The Better Part of Me

Prólogo

A vida era feita de escolhas. Era isso que estava na cabeça de ao escutar tudo aquilo. Ela não sabia como agir, muito menos o que dizer, e tinha a leve impressão de que vomitaria a qualquer momento, de tanto nervosismo.
“Como é que eu consigo me meter nesse tipo de situação sempre?” ela se perguntava. Será que ela tinha algum ímã para esse tipo de coisa? É, só podia ser essa a resposta.
Ela olhou pra o rosto de ; ele parecia ter sido esculpido, de tão perfeito. Seus olhos e cabelos levemente bagunçados – mas sempre de uma maneira que lhe parecia perfeitamente arrumado. Como ele era perfeito.
Ele a olhou com aquele sorriso de lábios fechados, totalmente envolvente, e nesse momento, ela fechou os olhos e começou a relembrar tudo que se passara até aquele momento.


Capítulo 01

– Ai, ai, desculpa... Desculpa você também.
estava completamente perdida naquele lugar; ela definitivamente não podia ficar sozinha em meio a uma multidão, ficava ainda mais atrapalhada. Mas o que ela podia fazer? Era ir sozinha, ou não fazer a matrícula na faculdade. E como hoje era o último dia, só lhe restava ir sem ninguém mesmo.
– Desculpe – uma menina linda, de pele clara e cabelos escuros, olhou sem jeito pra depois de ter pisado em seu pé. – Desculpe mesmo, é que tem tanta gente, fica quase impossível passar sem pisar no pé de alguém.
– Relaxa, aposto que umas vinte pessoas, no mínimo, comemorariam isso. Desde que entrei foi só o que eu fiz nos pés alheios, eles se sentiriam vingados – ela falou, fazendo a garota rir.
– Então não vou nem me sentir mal – ela riu. – Vai fazer qual curso?
– Jornalismo, e... – mas, antes que conseguisse terminar a frase, a garota lhe interrompeu. – Sério?! Eu também! Diz que seu período é o matutino, por favor.
riu, sem jeito, com toda a afobação da garota ao seu lado. Elas mal se conheciam.
– Bom, eu estou em dúvida ainda.
– Você veio fazer a matrícula e ainda nem sabe qual horário vai escolher? – ela riu, e sentiu suas bochechas ficarem vermelhas de vergonha. – Acho que encontrei alguém pior que eu. Mas vem, você vai fazer pela manhã e não se fala mais nisso. Já conheço umas pessoas que também vão estar na nossa sala, sei que elas vão te adorar.
Nesse exato momento, o celular da garota tocou.
– Espera um pouco – ela atendeu o celular. – Oi, . Cadê você? Eu quase deixo uma menina sem o pé por sua causa, tive que ficar rodando essa faculdade inteira.
– Você quase deixa quem sem o quê? – sempre ficava confuso quando conversava com sua amiga.
– A... – nessa hora, ela se tocou de que não sabia o nome da garota ao seu lado. – Qual o seu nome mesmo?
... – foi impossível controlar o riso.
– O meu é Gisele – ela riu, e rapidamente voltou a falar ao telefone. – Como eu ia dizendo, eu quase deixo a sem o pé! Tudo graças a você!
– Hm – ainda pensou em contestar aquela afirmação de que a culpa era sua, mas ele sabia que não iria adiantar. – Olha, eu acabei de chegar, e não quero nem saber onde você está. Venha até a entrada da faculdade.
Falou e logo desligou o telefone. Sabia que se não fizesse isso, Giovanna se negaria.
– Vem comigo, vamos buscar o .
– Quem?
– Meu amigo, . Ele faz parte daquele grupo de pessoas que eu falei, que vão estudar com a gente – olhou para Gisele com um misto de confusão e negação. – Aquelas que vão te adorar. Lembra? – ela nem esperou responder, puxando-a pelo braço. – Vem logo!

– Seu idiota, você me fez esperar muito. Faz tempo que eu já estou aqui.
– Eu tenho muito mais ocupações que você, Gih.
– Hm... NUNCA MAIS DESLIGUE O CELULAR NA MINHA CARA!
– Prometo pensar nesse assunto – ele fez cara de pensativo e riu, deixando-a um pouco irritada.
se desligou dali e ficou apenas olhando-os, brincando de brigar. Talvez Gisele estivesse mesmo um pouco irritada com seu amigo, mas não o suficiente para todo o drama que fazia. E ele, bom, ele parecia se divertir em fingir que estava brigando que nem notora sua presença.
– Ai, meu Deus, quase esqueço você aí. Você é sempre assim tão calada? Vem cá – Gisele a puxou pelo braço. – , essa é a . esse é o , um chato do bem – mas, antes que ambos conseguissem se cumprimentar como pessoas normais, Gisele virou para que ele olhasse diretamente apra ela, começando, mais uma vez, sua “quase” discussão. – E cadê o resto do pessoal? Ainda não chegaram.
apenas os observou. tinha olhos lindos, e um cabelo no melhor estilo bagunçado-arrumado. Ele e Gisele, com certeza, formariam um belo casal. Eram lindos. E o que sobrava em Gisele, de extravagância, parecia faltar em , ao menos fora isso que lhe parecera. É, eles se completavam e eram um dos casais mais lindos que conhecera, isso se eles fossem um casal, é claro.
– Você também não acha? – saiu de seus pensamentos ao ouvir lhe perguntar algo.
– Desculpe, mas do que vocês estavam falando mesmo?
– De que a Gih é uma louca. Você não acha?
– EU NÃO SOU LOUCA!
– Você não é louca não, Gisele – riu do jeito de Gisele. Ela não parecia ser louca, talvez fosse só um pouco. Mas, o que ela poderia dizer? Não ia chamar de louca alguém que mal conhecia, e que parecia já gostar tanto dela. – Você só é um pouco afobada, mas nada diferente de mim.
– Você não me parece afobada. Quer dizer, eu não sou louca, mas pareço, perto de uma pessoa tão calada quanto você.
– Depois você vai implorar para que eu cale a boca. Falo muito. É só me dar uma brecha.

– Eu não vou esperar mais nenhum minuto. Estou com fome, com sono, cansada pra caramba.
– Ele disse que seus amigos já estão chegando.
– Não acredite nele. Ele mente – Gisele deu uma enorme ênfase a essa frase, e entre risos, terminou de falar. – Jamais acredite nele.
– Ela não vai acreditar em você, que mais parece uma louca – ele falou, aparentemente também impaciente com a demora dos amigos. – Olha eles lá – falou, apontando para um carro vermelho que acabara de estacionar. – EU não minto – ele falou isso mais para do que para Gisele. – Vamos entrar logo.

Depois de se matricularem, todos para o mesmo turno, mesmo que em cursos diferentes. se matriculou em Engenharia, Mariana em Química, e , , Gisele e em Jornalismo. Eles foram para um café e conversaram. não queria ir, afinal, ela mal os conhecia, mas e Gisele insistiram.
E lá ela ficou, observando cada um. parecia ser um amor de pessoa, meio calado, mas ainda assim, um amor de pessoa. parecia ser o mais bobão de todos, estava sempre fazendo graça ou rindo de alguém. Mariana era uma mulher com jeito de menina; era magra e encorpada com voz de menininha, podia ser facilmente confundida com uma criança ao telefone. Todos pareciam uns amores.
– Esses aqui são e Flávia... ?
– Ai, desculpa, eu estava meio desligada. Oi... – ela os observou como quem estava perguntando seus nomes. – Desculpa, é que..
– Não precisa se explicar. Sou o e essa é a Flávia – ele foi até ela, abraçando-a. – Nova no grupo?
– Sim, conheci todos hoje – ela riu, e virou-se para Flávia. – Oi, Flávia!
– Oi – elas trocaram dois beijos típicos de quem acabou de se conhecer. – Qual o seu nome mesmo? É que o não falou.
– Ah, sim, meu nome é – e embora Flávia tenha perguntado, não pareceu se interessar muito, direcionando-se até , aparentemente, seu namorado.
E todos ficaram lá por mais um tempo, jogando conversa fora. Ela percebeu que , assim como os outros meninos, era uma ótima pessoa. Flávia já lhe pareceu um pouco diferente, não que ela fosse de todo má, mas algo a fez ficar se perguntando como ela e poderiam estar juntos. Não tinham nada em comum; enquanto parecia ser alguém centrado, Flávia mais parecia um lobo em pele de cordeiro. Ela não era chata nem nada, só não demonstrava real interesse pelas pessoas ao seu redor. Era como se estivesse lá apenas por não ter nada melhor para fazer.
, será que já podemos ir? Quero dar uma passada no shopping antes de ir pra casa.
– Eu tô muito cansado, amor, se for agora, vai ser direto pra casa.
– E eu vou como?
– Vai com o , prometo que à noite eu passo lá.
– Tudo bem – Flávia parecia querer pular no pescoço de , e dessa vez lhe dava razão. Ele fez a garota ir até lá e nem voltaria com ela? – Será que já podemos ir, Harry?
– Claro. Beijos, gente. , posso chamar assim? – ela fez que sim com a cabeça. – Bom, , foi ótimo te conhecer – e então a abraçou. – Vamos Flávia – e foram embora juntos.
– Acho que já vou também.
– Você vai de quê, ?
– Vou de ônibus mesmo, coisa de não habilitada – ela faz uma cara de manha. – Sabe como é.
– Vamos com o !
– O quê? – olhou a amiga, surpreso, percebendo parecia ter sido grosso aos olhos da “recém-amiga”. – Não é que eu não queira levar, mas a Gih tem que começar a aprender o que significa pedir.
– Tudo bem – ela tentou não demonstrar a vergonha. – Eu vou de ônibus mesmo – e antes que Gisele pudesse contestar, ela virou para a garota tentando a imitar. – E não se fala mais nisso.
– Enfim alguém pra tentar colocar a Gih no lugar dela, assim como eu – ele riu. se despedeu, mas antes que chegasse à porta do café: – Você vai embora sem me dar seu número?
– Ai, desculpa – passando o número para Gisele, viu estendendo o celular para que ela pudesse digitá-lo para ele também. – Faz assim, vocês pegam meu número com a Gisele e me mandam mensagem dizendo quem é quem. Tenho que ir, beijos.
E dessa vez, ela foi mesmo embora.

– Você consegue ser idiota até com quem não conhece, né?!
– O que eu fiz?
– Você sabia que ia me levar, custava dar carona pra menina?
– Eu NÃO sabia que você ia vir comigo, e NÃO custava nada, desde que fosse avisado. A gente nem sabe onde ela mora, e se fosse longe? Nem a Flávia me fez mudar a rota.
– Ahh, falando em Flávia – Gih falou, quase soltando o cinto pra ficar perto do rosto do . – DESDE QUANDO, ela é o seu AMOR?!
Ele riu do jeito da amiga.
– Sente-se direito, Gih – ele novamente riu, e ela arqueou as sobrancelhas, esperando a resposta. – Que foi? Não posso chamar minha namorada de amor?
– Nós dois sabemos que você não a ama – ela falou, impaciente; tinha o hábito de “amar” em dias. – Faz quanto tempo que vocês estão juntos? Dois dias?
– Quinze dias Gih, faz quinze dias.
– Os dias não são a real questão. Quero saber quando você vai parar de brincar de falar “eu te amo” para o primeiro par de peitos que aparece na sua frente.
– Talvez quando aparecer uma mulher com três peitos – ele riu, mas notou que a amiga não achou a mesma graça. – Ai, como você é mala, eu não disse que a amava, só a chamei de amor. E nem vem, isso tem diferença. Ela me chama de amor, quer que eu a chame como? De “encosto”?
– Que tal chamar de Flávia? Esse é o nome dela. E se não quer chamar assim, arruma um apelido. Mas não chama de amor, é tão falso.
– Tá com ciúmes? De me perder pra essas garotas?
– Não é isso, você sabe. Eu tenho medo de te perder mesmo, você é como um irmão, mas o que me irrita não são elas, é você e suas mentiras. Você é falso com elas.
No fundo, entendia o que Gih queria dizer, ele sabia que ela estava com um pouco de razão, mas só um pouco. Mas já que essa discussão provavelmente não teria fim se ele respondesse, ele preferiu manter os olhos no volante e esquecer o assunto, vendo a amiga bufar no banco do carona.


Capítulo 02

Pela noite, já tinha recebido SMS de quase todos do café, menos de , Flávia e . Flávia e não estavam mais lá quando dera seu número, por isso não mandaram, já , com toda certeza não mandou, porque não quis pegar seu número. Ela tinha certeza que ele só pediu o número dela para parecer educado, depois de negar carona minutos antes. Ela passou boa parte da noite trocando mensagens com Gisele e Mariana – as duas era muito legais. tinha um grupo reduzido de amigas, na verdade, só tinha duas; as outras eram apenas colegas mais próximas, mas ela sentia que Gisele e Mariana seriam ótimas amigas, já haviam a cativado, e a confiança viria com o tempo.

, como tinha prometido a sua namorada, passou na casa dela quando anoiteceu. Ela não parecia irritada com o fato dele não ter voltado com ela. – Seu pai me mandou uma mensagem falando que precisava me ver.
– Lá vem você – ela bufou.
– O que foi que eu fiz?
– Essa sua mania de ser sempre agradável com todo mundo, você trata melhor meu pai que a mim.
– Pelo amor de Deus – ele começou a rir. – Você tá com ciúmes do seu pai?
– Não é ciúme! Se quiser, pode beijar quem for – ela bufou. – Só não gosto de você ser tão certinho com ele. Eu não sabia que você era assim, naquele bar que a gente se conheceu, você me pareceu bem mais solto. Não esse ser todo corretinho.
– Flávia, por favor, não me venha com essa. Eu não estou aqui pra ser um objeto que você usa pra desafiar seu pai. A propósito, você já passou da idade de ficar fazendo isso. Eu sou seu namorado, você que nos apresentou, e eu o acho uma ótima pessoa.
– Faz o que você quiser, vou entrar. Assim ele pode vir aqui e conversar melhor com você – ela entrou, irritada.
ficou ali, indignado. Ele tinha essa mania doida de se interessar pelas garotas mais complicadas. O que ele poderia fazer se o pai dela o adorava? Ele não tinha culpa de ser tão interessante! Ele riu, imaginando a cara que Gisele e Mariana fariam se o tivesse escutado falando assim de si próprio. Mas, essa era a realidade. Ele não tinha culpa do pai de Flávia gostar dele. Desligou-se dos pensamentos ao escutar o sogro chegando.

Uma semana já tinha se passado desde havia conhecido o pessoal. Nesse meio tempo, encontraram-se algumas vezes, e inclusive, Flávia e também estavam presentes, e a cada encontro, ela gostava mais de todos, e tinha mais dúvidas sobre Flávia. Hoje começariam as aulas, e ela podia dizer que estava empolgada, não só por estar cursando o Jornalismo tão sonhado, mas também por que veria novamente suas duas novas amigas.
foi o primeiro a chegar, e ficou impressionado por não encontrar Gih; ela passara a semana falando de como estava ansiosa para o começo das aulas, e de como era um ótima pessoa. Gih era três anos mais nova que ele, não que isso interferisse na amizade, mas, às vezes, ela deixava visível a diferença. Ele riu ao lembrar-se do jeito que ela ficava ao tentar parecer mais adulta, ele diria que ela fica intragável.
chegou minutos depois, e antes que pudesse entrar na faculdade, a avistou.
!
– Oi – ela falou com tanta formalidade que ele pensou em rir, mas achou que pareceria grosseiro. – Você viu se a Gih, ou a Mariana já chegaram?
– Fui o primeiro a chegar. E bom, a chame de Mari.
– Como?
– A Mariana – ele falou, como se tudo fosse óbvio. – Chame a Mariana de Mari, ela prefere assim. É mais informal.
– Hm – ela achou um pouco irônico ele falar de formalidades; era o único que parecia não saber agir naturalmente perto dela. – Nada de formalidades – ela falou sarcasticamente, mas pareceu não perceber, e depois de alguns minutos de silêncio, ela falou, tentando quebrar o gelo. – Faz tempo que chegou?
– Na verdade não, cheguei minutos antes de você. Me admirei de não encontrar a Gih aqui, ela é sempre pontual quando algo a interessa.
– Entendi.
Minutos depois Gih chegou, juntamente com , Mari e , e ela agradeceu mentalmente por não precisar compartilhar do silêncio desagradável ao lado de . Gih a abraçou, e a escutou soltar uma espécie de grito baixo.
– Por que você está com essa aliança? Vai casar? – parecia que Gih desmaiaria a qualquer momento, e demorou um pouco para entender o que estava acontecendo. – Fala , de onde você tirou, e por que está de aliança no dedo?
– Não dava pra usar no braço – ele tentou fazer graça, notando que todos o olhava, aguardando por respostas. – Já não basta a Gih, agora todo mundo resolveu ser curioso? Eu não vou casar, relaxem, é apenas um aliança de compromisso.
– A coisa já tá tão séria assim? – perguntou, um pouco surpreso, um pouco engraçado. – Hein?
– Digamos que ela sugeriu e eu gostei da ideia.
Todos, absolutamente todos ali, pareceram achar a aliança um exagero, mas ninguém comentou mais nada. Mari ainda fez menção de falar algo, porém escutou um “não vai adiantar” de e então se calou.
estava se roendo de curiosidade em relação a tudo aquilo, afinal pra que tanto drama por causa de uma aliança? Eles deveriam namorar há um tempo e acharam que estava na hora, mas se fosse assim tão simples, aquelas caras de incômodo não estariam estampadas nos rostos alheios.
– Mari, desculpa se eu estiver sendo intrometida, mas qual o mal do estar de aliança? Não é normal ele querer isso depois de um tempo de namoro?
– Isso é normal quando se tem um TEMPO de namoro – ela fez cara e bocas ao pronunciar a palavra “tempo”. – E isso eles não têm.
– Faz quanto tempo que eles estão juntos?
– Não sei ao certo, mas não chega há um mês – sua expressão era de impaciência com a situação patética do amigo.
– Agora entendi – não sabia o que dizer, mas ainda tinha mais perguntas. – Ele é sempre assim? Bobo pra se apaixonar?
– Ele não tá apaixonado pela Flávia, ele só quer estar – dessa vez, ela parecia ter dado um fim ao assunto, mas voltou-se para e falou. – E vamos combinar, mulherzinha chata a Flávia.
– Você também acha? – minutos depois de ter dito, arrependeu-se. mal os conheciam, não tinha direito de opinar, e sabia disso. – Quer dizer, ela é um pouco diferente dele.
– Não precisa ficar sem graça em dizer a verdade – ela falou, vendo as bochechas da corarem. – Relaxa, , ninguém odeia a Flávia, mas também não gostamos. Tirando o , que parece gostar de todo mundo sempre – ela riu.
– O é sempre assim?
– Faz pouco tempo que me aproximei deles, antes eu só conhecia a Gih, mas nunca o vi realmente bravo. Apesar de que ela uma vez comentou que ele sabe ser bem ignorante e mau humorado quando quer.
– Mesmo o conhecendo pouco, acho meio impossível – , de todos, era com certeza o mais palhaço. não conseguia imaginá-lo bravo com alguma coisa.

A aula chegou ao fim, e tudo tinha ido muito bem. Tirando o fato de que Gih deu outro chilique ao ver que a proteção de tela de , agora era ele e Flávia. , com seu jeito todo palhaço, falou a coisa mais centrada desde que todo mundo resolveu surtar com isso. “Ninguém ama em uma semana”, foi só o que ele disse ao seu amigo. Deixando sem saber o que responder.
– Também vai dar sua opinião sobre minha aliança e minha proteção de tela?
– Eu? – olhou para os lados, procurando ver um dos amigos. Afinal, por que ele achava que ela daria alguma opinião sobre isso? Ela mal o conhecia, e bom, a vida era dele. Nunca houvera abertura pra ela dar opinião sobre nada. – Por que eu diria algo?
– Porque tá todo mundo falando, até o opinou.
– O é seu amigo, todos eles são, por isso falaram. Não quero que ache que eu não sei onde não devo me meter.
– E você também não é minha amiga?
– Bom, acho que não.
– E somos o que?
o olhou incomodada, afinal, onde ele queria chegar com tudo isso?
– Você já se sente amiga de todos eles, certo?
– Pode-se dizer que sim – ela ainda não tinha uma total liberdade, mas da maneira como ele apresentava as opções, ela os via como amigos, sim.
– E por que você considera todos, menos eu? – ele tentou fazer uma cara de indignação, meio engraçada pra não transparecer o incômodo, mas não conseguiu essa façanha com êxito, e demonstrou ter percebido. – Quer dizer, você não me vê da mesma maneira que eles?
– Você quer que eu opine sobre sua relação com a Flávia, é isso? Tá okay.
– Nã...– ele nem lembrava sobre o assunto Flávia, só queria saber porque ela não o via como os demais, contudo, ela o interrompeu.
– Não seja mal educado – ela riu, discretamente. – Não me interrompa – se ele queria saber o que ela achava de tudo isso, ele então saberia. – Eu acho esse lance de aliança um completo exagero. Pelo que eu entendi, nem um mês de namoro vocês têm ainda. A proteção de tela é algo aceitável, vindo de uma garota... Não de um garoto – demonstrou-se ofendido. – Perdoe-me a franqueza, mas é a triste realidade. Como o disse, ninguém simplesmente começa a amar em uma semana, e nos encontros que ela estava presente, você vive dizendo que a ama. Eu, se fosse sua namorada, não aceitaria esse tipo de tratamento. É forçado, é falso.
ficou atônito, não sabia o que falar. Tudo bem, ele procurou pela resposta sobre o quê ela pensava, mas precisava ser tão grossa?
– Você por acaso conversou com a Gih, sobre isso ser falso? O discurso pareceu bater bem com o dela.
olhou impaciente para o garoto, ela não tinha feito um discurso, ela apenas havia dado a sua opinião, opinião esta, que ele pareceu insistir em escutar. Estava conhecendo um lado dele que não conhecia – um lado sarcástico, que nem Gih com suas opiniões histéricas haviam conseguido arrancar dele.
– Eu não preciso ouvir a opinião dos seus amigos pra saber que isso é algo puramente calculado e falso. Teria esse mesmo pensamento sobre qualquer pessoa na mesma situação que a sua.
– Você é sempre assim tão grossa? Cadê a menina doce de uma semana atrás? – novamente, ela pôde sentir o sarcasmo em suas palavras.
– Seja apresentado à de verdade. Uma garota que sabe ser doce, mas que tem opinião própria.
– Hm – ele riu.
– O que foi?
– Nada – ele riu novamente. – Só estou procurando onde a menina doce de dias atrás foi parar.
– Junto com sua paixão pela sua namorada, talvez estejam lá – ela saiu, um pouco irritada.
continou ali, rindo sozinho. Tudo bem, a garota o tirou um pouco dos eixos com tudo que falara, mas algo naquele excesso de honestidade o agradou. Ela não fez escândalos, e nem rodeios, falou o que pensava e pronto. Algo que a diferenciava dos outro amigo de .
– Cadê a ?
– Ela foi embora – falou, com cara de criança que fez bobagem.
– O que você fez, ? – dessa vez foi Mari quem perguntou.
– Eu não fiz nada, juro – Mari e Gih o olharam, desconfiadas. – É sério, eu não fiz nada.
– Tudo bem – Gih deu-se por vencida, afinal, o que ele poderia ter feito? Achou que nada.

Na noite do mesmo dia, foram todos para um bar. se produziu da melhor maneira possível; ela queria estar bonita – na verdade linda, mas ela nem sabia exatamente o porquê. Só sabia que queria que o notasse sua beleza, visse que a menina doce podia ser mulher quando quisesse.
Gih tinha insistido pra que fosse pegá-la em casa, e que depois passasse na casa de , mas graças a Deus, disse que não precisava, pois iria com uma amiga.
Todos já haviam chegado, menos Gih e . tinha levado sua amiga – amiga desde que aprendera o real significado do que era amizade.
parecia estar adorando tudo, principalmente o bar.
– Sério que você, mesmo já tendo 18 anos, não vai beber?
, eu achei que você já tivesse entendido que eu não bebo – odiava bebidas, e odiava mais ainda gente que insistia para que ela bebesse. – Você sabe que não gosto quando insiste – ela se levantou, tomando o copo da mão de . – E pare de beber, você disse que não beberia essa noite, por isso eu te trouxe.
– Tudo bem – falou, frustrada.
Nessa hora, Gisele e chegaram. ainda estava de costas, e por pouco não a reconheceu com aquele salto, cabelo solto com cachos e uma roupa extremamente sensual, mas nem um pouco vulgar.
, sua ordinária, foi embora hoje e nem falou com ninguém. Quase achei que esse idiota – ela apontou para ao seu lado – tivesse feito algo pra te irritar.
– Desculpe, realmente pisei na bola! Deveria ter me despedido de vocês, mas acho que os meninos já me deram a bronca – ela olhou para , que a encarava, já esperando que ela contasse o que acontecera naquela manhã. – E não fale assim do seu amigo, afinal, o que ele poderia fazer pra me irritar? Você o conhece e sabe o quanto ele é adorável.
– Foi isso que pensei, e por isso não o matei – ela riu.
continou olhando para ; ele não imaginava que ela conseguisse mentir tão bem.
– Você mente bem – ele falou, fitando o corpo da garota por inteiro.
– Não menti. Ao menos com ela, você é uma pessoa adorável. E não me deixou realmente irritada.
– Não? Achei que você estivesse bem irritadinha – ele riu ao lembrar.
– Eu gosto de um drama, às vezes – ela falou, fazendo graça. Tudo bem, ela tinha se irritado, mas não iria admitir isso para ele. instigava seu lado mais competitivo e jogador. – Você não é tão bom pra isso – ela o empurrou levemente, que achou graça.
– Bebeu? Já tens idade pra isso?
– Tenho idade sim – ela mostrou a língua e ele riu novamente. – Dezenove anos recém-completados, mas eu não bebi não. Não bebo.
– Boa moça?
– Só alguém que não vê graça em se iludir com o efeito do álcool. Você com toda certeza bebe.
– Errou, quer dizer, errou em parte. Eu até tomo um ou dois copos, mas só se for uma ocasião bem especial. Tirando isso, prefiro ficar sempre em mim, não gosto de perder o controle.
, vem dançar com a gente – parecia embriagada, embora soubesse que não estava; ela dançava engraçadamente ao lado de – esse seu amigo é muito engraçado.
– Dispenso.
– Todo isso pra continuar ao meu lado? – falou com cara de convencido.
– Não, idiota – ela riu. – Não gosto muito de dançar. Prefiro curtir a música de uma maneira mais minha... Mudando de assunto, como a Gih conseguiu entrar aqui, se ela tem só 17 anos?
– Com essa cara de adulta? É muito fácil. Mas, na verdade esse bar é de um amigo nosso. E ela faz dezoito daqui a dois meses.
E eles ficaram ali, conversando por vários e vários minutos – talvez por horas, eles não sabiam ao certo.
, acho que tá na hora de irmos embora, eu não tenho a mesma idade que você – Gih falou, frustrada.
– Claro pirralha, vamos agora. Deixa eu só me despedir de todo mundo.
- É, porque você e a mal falaram conosco, só ficaram perto da gente quando chegamos aqui.
– Você sabe como eu sou um péssimo dançarino e a também não gosta muito de dançar – ele se dirigiu à pista de dança juntamente com a amiga e , indo ao encontro de . – Gente, já estou indo. foi ótimo de conhecer.
– Também adorei te conhecer, na verdade, adorei todos!
– Ei, irmão, você já vai? Mal passou tempo comigo. Você sabe que eu te amo – jogava charme pra , arrancando risadas de todos. – Falando sério agora, você nos abandonou hoje, tudo culpa da .
– Mas eu...
– Nem vem, garota, você roubou meu homem – ele riu. – Sua sorte é que não sou a Flávia, ela já teria ficado com ciúmes.
corou.
– Pare, . Vai deixar a menina sem graça. Prometo passar mais tempo contigo na próxima festa. Agora tenho mesmo que ir – ele abraçou , Mariana e depois . E ao sentir seu cheiro, ficou levemente nervoso; havia algo naquela garota que chamava sua atenção... Não era nenhum sentimento, mas uma curiosidade.


Capítulo 03

A noite anterior tinha sido ótima para todos, mas, talvez, apenas duas pessoas ainda pensavam seriamente sobre ela. e não conseguiam evitar pensar em como a noite fora agradável, um estando com o outro, todas as conversas, brincadeiras, e até implicância transformora a noite em uma das melhores de suas vidas.
“Eu não estou afim dele, é óbvio” ponderou. E ele também repetia para si a mesma coisa em todas as vezes que lembrava-se da sensação diferente que sentira ao abraçá-la, e sentir seu cheiro.

– Oi, gente! Eu estou um caco, acho que bebi demais.
– Quem manda querer dar um de loucão pra agradar a amiga da ? – Mari ria da cara de ressaca de .
– Alguém tinha que tentar descolar algo, além do e da – ele olhou pra , provocativo.
– Cala a boca, seu idiota – ambos riram. – Eu e a só conversamos, espera só ela chegar e escutar você falando isso. Ela vai pirar.
– Quem vai pirar? – chegou, assustando .
– Hm?
– Eu perguntei quem é que vai pirar.
– Você – respondeu na lata. – Ele disse que você ia pirar quando me escutasse dizendo que alguém tinha que descolar alguma coisa ontem, além do , que estava tentando descolar você.
– Eu? – ela riu. – Você estava tentando flertar comigo, ? – ela o olhou, convencida. – Acho que não , o é comprometido – ela pegou a mão dele e mostrou a aliança. – E se ele estava mesmo tentando algo comigo, sinto lhe dizer que ele foi péssimo, por que eu nem percebi.
– Você sabe que eu não estava tentando nada, todos sabem – ele falou, meio irritado com a situação. – Eu não trairia a Flávia.
– E se não tivesse a Flávia? – perguntou, com a mesma tonalidade provocativa de antes.
, o que você está ganhado pra tentar me juntar com o ? Eu e ele somos apenas amigos.
Todos pareciam acreditar, na verdade. E voltaram a se distrair com outras coisas. – Agora sou seu amigo, né? Até ontem só eles eram seu amigos – ele sussurrou no ouvido dela. – Só pra se livrar do ... E a propósito, eu não tentei nada com você. Quando eu quero alguém, a menina fica sabendo rapidinho. Acredito, eu sei fazer essas coisas muito bem – ele saiu, mas sem antes beijar o pescoço dela.
– Idiota.
– Somos.

Ao anoitecer, apareceu na casa de .
– Vim visitá-la, já que como boa amiga que você é, não aparece mais lá em casa.
– Me desculpa, eu não tive tempo.
– Mas teve tempo pra ir pra balada.
– Como você sabe?
– É pra isso que as redes sociais servem, pra olhar as vidas alheias. Vi que a e uma tal de Mariana te marcaram nas fotos delas.
– Ahh, sim. Eu estava precisando sair, e eles são ótimas pessoas! Preciso mesmo de novas amizades.
– Quem são aqueles gatinhos na foto?
– Ahh, são o , o e o .
– Quem é aquele que estava quase te abraçando na foto?
– Isso tá parecendo um interrogatório.
– Tem algum motivo para você ficar incomodada com esse assunto? – a menina a encarou, desconfiada.
– Não, nenhum. Era o , e ele não estava me abraçando.
– Calma, eu disse que estava quase. E se tivesse, que mal tinha? Você é solteira.
– Mas ele namora. E mesmo se não namorasse, eu não quero nada. Chato demais.
– Hm – a menina falou, rindo baixo, e jogou um travesseiro nela. – O QUE FOI?! – ela continuou apenas rindo. – Você está achando que eu tô afim dele.
– Eu? – a expressão no rosto de era de ofendida. – Isso é VOCÊ quem está dizendo.
– Eu não... Olha, ele pode até ser bonito, charmoso e inteligente, mas não faz o meu tipo, ele nasceu pra ser amigo.
– Nem um pouquinho de interesse? – ela fez gestos com a mão.
– Nem um pouquinho.

, e estavam na casa do jogando vídeo game e conversando sobre seu assunto – depois de esportes: mulheres.
– Ah, brother, eu quase dei uns pegas na amiga da , mas ela cismou de ficar dançando com as meninas.
– Você que é lerdo, , eu teria pegado fácil, fácil – falou.
– Falou o pegador! – falou, zombando do amigo.
– Ah, realmente ele não é o pegador. Pegador aqui é você, que está namorando e dando em cima de outra.
– O ficou com alguém lá? – perguntou, curioso.
– NÃO! Eu não fiquei com ninguém. Eu namoro.
– É bobeira do , . O não parece fazer o tipo da .
– Posso saber por que eu não faço o tipo dela, ?
– Por que não faz, ué.
– Pois fique sabendo que eu só não fico com ela, porque tenho namorada. E ela é quem não faz o meu tipo.
– Pois faz o meu direitinho – falou, safado.

– Vamos sair hoje de novo?
– É, Mari. E como hoje é sexta, a gente pode ficar até mais tarde.
– Mas a Gih não pode, gente.
– Eu não vou, , aproveitem sem mim! Hoje eu tenho coisas pra fazer.
– Minha pirralha anda ocupada – falou, apertando as bochechas da garota.
– Sai, ! Odeio quando você me trata como criança.
– Mas você é uma – ele riu e ela mostrou a língua.
– Você vai, ? – perguntou.
– Vou sim, e vou levar a comigo.
– Você só tem uma amiga pra levar? Porque a já vai ser minha, e se esses caras aqui quiserem cair em cima dela também?
– Até tendo, mas ela não é muito fã de baladas.
– Então vamos levá-la para um café, e marcar para o ir também. Que ele não me ouça, mas ele é tão velho às vezes!
– Posso buscar vocês em casa, ? Notei que ela gosta de beber às vezes, e ela não tendo que dirigir, pode beber à vontade.
– Você não bebe, ?
– Não tô afim de beber hoje.
– Então pode passar lá. Agora já vou. Beijos!

– Vamos, , daqui a pouco o chega!
– Ele que vem nos pegar? Achei que seu gatinho fosse o .
NÃO é o meu gatinho. Que coisa chata, já não basta a ...
– Não era o que parecia lá no bar.
– Nem vou me dar o trabalho de te responder.
Minutos depois, ligou para perguntando seu endereço.
– Onde você tá? Ah, sim... Vira na direita e segue reto! A já tá aqui, ela veio se arruma... Isso, direita, vamos estar te esperando na frente de casa. Beijos.
– Ele já tá vindo?
– Tá sim, agora vamos.
Ao saírem, não demorou mais de um minuto para que pudessem avistar o carro de .
– Boa noite, meninas – ele saiu do carro e abriu a porta da frente para , e a de trás para . – Hm, que cavalheiro. Sorte sua ter amigos assim, .

Eles foram os primeiros a chegar. Depois chegaram Mari, e . Os últimos foram e Flávia.
– Oi, falou, empolgada.
– Oi, minha linda... Oi, – ele as cumprimentou. – Oi, brother!
! Não esperava te ver aqui, da outra vez você não veio.
– Sabe como é, eu sou mais ocupado que você, – ele riu e foi cumprimentá-la.
– Bobo – diz, notando Flávia e também a cumprimentando. – Oi, Flávia.
– Oi, gente.
Seguiram para a pista de dança, e mesmo que não gostasse muito de dançar, insistiu em ter sua companhia e ela acabou cedendo.
– Você tá linda, sabia?
– Obrigada – ela riu.
– Quer dizer, você é linda sempre. Da outra vez que viemos aqui você estava excepcional, mas hoje você se superou – ele falou, fitando os olhos dela.
– Você tá me deixando sem graça – ela falou, sentindo as bochechas corarem.
– Vai dizer que nunca escutou elogios? – ele disse, rindo. – Todo mundo escuta elogios, mas eu sou do tipo que não sabe bem como reagir a eles, e fico assim, toda envergonhada. Como agora.
– E consegue ficar ainda mais linda desse jeito.
– Para – ela deu um leve tapa no rosto dele, e ambos riram. – Se você ficar falando dessa maneira, eu vou sentar antes de virar um pimentão de tão vermelha de vergonha que vou ficar.
– Tudo bem – ele riu da vergonha da menina. – Mas só saiba que uma menina linda como você, tem que se acostumar com esse tipo de coisa.
– Eu vou sentar, estou te avisando.
– Parei, parei – ele riu. – Mas me diz, você sempre morou aqui em Londres?
– Não, não. Eu, na verdade, posso dizer que sou de três países.
– Hein?
– Eu nasci em Estados Unidos, fiquei lá até os dois anos mais ou menos. Depois fui morar no Brasil, onde fiquei até os seis. Depois me mudei pra cá.
– Você é uma americana? Como não percebi? – ele começou a rir.
– Eu sou Americana, Brasileira e Inglesa – ela também.
– Por que você se mudou tanto?
– Meu avô materno é americano e minha vó é brasileira. Em uma viagem do meu avô pra o Brasil, eles se conheceram e logo ela se mudou pra Nova York. Só que depois eles viajaram para o Brasil, e como minha mãe acabou nascendo, eles resolveram passar mais tempo lá. Eles só iam para os Estados Unidos a negócios mesmo, então quando minha mãe cresceu, casou-se e se mudou pra Nova York junto com o meu pai, pra tomar conta dos negócios dos meus avós. Acabou que eu nasci, e meus avós só me viram quando eu tinha dois anos, então eu me mudei pra lá e fiquei até os seis no Brasil. Daí minha mãe resolveu que era a hora de parar de viver cuidando dos negócios da família e criar uma coisa dela. E isso me trouxe pra cá, e cá esto. – ela falou, ainda dançando e lhe estendeu a mão, que ela a pegou, fazendo-a girar ao seu redor.
– Então viva à sua mãe, que me deu a oportunidade de te conhecer – ambos riram. – Você fala português fluentemente?
– Claro, eu sempre viajo pra lá, pena que já faz quatro anos que eu não vou. Falo inglês, português e espanhol.
– Nossa, você é o que? Alguma gata de laboratório?
– Você quis dizer rata.
– Achei rata meio ofensivo.
– Bobo.

Ao voltarem para mesa, ficaram todos conversando. Mais uma vez, teve a impressão de que Flávia só estava ali porque não havia algo melhor para fazer. Talvez ela até estivesse gostando de estar ali, mas apenas por causa de ; ela não fazia nenhuma questão de fazer parte da conversa.
– Amor, vamos dançar? – Flávia falou, a voz totalmente afetada.
– Eu não sei dançar, amor. Você sabe disso.
– Vamos, amor, dançar sozinha não tem graça – ela falou mais afetadamente ainda.
– Ah, amor, vamos ficar aqui então.
– Por favor, amor.
Era tanto “amor”, que nessa hora Mariana revirou os olhos assistindo a cena, e teve vontade de rir da cara da amiga.
– Tudo bem – dessa vez, ele não disse “amor”. Talvez porque tinha notado a cara de Mariana.
Os dois saíram e Mariana falou.
– Parecia até que ela estava gemendo, credo, precisa de tanto amor e de tanta safadeza pra falar isso? – ela pulou no colo de , e começou a fingir que estava o agarrando. – Ai, amor, eu te amo, amor. Vamos dançar, amor, quero dar pra você, amor – ela falou, tentando imitar a voz da Flávia.
– Também te amo, amor – entrou na brincadeira. – E mesmo sendo mentira, vou repetir isso porque você é idiota e eu quero te comer, amor.
– Parem gente, eles vão perceber que isso é sobre eles – falou, parecendo ser o único adulto da mesa, já que todos estavam morrendo de rir com a situação.
– Para de ser mala , eu e a Mari só estamos transmitindo a verdade dos fatos, de uma maneira engraçada.
– Não temos nada a ver com isso, só acho.
O casal voltou a mesa e todos mudaram de assunto.
Como prometido, levou as meninas em casa. Primeiro, deixou , e por último, .
– Não vai me convidar pra entrar?
– Ai, que falta de educação minha, vem, vamos pra varanda lá no primeiro andar.
Eles entraram e ela foi à cozinha, voltando e trazendo consigo bolachas recheados, suco e salgadinhos.
– Aqui é ótimo.
– É, eu sei, amo ficar aqui. Às vezes até acabo pegando no sono por aqui mesmo.
– Você já namorou alguma vez, ? – ficou sem graça com a pergunta, mas ele não parecia nem um pouco envergonhado pela brusca mudança de assunto.
– Pode parecer patético, mas não, eu nunca namorei realmente.
– Nunca? – ele parecia realmente surpreso.
– Nunca – ela riu da reação dele. – Claro que já tive lances mais sérios, mas nada que eu pudesse chamar de “namoro”. E você?
– Ah, eu já.
– Quantas vezes?
– Quatro.
– Hm...
– Mas já estou de olho na quinta.
– Hm – ela não gostava muito desse assunto, afinal, seu conhecimento era quase zero, embora suas amigas insistissem que ela demonstrava muita experiência.
– E essa, se tudo der certo tem tudo para ser a última.
– Entendi.
? – ele percebeu que a garota não estava dando muita atenção. – Fica comigo? – Hein? – ela quase colocou os salgadinhos que estavam em sua boca para fora. – Pera, pera, a garota que você tava aí falando... Sou eu?
– Talvez. Isso se rolar alguma coisa antes.
, faz quanto tempo que a gente se conhece mesmo? Acho que nem chega a três semanas.
– Eu não tô te pedindo em namoro, e muito menos em casamento , só estou pedindo pra você ficar comigo.
– ela não sabia nem formular frases direito, só pensava: Gente até ontem eu nem sabia quem era ele, e ele nunca deu em cima de mim, o que eu faço? – , tem certeza de que não bebeu? – ela forçou um riso; na falta do que dizer, a comédia era sempre a melhor escolha.
– Certeza, – ele também riu. – Mas e então, fica comigo?
não podia negar que o físico de era atraente, e ele era uma ótima pessoa, mas bom, ela não tinha certeza se isso bastava para ficar com ele.
– Vamos fazer assim? A gente sai mais algumas vezes, e eu te respondo até lá.
– Okay – ele riu e beijou a bochecha dela. – É melhor eu ir.
Ela desceu com ele, levando-o até a porta.
– Fica com Deus, .
– Você também.
– E pensa no meu pedido.
– Vou pensar – ela riu, sem graça.


Capítulo 04

Era final de tarde e estava escolhendo uma roupa pra sair com . Logo após ele ter chegado em casa na noite anterior, mandou uma SMS para , e eles passaram uma boa parte da madrugada conversando.
Ela não sabia muito bem onde eles iriam, mas sabia que não era nada muito luxuoso. Então, depois de um tempo encarando o guarda roupa, ela escolheu uma calça preta, blusa vermelha, um sobretudo xadrez vermelho, preto e azul como suas cores principais, e um cachecol cinza.

Eles chegaram por volta das 19h, e levou o maior susto ao ver que e Flávia também estavam lá. No começo, ela achou que fosse coincidência mas, qual era a possibilidade deles resolverem ir justamente ao Golden Hind, na mesma noite em que ela e ?
– O e a Flávia também estão aqui? – ela disse, ainda na porta.
– Eu sei, eu os convidei – ela o olhou, e apenas deu um sorriso de lábios fechados, tentando disfarçar seu incômodo. Esse era, digamos, o primeiro encontro deles, e ele resolveu fazer daquilo um encontro duplo, e para piorar, o outro casal era o e a Flávia. – Você não se incomoda, não é?
– Claro que não!
– Então vem, eles já guardaram nossa mesa – ele pegou em sua mão, e os dois caminharam até a mesa.
– É a ?
– Como?
– A garota que o ia trazer pra comer com a gente. É você, eu não sabia – e de alguma maneira, os olhos dele também transpareceram um leve incomodo.
– Estou surpreso.
– Por que surpreso, amor? O que há de errado em ser ela? – Flávia perguntou, incomodada.
– Nada – respondeu, sem graça. – Só esperava alguém diferente, já que o não me disse que era ela. Por que você não disse que era a ? Eu já estava com medo da “coisa” que poderia aparecer com você.
– Ah, irmão, você agora sabe – ele riu.

Golden Hind tinha simplesmente o melhor peixe com batatas fritas de toda Londres, e todos pareciam concordar com isso; estavam atacando a comida, ou quase todos – não comia peixe, e comia apenas por vergonha de dizer a que o seu tão maravilhoso programa já começora todo errado. Ao menos ainda tinha as batatas fritas para comer.
– Isso aqui é simplesmente delicioso – falou, apontando para o seu prato, e fazendo uma cara engraçada.
– Verdade – fingiu em concordar, e lhe mandou um sorriso desconfiado.
– Agora vamos pedir a conta?
– Já? Isso tá tão gostoso, irmão – retrucou.
– Mas você sabe que aqui não fica aberto até tarde. Que tal procurarmos um boliche pra ir? Vai ser divertido.
– Eu voto sim – Flávia falou, empolgada.
– Eu também.
– Ok, sou voto vencido – falou, frustrado.

– Eu vou logo avisando não sou boa em boliche – falava ao pegar a bola.
– Tudo bem, , só tenta.
Ela foi para pista e arremessou a bola, e como dissera, ela realmente era ruim. Não acertou nenhuma.
– Eu disse que não era boa.
– Então deixa a gente jogar, daí você ver como é que se joga – Flávia falou, brincalhona, e não pareceu deboche; ela, hoje, estava realmente agradável.
– Podem começar – falou, saindo da pista.
Enquanto Flávia e jogavam, e conversavam e olhavam os dois amigos.
– Tá gostando da noite?
– Sim, to adorando – “Tirando o fato que eu não como peixe na minha casa”, ela pensou.
– Que bom – ela podia apostar que ele estava novamente tentando flertar com ela.
– Que merda, não acredito que eu perdi pra você – eles ouviram Flávia falar, enquanto saiam da pista.
– Vamos eu e você agora, , quem ganhar, joga contra a .
– Vamos, eu vou acabar com você.
Ele começam a jogar – os dois eram realmente bons, e ficavam provocando um ao outro, mas no final, quem acabou ganhando, foi .
– Aha! – ele falou, levantando os braços. – Eu sou magnífico!
– E super humilde, vem, ainda falta você ganhar de mim, bobão – falou, divertida.
– Isso vai ser ótimo – ele falou e ela quase babou. Ele ficava muito sexy quando tentava desafiá-la.
– Eu e o vamos pegar bebidas, mas podem começar.
e Flávia saíram, deixando ambos prestes a começar o jogo.
– E aí? O que eu ganho se me consagrar o grande vencedor?
– Eu não vou apostar isso com você, é meio óbvio que você vai ganhar.
– Sem apostas não tem graça... Vamos fazer assim, eu duvido que você consiga derrubar todos os pinos, e caso consiga, pode pedir o que quiser, e caso não consiga quem pede sou eu – e ele novamente a olhou, de um jeito desafiador, que a deixou toda desconcertada. – Que foi?
– Nada, nada – falou, sem graça. – Eu topo, vamos começar?
– Primeiro as damas.
– Dessa vez, primeiro os cavalheiros – ela se curvou, mostrando o caminho.
Ele foi, e por pouco não derrubou todos. E assim foram, uma, duas, três, quatro vezes.
– AH, EU CONSEGUI! – pulou nos braços de e comemorou seu strike – EU CONSEGUI!
– ÉÉÉ – ele a ergueu, ainda mais alto, e ela levantou os braços. – E o que você vai querer? – ele nem conseguiu ficar frustrado com a perda da aposta, foi divertido ver a menina toda empolgada.
– Mais um motivo pra eu comemorar, como esqueci isso? – ela falou, entre risos e gritou mais uma vez, fazendo com que ele a erguesse ainda mais alto.
– Nossa, que empolgação com meu namorado é essa? – Flávia falou, tentando ser engraçada, mas claramente incomodada.
– Acho que devo te por no chão agora – falou baixinho, com um sorriso de criança que fez besteira.
– Deve sim – ela respondeu, entre risos.
– Qual o motivo da comemoração? – perguntou.
– Ela derrubou todos.
– Nossa.
– E só por isso, vocês quase viram namorados?
– Não viaja Flávia, só estávamos comemorando.
– Mas você estava jogando contra ela.
– Sou um bom oponente – ele falou, dando um leve empurrão em , que riu.
– Será que podemos ir, ou ainda tem algo pra comemorar? – Flávia falou, irritada.
– Eu não quero ir agora – falou, e os outros dois concordaram. – Espera mais um pouco.
Os quatro continuaram ali, se divertindo – ou ao menos, alguns deles estavam. Flávia estava claramente irritada, e não fazia nenhuma questão de esconder isso, o que estava deixando bastante incomodada, e pelo que ela podia ver, também estava incomodado.
, me beija.
– O quê?
– Me beija.
?
– Me beija – ela riu.
E segundos depois, já estava segurando a cintura da garota, e ela estava com as mãos em sua nuca.
beijava bem – na verdade, era ótimo, e estava sendo adorável com . Mas, o maior motivo que a fez querer beijá-lo, foi tentar tirar da cabeça de Flávia e até mesmo da dela, que estivesse rolando algum clima entre ela e .
– O que é aquilo ali? – olhou, incrédulo.
– Vai me dizer que está com ciúmes? Por que só falta isso pra eu ter certeza que você sente algum tipo de atração por ela.
nem parecia escutar o que sua namorada falava, ficou apenas encarando a cena à sua frente. Durante a noite, nada ficou claro que e ficariam, e agora, do nada, ela o agarra na frente de todo mundo? Mas, o mais estranho de tudo, não era os dois estarem se beijando, e sim o incômodo que sentia ao observá-los. Será que Flávia estava certa? Ele estava interessado em ? Ele procurou logo apagar esses pensamentos e virou pra Flávia, que ainda reclamava de alguma coisa sobre o assunto.
– Pare de ser boba – ele a puxou para um beijo rápido. – Eu quero você.
– Assim espero – e voltaram a se beijar.

Depois do beija, beija no boliche, a noite de acabou na cama com Flávia, e de e também – porém, no caso dos dois, cada um na sua respectiva cama.
Ele a levou para casa no fim da noite, se beijaram mais um pouco dentro do carro, fora do carro, e novamente dentro do carro. Eles também combinaram de continuar ficando, mas ambos deixaram claro que aquilo não era um compromisso, estariam apenas curtindo o momento, e o que ele podia proporcionar a ambos.

Na manhã seguinte, foi acordada pelo barulho do seu celular – era uma mensagem de texto, mas ela não conhecia aquele número.

“Já decidiu o que vai querer por ter ganhado a aposta? –

Ela quase caiu pra trás quando percebeu de quem era a SMS. Ele tinha pego seu número?
Então ela respondeu.

“Isso tudo é saudade minha? Não tinha outra hora pra me mandar mensagem? Hahaha. Não tenho condições de responder a sua pergunta, ainda estou dormindo –

Outra SMS não demorou a chegar.

“Quem tá dormindo não escreve esse monte de coisa. :p”

“Você é sempre tão chato assim? o.O”

“Só com quem merece... Tá namorando o ?”

Essa última mensagem fez com que se sentisse o maior idiota do mundo por tê-la enviado, mas o que ele podia fazer? Estava bem curioso sobre isso.
, novamente, quase caiu para trás com a mudança repentina de assunto do garoto. E depois de um tempo, ela resolveu responder.

“Que mudança de assunto, hahaha... Ficar não quer dizer que eu vá namorar. Você parece saber muito bem disso.”

“Essa sua última frase por acaso foi uma provocação? EU NAMORO, BABY. Hahaha :p”

“Namora, mas...”

olhou a última SMS que ela mandou e nem sabia o que responder. “O que ela queria dizer com aquilo, afinal? Será que ela também achava que ele estava sentindo algum tipo de atração por ela? , não seja ridículo, você não sente nada por ela, ela não quis dizer nada sobre isso”, ele pensou.

“Mas o quê?”

“Nada... Tenho que ir. Já que alguém me acordou, agora tenho coisas pra resolver. XOXO”

“Ei, volta aqui, termine a frase. Começou a conversa agora termina. VOLTA AQUI.”

olhou a mensagem e riu; era mesmo uma graça. Mas, quando percebeu o sorriso bobo que estava dando ao olhar celular, logo tratou de mudar de pensamento, e o jogou em qualquer canto.


Capítulo 05

Era manhã de segunda feira, e todos chegavam à faculdade. , Gih e Mari já estavam lá quando os meninos chegaram. Os olhares entre , e foram logo notados.
– Tá rolando alguma coisa aqui? – Gih perguntou, claramente curiosa.
– Como assim alguma coisa? – olhou confuso.
– Eles – ela apontou pra , e . – Calados, sem graça um com o outro, isso tá estranho.
–Eu não tô estranho, o que rolou nem foi comigo – falou, olhando pra que o fitou incrédula.
– E o que rolou?
– Isso já não é comigo – ele levantou os braços.
– Gente, o que rolou?
– Nada, Gih, é papo do falou, tentando convencer a garota.
– Eu sei que não.

– Até eu tô curioso, o que rolou? – perguntou.
– Eu e a ficamos, tá bom pra você? Povo curioso.
– VOCÊS ESTÃO NAMORANDO?! – Mari e Gih perguntaram em coro.
– A gente tá ficando, galera. Meninas, por favor! Quanta curiosidade. Vamos entrar que é melhor.
As meninas se deram por vencidas e todos entraram. estava irritada com , e ele parecisava saber disso, mal a olhava e estava evitando ficar perto dela. Quando chegavam na sala, ele percebeu que ela não os acompanhou, tinha ficado lá atrás com .
– Desculpa pela boca grande do , ele não sabe controlar a língua.
– Relaxa, não foi culpa sua. E depois, é algo normal duas pessoas ficarem.
– Que bom que você não está com raiva – “Eu estou com raiva mas não de você”, pensou. – Será que posso te roubar um beijo antes de ir pra aula?
– Se tá pedindo, não vai ser roubado – ela falou, rindo.
– Então tem que ser de surpresa?
– Se for pra ser rouba... – ele a beijou. sentiu seu corpo contra a parede e se arrepiou ao sentir puxando seus cabelos da nuca.
– Acho que, por fim, eu te roubei um beijo – ele deu um selinho nela.
– É, roubou sim – dessa vez ela é quem o beija. – E eu roubei um seu. Agora vou pra aula, depois a gente se fala.
Logo que entrou na sala, perguntou se o garoto que estava perto de podia lhe ceder a cadeira e sentar na que estava vazia, com a desculpa de que precisava mostrar algo urgente para o “amigo”. O garoto educadamente lhe cedeu a cadeira e sentou na outra.
sentiu uma vontade de rir, misturada com medo ao ver a cara da ao virar-se para ele.
– Você é idiota ou algo do tipo?
– Hein? Que foi?
– Como assim “o que foi”? Por que você contou que eu e o ficamos?
– Eu não contei isso, quem contou foi ele. Eu apenas disse que não tinha nada a ver com aquela troca de olhares patética na chegada.
– Nós dois sabemos que você podia ter ficado calado, mas optou por não fazer isso e indiretamente quis contar o que rolou – falou, irritada.
– E o que há de mal em contar isso? Você por acaso se arrepende de ter ficado com ele?
– Claro que não! – ela praticamente gritou no meio da sala.
– Acho bom, por que ontem eu tive a impressão de que você tava querendo provar alguma coisa.
passou uns segundos calada, pensando em como aquele garoto tinha o poder de saber o que se passava em sua mente, e a irritar tanto.
– E hoje, eu estou com a impressão que isso tá te deixando interessado demais, arriscaria dizer que você está com ciúmes – os olhos deles quase saltaram e ela riu vitoriosa. – Tá com ciúmes de mim, ? Sua namorada não é quem você quer?
Ele abriu a boca algumas vezes na tentativa de dar uma resposta a altura, mas nada parecia ser bom o bastante.
– Sei que esse é o seu sonho – não foi a melhor resposta, muito menos a mais madura, mas o que ele poderia fazer? Ficar calado estava fora de cogitação.
apenas riu e virou pra frente, prestando atenção na aula.

Já fazia duas semanas desde que e tinham começado a ficar; eles tinham muita intimidade, por vezes ele tentou “ultrapassar o sinal” e isso estava tirando o sono e a concentração da garota. Não era nada anormal ele querer dar mais um passo, na verdade, era bem normal, mas o problema era que ela ainda não tinha dado esse passo com ninguém, e algo em sua mente falava que ele não era o certo, e o problema ainda maior era pensar em como contar pra ele que uma garota de dezenove anos como ela ainda era virgem. Não que ela se envergonhasse, mas também não gostava de sair contando pra galera.
, você tá aí? – perguntou, enquanto estalava os dedos na frente dos olhos dela.
– Oi, hm? – ela falou, confusa.
– Temos que terminar isso, o professor já vai recolher.
– Ai, eu não estou com cabeça pra nada disso – falou, colocando o rosto entre as mãos. –Seria pedir demais que vocês tentem fazer sozinhos? É sério, não estou com cabeça.
– Por mim, tudo bem – Paulo, seu outro parceiro de grupo, respondeu.
– Você tá bem? – nessas duas semanas, entre uma implicação e outra, e tinham se aproximado demais, e a preocupação dele já não soava estranha.
– É bobeira – ela respondeu, tentando mudar de assunto.
– Eu quero saber se está tudo bem, mas já vi que não tá. O que você tem?
– O professor já vai recolher, faz isso e me deixa em paz – ela tentou ser grossa.
– Você sabe que já estou ficando imune a essas suas grosserias, não sabe?
Ela apenas riu e tampou a boca dele, e ele depositou um beijo naquela mão que julgava ser a mais macia que ele já sentiu.
pôde sentir seu corpo arrepiar com aquela demonstração de carinho de . Ele, ultimamente, mesmo com implicância, andava tão parceiro dela, isso a estava deixando confusa.

No final da aula já foi saindo da sala, e apenas dizendo tchau pra todo mundo, mas logo a acompanhou.
– O que você tem? – ele se jogou na frente dela.
– Eu já disse que é bobeira – falou, tentando se desviar dele.
– Eu sei que é bobeira, porque você só fala bobeira, mas eu quero saber. O que você tem?
– Eu te odeio, sabia? – falou, rindo.
– Eu sei que não – ele riu – Mas... O que você tem?
– Você não vai desistir vai?
– Não – falou, e acabou conseguindo um sorriso da garota.
– Então vem, vamos pra algum lugar reservado.
– Eu conheço um.
a levou pra um lugar de tirar o fôlego; era um lugar atrás da faculdade, tinha uma vista privilegiada, tanto da cidade quanto do céu, e só pra terminar, tinha uma árvore imensa pra fazer sombra.
– Que lugar perfeito – falou, deslumbrada.
– Eu sei – ele falou se sentando embaixo da árvore. – Vem – tocou no chão ao seu lado, e ela sentou. – O que você tem?
– Promete que não vai rir? – ela estava se sentindo uma idiota, por que simplesmente não falava disso com suas amigas que já sabiam de tudo? Não, ela tinha que escolher contar pra um garoto que lhe deixava arrepiada só por lhe trazer a um lugar bonito e beijar sua mão.
– É tão idiota assim? – ele perguntou, rindo, e ela confirmou mentalmente que era uma idiota.
– Tá vendo, você nem sabe e já está rindo.
– Você tem quantos anos ? Nove? Conta logo – ele riu.
– Bom – ela parou e respirou fundo – Eu sei que eu deveria estar falando disso com as minhas amigas, mas eu não sei, algo me faz sentir segura em conversar com você – sentiu seu corpo perder forças mediante essa frase. – Eu e o estamos ficando, você sabe, só que ele quer transar. Eu sou virgem. Ele não sabe. Eu não quero transar e não sei como contar as duas coisas pra ele – ela falou tudo rápido, de uma vez e no final suspirou, buscando os olhos do garoto.
– Não é nada tão idiota como eu pensei – falou, dando um sorriso pra ela que apenas o olhava nos olhos. “Alguém já disse a essa garota que ela não deve encarar ninguém assim? É sexy demais”, ele pensou. – Você não se sente pronta por que faz pouco tempo? – só ela pra o fazer conversar sobre isso, todo esse papo era tão gay.
– Eu não me sinto pronta por que é ele – era difícil admitir, mas não era o cara.
– Por que não?
– Por que ele não me deixa segura, sabe? Ele não me dá aquele arrepio só de olhar, o toque dele não me deixa tão leve, não é ele. Você entende?
– Na verdade não muito, quer dizer, garotos não pensam sobre isso na hora de ir pra cama com alguém – ele riu, constrangido por estar falando disso.
– Eu estou sendo careta? Idiota?
– Na verdade, não. É seu corpo, você sabe o que faz, as escolhas são suas. Vou admitir, embora isso seja muito gay, eu acho você bem mais interessante agora – ela riu – É sério, é bom saber que ao menos algumas garotas não escolhem o cara por acaso.
– Não se ache – ela falou levantando o dedo. – Mas, eu posso te dar um abraço?
– Vem cá, – ele falou, agarrando-a pela cintura.
– Ei,?! – ela o encarou, sorrindo.
– Acho que faz todo sentido – falou rindo.
Os dois ficaram abraçados por mais um tempo.
– Obrigada – ela falou, deitando sua cabeça no ombro dele.
nada falou, preferiu não falar; queria apenas ficar ali abraçado, sentindo seu cheiro doce, percebendo o pulsar do coração dela, que ele podia jurar que estava acelerado – e estava mesmo, muito, e ela não sabia exatamente o porquê –, ele preferia sentir o roçar da pele do rosto dela em seu pescoço, sua respiração que o deixava arrepiado – coisa que ela notou, e acabou dando um sorriso bobo.
sentiu um misto de sensações, era tanta coisa que passava em sua mente, só sabia que se continuasse abraçada a ele, iria acabar o beijando.
– Vamos embora – ela falou, soltando-o e já se levantando.
– Mas está tão bom aqui – ele fez manha.
– Para de ser idiota e vem embora, o já deve está louco a minha procura.
“Como ela pode pensar em depois disso?” passou na mente de , “Ela acabou de dizer que não queria nada com ele”.
– Vai acabar tudo com ele?
– Como? Eu não vou acabar nada! – ela exclamou.
– Hã? – “essa garota é maluca”, pensou – Você praticamente falou que não sentia nada por ele, eu pensei...
o interrompeu, sua vontade era de dizer que também pensou que iria acabar, só que depois desistiu, por que ele era a única chance dela parar de pensar e sentir coisas por um certo garoto que era comprometido, mas era óbvio que ele iria sacar tudo.
– Eu não disse isso. Não coloca palavras na minha boca.
– É claro que você disse. Você tem vergonha de contar a ele que é virgem? É sério, , não tem por que ter vergonha, já disse que eu acho isso lindo.
“Por que ele tinha que ser tão perfeito? Por que ele tinha que se parecer tanto com o garoto dos meus sonhos?”
– Não é você que tem que achar nada, isso não tem nada a ver com você – falou ríspida.
– Chega! Você é maluca! – ele exclamou, e saiu sem paciência.
não sabia se o que mais lhe incomodava era o fato dela estar sendo grossa com ele depois dele ter topado conversar sobre algo tão gay, ou de saber que ela ainda iria continuar “quase namorando”. Talvez o coração acelerado dela na hora do abraço tenha sido só impressão ou então não tinha nada a ver com algum sentimento em comum com o dele.

– Onde vocês estavam? Achei que você tivesse ido embora, foi logo falando quando avistou os dois.
– A gente tava resolvendo umas coisas da aula.
– É, coisas da aula – falou, revirando os olhos.
– Agora vamos, a galera tá nos esperando num café perto daqui.
– Eu não vou não – falou rápido – Estou com saudades da Flávia, vou dar uma passadinha na casa dela.
sentiu seu estômago revirar quando ele falou isso. Talvez o arrepio que ela viu nele tenha sido graças ao vento, nada a ver com ela.
– Tá okay, dude, manda um beijo pra ela.
– Mando sim – e ele saiu, sem nem ao menos dar tchau a . E ela, mesmo com vontade de dar outro abraço daquele que deu nele minutos antes, nada falou e foi embora com .
– É impressão minha ou o não estava muito bem? Vocês tiveram outra briguinha boba?
– Não, por quê?
– Porque a coisa parecia com você. Ele estava te olhando dos pés a cabeça com uma cara de confuso, não sei.
– Não brigamos não, impressão sua.

saiu da faculdade e foi direto pra casa da sua namorada.
– Quando você me ligou dizendo que tava vindo pra cá, achei que fosse brincadeira. Você nunca vem essa hora.
– Bateu saudade, tem alguém na sua casa?
– Não, ninguém.
E antes que ela falasse mais alguma coisa, ele já a empurrou pra dentro, fechou a porta atrás de si, e começou a beijá-la. O beijo era forte, desesperado, ele precisava disso. Precisava tirar aquela droga de abraço da cabeça.
– Nossa, hoje você tá rápido.
E ele novamente nada falou, apenas voltou a beijá-la já, guiando-a até a escada.
– Eu te amo, , eu te amo.
partiu o beijo e Flávia o olhou assustada. Ele já não conseguia mentir pra ela dizendo que a amava.
– O que foi,?
“Você precisa voltar ao que estava fazendo, não seja gay, são apenas três palavras, as ignore e continue”, pensou.
– Nada, nada. Vamos logo pra o seu quarto.
E com o beijo, calou qualquer pergunta de Flávia, que deu um sorriso safado e foi pra o quarto com ele.

, o não vem? – Gih perguntou logo que e chegaram ao café.
– Não, ele disse que tava com saudade da namorada, foi na casa dela.
– Sério? Porque pra mim isso não faz nenhum sentido – Gih falou rindo.
– Pode acreditar – dessa vez também riu.

, posso te fazer uma pergunta?
– Pode – ele respondeu, dando-lhe um selinho.
– O que te fez chegar assim aqui em casa?
– Saudades.
, eu não sou idiota, você jamais chegaria aqui em casa pela manhã, todo tarado, carinhoso por causa de saudades.
– Você é chata, Flávia.
– E você tá estranho, muito estranho. Desde aquele dia no boliche que você não é mais o mesmo.
– Do que você tá falando? – ele não podia acreditar que ela ia falar de e naquele momento.
– Tô falando que desde que aquela garota apareceu, você não é mais o mesmo. E depois que ela começou a namorar o , é que você mudou pra valer, ficou super carinhoso, parece que tem necessidade de provar algo. Eu não sou idiota, .
– Eu achei que você gostasse de carinho. Me diz o que hoje tem a ver com eles?
– É isso que eu quero saber.
– Não tem nada a ver Flávia, eu só senti saudades. Você não quer carinho?
– Eu só não quero que você me use – ela falou olhando em seus olhos.
se sentiu um idiota, era isso que ele estava fazendo com ela, a usando. Mas isso era o que lhe restava, ele não podia falar pra que não conseguia a tirar da cabeça, ela era quase namorada do , não tentaria a ar dele.
– Eu não estou te usando – ele falou e puxou o lábio inferior dela com os dentes. – Vamos voltar pra cama – os dois riram.

Durante a noite, antes de dormir, pensou no beijo na mão que ganhou de , no abraço, no seu coração acelerado e no arrepio dele.
Começou a imaginar os dois em meio a mais uma das suas briguinhas idiotas, ele podia chegar bem perto dela, ao ponto de ficarem quase com as bocas coladas, e quando ela fosse falar mais alguma coisa, ele a beijaria.
Ele sentiu um arrepio só de imaginar isso. Era definitivo, ela o desejava.

No outro dia, foi pra faculdade, mas resolveu não entrar com a desculpa de que iria pra casa da Flávia, e isso fez sentir uma pontada de ciúmes.
– Ei – ela o segurou pelo braço, antes que ele fosse embora.
– Oi, .
– Você tá com raiva depois de ontem?
– Não, relaxa. Já tô me acostumando com suas grosserias, dá pra aguentar.
– Ah, para – ela riu – Eu não fui tão grossa assim.
– Claro que não, só pirou do nada.
– Você tá com raiva, não está?
– Eu já disse que não. Só cuidado, esse teu jeito grosso pode afastar muita gente.
– Quem gostar realmente de mim vai ficar – ela replicou irritada.
– É pode ser – ele respondeu, sem dar muita importância. E logo deu as costas pra ir embora.
– Você não vai pra aula? – ela novamente o segurou. “O que deu em mim que não consigo aceitar que ele largue a aula pra ir ver a namorada?”, pensou.
, o que você tem?
– Nada – ela respondeu, sem graça.
– E o que te deu pra ficar me prendendo aqui? – ele falou, impaciente.
– Nada – ela deu de ombros. – Só não acho correto você largar a aula pra namorar.
– O problema é eu ir namorar?
– Não! – ela exclamou. – O problema é você largar a faculdade pra fazer isso.
– Você tá com ciúmes, não está? – ele começou a rir.
– É obvio que não – falou, envergonhada e já um pouco irritada.
– É obvio que sim. Qual é? Tá afim de mim? É isso? – ele ria e ela só ficava mais e mais irritada.
– Para de ser idiota, do que você tá rindo?
– Do seu ciúmes – ele gargalhou.
– Você é insuportável garoto – ela disse já tentando sair de perto dele.
– Mas você adora o insuportável aqui. Ou vai dizer que não?
– Eu não adoro nada.
– Tá falando igual uma criança
– Quem é a criança aqui? – ela se virou para o encarar, tentou fingir uma cara de brava – não que aquilo tivesse a irritado tanto, mas não ia deixar ele a chamar assim, não ele.
– Você! – disse a encarando e chegando mais perto dela.
Auaticamente deu um passo para trás, o ter por perto era assustador, ainda mais em uma cena tão parecida com a que ela imaginou noite passada.
– Tá com medo, ?– ele andou para mais perto dela, encarando-a.
Mas esse possível medo logo passou diante da provocação dele.
– Eu não tenho medo de você – agora foi ela quem deu um passo em direção a ele, deixando os rostos ainda mais próximos. – Não mesmo – ela disse, dando mais outro passo.
– Presunçosa – ele deu um pequeno passo.
– Insuportável – foi a vez dela.
– Irritante – dessa vez se arrependeu do passo que deu, seus rostos tinham ficado perto demais, ele podia sentir a respiração dela, e não conseguia tirar o olho da boca da garota, ela parecia fazer de propósito, estava movimentando a boca de uma maneira que estava o deixando louco, era proximidade demais.
pareceu perceber que estava pensando em outra coisa, e pra o desconcerto também dela, ela percebeu que ele encarava a sua boca, e que eles estavam a poucos centímetros de um beijo. Quase se esqueceu de que aquilo ainda era mais um dos jogos de provocações deles, e que ele tinha começado; ao lembrar disso, procurou se recompor, era a hora de dar a cartada final.
– Agora é a hora que eu percebo?
– O quê? – ele perguntou, atordoado após sair do transe.
– É nessa ocasião que eu percebo que você está dando em cima de mim? – e um flash vem na memória de
, o que você está ganhado pra tentar me juntar com o ? Eu e ele somos apenas amigos.
Todos pareciam acreditar, na verdade. E voltaram a se distrair com outras coisas.
– Agora sou seu amigo, né? Até ontem só eles eram seu amigos – ele sussurrou no ouvido dela. – Só pra se livrar do ... E a propósito, eu não tentei nada com você. Quando eu quero alguém, a menina fica sabendo rapidinho. Acredite, eu sei fazer essas coisas muito bem – ele saiu, mas sem antes beijar o pescoço dela.

Toda essa lembrança não demorou mais que 5 segundos. Ela sabia como o deixar desconcertado.
– Quer me beijar? Sinto informar que eu não quero.
Ela saiu rindo, e fez com que alguns conhecidos de ambos começassem a rir da cara de .
– Eu odeio essa garota – ele falou baixo e quando virou-se, deu de cara com a sua espera.
– O que foi isso? – perguntou, segurando-se pra não avançar em cima do seu amigo.
– Uma briguinha minha com a . Por que o estresse? – sempre foi ótimo em se fingir de desentendido.
– Vocês quase se beijaram.
– Magina.
– Eu vi , todo mundo aqui viu. Todo mundo percebeu.
– Mas esse todo mundo nem estava escutando nosso papo, foi só implicância, brincadeira.
– Não foi o que pareceu.
– Nem tudo...
– Não precisa ficar se explicando – o interrompeu. – Só quero que você saiba que eu não trairia a nossa amizade.
falou e virou as costas, saindo. ficou lá, mudo, essa última frase do seu amigo foi pior do que qualquer soco, qualquer briga. Mesmo tendo Flávia, ele não conseguia tirar da cabeça, isso era fato. Mas ele jamais trairia seu amigo. Esse novo sentimento era algo que ficaria guardado pra ele.
Quando ele virou pra voltar pra aula – o ânimo de ver a Flávia tinha ido por água a baixo – deu de cara com , e pôde sentir sua pernas ficarem bambas. É, isso seria muito difícil.


Capítulo 06

– Você não pode estar falando sério. O veio falar disso pra você? – perguntou, incrédulo.
– Claro que não, anta – respondeu. – Quem me contou foi o .
– Eu e a não íamos nos beijar, foi só uma briguinha nossa.
– O disse que não foi isso que pareceu. Disse que você parecia prestes a agarrá-la.
– Acontece que eu não estava, caramba! – ele exclamou. – Por que ninguém acredita nisso?
– Porque ela faz o seu tipo, porque você fala dela de um jeito diferente... – ia citando e levantando os dedos a cada motivo. – Vocês vivem se implicando e mesmo assim vivem próximos, vocês...
– Tudo bem – fez sinal que ele parasse. – Eu já entendi o que você quis dizer – ele bufou. – Mas eu não ia beijar a .
– Hum, se você diz, não vou mais insistir – disse, deixando claro em sua expressão facial que não tinha acreditado no amigo. – Só pensa no , ele não vai te perdoar se você o trair.
– Desisto – bufou. – Parece que ninguém acredita em mim. E outra, por que não vão fazer interrogatório com a ? Parece que só eu posso ser o culpado aqui.
– A não é a melhor amiga do . Acho que você entende a diferença na traição.
– Eu não vou trair ele, eu não seria capaz disso – disse, sendo sincero. – Eu não faria isso com ele.
percebeu a sinceridade nas palavras de , mas também percebeu uma ponta de dificuldade para ele falar. Tinha algum sentimento rolando.

Era final de semana e estavam todos no cinema, faltavam apenas e a chegarem.
, a Flávia não vem? – Mari perguntou, curiosa.
– Não, ela tá tendo que resolver umas coisas, decidiu que vai entrar em uma faculdade.
– Já não era sem tempo – Gih falou, rolando os olhos.
– Você pode ao menos fingir que suporta minha namorada?
– Eu não! Opto sempre pela sinceridade – respondeu, gargalhando.
– Idiota – a agarrou e lhe abraçou enchendo suas bochechas de beijos.
Mas ele paralisou ao ver chegando. Ela estava linda, com um macaquinho jeans e uma blusa meio folgada, que deixou um de seus ombros à mostra, e um batom vermelho.
– Vai babar garotão? – Gih lhe perguntou.
– Oi, gente – falou antes que ele respondesse a provocação de Gisele.
– Cadê o ? – Mari foi logo perguntando
– Ele não pôde vir, pediu que eu avisasse a vocês. Vai ajudar o pai dele em algo que eu não lembro – ela confessou, rindo
– Ahh, a é toda minha – brincou, e correu pra lhe abraçar. – Mulher, não saia com essa boca vermelha por aí quando estiver desacompanhada. Ela lhe deixa muito sexy, você pode correr perigo.
gargalhou.
– Acho que devo dizer obrigada.
– Aceito um beijo como agradecimento – ele disse, rindo.
– Depois sou eu que estou interessado na falou baixo para .
– Você sabe que ele está brincando com ela. E, bom, ele só disse verdades até agora – riu. – Ela está mesmo muito sexy.
– Hã? – o olhou, incrédulo
– Vai dizer que também não achou?
– É a !
– Relaxa, eu só estou constatando. Não vou agarrar ela, nada de ciúmes garotão.
– Eu não es...
– Eu sei, eu sei. – falou dando tapinhas no ombro de . – Vamos escolher o filme.

O filme escolhido era de aventura com ficção científica, foi o único que fez as garotas e os garotos entrarem em um consenso.
– Esses filmes são tão nerds – reclamou,
– E o que você queria ver? Romance?
– Qualquer um ao lado da minha garota – ele brincou, abraçando de lado.
– Vamos entrar? – Mari chamou.
– Esperem só mais um pouco, minhas duas amigas estão vindo aí.
– Me diz que é a falou empolgado.
– Já me esqueceu?
– Ai , você já tem donos demais, não tenho chance nessa luta – ele disse, fazendo ficar sem graça e meio que por instinto olhar para que parecia não ter entendido nada.
gritou.
– Olhem elas aí. Não lembro se você chegou a conhecer as meninas , então... Essa é a e essa é a .
– Oi, gente – elas falaram juntas.
todo cavalheiro foi cumprimentar as duas e já saiu de papo com .
– Se você não se incomodar, adoraria sentar perto de você, falou.
– É claro, – ela respondeu, com um sorriso.
– Ótimo, suas amigas nos roubaram os meninos.
– Boba.
– Ah, Mari, eu estou aqui pra você – disse, rindo
– Sai pra lá que vou sentar perto da Gih, você senta entre ela e a .
– Okay – falou, meio incomodado, o que não deixou de ser percebido por .

O filme já havia começado, mas não conseguia prestar realmente atenção nele, o silêncio de estava deixando ela incomodada.
– Você tá irritado comigo? – ela perguntou no ouvido dele.
– Não – ele respondeu, sem nem virar pra o lado.
– E por que mal falou comigo?
– Porque estou em um cinema e geralmente venho aqui pra assistir – respondeu, ainda sem se virar.
– Grosso – ela resmungou e virou a cara.
bufou. Podia simplesmente ignorar ela, mas sabia que não conseguia.
– Desculpa, não quis ser grosso. Mas o filme tá bom, depois a gente conversa mais.
Mas dessa vez foi ela que nem virou pra o olhar.
– Ei – ele cutucou a cintura dela, a fazendo rir, mesmo ainda não virando pra ele. – Me olhe – ele pediu, rindo e segurando o braço dela, mas ela apenas riu e não olhou. – Vou te beliscar.
– Sei que não vai – ela disse e sem nem perceber já tinha virado pra ele
– Sabia que você iria olhar – ele disse, rindo. A mão dele, que antes segurava o braço dela, agora estava repousada sobre a mão dela – Depois a gente conversa.
– Okay – ela respondeu, segurando a mão dele.
E assim ficaram, de mão dadas o filme inteiro.

– Meninas, vou levar vocês três em casa.
– Ai, que cavalheiro você é comentou, rindo.
– Eu iria levar a , mas já que você vai levar, fica pra próxima.
disse, baixinho para . – Quanta intimidade.
– Idiota – respondeu, e os dois riram.
– Vamos meninas?
– Vamos – as três responderam.

– Tchau, , até amanhã.
já tinha sido deixada em casa e agora e estavam deixando também.
, você vai passar direto, é essa a minha casa. Tá com a cabeça na lua? Pesando em quê?
“Tô com a cabeça em você”, ele quase respondeu.
– Em nada – respondeu, e estacionou o carro.
– Obrigada – ela agradeceu, já soltando o cinto de segurança.
– Você já vai entrar? Achei que você quisesse conversar.
– Você me ignorou no cinema – ela disse, rindo.
– Mentira! Eu só queria ver o filme. E passei o filme todo de mão dada com você.
Automaticamente ruborizou.
– Você tá com vergonha? – ele perguntou, rindo.
– Claro que não – respondeu, dando um tapinha nele.
– Claro que sim! Você tá toda vermelha. Isso tudo por que tocou na minha mão? Que fofa! – ele gargalhava.
– Para. É só que, mãos dadas no cinema é muito “casal”.
– Não somos isso – ele constatou.
– Eu sei.
– Mas você adoraria que a gente fosse – brincou e gargalhou
– Eu? Claro que não. Você que adoraria, quase me beijou na faculdade.
– Pirou? Eu quase nada. Aquilo não iria terminar em beijo.
– Aham, sei – ela ironizou.
– E nem me venha mais com esse assunto, já não aguento os meninos falando disso.
– Quem? Que meninos? Por quê?
– Você não pode perguntar uma coisa de cada vez? – ele brincou, tentando sair do assunto. Não queria falar disso com ela.
– Responde – ela mandou, rolando os olhos.
– É que seu namorado ficou com ciumezinho.
– Ele não é meu namorado, .
– Pra mim, ele já é seu namorado.
– Acho que quem tem que saber disso sou eu.
– E você sabe que ele é seu namorado.
– Vamos mudar de assunto? – ela pediu, e riu
– Tudo bem, mas ele é seu namorado – disse e gargalhou.
– Idiota! Se você for falar disso vou falar do seu “namoro” com a Flávia.
– É – riu. – Vamos mudar de assunto.

e passaram mais de hora conversando dentro do carro.
– Acho melhor eu entrar, já tá super tarde.
– Nossa, nem vi a hora passar.
– Isso acontece, eu tenho esse efeito sobre você. – ela brincou
– E eu tenho o mesmo sobre você.
– Estou com fome, não vou trocar a oportunidade de entrar e comer, pra ficar discutindo com você – disse e gargalhou
– Você é uma idiota , você é idiota – falou e depois riu.
– Para, sei que você gosta de mim.
– Vaza do meu carro – ele apontou a porta, rindo
– Tchau – ela mostrou a língua
– Tchau.
E os dois ficaram lá parados. Ela não desceu do carro e ele não se moveu. Os dois queriam se abraçar, mas não costumavam fazer isso.
– Ér... Bom... – criou coragem e a abraçou. – Tchau – ele disse, ainda abraçado a ela e próximo ao pescoço dela. se contorceu um pouco, a respiração de perto do pescoço dela tinha deixado ela arrepiada.
– Tchau – ela respondeu, soltando-se dele de maneira desajeitada
– Até a faculdade – disse, segurando a mão dela e a olhando nos olhos.
baixou o olhar para as mãos dos dois e sentiu uma coisa diferente. Isso não iria acabar bem.
– Fui – ela avisou, e desceu do carro quase que voando. E sendo a desastrada que é, quase caiu de cara no chão.
– Tá bem?
– Tô – ela respondeu, e entrou em casa.

– Que droga de confusão é essa que estou me metendo? – falou para si mesma logo que entrou em casa. – Não posso ficar tão confusa assim.
pensou um pouco mais sobre esse assunto antes de dormir e chegou a uma conclusão: era um quase namorado que ela gostava mais como amigo, e , bom, sobre ela não tinha chegado à conclusão alguma.

“A galera vai pra um café hoje. Vamos? – .”
“Claro! Te espero –

– Vamos, princesa.
– Você me deixa tão constrangida quando fala desse jeito, – ela disse, sem graça.
– Você é uma graça – ele respondeu, rindo.

Logo que chegaram ao café, já avistaram os outros amigos. estava sentado entre Mari e Gih e estava com Flávia do outro lado.
e se sentaram de frente para e Flávia. Logo que sentou, pôde sentir os olhos de pousarem sobre ela, segundos depois ela o encarou para ter certeza e deu de cara com aqueles olhos cheios de significados.
– Amor, pode me dar atenção? – Flávia indagou, irritada.
– Desculpa Flávia, você estava falando de quê mesmo?
– Esquece, não importa mais.
Talvez devesse ter se mostrado mais atencioso com Flávia depois do jeito claramente incomodado dela, mas isso não aconteceu. Foi só ela se calar pra ele voltar a olhar para .
, vou ao banheiro e já volto.
– Tá okay.
levantou-se pra ir ao banheiro e lhe acompanhou.
– Nem falou comigo hoje. Dar um oi pra os amigos é bom, sabia?
– Sua namorada não parece gostar muito de mim – ela disse, rindo.
– A Flávia não gosta de ninguém
– E menos ainda de mim – ela disse, novamente rindo. – E você me encarando não melhora em nada.
– Pra você perceber que eu estava te encarando, significa que você estava fazendo o mesmo.
– Ai , você é tão idiota.
– Eu sei – ele gargalhou.
saiu na frente e foi ao banheiro, quando saiu estava sentado em um banquinho bem distante do pessoal.
– Tá fazendo o que aí?
– Nada, só estou querendo ficar aqui.
– Sua namorada deve estar te esperando.
– Depois eu vou lá.
– Você não gosta dela. – E você por acaso gosta dele? – ele apontou para discretamente. – É diferente – ela respondeu, tentando se explicar. – Não é não. – Eu não namoro o , já você namora a Flávia. – Você está realmente preocupada com esse assunto ou só está arranjando um jeito de me amolar? – perguntou, em tom de brincadeira para tentar sair daquele assunto – Hein? – Acho que obtive a resposta – ela falou, olhando nos olhos dele. – Eu não te respondi nada. – Não precisa – ela deu um sorriso vitorioso. – Já te disse que você é muito presunçosa? – Já te disse que é nítido que você adora esse meu jeito presunçoso? – e ela acaba o papo mandando um beijinho no ar e indo de encontro a e os outros amigos – Bye. “Que garota chata”, pensou . Ela sempre conseguia o deixar desconcertado, quase sempre ficava sem saber o que responder diante das provocações dela, isso o tirava do sério. Ás vezes tinha vontade de amordaçá-la, afinal, calada ela era linda. Mas a quem ele queria enganar? Era desse jeito todo imponente dela que ele gostava. Aquela mania de não se intimidar e querer sempre dar as regras, era o que ele adorava. Quando ele se viu pensando isso balançou a cabeça negativamente tentando apagar aquilo, ele estava frito, namorando com uma, mas totalmente caidinho por outra. E essa outra era quase namorada de um de seus melhores amigos. Definitivamente estava ferrado.
– Você viu o , ? – Mari perguntou.
– Vi sim, ele está perto do banheiro.
– Fazendo o quê lá? – foi a vez de Flávia perguntar.
– Não sei, Flávia.
– Vou lá buscar ele – ela disse, e foi embora.
– Ele tá bem, ? – Gih indagou
– Deve tá. Ao menos foi o que pareceu – respondeu. – Relaxa gente, vai ver ele só tava querendo tomar um ar.
– Ou tentando se livrar da Flávia – Gih comentou, rindo.
– É, faz um tempinho que eles não estão bem.
– Exatamente o mesmo tempo que faz que a apareceu – falou.
– O que você disse? – o olhou, tentando entender o motivo daquele comentário.
– Só disse o obvio. Desde que você apareceu o mudou com a Flávia.
– O que eu posso ter a ver com isso ? Aonde você quer chegar? – ela perguntou, irritada.
– Calma , ele só comentou – disse, na tentativa de acalmá-la.
– Eu sei que ele só comentou. Eu quero entender o porquê desse tipo de comentário.
– Não tem o que entender , eu só disse o que está acontecendo. O mudou.
– Novamente eu te pergunto: o quê eu tenho a ver com isso?
Mari, Gih e assistiam a cena e ficavam virando a cabeça a cada vez que um falava.
– Não sei, talvez... – ele ia falar algo, mas desistiu. – Esquece isso, foi só um comentário bobo.
– Não foi só um comentário bobo, , foi um comentário muito mal colocado, sem nexo algum. E se não for pedir demais, pode terminar a frase?
– Chega , não quero mais falar sobre isso.
– Okay, você quem sabe – ela disse, pegando a bolsa e levantando da mesa.
– Pra onde você vai?
– Para casa – quando ele foi pegar a chave do carro ela segurou o braço dele. – Sozinha.
– Tudo isso por causa de um simples comentário?
– Não, tudo isso porque eu quero entender o porquê de você ter falado aquilo e você se nega a responder.
– Você sabe da resposta, .
– Não sei, não. Acha que perguntaria se eu soubesse?
– Aquele dia no boliche, o sumiço de vocês na faculdade, aquela briga digna de cena de novela que acaba em beijo...
– Nós não nos beijamos, ! E nada dessas coisas tem algo a mais, somos amigos.
– Ahh, eu sei bem disso – ele disse, com um pouco de sarcasmo.
– Gente, parem de bobeira – Mari pediu.
– Isso já acabou Mari, relaxe – virou em direção à porta. – Ah – ela disse, voltando para mesa dos amigos e se dirigindo a . – Eu só quero dizer que eu realmente espero que esse seu comentário infame não tenha sido consequência de ciúmes, porque eu sou apenas amiga do e também sua. – ela saiu pisando firme.
– Vai atrás dela – quase gritou para .
– Tá okay – ele pegou a chave do carro e saiu correndo pela porta.
! !
– Dá para parar de gritar na rua? – ela pediu, quando parou de andar.
– Que história é essa de ser minha amiga?
– Por acaso fomos outra coisa diferente disso, ?
– Eu acho que sim.
– Seja lá o que fomos, não somos mais.
– Tudo isso por causa do ? – ele perguntou, irritado.
– Tudo isso por causa de você, – dessa vez ela gritou. – A gente não namora, você não tem que ficar dando showzinho de ciúmes. Você foi estúpido, faltou com respeito comigo, afinal, o namora. Acha mesmo que a gente teria algo? Quem você pensa que sou?
– E se ele fosse solteiro?
– O quê?
– Se o fosse solteiro, vocês teriam algo?
– Você não pode estar falando sério – ela riu, nervosa e irritada.
– Estou falando super sério. Responde!
– Eu não tenho que responder nada, . Isso é ridículo.
– Então responde, ué! Diz que você e ele não teriam nada. Fala o que você acha.
– EU NÃO SEI! – ela exclamou. – Tá bom pra você?
– Sabia.
– Para de ser idiota. Eu não saber não significa nada. Sabe por que eu não sei? Porque seu amigo sempre te respeitou muito e nunca deu em cima de mim. Então como vou saber? Você está sendo um estúpido não só comigo, mas com o . Eu sei que ele não furaria seu olho.
– Tudo bem – ele falou, com um tom bem mais baixo. – Desculpe. Vou te levar em casa.
– ela disse, sem graça. – Você não tem mais que me levar em casa.
– O que você quer... – ela nem o deixou terminar.
– Quero dizer que não temos mais nada. Volta para lá. Ah, e está desculpado. Tchau – ela disse, dando um beijo no rosto dele.

Capítulos betados por: Mel Maia






Capítulo 07

– Você terminou com o ?
– A gente pode prestar atenção na aula e deixar pra conversar depois?
não estava nem um pouco afim de conversar sobre isso. Preferia focar na aula mesmo. Estavam estudando a Teoria da Comunicação.

Teoria da Persuasão é baseada em aspectos psicológicos, e defende que a mensagem enviada pela mídia não é assimilada imediatamente pelo indivíduo, dependendo de várias perspectivas individuais. Portanto essa Teoria não seria de dominação ou manipulação como a Hipodérmica, e sim de persuasão, pois o indivíduo tende a se interessar por informações que estejam inseridas em seu contexto sócio-cultural e político, e com as quais ele esteja de acordo.”

lia e pensava: “Isso parecia tão mais interessante quando contado pelos outros estudantes de jornalismo. Mas é como dizem, quando contado pelos outros, qualquer coisa é legal”.

“Sucessivamente surge a Teoria Empírica de Campo (ou Teoria de Efeitos Limitados) que, embora baseada na Teoria da Persuasão, fundamenta-se em aspectos sociológicos, e deduz que a mídia tem influência limitada na sociedade por ser apenas um instrumento de persuasão, pois a mídia é apenas parte da vida social.”

– Isso tudo tá muito chato, ou sou que eu estou chata?
– Acho que um pouco dos dois – disse rindo.
– Isso parecia tão mais interessante antes de entrar na faculdade – ela disse, deitando a cabeça nos livros, entediada. – Vamos sair?
– Estamos em aula, .
– Ai , não seja careta, todo mundo aqui falta uma aula ou outra.
– Eu não, você já me viu fazendo isso?
– Já, você foi pra casa da Flávia uma vez – ela disse, fazendo bufar. – Por favor, , eu vou morrer de tédio – ela disse, choramingando. – Por favor, vai
– Tudo bem! Mas não venha me pedir respostas em dia de prova.
– Eu não vou pedir – ela disse, com cara de tédio. – Agora vamos.
– Vocês dois aí! Será que podiam ao menos fingir que estão fazendo o que mandei?
– Desculpe, é que... Bom... – “Pensa , pensa!” – A gente precisa resolver uma coisa urgente, já voltamos – disse, e puxou rapidamente para fora da sala.
– Você é péssima de arrumar desculpas.
– Tinha algo melhor pra dizer?
– Tanto faz o que você falou, ele sabe a verdade. Agora vamos pra onde?
– Você ainda pergunta? Quero ir ao mesmo lugar que você me levou aquele dia.

– Eu adoro esse lugar – falou, enquanto contemplava a vista.
– Eu também, um amigo meu que me falou dele. É bom pra pensar um pouco. E pra matar aula.
– Idiota – ela riu.
– O me falou que você é americana.
– É. Eu nasci nos Estados Unidos, fiquei lá até os dois anos, mais ou menos. Depois fui morar no Brasil, onde fiquei até os seis. Depois me mudei pra cá.
– Não pensa em voltar pra lá?
– Nunca pensei nessa possibilidade. Tipo, o país preferido dos meus pais não é lá. Então minha segunda opção sempre foi o Brasil. Minha irmã, inclusive, é brasileira.
– Que idade ela tem? Como se chama?
– Ela se chama e tem quatorze anos. Eu me acho bem mais brasileira que ela.
– Por quê?
– Ah, ela não faz muita questão de ir ao Brasil. Eu é que vivo enchendo o saco da minha mãe para ir.
– O que você gosta tanto de lá?
– Ah, lá tem minha família, ao menos uma boa parte dela. Lá tem praias, não que eu seja uma apaixonada por areia e água salgada, mas às vezes é bom ir, e quando falo de ir à praia, falo de praias de verdade, e isso só o Brasil tem. Você já foi ao Rio de Janeiro? Já foi a Pernambuco?
– Não! Eu não sou brasileiro, nem conheço ninguém lá – ele disse, rindo da empolgação dela.
– Você precisa ir um dia. Lá é tudo tão, tão... – ela pensava em uma palavra. – Acolhedor.
– Você gosta mesmo de lá, não é?
– Gosto. Eu amo Londres, mas sei lá, é como se lá as coisas fossem mais simples.
– Como assim mais simples?
– É que são tantos problemas , tantos. Lá eu esqueço um pouco, na verdade, lá eles não existem – pode perceber que estava acontecendo algo
– Tá acontecendo algo?
– Tá, quer dizer, eu acho que está. Eu não sei direito – ela disse balançando a cabeça.
– Como assim?
– Não é que meus pais sejam ricos e cheios de bens. Mas bom, temos uma loja aqui e outra nos Estados Unidos.
– O que isso tem a ver?
– Bom, sempre foi tudo muito bem administrado por eles, eles sempre resolveram tudo juntos, nunca teve aquela coisa de “você fica com uma e eu com outra”, sabe?
– Hm – ele apenas disse, às vezes tinha o hábito de fazer um monólogo antes de falar o que realmente importava. – Chegue logo na parte importante.
– Tá – ela lhe mostrou a língua. – De uns meses pra cá, meu pai anda mudando, vive arrumando desculpas pra visitar a loja nos Estados Unidos. No começo, acho que minha mãe achou normal, mas agora até ela parece estar encanada. Esses dias ela me disse que talvez tivesse sido melhor eu estar cursando administração, que assim eu ia cuidar da loja daqui com ela, e quando perguntei por que isso, já que tínhamos o papai, ela me respondeu que não podemos contar com ele sempre.
– E o que você acha que está acontecendo?
– Não sei, quer dizer, suspeito. Ela não se importa coma loja dos Estados Unidos, já me disse que isso seria problema do meu pai. É como se eles estivessem prestes a se separar e já está tudo dividido.
– Você acha que seu pai tá train...
– Sim – ela nem o deixou terminar. – E isso cada dia me parece mais óbvio. Peguei minha mãe chorando esses dias, perguntei o que era e ela disse que era saudades dos meus avós. Liguei pra vovó e até ela parece estar sabendo de algo, por que quando falei do choro, ela só disse pra eu apoiar minha mãe em tudo.
– Por que você não pergunta à sua mãe?
– Porque eu acho que não convém, entende? Minha mãe sempre viu meu pai como o homem perfeito, se tudo isso for verdade ela deve estar arrasada. Imagina você estar arrasada, querendo se manter forte e chega alguém cheio de perguntas sobre esse assunto? Piora tudo.
– Mas você tem o direito de saber.
– Assim como tenho o dever de não piorar tudo. Talvez tivesse sido melhor eu estar cursando administração – ela disse, olhando para a vista e com cara de culpada.
– Ei! Você não pode desistir dos seus sonhos pra cuidar dos outros dessa maneira! – ele disse chamando a atenção da garota. – É burrice!
– Se isso for verdade, ela vai ficar perdida sem meu pai, ! Tudo bem, que os dois cuidavam de tudo, mas as partes mais burocráticas eram sempre com ele. Imagina lidar com a separação e ainda ter que ficar resolvendo coisas da loja. Não é fácil. Ainda tem a minha irmã.
– O que tem ela?
– Ela é muito apegada ao meu pai. Vai surtar se eles se separarem.
– Sua imã tem quatorze anos, magrela – era engraçado como ele a chamava assim quando queria transmitir cuidado. – Ela já é bem grandinha.
– A idade não é nada, se você conversar com ela vai perceber isso. Meus pais a criaram como se tudo fosse um conto de fadas. Pra ela, tudo é perfeito. Eu tenho certeza que ela não vai aceitar.
– E o que você pode fazer? Não se pode cuidar do mundo todo! – isso era tão óbvio pra ele.
– Eu só quero dizer que vai ser muito difícil pra minha mãe – ela passou as mãos no cabelo com desespero.
– Eu acho que você tá fazendo tempestade em copo d’água. Pais se separam todos os dias por aí. Isso não é o fim do mundo.
– Assim eu espero. Assim eu espero – ela disse, tampando o rosto com as mãos.
– Ei – ele tocou no braço dela, e ela o olhou de canto. – Vai ficar tudo bem. Te prometo.
– Você não pode confirmar na...
– Eu prometo – ele disse e passou a mão no rosto dela. – Eu prometo.
– Obrigada – ela disse, pegando a mão dele que estava em seu rosto e a segurando.
Depois disso, eles viraram para encarar aquela vista que o lugar proporcionava, nenhum dos dois falou nada, apenas deram as mãos e ficaram lá, admirando e curtindo a presença um do outro. Porque depois de toda aquela conversa, eles sabiam que podiam contar sempre com outro.
– Nossa magrela, falta quinze minutos pra acabar a aula. Temos que pegar nossas coisas.
– Mas aqui tá tão bom – disse fazendo chame.
– Para de charme. Quer ficar sem suas coisas?
– Tudo bem – bufou. – Vamos embora.
Quando chegaram dentro da faculdade deram de cara com .
– Oi – falou, olhando para os dois com cara de desconfiado.
– Oi – respondeu. – Temos que ir – ela disse puxando .
– Ei – falou e os dois viraram para ele. – Não estavam na aula?
disse virando para a garota. – Pega as minhas coisas. Vou falar um lance com o .
– Okay – ela respondeu e foi embora.
– Eu sabia que não estava errado – foi logo falando.
– Cara, não faz isso.
– Isso o quê?
– Não tira conclusões precipitadas. Eu soube da briga de vocês ontem, e soube que eu fui o assunto.
– Acho que estava certava certo, afinal – acusou.
– Você não estava certo de nada. Se você me conhece como eu acho que conhece, sabe que eu não ficaria com ela, ela estando com você. E tem outra, eu namoro.
– Você não gosta da Flávia, . Nós dois sabemos disso.
– Mas eu gosto de você. Não como namorado, é claro – ele disse rindo. – Mas você é meu amigo... Nunca tivemos nada, te juro.
– Se não tivesse eu? Se não tivesse a Flávia?
– Eu não sei.
– É claro que você sabe. Pode falar a verdade.
– A verdade é que a é uma garota bonita, você sabe disso. O tipo de garota que faz o tipo de qualquer homem.
– Uma vez você disse que ela não fazia seu tipo.
– Aquilo já faz um tempo, e me deixa continuar... Como eu ia dizendo, ela faz o tipo de qualquer homem. Mas eu sou amigo dela, provavelmente não daríamos certo. Eu nem saberia como chegar pra ela e pedir pra ficar com ela. E acho que mesmo se eu pedisse, ela não toparia.
– Você se sente realmente atraído por ela?
– Nesse exato momento, o que eu tenho a dizer é que eu não chegaria nela e arriscaria nossa amizade por algo tão incerto.
– Então vo...
– Não temos nada – finalizou antes que essa conversa se prolongasse. Ele estava sendo sincero. Mesmo sentindo algo por ela, nesse exato momento não arriscaria.
– Aqui as suas coisas, lhe entregou tudo. – Tá tudo bem aqui?
– Claro – disse, com uma feição de “Tem que estar”. – Beijos, , tenho que ir – ele lhe deu um beijo no rosto e logo depois um tapinha em .
– Eu não sei de onde ele tirou essas cisma toda conosco – disse revirando os olhos.
– Talvez seja por que ele sabe que sou irresistível – disse rindo.
– Você é? Então seu charme não serve comigo – ela disse com desdém e rindo.
– Aham, se você diz.
– Ficou tudo bem? – dessa vez ela tirou o sorriso e olhou com preocupação.
– É claro que ficou. Ele sabe que nunca tivemos anda. Claro que você quis – ele brincou. – Mas eu disse a ele que neguei.
– Ah, seu idiota. Não se sinta dessa maneira, você é quase uma menina pra mim.
– O quê? – ele perguntou indignado. – Você quer insinuar que sou quase seu melhor amigo gay? Por favor, me diga que estou errado.
– Calma – ela disse gargalhando. – Você não é meu melhor amigo gay. E se fosse, qual o problema?
– Você só pode estar brincando – ele disse indignado.
– É claro que estou, idiota – ela gargalhava. – Só quis dizer que seu charme não funciona comigo – ela sabia que isso não era bem verdade, mas isso podia ficar em off.
Ele riu, mas no fundo ficou chateado. Será que ela não sentia ao menos um arrepio semelhante ao que ela lhe causava? É, ele disse uma coisa a , que era a mais pura verdade, ela não toparia se ele falasse algo sobre ficarem juntos.
– Ahh, e por favor, vocês homens precisam tirar essa ideia fixa de que toda menina tem que ter um melhor amigo gay. Às vezes, ele pode ser bem homem.
– Sou seu melhor amigo? – “Diz que não... Diz que sim.” nem conseguia decidir qual das respostas ele desejava obter. Ser o melhor amigo dela significava que ele a teria por perto sempre, mas também significava que provavelmente não seriam nada mais que isso. E não ser o melhor amigo dela poderia significar que eles poderiam ter algo, mas também poderia significar que ele não era tão importante pra ela.
– Provavelmente sim – ela iria apenas dizer isso, mas de repente parece que a boca resolveu não obedecê-la e ela falou mais. – Eu gosto de estar perto de você.
– Isso foi uma declaração? – ele disse rindo.
– Não seja idiota – ela disse um pouco envergonhada. – Estar perto de bons amigos sempre nos faz bem.
– Bom amigos – ele repetiu e beijou a testa dela.

, isso não significa nada – Mari falou como se fosse óbvio. – Eles estudam juntos, é normal estarem bem próximos. O e a Gih ficaram em salas diferentes da deles, então só restaram os dois. É normal serem amigos.
– Eu sei que tem algo a mais. O praticamente admitiu pra mim.
– Ele não furaria seu olho – Mari disse impaciente com aquele papo.
– Pior é que eu sei – ele disse baixando os olhos.
–Então por que você não relaxa?
– Porque eu percebi que é algo bem mais importante do que os casos que o já teve. Eu sei que eles não tiveram e não tem nada, eu sei – ele disse, logo que percebeu que Mari ia intervir. – Mas ele não fez isso só por mim, entende? Ele tem medo de perder ela, não sabe como chegar nela. Ele realmente se importa com ela.
– E ela?
– Eu não sei direito, não a conheço tão bem quanto o conheço. Mas ele com toda certeza é mais importante que eu pra ela.
– Você gosta mesmo dela? – Mari perguntou preocupada com o amigo.
– Eu não sei até que ponto eu estou com ciúmes por gostar dela, e até que ponto isso me incomoda, por ser meu melhor amigo, o outro cara. Acho que me sinto meio traído.
– Posso ser sincera?
fez que sim com a cabeça, embora tivesse medo da resposta. Ele conhecia Mari o suficiente para saber que quando ela perguntava isso é porque tinha uma opinião um pouco dura.
– Eu acho que você está é com o ego machucado. Vai me desculpar, mas pelo tempo que nos conhecemos, você nunca soube lhe dar muito bem com um não. Isso não ciúmes da ou do , isso só é seu ego que está machucado. E se quer saber o que eu penso disso tudo, é que se você está certo sobre os sentimentos do , você não deve atrapalhar isso só porque está irritado com um não da . Ela será a primeira garota com quem o realmente se importa a ponto de não sair despejando sentimentos forçados e fazendo promessas as quais nem ele mesmo acredita que seja possível cumprir. Por favor, não prive seu amigo de ser feliz por egoísmo e egocentrismo, isso não é ser amigo.
– Ele também não foi muito amigo.
– Você sabe que ele foi, se tudo isso for verdade, ele teve oportunidades suficientes pra roubar a de você, mas sabemos que ele não teria coragem.
– Às vezes eu te odeio por estar sempre certa.
– O que me falta em experiência, me sobra em palavras – ela disse rindo. – Sempre dou uma de psicóloga nesses casos amorosos. Não sei como alguém confia nos meus conselhos, mas posso afirmar que dizem que servem.
– Por isso que ainda te escuto – ele falou e a abraçou de lado. – Obrigado.

– Eles terminaram? Eu achava que ia demorar mais que isso.
– Eu também achei, não por ela, afinal eu sabia que ela não gostava muito dele, mas eu achei que ele fosse fazer de tudo pra reverter isso.
– Como você sabia que ela não gostava dele?
– Uma longa história que eu não vou te contar porque prometi segredo.
– Você e a conversavam sobre ele? – perguntou confuso.
– Sim – ele disse como se fosse um idiota. – Somos amigos, , essas coisas são normais entre amigos.
– Eu só achei que...
– Achou que eu passava meu tempo tentando roubá-la do , não é mesmo? – parecia irritado.
– Eu não quis dizer isso – falou envergonhado. – É só que, eu não esperava.
– Acho que devo ser um babaca com todos vocês, porque ninguém parece acreditar que eu seja uma pessoa amiga o suficiente pra não pegar a garota de um amigo meu.
, você está pondo palavras...
– Eu estou mesmo é de saco cheio de todo mundo falando como se eu fosse roubar a do – ele estava claramente irritado. – Como se eu tivesse passado o tempo todo querendo isso, como se eu fosse culpado pelo ter viajado na maionese e ter sido um grosso com a antes de ontem naquele café. Já que eu não sou de confiança, pergunta pra ela se alguma vez eu tentei beija-la ou algo do tipo. Porque eu aposto que ela não vai ter uma história sequer pra contar – ele levantou da cadeira, irritado, e foi em direção a porta da casa de . – Tchau pra você irmão.
ficou parado olhando bater a porta com toda força e ir embora. achava mesmo que todos pensavam que ele era um traidor, ou só estava dando uma de vítima pra não tocar no assunto “sentimentos reais pela ”? Afinal, não achava que ele tivesse tentado algo com ela nem nada do tipo, mas ele achava sim, ou melhor, tinha certeza que estava interessado na garota.
– Quero só ver quando ele vai admitir – falou sozinho.

Já havia se passado quase duas semanas desde que e pararam de ficar. As coisas tinham mudado um pouco, ela já não estava mais tão íntima com o resto do pessoal.
Ela ainda os abraçava, até conversava um pouco, mas não era mais a mesma coisa. A única pessoa com quem ela continuava próxima era , que por tabela também não estava tão próximo do pessoal. Talvez a culpa fosse toda dela.
, você também vai sair com os seus amigos quinta à noite, não vai? – perguntou empolgada.
– Eles vão sair quinta à noite? Nem sabia – ela respondeu tentando soar indiferente.
– Você não sabia? – pareceu envergonhada por ter tocado no assunto.
– Não. E não me olhe com essa cara de idiota, você sabe muito bem que não é surpresa nenhuma eles saírem sem mim. As coisas não são mais as mesmas desde que eu e o paramos de ficar.
– Só não entendo o porque. O mesmo está sabendo da saidinha, e pelo que eu sei, ele vai.
– Está aí o porquê, acho que eles pensam que não é uma boa ideia colocar eu, o e o no mesmo lugar.
– Mas você não tem nada com nenhum dos dois, certo?
– Absolutamente correto – ela bufou. – Mas parece que o não acha isso, e consequentemente todo o resto quer proteger ele.
– Então está resolvido. Eu não vou – falou toda confiante. – Quinta será a nossa quinta. E se o se preocupa tanto com um homem quase feito, mas que anda se comportando como uma criança egoísta, só porque não está com minha melhor amiga toda linda, a ponto de não chamá-la para ir sair junto conosco, ele que se dane. Vou ficar com você. Quinta das amigas, vamos chamar a também. Vamos ter muitos segredos, muitas risadas, muitas bebidas. Ops, pra mim, é claro – ela disse rindo. – E muitos gatinhos, é claro.
– E o fica onde quando esses gatinhos entram em cena? – perguntou rindo.
– Ainda não temos nada, e se ele quer ter, é bom ele saber de uma maneira bem de ser, que ele já está começando errado.
– Eu te amo – disse e pulou em cima de , acabou que as duas caíram deitadas na cama gargalhando.
– Vamos ligar para .
Poucos minutos depois já estava na casa de , arrumando todos os detalhes da noite delas. Durante aquele papo, acabou descobrindo que também tinha sido convidada para sair com o pessoal. Pelo visto a única pessoa indesejada era ela.
– Eu não sou muito fã de baladas, mas já que é uma noite pra curtir, eu voto em ir pra uma. Dessa vez vamos aproveitar – ela gritou jogando os braços pra cima.
– Vamos aproveitar – e também gritaram e as três se jogaram na cama gargalhando alto.

“O mais antigo jornal de que se tem notícia foi o Acta Diurna, que surgiu por volta de69 antes de Cristo, a partir do desejo de Júlio Cesar de informar a população sobre fatos sociais e políticos ocorridos no império, como campanhas militares, julgamentos e execuções. As notícias eram colocadas em grandes placas brancas expostas em local de grande acesso ao público. Na China, jornais escritos a mão surgiram no século VIII.”

O professor falava e falava, mas não conseguia assimilar nada. Estava com a cabeça doendo, na verdade estava explodindo. Se não estivesse se lembrando de tudo da noite passada, podia apostar que estava bêbada, mas ela lembrava sim.
Ela lembrava do rapaz que ela beijou, do outro que ela não beijou mas dançou durante tanto tempo que causou ciúmes no primeiro. Ela também lembrava que foi embora no carro do primeiro rapaz, e que aproveitaram muito, só que não como o rapaz desejava, ele ficou um tanto “puto” quando ela disse que não ia rolar “aquela coisa”, mas também quem se importa? Ela aposta que nunca mais vai o ver na vida, nem número de celular eles trocaram, só se adicionaram no facebook e por pura cordialidade.
– Você está bem? – Paul que estava sentando ao lado dela perguntou preocupado.
– Só preciso de um pouco de ar, minha cabeça está explodindo – ela respondeu e logo depois foi se levantando e saindo da sala. – Maldita enxaqueca – enxaqueca sempre era sua companhia depois de uma noite mal dormida.
foi andando em direção à porta da faculdade; precisava comprar um remédio quando encontrou com .
– Você tá bem? Tá verde.
– É só uma enxaqueca, nada demais.
– Talvez seja por causa da noite de ontem – ela pode sentir um pouco de acusação no tom de voz dele.
– Só você e seus amigos que podem aproveitar uma quinta-feira? – indagou irritada e pode sentir sua cabeça doer mais.
– Também são seus amigos – falou olhando pra os pés.
– Acho que não – disse e continuou seu trajeto, mas foi puxada por .
– Desculpa, é só que o ainda não tá muito legal com aquele assunto. Você, ele, o juntos... sei lá, não ia ser legal.
– O que o tem a ver com isso? O que ele tem a ver comigo? Quando é que vocês vão...
– Deixa eu só te falar umas coisas – ele fez sinal que ela parasse. – Por favor.
– Fala logo.
– O está sendo infantil, eu sei. E nós erramos com você, eu também sei. Mas se você conhecesse o tanto quanto a gente conhece, iria entender melhor o que ele tem a ver com isso. Ele está no mínimo atraído por você, acredite.
– Tá nada – ela sentiu seu estômago revirar.
– No fundo até você sabe que ele tá. Mas vamos esquecer esse assunto, eu peço desculpas em nome de todos por essa distância que causamos. Ontem mesmo, a Mari brigou porque disse que estávamos sendo idiotas e agindo como um bando de crianças, já passamos dessa fase. Amigos novamente?
Mas ela nem conseguiu responder, uma vontade de vomitar veio do nada, essa era outra coisa que ela odiava nas enxaquecas, quase sempre ela acabava vomitando.
, eu preciso vomitar – ela disse, e depois já estava na frente da faculdade vomitando até comida da semana passada.
– Ai meu Deus, você bebeu tanto assim? – perguntou preocupado enquanto segurava o cabelo dela.
– Eu não – ela não terminou a frase, alguém a interrompeu.
- Com toda certeza ela bebeu muito – chegou falando de uma maneira claramente acusadora. – Agora fica pagando mico na frente da faculdade.
– Eu não bebo – foi só o que ela respondeu antes de voltar a vomitar e contar até dez mentalmente pra não virar e vomitar em cima de .
– Ah, então deve ser... – mas também foi interrompido por .
– Deve ser que embebedaram ela sem que soubesse disso. Que menina inocente.
– Cala a boca – ela gritou e depois colocou a mão na cabeça de dor.
, ela não bebeu.
– Ah não? – falou sarcástico.
– É só que ela está...
– Deixa pra lá , você pode vir comprar remédio comigo?
– Pra ressaca? – indagou.
– Não, para enxaqueca dela, mané. Ela estava passando mal por isso, não foi por causa de bebida – disse e depois acompanhou até o banheiro pra que ela limpasse o rosto e pudesse ir à farmácia.
estava se sentindo tão estúpido e idiota que voltou pra sala antes mesmo que saísse do banheiro.
Quando saiu, foi logo falando.
– Tá vendo que eu estava certo sobre ele.
– Isso não quer dizer nada, por favor, não piore minha manhã com esse assunto.

Já era noite, durante o resto da aula não falou com e ela preferia assim, estava com raiva dele. De repente, ela escutou o barulho do seu celular, era mensagem do .

“Desculpa, sou um amigo idiota e protetor que ficou puto com a ideia de você tomar todas em uma balada e não ter ninguém pra realmente cuidar de você.”

, leu e releu a mensagem. Ela odiava quando ele era fofo depois de ter feito algo errado, porque isso dificultava as chances dela continuar com raiva.
“Eu ODEIO você.”

Ela respondeu, e ao ler, sorriu, ele sabia que do jeito dela, isso significava que estava desculpado.

“Eu sei que não odeia hahaha. Agora falando sério, eu me preocupo com você, por isso acabei sendo um idiota hoje. Vi suas fotos no facebook, por favor, me diga que não beijou aquele cara. Quando resolver sair, vá com um garoto junto. Não sei o que faria se acontecesse algo com você.”

Ao ler a mensagem sentiu que gelou. Aquilo não parecia só “preocupação de amigo”, ela não sabia o que fazer. Ele namorava, ela tinha deixado de ficar com o há pouco tempo, eles eram melhores amigos e ela não poderia perder essa amizade por nada.

“Beijei sim, mas relaxa, ele não era nenhum maníaco da balada hahaha. Prometo sempre tomar cuidado. Obrigada pela preocupação, amigo. :)”

Ela sabia que estava sendo idiota em dizer que ficou com alguém, afinal se ele gostasse mesmo dela estaria um pouco magoado agora, mas ele namorava, era o mais correto a se fazer.


Capítulo 08

– Eu acho que você deveria conversar com ela.
– Pra quê?
– Já está todo mundo de boa, só você que ainda não conversou com ela, e é quem mais tem o que conversar.
– Tudo bem – ele soltou o ar pela boca. – Só acho que a com aquele jeito bravo dela não vai querer muito papo comigo
– Ela não é tão infantil quanto você – Mari falou, rindo.
– Você é a única pessoa que eu deixo me chamar de infantil, sinta-se lisonjeada.
Eles riram e se abraçaram.

– Posso falar contigo? – perguntou sem graça
– Claro – respondeu sem muita vontade. – Fala aí, mas se for pra brigar, nem comece.
– Eu não vim brigar – ele riu, sabia que ela seria um pouco grossa. – Só quero que você saiba que eu não quero perder sua amizade por causa de um lance que não deu certo.
– Eu nunca quis deixar de ser sua amiga, você que se afastou e levou todos juntos.
– Eles já estão normais com você, não estão?
– Estão sim, mas acho que as coisas não ficam como antes em tão curto tempo.
– Desculpe por isso, eu só estava meio puto com a ideia de perder uma garota pra um amigo meu.
– Você vai começar com esse papo? Eu já não aguento mais isso – ela disse, irritada.
– Posso te falar uma coisa, como amigo?
– Pode.
– O que ficou com você não é o que está falando agora, esse que está aqui é o seu amigo.
– Tá, okay, fala.
– Isso não é nada sem fundamento, rola alguma coisa, por mais que você não admita. Pode não ser que não tenha nada a ver com namoro, mas rola uma química, todos sabemos disso. E da parte dele, eu diria que ainda é mais que isso.
– Por favor, eu não quero saber disso – ela não sabia lidar com essas coisas.
– Ele realmente se importa contigo. Com você é diferente, é visível nos olhos dele, na maneira que ele fala.
– Eu já disse, , eu não quero saber disso.
– Por que não?
– Porque eu não sou boa em relacionamentos, nunca nem namorei, você sabe. Ele é meu amigo, e eu estou feliz com isso, não me façam pegar distância dele.
– Eu acho que você não quer essa distância.
– Eu não quero perder meu melhor amigo por causa de beijos e de um sentimento que ninguém tem certeza se existe.
– Eu conheço o .
– E eu também o conheço pra saber que ele finge sentimentos como ninguém.
– Você também sente algo por ele – ele constatou.
– O quê?
– Você sente algo.
– Não! – ela exclamou. – Eu só quero a amizade dele, é isso que eu quero.
– Uma hora você vai perceber tudo – ele a abraçou e a olhou nos olhos. – Às vezes é bom admitir – falou e foi embora.
ficou lá, só lembrando as palavras de . Todos os melhores amigos de diziam que ele gostava dela e eles o conheciam bem melhor que ela. Mas tinha que ser justo agora? Por que ele não ficou afim dela quando se conheceram? Naquele tempo não teriam nada a perder, hoje eles já eram amigos, e se não desse certo?

– Ei – abriu o sorriso ao ver .
– Oi – ela falou, um pouco sem jeito.
– O que tá rolando? – às vezes ela odiava a maneira como ele a conhecia.
– Nada... O veio falar comigo hoje.
– Vocês brigaram?
– Não, não. Na verdade, ele foi um amor.
– E por que essa cara?
– Só estou pensativa, só isso. Vamos pra sala.

Durante toda a aula, estava distante, e estava ficando incomodado com isso.
Quando a aula acabou, segurou pelo braço.
– Fala logo o que você tem.
– Como?
–O que você tem, por que tá desse jeito comigo?
– Não é nada, para de drama – ela disse, tentando soar irritada. – Não pega no meu pé.
– Para de drama você e conta logo.
, será que você pode se preocupar menos comigo? É possível que você se desgrude um pouco de mim? Vai pegar mulher!
– É, acho que isso é uma boa ideia. Vou ver minha namorada, porque eu tenho alguém.
Ele foi embora, pisando firme, e ela ficou lá irritada. “Ele me chamou de amargurada? De abandonada?”

– Oi, amor – Flávia falou, empolgada ao ver em sua porta.
– Oi, Flávia.
A cada dia, ficar perto de Flávia exigia um maior esforço; ela não era má pessoa, embora às vezes fosse intragável, mas é que ele já não a queria mais.
– Vamos subir?
– Seus pais não estão em casa?
– Estão, mas você sabe que eles não se importam.
– Queria conversar com seu pai – gostava demais do pai de Flávia, era bom escutar as histórias dele. Mesmo que aquele senhor não soubesse o que estava se passando com , suas histórias sempre o ajudava a tomar decisões.
– Eu não estou acreditando que você veio na minha casa e disse que quer ver meu pai.
– Seu pai também mora aqui. Queria que eu fosse vê-lo onde? Na minha casa? – ele sabia que estava sendo grosso, mas é que sua cota pra piti feminino já estava esgotada por hoje.
– Nossa, o que te deu, hein? Se veio aqui pra ficar nessa ignorância, eu sinto em lhe dizer que a porta da rua é serventia da casa.
– Tá me expulsando? – “Só faltava essa”, ele pensou. Mas antes que Flávia respondesse, o pai dela chegou.
! Como é bom te ver aqui, estava com saudades, moleque.
– Eu também estava, agora mesmo perguntei de você para a Flávia.
– Está passando por algo? – o senhor já falou preocupado.
– Não, só queria escutar um pouco de suas histórias.
– Então vamos lá pra varanda, isso se você não quiser namorar.
– Que nada, vim aqui justamente pra te escutar.
Eles foram para a varanda e relaxou, escutando cada história daquele senhor.
– Você está bem com a Flávia?
– Como? – pareceu surpreso com a mudança de assunto.
– Eu não sou nenhum velho gagá, menino, eu percebo as coisas.
– É só uma fase ruim.
– Olhe – ele encarou de forma profunda. – Eu amo minha filha e sempre vou querer o melhor pra ela. E embora eu te ache um garoto muito bom, não significa que seja bom pra ela.
– Eu já disse, é só uma fase ruim – aquilo era tão estranho, eles nunca falavam do relacionamento.
– Eu só quero que você saiba que sempre vai ter meu carinho e admiração. Não se deve ficar preso a algo que não te faz bem, uma hora a gente explode.
– Obrigado – foi o que disse, antes de levantar e apertar a mão daquele senhor tão sábio.
Quando voltou à sala, Flávia estava o esperando. Ele pensou em acabar tudo naquele momento, mas precisava pensar mais um pouco. Ele apenas se despediu dela, dizendo que tinha um compromisso, e teve que se segurar pra não perder a paciência quando ela começou mais um discurso sobre como ele a trocava por seu pai.
– Flávia, eu realmente tenho que ir agora, amanhã eu passo aqui e a gente conversa.
E mesmo sem fazer mais muito sentido, ele a beijou profundamente. Precisava beijá-la para poder colocar aquele último beijo na balança e ver o que ele realmente queria.

No outro dia de aula, não apareceu na faculdade. pensou em mandar mensagem, mas achou melhor não, pelo menos não depois do climão do dia anterior.
não pode ir, porque teve que resolver umas coisas com sua mãe e isso só poderia ser feito pela manhã, logo após resolver tudo ele foi à casa de Flávia; já tinha tomado sua decisão.
– Entra, vamos para o meu quarto – ela falou sem nem o beijar, tinha recebido uma mensagem dele dizendo que precisavam conversar sobre os dois. – Pronto, pode acabar tudo agora.
– Como? – ele ficou surpreso com o jeito como ela falou.
– Você não pediu pra conversar pra dizer que me ama e que não vive sem mim, sabemos bem o que você veio fazer aqui.
– Você tá legal? – ele ficou confuso, será que tinha abduzido a Flávia verdadeira e colado outra com a mesma fisionomia?
– Estou ótima, nunca estive melhor. Pode falar a verdade, você veio acabar não veio?
– Olha, você sabe que é especial pra mim... – ele ia falar mais, mas ela o interrompeu.
– Por favor, não transforme isso em uma novela mexicana – ela parecia entediada. – Se você não sabe como fazer, eu faço. eu estou acabando tudo com você, não damos mais certo. Foi bom enquanto durou, o que nem foi tanto tempo assim, você me proporcionou um sexo maravilhoso, mas não dá pra continuar te namorando só por isso – estava chocado. – Agora você pode achar outra namorada pra aguentar você a trocando pelo pai dela ou pela melhor amiga que, claramente, você é afim.
– Não faz isso, não coloca as coisas dessa maneira. Não fala como se o que a gente teve, não foi nada. Eu entendo que você quer dar uma de forte, mas assim não sobra espaço pra amizade, e acredite, eu quero ter uma com você.
– Eu realmente não me interesso em ter sua amizade, você não soube nem ser meu namorado.
– Flá, não faz assim – poderia não querer mais nada com ela, mas ele sentia um grande carinho.
, relaxa, eu estou acabando tudo, você não precisa sentir culpa, pena ou qualquer coisa desse tipo. Acabou, pode pegar suas poucas coisas que ficaram aqui e levar, nosso namoro termina aqui.
Flávia disse isso e entregou a ele uma caixa vazia para que ele colocasse suas coisas que deixara no local durante o período do namoro.
– Eu não carrego nenhum sentimento ruim, espero que você faça o mesmo – ele falou e abriu a porta do quarto.
Flávia não se deu ao trabalho de levar até a porta, apenas fechou a do quarto, ligou a TV e foi assistir uma série de TV qualquer deitada na cama.
– Você não é o único homem do mundo, – ela falou sozinha, quando escutou o barulho do carro de dando partida.

chegou em casa e foi logo excluir todas as fotos e mudar seus status de relacionamento nas redes sociais. Olhou pra ver se estava online, mas ela não estava.
No outro dia, ao chegar à faculdade, – que parecia ter esquecido totalmente a quase briga deles – Gih e Mari estavam à sua espera e quando o viram, quase pularam em cima dele cheias de perguntas.
– Como assim você acabou com a Flávia? – Gih perguntou.
– Quando foi exatamente isso? – foi a vez de Mari.
– Por que você não me contou? – perguntou
– Respondendo – ele fez um pausa. – Eu acabei sim com a Flá, isso aconteceu ontem à tarde e eu não te contei, – ele se virou pra . – porque você mandou eu largar do seu pé e é isso que vou fazer.
Mari e Gih encaram que parecia estar irritada, chocada e chateada ao mesmo tempo.
– Nós estávamos discutindo, eu falei aquilo na hora da raiva.
– Eu não estava discutindo com você, você estava discutindo comigo, e eu só fiz o que você pediu – ele respondeu, e começou a andar, abraçando Mari de um lado e Gih do outro.
pensou em dizer que não era aquilo que queria, mas não faria esse tipo de coisa na frente das meninas, e outra, ele estava sendo idiota em sair abraçado com as meninas e a deixar pra trás.

estava chocada como estava a ignorando durante a aula. Ele não virou pra falar com ela uma vez sequer. Ela odiava ser ignorada e principalmente por ele, algumas pessoas falavam que isso era coisa de gente mimada, mas isso não tinha nada a ver com aquilo, era só que ele como melhor amigo dela, tinha o dever de entender quando ela falava uma coisa da boca pra fora. E outra, ela tinha motivos pra isso, estava preservando a amizade deles no momento que falou aquilo, ele deveria entender. Tendo razão ou não, ela achava que tinha.
, dá pra você parar de ser idiota? – perguntou, quando eles estavam saindo da sala.
– O que foi que eu fiz?
– Não falou comigo a aula inteira – ela disse irritada.
, eu não sei você, mas eu gosto de prestar atenção na aula.
– Não foi por isso que você não falou, foi por causa de ontem.
– Você já percebeu que todas as vezes que discute comigo e eu mudo, você surta? Eu não sou obrigado a gostar de todas as suas grosserias.
– Você quer que eu faça o quê? Eu sou assim.
– Tá na hora de querer mudar.
– Achei que soubesse como eu era quando resolveu ser meu amigo – ela começou a fazer cara de ofendida, sabia que isso o dobraria. – Meu melhor amigo.
– Você faz essa cara de menina abandonada sempre que quer alguma coisa? – ele falou, rindo. – Cuidado que um dia eu vou parar de cair nessa – disse, dando uma tapa no braço dela. – Vamos esperar o resto do pessoal, vem.
Eles não tinham visto, mas Mari e estavam logo atrás, vendo os dois um pouco de longe.
– Ela tem mania de tentar manipulá-lo – Mari falou.
– Eu acho que ela sente algo por ele.
– Não estou dizendo o contrário, só estou falando que esse jeito dela, de manipulá-lo, não é nada legal, um dia ele vai se tocar e ela vai ver como estava errada.
– Nunca tinha reparado nisso, vou observar mais.
Os dois adiantaram os passos e acompanharam e .
– E aí, mais novo solteiro, qual será nosso programa hoje? – perguntou.
– Eu e a estávamos pensando em chamar vocês pra irmos ao cinema hoje.
– E por acaso cinema é lugar de pegar mulher? Tem que ser no mínimo um boliche.
– Eu queria ir ao cinema – falou.
– Podemos deixar o cinema pra outro dia, – Mari falou.
– É, eu prefiro o boliche – disse.
– Até agora pouco, cinema parecia a escolha perfeita, , mudou do nada?
– Gente, a quer ficar sentada no escuro com o disse rindo.
– Está querendo me dar uns pegas,? – disse rindo também.
– Deixem de ser idiotas – falou ficando com vergonha. – , – ela virou pra ele. – eu preferia o cinema – fez um biquinho.
– Gente, tem como resistir a essa menina mimada? Vamos ao cinema.
– Eu não estou afim de cinema, não vou – Mari falou.
– Mas Mari, eu quero que você vá – pediu.
, eu não caio no seu charme – ela disse meio rindo, meio séria.
– Tudo bem – sabia que não adiantava discutir, ela e Mari se pareciam muito, insistir não adiantaria.
– Já que vamos ao cinema hoje, temos que ir a uma balada amanhã.
– Gente, eu nunca vi pessoas gostarem tanta de dançar como vocês – disse rindo. – Vocês nunca cansam, cara, toda sexta tem festa.
– Qual seria a graça da vida sem isso? – disse a abraçando de lado.

Já era noite e quase todo mundo tinha desistido do cinema, com exceção de e Gih.
– Vamos de comédia? – perguntou.
– Vamos – , Gih e concordaram.
– Por que você não trouxe as meninas, ?
– Elas estavam ocupadas, não puderam vir.
– Vamos galera, já comprei as entradas.
Como tinha sido combinado de comum acordo, todos sentariam nessa ordem: , Gih, e .
O filme estava bastante engraçado, e todos no cinema concordavam, mas quando algumas gargalhadas cessaram, uma pessoa começou a rir bastante e de forma bastante engraçada.
, para de rir assim, você está chamando atenção – disse, segurando-a pelos braços.
Ela ria e cada vez que ela puxava o ar fazia um barulho bastante diferente.
– Fuja, louca – Gih disse virando pra ela rindo, nessa hora e já gargalhavam da menina.
– Para, sua doida, vão mandar a gente sair – pediu, mas a menina parecia não conseguir.
– Eu... – voltou a rir. – não... – puxou o ar e fez um barulho engraçado. – consigo...
– Ah, você vai parar – pedia, mas ele também ria. – Para, sua doida – ele tampou a boca dela e a abraçou rindo. Só que aquilo só fazia tudo ser mais engraçado.
Depois de mais algumas risadas abafadas pela mão de , pareceu sair do seu surto e parou de rir.
– Pode tirar a mão da minha boca.
– Promete que não vai bancar a louca? – ele disse rindo.
– Você é quem está rindo agora.
– Promete ou não promete?
– O que eu ganho se não voltar a rir?
– Por que tudo seu se resolve com apostas e prêmios? – ele perguntou baixinho no ouvido dela, ainda estavam abraçados.
– Porque você me faz sentir vontade, é bom jogar com você – ela respondeu também no ouvido dele.
– Sou apenas um jogo?
Isso a fez pensar em uma resposta, e também a fez perceber que talvez aquela pergunta tivesse a intenção de obter uma resposta apaixonada, e se isso fosse verdade, ele sentia algo.
– Você está se apaixonando por mim? – ela perguntou meio envergonhada, não sabia de onde tinha tirado coragem para aquilo. Tinha medo que ele risse e falasse que ela estava louca, mas também tinha bastante medo que ele respondesse que sim.
– Não sei – ele disse, soltando-a depressa.
procurou pelos olhos de naquele meio escuro, mas ele já encarava a tela.
– ela falou, tentando fazer com que ele virasse pra ela.
– Vamos assistir, e vê se não surta novamente.
Era como se nada tivesse acontecido, só que nenhum dos dois parecia esquecer totalmente daquele “não sei”.

No outro dia, estavam todos na balada, nem nem falaram sobre a noite passada, e se ontem não estavam sabendo ficar a vontade, hoje já tinham voltado ao normal.
– Não olha agora, mas a tua ex tá vindo pra cá – cochichou no ouvido de .
– Oi, gente – Flávia falou. – , que bom te ver aqui. Vamos dançar?
pensou em negar, mas conhecia Flávia bem demais para saber que quando ela está alegre, não deve ser contrariada.
As meninas ainda não tinham visto, com exceção de .
– Eu estou ficando louca, ou aquela é a Flávia dançando com o ?
sentiu algo no estômago e ficou se perguntando o porquê.
– É ela mesma – foi tudo que respondeu.
– Onde, gente? Eu não estou vendo.
– Ali, Mari, ali na pista.
As meninas foram ao encontro dos meninos
– O voltou com a Flávia? – Mari perguntou curiosa.
– Não, ela chegou o chamando pra dançar e ele foi – respondeu, sem dar muita importância.
– Aposto que isso vai terminar em uma noite de sexo selvagem.
– Pare de ser bobo, , eles não estão mais juntos.
– E desde quando eles precisam estar juntos? Nenhum dos dois é de se preocupar com esses detalhes, – Gih disse. – Mas eu torço pra que não aconteça, vai que eles voltam? Não quero a Flávia de volta na minha vida.
– Vou levar a bebida que ele me pediu – disse.
– Hm? Tá louca, ? – questionou. – Vai ser empata agora? Você vai ficar aqui.
ia insistir, mas percebeu que todos a olhavam como se ela fosse uma sem noção.

– Acho que fui muito grossa com você – Flávia falava com uma voz bastante safada. – Fiquei me sentido uma boba e achando que deveria conversar com você, pra tirar qualquer má impressão.
– Ah, é? Relaxa, eu entendi o seu lado.
– Mas mesmo assim, acho que estou no dever de me desculpar.
– E como você vai fazer isso? – ele perguntou, com um sorriso sacana.
– Não sei, tem sugestões? – ia falar algo, mas ela continuou. – Acho que não é nada imoral pedir pra você me levar em casa, já que estou um pouco bêbada. Ou é?
sorriu
– Você acha imoral, ? – ela perguntou no ouvido dele.
– Vou pegar a chave do carro e te levo.
Ele a soltou e voltou pra onde seus amigos estavam.
, a chave do meu carro está na sua bolsa, não está?
– Tá sim.
– Me passa aí.
– Vai reviver os velhos tempo, garotão? – ela perguntou tentando sorrir. – Você que me trouxe, vou voltar pra casa como?
– Só vou levá-la em casa.
– Sabemos que é mais que isso – ela disse rolando os olhos.
– Qualquer coisa um dos meninos te leva em casa,.
– Mas eu vim com você – ela disse, já se irritando.
– Vai ser empata agora, ? Deixa nosso menino curtir.
– Eu não falei com você. – disse ríspida. – ...
– Eu vou voltar – ele riu.
– Como prêmio da aposta no boliche, eu quero que você fique aqui – ela disse, rápido sem nem pensar.
– A garota tá bêbada, , precisa que alguém a leve.
– Existe táxi pra isso, , sabia?
– Ah,...
– É o que eu quero – ela falou, antes que ele terminasse.
– A está fazendo novamente – falou baixo, mas o escutou.
– Fazendo o quê?
– Manipulando o , ela faz muito isso com ele.
Quando ia falar algo, virou pra os dois.
– Você deu a chave a ele?
– Ele disse que iria voltar antes de irmos embora.
– E você acreditou? Pelo amor, né? Ele não vai voltar.
– Ele que se dane – , disse irritada – Se ele quer ir, que vá. Eu sei que ele não vai voltar.

Embora tivesse dito que sabia que ele não voltaria, uma parte dela a fazia olhar pra porta a cada cinco minutos pra ver se ele tinha voltado. Depois de quase uma hora e meia, ela percebeu que isso não iria acontecer e acabou ficando com um péssimo humor.
, vem dançar – gritou já um pouco bêbada.
– Vou embora – ela respondeu de longe.
rapidamente chegou perto dela.
– Ir embora? , eu não quero ir agora. Espera mais um pouco e o te leva.
– Eu não quero esperar mais um pouco, quero minha cama.
– Mas , a gente não vai agora.
– Eu não te chamei, só informei que vou nessa.
– E você vai como?
– Voando é que não é – ela disse.
– Tudo isso porque o foi embora? Depois diz que não...
– Tudo isso porque estou com sono.
– Hoje eu não vou cair no seu mau humor, quer ir embora vai, eu vou ficar.
bufou e sentiu vontade de chorar, odiava ficar de lado. E como se não bastasse , agora até a tinha a ignorado. Ela estava absorta em seus pensamentos, xingando e de tudo quanto é nome, quando a interrompeu.
– Vou nessa, você não quer que eu te leve?
– Por favor, me faça esse bem.
No carro, estava calada e de cara emburrada.
– Tá tudo bem?
– Não, , estou com um péssimo humor.
riu e ela olhou para ele confusa.
– Do que você tá rindo?
– Só digo que quero ser um dos padrinhos do casório, e de ao menos um dos onze filhos.
Ela continuou confusa. “Casamento, padrinho, filhos, onze filhos? Hã?”
– Onze filhos? – perguntou tentando entender.
– É – ele respondeu rindo. – O sempre disse que queria onze filhos – gargalhou e pode ver a menina bufar e rolar os olhos.
– Pra sua informação, eu quero que o e o seu time de futebol se danem.
não respondeu nada, sua gargalhada depois da fala da menina parecia falar mais que qualquer palavra.
– Vá à merda, .
Ela disse e ele novamente gargalhou.


Capítulo 09

– É sério, eu acho que ela ainda esperava que você voltasse. Ficou com um mau humor – contava rindo.
– Ela vai querer me matar segunda na faculdade.
– Por que vocês não começam logo a ficar? Sabe, essa coisa toda já tá enchendo o saco, todo mundo percebe que vocês querem se pegar.
– Para! Somos amigos, não iria rolar.
– Só por que são amigos? Pelo amor, né?! Você já viu alguém querer algo com o pior inimigo?

– Por que você quer tanto que a gente se pegue?
– Pelo simples fato de que tá na sua cara que você é caidinho por ela e, embora ela tente não demonstrar, é nítido que ela também quer.
– Eu não estou caidinho por ela, ela não quer nada comigo. Resumindo, somos apenas amigos e assim seremos.
– Então cuida em arrumar outra garota, acho que sem ninguém você não vai aguentar ficar perto dela sem a agarrar, – riu e continuou. – eu não sei como você não parte pra cima. Ontem eu a levei em casa, a é linda caramba, e com raiva então... – disse, com a expressão sacana. – Só não parto pra cima por que já basta você e o .
– Para de falar assim dela, é a !
– Sem ciúmes, cara, só estou constatando – disse rindo. – Mas cuidado, ela pode não durar muito tempo solteira.
– Bom pra ela – falou, tentando conter os ciúmes de imaginá-la com outro cara.

– É OBVIO QUE VOCÊ TÁ AFIM DELE, ! – gritou, rindo. – Você precisava ver sua cara de bunda ontem. Você estava com ciúmes.
, você já teve ciúmes de mim com outras amizades e nem por isso significa que você deseja meu lindo corpinho. Assim como eu em relação a você.
– É diferente, meu amor. Acha que não vi você usando um prêmio de uma aposta aí pra que ele não fosse?
– Mas isso não quer dizer nada!
– É claro que quer, , para de ser boba. Me diz um motivo pra você não tentar.
– Vou te dar mais de um.
– Pode começar então – mandou que ela começasse e cruzou os braços.
– 1) ; 2) ele acabou de se separar da Flávia e 3) não sentimos nada um pelo outro.
– Esse é mentira! – protestou e mostrou o dedo do meio.
– Tá okay então. 3) Somos amigos e 4) ele é meu melhor amigo.
– Eu não vou nem discutir esses seus motivos, eles são todos patéticos.
– Mas são importantes pra mim, bem importantes.
– Você que sabe, mas cuidado! Ele não vai continuar solteiro, e afim de você por muito tempo.
– Ele não está afim de mim!
– Pergunta pra ele então – falou cheia de certeza.

– Bom dia pra você, sumida – falou quando foi chegando na faculdade.
– Eu sumida?
– Sim! Não falou comigo todos esses dias. Nem uma SMS.
– Você também poderia ter feito isso tudo, mas não fez, sumido – ela disse cheia de sarcasmo.
– Eu andei meio ocupado esses dias.
– Eu também. Não é só você que se ocupa.
– Tá com raiva?
– Não? Por que estaria?
– Sei lá, talvez por eu não ter voltado naquele dia. O me disse...
Ela não o deixou terminar. Então até ele agora achava que ela estava enciumada?
– Eu não me importo com fato de você ter ido embora naquele dia, não tem nem por que eu me importar. Se alguém tivesse me interessado naquela noite, eu teria feito a mesma coisa.
– Se importa sim, o disse...
– O só não está tão acostumado com meu humor, achei que você já me conhecesse e soubesse como sou.
– Então você está de boa?
– Sim! Apenas me lembre de nunca mais apostar nada com você, já que não cumpre o que peço – ela bem que tentou não tocar nesse assunto, mas nunca foi tão boa em disfarçar.
, você não acha que foi demais o que pediu?
– Achei que pudesse pedir o que eu quisesse – arqueou a sobrancelha.
– Mas aquilo já era demais. Não tinha nada a ver com você, não era justo eu fazer o que você pediu. Não te dizia respeito.
sentiu seu rosto ficar vermelho, mas não era vergonha, era raiva.
– Ah, desculpe por ser tão intrometida. Sou uma pessoa inconveniente, não é mesmo? Eu...
Ele a interrompeu.
– Não foi isso que eu quis dizer...
– Ah, não?! – dessa vez quem interrompeu foi ela. – “Não tinha nada a ver com você, não te dizia repeito” – ela fez aspas com os dedos.
– Eu só quis dizer que...
– Que era pra eu procurar o meu lugar e deixar você em paz, pra eu não me intrometer na sua vida, que nossa amizade não me dá esse direito, que fui inconveniente, que você come quem quiser e que eu não tenho nada a ver com isso, faltou alguma coisa?
– Faltou dizer que você é um porre e que só entende as coisas da maneira que quer! – disse irritado.
– Ah, e você não quis dizer isso?
– Não!
– E quis dizer o que então?
– Só quis dizer que já que você não permite que eu faça com você, não pode me impedir que eu faça com quem me queira.
– O que? – ela pode sentir o sangue fugir das suas mãos.
– Isso mesmo. Você se nega a dar qualquer abertura pra eu fazer com você o que tenho vontade, isso já não basta? Tem que querer me impedir de fazer com outra?
– Você tá apaixonado por mim? – ela arregalou os olhos antes mesmo da resposta.
– Já te disse que não sei.
– Mas você acabou de dizer que...
– Só sei que eu tenho vontade de beijar você, de abraçar você, de morder os seus lábios. Deve ser só atração, mas é o que eu tenho vontade.
– Você tem vontade de... – mesmo sem ser interrompida, ela não terminou a frase.
– É – balançou a cabeça rindo. – Tenho vontade de te agarrar e te beijar. Isso mesmo.
– Para de rir – ela pediu envergonhada, mas, mesmo assim, ele riu; também estava envergonhado. – Somos amigos, .
– Eu sei.
– Melhores amigos – ela arqueou a sobrancelha.
– Eu também sei. Não é por que eu tenho vontade, que isso tem que acontecer, tá bom? Só falei isso pra...
– Será que a gente pode mudar de assunto? – o interrompeu, sem graça. – Não sou boa com esses assuntos, então, ao menos por enquanto, vamos mudar esse papo.
– Tá bom, então.
– Amigos? – ela indagou levantando a mão pra que ele batesse.
– Amigos! – ele riu e bateu na mão dela.

– Por favor, me diga que você o agarrou, o beijou e deixou ser mordida por ele – falou com as mãos em posição de como se estivesse rezando.
– Não! – respondeu, como se fosse óbvio. – Eu fiquei super sem graça e pedi pra ele mudar de assunto.
– Por favor, diga-me que ela está brincando – virou pra como se fosse chorar.
– Eu estou falando sério, gente, ele é meu melhor amigo!
– Você é uma anta, só pode. Porque se fosse eu tinha agarrado na primeira oportunidade, tem como trocar o pelo ?
! Será que é tão difícil de entender que eu não quero o perder?
– E por que você o perderia?
– Por que as chances disso acontecer ficam enormes quando se misturam as coisas, – respondeu do mesmo jeito, indignado de sua amiga. – Vocês sabem como faço questão de ter meus amigos na minha vida.
– E por que não querê-lo na cama também? – gargalhou depois de falar.
– Para sua idiota, o assunto é sério. Eu não sei mais como agir com ele.
– Como sempre, ué?
– Eu sou péssima nessas coisas – ela disse cobrindo o rosto e rindo.
– Sabemos – as meninas falaram juntas e receberam um travesseiro no rosto como resposta.

– Oi, ! – falou com as mãos no bolso.
– Ér... Oi – ela sentiu o rosto ruborizar.
A quase declaração tinha acontecido no dia anterior, e os dois não sabiam que ficariam tão sem graça.
– Não precisa ficar tão sem graça perto de mim, okay? – ele disse rindo.
– Você não está facilitando as coisas – deu uma leve tapa no ombro dele.
– Vamos lá, , somos adultos já. Ou a gente aprende a ficar sem vergonha ou a nossa amizade vai acabar logo, logo.
– Verdade.
– Então, vamos fazer assim? Você esquece o que eu disse ontem e eu faço o mesmo.
– E as suas, – ela parou um pouco sem graças. – como posso dizer? – a olhou curioso pra saber o que ela tinha pra falar. – vontades? – ela mesma gargalhou e ele a acompanhou.
– Digamos que elas ficam aqui guardadas como sempre ficaram, desde que a gente saiu juntos pela primeira vez.
– Desde a primeira vez? – ela praticamente gritou.
– Eu sei que é uma felicidade muito grande saber disso, mas, por favor, recomponha-se – ele falou rindo e recebeu um tapa como resposta. – Eu não sei se é desde a primeira vez, mas sei lá, faz muito tempo.
– Ai, meu Deus – ela cobriu o rosto com as mãos. – Você sempre quis meu corpo. Eu te contei coisa que, ai, meu Deus – ela ria de tanta vergonha. – Eu vou morrer de vergonha.
Será que dizer que ela ficava ainda mais linda com vergonha e dizer que isso só aumentava a vontade de beijá-la ficaria feio? Por que era isso que ela estava causando em , uma vontade enorme de beijá-la.
– Para de ser idiota! – ele se limitou a dizer.
– Eu te falei coisas que... – ela nem terminou.
– Tudo bem eu saber que você é virgem – ele falou da maneira mais natural do mundo, e depois segurou os braços dela e tirou as suas mãos do rosto. – Para todos os efeitos, eu ainda sou o mesmo carinha de sempre, seu melhor amigo e não falei nada demais ontem.
E quem deseja o corpo alheio aqui ainda é você.
– Eu?
– Eu sei que no seu subconsciente você me quer – os dois gargalharam. – Vem, – ele a puxou braço. – a aula já vai começar.

– Mãe? O que aconteceu?
tinha acabado de chegar em casa e encontrou sua mãe chorando na cozinha.
– Não é nada, filha, estava apenas com saudade dos seus avós. Faz um tempo que não os vejo, a mamãe faz muita falta – Kátia disse limpando as lágrimas e começando a lavar uma louça pra ver se fugia do assunto.
– Você sabe que eu não sou mais criança, não sabe?
– Filha, estou falando a verdade.
– Quando você estiver pronta pra contar a verdade, eu estarei aqui pra escutar.
Kátia apenas balançou a cabeça em um sim, como se estivesse confessando o que não conseguia dizer em palavras.
! – falou antes que a filha saísse da cozinha e a garota se virou pra mãe. – Eu amo você e sua irmã – disse isso e abraçou a garota.
– Também amo você.

“ Definitivamente tem alguma coisa rolando aqui em casa e não querem me contar.”

queria falar disso com alguém e sabia que era a pessoa certa, por isso foi logo enviando uma mensagem para ele.

“O que aconteceu?”

fez um resumo do acontecido – ou de acordo com , ela fez um texto enorme que podia ser facilmente reduzido – e aguardou a resposta do amigo, que a propósito, demorou séculos pra responder.

“Desculpa a demora, é que você escreve muita coisa e eu também tive que fazer uma coisas aqui, mas... , acho que forçar a barra não vai adiantar muito as coisas, sua mãe é adulta, seja lá o que for, na hora certa você e a vão saber. Se for mesmo o que você pensa, de uma maneira ou de outra vocês vão ficar sabendo.”

“Eu nunca pensei na possibilidade de vê-los separados, não sei como vai ser. :/”

“Você vai ter uma vida normal, como todas as pessoas que tem pais juntos ou separados. Sem drama :p E bom, se serve de consolo, essa pessoa perfeita e super desejável que te escreve vai estar do seu lado sempre.”

“Own, essa declaração foi muito fofa. <3”

Mesmo ela achando que não sentia nada, era impossível não se derreter com o jeito de .

“Isso não foi uma declaração, foi só um simples constatação pra que você não entre em pânico. _|_”

“Não me mande esse tipo de símbolos, eu sou uma dama hahaha... Obrigada por tudo, é importante pra mim.”

“Por nada , agora beijos que eu estou caindo de sono. Relaxa, não pira, e nada de sonhos pervertidos comigo, pensando bem, sonhe todo tipo de coisa hahaha.”

“Vá à merda. _|_”

não respondeu mais nada, sabia que aquilo viraria algum joguinho de provocações o que acarretaria na perca do seu sono. Apenas dormiu e torceu pra que ela sonhasse mesmo com ele. “Vai que ela fica com vontade de realizar?” Riu de si mesmo quando pensou isso.
quando acordou percebeu que o desejo de tinha se realizado – o que jamais contaria a ele. Ela sonhou mesmo com ele, não tinha nada de pegação, sonhou apenas que ele se declarava mais uma vez pra ela. Não sabia se isso tudo era muito egocêntrico, mas estava gostando da ideia de saber que ele se derretia por ela.

acabou se atrasando para a faculdade e quando chegou todos já estavam na sala.
– Senhor certinho chegando atrasado? Tá chovendo lá fora?
– Tá chovendo sim, mas não ache que isso tem qualquer ligação com esse fato, saiba que ocorrências meteorológicas não são influenciadas por coisas tão banais quanto um atraso. A única coisa que o meu atraso pode causar é uma saudade enorme de sua parte e uma pequena aceleração no seu coração quando me viu entrar pela porta e percebeu que não teria um dia triste sem mim.
– Sabia que acho engraçado o fato de você se declarar pra mim só que falando tudo ao contrário? Afinal, a gente sabe que todas essas sensações são sentidas por você, não por mim.
– Vai que de tanto insistir você não começa a aceitar o fato e deixa o seu sentimento guardado fluir?
– Você é tão menina às vezes – ela disse, rindo.
– Garotos também sentem.
Ela não respondeu, apenas o encarou e percebeu que gostava de ser gostada por ele, ou desejada; sabe-se lá o que ele realmente sentia.

, será que você poderia me dar uma carona? Você me deixa e depois deixa a Gih em casa – pediu.
– É claro que ele pode, ! Prepara as pernas pra corrermos até o carro dele, essa chuva vai nos deixar encharcadas se não corrermos.
– Quando chegar perto destrava logo o carro. Daí a gente já entra – pediu a .
– Tá okay.
– No três – Gih falou empolgada.
– Criança – apertou as bochechas dela rindo.
– Vamos logo! – pediu.
– Um, dois, três!
E os três saíram em disparada. O plano não saiu bem como o combinado porque na correria, se esqueceu de destravar o carro e só percebeu quando os três tentavam abrir as portas. Foi o suficiente pra deixar a roupa clara de ensopada e mostrar seu sutiã.
– O que foi que eu disse sobre destravar as portas antes de chegarmos ao carro? – disse, meio brava.
– Eu esqueci completamente – ele disse rindo. – Mas relaxa, entre mortos e feridos, nós estamos bem.
– Mais ou menos, né?! Estamos encharcados e a está quase nua na parte de cima – Gih disse.
encarou o corpo de e não pôde deixar de sentir vontade de arrancar de vez aquela blusa do corpo dela. Ela, por sua vez, tentou colocar os braços ao redor pra ver se escondia algo, mas não dava pra cobrir tudo.
Nos primeiros minutos do caminho, estava amando o que a chuva fez com a roupa de , mas depois começou a procurar uma maneira de fazer a roupa da menina secar de vez, afinal, estava ficando totalmente sem concentração e não conseguia nem mais olhar pra o trânsito que estava um caos.
– Bom, – ele falou virando pra trás aproveitando o sinal fechado e tirou o casaco do próprio corpo. – toma esse casaco, veste isso. Tá molhado também, mas vai servir pra tampar sua roupa.
Disse meio nervoso e envergonhado.
– Isso vai fazer a roupa demorar mais pra secar, não? – Gih perguntou.
– Ao menos vai tampar o corpo dela.
– Mas o que tem de mal em ficar assim? – apontou pra .
– Ela não vai precisar ficar de braço cruzado o tempo todo.
– É só ela descruzar os braços.
Eles falavam como se ela nem estivesse de fato ali pra opinar em algo. Mas bem, depois dos diversos olhares que lhe lançou o caminho inteiro, ela preferia mesmo vestir o casaco.
– Eu prefiro vestir – disse, colocando o casaco.

– O que foi você desesperado com a roupa da ?
– Eu não estava desesperado – ele disse rindo.
– Ah, você estava sim. Toma, coloca esse casaco – ela disse rindo, tentando o imitar.
– Bom, não é muito legal ter uma garota gostosa com uma roupa branca encharcada e de sutiã vermelho rendado no seu banco de trás enquanto você tenta focar no trânsito.
– Você é tarado! – Gih gritou. – Ou está a fim dela – ergueu a sobrancelha.
– Nem me venha com suas indiretas. Qualquer um no meu lugar ficaria um pouco atordoado – ela continuou o olhando de sobrancelha erguida. – Baixa logo essa sua sobrancelha porque você tá achando cabelo em ovo.
– Gostava mais de você quando me falava a verdade – bufou e se encolheu no banco do carro.
sabia que aquilo era apenas uma tentativa de manipulá-lo pra falar as coisas, então riu e ignorou a amiga.

mal abriu a porta de casa e sua irmã pulou em seus braços.
, que merda tá rolando? Eles não param de gritar. Alguém me explica alguma coisa?
Antes mesmo que precisasse perguntar de quem estava falando, pôde escutar os vários gritos que vinham do andar de cima, mais especificamente do quarto dos seus pais.
– Eles já falaram de casa, de loja, de filhas, de mulher, de família, de tudo. Eu não consigo entender o que está acontecendo.
E novamente antes que precisasse perguntar, viu seu pai descendo com algumas malas.
– Cadê a mamãe?
– Está lá em cima.
- Pai! – chegou perto dele – O que tá rolando? Pra que essas malas?
– Não é óbvio? Estou indo embora, , agora vocês duas terão que aprender a se virar. Fazer algo realmente útil da vida.
Ele não precisava falar diretamente, sabia que isso tinha algo a ver com sua escolha por Jornalismo.
– Por que você está indo embora? – indagou já com lágrimas escorrendo.
– Seu pai tem outra – Kátia chegou falando na sala. – Marcelo tem outra.
abriu a boca pra falar algo, mas preferiu calar.
– Nesse exato momento ele está levando essas malas pra casa da prostituta que ele conheceu em alguma boate.
– Ela não é de boate! Muito menos é alguma prostituta.
– Alguém que cobra pra passar a noite com você é o que? Me diz! – Kátia gritou.
– Faz muito tempo que ela não cobra, muito tempo mesmo.
Quando os dois iam voltar a discutir, perguntou:
– Faz quanto tempo que você está com ela? Some os períodos pagos – ela disse, tentando conter a indignação.
– Muito tempo – disse como se fosse algo natural.
– Você tá deixando nossa casa pra morar com uma puta? – gritou.
– Você não fale assim dela! – Marcelo gritou no mesmo tom.
– Ela deita com você por dinheiro.
– Não caia na da sua mãe, eu já disse que não é verdade.
– Ah, não?! E aquele dinheiro que sumiu sem explicação da loja? O seu recém-comprado apartamento que não está no seu nome, e sim no dela? Isso não é uma forma de pagamento? – Kátia disse chorando.
– Você vai me deixar por ela? Vai nos deixar por ela? – perguntou, quase implorando para que o pai desistisse de tudo.
– Estou deixando essa casa pra poder ser feliz de verdade. Não estou deixando vocês, apenas a casa.
– Por favor, você estava indo embora sem nem dar explicações. Quer mesmo dizer que não está nos deixando? – falou indignada.
– É assim que vocês querem ver as coisas? Pois que vejam. Eu apenas estou deixando uma vida infeliz, um casamento de merda, pra poder passar o resto dos meus dias feliz e ao lado de quem eu realmente amo. E não vai ser duas filhas mimadas, que não sabem nada da vida que vão me impedir disso – Marcelo gritou sem se preocupar se estava ferindo ou não as filhas.
– A mulher da sua vida é uma puta – gritou.
– Eu já disse que não fale assim dela – Marcelo estava prestes a dar uma tapa em quando empurrou a irmã e se colocou na frente.
– Ela fala como ela quiser! Vai bater nela pela primeira vez na vida só por que ela falou a verdade? A mulher da sua vida é sim uma puta de merda que vai gastar todo seu dinheiro, e as suas filhas mimadas não vão deixar de serem suas filhas por isso, a não ser que você resolva querer colocar essa mulherzinha na frente do seu relacionamento com elas.
Nesse momento Kátia já estava sentada no sofá soluçando.
– Minhas filhas jamais serão colocadas na frente da minha felicidade, e se é com ela que está minha felicidade, sinto muito, mas terão que se conformar em ficar atrás dela.
Naquele momento as lágrimas que insistiu em conter começaram a escorrer pelo seu rosto, pôde ver sua irmã pular nos braços do pai e pedir pra que ele ficasse, mas ele não pareceu demonstrar afeto algum, estava mais focado em sair de casa e magoar quem realmente o amava.
– Sai daí ! – ela puxou a irmã pelo braço com força e segurou o choro. – Faça o favor de ir embora – disse, dirigindo-se ao pai.
! – a olhou surpresa enquanto ela se dirigia a porta e a abria.
– Você não precisa vir aqui nem pra pegar o resto das suas roupas. Pediremos pra que alguém leve no seu escritório. Seja feliz com sua putinha de merda, amanhã mesmo levarei a mamãe em algum advogado que não seja o seu pra poder adiantar a papelada do divórcio e cuidar da divisão de bens. Não deixarei você gastar tudo que é nosso com uma qualquer.
– Já está dividido.
– A sua vontade não é mais lei nessa casa. Se puder ir embora, temos coisas importantes pra fazer – disse apontando pra rua.
Marcelo saiu e antes que pudesse virar para trás, escutou o barulho da porta sendo fechada.
– Tínhamos o direito de saber de tudo antes, sem ser dessa forma – disse para sua mãe e depois subiu pra o seu quarto.

As palavras do seu pai não saíam da sua cabeça. Uma qualquer era mais importante do que as filhas dele. Queria sumir dali, encontrar algum lugar que pudesse esquecer tudo isso. Mas não dava, não tinha como.
chamou enquanto batia na porta.
– Oi.
– Posso entrar?
queria ficar sozinha, mas sabia que se aquilo tudo estava doendo nela, na sua irmã estava doendo ainda mais.
– Pode – respirou fundo.
– Será que a gente pode ficar assistindo filmes até pegar no sono juntas?
– Claro que sim – forçou um sorriso.

“Quando chegar na faculdade, vai direto pra o nosso lugar. –
não conseguiu conter o sorriso que insistiu em se formar em seu rosto, ela agora chama o lugar de “nosso”, dele e dela, e também se identificava pelo apelido que só ele a chamava. Por Deus, aquela garota sabia como mexer com ele.
Quando chegou já o esperava encostada numa árvore, olhando para o nada.
– Acho que alguma coisa muito boa ou muito ruim aconteceu – ele disse e ela forçou um riso, – E pela sua cara e pela sua tentativa de sorriso fracassada, acho que é a segunda opção.
– Ele foi embora de casa.
– Sinto muito – disse sem saber o que fazer ou falar.
– Foi pior do que imaginei – falou, já com lágrimas nos olhos.
– Você vai ficar bem – ele tentou confortar.
– Você não faz ideia das atrocidades que ele disse – ela falou, limpando as lágrimas com as costas das mãos. – Ele foi tão estúpido, era como se a intenção dele fosse magoar mesmo, que a gente largasse do pé dele. Quando foi que meu pai se transformou nesse monstro? – , ele é seu pai – falou baixo. – Justamente, ! – ela praticamente gritou. – Ele é meu pai caramba, que tal ele se lembrar disso? E eu nem falo por mim, eu me viro – ela tentava secar as lágrimas, mas já soluçava. – Falo pela . Você não tem noção de como ela ficou, . Então não venha me falar que ele é meu pai e que eu não posso falar o quão monstruoso ele está sendo, por que você não viu e não passou por isso – desabafou em meio às diversas lágrimas. – Desculpe, sou um idiota, não deveria ter te julgado. – Você não é um idiota. Eu nem estava brigando com você. É só que... eu preciso de alguém pra me entender. balançou a cabeça e puxou a mão da menina para que ela sentasse, e assim ela fez. – Doeu tanto ver aquilo, . Eu me sinto tão mal por sentir o que sinto. Eu não o quero perto de mim, mesmo sabendo que ele é meu pai. Estou sendo tão monstruosa quanto ele. – Não está. Não deixe que os erros de seu pai pesem assim em você. Eu julguei, mas entendo tudo que sente. Provavelmente eu não me sentiria diferente. – Faz parar de doer, faz – pediu, chorando. Ao ver aquela garota frágil, pôde perceber o quanto aquela menina tentava parecer diferente na frente das outras pessoas. Quanta coisa ela esconde pra bancar a durona? Quanto sofrimento ela já não passou? Mas era dessa menina frágil que ele mais gostava, na verdade ele estava apaixonado pela soma das duas s, daquela que ela era com todos e daquela que ela só mostrava para ele. Se pudesse ele faria o que fosse possível pra limpar as lágrimas dela. – Infelizmente eu não tenho esse poder, . Mas acredite se tivesse como, eu faria, mesmo que sua dor fosse ficar pra mim. – Você estar aqui já faz as coisas melhorarem – ela disse em um meio sorriso. – Fico feliz por saber. – Dói tanto – falou, voltando a chorar. – Não chore. Tá borrando sua maquiagem – ele disse rindo pra ver se ela ria também, mas ela apenas o olhou profundamente. – Com você eu não preciso de máscaras. – É, gosto de você como é – ele limpou as lágrimas dela e depois a puxou pra perto de si. Uma mão na cintura da garota e outra na nuca dela. Ela continuava o encarando daquela maneira profunda, como se soubesse o que viria depois e até pedisse por isso. Ele começou a se inclinar em direção a ela, e diferente do que ele imaginava, ela não recuou. Também se inclinou em direção a ele e deixou ser beijada. Primeiro, eles deram um selinho, já de olhos fechados, e depois beijaram-se. Um beijo calmo, era como se estivessem aproveitando a única paz no meio daquela histeria, cada um despertava a melhor parte dentro do outro. abriu os olhos depois do beijo, mas viu que ela se afastava ainda de olhos fechados, e quando os abriu, transpareceu uma confusão. – Ér... eu... – tentava formular uma frase diante daqueles olhos confusos de que pareciam implorar por uma justificativa. – Hm... – Acho melhor irmos logo, já, já o pessoal começa a nos procurar – ela falou tentando mudar de assunto, já que pelo que viu, não sabia muito que dizer. – É – ele disse, sem graça. – Vamos, . Sem pedir que ele a puxasse do chão, ela levantou e foi embora poucos passos na frente.


Capítulo 10

– O não quer muita coisa, disse que é só uma comemoraçãozinha pra não passar em branco.
– A e a Nanda também vão?
– A Nanda disse que não iria poder – Gih explicou. – Mas a vai. Já falei com o , ele pega vocês duas e leva pra lá.
sentiu suas mãos gelarem. Tinha que ser logo o ?
– Okay – ela se limitou a dizer.

– Sabe, eu achei super fofo ele me chamar, a gente vem conversando e tal, mas eu não achei que fosse ser convidada. O é um fofo, não é mesmo? Hoje eu saio de lá namorando...
falava descontroladamente desde que chegou à casa de para se arrumar.
– Tô falando demais, né?! – perguntou como se lesse os pensamentos da amiga.
– Muito, você não calou um minuto – respondeu aos risos.
, idiota. Custava ser educada e dizer: não amiga, imagina?
– Custa muito, eu estaria mentindo.
– Idiota.
Finalmente um momento de silêncio aconteceu, mas não demorou muito. O celular de tocou.
– É o falou, pegando o celular.
– Atende e diz que já, já ficamos prontas.
atendeu e depois apenas disse:
– Ele tá subindo para o seu quarto, chegou aqui e sua mãe o mandou subir.
– Minha mãe fez o quê? – arregalou os olhos.
Antes que respondesse algo, bateu na porta.
– Entra – falou.
Ele entrou com as mãos no bolso da calça; era típico dele quando não sabia muito que fazer. continuou olhando para o espelho, fingido estar mais concentrada do que realmente estava em sua maquiagem.
– Vocês não precisam se arrumar tanto, é só uma comemoração.
– Diz isso para a tagarela que não para de falar sobre isso – finalmente falou.
, você está linda. E , você também está – o olhou de soslaio e percebeu que ele a encarava. – Vamos?
– Er... Me deixa só pegar uma bolsa – falou um pouco sem graça.
Minuto depois os três já estavam saindo.

– Vocês chegaram! – Gih falou empolgada enquanto lhe abraçava.
– Tava com tanta saudade assim de mim? – ele perguntou rindo.
– Eu não estava falando com você, era com elas – revirou os olhos. – Acreditem se quiser, mas os meninos estão jogando videogame. Dá pra acreditar? E o pior, a Mari está jogando com eles – falou indignada.
– E é por isso que eu prefiro a Mari – disse, apertando as bochechas da garota.
olhou pra os dois e lembrou-se da primeira impressão que teve quando os viu juntos – de fato, formariam um belo casal, mas eles definitivamente não eram um.
Ela riu.

, você não nos chamou aqui pra ficar vendo vocês jogarem, não é? – já chegou falando.
Ele virou e sorriu pra .
– falou todo cheio de cavalheirismo.
– É, oi pra você também, revirou os olhos.
– Oi, – ele abriu um sorriso pra ela. – Não sinta ciúmes, assim como você eu tenho que arrumar alguém.
Ela olhou para , confusa; ele com toda certeza não estava falando de . Já era do conhecimento de todos que eles não tinham mais nada, e nem teriam. – E ainda bem que ele não estava lá ainda, já imaginou se ele confunde tudo? – e se não era , quem seria? Então, ela olhou pra e não sabia se sentia vergonha ou raiva. Ele deve ter dito algo.
apenas piscou um olho pra ela.
É, ele contou.

, achei que você não vinha – Mari falou, cuidadosa, assim que ele abriu a porta.
olhou a cena e achou diferente. Mas o mais entranho foi a forma toda carinhosa que ele respondeu a menina.
– Não iria deixar você sozinha com esse bando de marmanjos idiotas – a abraçou e riu da cara de ofendidos dos amigos.
– Perdi algum capítulo da novela? – perguntou à primeira pessoa que olhou; era .
– Tá com ciúmes? – perguntou, tentando esconder seu próprio ciúme.
– Não! – falou como se fosse óbvio. – Só quero saber se só eu achei isso estranho.
– Até onde sei, eles são apenas amigos, se é isso que interessa – ela revirou os olhos. – Mas não me surpreenderia se ele quisesse algo com ela, a Mari é a menina mais adorável que já vi.
– É.
sabia que deveria ter dito algo mais, afinal, Mari era mesmo uma pessoa adorável, mas ver falando dela com aquele sorriso de lábios fechados – tipicamente dele –, todo admirado, a fez perder a vontade de elogiar a garota.
A comemoração estava ótima, não era tão parecido com uma festa. Apenas amigos conversando, brincando, comendo e tomando algumas cervejas – os que bebiam, é claro. , já estavam um pouco altos, e para sua surpresa, também.
– Manera aí filhinha, assim vou ter que te dar banho quando chegar em casa.
– Só hoje, só hoje, eu quero realmente curtir, .
– Acho que o vai ter que se preocupar com o carro dele, vai acabar sendo sujo de vômito.
– E quem disse que tenho a intenção de voltar pra casa hoje? – levantou uma sobrancelha e piscou o olho.
O queixo de caiu. Nem mesmo quando as duas conversavam e brincavam viu sua amiga com uma cara tão safada.
! – as duas riram. – Tenho que te levar daqui, você tá muito safada.
A amiga gargalhou.
, se você não sabe aproveitar o boy que te quer, eu sei. Ou vou aprender – disse rindo.
– Posso saber o que vocês estão falando de tão engraçado? – chegou, abraçando por trás.
– Coisas de garota.
– Ah, entendi! Resumindo, falando sobre garotos. Espero que estejam falando bem de mim e do seu garoto.
– Meu garoto? Eu não tenho.
– Por que não quer – falou sugestivamente.
– Alguém pra concordar comigo – falou e lhe deu um beijo no pescoço.
–Se fecha, . Vocês acham que é assim, chegar ali e gritar: quem me quer?
Os três riram.
– Não precisa gritar isso, é só gritar um certo nome e pronto.
– Você é quem pensa.
– Posso gritar dois nomes, se quiser uma prova – ele disse rindo.
– Não ouse.
Ela repreendeu, mas riu.
– Agora dá licença, que vou precisar da morena aqui.
– Toda sua.
e saíram enquanto ficava sozinha rindo.

até pensou em chegar perto de e talvez tentar repetir o beijo de ontem, mas estava lá e ele precisava se controlar. Então preferiu atender ao pedido de Mari e foi jogar com ela.
– Talvez assim você foque em alguma coisa diferente da , nessa casa. Faça-me o favor de não negar – ela disse, rindo, enquanto os dois pegavam os controles. – Se a Gih não tivesse ido embora, ela também perceberia. Você não é bom em esconder nada.
– Vocês é que olham demais.
– Acho que os dois. Mas vamos jogar, pronto pra perder?
– Pronta pra chorar?
A menina lhe deu uma tapa e ele a abraçou.
via a cena de longe e mesmo sem entender muito o porquê, estava ficando irritada.
Depois de um tempo resolveu ir até lá.
– Será que posso interromper o joguinho dos dois?
Mari pausou o jogo.
– Você vai demorar muito? Qualquer coisa eu chamo um taxi.
– Tá com raiva, ?
“Por que ela tem que ter voz de criança? Não dá pra ter raiva de criança”, pensou.
– Só cansada.
– Já jogamos muito, melhor deixar esse pra próxima. Vai lá com ela, também já vou.
– Quer carona?
ofereceu prestativo, e sem saber o porquê, ficou mais irritada.
– Não, vou com o . Vamos dividir o taxi.
– Tá, okay, tchau – foi e beijou a testa da menina.
– Tchau, . Tchau, .
– Tchau.
Logo se despediram de todos e foram embora.

– Eu realmente não acreditei que o fosse conseguir pedir pra ficar lá. Estou surpreso. Ele nunca foi o melhor na paquera.
– Mas pra mim a surpresa da noite ainda foi a Mariana.
– Já dissemos que ela gosta de ser chamada de Mari.
– Eu sei, mas quero chamar assim. Algum problema? – perguntou, já se irritando.
Algum problema pergunto eu. Você tá com ciúmes do ? – ele não conseguiu conter suas mãos de apertarem o volante com toda força.
– Claro que não, idiota – falou, sem paciência. – É só que, não sabia da paquera deles.
– Ainda não se sabe se estão mesmo de paquera. A Mari é uma ótima menina, é até impossível não ser carinhoso com ela.
– Olha como ele tá impressionado com ela – falou e forçou um riso.
– Não é isso. Mas a Mari é uma menina de ótimo humor, doce, verdadeira sem ser grossa...
– Bem diferente de mim – ela falou mais pra si do que pra ele.
– É, talvez um pouco diferente de você, mas nem tanto – riu. – Mas ela é o tipo de garota agradável pra ser amiga e namorada. Então vai saber se não é só amizade.
– Nossa, casa com a Mari – ela falou em tom de brincadeira para ver a reação dele.
– Eu não me meteria outra vez nas coisas do – riu.
– Você não teve nada a ver com o fato da gente não ter dado certo – ela falou como se fosse óbvio.
– Eu nem disse que tava me referindo a você – respondeu brincalhão.
– Ah, então teve outros casos?
– Sempre tem quando mais novos, mas o mais verdadeiro foi você mesmo.
Ele falou de forma normal e ela ficou vermelha.
– Você fala tão naturalmente disso – disse, sem graça.
Ele sorriu.
– Não é como se você não soubesse o que eu sinto.
E ela novamente ficou sem graça, esquecendo até que aquela conversa começou por causa da Mari.

– Chegamos.
– Obrigada pela carona. Eu tenho que perder esse medo de dirigir.
– Relaxa, ao seu dispor.
Ela desceu do carro e ele também.
– De volta a realidade – ela falou, sem empolgação.
– Tá ruim, né?
– A não tá sabendo lhe dar. E minha mãe não ajuda muito se omitindo sempre.
– Sua irmã já é gradinha. E dá um tempo pra ambas.
– É, talvez precisem de tempo. Às vezes me sinto a única pessoa consciente dentro de casa – mordeu os lábios e depois bufou.
– Vai passar, daqui a pouco sua irmã entende e sua mãe se recupera, você vai ver.
Ela novamente bufou.
– Assim espero.
E, em um ato pouco pensado da parte de , ele já estava a beijando.
No começo, a garota pareceu se assustar um pouco com o beijo, mas ao sentir a mão dele fazendo carinho em seu rosto, ela se deixou ser beijada e retribuiu. Mais uma vez foi um beijo calmo, daquele que te tira os pensamentos ruins, te deixa leve.
– Vai ficar tudo bem – sussurrou.
– Acho que vai – mordeu o lábio.
E voltaram a se beijar.
Todos os beijos que estava lhe dando tinha uma paz enorme neles. Eram calmos, sem pressa, relaxantes e cheios de cuidados. Tudo que ela precisava.
Ele já tinha imaginado vários beijos mais intensos que aqueles com ela, mas naquele exato momento sua vontade era apenas de cuidar e mostrar que estaria com ela sempre. Queria cuidar dela, estar com ela, fazê-la ficar bem.
estava gostando da situação, mas não poder ficar ali para sempre.
– Acho que já tá ficando tarde.
– Sério? – ele murmurou, puxando o lábio inferior dela com os dentes.
– Sim – ela riu.
Ele colocou os cabelos da menina para trás e segurou o rosto da mesma, com as duas mãos.
– Fica bem, okay? – pediu e deu-lhe um selinho.
– Pode deixar – piscou o olho pra ele.
E antes dela ir embora se beijaram outra vez.

, comporte-se, você é homem. Pare com esse coração acelerado – o garoto falou pra si gargalhando quando voltava pra o carro.

– Filha, estava te esperando.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não, só quero conversar com você.
suspirou.
– Fala.
– Eu não acho que entrar com um processo possa ser bom pra sua irmã.
– Ah, e você sugere o quê? Ficar com essa loja, a casa e mais nada? Nem receber a pensão da ?
– Não acho que seja necessário receber nada, a gente se vira.
– Não é questão de necessidade dona Kátia, é questão de obrigação. Ele tem essa obrigação.
– Você não entende, não é mesmo?
– Entender o que? Que mesmo depois de tudo você ainda quer viver das migalhas dele? É, eu não entendo.
estava irritada e ver sua mãe mais uma vez querendo chorar, só a fez ficar ainda mais. Até minutos atrás estava tendo um ótimo fim de noite, e agora tudo estava indo por água abaixo.
– Eu não faço questão do dinheiro, eu faço questão de paz – sua mãe praticamente gritou.
– Você faz questão de se omitir sempre, de fugir das coisas e deixar eu e minha irmã no meio de tudo.
– Não fale assim comigo!
Ela olhou para a mãe, e mesmo com toda irritação se sentiu culpada. Talvez fosse mesmo melhor deixar isso quieto.
– Tudo bem, mãe, você faz como achar melhor. Você deve saber o que está fazendo.
Sua mãe apenas balançou a cabeça.
– Desculpa – a menina pediu. – É só que eu não estava pra esse papo agora. Ainda acho que você está errada, mas se é assim que você quer.
– Eu não quero colocar o papai na justiça – apareceu do nada falando. – Eu não faço questão da minha pensão.
“Nada está tão ruim que não possa piorar”, pensou.
– Não vamos colocar – disse. Sua irmã sempre conseguia a quebrar. – Mamãe decidiu.
– Não piore as coisas – a pediu e ela sentiu seu coração quebrar.
– Eu nunca quis isso.
– Tá bom.
A menina falou e subiu pra o quarto.
– Vou subir também. Noite, mãe.
– Noite.
Quando chegou ao andar de cima, chorou o que não tinha chorado no dia em que seu pai foi embora.
Ela estava com raiva de todos. Raiva de sua mãe que sempre se omitia, raiva de sua irmã que não entendia e crescia, raiva de seu pai por ter feito tudo aquilo acontecer, raiva da mulher que entrou na vida dele, raiva de si por não conseguir deixar tudo bem, por ter deixado tudo isso acabar com seu ótimo fim de noite e até mesmo raiva de por não estar ali agora para ser seu amigo.

– Bom dia flor do dia – chegou todo empolgado na faculdade.
– O que foi que te deu? – Gih perguntou curiosa, olhando-o por cima dos seus óculos escuros.
– Só estou de bom humor.
– O fim...
Antes que ela falasse chegou.
– Dia pra vocês – disse, grossa, e foi direto pra dentro da faculdade.
– Eu até ia perguntar se isso tudo era por causa da volta pra casa sozinho com a ...
a olhou confuso. Como ela sabia se ela não estava mais na festa?
– A Mari me contou – ela rolou os olhos. – Mas voltando, eu até ia te perguntar, mas a julgar pelo humor dela, com toda certeza não foi.
– É, não foi – ele disse, mas sabia que tinha sido sim. Estava se sentindo ótimo desde que a beijou na noite passada.
Mas parecia que só ele.

– Você tá bem?
– Não – respondeu rápido.
– Eu tenho algo a ver com isso?
Ela riu.
– Não exatamente. Não quero conversar.
– Tá bom.

E assim se passou uma semana. As cosias entre Marcelo e Kátia parecia estar pior que antes, e se dias atrás ela não queria brigar por nada na justiça, agora ela parecia querer mais que nunca. Só que como sempre, era quem tinha que falar com o pai diretamente sobre o assunto – bastava uma confusão para que Kátia começasse a chorar.
e Mari pareciam mesmo estarem se entendendo, ninguém via beijo nem nada, mas era nítido que estava rolando ao menos um interesse. e agora eram oficialmente um casal. E e ainda era algo incerto. Na verdade, ninguém sabia se eles queriam realmente deixar as coisas certas, pareciam querer apenas aproveitar o momento.
Com o mau humor diário de , e ela sem dizer o que era, preferiu se calar e se afastar um pouco. Para ele estava claro que os beijos não se repetiriam. Então o melhor a se fazer era, ao menos, tentar partir pra outra.

– Vocês viram o ? – perguntou assim que chegou à faculdade.
– Acho que ele ainda não chegou – Mari disse.
– Chegou sim, mas ele disse que tinha que resolver umas coisas.
– Ele disse o que era, Gih?
– Hoje ela tá falante, melhorou? – Gih perguntou, rindo.
Na verdade, não tinha melhorado, era até por isso que ela queria conversar com , sabia que ele a escutaria mesmo depois da semana mal humorada dela, ou talvez não.
– Acho que já sabemos o que ele foi resolver.
Mariana apontou para e uma garota loira de cabelo alisado do outro lado do campus.
– Acho que ele vai fazê-la entrar dentro daquela árvore – Gih comentou, fazendo careta.
As meninas passaram mais alguns minutos olhando a cena e só conseguia pensar em como tinha esquecido seu sentimento rápido demais.
– Ele tá vindo – Mari comentou.
– Vou entrar – disse e entrou antes dele chegar.

– Oi, disse, assim que chegou à sala, sentando perto da garota que lia um livro de nome estranho.
– Hm – ela se limitou a responder.
– As meninas disseram que estava querendo falar comigo.
– Foi.
– Por que não me esperou lá na frente?
– Você estava ocupado.
Ela falou, sem tirar os olhos do livro.
preferiu não conversar com ela sobre a sua ocupação de hoje cedo e voltou pra o assunto anterior.
– O que você queria?
– Já resolvi – ela murmurou.
– Se precisar de algo...
– Eu disse que já resolvi.
Ele a olhou e resolveu se calar; o bom humor que as meninas falaram que ela estava devia ter ido por água a baixo, e ele não estava disposto a saber qual o motivo.
– Ah, e felicidades para o casal.
Ela falou quando ele já tinha virado pra frente.
– Não somos um casal.
– Não me interessa – disse seca e voltou a ler o livro.
Ciúmes? Será que era esse o motivo? Talvez ele estivesse no caminho certo.
Ele virou e riu.
“Talvez eu esteja mesmo no caminho certo.”


Capítulo 11

– Ei – segurou o braço de antes que ela saísse da sala.
– Oi.
– Quero falar contigo, podemos ir pra lá? – perguntou se referindo ao lugar deles.
Ela demorou uns segundos pensando, até que seu celular tocou.
– Espera um minuto.
?
– Oi, Mandy – ela respondeu, era a garota que trabalhava na casa dela.
Vem agora pra casa, aconteceu algo com a .
– Como assim algo? O que aconteceu?
Vem agora, agora! Tchau.
tirou o celular do ouvido podendo escutar seu coração batendo. O que será que aconteceu?
– Ei, a tirou do transe. – O que aconteceu?
– Eu, eu – ela balançou a cabeça. – Eu não sei, mas a Mandy pediu pra eu ir pra casa agora, disse... Disse que aconteceu algo com a minha irmã.
Ela parecia prestes a chorar.
– Vem – ele lhe puxou. – Eu te levo lá.
continuou parada pensando e temendo o que poderia ter acontecido.
– Vem, lhe puxou de vez.

– Vamos, , sei que não é uma coisa pra se pedir agora, mas fica calma.
Desde que entrou no carro, balançava as pernas e mexia as mãos sem parar.
– Ela não disse o que foi. Deve ter sido algo grave.
– Você não acha que se fosse algo tão grave sua mãe seria quem te ligaria?
– É, né? – balançou a cabeça afirmando. – Não deve ter sido algo tão grave, ou deve.
E continuou a balançar as pernas, aquilo estava deixando tão nervoso quando ela.
– Chegamos! – exclamou aliviado.
mal esperou o carro parar e já estava descendo, saiu rápido atrás dela.

– Mãe, mãe! – entrou em casa gritando. – O que foi que aconteceu? Cadê a ?
Kátia começou a chorar sem dizer nada.
– Fala mãe! – ela gritou autoritária. – Não é hora de ficar calada. Cadê a ?
– Vai ficar tudo bem com sua irmã. Ela tá no hospital agora. Vai ficar tudo bem.
– Hospital? O que diabos aconteceu com a minha irmã? – a mãe dela voltou a chorar. –Fala logo, caramba!
– Vamos, a segurou de leve pelo braço. – Sua mãe não está bem. Tenta entender, mantém a calma.
– Ela tentou se matar – Kátia sussurrou.
As pernas de fraquejaram e a segurou.
– O que ela fez? – perguntou com a voz partindo.
– Ela tomou alguns remédios que eu estava tomando pra dormir.
– E por que você não está lá com ela?
– Eu não sei se consigo filha, por isso te liguei. Eu não sei se consigo – Kátia colocou as mãos no rosto e chorou desesperadamente.
ia falar algo, ainda abriu a boca, mas depois apenas respirou fundo, prendeu os lábios e pareceu pela primeira vez parar para processar tudo aquilo.
, você me leva ao hospital?
– Claro! – ele respondeu, feliz por poder ajudar em algo. – Quer pegar alguma coisa lá no seu quarto?
– Não – ela já ia em direção à porta junto com , quando resolveu voltar e dizer algo pra sua mãe. – Ela é sua filha, tá na hora de saber viver.
não tinha escutado o que tinha falado, e não iria perguntar. Apenas olhou e esperou a menina limpar as lágrimas com as costas da mão e caminhar ao seu encontro.

– Mandy exclamou assim que a viu.
– Como ela tá? Onde ela está?
– Ela tá lá dentro, mas os médicos já vieram aqui dizer que está tudo sobre controle, ela vai ficar bem.
suspirou aliviada e quando virou deu de cara com seu pai.
– O que você está fazendo aqui?
– Eu sou o pai dela, não sou? – respondeu ríspido. – Cadê a sua mãe?
– Você não é o pai dela, ou é? Da minha mãe cuido eu.
E saiu pra falar com a recepcionista.
– Como sempre, mal educada – Marcelo falou para Mandy, que não deu atenção.
– Ela só está nervosa – falou entrando na conversa.
–E você, quem é?
– Sou amigo da sua filha. Eu a trouxe.
– Não deve ser fácil ter que conviver com a , não é mesmo? – deu um ar de riso.
– Adoro estar com ela.
– Tem certeza que é só amigo dela?
– Se que saber se namoro a sua filha, não, eu não a namoro.
– Não me preocupo se ela te namorar, ou melhor, me preocupo com você – riu um pouco. – Minha filha é uma pessoa bastante ácida.
– Não me leve a mal, mas não acho que essa seja a hora certa pra o senhor se preocupar em explanar os defeitos da sua filha mais velha.
– Percebo que a tem um bom garoto apaixonado por ela – o olhou irritado e ele riu. – Tudo bem, não falo mais nisso.

– Quem são os familiares da senhorita ?
– Eu – e Marcelo falaram juntos quando o médico chegou perguntando.
– Ela está dormindo agora, mas se quiserem podem entrar – ele olhou para as quatro pessoas e disse: – De dois em dois.
– Podem entrar vocês – Mandy disse para e Marcelo.
– Entra com ele – pediu.
– Claro.

– O senhor se sente culpado?
– Não posso carregar esse fardo, foi uma escolha dela. Mas me sinto mal e cada dia mais preocupado.
– Não sei como consegue.
– Consegue o quê?
– Ficar assim, tão calmo.
– Eu não estou calmo, estou aliviado. O pior não aconteceu. Queria que eu ficasse como a Kátia?
– Vocês tão errando com ela, ou melhor, com elas.
Marcelo a encarou.
– Você é nova demais menina.
– Justamente, tenho pouco mais que a idade da , não sei se aguentaria tudo isso. Tanto você quanto a sua ex-esposa são adultos, deveriam envolver menos as duas nisso.
– Como pode ter visto lá fora, sua amiga e patroa parece bem – disse se referindo a .
– Ela não querer falar com você só mostra o contrário. Espero que um dia vocês se entendam.
– Pode parecer mentira, mas também espero.

– Você tá bem? Quer dizer, na medida do possível – disse.
– Hospital não é o meu lugar preferido – ela forçou um riso. – Mas poderia ter sido bem pior. Na verdade, nem acho que ela quis se matar, ela só queria mesmo atenção.
– Não fique irritada com ela.
– Não estou. Se eu ainda tivesse a inocência de achar que um fato desses resolveria as coisas, acabaria fazendo. Mas eu sei que não resolvem.
– É.
De repente parou de frente pra , o que fez com que ele parasse também.
– Parece que tá tudo contra mim, que o mundo resolveu se revoltar, mas você estar aqui faz tudo melhorar.
– Eu não sou muito dessas coisas de o mundo contra mim, de conspiração, mas quero que saiba, que se precisar eu estou aqui. Seremos eu e você contra isso tudo, estou contigo.
se jogou nos braços dele para abraçá-lo. ficou um pouco surpreso com o ato, tirando as vezes que eles se beijaram, não costumavam se abraçar, mas ele gostou da atitude dela.
ficou ali pensando em como o abraço dele fazia bem. E só o abraço não tinha complicações, era disso que ela precisava; por hora, apenas do abraço dele.

– Eu quero falar com a mamãe – pediu assim que acordou.
– Claro, mas primeiro queremos ver se você está realmente bem – o médico disse.
– Vocês sabem dizer se minha irmã está por aqui?
– Sua irmã é uma que se parece bastante com você?
– É o que dizem.
– Ela está aqui desde ontem, não foi para casa.
– Parece muito brava comigo?
– Não acho que deveria se preocupar com isso agora. Na verdade, não deveria se preocupar – o médico virou para uma enfermeira e falou: – Chame a mãe dela.

– Filha – Kátia já entrou no quarto segurando as lágrimas.
– Mãe, você tá bem?
– Você não deve se preocupar comigo agora, se preocupe apenas com você. Meu Deus, eu me sinto tão culpada. , me desculpa, por favor, desculpe-me por tudo. Eu, eu...
– Mãe – a menina falou chorando. – Por favor, não faz isso. Você não é culpada. Eu só, eu só queria passar as minhas dores, mas você não é culpada por elas.
– Claro que sou, mas desculpe-me – disse, limpando as lágrimas. – A quer falar com você.
– Ela tá muito brava?
– Não me parece brava.
– Pede pra ela entrar.
Kátia foi chamar a filha e depois voltou com ela.
– Mãe, será que você poderia nos deixar a sós? – pediu.
– Claro – Kátia falou e saiu do quarto.
, eu quero que você não se sinta culpada por na...
– Eu não me sinto culpada, se é isso que tá te preocupando.
– Você está brava, não está?
– Deveria, se quer saber, eu deveria. Mas não estou.
– Sério?
– Sabe o que isso tudo me ensinou? Que eu não vou aguentar por muito tempo se continuar com essa mania de levar todas as dores de vocês comigo.
, me desculpa.
– Você não precisa se desculpar, não menti quando disse que não estava raiva, porque não estou. Queria ter a mesma inocência sua de achar que tudo se resolveria assim, infelizmente não tenho. Mas apenas não dá, entende? – a menina engoliu o próprio choro. fez o mesmo.
– Você vai passar por um acompanhamento psicológico e vai ficar tudo bem. Acho que isso obrigou a mamãe a ser mais forte, e mesmo que não, ela também vai ficar bem.
– E você?
– A partir de hoje vou ficar. Cada um de nós agora será responsável por si, e a primeira coisa que vou te ensinar é: Não é tomando um monte de remédios que as coisas vão ficar melhores, entendeu? – ela praticamente gritou e começou a chorar. – As coisas não se resolvem assim, ao menos não para as pessoas que ficam aqui sem você. Não funciona assim. Não funciona – agora as duas choravam. – Se funcionasse, provavelmente ninguém mais estaria nesse mundo. Você vai embora, e os que ficam? E a culpa que fica pra cada um? A dor? A saudade? Não funciona, – começou a limpar as lágrimas e continuou. – Você já é grandinha, e agora que sabe que isso de nada iria adiantar, vai fazer as sessões com a psicóloga e vai tentar ficar bem. Por que ainda somos as mesmas pessoas de antes da separação de nossos pais. Isso não é o fim do mundo. Existem milhares de pais separados e provavelmente vão surgir outros milhares. Eles não são os primeiros nem os últimos. A vida segue bem mais fácil se você aceitar isso. Por que acredite, é mais fácil lidar com separação do que com a perda de alguém.
As duas ficaram ali, se olhando em silêncio. Precisavam daquele momento pra digerir tudo.
– Amo você, – e foi abraçar a irmã que a abraçou de volta.
– Também te amo, .

***

– Você sumiu esses dias, eu estava ficando preocupado.
– É, eu estava precisando de um tempo. Sabe como é, os últimos dias não foram fáceis.
e estavam no “lugar deles” conversando e olhando a bela vista que tinha.
Enquanto ele estava com os braços apoiados nos joelhos, ela estava sentada com as pernas sobre a grama e arrancava algumas delas.
– Eu nem te agradeci por tudo que você fez por mim, peço desculpas por isso – começou a dizer olhando para frente.
– Não precisa agradecer por nada – disse.
– Claro que precisa, – virou para ele e falou como se fosse óbvio.
– Você ainda não entendeu, não é mesmo?
– Entender o quê? – perguntou curiosa.
Ele riu.
– Faço isso porque gosto de você, . Não precisa agradecer por algo que faço de maneira quase involuntária. Não é como se eu escolhesse fazer isso sempre, é quase como fazer fosse o que me resta.
escutou aquelas palavras em silêncio e virou para frente para poder absorvê-las.
“Será que devo o lembrar que um dia desses ele estava quase comendo uma menina no meio da faculdade?” Pensou ela.
Mas ela sabia que não deveria falar isso, afinal qual o grande motivo para ela citar aquele acontecimento? Ele era solteiro e beijava quem quisesse. Então ela escolheu fazer o mais correto a seu ver, ignorou aquilo.
– É, bom... – começou a falar, já que não falava nada. – Mas, como você tá?
– Acredite se quiser, mas eu estou bem.
Olhou pelos cantos dos olhos para ele, e o mesmo a encarava como se não acreditasse.
– Não duvide de mim, não costumo mentir pra você.
– Suspeito que você mentiria super bem, se isso fosse pra manter sua pose de forte e inabalável.
– Já baixei minha guarda e me mostrei pra você diversas vezes, não é como se eu precisasse fazer isso contigo.
– Faz sentido – disse e riu. – Então você está bem mesmo?
– Estou. Percebi que se eu continuasse com essa mania de querer me responsabilizar por tudo, eu iria pirar. Meu pai e minha mãe já são adultos, minha irmã já é grandinha o suficiente. Não posso querer me culpar pelos erros deles.
– Nem mesmo a mais forte das pessoas aguentaria o peso de carregar as dores e problemas do mundo.
– Você sempre tem a coisa certa a dizer, sabia? – ela perguntou com um sorriso tímido.
– Sabe como é, nasci assim – falou como se fosse uma estrela.
– Ah, não seja idiota. Não estrague as coisas, o clima estava ótimo – comentou rindo e ele a encarou com um sorriso brincalhão no rosto.
– Então tinha um clima rolando? – ele indagou com uma sobrancelha levantada.
– O quê? Ah, não seja ridículo.
– Foi você quem disse! – falou rindo.
– Você é babaca – falou rindo e foi se levantando.
– Ei – ele puxou pelo braço dela, de maneira que ela ficou inclinada. – Pode admitir.
Ela começou a rir.
– Não sou uma das suas, .
– O que quer dizer com isso? – perguntou curioso e brincalhão.
– Que você não vai conseguir pôr palavras na minha boca e depois me empurrar numa árvore e me beijar.
Puxou o braço e começou a andar, ainda rindo.
– Ei, , volte aqui.
– Vou continuar andando – ela disse rindo.
Ele correu até ela e a puxou pelo braço, ela se virou e seus corpos ficaram colados.
– começou a falar formalmente enquanto a puxava para mais perto e deixava suas bocas bem próximas. – Você está com ciúmes de mim?
Por um segundo foi difícil para raciocinar sentindo o hálito de tão perto e quase dentro da sua boca. Mas rapidamente ela colocou um sorriso cínico no rosto e devolveu-lhe uma boa resposta.
– Que tal voltar a dormir, ? Quem sabe assim você termina seu sonho.
Soltou-se dele e começou a voltar a andar.
ficou ali, parado, olhando-a e pensou o quanto ele gostava ainda mais dela quando esse jeito marrento voltava. Porque ele podia até gostar de todas as faces e jeitos de , mas foi aquele jeitinho imponente e extremamente provocativo dela que o chamou atenção. Era esse jeito que o deixava ainda mais louco.
– Você não vem? – ela virou pra trás e gritou.
– Vou sim – correu e a acompanhou.


Capítulo 12

– Mas você tá bem? – perguntou, olhando nos olhos dela.
– Vou ficar – respondeu, sorrindo.
Por algum motivo, o professor carrasco de cultura digital ainda não tinha chegado.
– Mas e você? Desde que aconteceu todas aquelas coisas que a gente só fala de mim.
– Eu estou bem, quer dizer, nada que se compare a sua situação – disse.
– Relaxa, que a minha deu uma melhorada.
– Sabia que o e a Mari estão oficialmente se pegando? – ele perguntou de um jeito engraçado.
– Sério? Fico feliz por ele, sei lá, ainda me sentia um pouco culpada em relação ao pouco que rolou entre a gente.
– Você não teve culpa do que aconteceu, ninguém teve. Embora indiretamente ele ainda me culpe um pouco.
– Não sei o que é preciso fazer para ele tirar da cabeça essa coisa de que você foi o motivo.
– Não fui? – ele perguntou rápido.
– O quê? – foi a vez dela perguntar, surpresa.
– Não estou dizendo que acho que fui o motivo principal, mas eu não tive nada a ver com a falta de envolvimento de vocês dois?
– Que pergunta é essa? Eu já disse que não.
Será que ele não percebia que ela odiava quando insinuavam que ela trocou um amigo pelo outro. Afinal, aquilo nem tinha acontecido de fato.
– Relaxa – disse, como se soubesse que ela estava irritada. – É só que, a gente já ficou. Quero dizer, – se aproximou dela pra explicar melhor as coisas. – eu não beijei e fiz acontecer aquilo sozinho.
– Não estou afim desse papo, okay? – levou a mão até a bolsa para pegar um livro.
– Ei – ele segurou a mão dela. – Não é uma coisa de outro mundo se você sentir algo como eu sinto por ti.
– Acontece, – ela puxou a mão. – que eu não acredito nem nos seus sentimentos por mim.
E abriu a bolsa para pegar o livro.
– Por que você não acredita? – perguntou, mas fingiu já ter começado a leitura. – Hein, , por que não acredita?
Ela continuava calada, mas tinha vontade de dizer: ”Por que você diz que gosta de mim, mas se agarra com outra garota.”
Mas sabia que o melhor era ignorá-lo, gostava de vê-lo irritado e como depois isso só o fazia a tratar melhor.
– Eu estou falando com você – ele baixou o livro da mão dela irritado.
– Uma coisa que você tem que entender: a conversa termina quando eu calo.
Levantou com o livro na mão e foi saindo da sala.
– O professor vai chegar, vai perder a aula?
– Sou inteligente o suficiente para correr atrás depois. Não se preocupe comigo.
Ele sabia pra onde ela estava indo, com toda certeza iria ler no lugar deles, e ficou tentado a ir até lá conversar com ela e dizer que ele gostava, sim, dela.
Como ele era idiota, ela o tratava de maneira grosseira e ele estava ali, morrendo de vontade de correr atrás e se declarar pra ela.
“Você é uma vergonha para os homens, . Uma vergonha”, pensou de si mesmo.

– Pensei que fosse perder essa outra aula, também.
– Só estava lendo um pouco, não precisava se preocupar. Teve algo importante?
a olhou e teve ainda mais certeza que não era o tipo de garota normal.
Primeiro ela sai da sala, claramente irritada. Depois ela volta e fala com ele como se nada tivesse acontecido.
.
Ela virou para ele.
– O quê? – perguntou com um sorriso.
– Você é a garota mais estranha que eu conheço.
– Como? – riu, confusa.
– Você é a garota mais estranha que conheço – ele repetiu. – Só queria deixar isso registrado.
Ela o olhou, sorrindo.
– Tá bom, então.
Quando ele ia virando para olhar para frente, ela tocou no ombro dele, e virou-se para ela.
– O que seria dessas aulas se eu não tivesse você pra fazer comentários como esse e melhorar meu dia? – fez a pergunta com um sorriso nos lábios.
– Eu deveria te odiar por fazer isso – falou, e virou pra frente.

– E você e o ? Fico feliz por estarem juntos, mas você deveria ter me contado antes – Gih falou para Mari, enquanto as duas andavam juntas pelo corredor da faculdade, rumo à porta principal.
– Eu precisava ter certeza que ali era possível sair algo. Primeiro por causa do lance com a , depois porque o nunca fez a linha homem de uma mulher só, foi a primeira a conseguir isso.
– Isso é verdade. Mas não acho que ele vá brincar com você, como fez com as outras.
– Hoje eu também acho que ele não vá fazer isso – falou, sorrindo. – Parece que estamos mesmo firmando algo.
– Que bonitinho! – Gih exclamou. – Vai ser fofo se vocês namorarem de verdade.
– Falando sobre Mari e ? – chegou passando os braços ao redor das duas.
– Er... – Mari virou, claramente desconcertada.
– Que foi?
– É que nós duas ainda não falamos direito sobre isso, e eu sei que deveria ter conversado com você antes. Mas você me parece tão bem sem ele, na verda...
– Mari, e eu fomos algo que aconteceu lá trás. Não vejo e não verei mal algum em vocês dois estarem juntos.
– É que vocês tiveram algo...
– Mas passou. Não deu certo justamente por falta de sentimento, e se ele está com você é por que não há dúvidas que esses sentimentos também não existem mais da parte dele.
– Não vai ser estranho se a gente se beijar na sua frente?
– Acho que no início vai ser um pouco engraçado e talvez desconfortável para os três, mas não por sentimentos. É só por saber que aquilo já rolou entre as outras pessoas. Mas depois acostuma.
– Meu Deus! – a menina exclamou com aquela voz de criança. – Vão achar que entre a gente existe algum tipo de rodízio ou santo casamenteiro.
– Hã? – Gih e perguntaram juntas, confusas.
e não estudam aqui, mas andam conosco. Daí dá uns pegas no , namora o . Você ficou com o , hoje eu fico com ele, e ainda tem você e o , só a Gih que não tá no meio disso tudo.
– Ainda bem, né?! Talvez isso seja proibido para menores de idade.
As outras duas riram e até pensou em falar que não tinha nada com , mas isso não iria adiantar, e outra, ela realmente não sabia se isso era verdade.

“Próxima semana é o aniversário da Gisele, mesmo com dezoito anos, queremos fazer algo mais calminho. Os pais dela estão nos achando festeiros demais para a filha deles hahaha. Estamos pensando no boliche, que tal? –

estava deitada na cama escutando músicas, quando recebeu a mensagem.
Ela riu do pensamento dos pais de Gisele; ela também achava os amigos muito festeiros. Viu o que os amigos pretendiam e achou boliche uma ótima ideia. Só não sabia se Gih iria curtir uma festa menos adulta, ela não gostava de ser a criança do grupo.

“Acho uma ótima ideia. Mas tem certeza que ela não quer marcar essa data com coisa adulta? –

“Ela ainda é mais nova que a gente, então tem que acatar nossas ordens e vontades rsrsrsrs. Fica fechado o boliche mesmo. –

“O senhor é quem manda hahahaha –

“Bom saber que mando em você, mesmo que de vez em quando –

“Não me faça desistir, e não se acostuma. É só por que quero :p –

riu da mensagem dela, em partes ele era obrigado a concordar com ela. Se alguém tinha o poder da palavra na amizade do dois, esse alguém era ela. Talvez porque ele estivesse sendo um pouco trouxa, ou talvez por que ela fosse mesmo boa nisso.
Vai saber.

***
– Amanhã nossa criança passa para fase adulta – apertou as bochechas rosadas da menina. As pequenas forças dos apertões as deixaram vermelhas e ele riu. – Amo te ter como amiga, sua bochechas são as coisas mais legais em você.
– Idiota – bufou e deu uma tapa para ele soltá-las.
– Engraçado é que a Gih vivia indo pra balada com a gente, agora que realmente tem idade, vamos pra o boliche – falou.
– Chega de festas direto, você sempre volta quase carregado pra casa. Queremos fazer uma coisa diferente do que a gente faz direto.
– Tudo bem, papai – abraçou .
– Você são tão gays – Gih falou rindo e riu também.

– Que bom que você não escolheu ir de lá da casa do , a disse que só poderia chegar ao boliche mais tarde e eu não queria ir sozinha de taxi.
– Por que não pediu pra o vir te buscar?
– Não quero.
a encarou e ficou mexendo o maxilar com cara de pensativa.
– Quais as chances de vocês já terem tido algo e você não ter me contado?
– Como? – foi impossível não arregalar os olhos.
– Você me ouviu, . Quais as chances de já ter acontecido isso?
– Nenhuma – afirmou, mas ainda a olhava desconfiada.
– Você sabe que não consegue mentir pra mim por muito tempo, não sabe?
– Eu e o não temos nada.
– Não vai perder a pessoa certa por causa desse seu jeito, por favor.
– Ele não é a pessoa certa pra mim, não sou a pessoa cera pra ele.
– Não posso imaginar uma pessoa melhor pra você, ele te aguenta como quase ninguém.
– Ele é meu amigo – falou como se fosse óbvio. – É o dever dele.
– Desisto!

– Eita, esse lugar me faz lembrar de cada coisa – disse enquanto Mari arrumava o vestido em seu corpo.
– O quê?
– Nada, nada. Bobagem minha.
Os dois começaram a andar, até que ele pegou a mão dela e encaixou na sua.
– Mãos dadas? – a menina perguntou surpresa.
– Estamos ficando, normal.
Segurou mais forte a mão dela e entraram juntos no boliche.
– Mãos dadas? Parece que temos um novo casal de verdade – falou, assim que soltou Mari e se juntou aos amigos.
– Não tem nada demais em mãos dadas.
– Claro que tem – afirmou.
– Estamos ficando, é normal. Ah, e só não me roube essa também – ele disse rindo, para .
– Eu não fiz isso – falou, como se tivesse cansado de repetir isso.
– Tudo bem, relaxa. Você fez, mas eu não me importo.
ficou encarando os dois amigos, sem saber se o clima estava mesmo bem para “relaxar”, mas já que ninguém gritou nem perdeu a razão, estava tudo ao menos, mais ou menos bem.
Alguns minutos depois chegou.
– Cheguei, meu povo – ela disse um pouco mais espevitada que o normal. – Parabéns Gisele, tudo de melhor pra você, baby Love. – disse, abraçando a menina, e as duas rindo.
– Obrigada, .
– Agora que o time está completo, bem que podíamos nos dividir em dois times e jogar um pouco – sugeriu.
– Ótima ideia – falou e todos concordaram.
– Eu escolho o time junto com outra pessoa. Alguém?
– Eu – respondeu.
– Tudo bem. Eu dei a ideia, eu começo – disse. – Eu escolho a Gisele.
– Eu fico com a Mariana.
– Eu escolho o mais perfeito, – todos riram.
.
A menina olhou surpresa.
.
.
.
– Eu fico só marcando os pontos, melhor – falou. – Assim o time fica igual.
– É, pode ser.
– Vou pegar uma refrigerante antes de começarmos – disse.
– Vou com você – falou e saiu ao lado dela.
Na volta, falou:
– Lembra daquele nosso encontro aqui? , Flávia, você e eu.
– Lembro sim – afirmou, um pouco incomodada em lembrar-se de algo com ele.
– Naquele dia eu te dei o primeiro beijo, mas foi naquele mesmo dia que comecei a te perder pra o .
– Você não me perdeu pra ninguém, só não demos certo.
– Lembro direitinho de você rodando nos braços dele, naquele local ali – apontou. – Flávia sacou na hora que tinha algo errado.
, porque estamos falando disso mesmo?
– Por que queria saber se você se lembrava de como o boliche acabou com tudo.
– Não teve nada a ver com o boliche. Ficamos várias outras vezes depois disso. E o pior daquele encontro não foi aqui.
– Como? – ele perguntou confuso.
– Eu não gosto de peixes e você levou pra um lugar que serve exatamente isso. Fora que eu achava que seria só nós dois.
Ele balançou a cabeça enquanto sorria.
– Quanta catástrofe pra um dia só. Bem que poderíamos repetir, mas dessa vez fazendo do jeito certo.
De começo, achou que tinha entendido errado, então resolveu se calar. Mas logo ele disse:
– E aí? O que acha?
– O que eu acho? – perguntou metade confusa, metade indignada.
– É, poderíamos tentar fazer certo.
, o que foi que te deu?
– Como?
pôde sentir seu sangue ferver. Onde ele queria chegar com aquilo?
– Que tal você perguntar o que a Mari acha?
E saiu irritada.
apenas riu e saiu atrás dela para se reunir com os amigos.

, não estou me sentindo bem. Será que você poderia ficar no meu lugar e eu marcar os pontos? Sou péssima mesmo.
olhou para a menina, um pouco preocupado. Logo que ela percebeu, mexeu os lábios, dizendo:
– Nada demais.
– Tem certeza que não quer jogar? – perguntou.
– Tenho, não estou muito bem. Pode jogar no meu lugar?
– Claro – respondeu com um sorriso.

– Será que podemos dar uma paradinha? Estou cansado – pediu, e alguns deles afirmaram a mesma coisa.
– Tudo bem, dez minutos – estava mesmo empolgado com aquele jogo.
começou a ir em direção de Mariana, e assim que chegou lá sorriu para ela e a puxou para um beijo. Tudo isso aconteceu sobre o olhar atento de , que ainda não entendia o que foi aquela conversa que os dois tiveram.
pôde perceber o quanto Mari estava envolvida com ele. Ela sorria, ficava meio boba quando ele falava algo em seu ouvido. Ou a conversa era bem engraçada, ou a menina estava claramente indo ladeira a baixo nessa coisa de paixão.
Enquanto olhava o casal, a encarava.
– Fixação na até no meu aniversário? – Gih chegou por trás, jogando os braços em torno do pescoço dele.
– Só estava olhando o ambiente. Ela que me parece fixada em algo.
– Me diga que não está com ciúmes dela com o . Ele tá com a Mari, e fora que ela foi quem o deixou.
– Não estou com ciúmes de ninguém, mas respondendo as suas afirmações. Ela pode se arrepender e sabemos do caráter falho do em relação a mulheres.
– Se existe alguém aqui que tem chances com a , esse alguém é você. Relaxa.
Gih deu um beijo no rosto do menino e saiu em direção aos outros.
Depois dos dez minutos de descanso – que na verdade foram vinte – os times voltaram a jogar. Algum tempo depois decidiram que já estava na hora de ir embora.
– Vou dormir na casa do , se importa de voltar sozinha?
– Pode ir, eu e a dividimos o taxi.
– Acho melhor o levar você, tá tarde pra pegar táxi.
– O vai levar a Gih, vamos de táxi mesmo.
– Eu o quê? – chegou perguntando.
– Estou dizendo que você vai levar a Gih, e eu dividimos um táxi.
Ela já sabia o que estava por vir. Ele diria que não se importaria em levar as duas, ela negaria, diria que ele estava certo, chamariam para perguntar o que ela achava, depois a Gih, e por fim iriam no carro dele.
Acontece que nada disso aconteceu.
– Ah sim, vou mesmo levar ela. Talvez seja melhor já ir ver se tem algum lá fora, qualquer coisa tenho um número.
e até mesmo , o encararam surpresas.
– Não precisa, também tenho um número – foi o que respondeu antes de ir em direção à .
, vamos?
nos chamou pra ir a um pub aqui perto, que tal?
– Não vai ficar muito tarde pra voltarmos de táxi?
! – o chamou e ele foi em direção a elas. – Que tal passarmos em um pub? e dispensaram, mas você bem que poderia topar, daí depois levava a gente em casa.
– Eu super topo – Gih surgiu gritando animadamente por trás. – Agora eu tenho idade, podemos ir a um diferente do de sempre.
torceu para que não topasse, não estava no clima para pub, para nada. Aquela conversa com ainda estava queimando na sua cabeça e isso estava a fazendo perder qualquer empolgação pra tudo.
– Pode ser, então – respondeu, mas também não parecia empolgado.
Na verdade, ele só topou porque já que era o dia da Gih, ela valia o esforço.
– Então, vamos nessa.
, você me leva em casa, okay? – perguntou.
– Okay, folgado.

– O que você tem, hein, ? – perguntou assim que chegaram ao pub.
– Nada, só não estou muito no clima.
“Ciúmes do ?” pensou em perguntar, mas estava meio óbvio que sim. Ao menos na cabeça dele.
Entraram no local e enquanto todos foram para um espaço onde tinha algumas pessoas dançando, preferiu ficar mais afastada. olhou aquilo e só conseguiu pensar que a garota que ele gostava, estava enciumada por causa do ex dela, e ele sempre achou que foi um dos motivos dela o ter deixado. Mas como ela mesma dizia, ele não teve nada a ver com isso.
Resolveu ir até ela.
– O que aconteceu que você não quis mais jogar, ficou toda estranha e agora tá aí toda distante? – chegou perguntando.
–¬ Eu só não estava com vontade de jogar e nem estou com muita vontade de estar aqui – respondeu sem o olhar direito.
– Você ficou assim depois que foi comprar refrigerante com o – ele constatou.
– Nossa, que observador, você – disse com sarcasmo. – Que tal ir dançar, ? Não estou para muito papo, vai se divertira ao invés de ficar fazendo teorias sobre mim. Okay?
Ele olhou pra si mesmo e depois para ela. Ela sendo a estúpida de sempre, e ele novamente pensando em como puxar conversa com ela, saber o que estava acontecendo.
“Você é um trouxa, Pensou de si mesmo. “Acontece, que hoje você não será assim.”
– Ótima ideia, . Se eu fosse você faria o mesmo, ao invés de ficar se importando tanto com o namoro do – e saiu.
“Ele está achando que eu estou com ciúmes? É mesmo um idiota” Pensou.
achando que estou com ciúmes, e enquanto isso eu fico aqui preocupada se a Mari está se metendo em roubada, ou não – falou pra si mesma. – Uma água com gás, por favor – pediu ao barman e ele a olhou impressionado.
Quem vai a um pub e pede água com gás?
percebeu o olhar do rapaz, mas resolveu ignorá-lo.
No caminho até onde os amigos estavam dançando, pensou que estava na hora de fazer sentir ao menos um pouco do que ele sentia, que estava sentindo. Se ela o beijava, se importava um pouco, mesmo que de forma mínima, e ele curtiria aquela noite até que essa pequena parte dela ficasse enciumada o bastante.
Gih estava vindo para perto dele na intenção de dançar, mas ele a olhou e apontou para duas garotas sentadas em uma mesa, dando a entender que hoje não dançaria com amiga nenhuma. A menina entendeu o recado, sorriu e também foi procurar alguém pra dançar.
– Gostariam de dançar? – ele perguntou assim que chegou à mesa das garotas.
– Qual de nós duas? – uma delas perguntou.
– Pensei que nós três poderíamos nos divertir juntos – disse com um sorriso que costumava usar poucas vezes. chamava de: bom sorriso; de: sorriso que não é do e , que sempre é mais direto, chamava de: sorriso vagabundo.
– Não gosto de dividir nada, docinho – a outra disse rindo. – Que tal você dançar primeiro com ela e depois dançar comigo? Daí pensamos se dançamos nós três, ou não.
– Se você estiver de acordo? – ele indagou para a primeira, dando-lhe novamente o mesmo sorriso.
– Acho uma ótima ideia – respondeu e lhe deu a mão, que ele segurou ainda sorrindo e os dois caminharam.
tomava a água calmamente e não prestava atenção em realmente nada. Apenas virava a cabeça fingindo olhar o lugar, mas sua cabeça não estava ali. Até que viu dançando animadamente com uma menina.
Ela riu. Isso pode soar bastante egocêntrico, mas ela estava impressionada que ele estivesse mesmo dançando com alguém e não perto dela, tentando ter certeza se ela estava ou não com ciúmes de .
Continuou a olhar o lugar e viu que agora dançava com outra, que coincidentemente ou não, lembrava um pouco a outra, pensou que talvez fossem primas, ou então só gostassem do mesmo estilo.
Enquanto prestava atenção na semelhança das duas, viu a garota se esfregando ao máximo em . Ele ria e sussurrava coisa no ouvido dela.
– Não vou ficar vendo isso – disse pra si mesma e virou o rosto para um canto qualquer do pub.
Nesse canto tinha uma mesa onde um rapaz a olhou e sorriu. Ela virou e resolveu ignorá-lo. Não estava para paqueras. Na verdade, não estava para paqueras, nem para pubs, nem para música, muito menos para , ciúmes, e pior ainda, ciúmes de .
Mas foi impossível não olhar para onde ele estava dançando com a garota. Ficou pensando o que raios ele falava no ouvido da menina que ela ria tanto. Ou era algo muito engraçado, ou aquela menina não sabia fechar os dentes.
Ele segurava a cintura da menina e ela colava o corpo ainda mais, se é que era possível, nele. Os dois agora riam com certeza de alguma safadeza que um contou ao outro. sentiu seu corpo ferver com isso.
O que tinha dado em , afinal? Ele não deveria estar dançando com uma garota qualquer que ele encontra no pub, ele deveria estar ali, perguntando o que ela tinha, se preocupando e mostrando que gosta dela.
Quase pediu algo com álcool ao barman, mas ao invés disso pediu outra água com gás.

, de vez em quando olhava disfarçadamente em direção a , e nesses olhares percebeu mais de uma vez que ela o encarava. Parecia que o plano estava dando certo.
viu que a amiga estava longe de curtir aquele lugar e foi até ela para saber o motivo. Afinal, ela já não estava bem antes mesmo de ir ao pub, mas pela cara, algo tinha piorado tudo.
– Que cara é essa? – foi logo perguntando. – Que cara? - perguntou. – Essa cara feia – respondeu, apontando para o rosto da amiga. – Sinto muito, . Mas eu posso trocar de roupa, sapato, até cabelo, mas cara eu só tenho essa – respondeu sem paciência. – Lembre-me de nunca ser legal com você – falou e saiu de perto da amiga. ficou olhando de longe e estava bastante satisfeito, parecia que finalmente estava na frente naquele jogo. Riu sozinho, deu um beijo no rosto da menina que dançava com ele e foi até onde estava. – Por que você está aí parada? Procura algum par pra dançar – sugeriu no maior cinismo. – Eu não gosto de dançar, e se me der licença, vou para aquela mesa – e apontou para a mesa no canto, onde estavam três rapazes e uma garota. Ela tinha passado a noite inteira evitando os olhares de um deles para ela, mas sabia muito bem quando estava sendo cínico, e era isso que ele estava fazendo naquele momento. E se ele achava que sabia mexer com ela, estava na hora de mostrar a ele que ela é ainda mais esperta. – Ei – ele segurou no braço dela, quando ela começou a ir embora. – Oi – disse virando-se pra . – Você conhece aqueles caras? – Não. – Então, por que você vai? Ela deu um sorriso. – E porque eu não iria? Estamos em um lugar público, fique tranquilo que eles não vão me agarrar à força. – Você não vai. E segurou o braço dela com um pouco mais de força. – Por que eu não iria? – ela perguntou com aquele ar superior. – Porque não quero. – Uma coisa que você tem que entender: eu não faço só o que você quer. Eu faço o que eu quero. Ele soltou o braço dela e ficou ali parado. – Não tente ser mais esperto do que eu, . E deu um beijo na bochecha dele. não sabia de sentia raiva dela, de si, do cara da mesa, do plano furado dele ou de tudo. Ele só sabia de uma coisa: não era mais esperto que ela.


Capítulo 13

- Está chateada comigo? – perguntou, enquanto passava o braço ao redor dos ombros de .
- Eu?
- É – ele sorriu. – Não quis jogar boliche no meu time aquele dia.
- Vocês fez algo pra que eu ficasse chateada?
- Não sei. Eu apenas brinquei com você...
- Olha, . Eu pouco me importo se você brincou ou não, mas eu quero que entenda que eu não lhe dou abertura para brincadeiras daquele tipo. Você está com a Mariana.
- E se eu não estivesse?
Ela o encarou, incrédula.
- Sério que você está me perguntando isso?
Ele apenas sorriu.
- Vamos deixar claras as coisas aqui, que tal? Quando eu disse que não queria mais ficar com você, você por acaso estava com a Mari? Não! Então, ela nunca foi motivo para eu não te querer, o grande motivo aqui é que eu não te quero.
- Quer o . Esperta em provar dos dois amigos. – ele disse como se fosse óbvio.
- Você não pode simplesmente aceitar que a gente não deu certo e ponto? Tem que tentar arranjar uma desculpa? Não é o , não é a Mari, e até hoje também não era você, era apenas que eu não queria, mas hoje, além disso, também tem o fato que eu não gosto de caras babacas e estúpidos como você. Eles me enojam.
- Eu posso estar, e talvez esteja mesmo sendo um babaca, mas existem duas pessoas babacas aqui. Ninguém joga tanto com uma pessoa como você joga com o , . Inclusive, foi bom saber que mesmo jogando com ele existe algum sentimento no meio disso tudo, achei que ele fosse apenas um idiota como eu, mas bom saber que você ao menos se importa um pouco com ele.
- Eu não te fiz de idiota! – ela exclamou, claramente ofendida.
- Não como faz ele.
disse e saiu, rindo.
ficou ali, parada, pensando no que tinha acabado de escutar. Ela tinha certeza absoluta que não tinha feito nada de errado em relação à , muito pelo contrário, ela tentou até não sobrar mais nada. Mas se ela tinha certeza disto, por que doeu tanto escutar aquilo?
Talvez porque a culpa não estivesse no que aconteceu com , mas no que acontece com .

- Que milagre é esse você me ligando pra sair? Não é você que fala que a gente sai demais? – perguntou assim que ele entrou na casa de .
- Acho que uma pizza na minha casa, não é sair.
- Você chamou o resto da turma?
- Na verdade, não. Aproveitei que minha mãe resolveu sair com minha irmã pra ver se elas melhoram, e te chamei pra conversar.
a olhou intrigado, o que era que ela tinha?
- Tá pretendendo me matar por algo que eu não faço ideia?
- Não, seu idiota – deu uma tapa nele e riu. – É que eu estava mesmo precisando conversar com você.
- Fala. – ele disse, se jogando no sofá ao seu lado e a encarando.
- Bom, é que...
- Sem rodeios, por favor.
- Você acha que jogo com você e te faço de idiota? – temeu escutar a resposta que, mesmo não querendo admitir, parecia óbvia na própria cabeça, então emendou: - Sei lá, pode parecer que a gente se beijando eu estou te fazendo algum mal, e se for isso, a gente para.
No fundo ela mesma sabia que aquilo não era a maneira certa de perguntar, ela sabia o quanto ele a desejava, e posto daquela forma ele não ousaria perdê-la.
E foi isso que ele pensou também. Como ele poderia negar a oportunidade de ficar com ela algumas vezes?
- Claro que não, . De onde tirou isso?
- Então, você quer assim, certo?
E tinha como ele dizer que não?
- Certo.
Ela sorriu aquele sorriso que chamaria de vitorioso. Nenhum dos dois queria admitir pra si, mas ela tinha ganhado mais uma vez.
- Sendo assim, , pode me beijar.
Ele riu e sem nem pensar em negar, fez o que ela sugeriu.
Na cabeça dos dois aquilo parecia errado, idiota, estúpido, e mais um monte de coisas, mas valia a pena.
Ela não estava pronta para mais que aquilo, então, ela topava ser a vilã.
Ele queria muito aquilo, então, ele topava ser o idiota.

- Acho que chegou a hora de você ir – disse, se soltando do abraço de .
- Mas tá tão bom – ele disse, a puxando de volta para o sofá.
- Minha mãe logo vai chegar com a , então, levanta.
- Sua doçura consegue acabar com qualquer clima bom – ele respondeu rolando os olhos.
- Essa sou eu, . Acho que sabes disso.
- Claro que sei, por isso estou indo embora. – disse rolando os olhos.
- Tá com raiva?
- Não – e sorriu. – Só estou indo embora porque sei que você está falando sério. Dorme bem.
- Você também.
E já que nesse momento o tal clima de casal tinha acabado e eles estavam sendo apenas os amigos de sempre, não se abraçaram.

- No que você está pensando?
Mariana e estavam acomodados no sofá esperando que o micro-ondas avisasse que a pipoca estava pronta.
- Estou pensando no – ele respondeu.
- Em que especificamente? – ela indagou, curiosa.
- Acho que ele gosta mesmo da , não sei se isso é bom. Ela joga com ele. Usa todos.
- Ela não te usou. – a menina respondeu, tentando conter uma possível raiva.
- Como não? A gente só não ficou juntos porque ela preferiu o .
O micro-ondas alarmou que a pipoca estava pronta, mas Mari não levantou.
- Acho que nossa pipoca está pronta.
- E eu acho que é melhor você ir.
- Como? – a olhou confuso.
- Você me escutou – ela respondeu como se estivesse cansada. – É melhor você ir.
- Mari? Posso saber por quê?
- Porque é melhor você ir. – a menina disse, deixando claro que não pretendia ter que responder novamente.
- O que eu fiz de errado? Foi porque falei da ?
- É simplesmente porque eu quero que você vá. Pode fazer isso?
- Você é tão direta que às vezes me lembra dela.
Foi só ele terminar de falar pra Mariana ter a certeza: Ele deveria ir embora.
- Xau, . Até segunda-feira. – e tocou nas costas dele para que o mesmo levantasse e assim ele fez.

- Talvez seja impressão sua, Mari. Fora que obviamente, eles não têm mais nada. – Gih disse, tentando apaziguar as coisas.
- Porque ela não quer.
- Ele só disse que estava preocupado com o , isso é normal, tá na cara que ele gosta mesmo da e não sabemos até que ponto isso é recíproco.
- parecia ofendido, ele ainda se sente traído pelo e pela . Não posso acreditar que estou no meio disso.
- Para de colocar coisas na cabeça, isso é só ciúmes seu, depois passa. quer , que talvez também queira ele e que claramente não quer e quer você.
- E se ele não quiser?
- Vai estar perdendo uma grande mulher. – dito isso, abraçou Mari que sorriu grata por ter Gih na vida dela.

e estavam naquele local que os mesmo resolveram que era só deles. A garota se encontrava entre as pernas dele enquanto ele mexia no cabelo dela e beijava seu pescoço. Estava tão agradável para os dois, mal lembravam que não eram um casal de verdade.
- Que tal sairmos hoje? – perguntou, fazendo-a virar-se para ele.
- Nós dois? – ela perguntou surpresa.
- Sim – ele respondeu com naturalidade.- E quem mais seria?
- É que tirando aquele dia que você foi lá pra casa, o que não foi bem uma saída, nós nunca saímos sem o pessoal.
- Vai querer ir?
Ela parou um pouco para avaliar as opções, será que isso não iria parecer coisa de casal?
- E se chamarmos os pessoal?
- Esquece – ele riu sem humor. – Não vamos.
o olhou, surpresa.
- Por quê?
- Eu queria sair com você, não com eles.
- , é que é estranho.
- Relaxa, não vamos.
A menina calou, sem saber direito o que dizer. Ela não queria o deixar chateado, mas também não achava que devesse sair com ele - embora quisesse.
lutou com todas as suas forças para agir naturalmente e voltou a beijar o pescoço dela, mas não aguentou por muito tempo, logo a chamou para irem embora.
- Vamos? – disse levantando-se.
- Já? Por mim ficava mais tempo.
- Se quiser, pode ficar, mas vou descer. Já devem estar nos procurando.
- Você vai descer e me deixar aqui? – não conseguiu esconder sua surpresa e percebeu o quanto ela já estava acostumada em vê-lo fazendo todas as suas vontades.
- Tô te chamando pra ir, mas se quiser ficar, posso fazer o que?
- Ficar aqui comigo. – ela disse como se fosse óbvio e ele riu.
- Acontece que eu quero descer. Cada um com suas vontades.
- Tá com raiva pelo lance de sairmos?
novamente sorriu.
- Eu não posso simplesmente querer ir embora?
- Pode.
- Então, pronto. Eu quero. Vai agora?
Mesmo a contragosto ela respondeu:
- Vou.

- VOCÊ NÃO PODE SIMPLESMENTE ME LIGAR E DIZER QUE NÃO ESTAVA PREPARADO PARA ISSO?
Assim que chegou em casa, escutou sua mãe gritar sem se preocupar com os tímpanos de ninguém daquela casa.
- O QUE?
- O que tá acontecendo? – elas falaram praticamente na mesma hora.
- Eu não quero saber, Marcelo – dessa vez, o tom de Kátia estava mais baixo. – Você achava o que? Que seria fácil manter duas casas? Sua filha chegou, vou desligar.
Assim que Kátia desligou, sua filha a olhou com uma das sobrancelhas erguidas, esperando respostas.
- Não me olhe como se eu fosse uma louca.
- Não estou te olhando assim – ela respondeu, logo.
- Mais ou menos – Kátia deu um ar de riso. – Ele acabou de me ligar, dizendo que não vai poder ajudar financeiramente em nada. Como você já disse uma vez: é obrigação dele.
- Onde está a ? – perguntou, logo se preocupando com a irmã.
- Fica calma, ela não está aqui. Saiu com as amigas.
- Você está coberta de razão em exigir algo, mas, por favor, tente fazer isso da melhor forma possível. Temos a loja, não é algo tão emergencial. Não vamos piorar as coisas para a .
- Claro – Kátia respondeu e depois levantou para abraçar a filha.
Seria engraçado se não fosse tão pesado pra o fato dela, às vezes, ser a mãe da casa.
- Que bom que você tão madura, filha.
- Você que me educou assim. – responde e logo depois beijou o topo da cabeça da mãe e subiu para o seu quarto.

”Talvez, seu convite para sairmos juntos seja mesmo uma ótima ideia. –
olhou a mensagem e ficou sem entender nada.
“Nós dois sozinhos? Esquece isso :p . –
“Perdeu a vontade? –
“Estou com os meninos agora, você tava querendo sair?”

Ela sabia que se respondesse que sim, provavelmente ele diria que já estava indo busca-la, mas ela não queria ter que pedir, ele deveria chamar sem precisar perguntar. Não estava óbvio que ela queria?
“Até pensei, mas acho que vou dormir. Estou cansada demais. Beijos :*”
“Orgulhosa demais pra admitir” pensou e sorriu com isso.
“Okay, então. Bom sono. :*”
Se ela não admitia, não tinha porque ele fazer nada por ela.

- Quando você vai voltar a ficar bem comigo? – jogou o braço por cima do ombro de Mariana.
- Eu estou bem!
- Me mandou pra casa sexta-feira, não me ligou o fim de semana inteiro, me ignorou ontem...
- Eu falei com você ontem.
- Não como deveria.
- Agora existe maneira certa de falar contigo? – ela perguntou, rindo.
- É que...
- BOM DIA, MEU MAIS NOVO CASAL FAVORITO – chegou aos berros abraçando os dois e interrompendo a conversa.
Mariana fez uma nota mental de agradecê-lo depois.
- O que te deu? Não acha que é cedo demais pra beber ou pra surtar? – indagou enquanto tentava se livrar do abraço do amigo.
- Não estou surtado, nem bêbado. Só estou feliz – disse e abriu um sorriso que mostrava todos os seus dentes.
- Pegou quem? – foi a vez de Mari demonstrar interesse na felicidade do amigo.
- Mas que palavras feias pra uma menina falar. – ele fingiu reprovação e ela lhe mostrou a língua. – Da próxima vez que ela me mostrar, eu vou pegar a língua dela, escutou? – perguntou, virando-se para . – Só pra depois não dizer que não fazia ideia disso.
- Conta logo. – os dois reponderam.
- Eu não peguei ninguém, antas. Não posso acordar grato por esse dia lindo, por essa ótima faculdade que estudamos, por ter amigos como vocês?
- NÃO – novamente reponderam juntos.
- Não posso fazer nada se ambos são ingratos. Agora, se me derem licença, vou ao banheiro porque graças a Deus eu tenho saúde e posso fazer xixi.
Ele beijou o rosto de Mari e depois de e saiu rindo.
- Ele tem algo – a menina disse, rindo.
- Claro que tem, e obviamente eu vou descobrir depois.
E a verdade é que ele tinha mesmo. Era dia de ter o primeiro encontro oficial – mesmo já tendo ficado algumas vezes – com e ele tinha certeza que a noite seria maravilhosa.
E na verdade foi boa, mas não do jeito que ele esperava...

- Será que a gente não pode ir a um pub em vez desse restaurante? – perguntou alguns minutos depois de ter que esperar por um garçom.
- Hoje eu estava afim de uma noite mais calma, sem aquela música toda.
- Ah, sim – ela respondeu sem muito interesse.
odiava ter que ficar parada esperando por alguém. Ela sempre odiou ter que esperar. E aquela espera toda – que ela nem sabia se já tinha se passado tanto tempo assim ou era impressão sua – estava deixando-a louca da vida.
Depois de mais ou menos dois minutos desde sua ideia de ir ao pub, ela propôs outra coisa.
- Você não está afim de música alta, certo?
- Sim – respondeu.
- Na verdade eu também não estou muito afim, – ela disse enquanto se arrumava na cadeira – mas eu também não estou a fim de ficar esperando séculos pra poder comer.
- Ele já está vindo nos atender.
- Mas vai ser mais meio século pra colocarem a nossa bendita comida nessa mesa para que, enfim, possamos comer. Então, que tal irmos pra sua casa? A gente pode cozinhar algo ou passar em algum fastfood, pedimos pelo drive thru mesmo.
Ele queria poder ter um encontro de verdade com ela, mas a impaciência da mesma estava o deixando igualmente impaciente e já tinha estragado com todos os seus planos de noite perfeita. Comer ali ou em casa não faria muita diferença.
- Passamos em um fastfood então. – ele respondeu, já que parecia não ter outra opção.
- Ótimo.
De fato, o final da noite aconteceu da maneira que ele esperava, mas de resto, foi tudo bem diferente. Péssima noite pra uma tentativa de pedido de namoro – que não ocorreu.

estava na casa de e como sempre o assunto mais comentado entre eles tinha nome e sobrenome .
- Vocês ainda estão nessa de fingir que não têm nada?
- Nós não temos nada – respondeu como se fosse óbvio.
- Pra mim, quem não tem nada não se beija.
- Por que a gente falar isso é tão estranho, mas o e são normais?
- Quem disse que são? – indagou. – Eles são outros que não se resolvem, ou melhor, eles até que se resolvem, assumem que têm um rolo. E você sabe que o tá caidinho por ela. Fora que o papo aqui é e , não e .
- Diferente do com a , nós não temos termos nem frequência de nada, tanto faz ela agir só como minha amiga e me contar desilusões amorosas, como a gente tá se beijando.
- Vocês têm companheirismo, dude.
- O que nós temos não é isso, é só um garoto apaixonado e uma garota complicada que não quer nada sério.
- Olha que fofo – brincou e bufou. – Mas se você tá mesmo apaixonado por ela, por que não chega e vai direto ao assunto pra resolver isso?
- Porque eu sei que isso é o mais próximo do simples que vamos chegar, se eu mexer nisso, vou ficar sem nada.
- O que talvez não seja má ideia. Vamos combinar que não dá pra ficar a mercê da vontade de alguém, não é mesmo?
- Esse papo está tão mulherzinha que já nos imagino escolhendo a roupa juntos pra um encontro. Podemos parar por aqui e irmos jogar videogame?
riu.
- Tudo bem.

- Acho que o que você menos queria que acontecesse, acabou acontecendo. – falou.
- Como assim? – perguntou, sem entender.
- Estamos aqui sozinhos e parece que se ainda quisermos aproveitar a noite, vai ter que ser a dois mesmo.
Eles tinham marcado com , e Gih, mas o quase casal resolveu que não precisavam se ver aquele dia e Gisele disse que não estava afim de ficar segurando vela.
- Você falando assim passa a impressão que eu odeio ficar perto de você, e tu sabes que não é verdade.
- Seu problema não é ficar perto de mim, é as pessoas saberem que você fica perto de mim.
Ao ouvir aquilo rolou os olhos teatralmente e riu do deboche da mesma.
- Eu não tenho problema algum em ficar perto de você, acon...
- Não tem? – ele a interrompeu com um olhar e tom de voz desafiador e ela balançou a cabeça afirmando que não tinha. – Me beijaria aqui, no meio do shopping?
- Se rolar um clima, por que não? – ela respondeu, só pra provar que estava certa.
- Então quer dizer que se eu segurar sua cintura desse jeito – passou o braço ao redor da cintura dela – e beijar seu rosto bem aqui – e beijou o canto da boca dela – você vai me dar um beijo?
A menina já estava de olhos fechados e tomou aquilo como um sim e a beijou.
De fato ela não pretendia o beijar ali, na verdade nunca esteve em seus planos, mas não conseguiu se negar a fazer aquilo.
Eles eram solteiros, amigos e não deviam explicações a ninguém, então, não era um beijo que a faria entrar em um relacionamento. Pensando desta forma, ela intensificou o beijo até lembrar que sendo namorados ou não, não era muito legal ficar enfiando a língua daquele jeito na boca de alguém em público.

Depois daquele dia no shopping, ficou um pouco difícil eles não se beijarem em público. É claro que evitavam fazer isso quando tinha gente conhecida por perto, mas se beijarem e saírem juntos já não eram um problema muito grande pra nenhum dos dois.

Era sábado à noite e os dois estavam no terraço de um prédio que tinha amizade com o porteiro do mesmo.
- , o que somos? - Como assim? - ela perguntou tentando fingir que não tinha entendido. - Nós dois - ele aponta pra ela e depois pra si mesmo - O que somos agora? - Não estou te entendendo. Ele bufou. - Eu sei que você está entendendo , odeio que se finja de burra. -Mas... - ela tentou protestar chocada com a maneira que ele falou. - O que somos? - ele falou impaciente. - Amigos ué!! - Amigos não se beijam! – ele falou mostrando a obviedade da coisa toda. - Quem disse que não? Isso somos nós dois que decidimos. - Pra mim amigos não se beijam. O que somos? odiava ser pressionada. Ele não estava gostando dessa maneira? Por que complicar algo tão simples? - , nós dois continuamos amigos. Isso vai mudar só por que acabamos de nos beijar? - ela respondeu irritada - Essa não é a primeira vez, definitivamente não - ele retrucou, rindo, mas percebeu a cara fechada da menina. - E por que você ta irritada? - Porque eu odeio que as pessoas me pressionem. Você sabe disso. - Eu só fiz uma pergunta óbvia. - Então vou te responder, somos amigos que se beijam. Algum problema nisso? - Sim - ele disse olhando pra ela como se achasse que isso já fosse óbvio. - Qual o problema? - ela perguntou mais irritada. - O problema é que eu amo você, . - Você o que? - ela praticamente gritou. - Eu amo você. – ele respondeu mais alto que antes. - Você está maluco, ? É claro que você não me ama. Nunca mais fala isso. - Ela falou desesperada, deixando um pouco irritado. - É claro que eu te amo. - Cala a boca - ela gritou irritada. - Por que você tinha que acabar com tudo? Por que você tinha que mentir? Eu realmente achei que você pudesse ser diferente. - Eu não estou men... - É claro que está! Para com isso, vamos deixar do jeito que está. - Acontece que não dá do jeito que tá! E me responde uma coisa, por que você ta surtando? - Por que estou surtando? Olha o que você acabou de dizer - ela disse como se ele fosse uma criança - , somos amigos. E se isso não está bom pra você eu te dou três opções: Podemos parar de sermos amigos e consequentemente não nos beijarmos mais. Podemos continuar amigos e não nos beijarmos. Ou podemos simplesmente parar de bobeira e continuarmos do jeito que tá. Ela terminou de falar confiante que ele escolheria a última opção, afinal era a certa. - Eu escolho a segunda opção. pode sentir seu queixo cair. Pior que isso só se eles deixassem de se falar. - Você diz que me ama, mas prefere isso. - disse de maneira irônica. - Eu te amo, mas não vou ficar com alguém da maneira que ela quer só porque ela é confusa. Te amo, mas sou homem. Não vai ser da maneira que você quer. Fez-se um silêncio ensurdecedor, se é que isso existe. estava irritada demais com o que ele tinha acabado de dizer pra falar alguma coisa, e parecia sem paciência pra ela. O silêncio se desfez com o barulho de falando ao telefone. - Vocês ainda estão aí?... Tô chegando... Flw. pensou em perguntar: “Indo pra onde?”, mas nem precisou. - Levanta, vou te levar em casa. - ela continuou parada - Vem logo, os meninos estão me esperando, você vai acabar me atrasando. - Achei que hoje você fosse sair comigo. - E não saímos? Você não está em casa, está? Quer mais o que? - falou de forma ignorante. - Vai se fuder. - Ela disse, levantando-se e indo embora na frente.
Da mesma maneira fez assim que chegaram à frente do prédio. deixou que ela fosse, não estava mesmo querendo discutir. Mas viu que ela não parou em frente ao seu carro. - Pra onde você vai? - ele gritou pra que ela o escutasse. - Pra pu... - ela não terminou a frase, sabia que isso ia o deixar puto demais - Eu sei pegar um táxi. Não quero te atrasar. - Falou e continuou andando, meio que esperando ele correr até ela e a obrigar entrar no carro, mas minutos depois pôde escutar o barulho do carro, ele tinha ido embora.


Capítulo 14

- Eu não acredito que ele fez isso com você! - falou, indignada.
- Se você não acredita, imagina eu, - a amiga respondeu, bufando.
- Ele já te procurou?
- Não, e espero que não faça isso. Não estou com a mínima vontade de vê-lo.
Enquanto e falavam sem parar sobre o assunto, apenas escutava sem falar nada.
- E eu achando que o não era mais um bacaca qualquer.
Mas ao ouvir essa frase de , a mesma interveio.
- Babaca por que, ?
- É...
- Babaca por que finalmente ele resolveu ser homem, honrar as bolas que tem e parar de correr atrás da ? Babaca por que cansou de ser idiota? Ou por que fez o que qualquer um já teria feito?
- Ele me larga sozinha e você vem dar razão a ele? - praticamente gritou.
- Ele realmente não deveria ter te deixado lá, mas não dá pra dizer que a atitude dele é impossível de entender, muito menos dizer que ele é um babaca por ter cansado dos seus jogos.
- Eu não jogo com ninguém!
- Gente, vamos pa... – tentou falar.
- Não joga? Como você chama suas atitudes? Faça-me um favor - e riu. - Todo mundo cansaria disso, , ele só foi um pouco mais lento.
- Ele me deixou sozinha. - tentou argumentar.
- Eu já disse que isso foi errado, mas admita, a possível ideia dele ter realmente desistido de você te deixa muito mais incomodada.
abriu e fechou a boca algumas vezes, sem ter resposta para tal afirmação.
- Eu sei muito bem do que estou falando.
- Vou embora - foi o que conseguiu dizer.
- Ah, não! Você não vai dar uma de coitada e ir embora da casa da por causa disso, se é assim, eu vou. Fui eu quem abriu a boca sem ser chamada. Até mais.
Quando estava quase fechando a porta escutou começar a falar.
- Você e o não são tão diferentes assim! Ele está caidinho por você enquanto nós duas sabemos que você só quer curtir. Ao menos, com jogos ou não, o sempre soube que não deveria me amar. Você não é tão diferente de mim.
- Não tente jogar comigo.
bateu a porta do quarto de , furiosa. Ela tinha certeza que nunca dera esperanças nem motivos pra achar que namoraria com ela, claro que não. Mas, e se estivesse certa?
- Vou resolver isso - falou pra si mesma.

- A não vai querer falar com você nunca mais na vida.
- Sinceramente, por mim, tanto faz.
- Sei que não é assim - disse, rindo. - Independente do lance de vocês, sei que a amizade dela é importante pra você. Por isso deveria se desculpar.
- Eu só cansei dos jogos dela.
- E estava mais que na hora, mas isso não justifica você largar a mesma sozinha, durante a noite. É, você deve se desculpar. E eu acho que ela vai desculpar você, ela também se importa com a amizade de vocês, só que do jeito dela.
- Odeio como você é um cavalheiro e como me faz ser um também - falou, rolando os olhos.
- Bom garoto - disse, dando tapinhas no ombro do amigo.

***


- Bom dia, minha linda - falou todo animado enquanto passava um dos braços ao redor do pescoço de Mari. - Ainda com raiva de mim?
Ela riu.
- Eu nunca disse que estava com raiva de você.
- Não, só me expulsou da sua casa.
- Outro equívoco. Eu só pedi para que fosse embora, não estava mais com vontade de ter sua companhia.
- E tudo isso por ciúmes da .
- Baby, eu não estou e nem estava com ciúmes, não tem a ver com ciúmes. Você só tem que decidir o que quer fazer vida. Tem que escolher se vai continuar tão afetado e interessado pela pessoa que deu o primeiro pé na bunda da sua vida.
- Ela não me deu um pé na bunda.
- Talvez se seu ego conseguisse enxergar que sim, você já conseguiria seguir sua vida sem se incomodar com a dela. Só peço que aceite o meu e não me meta nos seus jogos. Odeio esse joguinho.
a olhou e pensou: "Quanto desaforo."
- Tchau, baby. Tenho aula.
E deu um beijo no rosto dele.

Todos os amigos de já tinham ido para suas salas, mas ele continuava parado na frente da faculdade esperando por e torcendo pra que ela não o matasse. Quando já estava achando que ela não iria chegar, a viu adentrar nos gramados da faculdade. Sentiu-se bastante idiota por perceber que estava nervoso.
- Bom dia - ele falou, um pouco incerto.
- Nossa! - fingiu surpresa - Sua educação resolveu aparecer? Agora dá bom dia? Olha que avanço! Até antes de ontem você nem se despedia.
Ele riu, sem jeito.
- Esse é o motivo de eu estar aqui. Vim te pedir desculpas. Será que podemos ir até…
Ele não precisou terminar a frase, ela sabia muito bem o local que ele queria ir.
- Vamos.
Os dois foram até o local no mais total silêncio e não estava conseguindo esconder o seu incômodo com isso. Mesmo que não fossem mais ficar, não queria que virasse uma desconhecida pra ele.
- Bom, chegamos. Pode falar.
- Você falando dessa maneira não está ajudando.
- Você foi tão estúpido, .
- Sei disso, - ela não deixou de ficar surpresa por ainda o ouvir falando seu apelido. - Por isso estou aqui pra me desculpar, sei que embora eu tivesse a intenção de deixar claro que a gente não teria seja lá o que a gente tinha, eu não deveria ter…
continuou a falar, mas deixou de ouvir depois que ele falou que tinha deixado claro que o que eles tinham não teriam mais. Era oficial, então? Não dava pra dizer que esperava que ele mantivesse esse pensamento, no fundo achava que ele desistiria da ideia.
- , você tá me escutando?
balançava as mãos na frente da garota que balançou a cabeça tentando colocar os pensamentos no lugar e apenas falou:
- Vamos descer.
- , eu quero que a gente fique bem. Você sabe o quanto me importo com sua amizade.
- Está tudo bem. Só quero ir pra aula. Cheguei atrasada e agora estamos mais atrasados ainda.
- Tudo bem, então.
E seguiram para sala mais uma vez em silêncio.

- Mari, você não deveria ficar com ciúmes da , se ela for ficar com alguém, esse alguém será o .
- Mas aí é que está, isso não é e nunca foi ciúmes, eu apenas me amo o suficiente para não aceitar ser lencinho do .
- Que orgulho da minha amiga super decidida. - Gih brincou, abraçando-a.
- Boba - e abraçou de volta.

- Até mais tarde, meus queridos e lindos amigos. - disse, todo empolgado.
- Sabia que a cada dia você fica mais idiota? - perguntou.
- Sabia que essa coisa de levar pé na bunda tem te deixado muito mal humorado? Olha só que dia lindo, não é mesmo, ?
- Ohh, que dia lindo - o amigo respondeu, olhando as nuvens cobrirem o sol, deixando claro sua falsa animação.
- Essas garotas estão deixando vocês dois depressivos, sabiam? Deixa eu ir que estou com um ótimo humor, minha noite vai ser ótima.

Assim que escutou a campainha tocar, ele já sabia muito bem quem estava do outro lado da porta, por isso abriu a porta com toda pressa que seu desejo exigia.
Ele agarrou a cintura da garota assim que a abriu e beijou sua boca com uma vontade que fazia tempo que não sentia, de começo tudo isso foi retribuído, mas quando começaram a tomar o rumo do sofá, a menina pareceu despertar.
- Espera um pouco - pediu, tentando pegar ar. - Eu vim aqui conversar uma coisa contigo e assim não vai dar.
- Será que não podemos deixar para depois? - ele sugeriu, beijando-a novamente.
Embora tivesse pensado em deixar para depois, ela sabia que se continuassem com os beijos, ao menos naquele dia a conversa não aconteceria.
- , deixa eu falar, por favor.
- Tudo bem. O que há de tão importante que você quer falar?
- Bom, acho que é bobeira da minha cabeça, mas ainda assim o assunto me parece necessário.
- Não enrola muito, .
- Bom, já faz um tempo que a gente tem essa mania de se pegar e tal, e isso sempre foi bom pra nós dois, acredito. A gente sempre soube que era algo sem compromisso, mas as coisas podem mudar com o tempo, isso tudo - ela apontou para os dois e também para o seu vestido um pouco levantado - pode mudar pra alguém.
Até aquele momento, abria um sorriso a cada palavra.
- E eu queria saber se isso mudou pra você.
novamente sorriu, queria namorar com ela e isso era óbvio, mas não imaginava sendo a pessoa que mesmo que indiretamente pediria.
- Eu não queria que fosse assim, quer dizer, eu não imaginava que esse momento fosse ser assim, mas tudo bem. Voltando a sua pergunta, acho que a resposta é meio óbvia, né?! - ela também sorriu, ela realmente achava óbvio que ele não estava apaixonado por ela. - Sim, , as coisas mudaram pra mim, quero namorar você.
esperava ver o sorriso de crescer ainda mais, tornar-se um pulo em seus braços seguidos de vários beijos, mas o que viu foi o sorriso desaparecer e a face da menina mudar completamente.
- Não acredito - foi a única coisa que ela disse.
- Mesmo já sabendo da resposta, vou te perguntar: Você não sente o mesmo, não é?
- , - bufou - você sabe o quanto eu gosto e amo minha liberdade, esse sempre foi o motivo pra gente se dar tão bem, você queria liberdade tanto quanto eu. O problema obviamente não é contigo, mas eu não quero um relacionamento agora nem com você, nem com ninguém. Quero poder conhecer pessoas…
- Você está ficando com outra pessoa?
- Não! Mas eu quero poder ficar se assim quiser.
- Então podemos continuar do jeito que está, assim os dois saem ganhando.
- Não, - ela riu. - Não dá pra continuarmos se queremos coisas diferentes nisso tudo. Devemos parar por aqui.
Ele pensou em sugerir uma última vez, como se fosse uma despedida, mas ele era um homem, afinal, e para ele homem não deveria fazer tanta questão.
- Tudo bem, então. A amizade continua.
- Até qualquer dia.
- Até qualquer dia.
fechou a porta e saiu xingando até a décima quarta geração de por ela estar certa. Mas de certo modo tinha que agradecer a amiga, se não fosse pelo comentário dela jamais teria percebido.
- Foi bom enquanto durou. - disse, enquanto esperava um táxi para ir a uma boate qualquer.

- Ei, gatinha, vem dançar um pouco.
Já era a quinta cantada ruim que escutava naquele lugar e ao olhar para todos desconfiava que não escutaria nenhuma investida realmente boa.
Quando já estava cansada de procurar alguém, no mínimo interessante, para poder dançar ela resolveu ir ao bar pedir alguma coisa.
- O que a linda garota deseja beber hoje?
Um rapaz digno de ser garoto propaganda das cuecas Calvin Klein lhe perguntou e logo depois lhe deu um lindo sorriso.
- Alguma coisa boa, forte, mas não o bastante pra me deixar bêbada no primeiro copo.
- Acho que tenho exatamente o que você procura.
- Ótimo.
Quando o barman foi lhe entregar o quarto copo, ela disse:
- Acho que esse vai ser o último, já estou ficando um pouco alterada.
- Você fica linda assim.
- Por favor, eu nem sei o seu nome - ela disse, rindo.
- Não seja por isso, Lucas, e o seu?
- - falou, toda engraçada.
- Então, , que tal esperar meu turno acabar pra estender essa noite e bebermos mais um pouco? Largo daqui uns 30 minutos.
Não precisou de muito para ela entender a intenção naquele convite e mesmo lhe parecendo meio errado ficar com alguém logo de primeira, ela estava mesmo precisando daquilo.
- Acho uma ótima ideia.
Enquanto não chegava a hora do tal Lucas sair do trabalho, resolveu circular mais um pouco pelo local e quem sabe dançar, de repente sentiu alguém segurar seu braço.
- Perdida por aqui? - perguntou.
- Bem encontrada, na verdade.
- Achei que fosse estar na casa do , ele deu a entender que…
- É, eu fui lá, mas não estamos mais ficando. E você, veio tentar superar seu mais novo pé na bunda?
- E quem te disse que levei pé na bunda? Eu não levo pé na bunda.
riu alto.
- Não sei como ainda couberam todas essas pessoas aqui, seu ego é grande demais.
- Eu só não finjo modéstia, sei que a maioria das garotas tem vontade de ficar comigo.
- Coitadas delas, então.
- , você facilmente se tornaria uma delas.
- Não me diga. – desdenhou.
- Vamos continuar esse papo enquanto dançamos.
- Desde que seja rápido, tenho um compromisso em alguns minutos.
Então eles começaram a dançar.
- Então quer dizer que eu me jogaria aos seus pés? - perguntou, com sarcasmo.
- te perdeu porque é bonzinho demais, ainda não é tão homem.
- Desculpe, , mas o faz muito mais meu tipo do que você. - ela desdenhou.
- Deixa eu te mostrar uma coisa - ele a segurou e depositou um beijo em seu pescoço.
- Só isso? É tudo que você é capaz de fazer?
Ele a trouxe para o pouco mais perto e sua mão começou a passear pelo corpo da garota.
- Eu só posso estar muito bêbada. - falou, rindo.
- Por quê?
- Estou deixando o quase ex da minha melhor amiga, que é melhor amigo do carinha que eu ficava até hoje, e que também fica com uma colega e quase minha amiga ficar me segurando desse jeito e o pior, estou quase gostando.
- Estou gostando muito também.
- Mas, hora de ir.
- Como assim? Vai pra onde?
- Te disse que tinha compromisso.
- Achei que tivesse desistido.
- Meu bem, eu não ficaria com você. Até qualquer dia.
apenas observou a garota ir embora dançando.
- Achei que tivesse ido embora. – Lucas disse quando ela chegou.
- Eu sou uma mulher de palavra, meu bem.
- Já estou cansado desse lugar, que tal irmos pra minha casa?
- Melhor ideia da noite.

***


- Você falou com a hoje?
e tinham acabado de entrar na sala e o professor ainda não estava presente. - Não, por quê?
- O me disse que a viu lá na 2 night, e ela estava um pouco alterada, você sabe que lá não é um bom lugar pra se frequentar.
- A sabe se virar.
- Ela falou pra o sobre algum encontro, e não é com o .
- Como sabe?
- Eles não estão mais ficando.
- Ele te contou isso?
- Ela contou ao e perguntamos ao , ele disse que ambos queriam coisas diferentes.
ficou chocada, ela sabia bem o que eles queriam de diferentes e não conseguia acreditar que tinha mesmo deixado de ficar com ele por causa disso. Bom, parece que estava mesmo certa no que falava, parece que o monstro ali era ela.
- E se não foi o , quem foi? A não estava conversando com ninguém.
- Por isso você deveria ligar pra ela, aquele lugar não é uma boa escolha para se encontrar pessoas e passar a noite com elas.
- Vou lá fora ligar, espero que ela queira me atender.
- E por que não iria querer?
- Coisas de meninas.
saiu da sala e logo já estava ligando para a amiga, ela não atendeu na primeira ligação nem na segunda, quando já estava ficando preocupada, escutou a voz da amiga do outro lado.
- ? - sentiu sua cabeça latejar.
- ? Onde você está? Você está bem?
olhou para os quarto cantos do lugar onde estava antes de responder e percebeu que talvez não estivesse bem. O lugar mais parecia um chiqueiro, era escuro e sujo também, fora o colchão que nem tinha uma cama para ser colocado.
- Para ser bem sincera, não sei te responder com muita certeza nenhuma das perguntas, a não ser a que eu sou realmente a .

- Sem piadas, por favor, me diz com quem você está.
Antes que pudesse responder ela viu Lucas entrar e apenas colocou o celular de lado sem desligar enquanto ele se aproximava. escutava tudo do outro lado.
- Acho melhor irmos embora, não vai ser legal se o pessoal te ver aqui.
- Embora pra onde? Que pessoal?
- Embora pra qualquer lugar, curtir um pouco. E o pessoal é a galera que mora aqui comigo, eles vão achar que você é a diversão da vez, e minha querida, você é linda demais para servir de diversão para eles.
- Você não mora com os seus pais?
- Eles não aceitaram meu estilo de vida, sabe como é - ele falou, rindo. Como se ela realmente soubesse qual era o estilo de vida deles.
- Como assim? - perguntou, confusa e já temendo a resposta.
- Sabe como é, nem todos os pais aceitam que seus filhos usem drogas dentro de casa. Por isso moro aqui, eu e os meninos podemos fazer o que quisermos neste lugar.
- Você usa drogas? - perguntou, chocada. Onde ela tinha se metido?
- , claro que sim. Esqueceu de ontem?

- , você se drogou? - perguntou mesmo sem poder ser escutada.
- Eu me droguei?
- Não, disse que nunca tinha usado e que tinha medo de não aguentar - ele comentou, aos risos. - Mas chegou a cogitar, e também disse que achava muito sexy eu usar e ao mesmo tempo ficar com você. Mas será que podemos ir?
Ela demorou alguns segundos para responder. Estava tentando bolar um plano para sumir daquele lugar.
- Não precisa ir comigo, eu me viro sozinha. - quando percebeu que o mesmo ia insistir, ela emendou. - Gosto de ser independente. É só me dizer onde estou.
- Pelo seu jeito de garota bem de vida, suponho que dizer não será de grande ajuda, você não conhece esse lugar, mas ande umas três quadras pra esse lado e achará algo familiar.
- Obrigada, Lucas.
- Não se esqueça de mim, te espero lá na 2 night qualquer dia desses.
- Claro - respondeu, fingindo estar tudo bem e doida pra sumir daquele lugar nojento.
Assim que saiu colocou o celular no ouvido.

- , você se drogou?
- Não, que horror, mas acho que foi quase.
- Quem é esse maluco que você passou a noite? Onde você está?
- O nome dele é Lucas, trabalha na 2 night e isso é tudo que eu sei, quanto ao lugar onde estou nada me parece familiar ainda, mas ele disse que vou me achar.
As duas ficaram conversando, na verdade enchia de perguntas que apenas respondia até que avistou algo familiar, lá estava a 2 night.
- , me achei! Estou em frente à 2 night, preciso que venha me buscar, o dinheiro da minha bolsa sumiu, devo ter perdido. Tem como você vir aqui?
- Claro que sim, vou chamar o e juntos vamos te buscar, agora guarda esse celular, e já estamos chegando.
desligou e entrou na sala como um furacão, ignorando a cara de espanto do professor e foi logo falando:
- Preciso que venha comigo, a tá em frente à 2 night e sem nada de dinheiro.
- Claro, pega suas coisas.
Os dois saíram e logo já estavam a caminho do tal lugar.
- Quem é esse Lucas, afinal?
- Um carinha que trabalha lá, não sei onde a estava com a cabeça. Acaba com o por ele gostar dela e fica com o primeiro que encontra.
- Eles deixaram de ficar por isso?
- É.
- Ela é uma boa garota, afinal.
suspeitou que aquilo pudesse ser alguma indireta, mas estava preocupada com sua amiga e não daria atenção a isso.
- Acho que é ela ali.
- Para o carro.
viu o carro parar ao seu lado e não precisou esperar os vidros descerem para saber quem era, foi logo abrindo a porta.
- Vocês demoraram.
Como resposta sentiu apenas uma tapa em seu braço seguida por uma voz um pouco alterada.
- Você está maluca? Como vem logo para esse lugar e ainda passa a noite com o primeiro que encontra? Se o não tivesse falado pra o que te viu ontem, jamais eu teria te ligado.
- Posso te garantir que isso não vai mais se repetir. Desculpas.
- Pode contar direito as coisas?
- Será que pode ser quando chegarmos em casa? Preciso do meu momento e de um banho, só assim terei como conversar.
sabia que era assim quando estava mal e por isso não insistiu.
- Tudo bem. Vamos te levar pra casa - disse, e recebeu um sorriso agradecido de .

- Manere na reclamação, no fim não aconteceu nada demais. - pediu a , assim que entrou no banheiro.
- Tá certo - respondeu com um sorriso no rosto. - E obrigada por ter ido comigo, você não tinha obrigação com isso.
- A é gente boa, eu gosto dela. E bom, sou seu amigo, não iria negar isso a uma amiga.
- Entendi o recado - ela não conseguiu ficar sem dizer.
respirou fundo.
- Eu não vou correr mais atrás de você.
- Eu nunca quis você correndo atrás de mim.
- Quis sim - ele falou, rindo. - Mesmo que não propositalmente, mas quis. Só que eu já não estou mais disposto a isso.
- Você me assustou com aquele papo de amor e…
- Mas é a verdade, eu te amo! Só não estou mais disposto a ficar do seu jeito, mas sim, eu te amo.
- Você não tem certeza disso, essa coisa de amor é uma bagunça, na verdade, como dizer com certeza que o amor existe?
- Quando estou longe de você eu sinto falta de tudo, do seu jeito grosso, do seu cheiro, da sua risada, de tudo.
- Isso não signifi…
- Eu sei que você tem seus problemas e até motivos pra duvidar do amor, mas eu sei o que sinto, por isso eu digo. Pode te assustar, você pode duvidar, surtar, isso pode até me afastar de você, mas eu te amo, , e sinceramente pouco me importa se você acredita ou não, só que sim, infelizmente eu amo você.
- E amar é tão bom que você tem como um peso. - falou, um pouco irritada.
- Não é peso nenhum, mas se imagina no meu lugar, estando aqui agora de frente pra pessoa que ama, com vontade de beijá-la, de fazer carinho, ao menos de tocá-la e não poder fazer nada disso, peso não é, mas fácil também não é não.
segurava as lágrimas, e nem sabia ao certo porque queria tanto chorar.
- Você não pode fazer isso, .
- Dizer o que eu sinto?
- Não. Dar a entender que vai estar aqui pra sempre quando sabemos que a realidade não funciona dessa maneira.
- Mas…
- Sem mas, a gente sabe que no mundo real as coisas não são lindas assim.
achou que ela fosse virar e ir embora, mas ela fez algo inesperado. O abraçou e o beijou, como se confiasse no que ele dizia, mas o desespero em seu beijo mostrava que ela duvidava, ou melhor, ela temia.
Os dois se afastaram e ela o olhou com os olhos cheios de lágrimas e falou:
- No fim alguém ia mesmo estragar tudo, o fim foi só adiantado.
- É você quem está estragando, .
- Não importa, dá sempre no mesmo.
segurou sua vontade de fazer o mesmo que ela e a agarrar.
- Depois você me liga pra dizer como a está. Ela entrou bem pra baixo.
-Claro, ligo sim.
- Tchau.
- Tchau.
olhou bem naqueles olhos , tentando entender porque era tão difícil dizer tchau naquele momento, mas sabia que era o correto.
entrou no carro e foi embora, e deixou ainda com aquela vontade de chorar, mas ela não chorou, virou e entrou em sua casa já chamando pela amiga.
- , sua idiota. Me conta tudo.


Capítulo 15

Depois de um bom e demorado banho, fez se sentar e contar tudo que aconteceu, que até contou, mas achou melhor omitir aquela coisa estranha que tinha rolado entre ela e .
- Bom, ainda bem que o te viu lá, né? Se não fosse ele, as coisas estariam mais difíceis pra você.
- É - respondeu, sentindo-se mal por omitir algo da amiga.
- Não é que eu esteja feliz pelo que você passou, nem nada disso, na verdade eu fiquei em pânico, mas é bom te ter de volta, não gosto da ideia de ficar com raiva de você.
- Somos muito parecidas e ao mesmo tempo muito diferentes, . É natural que briguemos, mas isso não muda nada que sinto por você. Ah, e percebi o clima entre vocês, acabou mesmo? – perguntou, referindo-se a .
- Nem teve início, vamos combinar - riu, mesmo sem ter tanta vontade. - Mas sim, não ficaremos mais.
- Vocês brigaram quando entrei?
- Na verdade, eu o beijei - confessou.
- Ele te agarrou? - indagou, surpresa.
corou.
- Na verdade, eu o agarrei.
A boca de abriu e depois explodiu em uma gargalhada.
- Não acredito que você fez isso, como ele reagiu? Eu daria tudo pra ver a cara dele.
- Ele me beijou de volta, ué? - disse, vermelha, com a amiga ainda rindo.
- Me diz, por que você vai deixar esse homem ir embora? Me diz! - e puxou a amiga para si. - Você deveria ter pedido pra ele ficar.
- Mas eu não sinto o que ele sente por mim, na verdade o que ele acha que sente - revirou os olhos.
- Então você o beijou porque não sente nada? Tipo, vocês estavam se despedindo, ele tava te dizendo que realmente cansou e você o beijou como um pedido pra ele se mandar? Ah sim, faz todo sentindo. - brincou.
- Eu, eu…
- Você o beijou porque queria que ele ficasse.
- Eu não quero namorar com ele - era a única coisa que ela podia dizer, mesmo confusa com as palavras da amiga.
- , eu realmente espero estar errada e torço pra que você não se arrependa, mas, amiga, você sente algo por ele.
- Nan…
- Mas pra o seu bem, não tente descobrir o que é.

- Tá meio que na cara que ela sente algo por você. - Gih disse, empolgada.
- Pena, posse, apego? - disse, rindo. - Ela não sente a mesma coisa que eu, um simples beijo não prova o contrário.
- Ela vai se arrepender, você verá. Espera só.
- Hum.
Acontece que não esperava por ninguém, nunca foi disso, por mais que gostasse nunca ficava esperando a vontade de alguém.
- Me diga que você não vai namorar a primeira garota que você ver por aí.
- Não vou namorar ninguém - respondeu, rolando os olhos.
- Acho bom.

- , você ama o ?
e estavam sentadas na cama, comendo e assistindo a um filme quando de repente surge com essa pergunta.
- Acho que amar, amar ainda não, mas gosto muito dele.
- O que te faz achar que não ama ainda?
- Talvez o tempo, a intensidade. Talvez eu até já o ame, só não apareceu aquela situação que coloca tudo em jogo e prova o quanto o sentimento é forte.
- E ele, será que ele te ama?
- Penso que ainda não, também - ainda não entendia o porquê daquela conversa, mas mesmo assim respondia.
- E se você descobrir que o ama?
- O que é que tem?
- Você acha que provavelmente ele ainda não te ama, já imaginou se você descobre que o ama enquanto ele ainda apenas gosta de você?
riu.
- , amor não se trata de sentir algo só porque o outro sente, estamos falando de sentimento não de uma troca de presente. Amar e ser amado é ótimo, faz o amor valer a pena, mas ele não surge apenas pra gerar reciprocidade. Você pode amar alguém e essa pessoa não sentir o mesmo, ou o contrário, vai ser maravilhoso? Provavelmente não, mas ainda assim vai ser amor. A diferença é que se um vai ser maravilhosamente vivido, o outro vai ficar lá, guardado ou lutando pra mudar e virar outra coisa.
- É. - limitou-se a responder.
“Se o estiver falando a verdade, nesse momento o amor dele está lutando pra ser outra coisa”, pensou.
- Mas por que essas perguntas?
- Só estava a fim de saber mesmo. É que amor parece ter virado o assunto do momento e eu ando por fora do mesmo. Tipo, eu não entendo como alguém pode amar uma pessoa hoje e amanhã já amar outra, amor pra mim é algo sério, pra toda vida e não vejo isso atualmente, as pessoas “amam” – fez aspas com os dedos - superficialmente, trocam de amor como quem troca de roupa, não tem como acreditar em algo tão raso, tão fugaz.
- Hoje te amo virou algo, tipo: vou tomar sorvete - as duas riram. - Mas eu ainda acredito no mesmo. – falou.
- Já eu não vejo motivos para acreditar.
E como acreditaria? Onde estava o amor que fez seus pais se casarem? Provavelmente sendo jurado a mulher que fez seu pai virar a cabeça. E aqueles eu te amo jurados nas redes sociais? Sendo esquecido em uma outra conversa qualquer com alguém disposto a dar noites de prazer. E o amor de por Flávia? Aquele amor fora dito tantas vezes, mas agora ela estava lá, escutando de o que ele jurava sentir por Flávia e que não durou quase nada. Não tinha como acreditar nos seus pais, nas declarações públicas e muito menos em .
Ah, falando em seus pais, bastou sair da casa de e chegar em sua casa para esse assunto voltar a lhe atormentar, lá estavam os dois tentando não gritar, mas o desprezo sendo visto de longe e o ódio também.
- Minhas filhas não vão conviver com esse tipo de gente, eu o proíbo de levar as duas.
A pergunta era: levar pra onde?
estava no sofá, encolhida como se aquilo a protegesse de tanta falta de amor.
- Elas também são minhas filhas e eu quero passar um tempo com elas.
- Colocando em outras palavras: você quer tentar mostrar que ainda se preocupa quando claramente não é assim que acontece.
- Eu me preocupo - Marcelo quase gritou.
- Não foi isso que você demonstrou ao sair de casa dizendo o que disse.
, que ainda passava despercebida por eles, segurou as lágrimas ao lembrar das palavras que seu pai disse no dia que foi embora.
- Não tente colocar as meninas contra mim - ele falou, com a raiva estampada em seus olhos.
- Não preciso fazer isso, elas não são tão bobas.
Chega de escutar aqueles dois falando por ela, estava na hora de aparecer pra eles.
- O que tá rolando aqui?
- Seu pai…
- Filha, que saudade eu estava de você, papai. - e foi abraçá-la, que retribuiu ainda no automático. - Eu estou me mudando definitivamente pra os Estados Unidos e quero que vocês passem um tempo comigo.
- Estamos estudando.
- A já termina esse ano letivo na próxima semana.
- Eu ainda vou ter aula.
Marcelo bufou, ela tinha que ser contra, claro.
- Mas seu período deve terminar em duas ou três semanas, não?
- Provavelmente.
- Então tudo certo, assim que vocês duas estiverem sem aulas vocês partem para lá.
- Você não sabe nem se elas querem - Kátia disse.
E não queria. Não se sentiria segura, gostava da sua zona de conforto e seu pai sempre lhe roubava esse lugar. Também não queria ficar longe dos amigos e pra ser bem sincera, aquele papo sobre deixar o amor de lado que teve com estava em sua cabeça, não queria que a deixasse de lado.
- Eu quero ir. – ouviu dizer.
e Kátia se olharam, ambas diziam sem palavras o quanto não queriam aquela viagem, mas também reconheciam que não podiam tomar esse momento de , no mínimo ela tinha direito a tirar suas próprias conclusões sobre o pai.
- Claro, vamos sim. - disse e viu Marcelo lançar um olhar triunfante para Kátia, era melhor ignorar aquilo ou não conseguiria ir a lugar algum.
Assim que entrou no seu quarto parecia preste a sufocar, praticamente arrancou a roupa do corpo e foi tomar um banho. Até quando teria que aguentar aquilo? Quando seus pais parariam de querer que ela tomasse partido? E , até quando suas vontades se tornariam a vontade de todos?
Queria poder gritar, mas devia respeito às duas pessoas lá embaixo e a terceira era inocente demais pra se cobrar algo. Queria quebrar alguma coisa, mas o máximo que conseguiria era perder dinheiro quebrando algo que precisaria depois. Então apenas chorou, deixando a água misturar-se com suas lágrimas. Seria bom conversar isso com alguém, e até pensou em fazer isso quando saísse do banho, mas a única pessoa que trataria o assunto com o mínimo de pena possível e não julgaria, ou faria perguntas que ela não estava a fim de responder era , e não achou adequado falar com ele depois de tudo.
A semana se passou quase que no automático, ia pra faculdade, falava um pouco com os amigos, inventava uma desculpa pra não sair com eles e depois ia pra casa pensar em como a vida não saía como o planejado. Mas na sexta-feira ninguém aceitou suas desculpas e praticamente a forçaram a sair com eles pra balada.
- Como eu queria ter ficado em casa.
- Para com isso - pediu. - Se até eu, que tinha outros convites escolhi vir, por que você ficaria trancada em casa e não viria?
- Porque você gosta de festas, eu não.
- Vem dançar, vai ser divertido. - chamou.
E de começo até estava, mas depois resolveu ir beijar em algum canto da balada, resolveu beber todas com - nem parecia que eles tinham deixado de ficar, - se dedicou a tentar voltar com Mari, e , bom, parecia bastante empolgado metendo a língua na boca de uma garota que ele tinha levado.
- Ele não é muito bom no quesito: ficar sozinho. - Gih cochichou no ouvido de .
- Eu percebi - ela forçou o riso, embora aquela cena lhe parecesse bastante errada.
- Ele estaria ao seu lado se você o quisesse.
Era o que bastava para sua noite sair de vez dos trilhos.
- Será mesmo, Gisele, será? Porque enquanto vocês vendem o como um ótimo cara cheio de amor por mim, que vive aos meus pés, eu compro esse cara como alguém que é capaz de dizer eu te amo pra primeira pessoa que aparecer e estiver disposta a ficar. Não ficaria surpresa se ele já tivesse dito isso àquela garota hoje.
- Ele só tá tentando seguir a vida, sei que não é o correto, mas o é assim.
- E eu sou assim - abriu os braços, cansada. - Eu não gosto de fazer nada por obrigação, porque os outros acham correto, por pena, ao menos não fora da minha casa. E é só isso que vocês querem, tratam tudo como uma obrigação. tem obrigação de ficar com o porque ele, o cara que diz mais eu te amo do que diz seu próprio nome, fala sentir esse amor por ela, sendo que essa droga de coisa nem existe mais, e se existisse não sumiria em menos de um mês.
- Não sumiu. - Gih tentou, embora fosse incapaz de tirar a razão do surto da amiga.
- Eu aposto com você que sumiu e ele vai achar rapidinho se ficar mais umas duas vezes com essa garota, o amor vai reaparecer direcionado a ela. Quanto tempo até o anel de compromisso? Até as declarações exageradamente melosas em público? Eu não dou um mês.
não sabia ao certo de onde vinha aquela raiva toda que estava sentindo, mas precisava colocar pra fora. Gritar aquelas palavras em um lugar cheio de barulho podia não significar muito para as pessoas, mas pra ela era ao menos uma maneira de colocar pra fora sem ser perguntada sobre nada depois.
- Eu aposto que se você for lá, ele larga a outra na mesma hora. – Gih tentou.
- Pode até ser, mas eu não vou.
- Sei que não vai, e não consigo não ter pena de ambos por isso.
Gih não esperou resposta, apenas se afastou e foi dançar com mais um desconhecido.
Aquela festa já tinha dado o que tinha de dar pra . Foi embora sem avisar. Estavam todos ocupados demais pra notarem.
Apesar de terem notado, mas a saída repentina da garota não fora o único acontecimento da noite.
- Mari, para de birra e vamos ficar de boa.
- Eu não querer ir pra sua casa não quer dizer que esteja com raiva de você - ela brincou. Nunca tinha chegado ao fim com , e os últimos acontecimentos só provavam que ele ainda não merecia isso, embora os dois estivessem agarrados agora.
- Então me deixa ao menos levar você em casa, só isso. - pediu.
- Tudo bem, já estou cansada mesmo.
Se beijaram algumas vezes durante o trajeto, mas logo chegaram em frente à casa de Mariana.
- Obrigada mesmo. Bem melhor que vir de táxi.
- Não vai me convidar pra entrar? - ele sugeriu.
- Está super tarde, melhor não.
- Qual é, Mari? Achei que você perceberia o quanto estou me esforçando e mudaria de ideia.
- , isso não foi uma troca do tipo: você me traz em casa e eu te convido pra dormir aqui. Você se OFERECEU para me trazer, eu aceitei e já agradeci, é o máximo que vamos chegar essa noite.
Ele tentou controlar a bufada de ar. Depois balançou a cabeça e destravou a porta do carro.
- Tudo bem, Mariana. Boa noite pra você.
- Boa noite. - ela se inclinou pra dar um selinho nele, mas ele fingiu ter que pegar uma coisa no chão do carro.
Mari saiu do carro se questionando se fez o certo, mas ela tinha direito de exigir mais paciência dele. até quase ontem era só seu amigo, amigo muito galinha por sinal, e ainda tinha no meio disso tudo, não tinha como ter certeza se ele era alguém que valia a pena.
decidiu que aquela noite não seria estragada e resolveu voltar pra balada.

- , vou pegar um táxi e ir pra casa, okay? - Gih falou, já cansada. Seus pés estavam clamando por socorro.
- Me espera, também já vou, disse que iria conosco.
- Achei que fosse esticar a noite.
- Que nada, mas estou com o número dela.
- E a ?
- Ela não parece se importar com nada, não é mesmo? Hora de fazer o mesmo.
- Acho que ela se importa. - Gih falou um pouco mais baixo.
- O que? - não tinha conseguido escutar direito.
- Esquece.
Logo após ir embora junto com e Gih, e também foram pra casa. era a única deles quando chegou de volta.
- Cadê todo mundo?
- Todos já foram, achei que você também tivesse ido, inclusive achei que estivesse com a Mari.
- Fui apenas levá-la em casa.
- Tomou outro toco? - provocou.
- Não enche.
- Vem, vamos tomar alguma coisa pra ver se você deixa essa dor de cotovelo de lado.
Pediram alguma coisa e continuaram conversando.
- Eu achei que ela fosse mudar de ideia quando chegasse em casa.
- A Mari não me parece o tipo de garota que muda de ideia e você é muito babaca, não vale a pena.
- Cala essa boca - bufou. - Eu me importo com ela, sabia? Queria que desse certo, mas eu não tenho saco pra essa coisa de mulher, de DR, dúvidas, necessidade de que o sentimento seja posto a prova.
- E ela não tem saco pra um homem tipo você. Você quer namorar ela, mas não consegue perceber que esse seu perfil não é namorável.
- Muitas garotas namorariam comigo assim.
- São todas idiotas, seu perfil é de um cara pra apenas uma noite.
- Bem que essa noite poderia ser hoje, eu e você. - ele provocou.
- Idiota. Você estava agora mesmo falando que se importa com a Mari.
- E me importo, mas não foi ela mesma que escolheu ir pra casa sozinha? Qual é, ? Sei que aquele dia você sentiu vontade.
- Eu estava bêbada. - se esquivou.
- Também está agora.
- Não tanto.
- Tem medo de se apaixonar?
- Eu?
- Uma dança, se no final dela você não quiser tanto quanto eu, papo encerrado.
- Nossa, ele me quer.
E quem não iria querer? era a imagem da mulher sexy, segura, livre e bem resolvida que muita mulher queria ser, mas seu jeito sentimental não permitia. era sem neuras, sem ligação na manhã seguinte, tudo muito prático, ela era o que precisava naquele momento.
- Quero. - respondeu, e a puxou pra pista de dança.
Ela não queria aquilo, quer dizer, ela tentava colocar em sua cabeça que não queria, que não devia, motivos para isso não faltavam. Mas desde aquele dia que toda vez que via ficava aquela curiosidade sobre como teria sido. E ele a tocando como a tocava naquele momento só deixava claro que teria sido muito bom.
- Se você contar que isso aconteceu eu negarei até a morte, e isso não vai se repetir nunca mais, está me ouvindo.
- Não contarei e essa noite basta.
Dito isso se beijaram e depois foram para o carro rumo à casa de .

Na segunda-feira depois daquele fim de semana, se arrastava mais uma vez pra sua última semana de faculdade antes das assustadoras férias e tentaria passar ainda mais despercebida que antes, mas não permitiu.
- Vamos lá em cima, preciso falar com você. - ele pediu e ela o seguiu. - O que está rolando? - ele perguntou assim que sentaram.
- Nada, ué! - tentou rir.
- Eu te conheço e sei que tem algo. Tentei esperar, mas você parece mais desanimada a cada dia. Por que não me conta?
- Sabe, eu venho me arrastando pra essa faculdade já faz quase duas semanas e ninguém se intrometeu, gostaria de poder terminar o período dessa maneira.
- Eu não permito. Somos amigos, sei que está acontecendo algo.
- Nossa amizade anda meio estranha, não sei se é correto conversarmos, que tal voltar a sua vida?
bufou.
- Como sempre você usando de grosseria e indiferença pra deixar as pessoas afastadas. Conheço você, sei que está precisando conversar.
- Conhece mesmo? Sexta-feira eu estava péssima e você não pareceu notar.
- Você estava em uma balada, achei que isso fosse um sinal de que estava melhor. Mas fala, o que droga está acontecendo?
Se ele queria saber, ela colocaria tudo pra fora, inclusive as coisas sobre ele.
- Está acontecendo que meus pais parecem não perceber que as filhas deles têm sentimentos, minha irmã não parece perceber que sou de carne e osso e agora está praticamente me obrigando a passar as férias com ela e meu pai. Ah, e isso pra ele significa que estou ficando ao lado dele e minha mãe tenta esconder, mas ela também acha o mesmo, quando na verdade não estou do lado de ninguém, a não ser da , que ainda age como se vivesse em um conto de fadas. Se bem que nem posso julgá-la, todos a fizeram acreditar nisso. – tomou ar e continuou - Está acontecendo que eu queria ter meu melhor amigo como antes pra poder contar tudo isso a ele, mas parece que isso é outra coisa que eu não controlo, nem de longe nossa amizade é a mesma. Também está acontecendo que todos nossos amigos parecem me ver como uma bruxa só porque não estamos juntos, é como se eu tivesse obrigação de manter seu coração intacto, e bom, a julgar pelo que vi sexta, ele está, não é mesmo? Mas todos resolvem ignorar o que viram e me pintarem de vilã, como a mulher que negou o amor do perfeito , quando ele mesmo já deixou esse sentimento de lado.
quase disse algo sobre o sentimento, mas ela estava certa, não estava? Ele aproveitou aquela sexta e não se importou tanto com o que ela pensaria. Ele estava mesmo colocando o sentimento de lado e não se sentia culpado por isso. Ela estava certa, mas ele também, então melhor ignorar aquela parte do desabafo.
- Tá tudo uma droga, . - ela falou, tirando ele dos próprios pensamentos.
- Percebi. São só umas férias, . E se serve de consolo, vou estar aqui disponível pra qualquer ligação, até mesmo sinal de fumaça. As coisas estão mesmo diferentes, mas a gente pode dar um jeito, a amizade é o mais importante e conte com a minha.
Era um ótimo momento para um abraço, ambos pensaram nisso, mas nenhum tomou essa atitude.
- Eu sei, obrigada.
- Nunca se ache na obrigação de me esconder algo.
- Claro.
- Agora vamos, temos provas.

- Filha, me ligue se qualquer coisa estiver errada, vou buscá-las na mesma hora.
- Vamos estar em outro país, você sabe, não é? - brincou.
- Claro que sei, mas nunca ouviu falar que uma mãe é capaz de qualquer coisa por seus filhos?
- Sei que é, mas vamos deixar as despedidas pra amanhã e nem assim será necessário, são apenas um mês. - 30 dias, 720 horas, 43200 minutos de algo que não sei o que esperar. - Acrescentou mentalmente.
- Claro, amanhã nos despedimos, boa noite.
- Boa noite, mãe.
Assim que Kátia fechou a porta, mandou uma mensagem para .
“Será que você consegue fazer o voo de amanhã ser cancelado? Tô com medo de como vai ser lá. Não queria conhecer a nova mulher dele.”
estava com Lindsey - a garota da balada - quando recebeu a mensagem. Não leu. Estava ocupado demais.
esperou um pouco pela resposta que não veio, cansada resolveu mandar outra.
“Sempre te enchendo de bobeira, né? Você já deve estar cansado disso, mas não canse, não agora rsrsrs.”
Novamente ignorou a mensagem, fosse o que fosse, ficaria pra depois daquela noite que tinha tudo pra ser ótima.
Só no outro dia abriu as mensagens e quase caiu pra trás, tinha esquecido que ela viajaria aquele dia, forçou a mente pra lembrar o horário e lembrou que ela já estaria no aeroporto àquela hora. Só restava mandar uma mensagem.

- Tomem cuidado, não deixem suas calcinhas jogadas em qualquer lugar. Se comporte e me liguem. - Kátia falava enquanto se despedia.
- Tá bom, mãe. - respondeu, impaciente. Ela estava louca pra chegar logo nos Estados Unidos.
- Amo vocês.
- Também te amamos. - as meninas responderam juntas.
Depois de um abraço demorado as meninas passaram pelos portões.
A moça já estava conferindo as passagens para todos embarcarem quando sentiu o celular vibrar.
“Desculpa por não ter respondido, meu celular estava descarregado. Boa viagem e me manda uma mensagem quando embarcar e outra quando pousar, só pra eu saber se está tudo bem. Ah, vai dar tudo certo, suas férias vão ser ótimas.”
Ela riu, tomara que ele estivesse certo.
Resolveu responder.
“Tudo bem, entendo, meu celular também vive sem bateria, você sabe rsrsrs. Estou embarcando agora. XX.”
recebeu a mensagem e até sentiu-se um pouco mal por ter mentido, mas era melhor que contar que estava prestes a namorar.


Capítulo 16

- Está tudo bem, aí?
- Está sim, . O está bem? - sentiu raiva ao perguntar, como era idiota. - A última vez que falei com ele foi quando cheguei aqui, faz uns três dias.
- Não sei se você vai querer saber.
- Pode contar - sentiu um aperto no coração antes mesmo de escutar, afinal, já fazia ideia.
- Ele tá namorando, começou ontem. Acho que não colocou no Facebook por sua causa.
- Eu não tenho essa importância toda - riu sem humor.
- Sinto muito - falou baixinho.
- Eu não ligo. Hum… Vou desligar. Beijos, te amo.
- Também te amo.

Assim que desligou o telefone sentia um turbilhão de coisas. Não tinha como mentir pra si mesma, ela sabia que metade dela, ou até mais, estava destruída com a notícia, mas outra parte de si achava até bom ele ter seguido, eles não dariam certo nunca. Mas ela por inteiro sentia uma coisa: decepção. Não podia acreditar no quanto mentiu falando do que sentia e acreditava mesmo ainda na facilidade que ele tinha pra ignorá-la. Tinha raiva disso tudo.
“Será que a namorada já proibiu de falar com as amizades? Entre em contato.”
Mandou a mensagem e esperou que ele não percebesse a saudade enorme que ela estava sentindo.
- Que cara é essa? A mensagem continha uma ameaça? - perguntou brincalhão.
leu a mensagem de novamente, apenas pra si e fechou a cara ainda mais.
- Que cara é essa, menino?
- Nada. Só não sei se quero responder a mensagem. Acho que queria nem ter recebido.
colocou uma mão tampando os olhos e com a outra tateou até e pegou seu celular. Ainda de olhos fechados, falou:
- Deixa eu adivinhar. Humm… Que difícil, mas acho que começa com e termina com . - tirou a mão dos olhos e encarou - Acertei?
- Você deveria trabalhar de palhaço, sabia?
- É ela ou não?
- É sim. - bufou.
- Por que você tá tão incomodado com isso? Ela não é sua amiga?
- Quem contou pra ela que eu estou namorando?
- Era segredo? - perguntou em um tom que mostrava o quão normal era ela saber.
- Não, mas faz pouco mais de vinte e quatro horas que estou namorando e isso já chegou em outro país.
- A notícia correu na mesma velocidade que esse namoro aconteceu.
bufou.
- Você queria que eu ficasse esperando pela ?
- Queria que você aprendesse a ficar sem ninguém, não entendo essa sua carência. E outra, você não pode usar as pessoas assim. Você é bom em namorar sem gostar de verdade, mas as meninas acabam gostando de você.
- Eu gosto da Lindsey, por isso estou namorando com ela.
- E a ?
- A passou.
Os dois se calaram e resolveu responder a mensagem.
“Você deveria curtir essa viagem… Qualquer coisa, só falar.”

- Meninas, arrumem-se que iremos sair.
- Você quer que eu te maquie? – Rachel, namorada de Marcelo, falou.
- Não. - Como ela conseguia ser tão natural sendo que destruiu uma família?
- Você ficaria mais bonita se eu te maquiasse.
- Eu sei me maquiar, Rachel. Pode deixar.
Marcelo assistiu tudo irritado. Quando a namorada saiu, puxou pelo braço e falou:
- Será que você pode ser menos estúpida? Ela é uma ótima pessoa e você é tão amarga. Como você me lembra sua mãe - e soltou o braço dela.
- Eu sei me maquiar e não quero me maquiar igual uma drag feito ela, pra mim, menos é mais. E ela não precisa me agradar, não é como se você desse alguma importância as suas filhas pra ela dar também.
E saiu pisando firme para o quarto.
- . - chamou.
- Oi - ela respondeu irritada.
- Fala direito, tá bom? O que aconteceu?
- Eu estou te fazendo um imenso favor vindo para cá, será que você pode agradecer em vez de reclamar do meu humor? Aconteceu o que eu já esperava, tudo começou a ficar péssimo.
- Mas está tão bom aqui.
bufou.
- Que bom, então.
Pegou o celular e deitou na cama que seu pai - ou a mulher dele - tinha comprado pra ela. Como se aquilo um dia pudesse ser a casa dela, óbvio que não poderia.
- Não vai se arrumar?
- Antes vou mandar uma mensagem.
“Vou pirar. Preciso de você, coisa chata.”
- Pronto, agora vou me trocar.
- Você e suas mensagens, quantas já mandou, heim? Umas mil?
Mil era exagero, mas essa não foi a segunda mensagem que ela mandou pra desde que chegou aos Estados Unidos, mas ela só recebeu resposta de uma, o que tava sendo uma bosta.
- Não enche o saco, pirralha.

- Não vai ler? - Lindsay perguntou.
- Não, depois.
- Não é a primeira vez que você ignora uma mensagem hoje, ignorou várias.
- E você deveria ficar feliz com isso, significa que estou te dando total atenção.
- Verdade - Lindsay abriu um sorriso e abraçou . - Seria estranho eu dizer que já estou apaixonada por você?
- Não, é recíproco. - falou e beijou a garota a sua frente.
deveria ter pensado apenas em Lindsay durante aquele beijo, ele sabia disso, mas aquelas mensagem faziam ele sentir tão próxima que teve a sensação de que estava beijando a garota errada.
“Mas não estou” pensou.
Foi quem escolheu não ter nada sério com ele e mesmo que seus amigos tenham ficado impressionados com a rapidez do seu namoro, era um mal necessário. Ele tinha o direito e o dever de seguir sua vida.
- Agradeço sua atenção, mas pode olhar suas mensagens.
- Não. Nada é mais importante que você.

A noite estava acontecendo sem muitos acidentes. Tinham jantado em um bom restaurante e agora estavam comprando ingressos para ver um bom filme. Se não fosse o clima pesado, até que estaria sendo uma noite agradável.
- Sinto muito, mas não temos quatro cadeiras perto uma da outra. Temos três, serve? Duas filas atrás temos mais uma cadeira disponível. - a garota falou por trás do balcão.
- Eu fico sozinha, sem problemas. - disse.
- Certeza? - Marcelo perguntou.
- Sim.
- Não tem duas cadeiras próximas, não? Eu não queria deixar a sozinha.
- Sinto muito, mocinha, mas não temos.
- Está tudo bem, . Fica com eles. No final do filme a gente se encontra.
- Tudo bem.
- Pronto, pode fechar com essas.

- Licença, licença - por um segundo lembrou do seu primeiro dia na faculdade. Estava pedindo tantas licenças como daquela vez e também estava prestes a bater o recorde daquele dia referente a pisar nos pés das pessoas.
- Ai! - um garoto gritou, quando faltava apenas a cadeira dele para chegar a dela.
- Oh meu Deus, me desculpe.
Ele apenas a encarou, sob a escuridão da sala.
- Desculpe? - ela tentou mais uma vez.
- Você não parece pesar tanto, mas mudamos de opinião quando não se tem seu peso em cima de um único pé. - ela logo pensou que escutaria alguma grosseria, mas ele logo riu. - Está desculpada, acontece.
- Obrigada - falou e sentou ao lado dele.
- Você tem um sotaque engraçado.
- Coisa de quem não é daqui. Já morou em três países e fala três línguas.
Ela esperava algo como: Ual. Mas ele apenas disse:
- Ah, entendi.
já tinha virado para frente quando ele falou:
- Também falo três línguas. Só não morei em três países.
- Legal. Você…
- O filme começou, depois a gente conversa.
- Claro.
“Estou mesmo com saudades do , olha pra mim, tentando puxar assunto com um desconhecido.” pensou.
Quando o filme acabou logo levantou e seguiu para acompanhar , mas foi interrompida.
- Ficou chateada porque não quis conversar àquela hora?
- Como?
- Falei que quando o filme acabasse a gente conversava e você levantou e nem um: até logo, falou.
Ela riu.
- Não é nada disto, aqueles ali é minha família, estava indo atrás deles, estamos juntos.
- Não pode ficar mais um pouco? - quando viu uma interrogação na feição da menina, explicou - Aqui tem um ótimo restaurante chinês com peixes…
- Não como peixes.
- Então que tal…
- Anota meu número, quem sabe outro dia.
- Pode ser.
Ele anotou o número dela e disse:
- Te passo a mensagem para você salvar o meu.
- Claro.
- Até mais... - e a encarou, querendo saber seu nome.
- .
- Michael.
- Até mais, Michael.
- Ate mais, .
Ele a puxou e lhe deu abraço seguido de um beijo no rosto.

- , papai está perguntando se você quer pizza.
Antes dela responder o celular tocou.
- Alô?
- ?
- Sim.
- Ufa, você me deu o número certo - não precisou de mais pra ela saber quem era.

- , diz que estou ocupada, mas vou querer. Como depois. - a menina balançou a cabeça em um sim e saiu do quarto.
- Achei que você fosse me mandar apenas uma mensagem. - riu para não entregar o nervosismo. Mesmo sem saber exatamente o porquê, aquele ato tinha deixado-a com frio na barriga.
- Achei melhor uma ligação. Gosto de ligações.
- Eu sou péssima com ligações.
- Como assim?
- O papo some, eu fico envergonhada, não sei o que pensar, me impede de comer…
- Nem tente, ainda assim não vou me arrepender de ter te ligado, eu precisava me certificar que era você.
- Agora que já sabe, que tal mandar mensagem?
- Que tal a gente se ver amanhã?
- Eu mal te conheço.
Ele riu do outro lado da linha.
- Vou desligar e te mandar uma mensagem, no fim da nossa conversa você estará aceitando meu convite.
- Isso é um desafio?
- Talvez. Xaau, não quero acabar com minhas chances.
- Xau.
E sem esperar que ela fizesse isso, ele desligou o telefone.


Depois que chegou em casa tomou um banho, comeu e foi para o quarto. Enquanto mexia no celular deitado na cama lembrou-se das mensagens de e resolveu responder. Foram tantas que devia ser algo sério.
Quando viu que a mesma tinha dito que precisava dele, pensou que provavelmente se estivessem perto um do outro ela não mandaria isso. Ou talvez mandasse se estivesse passando por um momento difícil, ele era sempre seu consolador mesmo. Ao menos era dessa maneira que ele pensava.
“Tá bem?”
estava trocando mensagens com Michael quando a de chegou e mesmo estando em uma ótima conversa, abriu imediatamente a dele. Esperava mais alguma coisa, ela conhecia bem o amigo, sabia que ele estava tentando não manter muito contato, mas assim sim respondeu.
“Você sumiu”
Ele riu. Claro que ela reclamaria antes de responder.
“O que aconteceu aí?”
“Advinha! Meu pai, mas já estou muito bem agora.”

Se teve a intenção de deixá-lo curioso, conseguiu. Mas ele não assumiria isso.
“Entendi. Vou dormir. Beijos e fica bem.”
“Beijos. Obrigada.”

Seria mentira se ela dissesse que ficou um pouco triste por aquela conversa ter durado tão pouco, mas ela não iria bancar a maluca e o obrigar a falar com ela.
“Michael, vou domir, está bem?”
“O papo está tão ruim assim?”
“Não nada disso, só estou cansada mesmo.”
Na verdade estou triste por causa de um amigo babaca,
pensou.
“Cansaço é psicológico kkkkk.”
“Não me diga kkk.”
“É sim, posso te provar isto.”
“Como?”
“Continua falando comigo, se continuar querendo dormir, estarei errado. Se não, te provo minha teoria.”

riu, ele sabia como conseguir as coisas.
“Só um pouco então…”
Aquele pouco acabou se estendendo em mais de 700 mensagens que atravessaram boa parte da madrugada e no final ele refez o convite.
“Que tal sairmos amanhã?”
A conversa estava tão boa que se não fosse os olhos pesados e quase se fechando pediria para continuar. Riu ao perceber que ele iria conseguir.
“Que horas?”
“Às oito, pode ser?”
“Sim.”

Esperou que ele falasse que conseguiu, mas ele apenas mandou:
“Boa noite, dorme bem”
Sorriu. Talvez em Nova York algo possa ser legal.

- Como você não come peixe, quem no mundo não come peixe mesmo?
- Várias pessoas, Michael.
- Não conheço, quase desisti de você quando me disse isso, na verdade.
Desistir dela? Então ele queria mesmo algo?
- Mas voltando ao início, como você não come peixe, achei que não deveríamos pensar em comida hoje. Gosta de música?
- Sim - riu.
- Então, que tal um show de Paramore?
- Você tá falando sério?! - perguntou, empolgada.
- Sim - riu. - Sabia que você gostaria da ideia, mas não é a banda de verdade - viu o sorriso da menina murchar um pouco. - Mas não diminui o sorriso, é uma banda que faz uns covers perfeitos. Sério, vale muito a pena. E depois ainda podemos cantar muito no karaokê.
- Não - falou, mexendo as mãos rapidamente. - Eu não canto. Nunca.
Aquele nunca chegou rápido demais.
Depois de algumas horas lá estava , rindo sem parar enquanto cantava desafinadamente uma música de Morron 5.
- Eu não acredito que estou fazendo isso.
- Vamos, ainda temos que ir a um lugar.
- Mas…
- Vamos, por favor.
Deram as mãos e saíram da casa de show.
- Aonde vamos?
- Na verdade, não sei, eu só precisava te trazer até o carro e fazer isso.
Sem mais avisos agarrou os cabelos da nuca de e a puxou pra um beijo.
- Eu precisava desesperadamente disto.
- E eu não sabia que também precisava tanto até você fazer.
Dessa vez foi ela quem o puxou e o beijou. Mais rápido do que ela julgaria normal para si própria, ela já estava no mesmo banco que ele.
- Que tal irmos pra minha casa?
parou onde estava.
- Que tal você me levar para casa?
- Fiz alguma coisa errada?
- Não - respondeu, voltando para o banco do carona. - Só acho melhor eu ir para casa mesmo.
Em silêncio seguiram até a casa do pai de , mas Michael parou umas duas quadras antes.
- Ainda não chegamos. - ela avisou.
- Eu sei - disse, virando-se para ela. - Mas quero conversar com você. O que fiz de errado?
- Não entendi.
- Você entendeu sim. Estávamos tão bem, você parecia tão a vontade no carro, quando te chamei para ir lá para casa você mudou e ficou assim. Está com medo?
Ela riu.
- Nada disso. Estou normal.
- , por favor, estou começando a achar que você pensou algo péssimo de mim e isso está me ofendendo.
- Sou virgem.
Ela achou que ele iria rir, ou duvidar, dizer que ela não tinha mais idade para isso, mas ele apenas disse:
- Entendi. Mas não tem nada demais em nos beijarmos muito aqui, não é?
De onde aquele cara veio e como ele conseguia acertar sempre?
- Nada demais. - respondeu, já indo para o mesmo banco que ele.

***


- A continua mandando mensagens?
- Na verdade faz três dias que ela não dá sinal de vida.
- Mas você não se importa, não é? Afinal, está namorando - Mari disse.
- Fico um pouco preocupado, mas se ela estivesse mal, já teria falado, é sempre assim.
- E você o mesmo, não?
- Não tenho o tanto de problemas dela.

- E aí, a , sabe dela? - perguntou.
bufou, todo mundo só sabia perguntar disto?
- Não é melhor você perguntar isso pra , não? Ela é uma das melhores amigas da .
- E você o melhor amigo, ué!
- Mas eu não sei de nada, quer saber do que eu sei? Sei da minha namorada, do meu namoro.
- Por que você está tão estressado?
- Porque TODO mundo me pergunta da como se eu fosse, no mínimo, namorado dela. Às vezes sinto que pensam que estou à sombra dela.
o encarava, sem entender o motivo do surto.
- A sempre foi grudada com você, você mesmo me disse que ela sempre te mandava mensagem, por isso perguntei.
- Mas ela sumiu, não manda mais mensagens e se quer saber, é até bom mesmo.
- Por quê?
- Porque assim eu consigo seguir minha vida sem interferência dela.
- Mas você sabe que ela vai voltar né?
- Sei, - bufou. - Mas estou no início de um relacionamento, melhor eu esquecer esse fato por enquanto.
- Cara, isso é bastante gay, mas você sabe que ainda gosta dela, né?
- Não gosto, quer dizer, não agora. Só não sei como vai ser quando ela voltar. E como você disse: esse papo tá muito gay, vamos parar com isso.

- Oi - se apressou para acompanhar Mariana pelos corredores da faculdade.
A menina virou para trás e quando viu que era ele, riu. Ultimamente ele andava bastante obstinado a falar com ela.
- Oi, . - falou, ainda rindo.
- Assim não vale.
- Não vale o que?
- Você falando e olhando desse jeito. - e apontou para o rosto dela. - Assim você tira qualquer confiança que eu tenha.
Novamente Mari riu, mas sabia que ia passar dos dias, algo estava mudando naquele sorriso. Cada dia ele estava mais desarmado, mais encantado. Ele estava perto, estava conseguindo tê-la de volta.
- , posso fazer uma pergunta?
- Claro.
A menina o olhou de cima abaixo, esperando que assim ele entendesse a seriedade da pergunta, embora parecesse um pouco boba.
- Por que eu? Existem muitas garotas doidas por você por aí, aqui na faculdade tem dezenas delas, por que eu? Por que não voltar a ser como antes e ficar com essas meninas?
- E quem disse que não fico? - falou em um tom brincalhão e ela riu, sem saber que aquilo era mais que uma brincadeira. - Não sei direito a resposta, Mari. Mas você é a única garota que tenho vontade de passar o dia conversando, que eu teria coragem de andar de mãos dadas, de deixar entrar na minha casa sem ser de madrugada, isso deve significar alguma coisa.
A menina sorriu de leve. Não esperava por aquela resposta. Foi tão simples, mas tão bonita. Tão correta, mas sem parecer programada. Ali ela foi desmontada, só não achou que fosse a hora de admitir.
- Tenho que ir agora. Depois a gente se fala.
Antes que ela fosse embora pelos corredores, segurou seu braço.
- Poderíamos nos falar hoje à noite, tá tendo uma exposição super maneira de arte contemporânea e sei que se amarra nisso, que tal?
Desde que respondeu a pergunta dela que sabia que tinha conseguido, estava claro nos olhos dela, não tinha mais raiva, ou nojo, só um pouco de medo.
- Prometo que vai ser legal. Por favor, Mari. Aquilo é a sua cara, não vai ter graça se eu não for com você.
Quase riu, pensando que nunca errava, ele sempre sabia o que dizer as garotas.
- Tudo bem. Às oito.
- Às oito. - e beijou o rosto dela.

***


Quando Michael disse que a levaria para jantar e sugeriu uma roupa arrumada ela não achava que precisaria ser tão arrumada assim até chegar ao restaurante. O teto parecia coberto de ouro e as mesas pareciam ter cristais. Era tudo tão lindo e luxuoso que temeu não saber comer ali.
- Você deveria ter me dito que estávamos vindo para um lugar de luxo - falou, louca para se encolher na cadeira, mas sabendo que aquilo não era atitude para se tomar ali. - Nem de longe eu estou vestida para esse lugar.
- Como não? Você está linda nesse vestido soltinho.
- Michael, eu estou usando all star.
- O que só te deixou mais linda ainda. - ele falou, parecendo sincero.
rolou os olhos.
- Se soubesse eu teria colocado um salto ou ao menos uma sapatilha.
- Se eu achasse que você não estava vestida a altura, tenha certeza que eu te avisaria. Mas você está linda, - se inclinou na mesa para que pudesse passar o polegar no rosto dela. - A mulher mais linda desse restaurante e muito além do nível dele.
Tinha como discutir e dizer que não? Aquele jeito a desmontava toda.
- Você mente muito bem, tão bem que chego a acreditar. - e mesmo achando inadequado, rolou os olhos novamente.
- Não minto, você está realmente muito linda. Confie mais em você.
- Por favor, não me venha com papo motivacional, nem adianta, já escutei muito isso.
Antes que ele pudesse falar algo o garçom chegou e ela agradeceu, achando que ele não falaria mais disto, mas assim que o garçom foi embora ele retomou o assunto.
- Você não confia em si própria?
- Não tanto como eu gostaria.
- E você duvida exatamente de quê? - Michael viu na expressão de que ela não queria ter aquela conversa, mas decidiu continuar. - Vamos, eu não vou mudar de assunto.
- De quase tudo. Do amor, do meu pai, da minha capacidade de manter as pessoas perto, de mim, de você.
- De mim? - ele perguntou, confuso.
- Sim - respondeu, como se fosse óbvio. - Você permanecer na minha vida colocaria tudo que duvido ser possível no lugar de uma verdade.
- E você torce pra eu sair da sua vida, então?
- Não. Mas já espero o momento que você vai sair da minha vida sem aviso.
“Onde eu fui me meter? Essa garota não é normal.” Michel pensou.
- Sinto em te informar, mas você está errada. Permanecerei aqui.
- Duvido muito, mas espero que sim.

- Lindsay, poderíamos jantar com meus amigos hoje? Que tal?
- Hoje eu estava com tanta preguiça de sair de casa.
- Vamos, por favor.
- É que…
- Por favor, preciso que vá.
Lindsay riu, o que ele estava aprontando?
- Tudo bem, vamos.
- Por isso eu te amo.
Linday riu e o puxou para um beijo, era sempre tão bom.

- O que o vai aprontar? - Mari perguntou quando o amigo pediu para levar seu violão para o restaurante. - A propósito, achei que a gente fosse sair sozinhos.
- Tá querendo ficar sozinha comigo? - falou e riu. - Pensei que assim seria obrigado a te chamar pra sair novamente e você seria obrigada a aceitar - E sobre o : nada. A Lindsay só não pode me ver com isso. - respondeu, simplesmente. - Guarda no carro, na hora certa eu pego.
- Ele vai fazer merda - Mari falou.
- Deixa ele. - riu e beijou a garota.
Desde a última vez que saíram que eles meio que tinham se resolvido. Nada muito sério, mas podia ser chamado de relacionamento. Sem apresentações para família, sem ligações a toda hora, mas com a fidelidade que um namoro exigia.

- Onde está o ?
- Foi até o meu carro, Lindsay.
- Vou até lá, preciso falar com ele.
- Ele pediu para você esperar aqui. – avisou.
Antes que a garota respondesse, viu o namorado entrando no restaurante tocando violão e cantando Photograph.
- O que é isso? – perguntou a ele, apenas batendo os lábios e não conseguindo conter o sorriso.
caminhou até a namorada e terminou a música em pé, ao lado dela. Assim que chegou a última nota ele se ajoelhou ao lado da cadeira dela e tirou do bolso uma aliança prateada.
- Queria te dizer que o que quero com você é sério, te amo tanto e essa aliança é só uma maneira de demonstrar que te quero aqui sempre. Logo trocarmos para uma de noivado e depois nos casaremos, quero passar minha vida inteira com você.
Depois de limpar algumas lágrimas, Lindsay respondeu:
- Então terei a melhor vida que alguém poderia ter.
- O não muda. - Gih cochichou no ouvido de , que mesmo sem saber do passado dele, achou aquilo extremamente exagerado.
- Ele se dizia louco pela até ontem, praticamente - disse, chocada.
- Vou te dizer que em partes ele tá mais que certo, ele precisava mesmo esquecer a , ela nunca o valorizou mesmo. Mas infelizmente, ele só está em mais um de seus teatros.
- Vai ver com a também era só teatro.
- Não - Gih respondeu, rindo. - De uma maneira estranha e só dele, gostava mesmo dela.
Quando tirou sua atenção da namorada e olhou para os amigos viu no rosto de todos - menos de e - a mais pura expressão de reprovação. Bufou. Afinal, o que eles queriam? Ah! Provavelmente o queriam correndo atrás de uma certa garota que nunca deu a mínima para ele.

Depois de toda emoção causada pela declaração de , os ânimos se acalmaram e o jantar seguiu normalmente.
- Que tal irmos para minha casa agora?
- , eu aceitei vir com você, provavelmente aceitarei seu convite de sairmos novamente, mas ir a sua casa está fora de cogitação. – Mari respondeu.
O garoto se segurou para não rolar os olhos. Mas ela tinha os motivos dela, isso ele tinha que admitir. E ao olhar para o lado e ver maravilhosa em um vestido tubinho, achou que não seria tão ruim tomar um toco de Mariana.
- Vai de táxi ou com o , ?
- De táxi, a vai dormir no e não quero fazê-lo mudar a rota só pra me levar.
- Vem com a gente, então. Sua casa não fica tão distante assim da casa da Mari, posso te deixar lá.
Ao olhar nos olhos de ela sabia que aquilo era bem mais que uma simples carona, por isso resolveu negar.
- Não precisa, vou de táxi mesmo.
- Vamos, . Não vai ser nenhum esforço pra o . Ela vai, , nem que tenhamos que carregá-la.
- Tudo bem. - rolou os olhos e entrou no carro.

- , eu ainda estou maravilhada com tudo que você fez. Você foi maravilhoso. Maravilhoso.
- Você não faz ideia do bem que me faz, Lindsay. Me ajudou a superar tanta coisa.
- Como assim?
- Nada - puxou a garota para um beijo que foi retribuído e logo os levou para cama.
Depois que seu corpo relaxou, Lindsay puxou o lençol para se cobrir e virou para .
- Posso te fazer uma pergunta?
- Pode - sorriu.
- Existe algo sobre sua vida amorosa que eu precise saber?
Lindsay viu o sorriso de murchar e sentiu seu coração fazer algo semelhante.
- De onde você tirou essa pergunta?
- Só me responde.
- Não, não tem nada que você precise saber.
- Essa foi a sua chance de me contar alguma coisa.
- Não tenho nada para contar, Lindsay.
- E eu acredito - arrastou-se para dar um selinho nele. - Eu escolho acreditar em você.

- Xau, Mari.
- Xau. Até amanhã, . Até depois, .
- Até.
- Depois te ligo, Mari.
- Okay.
Assim que a menina desceu do carro e entrou em casa, olhou para e pediu.
- Vem pra frente.
- Não, melhor aqui mesmo.
- Não vou bancar seu motorista, vem pra frente.
Bufando, ela passou para o banco da frente.
Os dois seguiram calados pelas ruas de Londres e ela estava até se sentido mal por ter achado que tinha segundas intenções, mas logo viu que desde o começo estava certa.
- Não é por aí, .
- Eu sei - falou, rindo. - Só estamos tomando um destino diferente.
- Para o carro. - quase gritou.
- O que?
- Para o carro.
- Por…
- A gente não vai ficar. E mesmo se fôssemos, seria muito legal da sua parte perguntar se eu queria, antes de já seguir pra sua casa ou um motel qualquer.
É, ela tinha razão.
parou o carro.
- Desculpa. Que tal irmos pra minha casa?
- Eu já disse que não iremos repetir o que aconteceu aquele dia.
- Por que não?
- Porque não quero.
- Usa outra desculpa. Nós dois somos experientes o suficiente pra saber quando o outro gostou da transa e ficou com vontade de mais.
- Tem o , a Mari, a galera inteira. Independente de ter gostado, ou não, não ficaremos mais.
- Eles não precisam saber o que aconteceu aquele dia e muito menos o que vai acontecer hoje.
- A Mari está acreditando em você. Você acabou de dizer a mesma que depois ligaria para ela.
- E vou ligar. Nossa atração e o que fizermos hoje ou fizemos antes, não interfere nisso.
- Se você não se preocupa em trair a Mari, eu me preocupo.
- Aí é que está, eu não estou traindo ninguém. Não voltamos. Estou solteiro e você também.
- Como você consegue manipular os fatos dessa maneira? - perguntou, rindo. - Você sempre consegue deixar as coisas menos erradas - e voltou a rir.
- Só estou falando a verdade. Olha para mim - pediu e a garota o olhou. - A gente sabe que foi ótimo. Diz a mim, olhando nos meus olhos que quando eu faço isso - puxou de leve os cabelos da nuca dela - você não fica com vontade de repetir.
Esperou ela responder e depois de respirar fundo, ela disse:
- Vamos pra sua casa.

***


- Você contou a sobre o ?
- Não. Ela parece tão bem, e eu não vimos motivos de contar. Ela nem pergunta mais por ele, só de modo geral.
- Ela tá com alguém, né? - perguntou, com uma expressão não muito boa.
- Por que tá olhando assim? Seu amigo está namorando, ela não pode se envolver também?
- É só que…
- Fala.
- O às vezes diz que ela só o procura porque só tem a ele, ultimamente isso parece fazer sentido.
- Não sei se você sabe, mas a mandava mensagem para o o dia inteiro quando chegou e ele não respondia. Dia desses até falou com ela, mas foi rápido e impessoal demais, e se quer saber, ela queria mais. A sabe que tem a mim, a , mesmo do jeito dela, ela escolheu tê-lo por perto, não é por necessidade. Só que ninguém é obrigado a retribuir algo só porque o outro sente. E sinceramente, depois daquela cena no restaurante vi que a estava mais que certa, ela não é o tipo de pessoa que gosta daquilo. Ela pode não saber demonstrar direito, mas nem sempre é por maldade, é só medo de magoar as pessoas por dizer sentir o que não sente. Já o seu amigo pode ser um amor com todos, até mesmo com ela, mas não pensa duas vezes em fingir algo, mesmo sabendo que isso pode magoar alguém no final.
- Ela o magoava com aquele jeito.
- Você prefere o quê? Ser magoado pela verdade ou ser magoado por ter vivido uma mentira?
viu a morena cada vez mais irritada e sorriu. Ela era tão leal às amizades e ficava tão linda daquele jeito.
merecia qualquer tipo de elogio, só por ter colocado aquela mulher em sua vida.
- Prefiro nós dois. - puxou-a e lhe deu um beijo. - Prefiro ser nós dois. Onde nenhum tem medo de dizer o que sente e sabe que o outro não está mentindo sobre seus sentimentos. Prefiro nós dois, minha linda.
- Não vale - riu e o beijou.
- Vale sim. e são nossos amigos e embora eu sempre queira defender o e você a , jamais deixarei a loucura dos dois interferir na nossa relação.
- Por essas e outras é que eu amo você. Não preciso esconder, temer e muito menos de uma aliança para saber e mostrar isso.
- Te amo, morena.

- Como você e o Michael estão?
- Tá tudo indo tão bem e tão rápido que às vezes sinto medo.
- Medo de quê? Deixa de ser trouxa.
- Não sei, - riu. - O último cara que beijei antes dele é meu melhor amigo e vai fazer um mês que mal nos falamos.
- E você se preocupa com isso? Para de ser boba. O tá nem ligando pra isso, não ligue também.
- Como assim tá nem ligando para isso?
Droga!
- Cê sabe, ele tá namorando e tals.
- Isso eu sei desde que cheguei aqui, tem mais alguma coisa?
- Não, só isso mesmo.
- Você está me escondendo algo, .
- Não estou, não.
- Você está com a voz da mentira - brincou.
- Não é nada. É só que faz uma semana desde o show que ele deu em um restaurante. Cantou uma música na frente de todo mundo e depois se ajoelhou e entregou uma aliança de compromisso para namorada. Até mesmo os amigos antigos dele disseram que dessa vez ele se superou. Das duas uma: ou o tá falando a mentira do ano, ou ele gosta mesmo dessa garota.
estava apaixonada por Michael, sabia disso, mas escutar àquilo foi como levar um soco no estômago.
- Entendi. Aposto na mentira do ano, e você?
- Eu também - gargalhou, nem se dando conta da tristeza da amiga.
- A está aqui fazendo sinal para eu desligar - mentiu. - Até mais.
- Até mais, meu amor.

desligou o celular e respirou algumas vezes. Precisava de uma explicação para aquela tristeza e não aceitava nenhuma que envolvesse qualquer sentimento seu por .
“Não sinto nada por ele. Estou tão bem com o Michael.” Pensou.
- Isso. Eu não sinto nada por ele. – falou sozinha.
Segundos depois já estava com o celular na mão mandando a mensagem para ele.
“Esqueceu de mim, seu trouxa? Saudades, rapaz.”
Para sua surpresa ele respondeu rapidamente e começaram a trocar mensagens, ela precisava dizer algo a ele e achou um meio.
“Como está o namoro? Soube que você deu um show esses dias.”
“Povo boca grande hahaha. Está tudo bem”
“Que bom! Fico feliz de saber que nós dois - duas pessoas estranhas e complicadas - estamos nos resolvendo e nos arranjando.”


olhou a mensagem e não entendeu direito. Lutando contra sua vergonha na cara e seu orgulho, respondeu:

“Nós dois? Você está com alguém?”
“Sim! - para primeira pergunta - E sim pra segunda também hahaha.”


Tentando soar menos curioso do que estava, respondeu:

“Entendi. Que bom. Nem me contou.”
“Se você não tivesse me evitado esse tempo todo, eu teria mantido contato e te falado. Hahaha. Preciso ir, até mais.”
“Vai lá. Até mais.”


encarou o celular satisfeita. Sabia que aquilo não era um jogo, mas algo dentro dela precisava ao menos tentar fazê-lo sentir algo parecido com o que ela sentiu ao saber o que lhe contou.
encava as mensagens sem saber direito o que sentia.
Nem de longe estava incomodado como antes se incomodaria, mas não dava para dizer que estava tudo bem. Era um misto de coisas, o que lhe levou a concluir duas coisas: Não sentia a mesma coisa por , mas não a tinha esquecido.

Michael e já estavam sem roupa deitados na cama do garoto. Ele a beijava de forma intensa e ela se concentrava em não entrar em pânico.
“Será que é normal ficar assim?” se perguntou.
Antes que sua mente respondesse a sua própria pergunta, Michael falou:
- ? Você quer mesmo isso?
A menina baixou os olhos.
- Eu estou um pouco nervosa.
O menino sentou-se na cama.
- Você não está aqui.
- Eu só…
- Não sei o que te motivou a dizer que queria subir quando te chamei no carro, mas você não quer isso agora e nem queria antes. Na verdade só queria provar algo que eu nem quero saber. Coloca suas roupas, é o melhor a se fazer.
Envergonhada, ela levantou e começou a se vestir.
- Está irritado?
- Quer mesmo a verdade?
- Sim.
- Um pouco, mas eu jamais tiraria sua virgindade vendo que você não desejava isso. Você podia não ter me colocado nessa sua loucura, claro, mas isso não me dá o direito de me aproveitar de você.
- Desculpa e obrigada - falou, já de sutiã e calcinha.
- E foi até melhor. Você é ótima, sua primeira vez deve ser com alguém que vá estar ao seu lado por mais tempo, que venha a ser seu namorado de fato.
Já estava colocando a calça quando parou e o encarou, confusa.
- O que você quer dizer com isso?
- Essa pessoa não sou eu, sabemos disso.
- Está acabando comigo?
- Não é isso…
- Você está acabando comigo porque não transamos?
- Você está maluca? Tive a chance de me aproveitar de você e dispensei, te trouxe a realidade. Só estou falando o óbvio, a gente mora em países diferentes. Não vou entrar em um relacionamento a distância. Ignoramos isso pelo mês inteiro, mas cedo ou tarde teríamos essa conversa.
- Se você não via futuro, por que se envolveu?
- Porque é bom estar com você. Gosto de você, , gosto mesmo. Mas desde sempre eu sabia que não poderia te amar e sei que você também não me ama.
- Como pode saber?
- Eu sempre soube e depois de hoje tenho certeza. E não é porque você não quis transar comigo, mas porque embora eu prefira achar que não, talvez você já tenha alguém em seu coração para tirar sua virgindade.
- Eu gosto muito de você.
- E eu de você. Mas se quisermos nos ver depois de hoje é sabendo que só será até você viajar.
- Prefiro não te ver.
- Tudo bem. Ainda posso ir ao aeroporto no dia?
- Sim - sorriu. - Você foi o melhor daqui, quero que seja minha última lembrança.
- Então, até o fim de semana - levantou e deu o beijo na boca dela. - Desculpe não ser mais do que um mês.
- Tudo bem. Desculpa também.


Capítulo 17

olhou-se no espelho, apenas vestindo lingerie e se perguntou quem ela tinha sido aquele dia. Aquela não era ela.
Todas as noites nos últimos três dias ela fazia isso, ia para a frente do espelho, para ver o quanto ela tinha mostrado a alguém com quem nunca quis realmente fazer nada. Aquela menina de três noites atrás não era ela, não conseguia se ver em nenhuma atitude dela. Ela não era o tipo de menina que ia para a cama com alguém do nada, afinal, ainda era virgem. E dias atrás estava ela, tentando se convencer que aquilo era o certo. Quem ela tinha sido aquele dia?
Ela precisava falar com alguém sobre aquilo, as palavras de Michael ainda não tinham saído da sua mente.
“Não sei o que te motivou a dizer que queria subir quando te chamei no carro, mas você não quer isso agora e nem queria antes. Na verdade só queria provar algo que eu nem quero saber.”
Pensou em ligar para , mas não se sentia pronta para contar uma atitude tão infantil a alguém que sempre lhe pareceu tão madura.
Resolveu ligar para , ao menos já fizera loucuras maiores que ela
- .
- Oi, .
- Tá ocupada? Preciso conversar.
Não precisou dizer mais nada, conhecia muito bem aquele tom de voz.
- O que aconteceu?
- Eu não sei. - falou, tentando manter o controle.
- Como assim você não sabe? Você me ligou para contar algo, é só falar.
- Não surta.
- Aí meu Deus, você já está me fazendo surtar. - falou em um tom engraçado.
- Não foi nada demais, quer dizer, pra mim sim, mas não acho que você vai ver assim.
rolou os olhos e sabia que ela estava fazendo isso. Conhecia bem a amiga.
- Fala logo, .
- Lembra do Michael?
- Sim, três dias atrás você me falou que tinham parado de se ver. Por que estamos falando do passado mesmo?
riu. Por isso sabia que ela era a pessoa certa para conversar.
- Três dias atrás estávamos na casa dele, sem roupas, em cima da cama dele.
- Minha nossa, você não é mais virgem?
- Sou!
- Como assim? Mas você disse…
- Eu não queria, nunca quis…
- Ele te forçou?
- Não! Ficou maluca?! Eu não sei o que estava na cabeça, quando vi já estava dizendo que queria sim subir, e já estávamos sem roupas e eu só conseguia pensar: não tenho certeza disso, não acho que queira isso.
- Não chora.
- Eu não estou chorando.
- Mas aviso antes que queira.
As duas riram.

- Mas bom, ele percebeu e me mandou vestir a roupa.
- Que bom, né?
- Sim.
Fez-se um minuto de silêncio até falar.
- Você não me ligou só para isso.

- Liguei sim.
- Sei que não, . Pode contar. O que te levou a fazer isso?
- Eu não sei, quer dizer, você me contou aquilo e eu fiz de tudo para o saber que eu estava com o Michael e depois estava lá, na casa do Michael.
- Você está me dizendo que fez isso por causa do ?
- Não! Eu não fiz isso por causa dele! Mas eu não sei exatamente por que eu fiz…
- , você gosta dele.
- Eu estou mal por não ver mais o Michael, ele me faz tão bem, nem lembro…
- Mas você gosta do , . É dele que você gosta. Você iria agir sem pensar, coisa inacreditável, por ciúmes do .
- , eu vou desligar, tá bom?
- , você tem que aceitar…
- Claro, se eu gostasse dele, eu aceitaria. Mas eu preciso mesmo desligar, está bem?
- Claro - bufou para que ela escutasse. - Fica bem e não faz nenhuma besteira, tá bom?
- Sim. Obrigada.
- Por nada. Não pira.
Ela terminou aquela conversa se perguntando: será?

- O que você quer, ?
- Só queria saber se você não está a fim de uma festinha particular aqui em casa?
rolou os olhos.
- , preciso te lembrar que não temos um caso? Você não tem porque me ligar querendo uma festa particular. Onde está a Mari?
- Com a Mari é diferente. As vezes que ficamos não tem nenhuma ligação com a Mari.
- Mas deveria ter, se você gosta mesmo dela, não tem que ficar com mais ninguém.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Sério? Se achas tão normal assim, diz pra Mariana que você está ficando com outras pessoas.
- Tuuudo bem. Não precisa vir aqui em casa, melhor dizendo, não venha.
- Você precisa…
- Não te liguei a procura de sermão, está bem? Liguei a procura de alguém para tomar todas e depois fazer sexo, sem precisar de complicações e nem perder a Mari, mas esse alguém não é você.
- Não mesmo. Até mais, .
- Até mais.

- , quem é essa que seus amigos tanto falam?
- Uma amiga nossa, estuda comigo.
- Vocês são muito próximos?
- Sim. Acho que sou o melhor amigo dela.
- E ela?
- Como assim?
- O que ela é para você?
- Por que tá perguntando essas coisas, Lindsay?
- Por nada - deu de ombros, mas ao perceber o olhar do namorado, completou: - Todos parecem gostar muito dela e quando falam dela você tenta parecer distante, como se não fosse o MELHOR amigo dela.
- Não entendi a ironia.
- Não tem ironia. Só fiquei curiosa para saber o que ela era para você, já que parece ser algo para os outros.
- Ela é alguém importante para mim, me preocupo com ela, não é à toa que sou o melhor amigo dela.
Lindsay o encarou, como se esperasse mais alguma coisa.
- Não precisa sentir ciúmes dela.
- Não sinto ciúmes dela - riu. - Só fiquei pensando. Às vezes parece que eu estava ocupando uma vaga naquela roda de amigos, e logo a dona desta vaga vai chegar, não é mesmo? Ela parece ser bem querida e legal.
- Não tente fazer comparações, vocês não têm nada em comum. Isso é, inclusive, o mais legal de tudo.
- Como assim?
Logo percebeu o quanto aquela frase parecia reveladora e tentou consertar.
- Se vocês se parecessem iria ser ruim, aí sim poderia ser que você estivesse no lugar dela. Mas não existe nada que vocês se pareçam, assim tem lugar para as duas.
- Eu não quero ser vilã, okay? - balançou a cabeça em um sim. - Mas se minha opinião puder ser levada em conta, não queria que você mantivesse com ela a mesma proximidade de antes.
- Lindsay, eu já disse que não precisa ter ciúmes dela.
Lindsay riu de maneira um pouco forçada.
- Se eu estivesse mesmo com ciúmes, isso não seria um pedido.

***


As malas já estavam prontas, era a hora de voltar para Londres.
A maior parte de se sentia ótima por isso, mas algo doía um pouco e ela sabia que tinha a ver com Michael. Conhecendo-se como sabia que se conhecia, se perguntou até onde isso era sentimento por ele e o quanto era vontade de sentir algo por ele.
Gostar de Michael e sofrer pela distância parecia bem mais fácil do que aceitar que gostava do seu melhor amigo, o cara que sempre foi louco por ela e agora estava namorando. Na verdade, ele era sempre assim, não era? Ficou com a Flávia mesmo dizendo sentir algo por ela, ainda teve a garota no campus da faculdade e algumas outras coisas que tinha visto ou ouvido falar. Michael, por mais clichê e até doloroso que fosse ser, ainda era a melhor opção.
- Vamos? - Marcelo perguntou, tirando-a de seus pensamentos.
- Sim, pai.
Ah, seu pai. Esse um mês com ele foi tão estranho. Claro que gostou de alguns momentos, mas o melhor de Nova Iorque tinha sido distante dele e nem sabia se podia culpá-lo, afinal, ela foi quem se manteve distante na maior parte do tempo. Mas é que estar com ele e a namorada fazia com que se sentisse traindo não só sua mãe, mas a si mesma. Era um esforço diário para rir, engatar uma conversa, jantar todos juntos, aquilo tomava seu ar e sugava tantas coisas boas.
Esses dias com seu pai a fez perceber que o amava, independentemente de qualquer coisa já feita por ele, mas também percebeu que nem mesmo esse amor, que ela sabia que era grande, seria capaz de fazê-la esquecer do que aconteceu.
Após sair de seus pensamentos pegou a mala e seguiu o pai. Assim que entrou no carro mandou uma mensagem para Michael perguntando se ele iria mesmo até o aeroporto, mas não obteve resposta.

Já estava quase na hora de embarcar e nada de Michael, embora esperasse por isso, se sentia um pouco mal. Ele foi alguém que fez tão bem e tão rápido, queria poder dar adeus a ele.
- Acho que dá tempo comer alguma coisa antes de embarcar. - Marcelo disse do nada. - Vamos até o Starbucks.
- Vou ficar por aqui, pai.
- Você está bem, ? - perguntou.
- Deve ser o namoradinho - Rachel brincou e se controlou para não rolar os olhos.
- Só não quero ir, . Mas está tudo bem sim.
- Okay, então.
Os três saíram e ficou lá, imersa em suas lembranças e dúvidas.
- Quem você pensa que sou para ainda me mandar a mensagem perguntando se eu viria? É claro que eu viria.
A garota levantou o olhar e viu Michael sorrindo debochado.
- Você veio. - e pulou no pescoço dele para um abraço.
- Claro que eu vim. - ele respondeu, rindo, e se afastando um pouco para fazer algo que ela não esperava. Ele beijou-a. - Cadê sua família?
- Foram comer alguma coisa.
- E você não está com fome?
- Não.
- Claro que está, era a saudade de mim que estava cortando seu apetite. Vem, vamos comer antes que sua família chegue.
E lá estavam eles, sentados em uma mesa, rindo como se nunca fossem deixar de se ver. Era isso que ela gostava nele. Michael não tinha problemas e conseguia fazê-la esquecer dos seus. Poderia até ser fantasia, mas ela não se preocupava com isso.
- A gente poderia tentar. - ouviu-se dizendo.
- Ah, . Você sabe que não daria certo.
- Por que não?
- Não seria justo com a gente. Você é a mulher mais encantadora que eu conheci na vida, mas também é a mais complicada - ele riu e ela também. - Você se finge de durona, mas gosta de atenção, de carinho. Não vou estar lá para te dar nada disso.
- É.
- Já tentei isso uma vez e não deu certo. Embora você seja mil vezes mais importante para mim, acho que ainda não seria o suficiente.
- Você está certo, eu só…
- Você tem medo de voltar para Londres.
Não precisou usar palavras para Michael perceber que ela não tinha entendido.
- Por algum motivo você tem medo de voltar solteira para lá. E se quer saber, isso me deixa louco de ciúmes.
gargalhou. Ele conseguia transformar um papo sério e chato em algo engraçado.
- Você não pode sentir ciúmes de mim. - disse, ainda rindo. - E tá enganado.
- Claro que não estou. E claro que posso sentir ciúmes, você foi praticamente minha namorada.
- Desse um mês aqui, 21 dias ou 23 foi com você.
- Tá vendo? Um namoro.
Os dois riram.
- Por pouco não virou isso, não é?
- Não virou porque no fundo nós dois sabíamos que não daria certo.
- É, isso é verdade. - concordou. - Tenho que ir, olha minha família ali.
- Vai lá. - Michael disse, levantando-se da mesa.
- Não vem?
- Acho melhor não. Conhecer seu pai tornaria isso um namoro de verdade. - ele brincou.
- Claro. Nada de conhecer a família. Fora que seria muito triste você conhecer justamente no dia que estou indo embora.
- Depressivo.
- Chato.
- Inadequado.
- Totalmente contra as regras.
- Vem cá - puxou-a para um abraço com os dois ainda rindo. - Você é maravilhosa, está bem?
- Está bem. E você também é.
- Eu sei.
Depois disso se beijaram mais uma vez e depois mais outra e mais outra.
- Melhor eu ir agora.
- Me avisa quando chegar em Londres.
- Aviso sim.
E se beijaram mais uma vez antes dela virar as costas e ir para perto da família. Quando virou para trás na intenção de vê-lo mais uma vez ele já estava quase saindo do aeroporto.
É. Michael não fazia o tipo que viraria para trás.

- Filhas! Que saudade de vocês!
- Mamãe! - correu para os braços da mãe. - Eu senti muito sua falta.
- Senti sua falta, mãe. - disse.
- Como foi lá?
- Foi ótimo - disse.
- Eu achei melhor do que eu esperava.
- Sério? Você, ?
- Acho que a está namorando.
- Você está namorando? Minha nossa! Acho que Nova York fez muito bem a você - Kátia disse, rindo.
rolou os olhos.
- Não se anima. Eu não estou namorando ninguém. No máximo consegui um amigo.
- Mas é só amigo mesmo?
- Mãe! - falou e abraçou Kátia. - Não pira. Eu não estava e nem estou namorando. É sério, esse tal garoto é só um amigo.
- E quando você vai finalmente namorar?
- Eu não preciso disto, mãe.
- Eu gostava do . - Kátia falou, rindo, como quem não quer nada.
Na mesma hora rolou os olhos. Será que existia alguém que não torcia para vê-los juntos?
- O é apenas meu AMIGO.
- Infelizmente. - Kátia novamente riu ao falar.
- Que tal mudarmos de assunto e irmos embora? Não gosto da minha vida amorosa em pauta.
- Porque você mal tem uma, meu amor.
- E eu amo isso.

- A turma inteira vai para o pub hoje à noite, vocês vão?
- Hoje não, Gih. - respondeu, por ele e por Lindsay.
- Mas hoje a…
- Hoje eu tenho outros planos para nós dois. - insistiu e encarou Gih, torcendo para que ela entendesse que não deveria falar mais nada.
- Tudo bem, então. Amanhã a gente se vê. Beijos.
- E quais são esses planos? - Lindsay perguntou com um sorriso no rosto, assim que Gih saiu.
- Que tal um jantar em um ótimo restaurante? - indagou, tentando não demonstrar que pensou no programa aquela hora.
- Eu acho ótimo, meu amor.

- O não vem? - Graças aos céus alguém fez a pergunta que tanto queria fazer.
- Não vem, , disse que tem um compromisso.
- Um compromisso. - respondeu, sabendo de que compromisso se tratava. - Lindsay.
- Provavelmente - respondeu, sem querer afirmar de verdade, mesmo sabendo.
escutava tudo em silêncio, pensava que talvez assim fosse mais fácil esconder sua decepção, que sabia, estava em sua cara.
Depois de um mês fora, como assim o melhor amigo dela não faz questão de aparecer e nem mandar uma mensagem? pensou que poderia ter milhares de defeitos, mas no lugar dele não teria feito isso. Ela ao menos sabia ser leal.
- Está tudo bem, ?
- Por que não estaria, ?
- Até eu esperava que ele estivesse aqui.
- Eu não. O já não é o de antes há muito tempo.
sabia que toda vez que ficava um pouco agressiva, algo estava doído dentro dela, por isso apenas a abraçou e disse:
- O que se ferre, a gente tá aqui contigo.
- Isso! Agora que ele foi se ferrar, que tal esquecermos dele um pouco?
- Ótima ideia. Vem dançar!
Mesmo não gostando de dançar levantou e foi. Se era para deixar as irritações para lá, tudo era válido.
- Qual o nome da linda moça à minha frente? - um rapaz bonitão perguntou.
riu. Quando iria aprender a lidar com elogios?
- , meu nome é .
- Creio que alguém já te disse isso, mas você é muito linda, .
- Obrigada.
- Será que podemos dançar, ?
- Não sou muito boa nisto, mas claro que podemos.
não demorou muito na mente da garota. Ela podia dizer que a viagem à Nova York não foi cem por cento boa, mas ela lhe deu algo que jamais conseguiria em Londres, ela lhe deu uma possibilidade de sair daquele drama adolescente que tinha entrado sem nem perceber. Afinal, admitindo, ou não, ela sabia que estava mesmo dentro daquela história toda. Por mais que desde o começo tenha se negado a ter algo verdadeiro e profundo com , tudo que ela conseguiu foi de fato ter algo com ele.
Não sabia o que era, nem como sairia daquilo, mas ela sabia que tinha algo.
- Aquele pessoal são amigos seus? - o rapaz, que se chamava Adam, perguntou.
- Sim, são sim.
- Eles ficariam chateados se você fosse embora comigo? - Adam perguntou, enquanto olhava sugestivamente para .
- Ah, não! Quer dizer, não vamos embora. É que suponho que você esteja me chamando para sair daqui e ficarmos em algum lugar…
- Sim, isso mesmo. - o menino a olhou como se fosse óbvio.
- Mas eu não posso, entende? Quer dizer, você entendeu um pouco errado as coisas. Isso aqui é apenas uma dança mesmo.
- E você esperou esse tempo inteiro para me dizer isso? - viu o semblante do menino mudar e ficou se perguntando o porquê de tanta irritação, por acaso ela tinha dito que queria algo com ele?
- Mas eu achei que fosse mesmo só um dança, para ambos.
- Você acha que chego pedindo para dançar com uma garota querendo apenas uma dança?
- E não deveria?
- Ninguém faz isso, principalmente quando a garota fica se insinuando para você a música inteira.
- Mas eu não me insinuei para você em momento algum! - pôde-se ouvir gritar de tanta irritação.
- Claro que sim. Você é daquelas que se faz de difícil, não é? Primeiro banca a tímida com o elogio, daí depois mostra interesse enquanto tenta me seduzir, mas quando parto pra cima volta a bancar a desentendida, só pra eu bajular mais um pouco. Tudo bem, a gente pode continuar com isso por mais um tempo, você é gostosa, vale o esforço, desde que me prometa que vou te comer no final disso tudo.
queria poder dizer que ficou com tanta raiva que nem conseguia escutar o que ele dizia, mas infelizmente ela escutou tudo, cada palavra do que ele disse e foi impossível controlar-se, quando deu por si já tinha dado um tapa no rosto dele.
- Nunca mais fale assim com qualquer mulher que você conhecer na sua vida.
Adam passava a mão no rosto sentindo cada parte dele latejar de dor, mas juntamente com a dor sentiu um descontrole ainda maior crescer dentro de si. Puxou pelo braço de - o que percebeu - e a encarou de maneira assustadora.
- Olha, gatinha, eu até curto uns tapas, mas isso é só durante o sexo, e outra, quem bate sou eu.
- O que? Me solta!
- Você…
- , o que está acontecendo ali? - perguntou, já soltando a namorada e indo em direção a .
- Acho que a está com problemas.
- O que?
Quando virou, já estava indo em direção ao casal brigando. Espera um pouco, aquela era ? Foi quando ele se deu conta do que falara.
Antes mesmo de chegar perto, já estava empurrando o rapaz.
- Aí meu Deus, ! - gritou, desesperada. - , , ajuda!
- Quem é você cara? - o rapaz irado perguntou, após levantar-se do empurrão que dera.
- Eu sou amigo da garota que você estava desrespeitando.
- Essa vagabunda deu mole para mim!
Antes mesmo de fazer algo, esmurrou a cara de Adam.
De todas as vezes que se imaginou numa briga dentro de uma boate, nenhuma seria daquele jeito. Na verdade, por mais maluco que ele fosse, nunca gostou da ideia de brigar. Mas aquilo merecia que ele quebrasse suas regras, nenhum cara falaria daquele jeito de nenhuma das amigas dele, independente dele já ter se envolvido, ou não com ela.
- Quantos garotos vão aparecer aqui pra te defender, heim, vagabundazinha?
- Você está chamando ela de que? - foi a vez de entrar na movimentação. – Repete, seu filho da puta.
- , fica fora disso. - pediu, afastando a garota.
- Fica fora nada! - disse enquanto se desvencilhava dos braços do amigo - Ele apenas pediu pra dançar com a , de onde ele tirou que ela é uma vagabunda.
Adam mexeu o queixo algumas vezes e limpou o sangue que escorria de sua boca, sua frieza fazia estremecer abraçada à .
- Qual nome da outra vagabunda aí?
- Você não vai falar de mim assim!
A cena seguinte foi, de longe, a maior loucura que já fez na vida. Não deu nem tempo a puxar de volta para o lugar, ela já tinha partido para dar um soco no rosto de Adam que mesmo sentindo a dor do murro, a empurrou longe. Foi o que bastou.
partiu com tudo para cima do rapaz, que pego de maneira desprevenida, não teve tempo de pensar em se defender.
chorava copiosamente nos braços de , que também fazia o mesmo. e tentavam inutilmente segurar e Adam, Gih foi ajudar a levantar e Mari gritava como uma louca para parar de bater no rapaz.
- O que é isso aqui? - um homem que parecia ser o segurança, gritou.
- Separa eles, por favor. - Mari pediu, desesperada.
Depois de muitos socos, empurrões e muita força exercida, conseguiram fazer - que tinha sangue no rosto, mas mais ainda em seu punho - soltar Adam.
- Me solta!
Quando pediu isso todos acharam que ele voltaria à bater em Adam, mas na verdade ele correu onde estava.
- Você está bem? Onde você estava com a cabeça? Machucou algo?
Enquanto ele fazia milhares de perguntas e examinava a menina diversas vezes, todos os seus amigos começaram a perceber algo errado naquela cena.
- , eu estou bem. - falou, tentando se livrar das mãos dele e buscando tirar aquela cena do foco dos amigos. - Obrigada!
- Mas…
- Existe algo que vocês queiram nos contar? - perguntou, não conseguindo esconder a irritação.
Mas não houve tempo para mais discussões dentro daquele local.
- Vocês precisam sair, não admitimos esse tipo de atitude aqui dentro, nem mesmo vindo de vocês.
- Mas ele quem começou!
- Ele tentou me pegar a força, falou coisas horríveis…
- Isso acontece quase todos os dias aqui, mocinha. Nem por isso vira essa bagunça, acostume-se, suspeito que seja um fardo a ser carregado pelas mulheres.
- Eu não escutei isto - Mari disse, balançando a cabeça negativamente. - Pois iremos agora à delegacia depor contra esse cara, ele tentou abusar de uma mulher e agrediu outra.
- Bem mais correto fazerem isso do que tentarem resolver na briga.
- O que você queria que a gente fizesse? Deixasse ele arrastar a daqui? - perguntou, enquanto segurava o braço que estava dolorido.
- Só saiam daqui, por favor.
- É melhor nós irmos. - falou.

torceu para que ninguém falasse do que viram entre ele e , mas ele sabia que era pedir demais.
- , você está bem? - Mari perguntou, preocupada.
- Estou, quer dizer, vou ficar - disse, ainda limpando umas lágrimas dentro da delegacia.
- O que resolveram? - Gih indagou, curiosa.
- As meninas abriram um B.O. contra o cara e eles falaram que vão investigar.
riu sem humor e falou:
- Como se isso fosse mesmo dar em alguma coisa, sinto que não fizemos nada.
- Claro que fizemos! Fizemos a nossa parte. Talvez se um dia todas as mulheres resolverem depor contra esses caras a justiça seja obrigada a fazer algo. A gente pode achar que não foi muita coisa, mas tinha dezenas de mulheres nos vendo dentro do pub, ao escutarem a gente falando que iríamos trazer as meninas para delegacia talvez elas se sintam encorajadas a fazerem o mesmo. A gente fez a nossa parte, mesmo que o início não tenha sido muito certo. - Mari terminou de falar e a olhou, orgulhoso.
- É, você poderia ter se ferrado, por exemplo - falou, encarando de forma repreensiva.
- Que nada, o estava lá para defendê-la - provocou. - Não é mesmo, ?
- Eu defendi as duas.
- Sério? Você parecia tão mais irritado em relação a .
- Eu já estava no meio daquilo quando a resolveu enlouquecer. Não estou afim deste papo.
- Gente, já passou - disse, tentando pôr um fim naquela conversa.
- Vocês vão ficar fingindo que a gente não viu aquele clima até quando?
Mariana queria muito se manter distante da conversa, mas não conseguiu. Quando se ouviu perguntando aquilo teve vontade de bater em si própria. Por que ela estava preocupada com a vida de ? Ele não era namorado dela, ela mesma sabia que ele não era alguém para namorar. Mas era normal aquilo incomodar tanto e talvez doer tanto? Queria muito acreditar que sim.
virou para os amigos esperando que algum deles falasse que não era momento para aquela conversa, mas até mesmo parecia interessado na história.
- Eu só estava preocupado com ela.
- Vocês se pegaram quando? Ou melhor, quantas vezes já ficaram, heim?
- , por… - não conseguiu terminar, já que entrou na conversa.
- Espera um pouco, vocês se pegaram?
-
- Quantas vezes, ? - todos calaram ao ouvirem Mari perguntar.
nunca desejou tanto ser o cara sem coração que todos achavam que ele era, ver a decepção nos olhos de Mariana lhe desmontou por inteiro. Seria normal desejar e se preocupar com duas garotas? Ele sabia que não.
- A gente não precisa conversar isso aqui. - ele respondeu baixo.
- Acontece que não é só sobre você e Mari, cara, tem a gente também.
- Sério, ? Sério que todos vocês vão me olhar com essa cara? Até você, ? É sério isso? Até ontem vocês torciam bastante para que o e a ficassem juntos e eu não sei se vocês lembram, mas EU ficava com a antes disso. Então é sério que vocês acham tão absurdo o que eu e a fizemos? É sério que você vai olhar pra sua amiga assim, ?
queria ter forças para responder aquilo, mas ela nem sabia se existia algo a responder e, se existisse, ela não estava afim de pensar. Aquela noite já tinha a destruído, não estava afim de piorar ainda mais.
- Eu nunca beijei o e você no mesmo dia. E a continua sendo minha amiga. Agora será que eu posso sair dessa conversa?
- e eu te levaremos em casa, . Hoje vou dormir com você - falou, pondo um fim naquela conversa.- Xau, gente.
- Xau - responderam juntos e Mari saiu após eles, mas foi ao seu encontro.
- Mari - a menina continuou andando. - Mari!
sabia que ela não pararia e correu para alcançá-la.
- Ei! - falou, assim que chegou perto dela. - Me desculpa. - disse quando ela se virou.
Mariana riu, o que restava fazer senão isso?
- Esquece isso, .
- Olha, foram só duas ou três vezes, a primeira vez a gente não tinha se resolvido ainda, não foi nada demais.
A menina riu novamente enquanto balançava a cabeça em um não.
- Não diz isso, , não diz. - e riu pelo nariz. - Aquilo é tudo, menos nada demais. Você se importa mesmo com ela e eu não quero estar no meio disto.
- Mas você não está no meio de nada.
- É claro que estou, desde sempre. Primeiro era no meio de você e do seu sentimento pela e agora é entre você e a . Ninguém que é sempre segunda opção de alguém deve achar que vale a pena tentar, porque não vale.
- Eu sei que não valho muita coisa, mas você tem que entender que eu quero você.
- Isso não é sobre você valer algo, é sobre o que a gente acha que tem, e essa coisa que rola não vale a pena. Não vale porque sempre vem algo antes de mim na sua vida e eu tenho que entender que isso é um sinal, entenda também.
- Eu quero você.
estava desesperado para que ela não fosse embora, que ela não o deixasse e por isso a beijou, mas mesmo que de começo tenha sido correspondido, Mari logo colocou um fim no beijo.
-Um dia você vai gostar tanto de alguém que essa pessoa vai ser sempre a primeira coisa no seu ranking. Seja seu ranking de beijos, atração, importância, ela vai estar sempre em primeiro. Nesse dia você vai ver como eu estava certa e vai concordar comigo que isso aqui - apontou para os dois - não vale a pena. Vou pegar um táxi, leva a Gih em casa, por favor. Xau.
E mesmo destruída por dentro ela foi embora sem derramar uma lágrima. Afinal, tem sempre aquelas situações que por mais tristes e indesejáveis que sejam, a gente já esperava por ela e de alguma forma também nos preparamos para a mesma, daí, por maior que seja a decepção ou dor, a gente acaba sendo forte, porque já contávamos com isso, já sofríamos por isso a tempos, e quando de fato aconteceu, a dor já não era tão insuportável assim.

Quando desceu do carro de , ela só queria entrar e abraçar forte a amiga. Nunca tinha passado por uma situação como aquela e se sentia tão mal, tão suja.
- , espera um pouco, o quer te dar um abraço.
- Com quem ele está falando? - perguntou ao ver o amigo no celular.
- Acho que é com o .
De começo sentiu vergonha de ficar sabendo daquilo, mas depois agradeceu por estar contando, ela precisava tanto dele e não teria coragem de ligar e contar tudo, mas sabia que agora ele a ligaria. Ficou feliz por isso.

- O que foi? - Lindsay perguntou, assim que viu o rosto do seu namorado ficar preocupado.
- Rolou um problema com a galera, foram até para delegacia.
Foi a vez de Lindsay se preocupar.
- O que aconteceu? Alguém ficou preso? Estão bem?
- Um cara estava tentando forçar algo com uma das meninas, daí os meninos entraram no meio, outra menina acabou levando um empurrão do tal cara, o socou o cara inteiro, foram expulsos do pub, mas está tudo bem.
- O tal cara denunciou eles?
- Não, não. Eles foram prestar queixa do cara.
- E isso faz sentido? - perguntou, confusa.
- Bom, ele quase leva uma das meninas a força e ainda bateu em outra.
- Hum.
Fez-se um minuto de silêncio até Lindsay perguntar:
- Você sabe quem foram essas meninas?
- O ainda está bastante nervoso, não sei direito se foi a , , eu não entendi muito. - mentiu.
- Vai ligar para elas?
- Nesse momento acho melhor não. Amanhã eu entro em contato.
Depois de deixar Lindsay em casa e ir para a sua, ficou deitado na cama encarando o celular e se perguntando se deveria ligar ou não para .
Eles ainda tinham intimidade para esse tipo de assunto? Seria normal falar com ela? Ela estava de boa por ele não ter ido recepcioná-la aquela noite?
- Droga de garota! - falou irritado e jogou o celular em um lugar qualquer da cama.

- Você está bem, meu anjinho? - perguntou assim que saiu do banheiro.
- Uma boa noite de sono faz milagres.
- A noite não foi tão boa assim. - disse, como quem sabia de algo.
- Como assim?
- Vi você mexendo na cama e olhando o celular algumas vezes, não foi sua melhor noite.
riu.
- Foram muita emoções noite passada, mas ainda assim, o que dormi foi capaz de fazer milagres.
- Vamos descer e comer algo?
- Agora mesmo.

preferiu não encontrar os amigos até o dia de retornar a faculdade. E isso significava que ela passou uma semana sem ver os amigos, ou seja, uma semana esperando a ligação ou qualquer contato de .
Até Michael, em outro país, estava presente na vida dela, menos seu melhor amigo. Eles ainda eram amigos?
- Estava esperando você chegar. Você está bem?
olhou para o rosto de , incrédula. Ele, como a conhecia bem, sabia que ela estava irritada.
- Sua pergunta está atrasada cerca de uma semana.
Quando viu que ele tentaria falar algo, continuou:
- Seja qual for sua pergunta, não faz sentido hoje. Pode ser da minha viagem, do meu pai, do que aconteceu no pub, de mim. Uma semana, .
a encarou sem saber o que falar, odiava como ela o deixava sem explicações.
- Troquei de curso. - falou, quando ela ia se virando.
- O que?
- Quer dizer, troquei de horário. Ainda não é oficial, mas acho que trocarei hoje.
- Acho válido, assim você toma a distância de mim que tanto deseja.
- Você não entende, não é?
- O que? - indagou um pouco irritada. - Não entendo o que?
- Eu sempre vou ser seu amigo, . Sempre. Mas eu preciso dessa distância, entende?
- Escolhe um lado, . Não dá para ser os dois.
- Você não quis, e eu preciso seguir com minha vida. Eu preciso ter menos de você na minha vida para conseguir isso - falou, levando as mãos ao alto e largando com tudo. - Você precisa me deixar seguir, - falou baixinho.
teve vontade de chorar, ali ela finalmente começou a entender o que Michael lhe disse naquela noite, talvez ela tivesse mesmo alguém em mente.
- Segue tua vida então, .


Capítulo 18

Havia se passado dois meses desde a última conversa de verdade entre e . mudou o horário da sua faculdade e até estava trabalhando, já tinha desistido da faculdade. Eram tempos difíceis e não só para ela, que se sentiu na obrigação de desistir do curso para ajudar a mãe com a loja, mas para muitos dos amigos.
Mariana e não tiveram mais a mesma relação, a amizade não era mais igual antes. Gisele começou a perceber que crescer não era só poder entrar em todas as baladas que os amigos já podiam entrar, era também perceber que talvez voltar atrás numa decisão fosse a melhor opção, ainda mais quando você não se encontra no curso que está fazendo. , depois de uma conversa com , percebeu que não dava pra levar a vida como curtição, sexo e bebida para sempre, alguma hora você se apega, ou, deseja se apegar, e ela andava se sentindo tão só, tão vazia, começou a pensar que tudo que desejava em alguém para namorar tinha em , mas sua aversão a relacionamentos não deixou que ela se permitisse gostar mesmo dele. Até mesmo o casal e não andava bem, embora ele fosse tudo que ela sempre quis e ela fosse o que ele sempre desejou, nem tudo era perfeito, seus sonhos não eram os mesmos. queria casar, ter filhos, ter uma família e não pretendia adiar muito esses planos, já queria tantas coisas antes disso, desejava se consolidar como advogado, viajar o mundo, ter um longo namoro e só depois disso tudo, que em sua cabeça duraria uns dez anos, ele pensaria em casar, e filhos demoraria mais uns três ou quatro.

estava apressado pra fazer o pagamento da faculdade, ele precisava estar no trabalho em uma hora e isso fez ele recusar o convite dos amigos de ir ao café assim que as aulas deles acabassem. Quando estava saindo da faculdade após ter resolvido tudo acabou encontrando a pessoa que ele menos esperava encontrar.
- Oi. - falou, com as mãos no bolso.
não conseguiu esconder o desconforto em vê-lo.
- Oi. - respondeu, tentando não olhar naqueles olhos .
- Você está bem?
- Você se importa?
riu sem humor. Certas coisas não mudavam.
- Você sabe que sim.
- Não, eu não sei. Mas pra manter a educação, vou responder o que você esperava escutar: estou bem sim, . E você?
- Vem comigo - foi só o que ele falou antes de arrastar a menina para o lugar que eles sempre se encontravam.
Assim que chegaram lá percebeu que não seria uma conversa rápida, nem fácil.
- Eu ainda venho aqui para pensar, mas evito fazer isso. Não é a mesma coisa sem você.
- Você não tem que trabalhar?
suspirou, pensando que não deveria falar o que estava em sua mente, mas ele queria saber dela e ela não baixaria a guarda se não visse sinceridade nele.
- Não importa, agora eu só quero ficar perto de você.
- Foram dois meses, sabia? Dois meses! Fora o fato que você já me ignorava antes disso.
- Eu sei que não é sua intenção jogar na cara nem nada, - começou de forma irônica - mas você me deu esse tempo, lembra? Foi você quem pediu pra eu seguir.
- E o que você queria? - falou quase gritando. - Você estava, ou está namorando a Lindsay, eu não tinha o que fazer. Você já tinha tomado sua decisão antes mesmo que eu falasse algo.
- Eu ainda estou com a Lindsay, respondendo sua pergunta oculta, mas a gente não vai dar certo.
sentiu seu estômago dar uma volta e tentou manter o controle ao perguntar:
- Ela sabe disto?
- Levando em consideração o fato de que ela está se mudando pra longe, acho que sabe sim. Mas nunca falei isso diretamente.
- Por quê?
- Porque embora pareça estranho dizer isso enquanto estou aqui, perdendo trabalho só pra saber como você está e me desculpar com você, eu gosto realmente dela - suspirou e tentou não olhar nos olhos da menina. - É um pouco contraditório, visto que você ainda me deixa diferente, mas eu sinto que sou feliz com ela, entende? Vai doer ficar sem ela.
não esperava ouvir aquilo quando ele falou que não daria certo com Lindsay e começou a se sentir culpada por inicialmente ter sentido qualquer coisa parecida com felicidade ao escutar que eles não dariam certo. Cogitar que ele sofreria a fazia sofrer também, e de uma maneira estranha se viu desejando que eles se entendessem.
- Talvez vocês consigam manter um relacionamento à distância. - tentou esconder a dor que lhe causava sugerir isso.
- Eu não estou pronto para isso, ainda mais… Bom, como você está? - perguntou, mudando de assunto.
- Sinceramente está tudo uma bosta.
- O que está acontecendo?
Ela o encarou um pouco e depois disse:
- Eu não consigo fazer isso - falou com raiva.
olhou-a confuso com aquelas palavras e ela disse:
- Não consigo fingir que não estou irritada com você. Eu continuo sendo sua amiga, mas você não é mais meu amigo. É melhor descermos.
- Eu sou, sim, seu amigo.
- Não, você não é. - falou, mais irritada ainda. - Você sabe tudo que aconteceu quando a gente ainda se falava e demorou séculos para me procurar. Eu venho passando por coisas que às vezes só pensava: eu preciso falar com o . Mas você não estava lá, não queria estar.
- Eu só estava tentando fazer dar certo minha vida, eu só pensei…
- Eu sei que concordei com isso, mas eu não faria a mesma coisa, eu não queria isso. Pode ser egoísmo meu, mas eu não vou fingir que não doeu.
Escutaram um barulho e ambos viraram para ver o que era, era mais um casal, parece que alguém também tinha descoberto aquele lugar.
Ignorando a plateia dobrou os joelhos em frente à e falou:
- Estou arrependido, me desculpa.
- O que? Para… Levanta daí agora ou eu estouro suas bolas - ela disse apressada, tentando puxá-lo enquanto via o casal encarar os dois.
Ele riu, sabendo que debaixo daquela grosseria ela também queria rir.
- Sinto sua falta, . - disse enquanto a puxava para um dos raríssimos abraços que davam.
- Ei, ei - tentou afastá-lo, mesmo sorrindo - eu ainda não te desculpei.
- Mas vai. - falou, sorrindo.
- Quem te disse? - perguntou, presunçosa e cheia de graça.
- Você não me deixaria te abraçar e nem estaria sorrindo se não pretendesse me desculpar.
- Odeio você.
- Também te amo, .
Ela suspirou nos braços dele enquanto ele lhe dava outro abraço, mas dessa vez um pouco desengonçado. sabia que aquele eu te amo não era o mesmo de antes e se sentiu uma idiota ao perceber que borboletas voavam em seu estômago mesmo assim.

- Por que demorou tanto? Achei que você estaria na frente da faculdade esperando a gente sair. - Gih falou apressada.
- Eu estava…
- Você encontrou o - disse, sem esperar que ela terminasse.
- Se entenderam?
- A gente nunca se desentendeu, Mari. Ele só sumiu da minha vida.
Caiu sobre eles um silêncio constrangedor até que Gih tentou logo por um fim.
- Mas não estamos aqui para falar de relacionamento que não dá em nada, não é mesmo?
- Não mesmo, a não quis. - disse, ele nunca perdera a obstinação de criticar o jeito dela.
já estava acostumada com isso, percebeu que era o jeito dele de lhe dar com tudo e que isso não significava que ele não gostava dela. Eles apenas pensavam diferente.
- Nós estamos de boa. E eu não me arrependo das escolhas que fiz. Nem todo mundo quer ter tudo, .
- Vocês não vão me colocar no meio dessas provocações chatas, não é? - Mari perguntou e não deixou de notar que ela estava cada dia mais à vontade para falar deles como um passado distante. - Se matem de quiser, mas não me usem.
- Desculpa, Mari. - se desculpou, suspirando. - É que esse chato me tira do sério - completou, já rindo.
- Só não acredito que te perdi pra e você não ficou com ele no final. – brincou, abraçando-a de lado. - E nem tente dizer que isso não aconteceu ou vamos brigar de verdade.
- Vai se ferrar.

- Quando vamos conversar sobre a minha viagem, ? Cada dia você fica mais estranho e hoje está especialmente distante.
- Não sei se quero falar disso agora, você ainda tem mais um mês e meio aqui. Não é?
- Daqui a quinze dias já vou começar a mudança. Vamos mesmo esperar o tempo limite?
- Eu não quero te deixar, entende?
- Não quer? Você me deixa um pouco todos os dias! Hoje mesmo parece que metade de você já foi embora.
- Hoje não tem muito a ver com sua viagem, é coisa minha mesmo.
- Quer falar sobre isso?
- Esse é um assunto que quero evitar ainda mais que sua viagem. Podemos apenas ficar aqui vendo o filme enquanto te faço carinho?
Lindsay fez diferente do que ele lhe pediu e se afastou, procurando manter a postura ereta.
- Eu não vou desistir dessa viagem, você não vai embora comigo, precisamos avaliar se é possível um relacionamento à distância. E isso não pode ficar para última hora.
bufou.
- É demais pedir pra curtir esse mês que ainda tenho com você? Você já está indo embora. Não piora.
- Eu não estou simplesmente indo embora, eu ganhei uma bolsa e é injusto você falar disso como se eu estivesse sendo uma vaca em querer ir e realizar meu sonho.
se inclinou para frente, colocando seus cotovelos apoiados no joelho e com os dedos começou a massagear as têmporas.
- Eu não acho que você esteja sendo uma vaca, nem te acho egoísta, nem nada disso. Eu só não sei como fazer dar certo, entende? E queria muito conseguir deixar tudo bem. Eu… Eu só não sei como lidar com isso, não vejo uma forma de estarmos juntos no final.
- A gente pode tentar se ver ao menos uma vez no mês. Um mês eu venho, outro você vai.
- Na teoria podemos tanta coisa, sabe? Só que isso na prática é bem mais difícil e é por isso que eu não queria pensar neste problema agora. Não quero deixar de aproveitar esses dias com você.
- Não temos muito tempo, . - Lindsay falou com a voz triste enquanto se aninhava no corpo do namorado. - Queria muito que as coisas fossem mais simples, mas vamos ficar bem, independente do final, vamos ficar bem.
- Vamos sim.

- ! ! - corria para acompanhar a amiga antes que ela fosse embora.
- Oi! - ela respondeu com um sorriso enquanto virava-se para ele.
- A está bem? Ela anda sumida.
sorriu pelo nariz.
se mantinha afastado de , mas era apenas porque ela queria essa distância então todas as vezes que ele tinha chances, procurava saber dela.
- Ela está bem, . Por que você não a procura?
- Eu não seria bem recebido.
- Acho que ela gostaria, se você quer saber. A só não acha justo te dizer isso.
- A complicação foi o que uniu vocês? - ele brincou.
- Não somos complicadas. - respondeu, rindo. - E se formos mesmo parecidas, talvez seja melhor você se manter distante, mesmo. Veja o , está bem com a Lindsay.
- Ele gosta mesmo dela. Mas não acho que algo possa ser realmente verdadeiro se isso só acontece graças a distância de outra coisa.
- Eu mais atrapalhava do que ajudava.
- Certamente.
sorriu um pouco magoada com o que ele acabara de dizer. Ela sabia que talvez fosse um impedimento na vida amorosa de , mas escutar alguém concordando com isso a fazia se sentir péssima.
- Mas ele nunca vai amar alguém como te amou e isso é muita coisa. O sorriso dele era mais sincero.
- Amou. - ela repetiu baixo e nem escutou.
- Não me deixa no escuro sobre a , me preocupo com ela.
- Sim. - forçou um sorriso. - Qualquer coisa importante eu te conto. Vou nessa.
- Xau.

***


- Então vocês vão mesmo acabar? - perguntou, sentindo uma dor pela tristeza de .
- Provavelmente, não tem muito o que se fazer.
- Você está tentando ser indiferente, mas sua voz entrega o quanto você está mal com isso.
Ele riu do outro lado da linha.
- Talvez porque eu esteja mesmo.
respirou fundo, mas colocou a mão no celular impedindo que escutasse isso.
- Fala com ela. Talvez vocês consigam.

- Eu nunca fui bom em manter relacionamento de perto, imagina de longe! - brincou e os dois riram.
- Isso é verdade.
- Não surte e não ache estranho o que vou dizer, - prendeu a respiração ao ouvir aquele aviso - mas eu estou feliz de te ter aqui, seria péssimo não ter…
Ele não completou, mas ela fez isso por ele.
- Não ter as duas. - disse, não conseguindo esconder o incômodo na voz.
- Desculpa.
Dessa vez ela suspirou para ele escutar.
- O que estamos fazendo?

- Como assim?
- Você está sofrendo por ela, mas de alguma maneira faz parecer que eu te curo disto e eu não sei se isso é certo. Somos amigos e eu não deveria ser uma extensão de sua felicidade a dois.
- Eu gosto dela, eu a amo.
- Eu sei.
Era engraçado como aparentemente os papéis estavam invertidos. Dessa vez era ele quem falava de seus sentimentos e machucava ela.
- Mas…
- Mas o que, ?
- Nada, preciso desligar.
- Já?
- Marquei de encontrar a Lindsay.
- Vai lá, coisa chata.
- Beijos, .
- Beijos.
Quando desligou sentou um pouco passando a mão na nuca, coisa que ele sempre fazia quando estava preocupado. Ele sabia que mesmo que não sentisse a mesma coisa que ele já sentiu, ele estava machucando a mesma. Mas…
Tentou parar o pensamento assim como parou a fala ao celular. Mas não conseguiu.
“Mas eu ainda me sinto diferente perto dela.” Pensou.
Depois desse pensamento e de xingar a si mesmo por pensar nisso, tomou banho e se arrumou para encontrar a única mulher que mexeu tanto com ele fora .
Lindsay tinha os erros dela, claro, ele sabia que ela não era perfeita, mas ela tinha algo que ele nunca tinha encontrado em ninguém, ela tinha segurança. Ela lhe dava segurança.
Ela não gostava da proximidade dele com os amigos, sempre achava que ele deveria mudar de faculdade e insistia que ele não deveria ser tão apegado à família, mas isso tudo e mais algumas coisas se tornavam pequenas se comparado a quem ela era em todo o resto. Lindsay não jogava, não escondia sentimentos, ela não tinha medo de entrar naquele amor todo de , ela confiava e fazia ele confiar que toda aquela felicidade era digna deles. Ela era a garota que não era.
Ele a amava por isso.
Depois de dirigir por uns minutos chegou à porta de Lindsay e antes mesmo de entrar já conseguia sentir a dor do término. Ela iria embora daqui a uma semana e não dava mais pra adiar, as tentativas de ignorar aquilo estavam deixando o relacionamento cansativo, um fingimento, e o melhor do relacionamento deles era justamente não ter fingimento em nada.
Pela janela Lindsay o viu chegando e suspirou, ela o conhecia muito bem e sabia que aquela seria a última noite deles juntos, ele deixou isso claro pelo tom da voz na hora que lhe ligou confirmado que passaria lá. Antes dele tocar ela lhe mandou uma mensagem dizendo que a porta estava aberta e ele entrou dando apenas um boa noite para os pais dela antes de subir para o quarto da mesma.
- Você demorou. - ela lhe disse indo ao seu encontro para lhe dar um beijo.
- Acabei perdendo a hora enquanto fazia uma ligação.
Ela não sabia que ele tinha retomado a amizade com e ele preferia que isso continuasse assim, as poucas vezes que falaram de ela parecia perceber algo estranho e isso sempre fazia com que ele recuasse.
- Falando em ligação, você parecia diferente quando me ligou.
não respondeu nada, apenas a puxou para cama e sentou-a em seu colo, beijando o rosto da menina. Ela deu um sorriso antes de buscar pela boca do rapaz e senti-lo direcionando-a para deitar na cama.
Depois de alguns beijos que ambos sabiam ser diferentes, falou:
- Falta uma semana.
- Esses beijos ternos são porque isso é uma despedida, não é?
- Eu achava que daria para adiar ou tentarmos ver no que iria dar, mas não tem como. A gente não consegue mais fingir que está tudo bem.
- E o que você sugere? - perguntou enquanto mexia nos cabelos dele.
- Temos que acabar isso. - respondeu, jogando-se ao lado dela.
- Isso, você quer dizer nosso namoro?
- Você sabe que sim.
- Tem certeza?
- Não. – disse, rindo.
Lindsay sentou na cama e encarou o namorado.
- Que droga. A gente deveria acabar porque brigamos demais, porque alguém traiu, sei lá, não quando a gente se gosta.
- Eu não vou te trair. - ele tentou brincar.
- E eu não tenho motivos para brigar com você. - respondeu seguindo a brincadeira.
- Então é isso: a gente se gosta, não estamos com raiva nem ressentimentos do outro, mas acabamos aqui.
- É isso.
- Você vai ficar bem?
- Você vai?
ficou surpreso ao se ouvir dizendo:
- Vou.
- Vai? - ela perguntou curiosa.
Ele se sentia exausto, péssimo por estar terminando com ela, sentia seu coração quebrado por aquilo, mas sabia que quando saísse dali iria trocar mensagens com uma garota que diminuiria aquela dor. A dor não sumiria, mas ficaria menor o suficiente para ele ficar bem.
- Nós dois vamos.
levantou da cama e encarou Lindsay sem saber como se despedir.
- Eu não vou te beijar depois que terminamos, isso deixaria tudo bem depressivo. - ela respondeu, deixando claro como não se despedir.
- Então xau.
- Xau.
Sem beijo, abraço, ou sequer aperto de mão fechou a porta do quarto e foi embora, deixando a mulher que ele achava que casaria um dia, e fora , ela era a primeira que despertava pensamentos assim de forma verdadeira.
Antes de entrar no carro e dirigir ao pub de sempre, pegou o celular e escreveu: Solteiro. Enviou a mensagem para , entrou no carro e jogou o celular no banco do carona. Só tornou a olhar se tinha algo no mesmo depois de chegar ao pub e pedir uma bebida.
“Você está bem?”
Ele não sabia, mas precisou de muito tempo para aquilo. Ela primeiro se repreendeu por sentir borboletas no estômago ao ler aquilo, depois se preocupou com a dor dele e após esses sentimentos encarou o celular pensando se deveria responder ou não, tecnicamente ela não seria a pessoa mais apropriada para aquela conversa, mas ela sabia que provavelmente era a única que já sabia daquilo e resolveu responder.
“Não. Estou me sentindo péssimo, tão péssimo que estou bebendo.” enviou.
“Você está bebendo depois de acabar um relacionamento. Você é mesmo um clichê ambulante.” Ela brincou e depois enviou outra mensagem. “Sinto muito. Deve ser péssimo terminar um relacionamento. Mas sai daí, beber não faz muito seu tipo.”
riu com as duas mensagens. Era o tipo de mensagem que ele esperava dela.
“Vem para cá, estou no pub de sempre.”
“Ir ao pub? Estou preocupada contigo, mas não vou não rsrsrs. É melhor você ir embora, já disse que isso não faz seu tipo.”
“Mas você faz.”

ficou sem ar ao ler a mensagem. O que queria dizer com aquilo? Ele estava sofrendo pela Lindsay, não fazia sentido dizer aquilo.
“Bêbado.”
“Estou bem sóbrio. Só tomei um drink.”
“Você acabou de terminar o primeiro relacionamento que você desejava que durasse. Está sofrendo por isso. Achava que não era necessário, mas parece que preciso dizer: não é flertando com outra pessoa que sua dor vai passar.”

leu aquilo e se sentiu péssimo. Era exatamente o que ele estava fazendo e desejava tudo, menos ter que ler aquilo.
Tomou mais alguns drinks, mesmo odiando beber.

***


- ? ? - Kátia chamava a filha que parecia ter se desligado do mundo.
- Oi, mãe. - respondeu um pouco sem graça.
- Onde você está com a cabeça, menina?
- Em lugar nenhum, só… só tinha me desligado aqui.
- Está puxado para você, não é? - Kátia indagou com um sorriso um pouco triste. - Filha, sinto muito por você ter tido que largar tudo que queria…
- Mãe - pediu - não começa com isso novamente. Um dia eu vou voltar pra faculdade - afirmou, mesmo que não acreditasse tanto no que dizia.
- Você vai sim. Mas mesmo assim, se seu pai não tivesse tomado todo o resto, não tivesse nos abandonado assim, se ao menos ele tivesse te ajudado a entender a loja…
- Não vamos falar do papai, ele não está aqui e nem vai estar, é perca de tempo falarmos dele.
- Ele deve ter amado te ver desistindo da faculdade.
sabia que a mãe não falava aquilo por mal, ela só estava com raiva do ex-marido e não sabia conter as palavras. Mas tinha vontade de mandar ela não falar aquelas coisas, sabia que seu pai estava provavelmente feliz como a mãe disse, mas ter alguém lembrando este fato deixava tudo tão pior.
- Eu não me importo com isso, você também não deveria se importar. - se limitou a dizer.
- Você não quer ir pra casa? Pode terminar essas contas amanhã.
- Não, ando precisando ocupar a mente.
Kátia olhou com um sorriso curioso nos lábios.
- Você está precisando ocupar a mente? O que anda te deixando assim, tão nervosa?
- Não me olha com essa cara que você sabe que não sou dessas bobagens.
- A falou que quando estava na casa do seu pai você não parava de mandar mensagem para aquele seu amigo.
- Aquele meu amigo estava namorando até ontem, se quer saber. E está passando a maior barra com o término, estou sim pensando nele, mas não do jeito que você pensa. – finalizou, rolando os olhos para a mãe que ainda ria.
- Chama ele aqui qualquer dia desses, ele pode se alegrar um pouco.
- Chamar uma pessoa triste para o circo de problemas que vivemos? Vou poupá-lo disto.
Quando olhou para a mãe de arrependeu no mesmo momento pelas palavras que dissera.
- Desculpa, eu não quis dizer…
- Só… faz o seu trabalho. Está tudo bem.
sentiu a culpa lhe dominar e falou antes que a mãe fosse embora:
- Tem mesmo uma pessoa nisso e eu estou nervosa porque nunca me senti assim, então, não leva a sério tudo que eu digo.
O canto da boca de Kátia curvou-se um pouco para cima.
- Quem é esse garoto?
- Isso não importa. Só tenta não se irritar comigo, eu estou pirando com essas coisas.
Quando a sua mãe saiu, afundou na cadeira pegando o celular novamente e pensando se deveria ou não mandar alguma mensagem. não tinha respondido sua bronca na noite anterior e ela não sabia se deveria falar com ele aquele momento, mas ele precisava de uma amiga e ela queria ser essa amiga.
“Muita ressaca? Manda notícias, bobão.”
olhou a mensagem e resolveu não responder naquele momento. Ela estava certa na mensagem ontem, flertar com alguém não passaria a dor de um término, e de certa forma flertar com ela se tornava ainda mais errado.
Ele sentia falta de Lindsay como nunca sentiu falta de qualquer outra namorada, queria estar com ela, mas não queria sentir nada daquilo. Nada passava aqueles sentimentos, nem mesmo , mas conversar com ela deixava tudo em segundo plano e isso fazia ele desejá-la ainda mais, só pra ver se tudo deixava de existir. Não podia responder ela naquele momento, porque sabia que, se ela deixasse, ele iria usá-la. E ele não estava acostumado a usar ninguém.


Capítulo 19

- E ele não te respondeu ainda? - perguntou.
- Não. - respondeu bufando enquanto se jogava na cama da amiga. - Eu me sinto péssima com o que vou dizer, mas uma parte de mim não fica tão triste dele ter pesando em mim naquele momento. O que eu estou sentindo, ?
- Amor? - a amiga sugeriu com um sorriso nos lábios.
- Não enche.
- Você só fala nele esses últimos dias e embora a gente não te pressione, isso não é atração, nem é só gostar. Você o ama.
- Eu não posso amá-lo, nem faria sentido. Eu não sinto o que ele dizia sentir por mim, é pouco demais comparado ao que ele sentia.
- O é exagerado, parece aquela música brasileira que você me ensinou.
- Eu sou mesmo exagerado, adoro um amor inventado. - cantarolou.
- Essaaaa! - exclamou aos risos. - É o .
- Eu não sei o que sinto, não sei o que dizer.
- Que tal: , eu sou louca por você?
- Não seja idiota. - retrucou aos risos. - Ele está triste com o término do relacionamento, seria egoísta eu me aproveitar deste momento pra fazer qualquer coisa. Era melhor que a Lindsay voltasse e deixasse ele bem.
encarou-a com um sorriso complacente nos lábios.
- Você realmente o ama.
- Ahhh! - gritou - Isso é tão complicado.
- O que há de complicado em assumir que o ama?
- O amor é complicado, . Eu não quero usar amor como desculpas para machucar a outra pessoa, como meus pais. Não quero ser egoísta por amor como foi meu pai e sua namorada, não quero sentir a dor do amor como está sendo para você.
ficou sem fala, não sabia como justificar a última afirmação da garota.
- Não é tão doloroso como parece.
- Como não? Nem faz sentido, para começo de história. Você e o são o casal que eu mais colocava fé. Ele é o seu príncipe, você é a princesa dele e vocês se amam, não dizem com todas as letras, mas tem amor em cada coisa que vocês fazem juntos, e olha agora, estão praticamente separados.
ficou com os olhos cheios de lágrimas e começou a sentir a culpa tomar culpa de si.
Ela e aquela mania de falar tudo sem filtrar nada.
- Desculpa, eu falei demais.
- Às vezes o amor não basta - deu de ombros. - Mas vale a pena tentar e ver no que vai dar.
- O amor deveria bastar, não é isso o motivo de tudo valer a pena? O amor?
- Independentemente de quais rumos e eu cheguemos a tomar, valeu a pena encontrar ele.
- Eu sinto muito por vocês. - falou, voltando a ficar sentada na cama e abraçando a amiga de lado.
- Eu também, . Eu achava que ele seria o cara, sabe?
- Ele ainda pode ser o cara. Vocês podem ir cedendo um pouco de cada lado.
- Eu não posso pedir pra que ele desista dos seus sonhos, assim como ele não pode pedir pra eu desistir dos meus.
- Dê a ele um tempo pra que ele trabalhe duro, fiquem noivos, quando ele começar a conseguir as coisas, casem, depois deixe que ele chegue ao patamar desejado e tenham um filho.
- Vamos ter nossos sonhos de migalhas.
- Mas vocês vão estar um com o outro, nada vai ser migalha.
- Mas qual o patamar desejado por ele? Quando se quer crescer, o céu é o limite. Eu consigo uma coisa, luto por outra, daí consigo e aquilo já não basta. É assim que as coisas funcionam, .
- Vocês não tentaram e vocês são novos, não precisam de tanta pressa, admita.
- Eu preciso.
- , eu nunca vou entender o porquê dessa sua fixação por casamentos e filhos.
- Eu não quero ter filhos sem estar casada.
- Então por que a pressa dos filhos? Eu queria muito entender.
Novamente viu os olhos de se encherem de lágrimas.
- Vamos esquecer isso, okay? É bobagem minha, você está certa. É apenas uma bobagem que não consigo mudar em mim.
- Isso vai separar vocês.
- O que for pra ser, será, . Não vamos levar isso em consideração. Deixa rolar.

- Mari!
- Oi, .
- Que tal pegarmos um cineminha hoje?
Mariana olhou para o amigo sem acreditar que ele estava perguntando aquilo, quando já ia começar a negar, ele falou:
- Totalmente na base da amizade.
- Eu preciso estudar umas matérias acumuladas.
- Mas é só hoje, mesmo não estudando pra isso, sempre fui bom em química, te ajudo.
- Eu estou tão cansada.
- Cinema só vai te ajudar a relaxar.
- Talvez a…
- Por favor, Mari. Eu não suporto achar que estamos perdendo algo que eu sempre dei tanto valor.
Não deu, não” Mari pensou, porém não falou.
- Por favor. - pediu novamente.
- Tudo bem, tem um filme que ando afim de assistir, esteja lá às sete.
- Posso te pegar na sua casa. - sugeriu.
Contendo a vontade de rolar os olhos, Mariana falou:
- Não precisa, eu sei o caminho. - e riu, apenas para não deixar o clima pesado.

estava deitada em sua cama, segurando a vontade de chorar. Desde que terminou sua conversa com e sua amiga foi embora que ela não estava bem. Quer dizer, fazia muito tempo que ela não estava bem de verdade, melhorava as coisas, mas novamente ela se via no fundo do poço.
Começou a relembrar as primeiras dores, as primeiras consultas, a primeira suspeita, eram flashbacks que destruíam cada parte de si mesma, mas ela não conseguia evitar. Lembrou de como foi difícil esconder isso de suas amigas, do seu pai, de , apenas sua mãe sabia, graças a Deus sua mãe estava ao seu lado em tudo. Lembrou de quando teve a certeza e de como pareceu adivinhar o momento de lhe ter ligado para ela. Como foi difícil segurar o choro e não contar tudo a ele.
- Você está bem, ? Bem mesmo?
- Claro que sim, . Por que mentiria?
- Não sei. - ele respondeu com a voz ainda desconfiada. - Sua voz só não parece bem.
apertou os lábios na tentativa de segurar o choro e falou:
- Eu estou ótima. - sentiu uma lágrima escorrer por sua maçã do rosto. E quando viu que sua voz mudaria tentou rir.
- Estou aqui pra você sempre, viu?
Ela respirou fundo, precisava se controlar.
- Eu não duvido disto.

Ter escutado aquelas palavras naquele dia foi tão importante, se sentiu um pouco menos quebrada por dentro. Mesmo com uma voz gritando dentro de si, mesmo com todo o medo, com toda frustração e mesmo com sua cabeça subtraindo sua idade. Ela não tinha esse tempo todo, ou melhor, poderia não ter tempo nenhum. Talvez não tivesse a chance de ser o que sempre sonhou.
Escutou uma batida na porta do quarto e levantou-se rápido, limpando uma lágrima solitária.
- Pode entrar.
- Achei estranho você não descer esse tempo todo, vim ver o que estava acontecendo. - a sua mãe disse.
- Só estava pensando em tudo, mãe. É difícil não saber como explicar às pessoas.
- Ô, minha menininha. Vem aqui!
se aninhou no abraço da mãe.
- Por que eu, mãe?
- Filha, já conversamos sobre isso milhares de vezes, isso pode acontecer com qualquer pessoa.
- Tinha que ser logo eu? Logo quando tudo estava tão bem com o ?
- Você deveria ter contado tudo logo que soube, deveria contar agora, não carregue isso.
- Contar para quê? Para que ele sinta pena? Pânico? Obrigação? Não, mãe, o deve escolher tudo baseado apenas nele e no nosso sentimento.
- Eu não quero ter que falar coisas duras para você, mas já pensou que toda essa luta, agonia, não sirva? Você vai perder aquele ótimo garoto.
abraçou novamente a mãe e dessa vez começou a chorar, era difícil escutar a verdade que ela tentava esconder de si própria.
- Não posso imaginar essa possibilidade. Mãe, não pode ser assim!
- E eu creio que não vai, minha linda. Mas eu só quero que você mantenha os pés no chão.
- Eu sei, eu sei.
Sua mãe lhe abraçou mais forte e assim ficaram até o choro cessar.

***


- Deixa eu ver se entendi, você voltou a sair com o ? - Gih indagou.
- Não!
- E o que vocês foram fazer em um cinema? - foi a vez de perguntar.
- Ele me chamou, disse que era apenas na base da amizade, então eu aceitei. A gente precisa mesmo retomar nossa amizade.
- Você acredita mesmo nesse papo dele?
- Ele não tentou nada, nada mesmo, isso deve significar que não é apenas papo. E ele sabe que não tem mais chances.
- Amiga, - Gisele começou a falar de forma cautelosa - tenta ser esperta, está bem?
- Mas eu estou sendo.
- Você me disse isso da última vez que começaram a sair e acabou se magoando.
- Eu não sou louca, ele está mesmo querendo minha amizade.
- Mas e depois? Da outra vez ele dizia querer algo sério com você e ficou com a , quem pode dizer que você não está sendo feita de boba novamente?
- Gih! - exclamou, olhando feio pra amiga.
- Eu só estou tentando alertar. - a outra se justificou.
- Eu não namorava o , ele foi um babaca, eu sei, mas ele foi apenas o que a gente conhece. Eu não morri por causa daquilo, e nem fui feita de boba, ele não poderia trair quem não tinha nada com ele.
- Mas você…
- Fiquei triste? Talvez sim, Gih. Mas nada que eu não tenha conseguido superar. Então, pode guardar suas opiniões grosseiras pra si, não preciso delas.
Gisele olhou para cima e respirou fundo.
- Você não foi traída, eu sei. Mas eu só quero dizer mais ou menos o que você também disse agora. É o ! Não confie tanto. E desculpa.
- Tudo bem.
- Isso! - exclamou. - Tudo bem. Vocês não podem brigar por causa dessas coisas.

Depois de ter saído com as amigas, chegou em casa agradecendo por não ter perdido suas amizades da faculdade. Perder a faculdade já era difícil o suficiente, se tivesse perdido as amizades teria sido terrível.
Ligou a TV e estava passando X-Men, foi automático lembrar de .
- Você sabe que só existe X-Men graças ao Wolverine, né? - perguntou sério.
- O que? - a menina indagou indignada. Como assim só existia graças aquele cara? Isso nem fazia sentido. - Claro que não!
- Ele é o principal.
- Todos são principais. - rolou os olhos.
- Claro que não, eles só acham que são. Wolverine, sim, é o mais importante.
- O que seria de X-Men sem o Scott…
- Muita coisa, não lembra que ele morre?
- E a Tempestade?
- Descartável. - desdenhou.
Eles ficaram naquela discussão por bastante tempo e no fim, nenhum dos dois mudaram suas opiniões.

Essa pequena lembrança fez soltar um gritinho. Por que tudo lhe lembrava ele? O que droga estava acontecendo com ela? Será que estava mesmo apaixonada por ele?
E mesmo indo contra todas as suas barreiras, pegou o celular e mandou uma mensagem para ele dizendo que viu o filme e lembrou dele.
A resposta veio rápido.
“Quanto amor… Já se convenceu que estou certo?”
“Vai sonhando…”
, posso te perguntar uma coisa?”

segurou sua respiração. O que viria de ?
“Pode”
“Você me diria se estivesse apaixonada por mim?”

Ai meu Deus. Ai meu Deus. Aquilo era bem pior do que ela pensava.
“Nossa! Por essa pergunta eu não esperava”
Enviou e torceu para que ele começasse uma brincadeira sobre querer saber o que ela tinha em mente e esquecesse da pergunta verdadeira. Mas não esqueceu, ele não iria terminar aquela conversa sem a resposta, mesmo sentindo certa culpa por isso.
ainda pensava em Lindsay, ainda conversava com ela algumas vezes, desejava vê-la, beijá-la, tê-la, quase que na mesma intensidade de antes. Ele sabia que se ela voltasse, se ela ao menos visitasse a cidade, ficaria com ela outra vez, tinha certeza disto, mas isso não o impedia de sentir aquela vontade de beijar outra vez também, talvez, na mais remota possibilidade, eles pudessem finalmente tentar ter algo de verdade, ela podia curá-lo de Lindsay. Aquilo era egoísmo? Talvez. Mas não dava para controlar o que sentia.
“Vamos, não tente fugir da pergunta. E quero sinceridade.”
respirou fundo e mesmo sabendo que seria tolice, respondeu a verdade:
“Sendo sincera? Provavelmente não.”
Xingou a si própria logo depois de enviar a mensagem. Como assim ela fala a verdade? Poderia mentir dizendo que sim e dessa maneira ele jamais suspeitaria de algo.
Meu Deus! Ela já assumia que sentia algo. Xingou-se por isso também.
“Bom saber.”
“Por que essa pergunta?”
“Porque eu gostaria que você contasse, caso sentisse, claro.”

parou um pouco, tentando controlar seus batimentos cardíacos e fazer sua mente trabalhar normalmente. “Ele ainda gosta da ex, sua idiota. Isso é apenas carência, você não pode entrar nessa. Você não precisa de mais isso na sua vida. Ele não precisa. Onde iria parar a amizade de vocês quando tudo terminasse? Você precisa dele em sua vida, já percebeu isso, não tente nada. No final, você sempre afasta a pessoa. Não tente e não irá precisar se afastar dele, ou ele de você, o que é mais provável. O que já aconteceu.”
Por mais que tenha pensado tudo aquilo, odiava saber que estava certa. já tinha se afastado uma vez e isso fez mal a ela, não podia arriscar tudo e perdê-lo novamente.
“Anotado ;)” Respondeu, no intuito que aquilo bastasse para que ele não suspeitasse de nada. Mesmo que uma parte sua torcesse para ele perceber tudo e surgir na sua porta, naquele momento mesmo, deixando o fato dela estar desarrumada ser algo sem importância, e lhe beijasse. Confirmando que o que ela senti era recíproco.
Depois de trocarem mais algumas mensagens bobas e sem ligação com o primeiro assunto, se despediu e foi tentar dormir, mas na verdade passou boa parte da noite vivendo aquela fantasia em sua mente e controlando as borboletas no estômago que sentia ao pensar. Como aquilo estava tomando conta de si, pegou o celular, colocou uma música brasileira para tocar e depois de um tempo começou a escrever em seu bloco de notas.
“A melhor parte de mim, da banda NX0, que eu tenho certeza que você não conhece já que é brasileira, toca ao fundo enquanto eu escrevo esse texto sobre mim, sobre você, sobre nós. A música já repetiu umas 10 vezes desde que aconteceu o que me motivou a escrever esse texto. O que aconteceu? Foram as tais borboletas no estômago, foi isso que aconteceu.
Lembro que uma vez, quando a pessoa que sentia algo ainda era você, alguém me perguntou por que eu não tentava, e eu respondi: Faltam as borboletas no estômago. E olha que ironia, hoje elas não me deixam em paz, não me permitem dormir. Quando paro pra pensar no passado, percebo que elas sempre estiveram aqui, eu só negava e sempre arranjava uma desculpa pra justificar essa sensação.
Com toda certeza você não deve lembrar, mas uma vez ficamos tão perto um do outro por causa de uma provocação tipicamente nossa, as pessoas que viram chegaram a falar que a gente quase se beijou, mas nenhum de nós admitiu isso, e hoje revendo a cena milhares de vezes em minha cabeça, percebo que as borboletas já estavam lá, desde o começo elas sempre estiveram.
Não te falo isso diretamente porque sei que de nada vai adiantar. Quem vai dar atenção a alguém que já lhe magoou e que agora que você está seguindo sua vida resolve te falar coisas que nem parece sair da boca da pessoa que você conhece tão bem? E esse também não é o momento, você precisa esquecê-la primeiro, eu não posso ser borracha para os seus erros. Mas se um dia você encontrar esse espaço aqui, só quero que saiba que eu estava errada, as borboletas sempre existiram, sempre foi você a pessoa que eu queria ao meu lado. Porque como diz a música: a melhor parte mim leva o meu caminho até você.”

Quando leu o que tinha escrito sentiu um certo pânico, aquilo não podia ser verdade, mesmo tendo escrito ela ainda duvidava. Mesmo sentindo as tais borboletas ela ainda desacreditava. Se obrigou a tentar a dormir, não faria bem pensar em nada daquilo agora.

***


- Eu e o vamos nos ver lá e eu sei que é muito infantil fazer esse pedido, mas poderia ir também? Talvez a gente acabe de vez e eu não queria estar sozinha depois disto.
- , eu sei que posso estar sendo invasiva, mas por que tanta agonia com filhos, com tudo isso? O cara que você ama pode estar…
- Não faz isso comigo agora, . Por favor, não faz isso.
percebeu as lágrimas nos olhos da menina e sua preocupação só aumentou.
- Existe algo…
- Não hoje, não agora. Só diz que vai comigo, por favor.
respirou fundo, ficava péssima de ver a amiga daquele jeito e mais ainda de não poder fazer nada a respeito.
- Tudo bem, . Mas promete que conversaremos sobre isso outra hora?
- Em algum momento, prometo.
balançou a cabeça em um sim, mesmo que sentisse que não pretendia falar daquilo nem tão cedo, mas deixou passar, aquele não era mesmo o momento.
- O estava mesmo me chamando pra sair, vou chamá-lo para ficar comigo.
Esperou uma gracinha da amiga, mas estava tão abalada que nem pareceu prestar atenção.

- Você está me convidando para sair? - perguntou com uma voz divertida e rolou os olhos do outro lado da linha. - Cadê aquele papo legal, onde você me elogia, diz que sou especial? Sou um homem difícil, vai precisar de mais para que eu aceite seu convite.
- Você vai parar de ser idiota? - indagou sem paciência e um pouco envergonhada.
- Mas eu estou falando sério! Eu sou um homem difícil.
- Um homem difícil não namora várias garotas dentro de um ano.
- Em minha defesa, nesse ano que a gente se conheceu eu só namorei duas. - ele falou, sem se sentir ofendido. - Quase namorei você, mas você é tão difícil quanto eu.
- ! - a menina lhe repreendeu.
- Tudo bem, tudo bem. Vou com você, não te deixaria segurando vela em um shopping. Você vai com a e eu te encontro lá?
- Isso.
- Vou logo avisando que se quiser mais que minha companhia vai ter que no mínimo me pagar um lanche.
- Vai se ferrar!
- Também te amo, .
- Eu não te amo.
- Ama, sei que ama. Xau.
- Xau.
estava rindo quando terminou a ligação, mas seu sorriso logo sumiu quando viu em seu celular uma mensagem de Lindsay dizendo que talvez estivesse na cidade em dois dias. Aquilo era um convite para vê-lo?
Respondeu dizendo que isso era bom e ela perguntou se daria para eles se verem, não precisa pensar muito para adivinhar sua resposta.
Estava marcado. Ele sairia com hoje e em dois dias sairia com Lindsay.

- O já está ali.
- Vou falar com ele e depois vazo.
- Tudo bem.
Antes delas irem em direção ao rapaz, puxou a amiga para um abraço.
- Fica bem, tá bom?
- Vou ficar, . Obrigada.
Foram até lá e viu o rosto do casal se iluminar ao se verem. nem parecida aquele rapaz um pouco sério que sempre tentava ser.
Ele não se conteve e abraçou a sua atual, talvez ex-namorada.
- Eu estava com saudades de você.
- Também senti sua falta, .
- Booom… - iniciou - acho que estou sobrando aqui, então, foi bom te ver, . Juízo vocês dois, vou procurar o .
- Foi bom te ver também, . - respondeu sem soltar . - Juízo vocês dois também.
- Sempre temos, meu caro. Sempre temos. - ela respondeu, rindo.

- Ei. - chamou atenção de para que ela o visse.
- Olha você.
- Tudo bem com os dois, lá?
- Eles se amam. - bufou, frustrada por não poder fazer nada sobre a felicidade da amiga. - Eles não deveriam acabar.
- Pode ser que não acabem.
- Mas pode ser que sim.
- A vida é assim, a gente nem sempre termina a vida ao lado de quem nos apaixonamos.
falava um pouco sobre eles, mas entendeu que era sobre Lindsay e não conseguiu conter a irritação.
- Você e a Lindsay, não é mesmo? É exatamente assim! Olha só você, dentro de um shopping com sua melhor amiga, mas ainda assim fica pensando nela.
Sua vontade era bufar e até mesmo dar um soco na cara dele.
- Ei, pirou? Que estresse é esse?
- Eu? Que tal porque estou preocupada com minha amiga?
- E onde a Lindsay entrou nisto mesmo? - ele indagou, tentando achar um sentido naquilo.
- Você falou dela, você sempre coloca ela.
- Você está com ciúmes? - ele perguntou, sorrindo.
- Com ciúmes de quê? De uma garota que está em outra cidade e te deixou aqui?
O rosto de enrijeceu, mas nem se importou com a ira que estava clara nos olhos dele.
- Eu poderia ter tentado algo com a Lindsay, mesmo à distância, mas nós escolhemos não ir a diante. Eu gosto da Lindsay, gosto demais, mais do que estou acostumado e mais do que eu esperava, mas não deu. Se ela estivesse aqui, sim, provavelmente eu estaria com ela. Então é mesmo melhor você não ter ciúmes dela, afinal, ela não está aqui. Mas teria motivos para tal coisa se ela ainda morasse na mesma cidade que eu.
Aquilo foi como se ele tivesse pegado o coração dela e arrancado do peito, e por mais que isso soasse clichê, piegas, era a maior verdade.
Lembrou dos meses anteriores e pensou se já tinha feito o mesmo com ele. Talvez sim, e se sim, ela só conseguia ficar com mais raiva da situação.
A dor não passou despercebida por .
- , eu vou te perguntar mais uma vez, só que de maneira mais direta. Você está sentindo algo por mim?
riu um pouco. Ela não conseguia acreditar. Ele acaba de falar que gosta de Lindsay, que estaria com ela caso a mesma estivesse ali. Como ela poderia responder a verdade?
- Está falando de algo como o que você sente pela Lindsay? Não. - riu novamente. - Não mesmo. Tira isso da sua cabeça.
- Tudo bem. - respirou fundo, claramente desistindo de insistir naquele assunto.
- Vamos comer alguma coisa e depois jogar um pouco naqueles jogos que o diz que passamos da idade de jogar.
- Ótimo! - ela bateu palmas animada. - Vamos logo.

- Então? Como você está? - perguntou, enquanto segurava a mão do namorado.
- Eu senti tanto sua falta, . - ele disse, com a voz demonstrando a dor que sentia. - Esses dias foram terríveis para mim. Eu entendo que assim não está dando, mas você me pede uma distância que dói demais dar. - tanto sua voz quanto suas mãos mostravam seu desespero.
- Eu achei que fosse ser melhor para nós dois.
- Olha, esses dias eu pensei muito, muito mesmo. Eu ainda quero realizar meus sonhos, eu ainda quero atingir minhas metas, mas a gente pode conversar, tentar conciliar meus sonhos e os seus. Você quer casar e ser mãe em breve, não é mesmo? Mas esse breve não tem que ser esse ano, nem o próximo. Assim como não precisa demorar o tanto que eu planejava.
- Se eu pudesse, seria mãe hoje, .
- Mas você me ama, você quer construir uma família comigo, certo?
O desespero nas palavras de deixava ainda mais quebrada por dentro. Como ela queria poder mudar as coisas.
- Você quer uma família, ?
- Hã?
- Você quer ter filhos, ver a pessoa que você ama engravidar, ir a ultrassons, estar presente no parto?
Os olhos de brilharam e controlou as lágrimas.
- Claro que quero.
- Entenda que dizer sim ou não, não tem que ter a ver com tentar bater meus sonhos com os seus.
- Isso não tem a ver. Eu não mentiria para você. Eu quero que você engravide, não hoje, sendo sincero, mas eu quero muito isso. Quero conversar com sua barriga, quero ficar louco por ter que dar conta dos seus desejos, eu quero toda loucura, todo sufoco e todo carinho da sua gravidez.
tentou segurar as lágrimas, tentou com todas as suas forças, mas mesmo assim elas rolavam em um choro silencioso. Era a hora do fim.
- É por isso que acabamos aqui, . - ela falou, sentindo seus lábios tremerem.
- O que? Você também quer uma família!
segurou o rosto da menina, mas ela fechou os olhos, não queria e nem conseguiria olhar para ele naquele momento. Ela não podia desistir, e se olhasse nos olhos dele, sabia que desistiria.
- Só me solta e me deixa ligar para a .
- Só me explica por que isso está acontecendo.
delicadamente e sem olhar nos olhos do rapaz à sua frente, tirou as mãos dele de seu rosto e falou:
- Se você gosta mesmo de mim...
- Eu te amo. - ele interveio.
Aquilo não era justo. Ela sabia que ele a amava, assim como ele sabia do amor dela por ele, mas eles nunca falaram aquelas palavras e escutar pela primeira vez naquele momento era horrível.
- Não é justo você me falar isso agora.
- Mas é a verdade! - disse desesperado.
- E essa verdade está acabando comigo.
Não esperou ligar para a amiga para sair dali, virou e foi embora. E depois de tomar um pouco de ar percebeu que não conseguiria ligar sem cair no choro e por isso escolheu mandar apenas uma mensagem.

e riam um do outro enquanto tentavam dançar correto no jogo. Entre trancos e barrancos, aquela tarde estava sendo melhor do que ambos imaginaram.
estava começando a melhorar no jogo quando seu celular tocou avisando que ela tinha recebido uma mensagem.
“Vem! Acabou!”
Não precisou de mais palavras para que desistisse do jogo.
- O que foi? Desistiu?
- A acabou de me mandar mensagem. Eles acabaram.
- Mas o veio tão disposto a não acabar. - disse, confuso.
- Eu não sei. Mas acabaram. Preciso ir, a precisa de mim.
não tinha o costume de abraçar sua melhor amiga, mas a tarde tinha sido tão boa que quando viu, já estava fazendo isso.
- Tudo bem. - disse enquanto abraçava a mesma. - Cuida dela.
- Vou cuidar. - respondeu quando estava saindo do abraço.
- Cuida de você também.
E naquele momento o clima de antes, de quando eles costumavam ir ao lugar deles na faculdade, voltou. não se controlou e deu um selinho na menina, que se tivesse mais tempo, talvez tivesse deixado ele beijá-la de verdade.
- Xau. - ela disse apressada.
- Xau. - ele respondeu ainda sem acreditar no que tinha feito.

Cuidar de , que estava bem diferente de como era sempre, sempre tão madura e centrada, foi uma tarefa difícil. Tanto para quanto para , que foi pra casa de assim que soube o que tinha acontecido, mas no fim, ela tinha ficado bem.
estava agora deitada na cama esperando a mãe terminar o jantar e pensando em como sua tarde tinha sido agradável. Depois pensou no seu ciúme de Lindsay, em como ela ficou mal com a sinceridade de sobre a ex, nas risadas dos dois enquanto brincavam e claro, pensou no selinho que ele deu nela na hora de se despedir.
Novamente pegou o celular e começou a escrever, na noite anterior percebeu que só entendia o que sentia quando colocava aquilo para fora em forma de textos. E ela precisava se entender naquele momento.
“Foi o seu sorriso, o seu jeito tímido. As suas manias, suas chatices. Foi a sua roupa, o seu cheiro. A sua vergonha, a falta dela.
É você, sempre foi você. Eu que não percebi antes. Tinha que ser você, por isso é você, sempre será você.
É esse teu jeito de me irritar, essa tua mania de fingir não ignorar. Esse teu poder de saber voltar quando tá sendo esquecido. É esse teu senso de humor que sempre me faz rir, ou a falta dele quando quer me tirar do sério. É você, não tem como mudar.
Isso fica claro todas as vezes que tu me escutas, que tu me entendes. Todas as vezes que de alguma maneira a gente volta ao passado, quase muda o presente. Cada vez que a gente ri de coisas nossas, no nosso mundo.
Resumindo, foi, é, será você. Você.”

Ao ler aquilo, um turbilhão de coisas invadiu sua mente, fazendo um pequeno pânico tomar conta de si. Ela não podia, não devia, mas sabia… Ela estava completamente apaixonada por .


Capítulo 20

Desde o momento que entendeu por completo o que sentia por , que tentava não vê-lo. Não queria ser grossa ou indiferente, e sabia que era assim que reagia quando alguém estava ultrapassando seus limites. Foi assim antes, quando ela ainda nem sabia o que sentia, e tinha certeza que acabaria sendo agora.
, graças a Deus nunca viu sua mãe ser agredida, seu pai também não agredia sua irmã, nem a ela, mas ela ainda assim viu coisas dentro da sua casa que faziam com que ela erguesse quantas barreiras fossem necessárias para que ela não tivesse que passar por aquilo. Ela não queria estar casada com alguém que a tratava bem, mas depois não aparecia em casa no fim da noite, não queria estar com alguém que depois de ano trocasse ela por uma garota de programa, não queria ter filhos com uma pessoa que fosse embora e magoasse além dela, seus filhos. Ela não queria ter que escutar o que sua mãe escutou, o que sua irmã e ela escutaram. Sentia que não suportaria aquilo em dose dupla.
tinha acabado de chegar à casa da amiga. Fazia tempo que as duas não tinham uma conversa só delas, se viram na casa de , mas ali não era momento para falarem delas, aquela era a hora de apenas se dedicarem a amiga.
bateu na porta, mas não esperou a amiga falar que podia entrar. Ela era sempre bem vinda.
- Heey! - exclamou, já se jogando na cama de .
- Folgada. - disse, tentando tirar seu livro preferido de debaixo da amiga.
- Ai.
- Sai de cima do meu livro e não vai doer mais nada.
- Você tá de TPM? - zombou.
- Eu não quero nem me imaginar de tpm nesta fase fossa que já estou.
- Huuuum. Conte-me mais.
Ela queria contar, claro que queria, mas não sabia como falar sem sentir vergonha de si mesma.
- É que eu não sei, sabe? Sabe aquele momento que você percebe que o que menos deseja está acontecendo?
- Depende.
- Eu não gosto quando não estou no controle das coisas e agora eu não estou no controle de nada, e isso é terrível. - bufou.
- Será que você pode ser mais direta, ? Essa sua enrolação é um saco às vezes.
A menina rolou os olhos.
- , você é um porre, sabia? Se a estivesse legal eu não teria esse papo com você.
- Chega parece que não. - desdenhou. - Você me ama! – afirmou, rindo. - Mas voltando, você está sem controle de algo na vida, o que seria?
- Tanta coisa.
- Seja mais específica, baby.
- Meus sentimentos.
abriu a boca de maneira teatral, não podia perder a oportunidade de zombar daquele momento.
- Você pode repetir? Eu não gravei isto.
- Vai se ferrar.
- Falo sério, não gravei mesmo.
- Você pode deixar de ser idiota?
riu da irritação da menina.
- Tudo bem, parei. Como você finalmente descobriu e aceitou que está apaixonada pelo ?
- Como você sabe que é isso?
- Tá na cara, baby. Mas, como descobriu?
- Depois que escrevi sobre isso.
- Você escreveu sobre o ? Ai meu Deus, você está mesmo apaixonada. - ria enquanto falava. - Me mostra.
- Nem morta!
- Sem graça. - mostrou a língua e continuou. - Mas me diz, o que aconteceu, sei lá, de novo?
- Eu fui ao shopping com a , né? Marcamos de nos ver lá e nessa tarde eu senti ciúmes, senti borboletas no estômago e ainda teve um selinho.
- Selinho? Quantos anos vocês têm?
- A gente não pretendia se beijar, acho que ele fez isso até sem perceber. E como eu estava indo embora, não tinha como rolar nada mais que isso.
- Metia a língua na boca dele.
- Não, eu não devo.
- Por quê?
- Nesse mesmo dia, tempos antes, ele me disse que ainda gostava da Lindsay e que se ela estivesse na cidade, provavelmente ele estaria com ela.
- Faz um tempinho que não saio com vocês, mas eu não lembrava dessa versão babaca do .
- E eu nem acho que ele foi babaca, sabe? Ao menos ele está sendo verdadeiro comigo.
- Você está mesmo ficando apaixonada por ele. - disse, rolando os olhos. - Tá na cara que ele quer algo.
- Não, . Ele não quer!
- Então por que ele fica nessa? Por que aquela mensagem? Por que esse selinho? Ele gosta da Lindsay, tudo bem, posso até acreditar, mas ele está tentando algo com você, e se ele gosta mesmo tanto dessa menina, não deveria tá de coisinha pra o seu lado.
- Ele só está se sentindo sozinho, sei lá.
- E você vai se contentar em ser o consolo pra que ele não se sinta só? - com falando daquela maneira, começou a se sentir idiota por estar sendo compreensiva com ele.
- Somos amigos.
- Só não esquece que ele já deixou essa amizade de lado.
Bufou. Às vezes era difícil conversar com . Ela era uma versão de um pouco pior em algumas coisas.
não se apegava, não se importava com boa parte das coisas e falava o que pensava de maneira ainda mais dura que ela. Era isso que estava acontecendo naquele momento.
Ela sabia que estava apaixonada, sabia que era a primeira vez que a mesma sentia isso em muito tempo, e sabia o quanto aquilo era assustador para a amiga, assim como sabia que a amizade de era importante, mas mesmo assim ela não se importava em dizer o que pensava. admirava isso nela, sério, mas naquele momento só queria que ela fosse um pouco mais compreensiva e menos . Mas não podia fazer nada quanto a isso. A amizade das duas era forte justamente porque não ficavam se podando uma com a outra, então, de toda maneira, só restava aceitar as palavras dela.
- Não vou esquecer, . Não vou esquecer. - e de fato aquilo era verdade. Escutar as palavras da amiga trouxeram-lhe à mente toda a falsidade de e isso ela não poderia esquecer.

estava esperando Lindsay, que disse que passaria em sua casa por volta das duas. Já tinha ignorado algumas mensagens de , não era um bom momento para falar com a garota. Não queria ter que contar que estava esperando a ex e sabia que de alguma maneira perceberia que ele estava diferente e quando visse, já tinha contado tudo a ela.
Eram duas e meia ou pouco mais quando Lindsay entrou no quarto de com um sorriso constrangido nos lábios. Nenhum dos dois achou que aquele momento seria tão estranho.
- Achei que você não fosse vir. Nunca costumou se atrasar.
- Eu tinha que resolver umas coisas, visitar umas amigas.
- Entendi. - ele respondendo, deixando a boca em uma linha fina.
- Bom, eu não sabia que isso seria tão estranho. - ela falou, rindo de maneira nervosa.
- Nem eu.
- O que a gente faz agora?
Os dois riram juntos.
- Acho que nos abraçamos, faz um tempinho que a gente não se vê.
- É.
Então os dois se abraçaram de maneira desajeitada.
Lindsay não conseguia explicar e nem falaria isso para o garoto a sua frente, mas não era mais a mesma coisa. Não sabia dizer se foi a distância, mesmo que por pouco tempo, se foram suas novas amizades, aquele garoto que deu em cima da mesma e que ela beijou, se era , só sabia que não era mais a mesma coisa.
- Senti sua falta. - escutou o rapaz dizer.
- Também senti. – ela respondeu no automático mesmo sendo verdade e mesmo sabendo que talvez ele tenha sentido mais que ela.
A menina não percebeu em que momento aconteceu, mas quando viu já tinha lhe agarrado e lhe dado um beijo. Bom, as coisas podiam não serem mais a mesmas, mas a vontade ainda estava ali, assim como a química e até mesmo um pouco do sentimento.
Retribuiu e foram para cama.
Se ele fazia aquilo por um remoto futuro, ela fazia pelos velhos tempos.
- Tenho que ir ver outras amigas minhas. - iniciou depois de um tempo descansando. - Antes de ir embora eu passo aqui, mas provavelmente vai ser por volta das uma da manhã, tudo bem?
- Claro. - respondeu dando um beijo na boca da garota e passando a mão pelo corpo nu da mesma.
- Eu não posso ficar mais um pouco, . - Lindsay falou, rindo.
- Eu sei, eu sei. - riu também.
Lindsay levantou, foi tomar um banho e depois vestiu suas roupas.
- Xau, amore. - disse, já estando na porta.
- Xau, amor. - o garoto respondeu.

Eram três da manhã, não acreditava que ele, logo ele, ainda tava acordado até aquela hora esperando por uma garota que claramente não iria voltar.
Mandou uma, duas, três, dez mensagens para Lindsay perguntando que horas ela iria passar lá e estava pensando em mandar a décima primeira quando olhou novamente a hora e viu que estava fazendo papel de idiota.
Foi apagar as mensagens quando acabou abrindo uma que lhe enviara mais cedo. . Ele passou o dia ignorando a garota e agora tudo parecia uma tremenda burrice. Queria ela ali, pra passar do simples selinho que tinha acontecido dias atrás.
Quando já estava indo dormir seu celular vibrou com uma mensagem. Era de Lindsay.
“Desculpe por hoje cedo. Não consigo fazer mais isso.”
leu e releu a mensagem sem entender o que ela queria dizer. Resolveu responder apenas com várias interrogações e a resposta veio rápida.
“Eu não sinto a mesma coisa que você. Não mais.”
O menino riu, sem acreditar.
“Não poderia ter percebido isso antes das três da manhã?”
“Sinto muito, . Sinto muito mesmo. A gente não existe mais.”

Como assim eles não existiam mais? Horas antes eles estavam em cima daquela cama fazendo amor e agora eles não existiam mais?
“Você está confusa, Lindsay. A gente nem conversou direito, fomos logo para cama. Vem aqui, fica comigo, vamos conversar. A gente vai se acertar.”
esperou pela resposta, mas depois de quase meia hora, percebeu que ela não viria. Quando viu, já estava mandando mensagem para outra pessoa.
“Preciso de você aqui, . Fica comigo.”
Ele era um babaca, sabia disso. Estava sendo um completo babaca.

dormia sem fazer ideia do que estava acontecendo, quando acordou e viu a mensagem sentiu seu coração acelerar. O que podia ter acontecido para aquela mensagem? O que aquele: fica comigo, queria dizer?
“O QUE ACONTECEU? VOCÊ ESTÁ BEM?
Estava dormindo, só vi agora.”

A manhã passou, a tarde também, e a resposta só chegou no início dá=a noite.
“Esquece. Passou”
“Como assim esquece? Você me deixou preocupada. O que estava fazendo acordado, uma hora daquelas? Você está bem mesmo?”
“Passou, você demorou. Estou bem sim.”

rolou os olhos diante daquela mensagem. O que ele queria? Que ela ficasse acordada o tempo inteiro esperando que ele precisasse dela?
“Se você diz… Precisando, estou aqui.”
Já tinha enviado essa mensagem, quando resolveu mandar outra, antes mesmo da resposta dele.
“Mesmo que seja para falar dela. Tem a ver com ela, não tem?”
odiava como sempre sabia o que se passava na mente dele. Era como se ela estivesse dentro de seu cérebro, inspecionando tudo e pressionando-o a fazer o que ela queria.
“Sim, é sobre ela. Mas tudo vai se resolver. Não quero falar disso, na verdade, eu não deveria estar falando disso.”
não respondeu mais. Não fazia sentido implorar para que ele falasse dela. Ela se preocupava com ele, e caso o mesmo quisesse falar, ela estaria lá para escutar, mas implorar por isso era demais, até pra alguém que tenta ser forte como ela.

- Deixa eu ver se entendi, você tá usando a ? - perguntou, mas não tinha ofensa em suas palavras.
- Eu sei que isso é horrível, mas eu não sei como lidar com ela, sabe? Ela é sempre tão pronta pra tudo, sinto culpa, mas depois passa.
- Ela nunca vai assumir que está mal com isso.
- Nem pode, né?! O que a gente teve foi algo bem parecido.
- Você está tentando se vingar? - dessa vez tinha a intenção de repreender. Aquilo não era certo.
- Não! Não é isso. Só estou falando que talvez as coisas tenham apenas mudado de lugar. Eu nem sei se ela está mesmo gostando de mim, quantas vezes ela não pareceu gostar e depois dizia que não queria nada? Talvez ela só esteja sem saber o que fazer, já que perdeu o brinquedinho dela.
- Talvez.
- Mas agora vamos falar de você, como tá as coisas com a ?
bufou, frustrado com a situação de sua vida amorosa.
- Não está, essa é a verdade. Eu estou solteiro e nem sei exatamente o porquê. Primeiro a gente quase acaba porque ela queria filhos e eu não, depois eu digo que também quero e isso parece destruí-la.
- Acho que ela tava querendo acabar e arrumou desculpa, então.
Era sempre engraçado como os rapazes conversam de maneira prática e, de acordo com eles, racional. Mesmo que sua razão passasse longe de verdade.
ponderou a afirmação do amigo e depois concluiu que não fazia sentido.
- Ela não é assim. Tem algum outro motivo que eu não sei qual é.
E tinha.

A mãe de estava mais uma vez batendo na porta de seu quarto para que a filha abrisse e comesse alguma coisa. Aquela situação estava insustentável. Ela mal comia, não saía do quarto e chorava como se sua vida tivesse chegado ao fim.
- , chega! - a mulher gritou quando a filha abriu a porta e mostrou seu rosto inchado. - Você tem uma doença? Sim. Mas isso não é o fim do mundo. Não precisava nem ser o fim do seu namoro. Se esse rapaz é tudo que sempre mostrou e tudo que você diz que ele é, ele entenderia.
- Mãe, você sabe…
- Eu não sei de nada disto que você quer afirmar. - a mulher interveio, irritada. - Eu sei que é difícil, venho sempre conversar com você e te colocamos na terapia para isso, eu respeito sua dor e a sinto junto contigo, mas a sua vida é muito mais que essa doença. Chega de limitar o que você vive por causa dela.
- Mas ela me limita! - a menina gritou. - Ela deixa claro que eu não vou ser mãe.
- Existe a possibilidade de ser. - Beth pegou no rosto da sua filha e segurou forte. - Você pode conseguir engravidar, você pode ser mãe ainda que não engravide.
Era difícil lidar com aquele assunto. Toda mulher que sonha em ser mãe vê uma parte de si morrer quando escuta de médicos que isso não seria possível.
- Você tem endometriose, mas a endometriose não é você. Por favor, entenda isso, meu amor.
- Ele disse que sonhava em ver minha barriga crescer.
- Esse menino mudou alguns de seus sonhos só para que encaixassem nos seus. Ele vai te amar com ou sem essa doença. E se não, você encontrará alguém que ame. Só não deixe de dizer a verdade por medo, imagine como será conviver o resto da sua vida com um “e se” na cabeça.
- Eu preciso pensar um pouco, quando eu estiver melhor, decido se falo com ele.
- Tudo bem. - Beth falou, abraçando a filha. - Mas agora, tome um banho e desça para comer conosco. Chega de ficar trancada neste quarto.
- Tudo bem.
- E conversa com ele, você não sabe dá resposta dele.
- Eu sei que ele quer me ver grávida.
- Ele quer você, é isso que ele quer.
- Vou pensar, mãe. Vou pensar.

Fazia uma semana desde a troca de mensagens que aconteceu quando Lindsay voltou à Londres. e marcaram de se ver em uma praça qualquer só para matar a saudade um do outro.
estava um pouco ansiosa para esse encontro, queria saber o que tinha acontecido aquele dia e ao mesmo tempo não queria ouvir dele que o mesmo ainda gostava da ex. Ela riu enquanto ponderava suas emoções e ia ao encontro do amigo, era engraçado estar apaixonada, isso não era algo a qual ela estava acostumada, principalmente por alguém que já tinha sido apaixonado por ela e agora não era mais.
- Ei. - chegou falando assim que o viu.
- Você está atrasada.
- Nunca viu Diário de Uma Princesa?
- Hã?
Ela empenou o nariz, colocou uma mão na cintura e falou:
- Uma rainha nunca está atrasada. Todos os outros é que estão adiantados.
- Trouxa.
Conversaram um pouco mais sobre coisas triviais, até que , já não conseguindo se conter, perguntou:
- O que aconteceu aquele dia?
- Nada demais. - limitou-se a dizer.
- Foi com ela, não foi?
- Ela veio para Londres.
- Isso não deveria ser bom? – tentou.
- Acho que finalmente tivemos o fim de verdade.
- Durante a madrugada? Deveriam ter escolhido uma hora melhor.
- Desculpa ter te enchido com isso aquela hora.
bufou levemente.
- Não há problemas em você falar comigo sobre seus problemas, é só que fiquei preocupada e você ainda não quis falar sobre isso depois.
- Posso ser sincero? - ele perguntou, demonstrando ansiedade pela resposta da garota.
- Sim?! - respondeu meio incerta.
- Eu não me sinto muito bem falando disso com você. Quer dizer, eu sei que mandei essa mensagem, você é minha melhor amiga, mas eu não sei se posso falar dessas coisas com você.
- Por que não?
- Você está diferente, não é a do início de tudo. - queria dizer: acho que você agora gosta de mim. Mas de que adiantaria? Ela dizia que não. – E... - retomou meio incerto - eu também estou diferente, mas tô diferente de quando estava com a Lindsay.
ficou calada, mesmo não entendo direito o fim da frase. Ela só não queria perguntar sobre o que não tinha entendido e ter que falar sobre o início da fala dele.
Já que ela não falava nada, respirou fundo e resolveu que era a hora de falar mais sobre eles, precisava ser sincero com ela e consigo mesmo.
- Tipo, você não é mais tão indiferente…
- Eu sempre me preocupei com você, . - ela cortou o garoto.
- Não é dessa preocupação que estou falando, . Você sabe disto. - rolou os olhos. - Eu não deveria estar levando isso em consideração. Sendo sincero, quando estava com a Lindsay eu não levava, mas agora eu levo.
- Como assim? - perguntou, sentindo o coração bater mais forte.
- A Lindsay ainda mexe comigo, eu não fiquei mal à toa, eu gosto dela. Mas eu ainda penso nisso aqui também - falou, apontando para garota e ele próprio. - Eu não sei o que é isso, mas parece que você continua sabendo me deixar louco.
Ambos riram e o motivo era igual: um pouco de vergonha, nervosismo e até frustração. Mas sentia-se frustrado por ainda que de maneira diferente de antes, sempre ser tocado por ela. Já estava frustrada por saber que já não o tocava como antes, logo agora que isso era tudo que ela queria e sentia.
A menina encarou o amigo e pensou que essa era a hora de falar alguma coisa, não dava pra escutar aquilo e fingir que nada aconteceu, mas não sabia o que dizer. Até porque, de que iria adiantar se declarar para alguém que ainda pensa um pouco em outra?
- Eu acho que isso é devido ao “e se”. - Quando viu a cara de dúvida de , continuou. - A gente não teve nada de fato, tivemos algo, mas até mesmo com o foi algo mais além, então, fica aquele: e se a gente tivesse tentado? Fora que você namora todas as garotas que vê pela frente, - brincou - eu acabei sendo sua exceção, isso também deve mexer com algo aí dentro.
- E em você? - ele quis saber. - O que mexe?
Era a hora de falar a verdade. Era a hora. Tirando o fato de que contar que gosta de alguém quando esse alguém sente algo por outro alguém, faz com que deixe de ser uma boa hora.
Mas mesmo com medo, queria dizer algo, precisava abrir seu coração dentro dos limites que tinha. Ela precisava dizer ao menos um pouco do que sentia.
- Somos o e se do outro, não apenas eu sou o seu. Fora que eu senti muito a sua falta naquele período. , você não faz ideia do quanto foi ruim ficar sem você, e não apenas porque a época foi barra. Eu estive com Michael por um tempo, e foi bom, muito bom, mas não foi você. - deu de ombros. - Só sei que é isso, é assim que você mexe comigo.
não pensou duas vezes e beijou a garota. Pouco importava a confusão de sentimentos que ambos se encontravam e muito menos se voltariam a se beijar depois disso, - tudo bem, isso importava um pouco - ele só queria aproveitar aquele momento e beijar a garota que deixou ele louco desde o primeiro segundo.
Depois do beijo, fechou os olhos e lembrou-se do primeiro beijo deles, parecia que fazia séculos, e ao mesmo tempo, que foi ontem. Nada tinha mudado, exceto por uma coisa: ela estava diferente, o que a fazia olhar tudo de outro ângulo. Ela queria aqueles beijos, vários deles, mas não sabia se aguentava ser a outra ponta daquele beijo na faculdade.
- Você não pode me dizer que gosta dela e depois me beijar. - falou baixinho. - É contra as regras de um bom amigo e de quem quer beijar alguém. - riu um pouco.
- Eu não posso mentir pra você, até porque você me conhece melhor que ninguém.
- É sim. - e como doía nela ter a certeza que ele sentia mesmo algo por Lindsay ainda.
- Mas eu precisava fazer isso.
- Você sempre precisa. – acusou, cansada.
não entendeu direito o que aquela fase significava, mas sabia do que falava. Ele namorava Flávia, mas precisava dela, então, acabou com a garota. Depois, não soube esperar e ficou mais uma vez com Flávia, só que não virou nada sério, porque ele precisava dela. Daí veio mais um de seus minis rolos, mas ele voltou, porque precisava dela.
Era um ciclo vicioso irritante. Ele voltava, ela duvidava, então ele ia embora, mas depois voltava, ela duvidava e ele ia embora novamente.
- Eu sei que você precisa também.
Os dois acabaram rindo e deu um selinho na menina.
- Você… - o rapaz iniciou.
A pergunta, aquela mesma pergunta de sempre. Tinha sempre o mesmo sentido, mesmo que fosse feita de maneira diferente.
“ O que você sente por mim?” “Você me ama?” “Você sente o que eu sinto?”
Antes que ele a fizesse, respondeu:
- Eu não sou capaz de sentir algo igual ao que você disse já ter sentido e que pode vir a sentir novamente. - respirou fundo e continuou. - Eu não sei amar como você ama, . Se é isso que você quer saber: não, eu não amo você.


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