1- Sweet Summer

“We were never gonna say goodbye…”

[…]

- , cala a droga da boca! Você vai acordar todo mundo! – Eu gritava me fingindo de brava, mas não conseguia evitar o meu próprio riso de idiota enquanto tentava descobrir um jeito de pular a janela.
- Talvez você devesse tirar os tênis, pateta! Ia fazer menos barulho... – gritava o menos alto que conseguia lá de baixo.
Ah, a janela nem era tããão alta assim. Mas se minha tia ouvisse o barulho, provavelmente pensaria que se tratava de um ladrão e, além de chamar a polícia, soltaria T-Rex, o cachorro que mais parecia um urso, em cima do . Logo depois, ela perceberia de quem se tratava, e aí, simplesmente falaria até que meus ouvidos explodissem.
- Então segura aí! – Tirei do pé o All Star verde água e joguei delicadamente no quintal, mas o imbecil do não o pegou (como deveria ter feito), e o sapato acertou em cheio o olho dele. Imediatamente o garoto levou as mãos ao rosto, se jogando no chão feito uma mocinha.
- AI, VOCÊ ME CEGOU! – Gritou.
- Mas você é muito gay mesmo! – Murmurei balançando a cabeça. Em seguida, pulei lá de cima tentando não fazer muito barulho. Fiquei feliz por estar de olhos fechados e não ter visto meu vestido levantando por completo durante a queda. Então me aproximei dele.
- Me deixa ver! – Disse sem dar muito crédito.
- Não, tá doendo demais! Deve estar sangrando! – Ele choramingou sem tirar as mãos do rosto.
- , me deixa ver a droga do seu olho! – Ordenei.
- Não, Vicentini! Sai daqui; você me machucou de verdade!
Não dava para acreditar que eu tivesse conseguido cegar o com uma allstarzada na cara; era ridículo demais até para nós dois. Só que ele não tirava a bendita mão do olho e eu estava começando a me preocupar.
- , você tá falando sério? – Tentei segurar seu rosto. – Machucou mesmo? – Me aproximei.
- Ficou preocupadinha, é? – Ele tirou as mãos da frente e piscou para mim dando uma risadinha cínica.
- Você merecia ter ficado cego de verdade! – Dei um beliscão no braço dele.
- Uh, que cruel ela é. – Ele riu esfregando o braço.
- Ah, , você me irrita mais do que consegue imaginar. – Falei, e era verdade.
- Não perca seu tempo se irritando. – Ele disse quase sério. – Essa é nossa última noite juntos, e eu trouxe uma coisa. – Levantou uma panela, que eu nem tinha reparado que ele trazia, coberta por um pano de prato.


🌴💚🌴


- O que tem nessa panela? – Perguntei enquanto caminhávamos entre as pedras. Não sabia se me arrependia ou não de ter calçado os tênis de novo: eles impediam que as pedrinhas machucassem (muito) os meus pés, mas estavam ficando úmidos e gelados por causa da maresia, e estariam fedendo a água salgada quando eu fosse embora, no dia seguinte.
- Você vai descobrir quando chegarmos. – desviava das pedras maiores. – Vem, eu te ajudo. – Me dava a mão.
Caminhamos quase em silêncio por alguns segundos; ouvindo só o barulho das ondas batendo nas rochas maiores e da nossa própria respiração. Nenhum dos dois estava a fim de falar muito, para ser sincera; pelo menos eu acho. Porque, apesar de a noite estar tão tranquila, o céu tão estrelado, o mar tão feroz e o tempo tão fresco, aquilo continuava a ser um momento triste. Ainda era uma despedida.
- Chegamos. – Ele disse se sentando na grande rocha onde já havíamos nos deitado umas mil vezes desde que nos conhecemos, no começo das férias. Mas normalmente fazíamos isso durante o dia, mais precisamente no fim da tarde. O brilho alaranjado do sol nos cegava, e ficamos conversando por milênios até alguém chamar um de nós. Agora já passava da meia noite, e nós éramos as únicas almas vivas naquela praia.
Sentei-me ao seu lado sem olhar para ele. A última coisa que precisava naquele momento era chorar bem na frente de , o galã (pelo menos até o fim das férias) de Venice Beach. também não olhou para mim, o que me fez criar uma estúpida esperança de que ele estivesse se sentindo tão desolado quanto eu.
- Não acredito que vamos deixar nossa última noite juntos ser tão chata. – Ele riu de repente. – Qual é, fala alguma coisa, Vicentini! – Me cutucou.
- Não tô a fim de falar! – Tentei ignorar o impacto que aquela palavra última estava causando em mim. – O que tem na panela, afinal de contas? – Perguntei mudando de assunto.
- Veja com seus próprios olhos. – Me entregou a panela coberta.
Quase não acreditei quando puxei o pano, e o cheiro de chocolate meio queimado me obrigou a sorrir.
- Brigadeiro de panela? Sério? – Perguntei.
ficou vermelho de repente. Os olhos perderam um pouco do brilho malandro de costume e ele olhou para baixo. Mesmo assim, pude ouvir o sorriso em sua voz quando explicou:
- É só que... Eu fiquei pensando... Como nós nunca seremos um casal normal, do tipo que faz essas coisas juntos, e vê filmes ruins e tudo mais... Achei que seria legal fazer isso, pelo menos uma vez. Que seria uma boa lembrança.
Meu Deus do céu, como eu detestava aquele garoto! Não que o que ele fez não fosse a coisa mais engraçada, melosa e meiga que alguém já tinha feito para mim, mas por que fazer eu me sentir ainda pior por estar indo embora?
- Ah, , você é tão... – Olhei para ele como se estivesse tentando achar uma palavra. – GAY! – Gritei. – E esse brigadeiro está todo queimado, você não sabe cozinhar? – Provoquei.
- Eu estava esperando ouvir pelo menos um “obrigado, ” por ter me matado para conseguir esse tal de leite condensado que vocês, brasileiros, tanto gostam! – Ele se fez de ofendido.
- Não sou brasileira, , minha mãe é. – Ri. – Além disso, pedir obrigada por isso aqui? Nem se eu fosse louca.
- Já era de se esperar que eu fosse ouvir isso... – Revirou os olhos.
- Mas mesmo assim... – Eu disse, fazendo com que olhasse para mim. – Obrigada, . – E então o beijei.

Nunca pensei que seria tão difícil dizer adeus a .
Quer dizer, a gente não se conhecia nem bem há um mês! E, além disso, eu sempre soube que no fim das contas cada um iria para um canto. Essa é a magia das férias: você conhece pessoas que adora e vive momentos inesquecíveis, e então sua vida volta ao normal e tudo parece ter sido um daqueles sonhos dos qual você não quer acordar, mas precisa. Mas isso não te deixa deprimido, porque você sabe desde o começo que vai acontecer. Eu já sabia disso quando desci do carro em Venice Beach; era isso que eu queria quando fui passar as férias na casa da minha tia, aliás.

[N/A: Ok, docinhos, vamos melhorar as coisas. Podem ouvir, se quiserem, a partir do começo essa música aqui].

Acontece que tudo mudou quando, em uma bela manhã de segunda-feira (e tenho certeza de que você concorda que segundas-feiras se tornam dias maravilhosos durante as férias), eu saía da casa da minha tia casa para uma caminhada na praia e fui atingida em cheio por uma bolada na cabeça. Eu estava caída por não mais que cinco segundos quando o garoto de cabelo e olhos estendeu a mão para que eu me levantasse. Levantei-me já brigando com ele, mas o miserável permaneceu em silêncio até que eu terminasse meu discurso, e então simplesmente começou a rir. Ele estava rindo de mim porque eu tinha levado uma bolada? Uma bolada com uma bola que ele chutou? Era demais para mim. Dei um tapa nele e voltei para dentro de casa, ouvindo enquanto ele me xingava e ria ao mesmo tempo. Fiquei irritada pelo resto do dia, mas não consegui, nem por um instante deixar de pensar nele, o que me deixava mais puta ainda, e tratei logo de me convencer de que ele era um idiota. Entretanto, no dia seguinte, quando abri o portão em mais uma tentativa de dar uma volta, reparei algo diferente na paisagem. O Assassino da Bola de Futebol, como o nomeei, estava sentado no chão, encostado no pequeno muro da casa da minha tia. Apesar de continuar rindo da minha cara (discreta, mas perceptivelmente), ele se desculpou pelo dia anterior. E eu, apesar de ainda não gostar dele, aceitei as desculpas. Ele disse que o nome dele era , e que estava passando as férias na casa de praia da família de um amigo, a algumas casas de distância. Eu queria não me importar com o que ele dizia, queria aceitar o pedido de desculpas dele como o ponto final do assunto e não ver mais aquele garoto na minha frente. Mas algo nele me deixava perdida; algo nele me deixava brava; algo nele me deixava com cada vez mais vontade de estar perto. E então, como num piscar de olhos, ele se tornou a melhor parte daquelas férias. Saíamos juntos quase todos os dias (minha prima Sofia foi de grande ajuda, visto que eu não estava muito a fim de contar à minha tia que estava saindo com o garoto mais bonito da vizinhança, porque sabia que a primeira coisa que ela faria seria ligar para minha mãe -que estava em uma viagem de estudos com a turma da faculdade- e contar tudo), conhecemos cada canto de Venice Beach, e a cada dia eu gostava mais de ficar com ele. Acho que em um determinado ponto da nossa diversão, me esqueci de que tudo acabaria no fim do mês. Me esqueci de que ele voltaria para a cidade dele, e eu, para a minha.
E era por isso, por causa da minha porcaria de amnésia, que eu agora estava surtando enquanto colocava minha bolsa no banco de trás do carro do meu tio. Por que eu tinha que ir justo agora? Por quê?

[N/A: Chegaram mais ou menos a 1:18 minutos? Pois podem parar por agora, meninas, mas não fechem a aba, porque daqui a pouco precisarão da mesma música de novo].

- Pronta, querida? – Ele perguntou.
- Sim, tio. Já coloquei tudo aí dentro.
Minha tia me deu um abraço.
- Até mais, meu bem. Mande um beijo para a sua mãe. – Disse.
- Até mais, tia.
Sofia, com seu cabelo vermelho tingido e sua franja enorme (que ainda a deixaria cega, como eu sempre dizia), se aproximou de mim. Me prendeu em um abraço de urso e riu ao dizer baixinho:
- Não olhe agora, mas sua farsa chegou ao fim. Não tem mais como esconder.

[N/A: Soltem a música a partir de 2:44 minutos.]

Ainda sem entender o que ela estava dizendo, me soltei do abraço e olhei para trás. Um nó surgiu em minha garganta, mas eu me segurei.
- Eu não ia deixar você ir assim, Vicentini. – Ele disse.
Corri e o abracei.
Agora já era: minha mãe saberia daquilo em menos de dez minutos.
- Você acabou com a minha farsa. – Murmurei tentando conter as lágrimas.
- Bom, eu sempre estrago tudo, né? – Sorriu.
- Vou sentir sua falta. – Admiti.
- Não mais do que eu vou sentir a sua.
Meu tio pigarreou.
- , não quero atrapalhar, mas não podemos perder a hora...
- Já estou indo! – Eu disse. – A gente se fala então?
- Claro, você tem meu número. – Ele deu de ombros.
- E você tem o meu. – Belisquei-o.
- Vamos nos falar, sim. – Ele assentiu, sério.
- Então não é adeus. É até logo.
- Até logo, .
Com o coração partido, entrei no carro. E lá dentro, enquanto nos afastávamos pela rua estreita, aí sim, não consegui mais conter as lágrimas que rolaram por nem sei dizer quanto tempo.

[N/A: Podem parar com essa delícia de música agora].



2- Everybody Hates (or loves) Goodbyes

“My heart is sinking as I'm lifting up above the clouds, away from you…”

[…]

- , você não quer mesmo comer? – Ela gritava da cozinha.
- Não, mãe! Tô bem assim! – Eu respondia.

Mas claro que eu estava mentindo. A verdade é que eu não sentia muita fome, nem sede, nem vontade de viver, desde havia deixado Venice Beach (e isso tinha quatro dias, o que queria dizer que não, eu não estava nada bem).
Depois de ter chorado baixinho durante todo o caminho até o aeroporto de LAX, enquanto ouvia as palavras de consolo não muita consoladoras do tio Ted, fiz o maior esforço do mundo para ir embora parecendo minimamente feliz. Quando minha mãe foi me buscar no aeroporto de Denver, sorri e fui respondendo automaticamente todas as perguntas que ela me fazia até estarmos em casa. Depois me tranquei no quarto dizendo que precisava descansar e choraminguei mais um pouco enquanto ouvia uma série de músicas que só pioravam toda a situação.
Droga, o que estava acontecendo comigo?! Eu não era assim! Eu precisava superar aquilo; superar o !
Tentei, naquele mesmo dia, sair com meus melhores amigos, Collie e Ben. Mas minha cabeça continuava a milhas de distância, na areia branca e no mar da Flórida. Logicamente, os dois perceberam, e aí eu contei toda a história, dando início ao meu novo passatempo preferido: falar de . Falar sobre como meu verão havia sido incrível. Me lamentar por tudo ter acabado. Eles tentaram me animar, mas não adiantou muita coisa.

- Caramba, que voz é essa? – Sofia se espantou quando me ligou na terça-feira, dois dias após eu ter ido embora. – E que música é essa que eu estou ouvindo? Por acaso isso é Adele? , pelo amor de Deus! Me diz que não é Adele!
- O que foi, Sofia? – Perguntei com a voz de morta-viva que havia adquirido nas últimas quarenta e oito horas.
- Eu é que te pergunto: o que foi? Não vai dizer que está deprimida assim por causa do ...
- Ah, Sofia...
- “Ah” digo eu, ! Você nunca foi disso; vai começar justo agora por um garoto que você mal conhece?
- Eu conheço o muito bem. – Falei sem muita convicção na voz.
A verdade é que eu não queria admitir que ela estivesse certa, embora soubesse que estava. É impossível conhecer alguém direito em um mês, e eu e o não tivemos muito mais que isso. Mesmo assim, queria me prender de qualquer forma àquela sensação que eu tive durante as férias de que o conhecia desde sempre, mesmo sabendo que era uma completa maluquice.
- Nem você acredita nisso, . – Imaginei Sofia jogada em meio aos lençóis, revirando os olhos impaciente enquanto pintava as unhas.
Tentei não parecer uma doida obcecada ao fazer a pergunta seguinte:
- Ele já foi embora?
- Foi, essa manhã. Passou aqui para se despedir de mim e disse que esperava te ver de novo algum dia.
Suspirei.
- Você já ligou para ele ou coisa assim? – Ela perguntou.
- Não! Não queria que ele pensasse que eu sou uma maluca que não tem vida própria. Estava esperando pelo menos ele voltar para casa.
- Bem, a essa altura ele deve estar jogado na cama, ouvindo Adele e choramingando, então, por que você não tenta?
Mordi o lábio. – É, tem razão. Nos falamos depois.
- Boa sorte.
Encerrei a chamada e respirei fundo. Será que era mesmo uma boa ideia? Ele não ia achar que eu era uma doida? Não que fizesse diferença, afinal, eu estava enlouquecendo mesmo. E o sempre dizia que eu era maluca, não ia se assustar. Procurei o nome na lista de contatos. Só tinha um lá. Fiz a ligação. Sorri ao ouvir a música de espera: Jet Leg, do Simple Plan. Eu adoro essa música. Mas depois de um bom tempo ouvindo ela tocar...

- Oi, aqui é o ! Tô ocupado agora, porque sou um cara muito popular; então você pode marcar um horário com a minha secretária, ou pode deixar o seu recado após o BIP.

Desliguei antes do sinal e fiquei ali, com o celular nas mãos.
“Mas que droga, ! Até quando não está por perto você me irrita!”, pensei.
Ainda queria falar com ele, mas estava nervosa demais para deixar recado, então ao invés disso, escrevi uma mensagem.

“Oi, !
Tentei te ligar, mas caiu na caixa postal, porque você é um burro que não sabe colocar o celular para carregar.
Lembre-se que agora eu não estou mais na casa ao lado, então você não pode se dar a esse luxo! ;)
Beijo.”

Esperei durante um, dois, três, quatro, cinco, trinta minutos. Ele não respondeu. Dormi com o celular embaixo do travesseiro para não correr o risco de não ouvir caso ele me mandasse alguma coisa de madrugada. Me odiava por isso, mas sabia que eu responderia sem pestanejar.
Acontece que ele não mandou nada durante a madrugada.
Quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que fiz foi checar a caixa de mensagem, mas não havia nem sinal do .
Não consegui conter meus dedos, e quando vi já estava enviando outra mensagem:

“Mas que merda, ! Responde de uma vez!”

Esperei por mais uma hora deitada na cama, mas o silêncio continuava. E então, devagarinho, o sol foi atravessando as cortinas, e eu fui desistindo. Talvez mais tarde funcionasse.


🌴💚🌴


E foi assim que se passaram quatro dias desde que eu vi o pela última vez, e nós não nos falamos desde então. Mandei mais umas mil mensagens depois de ter sido deliberadamente ignorada nas três primeiras, e ele não respondeu nenhuma delas. Também não retornou nenhuma das minhas quinhentas ligações. Eu estava triste, frustrada, me sentindo um lixo. Era completamente inconcebível que o único garoto de quem eu tinha gostado de verdade fosse um idiota. Eu não podia aceitar isso. Eu não ia aceitar.

- Oi, prima. Desculpe te ligar tão cedo e atrapalhar seu luto eterno, mas queria te fazer uma pergunta. – Sofia disse quando me ligou na manhã do quarto dia, logo após eu ter dito a minha mãe (pela milésima vez) que não queria comer nada.
- Pode fazer. – Respondi sem tirar a cabeça de debaixo do travesseiro.
- Você já falou com o ?
Acho que o som que emiti foi muito mais parecido com um rosnado do que com qualquer outra coisa, porque ela entendeu o recado.
- Ok. Entendi. – Ela disse. – Esse é justamente o motivo da minha ligação.
- O que houve? – Destampei a cabeça um pouco.
- É que hoje de manhã eu fui dar uma volta pela praia e encontrei a mãe do passeando com aquele cachorro lindo deles e...
- E o que, Sofia? – A essa altura eu já estava sentada na cama. Imaginei como eu deveria estar linda com meu cabelo sem pentear há quase dois dias e minha cara de noite mal dormida.
era o tal amigo dono da casa de praia onde o havia ficado, então o assunto parecia mais importante do que nunca para mim.
- E ela me disse que tinha ido até lá buscar umas coisas que tinham ficado, e achou, no meio da bagunça, um carregador de celular, e ficou reclamando de como os meninos eram relaxados e...
- AH! – Berrei.
- ?
- Eu sabia!
- Sabia o quê?
- EU NÃO ESTOU SENDO IGNORADA! – Comemorei, já de pé na cama.
- O quê?
- Não acredito que fui tão burra! É que ele não respondeu e... Meu Deus! Como eu pude pensar que ele ia me ignorar?! É claro que não!
- Espera aí, , você tentou falar com ele e ele não respondeu? – A voz veio desconfiada.
- Sim, mas o que importa agora? Já está tudo mais que explicado, não está? – Eu ria histericamente. – Ele esqueceu o carregador do celular na casa de praia porque é um tonto! Deve estar incomunicável, não me ignorando!
- Não sei não, ... – A voz continuava desconfiada. – Não quero te desanimar, mas esse carregador pode nem ser...
Mas antes que ela terminasse a frase minha mãe já estava na porta.
- , o que é isso?! – Exclamou assustada. Acho que ela já estava se habituando ao meu silêncio deprimente.
- Mãe, ainda tem sorvete na geladeira? – Perguntei sorrindo. – De repente me deu uma vontade louca de comer sorvete de creme.
Minha mãe estava meio confusa ainda, mas abriu um sorriso.
- Tem sim. Acho que vou te acompanhar na dose. – Então ela ficou meio preocupada. – Vou precisar de muito açúcar para ter essa conversa com você.
- Separe a calda de chocolate. – Pisquei para ela, que saiu do quarto logo em seguida.
- , você ainda está na linha? – Ouvi Sofia perguntar.
- Por pouco tempo, Sofi. – Respondi sorrindo. – Mamãe quer conversar comigo alguma coisa não tão importante quanto a notícia que você me deu.
- Mas, ...
- Nos falamos depois. Beijo. Te amo.
Se meu sorriso não estivesse tão petrificado, meu coração teria saído pela boca.


🌴💚🌴

- SEM CHANCE. – Foi a única coisa que eu disse quando ela terminou o discurso totalmente embromatório que devia ter passado uns três dias bolando.
- ... Filha... – Começou a fazer cara de choro, usando seu truque clássico: a chantagem emocional. Foi assim que ela me convenceu, quando eu tinha apenas nove anos, a ter um peixe e não um cachorro, como eu queria. Claro, acabei gostando do peixe (que se chamava Nemo), mas nunca superei o trauma de não ter um dálmata.
- Mãe, a gente NÃO VAI se mudar! – Surtei de uma vez. – É meu último ano na escola que está prestes a começar! Quer causar um impacto emocional tão grande ao ponto de eu desistir de entrar na faculdade e virar dançarina? Porque é isso que vai acontecer!
- ...
- Eu estudo com a Collie e o Ben há três anos! – Continuei gritando. – Não posso me separar deles assim! E quanto aos meus professores? E quanto à escola toda? Meu Deus, e as aulas de teatro? Ai meu Deus...
- ... – Ela começou de novo. Fuzilei-a com um olhar. De repente vi lágrimas em seus olhos. Ainda não queria me dar por vencida. “Lembre-se do peixe, lembre-se do peixe!”, dizia à mim mesma. Mas a verdade é que eu estava quase me rendendo. E, além disso, não poderia fazer muita coisa além de espernear se ela decidisse se mudar mesmo.
- Mãe, não ouse dizer is... – Tentei impedi-la. Já sabia o que estava prestes a fazer.
- Mas é tão importante para mim! – Ela caiu no choro.
Revirei os olhos. Ela era mesmo muito cara-de-pau.
A situação era a seguinte: pelo visto minha mãe havia conseguido uma chance de participar de uma pesquisa cultural interessantíssima no Brasil, coisa do programa de intercâmbio da faculdade. Acontece que ela teria que ir para lá em uma semana e o período de pesquisa seria de seis a oito meses, dependendo de como o trabalho se desenvolvesse. Ela tinha dois dias para responder se aceitava ou não a proposta.
Logicamente, minha mãe estava eufórica com a possibilidade de voltar ao Brasil, onde ela havia nascido e crescido; tendo saído de lá apenas porque se apaixonou pelo meu pai enquanto ele fazia uma turnê com sua banda desconhecida (imagina só fazer uma merda dessas para depois acabar se separando; deve ser, no mínimo, muito frustrante). Ela nunca havia perdido o contato com a família, apesar disso. Nós os visitávamos várias vezes ao ano: no aniversário da vovó e de alguns outros parentes, nos grandes feriados e, às vezes, até no natal. Eu sempre gostei do Brasil, apesar de todos os contras do lugar, então nós havíamos combinado há um bom tempo que nos mudaríamos definitivamente quando eu terminasse o ensino médio. Eu faria faculdade lá, e minha mãe poderia ficar perto da família novamente. Tudo perfeito.
Acontece que ainda faltava praticamente um ano, e eu tinha planejado aproveitar bem esse meu resto de tempo como cidadã americana. Como ela vinha me pedir para adiantar em um ano a minha despedida de tudo?
- Olha, quer parar de chorar? – Levantei do sofá e me sentei no braço da poltrona, colocando os braços em volta dela. – Eu sei que é importante para você, mãe. Mas é que também não é tão fácil para mim... E o papai é maluco, mas acho que ele também ia ficar meio mal...
Ela enxugou as lágrimas na barra da camisa rosa que usava.
- Você tem razão. – Fungou. – Não posso te obrigar a isso.
Então ouvimos “Stayin’ alive”, dos Bee Gees, se espalhar pela sala, e ela atendeu o celular.
- Oi, Mônica. – Disse. Mônica era uma das amigas de faculdade da minha mãe. Uma daquelas que era quase vinte anos mais nova e se achava muito madura. – Estou conversando com ela sobre isso agora mesmo. Disse, eu disse a ela, mas é que... A tem uma vida também, Mônica. Eu sei! Na verdade... O quê? Hum... Não sei, Mônica. Tudo bem, vou falar com ela.
- O que ela está dizendo? – Perguntei.
Minha mãe cobriu o celular com uma das mãos e disse:
- Ela perguntou por que você não fica com o seu pai enquanto eu estou no Brasil.
- Ficar com o meu pai? – Franzi o cenho. – Mãe, manda essa Mônica parar de se meter na nossa vida! Eu hein!
Minha mãe deu uma risadinha leve e voltou a falar.
- Desculpe, Mônica, mas é que nós duas nunca nos separamos. Somos melhores amigas e, além disso, não acho que a ia querer se mudar para a Flórida assim do nada. Principalmente para morar com o doido do Jack...
Primeiro tudo congelou, depois começou a girar em uma velocidade descompassada.
Flórida, Flórida, Flórida! O meu pai agora morava na Flórida!
E quem mais morava na Flórida?
Bingo!
Aquela Mônica era uma santa.
- MÃE, ESSA É UMA EXCELENTE IDEIA! – Pulei do braço do sofá, rindo feito uma louca.
- Espera um segundo só, Mônica. – Ela pediu. – O que você disse, ?
- Disse que é uma excelente ideia morar com o meu pai! Mônica, você é genial! – Disse alto para que ela ouvisse.
- Mônica, acho melhor eu desligar agora. – Ela disse meio atônita. – Acho que quem vai surtar sou eu.

- Mas mãe, o que pode dar errado?
- Umas mil coisas, ! – Ela esbravejava. – Você pode morrer de fome, de sede, a luz pode acabar porque ele se esqueceu de pagar as contas... Estamos falando do seu pai!
- Você se casou com ele mesmo assim! Tem que ter pelo menos uma coisa boa nele!
Ela me olhou como se estivesse prestes a me matar. Aquilo havia sido golpe baixo.
- Tem, tem que ele é um excelente músico, e eu era uma completa maluca! – Ela suspirou e fechou os olhos. – , se eu for para o Brasil e deixar você com o seu pai, vou enlouquecer...
- Mãe... – Aproximei-me dela e segurei seus ombros. – Ele me ama. Nunca deixaria nada de mau me acontecer.
Ela revirou os olhos e respirou fundo de novo, e eu sabia que havia se rendido.
- A verdade é que eu vou surtar de qualquer jeito. – Então me abraçou. – Mas vai ser de saudade de você.
- Ah, mãe, são só alguns meses. Pense que vamos passar o resto da vida juntas. – Sorri enterrando o rosto na blusa dela. – Mas eu vou morrer de saudades também.


🌴💚🌴

Claro que duas horas depois a saudade antecipada já havia passado, e eu estava trancada no quarto fazendo minhas malas. Mamãe estava na sala telefonando para o papai, mas eu não me preocupava com a reação dele; sabia que aceitaria prontamente. Ele já havia me convidado para morar com ele, aliás, mas eu tinha nove anos e minha mãe me convenceu a não aceitar, me prometendo que se eu ficasse com ela teríamos um bichinho de estimação. Foi aí que veio o peixe. Mas eu sabia agora que, mesmo que eu tivesse escolhido o meu pai, ele não teria ficado comigo. E quer saber por quê? Porque isso partiria o coração da minha mãe, e a última coisa que meu pai queria era fazer isso (de novo). Apesar de ela não ter aturado toda a irresponsabilidade e excentricidade do meu pai, ele a amava. E ela, no fundo, também o amava. Foi esse amor que fez com que ela, aos vinte anos, largasse a faculdade e a vida feliz que tinha no Brasil para segui-lo. Foi desse amor que eu nasci e, apesar de os dois serem totalmente pancadas, tenho muito orgulho disso.
- Como já era de se esperar... – Ela suspirou ao surgir na porta.
Nem esperei que ela completasse; pulei em cima dela com um sorriso de orelha a orelha.
- O seu pai, ele não toma jeito... Acredita que ele perguntou se eu também não queria passar uns tempos por lá? – Revirou os olhos.
- Até que seria divertido, não é? – Continuei rindo, pois estava de ótimo humor.
- Filha, você não está muito animada para quem, até algumas horas atrás, estava morrendo de medo de se afastar da Collie e do Ben?
- Só estou feliz por passar um tempo com o meu pai. – Me afastei e voltei às malas. – Acho que pode ser bom para nós dois.
- Eu também acho isso, mas... – Ela me deu uma olhada estranha. – Isso não teria a ver com um certo garoto que você conheceu em Venice Beach?
- MÃE! – Gritei. Minha mãe e sua mania de invadir minha privacidade. – Eu sabia que a tia Anne ia fazer fofoca... Olha, o é só um amigo. Além disso, a possibilidade de eu encontra-lo de novo em um estado daquele tamanho é tão pequena que chega a ser desprezível. – Falei, sendo atingida finalmente pela dura verdade.
- Bom, como é que é aquela frase daquele filme que você gosta mesmo? “Que a sorte esteja sempre ao seu favor.” – Ela riu e então saiu do quarto.
Bem, sobre uma coisa ela tinha razão (e ainda nem sabíamos o quanto): eu ia precisar da sorte.
Porque, para mim, os jogos vorazes estavam prestes a começar.



3- Back to summer paradise

“But someday I will find my way back…”

[…]

- You say goodmorning when it’s midnight! Going out of my head alone in this bed…
- Ei, moça! – Ouvi vagamente uma voz me chamar, mas continuei cantando.
- I Wake up to your sunset...
- MOÇA! – O senhor de bigode gritou.
- Desculpe! – Eu disse tirando os fones de ouvido. – Meu Deus, o quão alto eu estava cantando?
O taxista deu uma risada alta que me assustou um pouco.
- Metade da Flórida deve ter te ouvido. Bela voz.
- Haha, muito engraçado. – Eu sabia muito bem que tinha voz de taquara rachada, assim como meu pai. Ótimo com instrumentos, péssimo cantor. Não que eu fosse muito boa com instrumentos ou sequer tocasse qualquer coisa; tinha largado isso de lado depois da separação dos meus pais. Mas me lembro de que ele costumava dizer que eu tinha talento para o violão, quando eu tinha uns sete anos.
- Preciso saber qual é o endereço. – Ele disse cansado.
- Você consegue seguir estas orientações? – Estendi até o banco da frente o papel onde tinha anotado as coordenadas que papai passou. – Não sei explicar bem o que está escrito.
- Parece que você é nova em Jacksonville Beach. E também precisa melhorar essa letra. – Devolveu o papel sem olhar em minha direção. – Mas eu consigo chegar.
Fiz uma careta, mas simplesmente me recusei a explicar pra ele o motivo de a minha letra ter saído mais como grego antigo que como qualquer outra coisa. Como eu ia fazê-lo entender que não conseguia ouvir nada que meu pai me dizia ao telefone, simplesmente porque estava eufórica demais para isso? E que, quando peguei a caneta, minha mão tremia como se eu tivesse Parkinson, por pura felicidade? Não, ele jamais entenderia. Decidi colocar os fones de novo e continuar cantarolando, enquanto olhava pela janela e admirava a paisagem fantástica da Flórida.
Meu pai tinha se mudado para a Flórida há cerca de sete meses, e nós já nos perguntávamos quando sairia de lá. O velho se mudava com a mesma frequência com que cortava o cabelo, o que era mais um dos motivos para mamãe ter se separado dele. Acho que o máximo de tempo que ele conseguiu ficar em um lugar só foram três anos (da época em que mamãe engravidou, até que eu já soubesse andar sem cair).
- Bem, são vinte dólares.
- É aqui? Tem certeza? – Perguntei meio preocupada. Papai havia mandado uma foto da casa por e-mail (o velho tinha certa resistência a redes sociais mais práticas) para ajudar, e ela, definitivamente, não era aquela em frente da qual o táxi havia estacionado.
- O endereço que você me deu é esse, moça. – Ele suspirou. – São vinte dólares.
- Ai, tá! – Exclamei irritada. Já estava de saco cheio daquele taxista grosso. Entreguei o dinheiro e saí do carro. O filho da mãe nem se deu ao trabalho de me ajudar com as três malas que eu tinha, nem mesmo quando eu quase caí ao tirá-las do porta-malas. Depois de ter conseguido, debrucei-me na janela. – Da próxima vez seja mais educado. – Disse.
- Da próxima vez anote o endereço certo. – Ele retrucou. – E cante melhor. – Então acelerou.
- VÁ PRO INFERNO! – Gritei, e o ouvi gritar alguma coisa ininteligível de volta.
A lá estava eu, sozinha e com o endereço, provavelmente, errado. Só não dava para saber se era culpa minha, que tinha viajado completamente enquanto meu pai falava, ou dele, que era tão desatento que era bem capaz de ter me passado o endereço da sua lanchonete preferida, por exemplo.
Olhei em volta, tentando reconhecer alguma coisa. A rua era extensa, cheia de árvores e gramados e casas baixas e altas, de todas as cores, sempre claras. Respirando fundo, dava para sentir o cheiro do mar. O verão ainda não havia acabado, então um calor gostoso pairava no ar. Mas eu ainda não reconhecia nada.
Com um pouquinho de medo, deixei as malas ali e caminhei até um grupo de garotinhas que pulavam corda na calçada a alguns metros.
- Oi! – Eu disse a uma delas me abaixando até ficar da sua altura. – Tudo bem?
- Minha mãe disse para não falar com estranhos. – Ela disse de cara feia.
- Você é muito estranha! – A outra gritou.
- Calma aí, eu só... – Tentei me explicar, mas quando vi, elas já haviam surtado.
- ESTRANHA, ESTRANHA, ESTRANHA! MAMÃE, SOCORRO!
E então as três começaram a correr em círculos, eu entrei em desespero, não sabia o que fazer, e elas não pararam até que a porta da casa (que supus ser de uma das garotinhas) se abriu.
- Mas que barulho é esse, Di?! Eu estou tentando estudar o... – Então ela me viu. – Ai meu Deus, desculpe! – Apressou-se a dizer. – Di, para de escândalo! – Disse entredentes para a garotinha loura de tranças.
- EU VOU CONTAR A MAMÃE QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO COM ESTRANHOS! – A tal Di berrou e correu para dentro de casa, seguida pelas outras duas meninas.
- Meu Deus, desculpe por isso. – A garota disse. – Ela é completamente pirada. Sempre digo isso aos nossos pais, mas ninguém quer me escutar.
- Tudo bem, ela meio que está certa em ter medo de estranhos. – Tentei ser amigável. – Eu devo parecer bem estranha agora.
- Você parece mais perdida do que estranha. – Ela riu. – Eu sou Jodi.
Ela era um pouco menor do que eu, mas a idade parecia ser mais ou menos mesma. O cabelo liso batia nos ombros e tinha cor de mel. Seu rosto tinha formato de coração, e ela usava aparelho cor de rosa.
- , mas pode me chamar de . – Sorri. – Você está certa, eu estou absolutamente perdida.
- Veio visitar alguém?
- Na verdade, eu acabei de me mudar para a Jacksonville Beach para morar com o meu pai. – Então suspirei. – Acontece que acho que estou com o endereço errado, porque simplesmente não encontro a casa.
- Posso ver o endereço que você tem? – Pediu. Entreguei o papel a ela. – Ah, você está na rua errada! – Ela riu. Então era culpa do maldito taxista. – Espera, esse endereço não é do...
A porta da casa se abriu de novo. Uma mulher de vestido amarelo claro, avental, e nariz empinado, veio em nossa direção.
- Di me disse que estava falando com estranhos, Jodi. – Ela disse.
- Ah, não. Não é estranha. – Jodi sorriu para mim. – Mãe, essa é a . , essa é a minha mãe, Martha. – A mulher deu um sorriso frio. – A acabou de se mudar para o nosso bairro. Só estava procurando a casa do pai dela.
- E você a ajudou? – A mulher sorriu mais animada. – Sabe, , se tem uma família por aqui que sabe dar as boas-vindas, essa família é a nossa.
- Ajudei, sim. – Jodi deu um sorriso meio travado, diria até, preocupado.
- E quem é o pai da sua amiga? – A mulher perguntou ansiosa.
- É o... Jack Pie. – Murmurou olhando para os lados.
O sorriso da mãe dela permaneceu no rosto alguns segundos, até que ela entendeu o que havia ouvido e a expressão se transformou numa careta.
- Jack Pie?! Você quer dizer Jack Pie o... – Jodi fez uma careta e ela olhou para mim controlando a língua. – O músico. Esse Jack Pie?
- Esse mesmo, mãe.
Martha respirou fundo.
- Bom, acho que você deveria levar sua amiga até a casa dela, não é mesmo? É na rua de trás. – Disse. – Graças a Deus. – Murmurou. – Adeus, mocinha. – Então entrou em casa de novo.
- Bom, vamos lá. – Disse Jodi.

Jodi me ajudou com as malas e nós caminhamos em direção à curva que nos levaria à minha rua.
- Desculpe pela minha mãe, sério. – Ela dizia preocupada enquanto andávamos.
- Está tudo bem.
- Não, , sério. Ela não faz por mal, é só que... – Jodi fez careta. – Ela tem essa implicância maluca com o seu pai, mas é só porque ela odeia diversão e odeia música boa...
- O meu pai pode ser meio barulhento às vezes. – Dei de ombros. – Não seria a primeira vez que um vizinho reclama.
- Ah não, , não diga isso! A música do seu pai é fantástica! – Empolgou-se.
- É, eu sei que é.
Então chegamos à esquina e eu o avistei, como já esperava. O cabelo era grisalho (não branco; grisalho. Isso porque haviam surgido uns fios cinzentos meses atrás e ele decidiu pintar tudo de uma vez para ver como ficava. Nada anormal, ele já havia pintado de tantas cores que eu mal conseguia me lembrar de todas), estava usando um chapéu bege, e sentado na calçada com as mãos cruzadas sob o queixo. Os olhos cinzentos estavam atentos à rua. Devia estar me esperando chegar.
- Você tem sorte por ser filha dele. – Jodi disse.
- Tenho, sim. – Sorri.
- Bom, a gente se vê. – Ela voltou a sua rua.
Andei mais alguns passos, e então os olhos dele pararam em mim.
- Filhinha! – Primeiro ele acenou e eu acenei de volta, depois correu em minha direção e me abraçou forte. Eu até havia me esquecido de como sentira sua falta.
- Oi, pai. – Consegui dizer finalmente.
Ele sorria de orelha a orelha.
- Olhe só para você! Como está enorme! E tão linda! Ah, eu morri de saudades de você, Rainbow.
- Rainbow? – Coloquei as mãos na cintura. – Sério, pai? Quantos anos você acha que eu tenho? Cinco?
- Não importa se você tem cinco ou cinquenta; sempre será a minha Rainbow.
- Me chame de .
Ele riu e deu de ombros.
- Tudo bem, se você prefere...

Papai me ajudou com as malas. Pelo visto existia uma semelhança entre o nome da nossa rua e o da de Jodi, e isso ocasionalmente gerava uma confusão, mas ele só parou para pensar nessa possibilidade depois de um bom tempo sentado na calçada em frente a nossa casa. Ela, a propósito, era uma graça. Não era uma mansão nem nada; era branca encardida e, apesar de ter dois andares, não era tão grande assim. Mas, de algum jeito, era bonita.

- E então? Como vai sua vida, filhinha? – Ele perguntou naquela mesma noite, ao me levar para jantar em uma lanchonete a algumas quadras.
- Tudo na mais perfeita paz. – Respondi tentando não me lembrar do garoto por quem eu estava apaixonada e que eu não fazia ideia de onde estava. – Acho que vou começar a estudar para o vestibular daqui a alguns meses. As coisas no Brasil são um pouquinho diferentes. – Mordi meu sanduíche. – Collie e Ben estão ótimos também.
- E a sua mãe? – Ele perguntou um pouco ansioso demais, fazendo com que eu risse.
- Ela está ótima, pai. E não, não está namorando.
Ele balançou a cabeça e continuou comendo.
- Então somos só nós dois naquela casa velha? – Perguntei.
- Ei! Mais respeito com a casa! – Jogou uma batata frita em mim. – Não somos só nós dois. Temos o Stevie.
- Stevie? Quem é Stevie?
- Ah, ele é um grande amigo. Sei que vocês se darão bem. – Sorriu meu pai. – É um dálmata.
Mesmo sem ter um espelho, tive certeza de que meus olhos estavam brilhando.
- Um dálmata?! Sério, pai?! – Exclamei encantada.
- Encontrei o Stevie abandonado alguns meses atrás, quando voltava para casa, e você sabe como odeio abandono de animais. Mas o verdadeiro motivo para eu ter ficado com ele foi que você sempre quis um dálmata. Ele sempre me fez sentir que vocês estavam por perto, sabe?
Sorri, sorri de verdade, e segurei sua mão sobre a mesa. Meu pai podia ser um pouco excêntrico, mas era, sem dúvida, maravilhoso.


🌴💚🌴


- E então, gostou? – Ele perguntou quando me levou ao meu quarto.
- Amarelo é minha cor favorita. – Sorri.
- Desde o berçário, Rainbow. – Deu-me um beijo na testa. – Eu sei muito bem.
- Obrigada, pai.
- Vou te deixar descansar agora. Até amanhã.

[...]
- Digam olá para a nova colega de vocês, Pie. – O professor disse.
Eu sorri, e então meus olhos correram a sala, parando na última cadeira, onde o garoto de cabelos e olhos me olhava estático.
- ? – Ele murmurou. Não consegui responder. – !
Ele saltou da cadeira enquanto todos olhavam confusos e me tomou nos braços.
- Pensei que nunca mais fosse te encontrar. – Sussurrei.
- A gente sempre vai se encontrar. – Ele disse. E então me beijou.
[...]

- ... , espera... Espera, ...
Abri os olhos devagar, me dando conta do sol que atravessava as cortinas floridas, sentindo o calor dos lençóis e a língua do cachorro enorme que não parava de me lamber e... Espera. Cachorro?
- SOCORRO! – Gritei em desespero ficando de pé no colchão. Meu grito pareceu provocar alguma coisa naquele monstro enorme, uma espécie de euforia. Brincando. Ele achava que eu estava brincando com ele. – NÃO. PULA. EM...
Mas já era tarde demais, ele havia pulado em cima de mim e me derrubado de novo. E o bicho era pesado! Como era!
- SOCORRO! – Eu continuava gritando.
- Porra! – Ouvi alguém dizer. – Stevie, sai de cima dela. Agora. – A voz soou firme.
Stevie. Então este era o Stevie. Havia me esquecido dele. O cão olhou para trás abanando o rabo e latiu, mas não saiu de cima de mim.
- Não acredito em você, Stevie. – A voz disse aproximando-se da cama. Meus olhos estavam meio fechados meio abertos, não dava para ver direito. – Vem aqui. – E dois braços pegaram a fera, afastando-a alguns metros da cama.
Fiquei alguns segundos deitada tentando respirar. Então me sentei devagar, olhando finalmente para a porta, com os dois olhos bem abertos. Um garoto, que devia ter a minha idade e tinha cabelo e olhos , prendia uma corrente na coleira vermelha de Stevie.
- Desculpe por isso. Ele não é assim sempre, eu juro. Eu o treinei. – Então completou mais para si mesmo: - Pelo menos tentei treinar.
Eu ainda não estava entendendo nada ali, apenas que eu estava de pijama e cabelo bagunçado na frente de um desconhecido (inegavelmente bonito) que parecia muito chateado pelo comportamento do meu cachorro.
- Você deve ser a . – Ele disse. – Prazer conhecê-la.
- É, eu sou, mas... Quem é você? – Minha voz saiu mais estridente do que eu esperava.
- Seu pai não falou de mim? – Perguntou surpreso. – Bom, eu sou o . O cara que cuida do seu cachorro.
É, pelo visto papai havia se esquecido de me contar algumas coisas.


🌴💚🌴


- Desculpe, juro que não queria te assustar. – Ele disse me entregando uma xícara cor de rosa. O cheiro de cappuccino quase me deixou tonta. – Normalmente ele fica pulando de um lado para o outro assim, – Apontou para Stevie, que não parava de saltitar e correr atrás do próprio rabo. – mas não sai de perto de mim. Ele deve ter sentido o seu cheiro e quis saber o que havia de novo na casa.
- Está tudo bem. Eu acho. – Dei um gole no cappuccino. Estava como eu gostava: doce e forte. – Na verdade, meu pai havia me falado dele, mas acho que eu me esqueci. Além disso, ele é maior do que eu imaginava.
riu. Stevie abanou o rabo ao ouvi-lo e correu para perto dele.
- Ah, o Stevie é mesmo um gigante. – Agarrou suas orelhas e lhe fez carinho. – Assusta muita gente, não é, Stevie? – Sorriu. – Mas é um bobão. Não consegue nem pegar borboletas, que dirá uma pessoa. – Então ficou pensativo. – Vivo me perguntando como alguém pode abandonar um bichinho desses.
Fiquei olhando enquanto brincava com o cachorro, que parecia extremamente satisfeito em ficar ali, lambendo as mãos dele e abanando o rabo. Não consegui evitar sorrir diante daquela cena.
- Então, como funciona isso? – Perguntei tentando não deixar que um silêncio estranho se instalasse. – Você é tipo a babá do Stevie?
Ele riu e ponderou. O som da risada dele me dava vontade de sorrir.
- Sou exatamente isso, eu acho. Quando seu pai chegou aqui com o Stevie, ele não estava nada bem. Estava com fome, sujo, meio machucado... Mas sabe o que mais me chamava atenção? – Neguei com a cabeça e esperei que ele dissesse. – Mesmo no estado em que estava, o Stevie não parava de abanar o rabo, e pular, e lamber... – Suspirou. – Parecia que estava agradecido, sabe? Era como se o tempo todo nos dissesse “obrigado”. – Sorri porque estava adorando aquela conversa e achava que me daria muito bem com o . – Então seu pai que, como você sabe, é um cara meio ocupado, me perguntou se eu gostaria de cuidar do Stevie durante o dia, enquanto ele ensaiava e tudo o mais; e eu, sem pensar duas vezes, aceitei.
- É muito legal da sua parte. – Murmurei olhando para dentro da xícara.
- Ah, nem tanto. – Ele sorriu. – Não faço isso de graça.
- Ah sim... – Disse como se tivesse sido boba em sequer pensar aquilo.
- Mas faria, se ele deixasse. – Completou , levantando-se e parando encostado à soleira.
Balancei a cabeça. Meu pai era assim mesmo.
Então meus olhos encontraram os do , e ficamos assim por alguns segundos. Mas não era o silêncio esquisito que eu havia temido, era só... Silêncio. Tranquilo e gostoso. Nem mesmo Stevie latiu naquele momento, e eu teria ficado parada ali mais um pouco se o próprio não tivesse dito de repente:
- Posso te fazer uma pergunta? – Seu olhar era curioso.
Coloquei minha xícara sobre a mesinha de centro e assenti.
- Pode, sim.
Ele ficou quieto por mais alguns segundos e eu esperei.
- Devo te chamar de ... – Então deu um sorriso malandro. –... Ou de Rainbow?
- Ah, por favor! – Revirei os olhos e ele deu uma gargalhada alta. – Me chame de . Sério.
- Tudo bem. – Ele continuou rindo. – Vamos lá, Stevie? – Se abaixou e Stevie correu em sua direção, então pegou a corrente e o puxou em direção à saída.
Meu pai entrou pela porta ao mesmo tempo em que ele saía.
- Bom dia, . – Disse.
- Bom dia, Jack. – Ele respondeu, e então saiu de casa.
Meu pai se aproximou segurando o jornal e um saquinho de papel.
- Trouxe seu café-da-manhã, querida. – Estendeu o saquinho. – Rosquinhas cobertas de chocolate. Espero que ainda sejam suas favoritas.
- Sempre, pai. – Sorri pegando uma rosquinha. – Então o Stevie tem uma babá? – Perguntei em um tom quase repreensivo. A verdade é que eu havia, sim, ficado um pouco brava por ele não ter me dito que um garoto da vizinhança tinha acesso livre a nossa casa.
Meu pai se jogou no sofá com uma expressão curiosa.
- Foi o que ele disse? – Perguntou. – Que é babá do Stevie?
Franzi o cenho.
- Foi sim. – Concordei.
Papai deu uma risada baixa e balançou a cabeça.
- Ah, ...
- Qual o problema? Ele mentiu? – Me surpreendi, porque parecia muito sincero.
- Não, claro que não; , de fato, cuida do Stevie. É só que... – Ajeitou-se no sofá e pegou uma rosquinha. – Não é só isso que ele faz.
- Ah não? – Não consegui esconder minha curiosidade.
Papai balançou a cabeça.
- é um músico brilhante. Um baixista, para ser mais exato. Digamos que eu tenho sido uma espécie de tutor profissional dele. Ele toca com a minha banda às vezes.
- Acho que ele não mencionou essa parte. – Disse perplexa.
Papai revirou os olhos e se levantou, indo até a bancada para preparar um cappuccino.
- Bom, acredite: você terá tempo para conhecer o . Ele passa mais tempo aqui em casa do que na própria.
- Entendo. – Assenti meio pensativa.
Então parece que papai não era o único que havia se esquecido de me contar algo. Pensei no comentário sobre meu apelido e concluí que eu devia estar em desvantagem. , provavelmente, já sabia muito sobre mim. Mas eu, ao que parecia, ainda não sabia nada sobre ele.


🌴💚🌴


Houve um tempo em que eu, meu pai e minha mãe, vivíamos feito uma família normal, em uma bela casa em New Orleans. Claro, era pequena demais para me lembrar disso agora, mas, mesmo assim, eu me lembro de algumas coisas. As mais importantes, eu acho. Me lembro de rosquinhas de chocolate, de mamãe pintando quadros, e me lembro, principalmente, da música. Papai sempre foi um saxofonista incrível, tinha fãs por toda a parte. Eu e mamãe éramos as duas únicas coisas que ele amava mais que a música. Então funcionava assim: ele amava o Jazz, minha mãe o amava, e eu amava tudo aquilo. E era apaixonada por música, completamente. Ficava andando pela casa com o meu violãozinho azul, enquanto minha mãe ria e meu pai filmava tudo. Ele queria que eu gostasse de jazz tanto quanto ele, e eu realmente gostava. Mas tinha um gosto bem particular, e incompreensível para eles, por música havaiana. Amava o Israel Kamakawiwo'ole e ficava tentando imitar, com meu violãozinho, o que ele fazia com o ukulele dele, dançando pela casa e cantando Somewhere Over the Rainbow. Como você já deve ter deduzido a essa altura, foi assim que surgiu meu apelido.
Mas nem o meu amor por música combinado à minha felicidade por estar com meu pai de novo, foi capaz de impedir meu surto naquela noite.
Eu havia passado o dia tentando ligar para o . O resultado tinha sido o mesmo da primeira vez que eu tentei, com um bônus, que veio na metade da tarde, quando uma voz mecânica começou a dizer que aquele número não existia. Era demais para mim que ele mudasse de número ao mesmo tempo em que eu mudava de estado. Para melhorar, comecei a entender o que meu pai quis dizer com aquele papo sobre o passar mais tempo na nossa casa do que na própria: eu havia esbarrado com o garoto, no mínimo, sete vezes até aquele momento. Além disso, papai havia passado a manhã falando dele como se vendesse uma cadeira de massagem da Polishop: dizendo que íamos nos dar muito bem, que ele era uma ótima companhia e eu me divertiria muito com ele. Não que eu duvidasse daquilo, nem que a presença do fosse tão incomoda (afinal, ele não ficava tentando fazer amizade ou coisa do tipo; apenas sorria e continuava seu percurso toda vez que nos encontrávamos), mas era frustrante para mim que ele estivesse ali o tempo todo enquanto eu não tinha nem notícia do , por mais ilógico que isso fosse.
Decidi aproveitar que ainda estava claro lá fora para dar umas voltas pelo bairro, na esperança (totalmente infundada) de que morasse na rua de trás, por exemplo. Mas tudo o que consegui foi quase ser atacada por um cachorro, tropeçar numa pedra (quase quebrando meu dedinho) e ficar mais suada do que tudo. Como resultado, voltei para casa mais estressada que antes. Tentei fazer mais uma ligação para o , mas o resultado foi tão animador quanto todos os outros, então tomei um banho gelado e desci para o jantar.

- Macarrão com queijo! – Meu pai exclamou ao colocar uma tigela enorme sobre a mesa com toalha quadriculada vermelha e branca.
Olhei para a tigela e suspirei. Para ser sincera, não estava com muita fome. Sempre tive esse péssimo hábito de ter meu apetite facilmente afetado pelo meu humor; e ele, naquele momento, era um dos piores.
- Qual o problema, Rainbow? – Papai perguntou murchando um pouco ao se sentar. – Não gosta de queijo? Podemos fazer...
- Não, pai. Tudo bem. – Segurei sua mão sobre a mesa. – Eu estou bem. É só... Saudade da mamãe. – Menti.
Meu pai deu um sorriso reconfortante.
- Eu sofro dessa mesma doença há anos, querida. – Disse, e eu tive que sorrir, porque a relação dos dois era mesmo muito engraçada, e meu pai era um doce.
- De qualquer modo, – eu disse. – fico feliz por estar aqui com você depois de tanto tempo. Só eu, você, o Stevie...
- E eu. – A voz surgiu na porta. – Macarrão com queijo? Espero que esteja melhor que o da semana passada, Jack.
E lá estava o de novo, sentando-se à mesa como se a casa fosse dele. Aquilo era sério? Um dia inteiro e ainda durante o jantar?
- Quando é que você fica na sua própria casa? – Perguntei sem conseguir controlar minha língua.
- Bom, eu costumo dormir lá. – Respondeu sem perder o ar brincalhão, enquanto colocava uma boa quantidade de macarrão em seu prato. – E comer também, mas minha mãe e meu padrasto foram jantar fora e eu estava me sentindo muito sozinho. Além disso – deu uma garfada no macarrão, dizendo antes de colocar na boca: - Já estava com saudade de você. – E piscou para mim.
continuou sorrindo, enquanto meu pai tentava prender o riso. Respirei fundo e estendi meu prato para que meu pai o enchesse.
- Então, ... – Comecei. – Soube que, além de babá de cachorro, você é baixista. – Ele assentiu. – Por que não me disse?
- Você não perguntou. – Respondeu dando um gole no suco de uva que papai havia servido. – Mas, se quer saber, fico feliz em ver que me mostrei interessante a ponto de você fazer perguntas sobre a minha vida para o seu pai.
Coloquei o garfo no prato, fiz uma careta e emiti um som de irritação.
- Ele é sempre assim? – Perguntei, quase gritando, ao meu pai.
- Não, nem sempre. – Meu pai respondeu. – Normalmente ignora qualquer um que não seja eu ou o Stevie e fica de cara fechada tocando contrabaixo. Talvez tenha gostado de você. – Sorriu.
- Gostei, sim. – sorriu também.
- Caramba... – Fechei os olhos e ia começar a praguejar, mas fui interrompida.
- Meu Deus, , relaxa! – exclamou, sem perder o sorriso na voz. – Só estou tentando fazer você rir. – Disse e eu me acalmei um pouco, sentindo-me até culpada por ter sido tão grossa. – Eu nem gostei de você tanto assim. – Completou.
Fiz uma careta, mas a expressão dele era simplesmente irresistível, então acabei rindo.
- Parece que eu consegui. – Disse vitorioso.
- Aleluia, irmão! – Meu pai ergueu as mãos.
- Vocês dois são hilários. – Comentei irônica, mas tinha achado engraçado mesmo.
- Vai se acostumar, querida. – Papai disse.
Ficamos em silêncio alguns segundos mais, apenas rindo de toda aquela situação; até que finalmente nos cansamos e comemos em silêncio por alguns segundos.
- E então, , – disse. – preparada para a volta às aulas?
- Por que não estaria? – Perguntei bancando a desprendida. – É só a escola, afinal.
- Essa é a minha filhinha. – Papai levantou a mão e eu bati nela.
- Claro, é só a escola. – concordou. – Acontece que aquela lá é enorme e você é nova nela. Pensei que talvez estivesse nervosa.
- Nem por um instante.
Algo no provocava em mim uma vontade intensa de desafia-lo. E admito que desafios fossem algo de que eu já gostava normalmente, mas de repente eu estava umas mil vezes pior. Eu não daria a ele o gostinho de parecer uma garotinha chorona.
- Então tá. – Ele deu de ombros, como quem não estava acreditando muito em mim. – Se quiser eu posso te dar carona até lá.
- Acho uma boa ideia, filha. – Meu pai logo apoiou seu pupilo.
- Obrigada, mas já tenho companhia.
Os dois olharam para mim surpresos, deixando-me satisfeita por ter provado não ser tão previsível.
- Ah tem? – Papai perguntou.
- Tenho, sim. – Sorri. – O nome dela é Jodi, mora na rua de trás.
- Tá falando da Jodi Slaterton? – arregalou os olhos. – Filha daquela louca que odeia o seu pai?
- Ela mesma. – Concordei. – Você se importa, pai? – Perguntei.
- Eu não... – Ele disse balançando a cabeça. – Você é livre para andar com quem quiser, Rainbow.
Assenti vitoriosa.
- Então eu vou com a Jodi.
O celular de tocou e eu reconheci a música de cara: Superstition, do Stevie Wonder. - Sim, senhora. Já estou indo. – Ele disse e então desligou. – Eles voltaram mais cedo do que eu esperava. – Disse para mim e meu pai, levantando-se. – E, como vocês ouviram, eu já estou indo. – Tchau, Stevie. – Brincou com o cachorro, que comia satisfeito uma boa porção de macarrão na sua tigelinha. – Até mais, Jack. – Disse. Então olhou para mim. – Nos vemos amanhã, Rainbow. – Sorriu indo em direção à saída.
- Vá para o inferno. – Eu disse, mas estava brincando.
Ouvimos a gargalhada dele enquanto batia a porta.
- Sério, pai? – Perguntei arregalando os olhos. – Sempre assim?
Papai riu e deu de ombros.
- Vocês se darão bem. – Disse.
- Tô pagando pra ver. – Retruquei.
Mas, no fundo, sabia que ele estava certo.
Eu e seríamos grandes amigos, eu conheceria melhor a Jodi, faria a mãe dela perceber que não tinha motivo para odiar meu pai e, claro, reencontraria o .
Aí sim, tudo estaria perfeito.



4- Welcome to the new school

“Fall is here; hear the yell back to school; ring the bell…”

[…]

- Não posso ir pra escola. Eu tô surtando!
- Pensei que estivesse tudo bem! – Sofia dizia assustada do outro lado da linha, ao mesmo tempo em que procurava a mochila que não tinha nem tocado durante todo o verão.
- E estava! Eu tinha me convencido de que estava! – Tentei respirar fundo enquanto me vestia. – Mas aquele pateta do me apavorou ontem a noite e...
- Quem é ??
- É a babá do Stevie. – Disparei a falar. – E ele passou o dia enfurnado aqui em casa e...
- Quem é Stevie?
- Stevie, o dálmata! – Continuei como se fosse óbvio. – Aí a gente falou dos donos dele, depois eu descobri que ele sabia daquela história de Rainbow, e depois eu não podia ir para a escola com a Jodi porque a mãe dela é doida...
- , quem está ficando louca sou eu!
- Oi, ! – Uma terceira voz surgiu ao telefone.
- MÃE?! – Exclamei assustada.
- A tia Jaque tá aí??! – Sofia exclamou no mesmo estado.
- , não estou te ouvindo direito! – Mamãe exclamou.
- Ah, que susto. Ela tá na outra linha. – Concluí. – Espera aí, Sofia.
- aa... – Minha mãe continuava cantarolando.
- Oi, mãe. – Respondi. – Desculpa, a Sofia estava na outra linha.
- Como você está, querida? – Pude ouvir o sorriso em sua voz. – Tentei te ligar ontem, mas por algum motivo só dava ocupado!
- Foi mal, eu estava no telefone com a Sofia. – Menti. – Está tudo bem, mãe. E aí?
- Está sendo incrível. – Suspirou. – Todos te mandaram muitos beijos.
- Mande em dobro para eles. – Sorri. – Escuta, mãe, eu tenho que ir para a escola agora.
- Ah, claro. Na verdade, te liguei para desejar boa sorte. Então... Boa sorte.
- Obrigada, mãe. Boa sorte com o projeto. A gente se fala depois. – Encerrei a chamada. – Pronto, Sofia.
- Você vai ter que me explicar direitinho quem é e desde quando você tem um cachorro, e por que o seu cachorro precisa de uma babá?! – Ela estava histérica.
- Vou fazer tudo isso, sim. – Respondi enquanto olhava pela janela. – Mas depois que eu voltar da escola. Deseje-me sorte. Quem sabe eu acho o .
- Desgraçada. – Ela disse rindo. – Boa sorte, . Até mais.
Olhei-me no espelho pela última vez, só para ter certeza que estava tudo certo com minha saia jeans e minha camiseta de botões azul clara. Peguei a mochila e desci as escadas a toda. Papai havia feito o meu café-da-manhã mais cedo, mas agora já tinha voltado para a cama.
Sorri e acenei ao avistar Jodi parada na calçada de sua rua, me olhando espantada e procurando alguma coisa em volta.
- Oi, Jodi! – Eu disse.
- . – Ela disse, começando a sorrir. – O que está fazendo aqui?
- Eu também vou para a escola, esqueceu? – Perguntei achando graça.
- É, mas você vai comigo? – Balançou a cabeça.
- Por que eu não iria com você, Jodi? – Fiquei com medo, de repente, de estar causando problemas familiares a ela, por causa da história do meu pai.
- Nada, é só que... – Suspirou e fez uma careta. – É que você é tão bonita e simpática; vai se encaixar rapidinho em qualquer turma que quiser.
- Ou eu posso andar com você e me divertir muito. Além disso, você também poderia entrar na turma que quisesse. – Sorri de orelha a orelha.
Jodi ponderou.
- Acho que vai ser divertido. – Disse. Então se animou de uma vez. – Sabe, eu tenho tantos planos para esse ano. O teste para a torcida é essa semana e eu me preparei para isso o verão todo...
Jodi continuou falando enquanto eu ria das demonstrações de passos dela, mas não demorou muito para o ônibus chegar. Fomos até a escola sob os olhares atentos dos outros alunos. Nada muito estranho, afinal, eu era a aluna nova. Eles deviam se conhecer há anos.
Respirei fundo quando descemos do ônibus e eu percebi que havia muito mais alunos ali; descendo de carros, de bicicletas, skates... De repente, me senti um pouquinho intimidada, e fiquei feliz por não estar sozinha.
- Oi, Jodi! – Uma garota não muito mais alta que ela (ainda menor que eu), de cabelo castanho escuro preso com uma fita igual a que prendia o cabelo da Jodi, veio correndo quando entramos no terreno da enorme Jacksonville Beach High School.
- Oi, Emma! – Jodi sorriu.
- Olha só, já montei toda a sequência de passos para o teste. – A garota tagarelava sem parar. – Sabe aquele giro que eu não conseguia fazer até semana passada? – Ela ria e o riso parecia o som de um porquinho, o que me dava uma tremenda vontade de rir, mas eu me continha. – Pois saiba que eu... – Então ela parou e notou a minha existência, assumindo automaticamente uma expressão cautelosa. – Quem é ela? – Perguntou a Jodi.
Jodi deu um enorme sorriso. – Esta é a , minha nova vizinha. Acabou de se mudar para Jacksonville Beach.
Emma me olhou de cima a baixo e engoliu em seco; depois puxou Jodi para perto, como se eu não pudesse ouvir o que diziam.
- Ela não vai fazer teste para a torcida, vai? – Perguntou alto demais para quem queria guardar um segredo. – Porque, sério, você sabe que só tem três vagas e uma já é, com certeza, da Maya, prima da Sienna, que sem dúvida vai mexer os pauzinhos para isso. Se ela fizer o teste, – Apontou discretamente para mim. – Uma de nós duas vai ficar de fora.
Senti uma tremenda vontade de rir daquele papo da Emma, e tinha mesmo achado ela muito estranha, mas parecia uma boa pessoa, no fim das contas, apesar daquela aparente obsessão assustadora por ser líder de torcida que Jodi parecia compartilhar.
Pigarreei para fazer com que as duas olhassem para mim.
- Não vou fazer teste para a torcida. Juro. – Levantei a mão como uma escoteira.
Levaram uns dez segundos para que Emma decidisse se acreditava em mim ou não. Mas ela optou por arriscar.
- Tudo bem, então. – Disse. – Vamos, não quero me atrasar no primeiro dia de aula.
Caminhei rapidamente atrás das duas, que tagarelavam sem parar sobre como aquela semana definiria suas vidas e tudo o mais.
- De onde você vem, ? – Emma perguntou.
- Denver. – Respondi. – Eu morava com a minha mãe lá.
- Deve estar sentindo falta dela. – Jodi suspirou. – Aposto que ela não é uma maluca como a minha.
- Ah, Jodi, toda mãe é meio maluca. – Sorri. – Mas estou sentindo saudades, sim. – Então não me aguentei e tive que perguntar: – Todo mundo aqui sempre fica encarando os alunos novos assim?
- Ah não. – Jodi deu uma risadinha estridente. – Nem sempre. Isso é porque você é muito bonita, .
- E está andando com a gente... – Emma deu sua risada de porquinho. – Tem certeza de que não era líder de torcida? – Perguntou me olhando de cima abaixo de novo quando parei em meu armário. Papai havia pegado minha combinação e tudo de que eu precisaria na semana anterior, quando combinamos minha mudança. – Você parece uma líder de torcida.
- Não, eu nunca fui muito da torcida. – Tentei não soar ofensiva. – Mas sempre fiz teatro.
- Oh meu Deus! – Jodi sorriu encantada e eu ri. – Uma atriz?! O talento para arte deve ser genético!
- Por que está dizendo isso? – Emma franziu o cenho.
- Ela é filha do Jack Pie. – Jodi disse em tom de conchavo.
- Meu Deus! – Emma disse alto. – Jack Pie, tipo, O Jack Pie?
- Hunrum! – Jodi deu pulinhos.
- Não acredito nisso. – Emma abriu a boca e segurou as mãos de Jodi. – Teremos passe livre para shows pelo resto da vida!
- Este vai ser o melhor ano de todos! – Jodi saltitou mais um pouco.
- Aquela é a Gisele Bündchen? – Perguntei de repente.
As duas garotas olharam para mim, depois seguiram meu olhar até o fim do corredor. Uma garota loura, alta e linda caminhava em câmera lenta, seguida por outras duas garotas bonitas e sorridentes que comentavam algo animadamente. Os outros alunos do corredor olhavam fascinados e ao mesmo tempo assustados a cena, como se estivessem assistindo, sei lá, um show da Lady Gaga.
- Não. – Jodi suspirou. – Aquela é Summer Olsen.
- Bom, gostei da calça dela. – Dei de ombros e continuei guardando as coisas no armário.
- Como assim você gostou da calça dela? – Emma surtou. – Você tá brincando comigo?! Summer Olsen é, tipo, a rainha da Jacksonville Beach High School! Ela não é só uma líder de torcida; ela é A líder de torcida!
- No ano passado ela abandonou a torcida, simplesmente para provar que mesmo sem ser líder de torcida ela ainda seria a garota mais popular da escola. – Jodi sussurrou.
- E quer saber? – Emma ergueu as sobrancelhas. – Ela conseguiu!
- E esse ano ela vai voltar a ser capitã! – Os olhos de Jodi brilhavam. – Tem ideia de como seria maravilhoso ser amiga dela?
Olhei assustada para aquelas duas psicopatas na minha frente, depois dei mais uma olhada para a tal de Summer.
- Parece ser uma idiota egocêntrica. – Disse.
As duas me fuzilaram com o olhar. Peguei minhas coisas e saí andando, com elas no encalço.
- Sabe - Emma disse de repente. – Talvez, só talvez, você conseguisse pegar a vaga da Maya na torcida. Ela é bonitinha, mas é meio descoordenada.
O rosto de Jodi se iluminou. – E também tem pés tortos. Puxa, isso seria maravilhoso, !
- Olha, gente, obrigada mesmo, mas eu não tô nem um pouco a fim de entrar para a torcida, ainda mais com aquela garota como capitã...
E então esbarrei em alguém, fazendo com que meu livro de história e minhas canetas caíssem no chão.
- Desculpe! – Disse me abaixando para recolher as canetas.
- Me desculpe você! – Ela disse. – Eu estava tão distraída, mas é que estava procurando alguém...
Levantei meus olhos e dei de cara com Summer Olsen, que sorriu amigavelmente.
- Não, está tudo bem. – Levantei-me.
- Aposto que você é nova na escola. – Disse me entregando a caneta que tinha ficado para trás. – Não me lembro do seu rosto.
Fiquei pensando que uma garota como Summer não devia perder seu precioso tempo gravando os rostos de todo mundo da escola, mas preferi não fazer esse comentário.
- Acabei de chegar. – Admiti.
- Bom, se precisar de alguma coisa, eu sou Summer. – Estendeu a mão.
- . – Apertei a mão dela.
- Belo nome. – Sorriu de novo. – A gente se vê, ! – Acenou enquanto corria para alcançar as duas amigas mais a frente.
Bom, essa Summer não parecia o monstro egocêntrico que eu havia imaginado segundos atrás. Virei-me para Jodi e Emma para fazer este comentário, mas as duas olhavam para mim de boca aberta, com uma expressão que estava começando a me assustar.
- Ei, malucas! – Balancei a mão em frente a seus rostos. – Gente, vocês estão me assustando. Falem alguma coisa!
- Ah. Meu. Deus. – Emma foi a primeira a falar.
- O que foi? – Perguntei.
- Isso foi incrível. – Jodi olhou para Emma. – Não foi absolutamente incrível?
- Do que vocês estão falando? – Eu estava confusa.
- Como assim do que a gente tá falando?! – Emma exclamou com uma alegria assustadora. – A Summer Olsen acabou de falar com você!
- E daí? – Indaguei dando dois passos para trás, me preparando para correr a qualquer momento.
- E daí? – Jodi deu um passo, diminuindo a distância entre nós. – , nós estudamos com ela há cinco anos e ela nunca nos disse nem oi.
- E agora, além de saber seu nome, ela disse que te ajuda se você precisar! – Emma estava me assustando mesmo. – Ah. Meu. Deus.
- Eu disse que você poderia andar com quem quisesse. – Jodi sorriu segurando minha mão.
- Aposto que ela vai falar com você de novo. – Emma soltou com ar de sabe tudo.
- Hunrum. – Jodi concordou animada.
- Olhem aqui, suas doidas! – Exclamei, acabando com a palhaçada. – Eu não quero andar com Summer Olsen; não conheço ninguém aqui ainda, não posso simplesmente me tornar a melhor amiga da primeira pessoa que me diz oi, então... Sem piração, ok?! – Tentei não parecer tão assustada.
- Desculpe. – Jodi disse.
- Tudo bem. – Comecei a andar em direção às salas de aula. As duas vieram atrás em silêncio, mas não demorou muito para Emma agarrar meu braço. E olha que a baixinha era forte.
- Você tem que nos prometer. – Ela disse como se fosse a líder de uma ceita.
- Prometer o quê?! – Tentei soltar meu braço.
- Se ela falar com você de novo, vai falar de nós duas. – Disse discretamente.
- Por favor, por favor, por favor! – Jodi suplicou. – A torcida é tudo para nós! E a palavra dela lá é lei...
Suspirei, vencida. Tinha me metido logo com as duas pessoas mais loucas da Flórida, mas, por algum motivo, gostava delas. Além disso, se eu dissesse não, Emma, provavelmente, arrancaria o meu braço ali mesmo.
- Eu prometo. – Disse.
Emma soltou meu braço e segurou minha mão, com os olhos brilhando.
- Eu mal conheço você e já é uma das minhas melhores amigas. – Disse.
- Deve ser um seleto grupo. – Resmunguei enquanto Jodi passava para o meu outro lado e nós voltávamos a andar.
- Bem, contando com você e a Jodi... São duas. – Emma disse, e então deu sua risada de porquinho. Jodi a acompanhou, e eu acabei rindo também.
Não era o grupinho perfeito, mas pelo menos eu não estava mais sozinha.


🌴💚🌴

- Nós nos sentamos ali. – Jodi apontou quando chegamos ao refeitório, no intervalo.
- É uma posição estratégica, na verdade. – Emma disse como se revelasse o plano do século. – Veja, é perto da mesa das líderes de torcida e dos jogadores de futebol, e razoavelmente perto da turma dos que tem algum outro tipo de talento (como entortar colheres com o poder da mente ou sapatear), e bem pertinho da mesa do pessoal que simplesmente é simpático e amigável.
- Classificamos a nossa mesa como “a mesa daqueles que tem potencial”. – Jodi disse.
- Aposto que só nós três vamos sentar lá. – Concluí como se levasse aquele papo muito a sério.
- Conhece alguém com mais potencial? – Jodi piscou para mim, já me puxando para a fila da cantina.
Observei o ambiente com o coração palpitando. Será que ele estaria ali no meio? Não, não estava. A sensação de desânimo foi a mesma que senti quando entrei na sala de aula e meu sonho (aquele que foi interrompido pelo Stevie) não se realizou. Quanta coisa uma garota apaixonada poderia suportar?
- Não chegue nem perto do bolo de carne. – Jodi fez cara de nojo.
- E lembre-se que batata frita é uma bomba calórica. – Emma disse.
- Tem alguma coisa que eu possa comer aqui? – Perguntei cansada, porque já estávamos chegando ao final da fila e elas diziam não a tudo que eu cogitava pegar.
As duas garotas riram.
- Que tal peixe? – Jodi colocou um filé na minha bandeja.
- E brócolis. – Emma completou colocando uma boa quantidade também.
Fiz uma careta ao passar pelo caixa, enquanto as duas tagarelavam animadamente.
- Eu aconselho o pudim de chocolate. – Alguém disse. – Está delicioso.
Virei para encarar o dono da voz, revirando os olhos ao encontrar, sem me chocar muito, o , segurando uma bandeja.
- Oi, Rain... – Fuzilei-o com o olhar e ele prendeu o riso. – .
- Em casa, na escola... Quando estarei livre de você? – Resmunguei.
Ele deu uma risadinha. Só então reparei as duas garotas (finalmente caladas) atrás de mim.
- Jodi, Emma, este é o . ... Você sabe.
acenou e piscou para elas. Jodi esboçou um sorriso, Emma assentiu.
- Vim ver se você já tinha lugar para se sentar. – Ele disse.
- Na verdade, eu tenho sim. – Dei um sorriso vitorioso, fazendo-o rir.
- Tudo bem então. Fico feliz em saber que está tudo correndo como você planejava. – Sorriu. – De qualquer modo, te trouxe um presentinho de boas-vindas. – Pegou o pequeno pudim de chocolate de sua bandeja e colocou sobre a minha. – Até mais tarde... . – Então ele foi em direção ao fundo do refeitório, onde alguns garotos já estavam sentados.
Balancei a cabeça e ri. podia ser chato, mas era uma graça.
- Ah. Meu. Deus. – Jodi disse devagar. – Diz, por favor, que não estava dando para ver a espinha na minha testa. – Se aproximou para que Emma examinasse. – Fiz de tudo para esconder com pó compacto, mas está tudo correndo tão bem que parece que a qualquer momento algo dará errado.
- Meu rosto tá pegando fogo! – Emma riu.
E lá estava eu de novo, quase correndo das duas.
- Qual o problema de vocês?! – Perguntei mais confusa que antes.
- Problema?! – Jodi riu. – Nós não temos problema nenhum. Aquele era o ! – Apontou de seu jeitinho discreto.
- E o que tem o ? – Virei-me e caminhei em direção a nossa mesa. Elas me seguiram.
- O que tem o ?! – Jodi exclamou quando nos sentamos. – Tem aqueles braços, e aquele cabelo, e aquele jeito...
- Ele é simplesmente tão sexy! – Emma completou.
- Esse papo é sério? – Arqueei uma sobrancelha.
As duas olharam para mim como se fosse óbvio e então riram.
- Não adianta tentar convencê-la. – Jodi disse a Emma. – Ele fica o dia inteiro na casa dela; já deve estar enjoada. – Sugou o suco de laranja com um canudinho e deu mais uma olhada para a mesa de . – Se é que é possível.
- Deus não dá mesmo asa à cobra. – Emma suspirou. – Mas sabe, , o tem potencial.
- Talvez pudesse até se sentar nessa mesa. – Revirei os olhos.
- É, é verdade. – Emma assentiu com seriedade. – Não é nenhum Junior, mas...
- Quem é Junior? – Perguntei curiosa.
- Junior é o namorado da Summer. – Jodi disse em conchavo.
- E ele é simplesmente tipo... WOW! – Emma apertou a caixinha de suco. – O garoto mais lindo da Flórida!
- Mas andou correndo um boato por aí de que os dois estavam em crise.
- Principalmente depois que a Summer foi passar as férias no Japão, a, tipo, infinitos quilômetros de distância dele.
- O que me lembra que não o vi ainda. – Jodi ficou pensativa.
- Deve estar curtindo as férias prolongadas. Ele sempre fica uma semana a mais fora. Aposto que estará em campo no dia do jogo.
- Jogo? – Perguntei, finalmente falando.
- O primeiro jogo da temporada dos Swordfishes. – Emma explicou. – Também é quando eles anunciam as novas integrantes da torcida. – Deu um olhar significativo para Jodi.
- Você vai vir, não vai? – Jodi me perguntou. – Por nós.
- Vou pensar no caso de vocês. – Brinquei. – Agora estou mais concentrada em comer o meu filé de peixe que mais parece borracha.
- Não se esqueça do pudim. – Jodi brincou, fazendo Emma rir.
- Aposto que está deliciosamente doce. – Ela completou.
Dei língua a elas e virei-me para trás novamente, passando os olhos rapidamente por Summer, que me deu um leve sorriso, e, olhando mais para o fundo, por , que sorriu e acenou.
Era só o que me faltava: garotas loucas pelo . Já pareciam bem loucas antes falando da Summer, mas agora eu estava realmente cogitando uma ligação para o hospício da cidade.
Olhei para a mesa das líderes de torcida e fiquei pensando se Summer tinha tantos problemas com o Junior dela quanto eu estava tendo com o meu , e fiquei com um pouco de pena. A garota não parecia tão ruim, afinal.


🌴💚🌴

Apesar de ter tentado não alimentar muitas esperanças (do tipo encontrar com um buquê de flores no meio da sala de aula) fiquei triste quando nada aconteceu. Já estava tão cansada de ligar para ele e não receber resposta, de ficar lembrando de Venice Beach e de ouvir de Adele... O peso da verdade, de que acha-lo seria quase impossível, estava caindo sobre os meus ombros, causando uma tristeza dolorosa. Não ajudou muito quando cheguei em casa no início da noite (havia saído com Jodi um pouco para tentar entender como funcionava a Jacksonville Beach High School) e encontrei meu pai tocando Goodbye Pork Pie Hat, no saxofone, acompanhado pelo , no baixo.
- Boa noite, Rainbow. – Papai parou de tocar e sorriu ao me ver já no pé da escada.
- Oi, pai. – Disse baixo, tentando conter o choro que ameaçava vir do fundo da minha garganta. Não só pela situação toda, mas porque Goodbye Pork Pie Hat me lembrava New Orleans, e isso me dava uma nostalgia danada. – Olha, eu... Preciso subir. – Falei, louca para fugir dali.
- Está tudo bem? – afastou as costas do sofá e olhou para mim.
- Está, está sim. – Assenti. – Eu só preciso... Descansar. – Tentei sorrir e subi as escadas.
Fechei a porta do quarto atrás de mim e respirei fundo, limpando as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Aproxime-me da cama, mas alguém já estava no meu lugar.
- Sério, Stevie? Você não tem, tipo, um colchãozinho? – Perguntei com uma careta. Stevie abanou o rabo, sem se mexer um centímetro sequer. – Ah, que se dane. – Deitei-me na cama ao lado dele. Stevie esfregou o focinho em mim, se aconchegando todo, e eu fiz carinho em sua cabeça. Ficamos ali por mais um tempinho, até que a porta se abriu.
- Vou perguntar de novo. – Ele disse. – Está tudo bem?
- Ah, , me deixa em paz. – Enterrei a cabeça no travesseiro para que ele não visse meu nariz vermelho.
revirou os olhos, mas não foi embora. Jogou o baixo elétrico na poltrona do canto e se sentou na cama, do outro lado de Stevie.
- Quer tirar esse travesseiro da cara? – Ele tentou puxar o travesseiro. – Quantos anos você tem? Sete?
- Oito. Você quase acertou. – Resmunguei quando ele conseguiu pegar. – O que você quer?
- Que você responda minha pergunta. – Ele disse sério. – E sem mentir. Ou você pensa que eu sou tão desligado quanto o seu pai?
Fiquei em silêncio. Odiava o .
- Qual é o nome dele? – perguntou.
- Dele quem? – Perguntei me fazendo de boba.
riu irritado.
- Essa é ótima! Sério, ? Você vai fingir que não sabe do que eu estou falando? – Arregalou os olhos. – Porque você passou o dia de ontem inteiro com esse celular na mão, e quase estava fazendo um buraco no assoalho de tanto andar em círculos. Por favor, não tente me convencer de que estava esperando uma ligação da sua mãe, porque não vai funcionar.
Eu estava brava, mas aliviada por alguém perceber que havia algo errado comigo. Não era muito de contar quando tinha um problema, mas estava acostumada a mamãe sempre perceber. Claro que não era a mesma coisa, mas no meu estado até a Jodi serviria.
- O nome dele é . – Funguei.
- E qual é o problema? – perguntou mais sério. – Ele ficou em Denver? Vocês terminaram?
- Não. Ele não mora em Denver. Mora aqui, na Flórida.
Ele assentiu.
- O problema – Dei a louca de uma vez. Se ele queria me ouvir, ia me ouvir. – é que nos conhecemos em Venice, nas férias. E agora eu simplesmente não consigo encontra-lo. Ele não atende minhas ligações, nem responde minhas mensagens. Eu estou preocupada, porque sei que pode ter acontecido alguma coisa com ele, mas também sei que ele pode apenas ser um...
- Canalha? – sugeriu com cautela. Eu assenti. Ficamos em silêncio por um tempo. – Vou dizer uma coisa, e espero que te faça se sentir melhor. – Ele disse então, e eu esperei por mais alguns segundos. – Você é uma garota incrível, e ele teria que ser muito idiota para se contentar com um mês de férias.
Senti-me lisonjeada, mas rolei os olhos assim mesmo.
- Você me conhece há dois dias, ...
- E até eu já sei disso. – Sorriu. – Mas em todo caso... – Ele se levantou e pegou o baixo da poltrona. – Sempre temos uma canção.
- O que você...
- Vamos lá, Stevie! – Ele já havia pendurado o contrabaixo no ombro de novo. – Para a senhorita de coração partido: You don't know what love is.
começou a dedilhar a música de Sonny Rollins, e eu cantarolei baixinho junto com ele.

You don't know what love is
'Til you've learned the meaning of the blues
Until you've loved a love you've had to lose,
You don't know what love is.

You don't know how lips hurt
Until you've kissed and had to pay the cost,
Until you've flipped your heart and you have lost,
You don't know what love is.

parou por três segundos e sorriu antes de finalizar a canção:

Do you know how a lost heart fears
At the thought of reminiscing,
And how lips that taste of tears
Lose their taste for kissing?
You don't know how hearts burn
For love that can, not live yet never dies.
Until you've faced each dawn with sleepless eyes,
You don't know what love is.

Quando terminou, eu estava sorrindo e aplaudindo.
- Sua voz é linda! – Exclamei encantada.
Ele pôs o contrabaixo na poltrona novamente e se sentou ao meu lado de novo.
- Viu só, Rainbow? – Disse sorrindo. – De tudo se tira uma lição.
Sorri para ele e baixei os olhos.
- Acho que podemos ser amigos. – Murmurei.
- Até porque, sua outra opção é a Jodi Slaterton, e ela traz de brinde a Emma Hughes. – Riu.
- Não fale assim. – Bati em seu braço. – Eu gosto das duas.
- É brincadeira. – Riu mais ainda.
- ... – Disse mais calma. – Obrigada.
olhou para mim e sorriu por alguns segundos.
- Você pode confiar em mim, . De verdade.
Sorri de volta. Sabia que agora éramos realmente amigos.
- SAIA DA CAMA DA MINHA FILHA! – Meu pai berrou abrindo a porta.
- PAI?! – e eu pulamos da cama no susto, mas meu pai já estava tendo um ataque histérico de riso. Parece que tantos anos de solidão haviam deixado o velho biruta.
- Ah, deviam ter visto suas caras! – Papai enxugava os olhos. Stevie começou a latir loucamente.
- Quer me matar de susto? – Exclamei com a mão no peito.
- Desculpe, querida, não resisti. – Riu mais um pouco. Depois ficou sério de novo. – Mas vocês não estavam fazendo nada de errado, estavam?
- Não, nós só... – Comecei, mas lá estava ele rindo de novo.
- Desculpem, não resisti de novo.
olhava para mim tão espantando quanto eu olhava para o meu pai.
- Ah, garotos, vamos lá. Só vim chamar vocês para comer alguma coisa no Rogers. – Ele andou em direção as escadas. – Vamos lá! – Gritou.
- Sou a favor de não contrariar gente louca. – sussurrou.
- Apoiado. – Concordei mais que depressa, indo em direção à saída.
- Vamos lá, Stevie!


🌴💚🌴

A terça-feira passou tão rápido que nem senti. Conversar com o tinha ajudado mais do que eu pensei que poderia. Eu estava leve. Tranquila. Até conseguia ouvir com menos caretas as maluquices de Jodi e Emma, que estavam eufóricas para o teste de quarta à tarde. À noite, fiz meu dever de casa enquanto ouvia meu pai e ensaiarem para a apresentação de sábado, e depois do jantar fui dormir, embalada pelo Blues. No dia seguinte, acordei e fiquei mais um tempinho na cama. O dia lá fora estava nublado e a previsão do tempo havia dito no dia anterior que talvez até chovesse. Depois me levantei e fui para o banheiro, onde descobri ter esquecido meu celular. Tinha que tomar mais cuidado, porque, do jeito que papai era, podia acidentalmente deixa-lo cair na privada. Quando peguei o celular, porém, havia um alerta de mensagem na tela. Abri a mensagem sem estar com o coração preparado para o que leria:

“E aí, Vicentini? Aqui é o . Desculpe não ter respondido antes, mas estava com um problema no celular, e agora o troço pifou de vez. Estou usando o celular de um amigo para enviar essa mensagem, mas prometo que te ligo assim que conseguir um celular novo.
Beijo,
Não se esqueça de mim.”

- AH. MEU. DEUS. – Berrei fazendo cosplay de Jodi e Emma.
Meu grito não foi capaz de acordar meu pai, o que me deixou (mais) feliz. Não conseguia parar de sorrir, de rir, de pular; corri pelo quarto e abracei Stevie, que parecia ficar muito feliz pela minha felicidade, independente do motivo que tivesse.
- ELE NÃO É UM CANALHA, STEVIE! NÃO É!
Stevie abanou o rabo, latiu e pulou em resposta.
Imediatamente liguei para Sofia.
- Ele não é um canalha! – Gritei assim que ela atendeu.
- ? – A voz veio sonolenta. – Que horas são?
- Hora de se levantar! Você não vai para a escola? – Eu continuava rindo afetadamente.
- Não... Problemas no encanamento do prédio. Fomos dispensados da aula de hoje. – Ela murmurou. – Do que você está falando?
- O me mandou uma mensagem do celular de um amigo dizendo que o dele está quebrado! – Comemorei.
- Puxa. – Ela acordou um pouco. – Caramba, . Fico feliz por isso, mesmo. Agora, posso voltar a dormir? Te ligo quando estiver realmente acordada, e aí vou poder saltitar e gritar junto com você, tudo bem?
- Tenha bons sonhos. – Sorri ao desligar o celular.
Aquele dia seria perfeito.

Durante toda a manhã não tirei o sorriso do rosto. Até mesmo plantei um beijo todo babado na bochecha do quando o encontrei no refeitório. Ele reclamou e me empurrou, mas nem liguei. Também ouvi com empolgação tudo o que Jodi e Emma diziam. Até as ajudei comentando sobre alguns passos que me mostraram. A coreografia das duas estava realmente boa, elas haviam se esforçado muito, e eu torcia para que tudo desse certo, embora não pudesse estar lá na hora do teste.
Quando estava saindo da escola e indo a caminho do carro do (ele me daria carona, mas antes passaríamos no supermercado para comprar alguma coisa para a mãe dele), no entanto, algo chamou minha atenção.
Ouvi o som baixinho de um choro e depois o som de um salto batendo no chão seco do estacionamento. Olhei para o canto e a vi se levantando.
- Summer? – Perguntei correndo para perto dela.
- Ah, oi, . – Ela secou as lágrimas. – Tudo bem? – Tentou sorrir.
- Estou, eu estou sim, mas... O que houve com você?
- Não é nada, só tive um problema com o meu namorado. – Balançou a cabeça. – Se é que nós ainda estamos namorando.
- Aposto que não foi nada tão grave. – Tentei acalma-la. – Para onde você está indo? – Fiquei meio preocupada, porque Summer não parecia nada bem.
- Preciso ir para o teste da torcida. – Fungou. – Já deve estar quase começando.
Olhei para o estacionamento e notei que ainda não estava lá, então não haveria problema em demorar um pouco.
- Bem, precisa lavar esse rostinho antes de aparecer por lá, não é? – Sorri.

Acompanhei Summer até o banheiro enquanto tentava tranquiliza-la. Estava morrendo de pena da garota, que não parava de falar no quanto estava preocupada.
- Não foi só culpa dele. – Ela disse depois de enfiar o rosto embaixo da água gelada da pia. Entreguei um papel toalha a ela. – Obrigada. – Sorriu. – Quer dizer, claro que ser modelo é importante na minha vida, mas ele também é. – Suspirou. – E eu já tinha viajado nas férias passadas; ele me pediu tanto para não ir para lugar nenhum dessa vez... O problema é que eu odeio interromper o período escolar para desfilar, então as férias são meu único tempo livre, mas mesmo assim... – Ela enxugou as lágrimas de novo.
- Summer... – Decidi falar. – É claro que você tem que se preocupar com seu namoro, mas se ser modelo é o seu sonho, ele também precisa entender.
- Obrigada por dizer isso. Jasmine e Amber sempre dizem que eu sou uma namorada muito relapsa e que ele vai me trocar por outra garota a qualquer momento. – Deu uma risadinha irônica.
- Você tá brincando?! – Sorri. – Trocar Summer Olsen, a rainha da Jacksonville Beach High School e futura supermodelo? Só se ele fosse muito burro, Summer.
Ela sorriu, mas logo depois ficou triste de novo.
- Eu o amo, . De verdade. E ele está tão chateado comigo...
Fiquei olhando para Summer, que era linda e tinha a carreira de seus sonhos começando, e que, mesmo assim, era capaz de ficar ali, chorando e se descabelando pelo namorado. Será que o que eu sentia pelo era tão grande quanto o amor de Summer? Fiquei pensando, mas não tinha tanta certeza.
- Summer, deixa eu te contar uma coisa. – Eu disse. Ela olhou para mim em silêncio. – Tem um garoto de quem eu gosto muito também. Nós também tivemos um problema com distância nesses últimos tempos e eu achei que tudo fosse dar errado e foi horrível... Mas sabe, mesmo assim, eu tentei falar com ele. Mesmo pensando que talvez não fosse funcionar, mesmo não tendo resultados muito animadores a princípio, e quer saber? Estamos bem agora. – Sorri. – Talvez só o que você precise fazer seja falar com o seu namorado, ser honesta com ele e dizer que está com saudades. Se ele gostar de você só um terço do que você gosta dele - e sei que ele gosta muito mais que isso - vocês vão se entender.
O rosto de Summer se iluminou um pouco e ela sorriu.
- Obrigada, . – Disse. – De verdade.
Eu estava certa, afinal. Summer não era nem de e tão ruim quanto parecia.

- Este é simplesmente o momento mais engraçado do ano. – Ela disse quando paramos um pouco antes da entrada do ginásio. Já parecia mais animada. – Você devia ver aquilo; algumas garotas são realmente ótimas, mas outras fazem você ficar rindo durante uma semana.
Summer parecia tão empolgada para os testes que não demorei muito para concluir que aquela história sobre ela ter “largado a torcida para provar ser popular de verdade” era pura fofoca. Aquela garota amava a torcida; se a abandonou em algum momento, foi por causa de seu trabalho.
- Ah, eu acredito. Minha melhor amiga na minha antiga escola era líder de torcida, sei bem como é. – Ri e ela me acompanhou.
- Mas e quanto a você, ? Nunca pensou em ser líder? Se dependesse de mim - e depende - você teria uma vaga garantida.
- Ah, não. Obrigada. Dispenso essa. – Balancei a cabeça. – Bom, você já está melhor?
- Sim, sim. – Summer assentiu. – Vou seguir seu conselho e falar com ele. Cruze os dedos! – Ela fez figa e eu ri. – Espero que tudo fique bem no final.
- Tenho certeza de que vai ficar. – Coloquei a mão em seu ombro. – Preciso ir. A gente se fala.
- Até mais. – Ela acenou enquanto eu me afastava.
Então me lembrei de algo e parei, virando-me para trás e gritando:
- Summer!
Ela olhou para mim. – Sim? – Gritou de volta.
- Tem duas amigas minhas que vão fazer o teste, Jodi Slaterton e Emma Hughes! – Gritei. – Assista a apresentação das duas com muito carinho!
Summer riu. – Pode deixar! – Gritou enquanto corria para o ginásio.
Agora sim minha consciência estava tranquila.

Caminhei a passos largos até o estacionamento. estava escorado na porta do carro. - Pensei que você fosse demorar mais dez anos. – Reclamou indo até o outro lado e abrindo a porta para mim.
- Que gentil. – Apertei sua bochecha enquanto entrava. Ele deu a volta e se sentou.
- Eu já disse que você tá meio estranha hoje? – Balançou a cabeça. – Está começando a me assustar, e olha que...
- ! – Disse de repente, fazendo ele me olhar com uma cara de pânico impagável. – Por acaso você torce pelos Swordfishes?



5- Onward Swordfishes!

“Who wins the enemy? Who knocks up a whale? Everyone knows: the Swordfish is coming!”

[…]

- Por um segundo eu pensei que minha resposta faria alguma diferença.
- É claro que faz, . – Sorri enquanto caminhávamos entre as pessoas em direção ao campo de futebol. – Você disse que gostava de futebol.
- Sim, mas não que torcia pelos Swordfishes. – Ele reclamou.
- Ora, então torça pelo time rival. – Falei e parei para comprar um algodão doce.
- Por que mesmo nós estamos aqui?
- Primeiro porque prometi a Jodi e Emma que viria. Segundo porque estou com um ótimo humor e achei que seria divertido me misturar aos outros alunos.
- Você vai me pagar um cachorro-quente. – Avisou.
- Claro que sim. – Coloquei um pedaço de algodão doce na boca e voltei a andar.
Caminhamos por muito pouco tempo em silêncio, até que ele decidiu falar.
- Esse seu bom humor por acaso tem a ver com seu quase-namorado-talvez-canalha? – Perguntou enfiando as mãos nos bolsos.
- Ele não é mais um possível canalha. – Sorri de orelha a orelha. – Ele me mandou uma mensagem; só estava com problemas com o celular.
tossiu e deu um sorriso. – Fico feliz por você. – Disse.
Um grupo de garotas, com seus de torcida uniformes azuis e amarelos, passou correndo por nós. Uma delas parou um pouco ao nos ver.
- ! – Summer me abraçou.
- Oi, Summer. – Sorri.
- Eu precisava te contar... Segui o seu conselho e agora está tudo bem! – Saltitou.
- Que notícia maravilhosa, Summer!
- Vou ficar te devendo um ótimo conselho. – Apertou minhas mãos. – Oi, ! – Sorriu largamente.
- Oi, Summer. – acenou.
- Bom, pessoal, tenho que ir. A gente se fala depois. – Ela disse já se afastando. – Vai, Swordfish! – Jogou um beijo e desapareceu em meio à multidão.
Olhei surpresa para .
- Você fala com Summer Olsen?
- Ela morava na minha rua quando éramos crianças. Costumávamos brincar juntos. – Explicou. – Mas então, seu quase-namorado-não-mais-canalha... Qual era o nome dele mesmo?
Suspirei. – O nome dele é . .
O sorriso desapareceu do rosto de .
- ?
- Hunrum. – Assenti. – Qual o problema?
Não que parecesse que ia dizer alguma coisa, mas nossa conversa foi rapidamente interrompida pelo amigo dele, , fazendo altos malabarismos para segurar dois cachorros-quentes e um refrigerante.
- Oi, pessoal. Será que dá para dar uma ajudinha aqui? – Perguntou o garoto de olhos claros.
- Oi, ! – Sorri ao ajudá-lo.
- Valeu, . – Ele sorriu. – O que aconteceu com o ?!
- Sei lá, ele tá esquisito.
encostou o copo gelado no rosto de .
- Droga, ! – Ele reclamou, saindo do transe.
- Que cara é essa, irmão?
- Nada, eu só... Preciso falar com a . – Olhou sério para mim.
- Haha! – fez uma cara engraçada. – Já entendi tudo. Não precisa falar duas vezes.
revirou os olhos e eu esperei confusa, enquanto caminhava para e.
- Qual é o problema? – Perguntei.
- Você disse que o nome do seu namorado é ? – perguntou aflito segurando meu braço. – Tem certeza?
- É claro que eu tenho certeza! – Puxei o braço. – O que deu em você, hen?
- Onde mesmo vocês se conheceram? – A voz ainda era urgente.
- , você está me assustando... – Dei um passo para trás.
- Onde, ? – Repetiu.
- Venice Beach.
levou as mãos à cabeça, puxando o cabelo, e começou a praguejar alguma coisa. Eu estava assustada e confusa, mas notei os jogadores do time passando a alguns metros. Um deles chamou minha atenção, embora eu ainda não conseguisse ver direito.
- , tem uma coisa que eu preciso te contar. – disse em voz baixa.
- . – Murmurei quando o reconheci.
- O que você disse? – perguntou.
- Aquele era o , amigo do ! – Exclamei.
Meu coração virou uma bomba prestes a explodir. Se estava ali, então...
- deve estar aqui! – Gritei, entregando o cachorro-quente a ele e correndo em disparada atrás do time.
- , volta aqui! – correu atrás de mim.
- Caramba, ! O que você disse a ela? – disparou a correr atrás de nós.
- ! – Gritei. – , aqui!
olhou para trás e arregalou os olhos quando me viu. Mas em vez de me esperar, ou de correr para me cumprimentar como fazia em Venice, ele me deu as costas e correu loucamente em direção ao vestiário.
- ! – Gritei de novo, mas corria muito rápido.
Dei de cara com a decepção quando ele entrou no vestiário e fechou a porta.
- , sou eu! – Bati aflita. – Pie!
- Ei, mocinha! – O treinador surgiu na porta. – A arquibancada é para lá. – Apontou.
Afastei-me contrariada da porta.
- Que merda foi essa?! – exclamou quando nos alcançou.
- Acho que hoje vai ser o melhor dia da minha vida. – Eu disse ofegante.
- , é sério: a gente precisa conversar. – disse de novo.
- Agora não, . – Cortei. – Mais tarde. Vamos ver o Swordfishes ganharem o primeiro jogo da temporada! – Ri enquanto corria para a arquibancada.
Nos sentamos no meio da arquibancada. Meu estômago estava gelado, minhas pernas estavam bambas. Eu ia desmaiar, ah se ia. Estava sentindo uma tontura deliciosa, e uma felicidade tremenda. Nada mais natural que o jogar no time da escola; ele adorava futebol. O time deveria ter sido o primeiro lugar a procurar.
- Tomara que o tempo continue seco. – balançou a cabeça. – Uma chuva agora poderia acabar com os planos de vitória do nosso time. Ouvi dizer que os Giants têm treinado em campo molhado, e perder no primeiro jogo da temporada seria, definitivamente, muito ruim.
continuava esquisito, e eu continuava inquieta, até que a voz do narrador ecoou pelo campo.
- E aí, Jacksonville High! Preparados para o primeiro jogo da temporada?! Preparados para acabar com esses tais de Giants?!
Todo mundo foi à loucura; os trompetes e pratos da banda da escola fizeram barulho, e gritos de “Vai, Swordfish!” ecoaram. e eu nos juntamos à multidão e gritamos também.
- Nosso jogo já vai começar, mas antes vamos à apresentação das nossas novas, lindas e incrivelmente talentosas, líderes de torcida do Swordfish!
Todos gritaram novamente. Meus olhos procuraram por Jodi e Emma, de mãos dadas e olhos fechados lá embaixo. Cruzei os dedos e enquanto a banda rufava os tambores.
- Maya Burnes, Jodi Slaterton e Emma Hughes!
Aplaudi de pé quando as garotas foram até o campo (completamente histéricas) receber das outras líderes seus uniformes. Quase pude ouvir o “AH. MEU. DEUS” das duas, e agradeci mentalmente a Summer, pois sabia que tinha o dedo dela ali.
- , a gente precisa conversar. – segurou meu braço de novo. – E tem que ser agora.
- Ah. – Revirei os olhos. – Tudo bem, . Qual é o...
- E agora, com vocês, os nossos astros! – Bradou o narrador, interrompendo a conversa. – Digam olá aos nossos Swordfishes! James Campbell. Oliver Hunt. Harvey Hall...
Os jogadores entravam conforme ele chamava. Meu rosto ia pegar fogo, meu coração ia explodir. Os nomes pareciam demorar uma eternidade, até que finalmente...
- . E, como todos já estavam esperando, nosso artilheiro: J...
Eu mal consegui ouvir. Demorou um tempo para que o jogador de camisa número oito entrasse em campo. E de repente, tudo estava girando. Era a felicidade. Porque estava ali, naquele campo, com aquela camisa. A multidão gritava, mas ninguém estava mais eufórico que eu.


🌴💚🌴

Nunca um jogo demorou tanto a acabar.
Minha sapatilha já estava gasta, de tanto bater o pé no chão. Já não ouvia mais nada que dizia, e mantinha um silêncio assustador desde que fora interrompido da última vez.
Quando finalmente a partida acabou (em um não muito animador zero a zero) foi que ele decidiu falar:
- Acho melhor a gente ir direto para casa.
- Nem pensar! – Ri, pulando de dois em dois degraus e desviando das pessoas. Precisava chegar aos jogadores o mais rápido possível. Queria pular em cima do ; bater nele por não ter me ligado antes; enche-lo de beijos.
- ! – correu atrás de mim, mas me perdeu em meio à multidão.
Nem eu mesma conseguia mais me encontrar ali, até ouvir a voz de Summer.
- ! – Ela gritou pulando em cima de mim.
- Oi, Summer!
- Vamos. – Me puxou pela mão. – Tem alguém que quero que você conheça.
Eu estava tão feliz que nem a contrariei. Afinal, não ia desaparecer; agora eu sabia que ele estava na minha escola, não ia perdê-lo de vista nunca mais. Summer me arrastou até perto de uma barraca de garrafas d’água, onde a maior parte dos jogadores estava amontoada. A loura soltou minha mão e correu até a barraca, trazendo consigo um garoto de cabelo e olhos . Meu coração estava saindo pela boca. Era agora. Agora vinha o desmaio.
- . – Murmurei, mas era impossível me ouvir.
O garoto olhava para mim estático, enquanto Summer jogava os braços em volta de seu pescoço e sorria sem parar.
- Bom... Junior, esta é a . – Summer sorriu largamente. – , este é o Junior, meu namorado.
Ar. O que havia acontecido com o ar? Não existia, eu não conseguia respirar. Tudo começou a girar em volta de mim. E de repente, a chuva, aquela que a garota do tempo havia previsto para dois dias atrás e que não tinha vindo, começou a cair, fria e cruel.
- . – Ouvi a voz de atrás de mim.
Tudo estava escurecendo, mas ainda tive tempo de ouvir a voz de e senti-lo segurando meu braço. Olhei uma última vez para e Summer, e aí...
- Oi, Junior. – Com espanto, me ouvi dizer.
- Vocês se conhecem? – Summer franziu o cenho.
balançou a cabeça, como se acordasse de um transe, dizendo:
- Nos conhecemos por acaso, nas férias, lá em...
- Venice Beach. – Completei assentindo. Então tentei sorrir para Summer. – Eu passei as férias na casa da minha tia, que mora bem ao lado da casa de praia do . – Fixei o olhar em novamente. – Nós meio que ficamos amigos.
A tontura estava piorando, mas eu simplesmente não conseguia parar de falar, nem de olhar para .
- , a gente precisa ir embora. – disse com a voz evidentemente preocupada, descendo os dedos do meu braço para a minha mão e apertando-a de leve.
Segurei a mão dele com força e assenti.
- Summer, eu... – Engoli em seco. – Preciso ir.
Summer, sem perceber nada (provavelmente por causa da alegria que sentia), pareceu um pouco decepcionada por eu já estar indo, mas sorriu mesmo assim.
- Tudo bem. – Deu dois passos a frente e me abraçou. – Nos vemos na segunda-feira. – Disse.
- Tchau, Summer. Tchau, Junior. – disse.
Nos afastamos da barraca. De Summer. De .
A chuva continuava caindo; eu sentia frio e queria chorar, mas não conseguia falar.
- ? – Preocupado, parou a minha frente. – , está tudo bem?
Senti que estava prestes a desabar, então apertei forte a mão de e balancei a cabeça negativamente em resposta a sua pergunta.
- Por favor, me tire daqui.
Foi tudo o que eu consegui dizer.



6- Hearts break everyday, but you tore mine apart

“I really wish I could turn back the time now…”

[…]

- Quer ajuda? – se pôs de pé assim que me viu parada à porta do banheiro, prestes a voltar correndo para dentro dele.
Então estava com a gente o tempo todo? Nem tinha reparado, mas estava feliz por saber que tinha uma plateia para minha desgraça. Balancei a cabeça negativamente para a pergunta dele e andei devagar até a cama, onde me joguei sem dizer nada.
- Olha, eu te trouxe uma água com açúcar. – Ele disse um tanto nervoso apontando para o criado mudo.
Virei o rosto vagamente para ele e imaginei (pela cara dele) que eu devia estar assustadora com todo aquele rímel descendo pelas bochechas e o nariz vermelho.
- Por que mesmo vocês me trouxeram para cá? – Murmurei quase inteligivelmente. Pelo menos tinha parado de chorar agora.
- Porque eu não tinha nenhuma ideia boa o suficiente para explicar isso – , entrando no quarto, apontou para o meu rosto. – ao seu pai.
- Ah, você. – Virei o rosto de novo.
Ouvi dar mais alguns passos.
- Me deixa falar com ela, . – Disse.
- Por mim, você pode... – ia dizendo.
- Sozinho, . – cortou.
- Ah claro. – concordou. – Volto mais tarde.
Ouvi a porta bater quando ele saiu, mas nem me mexi para olhar para o . Não sentia muita vontade de conversar, estava tão exausta. A cama de solteiro rangeu quando ele se deitou ao meu lado.
- ? – Ele disse depois de alguns instantes.
Não respondi. Ele ficou em silêncio mais um tempo, mal se mexendo. Então respirou fundo e voltou a falar:
- Olha, , você pode não querer conversar sobre isso, e eu até entendo. Mas eu quero que você saiba que, se for assim, eu vou ficar aqui do mesmo jeito. Mudo junto com você. – Respirei fundo, prestes a chorar, e ele ficou em silêncio mais um pouco. – Até porque, – Completou. – essa cama é minha, e eu não tenho outra opção.
Acabei não resistindo à tentação de cair no riso junto com ele. Primeiro, porque tinha esse talento de me fazer rir mesmo quando eu não queria; depois, porque estava tentando me esquecer de toda aquela história.
Virei meu rosto para ele, que ainda ria, e sorri.
- Obrigada. – Sussurrei.
- Não tem de quê, Rainbow. – Ele sorriu de volta. – Sei que você não quer mesmo conversar sobre o que aconteceu lá no campo e não vou te forçar a isso. Mas se por algum acaso você sentir vontade de conversar...
- Chega pra lá. – Funguei fazendo ele se sentar para me sentar também.
Ficamos ali, sentados lado a lado, em silêncio.
- é um idiota. – Coloquei para fora. – Um canalha. O canalha.
- Concordo em número, gênero e grau. – assentiu sem olhar para mim.
- Ele não me merece. Nem merece a Summer. Ela é uma boa garota.
- Então o que você pretende fazer? – Arqueou uma sobrancelha. – Contar tudo a ela?
- Não agora, mas... Sim. – Concordei. – Acho que ela merece saber a verdade, não merece?
sorriu.
- Sem dúvida.
Sorri de volta e voltei a olhar para o nada.
- Só preciso me recuperar. Sair dessa fossa. – Enterrei a cabeça no travesseiro de novo.
A cama rangeu de novo quando se pôs de pé.
- Conheço um ótimo remédio para fossa. – Disse. – Ele se chama “sorvete de chocolate do Roger’s”. – Estendeu uma mão para mim. – Não vou aceitar negativa.
Ri e balancei a cabeça, segurando sua mão e me levantando. Precisava começar a esquecer tudo aquilo, afinal.


🌴💚🌴

- Ainda não acredito que você está vindo comigo. – dizia, olhando para mim de soslaio, na manhã de segunda-feira.
Abotoei meu casaco vermelho e encostei a cabeça no vidro.
- Não queria correr o risco de pegar o ônibus e encontrar... Você sabe. Por acaso. – Suspirei. – Além disso, Jodi e Emma estão na torcida agora. Sem dúvida vão se sentar à mesa da Summer e iam querer me arrastar para lá. Eu não ia suportar.
não disse nada, apenas assentiu ao mesmo tempo em que parava o carro em frente a uma casa azul. Não demorou muito para o garoto estabanado e cabelo curto abrir a porta e correr em nossa direção.
- E aí, ! – Ele disse se sentando no banco de trás. – Bom dia, tia... – Então olhou para mim. – Ah, . Foi mal, pensei que estávamos dando carona para a tia Sara.
- Tudo bem. – Balancei a cabeça. – Sou nova por aqui.
- Bem, seja bem-vinda. – Estendeu a mão e eu a apertei enquanto acelerava de novo.
Então entramos em um curto silêncio constrangedor. Claro, tinha visto tudo que aconteceu e também sabia sobre a história do , o que tornava tal momento ( dirigindo calado, eu com a cabeça encostada no vidro e um ar melancólico, o próprio inquieto, tamborilando os dedos na porta) extremamente embaraçoso. Mas não era do tipo que ficava muito tempo sem falar, então não se conteve:
- Olha, ... – Disse depois de pigarrear. – Sinto muito pelo que aconteceu na sexta. Imagino que não seja o melhor de jeito de descobrir que seu namorado é um canalha...
- ! – balançou a cabeça em reprovação.
- Não, deixa ele. Tudo bem, ele está certo. – Dei um sorriso fraco. – O foi mesmo um canalha, . – Assenti. – Mas não tem problema, porque essa foi a última vez que ele aprontou.


🌴💚🌴

- Você vai se divertir na nossa mesa. – jogou uma batata frita na boca enquanto passávamos pela fila da cantina, no intervalo. estava logo atrás de mim, e ele na minha frente. Eu estava tentando, a todo custo, não olhar para as mesas em busca do , mas estava sendo mais difícil do que eu esperava.
- Ah, claro que vai. – revirou os olhos.
- Vai, ela vai sim. – riu. – Tem piadas e comentários realmente inteligentes, sem contar nos caras mais interessantes de toda a Jacksonville High.
Ri dos argumentos de enquanto pagávamos a moça do caixa, depois caminhamos em direção à mesa do fundo, onde eles sempre se sentavam. Tentei fixar meu olhar em um ponto seguir até ele, mas não consegui, pois logo fui atacada pelas minhas duas amigas loucas.
- ! – Jodi, vestida com o uniforme da torcida, pulou em cima de mim.
- Você sumiu durante todo o final de semana! Onde se enfiou?! – Emma me deu um cutucão.
- Queríamos comemorar com você! – Jodi deu um sorriso e abraçou minha cintura, e reparei que o aparelho em seus dentes agora estava amarelo, combinando com a barra de sua saia de líder.
Não que eu não estivesse muito feliz por elas; eu estava. Era só que ainda não havia me recuperado completamente, e sabia que um único convite e um pouco de insistência me fariam olhar em direção à nova mesa delas, o que eu queria evitar isso a qualquer custo.
- Bom, prometo que saio com vocês essa semana. – Disse sem muita convicção. – Fiquei muito feliz por vocês duas, mesmo. E me desculpem por não ter ficado para dar os parabéns, é que depois do jogo eu me senti meio mal...
- Tudo bem, agora vamos; nossa nova mesa está esperando. – Jodi riu e me puxou pela mão.
- Ah, não. – Finquei os pés no chão. – Desculpe, não posso me sentar com vocês.
- Tá brincando? – Emma ergueu uma das grossas sobrancelhas. – Você é nosso amuleto da sorte. Não vamos te soltar nunca mais.
- Não, gente, sério. Não posso...
Nosso pequeno empasse chamou a atenção de alguém. De sua cadeira no centro, toda sorridente e com um rabo-de-cavalo bem alto, Summer começou a acenar.
- Ei, , vem sentar com a gente! – Chamou.
Foi aí que o vi. Aquele que eu estava tentando ignorar. Usando uma regata vermelha, sentado ao lado dela, com uma expressão não muito convidativa. Olhou para mim com certa impaciência, depois voltou sua atenção para o resto do grupo, como se pouco se importasse com a situação e com os gritos de Summer.
- Ordens da rainha. – Jodi disse. – Não pode desobedecer.
Ela e Emma tornaram a me puxar, embora eu tentasse resistir. Então alguém segurou o braço de uma das duas.
- vai se sentar comigo hoje, meninas. – sorriu, fazendo as duas me largarem imediatamente, totalmente derretidas. – Temos um projeto de álgebra muito complicado e chato para planejar. – Ele acenou para Summer, que assentiu e sorriu, voltando a conversar com os outros.
- Ah, se é assim... – Jodi deu de ombros. – Nos vemos mais tarde então, . – Me deu um beijo na bochecha. Emma assentiu e fez o mesmo, depois voltou à sua mesa também.
- Está tudo bem? – perguntou olhando de relance para a mesa delas.
- Melhor impossível. – Respondi com certo toque de ironia, fazendo-o rir enquanto caminhávamos em direção à nossa mesa.
Mas não resisti a dar uma última olhada em direção à mesa deles. E não pude deixar de notar um com expressão irritada, olhando diretamente para nós dois.


🌴💚🌴

- Sim, pai, com pedacinhos de cenoura... – Eu dizia tentando segurar o telefone com o pescoço e fechar minha mochila com zíper estragado enquanto corria para o ponto de ônibus, naquele mesmo dia.
Papai estava no supermercado comprando meu jantar (ou tentando comprar), porque a noite faria um show e não poderia ficar comigo. Eu havia ficado presa na escola para um trabalho de biologia com uma garota da minha turma que mal sabia o nome (Carly ou Kelly, algo assim), perdendo assim a carona com . A bem da verdade, o trabalho havia me ajudado a tirar um pouco todos os meus problemas da cabeça, o que já era um grande avanço.
Mas eu não ia sair ilesa naquele dia. Não mesmo.
- Ei, você. – Ouvi quando já estava quase na saída.
Congelei imediatamente. Meu coração deu um salto. Eu não queria olhar para trás. Não podia. Não virei.
- Não tenho nada para falar com você, Junior. – Respondi, a voz falhando no final.
- Por favor, , não me chame assim. – A voz dele perdeu completamente a dureza e voltou a ser a voz do que eu conheci no verão. Ouvi os passos e sabia que ele estava se aproximando, mas não me movi. – Todo mundo aqui me chama assim, mas você não é todo mundo.
A voz dele já estava bem atrás de mim agora, então me virei, fazendo força para não me distrair com os olhos . Tentei ser firme. Eu precisava ser.
- Mas parece que todo mundo gosta tanto desse nome! É assim que a Summer, sua namorada, por exemplo, te chama, não é? – Não consegui esconder a mágoa na voz.
bufou impaciente e coçou a cabeça.
- , você entendeu tudo errado...
Era demais para mim. Então eu é que havia entendido errado? O que ele ia fazer agora? Negar tudo de cara lavada? Devia me achar muito burra mesmo. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não deixaria que nenhuma caísse na frente dele. Preparei-me para voltar a andar.
- Você é ridículo. – Disse já virando nos calcanhares.
- , por favor! – Segurou com força o meu braço. Respirei fundo, pois estava prestes a agarrá-lo como quis fazer desde que nos separamos. – Você precisa me ouvir. É tudo tão complicado...
- Você não tem nem ideia do quanto é complicado. – Cuspi as palavras, então puxei meu braço e voltei a andar de uma vez.
não tentou me segurar. Ficou parado ali; sozinho no corredor deserto. Mas ainda ouvi quando ele disse:
- Hoje à noite, na Praia das Gaivotas. Vou estar te esperando.
Não olhei para trás, continuei meu caminho enquanto tentava regularizar minha respiração.
Quando olhei para o relógio, ainda com o coração palpitando, desisti de andar e comecei a correr.
já havia me feito perder muito tempo. Não ia me fazer perder o ônibus também.


🌴💚🌴

- Para que mesmo você quer esse endereço? – perguntou desconfiado naquela noite.
Certo, eu havia passado a tarde inteira dizendo a mim mesma que não sairia de casa. Arrumei mil coisas para fazer, liguei para Collie para me distrair, até fiz um bolo. Mas nada foi capaz de tirar da minha cabeça. O que ele queria? Que eu fosse até lá para partir meu coração outra vez? Não, eu jamais faria isso comigo mesma. Além disso, havia a Summer. Pobre Summer, tão apaixonada por aquele traste e não fazia ideia do que estava acontecendo. Se bem que... A verdade era que nem eu fazia ideia do que estava acontecendo. Era justo que eu recebesse uma explicação, certo? Afinal, eu pretendia contar tudo a Summer o mais rápido possível, não podia omitir nenhum detalhe, nem ser injusta com o que dissesse. Que mal faria ir até lá e conversar com o ? Eu aproveitaria para dizer umas poucas e boas a ele.
Claro, não concordaria que eu fosse sozinha encontrar o , independente do objetivo do encontro. Não depois de ter visto o estado em que fiquei quando descobri o que ele tinha feito. Por este motivo, fiquei satisfeita em saber que ele iria para o show com meu pai em vez de ficar lá em casa jogado no sofá. Pelo menos assim ele não me veria sair e não haveria perguntas. Mesmo assim, eu precisava saber como chegar à bendita praia, e o computador de segunda mão que meu pai havia comprado ainda estava no conserto. Foi aí que eu menti:
- Estou tentando me encontrar na cidade. – Dei um sorriso largo demais. – Então decidi fazer um mapa de tudo.
não parecia estar acreditando muito em mim, então apelei para o meu talento cênico, transformando meu rosto em uma máscara de tristeza e dizendo baixinho:
- Só estava tentando arrumar um jeito de ocupar minha cabeça. – Suspirei. – Quando estou com você e o papai consigo me distrair; até com a Jodi e a Emma. Mas ficar aqui nessa casa a noite inteira sozinha... – Fingi que ia começar a chorar e ele tomou o papel da minha mão.
- Tá bom, ! Eu anoto o endereço para você!
Fingi limpar uma lágrima e voltei a sorrir.
- Obrigada, !
- Mas eu vou te dizer uma coisa: você devia desistir do teatro e voltar a tocar violão, porque é uma péssima atriz.
Sorri e pisquei para ele, então meu pai entrou na cozinha.
- Vamos lá, ? – Chamou. – Guardei seus nuggets na geladeira, filhinha. O arroz também está pronto, é só esquentar.
- Tudo bem, pai.
- Tranque bem as portas! – Ele disse tentando parecer um pai sério e responsável, coisa que, obviamente, não conseguia ser. – Nos vemos amanhã. – Me deu um beijo na testa. – Ou às três da madrugada, se você estiver acordada.
- Tchau, pai. – Sorri e acenei enquanto ele saía.
Então notei que ainda estava parado ali.
- Qual o problema? – Perguntei com medo de que ele tivesse sacado tudo.
- É que... Eu preciso conversar com você. Sobre uma... Coisa. – Ele parecia nervoso.
- Tá, mas o papai já deve estar no carro. – Lembrei-o.
- É, é verdade. – Balançou a cabeça. – Mas, , nós podemos conversar amanhã de manhã? É importante.
- Tudo bem. – Assenti com certa curiosidade. Então me lembrei da minha mentira. – Bom, eu vou para o meu quarto traçar as infinitas divisórias do meu mapa. – Sorri. – Vai ficar ótimo, ! – Gritei enquanto corria para as escadas. Então voltei correndo e dei um beijo em sua bochecha. – Você vai ver! – Disse, e aí subi as escadas.

Esperei até ver o carro se afastando na rua. Certo, agora eu estava sozinha. O que vestir? O que vestir? Vestido vermelho florido? Não, ia parecer frágil demais. Camisa branca de botão? Não, irritada demais. Droga, por que eu estava planejando o que vestir?! Não era um encontro, apenas uma conversa para esclarecer tudo e acabar com aquela história. Mesmo assim, meu estômago estava congelando. Acabei vestindo um short jeans e uma camiseta amarela, com um casaco cinza velho de capuz. Estava procurando meus chinelos quando o telefone tocou.
- Até que enfim você atendeu! – Sofia disse do outro lado da linha.
- Foi mal, estava um pouco ocupada.
- Tudo bem. E como você está?
- Estou melhor, eu acho.
- Hanram... Acredito.
Eu havia contado tudo a Sofia no domingo, enquanto chorava e comia um pote de sorvete de amora. Ela havia ficado morta de ódio do , e até mesmo cogitado me fazer uma visita e passar Jacksonville High para dar uma na cara dele, mas eu disse que não seria necessário, que em breve a própria Summer faria isso (porque afinal, ela era quem tinha mais direito), assim que eu contasse a ela. Acontece que Sofia me conhecia muito bem e sabia que, no fundo, eu ainda gostava do .
- Olha, será que você podia entrar no Skype? Estou tentando fazer uma redação, mas simplesmente não tá fluindo...
- Agora não dá, Sofi. Estou saindo de casa. – Respondi enquanto calçava os chinelos e descia as escadas.
- Saindo? Já se recuperou de toda aquela depressão? – Perguntou desconfiada. – Para onde você está indo, ?
- Eu vou... – Falei fechando a porta. – Vou encontrar o . Na praia. – Li mais uma vez o endereço que havia me dado, me certificando do ônibus que deveria pegar.
- Você vai o quê?! – Exclamou chocada. – Você ficou louca?! Depois de toda aquela cachorrada?!
- Não vai ser um encontro, Sofia. Só quero... Esclarecer as coisas. Entender por que ele fez isso...
- É simples, : porque ele é um canalha! Você ainda tem alguma dúvida?! – Sofia não só estava irritada, mas também me fazendo me sentir uma burra. Mas eu estava certa, não estava?
- Sofia... – Comecei a me defender.
- Por acaso , o cara legal que tem sido seu melhor amigo desde que você chegou a Jacksonville Beach, sabe onde você está indo?
- O quê?! Por que você está falando no ?! – Me atrapalhei toda. – Ele não tem nada a ver com...
- Eu sabia! Você não contou a ele! – Gritou acusadoramente. – Mentindo para o seu único amigo de verdade na Flórida, que vergonha!
- Olha aqui, Sofia, eu não estou mentindo para o ! – Gritei, mentindo, dessa vez, para minha prima.
- , fala sério... – O tom de voz veio mais ameno. – O não merece que você diga nem oi a ele. Você não precisa esclarecer nada, só seguir com a sua vida.
Suspirei. Talvez ela estivesse certa, mas ainda assim...
- Desculpa, Sofi, mas dessa vez eu não vou te ouvir. – Dei sinal para o ônibus. – Eu preciso falar com o . Mesmo que seja a última vez que faço isso.


🌴💚🌴

A visão tirou meu fôlego quando desci do ônibus. Adorava as paisagens da Flórida, adorava o clima. O ar estava quente, a lua subia devagar, o mar estava agitado. Poderia ser uma noite incrível, mas eu estava ali por um motivo.
- Vicentini. – A voz veio de trás de mim. – Você veio.
Dei meia volta para encará-lo. O cabelo estava caindo nos olhos, mas ele arrumou. Estava de bermuda, com um casaco azul também de capuz.
- Não vim porque estava com saudade de você, e tenho que voltar para casa logo, então fala de uma vez, . – Disse ríspida.
- Quanta agressividade. – Ele deu um sorriso triste. – Vou falar tudo o que você quiser saber, . Só venha comigo.
Fiquei parada enquanto ele dava alguns passos. Não confiava no , muito menos em mim. Não queria ficar totalmente sozinha com ele.
- Você não vem? – Ele olhou para trás.
Ainda estava insegura, mas já tinha ido até ali e aquilo precisava ter um fim, então o segui.
Caminhamos em silêncio até uma grande rocha alta, que lembrava um pouco aquela de Venice Beach onde costumávamos ficar. tinha feito de propósito, claro que tinha.
- Vem, eu te ajudo. – Estendeu as mãos para mim depois de já ter se equilibrado lá em cima.
Congelei por alguns instantes quando nossos olhos se encontraram. Emma estava certa, ele devia mesmo ser o garoto mais lindo da Flórida. Segurei suas mãos e ele me puxou para cima.
- Achei que você fosse gostar daqui porque, você sabe, lembra...
- Corta essa, . – Andei um pouco na superfície arredondada e me sentei, olhando as ondas que batiam com força e respingavam água em nós.
- Tem razão. Me desculpe. – Ele se sentou ao meu lado sem olhar para mim. – Por tudo. – Completou, e eu entendi que se referia a toda aquela situação. – E então?
- Diga você alguma coisa. Foi você que me chamou aqui. E também você que criou este circo todo.
- , sei que está magoada e sei que omiti uma coisa ou duas, mas a verdade é que eu não enganei ninguém. – Disse inocentemente.
Dava para acreditar naquele cara? Comecei a me levantar para ir embora, mas ele me puxou de volta.
- Deixa de ser teimosa, Vicentini! – Exclamou. – Me deixa terminar!
- Terminar de quê?! – Irritei-me. – De inventar uma desculpa esfarrapada para o que você fez comigo e com a sua namorada? Não dá, . Eu conheci a Summer, ela me contou tudo e nem sabia...
- E você também me conheceu! – Forçou-me a olhar para ele. – Eu parecia para você, durante todo o verão, o tipo de pessoa que faz uma canalhice dessas?!
Fiquei em silêncio, respirando fundo. O rosto dele estava perigosamente próximo ao meu, então virei para o outro lado, mas não respondi. Embora soubesse que não, ele não parecia.
- Eu nunca quis magoar você ou a Summer. – Continuou. – Mas as coisas foram acontecendo e... – Suspirou. – Eu havia brigado com a Sum pouco antes das férias começarem, por causa da viagem dela para o Japão. A verdade é que gente sempre brigou pelo mesmo motivo: a carreira dela entrando em conflito com nosso tempo juntos. Mas essa briga foi diferente; eu achei que não tinha mais volta. E eu fiquei muito, muito mal com isso. – Ficou alguns instantes em silêncio antes de continuar. – Foi aí que o , em toda sua vontade de me tirar da depressão, me chamou para ir para Venice Beach com ele. E foi aí que eu conheci você. – Sorriu.
- Você me usou para curar a fossa de ter sido trocado por um desfile no Japão. – Concluí enojada. Odiava mais do que nunca.
- Não! – Ele disse mais que depressa, segurando meu rosto. – Eu te conheci por acaso. Nós nos conhecemos por acaso, você sabe disso. Mas desde que te conheci, eu simplesmente não consegui te tirar da cabeça. – O tom de voz pareceu sincero. – Eu tentei, tentei mesmo. Mas foi impossível. Por isso eu fiquei te esperando no portão no dia seguinte. Eu precisava te ver. E foi essa mesma vontade inexplicável de te ver que me fez ir ao seu portão todos os outros dias e invadir o quintal da sua tia a noite e...
- E em que parte disso tudo você esqueceu a existência da Summer? – Indaguei tirando a mão dele do meu rosto. O choro fazia força no fundo da garganta. – Por que você nunca falou dela, ?
- Porque eu não conseguia pensar em mais nada nem em mais ninguém quando estava com você. – Disse. – Eu não consigo pensar.
Já era. Qualquer resquício de consciência que eu tinha, acabou ali mesmo. Quando dei por mim já estávamos nos beijando, como se estivéssemos em Venice Beach de novo. Mas e quanto a Summer? E quanto ao que eu tinha combinado com , o plano de superar aquilo? E Sofia? Não, aquela não era eu. Empurrei com toda a força e me levantei.
- O que você pensa que eu sou?! – Exclamei irritada. Nem fiz questão de enxugar as lágrimas. – Uma trouxa? Uma garotinha idiota que fica com você quando você bem quer? Eu tenho amor próprio, ! E não sou uma idiota! Você não me contou nada porque sabia como eu ia reagir! – Surtei de uma vez, andando de um lado para o outro, completamente histérica.
- , me escuta! – Ele ficou de pé, tentando me segurar pelos ombros, mas eu me soltava sem parar. – Eu pensei em te contar; pensei nisso milhões de vezes. E você está certa: eu tinha medo da sua reação. Mas era porque eu gostava tanto de você! A última coisa que queria era que me odiasse. Foi ficando cada vez mais difícil tocar no assunto, e então eu acabei me dando conta de que não queria tocar, e nem precisava. Meu namoro com a Summer tinha acabado, não tinha volta. Por que bater na mesma tecla e estragar tudo com você?! – Ele parecia extremamente frustrado agora.
- Ah, , não vem com essa... – Enxuguei os olhos na manga da blusa. – Eu vi você com a Summer na escola, e ela me disse no dia do jogo que vocês conversaram e estava tudo bem! Não tem explicação!
- , quando estávamos em Venice Beach você me contou que faria faculdade no Brasil, e então você voltou para Denver e eu achei que nunca mais fosse te ver. Quer dizer, a gente podia conversar por telefone e tudo o mais, mas você não pode me julgar por achar que não daria certo. Nós conseguiríamos nos ver umas duas ou três vezes até o final do ano, e aí você iria para outro país!
Eu sabia que ele estava certo, mas isso não diminuía minha raiva, nem meu choro. Ainda assim, não deixei que ele encostasse em mim. respirou fundo e ficou alguns segundos em silêncio antes de continuar:
- Esqueci meu carregador na casa do . Não tinha como falar com você. Assim que cheguei de Venice fui encontrar com minha família para curtir o resto das férias com eles e só voltei na quinta à noite. Foi justamente aí que a Summer apareceu. – Fechou os olhos e balançou a cabeça. – Ela bateu à minha porta e pediu para conversar comigo. Me pediu desculpas pela forma como tinha se comportado nos últimos tempos, por mais uma vez não ter ficado comigo; disse que me amava e que nunca havia sido tão sincera em toda sua vida. Eu estava magoado, mas sempre fui louco por ela. Estaria mentindo se dissesse que não fiquei feliz.
Ah, Deus, eu queria morrer. O meu excelente conselho tinha surtido efeito. Eu tinha feito eles voltarem. Sem saber, eu tinha partido meu próprio coração. Não era a Summer que eu odiava. Não era o . Era a mim mesma.
- O me contou, antes de o jogo começar, que você estava lá. – Ele disse. – Eu nunca fiquei tão feliz e tão apavorado em toda a minha vida. – Riu.
- Tinha medo de que eu descobrisse tudo? – Soltei com ironia.
- Tinha medo de que me odiasse. – Disse sério. – Queria ter conversado com você antes, mas me empurraram para o campo e quando eu vi você já estava na minha frente, e a Summer já estava nos apresentando. E eu queria tanto dar um passo à frente e te abraçar naquele momento, mas sabia que era tarde demais; você, provavelmente, queria que eu morresse. E eu merecia... E eu mereço toda a sua raiva.
Ficamos um bom tempo em silêncio, até que eu consegui parar de chorar e disse:
- Summer é uma ótima garota, . E gosta de você de verdade. Não quero ser a responsável por acabar com o namoro dela.
- Eu sei. – Ele assentiu.
Pude ver que ele estava sofrendo com aquilo, mas soube também que, independente da minha reação, teria escolhido a Summer, e isso me machucava tanto que chegava a doer.
- Então essa história acabou. – Decretei. – Vamos esquecer Venice Beach e tudo o que aconteceu entre nós. Será melhor assim.
assentiu de novo. Eu ia embora, mas precisava fazer uma última pergunta.
- Só mais uma coisa: se você achava que não nos veríamos mais e já tinha desistido... Por que enviou a mensagem?
franziu o cenho.
- Mensagem? Do que você está falando?
- Na, quarta-feira, você me mandou uma...
Ele continuava confuso, então me toquei do óbvio: não havia me mandado aquela mensagem; outra pessoa havia o feito. E eu tinha certeza quase absoluta de quem havia sido. E eu mataria essa pessoa.
Olhei para de novo, parado, em silêncio. Nem uma mensagem de texto, . Nem isso você havia deixado para mim.
- Tchau, . – Eu disse, mais magoada do que nunca, descendo da pedra.
- , me perdoa! – disse lá de cima, e eu pude jurar que ele estava prestes a chorar também.
E mesmo assim, não podia olhar para trás, não podia deixá-lo perceber que ele havia conseguido estraçalhar meu coração. Mais uma vez. E de um jeito que ninguém jamais conseguiria fazer.



7- Such a beautiful lie to believe in

“It's a perfect denial…”

[…]

POV

- Ela vai me matar. – Eu dizia.
- Vai mesmo. – concordou, mas voltou atrás quando ouviu meu grunhido do outro lado da linha. – Quer dizer, relaxa, , não foi sua culpa. Você só queria ser legal com ela.
- Claro que não foi minha culpa, , porque essa ideia foi sua! – Berrei, fazendo com que uma senhora que passeava com seu cachorrinho apressasse o passo. – Essa é a primeira coisa que eu vou dizer a ela quando começar a ser fuzilado. – Avisei.
- Fala sério, ! – desdenhou. – O que fizemos foi uma prova de amizade, só mostrou que nos preocupamos com ela. Além disso, a garota ia acabar cortando os pulsos se não tomássemos uma atitude.
- É, mas, tecnicamente, você não deveria saber disso. – Suspirei. – E agora olha a novela mexicana em que nos metemos!
- Bom, meu caro amigo, a merda já foi jogada no ventilador. Não há nada que se possa fazer agora.
Enfiei a cabeça entre as pernas e fiquei ali, sentado no meio fio, a espera do meu fim. Sabia que quando ela soubesse de tudo ia surtar. Ou pior, chorar de novo. Não que ela estivesse errada, eu havia mesmo sido um imbecil. Mandar uma mensagem em nome do namorado dela que eu nem conhecia? Que ideia ridícula havia sido essa? Tudo bem, tinha sido coisa do (como já era de se esperar), mas eu havia permitido. E eu é que havia contado a ele que estava preocupado com ela.
Ela me mataria. E tinha todo o direito de fazê-lo. Eu mesmo estive prestes a me matar quando descobri o que havia feito. . Junior. O Junior. Por que eu não prestei mais atenção na primeira vez em que ela falou nele? Ah claro. Porque eu estava pensando no fato de ela ser tão inacreditavelmente dramática e tão infantil, chata, chorona... E que o cabelo dela era mesmo lindo, como eu havia reparado no dia em que nos conhecemos, apesar de ele estar preso na ocasião.
E agora... Ah! Agora eu queria matar o . Quem ele pensava que era para fazer uma canalhice daquelas com a ? E claro, com Summer, a garota que costumava caçar besouros e comer terra comigo no quintal de casa.
Mas que inferno! Se eu não tivesse mandado a maldita mensagem...
Tarde demais. Quando olhei para o lado, ela já estava no fim da rua. Estava vindo em minha direção. E, para a minha surpresa, já havia uma fúria assassina em seu olhar.

POV PIE

Lá estava ele, sentado no meio fio, olhando para o nada. Tudo o que faltava era uma auréola! Aparentemente inocente, sem dúvida. A questão é que só três pessoas poderiam ter me mandado a mensagem: a primeira era o , que já tinha demonstrado desconhecer o assunto; depois tinha a Sofia, mas eu conhecia minha prima bem o bastante para saber que não havia sido ela; e por último estava ele... , a babá do meu cachorro.
- , o que... – Começou quando me aproximei, mas foi interrompido pelos tapas que comecei a dar nele. – O que aconteceu?!
- Seu imbecil! – Eu dizia sem parar de bater. – O que é que você estava pensando?!
- , do que você está falando? – tentava se defender.
- DO QUE EU ESTOU FALANDO?! – Exclamei furiosa. Era inacreditável que ele fosse negar. - “E aí, Vicentini! Aqui é o . Desculpe não ter respondido antes, mas estava com um problema no celular. Te ligo quando der...” – Reproduzi o texto ridículo. – Você me chamou de VICENTINI! – Dei mais um tapa nele. – Qual é o seu problema?!
- , para! – Segurou minhas mãos. Queria me soltar, mas ele era mais forte que eu. – Olha, eu... Eu posso explicar. Vamos até a casa do , pegamos ele, e aí nós explicamos tudo a caminho da escola. – Não respondi, mas parei de fazer força. – Vou te soltar agora. – Avisou.
me soltou e dei um passo para trás, ainda bufando.
- Nada de explicar a caminho da escola. – Eu disse caminhando para o carro. – Não vamos sair da casa do até toda essa história ser esclarecida.


🌴💚🌴

- Ei, vieram me buscar na porta hoje, hen? – sorriu ao abrir. – Só vou pegar minha mochila e aí...
- Entra aí. – Empurrei-o para dentro de casa. veio logo atrás de mim.
foi andando de costas, apavorado, até tropeçar e cair sentado no sofá.
- Parece que o já te contou tudo, não é? – Sorriu nervosamente. – Deve ter sido uma surpresa e tanto...
- Para de enrolar, ! – Me sentei no sofá. se sentou na poltrona ao lado. – É bom vocês dois começarem a se explicar!
- Bom, essa é uma excelente história, muito boa mesmo. – continuou sorrindo. – Tudo começou quando nosso amigo disse que você estava muito tristinha e que precisávamos fazer alguma coisa...
- QUANDO EU O QUÊ?! – exclamou irritado. – O que eu disse foi que a estava chateada por causa da história do garoto que tinha conhecido nas férias, e aí você disse que nós deveríamos fazer alguma coisa!
- Que seja! – balançou as mãos dispensando o comentário. – A questão é que ficamos preocupados com você, . Ficamos mesmo.
Fiquei sem silêncio, respirando fundo. Não estava mais furiosa, mas continuava irritada com os dois pela atitude. O que eles pensavam? Que eu teria cortado os pulsos por não conseguir falar com um garoto? Mas é claro que não. Poderia ter sofrido por um tempo, mas ia superar.
- E aí tiveram essa ideia idiota de me mandar uma mensagem em nome do ? Quer dizer, é claro que eu estava triste, mas me dar esperanças foi umas cem vezes pior! – Exclamei. – E ainda escreveram “Não se esqueça de mim” no final... Eu devia matar vocês!
olhou para , aparentemente tão irritado quanto eu.
- Não se esqueça de mim?! – Repetiu. – Sério, ?!
arregalou os olhos e deu de ombros.
- Eu só queria deixa-la feliz! Garotas gostam de romance!
balançou a cabeça e fechou os olhos, deitando-se na poltrona.
- Fala sério. – Eu disse revirando os olhos.
- Olha, será que a gente pode ir agora? – perguntou. – Eu realmente tenho um exercício avaliativo na segunda aula de História...
- Tá, que seja. – Levantei-me. também se levantou e nós três estávamos caminhando para a porta quando me lembrei de algo. – Mas eu tenho uma pergunta. – Disse. – Como vocês sabiam que o me chamava de Vicentini?
Eles pararam e inflou as bochechas, o que eu já havia aprendido a identificar como um sinal de que estava nervoso.
- Bom... – Começou.
- Aí está outra excelente história! – começou a rir e colocou um braço sobre os meus ombros. – Na terça-feira, depois que você já estava dormindo feito um bebê, fui ver o na sua casa para botar o plano em prática. queria fazer tudo de qualquer jeito, mas eu sabia que não daria certo assim. – Gabou-se. – Então entramos sorrateiramente no seu quarto e pegamos seu celular. – Continuou. – Mas aí você começou a se mexer demais e tivemos que sair às pressas. Também estávamos com medo de que Jack chegasse e tivéssemos que explicar tudo, então, enquanto vigiava o corredor, eu entrei no banheiro com seu telefone e dei uma lida na caixa de mensagens, para ver se existia, você sabe, um padrão. – Sorriu com a maior cara-de-pau de todos os tempos.
- LEU MINHAS MENSAGENS?! – Perguntei incrédula.
- , foi por uma b...
- Eu vou MATAR vocês! – Exclamei, voltando a bater em todo mundo.
Comecei a correr atrás dos dois distribuindo tapas e pontapés enquanto eles saíam porta a fora em direção ao carro; até que, pouco antes de chegarmos a ele, parou.
- Ei, ei, ei! – Disse. – Espera aí, !
- O que foi? – Ele parou também.
Parei com a chuva de tapas.
- Não fui eu que contei a sobre a mensagem. – Lembrou-se, e eu sabia que seria descoberta.
- O quê? – franziu o cenho. – Mas eu pensei que você ia...
- Ia, ia contar essa manhã. Mas ela já sabia de tudo quando chegou a minha casa. – me encarou acusadoramente. – Sabia que não tinha sido o Junior.
- , como você... – começou, mas então parou e olhou para mim, dando uma risadinha. – Oh meu Deus! Parece que alguém tem encontrado furtivamente nosso artilheiro predileto...
Olhei irritada para pelo jeito como havia dito aquilo. Então voltei meu olhar para , que me observava atentamente.
- Na verdade, eu... – Tentei me defender.
- Mapa, hen? – balançou a cabeça. – Não acredito que saiu com ele de novo.
- Não foi um encontro! – Disse, mas ele já estava entrando no carro.
- Ah, acho que foi sim... – riu, mas correu quando ameacei bater nele de novo.
ainda parecia chateado quando me sentei no banco do carona, mas preferi não tocar mais no assunto. iniciou uma conversa animada sobre o show de uma banda dali a alguns dias, e decidi fingir estar ouvindo tudo. Ah, o mau humor do não duraria para sempre, afinal, eu não havia feito nada de errado. Estava tudo acabado entre mim e , no fim das contas.


🌴💚🌴

- Ah, fala sério, Edwin! – gritava de onde estávamos; um dos últimos lugares da fila da cantina. – Você vai mesmo pegar as últimas batatas fritas?!
- Elas são horríveis, . Você não está perdendo nada. – Balancei a cabeça enquanto pegava um filé de frango.
- São melhores que essas cenouras. – resmungou encarando sua bandeja. – Além disso, só temos chance de comer batata frita aqui uma vez por semana e... CARAMBA, MCCAL! – Gritou olhando lá para frente de novo. – A ÚLTIMA BOMBA DE CHOCOLATE? SÉRIO?
Desisti de consolar o e virei-me para trás. continuava de cara amarrada e isso já estava me dando nos nervos.
- Até quando você vai ficar assim? – Perguntei.
- Com fome? – Respondeu irônico. – Até conseguir pegar minha salada de tomate. Se sobrar alguma coisa, é claro.
- Não se faça de sonso. – Disse, mas me arrependi do tom ríspido que usei, voltando atrás logo em seguida e pensando melhor. Suspirei. – Olha, ... Desculpa ter mentido para você. Mas sabia que, se eu dissesse que ia ver o , você ficaria com essa cara.
- Deu na mesma no fim das contas, né? – Balançou a cabeça. – Eu estou com essa cara agora, então você não precisava ter mentido.
- Eu não devia ter mentido. – Admiti envergonhada. – Mas gostaria que você soubesse que está tudo resolvido agora. Acabou. De uma vez.
parou e me encarou durante alguns segundos.
- Ei, ! Para de empacar a fila! – Alguém gritou lá de trás.
suspirou.
- Acredito em você. – Disse voltando a andar, entrando na minha frente. Havíamos chegado ao caixa. – Até porque, – Continuou. – não acho que seria burra a ponto de insistir nessa história.
- É. – Concordei enquanto ele se afastava. – Não seria.
tinha razão, a história era um barco furado. Só sendo muito burra para não perceber isso. Mas eu já havia feito o que precisava fazer. De agora em diante não precisaria trocar uma palavra sequer com . Não mais.
- Hoje você não nos escapa! – Jodi pulou na minha frente antes que eu chegasse à mesa dos meninos.
- Que porcaria é essa que você tá comendo? – Emma fez careta olhando para minha bandeja. – Isso é um caso grave causado pela falta das suas nutricionistas preferidas.
- Nós! – Jodi deu um pulinho.
se deu conta da cena e começou a se levantar, mas antes que o fizesse, uma voz surgiu atrás de mim.
- Elas estão certas: hoje você não nos escapa! – E lá estava Summer, rindo e beliscando minha bochecha. – Qual é, ? Você já fica com ela o resto do tempo todo! – Gritou, e notei que todo o refeitório olhava para nós agora.
estava claramente preocupado, mas balancei a cabeça e ele se sentou de novo. Precisava enfrentar aquilo. Seria uma prova de fogo, mas só assim eu seria capaz de seguir minha vida em paz.
Deixei que as três me arrastassem alegremente.
A mesa de Summer era, sem sombra de dúvida, a mais disputada do refeitório. Apesar de a mesa deles já ser perto suficiente, os jogadores (a maioria deles) se espremiam entre as líderes de torcida, tentando ganhar um pouquinho da glória destinada àquele lugar (não que eles já não tivessem o bastante). Eram tantos perfumes reunidos em um só lugar, tantos comentários sobre festas, carros, roupas e viagens, que chegava a ser sufocante. Não cabia mais ninguém ali.
- Pessoal, esta é a ! – Summer cantarolou quando nos aproximamos, atraindo a atenção de todos, não só na mesa, mas no refeitório. – Ela vai se sentar com a gente hoje.
Jodi e Emma, que até então se sentavam na parte superlotada da mesa, se sentaram na ponta junto comigo, em frente a Summer. Isso porque a ponta da mesa em que Summer se sentava não estava abarrotada de gente, pelo contrário: sobrava espaço para que todos se movessem, gesticulassem e comessem em uma tranquilidade absoluta. Era como se fosse o lado VIP da mesa VIP. Eu nunca havia visto minhas duas amigas mais contentes que naquele momento.
Mas o problema estava lá, como eu já sabia que estaria.
Não era só Summer sentada a minha frente; estava ao lado dela, e parecia meio desconcertado com a minha presença. Não mal-humorado como no dia anterior, apenas desejando sair dali o mais rápido possível, assim como eu.
- acabou de chegar de Denver. – Summer comentou jogando uma das batatas fritas de na boca.
- E o que está achando do calor, ? Já teve tempo de pegar uma praia? – Um garoto charmoso de cabelo escuro sorriu para mim. Estava perto da parte lotada, mas ainda na área VIP.
Balancei a cabeça negativamente.
- Até agora só tive tempo para fazer a lição de casa. – Respondi (o que era meio mentira, visto que eu tinha tempo de sobra para sair com no meio da noite). As pessoas riram como se eu tivesse dito algo muito engraçado. Supus que era por eu ser algo como “amiga da Summer”: se a rainha gostava de mim, eles deviam gostar também. Mesmo que não gostassem.
- Você devia ir com a gente no fim de semana! – Amber, uma das damas de companhia de Summer, sorriu alegremente. O cabelo louro excessivamente claro estava preso em maria-chiquinhas. – Conhecemos os melhores lugares para alguém se divertir.
- Qualquer dia desses, claro. – Assenti tentando ser simpática. – Mas por enquanto ainda estou tentando me acostumar com a Flórida. Acho que nem tirei todas as minhas coisas da mala ainda.
- Você e o Junior se conheceram em Venice Beach? – Jasmine, a outra dama de companhia, me olhou incisivamente. – Summer comentou comigo.
Jasmine me olhava de um jeito diferente de Amber e dos outros, e eu soube naquele momento que ela não gostava de mim. Talvez tivesse percebido algo que os outros não; meu desconforto infundado, por exemplo. Eu precisava sair daquela situação antes que tudo se tornasse muito óbvio, e o único jeito de fazê-lo era caprichar ainda mais naquela mentira. Precisaria usar tudo que havia aprendido nas aulas de teatro.
- Sim, durante as férias! – Sorri como se me lembrasse de algo divertido. franziu o cenho com a minha reação. – Vocês acreditam que esse idiota me acertou com uma bola de futebol? – Balancei a cabeça fingindo indignação. Summer (e todos os outros, menos Jasmine) riu. – Conta pra eles, Junior! – Passei a bola para ele, dando um suspiro discreto por desviar o foco de mim.
- É, foi sim. – concordou, entrando aos poucos no jogo. – Eu estava jogando com , que culpa tive se essa maluca não desviou? – Sorriu fazendo todos rirem também.
- Que horror, amor! – Summer bateu de leve no rosto dele e ele beijou a palma de sua mão. Senti vontade de vomitar.
A farsa estava indo muito bem, até que chegou. Ele congelou assim que me viu, e todos o observaram sem entender. Jasmine jogou seu o cabelo escuro para trás e sorriu para mim.
- Está tudo bem, ? – Summer segurou sua mão.
engoliu em seco. Estava tudo perdido, pelo menos foi o que pensei. Mas , como eu já devia ter imaginado, era um ator muito melhor do que parecia.
- Senta aí, ! – Disse despreocupadamente. – e eu estávamos contando ao pessoal como nos conhecemos.
- O quê?! – Perguntou olhando assustado para , que continuou sorrindo como se estivesse confuso pela reação dele até perceber o que estava acontecendo. – Ahhh tá!!! – riu e se sentou ao lado de , empurrando Jasmine para o lado. – Contou que você acertou em cheio a cabeça dela? – Perguntou a . Todos voltaram a sorrir. – A garota ficou com um galo por dias.
- Não fiquei não! – Brinquei, tentando esconder meu alívio.
- Ficou sim. – deu um gole em seu suco. – Parecia ter duas cabeças.
Fiz língua para ele e, por um segundo, sorri de verdade, e senti como se nada daquilo fosse uma mentira, como se fossemos só um casal contando aos amigos como nos conhecemos. Fui tomada por uma tristeza profunda ao me lembrar da verdade. Summer era a namorada dele. Era ela que estava abraçada a ele. Eu era só a garota nova que ele conhecera nas férias.
- As férias de vocês parecem ter sido tão divertidas! Queria ter estado lá. – Summer sorriu e fez bico, apertando ainda mais.
- Aposto que foram sim. – Jasmine concordou colocando um canudinho em seu suco. – Estou louca para ouvir todas as histórias sobre o incrível verão de vocês. – Sorriu cinicamente para mim.
E eu soube naquele momento: se ela não gostava de mim antes, depois da reação de havia ficado também profundamente desconfiada. Não que eu pudesse culpa-la por isso, mas precisava fazer com que parasse. E para isso, teria que mergulhar muito mais fundo naquela mentira.


🌴💚🌴

- Senti vontade de matá-la! – Eu contava possessa naquela noite, andando de um lado para o outro no piso escuro do Rogers.
- Pelo quê? Por não acreditar na sua péssima atuação? – , sentado na ponta do palco, dizia distraído enquanto dedilhava seu contrabaixo. – Eu disse que você era horrível.
- Não é só por não acreditar. – Eu disse parando um pouco. – Ela queria me colocar numa arapuca! – Exclamei. – , você está me ouvindo?
parou de dedilhar e olhou para mim, como se acordasse de um cochilo.
- Desculpe! – Fingiu arrependimento. – É que eu estava aqui concentrado no meu baixo elétrico e pensando comigo o quanto você é completamente doida. – Fez uma careta. – Fingir que nada aconteceu tudo bem, mas sentar na mesa da Summer e contar como você e o Junior se conheceram?! Isso ultrapassa todos os limites do bom senso, ! – Exclamou.
Fiz cara de choro e me sentei ao seu lado, jogando-me para trás e batendo as costas no chão de madeira do palco.
- O que eu podia fazer?? – Continuei deitada de olhos fechados. – Summer me arrastou para lá! – Arregalei os olhos. – E aí todos começaram a me fazer perguntas e eu surtei. – Cobri o rosto com as mãos.
Ouvi a risada leve de e então ele estava falando:
- Já pensou que talvez fosse mais fácil contar a verdade a Summer? – Sugeriu. – Como você mesma disse, não foi uma traição de verdade. Não acho que ela te odiaria pelo que aconteceu, embora realmente possa ficar magoada pela mentira que vocês inventaram.
Abri os olhos e me sentei, sabendo que ele tinha razão em tudo, mas que era tarde demais.
- Não dá mais, . A mentira já foi bem e. Além disso, não mentimos só para ela, mas para todos os amigos deles. Summer se sentiria horrível se soubesse a verdade.
- Costumo achar a verdade libertadora, mas talvez você tenha razão. – Ponderou. – E o que pretende fazer agora? – Voltou a dedilhar o contrabaixo.
- Continuar com essa farsa. – Suspirei. – E torcer para não ter que contar mais nenhuma mentira.
- Sugiro que entre para as aulas de teatro. – disse. – Você vai precisar.
Joguei-me para trás de novo, já exausta pelo que sabia que me esperava no dia seguinte.


🌴💚🌴

- Bem-vindos ao clube de teatro! – A mulher negra de cabelo preso no alto disse na quinta à tarde, quando todos já estavam reunidos no palco do minúsculo teatro da Jacksonville High.
Eu havia seguido o conselho de ao pé da letra. Já pretendia fazer isso antes porque, apesar de ele me achar ruim, eu amava o teatro; mas depois de nossa conversa na terça à noite, aquilo meio que se tornou uma necessidade.
- Este é o espaço que vocês têm para colocar para fora todas as suas frustrações, suas emoções mais profundas, sua loucura interior! – A mulher andava de um lado para o outro.
Eu estava gostando do ambiente, e tinha gostado, também, da professora, embora ela parecesse meio doida. O que importava era que o teatro funcionava como um pedacinho de Denver para mim; amenizaria minha saudade de tudo lá. Até que...
- Desculpe, professora. – Ela disse. – Estava ajudando com as novas roupas da torcida.
- Jasmine! – A mulher uniu as mãos e sorriu. – Seja bem-vinda, querida. Já íamos começar.
Jasmine caminhou até um canto da roda e então me viu. Seus olhos se arregalaram por um instante, e aí ela sorriu com um toque de ironia.
- Meninos, auem-se! – Disse a professora. – Teremos muito trabalho pela frente.
Era bom demais para ser verdade. Justo quando pensei que poderia ficar em paz em algum lugar da Jacksonville High! E logo Jasmine, que não ia com a minha cara de jeito nenhum (não que eu fosse com a dela). Até Summer teria sido melhor que aquilo.
- Oi, . – Jasmine disse se aproximando de mim como quem não quer nada.
- Oi, Jasmine. – Continuei me aando, fingindo estar muito concentrada naquilo.
- Que coincidência você aqui no clube de teatro. – Jasmine começou a se aar também.
- Sempre gostei de teatro. – Disse despreocupadamente.
- Eu devia ter imaginado. – Ela sorriu. – Já têm dias que eu estou te achando uma excelente atriz.
Parei bruscamente e a encarei. Não queria brigar nem nada, mas as piadinhas de Jasmine já estavam me irritando. Agora, porém, ela havia sido mais direta, destilando a dose de veneno que desejou destilar desde o dia em que me sentei à mesa com eles.
- Não sei do que você está falando. – Tentei soar natural.
- Ah, por favor, ! – Ela disse com uma risada, a uma altura que só eu poderia ouvir. – Sei que você e Junior estão escondendo alguma coisa, então me diga: o que é? Será que ele ficou com aquela sua prima de Venice Beach, ou será... – Então sorriu ironicamente. Prendi a respiração. – Ou será que foi com você, ?
Meu corpo inteiro ficou tensionado imediatamente e minha respiração ficou pesada, mas uni toda a minha força para responder.
- Em primeiro lugar, minha vida não é da sua conta. – Eu disse ríspida. – Em segundo lugar, ninguém ficou com ninguém. Eu, , Sofia... Somos todos bons amigos. Apenas bons amigos.
Jasmine abriu um sorriso curioso.
- , hen? – Repetiu o apelido que eu tinha dito sem querer.
Eu era uma anta, mas tentei não esboçar reação nenhuma, na esperança de que Jasmine não desse a devida importância àquilo. Apenas revirei os olhos como se estivesse cansada daquilo tudo.
- Já acabou sua ceninha? – Perguntei. – Porque eu vim aqui pela aula, e realmente quero assisti-la.
Jasmine riu e assentiu, enquanto, no centro da roda, a professora voltava a falar.
- Sei que você sabe que eu não sou tão burra quanto a Summer. – Então ela sorriu e foi em direção ao outro lado da roda, cantarolando: – Mentira tem perna curta, Pie.


🌴💚🌴

- Ah meu Deus! Essa garota quer te pegar na mentira! – exclamou em voz baixa no dia seguinte no refeitório, quando contei o que havia acontecido. – Precisamos fazer alguma coisa. Que tal contratar alguém para calar a boca dela?
- Tipo quem, ? O Exterminador do Futuro? – estreitou os olhos. – Jasmine é o tipo de cão que ladra, mas não morde. Todo mundo sabe que ela também tem o rabo preso e a Summer não acreditaria nela.
- É bom que não acredite mesmo. – Suspirei olhando de soslaio para a mesa de Summer, de onde Jasmine sorriu e acenou.
- Se ela ameaçar fazer alguma coisa, podemos chantageá-la. – disse. – Essa garota tem mais podres que a lixeira da escola, e todos estão bem no topo da lata.
- Vamos torcer para ninguém precisar chantagear ninguém. – disse. – Não queremos que ela fique traumatizada com seu poder de persuasão. – Eu ri e ele se levantou. – Já estou indo para a sala, vocês vêm?
- Ah, não acredito que tenho Física agora. – Revirei os olhos e me levantei também.
- Biologia para nós dois. – deu de ombros. – Parece que você de deu mal.
Caminhamos em direção à saída, mas uma voz me chamou quando passava pela mesa de Summer.
- Ei, ! – Jasmine chamou. – Venha aqui um pouco, queremos falar com você!
esbugalhou os olhos.
- E depois vocês ficam querendo dispensar minha ideia! – Reclamou.
balançou a cabeça e tocou minha mão de leve.
- Você sabe que não precisa ir se não quiser.
- ! – Summer chamou.
Fechei os olhos e respirei fundo.
- Nos vemos mais tarde, .
Ele não disse nada, apenas se afastou levando junto.
Aproximei-me da mesa e Jodi e Emma se afastaram para que me sentasse.
- Oi, pessoal. – Eu disse sem muito ânimo.
- Desculpe, , sei que você já estava indo para a sala. – Jasmine sorriu. – Mas é que depois de todas as ótimas histórias que você e o Junior contaram durante a semana, eu tive uma curiosidade a respeito de um assunto.
Me segurei para não voar no pescoço dela, que, com certeza, percebeu isso, pois sorriu mais ainda.
- É que eu estava ouvindo você e fiquei pensando: como uma garota tão bonita e divertida quanto você pode não ter um namorado? E falei com a Summer e ela me disse, assim por alto, que não era bem assim.
Summer me olhou com ar de desculpas.
- Juro que não queria fazer fofoca. – Disse. – Só comentei o que você me disse no banheiro aquele dia. Ela é que é intrometida. – Apontou para Jasmine. – Mas, para dizer a verdade, fiquei mesmo curiosa. – Sorriu. – Você disse que teve um problema com distância, então ele ficou em Denver?
- Está tudo bem, Summer. – Balancei a cabeça, olhando para minhas mãos sobre a mesa. – E não, ele não ficou em Denver. Ele é daqui da Flórida.
Sabia que mal conseguia respirar nesse momento. Eu também estava tendo dificuldade para isso.
- Então o problema foi resolvido quando você se mudou! – Ela concluiu com um sorriso. – Por isso você disse que as coisas tinham se resolvido.
- Hunrum. – Assenti sem pensar muito bem no que estava fazendo.
- E então, , qual é o nome dele? – Jasmine perguntou com uma alegria indisfarçável.
O que eu ia dizer? Todos estavam olhando para mim e eu estava entrando em pânico. Olhei brevemente para e vi o medo em seus olhos . Olhei para Summer e vi seu sorriso doce e sua expectativa. Sabia que Jodi e Emma também estavam ansiosas, visto que nem as duas sabiam daquela história. Por último, olhei novamente para minhas mãos entrelaçadas em cima da mesa, os dedos já ficando roxos, e reparei a pulseira em meu pulso esquerdo; aquela que eu tinha achado no sofá da minha casa e gostei tanto que disse que não devolveria nunca mais, e o dono, meio emburrado, deixou comigo. Não consegui controlar as palavras que saíram da minha boca logo em seguida, embora soubesse que elas seriam minha sentença de morte.
- Meu namorado é o . – Meio fora de mim, me ouvi dizer. – O .



8- I could be your girlfriend!

“I think we should get together now… And that’s what everyone’s talking about!”

[…]

POV

- E a que isso nos leva? – O professor continuava a matéria enquanto eu tentava continuar minha composição na última página do caderno. – A ecologia, na verdade...
Estava pensando na , para ser sincero. Fiquei preocupado quando a deixei na mesa da Summer. Aquela garota, Jasmine... Eu já a achava desprezível antes, mas agora ela me dava ânsia de vômito. O que a Rainbow tinha feito a ela? Conseguido ficar com o Junior, coisa que a escola inteira sabia que ela já tinha tentado? O pior era não poder fazer nada. Só a própria poderia resolver o problema, por mais que eu quisesse ajudar. E ela insistia em ignorar que o motivo de não querer contar nada a Summer era porque não queria prejudicar o Junior, ou , ou fosse lá qual fosse o nome. Isso era claro como água, ela é que não queria ver. Estava cega. E minha pergunta no momento era: como curar alguém de uma cegueira psicológica?
- Algum problema aí atrás, pessoal? – O professor perguntou observando o fundo da sala, pouco atrás de mim.
Só então reparei nos murmúrios.
- Desculpe, professor. – Disse uma garota ruiva (ou loura, sei lá), Ashley.
O professor assentiu e voltou à aula, mas assim que seus olhos se desviaram do grupinho, a falação voltou. E risadinhas. E exclamações baixas do tipo “É sério?!”. Vi isso acontecer, de repente, em outro canto da sala. Tentei ignorar e voltar à minha composição.

I’ve been thinking about a girl who I met
She comes from somewhere far away, I place I’ve never seen

- ! – , que estava sentado atrás de mim, me cutucou.
- Quer me matar?! – Exclamei em voz baixa. Detestava ser chamado quando estava compondo e ele havia conseguido me assustar. – O que foi? – Perguntei.
- Você tá pegando a ??? – Perguntou com a maior seriedade possível.
- , você tava dormindo? – Franzi o cenho. – Você sabe onde estamos, não é? Aula de biologia, sala quatro...
- Eu sei onde estamos, eu estava acordado! – Reclamou baixinho, tentando se esconder do olhar distraído do professor. – Acontece que eu estava trocando umas mensagens com a Rosana, a Ashley e o Eric e...
- E o quê?? – Perguntei confuso.
suspirou e me passou discretamente o celular. A mensagem que estava na tela quase me fez ter um infarto:

“Então as suspeitas são verdadeiras? está namorando a garota nova, Pie?”

A mensagem tinha sido enviada pela Ashley e... O quê?! Do que ela estava falando? Claro, eu já havia ouvido uma piadinha ou duas dos meus amigos sobre estar andando com a , mas...
- , que droga é essa?! – Exclamei o mais baixo que consegui virando-me para trás.
- Continua lendo. – Ele sussurrou de volta, ainda sério.
Passei a mensagem seguinte. Era do Eric:

“Foi o que a Amber disse a Mary, e a Mary disse ao Peter, que contou a Courtney, que contou a Deb, que me perguntou se eu já estava sabendo.”

Mensagem seguinte, Rosana:

“Uma pena. é, sem dúvida, muito pegável. Ou era, antes de ter namorada.”

E a outra mensagem, de novo da Ashley:

“OMG! , conta para a gente: é verdade?!”

E a resposta dele:

“Sei lá, deve ser.”

Olhei para trás incrédulo.
- DEVE SER?! – Exclamei. – Você enlouqueceu?!
- Ah, e agora você acha que eu sou o quê?! Adivinho?! – se irritou e disse alto demais. – Amber é uma fonte confiável! O que você queria?
- Senhores e ! – O professor chamou. – Algum problema aí atrás?
Engoli em seco e balancei a cabeça.
- Desculpe, eu só estava... Tirando uma dúvida com o .
- Bom, talvez os dois estejam a fim de tirar essa dúvida lá fora. – Senhor Ackles apontou para a porta.
O dia só estava melhorando.

- Não acredito que esse filho da mãe colocou a gente pra fora de sala! – reclamou quando chegamos à metade do corredor, já longe da porta da sala quatro. – Nem era com a gente que ele estava irritado! Ele só fez isso porque ninguém cala a boca, porque ele é um...
- , eu preciso saber o que está acontecendo. – Eu disse ignorando as reclamações dele.
- Tá falando das mensagens? – franziu o cenho. – Bom, se você realmente não está com a ... – Olhou para mim com curiosidade. Revirei os olhos. – Ok, eu devia ter desconfiado que não. – Ergueu as mãos em rendição. – Certo, então temos alguém espalhando boatos por aí.
- Isso é bem óbvio, não é? – Fiquei impaciente. – A pergunta é: quem?
deu um sorriso.
- Para sua sorte, sou o rei dos contatos. Se foi Amber que disse a Mary antes de tudo, então alguém deve ter dito a ela, certo? Vamos até a primeira fonte. – Ele saiu andando.
- Vamos não. – Balancei a cabeça e ele parou. – Você vai. – fez uma careta. – Afinal de contas, foi você quem confirmou a história para aquele bando de abutres; graças a você agora vai ficar praticamente impossível acabar com o boato.
- E o que você vai fazer nesse meio tempo?
- Vou procurar a . – Respondi já me afastando. – Ver se ela já está sabendo dessa história.

Caminhei o mais rápido que pude em direção à sala doze, que ficava no outro prédio, onde estava tendo sua aula de física. A história ainda estava girando pela minha cabeça. Quem havia inventado aquilo? Por quê? surtaria quando soubesse... Claro, ela não ia querer seu adorado magoadinho com ela, de modo algum. E ele ficaria, eu sabia que sim. Ninguém fica com uma garota como a num mês e supera assim no outro, mesmo tendo a Summer (e não só por ela ser bonita, mas pela personalidade que tinha). Principalmente se você sente que perdeu essa garota para alguém, e Junior era o tipo de cara que não gostava de perder.
Finalmente cheguei à sala doze. Mas o que eu faria agora? Pediria para falar com a ? Talvez não fosse uma boa ideia; isso provavelmente só aumentaria as fofocas. Talvez eu devesse sentar ali no chão e esperar a aula dela acabar, já que não podia mesmo entrar na minha própria.
- ? – A porta se abriu e eu olhei para cima.
- Jodi. – Fiquei de pé. – Eu vim falar com a...
- , eu sei. – Deu uma risadinha e se afastou da porta. – Não acho que a Betsy está com um humor bom o suficiente para deixa-la sair pra te ver. – Disse referindo-se a professora.
- Ah, claro. – Assenti. – Jodi, deixa eu te fazer uma pergunta. – Ela esperou. – Por acaso você já está sabendo dessa história de que...
- Ah, isso! – Seu rosto se iluminou de repente e ela me puxou pela mão para mais longe da porta ainda. – Eu mal acreditei quando ouvi!
- Exatamente... – Comecei, mas nem tive tempo de terminar.
- Como vocês conseguiram esconder isso tão bem?! – Riu e me deu um tapinha no braço.
- Esconder? – Perguntei confuso. – Não, Jodi, é que...
- Não entendo por que não me contou! – Ela continuou. – Quase a matei por não ter dito nada a mim e a Emma; nós saberíamos guardar segredo, sabe? – Balançou a cabeça. – Se Summer não tivesse perguntado acho que ela nunca teria dito. Só não entendo o motivo, visto que vocês dois...
- O que você disse? – Estreitei os olhos.
- O quê? Que ela nunca teria dito? – Jodi ficou confusa.
- Então... Foi a quem disse isso? Que estamos namorando?
Jodi riu como se fosse óbvio.
- Quem mais poderia?
Então havia sido a própria que, não satisfeita em saber que Summer a odiaria quando descobrisse a verdade, queria fazer com que ela odiasse a mim também. Ela merecia que eu a desmentisse sem pensar duas vezes. Quem inventa uma história dessas sem avisar nada? Por Deus, quem inventa uma história dessas? Onde ela pensava que estava, num filme da Lindsay Lohan? não tinha o direito de me meter naquilo; ela sabia que eu não estava a favor de toda aquela encenação. Como pôde pensar que eu aceitaria?
Mas, por outro lado, eu estava muito interessado na explicação dela. Queria saber até onde ela tinha ido com a história, e deduzi que devia ter sido bem convincente e detalhista, visto que menos de duas aulas depois do intervalo – quando ela devia ter inventado tudo – todo mundo já sabia e acreditava piamente. Talvez eu tivesse subestimado seu talento de atriz.
Foi aí que me ouvi dizer:
- Bom, Jodi, falo com a mais tarde então.
Jodi sorriu e seus olhos quase se fecharam.
- Não se preocupe; aposto que ela vai ficar morrendo de saudades.
- Ah, ela vai morrer sim. – Dei um sorriso e então me afastei.
Mal podia esperar para encontrar minha namorada.

- Como assim foi a ?! – exclamou quando o encontrei minutos depois. Ele ainda não tinha achado a Amber.
- Ela ficou louca de vez! – Esbravejei. – Não dá pra acreditar que teve coragem de colocar o meu nome nessa historinha sórdida dela.
- Sim, não dá pra acreditar. – assentiu pensativo. – Quem acreditaria que, entre nós dois, a escolheria você? Não faz sentido nenhum mesmo. Só aqueles acéfalos da mesa da Summer para... – Olhei de rabo de olho para ele e ele interrompeu o que dizia. – Já calei. – Antecipou o pedido que eu não demoraria a fazer. – Só tem uma coisa que eu ainda não entendi nisso tudo, : se você tem tanto asco de toda essa mentira da e do Junior (e eu sei que tem) por que não a desmentiu para a Jodi?
A pergunta me pegou de surpresa. Para ser bem sincero, não havia um bom motivo para ter mantido a mentira; a não ser, é claro, que se eu tivesse desmentido a história nunca mais pisaria na escola. Eu havia me preocupado com ela, para variar. Esse era o único motivo.
- A-há! Já entendi! – começou a rir de um jeito estranho. – Está querendo se aproveitar da situação, não é? – Apontou o dedo para mim, quase o esfregando na minha cara. – Mas você hein, ? Está me saindo melhor que a encomenda. Todo esse tempo negando que tava afim da , para agora...
- Eu não estou afim da , . – Dei um tapa na mão dele. – Ela é filha do meu tutor, dona do cachorro que eu levo para passear e minha amiga também. Só não desmenti a história porque não queria que ela passasse pela humilhação do século.
- Ela já passou, quando Summer a apresentou ao Junior no dia do jogo. – deu de ombros. – Só que ninguém sabe além de nós.
- Exatamente, ninguém além de nós. Dizer que eu não sou namorado dela depois de tudo o que ela deve ter dito na mesa da Summer a levaria à execração pública.
- Então você vai entrar na mentira? – Arqueou uma sobrancelha.
- Não, vou dar um jeito de pular fora. Mas tenho que falar com a antes.
- E quando você pretende fazer isso? No aniversário de um mês de namoro de vocês?
- Não. – Balancei a cabeça, pensando em algo. – Na hora da saída. – Decidi. – Mas vou me divertir um pouquinho antes. – Sorri. – Não posso perder a piada, certo?

POV PIE

. . Onde diabos estava o ?! Eu precisava encontrá-lo antes que outra pessoa o fizesse. Se isso acontecesse, eu estaria perdida.
Mas também, que ideia de jerico havia sido aquela? Dizer que era meu namorado? Justo ? O que achava que eu devia contar a verdade a Summer?! Ele não ia aceitar fazer parte daquilo de jeito nenhum. Eu estava perdida.
- Oi, gente! Vocês viram o ? – Perguntei a alguns amigos dele que passavam. Os garotos apontaram em direção ao fim do extenso corredor a céu aberto, próximo a saída. – Obrigada!
Por que eu havia feito aquilo? Por quê? Seria, de fato, minha sentença de morte. Até conseguia imaginar a cara do enquanto pedia demissão do emprego e se mudava para o Alasca para ficar o mais longe possível da minha loucura. Como explicar a ele o que estava acontecendo comigo? Como convencê-lo de que eu não era a mentirosa compulsiva que andava parecendo? Nem eu mesma estava conseguindo me entender... Até dias atrás era uma garota normal, dedicada e responsável. Agora só conseguia pensar em , com Summer, Summer chorando pelo , Summer me odiando, Jasmine fazendo da minha vida um inferno... Eu estava sob pressão! não podia me culpar por isso, certo? Eu não suportaria se ele também me odiasse. Tinha certeza que não.
Apressei o passo um pouco e logo o vi, recostado numa pilastra, conversando com outros dois garotos.
- ! – Gritei correndo em sua direção. Ele sorriu e acenou, o que me fez deduzir que ainda não sabia de nada. – Oi! – Eu disse aos outros dois garotos quando me aproximei o bastante.
Os dois assentiram e sorriram.
- Bom, a gente se vê por aí, . – Um deles disse.
- Até mais. – O outro sorriu para mim.
olhou para mim curioso quando os dois se afastaram.
- O que foi, Rainbow? – Deu um sorriso cauteloso. – Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu. – Concordei com um pânico crescente. – Aconteceu que... – Então vi Amber e outra garota se aproximando de onde estávamos. – Eu já disse hoje o quanto gosto de você? – Segurei a mão de e disse alto o bastante para que elas ouvissem.
- O quê? – Ele franziu o cenho.
- Own, mas que gracinha! – Amber exclamou com um sorriso, sem interromper sua caminhada. – Até segunda, ! Tchauzinho, !
- Por que Amber Hayley está falando comigo? – perguntou sem entender.
- Precisamos sair daqui agora! – Exclamei deixando-o mais confuso ainda.
Segurei a mão de e tentei puxá-lo, mas ele não saiu do lugar.
- Espera, espera, espera! Não tão rápido! – Ele riu. – A gente já vai, mas preciso pegar uma coisa no meu armário antes.
- No seu armário?! – Fiz careta. – Caramba, , não dá pra deixar pra outra hora?
O armário de ficava no outro prédio, o que significava ter de fazer um percurso gigantesco e extremamente propenso a encontros catastróficos.
- Outra hora, ? – Arqueou uma sobrancelha. – Hoje é sexta; preciso desse caderno para o final de semana. Prometo que não vamos demorar. – Começou a andar.
- Mas ! – Corri atrás dele, que assoviava todo alegre pelo corredor. – Eu preciso conversar com você! É uma conversa muito séria.
- Pode falar. – Ele disse sem parar.
Respirei fundo. – Talvez seja melhor esperar até estarmos no carro. – Sem nenhuma testemunha para o seu ataque histérico, pensei.
- Você quem sabe.
Continuei andando ao lado dele em silêncio, tentando reunir a coragem necessária para contar o que tinha feito. Estava repassando o discurso mentalmente pela quinta vez quando notei o rumo que estávamos seguindo.
- Droga, tinha esquecido o ginásio! – Deixei escapar.
Acontece que a escola era cuidadosamente dividida para fazer da minha vida um inferno. Havia o primeiro edifício, então uma longa caminhada até o segundo. O ginásio estava nesse caminho. Não que precisássemos entrar nele nem nada, mas por muitas vezes vi Summer e suas amigas, ou e seus amigos, tagarelando do lado de fora do lugar. O primeiro grupo era potencialmente mais perigoso. Não achava que tentaria falar comigo ou coisa parecida, mas se Jasmine (ou até a própria Summer) me visse com , tudo iria por água abaixo.
- Qual o problema com o ginásio?
- Nada é só... Você sabe, a Jasmine. – Dei de ombros.
- Ah tá.
Prendi a respiração enquanto passávamos em frente à estrutura, ao mesmo tempo em que o pobre , sem notar nada, reclamava sobre alguma coisa errada que havia feito no teste em dupla. Graças ao bom Deus não havia ninguém do lado de fora do lugar, e apressei o passo para chegar logo ao outro prédio sem dar brecha ao azar.
- Graças a Deus! – Soltei o ar e fechei os olhos, recostando no armário ao lado do de .
- Você está agindo feito uma maluca. – Ele balançou a cabeça executando cuidadosamente a combinação do armário. – Prontinho. – Pegou um caderno de capa azul e fechou a porta. – Agora, que tal me contar o que você tanto queria conversar comigo? – Sugeriu colocando o caderno na mochila.
Respirei fundo. Estava na hora.
- ... – Comecei. – Hoje, depois que você foi para a sala...
- ! – Uma voz chamou.
Não, não, não! Agora não! Estava tudo correndo tão bem, por que ela tinha que aparecer justo agora?!
- Oi, Summer. – Murmurei derrotada.
- Estávamos procurando você! – Summer, abraçada a , sorriu. – Oi, ! – Segurou a mão dele.
- Summer. Junior. – sorriu para ela e assentiu para .
- . – disse sem muita emoção. – Oi, . – Fixou os olhos em mim.
Não consegui evitar um breve sorriso.
- É que acabamos de saber que o treino dos meninos vai ser na praia hoje. – Ela disse.
- Pensei que não houvesse treino na sexta. – disse.
- Normalmente, não. – deu de ombros. – Mas sabe como é: o amistoso contra os Blue Agles é em duas semanas e, mesmo que não conte para a temporada, o treinador quer manter a pose.
assentiu.
- Bom, , eu e as meninas decidimos ir à praia também; assistir o treino e pegar uma cor. Queria saber se você não quer ir junto. – Summer disse. – Ah, e claro, você pode vir também, . Longe de mim querer separar o segundo casal mais lindo da Jacksonville High. – Riu e piscou para nós.
Pronto. Estava acabado. Não havia mais nada que eu pudesse fazer. A farsa toda iria por água abaixo. ia dar louca, Summer ia querer saber por que eu tinha mentido e me acharia ridícula, supondo que eu só tinha inventado aquilo para me vingar dele.
- Obrigado, Sum, mas minha querida namorada e eu já temos compromisso. – Meio confusa, ouvi dizer, enquanto colocava um braço sobre os meus ombros. – Nosso projeto de álgebra ainda não acabou e nós tínhamos pensado em adiantar as coisas para ver um filme essa noite, talvez. Não é, ?
Olhei para ele sem entender absolutamente nada, mas assenti.
- Hunrum.
- Ah, tudo bem. – Summer deu de ombros. – Fica para a próxima, então. – Sorriu. – Vamos, amor? O pessoal já deve estar reclamando da nossa demora. – Disse a . – Amor?
olhava fixamente para , e pude jurar ter visto um brilho de raiva em seus olhos.
- Junior, qual é o problema? – Ela chamou de novo.
- Ah, nada. – balançou a cabeça, voltando a si. – Só estava... Bom, não é nada. Vamos de uma vez. Não quero ouvir Amber reclamar a tarde inteira. – Tentou sorrir e beijou a ponta do nariz de Summer. – Até mais, . .
Os dois foram embora e eu fiquei ali, em silêncio absoluto, tentando entender o que havia acontecido. Ainda não tinha superado o pânico de quase ser pega, mas finalmente concluí o óbvio.
- Você já sabe! – Cobri a boca com as mãos.
olhava sério para mim e eu sabia que, apesar de não ter me dedurado, ele estava furioso.
- Parabéns pela descoberta, Cristóvão Colombo. – Ele disse irritado. – E agora você vai explicar direitinho que história é essa.


🌴💚🌴

- Foi a Jasmine quem tocou no assunto. – Eu disse.
Depois de ter praguejado aos quatro cantos, concordou com o pedido que fiz de conversar sobre aquilo fora da escola. Tentei começar a me explicar no caminho, mas não deu muito certo.
- É MELHOR VOCÊ NÃO FALAR COMIGO SE NÃO QUER QUE EU BATA ESSE CARRO! – Foi o que ele disse.
Então havíamos seguido em silêncio até uma praia perto de casa, e agora eu estava sentada num banco enquanto andava de um lado para o outro.
- Logo depois de você e terem saído do refeitório, quando ela me chamou na mesa. – Continuei com um suspiro pesado. – Acontece que eu tinha comentado com Summer, antes de saber quem era o namorado dela, que eu gostava de um garoto também. Não falei o nome dele, mas Jasmine acabou descobrindo e deve ter ficado desconfiada.
- E como foi que o meu nome foi parar nessa história??
- Bom, elas começaram a me fazer perguntas, eu fui ficando nervosa, ficava, você sabe, me encarando. – Fiz um gesto com o indicador e o dedo médio indicando meus olhos. – Foi ficando cada vez pior, daí Jasmine perguntou qual era o nome do garoto e eu respondi sem pensar.
E era isso. Parecia tudo tão simples quando dito assim.
- Tudo bem. – parou de andar e cruzou os braços. Não parecia satisfeito, mas também não parecia mais prestes a me matar. – Então a gente pode simplesmente, sei lá, terminar.
Balancei a cabeça veementemente.
- Não, não, não dá. – Eu disse. – Um namoro como o nosso não pode acabar assim, do nada.
estreitou os olhos e se aproximou.
- Um namoro como o nosso??? , você prestou atenção no que disse?! Eu não sou seu namorado! – Exclamou.
Fiquei ofendida com a revolta do . O que havia de tão ruim em ser meu namorado afinal? Se ele já estava assim pela primeira parte, tinha até medo de sua reação quando ouvisse o resto.
- Olha só, : se eu ia mentir que você era o meu namorado, não podia inventar uma historinha qualquer.
arregalou os olhos, incrédulo.
- O que exatamente você inventou, ?
- Bom...

FLASHBACK ON

SEXTA-FEIRA; 12h30 PM; REFEITÓRIO DA JACKSONVILLE HIGH.

- Meu namorado é o . – Meio fora de mim, me ouvi dizer. – O .
Exclamações, risos e comentários vieram de todos os cantos da mesa. A cara de Jasmine foi impagável; seu queixou quase bateu na mesa.
- Não acredito! – Summer exclamou rindo. – , o que cresceu comigo... Então é por isso que vocês vivem juntos!
- É, é por isso sim. – Concordei olhando para o alto, pensando na merda que tinha acabado de fazer.
- Nós vamos matar você por não ter nos contado! – Jodi sorriu e Emma balançou a cabeça para cima e para baixo em concordância.
- , você e o devem ser, tipo, o casal mais bonito da escola! – Amber segurou minha mão sobre a mesa. – Depois de Junior e Summer, é claro. – Deu uma risadinha, aproveitando a oportunidade para puxar o saco da rainha.
- Obrigada. – Consegui dizer.
- Estou realmente surpresa com essa informação, . – Jasmine, que já havia se recuperado do choque, disse com uma seriedade fingida. – Juro que não desconfiei nem por um momento. Até porque, mesmo que andem juntos, não acho que vocês parecem um casal.
- Jas, não seja grossa. – Summer repreendeu. – Você sabe que o sempre foi assim, na dele; e a chegou há pouco tempo, mas dá pra ver que é superdiscreta. Não são como uns e outros que adoram chamar atenção. – Alfinetou a garota, mas considerei mais como uma brincadeira, porque as duas riram. Amber demorou mais a entender (já havia percebido que a coitadinha era meio lenta), mas riu também.
Ri baixinho e olhei rapidamente para . O olhar dele era uma mistura de dúvida e alívio. Provavelmente estava aliviado por eu não ter contado sobre ele, mas devia estar se perguntando se o que eu disse era verdade ou apenas parte da farsa.
Amber se debruçou sobre a mesa, toda sorridente.
- Ai, , agora eu estou, tipo, extremamente curiosa! – Disse. – Conta tudo pra gente, tim-tim por tim-tim, sobre o namoro de vocês? – Os olhos brilhavam.
- Aaaai, eu quero saber também! – Summer logo apoiou, debruçando-se também. – Vocês dois são tão fofos juntos!
- Adoro histórias de amor! – Jodi apoiou o rosto nas mãos.
- Não se esqueça de nenhum detalhe. – Emma fez o mesmo.
- Fala sério, gente. – , para a minha surpresa, disse com desdém. – Isso é papo de menina; vocês deviam guardar para, sei lá, as reuniões de manicure de vocês.
- Não seja chato, Junior, eu estou louca para saber. – Summer reclamou.
- Junior está certo. – Eu disse. – Além disso, o intervalo está quase acabando...
- Mas ainda temos alguns minutos! – Amber disse suplicante. – Por favor, por favor, por favor!
- Vamos lá, ! – Jasmine deu um sorriso sarcástico. – Conte para nós sua história de amor.
Minha mãe sempre me ensinou que ódio é um sentimento muito feio, e sempre disse que eu não deveria odiar ninguém, pois o ódio só faz mal a quem o sente. Cumpri essa regra a risca durante toda a minha vida, mas Jasmine estava conseguindo acabar com tudo em uma única semana. Eu ainda mataria aquela garota. Sabia que sim.
De qualquer modo, eu já havia inventado aquela mentira absurda e não podia mais voltar; que fosse, então, uma boa história.
- e eu nos conhecemos meses atrás, quando meu pai se mudou de Nova York para cá. – Comecei. – Eu e minha mãe estávamos preocupadas e queríamos saber como ele estava, então decidi fazer uma visita e ver como andavam as coisas.
- Caso algum de vocês não saiba, o pai dela é o Jack Pie. – Jodi avisou a todos como se fosse algo muito sério.
- O Jack Pie. – Emma disse de nariz em pé.
Cheguei a ouvir alguns comentários de aprovação e surpresa, mas ignorei e continuei falando:
- É, sou filha do Jack Pie. – Concordei. – Então fiz minhas malas e vim visitar o papai, e estava lá. – Dei de ombros sorrindo. – Ele sempre está lá, na verdade, porque trabalha com o meu pai. – Essa era a única verdade até então.
- E quem se apaixonou por quem primeiro? – Uma outra líder de torcida quis saber.
- Na verdade, nos apaixonamos ao mesmo tempo. – Suspirei. – Foi amor à primeira vista.
Ouvi suspiros vindos de todos os lados, o que deveria ter feito com que eu me desse por satisfeita, mas teve um efeito totalmente contrário: me empolguei e perdi de vez o controle.
- E sabe, quando ele se declarou pra mim foi tão lindo! – Exclamei dramaticamente. – Fomos andando até a praia à noite, então ele me deu essa pulseira, que era dele, e disse que não aguentava mais esconder o que sentia. – Coloquei uma mão no coração e mostrei a outra, que estava com a pulseira.
Mais suspiros. Jasmine me olhou com impaciência.
- E isso tudo aconteceu em o quê? Um dia? – Perguntou levemente irritada. – Porque você só estava fazendo uma visita, pelo que entendi.
- Minha visita durou uma semana. – Expliquei como se não tivesse percebido a ironia em sua voz. – E também, não importa; poderia ter sido um minuto e teríamos nos apaixonado do mesmo jeito.
- Isso é lindo, . – Jodi segurou minha mão e notei que seus olhos estavam marejados. Senti aquela velha vontade de correr dela, mas também fiquei muito feliz por ver quão boa eu era atuando. “Na sua cara, !”, pensei.
- Mas não foi tudo tão simples! – Exclamei com uma leve aflição na voz. – Apesar de nos gostarmos, não podíamos ficar juntos.
Amber cobriu a boca com as mãos em um gesto de tristeza. Outras garotas respiraram pesadamente.
- Era o problema da distância? – Summer segurou minha outra mão.
- A distância também, claro. Eu tinha toda uma vida em Denver, e ele, aqui. E tinha também o meu pai. – Preparei-me para inventar a parte mais absurda da história. – Meu pai sempre foi do tipo superprotetor. Eu sempre fui a garotinha dele; se descobrisse que seu assistente estava se engraçando comigo... – Fiz uma careta. – Bem, ele poderia até ter demitido o .

FLASHBACK OFF

SEXTA-FEIRA; 02h57 PM; PRAIA DA ÂNCORA.

- Você tá de brincadeira comigo? – arqueou uma sobrancelha. – Seu pai? Superprotetor? Seu pai já faz um esforço enorme apenas para se lembrar de te mandar trancar a porta quando ele sai; isso porque ele deve ter se esquecido de que você tem quase dezoito anos. Você poderia ter namorado comigo durante um ano inteiro sem que ele percebesse.
- Para sua informação, eu sou sim a garotinha do meu pai. – Fiz língua. – Além disso, só estava tentando dar uma carga dramática a história. Ninguém acredita em histórias em que tudo é perfeito, . – Disse com seriedade. – Agora me deixe continuar.
- Tem mais??? – Assustou-se.
- Na verdade, tem sim. Porque eu precisava continuar a história, então...

FLASHBACK ON

SEXTA-FEIRA; 12h45 PM; REFEITÓRIO DA JACKSONVILLE HIGH.

- ... Bom, ele poderia até ter demitido o .
- Então o que vocês fizeram??? – Amber roeu a unha do polegar, que estava pintada de azul celeste.
- Decidimos dar um tempo. – Suspirei. – Foi uma decisão muito difícil, mas eu tinha que voltar para Denver, de qualquer forma.
Emma me abraçou.
Será que eu era capaz de chorar? Era uma boa hora para fazer o teste. Sempre havia tentado em frente ao espelho, e até conseguia quando ouvia músicas depressivas como Perfect e Miss you Love, mas sempre foi complicado fazer isso nas aulas de teatro, por exemplo. De qualquer modo, fiz um pouco de força e tentei me lembrar de alguma coisa para ajudar.
- Pobrezinha. – Summer suspirou.
- Mesmo assim, não consegui esquecê-lo. – Balancei a cabeça. – Foi por isso que, nas últimas férias, eu vim para cá. – Olhei inocentemente para .
Não havia inventado aquela história para atingi-lo, mas era uma excelente oportunidade de fazê-lo sentir o gostinho de seu próprio veneno. Esperava, do fundo do meu coração, que ele estivesse sentindo.
- Mas , assim como seu pai, mora em Jacksonville, e você conheceu Junior em Venice Beach. – Jasmine fingiu-se de sonsa. – Acho que estou um pouco confusa.
- Você está certa, Jasmine. – Concordei. Se havia aprendido algo no teatro, esse algo era improvisar. – Acontece que primeiro eu vim a Jacksonville com a desculpa de ver meu pai, e aí acabei descobrindo que estava em Atlanta visitando o pai dele. – Dei de ombros e suspirei de novo. – Foi um choque, claro. Então fui ficar com minha tia em Venice Beach, onde conheci Junior e . – Sorri para eles.
se remexeu na cadeira e olhou de mim para ele. Conhecendo , sabia que a primeira coisa que ele faria quando estivessem sozinhos seria rir da cara dele por ter sido feito de idiota também.
- Quando minha mãe recebeu a notícia de que participaria do projeto no Brasil e sugeriu que eu viesse para cá, aceitei sem pensar duas vezes. Sentiria falta dela, é claro, mas precisava falar com . – Balancei a cabeça. – Nós nos reencontramos e decidimos ficar juntos. Contamos tudo ao meu pai e ele quase, quase mandou embora. – Respirei fundo. – Só mudou de ideia quando ameacei ir imediatamente para o Brasil atrás da minha mãe.
- Você faria isso mesmo? – Summer perguntou impressionada.
Dei de ombros. – Não faria sentido ficar aqui sem o .
- Puxa, parece que eu estou assistindo um episódio de The O.C.! – Os olhos de Jodi brilhavam.
- De qualquer forma, estamos juntos agora. E eu nunca estive tão feliz.
Amber abanou os olhos com as mãos, como se tentando secar as lágrimas. Jodi realmente secou algumas lágrimas. Outras garotas na mesa cochichavam umas para entre suspiros. Líderes de torcida... Por isso eu não era uma delas.
- Você foi tão forte! – Emma exclamou.
- Obrigada. – Assenti de forma sofrida. – Eu sei.

FLASHBACK OFF

SEXTA-FEIRA; 03h12 PM; PRAIA DA ÂNCORA.

- E foi isso. – Eu disse. – Essa foi a história que eu inventei.
A essa altura já estava sentando ao meu lado no banco, a cabeça entre as pernas, olhando para o chão.
- Você é muito mais doida do que eu pensei. – Esfregou o rosto com as mãos.
Dei de ombros inocentemente. – Desculpe, não consegui me conter.
Ele deu um breve sorriso e eu o empurrei de leve com o corpo.
- E então, vai me ajudar? – Perguntei.
ficou calado pelo que pareceram horas.
- Sim. – Disse por fim.
Já ia começar a comemorar, mas ele balançou o dedo na minha frente em negação.
- Entretanto... – Ficou de pé e deu alguns passos, de costas para mim. – Tenho algumas condições. – Virou-se com o sorriso malandro de costume, o que me fez revirar os olhos. Eu devia ter imaginado que ele viria com uma dessas.
- O que você quer?
- Pra começo de conversa, nosso romance épico tem que ter um prazo de validade, mesmo que seja necessário inventar uma desculpa para acabar tudo. – Coçou o queixo. – Eu te dou quatro dias.
- Dez.
- Uma semana e não se fala mais nisso.
- Mas isso é tão pouco! – Protestei. – O que poderia acontecer de tão terrível em uma semana para acabar com tudo que eu inventei??
- Não faço ideia, mas te aconselho a ir pensando. – Disse irredutível. – É pegar ou largar.
- Tudo bem, eu aceito. – Bufei. – O que mais?
- tem que saber. Até mesmo porque, ele poderia dar um jeito de estragar tudo se não soubesse.
- Tem razão. – Assenti. – é um perigo. É só isso?
- Não, tem uma última coisa. – olhou para mim com um sorrisinho. – Não vou fazer isso de graça.
- O que é você, um gigolô?! – Exclamei estupefata.
- Não, sou o cara que vai te salvar de ser eleita a mentirosa do ano com unanimidade. – Arqueou as sobrancelhas como se fosse óbvio.
Respirei fundo e tentei me conter. Ele estava certo, mas não deixava de ser um absurdo.
- Quanto você quer? – Perguntei mal-humorada.
- Bom... – disse pensativo. – Não preciso do seu dinheiro agora, e não consigo pensar em nada que eu realmente queira, mas sei que eventualmente vou encontrar, então vamos fazer assim: vou continuar pensando nisso e, quando eu finalmente souber o que quero, te direi.
Ponderei por um instante.
- Justo. – Estendi a mão, que ele apertou.
- Estou indo para casa agora. Você vem?
Balancei a cabeça. – Vou ficar aqui mais um pouco e depois tenho que parar na casa da Jodi pra pegar uma lista de química.
- Tudo bem. – Assentiu. – Nos vemos depois então.
estava a alguns passos quando notei, a alguns metros, meu pai vindo em nossa direção. Estava todo suado e já devia estar quase acabando sua caminhada diária.
- Meninos, o que fazem aqui? – Perguntou à distância.
- E aí, sogrão! – acenou e então deu um sorriso diabólico para mim. – já te contou que estamos namorando?
Fuzilei-o com o olhar, mas ele simplesmente me fez língua e correu para o carro. Ele ia me pagar por aquela. Ah, se ia!
- ! – Papai diminuiu o passo até parar perto de mim com um sorriso de curiosidade. – Que história é essa?

POV

- Como assim você aceitou ser o namorado fake dela?! – quase estourou meus tímpanos ao berrar do outro lado da linha. – Você enlouqueceu??
- Será que você pode, por favor, não gritar? – Respirei fundo, tentando não gritar de volta. – Desse jeito Summer vai te ouvir da casa dela do outro lado da cidade.
- Desculpa, cara, só estou tentando entender o que deu em você. – Disse mais baixo. – Até ontem você achava que essa mentira toda era um absurdo, hoje cedo estava tendo uma crise de nervos porque a tinha te metido na história, e agora me diz que aceitou fazer parte da farsa? – Ele ficou em silêncio e eu também não disse nada. O ouvi suspirar e sabia que ele estava pensando se era uma boa ideia falar o que pensava ou não (e isso, vindo de , significa muito). – Olha, ... – Começou. – Sei que eu já disse isso incontáveis vezes nas últimas semanas e em todas você me ignorou, mas... Será que essa sua abrupta mudança de opinião não teria a ver com a queda de um penhasco que tem pela ? Ok, não diga nada. – Disse rapidamente quando me preparei para mandá-lo ir ver se eu estava na esquina. – Mas pense. Faça uma reconstrução dos últimos dias e raciocine comigo. E me diga: tem a ver? Porque, se tiver, existe um problema, um probleminha, chamado Junior. E eu me sinto na obrigação de te lembrar que a sua namorada de mentira é completamente obcecada por ele. Já vimos esse filme antes e você sabe que vai ter um trabalho do cão para acordá-la desse transe, isso se conseguir.
Dei um pesado suspiro enquanto pensava em tudo o que ele havia dito. Estava certo em cada detalhe, com exceção, é claro, sobre a) eu ter uma queda de penhasco pela , e b) eu ter mudado de opinião. Porque, em primeiro lugar, eu não estava tão na dela quanto ele pensava, e me sentia muito seguro ao dizer isso, até mesmo porque, passara dias tentando me convencer do mesmo. Se insistia tanto nesse assunto, era simplesmente porque talvez eu tivesse falado um pouco demais na filha do Jack quando a conheci (e pensado um pouco demais nela também, embora ele não tivesse como saber dessa parte). Mas depois de saber da história do Junior – mesmo antes de saber que era ele, na verdade – decidi ficar na minha. Nem falava mais nela tanto assim (embora isso, ao contrário do que eu esperava, não tivesse me ajudado a controlar meus pensamentos, e meus pensamentos não condiziam com a minha vontade de não me meter na vida dela) e deixava bem claro que não apoiava suas loucuras, o que, aliás, nos levava ao segundo ponto, porque a verdade era que eu não havia mudado minha opinião sobre aquela história. Eu apenas mudei de atitude, e foi por alguns motivos muito óbvios, sendo o primeiro deles que eu não queria expor a assim, e o segundo que não ia doer andar de mãos dadas com ela por alguns dias. A semana passaria voando e ao fim dela todos os problemas estariam resolvidos.
- , eu não estou fazendo isso porque gosto da . – Respondi por fim. – Estou fazendo isso porque ela me deixa maluco falando nessa história noite e dia e me deixaria mais maluco ainda se ficasse chorando pela casa sem parar. Eu só pensei que... – Bufei. – Eu não podia desmenti-la assim, ; ela é muito doida, poderia ir pra San Francisco e se jogar da Golden Gate! – Deixei o nervosismo transparecer na voz.
- Você pensa que pode salvá-la.
- O quê? – Fingi não ter entendido. – Não é isso, é que eu...
- Admita. – Ele disse. – Você se meteu nessa história porque pensa que pode fazer com que ela esqueça o Junior e volte a ser a boa garota que era quando ainda estava em Denver.
- Talvez eu possa. – Disse baixo, mas ele ouviu, porque o suspiro do outro lado da linha foi bem audível. – E não pense que estou fazendo isso por estar apaixonado. Estou fazendo isso porque alguém precisa fazer com que ela entenda de uma vez por todas que o Junior não vale o esforço que ela está fazendo para mentir. – Suspirei. – As coisas ficariam bem mais fáceis se ela simplesmente jogasse tudo para o alto, independente do que fosse acontecer com ele. – Balancei a cabeça. – É o que ela deveria fazer.
deu uma risada fraca do outro lado da linha.
- Tudo bem, prometo não insistir no assunto. Pelo menos por hora. – Disse. – Mas, ...
- Sim?
- Sabe que não pode salvá-la se ela não quiser ser salva, não sabe?
Respirei fundo antes de responder.
- Sim.
E então, para variar, estava todo empolgado novamente.
- Bom, acho que isso quer dizer que vamos sentar com as líderes de torcida agora.
Fui obrigado a rir.
- Nem nos seus melhores sonhos.



9- Perfectly together

“Tell me, boy, now, wouldn't that be sweet?”

[…]

- O que você vestiria se fosse uma garota perdidamente apaixonada e feliz?
- Não acredito que você está mesmo fazendo isso. – Sofia dizia incrédula. – Muito menos que está me fazendo essa pergunta.
- Não sei por que não acredita. – Dei de ombros, trocando o telefone de orelha. Segurei o cabide em frente ao corpo e analisei meu reflexo no espelho. Não, não estava bom ainda. Joguei o cabide em cima da cama e voltei a procurar no armário. Sofia bufou do outro lado da linha.
Na sexta-feira, depois de ter aceitado fingir nosso namoro, fiquei mais um tempo na praia. Em parte, porque, depois da palhaçada dele, tive que explicar tudo ao meu pai. Como sabia que ele não ia gostar de saber que eu estava mentindo para todo mundo, tive que mentir para ele também (afinal, em algum momento a história chegaria aos ouvidos dele, de qualquer forma). Obviamente a versão da história que papai ouviu não foi a mesma que contei na escola, então agora ele simplesmente achava que havíamos acabado de começar a namorar, e estava contente com a notícia. Sofia, ao contrário dele, disse que eu estava ficando louca de vez, me deu uma lição de moral, e disse que estava em dúvida se era um burro, um aproveitador, ou um santo. “Um santo.”, foi o que respondi com um suspiro, “além disso, não dei muita opção a ele.”
- Sofi. – Suspirei. – Vai acabar rapidinho. só me deu uma semana. No sábado eu já estarei chorando pelo término do meu namoro de conto de fadas, você vai ver.
- Tudo bem, . Vou acreditar em você. – Ela suspirou. – Só espero que não acabe se arrependendo de ter entrado nesse teatrinho de quinta.
Balancei a cabeça e respirei fundo. Não ia me arrepender. Eu só precisava aguentar a barra durante uma semana. Só isso e tudo se resolveria. Mas por hora...
- E então, que roupa eu uso?
Sofia suspirou de novo. – Levou pra Jacksonville o vestido amarelo? Adoro ele. É tão fofinho e romântico. – Fez uma voz afetada e eu sabia que estava fazendo careta. – Eca.
Não consegui conter o riso.


🌴💚🌴

- Bom dia, casal do ano. – sorriu ao entrar no carro. – Belo vestido, .
- Obrigada. – Sorri de volta. – E bom dia.
apenas assentiu e deu partida no carro.
- E então, preparados para enganar todo mundo? – parecia animado. – Porque, vocês sabem, não vai ser nada fácil.
- É, a gente sabe. – Concordei.
- Tem um monte de gente fofoqueira na Jacksonville High que vai querer fuçar a vida de vocês. – Fez um gesto com as mãos. – E eles podem mesmo acabar descobrindo alguma coisa que estrague tudo. – Balançou a cabeça. A conversa já estava me deixando nervosa. – Tem também a Jasmine. Tenho certeza de que ela não vai sossegar enquanto não pegar vocês na mentira. Sem contar a Summer. Puxa, imagino as, vocês sabem, lágrimas incessantes, no rostinho lindo dela, descobrindo de repente que a nova amiga, na verdade, pegou o cara que ela ama, e que seu querido amigo de infância está acobertando tudo! – Ele riu. Eu já estava entrando em pânico a essa altura. inflou as bochechas. – E já pararam pra pensar em quando vocês tiverem que se beijar?!
freou bruscamente o carro e eu bati com força as costas no banco. , que estava sem cinto, quase voou entre nós dois.
- Que droga foi essa?! – exclamou assustado. Eu ainda estava tentando regularizar a respiração.
soltou o ar das bochechas e balançou a cabeça.
- Não tá ajudando, . – Disse. – Não tá mesmo.
- Ah, meu Deus, pensei que todo mundo fosse morrer! – Coloquei a mão no peito. Meu coração estava acelerado.
fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. ainda estava irritado. Respirei fundo e tentei me recuperar do susto.
- Então... – Engoli em seco. – Acho que podemos tentar chegar à escola agora, certo? – Olhei de forma tranquilizadora para , que assentiu e pisou devagar no acelerador. – E, : põe o cinto.


🌴💚🌴

Chegamos à Jacksonville High sem maiores danos. Durante parte do caminho esteve traumatizado demais para dizer qualquer coisa, e , sério demais, mas arrumei um assunto menos complicado para distraí-los (a reprise do dia anterior de American Next Top Model, programa que , aparentemente, assistia mais do que eu ( não, mas pelo menos o assunto serviu para deixa-lo menos tenso)).
- Aleluia, chegamos vivos! – ergueu as mãos quando estacionamos.
- Otário. – riu tirando o cinto e saindo do carro.
Saí do carro também, e pulou do banco de trás em seguida. estava a alguns passos, mas eu continuava parada.
- Ran ran. – Pigarrei bem alto. , assim como , parou e olhou para trás sem entender. Bati o pé no chão algumas vezes com impaciência, então revirei os olhos e caminhei até ele, sorrindo.
- , eu sou sua namorada. – Balancei a cabeça enquanto ajeitava os botões de sua camisa polo azul. – Sua amada e encantadora namorada. – Soltei a camisa e segurei seu rosto com uma mão, apertando-o até que seus lábios formassem um bico. – Você não me deixa pra trás, porque simplesmente não suporta a ideia de ficar longe de mim. – Soltei seu rosto, e a expressão estranha com que ele me olhava fez rir. – Nós andamos de mãos dadas. – Dei uma risadinha e toquei a ponta de seu nariz com o dedo mindinho.
devolveu a risadinha afetada e pousou a mão no meu rosto.
- Ah, , minha doce . Você sempre pensa em tudo. – Sorriu de forma estranha. Continuei sorrindo e assenti. Com a mão livre, ele segurou meu pulso, que pendia ao lado do corpo. E, de repente, senti um puxão. – Isso é meu. – Ele disse erguendo o próprio braço, já com a pulseira que eu estava usando. A pulseira dele.
- Ei, volta aqui! – Gritei quando ele começou a se afastar. correu atrás de nós. – Você me deu essa pulseira quando se declarou pra mim! – Disse num sussurro irritado.
- E você acaba de devolvê-la. – sorriu.
Não tinha ficado nada satisfeita, mas agarrei o braço dele quando vi Amber se aproximando.
- Oi, ! Oi, ! – Ela exclamou ao passar saltitando por nós. – Oi, amigo do ! – Sorriu para .
ficou parado por alguns segundos antes de voltar a andar, eufórico, conosco.
- Ah meu Deus! – Ele exclamou. – Ela sabe quem eu sou! Ela sabe quem eu sou!


🌴💚🌴

- Bom dia, pessoal. – Ashley Burton disse ao passar por nós. Ela era do clube de teatro. Estava acompanhada de uma garota e um garoto.
- Bom dia. – Sorri enquanto abria meu armário.
- Cara, sabe a Rosana Wayans? – balançou a cabeça, olhando eles se afastarem. deu um sorriso que não entendi. – Ela acha você pegável. Dá pra acreditar? – Franziu o cenho. – Quer dizer...
- Ela podia ter me dito isso quatro dias atrás. – riu. – Eu teria adorado saber.
- Na verdade, eu sempre desconfiei. Nas aulas de economia doméstica ela te dava muito mole.
- Você acha? – deu um sorriso malicioso. – Porque semana que vem eu vou estar solteiro de novo...
- Ei! – Berrei me fazendo notar. – Você ficou maluco??
- Semana que vem, Rainbow. – disse sem nem ao menos olhar para mim. Os olhos estavam muito ocupados acompanhando Rosana Wayans se afastar. – Já seremos um ex-casal.
- Um ex-casal? – Repeti incrédula. Os dois assentiram.
Respirei fundo para manter a calma e aí segurei o rosto de novo, dessa vez apertando tanto que sabia que ia machucar.
- , meu amor. – Comecei tranquilamente. – Se você aparece com uma garota na semana seguinte ao término do nosso namoro, fica parecendo que eu sou uma corna. – Disse entredentes. Então soltei seu rosto e passei a mão por seu cabelo. – E eu não quero ser uma corna. – Sorri. – Além disso, pelo menos por esta semana, eu sou sua namorada, então PARE DE OLHAR PRA BUNDA DAQUELA GAROTA COMO SE SEU QUEIXO FOSSE CAIR. – Dei um tapinha em seu rosto e saí andando.
- Sinto que vou morrer, porque, meu Deus!, não suporto a ideia de ficar longe de você até a hora do intervalo! – Ele disse.
- Gosto assim. – Virei para trás e apontei o indicador para ele, sem parar de andar.


🌴💚🌴

- Você acha que eu devia falar com ele? – Jodi me perguntava enquanto caminhávamos em direção à aula de Literatura. – Quer dizer, ele é sempre um doce comigo e tudo mais, mas às vezes acho que ele é muita areia para o meu caminhãozinho...
Ela estava falando do menino charmoso da mesa da Summer. Descobri que o nome dele era Brad Winter e que Jodi era caidinha por ele já havia um bom tempo.
- Jodi, ele não é muita areia para o seu caminhãozinho. – Balancei a cabeça. – Além disso, vocês formariam um casal lindo.
Ela brincava com os dedos das mãos, nervosa.
- Acha que eu seria muito oferecida se o chamasse pra sair? Eu poderia convidar a Emma também, aí não ia parecer tanto que eu estou me atirando pra cima dele...
Ri e dei de ombros. – Acho uma excelente ideia. Vocês poderiam ir ao Roger’s.
- Ai, você é ótima! – Ela segurou minhas mãos e sorriu. – Mas talvez seja melhor ir com calma. Não quero parecer tão ansiosa e preciso tomar coragem... – Ela respirou tão fundo que eu pensei que estivesse sem ar. – Talvez depois do próximo jogo.
- Perfeito, Jodi. – Coloquei a mão em seu ombro. – E não se preocupe, vai dar tudo certo.
Ela sorriu e assentiu.
- Vou ao banheiro agora. – Eu disse. – Nos vemos daqui a pouco.

Passei cerca de cinco minutos no banheiro. Já tinha ouvido o sinal e sabia que o corredor estava esvaziando. Teria que apressar o passo para não chegar atrasada. Lavei as mãos e saí.
De fato, não havia mais quase ninguém andando. Estava passando em frente à porta aberta da dispensa, quando senti alguém segurar meu braço, e então fui puxada. A porta bateu e eu respirei fundo irritada quando me recuperei do susto e vi quem tinha feito aquilo.
- Abre essa porta agora, . – Disse séria. – Você ficou maluco???
Ele deu de ombros.
- Precisava falar com você.
Olhei para ele incrédula.
- Não tenho nada pra falar com você. – Tentei não falar muito alto. – Abre a porta, eu tenho que ir pra aula. – Tentei empurrá-lo, mas foi inútil.
- Para de birra, Vicentini. – Ele riu me segurando. – E me explica de uma vez que história é essa de namoro com o .
- Ah, então foi por isso que você me prendeu aqui??? – Fiquei mais irritada ainda. era inacreditável. – Sim, , eu estou namorando o . Eu sempre namorei o . Satisfeito? – Coloquei as mãos na cintura. – Agora abre essa porta! – Segurei a maçaneta, mas ele puxou minha mão de volta.
- Não acredito. – Balançou a cabeça sorrindo.
- Não acredita?! – Arregalei os olhos. – Por que não acredita? Por que pensou que só você fosse esperto o bastante para não falar nada sobre a parte da sua vida que não julgava necessária? – Perguntei irônica. – Pois eu tenho uma novidade pra você, : muito da minha vida também não cabia, e ainda não cabe, a você.
- Não, não é por isso. – disse mais sério. Então aproximou o rosto do meu e baixou o volume da voz. – Mas uma garota que gostasse de um cara como você contou naquela mesa que gosta do , nunca, jamais se apaixonaria por outro como você se apaixonou por mim.
Prendi a respiração. Meu Deus, não. De novo não. Concentrei toda minha força de vontade para conseguir responder.
- E quem disse que eu me apaixonei por você? – Empurrei-o. Ele se deixou empurrar dessa vez, talvez porque as palavras saídas da minha boca tivessem surtido algum impacto.
Depois corri em direção à minha aula, sem sequer olhar para trás. Sabia que, se olhasse, poderia acabar cedendo. Poderia acabar voltando e contando a que ele estava certo, que tudo aquilo não passava de uma grande mentira, e que, sim, eu havia me apaixonado por ele, e, aliás, ainda estava apaixonada.


🌴💚🌴

- Isso é mesmo bacon? – remexia o prato na hora do almoço. – Caramba, a comida dessa escola parece ficar cada dia pior.
Olhei do rosto dele para o prato e voltei a remexer minha comida. A verdade é que não estava com a mínima fome. Não conseguia tirar da cabeça.
- Jasmine não para de olhar para cá. – disse olhando de soslaio a mesa VIP.
- Aposto que está muito insatisfeita por não ter sua vítima preferida por perto no almoço de hoje. – disse de boca cheia.
- Sem dúvida. – O outro concordou. Então olhou para mim. – O que foi, Rain? – Perguntou. – Aconteceu alguma coisa?
Olhei sem muito ânimo para ele e analisei mentalmente a possibilidade de contar o que havia acontecido mais cedo. Decidi que não o faria naquele momento. Mais tarde, quem sabe.
Balancei a cabeça de leve. – Tudo bem. – Respondi, e tentei dar um sorriso.
Então arregalou os olhos.
- Pen! Pen! Pen! Alerta vermelho, alerta vermelho! – Disse. – Artilheiro do time a vista!
Olhei por cima do ombro e não consegui evitar o choque ao ver vindo em nossa direção. e outro garoto o acompanhavam.
- Junior. – Engoli em seco.
- Como vai, ? – perguntou como se ainda não tivesse me visto naquele dia.
- Oi, . – deu um sorriso tímido.
- Oi, . – Murmurei.
- Não precisa se preocupar, continue seu almoço como se nem estivéssemos aqui. – disse para mim. Então olhou para os garotos sentados a minha frente. – Meu papo é com os rapazes. – Sorriu amigável, mas não demais. – E aí, . E aí...
- Amigo do . – riu nervosamente. – Ou . Ou qualquer coisa.
- . – assentiu. – Certo.
- E aí, Junior? – se ajeitou no banco. – O que você quer?
- Em primeiro lugar, te dar parabéns – Disse, e parecia sincero. – Pela namorada maravilhosa que conseguiu.
- Obrigado, sei que a é ótima. – concordou, ainda sério.
Junior ficou em silêncio e eles se encararam por alguns instantes, então assentiu de novo. – O segundo motivo é avisá-los sobre o teste para o time. Vai ser nessa quinta, às 2:30 da tarde. – Disse. – A maioria das pessoas já sabe, mas estamos passando pelas salas de aula, e agora pelo refeitório, para lembrar.
- Muito gentil da parte de vocês. – Disse, mas ninguém prestou atenção nele.
- Valeu, , mas não pretendo jogar. – balançou a cabeça.
- Tudo bem, então. – deu de ombros.
- Eu pretendo! – se esgoelou. – Eu, o amigo do !
Dessa vez todos olharam para ele.
- Bem, te esperamos no teste então, .
- Podem apostar que eu estarei lá.
Observei enquanto eles se afastavam, então respirei fundo e voltei a encarar meu prato. Agora sim, eu, definitivamente, não conseguiria mais colocar uma garfada na boca.


🌴💚🌴

Naquela noite, eu simplesmente não senti sono. Terminei tudo o que tinha para fazer rápido demais, depois fui até a casa da Emma com a Jodi, e aí voltei para casa e chequei minhas redes sociais. Tentei ler um pouco, mas não consegui me concentrar. Estava irritada com , e me sentindo péssima e culpada por tudo. Morria de vontade de conversar com Collie, mas por telefone não seria a mesma coisa e eu só ficaria mais chateada com aquela droga de dia, então nem liguei. Por fim, coloquei meu casaco e saí pela porta dos fundos. Sentei-me no gramado e fiquei olhando para o nada, sentindo a maresia que vinha de não muito longe.
- Olhando as estrelas, Rainbow? – A voz me fez olhar para trás.
- Pai. – Sorri, e então virei para frente de novo. – Estou sim.
- Sabe... – Ele disse se sentando ao meu lado. – Quando eu tinha sua idade, participava do clube de astronomia da escola. Era fissurado por nebulosas, luas, meteoros...
- É mesmo? – Perguntei surpresa. – Não consigo visualizar isso. Sempre imaginei que você fosse o cara descolado, tocando violão e arrasando corações. – Sorri.
- Nem tanto, mas a história do violão funcionava às vezes, embora eu não fosse tão bom com ele quanto sou com o sax. – Disse, e nós dois rimos. – A verdade é que eu sempre achei esse mundinho em que as pessoas vivem muito sem graça. A música e a astronomia eram tão... Tão bonitas, . Eu queria entrar num foguete e desaparecer no espaço.
O olhar do meu pai era distante agora, sonhador.
- E por que você acabou ficando aqui? – Perguntei.
- Em primeiro lugar, porque, apesar de amar a astronomia na prática, eu era péssimo em física, e distraído demais. A NASA nunca me aceitaria. – Respondeu com pesar, fazendo-me rir. – Depois porque, um dia, em uma das minhas viagens com aquela minha banda péssima; – Ele riu. – Eu encontrei a estrela mais linda do Universo. – Suspirou. – Ela brilhava tanto que quase me cegou. Eu era como um planeta, girando em torno do Sol.
- Mamãe. – Sorri.
Papai também sorriu, assentindo. – De repente, a Terra parecia um ótimo lugar para se viver. Eu nunca havia gostado tanto de alguém, e mal podia acreditar que aquela garota incrível sentia mesmo algo por mim. – Balançou a cabeça. Sabia que ele estava emocionado, porque papai sempre havia sido muito chorão. – E então surgiu uma outra estrela, brilhando ainda mais que a primeira. Esta cegou a mim e a ela. – Limpou uma lágrima. – Era tão pequena, tão frágil. Quando ela abriu os olhos para o mundo pela primeira vez... Ah, .
- Pai... – Coloquei a mão em seu ombro.
- Quando você nasceu e a enfermeira te trouxe para que eu pegasse, eu morri de medo. – Ele riu. – Você parecia uma boneca de louça, eu sentia que se não te segurasse com a precisão exata ia te quebrar em mil pedacinhos. – Balançou a cabeça. Eu sorri. – Mas quer saber? A enfermeira não me deu mole, disse que eu precisava aprender a cuidar de você. E eu disse “Moça, você não entende. Eu não sou um pai!”. Mas, , quando eu peguei você nos braços... De repente, eu era. Era como se... Você foi o bebê mais lindo a nascer naquela noite, juro por Deus. – Nós dois rimos. – E depois de ter segurado você pela primeira vez, eu não queria mais te soltar. Voltamos para casa e sua mãe ficou maluca, porque eu te erguia no alto e girava; ela pensava que eu fosse te deixar cair. Mas, filha, você não tinha medo de altura. Você sorria, cada vez que eu te levantava. E sabe por quê? – Perguntou. Balancei a cabeça negativamente. – Porque você é uma estrela, e estrelas estão acostumadas às alturas.
- Mas que droga, Jack, você vai me fazer chorar. – Escondi o rosto em seu ombro. Estava falando sério.
- Filha... – Ele disse depois de um longo suspiro. – Sinto que estou falhando com você.
- O quê? – Espantei-me. – Mas por quê?
- Não sei, acho que não faço nada direito. – Balançou a cabeça com frustração. – Você tem estado triste desde que chegou aqui. – Abri a boca para falar, mas ele fez sinal para que eu me calasse. – Todo mundo pensa que eu sou desligado e não percebo nada, mas eu percebo sim, . – Fungou. – Queria que você me dissesse o que posso fazer pra melhorar as coisas, porque se eu não consigo mais fazer você sorrir como costumava fazer, então não sei para que sirvo. – Baixou os olhos. – Sinto que estou falhando com você, assim como falhei com sua mãe...
- Pai! – Disse alto. Ele me olhou assustado. – Para com isso, tudo bem? Você não tem nada a ver com isso. – O abracei. – Você foi, é, e sempre será o melhor pai do mundo, mesmo sendo o pior. – Sorri. – Eu só tive uns problemas, mas você não tem nada a ver com isso. Eu estou tão feliz por estar morando com você de novo... Eu morri de saudades de você, pai. Eu te amo. E você sempre vai me fazer sorrir, mesmo que tudo o que acontece só me dê vontade de chorar. – Ele passou a mão pelo meu rosto. – Eu estou bem agora. Era só uma fase ruim. Juro.
Ele suspirou e assentiu, olhando para a frente de novo. Encostei a cabeça em seu ombro.
- Sabe, filha? – Ele disse depois de alguns instantes. – Estou muito feliz por você e por .
“Ah não, pai. Não me faça me sentir culpada agora!”, foi o que pensei. Balancei a cabeça positivamente.
- Eu sei. – Respondi.
- é um garoto maravilhoso, com uma história tão complicada! Tão parecida e, ao mesmo tempo, tão diferente da sua.
Afastei a cabeça e olhei para ele. História complicada?
- Do que está falando?
- Oh, desculpe, querida, pensei que você soubesse.
- O quê? – Perguntei já meio aflita.
- Os pais de são separados, você sabe. – Começou. Assenti. – Mas eles não terminaram de forma tão razoável quanto eu e sua mãe. Eu e Jaqueline, apesar das brigas... Você sabe, eu amo sua mãe. – Bufou. – O pai do ... Bem, quando os pais se separaram o pai dele já estava com outra. – Disse com pesar. – Uma mulher que ele conheceu em uma viagem de negócios, aparentemente. Já tem uns cinco anos agora, mas, pelo que eu sei, foi uma situação bem complicada. – Fez uma careta. – Ele se dá bem com o pai, apesar disso. Tem um meio-irmão de quatro anos. A mãe dele se casou há dois.
- Ah meu Deus, isso explica tanta coisa! – Murmurei.
E explicava mesmo. Explicava por que odiava mentiras. Por que queria que eu acabasse de uma vez minha história com . Por que queria que eu contasse a verdade a Summer. E eu estava fazendo com que ele fizesse absolutamente tudo ao contrário.
Me dei conta de que eu era uma babaca que só tinha falado de mim mesma por semanas, e não sabia praticamente nada sobre a pessoa que mais havia me ajudado desde o momento em que eu colocara meus pés Jacksonville Beach. Agora a farsa precisava mesmo acabar o quanto antes.
- Esse é o tipo de coisa que faz alguém perder a fé nas pessoas. Fico feliz que ele tenha você agora. Alguém com um coração tão grande, uma pessoa tão honesta. – Papai disse.
Engoli em seco e assenti. – Eu também, pai. Eu também.


🌴💚🌴

- Bom dia, . – Disse quando cheguei à rua dele, no dia seguinte.
- Bom dia, Rainbow. – Ele sorriu. – Como dormiu? – Abriu a porta do carro e entrou.
- Bem. – Respondi, entrando também. – Olha, ... – Encarei minhas próprias mãos e respirei fundo. – Eu só queria dizer que... Me desculpe por ter te metido na minha mentira. Me desculpe mesmo. Eu não devia ter feito. Nunca mais vou fazer nada do tipo e... Me desculpe de novo.
Ele simplesmente me olhou e balançou a cabeça.
- Tudo bem, . Não estou chateado com você. – Disse. – Além disso, essa sua história tem lá seus prós. – Ponderou. – Estou esperando ansiosamente o momento em que a gente vai dar uns amassos bem no meio do refeitório. – Sorriu malandro. Dei um beliscão nele. – Ouch! Eu só tava brincando! – Esfregou o braço.
deu partida no carro ainda rindo. Eu estava rindo também, apesar de o assunto ter me deixado realmente preocupada. Será que um beijo, eventualmente, se faria necessário? A farsa só duraria uma semana, então, talvez não. Não sabia exatamente com que cara faria isso, se precisasse.

- Projeto de Economia? – dizia enquanto andávamos em direção aos armários.
- Podemos fazer isso... Sei lá, no sábado? – perguntou. – Jack me deu folga.
- Benefícios do namoro. – Balancei a cabeça.
- Benefícios do namoro, sem dúvida. – concordou. – No sábado à tarde tá ótimo. Podemos dar uma volta na praia depois, comer alguma coisa...
- Por mim tudo bem. – Dei de ombros.
- Pode ser. – assentiu.
- E já sabem da novidade? – Ele começou a tagarelar quando paramos em frente ao meu armário. – Chega de moleza pra quem pegou economia doméstica esse ano. As aulas vagas foram boas, mas parece que a senhora Turttle voltou de suas férias prolongadas.
- Azar o de vocês. – riu enquanto voltávamos a andar.
- Pelo menos vou escapar até amanhã. – sorriu.
Os dois olharam para mim com expectativa. Conferi mentalmente meus horários e então parei com desânimo.
- Oh não.

A sala estava parcialmente vazia quando cheguei. Me sentei à bancada da minicozinha que ficava bem no meio da sala (tinha mais umas dez em volta) e esperei. Apesar de estar de férias, a senhora Turttle havia separado as duplas e enviado a lista com os nomes dias atrás. A lista não havia sido disponibilizada para nós, mas em nossos horários havia o número da sala e o número da cozinha em que deveríamos ficar. Eu estava na 7. Minha dupla ainda não tinha chegado.
Tamborilei os dedos na mesa, tentando não prestar atenção nas pessoas que me olhavam e cochichavam sobre o meu namoro com . Sabia que a história já tinha tomado grandes proporções e que ser “amiga” da Summer não ajudava no quesito discrição, mas o que poderia fazer? Queria que tivesse ficado na minha turma, e não na da quarta-feira. Pelo menos eu teria alguém para conversar.
O sinal tocou pela segunda vez. A professora só chegaria na quinta. Outros alunos começaram a entrar na sala, e um deles, em especial, quase me fez ter uma síncope.
- Ah, não. – Deixei escapar entredentes, já revoltada. – Eu não acredito nisso! – Exclamei.
- Bom dia pra você também. – deu um sorriso tímido se aproximando da bancada. Tirou um papel dobrado do bolso e leu. – Bem, parece que seremos uma dupla.
E esta, senhoras e senhores, era a minha vida. A única explicação lógica para aquilo era que minha vida estivesse sendo transmitida para todo o país, em um reality show ridículo e malvado, igualzinho ao Tim Carrey em “O Show de Truman”.
- Não, nós não seremos, Junior. – Afirmei jogando minhas coisas dentro da mochila. – Porque eu vou agora mesmo pedir pra ser transferida para a turma de quarta-feira.
- , espera um pouco. – Ele segurou meu braço. Sabia que alguns olhares estavam voltados para nós agora, e os olhos dele apenas confirmavam a informação. Voltei um passo e me sentei de novo. – Eu preciso falar com você. De verdade, e do jeito certo.
Suspirei. Ele estava uma graça com a camisa cinza e a bermuda listrada. Não que isso tivesse algum peso na minha decisão, mas eu sabia que brigar ali só traria problemas.
- Tudo bem. – Me rendi.
se sentou no banco ao meu lado.
- Olha... – Começou sem me encarar. – Eu queria te pedir desculpas por ontem.
Ele me pegou de surpresa. Arregalei os olhos, mas não disse nada. Em um tom que só eu poderia ouvir, ele continuou:
- Eu me comportei como um idiota. Acho que fiquei com um pouquinho de ciúme do . Mas queria dizer que sei que não tenho esse direito, e não vou fazer nada parecido de novo. – Olhou para mim, e sabia que ele estava sendo sincero. – Nós já resolvemos o que fazer dessa situação toda, e você tem suado a camisa pra fazer dar certo, enquanto eu, só atrapalho. – Balançou a cabeça. – Quero que saiba que, daqui por diante, eu vou fazer minha parte. A sua vida é a sua vida, e eu não vou me meter. – Sorriu fraco. – E eu gostaria muito que pudéssemos ser amigos, , de verdade. Nos demos tão bem durante todo o verão... Eu sentia como se te conhecesse a minha vida inteira, e olha só agora. – Deu de ombros. – Talvez a gente possa, pelo menos, não se odiar.
- Não odeio você. – Disse sem pensar.
Ele me olhou surpreso. Talvez fosse uma ideia melhor ter mantido minha imagem de durona. Talvez eu devesse tê-lo deixado pensando que eu o odiava com todas as minhas forças. Mas não seria verdade, e eu andava mentindo tanto... Além disso, ele parecia naquele momento, mais do que nunca, com o que eu havia deixado em Venice Beach, e eu nunca, jamais poderia odiar esse . Sem contar que ele estava certo. As coisas seriam bem mais fáceis se não brigássemos sem parar, e, com o tempo, aquela amizade que fingíamos em frente a Summer poderia se tornar real.
- Eu odiei você, sim, no dia do jogo, quando... Você sabe. – Continuei, olhando para a bancada. – Odiei naquele momento.
- Desculpe por isso. – Ele disse. – Sério, nunca vou sentir que me desculpei o suficiente.
- Olha, ... – Balancei a cabeça. – Acho que já está mais que na hora de esquecermos essa história. Não de ficarmos nos matando para enganar todo mundo, a gente devia só...
- Fingir que nada aconteceu? – Sugeriu.
Eu assenti. – Sim. Você está certo sobre nós nos darmos tão bem e estarmos estragando isso com nosso comportamento. É burrice da nossa parte.
- Então... Amigos? – Ele estendeu a mão. – Amigos de verdade?
Demorei alguns segundos, mas apertei a mão dele. E aquela foi uma ótima sensação.
- . – Ele disse sem voltar minha mão. – Eu estava sendo sincero quando dei os parabéns ao ontem. Ele tem muita sorte. Espero que ele seja o cara que você merece.
- Ele é, sim. – Concordei sorrindo.
O quinto sinal soou e a senhora Turttle entrou na sala.
- Bom dia, meninos. – A velhinha disse sorrindo. – Espero que estejam preparados para fazer alguns cookies.
- Vicentini, você nunca comeu cookies tão bons quanto os que eu vou fazer hoje. – sorriu me cutucando.
- Ah, Deus, será que ainda dá tempo de mudar de turma? – Perguntei brincando.
- Haha. – Ele fez língua.

Acredito que você agora esteja se perguntando por que diabos eu não contei ao naquele momento que meu namoro com era mentira. Não teria sido melhor? Não seria essa a atitude de uma pessoa normal? A resposta é: sim, seria. Mas se as coisas com já estavam resolvidas agora, que diferença faria? No fim de semana tudo terminaria mesmo. Pelo menos, era o que eu pensava.


🌴💚🌴

- Pai? – Chamei, tirando os fones de ouvido ao chegar em casa no fim da tarde. Tinha ido caminhar na praia e o deixado em casa tocando saxofone, mas tudo parecia relativamente silencioso agora.
- Foi procurar alguma coisa para o jantar. A geladeira estava vazia. – gritou da sala.
Segui a voz e o encontrei jogado no sofá. A televisão estava ligada em Friends. Stevie, que estava sentado ao lado dele, latiu ao me ver.
- Ei, bebezão! – Fiz uma voz retardada me aproximando do cachorro e segurando suas orelhas. – Estava com saudades?
Stevie latiu e abanou o rabo em resposta, ficando sobre as quatro patas no sofá.
- Dei um banho no nosso monstrinho. – disse. – Não sei onde ele se meteu, mas estava fedendo feito um gambá.
- Que feio, Stevie! – Continuei fazendo a voz idiota. – Que feio, bebezão! – Encostei meu nariz no focinho dele.
- Ei, eu não tive todo trabalho para cuidar desse cachorro durante os últimos meses só para agora você acabar com o respeito próprio dele. – puxou a coleira de Stevie. – Fica na sua, ok?
- Blá, blá, blá, eu, eu, eu. – Fiz careta para ele e me sentei no outro sofá.
voltou a ser concentrar na tv, então fiquei calada. A verdade é que queria falar com ele sobre o que papai tinha me contado, mas como fazer? Situações do tipo sempre me deixavam agoniada. Comecei a me remexer no sofá, tentando ficar confortável. Ele nem sequer olhou para mim, mas jogou uma almofada em minha direção.
- Obrigada. – Eu disse.
- De nada. – Respondeu sem tirar os olhos da tela.
Coloquei a almofada no braço do sofá, e me deitei. Depois fiquei de pé e comecei a arrastar o sofá para frente. olhou para mim e eu sorri, então voltou a assistir o programa. Sentei no sofá, mais incomodada do que antes. Tentei me concentrar na tv também, controlando a vontade que eu estava sentindo de falar. No episódio (que eu já tinha assistido), Chandler estava com Joey em um restaurante, no dia dos namorados, esperando duas garotas para um encontro duplo. O que eles não sabiam era que a namorada da semana de Joey tinha levado para ficar com o Chandler a boa e velha Janice, com sua voz irritante que enlouquecia todo mundo. Não fui capaz de me conter, porque, caramba, era a Janice.
- Oh. My. God. – Imitei a voz fanha, reproduzindo o texto que já havia decorado.
respirou fundo e desligou a tv.
- Ok, pode falar. – Ele disse.
- Por que acha que eu quero falar alguma coisa? – Perguntei idiotamente.
- Tudo bem, vou ligar a tv de novo. – Apontou o controle para a tv.
- Não, não! – Exclamei balançando as mãos.
soltou o controle, cobriu o rosto com as mãos e riu. Eu ri também, e ficamos assim por alguns instantes.
- ... – Eu disse então. – Meu pai me contou sobre o divórcio dos seus pais.
Ele parou de rir, mas continuou sorrindo.
- E lá vamos nós. – Disse. – O que tem o divórcio dos meus pais?
- Você sabe o que tem. – Fiz careta. – Ele me contou como foi tudo tão complicado, e a situação toda...
- , isso foi há anos. – Balançou a cabeça.
- É, mas eu me sinto simplesmente péssima, porque te meti em todos os meus problemas e você tem sido esse amigo incrível, e eu nem sequer sabia o que tinha acontecido com a sua família...
- . – Ele disse. Fiquei em silêncio. Ele suspirou antes de continuar. – Olha, eu sei que a história dos meus pais, olhando de fora, pode parecer tão dramática quanto uma novela mexicana, porque... Você sabe, o pai de família que conhece uma destruidora de casamentos cruel e interesseira, e então se separa da boa esposa e a abandona com o filho, que cresce rebelde e afoga todas as suas mágoas na música... – Ele revirou os olhos, fazendo-me rir. – Mas, na verdade, a Carol não é uma aproveitadora, minha mãe não é a mocinha que sofre, e meu pai não me abandonou. – Enquanto falava, ele brincava com a coleira de Stevie, que agora tinha deitado a cabeça em seu colo. – Eu acredito, , de verdade, que se duas pessoas realmente se gostam, não existe espaço para uma terceira. As coisas entre os meus pais já andavam bem complicadas quando ele conheceu a Carol. Eles teriam se separado de qualquer forma, então acho que ela só... Adiantou o processo. – Deu de ombros.
Falando assim ele parecia tão maduro. Fiquei imaginando se teria tido a mesma reação, caso meus pais tivessem se separado quando eu já tinha treze anos.
- Você não ficou nem um pouco chateado com o que aconteceu? – Perguntei. – Quer dizer...
- Óbvio que fiquei; eu tinha treze anos. – Respondeu. – Fiquei um ano inteiro sem falar com o meu pai quando ele foi pra Atlanta. – Ele riu um pouco. – Mas quando o Rob nasceu, as coisas se acalmaram. Eu acabei entendendo melhor a situação toda, e percebi que o desentendimento dos meus pais não tinha nada a ver comigo. Além disso, a Carol é um amor de pessoa, não teria nenhum motivo lógico para não gostar dela. Me dou super bem com meu pai agora, e amo meu irmão. – Sorriu. – Mas isso não quer dizer que eu aprovo o que ele fez. Longe disso. Acho que ele não teve culpa de se apaixonar pela Carol, mas que poderia simplesmente ter se separado da minha mãe antes de começar a se encontrar com outra mulher.
Assenti sem dizer nada. Estava pensando em tudo o que ele havia dito. A história deles me lembrava tanto...
- E pare de pensar o que está pensando. – disse de repente. Olhei para ele espantada. – A história dos meus pais não tem nada a ver com a sua história com . Meu pai era um cara que estava casado há anos e, depois de tentar incansavelmente fazer as coisas darem certo, percebeu que não amava mais a esposa da mesma forma que antes, por isso se apaixonou por outra. é uma besta, que depois de uma briga com a namorada, conheceu uma garota bonita na praia e decidiu fazer uma estupidez sem tamanho enganando as duas. São erros parecidos, em situações completamente diferentes.
Fiquei quieta como uma criança ouvindo um sermão. Apesar de ser meio doloroso, sabia que ele não estava errado (embora achasse que estava sendo um pouco radical).
- Sinto muito. – Eu disse então. – Por tudo o que aconteceu.
- Obrigado. – Ele disse, e sorriu fraco.
A porta da frente bateu e Stevie correu em direção ao recém-chegado, pulando e derrubando tudo o que encontrava pela frente.
- E aí, garotão? – Ele brincou com o cachorro. – Olá, pombinhos.
- Oi, Jack. – disse.
- Oi, pai. – Sorri. – O que comprou pra gente?
- Senhora e senhor, hoje teremos pizza caseira. – Papai disse empolgado. – E vocês é que vão montar, portanto, mãos a obra! – Seguiu para a cozinha.
- Desculpem, mas preciso de um banho antes. – Levantei-me. – Podem ir trabalhando, e daqui a pouco eu volto para... Colocar tudo no forno, eu acho. – Ri.
- Folgada! – Papai gritou da cozinha.
riu e foi atrás dele, mas antes que chegasse à cozinha eu falei:
- Ei, ! – Ele olhou para mim. – Sabe, não é por nada, mas me lembro vagamente de ouvir você dizer que costumava comer em sua própria casa, no dia em que cheguei aqui.
Ele fez uma careta.
- Qual é? Sou seu namorado agora, nunca mais vou voltar pra minha casa.


🌴💚🌴

No dia seguinte, pouco antes de sair de casa, liguei para Sofia e a atualizei em relação a tudo. Enquanto ela dava sua opinião a cerca dos acontecimentos, vesti uma calça jeans e uma camiseta rosa, coloquei meu casaco de capuz e calcei os tênis. Quando me olhei no espelho, percebi que estava me sentindo leve pela primeira vez em muito tempo, bem comigo mesma.
abriu a porta do carro para mim sem nem ao menos reclamar, e olha que eu nem tinha exigido que ele o fizesse fora do terreno da Jacksonville High. Naquela manhã ele tinha um sorriso no canto dos lábios, e parecia muito mais despreocupado com o que estávamos fazendo.
- . – Ele disse depois de se sentar no banco do motorista. – Tenho uma coisa pra você.
- Pra mim? – Estranhei. – O que é?
Ele enfiou a mão no bolso e tirou de dentro dele a pulseira de cordinhas trançadas que havia tomado de mim na segunda-feira.
- Sério? – Perguntei com cautela.
Ele assentiu. – Como você disse, eu te dei de presente meses atrás, não é?
Sorri sem olhar para ele, porque por algum motivo sabia que havia corado, e concordei. – Obrigada.


🌴💚🌴

[N.A.: Podem começar a ouvir essa agora, docinhos!]

foi quem abriu a porta para que eu descesse. me ofereceu o braço e eu aceitei. se postou do meu outro lado.
- Vamos fazer isso dar certo. – Disse baixinho enquanto respirava fundo. assentiu.
A farsa até agora havia sido mediana, mas tudo estava prestes a mudar. Antes eu sentia medo do que estava fazendo, mas, de repente, me sentia segura, mais do que nunca. Fingiríamos tão bem, que quando terminássemos deixaríamos todos chorando de tristeza.
Caminhamos, os três, quase em sincronia, pelo estacionamento. Podia estar errada, mas essa era a primeira vez, desde o primeiro dia da farsa, que eu sentia todos os olhares sobre nós. Éramos o centro das atenções, e fomos durante todo o percurso, do corredor a céu aberto até a parte interna do colégio. Avistei a turminha de Summer a alguns metros e fiz questão de erguer o queixo e sorrir, acenando alegremente ao passar por eles. ficou de frente para mim, andando de costas, e me deu um beijo na bochecha. Mas que belo ator ele estava se saindo! Summer pulou e jogou beijos para nós, Amber e outras líderes de torcida fizeram um coro de “Ooooi!” para . sorriu e piscou para mim. Jasmine não parecia nada satisfeita.
Almoçamos na mesa VIP, no intervalo daquele dia. Eu e contamos uma porção de histórias que realmente haviam acontecido, e todo mundo conversou sobre vários assuntos: a prova de álgebra, a fogueira que aconteceria na sexta-feira da semana seguinte, o tema do baile de boas-vindas... Tudo estava correndo tão bem que mal dava para acreditar.

[N.A.: Ok, sei que a música é legal, mas podem parar agora.]



10- Our first kiss

“Make it real now...”

[...]

- Oi, ! A está? – Ouvi a voz fina perguntar quando ele abriu a porta.
Desci as escadas correndo, colocando o casaco no caminho.
- Jodi! – Sorri beijando-lhe a bochecha.
- Aí está ela. – piscou para Jodi (ele adorava fazer isso, porque ela se derretia toda) e deu meia volta indo parar na cozinha.
- ! – Ela sorriu. – Já está pronta? Espero não ter demorado muito, mas é que a fila do caixa estava enorme... – Levantou a sacola de compras.
- Jodi, contanto que você me salve nessa prova de Física, pode demorar o quanto quiser.
- Droga, mamãe já deve estar uma pilha de nervos. Ela gosta de começar a preparar o jantar cedo. – Jodi respirou fundo, preocupada.
Francamente, aturar uma bronca da senhora Slaterton não me incomodaria nem um pouco, contanto que minha amiga conseguisse me livrar de uma nota vermelha em Física. O trabalho que manter minha farsa estava dando, tinha me deixado quase tão distraída quanto meu pai, e meu rendimento ao estudar sozinha não andava dos melhores.
Mas quem imaginaria que Jodi, por baixo daquele uniformezinho de torcida e daquele ar de maluca, era tão boa em exatas?
- Acho melhor irmos logo. – Eu disse. – Não quero que sua mãe fique brava com você.
- Como se tivesse chance de isso não acontecer... – Jodi suspirou tristemente.
Já estávamos saindo, quando ouvi a voz de papai entrando pela porta dos fundos.
- ! – Ele disse.
- Sim? – Virei-me para trás tranquilamente.
E foi então que, com um estalo, me dei conta do perigo mortal daquele encontro.
Jodi estudava na Jacksonville High. Jodi era uma das pessoas para quem eu tinha inventado meu namoro com . O namoro conturbado e insano, com um pai possessivo e uma longa jornada amorosa.
- Pai! – Exclamei, então, o pânico correndo por minhas veias. parou à porta da cozinha e recostou na soleira, bebendo um copo d’água e me olhando com uma expressão curiosa. – Pai, você por aqui? – Balancei a cabeça. – Pensei que tinha ido dar uma volta com o Stevie.
- E tinha, mas já estou voltando. – Papai riu como se fosse óbvio. – Não queria que eu ficasse fora pra sempre, queria?
- Não, pai. – Ri nervosa. – Claro que não.
- Então essa é sua amiga Jodi? – Ele perguntou.
Os olhos da garota ao meu lado brilharam. Ela tratou logo de andar em direção a ele e estender a mão, toda sorridente.
- Jodi Slaterton. É um prazer imenso conhecê-lo, senhor Pie!
- Ah, Jodi, não faça com que eu me sinta um velho; me chame de Jack.
- Tudo bem! – Ela disse contente. – Ai meu Deus, tudo bem!
parecia prestes a ter uma crise de riso, mas eu o olhei acusadoramente e ele se conteve, dando de ombros como se fosse inocente. Não era novidade pra mim que Jodi fosse maluca (e Emma, estranha), mas sempre me deixava muito brava que ele e rissem disso.
- Olha, Jack... Eu queria dizer que eu sou muito sua fã. Muito mesmo. – Jodi continuou, e então mudou o tom de voz. – E também queria dizer que fico muito feliz que tenha aceitado que a e o ficassem juntos. Sei como é difícil deixar os filhos crescerem; a minha mãe mesmo...
- ! – Gritei sem pensar. A essa altura ele já estava quase cuspindo a água, mas fez um esforço e engoliu.
- Jack! – Ele gritou.
Jodi, que tinha parado a conversa ao ouvir meu grito, e papai, que estava mais confuso do que nunca, olharam assustados de mim para .
- Que deu em vocês dois?! – Papai perguntou sem entender nada.
- Desculpa, Jack. – olhou para mim buscando alguma ideia do que dizer. – É que... Eu preciso da sua ajuda.
- Precisa? – Ele franziu o cenho.
- Precisa! – Exclamei. – não consegue pegar aquela música... – Olhei para ele estalando os dedos, como se tentasse me lembrar. – Aquela música, a...
- Take Five! – completou. – Você pôs Take Five, do The Dave Brubeck Quartet, na lista do show de sexta, mas eu não tô conseguindo pegar.
- Sério? – Papai coçou a cabeça. – Bem, pensei que você não fosse ter problemas...
- Eu também pensei. – Ele olhou para mim sugestivamente.
- Bom, vamos lá então. – Meu pai deu de ombros. Então se lembrou. – Desculpe, Jodi, você estava me dizendo alguma coisa...
- Não estava, não! – Interrompi mais que rápido. – Jodi e eu temos que ir. Tchau, pai! – Agarrei a mão dela e saí correndo.
- A gente se vê, Jack! – Jodi ainda teve tempo de gritar.

Jodi foi falando sem parar até que chegássemos à casa cor-de-rosa; sobre o meu pai, sobre a torcida, sobre e eu. Às vezes eu me sentia um pouquinho culpada por estar mentindo para ela e para Emma, mas já que tinha começado, respondia perfeitamente tudo que ela me perguntava sobre meu namorado e eu. Não era tão difícil falar sobre . Eu estava descobrindo cada vez mais sobre ele nos últimos dias, especialmente quando ficávamos conversando no sofá da sala. Ele gostava mais de chocolate branco que de meio amargo, conhecia uma infinidade de músicas desconhecidas por qualquer adolescente normal – exceto eu, graças ao meu pai –, e fazia uma carinha muito engraçada quando estava com vergonha. Entre outras coisas.
A mãe de Jodi nos viu pela janela da frente, e abriu a porta antes que o fizéssemos.
- Jodi Lyn! – A mulher disse impaciente. – Pensei que tivesse sido sequestrada! – Pegou a sacola de compras das mãos da filha e foi em direção à cozinha. – Olá, . – Me disse sem muita animação.
- Desculpe pelo atraso, senhora Slaterton. – Tratei de dizer. – É que o meu pai...
- Seu pai. – Ela estreitou os olhos. – Eu devia ter imaginado. – Então entrou de uma vez no cômodo.
- Maluca. – Jodi murmurou.
- Eu ouvi isso, Jody Lyn! – Martha gritou.
Jodi fez careta e colocou o dedo indicador na cabeça como uma arma, então fez o barulho do tiro e fechou os olhos. estava certo: ela era quase tão maluca quanto à mãe. Mas isso não me fazia gostar menos dela; pelo contrário, me divertia a beça. E em ocasiões como essa, tudo que eu conseguia fazer era rir, e ficar muito feliz por ter errado a rua em meu primeiro dia na Flórida.


🌴💚🌴

- Até amanhã, . – Jodi disse enquanto eu descia a escada da varanda.
- Tchau! – Acenei. Ela bateu a porta atrás de mim.
Caminhei tranquilamente em direção à minha rua, feliz porque tudo estava finalmente se encaixando. Tinha feito as pazes com , Summer não me odiava (o fato de ela não saber de nada realmente, não contava), meu namoro com estava prestes a acabar... Bem, essa última parte até que tinha sido divertida. Mas, mesmo assim, estava decididamente feliz por voltar ao normal.
Já estava imaginando se meu pai e seu pupilo teriam se lembrado de comer alguma coisa, já que eles sempre se esqueciam de tudo quando estavam tocando. Mas antes que eu chegasse à esquina, meu celular começou a tocar.
- Alô? – Eu atendi, sem conseguir imaginar quem poderia estar me ligando àquela hora. Não era o número de Collie ou Ben.
- E aí, Vicentini?
O susto me fez parar.
- ?
- O próprio.
Engoli em seco. Tínhamos feito as pazes, claro, mas por essa eu não estava esperando. O que ele poderia querer comigo àquela hora?
- O que houve? – Perguntei com cautela.
- É que eu estava tendo alguns problemas para estudar para a minha prova de Literatura e aí pensei: quem nesse mundo gosta mais de literatura que a ?
Dei risada e balancei a cabeça.
- Me ligou há essa hora para pedir pra ser sua professora? Sério, ?
- Não tinha muita opção. – Ele desdenhou.
- Vai à merda.
Ele riu. – Sério, .
- Tudo bem. – Cedi. – Só espera um pouco. Já vou chegar em casa, aí pego meus livros e te ligo. Posso explicar por telefone...
- Não, por telefone não! reclamou.
Coloquei a mão na cintura, já impaciente.
- Não está pensando que eu vou pegar um ônibus para sua casa agora, está?
Puff. Ele desligou na minha cara. Dava para acreditar naquilo? Que garoto ingrato e sem educação!
Irritada, voltei a andar, e então vi um carro curvando na esquina, vindo em minha direção. Já tinha visto aquele carro em algum lugar, mas onde? Cobri os olhos quando a luz do farol me cegou.
- Na verdade, eu estava pensando que poderíamos tomar um sorvete enquanto você me explica toda aquela coisa Shakespeariana. – sorriu do banco do motorista. – E nem precisa ser na minha casa.
Por mais que eu não quisesse assim, a visão do garoto de olhos e cabelos ainda fazia meu coração acelerar. Não era justo me pegar de surpresa assim, quando eu não estava emocionalmente preparada para vê-lo.
- . – Murmurei assustada – Quase me matou.
Ele riu. – Desculpe por isso. Mas é sério: meus livros estão aqui. Conheço uma sorveteria bem pertinho que tem um...
- . – Olhei para ele de forma quase repreensiva. Não dava para acreditar que ele estivesse fazendo mesmo aquilo.
- O que foi? – Ele pareceu confuso.
- É só que... Sei lá! – Dei de ombros. – Isso não é estranho pra caramba? Quer dizer, eu e você saindo...
continuava olhando para mim com ar confuso.
- Não sei do que você está falando. – Disse inocente. – Só vim atrás de você porque é burro demais pra me ajudar. Pensei que éramos amigos agora.
- Eu sei, mas é que... – Comecei. Então olhei para ele, que sorriu e deu de ombros.
Certo, talvez não fosse tão estranho assim. Afinal, éramos amigos agora, não é? E estava fazendo calor, um sorvete não cairia nada mal... E poderíamos conversar só um pouquinho enquanto estudávamos...
- Ah, dane-se. Por que não? – Me rendi. riu e eu entrei no carro. – Mas não posso voltar muito tarde, ok?
- Confio em mim mesmo o suficiente para ter certeza que só vamos precisar de uma hora para que eu entenda a matéria. – Ele disse.
- Certo. – Concordei sem olhar diretamente para ele.
Pensei que fosse dar partida, mas ele ficou em silêncio e suspirou.
- . – Disse.
- Hum?
- Somos amigos agora. Não tem nada de errado em sair comigo. Não estou tentando nada, juro.
Concordei devagar e olhei para ele. estava seguindo o combinado, então por que eu ia deixar as coisas ficarem estranhas entre nós de novo?
- Desculpe, eu acredito em você. – Eu disse. Então me animei um pouco. – Vou querer de morango!
sorriu.
- Um sorvete de morango saindo para a bela senhorita!


🌴💚🌴

- Então ela se ofereceu, simplesmente se ofereceu, para ser minha dupla. Dá pra acreditar nisso? – dizia todo animado. – Quer dizer, eu nem sou bom em geopolítica!
- Aposto que Amber também não é das melhores, então sugiro que você esteja pensando em uma boa forma de não tirar zero. – Falei.
- Amber nem deve saber o que é geopolítica. – fez careta.
- O importante é que ela me escolheu como dupla. – sorriu afetadamente. – Por falar nisso, andei pensando... Vocês dois já sabem como vão fazer?
- Fazer o quê? – franziu o cenho. Também não entendi a pergunta.
- Ora, terminar o namoro! – Ele sussurrou. – Hoje já é quinta-feira. Vocês já deviam ter pensado em alguma coisa.
- Ah, é verdade. – Concordei com certo pesar. Não pensara em nada, mas era uma boa hora para começar a fazer. – Não pensei em nada ainda.
- Mudando de assunto... – disse. – Demorou bastante na casa de Jodi ontem, .
- Você é que foi embora cedo demais. – Dei de ombros.
Cheguei em casa por volta das dez, na noite anterior. estava certo, o sorvete do tal lugar era ótimo. Consegui explicar a matéria a ele e ainda sobrou um tempinho para jogar conversa fora. Depois ele me levou até perto de casa, mas já tinha ido embora.
- A matéria era tão complicada assim? – quis saber.
- Na verdade... – Comecei, mas fui interrompida por alguém segurando minha cintura e me girando.
Comecei a rir sem parar pelo susto, ao perceber que havia sido .
- ... Junior. – Corrigi. – Junior, o que foi isso?
- Acabei de terminar minha prova de Literatura. – Ele disse alegre. – Conferi o gabarito com Max Dave, e adivinha? Vou tirar um nove.
- Oh meu Deus, que bom! – Sorri de orelha a orelha. Sempre gostei de ajudar as pessoas.
- Vicentini, você é a melhor professora do mundo. – Segurou minha mão. – Te devo uma por ontem.
- Que nada, eu só...
- Devo sim. – Ele me soltou. – Agora tenho que correr para a próxima aula. – Começou a se afastar. – E aí, ? .
Eu ainda estava sorrindo, quando notei as expressões nos rostos dos dois. me olhava com uma expressão curiosa; parecia não acreditar no que ouvira.
- Ontem? – Ele arqueou uma sobrancelha.
- Acho que foi isso que ele disse. – assentiu.
- Qual é, gente? Somos amigos agora. – Me defendi.
- Tanto quanto eu sou amigo de Rosana Wayans. – disse mal-humorado.
- Ou eu da Amber. – riu. – Por favor, não nos subestime.
Coloquei as mãos na cintura, indignada, enquanto eles andavam na minha frente.
- Escutem aqui, seus dois panacas: acham mesmo que eu armaria esse circo todo, só pra depois me arriscar saindo com ele? – Olhei para , que deu de ombros. – ? – Olhei para ele, buscando apoio.
parou e ponderou. – Certo, não acho que ela seria tão idiota.
- Obrigada.
- Eu acho que ela é, sim, mas vamos deixar pra lá. – disse, e voltamos a andar.
- A propósito, , – disse. – considerando que ele disse que te deve uma, que tal lembra-lo de que eu, seu grande amigo , vou fazer teste para o time essa tarde?
- Bem lembrado. – Eu disse com ironia. – Com certeza vou gastar meu favor com você.
- Ouch. – riu um pouco.
- Levando em conta que você gastou o que a Summer te deu com Jodi e Emma... – retrucou.
- E o placar do dia é... – ia dizer.
- Pra você ver como anda sua moral. – Interrompi a frase dele.
colocou o braço sobre os ombros de , rindo e dizendo com pesar:
- Sinto muito, amigo. Dois a um para a garota de Denver.


🌴💚🌴

E lá estava eu, naquela tarde, alongando minhas pernas.
- Boa tarde, Courtney. – A professora disse subindo ao palco. – Gostei das meias, .
Ela sempre me chamava de , o que eu gostava bastante. Sorri e balancei os pés com meias de bolinhas amarelas.
- Obrigada, Elizabeth. – Disse.
Ed, um garoto do grupo que estava a certa distância, se aproximou e sentou ao meu lado. Ele me lembrava o Ben, de quem eu estava morrendo de saudade. Era uma pessoa muito agradável.
- Oi, . – Ele disse.
- Ed. – Sorri. – Como vai?
- Bem. – Assentiu. – Soube que está namorando o .
- Hunrum. – Concordei.
- Fiz algumas matérias com ele ano passado. Cara legal.
- Bem legal.
A professora se posicionou no centro do palco enquanto os outros alunos chegavam.
- Olá, meus monstrinhos cheios de talento. – Sorriu. – Como estão esta tarde?
Respostas diferentes ecoaram pelo ar. Percebi Jasmine se enfiando no meio de duas pessoas no outro extremo da roda e acenando descaradamente para mim.
- Ah, que maravilha! – Elizabeth sorriu. – Estava fazendo o programa da aula de hoje, e então, quando acabei, joguei o programa na lixeira; decidi improvisar. Vamos fazer duplas! – Começou andar de um lado para o outro. – E a primeira dupla será... – Cobriu os olhos com uma mão e apontou com a outra. – Diana e Jeremy! – Abriu os olhos e sorriu. Todos bateram palmas. Então cobriu os olhos de novo. – E a segunda dupla... – Fez uma voz misteriosa. – Jasmine e !
Sabia que isso aconteceria. Deduzi assim que ela começou a falar em duplas. Afinal, com quem mais eu poderia ficar? O doce e sincero Ed? A simpática Helen? Não. Claro que eu ia ficar com a cobra da Jasmine.
A garota acenou de novo para mim e se aproximou. Mal consegui prestar atenção enquanto Elizabeth falava os nomes das outras duplas. Estava ocupada demais pensando em por que Jasmine havia nascido.
- Uma dupla, hen? – Ela disse ironicamente.
- Este é decididamente o dia mais feliz da minha vida. – Respondi no mesmo tom. Já tinha desistido de fingir que gostava dela, visto que ela não fazia a mínima questão de ser nem ao menos educada comigo.
A professora passou apressada por nós.
- Meninos, preciso ir ao toalete. Já volto; continuem se alongando.
Jasmine sorriu e começou a se alongar, tentando tocar os dedos dos pés com as mãos. Bufei e girei o pescoço de um lado para o outro.
- Sabe, ... – Ela começou. – Você e seu namorado foram uma grande surpresa pra mim.
- Imagino. – Respondi sem emoção alguma.
- Pensava que vocês eram apenas bons amigos, ou melhor: que ele fosse só o cara que trabalha para o seu pai. Mas aí você veio e contou toda aquela novela. – Suspirou. – Acho que ainda não digeri.
Revirei os olhos.
- Onde você quer chegar, Jasmine? – Perguntei de uma vez.
Ela riu e então soltou: – Por que eu nunca vi vocês se beijando?
Congelei imediatamente. Droga, tudo estava correndo tão bem. “Não perca a calma, !”, pensei.
- Nem todo mundo gosta de ficar engolindo o namorado em espaço público, Jasmine. – Alfinetei. tinha me contado uma coisa ou outra sobre a fama da garota, para o caso de eu precisar me defender.
Jasmine sorriu. – A professora está voltando. – Disse. – Mas sabe, não sou a única a pensar isso. – Completou, e me jogou um beijinho no ar.
E a pergunta que estava em minha cabeça agora era: será que se eu a matasse naquele momento o crime seria considerado legítima defesa?


🌴💚🌴

- Calma, . – Ela dizia pelo telefone. – Não é o fim do mundo.
- Claro que é, Sofia. Ela nunca mais vai me deixar em paz. – Caí de costas na cama.
Tinha ligado para minha prima para contar o episódio da tarde. Ela, a essa altura, já detestava Jasmine tanto quanto eu ou mais (considerando o temperamento de Sofia, sem dúvida odiava mais).
- E ela já não faz isso sempre? – Minha prima perguntou.
- Faz, mas...
- Mas nada, . – Ela disse. – Não precisa se preocupar, sua farsa já está quase acabando. Além disso, se estiver mesmo a fim de acabar com o problema, é só beijar o .
- Sofia! – Por algum motivo que nem eu mesma entendi, a repreendi.
- O que foi? Você teve a ideia do namoro falso. – Então ela riu. – A não ser que esteja com medo.
- Medo? – Perguntei confusa. – Medo de que, Sofia? Eu hen!
- Medo de gostar, oras.
- Você só pode estar de brincadeira comigo. – Falei. E estava falando muito sério.
- Não, é claro que não. – Ela disse ainda rindo. – Andei olhando as redes sociais do meu primo de mentira e, se quer saber, ele é uma graça.
- Sofia. – Suspirei. Precisava me livrar dela e daquela conversa, sem deixá-la perceber que eu estava fugindo. – Preciso dormir.
- Tudo bem, mas não se esqueça: assim como em O Príncipe Sapo, um beijo pode resolver todos os seus problemas.


🌴💚🌴

- Bom dia, . – disse quando desci do carro, na manhã seguinte. Ele havia ido mais cedo que nós, pegado carona com a mãe.
- Bom dia. – Murmurei.
- Parece que alguém acordou com o pé esquerdo. – Ele disse para .
- Parece que sim. – concordou.
Realmente, eu não estava de bom humor. Não tinha tido uma boa noite de sono, graças a um traumático pesadelo onde eu usava um vestido rosa cheio de anáguas e beijava sapos e mais sapos, sendo que nenhum deles virava príncipe (obrigada, Sofia). Como resultado, acordei mais cansada do que nunca, e com duas enormes olheiras feito um panda.
- ? – chamou, e só então reparei que ele estava parado ao lado do carro ainda, enquanto eu já havia andando um bom pedaço.
- O que foi? – Perguntei meio sonolenta.
- Não vamos andar de mãos dadas hoje?
- Não! – Respondi prontamente.
Ele e me olharam confusos.
A questão era que... Não que Sofia tivesse conseguido me confundir, mas todo aquele papo sobre eu estar com medo de gostar do tinha me deixado um pouco paranoica.
Mas era só uma das maluquices da Sofi, no fim das contas. Afinal, eu ainda gostava do , querendo ou não.
- Quer dizer... – Esfreguei o rosto tentando acordar. – Vamos, sim. – Suspirei e caminhei até , agarrando sua mão. – Desculpa, namorado de mentira. – Dei um sorriso tímido. – É só que... Tive uma péssima noite de sono hoje.
- Tudo bem, mas não faça mais isso. – Ele deu um sorriso torto. – Simplesmente não suporto a ideia de ficar longe de você.


🌴💚🌴

- Então ele disse que tinha gostado do laço no meu cabelo. – Jodi sussurrava discretamente para mim e para Emma, enquanto a professora de cálculo copiava a matéria no quadro. – Quer dizer: todas as líderes usam o mesmo laço, mas ele disse que gostou dele no meu cabelo.
- Isso com certeza quer dizer alguma coisa, Jodi. – Sorri.
- Ele tá totalmente na sua. – Emma completou.
Meu humor estava melhorando com o passar do dia. Ficar com as duas sempre ajudava bastante, porque eu ria a beça. E faltavam só alguns minutos para o intervalo.
- Igualzinho ao ? – Jodi deu um sorriso engraçado.
- Igualzinho ao . – Emma concordou.
- O quê?! – Exclamei baixinho. – Como assim o ? Pode ir contando!
- Esse garoto está completamente apaixonado por mim. – Emma disse como se isso lhe causasse certo tédio. – Quer dizer, ele fica me secando quando estamos ensaiando as coreografias, e na hora do almoço também. E eu peguei ele me encarando do quintal dele, quando estava saindo de casa outro dia.
- E ele já te disse alguma coisa? – Perguntei com interesse.
- Nunca. Nem oi. – Ela suspirou. – Mas eu entendo dessas coisas. Aquele garoto me quer.
- E você o quer também? – Jodi riu.
Emma deu de ombros.
- Não sei. Ele é, você sabe, estranho. – Disse.
Eu e Jodi não conseguimos conter o riso. Meu celular vibrou sob a mesa. Olhei discretamente e vi a mensagem do meu pai:

“Rainbow, preciso ir esta tarde até Fruit Cove buscar uma coisa para um amigo.
Quer ficar em casa ou fazer companhia para o papai?”


Digitei rapidamente a resposta:

“Vou com você, pai.”

O sinal tocou; coloquei o celular no bolso e saí da sala com as duas. Conversamos pouca coisa até chegarmos ao refeitório. chegou logo em seguida.
- está no campo esperando o resultado do teste. – Disse para mim. – Oi, meninas. – Olhou para as duas.
- Oi. – Emma respondeu. – Bom, estamos indo para a mesa. Nos vemos mais tarde, .
As duas se afastaram e ficamos ali.
- Acha que ele consegue? – Perguntei ansiosa.
- Bem, conhecendo o talento do para futebol, vamos torcer para se lembrar de que ele é seu amigo. – disse.
Sorri em resposta, mas fiquei séria quando reparei que Jasmine estava olhando para nós. Ela sorriu quando viu que eu havia notado. Summer procurou o rumo do olhar da amiga, avistando nós dois e acenando freneticamente. Jasmine disse algo no ouvido dela, que lhe lançou um olhar de repreensão. Não precisava ser um gênio para adivinhar o que ela havia dito. Estava tentando plantar a sementinha da dúvida em todo mundo sobre mim e .
Talvez Sofi estivesse certa.
Talvez eu devesse beijá-lo de uma vez e acabar com a especulação.
- . – Eu disse respirando fundo. – Tem uma coisa sobre a qual nós precisamos conversar. E tem que ser agora.
- O que foi? – Ele perguntou.
- É que... – Comecei, mas fui interrompida pelo toque do meu celular. Um choque de preocupação me atingiu quando vi o nome da minha mãe na tela. Ela nunca me ligava em meu horário de aula. – Só um segundo, . – Eu disse, e saí correndo do refeitório.
Parei no corredor, onde não havia tanto barulho.
- Mãe? – Disse, mas só ouvi o chiado. – Mãe, o que foi?
- Filha! – Ela disse, e então voltou a chiar.
- Mãe???
- Filha! – Ela disse de novo, e então a ligação se estabilizou. – A ligação estava horrível.
- Mãe, o que foi?? Aconteceu alguma coisa??? – Perguntei preocupada.
- Ah, eu te assustei, não foi? – Disse preocupada. – Mil perdões, , não era o que eu queria. Não aconteceu nada ruim.
Soltei o ar que nem havia percebido que estivera prendendo.
- Quase morri, mãe. – Admiti.
- Desculpe, meu bem. – Ela riu. – Tenho, sim, uma notícia para te dar. Mas é uma boa notícia, pelo menos pra mim.
- O que é? – Perguntei mais calma.
- Bom, a garota que estava coordenando o projeto, Dominica, teve um problema de família, alguma coisa com a irmã, pelo visto. Nada grave, mas ela preferiu voltar para casa imediatamente. E aí...
- E aí... – Incentivei.
- Me ofereceram o cargo de representante principal do projeto! – Exclamou.
- Mãe! – Gritei de felicidade. – Isso é maravilhoso! Que notícia excelente!
- Não é? – Ela comemorou. – Estou tão feliz!
- E eu estou tão orgulhosa de você! – Ri. – Queria poder te dar um abraço.
- Ah, estou morta de saudades, filha. – Ela pareceu meio triste, de repente. – Penso em voltar para casa todos os dias.
- Nem pense nisso, dona Jaqueline! – Briguei com ela. – As coisas estão dando mais certo que nunca, então aguente firme.
- Vou aguentar, filhota. – Disse, e eu sabia que ela estava sorrindo, mas que também estava chorando. – Bem, só liguei para te contar a novidade. Tenho que desligar agora, o pessoal já vai voltar.
- Tudo bem. Tchau, mãe. Fica com Deus e parabéns. – Sorri. – Você merece.
- Fique com Deus, anjinho. Te ligo de novo mais tarde.
Desliguei o telefone e corri de volta para o refeitório. Estava morrendo de saudades da minha mãe muito mais do que antes, mas estava tão feliz por ela! Sabia que papai também ficaria quando eu contasse a ele.
Quando cheguei ao refeitório, estava pulando em cima de , sorrindo de orelha a orelha. , que até poucos minutos não estava ali, já estava parado em frente a sua mesa de sempre. Deduzi que os resultados haviam sido entregues.
- E então? – Perguntei ansiosa.
- ! – me abraçou. – EU. SOU. RESERVA!
Durante pouquíssimos instantes olhei para , tentando me certificar de que aquilo era mesmo uma boa notícia. Ele levantou os polegares em sinal afirmativo, então joguei os braços em volta de também.
- Ah meu Deus! Parabéns, !
Foi então que, sobre os ombros dele, notei que todos no refeitório olhavam em nossa direção. Summer sorria, também. Jasmine olhava como se esperasse algo, algo que ela sabia que não veria (o que a deixava feliz).
De repente, eu sabia o que tinha de fazer. Não ia doer em mim, não ia doer nele. A farsa acabaria no dia seguinte, mas naquele dia... Ah, íamos fechar com chave-de-ouro.
Me afastei do abraço de (que logo foi atacado por Amber, então mal notou que eu tinha saído), caminhei até e passei a mão por seu cabelo.
- Oi. – Eu disse. Ele me olhou curioso. – Lembra quando você disse que mal podia esperar para darmos uns amassos no meio do refeitório? – Olhei em volta de novo, e de novo para ele. – Então... Pelo visto, hoje é seu dia de sorte.
- ? – O olhar dele ficou sério, quase assustado. – O que você...?
Mas antes que tivesse tempo de dizer qualquer coisa, meus lábios já estavam sobre os dele.



11- I think that possibly, maybe I'm falling for you

“Yes, there's a chance that I've fallen quite hard over you…”

[…]

POV

- Oi. – Ela disse. Olhei para ela meio confuso, afinal, ela parecia ansiosa demais. – Lembra quando você disse que mal podia esperar para darmos uns amassos no meio do refeitório? – olhou para trás e eu acompanhei seu olhar, então me encarou de novo. – Então... Pelo visto, hoje é seu dia de sorte.
- ? – Algo na expressão dela me fez estacar. O que aquela maluca estava fazendo? – O que você...?

[N/A.: Ok, pessoal, deem play e segurem os corações. Só parem quando mestre mandar.]

Mas antes que eu dissesse qualquer coisa, ela já estava me beijando. O susto foi tão grande, que não me movi por alguns segundos. Depois, sem pensar muito, passei as mãos em volta da cintura dela. Ela não fez nada muito além de encostar os lábios nos meus, mas eu já estava tonto. E não sabia o que era, mas queria mais daquilo. E foi então que ela me soltou. E eu fiquei ali, como se tivessem roubado meu ar.
- . – Sussurrei, mas ela já estava afastada o suficiente para não me ouvir.
Dois passos de distância. Ela estava a dois passos de distância e nunca tinha parecido tão distante. Pela primeira vez desde que a havia conhecido, não fazia nem ideia do que ela estava pensando. , que até então estivera olhando para o chão com uma expressão estranha, olhou para mim finalmente. Parecia nervosa, assustada. Ela deu um passo em minha direção e eu prendi o ar.
- Desculpe. – Sussurrou, mas sem encostar em mim.
“Pelo quê?”, quis perguntar. Mas me calei. Mal conseguia respirar, imagine falar alguma coisa.
- Preciso ir ao banheiro. – Ela disse então. Eu assenti. Ela se aproximou de e deu parabéns de novo, saindo do refeitório em seguida. Como se a coisa mais estranha do mundo não tivesse acabado de acontecer. Como se eu não estivesse ali, parado feito uma estátua, tentando entender porque eu continuava tonto.


🌴💚🌴

Não consegui me concentrar em nenhuma das aulas seguintes. Por sorte não tinha nenhuma com ela, do contrário, teria enlouquecido. O maldito beijo não saía da minha cabeça, e o olhar dela quando se afastou, aquele que eu não conseguia entender... A sensação que eu tinha era a mesma de alguém que olha para um ponto de luz por muito tempo e depois desvia o olhar. Eu podia encarar o quadro, as paredes, a mesa... Aquele olhar estava em tudo. Minha boca ainda tinha o gosto do brilho labial de uva.

Segui normalmente meu caminho até o estacionamento na hora da saída. Pensei que ela estaria ali, ou que chegaria atrasada como sempre, mas, em vez disso, vi o carro do Jack parado à distância. Ele acenou para mim, enquanto ela, parada em frente à porta do carona, olhou para mim do mesmo jeito de antes e entrou no carro.
- Ela disse que ia com o Jack até Fruit Cove. – surgiu atrás de mim do nada. Ainda estava excessivamente animado com a vaga de reserva, o que foi uma sorte, pois assim meu comportamento estranho passou despercebido.


🌴💚🌴

Depois de deixar em casa, continuei com a cabeça a mil.
Era impossível. Eu tinha certeza de que a sensação que tivera ao conhecê-la era só coisa da minha cabeça. Eu não podia estar sentindo aquilo. Não com tudo o que estava acontecendo, não naquele momento, quando eu mesmo tinha dado um prazo para que ela terminasse comigo e este prazo estava prestes a vencer. Seria uma enorme brincadeira de mau gosto. Eu precisava parar de sentir aquilo. Precisava desacelerar minha pulsação. Mas como, depois do que aconteceu?

[N/A.: Podem parar agora, meninas.]


🌴💚🌴

- Very superstitious, writing's on the wall. Very superstitious, ladders bout' to fall…
Eu havia ido para o Rogers na primeira oportunidade. Precisava fugir da minha casa, fugir do meu travesseiro manchado de rímel (não trocava a fronha desde o dia em que ela havia descoberto sobre a falcatrua do Junior) e da minha mãe, que adorava fazer perguntas sobre o meu namoro. Agora estava ali, concentrado no contrabaixo, cantando Superstition e tentando relaxar.
- Estou gostando, garoto! – Roger mostrou o polegar ao passar a passos largos na minha frente. – Mais um pouco e vai roubar o lugar do Jack. Já sabemos que você canta muito melhor, pelo menos.
- Valeu, Roger. – Respondi sem muito ânimo, tentando dar um sorriso.
Normalmente Roger parava e ficava curtindo a música, mas parecia com muita pressa enquanto orientava algumas pessoas que estavam mexendo na decoração (ideia do Jack) do lugar. O ambiente costumava ser quase todo preto, iluminado apenas por algumas placas de neon e pelo palco de madeira clara e cortina vermelha. Agora estavam acrescentando alguns objetos com cor laranja e verde. Estava ficando realmente muito bom.
Respirei fundo, antes que voltasse a pensar em qualquer coisa e voltei a cantar.
- Thirteen month old baby, broke the lookin' glass. Seven years of bad luck, the good things in your past…
- Ei, Stevie Wonder! – A voz conhecida chamou.
- ? – Parei de dedilhar e olhei para baixo. – O que está fazendo aqui?
- Bom... – Ele disse enfiando as mãos nos bolsos. – É que depois de me acalmar um pouco e de ter assimilado de uma vez que consegui uma vaga no time, parei pra pensar que talvez tivesse te ignorado um pouco. – Deu de ombros. – Quer dizer, a te beijou e você ficou meio caladão, e, apesar de nunca ter admitido que gosta dela, imagino que esteja meio, você sabe, confuso. Sendo assim, achei que era mais que minha obrigação te achar pra bater um papinho de homem para homem. Quem liga se você simplesmente ignorou minha felicidade para ficar sofrendo por uma garota, não é mesmo? – Ironizou.
- Obrigado, . – Dei uma risada fraca. – Mas não estou sofrendo.
- Que seja. – Ele disse. – De qualquer forma, sei o que você precisa! – Ele saiu andando em direção ao bar. – Basta abrir o freezer e...
Mas antes que ele tivesse pulado por cima da bancada, como costumava fazer, um cara saiu de trás da mesma, não parecendo muito satisfeito.
- AAAH! – gritou dando um pulo para trás e quase caindo.
Corri para ajudá-lo. O cara continuava nos encarando.
- Droga, cara! – exclamou. – Quem é você?!
- Miguel. – O homem (provavelmente só alguns anos mais velho que nós) disse mal-humorado. – Sou o novo barman. – Então, como se nem tivesse saído de trás da bancada por nossa causa, foi até uma mesa vazia e pegou algumas caixas, levando-as para dentro da área do bar sem dizer mais nada.
- O que aconteceu com o Filip? – Perguntei.
- Filip tirou umas férias prolongadas. – Miguel disse com um ar sinistro.
Eu não fazia ideia de que tínhamos um novo barman, e nunca tinha visto aquele cara – talvez por que não tinha falado com ninguém quando cheguei ao lugar naquela tarde. Não estava, apesar disso, tão assustado quanto , que continuava olhando Miguel de soslaio como se tivesse visto um fantasma.
- ! – Ele me puxou pela gola da camisa, falando baixo. – Esse cara deve ter feito alguma coisa com o Filip. Precisamos falar com o Roger, chamar a polícia, sei lá!
- Você enlouqueceu? – Eu disse, olhando de soslaio também. – Quer dizer, ...
- Férias prolongadas? – Ele franziu o cenho. – Quem cai nessa?
Olhamos para o bar, onde Miguel, casualmente, manejava uma faca.
- Eu já vi esse filme, . – continuou. – Primeiro ele ganha nossa confiança, aí você acaba tendo que ficar aqui sozinho depois do horário, e quando está quase saindo ele vem do nada, te dá uma porretada na cabeça e você desaparece. Aí eu começo a investigar e ele vai atrás de mim, e no fim todos nós morremos!
- , deixa de ser idiota. – Rolei os olhos. – Ele não é assassino. É só um barman.
- Certo, vamos fazer algumas perguntas então.
- Você tá brincando comigo?
ficou de pé normalmente e me puxou em direção ao bar, sentando-se num banco e me fazendo sentar no outro. Miguel nos olhou rapidamente e voltou a arrumar os copos.
- E então... Miguel, não é? – começou. – De onde você vem?
Miguel o olhou com impaciência. – Novo México. – Respondeu.
- Interessante. – sorriu afetadamente, fazendo-me sentir vergonha. – E o que veio fazer justo aqui, na nossa pequena e pacata Jacksonville Beach?
- Jack me chamou.
- Ah, o Jack?! – Ele olhou para mim e piscou discretamente.
- É, o Jack. – Repetiu. – Vão querer alguma coisa?
- Não, obrigado. – Eu disse.
- Uma soda pra mim, amigão. – piscou.
- Não sou seu amigo. – Miguel disse sério, enquanto olhava no freezer. – Acabei de colocar estas aqui, estão quentes. Vou pegar mais lá em cima.
Miguel saiu do bar e se esticou para o meu lado, afastando-se o máximo possível do caminho dele.
- Que cara estranho. – Suspirou e balançou a cabeça. – Bom, mas eu vim aqui pra falar de você.
- ...
- Nananinanão! – Ele balançou o dedo. – Conheço você há anos, , e sei que é mestre nisso de fingir que não tem nada passando pela sua cabeça, mas tenho certeza absoluta de que aquele beijo mexeu com você.
Balancei a cabeça e respirei fundo. – Olha, , é só que... Ela me pegou de surpresa, e aí...
- E aí você viu estrelinhas, sua perna levantou, você quase morreu. – sugeriu fazendo uma voz afetada, fazendo-me rir.
- Eu simplesmente não consigo tirar a cena da cabeça. – Admiti. – Não consigo tirar ela da cabeça. – Encostei a testa no balcão.
- Talvez você devesse, sei lá, mandar alguém matar o . – Ele disse. Olhei vagamente para ele, com certa irritação. era mesmo um retardado.
De repente, Miguel estava entrando no bar de novo. Ainda não parecia muito feliz, e voltou à expressão de pânico. Miguel abriu a lata de soda e colocou em um copo com gelo, que pôs em frente a ele. Então virou-se para mim:
- Não ouça seu amigo idiota. – Disse, fazendo nós dois engolirmos em seco. – Se tem problemas com uma garota, resolva com ela. Não importa se tem outro cara na história; só ela pode te descartar. Ou você mesmo, se não disser nada.
- A-ha! – apontou, sem a mínima noção do perigo. – Se é um conselheiro amoroso tão bom assim, o que está fazendo com essa cara amarrada trabalhando aqui?
Miguel olhou para ele com uma genuína expressão de ódio. Às vezes (muitas) causava esse efeito nas pessoas, mas eu nunca o vira com tanta intensidade.
- Eu também canto. – Miguel disse entre dentes.
- Ah, canta mesmo? – perguntou com evidente descrença.
Miguel saiu de trás do bar e eu jurava que ia bater nele, mas em vez disso desviou o caminho e subiu ao palco. Sentou-se ao piano que estava no canto e olhou para nós de novo.
- Ei, garoto! – Disse para mim. – Gosto da música que estava tocando.
E então ele começou a tocar uma pequena introdução, começando a cantar no refrão (onde eu havia parado):

[N/A.: Sem obrigatoriedade, mas eu tava ouvindo enquanto escrevia, então podem ouvir a partir dos 0:56 segundos, porque é mais ou menos assim a música na cena. Podem ouvir até o mestre mandar parar.]

When you believe in things that you don't understand
Then you suffer...
Superstition ain't the way!

- Eu canto! – Ele gritou lá de cima.
Nós dois engolimos em seco. Ele cantava muito melhor que eu.
- Nós acreditamos! – Respondemos em coro.
Miguel se permitiu um breve sorriso.
me puxou para perto discretamente, enquanto Miguel continuava tocando piano.
- Mas ainda acho que ele matou o Filip. – Acrescentou.

[N/A.: E podem ir abaixando o volume até a música sumir agora haha]


🌴💚🌴

- Bom, combinamos de planejar algumas coisas hoje mesmo, então vou sair daqui direto para a casa dela. – dizia mais tarde, naquela mesma noite.
- Amber Hayley. – Assobiei. – Quem diria.
Já estava mais calmo agora, e em parte devia isso ao meu amigo. Ele sempre me ajudava a esquecer das coisas mais sérias. Também devia a excelente música do Miguel.
- E você, cara? Vai ficar bem? – Perguntou.
- Vou, , vou. – Assenti. – Só preciso... Sei lá.
A porta da frente se abriu e Jack entrou por ela carregando um grande saco de papel.
- Oh, olá, rapazes. – Ele disse. – Sabe, às vezes me esqueço do quão cansativo é ir até Fruit Cove.
Eu apenas meneei a cabeça. me deu uma cotovelada, tentando me incentivar.
- Jack! – Eu disse meio tímido. – E quanto a ? Ela por acaso...
- Rainbow está em casa, . – Jack respirou cansado, colocando a sacola de papel na mesa. – Estava mesmo exausta! – Colocou as mãos na cintura. – Mas você tem a chave, então pode ir até lá vê-la. – Sorriu. – Acho que vou te dispensar, já que vamos usar essa noite para fazer a apresentação do Miguel. Já o conheceram?
- Ah, o Miguel. – concordou coçando o queixo. – Somos amigos agora.
- Puxa, que bom. – Jack bateu no ombro dele. – Bem, preciso falar com o Roger. Até mais, meninos.
Jack desapareceu no escritório e eu fiquei ali parado, pensando no que faria em seguida. O plano inicial era passar a noite tocando, mas ele havia me dispensado, então...
- ! – disse como se lesse meus pensamentos. – Pode parecer estranho concordar com um assassino, mas acho que o Miguel tem razão. Você devia ir agora mesmo até a casa dos Pie e mandar a real pra .
- Mandar a real pra . – Concordei quase em pânico. – E qual é a real? – Balancei a cabeça. – Não sei o que eu sinto.
- Então você deveria dizer isso a ela.


🌴💚🌴

[N/A.: Podem ouvir a partir dos 2:14 agora, fofuras]

Meu carro nunca pareceu tão lento, e tudo porque eu havia decidido seguir o conselho do Miguel (ou do , tanto faz). Precisava dizer a o que estava sentindo, mesmo que não soubesse ao certo o que era. Precisava dizer que tinha passado o dia pensando no beijo, que não queria que as coisas acabassem agora, que sentia ciúmes sempre que ela defendia o Junior. Precisava dizer tanta coisa, mas o trânsito não estava ajudando.
Quando finalmente consegui chegar à rua dela, desci do carro e corri até a porta. Fiquei andando de um lado para o outro, sem saber se conseguiria ou não fazer aquilo. Tomei coragem e abri a porta. Vi o par de chinelos azul no chão, perto do porta-casaco, e caminhei até a sala. Ela não estava lá, então subi devagar até o segundo andar. Caminhei sem fazer praticamente barulho algum até o quarto e abri a porta devagar.
estava deitada na cama, de olhos fechados e respirando fundo.
Não pude resistir, me aproximei da cama. Sentei ao lado dela e observei o cabelo que caía sobre o rosto. Ela deu um suspiro profundo, mas não se moveu. À sua frente, um livro estava aberto. “Sonetos de Shakespeare”. Peguei o livro devagar e comecei a ler a página aberta.

“Que a tenhas não é todo meu tormento,
E diga-se que a amei de amor profundo;
Mas ela ter-te é a mágoa que lamento,
Perda de amor que toca no mais fundo.”

Um barulho tirou minha atenção do soneto. O celular, jogado sem jeito a sua frente, estava com o visor aceso. Peguei-o devagar. Engoli em seco ao ler o alerta na tela.

“1 Mensagem:

Olhei para , que mal havia se movido até então. Ela não ficaria irritada se não soubesse que eu havia lido. Mesmo contra todos os meus instintos de autoproteção, abri a mensagem.

“Só queria agradecer de novo pela ajuda. E perguntar: quando vamos tomar outro sorvete? Você ainda nem provou o de avelã.
Beijos,
.”

Fechei a mensagem e suspirei.
Olhei a garota dormindo ao meu lado, tão tranquila. Queria saber se ela tinha pensado no que aconteceu na escola. Se ela tinha ficado pelo menos um pouco confusa. Se ela estava sonhando comigo ou com .
Por último, olhei para o celular de novo, e o coloquei ao lado do travesseiro dela.
Fiquei ali por um bom tempo; de olhos fechados, segurando o livro contra o peito.
Nunca minha vida parecera tão Shakespeariana.

[N/A.: E agora podem deixar a música acabar : ) ]



12- Cause you're hot then you're cold

“You don't really want to stay, but you don't really want to go...”

[…]

Havia alguém lambendo meus dedos quando acordei.
- Stevie, para com isso. – Murmurei mal-humorada.
Stevie latiu em resposta, depois saiu correndo porta afora. Esfreguei meu rosto e bocejei. Não conseguia me lembrar ao certo o que havia sonhado, mas sabia que havia sido um sonho cansativo. Pelo menos eu não teria que levantar da cama para ir à escola, afinal, era sábado.
Sábado, o dia que vem depois da sexta. Sexta, o dia que eu não queria nem lembrar.
E então, unicamente porque minha vida parecia ainda não se achar ruim o bastante, os pensamentos do dia anterior começaram a bombardear minha mente recém-desperta. Um filminho barulhento e confuso que era exibido de trás para frente, passando pela minha ida com meu pai a Fruit Cove e congelando, claro, no derradeiro momento em que eu havia agarrado no meio do refeitório. Então, pelo visto, eu realmente tinha feito aquilo. Na tarde do dia anterior, entre os cochilos que tirava no carro, quase havia me convencido de que a cena não passava de um dos meus sonhos esquisitos, mas agora sabia que não.
Balancei a cabeça e coloquei um pé no assoalho de madeira, só então me dando conta de uma irritante dor de cabeça, pouco acima da minha orelha esquerda. Desci da cama de uma vez, pensando comigo mesma que nunca mais ouviria um conselho de Sofia, por mais louca que fosse a situação. Beijar o . De todas as ideias ruins...
Caminhei até o banheiro e fiz tudo me esforçando para não pensar muito na bagunça infernal que era minha vida. Mas depois de lavar o rosto e olhar minha expressão no espelho, a dificuldade nisso triplicou.
?”... A voz chocada do era um eco na minha cabeça.
Eu mal havia conseguido olhar nos olhos dele depois do que aconteceu, e duvidava muito que fosse conseguir fazer isso tão cedo. Minha maior burrice tinha sido imaginar que um beijo seria a coisa mais normal do mundo, que não ia deixar as coisas estranhas entre nós dois. Eu estava errada, para variar.
Não que o beijo tivesse me feito cair de amores pelo , não era isso. Mas que havia sido estranho, isso eu não podia negar. Lembrei-me da leve corrente elétrica que havia descido pela minha espinha naquele instante, do batimento acelerado do meu coração quando ele segurou minha cintura...
Alguém bateu à porta do banheiro e acordei do transe; só então prestando atenção em meu reflexo no espelho e percebendo que havia levado a mão aos lábios. Balancei a cabeça tentando esquecer aquilo.
- Rainbow, está tudo bem? – Ouvi meu pai perguntar.
- Estou, sim, pai. – Respondi bocejando. – Já vou descer.
- Ótimo, fiz bolo de abóbora.

Desci sem trocar o pijama e me sentei à mesa em silêncio. Meu pai sorriu enquanto terminava de preparar um café, e eu tentei sorrir de volta. Belisquei um pedaço de bolo de abóbora que estava em cima da mesa, mas não fiz questão de continuar comendo, pois não estava com muita fome. Stevie surgiu do nada ao meu lado, todo feliz, então dei a fatia de bolo à ele, que a levou para algum lugar do lado de fora da casa.
- Café, meu bem? – Papai perguntou, aproximando-se com o bule azul.
- Claro. – Meneei a cabeça. – Obrigada.
Ele me serviu uma xícara e se sentou perto de mim. Cortou uma fatia de bolo e mordeu tranquilamente, e só voltou a falar depois de tê-la engolido.
- Sua cara está péssima. – Comentou casualmente.
- Valeu. – Sorri com ironia.
- Fruit Cove fica um pouco longe daqui. – Deu um gole em seu café. – Talvez eu devesse ter te deixado em casa.
Claro que não ia dizer ao meu pai que ir até Fruit Cove havia sido de grande ajuda no quesito distração, ele não precisava saber disso. Sendo assim, apenas sorri, respondendo:
- Não, tudo bem. – Balancei a cabeça. – Gostei de ter ido.
Ele assentiu, não parecendo ter muita certeza. Esperava ter conseguido desviar o foco da conversa, desejando a todo custo evitar falar do dia anterior, mas pelo visto papai não ia colaborar.
- E quanto à ontem? – Ele perguntou de repente.
- Ontem o quê? – Senti o nervosismo voltar. – Foi legal. Sério, pai, adorei Fruit Cove...
- Não. – Ele riu. – Estou falando de ontem à noite, depois que te deixei em casa.
- Ah! – Respirei aliviada, me permitindo rir também. – Eu estava exausta. Tomei um banho e acabei pegando no sono.
- não passou por aqui? – Papai franziu o cenho.
- ? – Fiquei confusa. – Não... Não enquanto eu estava acordada, pelo menos.
- Estranho. Ele perguntou por você ontem à noite, quando cheguei ao Rogers. – Disse. – Eu o dispensei do trabalho e falei que tinha te deixado em casa. saiu feito um furacão de lá, pensei que viesse te ver.
- Não. – Balancei a cabeça em negação. – Ele não veio.
Meu pai deu de ombros. – Talvez tenha mudado de ideia.
- É. Talvez. – Dei um gole no meu café.
Um silêncio estranho se instalou na cozinha. Papai deu mais duas mordidas em sua fatia de bolo e então me encarou.
- Posso perguntar uma coisa? – Ele perguntou.
- Claro. – Assenti distraidamente, enquanto brincava com as migalhas de bolo que haviam ficado em meu prato.
- Está tudo bem com vocês?
Levantei os olhos do prato para ele, pega de surpresa. Abri vagamente a boca, mas não disse nada. Meu pai estava certo: podia ser um pouco avoado, mas não era bobo. Baixei os olhos de novo, sabendo que não conseguiria mentir se o estivesse encarando.
- Por que a pergunta? – Eu disse, evitando uma resposta direta.
- Não sei, me parecia um pouco angustiado quando nos encontramos. – Papai fez um bico. – Pensei que talvez...
- Está tudo bem. – Respondi, medindo minha voz para que não soasse ansiosa demais. – Nós estamos bem. Acho que só nos desencontramos mesmo. – Tranquilizei-o. – devia estar cansado e deve ter ido para casa.
- Que bom. Fico feliz em ouvir isso. – Papai disse. – Fiquei um pouco preocupado porque, se quer mesmo saber, vocês dois formam um casal muito estranho.
Eu ri e ele me acompanhou.
- Mas, pra ser sincero, eu e sua mãe também não éramos lá muito convencionais...
E eu sabia que aquela seria uma boa e longa conversa.

- E aí, doçura. – plantou um beijo na minha bochecha quando abri a porta naquela tarde.
- . – Sorri, procurando mais alguém do lado de fora. – não vem?
- Falei com ele por telefone enquanto vinha pra cá. – Disse, entrando sem a mínima cerimônia e se jogando no sofá da sala. – Ele disse que se enrolou com umas coisas e pediu que começássemos sem ele... Se você não se importar, é claro. – Arqueou uma sobrancelha.
- Tudo bem. – Balancei a cabeça, já indo em direção à escada. – Vou pegar meu caderno.

Quando chegou à minha casa, eu e já havíamos pensado em boa parte do projeto. Algumas coisas ainda precisavam ser definidas e nada havia sido colocado em prática ainda, mas a base, pelo menos, parecia excelente.
- Oi pra vocês. – Ele disse entrando na sala e jogando sua mochila sobre o sofá. Se sentou ao meu lado no chão, em frente à mesa de centro cheia de papéis. – Oi, . – Disse.
- Oi, . – Respondi.
- Uau, a animação por aqui flui como as águas do Nilo. – , deitado no sofá, zombou. – Qual é a de vocês, hen?
Apesar da tensão, acabei rindo da brincadeira. também, e sorriu satisfeito.
- Cala a boca, seu inútil. – disse, mas não parecia nem um pouco irritado ou mesmo nervoso, como pensei que pudesse estar... Como eu estivera durante toda a manhã. Ele olhou para mim e sorriu, e eu imaginei que provavelmente tinha superestimado o efeito do beijo; o que era ótimo, porque não queria estragar minha amizade com por uma bobagem. Sorri de volta e comecei a remexer os papeis sobre a mesinha.
- Vamos voltar ao trabalho. – Decretei.

Terminamos de elaborar o projeto e colocar algumas coisas no papel, e combinamos de terminar a parte complicada do trabalho até a quarta-feira. Deixamos as mochilas e o resto em minha casa e fomos a pé até a praia, dar uma volta e comer alguma coisa.
- Esse negócio é inacreditavelmente gostoso! – Exclamei dando outra mordida em meu sanduíche de frango grelhado.
- Eu disse que era. – concordou, dando uma mordida no seu também.
- Ei, e então, já decidiram como vai acabar o namorico de vocês? – perguntou enquanto bebia sua água de coco. – Os senhores têm até amanhã, caso não se lembrem.
olhou para mim por alguns segundos antes de falar.
- A gente tinha pensado em uma coisa ou outra, sim. – Deu de ombros. – Mas, no fim das contas, optamos por algo meio que simples. – Explicou. – Eu fico muito ocupado com a banda, não tenho tempo para namorar sério, e a quer focar nos estudos.
- O tipo de coisa que acontece o tempo todo. – Assenti.
- E aí, o que você acha? – perguntou a .
- Acho que vai colar. – Ele deu de ombros.
- Acho que vou ter que dizer adeus às minhas folgas e meus jantares na casa dos Pie. – acrescentou para mim.
- Não aos jantares. – Sorri. – A menos que você queira.
- Vou tomar isso como um convite. – Ele sorriu também, olhando para frente.
estava distraído demais com uma garota que passava para nos ouvir.

- Tá... Qual o cachorro que adivinha o futuro? – perguntava enquanto caminhávamos de volta para casa.
O céu já era escuro agora, a noite estava particularmente agradável.
- Ah, não. Pelo amor de Deus... – começou a rir antes mesmo da resposta.
- Não tenho certeza se quero saber. – Ri também.
- Não sejam chatos. – sorriu. – Então ninguém sabe? – Ficamos calados, tentando não rir. – Bem, então lá vai: é o cão-guru.
sorria largamente, esperando que caíssemos na gargalhada. olhava para ele tentando se convencer de que realmente era aquilo, e eu trinquei os dentes para não lhe dar o gostinho da minha risada.
- Você é completamente retardado! – exclamou então.
- É, mas a quer rir! – Ele riu apontando para mim. – Vai, , anda! Eu sei que você me acha engraçado! – Cutucou minha barriga.
- , sai daqui! – Desatei a rir, escondendo-me atrás do .
- Chegamos, finalmente. – ergueu as mãos e olhou para o céu. – Obrigado, Senhor!
Pela janela, percebi que a luz estava apagada. Papai não devia estar em casa.
- Bom, vou pegar minhas coisas. – correu em direção à escada da varanda. – , você vai me levar lá em casa? Puft, por que estou perguntando? Claro que vai.
entrou em casa e olhou para mim. Sorri para ele, que sorriu de volta.
- E aí, como foi o passeio em Fruit Cove? – Perguntou com as mãos enfiadas nos bolsos.
- Foi divertido. – Respondi. – Conheci alguns amigos do meu pai e ele me contou umas histórias antigas, sem contar que o lugar é muito bonito também.
assentiu e ficamos em silêncio alguns segundos.
- Escuta... – Ele disse de repente. – Eu queria conversar com você sobre uma coisa.
- Ah, claro, sem problema. – Concordei prontamente. Imaginei que talvez fosse algo relacionado ao dia anterior. Talvez ainda precisássemos esclarecer algumas coisas. – A gente pode... Pode conversar.
- Você vai com a gente até a casa do ? Podemos conversar na volta...
- Com certeza. Tudo bem.
- Ótimo. Então é isso aí.
Nós dois parecíamos um pouco desconfortáveis, mas eu já esperava que essa conversa viesse em algum momento. Mesmo assim, ainda tomei um pouco de coragem para dar um meio sorriso para ele, que fez o mesmo.
abriu a porta, já com a mochila nas costas, trazendo um pirulito na boca.
- E então, vamos lá? – Perguntou. – Achei na geladeira, . – Apontou para a boca.
- Sem problema.
- Bom, tenho mais algumas charadinhas para vocês...
A casa de não ficava muito longe da minha, e nós caminharíamos até lá para pegar antigo carro de sua mãe, que agora pertencia à ele.
- Fala sério, não acredito que você vai começar de novo com isso. – Revirei os olhos.
- Então, o que é o que é... – Ele começou.
- Ei, , espera aí! – disse, chamando nossa atenção. – O que é aquilo? – Apontou para a esquina a alguns metros. – Aquela não é a Summer? – Estreitou os olhos.
Olhei na mesma direção que ele e então vi também. Summer Olsen mexia os ombros para cima e para baixo, amparada por Jodi Slaterton e Emma Hughes, uma de cada lado. Não dava para ter certeza àquela distância, mas parecia estar chorando.
- Ora, ora, se não é a rainha de Jacksonville Beach, seguida por suas novas damas de companhia. – murmurou, tão espantado quanto nós dois.
- É impressão minha ou elas estão vindo para cá? – franziu o cenho.
- Aconteceu alguma coisa. – Concluí. – Vamos! – Corri em direção à elas, seguida pelos dois.
Meu coração pulava descompassadamente. Só podia ter acontecido alguma coisa com . Um acidente, meu Deus, era isso. O pânico começou a tomar conta de mim e eu sabia que não conseguiria esconder o que sentia por ele se tivesse acontecido alguma coisa.
- Meninas, o que houve??? – Perguntei quando chegamos perto o suficiente. De fato, Summer estava chorando.
- ... – Jodi olhou para mim com ar grave. – Estávamos indo à sua casa agora mesmo.
- Qual o problema? – Perguntou preocupado. – O que houve, Sum?
Summer abriu a boca para responder, mas voltou a chorar.
- Summer? – Segurei a mão dela, tentando não demonstrar o medo que estava sentindo.
- , o Junior... – Ela sussurrou entre soluços. – O Junior terminou comigo.


🌴💚🌴

- Abre a porta, . – disse sério quando nos aproximamos da porta da minha casa. Summer estava agarrada à nós dois agora, e Jodi e Emma caminhavam inseguras e preocupadas atrás de nós.
destrancou a porta e nós entramos.
- Ainda bem que o Jack não está aqui. – disse angustiado.
- Mas vai chegar daqui a pouco. – lembrou.
- Desculpe ter vindo para cá, eu... – Summer soluçou de novo. – Não sabia para onde ir.
- Não tem problema. – Balancei a cabeça. – Vamos para o meu quarto.
Subimos as escadas e levamos Summer para o meu quarto. Me sentei com ela na cama, tentando tranquiliza-la. Os outros quatro ficaram de pé, olhando sem saber o que fazer.
- Calma, Summer, vai ficar tudo bem. – Eu disse. – Junior deve ter falado sem pensar.
- Não, , ele não falou. – Ela negou. – Nunca o vi tão certo de alguma coisa na vida. – Então irrompeu em lágrimas de novo. – Ai, meu Deus, eu pensei que estava tudo bem! – Me abraçou.
- Calma, calma... – Passei a mão em seu cabelo. – . – Fiz sinal para que ele se sentasse.
- Calma, Sum. – Ele disse assumindo meu posto. Summer o abraçou e pareceu realmente se acalmar um pouco. – Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Desci delicadamente da cama e puxei os outros três para o canto do quarto. Precisava tirar aquela história a limpo.
- Garotas, o que houve? – Perguntei nervosa.
- Eu estava em casa quando ela me ligou. – Emma começou. – Percebi de cara que estava meio estranha. Ela me perguntou onde você morava, mas fiquei preocupada e preferi ir até ela. Estava perto da casa do Junior, não muito longe da minha, e me contou mais ou menos o que houve. – Suspirou. – Ela ainda queria te ver, então peguei o carro da minha mãe emprestado para trazê-la aqui. Passei na casa de Jodi antes porque eu mesma estava assustada demais.
- Tentamos te ligar, mas você não atendeu o celular e eu não sabia o número da sua casa, por isso estávamos vindo para cá. – Jodi explicou.
De repente um alerta disparou em minha cabeça. Seria possível que tivesse contado a Summer tudo sobre nós? Por qual outro motivo eles terminariam, e por qual outro motivo ela viria direto para minha casa depois da briga? Respirei fundo e me sentei na cama de novo.
- Summer. – Toquei o ombro dela. Summer se soltou do abraço de e olhou para mim. Já havia parado de chorar, mas ainda fungava, e os olhos ainda estavam vermelhos. – Está melhor?
- Já estou, sim. – Esboçou um sorriso muito fraco. – Obrigada. Desculpe por tudo isso. Ah Deus, que vexame.
- Não precisa se desculpar, sua boba. – Dispensei. – O importante é que você já está melhor. – Sorri. – Quer me contar o que houve?
Ela respirou fundo antes de começar.
- Não sei explicar direito. – Disse, esforçando-se para não chorar de novo. – Num minuto estávamos bem, sentados no sofá da casa dele vendo televisão. Então ele olhou para mim e, totalmente do nada, se levantou e disse “Tem alguma coisa errada”. Não entendi a princípio, mas logo em seguida ele veio com uma história maluca de que não sabia o que estava fazendo, que não sabia mais o que queria, e, quando dei por mim, ele estava terminando comigo.
- Mas que canalha! – exclamou, assustando todos nós, menos Summer. Ele trazia um copo d’água, que entregou nas mãos dela. – Pra você.
- Obrigada. – Summer tocou o rosto dele com a mão delicada, sorrindo docemente.
- Disponha. – O garoto se juntou à nós de novo. olhou para ele de forma acusadora, sabendo que o amigo estava se aproveitando da situação. deu de ombros como se não fosse nada demais. – Summer, sem querer ser enxerido, mas por que você veio direto para cá? – Perguntou, possivelmente tendo em mente a mesma dúvida que eu. – Quer dizer, Amber e Jasmine...
- Amber e Jasmine iam me fazer sentir pior ainda. – Summer disse sem rodeios. – São minhas amigas e eu gosto delas, mas... Elas não me entendem. Seria horrível contar... Contar isso à elas. – Explicou. Então olhou para mim. – Mas eu precisava falar com alguém, e sabia que você, , seria capaz de entender. Sei que pode parecer estranho, porque a verdade é que mal nos conhecemos, mas me sinto tão bem quando falo com você. Você é como o . – Sorriu e estendeu a mão, que automaticamente segurou. – É doce e compreensiva, sempre disposta a ajudar. Pode me achar uma maluca, mas já te considero minha amiga. – Olhou para os outros três. – E agora tem também as meninas, que são pessoas maravilhosas, e o...
- . – Ele disse. – , às suas ordens.
- O , que é um amor. – Ela sorriu para ele. – E, além disso...
- O quê? – Perguntei quando ela ficou em silêncio.
- Você é amiga do Junior, . A única amiga garota que ele tem. Ele adora você, e vocês parecem se entender tão bem que... Pensei que talvez você pudesse saber o que está acontecendo.
Engoli em seco e fiquei em silêncio alguns instantes, tentando processar o que havia ouvido. havia enlouquecido e Summer estava na minha cama chorando, e a preocupação que eu estivera sentindo, de repente se transformava em outra coisa.
Segurei a mão dela e dei um sorriso tranquilizador.
- Summer, sinceramente, não sei o que houve com o Junior. – Admiti, e vi seu semblante cair um pouco. – Mas não se preocupe. – Disse, e um lampejo de esperança passou por seus olhos. – Prometo que vou descobrir.
me olhou confuso. Me levantei da cama e peguei o casaco que havia largado sobre a poltrona.
- Meninas, será que vocês podem ficar aqui com a Summer um pouquinho? – Perguntei. Jodi e Emma subiram na cama.
- Será que eu também... – começou.
Rolei os olhos. – Você também, . – Disse. também pulou em cima da cama.
Saí do quarto e foi atrás de mim.
- O que está fazendo?
- Vou descobrir o que está acontecendo. – Respondi, já descendo as escadas.
- ... – chamou enquanto me seguia.
- . – Eu disse firme. Ele pareceu contrariado, mas não deixei que começasse a falar. – Eu não me meti nessa mentira toda... Melhor: eu não nos meti nessa mentira toda só para agora o decidir, sem mais nem menos, terminar com a Summer por causa de um faniquito de crise existencial! – Disse o mais alto que podia sem que ninguém lá em cima pudesse ouvir. – Eu vou à casa dele.
- Então eu vou com você.
- Ele não vai falar nada se você estiver por perto. – Segurei seu braço. – Preciso saber o motivo de todo esse escarcéu e consertar isso. Tenho que falar com ele.
deu um suspiro irritado. Sabia que estava travando uma batalha interior entre me apoiar ou não. Por fim, o lado certo venceu.
- Ele mora no centro, perto do Golf Club. Lower 8th Ave Street, número 5. – Tirou algo prateado do bolso e estendeu em minha direção. – Pode ir com meu carro, mas tome cuidado.
- Obrigada, . – Assenti, e então saí correndo.


🌴💚🌴

- Aquele filho da puta! – Eu xingava enquanto falava ao telefone com Sofia. Tinha colocado no modo alto-falante e deixado o celular sobre o banco do carona. – Eu vou arrebentar a cara dele! O que ele pensa da vida?
- Realmente, ele merece uma surra muito bem dada. – Sofia concordou. – Mas você precisa se acalmar; está dirigindo, e também não pode invadir a casa dele desse jeito.
- Sofia, eu sei, mas... – Suspirei indignada. – O enlouqueceu? Ele não pode simplesmente terminar com aquela garota assim depois de todo o trabalho que eu tive!
- Não acho que esse término seja tão sério assim.
- Como assim? – Perguntei enquanto curvava.
- Bom, fazendo bom uso das habilidades que farão de mim uma boa psicóloga um dia... – Deu um suspiro profundo. – Acho que está apenas confuso. Sua chegada mexeu com a cabeça dele, e sua proximidade o fez questionar os sentimentos que nutre pela Summer. – Explicou. – Converse com ele, mas não se preocupe tanto: deixe as coisas continuarem normalmente. Talvez seu namoro com o tenha deixado mais confuso ainda, então explique à ele que era parte da farsa. vai se acalmar, e tenho certeza que em menos de uma semana já terá voltado com a Miss Flórida.
- Você acha mesmo? – Perguntei meio insegura.
- Hanram. – Sofia riu. – Confie em mim.
- Vou tentar. – Respirei fundo, tirando o pé do acelerador. – Acho que cheguei.
- Tudo bem, nos falamos depois. – Ela disse. – Mas, ...
- O que foi? – Peguei o celular e desci do carro.
- Como foi beijar o ?
- Vai pra merda.
Sofia riu e desliguei o celular. Então era isso. Eu ia entrar e resolver o problema. Talvez minha prima estivesse certa. Talvez fosse bem fácil.
Toquei a campainha e esperei alguns segundos. Então ele abriu a porta, sem camisa, usando simplesmente uma bermuda cinza. Primeiro pareceu surpreso, talvez assustado; depois seus olhos se iluminaram e ele sorriu.
- . – Disse docemente.
- Você é um filho da mãe egoísta. – Soltei entredentes. – Temos que conversar, . Agora.
Ele balançou a cabeça, a expressão um pouco mais séria.
- Pode entrar, eu estou sozinho aqui. – Deu um passo para o lado.
Entrei como um furacão na casa. Não consegui evitar a lembrança de todas as vezes que, durante as férias, me imaginei conhecendo aquela casa. Claro, na minha inocente imaginação, eu esperava entrar na residência dos como amiga, talvez até namorada, do , e não naquela situação bizarra. Isso só me deixou com ainda mais raiva.
- Que diabos você estava pensando?! – Perguntei irritada quando ele fechou a porta.
- Do que está falando? – Ele perguntou tranquilamente. parecia tão em paz que eu estava quase me perguntando se havia entrado na casa certa. O contraste com a reação de Summer era absurdo.
- Do que estou falando?? – Exclamei incrédula. – Você terminou com a Summer!
- Ah... Isso. – Ele ficou pensativo. – É, terminei com a Summer.
- E não tem nada à dizer sobre isso? – Coloquei as mãos na cintura, sem acreditar na cara-de-pau dele.
- O que você quer que eu diga? – De repente, ele pareceu impaciente também. – Que, apesar da separação, vou cumprir com as minhas obrigações e pagar a pensão? – Fez uma voz afetada e se sentou no sofá, mas ao ver minha reação pareceu se arrepender. – Desculpe. Péssima hora para brincadeiras.
- , por que está fazendo isso agora? – Me sentei no outro sofá, de frente para ele, e cobri o rosto com as mãos. – Pensei que estivesse tudo bem. Inventamos toda aquela história para que ficasse tudo bem entre você e ela...
- Eu sei. – Ele estendeu sua mão e segurou a minha. Não protestei. – Sei que tem dado o sangue por isso, o quanto tem sido difícil pra você... – Soltou minha mão e se levantou. – Mas tem sido difícil pra mim também, .
- Difícil para você? – Repeti confusa.
Ele assentiu.
– Sabe, namoro com a Summer há bastante tempo e ela é uma garota incrível, em todos os sentidos da palavra. – Disse, e eu meneei a cabeça indicando que estava entendendo. – Sempre pensei que ela fosse a garota dos meus sonhos, por isso ficava tão chateado quando ela me deixava aqui e ia viajar à trabalho... Tinha a sensação de que ela não gostava tanto de mim quanto eu dela. E claro, eu tinha outras ocupações também... Eu tenho meus próprios sonhos, meus próprios planos. Mas nada parecia mais importante do que ela. Eu não conseguia nem pensar em ficar com outra garota, mas estava ficando cansado de todas as brigas, e aí conheci você.
- , eu estou... – Comecei, mas fui interrompida.
- Você virou minha vida de cabeça para baixo, . – Ele disse sorrindo. – Tudo que eu pensava que sentia... – Suspirou. – No começo pensei que o que eu sentia por você fosse parecido com o que sentia pela Summer antes de começarmos a brigar, mas então entendi que não. – Animou-se. – O que sinto por você é totalmente diferente, . Não é paixão cega, não é dependência ou encantamento... É leve, é doce, é bom. Você desperta o meu melhor lado, .
Eu estava completamente atordoada, sem saber como reagir.
- Isso quer dizer que você gosta de mim? – Perguntei, totalmente perdida.
riu, ponderou, e então sorriu.
- Não sei. – Ele disse, dando de ombros. – Não faço a mínima ideia. Mas sei que, para o meu próprio bem, preciso descobrir, e não vou conseguir fazer isso se estiver namorando a Summer.
Um sorriso começou a se formar em meu rosto, mas eu o controlei, lembrando-me dos alertas de durante os dias anteriores e do que Sofia havia dito enquanto eu estava no carro.
- , eu preciso te contar que... – Ia falar, mas então, quando vi sorrindo feito uma criança, parei.
O que eu estava fazendo?
Eu tinha saído de Denver na esperança de reencontrar aquele garoto. Reencontrei, só para depois descobrir que ele namorava a garota mais bonita da cidade. E agora, depois de ter chorado e quase enlouquecido, eu o ouvia dizer que tinha terminado com ela por causa do que sentia por mim, e então eu o incentivava a esquecer tudo e voltar a fingir que mal me conhecia? Que espécie idiotice era aquela?
Só então me dei conta de que não queria que e Summer voltassem. Eu queria que eles continuassem separados, queria que ele ficasse comigo. Era o que ele estava quase fazendo, afinal de contas, não era?
E então, como a maldição de um conto de fadas, as palavras de Sofia ecoaram em minha mente:
vai se acalmar, e tenho certeza que em menos de uma semana já terá voltado com a Miss Flórida.”
Sofia estava certa. estava passando por um momento de insegurança. O mais provável era que logo percebesse que só estava confuso, e então voltasse para Summer. Quando descobrisse que meu namoro com era uma farsa, então, parte da imagem doce e correta que ele tinha de mim se desfaria, e ele perceberia que eu não era a heroína vinda de uma terra distante que ele pensava.
“Talvez seu namoro com o tenha deixado mais confuso ainda...”
Ouvi a voz de Sofia dizer de novo em minha cabeça.
Mas se a confusão era o que tinha nos levado até aquele ponto, então ele só precisava ficar confuso por tempo o suficiente para perceber que realmente não gostava da Summer.
E foi aí que eu mudei de ideia.
- , meu namoro com é muito importante para mim. – Me ouvi dizer. – Não posso, não quero e não vou terminar com ele assim.
continuou sorrindo, dando de ombros novamente.
- Não precisa terminar... – Disse. – Mas não vou mudar de ideia apenas por isso. – Seu olhar era confiante. – Se eu posso estar enganado sobre o que sinto por Summer, então você também pode estar enganada pelo que sente sobre o . Vamos deixar o tempo dizer.

Depois de trocar mais algumas palavras com , deixei a casa número 5 da Lower 8th Ave Street, permitindo-me dar o sorriso que vinha contendo. Enquanto ia em direção ao carro, me lembrei da conversa que tivera com sobre os seus pais, dias atrás. havia dito que não acreditava que uma terceira pessoa pudesse causar algum impacto em uma relação de duas pessoas que se gostassem realmente, e eu concordava com ele. estivera certo ao dizer a Summer que havia alguma coisa errada. Claro que havia. Ele já havia chegado à conclusão mais difícil sozinho. Agora eu só precisava fazer com que ele descobrisse qual era o erro.


🌴💚🌴

- , você voltou! – Emma levantou da cama e se aproximou de mim quando cheguei.
- É, eu voltei. – Assenti com um sorriso preocupado, me sentando na beirada da cama.
Jodi sorriu para mim, permaneceu calado. estava atento, mas também não disse nada.
- E então, ? – Summer segurou minhas mãos, ainda aflita. – O que ele disse?
Suspirei com pesar.
- Ele está muito confuso, Summer. De verdade. – Passei a mão pelo longo cabelo louro. – Não consegui fazê-lo repensar nem nada do tipo. – Disse. Senti que os ombros de Summer caíram um pouco, e vi seus olhos se encherem de lágrimas de novo. Ela me abraçou e eu deixei que chorasse por alguns minutos. olhava fixamente para mim, estudando meu comportamento, tentando descobrir o que tinha acontecido e o que havia de diferente na minha voz, no meu olhar. Olhei para ele de volta, negando a resposta que buscava. Mais tarde ele teria de lidar com isso, não naquele momento.
- Desculpe. – Summer murmurou. – Você não precisava ter ido até lá... – Enxugou as lágrimas. – Você não tem nada com isso. – Respirou fundo. – Obrigada, . De verdade.
- Shhh. – Balancei a cabeça, sorrindo ternamente. – Não se preocupe com isso agora. – A abracei de novo. – Logo, logo estará tudo bem. – Disse. – Em breve as coisas vão entrar nos eixos.



13- I should know

“That you're not gonna change…”

[…]

POV

- Desculpe por tudo isso. De verdade. – Summer repetiu pela milésima vez quando a levamos para casa.
- Não precisa se desculpar, Sum. – Olhei para ela pelo retrovisor.
- Está tudo bem. – , que estava para lá de esquisita desde que voltara da casa do Junior, apertou a mão da garota. – Não precisa dizer nada. Nós entendemos.
Summer estendeu a mão para abrir a porta do carro.
- Espera aí! – desceu do automóvel num pulo e abriu a porta antes dela. – Agora sim.
- Você é ótimo, . – Ela riu, apertando a bochecha que eu sabia que ele nunca mais ia querer lavar.
- Se precisar de qualquer coisa... – Ele tratou de se oferecer.
- Pode deixar. – A garota sorriu. Em seguida, se apoiou na janela do carona. – ... – Inclinou a cabeça para o lado. – Sabe que eu te amo, não sabe? – Perguntou com voz doce. Dei um sorriso de volta. – ... – Continuou, mirando agora o banco de trás do carro. – Eu estava certa em te considerar minha amiga.
Minha namorada piscou nervosamente duas vezes, e então sorriu.
- Não se preocupe. – Disse. – Vai ficar tudo bem.
Com isso, Summer passou a mão pelo longo cabelo louro e respirou fundo uma vez, caminhando, com a classe habitual, em direção à enorme casa branca do outro lado da rua. só entrou no carro novamente depois que ela já tinha entrado em casa.
- Estão ouvindo esse coro de anjos? – Ele suspirou colocando a mão no peito.
Pisei de leve no acelerador, saindo sem pressa da San Maarten Ct. estava totalmente abobalhado, e parecia não ter planos de falar nada. O jeito como ela me olhava a cada cinco minutos, no entanto, já estava começando a me deixar nervoso. Havia reparado o quanto ela havia sido evasiva quando contava o que tinha falado com Junior, e tinha certeza de que alguma bomba ainda estava por vir.
- Por que está tão calada? – Perguntei enquanto entrava na rua principal. Ela estava olhando pela janela e não respondeu. – ?
- Ah, oi. – Ela acordou dos pensamentos. – Sim? Falou comigo?
- Por que não está falando nada? – Arqueei uma sobrancelha. – Pensei que estivesse só esperando Summer ir embora para começar a amaldiçoar o .
- Hunrum. – Deu um sorriso nervoso e não respondeu.
deixou um pouco de lado seu encantamento para entrar na conversa.
- Vejam só que coincidência: vocês quatro terminando o namoro no mesmo final de semana. – Riu. – E pensar que o namoro de vocês só começou para que o deles não acabasse...
- e eu não podemos mais terminar. – disse então, fazendo com que eu quase tivesse uma síncope.
Joguei o carro para o acostamento e freei bruscamente, fazendo bater as costas com força no banco.
- Cara, você precisa parar de fazer isso! – Ele gritou. – Se continuar desse jeito estará sem carteira antes mesmo do natal!
estava assustada também, mas eu sabia que estava bem mais preocupada com a minha reação do que com a parada brusca em si.
- Como assim a gente não pode terminar?! – Perguntei com voz estridente.
- Bom... Essa é uma longa história. – Ela deu um sorrisinho, mas logo arregalou os olhos de novo, em pânico.
Respirei fundo e contei mentalmente até cinco.
- , desce do carro agora. – Eu disse.
- Como é que é?! – Ele exclamou. – Primeiro você quase me mata e agora me expulsa do seu carro???
- Agora, . – Enfatizei. – Nem estamos tão longe assim da sua casa.
- Tá bom, beleza! – Irritado, ele tirou o cinto. – Fiquem aí com a história maluca de vocês. Eu vou sozinho!
se pôs a marchar na direção em que ficava sua rua. Poucas vezes eu o havia visto tão chateado, mas teria que me entender com ele depois.
- ... – olhou para ele com preocupação. – Acho que a gente devia...
- Do cuido eu, . – Cortei. – Preocupe-se com a explicação que você vai ter que me dar.
Ela engoliu em seco e desviou o olhar.
- Vamos pra casa.

🌴💚🌴


A essa altura você deve pensar que eu sou um idiota. Afinal, há apenas um dia eu estava correndo feito um louco até a casa da para contar o que estava sentindo. Agora ela dizia que não queria mais terminar comigo e eu ficava bravo? Qual era o meu problema?
Acontece que eu já conhecia a bem o suficiente para saber que tinha alguma coisa muito errada naquela história. Com toda certeza, o aviso dela de que não terminaríamos o namoro não se tratava uma declaração de amor. Aquilo só podia fazer parte de outro plano, e eu tinha certeza absoluta de que ela o tinha feito depois de sair da casa do Junior.
- Comece a explicar que espécie de ideia infernal você tem na cabeça agora. – Foi o que eu disse assim que pisamos no parquinho em frente a casa dela.
- ... – Ela começou com aquela voz melosa. Mas dessa vez eu não ia cair.
- Por que disse que não vamos mais terminar?
- Nós... Nós não podemos. – Disse aflita. – O Junior, ele...
- O Junior, o Junior! – Exclamei irritado. – O que tem o Junior dessa vez??
- O Junior enlouqueceu, ! – Ela gritou, mas se arrependeu imediatamente e olhou para os lados, certificando-se que ninguém tinha ouvido.
Jodi morava do outro lado do parque e, apesar de a termos deixado em casa antes de levarmos Summer, não dava para ter certeza de que não estaria do lado de fora naquele exato momento.
- Ele terminou com a Summer porque não sabe se gosta dela ou de mim. – continuou explicando, agora em voz baixa.
- E o que o nosso namoro tem a ver com isso? – Franzi o cenho.
- Tem tudo a ver! – Exclamou como se fosse óbvio. – Nosso namoro foi exatamente o que provocou o surto do .
- Se é assim, que sentido faz a gente continuar namorando? Isso só o deixaria com ainda mais ciúmes. Não haja como se não soubesse disso.
ficou séria, puxando meu braço e aproximando o rosto do meu. Fui pego de supetão, e agradeci mentalmente a Deus por já ser noite e ela não poder me ver enrubescer.
- Meu pai abriu a porta e está vindo para cá. – Ela sussurrou olhando sobre meu ombro. – Deve ter ouvido nossos gritos.
- Meninos, está tudo bem com vocês? – Ouvi Jack gritar e virei para trás. Ele tinha parado antes de entrar no parquinho, e estava estreitando os olhos para nos ver.
- Está tudo bem, pai! – gritou. – Vou entrar daqui a pouco.
- ? – Ele chamou, pedindo confirmação.
Olhei bem para ela e fiz cara feia antes de responder.
- Tudo bem, Jack. – Eu disse.
Jack não respondeu. Segundos depois ouvimos a porta bater. Soltei o ar que estava prendendo. deixou a testa encostar-se ao meu peito, respirando aliviada.
- Se terminarmos agora, tudo terá sido em vão. – Sussurrou em minha camisa. – vai pensar que terminei com você pra ficar com ele... Summer vai descobrir tudo. Não sei como a situação ficaria para Jodi e Emma, visto que eu mesma pedi a Summer que as ajudasse. E a vida do no time se tornaria um inferno. – Ela olhou para mim, a expressão suplicante. – Nós não podemos... – Deixou a frase morrer. – Não agora.
Eu sabia que estava certa sobre tudo o que dizia, mas, mesmo assim, não tinha certeza de que aqueles eram os únicos motivos para ela querer continuar o namoro. Desconfiava de que havia muito mais naquilo tudo, ela só não queria (e nem iria) me falar.
- Tudo bem. – Por fim, eu disse em voz baixa.
- Obrigado. – Ela murmurou. – Muito ob...
- Espera, . – Cortei. – Antes de combinarmos qualquer coisa, vamos estabelecer uma coisa. A mentira pode até continuar, mas, daqui por diante, eu é que vou dar as regras.
- Você já não está fazendo isso? – Ela franziu o cenho e cruzou os braços, dando um passo para trás.
- Não, claro que não. – Balancei a cabeça. – Até agora, eu é que tenho feito o papel de seu namorado, mas daqui por diante algumas coisas vão mudar. A partir de agora, Pie, você é que será a namorada de .

🌴💚🌴


- Pra começo de conversa, chega de sentar com a turma da Summer.
Na noite anterior, encerrei minha conversa com não muito depois que Jack entrou em casa. Disse a ela que pensaria no que aceitaria ou não dali para frente, e se tinha alguma exigência a fazer, e que conversaríamos de novo no dia seguinte. Agora estávamos na mesma praia onde toda a história tinha começado.
- O que tem de errado com a mesa da Summer?? – protestou.
- Odeio aquele lugar. – Fiz careta. Ela abriu a boca, mas balancei o dedo negativamente. – Só no caso de você não se lembrar: Summer é minha amiga de infância. Se eu quisesse me sentar com eles, já estaria me sentando há muito tempo, mas, como você pode perceber, nunca tive vontade, e não é agora que terei. Não vamos ficar lá a menos que eu, por algum motivo qualquer, queira fazer isso. Ponto.
bateu o pé no chão com impaciência.
- Não nascemos grudados. – Deixei claro. – Você pode sentar lá sozinha, se quiser.
Ela fez careta, mas não reclamou. – O que mais, capitão? – Perguntou.
Apesar de não ter dito com todas as letras, estava muito aliviada por eu não ter me recusado a ajuda-la. Eu poderia dizer que parecia até mesmo um pouco ansiosa; o que era muito curioso, considerando que a situação não deixava de ser complicada.
- Se quiser que eu participe de qualquer atividade que não seja do meu interesse e que exija desembolso, tal qual cinema, jantar etc, é você quem vai pagar. – Avisei. – Essa regra é de extrema importância.
- Não te fiz gastar nenhum centavo até agora, . – Ela pôs as mãos na cintura.
- me ensinou que temos que pensar nas eventualidades. Continuando... Também vai ter que parar de queimar meu filme me fazendo parecer um bobão apaixonado.
- Não te faço parecer tão bobo assim... – Ela se defendeu, mas arqueei as sobrancelhas como se dissesse “sério?” e ela encolheu os ombros. – Tá. O que mais?
- Bom, tem mais uma regra muito importante... Não pode sair sozinha com o Junior.
- Mas o quê?! – Ela se levantou da areia. – Como assim não posso sair sozinha com o ?! Isso é absurdo!
- Sabe, quando Rosana Wayans passou por nós na semana passada e eu simplesmente olhei, você quase arrancou meus olhos porque disse que não queria que ninguém pensasse que eu traí você, e eu vou te dizer a mesma coisa agora! – Eu disse, bem quando duas senhoras passaram por nós, caminhando tranquilamente na areia branca. Uma delas balançou a cabeça, provavelmente pensando que não passávamos de um casal normal discutindo. Esperei que as duas se afastassem um pouco antes de continuar. – Se seu querido terminou com a Summer usando essa desculpa esfarrapada de “não sei de quem eu realmente gosto”, é óbvio que vai começar a dar em cima de você, e eu não preciso, e nem quero, ficar marcado como “O Cara que foi Corneado por Junior ” no meu último ano naquela maldita escola.
- Mas e se for necessário? E se eu precisar falar alguma coisa com ele? – Sugeriu. – Afinal, mesmo que não saiba sobre a nossa mentira, – Gesticulou de mim para ela. – faz parte da farsa geral, aquela sobre eu e ele sermos só amiguinhos, e ele também pensa que você não sabe nada sobre isso.
- Você tem uma matéria com ele, não tem? – Argumentei. – Fale com ele na aula, fale com ele no horário de almoço, ou onde quer que você queira falar. Se a turma dele te convidar pra sair, tudo bem. Mas se eu não posso sair com nenhuma outra garota, então você também não vai ficar batendo perna pela cidade com ele.
- Ok. – Ela bufou. – Já acabou?
- Já. – Assenti. – E as regras que dei na semana passada permanecem.
começou a limpar o short jeans, preparando-se para deixar a praia, e eu voltei a falar.
- , tem mais uma coisa. – Eu disse. Ela esperou. – Tem que me prometer que não vai me meter em mais nenhuma loucura dessas sem me avisar antes.
A expressão em seu rosto se suavizou; ela deu um passo a frente e segurou minha mão.
- Eu prometo. – Disse. – Nunca mais. – Sorriu e me deu beijo na bochecha. – Obrigada por me ajudar; você é o melhor namorado do mundo.
- Eu sei. – Sorri de volta, e ela me deu um empurrão.
Na verdade, todos os argumentos que usara para me convencer a continuar o namoro tinham tido um peso muito pequeno em minha decisão, se comparados a minha própria vontade de continuar. De fato, eu não confiava nem um pouco no Junior e não ia deixar o caminho livre para ele justo agora. Sem chance disso.
estava certo desde o começo: eu estava tentando salvar a . não ia fazer de novo o que já tinha feito uma vez.
- Vai almoçar lá em casa? – Ela perguntou. – Vou fazer frango assado.
- Não, hoje não vai dar. – Balancei a cabeça. – Vou fazer uma visita ao meu melhor amigo; e espero que ele não me expulse da casa dele como o expulsei do meu carro.

🌴💚🌴


- Oi, tia Diana. – Sorri quando a mãe de abriu a porta para mim. – Tudo bem?
- Oi, ! – Ela sorriu também, limpando as mãos no avental. – Entre, querido. – Passou um braço sobre os meus ombros enquanto entrávamos em casa. – Estou ótima. E você? Não tem vindo muito aqui nos últimos dias...
- Bom, é que...
- Acontece, mãe, – surgiu de repente. – que agora está namorando, e não tem mais tempo para nada; nem mesmo para levar o melhor amigo dele em casa no meio da noite.
Claro, , para variar, estava fazendo uma tempestade em uma tampinha de garrafa, mas isso não ia me tirar do sério. Sabia que ele tinha ficado realmente chateado por eu tê-lo mandado descer do carro na noite anterior, e sabia que devia um pedido de desculpas por aquilo.
- E aí, cara? – Eu disse. – Trouxe aquele jogo novo de que eu falei. Quer testar?
- Tanto faz. – balançou a cabeça, indo em direção ao seu quarto. Eu o segui.
O quarto de era sempre uma bagunça notável: pelo estado dos lençóis, sempre parecia que ele tinha acabado de acordar; havia HQ’s espalhadas sobre a escrivaninha e a cama, e pilhas de revistas sobre curiosidades que ele lia e relia constantemente; além disso, havia pacotes de biscoito e papeis de bala em lugares inimagináveis, e os pôsteres de filmes e animações (quase todos já remendados) viviam soltando das paredes.
Eu poderia dizer que a única ocasião em que arrumava seu quarto era quando estava chateado por alguma coisa; que nessas ocasiões ele organizava tudo metódica e obsessivamente. Mas isso seria mentira.
Sendo assim, quando entrei no quarto, o lugar estava o mesmo lixo de sempre.
- Tá jogando Halo? – Perguntei.
- Quem liga? – devolveu mal-humorado, sentando-se no puff em frente à TV e tirando o jogo do pause. – Com toda certeza, você não. Deve ter muitos assuntos pra resolver com sua namoradinha. Assuntos dos quais eu não posso participar, e que não podem esperar nem cinco minutos.
Revirei os olhos e puxei a cadeira da escrivaninha, colocando-a do lado dele; peguei o outro controle do chão e entrei no jogo.
- . – Eu disse sem olhar para ele. – Você sabe muito bem que está exagerando...
- Isso não diminui sua cretinice. – Ele também não parou de jogar enquanto falava.
- Eu sei, mas... – Bufei, quase sendo atingido no jogo. – Cara, você viu o que a fez. E eu estava realmente muito puto ontem. Você tem que relevar.
- E se eu não quiser relevar? – Balançou a cabeça enquanto dava uma sequência de tiros. – A questão, , é que, desde que toda essa história insana começou, você tem andado mais nervosinho que de costume, e olha que você já é bem nervosinho normalmente. Também tem falado sobre a mesma coisa mil vezes por dia, e mal ouve o que os outros falam com você. – Bufou. – E sabe quem tem te aturado sem reclamar? Pois é: eu, o melhor amigo bacana e compreensivo. E tudo porque eu sei que você está completamente apaixonado pela louca da (de quem eu gosto muito, por sinal; não pense que a odeio ou coisa do tipo).
- Não é como se você não tivesse ganhado nada com isso tudo. – Franzi o cenho para a TV. – Afinal, não te vejo reclamando da atenção que ganha da Amber.
- , você já viu Amber Halley usando o uniforme da torcida? – Perguntou indignado. – É lógico que eu não vou reclamar! – Exclamou. – Eu não ligo de te ajudar, cara. Você é meu melhor amigo, e eu não tenho praticamente amigo nenhum, por algum motivo que não faço ideia de qual seja.
Olhei de soslaio para ele, imaginando umas cem respostas possíveis para sua dúvida, mas preferi não estragar seu desabafo.
- Pra ser bem sincero (e não vá ficar irritado comigo por isso), tenho me divertido muito com toda essa situação. E tenho, sim, ganhado muito com tudo isso. – Admitiu. – Tudo que eu queria era que você não descontasse em mim toda vez que a apronta uma das dela. Até porque, ela está sempre aprontando, então...
- Certo, chega de descontar. – Concordei, finalizando o jogo. – Foi mal por ontem, . – Olhei para ele. – E por tudo o que eu tenho feito ou dito sem pensar.
Ele olhou para mim ainda sério, balançou a cabeça e se levantou. Por um segundo pensei que ele fosse continuar irritado, e me arrependi de não tê-lo chamado de volta na noite anterior, quando desceu do carro.
Então ele parou na soleira da porta e gritou:
- Mãe, põe mais água no feijão! – Olhou pra mim e completou com um meio sorriso. – Esse idiota vai almoçar aqui.


14- All my life I’ve been good, but now

“Oh, I’m thinking ‘What the hell!’”


[…]

Acordei na segunda-feira com o melhor humor do mundo, e não demorei mais que um minuto para me levantar da cama, jogando todos os lençóis para o alto. Stevie, que estava deitado no tapete roxo, levantou a cabeça e grunhiu.
- Bom dia, bebezão! – Ri, descendo da cama e fazendo cócegas nele. Stevie virou de barriga para cima, todo contente. – Você é um garoto lindo, não é? – Sorri. E então tive uma ideia. – Quer saber? – Perguntei me levantando. – Vou te dar um presente.
Fui até o pequeno guardarroupa branco no canto do quarto e tirei dele um travesseiro com fronha azul-claro. Sacudi o travesseiro no alto e Stevie se levantou, latindo com empolgação.
- Isso aqui é pra você, Stevie! – Coloquei o travesseiro no chão. Stevie o cheirou por alguns segundos, depois o agarrou com a boca e levou para o tapete roxo onde ficava, parecendo extremamente satisfeito. Me aproximei ainda rindo, e fiz carinho no pelo brilhante.
- Nós dois vamos mudar de vida, bebezão. – Eu disse. – Você ganha um travesseiro, e eu... – Me levantei e fui em direção ao corredor. – Bem, eu vou ganhar um namorado! – Ri.

Vesti uma calça jeans e minha camiseta azul de botões. Coloquei no braço a pulseira do , que tirara só para tomar um banho. Arrumei e desarrumei meu cabelo metodicamente, e só então desci para comer alguma coisa.
Enquanto descia as escadas, me lembrei que não tinha contado nada à Sofia sobre o que tinha decidido fazer. Bem, nem ia fazê-lo tão cedo. Estava tudo funcionando tão bem na teoria, não queria que ela jogasse uma praga no meu plano.
- Olha só quem acordou. – Ele disse.
Sorri ao encontrar ali, sentado tranquilamente à mesa, com um jornal nas mãos. Ele parecia estar de bom humor também, e à sua frente havia um copo de suco que supus ser de maracujá.
- Bom dia. – Me aproximei e beijei sua bochecha. – Que milagre o senhor por aqui.
- Vim lhe trazer este humilde presente. – Jogou o jornal sobre a mesa. – E beber uma xícara de café também, mas só tinha suco. – Sorriu cruzando as mãos sob o queixo.
- Pra quem não queria nada disso, você até que está se saindo um ótimo namorado. – Pisquei para ele, falando em voz baixa. – Traz o jornal, me busca em casa. Meu pai tem sorte em ser seu sogro.
- Gosto de fazer meu trabalho direito. – Deu um sorriso torto. – E falando no velho...
Meu pai, vindo de seu quarto, entrou na cozinha. Parecia exausto, mas tinha o mesmo semblante leve de costume, e sorriu ao nos ver.
- Filhota. – Me deu um beijo no topo da cabeça.
- Oi, paizinho.
- A noite ontem foi cansativa. – Papai se sentou e apoiou a testa na mesa, fechando os olhos. – A casa estava cheia. Nunca a vi tão cheia num domingo.
- Faz parte do efeito Miguel. – Ri, peguei um pedaço de morango da tigelinha na mesa e coloquei na boca.
- Tem razão. – Ele assentiu. – As garotas estavam em frenesi.
Fiquei feliz por ouvir aquilo, e também estava ansiosa para encontrar o Miguel. Meu pai havia lhe ensinado de tudo, mais ou menos da mesma forma que estava fazendo com o agora, e ele sempre fora talentosíssimo. Nós o conhecemos em uma viagem ao Novo México, e ele tinha quinze anos na época, enquanto eu, só seis (pouco antes dos meus pais se separarem, e ele me ajudou um bocado a passar por aquela fase). Durante anos Miguel fora como um irmão mais velho para mim, mas eu não o via já tinha um tempo agora, e estava morrendo de saudades.
- Bom, acho que a gente tem que ir. – Bati palminhas.
- Já? – arqueou a sobrancelha. – Você nem tomou café, menina.
Revirei os olhos, enchi um copo de suco e bebi tudo de uma vez, peguei outro morango e mordi. Abri um sorriso e chutei o pé da cadeira em que ele estava sentado.
- Nem estou com fome assim. – Choraminguei. – Vamos de uma vez!
O garoto balançou a cabeça em reprovação, mas deu de ombros e pegou a mochila do chão.
- Até mais, Jack. – Disse indo em direção à porta.
- Estudem bastante, meninos. – Meu pai murmurou em meio a um bocejo. – Eu vou voltar pra cama.

- Pensei que íamos direto para a escola. – Estranhei quando percebi o caminho que seguíamos. – Vamos buscar o ? – Sorri. – Fizeram as pazes?
- Podemos dizer que sim. – sorriu de volta. – pode até ser dramático e exagerado, mas tinha bons motivos para estar chateado.
- No plural? Pensei que tinha sido só pelo carro. – Comentei observando a paisagem do lado de fora. De nós três, era quem morava mais perto da praia, e havia muito menos árvores em seu bairro. O sol ainda estava morno àquela hora da manhã, um clima delicioso. Pensei numa possibilidade e cutuquei a barriga de . – O que você aprontou, ? – Brinquei. – Não está pensando em roubar Amber Hayley dele, não é? Não me decepcione!
- E você não está com ciúmes, está? – Perguntou com uma voz divertida.
- Claro que não, namoradinho. – Sorri. – Mas nós temos um trato, e eu não quero correr riscos.
- Não se preocupe, isso não vai acontecer. – disse enquanto parava o carro em frente a casa. A porta da frente se abriu e o garoto acenou com um sorriso no rosto. – O trato não será quebrado. Até por que...
- Até por que eu vou cuidar para que isso não aconteça. Bom dia a todos. – disse entrando no carro. – Por nenhuma das duas partes, . – Acrescentou.
- O que quer dizer com isso? – Perguntei com um leve toque de preocupação.
deu uma risadinha. deu um sorriso iluminado e estendeu a mão para que eu a apertasse antes de responder.
- , às suas ordens. – Ele disse todo contente. – Sou sua nova babá.

- É totalmente ultrajante que vocês pensem que eu preciso de vigilância. – Reclamei quando descemos do carro. jogou um braço sobre os meus ombros e nós três fomos em direção ao primeiro prédio.
- Não é nada pessoal, mas não quero que meu cliente saia prejudicado nessa história. – explicou, todo cortês. – Além disso, é uma questão de interesses. não quer ser corneado; você não quer que Summer descubra a verdade; eu não quero parar de sair com a Amber ou/e ser expulso do time. É tudo muito simples.
- E quem vai vigiar o seu cliente, ? – Perguntei irritada.
- Por favor, não precisa de vigilância! – balançou a cabeça e fez uma careta, dispensando a possibilidade enquanto entrávamos no corredor aberto da Jacksonville High. – Ele é totalmente apaixonado por você; nem pensaria em sair com outra garota.
- Isso é verdade. – sorriu pra mim. E olhando ele de tão perto, eu quase pude entender porque Jodi e Emma sempre se derretiam quando ele fazia isso. O pateta realmente tinha um sorriso lindo. – A menos que fosse a Rosana Wayans. – Completou, quebrando totalmente a fofura do momento. – Se a Rosana Wayans aparecesse na minha casa...
Fiz careta e ele riu.
- E que tal a Becca Monroe? – sugeriu.
- Quem sabe? – deu de ombros.
- E talvez a Summer? – O outro perguntou.
abriu a boca para responder, mas então tirei o braço dele de cima de mim e dei um passo para longe dos dois. Não estava irritada, apenas estava na hora de começar a botar meu plano em prática.
- Chega, já estou cheia de vocês. – Ri, passando a mão na minha blusa para desamarrotá-la. – Tenho uma bela aula de matemática financeira agora, então nos vemos mais tarde.
- Já estamos com saudades. – disse docemente.
- Até mais. – me deu as costas e começou a andar.
continuou olhando para mim enquanto andava, e fez um sinal ameaçador, apontando para os olhos e depois para mim, mais ou menos como se dissesse “Estou de olho em você”. Bom, ele não poderia ficar grudado em mim o tempo todo, certo?

- Bom dia, ! – Um garoto sorriu ao passar por mim.
- Bom dia!
- Bom dia, ! – Duas meninas disseram em coro logo em seguida.
- Oi, meninas! – Dei um sorriso. – Bom dia!
Pelo visto todo aquele negócio de ser amiguinha da Summer estava me tornando uma pessoa bastante querida no meio estudantil. De repente, todo mundo falava comigo, todo mundo me conhecia.
Ainda não tinha, no entanto, visto quem eu queria ver.
Onde havia se enfiado?
Tudo bem, eu só estava na escola há pouco mais de duas horas, mas passara as primeiras aulas roendo as unhas de ansiedade. Por que a aula de economia doméstica não podia ser na segunda-feira?
Balancei a cabeça tentando me acalmar e caminhei a passos firmes em direção à sala 15, onde aconteceria minha próxima aula. Quando estava me aproximando da porta, porém, alguém segurou meu pulso.
- Não tão rápido! – Ele disse com um sorriso ofuscante.
Ah, que sorriso lindo! Finalmente eu podia admirá-lo sem culpa de novo, me derreter por aquela expressão. E justamente quando eu pensei que não ia conseguir encontrá-lo. Que ótimo.
- Bom dia também. – Dei um sorriso bobo.
- Está bonita hoje. – me encarou.
- Quando não estou? – Ergui uma sobrancelha.
Ele deu risada e apoiou o corpo na parede. – Adoro essa sua modéstia.
- Obrigada, mas o que está fazendo aqui? Não temos nenhuma aula juntos hoje, não é?
- Não, não temos. – Concordou. – Bom, eu só queria te dar bom dia. Ah, e te entregar isso também... – Enfiou a mão no bolso e tirou dele uma minúscula florzinha branca, já meio amassada. Abriu minha mão e colocou-a nela. – Nasceu um monte dessas no meu quintal. Eu estava saindo de casa de manhã quando as vi, e lembrei de você.
- É uma gracinha. – Sorri, levantando a florzinha até a altura dos meus olhos. – Obrigada.
me observava com os olhos intensos, doces, divertidos. Meus dedos ardiam de vontade de bagunçar o cabelo dele; meus braços, de abraça-lo. Então olhei sobre seu ombro e vi um garoto de cabelo castanho fazendo a curva no fim do corredor.
- Maldição! – Resmunguei.
- O que foi? – franziu o cenho.
Dei um passo para trás bem no momento em que nos viu e acenou animadamente para mim. Revirei os olhos, sabendo muito bem o que ele estava fazendo ali. olhou para trás também, e respondeu com um aceno de cabeça.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou olhando para mim de novo. – Por que o tá parado no fim do corredor?
- Nada. Não foi nada. – Respondi prontamente, já me preparando para entrar na sala. – Bem, obrigada pela florzinha. A gente se vê.
- Até mais tarde então. – deu meia volta e eu fiz careta para , que ergueu as mãos para o alto e depois foi embora.

Entrei na sala de aula de cara fechada, me perguntando até que ponto aqueles dois pretendiam me vigiar. Se fosse uma ideia só do eu poderia persuadi-lo, convencê-lo de que a falta de confiança dele em mim era ofensiva, mas seria impossível fazer o mesmo com , o maldito gamer nerd da matemática.
- Bom dia, . – A garota que se sentava atrás de mim sorriu quando coloquei minha mochila sobre a mesa.
- Bom dia, Lexi. – Sorri de volta ao me sentar.
O professor entrou na sala e cumprimentou a todos com um aceno de cabeça. Normalmente ele era mais falante, então imaginei que não estivesse tendo um dia tão bom quanto o meu.
Poucos minutos depois de ele ter começado a rabiscar algo no quadro, Summer abriu a porta da sala.
- Com licença, professor. – Ela disse. – Posso entrar?
- Claro, Olsen. – Ele assentiu. – Entre.
Fiquei com tanta pena ao ver o semblante de Summer que fui atingida por uma onda de culpa. Claro, não parecia depressiva nem nada do tipo, mas, para nós, que estávamos acostumados a ver sempre uma Summer sorridente e radiante, ela parecia bem abatida. Nem mesmo olhou na minha direção durante a aula. Nem na direção de ninguém, para ser mais exata. Simplesmente apoiou o queixo na mão e anotou metodicamente tudo o que o professor disse; sem sorrir, sem interagir com ninguém. No fim da aula até mesmo ele, o professor, tinha percebido que havia algo errado, e enquanto todos iam em direção ao refeitório, ele pediu que ela ficasse alguns minutos mais, provavelmente preocupado com a boa aluna.
Queria muito conversar com Summer, tentar confortá-la, agir como a amiga que ela disse que me considerava. Mas o que eu poderia fazer? Já sabia o que havia acontecido e, considerando meus planos, não poderia ser muito animadora. Além disso, não me julgava exatamente no direito de agir como amiga dela, embora eu, de fato, quisesse ser. Com toda certeza, seríamos grandes amigas em outra situação.
Mas aquela era a situação em que nos encontrávamos, e não havia como mudar as coisas.

- ! – Jodi me chamou quando eu caminhava em direção ao refeitório.
- Ah, oi, Jodi. – Sorri e parei.
Jodi apressou o passo e parou ao meu lado, dando um sorriso meio nervoso e olhando para os lados. Então sua expressão ficou séria e ela diminuiu o volume da voz:
- Você precisa me ajudar. – Disse com voz urgente.
- O que aconteceu? – Comecei a me preocupar.
Jodi olhou para os lados de novo antes de falar.
- Aconteceram as línguas enormes e venenosas de Amber e Jasmine. – Respondeu com um toque de irritação na voz. – Summer contou às duas que Junior terminou com ela, e agora a Jacksonville High inteira já está sabendo. Aquelas cobras! – Exclamou.
- Não acredito nisso! – Exclamei também, detestando Jasmine mais do que nunca e perdendo um pouco da simpatia que tinha por Amber.
- Temos que ajudar a Summer.
- Ei, vocês! – Ouvimos a voz alta no fim do corredor. Era Emma, que tinha acabado de sair da sala de aula e vinha correndo em nossa direção.
- Ah, você! – Jodi acenou.
Emma chegou perto de nós com o rosto vermelho feito um pimentão, e a expressão mais assustadora do que nunca.
- Emma, você não tem noção... – Jodi começou.
- Eu sei! – Ela exclamou indignada. – Aquelas duas cascavéis! Vi Jasmine fofocando sem parar durante as duas últimas horas.
- Nas últimas duas horas? – Jodi repetiu com descrença. – Elas devem ter ligado para cada pessoa dessa escola ontem mesmo.
- Não podemos deixar Summer entrar naquele refeitório; ela vai ser engolida pelos abutres. – Emma avisou.
- ?
O que eu realmente queria fazer era matar aquelas duas cobras. Não poderia, no entanto, me dar a esse luxo, por motivos de a) eu seria presa, e b) elas não estavam mentindo; apenas, provavelmente, exagerando maldosamente sobre tudo. Isso não as tornava menos bruxas, mas era certo que, eventualmente, todo mundo teria descoberto o que acontecera. Ainda assim, não precisava ser de um jeito tão cruel quanto uma fofoca da qual Summer de certo ainda nem sabia. Eu não permitiria que ela passasse por toda aquela humilhação desnecessária.
- , o que vamos fazer? – Jodi repetiu.
- Summer está na sala 15, eu acabei de sair de lá. – Eu disse. – Peguem ela e a tirem de dentro do prédio. Encontro vocês no estacionamento.
As duas assentiram e saíram correndo.
Andei a passos largos (na verdade, corri mesmo) em direção à sala de onde já devia ter saído àquela hora. Desviei da multidão de pessoas no corredor e o avistei a poucos metros da porta.
- ! – Gritei. Ele sorriu e parou, mas sua expressão ficou mais tensa quando viu minha cara.
- O que foi? – Perguntou.
- Preciso da chave do seu carro. – Respondi arfando.
- A chave do meu carro? – Franziu o cenho. – O que foi, Rain? Aconteceu alguma coisa?
- Na verdade, eu só preciso... – Tomei ar. – Só preciso abrir o carro. – Me acalmei. – Temos um problema.
- Problema?
Revirei os olhos e enfiei a mão no bolso dele, tirando o molho de chaves preso em um chaveiro de guitarra azul. deu um pulo com o susto.
- Ei! – Exclamou ficando vermelho.
- Jasmine e Amber... – Fiz uma careta irritada. – Fofocaram pra todo mundo! – Bufei. – Mandei as meninas levarem Summer para o estacionamento, para passar o intervalo no seu carro. Aquela gente ia cair matando em cima dela.
mudou de expressão radicalmente, assentindo rápido. – Entendi. Vou ficar com vocês.
Demos alguns passos, mas ele parou.
- está esperando no refeitório e esqueceu o celular em casa.
Entreguei as chaves à ele e comecei a andar na direção oposta.
- Vai na frente, eu chego lá daqui a pouco.
Corri mais uma vez, dessa vez em direção ao refeitório. Estava torcendo para encontrar Jasmine no corredor e usar minha correria como desculpa para empurrá-la dentro da lixeira, mas não tive tanta sorte.
Quando cheguei ao lugar, no entanto, avistei ela e Amber já sentadas à mesa de sempre, tagarelando como se não tivessem feito absolutamente nada. A cena me causou repulsa.
Desviei meus olhos das duas e encontrei , na fila da cantina. Olhava de um lado para o outro, nos procurando.
- . – Eu disse em voz baixa, quando já estava perto o suficiente. Ele olhou para mim, sorrindo. – está no carro, lá no estacionamento. Eu estou indo pra lá também.
- Vão dar uns amassos no carro em pleno intervalo? – Franziu o cenho. – Cara, vocês são péssimos nesse negócio de farsa! Nesse horário tá todo mundo aqui, ninguém vai ver...
Dei um tapão na cabeça dele, brava pelo infeliz sequer ter pensado naquela possibilidade.
- Ei! – Ele exclamou.
Revirei os olhos e puxei-o da fila. ainda segurava sua bandeja e não parecia nada satisfeito, mas eu o arrastei assim mesmo.
- Jasmine e Amber contaram pra todo mundo que Junior terminou com a Summer. – Expliquei irritada. – Ela está no carro do agora, com ele, Jodi e Emma.
abriu a boca e olhou para os lados.
- Que filhas da mãe! – Exclamou passando os olhos rapidamente pelas duas amigas de Summer. – Vamos logo para o carro!
- Certo. – Concordei virando-me para a porta.
- Mas antes... – disse, e então saiu correndo em direção ao caixa da cantina. Várias pessoas que esperavam na fila começaram a xingá-lo, mas o garoto não deu a mínima. – Mimimi pra vocês também! – Gritou de volta. Depois de ter pagado, ele caminhou rapidamente em direção à saída do refeitório. – Vamos, . – Disse.
Olhei para ele com uma expressão confusa e ele deu de ombros.
- Qual é? Alguém pode sentir fome...
Estávamos saindo do salão quando ouvi alguém gritar meu nome.
- !
Parei e olhei para trás. Ainda havia uma certa bagunça no corredor, então nem se deu conta de que eu não estava mais andando ao seu lado.
- Oi! – Exclamei sorrindo. – Oi, .
- E aí? – Ele enfiou as mãos nos bolsos. – Bom, eu estou sentando na mesa dos jogadores hoje. – Disse. – Só dos jogadores.
- Hunrum. – Assenti. – Eu imaginei que fosse sentar.
- Então... Não quer se sentar comigo? – Apontou para trás, para dentro do refeitório. – Sem segundas intenções, claro.
Fiquei feliz com o convite, mas então engoli em seco, lembrando-me das regrinhas que estabelecera para nossa farsa. Além disso, não poderia mesmo almoçar com naquele momento, porque precisava tomar conta da garota que ele tinha deixado com o coração partido. Não podia, no entanto, perder aquela oportunidade...
- Não dá, Junior. – Dei de ombros como se me desculpasse. – Vou almoçar no carro do . – Saí correndo e acenei. – Beijinhos!
Certo, talvez aquela não fosse a melhor hora para fazer algo do tipo, mas foi uma oportunidade única. E ouvir os passos frustrados do enquanto marchava de volta para o refeitório, ah, isso foi impagável.
Corri o suficiente para alcançar , já quase chegando ao carro.
- Onde você estava? – Ele perguntou, levando um susto.
- Por aí. – Dei de ombros.
Quando chegamos ao pequeno Fiat Uno Rullz cinza, Summer, sem entender o que exatamente estava acontecendo, estava sentada no banco de trás, com Jodi e Emma ao seu redor. estava no banco do motorista, inflando as bochechas sem parar. Entrei no banco do carona e se espremeu com as garotas, derrubando batata frita para todo lado.
- . – Summer pareceu aliviada ao me ver. – O que está acontecendo? – Perguntou confusa. – As meninas não estão falando nada com nada...
- Summer... – Comecei com pesar.
- Qual o problema?
- Jasmine e Amber... Elas contaram pra todo mundo o que aconteceu.
Summer arregalou os olhos um pouco, chocada, e levou as mãos à boca.
- Não acredito. – Ela murmurou.
- É verdade, a gente jura... – Jodi começou a explicar.
- Não, calma, Jodi. Eu acredito em vocês. – Summer a acalmou. – O que eu não acredito é que elas conseguiram ser tão...
- Cruéis. – completou. – Se eu fosse uma garota, quebraria a cara daquelas duas.
- E é exatamente isso que eu vou fazer. – Emma estendeu a mão para abrir a porta do carro.
- Emma, não. – Summer segurou o braço dela. – Elas não valem a pena. – Summer ficou quieta e escondeu o rosto com as mãos, começando a chorar baixinho de novo. – Não acredito que eu fui tão idiota...
- Isso não é ser idiota. – balançou a cabeça. – Suas amigas, supostamente, deveriam te apoiar, e não fazer o que elas fizeram.
- , está certo. – Assenti. – Nada disso é sua culpa.
- Só te trouxemos para cá porque queríamos te proteger dos comentários maldosos. – Jodi passou um braço por seus ombros.
Summer ficou mais alguns segundos de cabeça baixa e nós esperamos ( e Emma, sem parar de comer o que o garoto levara na bandeja).
- Obrigada. – Summer murmurou por fim. Então levantou o rosto e limpou algumas lágrimas, com a voz sob controle de novo. – Obrigada a todos vocês por isso.
- E então, o que quer fazer agora? – Emma perguntou. – Quer ficar aqui ou...
- . – Summer disse, e ele, finalmente, olhou para trás. Sua expressão era um misto de preocupação e raiva. Ele estava mais incomodado com a situação do que eu pensei que estivesse.
- Posso te levar para onde você quiser, Sum. – Ele disse com a voz séria, sem que ela precisasse pedir nada. – Mas, na minha opinião, você deveria ficar aqui e entrar naquele refeitório de cabeça erguida. Não tem nada do que se envergonhar.
Summer assentiu e direcionou o olhar para mim.
- Posso me sentar com vocês hoje? – Pediu. – Não quero ter que olhar para Jasmine e Amber pelo resto do dia.
- Claro. – Concordei.
Nós seis descemos do carro. E enquanto caminhávamos em direção ao refeitório, apenas , Emma e Jodi falando, comecei a pensar no que havia acontecido minutos antes, dentro do carro, quando Summer prontamente seguiu o conselho que lhe deu. Apesar de já saber que eles eram amigos de infância, o episódio – unido a outros momentos que tinham chamado minha atenção nos últimos dias – me deixou um pouco intrigada. Afinal, se eram tão amigos assim, por que se afastaram tão radicalmente na adolescência? Sim, eles se falavam como duas pessoas normais e era nítido que se gostavam muito, mas por que andavam com grupos tão diferentes? Não é novidade que algumas vezes as pessoas mudam e se afastam dos amigos de antes quando fazem novas amizades. Mas esse não parecia ser exatamente o caso de e Summer.
Decidi que perguntaria a ele sobre o assunto mais tarde.
Algumas pessoas nos viram pelos corredores, e todas, sem exceção, cochicharam alguma coisa. A situação era horrível para todos nós, mas podia imaginar como estava sendo para Summer, que era a mais conhecida entre os seis.
Entramos no refeitório em meio a olhares fixos e um silêncio absoluto. Com o canto do olho, vi nos olhando com a boca entreaberta, e Jasmine e Amber parando de falar. Fomos direto para a mesa em que eu me sentava com e , sem cumprimentar ninguém nem nada do tipo. Assim que nos sentamos, entretanto, Emma olhou nervosamente para cada um de nós. Ainda ficamos alguns segundos em silêncio, até que...
- E então... – disse bem alto, para que todos ouvissem. – Que tal aquele jogo novo, ? Já jogou? – Perguntou como se nada estivesse acontecendo.
A ideia funcionou. Em pouco tempo, todos tinham voltado a conversar sobre banalidades. Claro, a maioria deles ainda falava a respeito do término de Summer e Junior, mas pelo menos não estavam nos encarando.
- Vocês são incríveis. – Summer disse baixinho, se permitindo sorrir um pouco.
Todos sorrimos de volta, e se levantou.
- Vou ver se sobrou alguma coisa pra gente beber.

🌴💚🌴


- Está tudo bem com você? – Eu perguntava à no fim da tarde daquele mesmo dia.
Estávamos voltando da escola, onde havíamos ficado até tarde por causa de atrasos na aula de educação física.
estava tenso desde o acontecimento do intervalo e eu não tinha tido muito tempo de tocar no assunto, visto que cada um fora para uma sala diferente depois do almoço. Só nos vimos novamente no horário da educação física, e não falamos muito também (só trocamos algumas palavras e ele foi ficar com os amigos dele).
- Tô legal. – Ele respondeu apenas.
- Bom, pra mim não parece tão bem assim. – Me remexi no banco do passageiro, sentindo-me um pouco desconfortável com o clima estranho no carro.
- O que eu tenho de errado, na sua opinião, ? – Soltou o ar, irritado.
Fiz um bico enorme, nada satisfeita com o tom de voz que ele usou, e desliguei o som do carro que, por sinal, já estava me dando sono.
- Está ouvindo “Autumn in New York”, pra começar. – Eu disse. – Estou me sentindo no casamento de um filme dos anos 90.
- Pensei que você gostasse desses filmes.
- Não hoje.
rolou os olhos e ligou o som de novo.
- Me deixa em paz, .
- ... – Tentei soar ameaçadora. – Se você não desligar esse negócio, eu vou começar a cantar. Você sabe que eu canto mal.
- ...
- ! – Gritei já rindo, na esperança de que ele risse também. – Não vai desligar? Estou te avisando...
- , você...
- It's autumn in New York! – Me esgoelei. – That brings the promise of new love…
- Pelo amor de Deus! – reclamou fazendo uma careta.
- Autumn in New York is often mingled with pain. Dreamers with empty hands, may sigh for exotic lands! – Continuei.
- Tá bom, tá bom! – Ele se rendeu. – Eu desligo! – Desligou o rádio. – Por favor, para de cantar.
- Obrigada. – Sorri.
- Que seja. – Bufou.
- Agora vai falar?
- O que você quer que eu diga?
- O que está te incomodando! – Respondi como se fosse óbvio (e era mesmo).
- Simplesmente não estou gostando dessa situação toda...
- A situação da Summer, você quer dizer?
Ele olhou para mim com cara de poucos amigos, então voltou a olhar para a pista.
- É. A situação da Summer.
- Sobre isso... – Comecei como quem não quer nada. – Eu estava mesmo a fim de te perguntar. Não quero me meter na sua vida nem nada, mas hoje cedo eu estava pensando... Por que você e Summer não andam juntos? – Questionei. – Quer dizer, você me disse ontem que não se senta com os VIPS porque não quer, mas a verdadeira questão é: por que você não quer? Você e Summer se dão tão bem, e imagino que isso venha da infância.
- Vem da infância, sim.
- Então...?
- Olha, . – Ele disse enquanto o carro curvava. – Eu e Summer éramos muito grudados até, sei lá, os dez, onze anos. Daí chegamos ao ginásio e ela começou a chamar muita atenção, tinha cada vez mais gente ao redor. Eu fiquei nesse meio por um tempo, mas aí veio a separação dos meus pais e eu tive uma fase bem complicada. Quando tudo acabou, eu simplesmente tinha mudado demais para continuar naquilo. O ensino médio chegou e eu conheci o , e então eu e Summer paramos definitivamente de andar juntos. Foi isso.
- Oh. – Me xinguei mentalmente por ter trazido à baila, mesmo que acidentalmente, o assunto da separação dos pais dele. Parecia que eu não acertava uma com .
- Mesmo que Summer não ande mais comigo, eu me preocupo com ela. – Ele suspirou. – Sei que ela sente o mesmo sobre mim.
- Ah, . – Pousei a mão em seu ombro. – Desculpa. Eu sou muito intrometida. Muito mesmo.
- Você é, sim. Mas está tudo bem. – Deu um sorriso torto e estendeu a mão para o aparelho de som. – O que quer ouvir?
- Você por acaso tem Fever aí? – Sorri.
- Sabe, namorada de mentira, se tem uma coisa que eu adoro em você, essa coisa é o seu extenso conhecimento sobre o bom e velho jazz. – Ele riu e mexeu no aparelho. Logo em seguida a melodia de Fever, da mais que linda Peggy Lee, começou.
- Posso cantar? – Perguntei rindo.
E, sem nem mesmo me responder, , com sua voz tão linda quanto a própria Peggy, começou na minha frente:
- Never know how much I love you. Never know how much I care. When you put your arms around me, I get a fever that's so hard to bear… You give me fever.
E, apesar de ser desafinada (e parecer muito mais se comparada a ), não me importei de cantar junto com ele a parte seguinte:
- When you kiss me… Fever when you hold me tight. Fever! In the morning… Fever all through the night.
E caímos os dois na gargalhada, enquanto Peggy Lee continuava cantando ao fundo.
- Até que formamos uma boa dupla. – Eu disse.
- É, parece que sim. – concordou.
Lembrei-me do meu primeiro dia em Jacksonville Beach, de como impliquei com , e do meu pai dizendo que sabia que nos daríamos bem. Bom, dessa vez eu teria que dar o braço a torcer. Meu pai havia acertado em cheio aquela previsão.

🌴💚🌴


- Oi, Kayla! – Eu disse quando cheguei à aula na manhã seguinte.
- Oi, . – A garota de cabelo castanho sorriu. – Tudo bem? Como foi o fim de semana?
- Foi um fim de semana bem longo, Kayla. – Respondi. – E o seu?
Enquanto Kayla falava sobre a festa de aniversário de sua avó e os outros alunos entravam na sala de aula, meus olhos se voltaram para alguém em específico.
Aquela não era Summer Olsen?
Mas o que Summer estava fazendo ali? Ela não fazia aquela matéria comigo.
- Bom dia, meninas! – Ela sorriu, sentando-se perto de nós.
- Bom dia... – Kayla respondeu, visivelmente confusa com o cumprimento da rainha da torcida.
- Bom dia, Summer. – Eu disse, imaginando o que ela estaria fazendo ali.
Percebi que Summer parecia muito mais animada do que eu pensei que estaria, o que me confortou imensuravelmente. E ela estava mesmo linda, usando um macaquinho rosa e tênis branco e dourado com glitter e estampa de onça em algumas partes. O cabelo estava solto, com uma fina trança espinha de peixe enfeitando o lado esquerdo.
- Amo essa matéria! – Ela disse quando a professora entrou na sala.
Passei a hora seguinte intrigada com toda aquela situação. Summer não parecia nem um pouco incomodada com os comentários que eram feitos vez ou outra em cantos avulsos da sala (se eu ouvia, ela devia poder ouvir também), ou com os olhares que de tempos em tempos fixavam-se nela. Respondia e comentava praticamente tudo que a professora perguntava, e cantarolava como se aquele fosse apenas o amanhecer de mais um dia na cidade de Townsville.
Assim que a professora se sentou e pediu para que respondêssemos algumas questões do livro, o falatório começou. Todos comentavam sobre o fim de semana que tinham tido, sobre a fofoca do momento e sobre o jogo que aconteceria na sexta-feira. Eu, no entanto, não podia falar muito sobre o meu fim de semana, ainda queria matar Jasmine e Amber por terem espalhado a história, e tinha ficado meio traumatizada com jogos; portanto, abri o livro e fiquei na minha, fazendo o dever.
Segundos depois, Kayla deu uma batida de leve na minha mesa.
- Hum? – Levantei a cabeça.
A garota arqueou uma sobrancelha e estendeu um papelzinho cor-de-rosa na minha direção.
- Regina George mandou te entregar. – Referiu-se a Summer, fazendo-me rir. Apesar de a pobrezinha ser um amor de menina, eu também já tinha feito aquela comparação.
Abri o papel e li o que havia escrito.

“Preciso falar com você.”

Ótimo, era só o que me faltava. O que poderia ser agora?
Olhei para Summer com cara de quem não estava entendendo e movi a boca devagar para que ela entendesse o meu “O que foi?”. A loura fez sinal para que eu esperasse, e então se levantou.
- Professora, esqueci meu livro em casa. – Disse. – Posso me sentar com a ?
- Claro, querida. – A professora respondeu sem olhar na direção dela.
Summer levantou sua cadeira e colocou-a do meu lado, e fez o mesmo com a mesa. Então se sentou, sorrindo e tamborilando os dedos sobre a mesa.
- Eu tenho um plano. – Ela disse.
Era justamente o que eu temia.
- E suponho que por isso esteja na minha aula de História. – Chutei.
- Ótima suposição! – Riu. – É por isso mesmo.
- Como você conseguiu uma transferência tão rápido?
- Ser eu me dá algumas vantagens.
- E o seu plano? – Perguntei já com medo, voltando a fazer o dever.
Summer ficou em silêncio, pegou uma caneta roxa e escreveu algo no caderno, empurrando-o em minha direção logo em seguida para que eu lesse.

“Quero que você me ajude a voltar com o Junior.”

- Você quer que eu o quê?! – Perguntei alto demais. Algumas pessoas olharam em nossa direção.
Summer revirou os olhos e puxou o caderno de volta. Segundos depois o empurrou para mim de novo.

“Por favor, ! Só você pode me ajudar nisso.”

Minha vida era, de fato, uma grande piada: ali estava a ex-namorada do garoto de quem eu gostava, me pedindo para ajuda-la a reconquistá-lo. Meses atrás, eu achava que esse tipo de coisa só acontecia em filmes adolescentes e comédias românticas, mas, de repente, todo aquele absurdo tinha se tornado realidade. E justo comigo.
Respirei fundo e escrevi uma resposta logo abaixo do que ela havia escrito:

“Summer, tem certeza de que é uma boa ideia insistir tanto agora? Talvez ele só precise de tempo. Além disso, não acho que eu poderia fazer muita coisa.”

Eu não estava mentindo. Mesmo que eu realmente quisesse ajudar Summer (e eu com certeza não queria), não acreditava que faria alguma diferença falar com naquele momento. Mas então ela fechou o caderno e olhou em volta, baixando o volume da voz, disse:
- Ele me ligou ontem à noite.
- Ele fez o quê? – Deixei o queixo cair um pouco.
Summer sorriu, um sorriso contido e animado ao mesmo tempo.
- Ele ouviu as fofocas. – Disse. – Ficou uma fera com Jasmine e Amber. Queria saber como eu estava.
- Ah. – Senti um leve incomodo ao saber daquilo.
- , ele gosta de mim. – Ela balançou a cabeça. – Só está confuso, mas sei que gosta.
Assenti sem dizer nada, temendo que ela estivesse certa.
- Desculpe ter te assustado assim. – Ela dizia enquanto caminhávamos em direção ao refeitório.
- Tudo bem, Summer. – Balancei a cabeça. – Você só... Me pegou de surpresa.
E tinha mesmo pegado. Não que não fizesse sentido ficar preocupado com o que estava acontecendo; claro que fazia. Eu só não estava esperando que ligasse para a ex-namorada no meio da noite. Ele deveria supor que isso encheria a cabeça dela de possibilidades, certo?
- De qualquer forma, não precisa se envolver nisso, se não quiser. – Summer continuou. – Não quero de forma alguma te causar algum desconforto. Vocês são amigos, não quero que briguem por minha causa.
Sorri e assenti, e então estávamos no refeitório. Ao longe, vi conversando com algumas pessoas. Uma delas fez algum comentário e ele olhou para trás; primeiro rapidamente, e depois, quando viu nós duas, com mais atenção. Parecia estar avaliando se devia ir até nós ou não. No fim, decidiu ir.
- Oi, garotas. – Ele disse.
- Junior. – Summer sorriu.
- Oi. – Fiz o mesmo, porém, um sorriso mais contido.
- E aí, estavam na aula? – perguntou.
- É, acho que sim. – Summer riu da pergunta óbvia. Ele fez o mesmo. Contive o impulso de revirar os olhos.
- Certo. – Ele concordou. – Vou voltar para lá, então...
- Junior! – Summer chamou quando ele tinha dado alguns passos. O garoto deu meia volta e diminuiu a distância.
- Sim?
- Não quer almoçar com a gente? – Ela perguntou. – Apesar dos pesares, seu lugar na mesa ainda está lá.
olhou para mim com certa surpresa.
- também vai almoçar lá? – Arqueou uma sobrancelha.
Summer olhou para mim com expectativa. Sabia que ela estava esperando por uma resposta positiva, mas a loura que me perdoasse; eu não iria ajuda-la dessa vez.
- Desculpa, Summer, mas eu tenho uma coisa muito importante para conversar com o . – Disse. – Fica pra próxima.
A garota assentiu, o semblante caindo um pouco, e virou-se para .
- Você ainda pode almoçar lá, se quiser. – Disse.
olhou pra mim e depois para ela, e de novo para mim e então para ela. Um sorriso encantador iluminou seu rosto.
- Tudo bem. – Ele disse.
Arregalei os olhos, espantada. Summer abriu um enorme sorriso e deu um passo a frente.
- Vamos, então. – Ela disse. – Até mais, .
- A gente se vê. – disse enquanto eles se afastavam.
Fiquei parada, estarrecida, observando a cena. Como assim tinha aceitado se sentar com ela?! Que palhaçada era aquela?!
Saí marchando em direção à minha mesa, onde e já estavam sentados com suas bandejas.
- Ei, você demorou. – disse. – Peguei bolo de chocolate pra você. – Empurrou uma bandeja para o meu lado.
Olhei para o bolo de chocolate e bufei, olhando então para a mesa das líderes de torcida.
- O que houve? – perguntou.
Balancei a cabeça e pressionei as têmporas, irritada.
- está almoçando com as líderes de torcida!
- E o que tem isso? – franziu o cenho.
Respirei fundo tentando me acalmar. Não podia falar demais.
- Não tem nada. – Disse com mais tranquilidade. – É só que ontem mesmo nós estávamos tentando tirar Summer de perto dos fofoqueiros da escola, porque todo mundo estava comentando o pé na bunda que ela levou, e agora ela simplesmente o convida para almoçar com ela! – Exclamei. – E quanto à ele? O que o Junior tem na cabeça? Não vê o quanto a confunde quando aceita ficar lá desse jeito? Foi ele quem terminou o namoro!
olhou para e então cruzou os braços. O outro garoto, por sua vez, sugou seu refrigerante com um enorme canudo e olhou por cima de meu ombro, para a mesa de Summer.
- Lembra do que o Junior te disse quando você foi a casa dele? – Perguntou.
Balancei a cabeça positivamente. – Sim, claro. Ele disse que precisava descobrir de quem realmente gostava.
se jogou sobre a mesa e segurou meu queixo, virando minha cabeça para que eu olhasse para trás. estava sentado no lugar de sempre, ao lado de Summer, e parecia extremamente satisfeito por estar ali.
deu um pesado suspiro.
- Parece que seu namoradinho está fazendo exatamente o que disse que ia fazer.
Quando ele soltou meu queixo e eu voltei a encarar a mesa à minha frente, percebi que estava certo.
Meu primeiro pensamento havia sido o de que ficaria longe da garota com quem tinha terminado e que já conhecia bem; eu havia fantasiado que agora ele tentaria se aproximar mais de mim, para então, tomar sua decisão. O joguinho do artilheiro do Swordfish, no entanto, não seria nada mais nada menos que ficar dando corda para nós duas, enquanto decidia de quem gostava mais.
Pensar naquilo meu deu vontade de voar no pescoço dele, mas eu não podia fazer isso agora. Além disso, ele havia sido claro ao dizer que ainda não sabia de quem gostava, eu é que havia interpretado do jeito que queria.
Não estava esperando por isso, mas concluí que, se quisesse que as coisas acabassem do meu jeito, teria que, de alguma forma, participar mais ativamente da escolha de .
Enquanto comia um sanduíche de atum e rabiscava alguma coisa em um papel, peguei meu celular e procurei o número de Summer. Não precisava digitar muitas palavras para começar a resolver o meu problema:

“Vou te ajudar.”

🌴💚🌴


Quando abri a porta, ela levantou uma sacola lilás.
- Pra você! – Summer sorriu. – Por me ajudar.
- Summer, não precisava. – Sorri de volta, pegando a sacola. – Entra.
Ela entrou em minha casa e parou, observando cuidadosamente o ambiente.
- Estava muito desatenta para comentar isso na primeira vez que vim aqui, mas sua casa é bonita, . – Disse. – E que quadro divertido! – Riu ao olhar a pintura na parede.
- Foi minha mãe quem pintou. – Sorri, cruzando os braços. O quadro tinha sido pintado com giz de cera, e eu até tinha ajudado em uma coisa ou outra. Eram três bonecos de palito: eu, papai e mamãe. Claro, aquilo era uma coisa muito amadora se comparada ao que minha mãe realmente era capaz de criar, mas imaginei que papai o tivesse escolhido para a parede, primeiro porque era o único quadro dela que tinha ficado com ele, e segundo por causa do significado que tinha.
Summer meneou a cabeça, ainda sorrindo. Mas agora parecia um pouco nervosa.
- A sacola. – Ela apontou para a minha mão. – Tem brownie de caramelo. O meu preferido. É da melhor confeitaria do mundo, que, por sorte, fica pertinho da minha casa.
- Tenho certeza de que é uma delícia. – Ri, não resistindo a abrir a sacola e cheirar o conteúdo. O aroma era mesmo fantástico. – Ah, que vontade de comer agora mesmo!
- Pode colocar no prato e comer enquanto conversamos.
- Ótima ideia.

Summer enrolou o longo cabelo ondulado em um coque. Estava andando de um lado para o outro, quase fazendo um buraco no assoalho do meu quarto; provavelmente, não sabia por onde começar.
- Você precisa se acalmar, menina. – Falei de boca cheia. Não conseguia mais parar de comer o bendito brownie de caramelo, e ela tinha levado três: dois para mim e um para o meu pai.
- Desculpe. – Suspirou, sentando-se na cama. – Estava só esperando você acabar de comer.
- Já acabei. – Engoli a última garfada. – Podemos conversar.
- Então... O que faremos? – Ela perguntou ansiosa.
- Como assim? Você não pensou em nada?
- Na verdade, ainda não. – Fez bico.
- Certo, então vamos pensar. Talvez...
Mas então a campainha tocou.
- Chegou! – Summer pulou da cama, toda contente.
- Quem chegou?? – Perguntei me levantando e seguindo a garota, que já saltitava os degraus da escada.
Ela me olhou sorrindo antes de abrir a porta.
- Nossa ajuda. – Piscou para mim.

A porta do armário fez um clic quando Emma o fechou.
- Não acredito que não tem brownie nenhum pra mim. – Ela reclamou enquanto fuçava a sacola que tinha achado.
- Desculpe, prometo que levo vocês lá qualquer dia desses. – Summer respondeu. Estava sentada à mesa, o queixo apoiado nas mãos.
- Emma, para de fuçar as coisas dos outros. – Jodi balançou a cabeça em reprovação.
- Olha, tem sorvete de flocos aqui. – Falei com a cabeça dentro da geladeira. – Vocês querem?
- Já estou com a colher na mão. – Emma riu.
Peguei o pote, que já tinha sido um pouco mexido, e coloquei-o sobre a mesa. Emma correu para colocar uma boa porção do sorvete em um copo azul.
- Acho que agora podemos trabalhar. – Summer tamborilou os dedos na mesa.
- Mãos à obra, então. – Me sentei, colocando sorvete em outro copo.
- Isso é tão empolgante! – Jodi sorriu. – Todo esse negócio de plano, romance... Eu me sinto num filme!
- E qual é a ideia pra pegar o boymagia de volta? – Emma lambeu a colher.
- Era justamente o que estávamos prestes a definir. – Summer explicou.
- ? – Jodi esperou que eu dissesse alguma coisa. As três esperaram.
Aquela situação era muito nova para mim. Em toda minha vida, eu nunca havia sido do tipo que tinha um grupinho de amigas, sempre havia pelo menos um menino no time. Sem contar que eu estava em frente à três líderes de torcida, o que tornava tudo mais estranho ainda. Engoli em seco antes de conseguir dizer alguma coisa.
- Bom... Não acho que uma abordagem direta vai funcionar agora. – Disse devagar.
- Afinal de contas, já tentamos isso no sábado, e deu totalmente errado. – Emma fez careta. – Fala sério, o Junior surtou.
Jodi deu uma cotovelada nela.
- Tem que ter algum jeito. – Summer falou.
- Talvez pudéssemos tentar algo mais sutil? – Jodi sugeriu.
- Quem sabe eu posso ser uma informante? – Eu disse. As três me encararam. – Como você sempre diz, Summer, sou a única amiga do Junior. Ele não ficaria irritado se eu falasse um pouquinho demais de você. – Ri. – E posso ficar de olho nele, saber aonde vai e o que faz, criar encontros casuais entre vocês dois. Poderia usar nossa amizade como desculpa para esse tipo de coisa; ele não ficaria bravo comigo.
- É uma ótima ideia! – Emma riu. – Garota, você é esperta.
- Obrigada. – Empinei o nariz. Jodi e Summer riram.
- Isso seria maravilhoso. – Summer disse.
Sorri, e então era hora de chegar ao ponto que eu queria.
- Sabe, também seria bom se você me mantivesse informada sobre os encontros, as conversas de vocês. – Sugeri. – Não de tudo, lógico! – Levantei as mãos. – Mas o suficiente para que eu possa te ajudar como for possível.
- Mas é claro que vou manter! – Summer exclamou, e então sorriu. – , você é minha salvadora. – Me abraçou; depois ficou de pé e sorriu para nós três. – Não sei como vivi tanto tempo sem vocês.
- Eu também não sei. – Emma riu.
- Mas não se preocupe. – Jodi deu de ombros. – Agora será “uma por todas e todas por uma!”.
E quando ela estendeu a mão para frente e Emma e Summer colocaram as suas em cima, me senti como D'Artagnan se unindo aos outros mosqueteiros.
Quando coloquei minha mão sobre as delas, o acordo estava selado.
Agora realmente não havia como voltar atrás.


15 Parte 1 - Just might be paranoid

“Every time I turn around... Something don't feel right.”

[…]

- Os óculos ficaram bem em você. – dizia na manhã de quarta-feira, enquanto íamos em direção à escola.
- Obrigada. – Respondi com cabeça apoiada na janela e os óculos de sol escorregando pelo nariz. Na noite passada, depois que as meninas já tinham ido embora, apareceu lá em casa com o meu pai. Depois de comer algumas coisas e jogar baralho, papai comentou sobre uma caixa de coisas velhas que tinha debaixo da cama. Fomos fuçar e achamos muitas coisas interessantes, inclusive os velhos óculos de sol da mamãe, que eu estava usando agora. – O colar também combinou com você.
- Você achou? – Ele sorriu, segurando o cordão com pingente de paleta azul que fora do meu pai. – Eu gostei mesmo muito dele.
- Achei, sim. – Sorri.
parou o carro em frente à casa de e buzinou.
- ! – Gritou.
- Não se desesperem! Já estou chegando! – disse abrindo a porta de casa. Caminhou todo alegre em direção ao carro e se jogou no banco. – E aí?
- Oi, . – Eu disse.
pigarreou, chamando a atenção do amigo.
- E quanto àquele assunto, ?
- Ah, isso. – O garoto sorriu. – Já resolvi. – Deu um tapinha no ombro de . – Não se preocupe.
- Não estou preocupado. – inflou as bochechas. – Isso é coisa sua.
- Do que vocês estão falando? – Perguntei curiosa.
- Nada com que você precise se preocupar, senhorita. – deu um sorriso torto. – Toca pra frente, chofer.

Por algum motivo, havia algo na expressão facial de que quase sempre me fazia desconfiar dele; e naquela manhã, especialmente, ele tinha um sorriso um tanto quanto suspeito no rosto. Eu tinha coisas demais para me preocupar, no entanto, e preferi acreditar que era coisa da minha cabeça.
Além disso, era quarta-feira, e quarta-feira era um excelente dia para mim.
- Vicentini. – , já sentado no banco alto, sorriu quando entrei na sala. – Sempre alegrando minhas manhãs de quarta-feira.
- Eu só tive uma aula com você até agora, . – Ri ao colocar minha mochila no chão.
- Foi o suficiente para saber que terei um maravilhoso ano letivo. – Beijou minha mão. – Bom dia, .
- Bobo. – Sorri e balancei a cabeça, sentando-me ao seu lado.
Reparei em uma pessoa ou outra olhando em nossa direção, e me perguntei se não seria arriscado demais para a farsa que se comportasse assim. Depois lembrei que, para todos os efeitos, nós éramos amigos, e isso devia justificar o tratamento. Exceto para Jasmine.
- Summer me contou que você e o a ajudaram na segunda-feira. – Ele disse de repente.
- Ela contou, é? – Tirei os óculos. – Tentamos, pelo menos. Mas não fomos só nós dois.
- É, eu sei. e as duas novatas da torcida, como se chamam mesmo?
- Jodi e Emma. – Respondi. Achei engraçado ele se lembrar tão bem de , que andava com , e não se lembrar das duas garotas que já se sentavam na mesa dele há mais de uma semana.
- Isso. Jodi e Emma. – Assentiu. – Ela me contou. Olha, obrigado por ter ajudado a Sum. Não era sua obrigação fazer isso.
- Não, mas eu quis fazer. – Garanti. – Gosto muito da Summer, você acreditando ou não.
- Acredito em você.
Nos encaramos por alguns segundos e ele desviou o olhar para procurar alguma coisa em sua mochila.
- E seu namoro como vai? – Perguntou casualmente.
- Melhor do que nunca. – Suspirei. – Eu e o nos damos muito bem.
- É, eu meio que já notei isso. – Analisou tranquilamente minha expressão facial, até que desviei o olhar. Nunca fui tão boa com mentiras, embora não fosse exatamente uma mentira. Nos dávamos bem. – Ele trabalha para o seu pai, não é? Devem passar bastante tempo juntos.
- Passamos, sim, mas não é só por isso que nos damos bem. – Analisei a situação. – Quer dizer, não é como se fossemos obrigados a aturar a presença um do outro, é só... – Balancei a cabeça. – é realmente uma das melhores pessoas que já conheci. Não só gosto, como confio muito nele, e acho que ele também confia bastante em mim.
E então minha atenção se voltou ao barulho que vinha da porta, onde um garoto tinha acabado de tropeçar na lixeira, quase caindo em cima de uma menina com cabelo penteado em marias-chiquinhas.
- Opa, foi mal. – Ele disse. Então se endireitou e olhou para nós. – E aí, pessoal!
Estive prestes a me beliscar para ter certeza de que aquilo era real, porque somente em um pesadelo eu conseguiria visualizar entrando de mochila e cuia na minha aula de economia doméstica, meu único momento “a sós” com .
- E aí, artilheiro, preparado para o jogo de sexta? – colocou as mãos na cintura e perguntou todo animado a .
- Bom, eu tenho treinado... – parecia meio confuso com a presença de . – Escuta, , desde quando você é dessa turma?
- Na verdade, desde hoje de manhã. – Explicou. – Eu era da turma de quinta-feira, mas tive uns problemas e aí, sabe como é. – Deu de ombros. – Por que está com essa cara, ? – Franziu o cenho. – Parece que nunca me viu.
Engoli em seco, voltando a me comportar o mais normalmente possível.
- Só estava pensando que gostei da sua camisa. – Sorri. E se eu pudesse arranca-la de você e usa-la para te enforcar, gostaria mais ainda.
- Obrigado, verde é minha cor preferida.
Mas que palhaçada era aquela? E que história sem pé nem cabeça era aquela de problemas na outra turma? não tinha problema nenhum na outra turma, Amber estava lá!
Aquilo só podia significar uma coisa...
Eles tinham aumentado a zona de vigilância. e ele, aqueles infelizes.
- Certo, turma! Todos em seus lugares! – A professora bateu palmas, entrando na sala.
procurou se concentrar no que ela dizia, mas eu estava muito ocupada fuzilando com o olhar. Ele apenas sorriu e deu de ombros, sentando-se com a garota que agora era sua dupla.
Por que justo agora? Meu plano estava correndo tão bem!
me lançou um sorrisinho cínico e acenou, e de repente percebi que eu estava dando muita pinta. Ele estava me olhando com aquela cara de sabichão, sabia que eu tinha ficado nervosa com a chegada dele. Não, , assim ele vai perceber tudo.
Respirei fundo em uma tentativa de me acalmar, e comecei a anotar em meu caderno a receita de torta de amora que a senhora Turttle escrevia na lousa.
Eu era uma atriz, não era? Eu estava no clube de teatro, certo? Não podia ser tão horrível assim atuando. Eu tinha que aparentar estar tranquila.
Mas como era difícil!
falava alguma coisa regularmente, fazia piadinhas, elogios... Eu sorria e dava uma resposta superficial, mas minha cabeça estava a mil agora.
Eu precisava pensar em algum jeito de me livrar do . Eu precisava dar um jeito de fazê-lo mudar de turma de novo, nem que para isso eu precisasse atear fogo na torta dele.
- Algum problema, ? – A senhora Turttle perguntou ao parar perto da minha mesa.
- Ah, desculpe, senhora Turttle. – Sorri. – Só estou um pouco desatenta hoje, eu acho.
- Tudo bem, querida, mas concentre-se na torta.
Quando ela voltou a andar, percebi que estava sorrindo.
Por pouco tempo, . Por pouco tempo.

- E então, o que vai fazer mais tarde? – perguntou quando a aula chegou ao fim.
- Por que está interessado? – Respondi com um toque de flerte, vendo sair da sala.
- Bom, eu e o pessoal do time vamos sair para comer alguma coisa depois do treino... – Ele sorriu. – Pensei que talvez quisesse ir.
Sorri para aqueles lindos olhos . Às vezes eu queria tanto me deixar levar pelas tentativas do , mas sabia que meu plano não funcionaria assim. Além disso, tinha uma ou duas coisas a fazer naquele dia.
- Sinto muito, mas não vai dar. – Respondi então. – A gente se vê amanhã. – Beijei-lhe o rosto.
Saí da sala na velocidade da luz, preocupada que pudesse perdê-lo de vista.
. Onde ele havia ido? Tinha que pegá-lo longe do .
- Está procurando por mim? – Ele perguntou recostado em uma parede, quase me dando um susto.
- Ah, aí está você! – Puxei-o pelo colarinho da camisa até um lugar mais vazio. Não queria ninguém papeando sobre minhas conversas.
Soltei apenas depois de estar certa de que não havia mais tanta gente assim por perto. Ele ajeitou a camisa e engoliu em seco.
- O que pensa que está fazendo? – Perguntei entredentes.
- Arrumando a camisa que você acabou de desarrumar...
- Não é disso que estou falando. Sabe do que estou falando.
- Ah, está falando sobre minha presença na sua aula de Economia Doméstica? – Riu. – Aquilo foi uma jogada muito boa.
- Eu não acredito que vão me vigiar dentro da sala de aula! – Exclamei. – Que tipo de pessoa vocês pensam que eu sou?
- O tipo que tem sentimentos muitos intensos por , e ele causa um efeito meio insano nas pessoas às vezes. É bom não arriscar.
O encarei com uma expressão profundamente ofendida. Tudo bem que eu estava mesmo armando alguma coisa, mas eles não sabiam disso! Como eram capazes de desconfiar de mim?
- Vai sair da minha classe, . – Avisei. – Não estou brincando.
- Agora não dá, ! – Ele perdeu a paciência. – Precisei usar contatos para sair da antiga turma, precisei deixar a Amber! Se eu sair agora, a senhora Turttle vai estranhar.
Respirei fundo, tentando não perder por completo a calma. Sabia que o miserável estava certo.
- Que seja! – Eu disse então, me afastando. – É uma pena que eu vá decepcionar vocês me comportando tão bem.
O deixei ali e fui embora, imaginando como as coisas iam ser agora. Teria que bolar alguma coisa, e rápido.

🌴💚🌴


Depois das aulas, me lembrei do treino do time. O jogo contra os Blue Eagles seria em dois dias, então eles estavam pegando pesado. Depois do jogo haveria uma grande fogueira em algum lugar, o que pelo visto era uma tradição. Toda a escola estaria lá.
Depois da interferência de , eu teria que tomar o dobro do cuidado, mas será que haveria alguma mal em assistir o treino? Um monte de alunos fazia isso, no fim das contas. Além disso, provavelmente Jodi e Emma estariam por perto ensaiando com o resto da torcida. O jogo de sexta seria o primeiro delas como animadoras.
Sem pensar demais, peguei minhas coisas e caminhei tranquilamente até o campo de treino da escola, onde os jogadores praticavam passes e dribles.
Vi as animadoras paradas em um canto, bebendo energético e conversando de forma eufórica – Jodi e Emma estavam lá. Outros alunos se espalhavam por perto, mas não eram muitos. Procurei o ponto mais afastado e invisível e apoiei os braços numa barra de ferro baixa demais para que alguém se pendurasse, descansando a cabeça ali.
Olhando para o centro do campo, encontrei .
Ele estava rindo de alguma coisa, fazendo embaixadinhas e falando com os amigos.
Não pude deixar de me lembrar de quando nos conhecemos.
Tudo era tão fácil naquela época! Ele era só um garoto normal, sem namorada, de quem eu simplesmente gostava. Sem obsessão maluca, sem drama e farsas.
Pensar que as coisas tinham chegado àquele ponto era loucura.
- Veio dar uma força ao time? – Ouvi atrás de mim. Virando-me assustada, dei de cara com Summer Olsen. Uma fita prendia seu cabelo no alto, ela usava o uniforme de animadora.
- Ah, oi, Summer... – Me atrapalhei. Seria possível Summer desconfiar de minha presença ali? Provavelmente não, já que tínhamos um “plano”, mas eu andava um pouco cismada com tudo.
- Pensei que já tivesse ido embora. – Ela observou, apoiando-se na barra também e olhando para o campo.
- Eu ia... – Respondi. – foi com mais cedo. Eu queria ver como estavam as coisas com Jodi e Emma.
- Elas são ótimas. – Summer sorriu, mas não para mim. – Devo a você isso também, por ter me apresentado elas.
- Não deve, não. – Balancei a cabeça, observando o treino. Apesar de estar bem consciente de minhas atitudes, eu era atingida por uma onda de culpa sempre que Summer me agradecia por alguma coisa.
- Ah, , por Deus, mas é claro que eu devo! – Summer riu. – Olhe só para você... Mal me conhece e tem me ajudado em tudo desde que chegou aqui. Enquanto outras, como Jasmine... – Bufou. – Quer dizer, eu conheço a Jas há anos e ela só sabe me botar para baixo com tudo isso...
- Talvez não devesse andar tanto com ela. – Deixei escapar. – Honestamente, há algo nela que me incomoda muito.
- Eu sei, já pensei nisso também. – Assentiu. – Mas é complicado ficar realmente próxima de outras pessoas aqui quando vivo viajando, e a Jas eu conheci antes de ter tanto trabalho. – Depois de alguns segundos em silêncio, ela disse: – te contou que éramos muito amigos, não é?
- É, ele contou, sim. – Olhei para ela então, surpresa com o rumo da conversa. Admito que fiquei bem mais interessada no assunto.
- Pois é. – Summer deu um sorriso frustrado. – Fui eu quem estragou tudo antes, quando andávamos juntos. Eu deixei que a gente se afastasse.
- Não é o que pensa. – Eu disse. – Ele diz que foi só uma... Coisa que aconteceu. Uma série de fatores e tal.
Primeiro Summer deu de ombros, depois seu sorriso se iluminou.
- Está vendo só? – Ela disse. – Você até mesmo trouxe o de volta à minha vida... Vou precisar te dar muitos brownies para pagar tudo isso.
Tudo que eu consegui fazer em resposta foi sorrir, voltando a assistir o treino. Talvez tudo tivesse sido mais fácil se eu jamais tivesse esbarrado em Summer Olsen no primeiro dia de aula, se nunca soubesse a pessoa boa e gentil que ela era.

🌴💚🌴


Sinceramente, eu estava bem chateada com .
Não só pela desconfiança que sentia em relação a mim, mas também porque tinha colocado todo meu plano em risco e me feito me aproximar ainda mais de Summer – pois o fato de serem amigos de infância, só me fazia tomar mais conhecimento da personalidade dela.
Sendo assim, não fiquei muito satisfeita quando, depois do meu banho, naquela noite, papai me pediu fosse devolver uma vasilha de plástico na casa dele.
- Não posso fazer isso amanhã? – Perguntei desanimada.
- Filha, peguei isso na semana passada, a mãe de pode estar precisando dela. – Insistiu. – É só levar e voltar. Não está com saudade do seu namorado?
- Eu estudo com o , pai. – Resmunguei, pegando a vasilha de suas mãos e calçando meu chinelo de dedo. – Vejo ele o tempo todo.
- Pensei que o tempo nunca fosse suficiente para ficarmos com as pessoas de quem gostamos. – Papai riu. – Os jovens são muito estranhos hoje em dia...
Saí de casa a passos largos, querendo entregar logo a vasilha à Meg e voltar para conversar com Sofia e pedir ajudar em Química. Se fosse bem rápida, nem precisaria falar com .

- ! – A mãe dele, uma mulher jovem e bonita, sorriu ao me ver.
- Ei, Meg. – Sorri nervosa. A mãe de era outra pessoa que sempre fazia com que eu me sentisse culpada. Sempre que tinha que fingir nosso namoro perto dela, me lembrava de sua história com o ex-marido, e então queria morrer.
- Entre, meu bem. – Ela deu um passo para trás.
- Eu só vim trazer isso, na verdade. – Expliquei, estendendo a vasilha plástica. – Papai agradece.
- Ah, não seja boba. – Meg me puxou pelo braço. – Estou acabando de fritar um monte de batatas. Jante conosco.
- Mas eu... – Tentei escapar.
- Ah, vai ficar para o jantar? – O padrasto de surgiu à porta da cozinha, um avental pendurado no pescoço.
- Ela vai, sim. – Meg respondeu por mim, e ele entrou na cozinha de novo. – Não se preocupe, eu ligo para o seu pai. – Sorriu. – está lá em cima, pode subir.

A verdade é que eu não ia tanto assim à casa de – primeiro porque ele vivia na minha, e segundo, pelo meu anteriormente citado peso na consciência.
Mas, ao olhar para aquelas paredes, enquanto subia a escada, me lembrei da minha tumultuada primeira semana em Jacksonville Beach, e de como tinha me levado para sua casa quando descobri a verdade sobre .
Ao chegar bem perto da porta, ouvi o som do violão. Sabia que conhecia aquela introdução, mas não me lembrava de onde. E, apesar de não estar tão bem com aquele tonto, eu senti vontade de vê-lo, de falar com ele.
Girei a maçaneta e olhei para dentro do quarto. Ele – que estava sentado na poltrona que ficava em sua mini varanda particular – parou imediatamente, olhando para mim surpreso. O cabelo estava meio bagunçado, como se só tivesse saído do banho e secado de qualquer jeito.
- Rainbow? – Ele disse.
- Segui a música até aqui. – Respondi.
sorriu e eu entrei no quarto, indo até ele e me sentando na outra poltrona.
- Pensei que estivesse um pouco chateada comigo. – Confessou.
- Bem chateada. – Concordei. – Mas meu pai me obrigou a vir devolver uma vasilha plástica à sua mãe, e sua mãe me obrigou a ficar para o jantar.
- Sinto muito.
- Tudo bem. – Balancei a cabeça. – O que estava tocando?
- Qualquer coisa boba... E também ando compondo. – Respondeu. – Escuta, , quero te dizer uma coisa.
- Estou ouvindo.
- A ideia de mudar de turma foi do , não minha. Sabe que ele é maluco.
- Sei que ele é. – Concordei com um pouquinho de culpa.
- Mas aparentemente não posso fazê-lo voltar atrás, então... Me desculpe por isso.
- Não tem problema. – Balancei a cabeça. – O que está compondo?
- Nada de importante.
- Posso ouvir? – Perguntei curiosa?
- Ainda não... – Deu um sorriso torto. – Mas não era minha composição que eu estava tocando quando você chegou.
- E o que era?
Ele sorriu de novo e começou a tocar a introdução que eu tinha ouvido antes. E então, então eu soube que música era aquela. Respirei fundo, enquanto a melodia se espalhava em volta de nós.


When I was younger
I saw my daddy cry
And curse at the wind
He broke his own heart
And I watched
As he tried to reassemble it

And my momma swore that
She would never let herself forget
And that was the day that I promised
I'd never sing of love
If it does not exist

Então ele parou e eu sorri devagar, tentando não deixar tão óbvio o turbilhão emocional que aquela música me causava.
Meus pais, ela sempre me lembrava eles. Não que eu me importasse; era uma das minhas músicas preferidas. Mas como poderia saber de algo assim?
- Minha mãe não gosta muito quando eu toco essa música. – Ele disse. – Mas acho que você se sente sobre ela da mesma forma que eu.
Eu assenti, sentindo meus olhos arderem.
- Você deve ter ganhado um monte de garotas assim, . – Ri um pouco.
- Até que não. – Balançou a cabeça. – Garotas que gostam de tanto melodrama são um pouco chatas. – Brincou.
- Acho que acabei de ser ofendida. – Fiz uma expressão pensativa, e riu, voltando a tocar.

But, darling
You are the only exception
You are the only exception
You are the only exception
You are the only exception

And I'm on my way to believing…
Oh, and I'm on my way to believing.


🌴💚🌴


Quando ouvi as batidas em minha porta, no dia seguinte, estava certa de que era . Não estava mais brava com ele – qualquer vestígio de irritação tinha ido embora no momento em que eu entrara em seu quarto. Talvez esse fosse o motivo para eu não querer ir até sua casa, afinal; eu não conseguia ficar brigada com por tanto tempo, e não queria ceder ao sentimento leve que tomava conta de mim sempre que estávamos perto um do outro. O sentimento que fazia com que eu quisesse ser de novo a garota de Denver, que não armava planos nem enganava pessoas.
- Ei, você chegou c... – Eu disse ao abrir a porta, mas não era que estava lá.
- Bom dia, flor do dia. – deu um sorriso tenso.
- . – Fechei a cara. – O que está fazendo aqui? Onde está o ?
- É cedo demais, como você disse. – Meneou a cabeça. – Ainda assim, temos pouco tempo antes que ele chegue. Será que podemos conversar?
Pensei por um segundo, porque, honestamente, tinha um pouco de medo de não conseguir enganar – ele era muito, muito esperto às vezes. Mas me negar a falar com ele não ia ajudar. Além disso, eu precisava passar por esse teste. Se conseguisse despistá-lo, poderia fazê-lo com qualquer um.
Assenti devagar e me seguiu até os fundos da casa, onde ficavam a churrasqueira e a mesa de piquenique.
- Sou toda ouvidos.
- Olha, , nós não nos conhecemos muito bem ainda, eu sei. – cruzou os braços em frente ao corpo. – Então imagino que pode parecer para você que eu sou um idiota maluco, às vezes.
- Muitas vezes. – Assenti.
- Não precisa exagerar, obrigado. – Ele fez careta. – A questão é que, não quero que a gente deixe de ser amigo pelo que eu fiz...
- Então veio me pedir desculpas? – Chutei esperançosa.
Mas balançou a cabeça. – Não, não é para tanto. – Disse.
Senti minha confiança murchar. Se não estava arrependido do que tinha feito, o que ele poderia querer comigo longe da presença de ?
Calma, . Segure a máscara!
- Então...? – Incentivei-o a continuar.
- Eu vim aqui dizer que adoro você , mesmo. Acho você uma ótima garota. Mas ainda não acho que foi uma ideia ruim me mudar para sua classe.
- Você realmente não confia em mim, não é? – Perguntei incrédula.
- Não é bem em você que eu não confio; é no que você sente pelo bonitão do time.
- Aposto que não confia no bonitão também.
- Digamos que... – deu um sorriso debochado. – Se estivéssemos no apocalipse zumbi, e Junior fosse o único ser humano capaz de me ajudar, e ele tentasse me convencer a ficar do lado dele, eu, muito provavelmente, iria preferir virar um zumbi.
- Qual é o seu problema com o afinal, ? – Quis saber. – Quer dizer, eu sei que ele mentiu para mim, para a Summer, que ele foi um canalha... Mas tem alguma coisa muito errada no jeito como você e sempre falam dele.
Pela primeira vez, vi titubear. Ele abriu e fechou a boca, como se estivesse pensando cuidadosamente no que dizer.
Desde algum tempo atrás, eu vinha achando que havia algo a mais sobre que eu não sabia – algo que e não queriam dizer. Já tinha perguntado como quem não queria nada à , mas ele não tinha dito nada; insistia que eles não tinham muito contato antes da minha chegada a Jacksonville Beach. Ainda assim, eu estava quase certa de que devia existir algum outro motivo para que eles não gostassem de . Mas talvez fosse coisa de menino, afinal.
- Você acabou de citar dois excelentes motivos para que eu não goste daquele babaca. – disse, recuperando-se. – Além disso, fala sério, : ele é a estrela do time de futebol e eu sou o cara que lê HQs e gosta de Matemática; somos de espécies diferentes. – Riu nervosamente. – E quanto ao ... Bem, magoou simultaneamente as duas garotas de quem ele mais gosta no mundo. Quer mais alguma coisa para que ele o deteste?
Bom... Até que fazia sentido.
- Se quiser ficar chateada comigo, vai ser uma droga. – continuou. – Mas não vou deixar de te vigiar por isso. é meu melhor amigo, e não quero que ele se meta em uma furada ainda maior. Nada pessoal.
Mesmo não estando nada satisfeita com a intromissão de em meus planos, eu não poderia deixar de admirar sua devoção à amizade que tinha com . Era algo raro e muito bonito, como eu e Sofia.
A verdade é que eu também não queria que – ou mesmo Summer – se desse mal por causa de todo aquele plano. Então, sim, eu entendia . Não poderia ficar chateada com ele pelo que estava fazendo, embora não fosse desistir de tudo por sua causa.
- Tudo bem, . – Eu disse por fim. – Sinta-se à vontade para me espionar.
- Obrigado. – Ele sorriu. – Sei que você é uma boa garota, . É só que... Já vi os efeitos idiotas de paixões arrebatadoras antes, e eles podem ser devastadores.
- Já passou pela experiência? – Arqueei uma sobrancelha.
- Ah, não. – Riu. – Mas vi de muito, muito perto. – Ficou sério por um segundo. – Que tal se fossemos buscar o em casa hoje?
- Acho uma ótima ideia. – Me pus a andar. – E então, preparado para o jogo de amanhã?
- Sim! – Animou-se. – Você sabe, sou só um reserva. Mas nunca se sabe o que pode acontecer...

🌴💚🌴


- Acho que precisa de um pouco mais de pimenta. – Opinei depois de dar uma mordida no novo hambúrguer do Roger’s. – Não muita, mas talvez um pouco.
- Eu bem que disse. – Jerry, o cozinheiro do lugar, pavoneou-se todo. Era um cara meio gordinho, que sempre estava a par com as tendências da moda. – Mas como minha opinião não é suficientemente valorizada aqui...
- Ah, não reclame, Jerry. – Roger desdenhou. – Sabe que seu gosto é peculiar demais. Além disso, é nossa provadora oficial. – Sorriu, e eu sorri de volta.
Uma vez que meu pai e trabalhavam no Roger’s, eu passava boa parte do meu tempo livre lá. Às vezes, até fazia o meu dever de casa no lugar. Todos ali haviam me recebido muito bem desde que eu chegara a Jacksonville Beach, e era como estar com antigos amigos de família.
- Mais pimenta então, ? – Roger perguntou, pegando o prato da minha frente.
- Só um pouco. – Concordei.
- Já que é a provadora oficial dessa espelunca, devia pensar em negociar um salário. – Jerry disse, fazendo-me rir.
- Acho que esse lugar já tem funcionários demais, Jerry. – Outra voz surgiu na conversa. – Se continuar assim, não haverá dinheiro para pagar a todos.
Virei para trás então, abrindo um sorriso de orelha a orelha ao dar de cara com Miguel.
- Miguel! – Gritei, correndo para abraçá-lo. Não o tinha visto desde sua chegada, e honestamente estava enciumada por e já o terem conhecido.
- Chica. – Ele disse em meu cabelo.
- Olha só para você! – Me afastei, ainda segurando suas mãos. – Parece um galã de novela mexicana!
Miguel riu, mas era verdade. Desde a adolescência ele já era bem bonito. Eu me lembrava que as meninas ficavam indo ao bar atrás dele o tempo todo, mas agora ele estava absurdamente gato. Alto, ombros largos, o cabelo escuro curto e os olhos verdes, a pele bronzeada... Ele parecia mesmo ter saído de uma novela!
- Obrigado pelo elogio. – Ele sorriu. – Você também cresceu bastante. Acho que não consigo mais te carregar nos ombros.
- Não sou tão gorda assim. – Brinquei, e então o abracei de novo. – É tão bom te ver de novo, Miguel.
- Também senti muito a falta de vocês.
- , por acaso você já está... – Ouvi a voz de dizer.
Dei um passo para trás, sem soltar Miguel, e sorri para ele, dando de ombros. abriu a boca e engoliu em seco.
- Sim? – Perguntei ainda sorrindo.
- Eu só... Só queria... – gaguejou. – Eu só queria saber se você já vai para casa.
- Acho que vou, sim. – Respondi. Depois me lembrei de que as coisas poderiam ainda estar um pouco confusas, e me apressei a dizer. – Miguel, o é...
- Eles são dois pombinhos apaixonados. – Papai surgiu no topo das escadas, saindo da sala de Roger. – Acho que comentei com você, Miguel. Ou será que não?
- Acho que comentou, sim. – Miguel sorriu, olhando de forma curiosa para .
- Ótimo! – Papai sorriu, descendo as escadas. – Bom, então vocês dois já estão indo para casa?
- Já, sim. – respondeu ainda meio tenso.
- Miguel, por que não vai com eles e pega o saxofone lá em casa para mim? – Pediu. – Acreditam que o esqueci em casa? Pois é, acho que estou ficando velho.
- Eu posso buscar e trazer... – sugeriu.
- Não, eu posso fazer isso. – Miguel disse. – Vou adorar passar mais tempo com a . – Sorriu.
- Certo, vejo você mais tarde então, filhinha. – Papai me deu um beijo na testa.
E assim, eu, e Miguel partimos rumo ao meu bairro.

Fomos com o carro do meu pai. Miguel estava dirigindo, e eu, no banco do carona, falando sem parar. estava agindo de modo estranho, como se estivesse desconfortável, ansioso para chegar em casa.
- E então, onde estava antes de vir para cá, Miguel? – Eu queria saber.
- Passei uma temporada no Brasil. – Ele respondeu. – No Rio de Janeiro.
- Está brincando?! – Ri. – Minha mãe voltou para o Brasil há pouco tempo!
- Jack me contou. – Ele sorriu. – Teria procurado por ela, se soubesse. Queria muito ver a Jaqueline. Mas, de todo modo, talvez eu volte para lá daqui a um tempo.
- Alguma coisa que te faça querer voltar, Miguel? – Ergui uma sobrancelha.
- Alguém, na verdade... – Assentiu. – Ângela.
- As garotas brasileiras são mesmo inesquecíveis. – Sorri. – Papai que o diga.
- também... – Miguel olhou para trás pelo retrovisor. – Afinal, você é metade brasileira, não é?
- É, é sim... Concordo plenamente. – assentiu.
- Ah, é aqui, Miguel! – Avisei.
Tínhamos chegado à minha casa então. Miguel parou o carro e nós três descemos.
ainda estava esquisito e eu estava quase perguntando qual era o problema, quando ele enfiou as mãos nos bolsos e disse:
- Bom, já vou indo. A gente se vê amanhã, .
- Tá, tudo bem. – Respondi meio confusa. – Espera! – Chamei um segundo depois, lembrando-me de que éramos um casal. Corri até ele e lhe dei um beijo na bochecha. sorriu para mim e desapareceu em direção à sua rua.
Miguel estava esperando em frente à porta da frente quando voltei. Sem jeito, tirei as chaves do bolso e abri-a.
- Acho que sei onde ele deixou. – Referi-me ao saxofone. – Pode ficar à vontade.
- Estou à vontade. – Miguel ficou andando pela sala enquanto eu ia ao quarto de meu pai buscar o instrumento. Estava na caixa, sobre a cama, e eu o levei para Miguel.
- Jack está mesmo ficando caduco. – Ele riu um pouco, e eu também.
- Miguel... Por que não vem ficar conosco? – Perguntei de repente, atingida pela saudade guardada que estivera sentindo todo o tempo. Durante muitos anos, desejei ter Miguel por perto para me ajudar a passar pelos meus dramas adolescentes, do mesmo modo como tinha me ajudado a passar pela separação dos meus pais e tudo mais. Agora, olhando para ele ali, pensando em tudo que estava acontecendo, fui tomada pela vontade de tê-lo por perto de novo. – Quer dizer, você não precisa ficar em um hotel quando temos um quarto vago. Só precisaria tirar o entulho de lá e seria um lar.
Miguel me olhou como quem olha uma criança chorona, dando um breve sorriso.
- Sabe que não gosto de invadir o espaço dos outros assim. – Disse por fim. – Mas se Jack não se importar... Vou pensar no seu caso.
Abri um enorme sorriso de novo, imaginando como seria bom ter meu irmão postiço de volta em meio a toda a loucura em que eu havia me metido.

- Então, essa Ângela... – Indaguei enquanto saíamos de casa. Eu só ia acompanha-lo até o carro. – É bonita?
- Bonita demais para mim. – Miguel meneou a cabeça.
- Acho difícil acreditar. – Dei risada.
Miguel riu e balançou a cabeça, colocando o saxofone no banco de trás do carro.
- E quanto a você e aquele garoto, o ... – Perguntou. – Estão namorando há muito tempo?
- Eu e o ? – Abri a boca, pega de surpresa. – Ah, não, quer dizer... Começamos a namorar algumas semanas depois de eu ter chegado aqui.
- Entendi. – Ele ficou me encarando intensamente, como se não estivesse acreditando muito em minha reposta.
Certo, isso poderia ser um problema. Eu podia até estar aprendendo a mentir melhor, mas Miguel não só me conhecia muito bem, como também era muito perspicaz.
Mas, no fundo, eu também não queria mentir para ele, enganar mais uma pessoa de quem eu gostava. Então concluí que contaria a verdade à ele quando tivesse chance. Ele entenderia.
- Tem alguma coisa que você quer falar comigo, chica? – Ele perguntou então.
Talvez fosse esse o bom momento.
- Miguel, a verdade é que...
- AI. MEU. DEUS! – Ouvi a voz fina de Jodi à distância e levei um susto.
Miguel fechou a porta do carro.
- Mas que diabo é isso? – Perguntou assustado.
- Por Deus, que problema pode ser dessa vez?! – Perguntei, já correndo em direção à rua de Jodi. Miguel me seguiu.
Quando chegamos à rua do outro lado do parquinho, Jodi estava sentada no meio fio, usando o que parecia ser uma roupa de ginástica. A senhora Slaterton estava parada ao lado dela, uma expressão preocupada no rosto.
- Jodi! – Chamei, e ela levantou o rosto. – Jodi, ouvi você lá de casa! O que houve?
Jodi olhou de mim para sua mãe e abaixou a cabeça de novo, chorando. Meu Deus, o que havia acontecido?
- Aconteceu um pequeno acidente... – A senhora Slaterton disse depois de pigarrear. – Com a colega de vocês.
- Summer ou Emma? – Me abaixei à altura de Jodi, já sentindo um aperto no coração. – Jodi, o que aconteceu?
- Não, não... Não aconteceu nada com Summer e Emma... – Jodi resmungou.
Fiquei confusa. Não me lembrava de nenhuma outra amiga que tivéssemos em comum – de nenhuma outra amiga que Jodi tivesse.
- Então... – Franzi o cenho.
- Foi a Maya Burnes! – Jodi caiu num choro desesperador. – Aquela garota com os pés tortos!
Maya Burnes, eu me lembrava dela. Era a garota que tinha entrado para a torcida junto com Jodi e Emma. Mas eu ainda estava muito perdida naquela história.
- Maya veio aqui esta tarde para ensaiar com Jodi para a apresentação do jogo de amanhã. – A senhora Slaterton explicou. – Mas parece que alguns passos eram muito complicados para ela, e então... – Fez uma careta.
- Ela quebrou o tornozelo, ! – Jodi me agarrou pelos ombros, quase me derrubando. – Ela quebrou aquele tornozelo torto por minha culpa e os pais dela acabaram de leva-la para o hospital! – Choramingou. – Amanhã é nosso primeiro jogo como animadoras, Emma vai me matar!
- Jodi, não foi sua culpa. – Tentei acalmá-la.
- Pode até não ter sido, mas agora temos um desfalque na equipe e faltam menos de vinte e quatro horas para o jogo. – Fungou.
- Talvez possam achar uma substituta. – Miguel disse então, fazendo-se notar pela primeira vez.
Fiquei de pé, olhando de forma quase acusadora para ele. Não que eu não quisesse ajudar Jodi, mas a verdade é que já era tarde da noite e o jogo aconteceria na tarde do dia seguinte; encontrar alguém àquela hora seria quase impossível.
- Não é tão fácil quanto parece, Miguel... – Comecei.
- Não, ele está certo. – Jodi disse então.
Olhei para ela surpresa. Jodi se levantou com a ajuda da mãe, e seu rosto tinha uma expressão tão louca quanto o de Emma quando falava sobre o campeonato de líderes de torcida.
- Tudo que temos que fazer é achar alguém que consiga aprender a coreografia e que caiba no uniforme. – Ela disse séria.
- Jodi, são quase nove da noite... – Tentei dizer.
- Alguém que já tenha visto a gente ensaiar, que tenha noção dos passos. – Jodi continuou, como se estivesse pensando alto. – E que tenha o peso certo para ser arremessada...
- Jodi...
- . – Ela me olhou de um jeito muito bizarro, como se eu fosse o último pedaço de sua pizza preferida.
- Jodi, o que você... – Fiquei confusa. Então ela deu de ombros, sorrindo estranhamente, e eu balancei a cabeça devagar. – Não.
- Sim! – Ela segurou minhas mãos e saltitou.
- Não! – Dei uma risada histérica. – Nem pensar, não vai acontecer!
- , por favor, por favor, por favooooor! – Implorou. – Você passou mais tempo com a gente que qualquer pessoa, conhece os passos e cabe perfeitamente no uniforme! Sabe que Emma vai enfartar se não tivermos ninguém para substituir a Maya! E Summer criou toda aquela coreografia linda... Por favor, ! Só você pode nos salvar!
Respirei fundo, o pânico tomando conta de mim.
Eu?! Usando uniforme de torcedora e sacudindo pompons?!
Sofia riria por três semanas seguidas se alguém dissesse isso à ela. Isso se ela, para começo de conversa, acreditasse em algo assim. Collie e Ben me internariam!
Não era possível que Jodi quisesse mesmo que eu me apresentasse com elas.
Olhei para a senhora Slaterton, para Miguel e, por fim, para minha amiga louca.
Era nisso que dava andar com líderes de torcida!
- Vai ficar me devendo sua vida, Jodi Lyn. – Eu disse por fim, mal acreditando no que estava dizendo.
- Ah, eu te amo tanto! – Jodi comemorou, pulando em cima de mim e me enchendo de beijos. – Você vai ver que vai amar ser líder de torcida!
- Só... – Tentei processar tudo aquilo. – Como vamos fazer isso?
Olhei preocupada para Miguel, que sorria, achando tudo muito divertido. Jodi tirou o celular do bolso e discou um número na velocidade da luz.
- Alô, Summer? – Ela disse, o aparelho colado à orelha. – Temos uma emergência. Preciso que você e Emma venham para minha casa agora mesmo.


15 Parte 2 - More to love when your hands are free

“Baby, put your pom poms down for me...”

[...]

POV

Quando cheguei à casa dos Pie na manhã de sexta-feira, estava pensando que me mataria quando soubesse o problema que tínhamos conseguido. Acontece que até Jack dizer, eu ainda não sabia nada sobre Miguel, o velho amigo Mexicano. Desde que Jack tivera a boa vontade de nos contar quem ele era, eu estava preocupado. Eu e tínhamos conversado sobre meu problema com na frente dele – ele até tinha me dado um conselho amoroso! Agora que Jack tinha feito o favor de contar ao cara que eu e éramos namorados há muito mais tempo, ele com certeza ia ficar desconfiado. E Miguel não parecia ser do tipo que aceitava a desconfiança e seguia em frente sem questionamentos.
Como sempre, eu ia abrir a porta sem bater antes, mas, antes que eu o fizesse, ela se abriu sozinha.
E adivinhe só quem estava parado ao batente.
- Mi... Miguel? – Gaguejei, engolindo em seco.
- Por acaso ia entrar sem bater à porta? – Ele me olhou de forma acusadora.
- Não? – Respondi sem soar nem um pouco convincente.
Miguel fez uma cara não muito convidativa e voltou para dentro de casa, caminhando em direção à sala.
Certo, eu tinha que soar seguro, natural, pelo menos até ter conversado com a sobre o que faríamos.
- Eu vim buscar a ... – Eu disse o mais calmamente possível, entrando na casa. – Para a escola.
- Dirige seu próprio carro, então. – Ele observou quando cheguei à porta da sala.

[Coloquem para tocar agora, gente. Vai mais ou menos até o 0:59.]

Me perdi em meu raciocínio de namoro falso assim que vi o estado do lugar. Havia três enormes caixas de papelão e mais uma série de objetos sobre o sofá, que Miguel analisava tranquilamente.
- O que é isso? – Murmurei confuso.
- Minhas coisas. – Ele disse apenas. – Estou me mudando para cá.
Ai. Meu. Deus! Ouvi as vozes de Emma e Jodi em minha cabeça.
COMO ASSIM ELE ESTAVA SE MUDANDO PARA A CASA DOS PIE?
Aquilo não podia estar acontecendo. Eu precisava falar com , e rápido.
Eu, ela, e até , conversávamos constantemente sobre nossa farsa maluca ali, o que faríamos agora? Nós podíamos até enganar o Jack bem debaixo dos olhos dele, mas o estranho mal-encarado e assustador com tendências homicidas?
Nós tínhamos um problema. Um grande problema.
- De qualquer forma, veio aqui à toa. – Miguel disse então, me tirando do transe. – já foi para a escola com a garota da outra rua.
- O quê? – Franzi o cenho, confuso. – Com a Jodi? Mas por quê?
Miguel parou de mexer nas caixas e olhou para mim, uma sobrancelha arqueada.
- Não são namorados? – Perguntou. – Era de se esperar que ela te dissesse alguma coisa.
Dei de ombros apenas.
- E por falar nisso... – Ele disse então.
Mas eu não podia ficar ali por nem mais um segundo. Ajeitando a mochila nas costas, dei um passo para trás.
- Bem, eu vou indo então... – Falei me afastando. – Estou atrasado. A gente... A gente se vê por aí.
E disparei para fora da casa dos Pie, antes que Miguel tivesse tempo de me encurralar de um jeito que eu não pudesse continuar a enganá-lo.

[Chegaram ao 0:59? Então podem parar. Foi só para fazer vocês rirem um pouquinho ;)]

🌴💚🌴


Quando cheguei à escola, ainda nervoso pelo que tinha acontecido, estava parado no meio do corredor, próximo ao meu armário.
- Ora, ora, se não é o meu excelentíssimo melhor amigo, o primeiro e único ! – exclamou, todo alegre sabia-se lá Deus porquê. – Que belo dia, não é?
- E aí, ? – Respondi apenas, me encaminhando para meu armário.
Ele me seguiu, recostando no armário ao lado. Girei a combinação e peguei meu livro de História.
- Que cara é essa, ? – perguntou desconfiado. – Parece que viu o bicho-papão.
- Viu a por aí? – Indaguei olhando para os lados.
- Eu não. Vocês não vêm sempre juntos? – Apontou o óbvio. – O que aconteceu, vocês brigaram ou coisa assim?
- Não, nós não brigamos. Encontrei o Miguel e ele disse que ela tinha vindo com a Jodi.
- Então está tudo bem, ela veio com a maluca. Nada de importante. – Ele deu de ombros. – Sabe o que realmente importa, ? – Colocou as mãos na cintura.
Fiz uma careta e rolou os olhos, impaciente.
- Vamos lá, ! – Exclamou. – Olhe bem para mim. Não está vendo nada de diferente?
Fiquei encarando sem entender nada. Sinceramente, a única coisa em que pensava, olhando para ele, era em como ele estava parecendo Emma e Jodi em seus surtos eufóricos, mas achei que ele fosse se sentir ofendido demais se eu dissesse tal coisa.
- O uniforme, ! – Ele disse então. – Estou usando o uniforme do time! – Riu loucamente. – Porque eu sou reserva, lembra?
- Ah, é verdade! – Bati na testa. – O jogo. O jogo é hoje.
- Sim! – Concordou. – Hoje à tarde começa a nova era da vida de .
- E por que está usando o uniforme agora? – Arqueei uma sobrancelha. – O jogo é às cinco, .
- É pra dar sorte. – Ele deu de ombros, sorrindo. – Não se preocupe, estou usando antitranspirante.
Respirei fundo, olhando de um lado para o outro de novo.
- , nós temos um problema. – Decidi contar.
- Problema? Que problema?
- Quando eu falei com o Miguel hoje, na casa do Jack, ele estava com um monte de caixas de papel. Perguntei o que era a bagunça, e ele disse que está se mudando para lá.
- Aquele cara assustador vai morar na casa da ?! – franziu o cenho, horrorizado. – Caramba, , sei que ela é só sua namorada de mentira, mas precisa tirá-la de lá antes que... MEU DEUS! – Ele levou as mãos à boca e arregalou os olhos.
- O que foi?! – Olhei para trás, tentando descobrir o que ele poderia ter visto.
- ! – Sacudiu meus ombros. – E se a não veio com a Jodi nada? E se... E SE ELE A ESQUARTEJOU E COLOCOU OS PEDAÇOS NAS CAIXAS DE PAPELÃO?
Fiquei olhando incrédulo para , me perguntando por que diabos eu tinha acabado sendo amigo dele.
- Meu Deus! E se ele matou o Jack também?! – Ele continuava apavorado.
- , cala essa boca. – Rolei os olhos e saí andando. – A está em algum lugar dessa escola e temos que achá-la para descobrir o que vamos fazer sobre isso.
- , é sério! – saiu correndo atrás de mim. – Temos que fazer alguma coisa; chamar a polícia, ou não sei! Não podemos deixar a ser jogada em qualquer vala assim, temos que...
Então Amber Hayley dobrou o corredor e passou por nós com suas maria-chiquinhas louras.
- Ei, rapazes! – Ela sorriu.
- Talvez a possa ficar para depois. – deu meia volta imediatamente, seguindo a garota.
Puxei meu amigo pelo colarinho antes que ele tivesse ido longe demais.
- Amber! – Chamei.
- Sim? – Ela olhou para trás.
- Viu a por aí?
- Claro! Ela está com a Summer no ginásio.
ainda estendia as mãos em direção à ela enquanto Amber se afastava, mas eu não deixei que ele a seguisse.
- Vamos de uma vez. – O empurrei para minha frente. – Temos muitas coisas para resolver.

O caminho até o ginásio foi cheio de bandeiras e conversas barulhentas. Esse era o verdadeiro início da temporada para o Swordfish, e a escola sempre ficava em polvorosa nessa época. Jogos contra os Blue Eagles eram sempre muito esperados, uma vez que eles eram os inimigos mortais da Jacksonville Beach High. O capitão dos Blue Eagles conseguia ser mais orgulhoso e exibido que o próprio Junior , o que era um feito e tanto.
Honestamente, eu não era um torcedor fervoroso dos Swordfishes como o resto da população da cidade, mas sempre tinha adorado ir aos jogos. A bagunça eufórica, as conversas e acontecimentos que surgiam nesses eventos e se estendiam até bem depois... Também gostava de ver Summer animando a torcida; me fazia lembrar de quando éramos pequenos e ela dançava as músicas do Barney em frente ao espelho.
Os últimos episódios da série da minha vida, no entanto, estavam me ensinando a abominar as atividades esportivas do Swordfish. E o fato de ter desaparecido com as líderes de torcida justo no dia de mais um jogo do time da escola, só me levava a crer que aquelas datas esportivas estavam todas fadadas a acontecimentos trágicos.
- Certo, a pode até estar aqui, mas como vamos saber se está tudo bem com o Jack? – perguntava com toda a naturalidade do mundo quando nos aproximávamos do ginásio. À distância, Junior e seus comparsas conversavam sobre qualquer coisa.
- , quer parar com isso? – Balancei a cabeça, apressado. – Não tem nada de errado com o Jack.
- Que pena pra você, . – suspirou decepcionado. – O personagem incrédulo é sempre o primeiro a morrer.
Rolei os olhos, parando em frente à porta do ginásio. A empurrei, mas estava trancada.
- Por que raios está fechada? – Resmunguei, batendo à porta.
Colei o ouvido ao metal, ouvindo muita falação dentro do lugar. também estava lá, aparentemente, falando quase mais alto que todos. Mas o que afinal estava acontecendo ali? Bati com força à porta de novo.
- Ei! – Chamei.
Levou alguns segundos, mas então a porta se abriu um mínimo, e o rosto excessivamente sorridente de Brad Winter surgiu à fresta.
- Ah, olá, ! – Ele disse todo simpático. Brad era uma das poucas pessoas suportáveis do círculo de amigos da Summer. – ! – Acenou para .
- Oi, Brad. – Respondi educadamente. – A está aí?
- Oh, a ...
Mas então outro rosto surgiu à fresta, empurrando o de Brad pra cima.
- ! – Jodi exclamou. – O que está fazendo aqui?
- Preciso falar com a .
Jodi franziu o cenho, fazendo uma careta.
- Sinto muito, mas não acho que a pode falar com você agora, . – Disse.
O rosto de Emma surgiu bem abaixo do de Jodi.
- Ela definitivamente não pode. – A garota informou.
- Ei, saiam daí! – A voz de veio de trás deles.
Logo os três estavam sendo puxados para longe da porta, e estava colocando a cabeça para fora para falar comigo. Ela estava com duas enormes olheiras e o cabelo num coque.
- Onde está o resto do seu corpo? – perguntou se esticando para ver dentro do ginásio, mas fechou ainda mais a porta.
- Colado à cabeça, como sempre. – Ela respondeu nervosa.
- Por que veio na frente sem me avisar? – Eu quis saber.
- Foi um imprevisto. – suspirou. – As meninas precisavam de mim.
- Tenho até medo de perguntar para quê. – fez uma careta, e rolou os olhos.
- Quando pretendia me contar que Miguel ia ficar na sua casa? – Perguntei. – Fui lá hoje de manhã e esbarrei nele desfazendo mil caixas.
- É que... – mordeu o lábio. – Bom, ele não ia... Eu é que o chamei.
- Você o quê?! – Exclamei.
- Chamou um assassino para passar a temporada com vocês? – Meu amigo parecia incrédulo. – , o que se passa nessa sua cabeça?
- O quê? – franziu o cenho. – Qual é o problema de vocês? Miguel não é um assassino!
- , será que dá para dar um tempo aí para que a gente possa conversar? – Pedi.
- Talvez daq...
- ! – Emma gritou de dentro do ginásio.
- Não, não posso. – Ela balançou a cabeça, dizendo por fim. – Estamos em um caso de vida ou morte aqui.
Menos de um segundo depois, a cabeça de Summer apareceu acima da de . Ela olhou de mim para e sorriu.
- Oi, rapazes! – Disse. – Desculpem por termos roubado a sem pedir permissão, era uma emergência. – Ela explicou. – Entretanto, precisamos dela por mais algum tempinho para resolver o problema. Sugiro que deixem o que tiverem que conversar para a Fogueira, à noite. Aposto que vai ser a melhor que já tivemos. – Piscou para nós. – Beijinhos, tchau!
Summer puxou de volta para dentro do ginásio e fechou a porta.
- Hoje deve ser o dia mais estranho do ano. – Balancei a cabeça.
- Com tudo de anormal que tem acontecido ultimamente, é difícil dizer. – deu de ombros. – Mas Summer está certa, você pode conversar com a à noite. Não acho que Miguel vai descobrir nada até amanhã. Você mal vai vê-lo pelo resto do dia, no fim das contas.
- É... Isso é verdade. – Concordei.
- Além disso, não pode deixar sua paranoia estragar o dia de hoje. É um jogo contra os miseráveis dos Blue Eagles, cara, e eu sou reserva do time! – Exclamou eufórico. – E depois tem a Fogueira, e vai estar cheio de garotas bonitas...
Olhei para ele e torci a boca.
- Certo, você não vai poder ficar com nenhuma delas, mas vai poder olhar! – Sorriu. – Além disso, vai estar com a , e ela também é uma gata, talvez... Sei lá, role alguma coisa.
Pensei por alguns segundos naquela possibilidade e, mesmo não querendo, admito que fiquei nervoso – não irritado com ; nervoso no sentido idiota e apaixonado da palavra. Ficar com a na Fogueira... Talvez acontecesse, não é? Seríamos namorados de mentira, numa festa de verdade. Eu até poderia conversar com ela sobre o que tinha acontecido dias atrás, quando eu tinha ido à casa dela enquanto ela dormia...
- Ah, está pensando na possibilidade, não é?! – me beliscou, rindo.
- Sai daqui, . – O empurrei, mas estava rindo também. – Certo, vou conversar com a à noite. Temos mesmo muito o que conversar.
- É assim que se fala, conquistador! – Ele levantou os polegares.
Então uma bola veio rolando até nossos pés. Olhamos para o lado e encontramos Junior e os outros acenando.
- Ei, ! – Ele chamou. – Por que não vem aqui para discutirmos a estratégia de hoje?
olhou para mim e sorriu de um jeito maluco.
- Eu sou do time! – Sussurrou.
Rolei os olhos.
- Vai lá de uma vez, . – Disse.
- A gente se vê mais tarde, amigão!
saiu correndo para se juntar aos outros e eu voltei a caminhar em direção à sala onde teria a primeira aula.
Ao fazer a curva no final do corredor, esbarrei em Rosana Wayans. Ela não usava um uniforme do Swordfish, como muitos, mas sua camiseta colada era azul escura, acompanhando o padrão.
- Oh, foi mal, Rosana. – Eu disse rapidamente. – Não estava prestando atenção no caminho.
Rosana sorriu, fazendo com que eu engolisse em seco. Desde que soubera o que ela tinha dito sobre mim, eu ficava sem graça sempre que nos encontrávamos.
- Tudo bem, . Não entre em pânico. – Ela riu e deu de ombros. – E então, vai a Fogueira hoje à noite?
- A Fogueira? – Prendi a respiração. – Claro, vou, sim.
- Bom, nos vemos lá então.
- Até... Até lá. – Tentei sorrir.
Wayans se afastou ainda rindo, fazendo com que eu me sentisse um trouxa – o que eu era mesmo, na realidade.
De todo modo, fiquei feliz por ela já ter ido embora, e segui meu caminho sem nenhuma outra interrupção.

POV PIE

- Não aguento mais, eu estou exausta! – Me joguei no chão. Àquela altura da vida, já nem me importava mais de sujar minhas roupas. Já estava mesmo toda suada.
- Ah não, levanta daí! – Emma agarrou meu braço e me puxou, forçando-me a sentar. A baixinha era forte feito o cão.
- , você consegue. – Jodi se abaixou ao meu lado sorrindo. – Está indo super bem!
Fuzilei com os olhos aquela loirinha com cara de coração. Tudo tinha sido culpa dela. Todo aquele terrível e mortal cansaço se devia a minha lealdade de amiga e àquele chororô que ela tinha feito na noite anterior.
Depois da ligação de Jodi, Summer tinha levado menos de vinte minutos para aparecer, e Emma tinha chegado ainda antes graças a mensagem que ela tinha enviado do caminho. Summer consolou Jodi Lyn, e depois ela contou às duas seu plano brilhante. Claro que – como já era de se esperar, visto que todas pensavam como líderes de torcida loucas – as meninas rapidamente concordaram que era uma excelente ideia. Assim, eu tinha ficado até altas horas aprendendo os benditos passos da coreografia que, na verdade, já conhecia um pouco mesmo. Não era nada lá muito complexo, exceto, é claro, pelos chutes no alto e saltos assustadores, dos quais elas tentaram me poupar. Mas era, sem dúvida, exaustivo. No fim, eu tinha ido dormir às duas da manhã e acordado às seis – sentindo dor em músculos que eu nem sabia que existiam – para ir mais cedo e treinar mais. Eu nunca mais ia julgar uma líder de torcida na minha vida.
- , a Jodi está certa, você está indo muito bem. – Summer se sentou ao meu lado no chão, estendendo uma garrafa d’água para mim. – Para quem nunca foi da torcida, é até bem flexível.
- Obrigada, mas eu não aguento mais treinar. – Cobri o rosto com as mãos. – Eu só queria que à tarde chegasse logo.
- Não vamos mais forçar a barra, você tem que estar inteira para o jogo. – Ela garantiu. – Só falta mais uma coisa. – Olhou para Emma.
- Não estou tão certa de que isso seja uma boa ideia. – A garota fez uma careta.
- Vai dar certo, Emma. – Summer sorriu, colocando-se de pé. – Tem que dar.
- Do que estão falando? – Perguntei com receio.
Jodi fez uma cara preocupada, mas sorriu ao olhar para mim.
- Da pirâmide. – Respondeu.

Eu já estava a metros de distância delas, fugindo feito uma bala.
- , volta aqui! – Emma gritava. – É cem por cento seguro!
- Vocês não vão me jogar para o alto. Desistam. – Fui firme.
- Nós não queremos te jogar para o alto, só te levantar um pouco. – Jodi explicou, fazendo-me parar. – Não vai acontecer nada de ruim. Esse movimento nunca deu errado, não é, Brad? – Ela perguntou à Brad, que, apesar de ser um jogador e não parte da torcida, estivera acompanhando meu sufoco desde cedo.
- Claro que não. – Ele deu aquele sorriso ofuscante. – Certo, teve aquela vez que...
Mas Emma deu logo um soco na barriga do garoto, fazendo com que ele se curvasse de dor. – Cala a droga da boca, Winter! – Ela exclamou irritada. Então virou-se para mim. – Não pode nos deixar na mão agora, . Simplesmente não pode.
E eu estava morrendo de medo de responder e aí levar eu mesma um soco no estômago.
- Olhe, você está no lugar da Maya, e ela nem fica realmente bem no alto. – Jodi explicou. – Ela é a escada da Summer. O pessoal levanta ela e a Emma, e aí Summer se apoia nas duas para ficar no alto. Não há saltos, eu juro.
Fiquei mais calma ao ouvir aquilo, mas ainda estava com medo.
- O problema é que, sem ofensas, mas ela é muito fracote. – Emma olhou rapidamente para mim e fez uma careta para Summer.
- Não sou não! – Protestei.
- Emma está certa, você não tem preparo para me sustentar. – A loura concordou. – Cansada do jeito que está, seria ainda pior. Eu poderia machucar sua perna. – Pensou um pouco.
- E o que vai ser então? – Brad murmurou, ainda tentando se recuperar do soco.
- Não vai ter outro jeito. – Summer concluiu por fim. – Ela vai ter que ficar no topo.
- O QUÊ? – Jodi se espantou. – Mas, Sum, você fica no topo desde sempre! Você é a líder!
- Isso não é por mim, Jodi Lyn. – Ela estava decidida. – É pela equipe.
Até eu estava embasbacada com a decisão de Summer, e ainda mais assustada com aquela responsabilidade.
- Summer, eu... – Tentei me esquivar.
- Estou te pedindo, . – Ela colocou a mão em meu ombro. – Pela nossa amizade, não desista.
Engoli em seco, mas não consegui dizer que não. Ela sorriu e assentiu quando viu que eu estava de acordo.
- Emma, eu vou sustentar com você. – Disse, já se encaminhando de volta à quadra. Seguimos a comandante feito cachorrinhos. – Vamos treinar a formação uma vez, só nós três. Avisamos ao resto do grupo na hora do jogo.

POV

- Tem alguma coisa muito errada acontecendo. – Murmurei, frustrado por não saber nada, enquanto me vestia para ir ao jogo.
- Provavelmente sim, mas o que se pode fazer? – passou mais uma dose de antitranspirante, me provocando um acesso de tosse. – O jogo começa daqui a pouco e eu estou concentrado, não dá tempo de pensar em nada.
- Eu sei. – Lamentei.
- Quer saber algo maluco? – Ergueu uma sobrancelha. – Os jogadores, alguns deles, até sabem meu nome. E eu sou só o reserva! – Riu. – Devo ser um reserva muito popular.
- Ou o tem sua cara marcada porque é meu amigo.
- Não seja tão pessimista. – Ele ajeitou o pouco cabelo e se virou para mim. – E então, como estou?
- Parece um reserva do time.
- Era essa a intenção!
Meu amigo começou a juntar suas coisas e colocar dentro da mochila, enquanto eu tentava ligar para mais uma vez.
- Estou pronto. Vamos. – anunciou antes que alguém me atendesse.
Enfiei o celular no bolso e o segui até o andar debaixo da minha casa.
- Já estão saindo, rapazes? – Henry, meu padrasto, perguntou. Ele era um cara legal. Não era exatamente meu melhor amigo, mas nos dávamos bem desde que nos conhecêramos. O que importava era que nós dois amávamos muito minha mãe, e assim, nos entediamos em boa parte das coisas.
- Já sim, senhor H. – respondeu todo feliz. – Afinal, eu sou do time agora, não posso chegar atrasado.
- Então tá. Bom jogo pra você, . – Ele sorriu. – Vai voltar tarde, ?
- Não sei bem, vou para a Fogueira depois do jogo. – Respondi.
- Bom... Se divirta com responsabilidade. – Henry riu de sua própria tentativa de um conselho paterno.
- Valeu. – Eu ri também. – Até mais tarde.

Já do lado de fora, ajeitou a mochila nos ombros.
- Pode me deixar na escola? – Pediu. – Vou no ônibus. Com o time. – Sorriu feito um idiota.
- Posso, sim. – Concordei.
O jogo aconteceria em Neptune Beach, o que significava uma viagem de cerca de meia hora apenas. Em dias de jogo, porém, o trânsito costumava ser pior, o que queria dizer que eu tomaria o caminho do lugar não muito depois de o ônibus ter saído.
- Valeu, cara. – disse quando desceu do carro em frente à escola.
- Vou sair também. – Informei abrindo minha porta. – Ver se acho a por aí.
- Beleza. Eu te ajudo então.
Eu e andamos por todo canto, mas não havia o menor sinal de por ali – e nem de Summer, de Jodi ou de Emma. Era como se as quatro tivessem sido sugadas por um buraco negro.
- O mais bizarro é Summer não estar aqui na concentração para a apresentação da torcida. – comentou quando já desistíamos. – Muito estranho mesmo.
- Eu falei, não falei? – Balancei a cabeça, fazendo uma careta.
A alguns metros de nós, estava o ônibus. Faltavam poucos minutos para que ele partisse. Os amigos de Junior estavam parados à porta com algumas líderes, e naquele momento ele ia a caminho deles. Parecia estar voltando do vestiário.
- Podemos perguntar à ele. – considerou.
- Não precisa. – Dispensei.
- Não seja orgulhoso. É bem provável que ele saiba.
E antes que eu o contrariasse de novo, ele já estava correndo em direção a . Fui obrigado a segui-lo, pois sabia que talvez estivesse certo.
- Ei, Junior! – Meu amigo chamou.
- . – O garoto assentiu, parecendo um pouco desconfiado ao me ver.
- Por acaso não viu a por aí? – indagou.
- A ? – Junior olhou para mim por um instante. – Não, não vi. Por quê? Perdeu a namorada, ?
- Não mesmo. – Garanti. – Só nos desencontramos.
- Boa sorte em acha-la então. – Ele deu um sorriso cínico. – Os jogos sempre são tão lotados. Ela pode estar em qualquer lugar, com qualquer pessoa.
- não é do tipo que anda com qualquer um. – Sorri. Ele riu um pouco.
- Vamos lá, ? – Chamou. – Já está na hora.
engoliu em seco e se aproximou de mim enquanto ia para o ônibus.
- Nos vemos lá então. – Disse.
- Boa sorte, cara. – Desejei com sinceridade.
Meu melhor amigo se juntou aos outros e eu tomei o caminho do meu carro de volta. Talvez ainda parasse no Rogers para tomar um refrigerante antes de seguir definitivamente para Neptune Beach.
Quando estava entrando no carro, porém, meu telefone tocou. Era o número de na tela e eu atendi.
- Rain? – Eu disse.
- Desculpe, sou eu. – Era a voz de Summer do outro lado.
- Sum? – Me surpreendi. – Onde está a ? Aconteceu alguma coisa?
- Não necessariamente. Ela só está... Terrivelmente cansada. – Summer deu uma risadinha. – Nos ajudou muito durante a manhã.
- Sério? Estava procurando ela para irmos ao jogo...
- Não se preocupe, ela definitivamente vai ao jogo. – Prometeu. – Eu vou levá-la no meu carro.
- Se é assim... Nos vemos lá então.
- Até mais, jovem . – Ela riu e desligou.
Fiquei um pouco parado diante do apelido que eu nem sabia que ela se lembrava. Jovem era como nosso vizinho, senhor Wilson, me chamava quando éramos crianças. “Lá vão o jovem e a pequena Summer. Mas esses dois não se desgrudam mesmo!”. Senti saudades dele, de repente. E da época em que, como ele dizia, não nos largávamos.
Como tinha acontecido aquilo, afinal? Como você é o melhor amigo de uma pessoa e, de repente... Não é mais?
Claro, não podia desconsiderar o fato de que, no fim das contas, Summer e eu éramos só crianças naquela época. Não dava para querer levar a sério a amizade eterna entre duas pessoas que não sabiam nem fazer equações do primeiro grau ainda. Mas mesmo agora, tudo que eu conseguia ver quando olhava para Summer era aquela garotinha risonha sem o dente da frente. Curiosamente, parecia que o surgimento de em minha vida tinha, ao mesmo tempo, intensificado e diminuído esses sentimentos por Olsen.
Mas não tive muito mais tempo para ponderar sobre minha antiga – e atual – relação com Summer. Ouvi os gritos de euforia do time e das torcedoras, no ônibus de trás, e logo os dois transportes partiam rumo a Neptune Beach. E eu, que não queria me atrasar nem um segundo para encontrar , segui atrás deles.

POV PIE

- Me explica como é que você consegue se enfiar nesse troço?! – Eu perguntava à Emma enquanto vestia a camiseta apertada de líder de torcida.
- Você se acostuma. – Ela deu de ombros.
- Espero não me acostumar, não. – Soltei o ar quando finalmente consegui. Observei meu reflexo naquela roupinha minúscula azul e amarela, impressionada com o fato de o uniforme de Maya realmente ter cabido perfeitamente em mim.
A porta atrás de mim se abriu e o reflexo de Summer surgiu, trazendo algo nas mãos.
- Está ótima, . – Ela sorriu. – Agora só falta uma coisa. – Ergueu as mãos no alto, exibindo a fita amarela, como a que todas elas usavam no cabelo.
Emma parecia tão empolgada, como se eu estivesse passando por algum rito de passagem ou coisa do tipo. Summer também trazia uma expressão solene no rosto, o que me deixou um pouco nervosa.
Quando ela acabou de amarrar meu cabelo num rabo de cavalo alto, apoiou as mãos nos meus ombros e sorriu para nosso reflexo.
- Vicentini Pie, eu te declaro uma líder de torcida.

Quando me sentei no banco de trás do carro, ainda estava com sono.
- Pelo amor de Deus, toma isso. – Emma, entrando pela porta do carona, estendeu uma lata de Coca-Cola para mim. – A última coisa que precisamos é que você pegue no sono no alto da pirâmide e estrague tudo em frente àquelas vacas das Blue Eagles.
- Não precisa exagerar, Emma. – Summer colocou o cinto de segurança. – Tudo vai dar certo.
- Vai sim. – Jodi se sentou ao meu lado, ajeitando o cabelo. – Vai ser incrível.
- Qual é a dessa rixa de todo mundo com os Blue Eagles, hen? – Perguntei, por que o negócio mais parecia uma guerra.
- É uma coisa histórica, eu acho. – Jodi deu de ombros.
- E também, o Junior se meteu em uma briga com o capitão do time deles, dois anos atrás.
- E todo mundo comprou a briga dele. – Balancei a cabeça, impressionada com o nível de imbecilidade que as pessoas eram capazes de atingir.
- Foi por uma boa causa. – Summer defendeu. – Ele só estava defendendo o .
- Defendendo? De quê?
- Ele se meteu com alguma garota que tinha namorado, qualquer coisa assim. – Ela explicou enquanto saía com o carro.
- Me parece uma coisa que o faria. – Ponderei.
- Ainda bem que agora ele só tem olhos para a Emma. – Jodi Lyn deu uma risadinha. Eu ri também.
- Ah, isso é verdade. – A loira sorriu. – Amber veio me dizer que perguntou se você tinha namorado. – Encarou Emma, que bufou e rolou os olhos.
- E por que ele não perguntou direto a mim? – Ela resmungou. – Sabia que esse garoto não tinha atitude. Além disso, ele é muito estranho.
- Eu acho que você gosta dele. – Provoquei.
- Eu também. – Jodi riu.
- Por que não vão me procurar na esquina? – Emma fez careta.
Nós três rimos da reação dela, e comecei a pensar que talvez a provocação a incomodasse tanto porque era verdade: ela estava gostando de .
O carro se moveu rapidamente enquanto conversávamos sobre besteiras – minha vida em Denver, as coisas em Jacksonville Beach antes da minha chegada, a carreira de Summer, na qual ela tinha dado um tempo.
- Mas você não está sentindo falta das passarelas? – Jodi perguntou com sincera curiosidade.
- Honestamente, ainda não. – A garota balançou a cabeça. – Por favor, eu acabei de voltar! – Riu. – E as coisas estão sendo essa bagunça com o Junior, mas estou gostando tanto de ficar aqui com vocês... Eu não me sentia tão leve há bastante tempo. E agora tenho o de volta à minha vida. Não, definitivamente, não é a hora de voltar para as passarelas.
- Você e o já ficaram? – Emma perguntou de supetão.
Todas nós viramos para ela, surpresas. Summer pareceu ficar sem graça com a pergunta, o que me deixou curiosa – e ligeiramente incomodada.
- Emma, está vendo a namorada dele aqui, não é? – Desviou da resposta.
- Eu quero saber. – Rapidamente falei. – Quer dizer, você está com o Junior há séculos, então qualquer coisa entre você e teria sido coisa de criança, não é mesmo?
- Sim... – Ela concordou. – Mas não. Nunca aconteceu nada entre nós dois.
- Que bom. – Jodi soltou o ar, e eu também fiquei aliviada. – Ia ser o maior climão aqui.
- Mas... – A loira continuou, e todas olhamos para ela ao mesmo tempo. Quase tive um mini ataque cardíaco ao saber que ainda havia alguma coisa. – Eu achava que ele era meu namoradinho, quando tínhamos uns nove anos. Coisa de criança mesmo, . – Riu. – Eu era muito bobinha.
Jodi riu, mas eu levei um segundo para engolir a informação. E então sorri também, e por um instante pensei que talvez Summer e pudessem ficar juntos, quando eu finalmente tivesse voltado com o . O problema era que a simples ideia me soava como a coisa mais absurda.
Não... não gostava dela assim.
Ou será que gostava? Eu nunca tinha perguntado. E, por alguma razão, não estava bem certa se queria saber.

🌴💚🌴


- Ei, dorminhoca, já chegamos.
Abri os olhos um pouco assustada, levando alguns instantes para me dar conta da barulheira ao redor. Summer me encarava com um sorriso, as meninas estavam a alguns metros.
- E eu que tinha esperança de que isso tudo fosse um sonho maluco. – Bufei. Ela riu.
A loura me ajudou a sair do carro, e então eu segui ela e as outras até o vestiário da Neptune High. A escola, por sinal, era bem grande – talvez maior que a Jacksonville High. Havia várias pessoas usando camisas brancas com detalhes azuis – as cores oficiais do colégio deles –, e de repente comecei a ficar terrivelmente nervosa. Meu estômago foi se embrulhando de tal forma que eu estava a ponto de fugir quando entramos no vestiário.
- Pensei que não fossem chegar nunca! – Amber correu para perto de Summer. – Por que não vieram conosco no ônibus?
Só então ela reparou em mim, vestida com a roupa idêntica à de todas elas.
- Meu. Deus. – Ela riu.
Logo todas as líderes tinham deixado a arrumação final de lado para me encarar. De trás de um bando delas saiu Jasmine, uma cara de completa incredulidade.
- Summer, o que significa isso? – Apontou para mim como se eu fosse uma coisa.
- vai ficar no lugar da Maya hoje. – A garota respondeu apenas.
- Você andou bebendo? – A outra se enfezou. – Essa garota nunca esteve numa torcida organizada antes, ela não vai saber sustentar...
- Jasmine, isso não será necessário, porque... – Ela sorriu para mim, Jodi e Emma. – vai ficar no topo.
Uma falação maluca teve início. Amber estava em choque também, mas Jasmine parecia estar prestes a ter um AVC.
- Isso não é justo! – Exclamou. – O topo sempre foi seu, e quando você foi embora, passou a ser meu. Eu só abri mão dele porque você queria voltar ao grupo.
- E eu estou de volta, Jas. Mas houve uma emergência, e como capitã da equipe, eu me responsabilizo pela decisão. E eu decido que vai ficar no topo da pirâmide. Eu e Emma faremos a sustentação, tudo vai dar certo.
Jasmine encarou Summer com raiva por alguns instantes, depois saiu com passos pesados dali. Algumas garotas a seguiram, querendo acalmá-la, mas eu achava pouco provável que a tentativa funcionasse.
- Não se preocupe, ela vai superar. – Jodi garantiu.
- Pois eu espero que ela fique mordida de raiva pelo resto da vida! – Emma riu. Summer balançou a cabeça, mas sorriu.
- Vamos. Temos que fazer a concentração final.

Depois de alguns minutos de conversa, Summer tinha conseguido explicar as outras garotas como as coisas aconteceriam.
- Certo, então vai ficar no lugar da Maya, mas não vai fazer os passos mais complicados? – Uma garota negra muito bonita perguntou.
- Isso mesmo, Dixie. – A loura concordou. – Não podíamos exigir tanto dela, já está nos fazendo um favor.
- Exceto se levarmos em conta que há dezenas de garotas em nossa escola que matariam para fazer isso por nós e entendem muito mais de torcida. – Era Jasmine voltando.
Parecendo menos alterada, mas ainda insatisfeita, ela se sentou ao lado de Summer no banco.
- Jas... – Sum olhou para ela com doçura. – Sabia que ia voltar.
- Tudo pela equipe, não é? – A outra devolveu com amargura. – Maya não fazia muita coisa mesmo; acho que sua amiguinha consegue pelo menos não estragar tudo que fizermos.
Summer balançou a cabeça e riu. Então ouvimos o da banda marcial da Neptune Beach High School do lado de fora. E o jogo estava prestes a começar.

POV

Comecei a procurar por rostos conhecidos assim que saí do carro. Apesar de haver muita gente da escola ali, não havia quase ninguém com quem eu realmente conversasse.
Caminhei até uma barraca e entrei na fila do cachorro-quente, cantarolando distraidamente enquanto esperava minha vez:
- We may as well go home, as I did on my own… Alone again, naturally.
- Ei, bela voz. – Uma voz feminina elogiou.
Olhei para trás só para encontrar Rosana me encarando com um sorriso charmoso.
- Rosana. Acha mesmo? – Engoli em seco.
- Claro que sim. Se soubesse que cantava tão bem assim, já teria ido te ver naquele tal de Roger’s.
- A comida de lá é ótima. Você ia gostar.
Ela riu.
- Você é uma graça, . – Disse. – Mas devia prestar mais atenção; sua vez já chegou. – Apontou para frente.

Eu e Rosana compramos nossos cachorros-quentes e caminhamos juntos para a arquibancada.
- Estou com Ashley e Eric. Pode se juntar a nós, se quiser.
Eu não sabia bem como responder as sugestões de Rosana. Mas tinha a impressão que ela estava flertando comigo, e isso era a pior coisa que poderia acontecer naquele momento. Sorri e assenti, sem responder.
- Soube que o entrou para o time. – Ela continuou, percebendo que eu não ia dizer nada. – E a , onde está?
- Ela ia vir com a Summer.
- Puxa, é verdade! – Ela parou quando já avistávamos seus amigos na arquibancada e riu, levando as mãos à cintura.
- Você e Olsen eram super amigos antigamente, não é? – Comentou.
E eu ia responder dessa vez, mas não foi possível.
A banda marcial aumentou as batidas dos tambores para receber as líderes de torcida. E, para o meu total espanto, minha namorada de mentira estava entre elas.

POV PIE

A banda aumentou o rufar dos tambores quando entramos no campo. Os torcedores do Swordfish, especialmente bateram palmas e gritaram enlouquecidos. Muitos deles apontavam para mim, confusos e surpresos. Eu estava morrendo de vergonha.
- Vamos, acene! – Jodi ergueu minha mão no ar.
- Eu estou paralisada de vergonha. – Falei entredentes.
- Pois desparalise! – Emma me beliscou discretamente. – É uma atriz, não é? Invente um personagem, incorpore ele!
Tudo bem, eu poderia tentar fazer aquilo. Respirei fundo e ergui os braços, distribuindo tchauzinhos para todos.
- Viu só? Não é tão difícil. – Jodi riu.
E realmente, não era. Emma estava certa – bastava incorporar o personagem.
Mas que personagem era aquele? Líder de torcida. Super confiante e carismática. Meu Deus, eu estava tentando virar a Summer!
- ?
Olhei para o lado, de onde vinha correndo.
- ? – Engoli em seco, envergonhada daquela roupinha minúscula.
- Você virou líder de torcida?!
- Não, eu só estou no lugar da Maya! O que está fazendo aqui?
- Sou reserva, esqueceu? Os jogadores oficiais vão entrar daqui a pouco.
O barulho ensurdecedor ficou ainda pior, e outra música começou a tocar. As líderes de torcida dos Blue Eagles haviam chegado.
- Bad Blood? É sério? – Emma fez uma careta, referindo-se a música.
- Essas garotas ficam mais ridículas a cada ano. – Sienna rolou os olhos.
A líder das Blue Eagles era uma ruiva magrela que parecia ser achar a própria Taylor Swift. E se eu não gostava da original, a cópia também tinha ficado entalada na minha garganta. Ela sorriu e jogou um beijinho para nós enquanto dançava.
- Agora entende por que não gostamos delas? – Jodi se aproximou de mim.
- Com certeza. – Concordei.
- Então nos ajude a acabar com essas vadias! – Emma apontou pra elas feito um general.
- Pode deixar comigo.
- FORMAÇÃO, GAROTAS! – Era Summer chegando. – Os rapazes já vão entrar!
Entramos na formação de fila indiana que as garotas tinham me ensinado, e logo o narrador estava anunciando a chegada dos dois times.
- ! – Ouvi, virando para trás no mesmo instante, assustada.
estava lá, com uma cara de total confusão. Eu nem consegui responder.
- O QUE ESTÁ FAZENDO AÍ? – Ele gritou de novo, e dessa vez pensei em dizer alguma coisa, mas então Rosana Wayans estava falando alguma coisa com ele e...
Que diabos Rosana Wayans estava fazendo com ele?
Estreitei os olhos furiosamente, mas antes que tivesse tempo de gritar algo, fui empurrada.
- Anda logo, Pie! – Jasmine gritou, e tive que me apressar para ir para outro lugar ao lado de Jodi.
O narrador anunciou então o último jogador dos Blue Eagles a entrar – o capitão do time, Troy Whelmington. A ruiva magrela jogou um beijo escandaloso para ele. Tive que vontade de vomitar.
- E agora, os visitantes... – O narrador continuou. – Damas e cavalheiros, os Swordfishes!
As meninas começaram a gritar e pular e eu as acompanhei, enquanto nossos jogadores entravam um a um no campo. O último foi , que estava sorrindo e acenando até que me viu. Ele parou nitidamente abismado no meio do caminho e ficou me encarando. Pude ler seus lábios formando a frase “mas que...”. Logo o estava empurrando, no entanto. As formalidades foram feitas e o jogo começou.
Nem eu nem minha mãe super brasileira éramos aficionadas por futebol. Mas sempre que possível, mamãe gostava de ver jogos, porque eles a faziam se lembrar de casa. Eu, por conseguinte, assistia junto. No entanto, algo estava acontecendo comigo naquele dia. Eu não sabia se era a multidão de alunos da Jacksonville Beach High School gritando atrás de mim, se era a cara de nojenta da capitã das Blue Eagles ou se era o calor por estar pulando de um lado para o outro naquele fim de tarde ensolarado. Mas, de repente, o futebol me parecia a coisa mais incrível do mundo. Quando dei por mim, eu estava vibrando, gritando, reclamando e – é claro – animando, como uma legítima líder de torcida. Quase entrei em pânico ao me dar conta disso, mas era tarde demais; eu não conseguia me livrar dos pompons.
O primeiro gol foi nosso, e comemoramos com as típicas frases ensaiadas da torcida.
- S-W-O-R-D! O Espadarte vai acabar com você! F-I-S-H! Nós viemos pra ganhar!
Tentei não me machucar toda enquanto fazia os pulinhos junto das garotas, mas tudo parecia estar indo bem.
Logo, no entanto, os Blue Eagles começaram a contra-atacar furiosamente. Troy Whelmington fez um gol tão rápido que mal tivemos tempo de reagir.
- Ah não! – Exclamou Summer arrasada.
- Vai time! – Emma, aflita, gritou e bateu palmas.
Mas não deu outra. Os Eagles continuaram marcando nossos melhores jogadores, não permitindo que fizéssemos nada. Quase no final do primeiro tempo, finalmente conseguiu se aproximar do gol adversário com a bola, mas então levou uma rasteira violenta de um garoto do outro time. Ele caiu no chão no mesmo instante, gemendo de dor.
- FALTA! – Gritei revoltada.
A arquibancada atrás de nós começou a vaiar. Nós também.
O juiz declarou que havia sido uma falta grave e expulsou do jogo o outro jogador. Houve o pênalti, mas não houve gol. E então o primeiro tempo tinha acabado.
- Mas que droga! – Jodi exclamou nervosa. – Coitado do !
- Deve ter doído mesmo. – Emma concordou, e dava para ver que estava preocupada, embora não admitisse abertamente.
se aproximou de onde estávamos então, sendo amparado por e Brad.
- Aquele desgraçado! – Ele xingava, sentando-se com cuidado no banco. – Ele fez de propósito!
- Que merda, ! – O técnico chegou perto para ver o estrago feito. – Acho que não vai dar pra te colocar de volta.
- Você acha? – ironizou.
O treinador começou a olhar para os lados, desesperado, até que encontrou algo interessante no banco de trás.
- ! – Chamou. – Levante-se daí, você vai jogar.
– assim como eu – arregalou os olhos, mal acreditando no que ouvia.
- Senhor, mas eu... Eu vou ser... Um titular?
- Claro que não! Ainda é um reserva. Agora pare de babar no gramado, , e comece a se alongar. Vai entrar no lugar do .
- , VOCÊ OUVIU ISSO? – Ele sorriu de orelha a orelha pra mim.
Sorri de volta, toda feliz por meu amigo, mas no mesmo instante Summer me puxou para perto das outras.
- Certo, garotas, hora do show do intervalo. – A loura avisou. – Estamos literalmente levando uma surra, temos que colocar os meninos pra cima!
- Sim, capitã! – As outras responderam prontamente. Summer me encarou então.
- , posso contar com você? – Quis saber. Levei um segundo, mas concordei.
- Sim, capitã. – Respondi.
- Ótimo, então vamos lá! – Ela sorriu para as outras. – Do jeito que ensaiamos, meninas!
As garotas dos Blue Eagles tinham acabado de apresentar sua coreografia, aplaudidas fortemente pela torcida, quando entramos em campo.

[N/A.: Certo, podem botar pra tocar essa e deixar até o final do capítulo, babies]

A música começou a tocar e eu já sabia perfeitamente o que fazer. E queria, como uma verdadeira fanática pelo Swordfish, ver as Águias caírem em pleno voo.
Summer pediu a colaboração da arquibancada, e logo estávamos em uma coreografia que começava mais simples, cheia de voltinhas e rebolados, e ia se intensificando.
Não demorou muito para que conseguíssemos atrair a atenção do time, que parou de se desesperar pela situação de e se juntou ao público nos assistindo.
Quando as acrobacias começaram, me arrisquei a virar algumas estrelinhas, o que deu certo, pois Summer riu, como se dissesse “sabia que ia se empolgar”. olhou para mim com um sorriso de satisfação, e eu sorri de volta, orgulhosa. Ele e os garotos começaram a bater palmas no ritmo da música enquanto dançávamos.
E então chegou o momento do Grand Finale. A pirâmide.
Sem perder o ritmo, as meninas se posicionaram do jeito que havíamos treinado. Olhei com um pouco de medo para a formação, mas as meninas sorriram e vi me incentivando, à distância. Então tomei coragem e subi. Apoiando os pés em Summer e Emma com muito cuidado, ergui as mãos para o ar.
Lá de cima, vi o público nos ovacionar. Vi também aquela expressão meiga no rosto de – a cara que ele fazia quando eu o pegava de surpresa e ele ficava sem saber o que fazer. Mas quando pisquei para ele, o garoto balançou a cabeça, rindo, e começou a aplaudir também, como se estivesse orgulhoso de mim.
E quando toquei os pés no chão, o segundo tempo já havia começado.
Foi incrível. Nosso time parecia ter reposto as energias de um jeito inexplicável – até mesmo que, sentado no banco gritando, nem parecia mais sentir dor. Eles corriam de um lado para o outro, bloqueando os Blue Eagles e fazendo lindas jogadas. Algum tempo depois do início do tempo, Brad fez um passe perfeito para , que fez outro gol.
Todos comemoramos, mas logo o adversário também fez um gol, e estávamos de novo empatados.
O resto do jogo se desenrolou com uma tensão indescritível. Às vezes pensávamos que alguém faria um gol, mas nos desiludíamos quando alguém chutava a bola a metros de distância.
- Droga, time! – Emma ruía as unhas.
Faltavam dois minutos para o fim do jogo quando algo surreal aconteceu.
A bola, por total acaso, foi parar bem nos pés de .
Vi a cara de pânico de meu amigo e olhei para trás, só para encontrar a mesma expressão apavorada em . parecia não saber o que fazer com aquilo, e os outros jogadores, percebendo isso, estavam indo em sua direção.
O técnico estava desesperado.
- PASSA ESSA BOLA, ! – Ele gritava. – PASSA ESSA BOLA, PELO AMOR DE TUDO QUE É SAGRADO!
já estava bem à frente, esperando que mandasse a bola para ele. E acho que Stilisnki realmente cogitou a possibilidade, mas naquela tarde algo de estranho também aconteceu à ele.
Quando menos esperávamos, e ao contrário de todas as ordens, saiu correndo com a bola nos pés feito um maluco.
- MALDITO ! – Emma exclamou. – Vai estragar tudo!
se aproximava cada vez mais do gol, e o técnico fechou os olhos, prevendo a grande desgraça que aquilo seria.
Mas o coro de tristeza que ouvimos não vinha da arquibancada onde o pessoal da Jacksonville High estava, mas sim, da outra.
Por mais impossível de acreditar que fosse – e provando que milagres com certeza existiam – tinham feito um gol.
Levou ainda alguns segundos para que a ficha caísse, mas quando aconteceu, o barulho foi ensurdecedor. Nem mesmo o próprio estava acreditando naquilo, e ele ficou lá, olhando embasbacado para a rede que a bola atingira. O garoto só voltou a si quando e Brad pularam nas costas dele, eufóricos.
E então o apito do juiz anunciou que o jogo tinha acabado, e o Swordfishes tinham vencido os Blue Eagles por um sensacional 3x2.


15 Parte 3 – Let's go out in a blaze

“We'll be raging like crazy. Fly with me, baby, like we only got tonight.
It's gonna be the best night of our lives…”


Eu morria de rir, na porta do ônibus, enquanto contava pela terceira vez como tinha acabado fazendo o gol.
- Eu travei total! – Ele explicava, fazendo todo mundo rir. Amber estava agarrada ao seu braço feito um chiclete. – Não dá pra explicar como consegui sair do lugar.
- Deu pra perceber, . – balançou a cabeça, rindo.
- Por bem mais de um segundo eu achei que você fosse acabar com nosso jogo, . – Emma ergueu as sobrancelhas. – E eu teria te arrebentado a cara se tivesse mesmo feito isso.
- E por falar em surpresas... – Outra voz disse.
Olhamos para o lado e vimos , Summer e Jasmine se aproximando.
- Vicentini Pie. – Ele disse. – Nunca pensei que te veria dentro de um uniforme de torcida.
- Bom, Junior, eu diria que a vida nos prega muitas peças. – Levantei os ombros.
- Se prega... – Ele me encarou e sorriu.
Brad e Jodi apareceram juntos também, e olhei para Jodi de forma indagativa, mas ela não pareceu perceber.
- Liguei para o Clark e já está tudo pronto na praia. – Brad avisou.
- Então vamos logo, pessoal! – Summer sorriu de orelha a orelha, e reparei que entrelaçou seus dedos nos de Junior; mas eu não sabia dizer se havia sido numa intenção romântica ou só a força do hábito. – Está na hora de começarmos a primeira fogueira do semestre!

🌴💚🌴


Quando descemos do carro na praia, a brisa marítima nos atingiu com tudo, me fazendo tremer rapidamente. Mas a noite estava incrivelmente bonita, e a alguns metros dali era possível ver a fogueira com seu calor mais que convidativo e ouvir a música que vinha da festa.
- Está tão gelado! – Jodi estremeceu, esfregando os braços.
- Por que não pede o casaco do Brad, hen? – Emma zombou.
- Cala essa boca, Emma.
- Oh, Brad, está tão frio! – Emma fez uma voz fina exagerada, esfregando os braços. – Por que não vem me aquecer com seus braços grandes e fortes?
Jodi – mais vermelha que um pimentão – saiu correndo atrás de Emma, que ria com sua risada de porquinho rumo aos outros alunos.
Summer parou ao meu lado.
- Já esteve em fogueiras antes, ? – Perguntou.
- Não muitas. – Admiti.
- Bom, independentemente de a quantas foi, está prestes a descobrir que as da Jacksonville Beach High School são as melhores. – Sorriu. – Preparada?
Olhei de novo para as pessoas a distância. Pareciam estar se divertindo muito.
- Sim. – Concordei.
- Então vamos, minha mais nova companheira de torcida.
Sum me deu a mão e me levou para o meio da festa, onde a música parecia ficar cada vez mais animada.

[N/A.: Ei, docinhos! Podem colocar para tocar essa aqui desde o começo]

Havia gente de azul e amarelo por todos os lados, já que a maioria das pessoas não tinha trocado de roupa depois do jogo, e sim ido direto para a fogueira. Esta, se erguia no centro da festa emanando luz e um calor delicioso, sem se abalar pelo vento gelado que vinha do mar.
A essa altura Jodi e Emma tinham parado de brigar, e Brad tinha se aproximado delas – pelo que eu podia ver, bajulando Jodi, que se derretia toda. Eles faziam mesmo um casal fofinho.
estava no meio de um grupo de líderes de torcida, falando sobre sua façanha. Amber estava tão fascinada que era difícil dizer quando sairia de perto dele.
Ao vê-lo, me lembrei de , e comecei a procura-lo pelo lugar, mas não o avistei. Ele tinha dito que iria, então onde poderia estar?
- , vem dançar! – Summer chamou. Emma e Junior já estavam junto dela.
E eu sabia que não conseguiria fugir de Emma se ela fosse atrás de mim, então me juntei a elas sem reclamar.
Sum ria dançando, o próprio retrato da alegria. Junior me colocou nas costas sem aviso e girou, me deixando tonta e absurdamente alegre também. Emma puxou Jodi e começou a fazer uma coreografia esquisita e hilária, que elas pareciam ter ensaiado mil vezes. E eu entendi por que as fogueiras da Jacksonville High eram as melhores. E soube de alguma forma que eu poderia ir a mil festas e nenhuma seria tão boa quanto àquela. Não, não haveria como ser.

[N/A.: Chegaram ao 1:06 mais ou menos? Então podem pausar, mas não fechem a música! Vocês vão precisar dela de novo daqui a pouco.]

- , vem comer um desses. Estão deliciosos! – Emma mordeu um espetinho de salsicha que tinha assado na fogueira.
- Não, obrigada. – Balancei a cabeça, alguns metros distante. Só então percebi que tinha discretamente se aproximado de onde ela estava, e tive vontade de rir e avisa-la disso, mas achei melhor deixar eles se entenderem.
Meu objetivo agora era outro. Eu tinha que descobrir onde meu suposto namorado estava.
- Summer – Eu chamei, e ela desviou sua atenção da conversa com alguns jogadores. – Acho que deixei meu celular no seu carro. Pode me emprestar a chave para eu buscar?
- Claro. – Ela tirou a chave de dentro do top e jogou para mim.
- Valeu.
Me afastei da música e da movimentação, cumprimentando uma ou outra pessoa no caminho. O estacionamento estava bem vazio quando cheguei, e não levei tanto tempo assim para lembrar onde estava o New Beetle amarelo de Summer. Apertei o botão de destrave e enfiei metade do corpo pela porta de trás, procurando o celular.
- Achei! – Sorri para mim mesma. Tomei impulso para sair dali, mas quando olhei para trás, olhos intensos me encaravam.
- Vicentini. – sorriu.
- . – Respirei fundo de forma discreta, me recompondo. – O que...
- Vi você se afastando e achei mais seguro ver aonde vinha. Nunca se sabe onde o perigo espreita.
- Eu bem desconfio de onde ele esteja. – Dei um sorriso malicioso e balancei a cabeça, me afastando dele.
- Sabe, você ficou linda com esse uniforme da torcida. – O garoto disse, fazendo-me parar e olhar para ele rindo. – Tanto que quase não consegui me concentrar no jogo hoje.
- Você se distrai fácil, . – Coloquei as mãos na cintura. – Sempre foi assim.
Ele andou devagar em minha direção, e então enlaçou minha cintura e me puxou para perto. Minhas pernas vacilaram no mesmo instante. Olhei para ele e então para trás, assustada.
- O que está fazendo?! – Sussurrei, a respiração falhando. – Alguém pode vir pra cá!
- Não dou a mínima para eles. Minha distração preferida está bem aqui. – Ele deu um sorriso malandro.
- Mas é só isso que eu sou, não é? – Murmurei, sem conseguir conter o tom amargo na voz. – Uma distração.
me encarou, parecendo surpreso por um segundo. Depois balançou a cabeça, aproximando o rosto do meu.
- Você é muito mais que isso, . – Respondeu.
E então seus lábios cobriram os meus, e não consegui pensar em mais nada, dizer mais nada. Éramos só eu e , e suas mãos em minhas costas, e meus dedos em seu cabelo. E o mar, fazendo-se ouvir ao longe, como antes.
- Não, , para... – Eu o empurrei, fazendo uso do pouco de consciência que me restava.
- Desculpe. – Ele murmurou. – Não deu para controlar.
Não era assim que eu queria que as coisas funcionassem. Junior não podia ficar no controle da situação – ele precisava pensar que estava, mas não estar de fato. As coisas tinham que correr conforme os meus planos, mesmo com surpresas como aquela, ou tudo iria por água abaixo. Respirei fundo e o encarei, pensando rapidamente em como usar a situação ao meu favor.
- Já disse que não dá pra fazer isso assim. – Balancei a cabeça, soando abalada, mas decidida. – Você sabe o quanto ainda está confuso, e eu tenho...
- O , eu sei. – bufou.
- Sim, eu tenho o . E seria loucura terminar com ele sem motivo. – Dei de ombros. Se quisesse realmente ficar comigo, teria que me oferecer mais do que amassos no estacionamento de uma praia. Ele teria que estar disposto a ficar comigo. De verdade. E ele ia fazer isso. Ah, ia sim.
O toque do celular de se fez ouvir, e ele o tirou do bolso.
- É meu pai, tenho que atender. – Me informou.
- Vou voltar para a festa.
Saí andando a passos largos, imaginando se ele estava entendendo o rumo das coisas – se ele já tinha percebido que não conseguiria ficar comigo sem uma decisão clara. Achava que ainda precisaria colocá-lo em mais situações como aquela para que de fato compreendesse isso. Mas não seria problema. Estava curvando no fim de uma caminhonete vermelha quando alguém esbarrou em mim.
- Aí está você, Pie.
- O que quer comigo, Jas? – Sorri ironicamente.
A garota passou o peso do corpo de um pé para o outro e deu uma risada baixa.
- Achei uma coincidência você e Junior terem sumido ao mesmo tempo e vim ver se estava tudo ok com vocês.
- Fico comovida com a sua bondade. – Ri e dei um passo a frente. – E, se quer saber, acho que se preocupa demais com a minha sinceridade com Summer pra quem contou pra toda a escola que ela tinha levado um pé na bunda.
- Ah, não é bem com Summer que estou preocupada. A vida dela é boa com ou sem o Junior. O que eu realmente quero é ver você cair do cavalo, porque sei que é uma mentirosa e está fazendo todo mundo comprar esse seu teatrinho de sonsa comprometida.
Abri a boca, mas desisti de dizer qualquer coisa. Não valia a pena me arriscar.
- Não vou perder meu tempo com você, Jasmine. – Balancei a cabeça e me afastei.
- Sabe, Pie, eu fico me perguntando... – Ela disse, ficando para trás. – Será que seu pai sabe que a filha dele é uma vadia? Porque eu ando pensando em ir aquele tal de Roger’s e...
A raiva me subiu à cabeça no mesmo instante, e voltei marchando. Uma coisa era ela se meter na minha vida, mas agora aquela vaca estava passando dos limites.
- Não se atreva a colocar suas patas no trabalho do meu pai, sua vaca! – Avisei.
- E o que você vai fazer, Pie? – Jasmine desafiou.
- Só estou te avisando. – Eu a empurrei com o dedo. – Você não me conhece, Jasmine.
- É aí que você se engana, . Eu te conheço muito bem. – Ela sorriu. – Você é uma ladrazinha de namorados brasileira que...
Não consegui me conter. Antes que Jasmine terminasse, eu já tinha agarrado o cabelo dela.
- Sua imbecil! Meu cabelo! – Ela gritou.
Logo nós duas girávamos, minhas unhas cravadas no braço dela agora. A garota tentava me chutar, conseguindo por pouco.
- EI, MAS O QUE É ISSO? – Ouvi uma voz conhecida.
Alguém segurou minha cintura e me puxou com firmeza.
- , , calma! – Era , assustado com a situação.
Fui parando de me debater. Jasmine me encarava furiosa, o cabelo todo desgrenhado.
- Fique longe da minha casa! – Alertei de novo, ofegante. – Fique longe da minha família!
- Você vai me pagar, Pie! – Ela apontou o dedo para mim. – Eu vou acabar com a sua vida! – E então a garota saiu marchando rumo à qualquer lugar menos a festa.
continuou me segurando até ter certeza de que eu tinha me acalmado por completo.
- Está mais calma? – Perguntou.
- Estou. – Murmurei. – Pode me soltar.
O garoto me largou e eu me virei para ele.
- O que houve, ?
- Ela quer me enlouquecer. Eu vim pegar meu celular e ela me seguiu até aqui e... – Respirei fundo, fechando os olhos. Ao mesmo tempo tinha e não tinha vontade de chorar. Minha última briga tinha sido aos seis anos, quando subi no escorregador primeiro que a valentona do parquinho.
- Relaxa, está tudo bem agora. – me puxou para perto e me abraçou. Me senti culpada por todas as reclamações e xingamentos que tinha feito sobre ele mentalmente nos últimos dias. só vinha sendo um bom amigo. Tanto para quanto para mim.
- Valeu . – Eu disse me afastando um pouco. – É só que ela me deixou nervosa, e eu nunca briguei.
- Jura? – Ele arregalou os olhos. – Pois você conseguiu deixar uns belos arranhões na Jasvaca. Garanto que ela vai passar uma semana usando blusa de manga comprida.
- Acha mesmo? – Ri um pouco.
- Eu garanto, palavra de espectador. – Sorriu. – , não deixe a Jasmine estragar essa noite. Sei que não gosta tanto da ideia, mas... Hoje, você é a rainha da torcida, e eu sou o astro do futebol! Vamos aproveitar!
- Colher os louros da vitória? – Sugeri, rindo baixinho.
- Ei, fizemos por merecer! – Ele riu também. – Vamos lá, moça. Vamos aproveitar a festa.

Voltei para o centro da festa com , me sentindo um pouco melhor. Jasmine definitivamente não estava ali, o que era ótimo. Mas a verdadeira sensação de calmaria me invadiu quando meus olhos encontraram , a alguns metros de distância. Ele parecia um pouco sem jeito sozinho ali, e eu sorri para mim mesma, achando graça.
- Ah, lá está nosso menino. – me olhou de um jeito curioso. – Devia ir falar com ele. Eu vou... – Coçou a cabeça, respirando fundo. – Ver o que arrumo com a Amber.
- Boa sorte, . – Dei um beijo em sua bochecha. – Obrigada.
- Sou jogador do time e ganhei uma beijo de uma líder de torcida. A noite já valeu. – Ele brincou. – Até daqui a pouco, Rainbow.
Sorri e se afastou – tomando coragem – para falar com Amber. Eu sentia que nossa amizade tinha voltados as boas agora, apesar, é claro, de ele estar mais do que disposto a atrapalhar meus planos. Passou por minha cabeça, por um segundo, que se daria muito bem com Sofia, que também era muito esperta e ardilosa. Talvez eu os apresentasse um dia. Seria algo interessante de se ver.
Voltei minha atenção para e comecei a me aproximar, mas outra pessoa o fez antes de mim. Rosana Wayans, que parecia ter cismado com .
Fiquei observando por alguns instantes e dei um suspiro pesado, pensando que eu de muitas formas estava empacando a vida de com toda aquela farsa. Ele poderia estar saindo com uma garota bonita como ela, pensei. Mas, honestamente, eu achava que merecia coisa muito melhor do que uma garota que dava em cima dele mesmo achando que ele estava comigo. Ele merecia alguém bem mais legal que isso.
Respirei fundo, colocando de volta minha máscara de líder de torcida apaixonada, e caminhei decidida e graciosamente em direção a eles.
- Ei, amor, você chegou! – Passei os braços por sua cintura. olhou para mim um pouco surpreso, mas não incomodado.
- , sua maluca... – Ele começou, mas então se lembrou de que não estávamos sozinhos. – Eu estava procurando você. – Completou. Sorri para ele.
- Oi, Rosana. – Cumprimentei a garota, que me olhou de um jeito não muito animado. – Está gostando da festa?
- Ei, . – Ela meneou a cabeça com um sorriso amarelo. – É, está tudo incrível.
- Que bom que está se divertindo. – Sorri.
Ficamos calados por alguns segundos até que Rosana, meio sem graça, informou:
- Eu vou lá ficar com Eric e Ashley. Divirtam-se.
- Até mais, Rosana. – assentiu. Ela fez o mesmo, e então se afastou.
Quando já estávamos sozinhos realmente, olhou para mim – ainda abraçada a cintura dele – e sorriu.
- Será que dá pra me explicar o que foi que aconteceu essa tarde? – Pediu. – Eu não sabia se ria ou se descia no campo para te resgatar das terríveis líderes de torcida.
- Essa é uma longa história. – Fiz careta. – Eu posso te contar agora se quiser, ou podemos deixar para fazer isso com TV e pizza amanhã.
- São duas opções muito tentadoras. – Ele riu.
- Olhe só para o . – Apontei discretamente, e riu de novo.
- Ele conseguiu o que queria, não é?
estava do outro lado da fogueira, Amber quase o beijando. O garoto parecia prestes a explodir de nervoso. Um pouco longe dele, Summer e conversavam. Os dois olharam em nossa direção. Summer voltou a olhar para Junior, dizendo alguma coisa, mas ele manteve o olhar em nós dois. Voltei a encarar .
- O que será que eles estão falando? – Perguntei baixinho.
- Importa mesmo? – disse no mesmo volume. Olhei para ele um pouco perdida. Depois sorri um pouco.
- Ainda que importasse, não teríamos mesmo como ouvir. – Balancei a cabeça. Mas o que estava pensando era que eu saberia sim sobre o que eles falavam; no dia seguinte, quando Summer me contasse. – Mas alguém me disse que hoje não é dia para ficar pensando em outras coisas além de me divertir e curtir o meu... Reinado de torcida.
- Foi alguém bem sábio. – Ele sorriu e olhou para os lados. – Especialmente porque, somos namorados, e casais geralmente aproveitam a noite da fogueira para...
- Se agarrar? – Sugeri rindo. – Muito esperto, . Boa tentativa.
- Foi mal. – Ele pareceu mais tímido, mas ainda sorria. – É só que você sempre quis que fôssemos convincentes.
- E você sempre me achou uma chata.
- Só na maioria das vezes. – riu.
Olhei para e Summer outra vez. Não estavam falando nada, mas não pareciam estar discutindo, tampouco. Sum olhou para nós então e sorriu, acenando discretamente.
- Tá, vamos ser convincentes.
- Foi o que pensei que ia querer fazer.
Dei risada e balancei a cabeça, mas de repente me senti nervosa. O primeiro beijo que eu havia dado em havia sido diferente – ele não estava esperando, eu não estava. Tudo havia acontecido no calor do momento. Agora era diferente. Estávamos ali, abraçados, e ele estava olhando para mim e eu para ele, e eu não sabia como fazer.
- Se demorarmos demais, isso vai ficar bem estranho. – Ele avisou.
- Eu só não... – Comecei.
- Só tem um jeito de fazer isso, .

[Certo, babies, agora coloquem a música anterior a partir dos 2:00 e deixem até o final]

deu aquele sorriso lindo que fazia Jodi e Emma se derreterem, e aproximou um pouco o rosto do meu. Meu coração bateu descompassado quando ele colocou atrás da minha orelha a mecha do meu cabelo que havia soltado do penteado. Depois a mão se demorou em minha bochecha – quente, macia. A outra mão se firmou delicadamente em minha cintura, me puxando para mais perto.
E então sua boca estava sobre a minha, meus lábios se abrindo como se já tivéssemos feito aquilo milhões de vezes. Era um beijo diferente do primeiro – mais intenso e desarmado. Me dava a sensação de provar algo novo, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente familiar. Natural. Senti um arrepio na nuca que não sabia explicar.
- Ei, galera! – Alguém gritou, e nos afastamos rápido para olhar. – Hora do banho da fogueira!
Logo todos estavam correndo para o mar, molhando uns aos outros. olhou para mim e deu um sorriso desafiador.
- Rainbow? – Disse.
Balancei a cabeça e quis fugir, mas ele me carregou para a água também. Estava terrivelmente gelada, mas ninguém se importava de verdade, mesmo com a fogueira tremeluzindo e nos chamando de volta com seu calor. Eu estava rindo e nem sabia de que, jogando água em e engolindo sal. Ele sorriu para mim – o sorriso mais lindo que já tinha dado. Um sorriso apaixonante. Mas logo outra pessoa jogou água em nós dois e voltamos a guerrear. Era, em minha opinião, a noite mais linda desde que eu havia chegado àquela cidade. E aquela foi uma das primeiras vezes que me senti realmente uma legítima aluna da Jacksonville Beach High School.


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