Última atualização: 16/08/2020

— un —

O salão principal estava cheio de murmúrios quando a Professora McGonagall atravessou a porta da entrada de forma mais apressada que de costume, parecendo tão severa quanto Filch, fazendo alguns grifinórios arrumarem a postura ao vê-la se aproximar cada vez mais deles.
Atrás dela vinham os novos alunos, de passos rápidos e atrapalhados, esbarrando-se uns nos outros enquanto olhavam para cima, surpresos, outros nem tanto, ao perceberem que o teto refletia o céu do lado de fora do castelo com nuvens pesadas, pingos grossos que desapareciam pouco antes de cair em suas cabeças e raios que se arrastavam desde a entrada até a Mesa Principal, iluminando todo o salão num clarão azulado, ofuscando as velas que flutuavam pelos cantos.
Sentada no começo da mesa da Sonserina, observava, entre e , outra rodada de aposta ser iniciada enquanto a Cerimônia de Seleção não começava. Willie, um Lufano também do terceiro ano, era quem comandava as apostas da noite. Os tópicos não eram muito diferentes de quando todos ainda estavam no Expresso de Hogwarts. Tudo se resumia a Harry Potter e, principalmente, a casa que ele seria selecionado.
não gostava nem um pouco de apostas, mas também não se incomodava com elas, desde que ninguém viesse perturbá-la com isso. era bastante neutro, embora tivesse participado algumas vezes quando o assunto era Quadribol. Já , bem, ela não era exatamente fã, mas gostava de estar por dentro dos assuntos em alta, pelo menos. Então, quando o Expresso de Hogwarts estava prestes a chegar à estação de Hogsmeade, ela deixou escapar: Seria legal se Potter caísse na nossa casa, não acham?
estava sentado no canto da janela, ao de , mas parecia tão vidrado na chuva que caía forte lá fora, que sequer ouvira sua pergunta. Então, percebendo que parecia esperar por uma resposta, baixou o livro que estava lendo e olhou para ela, dizendo: Bem, considerando que seus pais eram grifinórios… Eu acho um pouco difícil. Mas, quem sabe?
E voltou a ler Irmãos de Sangue: Minha Vida Entre os Vampiros, de Eldred Worple.
Agora, porém, parecia sentir uma leve pontada de preocupação em relação a isso. Se Potter fosse para a Sonserina, seria uma segunda coisa para tirar-lhe a paz. A primeira certamente seria seu irmão, que já era meio obcecado pelo garoto antes mesmo de conhecê-lo, e não de uma forma boa, é claro.
Coincidentemente, ele era o novo assunto pelo salão. Os cochichos que chegavam aos ouvidos de eram acompanhados por olhares curiosos e nada discretos em sua direção enquanto falavam sobre um garoto de cabelos loiros, quase brancos, que tanto lembravam os dela.
mexeu-se no banco começando a sentir-se incomodada. Detestava ser motivo de assunto pela escola, especialmente quando envolvia sua família.
, percebendo o desconforto da amiga, disse a primeira coisa que surgiu em sua mente:
— Como você acha que ele que é? — perguntou numa voz monótona, com a cabeça apoiada em suas mãos, observando as crianças formando fila à duas mesas de distância deles.
— Além do que fomos obrigados a saber durante a viagem inteira? Não sei — respondeu , com um humor não muito diferente do melhor amigo, olhando especificamente para , que respondeu com um sorriso quase culpado.
Powell era, de longe, a mais agitada e bem-humorada do trio. gostava de dizer que, graças à ela, eles tinham o equilíbrio perfeito. E de fato, tinham. completava tudo o que faltava nos dois sonserinos e vice versa. Portanto, não era nenhuma surpresa para eles que a ruiva estivesse tão animada desde que ouvira o nome do garoto que sobrevivera a Maldição da Morte naquela manhã.
— Bem, se isso ajuda, ouvi dizer por aí que Potter se parece muito com Tiago e tem alguns traços de Lílian — disse , timidamente, tentando conter a animação interna por saber que Harry estava bem ali, no meio de tantas outras cabeças.
— Isso não é nenhuma novidade, — respondeu , rindo. — Você só quer puxar esse assunto pela… trigésima vez?
começou a rir, mas parou imediatamente quando percebeu que atraiu não só o olhar de seus colegas que sentavam próximo a ele, como também o de Minerva, que parou imediatamente de abrir o pergaminho para lançar um olhar de repreensão em sua direção. O que não fazia muito sentido para ele, já que o salão inteiro era uma bagunça completa de vozes e risadas por todos os lados. De todos eles… Por que justo eu?, pensou ele, sentindo corpo gelar completamente. Não por medo, porque York não tinha medo de nada, é claro. Mas sim, por odiar a ideia de estar na mira de alguém dessa forma.
— Ei, ! — chamou Fergus, do outro lado da mesa da Sonserina. — Por acaso aquele menino é seu irmão? — perguntou um tanto alto, apontando o dedo para a fileira de alunos ainda parados em frente ao Chapéu Seletor.
— Oh, por Merlin! — exclamou , encostando a testa contra a madeira fria da mesa, notando que o cochicho anterior ganhara ainda mais força agora.
olhou para Fergus. — Satisfeito? — perguntou ela. — Agora, quer fazer o favor de fechar essa boca?
Fergus revirou os olhos e voltou a conversar com outro sonserino.
— Meus anos de paz acabaram de acabar — murmurou , com desânimo, já prevendo o horror que seria ter seu irmão por perto nos próximos anos. Ela levantou a cabeça e pressionou o dedo médio contra a armação preta arredondada dos óculos de grau que insistiam em escorregar para a ponta de seu nariz.
— Oh, por favor! — exclamou , sem tirar os olhos do Chapéu Seletor. — Nós ainda estamos aqui, sabia?
limitou-se a concordar com um breve aceno de cabeça e então olhou para a mesa da Corvinal. Seus olhos azuis logo caíram em Joshua Goody sentado de costas para ele. Infelizmente. Ou… seria felizmente? Pelo menos assim ele podia olhar sem ter o risco de ser pego. Bem, pelo próprio Joshua, porque não demorou muito para perceber a direção do olhar do melhor amigo. Ela cutucou-o a perna e pulou de susto pelo contato repentino, olhando para ela com uma cara que só pôde ser lida como “O que foi que eu fiz agora?”
— Você está devorando Joshua com os olhos — disse ela, bem baixinho, mal conseguindo conter a vontade de rir. — De novo.
— A-ah, eu não estava-
Shi! Quietos, quietos! Vai começar! — disse , praticamente debruçando-se sobre a mesa para calar a boca de com a mão. Ele afastou-as gentilmente e sussurrou um “tudo bem, tudo bem” antes que ela tentasse calá-lo outra vez, e então virou para o velho e pontudo chapéu.
A professora Mcgonagall já estava posicionada ao lado do Chapéu Seletor com o pergaminho aberto, pronta para chamar o primeiro aluno para sentar-se no banquinho.
assistiu a cerimônia por um tempo, apenas para agradar , mas não durou mais do que dez minutos. Ela pensou em baixar a cabeça e esperar tudo terminar, chegou a considerar cochilar um pouco, mas, em vez disso, preferiu deixar seus grandes e expressivos olhos cinzentos varrerem todo o salão, sem destino. Qualquer coisa que não fosse um chapéu velho selecionando pequenos idiotas em potencial.
Ela apoiou as bochechas nas mãos e olhou para o teto encantado, notando que a chuva ainda não havia parado e que os pingos grossos continuavam a cair e desaparecer prestes a pingar em cima de sua cabeça. Os raios cortavam o céu em vários pedaços enquanto vez ou outra um clarão aparecia sobre a Mesa Principal, fazendo-a estremecer. Ainda tinha o medo bobo de relâmpagos. E raios. E trovões. Mas, apesar disso, gostava de observá-lo dali. Não era tão ruim quanto os sons faziam parecer. Na verdade, até a fazia pensar que se não fosse pelo barulho, ela provavelmente ficaria horas observando os clarões dançando pelo céu lá fora, também. Porque era esplêndido e trazia uma estranha sensação de conforto para ela. Mas, por ora, estava bem em observá-lo dali. Dentro do conforto de Hogwarts. Em segurança.
Houve uma estrondosa salva de palmas na terceira mesa, e pulou de susto, quase esquecendo-se da cerimônia. Ela olhou para a frente bem a tempo de ver uma menina ruiva descer do banquinho e ser recebida calorosamente pela Lufa-Lufa. Então direcionou os olhos para a Mesa Principal, conseguindo uma vista muito melhor agora que faltavam pelo menos dez cabeças esperando seus nomes serem chamados. Viu o irmão parado num canto, destacando-se dos demais por conta dos cabelos extremamente loiros. Ela deixou um pequeno suspiro escapar enquanto subia o olhar outra vez para a mesa, sem muito interesse, passando por Severo e depois Dumbledore, parecendo tão sereno como sempre.
Ouviram a Professora McGonagall chamar por Hermione Granger, então, segundos depois, outra salva de palmas. Dessa vez, na Grifinória.
Antes mesmo que pudesse perceber, seus olhos caíram lá. Bem, em George, especificamente. não sabia por quanto tempo estava olhando para ele, nem por que Merlin fazia aquilo, mas soube que precisava reagir imediatamente, quando percebeu que ele também olhava para ela.
— Droga — disse ela, sentindo-se estranhamente envergonhada.
— O quê, estava devorando George com os olhos? — perguntou num tom quase provocativo.
— O quê? — perguntou ela, um pouco confusa, empurrando os óculos para cima. Já podia sentir a quentura familiar apossar-se de suas bochechas pálidas. — É claro que não, .
riu, e teve certeza de que sua resposta não fora lá muito convincente. Então logo adiantou-se, dizendo:
— Você deveria ir falar com ele, sabe — comentou, referindo-se ao Joshua Goody.
— Você deveria ir falar com ele, sabe, Malfoy — retrucou , dando ênfase no sobrenome de por nenhum motivo em especial. Ela levantou a cabeça para ele em confusão, esperando encontrar alguma diversão estampada em seu rosto, mas não havia nada além de sinceridade nadando em seus olhos extremamente azuis. O que era, no mínimo, preocupante.
— Quero dizer — continuou ele. — George não para de te olhar desde que chegamos aqui.
sentiu o corpo gelar, mas passou tão rápido quanto veio. E pensou ter sentido uma pequena vontade de saber mais ou de se aprofundar no assunto, mas preferiu ser prudente e ignorar. Havia notado os olhares mais cedo, quando passou uma ou duas vezes em frente à cabine dele no Expresso de Hogwarts, mas quem não olhava para ela? Era uma Malfoy. Atraía todos os tipos de olhares desde que se entendia por bruxa. Não era grande coisa... George provavelmente só estava pensando em mil formas de azará-la. Nada para se preocupar, é claro.
— Você sabe muito bem que os Weasley nos odeiam — disse , antes de deitar a cabeça no ombro direito de . — Mas não temos nada no histórico sobre os Goody odiarem a família York.
riu.
— Sério, ! Você sabe que ele tem olhado desde que você o acertou com uma extraordinária bola de neve — ela comentou, e precisou concentrar-se muito para não acabar rindo alto. sentiu as bochechas queimarem de vergonha, mas permitiu-se pelo menos sorrir ao lembrar da cena e de como ele foi, todo tímido, pedir desculpas a Goody.
— Aquilo foi terrível! — exclamou ele, encostando as mãos nas bochechas rosadas.
— Estupendo, eu diria.
— Acho que estou vendo um pontinho branco — disse para . Ela ainda estava com a cabeça deitada no ombro de , mas levantou-se imediatamente quando ouviu a Professora McGonagall chamar Draco Malfoy. Mal teve tempo de arrumar a postura e seus óculos quando o chapéu anunciou um rápido e alto: SONSERINA!
Os sonserinos levantaram-se no mesmo instante para aplaudi-lo, completamente satisfeitos por terem mais um grande nome na casa. Draco tinha um sorriso idiota no rosto enquanto andava sem pressa, como se estivesse saboreando cada segundo. Passou atrás de , lançou um sorriso presunçoso em sua direção e foi sentar para o meio da mesa, ao lado de Crabbe e Goyle.
— Ah, tudo bem — disse , murchando imediatamente. — Nem um pouco emocionante.
— O que mais você esperava? — perguntou , inclinando-se para olhar .
— Sei lá. Que o chapéu ficasse ao menos confuso sobre qual casa colocá-lo, talvez… Mas não durou nem um segundo!
tombou a cabeça para o lado, pensativo, considerando o ponto de . Lembrou do ano em que ingressaram na escola, de como foi embaraçoso estar lá na frente, e de como o Chapéu Seletor pareceu demorar vários minutos para decidir em qual casa ficaria.
— Como na sua vez, . Por pouco você não ficou na Grifinória — disse de modo automático.
sentiu o corpo tremer só de pensar nesse dia e no que teria acontecido a ela se tivesse ido para a Grifinória. Na melhor das hipóteses, teria sido expulsa de casa assim que a notícia chegasse aos ouvidos de Lucius, seu pai. Na pior… Oh, Merlin, ela não gostava nem de pensar.
! — exclamou , olhando feio para ele. E esperava que isso fosse suficiente para fazê-lo lembrar de que esse assunto ainda era complicado para . Porque mostrava, de uma forma bem clara, mais uma vez, que ela era muito diferente do resto de sua família. O que não era algo ruim, muito pelo contrário. Apenas… tornava tudo mais complicado do que já era.
sentiu-se coberto de culpa, mas, antes que pudesse se desculpar, adiantou-se dizendo que estava tudo bem.
O assunto morreu ali. Então outra salva de palmas.
— Oh, apenas mais um Weasley! — disse sem muito interesse.
viu o ruivo correr até a mesa da Grifinória, parecendo tão pálido quanto um fantasma. Percy, Fred e George rapidamente levantaram-se para envolvê-lo num abraço forte e desajeitado enquanto alguns grifinórios continuavam em pé para cumprimentá-lo adequadamente.
deixou escapar um mínimo sorriso no canto dos lábios enquanto observava a relação próxima que os Weasley tinham. Acabou lembrando de Draco. Não conseguia nem lembrar quando foi a última vez que fizeram algo parecido. Se é que fizeram...
As únicas boas lembranças que tinha com o irmão, eram todas de quando ele ainda era apenas um bebê fofo e praticamente não falava. soltou um longo suspiro com o pensamento, inclinando-se para frente para ter uma vista melhor do irmão, mas sem sucesso.
Mais alguns nomes foram chamados, e então, por fim, Potter.
— Tudo bem, tudo bem, é agora! — disse . — Sonserina ou Grifinória?
deixou uma gargalhada escapar. Sabia que traria alguma brincadeira de última hora e que, obviamente, eles acabariam sendo contagiados pela animação dela.
— Grifinória — respondeu imediatamente, então olhou para . inclinou a cabeça para olhá-lo também.
York respirou fundo, levando o dedo indicador ao nariz fino e sardento, mostrando que estava levando a brincadeira bastante a sério. Pensou um pouco no que faria mais sentido, colocando na balança os prós e contras, então, quando sentiu-se seguro, respondeu:
— Grifinória!
Os três assentiram ao mesmo tempo satisfeitos com suas escolhas, então olharam para frente, observando, finalmente, Harry sentar-se no banquinho.
O salão inteiro fez silêncio para tentar ouvir o que o Chapéu Seletor tinha a dizer. Das quatro mesas, apenas Grifinória e Corvinal pareciam ter o maior número de alunos realmente ansiosos para saber qual casa Potter seria selecionado. O resto estava bem equilibrado. Havia os indiferentes, os curiosos e os que aguardavam ansiosamente pelo resultado das apostas. Willie, o lufano que comandava-as, estava tão nervoso e suado, que parecia ter acabado de lavar o cabelo.
Já na Mesa Principal, os professores pareciam tensos, especialmente Hagrid. Severo e Quirrell observavam com atenção e inclinavam-se para frente ao mesmo tempo sempre que o chapéu sugeria a Sonserina como uma boa opção.
Ao lado de , dava pequenos pulinhos e só faltava quebrar os próprios dedos entrelaçados de tanta ansiedade. Mas, no fim, foi como e haviam imaginado. O chapéu anunciou para todo o salão em alto e bom som: GRIFINÓRIA!
Então, pela última vez, Grifinória foi a loucura. Harry foi correndo para a mesa enquanto recebia a maior salva de palmas da noite, provavelmente.
Argo Filch apareceu pouco tempo depois para recolher o banquinho e o chapéu enquanto a Professora Mcgonagall dava a volta na mesa para sentar-se ao lado do diretor. Finalmente.
— Vê se não chora, hein, — disse , achando graça do resultado e da melhor amiga, que parecia um tanto emburrada agora.
— Cala a boca, York.
abafou uma risada.
— Ainda bem que você não participa dessas apostas, — começou ela, fingindo seriedade. — Imagina só, uma derrota dessas!
Powell revirou os olhos.
— Vocês dois são uns grandes panacas! Os piores amigos que eu poderia ter! — disse ela. Então começaram a rir.
— Atenção, atenção a todos, por favor! — disse McGonagall, batendo uma colher dourada em sua taça para que todos fizessem silêncio.
Alvo Dumbledore levantou-se pela primeira vez desde que chegaram no Salão Principal. Mantinha os braços bem estendidos enquanto cumprimentava o corpo discente com um sorriso sereno estampado no rosto. Como de costume, o silêncio entre as quatro mesas era absoluto enquanto esperavam ouvir as mesmas palavrinhas sem sentido de sempre antes de o banquete começar, porém, desta vez, algo parecia diferente. notou que Dumbledore parecia mais formal do que o habitual, talvez até meio apreensivo, mas preferiu afastar o pensamento e esperar pelo seu pronunciamento.
— Aos novos alunos: Sejam bem-vindos! Aos nossos alunos mais antigos: Sejam bem-vindos! Antes de iniciarmos o banquete, gostaria de lembrá-los que a Floresta Proibida é rigorosamente proibida a todos os estudantes! — disse Dumbledore, fazendo uma breve pausa, baixando a cabeça para olhar por cima de seus óculos meia-lua, e então prosseguiu, proibindo principalmente a ida ao corredor do terceiro andar do lado direito. Aproveitando, também, para lembrá-los de não praticar magia nos corredores e, claro, de respeitar toda a grade de horários. — Muito bem, muito bem... — disse ele, olhando para as quatro mesas antes de anunciar: — Que comece o banquete!
Então palmas, assobios, gritos penetrantes por todo o salão e, finalmente, comida!
foi o primeiro a esticar o braço por cima da mesa para pegar a travessa de Risoto de Cogumelo com alho poró. Estava coberto por pedaços de tomates, cerejas e abóboras bem assadas. O vaporzinho ainda subia sem parar, e sentiu a quentura tocar seus dedos antes mesmo de encostá-los lá. Mas tudo bem, tudo pelo seu prato preferido.
Do outro lado, estava num grande dilema depois que viu a enorme travessa de Creme de Milho assado ao lado do Strogonoff de grão-de-bico apenas encarando-a.
riu, sentindo-se tão perdida quanto ela.
— Na dúvida... — disse ela, deixando no ar sabendo que pegaria a referência.
— Vai os dois — completou a ruiva, sorrindo, finalmente servindo-se.
decidiu ser um pouco mais ousada que , e pegou quatro pratos diferentes. Começou pelo arroz de forno com pedaços de tofu grelhado, depois Brócolis empanado, o seu preferido, seguido pelo bolinho de grão-de-bico assado e, por fim, tomate recheado com lentilha e cebola caramelizada. Serviu apenas um punhado de cada um deles (com exceção do brócolis), porque precisava deixar um espacinho para as sobremesas, é claro.
— Batatinhas? — ofereceu , enquanto despejava vários chips de batata-doce no canto do prato.
— Batatinhas! — exclamou , ignorando completamente o prato que já estava consideravelmente cheio. Ela pegou algumas delas e passou para .
— Meu Merlin, como senti falta disso! — disse , enfiando várias batatinhas crocantes inteiras na boca enquanto inclinava a cabeça para trás para desviar do Barão Sangrento que passava bem à sua frente. Detestava a sensação gélida que ficava após ser invadida por um fantasma.
acompanhou o movimento do Barão nada simpático e viu-o parar ao lado de Draco, que deixou o sorriso cair instantaneamente, nem um pouco contente com a presença do fantasma.
— Então, o que será que está acontecendo em Hogwarts dessa vez? — perguntou , observando seu prato ficar limpo outra vez.
— Nada de bom, obviamente… Mas não temos como saber — respondeu , voltando sua atenção em direção à comida. — Só é realmente estranho que Dumbledore não tenha nos contado o porquê.
Bem...
— Você não está pensando em ir investigar, está, York? — perguntou , inclinando a cabeça para olhá-lo enquanto tomava um gole do suco de Melão com Couve. levantou uma sobrancelha interrogativa para ele.
remexeu-se no assento. Se e não o conhecessem tão bem, poderiam até pensar que ele estava apenas se ajeitando.
— Uh, não... Claro que não. Não.
— Você fez aquilo — disse , rindo.
Aquilo o quê?
— Repetir não três vezes — e disseram ao mesmo tempo, então só continuou: — Você sempre faz isso quando, na verdade, quer dizer sim.
— Não faço, não.
York — disse .
— O que foi?
não respondeu. Preferiu revirar os olhos do que gastar saliva com York, o grande cabeça-dura.
— E nós só estamos no primeiro dia — disse , rindo.
sustentava uma cara emburrada para , mas não demorou muito para começar a rir. Não conseguia ficar brava por muito tempo com seus melhores amigos. Após um momento, os dois juntaram-se a ela.
— Eu diria que começamos bem — disse ele.
— Ah, com certeza, começamos — comentou , olhando fixamente para a mesa da Corvinal.
franziu as sobrancelhas, sem entender nada a princípio, mas resolveu seguir a direção do olhar de , então logo entendeu. Bem, mais ou menos. Ela estava olhando para Joshua. Havia terminado o jantar e agora sentava de frente para eles, com as costas encostadas na mesa da Corvinal enquanto conversava animadamente com Henry, outro corvino. Mas parecia tudo normal... Joshua fazia isso com frequência. não conseguia captar nada fora do habitual.
— Estava olhando para cá — disse ela, notando que ainda parecia um tanto confuso. — Você precisa falar com ele. Sério.
— Sim! — exclamou , depressa, assim que terminou de engolir o último pedaço do tomate recheado. A voz saiu mais alto do que ela gostaria, mas pelo menos ninguém estava olhando.
— Eu acho que vocês estão exagerando. Não tem nada de mais nisso.
— Claro que tem! Está na cara que ele gosta de você, York.
concordou com enquanto pegava a enorme jarra de suco de Beterraba com Cenoura e enchia até a metade de sua taça.
— Então — começou ele —, seguindo o seu raciocínio, George também gosta da , não? Porque ele não para de olhar para ela.
engasgou-se com o suco após ouvir tais absurdos. Levou a mão à boca por precaução enquanto tossia, então olhou para a mesa da Grifinória apenas por… por… ela não sabia dizer, mas pegou George olhando para ela antes de virar subitamente para Fred. Então tornou a olhar com os olhos cinzentos completamente esbugalhados.
! — Foi a única coisa que saiu enquanto enchia um copo de água para tentar livrar-se da sensação incômoda da polpa do suco parada em sua garganta.
— Absurdo, York — disse , com uma postura meio cética, analisando George com atenção. — Todo mundo sabe que Weasley e Malfoy não se misturam.
murmurou um então ‘tá bom, mas o conhecia bem para saber que ele ainda parecia estranhamente confiante de suas ideias.
Ilógico, pensou enquanto tomava a água. Isso. Essa era a palavra que resumia bem toda a situação. Até achava válido o conceito de “se está olhando, é porque gosta” em alguns casos, porque era o que mais via acontecer entre seus amigos. Contudo, havia uma enorme diferença entre o olhar que Joshua dava para e o que ela recebia de George.
— Ele pode estar olhando para qualquer um — disse , num tom baixo, mas logo se arrependeu de suas palavras porque a fazia parecer idiota e quase desesperada para desviar o foco dela.
— Eu acho que nem você acredita nisso — respondeu .
não conseguiu dar uma resposta. Tinha na ponta da língua um “o que Merlin o faz pensar que George gosta de mim?”, mas preferiu engolir. Não queria piorar a situação.
— Oh, vamos, vamos! Não é grande coisa! — disse . — Você sabe que isso não faz sentido, certo?
não respondeu. Queria dizer que sim, porque era o que ela também acreditava, mas o súbito pensamento de o que teria feito chegar a essa conclusão era bastante inquietante. Afinal, com base em quê? Quando? Onde? Mas, principalmente: por quê?
Nada disso fazia sentido para ela. Então, sem motivo aparente, pensou no sobrenome que carregava. Ele não fazia muito para ofuscar os pensamentos inquietantes, mas trazia alguns pontos que sua cabeça preocupada não conseguia considerar. O fato era que George podia estar olhando por vários motivos, e estava começando a achar que sua família talvez tivesse algum dedo nisso. Bem, por que não? Não seria a primeira vez. Talvez Draco tivesse feito algo ao irmão mais novo enquanto estavam a caminho de Hogwarts. Talvez sua mãe tivesse esbarrado com Molly na plataforma… Ou o mais provável: Talvez seu pai tivesse confrontado o Sr. Weasley novamente. sabia muito bem como o encontro podia ficar feio em questão de segundos.
Se estivesse certa, talvez George só estivesse bravo e, de fato, pensando em azará-la. E com razão, pensou ela.
— Oh, Merlin! — exclamou , olhando de para George. — Não me diga que...
— Não! — disse apressadamente, praticamente gritando. Mas dessa vez não se importou com os olhares curiosos neles. — Eu não disse nada. respondeu um “Exatamente”, mas foi abafado pelo apressado “E nem precisa” de .
— Não seja idiota, ! É curioso que ele esteja olhando para mim, sim, mas isso não significa que ele… Bem, você sabe.
— Então não significa que Joshua gosta de mim, também — sussurrou ele.
— É diferente! — e disseram ao mesmo tempo.
— Não é.
— É, sim! — disse , arrumando os óculos. — George pode estar olhando por vários motivos. E nada bons, ouso dizer. Às vezes eu acho que você esquece de qual família eu venho… Não me surpreenderia se isso tudo tiver a ver com meu pai.
tem um ponto — disse .
assentiu. Era um bom ponto. E era bastante confortável encarar dessa forma, também. Não que ela achasse tudo bem o fato de seu pai ter, possivelmente, confrontado Sr. Weasley novamente. Não. Absolutamente não. Mas, nesse cenário, qualquer coisa parecia fazer mais sentido do que a ideia absurda de .
— Tudo bem — disse por fim.
Houve um momento de silêncio, uma pausa beirando o desconfortável, mas foi cortada pelos gritos animados de Fergus quando as inúmeras sobremesas finalmente apareceram sobre a mesa. logo começou a tagarelar sobre o quão delicioso o Abacaxi Caramelado com Cravo e Canela estava enquanto enchia a boca com balinhas de gengibre ao mesmo em que ria de um Fergus que não sabia se lambia o sorvete ou a própria mão lambuzada de calda de uva verde.
observava seus amigos com um sorriso no rosto, mas por dentro não podia negar que uma pequena parte dela ainda estava meio tensa com o assunto. Decidida a deixar tudo isso para trás, ela inclinou-se para pegar o Brownie de Feijão com Chocolate que tanto ansiava comer desde que chegara no castelo, mas nem chegou a levá-lo à boca. Estava subitamente sem apetite.
Pouco tempo depois, as sobremesas desapareceram, e Dumbledore levantou uma segunda vez para reforçar que a ida ao corredor do terceiro andar do lado direito estava proibida e para dar mais alguns avisos de início de ano letivo. Não havia nada que os alunos mais antigos já não soubessem, mas todos mantinham os olhares presos em Dumbledore até serem finalmente liberados para suas salas comunais.
Os monitores das quatro casas levantaram-se no mesmo instante, cada um parecendo mais apressado que o outro enquanto indicavam o caminho para os alunos novos. O trio, porém, continuaram em seus assentos como sempre porque detestavam o tumulto e a voz do monitor que não parava um segundo de gritar “vamos, vamos logo” o tempo todo.
O barulho foi diminuindo aos poucos e as velas pareciam perder o forte brilho alaranjado de antes. Havia poucos alunos no salão, e os professores também deixavam seus assentos na Mesa Principal, o que foi a deixa para se recolherem também. levantou e olhou uma última vez para a mesa da Grifinória apenas por olhar e viu George conversando com Fred e Lino, então virou, dando uma corridinha para alcançar e que estavam mais à frente.
O caminho até as masmorras foi de passos lentos e silenciosos. Não queriam atrair atenção dos fantasmas e correr o risco de serem pegos pelo Filch já no primeiro dia. Não estavam tão atrasados assim, e sabiam que não eram os únicos andando fora da hora pelo castelo, mas era bom não arriscar.
Lá fora, a chuva havia parado, mas o céu continuava nublado e os clarões ainda se arrastavam por todos os lados. olhou pela enorme janela de pedras, para a Floresta Proibida lá embaixo e podia jurar ter visto algo escuro mergulhar para dentro das árvores. Era alto e parecia flutuar sobre o chão.
Sentiu um calafrio terrível percorrer sua espinha e teve a estranha certeza de que aquilo não era uma das criaturas estranhas que costumavam ver pela noite. Um segundo depois, estava paralisada, sem sequer conseguir falar ou tirar os olhos de lá. Queria contar a e o que havia visto, mas as palavras simplesmente não saíam.
— Que foi? — perguntou , olhando de para a janela, preocupado.
— Eu… Eu… não sei... Tinha algo estranho na Floresta Proibida. Vi algo, tenho certeza.
— Não estou vendo nada, — disse , dando uma espiada lá fora. — Você deve estar cansada. Alguma sujeira nos óculos, talvez?
fez que não com a cabeça, piscando algumas vezes. Estava convencida de que havia algo lá fora. Seu corpo não teria reagido dessa forma se fosse apenas alguma sujeira nas lentes dos óculos.
— Ah, era só o que me faltava! — exclamou uma voz atrás deles. — Posso saber o motivo desse falatório todo? Vamos, estou esperando! Estão atrapalhando minha leitura.
— Sra. Mathilda! — eles disseram em uníssono e se entreolharam, já prevendo a sermão que levariam antes de virar para trás para olhar a mulher no quadro.
O quadro de Mathilda estava pendurado no corredor, de frente para a enorme janela de pedras, a poucos metros de distância da entrada secreta para a sala comunal da Sonserina. Estava sentada em sua poltrona preta com um livro grosso nas mãos, como sempre. Os cabelos longos e dourados agora estavam soltos e iam até a cintura, fazendo-a parecer alguns anos mais jovem.
— Ah, são vocês — disse ela, baixando o livro. — Sabem muito bem que prefiro que me chamem de Professora. Então? O que está acontecendo?
Olhando para como se pedisse permissão, respondeu:
— Malfoy acha que viu algo lá fora.
Professora Mathilda franziu as sobrancelhas, alisou a testa, então levantou-se poltrona, deixando escapar um suspiro.
— Ah, a minha juventude... Crianças, vocês vão me deixar cheia de rugas!
Então pensou: “Mais? Como se fosse possível… A senhora tem mais de cem anos.”
— Professora — chamou uma meio impaciente. —, eu realmente vi algo estranho lá fora.
— Ora, minha criança, tenho certeza que sim. Tenho certeza que sim — respondeu ela, olhando para como se pudesse enxergar através dela, então focou na janela. — Há sempre algo estranho lá fora. Mas, neste caso, você está certa. Temo que o mal esteja, mais uma vez, nos espreitando. Temo que esteja mais próximo do que nunca.
Então saiu andando, puxando a barra do longo vestido preto, deixando-os para trás.
estava estupefata, assim como e . Esperavam no mínimo uma boa bronca por tê-la perturbado tarde da noite, e não que ela dissesse com tanta naturalidade que havia, de fato, algo acontecendo em Hogwarts.
— Como é que ela poderia saber? — perguntou .
mal abriu a boca para respondê-lo e Baltazar, o monitor, surgiu de repente na entrada da sala comunal da Sonserina, agitado, questionando o sumiço deles.
Era realmente um alívio que tivessem escapado das broncas da Professora Mathilda, mas sabiam que não teriam a mesma sorte com ele.
Quando entraram na sala comunal (com Baltazar ainda reclamando em seus ouvidos), se despediu de com um abraço e arrastou-se direto para o dormitório das meninas com . As malas já haviam sido trazidas como sempre, mas deixaria para desfazê-las outra hora. Seu gato, , também estava ali e dormia de barriga para cima, em sua cama, num sono muito pesado depois de um longo dia de viagem.
tirou os óculos e colocou-os em cima do gaveteiro que dividia com e pôs o pijama.
— Boa noite, — disse ela, subindo na cama e aconchegando em seu edredom de modo que não atrapalhasse em seu merecido sono.
— Boa noite, . Durma bem.
assentiu com a cabeça, esquecendo de que não poderia ver, então desejou que ela também tivesse uma boa noite de sono, mas estava tão sonolenta que não sabia se tinha realmente falado ou apenas pensado. Seus olhos cinzentos foram do teto esverdeado para as patinhas traseiras brancas de encostadas na outra ponta do travesseiro.
Então, sem que pudesse ocultá-las, as palavras da Professora Mathilda ecoaram em sua mente: “Mas, neste caso, você está certa. Temo que o mal esteja, mais uma vez, nos espreitando. Temo que esteja mais próximo do que nunca.”
estremeceu. Por que ela tinha que ser tão sincera? Queria, mais do que nunca, que estivesse errada. Mas sabia que não existia a menor possibilidade de Mathilda Broonks, uma das melhores professoras de Defesa Contra as Artes das Trevas que Hogwarts tivera, estar errada.
suspirou, fazendo o possível para afastar o pensamento e toda a sensação estranha que estava sentindo com o assunto. Pensou então no dia cheio que tiveram, na Cerimônia de Seleção, em seu irmão e, até mesmo, George Weasley. Ele apareceu uma ou duas vezes... talvez três ou quatro, mas não fez nada para afastá-lo. Estava cansada demais, mas decididamente feliz por estar de volta a Hogwarts. Malfoy apenas abanou a cabeça e sorriu um pouco.
Realmente, um dia muito cheio e mentalmente cansativo.
Segundos depois, caiu no sono sem saber pelo o que estava sorrindo.





Continua...



Nota da autora: Lumos!
“The Closer I Get to You” nasceu de uma ideia completamente aleatória que tive para diálogos que costumo salvar no docs. É a partir do: “Como você acha que ele é?” até o “Bem, se isso ajuda, ouvi dizer por aí que Potter se parece muito com Tiago e tem alguns traços de Lilian”.
Algo bem cru mesmo, mas aos poucos fui descobrindo exatamente o que eu queria. Não fluiu tão bem no início (estava bem enferrujada), mas depois de uns meses parado, fiquei inspirada a voltar a escrever. Ouvi toda a trilha sonora de HP junto com ao barulho de chuvinha no fundo, então saiu isso e todo o resto que estou escrevendo atualmente.
Estou um tanto insegura, mas estou contente por ter tido, finalmente, coragem de compartilhá-la aqui no ffobs! Enfim (eu realmente preciso parar de escrever textões), espero muito que tenham gostado da leitura!
Foi um pouquinho longo, né, mas meio que serviu como introdução para o trio. Ah, e para todo o resto que será abordado nos próximos capítulos, também. Sinto falta da presença do George aqui, mas pelo menos no segundo capítulo… ok, ok, vou calar a boca JDHDJDD
Preciso saber o que acharam desse primeiro capítulo ahgshagahausg qualquer dúvida ou erro, é só falar! Bebam água (eu mesma preciso me comprometer a tomar mais água, grrrr!) e se cuidem!!!!!1 <3 Abraços e… Nox!





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