Última atualização: 20/03/2020

PRÓLOGO


“Quand il me prend dans ses bras, il me parle tout bas, je vois la vie en rose”

Juntos com suas famílias,
& Charles
Convidam você e um acompanhante para celebrar este casamento.
20h • 25.08 • Ilha de Antiparos, Grécia

Stuttgart, Alemanha.


releu cada palavra escrita no papel e coçou os olhos, inutilmente tentando afastar o sono de si. Por um segundo, ponderou se aquilo era apenas um sonho e olhou ao redor. Sua irmã, , estava prestes a se casar e ele soube através de um convite. Como qualquer outro convidado. Ele se esforçou para pensar qual fora o momento exato em que sua família se tornara apenas um laço sanguíneo e meros conhecidos. e , apesar de brigas diárias e desentendimentos na maior parte do tempo, sempre foram unidos quando mais novos, no entanto, logo após a entrada do irmão na Seleção Francesa de Futebol e no time alemão Verein für Bewegungsspiele Stuttgart, o contato entre eles era apenas de checagem. “Você está bem?”, “Como estão as coisas?”, “Precisa de algo?”. Funcionou por algum tempo, contudo, diante de treinos, compromissos e jogos internacionais, não se lembrava da última vez em que visitou os pais e a irmã mais nova em Maubeuge, na França, ou sequer de quando entrou em contato para perguntar se estavam todos bem.
Se encontrava tão perdido em suas angústias que só procurou um casaco em meio ao frio da Alemanha quando uma rajada de vento entrou através da janela e envolveu seu corpo, causando tremedeiras. Frustrado, largou o convite em cima da mesa da sala, fechou os olhos e suspirou.
? – Heidi chamou, envolvendo seus braços no tronco do namorado. Heidi Boyer, que na noite passada completou vinte e cinco anos, é modelo desde os dezesseis anos, foi coroada como Miss França aos dezenove e, desde então, atua nas passarelas das principais marcas de roupas do mundo. Além de atrair atenção com sua estética, a família Boyer é mundialmente conhecida no meio corporativista e por suas ações filantrópicas. – ? – Chamou mais uma vez, estranhando o comportamento aéreo do parceiro.
– Sim?
– O que houve?
vai se casar. – E falou assim. Sem mais, nem menos. Heidi abriu a boca algumas vezes, sem reação. Era tão inesperado para o irmão da noiva quanto para Heidi.
– O quê? Como isso aconteceu?
– Eu não sei. Acordei hoje, fui até a caixa do correio e o convite estava lá. – Ele apontou para mesa, onde pairava o papel, ainda aberto. A modelo caminhou até o papel, demorou alguns minutos para ler tudo e o pôs no mesmo local. Abriu a boca algumas vezes, mas hesitou antes de falar:
– Não poderei ir.
– Desculpe? – Perguntou, encarando-a. Na realidade, escutou muito bem o que sua namorada havia dito, mas se deu uma chance para ter um pouco de esperança de que, talvez, tivesse escutado errado.
– Não posso ir, . Sinto muito.
– Por que não?! – Perguntou, se levantando e andando para o outro lado da sala. Heidi fechou os olhos e respirou fundo. Estavam prestes a brigar, mais uma vez, como eles têm feito durante as últimas semanas.
– Eu falei para você que assinei um contrato com a Prada. Além disso, farei ensaios fotográficos para Vogue, no Japão. Estarei viajando o mês inteiro e você sabe.
– Tudo bem, Heidi. – Ele disse, derrotado. Não estava nada bem, mas também não queria brigar.

Paris, França.


– Casar?!
– SIM! Ele me pediu há quase uma semana! Quase não consegui manter segredo de você.
, espere. O convite diz que o casamento será no final deste mês.
...
– Hm?
– Charles disse que queria se casar o mais rápido possível! Enviei todos os convites há dois dias. Surpresa! – Ela abriu os braços, sorrindo e não pôde deixar de sorrir junto, mesmo preocupada com a loucura que a amiga estava cometendo e chateada por saber ao mesmo tempo que todos os outros convidados.
– Essas coisas levam tempo, . É muita coisa para organizar. – Deschamps ocupava, para , o cargo de melhor amiga desde o início do ensino médio. era filha de uma brasileira e um francês, se mudou para França quando era uma adolescente e conheceu o que o mundo inteiro chama de “irmã do jogador de ouro”. Contudo, para e sua família, ela era apenas a . – Quando isso aconteceu?
– No dia em que a França ganhou a Copa do Mundo.
– Ah, meu Deus! Eu não acredito! , sua…
– Não existe alguma regra sobre não xingar a noiva? – Perguntou, sorrindo amarelo, enquanto respirava fundo. – Ajuda se eu disser que você será minha madrinha?
– Ora, sua insolente, mas é óbvio que eu serei sua madrinha! Você está louca?
riu, tentando abraçar a amiga. Não era mentira, era possível apostar uma vida de que uma seria a madrinha da outra.
– Certo, eu preciso da sua ajuda para organizar tudo. Eu aluguei uns quartos de hotéis duas semanas antes do dia e…
piscou algumas vezes e contraiu as sobrancelhas.
– Espere, duas semanas antes? , eu ainda tenho algumas coisas para fazer e, além disso…
– Ah, não, . – Interrompeu. – Não me venha com desculpas! Já é verão, estamos de férias, você pode adiar ou, até mesmo, adiantar todos seus compromissos. – E então fez o que mais odiava na amiga: contorceu o rosto em uma expressão de cachorro abandonado e entrelaçou os dedos, como se estivesse implorando.
– Uma semana antes.
– Duas semanas antes.
Dando um último suspiro pesado, balançou a cabeça, sinalizando um “tudo bem” e sorriu, recebendo, em troca, uma histérica e jogada em cima de si.


CAPÍTULO 1

14 dias para o casamento.


Diferenciando-se do clima alemão e francês, a Grécia esbanjava e exalava uma energia exótica, especialmente para os estrangeiros. Assim que o check-in no hotel era realizado, era possível apreciar o mar grego, tão azul quanto cristalino. e Charles estavam bem à frente no hall de entrada, andando de um lado para o outro enquanto aguardavam todos os convidados.
– Oh, meu Deus, você acha que aconteceu alguma coisa no trânsito?
, para! – Charles disse, colocando as mãos nos ombros da noiva e ficando de frente para ela, encarando-a nos olhos. – Elas já avisaram que saíram do Aeroporto de Atenas e que estavam vindo para cá, não faz nem vinte minutos!
respirou fundo e concordou, mantendo os olhos fechados. Charles apenas a abraçou e a beijou na testa. A mulher não se acalmou somente pelas palavras, mas apenas a presença de seu parceiro bastava. Sorriu sozinha ao pensar em quão sortuda e certa estava de se casar com o homem à sua frente, uma parte dela sabia disso desde a primeira vez o vira.
Foi há três anos, lembrava-se como se fosse hoje o vento do inverno francês batendo contra seu rosto, podia jurar que até a sensação de frio passava pelo seu corpo, embora a temperatura ambiente já passava dos 30°C. estava no campus da faculdade, como sempre fazia no intervalo, e notou a presença de um garoto alto, forte e que estava lendo Os Miseráveis, um dos seus livros favoritos. Ele tinha uma pele bronzeada, cabelos escuros, olhos acastanhados e barba. Ah, a barba… Só sabia quão atraentes rapazes de barba poderiam ser. Ela analisou as roupas do garoto à sua frente e não sabe quanto tempo demorou ou quão indiscreta estava sendo, só sabe que, assim que retornou o olhar para seu rosto, seus olhares se encontraram. E ele sorriu. Pode-se, assim dizer, que tudo começou com uma faculdade, um livro e um maldito sorriso.

– Mas será possível que ninguém fale francês por aqui? – Melanie reclamou, sentando no banco de uma praça qualquer.
– Melanie, por que você não perguntou se alguém não falava inglês? – perguntou, encarando a amiga irritada.
– Porque eu não falo inglês.
– Mas eu falo.
– Então você pode procurar alguém com informação aqui, , eu cansei.
Alguma força superior muito poderosa forneceu alguma porção mínima de paciência para naquele momento, pois sua vontade era gritar e espernear, como uma criança de cinco anos. Entretanto, antes de ir pedir informação, viu uma limusine estacionando bem à frente de onde ela e as outras madrinhas estavam.
– OBRIGADA, SENHOR! – Amelie gritou, jogando as mãos para cima e correndo em direção ao homem que saíra do lado do motorista.
– Você quis dizer “Obrigada, Jean”. – Jean corrigiu, fazendo Amelie rolar os olhos. – As damas precisam de ajuda?
– Mas é claro que precisamos de ajuda, seu idiota. Você acha que estamos aqui fazendo o quê? Nos bronzeando? – Melanie respondeu, andando em direção à Amelie. Melanie e Jean eram ex-namorados e melhores amigos de Charles. – vai matar todos nós se não estivermos lá até o pôr do sol.
– Vocês querem, por favor, se acalmar? – pediu. – Não são nem dez horas da manhã e vocês estão falando de pôr do sol?
No mesmo momento, Pierre saiu da limusine e sorriu ao ver parada à sua frente com um vestido vermelho, óculos escuros e um chapéu. Pierre era o único padrinho que conhecia, por ser o único amigo de homem. Todos os outros eram amigos de Charles e os mais conhecidos, que nunca sequer trocou uma palavra, era Jean, por estar sempre presente em fotos e histórias que o noivo de sua amiga contava e , irmão de .
– Não são nem dez horas da manhã e você já está gritando? – Pierre perguntou, abraçando .
– E você implicando comigo. Eu nem gritei.
– Como sempre.
– Por que vocês estão paradas aqui? – Jean perguntou.
– O barco que ia nos levar até às Ilhas Antiparos já zarpou. – Louise respondeu, trazendo as malas das outras garotas mais para perto. – Queríamos saber quando sai o próximo barco, mas ninguém fala nenhuma outra língua além de grego.
Eram seis madrinhas – , Amélie, Melanie, Louise, Serena e Emma – e seis padrinhos – Pierre, amigo de , , Jean, Michel, Henri e René –, um total de doze pessoas sem a menor ideia do que fazer.
– Ninguém fala inglês? – Michel perguntou, tirando os óculos de sol do rosto.
– Era o que eu ia resolver agora, vou perguntar ali. – apontou para o ponto de venda das passagens de barco e saiu andando, sem saber se alguém sequer estava a acompanhando.

observou se distanciar e Melanie e Jean brigarem mais uma vez. Estava tão cansado de aguentar o surgimento de problemas, que decidiu seguir a estranha.
– Ei! – Ele gritou e ela se virou, vendo-o correr em sua direção. – Eu vou com você.
– Ah, obrigada. – sabia quem era . O titular da Seleção Francesa era considerado o novo herói nacional, seu rosto estava estampado em todos os jornais e vivia tendo que esconder a irmã do jogador de jornalistas inconvenientes. Embora fosse amiga de e sua família, nunca havia realmente conversado com ele, sua vontade, naquele momento, era parabenizá-lo pela sua vitória e, talvez, até pedir uma foto para mostrar para Étienne, seu colega de faculdade fissurado em futebol.
– Então, qual é o seu nome?
prendeu o riso e arqueou as sobrancelhas. Era uma brincadeira, não era? Como assim ele não lembrava da melhor amiga de sua irmã?
– Você está brincando, não é?
– Hm… Eu devia saber seu nome?
rolou os olhos e bufou.
, , melhor amiga de ...?
– Oh, sim, sim… . Você está um pouco diferente agora.
Diferente?
– É, de um jeito bom. – Ele sorriu, simpático. Ela não estava tão diferente. O cabelo estava maior, definitivamente, mais alta também, mas apenas isso. – Quantos anos você tem agora?
– Vinte e você?
– Vinte e dois. E você faz faculdade de…?
– Senhor! – Gritou em inglês, interrompendo . – Senhor, por favor! – Ela correu em direção a um senhor acompanhado de uma menina mais nova, provavelmente sua filha ou neta. a alcançou logo depois.
– Pois não? – A moça ao lado respondeu em inglês, parando de andar.
– Vocês sabem quando parte o próximo barco para as Ilhas Antiparos? – perguntou e a mulher falou em alguma língua, provavelmente grego, com o homem mais velho e fez uma careta.
– Sinto muito, meu avô disse que os barcos para as Ilhas Antiparos só partem uma vez a cada dia, ou seja…
– O próximo barco só amanhã. – Concluiu , dando um soco no ar. – Merda! Obrigada pela informação, tenha um bom dia!
Os dois retribuíram com um sorriso e voltaram a andar. choramingou e bateu os pés fortemente no chão, dando-se por derrotada. observou a cena e riu, fazendo a garota o encarar.
– Você sempre faz isso quando não consegue o que quer.
– Não faço, não. – Disse, passando por ele e indo em direção aos outros para dar a trágica notícia de que teriam que esperar mais um dia para chegar na ilha. – E desde quando você repara nisso?
– Sei lá, só sei que você sempre fez isso, principalmente quando não ganhava algum jogo. É meio infantil, não? – Ele riu, de novo, o que a deixou mais irritada.
– Parabéns pela observação, Senhor Maturidade.
Ao encarar todos os outros sentados ou encostados no carro, massageou as têmporas e respirou fundo. Todos iriam surtar, ela tinha certeza.
– E então? Quando sai o próximo barco? – Serena perguntou, atraindo os olhares dos companheiros.
– Só amanhã. – Ela informou e todos soltaram suspiros de frustração. – Eu vou ligar para e dizer que vamos nos atrasar.
– O quê? Não! – praticamente gritou. – A gente pode dar um jeito.

– Esse é o seu jeito? – Pierre perguntou, observando o barco a sua frente. – Cara, isso vai afundar assim que a gente entrar.
havia rodado quase todo o litoral do porto para achar algum pescador que os levassem à ilha. Por sorte, achou um homem que estava a caminho e disse que os levaria sem cobrar por isso. O comentário de Pierre não fora à toa, o barco tinha sua pintura já surrada e havia manchas de ferrugem ao redor do casco.
– Pierre, por favor. – chamou sua atenção, passando por ele e dando a mão para o dono do barco, entrando no transporte. – Vamos logo, eu não quero morrer nas mãos de .
– Se o barco não nos matar primeiro... – Ele sussurrou.
E então, todos a seguiram.
Alguns dos meninos estavam ajudando o pescador com o barco e algumas meninas desceram para preparar algo para almoçar. terminou de inclinar a vela, já que odiava cozinhar, e foi para convés. Embora a velocidade ainda fosse baixa, os ventos estavam batendo fortemente contra seu rosto.
Deitou-se sob o sol grego.
Sentia os raios solares penetrarem sua pele e ficou feliz, por alguns segundos, só pela possibilidade de perder toda sua palidez. Apenas segundos, porque logo sentiu uma sombra bem à sua frente e abriu os olhos lentamente.
Pierre sorriu e sentou ao lado dela, permitindo que sua pele voltasse a se bronzear. Ele estava com uma bermuda florida, uma camisa branca de botões aberta – ou seja, seu abdômen e peitoral estavam todos à mostra – um verdadeiro turista. É impossível não notar o quão bonito ele estava, com seus cabelos lisos loiros e olhos verdes iluminados pela luz solar.
– Você não está nada mal, acho que a Grécia ressalta sua beleza. – Ela quebrou o silêncio e Pierre deu um sorriso ladino.
– A Grécia ressalta minha beleza francesa.
– Achei que você fosse fazer alguma piada como “beleza grega” ou “Deus grego”. É bem sua cara. – disse rindo, sendo acompanhada pela risada de Pierre.
– Seria uma ofensa proclamar algo do tipo diante da deusa da beleza.
– Ah, não, Pierre…
– Oi. – surgiu ao lado dos dois. – Tudo bem eu me sentar aqui?
– E aí, jogador? – Pierre cumprimentou, olhando para cima com um sorriso e olhos semicerrados devido ao sol. – Senta aí, irmão.
– Pode me chamar de .
– Ah, relaxa, jogador. Você mandou ver na Copa do Mundo, não foi, ?
– Pierre, ele deve estar nem aí pra isso. – bateu no braço de Pierre e alternou o olhar para ela no mesmo instante, analisando-a das cabeças aos pés.
– Enlouqueceu, ? Claro que ele quer, é um herói nacional!
– Tá, mas deve ter algo mais legal pra falar além do que o que todo mundo já sabe.
– Eu vou checar o almoço, você tá uma chata. – Pierre se levantou e foi embora, deixando e sozinhos.
– Valeu. – Ele disse.
– Por nada, você deve nem aguentar mais isso. Deve ser horrível as pessoas só falarem de um assunto com você, como se você apenas se resumisse a isso.
Na verdade, não era. Até ela falar isso e um estalo passar pela cabeça de . Todo mundo só falava com ele sobre futebol e a Copa do Mundo, não que fosse ruim, pelo contrário, mas era apenas isso, como se ele não soubesse nenhum outro assunto ou essa fosse a única coisa interessante sobre ele.
– E sobre o que você falaria comigo? – Ele perguntou e ela o olhou. Não qualquer olhar, era tão penetrante que o homem reparou o que ela tentava fazer: decifrá-lo. Seu estranhamento maior não foi a atitude de , mas o fato de que ele simplesmente a deixara fazê-lo, uma parte de si se convenceu de que era apenas por estar curioso do que estava por vir. A outra parte, na verdade, nem entendia o que estava acontecendo.
– Você deveria contatar mais sua família. – Ele suspirou alto e desviou o olhar para o horizonte. – Eles sentem sua falta.
– Eu tento ligar para meus pais toda semana.
– A tecnologia é ótima mesmo, não? Entretanto, sente sua falta durante todos os natais e feriados nacionais.
– Eu não preciso ter essa conversa com você.
– Então vamos falar de futebol. – Propôs, vendo-o bufar. – Ou de lojas de marca, que tal? Gosta? Ah, não, já sei! Falaremos de quantas mulheres você deve ter conquistado após ser considerado um herói nacional. – Sua frase continha ironia e então notou que ela não dava a mínima se ele havia vencido a Copa do Mundo ou não.
– Eu já entendi, tudo bem? Eu sou um idiota.
– Verdade. – Ela falou, mas embora tenha soado rude, ela o olhou de canto e riu, sendo acompanhada pela risada de . – Não, mas sério, quantas marcas te patrocinam?

– Céus, imaginei milhares de tragédias! Vocês não poderiam ter me avisado?! Sorte a de vocês que meus pais chegaram e eu não esperei duas horas por nada! – gritava com as mãos na cintura e olhava cada um no olho, uma técnica que usa para fazer com que os outros sintam peso na consciência, por terem causado tanta preocupação, apenas através de um mísero contato visual. Os padrinhos e madrinhas haviam chegado bem, apesar das contestações de Pierre ao longo do percurso, e se apressaram para encontrar a noiva, a fim de apaziguar qualquer que fosse o problema. No entanto, não adiantou de nada, ainda estava uma pilha de nervos.
, por favor, seu casamento está chegando e a última coisa que você deveria ter é estresse. Do contrário, você ficará com rugas de preocupação! Charles irá pensar que está se casando com uma senhora de idade. – Emma falou, balançando as mãos de um lado para o outro. Ninguém pôde deixar de rir, incluindo o noivo, o que fez lançá-lo um olhar de repreensão.
– É, já estamos aqui, não há com o que se preocupar. – disse, se aproximando da amiga e a abraçando de lado. – Você pode nos mostrar nossos quartos agora, minha querida?
Ela não respondeu, apenas saiu andando e todos foram atrás. De porta em porta, ela deixou cada um em seus quartos para se acomodaram, sendo uns quartos duplos e outros individuais, à medida em que seus amigos haviam optado. Os últimos foram Jean, e , que ficaram em quartos um ao lado do outro. De acordo com Anne, ela estava no quarto 205, no 206, no 207 e Jean no 208. Assim que adentrou no que seria seu dormitório pelas próximas duas semanas, notou uma porta bem em frente à sua cama e apressou-se em se certificar de mover a maçaneta, para ter certeza de que não abriria, porém, assim que o fez, um revelou-se com a mão estendida, provavelmente prestes a fazer o mesmo.
?
– Ahn... Eu não sabia disso. – Ele coçou a nuca e desviou os olhos do olhar da mulher. – Vou ligar para a portaria do hotel.
– Tudo bem.
– A gente pode deixar fechado por enquanto, certo? – Ela não respondeu nada, apenas assentiu com a cabeça e fechou a porta que conectava o quarto de ao dela. Resolveu, assim, colocar suas bagagens em cima da cama e organizar o que fosse necessário, mas não demorou muito para ele bater na porta e esperar um tempo antes abrir. De acordo com , a portaria pediu desculpas, mas disse que aquele quarto em específico era conectado com o quarto ao lado e o que os separava era apenas uma porta sem chave.
– Eu posso trocar o quarto com alguma de suas amigas. – Ofereceu, colocando suas mãos no bolso e encolhendo os ombros.
– Não precisa se incomodar, é só deixar a porta fechada. Ele sorriu sem mostrar os dentes, em compreensão e fechou a porta, deixando-a livre para jogar o corpo em cima da cama, encarar o teto e soltar o que parecera ser o suspiro mais longo que já dera em toda sua vida.


Capítulo 2

13 dias para o casamento.



No momento em que o relógio do celular de se transformou em sete horas da manhã, um som estarrecidamente grave e alto preencheu todo o ambiente. De acordo com Charles, o café da manhã funcionava a partir das seis horas até às oito horas da manhã e, além disso, teria a oportunidade de se encontrar com os pais de e logo cedo. Tratou, enfim, de despertar de vez para desligar aquele barulho que a irritava há longos segundos e caminhou até a janela para abrir a cortina e, quando o fez, admirou a água que, por sua vez, atribuída ao fato de ser tão azul, era facilmente caracterizada como cristalina. Sorriu instantaneamente ao se sentir sortuda por presenciar uma paisagem tão graciosa e ouviu batidas na porta, mas não na de entrada. Na tênue passagem que dividia seu quarto do de .
Deixando a distração de lado, prendeu os cabelos em um coque e vestiu um roupão branco, atendendo a porta logo em seguida.
– Bom dia. – Desejou sorrindo. notara que ele tinha o rosto ainda um pouco inchado e os olhos meio fechados, denunciando que acabara de acordar e ponderou se ela estava da mesma maneira. – Desculpe, eu acordei você?
– Não, não. – Ela sorriu e deu espaço para ele entrar no quarto. – Bom dia, .
– Pode me chamar de .
– Certo, .
Ele abriu um sorriso, fitou o chão e balançou a cabeça negativamente.
– De qualquer forma, eu vim perguntar se você poderia me emprestar uma pasta de dente?
– Claro. – Ela caminhou até a nécessaire e o entregou um pacote de pasta. a agradeceu e retornou ao seu quarto, logo fechando a porta atrás de si. Não percebeu ao certo em que momento se viu reparando em , mas pensava o quão madura ela aparentava estar agora. Ou talvez tenha sido apenas agora que ele realmente parou para analisá-la.
Resolveu deixar os pensamentos de lado, escovar os dentes e se trocar para o café da manhã. Fariam um passeio de iate regado de bebida alcoólica e música logo depois.
O restaurante do hotel não era muito grande, tampouco luxuoso. A Grécia era conhecida por sua arquitetura antiquada e clássica, toda a pintura do hotel revezava entre o azul e o branco, e o restaurante possuía janelas enormes abertas de madeira que permitiam o ar circular livremente no cômodo e uma vista esplêndida para o mar. De qualquer forma, todos esses fatores criavam um ambiente rústico e agradável. observou que nem todos estavam na mesma mesa, , Charles, seus pais, os pais de e estavam em uma mesa próxima à janela e os outros padrinhos, que não conhecia muito bem, estavam divididos em outras três mesas. Por mais egoísta que soe, notou que todas as cadeiras da mesa de sua família haviam sido ocupadas e não entendeu o que fazia sentada ali. Não pretendia ser grosso, então apenas se aproximou e pigarreou, chamando a atenção de todos.
– Bom dia. – Desejou, sorrindo.
– Bom dia, . – Todos responderam em uníssono. Sua mãe levantou e depositou um beijo em sua testa.
– Bom, eu acho que vocês gostariam de pôr o assunto em dia. – recolheu seu prato, que ainda tinha sua comida intocada e se levantou. – Você pode sentar aqui, Pierre disse que queria me contar sobre algumas curiosidades da mitologia grega que achou em algum panfleto de guia turístico.
), não precisa… – O pai de disse, porém sorriu e apenas balançou a cabeça, afirmando que não haviam problemas. Ela sabia há quanto tempo a família não se reunia verdadeiramente, principalmente em uma ocasião tão especial para sua melhor amiga. Além disso, Pierre estava sempre de bom humor pela manhã, o que talvez a animasse um pouco.
Assim que ela caminhou até a mesa mais adiante do amigo, se serviu e sentou, iniciando uma longa conversa sobre os antigos amigos da família, os adolescentes - agora adultos - que costumavam a estudar com e na escola local e, tipicamente, sobre política e notícias que estavam circulando pelas redes sociais.
, eu soube que está quase terminando a faculdade. – A mãe da noiva disse, soando orgulhosa.
– Sim, logo no fim do ano.
– Que graça! – Agora foi a vez do pai se orgulhar da menina. – É mesmo um doce de pessoa! Conseguiu uma bolsa de estudos por conta própria.
– Os pais dela não moram na França? – Charles perguntou.
– Sim, mas eles moram no sul e ela conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade em Paris. – explicou e Charles assentiu com a cabeça.
– E então, , como andam os treinos na Alemanha? – O pai de Charles perguntou, dirigindo-se ao jogador pela primeira vez.
– Estão bem, senhor. Estamos nos preparando para jogar contra o Borussia Dortmund.
– Ah, sim, grande time, o Borussia! Espero que vocês consigam. Bem, não será difícil já que Stuttgart tem um grande herói na equipe! – O homem deu dois tapinhas nas costas de e soltou uma risada bem-humorada.

– Caramba, que incrível! – Louise e Emma falaram ao mesmo tempo.
– Eu acho que nunca entrei em um iate. – Michel olhava tão admirado para o barco à sua frente, que parecia até estar hipnotizado. – Então, vamos entrar logo! Andem, andem!
Ele empurrou todo mundo para a passagem que ligava o chão da marina e a entrada do barco.
– Poderíamos fazer sua despedida de solteira aqui, ! – Serena sugeriu e Charles riu.
– Nem pensar! Tem que ser em terra firme, vocês são capazes de sequestrar a minha noiva.
estava em um canto do barco com uma garrafa de vodca na mão e conversando com Pierre, Henri e René animadamente. sentiu-se só por um momento, estava com o noivo e não paravam de se beijar nem por um instante e, quando não se beijavam, estavam virando copos de bebida juntos. Que romântico. As outras madrinhas conversam entre si enquanto se bronzeavam e… Jean. Ele estava em uma bancada que parecia uma cozinha improvisada e estava preparando algumas bebidas enquanto assava a carne. Logo, viu ali uma oportunidade de se aproximar e oferecer ajuda, pelo menos não ficaria sozinho.
– E aí, Jean! – O irmão da noiva levantou a mão, logo recebendo um high-five de Jean. – Quer ajuda?
– Ah, já que perguntou, eu quero. Tudo bem se você preparar alguns drinks só enquanto cuido da carne?
– Tranquilo.
Haviam, pelo menos, seis garrafas de vodca, todas de marcas diferentes, alguns licores, sucos e refrigerantes, além de uma garrafa de whisky e algumas latas de Heineken.
– OOOOI! – gritou para ele do outro lado do balcão. – Você agora é o Batman?
– Você não quis dizer “barman”?
– Foi isso que eu disse. Barman.
– Ahn… Certo, só enquanto Jean é o cozinheiro. – Ela riu e assentiu exageradamente com a cabeça. – Você está bêbada?
– Na-na-ni-na-não. – Ela soltou uma gargalhada estrondosa ao falar e notou que a garrafa de vodca que ela segurava já estava quase na metade.
– Você bebeu tudo isso sozinha? – Ele tentou pegar a garrafa, mas ela a colocou atrás do corpo.
– Sim... e um pouco de whisky… e um pouco de licor também.
– Isso é bastante, hum?
– Eu vou morrer de fome, o que tem aí?
– Jean, tem algo pronto? – perguntou e Jean o entregou um prato pequeno com pedaços de picanha. – Pronto, senhorita.
– Senhorita está no céu.
– Senhora.
– O quê?
– É “senhora está no céu”.
– Não é, não.
– É, sim.
apoiou os braços no balcão, colocou uma das mãos no queixo e semicerrou os olhos, reflexiva.
– É, você está certo, é “senhorita está no céu”.
– Mas isso é exatamente o oposto do que eu estou falando!
– Credo, , já mudou de ideia? Indeciso desse jeito ninguém vai te entender. – Ela enfiou um pedaço enorme de carne na boca e deu um gole em sua bebida assim que engoliu a comida, alegando que “ajudava na digestão”. mordeu os lábios, tentando controlar um sorriso e simplesmente desistiu de tentar manter uma discussão, uma vez que estava em um estado alterado e saiu saltitando até seus amigos.
Em menos de uma hora de conversa, descobriu que Jean fazia faculdade de Engenharia Ambiental e que conhecia Charles desde a escola. Além disso, o homem comentou do seu namoro com Melanie e de como essa viagem o deixava nostálgico.
– O que houve com vocês dois?
– Eu fiz besteira, na verdade. Melanie, quando quer, é um doce e sempre foi muito atenciosa comigo, mas eu acabei afastando-a mais e mais por pura idiotice. Queria ficar mais com os amigos e sair com os amigos. O tempo inteiro. – Jean disse, olhando de lado para a ex-namorada. – E ela nem se importava, ela adorava meus amigos! E eu não estava com ela, tipo... Nunca.
assentiu e não soube o que falar. Lembrou de Heidi pela primeira vez desde que havia chegado na Grécia e, definitivamente, não foi por algo positivo. Não porque ele saia muito com os amigos. De fato, ele passava muito tempo com a namorada. O problema é: ele sempre estava pensando nos amigos, na família, em outros lugares que poderia estar... Menos em estar com ela.
Amava-a. Sabia que sim. Tinha que amar.
Mas foram longos dois anos de relacionamento e talvez ele, ou melhor, seu sentimento, tenha se acomodado. Estava tão acostumado que saberia dizer a rotina do casal de trás para frente. E, ademais, não pensava tanto na modelo quanto gostaria ou deveria.
Um grito masculino soou pelos seus ouvidos e, embora ele não tenha escutado uma palavra sequer, agradeceu – por um segundo – por o terem tirado de seus pensamentos. No outro segundo, ele correu até a ponta do barco e viu todos olhando para o mar e gritando: “Onde ela está?!”, “Eu não estou a vendo!”. Foi quando notou: Todos estavam olhando, menos . Porque era ela a quem todos olhavam à procura no mar. Não pensou muito. Logo depois, já estava sem camisa, indo de encontro com a água e ouvindo gritos pelo seu nome. Assim que mergulhou, viu se rebatendo embaixo d’água e, enquanto ia em sua direção, ela foi, aos poucos, parando de se mexer e afundando cada vez mais, seus olhos agora estavam fechados e todo o ar do seu corpo saía pela boca em forma de bolhas. Ele sentiu o oxigênio do seu corpo ir se esgotando e seus olhos começarem a arder devido ao sal da água, o que o fez aumentar a velocidade do nado e, em instantes, agarrar o braço dela e ir até a superfície.
Henri desceu alguns degraus da escada para ajudar a subir até o barco, enquanto Pierre improvisou uma cama com algumas almofadas e colchas que encontrou. estava com os olhos lacrimejados ao ver a amiga tão branca e com os lábios um pouco arroxeados. Assim que Henri, René e deitaram-na, Pierre se apressou em empurrar os três, se ajoelhar e realizar uma respiração boca-a-boca nela quatro vezes, até ela abrir os olhos, cuspir o que pareciam ser litros de água e desmaiar novamente.

Mesmo de olhos fechados, sabia que tinha alguém ao seu lado devido à respiração pesada e passos andando de um lado para o outro. Pensou em ou em Pierre, mas se surpreendeu assim que abriu os olhos: estava de bermuda, sem camisa, cabelos molhados e uma toalha branca ao redor do pescoço, andando de um lado para o outro. Foi assim que ele se virou novamente para continuar e encontrou com o olhar dela, fazendo-o ficar imóvel imediatamente.
– Oi. – Ele quebrou o silêncio, mas saiu tão baixo que limpou a garganta e tentou novamente. – Oi!
– Oi. – Ela sorriu e deu um impulso para se levantar, mas logo contorceu o rosto em uma careta de dor e correu para ajudá-la.
– Não, não, não. – Disse, rapidamente. – É melhor não se mexer, você tem que ficar de repouso e...
– Como eu vim parar aqui? Por que eu estou seca e usando meus pijamas? – Perguntou, confusa. – Você me trocou de roupa?
– Não! Você não lembra de nada?
– Bem, eu lembro de me desequilibrar, cair no mar e de alguém fazendo respiração boca-a-boca em mim. Depois tudo é um borrão.
– Hm... É, Pierre fez respiração boca-a-boca em você logo depois de eu ter tirado você da água...
– Espere, você pulou por mim?
– Bem, sim. Eu nem consegui pensar direito e já estava...
– Obrigada, . Muito obrigada mesmo! – Ela sorriu e ele notou que os olhos dela estavam lacrimejando. Não pôde deixar de pensar quão fofa ela aparentava estar.
– Não tem o que agradecer, , de verdade... – Ele mordeu os lábios e coçou a nuca. – Então, depois nós voltamos para o hotel, , Louise, Serena e Emma deram banho em você, trocaram sua roupa e secaram seu cabelo.
– Não acredito que dei tanto trabalho só para me darem um banho! – Ela enfiou as mãos no rosto e cobriu toda sua cabeça com o lençol.
– Não se preocupe, tenho certeza que elas conseguiram dividir bem a tarefa.
– Bem, e você?
– Eu?
– É, estava aqui assim que acordei.
– Achei melhor não te deixar sozinha, você poderia precisar de algo. – Ela apenas assentiu e deu um sorriso fraco. – Bom, eu vou… vou… vou ligar para a , ela pediu para avisar assim que você acordasse.
– Sim, por favor.
– Se precisar de algo, não hesite em me chamar, eu… – Ele suspirou fundo e sorriu de lado. – Eu estou sempre há uma porta de distância, lembra?
Ah, , e tinha como esquecer?

– Você tinha que ver a forma como ele pulou para salvar você, parecia um verdadeiro herói. – Louise falou, comendo um pacote de Elma Chips. Estavam todas lá, Louise, , Emma, Serena, Amélie e Melanie, apareceram na porta de um minuto após a ligação de . – E o Pierre… Nossa, o Pierre!
– Nem me fale, foi tão sensual…
– Emma! – exclamou, rindo. – Foi pura questão de emergência.
– Ah, tá bom, ! Quem você quer enganar? Todo mundo sabe que o Pierre tem uma queda pela ). – Melanie falou, sorrindo maliciosamente para .
– Queda? Ele tem o abismo inteiro. – Foi a vez de Serena zombar e todas rirem.
– Parem, Pierre não se aproveitaria de mim dessa forma! Não quando eu estava desacordada. – o defendeu. – Seu irmão foi um verdadeiro anjo, , além de me salvar, estava aqui no quarto quando eu acordei…
– Credo, que tarado. – Louise brincou, fazendo uma careta, mas desmanchou assim que viu o olhar de a repreendendo. – Desculpe, foi até fofo, não foi?
– Sim, foi. Enfim, ele ficou de olho em mim para avisar a vocês quando eu acordasse. – Ela deu um longo suspiro. – Engraçado, minhas lembranças com ele, que são poucas, são muito diferentes.
– Diferentes como? – Serena perguntou, tentando roubar o pacote de Elma Chips de Louise.
– Ele parecia ser meio babaca com as meninas e nunca aparentou se importar muito com algo. Além dele mesmo. – se arrependeu no mesmo instante, porque notou abaixando a cabeça e encarando suas pernas cruzadas em cima da cama. Não ficou cabisbaixa pelo comentário da amiga, mas sim por ser verdade.
– Ele era idiota? – Emma perguntou, chegando mais perto da amiga.
– Bem, nem sei contar quantas vezes eu estava na casa dos com e inúmeras garotas saíam de lá aos prantos e, logo depois, no mesmo dia pela noite, outra garota já estava com ele. E no outro dia, era ela chorando.
Conversaram por algumas horas a mais, até todas irem embora, menos , que disse que dormiria ali por uma noite, só para ter certeza de que todo o acidente havia sido apenas um susto e ela estava realmente ao lado da melhor amiga.
– Charles não vai se incomodar?
– Óbvio que não, ele vai dormir comigo pelo resto da vida. – Elas riram e a noiva completou: – Ele chamou os padrinhos para sair também, devem voltar tarde.
– Você não se importa?
– Não, também iremos sair só nós mulheres. Confio nele.
– Você é realmente madura, estou orgulhosa da mulher que se tornou, . – a abraçou e disse baixo em seu ouvido: – Charles é muito sortudo, achou praticamente um tesouro.
– Pare com isso, sortudo é a pessoa que a tem presente na vida.
– Não acho que alguém irá gostar de mim, não do jeito que você e Charles se amam.
a lançou um olhar feio e suspirou fundo.
, por favor, você é incrível, não precisa ser necessariamente um homem para ser sortudo por te ter. Eu sou sortuda, seus pais são e assim se segue. Relacionamentos amorosos são bons, mas não é o único tipo de relacionamento e você é muito maior que isso. Acredite em mim, sem amor você não morrerá, seja ele o tipo que for.
Uma lágrima escorreu pelo olho esquerdo de e a amiga logo tratou de limpá-la. Como ela odiava qualquer tipo de momento emocional ou extremamente dramático, sorriu e logo se recompôs.
– Preciso da sua ajuda, tudo bem? – Ela informou e assentiu com a cabeça. – Quero cozinhar algo como forma de agradecimento para Pierre e , você poderia me dizer o prato favorito do seu irmão?
, pelo amor de Deus, você está louca?! Você quase morreu hoje, quer ir cozinhar e ainda pede minha ajuda? Óbvio que não!
– Por favor! Não aguento mais ficar deitada nessa cama! Eu estou bem, juro. – Praticamente implorou, atropelando as palavras por falar tão rápido. – Além disso, vou fazer com ou sem sua ajuda.
Dando-se por vencida, contou que o irmão adorava a Gratin Dauphinois, um prato tipicamente francês que a mãe fazia no natal. Era bastante simples, na verdade, os ingredientes eram apenas batata, alho, creme de leite, queijo, sal, manteiga e pimenta, mas não incluiu o último ingrediente por não gostar de comidas apimentadas. Quanto ao prato de Pierre, seria feito por pedido em algum restaurante japonês, porque comida japonesa era sua favorita e ela não tinha talento para isso. Tecnicamente, não havia talento algum para a cozinha, cozinhava terrivelmente mal e contava com a ajuda da melhor amiga para não desapontar o homem que a salvou.
Após muita conversa com um dos cozinheiros do hotel, conseguiu um espaço pequeno da cozinha, depois de muito prometer que eles nem iriam sentir a presença de mais alguém ali. começou a descascar e cortar as batatas em pequenas rodelas, enquanto esfregava um prato com o alho, esmagando um pouco. As batatas deveriam ser dispostas no prato em camadas regulares, cada camada com sal e cobrir tudo com creme de leite posteriormente. A noiva agitou ligeiramente o prato para distribuir bem e colocou alguns pedaços de manteiga e sal por cima. Assaram cerca de duas horas e meia a cento e vinte graus e depois complementaram o Gratin Dauphinois com carne de boi. Poderia estar ruim, não sabia, mas estava exageradamente bonito e de aparência saborosa. Nas quase três horas que a comida passou assando, aproveitou para encomendar no único restaurante japonês da região, que ficava a cerca de uma hora e meia de distância.
Estava tudo pronto, estava vestindo uma blusa de manga comprida e um shorts jeans, a comida estava em cima da mesa de trabalho do quarto e o noivo e os padrinhos tinham acabado de retornar ao hotel. Sabia dizer porque ouviu a porta do quarto de bater quando ele entrou. Ela ajeitou o cabelo mais uma vez no espelho, pegou a vasilha de vidro com uma mão e bateu na porta que dividia os quartos com a outra. Demorou um pouco para que fosse atendida, quase a fazendo desistir, mas ele abriu a porta e a encarou sem expressão alguma, até olhar para o prato em suas mãos, o que o fez ficar confuso.
– Oi... – Ela quebrou o silêncio, mas ele não respondeu e ela limpou a garganta antes de continuar. – Eu fiz para você, como forma de te agradecer.
Ele não esboçou reação alguma.
– Bem, disse que era seu favorito, eu espero que seja, ou... estou errada?
Ele, então, se pronunciou, mas achou melhor não tê-lo feito:
– Obrigado, mas eu já comi. – E fechou a porta, deixando-a sem entender nada.

– Caramba, , muito obrigado! Eu estava com tanta vontade de comer um bom sushi, espero que não tenha sido muito caro. – Pierre dizia com um pouco de dificuldade, porque estava comendo sem parar, mas também não parava de falar.
– Não se preocupe com o preço, fico muito grata pelo que fez por mim.
– Pare, chega a ser ridículo você me agradecer por algo assim. – Ele engoliu rapidamente o sushi que colocou na boca e a encarou, sorrindo logo depois. – Eu não podia perder você.
lembrou das palavras de Melanie e Serena sobre os sentimentos de Pierre e engoliu em seco. E se fosse verdade? O que faria sobre isso?
– Bem, eu agradeço de toda forma. – Ela sorriu e ele retribuiu. Sabia que ele não tentaria nada agora, porque era apenas como ele era, descontraído e carinhoso, sempre distribuindo palavras amorosas, pelo menos para a amiga. Pierre era cuidadoso e protetor, mas se questionava se isso era como a amizade deles funcionava ou se prevaleceria em um relacionamento também.
– Você deve estar se perguntando porque eu não pulei, eu...
– Não estou, não. De verdade, Pierre, aconteceu tudo tão rápido...
– Eu sei, eu só sinto muito, se não tivesse pulado... Bem, eu não sei, mas eu fiquei sem reação, acho que todos ficamos e ele foi o único que reagiu de maneira diferente.
– Podemos não falar dele, por favor? Só aproveitar esse momento em que eu estou com você, pode ser? Quase não o vejo em Paris, sinto muito sua falta.

estava arrependido. Não queria ter sido tão grosso com a melhor amiga da sua irmã, que estava começando a achar que poderia criar um laço de amizade também. Ele a procurou por volta de quinze minutos depois do ocorrido, tentou a contatar no seu quarto e a procurou por quase todo o hotel, até chegar na varanda. A varanda era um espaço do hotel que separava, por um pequeno muro, o limite do hotel e a praia, era uma vista linda e... romântica. E talvez essa característica amorosa o incomodou um pouco quando a viu acompanhada de Pierre, eles riam descontraidamente enquanto comiam algo, que ele não soube identificar e pareciam um casal. Ele molhou os lábios com a língua e fitou o chão, ficou nessa posição por cinco segundos até decidir ir embora, atrapalhá-los por um pedido de desculpa soava inconveniente. Ademais, toda sua vontade de desculpar-se subitamente desapareceu, irritando-o mais ainda.


Capítulo 3

12 dias para o casamento.



O dia anterior fora completamente perdido devido ao incidente com . Decidiram, então, adiar todos os compromissos para hoje. E era por isso que estava acordado às oito horas da manhã, ajudaria no que fosse preciso, mesmo que ela não tivesse pedido. Antes de se levantar, sentou-se e passou a mão arduamente pelo rosto. Lembrou-se do cair do sol de ontem. Lembrou-se de ouvir as palavras de contra ele, tão rígidas, no entanto, ainda assim, realistas. Mas isso não tornava tudo menos doloroso. Certo, talvez não doloroso. “Uma palavra muito forte para caracterizar esse sentimento”, pensou. Ficou chateado, indubitavelmente, por saber que era essa a visão de Deschamps sobre ele. Não ouviu intencionalmente a conversa dela e suas amigas, ao contrário, assim que notou a fresta da porta entre seus quartos, se dispôs a fechá-la. Até ouvir seu nome. A partir disto, a curiosidade falou mais alto.
Levantou-se, afinal, espantando para longe qualquer pensamento que o remetesse àquela conversa desagradável. Tomou um banho gelado, pois achava a Grécia extremamente quente, escovou os dentes e vestiu uma bermuda de tecido estampada com flores azuis e uma camiseta branca.
Assim que abriu a porta do quarto e pôs o corpo para fora, observou a correria de alguns funcionários aos arredores do seu quarto. O dono do hotel, Téo Artino, surgiu ao lado do jogador com um enorme sorriso presente em seu rosto. Téo estava em seus perfeitos vinte e nove anos, tinha cabelos incrivelmente negros, seus olhos possuíam uma cor de esverdeada e sua pele era de um moreno tão reluzente, que considerou se era devido a algum bronzeamento. Estava encarando um exemplar estereótipo grego.
– Bom dia, senhor . Meu nome é Téo Artin, sou o atual dono do hotel. – Ele esticou sua mão e logo o cumprimentou. – Soube que a estrela do futebol francês estava hospedada no hotel que meu próprio pai construiu e, me perdoe, mas tive de ver com meus próprios olhos. – Ele ainda sorria e movia suas mãos freneticamente pelo ar. Os funcionários agora haviam desacelerado os passos e se portavam de uma maneira mais formal, deixando de lado a correria de segundos atrás.
– É um prazer, senhor Artin, o Hotel Artin é extremamente adorável e confortável, seus funcionários também fazem um ótimo trabalho.
As palavras pareciam ter sido ditas de forma perfeita, de forma que, melhores não poderiam ter sido, haja vista que Téo Artin aparentou estar bastante orgulhoso quando formou uma expressão presunçosa em seu rosto.
– O prazer é todo meu, acredite! Sou um grande fã do futebol francês e sei que o senhor está fazendo um ótimo trabalho na Alemanha também. – Ele virou a cabeça de um lado para o outro e olhou feio para um garçom que andava distraidamente checando seu celular. – De qualquer forma, senhor , eu soube que o senhor fez uma reclamação na portaria do hotel e eu gostaria de pedir desculpas. E oferecer um quarto muito melhor para o senhor, obviamente! Sem custos adicionais e...
passou com Amélie carregando uma prancheta em suas mãos e andando incrivelmente rápido, o que fez com que se distraísse completamente da conversa e ficasse levemente confuso.
– Agradeço muito, senhor Artin, mas está tudo bem. Tudo ótimo, na realidade, mas eu preciso ir agora, se o senhor me der licença.
– Oh, sim, claro... – Téo mal havia terminado de pronunciar sua última palavra e já estava correndo pelos corredores do hotel. Não demorou muito para encontrar , Charles e seus respectivos pais em frente à um salão enorme e parou de correr, andando em sua direção. Aos poucos, viu o corpo de , por trás do de Charles e de seu pai, ainda com a prancheta, mas não mais acompanhada de Amélie.
Por mais que odiasse, um sentimento incômodo apoderou-se de si. sorriu assim que o viu, mas desmanchou aos poucos ao ver a expressão do irmão.
, meu filho... – Senhora começou, mas o filho a interrompeu:
– O que ela faz aqui? – Ele perguntou, apontando com os olhos e ela juntou as sobrancelhas, extremamente confusa com aquela atitude.
– Que tipo de pergunta é essa, ? – Fora a irmã que se pronunciara desta vez, ela cruzou os braços e aumentou o tom de voz, não suportava grosseria, muito menos sem razão alguma. – Ela é minha madrinha.
– Não, não aqui na Grécia, mas neste salão.
– Estamos organizando o buffet e a decoração do casamento, . – Charles respondeu de forma amigável, também confuso com todo o cenário criado ali.
– E por que ela está aqui e eu não? Por Deus, ela não é nem parte da família e está participando desse casamento mais do que eu!
, o que está dizendo?
– Tudo bem, senhora , eu entendo o . – a interrompeu de forma agradável, ela sabia que ele – por alguma razão – estava chateado com ela e decidiu revidar de outra forma: sendo assustadoramente gentil, sabia que isso iria desestabilizá-lo na frente de todos. – Ele estava me falando quanta falta sentia de vocês e desses programas em família, talvez você poderia me ajudar na escolha dos doces, que tal?
Todos o encararam, encorajando-o com o olhar para responder.
– É... claro.
Ela assentiu e o chamou com o dedo indicador para um canto do salão que possuía uma mesa enorme cheia de doces. Ele a acompanhou, mas parou assim que a viu parar e olhar para os lados antes de o encarar, ele fez o mesmo, todos agora estavam de volta prestando atenção nos outros atributos do casamento e preocupados demais com suas funções para que tudo saísse perfeito.
– Você só tem que provar alguns desses doces e escolher os melhores para o buffet do casamento, entendeu? – não o encarava, estava absorta preenchendo algo na prancheta e assim agradeceu, pois não tinha condições alguma de a encarar no momento, estava completamente envergonhado pela sua atitude de minutos atrás e não sabia como se desculpar. Ela parecia chateada, não é para menos – obviamente –, visto que ele atraíra toda a atenção do local para , sem ela sequer ter feito algo. – Certo, qualquer dúvida você pergunta para alguém que não seja eu – E deixou o recinto.

Após o almoço praticamente ninguém estava disposto para seguir novamente até o salão do hotel, mas a noiva insistiu que o que estava por vir iria animar todos um pouco. Até , que se afastou um pouco de todos devido as palavras de , pareceu um pouco mais feliz com a surpresa e ainda mais quando sentiu seu celular vibrar no bolso da calça e, assim que o desbloqueou, viu o numero do seu pai na tela. De acordo com a mensagem, ele e a mãe estariam chegando na Grécia alguns dias antes do casamento e, em anexo, ele enviou uma foto em que as malas já estavam prontas e sua mãe estava com os braços abertos, vestindo um maiô vermelho.
“O clima é incrível, tenho certeza que vocês irão amar, estou ansiosa para ver vocês! Quem diria que era mais fácil nos encontrarmos na Grécia do que na França?”, ela guardou o celular assim que enviou e notou que seus amigos já estavam a caminho da surpresa que e Charles tanto falavam.
Assim que entraram no ambiente, viram uma mulher com roupa de ginástica e sapatos de corrida, ela sorriu para os noivos assim que os avistou e se virou para os outros, falando em um sotaque inglês meio embolado.
– Bem, meu nome é Thalia Hadam e eu serei a coreógrafa de vocês para a dança da festa após o casamento, contaremos com os noivos e todos os padrinhos e madrinhas. – ela encarou, em especial os padrinhos, que, por sua vez, balbuciaram reclamações de uma vez só. – Agora, eu quero os homens e as mulheres em uma fileira do menor para o maior.
observou Michel, Henri e René começarem a brigar por quem era o maior dos três, pois todos alegavam ser o mais alto. Enquanto isso, Thalia conversava com e Charles sobre o local que ocupariam, ele caminhou até eles e pediu gentilmente para falar com a dançarina.
– Pois não?
– Você está vendo aqueles dois? – Ele apontou para Jean e depois para Melanie, que estava entre Serena e Louise e Thalia assentiu. – Acha que poderia os fazer dançar juntos?
Ela deu um sorriso malicioso e piscou um dos olhos para o jogador.
– Claro, querido, fique tranquilo.
Assim que Thalia virou o corpo de em direção aos dos outros padrinhos e deu um pequeno empurrão, ela notou o olhar de analisando-o cautelosamente. Era um olhar inexpressivo, de certo, enigmático. Foi quando pensara que, embora formaria um ótimo par com René por conta da altura, ele poderia ficar com Emma e ela, assim, dançaria com o jogador.
– Bem, você e você... – Thalia apontou para Louise e Pierre, os mais altos. – Agora você do meio e você da ponta. – Chamou Jean e Melanie dessa vez e a garota contorceu o rosto em uma careta.
– Mas eu não deveria ir com o Michel? Ele é o segundo mais alto, assim como...
– Querida, não é só sobre a altura, tudo bem? Tem a ver com a química também e a garanto que reconheço uma de longe. – Ela respondeu e Melanie praticamente escondeu o rosto de tanta vergonha. – Agora, vocês dois juntos – Serena e Michel se aproximaram e ele a pegou pela mão e a fez girar, provocando uma sessão de risadas entre os dois. – Ahn... Você, de cabelo preso – a encarou, com as sobrancelhas arqueadas. – E você de camiseta branca.
“Ah, não, de todos os garotos...” fora a primeira coisa que Deschamps pensou assim que viu Thalia empurrando em sua direção. O único casal restante havia sido Amélia e Henri, que tinha uma disparidade de altura menor.
– Eu vou colocar uma valsa comum para ver a postura e erros pontuais de alguns de vocês, inclusive dos noivos. Prontos? – E antes que alguém sequer pudesse responder, ela colocou a música.
hesitou antes de se aproximar, então deu o primeiro passo, não antes de dar um longo suspiro. “Farei isso por ” e, coincidentemente, foi o que os dois pensaram antes de começarem a dar os primeiros passos.
, você parece uma árvore dançando, se solta, mulher! – Pierre falou quando passou por ela e seu par, fazendo-a sorrir.
– Você não é um dos melhores também! – Ela retribuiu, mostrando a língua para o amigo.
– Louise não está reclamando.
– Claro, você não cala a boca para me deixar falar. – Louise respondeu, causando uma crise de risos na amiga.
– Bem feito. – disse, sorrindo de orelha a orelha, o que fez com que a encarasse por míseros segundos e pensasse quão linda ela ficava quando estava feliz e empolgada daquela forma. Mesmo sendo pouco tempo, foram segundos suficientes para notar que ele a olhava sorrindo.
, eu...
– Você tem algo para me dizer? – Quanto mais ela o encarava, mais ele sentia seu coração acelerando.
– Bem, eu... É que... Não, não, esquece.
– Qual é a sua, ? – perguntou grosseiramente, falando baixo para não alertar ninguém, o assustando um pouco. – Você me salva para me tratar feito um nada? Quer jogar na minha cara que eu apenas estou aqui graças a você, é isso? Quis pagar de herói e agora nem me encara? – Falou tão rápido que atropelou quase todas as palavras.
– Não, é que...
– Então que droga é essa? E é bom que você me explique logo. – ela soava tão nervosa e frustrada que ele nem sabia por onde começaria.
– Eu ouvi sua conversa ontem. – Soltou dessa forma, rápida e direta e respirou fundo para prosseguir: – Não foi intencional, eu estava indo fechar a porta e ouvi você me definir como um idiota.
– Eu não disse que você era idiota.
– Você não negou quando Emma perguntou.
Ela o olhou nos olhos, o que parecia ser aterrorizante naquele momento, já que os dois estavam tensos e extremamente perto.
– É, você está certo... Bem, sinto muito por isso, mas a forma em que eu o defini... É como você era, eu não inventei mentiras sobre ninguém. – Ela falava de maneira rígida, mesmo dançando. – Contudo, , se você tem algum problema com alguém, o ideal é conversar antes de destratar como você fez comigo. Nada justifica sua grosseria ou a cena que você causou na frente da sua própria família porque ficou ofendido.
– Eu sinto muito por isso também. – Ele falou e ela assentiu. – Embora não justifique, acho que só me senti um pouco de fora aqui, mesmo com minha família.
– Certo, tudo bem.
– Obrigado por ter sido gentil comigo na frente de todos.
Ela sorriu.
– Não há de quê. Achei legal o que você fez por Melanie e Jean. – Ele estava pronto para entrar na defensiva, mas ela o interrompeu: – Eu sei que você pediu para Thalia os colocarem juntos.
– Como você sabe?
– Eu notei.
– Ah, então quer dizer que você estava reparando em mim? – Ele abriu um sorriso presunçoso e ela adquiriu uma expressão indignada. – Fico honrado, Deschamps.
– Pode me chamar de .
– Certo, Deschamps.

10 dias para o casamento.



Dois dias haviam se passado desde o primeiro ensaio de dança e foram dois dias cheios de provas de roupas, comidas, bebidas, decoração e, obviamente, muita dança. Thalia, que aparentara erroneamente ser um doce, agora se mostrava rígida e perfeccionista, exigia sincronização e, ora, não havia nenhum dançarino profissional ali. Sem contar a constante mudança no ritmo da música, ora agitado, ora lento, todos acabavam por se atrapalhar, principalmente os homens, que Thalia insistia serem “tão duros quanto meus últimos três maridos”. Ela era, no geral, assustadora e provavelmente por isso todos se esforçavam tanto nos ensaios para agradá-la. Além disso, Jean e Melanie estavam começando a brigar menos por ele pisar no pé dela, ela começar uma discussão e ele alegar que ela não estava dançando direito, o que a deixava ainda mais furiosa. Enquanto isso, e Charles estavam discutindo há algumas horas sobre a posição das mesas com seus respectivos pais.
reparou que Louise e Pierre estavam agora mais próximos, cogitou até em serem um casal e, honestamente, achou a ideia adorável. Pierre nunca foi muito mulherengo, ao contrário, se apaixonava facilmente por qualquer garota que o desse um pouco de atenção. Só que eles não eram os únicos que haviam se aproximado, e estavam mais amigos e conversavam mais do que com a própria . Na noite passada, o convidou para assistir um filme com ela em seu quarto, escolheu “O Casamento do Meu Melhor Amigo” sob os protestos de de que era extremamente clichê, mesmo nunca tendo assistido ao filme.
– Como assim você nunca assistiu esse filme? É um dos mais famosos da Julia Roberts!
– Eu só conheço “Uma Linda Mulher”. – Ele disse, pensativo.
– Por Deus, , você é uma decepção! Iremos ver esse mesmo, então.
– É clichê demais, principalmente por estarmos aqui por um casamento!
– Mas o filme não é sobre o casamento em si, é que ela gosta do melhor amigo e ele vai se casar e…
– Espere, você está tentando dizer algo? – a segurou pelos ombros e a olhou nos olhos. começou a sentir seu coração acelerar e sua respiração ficar mais descompassada. – Você gosta da minha irmã e está usando o filme para dizer isso?
– O quê? Não, seu babaca! Que susto!
– Por quê?
– Por quê o quê?
– Você levou um susto. “Bom, talvez seja porque eu acho que estou gostando mais de você do que deveria e isso me assusta” foi a primeira coisa que ela pensou, a segunda foi:
– Eu sou assim, assustada mesmo. – Ela falou, pegando o controle e selecionando o filme. – Agora é bom a gente começar a assistir antes que inventem algo para a gente ter que fazer.
Durante o filme, estava mais preocupado em distraí-la do que em realmente prestar atenção, enquanto os olhos da garota estavam mais concentrados na televisão do que em qualquer outra coisa. Ao longo das cenas, ele observou que ela ora sorria, ora franzia as sobrancelhas, como se estivesse vivendo realmente algo de tudo aquilo e não pôde deixar de achar extremamente adorável como ela se envolvia facilmente com a trama. Aos poucos, ele desistiu de tentar atrapalhar e começou a realmente assistir ao filme.
– Eu não entendo o porquê de ela gostar tanto do Michael quando o George está bem ao lado dela. – segurou o riso e bateu em com um travesseiro. – Ai!
– Você não prestou atenção mesmo?! Ele gosta de homens, !
– Isso, você acertou, queria ver se você estava prestando atenção.
– Sei – os primeiros acordes de “I Say A Little Prayer” cantados pelos atores começaram e Deschamps os acompanhou na cantoria, ficando em pé na cama e usando o controle como microfone. – Forever and ever, you’ll stay in my heart and I will love you. Forever and ever we never will part, oh, how I love you. Together, forever that’s how it must be. To live without you would only be heartbreak for me. – Ela finalizou rodopiando, mas seus pés engancharam-se nos lençóis, fazendo com que ela caísse bem em cima de , por mais clichê que soasse. Mesmo que estivesse nervosa e todo seu corpo gritasse para que permanecesse estática, pois estava extremamente confortável tendo seu tronco nos braços de , sua mente ainda explanou um resto de sanidade e a fez pular de cima dele o mais rápido possível. – Desculpe, me enrolei nos lençóis… – Ele parecia ainda confuso, por isso completou: – Não fiz por querer, eu juro, você…
– Ei, , calma, eu sei que não. – Ele riu um pouco do desespero ao tentar se explicar atrapalhando e cuspindo milhões de palavras. – Não se preocupe.
Ela voltou para o lugar ao lado dele e deitou de costas para , sabendo que provavelmente suas bochechas estavam vermelhas demais para deixá-lo vê-la. “Just The Way You Look Tonight” na versão de Tony Bennett começou a tocar no filme e ouviu soluçar, ainda virada de costas para ele. Ele sorriu, achando graça ao presumir que ela possivelmente estaria chorando devido à cena do filme.
– Você está bem?
– Essa cena me deixa um pouco emocionada, essa música… é tão linda. – Ela respondeu em meio às lágrimas. Ele levantou, deu a volta na cama, parou bem na sua frente e a puxou pelas duas mãos. – O que você está fazendo?
– Dançando com você, nós aproveitamos até para treinar para o casamento. – Ele posicionou as mãos na cintura dela e levou suas mãos até o pescoço de , seus olhares não foram rompidos em nenhum momento até o fim da música. – Até que você melhorou.
– O quê? – Ela o afastou, empurrando-o de leve.
– Você pisou demais no meu pé por esses dias.
– Ah, cala a boca, você que é ruim.
– Não foi o que Thalia me falou. – Ela o lançou um olhar curioso e ele complementou: – Ela disse que você é uma péssima parceira de dança e que eu estou carregando essa dupla nas costas.
– Não acredito, você é muito mentiroso. – o acusou e foi desligar a televisão.
– Quando eu menti?!
– Ontem. – ele fingiu não entender nada, fazendo-a rir. – Vai se fazer de desentendido? Você me disse que não foi você quem pegou o último pedaço de bolo.
– Bom, tecnicamente, foi você.
– Claro! Eu tive que roubar de você pra comer um pedaço, enquanto você já ia comer seu terceiro!
– Ladra!
– Mentiroso!
– Sabe, eu acho que eu sou a Julienne do filme… – comentou, aleatoriamente. – Vou acabar sozinha, dançando com o melhor amigo gay.
– Que vai ser o Pierre.
– O quê? – Ela riu. – Ele não é gay!
– Eu sei disso, é bem óbvio que ele gosta de você.
– Ah, não, você também? Chega desse assunto…
Ela passou as mãos pelo rosto e virou de costas para . Uma coisa era suas amigas a alertarem de algo desse tipo, não o irmão da sua melhor amiga, que a conhece por menos de um mês.
– Então eu não fui o único a reparar? Viu? Óbvio.
– Ele é meu amigo.
– Não significa que ele não queira nada. – Ele disse, apoiando os braços nos ombros dela e a fazendo olhá-lo nos olhos. – É como se ele fosse um cachorro de rua e você fosse um pedaço de carne na vitrine do restaurante.
– Eu não sou um pedaço de carne.
– Claro que não, você não entendeu, estou falando da forma como ele olha para você. Foi um exemplo. – Ela assentiu com a cabeça e deu um sorriso maroto. – Além do mais, eu o entendo, você está cada dia mais linda.


Capítulo 4

chamou e rapidamente no quarto de cada um, obrigando a se desfazer das imagens da noite passada e a sua desastrosa reação após o elogio de . Deixando os pensamentos de lado, focou em se aprontar rapidamente, parecia mais apressada do que o normal. Assim que se levantou, varreu os olhos pelo quarto e procurou um casaco, já era tarde e uma chuva severa caía janela a fora, fazendo com que o ambiente gelasse um pouco. Ao sair, percebeu que faziam um caminho diferente do habitual, que geralmente os levava para o salão do hotel. As paredes estavam perdendo a cor original da tinta e eram preenchidas com fotos de cartões postais da Grécia. Eles subiram uma escada circular que, para a infelicidade de , possuía ainda três lances. No entanto, não demoraram muito para atingir o topo, e embora estivessem com a respiração ofegante, apressaram o passo ao perceber que a noiva já estava inquieta. Logo que entraram por uma porta meio caída de madeira, visualizaram Charles apoiado em um dos batentes da varanda. Apesar do caminho para o cômodo um pouco desconfortável, o lugar estava todo iluminado com lamparinas – o que deixava o ambiente levemente escuro, mas ainda agradável –, as paredes eram marrons claro e a varanda era toda feita de vidro aproximadamente até a cintura do noivo. A vista era diretamente para o mar.
– Então – começou . – Eu e Charles gostaríamos que vocês nos ajudassem com o arranjo das mesas e as músicas da festa.
– Achei que vocês fossem contratar um DJ. – falou , retirando o casaco ao notar que Charles havia fechado todas as janelas para evitar que a chuva os molhasse.
– E vamos, mas queremos ter certeza de que as músicas serão apropriadas.
– “Apropriadas”? – riu. – Você está exagerando, esse é justamente o trabalho de quem toca a música.
era uma das pessoas mais controladoras e calculistas que conhecia, ela tinha o costume, desde pequena, de planejar até os mínimos detalhes e, caso algo saísse dos planos da irmã, ela simplesmente ia à loucura.
– Bom, eu organizarei isso com ou sem você, posso chamar Pierre se você não quiser... Ai! reclamou de dor ao sentir o irmão dar um leve tapa em seu ombro. – Por Deus, eu estou lidando com um ogro!
– Claro que eu vou organizar com você, boba.
– Ótimo, você pode cuidar das mesas com Charles, eu tenho que ir no salão rapidinho para resolver alguns detalhes do buffet e vai cuidar da música. Além disso, ela está no comando também.
– Por que ela?! – o noivo e o irmão perguntaram ao mesmo tempo, fazendo cruzar os braços e abrir um sorriso malicioso. Achava extremamente engraçado como eles se sentiam afetados e incomodados quando os tratava como crianças que precisavam urgentemente de uma babá.
– Ah, eu achei que fosse óbvio. – balançou os ombros e os encarou com desdém. – Eu não confio em vocês dois.
– O quê?!
Sem dizer mais nada, saiu pulando e rindo antes que insistissem para que ela mudasse de ideia.
– Meu casamento e nem estou no comando! – Charles cruzou os braços e fez um bico extremamente infantil. – Sabe, , às vezes acho que você que deveria estar se casando com ela, ela não me deixa fazer nada!
– Você sempre deixa as coisas pra cima da hora.
– Não deixo, não.
– Quando foi que você foi buscar a sua roupa e a dos padrinhos mesmo?
– Bem, no dia do voo, mas...
– E quando você ligou para o buffet?
– Qual dos?
– Exatamente – ela sorriu, vitoriosa. – O primeiro que você tentou, foi tão em cima da hora que eles já tinham eventos marcados!
– Mas eu...
– E quando você avisou qual era o hotel para que pudéssemos alugar os quartos?
– Dois dias antes, mas em minha defesa...
– Nem se dê ao trabalho, acho que ela já provou o ponto dela. – interrompeu, sentando-se na mesa e organizando os papéis da planta do ambiente da festa de casamento. – A gente só precisa colocar alguns convidados em essas mesas aleatoriamente?
Você está louco?! – Charles quase gritou, assustando , mas também a fazendo sorrir da inocência de .
– Que é?
, eles convidaram quase duzentas pessoas, nem todo mundo se dá bem com todo mundo, temos que organizar de acordo com quem achamos ter mais proximidade. – o explicou e ele fez uma expressão de que havia descoberto o mundo. – Obviamente.
– Não é tão óbvio assim! – disse ele, mostrando a língua para . – Eu nunca fiz um casamento antes.
– Nem eu.
– Ah, me desculpe então, Srta. Óbvio...
Cinco minutos haviam se passado e retornou com um andar apressado e passando uma das mãos no cabelo.
– Pelo amor, eu saí por apenas minutos e vocês ainda estão brigando? – atravessou a porta com alguns doces na mão, cinco, com exatidão. – Eu trouxe algumas degustações para vocês opinarem. – ela parou assim que viu que eles mal haviam tocado nos papéis, apenas haviam espalhados eles. – Será possível que vocês...
– Ei, ei – tirou os doces da mão da amiga e a levou até uma das cadeiras. – Relaxa, temos a noite inteira, eu não tenho planos.
– Nem eu – falou e, assim como , olhou para Charles.
– Ah, sim, é... bem... muito menos eu, amor!
– Tudo bem, então você pode fazer as músicas com a , .
Ele sorriu e correu para o lado de , apertando a barriga dela apenas para irritá-la.
– Francamente, , você consegue superar crianças de dez anos de idade!
Os pés de batiam freneticamente no chão, seus dedos da mão batiam um de cada vez na mesa e ela mordia nervosamente a tampa de uma caneta. Ela olhou ao redor e parou o olhar na janela por alguns segundos. Tudo parecia estar mais devagar agora, embora as janelas estivessem fechadas, sua visão estava tão focada na chuva que caía afora que pôde jurar sentir uma corrente de ar envolver seu corpo. As plantas do espaço da festa ainda estavam em cima da mesa, praticamente intocáveis se não fosse por Charles já ter decidido onde as famílias deveriam se sentar. Ele passou o olhar pelo rosto da noiva e reparou que ela olhava reflexiva para o céu, a acompanhando logo em seguida e perdendo também o olhar no cenário praiano grego. O céu estava escuro o suficiente para ser indecifrável onde exatamente terminava o céu e onde começava o oceano, separados por uma linha tênue, alertando-os: o dia já estava acabando.
O silêncio era apenas quebrado pelo suave bater das gotas de chuva contra o vidro e, para , era insuportável. Era como se o ambiente estivesse realizando uma perfeita ironia e refletindo o turbilhão de sentimentos que o atormentavam. Ele se levantou e respirou fundo. Um erro, pensou um segundo depois de observar alegremente escrever mais uma vez alguma música de sua escolha. Cada dia que passava, sentia menos falta de Heidi e mais da melhor amiga de sua irmã, acostumou-se a ir dormir todos os dias pensando se o amanhã seria um dia a mais com Deschamps ou um a menos e passou a se levantar cedo, o que odiava fazer profundamente quando estava de folga do trabalho, só para ter certeza de passar mais tempo com a garota. Dormia tarde e acordava antes mesmo do sol raiar para garantir que os dias seriam mais longos ao lado dela. Por insegurança, a tirava do sério só para não demonstrar seus sentimentos, nunca aprendeu a controlá-los, de fato, e soava como uma criança de oito anos que não sabia lidar com uma paixão pela colega de classe. Ele soltou a respiração pesada e se aproximou dela.
, qual é o problema de eles entrarem com uma música animada?
– Porque você não quer qualquer música animada e, sim, eletrônica!
– E qual é a sua sugestão?
– Bem, eu acho que deveríamos colocar hinos clássicos. – opinou, desbloqueando o celular e procurando algumas músicas francesas. esticou os braços para perto de Charles e pegou três doces dos quais trouxe.
– Ah e o que você propõe? O hino da França?
– Não, seu idiota! Eu quis dizer músicas famosas como...
– Você quer botar música do século passado, é isso?
– Bom, eu não vejo nada de errado em... , me dá meu celular! – ela gritou quando o viu rolar a tela pelas músicas que pretendia escolher.
– Deschamps, não tem nada aqui desse século!
– Me devolve! – ela tentou alcançar o aparelho enquanto ele levantava o braço, observando-a pular inutilmente. percebeu que ele só queria a irritar e sentou de volta, comendo, finalmente, um dos doces. colocou o celular perto dela e pegou o doce de chocolate. – Eu peguei pra mim.
– O que custa dividir?
– Custa minha paciência. – ela piscou para ele e tirou o doce de suas mãos. – Se você fosse legal, eu te daria, mas como você faz questão de me estressar, se levanta e busca um se quiser.
– Você parece uma criança.
– Não fui eu quem fiquei com raiva por ciúmes. – ela sussurrou e deu de ombros, mas sabia que ele pôde a ouvir perfeitamente.
Ele abriu a boca algumas vezes, procurando algo para dizer, não queria ficar em desvantagem… Era isso que causava nele, uma estranha necessidade de sempre ter a resposta na ponta da língua. Sabia o porquê. Odiava demonstrar fraqueza, sabia que era justamente que causava isso: o desestabilizava. Ela era imprevisível, não de um jeito ruim, no entanto, causava uma inquietação em inexplicavelmente incômoda.

estava de frente para a porta do seu quarto, procurando a chave, quando sentiu seu celular vibrar e o toque, de repente, tomou conta do silencioso corredor do hotel. Não demorou muito para encontrar as chaves e, apressadamente, abrir a porta. Assim que o fez, viu o nome de Heidi piscando na tela do telefone incessantemente. A primeira reação fora soltar o que pareceu ser todo o ar em seus pulmões para, em seguida, sentar na cama e passar as mãos pelos cabelos. Como um sinal de derrota, se deitou e atendeu a chamada.
– Alô?
Por um segundo eu achei que você estivesse me ignorando.
– Eu... Não, claro que não. – àquela altura, ele sabia que a namorada já estava sorrindo aliviada. – Quanto tempo...
Bem, era sobre isso – ela fez uma pausa dramática, respirou fundo e continuou: – que eu queria falar. Passamos alguns dias sem se falar e, para ser sincera, acho até que foi bom... digo, consegui me distrair com tanto trabalho para a Prada e amanhã já estarei indo para o Japão... bem, de qualquer forma, eu só queria ter certeza de que está tudo bem entre nós. – pensou que ela havia finalizado o discurso e estava pronto para responder quando ouvira novamente a voz fina de Heidi. – Eu te amo de verdade.
Ele hesitou, no mínimo, três vezes antes de responder. De primeira, pensou que era o momento certo de terminar tudo e talvez, somente talvez, tentar algo com , mas assim que aquelas três palavras bateram nele como um forte soco contra sua consciência, ele engoliu em seco e fechou os lábios um contra o outro.
– Eu também.
Por algum motivo, sabia que Heidi agora sorria, no entanto, sua mente pareceu reprová-lo no exato momento que ouvira o que ele próprio havia dito.
Bem, agora preciso sair, Diane não para de reclamar que está com fome faz um bom tempo, mas eu não queria ir antes de conversar com você...Boa noite, , beijos!
– Boa noite, espero que você aproveite. – não mentiu, realmente sentia um carinho imenso por Heidi, fora um relacionamento longo, afinal, dizer que não possuía sentimento algum seria, no mínimo, uma enganação. Assim que caminhou até a janela para apreciar a vista, ouviu a porta do quarto ao lado batendo e presumiu que havia chegado de onde quer que ela estivesse e conseguiu a comprovação quando os primeiros acordes de “Somebody To Love” de Queen tocaram. Um sorriso automático preencheu seu rosto ao imaginar com shampoo no cabelo e usando o condicionador como microfone para cantar durante o banho.

Logo que terminou de se vestir, checou o celular e, coincidentemente, recebeu uma mensagem de Pierre no mesmo instante.
“Abre a porta, Deschamps!”
Ela sorriu e deu um pulo da cama para abrir a porta, dando de cara com Pierre segurando uma pequena caixa de isopor.
– Mas olha só quem apareceu... – ela sorriu, abrindo espaço para ele passar. – Espero que com comida, para reparar seu sumiço.
– Quantos anos você tem? – ele sentou na cama e se esticou para colocar a comida em cima da pequena mesa no canto da parede.
– Depende de qual comida você trouxe.
– Um hambúrguer.
– Nesse caso, eu tenho doze. – abriu a caixa e começou a comer, tampando a boca com uma das mãos para que Pierre não implicasse que ela estava se melando. – Aconteceu algo?
– Na verdade, sim. – respondeu, mexendo no celular. – René disse que queria falar com você hoje e eu vim aqui fazer uma visita antes.
– Como assim “antes”?
– Ele me falou que era em particular.
– Bem, que estranho... digo, é muito inesperado, acho que não troquei uma palavra com René desde que cheguei, mas... bom, tudo bem, então.
René chegou exatos cinco minutos depois, fazendo com que Pierre se levantasse prontamente para se retirar e deixá-los conversar. se despediu do amigo e apontou para o seu lado, chamando René para sentar.
– Oi, .
– E aí, tudo bem?
– Ah... bem, tudo sim – ele falou, fitando o chão e brincando com os dedos freneticamente. – Você deve estar pensando que isso é estranho, mas eu queria sua ajuda. – Minha ajuda? – ela arregalou os olhos, surpresa e ajeitou seu corpo para estar completamente virada para ele. – Com o quê? – , Serena e Emma saíram há alguns minutos para comprarem as flores do casamento, Emma trabalha em uma floricultura no sul da França e depois que viramos parceiros na dança, eu fico encantado só de a ouvir falar porque tulipas holandesas são mais românticas do que rosas. Ela diz que é porque as tulipas vermelhas representam amor eterno, não só amor. – ele comentou sorrindo, mas reparou que ele falava mais para si mesmo do que para ela. – Ah, enfim, eu queria ajuda para sair com ela... antes do casamento, de preferência, já que não sei se será fácil quando voltarmos e...
Ele parou de falar assim que ouviu o grito agudo de preencher todo o quarto, transformando-se em risadas histéricas depois.
, pare! Céus, você parece uma adolescente! Vamos, não é engraçado!
Ela, então, parou, mas não porque René havia pedido, mas porque um , apenas de bermuda, abriu a porta com a respiração ofegante e os olhos esbugalhados.
– O que houve?! – Ele perguntou, ainda afobado e olhando para todos os lados antes de focar em e René sentados na mesma cama. engoliu em seco e endireitou o tronco. – Ahn... Tudo bem aqui? Eu ouvi um grito...
riu ao ver a expressão estática de René e estalou os dedos perto do seu rosto, aparentemente despertando-o.
– Ahn… é… sim…
– Tudo bem, , só estamos conversando. – ela se levantou e ficou próxima dele, fazendo-a se arrepender em questões de segundos, visto que o aroma dele logo preencheu suas narinas e até isso tornou a presença de um risco alarmante para a sanidade mental de Deschamps. – Bem, eu acho que você já pode ir agora que está tudo bem, não é, René? – um olhar sugestivo fora enviado para René, que apenas assentiu e respondeu com um “sim, tudo tranquilo’.
– Pois bem, então. – passou a língua pelos lábios e engoliu em seco, estava praticamente morrendo de curiosidade para saber o que céus René fazia com ali. Não eram amigos, afinal. “Talvez o pediu para fazer algo”, pensou enquanto virava-se para retornar aos seus aposentos, e assim o ia fazer, até ouvir a voz grossa de René se espalhar por todo o ambiente com palavras que ressoaram nos ouvidos do jogador de futebol como música.
– Na verdade. – René limpou a garganta antes de prosseguir. – Seria legal ter uma opinião masculina também.
Os dois o encararam ao mesmo tempo, mas com expressões extremamente diferentes. abriu um sorriso quase que instantaneamente e não demorou um segundo para se jogar na cama, enquanto não moveu um músculo, ainda indignada. René não tinha visto seu olhar de súplica para que ele apenas a seguisse e tirasse o mais rápido possível dali? Ela estava quase entrando em um eterno ciclo de mantê-lo perto, mas não tão perto assim.
– Então. – rompeu o silência que havia sido estabelecido. – O que houve?
– Eu quero chamar a Emma para um encontro, mas não sei se ela quer ir. – René contou, movendo as mãos exageradamente. – Quero a ajuda de … e, bem, a sua agora.
– E por que você não simplesmente pergunta? – sugeriu, puxando uma cadeira para se sentar. Não cometeria o erro de ocupar a mesma cama de .
– Eu não quero que ela saiba que é um encontro… E é aí que você entra.
René contou todo o plano que havia feito em mente, ele o repassou pelo menos cinco vezes para que e soubessem de cor e, até mesmo, de trás para frente. Para Deschamps, era inevitável que desde o primeiro momento Emma aceitasse ir ao encontro, entretanto, já que ela o vira se esforçar tanto – e achava tal atitude extremamente adorável e romântica –, apenas aceitou o que lhe fora dito e pretendia seguir a sua parte do plano perfeitamente. resmungava a cada frase que René dizia, tentando fazê-lo mudar algumas partes do plano e acrescentando: “sempre funcionou comigo” quando René se recusava a fazer alguma coisa que sugeria, alegando ser muito jegue, o que deixou extremamente afetado. Não demorou muito para que René se despedisse, extremamente ansioso pelo dia de amanhã, e que expulsasse ao som de reclamações de que horas eram e que horas ela teria que acordar. E assim dormiu, tão breve quanto os últimos segundos de sobriedade para relembrá-la a velocidade pela qual se apaixonara e a velocidade pela qual fugia disso.


Capítulo 5

9 dias para o casamento.



No dia seguinte, e se encontraram com René no restaurante do hotel, um pouco antes do café da manhã. Na esperança de ter um dia extremamente bem sucedido, René estava moderadamente mais arrumado e ouviu contar sobre sua conversa com Emma na noite anterior.
– Enviei uma mensagem para ela ontem, sabe? – informou, sentando-se em uma mesa perto da janela, o mais longe possível de todos que também aguardavam pela comida. usava um óculos de sol. Odiava manhãs, deprimiam-na pelo simples fato de quase sempre ter uma hora para acordar. – Fiz de acordo, chamei-a para dar um passeio comigo e, bem, você aparece, René.
– Espere. – a interrompeu, suas sobrancelhas agora estavam arqueadas e ele articulava com as mãos ligeiramente. – E em que parte eu entro?
– Do que você está falando? – adotou um tom que, para , soou como praticamente perguntar se ele estava enlouquecendo, o que o deixou um pouco irritado. – Nunca incluímos você no plano.
– Como não? – seu olhar vagou até achar os olhos envergonhados de René. – Falamos como atrairemos Emma, onde é o passeio, a paisagem, o possível beijo… – e, de acordo com a revisão do plano sendo dita, a voz dele foi sumindo para dar lugar a uma ligeira compreensão de que, realmente, seu nome não havia sido tocado em um minuto sequer. – Eu não acredito! Vocês me enganaram!
– Ora, , vamos, está tudo bem, você já ajudou demais.
– Mas eu quero ajudar mais, .
– Querer não é poder.
– Você é implicante assim por prazer?
– Não, eu…
– Lá vem ela! – René praticamente gritou, agradecendo mentalmente que a garota chegara na perfeita hora de interromper uma briga entre e . Ele reparou que Emma estava um pouco mais bronzeada agora que usava um vestido de ombro a ombro e a marca do biquíni era mais visível. Embora René fosse o primeiro em seu caminho, Emma contornou a mesa até chegar em .
! – ela abraçou Deschamps com um enorme sorriso no rosto. – Que surpresa sua mensagem de ontem! Mas estou ansiosa com nosso passeio – ela se afastou um pouco e olhou para e René, lançando-os um sorriso e sentando na cadeira vaga ao lado de René e de frente para os outros. – Vocês também vão conosco?
– Sim.
– Não. – disse, mas Emma reparou que sua frase soou mais como um resmungo.
– Ah… mas por quê?
– Nossa, que fome. – falou, antes que sequer emitisse qualquer resposta. – Ele vai sair com , não é, ? – sua pergunta havia sido notoriamente retórica, o que deixou ainda mais irritado e o pior: com ainda mais vontade de ir ao passeio. Os funcionários do restaurante começaram a pôr o café da manhã na mesa, o que demorou alguns minutos até que puxasse para buscar sua comida. – Me puxou para quê?
– Como você é inocente, . – ela rolou os olhos e mexeu a perna, trocando de posição e ainda encarando o jogador. – Para eles ficarem sozinhos um pouco, óbvio. Olhe, Emma não se sente confortável perto dele ainda.
– Óbvio, mal se falaram desde que chegaram aqui.
– Então dê espaço para isso agora. – começou a preencher seu prato, mas parou quando olhou de esguelha para a garota ao seu lado e ela sorria enquanto o observava. – O quê?
– Estou admirando seu momento romântico. Sério, que fofo, . Foi uma ótima ideia! – Ela saiu com um sorriso enorme aberto em seu rosto, deixando para trás, estático com as palavras que acabaram de sair de sua boca. Ela o achava fofo. Honestamente, ele não gostava muito desse adjetivo, costumava pensar que era como garotas que não estavam interessadas chamavam um garoto. Mas, caramba, o olhar dela enquanto ela pronunciava essas palavras. parecia uma criança admirando doce quando falava de algo com tanta admiração ou paixão, como fizera segundos atrás e era o que o deixava mais confuso: com qual dos dois sentimentos ela disse aquilo? Admiração ou paixão? Bem, o que quer que seja, ela teve aquele olhar cujo tanto admirava voltado e direcionado exclusivamente para ele. sabia que seus pensamentos poderiam ser confundidos com um garoto de dez anos, mas acreditava que, de qualquer forma, era esse o pedaço de que mais gostava: a ingenuidade infantil dela. E era por isso que faria o que estava prestes a fazer.

Emma e René andavam um pouco à frente, enquanto sentia a água cobrir seus pés descalços na beira do mar. O casal à sua frente parecia se conhecer há anos, o que facilitava uma boa parte do seu trabalho, exageradamente solitário, ali. Em poucos segundos, um pequeno barco, que o conseguira de alguma forma, e um rapaz vestido dos pés à cabeça de branco entraram em seu campo de visão. René foi o primeiro a alcançá-los. Felizmente, o homem, apresentado como Antoni, falava francês. percebeu ao longo da introdução do passeio que seu sotaque grego era ainda predominante – o que dificultava o entendimento de algumas palavras. De qualquer forma, Antoni ajudou cada um a subir em seu pequeno barco de cor azul e branca como, aparentemente, absolutamente tudo na Grécia.
– Esperem! – uma voz ofegante extremamente conhecida soou nos ouvidos dos jovens já presentes, obrigando a quase que automaticamente fechar os olhos e praguejar no mínimo os quatro primeiros palavrões que sua mente poderia pensar. estava com uma camiseta branca incrivelmente apertada em seu corpo e uma bermuda de tecido azul-marinho. Ele também balançava a mão freneticamente, como se já não houvesse sido visto e causando em Deschamps uma vontade ainda maior de zarpar com aquele barco para o mais longe possível do que possivelmente poderia causar a destruição do impecável plano de René.
! Você conseguiu vir! – Emma comemorou animadamente, por algum motivo olhando para a amiga, que, por sua vez, forçou um enorme sorriso e soltou um “eba” baixo.
– Obrigada, Antoni. – ele agradeceu depois do homem ajudá-lo a subir e logo tratou de sentar ao lado de .
Ela apenas respirou fundo e procurou o bloco de notas no celular, onde tinha alguns dos lugares que queria visitar. Aparentemente, as Ilhas Antiparos eram mais conhecidas pelas cavernas e um pouco pela arquitetura, a ilha não era muito populosa, no geral. Não levou muito tempo para que o barco zarpasse, fazendo com que desejasse nunca estar ali, o movimento da água a causou um pouco de medo, visto seu último incidente envolvendo o mar. Como uma reação automática, ela se afastou da beira do barco e se aproximou um pouco mais de .
– Tudo bem? – ele perguntou, colocando um livro que trouxera consigo de lado, reparou e até tentou ler o título, mas fitou os pés o mais rápido possível, pensando em manter o mar longe de vista. Ela apenas murmurou um “sim” e mordeu o lábio superior.
– O mar ainda me assusta um pouco, só isso. – explicou ao ver o olhar desentendido de .
– Ah, sim, bem… Posso te fazer uma pergunta? – ela o olhou com um sorriso divertido, estampando “óbvio” como uma resposta clara em seu rosto. – Certo, certo… Você não sabe nadar? Digo, você estava um pouco alterada, entendo, mas…
– Eu nunca aprendi a nadar, na verdade. – as palavras foram ditas com tanta rapidez que não tinha certeza se havia entendido bem. – Eu tenho... quero dizer... tinha um primo… Isso faz tanto tempo, nós éramos muito pequenos, eu ainda morava no Brasil e tínhamos viajado para uma praia no Nordeste, as águas aparentavam ser bem calmas. – agora tinha o olhar perdido no horizonte e olhava para o mar com uma expressão vazia. nunca a vira dessa forma, tão… absorta e vazia, e decidiu instantaneamente que odiava profundamente vê-la daquela forma. – Tudo aconteceu tão rápido, para mim, parecia que em um segundo estávamos brincando e na próxima piscada de olhos o corpo dele já estava no colo do meu tio na areia. A correnteza havia ficado mais forte, eu tinha dado um mergulho e não notei que ele já estava indo para o fundo… Enfim, eu tinha sete anos e ele nove, todos me diziam que com o tempo eu iria superar, mas eu acho que a palavra mais apropriada seria me conformar.
– Sinto muito,
– Ah, tudo bem… não vamos falar mais nisso, olha essa paisagem, vamos só… aproveitar, tudo bem?
Antoni conversava animadamente com René e Emma sobre o turismo local, quando aumentou um pouco seu tom de voz ao falar sobre um pequeno templo ao lado direito por qual passavam perto.
– Aquele é um dos templos de Afrodite. – Antoni os informou, fazendo-os levantarem seus celulares e tirarem algumas fotos. – As Ilhas Antiparos são, na verdade, regidas por Apolo, o deus da juventude e da luz, mas também haviam templos para outros deuses, principalmente porque Afrodite, juntamente com Apolo, representavam o ideal de beleza dos gregos antigos. Como vocês devem saber, Afrodite é a deusa do amor, da beleza e da sexualidade. Muitas pessoas acham que ela é uma criação grega, mas na realidade, seu culto foi influenciado por uma deusa asiática, Astarte, que bem… também era a deusa do amor. – ele riu e apontou para um grupo de mulheres que depositavam flores na frente do templo.
– É algum tipo de culto? – Emma perguntou, esticando o corpo para tentar ver melhor.
– Não, é só um agradecimento, elas acreditam que foram apadrinhadas por Afrodite. – Antoni percebeu uma expressão ainda desentendida nos rostos dos turistas e completou: – De acordo com a mitologia, Afrodite, assim como outros deuses, apadrinhou alguns personagens da mitologia. Deixe-me ver.... O amor proibido de Páris e Helena, por exemplo… Afrodite ajuda os casais que encontram dificuldades para ficarem juntos ou até mesmo não sabem que devem ficar juntos. As flores deixadas por aquelas damas helênicas são um agradecimento pela ajuda da deusa do amor em seus relacionamentos.
estava fascinada, sempre achou fascinante histórias mitológicas e, apesar de ter a nórdica como sua favorita, estava agora encantada pela grega.
– Quem sabe vocês também não foram apadrinhados por Afrodite?
– Não somos um casal. – e falaram em uníssono e com um sorriso amarelo preenchendo seus rostos, enquanto os outros ainda tiravam fotos, completamente distraídos. Eles se entreolharam e sorriram fraco, como se completassem silenciosamente aquela frase com um “infelizmente”.
O passeio de barco foi finalizado quando eles chegaram em uma rua que possuía vários vendedores ambulantes e restaurantes variados, desde comida típica da região até japoneses. Emma e René engataram numa conversa sobre fotografias, aparentemente um hobby em comum deles e enquanto mexia no celular, gravava vídeos para o Instagram.
“Já chegamos, querida, eu e seu pai vamos sair com os para finalizar os detalhes da decoração, nos vemos pela noite, beijos.”
“Ora, mãe, você mal chega e já está saindo? francamente… hahaha beijos.”
“E você está aqui, por acaso?”
“Ah, mas eu sou jovem.”
, velha é a senhora sua vó.”

riu e guardou o celular, se espantando com a presença de tão próxima de si assim que tirou os olhos da tela. Levaram alguns segundos para que notasse uma câmera na mão dele, apontando para ela.
– A paisagem está linda e você também – ele disse, encorajando-a. – Sorria.
E, mesmo que ele não tivesse a pedido para sorrir, ela o teria feito de qualquer forma só por olhar para . Isso era o que mais odiava, a falta de prática para disfarçar a forma com a qual o encarava, poderia apostar que o brilho em seus olhos iluminariam a caverna mais escura e isso a dava um sentimento de irritação. Afinal, odiava perder o controle de alguma situação.

Logo depois do passeio de barco, , , Emma e René foram almoçar em um restaurante de comida regional, o que causou uma forte indigestão em René e eles tiveram que voltar imediatamente ao hotel. Ao olhar pelo lado positivo de toda a situação, pelo menos Emma ficou preocupada o suficiente para acompanhar René até seu quarto e tentar ajudá-lo com alguns remédios. Então, nada de beijo, ao menos por agora. Enquanto isso, disse que tinha que ir para o quarto postar algumas fotos de marcas que o patrocinavam e , entediada, estava no quarto de Melanie, que digitava rapidamente no celular, achava que nunca tinha visto alguém mover os dedos tão depressa daquela forma. Segundo a amiga, ela tinha que fazer uma pesquisa para a faculdade - apesar de estar de férias - e o prazo era apenas de duas semanas.
– Acho que vou enlouquecer com esse sinal. – a rede do hotel, embora funcionasse, ainda era extremamente ruim, fazendo com que a cada dez minutos Melanie reclamasse pela demora de conseguir finalizar sua pesquisa na área de Behaviorismo para a faculdade de psicologia. Ela estava constantemente passando sua mão na testa inconscientemente e a retirando logo após se dar conta do ato, segundo Melanie: "passar as mãos na testa causa acne", e talvez fosse por isso que sua pele era tão reluzente. Ou graças aos outros mil tratamentos de pele e beleza que ela realiza mensalmente. – Tudo bem, eu, oficialmente, desisto. Nem sei porque tentei começar, em primeiro lugar… Argh! Ele consegue estragar até minha concentração!
– Ele…? Ele quem? – desviou os olhos e pausou o vídeo que estava assistindo no celular. – O professor?
– O Jean!
– O que aconteceu?
– Ele veio aqui falar comigo enquanto vocês estavam fora, Charles o ajudou… mas que raiva!
– Melanie, o que ele fez?
– Ele disse que tem sentimentos por mim. – ela respirou fundo e engoliu em seco. – E eu o odeio. Odeio, odeio, odeio mesmo!
– Ahn… – ela olhou para os lados, como se algo naquele quarto pudesse a ajudar a ter alguma ideia do que a aconselhar, o que era extremamente desconfortável, visto que Melanie era quem cursava psicologia. – Você não parece odiá-lo… e ódio é um sentimento bem forte, não é?
– Ah, , mas é claro que não o odeio. – ela passou a mão no rosto, limpando o pouco de lágrimas que marejavam em seus olhos. – Na verdade, eu odeio não conseguir odiar ele, de verdade!
– Então por que não dar mais uma chance para ele, ou melhor, para você? – pareceu desestabilizá-la por míseros segundos, sabia que aquela pergunta já estava presente no subconsciente dela e a resposta a assustava demais para ser sincera consigo mesma. – Eu só quero dizer que vocês eram novos, não que a culpa tenha sido sua, ele era muito imaturo e, bem, agora quer mais uma chance. – ela suspirou e falou sem medo algum: – Você faz faculdade de psicologia, deveria saber disso.
– De quê?
– Que as pessoas mudam, elas evoluem.
Melanie pareceu se acalmar, havia saído de uma fase de negação pelos seus sentimentos para uma de desabafo em poucos minutos.
– Eu só estou dizendo que você nunca vai saber se não se arriscar, não é?
– Mas e se…
– Melanie, presta atenção! Sempre existirá um “e se…”, a possibilidade de dar certo ou errado, é melhor saber o final, mesmo ruim, do que sofrer com um “mas e se eu tivesse feito…?”
– É, tudo bem. – ela se levantou e foi até o espelho, arrumando os cabelos. – Você está certa, ele já tomou o primeiro passo, não foi?
– Aonde você vai?
– Ora, vou até ele e lhe darei o beijo mais longo de sua vida.
Mas não precisou, porque assim que ela abriu a porta, Jean estava parado bem ali com a mão fechada no alto, prestes a bater na porta. Os dois se encararam por o que para pareceu uma eternidade.
– Oi. – ele disse, enfiando os dedos no bolso da calça.
– Hmm… Oi – Melanie respondeu.
– Escuta, eu queria pedir desculpas pelo que fiz mais cedo…
– Jean, escuta…
– Não, é sério, olha só...
Entrementes, ele não conseguiu terminar a frase porque fora interrompido pelos lábios de Melanie contra os seus. , então, percebeu que ela não estava brincando ao dizer que seria o beijo mais longo possível, foi após alguns minutos que pigarreou e atraiu atenção para si. Jean desfez o beijo e sorriu envergonhado.
– Oi, .
– Oi. – ela sorriu gentilmente e fingiu estar vendo algo mais interessante no celular. – Tudo bem, Jean?
– Bem, sim.
manteve o sorriso no rosto e foi até a porta, cuidadosamente se encolhendo para não atrapalhá-los.
– Bem, meu trabalho aqui está feito, então. – e fechou a porta.
Aparentemente seu dia havia sido planejado para ajudar casais, embora sua mente insistia em vagar pelos seus pensamentos até chegar novamente em , era como se ela estivesse enganando a si mesma, já havia perdido as contas de quantas vezes havia resistido de procurar aquele tão famoso nome na internet. Não queria conhecer o dos tablóides e, sim, o que estava tão perto dali – mais perto do que gostaria, deveria admitir. Ao mesmo tempo, desejou se desfazer o mais rápido possível desses tormentos que rondavam sua mente, visto que estava prestes a encontrar seus pais e provavelmente fariam milhões de perguntas sobre sua vida agora, logo, a última coisa que precisava era se atrapalhar nas respostas e perder a atenção graças a . Como se ele já não causasse isso o suficiente.


CAPÍTULO 6

8 dias para o casamento.



– Hora de acordar, raio de sol.
sentiu mãos leves percorrerem pelo seu braço direito e uma voz suave adentrar seus ouvidos, reconheceu sendo de sua mãe após alguns segundos. Ele se revirou na cama e soltou um longo murmúrio ao se dar conta que o sol sequer havia aparecido ainda, haja vista a ausência de luminosidade invadindo sua pálpebra, como acontecia todos os dias. Por algum motivo, sua mente percorreu um longo caminho enquanto travava uma luta se deveria levantar ou fingir para a mãe que estava em um sono muito pesado, o número cinco cruzou sua mente e ele constatou o óbvio: deveria ser por volta das cinco horas da manhã. Depois disso, meio segundo foi necessário para que tomasse uma decisão: iria fingir que estava em um sono profundo demais para escutar ou sentir algo.
, não adianta fingir. – soou mais rígida dessa vez, o que o fez desistir imediatamente. – Não queira que eu o faça lembrar que não está aqui para festas,
E sim para o casamento da sua irmã… – deu continuidade, com uma voz rouca e, inutilmente, tentando imitar a mãe. – Eu sei, eu sei.
– Ótimo, está vivo. quer que você ajude Charles com a despedida de solteiro de hoje à noite. – ela não esperou que o filho reagisse ou relutasse, ao contrário, saiu o mais rápido possível do quarto para evitar que se recusasse a fazer algo. Dando-se por vencido, mas ainda extremamente cansado – e arrependido – por ter virado a noite assistindo filmes de comédia, ele ativou um alarme no celular para dez minutos e tampou os olhos com os lençóis, como de costume.
No entanto, sentiu que os dez minutos passaram como segundos e se viu mais uma vez acordado. Por uma mísera quantidade de tempo, pensou que havia despertado devido ao alarme, entrementes, reconheceu que a música que tocava não vinha do seu celular. Além disso, parecia ser alguma balada antiga demais para ele ouvir. Uma tentativa dolorosa demais para os ouvidos de de alcançar o agudo na música Bohemian Rhapsody o fez recordar da sua colega de porta: Deschamps estava, aparentemente, às cinco horas da manhã, com o som no máximo e cantando a todos pulmões. Sorriu automaticamente… Céus, ele não conseguia entender, ou explicar, como poderia estar achando aquela cantoria horrível particularmente adorável, principalmente às cinco da manhã. Ele viu aquilo como uma oportunidade – ou uma desculpa – para falar com ela e rumou até o pedaço de madeira que os separava tenuamente. Quando deu a primeira batida na porta, achou que havia sido forte o suficiente para que pudesse ser escutada do outro lado, mas não fora atendido. Repetiu o mesmo gesto, agora mais com força e, em instantes, uma de roupão e toalha no cabelo o atendeu, acompanhada também de um enorme sozinho.
– Bom dia, jogador! – alguns fios de cabelo molhado caiam em seu rosto e ele pôde ver como as sardas de seu rosto se destacavam ainda mais após o banho.
– Bom dia, cantora. – apesar de seus olhos estarem se esforçando o máximo para não fecharem ali mesmo por conta do sono, foi demasiadamente fácil manter os olhos aberto ao vê-la corando como uma criança. – Apesar de você cantar muito bem – ironizou. – Não precisava me acordar tão cedo.
– Ah, , não minta! – riu. – Sua mãe o acordou, não eu!
– Bem, isso é verdade, mas eu voltei a dormir, então tecnicamente você me acordou também… Espere, como você sabe que ela me acordou?
– Porque ela fez o mesmo comigo! – juntou as sobrancelhas e encenou uma cara de choro. – Mas, então, o que você deseja, senhor ? Como posso o ajudar?
Ele não sabia o que dizer. “Apenas fiz questão de vir aqui falar sobre sua música, mas já brinquei e agora estou enrolando para ter que te olhar um pouco mais.” Foi quando sua língua se saiu mais rápida que seu cérebro e ele soltou:
– Sua playlist.
– Você gostou da música?
– Sim, é que… – ele mordeu os lábios, tentando pensar rápido. – Parece familiar.
– Ah – ela soltou um riso nasalado. – É Queen, sabe? – ele ficou estático a olhando, o que a motivou continuar: – A banda que canta Don’t Stop Me Now, We Will Rock You, We Are the Champions…? – a expressão no rosto de suavizou e ele abriu um enorme sorriso.
– AH, SIM! É, eu conheço mesmo… Mas então, você me manda sua playlist?
– Mando, mas eu não tenho seu número. – mais uma vez ela riu, provavelmente achando hilário o papel de idiota que ele estava fazendo. Como estavam tanto tempo juntos e não pensaram em trocar os números de telefone?
– Verdade, bem, me passa o seu e aí eu te mando uma… – foi brutalmente interrompido por incessantes batidas na porta da menina, que logo a abriu e deu espaço para que entrasse como um furacão. – … mensagem… – ele finalizou em voz baixa, mais para si mesmo, como se tentasse dizer que, ao menos, tentou.
, o que você está fazendo aqui? – perguntou ao reparar que ela e a amiga não estavam sozinhas. – Ainda mais sem camisa. E você? De roupão e toalha? Cruzes, se não fosse pela…
sabia que estava prestes a falar o nome que pouco passara por sua mente ultimamente: Heidi. Não sabia se estava a par da sua vida amorosa, mas também não queria que isso entrasse em jogo agora, não enquanto ele não estava certo do que queria. De forma alguma iria passar por cima de toda confiança e respeito que sua namorada depositara naquele relacionamento. E tampouco sabotaria a si mesmo, por isso fez o necessário para impedir que sua irmã estragasse o que quer que estivesse acontecendo ali.
, pelo amor de Deus, pare com suas insinuações. Estou usando uma bermuda, não? Como se estivesse indo à praia, e estava indo se arrumar, até eu vir aqui atrapalhar ela.
– Você não estava me atrapalhando – ela sorriu, terna. – O que houve, ?
– Preciso organizar tudo da despedida de solteira a partir de agora para poder almoçar com meus pais e meus sogros. Além de que seus pais também querem passar um tempo com você. – assentiu, retirando a toalha da cabeça e deixando que seus cabelos úmidos caíssem pelas costas. Lembrou-se do jantar do dia anterior com seus pais e ficou feliz que teria mais um momento daqueles hoje, sem contar o fato de que tinha concluído a noite com sucesso: não pensara ou sequer falara de , nem por um segundo.

Amélie, Louise e Serena pareciam três crianças empolgadas organizando as roupas para a despedida de solteira de , que, por sua vez, estava uma pilha de nervos no telefone com o gerente da boate que queriam ir. e Melanie estavam com os celulares na mão, pesquisando possíveis opções de festas que poderiam ir, caso o problema não fosse resolvido, e Emma andava de um lado para o outro atrás de no quarto.
– SENHOR, O SENHOR ME DISSE QUE OS INGRESSOS PODERIAM SER COMPRADOS NA HORA! É A MINHA DESPEDIDA DE SOLTEIRA, PELO AMOR DE DEUS! – gritou , com lágrimas já borrando sua visão. Amélie soltou um longo suspiro e mandou uma mensagem para Henri.
“Tudo bem por aí?”
A resposta foi instantânea, como quem tivesse tido a mesma ideia que ela.
“Se você define bem como Charles surtando porque a boate vendeu todos os ingressos, agora não temos mais como comprar e ele está preocupado com a reação de , então está tudo perfeito!”
Uma parte de Amélie queria rir pela forma cômica que Henri a informara a crise pela qual também passavam, mas estava preocupada demais com a saúde mental da noiva para sequer sorrir. desligou o celular e não esperou nem um segundo a mais para colocar a mão no rosto e chorar.
–Ah, droga! – esbravejou, exaltada. – Não acredito que isso está acontecendo!
, não se preocupe, vamos resolver tudo, certo? – Louise disse, alisando o ombro da noiva com a palma da mão. – Por que você não fica aqui no quarto com a Melanie e Emma organizando nossas roupas para hoje a noite e eu, Amélie, e Serena vamos resolver isso?
sabia perfeitamente o porquê de Louise ter escolhido justamente Melanie para acompanhar : ela estudava psicologia e saberia lidar com todo o estresse que corroía a mente da amiga agora, afinal, aquele momento não dizia respeito a nenhuma delas. Era única e exclusivamente dela. Ela acreditava que só precisaria de alguns momentos de lazer e de descontração, como um almoço em família e, principalmente, a despedida de solteira. E, com esse único desejo pulsando em seu corpo, acompanhou as três meninas para fora do quarto, ela engoliu em seco ao ver que e Henri vinham, coincidentemente, em sua direção no mesmo instante em que fechou a porta atrás de si. Para sua surpresa, eles não pareciam abalados, pelo contrário, aparentavam estar radiantes, como se o sol brilhasse para eles mais uma vez.
– Por que vocês não estão surtando? Parecem até felizes. – Serena perguntou, arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços. – Não souberam do que houve com o local da…
– Sabemos – interrompeu Henri, deixando Serena um pouco irritada. – Mas…
– Eu estava falando.
– Bem, desculpe – ele pediu, olhando para Amélie e depois para Serena. – Só viemos avisar que falou com um amigo do Stuttgart e conseguiu uma boate nova. – Henri trocou de tom tão rapidamente que Louise pensou não ter acompanhado o que estava acontecendo, ele parecia em êxtase. – E é um boate VIP! Fala sério! – ele sorriu e se virou para , levantando a mão à espera de um high-five.
– OH, MEU DEUS! – gritou e correu para abraçar os dois homens à sua frente, estava tão feliz que não havia mais com o que se preocupar que nem notou a corrente elétrica que passou por todo seu corpo ao tocar . O jogador, no entanto, se estremeceu e demorou alguns segundos para entender a atitude regada de felicidade que demonstrara para ele e Henri. Ela se afastou calmamente e evitou olhar para o irmão de sua melhor amiga, lançando um sorriso suave para Henri.
– Vamos contar para então, antes que ela se desidrate em lágrimas.
Assim que Louise abriu a porta do quarto, todos puderam ter uma visão da noiva extremamente calma e sorridente, o que os fizeram olhar para Melanie, esperando uma explicação. Contudo, mostrou a tela do celular com uma mensagem de seu noivo com os dizeres “está tudo resolvido, não se preocupe” e fotos de onde seria a nova festa para a despedida.
– O que vocês estão fazendo aqui? – ela perguntou, olhando diretamente para o irmão e Henri. – Andem, andem, vocês têm muito o que resolver com Charles e eu com as minhas meninas. Vão, vão… – ela fazia um sinal com as mãos para que eles saíssem do quarto e fechou a porta. – Ah, eu nem acredito que está tudo bem!
– Graças ao ! – Serena disse, batendo palmas em êxtase.
– Um verdadeiro anjo. – ironizou, rolando os olhos, mas riu logo depois. – E vocês aí paradas, o que estão esperando? Vamos, vamos!
permaneceu estática, com os braços cruzados.
– O que temos que fazer mesmo? – perguntou, semicerrando os olhos. – Esqueci.
Ela manteve a cabeça baixa, fitando o chão, como se a resposta estivesse ali.
– Organizar as roupas para a despedida de solteira e o almoço de hoje com nossos pais, deve sair perfeito! – Melanie falou sorridente, poupando de demais esforços.
Sendo assim, decidiu que Louise e Emma a ajudariam com o almoço por serem extremamente organizadas e as outras garotas poderiam planejar a despedida de solteira.
– Certo. – Serena disse, sentando-se na cama com um bloco de notas. – Vamos fazer uma checklist – ela comprimiu os lábios e entortou a boca. – Boate.
– Ok – Amélie respondeu.
– Vestidos.
– Ok.
Gogo boys.
– Ok… Espera, o quê? – Amélie encarou Serena, perplexa. – Não, Serena, de jeito nenhum!
– Ah, qual é… Eu aposto que os meninos vão arrumar algumas strippers para o Charles! Igualdade, não é?
– Se for pra ter igualdade de forma idiota, eu prefiro que as mulheres continuem tendo a sensatez, então. – aumentou um pouco o tom de voz, incomodada. – Eles não podem ter strippers, nem nós. Não podemos financiar isso…
Serena revirou os olhos e largou o bloco de notas em cima na cama, fazendo com que parasse de falar.
– Por Deus, pare com seu ativismo e vamos relaxar e se divertir um pouco!
– Não! Nada de pessoas peladas sendo hiperssexualizadas na despedida e ponto final! Tenho certeza que iria concordar comigo.
– Bem, então isso você terá que ver com ela e Charles, já que é o casamento deles e não o seu.
Deschamps simplesmente engoliu em seco, cruzou os braços e assentiu. Afinal, era a verdade.

O sol parecia estar apenas alguns metros de distância da cidade devido ao intenso calor com que as ilhas amanheceram. Já passava do meio-dia quando todos haviam chegado ao restaurante italiano, cujo os pais de haviam escolhido, os noivos, os padrinhos e as madrinhas estavam presentes, assim como seus respectivos pais. Propositalmente ou não, cada um estava sentado entre seus pais.
– Ahh, como está linda! – Sr. Deschamps disse, colocando o cabelo de para trás e atraindo o olhar de todos, que esperavam a comida. – Mal posso esperar para ser sua vez, minha linda… Embora o único namorado que você teve que eu já gostei foi o Louis, você lembra, querida? Ah, ele era incrível e você terminou com ele!
– Papai, ele me traiu.
O pai de tossiu, envergonhado.
– Ah, bem… Eu não sabia, então… Sendo assim… Eu não gosto de nenhum.
olhava de esgueira para a conversa, não queria que ninguém notasse quão atento estava ao diálogo, mas se surpreendeu ao ouvir a risada do próprio pai.
– Ora, Deschamps, você se acostuma! Eu mesmo, bem, demorei algum tempo para aprovar o Charles!
– Isso não é verdade, papai, você o adorou de primeira. – disse, confusa.
– Ele fingiu para agradar a favorita. – disse, provocando-a. – Mamãe me ligou contando como ele ficou triste depois do jantar em que você o apresentou para família.
– Você não tem local de fala aqui, tem? Sequer esteve presente no dia. – não teve a intenção de falar isso como uma crítica, apenas se sentiu surpresa com a revelação e acabou por estabelecer um clima nostálgico no ar. Por sorte, quatro garçons chegaram com enormes bandejas e logo preencheram a mesa com os pedidos de almoço e sobremesa.
– De qualquer forma, espero que ache um namorado tão bom quanto o seu filho. – ao ouvir as palavras do pai, se engasgou com o suco que tomava, o que atraiu a atenção de todos para si. – Você não acha, querida?
– Ah, sim, e se for tão lindo quanto o … – a Sra. Deschamps juntou as mãos e olhou ternamente para o jogador de futebol. Ele sorriu e piscou para a mãe de .
O almoço continuou com comentários sobre o casamento, universidade e negócios, visto que o pai de Charles e o de Jean eram sócios.

Ao entardecer, notaram que a boate estava localizada a alguns metros do centro comercial da ilha e era notoriamente visível pela enorme arquitetura e um letreiro neon gigante escrito em letras do alfabeto grego “THE OLYMPUS”. A festa, por fim, era temática e todos na fila vestiam-se como deuses gregos. Dessa forma, logo após o almoço, eles foram em busca de qualquer roupa que poderiam transformá-los em divindades, o que não foi tão difícil de achar em ares gregos. O som estéreo da interior da festa invadiam os ouvidos dos clientes que ainda estavam no lado de fora. Alguma música pop americana começou a tocar, o que fez com que começasse a cantarolar baixo e a olhar, achando graça. Ele, por sua vez, deu um último gole para acabar com a garrafa de vodka que havia comprado em um mercado qualquer, incapaz de aguentar aquela situação em completa sobriedade. Um vento furioso, acompanhado pela maresia, se lançou contra o corpo de , fazendo com que ela abraçasse a si mesma e suspirasse, a noite seria extremamente longa e já se sentia exausta psicologicamente para lidar com o que quer que fosse acontecer. Ora, ela sabia o quão nervosos e estressados todos estavam e iriam beber até o amanhecer… Ao pensar, não soava tão absurdo.
Dentro de três horas de festa, era possível já notar as diversas nacionalidades que circulavam pela pista de dança. e Melanie estavam dançando em frente ao bar, claramente alteradas alcoolicamente e tentavam adivinhar, ao menos, o continente de onde certas pessoas ao redor delas vinham.
– Caramba, aquele cara é claramente europeu, olha como ele dança! – Melanie disse, rindo e tentando imitar os passos dele.
– Aquela garota é latina, com toda a certeza.
– Ah, , você tem que ser mais específica!
– Ela é sul americana, eu acho.
– Se identificou, é?
– Sim, meu lado brasileiro reconhece seus iguais. – ela riu exageradamente e pediu mais uma bebida para o barman, tropeçando em seus próprios pés.
, acho que já está bom de bebida para você.
– Ah, mas você está igualzinha à mim! – ela apontou para as vestimentas, brincando. – Não, mas sério, que tipo de tema é esse? Me sinto em um carnaval vestida como deusa.
– Eu sou a Afrodite.
– Prefiro Atenas. – disse, veementemente. – Ela é durona.
– A Afrodite também.
– Prazer, Apolo. – um homem de pele escura reluzente, olhos cor de mel, cabelo raspado e por volta de 1,90, se aproximou com um sorriso tão lindo e branco que jurou ter perdido a visão durante alguns segundos. – Posso te conhecer?
– Ahn… – Melanie sorriu, nervosa, tentando, inutilmente, encontrar com o olhar de Jean. – Na verdade, eu tenho namorado…
– Ah, sim, tudo bem. – ele falou, desmanchando o sorriso aos poucos. – Me desculpa se incomodei vocês, aproveitem a festa! – ele desejou, simpático e sumiu entre um grupo de homens.
– Melanie… – falou, respirando fundo. – Eu preciso contar uma coisa pra alguém, antes eu exploda e acabe falando com a , mas é a última coisa que eu quero…
– Ei, está tudo bem! – ela sorriu, encorajando . – O que houve? – ela olhou para trás, à procura de uma mesa para se sentarem e conversarem e, por sorte, achou uma bem ao lado. – Senta aqui.
Deschamps, com dificuldade, sentou e passou a mão no rosto.
– Eu acho que eu gosto do .
– O QUÊ?
– Sim, eu odeio ele.
– Espera, eu não…
– É, eu amo e odeio, entendeu? Ameio!
, se acalma, você não está falando nada com nada.
– É que… Eu não sei… Ele tem um charme, sabe? Eu acho que é o cabelo. – ela olhou para o teto e sorriu. – É, definitivamente é o cabelo.
– E você acha que é recíproco?
– Melanie. – se endireitou e encarou a menina a sua frente, extremamente séria. – Você acha que se eu soubesse, eu estaria sofrendo desse jeito?
– Na verdade, você até que parece bem…
– Por dentro isso me corrói! – ela jogou as mãos para o alto, como um “desisto”. – Um garoto como ele nunca iria gostar de uma…
– Certo, parou! – Melanie colocou sua bebida em cima da mesa e agarrou as mãos de . – Olha, , primeiro: nem ouse terminar essa frase, é estupidez demais para sair da boca de alguém como você. Segundo: tenha cuidado, certo? Ainda tem a Heidi e eu não sei até que ponto vai esse relacionamento…
– Heidi? – ela olhou confusa para Melanie, tentando entender se falavam do mesmo assunto. – Do que você está falando?
Melanie soltou as mãos de e deixou sua boca abrir em um perfeito “O”.
– Ah, droga… , Heidi é a namorada do .
A última coisa que Melanie viu foi os olhos de encherem de lágrimas e seu corpo sair dali tão rápido que mal pode acompanhar o destino que a amiga estava traçando. Queria a seguir e garantir que tudo estava bem, mas a perdeu de vista por questões de segundos.


CAPÍTULO 7

se deixou perambular pela festa, olhando para o nada. A frustração dentro de si e a sensação de ter sido idiota o suficiente por acreditar que sequer tivera olhos para ela em algum momento, aumentava à medida que o tempo passava, mas praticamente desejava permanecer capturada por aquela sensação para sempre. O vazio que o sentimento deixava, doía mais do que a pontada intensa e ardente que sentia ao pensar que tinha alguém e que, durante todos esses dias, ela criara nada mais do que uma alucinação. Ela tentava entender o que havia acabado de acontecer, mas seus pensamentos eram apenas uma bagunça desconexa, ironicamente seguindo as batidas da música e a movimentação do corpo de todas as pessoas que a cercavam. E, então, o viu.
estava segurando uma Heineken long neck e conversava animadamente com René. Ele ria de algo que o amigo havia dito e passou os olhos pela pista de dança, encontrando o olhar de caindo sob si. Não demorou muito para notar que estes estavam preenchidos por lágrimas incontroláveis e comprimia os lábios, como se isso fosse a ajudar a não chorar. sentiu a raiva a invadir fortemente. Ela fechou os olhos e sentiu uma lágrima descer pelo lado do seu nariz. Assim que abriu o olho, viu que ele caminhava em sua direção.
– Ah, droga – balbuciou. “Não posso engolir meu orgulho assim tão depressa”, disse para si mesma. Havia mais uma questão colaborando para que ela se sentisse tão mal: a quase certeza de que tudo havia sido recíproco, apesar do que disse para Melanie.
? Tudo bem? – Ele perguntou, levantando o rosto dela.
– Você namora? – ela perguntou de vez, porque assim iria doer menos, como remédio para ferida, mesmo sem entender porque doía tanto.
– O quê? – ele escutou, mas respondeu automaticamente para que tivesse tempo de pensar. – Melanie me contou sobre você e Holy.
– Você quis dizer Heidi?
– Ah, meu deus… Você namora!
, você não sabia? – ela o encarou pela primeira vez, olho a olho, e se arrependeu no mesmo segundo porque conseguiu ter um coração partido somente ao ver o olhar de .
– Não… Eu não procurava seu nome no Google ou algo do tipo, . – ela falou, limpando as lágrimas, ainda meio alterada. – Escute, não tenho raiva de você, tudo bem? Você não me devia satisfação, eu só pensei que você talvez pudesse gostar de… de…
– Do quê? – ele insistiu, ao ver que ela estava hesitando. Queria ouvir ela falar “de mim” para que pudesse reafirmar isso quantas vezes fosse necessário e acabar com tudo aquilo de vez. Esperaria voltar para a Alemanha, terminaria com Heidi pessoalmente e iria o mais rápido possível atrás de .
No entanto, a resposta nunca veio. observou tudo em câmera lenta, apesar de ter acontecido em menos de um minuto: virou a cabeça para o lado, vomitou e apagou. René, que de longe observava a cena, correu ao ver o corpo dela cair quase que espetacularmente nos braços de .
– Meu Deus, o que aconteceu?
– Ela bebeu demais, eu acho. – respondeu, sucinto. – Eu vou levá-la para tomar um ar fresco, você pode tentar distrair Anne para que ela não sinta falta de ?
– E o que eu digo caso ela pergunte?
– Você pode falar que estamos conversando lá fora.
apoiou o braço direito da garota em seus ombros e ergueu o corpo dela pela sua cintura com dificuldade. tossiu levemente, o que o fez perceber que ela havia aberto os olhos e – felizmente – estava acordada. Ao chegar em uma área aberta na parte traseira da boate, ele a posicionou em um sofá de madeira e pediu água em uma extensão pequena do bar que havia ali.
– Eu tenho que parar de beber. – ela disse, de olhos fechados.
Ele riu de lado e tirou o cabelo dela do rosto, dando um pouco de água para ela beber. – Ou você pode moderar um pouco.
– É, isso também.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos e, de esgueira, ele a viu abrir os olhos lentamente. Por algum motivo, ela não ousou o encarar, apenas mirava fixamente o céu e movia os lábios, cantarolando algo. suspirou fundo e, exageradamente, virou a cabeça rapidamente em direção a , como se sua cabeça fosse pesada o bastante a ponto de precisar de um esforço a mais para se movimentar, ao menos era assim que o efeito da bebida a fazia se sentir.
– Obrigada.
– Pelo quê?
– Você me salvou no navio quando eu caí, bêbada, e agora quando eu caí, bêbada, no meio da pista de dança. – ela disse e ele, então, percebeu como a voz dela já estava meio rouca.
– Talvez essa seja minha sina.
– É uma sina bem ruim.
– Nem tanto, você sempre acaba nos meus braços no final, não é? – ele abriu um sorriso e observou ela engolir em seco, extremamente séria. Ela não respondeu, apenas virou o rosto e voltou a olhar para cima. ali entendeu que havia cruzado uma linha recentemente estabelecida. Ele não sabia dizer bem o motivo de sentir vontade de dizer essas coisas clichês para ela… Bem, na verdade, sabia. E era pela mesma razão pela qual ele a viu chorar. No entanto, jamais levaria aquilo adiante antes de terminar com Heidi, ainda que desejasse se entregar à melhor amiga da sua irmã o mais gradativamente possível. No entanto, isso seria o antigo , aquele cujo ouvira chamar de “idiota”. E, de forma alguma, esse seria o homem que ele desejava ser para ela.
– Você conhece a teoria do multiverso? – ela perguntou, aleatoriamente. observava as estrelas que preenchiam o céu das Ilhas Antiparos majestosamente.
– Não, acho que não.
– Stephen Hawking disse que existem uma pluralidade de universos, talvez com planetas e uma forma de organização social como os que existem no nosso universo… – ela mordeu o lábio inferior e limpou uma lágrima que escorria pela sua bochecha. – Alguns universos teriam só diferenças pontuais, como um vencedor diferente na Segunda Guerra Mundial ou a Europa como um continente de desenvolvimento de terceiro mundo, já outros seriam totalmente diferentes, talvez sem estrelas ou galáxias… De toda forma, não há uma fórmula física específica que nos diga em qual universo nós estamos nesse momento – disse, decepcionada.
– Você estava pensando tudo nisso agora?
– Não, estava pensando em outra coisa.
– Em quê?
– Em você e eu
. – E o que você pensou sobre nós dois? – ele perguntou, esperando que ela o encarasse com os olhos brilhantes e sorridente, mas não aconteceu, ela continuou estática.
– Que talvez, em um universo paralelo eu e você estamos de mãos dadas. – ela passou a língua entre os lábios e respirou fundo antes de continuar. – E talvez eu acredite fielmente nisso só porque eu não quero pensar que este poderia ser o fim.
… – ele hesitou por um milésimo de segundo, mas decidiu que era a hora de ser honesto: – A Terra existe há bilhões de anos e nós acabamos vivendo na mesma época, embaixo do mesmo céu estrelado… isso deve, com certeza, significar algo.



7 dias para o casamento.


Uma forte dormência no braço de a fez se sentir extremamente incomodada com a posição que dormia. Mesmo com os olhos fechados, descobriu rapidamente o porquê do seu desconforto. Lembranças distorcidas e cortadas preencheram sua mente como um vago lembrete do que havia acontecido ontem, mas simplesmente não lembrava. Tirando, obviamente, a explicação por ter acordado: havia pedido para não deixá-la só e ele havia dormido ali, ao seu lado e bem em cima do braço dela. abriu os olhos e os arregalou, embora houvesse um resquício de sono, o que prejudicava a organização dos seus pensamentos. Ela sentou de costas para o corpo adormecido do irmão da sua melhor amiga e sentiu o frio abraçar cada centímetro do seu corpo.
caminhou lentamente até a janela e sacudiu o trinco, fechando-a e notando, pela primeira vez, o clima chuvoso que preenchia o céu da manhã grega. Era verão, mas chovia intensamente. O barulho das gotas de chuva batendo agressivamente contra o vidro da janela era inquietante. O clima refletia perfeitamente o turbilhão de sentimentos que a angustiava no momento. Aliviada por se sentir aquecida ao se afastar, ela deixou escapar um suspiro e se virou novamente para a cama, agora não mais ignorando a cena que estava bem diante de seus olhos. Poderia facilmente se ver acordando todos os dias daquela forma, apesar de um clima gélido. Um barulho alto a despertou de suas reflexões oníricas: a notificação do seu celular anunciava uma nova mensagem. Ela sorriu, se achando incrivelmente boba por ter se assustado tão facilmente.
O nome de Melanie apareceu na tela, anunciando três novas mensagens.
“Bom dia, !”
“Como você está? Se sentindo melhor?”
“Escute, queria pedir desculpas para você ontem por não ter conseguido ir atrás de você na pista de dança e tampouco te trazer de volta para o hotel, como você voltou?”

Ela leu atenciosamente e não estranhou o pedido de desculpas. Ora, embora não soubesse com clareza o que havia acontecido, se conhecia muito bem seja sóbria, seja embriagada.
“Bom dia, Mel”
“Estou bem e você?”
“Não se preocupe, eu me conheço, sei que devo ter feito algo estúpido, embora eu não lembre de exatamente nada e, para ser sincera, não tenho certeza de que quero...”

não conseguia se lembrar da noite passada, mas sentia algo dentro de si tão entristecedor quanto o clima janela a fora. A ponte em sua mente continuava quebrada, mas, ao fitar , sentiu que pequenas peças se encaixavam. Lembranças que a faziam se sentir como uma adolescente de quinze anos com borboletas no estômago. E eram apenas amigos, para sua infelicidade.
– Bom dia. – a voz sonolenta de preencheu cada centímetro do quarto de , fazendo-a desviar os olhos da tela para ele.
estava coçando os olhos e tinha um sorriso fraco no rosto.
– Bom dia, . – ela sorriu amarelo, meio apreensiva. – Sobre ontem… olhe, sinto muito, de verdade. Não lembro de nada, a não ser quando pedi para que não me deixasse só na hora de dormir e tenho que admitir que foi um pouco… petulante, talvez? De toda forma, acho que não quero saber o que houve.

– Bem, na verdade gostaria de saber algo sim, Anne está chateada comigo?
– O quê? Ahn… Não, ocorreu tudo bem, estavam todos bem alterados ontem.
– Menos você.
– É… Bem… Eu tive uma tarefa mais importante. – ele brincou e ela riu. colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha e se sentiu extremamente ridícula por isso. Quão clichê poderia ser? Não conseguiu nem pensar na resposta, pois logo recebeu uma dúzia de mensagens vindo do grupo de mensagens das madrinhas.
8 novas mensagens de #AnneVaiCasar
Anne: meninas, preciso que vocês me enviem fotos dos vestidos e sapatos de vocês do casamento.
Louise: por quê?
Emma: só envia, Lou!
Anne: Preciso ver as cores que vocês escolheram dos sapatos com os vestidos, quero tudo combinando
Melanie: então você vai simplesmente analisar nosso gosto pela moda?
Anne: hm… sim,
Amélie: francamente… está enviando, Srta. Organizada.
Amélie enviou uma foto.
riu da discussão que Melanie propôs e caminhou até sua mala encostada ao lado do frigobar, abriu-a calmamente, retirou o vestido e o colocou em cima da cama. O vestido era azul escuro, quase como a cor da noite, possuía um decote em formato “V”, a maior parte dele era . a observava com a sobrancelha levantada, provavelmente tentando decifrar porque ela havia pego o vestido.
– Ah, merda! – gritou, atraindo a atenção de para si. – Eu não acredito!
– O que houve?
– O sapato, ! Eu esqueci a merda do sapato… Ah, meu Deus, Anne vai me matar!
, calma! As palavras estão saindo da sua boca mais rápido do que o The Flash!
– Você sabe que isso não é possível, não é?
– Ah, pelo amor… Quer saber? Só me diz o que aconteceu.
– Eu esqueci o sapato do casamento.
– Onde?
– Como assim onde, ?! Na França, óbvio!
– Ah. – ele riu, colocando os braços na cintura. – É isso?
– Por que você está rindo?
– Bem, eu peço pra alguém buscar e trazer com um jatinho, só vai levar algumas horas… – ela parou de ouvir quase que automaticamente, boquiaberta. A facilidade e a simplicidade da solução que o jogador de futebol propôs fora pronunciada, como algo rotineiro, provocou um incômodo em sua mente, involuntariamente franzindo as sobrancelhas. – … Alguém tem as chaves do seu apartamento? …? !
– Ahn… não.
– Você não deixou a chave com ninguém para irem dar uma olhada de vez em quando?
– Sim… Bem… Eu quis dizer “não” para a sua ideia maluca – disse, ligeiramente.
– Como?
– É, , é só um sapato. – ela falou, dando de ombros. – Eu vou comprar um novo hoje.
– Mas não vai ser igual aos outros.
– Caramba, ! Você não consegue expandir sua visão?
– Do que você está falando?
– Estou falando sobre existirem outros problemas maiores no mundo! E você queria enviar um jatinho! Por um salto alto!
– Eu só queria ajudar…
– Se você quer mesmo ajudar, então por que não doa uma parte dos milhões de euros que você ganha? Hum? – ela se aproximou dele, a distância entre seus rostos era quase mínima. Ainda assim, ela o encarava fixamente e com a boca trincada.
– Você não sabe o que eu faço ou não com meu dinheiro, .
– Tira vantagem dos outros?
– Caramba, o que é isso aqui? A leitura de um manifesto? Eu vou ser crucificado por ganhar dinheiro, é isso?
– Ah, nem começa, há pessoas morrendo e você achando ruim ouvir umas verdades de mim...
– O que isso tem a ver com a droga de um sapato?!
– É bem mais barato comprar um novo do que mandar um avião particular ir buscar!
– Se é só comprar um novo, então por que você surtou?
respirou fundo, agora fitando o teto e andando de um lado para o outro.
– Tudo bem, você está certo, não preciso fazer uma tempestade em um copo d’água – falou mais para si mesma do que para , que prendeu a risada. – O que agora?
Com isso, ele não segurou: teve uma crise de risos bem em frente à ela. , por sua vez, não aguentou por muito tempo e sua gargalhada acompanhou as de .
– Parece que você não escolhe hora para o ativismo.
– Ah, cala a boca. – ela o lançou um sorriso. – Vamos, tenho que comprar um sapato antes do fim da tarde.
– O que eu tenho a ver com isso?
Ela parou de andar e cruzou os braços.
– Esquece. – ele se deu por vencido e levantou os dois braços, mostrando estar rendido. – Eu já ia mesmo.



O centro comercial da cidade estava inquietantemente movimentado. Era como se todos que morassem ali e todos os turistas houvessem decidido passear. olhava para todos os lados, à procura de uma loja de sapatos, enquanto rolava a tela do celular, checando suas redes sociais. tentava desviar dos olhares que alguns dos turistas enviavam. Não para ela, obviamente, mas para ele. , por sua vez, sequer parecia notar, ou se importar.
– Aquele senhor tirou uma foto sua. – ela disse, chamando a atenção dele.
– Sério? Eu não achava que iriam me reconhecer aqui.
– Você está na Grécia, não numa ilha deserta.
– Tecnicamente, estamos numa ilha – ele riu, a empurrando de leve com o ombro.
– E se eu aparecer nos tablóides junto de você?
– Espero que não, você está com uma impressão horrível de quem acabou de acordar.
riu, percebendo seu tom irônico.
– Idiota.
Ela tentou focar o máximo que pôde em achar novos sapatos o mais parecidos possíveis com os que esqueceu, mas sua mente teimosamente insistia em tentar recuperar as memórias da noite anterior. Alguns flashbacks ainda circulavam em suas lembranças esquisitamente desorganizadas, mas sabia que uma parcela da noite estava perdida em seu subconsciente. O clima ainda não era um dos melhores, o que a assustava ainda mais, não queria perder mais de uma hora ali.
– Olha! – falou, apontando para uma loja no segundo andar de uma pequena galeria. Em letreiros brancos e exageradamente curvados, estava escrito “Calçados dos Deuses”. – Não é engraçado como aqui eles relacionam tudo com a mitologia grega?
riu, caminhando em direção à loja.
a seguiu, calado. Era tão confuso para ele entender que a sua relação com fora abalada em menos de um dia, pensava consigo mesmo se não teria sido melhor ela lembrar da noite anterior e de Heidi, sua namorada. Por outro lado, tentava pensar que o destino talvez escolheu que deveria ser dessa forma. Uma parte dele sabia que essa poderia ser a hora de seguir em frente e esquecer esses sentimentos confusos que floresceram em poucos dias. O obstáculo maior era a terna amizade que iniciaram… Ele a achava uma pessoa incrível e uma ótima amiga. pensava o quão sentido estava por pôr seus sentimentos na relação amigável que possuíam e a interromper. Sentia, no entanto, muito mais por não ser capaz de ser apenas seu amigo.
– Uma moeda pelos seus pensamentos.
– Destino. – ele disse, rápido demais. desmanchou seu sorriso, mantendo uma expressão surpresa em seu rosto pela velocidade com a qual havia a respondido.
– Bem – ela voltou a sorrir. – Você sabe o que dizem sobre destino? – ficou em silêncio por alguns segundos, analisando o rosto de aderir uma feição de desconforto, provavelmente pelo tópico tão sentimental. – Não é seu até que você assim o faça.


CAPÍTULO 8

estava convicta de que Anne nem notaria. Não era idêntico, mas similar o bastante e não era como se os convidados fossem fiscais de calçados para observar a diferença, honestamente. O sapato era perfeito. Era o que pensava, ao menos, antes da vendedora abrir a boca e estragar suas expectativas.
– Só há um problema – grunhiu baixo, de forma quase que inaudível. – Não são sapatos para dança.
A outra vendedora, ao lado de soltou um riso baixo, mas todos a olharam.
– Como se saltos altos fossem feitos para nos deixar confortáveis, não é mesmo? – ela perguntou para , sorrindo ternamente e sussurrou:
– Só foram feitos para dificultar nossa fuga de homens.
A garota riu alto, o que atraiu a atenção de para ela. Havia achado extremamente engraçado a visão da própria vendedora acerca do produto que vendia. passou alguns segundos mirando o chão, ponderando se diria ao amigo o que ela dissera, mas a ideia fugiu da sua cabeça e preferiu guardar para si mesma, como um segredo.
– Bem, confortável ou não, são eles ou nada – ela disse e olhou para , como se quisesse sua opinião para saber o que faria a seguir.
– Podemos dar mais uma olhada, se você quiser, .
– Ahn… Não, está tudo bem, temos que voltar logo mais para o hotel, o céu está cada vez mais escuro e não acho que tenho tanta sorte para encontrar um sapato tão parecido quanto esse – ele assentiu e pressionou os lábios um contra o outro.
Ao saírem da loja, insistiu para que pedissem um táxi por estar com as pernas exaustas, mas simplesmente se negou, visto que o hotel era relativamente perto. reclamou do tanto que tinham que andar, implorando para que, se ele insistia tanto em caminhar, ao menos a levasse no colo. Ele riu e a olhou de sobrancelhas erguidas, mas ficou sério ao ver que ela fitava distraidamente o local ao seu redor. Ela estava em sua frente, com os cabelos pretos e desgrenhados ondulando mais ainda ao ritmo do vento, um brilho curioso em seus olhos. controla a vontade de estender a mão e tocá-la, permitindo sua razão falar mais alto e deixando apenas que um pouco da felicidade dela se derrame sobre ele.
, vai chover. O jogador leva míseros segundos para perceber que ela o encarava, apesar de parecerem séculos, mas não é o caso.
– Não se preocupe, temos tempo até chegar ao hotel.
– Você virou um profissional do tempo e não me avisou?
Ele espera até que seus olhos encontre os dele.
– Você vai derreter? É feita de açúcar, por acaso?
– De onde você acha que minha doçura vem?
– Você está mais para amarga, Deschamps.
– Deschamps?
Ele olha para o outro lado, balançando a cabeça e segurando o riso.
– É seu sobrenome.
– Mas você nunca me… – ela parou ao sentir pingos de chuva solitários tocarem suavemente sua pele e o encarou. – Eu avisei!
se vira para ela, preparado para o olhar de raiva que certamente iria encontrar, mas ela não demonstrava nada disso. Em seu lugar, o observada com uma expressão divertida.
– Quem chegar por último paga um jantar! – ela gritou ao sentir a chuva mais forte e se apressou em correr. Apesar de ter iniciado em desvantagem, treinamentos avançados na academia e treinos de futebol logo o fizeram ultrapassá-la. Embora tenha batido os pés para dizer que o hotel não seria perto o suficiente para não ir de carro, a impressão que teve foi de que haviam chegado em dois minutos.
– Você me deve um jantar, Deschamps. – avisou ao ver a placa do hotel, mas acabou escorregando no chão molhado e caiu de costas, fazendo com que corresse ainda mais rápido para o alcançar.
, você está bem? Meu Deus, parece até uma criança! Vamos, se levante antes que fique todo melado de lama...
Ele ergueu o tronco murmurando de dor, passou a mão entre os cabelos e riu.
– Do que você está rindo?
– Você ficou bem preocupada – ele disse, se levantando. Ambos não pareciam mais se importar com a chuva. – Adorável.
se levanta por completo e fica tão próximo de que a única coisa que ela consegue ver é seu rosto.
– Eu não consigo te esquecer – ele disse e se encararam, enquanto as palavras de pairavam no ar entre eles. Ela queria o beijar, urgia que seus corpos entrassem em contato o mais rápido possível. Entretudo, algo em seu subconsciente a dizia que deveria se afastar. O olhar de percorria todo o seu rosto e pairava sobre sua boca. A respiração de ambos eram tão forte e não sabiam dizer se havia sido pela corrida ou pelo curto vácuo de espaço que os separava. – Por mais que eu tente, por mais que me obrigue a pensar em outra coisa… Outra pessoa… Não consigo, não depois de ontem a noite…
– Espere, o quê? Não houve nada ontem a noite…
– Nós podemos conversar sobre isso.
– Não. – Ela falou veementemente. – Eu não quero saber.
Ela, por sua vez, preferia concentrar sua atenção no problema mais imediato: o casamento. Descobrir o que fazer com as palavras de seria algo a se pensar em outro momento.
– Vocês, por um acaso, estão querendo ficar doentes?! – a voz de Anne soa, surpreendente mais forte e firme que o barulho de chuva. – Faltando apenas dias para o meu casamento! Onde vocês estão com a cabeça?
Eles se afastaram rapidamente, como dois corpos magnéticos que se negavam juntar.
, eu te mandei milhões de mensagens, eu precisava da foto do…
– A culpa foi minha – disse, enquanto entravam na portaria do hotel. – Eu a chamei para comprar algo comigo.
Anne os encarou, vendo que segurava uma sacola, não . Parecia desconfiada por um momento, mas sorriu terna para os dois.
– Vão tomar um banho e se trocar, não quero ninguém doente, tudo bem? – eles assentiram com a cabeça e saíram rumo aos seus quartos, mas não antes sem a noiva lançar um sorriso para a melhor amiga.

– E um, dois, três, quatro… um, dois… parem! por favor, eu imploro! – Thalia colocou a mão na cintura e caminhou na direção de e . – O que vocês acham que estão fazendo? Chamam isso de dança, estando quase um quilômetro de distância um do outro? – encarou o chão e se arrependeu instantaneamente ao ver seus novos saltos de dança e lembrar do que aconteceu mais cedo ao chegar no hotel com . Se sentia como uma adolescente, tentando manter seu corpo o mais longe possível do dele.
– Por que não praticamos a dança da noiva agora? – sugeriu, fazendo todos a encararem. Ela não era muito de falar durante as danças, a não ser para pedir desculpas à Thalia por não estar sincronizada.
– Ahn… Tudo bem, se isso te ajudar a focar – a coreógrafa disse, se posicionando no centro do salão. – , querido, como sempre você dançou graciosamente. Cavalheiros, preciso que se retirem para treinar com a noiva e as madrinhas.
se sentiu aliviada ao ver todos os padrinhos e o noivo saírem da sala pouco a pouco, haja vista que não poderiam ver a dança que Anne faria para Charles e vice-versa. Era como se pudesse respirar novamente longe de , mas ao sentir ele tão perto de si, era como se seu corpo já não tivesse coordenações motoras voluntárias e todas suas reações viessem a tona involuntariamente.
Thalia indicou para cada uma das madrinhas suas posições, nas laterais traseiras de Anne. Do lado esquerdo estavam , Amélie e Melanie, enquanto a direita de Anne estavam Louise, Serena e Emma. As madrinhas estavam atrás da noiva, mas em posições laterais para estarem visíveis o suficiente.
Anne iria dançar um compilado de quatro músicas, o que deixava o ensaio das garotas maior que a dança dos casais. Logo, isso manteria longe o suficiente de o tempo necessário para que suas ideias se organizassem.
Na verdade, ela não queria pensar nele de forma alguma, não naquele momento, que não teria que lidar com ele e com as palavras dele – que vez ou outra rondavam sua mente. Decidiu, de uma vez por todas, focar na coreografia e mostrar para Thalia que conseguiria se sair bem o suficiente até o casamento da sua melhor amiga.

Pierre ria de suas piadas – provavelmente bobas demais, pensou – com Michel e Henri. Ela os observava com uma leve curva nos lábios, quase um sorriso, mas seus pensamentos a sabotavam o suficiente para não estar feliz ali. As mãos delicadas e generosas de sua mãe passearam pelas costas de , assustando-a.
– Desculpe. – pediu, parando ao seu lado. – Não quis assustá-la.
– Tudo bem, não se preocupe. – ela sorriu, terna.
– Bem, eu meio que me preocupo sim… O que está acontecendo?
– O que quer dizer?
– Você está distante ultimamente, . Ela não percebeu que as palavras da mãe iriam a atingir tanto até realmente as ouvir. Não houve um segundo sequer que ponderou que as pessoas ao seu redor estavam notando seu comportamento, embora não deveria ser de espanto, visto que todos se conhecem há anos, especialmente seus pais.
– O que está acontecendo?
Sra. Deschamps se aproximou ainda mais da filha e a viu comprimir o lábios discretamente.
– Eu acho que gosto de alguém.
– Mas isso não é maravilhoso? Eu e o seu pai…
– Não – ela a interrompeu. – Não é de quem eu deveria gostar.
– É do Pierre que você está falando? Porque ele é um ótimo rapaz, na minha opinião.
– Não, o Pierre é realmente adorável, mas eu estou falando do irmão de Anne.
Sua mãe demorou uns segundos para se dar conta de quem ela estava falando, mas assim que percebeu, deixou sua boca abrir em um formato de “o”.
– Bem… ?
– É – tentou responder indiferentemente, como se só o nome dele não causasse arrepios suficiente ou uma reação involuntária em todo seu corpo.
– Mas você sempre falou como não gostava dele, como ele não era bom com a família… com Anne…
– Eu sei, eu sei… – ela deu um suspiro longo e profundo, quase como se estivesse se recriminando por seus sentimentos. – Talvez eu só esteja confusa.
– Se você está confusa, significa que existe algum sentimento, mesmo que pequeno.
– Espero que seja pequeno o suficiente para ser irrelevante.
– Bem, se te faz triste, não é irrelevante, é?
– Não, você tem razão. – pela última vez, ela voltou a encarar o cenário à sua frente e soltou a respiração, como se prendendo-a pudesse guardar suas confusões para si mesma.


CAPÍTULO 9

5 dias para o casamento.


Mais um dia para lidar com .

Era isso que pensava assim que ouvia o despertador tocar nos últimos dois dias. Ela criou uma meta mental de ignorá-lo o máximo possível, mas não era fácil. Afinal, eles possuíam apenas uma tênue porta os separando. Durante o dia anterior, tentou se distrair enquanto pôde, ouvindo atenciosamente – ou convencendo a si mesma que sim – Thália Hadam falar sem parar sobre sua jornada de vencedora do concurso de dança na escola para coreógrafa. À noite, sem sono, perambulou pelas ruas tão solitárias quanto ela das Ilhas Antiparos. E, apesar de soar extremamente depressivo, ela nunca teve a chance de ver tantas estrelas como na noite passada, sozinha, mas perdida em imensidão.
Quando retornou ao hotel, o quarto de estava com a porta aberta e era uma tarefa impossível ir para seu quarto sem antes passar pelo dele. Decidiu, em uma ilusão que ele não a veria, passar correndo e abrir a porta do quarto o mais rápido que pudesse. Não é preciso ponderar muito para saber o que veio logo em seguida: reparou um vulto com mais pressa que o normal, visto que o hotel estava sempre em calmaria, e pulou da cama, com a esperança de que fosse . Felizmente, para ele, não estava errado.
– Ei! – disse, mais empolgado do que queria parecer.
– Ahn… Oi, . – estava quase fechando a porta ao sentir que as mãos do irmão da sua melhor amiga entraram no caminho. Era assim que queria chamá-lo a partir de agora, acreditava que revelava o quão errado aquela relação seria.
– Tudo bem? Eu mal te vi hoje, onde você…
– Eu não estou me sentindo muito bem – ela forçou uma tosse fraca. – Nos falamos depois, tudo bem?
– Não, espera, mas eu…
– Boa noite, .
E fechou a porta.
acorda de vez e tentando se desvencilhar das lembranças da noite passada. Ela abre os olhos e vê o teto branco e sem graça, não queria que essa fosse a primeira coisa a ver quando acordasse, não depois de ter visto um céu incrivelmente perfeito antes do seu encontro com . Antes de levantar, ela dá um suspiro profundo, como se isso fosse prepará-la para o resto do dia. Como se estivesse pronta.
O casamento seria em quatro dias e tudo estava uma loucura, nem parecia que dormia e Charles estava com um resfriado, tendo que repousar por dois dias no quarto. Enquanto isso, e as outras madrinhas ajudariam a noiva com o necessário.
Depois de escolher qualquer roupa que teve mais facilidade de achar, saiu do quarto para tomar café da manhã e sentia sua cabeça latejar ao encarar a luz do sol batendo fortemente contra seus olhos. Após a estranha conversa – se é que poderia ser considerada uma conversa – que teve com na noite passada, ele voltou para o quarto e pediu uma garrafa de whisky. Não sabe ao certo quanto bebeu, mas sabe que o suficiente para mandar uma mensagem para Heidi dizendo que queria conversar com ela quando voltasse para a Alemanha.
Ao cruzar o jardim para chegar ao restaurante do hotel, ele a vê. estava com uma saia longa preta e uma camiseta sem manga vermelho sangue e tem mais pessoas que o normal zanzando de um lado para o outro. Ela tinha uma expressão confusa no rosto e estava ao lado de um homem com um uniforme de alguma loja de doces local. balança a cabeça, como se a imagem da garota desapareceria em questões de segundos e voltou a andar.
– Bom dia, campeão – o Sr. raramente aparecia no café da manhã. Segundo ele, não precisava comer pela manhã se o almoço for feito mais cedo.
– Que surpresa, pai, você tomando café da manhã?
– Ah, você sabe, a velhice chega e dá mais espaço na barriga – ele disse, rindo e puxando uma cadeira ao seu lado para o filho sentar. – Não lembro a última vez que sentamos juntos e conversamos. Só nós dois, quero dizer.
– Eu sinto muito por isso, de verdade – ele disse, arrumando a cadeira. – Prometo que irei compensar a partir de agora. Essa viagem… me mudou de verdade.
– Fico feliz por isso – o Sr. abriu um sorriso e deu alguns tapinhas nas costas do filho.
– Tenho certeza que sua mãe irá amar te ver mais vezes também.
– Não tenho dúvidas que…
! Minha querida! – foi interrompido pelo pai chamando quem rondava seus pensamentos ultimamente.
Ela olhou para e como sequer existisse, focou o olhar em seu pai.
– Olá, Sr. .
– Não quer se juntar a nós para tomar café da manhã?
– Eu comi mais cedo – ela falou, agora fitando o chão. – Mas obrigada.
saiu com o coração pesado e os olhos marejados, estava tão cansada. Cansada de ter relacionamentos tão complicados.
Agora mesmo, tinha sua melhor amiga preparando o casamento dos sonhos, enquanto todos os seus relacionamentos foram um fracasso. Era como se ninguém a levasse a sério verdadeiramente, como se ela não fosse o suficiente para ter um amor. Era sempre assim: se relacionava com um homem e, após terminarem por motivos diversos, eles apareciam com um relacionamento duradouro. Era ela o erro, então? O obstáculo para que algo romântico funcionasse?
Deus! Somente ele deve saber o quanto odeia drama e o quanto odeia mais ainda se sentir dessa forma por alguém cujo sentimentos não estão devidamente esclarecidos.
Ela sentou em um banco de mármore no jardim, em um local um pouco afastado e, pela primeira vez, permitiu as lágrimas presas por tanto tempo saírem. Sabia que não eram seus problemas saindo de si mesma a cada gota, mas era o que sentia.
Se lembrava das suas primeiras decepções amorosas. A primeira foi quando tinha apenas quinze anos, estava apaixonada pelo seu melhor amigo. Um verdadeiro clichê. O primeiro beijo deles foi no cinema, ele escreveu “posso te beijar?” no celular e entregou para ela, foi seu primeiro beijo. Havia passado meses com sentimentos reprimidos por ele e finalmente pôde sentir o que definiu ser “uma explosão de felicidade” na barriga. Eles começaram a namorar alguns dias depois, mas essa história de amor só durou dois meses. descobriu que o plano inicial do namorado era apenas causar ciúmes a outra garota, quem ele gostava.
Não que tenha acontecido algo empolgante depois disso, muito pelo o contrário, houve apenas insegurança com si mesma.
Alguns anos depois, quando já tinha dezoito anos e estava terminando a escola, se envolveu com um garoto que morava no mesmo bairro. No início, essa história deixaria qualquer princesa dos contos de fadas com inveja, mas como essa é a segunda decepção amorosa, fica claro como termina: uma tragédia. descobriu, após quatro meses, que ele a traía.
E essa foi sua maior história de amor, por ora.
Ali, no jardim, ela é dominada por um turbilhão de emoções, já nem sabia mais por qual motivo específico estava chorando. Ao fechar os olhos, viu a imagem de invadir sua mente.
“O que é que tem nos seus olhos para acalmar minha alma?”
pensou. Não havia ninguém ali. Estava sozinha, como se acostumara. E foi aí que descobriu que ao olhar para a imensidão do infinito, enfim, se descobriu nele.
Estava decidida que, de agora em diante, manteria apenas como um bom amigo.



Carl Sagan dizia: "Nós somos a maneira do universo conhecer a si mesmo. Alguma parte de nosso ser sabe que é de lá que nós viemos. Nós desejamos retornar. E nós podemos, pois o cosmos está também dentro de nós. Somos feitos de matéria estelar". Todos já ouviram a teoria de que seres humanos são feitos da poeira das estrelas, que compartilham dos mesmos átomos. Bem, não era cientista e muito menos astrônoma, todo aquele cenário inovador a fazia se sentir como um deles: uma luz vagando na escuridão. Embora que, para sua sorte, Pierre estivesse ali agora para fazê-la rir.
Pierre era hilário. Um pouco imaturo para sua idade, como todos os homens, pensava . No entanto, estar com Pierre significava esquecer os problemas, mesmo que por míseros segundos, e era exatamente isso que ela precisava agora.
? – a chamou, estalando os dedos muito perto do rosto da sua madrinha.
– Ahn… Desculpe, sim? – se desvencilhou dos seus pensamentos e endireitou a blusa que vestia. Pierre ainda conversava atenciosamente com Henri sobre seu primeiro ano na universidade.
sorriu, ternamente – como sempre – e se sentou no gramado ao lado da melhor amiga, abraçando os próprios joelhos, como uma criança assustada.
– Sinto que mal tivemos a oportunidade de conversar desde que chegamos aqui…
– É, está tudo uma loucura…
– Não, espera… me deixa terminar, tudo bem? – mordeu os lábios e esperou acenar com a cabeça para que ela continuasse.
– Certo.
– Eu só queria sentar aqui, com você, e esquecer de toda essa loucura por alguns minutos. Deus, eu estou me casando, sabe? E, embora, eu não tenho dúvidas que estou fazendo a coisa certa, ainda assim eu estou assustada, entende? Não, eu estou apavorada! Mas a questão é que eu foquei tanto em mim que não pude perguntar como você está – ela respirou fundo e encarou . – Eu sei que tem algo errado, eu conheço você há anos. Eu entendo se você não queira conversar, mas admito que não é isso que eu espero vindo de você…
– Eu estou apaixonada pelo seu irmão.
– Eu quero que você se abra para mim e que possa contar… Espere, o quê?
– Eu acho que estou apaixonada por .
– Mas… , como…
– Não, espere, me deixe terminar – ela pediu, antes que pudesse continuar. – Eu sei que é loucura, acredite, gastei horas dos meus dias aqui pensando que talvez fosse um delírio ou eu estava apenas extremamente carente e aceitei, você sabe, qualquer coisa que viesse. E esse não é o pior! O pior é que eu acho que ele está tentando me dizer que sente o mesmo. Bem, ele disse que não parava de pensar em mim, ou algo do tipo, então eu estou apenas evitando ele.
– Você o quê? Por quê? olhou para os lados antes de falar e sussurrou como se estivesse prestes a contar um segredo:
– Porque é errado, ! Não quero sentir isso, muito menos por um jogador de futebol! A vida que o seu irmão leva não é como a minha. Eu sou normal.
– Ele também é.
– Não, , não é. Eu não tenho condições emocionais de aparecer em jornais ou redes sociais com inúmeros boatos sobre mim ou minha vida pessoal e, além disso, nem faz sentido pensar demais nisso porque estaríamos partindo do pressuposto que ele se relacionaria comigo.
– E o que te faz pensar que não?
– Ora, … Eu sou uma bagunça completa.
– Não diga isso, não é verdade – disse, agarrando a mão mais próxima de . – Todos somos complexos e temos problemas. Mas, , escute, tem algo sobre que você precisa…
– Por favor, não me diga.
– Mas é que é meio que um detalhe muito impor…
, não! Eu já estou pensando demais sobre isso, não quero algo a mais para me torturar todas as noites antes de dormir. Acho que já falamos demais sobre isso por um dia, prometi a Emma que a ajudaria com os arranjos, nos falamos depois.
se levantou, se despediu de Pierre e Henri e foi à procura de Emma.
respirou fundo e tirou o celular do bolso ao ver a amiga se afastar.
“Precisamos conversar.”
Alguns minutos se passaram antes de receber a resposta.
: “Estou no meu quarto.”


CAPÍTULO 10

chegou em questão de minutos na frente do quarto de e teve cuidado para que não houvesse perigo de estar por perto. Ela olhou para cima, de olhos fechados, e inspirou o máximo de ar possível. Estava tão cansada que não queria ter uma discussão com o irmão que não via há algum tempo.
Havia passado tanto tempo pensando em como seria ter a família reunida que esperava que tudo fosse sair perfeitamente naturalmente, como um conto de fadas. No entanto, sentiu que as coisas seriam mais complicadas quando abriu a porta do quarto de e o viu a olhar preocupado.
– O que aconteceu? – ele perguntou, se levantando da cama e caminhando em sua direção.
– Querido – disse, de uma forma carinhosa. Chamava-o assim desde quando eram crianças, não podia recordar o motivo. – Você tem uma namorada. – acusou.
– O que isso quer dizer? – ele arqueou as sobrancelhas e encarou o rosto enigmático da irmã. Não sabia onde ela estava tentando chegar.
– Quer dizer que você não pode se aproximar de outra garota e a dar esperanças.
E, então, ele compreendeu.
– Não estou fazendo isso com .
– Ela sabe sobre você e Heidi?
– Bem, tecnicamente…
– Por Deus, ! É apenas sim ou não! – aumentou seu tom de voz, andando pelo quarto numa tentativa banal de se acalmar.
– Ela descobriu na sua despedida de solteira, mas não se lembra porque bebeu muito.
Agora que ele dissera isso, o comportamento da sua melhor amiga fazia completo sentido, embora o fato de beber tanto nessa viagem não fosse tão comum.
esfregou as mãos nas coxas e fechou os olhos, como se estivesse sendo levada para alguma dimensão onde não houvessem problemas. Pelo menos, era o que desejava.
– Precisa contar para ela de novo.
, ela não reagiu bem.
– Ela vai descobrir uma hora!
– Mas não agora! – gritou, assustando . – Desculpe... desculpe, eu não quis gritar.
– O que você pretende fazer? Imagine quando ela procurar seu nome no celular e ver todas suas fotos com Heidi, você acha justo?
– Eu vou terminar com Heidi – falou, decidido, mas completou ao ver o rosto de em choque: – Não exclusivamente por , nós já não estávamos muito bem. Não sinto o mesmo.
– E quando você pretende fazer isso? Quando for tarde demais? – quis rir, por um minuto. estava apenas preocupada com a melhor amiga, não a queria ver machucada.
– Eu quero vê-la pessoalmente. Não sou um idiota que terminaria com ela por telefone.
– Então não ouse se aproximar de enquanto isso. Ela não é alguém que aceitaria participar de uma traição.
As últimas palavras fizeram com que a olhasse irritado. Ora, já havia, sim, sido o garoto mais idiota de provavelmente toda a França, mas isso fora muito tempo atrás. Não era justo se espelhar no comportamento de um garoto de dezessete anos para analisar o homem que havia se tornado.
– Não é porque não sinto o mesmo por Heidi que não a respeito. Jamais a trairia.
– Então respeite também e a deixe ir.

2 dias para o casamento.


Três dias haviam se passado desde que e haviam conversado e, por mais que ele se recusasse a se afastar de , ele não precisaria se dar ao trabalho. A melhor amiga da sua irmã o evitava na maior parte do tempo e, para piorar, gastava todo esse tempo com Pierre. Se ele parasse para analisar, ela mantinha mais contato com René do que com seu colega de porta.
Colega de porta. Era isso que havia se tornado: uma inconveniência.
Na noite anterior, pensou em chamá-la para assistir O Sorriso de Mona Lisa, um dos filmes de Julia Roberts – quem tanto gostava – que eles ainda não haviam assistido. Atualmente, odiava O Casamento do Meu Melhor Amigo, por o torturar fazendo-o pensar nela. Odiava todos os musicais também, porque os amava e poderia passar horas falando sobre eles. Odiava até os que ela odiava por ter escutado cada argumento que ela listou do porquê Brigadoon ser melhor que O Rei do Show e, em resumo, é porque é um clássico. No geral, ela gostava de tudo que a remetia ao passado, talvez por ele ser tão sólido, enquanto a incerteza do futuro a assustava.
No entanto, já não havia mais tempo para refletir sobre o que estava acontecendo ali, afinal, havia o casamento da sua irmã. Além disso, honestamente, o que adiantaria? Se deixar torturar em pensamentos espinhentos, ponderando o que se passava na mente de , porque ela o afastaria. Teria, enfim, lembrado de Heidi? Não estava interessada? Bem, ela parecia… Não importa. É justamente sobre isso! Não é justo ter que adivinhar o que aconteceu para que a situação chegasse nesse ponto. Não é justo ter que elaborar suas próprias convicções exclusivamente a partir do que falou e quais atitudes ela demonstrou, era apenas nisso no que ele poderia se basear, não? Não poderia ler a mente dela – embora uma parte de si talvez quisesse –, não poderia saber sobre o que tudo isso se tratava. Tudo o que restava era o maior curandeiro do mundo, dizia sua mãe após alguns machucados após o treino de futebol, o tempo.
escuta a porta do quarto bater. Mas não era qualquer porta, era a que dividia o que ele agora chamava de céu e inferno – sendo este último, seu atual lar. Ele engoliu fundo, passou as mãos nos fios de cabelo bagunçados, seguido de leves batidas na roupa, tentando desamassá-las e abriu a porta.
usava um vestido vermelho curto e com longas mangas. Estava bonita. Bem, como sempre, mas quis dizer que estava arrumada. Sua mente poderia ser acusada de traição, pois apenas queria perguntar o que a levou até ali, contudo, só conseguiu analisá-la.
Aos poucos, entendeu o que estava acontecendo. Ia para um encontro, estava mais do que claro.
– Oi. – ela inicia a conversa em uma voz delicada, diferente de sua postura, extremamente confiante. Ela esperou, mas ele não respondeu, apenas abriu um pouco mais de espaço e mordeu os lábios. – Ahn… Tudo bem, então. Bem, eu só queria saber se você poderia me emprestar seu carregador de celular, minha mãe esqueceu o dela e insistiu para que eu a emprestasse o meu, mas não tem problema, amanhã eu posso pegar de volta.
– Eu empresto! – ele disse, tão rápido que ela mal pôde entendê-lo, só ao ver com o fio de carregador que processou suas palavras.
– Certo. É, obrigada, então.
pegou na maçaneta e se virou para fechar a porta, sendo impedida pela mão do seu colega de quarto ao tocar seus dedos. Ela o olhou, apesar do seu corpo permanecer ainda no sentido oposto.
– Não acha que devemos conversar?
– Estou atrasada.
– Prometo que serei rápido.
– Tenho um encontro.
E, assim, ele a deixou ir. Deixou-a ir sem falar o que sua mente insistia em trazer a tona até em momentos que ele pensa que não está pensando nela. Parte de si sabia que era hora de deixar isso para trás. era uma boa pessoa e uma ótima amiga e ele sentia muito por ter envolvido sentimentos e interrompido uma amizade, mas sentia ainda mais por não ser capaz de ser seu amigo. Não apenas isso, pelo menos.
Rumou, então, para o centro comercial da pequena ilha grega, indo ao seu destino. Estando novamente naquele lugar, as memórias de quando estava ali ao lado de há uns dias a atormentaram automaticamente. Ela passou a maior parte do tempo varrendo todos os cantos com seus olhos, saudosos, procurando pelos dele, em uma tola esperança que ele iria atrás dela. Mas a vida não é como um filme de romance da Julia Roberts, pensou. Tentou se desvencilhar dos truques que sua mente pregava ao sentir o cheiro forte de café impregnar no ambiente, apesar de ainda estar na rua. A cafeteria tinha um estilo rústico, ao mesmo tempo que tocava músicas clássicas quase que inaudível, mas deixava o ambiente extremamente agradável, na sua opinião.
– Ei, você chegou! – Emma disse, se levantando da mesa que estava com René e abraçando . – Estávamos escolhendo o buquê de flores. Quais são as favoritas de ?
– Tulipas holandesas. Laranjas.
– Ugh – murmurou, olhando o catálogo da decoração do casamento. – As laranjas não vão combinar com nada!
– Que tal lilás? Combina com a decoração. – sorriu, apesar de não se importar com as flores agora. – São minhas favoritas.
– É uma ótima ideia. – Emma riu, acolhedora. Ao sentar na mesa com Emma e René, e ver o papel com linhas brancas em sua frente, se perguntou porque mentiu sobre ter um encontro. Não é como se isso o fizesse desistir. Não quando não havia nada para desistir.
Havia prometido a que faria o melhor discurso que uma madrinha poderia fazer e já chegou ao limite de procrastinação. Seu pai a deixou segura para saber o que fazer com um papel e uma caneta após tantos anos criando os poemas mais tolos e melancólicos que já ouvira falar. No entanto, seus pensamentos embaralhados atrapalhavam impiedosamente sua concentração. À medida que ela escrevia, o mundo parecia se desfazer. Aos poucos, sequer ouvia os barulhos da cafeteria ao seu redor.

respirou fundo mais uma vez, apoiando suas mãos na parede do banheiro e deixando a água quente bater na sua pele, quase como uma punição consigo mesmo. Fechou os olhos, ainda de cabeça baixa, e respirou fundo. Os cachos do seu cabelo caíam ainda curvados por cima de seus olhos e o banho ardente já não era um castigo pior que sua mente inquietante. Ele buscava respostas, mas seus pensamentos apenas o ofereciam mais dúvidas e incertezas, enquanto sequer sabia o que exatamente precisava ser resolvido. Já estava tão cansado, começara a pensar que soava repetitivo, como um robô. Acordava e dormia perdido em pensamentos que variavam entre e o casamento de sua irmã, fora assim seus últimos dias, movido por reflexões praticamente automáticas, projetando suas inquietudes. Ele não sabia o porquê, sabia que havia se envolvido rápido demais, ainda não conseguia entender, mas ela o encantava. Cada parte dela o fazia querer explorá-los cautelosamente, para os fixar a ponto de jamais esquecer cada traço e feição de Deschamps.
Ao finalizar o banho e estar devidamente vestido, viu Charles sentado no chão ao lado da enorme janela de vidro, encarando a imensa escuridão, provavelmente tão perdido nela quanto ele. Quase havia se esquecido que seu cunhado estava ali, havia chegado alguns minutos depois de ter lhe dado as costas. Ele tinha seus olhos abertos, mirando fixamente a ponta dos seus pés, seus olhos tinham olheiras profundas e uma expressão cansada habitava em seu rosto. Hoje havia sido seu último dia de repouso do resfriado e ainda parecia que estava abatido.
– Obrigado por me ocupar. – disse, mas não fitava . – Eu estava enlouquecendo isolado no quarto e deixando resolvendo tudo sozinha.
– Você sabe que ela não estava sozinha. – disse, em tom consolador. – Seus pais estão a ajudando também.
o observava de longe, escorado na porta, e apenas ouvia o vento forte contra a janela. Estava tendo que lidar com uma de suas maiores fraquezas: sentimentos. Não, não os seus, estes já estão mais do que claro que não sabe lidar. Falava do seu cunhado, quem parecia buscar conforto em algum canto daquele ambiente.
– Você está pronto? – perguntou, sentando no chão, bem à sua frente. Na mesma hora, um sorriso singelo apareceu no rosto de Charles.
– Casar com sua irmã é uma das poucas certezas que tenho. – No entanto, ele suspirou. – Mas eu tenho dúvidas, óbvio. O padre disse que era normal, sabe? Se é o tempo certo, somos jovens, afinal. Eu não faria nada para atrapalhar o futuro dela.
– Eu conheço minha irmã. – falou, com segurança. – Ela não faria nada para prejudicar o futuro dela, ou o seu. Hesitar é normal, eu acho.
– Ela falou algo para você?
– Para mim, não. Não imagino me escolhendo para tocar nesse tipo de assunto, ela provavelmente escolheria…
? – ele direcionou o olhar para pela primeira vez. Não satisfeito, encarou seus olhos. Charles pôde lembrar de dizendo que a verdade estão nos olhos de quem a abriga.
engoliu em seco.
– Alguma amiga dela.
– Qual é o seu lance com a ?
– Nenhum.
Não é mentira, pensou. Mas eu gostaria que fosse.
– Vocês parecem afastados, ultimamente.
– Bem, René comentou comigo que não a via por algum tempo, talvez ela tenha se afastado de todos. – era o que ele gostava de pensar, que não era nada pessoal. Até ela dizer que tinha um encontro.
– É, eu fiquei em repouso por quatro longo dias, não posso dar minha opinião.
concordou com a cabeça e um silêncio incômodo se instaurou no quarto por longos segundos.
– Ela foi em um encontro.
Charles não sabia bem o que dizer, viu balançar as pernas de modo frenético.
– Isso te incomoda?
Ele negou com a cabeça e balançou os ombros, fazendo o homem à sua frente rir.
– Você nem consegue esconder.
– Talvez eu me importe, um pouco.
– E por que ela não sabe disso?
– Bem, primeiro porque eu tenho uma namorada – relembrou-o. – Por isso, não seria justo prendê-la até eu resolver minhas pendências com Heidi.
– O que te impede de ser sincero com ela? Ela pode esperar.
– Eu tenho medo de qual seria a reação dela.
– É, normal. – ele falou, dando de ombros. – Mas, ainda assim, é um direito dela de decidir se quer esperar por você ou nunca mais olhar na tua cara. Seu dever é apenas a oferecer a verdade, você não pode tirar o direito dela de decidir o que fazer com isso.
– Eu sei, é que… Falta tão pouco para a viagem acabar, e aí eu poderei terminar com Heidi… E a partir daí, eu contaria para ela. Nos encontramos na hora errada.
– Bobagem! – gritou, jogando uma bola de papel em . – Se você perder tempo se preocupando com essa baboseira de “hora errada”, vai perder quem viria a ser a sua hora certa.
Ele sorriu, pensando como ela se encaixava certamente em cada milésimo de segundo desde que aparecera. Charles estava certo. Não havia erro ali.

fez o caminho mais longo para o hotel, havia deixado Emma e René para trás. Queria dar a chance de um momento a sós para os dois e ter um momento de reflexão, sozinha. Ela manteve seus passos firmes, tanto quanto a ideia de que não havia cometido erros ao se isolar. Os sentimentos indesejáveis iriam embora, eventualmente. Prevenir eles era, definitivamente, mais fácil do que lidar com eles.
De fato, estava tão distraída que nem havia se dado conta de quão rápido chegara no hotel. Apenas se deu conta ao ver sentado no chão em frente à porta do seu quarto, fazendo com que seu coração batesse mais forte a partir de então. Ela andou, mas o barulho do salto contra o chão ressoou pelo corredor, acordando-o.
Ele se levantou apressadamente, arrumando seu pijama e passando uma das mãos no cabelo.
– Oi. – quebrou o silêncio, chegando perto dela. – Eu queria falar com você.
– Pode falar. – ela tentou se manter firme, mas estavam perto demais para que seu cérebro funcionasse racionalmente. Mas ele não disse nada, apenas a abraçou. E, por mais que se sentisse acolhida pelo ato, não o compreendia.
– Eu não sei o que houve, mas eu sei que algo mudou. Você pode se isolar, me evitar, não importa o que você escolha fazer. Só que eu sei que foi real.
agradeceu por ainda estarem abraçados, pois arregalou os olhos na mesma hora. Além disso, tinha certeza que cairia se ele não a tivesse em seus braços.
– Eu respeito seu espaço, embora agora não pareça isso – ele riu baixo, enquanto falava em seu ouvido. – Eu só quero que a gente fique bem, pela nossa amizade.
Ela o soltou. Seus olhos estavam marejados e a boca entreaberta, fazendo-o esperar que ela dissesse algo. Entretanto, ela apenas limpou os olhos e sinalizou um “sim” com a cabeça. Ela não disse nada, mas não precisava. Ele não precisava de uma validação audível. Ela parecia ter concordado que ficariam bem.
– Como foi seu encontro?
– Bem, eu meio que… menti.


CAPÍTULO 11

O dia do casamento.



O tempo grego parecia ter colaborado com o clima matrimonial instaurado nos mínimos detalhes do hotel, estava ameno e ensolarado. Louise pôde jurar que ouviu pássaros cantando naquela manhã, mas estava sonolenta demais para afirmar veementemente. Os empregados do estabelecimento andavam apressados carregando as mais diversas decorações, inclusive as flores escolhidas e organizadas por Emma, que comandava toda a arrumação ao lado da planejadora de eventos.
Haviam tido um último ensaio de dança com Thalia no dia anterior, apesar de achar que acabaria negligenciando algo mais importante caso escolhesse ensaiar alguns passos de dança. A coreógrafa, por sua vez, disse que a dança representava a sintonia do casamento. No entanto, os pares estavam, de fato, em harmonia na sequência da dança, mesmo aos olhos críticos de Thalia. e pareciam se divertir, embora a garota reclamasse a cada dois minutos que a vendedora estava certa e que os sapatos realmente não foram feitos para dança. Ele riu, achando graça em ser ela, pela primeira vez, em ser um pouco desengonçada. Ela parecia tão… única.
Charles havia despertado cedo, o dia sequer havia amanhecido e sua noiva – que viria a ser sua esposa em algumas horas – ainda dormia serena. Ele a olhava dormir e sem perceber, um sorriso leve abriu em seu rosto. Era como se todas as dúvidas haviam se esvaído e a certeza estivesse ali, bem na sua frente: tudo estava conforme deveria ser. Ou melhor, com quem deveria ser.
Ele se dirigiu para fora do quarto, esperando encontrar o restaurante do hotel já aberto para levar o café da manhã de na cama. Assim que cruzou o jardim, pôde ver seus pais caminhando pela praia e desviou seu caminho, sabendo que sua noiva demoraria a acordar, de qualquer forma.
– Charles! – sua mãe gritou, dando leves tapas nos ombros do marido e apontando para o filho. – Veja, querido.
– Mãe, pai. – ele sorriu, se deixando ser envolvido por um abraço de longos minutos.
– Ah, você está crescido agora, o meu bebê…
– Lorraine, por favor, não comece, deixe o garoto! É um homem agora! – o pai disse, com um sorriso de orelha a orelha. – Para onde você estava indo, hm?
– Eu ia levar café da manhã para .
– Ela está bem? Está indisposta? – sua mãe perguntou, fazendo-o rir.
– Ela está dormindo, queria fazer uma surpresa.
Seus pais assentiram com a cabeça e se despediram dele, dando meia volta e indo em direção ao mar.
Charles contornou novamente o jardim, dessa vez sem tirar os olhos do restaurante à sua frente. Apesar de não ser a primeira vez que faria isso por , sentia-se pressionado por querer que o dia de hoje saísse perfeito para ela. Ao chegar na porta do restaurante, desejou com todas as forças que este, por sua vez, já estivesse aberto. Ele empurrou a porta pesada de vidro escuro e entrou, vendo algumas pessoas se servindo e os funcionários organizando o local. No canto, ele encontrou de óculos escuros, cabelo preso em um rabo de cavalo, um livro em mãos e uma xícara em outra.
– Café? – ele perguntou, apontando para a xícara.
Ela sorriu ao ver de quem se tratava e fez um gesto para que ele se sentasse.
– Chocolate quente, na verdade. – disse, tomando um gole. – Eu não gosto de café.
– Que tipo de pessoa é você?
– Eu achava que você já tinha ouvido os rumores do meu paladar infantil. – brincou, deixando o livro de lado. – Nervoso para hoje?
– Estou considerando ir no hospital mais perto pedir algum remédio para acalmar as batidas do meu coração, antes que ele exploda – ele falou, se levantando. – Sinto muito, , gostaria de ficar, mas preciso fazer o café da manhã de .
Ela sacudiu a cabeça e apoiou a cabeça na janela, tendo uma visão ampla de vindo em sua direção.
– Oi. – ele disse, ainda através da janela.
– Oi – respondeu, baixo e com um leve sorriso nos lábios.
– Pensei que poderíamos ir na praia hoje.
Concordou, dando um último gole no chocolate quente e guardando o livro. Lá fora, ela ajeitou a camisa e o short que vestia e percebeu que parecia mais… radiante. Todo o corredor do hotel estava decorado com tulipas e rosas vermelhas, e conforme andava pelo hotel, observava jarros de bonsais. Sem camisa e apenas uma bermuda preta, ele não se parecia nada com o jogador de futebol que ela conhecia desde adolescente. Parecia apenas uma pessoa que conhecera na Grécia. E era verdade, de certa forma, visto que ela apenas havia tido a chance de conhecer quem realmente era ali.
– Bem, hoje é o último dia.
– Último dia do quê? – perguntou, confusa.
– Da nossa pequena aventura. – ele riu, demonstrando ser apenas uma brincadeira.
– Ah, bom. – falou, esboçando um sorriso nos lábios. – E depois você volta a ser o incrível jogador de futebol e, eu, a plebeia.
– Você anda assistindo muitos filmes de romance.
Por algum tempo, tudo que conseguiu fazer foi encará-la. Em um silêncio ensurdecedor, um nó se formou em sua garganta e o impedia de falar o que quer que fosse, possivelmente porque nada racional sairia da sua boca naquele momento em que se encontrava tão perto dela. Sua mente se misturava em um turbilhão de raciocínios e sentimentos, uma linha tênue separava o que ele gostaria de fazer e o que ele deveria fazer. , por sua vez, não sabia o que pensar enquanto o silêncio constrangedor pairava entre eles, até finalmente mirar a areia que envolvia seus pés e sorrir, fazendo parecer que tudo estava bem.

O “dia de noiva” parecia variar entre momentos de estresse e de relaxamento, principalmente no que se referia aos momentos de cuidado pessoal. Serena, Melanie e Amélie podiam jurar que iria explodir, Louise até mesmo jurou que pôde ver um fio de fumaça escapar dos seus ouvidos com o atraso, mas se convenceu de que era só impressão. No final, um clima melancólico se instaurou enquanto as madrinhas observavam o vestido branco cair quase que artisticamente pelo corpo de . Com duas camadas, sendo a externa feita de organza – dando uma impressão leve e esvoaçante – e a interna feita de mikado, o que o deixava com maior volume, o vestido contornava perfeitamente o busto, com um leve decote e que contornava o ombro, seguindo até as mãos em uma manga rendada.
– Você parece uma fada. – Amélie disse, tentando segurar as lágrimas para não borrar sua maquiagem. riu, olhando para si mesma no espelho e explorando cada detalhe do vestido.
– Vocês estão lindas. – ela disse, se aproximando de Serena e esticando o vestido de seda da madrinha. Era o mesmo para todas, feitos de azul-céu, mas cada uma parecia se destacar de uma maneira particular com o vestido.
– Não tanto quanto você! – Louise elogiou, abraçando-a. – Vamos deixar você agora, já temos que ir.
Cada uma delas se despediu de , esperando a encontrar no altar. ficou por último.
– Nervosa?
– Parece que vou explodir de nervoso, juro. – respirou fundo, sentando-se. – Achei por um momento que meu corpo iria entrar em combustão.
– Aposto que Charles está igual, ou até pior.
– A ansiedade ele deve estar o matando. – sorriu, se levantando novamente e abraçando sua amiga.
– Você está linda. – disse, antes de sair e deixá-la com a maquiadora para últimos reparos.
Ao sair, pôde ver os padrinhos amontoados em frente ao quarto que Charles ocupava com os pais enquanto se arrumava. Fora a primeira vez que viu de smoking – e desejou para si mesma que aquela não fosse a última – e parecia uma adolescente o idealizando. desviou o olhar, mas fora tarde demais, ele já a vira. O cabelo dela caía como uma cascata em seus ombros, e uma duas mechas laterais complementavam uma aparência angelical.
– Acho que estou no céu. – Pierre brincou, fazendo com que desviasse o olhar para ele. – Eu morri e você meio me buscar?
– Ha-ha – fez uma careta e cruzou os braços. Céus, como era fácil deixá-la emburrada. – Ansioso? Emocionado?
– Por quê? Não sou eu quem vai casar.
– Credo. – falou, dando-o um leve tapa no ombro. – Como você é insensível…
, no dia que eu casar com você, aí sim eu choro. – Pierre deu uma piscadela e sorriu sem mostrar os dentes.
– De tristeza?
Ele deu uma gargalhada, atraindo a atenção de novamente, quem, por sua vez, parecia engajado na conversa com Henri. Ela sabia disso porque ainda o encarava, apesar de alternar o olhar para não parecer que o observava constantemente.
Longos minutos se passaram até que a planejadora de eventos guiou os padrinhos até o altar. Os poucos convidados, misturados entre amigos e famílias, já se encontravam sentados em longos bancos de mármore branco, rodeados de flores. A temperatura amena parecia cooperar para que tudo saísse conforme o planejado, além da luz solar possivelmente render boas fotos.
Charles caminhou apressadamente ao lado de seus pais para o altar, em frente ao padre da família de , como se o rápido caminhar permitisse que eles pulassem para a parte do “sim, aceito”. Os padrinhos conversavam de maneira estrondosa, fazendo com que a mãe do noivo soltasse raivosos “ps!” em pedidos de silêncio, enquanto as madrinhas falavam entre si em cochichos.
As conversas pareciam ter feito o tempo voar, pois a sensação que tinham era que apenas havia se passado minutos desde que esperavam a noiva. Uma sinfonia suave soou, a orquestra começara a tocar e apareceu ao lado do pai, atrás de um arco gigante de flores. Pétalas de rosas vermelhas no chão guiavam-na o caminho até seu futuro esposo. Ao dar o primeiro passo, todos os convidados se levantaram e uma chuva de fotos se iniciou.
O tempo aparentou estar se arrastando à medida que ela vinha em sua direção, mas logo o pai de a entregou para Charles, que, por sua vez, não pôde conter uma singela lágrima de escorrer pela face.
Foi ali que ela soube, então, que aceitava, não apenas em cartório ou matrimônio, mas também em espírito que aceitava passar a eternidade finita ao lado dele.

A festa após a cerimônia seria no salão do hotel que, apesar de pequeno, acomodou bem o número de convidados. As pessoas andavam de um lado para o outro, e Charles se encontravam zanzando pelo local para agradecer a cada um individualmente que marcou sua presença no casamento. , , Jean, Michel e Henri estavam sentados na mesa ao lado da parede enquanto bebiam algum vinho caro, pelo menos o suficiente para que não reconhecesse.
As outras madrinhas estavam espalhadas pelo local, conversando com conhecidos e acompanhando a organização do evento, como Emma. Thalia subiu no palco, pedindo gentilmente para que o DJ interrompesse a música para que os discursos fossem iniciados.
– Bem, podemos começar com o irmão da noiva? – a coreógrafa perguntou, erguendo uma taça de champagne e apontando para ele com a outra mão. – ! Pode vir!
Ninguém acreditaria que estava querendo vomitar de nervosismo. Afinal, ele sempre manteve expressões leves e calmas. O problema, no entanto, é que não sabia o que diria, não havia preparado nada exuberante, na verdade. Preferia encarar dez copas do mundo do que isso.
– Ahn… – iniciou, evitando olhar para a plateia.
Bem, eu gostaria de começar parabenizando os noivos, ele olhou em direção ao casal, que se encontrava no centro do salão, pela primeira vez, eu tenho que admitir que foi uma surpresa para mim ver o convite de casamento. Não que eu não soubesse que isso iria acontecer, porque eu sabia, para deixar claro. , você é a minha irmã mais nova… Eu lembro de te segurar pela primeira vez nos meus braços e agora estou entregando isso para Charles, quem eu tenho certeza que não vai te deixar cair, porque… porque o amor de vocês desafia todas as leis da gravidade. E quando temos um sentimento assim, é inevitável não pensar quais são as barreiras físicas e emocionais para enfrentar o que for necessário e tomar as decisões certas. Ou erradas, porque é a imperfeição e os erros que fazem a particularidade. Porque não são vocês sem seus erros e acertos singulares. pôde jurar que ele a encarou por alguns segundos, mas lutou contra seus pensamentos a fim de se convencer que aquilo não significaria nada. Quando era pequena, ela nunca gostou de contos de fadas, sempre preferiu desenhos de ação, mas, possivelmente, é porque ela sabia desde pequena que teria seu final feliz na vida real, sua irmã sorriu, terna, bom, felicidades aos noivos, então!
foi de encontro a ao som de aplausos, que se levantou um pouco sem graça e ocupou o palco, tomando o microfone para si.
Olá, ela riu, visivelmente nervosa, é… eu queria começar o discurso agradecendo por vocês dois me permitirem fazer parte desse momento da história de vocês. Eu escrevi um discurso, mas acho que vou me ater à espontaneidade e esperar que a língua do amor me guie por aqui, ela riu e gargalhadas pelo sação a acompanharam, , Charles… dizem que francês é a língua do amor, mas foi no grego que encontrei mais de uma palavra para definir tal sentimento. Ágape significa amar a todos, é o amor ao próximo; Eros é o amor romântico, um sinônimo para e Charles – todos riram; Storge é nada mais que o amor familiar e por último, nosso sinônimo, Philia: significa “amizade” no grego moderno, indica um amor virtuoso. , eu a vi evoluir desde criança até quem você veio a se tornar. Você é como família para mim e agora ela ficará maior com Charles nela. Espero que ele cuide de você… não, eu sei que ele vai, assim como eu cuidei e te acompanhei por longas jornadas emocionais. Eu não sei prever o futuro, não sei como vai ser o caminho a partir de agora, mas Charles, eu estou feliz que você é parte dele. Eu nunca acreditei no amor, até conseguir enxergar ele pairando sobre vocês, aqui e neste mesmo instante. Eu estou muito feliz por vocês! Se felicidade fosse casa, vocês virariam moradia. Eu amo vocês.
foi em direção aos braços abertos de , que a receberam calorosamente. Charles a agradeceu logo em seguida. O discurso havia sido emocionante, de acordo com Serena, todos a parabenizaram. Todos menos… . Ela o procurou vagamente pelo local com o olhar, tempo suficiente para que os discursos dos familiares já fossem encerrados. Finalmente, o avistou do lado de fora do salão com uma mulher de cabelos vermelhos e volumosos. Ela parecia animada, mais que ele, pelo menos. A ruiva entrelaçou os dedos nos dele, causando uma confusão mental em . Memórias perdidas e guardadas no seu subconsciente surgiram sem delicadeza, momentos esquecidos na despedida de solteira, o choro, o consolo… Não conseguiu se lembrar de tudo, tampouco da ordem cronológica do que houve, mas sabia o importante: namorava. E odiava sua mente por tê-la feito esquecer de um detalhe tão importante quanto esse.
Louise surgiu ao seu lado, chamando-a para dançar, animadamente, mas sua voz morrer ao encarar o ponto de visão que sua amiga mirava fixamente.
– Ah, meu Deus, ...
– Está tudo bem.
– Vamos ali fora conversar – Louise a puxou em direção ao jardim, embora fosse inevitável que não a visse. Ela não chorava, mas não precisava também, pois o ofereceu o olhar mais morto que ele acreditava que seus olhos brilhantes poderiam dar.
– Heidi, o que você veio fazer aqui agora? Tão em cima da hora?
– Eu adiantei meus trabalhos, terminei e consegui pegar o vôo mais rápido para cá – ela deu uma olhada ao redor. – É bem… aconchegante, não é? Tipo, pequeno.
– É, olha, por que você não vai falar com ? Eu preciso resolver uma coisa.
Heidi assentiu, dizendo que deveria pedir perdão aos noivos por não ter chegado a tempo da cerimônia, mas que havia comprado um presente caro em compensação.
, não! – Louise falou, ao ver que ele ia até elas.
– Louise, eu quero falar com ela.
– Está tudo bem – repetiu, friamente, antes que a amiga pudesse falar algo. – Pode voltar, me encontro com você em um instante.
Ela acenou com a cabeça e sumiu da visão deles, retornando para a festa.
– Já fizemos isso – ela começou. Ainda não o encarava. – Eu lembrei da despedida de solteira. Você devia ter me contado de novo.
– Eu tentei!
– Não tentou o suficiente! – os tons de vozes já haviam se elevado, apesar da música estarrecedora permitir que ninguém da festa os ouvisse. – Você perfurou minha cabeça e a encheu de dúvidas, . Engano meu se achei, por um mísero segundo, que teria respostas, porque é isso que você faz de melhor: deixa as lacunas do jeito que estavam, vazias, assim como seu coração.
Louise interrompeu discretamente, anunciando que as danças dos noivos e dos padrinhos iria começar.
– Eu não tenho mais o que falar com você, além de falar que é com ela, sua namorada – frisou. – Que você deve dançar.
– Você não precisa fazer isso.
Ela sorriu para o chão e o olhou nos olhos.
– Os sapatos não são de dança, de toda forma, não lembra?

Ao olhar para ela, envolvida nos braços dele, é como se a Terra estivesse alinhada novamente e nenhum eclipse em um lapso temporário havia acontecido. nunca havia acontecido. Vê-lo ali, dançando com quem deveria ser sua parceira desde o início, foi como se todo o ar havia escapado dos seus pulmões. Você vê algo que não esperava e não gostaria de ver, mas depois que o sentimento inicial do susto desaparece, você fica bem. Como um pulo assustado em um filme de terror, os quais ela tanto odiava. No entanto, ainda esperava superar o sentimento inicial. No fim da apresentação, se permitiu deixar a celebração por instantes, deixando os ventos da escuridão da noite a levar. Nenhuma lágrima caía, o que a fez agradecer mentalmente por não perder tempo com isso também, apesar de sentir seu peito querer explodir. Percebeu, então, que estava na praia ao sentir a sola do pé entrar em contato com os grãos de areia. Um homem solitário em um pequeno barco vinha em sua direção, o reconheceu como o homem que os levou no passeio.
– Madame – ele tirou o chapéu e fez uma reverência ao estancar o barco em um banco de areia quando chegou na beira do mar. – Posso afirmar que a senhora parece uma deusa com esse vestido azul e flores no cabelo.
As lágrimas, que ela lutava tanto para controlar, escorreram pela maçã do seu rosto quase que automaticamente ao ouvir as palavras proferidas pelo guia.
– Ah, madame, madame! Me perdoe. – ele tinha um sotaque engraçado ao dizer “madame”, pensou e riu consigo mesma. – A senhorita está bem?
– Na verdade, não. – se sentia maluca. Não podia acreditar que estava desabafando para um desconhecido que havia acabado de terminar seu trabalho. – Estou atrapalhando o senhor? O senhor deve estar exausto…
– Ah, querida. – ele falou, sentando novamente no barco. – Os deuses provêm as energias necessárias. Você não deveria estar em outro lugar? – ele analisou a roupa social que ela vestia, claramente não apropriada para aquele ambiente.
– Deveria estar no casamento da minha melhor amiga, mas um… bem, alguém que gosto m-me machucou muito. – as lágrimas começaram a cair descompassadamente. As memórias da despedida de solteira começaram a voltar, como se tudo estivesse conectado agora, diversos flashbacks passaram pela sua mente em menos de décimos de segundos.
– A senhorita, por acaso, teria alguma religião?
– Ahn, não.
– Bom, eu, sim – ele disse, fitando a água do mar. – Afrodite nasceu das espumas do mar, a deusa. Tinha olhos tão azuis quanto o oceano e uma pele tão branca quanto da espuma pela qual veio. Dizem que os marinheiros, como eu, são protegidos por ela. Afrodite traçou seu destino desde o seu nascimento, minha jovem.
Ela riu, se achando tola ao se agarrar em uma mitologia para ser reconfortada.
– Minha jovem, entenda. – ele pediu, calmamente. – Não se acaba o que foi apadrinhado por Afrodite.


CAPÍTULO 12

1 semana depois do casamento




Eu estava no quinto ano do ensino fundamental quando o vi pela primeira vez. O inconfundível cabelo cacheado, balançando à medida que ele corria de um lado para o outro no gramado numa partida de futebol na aula de educação física. era um dos garotos mais velhos. Ele e os amigos andavam com as garotas mais velhas, à medida que eu e estávamos nos contentando a trocar algumas palavras com os professores nos horários após a aula. Bem, eu, pelo menos. Minha melhor amiga ainda era reconhecida por ser uma .
E numa escola pequena como a nossa, aquele sobrenome carregava popularidade.
Não que significasse algo para mim, afinal, não significava. Todavia, me incomodava como eu não conseguia ir contra a maré. Todas as garotas da escola gostavam de . Até mesmo garotos. E, bom, eu. Felizmente, estar próxima de me deu a oportunidade de conviver com ele de perto, o que foi crucial para que qualquer sentimento positivo se revertesse em puro descontentamento ao sentir sua presença. Já na adolescência, treinava futebol profissional na escola de esportes da cidade, mas parecia fazer questão de ainda assim conseguir se manter afastado da casa dos pais. Por um longo tempo, acreditei que minha presença na casa dos era mais constante do que a sua. Quando o encontrava, era em situações nas quais ele estava com alguma garota deixando seu quarto. Eram todas diferentes cada vez que eu ocasionalmente esbarrava com ele pelos corredores da residência.
Em um salto no tempo, me vi contemplando as constantes memórias do aeroporto, um dia após o casamento da minha melhor amiga, que ainda vagavam pelos meus pensamentos. e Charles se despediram dos amigos e familiares na entrada do aeroporto, logo embarcariam em um portão distinto para a lua de mel, na Costa Rica. Eu tinha meu cabelo preso em um rabo de cavalo mal feito, o rosto limpo, porém inchado, enquanto Louise e Emma tentavam – sem sucesso algum – me animar, meus olhos fitavam fixamente o chão, era a única paisagem segura, uma vez que e Heidi, apesar de irem à caminho da Alemanha, ainda estavam por perto, o que causava um extremo desconforto.
Não era como se tudo tivesse mudado por completo, eu ainda era a garota que estava apaixonada por e ele se encontrava ocupado demais com mulheres tão populares quanto ele.
Desfiz as lembranças dolorosas ao sentir a temperatura de Paris começar a cair no fim da tarde, apesar de estarmos no verão, fazendo com que o vento frio se chocasse contra minha pele e, automaticamente, me obrigando a abraçar meu próprio corpo.
Me distraí dos meus pensamentos ao mirar a água viva que passava na televisão em algum documentário sobre animais marinhos, a câmera estava tão próxima... os detalhes eram tão vívidos que, por uma fração de segundos, me questionei como algo tão lindo e extraordinário poderia causar tanto dano. E aí eu lembrei dele.
Me levantei, agora de estômago embrulhado, e não consegui colocar mais nada na boca. A mancha do batom vermelho que eu usava ainda estava fria na xícara que deixara para trás.
havia me ligado ontem. Aparentemente, tudo estava saindo perfeitamente. Eu havia pedido por fotos dos passeios turísticos que eles estavam fazendo, já que não postava nada em suas redes sociais. Era como se estivessem em um paraíso natural.
Era como se minha melhor amiga estivesse vivendo um conto de fadas e eu, um pesadelo. Isso porque, alguns dias atrás, a França havia jogado contra a Alemanha e, durante o jogo, o jogador alemão Antonio Rudiger machucou – horrivelmente, devo admitir – em um golpe desonesto no pescoço. Logo a notícia se espalhou e gerou indignação nos fanáticos por futebol franceses, o que significa que está estampado em todos os jornais e os noticiários fazem questão de nos atualizar repetidamente sobre o estado de . Nem mesmo o rádio é seguro para tentar esquecê-lo.
Não é como se eu não me preocupasse com ele, obviamente que sim. Mas era aí onde o problema morava. Eu me preocupava até demais. Eu só gostaria de fugir de um lugar onde a pessoa que você tentava esquecer era a mais falada recentemente.
Não percebi que havia andado tanto em tão pouco tempo até me encontrar na porta de casa. Talvez hoje fosse meu dia de sorte, uma chuva se iniciou pouco depois de eu fechar a porta atrás de mim. Coloquei um pijama e me enrolei no cobertor grosso que meus pais haviam esquecido alguns meses atrás. A chuva caía incessantemente e não mostrava sutileza, acompanhada de trovões, como se incorporasse meu emaranhado de emoções, as gotas colidiam agressivamente contra o chão, gerando o satisfatório som de chuva que aconchegava minha tormenta.



/center> Minha cabeça parecia estar prestes a explodir a qualquer momento. A dor no pescoço fora substituída por uma sensação pontiaguda toda vez que eu realizava algum movimento muito brusco.
Chequei o celular mais uma vez, Heidi havia me bloqueado em todas as redes sociais e as fofocas de que havíamos terminado através “fontes confiáveis” já rodavam os portais de notícia. Não esperei nem vinte e quatro horas para saber o que eu deveria fazer em seguida: pegar o próximo vôo para a França. havia ignorado minhas ligações, mensagens ou quaisquer tentativas de reaproximação durante a última semana.
Tudo que me restava era tentar fazê-la me escutar pessoalmente.
A impressão que rondava meus pensamentos era que todos no aeroporto me miravam com olhares de julgamento. E, apesar de não passar da minha imaginação, estava seguro que realmente me julgariam se soubessem quão idiota eu fui.
Fechei os olhos e imaginei o que diria. “Oi, eu sei que eu fui um idiota, mas eu quero que você me desculpe”.
Nossa. Que grande babaca.
Eu estava indo de encontro com e não sabia o que falar. Ou se ela iria sequer abrir a porta. Começo a me preparar mentalmente para qualquer tipo de reação que ela tenha. Meus dedos deslizam entre as conversas que se revezavam na minha caixa de mensagem.
: Aqui está o endereço dela. Não faça nenhuma besteira.
Avenue Carnot.
Se vira para achar o número, não vou facilitar tudo. Ela merece o esforço.

E, de fato, merecia.

O frio do cair da noite envolvia meu corpo junto ao cansaço. Eu já havia entrado em exatos sete prédios, todos os porteiros me diziam o mesmo: não há nenhuma senhorita Deschamps aqui, senhor.
Cinco deles havia me reconhecido, pedindo um autógrafo e uma foto. Realizei os pedidos, como uma forma de agradecer pela informação. No oitavo prédio, não fora nem preciso perguntar a alguém, um grande armário que servia para receber as caixas do correio tinha em grandes letras pretas “DESCHAMPS. 401.”.
Subi as escadas correndo e, apesar de ter um treino de atleta extremamente pesado, senti o ar sumir dos meus pulmões ao chegar em frente a sua porta. Fiquei feliz ao enxergar uma possível nova chance se aproximar, mas paralisei por alguns segundos, somente ouvindo o som da minha respiração.
Toquei a campainha e esperei alguns minutos, mas nada dela aparecer. Bati novamente, até ser interrompido por uma voz suave atrás de mim preenchendo o corredor.
?
estava com pijamas e o cabelo solto, bem bagunçado – o que parecia um charme para mim. Ela parecia assustada, como se estivesse vendo um fantasma.
– O que você está fazendo aqui? – perguntou, com cara de poucos amigos. Fiquei estático, não sabia o que dizer. – Há quanto tempo você chegou?
– Há alguns minutos. Achei que você estivesse em casa.
– Eu fui colocar o lixo para fora e fiquei conversando com a vizinha do apartamento de baixo. – O que você quer, ? – ela cruzou os braços e fez contato visual comigo.
Me senti novamente em uma posição desconfortável, como se tivéssemos voltado para a estaca zero. Ou pior, porque, até onde eu sei, não costumava me odiar.
– Eu tive que voltar. – falei, esquecendo completamente o que fora ensaiado. – Eu não iria conseguir esquecer tudo até conseguir conversar com você.
– Fico feliz que voltou.
– Eu gostaria que tivesse sido você decidindo isso, eu não queria ser inconveniente...
– Não tem como eu voltar se é você quem vai embora – ela me interrompeu, ainda séria. – Eu estou aqui. Nunca saí de onde estava, você quem fugiu.
– E eu sinto muito por isso.
Ao olhar para ela, eu revivia a felicidade que eu insistia fingir não existir, mas ela estava ali, bem na minha frente. E eu não podia permiti-la ir.
Me aproximei o máximo possível dela. Nossas respirações se cruzavam em descompasso. Apesar da urgência que eu sentia em ter seus lábios tocando os meus, me contentei em aproveitar os microssegundos. enrijeceu sua postura, parecendo hesitar.
– Eu não beijo homens comprometidos – ela se afastou e abriu a porta de casa. Preenchi meu rosto com um sorriso divertido. – Do que você está rindo?
– Do quão sortudo eu sou.
– O que isso quer dizer?
– Quer dizer que eu estou com sorte que estou dentro dos requisitos que você exige para beijar – ela ainda pareceu confusa, talvez fosse porque havia acabado de acordar, sua cara de sono denunciava o cansaço e a confusão mental. – Eu terminei com Heidi.
Ela soltou um “ah” e fixou o olhar nas suas pantufas de panda.
– Eu trouxe um livro.
abriu um sorriso genuíno, como se eu tivesse acabado de fazer o maior ato de amor da vida dela.
– Qual? – perguntou, tentando não demonstrar que não estava empolgada e quase pulando em mim quando tirei um livro embrulhado da bolsa. Entreguei o presente para ela, que por sua vez não teve cuidado algum ao retirar o papel de embrulho. – AH, MEU DEUS!
Seus olhos pareciam dois raios de luz, brilhando como a lua. A nova edição de “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen pairava em suas mãos, trêmulas. Ela folheou o livro, sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Eu sabia que ela iria gostar, mas não podia dizer se isso seria o suficiente. No fim, eu esperava que ela falasse sobre clichês românticos até me deixar entediado, mesmo estando disposta a ouví-la para sempre sobre qualquer coisa. Até mesmo se ela falasse mal do meu filme favorito.
– Pensei que talvez pudéssemos fugir um pouco dos clichês de Julia Roberts.
Ela me censurou com o olhar.
– Não que eu não goste, só pensei em diversificar um pouco.
sorriu e se aproximou novamente.
– Eu adorei, obrigada – falou, com palavras sinceras. – Como está seu pescoço?
– Achei que você não estava sabendo – “afinal, você não me mandou mensagem alguma perguntando como eu estava”, pensei. Ha-ha. Como se ela fosse mostrar preocupação com quem a machucou. Que. Grande. Babaca.
– É impossível não saber de quando se mora na França.
Eu dei um sorriso fraco, um pouco decepcionado porque ela soube pelas proporções da notícia e não por procurar por mim.
– Eu estou melhor, obrigada.
– Então eu imagino que isso não vá doer tanto – ela colocou as mãos no meu pescoço e puxou meu maxilar para frente, me beijando.
– Então quer dizer que ele estava certo… – comentou, interrompendo o beijo, mas com a testa encostada na minha. – Não se acaba o que foi apadrinhado por Afrodite
– Quem?
– Ninguém – ela riu, voltando a me beijar.
– Eu quero saber!
– Um dia eu te conto… – disse, séria. – Ou não…
Ela não terminou, apenas abriu a porta e me puxou para dentro da casa.



1 mês depois do casamento.


É um dia ensolarado e bonito. O céu está praticamente sem nuvens, o clima agradável e de verão favorece a paisagem. Os raios solares queimam a minha pele sob o mar, admirando o horizonte. me abraça por trás, surpreendendo-me.
– Você tem que me prometer que, dessa vez, não vai cair do barco.
Gargalhei, dando-o um leve empurrão.
– Não seja idiota!
tira sua camiseta e coloca um óculos escuros, ficando ainda mais bonito do que a imagem fixada que eu tinha dele na minha mente. A água do mar era transparente, deixando suas profundezas visíveis. Gostava de pensar que, assim, era possível ver os mistérios que rondavam o oceano. Não trocamos palavra alguma, somente sentíamos a presença um do outro.
Fechei os olhos com força, aproveitando o momento. Foi quando me dei conta que, apenas aqui e agora, nossa história de romance havia começado.
Essa não era nossa história de amor, e sim a de e Charles. Era sobre o casamento deles.
Percebo, portanto, que não chegamos ao nosso “Fim” e, sim, o “Era uma vez…”.


Fim!



Nota da autora: Eu nunca me apresentei devidamente aqui ou falei muito bem sobre a história por traz de Sponsored By Aphrodite. Eu comecei a escrever a história em 2018 e – quase dois anos depois – cá estou eu finalizando-a.
Tudo começou enquanto eu assistia a última Copa do Mundo e o enredo brotou na minha cabeça. Eu não sabia muito bem como começaria, mas já sabia qual viria a ser o final.
Eu amei muito passar todos esse tempo escrevendo, tanto quanto amava O Casamento do Meu Melhor Amigo, e eu estou feliz com o resultado.
Todo o livro possui desabafos, pensamentos e sentimentos meus em seus pequenos detalhes e contém uma parte de mim em cada personagem que apareceu aqui. A experiência foi extremamente pessoal para mim, porque, mesmo tendo começado a escrever diversas histórias, dos mais diferentes gêneros, esta foi a primeira obra que eu consegui finalizar. Logo, senti necessidade de lutar contra todos meus instintos e dar um final para e , eles mereciam isso tanto quanto eu.
Há diversas pessoas que eu gostaria de agradecer aqui, mas acima de tudo, gostaria de dedicar todo esse esforço para mim mesma. Para mostrar que é preciso lutar contra os pensamentos de insuficiência para provar para si mesma que esforço e dedicação trazem, sim, resultados.
Obrigada Yuli, quem aguentou os atrasos por mais de um ano e permaneceu me dando um feedback construtivo, aprimorando toda a história! Você é a beta mais linda e chique que eu poderia ter, nem tenho palavras!
Obrigada para você, leitor, que chegou até aqui sem desistir desse romance e espero ansiosamente saber a opinião de cada um sobre o capítulo final! Foi assim que vocês me ajudaram a construir Sponsored By Aphrodite.
Vejo vocês na próxima!




Fer, o prazer foi todo meu acompanhando essa história desde o início, e peço também desculpas com qualquer atraso ou erro meu com a betagem. Essa história foi uma delícia de ler, fui fã desde o começo e com certeza vou ser fã da próxima - e beta também, espero! Mil beijos!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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