Última atualização: Finalizada

Capítulo Único

I got no excuses (Eu não tenho desculpas)
For all of these goodbyes (Para todas essas despedidas)

Gossiping – A melhor revista de fofocas do país!

Estaria reatando seu relacionamento tanto com o ator , quanto com o álcool? O ex trio mais famoso de Hollywood foi visto nesta madrugada pelas ruas do Brasil!
PUBLICADO ÁS 3:22AM

@sayingit: Tchau, tchau, modelo de inspiração! Olá, velha . Nós não estamos tão surpresos com a volta da nossa bad girl bêbada! Click aqui para conferir nossas teorias sobre a noite de ontem!
5 HORAS ATRÁS VIA INSTAGRAM

@tdm: Confira o TOP 5 de momentos bêbados de ! Ainda estamos abismados com o terceiro!
Ás 8:00AM VIA TWITTER

Your Magzine – Fique por dentro de tudo o que rola na vida dos famosos!

Infelizmente, a queridinha internacional foi vista novamente em companhia do seu pior hater: o álcool. O que acontecerá com ? Os fãs se dividem entre decepcionados, irritados e preocupados!
POSTADO HÁ UMA HORA ATRÁS

Call me when it's over (Me ligue quando isso estiver acabado)
'Cause I'm dying inside (Porque eu estou morrendo por dentro)


Eu não conseguia parar de ler as maldades em forma de palavras, mesmo com a dor excruciante que fazia questão de visitar minha cabeça como uma velha amiga, daquelas que sempre estavam lá depois de uma noite de bebedeira. Ou uma tarde, um dia, uma semana.
Embora a dor física fosse... Bem, dolorosa para caralho, eu não podia deixar de sentir certa aceitação por dela. Não me incomodava tanto, simplesmente porque eu sabia que precisava de uma punição pelos meus pecados viciosos. E o diabo chamado Jack Daniels me ofereceu uma enxaqueca forte, e eu aceitei de braços abertos. Entretanto, sabia, por infeliz experiência, que os sintomas piorariam em questão de minutos.
Mas, de novo, eu merecia isso.
Então, continuei lá. Alimentando minha dor física sem me dar ao luxo de tomar qualquer comprimido milagroso, aproveitei para fazer a culpa nas minhas costas ficar um pouco mais pesada: prosseguindo minha leitura pelos mais diversos comentários maldosos. Reais.

Wake me when the shakes are gone (Me acorde quando os tremores sumirem)
And the cold sweats disappear (E o suor frio desaparecer)


@carolsemkkk: Sinceramente... De novo? Já tá um saco. Se enfia logo numa clínica de reabilitação. Cadê o álbum novo que não sai?
ÁS 10:01PM

@noturbitchbaby: Eu amava e o trabalho dela, mas isso já tá ficando ridículo.
ÁS 1:28PM

@ivysylvia: Gente, toda vez que a sai com esse , ela fica bêbada de novo. Cara lixo.
ÁS 7:00PM

3. #IsOverParty is Trending! 12.000 people are tweeting about it!

Meus fãs estavam desapontados, indo embora. Além da culpa que estava caindo sobre injustamente. Como eu pude ser tão egoísta?
Meu corpo entrou em pane como um sistema eletrônico. O suor frio que denunciava a vergonha, as mãos tremendo como se eu fosse portadora da doença Parkinson... Eu não conseguia controlar meus próprios músculos. O que era aquilo? Ataque de pânico? De ansiedade? Não! O resultado de ressaca e auto depreciação? Provavelmente.
As lembranças da noite passada eram claras como cristal recém lapidado. Mesmo agora, quando eu já estava na minha cama, supostamente protegida do mundo real.
Eu não conseguia conter aquilo. Mesmo que acreditasse fielmente que merecia ser punida, eu não podia lidar com aquilo naquele momento. A sensação de não ser suficiente, de ter ferrado tudo e até machucado e sua carreira... Ele me tirou daquele bar sujo e as revistas admitiam o oposto. Injusto. Fechei os olhos com força desnecessária, tentando cessar minha cabeça e os bips que meu celular anunciava.
Por algum milagre, eu dormi. Meu corpo desistiu de lutar para se manter em pé.

Call me when it's over (Me chame quando acabar)
And myself has reappeard (E eu mesma reaparecer)


Assim como eu mesma tinha desistido dois anos atrás, quando as bebidas ocasionais se transformaram no alcoolismo. E, desde então, eu vinha tentando me manter firme, sóbria.
Sóbria. Aquele sonho parecia tão distante quanto meu sonho de ser cantora aos 10 anos de idade.
Talvez, dormindo, eu o alcançasse.

I don't know, I don't know, I don't know, I don't know why (Eu não sei, eu não sei, eu não sei, eu não sei por quê)
I do it every, every, every time (Eu faço isso toda, toda, toda vez)


Acordei alguns minutos depois, como o relógio dizia. Os sintomas tinham sumido, assim como o barulho no meu celular. Tudo que eu escutava era ao som da minha própria respiração — tentando manter-me calma — e os pensamentos gritantes. Mas a doença persistia.
Havia decaído duas vezes ano passado, num intervalo de três meses de distância. Porém, todos estavam animados com o meu processo de cura. Eu estava indo bem. A sobriedade tinha se tornado uma rotina, até ontem.

It's only when I'm lonely (É só quando estou solitária)
Sometimes I just wanna cave (Às vezes eu só quero me esconder)
And I don't wanna fight (E eu não quero lutar)


Eu tinha desculpas. Desculpas verídicas nas minhas recaídas e para o meu começo. Ou eu me obrigava a pensar nisso.
Um prêmio perdido, um dia duro no trabalho, comentários racistas em massa como um tipo de ataque organizado nas minhas redes sociais, uma briga com minha mãe, um momento difícil no meu relacionamento, alguém do AA me reconhecendo ou o sentimento da solidão que a fama deixa tão evidente — motivo esse que tinha causado o momento de ontem. Tudo isso era resolvido com um coquetel, que virava um chop, que me guiava para um whisky.
Minha reputação era gradativamente um pouco mais destruída. E agora era quase uma Taylor Swift menos famosa. Além disso, diferente dela, eu não tinha ideia de como transformar minha desgraça em arte e faturar milhões, inspirar os jovens e me curar no processo. Talvez porque não dá para transformar isso em arte, o sangue só é vermelho. E o alcoolismo é só uma doença que te faz nadar no próprio vômito. Não é possível fazer isso parecer menos doloroso.
Eu tinha me perdido, afogado nas bebidas que eu pensei terem salvo minha mente conturbada há tempos atrás.

I try and I try and I try and I try and I try (Eu tento e tento e tento e tento e tento)
Just hold me, I’m lonely (Apenas me abrace, estou sozinha)


Coloquei meus braços ao meu redor; aqueles finos sacos de ossos pareciam mais quentes que o normal. Todavia, não era o tipo de calor que me confortava; ele queimava, destruía, reduzia ao pó. Pior, era uma confirmação. Confirmação de que eu estava solitária de novo. Não importava o quanto eu tentasse, eu sempre acabaria assim.
As lágrimas também queimaram. Tal como as lembranças invasivas.

Momma, I'm so sorry I'm not sober anymore (Mamãe, me desculpe por eu não estar mais sóbria)
And daddy, please forgive me for the drinks spilled on the floor (E papai, por favor, me perdoe pelas bebidas derramadas no chão)


A porta do meu antigo quarto foi fechando-se a medida que a silhueta de sumia. A melodia daquele momento podia ser englobada no conceito de silêncio, mas eu sabia que aquela música estava prestes a acabar.
Não, eu não estava completamente sóbria. Mas recuperava a consciência aos poucos. E, bem, a situação que era costumeira não foi tão difícil de identificar.
A escuridão do quarto agradou meus olhos enquanto os murmurinhos se iniciaram, provavelmente conversando com meus pais. Suspirei, virando-me de lado. Não devia ter bebido, sabia disso. Podia usar a desculpa de ter pensado que aquela garrafa de cerveja barata estava suposta a ser só um copo. Mas eu sabia, lá no fundo, que não ia ser um copo exclusivo.
Porque um sempre se ligava a outro, e outro, e outro. Por mais que eu jurasse que era um exclusivo, claramente, nunca era. Eis que surge : cantora, compositora e alcoólatra.
Os ruídos acabaram e, no silêncio da madrugada, meus ouvidos foram capazes de captar o barulho de uma porta se fechando. Minha aposta? Porta da frente e .
Tentei dormir, tentei esquecer que havia decepcionado meus pais e meu ex-namorado. Tentei fazer qualquer coisa além de me levantar e tomar uma.
Como era de se esperar, fiz o que lutei tanto contra.
Meus pés tocaram o chão gélido. Os passos, normalmente tão duros e confiantes, agora leves como uma pluma — apostava que as bailarinas até sentiriam inveja. Cheguei à cozinha e agarrei uma garrafa de Vodka, encostando minhas nádegas contra a bancada enquanto bebericava a perdição ardente.
Descia queimando na garganta, fazia minha cabeça girar e as engrenagens dos meus pensamentos barulhentos emperrarem temporariamente. Se eu sabia que aquilo iria me ferrar no final? Realmente precisava responder aquilo? Se chamava vício por um motivo.
Perdida naquele gosto ruim; meus lábios curvados em um sorriso melancólico. Era tão irônico... Eu estava afogando os meus demônios e o preço a ser pago era eu mesma. Desejei parar naquele instante, mas não parei.
Não consegui.
A garrafa estava na metade quando meus lábios a libertaram: encarei o nome azul fincado no vidro transparente. Vodka. Filha da puta.
Ao invés de jogar o veneno no chão, ofereci um beijo mórbido para boca da garrafa, a qual aceitou-me com dureza, acidez. Mordi aquele vidro enquanto bebia, sentindo a raiva que nem mesmo o álcool estava conseguindo curar. Eu estava mais consciente que nunca e isso me irritava, me frustrava, me entristecia.
Eu tinha perdido o rumo. Meu alcoolismo estava fazendo eu perder tudo que amava, incluindo a mim mesma.
Puta merda, eu era uma alcoólatra.
Parei de beber, contudo, o líquido que se assemelhava tanto a água continuou descendo pela garrafa inclinada. Meus dentes mordiam o vidro, a bebida forçando-se dentro da minha boca. Deus, se eu continuasse pressionando meus caninos com tamanha força, ia acabar quebrando a garrafa.
Nunca tinha admitido isso, nem mesmo nas seções de terapia do AA. Nunca tinha dito isso para mim mesma, nunca tinha afirmado o que as manchetes especulavam.
Tantos “nuncas” que, no final, só significam que eu nunca admiti que tinha um problema sério.
O problema que destrói gerações há anos, que assola todos que procuram por uma saída em um copo, que tornava as pessoas violentas e tomava tudo de todos que não tivessem controle sobre a quantidade de goles.
Porra.
Engasguei, começando a tossir logo em seguida. A vodka voou da minha mão para o chão, em um golpe de desespero. Quase como se eu estivesse lutando com aquela garrafa — de certa forma, eu estava. Sabia disso.
Assim que olhei para o balcão, uma garrafa de Gim podia ser vista com facilidade extrema. A peguei em um ataque de fúria, o qual nunca havia experimentado. Joguei aquilo no chão também. Sentia tantas coisas mistas por aquela droga legalizada que matava aos poucos. Minha respiração ficou entrecortada, visão turva pelas lágrimas. Que jeito clichê de dizer que eu estava explodindo.
Caí no chão de joelhos. Não soube dizer se estava derrotada ou procurando por mais forças para lutar. Minha cabeça girou, os pensamentos gritaram. Meus dentes e ombros doíam tanto, meu coração batia acelerado e minha garganta estava seca, prendendo um choro que implorava para sair.
Minhas mãos deitaram-se no chão, acariciando a bebida jogada lá, em meio aos vidros da garrafa de cinquenta reais. Agarrei um pedaço aleatório da massa cortante e apertei, grunhindo em pura dor física logo após o ato impensado.
A dor de dentro não saia. Eu recordava cada dose tomada, cada olhar desapontado, cada fã perdido, cada show com um drink enfiado numa garrafa falsa de água. As palavras emboladas, as composições rabiscadas. Meus familiares, meus amigos, meu ... Minha eu. Porra. Merda. Puta que pariu. Deitei no chão, minha mão ensanguentada quando fiz uma das coisas mais nojentas possíveis: colocando minha língua para fora, bebi a água envenenada misturada.
Meu anestésico. Eu precisava anular a dor. Calar os pensamentos. Esquecer.
A luz foi acessa tarde demais, nem me dei ao trabalho de me mexer. Apenas parei de tomar meu remédio e esperei até que meus pais fossem inseridos no meu campo de visão. Rapidamente, pude vê-los.
A intensidade dos seus olhos estraçalhou meu coração mais do que eu mesma já tinha feito. Uma fera estava se deliciando com as minhas tripas, brincando de me fazer sentir dor. Ao menos, foi assim que me senti quando eles, meus progenitores, me encararam. Era tão claro: a tristeza, a decepção, a pena, a preocupação. O amor.
Esse último foi o que mais me magoou. Meu coração ficou pesado ao pensar em como me machucar feria todos que eram infortunados o bastante para se importarem comigo.
— Minha filha... — Mamãe murmurou chorosa; sua mão estendida na minha direção, quase como se eu fosse inalcançável. Acho que ela estava tentando tocar sua garotinha, não essa parte dela. A parte nojenta cheia de bagagem que lambeu o chão porque não suportava os próprios erros. Pai continuava em silêncio, até uma singela lágrima rolar pela sua bochecha.
Eu nunca havia visto meu pai chorar.
Aquilo me quebrou.
Toda dor emocional se intensificou tanto que se tornou física. Eu conhecia a ciência, sabia que meu coração estava doendo como se uma tesoura estivesse cortando-o por conta dos hormônios. Mas isso também se aplicava a todos os ossos do meu corpo? Todas aquelas 206 coisinhas que, supostamente, me mantinham de pé pareciam estar apodrecendo, até o pequeno estribo.
Tudo doía tanto. Mais do que a minha mão que prosseguia jorrando sangue, anunciando algo errado com meu corpo.
Ah, se fosse só aquilo.
— Mamãe, desculpe por eu não estar mais sóbria. — Minha língua bateu fortemente no céu da boca ao pronunciar a última palavra de forma tremulante. Eu não estava pensando, parecia que somente minha boca funcionava. Provavelmente a necessidade de me desculpar pela bagunça que estava fazendo na vida de duas pessoas que se dedicaram a mim por dezoito anos. — E, papai, por favor, me perdoe pelas bebidas derramadas no chão. — Ele falou algo, mas o zunido nos meus ouvidos não me permitiram ouvir.
Visão embaçada, mão ensanguentada, língua dolorida pelo sabor azedo. Um líquido diferente, ainda assim igualmente repugnante, iniciou sua descida da vergonha pela minha coxa esquerda, o fluxo de lágrimas incrementou. Eu estava completamente humilhada.
E, então, apaguei.

To the ones who never left me (Para aqueles que nunca me deixaram)
We've been down this road before (Nós já passamos por isso antes)


Uma careta surgiu espontaneamente no meu rosto quando pus os olhos naquele prédio. A faixa branca com os dizeres ‘’Reunião do AA hoje ás 17:00!’’ mostrando o motivo pelo qual eu estava lá.
— Qual é, gente. Eu não sou uma alcoólatra anônima. Eu só extrapolo na bebida, às vezes. — Retruquei novamente com meus dois melhores amigos, recebendo a famosa revirada de olho de . — Fico levemente embriagada, alegrinha.
, nem começa. Vai logo lá. Só algumas sessões e você vai estar novinha em folha! — Ela bateu palminhas.
— Não é exatamente assim, . — repreendeu a ilusão cor de rosa da mais nova do nosso trio. — Mas isso vai te fazer bem, . Você precisa se curar, não tem problema algum em admitir isso e procurar por ajuda.
— Eu não sou doente, . — Cruzei os braços. Odiava ser tratada como criança, e todo aquele teatro só porque eu tropecei em um show era desnecessário. Eu não estava bêbada quando aquilo ocorreu, só alegrinha. Isso era um drama desnecessário, sem contar que um paparazzi intrometido podia aparecer a qualquer momento.
— Você precisa entrar em reconciliação consigo mesma, . — disse, assumindo suas falas hippies diárias. assentia em concordância. — Só tenta, e não vamos mais encher seu saco, okay? Queremos nossa artista bem!
Bufei. Tinha pleno conhecimento de que aquele clubinho não ia me ajudar em nada, pelo simples fato de que eu não precisava de ajuda. Todavia, conhecia bem meus amigos de anos, eles não parariam de insistir. Por isso, sorri para os meus dois companheiros fiéis.
— Tá bom, tá bom. Mas vocês vão me pagar um McDonald’s depois dessa tortura desnecessária!

I'm so sorry (Eu sinto muito)
I'm not sober anymore (Eu não estou mais sóbria)


Sentada naquele boteco de quinta categoria, onde nenhum paparazzi se atreveria a me perseguir, encarei o coquetel na minha frente. Aquilo nem podia ser considerado álcool, certo? Afinal, não era nada mais do que uma batida de frutas com dois pingos de álcool para vender.
Estava deitada no meu próprio braço naquele balcão, encarando o copo chamativo e bonito. Eu não ia ficar bêbada com isso, né? Só um pouquinho embriagada. Que mal teria?
De qualquer maneira, tomei um gole. E mesmo sentindo a ficha do AA que representava 20 dias sóbria pesar como uma bigorna de desenho animado, daquelas que a gente sabe que devem pesar mais de uma tonelada, eu continuei.
Tudo parecia calmo.

I'm sorry to my future love (Desculpe, meu futuro amor)
For the man that left my bed (Pelo homem que saiu da minha cama)
For making love the way I saved for you inside my head (Por fazer amor do jeito que eu havia guardado para você na minha cabeça)


Eu amava . Bêbada ou não, minha alma o amava. Desde que eu o conheci no evento de caridade, três anos atrás, no início da minha carreira.
Nós jogávamos esse jogo há muito tempo: completamente apaixonados um pelo outro, ainda assim, separados. Onde quer que estejamos, embora, sempre pensávamos um no outro — e dávamos um jeito de acabar embolados nos braços da pessoa mais importante para a gente no mínimo uma vez por semana.
Não existia um rótulo para aquela relação. Porém, eu sabia que ele se magoaria profundamente se eu me entregasse a outro, tal como eu ficaria se a situação fosse inversa.
Minha mente bêbada, entretanto, não agia de acordo com meus sentimentos.
Sabia que era estúpido justificar o homem que tinha saído da minha cama com bebida, não tinha justificativa, simples assim. Mas a bebida me fazia esquecer todos os problemas, calá-los. Um efeito colateral: ocorria o mesmo com as coisas boas.
Que merda.
Eu não devia ter tomado a quarta garrafa.
E ainda achavam que ele tinha me feito começar a beber. Que irônico.

Seus dedos brincaram com a minha pele, rastejando lentamente por toda a extensão, como se fosse um carinho sexy e sereno. Minha respiração estava afetada, tanto pelos seus beijos quanto pelos toques que pareciam íntimos demais para pertencerem a ele. Ainda assim, era bom.
Mas agora isso não importava mais.
Ignorei a melodia triste que tocava na minha cabeça, cantarolando o nome do único que eu amava, decidida a silenciar todos os meus problemas. Olhei para o lado; a garrafa de vinho me esperava pacientemente.
Será que Jack gostaria de uma brincadeirinha sexual com lambidas, chupadas e vinho tinto?


Enquanto o homem atraente abandonava minha cama com um sorrisinho sacana e suas palavras expressavam o desejo de me ver novamente, me restringi a acenar.
, oh, .

And I'm sorry for the fans I lost (Sinto muito pelos fãs que perdi)
Who watched me fall again (Que me assistiram cair de novo)


@annie: Ela se enrolou toda nas músicas de ontem, e ainda desmaiou no chão igual rato bêbado. Gastei 200 reais por NADA. Não tem respeito nenhum pelas fãs. #IsOverParty
ÁS 6:00PM

@julia: Eu amo minha nenenzinha, mas puta merda, não faz nada direito affff SÓ FICA LONGE DAS GARRAFAS, NÃO É TÃO DIFICIL!!!! E VOLTA PRO QUE ELE É MUITO GATO.
ÁS 8:00PM

@carlos: Perdeu mais um fã @itsbitches. Parabéns, pode beber em paz agora.
PUBLICADO VIA INSTAGRAM

@eueue: Amo minha bixinha, mas não aguento mais sofrer com isso. Espero que ela fique bem, mas não vou mais ser fã dela.
HÁ 2 HORAS ATRÁS.

@karenekao: Nem era fã dela, mas essa macaca só faz merda mesmo. Volta pra selva que lá não tem bebida, já que é tãooooo difícil se controlar, vadia!
ÁS 11:11PM

I wanna be a role model (Eu quero ser um exemplo)
But I'm only human (Mas sou apenas humana)


@HeyFamous: A menina exemplo da nação cai no vício de novo! Por que é tão difícil curar um viciado?
PUBLICADO HÁ 10 MINUTOS ATRÁS

@SSSHOW: Fãs de se revoltam na internet com a atitude da cantora! Poxa, . Vacilou feio!
DOIS SEGUNDOS ATRÁS

@WeLoveIt: Grupo de pais quer que as músicas de parem de tocar nas rádios por ela ser um mal exemplo, OMG!
ÁS 10:15PM

Real News – Sempre trazendo a verdade!

‘’Uma vergonha para todos as fãs, crianças e pais do mundo. somente é paga para cantar e, pela falta de profissionalismo e vergonha na cara, nem isso anda fazendo direito. Só quer saber de beber. Minha filha não escuta mais ela!’’ Relata mãe de fã mirim de .
PUBLICADO HÁ UMA HORA ATRÁS

@caprichou: Fãs choram e lamentam situação da cantora ! Seria esse o fim da carreira dela?
ÁS 2:00PM

@oksayit: A mulher que clamou querer ser um exemplo para todos, especialmente a comunidade de jovens negras, caiu novamente. Devemos mesmo segui-la? Líderes não passam tanto tempo no chão.
ÁS 11:59AM

@weareblack: Uma das figuras púbicas mais ativas do movimento @BlackLivesMatter, , teve outra recaída.
ÁS 5:00PM

I don't know, I don't know, I don't know, I don't know why (Eu não sei, eu não sei, eu não sei, eu não sei por quê)
I do it every, every, every time (Eu faço isso toda, toda, toda vez)
It's only when I'm lonely (É só quando estou solitária)


— VOCÊ ESTÁ MALUCA, ? OUTRA RECAÍDA? — Minha agente, Adeline, gritou do outro lado da linha. Suspirei. Minha cabeça já estava doendo sem os gritos agudos dela e piorou ainda mais com o sermão conhecido. — VOCÊ QUER ACABAR COM A SUA CARREIRA? COM O MEU EMPREGO? OU SÓ QUER FODER O PSICOLÓGICO DOS SEUS PAIS E DOIS SEUS AMIGOS, EIN? E O ? É MELHOR VOCÊ SE ENTUPIR DE ANALGÉSICOS PARA CURAR A PESTE DA RESSACA QUE EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ TENDO AGORA, PORQUE VAI DAR UMA EXCLUSIVA PARA O TMZ E VAI NEGAR QUE BEBEU ONTEM, ESTÁ ME OUVINDO? VAI LOGO, TOMA UM BANHO E TIRA ESSE CHEIRO DE BAR QUE EU SEI QUE ESTÁ ENCARDIDO EM VOCÊ. QUASE DÁ PARA SENTIR PELO TELEFONE. EU VOU CONCERTAR SUAS MERDAS. DE NOVO. QUE REPUTAÇÃO DA PORRA, POR QUE NÃO REPETE O SUCESSO DE PRIMEIRO SINGLE COMO REPETE ESSAS BEBIDAS DESNECESSÁRIAS? E NEM ME VENHA SE COLOCAR NO PAPEL DE COITADINHA, VOCÊ TINHA UMA ESCOLHA. SE PREPARE PARA AS ENTREVISTAS.

Sometimes I just wanna cave (Às vezes eu só quero me esconder)
And I don't wanna fight (E eu não quero lutar)
I try and I try and I try and I try and I try (Eu tento e tento e tento e tento e tento)
Just hold me, I’m lonely (Apenas me abrace, estou sozinha)


— Por que fez isso de novo? — suspirou. Olhei para ele, mas seus olhos esverdeados não me deram a dignidade do seu olhar. Ele não parecia desapontando, entretanto. Simplesmente entristecido e genuinamente curioso.
— Às vezes, eu não quero lutar. — Encarei a imensidão vazia daquela noite, sem estrelas ou lua aparente. — Eu canso. Só quero me esconder, mas não tem como se esconder da sua própria cabeça, sabe? Eu tento, tento tanto... — Minha voz ficou embargada e um soluço saiu do meu corpo. — Eu juro que eu tento, .
— Ei, pequena. Eu sei. — Sua voz afável, compreensiva, preencheu meus ouvidos, possibilitando uma paz imensurável. O que me fez sentir confortável o suficiente para chorar como um bebê. Pela primeira vez em um bom tempo, eu não me sentia sozinha. — Eu sei que você tenta, está bom? Mas não precisa fazer isso sozinha. — Ele me abraçou e permaneceu lá, esperando que eu acalmasse meu coração bagunçado. Me sentia tão segura dentro dos seus braços, como se estivesse tudo bem desabafar sobre tudo. Eu não sentia necessidade de beber para entalar nada. Eu podia falar tudo para . E, de repente, a situação não parecia tão ruim. Todavia, não naquele exato momento.
O beijo casto que ele deu no meu pescoço confirmou que ele estava lá.
E ali, nos braços do homem que eu tanto amava, palavras não eram necessárias, só superestimadas. Seu toque era tudo que eu precisava.

Momma, I'm so sorry I'm not sober anymore (Mamãe, me desculpe por eu não estar mais sóbria)
And daddy, please forgive me for the drinks spilled on the floor (E papai, por favor, me perdoe pelas bebidas derramadas no chão)


De olhos fechados e mão trêmulas, tentava ao máximo manter o tom à medida em que as notas da música prosseguiam. Aquela era minha desculpa para todos que eu tinha machucado. Dos meus pais até meus amigos, namorado, fãs e, é claro, a pessoa com quem eu vinha sendo mais cruel: eu mesma.

To the ones who never left me (Para aqueles que nunca me deixaram)
We've been down this road before (Nós já passamos por isso antes)


— Cadê a ? — Sussurrei, fungando levemente. Passei a manga do casaco de lã postiça pela minha bochecha, secando uma lágrima singela. Sabia a resposta. não era a primeira a ir embora porque não conseguia segurar essa barra comigo. — Tudo bem, não era responsabilidade dela. As coisas que eu fiz... Foram tensas demais.
, ela vai voltar quando estiver pronta. Sabe que é muito sensível. — segurou minha mão suavemente. — Eu estou aqui para você, não vou abandonar a minha... Terceira cantora favorita. — Ele tentou melhorar o clima pesado que se estabeleceu rapidamente, obtendo sucesso.
— Só a terceira? Poxa. Duas famosas para assassinar. — Brinquei e ele riu. O fato de ter ido ainda martelava a minha cabeça, como um mantra que não parava de se repetir. Contudo, estava ali. Isso era bom. Muito bom. — Obrigada, . Por tudo.
— Não tem que me agradecer, . Nunca. Na verdade, um bom jeito de me agradecer é ir para reabilitação. — Ele soltou minha mão para ligar o carro e eu fiz um biquinho extremamente infantil. — Nem comece, mocinha. Te pago um McDonald’s depois.
— ESPERA! EU ESTOU AQUI! PARE O CARRO! — Uma gritante apareceu na frente do capô. Sorri involuntariamente. Ela estava lá! Meu coração acelerou numa alegria maior que meu próprio corpo. Minha melhor amiga não tinha me abandonado, ela acreditava que eu podia melhorar! Céus, o que fiz para merecer isso? Podia até ser uma comédia se não fosse trágico, como Romeu e Julieta. — EU ACREDITO NA SUA CURA, ! VAMOS PASSAR POR ESSA JUNTOS!

I'm so sorry (Eu sinto muito)
I'm not sober anymore (Eu não estou mais sóbria)
I'm not sober anymore (Eu não estou mais sóbria)


— Me desculpa por não estar mais sóbria. — Olhei para baixo, fitando minhas mãos. Os dedos longos com unhas pintadas de vermelho brincavam nervosamente com a ficha de sobriedade do AA. 25 dias, impressionante.
E destruído, mais uma vez.
Era tão repetitivo.
— Eu só quero te ajudar, . Mas não sei como. — me olhou, engolindo em seco. Mal ele sabia que eu também não tinha noção de como ajudar a mim mesma, embora realmente quisesse isso. — Eu te amo tanto, pequena. E ver você se destruindo assim me dá uma agonia enorme. Se eu pudesse pegar a sua dor para mim, você sabe que faria isso. Porém, eu não posso. Como eu te ajudo, ? — Suas orbes ficaram mais evidentes com as lágrimas que ele segurava. Ele, provavelmente, não queria que eu o visse chorar e me sentisse culpada. Infelizmente, estava me sentindo assim desde que coloquei os olhos nele. — Me diz, . Eu te ajudo. Eu faço qualquer coisa. Por favor, só me diz o que fazer.
Ele não conseguiu se segurar mais, chorando copiosamente. Eu o abracei, acompanhando-o na dispersão de lágrimas. Meu coração doía pela dor de nós dois. Toda vez que eu o via, sentia vontade de mudar para quem eu costumava ser. Aquela garota, sim, o merecia.
Eu queria tanto me deixar ser ajudada.

I'm sorry that I'm here again (Me desculpe por estar aqui de novo)
I promise I'll get help (Eu prometo que vou procurar ajuda)
It wasn't my intention (Não foi minha intenção)
I'm sorry to myself (Peço desculpas a mim mesma)


— Me desculpe por estar aqui de novo, mas eu preciso dizer isso. Alcoolismo é uma doença. Não é bonito e fácil de curar, como alguns programas de TV mostram. Não é normal como tantos filmes vendem, um vinho não é liberado porque aparenta ter menos teor alcoólico do que uma cerveja, ele continua sendo álcool. Simples assim. Embora algumas pessoas consigam beber ocasionalmente e se manterem na linha, é óbvio que não é assim conosco, alcoólatras, tanto os assumidos quanto os em negação. Alcoolismo te mata a cada gole, corta os seus laços afetivos uma a um, até cortar sua relação consigo mesma. Eu me perdi de novo e eu estou cansada disso. Muitas vezes, neguei minha própria doença, clamando o álcool como um remédio e não como o veneno. Mas, adivinhem só? Nunca é só um gole ou a última rodada. É a abertura para uma noite, que se transforma em duas e boom! Você está nadando no seu próprio vômito ou lambendo o resto da bebida no chão. Ah, as vezes você vai vomitar no banheiro e acordar com falta de ar. Por quê? Porque suas narinas estavam cheias de água da privada por conta da sua cabeça submergida ali depois de um desmaio pela quantidade de bebida. Acordar em lugares que você nem conhece, ter medo do que você fez na noite passada, ressacas pesadas, fadiga, cair no palco, enrolar as palavras cantadas, vomitar na plateia e ataques de pânico. E o pior de tudo? No dia seguinte, os problemas ainda estão lá. Não importa o quanto você beba. — Respirei fundo, segurando a coragem para continuar meu discurso. Surpreendentemente, lágrimas não saíram dos meus olhos. Eu estava esperançosa, aliviada. Sabia como me ajudar: deixando-me ser ajudada por todos que tentavam tanto isso desde o primeiro dia e, principalmente, ajudando a mim mesma ao me manter firme para curar esse vício maldito. Eu estava pronta para ser eu mesma. — Eu sou doente. Eu sou uma alcoólatra. Finalmente admito isso, para mim mesma e para vocês. Eu prometo que vou procurar ajuda. Por favor, se você estiver passando por isso ou conhecer alguém que está, ligue para o 192 e procure os Alcoólicos Anônimos da sua cidade. Lute por si mesmo ou por eles. Eu... Não foi minha intenção ter uma recaída de novo, eu estou totalmente disposta a mudar dessa vez. Peço desculpas a tanta gente. A mim mesma, aos meus fãs, aos meus pais, ao e aos meus amigos. Mas não é para eles que eu devo a minha maior desculpa, a quem eu mais feri. Peço desculpas a mim mesma. — Finalizei a entrevista coletiva, orgulhosa pela minha voz não ter falhado em nenhum microssegundo. Os flashs das câmeras me atingiram, as conversas misturadas com perguntas dos repórteres altas para caramba. Eu já podia ver as manchetes.
Destroçada, devastada, destemida.
estava voltando a ativa.
E ninguém me deteria daquela vez.




Fim



Nota da autora: Gente, quando eu ouvi a música Sober da Demi Lovato uns dias atrás, já pensei em escrever a one! Fiquei a tarde todinha escrevendo e só vim acabar agora, ás 22:29. S o c o r r o. Espero que vocês tenham gostado <3 E, claro, entendido a mensagem da fanfic. Mais duas coisas:
192 — número da emergência.
Clique aqui para checar os centros de AA, conversar anonimamente com alguém sobre isso, etc. É o site oficial dos Alcoólicos Anônimos do Brasil.
Aceite a ajuda. Ajude o próximo. Cure.
Ficou bem estilinho (500) Dias Com Ela, né? Com Flashbacks fora de ordem e tals. E eu não consegui não fazer referência as frases I can’t make it look poetic e The blood was never once poetic, it was just red.
XOXO, V.
ESSAS ERAM MINHAS NOTAS QUANDO EU ESCREVI A FIC NO DOMINGO (22/07) E AGORA, DEPOIS DA RECAÍDA DA DEMI, EU NEM SEI O QUE DIZER.

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Inimigos com Benefícios

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