Reescrita em 19/12/2020

Capítulo Único

O sol estava quente, a brisa estava leve, e as ondas batendo nos nossos pés era o que aliviava o calor. tinha os braços no meu pescoço, e não parecia se importar com o fato da minha pele suada estar grudando na dele. Na verdade, depois das últimas semanas, tudo o que queríamos eram momentos de paz de tranquilidade, nos quais podíamos nos abraçar sem nos preocupar com o mundo ao redor. E, bem, era o que estava acontecendo no momento.
A praia estava praticamente vazia — essa era a vantagem de alugar casas em praias particulares. O acesso era restrito, e as poucas pessoas que ali se encontravam não se preocupavam em procurar idols para pedir um autógrafo ou tirar uma foto. Mais do que isso, nós não precisávamos nos preocupar em esconder nosso relacionamento, não ali.
— Está gostando? — perguntou baixinho, encostando os lábios no meu rosto e deixando um beijo ali.
Suspirei com a sensação, me deleitando em seus braços, já que agora ambos se encontravam em volta de mim, se cruzando na frente, enquanto tinha o corpo colado ao meu.
, isso é maravilhoso. — respondi. — Obrigada.
A ideia de irmos a um lugar praticamente deserto tinha sido dele. A escolha da praia também. Nosso relacionamento nunca tinha sido exatamente fácil - se esconder, evitar frequentar lugares, e tomar cuidado com simples gestos como segurar as mãos, não era algo com que estava familiarizada. era uma pessoa pública, e tinha uma imagem a zelar, e tudo que o atingisse poderia atingir o também. Eu sabia disso, sempre soube. E quando aceitei começar esse relacionamento, sabia que as coisas entre nós não seriam como em um namoro convencional.
Mas as últimas semanas foram difíceis, muito difíceis. estava estranho quando conversávamos pelo telefone, e evitava me encontrar pessoalmente. A culpa não era minha, eu sabia disso. E depois de uma conversa franca sobre como me sentia, decidimos tirar um final de semana apenas nosso.
O desconforto que parecia existir quando estávamos juntos tinha desaparecido. já não precisava mais segurar a vontade de me tocar, de me beijar e de me abraçar. Não tínhamos mais que controlar as risadas, nem esconder nosso relacionamento, pelo menos não ali onde estávamos.
Mas então toda a estranheza voltou, de uma hora para outra, logo após uma ligação. Em um momento trocávamos beijos a cada minuto, e no instante seguinte já não me olhava nos olhos. Em um segundo estávamos arrumando almofadas no chão para assistirmos a um filme, e um segundo depois ele estava cansado demais, querendo ir dormir.
Esse desconforto, essa incerteza... Eu não gostava de me sentir. Sempre fui muito clara com , sempre deixando minhas cartas em cima da mesa, e não gostava de me sentir no escuro.
— Tudo bem, isso não pode continuar. — disse seguindo-o para o quarto. — O que está acontecendo? — perguntei firme. Independente do problema, ele seria resolvido hoje.
...
— Porque você definitivamente não está normal. E eu estou cansada dessas mudanças de humor de uma hora para outra. Então me diga, , o que está acontecendo?
ainda não me olhava nos olhos, estes estavam fixos no chão. Suas mãos ainda seguravam o celular, e ele respirava com a boca aberta.
— Olhe para mim. — pedi.
ergueu os olhos, olhos que estavam cheios de incertezas, dúvidas. Como se não soubesse como prosseguir, como falar o que o seu coração guardava.
Ele então suspirou, colocou uma das mãos na cintura e olhou para os lados, ainda procurando por uma forma de falar. Não recuei, apenas me mantive firme, procurando sustentar seu olhar que ele insistia em desviar.
— A SM Entertainment irá soltar uma nota na próxima semana confirmando o meu namoro com Sana.
Por um momento não entendi o que ele queria dizer com aquilo. De fato, existiam rumores — que eu não fazia ideia de onde tinham surgido — de que , do grupo , e Sana, do grupo feminino Twice, estavam namorando escondido. Mas não passavam disso: um rumores. Admitir que esses rumores eram verdadeiros não fazia sentido nenhum.
— Como? – eu perguntei, ainda tentando entender o que ele havia dito. — Por quê?
ainda mantinha os olhos baixos, e suspirou antes de responder:
— Marketing.
Uma palavra.
Uma única palavra, e então tudo fez sentido.
— O mundo do pop é assim, você sabe como as coisas funcionam.
E foi nesse momento que ele escolheu para procurar meus olhos e segurar minhas mãos. Péssimo momento.
— Não, eu não sei como as coisas funcionam, porque no meu mundo namoros falsos não são criados, e muito menos usados como marketing. — pensei que poderia estar usando um tom de voz mais alto que o necessário, mas não me importei. Afastei minhas mãos das suas, cruzando os braços em frente o corpo. — Por que você? — perguntei.
Porque o grupo contava com mais membros, quase todos ainda solteiros, livres e desimpedidos. Se era marketing que a SM Entertainment queria, ela poderia tê-lo, mas não com o meu namorado que, bem, já tinha uma namorada de verdade.
— Porque acabei de voltar do exército, estamos nos preparando para o lançamento do novo álbum, e estou envolvido com a gravação de um novo filme... — ele tentou explicar, mas nem mesmo acreditou em suas palavras. E então, com os braços caídos do lado do corpo, a testa enrugada e mordendo o lábio inferior, ele disse: — Porque estou namorando você.
E aquilo foi como se tivesse levado um soco no estômago.
— Qual o problema comigo? — perguntei sentindo a voz falha. Dessa vez eu era quem olhava para o chão, procurando por uma explicação plausível. — Por acaso é porque tenho uma vida normal, longe dos holofotes e dos palcos, longe da mídia, sem necessidade de namoros falsos...
— É porque você é estrangeira.
E aquilo foi pior, infinitamente pior, do que se tivesse levado um soco no estômago.
— Eu pensei que a sua carreira talvez pudesse ser um problema no nosso namoro, mas descobri que eu sou o problema na sua carreira. — não reconheci minha voz, não quando o tom estava tão baixo que mal podia ouvir e as lágrimas que queriam cair eram uma mistura de tristeza e raiva.
Olhei para , e ele estava olhando para mim. Seus olhos que sempre me trouxeram conforto, apenas me traziam ressentimento, vontade de ir embora, vontade de nunca mais vê-los.
— Eu... Eu preciso pensar no grupo.
A culpa não era dele, eu sabia, mas tampouco era minha. Eu sabia que as produtoras faziam de tudo para alavancar as carreiras dos grupos musicais, e se precisassem inventar mentiras para colocarem o grupo nas capas das revistas, eles o fariam.
— Quando?
— Sábado.
Uma semana, então. Uma semana até o meu namoro com — que já era escondido da mídia — ser colocado no fundo do armário, de onde nunca poderia sair. Uma semana para que fosse vendido como namorado de outra garota.
, isso não muda o que eu sinto por você, e nem vai mudar o que nós temos juntos. — seus olhos procuraram os meus, seu corpo se aproximou, suas mãos me puxando, não deixando que eu me afastasse de novo.
— Não, apenas muda o fato de que o mundo verá você como namorado de outra mulher.
... O que nós temos é especial para mim. Eu não quero perder isso, por favor.
Eu também não queria perder isso que tínhamos, era especial. Ele era especial. Mas ainda que o nosso namoro não terminasse, o que tínhamos estava perdido, e nós dois sabíamos disso.

Acordei no dia seguinte na mesma posição em que tinha ido dormir na noite anterior: em um dos lados da cama, de costas para , e longe de seus braços.
Pensei em inventar uma desculpa para termos que ir embora, já que o clima de romance estava arruinado. Apesar da minha vontade de permanecer isolada no mundo, eu não podia fugir do que estava prestes a acontecer. Namorar um k-idol não estava nos meus planos, e mesmo quando decidi encarar este fato, eu sabia que teria que abrir mão de algumas coisas, como sairmos para jantar no dia dos namorados, postar fotos juntos na minha conta do Instagram, e coisas do gênero. Mas não imaginei que precisaria ver meu namorado posando ao lado outra namorada — ainda que esta fosse apenas para os olhos da mídia.
Felizmente não precisei pensar muito. Assim que acordei vi que havia uma mensagem de , informando de um problema que havia surgido no na loja de especiarias que tínhamos juntas.
Quando saiu do banho eu já estava com a minha mala quase pronta, faltando apenas pegar as coisas que estavam no banheiro, e então estaria pronta para ir embora.
— O que está fazendo? — ele perguntou.
E apesar de estar ressentida, e com um sentimento de traição me tomando, não pude deixar de ficar sem ar — como sempre ficava — com a visão de seminu. A toalha cobria apenas sua cintura, e os cabelos ainda estavam molhados, fazendo com que pequenas gotículas pingassem no peitoral definido. A água ainda escorria pelo abdômen, indo direto para onde a toalha estava amarrada.
— Arrumando a mala. Preciso voltar. — respondi, me forçando a desviar o olhar para a roupa que tinha separado para vestir. Não podia me distrair, não agora, ou sabia que , sem o mínimo de esforço, me convenceria a ficar. E no momento tudo o que eu precisava era de um momento sozinha para conseguir colocar meus sentimentos no lugar.
— Por quê?
— Eu preciso voltar. — repeti. — Recebi uma mensagem de , parece que tivemos um problema com um fornecedor.
— E não pode resolver esse problema sozinha? — me olhava com atenção, procurando descobrir uma mentira em minha fala que ele pudesse usar como desculpa para ficarmos mais.
— Não, ela precisa de mim. — disse firme.
Depois disso ele não insistiu mais. Talvez por ter acreditado nas minhas palavras, talvez porque não queria discutir. Ou, simplesmente, porque também não estava no clima de continuar com o final de semana romântico que havia planejado.
Quando já estávamos dentro do carro, entrando na pista que nos levaria de volta à vida real, à vida que deveríamos manter longe da mídia, reli a mensagem que havia recebido de :
Tivemos um pequeno contratempo com o fornecedor de queijos, mas não se preocupe, já está tudo sob controle. Aproveite o final de semana! Xx

--

As coisas foram ficando mais difíceis com o passar do tempo. Quando estávamos juntos era fácil esquecer dos comentários sobre o “Casal Pop do Ano”, porque tinha o poder de me fazer esquecer tudo que não envolvesse apenas nós dois. Mas esse poder foi perdendo a força a cada matéria de revista que não conseguia evitar, a cada foto que via por acidente.
Em verdade, estava evitando mexer nas redes sociais. Também evitava passar nas bancas de revistas. fazia um ótimo em me apoiar, mas isso não significava que minha amiga não deixava de me lembrar da sua posição nisso tudo: viver namorando escondido já era uma droga, especialmente quando o seu namorado era namorado de outra para o restante do mundo.
E, bem, eu concordava com ela. Apenas... Apenas não tinha coragem de desistir de tudo, não quando já enfrentamos tanto para ficarmos juntos.
A gota d’água foi uma foto que não consegui me esquivar. Ela apareceu na tela do meu celular sem a minha permissão, e atingiu o meu coração sem que eu percebesse.
estava junto de Sana, ambos sentados de frente para o outro, em uma mesa em um café no centro da cidade. Um café ordinário, como tantos outros, se não fosse por um detalhe: o local tinha sido escolhido por quando ele me pediu em namoro.
Apaixonada ou não, eu já não podia mais aguentar aquela situação. Não mais. Estava hospedada no Japão, junto ao restante do grupo , dividindo um quarto com . Acompanhar o grupo nas turnês era divertido, até porque eu sempre podia assistir aos shows nos bastidores, e ver aqueles homens molhados em cima do palco sempre tinha sido minha perdição.
Mas devido às recentes notícias, a produtora achou melhor que eu não assistisse mais aos shows do , pelo menos não dos bastidores, onde sempre havia muitos funcionários e técnicos de palco, onde sempre tinha fãs que conseguiram burlar a segurança. Não onde eu poderia ser encontrada e levantar perguntas.
Então eu apenas viaja com o grupo, tinha minhas refeições com eles, e dividia meu quarto com . Claro que, de noite, ele era muito bom em me fazer esquecer de todos os nossos problemas. Mas não hoje. E foi quando eu decidi fazer minhas malas e ir embora dali.
? O que você está fazendo? — perguntou entrando no quarto.
Diferente de quando fui embora daquela casa na praia, de quando ainda estava absorvendo o que passaria a ser a minha nova realidade, dessa vez eu tinha certeza do que queria e do que precisaria ser feito.
— Indo embora.
— Por quê?
Em questão de segundos estava ao meu lado segurando minhas mãos, impedindo que eu continuasse a guardar as coisas na bolsa. A vontade de chorar aumentou, e não tentei segurar as lágrimas. Eu não precisava me fazer de forte, nem mesmo fingir que estava tudo bem, porque as coisas não estavam bem. Então quando olhei para cima e encontrei seu rosto confuso, deixei que ele visse o meu ressentido.
— Qual o sentido de ficar? Sua namorada já está fazendo um bom papel te acompanhando para onde quer que você vá e indo aos seus shows.
— Não fala isso... — ele balançou a cabeça com força como se o que eu falasse fosse inaceitável. — Você sabe que isso é só jogada de marketing.
— Eu sei. Mas isso não diminui o aperto no peito que sinto toda vez que vejo vocês juntos, nem diminui o sentimento de traição sempre que você entra no carro com ela e me deixa aqui.
E eu soube, no momento em que disse aquelas palavras, que havia ficado ferido. Seus olhos, como os meus, perderam o foco para, logo em seguida, ficarem úmidos.
— Por favor, não faça isso comigo. Não faça isso conosco...
Foi tão rápido que não pude evitar. logo se aproximou e colocou os braços meu redor, me prendendo em um abraço apertado. E minha resposta automática foi responder a ele, como sempre. O apertei de volta, escondendo o rosto em seu peito, sabendo que já não poderia mais evitar dizer o que sentia apenas para não desgastar ainda mais aquela relação.
— Eu já não sinto que ainda exista um nós. — foi quase um sussurro, mas eu sabia que ele tinha ouvido com perfeição. Prova disso foi a intensidade do seu abraço que aumentou, e as palavras que me sussurrou:
, eu te amo.
E segurar as lágrimas se tornou uma tarefa impossível para mim.
... , eu te amo. — ele repetiu, dessas vez com a voz rouca. Quando olhei para cima, também chorava e seu rosto, sempre contendo um sorriso e olhos brilhantes, estava transtornado, desesperado.
Nesse momento me lembrei da “conversa” que havia tido com seu manager quando a produtora e os empresários do grupo ficaram sabendo do nosso namoro. Não, eu não tive uma conversa séria sobre namoros com a família de , como casais normais têm, mas com aqueles que cuidavam de sua carreira.
- Ser namorada de um k-idol é entender que o namoro sempre ficará em segundo plano quando comparado à carreira dele. Porque sua carreira, sua música e sua imagem sempre serão prioridades. Sempre.
E foi pensando nisso que me esforcei para me acalmar, porque sabia que precisava se acalmar. Ele tinha um show para fazer em poucas horas, e tinha uma leva de jornalistas o esperando do lado de fora do hotel. “Sua carreira, sua música e sua imagem sempre serão prioridades”.
— Está tudo bem. — disse a ele, passando os dedos sobre seu rosto para enxugar as lágrimas. — Está tudo bem, não vamos nos desgastar, tudo bem? — meu tom de voz era o mais calmo que podia usar no momento, e eu sabia que estava funcionando, pois parou de chorar imediatamente, ainda que não tivesse relaxado os braços ao meu redor. Seus olhos ainda estavam vermelhos e mais tristes do que podia me lembrar de já ter visto.
— Por favor, não vá embora. Fique, , me espere. — e mesmo ouvindo isso, seus olhos me diziam muito mais que suas palavras. Eu quis responder que sim, que iria ficar e iria esperar por ele o quanto fosse preciso, mas não o fiz. Em vez disso, apenas enrosquei meus dedos nos seus fios e o puxei para mais perto, levando minha boca à sua.
Enquanto uma de suas mãos continuou me puxando para perto dele, fortemente agarrada à minha cintura, a outra foi para minha nuca. O que começou com um roçar de lábios logo se tornou um beijo molhado, profundo. O gosto salgado das lágrimas ainda podia ser sentido.
Foi uma batida na porta que nos despertou. E foi a entrada de um dos técnicos de sua equipe, que nos afastou.
— Precisamos ir, . Estamos atrasados.
— Claro, me desculpe. Eu já estou indo.
Assim que ouvi a porta fechar atrás de mim, virei-me para novamente. Ele ainda não tinha o brilho nos olhos, mas já não chorava mais. Passei as mãos por seus cabelos para arrumá-los, e fiz um carinho em seu rosto. Isso fez com que me desse um pequeno sorriso, mesmo que sem mostrar os dentes.
— Vá para o seu show. Vá tirar a roupa no palco. — brinquei.
— Espere por mim. — foi o que ele respondeu. E foi a última coisa que ouvi dele antes que fechasse a porta.
Olhei para a bolsa aberta em cima da cama, e para as roupas que ainda precisavam ser guardadas. Segui para a janela, de onde podia ver o grupo de jornalistas e fotógrafos que acamparam na frente do hotel, prontos para capturarem uma boa imagem do grupo . Os meninos saíram em fila, e os flashes não pararam, mas estes dispararam quando saiu, sendo logo acompanhado por Sana, que ia logo atrás. Os dois entraram em um carro separado, e logo sumiram de vista.
Não, eu não tinha raiva de Sana. A culpa daquela situação não era dela, tampouco de . Mas isso não significava que eu conseguia evitar o gosto amargo que vinha à boca sempre que via os dois juntos.
“Porque sua carreira, sua música e sua imagem sempre serão prioridades. Sempre.”
Meu amor por era incontestável, mas a prioridade na minha vida era a minha felicidade, e no momento eu não estava feliz, nem perto disso. era importante para mim, e uma vez que sua carreira, música e imagem eram fatores importantes na sua vida, passam a importar para mim também. Mas não como prioridades. Não mais.
E sabendo que não poderia mais colocar sua carreira acima da minha felicidade, decidi que já não poderia mais ser namorada de um idol.
Pensei em deixar uma carta, ou uma mensagem no celular, mas ambos pareciam frios demais. Também não poderia esperar que ele voltasse, pois sabia que com poucas palavras faria com que eu mudasse de ideia, o que só me traria arrependimentos posteriores. Resolvi, então, deixar uma mensagem de voz em seu celular. Sabia que ele só teria acesso ao celular quando o show acabasse, o que não aconteceria pelas próximas horas.
“Desculpe pela forma como as coisas estão terminando. Isso não é justo, nem mesmo certo, mas não encontrei outra forma de fazê-lo. Eu te amo, mas não posso mais fazer isso. Da mesma forma que a sua carreira é prioridade para você, minha felicidade é a minha prioridade. E estar com você era uma das minhas felicidades, mas não desse jeito.
Espero que você fique bem. E, por favor, seja feliz.”

--

Depois de quase duas horas esperando pelo meu voo, peguei o celular que, até então, tinha ficado muito bem escondido no fundo da bolsa, bem longe da minha vontade de ligar para e saber como ele estava, se já tinha ouvido minha mensagem, ou simplesmente para dizer que eu entraria no primeiro táxi que visse, caso me pedisse para voltar para ele.
Havia uma ligação perdida de , feita há poucos minutos. O show deveria ter acabado há pouco, e ele provavelmente já tinha ouvido minha mensagem que colocava fim ao nosso relacionamento. Não tive tempo para pensar o que fazer com aquela ligação perdida, já que o nome de , em um timing perfeito, apareceu na tela.
— Alô?
, onde diabos você está?! — pelo tom de voz, imaginei que minha amiga estivesse gritando do outro lado da linha, mas no momento eu só ouvia sua voz muito longe por conta sinal lá dentro.
— Estou voltando para a Coréia. Por que, o que aconteceu?
— Você não... Fala sério... Assiste...
? Alô? , eu vou embarcar no próximo voo, e vou perder o contato de novo. Chego em Busan em pouco mais de uma hora. — não tinha certeza se ela tinha ouvido ou entendido alguma coisa, mas a verdade é que o horário de embarque não estava longe, e eu ainda precisava descobrir em qual portão de embarque eu entraria.
Enquanto esperava ainda tentei fazer contato com a minha amiga, mas o sinal que estava ruim se tornou péssimo. Pensei em conectar o wi-fi do aeroporto, mas a bateria do meu celular estava no limite, e, além disso, não queria correr o risco de ver vídeos do último show do .
Não que me manter afastada de redes sociais tenha funcionado muito, já que na fila para o embarque algumas meninas coreanas cantavam Sorry Sorry, e dentro do avião outras conversavam sobre a apresentação de mais cedo. Aparentemente algo inusitado tinha acontecido ao final do show, mas os fones de ouvidos, que corri para colocar, não me deixaram saber qual era o babado da vez.
E quando o avião finalmente pousou em Busan, a primeira coisa que fiz foi tentar ligar para . Tentar, porque o número de ligações perdidas que tinha no meu celular me deixou aflita demais. Ligações de , de , dos membros do grupo, e da minha própria família. Se não tinha ficado muita preocupada com a ligação de antes de , agora eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse saber o que estava acontecendo.
Além disso, a bateria do celular estava praticamente no fim, e eu sabia que não conseguiria completar uma ligação daquele jeito. Antes, porém, de procurar uma tomada para carregar o celular, o nome de começou a piscar na tela, e eu atendi no primeiro toque.
- , o que aconteceu? – perguntei assim que atendi.
, onde você está?! — ele perguntou depressa. — Pelo amor de deus, por que não atendia o celular?!
— Acabei de pousar no aeroporto de Busan. — respondi também com pressa. – O que houve? — perguntei aflita. Porque aquele monte de ligações perdidas com certeza não era por nada, o que significava que alguma coisa tinha acontecido, e o nome de foi o primeiro que me veio em mente.
Meu peito apertou enquanto esperei a resposta de .
— Você conversou com depois que foi embora?
E aquilo fez o aperto em meu peito se tornar mil vezes pior. O frio na barriga se tomou conta de todo meu corpo, e eu só conseguia pensar que algo de ruim tinha acontecido com .
— Não, eu não falei. Por quê? O que está acontecendo? — disparei a perguntar. — O que aconteceu com ? Ele está bem?
está bem, não se preocupe. — e aquelas palavras tiveram um efeito totalmente relaxante em mim. Suspirei aliviada, e até pensei em procurar um lugar para me sentar depois de perceber o quão bambas minhas pernas estavam. — Você acessou a internet depois que foi embora?
— O quê? Não, fiquei sem internet a noite toda.
E então o outro lado ficou mudo, e eu pensei que a ligação havia caído quando percebi que a bateria do meu celular tinha acabado.
Pensei em carregar o celular e retornar a ligação, mas não compensaria o tempo perdido. Eu havia chegado em Busan, e seria apenas uma questão de minutos até chegar em casa e poder entender o que diabos estava acontecendo e o que de tão importante tinha na internet.
Ao chegar do lado de fora, contudo, me deparei com uma chuva torrencial que eu, definitivamente, não sabia de onde tinha vindo. Quando meu voo pousou, há pouco tempo, não parecia que tínhamos uma tempestade a caminho. As pessoas que desciam dos táxis corriam para dentro, e as que tinham acabado de sair, como eu, voltavam para a segurança do salão de embarque.
Pensei em gritar por um táxi, mas os poucos que estavam por ali já estavam com passageiros. Além disso, pude perceber que alguns taxistas sugeriram esperar a chuva passar para seguirem seus caminhos.
Decidi, por bem, voltar para dentro enquanto esperava a chuva passar, afinal, eu sabia que aquela tempestade não duraria muito. A primeira coisa que fiz foi procurar uma tomada desocupada para que pudesse carregar meu celular, então precisei procurar por um assento vazio. Percebi que seria uma missão impossível, então apenas sentei-me no chão, cruzando as pernas, esperando que o celular carregasse ao mínimo cinco por cento para que pudesse ligá-lo.
E foi nesse momento que a movimentação dentro do aeroporto pareceu aumentar. Os burburinhos se tornaram conversas altas, e o primeiro pensamento que tive foi que a chuva tinha, finalmente, cessado. Talvez agora eu conseguisse um táxi para ir para casa.
Meu celular se acendeu, mostrando ter carregado o mínimo necessário para que fosse ligado.
Por um segundo pensei ter ouvido meu nome ser chamado, mas olhe em volta e não encontrei ninguém conhecido. Voltei, então, minha atenção para a tela que não parava de piscar com ligações não atendidas.
!
Dessa vez tive certeza de que alguém havia gritado o meu nome, ainda que, provavelmente, não estivesse se referindo a mim. Novamente olhei em volta, não reconhecendo nenhum dos rostos ali por perto.
Tinha várias mensagens de texto de , as primeiras perguntando onde eu estava, e as últimas já com todas as letras maiúsculas, mostrando seu descontentamento por eu não estar atendendo suas ligações.
!
O som parecia vir de perto, muito perto. Praticamente do meu lado.
E quando olhei para cima, pensei que deveria ter aproveitado mais meu voo do Japão para Busan para dormir, porque o sono claramente estava afetando minha visão.
estava do meu lado, com roupas e cabelos molhados, vestindo um sobretudo que deveria ser para protegê-lo da chuva, mas que, obviamente, tinha falhado.
Pisquei algumas vezes me perguntando até que ponto aquilo era verdade e o que era invenção da minha mente cansada e cheia de sono.
... Finalmente te encontrei. — ele disse, e juntou suas palavras, seus lábios formaram o sorriso mais lindo que eu via em meses. E foi neste momento que percebi que ter do meu lado não era obra da noite mal dormida.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei. Talvez não fosse a melhor das perguntas, nem a melhor das frases para se dizer ao seu ex-namorado, mas era tudo em que conseguia pensar no momento. — Como chegou até aqui?
— Precisamos conversar, .
Ele preferiu ignorar minhas perguntas e simplesmente estender a mão para que eu a usasse como apoio para me levantar. E, bem, quem era eu para recusar uma oferta dessas?
— Vem comigo, por favor. — ele pediu, e eu sabia que não seria capaz de negar nada a ele.
, todos estão olhando. — comentei, percebendo que, pela primeira vez desde que começamos a sair, estávamos juntos em público e ele não estava usando uma máscara para esconder sua identidade das pessoas.
— Eu não me importo que vejam o que estamos fazendo. — respondeu, ainda mantendo nos lábios o sorriso mais lindo de todos, o mesmo sorriso que me aquecia como o sol mesmo em noites chuvosas.
Com uma mão presa em minha mala, e a outra segurando firmemente a minha, me puxou pelo aeroporto ao ritmo que tivemos que correr. Vi que flashes de câmeras piscavam em nossa direção, mas não me importei, apenas segui o caminho que ele me levava.
Do lado de fora, a chuva continuava cair na mesma velocidade e força de antes. Paramos na calçada por alguns segundos, mas não tive tempo de perguntar a razão daquilo. tirou o casaco que vestia e jogou nos meus ombros, cobrindo minha cabeça com o capuz.
— Vamos correr mais rápido agora.
E então corremos mais rápido, porque tivemos que entrar na chuva para chegar ao carro que estava parado do outro lado da calçada, longe da entrada do aeroporto, onde era proibido estacionar carros por conta do fluxo de táxis.
colocou minha mala no porta malas, mas não sem antes destravar o carro, abrir a porta para mim, e esperar que eu estivesse acomodada no banco da frente. Instantes depois ele estava de volta, sentado do meu lado, balançando a cabeça de um lado para o outro para secar os cabelos, ainda que isso significasse molhar todo seu carro.
— Vou ligar o aquecedor para nós. — ele disse já apertando os botões no painel.
Olhei para ele, ainda ofegante por conta da corrida. tinha os olhos fixos no painel do carro e já não mantinha o sorriso nos lábios. Sua postura, entretanto, estava relaxada no banco ao meu lado. Ele brincava com os próprios dedos, quando quebrou o silêncio.
— Você foi embora. — não foi uma pergunta, tampouco uma acusação, mas apenas a constatação de um fato.
— Sim, eu fui. Me desculpe, , mas eu já não podia mais aceitar a situação como estava...
— Acesse a internet. — ele disse me interrompendo.
— O quê? — levei alguns segundos para entender a mudança de rumo. Em um segundo estava de olhos baixos, sem coragem de olhar para o homem ao meu lado, pedindo desculpas por tê-lo deixado, e no instante seguinte estava procurando meu celular em minha bolsa. — Meu celular está sem bateria. — disse ainda sem entender o que estava acontecendo.
não perdeu tempo. Tirou o dele do bolso molhado da calça, passou a mão na tela para enxugar os resquícios de chuva, e me entregou o aparelho.
— O que eu devo procurar? — perguntei. O que havia acontecido em tão pouco tempo e de tão importante para ter feito largar a turnê no Japão e vir me procurar?
— Você não precisará procurar muito.
Abri o aplicativo de busca de notícias, porém não foi preciso que digitasse qualquer palavra para encontrar o que procurava. Logo na página inicial, encontrava-se várias, dezenas, chamadas de notícias, todas contendo o nome de e Sana.
, o que... — suspirei, sem terminar minha fala. Tudo o que eu não precisava no momento eram notícias relacionadas ao seu namoro falso. — Eu não preciso... — tentei devolver o aparelho para ele, mas em vez disso entrou em um dos títulos, colocando o celular novamente à minha frente.
— Leia, por favor.
Pensei se valeria a pena prolongar aquilo, ler, novamente, mais uma matéria sobre o “Casal Pop do Ano”, acompanhada por uma foto dos dois. O título, entretanto, conseguiu capturar toda minha atenção.
Ídolos do pop afirmam nunca terem namorado
Na noite de hoje, 22, logo após uma apresentação do grupo masculino, , , juntamente com sua até então namorada Sana (Twice), conversaram com alguns jornalistas que se encontravam no local. “Nós não estamos namorando”, afirmou , “Nunca estivemos, na verdade”, completou o cantor.
“Estamos trabalhando em uma parceria para o lançamento de uma nova música, e por isso temos nos encontrado com frequência”, informou Sana, do grupo Twice.
Poderíamos pensar o casal está apenas tentando disfarçar seu namoro já bem evidente, porém alguns amigos próximos do casal, incluindo membros do , confirmaram sua versão.
e Sana são apenas bons amigos”, disse um amigo próximo de “Casal Pop do Ano”. “Estamos planejando um collab com as meninas do grupo Twice. Deveria ser uma surpresa, mas diante das recentes suposições da mídia, resolvemos esclarecer esse mal entendido”, afirmou , do .
“Além disso, minha namorada está nos esperando no hotel para comemorarmos a apresentação de hoje à noite”, disse ao final da entrevista. E quando questionado se ele, de fato, estava namorando, ele respondeu “Sim, eu estou. Estamos juntos há muito tempo, e eu a amo”.
Que reviravolta, não é mesmo? Além de descobrirmos que o “Casal Pop do Ano” nunca foi um casal de verdade, Twice e estão preparando um collab para nós! Mas o mais surpreendente de tudo foi descobrir que está sim namorando, mas com outra pessoa! Só nos resta agora descobrir quem é essa mulher misteriosa!

— O que...
— Eu não disse o seu nome porque não quero te expor, pelo menos não por enquanto. — falou. — Mas agora que todo mundo sabe sobre você, é só uma questão de tempo até descobrirem a sua identidade.
Eu não soube o que dizer. Aquilo nem mesmo parecia ser real.
— Quer dizer, isso se você ainda quiser ser minha namorada.
E de todas as reações que poderia ter no momento, a que tive foi rir. Rir por ter fugido de como uma adolescente inconsequente, rir por ter pago o dobro do preço da passagem aérea para Busan por tê-la comprado de última hora, rir por ter corrido na chuva, rir por ter lido uma notícia como aquela em um carro, no meio de uma tempestade, com o meu ex-namorado-não-tão-ex-assim pedindo para voltar com comigo.
— Eu sei que as coisas não correram como planejamos quando começamos a namorar, mas estou tentando consertar isso agora, fazer direito. — ele disse. — Quando deixei você no hotel, eu sabia que eu nunca mais queria ir a lugar nenhum sem você. Os garotos me ajudaram a criar essa história de collab e Sana aceitou o plano na hora. O pessoal da empresa ainda não entrou em contato comigo, mas eu sei que posso ter passado dos limites fazendo isso. Mas o meu maior medo não foi pensar no que poderia acontecer comigo quando a SM descobrisse o que fiz, mas não te encontrar no quarto quando voltasse. E, bem, foi exatamente isso o que aconteceu.
— Ah, ...
— Você não tem culpa de nada. Para ser sincero, eu não sei como foi que você aguentou tanto tempo essa situação. Eu deveria ter tomado uma atitude mais cedo. — ele suspirou. — E agora eu só posso pedir mais uma chance a você.
Se eu estava emocionada? Sim, estava. Sem palavras? Completamente. Então tudo o que fiz, para responder o seu pedido, foi estender meus braços em sua direção e puxá-lo para mim, colando meus lábios aos seus. Sua resposta foi imediata, e apesar de estarmos sem nos ver há poucas horas, o beijo tinha gosto de saudade.
O aumento da intensidade do beijo me levou a subir em seu colo, colocando cada perna de um lado do banco. foi rápido ao inclinar o banco do motorista para que pudéssemos ter mais espaço, ainda que eu soubesse que não faríamos nada muito elaborado ali dentro. Apesar da saudade, ainda estávamos no meio da rua, em frente a um aeroporto cheio de curiosos.
— Espera. — me afastei. Um pensamento tinha acabado de me ocorrer naquele momento. — Como você chegou aqui tão rápido? Você não estava no Japão até há pouco tempo?
— Estava, mas você sabe que sou o superman. — ele brincou, voltando a aproximar o rosto do meu. Mas então me afastei de novo, lhe dando um sorriso esperto.
— Você veio de jatinho, não é?
apenas riu, e fechou os olhos, esperando que eu tomasse a iniciativa novamente. Por mais que quisesse ir embora — ou voltar para o Japão junto dele — aquele momento era nosso: nosso reencontro, nossa segunda chance. E eu iria aproveitar cada segundo dele.




FIM





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