Sincerely Yours

Última atualização: 23/04/2024

e , antes profundamente apaixonados e em um relacionamento de longo prazo, se encontram em uma encruzilhada ao perceberem que sua paixão diminuiu. Apesar de sua história compartilhada e conhecimento íntimo um do outro, eles tomam a difícil decisão de seguir caminhos separados romanticamente, mas permanecem comprometidos em preservar sua amizade.
Ao navegarem pela vida pós-separação, e descobrem a beleza de seu vínculo platônico. Eles se apoiam nos altos e baixos, contando um com o outro para apoio emocional e companheirismo. Sua amizade se torna uma fonte de consolo e estabilidade em meio à incerteza de suas jornadas individuais.
Anos se passam, e tanto quanto evoluem como indivíduos, mas sua conexão permanece firme. Inesperadamente, um encontro casual reacende a faísca entre eles. À medida que passam mais tempo juntos, sentimentos antigos ressurgem, e eles se veem se apaixonando novamente, mas desta vez com um renovado senso de paixão e apreciação um pelo outro.
Sincerely Yours é uma história de amor, amizade e do poder duradouro da conexão. Explora as complexidades dos relacionamentos, a importância da comunicação e compreensão, e a possibilidade de encontrar o amor em lugares inesperados. Através de suas jornadas, a história nos lembra que às vezes, o amor tem um jeito de voltar para nós quando menos esperamos.


Prólogo

- Por que estamos aqui? – Ele me questionou com a testa franzida e um olhar confuso.
- Precisamos conversar.
Um silêncio incômodo, mas familiar, se instalou entre nós. Evitando o contato de seus olhos, comecei a reparar nos detalhes da paisagem nos cercando e respirei fundo, o que causou que o cheiro das flores, juntamente com o perfume do homem parado a menos de 30cm de distância, me fizessem sorrir.
- O que é tão engraçado?
- Nada. – Respondi revirando os olhos pelo nível de irritação já demonstrado por ele – Eu achei que você concordaria em conversarmos, mas se não acha um bom momento eu...
- Quem disse que eu não acho um “bom momento”? – Me interrompeu com um ar zombeteiro, levando suas duas mãos para cima e fazendo o sinal da paz para demonstrar as aspas. Foi a minha vez de soltar um bufo de irritação e revirar meus olhos novamente.
- Já faz três meses que não conseguimos ter uma conversa decente, ... Eu realmente sinto sua falta no dia a dia. – Disse a última parte me virando lentamente em direção oposta, na tentativa de esconder meu rosto. – Mas agora que você está aqui, não me sinto muito diferente.
- Um pouco contraditório, não acha? – Pude ouvi-lo chegar mais perto e consequentemente fechei meus olhos ao sentir seu perfume novamente. Dessa vez, não sorri. – Eu acho que você sente falta de um que já não existe mais. Ficamos tanto tempo separados que... Eu ainda tenho uma visão de você que já não é mais, quem você é, entende? – Ele soava tão confuso ao tentar se expressar, exatamente como eu me sinto em relação a nós. – É por isso que não conseguimos ter uma conversa longa sem discussões.
Fiquei muda. Me surpreendi por não ter uma resposta na ponta da língua, ou por não simplesmente mandá-lo se afastar quando senti seus braços envolver minha cintura. Senti minha garganta fechar por um choro reprimido e apertei mais os olhos numa tentativa fraca de não sentir o que eu não posso ver. e eu estamos juntos por 8 anos – High School Sweethearts, é como nos chamam. Nada do clichê melhores amigos finalmente percebendo que se amam, ou do garoto popular finalmente notando a nerd esquisita, longe disso: nenhum de nós foi muito lembrado no ensino médio. Nos aproximamos pois estudávamos no mesmo ano e tínhamos o mesmo caminho pra casa: em um belo dia nublado, enquanto eu caminhava, olhei pra trás para checar se era seguro atravessar a rua ou não, e lá estava ele, andando em minha direção. Descobrimos morar apenas a 7 minutos de distância – minha casa sendo mais longe – e sem planejarmos, acabamos dividindo a volta para a casa todos os dias. Conversa vai, conversa vem, nos conhecemos melhor e logo os dois já tinham interesse.
Nosso primeiro beijo foi na esquina que normalmente nos despedíamos e eu seguia meu caminho sozinha para casa, mas ele quis tentar um jeito diferente de dizer adeus e acabou me atrasando 40 minutos para o almoço com meus pais. me pediu em namoro no primeiro dia que decidimos que precisávamos de uma dose diária maior um do outro, não somente de 20 minutos caminhando – me convidou pra almoçar em um restaurante fast food depois da aula e fez a pergunta ali mesmo. Namoramos até a formatura, e também durante a faculdade, mesmo cursando em lugares diferentes – foram 4 anos de namoro a longa distância, com direito a visitas aos finais de semana e brigas imaturas por motivos que nem lembramos mais. Hoje, eu sou formada em humanidades e em psicologia esportiva, eu trabalho como consultora de imigração autônoma e trabalha como psicólogo em sua antiga universidade.
Decidimos não morar juntos depois da universidade por questão de autonomia. Eu nunca havia morado sozinha, e ele tampouco. Eu queria saber quem eu era fora da vida de estudante, como adulta. Fizemos a decisão em conjunto, e ao saber do meu ponto de vista ele pareceu até aliviado. Eu me mudei para perto de sua universidade, como meu trabalho é remoto e eu escolho minha carga horária, me pareceu mais justo. Ele achou um apartamento mais perto da universidade, a 7 minutos de distância do meu – achamos que era predestinado, por motivos óbvios, e ele se mudou.
Por ser psicólogo esportivo da faculdade, acaba passando muito tempo viajando com os times, pois ele é convocado para qualquer competição – de qualquer esporte – em outra cidade. Ele passou os últimos 3 meses em um acampamento de verão no interior, vale lembrar, sem recepção de celular. Recebi dois pequenos emails durante esse tempo, ele confirmando que estava bem e sobre o progresso de alguns atletas, já que ele ainda não leva o sigilo entre clientes muito a sério. Respondi ao email dizendo que sentia sua falta e que iria buscá-lo na universidade quando voltasse. E fui.
Dirigi até seu apartamento com meu Honda Civic prata, chegando lá eu pedi para que ele levasse suas coisas para cima enquanto eu o esperava no jardim localizado atrás do prédio. Ele subiu hesitante, pois nós só havíamos nos encontrado nesse jardim duas vezes: a primeira, quando eu tive que lhe contar sobre a morte da minha gata de 18 anos, Leslie. A segunda, quando eu questionei minha profissão e precisava de um conselho. Sabendo disso, provavelmente já sabia que eu queria conversar sobre algo sério, o problema é que eu não sei ao certo como. Acho que ele já sabia antes de mim que isso acabaria. Nós.
- Não acho que é porque não nos conhecemos. – Coloquei minhas mãos sobre as suas, que ainda se encontravam em minha cintura. – Você me conhece melhor do que eu mesma.
- Eu quis dizer... – Ele hesitou e sua voz ficou mais fraca – Romanticamente.
Soltei suas mãos para afastar os cabelos que caíam no meu rosto, ele aproveitou o momento para virar minha cintura para si, a fim de que nossos rostos se encontrassem. Imediatamente senti meus olhos se enchendo de lágrimas e seu polegar direito se arrastou em minha bochecha, a fim de limpar lágrimas que já caíam sem eu perceber. Coloquei minhas mãos em seus ombros para me endireitar e fazer com que o pouco contato que nossos corpos faziam sumisse, o que fez com que ele soltasse um suspiro de frustação.
- Eu te amo... Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. – Sua mão se moveu de minha bochecha para os meus fios de cabelo ainda teimando em cair no rosto, e vi um olhar de adoração em seus olhos – Eu te amo, . – Seus olhos finalmente encontraram os meus.
Ouvir meu apelido saindo de sua boca após essa declaração foi o fim de minha estabilidade. Com as mãos em volta de seu pescoço, o puxei de modo que nossos narizes se encostaram e lhe dei o melhor sorriso que pude. Senti mais lágrimas escorrendo por meu rosto e pescoço ao ver que ele também sorria. Sorrimos, pois ambos tínhamos certeza de que nos amávamos. Chorei, pois eu concordei com ele sobre o que disse de nossa paixão ter acabado, e senti como se fosse o fim de nossa história.
é o único homem com quem eu já estive. Com ele, tudo é confortável, e infelizmente, isso se tornou num empecilho nos últimos meses que passamos juntos. Sinto que estou com meu melhor amigo, mas não sinto meu coração bater mais forte quando vejo uma notificação de ligação com seu nome, não sinto ciúmes ao vê-lo olhar para uma mulher mais atraente, não sinto ansiedade em ir dormir sem saber onde ele está, não sinto, simplesmente. Quero lhe contar sobre meu dia, quero assistir um filme que eu sei que ele vá dar risada enquanto assistindo, quero que ele seja parte da minha vida para sempre. Mas não o quero. Não romanticamente. Não com paixão. Não do jeito que uma namorada deveria.
- Me desculpa, ... – Comecei com a voz embargada de choro, mas ele logo interrompeu:
- Nunca se desculpe comigo. O que você acha sobre tudo isso?
Lhe dei um selinho sem perceber antes de me afastar, o que me fez arregalar os olhos e colocar as duas mãos sobre a boca e lhe arranquei uma gargalhada.
- Força do hábito, me descul... – Seu olhar me repreendeu – É isso que eu acho, babe. Tudo sobre nós ultimamente é essa tal força do hábito, nada do que fazemos parece ser genuíno. Eu te amo tanto – Me aproximei dele novamente e peguei suas mãos repetindo suas palavras – Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. E eu não posso viver num mundo que você não é parte da minha vida.
- Ficou louca? – Ele sorriu, subiu as mãos para os meus ombros e me chacoalhou – Não existe sem .
Rimos juntos e eu o abracei o mais forte que pude por um longo tempo, e depois me afastei um pouco, mas não o suficiente, então ainda sentia seu perfume como se fosse meu.
- Promete?
- Eu.. – Hesitante, seu olhar foi dos meus olhos para minha boca – Prometo.
- Por que está me olhando desse jeito? – Eu sorri do jeito mais inocente que consegui. Eu sei o porquê de ele estar me olhando desse jeito. Eu conheço o , conheço esse olhar. Ele sorriu do jeito mais sacana que conseguiu.
- Porque eu acho que uma despedida como essa, merece ser lembrada de um jeito fantástico.
Sua mão esquerda se espalhou em minhas costas e nossas pernas ficaram entrelaçadas com a falta de espaço que o abraço causou, minhas mãos encontraram sua nuca e aproximei nossos lábios, mas me afastei assim que senti seu lábio inferior roçar no meu.
- , acabamos de deixar bem claro que a paixão entre nós acabou. – Arregalei os olhos, mas não pude conter o sorriso em meus lábios.
- Eu sei que você só namorou uma vez – Ele sorriu comigo – Mas chegou o momento de nossas vidas que nós dois descobriremos que paixão e tesão são duas coisas diferentes.
- ... – Empurrei seu peito a fim de que se afastasse, ele entrelaçou as mãos em minhas costas e provou minha tarefa impossível – Não acha que isso vai mudar algo?
- Espero que mude nossa vida sexual – Dei um tapa em seu braço esquerdo, enquanto ele gargalhava – Vai mudar o que vamos lembrar do nosso término. Se eu não for ser a grande paixão de sua vida, me deixe ser o melhor sexo.
Sua mão esquerda se moveu lentamente para o meu pescoço, me fazendo arrepiar em todo o corpo. tentou puxar meu rosto e eu sorri sarcástica enquanto movi meus pés para frente, o forçando a andar para trás até colidir com um banco de madeira que fora posto estrategicamente longe do olhar de qualquer apartamento e da entrada do jardim. Ele me olhou de cima abaixo enquanto se sentava e apoiou os dois cotovelos no banco, levando a mão esquerda a orelha para brincar com o brinco de argola ali. Golpe baixo. Com um grunhido de irritação e desejo, joguei uma perna de cada lado de seu corpo e levei minha boca ao lóbulo da orelha que sua mão estava momentos antes.
- Queria nunca ter te contado sobre como ver você nessa posição me deixa. – Ouvi seu gemido baixo enquanto inspirava com a boca em cima de uma trilha de saliva que fiz no seu pescoço com minha língua. – Mas dois podem jogar esse jogo, babe. – Sussurrei a última palavra em seu ouvido antes de ajustar meu corpo de frente ao seu.
Joguei meu cabelo para trás com as duas mãos a fim de deixar meu busto à mostra, levando minhas mãos para sua nuca em seguida. Senti uma câimbra na coxa direita e mexi meu quadril para me ajustar ao mesmo momento que puxei a nuca de para que seus lábios fossem em direção ao meu decote, o movimento fez com que ele fechasse os olhos e apertasse a mão direita em meu glúteo.
Soltei um suspiro ao sentir seus lábios em contato com a minha pele, e foi ali que decidi: Eu ia deixá-lo ser o melhor sexo da minha vida, e esse foi o primeiro ato de minha vida sexual enquanto solteira.


Capítulo 1

Caro leitor,
Ao longo de minha jornada
Espero que não se importe se, mas irei falar diretamente com você ao longo de minha jornada.

Uma hora e vinte e três minutos. Vinte e quatro palavras. Duas e trinta e sete da manhã. Nem em meus pensamentos consigo formar frases coerentes. Soltei o lápis em cima da mesa de vidro ao lado do caderno que me presenteei no Natal do ano passado com a ambição de que seria um ótimo começo para minha nova carreira como autora. Patética.
Me levantei rápido demais e minha lombar me lembrou porque eu não deveria ficar sentada por muito tempo. Com um suspiro, levei as mãos aos pés e estiquei meus joelhos o máximo que pude, respirei fundo e coloquei as mãos em minhas coxas e estiquei as costas perpendicular ao chão, formando uma figura sete com o meu corpo, expirei levando novamente as mãos aos pés. Depois de repetir os movimentos três vezes, senti minha dor nas costas melhorar e me xinguei mentalmente antes de começar a andar para a cozinha a fim de abrir uma garrafa de vinho tinto.
O barulho do interfone me fez derrubar algumas gotas de vinho no chão e do lado de fora da taça, deixando minha mão marcada de vermelho sangue. Quem diabos liga para um apartamento as duas e quarenta e cinco da manhã? Peguei um pano de prato cinza jogado em cima do fogão e limpei o vinho de minha mão, manchando o pano com a plena consciência que eu nunca tentaria limpá-lo totalmente.
- O que foi? – Atendi ao interfone ainda com a mão direita, enquanto a esquerda ainda segurava o pano.
- ! – . Claro, só ela seria capaz de trazer o ar da graça para meu apartamento em plena madrugada de quarta feira. – Abre para mim.
- O que te faz pensar que eu vou te deixar entrar essa hora? – Indaguei enquanto jogava o pano em seu lugar de origem em cima do fogão e checava se minha roupa era decente suficiente para receber minha amiga.
- Por favor, só abre. Não estou com muita paciência. – Eu que o diga.
Digitei o código para liberar o acesso no portão de entrada e me dirigi à sala, para destrancar a porta. Voltei a cozinha e limpei ao redor da taça de vinho com um papel toalha, sorri satisfeita por ter sucedido pelo menos em uma tarefa hoje, e me sentei por cima de minha perna esquerda no sofá, enquanto o meu pé direito se apoiava na almofada para eu poder usar meu joelho como encosto do meu cotovelo. Respirei fundo, sabendo que assim que os cabelos de fizessem parte da minha visão, ela acabaria com minha paciência assim como acabou com a própria.
foi minha colega de quarto nos tempos da universidade, começou cursando humanidades comigo, mas acabou mudando para pedagogia quando percebeu não gostar tanto de sociologia. foi presente em meus melhores e piores momentos como estudante, me ajudou a memorizar nomes e datas para provas, mentiu para meu (ex) namorado quando eu estava bêbada demais para atender suas ligações, foi às minhas aulas quando eu estava doente demais para ir eu mesma e se fez presente em qualquer palestra que eu tive que apresentar para mais de 5 pessoas. Ela foi, e ainda é, a irmã que eu nunca tive. Atualmente ela mora com o namorado, Lucas, com quem namora desde o 3º ano da universidade.
- E se fosse um maluco tentando invadir seu apartamento? – Entrou me olhando acusatoriamente enquanto puxava uma mala de viagem para dentro.
- Mas é uma maluca tentando invadir meu apartamento! – Coloquei minha taça em cima da mesa de centro e me levantei para fechar a porta enquanto ela levava a mala para o quarto de hóspedes. Pensando bem, ela é basicamente a única hóspede que já recebi, o quarto é dela mesmo.
Me sentei no sofá com as pernas cruzadas e segurei minha taça com as duas mãos, tomei um gole de vinho e fechei os olhos tentando aproveitar a sensação maravilhosa de senti-lo descer.
- Você deveria tentar escrever sobre vinho. – Não vi quando ela entrou na sala e pegou meu caderno que eu encarava minutos antes – Seria muito mais fácil.
- Está em cima da bancada se quiser, só tenha cuidado para não pisar nas gotas que eu derrubei no chão. – Voltei minha atenção para minha taça.
pegou uma taça para si e encheu-a até não ter mais espaço, bebericou um pouco por cima da pia mesmo, até o vinho estar em uma altura confiável para ser carregado até o sofá sem vazar. Sentou em uma poltrona ao lado da televisão, ficando assim de frente para mim e levantou a taça como quem diz “saúde” e virou a taça até não conter mais líquido dentro. Eu a olhei boquiaberta enquanto ainda segurando minha própria taça com as duas mãos.
- Vai me contar o que aconteceu? – Indaguei em um tom baixo para que não fosse recebido da forma errada.
- Não podemos falar sobre você? – Perguntou esperançosa.
Eu poderia falar sobre mim. Queria falar sobre mim. é uma das poucas pessoas que eu posso expressar minhas frustações sem ser julgada, e depois de passar quase uma hora e meia escrevendo meia linha, existem muitas frustrações, medo de não ser boa o suficiente, arrependimento de ter deixado minha carreira de consultora trancada em algum lugar do passado. Mas hoje não pode ser sobre mim, se ela está aqui, ela precisa de mim muito mais do que eu preciso dela.
- Quem sabe mais tarde... – Levantei e troquei nossas taças, ficando com a vazia e novamente a vi jogar o líquido para dentro de uma vez só. – Só vai com calma, tá bom? A última coisa que eu preciso é você vomitando no meu tapete novo.
Coloquei as duas vazias na mesa de centro e joguei meus braços para os lados enquanto sorria a fim de mostrá-la minha mais nova aquisição.
- É lindo, . – Seus olhos se encheram de lágrimas e imediatamente eu me sentei no braço da poltrona e a abracei do melhor jeito que pude.
Não sei por quanto tempo ficamos na mesma posição, mas decidi que já era tempo demais quando minha lombar resolveu me lembrar novamente que não tenho mais vinte e três anos. Me afastei dela, mas continuei sentada, ela olhava diretamente para os meus seios.
- Não acha essa camiseta um pouco indecente para me receber? – Perguntou sorrindo.
Olhei novamente para minha roupa que havia checado antes de ela entrar, uma calça de moletom larga e verde, muito verde, e uma camiseta velha de um show do Simple Plan que eu fui anos atrás, mas que eu havia cortado o decote a fim de que meus seios se mostrassem mais. Agora, que peso mais do que eu pesava quando fiz minha arte, realmente meus peitos mostravam muito mais e se eu pulasse, com certeza um deles saltaria para fora, se não os dois.
- Eu achei que você fosse fã deles. – Disse acariciando meu busto. Nós rimos juntas.
Aproveitei o momento de descontração do que quer que for que ela estivesse passando e levantei para levar as taças de volta para a cozinha, voltando para a sala com o restante da garrada de vinho em mãos. Novamente tomei um gole e passei o resto da garrafa para Neni, que precisava mais do que eu.
- Está tudo bem com o Lucas? – Decidi ir direto para o assunto.
- Se tivesse, eu não estaria aqui, estaria? – Revirou os olhos e levou a garrafa a boca novamente – Desculpa, ... Eu só não sei por que ele não me deixa ser parte da família dele.
Ah, a grande família Rossi. Lucas é o terceiro filho de Roberto e Paloma Rossi, renomados advogados previdenciários que construíram, literalmente, um império. Sociedade Rossi de Advocacia atingiu o ápice de sua fama um ano antes de Neni e Lucas começarem a namorar, quando um homem de 56 anos teve sua mão amputada enquanto trabalhava em uma fábrica e o dr. Rossi decidiu tomar conta do caso de graça. O caso esteve nas notícias por pelo menos três semanas, e depois de conceder a justiça que o homem de 56 anos precisava, o dr. Rossi virou uma celebridade no mundo da advocacia.
Lucas estudou direito e se especializou em direito criminalista, algo que seu pai não aprovou. Afinal, as duas irmãs mais velhas de Lucas nunca se interessaram por direito, portanto ele era o sucessor direto de Roberto para continuar seu reinado. Luc, no entanto, não tinha o menor interesse em ser o filho do chefe, e assim que se formou em direito, antes mesmo de sua especialização, deixou bem claro aos seus pais de que não continuaria o legado que eles estavam criando. Não foi uma discussão bonita, e ele não fala com os pais desde então. Sua mãe, Paloma, ainda tenta contato em datas importantes como aniversário e Natal, mas não consegue falar com o filho por mais de três minutos. Eu não duvido que nem saibam onde ele mora.
- Neni, nem ele próprio quer ser parte da família dele... – Tentei continuar meu raciocínio, mas o olhar machucado que recebi em resposta me fez me calar.
- Ele me pediu em casamento.
- O QUÊ? – Não consegui conter o grito de surpresa e o sorriso em meu rosto, que foi se desfazendo aos poucos ao ver sua expressão. – Você disse não?
- Sim... – Sua expressão se tornou confusa – Quer dizer, não. Eu pedi um tempo para pensar, por isso eu vim para cá, preciso do meu próprio espaço, sabe?
- Claro, o seu próprio espaço. – Concordei sarcástica – E o que você tem para pensar? Sem querer desvalidar seus sentimentos, mas, amiga... Você não percebe o quanto ele te ama?
- É claro que eu percebo, elle). – Levantou-se e eu logo me arrependi de ter aberto a boca – Você acha que eu sou uma pessoa tão superficial assim que nem consegue enxergar o amor do próprio namorado?
- É claro que não....
- O problema – ela me interrompeu e eu decidi deixá-la colocar tudo para fora – é que eu nunca imaginei que começaria uma família com alguém que não quer que os pais sejam presentes. Eu entendo que eles têm suas diferenças e desavenças, mas ele não está disposto nem a convidá-los ao nosso casamento, assumindo que exista um. – Jogou as mãos para o ar em sinal de desistência – Eu sempre quis ter uma família grande e feliz, nunca imaginei as nossas vidas nunca iriam se juntar dessa maneira. Eu quero que meus filhos tenham quatro avós. Eu não quero que ele tenha essa grande parte da vida dele que ele não está disposto a compartilhar comigo. – Eu fiquei calada enquanto ela me olhava – Não vai dizer nada?
- Desculpa, não sabia se podia. – Soltei um riso baixo e ela revirou os olhos – Mas , isso não é um segredo que ele guardou as sete chaves, ele sempre foi muito sincero em relação a isso...
- Eu sei... E é por isso que eu estou tão confusa. Não quero dar a entender que eu o iludi por todos esses anos, eu entendo sua situação e eu o amo tanto... – Seus olhos se encheram de lágrimas novamente – Mas quando eu ouvi o pedido... Foi tudo que consegui pensar. Eu quero ser e dar a família que ele precisa, e não entendo por que ele não ter contato com os pais importa tanto para mim. Isso é uma MERDA! – Gritou a última palavra e se sentou no chão como uma criança, abraçando os próprios joelhos enquanto chorava.
Levei minha mão direita à testa, sem saber o que fazer. Verdade seja dita, eu não sou muito boa com conselhos e palavras de efeito, eu sou a amiga que se oferece para ouvir tudo e depois oferece uma garrafa de vinho. é muito melhor nas palavras do que eu, e a única pessoa que saberia o que dizer para ela... É claro!
- , por favor sente-se no sofá. – Praticamente implorei e me xinguei mentalmente por minha falto de tato com a situação. – Eu vou preparar um banho de banheira para você, está bem? E vou usar do meu melhor sal, nada daquele que eu comprei na farmácia da última vez.
Ela sorriu enquanto eu estendia as mãos em sua direção para ajudá-la a se levantar, a puxei para um abraço apertado antes de soltá-la e ir em direção ao banheiro. Liguei a água quente após tampar o ralo da banheira e peguei meus melhores produtos de espuma e sal dentro do armário embaixo da pia. Joguei um pouco de cada enquanto a banheira enchia e olhei por trás da porta se ela ainda estava sentada de costas para mim, e estava. Corri para fora do banheiro e para dentro do meu quarto o mais rápido que pude, e pulei na cama a fim de encontrar meu celular. Liguei para o número mais recente da minha lista de chamadas.
- Já terminou o rascunho? – Ouvi sua voz de sono depois do segundo toque.
- Não, infelizmente não pude continuar a escrever... – Óbvio que não vou confessar que só escrevi vinte e quatro palavras em uma hora e vinte e três minutos. Ainda não. – Fui interrompida por se mudando para meu apartamento.
- ? Por quê? – Ouvi um pigarro do seu lado da ligação.
- Desculpa mesmo te acordar essa hora... – Achei que ele me interromperia, mas logo me lembrei do tamanho de sua paciência. Ele sempre me deixa terminar minhas frases. – Luc a pediu em casamento. E ela entrou numa paranoia nervosa e pediu um tempo para pensar.
Eu nunca admitiria para que eu a acusei de estar em uma paranoia nervosa. Mas com ele, eu nunca preciso medir as palavras, ele me conhece e nunca irá me julgar por usar palavras que não deveria por impulso as vezes. Na maioria das vezes.
- Você quer que eu já compre um desodorante no caminho? Já que o seu acabou. – Me peguei sorrindo com sua pergunta.
Mais cedo, enquanto entrava em minha própria paranoia em meio a escrita – se é que podemos chamar vinte e quatro palavras de escrita – liguei para ele para desabafar. Ao longo da nossa conversa de 30 minutos, acabei desabafando que para ajudar minha situação meu desodorante havia acabado. Achei um desabafo qualquer, mas é claro que ele prestou atenção. Vale ressaltar que ele já adivinhou o que eu pediria antes mesmo de pedir. Ah, a sintonia.
- Sim, por favor. Te dou vinte minutos para chegar aqui, estou preparando um banho pra ela e preciso da sua companhia só pra mim por alguns minutos antes de entrar nesse drama novamente. – Ah, as palavras mal pensadas que saem por impulso. O ouvi dar um riso do outro lado da linha.
- Te vejo em vinte minutos.
- Até! Nesse momento, você é a pessoa que eu mais amo na face da Terra. – Admiti.
- Ouch, nesse momento? – Pude imaginar seu sorriso irônico.
- Ok, sempre. Até já, . Vou desligar antes que a água da banheira vaze para todo lado.
Desliguei sem precisar dar um adeus apropriado e voltei ao banheiro correndo, mais uma vez, mas me sentindo muito mais leve. A melhor das ajudas estava a caminho.


Capítulo 2

- E o que você acha sobre tudo isso? – perguntou, enquanto nos sentávamos em lados opostos da mesa esperando sair do banho.
Apoiei meus cotovelos na mesa e levei as mãos à cabeça, a fim de massagear minhas têmporas. Fechei os olhos e percebi que eu estava mais estressada com o fato de não ter tido sucesso em minha escrita essa noite do que com o fato de minha melhor amiga ter aparecido em meu apartamento às duas da manhã, porque o seu namorado a pediu em casamento e ela está com medo de dar esse passo sem conhecer a família dele. Eu sou uma péssima amiga. Suspirei e abri os olhos, não me surpreendi com o fato de estar parado com as duas mãos entrelaçadas em cima da mesa e me olhando sereno. Invejo a paciência desse homem.
- Sendo sincera, não estou muito preocupada com isso tudo. Ela só precisa de um tempo sozinha e logo vai perceber que ela quer o Luc como sua família, com sogros ou não. – Dei de ombros e coloquei mais vinho em minha taça – vinho que trouxe de sua casa, pois supôs que havia tomado todo o meu. Homem esperto.
- Vejo que a escrita foi produtiva... – Senti meu rosto queimar ao ver meu caderno em suas mãos e um sorriso sacana em seus lábios. – E é isso que está te preocupando de verdade?
- Eu... – Não havia motivos para eu não admitir derrota – Eu não sei se fiz a coisa certa, babe. Os meus clientes de consultoria não estão totalmente perdidos, às vezes é melhor voltar a fazer algo que sei que sou boa o suficiente.
- , você é boa o suficiente em qualquer coisa. Na verdade, – Ele se levantou e deu a volta na mesa até chegar em minha cadeira, onde ele se ajoelhou – Qualquer pessoa é suficiente para qualquer coisa, basta esforço e paciência.
Levantei minha mão esquerda com o intuito de dar um tapa em sua nuca, mas ele se desviou a tempo, porém perdeu o equilíbrio e acabou caindo de costas no chão. Levei as mãos a boca com a surpresa e as mantive ali, para não deixar minha risada muito aparente.
- Qualquer dia eu vou participar da sua aula de ioga. – Disse se apoiando na cadeira para se levantar – Meu equilíbrio está uma merda. Quer parar de rir? – Seu tom indicava que ele também queria rir.
- Quem vê a cara bonita, não imagina o trapalhão que é. – Disse finalmente conseguindo conter o riso e me levantei para encará-lo – Obrigada por vir.
- E eu tinha escolha? – Levantou a sobrancelha esquerda. Reparei em como sua blusa preta deixava seus olhos mais cativantes.
- Claro que sim – Levantei os dedos, mostrando o número de suas opções – Poderia ter vindo ou ter perdido o direito de se comunicar comigo por uma semana.
- Se eu soubesse dessas opções, ficaria muito tentado, mas te ver nessa camiseta fez o esforço valer a pena. – Lhe fiz uma careta levantando o lábio superior e colocando a língua no meio dos dentes enquanto revirava os olhos. Ele colocou cada mão de um lado da minha cabeça e me chacoalhou.
- Para com isso, inferno. – Dei um tapa em seu braço direito e levantei o joelho direito para perto de sua virilha, demonstrando o que aconteceria se ele não parasse.
- Tira esse sorriso do rosto que eu paro. – Me deu um sorriso irônico antes de dar um tapa no meu joelho com a mão esquerda e se virar em direção ao sofá.
- Você já falou com o Luc? – Perguntei, me sentando na poltrona antes ocupada por .
- Tentei ligar, mas foi direto pra caixa postal. Passo lá amanhã de manhã antes de ir para o trabalho.
Olhei para o relógio na parede da cozinha. Três e cinquenta da manhã.
- Você quis dizer, daqui a algumas horas? – Ele virou a cabeça para onde eu olhava e soltou um suspiro frustrado ao perceber que já era amanhã. – De verdade, obrigada por vir. Quer se deitar um pouco na cama? Ainda está arrumada.
- Não, eu gosto mesmo é desse sofá. – Disse tirando o tênis e se esticando no sofá, deixando sua perna esquerda cruzada por cima da direita.
Fechou os olhos e eu aproveitei o momento para me levantar e arrumar um pouco da bagunça ali. Levei o tênis de para a sapateira ao lado da porta e recolhi as taças de vinho e as garrafas e coloquei dentro da pia. Enquanto olhava dentro da geladeira tentando descobrir o que comer, ouvi a porta do banheiro se abrir e corri para o corredor para avisar com as mãos a não fazer muito barulho.
- Eu estou um pouco lesada, mas ainda não bêbada – Respondeu aos meus gestos com um tom irônico.
- Pelo jeito que está esticando cada palavra eu duvido muito. – se levantou do sofá e encarou com uma expressão digna de um pai desapontado. abriu a boca e arregalou os olhos demonstrando sua surpresa, mas rapidamente cerrou os olhos em minha direção e bufou alto, me repreendendo por ter chamado .
Soltando um palavrão alto, marchou para o quarto de hóspedes e bateu a porta fortemente, me fazendo dar um pulo involuntário com o susto. Olhei para , mentalmente pedindo desculpas e paciência, e ele acenou minimamente com a cabeça em concordância antes de se jogar de volta no sofá. Corri para o quarto atrás de , e sabendo que não havia tranca na fechadura, dei algumas batidas leves na porta enquanto já adentrava o cômodo.
- O que ele está fazendo aqui? – Me perguntou, sentada na cama com os braços cruzados.
- Eu pedi para ele vir. – Confessei, fechando a porta atrás de mim – Eu achei que ter mais um ombro amigo seria bom pra você.
- Ele está aqui para me analisar. – me olhou acusatória.
- Não, não está. Ele é psicólogo esportivo – frisei a palavra, a fazendo revirar os olhos – e está aqui porque te conhece tão bem como eu, e ficou preocupado com você. – Mentira que ajuda não dói, já dizia minha avó.
- Eu não quero falar sobre Luc hoje.
- E não precisa. Estamos aqui por você, não pelo babado. – Um sorriso tímido surgiu em seus lábios. – Mas se tiver algum problema eu o ter chamado...
- Não, nenhum. Eu amo o . Já você... – Me olhou sugestivamente.
- Isso de novo não, , por favor. é meu melhor amigo, não é nada demais. – Respirei fundo dando a minha amiga o pouco da paciência que me restava.
- , eu sei que você acha que vocês terminaram amigavelmente e já não rola mais nada, mas digamos que o jeito que vocês terminaram não foi muito saudável. E essa relação que vocês mantêm é linda, mas muito esquisita.
- , já faz dois anos. Não rola mais nada romanticamente entre e eu há dois anos. – Deslizei pela parede até meus cotovelos acharem meus joelhos e enterrei meu rosto entre minhas mãos – E estamos ótimos desse jeito, não espero que você entenda exatamente o que sentimos um pelo outro, mas eu não quero voltar a tê-lo como namorado. E ele também não me quer desse jeito.
passou o indicador e o polegar entre os lábios, demonstrando que iria ficar calada sobre o assunto, mas seu olhar permaneceu sobre mim como se soubesse de um segredo. Decidi me sentar ao seu lado e fiquei grata quando não disse mais nada, mas me senti culpada por minha falta de paciência quando ela só queria falar de qualquer outro assunto que não fosse ela e Lucas.
- e eu nos conhecemos há muito tempo. – Comecei com a voz baixa – A conexão foi tão forte e éramos tão novos que acabamos reconhecendo como um sinal de que deveríamos estar juntos. O fizemos, mas... – Suspirei enquanto olhava para minha amiga, que me encarava com os olhos arregalados. Não era comum eu falar com ela abertamente sobre . Não depois que terminamos. – O fato é que nós dois sabíamos que ia acabar quando acabou. Acabou antes de qualquer um de nós machucar o outro, e sempre fomos sinceros sobre nossos sentimentos. Ele me entende, eu o entendo. Por que um término de namoro seria um obstáculo para uma amizade tão verdadeira?
Não a dei oportunidade de me responder, pois me levantei e saí do quarto em direção a cozinha, deixando a porta do quarto aberta. Meu tom de voz foi suave, mas por dentro meu sangue estava fervendo, não gosto quando questionam minha amizade mais duradoura. Não parei de andar até chegar em minha cafeteira, contei minha respiração até o café passar completamente, numa tentativa de me livrar do desconforto que a irritação estava me causando. Peguei uma xícara extra de café e fui para a sala me sentar na poltrona de frente para , que estava com os olhos fechados, talvez até dormindo. Olhei para seu rosto relaxado e sorri imaginando como seria bom eu estar tão tranquila e relaxada desse jeito, meu olhar baixou para o seu tórax totalmente coberto pela blusa de moletom preta e usei a neutralidade da cor para concentrar em minha própria respiração e me acalmar.
Falar com sobre era muito fácil, até terminarmos. Ela nunca entendeu por que eu me permiti transar com ele uma última vez, e por que ainda fazemos parte da rotina um do outro como se nada tivesse mudado. Exceto que tudo mudou: agora eu e podemos ser nós, sem a preocupação do futuro que estava nos sufocando e nos afastando por não podermos ser honestos. Não me arrependo de terminarmos, ou de como terminamos, e sinto um alívio enorme por ainda tê-lo como grande parte da minha vida. Infelizmente, não acho que alguém além de nós vá entender esse alívio e conforto que sentimos um com o outro, teima em tocar no assunto toda vez que encontra uma oportunidade, e isso me estressa.
- Você está só se acalmando do estresse do seu discurso ou está me secando? – perguntou divertido.
- Não foi um discurso. Você ouviu tudo? – Dei um gole no café e me senti apreensiva.
Apesar de nossa amizade que prevaleceu depois de tudo, e eu nunca havíamos colocado palavras sobre o que sentíamos ou até mesmo discutido sobre o assunto depois de nosso término. Tudo fluiu tão bem que nunca foi preciso, logo foi a primeira vez que ele ouviu me falar de nossa relação atual.
- Digamos que eu sinto pena de você se ela já trouxe o Luc pra passar a noite aqui com essas paredes finas. – Riu enquanto se sentava e apontou para minha xícara de café, que eu lhe estendi – Obrigado. , eu concordo com tudo o que disse, não precisa me olhar desse jeito assustado.
Ri sem graça e senti meu rosto queimar novamente. Aproveitei que o assunto não lhe causou qualquer desconforto aparente e lhe perguntei:
- Você se arrepende de termos namorado? Digo... – Olhei para a xícara de café em suas mãos ao invés de seu rosto – Se só tivéssemos sido amigos por todos esses anos, você acha que teria sido melhor?
- Não. Se você não estivesse usando essa camiseta com os seios de fora poderia até dizer que está agindo como uma adolescente insegura. – Ah, a sutileza. Ri alto e balancei minha cabeça juntamente com meus braços para demonstrar estar me livrando de tais pensamentos e me levantei num pulo.
- Fico nervosa quando me questionam. – Eu disse, dando de ombros.
- Eu sei, mas nem todo mundo é um psicólogo altamente qualificado para desvendar os mistérios da mente de . – Sorriu colocando a xícara na mesa de centro e se levantou parando em minha frente – Não acho que alguém além de nós vá entender nossa relação. Eu consigo aceitar isso, você consegue?
- Sim. – Sorri quando ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e passei meus braços ao redor de seu pescoço, o puxando para um abraço. Senti o cheiro de seu perfume e não resisti em colocar meu nariz bem perto do seu pescoço e respirar fundo.
- Tá vendo, é por isso que as pessoas ficam com tanta dúvida. – Riu se desfazendo do abraço e segurou meu rosto ao me dar um beijo na testa.
- Estou interrompendo o casal? – A voz de se fez presente.
e eu não nos movemos, aproveitei que ele estava entre e eu e revirei os olhos o mais dramaticamente que pude enquanto me olhava sorrindo. Ele sibilou “Não seja grossa” com os lábios e eu revirei os olhos mais uma vez, dessa vez respirando fundo e expirando qualquer impaciência – tentando, pelo menos.
- Não, até porque esse casal – me afastei de e apontei para nós dois com o indicador – de melhores amigos está a sua completa disposição. – Sorri abertamente para que olhou de mim para com um sorriso sarcástico.
- Eu preciso de algum doce. – Ela disse e andou rapidamente para a cozinha.
- Se ela insinuar que nós somos um casal de novo... – Eu sussurrei para que me interrompeu, colocando o dedo indicador sobre meus lábios.
- Você vai sorrir e concordar. – Lhe lancei o meu melhor olhar matador – Ela está procurando uma distração, talvez seja melhor deixar ela se iludir com nossa relação não existente.
Fui para a cozinha e encontrei sentada no chão com um pote de sorvete de Cookies & Cream, com algumas lágrimas caindo pelo rosto. Oh não.
- ! – Chamei em um tom desesperado. aproximou-se de cauteloso e sentou-se ao seu lado no chão. Eu me movi lentamente e me sentei do outro lado de , a cutucando com o cotovelo para pedir um pouco do sorvete que ela detonava.
- Vocês combinam. – Ela disse em devaneio.
- Eu sei. – Eu concordei com um sorriso e usei minha mão direita para limpar uma lágrima caindo de seu rosto. – E eu sei que você talvez não queira ouvir isso, mas você e o Luc combinam mais.
- Você acredita que algumas pessoas são predestinadas a ficar juntas?
Eu ri da pergunta e me olhou curioso.
- Se me perguntasse quando eu tinha dezoito anos, sim, com certeza. – Eu respondi, sincera – Mas hoje eu acredito que é mais questão do quanto você está disposto a se dar a outra pessoa, e o quão disposta ela está para te receber. O destino não se mete.
Me senti orgulhosa do que disse, até ver o olhar de confusão no rosto de minha amiga.
- Eu não sei se você realmente não fez sentido, ou esse é o jeito que o universo achou de dizer que é hora eu empacotar.
Rimos juntas e nos apoiamos uma à outra a fim de nos levantarmos. Já em pé, percebi que nos sentamos em cima das gotas de vinho que eu havia derrubado mais cedo, apontei para a mancha na parte de trás do short de e me virei de costas para ela e apontei para minha calça verde, agora manchada no meio do meu glúteo direito. Rimos ainda mais e a puxei para um abraço no meio do riso.
- Quem ver vai até achar você meio romântica. – Brincou, sua voz nasalada por conta dos risos.
- Para você, sempre! – Dei um beijo estalado em sua bochecha e segurei suas mãos – Tudo vai ficar bem, amiga. Chamei o até aqui para te dizer algumas palavras de sabedoria, o melhor que eu posso fazer é te dizer que te apoiarei a cada decisão que tomar. Conta comigo.
- Obrigada, . Você é a única pessoa que eu preciso nesse caos.
– Eu já vou então. – finalmente levantou do chão e colocou a mão sobre o peito simbolizando sua dor. o puxou para um abraço e o vi depositar um beijo demorado em sua bochecha. – Nossa, você é realmente muito cheiroso. – repetiu meu ato de minutos atrás e respirou fundo no cangote de , fazendo-me rir com a cena. Se desvencilhou do rapaz com os olhos fechados e me mandou um “jóia” com o polegar antes de cambalear de volta para o quarto de hóspedes.
Com o olhar desaprovador de em minha direção, concordei que talvez uma garrafa inteira de vinho tinto em menos de vinte minutos não tenha sido uma boa ideia.


Capítulo 3

O barulho de uma motocicleta na rua me tirou a atenção do livro que eu estava submersa pelos últimos trinta minutos. Decido guardar o livro e apreciar o sol tocando minha pele, – vitamina D é inigualável – fecho meus olhos, estendo minhas pernas até meus pés encontrarem apoio na cadeira do outro lado da mesa e entrelaço meus dedos das mãos em cima de minha barriga. Uma brisa agradável faz o cheiro do café pela metade na xícara em cima da mesa encher minhas narinas e eu sorrio respirando fundo.
Com o aviso de minha lombar, sou forçada a voltar a minha posição inicial sentada, e decido terminar a xícara de café com leite que deixei esfriando enquanto lia. Divergente, é o livro que estava lendo. Não que eu não goste desse tipo de leitura – acho muito intrigante, inclusive – mas essa leitura não é para ser prazerosa, estou, na verdade, estudando. Mais uma noite em claro, sem conseguir escrever, decidi recorrer ao livro que prendeu minha atenção durante o ensino médio e tentar aprender como a autora Veronica Roth descreve seus personagens a faz com que o leitor se sinta ali, com eles. Afinal, se meu intuito é fazer o mesmo, mais fácil começar estudando aqueles que já conseguiram, certo?
- Desculpa o atraso, eu não queria vir. – Se minha xícara ainda estivesse cheia, a surpresa em ouvir sua voz me faria derramar o líquido na mesa toda.
- Eu já tinha me conformado com o fato que não viria – Ri, me levantando para cumprimentá-lo com um abraço – Já estava formulando a mensagem passiva-agressiva que mandaria mais tarde.
- Agradeço o voto de confiança. – Disse, retornando meu abraço.
Abracei-o o mais apertado que pude. Quando nos afastamos, coloquei minhas mãos em seus ombros e as deixei descansar ali, enquanto olhava em seus olhos cansados, que evitavam me olhar de volta.
- Como você está, Luc? – Perguntei o mais carinhosamente que consegui. – É bom te ver.
- Estou bem, na medida do possível. – Seu tom era cabisbaixo e colocou as mãos nos bolsos da frente de sua calça jeans com o desconforto para com nossa proximidade.
Me senti como uma estranha para ele, e a sensação me fez murchar o sorriso que carregava no meu rosto. Pigarreei e soltei seus ombros, voltando a me sentar e apontei para a cadeira a minha frente, indicando que também se sentasse.
Lucas se sentou a minha frente e eu tirei cinco segundos para admirar um pouco de sua beleza, respeitosamente, é claro. Lucas tem cerca de um metro e oitenta, tem cabelos castanhos no estilo buzz cut e seus olhos são levemente mais claros, causando um contraste que faz muitas mulheres o encararem por mais tempo do que deveriam – exatamente como eu estou fazendo. Sua pele tem alguns detalhes de sardas que já foram escurecidas pelo sol, e não vou descrever seu sorriso por motivos de já ter o admirado por tempo demais. Olhei em volta na esperança que ele não tenha percebido.
- Ele está aqui, só foi ao banheiro antes. – O encarei confusa ao ver seu sorriso irônico.
- Quem?
- Quem mais está procurando? – Levou as mãos ao cardápio, mas continuou com o sorriso sarcástico nos lábios – , é claro.
Rolei os olhos e bufei, claro que o homem de pensaria as mesmas coisas que ela. Aposto que falam sobre e eu e nossa estranha relação enquanto se preparam para dormir. Aliás, falavam, já que não dormem juntos há duas semanas, desde que apareceu em meu apartamento às duas da manhã, surtando por ter sido pedida em casamento.
- Para começo de conversa, – O olhei com os olhos semicerrados – eu não estava procurando ninguém. E acabando com essa conversa, pode tirar esse sorriso do rosto.
Ele levantou as mãos em sinal de rendimento e levou sua atenção ao cardápio. Fixei meus olhos em seu rosto enquanto me recordava, alheia ao mundo atual, da primeira vez que nos conhecemos. A animação e apreensão de esperando minha aprovação, a timidez de Lucas por estar conhecendo “a ” que não parava de falar sobre... Sorri fraco, ao mesmo tempo que alguém colocou um guardanapo em frente à minha boca e o arrastou até meu queixo.
Assustada, olhei para o dono do braço coberto pelo cardigã azul-marinho e o empurrei com toda força que pude - não tanta para fazer o estrago que eu queria, ao perceber quem era.
- Para você parar de salivar. – Soltou uma piscadela antes de se agachar e beijar o topo de minha cabeça como cumprimento.
- Vocês, homens, estão tirando conclusões muito precipitadas hoje. – Eu disse enquanto passava mão onde havia acabado de beijar.
se sentou na cadeira à minha esquerda, ficando com as costas expostas ao sol. Olhei para seu cardigã e me perguntei como ele usa isso confortavelmente com esse sol de rachar.
- Como você usa isso confortavelmente com esse sol de rachar? – Não resisti.
- Cuida da sua vida, darling – Disse despreocupadamente enquanto olhava ao redor de si – Vocês acham que algum pombo pode entrar aqui ou simplesmente cagar em cima de mim? – Perguntou, dessa vez, com preocupação.
Eu e Luc nos encaramos por alguns segundos e eu lhe fiz um sinal de não com a cabeça, alegando, que dessa vez, não seria eu que iria lidar com isso.
- Cara, eu acho que em qualquer lugar aberto sempre existirá a possibilidade, mas – Luc disse a última palavra um pouco mais alto e levantou o dedo indicador, para evitar interrupções – eu não vejo motivos para se preocupar, tanta coisa pode acontecer que, sinceramente, um pombo não é a pior delas...
Luc sorriu de um jeito reconfortante enquanto o encarava assustado, eu não contive a gargalhada que saiu de minha garganta ao presenciar a cena dos dois homens.
- Que tal só nos preocuparmos em pedir algo para comer? – Sugeri, ainda rindo.

* * *

- Por que sinto que logo vou ficar oficialmente solteiro? – Luc perguntou com ar de indignação, olhando atentamente para sua taça de mimosa agora já vazia.
e eu nos entreolhamos enquanto decidíamos se esse era realmente o momento apropriado para falar de . Ele mordeu o lábio e cruzou as mãos em seu colo, ao arquear as duas sobrancelhas, como se pedindo para eu tomar alguma atitude.
- Ah! Por que eu? – Perguntei em voz alta e ganhei um olhar arregalado de em resposta, assim como um Luc finalmente tirando sua atenção da taça.
- Por que você o quê? – Lucas perguntou entediado.
- Hãn... – Comecei, sem saber ao certo como terminar – Escuta, Luc... não acho que logo você estará solteiro.
- Diga isso para a minha namorada, que recusa minhas ligações todos os dias há duas semanas. – Ele levantou o dedo indicador para o garçom e deu duas cutucadas em sua taça vazia, pedindo mais.
- Eu não preciso dizer, ela já sabe.
- Desculpa se eu não estou tão certo sobre isso como você, . – Seu tom se tornou defensivo e me lançou um olhar machucado.
Eu deslizei as duas mãos sobre a mesa com a palma da mão para cima, a fim de que ele me desse suas mãos, o que não aconteceu. Resolvi ignorar e não levar para o pessoal, afinal, homem bêbado e de coração partido merece empatia.
- Eu não sei mais sobre o seu relacionamento do que você. – Eu disse, calma – Eu sinto muito que vocês dois estão passando por isso, mas creio que você sabe muito bem o porquê de ela ter precisado de um tempo.
Vi se ajustar na cadeira ao lado, relaxar as costas e lentamente levar a mão direita em direção a boca – sinal claro de nervosismo quando ele fica apreensivo: roer unha, ou a pele em volta da unha, como ele alega. Antes de Luc formular uma resposta, o garçom voltou com uma garrafa de mimosa e a deixou no centro da nossa mesa. Eu agradeci e recebi um sorriso sem graça de volta.
- Pois o motivo desse tempo é completamente desnecessário – Luc disse, já enchendo sua taça – Ela sempre soube que eu não queria relação nenhuma com meus pais. Por que porras ela achou que eu iria querer minha futura família e eles tivessem uma relação? Isso é uma baita de desculpa esfarrapada.
Seu linguajar me deixou bem claro que ele já estava bem alterado, mas não pude deixar de defendê-la.
- Você tem razão, ela sempre soube – Foi minha vez de encher minha taça. ainda estava quieto, mordendo a pele em volta da unha do dedo anelar – Não acha que um casamento intensifica um pouco as coisas?
Meu tom óbvio e sem paciência claramente não foi bem recebido.
- , se ela precisa de tempo para processar essas coisas, eu – apontou para si com o polegar – quem deveria ser a pessoa a ajudá-la passar por isso. Simplesmente fazer uma mala e ir embora, sem manter contato algum, é muita imaturidade.
Fiquei muda por alguns segundos, me sentindo culpada e como se estivesse traindo a confiança de ao concordar com Luc.
- Eu também acho – Confessei em voz baixa.
- Então por que não diz para ela voltar? – Sua pergunta soou como uma súplica.
- Só porque eu estou apoiando-a, não quer dizer que eu acho a decisão certa. Mas ela precisa descobrir isso sozinha – frisei a última palavra – Não vou me meter.
- Disse, depois de já ter se metido! – Ele aumentou seu tom de voz, o que fez finalmente tirar a mão da boca e se sentar ereto, com os dois cotovelos apoiados na mesa e olhar para o amigo com uma sobrancelha arqueada – Francamente, cada minuto que ela passa em sua casa apreciando cada conselho seu, é você se metendo.
- Que tal deixarmos esse assunto de lado até nenhum de nós estar com álcool no sangue? – perguntou com um sorriso, enquanto esticava a mão esquerda para tocar no ombro de Luc. Tarde demais, babe.
- Eu não estou fazendo decisões por ela, Lucas. – Revirei os olhos por ter que me explicar – Mas como eu já disse, vou firmemente apoiar cada decisão que ela tomar. Se a decisão dela é ficar longe, eu não vou te deixar chegar perto dela.
- Não vai me deixar? – Levou as duas mãos ao peito, afetado – E você agora virou a guru de nosso relacionamento?
- Não, eu...
- Quer saber, – Lucas me interrompeu, o que me fez encará-lo boquiaberta – não quero saber o que você pensa. Queria saber se estava bem, agora já sei que sim, então já vou. Obrigado pelo convite.
Ele retirou a mão de de seu ombro e se levantou bruscamente, balançando um pouco a mesa enquanto o fazia. se levantou em seu encalço e o seguiu, quando o amigo saiu cambaleando em direção a saída. Me ajustei na cadeira e arrumei algumas coisas em cima mesa sem olhar ao redor, pois sabia que havíamos chamado a atenção das poucas pessoas que estavam ali.
- Eu chamei um uber para levá-lo para casa. – disse, se sentando na cadeira antes ocupada por Luc, enquanto eu mexia dentro da minha bolsa fingindo estar procurando por algo. – O que está procurando?
- Qualquer coisa – Respondi e soltei um suspiro frustrado – Eu não queria estar no meio de tudo isso. Não queria nem que isso estivesse acontecendo.
- Eu sei. Poucos são aqueles que fazem a escolha certa para seus relacionamentos na hora certa. – Respondeu, jogando o cabelo fictício atrás dos ombros. Eu ri.
- Esse tempo já levou tempo demais. – Eu disse, agora mais descontraída – Espero que se acertem logo.
- Bom, eu vou viajar amanhã e não quero que meu último dia aqui seja sobre eles. – Foi a vez de de encher sua taça de mimosa. – Me conta sobre o progresso de sua escrita.
Coloquei os cotovelos em cima da mesa e grunhi em frustação sobre o assunto. Apertei meus olhos com a palma das mãos e parei as mãos em minhas bochechas, apoiando meu rosto, enquanto respondi com um sorriso falso:
- Supimpa.
- Indo de mal a pior, pelo visto – Riu para si mesmo – Sinto muito que o processo está sendo tão dolorido, .
- Só é meio desgastante. Estou com uma ideia sobre como fazer fluir melhor, mas só vou te contar quando der certo. – Voltei a minha posição inicial na cadeira e brinquei com o pouco de comida restante no prato com o garfo. – E você, animado para a viagem?
- Com o time de natação, nunca. – Riu um pouco demais, o que me fez duvidar de sua sobriedade.
- Não sei por que ainda está com a universidade. Se eu fosse você, eu...
- Teria aceitado o contrato dos times grandes que pagam mais, eu sei. Já tivemos essa conversa, de novo não, por favor. – Já não havia resquício de sorriso em seu rosto.
- Já estraguei o humor de um homem hoje, por que não dois? – Sorri e passei uma mão na outra freneticamente, para demonstrar um ato maquiavélico.
- Pede a conta enquanto eu vou ao banheiro para irmos embora daqui. – se levantou e me deu dois tapinhas no ombro direito ao passar por mim.
Após pedir a conta e pagar pelo almoço, – ah, a conta poupança – resolvi esperar do lado de fora do restaurante. Atravessei a rua e me sentei no banco de madeira ali, estendi meu pé direito e depois o esquerdo para testar minha sobriedade. Vi saindo do restaurante e gritei seu nome enquanto acenava.
- Parece que você é o único não sóbrio do grupo. – Eu disse, apontando para minhas pernas se levantando intercaladamente.
- Já te disse que esse teste se faz em pé, não sentada. – Riu enquanto se sentava ao meu lado e só então percebi o quão burra fui, soltei uma risada alta.
- É muito cedo no dia para ter tomado tantas mimosas. Culpo o Luc. – Joguei a cabeça para trás.
- Eu também. – Ele disse colocando o braço ao redor de meus ombros. Relaxei o peso da cabeça em seu ombro direito.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu fiquei atenta a sua respiração e fiz meu melhor para sincronizar com a minha. Estendi minha mão direita pelo seu corpo quando senti uma brisa e automaticamente desejei que o sol voltasse.
- Você está tão quentinho. – Comentei antes que ele pudesse reclamar de nossa posição.
- Quem está rindo do meu cardigã agora? – Senti a vibração de voz por seu corpo e sorri.
Sorriso esse que logo foi substituído por uma expressão surpresa ao sentir afastar seu braço e levantar-se calmamente. Coloquei uma mão sobre meu peito e ajustei meus lábios em um grande “O” para dramatizar minha dor.
- ... – Ele disse enquanto colocava seu joelho direito no chão e abria os botões de seu cardigã – Como prova do meu amor... – Desabotoou o último botão e percebi que minha expressão não havia mudado. O que ele está fazendo? – Você aceita o meu cardigã?
Levou uma mão para cada ombro e lentamente escorregou a peça pelos braços, revelando sua camiseta tricô branca que eu lhe dei de presente em seu último aniversário. Esticou os braços em minha direção com o cardigã em suas palmas e me olhou divertido.
- Eu... – Levei minhas mãos ao meu rosto, enxugando lágrimas falsas – É óbvio que aceito!
Me levantei e puxei a peça de suas mãos, a colocando rapidamente com um giro. Isso mesmo, um giro, joguei meus braços para cima e deixei escorregar por meus braços enquanto girava, como se estivesse em um filme romântico.
- Agora me ajuda a levantar, porque eu fiz isso com meu joelho ruim. – disse com uma expressão de dor, enquanto levantava as duas mãos para que eu as segurasse.
O puxei para cima – com muito esforço, ressalto – e quando já em pé, ele começou a abotoar todos os botões do seu cardigã agora em mim.
- Pelo bem de minha sanidade, vou te contar que você ficou maravilhoso nessa camiseta. – Eu confessei quando ele abotoou o último botão. – Nunca tinha te visto usando-a.
- E você, – ele me deu um peteleco no queixo e me olhou de cima abaixo – fica maravilhosa com uma peça de roupa minha. E sem ela também.
Eu arregalei os olhos com o comentário e senti meu rosto queimar. percebeu minha surpresa e arregalou os olhos junto comigo, balançando a cabeça negativamente.
- Eu não quis dizer... Nua. – Ele sussurrou, eu levantei uma sobrancelha – Não que você não seja...
Ri alto, interrompendo seu momento embaraçoso e comecei a andar em linha reta, dando dois tapinhas em seu ombro direito ao passar por ele. Senti uma brisa novamente e dessa vez não senti arrepio algum por estar devidamente coberta. Aproveitei para respirar fundo enquanto o vento leve passava e senti meu coração acelerar com o ato – respirar quando o vento bate sempre me causou adrenalina, nunca entendi direito e não sei se outras pessoas experienciam o mesmo, mas eu amo a sensação.
A mão esquerda de entrelaçou na minha direita, eu abri os olhos e o olhei.
- Podemos fingir que nada foi dito nos últimos vinte segundos? – Percebi o quão corado ele estava e seu cabelo desarrumado, outro sinal claro de nervosismo: puxar o cabelo para trás.
- Como assim? – Respondi, confusa.
- O que eu disse...
- O que disse quando? – Eu o interrompi com um sorriso sugestivo que ele retribuiu de imediato.
- Obrigado. Eaí, o que vamos fazer pelo resto do dia? Você me tem até as oito. – Começou a andar, ainda com nossas mãos entrelaçadas, as balançando exageradamente para frente e para trás no ritmo de nossas passadas.


Capítulo 4

Ajustei os óculos que teimavam escorregar em meu nariz e joguei meus braços para cima, me espreguiçando. Sorri em direção ao meu livro do outro lado da mesa e bati palmas como uma criança por ter finalmente terminado meu trabalho e poder aproveitar o tempo que quisesse com minha cópia de Insurgente.
Pelos últimos quatro dias, resgatei três de meus clientes de imigração e decidi trabalhar em seus casos por vinte horas semanais. Não é muito, mas é o suficiente para eu ter um pouco de estabilidade financeira e distrair minha cabeça da pressão constante de escrever. O único problema é que tenho passado todo meu tempo livre – e quero dizer todo tempo livre, até mesmo sacrifiquei horas de sono e esqueci de refeições importantes – lendo a maldita trilogia da garota destemida de dezesseis anos.
O pior de tudo é que esqueci completamente da razão inicial de minha leitura, e estou completamente obcecada por Tris Prior, já não prestando muita atenção para a escrita de Veronica Roth. Vale lembrar que li esses livros há dez anos e não me senti tão presa na história como me sinto hoje. Será que existe um Tobias para cada um?
- Sim. – apareceu no meu canto de visão e me perguntei se meu último pensamento havia sido em voz alta, pois ela soou decidida, mas quando a olhei, vi a mala de viagem atrás de si.
- Não brinca com meu coração fraco. – Eu abri um sorriso de orelha a orelha ao deixar meu livro de lado e me levantei com a mão dramaticamente em cima do meu coração.
- Foi idiotice vir até aqui, eu sinto falta dele a todo momento, a cada segundo. – Ela me olhou apreensiva, como se pedindo permissão para fazer o que estava prestes a fazer.
- Vá! – Eu apontei para a porta – Vá atrás do seu homem! Minha está noiva! – Cantarolei a última parte, subi na cadeira e coloquei alguns movimentos de dança para fora.
- Eu te amo! – Ela riu enquanto gritava e corria em direção a porta e saía.
Ri alto de felicidade e continuei a dançar por alguns segundos. Coloquei a mão na boca ao imaginar a reação de Luc. Se eu não soubesse o quanto ela sentia a falta dele, eu teria ficado de coração partido por ela não ter nem se dado ao trabalho de celebrar comigo por cinco segundos, mas sei que o contato físico que ela tanto anseia com certeza não é o meu.
Meu celular despertou perto do sofá e pulei da cadeira, testando perigosamente meus joelhos. Uma onda de desespero surgiu ao perceber que já eram duas da tarde e não consegui me lembrar do porquê de ter programado esse alarme. Do que estou me esquecendo? Procurei alguma dica em meu calendário e em redes sociais, mas ao não encontrar nada, assumi ser apenas um alarme antigo que havia esquecido de desativar. Deitei-me no sofá e liguei a televisão em um episódio qualquer de um sitcom que eu não conhecia muito bem e acabei adormecendo.

* * *

- ... – Ouvi uma voz distante me incomodar – !
Sentei-me assustada ao sentir uma dor aguda em minha testa.
- Você me deu um tapa? – Eu perguntei incrédula ao homem parado em minha frente.
- E isso é o mínimo que você merece por ter me dado um bolo. – colocou as mãos na cintura e me olhou sério.
- Que bolo? Eu nem fiz nada hoje. – Será que eu havia me esquecido de fazer um bolo?
- Você não apareceu, . Eu pedi para me encontrar no Joey’s as duas e meia. – Ah, então era esse o propósito do alarme.
Para ser bem sincera, não me lembro de ninguém mencionando Joey’s, mas me lembro de ter me ligado ontem à noite enquanto eu lia. Minha mais nova obsessão por Tris Prior ia acabar com a minha melhor amizade.
- Desculpa, eu não prestei muita atenção. – Sorri culpada e tentei puxar sua mão. deu um passo para trás. – Como foi a viagem?
- Não teria pedido se não fosse importante! Precisamos conversar. – Mais uma vez não prestei atenção no que dissera, nem que ele não respondeu a minha pergunta, pois estava atenta em seu corpo.
usava um tênis branco fechado, uma calça social bege, provavelmente um tamanho menor que o recomendado, um casaco marrom por cima de uma camisa branca quase transparente e tive certeza de que se não estivesse usando o casaco, eu conseguiria ver seus mamilos.
- Por que está tão bem-vestido? – Perguntei, ignorando o que ele dizia.
- Está dormindo há quanto tempo? – Ele disse apontando para meu cabelo, que eu tentei arrumar com as mãos instantaneamente.
- Deitei-me por volta das duas...
- , são quase oito.
- Nossa, e eu achando que não tinha dormido quase nada. – Ri e cruzei as pernas – Se eu não fui te encontrar as duas e meia, por que veio para cá às oito?
- Fui pra casa, mas me ligou e perguntou se eu podia te dar uma carona.
- Para onde?
- Às vezes eu esqueço o quanto seu sono te transforma nessa pessoa despreocupada e alheia com a vida, deveria dormir mais. – Lhe dei um sorriso irônico ao ouvi-lo – quer nos reunir em seu apartamento para planejarmos sua festa de noivado. – olhou para o relógio em seu pulso – Tem vinte minutos para se desfazer dessa bagunça no seu cabelo.
Sentou-se ao meu lado de modo despojado e cruzou a perna esquerda por cima da direita. O encarei por alguns segundos, tentando reformular sua frase em minha cabeça, que ainda trabalhava mais lentamente do que eu gostaria de admitir. Ao finalmente entender o que disse, gargalhou ao me ver pular do sofá e sair correndo para meu quarto a fim de me arrumar. Se eu aparecesse no apartamento de completamente desleixada no dia que ela fica noiva, eu sou uma mulher morta.
Vinte e quatro minutos depois, já completamente vestida com um vestido acima do joelho vermelho bordô com sobreposição de renda e um decote posterior em V, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo com as mechas da frente soltas e passei uma maquiagem básica – depois de propriamente lavar o rosto e hidratá-lo, muito obrigada. Calcei um par de sandálias simples prata e desfilei por meu corredor no melhor estilo Gisele Bündchen que pude.
- Não acha um pouco demais só para um jantar simples? – Eu ri debochada ao ouvir a pergunta cautelosa de .
- Acredite, se já estiver vestida de noiva, eu não me surpreenderia. Hoje é noite de negócios, . Missão madrinha de casamento, tarefa número um: primeiro jantar oficial após o noivado. E isso exige que eu aparente o meu melhor. – Sorri orgulhosa.
- Se você diz... – Me olhou descaradamente de cima abaixo.
- Um elogio não te mataria, sabia? – Peguei minha pequena bolsa preta que já estava pendurada ao lado da porta e saí antes de , sem olhá-lo.
- Eu também não recebi um, direito iguais. – Ele me seguiu e fechou a porta atrás de nós.
No elevador, peguei meu celular e li as exatas treze mensagens que havia recebido de nas últimas cinco horas e a respondi com um simples “estamos a caminho!”. Decidi checar meus e-mails no caminho até o carro, para ter certeza de que havia finalizado todo o trabalho programado para hoje. Agradeci quando abriu a porta do passageiro pra mim. Ainda absorta no celular em minhas mãos, não percebi quando ele se sentou no banco de motorista e começou a dirigir.
- , eu queria muito conversar com você. – Sua voz baixa me tirou a atenção do aparelho e o olhei, preocupada.
- Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? – Nem tive um pingo de decência de perguntar por que ele tinha marcado de me ver mais cedo, a culpa me atingiu em cheio ao ver sua expressão séria.
- Está tudo ótimo, eu só... – Foi interrompido pelo toque alto de meu celular, vi que era e lhe mostrei a tela – Atenda e diga que estamos indo... mas não esquece que precisamos conversar, por favor.
Assenti calmamente e coloquei a mão por cima da sua, tentando amenizar minha própria culpa. Atendi o celular e infelizmente tive que explicar a o real motivo de não ter respondido nenhuma de suas mensagens e ouvi um sermão de sete minutos por ainda não ter sugerido nenhum local para sua festa de noivado.
Ao chegarmos ao apartamento de e Lucas, soltei um riso nervoso ao perceber que me esperava no portão de entrada, o que significava que eu iria ouvir mais alguns sermões, só que dessa vez, em pessoa. Ao descer do carro, não pude me conter e, ignorando os lasers saindo dos olhos de minha amiga, a abracei e gritei o mais agudo que pude; dois segundos depois ela me abraçou de volta e gritou na mesma intensidade. Normalmente, não agimos assim, mas sonhamos juntas com o dia que ela e Luc estariam noivos, e, aqui estamos, no primeiro dia dessa jornada!
Eu disse a que hoje seria noite de negócios, e isso foi comprovado ao entrarmos no apartamento e encontrarmos Luc vestido formalmente com um blazer preto em cima de uma camisa social cinza que combinava com as calças. O cumprimentei com o mesmo entusiasmo que cumprimentei e não me surpreendi ao senti-lo me afastar de si e andar com cara de terror em direção ao .
e eu passamos o que pareceram horas discutindo locais, comes, bebes, músicos enquanto e Luc se embriagavam de cerveja no sofá.
- Agora para o mais emocionante, a lista de convidados! – abriu um sorriso que se refletiu rapidamente em meus próprios lábios, como eu amava a ver assim, feliz – Só da festa de noivado, é claro.
chamou os rapazes para se assentarem na mesa conosco e sorriu timidamente ao coçar a nuca, me fazendo o olhar suspeitosamente. Por que ele está nervoso?
- Bom... – interrompeu meus pensamentos, atraindo minha atenção para si – É de extrema importância que o número de pessoas dessa lista seja exato, para conseguirmos marcar a data certa no local certo. Com isso em mente, começaremos pelos convidados mais óbvios.
A vi desenhar uma linha vertical em cima de um papel sulfite branco, o dividindo em duas partes. No topo da parte direita escreveu e no topo da parte esquerda, escreveu Lucas. Escreveu meu nome embaixo de seu próprio e me senti extremamente amada por ter sido o primeiro nome escrito ali. Escreveu embaixo do de Lucas.
- Ok, temos , ...
- E acompanhante. – a interrompeu, fazendo todos nós o olharmos surpresos.
- Que acompanhante? – perguntou, quase rudemente.
- Taylor. – levou a mão a nuca novamente e eu descobri o porquê de estar tão nervoso.
- Swift? – manteve o tom grosseiro, o que levou seu noivo a lhe lançar um olhar reprovador. – O quê? Se eu vou escrever o nome preciso saber quem é. – Disse, defendendo-se.
- Taylor é minha... – pausou pelo que pareceram minutos e eu me senti uma idiota por ter esquecido que ele queria me encontrar, ele queria me contar sobre sua nova... – Namorada. – Ele completou sua frase juntamente com os meus pensamentos.
Luc e tiraram o olhar de e os levaram para mim. Senti meu rosto começar a ficar do mesmo tom do meu vestido e levei as mãos para cima em sinal de rendição.
- Não me olhem assim, eu não sabia! – Tentei não olhar para pois sabia que sua expressão gritaria “está vendo porque deveria me levar a sério quando eu digo que precisamos conversar”.
- Que tipo de namorada é essa que você não apresentou nem à ? – Ah, a sutileza de uma recém noiva.
- Bom, começamos a sair a algumas semanas... – Pausou como se alguém fosse interrompê-lo, mas ninguém o fez – E eu vou fazer a pergunta oficialmente amanhã em nosso encontro.
- Espera aí... – Luc apontou o dedo indicador na cara de – Não foi com ela que eu te encontrei... – Ele mesmo se interrompeu e arregalou os próprios olhos – Jantando junto no seu apartamento? – Consertou, mas todos nós entendemos o que realmente e Taylor estavam fazendo e não precisou responder verbalmente, pois seu rosto se tornou roxo de vergonha.
Achei graça no claro desconforto de meu melhor amigo, mas decidi salvá-lo, como sei que ele faria por mim se a situação fosse invertida.
- Ótimo, escreva o nome de Taylor entre parênteses na frente do de e marcaremos um jantar em meu apartamento para a conhecermos antes da festa. – Eu toquei freneticamente na lista de com o meu indicador, finalmente tirando sua atenção de – E eu acho que merecemos um champanhe para comemoramos os eventos dessa noite!
Levantei-me da mesa e bati no ombro de para que me seguisse. Ele imediatamente se levantou e me seguiu em direção a cozinha, enquanto eu ouvia Luc repreender . Entrei na cozinha primeiro e esperei entrar e fechei a porta atrás dele, a trancando em seguida para que ninguém nos interrompesse. Me virei calmamente para ele, com os braços cruzados em frente ao peito e o perguntei num tom sério:
- Ela é mais gostosa do que eu? – arregalou os olhos assustados, que se acalmaram ao ver o sorriso em meus lábios.
Me joguei em seus ombros e lhe dei o beijo na bochecha o mais fortemente que pude. Senti o seu suspiro de alívio e seus braços envolveram minha cintura, retribuindo meu abraço.
- Estou tão feliz por você! – Mordi sua bochecha, o que nos fez desvencilharmos do abraço – Seu primeiro relacionamento sério oficialmente como adulto. Está nervoso?
- Estava mais nervoso pra te contar... – Admitiu, mais uma vez levando a mão a nuca – Não queria te contar na frente deles, mas não queria que pensasse que eu estava escondendo algo também.
- Me desculpe por não ter sido presente como amiga. Se tivesse prestado mais atenção, você já teria me contado. – Eu sorri sincera e meu coração explodiu de alegria ao ver o sorriso que nasceu em seus lábios.
- , ele já tem namorada então agiliza isso aí! – Ouvi o grito de vindo da sala de jantar e dei mais um abraço apertado em antes de mandá-lo pegar as taças, enquanto eu tirava o champanhe do freezer.
prestes a planejar o resto de sua vida com o homem de seus sonhos e meu melhor amigo dando um passo em direção a sua própria felicidade, vou me lembrar desse dia para sempre – e provavelmente criar um perfil de namoro online.
e eu acabamos com toda a garrafa de champanhe, já que Luc e resolveram “tirar uma pausa” após terminarem a lista de convidados. Pausa prazerosa, óbvio. Sendo a primeira noite oficial do mais novo casal prometido, e eu decidimos não os incomodar e ríamos alto quando ouvíamos gemidos vindos do quarto. Ah, a intimidade. Me peguei pensando em como seria o sexo com Luc e grunhi em frustração de minha nada ativa vida sexual.
- Preciso te pedir algo. – Ele tentou soar sóbrio, mas suas pupilas dilatadas o entregavam.
- Então peça, babe.
- É sobre a Taylor... – Sua mão foi em direção a nuca novamente e eu revirei os olhos com tamanho nervosismo – Ela ainda não sabe sobre nós...
- Ela não sabe sobre mim? – Perguntei, afetada.
- Ela sabe sobre você, sabe que você é tudo para mim e está louca para te conhecer. Mas ela não sabe de... Nós.
- Onde quer chegar? – Vá direto ao ponto, .
- Eu não quero que ela saiba do nosso relacionamento, pelo menos por enquanto. Acho que algo irrelevante possa assustá-la e fazê-la não ter segurança em nosso namoro.
Eu travei a respiração e senti meu sangue ferver. Irrelevante?


Continua...



Nota da autora: Sem nota.

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