Última atualização: 04/06/2020

PRÓLOGO – YEAH, I FELL FOR YOU

Há quem diga que o mundo será um lugar melhor se todas as pessoas se tornassem advogados. Knightley escuta isso desde que se especializou em Direito Penal pela The University of Law, há sete anos, e discordaria dessa afirmativa até o dia que conseguissem lhe provar exatamente o contrário, pelo simples fato de que saber de tudo nem sempre era a melhor opção. Ainda mais quando se tratava de um mundo melhor.
Para , conquistar o sucesso profissional seria um escritório com seu nome e poder comandar um grupo inteiro de associados sem ouvir nenhum deles levantar a voz mais alto do que ela. Ela só não imaginava que isso aconteceria tão rápido. Em cinco anos e meio de trabalho, seu nome foi parar no hall de entrada da Knightley-Roe Lawyers, tornando-a uma das mais prestigiadas advogadas da área criminal da região. Isso só foi possível pois, com apenas três anos de formada e sem escritório fixo, tinha conseguido a façanha de ganhar um processo que corria em segredo de justiça, no qual um homem de, aproximadamente, quarenta anos cometera o crime de tentativa de latrocínio contra o Primeiro Ministro londrino, que na época era ninguém menos que Philip Windsor.
Pouco tempo depois de ver a carreira deslanchar, começou um relacionamento com Locke, grande empresário do ramo gastronômico no país, após fecharem um acordo em que o escritório dela ficaria responsável pela vida jurídica dele e dos restaurantes em que era sócio. Assim, para ela, tudo estava nos conformes: sua carreira e sua vida amorosa. Passaram a morar juntos com um ano de namoro e estavam assim até hoje, possuindo um apartamento no centro da cidade bom o suficiente para não gastar tanto com taxi ou até mesmo com combustível.
era o típico homem londrino que as mulheres adorariam ter para chamar de seu, com seus olhos do mais puro azul e os cabelos esvoaçantes. Parecia um garoto de vinte anos mesmo com os trinta e sete que carregava nas costas, já que corria, no mínimo, dez quilômetros por dia para tentar manter a rotina alimentícia que possuía – que era bem longe do saudável. E, para completar o pacote que era aquele homem, era um completo gentleman, daqueles que abriam a porta do carro, mandava flores e fazia a mulher se sentir a pessoa mais importante do mundo.
Naquele quatro de maio, em especifico, preferiu passar algumas horas a mais na cama e acabou por mudar o horário de umas das reuniões que participaria. Era feriado e ainda sim teria que trabalhar. O lado chato do sucesso profissional que ela não gostava de ser obrigada a suportar.
O sexo matinal era quase diário, como um acordo silencioso entre os dois para tornar o dia um pouco mais suportável. Mas engana-se quem pensa que era monótono.
– Amor, atende ai. Deve ser o delivery. – gritou do banheiro ao ouvir o seu telefone tocar.
saiu do banheiro ao passo que terminava de montar a mesa para o brunch, repleta de queijos, pães, bolos e tortas, além de panquecas e salada. A sobremesa preferida dela, a mousse de chocolate, não poderia ter sido esquecida.
, que usava apenas um robe por cima da camisola de seda, foi surpreendida pelo abraço molhado do namorado, e dava gritinhos a cada beijo que ele depositada na curva de seu pescoço.
– Eu não consigo ver esse pescoçinho dando sopa e não aproveitar, minha querida. – justificou, soltando-a, e olhando a mesa montada – Meu olhos veem isso e é o meu estômago que agradece.
– Podem se passar anos e anos, acho que meu pescoço sempre será o seu alvo predileto. – ela concluiu, se sentando em frente ao homem seminu. – Bolo?
– Por favor.
Ele serviu um pouco de suco para os dois enquanto cortava dois pedaços generosos de bolo de baunilha. Começam em silêncio, tendo ele quebrado apenas quando , que terminava sua panqueca, retomou a conversa:
– Alias, pode existir o momento que eu esqueça seu pescoço.
– Qual? – ela levantou o olhar para o namorado.
– A gente poderia ter um filho e se mudar para um lugar maior... – ele falou, já sabendo qual reação receberia da mulher.
– Não, . Essa conversa de novo, não. – tomou um gole de suco e se levantou. – Você sabe que não quero ter filhos agora. Gosto do meu trabalho e da minha ausência de rotina. - ela entrava dentro do banheiro, mas parou e olhou para ele. – Gosto demais de nós sendo apenas eu e você para nos atrapalhar com uma gravidez agora.
Ele não tinha nada para dizer. Não era novidade para nenhum dos dois que o sonho de era ser pai, mas quanto mais o tempo passava menos esperança ele tinha de que aquilo se concretizasse, ainda mais quando sua idade se aproximava dos quarenta. Há pelo menos dois anos vinha com a mesma conversa para o lado dela e desde o primeiro instante ele escuta a mesma coisa: sem filhos.
estava há, pelo menos, vinte minutos debaixo da água gelada sem mover um centímetro do corpo. Aquele assunto sempre era muito delicado para ela, já que sofria com problemas hormonais e, para que a façanha da gravidez acontecesse, teria que passar por procedimentos que não eram muito confortáveis.
Quando saiu do banho encontrou deitado no sofá usando apenas uma boxer preta com o computador no colo verificando as ações da Bolsa de Valores londrina, coisa fazia todos os dias ao acordar mesmo que pagasse alguém para fazer aquilo por ele. colocou uma roupa confortável para o restante do dia (calça preta de tecido grosso, um suéter azul com aplicações e um casaco bege), calçou uma bota e prendeu alguns fios do cabelo molhado apenas para que não caíssem em seus olhos, já pegando sua bolsa e o celular.
– Vou passar no Westflield antes de ir para o escritório. – falou antes de sair. – Fique bem!
se sentia na obrigação de ter respondido a mulher, mas não o fez. Discutir por assuntos como aquele, na visão dele, era de uma enorme inconveniência. No entanto, quem conhecia Locke sabia muito bem que ele não desistia das coisas que quer com tanta facilidade assim, o que significa que ele continuaria tentando e aguentando firme quantos “nãos” foram necessários.
O clima nublado de 58ºF que fazia Londres aquele dia fez com que se arrependesse de ter marcado qualquer compromisso para aquela tarde, ainda mais quando viu que cairia chuva em algum momento do dia. Talvez as coisas poderiam piorar quando se tratava do cliente mais rico – e também mesquinho – da cidade. Já passava das três da tarde quando ela estacionou seu carro em uma das vagas do shopping center e, como sua reunião estava marcada para as quatro e trinta, caminhava a passos rápidos até a Stuart Weitzman na intenção de ter mais tempo para escolher alguns calçados novos, em que pelo menos um deles, muito provavelmente, seria outra over the knee.
Ela escolhia sempre os piores dias da semana, na visão alheia, para fazer compras, com a intenção de não esbarrar em muita gente. Mesmo quando era feriado. E, como já esperava, encontrou a loja vazia quando chegou, dando um “graças a Deus” por isso. Por já ter dado uma conferida no site da marca, já sabia exatamente quais modelos gostaria de experimentar e, como a funcionária já conhecia de cor e salteado aquele tipo de pessoa, não pensou duas vezes em trazer outros modelos além daqueles que havia solicitado todos em tamanho 3.5.
– Certo, a Lesley 75 é certeza que vou levar. – sorriu. – E gostei daquela branca. – se referiu a um modelo Ernestine.
– Garanto que não se arrependerá de leva-la. – a moça trouxe o calçado para mais próximo de . – É um modelo muito versátil. Se mudar o suéter que está usando para um tom mais neutro, ela vai entrar cem por cento na composição.
Era justamente daquilo tipo de conversa que ela estava precisando. No final das contas, já estava dez minutos atrasada para a sua reunião.
– Mil setecentos e setenta libras, senhorita.
– Débito, por favor. – entregou o cartão para a mulher.
E, acompanhando até a porta da loja, disse:
– Muito obrigada pela sua visita. Volte sempre. – entregou três sacolas para a advogada que saiu andando com um sorriso no rosto.
Após advogar, comprar dividia o posto de segunda paixão com o namorado . Ao pensar nele e no assunto que tiveram mais cedo, sentiu seu sorriso diminuir. Chegava a ser triste não conseguir ceder as vontades daquele que fazia tudo para trazer alegria para a vida dela. Tentando se desfazer dos pensamentos, mandou-lhe uma mensagem de texto no WhatsApp: “Não se esqueça que hoje ainda vamos tentar jantar fora, tudo bem? Quero chegar antes das sete. Eu te amo.”
Ela já estava chegando próximo ao carro quando alguém saiu de trás de um dos pilares que davam sustentação ao prédio e lhe abordou:
– Se fizer qualquer barulho será bem pior para a senhorita. – tinha uma arma apontada para as costas dela, mas sem alguém olhasse de longe acharia que formavam um belo casal. – Agora entra no carro e faça apenas o que eu mandar, e vai começar me entregando o celular.
, que estava em choque, conseguiu obedecer e entregou o celular.
– Quero que dirija para o sudoeste, vamos passar alguns dias longe de casa. – colocou o celular dela embaixo de uma das rodas do carro.
– Meu nome é Knightley, tenho trinta e cinco anos e sou advogada. Moro com meu namorado aqui no bairro ao lado. Você não vai conseguir muita coisa comigo! – falou tentando transparecer confiança, olhando para ele. – E esse lugar é cheio de câmeras. A única coisa que você vai ganhar do meu lado é cadeia.
– Senhora, eu sei muito bem que você é. – agarrou os pulsos dela, colocando-os no volante. – Agora me faça o favor de dirigir na direção sudoeste!
Sair do estacionamento do shopping poderia ter sido um pesadelo se o carro não fosse automático, ainda mais com uma arma apontada para o abdômen. Quando já se encontravam na via expressa, o homem se mostrava tão tranquilo que não fazia questão de usar um capuz que escondesse seu rosto e até havia sincronizado o próprio celular no sistema de som do carro para que escutassem músicas legais no caminho para a felicidade. só conseguia pensar na reunião com Ramsey, jogador do Arsenal, que curiosamente tinha o mesmo nome do homem com quem teria um jantar mais tarde. Reunião e jantar foram por água abaixo.
O homem ao seu lado era alto. O cabelo, quando combinado aos olhos, chamavam a atenção até do mais concentrado e suas tatuagens incompletas no braço direito era apenas um dos detalhes que o tornava um homem desleixado, ainda mais quando se tinha a barba por fazer e as roupas surradas. Com o banco reclinado e os pés apoiados no painel do carro, transmitia a ideia de que realmente estavam indo para um passeio no extremo sul da Inglaterra.
– O que você quer no posto, garota? – gritou ao vê-la diminuir a velocidade. – Tá desejando o pior ou o quê?
– A gasolina está acabando, preciso abastecer pra seguirmos viagem. – tirou os olhos da estrada afim de olhar para o homem, sem esboçar reação. – Poderia me passar a minha carteira?
– Use dinheiro. – entregando o que ela havia pedido.


PRIMEIRO CAPÍTULO

FIRST DAY



Londres estava com um clima bom demais para ser obrigado a ficar parado em casa e não aproveitar, mas, no clima em que se encontrava, não conseguiria fazer absolutamente nada fora de casa. estava respondendo alguns e-mails de trabalho quando recebeu uma mensagem da namorada, respondendo-a logo em seguida. “Nunca me esqueceria do melhor compromisso de hoje! Estarei te esperando. Te amo.”
Trabalhar com gastronomia poderia ter seus privilégios, mas, na maioria das vezes, todos os problemas recaiam em quem não tinha feito nada para que eles surgissem. Ele havia entrado com toda a parte jurídica, comercial e com setenta e cinco por cento do capital de dois restaurantes da capital inglesa. Dessa forma, se mantinha sempre a par de tudo que envolvia os restaurantes: desde avaliações de clientes, matérias em jornais da cidade e até quando algum renomado crítico gastronômico visitava o estabelecimento. Nessa última, sempre gostava de estar presente no restaurante.
Esteve trabalhando nisso o dia inteiro e já passava das sete da noite quando tornou a ligar para a namorada, sem sucesso. Provavelmente continuava em reunião, pensou. E, sem querer atrasar ainda mais o passeio que fariam aquela noite, resolveu tomar um banho. Mas, ao fazer menção de entrar no banheiro, seu telefone tocou. Era do escritório da namorada.
Locke falando. – atendeu o telefone.
– Boa noite, Sr. Locke. – a voz cumprimentou. – Estou ligando pois não atende o telefone e também não compareceu à reunião e o Senhor Roe queri
– A não chegou no escritório? – interrompeu, perplexo.
– Não chegou, não, Senhor. – respondeu com um tom que beirava a indiferença.
– Certo. – passou a mão no cabelo enquanto seu computador iniciava. – Ela saiu daqui antes das três da tarde, mas com a intenção de passar no Westfield antes ir trabalhar. – digitou a senha. – Vou rastrear o aparelho dela.
– Senhor, preciso que avise para ela acerca do acordo enviado para seu e-mail. É urgente.
– Ela ainda está no Westfield! – pegou a carteira e as chaves do carro. – Obrigado por ter ligado.
O banho ficaria para depois e o jantar, provavelmente, tinha ido pelos ares.
Para , a ideia de sua namorada ainda estar caminhando pelas lojas, torrando o limite do cartão de crédito ou acabando com todo o dinheiro guardado, ao ponto de ter se esquecido de uma reunião de trabalho era, no mínimo, intrigante. raramente desmarcava alguma coisa e fazia questão de atender todos os seus clientes na exata hora que desejavam, por mais que naquele dia tivesse trocado o horário de uma, tudo isso por que até ela não gostava de atrasos ou de ser esquecida. A maioria das pessoas voltavam para seus lares naquele momento, então o trânsito estava um pouco mais lento do que deveria e sentia o sangue se esvaziar de seu corpo a cada semáforo que era obrigado a parar no caminho até o shopping center.
Tinha acabado de estacionar o carro em uma das vagas quando decidiu ligar mais uma vez, já que nunca tinha sido o tipo de homem que corria atrás da mulher no primeiro sinal de desespero. Na cabeça dele, aquele caso era muito diferente. mandou a última mensagem às 4:42pm, porém todas as tentativas de contato após isso eram falhas e, para piorar, ela não aparecera na reunião que ela mesmo correu tanto para conseguir. Ela não costumava frequentar muito àquele lugar, a não ser quando pretendia passar na loja de calçados. Tal loja existia em qualquer lugar, mas ela gostava da atendente e passou a ser cliente fiel do estabelecimento de tal forma que já tinha destino certo quando adentrou as portas de vidro do prédio, que por sinal estava mais vazio do que ele imaginava que encontraria.
– Boa noite, Senhor. – foi recepcionado. – Como posso te ajudar?
transpirava nervosismo e estava a ponto colapsar.
– Boa noite. Minha namorada, Knightley, provavelmente deu uma passadinha aqui hoje antes de ir para o trabalho.
– A Srta. Knightley esteve aqui sim, acabou saindo um pouco atrasada para uma reunião. – ela sorria. – Disse que voltaria depois.
– Ela não chegou na reunião – confessou e viu o sorriso da moça desaparecer. – e não consigo pensar em nada positivo para isso.
– Posso te ajudar – ela saiu andando em direção do caixa. – afirmando que temos imagens dela nas câmeras internas e externas da loja, – digitou alguma coisa no computador. – mas não posso te entregar nenhuma delas sem algum pedido oficial da justiça. – ela virou a tela do computador para ele. – Olha!
sorriu ao ver como a mulher parecia estar radiante nas imagens. Ela adorava comprar sapatos novos, e usava isso como desculpa para espairecer a cabeça depois de qualquer discussão deles.
– Eu vou ao met, para saber como proceder. – concluiu. – Muito obrigado.
Enquanto isso, já tinha percorrido mais de cento e cinquenta milhas em direção indicada quando o homem deitado ao seu lado pediu para que fizessem um desvio em uma pequena cidade em Devon. O carro dela ficaria ali e eles seguiriam o restante do percurso, cerca de cento e quarenta quilômetros, com um veículo que ele tinha alugado. Em sua cabeça, ela tentava juntar peças para, de alguma forma, descobrir o motivo de ter sido raptada daquela forma e pior, o porquê do homem saber quem ela era e querê-la mesmo assim. Sem sucesso.
Com o passar das horas, homem deixou de apresentar um comportamento agressivo e até soltou a arma que segurava com tanto afinco. De acordo como tinha se apresentado para ela, se chamava Weber, tinha quarenta e um anos e só queria que ela colaborasse. E, mesmo após ele ter lhe dito o nome, não se sentia mais calma, afinal, ele poderia estar mentindo. Tudo o que ela queria agora era não ter tido a ideia de ir comprar sapatos novos.
Ao chegar na divisa entre os condados de Devon e Cornwall, tornou a reprogramar o GPS do carro. O destino era Padstow, uma cidade pequena, que sabia que era conhecida pelo porto de pesca, localizada ao norte de Cornwall, entre Wadebridge, Bodmin e Newquay. Mais dezoito milhas. Já beirava às dez horas da noite quando finalmente tirou a chave da ignição e entregando na mão do homem que voltou a empunhar uma arma ao seu lado.
No final das contas, estavam em frente à uma casa de, no máximo, três cômodos, alguns quilômetros antes da entrada da cidade, no meio de uma mata bastante densa. O acesso até lá era de estrada de terra batida e a única coisa que ela viu no trajeto foi animais querendo atravessar a faixa de terra em meio a escuridão. Apenas quando seus braços e sua mente puderam descansar dar longas horas de viagem, se lembrou do namorado. Era visível em seu rosto a preocupação que sentia pelo companheiro.
Àquele momento, estava acabando de sair do prédio da Polícia Metropolitana de Londres, onde ouviu que eles só poderiam fazer alguma coisa após um período de tempo maior do que aquele. Cinco horas era pouca coisa.
– Vou ver o que temos para comer. Fique à vontade. – falou cinicamente, adentrando ao recinto. – Também tenho que procurar alguma coisa pra cortar essa corda. – ele se referia à amarração feita na tentativa de dificultar uma possível fuga.
Como havia imaginado, realmente havia três cômodos. A cozinha era a primeira coisa se via, com uma geladeira, um móvel de prateleiras, um fogão e uma pia. Também havia um pequeno sofá e uma televisão que provavelmente não funcionava. A sua esquerda, tinha uma porta que se encontrava fechada. Ao fundo, outa porta que, provavelmente, era o banheiro. trancou a porta atrás de antes de, enfim, cortar a corda que amarrava seu braço.
– O que você quer comigo, afinal? – questionou esfregando os pulsos. – Aposto que não é só passear.
– Calma, minha senhora.
– Quanto mais rápido você me falar, mais rápido eu saio daqui. – retrucou.
– A intenção não é que você saia daqui o mais rápido possível. – sussurrou e seguiu para longe dela. – Quem sabe um dia te conto... – abriu o armário em busca de algo. – Tem chá!
ficou calada.
– Vai querer ou não?
– Prefiro suco. – negando. Ela realmente preferia suco.
– O que não tem. – pegou um vasilhame para esquentar água. – Vai preferir ficar sem chá mesmo?
Ela o deixou sem respostas e, encontrando um controle remoto jogado no sofá, ligou a pequena televisão do cômodo, recebendo como resposta ruídos de canais que nunca funcionariam. A risada abafada do homem ao fundo terminou por esgotar o pingo de paciência que carregava consigo e resolveu que precisava ficar um pouco sozinha. Quando abriu a porta do quarto descobriu que, na verdade, aquele era o banheiro e, ao olhar em direção à , percebeu que ele tinha aberto a porta do quarto para ela. Um verdadeiro gentleman, pensou, se não tivesse sequestrando-a.
estava com fome, e aquilo não era nenhum segredo. Entretanto, estava decidida a não manter mais nenhum tipo de conversa com aquele homem e, por puro orgulho, iria dormir sem comer absolutamente nada, mesmo sentindo o estômago reclamar por alimento.
O quarto pequeno tinha um único colchão jogado no carpete e estava forrado com um lençol branco. Em um dos cantos havia uma mesa redonda com duas cadeira e um notebook que parecia estar em bom estado de conservação, entretanto a televisão também estava e não era possível assistir absolutamente nada nela. Tudo parecia muito bem cuidado, com exceção das paredes com manchas de mofo, e ainda assim tentava imaginar como alguém conseguia viver tranquilamente em um lugar como aquele. Ao observar o local o suficiente para perceber que não tinha nenhum cobertor dando sopa, ela tirou o casaco bege que se agarrou às pressas de dentro do seu guarda-roupa mais cedo.
Antes de se deitar no colchão, tateou com a palma da mão afim de detectar algum objeto perfurante e, ao não encontrar nada, decidiu que poderia se deitar sem perigo. Assim que descansou a cabeça, foi a primeira e única coisa que veio em seus pensamentos, e se permitiu chorar pela primeira vez em meses.
Dentre todas as coisas que viviam juntos, poder contar com a alegria contagiando de todos os dias era, de longe, a melhor coisa de tudo. Por trás do ar corporativo e empresarial que carregava, ele conseguia ser muito mais do que o namorado endinheirado da advogada requisitada. Todos os dias, ela recebia dezenas de fotos do namorado fazendo caretas ou vídeos curtos contando qualquer tipo de piada sem graça. Lembrou-se também do pedido tosco de namoro, em frente a London Eye, no meio do terceiro encontro dos dois, após uma discussão sobre quem iria pagar os ingressos para subirem na atração que ambos já haviam visitados inúmeras vezes, mas, ainda assim, queriam estar lá juntos. Acabou que nenhum dos dois pagou, já que foram comemorar aquele começo em algum hotel ali por perto, sem se importar se alguém conseguiria escutar os barulhos que o tesão provocava nos dois.
As lágrimas se intensificaram quando ela se recordou da discussão de cedo, sobre ter filhos. Era o sonho dele, e sabia disso. também tinha ciência de que não muito bem aquele destino que ela imaginava para si naquele momento. E havia concordado em esperar um pouco. O impasse é que esse pouco dela já durava alguns míseros anos. Antes de pegar no sono com a imagem do namorado na cabeça, conseguiu ouvir a voz do homem murmurar algo como “Descanse!” no outro cômodo, mas, alheia a isso, ainda estava tentando formular pedidos de desculpas por nunca ter dado ao namorado o que ele sempre quis.


SECOND DAY



estava sentado no mesmo lugar do sofá e já se sentia parte da mobília quando percebeu os primeiro raios tímidos do sol adentravam a imensa janela do apartamento, que não havia conseguido dormir à noite preocupado com o paradeiro da namorada, que não tinha dado nenhum sinal de vida, não retornou nenhuma ligação ou e-mail. Havia mandado recados no correio eletrônico para todos os contatos recentes com quem havia se comunicado pela rede, mas nenhum deles havia tido contato com ela no dia anterior.
O sentimento de impotência aumentava a cada minuto que se passava no relógio a sua frente. Mesmo que tivesse imagens da mulher na sua última aparição pública, não poderia contar com a polícia antes de, no mínimo, vinte e quatro horas de sumiço. Só esse fato estraçalhava o coração dele. Durante a noite que passou acordado, por diversas vezes imaginou a namorada deitada na cama do casal e, mesmo sabendo que era só fruto da sua imaginação, seguia até o quarto e chegava perto de onde ela estaria, tentando tocá-la, mas a única coisa que sentia era o tecido frio dos lençóis desarrumados da manhã passada.
Enquanto isso, há míseros duzentas e sessenta milhas de distância, despertava de um sono perturbado, recheados de pesadelos dos mais diversos tipos. O pior deles foi morrer sem ter ninguém por perto para tentar salvá-la. Se agarrou ao material que a cobria e percebeu que estava coberta com um pano grosso e não usava os sapatos. Não se recordava de ter se livrado deles na noite anterior e aquilo, certamente, a irritou. Ela fingiu estar dormindo quando entrou no quarto seminu sem nenhuma cerimónia.
Ele começou a agita-la.
– Bela adormecida, está na hora do café da manhã... – cantarolou.
Fechou a cara ao ouvi-lo cantar ao mesmo tempo que soltava grunhidos de preguiça. saiu do quarto quando mexeu com a mulher o suficiente para que ela não conseguisse voltar a dormir.
– É melhor você se levantar logo ou então vou fazê-lo a força. – gritou. – Não é só você que tem pressa!
Contrariada, se levantou a procura dos calçados. Eles eram de salto e poderiam incomodar após uma longa quantidade de horas sendo usados, mas ela nunca que ficaria descalça em um chão sujo como aquele, por mais que estivesse se sentindo como se não tomasse um banho há dias e necessitava urgentemente de escovar os dentes.
Encontrou sentado no sofá de dois lugares comendo ovos mexidos com bacon e se forçou a não pensar no tempo que aqueles alimentos estavam dentro da geladeira, se é que realmente estavam. Em meio de todos os pensamentos que rodeavam sua mente, o fato dele não está sendo bruto ou arrogante com ela era, de longe, o que mais a deixava inquieta.
Passou por ele sem lhe dirigir a palavra e entrou dentro do banheiro: um cubículo com uma privada, um chuveiro e um espelho quebrado colado na porta. Havia uma pequena janela de vidro na parede oposta ao chuveiro. Não tinha uma escova para ela, muito menos um pasta de dente. Foi inevitável não pensar no banheiro de seu apartamento, com detalhes que ela tinha pensado com tanto carinho para transformar aquele espaço.
– Por que não me conta o que quer? – indagou, saindo frustrada do banheiro.
– Não estou interessado! – esticou o prato para ela. – Sente o aroma. Hummm...
A comida no prato dele não era tão convidativa assim, mas o corpo de clamava por comida desde a noite anterior. Se deu por vencida e, colocando em um prato um pouco dos ovos e do bacon, ouviu seu cérebro agradecer pelo restante do corpo aquele pouco de comida que tinha acabado de colocar na boca. No final das contas, repetiu aquela refeição duas vezes. Quando ela terminava de comer pela segunda vez, saiu de dentro do banheiro com os cabelos molhados e levemente penteados para trás e não deixou de pensar em como era fácil ser homem: só precisaria passar um pouco de água no cabelo para que se tornasse razoavelmente apresentável. Mas, além disso, ela não poderia deixar de notar que, usando roupas limpas, o homem a sua frente parecia até outra pessoa. Talvez até... bonito.
– Eu vou na cidade. – avisou. – E eu espero te encontrar lindíssima, – passou a mão pelo rosto dela, parando com os dedos em sua boca. - de banho tomado, quando eu chegar.
recuou.
– Diferente de você, não tenho roupas limpas aqui. – retrucou.
– Vista as mesmas! – deu de ombros. – Pra mim, tá de bom tamanho. – concluir rindo. – Enfim, não pretendo demorar. – ele pegou as chaves do carro e apontou para a TV. – Tentei encontrar alguns canais de rádio por você.
O homem saiu e, quando deixou de ouviu o barulho do motor do carro, saiu correndo pela casa, a procura de alguma coisa que pudesse ajudá-la a abrir a porta e fugir. O homem ter saído naquele momento, na visão dela, tinha sido um presente enviado por anjos. E olha que ela não acreditava tanto assim na existência de seres celestes.
Aquela poderia ser a sua única chance de sair dali com vida e ela não poderia desperdiçar. Mas não havia nada, nenhum mísero grampo. Até que se lembrou da janela do banheiro que, diferente da que tinha na cozinha, não estava tampada com madeira para impedir a entrada de luz natural. tinha que pensar rápido em como poderia sair dali antes que pudesse retornar. Sua única ideia foi usar umas das cadeiras que estava no quarto para que pudesse quebrar o vidro e se apoiar para sair. tinha consciência do quadril largo herdado da mãe e dos quilos a mais que carregava, mas aquilo nunca tinha sido um empecilho para fazer algo, e não seria agora que isso a impediria.
Dois minutos depois cacos de vidro voaram pelo cômodo minúsculo, o que lhe trouxe alguns ferimentos pelo braço. Poderia ter sido muito pior que aquele não estivesse cobrindo o seu rosto. terminou que quebrar algumas partes que ficaram muito pontudas com os pés da cadeira e tomou coragem para subir quando concluiu que poderia sair sem se machucar muito, o tempo todo gritando palavras de apoio a si mesma. Conseguiu apoiar as mãos no lado de fora do retângulo e deu um impulso para que seu corpo fosse para cima e para frente, soltando um grito que tentou abafar mordendo o lábio quando sentiu um corte na altura da axila, que não havia acontecido naquela hora. Respirou fundo e continuou colocando força no braço para que o restante do corpo fosse mais para fora, tentando escalar a parede com os pés, já que não tinha mais o apoio da cadeira. Talvez aquilo tudo poderia ter sido mais fácil se ela tivesse se lembrado de tirar as botas que usava.
Mas o pior aconteceu. ouviu o ruído baixo do motor do carro e começou a se desesperar, querendo sair o mais rápido possível daquele lugar, mas a tarefa era difícil, pois a região do abdômen estava apoiada em algumas pontas de vidro e ela já não conseguia apoiar os pés na parede. O que poderia fazer, agora, era esperar. E estaria tudo perdido!
– Voltei. Esqueci o mais importante: minha carteira. – ouviu o homem dizer. – Cadê você?
Era tarde demais: ele abriu a porta do banheiro.
– PUTA QUE PARIU! – berrou. – O que você acha que está fazendo? Ficou maluca? – se agarrou às pernas dela. – Eu tentei manter a calma contigo, porra, mas você não colabora.
conseguiu tirar do buraco que ela tinha se enfiado, literalmente, e a jogou nos ombros. Ela tinha alguns arranhados pelo corpo, cortes superficiais na região da barriga e um corte profundo na região da virilha era perceptível mesmo com a calça preta que usava, além do localizado na axila. Antes de colocá-la sentada em uma das cadeiras que tinha dentro do quarto, foi buscar algumas cordas e fita adesiva debaixo da pia da cozinha.
– Acha que vai me fazer de palhaço, que vai sair por cima dessa, né? – esbravejou. – Porra! Você não dá um tempo. Eu não fiz absolutamente nada que te fizesse sentir insegura e te tratei da melhor maneira todo esse tempo!
A resposta de era chorar como uma criança.
– Vai ser assim daqui pra frente. – a jogou brutalmente na cadeira e abriu as pernas dela para que ficassem coladas paralelamente às pernas da cadeira. – Não vai ser menos do que aquilo que você merece.
amarrou cada uma das pernas de , de forma que ficassem abertas o suficiente para gerar dor, e posicionou as mãos dela atrás do encosto da cadeira, no qual essas amarrações eram levadas de encontro as dos pés. E, para finalizar, colou pedaços de fita adesiva na boca dela.
– Fique ai pensando se consegue colaborar e eu vou pensar se vale a pena ceder com você.
a trancou dentro do quarto pequeno e saiu, deixando-a sozinha com seu choro, que insistia ser um pouco mais violento a cada minuto, o que não era muito confortável para a situação em que se encontrava.

O clima continuava nublado na Grande Londres quando decidiu voltar à Polícia Metropolitana da cidade para tentar realizar o registro do sumiço de . Antes de sair de casa, tomou um banho gelado e arrumou a cama do casal, na tentativa de fazer com que as visões dele sumissem, pelo menos por um curto período. Havia passado a noite pensando em como poderia estar, se ela estava passando frio ou fome, se estava segura. Ele não conseguia comer sem saber se a mulher também havia se alimentado, então também nem tentou engolir alguma coisa. Sabia que seu estômago rejeitaria. E se negava a fantasiar a morte daquela que tinha se tornado uma pessoa tão importante na vida dele.
Não havia tido a coragem, ainda, de ligar para a família dela, que vivia em Merseyside, mais precisamente em Liverpool. A idade da mãe de já beirava os setenta e ele não queria ser o responsável por algum problema que esta viesse a sofrer com a notícia. Mas uma hora ou outra, teria que contar. tinha nome na mídia e a mesma ficaria eufórica, em guerra interna, para saber qual seria a primeira emissora a anunciar seu desaparecimento. Até aquele momento, não tinha pensando na possibilidade da namorada ter viajado até a região noroeste do país. Entretanto, se tivesse, com certeza teria avisado e desmarcado o passeio.
Estava no horário das pessoas estarem saindo de casa para resolverem problemas ou ir ao trabalho, ou até os turistas, então o trânsito caótico se tornava um vilão dele naquele momento. O caminho que poderia ser feito em aproximadamente vinte e cinco minutos demorou quase uma hora. E, para deixar um pouco mais nervoso, havia pessoas demais esperando atendimento àquele dia. Perderia, no mínimo, duas horas naquela fila.
– O senhor é o próximo? – um dos oficiais se dirigiu à . – Pode se aproximar.
– Sim, sou eu. – ele se sentou em frente ao oficial. – Ontem eu vim notificar o desaparecimento da minha namorada, mas disseram que eu teria que esperar até hoje. Ela ainda não deu nenhum sinal. – passou a mão pelos cabelos. – O nome dela é . Knightley.
– Ah, sim. – o homem desviou o olhar de para o computador a sua frente. – Já abriram um processo para o desaparecimento dela. Já temos imagens das câmeras de segurança da loja do Westfield em que ela foi vista pela última vez.
se sentia aliviado por àquilo, mas estava curioso para saber quem havia feito a notificação.
– Quem trouxe as imagens? – perguntou.
– Essa informação eu não posso te dar, senhor. – respondeu. – Tem uma equipe no prédio nesse momento à procura de novas imagens e de testemunhas. Se quiser se dirigir até lá...
– Agora mesmo! – se levantou apressado e só se lembrou de agradecer ao homem quando estava saindo do prédio da Polícia.


THIRD DAY



permanecia amarrada no mesmo lugar e na mesmo posição há, pelo menos, um dia inteiro. E ela constatou isso pela pequena fresta no telhado que permitia uma mínima entrada de luz. Ela via luz quando fora amarrada, a viu indo embora e também estava ali quando ela voltou a aparecer. Estava com muita dor nas pernas por ainda estarem amarradas em posição desconfortável, mas também pelo corte que umas delas carregava do ocorrido da manhã anterior e seus lábios, mesmo tampados pela fita, já estavam começando a ressecar devido à desidratação que o corpo estava sofrendo, além de sentir fome e a extrema necessidade de tomar um banho. O grande problema é que ela não tinha roupas limpas ali com ela e, se colocasse as mesmas, continuaria se sentindo suja.
Para alimentar ainda mais o tormento de sua mente, tudo o que lhe vinha à mente era a última imagem de seu namorado, em que ele estava triste sentado no sofá, sem dirigir uma única palavra a ela antes que saísse. O assunto em questão – ter filhos – sempre gerava aquele tipo de comportamento e ela sempre respeitava o espaço que, silenciosamente, pedia. Seus pensamentos foram dissipados quando abriu a porta do quarto de forma abrupta. Ele estava com a arma no bolso da calça e carregava algumas pastas e sacolas. E havia trocado de roupa, cortado o cabelo e aparado a barba. Para , ali jazia um novo homem!
– Vejo que a minha salvação já está acordada. – sorria cinicamente. – Como você passou a noite, minha linda?
Ela apenas murmurava. Ele riu.
– Ah, é. Tinha me esquecido que você não consegue falar. – caminhou até ela e, em um puxão, arrancou a fita de tampava a boca de . – E agora? Como passou a noite?
O gosto de sangue rapidamente tomou o paladar dela. A ação de tinha lhe conferido um corte no canto esquerdo da boca.
– Bem. – se limitou a responder, mesmo sabendo que aquilo era uma grande mentira.
– Certo, maravilha. Eu vou fazer alguma coisa para comer e vou pensar se deixo você tomar um banho ou comer.
E simplesmente saiu. Segundo depois, gritou comporte-se.
No auge dos seus trinta e cinco anos, foram poucas as vezes chorou como nos últimos dias. Mas também nunca havia se sentido tão ameaçada. Já fazia três dias em que se encontrava naquela situação e ela ainda não sabia o que tanto aquele homem queria com ela. Se fosse apenas dinheiro, jamais se importaria em sacar tudo o que tinha em sua conta em troca de sua liberdade. Aquela mulher também sabia que, se fizesse algum barulho que pudesse chamar a atenção até de um animal que passasse por ali, viria para cima dela, furioso. Talvez tenha sido por isso que ele a deixou com a boca livre. Queria ver até onde ela poderia ir.
Não se deu o trabalho de contar os minutos de quanto tempo havia se passado quando retornou ao ambiente escuro em que tinha a deixado. Ela percebeu os ombros dele menos tenso daquela vez, enquanto o mesmo desamarrava as cordas dos seus braços e pernas.
– Tive que lavar aquele banheiro duas vezes pra exterminar os cacos de vidro da obra que você criou. – começou. – Então, por favor, se comporta. – olhou para o rosto dela, que estava impassível. – Agora você vai tomar um banho, vamos comer e depois eu quero ter uma conversinha contigo.
não disse nada, apenas observou as ações rápidas do homem em desamarrar nós que, para ela, não teriam como ser desamarrados.
– Tem toalha no banheiro e umas peças de roupa na sacola. – terminou de desfazer o último nó. – E pelo amor de Deus, não tente fazer nada, não. Não quero ser obrigado a fazer coisa pior com o corpo que Ele te deu. – olhou para o teto, pensativo. – Acho até que seu namorado gostaria de receber uma parte dele de presente.
Ouvir alguém fazer uma simples menção de fazer o coração de se despedaçar. Pior ainda era imaginar ele recebendo parte do corpo dela embrulhado em um papel de presente. Tinha ideia do quando aquele homem a amava e sempre lhe desejava o bem, fazendo de tudo para protegê-la e, conhecendo-o como conhecia, já sabia que ele estava se sentindo mal por não conseguir fazer nada naquele momento.
Por volta daquele mesmo horário, só que um dia atrás, estava estacionando seu carro no amplo estacionamento do Westfield.
Havia chegado até lá em oito minutos e sabia que, pelo menos, três multas chegariam em seu endereço nos próximos dez dias, só que a cabeça dele estava conturbada demais para pensar em qualquer coisa que não envolve . De longe já conhecia reconhecer alguns oficiais da polícia londrina trabalhando e, correndo até um deles, nem sei deu o trabalho de agir com cautela.
– Eu sou o namorado da Senhorita Knightley e me informaram que vocês estão procurando indícios. Encontr...
– Tem um celular dentro da lixeira. – foi interrompido por um homem falando um pouco mais distante de onde ele estava.
– Pode ser o celular dela. Ontem quando eu olhei estava dando como se ela estivesse aqui dentro. – ele falava desesperado.
– A gente só saberá a quem pertence o celular depois de perícia, mas talvez ainda possa ter alguma marca nele que você consiga identifica-lo. – o homem com quem estava falando começou a andar, em direção da lixeira.
– Ela sempre usa uma capa preta escrito KR Lawyers. É do escritório dela.
Quando chegou próximo do local, um dos homens terminava de lacrar um saco transparente e, por mais destruído que o aparelho estivesse, a capa preta ainda poderia ser facilmente identificável. E, antes que pudesse evitar, as lágrimas começaram a cair e ele não tinha a menor intenção de fazê-las parar.
Durante os vinte minutos que ficou debaixo da água gelada do chuveiro, apenas agradeceu por estar tirando um pouco da sujeito do corpo e por estar limpando os cortes que pareciam infeccionados. O que estava abaixo da axila era o que mais a preocupava, era o mais profundo e ela sentia algumas dores mais incomodas quando tocava a região. A manhã anterior ainda estava fresca em sua memória, o que piorava um pouco mais a situação. A pequena janela, por onde ela tentou passar, agora estava tampada com toras de madeira e ferro. A única saída que ela poderia ter agora era apenas lembranças. Lágrimas rolaram naquele banho e tudo foi abafado pelo barulho horrendo que o chuveiro fazia para derramar água.
Dentro da sacola de roupas de tinha trago para ela, a maioria das peças era de moletom e ela não sabia se aquilo seria bom ou ruim: estava perto de um desconhecido e só queria cobrir cada parte do corpo, mas estava abafado demais naquele lugar. E vestir blusas com mangas longas com o braço do jeito que estava não seria muito inteligente. decidiu vestir uma calça cinza e uma camiseta branca que não apertava tanto os braços.
Estava terminando de comer isolada dentro do quarto quando chamou a atenção dela, entrando no cômodo.
– Seus cortes estão infeccionados? – ele perguntou.
– Não. – mentiu. – O que você quer?
– Olha, eu estou tentando te ajudar... – respondeu cruzando os braços. – E, mesmo que você não queira, eu vou limpar todos esses cortes. – ao proferir essas palavras ele já tinha algodão e um líquido de cor âmbar nas mãos. – Vamos, tire a camiseta!
arqueou a sobrancelha.
– Tô falando sério, . – aumentou o tom da voz, mas ainda sim tentou mantê-la calma. – Eu só quero... Eu só quero ajudar você com isso daí.
Ela, por mais relutante que estivesse, também sentia muitas dores e, por isso, decidiu tirar a peça de roupa que cobria o seu tronco, revelando mais do que deveria para àquele homem.
! – ele sussurrou e, por um segundo, ela achou que ele se referia ao seu corpo. – Isso está horrível, com licença. – tocou próximo ao seio direito, apertando o local. – Dói? Se doer, fala, pode ter pedaços de vidro aqui dentro...
– Só faz o que tiver de fazer, por favor. – ela havia desviado o olhar para qualquer outro ponto da casa há algum tempo e se esforçava para não chorar perante à situação.
– Se você fosse um pouco mais aberta à conversas e não saísse fazendo qualquer merda pela casa você não estaria machucada dessa forma, a gente já teria tudo essa conversa e, provavelmente, já estaria trabalhando agora!
– Estamos há não sei quantos quilômetros de Londres e você acha que eu poderia estar trabalhando? Me poupe! – retrucou, observando o seu peixe esfriar enquanto ele trabalhava no ferimento do braço.
– Não, , você vai trabalhar daqui. Não teve curiosidade de olhar as pastas, não? – apontou para um conjunto de quatro pastas pretas empilhadas encima da mesa.
Ela negou. Àquele momento, já havia terminado de passar o líquido pelo ferimento do braço.
– Certeza? Ali dentro está a sua liberdade, garota. – se afastou. – Tem mais algum desse nível? – se referiu ao corte.
– Tem, na perna. – respondeu rápida. – E não adianta muita coisa falar de liberdade quando você está mantendo alguém preso, .
– Você foi a responsável por colocar o meu irmão na cadeia, , não tem moral nenhuma para retrucar assim.
– Eu? Você tem certeza? – ela riu. – Não lembro de ter nenhum caso envolvendo seu sobrenome. Weber.
– Mas com certeza você se lembra de Gillies, não é?
A expressão alegre, porém irônica dela, se transformou em susto em segundos. Ele continuou:
– John Gillies foi o seu primeiro caso, se eu não estou muito enganado. O Primeiro Ministro vítima de tentativa de latrocínio enquanto saia de um shopping da cidade. – ironizou, cruzando os braços. – Você era muito idiota ou deveria estar querendo muita fama e dinheiro para acreditar naquela história. Se não os dois...
– Todos os indícios levavam a ele como único e principal suspeito. E ele tinha um bom advogado cuidando do caso dele também. – deu de ombros. – Se está preso é por que merece.
– Durante esses cinco anos que meu irmão está da dentro, preso, eu procurei provas, as mais diversas, em todos os lugares. E a melhor delas eu nem precisei ir longe, eu tinha dentro de casa.
tinha ido até a mesa e, em uma das pastas, puxou um envelope. O papel tinha tomado uma coloração amarelada, devido a velhice.
– John sofre de esquizofrenia. – ele entregou o envelope para – Já enviamos diversos pedidos de internação para a Polícia, mas nenhum deles é sequer recebido, afinal meu irmão tentou matar a merda do Philip Windsor. Você provavelmente recebeu do advogado dele vários pedidos para a realização de exames, mas nenhum deles foi respondido. E aquele desgraçado nem tentou entregar para o juiz um pedido formal.
– Nenhum pedido chegou no meu escritório ou no meu e-mail durante o decorrer do processo. Tanto que conversei pessoalmente com o advogado dele várias vezes e ele nunca tocou no assunto. – se defendeu. – Se ele realmente sofre de esquizofrenia, Philip deve estar impedindo que os pedidos cheguem até a corte até hoje.
Match! – comemorou com um giro, estalando os dedos. – O suposto crime foi organizado pelo filho dele. Cruise descobriu que o pai havia feito um seguro de vida no nome dele e tratou de bolar um plano pra matar o velho. O guri foi inteligente o suficiente para encontrar alguém que fizesse aquilo por ele e que aquela pessoa também encontrasse alguém para ser incriminada no lugar de todo mundo.
não tinha nenhuma reação. A única coisa que se passava na cabeça dela era que toda a sua carreira tinha como base uma suposta mentira. E ela odiava mentiras. Realmente, o mundo será um lugar melhor se todas as pessoas se tornassem advogados, pensou.
– Tá. Digamos que toda essa história que você me contou seja real e voc...
– Mas ela é real! – a interrompeu, dando um soco na parede em seguida. – Você não estaria aqui, agora, por acaso. Está mais ligada a esse caso do que eu!
– Enfim, ainda não entendi direito o que você quer. – revelou. – Tenho uma ideia de que talvez você queira que eu consiga que o requerimento formal dos exames chegue até a corte. Mas se for realmente isso, creio que não se fazia necessário um sequestro, dado que eu tenho outras dezenas de coisas para resolver além do seu problema.
– Quero mais do que isso, meu amor! – caminhou até onde estava sentada e inclinou o tronco até ficar com o rosto próximo do dela. – Você vai colocar Cruise Windsor na cadeia, nem que para isso eu tenha que ir também.


SEGUNDO CAPÍTULO

FOURTH DAY



– Pelas câmeras espalhadas pela cidade, a gente sabe que o carro dela seguiu para o sudoeste. – um dos oficiais responsáveis pelo caso dizia. – Estamos contatando equipes em todos os condados, principalmente aqueles que estão no caminho até o fim da linha de todas as rodovias dessa região. Com toda certeza eles mudaram de carro no percurso. Estamos enviando em relatório com todos os dados dela e do veículo, tem fotos e os últimos contatos da agenda de e-mail dela. É de Knightley que estamos falando, temos que agir rápido!
observava tudo de longe ainda absorto na ideia de que sim, realmente a namorada havia sido sequestrada. Em três dias, só tinha participado de uma reunião que não envolvesse o caso dela. Isso porque era uma que realmente não poderia ser desmarcada. A mãe e a irmã dela já estavam na cidade e também acompanhavam tudo de perto, mas tinham dado a a responsabilidade de tomar qualquer decisão que envolvesse a mulher.
Um homem fardado que não fazia parte da equipe de buscas se virou para eles.
– E quanto a vocês, não há muito o que fazer agora. Só vão decidir como avançar com o caso quando souberem com quem estão lidando, já que tanto pode ser alguém muito perigoso com alguém que só quer dinheiro para fugir. Estão lendo as imagens do shopping center há algum tempo, então em algumas horas já saberemos quem a levou.
– Certo. – foi o que conseguiu responder. – Qualquer indício, pode ser até falso, eu quero saber. Qualquer passo de vocês, quero estar junto, quero acompanhar.
Quando o homem percebeu que quando diria nada, continuou.
– Fui autorizado, pela própria informante, a dizer quem abriu a notificação de desaparecimento da Senhorita Knightley. O nome dela é Chloe Johnson e, se eu não estou enganado, trabalha na loja em que foi vista pela última vez.
De longe essa seria a última pessoa que imaginaria fazendo aquilo. A única coisa que Chloe tinha a perder com o sumiço de era uma cliente, cliente essa que comprava até demais mesmo sem necessidade. Ele agradeceu ao homem pela informação e, acompanhado da mãe e da irmã de , deixaram o local.
– Ela vai saber se virar, filho. – a mãe dela falou.
Amava a relação que tinha com a mãe de e se sentia realmente como um filho quando ela a tratava assim. Mas, mesmo concordando com o que a mulher dizia, sentia medo dela infelizmente não conseguir. Ele abriu a porta do carro para mãe e filha e, durante o percurso que os três fizeram até o apartamento de , ele se deu o trabalho de dirigir na menor velocidade, além de pegar o caminho mais longo e parar em todos os semáforos. Foram quarenta minutos pensando naquela que não estava com ele, imaginando com ela poderia estar. Passou a imaginar como ficaria o psicológico da mulher depois daquela situação. Para ele, talvez, ela poderia muito bem se superar fisicamente de todo o ocorrido, mas a dor psicológica sempre estaria ali, sem contar nas lembranças que poderiam nunca ir embora.
Ele já havia desistido da ideia de parar de pensar nela à ponto de aceitar vê-la em alguns locais. O tempo todo. Já estava fantasiando as cenas horríveis que ela poderia estar vivendo. Por mais absurdo que fosse, ele só queria que ela estivesse se sentindo tranquila.
Duas horas mais tarde, Ruth estava preparando alguma coisa para que pudessem comer quando recebeu uma ligação. O número era desconhecido e, quando ele atendeu, a pessoa desligou.
– Acho que foi engano. – respondeu dando de ombros quando Ruth perguntou quem era.
– Nunca tinha vindo no apartamento de vocês. Ele é grande. – ela mudou de assunto, tentando acalmar os nervos.
– Foi a que escolheu o bairro, o prédio, a mobília... – lembrou. – Ela tem um bom gosto para as coisas.
– E vocês pensam em casar? Digo, ter filhos e tudo mais?
– A gente quer esperar um pouco mais para pensar nisso. Ela quer focar um pouco mais na carreira antes de pensar em filhos. Não acho que está errada... – falou, pensando que nem tudo havia falado era mentira. – Eu preciso sair, mas podem ficar à vontade. Não demoro.
Ele pegou as chaves do carro juntamente com a sua carteira e saiu.

Se ela realmente fosse boa em contabilizar o tempo sem o auxílio de um relógio, diria que estava há aproximadamente dezoito horas lendo todos os arquivos entregue nas mãos dela por . Sentia falta de marcadores de texto e post-its para marcar alguns trechos e fazer anotações, mesmo estando se virando bem com um lápis que encontrou dentro de uma das gavetas da cozinha. Só que também tinha bastante interesse em saber como aquele homem conseguiu um cópia do processo que colocou o próprio irmão atrás das grades. Eram mil trezentas e trinta e sete laudas, todas com reconhecimento do juiz, com uma assinatura que ela conhecia muito bem, e alguns com assinaturas online, o que também atestava a veracidade para o documento. Aliás, ela poderia muito bem recusar a montanha de papel logo no início se não tivesse notado um fato interessante: a cópia do documento original tinha conseguido captar a mancha de café que o juiz deixou respingar na borda das primeiras folhas. realmente não estava brincando.
. Pensar nesse homem era um tanto quanto estranho para , mas ela não poderia deixar de notar que após ela ter aceitado tentar tirar John da prisão, ele havia ficado mais calmo e até havia a chamado para jogar conversa fiada enquanto preparava o almoço dos dois. Ele havia feito o design da barba – com algum gilete perdido e uma tesoura – e aquilo o tinha deixado extremamente atraente, não que estivesse observando tudo o que o homem fazia, mas alguns detalhes chegavam a ser impossíveis de não serem observados. Se não fosse um tremendo erro, talvez ela poderia também imaginar aquele homem como . Não havia um único momento em que não pensasse nele.
Após o almoço que, dado as circunstancias em que se encontravam, estava estranhamente muito gostoso, havia retornado aos documentos com o intuito de começar a montar um arquivo com algumas das dezenas de constatações que havia retirado do processo. Algumas partes daquele texto ela conhecia bem, pois havia escrito aquilo, mas outras nem tanto, e miseras páginas a fez perder uma tarde e boa parte do anoitecer. Ler aquele processo, mais uma vez, era estranho para ela. Agora havia um ponto importante no qual ela nunca teve acesso e se perguntava qual o tamanho do cheque que Philip Windsor havia entregado nas mãos do advogado de John para que ele se desfizesse aquela evidência, que vinha contra o próprio filho. Porém sabia, com toda certeza, que era bem maior do que a bolada que ela mesmo havia ganhado.
Já era tarde e ela estava chegando a marca das quatrocentas palavras digitadas quando notou se movimentar freneticamente do lado de fora do quarto. Ele estava com a arma em punho e colocava o capuz que ela nunca tinha o visto usar.
Ela o encarava quando o mesmo entrou no quarto. Era notável seu sorriso por trás do tecido grosso que tampava todo o rosto.
– Tenho a impressão de que estamos sendo vigiados. – tocou o rosto dela com certo carinho. – Promete pra mim que não vai fazer nenhuma besteira?
Após ele ter dito aquilo ela se esforçou um pouco mais e conseguiu escutar alguns burburinhos do lado de fora da casa. Não havia lanternas, muito menos sirenes e, se estavam de carro, os faróis certamente estavam desligados. Eles não queriam ser notados.
– Como sabe que são pessoas e não animais? – ela indagou, curiosa.
– Promete? – o tom de voz dele, que estava baixo, aumentou uma casa. Talvez para intimida-la.
– Prometo, .
Ela respondeu e logo voltou para o que estava digitando, mas não conseguiu desenvolver absolutamente nada com a ideia de alguém pudesse estar do lado de fora daquela casa. Ela havia prometido e, para o bem de sua vida, não faria absolutamente nada. Afinal, na visão de , se o irmão dele tinha problemas psicológicos, o que o isentava de ter também?


FIFTH DAY



– Você ainda está ai? – ela indagou curiosa. – Não acha que, quem quer que fosse, já teria atacado?
não conseguiu dormir àquela noite e tinha ficado de prontidão em frente a porta com a arma na mão. Ele confiava no reflexo que tinha. O homem quase não usava roupas: estava apenas com um shorts desgastados – daqueles que homens costumam usar para dormir até que eles sem desintegrem. O tronco nu revelava que alguns dias longe dos treinos e comendo besteiras o tempo inteiro não estava atrapalhando em nada que o físico dele continuasse o mesmo.
se pegou observando o homem à sua frente mais do que deveria e, infelizmente, era como se estivesse em casa. Se não fosse estranho demais falar, talvez ela estivesse se acostumando com a ideia de estar ali todo os dias, com a companhia de um homem que conhecia os poucos. Afastou essa ideia da cabeça, chacoalhando-a.
– Parece até que nunca trabalhou com a polícia desse país, . – ele riu. – Ouso dizer que passaram a noite ai fora esperando qualquer sinal para que pudessem agir...
– Talvez. – concordou. – Mas, por conhecer a polícia desse país, sei que eles são muito mais invasivos do que parece. Então sim: eles já teriam dado algum sinal e
, achou que nunca o encontraríamos?
Por estarem isolados, a voz que surgiu foi como um choque para o ambiente em que estavam. , no mesmo instante, se levantou. Provavelmente nem ele estava esperando por aquilo.
– Foi muito fácil, eu diria. – a voz continuou. – Encontraram o carro de essa madrugada naquela área abandonada, quase aqui do lado. Até as sacolas dela ainda estavam no carro, como você pôde? - o homem falava na maior voz irônica que conseguia e nem estava entendendo aquilo. Quando olhou na direção de , o mesmo dançava algo bem estranho pelo cômodo. – Acho que nem duas horas depois nós conseguimos te identificar e, bom, cá estamos nós!
, você ficou maluco? – perguntou, sussurrando.
– Calma, meu anjo. – puxou a mesma para a dança, e ela realmente não fazia ideia do que estava acontecendo. – Tudo vai dar certo no final.
Em um lapso, beijou-a. se assustou com o ato, a ponto de congelar por alguns segundos. Ele não forçou a abertura dos lábios dela, mas tinha colado os corpos o suficiente para que pudesse sentir a forma do corpo dele debaixo do tecido de sua própria peça de roupa. Com o impulso do próprio corpo, tomou distância, mas ele ainda segurava os pulsos dela.
– Ficou maluco? – esbravejou, tentando não gritar o suficiente para gerar burburinhos do lado de fora da casa. – Eu estou te ajudando nessa merda, trate de me respeitar!
Ele fingiu não ouvir o que ela tinha dito e andou em direção a porta, como se alguém realmente estivesse o vendo.
– Olha, – começou a falar. – no início eu realmente queria que não me encontrasse. Que não encontrassem nenhum de nós dois, na verdade. Mas agora... – fez uma pausa, parecia estar pensando. – Vocês já chamaram a TV local? Quero a mídia aqui.
poderia muito bem imaginar o chefe da operação indicando que não chamassem a reportagem para o local. Eles não poderiam colocar aquele tipo de operação em risco só por obedecer aquele mero pedido. Queria mais. Precisava de mais. Ela tinha cruzado os braços na altura dos seios e, de certa forma, parecia se divertir com a forma como tratava os homens fardados.
– Ah, podem ficar tranquilos que a garota prodígio de vocês não está morta e, aliás, parece muito boa no que faz. – soltou, se referindo, esperava, às anotações escritas no bloco de notas no computador.
– Certo, , ficamos muito felizes que esteja salva. – a voz respondeu. – Mas o que nós queremos saber, na realidade, é o que vamos receber em troca com a vinda da TV até o local. O que você tem a nos oferecer?
– Então, é quem dará a entrevista. – ele respondeu olhando para a mulher, que arregalou os olhos. – Ela tem tanto para falar que você nem imaginam... – riu ao ver sinalizar com os lábios a pergunta “O que eu tenho para falar?”. – Agora, se me dão licença, vou preparar meu almoço. Já está beirando às duas da tarde e não comemos nada.
Dito isso, simplesmente esqueceu que uma equipe muito bem treinada para àquele tipo de situação estava plantada na porta da casa em que estavam apenas esperando que se descuidasse. Porém também carregava um pingo de inteligência, passou a andar com coletes a prova de balas e um tipo de capacete que, até o instante, não conhecia. Ainda absorta em seus pensamentos, mas cansada de apertas as teclas do computador, decidiu que ajudaria o homem a preparar a alimentação do dia. Afinal, ela também sentia fome.
Durante os minutos que se passaram, tentou justificar a atitude do homem que estava ao seu lado: há alguns dias atrás ele poderia muito bem tê-la matado, mas hoje havia a beijado. Por ser uma mulher comprometida e ter respeito com a pessoa que amava, não havia gostado nenhum pouco da situação, porém sabia que aquele momento não era o melhor para conversar sobre aquele assunto com o homem. E, apenas quando pensou em comprometimento, se lembrou de , seu namorado. Muito provavelmente o homem estaria comendo os nervos para saber o que havia acontecido com a namorada.
– É muito clichê dizer que estou com saudade do meu namorado? – ela pensou alto, sem necessariamente esperar uma resposta. – Sinto falta de tudo que a gente fazia juntos, principalmente das manhãs...
– E o que tanto faziam de manhã? Sexo? – indagou, curioso.
– Exatamente!
– Não é algo que me oponho a fazer contigo, gata.
– Não, Weber. – ela, que estava sorrindo, voltou a ficar séria. – Dá pra você parar com essa palhaçada ou se esqueceu que a advogada aqui sou eu? E que merda foi aquela mais cedo?
– Fala da gente se beijando? – ele, que estava concentrado em cortar alguns legumes, levantou o olhar para ela. – Realmente acha que me incomoda beijar uma mulher comprometida quando, muito provavelmente, em alguns dias, estarei atrás das grades?
não tinha respostas, mas deveria.
– Só estou exigindo o mínimo de respeito. – disse, por fim, voltando sua atenção para as louças que lavava.
O clima entre os dois seguiu carregado pelo resto do dia, que não durou muito para , já que havia acordado mais tarde do que o habitual para ela. Depois de almoçar, a mulher tinha em mente estudar a papelada com a desculpa de se manter longe do homem que a aprisionava, porém três coisas estavam tirando seu sossego: e o traje desnecessário que usava, os documentos desorganizados e bem longe de serem estudados em cima da mesa e, em terceiro, talvez considerado o mais estranho deles, um bando de homens fardados do lado de fora da casa que pareciam não fazer nada para colocar um fim naquela história.

Estava beirando às três horas da tarde quando recebeu a ligação informando sobre o real paradeiro de Knightley. E, sem pensar um segundo, agarrou o punho das duas mulheres com quem estava dividindo o pequeno apartamento para se dirigirem rumo à Padstow. Ele sabia que o caminho era longo e que teria que dirigir com precaução por estar carregando duas mulheres, ambas de mais idade, no carro. Para se acalmar, conversou sobre golfe com elas e até explicou um pouco mais sobre o que trabalhava para a mãe de , já que a mesma havia se mostrado bastante interessada quando soube que era sócio do restaurante preferido dela em Londres, o Core by Clare Smith.
– Foi que nos levou lá pela primeira vez, no aniversário de Ruth. – mãe contou. – Ela queria fazer alguma coisa legal, já que estávamos a tanto tempo se nos ver e ela estava totalmente atarefada na época.
– Podemos marcar um dia para conhecerem tudo lá. – olhou para a senhora pelo retrovisor. – Tenho certeza que Clare jamais se negaria a apresentar a cozinha para as duas.
– Provavelmente por que foi você quem deu apoio pra ela lá no início, tô errada? – a mãe de falou, arrancando o primeiro sorriso genuíno de dentre todos esses dias.
– Chegando lá, – começou, mudando de assunto. – vou procurar um hotel para que possamos descansar. Não faço a menor ideia de quanto tempo esse negócio ainda durará.
Para ele a viagem teria sido muito mais tranquilo se o pneu do carro não tivesse furado na metade do caminho, por pouco não causando um acidente. Havia perdido quase duas horas naquela brincadeira e tempo não era uma coisa que estava em jogo para ele naquele dia. Durante o restante do percurso as duas mulheres dormiram e ele tomou a liberdade de conectar o próprio celular no sistema de som do carro para ouvir alguns podcasts – todos com conteúdo empreendedor. Estava chegando no local indicado no GPS quando o celular sinalizou a chegada de uma nova mensagem: “Talvez a gente possa concluir aquela pendência outro dia.”.
se assustou, ao chegar, com a quantidade exorbitante de homens fardados e armados, prontos para o ataque. Surpreendentemente, não havia nenhuma mulher na equipe e ele se perguntava o porquê. A sogra e a cunhada o acompanharam até próximo do responsável pela operação, homem que já estava cansado de olhar na cara. O fato de que já era noite poupou o homem de encara-lo no olho.
– Perdi muita coisa? – chegou indagando. – Ela está bem?
O oficial, que estava ocupado com os dados em uma prancheta, desviou o olhar para .
– Só fizemos um contato até o momento e ele afirmou que estava bem, mas não concluímos isso com certeza tendo em vista que ela não dirigiu a palavra a nós em nenhum instante. – pausou. – Conseguimos ouvir burburinhos vindos de dentro da casa. Tanto pode ser ela como também pode ser qualquer outra pessoa que está dando suporte a .
– Não tentaram invadir? – certamente não entendia sobre o assunto.
– Não podemos fazer isso sem saber como está o clima lá dentro. – o fardado explicou. – Sabemos que ele saia para comprar mantimentos. Vai chegar uma hora que a comida vai acabar e eles não terão outra escolha, a não ser que desejem virar canibais. – brincou, mas voltou a expressão séria quando não correspondeu a brincadeira. – Enfim, estamos acompanhando tudo, todos os detalhes e estamos estudando a possibilidade de algum acesso direto com ela...
não olhava mais para o oficial. Com uma postura ereta, estava com a duas mãos na cintura e observava cautelosamente o local em que estavam, chegando à conclusão de que não gostava muito daquilo. Jane e Ruth estavam absortas à conversa, já que a filha estava mais preocupada em proteger a mãe do frio que fazia àquele horário.
– Sugiro que as leve – apontou para as mulheres atrás de . – para tomar um banho e comer alguma coisa. Não adianta ficar aqui se você não está preparado para isso...


EIGHTH DAY



Durante os últimos três dias, longe da vontade de , sua mente só conseguia se concentrar em dois acontecimentos: sua liberdade poderia estar próxima, mas o homem que a mantinha presa havia tentado beija-la. Nem o fato de estar lotada de papeis e de realmente precisar fazer aquilo estava ajudando-a a desligar-se desse assunto. E qualquer um que visse aquela situação de fora se perguntava o porquê insistia em fazer aquilo – ela entrou com tudo naqueles arquivos –, ainda mais com as informações limitadas que tinha. Era estranho, até mesmo para ela, que estava familiarizada com aquele tipo de situação, imaginar fazer algo daquela magnitude sem reclamar. Tudo aquilo poderia ser justificado pela própria, já que, nas últimas três noites, conseguiu se pegar pensando mais em do que em si própria. E, para ela, aquilo era bom. Pensar nele era bom.
Ele tinha mudado da água para o vinho e, mesmo sem necessidade, limpava os ferimentos dela todos os dias, com um pedido partindo dela mesmo. Os dois passaram a fazer as coisas juntos e, superando as expectativas do homem, estavam se dando bem. Durante aqueles dias, ela conseguiu ver nele qualidades que não havia enxergado nos outros cinco que se passaram: o rapaz era muito mais paciente do que ela, tinha um senso de humor incrível, saiu da própria zona de conforto para ajudá-la a encontrar informações das quais ele nem sabia quais eram.
Dar uma entrevista para a emissora de TV local havia sido um sucesso – para – e, quando acabou, homem comemorava sem fazer nenhum mísero barulho. respondeu, na tarde anterior, como eles estavam vivendo lá dentro, como a tratava e o motivo de estar ali. Naquela última, sabia que não ficaria muito contente ouvido que ela não sabia, mas com certeza estava adorando fazer parte daquele circo. esperava que ele conseguisse entender todas aquelas falas ou, melhor, nem ligasse para o que estava dizendo.
Não. não estava apaixonada pelo homem que a mantinha em cárcere. Mas não poderia dizer que não havia criado um laço com o próprio, já que em nenhum momento tenha feito algo para diminuir ou desestabilizar, pelo menos nada que partisse exclusivamente dele. E, por mais que as vezes ele saia do controle, era notável que estava fazendo aquilo pelo irmão e tinha o achismo de que ele nunca a atacaria.
Naquele dia acordou mais cedo do que e aproveitou para arrumar tudo o que estava bagunçado. Ela nunca fora um mulher maníaca por uma casa cem por cento limpa, mas prezada por uma organização. E aquele lugar estava bem longe disso. Após se dar por satisfeita, tomou um banho e, ao desligar o chuveiro barulhento, conseguiu ouvir a voz do namorado.
Era insano o quanto sentia saudades das brigas desnecessárias, das caronas até o trabalho, dos jantares românticos, dos passeios pela cidade e das viagens, dos toques e do prazer que lhe proporcionava sem muito esforço. Sentia falta de observa-lo dormir de madrugada e de acorda-lo para o café da manhã e, mesmo sem muito conhecimento no assunto, sentia falta de ouvi-lo explicar sobre a bolsa – que ela fingia entender apenas por vê-lo animado – e discutir com a tela do computador por que ouve queda em alguma coisa. Ter por perto todos os dias era tudo o que ela precisava e nunca tinha dado o devido valor aquilo.
E, mesmo com o pensamento em , já estava há algum tempo digitando quando foi interrompida:
– Eu vou ceder. – o homem entrou no cômodo, confessando. – Só queria ver você concluir algo.
Ela parou o que estava fazendo, pousando as mãos no colo, para olhar diretamente nos olhos dele. O homem tinha um expressão exausta, já que não dormia desde que sentiu que a polícia estava no terreno. Quando viu que não diria nada, continuou:
– Além disso, eu não tenho para onde correr. – deu de ombros. – Só não quero morrer. E é isso que vai acontecer se eu te manter aqui dentro...
– Sabe que você pode pedir qualquer coisa, não sabe? – ela indagou, já sabendo a resposta.
– Sim, . Mas vai muito além disso.
– Do que você tem medo? – fechou a tela do computador após salvar o arquivo. – Você pediu a TV e eles trouxeram e não te impediram de falar absolutamente nada. Você poderia ter denunciado o Philip naquela hora, se bem que seria uma tremenda burrada, mas você poderia ter feito.
Ele riu. Estava sentado no colchão, há alguns metros de distância dela.
– É, seria meio burro, mas eu peguei a essência do que você está dizendo. – as mãos agitadas no colo denunciavam o desespero. – Você vai mesmo fazer isso? Digo, levar o pedido para a corte?
– Claro! – respondeu no ato. – Não posso levar do jeito que está, seco e sem a quantidade de referências que eu preciso, mas eu vou levar.
– Certo. – se levantou. – Tá com fome? Hoje temos peixe.
– Quase nunca comemos peixe. – ironizou. – Estou morrendo de vontade de experimentar o seu!
A jornada dela ali dentro daquela casa poderia estar chegando ao fim. A partir daquilo, ficou extremamente sem ânimo para terminar o que fazia, mas sabia que precisava. Reunindo forças de lugares que ela nem sabia existir dentro da própria mente, voltou a abrir a tela do notebook, voltando a se acostumar com o brilho, levantando-se dali apenas uma hora e meia depois, quando gritou que o almoço estava pronto. E já se passava das 3pm. Para ela seria quase um lanche da tarde.
– Depois eu quero te mostrar o que já tenho pronto. – disse entre uma garfada e outra. – Como eu já tinha dito, precisa de muito ajuste, mas você terá uma base do que vai ser.
– Hm, talvez seja uma boa ideia. Tem muita coisa?
– Depende. – soltou o garfo, olhando para . – Estou tentando começar a montar o processo para acusar o Cruise também, então...
– Vai entrar contra ele também? Não acha cedo?
– Eu disse que estava começando. Tá bem longe de terminar, acredite!
– Quero ler os dois! – disse, por fim.
Só que, durante o restante da tarde, se isolou e não aparentava o mínimo interesse em ler qualquer coisa que tivesses escrito, deixando a mulher um tanto quanto chocada. Ela o observava de longe, fingindo digitar alguma coisa enquanto estava sentada no colchão do quarto. carregava um expressão preocupada e parecia que sua mente pairava longe enquanto rabiscava alguma coisa em alguns papeis que havia encontrado dentro da própria mochila. O lápis, tinha pegado o mesmo que estava usando anteriormente. Achava razoavelmente justo o comportamento do homem, mesmo que não entendesse exatamente nada sobre o psicológico de alguém que ocupasse a posição de – o sequestrador –. Das vezes que já trabalhou com casos parecidos, em nenhum deles esteve cara a cara com um homem que sentia medo.
já estava costumada a ouvir passos ao redor da casa o tempo inteiro e aquilo nem a incomodava mais, mas estava surpresa em como aquelas pessoas estavam tão relaxadas em relação ao que estava acontecendo já que, se fosse em outros tempos, com certeza ela estaria em algum instituto de medicina pronta para realizar todos os exames requeridos pela justiça num caso como o dela. E, para não continuar pensando naquilo, decidiu que a melhor coisa a fazer era retornar ao texto. Essa sempre seria a sua válvula de escape.


Vozes. Muitas vozes.
acordou assustada com a porta do quarto sendo empurrada e, por ainda estar com a visão completamente embaçada, via apenas a silhueta da pessoa e, definitivamente, aquele não era . Mas também não teve muito tempo para perguntar quem era aquela pessoa, já que em questão de segundos outras dezenas daqueles adentraram no ambiente em que ela se encontrava. Quando ela estava se acostumando a ideia de ter várias pessoas em sua volta, alguém ligou a luz, anulando todo o esforço anterior. E, desistindo de tudo aquilo, não se importou com mais nada ao ser carregada nos braços para qualquer que fosse o destino. não conseguia perceber, mas naquele momento a casa estava sendo revirada. Ainda não estava bem, conscientemente falando, mas ela conseguia assimilar as luzes e o som das sirenes, além de toda gritaria que havia se instalado no lugar. Ela sentia que alguém segurava sua mão e outra pessoa havia passado a tocar sua panturrilha. Não reclamaria de nenhum toque agora. Alguém enfiou um objeto pontiagudo na veia e, para ela, talvez tenha sido a mesma pessoa quem focou um objetivo luminoso nos olhos. Ainda estava um pouco zonza e não conseguia formar frases.
– Não precisa investigar muito, é só olhar para o lábios. É notória a desidratação. Administrei soro. Precisamos leva-la à algum hospital para realizamos exames mais complexos, mas com toda certeza terá que ficar alguns belos dias de repouso. – uma pausa. – Acho melhor administrar sedativo também...
Desse momento para frente, não ouviu mais nada.

– Corporalmente falando, a Senhorita Knightley não está com nenhum problema sério. Todos eles podem ser resolvidos com uma boa alimentação e vitaminas. Água é indispensável.
– Entendo, Doutor. – era a voz de , essa ela sempre reconheceria. – Tem alguma previsão de alta?
– Talvez mais uns três dias, para acompanharmos a evolução dela. Se o progresso estiver dentro do estipulado ela poderia ir para casa.
Silêncio.
– Tem algumas horas de suspendemos o sedativo, então ela deve acordar bem antes do que esperam. Quando isso acontecer, não deixem de comunicar a enfermeira dela.
permaneceu de olhos fechados por mais tempo do que gostaria, curtindo o carinho que uma mão leve fazia nas suas, tudo por que não queria nenhum desconhecido tocando seu corpo ou lhe fazendo perguntas indesejadas minutos após acordar. Se bem que ela não fazia a menor ideia de quem a estava lhe dando carinho àquela hora. E foi por isso que ela decidiu abrir os olhos, aos poucos para se acostumar com a luminosidade.
A primeira pessoa a ver foi a mãe, que estava com a cabeça baixa e parecia estar chorando. Era Jane que massageava a mão da filha. Ao girar a cabeça para o outro lado do quarto, encontrou nervoso – e sabia disso por que sua mão revezava entre o rosto e o cabelo. Ele olhou em sua direção, sendo o primeiro a notar que estava acordada.
– Ah, meu amor... – foi o que conseguiu dizer, caminhando em direção a ela. – O que fizeram com você?
Era um pergunta retórica, ela sabia, mas também não teria se dado o trabalho de responder se não fosse, já que ela conseguia ouvir sua mãe cochichando alguém coisa do seu lado e, naquele momento, a mulher também precisava de atenção. Além do mais, ela poderia dormir mais um dia inteiro e sua cabeça continuaria no mesmo turbilhão de pensamentos.
Não muito tempo após aquilo, uma mulher que aparentava seus quarenta anos entrou no quarto após pedir permissão.
– Boa tarde, Senhorita Knightley. – a mulher sorria. – Como está se sentindo?
O pergunta retórica.
– Estou bem, acho.
– Isso é bom! Vou apenas conferir a sua pressão, verificar os sinais vitais. Procedimento normal e padrão, tudo bem?
acenou com a cabeça. No mesmo instante deu espaço para a enfermeira, voltando a fitar o celular. Ainda assim, a advogada não deixou de observar os passos do namorado.
– Vou pedir para que lhe tragam algo para comer. Um dos dois – direcionou o olhar de Jane para . – pode te ajudar a se alimentar. Se sentir algum tipo de desconforto, por favor, pare tudo e chame qualquer um da equipe. Todos sabem como proceder.
Por um impulso, segurou a mão da mulher impedindo-a que fosse embora.
– Onde ele está?
– Ele quem, Senhorita? – questionou, olhando para .
– O . – respondeu em tom obvio. – Onde ele está?


Fim



Nota da autora: Oii, tudo bem?? Agradeço muito por ter chegado até aqui :) Fiquei contente com o resultado, por ser a minha primeira finalizada, e espero que você também tenha ficado.
E, antes que eu me esqueça, esse final não ficará assim! Pretendo escrever uma outra shortfic para contar o que aconteceu com a personagem e quero saber qual a expectativa de vocês para isso. Me conte aqui nos comentários.
E, novamente, muito obrigada por ter lido!



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