Prólogo
Virei o carro pela rua e achei uma vaga para estacionar em frente à floricultura de minha mãe. Fiz uma rápida baliza, parando o fusquinha branco e saí do mesmo, pegando minhas pastas e fechando o carro na chave.
- Hola, Cármen! – Falei para minha irmã que aguava as plantas e dei um rápido beijo em sua bochecha. – Como están?
- Mamá está afuera. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Como están mis flores?
- Bién, bién! – Ela falou, abanando as mãos e eu ri, seguindo para os fundos da floricultura, cumprimentando Mauí, um dos funcionários que cuidavam das mudas, e Guadalupe, sua esposa.
- Hola, mamá! – Me aproximei de sua mesa, notando que ela olhava para vários papéis e ela abriu um sorriso desanimado.
- Hola, mi hija. Como fue su trabajo? – Franzi o rosto, me sentando na cadeira em sua frente.
- O que aconteció? – Perguntei e ela soltou um longo suspiro, se levantando e estendendo a mão para segui-la. Larguei minhas coisas em sua mesa e a segui para o aberto, onde poderíamos conversar em paz. – Que pasó? – Perguntei e ela apoiou a mão em meu ombro, me puxando para andar por entre as flores.
- Eu recebi notícias do seu pai...
- Ah não, mãe! Eu não quero saber dele, nem do seu dinheiro, nem da sua vida. – Ela segurou meu rosto, parando em minha frente.
- Ele morreu, querida. – Arregalei os olhos.
- Oi?! – Me assustei. – Como? - Ela deu de ombros.
- Aparentemente foi queima de arquivo. – Franzi a testa, respirando fundo e balançando a cabeça.
- Meu Deus! – Suspirei. – Por essa eu não esperava. – Passei a mão no rosto. – Eu deveria ir para San Diego, dar meus sentimentos à viúva? – Ela riu.
- Ele te deixou algumas coisas. – Ela falou, tirando um papel levemente amassado do bolso.
- O quê? – Abri o papel, vendo um testamento.
- Um terço da sua empresa, sua casa de veraneio em Playa Del Carmen, um apartamento em San Diego e mais algumas coisas.
- Mas eu não quero nada disso. – Devolvi o papel a ela.
- Querida, não desperdice sua vida! – Ela suspirou. – Você realmente quer viver aqui em Tijuana pelo resto da sua vida? Fazendo contabilidade de empresas que estão beirando à falência? Você merece muito mais. – Ela segurou meus ombros. – Você tem essas asas maravilhosas, elas foram feitas para voar, querida. Não para ficar aqui, trancada em uma cidade minúscula. – Suspirei.
- Mas eu não quero ter contato com nada disso. – Ela negou com a cabeça.
- Pelo menos vá descobrir do que isso se trata. Você já tem os conhecimentos. Vai que isso te traz grandes oportunidades na sua vida, querida? Por mais que você não goste, não pode negar que seu pai construiu um grande império e que você tem sim direito sobre ele.
- Império, mãe? Como você pode falar isso dele? Ele cruzou a fronteira, fez juras de amor para você transar com ele e depois nunca mais voltou.
- Você pode falar o que quiser, mas ele nunca deixou faltar nada para você e para mim. Até para Cármen que nem é filha dele. – Soltei o ar fortemente. – Por favor, querida. A oportunidade está na sua frente. Você só precisa ir.
- E o que eu faço? – Cruzei os braços. – Eu não posso simplesmente largar o trabalho lá no Jorge. – Suspirei.
- Você tem algumas férias para vencer, não tem? – Ela perguntou. – Tire e vá para San Diego. Conheça seus direitos e veja se você pode ajudar em alguma coisa. Se não, você volta para casa, decide o que faz com o que ele te deixou e, se não quiser, nunca mais precisa voltar para lá ou encarar sua madrasta e seus meios-irmãos. – Suspirei.
- Posso pensar? – Ela ergueu as mãos.
- A decisão é sua, querida. Mas se lembre, essas asas foram feitas para voar, não...
- Não para ficarem no chão. – Completei sua frase quando sua voz ficou distante e peguei o testamento em minha mão, vendo a lista de coisas que ele havia deixado para mim. Não eram só duas casas e um terço da empresa. Tinha muito mais coisa.
Soltei um suspiro baixo e fiquei de cócoras sobre a plantação. Observei meu nome junto dos dois outros filhos de meu pai, os legítimos, de dentro do casamento, e engoli em seco, tentando pensar em que mundo seria uma boa ideia eu enfrentar brigas para conquistar algo que era meu de direito. Eu sempre seria a filha mulher, bastarda e mexicana. Acho que já tinham motivos demais para me odiarem.
Quer saber? Foda-se! Vamos fazer uma pequena viagem para San Diego, Califórnia.
- Hola, Cármen! – Falei para minha irmã que aguava as plantas e dei um rápido beijo em sua bochecha. – Como están?
- Mamá está afuera. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Como están mis flores?
- Bién, bién! – Ela falou, abanando as mãos e eu ri, seguindo para os fundos da floricultura, cumprimentando Mauí, um dos funcionários que cuidavam das mudas, e Guadalupe, sua esposa.
- Hola, mamá! – Me aproximei de sua mesa, notando que ela olhava para vários papéis e ela abriu um sorriso desanimado.
- Hola, mi hija. Como fue su trabajo? – Franzi o rosto, me sentando na cadeira em sua frente.
- O que aconteció? – Perguntei e ela soltou um longo suspiro, se levantando e estendendo a mão para segui-la. Larguei minhas coisas em sua mesa e a segui para o aberto, onde poderíamos conversar em paz. – Que pasó? – Perguntei e ela apoiou a mão em meu ombro, me puxando para andar por entre as flores.
- Eu recebi notícias do seu pai...
- Ah não, mãe! Eu não quero saber dele, nem do seu dinheiro, nem da sua vida. – Ela segurou meu rosto, parando em minha frente.
- Ele morreu, querida. – Arregalei os olhos.
- Oi?! – Me assustei. – Como? - Ela deu de ombros.
- Aparentemente foi queima de arquivo. – Franzi a testa, respirando fundo e balançando a cabeça.
- Meu Deus! – Suspirei. – Por essa eu não esperava. – Passei a mão no rosto. – Eu deveria ir para San Diego, dar meus sentimentos à viúva? – Ela riu.
- Ele te deixou algumas coisas. – Ela falou, tirando um papel levemente amassado do bolso.
- O quê? – Abri o papel, vendo um testamento.
- Um terço da sua empresa, sua casa de veraneio em Playa Del Carmen, um apartamento em San Diego e mais algumas coisas.
- Mas eu não quero nada disso. – Devolvi o papel a ela.
- Querida, não desperdice sua vida! – Ela suspirou. – Você realmente quer viver aqui em Tijuana pelo resto da sua vida? Fazendo contabilidade de empresas que estão beirando à falência? Você merece muito mais. – Ela segurou meus ombros. – Você tem essas asas maravilhosas, elas foram feitas para voar, querida. Não para ficar aqui, trancada em uma cidade minúscula. – Suspirei.
- Mas eu não quero ter contato com nada disso. – Ela negou com a cabeça.
- Pelo menos vá descobrir do que isso se trata. Você já tem os conhecimentos. Vai que isso te traz grandes oportunidades na sua vida, querida? Por mais que você não goste, não pode negar que seu pai construiu um grande império e que você tem sim direito sobre ele.
- Império, mãe? Como você pode falar isso dele? Ele cruzou a fronteira, fez juras de amor para você transar com ele e depois nunca mais voltou.
- Você pode falar o que quiser, mas ele nunca deixou faltar nada para você e para mim. Até para Cármen que nem é filha dele. – Soltei o ar fortemente. – Por favor, querida. A oportunidade está na sua frente. Você só precisa ir.
- E o que eu faço? – Cruzei os braços. – Eu não posso simplesmente largar o trabalho lá no Jorge. – Suspirei.
- Você tem algumas férias para vencer, não tem? – Ela perguntou. – Tire e vá para San Diego. Conheça seus direitos e veja se você pode ajudar em alguma coisa. Se não, você volta para casa, decide o que faz com o que ele te deixou e, se não quiser, nunca mais precisa voltar para lá ou encarar sua madrasta e seus meios-irmãos. – Suspirei.
- Posso pensar? – Ela ergueu as mãos.
- A decisão é sua, querida. Mas se lembre, essas asas foram feitas para voar, não...
- Não para ficarem no chão. – Completei sua frase quando sua voz ficou distante e peguei o testamento em minha mão, vendo a lista de coisas que ele havia deixado para mim. Não eram só duas casas e um terço da empresa. Tinha muito mais coisa.
Soltei um suspiro baixo e fiquei de cócoras sobre a plantação. Observei meu nome junto dos dois outros filhos de meu pai, os legítimos, de dentro do casamento, e engoli em seco, tentando pensar em que mundo seria uma boa ideia eu enfrentar brigas para conquistar algo que era meu de direito. Eu sempre seria a filha mulher, bastarda e mexicana. Acho que já tinham motivos demais para me odiarem.
Quer saber? Foda-se! Vamos fazer uma pequena viagem para San Diego, Califórnia.
Capítulo Único
Observei o grande prédio espelhado do outro lado da rua e encontrei um retorno, virando à esquerda, ouvindo algum carro maior do que o meu buzinar para mim. Entrei no recuo do prédio e respirei fundo. Franzi a testa quando um valet veio abrir a porta para mim, mas eu saí mesmo assim.
- Bom dia, senhorita! - Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Bom dia! - Me debrucei sobre o banco do carro e peguei minha bolsa e minha mochila.
- Seja bem-vinda e fique à vontade. - Ele falou e o vi entrar em meu fusquinha e segui para dentro do prédio, tentando dar aquela olhada de cima, notando a grandiosidade dele.
Passei pelo prédio e olhei em volta, vendo-o todo cheio de seguranças e catracas, impedindo que qualquer um entrasse. Me perguntei se estava entrando em um prédio residencial ou empresarial, mas depois me lembrei que não estava mais em TJ.
- Bom dia! - Me aproximei da recepção.
- Bom dia, senhorita. Veio visitar alguém? - Franzi a testa, tirando o papel do bolso da calça.
- Na verdade, eu sou a nova dona do apartamento 34. - Falei e notei que ela arregalou os olhos e mudou sua pose rapidamente.
- Senhorita Collins? - Ela perguntou e eu revirei os olhos ao ouvir o sobrenome de meu pai.
- Pode-se dizer que sim. - Engoli em seco.
- Um segundo, por favor! - Ela falou e pegou o telefone. Me debrucei na bancada e respirei fundo, ouvindo-a falar rapidamente com alguém do outro lado da linha. - Ela está aqui... Uhum... Ok! - Ela desligou e eu voltei a minha postura anterior. - Você pode subir. Último andar. - Agradeci, virando para o lado esquerdo e vendo o segurança abrindo a parte lateral para mim.
- Qual é o apartamento? - Perguntei, notando que eu estava sozinha e balancei a cabeça, entrando no elevador e apertando o último botão.
Senti um frio na barriga quando ele subiu com velocidade e parou logo em seguida, me deixando um pouco zonza. As portas se abriram e eu saí um pouco receosa, pois, atravessando a porta, eu estava em uma imensa sala de estar.
- Uau! – Falei, saindo do mesmo e soltei um suspiro ao ver os largos sofás de couro branco e até cascatas e fontes de água dentro de um apartamento. – Isso é meu? – Soltei minha mochila no sofá, me sentindo realmente muito surpresa com aquilo tudo.
- Bom dia! – Me assustei, ficando em pé rapidamente, vendo uma mulher muito bem arrumada.
- Quem é você? – Perguntei.
- Eu sou Suzane. – Ela se aproximou, estendendo a mão. – Eu sou governanta dessa casa. Você é a senhorita Collins, certo?
- Não! – Balancei a cabeça. – Delgado, por favor. – Revirei os olhos. – Não vamos fingir que meu pai se importou comigo em algum momento da sua vida. – Ela riu fraco.
- Certo, certo! Mas você é a filha de Damon, não? – Suspirei, me levantando e arrumando minha calça.
- Sim. É o que está escrito na minha certidão de nascimento. – Ela riu fraco.
- Bem, senhorita Delgado, eu não sei muito a relação que você tinha com Damon, mas ele lhe deixou essa casa e eu sou encarregada em lhe mostrar tudo e garantir que isso se torne um lar para você...
- Oh, não, não! – Balancei a cabeça. – Eu não vou morar aqui. – Sorri. – Eu só vim resolver a questão da empresa e vou embora antes que notem que eu esteja aqui
- Tem certeza? – Dei de ombros.
- Ainda não sei. Não estou muito feliz em estar aqui, sabe? – Cruzei os braços.
- Espero que você mude de ideia sobre isso. Vai ver que seu pai não era ruim como você pensa... – Suspirei.
- Talvez você esteja certa, mas não tenho muitas lembranças de natais e anos novos no colinho do papai. – Ela assentiu com a cabeça.
- Mas, já que está aqui, posso apresentar a casa para você? – Ponderei com a cabeça.
- Eu não tenho nenhum compromisso na parte da manhã mesmo. – Ela sorriu.
- Venha comigo, senhorita...
- . – Falei, estendendo a mão para ela.
- É um prazer conhecê-la. – Ela sorriu. – Bem, vamos por aqui. Você vai notar que o senhor Collins sempre gostou de muitos espaços grandes e abertos, mas também sempre era minimalista, não gostava de muitos móveis, coisas coladas e tudo mais. – Assenti com a cabeça, seguindo para o fundo da casa, vendo uma larga sacada beirando a lateral inteira do prédio, o apartamento ficava bem em uma quina. – Aqui está a cozinha. – Ela me apresentou o outro canto, não possuía nenhuma divisória, somente um balcão alto com diversos apetrechos eletrônicos. – Você pode manter o antigo cozinheiro de seu pai, caso queira...
- Ah meu Deus! Não! – Ela riu fraco. – Eu não sou nenhuma chefe de cozinha, mas eu gosto das minhas comidas. – Ela riu.
- Seguindo, aqui temos lavanderia, espaço para roupas, etc., algo que seu pai nunca usou. – Revirei os olhos, imaginando o porquê. – Depois temos o grande escritório do seu pai, mas ele não passava muito tempo aqui, preferia ficar na empresa.
- Falando na empresa. Com o que vocês trabalham mesmo?
- Sério? – Ela perguntou e dei de ombros. – Tênis.
- Ah! – Assenti com a cabeça. – Entendi. – Cocei o queixo, dando um sorriso de lado.
- Temos outros quartos de visitas, mas aqui é a suíte principal. – Ela empurrou uma porta que abriu lateralmente e eu vi um quarto enorme que poderia ser do tamanho da minha casa inteira em Tijuana, que eu dividia com mamá e Cármen. – Como eu disse, seu pai era mais minimalista, então ele não tinha muitos móveis, mas você pode adquirir mais com o tempo. – Observei o quarto que só tinha a cama no centro com duas mesas de cabeceira e uma televisão gigante na frente da cama. – Ali na lateral é o closet, que está vazio para trazer suas coisas, caso queira.
- Uhum, tá! – Suspirei, confesso que aquela cama estava me chamando, apesar da viagem de Tijuana para cá ser de menos de uma hora, eu não havia dormido bem na noite anterior, então estava bem cansada. – O que mais?
- Ahm, me deixa pensar. Preciso te falar sobre horários dos empregados e tudo mais.
- Não, Suzane. Calma! – Falei. – Eu preciso antes decidir o que vou fazer com isso daqui, depois voltamos a conversar.
- Como a senhora preferir. – Ela sorriu. – Bem, caso seja isso por enquanto, eu vou me retirar.
- Claro! Obrigada! – Suspirei. – Preciso ir para a empresa, mas só na parte da tarde.
- Ah, já ia me esquecendo de um negócio! – Ela falou. – Coloque sua mão aqui na parede. – Franzi o rosto para a parede aparentemente comum.
- Aqui? – Apontei.
- Sim, em qualquer lugar. – Franzi a testa, mas fiz o que ela pediu.
No que eu toquei na parede, minha mão brilhou, como se aquilo fosse um leitor de digitais ou algo assim, me assustando. Coloquei a mão novamente ali e vi que a parede realmente leu minha mão.
- Delgado Collins. – Ouvi uma voz robotizada ecoar pelo apartamento. – Filha de Damon Collins e Alegra Delgado. – Arregalei os olhos. – Nova proprietária do apartamento 34 do condomínio Windows. – Virei para Suzane.
- Acabou? – Perguntei e ela riu.
- Sim! Ela estava lendo suas informações para repassar para a casa.
- “A casa”? Como uma coisa animada?
- Sim! Essa casa é inteligente, então você pode controlar ela por um simples tablet. – Ela me estendeu o mesmo. – Comida, compromissos, roupa, temperatura, paisagem...
- Legal! – Falei. – E estranho ao mesmo tempo. Não tem perigo disso ligar o forno e queimar a casa inteira, tem? – Ela riu.
- Não, senhorita. A casa não está ligada ao gás.
- Ufa! – Brinquei. – E como eu mexo nisso?
- Você pode escolher as opções pelo tablet ou falar “ativar casa”...
- A seu dispor. – Ouvi a voz robotizada novamente e me assustei.
- E você pede o que quiser. – Pensei um pouco, erguendo o rosto.
- Ativar casa. – Falei.
- A seu dispor. – Ela repetiu.
- Um copo de água gelada. – Falei e não notei nada de diferente por cerca de dez segundos, até que ela voltou a falar.
- Sua água gelada já se encontra pronta na cozinha. – Franzi a testa e saí do quarto, seguindo rapidamente para a cozinha e notei o copo na bancada ao lado do filtro, cheio quase até a boca com duas pedras de gelo no mesmo.
- Eu vou gostar disso aqui! – Falei rindo.
- Divirta-se. – Suzane falou. – Qualquer coisa é só me chamar, a casa saberá onde me encontrar.
- Obrigada, Suzane! – Ela assentiu com a cabeça e eu me aproximei do copo novamente, pegando-o e tomando um curto gole, me sentindo uma criança no natal.
- Ativar casa.
- A seu dispor. – Ela respondeu e eu ri.
- Banho quente na suíte principal. – Falei.
- Seu banho ficará pronto em sete minutos e 24 segundos na suíte principal. – Comecei a rir sozinha, voltando para meu novo quarto.
Parei em frente à empresa, vendo outro valet se aproximar do meu querido carrinho e tentei não me importar em ter um fusca parando em um dos maiores escritórios comerciais que eu já tinha visto em toda minha vida. Não que eu saísse muito de Tijuana.
- Bom dia, senhorita. Posso levar seu carro até o estacionamento? – O moço veio me perguntar e eu assenti, saindo do carro e puxando minha bolsa junto.
- Claro, por favor! – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
Olhei para o prédio espelhado em minha frente e suspirei, notando várias pessoas vestidas de terno e gravata e dei uma rápida olhada em mim de cima a baixo, eu estava adequada no meu terninho preto e camisa branca. Talvez até mais formal que algumas mulheres de saia e camiseta, mas ignorei.
Entrei no prédio, empurrando a porta giratória e olhei o nome de várias empresas no painel ao fundo da recepção e procurei por DC Shoes. Me aproximei da recepção, sorrindo para o homem que me atendeu.
- Olá, no que posso ajudar?
- Eu tenho uma reunião na DC Shoes em alguns minutos. – Ele assentiu com a cabeça, mexendo rapidamente no computador.
- Claro! Qual o seu nome? – Ele perguntou.
- Collins. – Usei o sobrenome do meu pai e o homem olhou surpreso para mim.
- Claro, senhorita. Oitavo andar, por favor. – Ele apontou para a lateral e um segurança abriu a grade lateral para mim, sem que eu precisasse passar pela catraca.
Entrei no elevador e o próprio segurança apertou o botão do andar para mim e eu dei um aceno com a cabeça. Me olhei rapidamente no espelho, passando a mão em um fio solto do meu rabo de cavalo e logo os escritos da marca de meu pai se abriram à minha frente.
Saí do mesmo, olhando rapidamente para os lados, vendo uma pequena movimentação na empresa e me aproximei do balcão, ouvindo a mulher atrás do mesmo repassar as ligações pedindo para várias pessoas na linha esperar.
- DC Shoes, um segundo. DC Shoes, um momento. DC Shoes, não saia da linha... – Enquanto erguia o dedo indicador para que eu também esperasse.
- Senhora Collins! – Me assustei com um menino, provavelmente mais jovem que eu, aparecer ao lado do balcão.
- Senhorita Delgado! – O corrigi.
- Claro! – Ele sorriu, estendendo a mão. – Eu sou Ron, antigo assistente pessoal de seu pai. É um prazer te conhecer.
- O prazer é meu, eu acho. – Apertei sua mão e ele sorriu.
- Você está aqui para a reunião do conselho, certo? – Assenti com a cabeça. – A reunião começará em alguns minutos, mas algumas pessoas já chegaram, gostaria de aguardar lá?
- Claro! Vai ser bom conhecer alguém. – Dei um sorriso de lado e ele me acompanhou.
- Sim, senhorita Delgado, eu já sei em que terreno você vai entrar e posso te garantir que não será fácil. – Revirei os olhos.
- Não se preocupe, Ron. Eu vim preparada. – Ele sorriu.
- Enfim, caso você precise de ajuda, qualquer coisa, pode vir até mim. Atualmente a DC está sem um CEO, por motivos que você já sabe, mas eu ainda trabalho diretamente na diretoria.
- Obrigada, Ron! Talvez seja bom ter em quem confiar. – Ele assentiu e apontou para trás do balcão e segui com ele.
- Aqui na DC nós fabricamos tênis, principalmente tênis esportivos estilo Chuck Taylor ou Vans... Está familiarizada com eles.
- Claro! – Falei.
- Seguimos a mesma linha, mas começamos com aqueles tênis sem cadarço que as pessoas costumam comparar com jogadores de golfe. – Ri, me lembrando imediatamente do que ele estava falando. – Depois a empresa acabou crescendo e hoje fabricamos mochilas e placas de skate.
- Legal! – Falei. – Como isso começou? Difícil acreditar que um senhor engravatado começou com isso. – Ele riu fraco.
- A empresa existe há mais de 40 anos, seu pai já foi um jovem também. – Afirmei com a cabeça. – Eu trabalhei com ele por 12 anos antes do infarto, além de frequentar sua casa e conhecer sua família, eu também viajava com ele, então posso dizer que eu era quem o mais conhecia.
- Infarto? Achei que ele tinha sido assassinado. – Ele ponderou com a cabeça.
- Existem algumas divergências de opinião que nem eu sei dizer.
- Muito bom. – Falei, não sabendo exatamente o que dizer.
- Enfim, acho que posso te alertar sobre o Tico e o Teco. – Ele segurou meu braço antes de passar por outra parte da empresa.
- Quem? – Franzi a testa.
- Os filhos do Damon...
- Ah! – Revirei os olhos.
- Eles não estão nada contentes com você ter recebido parte da herança, quiçá parte da empresa, então, se cuida garota. – Assenti com a cabeça.
- Nunca um homem me disse o que fazer e como agir, Ron. Não vai ser agora que isso vai acontecer.
- É assim que se fala! – Ele esticou a mão e eu bati com a mesma, rindo. – Vamos lá. – Ele empurrou a porta e entramos em uma sala de vidro, onde cerca de 20, 25 pessoas se encontravam ali, creio que só duas mulheres estavam ali. Olhei rapidamente em volta e respirei fundo três vezes, tentando manter a pose.
- Ei, Ron, trouxe um brinquedinho novo. – Um homem loiro de olhos claros, que parecia cópia loira do David Beckham, se aproximou de nós.
- Esse é o Tico. – Ron cochichou para mim e se aproximou do homem, esticando a mão. – Como está, Kalel? – Ele esticou a mão para meu meio irmão e ambos se cumprimentaram.
- Então, o que trouxe aqui? – Ele se virou para mim. – Sou Kalel, é um prazer te conhecer. – Ele estendeu a mão com um sorriso presunçoso no rosto.
- Eu sou Delgado Collins, sua meia irmã. – Apertei sua mão fortemente, vendo a confusão se formar em meu rosto e sorri, soltando sua mão rapidamente.
- Ah, você é a bastarda. – Ele cruzou os braços, tentando dar um olhar por cima para mim, mas eu estava de salto, ficando mais alta que ele.
- E você é o Super-Homem? – Perguntei, cruzando os braços também.
- Oi?
- Você realmente se chama Kalel? Bruce seria menos pior. – Abri um pequeno sorriso e ele deu uma risada fraca.
- Você não sabe com quem está se metendo, não é?! – Ri fraco.
- Posso não saber, Super-Homem, é por isso que eu estou aqui. – Pisquei, dando um sorriso de lado. – E você? Sabe com quem está se metendo?
- Sei. Mexicanos tem o costume de jogar baixo. – Ele sorriu.
- Tomara que eles sejam bem poderosos para poder jogar baixo mesmo, afinal, imagino as posições que muitos deles devem tomar aqui nos Estados Unidos, incluindo nessa empresa. – Falei bem sarcástica e ele ficou quieto.
- O que tem aí, irmão? – O outro loiro parecido com ele, mas menos David Beckham e mais Chris Carmack apareceu ao seu lado. – Oi, tudo bem? – Ele falou sorrindo para mim. – Sou Barry! – Ele estendeu a mão.
- Kalel e Barry? Acho que papai gostava de heróis da DC. – Ri fraco e notei seus olhos arregalados.
- Você é ! – Ele falou surpreso e eu assenti a cabeça, apertando sua mão firme, mas mais suavemente. – Bom, é um prazer te ter aqui. – Ele sorriu e seu irmão olhou para ele como se não entendesse.
- Espero que seja mesmo. – Sorri.
- Bem, vamos entrar? – Ron cortou a briga de egos. – A reunião vai começar.
- Nos vemos depois, bastarda. – Kalel falou e saiu puxando seu irmão.
- Até mais, Super-Homem! – Acenei. – Não fique perto de nenhuma kryptonita. – Brinquei e ele saiu soltando fogo pelas orelhas.
- Você tem coragem! – Ron cochichou para mim e eu sorri, dando de ombros.
- Nem vem! Ele que se chama Kalel! – Falei, seguindo para onde todos os executivos iam.
Nós quatro e os outros 20 executivos entramos na sala com uma larga mesa retangular e mesas ao redor da mesma. Ela era colocada estrategicamente em um lado do prédio onde as paredes eram feitas de vidro, dando a impressão que estivéssemos em um aquário gigante.
Kalel se fez de macho alfa e se sentou na única cadeira que ficou livre, que supus que era do CEO da empresa, no caso, Damon, até sua morte. As outras cadeiras foram rapidamente ocupadas pelos outros homens e mulheres. Tinham de todas as idades e raças, novos, velhos, brancos, negros e orientais, era difícil saber o que esperar. E eu, Barry e Ron ficamos em pé atrás de Kalel.
- Boa tarde, senhores. – Ron falou, se aproximando de uma das quinas da mesa. – Como sabem, pedimos que vocês se juntassem um pouco mais cedo para decidirmos sobre o futuro da diretoria da DC Shoes. Como sabem, Damon Collins, fundador e atual CEO faleceu de um infarto fulminante e deixou em seu testamento que a empresa fosse dividida entre seus três filhos. Kalel e Barry que vocês já conhecem, que trabalham na parte de administração e design da empresa e Delgado Collins, filha dele com Alegra Delgado. – Todos os olhares se viraram para mim.
- Um caso, uma filha fora do casamento... – Kalel falou e eu revirei os olhos, mas tentei me conter.
- Bem, conselho, é com vocês! – Ron falou, se afastando um pouco da mesa.
- Boa tarde, senhores. – Um dos homens mais velhos da bancada falou, se levantando. – Tivemos duas semanas para pensar sobre o que fazer nessa posição, já que sempre tivemos Damon como o diretor da nossa empresa e ele sempre repassou as informações de ações, ganhos e responsabilidades. Achamos que um diretor seria o ideal para que a DC continuasse crescendo, conquistando outros países e continentes. Somente um. – Franzi os lábios, suspirando.
- Bem, então, isso é fácil de resolver! – Kalel falou, se levantando. – Eu cuido disso, maninha. Não precisamos de você aqui. – Arregalei os lábios, inconformada.
- “Maninha” seu cu! – Falei, causando alvoroço nos membros mais velhos e risada nos mais novos. – Não foi escolha minha estar aqui, Super-Homem, mas já que eu estou, gostaria de ser considerada como todo mundo. – Me aproximei da quina da mesa, ficando ao seu lado.
- Por favor, senhora Delgado, se apresente. – Um dos homens, talvez um pouco mais velho do que eu, falou, me cedendo a palavra.
- Boa tarde, membros do conselho. Eu sou , nasci em Tijuana há 28 anos, sou formada em contabilidade pela Universidade de Guadalajara e atualmente trabalho em um pequeno escritório contábil que possui como principais clientes os pequenos comerciantes de Tijuana, além de ajudar minha mãe na sua floricultura. – Suspirei. – Eu gostaria de deixar claro que eu não escolhi estar aqui, senhoras e senhores. Tirando natais esporádicos, eu não tinha contato com meu pai, além de presentes que ele mandava e a pensão mensal. – Molhei os lábios. – Isso eu não posso reclamar. Damon foi responsável por boa parte da minha criação e de minha irmã mais nova que nem dele é. – Apoiei as mãos na mesa. – Eu gostaria de ser considerada por essa bancada, porque eu tenho conhecimentos e capacidade para ajudar a levar essa empresa adiante. – Suspirei. – Sei que não é nenhuma empresa pequena com poucos clientes e sim uma multinacional crescendo cada vez mais, expandindo para diversas partes do mundo, mas eu estou preparada. – Suspirei, cruzando os braços.
Os acionistas se olharam, se mexeram na cadeira, ponderaram com a cabeça e o mais velho voltou a se levantar. Ele olhou um pouco para baixo, pensando no que falar, mas Barry foi mais rápido.
- Eu gostaria de ser considerado também. – Ele falou. – Eu assinei boa parte das criações da DC e talvez seja hora de eu ajudar em outro departamento.
- Bem... – O acionista começou. – Podemos resolver isso de uma forma mais simples, sem que vocês fiquem discutindo entre si. – Ele mexeu as mãos. – Vamos testar a competência de vocês três e a capacidade de trabalho sob pressão. – Assenti com a cabeça. – Estamos com um pequeno problema de gasto na empresa. Está cada vez mais difícil montar empresas completas em outros países e a exportação está saindo muito cara e sabemos que a exportação é 85 por cento do nosso capital de giro. – Ele suspirou. – Quem descobrir uma solução para esse problema, se torna o nosso diretor ou diretora. – Ele sorriu para mim e eu assenti com a cabeça, sorrindo. Era uma tarefa de contabilidade, eu realmente poderia competir de verdade.
- E qual é o prazo para essa tarefa? – Kalel perguntou.
- Indefinido. – O senhor respondeu. – Enquanto isso, as informações continuarão a ser repassadas para nós por Ron. – O mesmo assentiu com a cabeça, sorrindo.
- É só isso que gostariam de discutir hoje, senhores acionistas? – Olhei para todos que confirmaram com a cabeça, se entreolhando. – Então, encerramos por hoje. A princípio nos reunimos na semana que vem no mesmo horário. – Ele falou e as pessoas começaram a se retirar e eu sorri, um pouco mais aliviada.
- Não brinque com fogo, irmãzinha! – Kalel falou e eu soltei um suspiro entediado. – Você pode se queimar.
- Ah, meu querido. – Suspirei. – Suas palavras não significam nada para mim, eu não estou nem te escutando. – Revirei os olhos.
- Pois deveria, você vai embora daqui da mesma forma que veio...
- No meu fusquinha? – Brinquei, apoiando o indicador na boca, pensando. – Cai fora daqui, Super-Homem, eu sou muito superior a você para me importar. – Cruzei os braços.
- Vamos ver quando essa empresa for minha e eu puder mudar o testamento do meu pai.
- Tem certeza que você é administrador? Você não consegue fazer isso, a não ser que ressuscite nosso pai e... Bem, sabemos que não é possível. – Sorri.
- Se mantenha no topo enquanto pode, eles logo verão quem você é de verdade.
- Eles ou você? – Ponderei com a cabeça. – Não importa o que você diga, brother. Você não vai me machucar. – Sorri. – Afinal, eu nem me importo contigo para que você me machuque. – Ajeitei a bolsa no ombro.
- Vamos ver! – Ele falou, fazendo questão de esbarrar em mim quando passou e eu estendi o pé, vendo-o tropeçar no mesmo, me fazendo abrir um largo sorriso.
- Tenha um bom dia! – Acenei e vi Barry dar um sorriso de lado, se retirando junto do irmão.
Apesar de todas as palavras e ações, eu precisei sentar um pouco e afundar meu rosto nas mãos, no momento que os irmãos DC Comics saíram da sala. Soltei um longo bufo e virei a cadeira da mesa do conselho, olhando para San Diego do alto pela parede de vidro.
- Que merd...
- Desculpe! - Ouvi uma voz.
- Ah! - Me assustei, me levantando rapidamente.
- Desculpe, não queria te assustar! - O homem falou e eu não contive abrir um pequeno sorriso para ele.
Ele era alto e bonito, e ficava muito bem naquele terno chumbo, camisa azul clara e gravata vermelho escuro. Seus olhos eram pequenos, mas ele tinha um maxilar bem firme, fazendo me lembrar do próprio Super-Homem. Ele havia passado despercebido por mim durante a reunião, agora eu só não entendia como.
- Eu sou ! - Ele esticou a mão. - Um dos acionistas.
- Oi! - Estiquei a mão para ele, apertando-a firmemente. - ...
- Eu sei... - Ri fraco, cruzando os braços. - Eu só queria te dar um aviso sobre essa história toda.
- Mais um que vai me julgar antes de me conhecer? - Ele riu, colocando as mãos para trás.
- Não, não! - Ele falou. - Eu sou acionista há uns oito anos e realmente não tenho motivos nenhum em querer Kalel ou Barry como CEOs dessa empresa. - Ponderei com a cabeça.
- O que quer dizer com isso? - Perguntei.
- Eles não passam de crianças mimadas que querem tudo de mão beijada e costumam conseguir. - Ele deu de ombros. - Barry é um pouco menos, eles são uns cinco, seis anos de diferença, então ele ainda se salvou um pouco. - Assenti com a cabeça. - Você me parece... - Ele franziu os olhos, me fazendo rir. - Diferente!
- Desconhecida, você quer dizer. - Ele riu. - Eu posso não ter nenhum conhecimento com empresas grandes, muito menos informações sobre essa, em particular, mas eu não desisto da guerra antes da luta. - Ele deu um bonito sorriso que fez minhas pernas bambearem.
- Bom! Meu conselho é que você não se deixe levar. - Ele falou. - Eu sei como eles podem jogar sujo em algumas situações e essa é uma delas. - Assenti com a cabeça.
- Eu estou em desvantagem aqui, então, você tem algum conselho?
- Parece que Ron está do seu lado. - Ele falou e eu ponderei com a cabeça.
- Talvez! - Virei para trás, vendo-o me esperar na porta da sala do conselho.
- Fale com ele, ele é o único que possui todas as cópias dos arquivos da empresa, talvez ele possa te ajudar.
- Ele? Ele não é um assistente? - assentiu com a cabeça.
- Sim, mas tudo que chegava ao seu pai, ele que era responsável para guardar e, enquanto não temos um novo CEO, ele é o CEO provisório. - Assenti com a cabeça.
- Vou ver com ele. - Sorri com a cabeça. - Obrigada!
- De nada! Qualquer coisa pode falar comigo. - Assenti com a cabeça.
- Eu tenho uma pergunta, se me permite! - O chamei antes que ele saísse.
- Pois diga! - Ele falou.
- Oito anos como acionista? Você me parece um pouco novo para já ter quantidade de ações suficiente para participar de um conselho! - Ele riu.
- Eu tenho 32. - Ele falou. - Trabalho desde os 16 com meu pai, na empresa de couro da família, quando a empresa começou, meu pai deu couro de graça para o seu pai e trocou por algumas ações na empresa. Meu pai envelheceu e agora eu cuido da empresa...
- Legal! - Falei, rindo. - Mas couro?
- Na época era couro verdadeiro, agora é sintético. - Assenti com a cabeça.
- Bem, , obrigada pelas dicas! - Estendi a mão para ele que a apertou. - Com certeza voltarei a entrar em contato contigo. - Ele sorriu.
- Estarei por aqui. - Ele sorriu e eu me retirei da sala, puxando minha bolsa que havia ficado em cima da mesa de reuniões. - Ei, você vai ao funeral amanhã? - Ele perguntou e eu fui pega desprevenida.
- Eu realmente não sei. - Falei.
- Seria bonito para o conselho se você decidisse aparecer lá, nem se fosse para fingir que você se importava com Damon. - Assenti com a cabeça.
- Com certeza estarei lá, então! - Falei rindo e ele sorriu. - Até mais.
Olhei rapidamente para trás e vi o homem sorrir e soltei um leve suspiro, que homem bonito! Empurrei a porta e segui direto até Ron que havia cansado de me esperar e agora falava com alguém pelo telefone. Parei ao seu lado para esperar e acabei ouvindo algumas palavras.
- Isso não está nas minhas mãos, Sandra. Quando o novo CEO for anunciado, faremos uma coletiva e você poderá enchê-lo de perguntas. - Ele falou e eu fiz cara de paisagem, olhando para os lados. - Ok, para você também. - E desligou o telefone. - Você foi a primeira a falar "seu cu" em uma reunião de conselho, parabéns! Você deu seu recado! - Ri fraco e vi que ele não estava brincando.
- Oh! Desculpe! - Falei, colocando a mão na boca.
- Vi que conheceu .
- Sim, simpático! - Falei e ele riu.
- Esse cara é um gênio, pode não parecer, mas ele controla 25 por cento das ações! - Arregalei os olhos. - E sim, para uma empresa igual DC, é muita coisa...
- Tá bem, certo?! - Dei de ombros e ele riu. - Bem, eu preciso da sua ajuda. - Falei.
- Diga!
- Eu preciso ver os documentos de contabilidade de Damon. - Ele demorou um pouco para responder, mas assentiu com a cabeça.
- Ok, mas tem uma condição. - Franzi a testa.
- Qual? - Perguntei.
- Esses documentos não podem sair daqui de jeito nenhum. - Assenti com a cabeça.
- Combinado!
- E eu não quero ver nenhuma briga sua com Kalel ou Barry dentro daquele lugar, caso eles apareçam lá. - Ri fraco.
- Você disse uma condição. A segunda eu já não prometo. - Ele revirou os olhos.
- Vamos lá! - Ele falou e eu o segui, animada.
Abaixei um pouco o vidro do carro e respirei fundo, olhando para o pessoal que chegava para o funeral que acontecia a alguns metros de distância e respirei fundo, em dúvidas se eu deveria ou não sair do carro.
- Se sua tentativa é se esconder, você falhou drasticamente. - Me assustei com ao meu lado e empurrei a porta do meu carro, ficando em pé ao seu lado, ajeitando meu vestido preto. - Você está em um fusca de 1960 que não tem insulfilm.
- 1958, me respeite, por favor! - Ele riu.
- Vamos! - Ele disse. - As pessoas já te viram, a viúva já te viu. - Bufei forte, fazendo-o rir.
- Oh, esqueci que eu poderia ter que encarar a viúva! - Ele riu fraco e eu neguei com a cabeça.
- Vamos! Fecha essa joaninha albina que eu fico lá trás contigo.
- Por que você é tão legal? - Perguntei e ele riu.
- Odeio ver mulheres sofrendo.
- Rá, rá, rá! Engraçadinho! - Falei e ele riu. - Um segundo. - Abri o carro novamente, tirei a chave do contato e saí novamente, pegando meu chapéu preto no banco do carona. Tranquei o carro e me coloquei ao lado de que já estava na calçada.
Coloquei o chapéu na cabeça, abaixei os óculos escuros na intenção de me esconder e não de chorar. estendeu o braço para mim e eu agradeci com a cabeça, seguindo-o em direção ao tumulto que acontecia ali.
Observei Kalel e Barry ao lado de uma mulher loira bonita. Ela aparentava a mesma idade de minha mãe, a diferença que provavelmente teve tudo do bom e do melhor durante boa parte da sua vida, se não toda ela. Enquanto senhora Alegra teve que colocar a mão na terra para conseguir fazer com que a antiga floricultura da minha avó seguisse em frente.
Eu me coloquei lá atrás, embaixo de uma árvore, enquanto o padre falava algumas palavras sobre perdas e pessoas que já se foram. Olhei em volta e percebi que além de toda bancada do conselho, provavelmente a empresa inteira havia batido ponto naquele sábado de manhã.
Tentei manter a cabeça baixa, com os braços cruzados, mas vez e outra percebia que estava sendo observada. E nem era pelo homem parado igual a um soldadinho de chumbo ao meu lado, mas pelos curiosos que observavam a intrusa no meio de todos.
Quando o caixão foi baixado, me senti culpada por alguns segundos por não ter ido prestar meus respeitos ao homem que me deu metade de meus genes, mas achei que não cairia tão bem. As pessoas choraram, jogaram suas flores dentro do buraco e o padre fechou sua bíblia, finalizando a cerimônia. Soltei um suspiro alto e percebi que estava na hora de eu sair dali.
- É melhor eu ir. – Cochichei para .
- Eu não iria agora. – Ele respondeu.
- Por quê?
- Miranda Collins está te olhando o funeral inteiro, ela vai querer falar contigo. – Suspirei, fazendo uma careta.
- Eu não estou muito no clima de falar com a minha madrasta. – Ele riu.
- Até você conseguir ligar o seu fusquinha, vocês já conversaram três vezes. – Olhei para ele.
- Não fale mal do fusca. – Encarei-o com a testa franzida.
- Aqui vem eles. – Ele falou e eu ergui o rosto, vendo Tweedledee e Tweedledum se aproximarem junto da viúva, ou como a árvore genealógica pedia, minha madrasta.
- Senhor , é um prazer vê-lo aqui! – Miranda cumprimentou e deu um pequeno sorriso.
- Senhora Collins, sinto muito pela sua perda. – apertou sua mão delicadamente e a viúva sorriu. – Damon era muito querido por nós do conselho.
- Obrigada, ! Você sempre foi muito gentil. – Ela sorriu e seu olhar caiu sobre o meu, me fazendo perder a respiração por alguns segundos.
- Você deve ser a , minha enteada, certo? – Engoli em seco, receosa sobre o que responder, mas ela foi mais rápida. – Acredite se quiser, mas é um prazer te conhecer. – Ela me abraçou, me deixando sem reação.
- Mãe! – Kalel a repreendeu, mas ela me apertou em seus braços e me soltou alguns segundos depois.
- Você é muito bonita, sabia? – Senhora Collins ignorou seu filho totalmente e continuou falando comigo. – Não pense que eu sou sua inimiga. – Ela segurou minha mão firmemente. – Você não tem culpa do que Damon fez, nem a sua mãe. – Vi a veia da testa de Kalel saltar, ficando cada vez mais difícil prestar atenção nas palavras de Miranda.
- Obrigada, senhora Collins! – Sorri simpática.
- Não sei como a empresa ficará, prefiro nem me intrometer nisso, mas, caso você precise de alguma coisa, pode falar comigo. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, senhora Collins. Não esperava uma recepção dessa. – Ela sorriu.
- Obrigada por ter vindo! – Assenti com a cabeça, vendo-a sair com os Super Gêmeos. Kalel agiu como uma criança de cinco anos e mostrou a língua para mim quando saiu, me fazendo rir baixo.
- Não foi tão ruim, foi? – perguntou ao meu lado e eu respirei fundo.
- Incrivelmente não. – Virei para ele. – Ela é boa assim ou...?
- Gostamos de dizer que Kalel é um ponto fora da reta, talvez tenha puxado um pouco do pai. Ambicioso, impulsivo, mas com Miranda e talvez com a sua mãe, se transformou em alguém melhor. E Kalel ainda não achou isso...
- Nem vai achar se continuar agindo assim. Nenhuma mulher aguentaria! – Dei de ombros e ele riu. – Bom, acho que está na hora de eu ir, todos já me viram, eu já falei com a viúva, já cumpri minha parte...
- Pode ir! – Ele falou rindo. – Nos vemos por aí?
- Claro! – Sorri para ele, apoiando minhas mãos em frente ao corpo e segui devagar de volta ao carro, olhei pelo retrovisor e notei me encarando quando saí com o carro.
- Oi, Ron, bom dia! - Me aproximei da mesa do assistente de meu pai e apoiei minha bolsa em sua mesa.
- Oi, , como você está? - Ele sorriu para mim, apoiando o telefone no ombro.
- Tudo bem! - Sorri. - Será que eu posso ir à sala dos arquivos novamente? Sinto que deixei alguma coisa passar. - Ele fez uma careta.
- Até tem, mas o Gru e o Dru estão lá dentro. - Ri fraco com a referência e soltei um longo suspiro quando a piada parou de ter graça. - Se quiser tentar, eles estão lá.
- Fazer escândalo no meio da empresa ou me virar com o que eu tenho em outro lugar? - Ponderei e Ron ergueu os olhos.
- Olha lá, hein, ? - Ri fraco.
- Relaxa, não estou no pique para dor de cabeça hoje. - Ele riu. - Você tem como me mandar os arquivos da contabilidade dos quatro bimestres de 2015? - Perguntei. - Sei que não podem sair daqui, mas por e-mail, talvez?
- Claro! Onde você está chegando? - Suspirei, ponderando com a cabeça.
- Não tenho certeza ainda. Fiquei até tarde procurando informações e os números começam a confundir. - Dei de ombros. - Pode?
- Claro! Onde você vai ver isso? - Ele perguntou.
- Vou ao café aqui do prédio mesmo, algum lugar com espaço para que eu possa pensar. - Ele riu.
- Vou te mandar um arquivo que vai pedir uma senha. Por ser arquivo confidencial da empresa, são três letras, seu nome, de Kalel e Barry, ele pede de forma aleatória, só o chefe de segurança tem a ordem atual e eu não quero atrapalhá-lo, porque, na teoria, isso não pode sair daqui. - Arregalei os olhos. - Você tem três chances de acertar! Se errar, ele bloqueia o sistema! - Franzi a testa.
- O quê? Tu não pode mandar em PDF ou algo assim? - Ele riu.
- Não são ordens minhas, é questão de segurança. Qualquer arquivo que sai daqui tem que ter permissão da segurança.
- Legal! - Respirei fundo. - E se eu errar bloqueia o sistema inteiro? - Ele sorriu, assentindo com a cabeça. - Sirenes começam a tocar ou algo assim? - Ele riu
- Não! - Ele franziu a testa. - Aqui não é a CIA! - Dei um pequeno sorriso. - Mas bloqueia o sistema de todos na empresa por 25 minutos. E você sabe o que são menos 25 minutos de trabalho em uma empresa? - Prendi a respiração por um segundo. - Um minuto já é catastrófico, agora multiplique por 25...
- Ok, ok, entendi! - Ergui as mãos. - Obrigada! - Peguei minha bolsa e ele riu. - Por precaução, eu vou tentar duas.
- Já enviei! - Ele falou e eu saí de volta ao corredor, pegando o elevador aberto.
Depois que o elevador parou em diversos andares, ele finalmente chegou ao térreo. Me aproximei da cafeteria, suspirando feliz por ter vários lugares vazios por ser meio de tarde. Observei uma poltrona confortável vazia no canto, próximo à entrega de pedidos e comecei a colocar minhas coisas em cima da mesa.
Encontrei o e-mail de Ron e respirei fundo, clicando no mesmo, vendo-o que abriu o espaço para senha e eu respirei fundo, pensando qual era a probabilidade. Podia ser a ordem de nascença dos filhos, ou os filhos favoritos, ou os menos favoritos... Mas como eu saberia quem era o filho favorito? Kalel, provavelmente? Bem, ele deve ser parecido com papai. Ou Barry, o mais quieto? Que merda!
- Boa tarde, posso te trazer alguma coisa? - A garçonete se aproximou de mim.
- Oi! - Sorri para ela. - Pode me trazer um suco de laranja bem gelado e um pedaço de torta de chocolate?
- Claro! - Ela sorriu e se retirou.
Ok, senha de três letras. Respirei fundo e digitei as letras de Kalel, Barry e eu, respectivamente. Acesso negado! Passei a mão na cabeça, respirando fundo e encarei o espaço para três dígitos, pensando que só teria uma última oportunidade.
- Você, Barry e Kalel! - Me assustei com uma voz atrás de mim e bati a mão no notebook, fechando-o rapidamente. - Relaxa, sou eu! - Olhei para que segurava um copo de café.
- Você não sabe me cumprimentar sem me assustar? - Ele riu.
- Posso me sentar?
- Claro! - Apontei para a poltrona livre na minha frente e ele se sentou. - Qual a senha novamente?
- Sua letra, de Barry e Kalel, nessa ordem! - Ele falou e eu abri o computador, puxando-o para meu colo, fazendo o que ele pediu, vendo o documento magicamente abrir em minha frente.
- Obrigada! - Sorri. - Como você sabe? Vai dizer que está envolvido na segurança também? - Ele riu.
- Não, só que eu estava lá quando seu pai escreveu o testamento e você teve uma grande menção na produção do mesmo. Não digo em bens materiais, porque ele tentou dividir igualmente entre vocês três e Miranda, mas ele queria te compensar por muita coisa, então, naturalmente, você está à frente de Kalel e Barry. - Suspirei, encostando-me à cadeira.
- Por pena? - Perguntei.
- Não sei! - Ele balançou a cabeça. - Talvez sim, talvez não. Vai saber! Talvez tentar fazer a coisa certa. - Suspirei. - Bem, eu preciso subir, tenho uma reunião daqui a pouco, mas se você precisar de alguma coisa, me avisa, talvez eu posso te ajudar.
- Por que você está me ajudando? - Ele se levantou.
- Porque cansei de crianças querendo cuidar das minhas ações. Talvez precisamos de alguém com mais coragem, alguém como você! - Dei um pequeno sorriso.
- Não confie tanto em mim, ! Talvez eu não seja o que vocês estão esperando. - Ele deu de ombros.
- Bem, vamos descobrir, certo? - Dei um pequeno sorriso. - Até mais! - Acenei com a mão.
- Até! - Sorri, respirando fundo.
- Aqui! - A mulher apareceu novamente com meu pedido e eu sorri.
- Obrigada! - Falei e encarei o computador de novo. - Vamos achar algum podre!
- Você conseguiu achar alguma coisa? - Ron perguntou quando apareci na empresa no dia seguinte, um tanto quanto virada e com incríveis olheiras.
- Bom dia para você, Ron! - Falei, bebericando um gole de café. - Nada! Todas as contas batem! As janelas do apartamento estão todas tingidas com canetinha permanente. - Balancei a cabeça. - Eu preciso achar o ponto de confusão, o erro de dígito, alguma coisa que esteja dando problemas. - Bufei alto.
- Relaxa, você vai encontrar! Tem muitos documentos e muitos anos, o erro pode estar em qualquer um deles, ou em nenhum. - Virei para ele.
- Nem brinca com isso. - Suspirei. - Não podemos ficar nessa competição pelo resto da vida!
- Nem me fale, estamos perdendo zero ponto cinco por cento ao dia por causa dessa história de CEO. - Ron coçou a cabeça.
- Achei que você fosse o CEO, enquanto isso não se resolvia.
- Eu sou o que tapa o buraco, mas a imprensa não se interessa nisso. Eles querem o novo nome que vai comandar a DC Shoes. O mandachuva, o poderoso, aquele que...
- Entendi, Ron! - Ergui as mãos. - Relaxa! - Ele soltou a respiração. - Vamos ver o que o Fred e o George descobriram. Quem sabe hoje já não seja um xeque-mate?
- Meu Deus, não diga isso. - Ron se levantou e ri.
- chegou! - Ron comentou. - Vocês estão passando muito tempo juntos. - Revirei os olhos.
- Ele só está sendo decente. - Ele revirou os olhos.
- Se você diz... - Ele deu de ombros, girando para longe com sua cadeira de rodinhas.
- Oi gente! - Virei o rosto vendo sorrindo para mim.
- Ei, como você está? - Desci o rosto um pouco e vi que ele estava acompanhado.
- Tudo certo! , essa é Mary, minha filha. Querida, essa é , uma amiga do papai. - Confesso que aquilo me assustou um pouco, principalmente pelo fato de já ter checado a falta de aliança em seu dedo.
Observei a menina rapidamente e a primeira característica que eu peguei era o fato dela ter Síndrome de Down, depois comecei a notar outras características. Ela tinha os cabelos castanhos, duas trancinhas na lateral de seu rosto, um lindo sorriso e um vestido rosa esvoaçante.
- Oi ... - Ela falou com dificuldades. - Eu sou Mary e tenho oito anos.
- Oi querida. - Me abaixei para ficar da sua altura. - Adorei as trancinhas.
- Obrigada! - Ela sorriu e eu me ergui, olhando para .
- Você fica bem sozinha aqui? Não vai demorar. - falou para a pequena e ela assentiu com a cabeça.
- Uhum, eu trouxe a Dotty! - Ela ergueu sua boneca de pano e ele sorriu. - Vou estar ali! - Ela apontou para um banco ao lado da mesa de Ron e seguiu até a mesma, fazendo com que eu e a acompanhássemos com o olhar.
- Você tem uma filha? - Não me contive em perguntar.
- Sim! - Ele sorriu. - Ela é diferente, mas...
- Ela é linda! - Ele sorriu, assentindo com a cabeça. - Parece ser bem educada.
- Sim, ela é! Ela me enlouquece de vez em quando... - Rimos juntos.
- Como toda criança. - Apoiei a mão em seu ombro e ele riu. - Então... - Franzi a testa. - Cadê a mãe? - Ele soltou um suspiro alto. - Desculpe, não precisa falar disso se não quiser.
- Diferenças irreconciliáveis, sabe? - Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Irreconciliáveis mesmo? - Não evitei em perguntar.
- Ela quer viajar e conhecer o mundo, e eu quero ficar aqui. - Ele deu de ombros. - Nosso amor não é o suficiente para eu segurá-la aqui ou desistir do que eu quero. - Assenti com a cabeça.
- Você está certo! - Sorri.
- Vamos começar, pessoal? - Ouvi Ron falar para todas as pessoas ali e estendeu a mão em direção à porta e eu segui, com ele atrás de mim. - Fiquem à vontade.
Dessa vez Ron não foi tonto, ele logo se sentou na cadeira principal da mesa, impedindo que Kalel fizesse isso antes de todos e eu não me contive em soltar uma rápida risada.
Eu e os Winklevosses ficamos colocados atrás da cadeira de Ron, olhando para a mesa principal, enquanto eles se ajeitavam. Olhei para Mary do lado de fora que agora conversava com uma funcionária e mostrava para ela sua pequena boneca, me fazendo abrir um sorriso.
- Bem, vamos começar a reunião de hoje falando do progresso de algum dos três futuros CEOs. - O mesmo homem da outra vez falou, me fazendo olhar para ele. - Então, quem gostaria de começar? Senhorita Collins? - Engoli em seco e ouvi uma risada irônica vindo do meu lado esquerdo. Coloquei o rosto para frente e vi que era Kalel, fazendo Barry me encarar e franzirmos nossas testas juntos.
- Alguma graça, senhor Collins? - perguntou, se levantando também.
- Desculpe, mas vocês realmente estão levando essa competição a sério? - Ele apoiou as mãos na lateral da mesa e olhou para o conselho.
- O que isso quer dizer, senhor Collins? - O senhor mais velho falou novamente.
- Vocês não pretendem dar a empresa para ela, pretendem? - Ele apontou para mim e eu virei para ele, cruzando os braços.
- Você acha que não devemos? - O senhor repetiu a pergunta.
- Ela é totalmente inadequada para essa empresa. - Ele soltou a respiração fortemente. - Ela não trabalha aqui, nunca se aproximou, mal sabe o que a gente faz. Além de que ela é de fora, não sabemos nada dela. - Eu ia responder, quando se levantou rapidamente, batendo as mãos na mesa.
- Não venha com machismo, xenofobia ou misoginia com esse conselho, senhor Collins. Não será tolerado. - Kalel se ergueu assustado. - Você pensa que isso é uma brincadeira? - continuou. - Estamos falando de uma empresa que fatura 500 milhões de dólares por ano, no mundo inteiro. - Ele bufou. - Só estamos fazendo isso porque foi um pedido do seu pai, caso isso não tivesse sido pedido, nós já teríamos escolhido nosso novo CEO e posso te garantir que não seria você. Parece que você está querendo esconder algo. - Ele respirou fundo, se sentando novamente.
- O Senhor está certo. - O senhor voltou a falar. - Apesar do pequeno descontrole dele. - assentiu com a cabeça como se desculpasse. - Isso foi um pedido feito pelo homem que criou essa empresa e a comandou por 20 anos. Nós o respeitamos, por isso faremos isso. Agora, me diga, senhor Collins, você tem alguma coisa para nos contar ou esse showzinho foi só para demonstrar seu descontentamento? - Ele esperou Kalel que não disse nada, somente se afastou da mesa. - Muito bem. Senhorita Collins? - Ele se virou para mim.
- Estou pesquisando em todos os documentos da empresa e ainda não encontrei nada. Estou pesquisando no escuro, então, tem muitas informações para serem cogitadas. - Eles assentiram com a cabeça.
- Claro! - Ele respondeu, com um pequeno sorriso no rosto. - Senhores Collins? - Ele perguntou e Kalel ficou quieto.
- Ainda não, senhores. - Barry falou. - Estamos no mesmo pé que . - Ele olhou para o irmão que bufava de raiva. - E me desculpe pelo descontrole de meu irmão, ele não está no seu melhor dia. - Quis rir, mas me contive.
- Muito bem. Os senhores podem sair. Já que não fazem parte do conselho, não podem fazer parte da reunião. - Assenti com a cabeça e saí rapidamente da sala, sem esperar convite especial.
A reunião rápida foi totalmente desnecessária, pelo menos para mim, eles também não tinham conseguido nada, mas algo havia ficado em minha cabeça e eu precisava investigar isso.
- ? - Ouvi uma voz e virei para o lado, vendo a filha de me chamar e me aproximei da mesma, sentando no mesmo banco em que ela estava. - Você é amiga do papai? - Ela perguntou e eu acariciei sua cabeça, arrumando suas trancinhas.
- Sim, eu sou! - Sorri e ela retribuiu.
- Legal! - Ela sorriu. - Você pode ser minha amiga também? - Abri um largo sorriso, abraçando-a de lado. – Eu não tenho muitos amigos, sabe...
- Claro! Mas só se você me deixar brincar com a Dotty. - Ela riu, pegando sua boneca de pano e me estendendo-a e eu sorri, aproximando dela.
Eu acabei aguardando a reunião acabar, porque eu precisava urgentemente falar com Ron. havia mencionado uma coisa na reunião que me deixou simplesmente enlouquecida. E se meus meios-irmãos estivessem escondendo algo? Bem, Kalel era um babaca e Barry era quieto, mas nada impedia que eles trabalhassem juntos.
- Eu preciso de um favor! – Falei assim que Ron saiu da sala, observando seguir em direção à Mary.
- O quê? – Ron perguntou.
- Eu preciso de todos os arquivos, extratos, recibo de compras, tudo, que foram assinados pelo Kalel. Ele é da administração, não é? O financeiro responde para ele. – Dei de ombros.
- Você tem uma pista...
- E não vou te falar para não ser decepcionante. – Ele riu. – Eu só preciso olhar os arquivos.
- Ok, eu deixo, mas você vai ter que esperar. – Franzi a testa.
- O quê?
- Acabar o expediente e Kalel ir embora. – Suspirei, erguendo o pulso e vendo que não eram nem dez da manhã ainda.
- Só seis da tarde? – Ele suspirou.
- Sete, para falar a verdade, é quando os responsáveis de cada setor saem... – Suspirei.
- E eu vou ficar aqui sozinha?
- Eu aviso a segurança, você estará sozinha na empresa. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Sorri e ele assentiu com a cabeça. – Eu volto mais tarde, então.
- Até mais tarde. – Acenei para Ron e notei que e Mary me esperavam no corredor. – Ei!
- Parece que você está com uma pista. – comentou e eu dei de ombros.
- Você falou que Kalel podia estar escondendo alguma coisa... E se ele realmente estiver?
- O que você está pensando? – falou.
- Só isso, para falar a verdade, mas é que está tudo tão estranho. Barry me trata bem, o conselho me trata bem, a mãe dele me trata bem. Por que ele não trataria também? Ok, eu sou uma forasteira, mas se todos estivessem me tratando mal, faria sentido. – Suspirei.
- Você tem razão. – Entramos no elevador. – Me avise se encontrar alguma coisa. – Assenti com a cabeça.
- Será o primeiro a saber! – Sorri. – Depois brincamos mais, pode ser Mary?
- ...Tá! – Ela falou com dificuldades e eu a abracei rapidamente, antes das portas do elevador se abrirem.
- Até mais, gente! Vou voltar ao trabalho. – Sorri.
- Tchau! – Eles acenaram e eu saí do prédio espelhado no centro de San Diego.
Eu precisava voltar a olhar arquivos e conferir contas, mas eu estava muito cansada para fazer aquilo naquele momento. Então, voltei para o apartamento, comi alguma coisa que a casa tinha feito para mim e morri na cama.
Acordei um tanto assustada algumas horas depois, vendo no relógio que já passava das seis da tarde. Levantei na pressa, pedindo para a casa preparar meu banho, enquanto eu separava uma roupa discreta para pernoitar dentro de uma empresa.
Acabei saindo de casa pouco antes das sete, mas tive que chamar um Uber, já que meu carro decidiu parar de funcionar. Passei pela segurança do prédio com facilidade, afinal, eu tecnicamente era 1/3 CEO da DC Shoes, então, tinha passe livre por todo prédio.
- Onde você estava? – Ron se levantou apressado quando eu cheguei ao andar da empresa e o encontrei jogado em sua mesa.
- Desculpe o atraso. – Balancei a cabeça e ele me olhou de cima abaixo.
- Aonde você vai? Assaltar um banco? – Ele falou sobre meu moletom todo preto.
- Ignora! – Falei e ele revirou os olhos.
- Chave e cartão de acesso! – Ele me estendeu as coisas e eu olhei para as mesmas. – Não se esqueça de trancar muito bem os arquivos ou veremos Kalel muito puto amanhã. – Assenti com a cabeça. – Qualquer coisa me liga.
- Ok, pode deixar! – Sorri. – Pode ir!
- Até mais! – Ele falou e saiu pelo mesmo elevador que eu vim e me vi sozinha na recepção da empresa.
– Administrativo. – Falei, seguindo para o lado, sem muito saber exatamente pra onde eu estava indo.
Acabei achando a sala do administrativo na sorte, entrei na mesma, seguindo rapidamente para a sala de Kalel, sendo que ele era o chefe da seção. Liguei a luz e uma estante me chamou atenção, me fazendo seguir diretamente para um porta-retratos que estava colocado ali. Meu pai estava ali, junto de Miranda, Kalel e Barry, me fazendo soltar um suspiro pelo fato deles serem simplesmente perfeitos ali.
Suspirei por alguns segundos, sentindo uma lágrima solitária escorrer em minha bochecha e passei a mão rapidamente na mesma, balançando a cabeça. Voltei a focar no que realmente importava e vi um armário grande na lateral de sua mesa com uma porta de vidro e um leitor de cartão. Peguei o cartão que Ron havia me entregado e passei na porta, vendo-o se iluminar e a porta ser aberta lateralmente.
Entrei na mesma um tanto receosa e encontrei diversas estantes com caixas de diversos tamanhos, separadas por anos e meses. Soltei um suspiro, pensando por onde começar e pensei nas informações que os membros do conselho haviam passado no primeiro dia da reunião, mas eu não conseguia lembrar o que aquele senhor mais velho havia dito. Ele disse algo sobre montagem da empresa em outros lugares e gastos de exportação. Isso só podia se dar por causa de gastos em excesso.
Uma lâmpada se acendeu em minha cabeça e segui diretamente para o pacote de compras de um ano atrás. Já que era um problema recente, talvez a resposta não estivesse muito longe. Me sentei no chão, no meio da sala de arquivos, peguei o caderno, lápis e a calculadora dentro da minha bolsa e comecei a refazer qualquer tipo de conta que eu encontrava, conferindo se a assinatura era de Kalel e se enquadrava no que eu procurava.
Eu não lembro por quanto tempo eu fiquei refazendo as contas, mas minhas costas já começavam a doer e meu lápis já estava minúsculo de tanto apontar, quando eu percebi um pequeno erro, que quase passou despercebido.
- 200 mil dólares em 50 quilos de barbante? – Franzi a testa e procurei pelos documentos de compras dos anos anteriores, notando que o valor não chegava nem a casa dos mil, quiçá 200 mil dólares. – Ele está sendo corrupto. – Suspirei, arregalando meus lábios surpresa com isso.
Passei rapidamente os olhos em outros produtos como couro, plástico, ilhós e madeira e notei que os valores também não batiam. Eram preços muito caros para quantidades de produtos bem mais baratos no mercado.
Era óbvio que não sobraria dinheiro para exportação, ou que ficaria mais difícil abrir empresas lá fora. Kalel declarava um preço caríssimo sobre algum produto, provavelmente tinha algum acordo com o fornecedor para declarar um valor mais caro e eles rachariam o que sobrar.
Mas tinha couro na lista, era vendedor de couro. Isso não fazia sentido nenhum! Se estivesse envolvido nisso, ele também estaria tentando esconder do conselho, não me ajudaria em qualquer passo para eu tentar desvendar Kalel ou qualquer erro da empresa. Eu precisava falar com ele urgentemente. Peguei meu telefone e nem percebi que horas eram, quando disquei para .
- Alô? – Ele atendeu com uma voz sonolenta e eu afastei o celular da orelha rapidamente para conferir que passavam das quatro horas da manhã.
- ?
- ? – Ele devolveu.
- Sim! Você está ocupado agora? – Perguntei.
- Não tenho nada melhor para fazer a essa hora, a não ser dormir, é claro. – Ele falou e eu ri fraco.
- Desculpe! – Suspirei. – Eu preciso falar contigo, é urgente!
- Claro! – Ele me pareceu mais desperto. – É sobre a empresa?
- É sim! – Suspirei. – Pode me encontrar em casa agora?
- Claro! Onde você está ficando?
- No apartamento de Damon, sabe onde fica?
- Sei sim! – Ele falou. – Vou para lá agora mesmo.
- Até já! – Falei e desliguei o celular.
Joguei minhas coisas na bolsa e peguei algumas amostras de arquivos para mostrar para e para o conselho. Eu precisava de alguma prova do que eu estava falando, mesmo que Ron pudesse me matar no dia seguinte.
Guardei todos os documentos restantes de volta nas pastas e coloquei-os de volta nas estantes, tentando garantir que elas estivessem da forma que eu encontrei. Passei o olhar rapidamente pelo chão, para ver se não tinha sobrado nada e saí de lá rapidamente, trancando a sala de arquivos e a sala de Kalel.
Saí da empresa correndo, pegando o elevador e assenti para alguns seguranças que rondavam lá embaixo. Esperei alguns minutos até o Uber chegar e pedi para me levar de volta ao apartamento. Entrei no mesmo, subindo pelo elevador principal e, quando as portas se abriram, já estava lá dentro, de calças de moletom e camiseta cinza... E Mary dormia no sofá agarrada em sua boneca de pano.
- Ah, você estava com ela! – Falei antes de qualquer coisa. – Me desculpe. – Ele balançou a cabeça.
- Não se preocupe. Já estou aqui! O que você descobriu? – Ele perguntou e eu o chamei para deixarmos Mary dormindo.
- Antes de eu te contar, eu preciso que você me conte algo. – Falei e entrei em meu quarto, me sentando na cama e ele fez o mesmo.
- O quê? – Ele perguntou e eu tirei os documentos da minha bolsa, espalhando-o pela cama.
- Atualmente é você que comanda a empresa de seus pais?
- Sim, sou eu! – Ele falou, como se não entendesse.
- E você assina as compras?
- Não, eu tenho um setor só para isso. – Assenti com a cabeça e puxei o ar devagar. – O que está acontecendo, ? Por que você me chamou às quatro da manhã?
- Kalel está declarando os valores errados de compras. – Mostrei os papéis. – São valores exorbitantes por produtos e quantidades que não custam tudo isso. – Mostrei os papéis para ele.
- Oh meu Deus! – Peguei meu caderno, abrindo as diversas páginas com contas.
- Eu refiz todas as contas, . Elas não batem com os valores de um ano antes. Mesmo com um pequeno aumento nos valores e impostos, não dá tudo isso. 200 mil dólares por barbante? – Virei para ele. – Isso é ridículo.
- Mas se essa declaração está errada, isso é um contrato. – Ele chacoalhou o papel. – Ele pode ter comprado alguém nas outras empresas também. – Ele se levantou. – Na minha empresa. – Ele passou a mão na testa. – Isso é muito maior que só a DC Shoes.
- Eu não sei, , mas tem alguma coisa muito errada.
- Mas isso é bom, . – Ele se sentou novamente na cama.
- Bom, ? Como que isso é bom?
- Você encontrou o erro. – Ele abriu um sorriso. – Você é oficialmente a nova CEO da DC Shoes. – Soltei uma risada.
- Não posso acreditar que você está pensando nisso agora. Sua empresa pode ter alguém igual o Kalel. Roubando a cada compra. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vamos cuidar de uma coisa de cada vez, ok?! Eu vou ligar para os acionistas e marcar uma reunião de emergência. – Ele falou e eu segurei sua mão, antes que ele saísse dali. – O quê?
- Espera um pouco! – Ri fraco. – Estamos de madrugada e eu realmente preciso descansar. – Suspirei.
- Ah! Você pode me acordar de madrugada e me trazer aqui, mas eu não posso atrapalhar o conselho? – Ri fraco, negando com a cabeça.
- Só... – Suspirei, erguendo os olhos para os dele. – Eu preciso dormir um pouco. - Joguei meu corpo para trás, me aconchegando entre as almofadas.
- Eu posso te fazer companhia? - Ele se aconchegou nas almofadas ao meu lado e eu virei o rosto para ele, sorrindo.
- Sim, por favor.
- Como você se sente conseguindo desbancar Kalel? - Virei o corpo todo, notando que ele estava muito próximo a mim.
- Eu não fiz isso por eles, eu fiz isso por mim. - Sorri. - Eu não preciso de nada disso que Damon me deu ou está me proporcionando. Eu sou feliz do meu próprio jeito. - Suspirei. - Mas eu adoro quando sou desafiada e sou uma oponente de peso. - Ele riu, virando também na cama.
- Bem vi! - Ele sorriu. - O que você vai fazer agora? - Ele perguntou e eu soltei um longo suspiro, virando o corpo novamente e olhando para cima.
- Eu tenho algumas ideias, mas eu preciso decidir isso com a cabeça mais fria. - Ele se apoiou sob um braço, olhando para mim de cima.
- Posso pedir para ficar comigo? - Suspirei e ergui a mão para o seu rosto, acariciando-a de leve.
- Eu preciso pensar um pouco.
- Amanhã. - Ele disse, aproximando o rosto do meu.
Ele encostou os lábios nos meus delicadamente e eu o puxei mais para perto de mim, permitindo que ele se debruçasse sobre meu corpo e apoiasse as mãos no colchão. Fiz um carinho de leve em sua nuca, sentindo o beijo ganhar mais velocidade e calor.
Rolei por cima dele na cama e logo as roupas começaram a sair do caminho e nossos corpos suarem com o toque. Peguei o ar rapidamente, enquanto puxava sua blusa para cima, passando a mão sobre seu peitoral. Ele me segurou pela nuca, colando nossas testas e notei que sua respiração também estava acelerada, me fazendo abrir um sorriso meio desengonçado.
- Pai? - Me assustei quando Mary apareceu na porta do quarto e eu me joguei para trás da cama, enquanto se levantava assustado. - O que está acontecendo? - olhou para mim e eu caí no chão, começando a gargalhar muito alto.
- Me desculpe! - Ele cochichou para mim e eu balancei a cabeça em negativa. - A gente se vê amanhã? - Assenti com a cabeça.
- Claro! - Falei. - Vou ligar para Ron! - Ele assentiu com a cabeça e piscou para mim.
O observei pegar sua blusa no chão e vesti-la rapidamente. Ele foi em direção à Mary, dando a mão para ela e virou para mim novamente, dando uma rápida piscadela. Quando a porta foi fechada, eu me larguei no chão novamente, com um largo sorriso no rosto.
Assim que as portas do elevador se abriram, eu prendi a respiração por alguns segundos. Eu havia feito minha decisão sobre essa vitória, mas eu estava um pouco incerta do que viria pela frente. Caminhei pela empresa, vendo as pessoas apressadas de um lado para outro e cheguei ao local da sala de reuniões, vendo Ron sentado em sua mesa.
- Ah, olha quem apareceu! – Ele sorriu, correndo para me abraçar. – Eu sabia que você conseguiria. – Ri fraco. – E aí, o que é? – Ele falou.
- Você vai ficar de queixo caído. – Falei, suspirando. – E me desculpe, eu precisei tirar alguns documentos da empresa. – Fiz uma careta e ele revirou os olhos.
- Espero que tenha valido a pena. – Ri fraco.
- Você não tem nem ideia! – Suspirei. – Mas é mais óbvio do que o esperado. Vemos que o conselho não está preparado para pequenos problemas. – Ele franziu a testa. – Falta verificação de alguém de cima, e imagino que esse era um trabalho de meu pai e não o fez por confiar na pessoa...
- Como assim? – Balancei a cabeça.
- Lá dentro eu conto. – Virei o rosto para a antessala e notei conversando com alguns senhores, mas distraído enquanto me olhava. Ergui a mão e acenei para ele que sorriu. – Mas chame a polícia, ok?
- Ahm? – Ri fraco.
- Só faça, ok?! - Ele franziu a testa e o vi digitar rapidamente no telefone e falar baixo, provavelmente com quem eu havia pedido, voltando logo em seguida para perto de mim. - Vamos entrar, senhores? – Ron falou e eles começaram a se acumular dentro da sala envidraçada.
Fui uma das primeiras a entrar na sala, então aproveitei a desatenção de Kalel e Barry e me sentei na ponta da mesa, vendo Ron sorrir para mim de canto de olho. se sentou no meio da mesa, próximo aos outros acionistas e dei um sorriso cúmplice.
- Bom dia senhores, obrigado por nos encontrar em tão curto tempo, mas é uma emergência. – Ron falou com um sorriso no rosto.
- O que aconteceu, Ron? – Um dos acionistas perguntou.
- Temos nosso novo CEO. – Ele sorriu e o rebuliço começou como se fosse a escola novamente.
- Quem? – Ouvi a voz forte de Kalel atrás de mim e me levantei, encarando-o.
- Eu! – Falei firme, abrindo um sorriso presunçoso para ele.
- Como? – Ele me confrontou.
- Descobrindo o problema que os acionistas pediram. - Virei novamente, abrindo minha bolsa e jogando os papéis na mesa.
- E o que você descobriu, senhorita Delgado? – Um dos acionistas perguntou, começando a olhar os papéis.
- Corrupção do departamento de compras e aprovadas pelo administrativo. – Virei para trás, sorrindo para Kalel. – Compras com valores exorbitantes de materiais que não condizem com a realidade deles, mesmo no varejo. Além de que algumas empresas dos senhores, que oferecem matéria prima para a DC Shoes, também estão envolvidas. – Dei um pequeno sorriso. – Mas o mais interessante é quem é o responsável por isso. – Virei de costas para a mesa, olhando para Kalel. – Você é o responsável pelo administrativo há seis anos, Kalel. Gostaria de se explicar? – Ele engoliu em seco. – O mais interessante é a forma que Damon confiou no filho e não fez vista mais grossa sobre as decisões dele, provavelmente porque também estava envolvido ou confiava no filho. – Suspirei. – Qual vai ser?
- Como se atreve? – Ele se aproximou de mim com a mão erguida e eu segurei a mesma. – Você não pode fazer isso.
- Você continua falando besteira, não é?! – Ri fraco, abrindo um largo sorriso. – Eles pediram para achar o erro e eu achei. Pena que você sabia esse tempo todo o porquê dos gastos e não falou nada, não é?!
- Até quando você acharia que essa competição duraria, senhor Collins? – Ouvi a voz de e dei um pequeno sorriso. – A empresa não pode parar por seus erros. E fico feliz que a senhorita Delgado encontrou o erro antes que você pudesse se safar dessa. – Dei um pequeno sorriso.
- Com licença? – Abri um rosto quando dois policiais entraram na sala do conselho. – Fomos chamados.
- Vocês querem resolver isso de alguma outra forma ou...? – Virei para o conselho novamente.
- Podem levá-lo, ele está roubando da empresa há alguns anos. – O acionista mais velho apontou para Kalel e eu voltei a me sentar novamente na cadeira, enquanto a polícia algemava e tirava Kalel dali.
- Parabéns, senhorita Delgado. – Uma das acionistas falou e a bancada inteira começou a me aplaudir, incluindo Barry ao meu lado e eu sorri.
- Ainda temos muito que discutir, mas promessa é dívida. Você é a nova CEO da DC Shoes. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, senhores. – Me levantei, apoiando as mãos sobre a mesa. – Mas eu não quero ser CEO da DC Shoes. – Eles se assustaram, tendo as reações mais diversas, incluindo , que eu devo ter pegado numa guarda muito baixa, principalmente depois de ontem, me fazendo engolir em seco.
- Poderia nos explicar, senhorita Delgado? – Ron perguntou e eu suspirei.
- Eu vi como funciona o sistema corporativo e eu realmente não quero fazer parte dele. Um lugar onde roubo no departamento de compras faz com que os outros lados da empresa entrem em colapso? – Balancei a cabeça. – Se tivesse um pouco mais de análise e revisão, isso não aconteceria. – Suspirei. – Obrigada pela oportunidade, mas estou fora.
- Por que fez tudo isso, então? – perguntou e eu engoli em seco.
- Eu disse que não queria ser CEO, mas eu serei acionista. – Assenti com a cabeça. – Eu ainda quero que a empresa prospere. – Eles assentiram com a cabeça. – Se me permitem, como CEO por dez minutos, eu gostaria de indicar Barry para o cargo. – Andei para trás, apoiando uma mão no ombro do meu meio-irmão. – Ele assinou boa parte dos desenhos da DC e não tem envolvimento nenhum no problema de Kalel, pelo menos eu acredito. – Ele sorriu.
- Obrigado! – Ele me abraçou forte e eu sorri.
- Você vai se dar bem! – Sorri e ele assentiu com a cabeça. – Bom, senhores, sei que ainda temos muito trabalho pela frente, mas eu estarei lá fora, enquanto decidem o que fazer com a minha decisão e se precisarem que eu assine algumas coisas. – Sorri. – Ron, você guarda a papelada depois de novo? – Ele assentiu com a cabeça.
Peguei minha bolsa, dando dois tapinhas no ombro de Barry, cochichei um boa sorte e saí da sala de reuniões. Segui até ao banco da antessala e me sentei no mesmo, encostando a cabeça na parede e abrindo um largo sorriso. Um sorriso satisfeito.
- ! – Olhei para o lado, vendo se aproximar e sorri. – Por quê? Por que você vai embora? – Suspirei. – É sobre o que aconteceu ontem?
- Não, . – Sorri. – Não tem nada a ver contigo ou com Mary. É só que aqui não é o meu lugar. – Dei de ombros. – Eu não sirvo para esse ambiente corporativo. Eu sou a menina do interior. – Balancei a cabeça. – Isso não é para mim.
- Mas e ontem? – Ele perguntou e eu segurei sua mão.
- Não se preocupe. – Sorri. – Tijuana fica logo depois da fronteira. – Ele assentiu com a cabeça. – Podemos fazer isso dar certo.
- Você promete? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Certeza que eu serei acionista majoritária aqui, vou ter que vir uma vez por semana para reuniões. – Ele assentiu com a cabeça.
- Isso é verdade. – Ele suspirou.
- Eu gosto de você, . E de Mary também. – Suspirei. – Vocês vão ter dificuldades para sair da minha vida. – Ele assentiu com a cabeça. Ele se levantou, olhando rapidamente em volta e me puxou para longe da parede de vidro da antessala e me encostou em um canto escondido, colando os lábios nos meus rapidamente e eu abri um sorriso, rindo em seguida.
- Então, eu te vejo em Tijuana? – Ele me perguntou e dei de ombros.
- Não sei. – Suspirei. – Minha mãe sempre dizia que asas eram feitas para voar. Quem sabe? – Dei de ombros e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, mas use-as para voltar de vez em quando, ok?! – Sorri, colando meus lábios nos dele rapidamente.
- Ok! – Sorri, assentindo com a cabeça.
Ele se afastou de mim rapidamente, ajeitando seu paletó e seguiu de volta para a sala de vidro. Olhei para o mesmo entrando na sala do conselho e respirei fundo, colocando a mão na boca por alguns segundos, soltando um longo suspiro em seguida.
- Bom dia, senhorita! - Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Bom dia! - Me debrucei sobre o banco do carro e peguei minha bolsa e minha mochila.
- Seja bem-vinda e fique à vontade. - Ele falou e o vi entrar em meu fusquinha e segui para dentro do prédio, tentando dar aquela olhada de cima, notando a grandiosidade dele.
Passei pelo prédio e olhei em volta, vendo-o todo cheio de seguranças e catracas, impedindo que qualquer um entrasse. Me perguntei se estava entrando em um prédio residencial ou empresarial, mas depois me lembrei que não estava mais em TJ.
- Bom dia! - Me aproximei da recepção.
- Bom dia, senhorita. Veio visitar alguém? - Franzi a testa, tirando o papel do bolso da calça.
- Na verdade, eu sou a nova dona do apartamento 34. - Falei e notei que ela arregalou os olhos e mudou sua pose rapidamente.
- Senhorita Collins? - Ela perguntou e eu revirei os olhos ao ouvir o sobrenome de meu pai.
- Pode-se dizer que sim. - Engoli em seco.
- Um segundo, por favor! - Ela falou e pegou o telefone. Me debrucei na bancada e respirei fundo, ouvindo-a falar rapidamente com alguém do outro lado da linha. - Ela está aqui... Uhum... Ok! - Ela desligou e eu voltei a minha postura anterior. - Você pode subir. Último andar. - Agradeci, virando para o lado esquerdo e vendo o segurança abrindo a parte lateral para mim.
- Qual é o apartamento? - Perguntei, notando que eu estava sozinha e balancei a cabeça, entrando no elevador e apertando o último botão.
Senti um frio na barriga quando ele subiu com velocidade e parou logo em seguida, me deixando um pouco zonza. As portas se abriram e eu saí um pouco receosa, pois, atravessando a porta, eu estava em uma imensa sala de estar.
- Uau! – Falei, saindo do mesmo e soltei um suspiro ao ver os largos sofás de couro branco e até cascatas e fontes de água dentro de um apartamento. – Isso é meu? – Soltei minha mochila no sofá, me sentindo realmente muito surpresa com aquilo tudo.
- Bom dia! – Me assustei, ficando em pé rapidamente, vendo uma mulher muito bem arrumada.
- Quem é você? – Perguntei.
- Eu sou Suzane. – Ela se aproximou, estendendo a mão. – Eu sou governanta dessa casa. Você é a senhorita Collins, certo?
- Não! – Balancei a cabeça. – Delgado, por favor. – Revirei os olhos. – Não vamos fingir que meu pai se importou comigo em algum momento da sua vida. – Ela riu fraco.
- Certo, certo! Mas você é a filha de Damon, não? – Suspirei, me levantando e arrumando minha calça.
- Sim. É o que está escrito na minha certidão de nascimento. – Ela riu fraco.
- Bem, senhorita Delgado, eu não sei muito a relação que você tinha com Damon, mas ele lhe deixou essa casa e eu sou encarregada em lhe mostrar tudo e garantir que isso se torne um lar para você...
- Oh, não, não! – Balancei a cabeça. – Eu não vou morar aqui. – Sorri. – Eu só vim resolver a questão da empresa e vou embora antes que notem que eu esteja aqui
- Tem certeza? – Dei de ombros.
- Ainda não sei. Não estou muito feliz em estar aqui, sabe? – Cruzei os braços.
- Espero que você mude de ideia sobre isso. Vai ver que seu pai não era ruim como você pensa... – Suspirei.
- Talvez você esteja certa, mas não tenho muitas lembranças de natais e anos novos no colinho do papai. – Ela assentiu com a cabeça.
- Mas, já que está aqui, posso apresentar a casa para você? – Ponderei com a cabeça.
- Eu não tenho nenhum compromisso na parte da manhã mesmo. – Ela sorriu.
- Venha comigo, senhorita...
- . – Falei, estendendo a mão para ela.
- É um prazer conhecê-la. – Ela sorriu. – Bem, vamos por aqui. Você vai notar que o senhor Collins sempre gostou de muitos espaços grandes e abertos, mas também sempre era minimalista, não gostava de muitos móveis, coisas coladas e tudo mais. – Assenti com a cabeça, seguindo para o fundo da casa, vendo uma larga sacada beirando a lateral inteira do prédio, o apartamento ficava bem em uma quina. – Aqui está a cozinha. – Ela me apresentou o outro canto, não possuía nenhuma divisória, somente um balcão alto com diversos apetrechos eletrônicos. – Você pode manter o antigo cozinheiro de seu pai, caso queira...
- Ah meu Deus! Não! – Ela riu fraco. – Eu não sou nenhuma chefe de cozinha, mas eu gosto das minhas comidas. – Ela riu.
- Seguindo, aqui temos lavanderia, espaço para roupas, etc., algo que seu pai nunca usou. – Revirei os olhos, imaginando o porquê. – Depois temos o grande escritório do seu pai, mas ele não passava muito tempo aqui, preferia ficar na empresa.
- Falando na empresa. Com o que vocês trabalham mesmo?
- Sério? – Ela perguntou e dei de ombros. – Tênis.
- Ah! – Assenti com a cabeça. – Entendi. – Cocei o queixo, dando um sorriso de lado.
- Temos outros quartos de visitas, mas aqui é a suíte principal. – Ela empurrou uma porta que abriu lateralmente e eu vi um quarto enorme que poderia ser do tamanho da minha casa inteira em Tijuana, que eu dividia com mamá e Cármen. – Como eu disse, seu pai era mais minimalista, então ele não tinha muitos móveis, mas você pode adquirir mais com o tempo. – Observei o quarto que só tinha a cama no centro com duas mesas de cabeceira e uma televisão gigante na frente da cama. – Ali na lateral é o closet, que está vazio para trazer suas coisas, caso queira.
- Uhum, tá! – Suspirei, confesso que aquela cama estava me chamando, apesar da viagem de Tijuana para cá ser de menos de uma hora, eu não havia dormido bem na noite anterior, então estava bem cansada. – O que mais?
- Ahm, me deixa pensar. Preciso te falar sobre horários dos empregados e tudo mais.
- Não, Suzane. Calma! – Falei. – Eu preciso antes decidir o que vou fazer com isso daqui, depois voltamos a conversar.
- Como a senhora preferir. – Ela sorriu. – Bem, caso seja isso por enquanto, eu vou me retirar.
- Claro! Obrigada! – Suspirei. – Preciso ir para a empresa, mas só na parte da tarde.
- Ah, já ia me esquecendo de um negócio! – Ela falou. – Coloque sua mão aqui na parede. – Franzi o rosto para a parede aparentemente comum.
- Aqui? – Apontei.
- Sim, em qualquer lugar. – Franzi a testa, mas fiz o que ela pediu.
No que eu toquei na parede, minha mão brilhou, como se aquilo fosse um leitor de digitais ou algo assim, me assustando. Coloquei a mão novamente ali e vi que a parede realmente leu minha mão.
- Delgado Collins. – Ouvi uma voz robotizada ecoar pelo apartamento. – Filha de Damon Collins e Alegra Delgado. – Arregalei os olhos. – Nova proprietária do apartamento 34 do condomínio Windows. – Virei para Suzane.
- Acabou? – Perguntei e ela riu.
- Sim! Ela estava lendo suas informações para repassar para a casa.
- “A casa”? Como uma coisa animada?
- Sim! Essa casa é inteligente, então você pode controlar ela por um simples tablet. – Ela me estendeu o mesmo. – Comida, compromissos, roupa, temperatura, paisagem...
- Legal! – Falei. – E estranho ao mesmo tempo. Não tem perigo disso ligar o forno e queimar a casa inteira, tem? – Ela riu.
- Não, senhorita. A casa não está ligada ao gás.
- Ufa! – Brinquei. – E como eu mexo nisso?
- Você pode escolher as opções pelo tablet ou falar “ativar casa”...
- A seu dispor. – Ouvi a voz robotizada novamente e me assustei.
- E você pede o que quiser. – Pensei um pouco, erguendo o rosto.
- Ativar casa. – Falei.
- A seu dispor. – Ela repetiu.
- Um copo de água gelada. – Falei e não notei nada de diferente por cerca de dez segundos, até que ela voltou a falar.
- Sua água gelada já se encontra pronta na cozinha. – Franzi a testa e saí do quarto, seguindo rapidamente para a cozinha e notei o copo na bancada ao lado do filtro, cheio quase até a boca com duas pedras de gelo no mesmo.
- Eu vou gostar disso aqui! – Falei rindo.
- Divirta-se. – Suzane falou. – Qualquer coisa é só me chamar, a casa saberá onde me encontrar.
- Obrigada, Suzane! – Ela assentiu com a cabeça e eu me aproximei do copo novamente, pegando-o e tomando um curto gole, me sentindo uma criança no natal.
- Ativar casa.
- A seu dispor. – Ela respondeu e eu ri.
- Banho quente na suíte principal. – Falei.
- Seu banho ficará pronto em sete minutos e 24 segundos na suíte principal. – Comecei a rir sozinha, voltando para meu novo quarto.
Parei em frente à empresa, vendo outro valet se aproximar do meu querido carrinho e tentei não me importar em ter um fusca parando em um dos maiores escritórios comerciais que eu já tinha visto em toda minha vida. Não que eu saísse muito de Tijuana.
- Bom dia, senhorita. Posso levar seu carro até o estacionamento? – O moço veio me perguntar e eu assenti, saindo do carro e puxando minha bolsa junto.
- Claro, por favor! – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
Olhei para o prédio espelhado em minha frente e suspirei, notando várias pessoas vestidas de terno e gravata e dei uma rápida olhada em mim de cima a baixo, eu estava adequada no meu terninho preto e camisa branca. Talvez até mais formal que algumas mulheres de saia e camiseta, mas ignorei.
Entrei no prédio, empurrando a porta giratória e olhei o nome de várias empresas no painel ao fundo da recepção e procurei por DC Shoes. Me aproximei da recepção, sorrindo para o homem que me atendeu.
- Olá, no que posso ajudar?
- Eu tenho uma reunião na DC Shoes em alguns minutos. – Ele assentiu com a cabeça, mexendo rapidamente no computador.
- Claro! Qual o seu nome? – Ele perguntou.
- Collins. – Usei o sobrenome do meu pai e o homem olhou surpreso para mim.
- Claro, senhorita. Oitavo andar, por favor. – Ele apontou para a lateral e um segurança abriu a grade lateral para mim, sem que eu precisasse passar pela catraca.
Entrei no elevador e o próprio segurança apertou o botão do andar para mim e eu dei um aceno com a cabeça. Me olhei rapidamente no espelho, passando a mão em um fio solto do meu rabo de cavalo e logo os escritos da marca de meu pai se abriram à minha frente.
Saí do mesmo, olhando rapidamente para os lados, vendo uma pequena movimentação na empresa e me aproximei do balcão, ouvindo a mulher atrás do mesmo repassar as ligações pedindo para várias pessoas na linha esperar.
- DC Shoes, um segundo. DC Shoes, um momento. DC Shoes, não saia da linha... – Enquanto erguia o dedo indicador para que eu também esperasse.
- Senhora Collins! – Me assustei com um menino, provavelmente mais jovem que eu, aparecer ao lado do balcão.
- Senhorita Delgado! – O corrigi.
- Claro! – Ele sorriu, estendendo a mão. – Eu sou Ron, antigo assistente pessoal de seu pai. É um prazer te conhecer.
- O prazer é meu, eu acho. – Apertei sua mão e ele sorriu.
- Você está aqui para a reunião do conselho, certo? – Assenti com a cabeça. – A reunião começará em alguns minutos, mas algumas pessoas já chegaram, gostaria de aguardar lá?
- Claro! Vai ser bom conhecer alguém. – Dei um sorriso de lado e ele me acompanhou.
- Sim, senhorita Delgado, eu já sei em que terreno você vai entrar e posso te garantir que não será fácil. – Revirei os olhos.
- Não se preocupe, Ron. Eu vim preparada. – Ele sorriu.
- Enfim, caso você precise de ajuda, qualquer coisa, pode vir até mim. Atualmente a DC está sem um CEO, por motivos que você já sabe, mas eu ainda trabalho diretamente na diretoria.
- Obrigada, Ron! Talvez seja bom ter em quem confiar. – Ele assentiu e apontou para trás do balcão e segui com ele.
- Aqui na DC nós fabricamos tênis, principalmente tênis esportivos estilo Chuck Taylor ou Vans... Está familiarizada com eles.
- Claro! – Falei.
- Seguimos a mesma linha, mas começamos com aqueles tênis sem cadarço que as pessoas costumam comparar com jogadores de golfe. – Ri, me lembrando imediatamente do que ele estava falando. – Depois a empresa acabou crescendo e hoje fabricamos mochilas e placas de skate.
- Legal! – Falei. – Como isso começou? Difícil acreditar que um senhor engravatado começou com isso. – Ele riu fraco.
- A empresa existe há mais de 40 anos, seu pai já foi um jovem também. – Afirmei com a cabeça. – Eu trabalhei com ele por 12 anos antes do infarto, além de frequentar sua casa e conhecer sua família, eu também viajava com ele, então posso dizer que eu era quem o mais conhecia.
- Infarto? Achei que ele tinha sido assassinado. – Ele ponderou com a cabeça.
- Existem algumas divergências de opinião que nem eu sei dizer.
- Muito bom. – Falei, não sabendo exatamente o que dizer.
- Enfim, acho que posso te alertar sobre o Tico e o Teco. – Ele segurou meu braço antes de passar por outra parte da empresa.
- Quem? – Franzi a testa.
- Os filhos do Damon...
- Ah! – Revirei os olhos.
- Eles não estão nada contentes com você ter recebido parte da herança, quiçá parte da empresa, então, se cuida garota. – Assenti com a cabeça.
- Nunca um homem me disse o que fazer e como agir, Ron. Não vai ser agora que isso vai acontecer.
- É assim que se fala! – Ele esticou a mão e eu bati com a mesma, rindo. – Vamos lá. – Ele empurrou a porta e entramos em uma sala de vidro, onde cerca de 20, 25 pessoas se encontravam ali, creio que só duas mulheres estavam ali. Olhei rapidamente em volta e respirei fundo três vezes, tentando manter a pose.
- Ei, Ron, trouxe um brinquedinho novo. – Um homem loiro de olhos claros, que parecia cópia loira do David Beckham, se aproximou de nós.
- Esse é o Tico. – Ron cochichou para mim e se aproximou do homem, esticando a mão. – Como está, Kalel? – Ele esticou a mão para meu meio irmão e ambos se cumprimentaram.
- Então, o que trouxe aqui? – Ele se virou para mim. – Sou Kalel, é um prazer te conhecer. – Ele estendeu a mão com um sorriso presunçoso no rosto.
- Eu sou Delgado Collins, sua meia irmã. – Apertei sua mão fortemente, vendo a confusão se formar em meu rosto e sorri, soltando sua mão rapidamente.
- Ah, você é a bastarda. – Ele cruzou os braços, tentando dar um olhar por cima para mim, mas eu estava de salto, ficando mais alta que ele.
- E você é o Super-Homem? – Perguntei, cruzando os braços também.
- Oi?
- Você realmente se chama Kalel? Bruce seria menos pior. – Abri um pequeno sorriso e ele deu uma risada fraca.
- Você não sabe com quem está se metendo, não é?! – Ri fraco.
- Posso não saber, Super-Homem, é por isso que eu estou aqui. – Pisquei, dando um sorriso de lado. – E você? Sabe com quem está se metendo?
- Sei. Mexicanos tem o costume de jogar baixo. – Ele sorriu.
- Tomara que eles sejam bem poderosos para poder jogar baixo mesmo, afinal, imagino as posições que muitos deles devem tomar aqui nos Estados Unidos, incluindo nessa empresa. – Falei bem sarcástica e ele ficou quieto.
- O que tem aí, irmão? – O outro loiro parecido com ele, mas menos David Beckham e mais Chris Carmack apareceu ao seu lado. – Oi, tudo bem? – Ele falou sorrindo para mim. – Sou Barry! – Ele estendeu a mão.
- Kalel e Barry? Acho que papai gostava de heróis da DC. – Ri fraco e notei seus olhos arregalados.
- Você é ! – Ele falou surpreso e eu assenti a cabeça, apertando sua mão firme, mas mais suavemente. – Bom, é um prazer te ter aqui. – Ele sorriu e seu irmão olhou para ele como se não entendesse.
- Espero que seja mesmo. – Sorri.
- Bem, vamos entrar? – Ron cortou a briga de egos. – A reunião vai começar.
- Nos vemos depois, bastarda. – Kalel falou e saiu puxando seu irmão.
- Até mais, Super-Homem! – Acenei. – Não fique perto de nenhuma kryptonita. – Brinquei e ele saiu soltando fogo pelas orelhas.
- Você tem coragem! – Ron cochichou para mim e eu sorri, dando de ombros.
- Nem vem! Ele que se chama Kalel! – Falei, seguindo para onde todos os executivos iam.
Nós quatro e os outros 20 executivos entramos na sala com uma larga mesa retangular e mesas ao redor da mesma. Ela era colocada estrategicamente em um lado do prédio onde as paredes eram feitas de vidro, dando a impressão que estivéssemos em um aquário gigante.
Kalel se fez de macho alfa e se sentou na única cadeira que ficou livre, que supus que era do CEO da empresa, no caso, Damon, até sua morte. As outras cadeiras foram rapidamente ocupadas pelos outros homens e mulheres. Tinham de todas as idades e raças, novos, velhos, brancos, negros e orientais, era difícil saber o que esperar. E eu, Barry e Ron ficamos em pé atrás de Kalel.
- Boa tarde, senhores. – Ron falou, se aproximando de uma das quinas da mesa. – Como sabem, pedimos que vocês se juntassem um pouco mais cedo para decidirmos sobre o futuro da diretoria da DC Shoes. Como sabem, Damon Collins, fundador e atual CEO faleceu de um infarto fulminante e deixou em seu testamento que a empresa fosse dividida entre seus três filhos. Kalel e Barry que vocês já conhecem, que trabalham na parte de administração e design da empresa e Delgado Collins, filha dele com Alegra Delgado. – Todos os olhares se viraram para mim.
- Um caso, uma filha fora do casamento... – Kalel falou e eu revirei os olhos, mas tentei me conter.
- Bem, conselho, é com vocês! – Ron falou, se afastando um pouco da mesa.
- Boa tarde, senhores. – Um dos homens mais velhos da bancada falou, se levantando. – Tivemos duas semanas para pensar sobre o que fazer nessa posição, já que sempre tivemos Damon como o diretor da nossa empresa e ele sempre repassou as informações de ações, ganhos e responsabilidades. Achamos que um diretor seria o ideal para que a DC continuasse crescendo, conquistando outros países e continentes. Somente um. – Franzi os lábios, suspirando.
- Bem, então, isso é fácil de resolver! – Kalel falou, se levantando. – Eu cuido disso, maninha. Não precisamos de você aqui. – Arregalei os lábios, inconformada.
- “Maninha” seu cu! – Falei, causando alvoroço nos membros mais velhos e risada nos mais novos. – Não foi escolha minha estar aqui, Super-Homem, mas já que eu estou, gostaria de ser considerada como todo mundo. – Me aproximei da quina da mesa, ficando ao seu lado.
- Por favor, senhora Delgado, se apresente. – Um dos homens, talvez um pouco mais velho do que eu, falou, me cedendo a palavra.
- Boa tarde, membros do conselho. Eu sou , nasci em Tijuana há 28 anos, sou formada em contabilidade pela Universidade de Guadalajara e atualmente trabalho em um pequeno escritório contábil que possui como principais clientes os pequenos comerciantes de Tijuana, além de ajudar minha mãe na sua floricultura. – Suspirei. – Eu gostaria de deixar claro que eu não escolhi estar aqui, senhoras e senhores. Tirando natais esporádicos, eu não tinha contato com meu pai, além de presentes que ele mandava e a pensão mensal. – Molhei os lábios. – Isso eu não posso reclamar. Damon foi responsável por boa parte da minha criação e de minha irmã mais nova que nem dele é. – Apoiei as mãos na mesa. – Eu gostaria de ser considerada por essa bancada, porque eu tenho conhecimentos e capacidade para ajudar a levar essa empresa adiante. – Suspirei. – Sei que não é nenhuma empresa pequena com poucos clientes e sim uma multinacional crescendo cada vez mais, expandindo para diversas partes do mundo, mas eu estou preparada. – Suspirei, cruzando os braços.
Os acionistas se olharam, se mexeram na cadeira, ponderaram com a cabeça e o mais velho voltou a se levantar. Ele olhou um pouco para baixo, pensando no que falar, mas Barry foi mais rápido.
- Eu gostaria de ser considerado também. – Ele falou. – Eu assinei boa parte das criações da DC e talvez seja hora de eu ajudar em outro departamento.
- Bem... – O acionista começou. – Podemos resolver isso de uma forma mais simples, sem que vocês fiquem discutindo entre si. – Ele mexeu as mãos. – Vamos testar a competência de vocês três e a capacidade de trabalho sob pressão. – Assenti com a cabeça. – Estamos com um pequeno problema de gasto na empresa. Está cada vez mais difícil montar empresas completas em outros países e a exportação está saindo muito cara e sabemos que a exportação é 85 por cento do nosso capital de giro. – Ele suspirou. – Quem descobrir uma solução para esse problema, se torna o nosso diretor ou diretora. – Ele sorriu para mim e eu assenti com a cabeça, sorrindo. Era uma tarefa de contabilidade, eu realmente poderia competir de verdade.
- E qual é o prazo para essa tarefa? – Kalel perguntou.
- Indefinido. – O senhor respondeu. – Enquanto isso, as informações continuarão a ser repassadas para nós por Ron. – O mesmo assentiu com a cabeça, sorrindo.
- É só isso que gostariam de discutir hoje, senhores acionistas? – Olhei para todos que confirmaram com a cabeça, se entreolhando. – Então, encerramos por hoje. A princípio nos reunimos na semana que vem no mesmo horário. – Ele falou e as pessoas começaram a se retirar e eu sorri, um pouco mais aliviada.
- Não brinque com fogo, irmãzinha! – Kalel falou e eu soltei um suspiro entediado. – Você pode se queimar.
- Ah, meu querido. – Suspirei. – Suas palavras não significam nada para mim, eu não estou nem te escutando. – Revirei os olhos.
- Pois deveria, você vai embora daqui da mesma forma que veio...
- No meu fusquinha? – Brinquei, apoiando o indicador na boca, pensando. – Cai fora daqui, Super-Homem, eu sou muito superior a você para me importar. – Cruzei os braços.
- Vamos ver quando essa empresa for minha e eu puder mudar o testamento do meu pai.
- Tem certeza que você é administrador? Você não consegue fazer isso, a não ser que ressuscite nosso pai e... Bem, sabemos que não é possível. – Sorri.
- Se mantenha no topo enquanto pode, eles logo verão quem você é de verdade.
- Eles ou você? – Ponderei com a cabeça. – Não importa o que você diga, brother. Você não vai me machucar. – Sorri. – Afinal, eu nem me importo contigo para que você me machuque. – Ajeitei a bolsa no ombro.
- Vamos ver! – Ele falou, fazendo questão de esbarrar em mim quando passou e eu estendi o pé, vendo-o tropeçar no mesmo, me fazendo abrir um largo sorriso.
- Tenha um bom dia! – Acenei e vi Barry dar um sorriso de lado, se retirando junto do irmão.
Apesar de todas as palavras e ações, eu precisei sentar um pouco e afundar meu rosto nas mãos, no momento que os irmãos DC Comics saíram da sala. Soltei um longo bufo e virei a cadeira da mesa do conselho, olhando para San Diego do alto pela parede de vidro.
- Que merd...
- Desculpe! - Ouvi uma voz.
- Ah! - Me assustei, me levantando rapidamente.
- Desculpe, não queria te assustar! - O homem falou e eu não contive abrir um pequeno sorriso para ele.
Ele era alto e bonito, e ficava muito bem naquele terno chumbo, camisa azul clara e gravata vermelho escuro. Seus olhos eram pequenos, mas ele tinha um maxilar bem firme, fazendo me lembrar do próprio Super-Homem. Ele havia passado despercebido por mim durante a reunião, agora eu só não entendia como.
- Eu sou ! - Ele esticou a mão. - Um dos acionistas.
- Oi! - Estiquei a mão para ele, apertando-a firmemente. - ...
- Eu sei... - Ri fraco, cruzando os braços. - Eu só queria te dar um aviso sobre essa história toda.
- Mais um que vai me julgar antes de me conhecer? - Ele riu, colocando as mãos para trás.
- Não, não! - Ele falou. - Eu sou acionista há uns oito anos e realmente não tenho motivos nenhum em querer Kalel ou Barry como CEOs dessa empresa. - Ponderei com a cabeça.
- O que quer dizer com isso? - Perguntei.
- Eles não passam de crianças mimadas que querem tudo de mão beijada e costumam conseguir. - Ele deu de ombros. - Barry é um pouco menos, eles são uns cinco, seis anos de diferença, então ele ainda se salvou um pouco. - Assenti com a cabeça. - Você me parece... - Ele franziu os olhos, me fazendo rir. - Diferente!
- Desconhecida, você quer dizer. - Ele riu. - Eu posso não ter nenhum conhecimento com empresas grandes, muito menos informações sobre essa, em particular, mas eu não desisto da guerra antes da luta. - Ele deu um bonito sorriso que fez minhas pernas bambearem.
- Bom! Meu conselho é que você não se deixe levar. - Ele falou. - Eu sei como eles podem jogar sujo em algumas situações e essa é uma delas. - Assenti com a cabeça.
- Eu estou em desvantagem aqui, então, você tem algum conselho?
- Parece que Ron está do seu lado. - Ele falou e eu ponderei com a cabeça.
- Talvez! - Virei para trás, vendo-o me esperar na porta da sala do conselho.
- Fale com ele, ele é o único que possui todas as cópias dos arquivos da empresa, talvez ele possa te ajudar.
- Ele? Ele não é um assistente? - assentiu com a cabeça.
- Sim, mas tudo que chegava ao seu pai, ele que era responsável para guardar e, enquanto não temos um novo CEO, ele é o CEO provisório. - Assenti com a cabeça.
- Vou ver com ele. - Sorri com a cabeça. - Obrigada!
- De nada! Qualquer coisa pode falar comigo. - Assenti com a cabeça.
- Eu tenho uma pergunta, se me permite! - O chamei antes que ele saísse.
- Pois diga! - Ele falou.
- Oito anos como acionista? Você me parece um pouco novo para já ter quantidade de ações suficiente para participar de um conselho! - Ele riu.
- Eu tenho 32. - Ele falou. - Trabalho desde os 16 com meu pai, na empresa de couro da família, quando a empresa começou, meu pai deu couro de graça para o seu pai e trocou por algumas ações na empresa. Meu pai envelheceu e agora eu cuido da empresa...
- Legal! - Falei, rindo. - Mas couro?
- Na época era couro verdadeiro, agora é sintético. - Assenti com a cabeça.
- Bem, , obrigada pelas dicas! - Estendi a mão para ele que a apertou. - Com certeza voltarei a entrar em contato contigo. - Ele sorriu.
- Estarei por aqui. - Ele sorriu e eu me retirei da sala, puxando minha bolsa que havia ficado em cima da mesa de reuniões. - Ei, você vai ao funeral amanhã? - Ele perguntou e eu fui pega desprevenida.
- Eu realmente não sei. - Falei.
- Seria bonito para o conselho se você decidisse aparecer lá, nem se fosse para fingir que você se importava com Damon. - Assenti com a cabeça.
- Com certeza estarei lá, então! - Falei rindo e ele sorriu. - Até mais.
Olhei rapidamente para trás e vi o homem sorrir e soltei um leve suspiro, que homem bonito! Empurrei a porta e segui direto até Ron que havia cansado de me esperar e agora falava com alguém pelo telefone. Parei ao seu lado para esperar e acabei ouvindo algumas palavras.
- Isso não está nas minhas mãos, Sandra. Quando o novo CEO for anunciado, faremos uma coletiva e você poderá enchê-lo de perguntas. - Ele falou e eu fiz cara de paisagem, olhando para os lados. - Ok, para você também. - E desligou o telefone. - Você foi a primeira a falar "seu cu" em uma reunião de conselho, parabéns! Você deu seu recado! - Ri fraco e vi que ele não estava brincando.
- Oh! Desculpe! - Falei, colocando a mão na boca.
- Vi que conheceu .
- Sim, simpático! - Falei e ele riu.
- Esse cara é um gênio, pode não parecer, mas ele controla 25 por cento das ações! - Arregalei os olhos. - E sim, para uma empresa igual DC, é muita coisa...
- Tá bem, certo?! - Dei de ombros e ele riu. - Bem, eu preciso da sua ajuda. - Falei.
- Diga!
- Eu preciso ver os documentos de contabilidade de Damon. - Ele demorou um pouco para responder, mas assentiu com a cabeça.
- Ok, mas tem uma condição. - Franzi a testa.
- Qual? - Perguntei.
- Esses documentos não podem sair daqui de jeito nenhum. - Assenti com a cabeça.
- Combinado!
- E eu não quero ver nenhuma briga sua com Kalel ou Barry dentro daquele lugar, caso eles apareçam lá. - Ri fraco.
- Você disse uma condição. A segunda eu já não prometo. - Ele revirou os olhos.
- Vamos lá! - Ele falou e eu o segui, animada.
Abaixei um pouco o vidro do carro e respirei fundo, olhando para o pessoal que chegava para o funeral que acontecia a alguns metros de distância e respirei fundo, em dúvidas se eu deveria ou não sair do carro.
- Se sua tentativa é se esconder, você falhou drasticamente. - Me assustei com ao meu lado e empurrei a porta do meu carro, ficando em pé ao seu lado, ajeitando meu vestido preto. - Você está em um fusca de 1960 que não tem insulfilm.
- 1958, me respeite, por favor! - Ele riu.
- Vamos! - Ele disse. - As pessoas já te viram, a viúva já te viu. - Bufei forte, fazendo-o rir.
- Oh, esqueci que eu poderia ter que encarar a viúva! - Ele riu fraco e eu neguei com a cabeça.
- Vamos! Fecha essa joaninha albina que eu fico lá trás contigo.
- Por que você é tão legal? - Perguntei e ele riu.
- Odeio ver mulheres sofrendo.
- Rá, rá, rá! Engraçadinho! - Falei e ele riu. - Um segundo. - Abri o carro novamente, tirei a chave do contato e saí novamente, pegando meu chapéu preto no banco do carona. Tranquei o carro e me coloquei ao lado de que já estava na calçada.
Coloquei o chapéu na cabeça, abaixei os óculos escuros na intenção de me esconder e não de chorar. estendeu o braço para mim e eu agradeci com a cabeça, seguindo-o em direção ao tumulto que acontecia ali.
Observei Kalel e Barry ao lado de uma mulher loira bonita. Ela aparentava a mesma idade de minha mãe, a diferença que provavelmente teve tudo do bom e do melhor durante boa parte da sua vida, se não toda ela. Enquanto senhora Alegra teve que colocar a mão na terra para conseguir fazer com que a antiga floricultura da minha avó seguisse em frente.
Eu me coloquei lá atrás, embaixo de uma árvore, enquanto o padre falava algumas palavras sobre perdas e pessoas que já se foram. Olhei em volta e percebi que além de toda bancada do conselho, provavelmente a empresa inteira havia batido ponto naquele sábado de manhã.
Tentei manter a cabeça baixa, com os braços cruzados, mas vez e outra percebia que estava sendo observada. E nem era pelo homem parado igual a um soldadinho de chumbo ao meu lado, mas pelos curiosos que observavam a intrusa no meio de todos.
Quando o caixão foi baixado, me senti culpada por alguns segundos por não ter ido prestar meus respeitos ao homem que me deu metade de meus genes, mas achei que não cairia tão bem. As pessoas choraram, jogaram suas flores dentro do buraco e o padre fechou sua bíblia, finalizando a cerimônia. Soltei um suspiro alto e percebi que estava na hora de eu sair dali.
- É melhor eu ir. – Cochichei para .
- Eu não iria agora. – Ele respondeu.
- Por quê?
- Miranda Collins está te olhando o funeral inteiro, ela vai querer falar contigo. – Suspirei, fazendo uma careta.
- Eu não estou muito no clima de falar com a minha madrasta. – Ele riu.
- Até você conseguir ligar o seu fusquinha, vocês já conversaram três vezes. – Olhei para ele.
- Não fale mal do fusca. – Encarei-o com a testa franzida.
- Aqui vem eles. – Ele falou e eu ergui o rosto, vendo Tweedledee e Tweedledum se aproximarem junto da viúva, ou como a árvore genealógica pedia, minha madrasta.
- Senhor , é um prazer vê-lo aqui! – Miranda cumprimentou e deu um pequeno sorriso.
- Senhora Collins, sinto muito pela sua perda. – apertou sua mão delicadamente e a viúva sorriu. – Damon era muito querido por nós do conselho.
- Obrigada, ! Você sempre foi muito gentil. – Ela sorriu e seu olhar caiu sobre o meu, me fazendo perder a respiração por alguns segundos.
- Você deve ser a , minha enteada, certo? – Engoli em seco, receosa sobre o que responder, mas ela foi mais rápida. – Acredite se quiser, mas é um prazer te conhecer. – Ela me abraçou, me deixando sem reação.
- Mãe! – Kalel a repreendeu, mas ela me apertou em seus braços e me soltou alguns segundos depois.
- Você é muito bonita, sabia? – Senhora Collins ignorou seu filho totalmente e continuou falando comigo. – Não pense que eu sou sua inimiga. – Ela segurou minha mão firmemente. – Você não tem culpa do que Damon fez, nem a sua mãe. – Vi a veia da testa de Kalel saltar, ficando cada vez mais difícil prestar atenção nas palavras de Miranda.
- Obrigada, senhora Collins! – Sorri simpática.
- Não sei como a empresa ficará, prefiro nem me intrometer nisso, mas, caso você precise de alguma coisa, pode falar comigo. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, senhora Collins. Não esperava uma recepção dessa. – Ela sorriu.
- Obrigada por ter vindo! – Assenti com a cabeça, vendo-a sair com os Super Gêmeos. Kalel agiu como uma criança de cinco anos e mostrou a língua para mim quando saiu, me fazendo rir baixo.
- Não foi tão ruim, foi? – perguntou ao meu lado e eu respirei fundo.
- Incrivelmente não. – Virei para ele. – Ela é boa assim ou...?
- Gostamos de dizer que Kalel é um ponto fora da reta, talvez tenha puxado um pouco do pai. Ambicioso, impulsivo, mas com Miranda e talvez com a sua mãe, se transformou em alguém melhor. E Kalel ainda não achou isso...
- Nem vai achar se continuar agindo assim. Nenhuma mulher aguentaria! – Dei de ombros e ele riu. – Bom, acho que está na hora de eu ir, todos já me viram, eu já falei com a viúva, já cumpri minha parte...
- Pode ir! – Ele falou rindo. – Nos vemos por aí?
- Claro! – Sorri para ele, apoiando minhas mãos em frente ao corpo e segui devagar de volta ao carro, olhei pelo retrovisor e notei me encarando quando saí com o carro.
- Oi, Ron, bom dia! - Me aproximei da mesa do assistente de meu pai e apoiei minha bolsa em sua mesa.
- Oi, , como você está? - Ele sorriu para mim, apoiando o telefone no ombro.
- Tudo bem! - Sorri. - Será que eu posso ir à sala dos arquivos novamente? Sinto que deixei alguma coisa passar. - Ele fez uma careta.
- Até tem, mas o Gru e o Dru estão lá dentro. - Ri fraco com a referência e soltei um longo suspiro quando a piada parou de ter graça. - Se quiser tentar, eles estão lá.
- Fazer escândalo no meio da empresa ou me virar com o que eu tenho em outro lugar? - Ponderei e Ron ergueu os olhos.
- Olha lá, hein, ? - Ri fraco.
- Relaxa, não estou no pique para dor de cabeça hoje. - Ele riu. - Você tem como me mandar os arquivos da contabilidade dos quatro bimestres de 2015? - Perguntei. - Sei que não podem sair daqui, mas por e-mail, talvez?
- Claro! Onde você está chegando? - Suspirei, ponderando com a cabeça.
- Não tenho certeza ainda. Fiquei até tarde procurando informações e os números começam a confundir. - Dei de ombros. - Pode?
- Claro! Onde você vai ver isso? - Ele perguntou.
- Vou ao café aqui do prédio mesmo, algum lugar com espaço para que eu possa pensar. - Ele riu.
- Vou te mandar um arquivo que vai pedir uma senha. Por ser arquivo confidencial da empresa, são três letras, seu nome, de Kalel e Barry, ele pede de forma aleatória, só o chefe de segurança tem a ordem atual e eu não quero atrapalhá-lo, porque, na teoria, isso não pode sair daqui. - Arregalei os olhos. - Você tem três chances de acertar! Se errar, ele bloqueia o sistema! - Franzi a testa.
- O quê? Tu não pode mandar em PDF ou algo assim? - Ele riu.
- Não são ordens minhas, é questão de segurança. Qualquer arquivo que sai daqui tem que ter permissão da segurança.
- Legal! - Respirei fundo. - E se eu errar bloqueia o sistema inteiro? - Ele sorriu, assentindo com a cabeça. - Sirenes começam a tocar ou algo assim? - Ele riu
- Não! - Ele franziu a testa. - Aqui não é a CIA! - Dei um pequeno sorriso. - Mas bloqueia o sistema de todos na empresa por 25 minutos. E você sabe o que são menos 25 minutos de trabalho em uma empresa? - Prendi a respiração por um segundo. - Um minuto já é catastrófico, agora multiplique por 25...
- Ok, ok, entendi! - Ergui as mãos. - Obrigada! - Peguei minha bolsa e ele riu. - Por precaução, eu vou tentar duas.
- Já enviei! - Ele falou e eu saí de volta ao corredor, pegando o elevador aberto.
Depois que o elevador parou em diversos andares, ele finalmente chegou ao térreo. Me aproximei da cafeteria, suspirando feliz por ter vários lugares vazios por ser meio de tarde. Observei uma poltrona confortável vazia no canto, próximo à entrega de pedidos e comecei a colocar minhas coisas em cima da mesa.
Encontrei o e-mail de Ron e respirei fundo, clicando no mesmo, vendo-o que abriu o espaço para senha e eu respirei fundo, pensando qual era a probabilidade. Podia ser a ordem de nascença dos filhos, ou os filhos favoritos, ou os menos favoritos... Mas como eu saberia quem era o filho favorito? Kalel, provavelmente? Bem, ele deve ser parecido com papai. Ou Barry, o mais quieto? Que merda!
- Boa tarde, posso te trazer alguma coisa? - A garçonete se aproximou de mim.
- Oi! - Sorri para ela. - Pode me trazer um suco de laranja bem gelado e um pedaço de torta de chocolate?
- Claro! - Ela sorriu e se retirou.
Ok, senha de três letras. Respirei fundo e digitei as letras de Kalel, Barry e eu, respectivamente. Acesso negado! Passei a mão na cabeça, respirando fundo e encarei o espaço para três dígitos, pensando que só teria uma última oportunidade.
- Você, Barry e Kalel! - Me assustei com uma voz atrás de mim e bati a mão no notebook, fechando-o rapidamente. - Relaxa, sou eu! - Olhei para que segurava um copo de café.
- Você não sabe me cumprimentar sem me assustar? - Ele riu.
- Posso me sentar?
- Claro! - Apontei para a poltrona livre na minha frente e ele se sentou. - Qual a senha novamente?
- Sua letra, de Barry e Kalel, nessa ordem! - Ele falou e eu abri o computador, puxando-o para meu colo, fazendo o que ele pediu, vendo o documento magicamente abrir em minha frente.
- Obrigada! - Sorri. - Como você sabe? Vai dizer que está envolvido na segurança também? - Ele riu.
- Não, só que eu estava lá quando seu pai escreveu o testamento e você teve uma grande menção na produção do mesmo. Não digo em bens materiais, porque ele tentou dividir igualmente entre vocês três e Miranda, mas ele queria te compensar por muita coisa, então, naturalmente, você está à frente de Kalel e Barry. - Suspirei, encostando-me à cadeira.
- Por pena? - Perguntei.
- Não sei! - Ele balançou a cabeça. - Talvez sim, talvez não. Vai saber! Talvez tentar fazer a coisa certa. - Suspirei. - Bem, eu preciso subir, tenho uma reunião daqui a pouco, mas se você precisar de alguma coisa, me avisa, talvez eu posso te ajudar.
- Por que você está me ajudando? - Ele se levantou.
- Porque cansei de crianças querendo cuidar das minhas ações. Talvez precisamos de alguém com mais coragem, alguém como você! - Dei um pequeno sorriso.
- Não confie tanto em mim, ! Talvez eu não seja o que vocês estão esperando. - Ele deu de ombros.
- Bem, vamos descobrir, certo? - Dei um pequeno sorriso. - Até mais! - Acenei com a mão.
- Até! - Sorri, respirando fundo.
- Aqui! - A mulher apareceu novamente com meu pedido e eu sorri.
- Obrigada! - Falei e encarei o computador de novo. - Vamos achar algum podre!
- Você conseguiu achar alguma coisa? - Ron perguntou quando apareci na empresa no dia seguinte, um tanto quanto virada e com incríveis olheiras.
- Bom dia para você, Ron! - Falei, bebericando um gole de café. - Nada! Todas as contas batem! As janelas do apartamento estão todas tingidas com canetinha permanente. - Balancei a cabeça. - Eu preciso achar o ponto de confusão, o erro de dígito, alguma coisa que esteja dando problemas. - Bufei alto.
- Relaxa, você vai encontrar! Tem muitos documentos e muitos anos, o erro pode estar em qualquer um deles, ou em nenhum. - Virei para ele.
- Nem brinca com isso. - Suspirei. - Não podemos ficar nessa competição pelo resto da vida!
- Nem me fale, estamos perdendo zero ponto cinco por cento ao dia por causa dessa história de CEO. - Ron coçou a cabeça.
- Achei que você fosse o CEO, enquanto isso não se resolvia.
- Eu sou o que tapa o buraco, mas a imprensa não se interessa nisso. Eles querem o novo nome que vai comandar a DC Shoes. O mandachuva, o poderoso, aquele que...
- Entendi, Ron! - Ergui as mãos. - Relaxa! - Ele soltou a respiração. - Vamos ver o que o Fred e o George descobriram. Quem sabe hoje já não seja um xeque-mate?
- Meu Deus, não diga isso. - Ron se levantou e ri.
- chegou! - Ron comentou. - Vocês estão passando muito tempo juntos. - Revirei os olhos.
- Ele só está sendo decente. - Ele revirou os olhos.
- Se você diz... - Ele deu de ombros, girando para longe com sua cadeira de rodinhas.
- Oi gente! - Virei o rosto vendo sorrindo para mim.
- Ei, como você está? - Desci o rosto um pouco e vi que ele estava acompanhado.
- Tudo certo! , essa é Mary, minha filha. Querida, essa é , uma amiga do papai. - Confesso que aquilo me assustou um pouco, principalmente pelo fato de já ter checado a falta de aliança em seu dedo.
Observei a menina rapidamente e a primeira característica que eu peguei era o fato dela ter Síndrome de Down, depois comecei a notar outras características. Ela tinha os cabelos castanhos, duas trancinhas na lateral de seu rosto, um lindo sorriso e um vestido rosa esvoaçante.
- Oi ... - Ela falou com dificuldades. - Eu sou Mary e tenho oito anos.
- Oi querida. - Me abaixei para ficar da sua altura. - Adorei as trancinhas.
- Obrigada! - Ela sorriu e eu me ergui, olhando para .
- Você fica bem sozinha aqui? Não vai demorar. - falou para a pequena e ela assentiu com a cabeça.
- Uhum, eu trouxe a Dotty! - Ela ergueu sua boneca de pano e ele sorriu. - Vou estar ali! - Ela apontou para um banco ao lado da mesa de Ron e seguiu até a mesma, fazendo com que eu e a acompanhássemos com o olhar.
- Você tem uma filha? - Não me contive em perguntar.
- Sim! - Ele sorriu. - Ela é diferente, mas...
- Ela é linda! - Ele sorriu, assentindo com a cabeça. - Parece ser bem educada.
- Sim, ela é! Ela me enlouquece de vez em quando... - Rimos juntos.
- Como toda criança. - Apoiei a mão em seu ombro e ele riu. - Então... - Franzi a testa. - Cadê a mãe? - Ele soltou um suspiro alto. - Desculpe, não precisa falar disso se não quiser.
- Diferenças irreconciliáveis, sabe? - Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Irreconciliáveis mesmo? - Não evitei em perguntar.
- Ela quer viajar e conhecer o mundo, e eu quero ficar aqui. - Ele deu de ombros. - Nosso amor não é o suficiente para eu segurá-la aqui ou desistir do que eu quero. - Assenti com a cabeça.
- Você está certo! - Sorri.
- Vamos começar, pessoal? - Ouvi Ron falar para todas as pessoas ali e estendeu a mão em direção à porta e eu segui, com ele atrás de mim. - Fiquem à vontade.
Dessa vez Ron não foi tonto, ele logo se sentou na cadeira principal da mesa, impedindo que Kalel fizesse isso antes de todos e eu não me contive em soltar uma rápida risada.
Eu e os Winklevosses ficamos colocados atrás da cadeira de Ron, olhando para a mesa principal, enquanto eles se ajeitavam. Olhei para Mary do lado de fora que agora conversava com uma funcionária e mostrava para ela sua pequena boneca, me fazendo abrir um sorriso.
- Bem, vamos começar a reunião de hoje falando do progresso de algum dos três futuros CEOs. - O mesmo homem da outra vez falou, me fazendo olhar para ele. - Então, quem gostaria de começar? Senhorita Collins? - Engoli em seco e ouvi uma risada irônica vindo do meu lado esquerdo. Coloquei o rosto para frente e vi que era Kalel, fazendo Barry me encarar e franzirmos nossas testas juntos.
- Alguma graça, senhor Collins? - perguntou, se levantando também.
- Desculpe, mas vocês realmente estão levando essa competição a sério? - Ele apoiou as mãos na lateral da mesa e olhou para o conselho.
- O que isso quer dizer, senhor Collins? - O senhor mais velho falou novamente.
- Vocês não pretendem dar a empresa para ela, pretendem? - Ele apontou para mim e eu virei para ele, cruzando os braços.
- Você acha que não devemos? - O senhor repetiu a pergunta.
- Ela é totalmente inadequada para essa empresa. - Ele soltou a respiração fortemente. - Ela não trabalha aqui, nunca se aproximou, mal sabe o que a gente faz. Além de que ela é de fora, não sabemos nada dela. - Eu ia responder, quando se levantou rapidamente, batendo as mãos na mesa.
- Não venha com machismo, xenofobia ou misoginia com esse conselho, senhor Collins. Não será tolerado. - Kalel se ergueu assustado. - Você pensa que isso é uma brincadeira? - continuou. - Estamos falando de uma empresa que fatura 500 milhões de dólares por ano, no mundo inteiro. - Ele bufou. - Só estamos fazendo isso porque foi um pedido do seu pai, caso isso não tivesse sido pedido, nós já teríamos escolhido nosso novo CEO e posso te garantir que não seria você. Parece que você está querendo esconder algo. - Ele respirou fundo, se sentando novamente.
- O Senhor está certo. - O senhor voltou a falar. - Apesar do pequeno descontrole dele. - assentiu com a cabeça como se desculpasse. - Isso foi um pedido feito pelo homem que criou essa empresa e a comandou por 20 anos. Nós o respeitamos, por isso faremos isso. Agora, me diga, senhor Collins, você tem alguma coisa para nos contar ou esse showzinho foi só para demonstrar seu descontentamento? - Ele esperou Kalel que não disse nada, somente se afastou da mesa. - Muito bem. Senhorita Collins? - Ele se virou para mim.
- Estou pesquisando em todos os documentos da empresa e ainda não encontrei nada. Estou pesquisando no escuro, então, tem muitas informações para serem cogitadas. - Eles assentiram com a cabeça.
- Claro! - Ele respondeu, com um pequeno sorriso no rosto. - Senhores Collins? - Ele perguntou e Kalel ficou quieto.
- Ainda não, senhores. - Barry falou. - Estamos no mesmo pé que . - Ele olhou para o irmão que bufava de raiva. - E me desculpe pelo descontrole de meu irmão, ele não está no seu melhor dia. - Quis rir, mas me contive.
- Muito bem. Os senhores podem sair. Já que não fazem parte do conselho, não podem fazer parte da reunião. - Assenti com a cabeça e saí rapidamente da sala, sem esperar convite especial.
A reunião rápida foi totalmente desnecessária, pelo menos para mim, eles também não tinham conseguido nada, mas algo havia ficado em minha cabeça e eu precisava investigar isso.
- ? - Ouvi uma voz e virei para o lado, vendo a filha de me chamar e me aproximei da mesma, sentando no mesmo banco em que ela estava. - Você é amiga do papai? - Ela perguntou e eu acariciei sua cabeça, arrumando suas trancinhas.
- Sim, eu sou! - Sorri e ela retribuiu.
- Legal! - Ela sorriu. - Você pode ser minha amiga também? - Abri um largo sorriso, abraçando-a de lado. – Eu não tenho muitos amigos, sabe...
- Claro! Mas só se você me deixar brincar com a Dotty. - Ela riu, pegando sua boneca de pano e me estendendo-a e eu sorri, aproximando dela.
Eu acabei aguardando a reunião acabar, porque eu precisava urgentemente falar com Ron. havia mencionado uma coisa na reunião que me deixou simplesmente enlouquecida. E se meus meios-irmãos estivessem escondendo algo? Bem, Kalel era um babaca e Barry era quieto, mas nada impedia que eles trabalhassem juntos.
- Eu preciso de um favor! – Falei assim que Ron saiu da sala, observando seguir em direção à Mary.
- O quê? – Ron perguntou.
- Eu preciso de todos os arquivos, extratos, recibo de compras, tudo, que foram assinados pelo Kalel. Ele é da administração, não é? O financeiro responde para ele. – Dei de ombros.
- Você tem uma pista...
- E não vou te falar para não ser decepcionante. – Ele riu. – Eu só preciso olhar os arquivos.
- Ok, eu deixo, mas você vai ter que esperar. – Franzi a testa.
- O quê?
- Acabar o expediente e Kalel ir embora. – Suspirei, erguendo o pulso e vendo que não eram nem dez da manhã ainda.
- Só seis da tarde? – Ele suspirou.
- Sete, para falar a verdade, é quando os responsáveis de cada setor saem... – Suspirei.
- E eu vou ficar aqui sozinha?
- Eu aviso a segurança, você estará sozinha na empresa. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Sorri e ele assentiu com a cabeça. – Eu volto mais tarde, então.
- Até mais tarde. – Acenei para Ron e notei que e Mary me esperavam no corredor. – Ei!
- Parece que você está com uma pista. – comentou e eu dei de ombros.
- Você falou que Kalel podia estar escondendo alguma coisa... E se ele realmente estiver?
- O que você está pensando? – falou.
- Só isso, para falar a verdade, mas é que está tudo tão estranho. Barry me trata bem, o conselho me trata bem, a mãe dele me trata bem. Por que ele não trataria também? Ok, eu sou uma forasteira, mas se todos estivessem me tratando mal, faria sentido. – Suspirei.
- Você tem razão. – Entramos no elevador. – Me avise se encontrar alguma coisa. – Assenti com a cabeça.
- Será o primeiro a saber! – Sorri. – Depois brincamos mais, pode ser Mary?
- ...Tá! – Ela falou com dificuldades e eu a abracei rapidamente, antes das portas do elevador se abrirem.
- Até mais, gente! Vou voltar ao trabalho. – Sorri.
- Tchau! – Eles acenaram e eu saí do prédio espelhado no centro de San Diego.
Eu precisava voltar a olhar arquivos e conferir contas, mas eu estava muito cansada para fazer aquilo naquele momento. Então, voltei para o apartamento, comi alguma coisa que a casa tinha feito para mim e morri na cama.
Acordei um tanto assustada algumas horas depois, vendo no relógio que já passava das seis da tarde. Levantei na pressa, pedindo para a casa preparar meu banho, enquanto eu separava uma roupa discreta para pernoitar dentro de uma empresa.
Acabei saindo de casa pouco antes das sete, mas tive que chamar um Uber, já que meu carro decidiu parar de funcionar. Passei pela segurança do prédio com facilidade, afinal, eu tecnicamente era 1/3 CEO da DC Shoes, então, tinha passe livre por todo prédio.
- Onde você estava? – Ron se levantou apressado quando eu cheguei ao andar da empresa e o encontrei jogado em sua mesa.
- Desculpe o atraso. – Balancei a cabeça e ele me olhou de cima abaixo.
- Aonde você vai? Assaltar um banco? – Ele falou sobre meu moletom todo preto.
- Ignora! – Falei e ele revirou os olhos.
- Chave e cartão de acesso! – Ele me estendeu as coisas e eu olhei para as mesmas. – Não se esqueça de trancar muito bem os arquivos ou veremos Kalel muito puto amanhã. – Assenti com a cabeça. – Qualquer coisa me liga.
- Ok, pode deixar! – Sorri. – Pode ir!
- Até mais! – Ele falou e saiu pelo mesmo elevador que eu vim e me vi sozinha na recepção da empresa.
– Administrativo. – Falei, seguindo para o lado, sem muito saber exatamente pra onde eu estava indo.
Acabei achando a sala do administrativo na sorte, entrei na mesma, seguindo rapidamente para a sala de Kalel, sendo que ele era o chefe da seção. Liguei a luz e uma estante me chamou atenção, me fazendo seguir diretamente para um porta-retratos que estava colocado ali. Meu pai estava ali, junto de Miranda, Kalel e Barry, me fazendo soltar um suspiro pelo fato deles serem simplesmente perfeitos ali.
Suspirei por alguns segundos, sentindo uma lágrima solitária escorrer em minha bochecha e passei a mão rapidamente na mesma, balançando a cabeça. Voltei a focar no que realmente importava e vi um armário grande na lateral de sua mesa com uma porta de vidro e um leitor de cartão. Peguei o cartão que Ron havia me entregado e passei na porta, vendo-o se iluminar e a porta ser aberta lateralmente.
Entrei na mesma um tanto receosa e encontrei diversas estantes com caixas de diversos tamanhos, separadas por anos e meses. Soltei um suspiro, pensando por onde começar e pensei nas informações que os membros do conselho haviam passado no primeiro dia da reunião, mas eu não conseguia lembrar o que aquele senhor mais velho havia dito. Ele disse algo sobre montagem da empresa em outros lugares e gastos de exportação. Isso só podia se dar por causa de gastos em excesso.
Uma lâmpada se acendeu em minha cabeça e segui diretamente para o pacote de compras de um ano atrás. Já que era um problema recente, talvez a resposta não estivesse muito longe. Me sentei no chão, no meio da sala de arquivos, peguei o caderno, lápis e a calculadora dentro da minha bolsa e comecei a refazer qualquer tipo de conta que eu encontrava, conferindo se a assinatura era de Kalel e se enquadrava no que eu procurava.
Eu não lembro por quanto tempo eu fiquei refazendo as contas, mas minhas costas já começavam a doer e meu lápis já estava minúsculo de tanto apontar, quando eu percebi um pequeno erro, que quase passou despercebido.
- 200 mil dólares em 50 quilos de barbante? – Franzi a testa e procurei pelos documentos de compras dos anos anteriores, notando que o valor não chegava nem a casa dos mil, quiçá 200 mil dólares. – Ele está sendo corrupto. – Suspirei, arregalando meus lábios surpresa com isso.
Passei rapidamente os olhos em outros produtos como couro, plástico, ilhós e madeira e notei que os valores também não batiam. Eram preços muito caros para quantidades de produtos bem mais baratos no mercado.
Era óbvio que não sobraria dinheiro para exportação, ou que ficaria mais difícil abrir empresas lá fora. Kalel declarava um preço caríssimo sobre algum produto, provavelmente tinha algum acordo com o fornecedor para declarar um valor mais caro e eles rachariam o que sobrar.
Mas tinha couro na lista, era vendedor de couro. Isso não fazia sentido nenhum! Se estivesse envolvido nisso, ele também estaria tentando esconder do conselho, não me ajudaria em qualquer passo para eu tentar desvendar Kalel ou qualquer erro da empresa. Eu precisava falar com ele urgentemente. Peguei meu telefone e nem percebi que horas eram, quando disquei para .
- Alô? – Ele atendeu com uma voz sonolenta e eu afastei o celular da orelha rapidamente para conferir que passavam das quatro horas da manhã.
- ?
- ? – Ele devolveu.
- Sim! Você está ocupado agora? – Perguntei.
- Não tenho nada melhor para fazer a essa hora, a não ser dormir, é claro. – Ele falou e eu ri fraco.
- Desculpe! – Suspirei. – Eu preciso falar contigo, é urgente!
- Claro! – Ele me pareceu mais desperto. – É sobre a empresa?
- É sim! – Suspirei. – Pode me encontrar em casa agora?
- Claro! Onde você está ficando?
- No apartamento de Damon, sabe onde fica?
- Sei sim! – Ele falou. – Vou para lá agora mesmo.
- Até já! – Falei e desliguei o celular.
Joguei minhas coisas na bolsa e peguei algumas amostras de arquivos para mostrar para e para o conselho. Eu precisava de alguma prova do que eu estava falando, mesmo que Ron pudesse me matar no dia seguinte.
Guardei todos os documentos restantes de volta nas pastas e coloquei-os de volta nas estantes, tentando garantir que elas estivessem da forma que eu encontrei. Passei o olhar rapidamente pelo chão, para ver se não tinha sobrado nada e saí de lá rapidamente, trancando a sala de arquivos e a sala de Kalel.
Saí da empresa correndo, pegando o elevador e assenti para alguns seguranças que rondavam lá embaixo. Esperei alguns minutos até o Uber chegar e pedi para me levar de volta ao apartamento. Entrei no mesmo, subindo pelo elevador principal e, quando as portas se abriram, já estava lá dentro, de calças de moletom e camiseta cinza... E Mary dormia no sofá agarrada em sua boneca de pano.
- Ah, você estava com ela! – Falei antes de qualquer coisa. – Me desculpe. – Ele balançou a cabeça.
- Não se preocupe. Já estou aqui! O que você descobriu? – Ele perguntou e eu o chamei para deixarmos Mary dormindo.
- Antes de eu te contar, eu preciso que você me conte algo. – Falei e entrei em meu quarto, me sentando na cama e ele fez o mesmo.
- O quê? – Ele perguntou e eu tirei os documentos da minha bolsa, espalhando-o pela cama.
- Atualmente é você que comanda a empresa de seus pais?
- Sim, sou eu! – Ele falou, como se não entendesse.
- E você assina as compras?
- Não, eu tenho um setor só para isso. – Assenti com a cabeça e puxei o ar devagar. – O que está acontecendo, ? Por que você me chamou às quatro da manhã?
- Kalel está declarando os valores errados de compras. – Mostrei os papéis. – São valores exorbitantes por produtos e quantidades que não custam tudo isso. – Mostrei os papéis para ele.
- Oh meu Deus! – Peguei meu caderno, abrindo as diversas páginas com contas.
- Eu refiz todas as contas, . Elas não batem com os valores de um ano antes. Mesmo com um pequeno aumento nos valores e impostos, não dá tudo isso. 200 mil dólares por barbante? – Virei para ele. – Isso é ridículo.
- Mas se essa declaração está errada, isso é um contrato. – Ele chacoalhou o papel. – Ele pode ter comprado alguém nas outras empresas também. – Ele se levantou. – Na minha empresa. – Ele passou a mão na testa. – Isso é muito maior que só a DC Shoes.
- Eu não sei, , mas tem alguma coisa muito errada.
- Mas isso é bom, . – Ele se sentou novamente na cama.
- Bom, ? Como que isso é bom?
- Você encontrou o erro. – Ele abriu um sorriso. – Você é oficialmente a nova CEO da DC Shoes. – Soltei uma risada.
- Não posso acreditar que você está pensando nisso agora. Sua empresa pode ter alguém igual o Kalel. Roubando a cada compra. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vamos cuidar de uma coisa de cada vez, ok?! Eu vou ligar para os acionistas e marcar uma reunião de emergência. – Ele falou e eu segurei sua mão, antes que ele saísse dali. – O quê?
- Espera um pouco! – Ri fraco. – Estamos de madrugada e eu realmente preciso descansar. – Suspirei.
- Ah! Você pode me acordar de madrugada e me trazer aqui, mas eu não posso atrapalhar o conselho? – Ri fraco, negando com a cabeça.
- Só... – Suspirei, erguendo os olhos para os dele. – Eu preciso dormir um pouco. - Joguei meu corpo para trás, me aconchegando entre as almofadas.
- Eu posso te fazer companhia? - Ele se aconchegou nas almofadas ao meu lado e eu virei o rosto para ele, sorrindo.
- Sim, por favor.
- Como você se sente conseguindo desbancar Kalel? - Virei o corpo todo, notando que ele estava muito próximo a mim.
- Eu não fiz isso por eles, eu fiz isso por mim. - Sorri. - Eu não preciso de nada disso que Damon me deu ou está me proporcionando. Eu sou feliz do meu próprio jeito. - Suspirei. - Mas eu adoro quando sou desafiada e sou uma oponente de peso. - Ele riu, virando também na cama.
- Bem vi! - Ele sorriu. - O que você vai fazer agora? - Ele perguntou e eu soltei um longo suspiro, virando o corpo novamente e olhando para cima.
- Eu tenho algumas ideias, mas eu preciso decidir isso com a cabeça mais fria. - Ele se apoiou sob um braço, olhando para mim de cima.
- Posso pedir para ficar comigo? - Suspirei e ergui a mão para o seu rosto, acariciando-a de leve.
- Eu preciso pensar um pouco.
- Amanhã. - Ele disse, aproximando o rosto do meu.
Ele encostou os lábios nos meus delicadamente e eu o puxei mais para perto de mim, permitindo que ele se debruçasse sobre meu corpo e apoiasse as mãos no colchão. Fiz um carinho de leve em sua nuca, sentindo o beijo ganhar mais velocidade e calor.
Rolei por cima dele na cama e logo as roupas começaram a sair do caminho e nossos corpos suarem com o toque. Peguei o ar rapidamente, enquanto puxava sua blusa para cima, passando a mão sobre seu peitoral. Ele me segurou pela nuca, colando nossas testas e notei que sua respiração também estava acelerada, me fazendo abrir um sorriso meio desengonçado.
- Pai? - Me assustei quando Mary apareceu na porta do quarto e eu me joguei para trás da cama, enquanto se levantava assustado. - O que está acontecendo? - olhou para mim e eu caí no chão, começando a gargalhar muito alto.
- Me desculpe! - Ele cochichou para mim e eu balancei a cabeça em negativa. - A gente se vê amanhã? - Assenti com a cabeça.
- Claro! - Falei. - Vou ligar para Ron! - Ele assentiu com a cabeça e piscou para mim.
O observei pegar sua blusa no chão e vesti-la rapidamente. Ele foi em direção à Mary, dando a mão para ela e virou para mim novamente, dando uma rápida piscadela. Quando a porta foi fechada, eu me larguei no chão novamente, com um largo sorriso no rosto.
Assim que as portas do elevador se abriram, eu prendi a respiração por alguns segundos. Eu havia feito minha decisão sobre essa vitória, mas eu estava um pouco incerta do que viria pela frente. Caminhei pela empresa, vendo as pessoas apressadas de um lado para outro e cheguei ao local da sala de reuniões, vendo Ron sentado em sua mesa.
- Ah, olha quem apareceu! – Ele sorriu, correndo para me abraçar. – Eu sabia que você conseguiria. – Ri fraco. – E aí, o que é? – Ele falou.
- Você vai ficar de queixo caído. – Falei, suspirando. – E me desculpe, eu precisei tirar alguns documentos da empresa. – Fiz uma careta e ele revirou os olhos.
- Espero que tenha valido a pena. – Ri fraco.
- Você não tem nem ideia! – Suspirei. – Mas é mais óbvio do que o esperado. Vemos que o conselho não está preparado para pequenos problemas. – Ele franziu a testa. – Falta verificação de alguém de cima, e imagino que esse era um trabalho de meu pai e não o fez por confiar na pessoa...
- Como assim? – Balancei a cabeça.
- Lá dentro eu conto. – Virei o rosto para a antessala e notei conversando com alguns senhores, mas distraído enquanto me olhava. Ergui a mão e acenei para ele que sorriu. – Mas chame a polícia, ok?
- Ahm? – Ri fraco.
- Só faça, ok?! - Ele franziu a testa e o vi digitar rapidamente no telefone e falar baixo, provavelmente com quem eu havia pedido, voltando logo em seguida para perto de mim. - Vamos entrar, senhores? – Ron falou e eles começaram a se acumular dentro da sala envidraçada.
Fui uma das primeiras a entrar na sala, então aproveitei a desatenção de Kalel e Barry e me sentei na ponta da mesa, vendo Ron sorrir para mim de canto de olho. se sentou no meio da mesa, próximo aos outros acionistas e dei um sorriso cúmplice.
- Bom dia senhores, obrigado por nos encontrar em tão curto tempo, mas é uma emergência. – Ron falou com um sorriso no rosto.
- O que aconteceu, Ron? – Um dos acionistas perguntou.
- Temos nosso novo CEO. – Ele sorriu e o rebuliço começou como se fosse a escola novamente.
- Quem? – Ouvi a voz forte de Kalel atrás de mim e me levantei, encarando-o.
- Eu! – Falei firme, abrindo um sorriso presunçoso para ele.
- Como? – Ele me confrontou.
- Descobrindo o problema que os acionistas pediram. - Virei novamente, abrindo minha bolsa e jogando os papéis na mesa.
- E o que você descobriu, senhorita Delgado? – Um dos acionistas perguntou, começando a olhar os papéis.
- Corrupção do departamento de compras e aprovadas pelo administrativo. – Virei para trás, sorrindo para Kalel. – Compras com valores exorbitantes de materiais que não condizem com a realidade deles, mesmo no varejo. Além de que algumas empresas dos senhores, que oferecem matéria prima para a DC Shoes, também estão envolvidas. – Dei um pequeno sorriso. – Mas o mais interessante é quem é o responsável por isso. – Virei de costas para a mesa, olhando para Kalel. – Você é o responsável pelo administrativo há seis anos, Kalel. Gostaria de se explicar? – Ele engoliu em seco. – O mais interessante é a forma que Damon confiou no filho e não fez vista mais grossa sobre as decisões dele, provavelmente porque também estava envolvido ou confiava no filho. – Suspirei. – Qual vai ser?
- Como se atreve? – Ele se aproximou de mim com a mão erguida e eu segurei a mesma. – Você não pode fazer isso.
- Você continua falando besteira, não é?! – Ri fraco, abrindo um largo sorriso. – Eles pediram para achar o erro e eu achei. Pena que você sabia esse tempo todo o porquê dos gastos e não falou nada, não é?!
- Até quando você acharia que essa competição duraria, senhor Collins? – Ouvi a voz de e dei um pequeno sorriso. – A empresa não pode parar por seus erros. E fico feliz que a senhorita Delgado encontrou o erro antes que você pudesse se safar dessa. – Dei um pequeno sorriso.
- Com licença? – Abri um rosto quando dois policiais entraram na sala do conselho. – Fomos chamados.
- Vocês querem resolver isso de alguma outra forma ou...? – Virei para o conselho novamente.
- Podem levá-lo, ele está roubando da empresa há alguns anos. – O acionista mais velho apontou para Kalel e eu voltei a me sentar novamente na cadeira, enquanto a polícia algemava e tirava Kalel dali.
- Parabéns, senhorita Delgado. – Uma das acionistas falou e a bancada inteira começou a me aplaudir, incluindo Barry ao meu lado e eu sorri.
- Ainda temos muito que discutir, mas promessa é dívida. Você é a nova CEO da DC Shoes. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada, senhores. – Me levantei, apoiando as mãos sobre a mesa. – Mas eu não quero ser CEO da DC Shoes. – Eles se assustaram, tendo as reações mais diversas, incluindo , que eu devo ter pegado numa guarda muito baixa, principalmente depois de ontem, me fazendo engolir em seco.
- Poderia nos explicar, senhorita Delgado? – Ron perguntou e eu suspirei.
- Eu vi como funciona o sistema corporativo e eu realmente não quero fazer parte dele. Um lugar onde roubo no departamento de compras faz com que os outros lados da empresa entrem em colapso? – Balancei a cabeça. – Se tivesse um pouco mais de análise e revisão, isso não aconteceria. – Suspirei. – Obrigada pela oportunidade, mas estou fora.
- Por que fez tudo isso, então? – perguntou e eu engoli em seco.
- Eu disse que não queria ser CEO, mas eu serei acionista. – Assenti com a cabeça. – Eu ainda quero que a empresa prospere. – Eles assentiram com a cabeça. – Se me permitem, como CEO por dez minutos, eu gostaria de indicar Barry para o cargo. – Andei para trás, apoiando uma mão no ombro do meu meio-irmão. – Ele assinou boa parte dos desenhos da DC e não tem envolvimento nenhum no problema de Kalel, pelo menos eu acredito. – Ele sorriu.
- Obrigado! – Ele me abraçou forte e eu sorri.
- Você vai se dar bem! – Sorri e ele assentiu com a cabeça. – Bom, senhores, sei que ainda temos muito trabalho pela frente, mas eu estarei lá fora, enquanto decidem o que fazer com a minha decisão e se precisarem que eu assine algumas coisas. – Sorri. – Ron, você guarda a papelada depois de novo? – Ele assentiu com a cabeça.
Peguei minha bolsa, dando dois tapinhas no ombro de Barry, cochichei um boa sorte e saí da sala de reuniões. Segui até ao banco da antessala e me sentei no mesmo, encostando a cabeça na parede e abrindo um largo sorriso. Um sorriso satisfeito.
- ! – Olhei para o lado, vendo se aproximar e sorri. – Por quê? Por que você vai embora? – Suspirei. – É sobre o que aconteceu ontem?
- Não, . – Sorri. – Não tem nada a ver contigo ou com Mary. É só que aqui não é o meu lugar. – Dei de ombros. – Eu não sirvo para esse ambiente corporativo. Eu sou a menina do interior. – Balancei a cabeça. – Isso não é para mim.
- Mas e ontem? – Ele perguntou e eu segurei sua mão.
- Não se preocupe. – Sorri. – Tijuana fica logo depois da fronteira. – Ele assentiu com a cabeça. – Podemos fazer isso dar certo.
- Você promete? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Certeza que eu serei acionista majoritária aqui, vou ter que vir uma vez por semana para reuniões. – Ele assentiu com a cabeça.
- Isso é verdade. – Ele suspirou.
- Eu gosto de você, . E de Mary também. – Suspirei. – Vocês vão ter dificuldades para sair da minha vida. – Ele assentiu com a cabeça. Ele se levantou, olhando rapidamente em volta e me puxou para longe da parede de vidro da antessala e me encostou em um canto escondido, colando os lábios nos meus rapidamente e eu abri um sorriso, rindo em seguida.
- Então, eu te vejo em Tijuana? – Ele me perguntou e dei de ombros.
- Não sei. – Suspirei. – Minha mãe sempre dizia que asas eram feitas para voar. Quem sabe? – Dei de ombros e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, mas use-as para voltar de vez em quando, ok?! – Sorri, colando meus lábios nos dele rapidamente.
- Ok! – Sorri, assentindo com a cabeça.
Ele se afastou de mim rapidamente, ajeitando seu paletó e seguiu de volta para a sala de vidro. Olhei para o mesmo entrando na sala do conselho e respirei fundo, colocando a mão na boca por alguns segundos, soltando um longo suspiro em seguida.
Epílogo
- Aqui, mi querida! – Falei para Cármen quando abri um buraco na terra, vendo-a colocar a muda crescida dentro do buraco e jogar terra para cobrir. – Pronto! – Falei, me levantando e ela sorriu. – Ahora ayuda Mauí com las otras. – Ela riu e saiu correndo pela horta e eu me levantei, respirando fundo.
- Hija, para ti! – Minha mãe apareceu na porta da horta.
- O qué? – perguntei.
- Es um hombre y una niña. – Franzi a testa e segui para dentro, puxando as luvas sujas de terra e secando o suor em minha calça.
Passei pelos fundos da floricultura, tirando o avental sujo de terra e colocando no prego preso à parede. Observei alguns clientes olhando para os arranjos e flores e segui para frente, parei quando olhei um homem e uma menina parados na porta, sorrindo para mim.
estava bem diferente do que eu estava acostumada. Bermudas, chinelos nos pés, camiseta regata e óculos escuros no rosto. Mary já estava como sempre, vestido, sandálias e trancinhas na cabeça, além de um largo sorriso no rosto.
- Oh meu Deus! – Falei animada, abraçando e ele riu, me apertando contra seu corpo. – Vocês estão aqui. – Soltei-o, me aproximando de Mary e pegando-a no colo, sentindo-a me abraçar fortemente.
- Saudades, . – A pequena falou e eu suspirei, sorrindo para .
- Sentimos sua falta. – sorriu. – Você não voltou depois da primeira reunião...
- Então, fizeram questão de vir garantir que eu estivesse bem? – Ele riu.
- Sim, com toda certeza! – falou e eu virei Mary em meu colo quando ela me soltou. – Como você está? – Ele perguntou.
- Tudo bem. – Balancei a cabeça. – Dividindo a vida entre as mãos sujas em terras e milhares de contas para fazer.
- Você está ótima. – Ele sorriu. – Ambiente despojado combina contigo. – Ri fraco, assentindo com a cabeça.
- Para você também. – Ele riu.
- Então, me diga. O que tem de tão bom para fazer em Tijuana? – Ele me perguntou.
- Além de compras? – Ele riu e eu virei para Mary.
- O que você gostaria de fazer? – Perguntei para Mary que riu.
- Quero ver as flores. – Ela falou risonha e eu a soltei no chão novamente.
- É, acho que dá para gente ver as flores. – Falei sorrindo para que me abraçou de lado e depositou um beijo em minha testa. – Está tudo bem com vocês? – Cochichei para ele enquanto Mary seguia em frente pelas estantes.
- Sim, está tudo bem. – Ele sorriu. – Estamos pensando em ficar perto de você.
- Ah é?! – Perguntei sorridente.
- Eu transferi a empresa do meu pai para outro CEO depois daquele rolo todo de compras, então, eu não tenho pendências nenhuma em San Diego. Além de que Mary te ama, você é uma das poucas amigas que ela tem. – Suspirei, erguendo o rosto para ele.
- Só Mary? – Perguntei, dando um pequeno sorriso.
- Não. – Ele riu. – Com certeza não. – Ri fracamente, sentindo-o dar um beijo em minha testa e suspirei, apertando-o de lado.
- O que são essas, ? – Mary perguntou apontando para algumas flores azuis e eu soltei de , me aproximando da mesma.
- Essas são hortênsias, minha querida. – Abaixei, segurando-a pela cintura. – Você gosta?
- Gosto sim! – Ela sorriu, tocando nas mesmas. – Elas são lindas como você. – Abracei-a pela cintura, respirando fundo.
- Como você, minha pequena. – Estalei um beijo em sua bochecha e acariciei sua barriga, vendo-a gargalhar com isso, se jogando para trás, contra meu corpo.
- Hija, para ti! – Minha mãe apareceu na porta da horta.
- O qué? – perguntei.
- Es um hombre y una niña. – Franzi a testa e segui para dentro, puxando as luvas sujas de terra e secando o suor em minha calça.
Passei pelos fundos da floricultura, tirando o avental sujo de terra e colocando no prego preso à parede. Observei alguns clientes olhando para os arranjos e flores e segui para frente, parei quando olhei um homem e uma menina parados na porta, sorrindo para mim.
estava bem diferente do que eu estava acostumada. Bermudas, chinelos nos pés, camiseta regata e óculos escuros no rosto. Mary já estava como sempre, vestido, sandálias e trancinhas na cabeça, além de um largo sorriso no rosto.
- Oh meu Deus! – Falei animada, abraçando e ele riu, me apertando contra seu corpo. – Vocês estão aqui. – Soltei-o, me aproximando de Mary e pegando-a no colo, sentindo-a me abraçar fortemente.
- Saudades, . – A pequena falou e eu suspirei, sorrindo para .
- Sentimos sua falta. – sorriu. – Você não voltou depois da primeira reunião...
- Então, fizeram questão de vir garantir que eu estivesse bem? – Ele riu.
- Sim, com toda certeza! – falou e eu virei Mary em meu colo quando ela me soltou. – Como você está? – Ele perguntou.
- Tudo bem. – Balancei a cabeça. – Dividindo a vida entre as mãos sujas em terras e milhares de contas para fazer.
- Você está ótima. – Ele sorriu. – Ambiente despojado combina contigo. – Ri fraco, assentindo com a cabeça.
- Para você também. – Ele riu.
- Então, me diga. O que tem de tão bom para fazer em Tijuana? – Ele me perguntou.
- Além de compras? – Ele riu e eu virei para Mary.
- O que você gostaria de fazer? – Perguntei para Mary que riu.
- Quero ver as flores. – Ela falou risonha e eu a soltei no chão novamente.
- É, acho que dá para gente ver as flores. – Falei sorrindo para que me abraçou de lado e depositou um beijo em minha testa. – Está tudo bem com vocês? – Cochichei para ele enquanto Mary seguia em frente pelas estantes.
- Sim, está tudo bem. – Ele sorriu. – Estamos pensando em ficar perto de você.
- Ah é?! – Perguntei sorridente.
- Eu transferi a empresa do meu pai para outro CEO depois daquele rolo todo de compras, então, eu não tenho pendências nenhuma em San Diego. Além de que Mary te ama, você é uma das poucas amigas que ela tem. – Suspirei, erguendo o rosto para ele.
- Só Mary? – Perguntei, dando um pequeno sorriso.
- Não. – Ele riu. – Com certeza não. – Ri fracamente, sentindo-o dar um beijo em minha testa e suspirei, apertando-o de lado.
- O que são essas, ? – Mary perguntou apontando para algumas flores azuis e eu soltei de , me aproximando da mesma.
- Essas são hortênsias, minha querida. – Abaixei, segurando-a pela cintura. – Você gosta?
- Gosto sim! – Ela sorriu, tocando nas mesmas. – Elas são lindas como você. – Abracei-a pela cintura, respirando fundo.
- Como você, minha pequena. – Estalei um beijo em sua bochecha e acariciei sua barriga, vendo-a gargalhar com isso, se jogando para trás, contra meu corpo.
Fim.
Nota da autora: Essa fanfic foi escrita inicialmente para o ficstape da Little Mix - DNA, mas como ele acabou flopando, decidi postar mesmo assim. Afinal, eu não perco oportunidades, né?! <3 Little Mix é a banda mais top para mim atualmente e sinto não ter participado dos outros ficstapes, mas estou muito feliz em ter escrito, mesmo não tendo funcionado, e ainda com essa música maravilhosa que é Wings! Ela ficou simplesinha, mas espero que tenha deixado todo o empoderamento feminino e aquela lição de 'sim, podemos' e que não precisamos que nenhum homem tome rédeas da nossa vida! Então, espero que vocês tenham gostado! Não se esqueçam de deixar seu comentáriozinho aqui embaixo e caso tenha gostado e queira mais histórias minhas, acompanhe pelo grupo do Facebook.
Beijos, beijos!
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Beijos, beijos!