Postada em: 02/10/2020

Capítulo Único

Quando criança imaginamos uma vida de contos de fadas, e deseja viver esses contos, e cada dia que passa, temos mais vontade de crescer e realizar esses contos de fada. era diferente, seus contos de fada aconteceram quando ainda era uma criança, crescer e enfrentar a vida era o que ela mais temia. Ela não tinha um castelo, tinha um apartamento no centro da cidade, não tinha um mordomo, tinha uma diarista que limpava sua casa para que ela não se afogasse em sujeira, pois não tinha tempo de limpar. Não tinha conquistado um príncipe encantado, mas sim um empresário, que não tinha tempo pra nada e só pensava em trabalho. Pensava se aquela era a vida que ela havia sonhado para ela, e ela sabia a resposta.
! — Disse Josh, estalando os dedos na frente do seu rosto e a dispersando de seus pensamentos. — Você ouviu algo do que eu disse?
— Para ser sincera, não. — Respondeu, recostando-se em sua cadeira, e balançando. — Mas, Josh, eu não vejo motivo para nos preocuparmos. A parceria com essa revista tem nos dado um bom retorno.
— Mas e se dobrarmos esse retorno? — Ele se sentou, de frente para a moça.
— Não seja ganancioso, se apostarmos alto assim, a queda pode ser maior ainda. — Ela pegou um arquivo e começou a folhear. — Os números que estou vendo são bons, vamos pensar conscientemente. Quanto maior o pulo, mais propícia é a queda. — Ela entregou o arquivo ao homem.
— Me dá uma chance de explicar a minha ideia. — Ela virou os olhos.
— Você tem uma semana para apresentar uma ideia que seja coerente e que convença à todos.
— Mas daqui há uma semana é… — Ela o interrompeu.
— Sim, é um grande dia. — Ela sorriu. — Por isso, deve se preparar! Todos os investidores estarão aqui para ver a apresentação, essa é a sua chance.
— Mas… E o seu casamento?
— Ah, isso? — Ela riu. — Nós adiamos, eu planejei essa jornada de apresentações, preciso estar aqui. — O telefone tocou e ela fez menção à atender. — Boa sorte, Josh! — Disse ela, e o menino saiu da sala.
— Querida, está livre no almoço? — Disse a voz masculina no telefone.
— Ah, é você Zac? No almoço não vai dar, vou almoçar aqui na minha sala mesmo, mas podemos nos ver no jantar.
— Ah, no jantar eu não sei se consigo chegar à tempo, mas vou tentar. — Respondeu ele.
— Certo, nos vemos no jantar. — Disse, antes de desligar. Ela tinha um grande projeto em mente, e tudo tinha a ver com contos de fada, mas ela não era a melhor pessoa para falar disso.
Eram 22:30 a última vez que verificou as horas, após ler uma mensagem de seu noivo, que dizia “Não vou conseguir ir jantar, ainda estou na empresa xx”, ela entendia pois ela também estava. Horas e horas na frente do computador e ela não conseguiu desenvolver sequer um projeto. Sentia seus olhos pesarem, mesmo sendo cedo, ela estava esgotada. Desligou tudo, trancou sua sala, e foi até o estacionamento. Dirigiu até seu apartamento, caindo de sono, que o “boa noite” para o porteiro parecia mais um som esquisito.
— Enfim em casa! — Exclamou quando abriu a porta, e se jogou no sofá. Ali mesmo pegou no sono, com roupa de trabalho e tudo. Era exatamente 2:35 quando ela olhou no relógio, após ouvir um barulho alto. Olhou para o gato, e ele estava dormindo ao seu lado, que diabos era aquilo? E o barulho continuava, e alguém estava falando. Aquilo parecia mais um filme de terror, então ela pegou um taco de beisebol que estava na decoração da sala, e seguiu até o quarto onde ela escutava o barulho. Quando se deparou com um homem, de mais ou menos a sua idade, e uma borboleta brilhante.
— Ops! — Disse ele percebendo a garota ali.
— Quem é você??? — Perguntou ela, assustada e com a voz trêmula.
— Eu? Eu não sou ninguém, na verdade, eu já estava de saída. — Ela apontou o taco para ele que tentava sair de fininho.
— Você entra no meu apartamento, aparentemente mexeu nas minhas coisas, e me diz que já está de saída??? Eu vou ligar para a polícia!
— Não, não precisa de polícia. — A borboleta voou até o cabelo dela e começou a puxar.
— Que diabos é isso? — Ela olhou melhor e parecia uma pessoa, só que com asas e minúscula. — O QUE É ISSO? — Ela gritou.
— Calma, shhh! — Respondeu o homem. — Meu nome é… — Ela o interrompeu.
— Peter Pan?
— Como você sabe??? — Perguntou o homem, assustado.
— Sai pra lá! Você deve ser mais um doido, com síndrome de Peter Pan, se você fosse o Peter Pan, você deveria ser criança e não ter a minha idade!
— Bom, tecnicamente eu existo há mais tempo que você, só que eu não consigo voltar para a terra do nunca, desde que eu e Sininho resolvemos fechá-la para que não fosse encontrada, e eu perdi a chave aqui fora.
— Você é estupido, então. — Respondeu ela. — Isso já faz quanto tempo?
— Não muito, acho que cerca de um ano.
— E por que você aparenta ter 20 anos?
— Porque parece que quanto mais tempo eu passo aqui, eu envelheço.
— Isso não explica o porquê de você estar no meu apartamento revirando as minhas coisas… Ai! — A fada puxava seu cabelo toda vez que ela apontava o taco para o homem. — E porque essa coisa está puxando o meu cabelo, quer parar?
— Sininho, deixe-a! Eu vim até o seu apartamento buscar isto! — Ele pegou um colar com uma pedra rosê enorme que ela havia ganhado quando Zac a pediu em casamento, mas não tinha valor algum, era apenas bonita.
— Bom, se você quer levar a pedra, leve! Não tem valor algum!
— Aqui ela não tem valor, mas essa é a chave para retornarmos à Terra do Nunca! Eu te devolvo assim que voltarmos, lá conseguimos buscar outra chave.
— Tá, tanto faz! Só me deixa dormir em paz!
— Você ainda não acredita em mim, mesmo vendo a fada?
— Que pessoa em sã consciência acreditaria? Eu ainda não chamei a polícia por causa da fada!!!
— Quer ir comigo?
— No país das maravilhas?
— Terra do Nunca!
— Ah, troquei a história, tanto faz!
— Quer ir ou não?
— Eu não sei, eu nem te conheço. — Ele pegou a fada na mão e sacudiu um pó em cima da mulher.
— O que é isso?
— Pó de pirlimpimpim, agora pense em uma coisa que te deixa feliz.
— Ah eu não sei, paz mundial?
— Se isso te trouxer bons sentimentos, você vai conseguir voar!
— Voar? — Ela e a fada fizeram uma cara de espanto.
— Sim, vai, pense em uma coisa que te deixa feliz! — A garota fechou os olhos, procurando pensamentos felizes, e se lembrou do colo da sua mãe quando era criança, dos sonhos dos contos de fadas! — É isso, você está voando! — Quando abriu os olhos, ela viu que seus pés estavam fora do chão, e se beliscou para ter certeza que não estava sonhando. O garoto se posicionou na janela, e a puxou pela mão.
— Eu devo ter fumado algo! — Exclamou antes de sair voando pelo céu, vendo a cidade de longe, ela fechou os olhos, tinha certeza que era um daqueles sonhos que a pessoa cai no chão e acorda, quando de repente pôde sentir um reflexo de uma luz rosa, enquanto passava pelas nuvens, e um lugar diferente se abria. — Será que estou drogada?
— Falou comigo? — Perguntou o garoto.
— Esse é o país das maravilhas?
— Terra do Nunca, e sim! Segura firme a minha mão. — Assim ela fez, aquilo ela loucura. Ela havia escutado essas histórias nos contos de fada e agora ela estava voando no céu para a Terra do Nunca? Meu Deus, aquilo era muita loucura! Ela pôde observar sereias em uma pedra, um grande navio no mar, e eles estavam indo em direção à uma floresta. Ele a pegou nos braços, talvez para andar mais depressa, ou melhor, voar. Ele e a fada pareciam preocupados, entraram em uma casa na árvore, onde haviam várias crianças dormindo e ele a colocou no chão.
— ACORDEM!!! — Gritou ele.
— Hã? — Respondeu um dos meninos.
— Peter voltou? — Perguntou outro menino.
— AH! QUEM É VOCÊ? — Um dos outros gritou, olhando para o homem e todos se encolheram no canto.
— Como quem sou eu? Sou eu, Peter!
— Peter? Você está… — Disse um dos meninos.
— Velho! — Disseram os outros, em coro.
— Velho? Ele só tem 20 anos! — Disse .
— E você quem é? — Perguntou um deles, vestido com uma pele de raposa.
— Eu sou , e esse garoto com essa fada invadiram minha casa de madrugada e agora eu estou aqui.
— Que legal! Você pode ser nossa mãe? — Perguntou o menor, vestido com pele de um gambá.
— Eu tenho apenas 21 anos, sou muito nova para ser mãe de alguém! — Respondeu ela.
— Não a incomodem! Ela veio conhecer a Terra do Nunca! Nós vamos mostrar nossa hospitalidade e as maravilhas desse lugar à ela.
— Agora foi você que chamou de país das maravilhas. — Brincou ela.
— Eu não… Ah, esquece! — Ele se virou. — Eu poderia apresentá-los, mas você não vai se lembrar dos nomes deles.
— Ah, apresente-os.
— Esse com pele de raposa é o Slightly, com pele de coelho é o Nibs, esses dois são Twins, com pele de urso é o Cubby e com pele de gambá é o Tootles.
— Os meninos perdidos! É um prazer conhecê-los! — Eles sorriram.
— Bom, o que você quer ver primeiro? As sereias? Os índios?
— O crocodilo! O Capitão Gancho! — Exclamou ela, e ele ficou confuso.
— Desculpa, eu gosto da parte das aventuras! — Ele gargalhou.
— Vem, vamos ter uma aventura! — Ele a puxou pela mão, a fada parecia estar se sentindo trocada, ele a pegou no colo e voou até uma montanha, onde eles viam o navio do Capitão passando no imenso oceano — Não vamos provocar muito para não arriscar a sua vida! — Disse ele, segurando a garota no colo e voando até o navio. — Ihuuuu, bacalhau! — Gritou Peter, se segurando em uma das cordas com a garota no colo.
— Pan? — Perguntou o homem que parecia ser o capitão. — Aquele é Peter Pan?
— Acho que sim, capitão! Mas ele está diferente!
— Peter Pan, atirem! — Gritou o homem e começaram a atirar com espingardas e canhões.
— Por que ele te odeia tanto? — Perguntou a garota.
— Longa história! — Respondeu ele, desviando dos tiros, e se desequilibrando. — ! — Ele segurou a mão da garota, por pouco ela não caiu, a segurou firme no colo e voou para longe dali.
— Meu Deus, que frio na espinha! Pensei que eu ia cair. — Disse ela, que parecia estar assustada.
— Eu não te deixaria cair. — Respondeu Peter, sorrindo.
— Bom, não foi tão divertido quanto eu pensei, mas é bom estar viva.
— Agora você acredita em mim?
— Ainda acho que estou sonhando, mas tudo bem. — Ele riu.
— Onde quer ir agora?
— Não sei, me leve à um lugar bonito. — Ele sorriu, parecia saber exatamente onde a levaria, a pegou no colo.
— Eu sei andar, Peter, e posso não ser tão boa em voar, mas eu consigo.
— A gente anda mais rápido se for assim. — Ele voou com ela nos braços, até um lugar alto, que dava para ver um lindo céu azul e um arco-íris.
— Que bonito! — Disse ela, ficando de pé.
— Espere para ver o pôr do sol e as estrelas. — A mulher sorriu ao ouvir aquilo.
— Aqui é tudo tão mágico, né? Eu acho que já sei o que vou fazer no meu projeto.
— Projeto?
— Sim, para a minha empresa.
— Você não vai ficar aqui?
— Ficar aqui? Não… — Ela suspirou. — Aqui é tudo lindo e mágico, mas eu tenho uma empresa, uma vida, amigos, família e noivo! Seria loucura abandonar tudo.
— Entendo… — Ele fitou o horizonte. — Você não se lembra, não é mesmo?
— Me lembrar do que?
— Você esteve aqui… — Ele suspirou. — Eu não sei como você chegou aqui, mas você esteve aqui, quando era criança.
— Uma vez eu tive um sonho, após escutar a história do Peter Pan, e sonhei que tinha vindo à Terra do Nunca e me apaixonado por ele. Eu devia ter uns 10 anos na época!
— Nós fizemos parecer que foi um sonho, mas você realmente esteve aqui, e eu dei um jeito dessa chave chegar até você de novo. Mas o tempo lá não é muito bondoso comigo, e eu não sei como fazer ele passar devagar, mas aqui, a gente não cresce! Você nunca quis, não é? O seu conto de fadas era quando você era criança, e eu sei porque eu te observo desde aquele dia.
— Quem sou eu agora? A Wendy? — Ele riu.
— Wendy… Como será que ela está?
— Provavelmente velha e com filhos, ou até mesmo morta de velhice. — Ele abaixou a cabeça. — Mas lá, temos pessoas que se parecem com você, dizemos que eles tem síndrome de Peter Pan.
— Síndrome de Peter Pan?
— Sim. — Ela riu. — Ataca mais os homens, se caracteriza pela dificuldade de se enxergar como um adulto. Eu entendo que você queria ficar aqui e enganar o tempo, mas é natural crescer, envelhecer. Eu realmente não me lembro muito bem desse sonho, Peter, mas estou feliz de estar aqui vendo tanta coisa bonita. — Ele sorriu para ela.
— Veja, o pôr do sol! — Ele apontou para o horizonte.
— Lindo! — Respondeu ela.
— Deixe-me te mostrar mais, prometo que te levarei embora antes do dia amanhecer! — Ela sorriu.
— Tudo bem. — Respondeu ela, dando a mão a ele e voando em direção à uma cachoeira, foi um dia mágico, ela viu sereias, fadas, o crocodilo, aquilo tudo só podia ser um sonho. Eles voltaram para a montanha para observar as estrelas, se ela pudesse, ficaria ali para sempre! Peter Pan a criança que nunca crescia, agora ali, com 20 anos parado na sua frente. Aquilo era completamente loucura, mas estava acontecendo.
— O dia vai amanhecer daqui a pouco… — Disse ele, se levantando e estendendo a mão para ela. — Eu espero que tenha gostado do passeio, e lembre-se, se quiser chegar aqui você tem a chave e agora sabe o caminho, só tenha pensamentos felizes. — Ao mesmo tempo que o garoto sorria, ela via em seus olhos que ele estava triste.
— Peter… — Ela deu um beijo em sua bochecha. — Obrigada por este dia incrível, nunca vou me esquecer de você! — Ela o abraçou, e ele deu um beijo em sua testa.
— É hora de ir! — Ela segurou a mão dele e voou pelo céu.
  Quando acordou, estava em sua cama, com aquele colar no pescoço. Sua janela estava aberta e o sol entrava diretamente, batendo em seu rosto. Acordou meio confusa, mas dessa vez ela sabia que não tinha sido um sonho. Correu para seu computador e começou a digitar todo seu projeto, graças àquele garoto estranho e aquele lugar mágico, ela faria uma apresentação incrível. Aquilo foi tão bom, ela se sentia criança de novo, gostaria de ter aquela sensação para sempre. Ela segurava o colar e sorria, em gratidão ao menino que não queria crescer. Passou o dia inteiro escrevendo o projeto e sabia que estava preparada, pegou seu celular e Zac estava doido procurando-a porque ela sumiu por praticamente dois dias, fora Josh, que estava surtando. Uma semana se passou e chegou o dia da sua apresentação, e o projeto seria ótimo. O teatro onde seria a apresentação estava lotado, era um workshop aberto ao público, e ali ela anunciaria o mais novo projeto da sua empresa.
— Bom dia, senhoras e senhores! O que trago aqui hoje para vocês é uma criação minha, que se chama "O sonho da Terra do nunca". O projeto consiste em nos fazer reviver a criança que existe dentro de nós, como para Peter Pan, o sonho da Terra do nunca é um lugar onde podemos viver aventuras, coisas mágicas, e é para pessoa de todas as idades! Um lugar onde podemos voltar à ser criança, um lugar onde o tempo nunca vai passar! Conheçam a Terra do Nunca! — Os slides atrás dela mostravam o projeto de um parque temático, e todos aplaudiram. No final do dia, encontrou Zac na saída.
, você foi incrível! — Disse ele, a abraçando e ela sorriu. — Eu não queria fazer isso hoje, afinal é seu grande dia, mas não temos tempo… — Ela o interrompeu.
— Eu entendo, o tempo não tem sido bondoso com nós dois e nosso sentimento não resistiu, certo? — Ele assentiu, ela tirou o anel de noivado e entregou à ele.
— Você vai ficar bem?
— Sim, vou! — Ela sorriu. — Meu coração está na Terra do Nunca, desde os meus 10 anos!
— É incrível como você se empenha em seus projetos… — Ele foi interrompido.
— Com licença, Senhorita! — Disse uma voz masculina suave. — Gostaria de parabenizá-la por este incrível projeto! — Ela reconhecia aquela voz, ela sorriu e sentiu um arrepio tomar conta de seu corpo e se virou.
— Peter… — Ela correu e o abraçou forte. Zac que estava ali, ficou sem entender o que estava acontecendo, mas saiu de fininho. — O que faz aqui?
— Eu vim ver a sua apresentação sobre a Terra do Nunca, agora você vai ter um lugar parecido para se lembrar de lá.
— Sim, mas não é a mesma coisa… Peter… — Ela suspirou. — Eu me lembro daquele sonho, o sonho em que eu me apaixonei pelo Peter Pan, e tudo está tão mais claro agora. Aqui, é bem diferente da Terra do Nunca, e pela lógica você deveria ser criança. — Ele assentiu. — Meu conto de fadas acabou quando eu cresci, porque me dei conta de que o mundo aqui é diferente da Terra do Nunca, e que eu não poderia mais ver o Peter Pan… — Ela suspirou. — Eu vou realizar o sonho das pessoas aqui, de ter um lugar acessível onde elas podem ser crianças, mas quero realizar o meu.
— Isso quer dizer que…
— Eu vou para a Terra do Nunca! E quem sabe eu não me apaixono pelo Peter Pan de novo.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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