocorreu, mas durou apenas alguns segundos, até que fosse puxado para trás suavemente pela mãe, para que liberasse o espaço e tomasse seu lugar, já pronto para cantar.
Com a canção bonita e calma ecoando por todo o ambiente, encontrou o olhar de novamente. E o pensamento estranho voltou.
E se acabasse por apaixonar-se e casar-se com um homem?
A cerimônia havia sido um sucesso, assim como o banquete que fora oferecido logo em seguida. Os aliados estavam satisfeitos com a postura de e com tudo o que havia acontecido naquela manhã e início de tarde; alguns também ofereciam suas filhas e apresentavam as moças bonitas para , que no começo até aceitou conversar um pouco com algumas, mas tudo tornou-se insuportável quando elas começaram a competir e implorar por sua atenção.
Com educação e alegando cansaço, despediu-se de cada convidado com um sorriso bonito na boca, e o suspiro de alívio quando chegou ao último foi inevitável. Precisava de paz. E o banquete já estava no fim, de qualquer forma. Ainda sorrindo, retirou-se de uma vez por todas do salão de festas.
Agora, estava em sua sacada observando as pessoas irem embora de sua residência e suspirou completamente cansado.
— O senhor se saiu muito bem — a voz suave que jamais esquecera ecoou pelo quarto, assustando-o. — Perdoe-me, meu Rei, não quis assustá-lo, tampouco ser invasivo.
fitou apoiado no batente de sua porta e engoliu a seco. O rapaz vestia uma camisa preta e longa, mas que ainda assim ficava apertada em seu colo estufado e nos braços fortes, uma calça branca larga e os pés desta vez calçados em sapatos sociais um pouco surrados, como se tivessem sido usados muitas vezes. Os cabelos dourados como sua coroa de Rei estavam partidos ao meio, deixando-o com um ar arteiro e juvenil.
— Está tudo bem, . — se recompôs. — Apenas peço-lhe que bata na porta na próxima vez.
— É claro, peço perdão novamente, majestade. — sorriu. — O senhor me parece cansado.
— Por favor, pare de me chamar de senhor — o agora Rei pediu. — Sei que me respeita, mas somos quase da mesma idade. Agora, diga-me o que deseja. Tem algum recado para mim?
mostrou-se levemente desconfortável com a pergunta; sentindo na pele mais uma vez a diferença social entre eles. Era um bocado estranho, para ele, ter de curvar-se diante de um rapaz que era apenas um ano mais velho. E pior ainda ter de curvar-se perante o caçula, que era dois anos mais novo. Mas o que podia fazer, afinal, se nasceu um mero plebeu? A plebe não tinha voz naquele reino, mesmo que ele fosse muito bom para toda a classe. Tinham empregos, propriedades, um bom salário mínimo e alguns direitos trabalhistas que conquistaram à base de muita luta. Porém, ainda assim, era estranho. Eram todos pessoas. Podiam participar das reuniões da realeza até certo ponto; não decidiam nada, não opinavam em nada, apenas tinham o direito de estar cientes sobre as decisões da burguesia.
E aquele tipo de coisa, o tratamento e como faziam sempre parecer que ele era apenas um servo, um mensageiro, um faz tudo como todos que viviam nos confins daquele castelo e fora dele, era incômodo, desconfortável, fazia com que se sentisse diminuído — mesmo que não fosse a intenção naquele momento.
— Não existe recado algum, majestade — praticamente sussurrou. — Desculpe-me, apenas tomei a liberdade de vir parabenizá-lo pelo belíssimo discurso.
— Oh! — sorriu. — Não precisa se desculpar por isso. Fico feliz por confiar em minhas palavras, . Saiba que pretendo dar mais espaço e voz para vocês. Ouvi dizer que você tem sede de ativismo.
— Minha mãe, né? — sorriu. — Faço parte do grupo que participa de todas as reuniões na realeza. Não sou muita coisa dentro dele, mas gosto de participar; gosto de estimular as crianças a lutarem pelo que querem e espero que, sob seu comando, possamos ao menos opinar e mostrar o que há de errado na vida fora dos enormes portões do castelo.
— Estarei pronto para ouvir cada um de vocês. — desamarrou a capa dos ombros e colocou-a esticada sobre sua cama. — Sempre tive curiosidade para saber como vocês vivem. Como pode notar, não tenho vivência alguma fora deste castelo. Acredito que meus irmãos fujam durante a noite para conhecer as pessoas e misturarem-se à plebe; e não vejo nada demais nisto, é nosso povo. Mas eu, como herdeiro, jamais pude sair daqui. Nunca explorei nosso reino sozinho. O conheço como a palma de minha mão, mas não sei seus segredos… E desculpe-me, , estou falando demais. Você deve ter trabalho a fazer, não é? Obrigado por seu retorno em relação à minha coroação, mas não quero atrapalhá-lo.
— Está tudo bem, eu que vim incomodá-lo. — O garoto deu de ombros. — E sobre seus irmãos, majestade, sinto informá-lo: eles conhecem Goryeo muito mais do que o senhor. — riu. — Eles sabem aproveitar o que têm. E posso lhe dizer com convicção: a vida fora destes portões é muito mais viva. Somos pobres, mas sabemos viver e aproveitar. Isso costuma fascinar burgueses como vocês. Vocês têm banquetes, aulas de etiqueta, horário para comer e beber, têm até mesmo quem lave seus pés. — Fez uma pausa e deu alguns passos incertos para frente, parando bem próximo a . — E nós, os plebeus, o resto de Goryeo, temos a alegria, a esperança e a vida. Nós sabemos festejar, preparamos nossas próprias coisas, lavamos nossos próprios pés para sujá-los em dobro logo em seguida. E, principalmente, sabemos sorrir verdadeiramente.
— Eu gostaria de viver assim. Gostaria de conhecê-los melhor.
— E você pode, meu Rei — respondeu sem pensar e ainda sem entender o porquê daquela conversa maluca com seu Rei. O maldito Rei! Sequer deveria estar ali.
— Eu posso?
— Claro que sim. Basta querer… E ter a companhia certa para não ser descoberto.
Céus, onde estava com a cabeça? Instigando o Rei supremo a fazer besteiras logo no dia que acabara de ser coroado?
Naquele momento, desejou todos os cascudos que sua mãe sempre lhe dava por ser tão festeiro e inconveniente.
Contudo, observar os olhos brilhantes e curiosos de fazia com que não quisesse parar. O Rei tinha uma vida tão… Entediante. Havia crescido no castelo e foi treinado para viver. Treinado para quando sorrir. Treinado para quando se casar. Para passear. Para estudar. havia sido treinado para tudo, principalmente para viver e governar. Nenhuma decisão que tomara havia sido totalmente sua, mesmo que tivesse algumas regalias para chamar de decisões próprias. Não passava de enganações e míseros “cala a boca”.
sentia por aquele jovem homem — e desejava fazê-lo viver nem que fosse um pouco e sob insinuações idiotas.
Logo a voz de o tirou de seus devaneios, deixando-o assustado, porém animado:
— E você seria minha companhia certa, ?
sorriu abertamente e aproximou-se ainda mais de , sussurrando ao pé de seu ouvido:
— Vista algo simples e cubra o rosto. Hoje irei levá-lo para conhecer o lado bom da vida, meu Rei.
Não demorou muito para se trocar. Tirou as roupas da cerimônia ali mesmo, na presença de — que apenas virou-se de costas em sinal de respeito —, e vestiu a roupa mais simples que possuía. Depois, entre suas tralhas de quando era criança que estavam guardadas em um baú velho, encontrou uma máscara que havia pintado para ele, para um baile a fantasia que deram há alguns anos.
sorriu com o resultado, mas ainda faltava alguma coisa. Chegou bem pertinho do Rei e com as mãozinhas pequenas e ágeis, bagunçou os cabelos negros que sempre ficavam bem penteados. fez uma careta, mas não disse nada.
Seu primeiro dia de reinado e estava aprontando algo que não fizera nem mesmo na adolescência. Céus, que tipo de Rei estava prestes a se tornar?
Após montarem a cama de de forma que parecesse ter alguém dormindo ali, saíram nas pontas dos pés.
conhecia cada cantinho daquele castelo, então foi fácil guiar o Rei até uma saída alternativa pelos fundos. Não haveria ninguém ali àquela hora; metade dos serventes estava trabalhando na limpeza do banquete e a outra metade estava festejando pelas ruas de Goryeo.
— Eu não acredito que estou mesmo fazendo isso — murmurou, enquanto andava pela multidão com mascarado em seu encalço. — Minha mãe vai me matar se descobrir que o trouxe para esta confusão. E na pior das hipóteses serei preso por sequestrar o novo Rei.
— Direi a todos, caso descubram, que vim por livre e espontânea vontade — respondeu enquanto ria.
— Isso não adiantará de muito, meu Rei. — deu de ombros. — A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco.
— E não importa o que eu diga?
— Às vezes parece que o senhor não sabe como as coisas funcionam. Somos pobres e não temos voz, nem mesmo em um governo tão incrível como foi o do seu pai e como será o seu.
— Pare de me chamar de senhor.
— De tudo o que eu disse, o senhor só ouviu essa parte?
— Sim, porque me incomoda.
— Perdão, senhor.
— !
— Tudo bem, tudo bem. — Riu. — Irei chamá-lo como a minha mãe: .
revirou os olhos, porém abriu um sorriso.
era um rapaz diferente. Em todos os aspectos. Ele não se encaixava no padrão burguês, mas também não era totalmente plebeu. Ele falava bem, se expressava bem e andava com uma postura fora do comum — plebeus costumavam ter as costas curvadas e os pés se arrastavam pelo chão ou mancavam. parecia levitar sobre o solo. Seu corpo se movia de forma graciosa e seu sorriso estava sempre no rosto, mesmo que ladino ou levemente escondido. Ele era diferente. E adorava coisas diferentes.
Os pensamentos militantes, a forma didática de falar, o jeito de brincar e provocar mesmo quando não queria, a audácia, o deboche na medida certa, a beleza angelical e sedutora. Ele era o paradoxo perfeito do que estava acostumado a lidar.
— O que foi? — perguntou assim que pararam numa ruela pequena, observando a festa colorida e animada que o povo fazia.
Era como um ritual. Quando mudava o Rei, nascia um herdeiro novo ou quando alguém da família real se casava, o povo fazia festa. Bandeiras eram penduradas pelas ruas, pós coloridos eram jogados ao vento, músicas eram tocadas pelas bandas dos plebeus, os bares lotavam, as pessoas simplesmente comemoravam por tudo; e estava encantado. Nunca havia visto algo parecido. Perguntava-se quantas vezes seus irmãos mais novos aproveitaram aquilo enquanto ele era obrigado a fazer estratégias de guerrilha, ou estudar francês para conversar com algum aliado que não falava seu idioma.
— É tudo muito diferente — respondeu. — Principalmente você. Gosto do jeito que se expressa e que me explica as coisas. É muito bonito.
— É o charme plebeu, senhor — galanteou e riu em seguida. — Você apenas não teve tempo de observar ao seu redor, . Sua vida foi toda planejada e você não passa de um treinamento real. Assim como seu primeiro herdeiro será. É um ciclo vicioso. Eu não os julgo, longe de mim julgar alguém, só… Não sei, tudo isso vale a pena? Eu sei que alguém tem que comandar nosso reino. Será assim para sempre. Mas… vale mesmo a pena trocar tudo por um bocado de poder e peças de ouro? Óbvio que ter todo esse luxo transformaria minha vida, não serei hipócrita, mas não me vejo longe daqui. Dessas festas. Dos meus amigos. Não me vejo trocando nada disso por dinheiro.
— Sua forma de ver a vida é linda — elogiou e o mais novo sorriu. — É uma realidade totalmente oposta à minha.
— Costumam dizer que os opostos se atraem. — deu de ombros. — Não acredito que seja verdade, mas faz sentido agora.
— Então vamos aproveitar. Hoje pode ser o único dia em que os opostos realmente se atrairão.
— Eu espero que não seja somente hoje, Majestade.
E após dizer aquilo, virou-se e recomeçou sua caminhada. o seguiu meio conturbado, mas seguiu.
Durante todo o caminho sorriu para as crianças e cumprimentou os comerciantes e os festeiros. Era um rapaz conhecido e gostou de descobrir isso.
Fez com que os pensamentos estranhos voltassem a tomar sua cabeça bagunçada.
No entanto, sabia que a população gostaria de alguém como governando ao seu lado.
E ele também gostaria.
A tarde já estava no fim quando pararam de andar entre as pessoas. ainda estava encantado com a beleza de seu reino e com toda a festança que estavam dando em sua homenagem. o havia dito que a festa iria até o fim da noite e voltaria a acontecer na manhã seguinte, no mesmo horário que havia sido sua coroação naquele dia.
Não era como se não soubesse das festividades que aconteciam por Goryeo; conhecia bem as tradições de seu povo, mas não sabia que era tão bonito e tão longo. Não teve oportunidade nenhuma de presenciar aquilo. Apenas subia nos palanques ao lado da família e depois voltava para os confins do castelo. Agora conseguia entender os sumiços dos irmãos.
Estavam comendo em um canto escondido quando começou a tagarelar sobre um lugar que ele costumava frequentar para dançar e aproveitar sua juventude. ficava cada vez mais curioso, queria desvendar seu reino ao lado de mais do que nunca.
— É como uma casa enorme — murmurou de boca cheia. — Eles tocam músicas ao vivo e nós simplesmente dançamos ou assistimos. Fica super cheio e, no fim da noite, todos acabam dançando. É incrível.
— Gostaria de conhecer — falou baixinho e encarou o mais novo.
— Hoje é seu dia de sorte, reizinho. Daqui a pouco já estarão abrindo as portas e irei levá-lo. Está pronto para dançar a noite inteira?
— Hoje descobri que estou pronto para tudo desde que eu esteja ao seu lado, jovem plebeu.
sorriu corado e limpou as mãos nas próprias roupas.
— Vamos? — perguntou e estendeu a mão para o rei.
— Vamos — respondeu sem hesitar e segurou a mão tão menor que a sua, entrelaçando seus dedos.
E ali ele percebeu que aquela era a coisa mais certa que já havia feito. A mão de encaixava tão bem na sua.
E notando isso, se perguntou se suas bocas também encaixariam. Ele achava que sim.
Não demoraram tanto para chegar quanto imaginou. O lugar tinha uma fachada simples e o som da música era ouvido do lado de fora, o que fez sorrir e abrir os braços, mostrando o letreiro caindo aos pedaços. riu do mais novo e o empurrou para que entrassem logo.
Entraram.
E para foi como cair em um universo paralelo. Nunca havia visto tantas pessoas juntas e se movendo em perfeita sincronia. O sol, do lado de fora, estava se pondo. E ali dentro, ninguém parecia se importar se ele estava indo embora ou renascendo. Só existiam eles, as músicas e as coreografias bem feitas.
Os corpos levitavam, esbarravam uns nos outros, grudavam-se; estava extasiado — e quente.
— Bem-vindo ao meu mundo, majestade — murmurou próximo ao seu ouvido, arrepiando-o dos pés à cabeça.
E sem esperar por , deixou-se levar pela multidão, atendendo às pessoas que gritavam seu nome sem parar.
Uma outra música se iniciou enquanto cumprimentava alguns amigos e, automaticamente, ele se posicionou entre duas moças, permitindo que seu corpo logo começasse a se movimentar junto com elas. A música começou calma e foi acelerando com o passar dos segundos.
E perante àquela multidão, se perdeu em , como se houvesse somente ele naquela pista de dança. Seu corpo ia e vinha, suas expressões mudavam de acordo com cada passo; ele rodopiava, pulava, abria e fechava os braços. O quadril balançava de um lado para o outro, a cabeça era jogada para trás e os cabelos grudavam-se à testa banhada de suor.
paralisou quando enxergou o jovem plebeu com um olhar felino vindo em sua direção. Desesperou-se por alguns instantes — não era um bom dançarino como seus irmãos.
— Conceda-me esta dança, majestade? — sussurrou bem próximo ao seu rosto.
não conseguiu dizer não. Mesmo que fosse um dançarino meia boca, mesmo que não conseguisse seguir coreografias, mesmo que nunca tivesse dançado em público, mesmo que fosse um rei recém coroado em meio à plebe.
Segurou aquela mão que tão bem encaixava na sua e permitiu-se dançar.
Simplesmente dançar. De forma livre, sem medir seus modos, sua postura, sem pensar. Dançou como se não houvesse amanhã, dançou com amor, dançou até que suasse, dançou até sentir a exaustão lhe tomar e a falta de ar atingir seus pulmões.
Dançou agarrado em sem ser julgado. Moveu os quadris. Colou-se ao tronco do mais novo outra vez e deixou que sua testa tombasse sobre a dele, anestesiado de excitação e com a respiração descompassada.
Seus olhos encontraram os de — que pareciam sorrir grande e estavam brilhantes assim como sua boca carnuda e chamativa.
sentiu-se embriagado com aquela visão. Sua boca formigou. Suas mãos prenderam a cintura esbelta.
— Se for me beijar, o faça logo — murmurou rente aos lábios de , que ficavam à mostra pela máscara.
— Eu posso?
— Deve, majestade, deve.
E com um leve movimento, as bocas se juntaram.
O beijo se encaixava melhor que suas mãos e era intenso, lento e molhado. As línguas pareciam se conhecer de outras vidas e para onde deveriam ir. O mundo afora não existia mais, as pessoas em volta não importavam. A música continuava alta, mas tudo parecia em silêncio. Tudo o que importava eram os dois e as bocas juntas, num beijo perfeito e profundo.
sentia-se no céu — e com um tambor dentro do peito, bem no lugar do coração.
parecia ter encontrado a paz — com o beijo de se tornando sua coisa favorita no mundo.
Separaram-se após alguns minutos e fitaram-se nos olhos. As pessoas ainda dançavam e esbarravam neles. A música ainda estava alta. O sol lá fora já não existia mais. E eles não estavam nem aí.
Como ímãs, as bocas se grudaram novamente. Os sabores se misturando, as mãos explorando os corpos, os corações batendo forte juntos. Um mundo somente deles, onde não havia diferenças, medos, hesitações. Estavam apenas vivendo, como sempre quiseram viver.
— Quero levá-lo para conhecer um último lugar — disse de maneira calma, ainda com a boca pertinho na de , num momento em que a música diminuiu.
— Agora?
— Sim.
Entrelaçaram as mãos com pressa e saíram da danceteria. Ambos sorrindo e com as bochechas coradas pelo que tinha acabado de acontecer.
A noite estava bonita e estrelada, então decidiram caminhar devagar entre a multidão que ainda tomava as ruas de Goryeo.
Era uma festa bonita e duradoura, estava se sentindo amado e acolhido — e sentiu vontade de ir contra tudo e todos e demonstrar mais por seu povo. Cada Rei fazia seu governo, certo? Qual seria o problema do seu ser mais voltado para o amor e afeto? Gostaria de tentar.
Após longos minutos de caminhadas, chegaram ao destino que ansiava. Era uma espécie de cabana ao pé das montanhas que ficavam quase no fim do reino — e só ali o percebeu o quão longe de casa estava.
— Este é o meu lugar favorito em Goryeo — explicou enquanto abria a porta do casebre devagar. — Consigo observar o céu, as montanhas e a floresta logo abaixo... Tudo isso de uma simples janela de uma casinha isolada e escondida. Aqui é o único lugar que posso chamar de meu, e quero compartilhá-lo com você.
sorriu e adentrou o lugar, logo sentindo-se em casa, acolhido, quente. Era tudo tão limpo e arrumado por ali.
Havia uma cama relativamente grande bem ao centro, um cômodo escondido à esquerda e eletrodomésticos no canto oposto.
— É muito aconchegante — comentou sinceramente. — Sinto-me em casa.
abriu um sorriso bonito e caminhou até o mais velho, que agora se sentava na cama gostosa.
— Que bom — murmurou. — Eu realmente gostaria que fosse sua casa. Você combina com lugares calmos e pequenos.
— Não irei me importar em voltar aqui mais vezes, se desejar.
— Eu desejo, majestade. — o fitou nos olhos e encaixou-se entre as pernas do rei. — Desejo mais de você agora, também.
— E o que está esperando para me beijar?
passou a língua pelos lábios e abaixou até alcançar a boca alheia, tomando-a em um beijo sedento e sem vergonha — totalmente diferente dos beijos na danceteria. E o retribuiu à altura, agarrando o mais novo pela cintura e grudando seus corpos como podia.
permitiu-se ousar e chupar a língua do rei, fazendo-o soltar um murmúrio satisfeito e retribuí-lo logo em seguida.
— Deite-se — pediu e começou a tirar a própria camisa em seguida, mostrando o corpo bem definido que possuía.
A visão fez salivar e sentir o tesão começar a dominá-lo. era tão, tão bonito.
— Você é tão lindo, — murmurou enquanto se deitava sobre os travesseiros fofos espalhados pela cama.
Seu coração martelava forte dentro do peito, as mãos suavam e o corpo tinha espasmos sem motivo algum, apenas por observar se despir lentamente em sua frente. O jovem plebeu era deveras ousado; não sentia vergonha de se exibir daquela forma — pelo contrário, adorava ser visto e adorado; ficava excitado por simplesmente ser observado.
— Não mais que você, — respondeu enquanto deixava as calças caírem aos seus pés, ficando completamente nu.
arfou com a visão. Precisava tocar aquele rapaz. Sentir a pele quente sob os dedos. Sentir seu gosto novamente. Senti-lo contra seu corpo. Forte. Firme. Duro.
— Você já esteve assim com alguém, ? — perguntou, logo ficando de joelhos sobre a cama e engatinhando em direção a .
— Não — o Rei sussurrou em resposta, gostando de sentir a quentura de próxima de si novamente, agora de forma nua e crua, sem nenhum tecido para atrapalhar.
sorriu e passou o nariz pelo queixo e pescoço de , arrepiando-o mais.
— Irei cuidar bem de você, majestade — sussurrou. — Eu posso tirar sua máscara?
— Sim — respondeu de imediato, completamente entregue e de olhos fechados. — E as roupas também — completou.
soprou um riso fraco contra a bochecha corada do mais velho, jogando a máscara longe. Segurou-o pelo queixo e selou seus lábios devagar.
— Um Rei como você não deveria estar tão entregue e derretido a um reles serviçal como eu.
— Um verdadeiro Rei sabe a hora de curvar-se para outro homem, .
— Está dizendo que se curvaria para mim?
— Estou dizendo que não me importo com nada disso e o desejo mais do que qualquer coisa que já desejei na vida.
não o respondeu, apenas olhou-o nos olhos e encontrou apenas sinceridade, verdade e tesão ali; e isso quase o fez se emocionar. Ninguém nunca o havia olhado como . Ninguém o havia tocado como . Ninguém nunca o havia feito sentir o que estava fazendo em apenas um dia.
Tudo parecia certo e premeditado — como se o destino quisesse que ficassem juntos, como duas almas gêmeas quando se encontravam.
não sabia se era capaz de apaixonar-se por alguém em um dia, mas sentia como se amasse desde o momento em que seus olhos se encontraram pela primeira vez no dia anterior.
E com pressa, começou a desamarrar as roupas simples que o rei vestia; não queria esperar mais; perder-se em pensamentos não o satisfaria. Jogou as peças para longe e fitou com atenção o corpo rígido e perfeito abaixo do seu.
tinha coxas bonitas. Pés bonitos. Joelhos bonitos. A barriga lisa, chapada, com pelos ralos, o peito estufado, os mamilos perfeitos e escurinhos. Estava encantado.
desceu o olhar novamente, sabendo bem o que queria ver. O pênis ereto batia no ventre, brilhava e babava por ele. Tão bonito, tão excitante. O jovem plebeu sentiu-se tremer.
— Você é o homem mais lindo do mundo — sussurrou, começando a beijar o rosto do mais velho e logo descendo para o pescoço, ombros, peito; não deixando de apertar e morder os mamilos.
suspirou e um gemido baixinho e tímido escapou de sua boca. lhe causava sensações que jamais seria capaz de explicar; era impossível. Sentia-se bonito, desejado, acolhido. Sentia-se importante. Mas não importante como o Rei Supremo de Goryeo e sim como homem, como ser humano, como se merecesse todo aquele zelo mesclado ao tesão.
Os beijos e carícias de continuaram, chegando à barriga de e não demorou muito para o dançarino beijá-la por inteiro, onde conseguia alcançar. Desceu mais um pouco e arfou. Estava quase lá — onde sempre desejou ser tocado por outro alguém.
sorriu e mordeu o lábio inferior, fazendo com que o homem abaixo de si tremesse outra vez.
O não fez cerimônia para envolver a glande inchada de com os lábios carnudos. O gemido que o mais velho soltou reverberou pelo casebre, acendendo algo em que ele desconhecia. Seu corpo ferveu em tesão e em vontade de ouvir mais daquele gemido rouco, as mãos formigaram e a boca salivou, fazendo-o babar sobre a ereção entre seus lábios.
Com vontade, engoliu por inteiro de uma só vez. E os gemidos vieram todos ao mesmo tempo; um atrás do outro.
sentiu-se ir do céu ao inferno e do inferno ao céu em segundos. Sua mente ficou em branco quanto sentiu a garganta quente e apertada de em volta de seu pau, os dedos emaranharam no lençol branco embaixo de seu corpo, o gemido saiu alto, agudo, forte. Seu corpo tremia em espasmos de tesão, ele queria mais.
E não hesitou em pedir, o que fez empenhar-se ainda mais naquele boquete sensacional. Chupou seu Rei como ele merecia, levando-o até à garganta e voltando, lambendo a glande e chupando-a em seguida. Brincou com o pênis de ao máximo, até notar que ele não aguentaria mais.
No entanto, não o deixou gozar, o que o fez choramingar de forma manhosa — e deixou o mais novo mais excitado.
desceu a mãozinha atrevida para os testículos de , brincando por ali de forma que o deixasse a ponto de gozar novamente — sua outra mão ainda segurava o pênis pela base, movimentando para baixo e para cima.
E quando tremeu mais uma vez, parou, fazendo-o quase urrar de desespero.
— … , por favor — implorou. — Não faça isso comigo, não maltrate seu Rei deste jeito.
— Estou amando ouvi-lo implorar, majestade. Não pensei que reis fossem capazes disso — provocou. — Não sei se devo deixá-lo gozar.
— Eu sou capaz de qualquer coisa para tê-lo de uma vez — respondeu com a voz arrastada, abrindo mais as pernas e descendo as mãos grandes pelo próprio corpo. — Por favor.
engoliu a seco e suspirou. Não havia nada mais excitante do que naquele estado. Um homem grande, forte, um rei bravo e promissor, bonito, tão bem educado… Implorando por ele. Por seus toques. Seus beijos. Suas mãos pequenas e calejadas. Seu pau.
— Você está agindo como um cachorrinho — provocou, voltando a movimentar as mãos pelo pênis alheio. — Gosto disso, . Você fica uma delícia se insinuando para mim.
— Não me maltrate mais, …
— Shhh — sussurrou. — Isso é apenas o começo, meu bem. Seja um bom menino e aguente firme; não goze até que eu o permita.
— …
— Você será um bom menino, ? Do contrário, terei de castigá-lo.
— Sim, eu serei.
— Muito bem, majestade. Vire-se de costas.
Ali percebeu que não teria mais volta; e precisaria ser forte.
Virou-se devagar e ficou sobre os joelhos, expondo-se totalmente para .
Este não perdeu tempo, logo espalmando ambas as mãos sobre as nádegas fartas, separando-as e sentindo o próprio pau latejar com a visão que tinha. era tão, tão apetitoso.
curvou-se em direção à intimidade alheia e deixou que seus desejos guiassem-no. Passou a língua por toda a extensão de uma, duas, três vezes. O homem se contorcia sob sua boca e isso o fazia ficar ainda mais excitado.
Com uma das mãos, puxou o pênis de para trás devagar, deixando-o bem próximo aos testículos e começou a masturbá-lo devagar, porém com pressão, enquanto com a língua brincava no ânus alheio, penetrando-o ao máximo e cuspindo pela região para que ficasse ao menos um pouco escorregadio.
tremia dos pés à cabeça, vez ou outra perdendo as forças nas pernas e tombando sobre a cama; e sempre o puxava de volta com vontade, logo voltando a chupá-lo por onde alcançasse com sua boca gostosa.
— ... ! — chamou de forma pausada, gemendo mais alto que antes e sentindo as lágrimas tomarem seus olhos. — Por favor! Eu não aguento mais.
não respondeu, apenas lambuzou seus dedos com saliva e levou um até à entrada de , penetrando-o com calma e devagar. Apesar da forma dominante de agir e o tesão em seu ápice, o plebeu ainda era cuidadoso e carinhoso. Queria que se sentisse bem acima de qualquer coisa; aquilo deveria ser profundo e especial, além de extremamente carnal. O mais novo se sentia bem ao ver o outro sentindo-se bem sob seus toques.
Após algum tempo, penetrou o segundo dedo; indo e voltando devagar, indo fundo e deixando ainda mais enlouquecido de prazer.
— Está gostando, senhor? — perguntou baixinho, debruçando-se sobre o corpo alto e esguio do moreno e beijando-lhe as costas suadas. — Hum?
— Oh, , si-im — respondeu de forma engasgada, movimentando o quadril automaticamente. — Eu quero mais; quero você.
E aquilo fora o suficiente para , que encaixou um terceiro dedo no maior e o penetrou o máximo que aguentou e o tesão permitiu. Masturbou-se rente à entrada de e espalhou seu próprio pré-gozo pela extensão de seu pênis, cuspindo mais um pouco no ânus de e na própria mão em seguida, espalhando a saliva em si mesmo.
Com um pouco de pressa, encaixou-se naquele aperto e empurrou-se para dentro. tentou expulsá-lo de forma automática, mas fora relaxando conforme a penetração acontecia. E gemeu baixinho ao sentir completamente em seu interior. Ficaram naquela posição por alguns instantes, até começar a sair e entrar no mais velho, lento, fundo, gostoso.
gemeu de forma manhosa outra vez e ficou com a boca aberta enquanto buscava por ar e sentia socando-se para dentro dele novamente. Estava em êxtase. Nunca havia sentido tantas coisas ao mesmo tempo; nunca sequer imaginara que era tão gostoso ser invadido daquela forma; não sabia que o tesão somado à pessoa certa fazia coisas tão incríveis.
se ergueu sobre os braços e tirou a cabeça do travesseiro, ficando de quatro e mais firme sobre a cama. Sua boca ainda estava aberta e um fio de saliva escorria por entre seus lábios, morrendo em seu queixo; seu rosto estava corado e os olhos fortemente fechados. Os espasmos continuavam eletrizando seu corpo e , logo atrás, não parava.
Seus gemidos eram suaves como sua fala, altos e sem vergonha, seu corpo era firme, forte e duro como seu pau, que ia e vinha sem parar, inchado e excitado. Os cabelos dourados estavam grudados em sua testa, em sua nuca e pingava suor, que se misturava ao do restante do corpo.
Os sons eróticos tomavam conta daquele casebre, o cheiro de sexo impregnava todo o ambiente e isso só fazia com que ficassem ainda mais excitados; e um rebolava contra o outro, adorando a forma que se encaixavam, o calor que emanava de um para o outro e a leve brisa que adentrava pela janela, arrepiando-os por inteiro.
gritou rouco ao ter o pênis segurado novamente, e ali viu que não iria aguentar — principalmente no momento em que acelerou os movimentos do quadril, socando-o tão forte e fundo que sua boca ficou aberta sem emitir som algum.
— Goze para mim, majestade — pediu em um tom obsceno e dominante, fazendo com que deixasse lágrimas de tesão caírem de seus belos olhos.
E enquanto chorava e gemia, chegou ao ápice, jorrando-se sobre a cama e a mão de — que não parou os movimentos até que o mais velho começasse a tremer e caísse sobre a cama, ainda gozando.
O corpo do rei estava sendo tomado por espasmos e seus olhos ainda reviraram algumas vezes; ele caiu sobre o colchão e logo virou-se de barriga para cima, dando de cara com ainda teso e pingando tesão, encarando-o de cima enquanto se masturbava devagar — suado e exausto após um fortíssimo orgasmo tornou-se sua maior fonte de prazer.
E o mais novo não perdeu tempo, logo engatinhou novamente para cima do mais velho e colocou uma perna em cada lado do quadril alheio, sentando-se ali como quem não queria nada, sentindo o pênis agora levemente flácido em suas nádegas fartas. Olhou nos olhos e gemeu alto ao tocar o próprio pênis novamente.
não quebrou a troca de olhar sedenta; pelo contrário, a sustentou com vontade, mostrando que ainda estava ali e ansiava por mais.
— Eu o quero em minha boca, — murmurou com a voz arrastada e gemeu fechando os olhos, totalmente afetado com o pedido.
— Tem certeza disso, meu bem?
— Sim.
A resposta veio curta e direta. apenas obedeceu a vontade de seu rei. Ergueu-se apenas um pouco e arrastou-se para cima, se sentando sobre o peito de , sem colocar todo seu peso sobre ele, e ficando rente à sua boca, que já estava aberta e implorando por seu pau.
ergueu o pescoço e o engoliu devagar; primeiro a glande, onde abusou em chupadas firmes e lambidas longas, como o havia visto fazer; depois engoliu um pouquinho mais, soltando-o e voltando outra vez. Provocou até que este começasse a gemer e empurrar-se para frente.
O sorriu com o pênis alheio entre os lábios grossos e não tardou em engoli-lo por completo, levando-o até onde aguentava, chupando-o forte e zapeando a língua por toda a extensão, tomando cuidado para não o morder. As mãos seguravam firmes o quadril de , vez ou outra descendo até à bunda grande, ou subindo para a cintura esculpida.
E apenas aproveitava, gemendo alto, rebolando, esfregando-se sobre o corpo alheio, empurrando-se para frente e apertando os próprios mamilos.
Com o tesão dominando-o por inteiro, levou uma das mãos até à própria boca e chupou três dedos de uma só vez, mordeu-os para extravasar o tesão e voltou a chupá-los em seguida, levando-os até quase à garganta. Os sons molhados de chupando seu pau o levavam à loucura e ele não hesitava em gemer contra os próprios dedos enquanto acelerava os movimentos no mamilo com a mão livre.
E ao sentir o ápice se aproximar, ficou de joelhos sobre a cama, ainda com as pernas ao redor de , e levou os dedos babados até à própria entrada, penetrando-se sem muita cerimônia.
precisou afastar-se do pênis alheio para olhar a cena com mais atenção, e sorriu de forma lasciva, ainda gemendo alto.
O mais novo rebolava sobre os próprios dedos de olhos fechados, gemendo sem vergonha e deixando que o nome de escapasse vez ou outra.
— … — sussurrou, insinuando-se ao máximo, abrindo as pernas, rebolando e jogando-se para frente. — Oh, meu deus…!
Ao ouvir o tom manhoso que o parceiro gemia, logo voltou a chupá-lo com pressa, usando uma das mãos para ajudá-lo a masturbar onde não alcançava com a boca.
E em questão de segundos, gemeu ainda mais alto e segurou-se na cabeceira da cama, permitindo-se gozar entre os lábios bonitos de , que apenas se deliciava com a cena do mais novo banhado em prazer — e engolia tudo que era jogado em sua boca.
caiu exausto ao lado do rei e riu baixinho. Não acreditava que havia permitido que aquilo acontecesse.
— Isso foi incrível — sussurrou e virou-se para o mais velho, selando seus lábios devagar.
— Sim — sorriu e fechou os olhos, aconchegando-se com . — Obrigado pela boa companhia e por mostrar-me os segredos de Goryeo.
— Não há de quê, meu Rei, estou aqui para servi-lo.
E ao observar o sorriso que ostentava ao ouvir suas palavras, chegou à conclusão que, sim, era possível apaixonar-se em apenas um dia.
Como o primeiro príncipe herdeiro, o filho mais velho, foi criado sob crenças absurdas e ensinado a fingir que não sentia; fosse dor, afeto, carinho, qualquer coisa. Numa situação daquelas não seria diferente.
Seu pai estava morto e ele assumiria o trono. Simples assim, como se nada mais importasse. Contudo, no fundo de seu âmago, sentia a dor da perda. Era como uma praga que se espalhava por todo seu corpo, corroendo-o aos poucos, queimando-o de dentro para fora. E ele não podia derramar uma lágrima sequer — não que fosse fazê-lo na frente de alguém, de qualquer modo, havia sido ensinado a não chorar também.
Após a passeata por todo o reino, com o caixão do antigo Rei sendo carregado pelos quatro filhos homens, retornaram para o castelo real. O local estava silencioso e calmo, ao contrário de alguns dias antes onde o falecido saltitava e brincava com todos ao redor.
Seokmin foi um homem amado e idolatrado; pela família, pelo povo, pelos aliados. Era um homem que prezava pela honestidade e bravura. Criou filhos com o próprio suor, deu o que comer para todos daquele reino — o qual herdara à beira da miséria e no ápice de uma doença desconhecida que estava acabando com grande parte dos moradores —, deu educação da forma que pôde, ajudou a todos que lhe pediram e encerrou uma guerra que acontecia por mais de dez anos; fora um homem e tanto. O melhor rei que Goryeo havia visto.
E agora tudo aquilo pertencia a , o filho mais velho entre os quatro. A pressão de ser tão bom quanto Seokmin o sufocava, porém fingia não sentir. As aulas de teatro lhe eram muito úteis naquele momento, mesmo que a arte não fosse bem vista — seu pai nunca o proibiu de nada, sua única condição era: não faltar aos compromissos reais, às aulas de Geografia e idiomas, além, é claro, das de estratégias militares e tiro ao alvo.
Com isso, ganhava o direito de receber aulas particulares de música — que incluíam canto e instrumentos —, literatura, pintura e teatro; artes que ele adorava, principalmente música. E, de brinde, descobriu que tinha irmãos talentosos e que amavam artes assim como ele.
, o segundo herdeiro, dançava como ninguém; além de ter uma voz macia e suave, apesar de um tanto aguda. Cantava feito um anjo. , o terceiro, escrevia como o maior dos poetas já vistos por todo o mundo; era bom com as palavras faladas, escritas e cantadas. Dominava-as com destreza e era o responsável pelos discursos reais desde seus 12 anos. Um prodígio da literatura e leitura. Todos em Goryeo o conheciam. E , o caçula, era como um faz tudo; um combo completo. Dançava, atuava, cantava, escrevia e pintava. Os quatro irmãos formavam um time extremamente artístico, para o orgulho de Daehee, a rainha, que também era artista — era uma excelente pintora e era responsável por todos os retratos pintados e espalhados pelo castelo.
fitava o céu pela sacada de seu quarto enquanto recordava-se daqueles momentos simples da vida. Gostava de saber que ainda carregava o dom artístico e podia usá-lo quando estivesse livre de suas obrigações de herdeiro — e que agora seriam de rei. Seria difícil acostumar-se com a nova agenda, as novas funções, as novas formas de portar-se perante a sociedade, mas sabia que daria conta. Desde seu primeiro dia de vida era treinado para aquele momento, mesmo que seu coração estivesse aos pedaços.
Com um suspiro fraco, o jovem rei pediu para que sua serva pessoal o deixasse sozinho e a mulher o obedeceu em silêncio. ainda a observou por alguns segundos; Hana cuidava de todas as suas coisas — desde banhos às alimentações — desde que ele tinha seus cinco meses de vida. E a mulher já se mostrava extremamente cansada e prestes a deixar aquele cargo.
Hana não era idosa, longe disso, devia ser da idade da rainha. No entanto, o trabalho braçal, na cozinha e os cuidados do herdeiro acabaram deixando-a mais velha do que realmente era. Os cabelos estavam sempre desgrenhados, as mãos eram ásperas, as pernas finas e a magreza em excesso. Por mais que Seokmin tivesse salvado boa parte de Goryeo e ainda tivesse cuidado com seus empregados, era impossível que aquelas pessoas aguentassem realmente todo o trabalho que tinham. O dinheiro que ganhavam era bom, mas ainda não era o suficiente para lhes dar uma vida digna como a que a família real tinha. Hana vivia com os filhos nos fundos do castelo, acordava às quatro da manhã e dormia às onze da noite. Todos os dias, de domingo a domingo, apenas para servir a família . Há mais de 20 anos.
sentia por ela, então sempre que podia a dispensava para que ela pudesse descansar e cuidar de seus filhos, mesmo que eles já fossem grandes — o mais velho tinha certeza de que era apenas um ano mais novo, e o outro aparentava ser da idade de .
O agora Rei saiu de seus devaneios e não tardou em desatar os nós de suas roupas. Tirou a capa azul marinho que representava a cor de Goryeo e depois arrancou as botas e calças pretas, ficando apenas com a longa camisa preta e branca que vestia por baixo da capa. Encarou-se no espelho e suspirou.
Era um homem bonito, sua mãe sempre dizia, mas não conseguia sentir-se assim. Sabia que era muito cobiçado entre as pessoas dos reinos ao redor e os aliados, principalmente por ainda estar solteiro. Mas achava que era apenas isso: cobiça. Não gostava do tom extremamente negro de seus cabelos, nem de seus lábios grossos, tampouco do buraquinho que surgia em sua bochecha quando sorria; achava-se esquisito demais. Magro demais. Alto demais.
Suspirou de novo e arrancou o resto das roupas que ainda lhe cobriam. Seguiu até à banheira disposta no meio do quarto e não se importou com a água que jazia ali fria e abandonada desde a manhã. Precisava se distrair de alguma forma. E nada melhor que fazer isso em seu habitat natural, como naquela banheira, com a água tão gelada quanto seu ser. sentia-se congelar; sob aquele pequeno mar em sua banheira e pela dor que acalentava seu peito.
Estava quase pegando no sono mesmo que o corpo tremesse levemente quando duas batidas na porta ecoaram pelo local, despertando-o. Não respondeu de imediato, entretanto, uma voz suave tomou todo o ambiente, deixando-o curioso e inebriado. Não lembrava de tê-la ouvido alguma outra vez, então continuou em silêncio, ansiando por ouvi-la outra vez.
— Senhor ? — a voz chamou novamente, desta vez mais alto.
— Entre — pediu sem sequer mover um dedo, continuando deitado e de olhos fechados.
— Com licença, desculpe incomodá-lo — a voz suave ecoou trêmula desta vez, o que chamou a atenção do Rei.
E quando abriu os olhos sentiu o ar lhe faltar os pulmões. O rapaz à sua frente era tão bonito que parecia ser alguém da realeza. Os lábios carnudos, os olhos pequenos e o rosto bem desenhado, além dos cabelos num tom de dourado que não se lembrava ser possível existir em Goryeo naturalmente, sem uma mistura química.
Os olhos do Rei continuaram a correr pelo jovem de roupas vagabundas, caindo sobre seus braços fortes à mostra, as coxas grossas e os pés descalços, como um rapazola bagunceiro que se misturava entre as crianças e corria o dia inteiro. gostou daquilo.
No entanto, teve de se recompor ao notar o rubor nas bochechas alheias. E só então o se deu conta de que estava encarando-o por tempo demais.
E que ainda estava nu dentro da banheira, com todo seu corpo exibido, sem uma rodela de pano sequer. Nu como veio ao mundo.
— Oh… Desculpe-me — o rei sussurrou. — O que deseja? Aliás, quem é você?
— Eu que peço desculpas, senhor. — O rapaz desviou o olhar. — Sou o filho mais velho de Hana: . Vim apenas lhe dar um recado da rainha; minha mãe precisou assumir a cozinha para preparar o jantar. Enfim. A rainha deseja vê-lo agora.
— Muito obrigado, , diga a minha mãe que já estou indo.
— Não há de quê, senhor, com licença.
Com um sorriso pequeno e educado na boca, saiu.
E viu-se hipnotizado pelo simples plebeu. Riu de si mesmo e saiu da banheira, sem importar-se em molhar todo o chão. Sua mãe aparentemente tinha pressa e ele não pretendia irritá-la por se atrasar.
Porém, mesmo assim, o sorriso de não saiu de sua cabeça. Nem a forma que seu corpo era desenhado; os braços grossos, as pernas fartas.
Aquele plebeu era deveras interessante — e exalava sedução.
seguiu pelos extensos corredores do castelo já devidamente vestido com roupas pretas e brancas, a capa azul sobre os ombros e uma coroa fina sobre os cabelos bem penteados. Bateu na porta do salão de reuniões e aguardou pela voz de sua mãe, que não demorou a ordenar que os soldados a abrissem para ele.
O jovem Rei adentrou o salão e reverenciou a mãe respeitosamente. Seus irmãos também estavam por ali, com os rostos abatidos e olheiras sob os olhos. Nenhum dos três falava ou olhava para algum lugar que não fosse o chão. Estavam sofrendo demais para isso. A família era muito unida para lidar com tamanha perda.
— O que deseja, minha mãe?
— Sua coroação acontecerá amanhã e iremos oferecer um banquete para nossos aliados. Seu pai não gostaria que demorássemos tanto para anunciá-lo — a rainha respondeu com pesar enquanto tentava esconder os olhos marejados.
Quando um Rei morria, tudo caía nas costas da atual Rainha. O velório, a organização da passeata, o banquete de despedida, a coroação do herdeiro mais velho, a missa de sétimo dia; tudo, absolutamente tudo era sua responsabilidade até que seu filho mais velho assumisse o trono. E sentia o coração apertar ao ver sua amada mãe naquela situação horrorosa, onde sequer poderia sofrer seu luto em paz.
— Podemos deixar para depois, mamãe — sussurrou. — Não precisamos correr com isso. Nosso povo entenderá.
— Já está decidido e nosso mensageiro já informou todo o Reino. Você será coroado amanhã às dez. Não se atrase e se vista da melhor maneira possível, meu Rei — Daehee respondeu firme e com carinho, deixando um beijo simples na bochecha do filho, logo seguindo em direção aos outros três e fazendo o mesmo. — Vocês também precisarão melhorar essas carinhas para prestigiar seu irmão.
Os irmãos apenas assentiram de forma positiva e observaram a mãe se retirar do local. Após alguns segundos, tirou a coroa sem muito valor dos cabelos e a capa, colocando ambos os itens no trono em que outrora estava sentado.
— Como vocês estão? — perguntou, aproximando-se dos mais novos. — Acham que conseguirão participar da cerimônia?
— Estamos tão mal quanto você, irmão — respondeu. — Nós nascemos prontos para vê-lo brilhar e tomar Goryeo para si. Aguentaremos.
— Além do mais — a voz grossa de chamou a atenção —, preparei seu discurso e me dei a liberdade de desenhar e costurar suas roupas. Mamãe aprovou, então acredito que você também irá, meu Rei.
sorriu para o irmão e assentiu em agradecimento.
— E eu irei cantar logo depois que você assumir o trono — murmurou, levantando-se e seguindo até o irmão mais velho, escondendo-se entre os braços fortes e longos. — E se me permitir, gostaria de fazer um retrato seu.
— Você sempre poderá fazer um retrato meu, Gukkie. Fico feliz por vocês estarem comigo e me aceitarem como Rei. Obrigado. Prometo que farei tudo como o papai gostaria.
— Apenas seja você e tudo dará certo — disse enquanto sorria. — Vamos lá, temos muita coisa para preparar. Preciso organizar o banquete.
— Às vezes esqueço que você é louco por organização e pensa que comanda a cozinha do castelo — provocou.
— Eu comando aquela cozinha, meu irmão, não há dúvidas quanto a isto.
Os irmãos riram e continuaram se provocando como forma de camuflar a dor que sentiam. Saíram do salão de reuniões juntos enquanto conversavam e se separaram ao chegarem à sala de estar alguns minutos depois. Cada um tinha algo especial para fazer — e um luto para chorar às escondidas.
A manhã seguinte não demorou a chegar. Todos no castelo estavam exaustos demais e antes das dez da noite tudo ficou silencioso, com cada morador em seu respectivo aposento.
foi acordado bem cedo e recebeu um banho demorado e caprichado, com pétalas de flores que exalavam um odor doce e maravilhoso; teve os cabelos penteados para trás e foi vestido de maneira impecável com as peças que havia costurado com maestria. A capa azul marinho foi vestida por último, faltando dez minutos para sua coroação. A tiara de prata já estava sobre os cabelos, simples e bonita, como a que seu pai costumava usar para caminhar pelo reino.
Os olhos do herdeiro brilhavam lágrimas de dor, alegria, orgulho e saudade. Mas não podia chorar. Não podia envergonhar sua família e seu povo demonstrando sentimentos. Então respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os e dando de cara com Hana atrás de si no reflexo do espelho. Sorriu.
— Você está lindo, pequeno — a mulher murmurou. — Não tinha esperanças de estar viva para vesti-lo para o dia de hoje.
— Já eu sempre tive certeza de que você estaria aqui para me ajudar e prestigiar. — Virou-se para a mais velha e segurou suas mãos gastas de trabalho. — Obrigado por tudo, Hana. Prometo que serei um Rei tão bom quanto meu pai e irei lhe dar umas férias. Você não merece trabalhar tanto. Nenhum de vocês.
— Não diga isso, meu amor. — Hana sorriu. — Nós ganhamos muito bem para trabalhar aqui. Está tudo bem. Meus filhos tiveram educação graças ao seu pai e agora continuarão tendo um teto e um trabalho graças a você, eu espero.
— Jamais irei tirá-los daqui. — sorriu e beijou as mãos da serva. — Você é como minha segunda mãe. Ainda terei o prazer de torná-la parte da realeza, me aguarde.
Hana riu e soltou suas mãos, logo começando a ajustar os últimos detalhes da vestimenta do rei.
— Não diga besteiras — murmurou, enquanto ajustava a capa azul sobre os ombros largos. — Sua mãe jamais permitirá tal audácia; e com razão. Estou bem como sou. Não preciso ser da família real para lhe dar e receber amor, nem para que meus filhos vivam bem.
— Tudo bem, não está mais aqui quem falou. — O jovem deu de ombros. — Seus filhos são ótimos, farei questão de dá-los empregos melhores para que você não trabalhe mais. Encontrei-me com ontem — comentou. — Ele é um rapaz forte, pode se tornar um dos soldados.
— Oh, nem pensar. — Hana riu. — é diferente. Não gosta de armas, guerra, militarismo. Arriscaria dizer que ele é um plebeu revoltado e ativista. É um artista nato, gosta de cantar e dançar e ajuda as crianças do reino com isso, mesmo que os pais destes pequenos batam em minha porta todos os dias querendo que ele pare com aulas. Homens velhos não aceitam que os garotos jovens gostam de dançar. Dizem ser coisa de menina e acusam-me de ser uma bruxa sem vergonha por deixar meu menino fazer o que bem deseja.
— Imagine se soubessem que os quatro príncipes dançam desde crianças… é nosso melhor bailarino. adoraria passar um tempo com ele.
— É verdade, aqueles brutamontes iriam engolir as palavras rudes que dizem ao meu filho. E ah, e são muito amigos, você não sabia? Eles dançam juntos todos os domingos e pedem a permissão de sua mãe para que eu assista todas as apresentações que criam. Estão cada vez melhores.
— Oh… eu não sabia — piscou os olhos algumas vezes, logo voltando-se para o espelho. — Eu gostaria de vê-los dançar.
— Você sempre esteve muito ocupado, meu amor. Agora talvez seja pior, não se incomode com isso. Aliás, já está na hora. Vamos? Estarei na plateia te ovacionando com orgulho.
apenas sorriu e assentiu, pronto para ser levado após soltar um suspiro.
Quando subiu no palanque que havia sido colocado no quintal do castelo e onde toda a população de Goryeo estava presente, sentiu o ar lhe faltar. Sufocou-se por alguns segundos e ficou paralisado encarando aquelas milhares de pessoas que queriam ouvir suas promessas.
Sorriu para seu povo, tentando esconder o nervosismo e deixou que o discurso decorado escapasse de sua garganta de uma só vez. Pausou uma vez ou outra para que pudesse respirar normalmente e agradeceu aos céus por todos estarem felizes e lhe enchendo de aplausos e palavras bonitas. Ao seu lado, sua mãe segurava sua mão gelada sutilmente. Logo atrás, estavam seus irmãos lado a lado e tão bem arrumados quanto ele — e também ostentavam coroas de prata.
Não demorou muito para sua mãe honrá-lo oficialmente como Rei de Goryeo, colocando-o uma coroa de ouro enorme e com detalhes em azul, vermelho, preto e branco. sabia que aquela era a coroa que seu pai havia usado durante a vida inteira. Assim como seu avô. E o bisavô. E todos os herdeiros da família que o antecederam.
A rainha deixou que um par de lágrimas escapasse de seus olhos e logo voltou-se para seu lugar, observando o filho ser ovacionado pela população enquanto finalizava seu discurso.
— Eu, IV, prometo que irei honrar este reino; farei o possível e impossível para mantê-los a salvo, sem guerras e sem passar necessidade. Manterei este lugar nas perfeitas condições que meu pai criou. Não irei desapontá-los. Eu os amo e prometo-me a vocês.
terminou de falar sentindo o peito aquecer em orgulho e carinho. Estava sendo aceito mesmo sendo um Rei jovem e solteiro; sabia que deveria se casar o mais rápido possível, porque logo começariam a reclamar que estava governando todo um reino sob as saias de sua mãe e isso não soava bem para um rei. Ainda mais um de seu porte, de um reino como Goryeo.
Como se lhe pregasse uma peça, seu olhar seguiu para a primeira fileira de moradores embaixo do palanque, encontrando com um enorme sorriso na boca enquanto abraçava sua mãe, que sorria igualmente.
E um pensamento estranho lhe ocorreu, mas durou apenas alguns segundos, até que fosse puxado para trás suavemente pela mãe, para que liberasse o espaço e tomasse seu lugar, já pronto para cantar.
Com a canção bonita e calma ecoando por todo o ambiente, encontrou o olhar de novamente. E o pensamento estranho voltou.
E se acabasse por apaixonar-se e casar-se com um homem?
A cerimônia havia sido um sucesso, assim como o banquete que fora oferecido logo em seguida. Os aliados estavam satisfeitos com a postura de e com tudo o que havia acontecido naquela manhã e início de tarde; alguns também ofereciam suas filhas e apresentavam as moças bonitas para , que no começo até aceitou conversar um pouco com algumas, mas tudo tornou-se insuportável quando elas começaram a competir e implorar por sua atenção.
Com educação e alegando cansaço, despediu-se de cada convidado com um sorriso bonito na boca, e o suspiro de alívio quando chegou ao último foi inevitável. Precisava de paz. E o banquete já estava no fim, de qualquer forma. Ainda sorrindo, retirou-se de uma vez por todas do salão de festas.
Agora, estava em sua sacada observando as pessoas irem embora de sua residência e suspirou completamente cansado.
— O senhor se saiu muito bem — a voz suave que jamais esquecera ecoou pelo quarto, assustando-o. — Perdoe-me, meu Rei, não quis assustá-lo, tampouco ser invasivo.
fitou apoiado no batente de sua porta e engoliu a seco. O rapaz vestia uma camisa preta e longa, mas que ainda assim ficava apertada em seu colo estufado e nos braços fortes, uma calça branca larga e os pés desta vez calçados em sapatos sociais um pouco surrados, como se tivessem sido usados muitas vezes. Os cabelos dourados como sua coroa de Rei estavam partidos ao meio, deixando-o com um ar arteiro e juvenil.
— Está tudo bem, . — se recompôs. — Apenas peço-lhe que bata na porta na próxima vez.
— É claro, peço perdão novamente, majestade. — sorriu. — O senhor me parece cansado.
— Por favor, pare de me chamar de senhor — o agora Rei pediu. — Sei que me respeita, mas somos quase da mesma idade. Agora, diga-me o que deseja. Tem algum recado para mim?
mostrou-se levemente desconfortável com a pergunta; sentindo na pele mais uma vez a diferença social entre eles. Era um bocado estranho, para ele, ter de curvar-se diante de um rapaz que era apenas um ano mais velho. E pior ainda ter de curvar-se perante o caçula, que era dois anos mais novo. Mas o que podia fazer, afinal, se nasceu um mero plebeu? A plebe não tinha voz naquele reino, mesmo que ele fosse muito bom para toda a classe. Tinham empregos, propriedades, um bom salário mínimo e alguns direitos trabalhistas que conquistaram à base de muita luta. Porém, ainda assim, era estranho. Eram todos pessoas. Podiam participar das reuniões da realeza até certo ponto; não decidiam nada, não opinavam em nada, apenas tinham o direito de estar cientes sobre as decisões da burguesia.
E aquele tipo de coisa, o tratamento e como faziam sempre parecer que ele era apenas um servo, um mensageiro, um faz tudo como todos que viviam nos confins daquele castelo e fora dele, era incômodo, desconfortável, fazia com que se sentisse diminuído — mesmo que não fosse a intenção naquele momento.
— Não existe recado algum, majestade — praticamente sussurrou. — Desculpe-me, apenas tomei a liberdade de vir parabenizá-lo pelo belíssimo discurso.
— Oh! — sorriu. — Não precisa se desculpar por isso. Fico feliz por confiar em minhas palavras, . Saiba que pretendo dar mais espaço e voz para vocês. Ouvi dizer que você tem sede de ativismo.
— Minha mãe, né? — sorriu. — Faço parte do grupo que participa de todas as reuniões na realeza. Não sou muita coisa dentro dele, mas gosto de participar; gosto de estimular as crianças a lutarem pelo que querem e espero que, sob seu comando, possamos ao menos opinar e mostrar o que há de errado na vida fora dos enormes portões do castelo.
— Estarei pronto para ouvir cada um de vocês. — desamarrou a capa dos ombros e colocou-a esticada sobre sua cama. — Sempre tive curiosidade para saber como vocês vivem. Como pode notar, não tenho vivência alguma fora deste castelo. Acredito que meus irmãos fujam durante a noite para conhecer as pessoas e misturarem-se à plebe; e não vejo nada demais nisto, é nosso povo. Mas eu, como herdeiro, jamais pude sair daqui. Nunca explorei nosso reino sozinho. O conheço como a palma de minha mão, mas não sei seus segredos… E desculpe-me, , estou falando demais. Você deve ter trabalho a fazer, não é? Obrigado por seu retorno em relação à minha coroação, mas não quero atrapalhá-lo.
— Está tudo bem, eu que vim incomodá-lo. — O garoto deu de ombros. — E sobre seus irmãos, majestade, sinto informá-lo: eles conhecem Goryeo muito mais do que o senhor. — riu. — Eles sabem aproveitar o que têm. E posso lhe dizer com convicção: a vida fora destes portões é muito mais viva. Somos pobres, mas sabemos viver e aproveitar. Isso costuma fascinar burgueses como vocês. Vocês têm banquetes, aulas de etiqueta, horário para comer e beber, têm até mesmo quem lave seus pés. — Fez uma pausa e deu alguns passos incertos para frente, parando bem próximo a . — E nós, os plebeus, o resto de Goryeo, temos a alegria, a esperança e a vida. Nós sabemos festejar, preparamos nossas próprias coisas, lavamos nossos próprios pés para sujá-los em dobro logo em seguida. E, principalmente, sabemos sorrir verdadeiramente.
— Eu gostaria de viver assim. Gostaria de conhecê-los melhor.
— E você pode, meu Rei — respondeu sem pensar e ainda sem entender o porquê daquela conversa maluca com seu Rei. O maldito Rei! Sequer deveria estar ali.
— Eu posso?
— Claro que sim. Basta querer… E ter a companhia certa para não ser descoberto.
Céus, onde estava com a cabeça? Instigando o Rei supremo a fazer besteiras logo no dia que acabara de ser coroado?
Naquele momento, desejou todos os cascudos que sua mãe sempre lhe dava por ser tão festeiro e inconveniente.
Contudo, observar os olhos brilhantes e curiosos de fazia com que não quisesse parar. O Rei tinha uma vida tão… Entediante. Havia crescido no castelo e foi treinado para viver. Treinado para quando sorrir. Treinado para quando se casar. Para passear. Para estudar. havia sido treinado para tudo, principalmente para viver e governar. Nenhuma decisão que tomara havia sido totalmente sua, mesmo que tivesse algumas regalias para chamar de decisões próprias. Não passava de enganações e míseros “cala a boca”.
sentia por aquele jovem homem — e desejava fazê-lo viver nem que fosse um pouco e sob insinuações idiotas.
Logo a voz de o tirou de seus devaneios, deixando-o assustado, porém animado:
— E você seria minha companhia certa, ?
sorriu abertamente e aproximou-se ainda mais de , sussurrando ao pé de seu ouvido:
— Vista algo simples e cubra o rosto. Hoje irei levá-lo para conhecer o lado bom da vida, meu Rei.
Não demorou muito para se trocar. Tirou as roupas da cerimônia ali mesmo, na presença de — que apenas virou-se de costas em sinal de respeito —, e vestiu a roupa mais simples que possuía. Depois, entre suas tralhas de quando era criança que estavam guardadas em um baú velho, encontrou uma máscara que havia pintado para ele, para um baile a fantasia que deram há alguns anos.
sorriu com o resultado, mas ainda faltava alguma coisa. Chegou bem pertinho do Rei e com as mãozinhas pequenas e ágeis, bagunçou os cabelos negros que sempre ficavam bem penteados. fez uma careta, mas não disse nada.
Seu primeiro dia de reinado e estava aprontando algo que não fizera nem mesmo na adolescência. Céus, que tipo de Rei estava prestes a se tornar?
Após montarem a cama de de forma que parecesse ter alguém dormindo ali, saíram nas pontas dos pés.
conhecia cada cantinho daquele castelo, então foi fácil guiar o Rei até uma saída alternativa pelos fundos. Não haveria ninguém ali àquela hora; metade dos serventes estava trabalhando na limpeza do banquete e a outra metade estava festejando pelas ruas de Goryeo.
— Eu não acredito que estou mesmo fazendo isso — murmurou, enquanto andava pela multidão com mascarado em seu encalço. — Minha mãe vai me matar se descobrir que o trouxe para esta confusão. E na pior das hipóteses serei preso por sequestrar o novo Rei.
— Direi a todos, caso descubram, que vim por livre e espontânea vontade — respondeu enquanto ria.
— Isso não adiantará de muito, meu Rei. — deu de ombros. — A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco.
— E não importa o que eu diga?
— Às vezes parece que o senhor não sabe como as coisas funcionam. Somos pobres e não temos voz, nem mesmo em um governo tão incrível como foi o do seu pai e como será o seu.
— Pare de me chamar de senhor.
— De tudo o que eu disse, o senhor só ouviu essa parte?
— Sim, porque me incomoda.
— Perdão, senhor.
— !
— Tudo bem, tudo bem. — Riu. — Irei chamá-lo como a minha mãe: .
revirou os olhos, porém abriu um sorriso.
era um rapaz diferente. Em todos os aspectos. Ele não se encaixava no padrão burguês, mas também não era totalmente plebeu. Ele falava bem, se expressava bem e andava com uma postura fora do comum — plebeus costumavam ter as costas curvadas e os pés se arrastavam pelo chão ou mancavam. parecia levitar sobre o solo. Seu corpo se movia de forma graciosa e seu sorriso estava sempre no rosto, mesmo que ladino ou levemente escondido. Ele era diferente. E adorava coisas diferentes.
Os pensamentos militantes, a forma didática de falar, o jeito de brincar e provocar mesmo quando não queria, a audácia, o deboche na medida certa, a beleza angelical e sedutora. Ele era o paradoxo perfeito do que estava acostumado a lidar.
— O que foi? — perguntou assim que pararam numa ruela pequena, observando a festa colorida e animada que o povo fazia.
Era como um ritual. Quando mudava o Rei, nascia um herdeiro novo ou quando alguém da família real se casava, o povo fazia festa. Bandeiras eram penduradas pelas ruas, pós coloridos eram jogados ao vento, músicas eram tocadas pelas bandas dos plebeus, os bares lotavam, as pessoas simplesmente comemoravam por tudo; e estava encantado. Nunca havia visto algo parecido. Perguntava-se quantas vezes seus irmãos mais novos aproveitaram aquilo enquanto ele era obrigado a fazer estratégias de guerrilha, ou estudar francês para conversar com algum aliado que não falava seu idioma.
— É tudo muito diferente — respondeu. — Principalmente você. Gosto do jeito que se expressa e que me explica as coisas. É muito bonito.
— É o charme plebeu, senhor — galanteou e riu em seguida. — Você apenas não teve tempo de observar ao seu redor, . Sua vida foi toda planejada e você não passa de um treinamento real. Assim como seu primeiro herdeiro será. É um ciclo vicioso. Eu não os julgo, longe de mim julgar alguém, só… Não sei, tudo isso vale a pena? Eu sei que alguém tem que comandar nosso reino. Será assim para sempre. Mas… vale mesmo a pena trocar tudo por um bocado de poder e peças de ouro? Óbvio que ter todo esse luxo transformaria minha vida, não serei hipócrita, mas não me vejo longe daqui. Dessas festas. Dos meus amigos. Não me vejo trocando nada disso por dinheiro.
— Sua forma de ver a vida é linda — elogiou e o mais novo sorriu. — É uma realidade totalmente oposta à minha.
— Costumam dizer que os opostos se atraem. — deu de ombros. — Não acredito que seja verdade, mas faz sentido agora.
— Então vamos aproveitar. Hoje pode ser o único dia em que os opostos realmente se atrairão.
— Eu espero que não seja somente hoje, Majestade.
E após dizer aquilo, virou-se e recomeçou sua caminhada. o seguiu meio conturbado, mas seguiu.
Durante todo o caminho sorriu para as crianças e cumprimentou os comerciantes e os festeiros. Era um rapaz conhecido e gostou de descobrir isso.
Fez com que os pensamentos estranhos voltassem a tomar sua cabeça bagunçada.
No entanto, sabia que a população gostaria de alguém como governando ao seu lado.
E ele também gostaria.
A tarde já estava no fim quando pararam de andar entre as pessoas. ainda estava encantado com a beleza de seu reino e com toda a festança que estavam dando em sua homenagem. o havia dito que a festa iria até o fim da noite e voltaria a acontecer na manhã seguinte, no mesmo horário que havia sido sua coroação naquele dia.
Não era como se não soubesse das festividades que aconteciam por Goryeo; conhecia bem as tradições de seu povo, mas não sabia que era tão bonito e tão longo. Não teve oportunidade nenhuma de presenciar aquilo. Apenas subia nos palanques ao lado da família e depois voltava para os confins do castelo. Agora conseguia entender os sumiços dos irmãos.
Estavam comendo em um canto escondido quando começou a tagarelar sobre um lugar que ele costumava frequentar para dançar e aproveitar sua juventude. ficava cada vez mais curioso, queria desvendar seu reino ao lado de mais do que nunca.
— É como uma casa enorme — murmurou de boca cheia. — Eles tocam músicas ao vivo e nós simplesmente dançamos ou assistimos. Fica super cheio e, no fim da noite, todos acabam dançando. É incrível.
— Gostaria de conhecer — falou baixinho e encarou o mais novo.
— Hoje é seu dia de sorte, reizinho. Daqui a pouco já estarão abrindo as portas e irei levá-lo. Está pronto para dançar a noite inteira?
— Hoje descobri que estou pronto para tudo desde que eu esteja ao seu lado, jovem plebeu.
sorriu corado e limpou as mãos nas próprias roupas.
— Vamos? — perguntou e estendeu a mão para o rei.
— Vamos — respondeu sem hesitar e segurou a mão tão menor que a sua, entrelaçando seus dedos.
E ali ele percebeu que aquela era a coisa mais certa que já havia feito. A mão de encaixava tão bem na sua.
E notando isso, se perguntou se suas bocas também encaixariam. Ele achava que sim.
Não demoraram tanto para chegar quanto imaginou. O lugar tinha uma fachada simples e o som da música era ouvido do lado de fora, o que fez sorrir e abrir os braços, mostrando o letreiro caindo aos pedaços. riu do mais novo e o empurrou para que entrassem logo.
Entraram.
E para foi como cair em um universo paralelo. Nunca havia visto tantas pessoas juntas e se movendo em perfeita sincronia. O sol, do lado de fora, estava se pondo. E ali dentro, ninguém parecia se importar se ele estava indo embora ou renascendo. Só existiam eles, as músicas e as coreografias bem feitas.
Os corpos levitavam, esbarravam uns nos outros, grudavam-se; estava extasiado — e quente.
— Bem-vindo ao meu mundo, majestade — murmurou próximo ao seu ouvido, arrepiando-o dos pés à cabeça.
E sem esperar por , deixou-se levar pela multidão, atendendo às pessoas que gritavam seu nome sem parar.
Uma outra música se iniciou enquanto cumprimentava alguns amigos e, automaticamente, ele se posicionou entre duas moças, permitindo que seu corpo logo começasse a se movimentar junto com elas. A música começou calma e foi acelerando com o passar dos segundos.
E perante àquela multidão, se perdeu em , como se houvesse somente ele naquela pista de dança. Seu corpo ia e vinha, suas expressões mudavam de acordo com cada passo; ele rodopiava, pulava, abria e fechava os braços. O quadril balançava de um lado para o outro, a cabeça era jogada para trás e os cabelos grudavam-se à testa banhada de suor.
paralisou quando enxergou o jovem plebeu com um olhar felino vindo em sua direção. Desesperou-se por alguns instantes — não era um bom dançarino como seus irmãos.
— Conceda-me esta dança, majestade? — sussurrou bem próximo ao seu rosto.
não conseguiu dizer não. Mesmo que fosse um dançarino meia boca, mesmo que não conseguisse seguir coreografias, mesmo que nunca tivesse dançado em público, mesmo que fosse um rei recém coroado em meio à plebe.
Segurou aquela mão que tão bem encaixava na sua e permitiu-se dançar.
Simplesmente dançar. De forma livre, sem medir seus modos, sua postura, sem pensar. Dançou como se não houvesse amanhã, dançou com amor, dançou até que suasse, dançou até sentir a exaustão lhe tomar e a falta de ar atingir seus pulmões.
Dançou agarrado em sem ser julgado. Moveu os quadris. Colou-se ao tronco do mais novo outra vez e deixou que sua testa tombasse sobre a dele, anestesiado de excitação e com a respiração descompassada.
Seus olhos encontraram os de — que pareciam sorrir grande e estavam brilhantes assim como sua boca carnuda e chamativa.
sentiu-se embriagado com aquela visão. Sua boca formigou. Suas mãos prenderam a cintura esbelta.
— Se for me beijar, o faça logo — murmurou rente aos lábios de , que ficavam à mostra pela máscara.
— Eu posso?
— Deve, majestade, deve.
E com um leve movimento, as bocas se juntaram.
O beijo se encaixava melhor que suas mãos e era intenso, lento e molhado. As línguas pareciam se conhecer de outras vidas e para onde deveriam ir. O mundo afora não existia mais, as pessoas em volta não importavam. A música continuava alta, mas tudo parecia em silêncio. Tudo o que importava eram os dois e as bocas juntas, num beijo perfeito e profundo.
sentia-se no céu — e com um tambor dentro do peito, bem no lugar do coração.
parecia ter encontrado a paz — com o beijo de se tornando sua coisa favorita no mundo.
Separaram-se após alguns minutos e fitaram-se nos olhos. As pessoas ainda dançavam e esbarravam neles. A música ainda estava alta. O sol lá fora já não existia mais. E eles não estavam nem aí.
Como ímãs, as bocas se grudaram novamente. Os sabores se misturando, as mãos explorando os corpos, os corações batendo forte juntos. Um mundo somente deles, onde não havia diferenças, medos, hesitações. Estavam apenas vivendo, como sempre quiseram viver.
— Quero levá-lo para conhecer um último lugar — disse de maneira calma, ainda com a boca pertinho na de , num momento em que a música diminuiu.
— Agora?
— Sim.
Entrelaçaram as mãos com pressa e saíram da danceteria. Ambos sorrindo e com as bochechas coradas pelo que tinha acabado de acontecer.
A noite estava bonita e estrelada, então decidiram caminhar devagar entre a multidão que ainda tomava as ruas de Goryeo.
Era uma festa bonita e duradoura, estava se sentindo amado e acolhido — e sentiu vontade de ir contra tudo e todos e demonstrar mais por seu povo. Cada Rei fazia seu governo, certo? Qual seria o problema do seu ser mais voltado para o amor e afeto? Gostaria de tentar.
Após longos minutos de caminhadas, chegaram ao destino que ansiava. Era uma espécie de cabana ao pé das montanhas que ficavam quase no fim do reino — e só ali o percebeu o quão longe de casa estava.
— Este é o meu lugar favorito em Goryeo — explicou enquanto abria a porta do casebre devagar. — Consigo observar o céu, as montanhas e a floresta logo abaixo... Tudo isso de uma simples janela de uma casinha isolada e escondida. Aqui é o único lugar que posso chamar de meu, e quero compartilhá-lo com você.
sorriu e adentrou o lugar, logo sentindo-se em casa, acolhido, quente. Era tudo tão limpo e arrumado por ali.
Havia uma cama relativamente grande bem ao centro, um cômodo escondido à esquerda e eletrodomésticos no canto oposto.
— É muito aconchegante — comentou sinceramente. — Sinto-me em casa.
abriu um sorriso bonito e caminhou até o mais velho, que agora se sentava na cama gostosa.
— Que bom — murmurou. — Eu realmente gostaria que fosse sua casa. Você combina com lugares calmos e pequenos.
— Não irei me importar em voltar aqui mais vezes, se desejar.
— Eu desejo, majestade. — o fitou nos olhos e encaixou-se entre as pernas do rei. — Desejo mais de você agora, também.
— E o que está esperando para me beijar?
passou a língua pelos lábios e abaixou até alcançar a boca alheia, tomando-a em um beijo sedento e sem vergonha — totalmente diferente dos beijos na danceteria. E o retribuiu à altura, agarrando o mais novo pela cintura e grudando seus corpos como podia.
permitiu-se ousar e chupar a língua do rei, fazendo-o soltar um murmúrio satisfeito e retribuí-lo logo em seguida.
— Deite-se — pediu e começou a tirar a própria camisa em seguida, mostrando o corpo bem definido que possuía.
A visão fez salivar e sentir o tesão começar a dominá-lo. era tão, tão bonito.
— Você é tão lindo, — murmurou enquanto se deitava sobre os travesseiros fofos espalhados pela cama.
Seu coração martelava forte dentro do peito, as mãos suavam e o corpo tinha espasmos sem motivo algum, apenas por observar se despir lentamente em sua frente. O jovem plebeu era deveras ousado; não sentia vergonha de se exibir daquela forma — pelo contrário, adorava ser visto e adorado; ficava excitado por simplesmente ser observado.
— Não mais que você, — respondeu enquanto deixava as calças caírem aos seus pés, ficando completamente nu.
arfou com a visão. Precisava tocar aquele rapaz. Sentir a pele quente sob os dedos. Sentir seu gosto novamente. Senti-lo contra seu corpo. Forte. Firme. Duro.
— Você já esteve assim com alguém, ? — perguntou, logo ficando de joelhos sobre a cama e engatinhando em direção a .
— Não — o Rei sussurrou em resposta, gostando de sentir a quentura de próxima de si novamente, agora de forma nua e crua, sem nenhum tecido para atrapalhar.
sorriu e passou o nariz pelo queixo e pescoço de , arrepiando-o mais.
— Irei cuidar bem de você, majestade — sussurrou. — Eu posso tirar sua máscara?
— Sim — respondeu de imediato, completamente entregue e de olhos fechados. — E as roupas também — completou.
soprou um riso fraco contra a bochecha corada do mais velho, jogando a máscara longe. Segurou-o pelo queixo e selou seus lábios devagar.
— Um Rei como você não deveria estar tão entregue e derretido a um reles serviçal como eu.
— Um verdadeiro Rei sabe a hora de curvar-se para outro homem, .
— Está dizendo que se curvaria para mim?
— Estou dizendo que não me importo com nada disso e o desejo mais do que qualquer coisa que já desejei na vida.
não o respondeu, apenas olhou-o nos olhos e encontrou apenas sinceridade, verdade e tesão ali; e isso quase o fez se emocionar. Ninguém nunca o havia olhado como . Ninguém o havia tocado como . Ninguém nunca o havia feito sentir o que estava fazendo em apenas um dia.
Tudo parecia certo e premeditado — como se o destino quisesse que ficassem juntos, como duas almas gêmeas quando se encontravam.
não sabia se era capaz de apaixonar-se por alguém em um dia, mas sentia como se amasse desde o momento em que seus olhos se encontraram pela primeira vez no dia anterior.
E com pressa, começou a desamarrar as roupas simples que o rei vestia; não queria esperar mais; perder-se em pensamentos não o satisfaria. Jogou as peças para longe e fitou com atenção o corpo rígido e perfeito abaixo do seu.
tinha coxas bonitas. Pés bonitos. Joelhos bonitos. A barriga lisa, chapada, com pelos ralos, o peito estufado, os mamilos perfeitos e escurinhos. Estava encantado.
desceu o olhar novamente, sabendo bem o que queria ver. O pênis ereto batia no ventre, brilhava e babava por ele. Tão bonito, tão excitante. O jovem plebeu sentiu-se tremer.
— Você é o homem mais lindo do mundo — sussurrou, começando a beijar o rosto do mais velho e logo descendo para o pescoço, ombros, peito; não deixando de apertar e morder os mamilos.
suspirou e um gemido baixinho e tímido escapou de sua boca. lhe causava sensações que jamais seria capaz de explicar; era impossível. Sentia-se bonito, desejado, acolhido. Sentia-se importante. Mas não importante como o Rei Supremo de Goryeo e sim como homem, como ser humano, como se merecesse todo aquele zelo mesclado ao tesão.
Os beijos e carícias de continuaram, chegando à barriga de e não demorou muito para o dançarino beijá-la por inteiro, onde conseguia alcançar. Desceu mais um pouco e arfou. Estava quase lá — onde sempre desejou ser tocado por outro alguém.
sorriu e mordeu o lábio inferior, fazendo com que o homem abaixo de si tremesse outra vez.
O não fez cerimônia para envolver a glande inchada de com os lábios carnudos. O gemido que o mais velho soltou reverberou pelo casebre, acendendo algo em que ele desconhecia. Seu corpo ferveu em tesão e em vontade de ouvir mais daquele gemido rouco, as mãos formigaram e a boca salivou, fazendo-o babar sobre a ereção entre seus lábios.
Com vontade, engoliu por inteiro de uma só vez. E os gemidos vieram todos ao mesmo tempo; um atrás do outro.
sentiu-se ir do céu ao inferno e do inferno ao céu em segundos. Sua mente ficou em branco quanto sentiu a garganta quente e apertada de em volta de seu pau, os dedos emaranharam no lençol branco embaixo de seu corpo, o gemido saiu alto, agudo, forte. Seu corpo tremia em espasmos de tesão, ele queria mais.
E não hesitou em pedir, o que fez empenhar-se ainda mais naquele boquete sensacional. Chupou seu Rei como ele merecia, levando-o até à garganta e voltando, lambendo a glande e chupando-a em seguida. Brincou com o pênis de ao máximo, até notar que ele não aguentaria mais.
No entanto, não o deixou gozar, o que o fez choramingar de forma manhosa — e deixou o mais novo mais excitado.
desceu a mãozinha atrevida para os testículos de , brincando por ali de forma que o deixasse a ponto de gozar novamente — sua outra mão ainda segurava o pênis pela base, movimentando para baixo e para cima.
E quando tremeu mais uma vez, parou, fazendo-o quase urrar de desespero.
— … , por favor — implorou. — Não faça isso comigo, não maltrate seu Rei deste jeito.
— Estou amando ouvi-lo implorar, majestade. Não pensei que reis fossem capazes disso — provocou. — Não sei se devo deixá-lo gozar.
— Eu sou capaz de qualquer coisa para tê-lo de uma vez — respondeu com a voz arrastada, abrindo mais as pernas e descendo as mãos grandes pelo próprio corpo. — Por favor.
engoliu a seco e suspirou. Não havia nada mais excitante do que naquele estado. Um homem grande, forte, um rei bravo e promissor, bonito, tão bem educado… Implorando por ele. Por seus toques. Seus beijos. Suas mãos pequenas e calejadas. Seu pau.
— Você está agindo como um cachorrinho — provocou, voltando a movimentar as mãos pelo pênis alheio. — Gosto disso, . Você fica uma delícia se insinuando para mim.
— Não me maltrate mais, …
— Shhh — sussurrou. — Isso é apenas o começo, meu bem. Seja um bom menino e aguente firme; não goze até que eu o permita.
— …
— Você será um bom menino, ? Do contrário, terei de castigá-lo.
— Sim, eu serei.
— Muito bem, majestade. Vire-se de costas.
Ali percebeu que não teria mais volta; e precisaria ser forte.
Virou-se devagar e ficou sobre os joelhos, expondo-se totalmente para .
Este não perdeu tempo, logo espalmando ambas as mãos sobre as nádegas fartas, separando-as e sentindo o próprio pau latejar com a visão que tinha. era tão, tão apetitoso.
curvou-se em direção à intimidade alheia e deixou que seus desejos guiassem-no. Passou a língua por toda a extensão de uma, duas, três vezes. O homem se contorcia sob sua boca e isso o fazia ficar ainda mais excitado.
Com uma das mãos, puxou o pênis de para trás devagar, deixando-o bem próximo aos testículos e começou a masturbá-lo devagar, porém com pressão, enquanto com a língua brincava no ânus alheio, penetrando-o ao máximo e cuspindo pela região para que ficasse ao menos um pouco escorregadio.
tremia dos pés à cabeça, vez ou outra perdendo as forças nas pernas e tombando sobre a cama; e sempre o puxava de volta com vontade, logo voltando a chupá-lo por onde alcançasse com sua boca gostosa.
— ... ! — chamou de forma pausada, gemendo mais alto que antes e sentindo as lágrimas tomarem seus olhos. — Por favor! Eu não aguento mais.
não respondeu, apenas lambuzou seus dedos com saliva e levou um até à entrada de , penetrando-o com calma e devagar. Apesar da forma dominante de agir e o tesão em seu ápice, o plebeu ainda era cuidadoso e carinhoso. Queria que se sentisse bem acima de qualquer coisa; aquilo deveria ser profundo e especial, além de extremamente carnal. O mais novo se sentia bem ao ver o outro sentindo-se bem sob seus toques.
Após algum tempo, penetrou o segundo dedo; indo e voltando devagar, indo fundo e deixando ainda mais enlouquecido de prazer.
— Está gostando, senhor? — perguntou baixinho, debruçando-se sobre o corpo alto e esguio do moreno e beijando-lhe as costas suadas. — Hum?
— Oh, , si-im — respondeu de forma engasgada, movimentando o quadril automaticamente. — Eu quero mais; quero você.
E aquilo fora o suficiente para , que encaixou um terceiro dedo no maior e o penetrou o máximo que aguentou e o tesão permitiu. Masturbou-se rente à entrada de e espalhou seu próprio pré-gozo pela extensão de seu pênis, cuspindo mais um pouco no ânus de e na própria mão em seguida, espalhando a saliva em si mesmo.
Com um pouco de pressa, encaixou-se naquele aperto e empurrou-se para dentro. tentou expulsá-lo de forma automática, mas fora relaxando conforme a penetração acontecia. E gemeu baixinho ao sentir completamente em seu interior. Ficaram naquela posição por alguns instantes, até começar a sair e entrar no mais velho, lento, fundo, gostoso.
gemeu de forma manhosa outra vez e ficou com a boca aberta enquanto buscava por ar e sentia socando-se para dentro dele novamente. Estava em êxtase. Nunca havia sentido tantas coisas ao mesmo tempo; nunca sequer imaginara que era tão gostoso ser invadido daquela forma; não sabia que o tesão somado à pessoa certa fazia coisas tão incríveis.
se ergueu sobre os braços e tirou a cabeça do travesseiro, ficando de quatro e mais firme sobre a cama. Sua boca ainda estava aberta e um fio de saliva escorria por entre seus lábios, morrendo em seu queixo; seu rosto estava corado e os olhos fortemente fechados. Os espasmos continuavam eletrizando seu corpo e , logo atrás, não parava.
Seus gemidos eram suaves como sua fala, altos e sem vergonha, seu corpo era firme, forte e duro como seu pau, que ia e vinha sem parar, inchado e excitado. Os cabelos dourados estavam grudados em sua testa, em sua nuca e pingava suor, que se misturava ao do restante do corpo.
Os sons eróticos tomavam conta daquele casebre, o cheiro de sexo impregnava todo o ambiente e isso só fazia com que ficassem ainda mais excitados; e um rebolava contra o outro, adorando a forma que se encaixavam, o calor que emanava de um para o outro e a leve brisa que adentrava pela janela, arrepiando-os por inteiro.
gritou rouco ao ter o pênis segurado novamente, e ali viu que não iria aguentar — principalmente no momento em que acelerou os movimentos do quadril, socando-o tão forte e fundo que sua boca ficou aberta sem emitir som algum.
— Goze para mim, majestade — pediu em um tom obsceno e dominante, fazendo com que deixasse lágrimas de tesão caírem de seus belos olhos.
E enquanto chorava e gemia, chegou ao ápice, jorrando-se sobre a cama e a mão de — que não parou os movimentos até que o mais velho começasse a tremer e caísse sobre a cama, ainda gozando.
O corpo do rei estava sendo tomado por espasmos e seus olhos ainda reviraram algumas vezes; ele caiu sobre o colchão e logo virou-se de barriga para cima, dando de cara com ainda teso e pingando tesão, encarando-o de cima enquanto se masturbava devagar — suado e exausto após um fortíssimo orgasmo tornou-se sua maior fonte de prazer.
E o mais novo não perdeu tempo, logo engatinhou novamente para cima do mais velho e colocou uma perna em cada lado do quadril alheio, sentando-se ali como quem não queria nada, sentindo o pênis agora levemente flácido em suas nádegas fartas. Olhou nos olhos e gemeu alto ao tocar o próprio pênis novamente.
não quebrou a troca de olhar sedenta; pelo contrário, a sustentou com vontade, mostrando que ainda estava ali e ansiava por mais.
— Eu o quero em minha boca, — murmurou com a voz arrastada e gemeu fechando os olhos, totalmente afetado com o pedido.
— Tem certeza disso, meu bem?
— Sim.
A resposta veio curta e direta. apenas obedeceu a vontade de seu rei. Ergueu-se apenas um pouco e arrastou-se para cima, se sentando sobre o peito de , sem colocar todo seu peso sobre ele, e ficando rente à sua boca, que já estava aberta e implorando por seu pau.
ergueu o pescoço e o engoliu devagar; primeiro a glande, onde abusou em chupadas firmes e lambidas longas, como o havia visto fazer; depois engoliu um pouquinho mais, soltando-o e voltando outra vez. Provocou até que este começasse a gemer e empurrar-se para frente.
O sorriu com o pênis alheio entre os lábios grossos e não tardou em engoli-lo por completo, levando-o até onde aguentava, chupando-o forte e zapeando a língua por toda a extensão, tomando cuidado para não o morder. As mãos seguravam firmes o quadril de , vez ou outra descendo até à bunda grande, ou subindo para a cintura esculpida.
E apenas aproveitava, gemendo alto, rebolando, esfregando-se sobre o corpo alheio, empurrando-se para frente e apertando os próprios mamilos.
Com o tesão dominando-o por inteiro, levou uma das mãos até à própria boca e chupou três dedos de uma só vez, mordeu-os para extravasar o tesão e voltou a chupá-los em seguida, levando-os até quase à garganta. Os sons molhados de chupando seu pau o levavam à loucura e ele não hesitava em gemer contra os próprios dedos enquanto acelerava os movimentos no mamilo com a mão livre.
E ao sentir o ápice se aproximar, ficou de joelhos sobre a cama, ainda com as pernas ao redor de , e levou os dedos babados até à própria entrada, penetrando-se sem muita cerimônia.
precisou afastar-se do pênis alheio para olhar a cena com mais atenção, e sorriu de forma lasciva, ainda gemendo alto.
O mais novo rebolava sobre os próprios dedos de olhos fechados, gemendo sem vergonha e deixando que o nome de escapasse vez ou outra.
— … — sussurrou, insinuando-se ao máximo, abrindo as pernas, rebolando e jogando-se para frente. — Oh, meu deus…!
Ao ouvir o tom manhoso que o parceiro gemia, logo voltou a chupá-lo com pressa, usando uma das mãos para ajudá-lo a masturbar onde não alcançava com a boca.
E em questão de segundos, gemeu ainda mais alto e segurou-se na cabeceira da cama, permitindo-se gozar entre os lábios bonitos de , que apenas se deliciava com a cena do mais novo banhado em prazer — e engolia tudo que era jogado em sua boca.
caiu exausto ao lado do rei e riu baixinho. Não acreditava que havia permitido que aquilo acontecesse.
— Isso foi incrível — sussurrou e virou-se para o mais velho, selando seus lábios devagar.
— Sim — sorriu e fechou os olhos, aconchegando-se com . — Obrigado pela boa companhia e por mostrar-me os segredos de Goryeo.
— Não há de quê, meu Rei, estou aqui para servi-lo.
E ao observar o sorriso que ostentava ao ouvir suas palavras, chegou à conclusão que, sim, era possível apaixonar-se em apenas um dia.
