Capítulo Único
Com uma mão, null balançava o carrinho onde a filha estava, com a outra ele segurava a primeira e única cerveja da noite. Nunca havia exagerado na bebida depois que null nasceu, saber que ela poderia precisar dele a qualquer momento, fazia com que null pensasse duas vezes antes de ter qualquer contato com o álcool, embora gostasse bastante. Diferente dele, null estava na sua terceira garrafa, os dois amigos já haviam conversado sobre as novidades do dia e naquele momento prestavam atenção no filme que passava na TV.
null era o melhor amigo de null e consequentemente o padrinho de null, sempre esteve próximo dos dois inclusive quando eles mais precisaram. null teve o apoio de null quando decidiu dançar, quando soube que seria pai e principalmente quando perdeu uma das pessoas mais importantes de sua vida. Ficava feliz em compartilhar suas alegrias com o rapaz e nos momentos difíceis, a presença constante do amigo ajudou a amenizar a dor.
– Cara, você lembra da null? – null quem quebrou o silêncio, recebendo a atenção de null. – Acho que já te falei sobre ela.
– Você me contou sobre uma aluna nova, é essa? Eu sou péssimo com nomes. – Quis saber, buscando na memória quem poderia ser aquela pessoa citada.
– Ela mesmo! Essa garota está mexendo comigo de uma forma que eu não consigo explicar. – Confessou sem dificuldade, não existia nada sobre a vida de null que null não soubesse.
Um sorriso cúmplice escapou dos lábios de null, depois de ouvir atentamente o melhor amigo. Ficava feliz apenas por saber que uma nova pessoa estava chamando a atenção de null. null sentia que as muralhas que estavam envolta do rapaz estavam se quebrando aos poucos. null precisava voltar a viver depois de tanto tempo, precisava seguir em frente e, quem sabe, amar de novo.
– Eu não gosto desse seu sorriso de jeito nenhum, só Deus sabe o que pode estar passando na sua cabeça agora. – null acrescentou antes mesmo que null respondesse alguma coisa.
– Só fiquei feliz em saber que você olhou para alguém com outros olhos. – Deu de ombros, bebendo um pouco mais.
– Eu posso estar muito enganado, mas acho que também tem interesse da parte dela. Você precisa ver a forma como ela me olha.
– E o que você está esperando pra falar com ela?
– Estou criando coragem. Faz muito tempo que eu não... Bom, você sabe. Acho que já esqueci como flertar com alguém. – Riu sem graça, tudo parecia tão novo pra ele.
– Pois trate de lembrar. – Fez um gesto para que null esperasse ele terminar de responder uma mensagem para continuar a conversa. – Vou desmarcar agora o meu compromisso de domingo à noite. Estou me oferecendo para ser babá da null para você ter um encontro, logo, você tem até domingo para criar coragem e chamá-la pra sair.
– Ela é minha aluna. – Lembrou o amigo, embora ele mesmo não tivesse esquecido daquele detalhe em nenhum momento.
– E daí? Se ela for solteira, maior de idade e tiver interesse em você, eu não vejo problema algum. Você anda muito chato, certeza que é falta de sexo. – Brincou com o amigo, que lhe mostrou o dedo do meio.
– As redes sociais dizem que ela é solteira. – Falou mais baixo como se estivesse envergonhado e viu null segurar a risada ao descobrir que o amigo estava stalkeando alguém. – Também é maior de idade. – Continuou como se não tivesse dito nada de mais. – Só não tenho certeza em relação ao interesse dela, mas desconfio muito.
– Isso você só vai saber se você tentar. – null concluiu e levantou sua garrafa para que pudessem brindar. Vendo que a sua cerveja havia acabado, null abriu uma lata de refrigerante e brindou para só depois beber o líquido, já que ingerir mais álcool não estava em seus planos.
XXX
null acordou com duas mãozinhas pequenas puxando os pelos de sua barba. Abriu os olhos e deu de cara com null, que mantinha um sorriso sapeca nos lábios. Fechou os olhos com rapidez, apenas para fingir que estava dormindo novamente.
– Papai, acorda. – Ela pediu manhosa, enquanto continuava brincando com os pelos no rosto do pai.
– Só se você me der um beijo. – Respondeu sonolento e logo sentiu os lábios da garotinha em sua bochecha.
Sorriu antes mesmo de abrir os olhos e envolver a mais nova em um abraço, enquanto retribuía os beijos que havia recebido, fazendo a pequena gargalhar. Aquela sempre era a melhor forma de começar todos os seus dias, null se sentia o homem mais feliz do mundo apenas por ter null ao seu lado. Depois da troca de carinho, ele se sentou na cama, colocando a filha em seu colo.
– Sabe o que a gente vai fazer agora? – Perguntou para null que passava os dedos pela pequena tatuagem em seu braço.
– Escovar os dentes? – Respondeu inocente, havia aprendido com o pai que aquela era a primeira coisa que ela devia fazer ao acordar, mas poderia abrir uma exceção para momentos de carinho como aquele.
– Também. – Riu admirado de a filha lembrar de todos os seus ensinamentos. – Vamos escovar os dentes e depois vamos tomar um café da manhã bem gostoso, porque o papai acordou com fome e quer comer para ficar bem grandão.
– Você já é grandão, papai, desse tamanho. – Abriu os bracinhos de forma exagerada.
– Então eu sou muito grande. – Respondeu enquanto se levantava com null nos braços. – Mas ainda assim eu preciso comer. – Ele riu, mesmo que aquilo não fizesse tanto sentido para a filha. – Te amo, filha. – Finalizou a sua fala com uma declaração, como sempre fazia.
– Te amo. – null também disse, retribuindo o outro abraço que recebia.
Era sábado e o que null mais gostava daquele dia, era poder ficar mais tempo com a filha. Embora fosse trabalhar, qualquer minuto a mais na companhia da mais nova já valia a pena. Depois do café da manhã, ele aproveitou as horas livres para brincar com null, se esforçava muito para fazer o papel de pai e mãe para que nada faltasse para a sua pequena.
Arrumou a filha e se arrumou, deixaria a mais nova com os avós maternos antes de ir para o trabalho. null não tinha babá, desde sempre, null quis que ele fosse o responsável por tudo o que a sua filha devia aprender, e na sua ausência os avós dela, fazia muito bem esse papel. Três anos já havia se passado e null estava se saindo muito bem, nunca imaginou que ter uma filha pudesse mudar drasticamente toda a sua vida. Sem sombra de dúvidas, null era o maior e o melhor presente que ele poderia ter recebido.
– Agora você vai ficar com a vovó e o vovô enquanto o papai trabalha, tudo bem? – null perguntou à filha depois de colocá-la em sua cadeirinha e se sentar no banco do motorista.
– Não, papai. – Ela respondeu e começou a chorar. – Eu não quero. – Fez um bico que derretia o coração de null.
– Calma, filha, não precisa chorar. – Tirou o cinto para conseguir se virar para a filha com mais facilidade. – Por que você não quer ir para a casa da vovó?
– Quero ficar com o papai. – Confessou manhosa, entre as lágrimas.
null pensou por alguns segundos antes de continuar aquela conversa. null amava os avós e talvez o motivo de não querer ir para lá naquele dia, fosse apenas a vontade de ficar um pouco mais na companhia do pai. Se fosse mesmo aquele o motivo, ele jamais recusaria aquela companhia.
– Quer ir pro trabalho do papai? – Perguntou e ela apenas assentiu, enquanto coçava os olhos cheios de lágrimas. – Papai te leva, então, mas só se você parar de chorar e prometer se comportar.
– Tá bom, papai. – Ela disse e null se esticou para secar as lágrimas da filha. – Ai, mão gelada, papai.
– Desculpa, meu amor. – Ele riu – Só não chora mais, se não o papai chora também.
– Eu já estou rindo, papai, olha. – Mostrou os poucos dentinhos que tinha, fazendo o coração de null se desmanchar.
– É o sorriso mais lindo do mundo. – Disse mais para ele mesmo do que para a filha, antes de colocar o cinto e começar o seu trajeto.
XXX
Quando criança, null assistiu uma apresentação de balé e se apaixonou pela dança. Na adolescência ele quis aprender e depois disso não parou mais de dançar, até experimentou outros ritmos, mas nenhum outro mexia tanto com ele. Anos depois, ele começou a dar aula de balé e a participar de alguns festivais. Passou a viver disso e não podia estar mais feliz e realizado.
– Bom dia, pessoal, hoje teremos plateia na aula. – O professor informou e os alunos cumprimentaram null e null, que se escondeu atrás das pernas do pai por vergonha. – Espero que vocês não se importem, a null prometeu se comportar.
– Só vai ser difícil se concentrar na aula enquanto tem uma princesa tão linda assim tão perto da gente. – Uma aluna comentou e null riu.
null ficou sentada em um canto da sala, tinha a sua boneca como companhia, mas não conseguia deixar de assistir a aula que o pai conduzia. Apesar de sempre olhar para onde null estava para saber se ela estava bem, null estava concentradíssimo nos ensaios, teria uma apresentação de final de ano na escola e ele era o responsável pelos ensaios daqueles alunos.
Por estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe do pai, null começou a chorar baixinho. Não era um choro para chamar atenção do mais velho, talvez fosse ciúmes de estar dividindo o pai com tantas outras pessoas. Nesse momento null não estava olhando a filha, mas null, que não estava ensaiando no momento, percebeu a carinha triste da menina e não pensou duas vezes antes de ir até ela.
– Oi, mocinha, porque você tá chorando? – Perguntou de forma doce, amava crianças e sabia muito bem lidar com elas.
– Eu quero o meu papai. – Falou entre as lágrimas, mas null conseguiu entender.
– Não chora, não, ele já está terminando pra vir ficar com você, tudo bem? – Perguntou e null apenas assentiu. – Você não quer dançar comigo também?
– Meu papai não deixa. – Ela respondeu e null entendeu que talvez ela estivesse dizendo aquilo apenas por ela ser uma estranha e não pelo convite em si.
null assentiu e olhou para onde null estava. Ele assistia um casal que dançava enquanto dava alguns direcionamentos que null não conseguia ouvir, já que estava do outro lado da sala.
– null? – null gritou e logo ele a olhou. – Ela pode dançar comigo? – Quis saber, apontando para a filha do professor, na distância que ele estava não conseguia ver que a filha estava chorando.
– Se ela quiser, pode sim, claro! – Autorizou com um sorriso nos lábios.
– Vamos? – Convidou e logo null segurou a mão de null.
A aluna colocou a menina no colo e começou a fazer alguns passos, no ritmo da música que tocava, fazendo null sorrir como se não tivesse chorado antes. De longe null assistia encantado àquela cena, maravilhado por ver sua filha se divertir na companhia de null.
Não demorou muito para que o ensaio acabasse e todos fossem embora, exceto null que conversava animadamente com null, e null que ainda arrumava algumas coisas. Quando ele foi em direção aonde as duas estavam, a mais nova soltou um gritinho para depois correr em direção ao pai para abraçá-lo, null não pensou duas vezes antes de pegar a filha no colo e retribuir o carinho.
– Quero ir pra casa, papai. – null quebrou o silêncio que se instaurou entre os três. null estava ocupado abraçando a filha e encarando sem jeito a aluna, enquanto null olhava os dois com admiração.
– Vamos, coração. Já deu tchau pra tia null? – Quis saber depois de presenciar o momento dela com a filha.
– Tchau, tia. – Se despediu e logo deitou a cabeça no ombro do pai, provavelmente sentindo sono ou cansaço.
– Tchau, você é uma linda. – Respondeu a mais nova e logo direcionou a fala para null. – Parabéns pela filha, ela é um doce.
– Obrigado. – Riu sem jeito, criando coragem para falar o que queria. – Bom, null... Eu queria falar com você.
– Claro, pode falar. – Cruzou os braços enquanto aguardava ansiosamente.
– Na verdade eu queria te fazer um convite. Você não gostaria de jantar comigo amanhã? – Disse sem rodeios, indo direto ao ponto.
– Eu adoraria! – Melhor que a resposta de null foi o enorme sorriso que surgiu em seus lábios.
null também sorriu animado depois de respirar fundo e soltar o ar, demonstrando o nervosismo que estava sentindo naquele momento.
– Ótimo, eu tenho seu número, te ligo e combinamos o horário, tudo bem? – Propôs e viu null assenti com a cabeça de forma positiva. – Então, até amanhã.
– Até amanhã. – Ela respondeu e depositou um beijo no rosto de null e outra na cabeça de null, antes de sair da sala.
XXX
O dia mais feliz e o mais triste da vida de null foi quando a sua filha nasceu. Ter null tão pequena e indefesa em seus braços foi uma emoção que ele jamais conseguia descrever com palavras, um amor que null podia jurar ser o maior do mundo. A pior parte desse inesquecível dia foi ter perdido o amor da sua vida, a sua esposa, a mãe de sua filha. Louise morreu horas após o parto, a gravidez foi bem complicada, mas ela sempre dizia que faria o possível e o impossível para que sua filha viesse ao mundo. A morte Louise fez com que null perdesse o chão, sentia-se morto por dentro enquanto tentava a qualquer custo encontrar forças e ânimo para cuidar da filha.
null se arrumava pensando no sonho que teve na noite anterior. No sonho, Louise era uma estrela, a mais brilhante do céu, que falava com null que era a hora dele seguir em frente e que ela ficaria feliz em saber que ele estava bem. Disse também que estava orgulhosa dele como pai e que, embora ele não pudesse ver, ela sempre estava por perto cuidando dele e da filha.
Ele estava se arrumando e assim que finalizou a produção ele foi pra sala, encontrando null e null colorindo alguns desenhos. A garotinha era completamente apaixonada pelo padrinho, que também não escondia o sentimento que tinha pela afilhada.
– Jurava que encontraria os dois comendo besteiras, estou orgulhoso. – null quebrou o silêncio, aparecendo onde os dois estavam.
– Não fique, estamos apenas esperando você sair para atacar a cozinha e comer tudo o que seja doce. – Respondeu e null o repreendeu com olhar. – Existem muitas frutas doces. – Completou, tentando concertar o que havia dito.
Trocaram mais algumas palavras antes de null se despedir do amigo e da filha e ir em direção ao restaurante que havia combinado com null. Chegou quase no horário marcado e demorou menos de dois minutos para que null chegasse também. Ela estava linda e mais linda que toda a sua produção, era o sorriso que ela tinha nos lábios.
– Boa noite, null, chegamos juntos praticamente. – Ele quem cumprimentou primeiro, levantando-se para abraçar quem seria a sua companhia naquela noite.
– Boa noite, null. – Respondeu antes mesmo de se sentarem.
No mesmo momento, o garçom apareceu, fizeram os pedidos dos pratos e de um vinho. Assim que rapaz que atenderam os dois saíram, null e null ficaram se olhando, sem saber ao certo como começar a conversa, embora ambos soubessem a real intenção daquele convite.
– Embora quisesse muito, eu confesso que fiquei surpresa com o seu convite. – null quem começou o diálogo enquanto tinha atenção de null só para ela.
– Acho que eu não conseguiria mais esconder o meu interesse por você. – Confessou sem jeito e null sorriu, embora já tivesse percebido aquilo. – Mas você deve saber o motivo pelo qual eu não te procurei antes.
null encarou null com ternura, antes mesmo de dizer alguma coisa. Embora os dois quisessem muito estar ali, ela sentia como se, por dentro, null estivesse enfrentando uma batalha muito difícil e precisasse de alguma ajuda para superar.
– Eu imagino, mas se você quiser falar, estou aqui pra te ouvir. – Ela sugeriu, não era segredo pra ninguém o que aconteceu com ele.
Antes que null colocasse pra fora tudo o que estava preso dentro dele, o garçom apareceu servindo as taças de vinho e informando que logo os pratos pedidos chegariam. O rapaz aproveitou aquele momento para respirar fundo antes de continuar aquela conversa.
– A mãe da minha filha faleceu no parto e depois disso eu não consegui conhecer mais ninguém. A null já está com três anos e nesse tempo todo eu não tive outra pessoa. Eu ainda lembro da Louise, embora eu sei que não tem volta e que eu quero seguir em frente. Mas ainda é difícil. – Tomou um gole do vinho, molhando a garganta para continuar. – Mas aí você apareceu e chamou a minha atenção, null, de uma forma que eu não consigo explicar. Eu quero muito te conhecer mais, se você quiser é claro, mas o problema é que eu ainda não estou inteiro, ainda tem muito do meu passado em mim.
– null, estranho seria se você não sentisse nada. Tudo bem ela ter um lugar especial no seu coração. Você pode guardar as lembranças de vocês e criar outras novas. – Sorriu e segurou a mão dele que estava em cima. – Isso jamais seria um problema, inclusive é lindo ver que tem tanto sentimento aí dentro. Podemos tentar, conversar, nos conhecer... O interesse da sua parte é recíproco. – Apertou a mão dele, que retribuiu.
null sorriu concordando, feliz por estar com aquela mulher ao seu lado, naquela noite. O jantar não poderia ter sido mais agradável, as conversas fluíram com tamanha facilidade que era impossível ficar sem falar alguma coisa, o silêncio entre eles não seria bem-vindo. No final daquele encontro null ofereceu uma carona que null não recusou, na verdade ela queria apenas ficar um pouco mais na companhia do rapaz.
– Obrigada pela noite. – null agradeceu assim que estacionou o carro em frente ao prédio de null.
– Eu que agradeço, não poderia ter sido melhor. – Sorriu de canto para null que observava cada detalhe dela.
Ele tomou a liberdade de acariciar o rosto dela com a ponta dos dedos, fazendo null fechar os olhos ao sentir o toque. Afastou os cabelos que o impedia ver aquele rosto por completo antes de se aproximar o suficiente para que um pudesse sentir a respiração do outro. null respirou fundo antes de aproximar os seus lábios dos de null e beija-la com carinho.
Não faltava vontade e desejo, mas estava longe de ser um beijo carnal. Ao sentir os lábios de null, null descreveria a sensação como uma volta para casa depois de muito tempo. Aquele beijo tinha gosto de lar. Sentiu-se bem ao ter aquela pessoa em especial e por ela estar tão perto. O melhor de tudo era conseguir perceber que ela queria aquilo tanto quanto ele.
XXX
Alguns dias se passaram e null estava se encontrando com null com frequência. Sentia-se mais leve quando estava na presença dela e uma nova felicidade tomou conta de sua vida. null também estava aproveitando daquela figura feminina em sua casa, null tinha uma paciência e um carinho com a criança que fazia com que o lado paterno de null fosse grato por isso.
Naquela noite, null havia dormido com null, estava ficando cada vez mais difícil ficar longe da presença um do outro e nenhum deles queriam isso. O rapaz acordou de madrugada com o choro de null, que só ficava daquela forma quando sentia medo de algo ou quando tinha algum pesadelo.
– Não chora meu amor, papai tá aqui. – Tentou consolar a garota que agora chorava em seus braços, fazendo um carinho nos cabelos ondulados da pequena.
– Mamãe. – Ela disse sem pronunciar mais nada entre as lagrimas, fazendo o coração de null ficar aos pedaços.
Nunca escondeu nada de null e embora ela fosse pequena demais para entender, ele sempre falava de Louise. Ele sabia o quanto de amor uma podia dar para a outra de estivessem juntas. Se esforçaria para que a figura de Louise fosse uma lembrança boa para a filha no futuro, não um motivo de tristeza. E embora null quisesse muito sem o melhor pai do mundo, ele não conseguia ser uma mãe para null. O laço e o amor maternal faziam falta na vida da pequena null, que vez ou outra parecia sentir tudo isso através de sonhos.
Após a null ter se acalmado, null a levou para a sacada, já que provavelmente ela não voltaria a dormir tão cedo, sentando–se com a mesma em seu colo para observar o céu. A noite escura estava sendo iluminada por muitas estrelas, uma em especial parecia brilhar mais que todas as outras.
– Meu amor, tá vendo aquela estrela lá no céu? – Apontou com o dedo e viu a filha assentir positivamente, coçando os olhos com resquícios de lágrimas. – É a mamãe que está olhando pra gente.
– Mamãe? – Ela questionou confusa.
– Sim, enquanto você dorme ela fica lá em cima te protegendo. E quando você chora ela fica triste, e o papai também.
– Papai, fala pra mamãe que eu não vou mais chorar? – Pediu olhando nos olhos do pai.
null sorriu com a inocência da filha e por saber que ela já estava mais calma. Continuaram ali em silêncio, olhando aquela estrela específica, esperando que null pegasse no sono novamente. Enquanto isso, ele tinha a sensação de que, de fato, Louise estava olhando por eles de onde quer que ela estivesse.
Quando pensou em se levantar para colocar a filha no quarto, viu a imagem de null aparecer em sua frente. Ela deu um selinho em null e encostou o seu corpo no dele, que a abraçou com o braço que estava livre. Os três ficaram alguns segundos em silêncio, os dois mais velhos estavam apenas apreciando a presença um do outro enquanto null cochilava no colo do pai.
– Tenho certeza que ela está cuidando muito bem de vocês, lá de cima. – Ela afirmou e null deduziu que null tivesse escutado o que ele disse para a filha. – Espero que ela não se importe que eu faça o mesmo aqui embaixo.
– No dia que saímos, sonhei que Louise me dizia que eu devia conhecer alguém. Ela deve estar feliz em me ver tão bem ao seu lado. – null confessou, se aproximando mais de Sophia.
– Dizem que o universo une os caminhos, mas acho que no nosso caso foi uma estrela. – Ela concluiu antes de beijar os lábios de null.
– A minha mamãe é uma estrela, tia null. – null falou com voz de sono e o dois riram, por achar que a mais nova estivesse dormindo.
– Eu sei, princesa, e é justamente dela que eu estou falando. – Concluiu e deitou no ombro de null assistindo aquela noite que era uma noite qualquer, mas só por estarem ali ela havia se tornado especial.
null era o melhor amigo de null e consequentemente o padrinho de null, sempre esteve próximo dos dois inclusive quando eles mais precisaram. null teve o apoio de null quando decidiu dançar, quando soube que seria pai e principalmente quando perdeu uma das pessoas mais importantes de sua vida. Ficava feliz em compartilhar suas alegrias com o rapaz e nos momentos difíceis, a presença constante do amigo ajudou a amenizar a dor.
– Cara, você lembra da null? – null quem quebrou o silêncio, recebendo a atenção de null. – Acho que já te falei sobre ela.
– Você me contou sobre uma aluna nova, é essa? Eu sou péssimo com nomes. – Quis saber, buscando na memória quem poderia ser aquela pessoa citada.
– Ela mesmo! Essa garota está mexendo comigo de uma forma que eu não consigo explicar. – Confessou sem dificuldade, não existia nada sobre a vida de null que null não soubesse.
Um sorriso cúmplice escapou dos lábios de null, depois de ouvir atentamente o melhor amigo. Ficava feliz apenas por saber que uma nova pessoa estava chamando a atenção de null. null sentia que as muralhas que estavam envolta do rapaz estavam se quebrando aos poucos. null precisava voltar a viver depois de tanto tempo, precisava seguir em frente e, quem sabe, amar de novo.
– Eu não gosto desse seu sorriso de jeito nenhum, só Deus sabe o que pode estar passando na sua cabeça agora. – null acrescentou antes mesmo que null respondesse alguma coisa.
– Só fiquei feliz em saber que você olhou para alguém com outros olhos. – Deu de ombros, bebendo um pouco mais.
– Eu posso estar muito enganado, mas acho que também tem interesse da parte dela. Você precisa ver a forma como ela me olha.
– E o que você está esperando pra falar com ela?
– Estou criando coragem. Faz muito tempo que eu não... Bom, você sabe. Acho que já esqueci como flertar com alguém. – Riu sem graça, tudo parecia tão novo pra ele.
– Pois trate de lembrar. – Fez um gesto para que null esperasse ele terminar de responder uma mensagem para continuar a conversa. – Vou desmarcar agora o meu compromisso de domingo à noite. Estou me oferecendo para ser babá da null para você ter um encontro, logo, você tem até domingo para criar coragem e chamá-la pra sair.
– Ela é minha aluna. – Lembrou o amigo, embora ele mesmo não tivesse esquecido daquele detalhe em nenhum momento.
– E daí? Se ela for solteira, maior de idade e tiver interesse em você, eu não vejo problema algum. Você anda muito chato, certeza que é falta de sexo. – Brincou com o amigo, que lhe mostrou o dedo do meio.
– As redes sociais dizem que ela é solteira. – Falou mais baixo como se estivesse envergonhado e viu null segurar a risada ao descobrir que o amigo estava stalkeando alguém. – Também é maior de idade. – Continuou como se não tivesse dito nada de mais. – Só não tenho certeza em relação ao interesse dela, mas desconfio muito.
– Isso você só vai saber se você tentar. – null concluiu e levantou sua garrafa para que pudessem brindar. Vendo que a sua cerveja havia acabado, null abriu uma lata de refrigerante e brindou para só depois beber o líquido, já que ingerir mais álcool não estava em seus planos.
null acordou com duas mãozinhas pequenas puxando os pelos de sua barba. Abriu os olhos e deu de cara com null, que mantinha um sorriso sapeca nos lábios. Fechou os olhos com rapidez, apenas para fingir que estava dormindo novamente.
– Papai, acorda. – Ela pediu manhosa, enquanto continuava brincando com os pelos no rosto do pai.
– Só se você me der um beijo. – Respondeu sonolento e logo sentiu os lábios da garotinha em sua bochecha.
Sorriu antes mesmo de abrir os olhos e envolver a mais nova em um abraço, enquanto retribuía os beijos que havia recebido, fazendo a pequena gargalhar. Aquela sempre era a melhor forma de começar todos os seus dias, null se sentia o homem mais feliz do mundo apenas por ter null ao seu lado. Depois da troca de carinho, ele se sentou na cama, colocando a filha em seu colo.
– Sabe o que a gente vai fazer agora? – Perguntou para null que passava os dedos pela pequena tatuagem em seu braço.
– Escovar os dentes? – Respondeu inocente, havia aprendido com o pai que aquela era a primeira coisa que ela devia fazer ao acordar, mas poderia abrir uma exceção para momentos de carinho como aquele.
– Também. – Riu admirado de a filha lembrar de todos os seus ensinamentos. – Vamos escovar os dentes e depois vamos tomar um café da manhã bem gostoso, porque o papai acordou com fome e quer comer para ficar bem grandão.
– Você já é grandão, papai, desse tamanho. – Abriu os bracinhos de forma exagerada.
– Então eu sou muito grande. – Respondeu enquanto se levantava com null nos braços. – Mas ainda assim eu preciso comer. – Ele riu, mesmo que aquilo não fizesse tanto sentido para a filha. – Te amo, filha. – Finalizou a sua fala com uma declaração, como sempre fazia.
– Te amo. – null também disse, retribuindo o outro abraço que recebia.
Era sábado e o que null mais gostava daquele dia, era poder ficar mais tempo com a filha. Embora fosse trabalhar, qualquer minuto a mais na companhia da mais nova já valia a pena. Depois do café da manhã, ele aproveitou as horas livres para brincar com null, se esforçava muito para fazer o papel de pai e mãe para que nada faltasse para a sua pequena.
Arrumou a filha e se arrumou, deixaria a mais nova com os avós maternos antes de ir para o trabalho. null não tinha babá, desde sempre, null quis que ele fosse o responsável por tudo o que a sua filha devia aprender, e na sua ausência os avós dela, fazia muito bem esse papel. Três anos já havia se passado e null estava se saindo muito bem, nunca imaginou que ter uma filha pudesse mudar drasticamente toda a sua vida. Sem sombra de dúvidas, null era o maior e o melhor presente que ele poderia ter recebido.
– Agora você vai ficar com a vovó e o vovô enquanto o papai trabalha, tudo bem? – null perguntou à filha depois de colocá-la em sua cadeirinha e se sentar no banco do motorista.
– Não, papai. – Ela respondeu e começou a chorar. – Eu não quero. – Fez um bico que derretia o coração de null.
– Calma, filha, não precisa chorar. – Tirou o cinto para conseguir se virar para a filha com mais facilidade. – Por que você não quer ir para a casa da vovó?
– Quero ficar com o papai. – Confessou manhosa, entre as lágrimas.
null pensou por alguns segundos antes de continuar aquela conversa. null amava os avós e talvez o motivo de não querer ir para lá naquele dia, fosse apenas a vontade de ficar um pouco mais na companhia do pai. Se fosse mesmo aquele o motivo, ele jamais recusaria aquela companhia.
– Quer ir pro trabalho do papai? – Perguntou e ela apenas assentiu, enquanto coçava os olhos cheios de lágrimas. – Papai te leva, então, mas só se você parar de chorar e prometer se comportar.
– Tá bom, papai. – Ela disse e null se esticou para secar as lágrimas da filha. – Ai, mão gelada, papai.
– Desculpa, meu amor. – Ele riu – Só não chora mais, se não o papai chora também.
– Eu já estou rindo, papai, olha. – Mostrou os poucos dentinhos que tinha, fazendo o coração de null se desmanchar.
– É o sorriso mais lindo do mundo. – Disse mais para ele mesmo do que para a filha, antes de colocar o cinto e começar o seu trajeto.
Quando criança, null assistiu uma apresentação de balé e se apaixonou pela dança. Na adolescência ele quis aprender e depois disso não parou mais de dançar, até experimentou outros ritmos, mas nenhum outro mexia tanto com ele. Anos depois, ele começou a dar aula de balé e a participar de alguns festivais. Passou a viver disso e não podia estar mais feliz e realizado.
– Bom dia, pessoal, hoje teremos plateia na aula. – O professor informou e os alunos cumprimentaram null e null, que se escondeu atrás das pernas do pai por vergonha. – Espero que vocês não se importem, a null prometeu se comportar.
– Só vai ser difícil se concentrar na aula enquanto tem uma princesa tão linda assim tão perto da gente. – Uma aluna comentou e null riu.
null ficou sentada em um canto da sala, tinha a sua boneca como companhia, mas não conseguia deixar de assistir a aula que o pai conduzia. Apesar de sempre olhar para onde null estava para saber se ela estava bem, null estava concentradíssimo nos ensaios, teria uma apresentação de final de ano na escola e ele era o responsável pelos ensaios daqueles alunos.
Por estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe do pai, null começou a chorar baixinho. Não era um choro para chamar atenção do mais velho, talvez fosse ciúmes de estar dividindo o pai com tantas outras pessoas. Nesse momento null não estava olhando a filha, mas null, que não estava ensaiando no momento, percebeu a carinha triste da menina e não pensou duas vezes antes de ir até ela.
– Oi, mocinha, porque você tá chorando? – Perguntou de forma doce, amava crianças e sabia muito bem lidar com elas.
– Eu quero o meu papai. – Falou entre as lágrimas, mas null conseguiu entender.
– Não chora, não, ele já está terminando pra vir ficar com você, tudo bem? – Perguntou e null apenas assentiu. – Você não quer dançar comigo também?
– Meu papai não deixa. – Ela respondeu e null entendeu que talvez ela estivesse dizendo aquilo apenas por ela ser uma estranha e não pelo convite em si.
null assentiu e olhou para onde null estava. Ele assistia um casal que dançava enquanto dava alguns direcionamentos que null não conseguia ouvir, já que estava do outro lado da sala.
– null? – null gritou e logo ele a olhou. – Ela pode dançar comigo? – Quis saber, apontando para a filha do professor, na distância que ele estava não conseguia ver que a filha estava chorando.
– Se ela quiser, pode sim, claro! – Autorizou com um sorriso nos lábios.
– Vamos? – Convidou e logo null segurou a mão de null.
A aluna colocou a menina no colo e começou a fazer alguns passos, no ritmo da música que tocava, fazendo null sorrir como se não tivesse chorado antes. De longe null assistia encantado àquela cena, maravilhado por ver sua filha se divertir na companhia de null.
Não demorou muito para que o ensaio acabasse e todos fossem embora, exceto null que conversava animadamente com null, e null que ainda arrumava algumas coisas. Quando ele foi em direção aonde as duas estavam, a mais nova soltou um gritinho para depois correr em direção ao pai para abraçá-lo, null não pensou duas vezes antes de pegar a filha no colo e retribuir o carinho.
– Quero ir pra casa, papai. – null quebrou o silêncio que se instaurou entre os três. null estava ocupado abraçando a filha e encarando sem jeito a aluna, enquanto null olhava os dois com admiração.
– Vamos, coração. Já deu tchau pra tia null? – Quis saber depois de presenciar o momento dela com a filha.
– Tchau, tia. – Se despediu e logo deitou a cabeça no ombro do pai, provavelmente sentindo sono ou cansaço.
– Tchau, você é uma linda. – Respondeu a mais nova e logo direcionou a fala para null. – Parabéns pela filha, ela é um doce.
– Obrigado. – Riu sem jeito, criando coragem para falar o que queria. – Bom, null... Eu queria falar com você.
– Claro, pode falar. – Cruzou os braços enquanto aguardava ansiosamente.
– Na verdade eu queria te fazer um convite. Você não gostaria de jantar comigo amanhã? – Disse sem rodeios, indo direto ao ponto.
– Eu adoraria! – Melhor que a resposta de null foi o enorme sorriso que surgiu em seus lábios.
null também sorriu animado depois de respirar fundo e soltar o ar, demonstrando o nervosismo que estava sentindo naquele momento.
– Ótimo, eu tenho seu número, te ligo e combinamos o horário, tudo bem? – Propôs e viu null assenti com a cabeça de forma positiva. – Então, até amanhã.
– Até amanhã. – Ela respondeu e depositou um beijo no rosto de null e outra na cabeça de null, antes de sair da sala.
O dia mais feliz e o mais triste da vida de null foi quando a sua filha nasceu. Ter null tão pequena e indefesa em seus braços foi uma emoção que ele jamais conseguia descrever com palavras, um amor que null podia jurar ser o maior do mundo. A pior parte desse inesquecível dia foi ter perdido o amor da sua vida, a sua esposa, a mãe de sua filha. Louise morreu horas após o parto, a gravidez foi bem complicada, mas ela sempre dizia que faria o possível e o impossível para que sua filha viesse ao mundo. A morte Louise fez com que null perdesse o chão, sentia-se morto por dentro enquanto tentava a qualquer custo encontrar forças e ânimo para cuidar da filha.
null se arrumava pensando no sonho que teve na noite anterior. No sonho, Louise era uma estrela, a mais brilhante do céu, que falava com null que era a hora dele seguir em frente e que ela ficaria feliz em saber que ele estava bem. Disse também que estava orgulhosa dele como pai e que, embora ele não pudesse ver, ela sempre estava por perto cuidando dele e da filha.
Ele estava se arrumando e assim que finalizou a produção ele foi pra sala, encontrando null e null colorindo alguns desenhos. A garotinha era completamente apaixonada pelo padrinho, que também não escondia o sentimento que tinha pela afilhada.
– Jurava que encontraria os dois comendo besteiras, estou orgulhoso. – null quebrou o silêncio, aparecendo onde os dois estavam.
– Não fique, estamos apenas esperando você sair para atacar a cozinha e comer tudo o que seja doce. – Respondeu e null o repreendeu com olhar. – Existem muitas frutas doces. – Completou, tentando concertar o que havia dito.
Trocaram mais algumas palavras antes de null se despedir do amigo e da filha e ir em direção ao restaurante que havia combinado com null. Chegou quase no horário marcado e demorou menos de dois minutos para que null chegasse também. Ela estava linda e mais linda que toda a sua produção, era o sorriso que ela tinha nos lábios.
– Boa noite, null, chegamos juntos praticamente. – Ele quem cumprimentou primeiro, levantando-se para abraçar quem seria a sua companhia naquela noite.
– Boa noite, null. – Respondeu antes mesmo de se sentarem.
No mesmo momento, o garçom apareceu, fizeram os pedidos dos pratos e de um vinho. Assim que rapaz que atenderam os dois saíram, null e null ficaram se olhando, sem saber ao certo como começar a conversa, embora ambos soubessem a real intenção daquele convite.
– Embora quisesse muito, eu confesso que fiquei surpresa com o seu convite. – null quem começou o diálogo enquanto tinha atenção de null só para ela.
– Acho que eu não conseguiria mais esconder o meu interesse por você. – Confessou sem jeito e null sorriu, embora já tivesse percebido aquilo. – Mas você deve saber o motivo pelo qual eu não te procurei antes.
null encarou null com ternura, antes mesmo de dizer alguma coisa. Embora os dois quisessem muito estar ali, ela sentia como se, por dentro, null estivesse enfrentando uma batalha muito difícil e precisasse de alguma ajuda para superar.
– Eu imagino, mas se você quiser falar, estou aqui pra te ouvir. – Ela sugeriu, não era segredo pra ninguém o que aconteceu com ele.
Antes que null colocasse pra fora tudo o que estava preso dentro dele, o garçom apareceu servindo as taças de vinho e informando que logo os pratos pedidos chegariam. O rapaz aproveitou aquele momento para respirar fundo antes de continuar aquela conversa.
– A mãe da minha filha faleceu no parto e depois disso eu não consegui conhecer mais ninguém. A null já está com três anos e nesse tempo todo eu não tive outra pessoa. Eu ainda lembro da Louise, embora eu sei que não tem volta e que eu quero seguir em frente. Mas ainda é difícil. – Tomou um gole do vinho, molhando a garganta para continuar. – Mas aí você apareceu e chamou a minha atenção, null, de uma forma que eu não consigo explicar. Eu quero muito te conhecer mais, se você quiser é claro, mas o problema é que eu ainda não estou inteiro, ainda tem muito do meu passado em mim.
– null, estranho seria se você não sentisse nada. Tudo bem ela ter um lugar especial no seu coração. Você pode guardar as lembranças de vocês e criar outras novas. – Sorriu e segurou a mão dele que estava em cima. – Isso jamais seria um problema, inclusive é lindo ver que tem tanto sentimento aí dentro. Podemos tentar, conversar, nos conhecer... O interesse da sua parte é recíproco. – Apertou a mão dele, que retribuiu.
null sorriu concordando, feliz por estar com aquela mulher ao seu lado, naquela noite. O jantar não poderia ter sido mais agradável, as conversas fluíram com tamanha facilidade que era impossível ficar sem falar alguma coisa, o silêncio entre eles não seria bem-vindo. No final daquele encontro null ofereceu uma carona que null não recusou, na verdade ela queria apenas ficar um pouco mais na companhia do rapaz.
– Obrigada pela noite. – null agradeceu assim que estacionou o carro em frente ao prédio de null.
– Eu que agradeço, não poderia ter sido melhor. – Sorriu de canto para null que observava cada detalhe dela.
Ele tomou a liberdade de acariciar o rosto dela com a ponta dos dedos, fazendo null fechar os olhos ao sentir o toque. Afastou os cabelos que o impedia ver aquele rosto por completo antes de se aproximar o suficiente para que um pudesse sentir a respiração do outro. null respirou fundo antes de aproximar os seus lábios dos de null e beija-la com carinho.
Não faltava vontade e desejo, mas estava longe de ser um beijo carnal. Ao sentir os lábios de null, null descreveria a sensação como uma volta para casa depois de muito tempo. Aquele beijo tinha gosto de lar. Sentiu-se bem ao ter aquela pessoa em especial e por ela estar tão perto. O melhor de tudo era conseguir perceber que ela queria aquilo tanto quanto ele.
Alguns dias se passaram e null estava se encontrando com null com frequência. Sentia-se mais leve quando estava na presença dela e uma nova felicidade tomou conta de sua vida. null também estava aproveitando daquela figura feminina em sua casa, null tinha uma paciência e um carinho com a criança que fazia com que o lado paterno de null fosse grato por isso.
Naquela noite, null havia dormido com null, estava ficando cada vez mais difícil ficar longe da presença um do outro e nenhum deles queriam isso. O rapaz acordou de madrugada com o choro de null, que só ficava daquela forma quando sentia medo de algo ou quando tinha algum pesadelo.
– Não chora meu amor, papai tá aqui. – Tentou consolar a garota que agora chorava em seus braços, fazendo um carinho nos cabelos ondulados da pequena.
– Mamãe. – Ela disse sem pronunciar mais nada entre as lagrimas, fazendo o coração de null ficar aos pedaços.
Nunca escondeu nada de null e embora ela fosse pequena demais para entender, ele sempre falava de Louise. Ele sabia o quanto de amor uma podia dar para a outra de estivessem juntas. Se esforçaria para que a figura de Louise fosse uma lembrança boa para a filha no futuro, não um motivo de tristeza. E embora null quisesse muito sem o melhor pai do mundo, ele não conseguia ser uma mãe para null. O laço e o amor maternal faziam falta na vida da pequena null, que vez ou outra parecia sentir tudo isso através de sonhos.
Após a null ter se acalmado, null a levou para a sacada, já que provavelmente ela não voltaria a dormir tão cedo, sentando–se com a mesma em seu colo para observar o céu. A noite escura estava sendo iluminada por muitas estrelas, uma em especial parecia brilhar mais que todas as outras.
– Meu amor, tá vendo aquela estrela lá no céu? – Apontou com o dedo e viu a filha assentir positivamente, coçando os olhos com resquícios de lágrimas. – É a mamãe que está olhando pra gente.
– Mamãe? – Ela questionou confusa.
– Sim, enquanto você dorme ela fica lá em cima te protegendo. E quando você chora ela fica triste, e o papai também.
– Papai, fala pra mamãe que eu não vou mais chorar? – Pediu olhando nos olhos do pai.
null sorriu com a inocência da filha e por saber que ela já estava mais calma. Continuaram ali em silêncio, olhando aquela estrela específica, esperando que null pegasse no sono novamente. Enquanto isso, ele tinha a sensação de que, de fato, Louise estava olhando por eles de onde quer que ela estivesse.
Quando pensou em se levantar para colocar a filha no quarto, viu a imagem de null aparecer em sua frente. Ela deu um selinho em null e encostou o seu corpo no dele, que a abraçou com o braço que estava livre. Os três ficaram alguns segundos em silêncio, os dois mais velhos estavam apenas apreciando a presença um do outro enquanto null cochilava no colo do pai.
– Tenho certeza que ela está cuidando muito bem de vocês, lá de cima. – Ela afirmou e null deduziu que null tivesse escutado o que ele disse para a filha. – Espero que ela não se importe que eu faça o mesmo aqui embaixo.
– No dia que saímos, sonhei que Louise me dizia que eu devia conhecer alguém. Ela deve estar feliz em me ver tão bem ao seu lado. – null confessou, se aproximando mais de Sophia.
– Dizem que o universo une os caminhos, mas acho que no nosso caso foi uma estrela. – Ela concluiu antes de beijar os lábios de null.
– A minha mamãe é uma estrela, tia null. – null falou com voz de sono e o dois riram, por achar que a mais nova estivesse dormindo.
– Eu sei, princesa, e é justamente dela que eu estou falando. – Concluiu e deitou no ombro de null assistindo aquela noite que era uma noite qualquer, mas só por estarem ali ela havia se tornado especial.
Fim.
Nota da autora: Espero que tenham gostado da história. Não deixem de comentar o que acharam. Beijos!
Nota da beta: Ah, que gracinha! Adorei! <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

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