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Última atualização: 22/12/2021

15 - The Perfect’s Bathroom

Depois da prova, os campeões foram informados que os ovos dourados que pegaram dos dragões continham uma pista importante para a segunda prova que eles teriam que desvendar sozinhos, prova essa que seria realizada apenas em fevereiro, ou seja, daqui há dois meses.
Seus amigos foram animados comemorar na Sala Comunal da Grifinória, mas queria um tempo com Cedrico antes que o mesmo fosse comemorar com os amigos da Lufa-Lufa e ela fosse para a festa de Harry. Os dois tinham raros momentos sozinhos e gostavam de aproveitar cada oportunidade, por mais curtos que fossem, como agora. Os dois se despediram na porta da Sala Comunal da Lufa-Lufa e antes que se virasse para ir embora, viu o trio de ouro saindo da cozinha. Rony carregava uma grande cesta cheia de comida como no dia em que tiveram o encontro em uma das torres abandonadas e olhou com certa tristeza o casal se despedindo com o maldito beijo apaixonado que sempre davam.

— O quê estão fazendo aqui? Achei que estavam na festa!
— E estávamos, mas viemos ver nosso amigo Dobby — Hermione respondeu animada. — Ele é um elfo livre, acredita? E está super feliz com isso!
— Vocês não sabiam que ele estava aqui? — a amiga negou. — Eu o encontrei no dia em que Ced me trouxe para a cozinha, ele é adorável!

Com a deixa, Hermione desatou a falar sobre o F.A.L.E. e a importância de Dobby mostrar aos demais o quão bom era ser um elfo livre. Os amigos nem tentaram discutir, estavam animados demais para tentarem ir contra a teimosia de Granger.
No dia seguinte, a Sala Comunal não parecia que tivesse tido uma festança na noite anterior; foi impecavelmente limpa e organizada. Harry e se sentaram juntos como sempre faziam para escrever a carta para Sirius e foram bem cedo no corujal. Ficara decidido que Jack ficaria com Sirius até segunda ordem, usar o animal era arriscado demais e ele poderia entregar facilmente a localização do homem. Também evitavam usar Edwiges, então o escolhido foi Pichitinho, a coruja de Rony.
Na noite anterior, Harry abriu o ovo durante a festa e contou para sobre o som horrível que saía de dentro do objeto com a promessa de que mostraria para ela mais tarde, por mais insuportável que fosse. Mas os dois nunca conseguiram um tempo para fazer isso e acabaram deixando de lado já que ainda tinham tempo de sobra para estudarem o ovo. Cedrico também deixou o objeto de lado com a desculpa de que queria descansar antes de se afundar em estudos sobre a prova e aproveitar esse tempo para focar nas provas e atividades da escola.
Contudo, dezembro chegou rápido demais, pegando os alunos um pouco de surpresa. Estavam cada vez mais atarefados, consequentemente os dias passavam correndo e quando viram, já estavam no final do ano e com ele vieram o frio e a neve. nunca tinha visto neve antes, isso era algo inexistente no Brasil. Sendo assim, no primeiro dia de neve, se arrumou o mais rápido possível assim que viu os flocos caírem tranquilos pela janela. A garota correu escada abaixo, seu cachecol esvoaçando com a velocidade com que corria, quase atropelando um sonserino no saguão principal enquanto tentava alcançar logo as portas já abertas. O sonserino em questão era Draco Malfoy e o mesmo franziu a testa em sinal de curiosidade ao ver a garota correndo animada para fora do castelo, sem ao menos perceber sua presença. Decidiu então segui-la para fora e a cena que viu o deixou impressionado e podia dizer até encantado. A intercambista corria pelo chão coberto de neve, ocasionalmente parava e jogava um punhado para cima, gargalhando animada. Ele ousou se aproximar, incomodado com as pessoas comentando e rindo maldosamente em volta. Mas a garota parecia totalmente alheia aos comentários, focada apenas em sua própria diversão. Depois de fazer um anjo de neve no chão, se levantou e fechou os olhos com o rosto virado para o céu, sorrindo largo enquanto sentia os flocos gelados tocarem sua face. Ela finalmente notou a aproximação do garoto e não desfez o sorriso, fazendo as pernas de Malfoy vacilarem um pouco, fazendo-o permanecer parado onde estava.

— Draco! — ela gritou animada, saltitando até ele. Malfoy adorava quando ela usava seu primeiro nome. — Isso é neve, você acredita?
— Acredito — ele riu, achando adorável a reação da garota. — É só neve,
— "Só neve" para você que está acostumado a ver todo ano! — ela respondeu ao revirar os olhos. — Não temos isso no Brasil.

se abaixou e fez uma bola de neve desajeitada, jogando no sonserino que estava encantado demais para conseguir desviar. Ela gargalhou alto quando ele soltou um palavrão, limpando as vestes. Mas o garoto não estava realmente bravo, então ele revidou, acertando-a em cheio no braço. Os dois então começaram uma guerra de bolas de neve aos risos e Draco pensou que poderia passar o resto do dia ouvindo a risada da garota e se divertindo descontraído com ela, sem pensar em mais nada além disso. Mas é claro que tudo o que é bom, dura muito pouco, e no momento em que ele a pegou no colo e girou, ambos gargalhando, o estraga prazeres do Diggory apareceu. se desvencilhou de seus braços na mesma hora e, parecendo um pouco sem graça, correu para os braços do namorado que olhava Draco com cara de poucos amigos.
O sonserino passou por ele sem dizer nada e a ouviu novamente falar sobre a neve com a mesma empolgação. Ele não pôde conter um sorriso enquanto secava suas roupas com a varinha e adentrava o Salão Principal, deixando-os para trás.
Porém, Draco ficou estranhamente pensativo durante o café da manhã enquanto observava a garota rindo com os amigos da Grifinória contando sobre sua incrível experiência com a neve, e percebeu estar cansado de achá-la sempre tão adorável.

— Terra chamando Draco Malfoy! — Pansy Parkinson estalou os dedos na frente de seu rosto e Draco piscou algumas vezes antes de encará-la.
— Que é, Parkinson? — resmungou com mau humor, mexendo o garfo nos ovos mexidos.
— Você está estranho — ela pontuou, tomando o gole de seu leite quente com canela. — Aposto que é por causa da intercambista. Vi vocês dois lá fora.
— E se for? — Malfoy a questionou. — Não é problema seu.
— É sim, Draco — a amiga retrucou com seriedade, apontando o dedo magro e cheio de anéis para o rosto dele. — Você é meu melhor amigo e é uma merda te ver assim por causa de uma garota que não está nem aí para você.
— Por que acha que ela não está nem aí para mim? — ele perguntou sem disfarçar a chateação na voz.
— Porque obviamente ela está com o senhor bonitão ali — ela apontou com o garfo na direção da mesa da Lufa-Lufa onde Cedrico Diggory contava algo extraordinário para os amigos bajuladores —, e eu acho que ela escolheria o idiota do Weasley antes de escolher você.
— De novo — ele trincou os dentes —, por que acha isso?
— Porque ela não tem absolutamente nada a ver com você, Draco! Fala sério, ela é toda legal e "good vibes", até me impressiona ela não ser da Lufa-Lufa. Sem tirar o fato de ela ser mestiça. Ouvi dizer que a mãe dela é uma sereia. Uma sereia, Draco!
— Você não a conhece, Pansy…
— E você conhece? — ela o questionou com as sobrancelhas arqueadas, e se levantou da mesa. — Olha, só tome cuidado, ok? Ela pode ser legal, mas também pode partir seu coração em mil pedacinhos e eu vou odiá-la para sempre se fizer isso.

Ela se retirou, deixando o amigo totalmente imerso em seus pensamentos sobre até onde sua amiga estava certa.

não odiava as aulas de Adivinhação, ela até tinha um carinho enorme pela Professora Sibila. Mas às vezes achava que Hermione não estava tão errada assim em desistir das aulas, por mais que se divertisse com Harry e Rony. Ela já tinha sua própria forma de ver o futuro e não gostava nada desse seu dom, por que iria querer aprender sobre outra forma de ver tragédias?

— Hoje iremos fazer a leitura das mãos! — disse a professora enquanto desfilava de mesa em mesa como se dançasse à uma melodia que só ela escutava. — Nossa palma diz muito sobre nós e sobre nosso destino.

A intercambista estava sentada entre Harry e Rony que trocaram risadinhas quando a professora enfatizou a última palavra.

— Eu direi quem lerá a mão de quem. Vocês farão a leitura baseado no que eu ensinei na aula passada e no que está no livro de vocês na página 75. E se tiverem mais dúvidas, sintam-se livres para me chamarem.

Ainda deslizando de mesa em mesa, Sibila determinou que Harry leria a mão de que leria a mão de Rony que leria a mão de Harry. Achando graça da situação, mas ansiosos para a leitura, os três se posicionaram da forma que ela pediu. Weasley leu na mão do amigo que ele teria uma diarreia terrível em uma semana e que seus filhos nasceriam com três olhos, fazendo Potter cair na gargalhada. Harry, por sua vez, fez uma leitura bem precisa, detalhada e cômica sobre como seria o casamento de e Diggory, e ameaçou contar sobre a lua de mel. Isso fez a garota rir, mas não arrancou muitas risadas do ruivo. era a única que levava a coisa toda a sério, então fez todo o preparo mental que a professora ensinou, segurou a mão do amigo com firmeza e tocou as linhas de sua palma com delicadeza. Mas seu sorriso se desfez com rapidez e na mesma hora os amigos souberam que tinha algo errado.

não estava mais na sala exageradamente perfumada de Trelawney, ela estava totalmente submersa no Lago da escola e não precisava da ajuda do seu colar para respirar. Deu impulso para frente e viu seu amigo Rony Weasley desacordado e preso a algum tipo de rocha. A garota nadou o mais rápido que podia, mas quanto mais nadava para frente, mais ele se afastava. O garoto acordou e pediu socorro; já estava ficando desesperada, mas não sabia o que fazer, eram apenas os dois e mais ninguém para ajudá-los. O ruivo parecia inalcançável.

— Querida, acorda! — Sibila segurava o rosto da garota que piscou algumas vezes para focalizar sua visão. — Volte para mim, !

Ela olhou para os lados e viu que todos a olhavam assustados e com preocupação evidente. Ron apertava a mão direita que sangrava muito e ela mesma tinha sangue nas mãos, mas não sabia dizer se eram dela ou do amigo. Sibila respirou aliviada e pediu para que os outros alunos voltassem a atenção ao que estavam fazendo, o que obviamente não foi acatado.

— Eu fiz isso com você? — a garota perguntou atônita. — Meu Deus, Ron, me desculpe.
— Não foi nada — ele respondeu entre gemidos de dor.
— Você está bem? — Harry perguntou. — Você furou a mão do Rony com as suas unhas!
— Querida, me diga — a professora interrompeu — Você teve uma visão?
— Quê? N-não, não foi nada disso — mentiu, soltando uma risada nervosa. — Acho que foi cansaço… Será que posso levar Ron para a enfermaria?
— Claro, claro — Sibila falou, mas deteve a garota antes que a mesma levantasse. — Eu conheço uma visão quando vejo uma de longe, querida. Venha falar comigo outra hora, está bem?

A garota apenas assentiu e correu com o amigo até a ala hospitalar, ficando em silêncio durante todo o percurso e ignorando as perguntas do ruivo. Chegando lá, Madame Pomfrey cuidou rapidamente do machucado de Rony enquanto lavava as próprias mãos e repassava a visão que tivera com o amigo. Não era a primeira vez que via aquilo, mas continuava sem entender por quê raios continuava tendo visões do garoto correndo risco no Lago sendo que o mesmo nunca se aproximava do lugar, muito menos ela?
Quando voltou até onde ele estava, devidamente curado, Rony voltou a enchê-la de perguntas, parecendo muito preocupado com a amiga.

— Eu machuquei sua mão e você está preocupado comigo? — ela o questionou, soltando uma risada enquanto andavam em direção a aula de transfiguração.
— É claro! Você tinha que ver a sua cara, ! Foi assustador… — ele murmurou, fazendo uma careta. Depois ficou pensativo por alguns segundos antes de perguntar: — Por que não contou para a professora sobre a visão? Teoricamente ela é especialista nisso e pode te ajudar.
— Quanto menos gente souber, melhor — ela respondeu sem muito humor na voz.
— E qual foi a visão que você teve? — ele perguntou baixinho quando chegaram perto da sala da Professora McGonagall; haviam sido os primeiros a chegar. paralisou, ponderando se deveria contar ou não. — Foi comigo?
— Prometo te contar mais tarde — ela sorriu fraco e procurou mudar de assunto enquanto os outros alunos se reuniam a eles.

Depois da aula de Tranfiguração e de duas aulas um tanto entediantes de História da Magia, e o trio de ouro voltaram para a Sala Comunal em uma conversa animada sobre o Baile de Inverno que a professora Minerva havia lhes contado, deixando aliviada por não ser mais o assunto do dia entre eles. A garota ria do desespero de Harry e Rony em relação à dança e aos pares que teriam de arranjar, enquanto ela e Hermione discutiam sobre o vestido que iriam usar e se empolgavam com o fato de que provavelmente iria com Ced.
Lembrando da promessa que fez ao namorado de encontrá-lo depois das aulas, ela correu para a Sala Comunal da Lufa-Lufa onde o mesmo a esperava com alguns livros e o ovo embaixo do braço. Os dois foram para o pátio e sentaram na grama como sempre faziam para estudarem juntos ou quando apenas queriam um tempinho a sós, e ficaram observando o ovo na frente deles. Cedrico sentou de pernas abertas e se sentou no meio delas, segurando o objeto pesado em suas mãos e virando o mesmo como se tentasse decifrá-lo apenas com o olhar. Diggory beijava seu pescoço e suas bochechas enquanto ela encarava o objeto, totalmente alheio aos pensamentos dela.

— Acho que deveríamos abrir logo — a garota falou, se virando para olhar o namorado que arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Temos quase dois meses para a prova, amor.
— E vai esperar até o último dia? — ela se virou totalmente e colocou o ovo entre eles. — Harry já abriu o dele, disse que ouviu um som estranho. Não está curioso?
— Estou — o garoto confessou e suspirou largo. — Só queria uma folga, eu me matei de estudar para essa última prova! Você sabe, estava lá.
— Sim, eu sei, mas como você mesmo disse — ela pigarreou para tentar fazer sua melhor imitação da voz do lufano — "Temos mais de dois meses, amor". Você vai poder descansar enquanto pensa nessa tarefa.

Ele deu um sorriso torto, sabendo que não adiantava discutir com sua namorada teimosa. Sendo assim, ele encaixou seus dedos no topo do ovo e o esforçou para abrir. No mesmo instante, um som estridente e agudo ressoou pelo espaço aberto. Como reflexo, os alunos que estavam em volta taparam os ouvidos e Cedrico fechou o ovo com desespero, aliviado pelo som ter parado.

— Por que você fechou? — o questionou, claramente confusa. Ela passou o tempo todo admirando o ovo e a bela canção sereiana que saía dele.
— Você não ouviu? — ele perguntou chocado.
— A música? — ela retrucou, dando de ombros. — Eu estava ouvindo, é linda! Estava tentando entender a letra mas você…
— Espera, música? Não é possível — ele riu, balançando a cabeça. — Eu só ouvi um barulho horrível, como um grito agudo e estridente.

Ela o olhou com curiosidade, a cabeça tombada para o lado e o sorriso torto que ele adorava.

— Acho que sei um jeito de você ouvir a canção — ela levantou em um salto e deu um beijo na bochecha dele. — Me encontre às dez na frente do banheiro dos monitores! Não esquece o ovo!

E dizendo isso, saiu andando, deixando-o com uma grande interrogação na cabeça.
Como combinado, a garota o aguardava em frente a porta do banheiro às dez horas da noite, olhando em volta para garantir que estavam sozinhos. Os dois entraram sorrateiros e garantiu que a porta estivesse trancada magicamente antes de puxar Cedrico para a parte do banheiro onde havia uma banheira enorme.

— Será que agora você pode me contar o que tem em mente? — disse Diggory, cruzando os braços e olhando curioso para a banheira.
— Eu consegui ouvir a canção por causa da minha descendência — começou a explicar enquanto tirava o cachecol e o casaco, sendo observada com atenção pelo namorado. — Mas, se minha teoria estiver certa, você também consegue ouvir se abrir o ovo embaixo da água.
— Mas… Na banheira?
— Prefere ir ao lago quase congelado? — ela o questionou com uma sobrancelha levantada e ele negou na mesma hora.
A garota começou a se despir, tirando o fôlego do garoto na sua frente. Por sorte, trouxe um maiô do Brasil na ilusão de que usaria algum dia, mas esqueceu de avisar Cedrico e o mesmo teria que entrar na água com o que estivesse por baixo (que no momento era uma cueca box azul marinho). Ainda atônito, ele também começou a se despir, mas não conseguia tirar os olhos do corpo da morena enquanto a mesma prendia os cachos em um coque.

— Você é uma distração e tanto… — ele respondeu, abraçando sua cintura e beijando seu pescoço.
— Presta atenção aqui, Ced — Ela segurou seu rosto e o puxou para cima, dando risada e em seguida, um breve selinho.

entrou na água quente, se deliciando com um pouco de calor naquele frio insuportável da Europa, e o chamou para se juntar a ela, o que ele fez com todo prazer, trazendo o ovo junto. Os dois contaram até três e juntos, afundaram o máximo possível, abrindo o objeto embaixo d'água. Finalmente Cedrico conseguiu ouvir a tal canção.

"Procure onde nossas vozes parecem estar,
Não podemos cantar na superfície,
E enquanto nos procura, pense bem:
Levamos o que lhe fará muita falta,
Uma hora inteira você deverá buscar,
Para recuperar o que lhe tiramos,
Mas passada a hora - adeus esperança de achar.
Tarde demais, foi-se, ele jamais voltará."

Diggory fechou o objeto e ambos voltaram à superfície quando a música começou a se repetir. Ofegantes, os dois começaram a rir animados com o fato de que a teoria da garota estava certa. Ced deixou o ovo de lado e foi abraçar a garota, agradecendo-a pela ajuda.

— Você é um gênio, ! Um gênio! — Ele a enchia de beijos enquanto a mesma ria, tão feliz quanto ele. — Definitivamente não ia conseguir sem você.
— Não exagera, você com certeza iria descobrir sozinho — ela respondeu, passando a mão em seu rosto molhado, tirando os cabelos loiros de sua testa.  — "Não podemos cantar na superfície", isso é verdade. Minha mãe podia falar e cantar normalmente, mas os sereianos são uma espécie muito diferente, então provavelmente não… Ced, o que está fazendo?
— Hm? — O garoto murmurou sem tirar os lábios do pescoço da garota. Ele subiu o beijos até sua orelha, causando arrepios bons em que fechou os olhos. — Estou aproveitando o único momento que estamos sozinhos, sem ninguém para atrapalhar.

A garota lhe lançou um sorriso travesso e o mesmo se formou no sorriso de Cedrico antes de ele juntar seus lábios nos dela, puxando-a para se sentar de frente para ele, em seu colo. Eles nunca haviam estado em um momento tão íntimo, com tão pouca roupa entre eles, e aquele momento parecia perfeito, parecia certo. Na realidade, nunca havia feito algo do tipo, nunca passara de alguns beijos com poucos garotos em seus recém completados quinze anos de vida. Contudo, Cedrico a fazia se sentir de uma forma inexplicável, uma forma que ela nunca havia se sentido antes. Cada beijo, cada momento com o lufano a fazia querer ele por completo e ela ainda não sabia, mas era totalmente recíproco.
Impulsionada por esse pensamento, ela entrelaçou os dedos em seus cabelos e aprofundou o beijo, soltando uma risada quando o ouviu gemer ao senti-la rebolar em seu colo. Com delicadeza, Cedrico dedilhou seus dedos nas costas da namorada, sentindo a mesma se arrepiar apesar de estarem na água quente. considerou aquilo como um invectivo e continuou rebolando em seu colo, sentindo sua intimidade esquentar. O garoto aproveitou para abaixar a alça fina de seu maiô e a mesma permitiu que ele abaixasse essa parte da peça por completo; Cedrico a olhou com os olhos brilhantes e maravilhados antes de voltar a beijar seu pescoço. As mãos gentis do lufano percorriam seu corpo inteiro, causando-lhe arrepios e sensações tão boas que não conseguia descrever em meras palavras. Os beijos dele foram descendo até os seus seios onde a beijaram da melhor forma possível, fazendo-a jogar a cabeça para trás, arfando em busca de ar enquanto segurava os cabelos do garoto para que ele não se afastasse. Entretanto, por melhor que estivesse o momento, Cedrico parou o que estava fazendo e a olhou com seriedade.

— Podemos parar aqui se quiser, eu não quero forçar nada…
— Não, eu quero — ela o beijou com ternura. — Eu só… Eu nunca fiz isso, então…
— Espera, está confiando em mim para a sua primeira vez? — ele perguntou, um tanto assustado.
— Não tem ninguém melhor — ela sussurrou e encerrou o assunto com mais um beijo que o lufano não ousou interromper.

 As mãos ágeis e gentis de Cedrico abaixaram mais a roupa da garota até tirá-la totalmente. Ele voltou a deliciar-se com os seios da garota e quando arriscou tocar sua intimidade, deixou escapar um gemido quando percebeu o quão molhada ela estava, nada tinha a ver com a banheira. reprimiu um grito de prazer quando ele a estimulou no lugar certo, fazendo círculos com o polegar enquanto introduzia um de seus dedos, fazendo-a pular em seu colo e rebolar em sua mão quando se acostumou com a sensação nova. Ele continuou dando atenção aos seus seios, percebendo que ela estava cada vez mais perdendo o controle.

— Porra, — o garoto gemeu em seu ouvido, sua cueca o incomodando como nunca antes.

Receoso, ele introduziu mais um dedo e aumentou a velocidade dos movimentos, sentindo quando a garota se contraiu, chamando seu nome da forma mais deliciosa que ele já a ouviu chamar. estava ofegante enquanto seu corpo era tomado por espasmos gostosos, deixando-a um tanto mole.
Com um pouco menos de paciência, Diggory levou as mãos até sua cueca que a essa altura ele a odiava pois o incômodo era demais. Invertendo as posições, Cedrico fez a namorada se sentar no banco da banheira e apoiou as mãos na beirada. se segurou firmemente em seus ombros, olhando fundo nos olhos claros do namorado enquanto o mesmo se posicionava em sua entrada, mas ele não fez o que ela ansiava. Soltando uma das mãos, Diggory apertou a coxa da garota e foi subindo enquanto voltava a dar atenção ao seu pescoço exposto e a ouviu soltar gemidos baixos em seu ouvido quando sua mão deslizou novamente para o espaço entre suas pernas, acariciando-a como ninguém havia feito antes. começou a gemer um pouco mais alto e conforme seu toque se intensificava, ela se mexia mais, rebolando em sua mão, sentindo o prazer tomar conta do seu corpo novamente. Cedrico sentiu suas costas serem arranhadas pela garota, mas não se importou, a leve ardência era prazerosa naquelas circunstâncias. Ela jogou a cabeça para trás quando ele introduziu seu dedo e o lufano se deliciou com a visão, o prazer estampado em seu rosto era uma motivação a mais para acelerar os movimentos. buscou os resquícios de foco e controle para começar a tocá-lo em retribuição e o garoto mordeu seu lábio inferior para conter um gemido.

— Diggory — ela gemeu em seu ouvido e ele amou a forma nova como seu sobrenome saiu dos seus lábios entreabertos. — Eu quero você, por favor, pare de me torturar!

O garoto segurou a risada e parou de tocá-la, voltando a se segurar na beirada da banheira. Ele se encaixou entre as pernas da garota que se enroscaram em sua cintura, e gemeu alto quando finalmente seu membro entrou lentamente na amada. Ficou sem se mover por alguns segundos, apenas se deliciando com o quão quente e apertada ela era e observando-a para ver se a mesma estava bem e acostumada. Mas a própria garota começou a se remexer, desesperada por mais contato, então logo começou a dar leves estocadas, sentindo a água se mover no mesmo ritmo do seu quadril.
Os dois gemiam o nome um do outro misturado com alguns palavrões e pedidos de mais, como se todo aquele toque ainda não fosse o suficiente. Seus sotaques se misturavam em perfeita harmonia, assim como seus movimentos. Diggory adorava como a namorada xingava em português, era um sinal de que ela já não tinha controle algum, assim como ele. Sem sair de dentro da garota e segurando firme sua cintura, Cedrico voltou a se sentar, fazendo com que a grifinória agora ficasse por cima. Dessa vez, era quem segurava na borda da banheira enquanto beijava o garoto e se movimentava com vontade, fazendo a água cair pelas beiradas. As mãos de Diggory seguravam sua cintura, revezando entre leves apertões na bunda e incentivando-a nos movimentos. Foi a vez dele jogar a cabeça para trás enquanto a garota deixava leves chupões em seu pescoço claro, admirando a forma como as veias do namorado estavam saltadas com o esforço que ele fazia. Sabia que não demoraria muito até que ambos chegassem ao ápice, então acelerou as cavalgadas, vendo-o xingar todos os palavrões ingleses possíveis e apertá-la com mais força, se segurando para não se entregar antes dela.

— Caramba, — ele deixou um gemido alto escapar, os olhos apertados entregavam o prazer que estava sentindo.

Com uma das mãos, Ced voltou a estimulá-la e dessa vez não aguentou, sentindo seu corpo tremer ao chegar no segundo orgasmo perfeito, tendo que se segurar no garoto quando seu corpo teve fortes espasmos. O aluno rapidamente tirou seu membro de dentro dela e deixou seu próprio prazer se misturar com a água, sua respiração ficando tão desregulada quanto a dela e sentindo os mesmos espasmos que ela estava tendo. sorriu largo antes de beijá-lo e naquele momento o garoto jurou que estava no céu.

Já passava da meia noite quando ambos saíram do banheiro e depois de se despedir do namorado, entrou na ponta dos pés no dormitório, ainda sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Jurava que as amigas estariam dormindo a essa hora, mas não poderia estar mais enganada. As duas estavam sentadas na cama de Mione com uma varinha acesa, e arregalaram os olhos quando viram a amiga se aproximar da cama ao lado.

— Onde você estava? — Hermione perguntou, olhando a amiga de cima a baixo, aproximando a varinha do rosto dela e reparando nos roxos em seu pescoço.
— Com Ced — ela respondeu e deu de ombros, ainda exibindo o sorriso largo no rosto.
— E por que seu cabelo está molhado? — Foi Gina quem fez a pergunta e no mesmo instante o rosto dela se iluminou e um sorriso malicioso surgiu em seus lábios. — Pelas barbas de Merlin, você fez aquilo com ele!

mordeu os lábios na tentativa de conter o maldito sorriso, e o silêncio entregou a resposta de bandeja. Hermione logo lançou o feitiço Abaffiato antes de ambas começarem a dar gritos histéricos e a encherem de perguntas, assustando um pouco a amiga.

— Gina, eu não vou entrar em detalhes! — riu da cara de decepção da amiga ao recusar seu pedido. — Só vou dizer que foi na banheira do banheiro dos monitores e que foi muito bom — ela soltou um suspiro antes de completar. — Ced é incrível.
— Tem banheira no banheiro dos monitores? — Mione a questionou.
— Tem e é realmente ótima — Gina respondeu, pegando as duas de surpresa. — Que foi? Eu só ouvi falar, infelizmente eu nunca usei…

As amigas gargalharam com a resposta da mais nova e passaram mais algum bom tempo conversando antes de caírem no sono. Um sorriso bobo ainda estampava o rosto da intercambista e ela duvidava que fosse se desfazer tão cedo.



16 - Can I Have This Dance?

[AVISO: Coloquem essa música para carregar.]

Conforme a semana se passou, o desespero de Rony e Harry para arranjar um par para o Baile aumentou drasticamente. Tiveram que assistir Cedrico fazer um pedido impecável para , mesmo que fosse óbvio que a garota iria com ele, o que aumentou a expectativa de todos. Sem contar as rejeições que receberam ao longo dos dias, pois todos já estavam garantindo seus pares. As amigas até tentavam ajudar, mas os dois orgulhosos queriam fazer aquilo sozinhos. Porém, eles não eram os únicos que precisavam de ajuda.
Em mais uma sessão de estudos na biblioteca (pois os professores ainda não aliviaram para eles), a perna direita de não parava de balançar enquanto ela tentava ler pela quinta vez o mesmo parágrafo do livro de Herbologia. Seu cérebro implorava por um descanso e sua ansiedade não o permitia. Ela largou a pena na mesa e começou a encarar a porta, se perguntando quando que o garoto iria aparecer. Hermione, Harry, Rony, e Gina estavam tão absortos em seus estudos que não perceberam a inquietação da garota, mas Cedrico colocou a mão em sua perna na tentativa de fazê-la parar de balançar, mas não desviou os olhos do pergaminho em que fazia as anotações.
Bufando com impaciência, ela finalmente viu uma movimentação na porta da biblioteca. Neville Longbottom aparecia na porta, observava o local por alguns segundos e desaparecia; ele fez isso umas cinco vezes antes de se cansar e decidir ajudá-lo. Sem querer distrair os amigos, se levantou em silêncio e caminhou apressada para a porta, vendo o garoto começar a se afastar.

— Ei, Longbottom! — ela exclamou o mais baixo possível, fazendo-o sobressaltar ao se virar.
— Oi, — ele respondeu animado, mas ainda aparentava estar tomado por nervosismo. — Tudo bem?
— Tudo sim — ela respondeu, observando em suas mãos um pequeno buquê de lisiantos no tom exato de “laranja Weasley”, como ela gostava de chamar a cor linda dos cabelos da família. Por Merlin, Neville era adorável demais para seu próprio bem! — Para quem são?
— S-são para a Gina — ele gaguejou, incerto se deveria ter falado algo ou não.
— Legal! Ela está lá dentro, vamos — a colega de Casa ameaçou entrar novamente na biblioteca, mas ele a impediu com a mão gelada segurando seu braço e o pavor em seu rosto. — O que foi?
— É q-que eu… Eu queria… — ele gaguejou novamente e pareceu impossível para o garoto terminar de formular a frase. — Queria convidar Gina... para o baile.

abriu um sorriso tão largo que Neville até estranhou. O que o garoto disse não era surpresa para ela, pois a mesma havia tido uma visão há alguns dias em que o jovem bruxo pedia à sua amiga ruiva para ir ao Baile de Inverno com ele. Esse tipo de visão era a que mais gostava, pois era algo bom e leve, onde os envolvidos não se machucavam e nada de ruim acontecia. Quase fazia valer a pena carregar o fardo desse dom que, muitas vezes, poderia ser cruel.

— E o que está esperando? — ela o questionou com animação. — Ande logo!
— Mas e se ela não quiser? — Neville deu uma espiada para dentro da biblioteca, observando a mesa onde antes estava sentada, e voltou com o rosto retorcido em nervosismo.
— Ora, Nev! Ela não seria louca de recusar! — A garota o segurou pelos ombros e ajeitou suas vestes. — Confia em mim, ela vai aceitar.
— Obrigada, — ele sorriu para a colega, parecendo muito mais confiante que antes.

A garota ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo na bochecha, deixando-o muito vermelho, e ajeitou o cabelo dele como um último detalhe. Depois ela o empurrou até o meio da porta dupla que ainda permanecia aberta e sussurrou:

— Boa sorte!

então caminhou com pressa até sua mesa e sorriu largo enquanto fazia sinal de positivo para o amigo de forma discreta. Cedrico a olhou desconfiado, mas achando graça da situação, e se inclinou para perto da namorada.

— O que está aprontando, amor? — ele perguntou, vendo-a retribuir o sorriso que o mesmo mantinha no rosto. Rony desviou os olhos do livro por breves segundos para observar a cena para se torturar, e sentiu vontade de vomitar.
— Você vai ver, querido — ela respondeu quando Neville Longbottom se aproximou deles. O garoto pigarreou algumas vezes para chamar a atenção do resto da turma. se sentiu nervosa como se ela mesma fosse chamar a amiga para o baile.
— Oi, pessoal — ele falou tímido, forçando um sorriso enquanto todos respondiam seu comprimento. — Gina, i-isso é p-pra v-você!

Ele gaguejava tanto que não pôde evitar sentir dó do nervosismo do amigo. Rony, por outro lado, estava desacreditado com a cena que estava presenciando. Achava muita ousadia do amigo dar flores para sua irmã bem na sua frente.

— São lindas, Neville! Obrigada — a ruiva se levantou para abraçar o amigo e Rony não podia estar mais bravo quanto agora.
— Eu estava pensando e… — Ele olhou para , como se pedisse ajuda; a garota apenas fez um gesto para que ele continuasse e não tirou o sorriso do rosto. — Será que você, sei lá, não gostaria de, é… ir ao baile comigo?

O barulho do livro de Rony sendo fechado com força pareceu um estrondo no silêncio impecável da biblioteca; o garoto olhou chocado para os dois. Tentando conter o volume de suas vozes, , Mione e Ced comemoraram animados quando a garota se levantou, prestes a dar a resposta para a infelicidade de Rony e Harry que, faltando poucos dias para a festa, não tinham alguém para acompanhá-los. Rony estava duplamente irritado, afinal, Gina era sua irmã mais nova! Por ele, ela nem sairia de seu dormitório na noite do baile para não chegar perto dos garotos de Hogwarts. Ele mesmo era um garoto de Hogwarts e sabia muito bem como eles poderiam ser em relação às garotas, ele tinha propriedade quando o assunto era os pensamentos maldosos dos garotos.
Agora as sardas não eram as únicas coisas que pintavam o rosto de Gina Weasley. Um rubor forte tomou conta de suas bochechas em claro sinal de vergonha e animação. Como se pedisse a opinião das amigas, ela olhou para e Hermione que, muito animadas, fizeram sinal de positivo em resposta. Neville parecia estar prestes a desmaiar quando a garota respondeu:

— Eu adoraria, Nev!

Os protestos da Madame Irma não foram suficientes para acalmar a agitação da mesa quando Gina pegou o buquê de flores e abraçou Neville em agradecimento. e Mione comemoravam com extrema felicidade, Harry sorria de forma forçada enquanto tentava segurar Rony sentado que por sua vez, murmurava baixinho alguns palavrões, se segurando para não arrancar o pescoço de Longbottom. Cedrico observava tudo com um sorriso no rosto, ainda sentado na mesa, às vezes tentando justificar a situação para a bibliotecária. “É um convite para o baile!”, ele explicou, mas obteve apenas resmungos impacientes da mulher. “Ela disse sim!”.

Os colegas voltaram animados para a Sala Comunal, mesmo com Rony ainda resmungando sobre o acontecido e sobre o fato de terem deixado os dois sozinhos, chamando Neville de traidor. Em mais uma tentativa falha, ofereceu ajuda para falar com uma de suas colegas e ver quem estava disponível, mas eles recusaram.

— Por que é que vocês andam em bandos? — perguntou Harry às amigas quando uma dúzia de garotas passou por eles, rindo e olhando para Harry. — Como é que vou encontrar uma sozinha para convidar?
— Já tem ideia de quem você vai tentar convidar? — questionou Rony.

O amigo não respondeu, ainda sem sentir coragem alguma para chamar a garota que ele queria que fosse ao baile com ele. Cho Chang era um ano mais velha do que eles, era uma corvina muito bonita, ótima jogadora de quadribol e muito popular. Ela era tudo o que Potter desejava em uma garota, e os amigos sabiam bem disso. Rony tentou incentivá-lo, dizendo que ele era o campeão e que Cho seria louca em não aceitar ir com ele.

— Harry — começou em mais uma tentativa de ajudar o amigo. —, o não você já tem, só precisa tentar conseguir o sim.
— Que conselho foi esse? — zombou Rony dando uma risada alta enquanto a amiga retrucava mostrando o dedo do meio.

Mas foi exatamente o que a amiga disse que deu coragem a Potter para decidir o que fazer. Agora era um pouco mais suportável caminhar pelos corredores com Harry, tudo graças à Cedrico que pediu para os companheiros da Lufa-Lufa não usarem o tal distintivo (ou só usarem na forma em que o apoiava) e respeitarem Potter, afinal ele mesmo estava andando mais com o trio por causa de . Então quando Harry viu Cho finalmente se afastar das amigas, ele tomou coragem e foi atrás dela. estava pronta para segui-lo quando sentiu uma mão gentil tocar seu braço. Levou um susto ao ver os enormes óculos de grau da professora Sibila Trelawney; a mulher sorria largo e de forma simpática para a aluna que retribuiu da melhor forma, sabendo bem sobre o que a professora de Adivinhação queria falar.

— Boa tarde, querida — disse Sibila com sua voz melodiosa. — Se importa de irmos juntas para o Salão Principal?
— Boa tarde, Professora. Claro, podemos ir juntas… — ela sorriu com simpatia enquanto a mais velha a conduzia pelo corredor até a escadaria antes mesmo de a aluna responder. — Aconteceu alguma coisa? Terei que refazer o trabalho?
— Não, de jeito nenhum! Você é brilhante, , uma das minhas melhores alunas — respondeu a professora ainda sustentando o sorriso simpático. — É só que… bom, me preocupei com a senhorita depois da última alta.

Finalmente chegaram ao assunto que sabia ser o objetivo da professora. Elas pararam um pouco antes da porta do Salão Principal; Sibila segurava seus ombros como se temesse que a garota fosse fugir da conversa e ela não estava assim tão equivocada.

— Não precisa se preocupar, senhorita Trelawney! Te garanto que está tudo…
— Eu vi que alguém com o seu dom iria chegar na escola! — A professora a interrompeu. — O dom da visão é tão forte em você que é quase palpável.

olhou insegura para os lados, desconfortável por estar tendo tal conversa em um espaço totalmente vulnerável. Ela não gostava que soubessem desse “dom” pois quanto mais pessoas soubessem e que ela se importasse, mais visões tinha e definitivamente gostaria de evitar isso. Confidenciou o segredo para Hagrid e seus amigos e já achava que era gente demais.

— Como funciona? Você provoca ou vem naturalmente? Têm algum tipo de ritual? Têm limitações?
— Professora! — a intercambista interrompeu a chuva de perguntas. — Eu não sei bem como funciona, está bem? Comecei a ter visões depois que minha mãe morreu. Ela não teve a chance de me ensinar muito o que minha avó lhe ensinou, na verdade ela achava que eu não carregaria esse fardo por não ter nascido sereia…
— Então você herdou das sereias! — ela exclamou, fazendo a garota olhar novamente para os lados. — Faz muito sentido, sim… Escute, eu posso te ajudar com isso! Como sabe, meu conhecimento é muito vasto em questão de adivinhação ou visões.

Ela demorou seu olhar na aluna, parecendo querer extrair alguma coisa dela. Incomodada, ponderou se deveria realmente confiar na professora. Todos a consideravam uma charlatona, apesar de adorá-la. Talvez a mulher poderia fornecer a ajuda que a mesma nunca teve. Com um suspiro alto, assentiu e viu o rosto da mulher se iluminar.

— Ótimo, ótimo! Ah, como fico feliz! Eu sabia que aceitaria, é claro —  a mulher falou rápido demais tamanha era sua euforia. — Mandarei um recado com a data e hora da nossa primeira aula particular. Estou tão ansiosa!

E dando palminhas animadas, Sibila Trelawney se encaminhou para a mesa dos professores e foi até a da Grifinória onde apenas Hermione esperava o grupo para o almoço. Ela levantou o rosto do livro grosso que lia apenas para cumprimentar a amiga e voltou a folheá-lo, interessada em seu conteúdo.

— Acredita que a Srta. Trelawney quer me dar aulas particulares por causa das visões?

Mione agora tinha toda a sua atenção. A garota fechou o livro e a olhou com os olhos arregalados em sinal de surpresa.

— E você obviamente disse não, certo? — ela respondeu. Longos segundos se passaram em que a amiga não respondeu nada e era assim que Hermione sabia que estava confirmando algo. — Ah, meu Deus, !
— Amiga, ela me disse que sabia que alguém com meu dom entraria na escola.
— E você acreditou naquela louca? Ela é uma charlatona, !
— Mione, eu preciso de ajuda e ela é professora de Adivinhação, oras! — respondeu e viu a amiga revirar os olhos. — Eu preciso aprender a controlar isso, a interpretar as visões… Por exemplo, por que diabos continuo tendo visões do Rony no lago?
— E você acha que ela é a mais qualificada para isso? — retrucou Granger.
— Não sei, mas é o melhor que tenho agora! Sei que tem problemas com ela, Mione, mas eu gosto da Trelawney.

As amigas foram interrompidas pelos gêmeos Fred e George Weasley que se sentaram aos risos na mesa, George ao lado de Hermione e Fred ao lado de .

— Estão falando da Sibila? — George perguntou roubando algumas ervilhas no prato da amiga ao lado que protestou, dando um tapa em sua mão.
— Sim! — exclamou animada e olhou convencida para Hermione, pronta para provar que estava certa. — O que acham dela?
— Ela é incrível! — respondeu George.
— E muito charlatona! — continuou Fred. — Por isso desistimos da aula dela.

Hermione Granger soltou um sonoro “AHÁ!” enquanto bufava de raiva por ser contrariada. Ainda tentou argumentar com os três, mas de nada adiantou. Não importava o que dissessem, a pequena chance que tivesse de poder aprender algo sobre seu fardo, ou como gostavam de chamar, sobre seu “dom”, já a deixava feliz. Concordava que Sibila não era das mais confiáveis, mas também sabia que se Alvo Dumbledore a colocou como professora, é porque viu algo de especial na mulher e se agarrou a esse fato para justificar a si mesma que aquilo não era loucura e que finalmente teria alguma ajuda.

O dia terminou como a maioria dos anteriores: o trio de ouro, acompanhados por e Gina se juntaram em frente à lareira para conversarem. Fred e George estavam em outra mesa, cochichando e escrevendo em papéis, mas duvidou que fossem anotações para alguma aula. Ela fazia tranças nos cabelos ruivos e compridos de Gina enquanto a garota lia uma revista bruxa adolescente e discutiam sobre o vestido para o baile. Harry estava chateado demais e não suportava ouvir sobre o tema depois de ter levado um belo não de Cho Chang pois a mesma já tinha um par. Já Rony estava vermelho como um pimentão e resmungava consigo mesmo enquanto Hermione tentava acalmá-lo. Ele havia feito a besteira de convidar Fleur Delacour para o Baile e ela obviamente disse não. Isso foi há horas atrás e ele continuava nervoso e se chamando de idiota. A garota que ele realmente queria convidar estava ali, bem na frente dele, mas ele nem ao menos teve a chance de tentar, pois já tinha um par desde o começo. Todos tentaram tranquilizá-lo e agora era a vez de Hermione que pela cara, parecia estar prestes a desistir. De repente Ron ficou em silêncio e encarou a amiga como se uma lâmpada tivesse se acendido em sua cabeça.

— Hermione, Neville tem razão — ele começou, recordando-se da conversa que tiveram mais cedo com o colega de casa. — Você é uma garota!
— Bem observado — respondeu ela com mau humor.
— E só levou quatro anos para ele perceber isso — cochichou , fazendo Gina soltar uma risada alta.
— Então... Você poderia acompanhar um de nós! — ele exclamou como se fosse a ideia mais genial de todas.

Gina e se olharam, tentando ao máximo não rir. Harry começou a prestar mais atenção, subitamente interessado na ideia do melhor amigo.

— Não, não poderia — retorquiu Hermione, seu rosto tomando um tom avermelhado.
— Ron, se eu fosse você, eu ficaria quieto — aconselhou, sem tirar os olhos das tranças que fazia em Gina.
— Ah, vai — disse Rony impaciente, ignorando totalmente a amiga —, precisamos de pares, vamos fazer um papel realmente idiota se não tivermos nenhum, todos os outros têm…
— Não posso ir com vocês — disse Hermione, agora corando violentamente —, porque já estou indo com uma pessoa.

As duas garotas não conseguiram conter o sorriso, pois sabiam muito bem com quem Hermione iria e também sabiam que caso ela contasse a eles, os dois iriam surtar. Os garotos a olharam surpresos, mas Ron logo fez uma cara como se tivesse entendido tudo.

— Você não vai com ninguém, só está dizendo isso pra tirar sarro da nossa cara…
— Só porque você levou quatro anos para reparar, Rony, não significa que mais ninguém tenha percebido que eu sou uma garota!

O ruivo arregalou os olhos para ela. Depois tornou a sorrir.

— Ok, ok, sabemos que você é uma garota. Satisfeita? Você vai com a gente agora?

Bufando com raiva, a garota marchou em direção ao dormitório sem responder nada. Gina e começaram a brigar com o garoto de tal forma que ele sentiu como se estivesse levando uma bronca da própria mãe. Não pôde deixar de reparar no quão linda ficava quando estava brava, mesmo quando gritava com ele.

— Espera, então ela realmente vai com alguém? — Harry questionou e as duas confirmaram. — Com quem?
— Não vamos falar — Gina deu de ombros.
— Ah, vamos! Fale logo — Ron insistiu com impaciência.
— Não é da sua conta, Ronald, e da próxima vez, escute quando eu te aconselhar a ficar quieto ou vai acabar magoando mais alguém — retrucou , se levantando e indo para o dormitório junto com a ruiva, sabendo que ambas encontrariam uma Hermione precisando de ajuda. Os dois garotos se olharam, concordando em silêncio que haviam passado dos limites.

Faltando uma semana para o Baile de Inverno, a Professora Minerva McGonagall teve a brilhante ideia de usar seus dois tempos para um ensaio da dança, reforçando novamente que não queria seus alunos passando vergonha na frente dos convidados. Todos os alunos do quarto, quinto e sexto ano se ajeitaram com pares, menos Rony Weasley; Harry foi mais rápido e chamou Hermione para dançar com ele como um pedido de desculpas e estava surpreendentemente atrasada para a aula. Minerva já havia decidido que dançaria com o ruivo como demonstração quando a intercambista irrompeu pela porta, pedindo mil desculpas e justificando que estava conversando com a Professora Sibila. A primeira aula com a professora de Adivinhação não foi de todo ruim, pois ela apenas pediu que lhe contasse sobre sua primeira visão e sobre as reações que as visões causavam e apenas a ouviu, sem instruções ou questionamentos.

— Sem problemas, chegou bem a tempo para o treino de dança. Como a senhorita vai com o nosso campeão Cedrico Diggory, é de extrema importância que aprenda a dançar.
— Mas… ele não está aqui. — a garota afirmou confusa, fazendo a professora rir.
— Não, bobinha, você irá dançar com Ronald Weasley, ele está sem par. — A professora indicou o aluno que estava em pé a alguns metros de distância e o mesmo levantou a cabeça para olhá-las. — Venha, Weasley, não tenha vergonha!

A risada dos gêmeos foi audível mesmo com a distância, fazendo todos os demais rirem junto. sorriu para o amigo e estendeu a mão, encorajando-o. Rony a aceitou de bom grado, sentindo o seu nervosismo aumentar drasticamente. Tudo o que menos precisava era dançar com a garota por quem era apaixonado, não precisava passar vergonha na frente dela além de não poder acompanhá-la na festa.

— Não deve ser tão difícil — ele murmurou para si mesmo enquanto colocava uma mão trêmula nas costas da garota e a outra segurava firme a sua mão.
— Eu também não sei dançar, Ron, não se preocupe — ela deu uma risada adorável que só fez com que as borboletas na barriga do garoto entrassem em guerra.

Junto aos demais alunos, os dois começaram a balançar de um lado para o outro no ritmo da música e se surpreenderam ao repararem que não eram tão ruins quanto pensavam. Ambos estavam se divertindo, mesmo com os cutucões de McGonagall quando pedia para ajeitar a postura ou apontar algum erro. Os olhos divertidos de Ron não quebravam o contato com os de nem por um segundo enquanto dançavam lentamente. A segunda dança era menos formal, apenas garotos com as mãos na cintura das garotas e as garotas com as mãos nos ombros dos garotos. verificou se Minerva não estava vendo e colocou as mãos na nuca do amigo que se arrepiou inteiro com o toque, e ficou fazendo carinho em seus cabelos ruivos que tanto adorava.

— Você e Harry já conseguiram um par? — ela o questionou de repente, tirando-o do transe que o carinho o prendeu.
— É, já… — respondeu sem muito ânimo. — Harry vai com a Parvati e eu vou com a irmã dela, Padma.
— As gêmeas? — soltou uma risada baixa. — Genial, elas são bonitas e legais, tudo a ver com vocês.
— Está brincando, não é? — Rony semicerrou os olhos e a viu negar com a cabeça. — Elas são bonitas, mas nem de longe chegam perto da garota que eu realmente queria ir.
— Quem é a garota que você realmente queria ir? — ela perguntou com um sorriso torto, imitando a voz do garoto na palavra enfatizada. Ron revirou os olhos e aproximou sua boca do ouvido dela.
— É meio óbvio — ele acariciou suas costas, causando-lhe arrepios bons que não deveria sentir com seu toque. — É você.

piscou algumas vezes antes de encará-lo com a boca levemente aberta em clara surpresa. Ela tinha consciência dos sentimentos do garoto, mas pensou que depois de tanto tempo, esses sentimentos tivessem passado. E como se tivesse lido seus pensamentos, Ron tirou delicadamente uma das mãos dela do seu pescoço e a colocou em seu peito, no local exato onde estava seu coração. o sentiu bater forte e rápido em sua palma e ficou sem palavras.

— Ele fica assim toda vez que estou com você, ou quando você me toca… Ou até mesmo quando estou longe e apenas penso em você! — ele confessou com o rosto corado.
— Ron, eu… Eu realmente não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada — ele respondeu com um sorriso triste. — Ainda aceito ter só sua amizade, , porque acredite, ela é importante demais para mim.

A essa altura eles não prestavam mais atenção em nada, era como se apenas os dois dançavam ritmados pela sala de aula organizada e ampliada para que pudessem ter essa aula especial. Ele continuou segurando a mão dela em seu peito, o coração de ambos batendo cada vez mais rápido.

— Mantenho todas as promessas que te fiz sobre não te deixar nunca. Espero o tempo que for. Esse coração é todo seu — Rony sorriu, fazendo-a retribuir o gesto.
— É muita responsabilidade — ela brincou, fazendo círculos com a unha como o formato do coração. Ele apenas deu de ombros e continuou dançando com a amada em seus braços. — Acho que eu iria com você se não fosse com Ced.
— Saber disso torna o baile um pouco mais suportável — o garoto sorriu largo, fazendo-a rir e chamando a atenção da professora que prontamente se juntou aos dois, pedindo para que se concentrassem e reforçando a eles a importância da aula.

Então finalmente estavam de férias, e como ninguém iria para a casa no Natal por causa do Baile de Inverno, a Torre da Grifinória parecia um tanto pequena com a quantidade de alunos que agora a ocupavam durante o tempo que teriam as aulas. A neve do lado de fora, por mais convidativa que fosse para a brasileira , mantinha todos dentro do castelo onde não havia muito o que pudessem fazer. Vez ou outra a garota se encontrava com o namorado para treinarem a dança e estavam realmente ficando bons nisso. Hermione fazia o mesmo com seu par, sempre em segredo, fazendo com que Rony e Harry continuassem insistindo em saber com quem ela ia para o baile e reclamarem do fato de ambas os deixarem sozinhos.
E na manhã do dia 25 de dezembro, a intercambista da Castelobruxo se assustou com a quantidade de presentes que havia aparecido na beira de sua cama. O primeiro que abriu foi do seu pai; Sirius havia mandado uma caixa com doces brasileiros e a garota quase chorou quando comeu um brigadeiro e uma colherada de doce de leite, seus doces favoritos. Junto com os doces havia um cachecol verde e amarelo, nas cores de seu país (e que veio em ótima hora!) e uma pequena carta onde dizia:

“Feliz Natal, minha amada filha! Tinha esperanças de passar nosso primeiro Natal juntos, mas tenho certeza que conseguiremos no próximo ano. Espero que esteja tudo bem com você e os meninos e não se preocupe pois eu estou bem e seguro.
Sinto sua falta todos os segundos. Fico feliz em saber que Harry e Cedrico se deram bem na primeira prova, mas continue atenta, filha. Quem quer que tenha sido o maldito que colocou o nome do meu afilhado no cálice, com certeza tem a intenção de machucá-lo ou pior. E continue guardando nosso segredo, ou então você será o próximo alvo. Desculpe tornar a carta um tanto triste e séria, mas não consigo evitar minha preocupação.
Por fim, espero que goste dos doces, imagino que sinta falta deles — apesar de achar que a Dedosdemel seja a melhor doceria do mundo. Aliás, muito obrigada pelas cervejas amanteigadas! Só Merlin sabe o quanto eu senti falta dessa bebida horrorosa. Te amo muito, tenha um feliz Natal e um ano novo melhor ainda. Obs: Lupin está mandando lembranças e agradeceu o whisky de fogo, o cara está com tanta saudade quanto eu!
Para sempre, seu Almofadinhas.”

abriu o presente de Remus Lupin com as lágrimas ainda em seus olhos. O padrinho, como prometido, lhe mandou um belo vestido verde que a garota usaria de noite no Baile. Ficou surpresa ao ver que Alvo Dumbledore lhe mandara um livro com contos e poesias escritas pela própria Iara. Como raios o professor conseguiu isso, ela não fazia ideia, mas era um dos presentes mais incríveis que já ganhou em toda a sua vida. Outra surpresa foi receber um suéter de crochê feito à mão por Molly Weasley, mãe dos seus amigos, com um enorme “P” e um cartão dizendo que seria um prazer recebê-la no ano novo em sua humilde casa. “Eu pedi para ela fazer o suéter” orgulhou-se Rony quando viu a amiga vestida com o presente, assim como Mione e Harry; sentiu um certo nervosismo ao pensar que o amigo falou sobre ela para a mãe dele e conhecendo Rony, isso era algo muito significativo. O ruivo em questão lhe presenteou com uma caixinha de música cujo a melodia era a mesma que os dois dançaram na aula de McGonagall; Hermione a presenteou com uma pena de uma edição especial, toda colorida, e um novo tinteiro. Já Harry lhe deu um kit de envelopes e pergaminhos personalizados para as cartas que ela mandava para Sirius; a garota desconfiou que a ideia tenha sido de Mione, mas adorou mesmo assim.
Os presentes que ela deu não pareciam mais tão legais assim. Para Rony foi uma camiseta do time nacional de quadribol brasileiro (que o garoto surtou quando viu e deu um abraço tão forte que lhe tirou o ar); para Harry ela deu um relógio de bolso parecido com o do pai (foi engraçado ver Potter segurando as lágrimas ao receber o presente), e para Mione foi um livro de contos brasileiros e usou o feitiço que Ced a ensinou para traduzir as páginas (Mione começou a ler no mesmo instante). Para Cedrico, comprou uma pulseira de couro de dragão com suas iniciais gravadas que o mesmo já estava usando e exibindo todo feliz para os amigos que encontrou pelo caminho. Decidiu que compraria algo bem legal para Molly e combinou com os amigos que iriam para A Toca no ano novo (Ron quase teve um treco de felicidade).

— Com quem você vai ao baile, Hermione? — Rony fazia sua primeira insistência do dia enquanto caminhavam para o café da manhã no dia 25. Granger havia desistido de responder às perguntas, então apenas ficou em silêncio com os lábios apertados em uma linha fina e firme.
— Você está brincando, Weasley? — Ouviram Malfoy dizer atrás deles, fazendo com que se virassem. — Você está dizendo que alguém convidou isso para o Baile?

Os garotos estavam prontos para ignorar a provocação e seguir para o Salão, mas Cedrico se virou com raiva para o sonserino, pegando todos de surpresa.

— O quê quer dizer com isso, Malfoy? — o loiro o questionou, cruzando os braços. Draco o olhou de cima a baixo, soltando uma risada anasalada.
— Ah, Diggory… É realmente uma decepção te ver junto com essa gente… Principalmente com essa sangue-ruim e essa... mestiça — ele mudou seu olhar para que o olhava com chateação, tentando entender o por quê de tamanha grosseria gratuita se eles estavam tão bem um com o outro.

De repente, uma confusão começou. Foi preciso Rony, Harry e os gêmeos Fred e George para segurarem Cedrico e evitar que o mesmo fosse para cima de Draco que deu alguns passos para trás, mas não deixou que sua confiança fosse abalada. se colocou entre os dois e segurou o rosto do namorado, dizendo a ele que não valia a pena até que o lufano se acalmasse. Depois se virou para Malfoy e seus olhos pareciam soltar chamas em direção ao garoto, fazendo finalmente sua confiança se abalar.

— Qual é o seu problema, Draco? Sério, será que nem mesmo no Natal você consegue deixar de ser um babaca? — ela gritou para todos ouvirem.

O menino fechou a cara e seguiu para o Salão sem responder nada. era a única que conseguia acabar com suas estruturas, muitas vezes com apenas uma frase. Não gostava quando a mesma o via dessa forma: como um babaca ou idiota. Mas não conseguia evitar agir daquela forma com os amigos dela, afinal a inimizade deles vem de bem antes de a intercambista chegar, porém ele tentava mudar ou evitar ser desse jeito na frente dela. Precisava se aproximar dela, não só pelo pedido idiota de seu pai em descobrir onde Sirius Black está se escondendo, mas também porque era insuportável tê-la só de longe ou em momentos breves e roubados onde podia admirar seus olhos mais de perto ou ouvir sua risada com mais atenção. Na verdade, ele pouco se importava com o pai da garota ou para as vontades do próprio pai desde que percebeu como o fazia sentir bem em meio a tanta merda.
Já no salão, os grifinórios foram para sua respectiva mesa, mas ficou para trás com Cedrico. Olhava furiosa pela porta para a mesa da Sonserina, irritada demais com o garoto de cabelos platinados e sua atitude ridícula. Queria poder gritar para ele o quanto aquilo a afastava dele cada vez mais e, secretamente, era algo que ela não queria.
Ced deu um leve aperto em sua bochecha para chamar sua atenção, e ela virou o rosto com um sorriso fraco. Ele a abraçou forte e depositou um beijo em seus cabelos; era a forma dele de dizer que estava tudo bem.

— Tenho um presente pra você — ele murmurou contra seu ouvido, depois puxou uma caixinha de dentro do bolso de sua capa e abriu. Dentro havia um lindo anel dourado com uma única pedra amarela no meio. — É um anel do humor — explicou Cedrico quando segurou sua mão e delicadamente colocou o anel em seu dedo anelar direito, selando oficialmente um compromisso que já havia sido selado antes, mas que agora parecia muito mais especial.

A pedra amarela aos poucos foi se tornando o tom de roxo mais lindo que já viu, hipnotizando-a; ela simplesmente não conseguia parar de admirar o presente.

— Roxo significa que você está muito feliz — ele falou com um largo sorriso no rosto. — Gostou?
— Por Merlin, Ced, eu amei! — Ela sorriu com as lágrimas embaçando seus olhos e entrelaçou seus braços no pescoço do namorado, beijando-o com carinho. O lufano havia sido o melhor presente que ela ganhara naquele ano.

Algumas horas depois, Mione e foram animadas encontrar com Gina e outras meninas da Grifinória para se arrumarem juntas para o Baile. Aquela foi de longe a melhor parte do dia para as meninas, uma arrumou o cabelo da outra, todas se ajudaram a se maquiar, Lilá emprestou um perfume para Gina que emprestou brincos para que emprestou sapatos para Parvati. Todas se ajudaram e o resultado final ficou incrível; estavam todas impecáveis e lindas. Claro que o processo todo durou umas quatro horas e quando as meninas desceram para a Sala Comunal, alguns dos meninos que esperavam seus pares estavam com cara de poucos amigos. Três deles, é claro, eram Rony, Harry e Neville; os olhos do último brilharam ao ver Gina descendo as escadas e o mesmo aconteceu com os outros dois ao verem as amigas.
Ronald Weasley pensou estar vendo uma miragem, cogitou estar sonhando, mas quando deu um beliscão no próprio braço, soube na hora que era real e que estava sim de tirar o fôlego. Seu vestido era verde (uma escolha ousada, pensou ele) e comprido, mas terminava na altura do tornozelo onde era possível admirar os saltos prateados de tiras finas. O corset detalhado deixava seus seios mais bonitos mas de forma elegante, e os desenhos rendados em sua saia rodada pareciam dançar pelo tecido fino. Seus cachos estavam presos em um coque propositalmente desarrumado como uma bela bagunça; alguns fios soltos moldavam seu rosto. Ela estava inacreditavelmente linda demais, deixando-o mais hipnotizado do que uma veela.

— Você… Vo-você… — ele gaguejou quando a amiga se aproximou deles, girando provocantemente e dando um sorriso radiante. — Você está incrível.
— Cruzes, Ronald, pegue um babador ou vai molhar estas vestes ridículas! — falou Gina quando entrelaçou o braço com Neville e seguiu em direção à saída.
— Não ligue para ela, você está lindo, Ron — falou, fazendo o garoto corar violentamente enquanto ajeitava a gravata dele.
— Você está linda mesmo, — Harry sorriu para a amiga, depois deu um tapinha nas costas de Weasley como uma espécie de consolo. — Vamos? Diggory deve estar te esperando.
— E Padma está esperando você, Rony — Parvati falou para o ruivo que ainda encarava de boca aberta.
— Podem ir na frente, vou esperar a Mione — falou, subindo novamente pela escada para encontrar a amiga no dormitório.

Hermione não quis descer antes e pediu para que a esperasse e avisasse quando não tivesse mais ninguém na Comunal. Ela também estava maravilhosa e irreconhecível com seu vestido azul-pervinca com babados de seda fina, um coque perfeito e uma maquiagem leve que realçaram seus belos traços.

— Que besteira ter vergonha, Mione, você está sensacional! — falou para encorajar a amiga enquanto atravessavam o quadro da Mulher Gorda para fora da Torre.
— Obrigada, amiga, mas se aqueles dois me vissem assim, eles iam… — Hermione parou de andar e interrompeu sua fala, seu belo rosto se retorceu em confusão e raiva. — O que está fazendo aqui?

A princípio, não entendeu com quem Hermione estava falando, mas logo entendeu a surpresa ao ver Draco Malfoy parado na frente das duas. Seu terno impecável o deixava irritantemente bonito e elegante. Os cabelos brancos estavam divididos ao meio como sempre e impecavelmente arrumado. Seus dedos estavam enfeitados com alguns anéis (algo que nunca vira tantos na mão do garoto, mas que adorou) e suas mãos firmes seguravam uma pequena caixa verde escuro de veludo. Draco estava lindo e teve que fazer um grande esforço para lembrar-se de que ainda estava brava pelo que o mesmo fez mais cedo.
Malfoy a olhou de cima a baixo sem acreditar no que via. Ele era incapaz de desviar os olhos, observando-a com impressionante atenção. Cada mísero detalhe nela gritava perfeição. Os cabelos, o vestido verde, o colar que sempre usava, os braços cobertos apenas por uma fina echarpe; Malfoy queria poder tirar uma foto e guardar todos aqueles detalhes com ele para sempre, mesmo duvidando que fosse esquecê-la tão fácil.

— Quero falar com você, — ele falou com convicção, mas não com a mesma confiança que sempre tinha.

Ela estava prestes a negar, mas algo nos olhos azuis brilhantes do garoto a fizeram dizer para a amiga seguir sem ela que logo estaria com eles no saguão de entrada. Relutante, Hermione seguiu para encontrar seu par. Draco se aproximou da garota receoso como nunca antes, com medo de dar um passo em falso e fazê-la fugir de novo.

— Você está incrivelmente linda hoje, . É realmente injusto com as outras garotas, elas não tem nenhuma chance.
— Não é uma competição, Malfoy — ela falou com rispidez, mas sua voz vacilou por causa do nervosismo; odiava se sentir assim perto dele.

Ela arriscou olhar a pequena pedra em seu anel e ela não estava mais roxa, mas um misto de preto com verde escuro. Frustrou-se por não saber o que significava.

— Só queria te pedir desculpas por mais cedo e te entregar isso — ele esticou a caixinha para ela, ainda receoso.

Draco esperava ao menos um sorriso da garota, mas o rosto dela se retorceu em uma mistura de raiva e indignação quando a mesma abriu a caixa e tirou o bracelete de ouro de dentro. Era uma fina pulseira dourada em formato de cobra com minúsculos rubis no lugar dos olhos e a boca não encostava no rabo, pairando firme acima do mesmo para formar um círculo aberto.

— Isso é algum tipo de piada? — perguntou , colocando o objeto de volta na caixa. Seus olhos estavam marejados. — Como você descobriu?
— Descobri o que? Do que está falando, ? — ele perguntou com confusão sincera em sua voz. — Eu juro que não é nenhuma brincadeira. Veja, a cobra é o animal da minha casa e o dourado e o vermelho são a cor da sua. É apenas isso, achei que seria legal ter algo relacionado a nós dois.

Ele pegou a caixinha e retirou o bracelete, mostrando que havia algo gravado na parte interna. aproximou o objeto para enxergar melhor os dizeres “The Snake & The Lion”. A garota concluiu que ele parecia não saber sobre o que acontecera com sua mãe no passado e sobre seu ódio por cobras, não tinha como ele ter descoberto já que nem seus melhores amigos sabiam daquilo. Pela primeira vez, algo relacionado ao animal não lhe causou tanta raiva, na verdade ela quis usar o acessório no mesmo instante. E como se tivesse lido seus pensamentos, Draco segurou seu braço, causando-lhe arrepios bons no local, e colocou a pulseira em seu pulso. Em uma mão estava o anel de Cedrico e na outra, o bracelete de Draco. Ela admirou ambos, sentindo seu coração apertar. Tentou por fim dar seu melhor sorriso e agradecer o garoto.

— Obrigada. Ela é linda, de verdade. Mas eu não comprei nada para você.
— Não esperava que comprasse — ele falou com um sorriso satisfeito e apontou um dedo para a garota. — Mas você fica me devendo.

riu, distraída, mas logo ficou séria ao ver o namorado se aproximar atrás de Draco que também se virou e seguiu o olhar da garota. É claro que o estraga prazeres iria chegar justo agora. Diggory se aproximou com um sorriso no rosto, se esforçou para ignorar a presença do sonserino e foi direto dar um beijo em sua namorada.
— Você está incrível — ele falou com os lábios próximos ao seu ouvido. — Queria muito tirar esses seu vestido agora mesmo, mas estamos um pouco atrasados.

soltou uma risada envergonhada e se despediu de Draco, seguindo com o namorado pelo caminho até o salão. Cedrico reparou no objeto dourado no braço que segurava firme sua mão.

— Bracelete bonito — ele falou, levantando as mãos entrelaçadas. — Mas achei que tinha dito que não gostava de cobras.
— E não gosto, mas não é uma cobra de verdade — a garota respondeu, o rosto corando instantaneamente. — Foi presente do Draco.

Ced parou de andar quando se aproximaram dos outros campeões e seus acompanhantes. Ele franziu o cenho em clara confusão e certa raiva, sabia que ele tinha toda razão de se sentir assim. Afinal, até há alguns minutos atrás, ela mesma estava com raiva de Malfoy, e quem ia gostar de ver a namorada ganhar um presente do cara que odeia? Mas Diggory não disse nada pois McGonagall se apressou em colocá-los em primeiro na fila, preparando os Campeões para uma entrada especial. viu Draco passar pela porta principal e podia jurar que um sorriso enorme estampava seu rosto pálido quando seus olhares se cruzaram por breves segundos. A garota se recompôs e arriscou uma olhada para trás, encontrando Hermione com um largo sorriso sincero, o braço entrelaçado com o de Vítor Krum como se fizessem isso há anos, e não pôde evitar retribuir o sorriso quando começaram a tocar sons de trombetas e a voz de Dumbledore se ouviu alta e clara, anunciando a entrada dos quatro Campeões. Guiados pela Professora Minerva, as quatro duplas caminharam elegantemente no espaço que os alunos abriram no meio do Salão decorado especialmente para o evento com neve falsa, esculturas de gelo e cada detalhe era tão branco que deixava a neve que caía lá fora com inveja.
Cada Campeão com sua respectiva companhia se posicionou onde a McGonagall indicou, e as trombetas se transformaram em uma melodia calma e elegante, indicando que era o momento da dança deles. Como haviam ensaiado há semanas, Cedrico a conduziu pelo círculo aberto com graça e calma, o sorriso em seu rosto era encantador e aquecia o ambiente mesmo naquela noite fria. Pegando-a de surpresa, o lufano a levantou no ar e rodopiou, arrancando risadas da garota.

— Eu amo absurdamente a sua risada! — ele falou quando a colocou no chão.
— Ah, você tinha que me ouvir cantando! — ela brincou, ainda rindo. — Você ia se apaixonar por mim.
— Mais!? — Diggory respondeu, dando um sorriso torto. Em resposta, ela o beijou, retribuindo toda aquela paixão.

Uma salva de palmas indicou o fim da primeira dança, e finalmente reparou que vários outros pares haviam se juntado à eles, inclusive Dumbledore com Minerva, e Hagrid com Madame Maxime. O casal continuou dançando com animação com Hermione e Krum, dessa vez as músicas eram agitadas e alegres, tirando o fôlego dos alunos. Enquanto Cedrico foi buscar algo para eles beberem, foi até Harry e Rony que ainda a olhava com os olhos brilhando, parecendo ter esquecido totalmente a garota com quem veio.

— Parvati, Padma, vocês estão lindas! — falou com simpatia, conseguindo tirar um sorriso dos rostos carrancudos das duas.
— Obrigada, — Padma disse com um sorriso sincero, mas levemente triste. — Que bom que alguém reparou.

não pôde deixar de reparar no olhar irritado que a garota lançou para Rony, e Parvarti fez o mesmo com Harry. Os dois bananas não conseguiam valorizar duas garotas incríveis mesmo estando ao lado delas, ela pensou ao ver a decepção no rosto dos quatro indivíduos. Quando seu par chegou com as bebidas, teve uma ideia para ajudar as colegas.

— Essa música é muito boa! — ela exclamou quando a banda começou a tocar mais uma música agitada. — Acho que vocês deveriam ir dançar!
— Não, valeu — Harry murmurou com os olhos fixos em Cho Chang no meio da pista de dança com seu par.
— Podem ir vocês, vou ficar aqui — complementou Rony, olhando com nojo para Hermione e Krum. — Acredita nela? Como ela pôde esconder isso da gente?

As gêmeas bufaram alto e se levantaram, indo juntas para a pista de dança onde encontraram outros amigos. deixou o copo na mesa e deu um tapa na cabeça dos dois amigos, olhando-os com repreensão e arrancando uma risada de Cedrico que disfarçou ao beber seu champanhe.

— Aí! Por quê isso? — Harry a questionou, esfregando o local onde recebeu o tapa. Ron imitou o gesto do amigo, ficando muito vermelho de irritação.
— Vocês são dois idiotas, estão deixando de lado duas garotas lindas e incríveis só porque não são as garotas que vocês queriam trazer! — ela bronqueou, cruzando os braços. — Vão mesmo ficar ai sentados com cara de bunda enquanto perdem uma festança?
— Vamos — responderam em uníssono.
— Ah, ótimo — Harry murmurou com os olhos irritados e focalizados em algo acima do ombro da amiga. Dessa vez ela não se surpreendeu com a figura de Draco parado atrás dela com seu típico sorriso presunçoso no rosto.

— O que quer agora, Malfoy? — Cedrico falou, sem cerimônias. Os dois amigos também se levantaram, ambos se postando ao lado da garota com os braços cruzados, prontos para defendê-la.
— Uh, calma! — disse Draco com uma risada carregada de ironia e levantando as mãos em rendição. — Vim em missão de paz, ok? Aliás, ótima dança, vocês dois foram ótimos.

franziu o cenho, confusa com a abordagem e principalmente com o elogio.

— Diga logo o que quer, Draco, assim poderemos voltar a dançar para você poder admirar mais — ela falou com um sorriso irônico no rosto e cruzou os braços. Cedrico deu seu melhor sorriso orgulhoso ao ouvir a resposta da namorada.
— Essa é a questão — ele apontou o dedo comprido e branco na direção da garota. — Ver vocês dançarem me deu vontade de dançar com você e como está me devendo um presente, gostaria de saber se você aceita dançar comigo?

Algumas pessoas olharam na direção do grupo quando soltou uma risada alta. Era difícil acreditar que Draco Malfoy estivesse admitindo uma coisa dessas, ainda mais na frente do namorado dela e de Potter e Weasley, seus inimigos. Era muita ousadia dele, para dizer o mínimo, e muita loucura dela na verdade querer aceitar

— Não entendi a graça — o garoto respondeu com seriedade, agora ele quem cruzara os braços.
— Não sei se você percebeu, Malfoy — disse Cedrico —, mas está comigo. Cadê a Pansy? Por que não dança com ela?
— Parkinson está comendo ou algo assim e eu já dancei com ela — o sonserino respondeu com um revirar dos olhos. — Vamos, só uma dança e eu a devolvo para você.

se sentiu extremamente incomodada, pois ambos falavam dela como se fosse um mero objeto que pudesse ser emprestado e devolvido ao dono; e ela não tinha um dono. E com esse pensamento ela decidiu aceitar o convite, mesmo com protestos do seu namorado e dos amigos.

Uma dança, Malfoy. Apenas uma dança.
— Uma dança — ele concordou com um sorriso largo e estendeu a mão que foi segurada pela mão delicada de . — Obrigada, Diggory. Potter e Weasley, foi um desprazer vê-los, como sempre.

Cedrico se afastou do grupo, andando contrariado até a mesa de bebidas onde encontrou Pansy que também observava tudo com cara de poucos amigos. Ah, ela diria poucas e boas para o amigo que não cansava de se humilhar para a intercambista.

[AVISO: dê play na música!]

A banda que à poucos segundos tocava uma música animada e dançante, começou a tocar uma melodia lenta e calma para a felicidade de Malfoy e preocupação de .

I am not the only traveler
Who has not repaid his debt
I've been searching for a trail to follow again
Take me back to the night we me

Ela lançou um breve olhar para Cedrico antes de Draco colocar a mão firme em sua lombar e com a outra, continuava segurando sua mão. Os dois finalmente se olharam, começando a balançar de um lado para o outro no ritmo tranquilo da canção. A letra era linda e ridiculamente compatível com o que sentiam um pelo outro. Era como se uma nova partida do jogo de quem sustentava o olhar por mais tempo tivesse começado e agora o desafio não parecia tão difícil assim. Mas o sonserino desistiu do jogo apenas para aproximar sua boca do ouvido da garota.

And then I can tell myself
What the hell I'm supposed to do?
And then I can tell myself
Not to ride along with you

— Você fica insuportavelmente linda de verde  — ele sussurrou, fazendo os olhos dela se fecharem na hora que um arrepio percorreu seu corpo. — Mas você deve ficar mais linda ainda sem esse vestido.

I had all and then most of you
Some and now none of you
Take me back to the night we met
I don't know what I'm supposed to do
Haunted by the ghost of you
Oh, take me back to the night we met

não respondeu, apenas continuou dançando apesar de seu corpo ter perdido um pouco os sentidos depois de ouvir aquelas palavras. Com uma precisão invejável, Draco a jogou com delicadeza para trás, a pegando de surpresa, moveu seu corpo lentamente em um meio círculo e a trouxe de volta. Ela estava ofegante e assustada, mas de uma forma maravilhosa, quando voltou a segurar seus ombros. Seus lábios entreabertos e pintados de vermelho sangue eram perigosamente convidativos e ele teve que fazer um esforço enorme para não beijá-la ali mesmo, na frente de todos. Maldita ! Por que raios tinha que ser tão irresistível para ele? Por que raios tinha que estar com o lufano? Era uma tortura que ele apenas queria que tivesse um fim. Com os dedos trêmulos, Draco soltou a mão dela — que agora foi parar em seu outro ombro — e tocou seu pescoço, subindo os dedos até seu maxilar e depois descendo até sua clavícula, contornando seu colar; observou com atenção os pelos da garota se arrepiarem com o toque e voltou a sustentar seu olhar, como se lembrasse da partida que estavam jogando.

— Por que está fazendo isso, Malfoy? — ela murmurou baixo, seu rosto era uma mistura de confusão, desejo e… tristeza? Ele não soube dizer, mas o chateou a forma como ela o olhava.

Draco Malfoy podia ser um babaca, mas jamais quis de forma alguma causar-lhe tristeza ou confusão. Desejo sim, com toda certeza! Mas ele sabia que os outros dois sentimentos eram tão culpa dela quanto dele, pois ela era teimosa demais para admitir o que sentia por ele. É verdade que ele era igualmente teimoso e não admitira totalmente seus sentimentos por ela, mas pelo menos estava dando os primeiros passos, certo?

— Isso o quê? — ele tentou desconversar sem muito sucesso.
— Uma hora você é um idiota e na outra você faz… Isso aqui que está fazendo! O presente, a dança… Qual é a sua, Draco?
— Eu sinto muito pelo que fiz — disse Draco, pegando a garota de surpresa pela sinceridade das palavras. — Não foi minha intenção te magoar.
— Mas foi sua intenção magoar meus amigos — ela retrucou. — E você tem que entender que se você os magoa, automaticamente me atinge. Sei bem que sua rivalidade com Harry e seu preconceito idiota com Ron e Mione vem de muito tempo, mas também sei que você pode ser melhor que isso se quiser.
— Às vezes eu fico impressionado com a forma como me vê, — ele confessou com um sorriso triste no rosto, seus dedos ainda brincavam na pele exposta do seu pescoço. — Por que você vê algo de bom em mim quando eu já provei diversas vezes não ser alguém bom?
— Sinceramente? — ela riu, balançando a cabeça. — Eu acho que se você fosse fazer algo realmente ruim comigo, já teria feito. Você tem a faca e o queijo na mão, mas não fez absolutamente nada com ambos.

When the night was full of terrors
And your eyes were filled with tears
When you had not touched me yet
Oh, take me back to the night we met

Os dois ficaram em silêncio. Draco sabia exatamente sobre o que ela estava falando e também sabia que a garota estava certa: ele e Snape sabiam do seu segredo e ao invés de entregá-la, eles esconderam isso de seu pai. O motivo de Severo ela não sabia, mas o dele era óbvio. Se apaixonara pela intercambista brasileira mestiça, e não podia entregar ela de bandeja para quem quer que fosse machucá-la.

— E é realmente uma pena que você não consiga se ver assim, Malfoy.

I had all and then most of you
Some and now none of you
Take me back to the night we met
I don't know what I'm supposed to do
Haunted by the ghost of you
Take me back to the night we met

A mão do sonserino voltou a tocar seu rosto, como se fosse difícil demais mantê-la longe daquela pele macia. A música finalmente — e infelizmente — acabou e um ritmo um pouco mais animado começou a tocar. Como se um despertador a tivesse acordado, pigarreou e se afastou do garoto como se o mesmo pegasse fogo e a estivesse queimando.

— Acabou a dança — ela murmurou, olhando em volta à procura de Cedrico.
— Não foi tão ruim, não é? — Draco sorria forçado enquanto se afastava com ela para fora da pista de dança. Avistou Pansy dançando animada com outras garotas, aparentemente sem dar a mínima para ele.
— Está vendo Ced por aí? — ignorou sua pergunta e olhou para todos os cantos, não encontrando seu par.

Malfoy bufou enquanto pegava uma taça de espumante, sem vontade alguma de ajudar a garota em sua procura. Para seu desagrado, Hermione se aproximou, puxando Krum pela mão, que os cumprimentou com o seu sotaque forte. Granger mediu o sonserino da cabeça aos pés, mas voltou sua atenção para a amiga.

— Mione, você viu o Ced? Não consigo encontrá-lo.
— Ele acabou de sair — Hermione respondeu, olhando-a com preocupação. — O que aconteceu? Ele parecia bem chateado.

O rosto da intercambista ficou sem cor e se Draco achou que havia tristeza nele há alguns minutos atrás, agora ele tinha certeza absoluta. Soltando alguns palavrões em português, saiu correndo pelas enormes portas do Salão Principal e atravessou o saguão correndo, seguindo em direção à Sala Comunal da Lufa-Lufa, o som do seu salto alto ecoando pelo local a cada passo firme que ela dava. Conseguiu encontrar o namorado a poucos passos da porta, pronto para entrar na Sala.

— Ced! — ela exclamou, andando apressada em sua direção. Quase recuou quando viu a feição em seu rosto. — Por que foi embora?

O loiro soltou uma risada sem muito humor, balançando a cabeça negativamente enquanto olhava para o teto.

— Você está mesmo me perguntando isso!? — ele a questionou, vendo-a olhar com confusão. — Por que não volta lá para dançar de novo com o Malfoy? Sério, não o deixe esperando!

olhou incrédula para o garoto, chocando-se com o fato de o namorado estar com ciúmes. Era difícil entender isso, afinal, foi apenas uma dança! E foi exatamente isso que usou como argumento.

— Foi apenas uma dança, Ced, nada demais — a grifinória se aproximou, tentando tocar seu rosto. Mas Cedrico estava determinado em não dar brechas para a garota e segurou seu pulso antes que sua mão o tocasse. Nesse mesmo pulso estava o bracelete dourado que ganhou de Draco Malfoy, o que apenas o deixou com mais raiva.
— Não foi apenas a dança, — ele apontou para o acessório — Foi o bracelete, a guerra de neve, a forma como ele te olha e pior, a forma como você olha para ele!
— Você está delirando, Diggory…
— Estou mesmo? — ele a questionou, elevando um pouco a voz. — Ou talvez você não queira admitir que gosta do Malfoy, hein?
— Isso é loucura! Eu não gosto do Malfoy! — retrucou com raiva, mas ela mesma não acreditava em suas próprias palavras. — Eu estou com você, Cedrico
, eu não sou cego. — O lufano soltou um longo suspiro, passando as mãos pelos cabelos perfeitamente arrumados. — E eu não quero ter que lutar pelo seu coração.
— Meu coração é todo seu, Cedrico! — ela exclamou, sentindo as lágrimas chegarem aos seus olhos. Novamente, não acreditou muito no que disse.
— Para o seu próprio bem, pare de mentir para si mesma! — ele gritou, ofegante. o olhou assustada, nunca viu o namorado falar assim antes, principalmente com ela. — Eu estou cansado, é muita coisa para minha cabeça e eu não preciso de mais essa merda para me preocupar.
Merda!? É isso que pensa que nosso namoro é? — Agora a garota falava tão alto quanto ele.
— Não, não foi isso que eu quis dizer, mas que porra! — ele retrucou com raiva, dando um soco na parede ao lado da porta da Sala Comunal.

pulou de susto, olhando-o assustada. Ele encostou a cabeça nessa mesma parede, tentando controlar a respiração, e a garota deu um passo para frente, tocando o braço dele com receio, as lágrimas caindo livres pelo rosto de ambos.

— Eu nunca te vi assim antes — ela murmurou com a voz carregada de preocupação. — Eu não quero que se torne essa pessoa por minha causa, Ced.

Ele continuou com os olhos fechados e não respondeu nada, mas os soluços dele eram audíveis. Cedrico virou a cabeça em sua direção e a flagrou o encarando com tristeza.

— Prometo que vou me afastar dele totalmente, vou devolver o bracelete e aquela dança foi um erro e…
— Não se preocupe com isso — Ced finalmente falou, se afastando da parede e limpando as lágrimas com raiva. — Não dá mais pra mim, .
— O quê você quer dizer? — perguntou com dúvida sincera, mas levou a mão à boca quando percebeu, observando a tristeza no rosto corado do garoto, o que ele queria dizer. — Você está… Você quer terminar comigo? É isso?

O silêncio do lufano entregou sua resposta. mordeu o lábio para evitar um grito e se segurou para não socar a mesma parede que o garoto havia socado segundos atrás. Os últimos meses, todos os momentos com Cedrico Diggory, passaram como um filme em sua cabeça. Ela tentou encontrar algum erro que poderia ter cometido com ele, mas tudo o que passava por sua cabeça eram os momentos com Draco Malfoy. Esse foi o erro.
Diggory se virou para novamente tentar as batidinhas ritmadas no segundo barril ao lado da porta da Sala Comunal de sua Casa, mas o nervosismo não o deixava completar a senha e o medo do barril explodir o vinagre caso errasse o impediu de continuar tentando.

— Diggory — a garota o chamou, fazendo-o virar novamente. O coração dele se partiu em mil pedaços ao vê-la chorando de soluçar.

Então ela começou a retirar o anel, mas ele a impediu, segurando suas mãos.

— Fique com ele — disse Cedrico. — Vai te ajudar a entender seus sentimentos.

Como um último gesto de carinho, ele depositou um beijo em sua bochecha e refez o caminho para o Salão Principal, deixando-a para trás com as lágrimas molhando seu rosto e os destroços do coração na mão. 



17 - After Yule Ball

Os saltos altos de Black ecoaram pelo castelo conforme ela voltava para o Salão, secando as lágrimas e tentando conter os soluços. Mas assim que chegou à porta, não teve coragem de atravessá-la. Todo o clima para festa se esvaiu do seu corpo, não fazia sentido algum estar lá se estava tão infeliz. Ela desceu as escadas novamente e voltou para o corredor da cozinha, sem saber muito para onde ir, e não conseguiu controlar as lágrimas; se sentou no chão e apoiou a cabeça nos joelhos, deixando que o choro viesse, molhando seu belo vestido que depois do que aconteceu, não parecia tão interessante assim.
Depois de alguns minutos, ouviu um estalo alto seguido por cochichos baixos e agudos. Ela levantou a cabeça para encontrar Dobby e outra elfa doméstica que ela ainda não conhecia. Ambos se aproximaram com receio e começaram a falar como se ela não estivesse ali.

— Winky disse que a garota estava chorando, mas Dobby não acreditou!
— Dobby não entende! — ele exclamou, olhando-a com curiosidade enquanto secava as lágrimas. — Dobby nunca viu tão triste, sempre está sorrindo!
— Nem sempre, Dobby — ela respondeu com um sorriso triste.
— Dobby sente muito, Senhora! — o elfo fez uma reverência exagerada e Winky o imitou, se desequilibrando um pouco antes de voltar correndo para a cozinha.
— Por Merlin, Dobby, senhora!? Eu não sou tão velha — ela soltou uma risada sincera, vendo os olhos da pequena criatura brilharem. — E sem reverências, eu não sou da realeza.
— Ah, mas a senhorita é uma Black! — ele exclamou, fazendo arregalar os olhos. — Não se preocupe, Dobby vai guardar o seu segredo!
— Co-como você…
— Dobby trabalhou anos com a família Malfoy, senhorita. Dobby conhece a família Black de longe! As famílias são muito próximas, ah se são!
— Eu não sou bem da família Black, Dobby. Veja, meu pai foi renegado, então acredito que eu mesma não seja bem-vinda — ela fungou e mais um sorriso triste estampou seu rosto.
— Dobby pede desculpas pela curiosidade, mas por que não está na festa? — ele a questionou com os olhos enormes, parecendo sempre estar prestes a chorar, encarando-a com curiosidade.
— Não estou com muita vontade de festejar agora — ela deu de ombros e olhou para a porta onde Winky observava a cena de longe, tendo uma ideia que lhe agradou bastante. — Dobby, posso ajudar vocês na cozinha?

O sorriso que o elfo deu foi tão largo que fez a mesma se levantar e segui-lo até o local onde trabalhavam.

Dentro da festa, as coisas não estavam melhores. Ron e Harry continuavam sentados em sua mesa, sozinhos. Parvati e Padma desistiram deles há um bom tempo e agora dançavam animadas com seus amigos. Gina e Neville estavam se divertindo tanto que pareciam dizer à Potter e Weasley o quão terrivelmente equivocados estavam sobre o colega de casa quando duvidaram da capacidade dele de arranjar um par ou de não conseguir dançar por ser tão desastrado. Hermione também se divertia com Krum que visivelmente tinha olhos apenas para a garota — apesar da insistência da maioria das alunas presentes —, mas ela estava estranhamente inquieta e não era a única. Draco Malfoy não tirava os olhos da entrada, esperando que sua amada voltasse, mesmo que fosse com Cedrico. Ele sentia que algo estava errado e sabia que tinha grande parte de culpa nisso.
Porém, se surpreendeu ao ver Granger se aproximar aflita, dessa vez sem o seu par a seguindo fielmente.

— A ainda não voltou — ela afirmou como se ele não fosse capaz de perceber isso sozinho. — Você sabe que se algo acontecer entre eles, a culpa é toda sua, não é?

O garoto revirou os olhos antes de responder:

— Eu só dancei com ela, não tenho culpa de nada.
— Você não acredita realmente nisso — ela fez mais uma afirmação. — Vou procurá-la e para o seu bem, Malfoy, espero que nada tenha acontecido.

Hermione não havia dado nem um passo quando Cedrico Diggory cruzou as portas do Salão e seguiu determinado para a mesa de bebidas, virando uma taça de champanhe inteira de uma vez. Para desespero de Malfoy e de Granger, ele estava sozinho. Os dois, em uma rara e breve união, foram até o lufano e o questionaram sobre o paradeiro da amiga. Os olhos dele faiscaram na direção de Malfoy, sua mandíbula travada indicava o nível de sua raiva. Não era nada comum vê-lo dessa forma, mas o fato de estar perdendo a garota que ama para alguém como Draco Malfoy fazia seu sangue esquentar.

— Ced, onde ela está? — Hermione repetiu a pergunta, olhando-o com preocupação.
— Eu não sei — ele respondeu entre dentes. — Não é mais problema meu.
— Que merda você quer dizer com não é mais problema seu? — Malfoy vociferou com raiva e cerrou os punhos, se aproximando do garoto que sustentou o olhar sem mover um músculo.
— Você terminou com ela? — Hermione perguntou com a voz esganiçada. — No Natal?
— Agora tem que escolher data para terminar com alguém? — Cedrico perguntou com ironia, desviando o rosto para encarar a grifinória.

Aquela frase, aquela simples frase, foi a gota d’água para Draco. Sem pensar muito, um de seus punhos cerrados acertou o rosto de Cedrico bem no nariz, os anéis fizeram com que sua mão também doesse, mas a sensação foi muito boa. Distraído com a adrenalina, Malfoy não percebeu quando Diggory desferiu um soco em seu rosto, lhe acertando em cheio na boca, depois deu mais um que acertou seu supercílio antes de ser segurado por Krum e seus amigos da Lufa-Lufa.
Com uma rapidez impressionante, os demais alunos se aglomeraram em volta dos dois e os professores tentavam organizar a bagunça e entender sem muito sucesso o que havia acontecido. Várias histórias distorcidas saíam apressadas da boca dos alunos, mas Draco ficou em silêncio, sentindo que seu rosto estava quente e molhado e ao tocar o machucado na testa, percebeu que escorria sangue.

— Vocês dois! — vociferou McGonagall. — Para fora, agora! Madame Pomfrey, preciso da sua ajuda!

A professora puxou os dois pelo braço e os empurrou para fora, guiando-os até a Ala Hospitalar e sendo seguida por Madame Papoula Pomfrey que resmungava irritada pelo fato de não ter paz nem no Natal. Os dois alunos ficaram quietos enquanto ouviam a consequência de seus atos: menos 50 pontos para cada Casa e uma semana de detenção depois do recesso. Draco achou justo, e faria tudo de novo com grande prazer apenas pela satisfação de socar Cedrico Diggory.
Ao chegarem à Ala Hospitalar, o primeiro atendido foi Draco por estar mais machucado. O sonserino nunca viu o colega da outra casa com tanta raiva, mas agora ele parecia estar apenas triste. Há algumas camas de distância, os ombros do lufano balançavam um pouco, entregando seu choro. Draco não sentiu dó, afinal ele fez sofrer e um soco não pagava nem um por cento daquilo.
Quando finalmente foi liberado, Draco teve que se dirigir à cozinha pois Madame Pomfrey o orientou a colocar gelo nos machucados (e todo o estoque da mulher seria para o Campeão de Hogwarts). Ele nem se incomodou com a preferência, mas resmungou audivelmente que seu pai saberia sobre esse descaso antes de sair do local.

Assim que entrou na cozinha, todos os elfos ali presentes pararam o que estavam fazendo e a olharam deslumbrados e chocados. Tirando a maquiagem levemente borrada, sua aparência ainda estava impecável e era visível a admiração nos olhos das pequenas criaturas. Seu rosto corou na mesma hora e Dobby a encaminhou para uma mesa que era bem menor que uma comum, com cadeiras que pareciam ter sido feitas para crianças. Mas ela se sentou mesmo assim e todos voltaram a trabalhar.

— Quero ajudar em algo, Dobby — ela observou em volta os elfos fazendo suas funções animados e felizes.
não precisa fazer nada, são os elfos que trabalham aqui! — Dobby respondeu, mas parecia eufórico e lisonjeado com a oferta.
— Eu insisto! Preciso distrair um pouco a cabeça — ela falou e logo observou que a mesa estava repleta de cenouras, metade delas descascadas e picadas e a outra metade não. — Posso terminar de picar. Tem faca?

O elfo prontamente foi buscar o utensílio e com sua varinha, fez um movimento onde uma faca descascava sozinha as cenouras e ela as cortava manualmente. Dobby se sentou com ela e contou que os legumes eram para os cupcakes de cenoura com hidromel que estavam acabando rápido demais, obrigando-os a preparar cada vez mais unidades. não deixou de pensar que só Rony e Harry devem ter devorado uns cinquenta bolinhos desses.

— Dobby está muito feliz em ter aqui! — O elfo exclamou, piscando freneticamente seus olhos enormes enquanto separava as cenouras boas para que a aluna as descascasse.
— Também estou feliz em estar aqui, Dobby. Está sendo mais divertido do que eu pensei — ela riu da cara de felicidade que o pequeno amigo fez.

Enquanto Dobby separava as cenouras, eles conversavam sobre Harry Potter — assunto favorito do elfo — e o quão preocupado o pequeno estava com o bruxo. Após alguns segundos em silêncio, resolveu matar uma curiosidade que a incomodava há algum tempo.

— Dobby, você disse que trabalhou para a família Malfoy.  Lúcio e Narcisa eram seus donos?

O elfo pareceu tremer ao ouvir a pergunta e a bruxa, sentindo pena, se arrependeu na mesma hora.

— D-dobby era sim elfo doméstico d-da família Malfoy — a criatura respondeu, engolindo em seco. — Dobby é muito grato à Harry Potter por ter libertado ele.
— Lá era tão ruim assim? — ela perguntou, seu coração se apertou de dó ao ver o elfo com lágrimas nos seus grandes olhos azuis.
— Dobby não pode falar sobre os Malfoy, não pode! Dobby mau!  — O elfo começou a bater forte com uma cenoura na própria cabeça, assustando que logo agarrou seus pequenos braços e o fez parar.
— Dobby, não faz isso! — ela exclamou, tirando o legume da mão do elfo e colocando longe. — Está bem, não precisa falar deles! Está tudo bem…
— Dobby pede desculpas à , perdoa Dobby? — ele choramingou, secando as lágrimas na fronha que usava como roupa.
— É claro que eu perdoo, Dobby — ela falou com compreensão na voz. — Eu peço desculpas, não queria que você se machucasse. Se não pode falar sobre eles, então não…

foi interrompida por um barulho alto vindo da porta. Com um estrondo, ela se abriu e bateu com força na parede, assustando os elfos que trabalhavam ali perto. Draco Malfoy estava parado no meio da porta, sem ter certeza se entrava ou saia correndo. Se surpreendeu ao encontrar , e andou de forma determinada até ela, a raiva presente em cada traço do seu rosto se suavizou um pouco quando seus olhos se cruzaram. Traços esses que estavam marcados por um grande roxo no olho esquerdo e dois cortes pequenos, um no lábio inferior e outro abaixo da sobrancelha. Ele se sentou na pequena cadeira ao lado da garota, sem dizer uma palavra, mas ficou observando-a de relance, tentando entender se ela estava bem ou não. Dobby tremeu quando o garoto se aproximou, e se encolheu ao lado de que o abraçou para fazê-lo se sentir mais seguro. o olhava sem entender nada, esperando uma boa explicação para a invasão e os machucados.

— Vai buscar gelo para mim, elfo inútil — o loiro rosnou, fazendo o elfo se encolher mais ainda.
— Não fale assim com o Dobby, Malfoy! — retrucou, ainda abraçando o elfo.
— Dobby? — ele se questionou, estreitando os olhos para enxergá-lo melhor. — Está trabalhando aqui agora?
— Dobby não é mais elfo da família Malfoy, Dobby não te obedece! — Era a primeira vez que os dois bruxos o viam tão bravo e a garota sentiu muito orgulho dele.
— Eu pego o gelo, Dobby. Por que não vai ver se alguém precisa da sua ajuda? — ela falou com afeição, fazendo com que o elfo se acalmasse na mesma hora.

se levantou, fuzilando Draco com os olhos, e se dirigiu até a geladeira velha. Encontrou um pacote de ervilhas congeladas e voltou à mesa, jogando o saco no colo do garoto.

— Valeu — ele agradeceu, colocando o saco em seu olho, parecendo instantaneamente aliviado. ainda o encarava incrédula, esperando para ver quanto tempo ele ficaria sem dar nenhuma explicação. — O que é, ?
— Você entra aqui todo agressivo, com um olho roxo, gritando com Dobby sem motivo e me pergunta o quê foi? — ela o questionou, irritada. — Que merda aconteceu com você?

Draco ponderou por longos segundos se deveria falar algo ou só ir embora, mas sabia que se devia uma explicação para alguém, esse alguém era . Também ponderou se deveria perguntar sobre Diggory, mas o lápis de olho borrado nos olhos da garota o fez perceber que talvez não fosse a melhor hora.

— Eu fui te defender.  — Seu murmuro foi quase inaudível. — Quando Diggory voltou, eu e Granger fomos perguntar onde você estava...
— Então Hermione te socou de novo? — A garota começou a gargalhar, chamando a atenção de todos os elfos presentes.
— Não seja ridícula, — Draco respondeu com impaciência. — Seu namoradinho não gostou de eu ter me importado com você e quis tirar satisfação. Ficou me provocando, falando que você não era mais problema dele.
— Espera, está me dizendo que Cedrico fez isso em você? — ela perguntou espantada. — Meu Cedrico?
— Tem outro!? Sim, foi o seu Cedrico — ele cuspiu as últimas palavras como se fossem as piores comidas que já provou na vida. Se incomodou muito com a forma como a garota se referiu a ele, mesmo tendo terminado. — Bom, na verdade ele revidou, eu o soquei primeiro.
— Malfoy! — exclamou em espanto, ficando cada vez mais chocada com o que ouvia. — Por que raios você fez isso?
— Porque não gostei do que ele fez com a minha garota! — ele gritou, batendo com o saco de ervilhas na mesa, fazendo um estrondo alto.

A cozinha ficou em um silêncio completo e só então os dois viram que todos os elfos observavam a cena e ouviam tudo com atenção. Como se percebessem que estavam fazendo algo errado, todos voltaram ao trabalho como se nada tivesse acontecido. voltou a olhar para Draco que a encarava com certa raiva, mas sabia que ela não era o motivo para tal sentimento.

— Não sou sua garota, Malfoy… — a frase saiu como um sussurro ridículo dos lábios da bruxa que estava vermelha de vergonha.
— Eu sei — ele falou ríspido. — E isso dói mais que esse maldito olho roxo.

Draco fez uma careta, como se de repente lembrasse do machucado. arrastou sua cadeira para mais perto, a fim de examinar melhor os cortes no rosto dele. Não pareciam tão ruins assim e ela imaginou que ele já tivesse passado pelas mãos da Madame Pomfrey. Então ela pegou novamente as ervilhas congeladas e encostou no hematoma, ouvindo-o gemer com a dor, mas ele não recuou. Malfoy colocou a mão por cima da mão dela e se surpreendeu ao ver que ela não a retirou. O coração dele estava acelerado como sempre ficava quando estava ao lado da garota. Odiava quando reagia assim, mas adorava a sensação de estar vivo. Era isso que o fazia sentir: vivo. Os dois ficaram se encarando em silêncio, com medo de que qualquer ruído entre eles pudesse estragar o momento.

— Por que não está brava? — Draco finalmente quebrou o silêncio.
— Quem disse que não estou!? — respondeu, seu maxilar ficando um pouco tenso. — Mas ele também mereceu. Faço de tudo para ninguém sair machucado nessa história, mas vocês não colaboram!
— Eu estava só tentando te ajudar.
— Eu sei e agradeço por isso — ela retrucou, deixando escapar um sorriso. — Mas não quero ver você, Cedrico ou Rony brigando novamente, está bem?
— Com o Weasley eu não prometo… — ela apertou com um pouco mais de força o saco de ervilhas contra seu rosto. — Aí, caralho! Está bem, está bem!
— Promete? — ela falou com firmeza, mas suavizando o aperto em sua mão.
— Eu prometo, . Você sabe muito bem que não consigo negar a um pedido seu.
— Não é um pedido, Malfoy, é uma ordem. E isso serve para os outros dois. Se querem me ter em suas vidas, então terão que se comportar.
— Ok, chefe, entendido — o garoto brincou, roubando uma risada da bruxa.

Draco retribuiu os cuidados da amiga ajudando a cortar as cenouras. Não queria admitir para si mesmo (e muito menos para ) o quão divertido estava sendo. Até mesmo Dobby, ainda assustado, aceitou ficar perto dos dois. O elfo achou importante ficar ao lado da garota para protegê-la, mas não falou nada disso em voz alta.
Uma chateação tomou conta dos três quando repararam que não precisavam fazer mais nada pois a festa já estava se encaminhando para o fim. Levantando relutantes, os dois caminharam para a porta acompanhados pelo pequeno companheiro de orelhas enormes.

— Dobby agradece à ajuda em nome de todos os elfos — ele fez uma reverência e no mesmo instante, um barulho de vidro caindo preencheu o silêncio.

Os três olharam assustados para o fundo da cozinha onde uma Winky claramente bêbada estava caída no meio de várias garrafas de cerveja amanteigada.

— Ah, não — resmungou Dobby, apertando a barra da fronha com angústia. — Winky está fazendo de novo!
— Ela está bêbada com cerveja amanteigada? — Draco riu da cena mas parou quando lhe lançou um olhar reprovador.
— Winky vai acabar com as bebidas da cozinha! — Dobby esganiçou-se, agora apertava as orelhas em aflição. — Dobby tem que ir!

Ele saiu correndo em direção a Winky e começou a ajudá-la. sorriu ao ver a cena antes de fechar a porta. Os dois ficaram parados, sem saber muito o que fazer.

— Vamos voltar para a festa? — ela falou e ele concordou, caminhando com ela até a escadaria que levava ao Salão.

Entretanto, Draco parou no pé da escada, sem vontade de voltar à festa onde ficariam encarando e enchendo de perguntas; isso se der sorte de não encontrar Diggory de novo e levar mais um soco na cara, seu olho ainda doía toda vez que piscava. parou alguns passos a frente e olhou para ele, questionando-o em silêncio.

— Pode ir, acho que a noite acabou para mim.

sorriu com certa tristeza e se aproximou dele, lhe dando um breve abraço antes de subir as escadas correndo. Mas Draco a viu hesitar quando chegou ao alto, longos segundos se passaram em que ela não moveu um músculo. O garoto colocou as mãos no bolso e suspirou, subindo lentamente os degraus até parar do seu lado, observando-a engolir em seco e seu pequeno queixo tremer na tentativa de segurar o choro. Odiava vê-la assim, tão vulnerável; ele preferia a que gritava com o Snape ou apontava a varinha para o seu pescoço.
Receoso, ele tocou seu ombro, sentindo-a estremecer contra sua pele.

— Não está querendo voltar para a festa, não é? — ele perguntou e ela assentiu, olhando chateada para as grandes portas por onde uma aluna da Lufa-Lufa passou aos risos com um corvino. — Quer ir para a sua comunal?

respirou fundo e negou, passando as mãos pelos braços cobertos por um fino lenço.

— Está afim de ver uma vista bem legal?

A brasileira o encarou com a testa franzida, sentindo-se confusa ao ver sua mão estendida para ela. Uma voz em seu interior alertava o quão perigoso e errado aquilo era, afinal, Cedrico terminou com ela exatamente por causa de Draco. Entretanto, sua mão formigou em ansiedade para tocar a dele, curiosa para saber onde o garoto a levaria. percebeu que ele não desistiria tão cedo, poderia passar a noite toda ali, com a mão estendida, até ela aceitar. Então, ela aceitou, e dessa vez ele não conseguiu conter um sorriso vitorioso.
Draco a guiou pelas escadas e corredores, subindo cada vez mais alto até chegar na Torre de Astronomia, uma das mais altas do castelo. esteve apenas uma vez naquele lugar, em um horário onde os raios de Sol aqueciam todo o ambiente, então sentiu um arrepio passar por seu corpo quando a brisa gelada lhe atingiu. Sem soltar sua mão, Malfoy a fez subir mais uma escada em espiral para alcançarem o telescópio. A garota finalmente soltou sua mão e caminhou até a enorme janela aberta por onde entrava o vento frio, se segurando no parapeito de ferro. A vista era realmente de tirar o fôlego, a neve branca pintando o jardim, a Floresta Proíbida e o Lago Negro era tão bonita quanto o Sol da manhã iluminando tudo. A Lua estava majestosa essa noite, enorme e brilhante atrás de algumas nuvens passageiras. A neve caía bem fraca, era quase possível contar cada floco que passava na sua frente. Ela não conteve uma exclamação, encantada, ao ver tudo aquilo. Draco se aproximou dela, parando ao seu lado e admirando a Lua. Ele viu a garota estremecer e passar as mãos nos braços, então começou a tirar seu paletó, fazendo-a o olhar confusa.

— O que está fazendo? — ela o questionou.

Malfoy a ignorou e colocou o paletó em seus ombros. Ela sorriu leve e se aconchegou dentro da roupa, murmurando um "obrigado" quase inaudível.

— Acho que nunca vou me acostumar com a neve — ela falou, esticando o braço para fora para tentar pegar alguns flocos. Quando puxou sua mão de volta, observou sorrindo os flocos derreterem em sua pele quente. — Nem com a beleza desse lugar.
— Você deve sentir muita falta do Brasil, não é? Aqui é muito diferente — ele falou, fazendo o mesmo que ela e sentindo os flocos gelarem sua mão.
— Sinto e não sinto — ela respondeu, dando risada ao ver a expressão confusa no rosto do amigo. — Eu sinto falta do clima, das pessoas, dos poucos amigos que eu tinha e da minha família por parte de mãe, apesar de eles não gostarem tanto assim de mim. Mas não sinto vontade alguma de voltar, parece que minha vida inteira está aqui agora.
— Por que eles não gostam? — O garoto perguntou confuso, se virando de frente para ela. respirou fundo, seus olhos ainda fixos na neve.
— Porque minha mãe se casou com um bruxo e isso, para as sereias, é uma grande ofensa — ela respondeu pensativa. — Elas aceitariam um homem comum, como meu avô... um sereiano de outro lugar, talvez. Céus, elas aceitariam até um boto!

Draco levantou as sobrancelhas, genuinamente impressionado e chocado.

— Mas nunca um bruxo — ela continuou, seus ombros caindo conforme ela contava a história. — Elas me tratavam bem até a minha mãe morrer e eu descobrir que ao invés de sereia, eu era uma bruxa. Minha própria avó disse que eu não era bem-vinda à parte do rio onde eles vivem.
— Eu sinto muito por isso — Draco falou, apertando a mão dela que o olhou um tanto irritada.
— Sente mesmo, Draco? — ela o questionou, deixando-o confuso. — Porque isso é exatamente o que você e sua família fazem.
— O quê!? A gente não... — ele se interrompeu quando a mesma levantou uma sobrancelha e cruzou os braços, desafiando-o a discordar. Mas ele não o fez. — É, tem razão. Sinto muito por isso também.

o olhou surpresa, definitivamente não esperava por essa resposta. Ela limpou a garganta e assentiu, voltando a olhar o céu, ignorando sua desconfiança. Ela apoiou as mãos no ferro novamente e o brilho dourado do bracelete chamou a atenção do garoto. Draco puxou sua mão e começou a brincar com a jóia, perdido em pensamentos.

— O pior de tudo — ela continuou. — É saber que se minha avó por parte de pai estivesse viva, provavelmente também me expulsaria da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black.

respirou fundo pela sabe-se lá qual vez naquela noite, em mais uma tentativa de não chorar, sem perceber o que tinha acabado de confessar para o garoto. Sentia-se tão livre em falar com Malfoy, ele a deixava confortável para tagarelar sobre seus problemas e suas angústias e ela nem entendia o porquê. Mas Draco percebeu o que ela disse e parou de mexer em seu bracelete para fitá-la e tentar perceber alguma reação ao que ela tinha acabado de falar. Ela acabara de assumir que era filha de Sirius Black, quase que com todas as palavras, e parecia não ter percebido.

— Vem aqui — ele falou, puxando a amiga até o telescópio.

Ele espiou a bússola que ficava ao lado e posicionou o telescópio para o Norte, depois olhou pelo ocular e movimentou o instrumento até encontrar o que desejava. O garoto deu um passo para o lado e a convidou para olhar. Um misto de curiosidade e desconfiança lutava dentro de , mas ela se posicionou onde ele indicou e olhou pela ocular. Ela demorou um pouco para entender o que olhava.

— Está vendo aquelas dez estrelas formando uma comprida linha? — ele perguntou perto ao seu ouvido. O arrepio que sentiu nada teve a ver com o frio, e ela assentiu. — Esse seria o corpo do dragão, e ele se junta com mais quatro no final, consegue ver?

Ela assentiu de novo, sabendo exatamente que constelação era aquela.

— É a constelação Draco — ela disse, observando o garoto sorrir convencido. Ela não conseguiu conter o próprio sorriso.
— Agora com licença — ele pediu, se posicionando novamente no instrumento.

O sonserino o moveu apenas um pouco para baixo e para a esquerda até encontrar a constelação Canis Majoris e se afastou, indicando para ela olhar de novo com um sorriso triunfante. riu e observou o céu pela ocular. Seu sorriso se desfez e seu corpo ficou tenso ao reconhecer quase imediatamente a estrela mais brilhante da constelação. A estrela Sirius.
se afastou do instrumento e deu alguns passos para trás, se afastando também do garoto e encostando na barra de ferro que separava o mezanino do segundo andar com o primeiro. Finalmente a ficha do que ela falou há alguns minutos atrás caiu. deu de bandeja para Draco a resposta que Lúcio Malfoy tanto queria. Seu coração acelerou e ela nunca se sentiu tão burra em toda a sua vida.

— Draco… — ela sussurrou, um nó se formando em sua garganta. — Por favor…
— Eu já sabia, você só me confirmou agora — ele falou, enfiando as mãos no bolso da calça e dando de ombros, se aproximando dela. — Mas não precisa pedir, não falarei nada. Meu pai ainda tem dúvidas se é você mesmo e eu não tenho facilitado muito as coisas, cheguei a falar que a filha do Sirius era da Corvinal e ele acreditou.

Draco soltou uma risada sem graça e percebeu que ela ainda estava tensa. Por Merlin! Como era difícil conseguir a confiança da garota! O sonserino se aproximou mais e segurou a mão dela onde tinha o bracelete que ele deu, brincando com o mesmo.

— Por quê? — ela o questionou depois de um longo tempo em silêncio. Draco levantou a cabeça, seus olhos azuis pareciam escuros demais.
— Porque sei o que meu pai é capaz de fazer e não quero que ele te machuque de novo — ele respondeu com o olhar fixo em seus olhos. — Você também sabe, sentiu na pele.

Um arrepio percorreu o corpo de com a lembrança do que aconteceu. Ela engoliu em seco, sustentando o olhar dele para confirmar a sinceridade em suas palavras. Ela reprimiu a vontade de encostar os dedos nos contornos do rosto dele, escurecidos pelas sombras da torre.

— Bom, obrigada — ela agradeceu. — E obrigada por hoje… Sabe, por me defender e me distrair.
— Foi um prazer — ele respondeu com sinceridade, porque realmente tinha sido prazeroso socar o lufano e bom, a companhia da garota o fazia sentir a mesma coisa. Ele desviou os olhos para o bracelete que ainda brincava em sua mão. — Então… Você e Diggory realmente terminaram?
— Acho que sim — ela deu de ombros, parecendo novamente chateada. — Ele quis assim. Disse que não queria ter que “lutar pelo meu coração”.

afastou sua mão apenas para fazer sinal de aspas no ar, mas a entregou de volta para o sonserino poder continuar brincando com o objeto. Ela abaixou o olhar para suas mãos e ignorou o nó que se formou em sua garganta, enquanto ele a encarava com curiosidade. Uma expectativa surgiu dentro dele ao ouvir aquilo e a lembrança de Granger lhe falando que era culpa dele caso os dois terminassem invadiu sua mente, pois ele percebeu que realmente algumas ações dos dois poderiam ter causado o término, mas com certeza ele não era o único culpado, Hermione só queria amenizar a culpa da amiga pois a conhecia bem demais e sabia que ela provavelmente tinha sentimentos por ele. Essa teoria o encheu de esperanças e ele teve que segurar um sorriso que teimou em surgir em seu rosto.

— E por acaso seu coração está dividido? — Draco a questionou sem tirar os olhos dos lábios da garota que agora estavam levemente borrados com o batom vermelho.

não respondeu nada, apenas continuou olhando para baixo, claramente tensa com a pergunta. Malfoy então levantou o rosto da garota para fazê-la o encarar, segurando seu queixo com delicadeza. Ele desviou o olhar para seus lábios e percebeu que ela engoliu em seco, mas continuou olhando-o fundo nos seus olhos, como se não quisesse de jeito algum perder o jogo particular deles.

— Eu te fiz uma pergunta — Draco se aproximou e sussurrou com os lábios a centímetros do seu ouvido, fazendo seu corpo inteiro se arrepiar. Ele tirou a mão do queixo dela e desceu o dedo pelo pescoço até parar em seu colo, bem onde seu coração batia acelerado demais. — Seu coração está dividido?
— E-eu não sei — ela gaguejou, sentindo a mão do garoto subir novamente pelo pescoço e indo até sua nuca, acariciando sua pele com delicadeza. Os lábios dele desceram da orelha até seu pescoço e depositou beijos molhados e quentes, fazendo-a fechar os olhos com a sensação gostosa.
— Posso te ajudar a decidir — ele sussurrou contra sua pele, seu hálito a fez apertar a barra de ferro atrás dela.
— Não é assim que funciona, Draco — murmurou com os dentes trincados, mas suas mãos trêmulas se espalmaram no peito do garoto, fazendo-o se afastar. — Isso também não é uma competição.
— Você tem toda razão — ele deu um sorriso torto e satisfeito quando ela o olhou com frustração explícita em seus olhos. — E você claramente não me quer.
— Eu nunca disse… — ela se interrompeu, decidida a não se incriminar mais.

apertou os lábios e se afastou para a janela, sendo observada por Malfoy que a olhava satisfeito. Estava na cara que ela o queria sim e que no fundo não estava tão chateada assim pelo término.
Mas ela estava, e muito. Porém, sua determinação em não chorar mais pelo que aconteceu a fazia ficar ali e não em sua cama, soluçando por um garoto. Ainda era Natal, afinal de contas, e ela não queria se sentir triste no Natal. Draco se manteve afastado, com os braços cruzados e apoiado no ferro, esperando ela dar o próximo passo. virou a cabeça para trás e mordeu o lábio, se xingando em pensar o quão lindo o garoto era quando dava seu maldito sorrido torto.

— Malfoy, eu quero dançar — ela falou de repente, se virando e caminhando de volta em sua direção com a mão esticada em um convite silencioso. Ele levantou as sobrancelhas, intrigado. — Vamos!
— Não tem música, — ele falou com desdém. Em resposta, ela entrelaçou os braços no pescoço dele, não deixando espaço para discussão.
— Pense em alguma — retrucou e parecendo pensativa por alguns segundos, começou a cantarolar uma canção lenta e calma, como a que dançaram há pouco no Salão.

Ela fechou os olhos e Draco engoliu em seco, dessa vez ele estava mais nervoso do que na hora em que dançaram há… quanto tempo atrás? Horas? Minutos? Pareciam dias. Céus, eles nem ao menos sabiam que horas eram ou há quanto tempo estavam ali. Com toda certeza estavam procurando por eles, mas naquele momento, tudo o que importava para ambos era a dança. Balançando com bem menos destreza que antes, os dois embalaram em uma dança tranquila, sentindo os corpos leves e incomodamente quentes. apoiou a cabeça no ombro do sonserino que por sua vez, afrouxou a gravata borboleta que usava. O paletó já estava com ela, mas ele se sentia sufocado e achava que havia pano demais entre os dois. Suas mãos apertaram com firmeza a cintura da morena, juntando o máximo possível seu corpo no dela. murmurava algo inaudível, bem baixinho, talvez a letra da canção que tocava em sua cabeça, e Malfoy se deliciou com aquele som tão próximo do seu ouvido. Entretanto, o plano da garota não funcionou. O nó em sua garganta se desfez em lágrimas que agora deslizavam calmamente pelo seu rosto, pingando no ombro do garoto como quem pedisse ajuda em silêncio. Mas Draco percebeu que ela soluçava baixinho, enquanto agarrava com força sua camisa branca. Ele entrou em pânico; nunca sabia bem o que fazer quando garotas — ou pessoas em geral — choravam ao seu lado, então só conseguiu afagar os cabelos dela em um carinho um pouco desajeitado. Ele era ótimo em tocar para seduzi-la, mas péssimo para consolá-la.
levantou a cabeça e olhou para o garoto, seu rosto era um misto de confusão e dúvida quando encarava os lábios entreabertos do sonserino.

— Que merda, Malfoy — ela sussurrou com a boca a centímetros da dele. — Mas que droga!
— O quê? — ele perguntou, achando graça da reação dela. Seu sorriso era irritantemente adorável e se odiou por achar isso.
— Eu não deveria — ela retrucou, parecendo fazer muito esforço para falar. — Eu não posso gostar de você.
— Por que não se até eu já deixei toda essa merda de lado e admiti que gosto de você? Qual é o problema?

Eles pararam de dançar, mas não se afastaram nenhum centímetro. Ficaram se encarando pelo que pareceu uma eternidade, a tensão do momento era palpável. não respondeu, não sabia o que dizer após aquela confissão em alto e bom som, mas se permitiu dar uma espiada no anel que Cedrico deu mais cedo, não como uma forma de lembrar dele, mas para seguir o conselho do ex e entender seus sentimentos. Naquele momento, a cor do seu anel era verde puro, igual ao seu vestido e igual a cor da Sonserina. "Você fica absurdamente linda de verde", Draco falou mais cedo. E ela concordava, a cor lhe caía bem.


18 - Welcome to The Burrow

Quando abriu os olhos no dia seguinte, ela demorou alguns segundos para se lembrar de onde estava. Percebeu que estava sentada, as pernas esticadas e cruzadas ainda estavam cobertas pelo longo vestido verde e seu tronco agora estava coberto por um paletó preto. virou o rosto para encontrar um Malfoy desacordado ao seu lado, com a cabeça apoiada em seu ombro direito e a face tranquila como se dormisse sobre um confortável e macio travesseiro. Sua camisa social estava com os primeiros botões abertos e os sapatos estavam largados ao lado dos saltos dela. Esfregando os olhos, ela se lembrou de como foram parar ali.
Depois de dançarem, ela decidiu que era melhor se manter à uma distância segura do garoto e sentou-se no chão, cansada de seus saltos a machucando. Mas é claro que ele se sentou ao seu lado, insistente como sempre, e continuou conversando com a garota sobre tudo, menos suas famílias ou seus problemas na escola; suas mãos ainda estavam entrelaçadas por debaixo do paletó que agora dividiam como um cobertor. Porém, tentando não pensar na decepção que sentia com isso, lembrou-se que eles não se beijaram.

— Bom dia, Black — ele murmurou com a voz carregada de preguiça e sono. Ela piscou, sem perceber por quanto tempo estava encarando-o quando ele levantou a cabeça e a olhou com um sorriso no rosto. — Dormiu bem?
— Dormi... — ela sussurrou, desviando o olhar. — E você?
— Como um anjo — ele sussurrou sem conter uma risada, fazendo a garota revirar os olhos.
— Draco — ela disse com receio, se levantando com a ajuda dele. — Obrigada por ontem… Eu não iria aguentar encarar tudo o que aconteceu naquele momento. Precisava fugir e me distrair e você fez um bom trabalho.

Malfoy sorriu com sinceridade e murmurou um simples "de nada", mesmo que um sentimento maravilhoso tivesse acendido dentro dele.
De repente, antes de falar mais alguma coisa, ela se lembrou que era dia 26 de dezembro, em alguma hora da manhã ao julgar pelo Sol aquecendo a Torre, e ela deveria estar arrumando as coisas para a ir com seus amigos para A Toca. Um desespero despertou dentro dela.

— Você está bem? — ele perguntou, olhando-a com preocupação.
— Sabe que horas são?
— Deve ser sete e pouco da manhã... Por quê? Não temos aula hoje.
— Ah, droga — ela gemeu, batendo com a mão na testa. — Eu preciso ir!
— Espera! — Draco exclamou depois de pegar seus próprios sapatos e alcançar os passos apressados da garota escada abaixo. — Por que precisa ir tão rápido? Pensei em passarmos na cozinha e…
— Draco — ela o interrompeu antes de abrir a porta, virando-se para encarar um sonserino esbaforido. — Eu realmente agradeço pelo que fez ontem, mas…
— Já sei o que você vai falar — foi a vez dele de interromper. — Vai falar que você e Diggory acabaram de terminar e que ontem foi um erro e você precisa de um tempo, acertei?

A cara dela entregou que ele estava certo.

— Não ia falar que foi um erro — ela acariciou o rosto pálido e agora carrancudo do garoto. — Mas eu preciso sim de um tempo.
— Tudo bem — ele respondeu, cruzando os braços com mau humor, seu rosto se tornando frio rapidamente. Com uma frase ridícula a garota conseguiu dissipar todo e qualquer sentimento bom que surgiu dentro dele.

Draco parecia não querer falar mais nada, ele virou o rosto e deu um passo para o lado para se afastar dela, então a garota apenas abriu a porta, verificou se havia alguém no corredor e saiu correndo para a Torre da Grifinória, deixando-o para trás com a frustração pesando seu peito. Irritado, Malfoy atacou seus sapatos para longe, acertando-os na parede.

A Sala Comunal parecia estar vazia e segura, então imaginou que o dormitório estaria igualmente vazio. Entretanto, a presença de Hermione lhe mostrou o quão enganada estava. Sua amiga levantou uma sobrancelha e sorriu enquanto arrumava uma pequena mala com roupas dobradas de forma impecável, encaixando-as com perfeição em meio a vários livros. se sentou na cama, seu rosto retorcido de culpa e cansaço, e encarou com curiosidade exagerada o que a amiga estava fazendo. Era curioso como Mione ainda se apegava em alguns afazeres e falas trouxas quando ela poderia apenas acenar com a varinha e arrumar tudo em segundos. Ela gostava do trabalho manual, talvez era uma forma de matar a saudade de casa.

— Parece que alguém teve uma ótima noite — brincou Hermione, rindo quando viu a amiga fazer uma careta. — Fico feliz que tenha se resolvido com Cedrico. Sério, nunca o vi agir daquela forma, ele parecia realmente chateado.
— Nós não voltamos — respondeu, desviando o olhar para o anel em seu dedo, brincando com ele.
— Se você não estava com ele, então… — O choque no rosto de Granger entregou que o raciocínio havia sido feito. encolheu os ombros, esperando a bronca vir. — Ah, meu Deus, você estava com o…
— Não fala em voz alta! — sussurrou, olhando em volta para garantir que ninguém estivesse por perto. Hermione ainda a olhava chocada, deixando um livro cair dentro da mala. — Não é da forma como você está pensando, Mione. A gente nem se beijou, só ficamos conversando.
— E isso é bom? — ela perguntou. — Quero dizer, você está feliz de não ter acontecido nada?

mordeu o lábio inferior, escondendo um sorriso culposo, e Hermione soltou uma exclamação, tampando a boca em seguida.

— Então o Diggory tem razão! Todo esse tempo eu estou culpando o Malfoy sendo que você — ela apontou o dedo acusadoramente para a amiga — está caidinha por ele!
— Eu não estou "caidinha" por ele, está bem? — se levantou para arrumar a própria mala, enchendo-a com as roupas que havia separado antes do baile.
— Ah, , logo o Malfoy? — Hermione ignorou a defesa da amiga e continuou enfiando coisas na mala que parecia infinita. — Ele te faz tão mal!
— Não é bem assim, Hermione — a garota respondeu com seriedade. — Ele me ajudou muito ontem. Comigo ele é… diferente.
— Você esqueceu completamente o que ele fez ontem de manhã?
— Ele pediu desculpas! — argumentou .
— E por isso ele é diferente? — Hermione deu a volta pela cama e se aproximou da amiga, segurando uma de suas mãos e fazendo ela levantar a cabeça. — , ele fez o mínimo e ainda te deu um presente para tentar apagar o que fez de ruim. Não cai na dele, ok? Aposto que você e Ced vão se resolver.

, ainda pensativa, apenas murmurou um “é, talvez” enquanto Mione terminava de arrumar a mala. A brasileira tentou se arrumar o mais rápido possível, com medo de perder o café. Todos já estavam na mesa da Grifinória no Salão Principal, conversando animados sobre a viagem para A Toca. Mesmo Hermione, que iria para a casa dos pais, parecia animada com o ano novo e com os planos dos amigos. se sentou entre os gêmeos, como quase sempre fazia, e ignorou o sorriso malicioso que Gina tinha no rosto. Sabia que a amiga estava enganada, assim como Hermione, por saber que ela não passara a noite no dormitório das meninas, contudo, queria evitar tocar no assunto agora. Ela encheu sua xícara de café até quase a borda, se deliciando com o gosto amargo da bebida.

— Alguém parece ter aproveitado bastante a noite passada — brincou George, enquanto passava geleia em sua torrada quase queimada.
— Está falando de você mesmo? — retrucou, levantando uma sobrancelha. — Consegui ver o roxo em seu pescoço de longe. — Ela então se virou para Fred. — No seu também.

Os gêmeos trocaram um sorriso cúmplice e bateram as mãos acima da cabeça da garota, fazendo-a rir com a cara de pau deles. No mesmo instante, o vento lhe empurrou um perfume que ela conhecia bem demais. Em um ato automático, se virou para trás para encontrar o rosto cansado e marcado de Cedrico Diggory caminhando sem ânimo para a mesa da Lufa-Lufa. Seus olhos claros, o direito envolto por um hematoma roxa, cruzaram com os da garota por um breve segundo, soltando faíscas de tristeza e decepção em sua direção antes de desviá-los.

— Por que ele passou reto? — Gina perguntou, olhando com confusão para a amiga.
— Eles terminaram, cabeção! — falou Fred em uma tentativa falha de sussurro. Rony levantou a cabeça na mesma hora, espantado com a resposta do irmão, ficando atento com o resto da conversa.

Na noite anterior, ele e Harry haviam saído da festa para ir atrás do professor Snape e de Igor Karkaroff. Nenhum dos dois voltaram para a festa depois disso, então não faziam a mínima ideia do que havia acontecido.

— Terminaram? — Harry os questionou, igualmente espantado.
— Mas hoje de manhã ela… — Gina começou, mas Hermione a interrompeu com uma cotovelada e a ruiva entendeu o sinal. — Quando foi isso?
— Ontem, durante a festa — George respondeu, comendo sua refeição tranquilamente como se conversassem sobre o tempo. — Sério, como não viram isso? Cedrico deu um soco no Malfoy porque ele dançou com a .
— Malfoy o socou primeiro! — Mione interveio em defesa do lufano. — Ele apenas se defendeu.
— Nossa — Harry murmurou. — A deve ter ficado arrasada.
— A está bem aqui — finalmente se pronunciou, claramente irritada. — E ela gostaria que vocês não falassem dela como se não estivesse, principalmente sobre ontem.

O grupo ficou totalmente em silêncio, voltando a atenção para o café da manhã. não tirou os olhos da sua torrada com ovos mexidos, forçando-se a comer, pois não tinha apetite algum. Ela sentiu alguém chutar de leve o seu pé e tentou ignorar, mas a pessoa insistiu, a fazendo levantar a cabeça e procurar o responsável. Rony era o único que a encarava com um sorriso fraco no rosto que sempre fazia o coração da garota derreter e, mesmo naquele momento em que ele se encontrava partido, um calor confortante invadiu seu peito, fazendo com que um sorriso involuntário aparecesse em seu rosto. "Você está bem?", Ron moveu os lábios sem emitir som e a garota assentiu apenas uma vez, sem convencê-lo. Ele então enroscou sua perna na dela sem desviar o olhar e soube que aquela era a forma dele de oferecer um abraço, já que naquele momento não era possível.
Finalmente chegara a hora de partir para A Toca. Uma semana longe de Hogwarts faria bem não só para , mas para o grupo inteiro. A garota se segurou para não ir atrás de Cedrico, sabendo bem que era cedo demais para uma conversa coerente e calma. Também não quis falar com Malfoy, pois o olhar frio que o garoto lançava em sua direção lhe dava calafrios, diferente do sorriso quente que ele deu quando acordaram, então ela apenas seguiu para a sala de McGonagall com seus amigos. Enquanto os colegas de sua Casa entravam na lareira, jogavam o pó de flu em seus pés e exclamavam seu destino, se despedia demoradamente de Hermione que não iria com eles pois iria para a casa dos seus pais com ninguém mais, ninguém menos que Vítor Krum, o garoto parado ao seu lado.

— Juízo, — a amiga a alertou com a feição séria, mas se esforçando para não dar um sorriso.
— Você também — retrucou com um sorriso maroto no rosto, idêntico ao do seu pai. — Não espere chegar aqui no dia dois, me mande cartas contando todos os detalhes, ok? E você — ela apontou o dedo para o Campeão — cuide da minha amiga!
Nom se perrcupe — ele respondeu com um sorriso largo, olhando com os olhos brilhando para Mione que corou na mesma hora.

Krum foi primeiro, com Hermione tanto ensiná-lo novamente o endereço certo para que o sotaque dele não atrapalhasse, e ela o seguiu, dando um último aceno para , Harry e os Weasley. A garota lançou um olhar preocupado para a lareira onde agora Gina, Harry e George partiam, respectivamente, e seu coração acelerou em expectativa e medo. Ela nunca usou a rede flu de transporte, não costumavam ter lareiras nas residências do Brasil, talvez no Ministério brasileiro e na Castelobruxo, mas a mesma não teve a chance de usar. Também havia o receio de deixar Hogwarts e ficar longe de sua proteção. Ron percebeu seu incômodo e segurou firme suas mãos, falando com ela como Hermione falara com Krum, o tom carregado de conforto.

— Observe Fred — ele falou, fazendo-a desviar os olhos para o ruivo agitado dentro da lareira da professora. — Ele vai jogar todo o pó nos pés gigantescos dele e falar para onde vamos.
— Eu ouvi isso, seu idiota — Fred reclamou antes de fazer exatamente o que Ron previu — A Toca!

Seu corpo magro e alto foi engolido por uma enorme chama verde, fazendo-o desaparecer. se sobressaltou, provocando uma risada de Rony.

— Calma, vai dar certo — ele a puxou para perto da lareira. — Você vai primeiro, ok? Estarei logo atrás.

Era impossível não sentir segurança com o garoto. Tudo nele gritava proteção: o olhar, o toque, a voz, as palavras que saiam de sua boca gentil. Então tudo o que ela pôde fazer foi assentir e entrar na lareira alta. Minerva McGonagall se aproximou com a caixinha cheia de pó de flu e o sorriso confortante de sempre, lhe desejando um feliz ano novo antecipado. Depois de retribuir a gentileza, pegou um punhado, fechou os olhos, deixou o pó cair em seus pés e gritou "A Toca" como todos haviam feito antes. A sensação foi a mais estranha que ela já sentiu. O calor do fogo estava ali, mas ele não a queimou. Ela fechou os olhos e teve a sensação de cair em queda livre antes de sentir seus pés baterem no chão firme conforme uma fumaça de pó cinza subiu, escurecendo tudo por alguns segundos. Logo conseguiu ver alguns cabelos ruivos característicos da família que a olhava em expectativa.

— Venha, querida, ou Ron irá te atropelar! — ela ouviu uma mulher simpática falar com ela enquanto puxava sua mão com delicadeza, ajudando-a a sair da lareira. — Sou Molly Weasley, seja muito bem-vinda a nossa humilde casa!
— Bota humilde nisso — George brincou, levando um tapa no braço dado pela mãe. — Mas que eu amo muito.
— É bom mesmo — Molly falou, lançando-lhe um olhar de reprovação. — Agora onde está Ronald, já era para ele ter…

Antes que a mulher pudesse completar a frase, Ron apareceu na lareira, levantando mais uma nuvem de fumaça.

Bloody hell! — ele exclamou, olhando confuso para o lugar de onde saiu. — Dessa vez demorou demais! — Ele olhou para a garota ao lado da mãe e abriu um sorriso enorme. — Bem-vinda A Toca, ! Ela é bem simples, mas é nossa casa.
— Ele falou a mesma coisa para mim da primeira vez que vim aqui — Harry comentou com um sorriso, ainda limpando as cinzas dos cabelos. — Mas A Toca é incrível e não tem nada de simples.
— Parece que foi ontem, não é, Harry querido? — Molly falou, enquanto empurrava os gêmeos para a sala pois eles não paravam de mexer nas panelas cheias de comida, acompanhada pelos outros garotos. — Mas já fazem quase três anos!

se demorou na cozinha, observando cada detalhe daquele lugar. Um aroma delicioso saía das panelas, a louça se lavava sozinha e cada canto parecia estar encantado magicamente. No caminho para a sala, um relógio cuco dava a impressão de ser apenas um objeto trouxa comum, mas havia mais ponteiros que o normal, cada um indicando onde os integrantes da família estavam. Os nomes de Ron, Gina, Molly e os gêmeos indicavam que estavam n’A Toca; Arthur Weasley estava no Ministério, assim como Percy Weasley; o ponteiro de Gui se movimentava indeciso e de Carlinhos mostrava que o mesmo estava na Romênia.

— Legal, né? — Harry perguntou ao seu lado, apontando para o relógio. — Seria ótimo ter um desse para saber onde Sirius e Remus estão, não seria?
— Seria mesmo — a garota respondeu com um sorriso fraco.

Tal ideia fez seu coração doer, pois percebeu que seria mais um ano novo sem seu pai e ela nem ao menos sabia onde o homem estava. Ela tinha certeza que o mesmo se passava pela cabeça de Potter.
Suspirando melancólicos, ambos foram se reunir na sala lotada onde Molly dava broncas nos gêmeos por algum motivo que não entendeu, mas eles não pareciam se importar.

— Agora vão logo para o quarto e arrumem aquelas caixas! — Ela esbravejou. — Harry, você ficará com Rony, como sempre. , se importa em dormir com Gina?
— Claro que não! Já praticamente dormimos juntas — ela sorriu para a ruiva mais nova que, animada, a puxou escada acima.

A casa tinha tantos detalhes que se sentiu perdida como quando chegou em Hogwarts, não querendo perder nada. O quarto de Gina era um desses casos: as paredes eram cobertas por pôsteres animados de jogadores de quadribol e bandas bruxas com nomes esquisitos. Mas era impecavelmente organizado e era a cara da garota. Uma segunda cama estava armada e arrumada bem ao lado da cama de Gina, já com a sua mala em cima.

— Gostou? — a ruiva perguntou enquanto mexia em seu armário.
— Adorei — olhou em volta, encantada. — Nunca pude ter um quarto assim, só meu.
— Onde você morava? — Gina perguntou, ainda mexendo no armário.
— Na Castelobruxo desde que nasci — ela respondeu, se sentando na cama de armar que rangeu com seu peso. — Minha mãe era professora, então eles nos deixavam morar lá. E era mais seguro. Depois que meu pai…

Ela se interrompeu, lembrando que nunca contou sobre Sirius para a amiga. Gina se virou, segurando uma toalha e uma troca de roupas nas mãos, e levantou uma sobrancelha para , esperando que a mesma continuasse a história.

— Depois que o Sirius foi preso? — Gina a questionou, surpreendendo a amiga.
— Como você..?
— Meus pais me contaram — Gina mordeu o lábio e fez uma careta. — E eu não deveria ter te falado isso agora.
— Gente demais está sabendo disso, Gina — a garota se levantou, andando pelo quarto. Uma ruga de preocupação surgiu entre suas sobrancelhas, pois não imaginava que os Weasley sabiam sobre de quem era filha.
— Mais tarde você vai entender o porquê eles me contaram, — a mais nova da família se aproximou, sorrindo culpada. — E não se preocupe, seu segredo está a salvo com a gente.

Gina saiu do quarto, indo em direção ao banheiro. Sozinha, se sentiu subitamente inquieta. Olhou a paisagem pela janela e apertou com força o seu colar, pensando em seu pai, a agonia de não ter notícias do homem a consumindo como nunca antes. Decidida a não deixar isso estragar sua semana, ela respirou fundo e saiu do quarto, caminhando com calma pelo corredor estreito. As risadas de Fred e George ecoavam pelo quarto ao lado de Gina, e uma outra porta aberta mostrava uma enorme cama de casal em um quarto abarrotado de utensílios mágicos e não-mágicos, o qual ela concluiu ser o quarto de Molly e Arthur. Já a outra porta aberta mostrava os cabelos rebeldes de Harry e os ruivos de Rony, o volume das vozes bem mais baixo que dos gêmeos. parou na porta e observou o quarto com atenção, sem querer chamar a atenção deles ainda. O lugar não era nem um pouco organizado como o de Gina, mas tinha o mesmo tanto de pôsteres sobre quadribol que a irmã espalhados pelas paredes do quarto.

— Então você tem mesmo um pôster do Krum! — a garota brincou, fazendo os dois pularem de susto. — É meio bizarro ver ele aqui, se mexendo.
— Não é bizarro — o ruivo retrucou, seu rosto ficando vermelho de vergonha. — Ele é um bom jogador, um dos melhores no quadribol.
— Obrigada pela parte que me toca — Harry fingiu se ofender, mas um sorriso torto surgiu em seu lábios quando ele piscou para a amiga. — Ron, acho que sua mãe está me chamando.
— Mas eu não ouvi nada... — protestou, entrando de vez no quarto.
— Estou indo, senhora Weasley! — Potter gritou, correndo porta afora e deixando os dois sozinhos.

Ignorando o surto de Potter, a garota andou pelo quarto, observando tudo em volta com curiosidade. Ron a olhava da mesma forma, apertando nervosamente uma camisa de time de quadribol que já esteve outra hora dobrada. Os raios de Sol do fim da manhã invadiam o quarto e iluminavam o rosto da garota que parecia brilhar como uma jóia preciosa. Pelo menos era assim que Rony Weasley a enxergava desde o primeiro momento em que a viu no Expresso de Hogwarts. Então ele largou a camiseta na cama e andou devagar na direção da garota, as mãos que apertavam o pedaço de pano agora se apertavam inquietas, sem conseguir conter a ansiedade.

— O que achou d'A Toca? — ele perguntou em voz baixa, parando em frente à garota.
— Eu amei, achei adorável — respondeu com sinceridade.

Mas o sorriso em seu rosto era triste e tenso, não condizia com a animação com que ela falara aquilo. O garoto se aproximou mais ainda e segurou seu rosto, fazendo-a levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos. Como sempre, o coração do ruivo disparou e ele torceu para que ela não percebesse o tremor em suas mãos. Fez um esforço enorme para não encarar os lábios convidativos da garota que sempre atraiam seu olhar e cravou os olhos nos dela.

— Você está assim pelo motivo que eu estou imaginando? — ele a questionou.
— Também — respondeu, entortando a boca. — Está tão na cara que eu não estou bem?
— Um pouco, sim — ele riu e acariciou as bochechas dela. — Tenta… esquecer tudo aquilo essa semana, está bem? Cedrico está longe, você está aqui com seus amigos e eu tenho certeza que seu humor vai melhorar quando provar a comida da minha mãe.
— Ah, mal posso esperar! O aroma que está aqui em cima está divino! — ela falou, rindo com o amigo, mas ficando séria no segundo seguinte.  — O que eu faria sem você, Ron?
— Provavelmente estaria passando o ano novo mais chato da sua vida sozinha em Hogwarts — ele respondeu, a fazendo rir novamente. — É mentira, eu teria ficado lá com você… Jamais te deixaria sozinha.

Sem soltar o rosto da garota, Rony se deliciou com o som da risada dela. Sua boca tão próxima era extremamente irresistível e foi quase automático se aproximar mais ainda até roçar seu nariz no dela, um arrepio maravilhoso percorreu seu corpo com aquele leve toque, como se uma corrente elétrica inofensiva acertasse os dois. Ele não ousou fechar os olhos, mas sim. Ela estava pronta, totalmente entregue, aquele seria finalmente o momento em que Ronald Weasley realizaria o que desejou durante meses ao lado dela. Se não fosse pelo grito que ecoou pela casa inteira.

— Crianças, preciso de vocês aqui embaixo agora!

Ron não reprimiu um gemido de frustração ao se afastar da garota depois de ouvir Molly Weasley chamar por eles. , por sua vez, estava atônita demais. Não podia acreditar no que tinha quase acontecido e no quão fácil ela se entregou a ele. Ainda perdida em pensamentos, ela limpou a garganta e desceu correndo as escadas, deixando o ruivo para trás, resmungando sobre sua mãe ser uma estraga prazeres.
Quando o garoto chegou ao andar debaixo, todos estavam reunidos na cozinha d’A Toca. O ponteiro “Arthur Weasley” do relógio cuco mostrava que o homem estava chegando em casa. Todos saíram animados para o quintal para esperar pelo pai, mas se surpreenderam quando viram que ele não estava sozinho. Era de se esperar que Percy Weasley voltasse com o pai, mas seu ponteiro ainda estava no Ministério e os cabelos dos dois homens que caminhavam ao lado de Arthur não eram alaranjados como o da família. Quanto mais se aproximavam, mais claro ficava para o grupo quem eram os dois indivíduos. O mais alto do trio era Remus Lupin com suas roupas largas e gastas e uma mala de couro igualmente velha. O outro também tinha uma mala parecida com a do amigo, mas suas roupas eram mais aceitáveis. Já seus cabelos eram pretos e escuros como a noite, uma se suas características mais marcantes.

— Pai!? — murmurou com os olhos cheios de lágrimas.

Ela deu passos vacilantes para frente, mas logo correu na direção de Sirius Black quando o mesmo largou a mala e abriu os braços, a convidando para um abraço. Ela se jogou em seus braços e desatou a chorar, os dois apertando um ao outro como se quisessem se certificar que eram reais, que realmente estavam ali.

— Oi, pequena — ele murmurou contra os cabelos volumosos da garota, fazendo-a soluçar mais ainda. — Sentiu saudades?
— Nenhuma — ela brincou, se afastando dele que fingiu estar ofendido com a resposta. Ela se abaixou, seus olhos brilharam ao verem Jack. — Oi amiguinho! Tem alguém ali que estava louco pra te conhecer!

abriu a porta da gaiola e Jack agradeceu com sua voz estridente, saindo voando por cima de suas cabeças e piando alto. sentiu alguém cutucar seu ombro e sorriu largo ao ver o padrinho de braços abertos, esperando um abraço.

— Oi, tio Remus!
— Já estava achando que você não tinha me visto aqui — Lupin respondeu, abraçando ela com força. — , esse é o Sr. Weasley.
— É um prazer finalmente te conhecer, . Sirius não parou de falar de você desde que me encontrei com ele.
— E essa ingrata disse que não estava com saudades, acredita nisso, Arthur? — disse Black com um sorriso largo no rosto, voltando a pegar sua mala. — Ah, Harry Potter!

Eles caminharam até o grupo que os esperavam perto da casa e Harry correu para abraçar Sirius enquanto os outros comprimentavam Arthur e Remus. Nenhum deles pareciam estar surpresos em ver os dois homens, além de Harry e que realmente não faziam ideia de que estariam ali. Depois de todos se cumprimentarem, Molly os direcionou para a mesa de jantar montada do lado de fora da casa. O móvel era claramente maior que o que estava dentro d'A Toca, acolheria facilmente todos eles para o delicioso almoço em família. Mas a matriarca não parecia nada feliz em ver Sirius Black se juntar a eles. Durante a refeição, ela lançou a todo momento olhares irritados para o homem que, distraído com a conversa, não pareceu notar o incômodo. Mas sua filha notou e não pôde deixar de se chatear com isso. Era o mesmo olhar que recebia dos ex-colegas da Castelobruxo e o mesmo que receberia dos alunos de Hogwarts caso soubessem a verdade. É claro que Molly Weasley deveria ter um ótimo motivo para não gostar do homem, ela não era o tipo de pessoa que simplesmente desgostava das outras sem ter uma razão para tal. Entretanto, a mulher não falou nada a respeito, recebeu pai e filha com toda a cordialidade, assim como o resto da família que estavam empolgados demais com a presença dos amigos.
trocou um olhar com Lupin que sorriu para a garota. Ele entendia o que ela estava pensando: nunca estivera em uma mesa como aquela, com pessoas que eram como família. Sempre foi ela e a Artemisa, e às vezes Remus, na pequena mesa em seu dormitório na Castelobruxo. Não podia fazer isso com a família por parte de mãe, mesmo se quisessem poder sentar em uma mesa e comer, as sereias não tinham essa calorosidade, elas eram hostis, ariscas, principalmente com ela e sua mãe que foram as primeiras mestiças em gerações.
Então aquilo era novidade e era muito bom. estava adorando ter amigos e uma família de novo. Seu pai não soltou sua mão desde a hora em que sentaram na mesa, como se tivesse medo de perdê-la, e ela nem ousava soltar a dele, pois também tinha o mesmo medo emaranhado em suas entranhas.
Quando o almoço acabou, ninguém sentiu vontade de sair da mesa. A conversa estava boa demais e todos ouviam com atenção as histórias de Lupin e Black durante todo esse tempo que passaram juntos. Depois foi a vez de Harry contar em detalhes sobre a prova do Torneio, o maldito ovo indecifrável e a conversa que Snape e Karkaroff tiveram nos jardins de Hogwarts na noite passada.

— Você tem certeza que ele disse isso, Harry? — questionou Lupin, sua expressão séria e preocupada.
— Absoluta! Rony estava lá, não é, Ron?
— 'Tava — o ruivo respondeu com a boca cheia de torta de mirtilos.
— O que você acha que significa isso? De quem Igor precisaria fugir? — Arthur se intrometeu.

Molly, extremamente incomodada com o rumo da conversa, fez Gina e os gêmeos entrarem para ajudar com a louça suja. Ela poderia fazê-la com um toque de sua varinha, mas não queria os filhos metidos em uma conversa séria como aquela. Sabia, entretanto, que era inútil tentar tirar , Rony e Harry da mesa, então os deixou ficar.

— Não é óbvio!? — Sirius exclamou. — A cicatriz do garoto está doendo, aposto que falavam da maldita marca no braço deles… Voldemort está voltando.

Rony e Arthur, desacostumados a ouvir aquele nome, se encolheram em aflição. Harry apenas franziu a testa, sabendo que seu padrinho provavelmente estava certo, mas desejando que não. Já mexeu incomodamente em seu bracelete dourado. A marca que viu no braço de Lúcio, um crânio com uma cobra saindo de dentro, as cobranças do homem para Draco, afirmando como se o Lord das Trevas já tivesse voltado… Lúcio Malfoy sabia que isso estava próximo de acontecer e pior, Draco provavelmente também sabia e iria deixar isso acontecer.

— Isso é loucura, Almofadinhas — disse Remus, olhando fixamente para Harry.
— Mas não impossível, Aluado! — argumentou Sirius. — Pense bem, o infeliz quase voltou duas vezes!
— Não era bem ele… — Lupin tentou contra argumentar, mas Black bufou alto, interrompendo-o. — Não tem como ele voltar, Sirius!
— Ele está ficando forte, Remus! E eu não quero estar por perto para ver! Tenho um alvo enorme nas costas, serei um dos primeiros que ele virá atrás! — Black argumentou, dando um longo gole em sua cerveja.

Um pouco tarde demais, ele percebeu a reação da sua filha ao seu lado, o aperto firme em sua mão o fez chamar sua atenção. o olhava com lágrimas nos olhos, o pensamento de perdê-lo lhe atingiu em cheio. Todos voltaram o olhar para ela enquanto Sirius tentava consolá-la.

— Fique tranquila, baixinha, ele não vai fazer nada com a gente — ele beijou a mão da garota e tentou dar seu melhor sorriso
— É, vocês vão ter que entrar na fila — Harry falou aborrecido. — Eu tenho um alvo bem na testa — e apontou para a cicatriz.

Rony não aguentou e soltou uma gargalhada, puxando um coro de risos, até mesmo de Harry. Mas Sirius percebeu que seu comentário realmente afetou a filha. Ainda segurando sua mão, ele a puxou para longe, deixando os outros conversando na mesa  que agora tinha um clima mais leve. Eles caminharam em silêncio por um tempo, alguns flocos de neve solitários começando a cair neles com leveza, apesar do clima pesado entre eles. Pararam apenas quando chegaram ao pequeno lago atrás da casa, coberto por uma fina camada de gelo. apertou o casaco e olhou para o pai, observando a fumaça saindo da boca dele enquanto o mesmo olhava para o céu agora quase totalmente escuro.

— Você não tem medo? — Ela o questionou, fazendo-o olhá-la.
— Do Voldemort voltar? — Ele perguntou, e ela assentiu em resposta. — Não mesmo. Mas não quero morrer e deixar você e o Harry sozinhos, disso sim eu tenho medo.

A garota nada respondeu, apenas secou as lágrimas que caíram sem aviso do seus olhos. Sirius abraçou a filha, esfregando suas costas para esquentá-la e consolá-la.

— Mas é claro que isso não vai acontecer — ele a consolou, se afastando um pouco. — Mesmo que ele me mate…
— Isso não é uma opção — falou com pressa, desviando os olhos marejados para o lago.
Eu sei que não ficarão sozinhos — ele completou, acariciando o rosto da garota. — Hoje eu vejo que te mandar para Hogwarts foi bom. Agora você tem Dumbledore, seus amigos, tem o Diggory…
— Sobre isso… — a garota fez uma careta, vendo o pai ficar confuso. — Nós terminamos.
— O quê!? Mas… — Sirius se virou e segurou as mãos da garota, olhando-a com preocupação. — Você está bem? Ele te fez algo?
— Não, ele não fez nada… Na verdade fui eu. — Ela encarou o pai, ele esperava que ela continuasse. — Ele estava com ciúmes de uma pessoa e bom, eu meio que dei motivos para isso.
— Ele estava com ciúmes do Rony? — O homem a questionou, fazendo-a arregalar os olhos. — Eu vi o jeito que o garoto te olha,
— Não, não foi o Ron! — ela riu sem graça.

sabia a reação que o pai teria se contasse a verdade, mas nada pôde fazer. Ela o prometeu que o contaria absolutamente tudo e sempre a verdade, como ele também prometera. Droga, como desejou que realmente tivesse dançado com Rony Weasley naquela noite.

— Foi o Draco. Draco Malfoy.

O rosto de Sirius Black ficou escarlate e se preparou para o que estava por vir.

— MALFOY! — ele gritou, assustado-a. — Black, de todas as pessoas naquela merda de escola, você foi dançar com um Malfoy? Por que raios você fez isso?
— Porque ele me chamou para dançar e…
— E você achou uma brilhante ideia aceitar! — Sirius           exclamou, sua voz ainda elevada e alterada.
— Ele havia me dado um presente, eu devia ao menos uma dança ao garoto!

Sirius começou a andar de um lado para o outro, ofegante de raiva. Se há um minuto atrás ele achava que mandá-la estudar em Hogwarts havia sido uma boa ideia, agora ele tinha certeza que havia cometido um terrível engano. Aquele lugar não era seguro para ela, deveria ter deixado a garota no Brasil onde tudo era normal e calmo, onde ela estaria segura longe de quem o fez mal.
apertou suas mãos em puro sinal de nervosismo.

— Pai, me escuta…
— O que você tem com ele? — Sirius perguntou, sem olhá-la.
— Nada, eu juro!
— Não mente pra mim, ! — Os olhos negros do homem suplicaram à garota a verdade.

A mais nova mordeu o lábio inferior, com medo de falar mais uma verdade e piorar a discussão. Mas ela era incapaz de esconder qualquer coisa dele, como também não conseguia mentir para a mãe.

— A gente se beijou… Mas foi só uma vez, eu juro!

Sirius se manteve em silêncio, mas suas mãos estavam cerradas em claro sinal de raiva. Já era insuportável imaginar qualquer garoto encostando em sua filha daquela forma, mas o sentimento piorava consideravelmente ao imaginar o filho dos Malfoy agarrado na garota que estava paralisada na sua frente, os olhos cheios de lágrimas e a mão direita mexendo inquieta no bracelete dourado preso no outro pulso. O objeto chamou a atenção do mais velho, que se aproximou e segurou a mão da filha para observar a joia mais de perto. Uma cobra. odiava cobras com toda a sua força e tinha um motivo muito plausível para tal ódio, por que ela usaria aquilo?
Foi então que os pontos se juntaram na cabeça do homem. Aquele foi o presente que Draco deu a ela. Mas percebeu tarde demais o raciocínio do pai que tirou o bracelete do seu braço e brincou com ele em suas mãos.

— Esse foi o presentinho dele? — Sirius perguntou quando a garota tentou pegar a joia de sua mão.
— Me devolve, pai! — ela implorou, as lágrimas agora caindo de seu rosto.

Remus Lupin chegou no exato momento em que o amigo deu alguns passos para trás e arremessou o objeto no lago, vendo-o perfurar a fina camada de gelo e afundar na água escura.

— Sirius, o que você fez? — Lupin o questionou quando urrou de raiva.

A garota correu até a beira do lago, decidindo se faria a loucura de se jogar na água congelante para recuperar o presente ou o deixava ali, afundando cada vez mais. decidiu não se arriscar, não aguentaria o frio daquelas águas congeladas, mas também não podia usar magia para recuperar o objeto pois estava fora de Hogwarts. Ficando sem opções, voltou até onde seu pai estava com Lupin, seu rosto estampando uma raiva que ela nunca havia sentido antes.

— VOCÊ NÃO TINHA ESSE DIREITO! — Ela berrou, sendo segurada pelo padrinho para que não fosse para cima do próprio pai.
— EU NÃO QUERO VOCÊ PERTO DELE! — Sirius berrou de volta, tirando os cabelos do rosto e apontando o dedo para a garota. —  Você vai voltar para o Brasil no dia dois!
— Ah claro, e você vai junto? — ela perguntou, se desvencilhando de Lupin. — Você realmente se importa com a sua filha ou vai ficar para cuidar do seu precioso Harry Potter? Vai me deixar sozinha de novo, é claro!

A garota não sabia de onde aquilo tinha vindo, mas sabia que havia sido da boca para fora. O amigo não tinha nada a ver com sua raiva ou com o que o pai havia feito. Entretanto, ela queria machucar Sirius, queria que ele sentisse o que ela estava sentindo naquele momento. E pelo olhar do homem, ela havia conseguido.
Sem falar mais nada e vendo que seu pai não responderia ao seu ataque, ignorou a bronca de Lupin lhe dava e correu até A Toca, tentando ficar o mais distante possível do homem. Remus balançou a cabeça em negação, vendo o amigo segurar o choro.

— O que aconteceu aqui?
— Você sabia que ela estava se relacionando com o Malfoy?
— O Draco? — Lupin perguntou em tom de surpresa. — Não, eu não sabia.

Sirius suspirou em derrota, se aproximando novamente do lago e levantando sua varinha, produzindo um feitiço convocatório que trouxe o bracelete encharcado e gelado até a sua mão. Ele girou o objeto que pingava em suas roupas, reparando no que estava escrito dentro. "The Snake & The Lion".

— Você acha que ele sabe, Aluado? — Sirius perguntou ao voltar para o lado do amigo.
— Ela não iria contar — Remus respondeu, também observando o objeto com o cenho franzido. — Mas vou falar com Dumbledore. Ele ficará de olho.



19 - You’re Family

O dia seguinte amanheceu muito mais bonito que os anteriores. O Sol derreteu a pouca neve que sobrou, transformando-a em gotas brilhantes de água nas folhas e poças enormes de lama pelo gramado. Ainda não estava calor, mas não era um dia para ficar dentro de casa. Sendo assim, no segundo dia n'A Toca, a família Weasley e seus convidados tomaram café bem cedo e saíram para o quintal para aproveitarem o dia, com exceção de Arthur Weasley que teve que ir trabalhar. O Ministério não lhe deu folga até o dia 30.
Já Molly Weasley aproveitou para fazer os trabalhos domésticos e se responsabilizou pelos refrescos. Ela ainda não se agradava com a presença de Sirius Black em sua casa, então tentava ficar o mais longe possível do homem para não estragar o feriado. Já fazia o mesmo, mas por outros motivos. Ele ainda não pedira desculpas pela briga e ela não pediu desculpas pelo que disse, os dois teimosos recusaram a se falar, deixando Lupin em uma situação desconfortável pois sempre ficava entre os dois, tentando fazê-los, sem sucesso, se resolverem.
Os dois Marotos ficaram sentados no jardim ao lado da garagem, conversando sobre assuntos mais sérios agora que estavam afastados das crianças, enquanto supervisionavam os mesmos. Os Weasleys, Harry Potter e Black estavam prestes a começar uma partida amistosa de quadribol, entretanto, esqueceram o simples detalhe de que a brasileira nunca havia subido em uma vassoura antes, muito menos jogado uma partida. Na noite passada, para tentar acalmar a amiga, Rony desatou a falar sobre o esporte e até leu algumas partes do seu exemplar de Quadribol Através dos Séculos.

— Voar em uma vassoura não é tão difícil quanto parece — explicou Fred, entregando uma Shooting Star velha para a garota. — Mesmo nessa porcaria.
— Entretanto — começou George, andando com os irmãos e amigos até o campo mais aberto do quintal —, você tem que se conectar com a vassoura, vocês precisam ser uma só matéria.
— Nunca os ouvi falarem tão bonito — Gina comentou, se apoiando na sua própria Nimbus 1000. — Estão tentando te impressionar, .
— Estamos tentando ensinar, querida irmã — Fred os defendeu, fingindo estar ofendido. — Mas está impressionada, ?
— Muito — ela respondeu rindo e ouviu Rony bufar ao seu lado.

Todos colocaram suas vassouras no chão e se posicionaram ao lado delas com a mão esticada para as mesmas.

— Agora se concentre, . Pense na vassoura, sinta a vassoura — George falou, fazendo com que sua vassoura subisse direto para para sua mão.
Seja a vassoura — Fred completou, fazendo o mesmo. só conseguiu rir com os amigos, sem levar os gêmeos a sério.
— Só pede para a vassoura subir, . Também funciona — Harry falou quando ele já havia montado em sua Firebolt.

Gina também subiu em sua vassoura, mas Rony permaneceu fiel ao lado de para ajudá-la se necessário. Então a garota fez o que Harry falou, mas a vassoura apenas vibrou aos seus pés, sem se importar em subir. Ela tentou mais três vezes antes de grunhir de frustração.

— Os bobocas dos meus irmãos tem certa razão — Rony se posicionou atrás da garota e segurou sua mão esticada para o objeto, aproximando o rosto do ouvido dela. — Sinta a vassoura, chame por ela.

se arrepiou inteira, mas tentou se concentrar no que o garoto disse e a vassoura finalmente subiu até sua mão. Ela sorriu triunfante para o ruivo.

— WEASLEY! — Sirius gritou de onde estava sentado, fazendo Rony dar um pulo para trás. olhou o pai com raiva. — Se afaste da minha filha, seu aproveitador!
— Não grite com o meu filho, Black! — Molly exclamou ao se aproximar com as bebidas. — Ele só quer ajudar a menina.
— Ajude ficando bem longe dela! — Sirius exclamou alto, fazendo Molly bufar e voltar para dentro da casa em uma distância segura do homem.

rolou os olhos e puxou um Rony assustado para longe do pai.

— Ignore ele — ela murmurou para o ruivo. — Ele não morde.

montou em sua vassoura e Rony fez o mesmo. Ela a sentiu vibrar em suas mãos e seu coração acelerou animado. A sensação de adrenalina era muito boa.

— Certo, quando eu contar até três, você dá um impulso para cima. Mas segure bem firme, ok? — Ron a explicou, olhando com preocupação para a garota. — Um, dois… três!

Ao mesmo tempo, os dois deram impulso e subiram até a altura dos outros que comemoraram com o feito. balançou algumas vezes antes de se estabilizar, mas ao invés de sentir medo, ela gargalhava de alegria, mesmo percebendo que sua vassoura puxava teimosamente para a esquerda. Sirius olhou aflito para a filha no alto, balançando a perna em ansiedade (uma das manias que a garota puxou dele). Ele adorava quadribol, mas o mesmo sabia como era arriscado — ainda tinha cicatrizes da época em que jogava pela Grifinória. Em um ato automático, Black levou a mão até a varinha e cravou seus olhos nela.

— Você deveria ter impedido ela de jogar — ele resmungou para Lupin que o olhou indignado.
— Ah, cala boca, Almofadinhas! Não sou eu o pai dela e mesmo se fosse, deixe a garota se divertir!
— Mas ela não está falando comigo, Aluado! — ele retrucou com raiva.
— Porque vocês são dois teimosos e cabeça dura! — Lupin respondeu com impaciência.

Sirius estreitou os olhos para o amigo, fuzilando-o com raiva. deu algumas voltas com Rony colado ao seu lado, se acostumando com a novidade e com o frio na barriga que achou muito gostoso. Ela se aproximou dos garotos com um sorriso largo. Harry e Gina se revezaram em relembrar as regras para a garota que tentou acompanhar e juntar com as informações que Ron lhe passou na noite passada; no fim, não achou muito complicado.

— Os times vão ser eu, Gina e ; Ron, George e Harry — Fred exclamou o mais alto possível. — Ron e Gina, vocês serão os goleiros — apontou para os aros improvisados que Lupin ajudou a transfigurar a partir de dois galhos de árvore. — Eu e George seremos os artilheiros, é claro. Harry e serão os apanhadores.
— Teremos só uma goles nesse jogo, sem balaços — explicou George, segurando a goles na mão. O objeto parecia muito gasto e velho, tinha certeza que estava na família talvez há alguns séculos.
— E o pomo? — a garota questionou, apertando os olhos para enxergar os amigos. Fred levantou o braço, mostrando uma pequena fada que se debatia em sua mão. — Fred, uma fada? Tadinha!

O garoto sorriu e deu de ombros, descendo com a fada até o solo. Lá de cima, eles observaram Remus murmurar um encantamento e apontar a varinha para a fada que parou de se mexer, batendo apenas as asinhas muito rápido. Fred subiu novamente, erguendo a criaturinha com um sorriso travesso no rosto.

— Ela não vai se machucar — ele a garantiu. — Bom, na verdade, depende de vocês dois.

Harry e se olharam e o garoto apenas deu de ombros, ignorando a cara de indignação da amiga. Os garotos se posicionaram, excitados por finalmente poderem jogar um pouco de quadribol. estava nervosa como se fosse jogar seu primeiro jogo profissional, e o estado de sua vassoura não colaborava muito para que se sentisse totalmente segura. Mas estar ali com eles, incluída no esporte favorito deles, a fez se sentir extremamente eufórica, lhe dando um gás de coragem para aceitar jogar quadribol pela primeira vez. O que poderia dar errado?
Depois de uma contagem regressiva, George jogou a goles para o alto e Fred soltou a fada, e a partida começou. Harry foi mais alto, observando todo o local com o rosto sério. tentou imitá-lo sem muito sucesso. A porcaria de sua vassoura era muito instável e vibrava cada vez que tentava ir mais alto. Mas não tinha problema, pois assim que viu Fred voar correndo com a goles em mãos para o aro adversário, um brilho verde passou por ele, as asas batendo freneticamente. Então a garota fez o que Ron a ensinou na noite passada e tentou mergulhar com a vassoura em direção à Fred. É claro que Potter já havia localizado a fada e mergulhou com a garota, ultrapassando ela em segundos. Entretanto, quando ouviu Fred comemorar animado os seus pontos, Black percebeu que sua vassoura não estava muito sob seu controle, levando-a em direção a Rony que a olhou apavorado. Sirius se levantou, prendendo a respiração e segurando sua varinha com firmeza. No último segundo, puxou sua Shooting Star para cima e desviou do ruivo, respirando aliviada. Seu pai soltou todo o ar, ofegando de alívio e colocando a mão no peito, passageando-o.

— Nunca tenha filhos, Aluado, a não ser que queira se tornar cardíaco.

Lupin riu com gosto, se divertindo com o desespero do amigo.
Com a distração do quase acidente, Harry deixou a maldita fada escapar entre os dedos, o fato de ela não ser a bolinha dourada que já estava acostumado dificultava mais ainda a sua procura. se recuperou rápido, já pegando o jeito com a vassoura, e varreu o lugar com os olhos.

— Você está bem? — Ron gritou quando ela se aproximou, sem tirar os olhos de Fred, seu oponente, que brigava com George pela posse da goles.
— Estou — ela respondeu. — Mas essa vassoura é uma merda.
— É, eu sei — ele sorriu maldosamente para a garota. — Eu costumava usar ela até papai conseguir essa velharia aqui. Não é uma maravilha, mas é muito melhor que essa ai.
— Ah, obrigada por jogar na minha… Ali está a danadinha!

avistou novamente a fada e Harry parecia não ter visto, então ela fingiu ir para cima para distraí-lo e funcionou. Ela mergulhou, focada na pequena criatura que estava atrás de Gina e torceu para que a vassoura não se descontrolasse de novo. Mas ela começou a vibrar, teimosa demais, e puxou a garota para a esquerda.

— Não, vassoura idiota! — ela exclamou, fazendo força para a direita. A essa altura Potter já percebera seu plano e descia com velocidade em sua Firebolt nova em folha, ultrapassando novamente a garota.

Teimosa como o pai, foi atrás de Harry mesmo com a vassoura instável e vibrante, tentando alcançar a fada antes dele. Como se ouvisse seus pensamentos, o garoto desacelerou um pouco e ela conseguiu emparelhar com ele que lhe lançou um sorriso maroto antes de virar a direita e deixar que a mesma seguisse a fada sozinha. Esticando sua mão o máximo possível, finalmente conseguiu agarrar a fada e levantou a mão triunfante, soltando um grito animado com seus companheiros de time. Porém, a garota não conseguiu frear sua vassoura e no segundo seguinte, ela se espatifou no chão, a fadinha ainda firme em suas mãos.
Sirius foi o primeiro a correr em sua direção, acompanhado por Lupin, enquanto os demais desciam com suas vassouras e Molly Weasley saia de dentro d’A Toca.

! — O homem gritou, se abaixando para ver a filha caída no chão. — Por Merlin, você está bem?

A brasileira levantou a cabeça e deu um sorriso, balançando a fadinha atordoada em seus dedos. Sirius respirou aliviado assim como os demais e ajudou a filha a se levantar. Fred e Gina correram até a garota e o ruivo a levantou no ar, comemorando a vitória; até mesmo o time adversário comemorava o fato de ter capturado a fada.

— Você teve sorte, eu estou um pouco enferrujado — disse Harry, piscando para Rony. Não querendo estragar o clima, fingiu não ter notado que ele a deixou ganhar.
— Querida, você está imunda de lama! — Molly exclamou, balançando a cabeça. — Aliás, todos vocês, vão tomar um banho, vão!

Sem discussão, os meninos entraram animados n’A Toca, deixando Remus e Sirius para trás, tentando desfazer o encantamento que colocaram na fadinha.

***

O crepitar do fogo na lareira se misturava com a conversa dos jovens na sala d’A Toca enquanto jogavam snap explosivo, uma gargalhada era ouvida de tempos em tempos, alguns xingamentos escapavam dos lábios deles, mas sem desfazer a diversão do momento.
As músicas favoritas de Molly Weasley tocavam calmamente no velho rádio mágico enquanto a mesma tricotava de forma manual um cachecol azul e laranja. A forma como ela fazia fez se lembrar de Granger arrumando as malas naquela mesma manhã. A pureza com que ações trouxas se misturavam com a magia do lugar a encantava. Distraída, se pegou prestando atenção na letra das músicas, enquanto seus dedos brincavam com os fios laranjas dos cabelos de Rony Weasley, quando uma melodia conhecida começou a tocar. Ron, sentado aos seus pés, cutucou sua perna e jogou a cabeça para trás com um sorriso largo no rosto.

— É a música que a gente dançou — ele falou, fazendo a garota sorrir.
— Mostra pra mamãe como vocês fizeram, Roniquinho! — exclamou Fred, fazendo os outros gargalharem.

Para a surpresa de todos, Ron se levantou em um salto e ofereceu a mão para a morena, que arregalou os olhos em susto.

— Nem pensar — ela respondeu rindo.
— Você dançou na frente de todo mundo! — ele mexeu os dedos, ressaltando a oferta. — Vamos!

entortou a boca, pensativa, mas aceitou o convite, o rosto esquentando de vergonha. O fato de dançar na frente de um público menor a deixava bem mais nervosa e a última vez que fez a decisão idiota de dançar com alguém causou o término do seu namoro. Mas estar nos braços de Ron era tão bom e parecia tão certo que, quando percebeu, eles já rodopiavam pela pequena sala aos risos. Gina puxou um envergonhado Harry para se juntar à outra dupla, George e Fred também se juntaram aos amigos, fazendo gracinhas e provocando Rony que, naquele momento, não se importou em nada com as brincadeiras. Seu foco e sua atenção eram totalmente de e seus olhos quase fechados por causa do sorriso largo que a garota carregava no rosto.
Sirius se encostou no batente da porta da cozinha, balançou o líquido escuro em sua taça e a levou aos lábios, o hidromel desceu queimando sua garganta enquanto ele observava a cena. Ele sorria fraco enquanto olhava sua filha rindo e se divertindo com os amigos, mas não pôde evitar em logo desmanchar o sorriso. Ela lembrava dolorosamente sua falecida esposa, dos pés à cabeça, na forma como ria, em como jogava a cabeça para trás quando fazia isso; na forma como enrolava os cachos no dedos quando estava concentrada ou como mexia distraída nos cabelos do amigo como Artemisa fazia nos dele.
Remus Lupin se aproximou, apertando o ombro do amigo e olhando na direção que o mesmo olhava, o sorriso surgindo fácil nos seus lábios.

— Ela cresceu lindamente, não é? — Lupin comentou, cruzando os braços e se encostando no outro batente da porta. Sirius soltou uma risada sem humor.
— Até demais — ele respondeu. Ficou longos segundos em silêncio antes de continuar. — O que me mantinha com sanidade naquela merda era saber que eu ia voltar para elas e para Harry. E o que quase me levou a loucura era saber que eles estavam crescendo e eu não estava por perto para ver.
— Eu estava — Remus sorriu, uma chuva de memórias lhe atingiu em cheio.
— É, obrigada por tirar tantas fotos — Sirius riu para o amigo, seu humor melhorou um pouco. — Mas não é a mesma coisa. E agora ela está longe de novo…
— Ela está bem ali, Almofadinhas — Lupin apontou para a garota.
— E eu fui um idiota, Aluado — Sirius soltou um suspiro alto, balançando a cabeça. — Sou um péssimo pai, eu mereço que ela não queira falar comigo.
— Não fala besteira, Black. A garota é louca por você! Deixe o orgulho de lado e vai falar com ela.

Sirius Black desviou os olhos do amigo e observou novamente, agora ela dançava mais lentamente com Ron, as mãos do ruivo pairando perigosamente em sua cintura enquanto seu rosto estava afundado no pescoço dela, balançando com calma no ritmo da música. O homem apertou a taça em suas mãos conforme Rony apertava a cintura da sua filha e agradeceu pela taça não ser de vidro ou teria estourado o objeto em sua mão.

— Se eu for até lá, eu mato o garoto — ele falou entredentes, fazendo Lupin gargalhar.
— Você não vai fazer isso — disse Remus, tirando a taça da mão do amigo. — Vai ser simpático e pedir para dançar com sua filha. Pense bem, pelo menos não é o filho dos Malfoy.

Sirius lançou um olhar raivoso para o amigo que apenas riu com vontade com a provocação. Ele se dirigiu até a dupla e pigarreou alto, fazendo Ron se assustar e o olhar com pavor. Suas mãos tremeram e se afastaram de a contragosto. A garota por sua vez olhou seu pai com certa raiva, um acúmulo da discussão de ontem com o fato de ele ter interrompido um momento perfeito com Rony Weasley.

— Posso dançar com a minha filha? — Sirius perguntou, deixando um traço de nervosismo escapar por sua voz.
— C-claro — gaguejou Rony, sorrindo ligeiramente para a garota. — Vou pegar algo para beber.

Ele se afastou com pressa, não queria ficar por perto para saber o que Sirius faria com ele por ter dançado com sua filha. Black, por sua vez, segurou a mão da filha e passou um braço por sua cintura, se movimentando lentamente no ritmo da música. apoiou a cabeça em seu peito, ouvindo os batimentos calmos do seu pai enquanto ele a embalava em uma dança lenta. Não importava o que houvesse acontecido entre eles, ela não conseguia dispensar qualquer segundo que pudesse estar colada ao pai. Nem a eternidade seria o suficiente para compensar os anos em que passaram longe um do outro.

— Sinto muito por ontem, pequena — Sirius sussurrou, encostando o queixo na cabeça da garota. — Não gosto de brigar com você. Eu perdi totalmente a razão.
— Também não gosto de brigar com você — ela murmurou contra seu peito, ainda balançando no ritmo da música. — Não quis dizer aquilo sobre Potter. Eu adoro ele, você sabe. Falei da boca para fora, eu juro.
— Eu sei — ele murmurou com um sorriso no rosto. — Nisso você é igual a sua mãe, sabe? Ela sempre dizia coisas para me machucar em nossas raras brigas, mas eu nunca as considerava de verdade. Sabia que ela não acreditava nas próprias palavras quando estava brava.

Se afastando um pouco da garota, Sirius enfiou a mão no bolso e puxou o bracelete. Os olhos de brilharam quando seu pai segurou sua mão e colocou o bracelete dourado de volta no seu pulso, depositando um beijo no dorso da sua mão. Os dois voltaram a dançar, um agradecimento silencioso pairando no ar.

— Sabe, eu gosto do Ronald — Sirius falou, fazendo a garota levantar a cabeça e o olhar chocada. — O quê? Acho ele bem melhor que o Malfoy.

A garota riu e balançou a cabeça, mas não respondeu nada, voltando a encostar em seu pai. Sirius olhou para Lupin com alívio evidente nos olhos e os dois trocaram uma piscadela, um ato que acusava a cumplicidade que compartilhavam há anos.

***

Os dias passaram tão rápido quanto as mudanças no clima — uma hora chovia, fazia muito frio, depois aparecia o Sol para aquecer um pouco — e quando menos esperavam, o ano novo chegou. Os dias que antecederam foram os melhores em muito tempo: mais partidas de quadribol quando o tempo permitia, algumas de futebol onde e Harry tentaram sem muito sucesso ensinar o esporte para os amigos (eles acharam extremamente sem graça), muitas conversas em volta da lareira e comidas deliciosas de Molly Weasley. definitivamente não queria dizer adeus à tudo aquilo e a seu pai, por mais que sentisse falta de Hogwarts.
E naquela noite de ano novo, os ocupantes d’A Toca estavam impecáveis. Nem todos seguiam a tradição trouxa de usar roupas brancas na virada, mas fez questão de usar um vestido branco e leve por baixo do casaco de couro do pai. Não importava quanto tempo passasse na Europa, ela era incapaz de se acostumar com todo aquele frio. Pelo menos a neve havia parado, mas uma briza gelada ainda açoitava o ar. Mesmo assim, quis seguir com a tradição que fazia com sua mãe todo ano de usar algo branco na virada.
Quando desceu as escadas com Gina, não pôde evitar de corar ao perceber os olhos de Rony e dos gêmeos nela. e Gina se divertiram se arrumando para a pequena festa que fariam na casa, com a intenção secreta de causar aquele efeito nos meninos (o foco da Weasley, é claro, era impressionar Potter). Sem perder a chance de serem galanteadores, George foi para um lado da escada e Fred para o outro, estendendo as mãos para a garota que as aceitou de bom grado.

— Cada dia mais bonita, como você consegue? — disse Fred ao ajudá-la a terminar de descer.
— É injusto com as outras garotas do universo, sabe? — comentou George, fazendo o mesmo e arrancando uma risada da amiga.

Sirius pigarreou alto, se aproximando da filha e fazendo com que os dois Weasleys se afastassem. Rony nem arriscou se aproximar, apenas observou a beleza da garota de longe, reprimindo um suspiro. Seus irmãos estavam certos: ela conseguia se superar a cada dia, nunca cansando de arrancar suspiros e pensamentos impróprios do garoto.

— Você está incrível — disse Sirius, fazendo a filha girar em seu próprio eixo. Depois apontou para Gina — Você também, Gina!
— Obrigada, Sirius, pelo menos alguém reparou em mim — a ruiva respondeu, lançando um olhar irritado para os irmãos e um breve para Harry que apenas pareceu reparar.

E com o grupo completo, a pequena comemoração começou. Taças encantadas flutuaram até cada convidado, cerveja amanteigada gelada para os mais novos e champanhe para os mais velhos. Os jovens nem reclamaram, sabiam que aquilo era o máximo de álcool que Molly deixaria eles beberem. A mulher colocou para tocar suas músicas favoritas, as mesmas que eles estavam ouvindo há uma semana, mas ninguém ousou reclamar. Aquela era a última noite deles juntos, eles queriam aproveitar ao máximo.
Durante toda a noite, Rony tentou várias vezes se aproximar de , tentando tirá-la para uma dança ou ao menos conversar com a moça. Mas ela dançou com Gina, com Sirius, com os gêmeos e até com Remus Lupin nos breves minutos que sua timidez permitiu. Quando finalmente a viu sozinha, ele tomou o resto de sua cerveja e se aproximou dela, dando um sorriso radiante quando ela finalmente o olhou.

— ele esticou a mão para a garota e fez uma reverência, roubando-lhe uma risada.
— Ronald — ela respondeu, imitando o gesto.
— Eu tive que vir te avisar o quão absurdamente linda você está hoje — Ron falou enquanto enchia sua taça e a de com mais cerveja amanteigada.
— Não estou nem um por cento arrumada como no baile, Ron — ela riu, brindando sua taça na dele. — Mas obrigada.
— Mas é como os idiotas dos meus irmãos falaram — o ruivo se aproximou mais da garota, ficando bem próximo do seu rosto. — Você fica mais linda a cada dia.

pigarreou, desconcertada com os elogios. Ela jurou que se encostasse em sua bochecha, queimaria os dedos, pois seu rosto esquentou envergonhado. Satisfeito com o efeito que causou nela, Ron levou a taça aos lábios com o sorriso resistindo em se desmanchar. Entretanto, quando estava prestes a chamá-la para dançar, Arthur Weasley anunciou que faltavam três minutos para a meia-noite. Sem entender muito o porquê, foi puxada por Gina para fora da casa, acompanhando os demais convidados que pareciam igualmente eufóricos. George e Fred sumiram por longos segundos, aparecendo em seguida com duas caixas, cada um segurando uma. Quando as colocaram no chão, Gina explicou que eram fogos de artifícios que eles adoravam soltar sempre que possível, e todo ano eles competiam com os fogos que alguns moradores do vilarejo trouxa soltavam ao longe.

— Esse ano eles vão aprender o que são fogos de verdade — Fred falou convencido, preparando-se para abrir as caixas.
— Se prepare para ver a coisa mais incrível da sua vida, — George exclamou quando os demais começaram uma contagem regressiva.

Os segundos pareciam passar em câmara lenta. pensou em tudo que aconteceu com ela no último ano que começou no Brasil, na Castelobruxo, com ela, Sirius e Lupin vivendo juntos e decidindo se a garota realmente iria para Hogwarts. E então ela foi, embarcou no trem que a levaria para a melhor e mais agitada viagem de sua vida. Como um filme, cada momento marcante passou por sua cabeça ao mesmo tempo que ouvia todos gritarem os segundos restantes.
Para Ron Weasley, o tempo também pareceu parar. Ele olhou para o lado e viu a garota por quem se apaixonara olhando para o céu estrelado com um sorriso enorme no rosto. Seu coração parou junto ao tempo, mas os pensamentos vieram com força. Ele não queria mais esperar, queria fazer o que desejava desde o dia em que ela foi atrás dele no campo de quadribol, ou quando dançaram há algumas noites atrás. Mas quem ele queria enganar? Ele a quis desde o momento que a viu no trem, tão indefesa e assustada. Tão diferente da garota que ela se mostrou ser durante os últimos meses. era incrível demais para o seu próprio bem. E não havia mais porque esperar, não havia momento melhor que aquele. Então seu coração voltou a bater, mais acelerado do que nunca, quando ele decidiu diminuir o espaço entre eles. Os malditos passos de distância pareceram quilômetros.

— Cinco!

finalmente olhou para o lado, percebendo que Ron a olhava. Seu coração que batia fraco agora começava a ganhar vida.

— Quatro!

Rony Weasley começou a achar que os fogos de artifícios dos irmãos não eram mais tão interessantes se comparado ao que estava prestes a fazer.

— Três!

Ele finalmente chegou até a garota, que o recepcionou com o sorriso lindo que ele tanto amava.

— Dois!

sentiu as mãos de Ron esquentarem seu rosto, e se deliciou com seu calor. Seus olhos também a aqueceram, olhando-a com tanta intensidade que causaram arrepios pelas partes certas no corpo da garota.

— Um! Feliz ano novo!

Os dois se beijaram no exato momento que os gêmeos abriram as caixas e os fogos dispararam para enfeitar o céu escuro, as luzes coloridas tomaram diversas formas e sons junto às estrelas. Apareceram corações, dragões, pássaros e até a forma de pessoas dançando. Mas nada disso foi visto por e Ron.
O ruivo passou os braços pela cintura da garota, segurando-a com firmeza enquanto a mesma levou suas mãos até os cabelos compridos do garoto, acariciando-o do jeito que ele tanto gosta. Por Merlin, Ron jurou que derreteria nos braços dela, que seria capaz de passar o resto de sua vida naquele beijo e não precisaria de mais nada. Já se sentia parte dos fogos de artifício, explodindo em mil sensações com o beijo e o toque das mãos do garoto em seu corpo. Ela não sabia que desejava tanto aquele beijo até senti-lo em seus lábios, e que precisava tanto de Rony Weasley até tê-lo em seus braços.
Para a frustração dos dois, eles sabiam que iriam precisar separar seus lábios em algum momento. Os fogos ainda decoravam o céu quando eles se afastaram alguns centímetros, apenas o suficiente para verem o reflexo das luzes nos olhos um do outro. Um assovio acompanhado de palmas chamou a atenção de ambos e se surpreenderam ao ver que todos olhavam os dois, alguns um pouco surpresos, como os pais de Rony e Remus Lupin, outros estavam animados e aliviados, como os gêmeos, Harry e Gina, que esperavam isso acontecer desde o primeiro dia da garota em Hogwarts. Ron engoliu em seco ao ver a feição séria e chocada de Sirius, finalmente caindo a ficha de que beijara a filha do homem na frente dele. Merda, eu estou morto, ele pensou.

— Feliz ano novo, maninho! — Fred se aproximou dos dois e abraçou Ron pelos ombros, enquanto Gina puxava a amiga para um abraço, dando gritos animados.

Os dois foram cumprimentar os demais, aproveitando para admirar os últimos fogos que rodopiavam no alto, iluminando as pessoas abaixo com as diferentes cores. Ron evitou ao máximo cumprimentar Sirius, se demorando nos abraços que deu em sua família. Já correu para os braços do pai, apertando-o com força e desejando o “feliz ano novo” mais sincero de todos. Ela realmente desejava que aquele novo ano fosse melhor para ambos e que finalmente pudessem passar mais tempo juntos.

— Feliz ano novo, pequena — ele retribuiu o aperto, sorrindo aliviado ao tê-la em seus braços. — Vou ser bonzinho e deixar o Ronald vivo por mais algumas horas…
— Pai! — ela o repreendeu com um tapa leve no braço.
— Está bem! O deixarei vivo por mais um dia — Sirius brincou, fazendo-a gargalhar. — Eu aprovo ele, filha. Na verdade eu aprovo qualquer um que a faça feliz e não te machuque. Mas estou de olho, viu?
— Ok, Sr. Black, entendido — ela respondeu risonha. — Eu amo você.
— Também te amo — ele a abraçou de novo, acariciando os cabelos volumosos da garota e soltando um longo suspiro. — Por favor, pare de crescer!

***

Quando deitou a cabeça no travesseiro naquela noite, seu cérebro não a deixou dormir. Ficou encarando o teto escuro enquanto repassava os acontecimentos dos últimos dias, chegando a conclusão de que não havia tido tanta diversão assim há muito tempo. Involuntariamente, ela levou os dedos até os lábios, a lembrança do seu primeiro beijo com Rony Weasley se fixando em sua mente como um feitiço colloshoo muito bem feito. Mas é claro, para atrapalhar sua cabeça e bagunçar seus sentimentos, ela não conseguiu evitar pensar em Cedrico Diggory. Sentia que o havia traído, mesmo sabendo que o garoto quem terminou com ela. Se odiou quando sentiu seu peito apertar de saudades dele. Ela se sentiu uma idiota pelo fato de, depois de dias incríveis com os Weasleys, com Rony criando memórias maravilhosas com , a mesma ainda ousar sentir falta do lufano.
Derrotada, decidiu fazer o que sempre fazia quando não conseguia dormir direito. Vestiu suas pantufas e saiu do quarto com cuidado para não acordar Gina e desceu para a cozinha, procurando pelos armários por um bule e por ervas para fazer um chá. Quando a bebida ficou pronta, se deliciou com o líquido quente lhe acalmando e o escuro lhe acolhendo, o barulho da chuva caindo musicalmente na grama completava o cenário pacífico. Assim ela conseguia pensar e raciocinar com mais calma, mas se permitiu apenas esvaziar a mente, enquanto bebericava seu chá.

— Sempre recorrendo ao chá da madrugada, não é? — disse Rony, fazendo a garota se sobressaltar.

O ruivo estava parado no final da escada, os cabelos bagunçados e o casaco aberto e amassado entregavam que ele também se remexeu muito na cama antes de desistir de dormir.

— E você sempre me assustando — ela respondeu com um sorriso, indo até um armário para pegar uma caneca para o garoto.
— Prefiro dizer que te surpreendo — Ron respondeu, seu sorriso convencido fez uma covinha adorável surgir em sua bochecha. — Não conseguiu dormir?

Ela apenas negou, lhe entregando a caneca agora cheia e se apoiando na mesa, observando o contorno do garoto no escuro.

— Eu também não — ele falou, se aproximando para apoiar a xícara na mesa, provocando-a ao colar seu corpo no dela. — Sabe, é um pouco difícil dormir depois de viver um dos melhores dias de todos.

Rony passou uma das mãos pela cintura da garota e com a outra, ele pegou a caneca dela e colocou na mesa, ao lado da sua. Essa mesma mão se encaixou em seu pescoço, fazendo-a levantar a cabeça para encará-lo. O desejo era implícito nos olhos azuis do garoto e ela retribuía com a mesma intensidade. Com bem menos delicadeza que no beijo à meia noite, Rony selou seus lábios com voracidade, deixando sua língua explorar a boca da amada em uma dança deliciosa. A garota se segurou em seus ombros e se impulsionou para cima, sentando-se na mesa e permitindo que ele se encaixasse entre suas pernas, entrelaçando-as em volta da cintura do ruivo. Cada contato novo com Rony fazia uma corrente elétrica percorrer o corpo dela, causando sensações novas e deliciosas que já a deixavam viciada, querendo cada vez mais. E ela o puxava para mais perto, como se necessitasse que cada centímetro do seu corpo estivesse em contato com cada centímetro do corpo dele.
Ron desceu suas mãos até as coxas grossas da garota, apertando tão forte que deixariam marcas no dia seguinte. Ele queria deixá-la marcada, não necessariamente em sua pele, mas em sua mente, em sua memória, queria fazê-la só dele para não perder mais tempo longe dela. Contudo, uma vontade maior fez com que ele subisse o toque novamente até a cintura dela, onde a barra de seu moletom o convidada para brincar. Lembrando-se de conversas que teve com seus irmãos e seus amigos em Hogwarts sobre as experiências que os mesmos tiveram, o ruivo colocou as mãos quentes por baixo do tecido e foi subindo aos poucos, sentindo contrair a barriga com o arrepio. Ela quebrou o beijo para tentar reprimir um gemido, sem muito sucesso, quando as mãos dele tocaram seus seios de forma gentil, como se tocasse em pedras preciosas demais para manuseá-las com rapidez. Rony desceu seus beijos por uma trilha que o levou até o pescoço da garota, decorado por seu fiel colar. Ali ele deixou beijos, chupões e mordidas, fazendo-a puxar seus cabelos em incentivo.
Porém, ambos se separaram no instante em que ouviram alguém pigarrear alto. Ao se virarem para a escada, Remus Lupin estava parado com a varinha acesa e um sorriso maroto de quem tenta segurar o riso.

— Acho que está um pouco tarde para estarem fora da cama, não acham?
— N-nós estávamos só… — Rony gaguejou sem jeito, tentando ajeitar os cabelos rebeldes.
— Tomando chá! — tentou completar, apontando para as xícaras em cima da mesa. — S-se quiser, te-tem mais na chaleira onde se faz o… chá.

Lupin não conseguiu mais segurar a risada, mas tapou a boca para que não acordasse mais ninguém. Os rostos dos dois jovens queimavam de vergonha e se não fosse a escuridão do cômodo, poderiam enxergar seus rostos vermelhos de vergonha e excitação.

— Acho melhor a gente… — apontou para a escada, completamente desconcertada. — Boa noite, padrinho.
— Boa noite, baixinha — disse Remus quando a menina subiu as escadas correndo. Quando Ron foi fazer o mesmo, Lupin o impediu. — A sua sorte, garoto, é que Sirius tem sono pesado.

Rony engoliu em seco e assentiu, subindo as escadas com as pernas tremendo.

***

O dia dois chegou rápido demais para a tristeza de todos. Aquela tinha sido a melhor semana em muito tempo, e ninguém queria dizer adeus à ela, muito menos às pessoas que viveram juntos nesses últimos dias.
parou em frente a lareira junto com o aglomerado de pessoas falantes e animadas para a volta às aulas. Molly ajeitava as vestes e cabelos dos filhos e se despedia do marido que precisava partir em breve para o Ministério. Harry conversava com seriedade com Lupin e Sirius se aproximou da filha, em seu sorriso havia um toque triste em ter que se despedir da filha novamente. Seu coração se partia em mil pedaços toda vez que dizia adeus à filha. O homem ajeitou as vestes da garota, passando o dedo carinhosamente pelo símbolo da Grifinória.

— Ah, esse uniforme horroroso… Como sinto falta.
— Ainda tem o seu? — perguntou, alargando o nó apertado que o pai fez em sua gravata.
— Não sei — ele respondeu pensativo. — Acho que deixei na casa dos Potter…

o olhou com preocupação, percebendo o lampejo de tristeza que passou pelo rosto do homem. Sabia bem como ele ficava quando falava de James, odiava ver aquela dor nos olhos dele. Ela segurou seu rosto, fazendo-o sorrir de novo antes de limpar a garganta claramente embargada.

— Bom, é hora de ir.
— Você vai ficar bem? — ela perguntou, a preocupação evidente em sua fala.
— Ora, ainda duvida do seu pai? — ele retrucou sorridente, abrindo os braços para receber um abraço. — Vou ficar bem. E você? Vai ficar longe daquele garoto?

sabia bem de quem Sirius estava falando e não quis discutir. Afinal ela mesma, por muitas vezes, se pegou refletindo a necessidade de se manter o mais longe possível de Draco Malfoy. Mas alguma maldita coisa que nem Merlin explicaria sempre a levava até o sonserino, não importava o quanto tentasse se afastar. Ela admitia que não tentava muito, mas fazia seu melhor.

— Claro, ficarei sim.

Sirius sorriu satisfeito, dando uma última olhada na filha, um nó se formando em sua garganta. Lupin estava certo, ela realmente cresceu muito e com perfeição. Seu coração doía em pensar no tanto que perdeu da vida dela, mas momentos como aquele, em que ele apertava os braços da garota para verificar se ela era real ou um sonho, ele agarrava com força e os prendia em sua memória. Se precisasse passar mais doze anos em Azkaban, pelo menos teria muitas novas memórias com a filha e com o afilhado para manter sua sanidade intacta.
limpou algumas lágrimas teimosas depois de se despedir de Lupin e Jack, e esperou os demais entrarem na lareira e partirem chateados para Hogwarts, ficando para trás com Harry. Antes de entrar na lareira, Molly Weasley a segurou, dando um sorriso carregado de carinho e doçura, típico de uma mãe. Artemisa deu vários desses sorrisos durante seus breves anos com a garota, então ver um sorriso daqueles novamente fez o nó em sua garganta aumentar.

— Foi ótimo te ter aqui, querida — ela falou para a garota, afagando seus cachos. — E eu quero que você saiba que sou totalmente a favor de você e Rony. Seria maravilhoso ter uma nora como você, eu só peço que não o machuque, está bem?

corou violentamente quando ouviu o que a mulher falou, totalmente envergonhada, porém, ela assentiu. A última coisa que queria no mundo era machucar Ronald Weasley.

— E volte sempre, agora você é da família — Molly exclamou, acenando animada quando a garota entrou na lareira.

A chama verde a consumiu quando ela falou seu destino com a voz embargada e jogou a areia em seus pés, tendo um último vislumbre de sua família.



20 - Comeback or go away

ainda limpava as cinzas da roupa e do rosto quando os amigos saíram apressados da sala da Professora McGonagall, temendo que perdessem o almoço. Ela correu atrás deles, entretanto, precisava fazer algo importante antes de pensar em comida; as palavras de Molly Weasley martelavam barulhentas em sua mente como se houvesse uma grande reforma em seu cérebro.

— Ron, posso falar com você?

Rony se virou, parando de andar no instante em que viu correr até ele e o puxar para a parede, se afastando do meio do corredor. Naquele exato momento, olhando nos olhos azuis do garoto que parecia ansioso, ela teve certeza de que tomaria a decisão certa. Dane-se Cedrico e que Draco fosse à merda, ela queria o garoto de cabelos ruivos que a levou a loucura na mesa de jantar da casa dele, o garoto que falou sobre ela para a mãe antes mesmo de ela ser convidada para o ano novo, o garoto que sempre se preocupava e cuidava dela e não saia de seu lado por nada no mundo. adorava o Weasley com todas as forças e queria mais dele, queria seu toque e seus beijos novamente e todos dias.

— Sobre o que aconteceu n’A Toca…
— Eu já sei — ele a interrompeu, segurando a mão dela com carinho e dando um sorriso um tanto triste. — O que acontece n’A Toca, fica n’A Toca, certo?
— Como?!

Então era isso que ele queria o tempo todo. Alguns amassos no escuro com o risco de serem pegos excitando seus corpos e nada mais. se sentiu uma idiota em pensar que, depois de todo esse tempo, ele ainda a queria e ainda estaria esperando por ela, além de se sentir usada. Tudo o que o amigo queria era prová-la e pronto, satisfeito. Afinal, ele era um garoto. Dava para confiar nas palavras deles?

— Era isso que você ia dizer, não era? — ele a questionou, incerto.

Não, seu idiota, eu ia dizer que eu gosto de você e que eu quero você!, ela pensou. As palavras subiram até a sua garganta, mas permaneceram presas ali. as engoliu em seco e assentiu.

— Sim, era isso.
— Por mim, tudo bem.

Rony mentiu descaradamente. Aprendeu a ser um bom mentiroso durante os últimos anos, tendo que muitas vezes usar a mentira como proteção para enfrentar as aventuras que viveu com Harry e Hermione. Mas deixou seu rosto se entristecer quando deu um sorriso fraco e lhe deu as costas, sem dizer mais nada. Aquilo não era o que ele queria. Em seu íntimo, Ronald Weasley desejava com todas as forças poder repetir para sempre o que fizeram em sua casa, de preferência sem serem interrompidos. Mais que isso, queria poder chamá-la de sua. Minha namorada, ele pensou.
Porém, Ron sabia bem quem iria voltar a chamá-la assim. Cedrico Diggory pode ter feito seja lá qual idiotice que fez, mas não era louco de deixar uma garota daquelas partir. Diggory, o Campeão de Hogwarts, iria atrás de sua garota para se resolverem. E quem era Ronald Bilius Weasley para impedi-la de ser feliz e ficar com um cara incrível e mil vezes melhor que ele? Ninguém.

— Ron — disse Harry, chamando sua atenção. — Está tudo bem?

Rony não percebeu que ainda estava parado, encostado na parede, observando o lugar por onde a garota desapareceu. Também não percebeu quando o melhor amigo se aproximou.

— Não — ele admitiu, dando de ombros. — Mas vai ficar.

Harry, que conhecia o amigo melhor que a si mesmo, entendeu perfeitamente sobre o que o amigo falava. Mas não disse nada, apenas apertou o ombro de Rony e o acompanhou para a Sala Comunal.
Andando apressada pelos corredores a fim de chegar rápido no dormitório feminino da Grifinória, ainda secava suas lágrimas disfarçadamente para que ninguém lhe importunasse. Ela finalmente decidiu com quem queria ficar e havia levado um belo balde de água fria que ao invés de congelá-lo, partiu seu coração em mil estilhaços. Ficar triste era a última coisa que a garota queria depois da semana incrível que teve, então se concentrou no fato de que, pelo menos, ainda tinha a amizade de Rony. Ele prometeu não deixá-la sozinha e ela acreditava que ele iria cumprir a promessa, independente do que fosse acontecer.
A aluna ainda andava distraída quando trombou com um professor, ou pelo menos pensou ser um professor. E quando viu quem era, desejou com todas as forças que fosse um professor, e não Lúcio Malfoy. O infeliz estava ali novamente, com o sorriso sarcástico e presunçoso idêntico ao do filho estampado no rosto.

… Ou Black, como prefere?
. Este é o meu sobrenome, não sei porque insiste em Black. Certamente está me confundindo com outra pessoa, eu acredito.

A garota fechou suas mãos em dois punhos apertados ao lado do corpo, pronta para sair correndo dali. Mas algo a instigou, talvez o fato do homem ainda insistir em falar com ela com tanta naturalidade depois do que fez ou a vontade que ela tinha de ver até onde o desgraçado iria. Então ela permaneceu ali, seus lábios fechados em uma linha fina, paralisada como uma estátua na frente dele.

— Vejo que está melhor — ele observou, olhando-a de cima a baixo com cara de nojo. — Tem um antigo ditado que diz que “caldeirão ruim não quebra”.
— Então deve ser impossível matá-lo, Sr. Malfoy.

tentou usar seu melhor tom irônico, torcendo para que ele entendesse. Lúcio sorriu, um sorriso frio de arrepiar todos os pelos dos braços da garota. Sua cara não entregava um pingo de remorso. Lúcio Malfoy não fazia as coisas para se arrepender depois, tudo era muito bem pensado, mesmo o gesto impulsivo de jogá-la da escada. Ele não queria que morresse, só queria assustá-la. Bom, ele falhou.
era teimosa como o pai e também herdara sua coragem, a combinação não a deixava ter medo de um idiota como Lúcio.

— Gostaria que assim fosse — disse ele, esticando um dedo para tirar uma camada de fuligem dos ombros da garota que estremeceu com o toque. — Como foi a semana com os… Weasley?
— Como você… — abriu a boca, mas não completou a pergunta.

Seu cérebro procurou alguma memória do momento em que contou a Draco sobre sua ida até A Toca. Ela não havia contado nada a ele ou a ninguém além de Harry, Hermione e os irmãos Weasley. Lúcio a tocou novamente, como se encostasse em um pano sujo de bosta de hipogrifo, e levantou o braço dela, admirando o bracelete dourado que o filho a presenteou.

        — Um desperdício, uma jóia tão bonita em uma mestiça traidora do sangue como você. — Ele cuspiu as palavras enquanto puxava seu braço de volta como se o toque do homem a queimasse. — Mas meu filho tem bom gosto… Pelo menos para jóias.

puxou sua varinha no mesmo instante que Malfoy começou separar a dele de sua fiel bengala quando ouviram uma voz grave e lenta se dirigir ao homem.

— Olá, Lúcio — Snape sibilou, sua aparência e postura impecáveis fizeram respirar um pouco aliviada, nunca pensou que se sentiria feliz em vê-lo.
— Severo — Lúcio respondeu com um aperto de mãos depois de guardar a varinha. — Como vai?
— Excelente. — Snape dirigiu seu olhar para a garota, que ainda apontava a varinha para Malfoy, o rosto vermelho e as mãos trêmulas entregavam que ela ainda estava com raiva. — Importunando o Sr. Malfoy, ?
— Não, eu…
— Apontar uma varinha para o pai de outro aluno é gravíssimo. — O professor a interrompeu, movendo apenas os lábios. — Detenção. Amanhã ao fim das aulas.
— O quê? Mas eu não fiz nada! — ela exclamou, sua raiva crescendo com força. — E eu tenho aula com a Senhorita Trelawney amanhã, eu não…
— Prefere perder mais pontos para sua casa? — Snape levantou uma sobrancelha. — Terei prazer em tirar mais 50 pontos da Grifinória se a senhorita preferir, mas acredito que seus companheiros de Casa não ficarão tão felizes assim…
— Está bem! — Ela bufou, fuzilando Lúcio com os olhos.
— Agora vá para a sua Torre.

saiu marchando com raiva em direção ao seu destino original, deixando os dois homens para trás. Snape, por sua vez, guiou Lúcio para uma sala vazia sem muita delicadeza, claramente tentando controlar sua própria raiva. Sempre achou Malfoy um idiota, apesar de ser grande amigo da família, e se irritava toda vez que tinha que corrigir as burrices do homem. Naquela situação, Lúcio não estava apenas andando em círculos em sua busca por Sirius Black, mas estava também afastando a garota e a colocando em perigo, dificultando para Snape cumprir um de seus deveres.

— Você é realmente um idiota — ele murmurou após lançar um Abaffiato na porta. — Além de jogá-la da escada, iria ameaçá-la com sua varinha? Acha mesmo que Dumbledore não sabe o que você fez?
— Estou ficando impaciente, Severo! — O outro homem exclamou, apertando sua bengala com força. — Você não entende! Ele está chegando, eu preciso pegar Sirius Black e entregá-lo de bandeja!
— Isso não é prioridade, Malfoy! — Snape exclamou, perdendo o resto de paciência que ainda lhe restava. — Você acha que eu não quero colocar as mãos naquele cachorro imundo e fedorento? Eu quero fazê-lo pagar por tudo o que ele fez! Mas pense no Draco e no perigo que você o está colocando. Ele está apegado à menina!
— E do que isso adianta? — Lúcio retrucou. — Ela estava lá, com os traidores do sangue, na casa dos Weasley! Enquanto meu filho passou o feriado sozinho em Hogwarts! Nem para segurá-la aqui ele serviu!

Snape estava cansado daquela discussão. Ele sabia que Lúcio estava desesperado para mostrar serviço ao Lorde das Trevas depois de todos esses anos recluso, sem mover uma agulha para encontrar o Mestre. O professor apontou seu longo e fino dedo em direção à Lúcio, fazendo o homem engolir em seco.

— Tem outra coisa — murmurou Snape. — Aquela garota não é a filha de Sirius Black. E se eu te ver novamente perto dela ou de qualquer outra aluna, terei que lhe entregar para Dumbledore e você nunca mais pisará nessa instituição. Ficou claro?

Lúcio projetou o queixo para cima o máximo que conseguiu, tentando não mostrar o quanto aquilo afetou seu orgulho.

— Não importa, Severo. Há centenas de garotas na escola, eu encontrarei a filha dele, demore o tempo que for. Só não chore quando eu o pegar primeiro.
— Isto não é uma corrida, Lúcio. — Ele se afastou do homem, segurando a maçaneta e se virando para Lúcio antes de abri-la. — Diferente de você, eu não preciso provar nada ao Lorde das Trevas.

***

A mente de não se aquietou depois da conversa com Lúcio Malfoy. Foi difícil se concentrar nas aulas naquela segunda-feira e durante todo o dia, sua participação nas conversas era monossilábica e aérea. Sua cabeça estava longe, formando mil teorias de como raios Lúcio Malfoy sabia sobre sua ida programada de última hora para a casa dos Weasley. Ela não contou a Draco, tinha certeza disso, e um assunto tão banal como esse não se espalharia tão fácil a ponto de chegar aos ouvidos do homem. Se ele sabia, por que não foi procurar pelo pai dela n’A Toca? Será que achou fácil ou óbvio demais Sirius estar lá com ela?
Sua inquietação não passou despercebida pelos amigos que insistiam em querer saber, mas mentia dizendo que era apenas sobre a injusta detenção que recebeu, como se não soubesse que os amigos não fossem engolir essa mentira.
A distração era tanta que mais tarde, antes do almoço, se assustou ao sentir um cutucão em seu ombro. Cedrico Diggory estava parado atrás dela, apertando os livros nos braços em claro sinal de nervosismo. O coração da garota parou por um segundo, nem toda distração do mundo a evitaria de chegar naquele momento; eles tinham que conversar.

— Diggory — ela murmurou de forma quase inaudível. — Oi.
— Oi — ele a cumprimentou, dando um breve sorriso. Limpou a garganta antes de continuar. — Eu… É… Como foi seu ano novo?
— Foi bom… Fui para a casa dos Weasley com o Harry.

Cedrico levantou as sobrancelhas, surpreso. Não pôde evitar uma pontada de ciúmes, Rony Weasley sempre deixou claro seus sentimentos por ela e a garota foi para sua casa. Ele não quis acreditar que ela já havia seguido em frente tão rápido assim, porém, não poderia falar nada, pois ele mesmo levou Cho Chang para passar o ano novo com ele e bom, não conseguiu evitar beijá-la a meia-noite embaixo do maldito azevinho que a família colocou na sala. Mas estava em sua mente e em seu coração durante toda a noite enquanto a garota estava com o Weasley.
constatou uma coisa: Diggory estava claramente surpreso em ouvir aquilo e se ele não sabia sobre ela ir para A Toca (e ela duvidava que iriam resistir em contar a “fofoca” sobre a ex ao lufano), então a história não havia se espalhado. Como raios Lúcio soube?

— E o seu ano novo? — Ela o questionou, espantando os pensamentos.
— Foi… Normal — ele deu de ombros, apertando mais os livros. — Na verdade, eu te chamei para saber se contou para Harry sobre o ovo?

levou a mão à testa, lembrando-se do maldito ovo. O próprio Harry ignorou o objeto durante toda a semana, insistindo que ainda tinha tempo e que queria se divertir n’A Toca, então ela esqueceu-se sobre o objeto. Na verdade, ela evitava pensar muito nas coisas que a faziam lembrar do ex e o ovo definitivamente a fazia se lembrar dele.

— Não, eu estava com muita coisa na cabeça e Harry não queria pensar nisso, então acabamos esquecendo.
— Posso imaginar… — ele murmurou o mais baixo possível, mas a garota ouviu perfeitamente e ele não conseguiu esconder o tom de voz sarcástico.
— O que quis dizer com isso, Cedrico? — disse ela com certa irritação, cruzando os braços.
— Nada, esquece — ele suspirou frustrado. — Deixa que eu conto para o Harry, está bem? Não precisa mais se envolver nisso.
— Com prazer — ela retrucou arisca.

Se arrependeu ao ver a decepção nos olhos de Diggory. Estava tratando-o como tratava Malfoy no auge de sua raiva, e se tinha alguém naquela escola que não merecia ser tratado assim, esse alguém era Cedrico Diggory. Ela resistiu à vontade de tocar seu rosto e pedir desculpas, lhe dando um beijo carinhoso como adorava fazer. Era fácil não pensar em Diggory estando longe, mas agora que ele estava na sua frente, com toda sua carisma e beleza, todos os sentimentos (inclusive a dor pelo término) estavam ali, lhe incomodando. Ela apenas ignorou o nó se formando em sua garganta.

, eu queria conve…
— Ced, finalmente te achei!

reconheceu os cabelos pretos e extremamente lisos de Cho Chang quando se virou, e a acompanhou com o olhar até a corvina abraçar a cintura de seu namorado com um sorriso radiante no rosto. Ex-namorado, ela se forçou lembrar. A brasileira ficou parada observando a cena, enquanto Cedrico não soube muito bem o que fazer.

— Eu acho que esqueci minhas luvas na sua casa, acredita? Terei que comprar novas no próximo passeio a Hogsmeade. — Cho deu uma risada adorável e finalmente reparou em , desfazendo seu sorriso e arregalando os olhos. — Ah, céus, me desculpem! Não queria interromper a conversa de vocês.
— Eu já estava indo — respondeu em um murmuro baixo, trocando um último olhar doloroso com Diggory que parecia suplicar por perdão. Ela entendeu tudo.

Mas não tinha nada que perdoar, afinal eles haviam se separado e ela já havia seguido em frente, fez exatamente a mesma coisa que ele: foi para a casa com Rony e o beijou no ano novo. Era óbvio que ele fez o mesmo com Cho e não o culpava. Porém, não pôde evitar levar a mão ao peito ao sentir seu coração apertar com força, fazendo algumas lágrimas teimosas brotarem em seus olhos. Estava cansada de chorar, ela odiava chorar. Quando foi que ficou tão chorona e quando foi que tudo começou a dar tão errado?
Sua mente, como resposta, a levou até o exato dia em que deixou o Brasil e partiu para Londres para, em seguida, chegar em Hogwarts. Foi realmente ali que tudo começou a dar errado? Será que a ideia louca de seu pai de voltar para Castelobruxo já não era mais tão louca assim?
O dia seguinte foi igualmente monótono, mas agora possuía um toque de dor. não conseguia ficar bem com tanta coisa na cabeça e ela insistia em não falar nada à ninguém. Rony se sentiu culpado, achando que ela estava assim por causa dele. Já Cedrico, depois de falar com Harry sobre o ovo, passou a observá-la apenas de longe, se sentindo igualmente culpado. Draco Malfoy a ignorava desde o Natal, quando a mesma o deixou na Torre de Astronomia para correr para seus amiguinhos. Descobriu mais tarde, quando seu pai veio à escola, que a garota havia ido para a casa dos Weasley com Harry Potter. Agora ele apenas sentia raiva dela, ignorando totalmente a vontade de consolar a garota ao vê-la triste pelos cantos da escola, como agora, sentada sozinha na mesa da Grifinória com alguns livros abertos e uma maçã vermelha mordida nas mãos. Ele a consolou no dia do baile, passou a noite com ela para que a mesma não ficasse se martirizando sozinha em sua cama, a fez rir e dançou com ela para na primeira oportunidade ela lhe dar às costas e correr para o Weasley. Ela merecia estar triste, pensou, deixando de lado o incômodo que isso lhe causava.
não era mais problema dele. A garota levantou os olhos de seu pergaminho para encará-lo por breves segundos. Ela sentia a raiva irradiar dos olhos azuis gélidos de Malfoy e desejava saber o porquê desse sentimento. Mas sempre que o olhava, o pedido de seu pai ecoava em sua mente. "Vai ficar longe daquele garoto?". Ela o prometeu que ia, então voltou a encarar o pergaminho, ainda sentindo os olhos dele a queimarem.
Quando as badaladas do relógio indicavam que já era meio-dia, saiu correndo pela longa escada em espiral para a sala de Adivinhação. A Professora Sibila Trelawney foi adorável e permitiu que ela mudasse sua aula para o horário do almoço, excepcionalmente naquele dia, para que a mesma pudesse cumprir a detenção mais tarde.

— Hoje iremos conversar sobre canalizar suas visões — Sibila murmurou, alisando a palma da mão da garota. — Há formas muito eficazes de invocar a visão desejada, exatamente a que você quer. Entretanto, essa prática requer tempo e treino. Me conte, já tentou alguma vez?
— Algumas — ela admitiu, sua voz continha um leve tom de assombro. — Não deu muito certo, acabei vendo coisas não muito agradáveis.
— Exatamente. — A professora se levantou, caminhou até a sua mesa e pegou uma ametista rústica e pontiaguda do tamanho de um damasco. — Isso pode acontecer se não fizer da forma correta. Como você fez essas tentativas?
— Foram sempre na água — admitiu, vendo Trelawney arregalar os olhos com a resposta. — Tanto no rio que havia ao lado da Castelobruxo quanto no Lago Negro aqui da escola…
— Que erro, garota, que erro! — Sibila se aproximou com passos vacilante, e estendeu a pedra para a garota que a segurou com curiosidade. — No lago ou no rio, há criaturas demais vivendo neles! Criaturas que nem sempre são tão boas e puras. Nós precisamos de calma e sentimentos bons para atrair o que desejamos, o lago não é o melhor lugar para isso.
— Então como eu faço?
— Hoje te ensinarei o poder dos objetos e das joias. Essa pedra é pura, limpa... A única conexão que ela tem, por enquanto, é de nossos toques. Mas ela pode ser grande canalizadora de poderes, como o seu dom, ou de encantamentos e feitiços, dos mais simples aos mais elaborados e… Sombrios.

A professora estremeceu ao falar a última palavra, parecendo levemente aérea em seguida, como se refletisse sobre a própria frase.

— Professora?
— Ah, sim, onde estávamos?
— A pedra…
— A pedra, é claro! — Sibila se sentou de frente para a aluna e fechou a mão da mesma em volta da ametista. — Sinta a pedra com toda a extensão da sua mão e pense no que deseja ver. Pense em seu futuro, veja a si mesma na pedra…

fechou os olhos e tentou fazer o que a professora pediu, esvaziando a mente e pensando no que queria ver enquanto sentia as pontas da pedra marcarem sua pele. A final do Torneio Tribruxo, ela pensou, seria um bom começo. Então ela se concentrou e pensou em Cedrico e Harry, mas sua mente se encheu com as mesmas cenas que viu no lago no dia da primeira prova, raios saindo das varinhas, gritos… E Voldemort. A bruxa largou a pedra na mesa, ofegante, enquanto a professora a olhava com curiosidade.

— E então?
— Não deu certo — ela respondeu irritada. — Não vi o que queria.
— Como eu disse, isso leva tempo e prática. — A professora guardou a pedra no bolso e voltou a segurar a mão agora gelada da aluna. Seus olhos recaíram no colar da garota e eles pareciam brilhar. — Isso é uma Flor-Que-Nunca-Morre?

Como costume, levou a mão até o colar e o sentiu esquentar em seus dedos frios.

— O poder que essa flor pode dar às sereias! — Sibila exclamou encantada. — Vai ser perfeito para você treinar! Ele vai te dar todo o controle que você precisa.
— Mas eu não sou sereia, professora. Sou uma bruxa.
— Valorize o sangue que corre em suas veias, querida — Sibila falou, encostando um dedo no braço da garota. — E valorize objetos que tenham algum valor sentimental para você, isso irá te ajudar. O problema dos bruxos é não valorizar os objetos, . Usam para chaves de portal, enfeites, mas só isso. Já os trouxas se apegam aos objetos pois colocam muito valor neles. No seu caso, o valor será o seu dom e seus sentimentos.
— Quer dizer que eu sempre tive todo o controle pendurado no meu pescoço? — ela perguntou risonha.
— Ora, me surpreende você não saber o valor que essa flor tem para seus ancestrais.

Mas realmente não sabia. Não tive tempo, ela pensou, lembrando de sua mãe que não tinha pressa alguma em lhe ensinar as coisas, como se ela pudesse estar com ela para sempre. Não teve tempo, também, de tirar mais dúvidas com a professora, pois logo deu o horário do fim da aula.
A aula com Sibila Trelawney só lhe serviu para encher sua cabeça com mais dúvidas e teorias, como se os acontecimentos de ontem já não a perturbassem o suficiente. Se já estava quieta antes, agora seus lábios pareciam colados com um feitiço Silencio realmente poderoso. E quando finalmente chegou o fim das aulas naquele dia, ela nem ao menos se permitiu ficar animada. Se arrastou para as masmorras até a sala de Severo Snape, chegando propositalmente alguns minutos mais cedo para que o mesmo não tivesse motivos para reclamar. O professor, querendo acabar logo com aquilo tanto quanto ela, pediu apenas que a mesma limpasse cada frasco de poções em seu armário, apenas uma parte de seu vasto estoque, e organizasse-os em ordem alfabética. não reclamou, apenas permaneceu em silêncio e agradeceu mentalmente o professor por tê-la respeitado e não puxado assunto algum.
Porém, algo a estava incomodando desde o dia anterior e sua língua coçava de vontade de questioná-lo, mesmo o medo gritando que não era boa ideia. Quando chegou na letra F (exatamente no frasco que continha "fígado de salamandra''), ela resolveu perguntar.

— Professor Snape — ela o chamou com receio.

De sua mesa, o homem apenas abaixou o livro que estava lendo e a olhou por cima dos óculos de leitura, esperando que ela continuasse. limpou a garganta antes de continuar.

— Ontem, quando estávamos no corredor com o Sr. Malfoy… — ela começou receosa, e ele apenas levantou uma sobrancelha, incentivando-a a continuar. — Você me chamou de na frente dele. Por quê?

Severo não esperava que a garota o questionasse sobre um detalhe tão banal. Contudo, não pôde deixar de perceber o quão perspicaz ela era. Ele continuou encarando-a, fingindo desinteresse.

— É o seu sobrenome.
— Eu sei — ela afirmou, descendo da pequena escada que usou para alcançar as prateleiras altas. — Mas você poderia ter falado Black. Era a chance perfeita para me entregar e você não o fez.
— O que te faz pensar que quero te entregar ao Lúcio? — ele a questionou, cada vez mais curioso. A garota deu de ombros, sem querer admitir que desconfiava da bondade do homem. — Por mais incrível que pareça, eu me importo com Draco Malfoy e, sabendo dos sentimentos dele por você, mesmo não concordando, eu não quero que ele se machuque.

franziu a testa. Não sabia se estava satisfeita com a resposta. Snape, que já voltara sua atenção ao livro, voltou a olhá-la, percebendo que ela não estava convencida. Ele então suspirou, fechando o livro com força e assustando a garota. Agora sua voz era mais séria e firme, não deixando espaço para questionamentos.

— Você é minha aluna, , e eu conheço Lúcio Malfoy bem o suficiente para saber que ele não se importa de você ser apenas uma adolescente e do filho dele estar apaixonado por você, ele te mataria sem pensar duas vezes se pudesse. Meu dever como professor é te proteger. Faria isso por qualquer outro aluno. — Severo olhou para o bracelete dourado no pulso da aluna e apontou para o mesmo. — Desde quando está usando isso?

levantou o pulso e olhou para o bracelete com a testa mais franzida ainda, os pequenos olhos esmeralda brilharam para ela.

— Desde o Baile de Inverno — ela falou, ponderando se deveria dizer mais alguma coisa. Por fim, decidiu que não faria diferença ele saber quem a presenteou, pensando que talvez lhe seria vantagem ele pensar que ela tinha alguma relação com o sonserino. — Foi presente do Draco.

A garota reparou um vislumbre de surpresa passar pelos olhos do professor. Levou um susto quando ele levantou subitamente e foi até uma estante de livros, voltando com um deles nas mãos. Snape se sentou novamente e empurrou o livro grosso na direção da aluna.

— O que sabe sobre objetos enfeitiçados?
— A Srta. Trelawney me falou algo sobre os bruxos não valorizarem os obje…
— Pare — ele bufou impaciente, batendo com o dedo fino e longo na capa dura do livro. — Não leve em consideração o que aquela louca fala.
— Não fale assim dela…
— Os bruxos valorizam e muito os objetos — continuou o professor, ignorando-a —, principalmente para se utilizar com magia das trevas.
— Trelawney também disse algo sobre iss...

Snape bateu com a mão no livro, fazendo-a pular com mais um susto. Teve certeza que seu coração iria parar caso levasse mais um susto naquele dia.

— Capítulo seis, página duzentos e trinta. Estude.
— Mas…
— Estude. — Severo puxou seu relógio de bolso e fingiu prestar atenção nas horas. — Acabou seu horário, pode ir.

A aluna levantou as sobrancelhas, surpresa por estar sendo dispensada após apenas quarenta minutos de detenção e totalmente confusa, mas ela não o questionou, apenas pegou o livro e correu até a porta. Entretanto, antes de sair, se virou para o professor com um sorriso amarelo no rosto.

— De qualquer jeito, obrigada.
— Vá logo antes que eu me arrependa de todas as minhas decisões — ele falou, fazendo um gesto para que a garota se retirasse logo.

Assim que a porta se fechou, Severo retirou os óculos e ficou encarando o lugar por onde a garota saiu, lembrando-se da conversa que teve com Alvo Dumbledore quando descobriu que a filha de Sirius Black estava em Hogwarts.

-Flashback On-

Severo Snape andou apressado pelos corredores de Hogwarts até a sala do diretor, sua capa esvoaçava majestosa enquanto ele andava, fazendo os alunos se afastarem dele. Depois de a gárgula revelar as escadas, ele subiu apressado e bateu na porta com certa raiva, entrando depois de ouvir Alvo Dumbledore exclamar um “entre” um tanto animado.

— Severo! — O bruxo o saudou com um sorriso largo no rosto. — Estava prestes a me encaminhar para o Salão Principal, soube que hoje teremos ensopado de legumes e rã!
— Peço perdão, senhor, mas precisamos conversar.

Alvo ficou sério ao ouvir a seriedade na voz do professor. Ele indicou para que se sentasse à mesa, depois pediu para que o homem começasse a falar.

— O senhor sabe que eu posso até discordar de algumas das suas escolhas, contudo, nunca o questionei. — Snape permaneceu sério, o tom grave sem transparecer o quão irritado ele estava. — Mas trazer para esta escola a filha de Sirius Black!?
— Então você descobriu.
— Eu tinha apenas desconfianças, mas a garota acabou de me confessar tudo. O senhor só pode ter perdido a cabeça de vez por achar que isso seria uma boa ideia!
— Pelo contrário, Severo, eu nunca estive tão lúcido — disse Dumbledore, cruzando as mãos em cima da mesa e sorrindo para o homem. — Veja bem, à essa altura nós podemos afirmar com veemência que Ronald Weasley e Hermione Granger tem sido não só bons amigos de Harry Potter, mas pessoas essenciais para a proteção dele, mesmo que não saibam disso.
— E o que a filha de Sirius Black tem a ver com isso? — Snape resmungou.
— Eu sempre soube que assim que e Harry se encontrassem, eles se tornariam amigos, exatamente como seus pais. Os dois têm muito mais em comum do que imaginam, entenda. Como você já deve ter percebido, a garota tem muito do pai dentro dela, apesar de se parecer demais com a mãe em sua aparência e trejeitos.
— Puxou a personalidade de assassino do pai? — Snape murmurou baixo, mas era óbvio que Alvo iria ouvir.
— Você sabe bem que ele não é nenhum assassino. — Dumbledore o olhou com severidade, fazendo o professor se encolher. — Já Harry Potter é o pai por completo, apesar…
— Dos olhos — Severo completou, sentindo uma dor quase física ao se lembrar dos olhos azuis de Lilian Potter, a imagem dela sem vida em seus braços invadindo sua mente. — Ele tem os olhos da Lily.
— Exatamente. — O diretor o observou por longos segundos, como se esperasse o professor se recuperar. — Contudo, a garota já se mostrou ser grande aliada de Harry e igualmente eficaz em sua proteção. Isso será bom para nós, Severo…
— Bom!? A notícia já se espalhou, algumas pessoas já se mostraram muito interessadas em saber quem é a garota. Draco Malfoy já está de olho nela, você sabe o que isso quer dizer, não sabe? Ele também corre perigo.
— Sei sim… — Dumbledore olhou pensativo para Snape, assentindo lentamente. — Também significa que ela precisará de proteção…
— Não me peça o que vai pedir, senhor — O professor pediu, quase implorou, conhecendo Alvo bem o suficiente para prever suas intenções.
— É necessário, Severo. Pelo menos pelo tempo que a garota estiver conosco — retrucou Alvo, se levantando de sua mesa para ficar ao lado do professor que o olhava com certa irritação. — Eu te dou minha palavra de que isso valerá o esforço. Proteja ela como você protege Harry e tudo acabará bem. Você sempre cuidou de Draco, acredito que isso não mudará.
— Isso não fazia parte dos planos e do nosso acordo! — Snape se levantou e retrucou entredentes.
— Infelizmente, caro Severo, os planos mudam e, consequentemente, os acordos também. Não temos controle sobre isso. — O diretor caminhou calmamente até a porta e a abriu. —Agora vamos, odeio ensopado frio.

-Flashback Off-

Severo Snape sentiu o fardo de seus erros do passado ganharem um peso a mais. Não adiantava tentar fugir, havia diversos fantasmas de seu passado o cercando por onde ele fosse e Black era só mais um deles.

***

fez um esforço enorme para que os dias seguintes fossem os mais tranquilos possíveis. Ela estava decidida a manter os garotos que a abalavam o mais distantes possível e ignorava o peso do livro que Snape a emprestou em sua mochila. Ela e Draco se ignoravam com maestria. Se falavam (apenas o extremo necessário) nas aulas de poções, pois Snape não deixou que os mesmos trocassem de dupla novamente. Contudo, Malfoy não estava satisfeito com a forma como o tratava. Era como se a mesma tivesse eliminado completamente os momentos que tiveram na noite do Baile de Inverno, ou qualquer outro momento de antes disso, até mesmo os ruins. Tudo bem que ele também estava distante dela, mas não podia negar que ele não aguentava muito tempo. Sendo assim, ele tentou arrancar alguma reação dela, mesmo que fosse alguns gritos irritados, fazendo provocações e comentários maldosos os quais a garota apenas ignorava ou respondia com frieza e coisas banais. O sonserino admirou a resistência da grifinória, mas odiava isso. Preferia mil vezes suas brigas e discussões do que a frieza com que ela o tratava.
Já Rony se mantinha por perto, mas não podia ignorar o fato de que eles estavam distantes desde que voltaram d'A Toca. Ambos carregavam o sentimento de que não estavam felizes com o acordo que fizeram, mas nenhum dos dois queriam dar o braço a torcer. Ron era o mais arrependido, afinal, Cedrico não havia nem ao menos tentado voltar com e estava pra cima e para baixo com Cho Chang, ou seja, ele perdeu mais uma chance de ficar com a garota que agora não parecia dar nenhuma abertura. E Harry era outro que não estava nada feliz com isso.
Enquanto ele, e Rony estudavam o canto dos sereianos na sala de estudos em um dos raros horários vagos, Potter não tirava os olhos de Cho, que se sentou em uma mesa há alguns metros e estava próxima demais de Diggory. Por sorte, Harry segurava apenas uma pena, pois se fosse um lápis, já o teria partido ao meio. Ele sentiu a amiga beliscar seu braço e a olhou com raiva.

— Foca no livro.
— Como você não está incomodada? — ele a questionou, esfregando a região onde ela o beliscou.
— Eu só sei disfarçar bem — ela murmurou, lançando um olhar breve e triste para o casal. Depois voltou a encarar o amigo. — Diferente de você! Se olhar mais, vai fazer dois buracos nas vestes deles.

Potter suspirou derrotado e voltou a encarar o livro de herbologia. Dessa vez, decidiu não ignorar mais o livro "Objetivos com objetos mágicos e suas magias", escrito por Armando Gullvier.O nome era ridículo, mas as imagens na capa eram de dar arrepios. Tinham crânios, joias e adagas envoltos de uma fumaça esverdeada e fantasmagórica. A intenção da capa era mostrar a arte das trevas como se a mesma fosse algo bonito e divertido. Não a surpreendeu o fato de Snape ter aquele livro e o deixar em fácil acesso.

— Por que raios o Snape te deu esse livro? — Rony questionou enquanto mordia uma banana. lançou um olhar para o ruivo que a encarava com confusão e o achou adorável. Ela deu um longo suspiro.
— Não faço ideia.
— Você é louca por ter aceitado — Harry comentou, voltando a olhar Cho e Cedrico. puxou os cabelos pretos e rebeldes do amigo e o forçou a olhar os livros, ignorando o protesto dele.

rapidamente abriu o livro, sem aguentar olhar muito mais tempo para a capa, e procurou pelo capítulo seis. O título era "Feitiços diversos para diversão"; a garota já estava se irritando com aquele jogo de palavras com um fundo de maldade. Ela folheou até a página que o professor indicou e passou os dedos pelas palavras. Não conseguiu de jeito algum entender o que o professor queria até ler um dos subtítulos.

"Localize com objetos encantados.
Com um simples feitiço de localização, um pedaço de pergaminho e um objeto de sua preferência, é totalmente possível criar uma forma de localizar seu filho(a), esposa(o) ou inimigo(a), ou até mesmo para assustar um amigo. Contanto, é claro, que a pessoa use ou esteja com o tal objeto."

arregalou os olhos. O brilho dourado do bracelete parecia mais forte agora que tudo fez sentido. Ela continuou lendo como se fazia o encantamento e como ele funcionava. Era tão simples, mas o livro prometia que poderia ser de grande ajuda para localizar e matar o inimigo sem que ele soubesse, e que era muito eficaz com jóias. A garota engoliu em seco enquanto lia como se desfazia o feitiço. "Destrua ou quebre o objeto e espere sair uma fumaça verde; é assim que se sabe que o item voltou a ser apenas um simples objeto sem graça". A lembrança da voz de Lúcio Malfoy perguntando como tinha sido o ano novo n'A Toca lhe causou um arrepio.
Estava tão absorta no que lia que não reparou quando Hermione entrou correndo na sala com um jornal em mãos e o rosto vermelho de raiva.

— Aquela barata nojenta, desgraçada e infeliz! — ela esbravejou, recebendo alguns olhares de reprovação dos demais alunos. — Olha só o que a Rita Skeeter escreveu sobre o Hagrid!

Granger jogou o jornal na mesa e sentou-se irritada enquanto os três amigos se aglomeravam para ler. A matéria inteira pintava Rúbeo Hagrid como um monstro e um perigo para Hogwarts. A jornalista, como sempre, distorceu falas e contextos que o fizeram parecer um monstro, além de escolher algumas pessoas que claramente não gostam dele para dar depoimentos. Uma dessas pessoas, sem surpresa alguma, era Draco Malfoy.

“Eu já fui atacado por um hipogrifo e meu amigo, Vicente Crabbe, levou uma dentada feia de um verme'', declarou Draco Malfoy, um aluno do quarto ano. "Todos odiamos Hagrid, mas temos receio demais para dizer qualquer coisa."

— “Todos odiamos Hagrid”!? Quem ele pensa que é pra dizer essas mentiras? — exclamou com a raiva acumulada de dias.
— Ainda fica surpresa quando vê ele falando merda, ? — Rony murmurou, ignorando o olhar raivoso que a garota lhe direcionou. — Será que Hagrid já viu isso?
— Talvez por isso que ele não aparece há dias — concluiu Hermione em um tom triste.

No dia anterior eles tiveram aula de Trato das Criaturas Mágicas, mas Hagrid não estava lá. A Profª Grubbly-Plank o substituiu com a desculpa de que Hagrid “não estava se sentindo bem”. E eles tentaram visitá-lo, mas o meio-gigante não os atendeu. batucou os dedos na mesa, pensativa. Não queria que sua desconfiança estivesse certa e também desejava que pudesse fazer algo a respeito de Hagrid. Mas como, se a mesma tinha tanta coisa na cabeça?

— Ei, . Você vem?

A voz de Harry a despertou de seus pensamentos.

— Para onde?
— Vamos tentar falar com Hagrid de novo — disse Rony, ajeitando seus livros.
— Podem ir, eu vou em alguns minutos, ok? — ela falou, também arrumando seu material de qualquer jeito. — Eu encontro vocês lá, prometo.

A garota saiu correndo para seu dormitório, largou suas coisas em cima da cama e desceu correndo para fora do castelo, sentindo o vento gelado atingir seu rosto. Ela caminhou determinada para as estufas onde sabia que a turma da sonserina estava tendo o último horário. Todos estavam saindo, se misturando com os uniformes azuis dos alunos da Corvinal. Ela se enfiou no meio do grupo, ouvindo reclamações e alguns assobios, até finalmente trombar com Draco Malfoy. Ele ria de alguma idiotice que os amigos falavam e seu sorriso se alargou mais ainda ao ver a garota na sua frente.

— Perdida, ? — ele murmurou com sarcasmo, fazendo seus amigos rirem.
— Preciso falar com você — ela respondeu entre dentes. Draco desmanchou o sorriso ao ver o quão brava ela parecia. Ela se virou para Vicente Crabbe e sorriu com ironia. — Como vai a mordida, Crabbe? Você ainda não virou um explosivin? Cuidado para não sair fogo do seu…
! — Draco tapou a boca dela, vendo o rosto de Crabbe ficar vermelho de raiva.

Draco dispensou os amigos antes de levar para longe. A mesma o puxou para o interior da escola e subiu as escadas até a Torre de Astronomia que, por sorte, não estava tendo nenhuma aula naquele momento. Malfoy nunca a viu tão brava e se manteve há alguns passos de distância até ela o puxar para dentro da Torre. O silêncio durou poucos segundos antes de ela começar a esbravejar.

— Todos odiamos o Hagrid, hein!? — ela exclamou, jogando um exemplar do Profeta Diário no peito dele. Ele quase deixou escapar uma gargalhada. — E como você pôde fazer isso comigo, Draco?
— Do que você está falando, ? Eu dei sim a entrevista para aquela jornalista de quinta, mas com você, eu não fiz nada.

Agora parecia soltar fumaça das orelhas de tão brava que estava. Ela arrancou o bracelete de seu pulso e o segurou com firmeza com as duas mãos. Ele olhou o objeto, ainda sem entender nada.

— Seu querido paizinho sabia que eu estava com os Weasley. Como ele sabia?
— Sei lá, nem eu sabia disso, descobri por ele.
— Não mente para mim, Draco, por favor!

A súplica de fez Malfoy se encolher. Ele odiava deixá-la chateada, mas não fazia ideia do que a garota estava falando e isso estava frustrando-o.

— Eu não sabia, — ele afirmou, tentando se aproximar dela. — Eu juro que estou falando a verdade.

sentiu as lágrimas arderem em seus olhos. Não era possível que ele continuaria insistindo na mentira bem na sua cara. Ela torceu uma última vez para que estivesse errada antes de partir o bracelete no meio. Uma fumaça verde flutuou no exato lugar onde a jóia se quebrou e a garota soltou o ar em clara surpresa. Draco arregalou os olhos, ainda sem entender o que estava acontecendo, mas seu coração apertou ao ver a decepção nos olhos dela.

— O q-que…
— Isso era um feitiço, Draco! A merda de um feitiço de localização na merda do bracelete que você me deu!
, eu juro que…
— Para! — ela gritou, interrompendo-o. Draco não percebeu que agora ela apontava a varinha para o seu pescoço. — Para de mentir!
— Abaixa isso, , eu não estou mentindo!
— Eu tentei acreditar em você e na sua bondade tantas vezes, Draco. Eu te defendi e fiquei do seu lado mesmo com pessoas me alertando para ficar longe. Mas você não hesitou em me magoar sempre que teve a chance e eu tentei muito acreditar que você não se aproximou de mim por causa do seu pai…
— Bom, no começo foi — ele tentou se explicar, mas percebeu que estava piorando a situação —, mas eu juro que não é mais...
— Então por que você me deu isso? — ela balançou as metades dos braceletes na mão, deixando algumas lágrimas caírem.

Draco suspirou derrotado, percebendo que não adiantava tentar se defender, ela não acreditaria nele. Seu cérebro já estava infectado por Potter e cia, afinal, ela era um deles. O sonserino fechou as mãos com força. Ele sabia que o que estava prestes a falar iria fazer a garota se afastar de uma vez por todas, mas talvez fosse melhor assim. Não era o melhor para ele, com toda certeza, mas seria para ela.

Eu. Não. Sabia! — Ele pronunciou cada palavra, rangendo os dentes de raiva. O tom de sua voz fez vacilar e abaixar sua varinha alguns centímetros. — Não sei como meu pai fez isso, senão eu nunca teria te entregue esse presente. Não quer acreditar em mim? Foda-se, Black. Vai ser feliz com sua turminha. Mas você quer o vilão? — Ele se aproximou da garota até ficar perto o suficiente para vê-la estremecer. Draco arrancou o bracelete quebrado da mão dela. — Então você vai ter o vilão! Só não diga que eu não te avisei quando for tarde demais.

Sem se afastar nenhum centímetro, Malfoy atacou a joia pelas enormes janelas abertas da Torre e permaneceu parado, olhando fundo nos olhos dela e sentindo a varinha da garota afundar em seu peito. finalmente abaixou o braço e saiu da Sala em lágrimas e sem dizer nada, o deixando sozinho como sempre fazia. Esperando até que ela estivesse longe o suficiente, Draco pegou um banco velho que tinha no telescópio e o jogou longe com toda a sua raiva, soltando um grito de frustração quando ela se chocou contra uma parede. Sua vontade era quebrar toda aquela sala, destruir cada parede como a garota destruiu o bracelete bem na sua frente. O presente que ele deu com sincero amor, tudo o que a serpente e as cores significavam para ambos pensado com cuidado, estava arruinado.
Malfoy enfiou a mão no bolso e puxou a metade que ele escondeu sem que a garota percebesse. As pequenas esmeraldas brilharam para ele, mas agora pareciam ter um brilho a menos. A joia ficava melhor no braço de , sem dúvidas. Empunhando a varinha, ele se aproximou da janela e gritou:

Accio bracelete!

Ele esperou alguns segundos, mas nada aconteceu. Então ele gritou de novo, e de novo, cada vez com mais raiva. Contudo, não achou a outra metade. Frustrado e com a irritação no auge, ele deixou a Torre com apenas uma das metades em mãos.



21 - The Second Task

A fumaça branca saindo da chaminé da cabana de Hagrid parecia um bom sinal. limpou as lágrimas com raiva enquanto se aproximava do local, parando alguns segundos em frente a porta para regular a respiração e controlar os soluços e a tremedeira. Sua cabeça latejava enquanto ela tentava decidir se acreditava ou não em Draco Malfoy. Não fazia muita diferença agora, afinal, a raiva nos olhos azuis do garoto era a prova de que ele não estava blefando: agora ela conheceria o pior lado do Malfoy. Um arrepio percorreu seu corpo com o pensamento. Sua mão foi instintivamente para a metade do bracelete que resgatou quando desceu da Torre de Astronomia, o rabo dourado da serpente parecia esperar por ela quando procurou no gramado verde e úmido, contudo, não encontrou o resto do bracelete e não conseguiu evitar se decepcionar com isso.
respirou fundo e levantou o punho para bater na porta da cabana, mas seu braço passou reto pois a porta se abriu antes mesmo que ela pudesse bater. Seus olhos se arregalaram ao ver Alvo Dumbledore parado do outro lado, seu clássico sorriso bondoso fixo em seu rosto.

— Como me agrada te ver aqui, .
— Não podia deixar de ver como Hagrid estava — ela respondeu, forçando um sorriso. — Sei o que essas mentiras jornalísticas podem fazer com alguém.
— Eu imagino. — O homem respondeu, dando passagem para a mesma entrar. Alvo tinha ciência do quanto as matérias de muitos jornais bruxos afetaram Sirius Black e sua filha. — Aceita um chá?

assentiu antes de reparar em Hagrid e os amigos sentados na grande mesa redonda perto da lareira. Ela tentou não parecer surpresa ao olhar a aparência do meio-gigante. Seus cabelos emaranhados apontavam para todos os lados, seu rosto estava inchado e amassado e seus olhos vermelhos de tanto chorar, provavelmente iguais aos dela.
Rony cedeu seu lugar ao lado de Hagrid para a amiga se sentar enquanto Dumbledore servia mais chá e bolo para eles. deu tapinhas nas costas enormes de Hagrid, sentindo que batia em uma rocha.

— Como você está?
— Melhor agora que vocês estão aqui — ele respondeu com a voz rouca e embargada.
— Sabe, Hagrid, eu sei bem como é ouvir coisas horríveis sobre meus pais ou sobre mim mesma — ela falou, ainda dando batidinhas de consolo no homem. — E sabe quem esteve do meu lado todas as vezes em que surtei por isso, querendo sair de Hogwarts por estar preocupada com meu pai?

O professor a olhou confuso e deu de ombros.

— Você, Hagrid! Você me acalmou diversas vezes, me ensinou muitas coisas e me manteve em casa. E Hogwarts não seria nossa casa sem o melhor morador dela, não é mesmo?

Em meio à barba e bigode enormes e as lágrimas que caiam novamente no rosto do meio-gigante, foi possível vislumbrar um pequeno sorriso. Aquilo foi o suficiente para acalmar o coração da garota e dos amigos, que sorriram junto com ele.

— Viu só, Rúbeo? Mais uma prova viva de como você é essencial para nossa escola — Dumbledore falou, apoiando uma mão no ombro da aluna.
— Estamos tentando convencê-lo a voltar a lecionar, — disse Hermione. — Fala para ele que precisamos dele como professor.
— Com toda a certeza! — a garota empolgou-se. — Você precisa voltar, Hagrid!
— Não sei não… — ele respondeu, limpando o nariz.
— Olha, pelo pouco que eu conheço do Diretor Dumbledore, acredito que ele não aceite um não como resposta, certo?

piscou para o diretor que sorriu radiante, assentindo para Hagrid e confirmando que, mais uma vez, a garota tinha toda a razão. O diretor teve que partir, mas os jovens permaneceram conversando com Hagrid, vendo-o se animar cada vez mais enquanto contava sobre seus pais.

***

— Você disse que já tinha decifrado a pista daquele ovo! — exclamou Hermione indignada.

Ela e os amigos estavam sentados no fundo da classe de Feitiços, cochichando enquanto o resto da turma murmurava o Feitiço Expulsório (o oposto do Feitiço Convocatório). tentava, sem muito sucesso, lançar almofadas para longe, mas o máximo que sua almofada bordô fez foi acertar a cara de Rony — o que lhe rendeu ótimas risadas. Então ela fez como os amigos, balançou sua varinha sem prestar muita atenção enquanto concordava com Hermione.

— Cedrico descobriu a canção há meses, Harry. Vai saber o quão avançados Vítor e Fleur estão. — A morena sussurrou, tentando não pensar nas várias vezes que Cedrico deve ter ido para a banheira, dessa vez com Cho Chang. Harry parecia pensar na mesma coisa, pois fez uma careta ao ouvir o nome do garoto.

Os meninos pararam a conversa por um segundo para observar, um tanto impressionados, o professor Flitwick passar voando por suas cabeças e aterrissar ao lado de um armário.

— Esqueçam o ovo um minuto, está bem? — sibilou Harry impaciente. — Estou tentando contar a vocês sobre o Snape e o Moody…

Potter quase foi flagrado por Snape, Filtch e Moody enquanto voltava de sua ida ao banheiro dos monitores. O último foi o único a perceber sua presença embaixo da Capa da Invisibilidade e o salvou das garras do professor e do zelador. Mas, pelo que Harry contava, a situação toda foi muito estranha, principalmente a conversa que ele teve com Alastor. A conversa estava muito mais interessante que almofadas flutuantes, isso era inegável.

— Harry… — sussurrou Rony, muito impressionado com o que o amigo contava. — Vai ver Moody acha que foi Snape quem pôs o seu nome no Cálice de Fogo!
— Ah, Rony — disse Hermione, sacudindo a cabeça ceticamente —, já achamos que Snape estava tentando matar o Harry e acabou que estava tentando salvar a vida dele, lembra?

Granger era a única que, mesmo distraída, estava conseguindo fazer sua almofada amarela aterrissar dentro da caixa indicada pelo professor. Murmurando “accio”, a almofada flutuou graciosa de volta à mesa deles.

— Snape já me provou não querer nos fazer mal algum — murmurou , arremessando sua almofada que voou diretamente na cabeça de Neville. — Foi mal, Nev!
— Às vezes ele te ajudou por remorso — retrucou Rony, sua almofada levitou alguns centímetros e caiu no chão. — Espera, é Wingardium Leviosa, não é?

Os três balançaram a cabeça e explicaram o feitiço. Nada adiantou, Rony não conseguia fazer sua almofada se mover. havia contado tudo aos amigos, depois de não aguentar mais guardar para si, desde a conversa com Sibila até a briga do Draco. Teve muito trabalho tentando convencer Harry e Rony a não azarar ou socar o sonserino, por mais que ela mesma gostaria de fazer tal coisa. Ela correu para mandar uma carta para os Weasley explicando a situação e se desculpando, mesmo que sem querer, por ter exposto eles ao perigo. Também mandou uma carta para Remus e Sirius, e respirou aliviada quando responderam que estava tudo bem com eles. Mas ela e seus amigos não podiam negar que Snape, ainda sem saber o motivo, havia lhe ajudado a descobrir sobre o bracelete. Se a odiasse, teria a entregado de bandeja ao homem que a empurrou escada abaixo.

— Ora, vocês duas — Rony resmungou. — Então por que todos esses captores de bruxos das trevas estão revistando a sala dele?
— Talvez não sejam eles — murmurou.
— A real questão é: por que o Sr. Crouch está fingindo que ficou doente? — perguntou Hermione. — É meio estranho, não é, que ele não consiga comparecer ao Baile de Inverno, mas possa vir aqui no meio da noite quando dá na telha?

Os quatro continuaram a despejar teorias sobre o assunto. Quando a almofada de se chocou com a cabeça de Lilá Brown, ela desistiu de tentar acertar a caixa e percebeu que sua almofada tinha uma atração estranha por cabeças.

***

Fevereiro chegou rápido demais, fazendo o desespero de Potter aumentar conforme chegava o dia vinte e quatro. Ele estava um pouco cansado de ouvir Hermione dizer que havia lhe avisado para investigar o ovo antes. Até agora, o garoto não havia encontrado uma forma de respirar por uma hora inteira debaixo d’água. O grupo estava irritadiço, nunca haviam passado tanto tempo grudados estudando e lendo os mais diversos livros em uma tentativa falha de ajudar o amigo. estava prestes a sugerir que ele usasse seu colar, mas até onde sabia, o objeto funcionava nela por ter o sangue das sereias correndo por suas veias, então não teria efeito algum em Potter.
Surpreendendo a todos, a Profª Sibila Trelawney estava sendo de muita ajuda para a aluna. Os exercícios e treinos de concentração estavam realmente fazendo efeito, apesar de concordarem que seria bom ela não tentar provocar nenhuma visão por um tempo. Contudo, não tinha visões espontâneas há semanas e isso era um alívio.
E então, os dias iam passando e o desespero aumentando. Harry perdera o apetite, não se concentrava nas aulas e não encontrava nada nos livros que Hermione não conseguisse destruir com um argumento certeiro.
A única coisa boa do café da manhã de segunda-feira, um dia antes da prova, foi o regresso da coruja marrom que ele e enviaram a Sirius Black há alguns dias. Harry soltou o pergaminho, desenrolou-o e viu a menor carta que o padrinho já lhe escrevera. soltou um muxoxo de decepção.

“Mande dizer a data do próximo fim de semana em Hogsmeade pela mesma coruja.”

— Só isso? — ela murmurou, tentando descobrir se havia alguma mensagem escondida no pedacinho de pergaminho. Ela lançou alguns feitiços que não revelaram nada, pois não tinha o que ser revelado. — Caraca, eu sou a filha dele e ele nem me pergunta como estou?
— Para que é que ele quer saber a data do próximo fim de semana de Hogsmeade? — perguntou Rony, analisando o papel.

Os amigos deram de ombros, a decepção pairando sobre os dois. Durante todo o resto do dia, o clima não melhorou muito. Eles quebraram a cabeça para pensar em uma solução para Harry e nem mesmo os filhotes de unicórnio ou a volta de Hagrid como professor de Trato das Criaturas Mágicas animaram o grupo. Assim que terminaram de jantar, eles se enfiaram na biblioteca e depois de implorar muito e apelarem para McGonagall conversar com Madame Irma, ela autorizou que eles ficassem lá dentro por pelo menos mais uma hora depois do horário. E eles precisariam mesmo de todo o tempo possível.

— Acho que não é possível — disse Rony. — Não tem nada. Nadinha. O mais próximo que chegamos foi aquela coisa para secar poças e poços, aquele Feitiço Secante, mas nem de longe teria potência para secar o lago.

abaixou o livro que segurava em frente ao seu rosto e olhou o ruivo com seus olhos cansados; ela estava deitada com a cabeça nas pernas do garoto de tão cansada que estava. Harry deixou a cabeça cair sobre o livro que lia e Hermione andava das estantes até a mesa, carregando uma vela acesa em uma mão e um livro diferente na outra. Ela era a mais determinada, apesar de estar igualmente cansada. Tomou para si o objetivo de encontrar algo nos livros ou não se chamava Hermione Granger.
Os amigos estavam começando a ficar entediados e frustrados demais e nada melhorou quando voltaram para a Comunal quase vazia com o máximo de livros que conseguiram carregar, se espalhando pelo chão em frente a lareira como sempre faziam. e Rony se distraiam facilmente, conversando desde comida até as diversas espécies de sapos que eles já viram em uma tentativa falha de se manterem despertos, e os amigos não podiam culpá-los, afinal, todas aquelas pesquisas não estavam levando-os à lugar algum. Além de que era muito melhor ver os amigos em paz do que brigando como faziam antes. Até mesmo o clima estranho que estava entre os dois depois da conversa que tiveram melhorou significativamente nas últimas semanas.
É claro que os sentimentos de ambos ainda estavam ali, intactos. Em alguns momentos, como quando ela se concentrava na leitura de algum livro, Rony se pegava observando cada detalhe da garota; a essa altura, era possível que ele já tivesse decorado cada marquinha existente em sua pele ou contado quantas ruguinhas apareciam em seu rosto quando franzia o nariz ou a testa. Ron adorava todos esses detalhes que passavam batido por olhos que não sabiam apreciar uma bela obra de arte como aquela e sentia-se sortudo por tê-la por perto e poder tocar esses detalhes sempre que possível, como naquele exato momento.
Black tinha exatamente três ruguinhas entre suas sobrancelhas enquanto ela lia com atenção um parágrafo sobre algas marinhas cantantes que eram úteis na preparação de algumas poções, mas não os ajudava a respirar na água. Ron a observava com a mesma atenção, seus olhos desceram para seu convidativo pescoço onde tinham exatas quatro pintinhas espalhadas de forma aleatória em sua pele. O ruivo tocou as marcas, depois passou o dedo pelo colar, vendo os pelos na nuca da garota se arrepiarem. Ela desviou os olhos do livro para encará-lo enquanto o mesmo tentava desfazer o nó do cordão.

— Está enfeitiçado, Ron. Só eu consigo tirar.

Ele se assustou, ficando vermelho de vergonha por ter sido pego no flagra.

— Eu só queria ver a flor mais de perto — ele confessou ao afastar as mãos. levantou as sobrancelhas.
— É só chegar mais perto — ela falou distraída e apontou para o pingente em seu colo, mas percebeu o erro assim que as palavras deixaram seus lábios. — E-esquece, melhor não.

Rony assentiu, seu rosto ficando ainda muito vermelho ao imaginar sua boca tão próxima daquela região. A garota tirou o colar e entregou para ele, afinal, que mal o amigo poderia fazer com seu bem mais precioso? E ele apenas pegou o objeto com todo o cuidado do mundo, olhando a pequena florzinha balançando dentro do vidrinho como se uma briza leve passasse lá dentro. Aproveitando mais uma distração da amiga, o ruivo colocou o colar e o tocou com um sorriso no rosto. o olhou apenas quando ele a cutucou, arregalando os olhos em pura surpresa.

— Me sinto mais poderoso — ele falou com um sorriso radiante em sua face
— Não é bem assim que funciona, querido — ela riu baixinho e balançou a cabeça. — Você teria que ser pelo menos descendente das sereias para ter algum efeito.

Ron deu de ombros e insistiu em ficar mais um pouco com o colar para conseguir ter um pouco de sorte na ajuda ao melhor amigo e, voltando a se deitar no colo dele, riu consigo mesma pensando que ao contrário do amigo, ela nunca se sentiu muito sortuda, mesmo usando o colar o tempo todo. Entretanto, ela o deixou ficar com ele, pois aquilo o fazia sorrir e ela amava o seu sorriso.
Eles voltaram a se afundar nos livros, em algum momento da noite embarcaram em uma discussão sobre a ideia incabível de Harry pedir para Sirius o ensinar a como se tornar um animago aquático e insistindo que conhecia seu pai bem o suficiente para saber que ele seria louco e aceitaria a ideia. Aos poucos, as conversas diminuíram e os demais alunos foram indo para as suas camas, deixando o quarteto sonolento sozinho. Em determinado momento, era possível ouvir apenas o crepitar do fogo na lareira e o folhear do livro que Potter, o único ainda acordado, estava lendo. Hermione não resistiu ao sono e dormiu no sofá com três livros abertos em cima dela, Rony resmungava algo inaudível enquanto dormia sentado na poltrona com a cabeça jogada para trás e , com um livro grosso aberto em cima de suas pernas, dormia em seu colo. Harry levantou os olhos pesados e observou os amigos, sentindo um pouco da sorte que Ron falara mais cedo, apenas por tê-los ali com ele; também pensou no quão teimosos Ron e eram, pois, mesmo dormindo, era perceptível e inegável que os dois claramente se gostavam e eram perfeitos um para o outro.
Antes que pudesse voltar à leitura exaustiva do livro Habitantes Medonhos das Profundezas, os gêmeos Fred e George Weasley apareceram pelo buraco do retrato. Harry percebeu que era muito tarde, pois o céu ainda estava muito escuro, mas também percebeu que talvez não faltassem muitas horas para amanhecer. Ele precisava dormir, mas também precisava encontrar uma solução. Harry foi até os amigos e, com a ajuda dos gêmeos, os acordou.

— O que é que vocês estão fazendo acordados? — perguntou Rony, passando os dedos distraidamente pelos cachos de que acordava lentamente com o carinho.
— Procurando vocês — disse George. — McGonagall quer ver você, Rony. E você também, Mione.
— Por quê? — perguntou a garota, parecendo surpresa.
— Sei lá…, mas ela estava com a cara meio fechada — informou Fred com feição de assombro no rosto.
— Disse que era para levarmos vocês à sala dela — disse George apontando para os dois, depois apontou para . — E você, gatinha, para a sala do Dumbledore.

se endireitou na mesma hora, sentando-se ereta e com uma feição assustada no rosto. Ela não queria pensar que o único motivo plausível para o diretor a chamar tão tarde era a segurança de seu pai.

— Por que ele quer me ver à essa hora? — ela esfregou os olhos, seu cérebro ainda inebriado pelo sono.
— Ora, não sabemos! — exclamou um impaciente Fred. — Só vamos logo, queremos ir dormir.

Os amigos se olharam com preocupação evidente, mas acompanharam os gêmeos depois de desejarem sorte a Harry e prometeram que voltariam antes da prova. Ron e Mione seguiram para um lado com Fred e foi acompanhada por George pelo outro lado. Era engraçado ver os dois gêmeos separados; se os conhecesse bem o suficiente e prestasse bastante atenção, era possível perceber que eles ficavam um pouco perdidos um sem o outro. George olhava para o lado o tempo todo, como se estivesse prestes a fazer um comentário engraçado com o irmão, mas se lembrava no último instante que Fred não estava ali com ele. tentou não se ofender com o olhar de decepção que ele lhe lançou quando o mesmo fez uma piada sobre um dos quadros no corredor e a ansiedade e o sonho da garota não lhe permitiram rir com tanta vontade como Fred provavelmente faria.

— Chegamos, gatinha — George fez uma reverência, indicando a gárgula que revelava a escadaria para a sala do diretor.
— Por Merlin, George, não me chame assim — ela riu de mais uma cara de decepção que ele fez.
— Está bem, vou te chamar de florzinha por causa do seu… — ele apontou para o pescoço da garota e franziu a testa. — Opa, cadê o seu colar?

colocou a mão no pescoço e exclamou um palavrão em português que fez os olhos de George brilharem. Ela esquecera o colar com Rony. Sua ansiedade cresceu dentro de si e ela tentou se lembrar que em pouco tempo estaria com o amigo e poderia pegar o objeto de volta, mas isso não a confortou. O gêmeo murmurou a senha e logo a escada de pedra foi revelada. entrou apressada na sala, pois quanto antes chegasse, mais rápido sairia de lá.

— Boa noite, Professor Dumbledore — ela murmurou ao se aproximar da mesa onde o homem estava.
— Boa noite, Srta. — ele a cumprimentou com um sorriso breve. — Está tudo bem? Você parece aflita.
— Sim… Bom, não. Acredito que me chamou aqui para falar do meu pai. Ele está bem?
— Ah, está sim! Ontem mesmo falei com Remus Lupin, ambos estão bem e seguros.

soltou todo o ar, o alívio lhe tomou por completo.

— Na verdade lhe chamei aqui para perguntar se a senhorita já teve a oportunidade de ler o livro que lhe presenteei no Natal.
— Ainda não, senhor, sinto muito. Estive ocupada com os estudos — ela falou, omitindo o fato de ela estar ajudando Potter em sua próxima tarefa do Torneio.
— Sem problemas, querida. Te pergunto isso porque fiquei sabendo sobre suas aulas extras com a Srta. Trelawney e acredito que a leitura do livro iria lhe ajudar a entender melhor a respeito do seu colar e da flor dentro dele. — O homem cruzou as mãos na mesa e a observou passar a mão inquieta pelo pescoço. — E tem outra coisa… irei te explicar melhor mais tarde os motivos, pois creio que o Sol está nascendo e não teremos muito mais tempo.

Alvo Dumbledore se levantou com elegância e se aproximou da garota com a mão estendida, a palma virada para cima. o olhou sem entender.

— Preciso que me entregue o colar por algumas horas. Te prometo que ele estará seguro comigo e que assim que terminar a segunda prova, irei lhe devolver e explicar tudo.

arregalou os olhos, a mão antes inquieta agora pousava tensa em seu pescoço.

— Não está comigo — ela falou um tanto assustada.
— Como? Onde está?
— Deixei com Rony.
— Pelas barbas de Merlin, com Ronald Weasley?

A garota fez uma careta e assentiu envergonhada. Desde o dia da morte de sua mãe, quando Artemisa tirou o colar de seu pescoço e entregou para a filha, não se separou do objeto nem por um segundo. Bom, isso só até aquele dia em que ela, no auge de seu cansaço, achou adorável ver Rony usando o seu colar.
Antes que um dos dois pudesse dizer qualquer coisa, a professora Minerva McGonagall entrou afobada na sala, surpresa por ver a aluna com Dumbledore.

— Bem na hora, Minerva! — O diretor falou, exasperado.

nunca esteve tão confusa em toda a sua vida, também nunca viu Alvo Dumbledore tão preocupado assim. Aquilo não podia significar coisa boa.

— Venha, não temos muito tempo! — A mulher entregou para a garota um frasco com um líquido azul-turquesa e mandou que a mesma tomasse. — Beba tudo.
— Para que é isso? — A aluna perguntou enquanto abria o frasco e observava o líquido fluorescente.
— Apenas beba, querida, não te fará mal — Dumbledore falou.

Confiando cegamente no diretor, virou o líquido salgado em sua boca, sem disfarçar uma careta. Quase instantaneamente a garota sentiu seu sono aumentar gradativamente.

— Onde está Ronald Weasley? — ela ouviu a voz distante de Dumbledore perguntar, mas não sabia se era para ela ou para Minerva, seu cérebro agora estava enevoado.
— Hagrid está levando ele e os outros participantes para o Lago, só falta a . Por quê? — Minerva respondeu.
— Nada bom, nada bom…

Por que Rony estava no lago? A aluna da grifinória olhou suas mãos, movendo-as em câmera lenta, pelo menos era assim que via. Ela olhava para os professores e via seus lábios se movendo lentamente, mas nenhum som saía deles. De repente, ela se lembrou de seus sonhos e de sua visão com Ron e o maldito lago.

— Espera, por que Ron está no lago? — ela perguntou com a voz estranhamente baixa e lenta, sentindo o medo tomar conta de si.
— Querida, vocês vão participar da segunda prova do Torneio Tribruxo — Minerva respondeu, empurrando-a porta afora onde Hagrid as aguardava. — Hagrid! Precisamos ir logo, temos que resolver algo antes de a prova começar.

Mesmo com o cérebro inebriado, ela finalmente estava começando a compreender as coisas. O canto dos sereianos ecoou por sua mente.

E enquanto nos procura, pense bem:
Levamos o que lhe fará muita falta…

Ela era o que faria falta à Cedrico Diggory? Não conseguiu perguntar para a professora antes de cair em um sono profundo nos braços de Hagrid.

Era estranha a sensação de flutuar em algo muito gelado sem ter controle sobre seu próprio corpo. estava mais consciente que na superfície há alguns minutos atrás, ela conseguia sentir a água envolvendo seu corpo e o gosto de algas marinhas em sua boca entreaberta. Contudo, ela não conseguia mover um músculo sequer ou abrir os olhos. Mesmo assim, ela não sentia desespero ou falta de ar. Era como uma hipnose, mas que com certeza foi causada pela poção que McGonagall lhe deu que, estranhamente, tinha o mesmo gosto daquela água do lago.
Estou no lago, ela conseguiu pensar. Preciso encontrar o Ron.
Mas não importava o que fizesse, ela não conseguia se mover. A calma que a poção a obrigava a sentir era insuportável. De repente, ela sentiu uma movimentação em volta, fazendo a água balançar seu corpo. Sombras passaram por seus olhos fechados e mesmo sentindo uma pontada de medo, a calma ainda prevalecia.

"Não está com ela", Black ouviu em sereiaco.
"Procure… colar”
"Tem que estar… necessário…"
"...força ou ele morre"

Tão rápido quanto veio, as vozes e sombras se dissiparam. Agora um som abafado de feitiço sendo lançado cortava as águas e seu corpo foi puxado para a superfície.
A intercambista respirou todo o ar possível e finalmente conseguiu abrir os olhos que doeram com a pouca claridade que o dia nublado proporcionava. Ela olhou em volta enquanto a comemoração fervorosa dos demais alunos invadiam seus ouvidos.

— Você está bem?

olhou assustada para Cedrico Diggory que a abraçava forte pela cintura, os cabelos loiros e molhados do lufano colados em seu rosto sorridente. Então ela era a coisa que faria falta à Cedrico e ele a salvou. O pensamento fez a garota sorrir, pois ele também fazia muita falta. Ela entrelaçou os braços em volta dele e assentiu antes de juntar seus lábios nos dele. A plateia surtou em mais uma salva de palmas e gritos comemorativos. Os dois se sentiam da mesma forma por dentro, estavam eufóricos demais por estarem de volta nos braços um do outro.
Porém, assim que ambos saíram da água e foram envolvidos por toalhas, cobertores e abraços, se lembrou do que ouviu embaixo d'água. Ela olhou com desespero para o Lago enquanto Ced a puxava pela mão até onde os professores e jurados os esperavam. Eles recepcionaram o Campeão com animação, parabenizando-o com orgulho por ser o primeiro a sair da água. Um jovem ruivo, estranhamente familiar, se misturava entre os adultos como se fosse um deles e com a mesma importância que eles. Por um breve segundo, pensou ser Rony ou os gêmeos, mas logo percebeu ser outro Weasley. Reconheceu Percy de um dos ponteiros do relógio de Molly Weasley, o ingrato que não apareceu no ano novo.

— Ah, ! — A garota ouviu Dumbledore a chamar e viu o mesmo se aproximar dela com um sorriso no rosto. — Como prometido, aqui está o seu colar, são e salvo.

pegou o colar com certo desespero e o colocou no pescoço, sentindo-se aliviada quase no mesmo instante. Se Ron não estava com o colar, ele não corria mais risco. Entretanto, ela ainda olhava aflita para o Lago.

— Como foi lá embaixo?
— Horrível — ela respondeu com um tom de brincadeira, o fazendo rir. — Professor, pode ter sido loucura da minha cabeça ou um sonho estranho, mas eu ouvi os sereianos falarem sobre o meu colar.

O diretor a olhou surpreso enquanto caminhavam de volta ao palanque por onde assistiam a prova.

— Bom, não era para você ouvir nada. O que falaram?
— Falaram algo sobre pegar ele, depois algo sobre força e… morte.

Eles finalmente chegaram ao alto da plataforma, o vento forte fez a aluna se aconchegar mais ainda em sua coberta.

— Entendo — ele falou, observando o relógio que indicava que havia passado vinte minutos de prova. — Então te deixarei mais um dever: assim que a prova acabar, leia o livro que te dei com toda a sua atenção. Você encontrará a resposta em um dos contos da sua ancestral.

tocou seu colar e olhou com desconfiança para o diretor que agora prestava atenção na prova. Ela sempre se impressionava com a simplicidade com que ele tratava as coisas, mesmo que o mundo estivesse caindo em sua cabeça. Diggory se aproximou dela com um sorriso radiante e balançou os cabelos molhados, respingando nela e a fazendo gargalhar.

— Quer dizer que sou o que te faz falta? — ela o questionou, abraçando sua cintura. Ele fez uma careta, sem tirar o sorriso do rosto.
— Não tenho mais como negar — ele falou, beijando os cabelos molhados da garota e a aconchegando debaixo dos seus cobertores. — , eu am…

O lufano foi interrompido pelos gritos animados dos demais alunos em volta quando Vítor Krum emergiu da água com Hermione Granger ao seu lado, ambos afobados e desesperados por mais ar. Surpresa em ver a amiga no lago, arregalou os olhos. Ela sabia que o outro Campeão gostava da sua amiga, mas nunca imaginou que era ao ponto de Granger ser a escolhida para a prova. Agora, a qualquer momento, Harry apareceria com Rony e Fleur com quem quer que tenha sido escolhida; olhava com grande expectativa, aflita para ver seus melhores amigos bem e salvos. Hermione se juntou aos dois, também abraçada com Vítor e igualmente felizes. Um silêncio prevalecia entre os que assistiam, a apreensão aumentando enquanto os minutos passavam e eles não voltavam. Depois de mais alguns minutos, um murmurinho surgiu entre os professores e Dumbledore posicionou a varinha em seu pescoço enquanto outros professores desciam apressados da plataforma, seguidos por uma desesperada Madame Maxime.

— A Campeã Fleur Delacour está desclassificada da prova de hoje e terá de ser retirada do Lago. — O diretor verbalizou e o murmurinho se espalhou pelos demais, uma mistura de exclamações indignadas e preocupadas.

As grifinórias e Hermione se entreolharam com apreensão. Harry e Rony ainda não voltaram e Black já considerava pular naquele maldito lago para ajudá-lo já que estava com seu colar de volta.

— Não, você não vai — Hermione a repreendeu, segurando o braço da amiga com força. — Harry pode ser expulso do Torneio se a gente o ajudar!
— Ótimo, assim salvo a vida dos dois! — A outra retrucou em voz baixa, mas obedeceu a amiga e ficou em seu lugar. — Afinal, o que Harry usou para conseguir mergulhar?
— Ele estava com umas guelras e seus pés estavam… esquisitos. — disse Cedrico, dando de ombros. — Se não fossem pelas roupas e pelas pernas, eu acharia que ele era um sereiano.
— Sabe o que pode ser isso, Mione? — perguntou, tentando se lembrar de algo semelhante nos muitos livros que lera na noite passada.

Hermione apenas deu de ombros, igualmente pensativa. Os quatro observaram Fleur aparecer aos prantos, falando algo que seu desespero e seu francês impossibilitaram de alguém a entender.
Então o tempo foi passando, os minutos iam embora um por um enquanto todos aguardavam por Harry. Faltavam dez minutos para o encerramento da prova quando Hermione cravou as unhas no braço de , a impedindo de sair dali; faltavam cinco quando abraçou Diggory com força e desviou os olhos do Lago, agoniada demais para olhá-lo; faltavam dois quando todos começavam a perder as esperanças. Mas passada a hora, adeus esperança de achar. Tarde demais, foi-se…

Ele jamais voltará… — concluiu a canção em seus pensamentos em voz alta, engolindo em seco.
— Não pode ser, eles precisam fazer algo! — Hermione murmurou, olhando do relógio para os professores e depois para o lago.
— Já chega, eu vou lá! — exclamou para Hermione que bufou com impaciência. Granger puxou o braço da amiga e apontou para o lago.
— Olha ali!

No exato momento em que a amiga acompanhou seu olhar, todos arfaram ao ver os cabelos ruivos de Rony Weasley e os loiros quase brancos de Gabrielle Delacour, irmã de Fleur. se permitiu soltar o ar, aliviada ao ver que o amigo estava bem. Contudo, Harry Potter não estava com eles. E mesmo depois de longos segundos, enquanto Weasley e Delacour continuavam na água, recuperando o fôlego, Potter não apareceu.
Mas então, exatamente no último segundo, Harry Potter emergiu na água, inspirando o máximo de ar que seus pulmões suportavam. Suas amigas pulavam eufóricas na plataforma, sem se importar de seus cobertores e toalhas caírem no chão. As grifinórias correram escada abaixo até a beira do Lago Negro, seguidas por Fleur que foi em direção a Gabrielle, e ambas agarraram um Harry e Rony exaustos que estavam sentados na grama. As duas enchiam os amigos de beijos e abraços, o alívio pela visão de não ter se concretizado as tomando por inteiro.
só se separou de Rony quando seu irmão Percy a empurrou para o lado, agarrando Ron com certo desespero, o mais novo claramente sendo pego de surpresa.

— Harry, por que raios você trouxe Gabrielle? — Rony perguntou para o amigo, se desvencilhando do irmão.
— Porque Fleur não aparecia, eu não podia deixá-la para trás! — Harry exclamou como se fosse óbvio.
— Você não levou a letra da música à sério, não é? — Ron retrucou, balançando a cabeça incrédulo. — Aquilo era só para garantir que vocês voltassem no prazo!

levantou as sobrancelhas, se sentindo um tanto estúpida. Não culpava Harry, de forma alguma, pois a mesma levou a música ao pé da letra. Era óbvio que Dumbledore não deixaria nada acontecer com eles, como garantiu antes de a mesma tomar aquela poção, mas ela não conseguia confiar nos sereianos, muito menos no Torneio Tribruxo. Potter parecia igualmente pensativo, passando as mãos nos cabelos molhados; os dois se olharam e trocaram um sorriso, pareciam entender perfeitamente o que estavam sentindo.

— Acho que precisamos conversar antes de dar as notas. — Eles ouviram Dumbledore dizer após vários minutos de conversa com os sereianos.

Os juízes se agruparam. Madame Pomfrey tinha ido salvar Rony dos abraços de Percy; ela o levou para onde estavam os outros garotos, deu-lhe um cobertor e um pouco de Poção Estimulante, depois foi buscar Fleur e a irmã. Fleur tinha muitos cortes no rosto e nos braços e suas vestes estavam rasgadas, mas ela não parecia se importar, nem queria deixar Madame Pomfrey tratá-la.

— Cuide da Gabrrielle — disse a garota virando-se para Harry. — Você salvou minha irrmã — disse ofegante. — Mesmo ela não sendo sua rrefém.
— É, foi — disse Harry, sem disfarçar o arrependimento na voz.

Fleur se abaixou, beijou Harry nas duas bochechas; o garoto sentiu o rosto queimar. Hermione e se olharam com as sobrancelhas arqueadas e os braços cruzados firmes.  Em seguida, a francesa disse a Rony:
— E você, também... você o ajudou…
— Foi — disse ele parecendo extremamente esperançoso — Um pouquinho…
— Cara de pau — murmurou, fuzilando-o com os olhos.

Fleur também se curvou para ele com graciosidade e o beijou. abriu a boca, incrédula demais para dizer qualquer coisa mas, para sua sorte, a voz magicamente ampliada de Ludo Bagman ressoou ao lado deles, pregando-lhes um susto e fazendo os espectadores nas arquibancadas mergulharem num grande silêncio. Cedrico se aproximou da garota e a abraçou por trás, sentindo ambos os corpos tensos relaxarem; ela ainda olhava com raiva para Rony quando ouviu Ludo falar:

— Senhoras e senhores, já chegamos a uma decisão. A chefe dos sereianos, Murcus, nos contou exatamente o que aconteceu no fundo do lago e, portanto, em um máximo de cinquenta, decidimos atribuir a cada campeão, as seguintes notas…

“A Srta. Fleur Delacour, embora tenha feito uma excelente demonstração do Feitiço Cabeça-de-bolha, foi atacada por grindylows ao se aproximar do alvo e não conseguiu resgatar sua refém. Recebeu vinte e cinco pontos.”

Todos aplaudiram, alguns a contragosto como , que bufou ao ouvi-la reclamar. Ingrata, ela pensou quando Fleur disse:

— Eu merrecia zerro.

A brasileira sentiu Cedrico apertar seus ombros quando Bagman continuou a falar sobre as notas.

— O Sr. Cedrico Diggory, que também usou o Feitiço Cabeça-de-bolha, foi o primeiro a voltar com a refém. — Ouviram-se grandes aplausos dos alunos da Lufa-Lufa e da Grifinória, casa da refém citada. — Pela simplicidade do feitiço, recebeu quarenta e sete pontos.

se virou para o lufano e gritou junto dele, ambos empolgados pela ótima nota que ele recebeu. Cedrico a levantou no ar e girou, não se aguentava em felicidade por ter ido bem na prova mas, acima de tudo, por ter sua amada em seus braços novamente. Ron resmungou algo inaudível quando olhou sua amiga com o ex, sua euforia por ter beijado Fleur se esvaindo por completo.
Ludo Bagman pigarreou alto, chamando novamente a atenção para si.
— O Sr. Vítor Krum usou uma forma de transformação incompleta, mas ainda assim eficiente, e foi o segundo a voltar com a refém. Recebeu quarenta pontos.

Muitos alunos da Sonserina, que não escondiam sua torcida ao Krum, juntamente com Karkaroff, bateram palmas com especial entusiasmo, fazendo o típico ar de superioridade.

— O Sr. Harry Potter usou guelricho com grande eficácia... — continuou Bagman.
Guelricho!? sussurrou para o amigo com animação. — Genial, Harry!

O amigo respondeu com um sorriso amarelo antes de voltar a atenção à Ludo.

— Ele voltou por último e ultrapassou em muito o prazo de uma hora. Contudo, os sereianos nos informaram que o Sr. Potter foi o primeiro a chegar aos reféns, e o atraso na volta se deveu à sua determinação de trazer todos os reféns à segurança e não apenas o seu.

Os três amigos lançaram a Harry olhares meio exasperados, meio penalizados. já não se sentia tão animada assim.

— A maioria dos juízes — Bagman olhou com muita indignação para Karkaroff ao dizer isso — acha que tal atitude revela fibra moral e merece o número máximo de pontos. Mas... o Sr. Potter recebeu quarenta e cinco pontos.

Junto de seus amigos, que o olhavam com surpresa e euforia, a grande maioria dos espectadores aplaudiu fervorosamente o resultado das notas, todos concordando que o bruxo realmente mereceu tal nota. E enfim, a segunda prova do Torneio Tribruxo acabou com animação e com Madame Pomfrey empurrando os campeões e seus reféns para o castelo para que tirassem logo as roupas encharcadas. Durante todo o trajeto, Cedrico Diggory não tirava o sorriso do rosto assim como não soltava a mão de por nada no mundo, e a garota, por sua vez, gostou de ter de volta a sensação de sua mão entrelaçada na do lufano. Ele, definitivamente, era algo que lhe faria muita falta. Aliás, lhe fez muita falta.



22 -The Devil All The Time

, pra onde você está me levando? — Hermione Granger perguntou pela décima quinta vez e, novamente, bufou com impaciência.
— Céus, Mione, você não sabe o que é uma surpresa? — a questionou, puxando a amiga pelos corredores escuros da escola.

Já era tarde, havia há horas passado do horário de todos irem para suas comunais. As duas falavam aos sussurros e andavam com cuidado por debaixo da Capa da Invisibilidade de Harry Potter. Para convencer Hermione a usar a capa foi um sacrifício, pois esperta como era, ela entendeu que o que iam fazer era errado. A intercambista também a fez se vestir para uma ocasião especial e a deixou escolher a sua roupa; Mione escolheu um vestido rodado preto para usar com uma meia calça grossa por causa do frio e, por cima de tudo isso, um sobretudo vermelho digno de uma grifinória. O único item que Granger a deixou escolher foram os sapatos e, para combinar com o clima gélido, escolheu botas de cano curto. Já escolheu um lindo suéter vermelho para Hermione usar, com botas de cano alto e um belo sobretudo marrom, e a fez deixar os cachos cheios e soltos pois ela os amava dessa forma: o mais natural possível.

— Será que você não pode contar nada? Nadinha? — A grifinória insistiu.
— Está bem — Black sussurrou, parando a amiga em uma esquina antes de virar no próximo corredor. Ela iluminou o próprio rosto com a varinha. — Vamos pra Hogsmeade.
— O quê!? A essa hora!? Sozinhas!? Isso é loucura e pode nos matar ou pior, nos fazer ser expulsas! Por que em sã consciência nós faríamos isso!?

Um sorriso maroto que Hermione costumava ver nos gêmeos Weasley ou em Sirius Black surgiu no rosto de . Em momentos como aquele, Mione tinha certeza absoluta que a amiga era filha do Almofadinhas. Isso a fez estremecer de medo.

— Porque vai valer a pena. E não se preocupe, não estaremos sozinhas — respondeu, puxando a capa de cima delas e dobrando-a para enfiar na minúscula bolsinha de contas enfeitiçada por Granger.

Voltando a puxar a amiga pela mão, a conduziu pelo corredor do terceiro andar, virou à esquerda e parou ao lado da Estátua da Bruxa Corcunda de um olho só, olhando aflita para os lados e para seu relógio de pulso. Ele indicava que já era meia noite, o horário combinado, mas eles ainda não apareceram.

— O quê estamos esperando? — Hermione perguntou, olhando em volta, o medo fazia seu coração acelerar.
— Não é bem o quê e sim quem respondeu, verificando seu relógio mais uma vez. — A qualquer minuto…

Assim que ela olhou para frente, eles apareceram. Vítor Krum e Cedrico Diggory estavam de tirar o fôlego, assim como o sorriso de ambos os garotos. achava uma graça o tanto que Krum sorria quando estava com sua amiga, em contraste com a carranca séria que estampava seu rosto a maior parte do tempo. Já Cedrico era sempre risonho, o estranho era quando ele não estava sorrindo, aí sim era possível dizer que algo estava errado, o que não era o caso naquele momento. Eles caminhavam juntos e determinados em direção às garotas, como se estivessem em um desfile de moda e o corredor era a passarela. Vítor vestia um grosso casaco de pele marrom escuro e seu pescoço estava enfeitado com algumas correntes de prata; a calça parecia igualmente grossa e as botas davam a impressão de que ia caçar na floresta em algum momento da noite. Entretanto, o conjunto da obra funcionava muito bem para ele.
Já Cedrico estava mais elegante, com um sobretudo comprido da cor caramelo e um suéter preto por baixo, sua calça parecia social e os sapatos eram tênis comuns, mas muito bonitos. quase derreteu em seus braços quando ele a abraçou, sentindo-se ridiculamente simples ao seu lado. Hermione não pareceu ligar, sua empolgação ao ver Vítor era muito maior que a preocupação com as roupas ou com o que estavam prestes a fazer.

— Você está linda demais — Ced sussurrou no ouvido da garota, deixando um beijo carinhoso em sua bochecha.
— Ah, olhe só para você — ela respondeu, fazendo-o girar em seu eixo aos risos. — Por Merlin, deveria ser proibido ser tão bonito assim! — Ela então se virou para o casal ao lado que não cansava de admirar um ao outro, mas em silêncio. — Você também está incrível, Krum.
Obrrigado! Vocês duas — ele falou com seu sotaque forte, apontando para as garotas — eston deslumbrrantas.
— Acho que ele quis dizer deslumbrantes — Ced sussurrou para . — Sabe, estou me acostumando com o sotaque dele e ele é surpreendentemente muito legal. Mas, é claro, o seu sotaque ainda é meu favorito.

tampou a boca para sua risada não sair tão alta, ao mesmo tempo que sentiu seu rosto esquentar com a timidez. Achou adorável a empolgação do lufano, não havia uma pessoa no mundo que não caísse em seus encantos e Krum seria um deles, ela logo percebeu ao ver a mesma empolgação no búgaro quando falava com Diggory.

— Estão prontos? — A intercambista perguntou, sacando sua varinha.

Os três a olharam com expectativa, afinal, não faziam ideia de como ela os levaria para Hogsmeade. Quando os dois a convidaram e contaram a ideia de terem um encontro duplo, ela se lembrou de uma conversa que teve com os gêmeos Fred e George e com Harry sobre o Mapa dos Marotos e as passagens secretas. Essa era a mais segura e a favorita dos três, então arriscaria usá-la naquela noite.

Dissedium — ela sussurrou e no mesmo instante, a estátua se moveu para o lado, exibindo uma passagem escura e comprida. sorriu triunfante.
— Como você sabia disso? — Hermione a questionou, boquiaberta. — Aposto que foram Fred e George quem te falaram.
— E Harry — acrescentou, segurando a mão de Cedrico que sorria orgulhoso para a garota. — Vamos logo. Lumos.

Todos acenderam suas varinhas e entraram na passagem estreita. Eles tiveram que caminhar em fila e Cedrico, sempre cavaleiro, se postou a guiá-los na frente para segurança das meninas caso encontrassem algo pelo caminho, e Krum, com a mesma finalidade, ficou por último. O caminho parecia não ter fim e por todo ele, os quatro alunos ficaram em silêncio, totalmente concentrados em não deixar nada dar errado. O túnel virava para a esquerda, depois direita, depois esquerda novamente, até tornar-se uma subida levemente íngreme. O caminho era igualmente longo e cansativo, eles já haviam perdido a noção de quanto tempo estavam ali embaixo. Eles continuaram subindo, revezando nas reclamações, até chegarem aos pés de uma escadaria de pedra gasta que parecia não ter fim.

— Está brincando!? — Cedrico falou ofegante, olhando para os demais colegas que faziam careta para os degraus.
— Esse encontro tem que valer muito a pena — Hermione comentou, olhando para a amiga ao lado.
— Vai valer! Não vai, Vítor? — falou, olhando significativamente para o búlgaro. Ele assentiu de forma frenética, sorrindo para Hermione que não resistiu e devolveu o sorriso.

Então os quatro começaram a subir, degrau por degrau, novamente em silêncio. Aos poucos, começaram a sentir um leve aroma de caramelo que, a cada subida, se intensificava mais. O cheiro se misturava com os outros doces que vendiam na Dedosdemel, e era assim que sabiam que estavam chegando ao seu destino. Parando no final da escada, Diggory abriu com cuidado uma espécie de alçapão que rangeu, alarmando-os. Depois de verificar que era seguro, começaram a subir, um por um, deparando-se com um porão escuro e empoeirado, mas com um perfume delicioso de doces. Ainda em silêncio, eles olharam em volta, tentando pensar em como sairiam dali.
Com a luz azulada da varinha, identificou uma pequena janela que dava para um dos becos de Hogsmeade. Se tivessem sorte, conseguiriam empurrar o corpo largo de Krum pelo estreito quadrado. Então ela falou a ideia aos demais e, mesmo desconfiados, eles concordaram em tentar. A primeira a passar foi Hermione que não encontrou dificuldade alguma; antes que a outra garota tentasse, ela ficou para trás para ajudar Vítor Krum. Com um pouco de esforço, ele passou, depois e, por fim, Diggory. Com todos do lado de fora, eles finalmente puderam comemorar e respirar aliviados.

— Ok, e agora? — Hermione perguntou, olhando em volta. — Está tudo fechado.
— Nem tudo — respondeu, apontando para o único estabelecimento aberto no vilarejo escuro. — O Três Vassouras ainda está aberto.
— Até parece que a Madame Rosmerta vai nos deixar entrar a essa hora. Ela vai nos entregar para o Dumbledore e vamos ser expulsos! — Mione falou, olhando aflita para o local.
— Ela não teria coragem de dizer não ao nosso convidado de honra — Cedrico retrucou, apertando o ombro de Krum.

O búlgaro observava a conversa em silêncio, seu rosto levemente retorcido com o esforço na tentativa de entender o que falavam. Mas ele sorriu para o lufano e o seguiu quando o mesmo caminhou determinado para o bar. As garotas se entreolharam, Hermione estava aflita e sorria radiante, ambas seguiram os garotos.
O sino fez seu dever e anunciou a entrada do grupo, chamando a atenção de dois bruxos bêbados e, é claro, da própria Madame Rosmerta.

— Pelas barbas brancas de Merlin, o que raios vocês estão fazendo aqui!? — ela os questionou, dando a volta pelo balcão e parando na frente deles, impedindo-os de prosseguir caminho.
— Boa noite, Madame Rosmerta — Cedrico a cumprimentou com todo o seu charme e a mulher, com desconfiança estampando seu rosto, o mediu de cima a baixo. — Viemos apenas tomar um chocolate quente.
— Chocolate quente!? Na minha taberna!? Ora, aqui não servimos essas coisas! — ela perguntou com ironia e confusão na voz, e os olhou com mais desconfiança, estreitando os olhos. — Duvido que Alvo saiba que estão aqui.
— Bom, ele realmente não sabe — começou, dando um passo para frente e um sorriso amarelo. — Mas ele pediu que apresentássemos as maravilhas de Hogsmeade para nosso convidado especial. — Ela puxou Krum para o seu lado e ele entregou um sorriso forçado à mulher.
— À essa hora, senhorita? — A mulher insistiu, sem baixar a guarda.
— Só tivemos tempo agora — Hermione falou, sua voz saiu fraca e trêmula tamanho era seu nervosismo. — Sabe como é, com aulas e estudos, estudos e… aulas.

deixou uma risada escapar, mas logo a conteve quando ambas as bruxas a olharam feio.

— Só vamos tomar algo e ir embora, prometemos — Cedrico voltou a falar. — Você não vai negar uma noite de encontro para dois Campeões de Hogwarts e duas belas moças, vai?

Black arrepiou-se quando Diggory passou o braço por seus ombros e depositou um beijo em sua bochecha, sorrindo largo para a outra mulher em seguida. Rosmerta bateu o pé no chão algumas vezes, os braços ainda cruzados e o pano de prato pendurado no ombro indicava que ela estava irreversível, mas sua boca torta indicava que ela ponderava o assunto. Ela olhou seu relógio de pulso e depois para os dois bruxos nos fundos do local; um estava caído na mesa, babando, e o outro tentava fazer uma última gota de cerveja no caneco de metal cair em sua boca. A dona do estabelecimento suspirou e voltou a olhar os jovens que a encaravam com apreensão.

— Está bem, deixarei vocês ficarem apenas enquanto organizo meu bar e deixarei que tomem apenas uma caneca de cerveja amanteigada cada um — Madame Rosmerta finalmente falou, apontando para eles, que sorriam largo. — E não será de graça.

Animados, os quatro se dirigiram à uma mesa longe dos dois bruxos e comemoraram a conquista, embarcando em uma conversa animada e se deliciando com suas bebidas. Em determinado momento, lançou um olhar para a mesa onde os homens estavam. Ambos pareciam interessados demais nos jovens, mas disfarçaram quando a mesma os encarou. Ela viu um deles despejar um líquido esquisito em sua caneca e dar um gole rápido e pensou no quão brava Madame Rosmerta ficaria caso percebesse que seu cliente está consumindo uma bebida de fora de sua taberna.
Os olhos do homem, contudo, pareciam familiares demais. Ele a fez pensar em seu padrinho, mesmo que o homem não tivesse nada a ver com ele. Então seus olhos foram para o cartaz colado acima da cabeça deles, onde um Sirius Black revoltado gritava silencioso no dia de sua prisão. A garota se encolheu, percebendo que haviam vários desses espalhados pelas paredes, cercando-a e observando-a. estava totalmente alheia à conversa dos amigos, de qualquer jeito, então decidiu levantar-se para olhar um dos cartazes. Seu pai gritava em desespero, segurando uma placa de Azkaban, parecendo o homem louco que todos diziam que ele era. Os dizeres no cartaz alertavam para tomar cuidado com ele, pois o bruxo era extremamente perigoso. Os gritos silenciosos do homem perturbavam a garota mais do que se o próprio estivesse realmente gritando na sua frente. Ela levou os dedos até a imagem, desejando poder acalmá-lo naquele momento.

— Aí está você! — Cedrico se aproximou, fazendo-a se sobressaltar. se distraiu tanto que quase esqueceu dos amigos. — Você me fez segurar uma vela enorme sozinho com aqueles dois. Está tudo bem?
— Sim, está — ela falou um tanto aérea.

O sino do estabelecimento anunciou a saída dos dois homens. olhou para o garoto na sua frente, o sorriso dele fazia seu coração se encher de calma, ao mesmo tempo que fazia o mesmo bater ansioso. Ela não podia mais negar o quanto sentia a falta dele, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre ela e Rony ou ela e Draco. Seu caminho sempre cruzava o de Cedrico, ela sempre voltava para ele. E ali estavam, um de frente para o outro, e isso nunca pareceu tão certo quanto agora.
Contudo, ainda havia algo entre os dois, um novo passo que precisava dar. Ela olhou para o pergaminho ao seu lado e mordeu o lábio, tentando tomar coragem.

, eu preciso te falar uma coisa — ele começou, aproximando-se dela e segurando suas mãos. — Há muito tempo eu quero te falar que eu…
— O que sabe sobre Sirius Black? — ela o interrompeu com a pergunta, aflita.

apontou para o cartaz onde seu pai ainda se movimentava e gritava mudo. Cedrico acompanhou o dedo da garota e franziu a testa, sem entender porque a garota estava perguntando aquilo logo agora. A fama de Sirius Black foi tão grande que sua história chegara no Brasil? Ela estava apenas curiosa ou com medo dele?

— Ele foi um bruxo seguidor de Você-Sabe-Quem e entregou o paradeiro dos Potter para ele, matou doze trouxas e um bruxo antes de ser preso em Azkaban. — O garoto deu de ombros, tentando lembrar-se de algo mais. — Dizem que ele é muito perigoso… Mas estamos seguros em Hogwarts. Bom, é verdade que ano passado ele entrou lá, mas Dumbledore garantiu que ele está longe agora, não irá nos machucar.

A essa altura, já estava com lágrimas nos olhos. Nunca seria fácil ouvir os outros falarem dessa forma de seu pai, sabendo que o mesmo não tinha culpa alguma de tais atrocidades.

— Essa é a questão, ele não é perigoso — ela falou baixinho, abaixando a cabeça. — Ele é inocente.
— Por que diz isso? — ele a questionou, encostando-se na parede e cruzando os braços. — O que você sabe sobre ele?
— Eu sei que ele é inocente, que foi preso injustamente e que ele… — ela parou por um segundo, olhando em volta para confirmar que estavam afastados o suficiente para ninguém mais ouvir. — Ele é o meu pai, Ced.

A primeira reação de Cedrico foi rir com vontade, achando que a garota estava brincando. Mas quando a mesma o olhou com tristeza, percebeu que não era nada disso. Conhecia bem o suficiente para saber quando a mesma estava realmente falando sério e aquele era um desses momentos. Seu coração deu um pulo quando se deu conta do que ela havia acabado de confessar.

— Espera, você está falando sério?
— Por que eu mentiria sobre meu pai ser o homem mais procurado do mundo bruxo? — ela falou, seus ombros caindo mais ainda. — Meu nome é Black, filha de Sirius Black e Artemisa .

Cedrico deu um passo para trás, para desespero de , e não conseguiu responder nada. O lufano não sabia se saia correndo ou apenas ficava e ouvia o que a garota que ele amava tinha para dizer. Ele pensou que hoje seria o dia que finalmente falaria as três palavras que estavam entaladas em sua garganta há muito tempo, mas agora elas pareciam ter desaparecido junto com todo o resto de seu vocabulário.

— Fala alguma coisa — ela pediu com sua voz embargada. — Por favor, fale algo.
— V-você… Você é filha… De um a-assassino?
— Não, ele não é assassino! — ela respondeu, tentando segurar a mão do garoto que a afastou, o medo e a decepção aumentando dentro de si. — Não foi ele, Ced.
— Você tem provas? — ele a questionou.
— Sim! Bom, na verdade, não… — ela fez uma careta. — Veja bem, a prova é o tal bruxo que ele supostamente matou, mas o desgraçado do Pettigrew está vivo e foi ele quem…
— Quer mesmo que eu acredite nisso? — ele a questionou, rindo com desdém. — Só sobrou um dedo dele!
— Sim, eu quero — ela falou, começando a se irritar. — Pois é a mais pura verdade. Meu pai não faria mal nem a uma mosca, ele é o cara mais doce e gentil que eu já conheci. Ele é bom, assim como você, Cedrico.
— Não me compare à um assassino.
— Pare de chamar ele assim! — ela gritou, chamando a atenção dos amigos e da dona do estabelecimento.
— Sem brigas no meu bar — Rosmerta ralhou de trás do balcão.
— Não se preocupe, já estamos indo — Cedrico retrucou, dando as costas para a garota depois de olhá-la com enorme decepção.

Limpando as lágrimas, o seguiu para fora, não aceitando que a discussão terminasse daquela forma.

— Cedrico, por favor…
— Você mentiu por todo esse tempo, ! — ele ralhou irritado, já do lado de fora do estabelecimento. — Você teve coragem de olhar na minha cara e mentir para mim!
— Eu queria poder ter contado antes, Ced, eu juro — ela choramingou, sentindo sua garganta apertar. — Mas isso pode colocar meu pai em risco!
— Ou talvez em Azkaban!? Que é onde ele deveria estar?
— Não, não deveria — Hermione interveio, Krum parou há uma distância segura do grupo, provavelmente à pedido da garota. — Ele é inocente, Ced.
— Você também sabia? — O lufano a questionou. — Contou a eles, mas não pôde contar a mim.
— Eles descobriram sozinhos — ela defendeu-se, fechando os olhos e apertando a ponte de seu nariz. — Eu estou contando agora, isso não vale?
— Não — ele falou com chateação. — Não anula os meses que passou comigo escondendo isso de mim, . E não anula o fato de você ser filha dele.
— Eu não acho que aqui seja um bom lugar para falar sobre isso — Hermione interveio novamente, olhando preocupada para os lados.

Cedrico passou as mãos nos cabelos, sem saber o que fazer. Ele sabia que a garota na sua frente, que agora deixava as lágrimas caírem livres pelo rosto, não oferecia nenhum mal à ele, muito pelo contrário. foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida e, naquela noite, ele estava pronto para tê-la de volta e não a deixaria mais ir embora. Mas aquela notícia o abalou. Ele estava tentando, mas não conseguia ver um cenário onde Sirius Black fosse um homem inocente. Cresceu ouvindo o quão terrível e perigoso o bruxo era e por mais que quisesse, naquele momento, Cedrico não conseguia acreditar na amada.

— Eu sei que é coisa demais para assimilar — falou com cautela após longos segundos em silêncio. — Mas eu juro, Ced, que eu sempre fui verdadeira e genuína com você. A garota que se apaixonou por você é a mesma que está aqui, parada na sua frente, te contando esse segredo. Eu não podia arriscar contar antes e eu não espero que você entenda isso, mas entenda que se estou te contando agora é porque eu…

se interrompeu ao perceber o que ia dizer. Cedrico a olhou com atenção, suas sobrancelhas se levantaram em expectativa pela continuação. Seu coração acelerou mais, desejando em segredo que ela falasse as palavras que ele tanto queria ouvir. Porém, elas não vieram.

— Eu quero você de volta na minha vida — ela falou baixinho. — Eu juro que não tem mais segredos, Cedrico. Mas você vai ter que acreditar em mim e me aceitar sendo filha do Sirius.
— E-eu… — ele gaguejou, as palavras se atropelavam para saírem de sua boca. — Eu não consigo… Me desculpa, mas não dá.

sentiu o peso da decepção jogar seus ombros mais para baixo, junto a sua cabeça. Era difícil olhá-lo, a machucava profundamente. Ela se sentiu uma idiota em pensar que Ced seria compreensível. No lugar dele, talvez ela mesma não reagiria tão bem. Então não se surpreendeu quando Cedrico lhe deu as costas e, secando as lágrimas, seguiu seu caminho para a DedosdeMel.

— Eu vou com ele — Hermione falou, apertando o ombro da amiga em consolo. — Vítor? Poderia acompanhar a de volta à Hogwarts, por gentileza?

Mesmo não entendendo muito bem a situação, Krum não era idiota e percebeu que algo havia acontecido entre Diggory e . Sendo assim, ele apenas assentiu, deu um beijo em Hermione e permaneceu fiel ao lado da brasileira em silêncio, apenas afagando sem jeito suas costas enquanto a garota chorava sem parar. Ele nunca sabia muito bem o que fazer quando as garotas choravam ao seu lado, então o melhor que conseguiu fazer para ajudá-la foi lhe dar um abraço e murmurar, com seu sotaque, que tudo ficaria bem.

Cerdrico te adora — ele murmurou quando os soluços de se acalmavam. — Estarva ton animado para ersta noite.
— Eu também — ela falou, quase em um sussurro. — Mas ele tem razão em estar chateado, eu escondi algo dele por meses…
— Não querro sarber o que fez— disse Krum em tom sério. — Mas te garantoque Cerdrico perrdoará você.

lhe deu um sorriso leve, mínimo, mas carregado de sincero carinho. Céus, Hermione acertara em cheio e ela tinha que casar com esse cara. Em agradecimento pelas palavras, a garota lhe deu um abraço apertado e aproveitou para pôr em prática o que a Professora Trelawney a ensinou na última aula. Encoste na pessoa e a use como os objetos que lhe ensinei na outra aula, canalize sua energia. E assim ela fez, desejando ver o que aconteceria com Vítor Krum na última prova do Torneio Tribruxo. Contudo, um flash rápido do garoto, em meio a dois arbustos enormes, a assustou e a fez soltá-lo na mesma hora. Na breve visão, os olhos de Krum estavam brancos e enuviados, sua feição estava retorcida em… raiva? o olhou com preocupação e ele a olhou com confusão.

— O quêvocêfez? — ele perguntou, estranhando a sensação estranha em seu corpo.
— N-nada — ela respondeu, um tanto atônita. — Você sentiu isso?

Ele apenas assentiu, desconfiado.

— Não foi nada, Krum — insistiu, apertando o ombro do amigo. — Só tome cuidado, está bem? Podemos ir agora?

O búlgaro não parecia nada convencido mas, sem protestar, ele assentiu e os dois puderam finalmente refazer o caminho para Hogwarts.

***

realmente achou que o dia seguinte seria melhor, apesar de ter dormido muito mal naquela noite. Acordou um pouco atrasada, mas determinada em conversar com Cedrico antes de ir para Hogsmeade com o resto da turma, dessa vez com a cabeça de ambos mais fria. Contudo, o dia se mostrou atípico desde o momento em que ela entrou no banheiro feminino e viu todas as garotas de sua casa se afastarem dela assustadas. Ignorando o fato e vendo que seus amigos já não estavam mais na comunal da Grifinória, ela terminou de se arrumar e seguiu, como todos os dias, para o Salão Principal. Mas durante o percurso, mais alunos a evitaram. Ou eles se afastavam ou a olhavam feio de cima a baixo. Decidiu então perguntar para Nick-Quase-Sem-Cabeça se ele havia notado algo estranho nela ou se sabia de algo. Porém, de nada adiantou.

— Ei, Nick! Você por acaso sabe por todos… — ela se interrompeu quando viu o fantasma se assustar ao vê-la e flutuar o mais rápido possível para longe dela. — estão fugindo de mim…?

fez uma careta confusa, cheirou suas vestes e seu corpo que cheiravam a roupa lavada e banho recém-tomado. Olhou então para uma armadura polida, tentando enxergar sua aparência no reflexo prateado. A armadura reclamou, lhe dando um susto, mas tudo parecia estar normal com ela.
Foi apenas quando se aproximou do Salão que entendeu o que estava acontecendo. Cedrico Diggory literalmente correu em sua direção e, esbaforido, disse:

— Eu juro que não fui eu, !
— Não foi você o quê? — ela perguntou confusa. — Do que está falando, Ced?

O garoto abriu a boca para responder, mas foi interrompido antes que pudesse dizer algo.

! — ela ouviu Hermione gritar ao longe, correndo em sua direção com Rony e Harry em seu encalço. — Não fomos nós, eu juro!
— Nem a minha família — Rony adiantou-se em dizer. — Apesar de que podem ter sido os gêmeos, não confio naqueles linguarudos…
— Claro que não fomos nós! — Fred e George falaram em uníssono, se aproximando do grupo.
— Não faríamos isso com a — Fred protestou.
— Nem com o Sirius, ele e os Marotos são nossos ídolos! — completou George, dando um tapa na cabeça de Rony.

observou a cena com uma confusão enorme se formando em sua cabeça. Queria que eles apenas explicassem logo o que raios estava acontecendo e do que eles estavam falando.

— Pessoal, do que vocês estão falando? — ela perguntou, percebendo que os alunos em volta começaram a cochichar sobre eles. — Por que está todo mundo agindo estranho?
— Espera, você ainda não viu? — Cedrico a questionou e a garota negou.

Então Potter lhe entregou o jornal Profeta Diário em sua edição vespertina. De cara, reparou em uma foto sua se movendo na primeira página com os dizeres " Black: a filha do fugitivo mais perigoso da Grã-Bretanha". Ela percebeu que a foto foi tirada na noite passada enquanto a mesma voltava do passeio secreto à Hogsmeade. Seu rosto estava claramente abatido e aflito. Tirado de contexto, ela realmente parecia culpada, mas apenas Granger, Diggory e Krum sabiam o real motivo para tal chateação.
arregalou os olhos ao ler a matéria ao lado da foto, um texto enorme explanava à todos que ela era filha de Sirius Black e que estava estudando em Hogwarts há meses.

"Não é novidade para ninguém que a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts não é tão segura quanto afirmam ser, mas dessa vez, o diretor Alvo Dumbledore pode ter ido longe demais ao deixar a filha de um dos bruxos mais perigosos do mundo, o foragido Sirius Black, estudar na escola.
O fato de Black ter uma filha já é uma surpresa por si só, mas foi um verdadeiro choque saber que a brasileira Black foi aceita no programa de intercâmbio no início do ano letivo, deixando para trás a escola brasileira de bruxaria, a Castelobruxo, e possivelmente o esconderijo de seu pai. Ao invés de entregar Sirius Black para as autoridades e direto para Azkaban, Alvo Dumbledore acolheu a filha de um assassino debaixo dos tetos antigos de Hogwarts, colocando os demais alunos em perigo.
Segundo relatos de fontes seguras que tiveram contato direto com Black, a garota já mostrou-se ser tão perigosa quanto o pai, ameaçando pais de alunos e convivendo com os terríveis sereianos das profundesas do perigoso Lago Negro. As fontes ainda afirmam: se aproximou de Harry Potter, o garoto que sobreviveu, e da família Weasley, provavelmente à pedido do pai. Acredita-se que o homem ainda quer finalizar o seu serviço.
"Ela é perigosa, vive pegando detenção. Todos os alunos têm medo dela, ninguém entende muito bem porque Dumbledore a deixa estudar aqui! A qualquer momento ela pode nos explodir como o pai fez há anos atrás aos trouxas que cruzaram seu caminho. O lugar dela é em Azkaban, junto ao pai", um aluno relatou para nossa repórter Rita Skeeter. O estudante preferiu não se identificar por segurança própria.
Se a garota é uma criminosa como o pai, nós não sabemos, mas estariam nossas crianças em segurança dentro de Hogwarts? Nós também não temos certeza. Saiba mais detalhes sobre a vida da filha de Sirius Black na página 23."

folheou com certo desespero o Profeta Vespertino até encontrar a parte onde detalhava sua vida inteira, desde informações sobre sua mãe, até o fato de Remus Lupin ser seu padrinho e ter cuidado dela toda a sua vida. É claro que Rita Skeeter não pegou leve com o ex-professor de Defesa Contra As Artes das Trevas, e talvez tenha sido o que deixou ainda mais enraivecida. Ela terminou de ler a matéria de boca aberta. Suas mãos estavam trêmulas e seu coração acelerado conforme ela digeria a situação. Por isso todos estavam evitando-a e por isso seus amigos estavam agindo de forma tão estranha. O segredo que ela lutou meses para guardar havia se espalhado de forma grotesca, retorcida e mentirosa. Uma raiva começou a esquentar seu pescoço e seu rosto e, apertando o jornal em suas mãos, ela olhou para seus amigos, um por um.

— Juro que não foi a gente — Rony repetiu com preocupação.
—Eu sei que não! Obviamente foi o Draco! — respondeu, trincando os dentes de raiva. — Ele não gostou de eu ter ido tirar satisfação sobre o que o pai dele fez… Eu sei que foi ele e esse infeliz me paga!
— Não acho uma boa ideia mexer com ele agora, — Hermione falou, tirando o jornal das mãos da amiga com cautela. — O melhor é manter a calma e ignorá-lo por um tempo, pelo menos até esquecerem essa história.
— Vou te ajudar a acabar com ele depois — Harry prometeu, olhando com raiva para as portas do Salão Principal. — Mas Mione tem razão, não faça nenhuma besteira.
— Vamos tomar café — Rony resmungou, colocando a mão na barriga que roncava. — Não consigo raciocinar com fome…
— Eu acho melhor eu não entrar — a garota murmurou com chateação. — Todos devem estar me odiando.
— Nem todos — disse Cedrico, dando de ombros. — Você tem a gente.

Ouvir aquilo aqueceu o coração de . Claro que eles precisavam conversar depois de ontem, mas era bom saber que, aparentemente, ela tinha o apoio dele e aquilo bastava. Ela o olhou com ternura, resistindo à vontade de beijá-lo bem ali, quando os gêmeos se postaram um de cada lado, abraçando-a pelos ombros.

— Ninguém nem vai reparar em você — disse Fred, começando a caminhar com o grupo.
— E se repararem, vamos te defender — completou George, piscando para o irmão que concordou com um sorriso ladino.

Sentido-se um pouco mais confiante, entrou com seus amigos no Salão Principal e imediatamente soube que Fred Weasley havia se enganado. Todos os olhares se voltaram para eles, fazendo-os paralisarem na entrada no salão. O grupo engoliu em seco, mas continuaram andando até a mesa da Grifinória em um silêncio absoluto e tenso enquanto todos acompanhavam cada um de seus passos.

— Isto é horrível — a garota choramingou baixo para os amigos. Ela se sentou à mesa, mas não respirou aliviada.
— Falo com você depois, está bem? — disse Cedrico e ela assentiu antes de o lufano lhe dar um beijo carinhoso na testa e seguir para a mesa da sua casa.

O silêncio permaneceu por longos segundos que, para a intercambista, pareceram horas, e foi quebrado apenas quando Draco Malfoy exclamou:

— Alguém chame logo os dementadores! Temos uma criminosa bem ali! — ele apontou para a mesa da Grifinória e lançou um sorriso frio para Black que apenas encolheu os ombros. Muitos alunos deram risadas, deixando-a mais constrangida ainda.
— Engraçado, Malfoy, não estou vendo o seu pai por aqui — retrucou Fred alto o suficiente para todos ouvirem e gargalharem ainda mais. O olhar que Draco lançou ao gêmeo poderia congelar o Inferno, mas Fred pareceu não se importar.
— Silêncio — pediu Dumbledore, mas seu pedido não foi atendido até que ele falasse mais alto e com mais firmeza. — SILÊNCIO!

Todos se calaram quando o diretor se levantou. Ajeitando seus trajes, ele limpou a garganta e olhou para os alunos, parecendo reparar em cada um deles.

— Como alguns já devem saber, Bartolomeu Crouch, funcionário do Departamento de Cooperação Internacional em Magia no Ministério da Magia e nosso jurado no Torneio Tribruxo, foi atacado na tarde anterior em nossa floresta durante a segunda prova. — O diretor fez uma pausa enquanto alguns alunos soltavam exclamações de surpresa e buchichos.

olhou para os amigos, chocada com a notícia, e eles pareciam tão surpresos quanto ela, com exceção de Harry Potter que encarava a mesa com seriedade.

— Não sabemos quem foi, nem o que aconteceu. Também não sabemos onde ele se encontra...
— Não é óbvio!? — Malfoy o interrompeu com uma risada sarcástica. — Vão mesmo ignorar o fato de a filha de um assassino estar estudando aqui?

Um novo murmurinho se formou, tanto de pessoas concordando com o sonserino quanto de defensores da aluna da Grifinória. O coração da garota se despedaçava a cada comentário que Malfoy fazia, sem conseguir acreditar em como ele havia se transformado no vilão que o próprio disse que seria. Draco era um pouco como seu pai, não fazia e falava as coisas se não fosse cumpri-las.

— Cale essa boca idiota, menino insolente — Alastor Moody esbravejou, fazendo todos se calarem novamente.
— Alastor, por favor — Dumbledore falou, fazendo o professor sentar-se novamente. — Obrigado, Draco, pela opinião que não lhe foi requisitada. Mas se está se referindo à , seria impossível tal coisa já que a mesma estava inconsciente embaixo d'água. Acredito que o senhor estava assistindo a prova como todos nós, não estava?

Draco nada respondeu, apenas fechou a cara e passou a encarar , convidando-a para o jogo que sempre faziam. Dessa vez, porém, ela não suportava olhá-lo de volta sem um nó se formar em sua garganta. Ela olhou para a mesa de madeira e não ousou desviar o olhar enquanto ouvia o diretor.

— Como eu estava falando — continuou Dumbledore. —, mesmo com o acontecido, o passeio de hoje ao vilarejo de Hogsmeade não será cancelado. — Uma comemoração coletiva se espalhou pelo salão. — Contudo, todos os professores estarão lá para protegê-los e vocês serão separados em grupos para poderem visitar cada estabelecimento. E peço, para maior segurança de vocês, que permaneçam perto deles o tempo todo e que divirtam-se por mim.

Alguns minutos após o discurso, os alunos começaram a se retirar. e os amigos decidiram esperar até todos saírem; a garota sentia o olhar de cada um dos alunos queimar sua nuca quando passavam pela mesa onde estava, e isso tirou todo o seu apetite. Antes de saírem da mesa, Harry entregou à amiga o bilhete que seu padrinho mandou na manhã anterior.

Estejam nos degraus no fim da estrada que sai de Hogsmeade (depois da Dervixes & Bangues) às duas horas da tarde de sábado. Tragam o máximo de comida que puderem.

— Não pode ser — ela sussurrou, colocando a mão na boca. — Ele não pode ir para lá! E se for pego? Logo agora com esta maldita matéria desse maldito jornal?
— Mas até agora ele não foi pego, não é? — disse Rony. — E agora o lugar nem está mais infestado de dementadores.
— Mas todos estão de olho em mim — disse , consternada. — Se me virem com ele…
— Ele estará como Snuffles — afirmou Harry para tranquilizá-la. — Ninguém irá saber.

Ainda em dúvida, a garota se levantou junto ao grupo para poderem ir ao passeio o mais rápido possível. Ao se virar para a porta, viu Cedrico Diggory aparecer apressado para encontrá-los, mas foi impedida pela mão de Dumbledore em seu ombro.

— Gostaria de falar com você, Senhorita Black. — O diretor viu a garota arregalar os olhos. — Creio que agora pode usar seu sobrenome com orgulho e tranquilidade.
— Sim, claro — ela falou um tanto atônita. Precisava se acostumar com isso. — Mas preciso ir à Hogsmeade. — Ela apontou para os amigos que a esperavam atrás de si.
— Ah, eu sinto muito, mas você não tem autorização para ir.
— O quê!? — os amigos protestaram, aproximando-se deles.
— Isso não é justo! — falou com irritação. — Meu pai assinou minha autorização, e eu não fiz nada de errado!
— Sei que não fez e eu sei que tem a autorização, mas peço, para o seu bem, que permaneça em Hogwarts hoje — Alvo falou com ternura, vendo todos olharem com tristeza para a garota. — Vamos ao meu escritório, está bem?

Sem encontrar argumentos, a garota apenas assentiu e se virou para se despedir dos amigos. Ela abraçou Harry com força e não o soltou antes de sussurrar:

— Diga a ele que estou bem, que eu sinto muito e que o amo muito.
— Pode deixar — ele respondeu com chateação.

Depois de abraçar Hermione e Rony — que não queria soltá-la, choramingando como se nunca mais fosse vê-la —, ela abraçou Cedrico e seu abraço reconfortante acalmou um pouco seu coração acelerado.

— Quer algo de Hogsmeade? — ele perguntou, seu tom era muito mais confiante e alegre que Ron, como se tivesse certeza que iria vê-la novamente.
— Hm — ela fingiu pensar, batendo um dedo no queixo. — Penas de algodão-doce?
— Ah, ótima escolha, amor — ele sorriu radiante, fazendo as já conhecidas borboletas no estômago da garota darem cambalhotas. Ela amava quando ele a chamava assim, e no momento, o apelido lhe confirmava que ele não estava chateado com ela. — Se cuida. Conversamos quando eu voltar.

assentiu e deixou que o garoto depositasse um beijo carinhoso em sua bochecha antes de o grupo partir para Hogsmeade. Ela ficou para trás, observando com tristeza as enormes portas do castelo se fecharem na sua cara. Dumbledore a chamou novamente e, obediente, ela o seguiu para sua já conhecida sala. manteve a cabeça baixa e ficou em silêncio durante todo o percurso, imaginando os mil sermões que o diretor iria lhe dar antes de expulsá-la de Hogwarts. Meses naquela escola, fazendo o máximo para guardar seu segredo, e com apenas uma matéria, sua nova vida havia chego ao fim. Como iria convencer seu pai de voltar para o Brasil? Será que a Castelobruxo a aceitaria de volta, no meio do ano letivo? O pior de tudo é que ela não queria voltar. Desde que chegou em Hogwarts, ela sentiu que ali era a sua casa. Aquelas paredes acolheram com o carinho e amor que ela quase não teve no seu país de origem. Ela não podia voltar agora.

— Sente-se. — Dumbledore indicou a cadeira na sua frente e a garota novamente obedeceu, seu coração cada vez mais acelerado.

Antes que Alvo pudesse dizer qualquer coisa, uma enorme coruja castanha entrou por uma das janelas no alto da sala, assustando a aluna. A ave sobrevoou a cabeça dos dois e deixou um envelope branco em uma enorme pilha de cartas que reparou apenas naquele momento. Ela soltou uma baixa exclamação de surpresa enquanto o diretor entregava um petisco para o bicho, como se soubesse que ela viria.

— Eu sinto muito por isso, diretor — ela falou com a voz baixa, afundando na cadeira.

sabia bem o que aquele amontoado de cartas significavam. Os responsáveis pelos alunos que estavam estudando em Hogwarts não devem ter ficado nada felizes em saber que ela estava lá. A filha do temido Sirius Black. queria rir disso, mas no momento, era mais trágico do que cômico. Era frustrante não ter como provar a inocência de seu pai, agora além disso, seria difícil provar a própria inocência.

— Não se incomode com isto. — O homem abanou a mão, indicando as cartas com desdém. — Eles esperam qualquer motivo banal para me encher de reclamações. Eles adoram me criticar, tentam com muita dedicação me mostrar que estou errado… E sempre falham.
— Você vai me mandar de volta para Castelobruxo, não vai? — ela choramingou, não querendo realmente saber a resposta.

Dumbledore retirou os óculos meia-lua e encarou a garota com seriedade, fazendo-a se encolher mais ainda.

— Por que eu faria isso? — ele a questionou e como resposta, ela apenas deu de ombros. Dumbledore suspirou. — Veja bem, eu não sou perfeito, estou longe disso. Mas acredito que, mais uma vez, não estou errado.

levantou os olhos, olhando-o com mais atenção e curiosidade. O diretor, desde o seu primeiro dia de intercâmbio, fazia mil interrogações surgirem em sua mente quando tinham a oportunidade de conversar. Aquele era um desses momentos.

— Não errei em te trazer aqui, não errei em cuidar da segurança do seu pai. — Ele apontou para a montanha de cartas, onde mais uma coruja depositava mais um envelope. — Eu não me importo com o que tem nestas cartas, me importo com a segurança de vocês.
— Então… Eu posso ficar?
— É claro! — ele respondeu sorridente enquanto dava um petisco para a nova coruja, observando-a levantar voo em seguida. — Serão dias difíceis, minha cara, mas você pode ficar em Hogwarts, se for da sua vontade. Contanto, é claro, que tome cuidado. Sem escapadas para Hogsmeade no meio da noite e isso serve para o seu pai também.

A aluna deu um sorriso amarelo e pediu desculpas em resposta ao olhar severo do mais velho, prometendo à ele que não faria mais isso e falaria com Sirius para alertá-lo. Quando parou para pensar, lembrou-se dos dois homens no Três Vassouras, sabendo agora que os olhos familiares eram de Remus Lupin que, é claro, acompanhava seu pai, o homem que colocou a poção polissuco na caneca. Bom, Sirius não poderia lhe dar uma bronca, pois ele estava tão errado quanto ela, e isso a fez querer rir, percebendo que sentia-se um tanto mais aliviada.
A euforia e o alívio da garota eram tão grandes que sua vontade era dar um forte abraço no diretor, mas se conteve. Contudo, não se levantou quando Dumbledore a dispensou. Ela limpou a garganta e esfregou as mãos, tomando coragem para conversar o que iria dizer em seguida.

— Diretor, o senhor se lembra de quando eu… caí na escada?
— Claro, com perfeição — o homem falou, se ajeitando na cadeira em expectativa ao que iria ouvir. — Foi muito trágico, mas fico extremamente aliviado em vê-la melhor.
— Bom, talvez eu tenha mudado um pouco os acontecimentos quando você me perguntou o que havia acontecido — ela fez uma careta e um sinal de "pouco" com a mão. Dumbledore não pareceu surpreso. — E talvez eu realmente tentei proteger alguém.
— Quem? — Alvo perguntou, ainda sem se abalar. Como sempre, sua feição demonstrava que ele parecia já saber de tudo.
— Draco — Black respondeu, abaixando a cabeça. — E meu pai, é claro. Eu não queria que Draco se machucasse e não queria que ele fosse atrás do meu pai.
Ele quem? — o diretor perguntou, mas teve a sensação de que o homem já sabia a resposta.

Ela esperou longos segundos antes de finalmente confessar:

— Lúcio Malfoy. Foi ele quem me fez cair da escada.

Então a aluna desatou a falar, confessando tudo, desde a visão que teve com a cena, até o momento em que descobriu sobre a pulseira. Alvo Dumbledore já sabia de muitas das coisas e desconfiava das demais. Mesmo assim, era um choque saber que tudo aquilo aconteceu com uma aluna e o pai de outro aluno, mesmo esse sendo Lúcio Malfoy, bem embaixo de seu nariz. A conversa com o filho foi um tanto esclarecedora e saber o tanto que Severo Snape ajudou foi extremamente satisfatório. A garota na sua frente passou por poucas e boas e, como esperado, soube resolver tudo com excelência. Alvo estava impressionado e satisfeito. Ela seria uma aliada perfeita para Harry Potter e seu plano seguia com tranquilidade. Porém, para que continuasse assim, ele teria de tomar algumas drásticas decisões.
Quando terminou de falar, Alvo respirou fundo e cruzou as mãos em cima da mesa.

— Fico muito satisfeito que tenha finalmente me falado a verdade. Acredito que não tenha sido fácil esconder isso por todo esse tempo.
— É, realmente não foi.
— Mas também devo te congratular, você lidou com tudo muito bem. Contudo — ele apontou para a garota que mordia a parte interna da bochecha com apreensão. — Nunca mais esconda as coisas, . Lúcio poderia ter feito coisas terríveis com você ou com demais alunos e não quero te assustar, mas ele esteve muito perto de encontrar o seu pai.
— Eu sei — ela afundou na cadeira, envergonhada por ter colocado seu pai em risco tantas vezes. — Me desculpe...
— Não se preocupe mais com isso. Agora, por que não aproveita seu tempo livre para finalmente ler o livro que te presenteei no Natal?

Ela não questionou como o diretor sabia que ela ainda não abrira o livro. Ao invés disso, saiu correndo da sala, sem conseguir conter o alívio por poder ficar na escola. Hogwarts inteira poderia estar contra ela, se Dumbledore e seus amigos estivessem ao seu lado, tudo ficaria bem.
Depois de percorrer alguns corredores, porém, se viu completamente sozinha. O castelo estava praticamente vazio, os alunos demorariam para voltar de Hogsmeade e os poucos que restaram, estavam do lado de fora, aproveitando os primeiros dias de verão. Então decidiu seguir o conselho de Dumbledore.
Depois de pegar o livro em seu malão, caminhou determinada para a biblioteca, ignorando os olhares maldosos ou medrosos dos poucos alunos mais novos que ainda estavam dentro do castelo. Estava cada vez mais insuportável andar pelos corredores com dezenas de olhares sobre si e pensou em como apenas agora ela conseguia sentir pena de Harry Potter por ter sempre essa atenção em cima dele. Como ele conseguia?
havia se perdido em pensamentos, como sempre fazia quando queria evitar algo. Sentada na mesa da biblioteca, ela percebeu que, desde que ganhara o livro do diretor, havia o evitado de todas as formas. Pensou em ler depois da viagem para A Toca;  depois, colocou a prova do Torneio como prioridade. A garota poderia listar mil coisas que fez ao invés de ler o livro que Alvo Dumbledore insistia tanto que ela lesse. O fato era que sabia o por quê de não ter lido Os Contos da Mãe d'Água ainda, ela sabia que naquelas páginas ela iria encontrar algumas respostas sobre seus antepassados. Mas também sabia que aquilo abriria uma ferida enorme que há algum tempo estava intocada. Ela não sabia se estava pronta para aquilo, não queria sentir toda aquela dor de novo.
Entretanto, não tinha mais como prolongar aquilo. Algo dentro de si a dizia que aquilo seria útil, da mesma forma que o livro que o Professor Snape lhe emprestou foi de grande ajuda. Sendo assim, ela abriu a capa dura e verde e passou a mão pela folha amarelada onde o título se destacava em letra cursiva. Na página seguinte, o índice indicava o nome dos contos. O Tritão Rabugento, O Canto da Sereia, O Sapo Mágico… Mas nada lhe chamou tanta atenção como A Flor-Que-Nunca-Morre. Seus dedos trêmulos folhearam o livro de poucas páginas até encontrar a de número 22. Todas as histórias estavam em português, o que de certa forma fez seu coração esquentar com saudade de seu país. Em alguns momentos em que se sentia afastada demais de suas origens, murmurava sozinha na língua nativa para que nunca a esquecesse. Seu pai era ótimo com a língua portuguesa, mas odiava ter que usá-la. E mesmo que Remus Lupin falasse fluentemente, não era a mesma coisa. Seu sotaque a fazia rir.
se pegou novamente divagando quando deveria estar lendo. Xingou-se mentalmente e, respirando fundo, começou a leitura do conto.

A Flor-Que-Nunca-Morre

A história que eu vou contar não é uma história de amor. As histórias de amor enaltecem homens egoístas e rancorosos, misóginos e egocêntricos. Não, este conto é sobre uma sereia que teve sua vida tirada pela ruína do amor, mas que conseguiu se manter viva na natureza mística, ajudando seus iguais e dividindo sua força com eles. Ela era uma de minhas filhas, uma filha das águas, que se partiu cedo demais, mas nunca foi embora. Essa história é sobre a morte de uma flor que nunca morreu de verdade.
Suyane não era como as outras sereias de sua colônia. Enquanto sua família vivia reclusa no fundo das águas onde o Rio Amazonas se encontrava com o Rio Negro, Suy (como suas irmãs a chamavam) gostava da superfície e dos seus encantos. Adorava ver os raios de Sol se esgueirando entre as folhas das árvores e as gotas da chuva caindo e se prendendo nas folhagens em volta do rio. Amava ver os animais passeando em sua caça ou em sua fuga, os pássaros voando baixo para beberem um pouco de água ou se alimentar de um peixe descuidado. Mas o que encantava mesmo Suyane eram os humanos. A forma como andavam com suas armas pela floresta como se fossem os donos daquelas terras, não a intimidava, apenas atiçava mais sua curiosidade.
Sua família não entendia sua obsessão pelas criaturas. Eles tinham pena dos humanos; se matam por ganância, brigam por coisas simples, uma pedra de diamante destruía amizades e famílias; um pedaço de terra tirava vidas. As sereias não eram assim, jamais seriam. Tinham toda a riqueza do mundo ao seu redor, mas nunca deixavam suas cabeças flutuarem nas nuvens — isso era papel da Lua, e eles não ousavam mexer com tal Majestade.
Entretanto, a jovem sereia não se importava com os alertas da família. Achava tudo isso uma grande insânia, afinal, qual homem seria louco o suficiente para mexer com criaturas tão imponentes e fortes como as sereias? Sabiam que era arriscado.
O que Suyane não sabia era que os humanos sequer acreditavam em sua existência. É folclore, diziam. Duvidavam até mesmo da minha existência, a deusa das águas! E eu lembro perfeitamente de quando homens especiais adentraram nossas terras em busca de abrigo. Eles eram diferentes, possuíam poderes que até então, nenhum humano demonstrou ter. Com um galho de árvore eles conseguiam lançar feitiços e maldições, com mistura de ervas e demais ingredientes naturais, conseguiam fazer poções e remédios e com o sibilar de algumas palavras, conseguiam fazer magia. Humanos fazendo magia, obviamente não tardou em usarem esse poder uns contra os outros, deixando um rastro de morte e destruição. Se os bruxos tivessem permanecido entre eles, não haveria problema algum! Mas começaram a nos matar, começaram a matar outros animais e criaturas que se metessem em seus caminhos. Matar o desconhecido era preferível ao invés de tentar compreendê-los.
É claro que nem todos eram assim, e foi com essa fé que Suyane não hesitou em observar um jovem bruxo brincando com sua fiel varinha na beira do rio. O garoto parecia infeliz, desanimado, fazendo folhas aleatórias flutuarem pelo ar, deixando Suy impressionada. Ela era ótima em se esconder, mas a distração a fez soltar uma exclamação de encantamento, e o garoto reparou nela. Assustado e curioso, o bruxo se aproximou da beira da água, o que fez Suyane se abaixar na mesma hora.
"Não irei te machucar!" ele ousou exclamar, deixando sua varinha de lado e sua curiosidade lhe dar coragem.
O primeiro grande erro de Suyane foi acreditar naquele homem. Na minha humilde opinião, esse foi o maior erro de todos. Ela voltou à superfície, encantada por vê-lo tão de perto. Um humano, a centímetros dela, era uma tentação e tanto! Um perigo maior ainda, mas Suy não sabia disso.
"Meu nome é Caique. Você tem um nome?", ele ousou insistir em uma comunicação.
Suyane não respondeu. Ela o compreendeu com perfeição, também sabia falar um pouco sua língua. Mas ela estava paralisada, observando cada traço do rosto dele, de seus braços e de suas roupas. O silêncio o fez duvidar se ela o entendia, então se debruçou mais na pedra onde estava sentado. Suy mergulhou novamente, dessa vez ela deixou que ele visse sua longa cauda verde-esmeralda, lhe dando um susto que o fez cair na água. Desesperado, o jovem começou a se debater, afundando cada vez mais, sentindo sua consciência deixar seu corpo quando o ar lhe faltou. E esse foi o segundo grande erro de Suyane: ela nadou até ele e o salvou, levando-o até a beira do rio. Um homem não teria tido piedade caso a situação fosse invertida. Mas ela ainda não sabia disso.
"Suyane", ela murmurou com firmeza quando o garoto recobrou os sentidos.
Durante várias semanas, Suyane e Caíque se encontravam na mesma pedra na beira do rio, distante da família dela e dos outros bruxos da escola local. Cada palavra que trocavam, cada olhar e cada toque levou ao terceiro grande erro de Suy: o beijo. Ela estava completamente entregue a ele, totalmente envolvida. Suyane o amava e ele sentia o mesmo por ela.
Entretanto, há coisas dentro do homem que sempre, sem exceções, se engrandecem acima de tal sentimento e nem mesmo os mais talentosos bruxos escapam. A ganância, o poder, o dinheiro. Regido à isso, Caíque chamou por sua amada em uma belíssima noite de Lua Cheia, recitando poemas bonitos e fazendo juras de amor que ele mesmo não cumpriria. Suyane não resistiu e, embalados pelas leves ondulações do Rio Amazonas, ela o beijou. O seu primeiro beijo, intenso e apaixonado, seria também a sua ruína.
No dia seguinte, Caíque não voltou. E durante vários dias, ela o esperou, cantando e recitando os poemas que o mesmo leu para ela entre promessas de que fugiriam juntos e demonstrações de magia que a deixaram encantada. No sétimo dia de espera, quando Suy já estava para perder as esperanças, Caíque apareceu. O rosto pálido, a voz gélida; ela logo percebeu que algo estava muito errado com o amado. Tentou acalmá-lo, sem muito sucesso. Então percebeu que o problema não era com ele assim que ouviu sua família chamar por ela. Caíque desapareceu, como um maldito passe de mágica, e Suyane nadou em desespero para encontrar sua família sendo atacada por bruxos que, de alguma forma, descobriram como chegar às profundesas do rio. Eles resistiam bravamente, mas era difícil combater os homens com suas varinhas mágicas e complexas demais para seu conhecimento. Suy não sabia o que fazer além de ajudá-los; acabou matando dois daqueles seres que ela confiou, dos seres que ela tanto admirava em segredo. Suy chamou a atenção dos homens que sobraram enquanto sua família fugia e nadou o mais rápido e o mais longe possível. Quando voltou para a superfície, completamente destruída por dentro, viu novamente seu amado ao lado dos bruxos que tentaram destruir sua família.
"Ela é minha!", ele ousou gritar, e outrora essas palavras seriam como belas melodias aos ouvidos da sereia, mas naquele momento, os olhos do garoto não brilhavam de amor. A ganância havia mudado seu brilho, agora ele a queria de outra forma: como uma recompensa para ganhar ouro puro. Suyane não lutou contra quando o bruxo, que lhe jurou amor eterno, entrou na água e lhe lançou um feitiço tão poderoso quanto suas mentiras. Ela estava dando sua vida a ele em troca da vida de sua família. Suy não imaginava que, tempos depois, esse mesmo homem voltaria e acabaria com as demais sereias de sua colônia, quase exterminando a espécie no Brasil.
Presenciando toda essa desgraça acontecer em minhas águas, eu não poderia deixar de estender-lhe a mão e salvar aquela pobre alma. Me inspirei em seu nome e transformei o sangue de Suyane em uma bela Flor-Que-Nunca-Morre, que sempre floresce na beira do rio em que tiver uma colônia de sereias descendentes da família de Suyane. Mais para frente, seus familiares naturalmente se transformaram nessa bela e rara flor que, não importa a magia ou a força do homem, nada e ninguém poderá destruir esta flor.
Como Suy deu sua vida para salvar a de sua família, a sereia de qualquer espécie ou variação que possuir uma Flor-Que-Nunca-Morre terá seu poder intensificado. Por isso, até os dias atuais, essa flor é tão cobiçada por sereias que não são descendentes de Suyane, como as espécies que vivem na Europa. Intoxicados pela sede de poder dos homens, eu tive que presenciar sereias brigando entre si pela posse da flor.
Você deve se lembrar sobre os homens terem quase extinguido as sereias no Brasil. Alguns anos depois, Potyra, irmã de Suyane e única sobrevivente de sua família, conseguiu usar a flor para intensificar seus poderes e se vingar pelos seus ancestrais, matando aquele que os destruiu. Mas isso é uma história para outro conto.

Ao finalizar a leitura, estava ofegante, pois segurada o ar durante toda a leitura e nem ao menos percebera. Sua mão apertava tão forte o seu colar que teve medo de quebrar o pequeno vidro em sua palma. Ela nem ao menos percebeu que estava chorando, tamanha era a concentração. Todos esses anos, ela jamais imaginou que o colar fosse mais importante do que ela pensava. Lembrava-se com detalhes o que sua mãe disse antes de pedir para Remus a tirar daquele lugar. "Você irá precisar mais do que eu". sempre odiou o fato de sua mãe ser sempre tão enigmática. Ela dizia, para se justificar, que queria instigá-la e incentivá-la a procurar por respostas por conta própria. Mas ali estava a garota, com milhares de interrogações na cabeça e uma saudade tão insuportável que transbordava por seus olhos em forma de lágrimas.
As ilustrações em seu livro moviam-se com graciosidade. Suyane balançava sua cauda como sua mãe sempre fazia quando nadavam juntas. nunca negou que tinha um pouco de inveja de não ter uma cauda tão bela quanto da mãe, mesmo que estivesse ansiosa para ser uma bruxa. Ver Artemisa tão livre e radiante quando estava em sua forma de sereia era a coisa mais linda que já vira na vida.
E lá estava ela chorando novamente. Os alunos em volta, é claro, observavam curiosos enquanto a garota secava as lágrimas antes de continuar lendo o livro. leu conto por conto com atenção, mas nenhum lhe prendeu como o de Suyane. Ela o releu muitas vezes, observando com atenção o desenho que ainda se movia para ela e sentindo o colar pesar cada vez mais em seu pescoço.



23 - Defense Against The Dark Arts

— Ei, — alguém sussurrou no ouvido da garota, tão baixo que ela pensou ser alguma voz melodiosa em seu sonho. — Acorda, meu amor.

Só uma pessoa a chamava assim, então não foi surpresa encontrar Cedrico Diggory ao seu lado com um sorriso simpático no rosto quando a garota acordou. amava aquele sorriso tanto que chegava a doer; doía principalmente quando imaginava que algum dia ela já havia retirado tal sentimento bom do garoto.
Black levantou a cabeça e olhou em volta, percebendo que havia dormido na mesa da biblioteca enquanto lia repetidamente os contos em seu livro. As janelas mostravam que já estava escuro e um antigo relógio pendurado no local indicava que já estava na hora da janta, assim como as diversas mesas antes lotadas, estavam agora vazias.
Ced a olhava com atenção e curiosidade, em silêncio, vendo-a despertar sonolenta. Ultimamente, tudo parecia ficar em câmera lenta quando estava ao lado da garota. Desde que terminaram, cada pequeno momento com era precioso demais para não aproveitar cada segundo, então ele passou a ficar mais atento à bruxa. Seu coração, contudo, ainda estava confuso demais. Ele a amava, isso era inegável, e estava prestes a falar isto à ela na noite passada. Mas agora ele encontrava dificuldade em dizer, sabendo que aquela garota na sua frente era filha de Sirius Black. Seu instinto foi protegê-la quando todos estavam contra ela, mas ele não podia ignorar aquele fato que o incomodava tanto.
Entretanto, ao vê-la sorrir, seu coração se derreteu. Lembrando-se do porquê estava ali, Cedrico levantou uma sacola de papel que cheirava deliciosamente bem. a pegou na mão e agradeceu, tentando parecer mais animada. Dentro estavam as penas de algodão-doce que ela pediu, uma caixa de sapo de chocolate e outra com feijões de todos os sabores que já estava na metade. Quando pegou a caixinha na mão, ela sorriu ladino para ele que, em resposta, deu de ombros com as bochechas coradas.

— Não resisti, me deu fome no caminho para o castelo.
— Não tem problema, eu ia dividir com você de qualquer jeito — ela respondeu, apertando a mão dele com carinho. — Obrigada, não sei se mereço você estar sendo tão legal comigo.
— Claro que merece — Ced retrucou, olhando-a com mais seriedade. — Você me ajudou tanto com as provas, ser legal é o mínimo que posso fazer.
— Mas eu menti pra você — respondeu, encolhendo-se de vergonha. — Mais de uma vez.

Os ombros do garoto caíram de chateação, mas ele tentou não demonstrar isso em seu rosto. Ele não esquecera o motivo pelo qual terminaram, mas sabia que a garota queria distância de Draco Malfoy e não seria idiota de perdoá-lo depois do que ele fez a ela naquela manhã.
Assim esperava.

— E pediu desculpas — ele respondeu, tentando dar seu melhor sorriso. — No seu lugar, eu faria o mesmo pelo meu pai, sem pensar duas vezes.
— Então você entende, não é? — ela perguntou e ele assentiu em resposta. — E você acredita que ele não é o culpado, certo?

Maneando a cabeça, Diggory fez uma careta.

— Uma coisa de cada vez, está bem? — ele falou, colocando uma mecha dos cabelos dela atrás de sua orelha. — Mas sei que você não é uma pessoa má, você é incrível.

assentiu, mesmo que no fundo aquilo a chateasse. Se ao menos pudesse voltar no tempo… Ela não chegaria perto de Draco Malfoy, teria contado a verdade para o lufano mais cedo e definitivamente, não teria terminado com ele. Por mais confuso que seu coração e sua mente estivessem, ambos sempre voltavam a pensar na mesma pessoa: Cedrico Diggory.
O jantar não foi tão ruim quanto o café da manhã. As pessoas pareciam mais distraídas e agitadas depois de voltarem do passeio, chegando a nem prestar atenção na garota. É claro que alguns ainda a olhavam feio, cochichavam sobre a aluna como se a mesma não fosse ouvir, como se nem ao menos estivesse ali.
Era difícil ignorar, mas ela tentava focar na comida intocada em seu prato como se fosse a coisa mais interessante dentro do salão. Seus amigos tentavam puxar assunto com ela, mas não tinham muito sucesso em obter uma resposta com mais de duas palavras. estava ansiosa; ela tinha em seu bolso a carta que seu pai mandou pelo Harry e queria correr para a Sala Comunal e ouvir tudo o que aconteceu em Hogsmeade. Então, antes mesmo de Dumbledore os dispensar, a garota disparou porta afora e seguiu para a Comunal da Grifinória, desdobrando o pergaminho antes mesmo de chegar no local. praticamente jogou-se no tapete de frente para a lareira para ler a carta iluminada pelo fogo da mesma.

"Minha querida filha,
sinto muito por tudo o que aconteceu e por não ter tido a chance de te ver hoje, mas Alvo Dumbledore sabe o que é melhor.
Saiba que estou bem, estou seguro e espero que você também. Dias melhores virão em breve, aguente mais algumas semanas até as aulas acabarem, está bem? Depois disso, voltaremos para o Brasil, podemos até levar o Harry com a gente! Seremos uma família completa novamente e nada, nem ninguém, irá tirar isso de nós, ok?
Falando nisso, volto a reforçar para ficar longe de Draco Malfoy, . Estou falando sério, fique longe dele ou irei te tirar de Hogwarts antes do que gostaria. Acredito que à essa altura, você já tenha visto e sentido na pele, literalmente, o que a família Malfoy pode fazer. Sim, Dumbledore me contou o que o desgraçado do Lúcio fez com você, minha filha, e estou reunindo todas as minhas forças para não ir atrás dele e fazer algo que eu vá me arrepender depois.
Quem estou querendo enganar? Jamais me arrependeria de matar Lúcio Malfoy! Mas passei tempo demais em Azkaban para não querer nem imaginar voltar para aquele lugar.
Filha, eu te amo mais que tudo nesse mundo. Eu não posso te perder, então por favor, tome cuidado.
Com amor…"

— Almofadinhas… — ela sussurrou, enxugando uma lágrima antes de dobrar o papel.

Seus amigos passaram pelo quadro alguns segundos depois. Ela ainda secava as lágrimas quando eles se sentaram em volta da lareira, todos olharam para ela com consternação quando a garota deu um sorriso triste. Hermione sentou-se em uma das poltronas e a chamou para se aproximar; e assim fez, apoiando a cabeça na perna da amiga que começou a acariciar seus cachos com cuidado e delicadeza.

— Como foi ficar praticamente sozinha no castelo? — Rony perguntou. Este estava sentado no chão com as pernas cruzadas e algumas caixas de sapo de chocolate na sua frente ao qual ele devorava uma. — Dumbledore de novo? — ele choramingou ao olhar o cartão com a imagem do velho bruxo se movendo no centro.
— Ela não estava sozinha, Ron, o primeiro e o segundo ano não podem ir ao passeio, lembra? — Hermione retrucou, sua voz não era dura e sim gentil, mesmo a fala parecendo uma bronca.
— Mas ninguém quer chegar perto de mim, então eu realmente estava sozinha — respondeu, esticando a mão para o garoto que lhe entregou o cartão. Ela encarou a imagem de  Dumbledore como se ele realmente estivesse ali. — Eu fiquei na biblioteca quase o dia todo e conversei com Dumbledore, ele não vai me expulsar da escola.
— Ah, que bom! — Potter comemorou aliviado, parecendo radiante. — Não que eu achasse que ele ia te expulsar, é claro…
— Eu achei — Ron falou, também parecendo extremamente aliviado. — Achei que voltaríamos e você não estaria mais aqui…
— Está querendo se livrar de mim, Weasley!? — a garota brincou, dando um chute leve em seu joelho.

Vermelho de vergonha, o ruivo riu com os amigos e balançou a cabeça furtivamente, seus cabelos laranja vivos balançaram alegres ao ver sua amada um pouco descontraída. Lhe doía profundamente vê-la mal, então para Rony Weasley, era como se tivessem acendido um Sol dentro da Sala Comunal ao ver um mínimo sorriso repuxar os lábios da amiga.

— Nem em um bilhão de anos, Black!

A garota sorriu, mas seu coração continuava tão pesado quanto antes. Ela brincou com o cartão nas mãos, pensativa, enquanto Hermione trançava seus cabelos.

— Como está o Snuffles? — perguntou, esforçando-se para não cair no choro novamente.

O trio se entreolhou, parecendo conversar em silêncio. Foi Harry Potter quem pigarreou, respondendo:

— Ele está bem. Ficou chateado por você não ir, claro, mas contamos tudo a ele e ele entendeu.
— Disse que confiava em Dumbledore e que ele sabia o que era o melhor — continuou Hermione, falando baixinho.
— É, ele disse isso na carta — respondeu, mas viu os três se olharem novamente.

Ela sabia, depois de bons meses de convivência intensa com o trio, que eles estavam escondendo algo dela. A brasileira se afastou de Mione o suficiente para que pudesse olhar para os amigos ao mesmo tempo, demonstrando a desconfiança que sentia.

— Desembuchem — ela pediu, cruzando os braços.
— Ele está bem, — Harry a tranquilizou. — Não mentimos sobre isso.
— Porém — Ron começou, recebendo um olhar de reprovação dos colegas, que ele apenas ignorou. — Ele está morando em uma caverna, não está mais com o Lupin.
— Uma… caverna? — a garota perguntou, se ajeitando no tapete.
— É, bom... é mais seguro, ninguém vai encontrá-lo lá como Snuffles — Mione falou, mas sua cara entregava que ela mesma não acreditava nisso. — E ele quer ficar o mais próximo possível de vocês.
— Isso é loucura… — murmurou, balançando a cabeça. — Uma caverna!
— Mas ele realmente está bem! — Hermione garantiu.
— Apesar das roupas e da dificuldade em conseguir comida... — Rony tagarelou com a boca cheia de chocolate.
— Ron! — Harry e Hermione exclamaram juntos, o primeiro dando um tapa no braço do ruivo.

arregalou os olhos, em choque.

— Ele não está comendo!? — ela perguntou, se levantando aflita. Mione e Potter repetiram seu gesto, mas Rony apenas os olhou confuso, ainda mastigando.
— Ele está, só… não com tanta frequência assim — Harry tentou justificar, apenas piorando as coisas. — Por isso pediu para que a gente levasse comida.
— Meu Deus, por quê? passou as mãos pelos cabelos, andando de um lado para o outro. — Ele não precisa ficar lá…
— Mas ele quer, — Mione falou, segurando a amiga pelos ombros para que a mesma parasse de andar. — Ele quer ficar o mais perto de vocês possível.
— Você sabe como o Almofadinhas é — Harry falou ao lado delas, cruzando os braços. — Teimoso demais.

assentiu, passando as mãos pelo rosto em pura angústia. Herdou a teimosia do pai, contudo, odiava tal característica nele, pois sempre o colocava em perigo, como agora. Instintivamente, ela levou a mão ao colar, pedindo em silêncio para que sua mãe, onde quer que estivesse, o protegesse de todo o mal. Então, respirou fundo e tentou dar um sorriso, o mínimo que fosse, para tranquilizar os amigos.

— O que mais vocês conversaram com ele?

Mais calmos, Hermione e Harry contaram cada detalhe da conversa enquanto se aconchegava ao lado de Rony no sofá, prestando atenção em tudo enquanto comia com o ruivo. O quarteto ficou horas a fio conversando sobre Sirius, sobre o que aconteceu com e sobre Bartolomeu Crouch. Black e Granger não sabiam, mas Potter havia encontrado Crouch com Vítor Krum antes da morte dele, o que fez a primeira bruxa se chatear demais. Sua relação com o Campeão estava ótima, mas não podia negar que o mesmo estava distante desde esse incidente. Ela não queria admitir que poderia ter sido Vítor quem sumiu com o homem, mas tinha que ser franca com si mesma e assumir que era uma possibilidade.
Na manhã seguinte, eles estavam exaustos. Mesmo quando cada um foi para seu respectivo dormitório, Hermione ficou conversando com e Harry com Rony, incapazes de pegarem no sono. De qualquer forma, eles deixaram o cansaço de lado e foram o mais cedo possível no corujal para enviar bilhetes para Sirius o quanto antes; em seguida, foram tomar café da manhã com seus colegas, o único momento em que não falaram sobre nenhum dos assuntos. Da mesa da Lufa-Lufa, Cedrico Diggory lançava olhares divertidos na direção da garota, assim como dobraduras de papel animadas que voavam até a mesa da Grifinória e brincavam no prato dela, fazendo-a rir. Seu plano era finalmente ter uma conversa com o lufano, mas não conseguiu executá-lo, pois Hermione a puxou para fora do salão assim que o desjejum acabou, sendo seguidas pelos amigos. Eles queriam aproveitar o primeiro horário livre para conversarem mais e, quem sabe, descansarem.

— A coisa se resume no seguinte — disse Hermione, concentrada —, ou o Sr. Crouch atacou Vítor ou outra pessoa atacou os dois, quando Vítor não estava olhando.
— Deve ter sido o Crouch — disse Rony, na mesma hora. — É por isso que ele já tinha desaparecido quando Harry e Dumbledore chegaram lá. Deu no pé.

O grupo caminhava determinado em direção ao banheiro feminino do primeiro andar, onde por diversas vezes Hermione os arrastava para terem conversas particulares sem que ninguém os incomodasse. Quando foram enviar as cartas mais cedo, acabaram cruzando com George e Fred que foram para o corujal por um motivo que não quiseram falar. O mistério todo deixou o quarteto encasquetado, mas sabiam que não adiantava de nada insistir em descobrir, os gêmeos não falariam.
Então queriam um lugar mais privado, pois não achavam boa ideia falar sobre tal assunto com mais gente. Sendo assim, o lugar escolhido foi o banheiro que não era frequentado por ninguém desde que Murta Que Geme morrera ali mesmo há muitos anos atrás.

— Acho que não — disse Harry balançando a cabeça em negação. — Ele parecia realmente fraco, acho que não tinha forças para desaparatar nem nada.
— Ninguém pode desaparatar nas terras de Hogwarts, já não disse isso a vocês um montão de vezes? — reclamou Hermione, revirando os olhos.
— Certo, então tenho outra teoria — Rony pronunciou-se novamente, empolgado. — Krum atacou Crouch!
— Não acho que foi ele — retrucou quando entraram no banheiro. — Acho que foi uma terceira pessoa.

Ela e Rony sentaram-se nas pias desativadas, tomando cuidado para não se sentarem na que dava acesso à câmara secreta. Depois de ouvir os relatos dos amigos, Black não desejava entrar naquele lugar tão cedo.
Assim que "defendeu" Krum, percebeu que Hermione relaxou os ombros e assentiu, concordando. Ela e Harry sentaram-se de pernas cruzadas no chão, de frente para os amigos. As pernas de balançavam inquietas, esbarrando com frequência nas de Ron, que não pareceu se importar com isso. Fazia algum tempo que as coisas não eram as mesmas com , evitavam ao máximo tocar no assunto do que aconteceu n'A Toca, como se realmente não tivesse acontecido. Aquilo doía profundamente no ruivo, mas ele sabia que certa parcela da culpa era dele.

— Concordo com a — Harry respondeu, lançando um sorriso para Hermione. — Krum não faria isso, não tem motivos para fazer. Talvez Crouch tenha se estuporado?
— Estuporado a si mesmo!? — Granger retrucou, balançando a cabeça para o amigo. — E depois evaporou?

Os amigos se entreolharam frustrados, concordando em silêncio com Hermione de que eram teorias incabíveis. A garota suspirou, igualmente frustrada e cansada.

— O que o Sr. Crouch te disse mesmo, Harry?
— Ele não fazia muito sentido — Potter respondeu, brincando com a barra das vestes. — Disse que precisava prevenir Dumbledore de alguma coisa, tenho certeza de que mencionou Berta Jorkins, parecia achar que ela estava morta. Também ficava repetindo que muitas coisas eram culpa dele, falava muito do filho…
— Bom, isso foi culpa dele — Hermione comentou, dando de ombros.
— E... o que foi mesmo que ele disse sobre Você-Sabe-Quem? — perguntou Rony inseguro.
— Eu já contei — respondeu Harry com chateação. — Disse que ele está ficando mais forte.

Houve uma pausa onde um silêncio incômodo preencheu o espaço, apenas o barulho de uma torneira teimosa que pingava sem parar o quebrava.

— Mas ele estava delirando, certo? — perguntou receosa e Harry concordou na mesma hora. — Será que podemos mesmo levar em consideração o que ele disse?
— É tudo o que temos — Hermione comentou, igualmente insegura. — Acho que poderíamos falar com o Professor Moody no intervalo, quem sabe ele tem notícias do Crouch?

Os amigos concordaram e continuaram conversando sobre o assunto, cada um inventando uma teoria pouco provável de estar correta, mas que pelo menos os enchia de uma esperança confortante. De repente, um som alto de água sendo jogada para o alto os assustou. Aparecendo apenas com a cabeça para fora, Murta que Geme sorriu para o grupo, piscou seus enormes cílios atrás dos igualmente enormes óculos e deu risadinhas. Hermione, levemente irritada com o susto que levara, puxou o braço de Rony para consultar seu relógio. Parecendo aliviada e um tanto apressada para sair de perto da fantasma, Mione anunciou que faltavam poucos minutos para o sinal da segunda aula tocar, então se levantou com os amigos e, ignorando os flertes de Murta para Harry e Rony, saíram do banheiro.
A aula era a de História da Magia. Não era que a história do mundo em que viviam era chata, mas o Professor Binns não a deixava nada interessante. Com tantas coisas na cabeça e ansiosos para conversar com Alastor Moody, nenhum dos quatro alunos prestava grande atenção no fantasma na frente da sala que falava com sua voz monótona e baixa, causando sono em quem ouvia. rabiscava no pergaminho com a pena sem tinta – nem se dera o trabalho de abrir seu tinteiro –, olhando fixamente para o papel velho, mas sem prestar atenção no que fazia; Ron estava com a cabeça apoiada em sua mão, lutando para manter seus olhos abertos. Até mesmo Hermione deixara de lado seu pergaminho e não anotava nada, apenas olhava para o professor com seus olhos desfocados. O mais agitado era Harry que a cada minuto puxava o braço de Ron para consultar o relógio, impaciente. A aula nunca passara tão devagar e quando finalmente a sineta tocou, o grupo saiu em disparada para fora da sala, caminhando apressados para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.
Contudo, no meio do caminho, ouviu alguém gritar seu nome. Ela parou de supetão, virando-se para trás, e viu Draco Malfoy marchar com raiva em sua direção. Ron, Harry e Hermione pararam em volta da amiga, mas ela os dispensou com a mão.

— Vão logo falar com Moody, eu encontro vocês em um segundo — ela falou, sem tirar os olhos do garoto da Sonserina que estava mais perto.
— Tem certeza? Eu posso ficar — Rony falou, olhando para o mesmo lugar.
— Vão! — ela falou com firmeza e, relutantes, eles se afastaram. Malfoy olhou com certa decepção os garotos se afastarem, gostaria de poder descontar sua raiva naqueles que mais o irritavam. — Como posso ajudá-lo, Malfoy?
— Você contou ao Dumbledore! — ele vociferou, trincando os dentes de raiva.

olhou para os lados e deu de ombros.

— Eu conto muitas coisas ao diretor, você vai ter que ser mais específico.
— Não se faça de idiota, você sabe do que estou falando! — Draco falou, olhando para os lados e abaixando o tom da voz, continuou: — Falou sobre o que meu pai fez…
— Ah, sobre ele ter tentado me matar? — falou em tom normal e alto o suficiente para que quem estivesse prestando atenção, conseguisse ouvir.

Para a sorte de Malfoy, ninguém parecia interessado na conversa dos dois. Mesmo assim, ele olhou aflito por sob o seu ombro e a puxou para um canto mais afastado dos alunos que preenchiam o corredor. A garota estava impassível. Era muito satisfatório ver Draco tão frustrado e apavorado como naquele momento, sentia-se bem em poder lhe dar o troco pelo que o mesmo fez. A última vez que esteve tão perto dele foi quando brigaram na Torre de Astronomia, seus olhos azuis agora estavam tão escurecidos quanto naquela fatídica tarde.

— Você não podia ter feito isso — ele murmurou baixo, soltando o braço dela. — Agora meu pai está proibido de entrar em Hogwarts!
— Ah, que pena! — disse a garota com ironia, deixando escapar um sorriso de satisfação. — Você não vai mais poder ver o papaizinho…
— Estou falando sério, Black! — vociferou Draco com mais raiva ainda, assustando-a.
— Você contou à Rita Skeeter sobre eu ser filha do Sirius! — Black exclamou de volta, sentindo seu peito se encher de raiva. — O meu pai pode ser preso ou morto! Então eu não dou a mínima para o seu pai não poder te ver! Na verdade, você tem muita sorte de eu ter contado apenas para Dumbledore!
— Ah, Black, você não sabe com o quê está mexendo!
— Oh, eu faço uma ideia — ela respondeu, juntando as sobrancelhas. — Mas eu não tenho mais medo.
— Pois deveria — Draco falou, mexendo as sobrancelhas loiras em claro sinal de desafio. — Digamos que agora meu pai está bem mais empenhado em encontrar o seu.

Ele deu um passo para frente, fazendo a garota recuar, engolindo em seco. Seus olhos estavam tão fixos nos dela que teve a sensação de que seu olhar a perfurava, invadia sua alma e a lia com perfeição como ele sempre fazia. Ela o sustentou, fiel ao jogo que há tempos eles não jogavam, tentando lê-lo com o mesmo empenho.
Mas antes que conseguisse retrucar, os dois ouviram uma porta de madeira ranger e o som metálico ecoar pelo corredor. Eles olharam para o lado ao mesmo tempo quando ouviram Alastor Moody os chamar.

— Black! Malfoy! — rosnou Moody. — Venham logo, eu não tenho o dia todo!

Os alunos se entreolharam e, constrangidos, seguiram para a aula sem dizer mais nada. Dentro da sala, prontamente correu para a mesa onde estava Rony Weasley que, no mesmo instante, perguntou o que aconteceu. Harry e Hermione se viraram para trás para saber o mesmo, contudo, os dispensou, dizendo que depois contaria tudo à eles, mas não naquele momento. Ali, ela ainda sentia o olhar de Malfoy queimando sua nuca. Além disso, já havia se atrasado bons minutos para a aula, não queria atrapalhar ainda mais.

— Agora que estamos todos aqui — Alastor rosnou, seu olho mágico virando de para Draco. — Gostaria de continuar com os estudos das Maldições Imperdoáveis.

Ele caminhou por entre as mesas, indo para a frente da sala onde era mais aberto, e se virou para os alunos, olhando um por um como sempre fazia.

— Vocês devem se perguntar se existem defesas para as Maldições, afinal, para qualquer outro feitiço tem como se defender ou reverter os efeitos, então deve ter defesa contra as três Maldições Imperdoáveis, certo?

Ninguém ousou responder. Olhando em volta, até duvidou se alguém naquela sala respirava, tamanho era o silêncio.

— Errado — continuou Moody, voltando a andar de um lado para o outro. — Não há como se defender de um Avada Kedavra, você pode desviar, se for capaz, mas não há como reverter Como já sabemos, o único sobrevivente está bem ali.

Alastor Moody lambeu os lábios, um hábito que fazia com muita frequência, e apontou seu dedo trêmulo para Harry Potter. Todos se viraram para o garoto que afundou na cadeira, vermelho de vergonha.

— E também sabemos que com esforço extremo, nós conseguimos resistir à Maldição Imperius. Agora, alguém pode me dizer como poderíamos impedir a Maldição Cruciatus?

Com rapidez impressionante, Hermione levantou o braço.

— Granger.
— Não tem como impedir a Cruciatus ou as outras Maldições depois que elas são lançadas. — A voz de Hermione era firme, mas foi enfraquecendo conforme ela falava. — A dor é tão forte que é difícil resistir e se resistir, você pode ter sérios danos, não físicos, mas… psicológicos.
— Muito bem, Granger — Moody resmungou, parecendo genuinamente impressionado. — Cinco pontos para a Grifinória.

Mione sorriu satisfeita.

— De qualquer jeito, eu gostaria de lhe ensinar a como se esquivar ou se proteger fisicamente de um ataque, podendo assim aumentar sua proteção, se forem capazes — disse o professor, seu olho atento a cada aluno. — Um de vocês irá atacar com a Maldição e o outro se defender.

Os alunos arfaram em surpresa, todos ao mesmo tempo como se fossem um só. Parvati Patil levantou a mão, parecendo aflita e com medo de falar com o homem.

— Sim, Srta. Patil?
— Nós não podemos fazer isso — ela murmurou, olhando para os colegas. — É contra a lei.
— Eu consegui uma autorização especial com Dumbledore que falou com o Ministério para que apenas dois de vocês possam usar a Maldição…
— Mas… — começou Lilá, sendo interrompida por Moody no mesmo instante.
— Usar a Maldição Cruciatus em sua potência total não é tão fácil assim — ele falou para todos, parando na frente da classe. — Vocês são apenas crianças tolas que ainda não tem maldade no coração, não causarão grande efeito.

Os alunos se entreolharam, inquietos e receosos. Alastor Moody havia sido um ótimo professor até então, um professor realista e que gostava de realmente demonstrar o que estava falando. Contudo, fazer um aluno usar uma Maldição Imperdoável em outro era passar um bocado dos limites, até mesmo para ele. Ninguém queria fazer tal dever, é claro, então todos permaneceram em silêncio quando ele pediu por voluntários.

— Sendo assim... — ele falou, passando os olhos pela sala e parando-os em Draco Malfoy que engoliu em seco ao perceber o olhar do professor. — Malfoy, venha aqui!

Tentando não demonstrar o quão amedrontado ele estava, Draco caminhou até a frente da sala, segurando sua varinha com firmeza em sua mão trêmula. O professor o recepcionou com um tapinha no ombro e voltou a correr os olhos pela sala, desta vez, atentou-se na parte onde se concentravam os alunos da Grifinória. Ele sorriu maldosamente ao encontrar seu alvo.

— Longbottom! — ele exclamou, chamando o aluno. — Venha.
— E-eu… E-eu n-não…
— Não seja medroso, venha! — insistiu o professor.

O rosto de Neville ficou mais branco que a neve de dezembro. lembrou-se das primeiras aulas com Moody e de como Nev ficou abalado ao ver uma pobre aranha sofrendo com a Maldição, e ela sabia bem o motivo. Seu pai contara, certa vez, o que alguns Comensais da Morte haviam feito com os pais do garoto, torturando-os até enlouquecerem. não contou a ninguém o que sabia, nem mesmo para Neville, mas isso a fazia ter um carinho a mais pelo garoto, sempre sentindo uma necessidade de ajudá-lo e protegê-lo. Naquele momento, ele parecia prestes a desmaiar. Ela então olhou para Draco que parecia ter deixado o medo de lado e agora sorria satisfeito em ver quem seria seu oponente. Se Alastor acreditava que os alunos não tinham maldade… Bom, então ele não conhecia Draco Malfoy e cia tão bem assim.
Antes que percebesse, sua mão estava erguida acima da cabeça e o professor a olhava com as sobrancelhas arqueadas.

— Sim, Srta. Black?

não conseguia se acostumar com todos a chamando pelo seu sobrenome, ainda mais com os olhares enojados e julgadores caindo em sua direção, entretanto, deixou o incômodo de lado e falou:

— Eu gostaria de ir no lugar de Neville.

Um murmurinho se espalhou pela sala, mas ela não prestou atenção. Seus amigos em volta a pediram para ficar sentada e esquecer isso, mas as bochechas de Neville voltaram a corar em claro sinal de alívio, então ela não desistiu.

— Ahm, certo, então… Vamos, venha logo aqui.

se levantou, puxando o braço das mãos de Ron que implorava para ela não ir. Ao chegar na frente da sala, ela encarou Draco que já não parecia mais tão seguro de si.
Uma coisa era machucar Neville, ou ter um total de zero chances de ser acertado pelo imbecil, mas era diferente, ela era boa e podia acertá-lo de verdade e se ele a acertasse… Era chamada de Maldição Imperdoável por um motivo e ele seria o primeiro a não se perdoar.
No entanto, seus dedos apertaram com mais força a madeira de sua varinha e ele fixou o olhar na garota, desafiando-a. fez o mesmo, se perguntando- o que seu pai pensaria dela se a visse ali. Também se questionava: o que poderia dar errado?
Alastor pediu para que os alunos se levantassem de suas mesas e formassem um meio círculo na frente da sala. Com um movimento amplo do braço, o professor empurrou as carteiras para o fundo da sala e criou uma barreira invisível entre ele, Draco e e os demais alunos, pedindo para que os mesmos se afastassem alguns passos, o que prontamente obedeceram. Ele se virou para os dois alunos ao seu lado e pediu para que os mesmos ficassem a alguns passos de distância um do outro, e eles também obedeceram.

— Agora, prestem bem atenção — ele falou para os dois. —  Vocês terão cinco minutos cada e só poderão lançar a maldição até três vezes, isso é mais do que o suficiente. Passem disso e realmente serão condenados por usar a Maldição. Acreditem em mim, vocês não vão querer ir para Azkaban.

Draco e assentiram sem desviar o olhar um do outro. Mas a garota não pôde deixar de reparar, pela sua visão periférica, na cara que Alastor Moody fez ao dizer aquilo. Ela se perguntou como Alastor, um auror muito famoso e talentoso, sabia como era ficar em Azkaban? Era dedução ou o próprio já havia passado um tempo na prisão? Anotou em sua mente um lembrete de perguntar para o seu pai ou seus amigos sobre isso.

— Vocês podem se proteger atrás das mesas, usar os objetos da sala, enfim… Divirtam-se! — Moody falou com certa empolgação. Vendo seu erro, ele pigarreou alto e lambeu os lábios. — Draco começa atacando.

Dito isso, ele se afastou alguns passos e se postou atrás de sua mesa com a própria varinha em mãos. Tanto Draco quanto estavam ofegantes antes mesmo de fazerem qualquer coisa. A garota olhou em volta com atenção, estudando o que poderia usar para se proteger, mas antes que conseguisse raciocinar, ouviu Malfoy exclamar "crucius!".
Ela só teve tempo de se jogar para trás, desviando-se do raio verde que saiu da varinha de Draco que atingiu um quadro pendurado na parede atrás dela, destruindo-o. Enfurecida, se sentou e o fuzilou com os olhos, esbaforida.

— Vamos, Black! Mostre o que o seu pai te ensinou! — Draco exclamou risonho.

A garota ouviu algumas risadas vindas de seus colegas (grande maioria da sonserina) e aquilo apenas a deixou mais brava. Ela se empertigou, pondo-se de pé, e apertou a varinha mais firme em sua mão. Dessa vez, quando o ouviu pronunciar o feitiço, ela estava preparada e atenta.

Accio mesa! — ela exclamou ao mesmo tempo que Draco e no mesmo instante, a mesa onde Moody se escondia voou em direção a garota que se abaixou a tempo de não ser atingida.

O feitiço acertou a mesa que explodiu no ar, seus destroços se espatifaram na barreira invisível, assustando os demais alunos. ofegou, impressionada e aliviada por sua ideia ter dado certo. Contudo, ela percebeu que os feitiços de Draco não estavam nada fracos como Moody havia prometido. Parecia que Draco estava mais do que familiarizado com a Maldição Cruciatus e isso assustava mais do que gostaria.
Ainda em meio à seu raciocínio, Draco Malfoy ergueu o braço novamente, um sorriso presunçoso surgindo em seus lábios quando Alastor anunciou que ele tinha dez segundos para lançar a maldição uma última vez.

Crucius!
Expelliarmus!

Os dois gritaram ao mesmo tempo, apontando a varinha um para o outro. se decepcionou por não ter conseguido ser rápida o suficiente para desarmá-lo a tempo. Porém, a decepção virou surpresa quando sentiu a varinha vibrar em sua mão. Os dois feitiços se encontraram no meio, se chocando, uma sustentando a outra enquanto os dois continuavam segurando suas varinhas. Os alunos arfaram surpresos, já Moody sorriu admirado. Ele já havia presenciado cenas parecidas antes, mas nunca pensou que dois alunos poderiam fazer tal coisa. e Draco nem ao menos ouviram falar sobre aquilo, então não fazia ideia de como conseguiram tal feito. Mesmo assim, nenhum dos dois ousou interromper a conexão, orgulhosos demais para abrirem mão.

— Desiste, Black!
— Desiste você, Malfoy!

Do outro lado da barreira, Hermione Granger escondeu o rosto no ombro de Harry Potter, aflita demais para ver a cena. Os outros mantinham os olhos vidrados, boquiabertos.

— Moody tem que parar isso! — murmurou Rony, se segurando para não gritar com o professor ou atravessar a maldita proteção.
tem que acertar o Draco — Harry respondeu, impressionado.

Alastor, parecendo se lembrar que era o professor responsável, finalmente falou:

— Vou contar até três e vocês irão puxar a varinha com toda a força, está bem? — ele exclamou. — Mas fiquem atentos, precisam fazer isso ao mesmo tempo!

Os dois alunos assentiram, mas não desviaram o olhar. Alguma coisa dentro de a alertava para não confiar em Draco Malfoy. Ela sentia, e soube mais tarde que tinha razão, que ele não iria desviar sua varinha. Sendo assim, quando a contagem do professor chegou a três, ela puxou a varinha e se jogou no chão, vendo o raio verde acertar a parede atrás dela, formando um novo buraco na mesma. Malfoy a olhou com os olhos arregalados, pensando por um segundo que a havia acertado. Contudo, a garota levantou com os olhos escuros e raivosos, como se labaredas de fogo saíssem de suas íris em direção a Draco.
Aquele olhar causou um arrepio no garoto e não era dos bons.

, eu sinto…
Crucius! — ela gritou ao mirar para o garoto que, sem ter tido tempo para reagir, caiu no chão ao ser atingido.

Draco se contorceu no chão de madeira, seu grito ecoava por toda a sala, assim como as exclamações de susto das outras pessoas que assistiam a tudo horrorizadas. Igualmente assustada, soltou sua varinha e deu alguns passos para trás, olhando para Draco com os olhos cheios de lágrimas. Assim que Moody desfez a barreira e correu até o sonserino, seus colegas de casa fizeram o mesmo, ajudando-o. Ninguém parecia querer chegar perto dela, amedrontados demais para tal coisa, e ela não os condenava por isso. Black olhava suas mãos trêmulas com nojo e medo de si mesma, sem acreditar que ela fora capaz de fazer aquilo.

, você está bem? — ela ouviu Hermione perguntar ao seu lado. Levantando a cabeça, ela viu que a amiga estava com Harry, Ron e Neville, os quatro a cercavam preocupados e aflitos e não pareciam ter um pingo de medo da amiga.
— Eu… — ela gaguejou, olhando-os perdida. — Eu preciso ir…

Desvencilhando-se dos amigos, ela agarrou sua varinha e saiu correndo da sala, ignorando os protestos deles. sentia-se sufocada, aflita, apavorada. A sensação que sentira quando lançou a maldição pesava tanto seu peito que ela tinha dificuldade em respirar ou correr, mas suas pernas continuaram funcionando, levando-a para longe daquela sala.
Ela só parou quando chegou no terreno do lado de fora do castelo, ofegante e exausta, se deixando cair na grama úmida. Seus dedos agarraram as folhas verdes, mas um grito ficou sufocado em sua garganta. Tudo em sua volta girava, deixando-a nauseada. O que raios havia acontecido? Como ela conseguiu aquilo? Como Moody pôde deixar aquilo acontecer? Seu pai ficará tão decepcionado quando souber o que ela fez, só de imaginar o que ele falará, seu peito pesava mais ainda. Será que ela se tornará o que todos diziam? Que ela era perigosa igual ao seu pai?
balançou a cabeça, ainda atordoada. Seu pai não é perigoso. Sirius Black é inocente, ela se forçou a lembrar. Mas e ela? A garota estava tentando com todas as suas forças, mas não conseguia ignorar uma única coisa. Ela gostou. Pode ter sido rápido, leve, mas não podia negar que sentiu certo prazer no instante que a maldição saiu de sua varinha. Aquele poder todo, machucando alguém que estava provocando-a há tempos… Por um mísero segundo, aquilo foi bom. E era isso que mais a assustava.

? — Ela ouviu alguém a chamar.

A brasileira levantou o rosto, vendo Diggory se afastar de seus amigos e correr em sua direção, abaixando-se para olhá-la com preocupação. Seus olhos dourados correram por todo seu rosto e seu corpo, procurando algum machucado ou indício do que havia acontecido. Mas antes que ele pudesse questioná-la, se jogou em seus braços e desatou a chorar. Cedrico não perguntou nada, apenas afagou seus cabelos volumosos e disse que ficaria tudo bem. Tudo o que pôde fazer foi esperar que a garota se acalmasse antes de dizer qualquer coisa. Ced segurou seu rosto, secando suas lágrimas, e viu os soluços dela aumentarem.

— Ei, olhe para mim — ele falou com preocupação. — Respira fundo e com calma, está bem?

Diggory respirou fundo e soltou o ar pela boca, pedindo para que ela imitasse o ato. Ela assim fez, e repetiu novamente e junto a ele, sentindo seu coração desacelerar aos poucos. Seus olhos marejados encontraram os dourados de Cedrico que pareceu levemente aliviado ao vê-la um pouco melhor.

— Está machucada? Você precisa ir pra Ala Hospitalar? — ele perguntou e negou na mesma hora. — Certo, então vem comigo.

Ajudando-a a se levantar, Cedrico abraçou seus ombros e a guiou de volta para dentro do castelo. Os corredores ainda estavam vazios pois, com exceção da turma de Ced que tinha um horário vago, todos continuariam em aula por pelo menos mais quinze minutos. não sabia dizer para onde ele a levava, tampouco o questionou. Depois de alguns breves minutos, eles pararam ao lado da estátua de um mago que a garota sempre passava reto e nunca reparava muito bem nela. Agora, parada em frente ao objeto, ela percebeu que faltavam alguns dedos da mão levantada e seu nariz pontudo estava trincado. Percebeu também que eram uma das poucas estátuas no castelo que não se moviam.
Cedrico sorriu maroto para a garota e tateou a lateral da estátua, um clic alto assustou a garota que rapidamente olhou para os lados, confirmando que não havia ninguém ali. Quando voltou a olhar para a estátua, ela havia se movido alguns bons centímetros para o lado, revelando uma passagem que ela nunca imaginou ter ali. Segurando a mão da garota, Ced a puxou por uma estreita escada de pedra que parecia ter degraus demais. ouviu a estátua fechar atrás de si e logo depois, a escada acabou.
O pequeno espaço no fim da escada era surpreendentemente bem iluminado com a luz natural do Sol. Mesmo com o fim de tarde, a luz deixava tudo amarelado e quente de uma forma aconchegante. Cedrico se sentou ao lado da janela e chamou uma admirada para se sentar com ele. A garota observou em volta, curiosa; embaixo da janela havia alguns potes de vidro vazios que, mesmo empoeirados, brilhavam à luz que vinha da janela. Ao lado, folhas e mais folhas com desenhos e anotações de plantas e animais diversos, com uma bela letra cursiva. O lugar era minúsculo, mas a sensação de aconchego era enorme.

— Meu pai me falou sobre esse lugar — Cedrico disse, como se tivesse lido a mente da garota que se questionava exatamente aquilo. — Ele me contou que um amigo da Lufa-Lufa lhe mostrou esse lugar e é como uma herança da casa, sabe? Porque aqui era o esconderijo do Newt Scamander.

Impressionada, arregalou os olhos. Pegando um dos pergaminhos velhos, ela leu rascunhos sobre os tronquilhos, rascunhos esses que lembravam demais os textos que lera em Animais Fantásticos e Onde Habitam, o livro de Newt. A data era de 1915, o último ano do magizoologista.

— Newt Scamander ficava aqui!? — ela perguntou e empolgado, Ced assentiu. — Isso é incrível!
— É sim — ele concordou, observando-a com atenção enquanto ela mexia em mais papéis. Ced passou a mão na nuca, ligeiramente inseguro. — Você… está bem?

Black levantou os olhos para ele, desmanchando seu sorriso. Dando de ombros, ela deixou os papéis de lado e se aproximou do amigo, desviando o olhar para a janela. A vista que tinha para a floresta era de tirar o fôlego.
Ela finalmente se virou para o lufano e balançou a cabeça em negação, seus ombros caindo no ato. Ced, preocupado, segurou as mãos da garota e pediu para que ela explicasse. Então contou tudo o que aconteceu na aula, desde o momento em que viu Neville desconfortável até Draco caído no chão, se contorcendo em dor. Cedrico não conseguia disfarçar suas reações, retorcendo o rosto em caretas de descontentamento, reprovação e surpresa enquanto ouvia com atenção. E ela apenas percebeu que chorava quando parou de falar.

— Você e Malfoy — ele comentou, maneando a cabeça.
— Cedrico, se você vai brigar comigo por causa dele, eu vou…
— Não! — ele falou rapidamente, segurando o braço da ex quando a mesma ameaçou se levantar. — Desculpa, eu só estava tentando… entender. Você… Você fez aquilo por que estava com raiva dele?

Ela concordou.

— Ele estava me provocando e antes da aula nós tivemos uma discussão — ela falou, olhando envergonhada para suas mãos. — Ele estava bravo porque Dumbledore não deixa mais o Lúcio Malfoy visitá-lo em Hogwarts.
— Por que? — Cedrico perguntou confuso.

percebeu o erro que cometeu no mesmo instante que ouviu a pergunta. Uma coisa era contar para o diretor o que Lúcio Malfoy havia feito com ela, mas contar a todos os outros? Iria piorar toda a situação e a única coisa que ela queria era paz. Será que nenhum dia deste ano ela teria isso?

— Eu não sei — mentiu, olhando pela janela. — Mas Draco acha que foi minha culpa.

E realmente foi, pensou.

— Esse garoto é um idiota — Diggory falou enérgico, depois procurou os olhos de , querendo saber como ela estava. — E como você se sentiu quando, sabe… lançou a maldição?
— Péssima — falou, encolhendo os ombros. Ela levou a mão ao peito, massageando o local; a ação não passou despercebida por Cedrico. — Senti um peso tão grande, foi como se uma escuridão engolisse meu coração…

Ela balançou a cabeça, fechando os olhos como se sentisse dor. Cedrico se arrependeu de perguntar, não queria fazê-la sofrer mais ainda. Mas se a garota estava se abrindo, ele não iria impedi-la.

— Teve um momento — ela continuou depois de alguns segundos em silêncio —, um breve instante, em que eu senti… prazer.

Cedrico arregalou os olhos por um segundo, mas logo desfez a feição de surpresa. Ele segurou o rosto corado da garota e o levantou, fazendo-a encará-lo. Seus olhos marejados fizeram o coração do lufano apertar em agonia, todo o amor que sentia pela garota estava ali, em desespero para poder ajudá-la o máximo possível, mas não sabendo muito bem como. Ah, como ele queria poder envolvê-la em seus braços e dizer que ficaria tudo bem, lhe dar um beijo como sempre faziam quando as coisas pareciam ruins para ambos. Como ele queria tê-la de volta e se sentiu egoísta em pensar naquilo em um momento mais inapropriado impossível.

— Eu não entendo — ela continuou falando, sua voz mais fraca que antes. — Não sei como consegui poder suficiente para fazer aquilo e ainda sentir prazer!? Eu não sou assim!
— Claro que não é! — Cedrico confirmou. — , você é a garota mais incrível que eu já conheci.

Como leveza, sorriu para o loiro, encarando seus olhos dourados que brilhavam tão intensamente para ela que, por um instante, a garota se permitiu fingir que nada aconteceu. Ela passou a mão pelo rosto do garoto que, se deliciando com o toque, fechou os olhos e sorriu para ela. se perguntava como que conseguiu ficar tão longe dele por todo esse tempo? Ced era perfeito, para dizer o mínimo, tanto por dentro quanto por fora. Ela o queria de novo, tinha certeza disso agora, mas como falaria isso a ele?

— Eu li uma vez — ele começou, despertando-a de seus devaneios — que magia negra, quando usada, causa prazer exatamente para que a pessoa queira usar novamente. Então você não é uma bruxa má por usar a Cruciatus e gostar da sensação, você é uma bruxa muito talentosa por fazer um feitiço com perfeição, por pior que ele seja.

Black piscou, impressionada com o que o garoto falou. Sentia-se mais leve, apesar do incômodo que o feitiço ainda lhe causava, agora tinha certeza que nada daquilo havia sido sua culpa. Subitamente sentiu raiva de Moody, imaginou o que aconteceria com Neville se não tivesse tomado seu lugar. O pobre garoto se tremia todo só por ter sido escolhido, tinha certeza que Malfoy não teria tanta piedade com o colega. O mesmo sentimento de raiva por Alastor se estendeu para Draco.
Distraído com a visão que tinha da janela, Cedrico não percebeu quando se aproximou dele, envolvendo o pescoço do garoto com os braços e puxando-o para um abraço. Ele engoliu em seco, mas correspondeu o abraço com carinho, envolvendo sua cintura e puxando-a para mais perto ainda.

— Obrigada — ela murmurou, sua voz saiu abafada. — De algum jeito, você está sempre me salvando.
— E vou continuar te salvando sempre que precisar — ele retrucou, afastando-a alguns centímetros para encarar os olhos dela. Cedrico podia jurar que sentiu seu coração errar algumas batidas.

Com o carinho e a delicadeza de sempre, Cedrico colocou um cacho atrás da orelha da garota e sorriu, seus olhos recaindo sobre os lábios extremamente convidativos dela. , por sua vez, o encarava com a mesma intensidade. Suas mãos faziam carinhos em seus cabelos loiros, deixando-a com vontade de fechar os olhos com a sensação gostosa a qual sentia. Só naquele momento, quando o teve novamente tão perto, reparou o quanto sentia falta de poder tocá-lo daquela forma, de poder ter Cedrico em seus braços novamente como há muito tempo não tinha. Era vergonhoso admitir o quanto pensava no beijo que ele lhe dera no lago, depois da segunda prova, e no quanto ansiava por mais um.

— Ced…
— Não, por favor, não fala nada — ele pediu, segurando o rosto da garota com o medo de que ela saísse correndo o assolando. — Estamos só nós aqui, estamos seguros.

E aquilo, para a garota, era a maior verdade de todas. Ela se sentia segura com Diggory como nunca antes e quando estava com ele, era como se o universo inteiro desaparecesse, levando seus problemas juntos. Seu coração, tão castigado, gritava por ele.
Então, tudo o que queriam e podiam fazer naquele momento, eles fizeram. e Cedrico acabaram com a distância entre eles com um beijo apaixonado e carregado de saudade. Os dois se tocavam, como se quisessem garantir que aquele momento era real enquanto matavam a saudade um do outro. Foi tolice passarem tanto tempo separados, pensaram; eles não falaram em voz alta, mas os dois concordaram em silêncio.
Quando se separaram, um sorriso se fixou em seus lábios vermelhos e levemente inchados, sendo impossível conter a felicidade que sentiam.

— Não quero sair daqui nunca mais — murmurou Cedrico, afundando o rosto no pescoço da amada. — Eu não quero me separar de você nunca mais.
— Eu também não — ela concordou, fechando os olhos com prazer. Assim que falou, a sineta tocou alto, abafada apenas pela porta de madeira por onde passaram. Os dois gemeram, decepcionados. — Mas a realidade nos espera.
— Você é a minha realidade, — Cedrico falou com seriedade apesar do sorriso ladino em seu rosto.

A brasileira sorriu em resposta, lhe dando um demorado beijo que ela não queria que acabasse. Contudo, sua consciência a lembrou de que tinha que enfrentar o que quer que estivesse por vir. E enquanto saia de fininho do esconderijo, de mãos dadas com Cedrico e olhando para todos os lados para garantir que ninguém os veriam, desejou que o que tivesse que acontecer, que fosse algo tranquilo, pois não aguentava mais a bagunça que estava sendo a sua vida.
Cedrico se despediu dela quando chegaram no corredor onde ficava a sala de História da Magia (a última aula que o lufano teria) com a promessa de que encontraria com ela mais tarde. Ela não fez objeções, ansiando pelo momento que o veria de novo enquanto seu ânimo ainda estava em alta. Contudo, ele se desfez quando viu Ron, Harry e Hermione correndo em sua direção, afobados. Apesar do alívio em vê-los, sabia bem que isso significava que ela teria que enfrentar as consequências antes do que gostaria — tolamente achou que teria tempo de tomar ao menos um banho relaxante.

— Onde raios você se meteu!? — Ron perguntou desesperado, tentando recuperar o fôlego. Hermione o censurou com o olhar, reprovando a forma como o mesmo falara.
— Você está bem, ? — Harry perguntou, preocupado.
— Estou…? — ela maneou a cabeça, incerta. — Eu não sei…
— Sinto muito, amiga. O Professor Moody é um irresponsável! — Hermione se pronunciou, envolvendo em um abraço apertado.
— Eu estou muito encrencada? — perguntou quando a amiga a soltou.
— Está falando sério? — Rony perguntou, rindo. — Aquilo foi irado! O Malfoy ficou se contorcendo todo no chão!

O ruivo começou a fazer uma péssima imitação de como Draco Malfoy reagira à Maldição Cruciatus, arrancando risadinhas apenas de Harry. Ele parou assim que percebeu o olhar chateado de e o raivoso de Mione. Os ombros dele caíram, mas um sorriso tentava escapar pelo canto da sua boca. Lembrando-se de repente de seu dever, Ron tirou a mochila da garota dos ombros e entregou para ela que recebeu com um agradecimento sincero, mas fraco.

— Como ele está? — Black perguntou, mordendo o lábio.
— Draco? — Harry a questionou e a garota assentiu. — Bom, ele fez o drama de sempre quando acordou e pediu para ser levado para a Ala Hospitalar, ainda deve estar por lá, choramingando.
— Caramba — a garota passou as mãos no rosto enquanto seus amigos continuavam olhando-a com preocupação. — Será que posso ir ver ele?
— Ver ele? É sério? — Foi Hermione quem perguntou, mas a feição de incredulidade dos outros dois indicava que eles concordavam com o questionamento. — , ele estava te provocando, ele mereceu.
— Ele mereceu uma Maldição Imperdoável!? — ela retrucou, indignada. — Mione, ninguém merece isso, nem mesmo o Malfoy!
— Você é boa demais, — disse Rony, balançando a cabeça.
— É por isso que não entendo como você… — Hermione começou a falar, mas foi interrompida por uma afobada Professor Minerva que andava apressada pelo corredor.
— Aí está você, Srta. Black! — ela falou ao encontrar a aluna, parecendo um tanto aliviada. Minerva segurou a garota pelos ombros, observando seu rosto à procura de algum sinal de que ela não estava bem. — Como você está?
— Ahm… bem? — respondeu, ainda não sabia dizer como se sentia, não importava quantas vezes perguntassem a ela. — Professora, será que posso ver o Malfoy? Queria saber se ele está bem.
— Claro, querida, mas isso vai ter que ser mais tarde — disse a professora, afagando seus braços. Ela fez uma expressão de culpa. — Um representante do Ministério está aqui para falar com você.



Continua...


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Nota da autora:Oi, meus amores! Um passo a menos em direção ao final de TES, e um passo muuuuuito importante para o desfecho na relação entre a pp e o Draco 🥺 Espero que tenham gostado do capítulo, o próximo vai vir bem rapidinho! Não esqueçam de comentar!! ♥️

Nota da Scripter: Team Diggory muito bem servidas nesse capítulo e eu assim: 🤡
Eu real não sei o que sentir, quero defender o Draco, mas não quero ficar contra a pp , o que eu faço? OBRIGADA POR ME DEIXAR CONFUSA PATI🤡
Ansiosa pelo próximo capítulo, para saber quem do ministério foi atrás dela e o que querem!!!Ansiosa pela morte do Cedrico (não me decepcione Patricia), beijos sonserinos para vocês Lufanos hahahah' ♥️



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