Capítulo 1 — O início do caos
Na cidade de Yokohama, a tensão era tão palpável quanto os ventos que açoitavam o porto naquele dia 31 de outubro. As ruas da cidade, normalmente movimentadas, pulsavam com uma energia diferente na noite de Halloween. Crianças, com seus baldes em mãos, corriam de porta em porta, gritando um animado "トリック・オア・トリート!" (doces ou travessuras!). Jovens e adultos, vestidos como super-herois, personagens japoneses e criaturas mitológicas, desfilavam pelas ruas com máscaras e varinhas luminosas, transformando a multidão em um mosaico cultural. O ritmo contagiante da música ecoava por todo lugar, enquanto fogos de artifício iluminavam o céu. O aroma de comidas exóticas e bebidas adocicadas pairava no ar, criando uma atmosfera ainda mais festiva e vibrante naquela noite.
Enquanto a cidade se entregava à euforia do Halloween, uma figura sombria espreitava as profundezas do porto. Escondida pelas sombras e protegida pelas ruínas de um navio naufragado, uma feiticeira recém-libertada de seu aprisionamento, buscava por uma relíquia ancestral, o Orbe da Obediência. Um artefato celestial amaldiçoado que permitia controlar a mente de outras pessoas. Seus olhos, cintilantes como a noite, fixaram-se em um antigo mapa desenhado em pergaminho em suas mãos, onde um ponto luminoso marcava a localização do orbe e de outro artefato, conhecido como o Livro das Sombras. Este outro, segundo as lendas milenares, concederia a quem o possuísse poder absoluto, um livro proibido que continha feitiços poderosos, mas que corrompia a alma de quem o lesse.
Enquanto isso, na superfície, uma densa nuvem de fumaça negra e opaca se alastrava implacavelmente por todo lugar, cobrindo a cidade de Yokohama com um manto de trevas. Delineando com escuridão da fumaça, uma figura encapuzada emergia, com seus olhos cintilando com uma luz sinistra capaz de cortar a noite. A euforia que antes inundava o centro da cidade agora se transformava em um rugido de terror. A multidão, antes eufórica, era arrastada por uma onda de pânico, tropeçando em restos de fantasias e máscaras estilhaçadas. A terra tremia com a violência de um gigante adormecido, engolindo gritos e risadas em um abismo de caos. Vidros espatifaram-se, alarmes estridentemente chilreavam e o cheiro de gás se espalhava pelo ar.
A feiticeira, de volta à superfície, vestindo uma capa esvoaçante e olhos que brilhavam como brasa, observava tudo de maneira prazerosa. O ar úmido e salgado que cobria sua pele, não conseguia abafar o calor que emanava de seu corpo.
— Séculos aprisionados nas profundezas ansiando por este momento… — Proclamou a figura encapuzada. — A era para o nosso domínio está prestes a se iniciar. O portal para o nosso reino, forjado nas profundezas do abismo, se abrirá, e a humanidade, em sua mera insignificância, será inundada pela imensidão do nosso poder. — Com um sorriso que revelava uma crueldade profunda, a figura encapuzada proclamou. — A ordem natural será invertida. Daremos um fim a todos os que possuem habilidades sobrenaturais e faremos o planeta inteiro se render à nossa vontade. — Ele virou-se em direção a feiticeira, com os olhos brilhantes. — Com o Livro das Sombras, o Orbe da Obediência e o nosso poder...
— A cidade de Yokohama será nossa. — Completou a feiticeira, sorrindo triunfante. A cada passo que a mulher em direção a figura encapuzada, o piso tremia sob seus pés, como se a terra estivesse viva e a temesse. — E com ela, o mundo! — Com sua voz melodiosa e sinistra, a feiticeira garantiu, estendendo o artefato celestial, envolto em névoa negra, para a figura de capuz. Em seu braço direito, estava um símbolo de corvo totalmente negro.
— O Despertar das Sombras finalmente chegou. — Com um gesto majestoso, o chão se abriu, revelando um abismo que se estendia até o infinito. O portal, adormecido sob as ruínas de um templo esquecido, começou a emitir uma luz pulsante, rasgando a escuridão. — Agora, toda a humanidade conhecerá o verdadeiro significado de poder. — Ele sussurrou, seus olhos brilhando com uma intensidade sinistra. A névoa que se erguia pelo porto, carregava um odor fétido e a promessa de algo maligno, enquanto as luzes da cidade cintilavam fracamente, como se a escuridão tentasse apagá-las. As forças do caos se agitaram, e o mundo tremeu perante a iminente catástrofe. Com sorriso enigmático e perverso nos lábios, a figura encapuzada e a feiticeira se fundiram à escuridão, desaparecendo nas sombras. Um silêncio sepulcral se instalou, quebrado apenas pelos gemidos das estruturas danificadas. O terremoto havia aberto uma fenda e as forças do mal se preparavam para invadir Yokohama.
Observando de longe, em meio ao caos que se alastrava pela cidade, um jovem, antes perdido na multidão, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Uma sensação de medo o consumia, algo muito estranho estava acontecendo. Embora tentasse manter a calma, havia algo diferente, algo mais profundo e sombrio.
— Dazai, sou eu... — O garoto disse, com o celular sobre seu ouvido, fazendo uma pausa breve. — Estamos com sérios problemas.
Horas antes do ocorrido.
No Escritório da Agência de Detetives Armados, localizado no topo de uma encosta próxima ao porto de Yokohama, a atmosfera era carregada de uma tensão palpável. Ao redor de suas mesas, a equipe de detetives especiais debruçava-se sobre seus casos, enquanto as ruas vibravam com a alegria contagiante das pessoas fantasiadas e o tilintar dos baldes de doces. Dentro daquela fortaleza de tijolos, a agência era um refúgio de seriedade, a animação lá fora era um eco distante, contrastando com a concentração intensa dos detetives, que se preparavam para mais uma semana de trabalho que prometia ser longa e desafiadora desde o incidente envolvendo Fiódor Dostoiévski, líder de uma organização clandestina chamada Ratos na Casa dos Mortos, e um dos cinco membros da Decadência dos Anjos. A luz fraca das lâmpadas amarelas, e a luz da tarde que entrava pela janela, junto com o tique-taque implacável do relógio na parede, amplificavam o silêncio que pairava sobre as mesas repletas de papeis espalhados e telas cintilantes.
Com seus olhos cansados e uma expressão marcada por noites mal dormidas, Atsushi Nakajima analisava meticulosamente um mapa rabiscado à sua frente. Seus dedos tamborilavam impacientes sobre a madeira da mesa, enquanto seus pensamentos se perdiam nos detalhes do caso. A mesa à sua frente estava desocupada e vazia, e à direita dela, Doppo Kunikida, seu colega de trabalho, com seu olhar fixo na tela do notebook, mantinha sua respiração concentrada, e pensamentos totalmente imersos a realidade. Enquanto à sua esquerda, e de frente para Kunikida, Dazai Osamu, seu experiente colega e mentor, repousava serenamente sobre sua mesa, em um sono profundo. No canto direito, saboreando uma caixa de salgadinhos, estava Edogawa Ranpo, e na extremidade oposta da sala, Jun’Ichirou Tanizaki e sua irmã Naomi estavam imersos em seus trabalhos. De repente, a porta se abriu e Kyouka Izumi entrou no local, carregando uma pilha de livros na altura de seus olhos. Atsushi, que até então estava distraído, observando o mapa, levantou-se rapidamente e foi ao encontro da garota que estava próxima a porta.
— Ei, deixa que eu te ajudo! — Exclamou o garoto, pegando os livros com cuidado, caminhando até a mesa vazia em frente a sua. — Já que teremos o resto do dia livre, o que acha de irmos juntos ao centro da cidade? — Perguntou o rapaz, virando-se para a garota. Kyouka, com seus olhos cintilando sob a luz fraca do escritório, sorriu minimamente com a oferta de Atsushi, aceitando sem hesitar.
— Nós dois? — Ela perguntou, observando o jovem detetive com um olhar brilhante.
— Sim, o que acha? – Atsushi perguntou.
— Tipo um encontro? — Murmurou ela. Atsushi coçou a nuca, envergonhado.
— Não é isso. Quer dizer... acontece que você nunca foi em um festival de Halloween antes e... E, bem... Desde que você se juntou à Agência, você não teve a chance de viver experiências assim. — Começou ele, gaguejando. — De ser um pouco mais humana, sabe? Sem alguém para te controlar. — Explicou. — Nesse festival, você pode ser quem quiser, sem se preocupar com o passado ou a Máfia do Porto. — Kyouka sorriu levemente, seus olhos cintilando de gratidão. A sinceridade de Atsushi era evidente, e ela apreciava o gesto
— Tudo bem... Eu adoraria ir com você. — Respondeu ela, com a voz suave.
Atsushi soltou um suspiro de alívio, um sorriso largo se espalhando por seu rosto. Nakajima sorriu com a resposta.
— É diferente de tudo que você já viu. Tem música, dança, comida deliciosa e outras coisas. Coisas que você precisa experimentar para entender. E, bem, acho que você vai gostar... Eu prometo que será divertido. — Garantiu o rapaz. Kunikida, que ouviu a conversa, levantou a cabeça do notebook e olhou para os dois.
— Não se esqueçam de estarem sempre em alerta! Hoje a cidade de Yokohama estará mais agitada do que nunca. — Advertiu, voltando sua atenção para a tela. Dazai, que antes cochilava sobre sua mesa, levantou a cabeça, apoiando o queixo em sua mão esquerda e ainda sonolento, abriu um dos olhos, lançando um olhar divertido para os dois jovens.
— E tomem cuidado com os fantasmas! — Brincou ele, fechando o olho novamente. Atsushi, impulsionado pela brincadeira de Dazai, começou a levar a sério a possibilidade de fantasmas.
— Você realmente acredita em fantasmas, Dazai? — Perguntou o garoto inquieto, voltando para a sua mesa.
— Quem sabe? O mundo está cheio de mistérios, não acha, Atsushi? — O rapaz de cabelos castanhos escuros, curtos e levemente ondulados, com seu sorriso enigmático, respondeu com outra pergunta.
— Por favor, Dazai, não assusta ainda mais o moleque! Fantasmas não existem! — Kunikida disse, o repreendendo. O rapaz sonolento a sua frente, agora de olhos fechados, movimentava seu braço direito - indo e voltando - enquanto segurava um aviãozinho de papel. Seu braço acabou esbarrando e derrubando alguns livros de sua mesa sobre o notebook do loiro, que acabou fechando. — Dazai, você não cansa de causar problemas? O que você acha que está fazendo? Você não tinha que resolver uns assuntos? — Levantou-se rapidamente e apoiou-se para frente, sobre a mesa, fazendo o rapaz de bandagens recuar e encará-lo com as mãos sobre a boca. Enquanto Atsushi observava o colega, imóvel.
— Você está precisando tirar umas férias da agência, Kunikida. Desse jeito você vai acabar sozinho. — Dazai disse, simplesmente. O loiro, com as veias pulsando no pescoço, ajeitou os óculos em seu rosto e aproximou-se ainda mais.
—Você está me provocando, Dazai? Sabe muito bem que não podemos simplesmente abandonar o trabalho. Temos responsabilidades! — Exclamou, com seus olhos verde-acinzentados, faiscando de raiva. Dazai, imperturbável, apenas sorriu.
— Relaxa, Kunikida. É só uma sugestão. Afinal, quem precisa de um parceiro que só sabe reclamar? — Provocou Dazai, se recostando na cadeira.
— Reclamar? Você acha que estou de brincadeira? Temos muitos casos para resolver e você... Meu Deus, você dormiu praticamente o dia inteiro! — Exclamou, tentando controlar a raiva. Dazai, por sua vez, apenas observava a reação do parceiro com um sorriso divertido.
Antes que seu colega fizesse mais um comentário para irritá-lo ainda mais, a porta do escritório se abriu com estrondo. Kenji Miyazawa, acompanhado de um visitante inusitado, adentrou o ambiente. A um palmo de distância do garoto, uma vaca pastava tranquilamente, chamando a atenção de todos.
— Oi, pessoal! — Kenji, parado a pouco metros à porta, dentro do escritório, acenou para os companheiros, mas no entanto, logo atrás do garoto estava uma vaca, que mastigava calmamente. A reação dos colegas foi imediata: bocas abertas, olhos arregalados e risos nervosos tomaram conta do escritório. Kunikida, com a sobrancelha arqueada, encarou o animal parado entre o lado de dentro e fora do escritório. O loiro, suspirando profundamente, correu rapidamente na direção do animal, colocando-a para fora.
— Uma vaca? Mas o quê? — Atsushi, assustado, murmurou.
— Por Deus, Kenji, como essa vaca veio parar aqui? — Exclamou Doppo ao retornar à sala. Miyazawa, parecendo não entender a reação do mais velho, coçou a cabeça, com um sorriso bobo no rosto.
— Ela parecia tão perdida aqui na cidade grande... Achei que precisava de ajuda. — O garoto, de olhos dourados e cabelos loiros curtos que iam além da nuca, deu de ombros, com a maior naturalidade.
— E achou que ela encontraria justo aqui? — Perguntou Kunikida, ajustando os óculos em seu rosto, em seguida caminhou até a janela e respirou fundo, tentando manter a calma.
— Mais uma prova de que a ingenuidade de Kenji não tem limites. — Dazai se levantou e começou a recolher os livros que havia derrubado sobre a mesa de Kunikida.
— Como se espera de uma agência de detetives, sempre há uma surpresa. — Ranpo, sem tirar os olhos de sua caixa de salgadinhos, murmurou. Os irmãos, Tanizaki e Naomi, surpresos com a visita inesperada do animal, voltaram suas atenções para o que estavam fazendo, tentando agir normalmente. Enquanto Kyouka, apenas observou a cena de relance.
A brisa gélida, que serpenteou pelo cômodo, trazia um alívio momentâneo ao calor do dia. Atsushi, recuperado do susto, passou a mão por cabelos brancos e soltou um suspiro profundo, tentando se recompor. Começou a organizar sua mesa e guardou o mapa rabiscado a sua frente, olhando para o relógio na parede, ficou de pé.
— Vamos? — Perguntou, dirigindo-se a Kyouka. Seus olhos brilharam com uma estranha intensidade. Kunikida, que observava as crianças fantasiadas pela janela, virou-se para eles.
— Mais uma vez, tenham cuidado. É Halloween, e sabemos como as coisas podem se complicar nessa época. Lembrem-se de ficar sempre em alerta. — Ele disse, com um tom mais sério do que o habitual.
— Pode deixar! Tomaremos todo o cuidado possível. — Nakajima respondeu, tentando esconder a preocupação que sentia. Kyouka, percebendo a tensão no ar, colocou a mão no ombro do rapaz.
— Não se preocupe, Atsushi. Estaremos juntos. — A garota disse. O garoto suspirou, mas um sorriso gentil surgiu em seus lábios.
Atsushi e Kyouka saíram da agência caminhando lado a lado, apreciando a atmosfera festiva de Yokohama. A cidade estava vibrante, decorada com abóboras, figuras assustadoras e teias de aranha. Crianças fantasiadas corriam pelas ruas pedindo doces, jovens e adultos davam risadas, enquanto estrangeiros e nativos se divertiam juntos. Enquanto caminhavam por uma rua mais tranquila, Nakajima e Izumi notaram um cartaz colado em um poste, e decidiram ver o que estava escrito.
— Olha, está acontecendo um Festival de Máscaras e Fantasias no centro de Yokohama! — Atsushi leu em voz alta. Virando-se para a garota ao seu lado. — Que tal se a gente participar? — Sugeriu ele, animado.
— Mas, nós não estamos usando nenhuma das opções escritas no cartaz. — Kyouka respondeu. O garoto pensou por um momento.
— Vem comigo, eu tenho uma ideia! — Exclamou ele. Enquanto seguiam em frente, Atsushi notou uma pequena loja de fantasias e adereços do outro lado da rua. — Olha lá, Kyouka! — Disse o garoto, apontando para o estabelecimento. — Talvez encontremos algo legal naquela lojinha. — Afirmou, puxando a garota com delicadeza em direção à loja.
Ao adentrarem o estabelecimento, os dois observaram a vitrine, que estava decorada por máscaras de animais, personagens da cultura japonesa e deuses mitológicos, que se entrelaçavam com as fantasias de bailarinas, super-herois, piratas e personagens de contos de fadas, criando um cenário completamente mágico. Enquanto a iluminação suave do lugar realçava as cores vibrantes dos objetos, criando uma atmosfera de mistério e encanto. Atsushi e Kyouka, parados diante de uma prateleira, ficaram hipnotizados pela profusão de cores e pela as formas das máscaras, com seus olhos vazios e expressivos, que pareciam observá-los.
— Essa ficaria bem em você. — Kyouka sussurrou, apontando discretamente para cima. Atsushi seguiu seu olhar e seus olhos se arregalaram. Uma máscara de tigre, com olhos de cristal que pareciam pulsar de vida, os observava de cima. E um sorriso tímido se espalhou pelo seu rosto, enquanto seus olhos brilhavam com a mesma intensidade que os cristais da máscara de tigre branco.
— Acho que você tem razão. — Ele concordou, estendendo a mão para pegá-la. Com a ponta dos dedos, Atsushi traçou as delicadas linhas da máscara de tigre. A pelagem branca contrastava com a intensidade de seu olhar, e por um instante, pareciam se fundir. Um sorriso tímido se espalhou por seus lábios. Aquela máscara era mais do que um simples objeto; era uma extensão de si mesmo. Kyouka, que o observava atentamente, notou uma pequena lágrima escorrendo pelo rosto de Atsushi. Ela se aproximou e, com cuidado, enxugou a lágrima com o polegar. Atsushi, percebendo o que havia acontecido, pareceu voltar à realidade. Um tremor em sua voz denunciava a emoção que ele tentava conter. — Essa máscara... Ela me lembra de um tempo muito difícil. Um tempo em que eu não me sentia digno de nada. — Ele fechou os olhos, como se estivesse revivendo uma lembrança dolorosa. Kyouka o puxou para um abraço apertado. Ele se deixou levar, sentindo o calor do corpo dela e a força de seus braços. Por um instante, todos os seus medos e inseguranças pareciam desaparecer. — Desculpe, Kyouka. Eu não queria que você me visse assim. — Ele levou a mão até a máscara, como se precisasse dela para se sentir mais forte. — Bom... mas e você? Que máscara você pretende escolher? — Ele sorriu de lado, curioso para saber qual seria a resposta dela. Kyouka pensou por um momento, deslizando seus dedos pela superfície fria da prateleira. Em seguida, seus olhos se fixaram na máscara de coelho, próxima a uma fantasia de fada.
— Essa aqui... — Murmurou ela, com um brilho em seus olhos. — Eu gosto de coelhos. — Disse, colocando a máscara no rosto. A pelúcia macia cobriu seu rosto, deixando apenas seus olhos à mostra. Ela girou, observando sua imagem refletida no vidro da vitrine. — O que você acha? — Perguntou, virando-se para o Atsushi.
— Você está adorável! Combina com você. — O garoto não conseguiu conter o sorriso. Após escolherem e pagarem suas máscaras, os dois saíram da loja e seguiram em direção ao local do festival de Halloween. Enquanto caminhavam em direção ao centro da cidade, Atsushi observou Kyouka, que parecia encantada com as decorações e com as pessoas fantasiadas.
— Está gostando? — Perguntou ele, sorrindo. Ela assentiu com a cabeça, os olhos brilhando.
— É bem diferente do que eu imaginava. — Respondeu ela. O garoto sorriu ainda mais largo, sentindo-se feliz por poder proporcionar essa experiência a ela.
As máscaras em seus rostos cintilavam intensamente sob as luzes da cidade de Yokohama, o festival de Halloween invadia o ar com a frescura do fim da tarde enquanto a noite começava a se aproximar, trazendo o aroma doce e fumegante de algodão doce, enquanto o som da música pulsava em seus ouvidos. No meio da multidão, sorrindo para as pessoas que os cumprimentavam, Atsushi percebeu algo estranho: um homem encapuzado que os observava de longe. Ele sentiu um arrepio percorrer sua espinha e tentou seguir o homem com os olhos, mas ele já havia desaparecido.
— Você viu aquilo, Kyouka? — Perguntou ele, vendo-a negar com a cabeça. — Deve ter sido minha imaginação. Vamos seguir em frente. — Ele disse, deixando aquilo de lado por um momento. E então guiou a garota pela multidão. — Quer experimentar um doce típico do Halloween? — Sussurrou em seu ouvido. Ela virou-se para ele e concordou com a cabeça. — Ótimo! — Ele disse, guiando-a até uma barraquinha próxima.
A vendedora, uma senhora sorridente com um avental estampado de abóboras, os recebeu com entusiasmo.
— O que vão querer, jovens? — Ela perguntou, com sua voz doce ecoando no ar. Kyouka e Atsushi tiraram as máscaras de seus rostos e observaram todas as opções disponíveis. Escolhendo por fim doces coloridos e com formatos assustadores. A garota, ao provar cada um deles, fez uma cara engraçada.
— É tão doce! — Exclamou ela. A cada mordida, seus olhos brilhavam, encantada com o sabor. — Eu quero mais! — Pediu, virando-se para a vendedora. Fazendo o garoto ao seu lado rir.
— Vou comprar mais desses, por favor! — Atsushi pediu, sorrindo educadamente. A vendedora sorriu, entregando mais um pacote do doce para Atsushi.
— Esse doce é especial, feito com uma receita secreta da minha avó. — Ela disse, piscando para Kyouka. — Ela sempre dizia que quem os comia ficava com a alma leve e o coração feliz. — Kyouka arregalou os olhos, encantada com que a vendedora disse.
Atsushi sorriu, observando a reação da garota. "Então vamos levar essa felicidade para todo mundo!" Pensou ele.
— Pode embalar mais alguns para os nossos amigos? — Nakajima sugeriu, entregando alguns doces para a vendedora.
Enquanto a vendedora embrulhava os doces com cuidado e os entregava ao rapaz, um estrondo seco e forte ecoou pela loja, seguido por um tremor violento que fez as prateleiras tremerem e os embrulhos de doces e as se espalharem pelo chão, incluindo suas máscaras. A senhora e os detetives se agacharam imediatamente com o inesperado acontecimento.
— O que foi isso? — Perguntou Kyouka, com os olhos arregalados. Atsushi, sem responder, correu até a porta e a abriu. A rua estava em caos total. Pessoas gritavam e corriam em todas as direções, tropeçando umas nas outras. Izumi, que o observava atentamente, percebeu uma mudança na expressão de Atsushi. Seus olhos, antes tão calmos, agora estavam tomados por um intenso desespero.
— Temos que sair daqui agora! — Exclamou o garoto, aproximando-se da vendedora. — A senhora está bem? — A vendedora, pálida e trêmula, apontou para o céu. Uma enorme névoa se projetava sobre a cidade. Atsushi e Kyouka se entreolharam, sentindo um frio percorrer suas espinhas. — Não podemos ficar aqui. Vamos procurar um lugar seguro. — Atsushi ajudou a senhora a se levantar e com ajuda de Kyouka saíram da loja, com seus olhos fixos na névoa que se aproximava rapidamente.
A vendedora, ainda em choque, murmurou algo sobre um abrigo, apontando para uma pequena rua lateral. Sem hesitar, os três seguiram em direção ao local indicado. A rua era estreita e escura, e a névoa já cobria quase toda a cidade, engolindo os prédios e as ruas como um monstro faminto, tornando a visibilidade cada vez mais impossível. Atsushi sentiu um nó na garganta, a ansiedade crescendo a cada passo.
— Chegamos! — Exclamou a senhora, apontando para uma pequena porta de madeira com uma placa desbotada. Eles bateram insistentemente na porta, esperando que alguém atendesse. A porta rapidamente se abriu, revelando um homem idoso com uma expressão apavorada.
— Rápido, entrem! — Ele disse, abrindo caminho para que eles entrassem. O interior da casa era pequeno e aconchegante, com uma lareira acesa que irradiava calor. Atsushi ajudou a senhora a sentar em uma poltrona.
— A cidade está coberta pela névoa. — Kyouka disse, observando a cidade por uma fresta na janela. — Precisamos voltar para a agência o mais rápido possível. — Olhou para Atsushi, que concordou.
— Você tem razão. Vocês ficarão bem? — O garoto perguntou, dirigindo-se ao casal.
— Preferimos ficar aqui, estaremos seguros. — O homem idoso, com a voz trêmula, respondeu.
— Prometemos voltar assim que a situação se acalmar. — Atsushi assegurou, colocando a mão no ombro do homem. — Tentem não se preocupar. Com um aceno de cabeça, o casal agradeceu. Atsushi e Kyouka se despediram e se dirigiram à porta.
Ao abri-la, uma névoa fétida e densa os envolveu, obscurecendo sua visão. A cada passo, adentrando mais fundo naquela escuridão, a sensação de serem observados se intensificava. Ruídos estranhos ecoavam por todos os lados, gemidos baixos e um sussurro constante, como se milhares de vozes sussurrassem em uníssono, ecoavam pelo ambiente. As sombras, antes vagas, agora tomavam formas grotescas, com olhos que brilhavam intensamente na penumbra. Enquanto corriam pelas ruas, eles se entrelaçaram com um grupo de pessoas, correndo em desespero, esbarrando uns nos outros.
— Atsushi! — A garota gritou. Mas acabou desaparecendo entre eles.
Atsushi, sentindo um arrepio percorrer sua espinha imediatamente desviou o olhar, tentando encontrá-la, mas foi em vão.
— Kyouka! — Gritou ele, avançando pela multidão. — Onde você está? — A cada passo que dava, ele sentia o peso da angústia em seu peito. — Kyouka! — Atsushi continuou a gritar seu nome, mas a multidão ruidosa abafava seus clamores. A cada esquina, a sensação de desespero crescia. As sombras, antes grotescas, agora pareciam se mover com propósito, como se estivessem o guiando para algum lugar. Um pressentimento sombrio o invadiu. Algo de muito errado estava acontecendo, e ele era o único que parecia perceber.
Ao chegar ao centro da cidade, após conseguir sair do meio daquela multidão, Atsushi foi tomado por um caos ensurdecedor. Edifícios destruídos se erguiam como dentes quebrados, ruas tomadas por escombros e a multidão corria em desespero, por seus gritos se misturando ao ruído constante da destruição. O ar estava carregado de poeira e o cheiro de fumaça irritava suas narinas. Seus olhos se fixaram em duas figuras distantes. Uma mulher, de capa esvoaçante e olhos que brilhavam como brasas, conversando com um homem encapuzado. A cada palavra da figura encapuzada, um sorriso cruel se alargava em seus lábios. À medida que a mulher se aproximava dele, o chão tremia sob os pés de Atsushi, como se a própria terra temesse sua presença. Intrigado, o garoto se aproximou cautelosamente de uma árvore e usou sua audição de tigre, escutando atentamente a conversa.
— A era para o nosso domínio está prestes a se iniciar. O portal para o nosso reino, forjado nas profundezas do abismo, se abrirá, e a humanidade, em sua mera insignificância, será inundada pela imensidão do nosso poder. — Com um sorriso que revelava uma crueldade profunda, a figura encapuzada proclamou. — A ordem natural será invertida. Daremos um fim a todos os que possuem habilidades sobrenaturais e faremos o planeta inteiro se render à nossa vontade. — Ele virou-se em direção a feiticeira, com os olhos brilhantes. — Com o Livro das Sombras, o Orbe da Obediência e o nosso poder…
— A cidade de Yokohama será nossa. — Completou ela, sorrindo triunfante. A cada passo que a mulher em direção a figura encapuzada, o piso tremia sob seus pés, como se a terra estivesse viva e a temesse. — E com ela, o mundo! — Com sua voz melodiosa e sinistra, a feiticeira garantiu, estendendo o artefato celestial, envolto em névoa prateada, para a figura de capuz. Em seu braço, estava um símbolo de pássaro totalmente negro.
— O Despertar das Sombras finalmente chegou. — Com um gesto majestoso, o chão se abriu, revelando um abismo que se estendia até o infinito. O portal, adormecido sob as ruínas de um templo esquecido, começou a emitir uma luz pulsante, rasgando a escuridão. — Agora, toda a humanidade conhecerá o verdadeiro significado de poder. — Ele sussurrou, seus olhos brilhando com uma intensidade sinistra. A névoa que se erguia pelo porto, carregava um odor fétido e a promessa de algo maligno, enquanto as luzes da cidade cintilavam fracamente, como se a escuridão tentasse apagá-las. Com sorriso enigmático e perverso nos lábios, os dois se fundiram à escuridão, desaparecendo nas sombras.
Atsushi sentiu outro arrepio percorrer sua espinha, e embora tentasse manter a calma, uma sensação de medo o consumiu, com as mãos trêmulas, pegou o celular em seu bolso e digitou rapidamente o número de Dazai,
— Dazai... — O garoto disse, com o celular sobre seu ouvido, fazendo uma pausa breve. — Estamos com sérios problemas.
— Saia daí imediatamente. — Dazai disse do outro lado da linha.
— Mas Dazai, a Kyouka desapareceu entre a multidão e... — Tentou continuar, mas foi interrompido.
— Não há tempo para detalhes agora. Encontre um lugar seguro e espere por mim. Eu já estou a caminho. — O colega disse, com sua voz soando firme.
— Mas eu não posso simplesmente deixá-la sozinha... — O garoto argumentou, relutante.
— Sei que você se preocupa com ela, Atsushi, mas agora não é hora para ser teimoso. Confie em mim. — Dazai disse, tentando fazê-lo manter a calma.
Atsushi hesitou por um momento, mas a voz autoritária de Dazai o fez acenar com a cabeça, mesmo que relutantemente.
— Tudo bem! Mas se algo acontecer a ela eu... — A última frase pairou no ar, mas foi rapidamente abafada pela voz de Dazai.
— Kyouka vai ficar bem, ela sabe se proteger, não se preocupe. — Ele garantiu. — Agora, vá.
Antes que Atsushi pudesse responder, a ligação foi encerrada. Sentiu um nó na garganta ao ouvir a voz calma de Dazai. As palavras do amigo o tranquilizavam um pouco, mas a imagem de Kyouka desaparecida o atormentava. Suas mãos tremiam tanto que quase deixou cair o celular. O garoto olhou em volta, e avistou um beco, escuro e silencioso, que parecia ainda mais ameaçador. Com as pernas bambas, correu em direção ao beco, que o levou para o outro lado da cidade, sentindo um medo crescente a cada passo.
Após o que pareceu uma eternidade, Atsushi finalmente encantou um lugar: um antigo armazém, com as portas entreabertas e uma luz fraca emanando de seu interior. Ele hesitou por um momento, mas a lembrança da voz de Dazai o impulsionou para frente.
Ao adentrar o armazém, seus olhos se acostumaram à penumbra, e ele avistou uma figura familiar sentada em uma caixa de madeira. Era Dazai. E ao lado dele, estava...
— A quanto tempo, Homem-Tigre! — A garota exclamou, com um sorriso travesso nos lábios.
null Edogawa, irmã mais nova de Ranpo.
Continua...
Nota da autora: Olá, fãs de Bungo Stray Dogs (Por favor, me digam que não sou a única), o que acharam do primeiro episódio? Honestamente, eu estou s-u-r-t-a-n-d-o! Eu tenho esse e outros episódios concluídos a um boooom tempo, então vou enviá-los ao site aos pouquinhos. Devo confessar que estou mega ansiosa para a introdução das protagonistas e um certo ruivo esquentadinho (PODE VIR, CHUUYA NAKAHARA!). Enfim, caso você, leitor(a), queira me dar alguma sugestão ou alguma ideia para o rumo da história, me siga nas redes sociais: twitter/bluesky: @itwascheol, pinterest: @vegaswrites e insta: @vegaautora. Eu adoraria te ver por lá ♡.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

