Enquanto as luzes se acendem ao meu redor e a noite vem, eu continuo a escrever sobre ele. As luzes se apagam e acendem de novo, e piscam e brilham na minha direção, tentando chamar minha atenção para si, mas não há mais atenção em mim, porque toda e qualquer atenção que eu tivesse está voltada pra ele.
Ele que disse estar procurando por um sorriso fugitivo que só encontrou em mim. Ele, que parecia tão sincero quanto alguém poderia ser, mas que agora me parece a pessoa mais mentirosa e indigna e horrível em todo o mundo. E todas as noites eu continuo a voltar até o baú do fundo da minha memória e resgatar aqueles bilhetes com textos e poemas dirigidos à mim e feitos por um garoto sem coração.
Mas como é possível, meu Deus, que uma pessoa que não ama escreva tão bem sobre amor? Como é possível usar as palavras para dizer a alguém como é estar apaixonado, se não se sabe como é?
Levanto do banco de uma praça abandonada e caminho até minha casa, sempre com as mesmas perguntas, com os mesmos questionamentos e o mesmo peso no peito.
“Eu estive procurando por você a minha vida inteira, entende?”
Como podia mentir tão bem? Como coisas tão bonitas podiam aflorar de uma alma tão feia e escura?
Chego em casa depois de muito me arrastar e abro a porta. Vou largando minhas roupas pela casa até que, finalmente, chego ao banheiro e ligo o chuveiro, sentindo a água quente demais escorrer por meu corpo. Olho para cima, sentindo as gotas baterem fortes em meu rosto, mas eu não ligo mais.
Então, como de costume, as palavras começam a aflorar na minha mente. Não porque eu tivesse facilidade em criar, mas porque tinha facilidade em lembrar o que ele criou.
Só fique entre mim e todo meu amor,
e me deixe ouvir o som da sua voz e sentir a sua mão pequena
no meio da minha grande demais.
E olhar nos teus olhos e correr deles feito louco,
pra depois perceber que tudo o que eu quero é correr e correr
por eles, atrás deles,
vivendo deles.
Porque eu não consigo me satisfazer com mais nenhum traço, meu amor,
nenhum olhar me agrada mais
depois que descobri o poder do teu.
Palavras bonitas demais pra uma pessoa sem beleza nenhuma; e eu me perguntava o tempo todo qual o motivo de tudo aquilo. O que eu havia feito de errado? Meus traços, que ele dizia serem os que ficavam na mente dele o tempo todo, não foram suficientes? O “poder” do meu olhar acabara?
Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha, tentando ignorar o silêncio daquela casa tão vazia.
E então eu começo a relembrar, da forma como sempre faço, as últimas palavras escritas por ele. As últimas palavras inacabadas que, talvez, nem tivessem sido feitas para mim.
Estou sempre em busca desse teu sorriso lindo,
que corre de mim o tempo todo,
como se não quisesse fazer par com o meu.
Deixe-me buscar este teu sorriso fugitivo, que sorriu pra mim todo vistoso.
E o último poema acabava exatamente assim. Sem sentido, sem rimas, sem significado algum.
Mas, ao contrário das outras noites, nesta eu estaria preparada pra completar aquelas frases que se perderiam em minha memória algum dia. Mesmo que escrever não fosse meu forte. Mesmo que minha imaginação fosse tão infinita quanto tudo o que não é infinito. Mesmo que os versos dele nunca ficassem realmente completos se não fosse ele quem os escrevesse, eu terminaria aquele texto por ele. Terminaria sim, porque era ele quem tinha um sorriso fugitivo, desaparecido em meio a tantos sorrisos, fugindo de mim.
Deixe-me buscar este teu sorriso fugitivo, que sorriu pra mim todo vistoso
e, então, desapareceu.
Fim
Nota da autora: (17/10/2015)
Essa fic é bem curtinha meeeesmo, porque é resultado de mais um dos meus devaneios, que feliz ou infelizmente, aconteceu em uma dessas horas onde eu tenho um papel e uma caneta por perto.
Sei que pode não fazer muito sentido, mas eu gosto tanto que não consegui não mandar! Haha
Pra quem leu: obrigada por ter chegado até aqui :)
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.
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