Capítulo Único
Para minha margarida, Samantha.
Sam, peço que dessa vez, no nosso humilde aniversário de 4 anos, responda esta carta. Sei que já fazem três anos que mando a mesma coisa, mas quem sabe dessa vez dê certo. Vou cobra-la quando chegar aí.
Lembro-me bem da vez em que nos conhecemos, naquele parque infantil. Talvez o destino realmente tivesse sido generoso com nós dois aquele dia, já que nenhum de nós estava lá com alguma criança, como deveria ser. Você estava passeando com o seu cachorrinho Bob, e eu, sentado à sombra de uma enorme árvore lendo algum livro qualquer. Sim, eu lembro de como quase fui atacado por seu pet descontrolado. Mas eu o agradeço, se não fosse por ele você não precisaria me salvar, e esta carta nunca existiria. Pois bem, depois de muito se desculpar você resolveu se sentar ali junto a mim. Quando não tínhamos mais assuntos você falava de como a árvore era enorme, era sempre a mesma frase. Passamos a tarde toda lá, apenas nos conhecendo, e eu já podia sentir que poderíamos ter alguma história juntos.
Nós dois com apenas 18 anos, sem nada de útil para fazer, passamos a sair quase todas as tardes de nossas férias. Não nos cansávamos de ir àquela enorme árvore e pôr os assuntos em dia. Era bom.
Lembro também do primeiro apelido bobo que você inventou para mim, depois de eu lhe contar gostar de mixagem. DJay, era o apelido. Você sempre ria alto ao falar ele, era uma piada interna que somente nós poderíamos entender. Confesso que, apesar de não demonstrar, eu o achava ótimo.
Um ano se passou e nós realmente construímos uma história, e entramos nela mais afundo quando, naquela bela tarde ensolarada, debaixo da sombra da enorme árvore do parque, eu resolvi arriscar e lhe pedir em namoro. A resposta demorou a vir, meu estômago se revirou por completo. Passei muito tempo pensando em como fazer isso sem estragar nada do que tínhamos e, quando vi sua cara inexpressiva me encarando, pensei em todas as maneiras de voltar atrás. Mas logo tudo passou, quando sua boca se curvou em um belo sorriso e seus dentes vieram à mostra. Você me abraçou o mais forte que conseguia, e, nesse momento, eu sabia que meus braços haviam sido feitos para te abraçar. Nós nos encaixávamos perfeitamente, como peças de um quebra-cabeças.
Um mês de namoro e tudo o que eu lhe dei de presente foram duas belas margaridas, ao menos eram suas preferidas. Enquanto você, comprou correntinhas com pingentes de casal. Em uma delas havia um coração, e na outra um frasco com algo que, segundo a embalagem, demonstrava uma alma. O significado era claro, o amor vai além da morte. Este se tornou nosso bordão.
Um ano se foi voando. E nosso relacionamento apenas se aprofundava. Nunca havíamos brigado uma vez sequer. Se contássemos isso para alguém, o mesmo não acreditaria. Dizíamos que nascemos um para o outro. Que nossas vidas se encaixaram e, nesses encaixes, havia uma supercola que não nos permitia separar. Era bobo e clichê, mas nós gostávamos.
Era nosso aniversário de um ano, e eu sentia que deveria fazer algo especial. Agora, escrevendo isso, faria de tudo para voltar atrás e apenas ir até sua casa assistir à algum filme.
Comprei mais margaridas e, junto delas, um pequeno ursinho de pelúcia que você desejava após tê-lo visto na internet. Lhe mandei uma mensagem de texto dizendo que eu a esperava na grande árvore. Você respondeu em pouco minutos, como sempre. Disse que já estava saindo de casa e que chegaria em poucos minutos.
E foi nesse dia que comecei a questionar quantos seriam "poucos minutos". Meia hora havia se passado e nada de você chegar. Mandei outra mensagem. Dois minutos depois a mensagem foi visualizada. Meu coração se aliviou quando um "digitando" apareceu em baixo de seu nome, o que não durou muito tempo e logo se transformou em um "online". Eu sentia que algo não estava certo. Larguei o urso e as margaridas lá e segui em direção de sua casa, em passos rápidos, afinal, não era tão longe dali.
Meu coração pareceu parar quando, na esquina de sua casa, havia uma grande multidão. E não foi isso que me preocupou, e sim, os bombeiros e paramédicos que lá também se encontravam.
Chequei meu celular uma última vez, clamando alguma mensagem sua, ansiando que, o motivo de todo esse estardalhaço, não fosse você.
Mas eu sentia. Sentia que algo estava errado. Observei novamente a multidão de longe e, enquanto minha visão se embaçava, criei forças para caminhar até lá.
E, em um pequeno furo em meio àquelas pessoas, eu pude ver o motivo da minha felicidade, estirado ao chão.
Minhas mãos foram até meu peito em um ato automático de tentar cessar a dor que ali se fazia presente, enquanto eu entrava em meio a tudo para chegar até você.
Eu só queria que isso tivesse sido apenas um pesadelo.
Meus joelhos foram ao chão, minhas mãos ao seu rosto, e em meus olhos as lágrimas que mais formavam uma cachoeira. Eu chamava seu nome em baixo tom, na esperança de ouvir ao menos uma resposta, mas o sangue ao seu redor deixava claro que isso não iria acontecer.
Lembro-me quando disseram que precisavam levar você dali. Eles tiraram você de mim.
As lembranças seguintes são de um homem desesperado gritando ao mundo e perguntando o que diabos havia acontecido ali. Todos tentavam me acalmar, mas a única coisa que eu queria naquele momento era acabar com quem tinha feito isso com você, com quem tirou a única coisa que importava na minha vida.
Acredite, Sam, tudo o que eu mais queria era voltar no tempo e ter aproveitado mais a vida ao seu lado.
Ainda naquele maldito dia, vi seu celular jogado no asfalto enquanto levavam seu corpo para longe. E, após pegá-lo em mãos, meu mundo desabou novamente. Nossa conversa estava nítida na tela, e lá estava a mensagem que não havia sido enviada, com algumas letras embaralhadas:
"Eu te amo desde que tínhamos 18"
A vida já não fazia mais sentido. Em minha cabeça, os flashbacks de nossos momentos tomavam todos os lugares possíveis, depois da escuridão que embaçou minha visão.
E foi na cama de hospital onde eu escrevi a primeira carta. Lá eu lhe contava sobre a doença que começava a se desenvolver em mim, certo? Segundo os médicos foi por conta do grande susto. Eu nem sabia que isso era possível. Bom, graças a ela, estou cada vez mais perto de te reencontrar. E eu a agradeço, essa distância estava acabando comigo.
Oh, e não se preocupe. Seu colar está comigo, eu uso os dois. Logo poderei te devolver.
Com amor, Jayden.
Sam, peço que dessa vez, no nosso humilde aniversário de 4 anos, responda esta carta. Sei que já fazem três anos que mando a mesma coisa, mas quem sabe dessa vez dê certo. Vou cobra-la quando chegar aí.
Lembro-me bem da vez em que nos conhecemos, naquele parque infantil. Talvez o destino realmente tivesse sido generoso com nós dois aquele dia, já que nenhum de nós estava lá com alguma criança, como deveria ser. Você estava passeando com o seu cachorrinho Bob, e eu, sentado à sombra de uma enorme árvore lendo algum livro qualquer. Sim, eu lembro de como quase fui atacado por seu pet descontrolado. Mas eu o agradeço, se não fosse por ele você não precisaria me salvar, e esta carta nunca existiria. Pois bem, depois de muito se desculpar você resolveu se sentar ali junto a mim. Quando não tínhamos mais assuntos você falava de como a árvore era enorme, era sempre a mesma frase. Passamos a tarde toda lá, apenas nos conhecendo, e eu já podia sentir que poderíamos ter alguma história juntos.
Nós dois com apenas 18 anos, sem nada de útil para fazer, passamos a sair quase todas as tardes de nossas férias. Não nos cansávamos de ir àquela enorme árvore e pôr os assuntos em dia. Era bom.
Lembro também do primeiro apelido bobo que você inventou para mim, depois de eu lhe contar gostar de mixagem. DJay, era o apelido. Você sempre ria alto ao falar ele, era uma piada interna que somente nós poderíamos entender. Confesso que, apesar de não demonstrar, eu o achava ótimo.
Um ano se passou e nós realmente construímos uma história, e entramos nela mais afundo quando, naquela bela tarde ensolarada, debaixo da sombra da enorme árvore do parque, eu resolvi arriscar e lhe pedir em namoro. A resposta demorou a vir, meu estômago se revirou por completo. Passei muito tempo pensando em como fazer isso sem estragar nada do que tínhamos e, quando vi sua cara inexpressiva me encarando, pensei em todas as maneiras de voltar atrás. Mas logo tudo passou, quando sua boca se curvou em um belo sorriso e seus dentes vieram à mostra. Você me abraçou o mais forte que conseguia, e, nesse momento, eu sabia que meus braços haviam sido feitos para te abraçar. Nós nos encaixávamos perfeitamente, como peças de um quebra-cabeças.
Um mês de namoro e tudo o que eu lhe dei de presente foram duas belas margaridas, ao menos eram suas preferidas. Enquanto você, comprou correntinhas com pingentes de casal. Em uma delas havia um coração, e na outra um frasco com algo que, segundo a embalagem, demonstrava uma alma. O significado era claro, o amor vai além da morte. Este se tornou nosso bordão.
Um ano se foi voando. E nosso relacionamento apenas se aprofundava. Nunca havíamos brigado uma vez sequer. Se contássemos isso para alguém, o mesmo não acreditaria. Dizíamos que nascemos um para o outro. Que nossas vidas se encaixaram e, nesses encaixes, havia uma supercola que não nos permitia separar. Era bobo e clichê, mas nós gostávamos.
Era nosso aniversário de um ano, e eu sentia que deveria fazer algo especial. Agora, escrevendo isso, faria de tudo para voltar atrás e apenas ir até sua casa assistir à algum filme.
Comprei mais margaridas e, junto delas, um pequeno ursinho de pelúcia que você desejava após tê-lo visto na internet. Lhe mandei uma mensagem de texto dizendo que eu a esperava na grande árvore. Você respondeu em pouco minutos, como sempre. Disse que já estava saindo de casa e que chegaria em poucos minutos.
E foi nesse dia que comecei a questionar quantos seriam "poucos minutos". Meia hora havia se passado e nada de você chegar. Mandei outra mensagem. Dois minutos depois a mensagem foi visualizada. Meu coração se aliviou quando um "digitando" apareceu em baixo de seu nome, o que não durou muito tempo e logo se transformou em um "online". Eu sentia que algo não estava certo. Larguei o urso e as margaridas lá e segui em direção de sua casa, em passos rápidos, afinal, não era tão longe dali.
Meu coração pareceu parar quando, na esquina de sua casa, havia uma grande multidão. E não foi isso que me preocupou, e sim, os bombeiros e paramédicos que lá também se encontravam.
Chequei meu celular uma última vez, clamando alguma mensagem sua, ansiando que, o motivo de todo esse estardalhaço, não fosse você.
Mas eu sentia. Sentia que algo estava errado. Observei novamente a multidão de longe e, enquanto minha visão se embaçava, criei forças para caminhar até lá.
E, em um pequeno furo em meio àquelas pessoas, eu pude ver o motivo da minha felicidade, estirado ao chão.
Minhas mãos foram até meu peito em um ato automático de tentar cessar a dor que ali se fazia presente, enquanto eu entrava em meio a tudo para chegar até você.
Eu só queria que isso tivesse sido apenas um pesadelo.
Meus joelhos foram ao chão, minhas mãos ao seu rosto, e em meus olhos as lágrimas que mais formavam uma cachoeira. Eu chamava seu nome em baixo tom, na esperança de ouvir ao menos uma resposta, mas o sangue ao seu redor deixava claro que isso não iria acontecer.
Lembro-me quando disseram que precisavam levar você dali. Eles tiraram você de mim.
As lembranças seguintes são de um homem desesperado gritando ao mundo e perguntando o que diabos havia acontecido ali. Todos tentavam me acalmar, mas a única coisa que eu queria naquele momento era acabar com quem tinha feito isso com você, com quem tirou a única coisa que importava na minha vida.
Acredite, Sam, tudo o que eu mais queria era voltar no tempo e ter aproveitado mais a vida ao seu lado.
Ainda naquele maldito dia, vi seu celular jogado no asfalto enquanto levavam seu corpo para longe. E, após pegá-lo em mãos, meu mundo desabou novamente. Nossa conversa estava nítida na tela, e lá estava a mensagem que não havia sido enviada, com algumas letras embaralhadas:
"Eu te amo desde que tínhamos 18"
A vida já não fazia mais sentido. Em minha cabeça, os flashbacks de nossos momentos tomavam todos os lugares possíveis, depois da escuridão que embaçou minha visão.
E foi na cama de hospital onde eu escrevi a primeira carta. Lá eu lhe contava sobre a doença que começava a se desenvolver em mim, certo? Segundo os médicos foi por conta do grande susto. Eu nem sabia que isso era possível. Bom, graças a ela, estou cada vez mais perto de te reencontrar. E eu a agradeço, essa distância estava acabando comigo.
Oh, e não se preocupe. Seu colar está comigo, eu uso os dois. Logo poderei te devolver.
Com amor, Jayden.