CAPÍTULOS: [Capítulo Único]





The Getaway






Capítulo Único


Estacionei minha moto em frente a casa onde deveria estar acontecendo uma festa e me perguntei se não estava no lugar errado já que eu não podia ouvir qualquer barulho de música do lado de fora, porém, o carro de estava lá. Mal tive tempo de pegar meu celular para ligar para ele e logo meu amigo saiu cambaleando pela porta de entrada com uma garota em cada braço e uma garrafa de uísque nas mãos.
- . – ele gritou sorridente e caminhei até ele – Achei que você não ia mais vir. – ele se separou das meninas e passou o braço pelo meu ombro.
- É aqui mesmo? – perguntei surpreso e ele gargalhou.
- Não é o tipo de festa que estamos acostumados, mas tem bebida, maconha e mulheres, então para mim está bom suficiente. – ele disse rindo.
As duas garotas se voltaram para ele e caminhamos os quatro para dentro da enorme casa vitoriana. me apresentou para a garota que estava dando a festa, Girlford, uma loira alta e muito bem vestida com um sorriso enorme nos lábios.
Além de e eu, a outra presença masculina do lugar era um garoto de uns dezesseis anos que estava do outro lado da sala mais entretido no seu celular do que nas mulheres conversando ao seu redor. Fiquei bastante curioso querendo saber que diabos ele tanto fazia em seu aparelho que era melhor do que o que ele tinha por perto, mas logo o olhar de uma garota ao lado dele me chamou a atenção.
Ela estava com uma expressão séria para mim e quando viu que percebi, ela começou a conversar com o garoto. Seus lábios tinham um tom rosa claro e os olhos estavam meio esfumaçados nas pálpebras, quase sumindo de sua pele.
Permaneci encarando-a e ela olhou para mim algumas vezes e suas bochechas ficaram rosadas. Ela falou algo para o garoto que tirou seus olhos do celular e me encarou confuso, falando algo para ela em seu ouvido.
- Toma. – bateu com uma garrafa de cerveja no meu braço e a peguei.
- Que tipo de festa é essa, cara? – falei baixinho para ele sem tirar os olhos dela.
- É uma social, .
- A garota é podre de rica, cadê aquelas festas que todo mundo se joga na piscina e quebra a casa?
- Não reclama muito, . – ele deu uma risadinha e me passou o baseado que estava em sua mão.
Coloquei-o na boca e dei uma tragada longa olhando para a garota que estava agora encarando seu tênis. Prensei a fumaça e soltei quando ela levantou o olhar e me viu. Traguei mais algumas vezes e entreguei para .
Já podia sentir meu corpo ficando mais leve com o efeito da maconha e tomei um gole enorme de cerveja, esperando ficar chapado com rapidez.
Mais algumas garotas chegaram quando eu já estava na minha quarta garrafa de cerveja e elas começaram a cochichar com e olhar para e eu. Ela olhou para nós dois com um sorrisinho malicioso e depois foi na cozinha e voltou com um monte de copos plásticos e uma garrafa fechada de vodca.
- Isso está muito caído. – ela colocou as coisas na mesa de centro – Vamos brincar de “eu nunca”.
deu tapinhas nas minhas costas enquanto eu caminhava para perto da mesa e fiz questão de me sentar de frente com a garota que de todas as mulheres ali, era a que parecia mais desconfortável com o ambiente.
encheu todos os copos e colocou na nossa frente, olhando para todos com um sorriso extremamente malicioso.
- Eu começo. – ela alargou o sorriso – Eu nunca transei no primeiro encontro. – ela disse e logo todos viramos, exceto a garota e outra do lado dela – Já imaginava. – ela deu uma risadinha para as duas.
- Eu nunca mandei fotos pelada. – uma garota morena disse e eu não bebi e a garota na minha frente também não.
- Não acredito que você nunca mandou nudes, . – deu uma risadinha maliciosa.
- Sou do tipo que prefere ver pessoalmente. – dei de ombros e fiz questão de não olhar para a garota, só para o caso dela achar que aquilo era alguma indireta.
- Eu nunca fui parada por dirigir bêbada. – outra garota disse e todos bebemos, exceto ela na minha frente.
Tentei pensar em algo que pudesse fazer com que ela bebesse já que ela era a única ali que parecia estar sem uma gota de álcool no corpo. Até o garoto tinha deixado seu celular de lado e estava bebendo.
- Eu nunca beijei ninguém. – falei olhando para ela e suas bochechas ficaram coradas. Ela pegou o copo da mesa e notei suas mãos tremendo um pouco. Todos nós viramos nossas bebidas e ela também, fazendo uma careta logo em seguida.
- Finalmente, . – a garota morena gritou e gargalhou.
Aquilo tinha me dado mais ânimo ainda para continuar a brincadeira, pois eu não só a tinha feito beber como também descobri seu nome.
- Eu nunca... injetei drogas. – o garoto disse com um sorriso bêbado nos lábios e e eu fomos os únicos que bebemos.
me olhou sem esconder sua expressão de surpresa para nós dois e depois abaixou o olhar encarando seu copo como se pudesse explodi-lo com a mente.
- Eu nunca fui algemada fora do sexo. – uma garota ruiva disse maliciosa e apenas eu bebi – Como? – ela perguntou para mim.
- Briga de rua. – dei de ombros e ela mordeu o lábio tentando parecer sensual.
- Eu nunca fui pega fazendo sexo. – disse meio bêbada e ela foi a única que bebeu – Já posso me sentir finalmente a vadia que eu sou. – ela gargalhou – , você precisar beber. – ela ralhou com a garota que apenas revirou os olhos.
- Eu nunca... caramba, tem tanta coisa que pode fazer a ficar bêbada, mas são coisinhas tão bobas. – a ruiva gargalhou – Eu nunca sofri bullying na escola. – ela disse rindo e ficou vermelha.
- Essa foi pesada, Brit. – disse meio brava.
foi a única que bebeu. Ela virou seu copo e jogou na mesa olhando irritada para a tal Brit.
- Pelo menos eu a fiz beber. – ela deu uma risadinha e encheu o copo da garota – Eu nunca beijei alguém e me arrependi.
Todos nós bebemos e o rosto de foi ficando vermelho. Ela encarou seus pés e encarei-a tentando descobrir se ela já estava bêbada ou apenas envergonhada por ter que beber na frente das pessoas.
- Isso está muito parado. Eu quero me divertir. – Brit bebeu um gole da garrafa de vodca e soltou um longo suspiro – Vou tomando isso e nós vamos fazer algo muito melhor do que “eu nunca”. – ela me entregou a garrafa e me olhou maliciosa.
Virei um longo gole do liquido e senti minha garganta queimar mais do que antes. Já não sabia se estava mais chapado de maconha ou de álcool, porém a sensação era ótima e eu me sentia como se conseguisse fazer o que eu quisesse.
Entreguei a garrafa para e todos nós, exceto , bebemos. Brit colocou a garrafa vazia deitada no centro da mesa e abriu um sorriso.
- Vamos brincar de sete minutos no céu.
- Não. – finalmente disse algo.
- Deixa de ser careta, , é só uma brincadeira.
- Vocês sabem que eu não gosto dessas coisas. – ela suspirou.
- Você não vai precisar pagar um boquete se você não quiser. – disse rindo e ela o fuzilou com os olhos.
- Por favor, , vamos. Você não precisa fazer nada se quiser, só ficar lá. – fez bico.
- , não. – ela cruzou os braços.
- Você nem sabe se vai cair em você. – ela insistiu.
- Que fique avisado que eu não vou fazer nada, entendeu? – ela disse rígida – E se eu cair com vocês dois é bom ficarem bem longe de mim. – ela olhou irritada para e eu.
- Sim, senhora. – gargalhou e sorri para ela.
Ele segurou a garrafa no centro da mesa e a virou. Ela rodou umas sete vezes até parar na ruiva e o garoto do celular.
Ela correu até ele e entrelaçaram seus dedos. Os dois subiram cambaleando para o andar de cima e olhou no celular rapidamente.
- Não vamos apressar eles. – ela deu uma risadinha.
A garota morena foi até a cozinha e pegou uma garrafa de uísque trazendo ela para nós. tirou um baseado do decote de sua blusa e o colocou nos lábios de um jeito bastante sensual. Observei-a tragar com vontade e deitar a cabeça para trás enquanto prensava a fumaça.
Ela passou para as outras cinco garotas ao lado dela e quando chegou em ela revirou os olhos e entregou para mim. Traguei fundo olhando para ela e ficamos os dois nos encarando por alguns segundos até eu não conseguir mais segurar a fumaça e soltá-la pelo nariz e a boca.
Começamos a beber o uísque e já nem estava mais sentindo a queimação na garganta. tomou um pequeno gole por insistência de que bateu palmas quando ela o fez.
Mal percebi que os sete minutos tinham passado e os dois já estavam descendo as escadas com a garota arrumando os cabelos e um sorriso borrado no rosto.
- Quem é o próximo? – ela se sentou do meu lado e rodou a garrafa.
Encarei a garrafa hipnotizado pelos movimentos dela e só acordei quando deu um soquinho em meu braço e vi ela apontada para e eu. Ela abriu a boca algumas vezes e olhou para como se pedisse ajuda, mas percebeu que não ia adiantar. Ela levantou-se irritada e foi em direção as escadas e eu cambaleei atrás dela.
O corredor era enorme e eu nem conseguia contar quantas portas ele tinha, mas eram muitas. Ela abriu uma delas e acendeu a luz, caminhando em direção à cama.
- A luz fica acesa. – apertei o interruptor e andei até ela.
Eu não ia forçá-la a fazer nada que ela não quisesse, então apenas me deitei ao seu lado e fiquei encarando o teto. O quartão não estava tão escuro e eu podia ver um pouco dela que estava cutucando as unhas nervosamente.
- Relaxa, não vou fazer nada contigo. – falei calmo e a vi assentir – Gostei do seu vestido. – encarei a gola branca que contrastava com o restante preto do vestido.
- O-obrigada. – ela murmurou.
- Eu sou o .
- Eu sei. – ela me olhou rapidamente – Você estudava na mesma escola que eu.
- Nós estudamos juntos? – arqueei uma sobrancelha e ela virou o corpo para mim.
- Não, só na mesma escola. – ela encarou as unhas.
- Eu não me lembro de você.
- Eu era a garota que sofria bullying. – ela bufou.
- Ainda não me lembro disso.
- Não é bullying realmente. Era só Brit e as garotas me enchendo o saco porque eu preferia não ser o centro das atenções como elas.
- Então não é tão bullying assim.
- Para mim era. – ela deu de ombros.
- Por que você está aqui se elas faziam isso com você?
- é minha irmã. – ela suspirou – Meia irmã na verdade. Nós somos filhas de pais diferentes.
- Então essa casa é de vocês?
- Do pai dela. – ela me olhou – Você chegou a ser preso?
- Como? – falei rindo.
- Você disse que já foi algemado.
- Não fui preso, só algemado e fichado. – sorri para ela e fiquei imaginando se ela conseguia me ver – Aquele garoto lá embaixo... Ele é irmão de vocês?
- Alex? – ela me olhou – Ele é irmão da .
- Ele estava bem mais confortável agora que bebeu do que você. Ele até largou o celular. – falei sonolento.
- Ele só estava conversando com os pais dele para garantir que eles não vão vir para casa hoje. – ela cutucou a unha.
- Você não devia ter vindo se não gosta dessas coisas.
- Ela é minha irmã caçula e minha melhor amiga, não ia deixar que qualquer um cuidasse dela quando ela começasse a vomitar ou tivesse uma overdose de maconha.
- Você sabia que as chances de ter uma overdose de maconha são quase nulas? – falei rindo e ela respirou fundo.
- É óbvio que eu não sei. Não uso essas coisas caso você não tenha percebido.
- Você é inteligente.
- Por que você fuma? E injeta drogas?
- Porque eu não sou tão inteligente como você para saber que essas coisas fazem mal para mim e para o meu corpo. – encolhi os ombros – E eu não injeto drogas desse jeito que você está achando. – sentei-me – Foi uma vez.
- Qual o motivo?
- Eu queria saber qual era a sensação.
- E foi qual?
- Foi incrível no início. – sorri ao lembrar – Mas depois eu comecei a ter uns pensamentos ruins e decidi que eu preferia continuar apenas fumando.
- Eu sinceramente acho isso uma idiotice. – ela resmungou – Você pode se divertir sem ter que usar entorpecentes.
Ficamos os dois quietos, pois eu não conseguia pensar no momento em argumentos para discutir com ela sobre aquilo. Minha cabeça e meu corpo pareciam estar flutuando.
Não fazia a menor ideia de quanto tempo já tinha se passado desde que entramos no quarto, mas ouvi alguns toques na porta e uma voz feminina do outro lado chamando-a.
- Estou indo. – se levantou e tentou correr para a porta, mas eu a segurei.
- Ei, calma. – passei o polegar pelo seu braço e ela me encarou – Não precisa fugir como se tivesse sido os piores sete minutos da sua vida. – dei um sorrisinho e ela se afastou.
- Pode ter certeza que não foi dos melhores. – ela segurou a maçaneta e eu encostei as costas na porta – O quê? – ela rosnou.
- Você quer sair comigo?
- Como? – ela me olhou surpresa.
- Não precisa ser hoje se você não quiser, mas sei lá, a gente pode sair para algum lugar que você goste...
- Não. – ela cruzou os braços.
- Por que não? – perguntei um pouco magoado.
- Você não faz o meu tipo. – ela tentou me empurrar – Por favor.
- E qual é o seu tipo?
- Não sei se não ficou claro, mas eu não gosto de drogas, .
- Bebida alcoólica é uma droga dependendo do ponto de vista. – encolhi os ombros.
- Se a pessoa bebe com moderação não é. Agora, por favor, eu quero sair.
- Eu não vou fumar maconha na sua frente. – dei uma risadinha.
- Eu não quero sair com você, e não é só pelas drogas, agora sai. – ela me empurrou.
- Qual outro motivo?
- Não sou como elas que transam com qualquer um e não se importam se são chamadas de vadia, eu me importo com isso.
- Ei, calma, só estou te convidando para sair. Sexo é só no segundo encontro, se você quiser. – falei rindo e ela abriu a porta.
estava encostada na parede com um olhar preocupado e sorriu aliviada quando a irmã apareceu.
- E aí?
- Ele não fez nada. – ela disse calma.
me olhou por cima do ombro meio decepcionada enquanto as duas iam em direção as escadas. O que ela queria que eu fizesse? Agarrasse a irmã dela e a forçasse a fazer algo comigo que ela não queria?
Desci as escadas atrás delas e vi beijando Brit no canto da sala. gritou para os dois arrumarem um quarto e eles correram para o segundo andar.
Sentei-me na frente de que começou a digitar algo no celular e fiquei analisando os traços de seu rosto. Seus olhos encarando o aparelho nas mãos dela, o jeito que ela molhava os lábios ou mordia quando parecia estar um pouco apreensiva com o que estava vendo. O cabelo meio longo com as mechas um pouco onduladas se moldava perfeitamente nela.
Meu rosto queimou quando ela levantou o olhar e me viu encarando-a. Ela olhou para os dois lados como se achasse que eu olhava para outra pessoa e suas bochechas coraram quando ela percebeu que era para ela mesmo que eu estava olhando.
Fui para cozinha pegar mais uma cerveja e fiquei por lá olhando para com um pouco mais de descrição. A parte canalha em mim queria deixá-la envergonhada com os olhares, mas a parte “boa” de mim, a que quase nunca aparecia, queria apenas olhá-la.
Ela não era a garota mais linda que eu já tinha visto na vida e também não tinha aquele corpo que te faz ter segundas intenções, mas eu não podia negar que ela era muito bonita, porém o que estava me chamando a atenção nela eram seu rosto ingênuo e a forma como ela parecia estar desconfortável demais naquele lugar com pessoas extremamente diferentes dela.
- Por que você está encarando minha irmã? – sorriu maliciosa para mim e empurrou meu corpo contra a geladeira.
- Nada. – dei de ombros.
- Ficou a fim dela, é? – ela olhou para por cima do ombro e depois para mim.
- Claro que não. – neguei com a cabeça.
- Qual é, ela não é feia. – ela revirou os olhos – Vai falar que você não se interessou por ela nem um tiquinho?
- Não. Ela é bonita, só isso.
- Ótimo. – ela sorriu largamente – Ela não é pro seu bico. – ela segurou minha jaqueta e colou seu corpo no meu.
- Por que não?
- Eu ouvi vocês lá em cima depois que a chamei. – ela tocou minha barriga por baixo da camiseta – Abdômen definido. Gostei. – ela mordeu o lábio.
- O que você ouviu exatamente? – arqueei a sobrancelha.
- Ela realmente se importa com o que os outros pensam, quer dizer, isso é na maioria das vezes. – ela segurou a barra da minha calça – Ela é diferente. Ela é mais na dela, sabe? Para ela o sexo é algo que você faz com alguém que você queira ter algo e não com qualquer um.
- Que mais? – perguntei curioso.
- As festas que ela vai não são como as que eu e você estamos acostumados. Os amigos dela não são como os nossos, os gostos dela não são como os nossos. – ela disse contra a pele do meu pescoço e continuei olhando .
- E do que ela gosta?
- Ela gosta de ir a cafeterias para ler ou escrever, ir a festas onde as pessoas estão lá para conversar e se divertir apenas com álcool, não para usar drogas e fazer sexo.
- Ela escreve? – perguntei surpreso e ela assentiu – Que tipo de coisas ela escreve?
- Diários, coisas da faculdade, histórias de filmes que ela gostaria que existissem. – ela trilhou beijos em meu pescoço e suspirei fraco.
- Que tipo de filmes? – arfei quando ela apertou meu pênis quase totalmente rígido.
- Continuações, filmes que ela cria na cabeça dela com os atores que ela gosta, essas coisas. Ela gosta de inventar coisas na mente dela para passar o tempo.
- E o que mais ela faz para passar o tempo?
- Ela assiste filmes, séries... – ela deu de ombros – Você não quer subir? – ela beijou meu queixo.
- Você disse coisas da faculdade... Ela estuda o quê?
- Inglês. – ela beijou meu rosto – Esquece isso, você não é o tipo dela e ela provavelmente não é o seu. – ela me encarou – Agora vamos subir antes que eu seja obrigada a fazer as coisas aqui na cozinha. – ela sorriu maliciosa.
Passei um braço pelas suas costas a puxei para cima em meu colo, segurando suas coxas com força. Não fazia ideia de como consegui subir as escadas beijando ela e ainda bêbado, mas nós tínhamos chegados intactos no quarto que ela indicou como o dela.
Acordei com o sol queimando meus olhos e uma dor de cabeça horrível. Olhei para o lado e estava nua enrolada nos lençóis. Vesti minha roupa com pressa e joguei fora as três camisinhas que estavam no chão. Ela se remexeu na cama e murmurou algo que foi como o estopim para eu sair praticamente correndo do quarto.
Quando cheguei ao final da escada vi sentada no sofá com uma tigela de cereais assistindo televisão. Ela estava vestida com uma camiseta grande de alguma série, uma calça de pijama com carneiros desenhados e meias coloridas nos pés. Ela olhou para mim sem um pingo de surpresa e voltou sua atenção para a televisão. Permaneci parado ali como se meus pés estivessem colados no chão e ela me olhou entediada.
- Pode ir embora. – ela disse com a boca cheia – Não precisa se preocupar, ela não está nem aí se você vai ligar para ela ou não. – ela olhou para a televisão.
- Não vai?
- Na verdade é até melhor para ela que você saia antes dela acordar, assim ela não vai ser obrigada a se livrar de você.
Eu não sabia o que responder para ela, então apenas caminhei até a porta e a olhei uma última vez antes de ir embora. O carro de ainda estava ali e fiquei me perguntando se ele estava tão bêbado que esqueceu do carro ou estava lá em cima com alguma garota.
Lembrei-me do que falou sobre sua irmã e de como eu não era o tipo dela e ela também não era o meu, o que era uma tremenda mentira pelo menos em relação a mim. As palavras dela ficaram martelando na minha cabeça durante todo o caminho.
Ela tinha razão ao falar aquilo, eu realmente não fazia o tipo de . Ela era culta, fazia faculdade, gostava de escrever e ir a festas que eu achava um porre, enquanto eu terminei a escola com muito sufoco, não escrevia mais desde que saí do ensino médio e preferia ir a festas para encher a cara do que ficar conversando com as pessoas. Nossos mundos eram completamente diferentes e agradeci mentalmente por ela não ter aceitado sair comigo porque eu ia acabar mostrando o selvagem que é.

Entrei sorrateiramente em casa e ouvi Catalina na cozinha. Tentei ir para o meu antigo quarto sem que ela me visse, mas foi só eu me aproximar do corredor que ela pigarreou.
- Onde pensa que vai, mocinho? – ela disse com seu forte sotaque espanhol e fui até ela – Achou que ia se livrar do meu bom dia?
- Só um pouquinho. – cocei a nuca e a abracei forte – Meus pais estão?
- Sua mãe saiu agora a pouco para tomar café com algumas amigas e seu pai está se trocando. – ela mexeu na panela sem tirar os olhos de mim – Vai para o seu quarto descansar que daqui a pouco levo o seu café. – ela acariciou meu rosto.
- Não fala para ele que eu estou aqui.
- Tudo bem, Chiquito. – ela beijou minha bochecha.
Fui para o meu quarto e pude sentir o cheiro do meu perfume logo que abri a porta. As coisas estavam todas no mesmo lugar desde a última vez que estive ali no mês passado e apesar de fazer vários dias, não tinha um grão sequer de sujeira em qualquer lugar. Tanto Catalina quanto minha mãe eram obcecadas por limpeza e tudo o que fosse de “inútil” as duas guardavam para que não juntasse pó ou ocupasse espaço desnecessário.
Deitei-me na cama enorme de casal e senti meu corpo relaxar no colchão macio. Afundei a cabeça no travesseiro de penas e respirei fundo algumas vezes até que Catalina entrou com uma bandeja. Olhei para o prato que tinha um rosto feito com ovos, bacon, salsicha e torradas, exatamente do mesmo jeito que ela fazia para eu comer quando criança.
Tomei um gole do suco de laranja e comecei a comer feito um louco enquanto ela me encarava.
- O quê? – perguntei com a boca cheia e ela abriu um sorriso triste.
- Sua mãe vai perguntar de você. – ela acariciou meu joelho – Ela sempre pergunta.
- Eu estou bem. – encolhi os ombros.
- E onde você estava que acordou cedinho e veio aqui?
- Em casa. – coloquei um pedaço de salsicha na boca.
- Não estava em nenhuma festa por aí? – ela me olhou desconfiada e neguei com a cabeça.
Já fazia três dias desde a festa de e eu fiquei em casa nos três dias jogando videogame e comendo toda a comida que eu tinha.
- Ela se preocupa com você e eu também me preocupo.
- Mas não tem o porquê se preocupar comigo. – suspirei.
- Só que ela é sua mãe e eu tenho você como se fosse mí hijo.
Continuei comendo meu café da manhã infantil enquanto ela me observava e pude ouvir passos pesados no corredor. Imaginei que fosse meu pai saindo para o trabalho, mas a porta logo se abriu e ele colocou metade do corpo para dentro. O terno muito bem passado e os cabelos como sempre muito bem arrumados, o oposto de mim que usava roupas furadas e o cabelo despenteado.
- . – ele me cumprimentou pelo meu apelido de criança.
- . – cumprimentei-o.
- Sua mãe perguntou de você antes de sair. Você a avisou que vinha?
- Não.
- Vai ficar para o almoço? Eu ligo para ela dizendo que você está aqui...
- Não.
- Mas ela quer te ver, ...
- Eu já estou de saída. – coloquei o prato na bandeja e me levantei.
- Então volte mais tarde para vocês se verem. – ele insistiu.
- Vou pensar. – baguncei os cabelos – Obrigado pelo café, Catalina. – beijei sua testa.
- De nada, Chiquito.
Passei por ele na porta e caminhei até a saída ouvindo seus passos atrás de mim.
- . – ele segurou meu ombro – Vem jantar conosco hoje.
- Vou ver se vai dar. – tirei sua mão do meu ombro.
- Você precisa de alguma coisa? – ele arrumou meus cabelos – Comida, dinheiro, roupas. – ele olhou para minhas botas de combate extremamente surradas.
- Não. – menti. Eu estava sem nenhuma comida em casa, nem mesmo as estragadas.
- Eu vou depositar um dinheiro na sua conta, tudo bem? – ele apertou meu ombro – Vou pedir para Catalina ir fazer compras mais tarde e levar para você.
- Tanto faz. – resmunguei.
- Você sabe que quando quiser voltar para casa...
- Não começa com essa conversa, falou? – me afastei irritado.
- Tudo bem, filho, desculpa. – ele suspirou derrotado.
Assim que abri a porta de casa para sair vi minha mãe parada ali em pé procurando algo na sua bolsa de milhões de dólares.
- . – ela me olhou surpresa e depois veio até mim – Eu esqueci meu celular e voltei para buscar... – ela olhou para o meu pai – Que bom que eu esqueci. – ela deu uma risadinha – Você comeu? – ela colocou a mão na minha bochecha.
- Eu fiz o café da manhã dele, senhora . – Catalina disse da cozinha.
- Come mais, querido, você está magro. – ela disse com os olhos marejados.
- Não. – falei irritado – Eu estou indo. Tchau, Catalina. – gritei para ela que sorriu para mim.
- Filho, espera. – ela segurou minha mão – Fica aqui um pouco. Seu pai pode chegar um pouquinho atrasado no trabalho hoje, não é mesmo, querido?
- Sim, sim. – ele assentiu.
- Eu tenho coisas para fazer. – me afastei dela – E você tem seu brunch com as suas amigas, não quero interromper sua vida social.
- ... – ela disse magoada – Faz tempo que nós não nos vemos, eu estava com saudades.
- Meu Deus, o que vocês querem de mim? – gritei – Eu não venho mais aqui porque é essa porra de melação para cima de mim.
- . – meu pai disse triste – Nós te amamos e sentimos sua falta, só isso.
- Queria eu poder falar isso de vocês dois. – falei irritado – Vocês podem parar de me tratar como se eu morasse do outro lado do mundo toda vez que eu venho aqui?
- Desculpa...
- Eu moro há vinte minutos daqui, não vinte horas.
- Mas você não nos deixa ir até seu apartamento...
- Porque vocês vão dar palpite até no papel higiênico dentro do lixo.
- Nós só queremos saber se você está bem. – minha mãe me abraçou com força e olhei para Catalina que tinha uma expressão triste no rosto.
- Eu estou ótimo. – afastei-a – Eu melhorei bastante depois que saí daqui, não tem o que se preocupar comigo.
- Eu sou sua mãe, , eu me preocupo com o seu bem-estar...
- Pelo amor de Deus, não fala isso se você ainda tem esperanças de que eu volte para esse lugar. – segurei-a pelos ombros – Você tinha que ter se preocupado com o meu bem-estar quando eu estava aqui com você, não depois que eu fui embora.
- O deixe ir, Abigail. Ele precisa do tempo dele e nós precisamos dar isso a ele. – meu pai disse derrotado – O dinheiro vai estar na sua conta até a hora do almoço e as compras também.
- Tanto faz. – falei irritado.
- Tchau, filho. – meu pai disse quando abriu a porta – Eu te amo.
Queria responder um “foda-se” para ele, mas achei melhor ignorar e não magoar os dois do mesmo jeito que eles fizeram comigo por anos.
Depois de três dias, tinha voltado para os meus pensamentos. Comecei a imaginar a vida dela, tentando saber se a família dela era problemática como a minha ou se eram iguais comerciais de margarina onde todo mundo era feliz.
Me deu uma vontade louca de sentar com ela em algum lugar e conversar sobre qualquer coisa que ela quisesse, qualquer coisa que me fizesse esquecer dos meus pais naquele momento, mas eu não fazia nem ideia de como encontrá-la.
Liguei para e perguntei se ele tinha o número de e ele prometeu que ia procurar com alguém para mim. Ele ficou questionando se eu queria dormir com ela de novo e já pude imaginar que ela falou para todo mundo que nós tínhamos transado.
Na hora do almoço recebi uma mensagem do banco enquanto eu comia um hambúrguer com fritas no Shake Shack dizendo que meu pai tinha feito uma transferência de mil dólares para minha conta. Uns cinco minutos depois ele enviou uma mensagem dizendo que Catalina já tinha deixado às coisas em casa.
Quando cheguei encontrei o apartamento extremamente diferente do que estava de manhã. Catalina fez faxina nele inteiro e as compras estavam todas guardadas nos armários. Olhei no meu quarto e ela organizou todas as roupas do armário e ele estava com o mesmo cheiro do meu quarto na casa dos meus pais.
Enviei uma mensagem para ela agradecendo pela limpeza e me sentei no sofá para enrolar um baseado. Ela tinha deixado à maconha e meus cigarros no mesmo lugar em cima da mesa de centro e fiquei pensando se ela finalmente iria contar para os meus pais.
Puxei uma tragada com força e tossi algumas vezes, puxando a fumaça para os meus pulmões novamente. Tirei minhas botas e a camisa de manga longa e deitei no sofá encarando o teto. Meus pés começaram a formigar e a luz no teto parecia estar se mexendo como se escondesse de mim. Meu corpo ia relaxando mais e mais à medida que eu ia fumando. Joguei a ponta queimada na mesa de centro e encarei a televisão desligada querendo que ela magicamente ligasse em algo interessante.
Estava quase pegando no sono quando meu celular começou a tocar na mesa de centro e recebi de apenas uma mensagem com um número e “” escrito na frente.
Liguei para ela duas vezes e estava quase desistindo na terceira quando ela atendeu.
- Quem está falando?
- ? – perguntei.
- Quem é? – ela disse irritada.
- . .
- Como você conseguiu meu número? – ela perguntou surpresa.
- .
- Mas ele não... Esquece. – ela deu uma risadinha – O que você quer?
- Eu queria... – mordi o lábio envergonhado em pedir e já imaginando sua resposta – O número da sua irmã.
- Nem pensar. – ela disse em um tom de voz sério.
- Qual é, eu só quero conversar com ela...
- Foi mal, , mas eu não vou passar sem a autorização dela.
- Então pede para ela.
- Ela vai falar que não. – ela deu uma risadinha.
- Só pergunta. – insisti.
- Tudo bem. – ela suspirou – , o quer seu telefone... , aquele da festa... Tudo bem. – ela riu – Ela disse que não.
- Droga. – respirei fundo – Onde ela estuda? Onde eu posso encontrar ela?
- Eu não vou falar.
- Por favor, , eu prometo que não vou transar com ela, só quero conversar.
- Vocês podem transar se é isso o que ela quiser, mas ela não quer e ela nem quer saber de você.
- Merda. – falei baixinho – Eu posso te ver então?
- Como? – ela riu.
- Quer sair? Eu posso passar na sua casa para sairmos, o que você acha?
- Eu tenho lição de casa, quem sabe mais tarde.
- Você tem meu número.
- Tudo bem. Qualquer coisa eu te ligo. Tchau.
Eu não fazia ideia do sobrenome delas para procurá-las na internet, a única coisa que eu tinha era um endereço onde elas não moravam e um telefone do qual ela poderia nunca mais atender.
Era estranho me sentir assim, com vontade de conversar com alguém sobre qualquer coisa que viesse na cabeça, principalmente com alguma garota. Eu nem sempre fui um canalha sem vergonha, mas mesmo antes eu também não sentia vontade de conversar com garota nenhuma sobre algo qualquer.
Tomei um banho rápido e fiquei sentado na varanda apenas de cueca sem me importar se a vizinha do lado fosse aparecer e me ver. Ela apareceu rapidamente e quando me viu, uma expressão surpresa tomou seu rosto e ela logo entrou.
Meu telefone começou a tocar em cima da mesa e corri até ele vendo um número desconhecido escrito na tela. Pensei um pouco antes de atender com medo que fosse meus pais tentando conversar comigo.
- Alô?
- ?
- Sim, quem é?
- . – ela deu uma risadinha.
- Ah, oi.
- Você ainda quer sair?
- Pode ser. Você tem algum lugar em mente?
- Tenho. Vou te enviar o meu endereço.
Ela não esperou nem eu responder e desligou a ligação. Segundos depois recebi uma mensagem com o endereço. Coloquei um jeans, camiseta e minhas botas e peguei minha jaqueta em cima do balcão. Em trinta minutos cheguei até a casa dela em uma parte do Hidden Hills onde eu sabia que muitas das amigas da minha mãe moravam.
A casa era bem maior que onde o pai dela morava e tinha dois carros de luxo em frente à garagem. Andei até a porta de entrada e toquei a campainha, ouvindo gritos e pessoas correndo dentro da casa.
- Oi. – apareceu com um sorriso no rosto e o uniforme da Buckley – Você quer entrar? Eu só tenho que tirar meu uniforme da escola.
- Eu te espero no carro. – coloquei a mãos no bolso da jaqueta e ela assentiu.
- Eu já volto.
Ela deixou a porta aberta e voltei para o carro. Fiquei encostado no capô olhando para dentro da casa, mas só conseguia enxergar a escada para o segundo andar. Vi descendo as escadas e vindo para fechar a porta. Ela me olhou surpresa e sorri largamente para ela.
- E aí. – acenei com a cabeça.
- O que você está fazendo aqui? – ela encostou a porta e veio até mim – Como você descobriu onde eu moro?
- Sua irmã. – encolhi os ombros – Nós vamos sair.
- Achei que você fosse do tipo que transava e sumia, não que viesse atrás. – ela me encarou.
- E por que você achou isso?
- Você foi embora naquele dia quase que escondido e você tem uma reputação não muito boa sobre fazer isso.
- Ouch. – coloquei a mão no peito.
- Eu até falaria para você não magoá-la, mas vocês dois são bastante parecidos, então... – ela deu de ombros.
- Você é muito malvada. – falei rindo – Quem partiu seu coração para você ser assim?
- Ninguém partiu meu coração, , eu simplesmente sei como você é e também sei como minha irmã é, simples assim.
- O que você acha de a gente sair e eu te mostrar que eu não sou tão canalha igual você está pensando?
- Você vai sair com a minha irmã e me convida para sair com você sem nem tentar disfarçar.
- Eu chamei você para sair primeiro. – me defendi.
- Você transou com ela minutos depois. – ela deu uma risadinha.
- Mas eu tinha te chamado para sair e você não aceitou...
- E depois você transou com a minha irmã. Qual sua desculpa para isso? – ela cruzou os braços.
- Nenhuma. – suspirei – Mas se você ia ficar com ciúmes, deveria ter aceitado o meu convite ou falado para sua irmã ficar longe de mim.
- Ela tem dezessete anos, ela já sabe o que faz.
- Isso é sério? – perguntei surpreso – Ela tem dezessete?
- O quê? Está com medo de ser acusado de pedofilia? – ela riu.
- Claro que não. – neguei com a cabeça – É só que... – mordi o lábio tentando me segurar para não falar que a irmã dela não parecia ter a idade que tinha levando em conta as coisas que ela sabia fazer na cama.
- Fica tranquilo que não vou contar para minha mãe que a está saindo com um marginal de vinte e dois anos. – ela disse com escárnio.
- O que te faz pensar que eu sou um marginal? – perguntei rindo.
- O que te faz pensar que não é? – ela cruzou os braços e me olhou desafiadora.
- Olha aí, você tem tanta coisa para falar sobre mim, por que a gente não sai e eu passo o dia todo ouvindo você me ofender?
- Qual a graça nisso? – ela fez uma careta e sorri de um jeito bobo.
- Passar um tempo contigo. – dei de ombros.
- Eu não vou transar com você. – ela deu dois passos para trás.
- Eu sou tão irresistível assim que você fica com medo de sair comigo e acabar na cama?
- Caramba, você é muito prepotente, . – ela revirou os olhos.
saiu de dentro da casa saltitando com um shorts curto e blusa de alça fininha. Olhei-a dos pés à cabeça e ouvi bufar.
- O que vocês estão conversando? – ela se apoiou em meu ombro.
- Nada. – resmungou – Vê se não volta tarde, você tem aula amanhã.
- Pode deixar, mamãe. – deu um beijo estalado na bochecha dela e abri a porta para que ela entrasse.
Nós ficamos em silêncio por alguns minutos e notei que ela ficou olhando por todos os cantos do carro com um sorrisinho nos lábios.
- O que foi? – olhei-a rapidamente.
- Gostei do seu carro. Combina com você. – ela passou a mão pelo meu ombro.
- Valeu. – sorri para ela.
Peguei um maço de cigarros no porta-luvas e acendi um sem tirar os olhos da estrada. Passei o maço para ela que acendeu e logo colocou no lugar.
- Para onde você quer ir?
- Qualquer lugar que a gente possa ficar sozinho. – ela disse maliciosa.
Pensei em levá-la para minha casa onde nós poderíamos ficar sozinhos, mas eu não queria que ela soubesse onde eu morava pelo simples fato de algum dia ela acabar aparecendo por lá atrás de mim.
Dirigi até a casa de esperando que ele não estivesse lá e fiquei feliz quando entrei e não o encontrei em nenhum lugar.
- Você mora aqui? – ela olhou ao redor e neguei com a cabeça.
- É a casa do . Ela fica mais perto que a minha. – menti.
Peguei duas garrafas de cerveja na geladeira e caminhei com ela até o quarto dele. Foi impossível não pensar em quantos anos de cadeia eu pegaria se descobrissem que eu tinha transado, estava prestes a dar álcool e drogas para uma menor de idade.
Procurei na gaveta dele por algo, mas encontrei apenas um baseado já na metade. pegou ele da minha mão e se deitou na cama com um sorriso malicioso. O acendi para ela que tragou com vontade e me chamou com o indicador. Abri uma garrafa de cerveja e bebi todo o conteúdo de uma vez, deitando ao lado dela. Segurei seu rosto e aproximei sua boca da minha, puxando para dentro quando ela passou a fumaça para mim. Olhei fundo em seus olhos e me lembrei de conversando comigo.
Ela tirou a blusa e nem me surpreendi ao ver que estava sem sutiã. Peguei o baseado da sua mão e fumei até que só sobrasse a ponta.
Meu pênis chegava a doer de tão duro e ela massageou os próprios seios com um sorriso extremamente malicioso. Tirei toda a minha roupa de um jeito exasperado e puxei o short e a calcinha vermelha dela para baixo.
Estávamos os dois ofegantes e suados, e senti uma enorme vontade de não fazer nada, apenas ficar deitado na cama e aproveitar a sensação boa de gozar duas vezes seguidas. Olhei para ao meu lado e segurei seu rosto com força, beijando-a de um jeito meio selvagem. Ela gemeu quando toquei seu clitóris e mal tive tempo de fazer nada, pois acabamos sendo interrompidos pelo barulho da porta da frente.
Levantei correndo e vesti minha roupa com pressa enquanto ela me olhava sem entender. Joguei as roupas para ela que ainda tinha o mesmo olhar e só começou a se trocar quando ouviu duas batidas na porta.
- ? – ouvi me chamar.
- Já estou indo.
Deixei que ela se trocasse e saí, dando de cara com um sorridente do outro lado.
- Safadinho. – ele passou o braço pelo meu ombro – Quem é ela? Ou ele? Não sei qual sua preferência sexual.
- Vai se foder. – empurrei-o – É a .
- Você queria o número dela para traçar ela de novo? – ele perguntou surpreso e neguei com a cabeça – Então como vocês acabaram aqui?
- Não te interessa. – falei rindo.
- Vou começar a cobrar para fazer minha casa de motel, hein. – ele riu.
Nos sentamos na sala para beber uma cerveja e apareceu como se nada tivesse acontecido. Ela se sentou ao meu lado e pegou a garrafa da minha mão, tomando um longo gole e lambendo os lábios sensualmente. Olhei para e ele olhava para ela perplexo.
- Vamos? – ela perguntou e assenti.
Despedi-me de e dirigimos em um silêncio nada desconfortável até a casa dela. Fiquei feliz por isso, pois eu nunca sabia o que conversar com alguma garota depois de transar com ela.
Parei o carro em frente ao castelo que ela morava e vi sentada no jardim com um livro na mão. Devo ter ficado bastante tempo olhando-a, pois pigarreou e me olhou com um sorrisinho travesso.
- Você está a fim dela?
- Eu? Não. – neguei com a cabeça.
- Você a olha de um jeito bobo. – ela riu.
- Claro que não.
- É sim. – ela sorri – Ela não vai ficar com você, pelo menos não desse jeito.
- Que jeito?
- Eu já te disse, minha irmã é meio careta, . – ela suspirou – Eu e você transamos e pronto, só isso, apenas sexo sem sentimento algum, só prazer, mas ela não é assim. Para ela não existe só sexo e sim amor.
- Mas eu não quero transar com ela. Só quero sair com ela...
- E depois transar com ela. – ela riu.
- Se ela quiser...
- Ela não vai querer. – ela revirou os olhos – Você quer sair com ela porque quer, ou porque ela parece ser um desafio por não ter caído no seu charme?
- Porque... – eu não sabia direito o que responder – Ela é bonita.
- E é diferente de mim. – ela riu – Bem diferente. Quantas garotas como ela você conhece?
- , eu e você estudamos na Buckley, lá tem muitas garotas como ela.
- Tudo bem, mas quantas dessas garotas você é amigo?
- Nenhuma. – mordi o lábio.
- E você acha que vai dar certo entre vocês dois?
- Um relacionamento? Não, mas nós podemos ser amigos.
- Ela não vai querer ser sua amiga. A minha irmã é anti tudo o que eu e você fazemos e gostamos, isso não vai dar certo.
- Por favor, , eu prometo que não vou magoar ela. – fiz biquinho e ela riu.
- Ok, eu não vou te passar o número dela, mas vou te falar onde você pode encontrá-la, mas primeiro você tem que me prometer que não vai magoá-la.
- Eu prometo. – sorri.
- E a gente não vai mais poder transar, então...
- Calma aí, eu e ela vamos só sair como amigos. Qual o problema da gente...
- Eu não vou transar contigo enquanto vocês forem “amigos”. – ela fez aspas com os dedos.
- Mas...
- Se vocês pararem de sair, a gente pode voltar a transar, mas eu não vou fazer isso enquanto vocês dois estiverem tendo uma “amizade”.
- Qual é a das aspas com as mãos? – falei irritado.
- Ela vai acabar gostando de você, , olha para ela. – se virou para a irmã que estava lendo – Ela pode ser minha irmã mais velha, mas ela é uma adolescentezinha que se apaixona fácil.
- Você está me dando motivos para desistir? – arqueei a sobrancelha e ela riu.
- Sim, mas é porque eu estou com medo de você magoar a minha irmã mesmo que sem querer.
- , a minha vida é bem fodida. Eu não tenho capacidade de foder com a vida de alguém.
- Assim eu espero. – ela riu – Tem uma biblioteca perto da UCLA e ela fica por lá durante o almoço para fazer trabalhos da faculdade.
- Tudo bem. – sorri largamente.
- Você não pode falar para ela que eu quem te falei disso, ok?
- Ok.
- Então é isso. – ela suspirou – A gente se vê por aí. – ela segurou meu rosto e me beijou rapidamente.
Ela deu uma piscadela para mim quando desceu do carro e fiquei vendo-a rebolar até sua irmã e depois entrar na casa. finalmente tirou os olhos do livro e olhou para mim com um sorrisinho fraco e depois voltou a ler.

Acordei bem cedo para conseguir estar disposto até a hora do almoço e mesmo assim quase perdi a hora de encontrar na biblioteca. Procurei por ela quase todos os lugares até encontrá-la sentada em uma mesa num canto quase escondido do lugar. Peguei um livro qualquer e me sentei na frente dela que me olhou extremamente surpresa.
- O quê? – ela olhou para os lados e depois para mim – O que você veio fazer aqui?
- Pegar um livro. – ergui o livro na minha mão e ela deu uma risadinha.
- Química orgânica? – ela arqueou a sobrancelha – Pensei que você fosse mais do tipo educação sexual.
- Eu gosto de um pouquinho de tudo. – me recostei na cadeira – O que você está lendo?
- É um livro em inglês arcaico. – ela disse envergonhada.
- Você está gostando?
- Não. – ela riu – Mas vou ter uma prova sobre ele na semana que vêm.
- Quer sair daqui? – falei de repente.
- Oi?
- Vamos sair daqui. Tem algum lugar que você goste aqui perto para comermos algo?
- , eu não sei o que está acontecendo, mas eu não quero sair com você. – ela suspirou – Para nada. Como você sabia que eu estava aqui?
- Eu vi seu carro lá fora. – menti.
- Eu não tenho carro. – ela riu – Foi a , não é?
- Não. – neguei com a cabeça.
- Claro que foi. – ela colocou as coisas que estavam em cima da mesa em sua mochila e se levantou com o livro na mão.
- , espera aí. – segurei seu braço quando ela passou por mim.
- O que você quer comigo? Por que essa perseguição? Você fez sexo com a minha irmã ontem só para saber onde me encontrar? – ela falou baixinho e olhando para os lados.
- Não, eu juro.
- Eu não acredito em você. – ela puxou o braço e saiu andando.
Segui-a pelo corredor e esperei enquanto ela falava com a moça da recepção sobre a retirada do livro. Ela saiu da biblioteca com raiva e segurei seu braço para ela não se afastar.
- Qual o problema de a gente sair para comer algo? – falei magoado.
- Porque eu não quero, , caramba. – ela puxou o braço e voltou a andar.
- Eu não quero nada contigo, , só conversar.
- Tenho certeza que existem muitas outras mulheres por aí que adorariam conversar com você e seu pênis.
- Que droga. – falei irritado.
- Você só está atrás de mim porque eu não quero nada com você, do contrário isso não estaria acontecendo.
- Você está se achando a última bolacha do pacote, não é? – falei rindo – Qual o seu problema comigo?
- Tudo. – ela parou de andar e me encarou com raiva – Você por inteiro.
- Fala para mim, quem partiu seu coração para você ter todo esse rancor?
- Ninguém, , eu simplesmente não quero nada contigo, não dá para entender?
- E quem disse que eu quero alguma coisa com você? – cruzei os braços e ela abriu e fechou a boca incrédula.
Só percebi a idiotice que eu tinha feito quando ela virou as costas para mim e começou a andar. Corri atrás dela e parei na sua frente, andando de um lado para o outro quando ela tentava passar por mim.
- Me desculpa. Por favor, eu não queria ter sido tão idiota assim.
- É da sua natureza ser escroto. – ela disse magoada e baixou a cabeça.
- Eu não tinha intenção, , eu juro, é só que.... Você não acredita em mim, poxa, eu estou sendo sincero contigo. Eu só quero sair e conversar sem segundas intenções.
- Mas eu não quero sair com você, entenda isso. As pessoas vão ver e vão achar que eu sou mais uma idiota na sua mão que você vai usar e depois jogar fora.
- Você não devia ligar para o que as pessoas pensam sobre você.
- Estou trabalhando nisso. – ela murmurou.
- Por que você não acredita em mim? Eu estou sendo sincero com você. Só conversar, sem segundas intenções.
- Você se lembra no ensino médio quando você começou a namorar uma garota que depois mudou de escola?
- Não. – neguei com a cabeça.
- Você namorou uma garota, nós éramos da mesma turma e ela me contou que era virgem. Tempo depois você começou a namorar com ela e transaram porque ela me contou isso.
- Droga. – suspirei.
- Aí você terminou com ela. Não sei se foi você ou algum dos seus amigos idiotas, mas todo mundo ficou sabendo disso e os comentários eram de que você terminou porque já tinha conseguido o que queria.
- Eu não espalhei para todo mundo sobre isso, , eu te juro. – segurei sua mão.
- Não é para mim que você tem que falar isso, é para ela, o que importa é que para mim você sempre foi e sempre será um menininho mimado e irresponsável.
- Mas eu mudei bastante. – falei na defensiva – Isso foi há cinco anos atrás.
- Não me importa. Eu não quero a amizade de alguém como você e esse nem é o maior motivo de todos eles.
- E qual é então? – cruzei os braços.
- Você não presta. – ela cuspiu.
- Queria falar que estou magoadíssimo com a sua declaração. – falei sarcástico e ela revirou os olhos.
- Você é ridículo.
- E você é muito linda quando está me xingando. – sorri para ela.
- Eu não vou sair com você só porque me chamou de linda.
- Calma, eu falei que você é linda quando está me xingando, não que é linda o tempo todo. – falei rindo.
- Muito obrigada, . – ela revirou os olhos.
- , eu te juro. Eu só quero conversar, só quero ser seu amigo sem segundas intenções. Se depois você perceber que não me quer mais por perto, é só falar que eu vou te respeitar e me afastar.
- Por que você não respeita minha decisão agora?
- Porque eu realmente não presto, mas isso não é motivo para você não querer ser minha amiga.
- Nós não podemos ser amigos. – ela suspirou.
- Por quê?
- Eu não sei te explicar, , mas nós...
- Eu te pago um sorvete e você me explica, que tal? – sorri esperançoso e ela bufou.
- Um sorvete e depois você me deixa em paz.
- Então vai ser um sorvete bem grande para eu poder aproveitar.
Guiei-a até meu carro e ficamos em silêncio até uma sorveteria perto do Píer de Santa Monica. Ela não questionou eu ter ido para um lugar que levava vinte minutos para chegar quando poderíamos ter ido a vários lugares perto da faculdade dela.
Corri para abrir a porta para ela e andamos lado a lado até a sorveteria. Peguei o pote maior e escolhi quase todos os sabores de sorvete, enchendo tudo com calda e confeitos.
- Para que tudo isso? – ela disse quando coloquei o pote na frente dela.
- Eu disse que queria aproveitar. – entreguei-a uma colher.
- Tudo bem. – ela suspirou – O que você queria tanto conversar comigo?
- Sei lá. – encolhi os ombros – Qualquer coisa que você quiser. – coloquei na boca um pouco de sorvete de pistache – Esse é horrível. – fiz uma careta e ela deu uma risadinha.
- Você queria conversar, então você tem que ter algo para falar. – ela pegou o sorvete de menta.
- Na verdade eu queria mesmo era te ouvir falar sobre você. – falei envergonhado – Sobre qualquer coisa que você tivesse vontade de falar.
- Por quê?
- A minha vida e a das pessoas ao meu redor são bem fodidas, às vezes é legal saber sobre quem tem uma vida um pouco melhor.
- A sua vida não é fodida. – ela disse de boca cheia – Os seus pais são milionários, você tem onde morar e tem tudo o que você quer. Olha o seu carro, um desses custa muito caro.
- Era do meu avô. – encolhi o ombro – Meus pais são cheios de problemas, . Aquela história de que dinheiro não traz felicidade é real.
- Os meus pais também têm problemas. – ela me encarou – Eles brigam como qualquer outro casal.
- Espero que não pelos mesmos motivos que os meus.
- Na maior parte do tempo é sobre coisas da empresa. – ela deu uma risadinha – Minha mãe largou do meu pai quando eu tinha três anos e eles têm essa empresa juntos, aí eles acharam melhor não vender e por isso ficam brigando.
- E o pai da ?
- Ele é um pintor fracassado segundo minha mãe.
- Por quê?
- Não faço ideia, mas ele é um cara legal.
- E por que eles terminaram?
- Foi logo depois que a nasceu. Ela dizia que não ia ficar sustentando ele se ele não a ajudava a cuidar da .
- E aí ele arrumou outro filho?
- Sim. – ela riu – É uma grande bagunça. E os seus pais?
- Eu não gosto de falar deles. – fiz careta e ela assentiu.
- Foi por isso que você saiu de casa?
- Como?
- Sua mãe e a minha são amigas. Ela contou para a minha quando você saiu de casa, mas não disse o porquê.
- Foi por causa dela na verdade, mas...
- Não precisa me contar. – ela sorriu carinhosa – Desculpa estar sendo uma chata com você. – ela suspirou – É só que... isso não vai dar certo.
- Como não? Eu não vou fazer nada que você não queira, .
- , você não entende.
- Então me explica. – apoiei os cotovelos na mesa e a encarei.
- Nós somos diferentes.
- Depende do ponto de vista.
- Você gosta e faz coisas que eu abomino, e eu faço coisas das quais você jamais teria interesse. Nós não temos uma única coisa em comum.
- Nós gostamos de sorvete. – sorri para ela e suas bochechas coraram.
- E se... e se um dos dois se envolver demais? – ela disse envergonhada.
- , nós vamos ser só amigos. Eu não tenho ninguém para conversar sobre coisas que eu gosto, geralmente as garotas vêm com segundas intenções...
- Como se com você não fosse o mesmo. – ela deu uma risadinha.
- Não com você. – confessei – Eu te acho muito bonita, de verdade, mas eu sei que você é boa demais para mim, e eu não tenho segundas intenções por causa disso e como você também não tem e pelo visto nunca vai ter – encolhi os ombros – Acho que vai ser uma boa.
- Tudo bem. – ela suspirou – Mas se um dos dois ficar... você sabe...
- Apaixonado? – perguntei com um sorriso no rosto – A gente se afasta sem falar nada, tudo bem para você?
- Sim.
- Então é bom você não se afastar de mim, porque senão eu vou começar a achar que você me ama.
- Eu não falaria para você se esse fosse o motivo. – ela revirou os olhos.
- Por que não? – sorri de lado – Eu não sou tão ruim para os olhos assim.
- Seria muito vergonhoso para mim ficar apaixonada por você.
- Eu sou tão ruim assim? – falei rindo – Eu sou bonitinho. Você deveria reconsiderar se apaixonar por mim.
- Cala a boca. – ela enfiou uma colherada de sorvete na minha boca.
Terminamos de comer o sorvete e a levei para casa sem nem insistir para irmos a outro lugar. Fiquei fazendo perguntas para ela sobre seu livro de inglês arcaico durante o caminho e mal tinha percebido que já estávamos na rua dela.
Desci correndo para abrir a porta para ela e quando ela desceu um Porsche preto entrou na garagem. Uma mulher muito parecida com e desceu do carro usando um par de saltos extremamente altos e fiquei imaginando como ela conseguia andar e principalmente dirigir com aquilo. Eu já a tinha visto algumas poucas vezes em casa e tentei me lembrar do quão amiga da minha mãe ela era.
- , achei que você já estivesse em casa. – ela disse carinhosa e veio até nós.
- Eu fui até o píer depois da faculdade.
- Se divertiu? – ela acariciou a bochecha de e ela assentiu – Eu conheço você. – ela analisou meu rosto por alguns segundos – Você é o filho da Abigail e . – ela sorriu para mim.
Assenti calado com um pouco de raiva ao ouvir o nome dos dois e principalmente pelas pessoas me reconhecerem por causa deles.
- Prazer, Marion . – ela estendeu a mão para mim e a cumprimentei.
- Prazer conhecê-la. – sorri.
- Vocês não querem entrar? Eu faço algo para vocês comerem...
- Não, mãe. – suspirou – precisa ir e eu tenho dois trabalhos para terminar.
- Tudo bem, tudo bem. – ela sorriu – Mande lembranças aos seus pais, . – ela disse antes de se virar e ir em direção a casa.
esperou até que sua mãe fechasse a porta para olhar para mim novamente e suas bochechas estavam coradas.
- Você está com vergonha de ser vista comigo? – provoquei.
- Ela vai falar para o meu pai. – ela encostou as costas no carro.
- Qual o problema? Nós somos só amigos.
- Eles ficam me enchendo o saco porque eu não saio muito com pessoas que não sejam da faculdade.
- Isso é ruim?
- Para mim é. Ele vai adorar saber que eu tenho um amigo que não fica falando o tempo todo de faculdade e coisas do tipo.
- Você se referiu a mim como seu amigo. – falei com um sorriso enorme no rosto – Eu vou embora antes que você mude de ideia.
- Ótimo. – ela sorriu aliviada.
- Eu posso te ligar?
- Não sei, . – ela colocou o cabelo atrás da orelha.
- E como eu vou fazer para falar com você? – insisti.
- Você pode ligar para a minha irmã. – ela encolheu os ombros.
- Sério mesmo que você prefere usar o celular da sua irmã a me passar seu número?
- Sim. Agora eu preciso entrar. – ela ajeitou a mochila nas costas.
- Tudo bem. – suspirei derrotado – A gente se vê.
Esperei até que ela entrasse na casa para ir até o carro. Qual era o problema dela me passar o número do celular? Não era como se eu fosse ficar ligando para ela toda hora, apenas algumas poucas vezes para saber como tinha sido seu dia ou como ela estava.

Nós conversamos algumas vezes no decorrer dos dias, sempre pelo celular de e comecei a me perguntar quando ela iria se irritar por eu ser obrigado a conversar com por intermédio dela. Tentei chamá-la para sairmos, mas ela insistia que estava muito ocupada e que não podia.
Já estava ficando praticamente surdo por conta da música alta, mas era bem melhor do que ficar ouvindo a garota na minha frente reclamar sobre o calor que estava fazendo na festa. Tinha até parado de contar quanto eu tinha bebido e fumado naquela noite, e tinha certeza de que eu ou não conseguiríamos ir embora dirigindo o carro dele desse jeito.
Menti para a garota sobre estar indo pegar mais uma cerveja e fui para o jardim na entrada da casa onde o que mais tinha era gente vomitando.
Um carro preto parou no meio da rua e três pessoas desceram dele, se despedindo do motorista. Olhei para eles e vi com os cabelos voando e um braço por cima do ombro de seu irmão Alex e o outro na cintura de . Ela abriu um largo sorriso quando me viu e depois puxou a irmã até mim.
- Olha quem está aqui. – ela disse rindo como se já estivesse bêbada – .
- E aí? – acenei para ela com a cabeça.
- Tinha certeza que você ia estar aqui. Eu vou entrar, , vem comigo, Alex. – ela segurou a mão de seu irmão e andou em direção à entrada da casa.
- Tudo bem? – cocei a nuca e ela assentiu – O que você está fazendo aqui?
- Ela me obrigou, acredita? – ela deu uma risadinha – Ela falou para a minha mãe que você ia estar aqui e aí minha mãe disse que eu devia vir porque eu não ia ficar sozinha. Até parece. – ela revirou os olhos.
- Para de ser chata. – segurei seu ombro direito – Vamos entrar, eu te faço companhia.
- Você não tem que ficar comigo, , a quem me arrastou até aqui.
- Ok, então vamos encontrar a . – passei o braço pelo seu pescoço e trouxe seu corpo para perto do meu – Que cheiro bom. É seu cabelo. – aproximei o rosto do cabelo dela e respirei fundo.
- Para com isso. – ela riu – Você está cheirando a bebida e tabaco.
- Eu sou um fumante, o cheiro do tabaco faz parte de mim. – beijei sua têmpora.
- Você está bêbado? – ela perguntou preocupada e neguei freneticamente com a cabeça – Você veio dirigindo?
- Não, vim com o . – falei rindo.
- E cadê ele? – ela olhou para os lados quando entramos.
- Não tenho a menor ideia. – fiz bico – Quer beber alguma coisa? Vem, eu pego para você.
Entrelacei minha mão na dela e fomos passando por entre as pessoas até chegar à cozinha onde estavam as bebidas. Peguei dois copos plásticos e apertei a válvula do barril de cerveja até encher totalmente os copos. Entreguei para ela que sorriu amarelo para mim, mas não bebeu.
- Que foi? Você não gosta de cerveja? – bebi um pouco da minha.
- Eu não posso beber, , tenho que ficar de olho no Alex e na .
- Relaxa, , você não vai ficar bêbada e eles são grandinhos suficientes para se cuidarem sozinhos. Tenho certeza que a sua irmã não te arrastou até aqui para ser babá dela. – bebi mais um pouco e ela ficou me olhando.
- Vou procurar eles. – ela me entregou o copo – A gente se vê por ai. – ela sorriu triste e se enfiou no meio das pessoas.
Virei o conteúdo dos dois copos e entrei na massa de gente atrás dela. Comecei a ficar agonizado por não a encontrar e uma sensação ruim começou a tomar conta de mim. Procurei-a por todos os lados e não a encontrei só fazendo com que as coisas na minha cabeça piorassem.
Acabei achando beijando um garoto, mas nenhum sinal de .
- Cadê sua irmã? – falei ríspido e ela deu uma risadinha meio bêbada. Ela estava ali não fazia nem vinte minutos, como ela já podia estar assim?
- Ela foi embora. – ela gaguejou – Ela disse que não era minha babá e foi embora. – ela fez bico.
- Sozinha? – ela assentiu e virou as costas para mim, voltando sua atenção para o garoto.
Fui empurrando as pessoas da minha frente até conseguir sair da casa e encontrei em pé na calçada conversando com um cara alto. Andei até eles e o olhei dos pés à cabeça esperando que ele sumisse dali.
- Você conhece esse cara? – perguntei.
- Ele é irmão de uma amiga minha. – ela sorriu para ele.
- Você é? – ele olhou para mim do mesmo jeito superior que eu o tinha olhado.
- Não é da sua conta. – rosnei – A falou que você está indo embora.
- Sim. – ela colocou o cabelo atrás da orelha.
- Eu te levo.
- Não precisa, , pode voltar.
- Deixa disso, , eu levo você, relaxa.
- , eu não quero. – ela disse irritada – Você está bêbado, é mais fácil eu te levar embora do que o contrário.
- Eu não vou te deixar andar por aí sozinha...
- Cara, ela disse que não quer. – ele se colocou na minha frente e ficamos cara a cara.
- Por que você não fica na sua? – dei um passo para frente e ele não pareceu nem um pouco abalado.
- Respeita a garota, ela não quer sua ajuda.
- Você já deu tempo demais aqui. Por que não entra para festa ou se manda?
- . – ela segurou meu braço com força.
- De onde surgiu esse babaca, ? – ele falou rindo.
- Eu vou te mostrar quem é o babaca. – empurrei ele para trás e dei um soco em seu maxilar.
Os gritos de para que nós dois parássemos de nos socar parecia estar extremamente longe, como se fosse apenas uma vozinha do meu subconsciente. Pelo canto do olho pude ver as pessoas se aglomerarem e eu sentia como se pudesse acabar com ele mesmo eu sendo alguns centímetros mais baixo.
Alguém me puxou de cima dele jogando-me no chão e quando fui tentar ir para cima da pessoa percebi que era . Ele correu para cima do idiota que já tinha se levantado e estava vindo para cima de mim e começou a falar algo para ele que olhou rapidamente para e eu e depois entrou na casa com raiva.
O aglomerado foi se dissipando até que ficamos apenas nós três no jardim. Olhei para que estava com os olhos marejados e uma expressão de decepção para mim, enquanto me olhava meio vitorioso. Ele estendeu a mão para mim e me levantei como se tivesse acabado de ganhar uma luta de boxe.
- Você é um idiota. – ela deu um soco em meu peito – Um completo idiota, mas não mais do que eu que deixei você se aproximar de mim.
- Vai falar que você não percebeu o jeito que aquele imbecil estava olhando para mim? Quem ele estava achando que era? – falei exasperado.
- Ele é irmão da minha amiga, eu o conheço. Você não tinha direito algum de fazer aquilo. – ela me empurrou – Você é um idiota, .
- Foi mal, . – suspirei.
- Não foi mal, foi péssimo. – ela gritou – Eu não devia ter aceitado toda essa idiotice que você propôs de sermos amigos.
- Eu já pedi desculpas...
- Falar “foi mal” não é pedir desculpas, . – ela limpou os olhos – Não dá para sermos amigos. Eu não quero mais te ver, entendeu? Foi ridículo e totalmente desnecessário isso que você fez.
- Desculpa, caramba.
- Eu não quero a porcaria do seu pedido de desculpas. – ela choramingou – Eu não quero mais ver você na minha frente. Fica longe de mim e da minha irmã.
Ela começou a caminhar e eu andei atrás dela e segurei seu braço com força. Ela me olhou em um misto de incredulidade e ódio, fazendo-me soltá-la no exato momento.
- Você vai embora sozinha? É perigoso.
- Qualquer coisa que possa me acontecer na rua é melhor do que ficar perto de você. – ela disse com nojo – Eu não sei nem se sinto ódio de você, . Para falar a verdade eu acho que sinto é pena de como você está estragando a sua vida.
Permaneci no mesmo lugar enquanto ela caminhava apressada para longe. Senti um tapinha nas minhas costas e passou o braço pelo meus ombros, guiando-me para dentro da casa novamente.
Era como se eu estivesse no piloto automático, bebendo tudo o que eu via pela frente e aceitando qualquer coisa que as pessoas me davam. Eu já estava tão alto que nem mesmo senti a ardência no nariz quando puxei uma carreira de cocaína na barriga de uma garota.
Tive flashes de ter transado com essa mesma garota no banheiro enquanto cheiramos mais um pouco, mas foi apenas isso e logo depois eu já estava no chão do meu apartamento deitado ao lado do meu próprio vômito.
Eu não fazia ideia de nada que tinha acontecido na noite passada e principalmente de como tinha chegado em casa.
Tomei um susto quando entrei no banheiro para tomar um banho e vi meu reflexo no espelho. Embaixo do meu olho estava um pouco roxo como se eu tivesse tomado um soco enquanto meu lábio tinha um corte. Meu nariz estava vermelho e entupido, ardendo como nunca antes e notei um pouco de sangue seco misturado com um pó branco saindo dele.
Fiquei embaixo do chuveiro por vários minutos tentando entender o que tinha acontecido e como eu tinha acabado com aquela cara machucada.
Comi qualquer porcaria que encontrei na geladeira e senti falta de Catalina e seu café da manhã para ressaca quando minha cabeça começou a latejar de dor. Procurei por algum analgésico, mas eu não tinha nada, nem mesmo um kit de primeiros socorros.
Peguei meu celular para ligar para atrás de saber o que tinha acontecido e encontrei várias mensagens não lidas de .
“Você prometeu que não ia magoá-la e o que você fez? Foi lá e a magoou”.
“Nunca mais chegue perto da minha irmã, seu ogro selvagem”.
“Não quero você perto dela nem mesmo para pedir desculpas por causa de ontem”.
“Segue a sua merdinha de vida desgraçada e deixa a minha irmã em paz”.
“Ainda não consigo entender como você teve coragem de fazer isso com ela”.
“Estou arrependida até o último fio de cabelo por ter te ajudado a falar com ela”.
“Estou com nojo de mim mesma por ter transado com um mau caráter como você. Você deveria sentir vergonha do que fez”.
“Se eu souber que você tentou se aproximar da minha irmã eu vou contar para os seus pais e chamar a polícia para você, seu bostinha”.
As coisas tinham ficado ainda mais confusas depois daquilo. Eu não me lembrava de nada sobre a noite passada, apenas que fui a uma festa com o e só.
Forcei minha cabeça a tentar lembrar o que eu tinha feito que pudesse ter magoado , mas nada surgia. Talvez eu tivesse a beijado e ela se sentiu ofendida, ou tentei transar com ela a força e ela me bateu resultando no olho roxo e o corte no lábio, porém não tinha como explicar o nariz sangrando com pó branco que era obviamente cocaína.
Disquei o número de duas vezes e foi direto para a caixa postal. Tentei o número de e ele só atendeu na quarta vez com uma voz sonolenta.
- Que foi? É uma da tarde, caralho, eu estava dormindo.
- O que aconteceu noite passada? – perguntei exasperado.
- Como assim?
- A me mandou várias mensagens me xingando, eu acordei no meio do meu vômito com um olho roxo e a boca cortada. Eu não me lembro de nada da noite passada e agora a está magoada comigo e nem sei o porquê.
- Caralho. – ele disse rindo – É a primeira vez que você tem um apagão?
- O quê? Não, só que eu nunca acordei desse jeito e ainda mais com duas minas putas comigo.
- Você brigou com um zé mané ontem por causa da . – ele gargalhou – Nem sei o que aconteceu, só encontrei vocês dois se batendo no chão, ai depois ela te xingou bastante e falou para você sumir da vida dela.
- Você está brincando comigo. – esfreguei o rosto com força.
- Depois você cheirou um pouco e trepou com uma morena muito linda que eu estava dando em cima a noite toda.
- Foda-se essa parte, . – gritei – Quem era esse cara? O que ele tinha feito para ela?
- Eu não sei quem era ele, mas você deveria estar se perguntando como consertar essa merda toda que você se meteu.
- Eu já liguei para ela, mas ela não me atende. – suspirei.
- Você sabe onde é a casa dela, vai lá.
- A disse que se eu chegar perto da ela vai chamar a polícia para mim.
- Qual é, não foi tão grave assim. – ele falou com desdém – O cara depois estava lá curtindo a festa.
- Liga para ela por mim, , fala que eu quero conversar com ela...
- Não, , foi mal, mas eu não vou fazer isso.
- Eu sou seu melhor amigo, porra.
- Por isso mesmo que eu não vou ligar. Porque você não ficou com a que era uma coisa mais fácil? Não, você quis um desafio e se meteu com a irmã dela.
- Eu não quis porcaria nenhuma de desafio...
- Então porque você foi atrás dessa ? Você tinha dito que a mina não te beijou no quarto, recusou sair contigo e você ainda teve que implorar para ela ir tomar a porra de um sorvete com você, . Você não conseguiu aceitar que ela não ia ficar contigo e resolveu fazer de tudo para conseguir o que queria e agora deu merda.
- Vai se foder, . – rosnei.
- Você devia ter se contentado com o que você podia segurar e não tentar o impossível.
- Eu não tinha porra de segundas intenções com ela, seu babaca.
- Então você queria ser amiguinho dela? Tomar sorvetinho na praia e falar sobre como vocês estudaram em uma escola particular para filhos de ricaços e reclamar que a vida perfeita de vocês é uma porcaria?
- Talvez fosse isso que eu quisesse, qual o problema nisso?
- O problema é que você não sabe lidar com essas coisas, . Você nunca teve uma amiga que você não fodeu ela e com ela.
- Esse é o problema, . Eu estou cansado de acabar com meu pau em alguma garota, eu achei que podia ser amigo dela, foi só isso.
- Infelizmente você não conseguiu, garanhão, agora lide com as consequências dos seus atos, porque pelo menos isso você consegue.
- Eu não vou conseguir viver sabendo que ela está brava comigo porque eu fui um idiota.
- Pensa que isso é para o seu bem, .
- E como isso seria para o meu bem?
- Um dos dois ia acabar se apaixonando e de qualquer forma essa garota ia sair muito mais magoada disso tudo, porque você é um galinha, cara. – ele riu.
- Eu não vou me apaixonar por ela, .
- Acredito em você meu amigo, de verdade, mas você acredita em si mesmo? Quem garante que essa mina já não está apaixonada por você e ficou toda brava assim porque percebeu que não vai dar certo entre vocês dois por que você é um babaca?
Desliguei o telefone na cara dele sem nem me preocupar em mandá-lo para a puta que pariu. O grande problema do é ser impossível falar de algo sério sem que ele começasse a bancar o filósofo achando que sabe de coisas que eu não.
Coloquei apenas uma calça e camiseta e desci as escadas para a garagem sem nem esperar pelo elevador. Eu não sabia se ainda estaria na biblioteca, mas eu não poderia arriscar ir na casa dela e ter me ameaçando.
Estacionei a moto de qualquer jeito em frente ao prédio e entrei exasperado no lugar olhando por todos os corredores e mesas atrás dela. Perguntei se alguém a tinha visto, mas eles disseram que ela não tinha aparecido por lá. Meu peito começou a se apertar e doer, fazendo com que uma sensação ruim de perda tomasse conta de mim.
Caminhei derrotado até a saída e vi-a entrando com alguns livros no braço e uma cara de cansada. Ela deu um pulinho quando me viu parado na frente dela e passou direto por mim sem falar nada. Segui-a pelos corredores até a mesa que eu a tinha encontrado dias atrás e quando fui me sentar ela puxou a cadeira com os pés e a segurou.
- ... – abaixei-me ao seu lado – Eu sinto muito por ontem...
Olhei para o seu rosto em busca de algo, mas ela estava impassível. Era como se eu nem estivesse ali.
- Eu devia estar fora de mim ontem, não me lembra de praticamente nada da noite passada. – falei triste – Eu te juro que eu não tinha a intenção de te magoar.
- Você não me magoou, , só me fez ter asco de você. – ela disse rígida – Agora será que você pode sair daqui? Não sei você, mas eu tenho mais o que fazer. – ela disse e voltou sua atenção para o livro.
- Eu sinto muito mesmo, , eu te juro. – suspirei.
- Lembra que no outro dia que você veio aqui e insistiu para sairmos? Você disse que se depois de sair com você eu percebesse que não te queria mais perto era só eu falar que você respeitaria minha decisão...
- , por favor, não faz...
- Não quero mais você perto de mim.
- Eu juro que ontem à noite nunca mais vai se repetir.
- Eu sou uma pessoa cautelosa, é melhor fazer isso agora do que te perdoar e você fazer aquela idiotice de ontem novamente. – ela disse magoada – Você me tratou ontem como se eu fosse sua propriedade e não pudesse trocar meia dúzia de palavras com algum outro homem que não fosse você. Aquele era irmão de uma amiga minha, eu conheço ele há anos e você me fez passar a maior vergonha simplesmente porque você é um imbecil drogado que acha que ninguém pode olhar torto para você.
Aquilo foi como um tiro no meu peito. Então ela achava isso, ela achava que eu era um imbecil drogado. Aquele fato nunca me ocorreu nem mesmo quando as pessoas da minha família falavam, mas saindo da boca de parecia realmente algo.
Levantei-me mais derrotado do que nunca e fui embora. Olhei algumas vezes para trás, mas ela estava concentrada em seu livro como se eu nem tivesse estado ali segundos atrás.
Subi na minha moto e dirigi até um lugar que fazia anos que eu mal passava perto. Um sentimento de nostalgia me abateu quando vi os alunos da Buckley saindo do enorme prédio todos vestidos em seus uniformes vermelho e azul marinho. A maioria entrou nos carros chiques estacionados enquanto outros continuaram seus caminhos a pé.
Procurei por entre os alunos e vi ela rindo com duas garotas que tinham estado na festa que ela deu. Uma delas disse algo e olhou em minha direção com uma expressão de raiva. Ela se despediu das amigas e veio até mim.
- O que você está fazendo aqui? – ela rosnou.
- Preciso falar com você. – baguncei os cabelos frustrado.
- Não tenho nada para falar com você, pode ir embora. – ela se virou e segurei seu braço – Me solta agora ou eu vou gritar. – ela disse entredentes e continuei segurando-a.
- Eu não tenho medo. – dei de ombros – Você é a única pessoa que pode fazer sua irmã voltar a falar comigo.
- Porque eu faria isso? Você é um idiota e brigou com um colega dela sem motivo algum.
- Eu gosto da sua irmã. – confessei – Gosto de saber que eu tenho alguém como ela por perto quando toda a merda que acontece na minha vida desaba.
- Talvez seja melhor você começar a procurar outra amiguinha, porque minha irmã quer distância de você.
- Eu sei. – suspirei – Ela disse isso na minha cara agora de pouco.
- Eu falei para você não chegar mais perto dela. – ela veio para cima de mim e a segurei com mais força.
Trocamos um olhar raivoso e quando eu abri a boca para falar algo, vi a diretora da escola se aproximando de nós dois.
- Ora, ora, quem diria que estaria de volta na Buckley. – ela sorriu com escárnio – Sentiu saudades dos seus anos aqui?
- Nem um pouco. – sorri cínico.
- É engraçado você estar por aqui já que fez de tudo para sair daqui a qualquer custo. – ela colocou as mãos na cintura e alargou o sorriso.
ficou olhando nós dois trocarmos olhares e me olhou com uma cara confusa sem entender.
- Sobe aí. – falei para assim que subi.
- ... – ela sussurrou olhando para a mulher na nossa frente.
- Seus pais vão adorar saber que você está metida com um delinquente desses, senhorita . – ela olhou para que estava acuada.
- Sua filha não me achava tão delinquente assim, diretora. – falei malicioso e ela me olhou com ódio – Vamos logo, .
- Pois fique sabendo que ela está muito bem agora com um moço muito melhor que você, . – ela rosnou.
- Eu não acho que sua filha me achava tão ruim assim. – falei rindo – Eu lembro muito bem dela falando o quão maravilhoso eu era no que fazia com ela. – provoquei-a.
- Vai embora daqui, , agora. – ela disse irada.
- Vamos, . Tem certas pessoas que não gostam de ouvir a verdade sobre sua preciosa filha que tem uma quedinha por delinquentes.
olhou para nós dois antes de colocar a mochila nas costas e subir na moto. Passei seus braços pela minha cintura e olhei para a mulher raivosa na minha frente.
- Os seus pais vão ter conhecimento disso, senhorita .
- Enquanto você fala isso para eles. – liguei a moto – Aproveita e manda um beijo para a Heather. Ela sabe bem onde. – falei malicioso.
O rosto dela ficou vermelho como se pudesse explodir e apertei os braços de em volta de mim antes de acelerar. Seus braços me seguraram com força durante todo o caminho e podia sentir seu rosto contra as minhas costas.
Quando parei em frente à sua casa ela desceu com agilidade e olhou para mim curiosa.
- O que foi aquilo?
- Nada. – dei de ombros.
- Você e a filha dela já...
- Sim. Várias e várias vezes. – falei rindo – Nem todo mundo é igual sua mãe que fica feliz por estar perto das garotinhas dela.
- Minha mãe acha que você é um bom garoto. – ela revirou os olhos – Ela disse isso naquele dia que você trouxe a para casa.
Mordi o lábio sem saber o que responder para ela. Eu realmente costumava ser um bom garoto. Ia para a escola direitinho, sempre com notas muito boas, fazia parte do time de futebol da escola e tantas outras coisas que era esperado que o filho de Abigail e fizesse.
- Você não é um bom garoto, . – suspirou – Você está extremamente longe de ser isso.
- Eu sei. – respirei fundo – Eu sou um imbecil nascido em berço de ouro, mas fui sincero quando disse que sentia muito sobre ontem.
- Tudo bem. – ela deu de ombros – Eu vou falar para ela isso.
- , eu não quero que você apenas fale isso, eu quero que ela... que ela me perdoe.
- Eu não posso obrigar a minha irmã a perdoar suas atitudes, . – ela colocou as mãos na cintura – Ninguém pode fazer ela te perdoar, isso é uma coisa que ela tem que fazer sozinha.
- E quanto tempo vai demorar? – suspirei.
- Você não está acostumado a fazer merda e esperar o perdão das pessoas, não é? – ela arqueou uma sobrancelha e eu assenti – Isso leva tempo, . Você a deixou bastante magoada.
- O que eu posso fazer para acelerar esse processo? – baguncei os cabelos, frustrado.
- Nada. – ela encolheu os ombros – Não tem nada o que você possa fazer a não ser esperar.
- E se ela não me perdoar?
- Aí o problema é seu, não meu. Quem fez merda foi você. Lide com as consequências. – ela disse antes de dar as costas e caminhar para dentro da casa.
- Diz para ela que eu sinto muito mesmo, , por favor. – gritei – E que eu vou respeitar a decisão dela de não me aproximar mais. – falei derrotado.
Ela apenas assentiu e entrou. Permaneci parado lá por alguns minutos até acordar do meu rápido transe.
Era estranho aquilo, estranho estar implorando pelo perdão de uma pessoa, principalmente de uma garota que eu conhecia há poucos dias, mas eu gostava de saber que dentre todas as merdas da minha vida, ela era uma coisa boa no meio disso tudo.

Eu não sabia explicar o porquê, mas saber que ainda não tinha me perdoado estava me consumindo vivo. Minhas visitas à biblioteca se tornaram algo constante. Eu pegava um livro qualquer e me sentava em uma mesa perto dela apenas folheando as páginas esperando que ela falasse comigo, mas ela nem olhava para mim. Fiquei com receio de que ela parasse de frequentar o lugar por minha causa, mas ela não parou, apenas fingia que eu não existia.
Depois subi um pouco meu nível de stalkeamento e comecei a ficar parado em frente à faculdade dela esperando-a sair, sempre sem falar nada, apenas esperando que ela dissesse que me perdoou ou que era para eu sumir.
Era errado o que eu estava fazendo, afinal, ela pediu para que eu me afastasse e eu disse que ia respeitar, mas eu não conseguia mais viver com aquele sentimento de que eu tinha fodido à única coisa boa que eu tinha conquistado em anos.
Encontrei em várias festas, mas ela também não falava comigo e quando eu perguntava sobre ela apenas dizia que sua irmã estava bem, nunca falava se ela já tinha me perdoado.
Um mês depois comecei a sentir falta de alguém que eu tive na minha vida por pouquíssimo tempo. Sentia falta de ouvir a voz dela e de ouvi-la falar sobre como estava cheia de coisas da faculdade para fazer. Também sentia falta de quando ela perguntava sobre mim, se eu estava bem e o que eu estava fazendo.
A maior parte do nosso curto relacionamento foi tudo por telefone e eu sentia uma falta maldita daquilo tudo. A pior parte era que a culpa era minha e não havia nada que eu pudesse fazer para consertar, talvez tudo o que eu estivesse fazendo naquelas semanas só estaria piorando a minha situação.
Todo o dinheiro que meu pai tinha me dado nos últimos dias foi gasto em bebidas e drogas. Bebi mais do que aguentei e deixei meu banheiro com um cheiro permanente de vômito, todas as minhas notas de dinheiro tinham um pouco de pó branco que eu não limpava, e a mesa de centro estava repleta de restos de cocaína e maconha, sem contar as marcas de garrafa.
Eu não deixava mais que Catalina entrasse na casa para limpar e pegava as compras no corredor quando ela vinha. Meu pai começou a aparecer para saber se eu estava bem, mas eu falava com ele através da porta sem deixá-lo me ver.
Não tinha dúvidas de que minha aparência estava um lixo, mas eu não ia fazer nada para mudar, pois esse era o único jeito que eu tinha para conseguir esquecer , meus pais e todos os problemas que os dois tinham trazido na minha vida.
ter me afastado foi só o estopim para que eu começasse a fazer tudo aquilo.
Olhei no celular e vi que meus pais não estariam em casa naquela hora então dirigi até lá. Rezei durante todo o caminho para que Catalina também não estivesse e assim eu poderia entrar e sair sem ninguém me ver.
Abri a porta bem devagar e entrei, quando estava passando pela sala senti a presença de alguém no cômodo. Meus pais e Catalina estavam sentados no sofá vendo algo no notebook que minha mãe segurava. A expressão no rosto dela era de horror, como se ali não fosse o filho dela e sim um desconhecido qualquer que tinha invadido sua casa.
Senti a uma ânsia de vômito enorme quando meu pai começou a chorar e tentei segurar, mas eu estava imóvel. Não conseguia andar ou parar de olhar para eles e logo senti o gosto amargo do vômito chegando. Esforcei meu cérebro ao máximo que pude e corri para o banheiro, vomitando tudo o que eu tinha comido nos últimos dias.
Ouvi os passos deles atrás de mim e senti uma mão acariciando minhas costas. Minha cabeça rodava e eu não conseguia mais parar. Podia ouvir minha mãe chorando atrás de mim e pelo canto do olho vi que era meu pai que estava ao meu lado.
Ele me encostou-à parede quando finalmente consegui parar e ficou olhando para mim com os olhos vermelhos.
- Você está melhor? – ele perguntou calmo e eu assenti – Quer vomitar mais? – neguei com a cabeça.
- , meu amor. – minha mãe se abaixou ao meu lado e tentou me abraçar, mas meu pai a afastou.
- Vai fazer algo para ele beber. – ele disse irritado.
- Catalina...
- Não. – ele gritou – Você vai, você é a mãe dele, essa é sua obrigação.
- ... – ela disse chorosa.
- Agora, Abigail. – ele gritou muito mais alto e ela saiu correndo – Vai ficar tudo bem. – ele tirou meus cabelos que estavam colados na testa – Você vai ficar bem.
Ele passou um braço por debaixo da minha axila e me levantou com força, guiando-me para baixo do chuveiro. Ele me ajudou a tirar toda a minha roupa e ligou o chuveiro na água morna e me segurou enquanto eu deixava a água escorrer por mim.
Catalina o ajudou a me enrolar na toalha e ele me levou para o meu quarto. Deitei-me na cama em posição fetal sem nem me enxugar e ela colocou uma coberta em cima de mim. Meu pai se sentou ao meu lado e ficou acariciando meus cabelos por um tempo.
- Nos deixe a sós, por favor. – ele falou para Catalina que apenas assentiu e saiu.
Trocamos um olhar intenso e ele respirou fundo algumas vezes.
- ... o que aconteceu com você?
- Eu não sei. – murmurei.
- Vêm para casa, filho, sua mãe e eu vamos cuidar de você...
- Eu não vou e você sabe o porquê. – falei ríspido – Eu nem devia ter vindo aqui. – me levantei e fui até o guarda-roupa.
- Aqui é sua casa...
- Esse lugar deixou de ser a minha casa faz muito tempo.
Peguei algumas roupas no armário e me vesti com pressa. Eram o mesmo tipo de roupas que eu tinha no meu apartamento, mas elas pareciam bem melhores. Lavadas direito, passada e dobradas, enquanto as outras eram lavadas de qualquer jeito em uma lavanderia e eu apenas as jogava dentro do guarda-roupa.
Ele me segurou quando abri a porta do quarto e me abraçou com força, chorando e soluçando feito uma criança.
- Não vai embora, , por favor, filho. – ele me apertou – Fica aqui com a gente, pelo menos por hoje, eu te imploro.
- Não, . – o afastei.
- Filho, por favor, faça isso por mim.
Ele se ajoelhou na minha frente e senti uma pontada no peito. Ele tinha feito exatamente isso quando peguei minhas coisas e fui embora.
- Eu estou te implorando, , por favor, fica. Eu vou cuidar de você. Eu prometo. Você não precisa sair do quarto se não quiser. – ele choramingou – Por favor, só por hoje e amanhã você pode ir embora se quiser. Eu sinto a sua falta.
- ... – suspirei – Que droga. – dei um soco na parede – Eu vou ficar, mas eu vou embora amanhã.
- Obrigado, filho. – ele se levantou e me abraçou com força – Muito obrigado.
- Se ela começar a falar as asneiras dela eu vou embora, entendeu?
- Sim, sim. Ela não vai. Eu prometo. – ele acariciou meu rosto – Eu te amo, filho, eu te amo. Eu sinto muito por tudo.
Nós fomos juntos para a sala e quando olhei para a cozinha vi minha mãe colocando umas coisas em um prato. Era ridículo vê-la cozinhar, era como ver uma criancinha de sete anos tentar e até mesmo a criança era melhor.
Ela caminhou até mim e colocou um prato de panquecas com mel e uma garrafa de Gatorade em cima da mesa de centro.
- ... – ela se sentou ao meu lado e me olhou triste.
- Deixa ele, Abigail. – meu pai suspirou.
- Você está bem, filho? – ela colocou a mão no meu ombro e eu me afastei.
- Eu pedi para você deixar ele em paz, caramba. – meu pai disse irritado – Ele vai ficar aqui hoje, mas só se você deixar ele quieto, então, por favor.
- Tudo bem. – ela disse chorosa – Você quer mais alguma coisa?
- Não. – murmurei.
Coloquei na boca um pedaço de panquecas e achei que ia vomitar novamente. Minha mãe tinha conseguido estragar uma das receitas mais fáceis do mundo. Empurrei o prato para o lado e bebi todo o Gatorade enquanto ela ficava me olhando esperançosa.
- Não quer panquecas? – ela se levantou – Quer que eu faça outra coisa? Um lanche ou uma sopa.
- Não. – suspirei – Eu estou bem.
Ela pegou o prato com a garrafa vazia e foi para a cozinha olhando para trás a todo o momento.
- Ela tentou me envenenar. – dei uma risada fraca.
- Sua mãe não sabe cozinhar, filho, pelo menos ela tentou. – meu pai me deu um tapinha no ombro.
- Estava horrível.
- Acho que agora ela sabe. – ele apontou para minha mãe.
Olhei para ela e a vi mastigando um pedaço de panqueca com uma expressão de nojo, cuspindo no lixo e jogando o restante fora.
- O que você acha de café da manhã, Chiquito? – Catalina perguntou carinhosa e assenti com um sorriso enorme no rosto.
- Eu achei que você estava melhor. – ele me encarou triste.
- Por que você achou isso?
- Marion disse que você tinha ficado amigo das filhas dela, da mais velha principalmente e aí... – ele suspirou – Aí que eu achei que você ia deixar com essas coisas que você faz.
- Que coisas que eu faço? – falei tentando segurar a irritação.
- Eu entrei no seu apartamento um dia desses, . Eu pedi para o porteiro me avisar quando você não estivesse e fui lá.
- Você não tinha esse direito. – rosnei – É meu apartamento, você não podia ter feito isso.
- Quem paga as suas contas sou eu, ...
- Aquele apartamento é meu, , é o único lugar que eu tenho para ficar longe de vocês e aí você faz isso. – levantei-me irritado – Não é porque você paga a merda das minhas contas que você tinha o direito de fazer isso. Meu avô deixou aquele lugar para mim.
- Sim, ele deixou. – ele se levantou – Mas eu quem pago todas as despesas daquele lugar e eu quem pago todas aquelas drogas que você deixa na sala como se fosse tudo dentro da lei.
- Estão dentro das minhas leis. – funguei.
- Eu não sei o que fazer com você se as coisas continuarem assim, , eu não sei mesmo. – ele bagunçou os cabelos.
- Por que se importar agora? – cocei o nariz com força – Vocês não se importavam antes, por que se importar agora que o filho problemático de vocês não está mais embaixo do seu teto?
- Olha isso, você não consegue falar sem fungar ou coçar essa bosta. – ele gritou – Eu estava deixando por estar enquanto você estava apenas fumando maconha, , mas você está cheirando cocaína. – ele disse com nojo – O que você quer com tudo isso?
- Talvez eu só queira ser deixado em paz para esquecer que a família é cheia de merda e não toda florida igual ela gosta de fantasiar. – apontei para minha mãe.
- Você precisa esquecer isso, , precisa aprender a superar o que aconteceu...
- Vocês podem ter superado, mas eu não vou.
Fui irritado para o quarto e fechei a porta com bastante força. Me deixava furioso o jeito que eles tratavam aquilo como se não fosse nada ou algo que aconteceu apenas uma vez e ninguém saiu prejudicado.
Eu queria falar sobre aquilo com , contar para ela o porquê de eu ter saído de casa e porque eu não queria mais contato com os meus pais, mas ela não iria me atender mesmo que eu chorasse implorando para conversarmos.
Passei o restante do dia deitado na cama lendo revistas em quadrinhos que o antigo costumava colecionar. Catalina trouxe minha comida e só sai do quarto para levar a louça suja e comer mais. Minha mãe abria a porta vez ou outra para me ver e eu fingia que ela tinha conseguido ser discreta o suficiente.
Já estava ficando entediado de ficar trancado no quarto como se eu tivesse de castigo e fui para a sala. Ouvi minha mãe falando com alguém no telefone sobre decoração e já pude imaginar que ela estivesse organizando algum evento, como sempre.
Sentei-me no sofá em frente a ela e puxei seu notebook de cima da mesa, encontrando ele aberto em uma planilha com lista de convidados e na frente de cada nome os lugares para se sentar. Fui descendo a página para ver quem eram as pessoas que ela tinha convidado e encontrei algo que despertou minha atenção.
Moira , Luke , e .
- O que é isso? – perguntei para minha mãe sem tirar os olhos da tela.
- Isso o quê, querido?
- Esses nomes. Que festa é essa?
- Moira, eu te ligo mais tarde, meu filho está aqui em casa... mande um beijo para as meninas... tchau, querida. – ela se sentou ao meu lado e olhou para o notebook – É um evento beneficente que a empresa do seu pai vai fazer na semana que vêm.
- Esses nomes... essas pessoas... elas estão confirmadas? – perguntei exasperado e ela assentiu – Em que mesa você vai sentar?
- Você sabe que seu pai e eu quase não ficamos em uma mesa só, .
- O vovô e a vovó vão?
- Sim, por quê? – ela me olhou curiosa e com os olhos brilhando.
- O quão perto eles vão estar dos ? Em que mesa eles estarão? – procurei pelo nome deles na lista.
- Eles estarão a umas duas mesas de distância mais ou menos... Por que o interesse, querido?
- Eu quero ir. – entreguei o notebook para ela.
- Mas você não gosta desses eventos, ...
- Você não ouviu que eu disse que quero ir? – olhei-a entediado – Coloca o meu nome nisso aí, eu quero ir.
- Tudo bem. – ela sorriu e anotou meu nome – Tem algum motivo em especial? Ou alguém?
- Isso não é da sua conta. – levantei-me e fui para a cozinha.
- Moira contou para o seu pai e eu que você tinha ficado amigo das filhas dela. – ela veio até mim – Nós achamos isso maravilhoso, elas são ótimas garotas.
Segurei o riso com aquela afirmação. podia até ser, mas estava bem longe de ser uma boa garota como as pessoas achavam.
- O que foi? – ela me olhou confusa.
- Nada. – neguei com a cabeça.
- É bom saber que você está voltando a ter amizades com pessoas decentes...
- Pelo amor de Deus, eu te imploro, não começa. – me apoiei no balcão – Só porque as pessoas que eu converso não tem uma conta bancária legal igual a nossa não significa que eles não sejam decentes.
- Aquele garoto é filho de um conhecido nosso e os próprios pais dizem que ele está indo por um caminho errado. – ela mordeu o lábio.
- Qual o problema nisso? Eu tenho vinte e dois anos, já estou grande o suficiente para saber com que eu devo andar.
- Eu só quero seu bem, .
- Tanto faz, Abigail. – suspirei.
- Você sabe que eu odeio que você me chame assim. – ela disse triste – Eu sou sua mãe.
- Então deveria ter agido como uma quando eu precisei e não agora que eu não quero mais. – cuspi e seus olhos se encheram de lágrimas.
- Você é cruel, . – ela disse chorando – Eu não sei a quem você puxou.
- Engraçado. Eu estou olhando para essa pessoa neste exato momento. – rosnei.
- Já não sei mais o que fazer para você me perdoar, filho.
- E quem foi que disse que eu quero perdoar você? – fiquei de frente para ela.
Ela olhou para cima em meus olhos e podia senti-la ficar acuada no canto da cozinha.
- O que aconteceu? – meu pai perguntou.
- Nada. – falei olhando para ela – Não aconteceu nada, como sempre.
Deixei os dois ali parados me olhando e fui até o escritório do meu pai. Procurei pelo maço de cigarros que ele tinha guardado para quando estava estressado e acendi um. Abri a janela e fiquei encostado nela deixando que a fumaça fosse levada pelo vento.

Já tinha começado a me arrepender de ir à porcaria da festa quando dois dias antes meu pai tinha me obrigado a ir a uma alfaiataria. Depois disso as coisas só ficaram piores e tive que ir ao barbeiro cortar o cabelo e fazer a barba.
Pela primeira vez em anos, minha mãe tinha ficado pronta primeiro que meu pai e eu, e segundo Catalina, isso era porque ela estava com medo que eu me estressasse e desistisse de ir.
Eu não sabia se minha mãe tinha falado para a mãe de que eu iria no evento, então fiquei bastante ansioso com medo que ela soubesse e resolver não ir por minha causa.
Apesar das insistências dos meus pais, eu recusei a ir com eles no carro. Quando cheguei vi muitas outras pessoas chegando e me enfiei no meio delas para entrar sem que algum amigo do meu pai parasse para me cumprimentar.
Falei meu nome para a garota que estava indicando os convidados para as suas mesas e ela pareceu surpresa quando eu disse, mas depois me levou até onde eu deveria sentar.
- . – meu avô disse contente – Quanto tempo, garoto. Vem aqui dar um abraço no seu velho. – ele se levantou e veio até mim.
- E aí, vô? – abracei-o – Eu cresci demais ou o senhor encolheu? – falei brincalhão.
- Um pouquinho dos dois. – ele riu.
- Oi, vovó. – dei um beijo em sua testa e me sentei ao seu lado.
- Você está bem? – ela sussurrou em meu ouvido e eu assenti – Seu pai nos disse que você estava com problemas... é algo que nós possamos ajudar?
- Relaxa, vó, eu estou bem. – sorri para ela.
- De aparência está melhor do que eu imaginei. – ela sorriu triste.
- Estou ótimo, vocês não precisam se preocupar comigo e muito menos dar atenção para o que o meu pai fala.
Ela não falou mais nada sobre o assunto e fiquei feliz por isso. Eu não queria que meus pais ficassem envolvendo meus avós nas coisas, pois os dois iriam acabar me convencendo a fazer coisas que eu não queria apenas porque eles sabiam que tinham certo poder sobre mim.
Fiquei praticamente vigiando a mesa onde e a sua família deveria sentar. Ela não teria como me ignorar ali perto dos nossos pais e de mais um monte de gente conhecida. Eu devia respeitar e me afastar, mas eu não conseguia, era como se quanto mais distante ela me quisesse, mais perto eu precisava ficar.
Já estava na minha sexta taça de champanhe e nem um pouco bêbado. Eu precisava de algo mais forte para aguentar aquela noite se não aparecesse.
Estava indo em direção ao bar quando a vi entrando com seus pais e sua irmã. As duas estavam lindas, mas tinha algo de especial nela e eu não sabia explicar o quê. Ela estava usando um vestido branco até o meio da coxa com mangas até um pouco para baixo do cotovelo. Sem maquiagem e qualquer outra coisa. Apenas um vestido branco simples e um salto prata.
Deixei que ela fosse até sua mesa e continuei meu caminho até o bar. Pedi um uísque duplo e fiquei olhando-a de longe. Ela e cumprimentou algumas pessoas que vinham falar com os pais dela, mas na maior parte do tempo ficou conversando com .
Terminei minha bebida e deixei uma nota de vinte dólares no pote de gorjetas. Passei por entre as mesas para ir até ela e quis matar quando uma amiga da minha mãe me parou apenas para dizer que fazia muito tempo que ela não me via.
percebeu que eu estava me aproximando e me olhou um pouco confusa, falando algo para que olhou para mim em seguida.
- Senhor e senhora . – cumprimentei os pais dela quando os dois olharam para mim – Oi, .
- Oi. – sorriu de lado.
- Você está muito elegante, . – Moira disse com um sorriso.
- Obrigado. – sorri para ela.
- Sua mãe disse que você odeia esses eventos, é uma surpresa te ver por aqui. – ela disse carinhosa.
- Tenho certeza que tem um motivo especifico para o ter vindo, mamãe. – disse maliciosa e vi olhá-la brava pelo canto do olho.
- Vocês se conhecem? – o pai dela perguntou para ela que ficou vermelha.
- Eles estudaram na Buckley juntos, mas eram de turmas diferentes. – a mãe dela disse – Eu achei que depois daquele dia você apareceria mais em casa, , até comentei com a sua mãe.
- Vocês estão saindo? – o pai dela a olhou curioso e ela revirou os olhos.
- Fica tranquilo, tio Luke, a está focada em se formar com honras e não em meninos. – disse rindo.
- , para de provocar sua irmã. – Moira ralhou – Querida, tudo bem se você quiser sair um pouco para conversar com o seu amigo...
- E leva a sua irmã junto. – o pai dela nos olhou.
- Estou bem aqui. – se apoiou no cotovelo – O que você está esperando, ? Some daqui.
trocou um olhar irritado com a sua irmã antes de se levantar. Despedi-me dos seus pais e podia sentir que o pai dela estava nos olhando enquanto íamos para uma parte mais vazia. Entrelacei meus dedos no dela e a guiei até o estacionamento na parte de trás do lugar.
- O que você quer? – ela disse em um tom calmo.
- Eu queria conversar com você. – suspirei – A não atende minhas ligações, você não fala comigo quando a gente se vê, aí achei que vir hoje ia ser minha melhor opção... e foi.
- Você veio hoje... por minha causa? – ela perguntou envergonhada e eu assenti – É esse o próposito quando você diz que não quer mais uma pessoa por perto. Não atender as ligações ou conversar com ela de maneira alguma.
- Eu sou um garoto mimado, não estou acostumado com as pessoas não fazendo o que eu quero. – brinquei e ela sorriu.
- Você está diferente. – ela disse carinhosa – Não só a roupa, mas o cabelo e a barba.
- Abigail não ia querer o filho dela correndo atrás de uma garota em um evento desses parecendo um delinquente.
- Por que você quer tanto que voltemos a conversar, ? Na escola nós nem olhávamos na cara um do outro.
- Pode parecer estranho... é estranho, mas... é diferente com você.
- Diferente como?
- Eu sinto sua falta. – suspirei – A gente se falou por tão pouco tempo, mas eu sinto a sua falta. Eu nunca tive amizade com garotas antes, principalmente garotas como você.
- Foi mal, mas esse papinho de filme dizendo que eu sou diferente não cola comigo. – ela mordeu o lábio.
- Você não é diferente, na realidade tem muitas garotas por aí como você, é só que eu nunca senti nada por nenhuma delas, nunca quis me aproximar delas e de repente eu senti vontade de me aproximar de você, . Senti vontade de conversar contigo.
- Você pode conversar com qualquer garota que quiser se você não tiver segundas intenções.
- Esse é o problema. Eu tenho segundas intenções com qualquer garota que eu vejo, mas não com você. Com você é diferente.
- Vou tentar não ficar ofendida com isso. – ela fez careta.
- Eu gosto de você, . – segurei seu rosto – Gosto mesmo tendo conversado com você por pouquíssimo tempo.
- Eu também gosto de você, , só que... se as coisas não iam dar certo antes, agora muito menos. – ela colocou sua mão em cima da minha.
- Por quê?
- A frequenta as mesmas festas que você...
- É por causa das garotas que eu transei?
- Não, . – ela negou com a cabeça – Ela viu as coisas que você fez.
- Que coisas?
- Ela te viu usando drogas...
- Você também me viu fumando maconha aquele dia, qual o problema nisso? – perguntei exasperado e ela suspirou.
- Não foi só isso, ... ela te viu usando outras coisas. – ela fez careta.
- Eu não vou te pedir para fazer as mesmas coisas que eu, .
- Sei que não, , mas eu não posso ser sua amiga e ver você se afundando em drogas que vão acabar te prejudicando.
- Agora você faz parte do movimento antidrogas? – falei rindo – Sua irmã também fuma, sabia?
- Mas ela não cheira cocaína ou usa outras drogas mais fortes como você. – ela disse irritada – Por que você faz tudo isso? Eu não consigo entender.
- É uma forma que eu encontrei de esquecer algumas coisas. – suspirei.
- Eu te perdoo. – ela suspirou – Mas eu não posso voltar a ser sua amiga se você continuar usando coisas mais pesadas.
- Então é isso? – perguntei rindo e ela me olhou confusa – Essa é sua nova condição para voltarmos a conversar?
- Hum... sim? – ela fez uma careta.
- Tudo bem. – dei de ombros – Eu aceito.
- Sério isso?
- Sim. – assenti – Você não acredita que eu possa parar?
- Não, é só que... eu não acredito que você vai parar com isso por minha causa.
- Eu também não. – segurei sua cintura com as duas mãos e ela me olhou confusa – Mas eu gosto de você, então vou fazer esse esforço para manter a única coisa boa da minha vida por perto. – sorri de lado e suas bochechas corarem.
- Cadê seu celular? – ela se afastou.
- O quê? – arqueei a sobrancelha.
- Seu celular. Eu vou te passar o meu número assim você não precisa mais ficar ligando para a .
- Isso é sério? – perguntei surpreso e ela assentiu. Entreguei o aparelho para ela que logo começou a digitar algo.
- Agora você também não precisa mais ficar me perseguindo na faculdade ou na biblioteca, entendeu? – ela me entregou o celular.
- Sim, senhora.
- E também não é para sair batendo nas pessoas só porque elas olham para você de um jeito que você não gosta.
- O que mais?
- Nada de andar com a minha irmã na sua moto e sem capacete.
- Ficou com ciúmes? – sorri de lado e ela revirou os olhos.
- Confio bem mais nela com você em um carro do que em uma moto, agora vamos entrar que eu estou ficando com frio.
Eu já estava me sentindo bem mais feliz agora que as coisas tinham se resolvido entre nós. Era uma sensação muito boa saber que agora eu tinha o número dela e nós poderíamos conversar novamente.
Depois que voltamos para a festa cada um foi para a sua mesa e eu podia notar os olhares do pai dela em mim a todo o momento. Tentei ignorar aquilo, mas estava se tornando bastante incomodo, então resolvi sair da mesa e ir até o bar.
Pedi um uísque duplo e notei alguém se sentando ao meu lado. Olhei rapidamente para ver quem era e Luke estava ao meu lado.
- Um cuba libre com bastante rum. – ele pediu ao barman.
Tomei minha bebida olhando para ele pelo canto do olho e ele também fez o mesmo.
- Eu conheço você. – ele disse quando terminou sua bebida.
- Sim, eu sou filho da...
- Eu sei de quem você é filho, . – ele me olhou – Eu quis dizer que eu conheço você, conheço quem é o e as coisas que faz.
- Conhece? – arqueei a sobrancelha e ele sorriu com escárnio.
- Conheço e muito bem. – ele pegou sua carteira e deixou duas notas em cima do balcão – Eu não vou te pedir para ficar longe das meninas porque elas sabem o que fazem. – ele se levantou e segurou meu ombro – Mas se você fizer algo para elas, principalmente para a ... eu acabo com você antes mesmo de você conseguir se acabar sozinho em cocaína. – ele deu um tapinha em meu ombro e saiu.
Aquela não era a primeira vez que eu era ameaçado pelo pai de alguma garota, mas como sempre eu não me deixei abalar, pelo menos não na frente dele. Fiquei pensando como ele sabia sobre mim e as coisas que eu fazia, mas era óbvio que ou jamais contariam isso para ele.
Olhei para a mesa delas e vi ele conversando sorridente com sua ex-esposa como se ele não tivesse acabado de me ameaçar. Peguei meu celular no bolso da calça e digitei uma mensagem para .
“Vamos sair daqui?”
Fiquei olhando para ela que pegou o celular e leu a mensagem, colocando ele em cima da mesa sem responder.
“Não me ignore. Estou de olho em você”.
Ela olhou para a mesa onde eu deveria estar sentado e depois para o bar.
“Vou estar te esperando lá fora”.
Encontrei um casal de amigos dos meus pais enquanto saia e falei rapidamente com eles, indo até a entrada. Eu queria realmente acreditar que ia aparecer, mas já fazia cinco minutos que estava lá fora e nada dela. Pensei em entrar para chamá-la, mas eu não queria ser mais idiota do que já estava sendo.
Entreguei as chaves do carro para o motorista já desistindo de esperá-la. Peguei o celular para lhe enviar mais uma mensagem, mas ela não tinha aparecido até o momento então não ia poder fazer nada.
O motorista parou com o carro na minha frente e quando dei a volta para entrar ouvi alguém me chamar.
- Espera aí. – disse rindo e abriu a porta.
- Queria dizer que vim contra a minha vontade, mas eu não aguentava mais ficar lá dentro. – disse rindo enquanto pulava para o banco de trás.
- Achei que eu fosse o único. – afrouxei a gravata e olhei para – Entra logo e coloca o cinto.
Ela entrou e afivelou o cinto com um sorrisinho no rosto.
- Para onde nós vamos? – se apoiou nos bancos da frente.
- Vamos para a praia. – falei.
- O quê? Eu não vou para a praia com essa roupa. – murmurou.
- Deixa de ser chata, . – disse rindo – Para no caminho para comprar bebidas.
- Sim, senhora.
ficou provocando durante o caminho todo até a loja de bebidas e quando nós dois descemos do carro ela também quis, mas lhe deu um sermão sobre ela ser menor de idade e ela desistiu.
- O que você gosta? – perguntei olhando as bebidas.
- Eu gosto de vinho. – ela disse envergonhada.
- Sério? – olhei para ela que apenas assentiu – Qual? Eu não entendo nada disso. – peguei duas garrafas do uísque mais barato.
- Tinto e suave. – ela ficou na ponta dos pés e pegou um na prateleira.
- Para mim vinho é só para dormir. – peguei a garrafa das mãos dela.
- Engraçado que sempre achei que só gente velha bebia uísque. – ela provocou.
- Os fumantes também. – sorri de lado.
Coloquei as garrafas de bebida em cima do balcão e pedi por dois maços de cigarro. Ela olhou para e eu alguns segundos antes de pedir nossas identidades e começar a passar as coisas. Quando voltamos para o carro encontrei xeretando no porta-luvas com um sorriso travesso no rosto.
- Para que você tem isso aqui? – ela ergueu um pacote de camisinhas.
- Nunca se sabe onde e quando vai acontecer. – falei malicioso e ela revirou os olhos, pulando para o banco de trás em seguida.
- O que é aquele negócio todo enrolado no porta-luvas? – ela perguntou curiosa quando liguei o carro.
- O que você acha? – olhei-a rapidamente.
- Não faço ideia. – ela encolheu os ombros.
- Acho melhor você nem falar o que é, . – disse irritada – E se livrar disso.
- Sim, senhorita. – sorri de lado para ela.
não deixou que eu bebesse enquanto dirigia mesmo que eu já estivesse com uma quantidade considerável de álcool no corpo por causa da festa. Parei o carro no estacionamento da praia e tirei o smoking com a gravata antes de sair. As duas deixaram os sapatos no carro e saiu correndo pela areia.
- Seu vinho, madame. – entreguei para a garrafa de vinho.
- Obrigada. – ela sorriu e fechou a porta – Você vai conseguir dirigir para ir embora, não vai?
- Você não sabe dirigir? – perguntei com um sorriso nos lábios e ela suspirou.
- Eu sei, só não gosto muito e também não vou dirigir depois de beber.
- Relaxa, eu vou te levar embora em segurança. – pisquei para ela.
Passei a mão livre pelo seu ombro e caminhamos para mais perto do mar onde estava cavando um buraco com o pé. Puxei ela para se sentar ao meu lado na areia e abri a garrafa de vinho para ela que sorriu em agradecimento.
- Não acredito que você comprou vinho, ? – disse frustrada – Me dá essa garrafa de uísque, .
- Você não pode beber, ainda não é maior de vinte anos. – provoquei-a e virei um gole e minha garganta ardeu muito.
- E você não poderia estar bebendo bebida alcoólica em lugar público. – ela colocou as mãos na cintura.
- Não tem ninguém aqui. – bebi mais um pouco e lhe entreguei a garrafa.
- Idiota. – ela chutou minha perna – Tomara que você durma com essa porcaria. – ela olhou para que estava com as bochechas vermelhas e os lábios um pouco roxo.
- Você reclama que eu não bebo, aí quando eu bebo você reclama do que estou bebendo. – disse entediada.
- Não tem como ficar bêbada de vinho, irmã. – se sentou na nossa frente e me entregou a garrafa – Fala isso para ela, .
- Ela tem razão, . – bebi um longo gole e fiz careta por causa da queimação.
- Mas eu fico alegre. – ela fez bico – Uísque só faz a garganta ficar queimando.
- A queimação passa depois que já está bêbado. – falei rindo.
- Não, obrigada, prefiro meu vinho. – ela tomou um gole e me passou a garrafa – Experimenta, é muito bom.
- Você quer que eu durma ao volante? – peguei a garrafa da mão dela.
- Para de graça. – ela me empurrou com o ombro.
Bebi um pouco do vinho e ele era realmente bom, mas eu ainda preferia mil vezes o uísque queimando a minha garganta e me deixando bêbado mais rápido. Entreguei para ela a garrafa e fiquei olhando-a beber. As bochechas coradas tinham a deixado muito mais bonita.
Encarei seus lábios roxos por causa do vinho e senti uma vontade enorme de beijá-la e poder sentir o gosto do vinho diretamente dela. Ela me olhou confusa por um tempo e acho que percebeu o que eu estava fazendo, porque virou o rosto para o outro lado e começou a rir baixinho. fez o mesmo e me senti um idiota por ter deixado as duas verem.
- Vamos para a água. – bebi mais um gole do uísque e levantei já tirando a camisa social.
- Está muito gelada. – disse rindo.
- Eu te esquento. – segurei sua mão e a levantei.
Ela ergueu o vestido e prendeu os cabelos em um coque no topo da cabeça. Olhei seu corpo coberto apenas pelo sutiã preto e uma calcinha minúscula da mesma cor. Não consegui deixar de imaginar se as roupas de baixo de eram iguais a da irmã mais nova.
Tirei meus tênis e meia e abaixei a calça, sem deixar de olhar para que me encarava surpresa. Estendi a mão para ela e a ajudei se levantar.
- Eu não vou tirar meu vestido na sua frente. – ela colocou a mão na frente do corpo.
- Qual o problema? – falei rindo – Você está me vendo aqui só de boxer.
- Você é um safado. – ela riu – Vão indo vocês dois que eu já vou.
- Vai fazer isso comigo, ? Vai me torturar desse jeito? – fiz bico e ela revirou os olhos.
- Anda logo, . – ela bateu o pé e eu assenti.
Peguei no colo e andei com ela até a água que estava extremamente gelada. Ela deu gritinhos quando seu corpo tocou na água e senti sua pele se arrepiar.
Olhei para trás e vi tirando o vestido quase que lentamente como se ela estivesse fazendo aquilo para me provocar. Quando percebeu que eu a estava olhando, ela colocou os braços na frente do corpo e correu para a água, gritando e saindo novamente.
Coloquei em pé e corri até , pegando-a no colo e a arrastando para a água. Ela começou a dar tapas em meu peito quanto mais fundo seu corpo ficava.
- Eu te odeio. – ela disse rindo – Está muito gelada. – ela me abraçou com força.
- Pode deixar que eu vou te esquentar. – apertei seu corpo contra o meu andei com ela até .
- Isso está um gelo. – disse batendo os dentes – Péssima ideia, , péssima ideia.
- Acho que não estávamos bêbados o suficiente para isso. – falei rindo.
- Eu vou pegar aquelas garrafas e a gente vai ficar tão bêbado que vai parecer que estamos em um vulcão. – disse enquanto ia até onde estavam as nossas coisas.
- Pode me colocar no chão agora. – sussurrou e a soltei.
Ficamos tremendo um do lado do outro enquanto desfilava até nós com as garrafas de bebida acima da cabeça. Nós bebemos todo o uísque e vinho e finalmente nossos corpos se acostumaram com a temperatura da água.
quis sair e se enxugar enquanto eu fiquei com na água tentando não deixá-la me afogar. Não consegui deixar de olhar andando de lingerie rosa clara na minha frente, praticamente do mesmo tamanho que as de . Observei ela colocar o vestido e vestir minha camisa social para se aquecer.
jogou água em meu rosto me acordando do meu transe em . Ela começou a gargalhar alto e nadei até ela, pegando-a no colo e jogando água em seu rosto.
- Para com isso. – ela gargalhou e se debateu – Eu vou te afogar.
- Você vai tentar, mas não vai conseguir.
- Então me solta que você vai ver só uma coisa.
Soltei-a e nadei para o lado oposto, sendo seguido por ela que ainda estava rindo. Ela veio para cima de mim e tentou me abaixar, mas a peguei no colo e segurei seu rosto. As risadas cessaram e ficamos nos encarando. Ela entrelaçou suas pernas na minha cintura e mordeu o lábio maliciosamente.
Segurei seu rosto com uma mão e a pressionei contra meu sexo, fazendo com que ela soltasse um gemido baixo. Ela enfiou a mão em meus cabelos e mordiscou meu lábio antes de me beijar fervorosamente.
- Ai, meu Deus. – ela disse rindo.
- O quê? – perguntei confuso.
- A gente não vai fazer nada enquanto você e minha irmã forem amiguinhos, lembra? – ela se soltou de mim.
- Eu não me lembro disso. – fingi desentendimento e ela revirou os olhos.
- Lembra sim, . – ela riu – Vai, vamos sair daqui. – ela caminhou cambaleando para a areia – Eu devo estar muito bêbada, caralho. – ela gritou rindo.
Caminhei derrotado atrás dela sem acreditar que ela estava falando sério sobre aquilo. Eu não ia transar com ela na frente da irmã, mas isso não significava que não podíamos dar uns amassos no mar.
- Já está tarde. Vamos embora. – colocou o vestido e ficou me encarando com um sorrisinho nos lábios – Para de me olhar com essa cara.
- Você me deixou de pau duro e agora dá uma dessa. – apontei para minha ereção e ela gargalhou.
- Não. – gritou – Vocês não vão falar disso na minha frente. – se levantou limpando a areia da roupa.
- Por quê? Você não é nenhuma virgem, . – colocou a mão na cintura e olhou para a irmã.
Elas ficaram discutindo sobre aquilo ser indecente ou não de se conversar enquanto eu me vestia e ofereceu minha camisa de volta, mas eu deixei que ela ficasse.
- Guarda de lembrança. – falei malicioso – E assim você pode ficar olhando meu físico maravilhoso enquanto eu dirijo. – passei o braço pelo seu pescoço e caminhamos juntos até o carro.
Eu não lembrava quando tinha sido a última vez que me senti verdadeiramente feliz daquele jeito. Mesmo depois que as deixei em casa e fui para o meu apartamento, eu ainda conseguia imaginar apenas de lingerie na minha frente com os lábios roxos por causa do vinho.
Foi muito difícil pegar no sono naquela noite, pois mesmo tendo beijado , era quem ficou na minha cabeça impedindo-me de dormir. Precisei de meia garrafa de uísque e dois baseados para finalmente pegar no sonho e acabar sonhando com ela.

estava estudando para uma prova de gramática em sua cama rodeada de livros enquanto fiquei zanzando pelo seu quarto olhando todas as suas coisas. Era tudo bastante organizado, com exceção da escrivaninha que estava cheia de papéis bagunçados e canetas em todo o lado.
Era a primeira vez que eu entrava ali na minha vida. Todas as vezes que fui até sua casa nos últimos três meses ela nunca me deixou passar do primeiro andar e agora eu finalmente estava ali em seu quarto.
- Você está tirando minha concentração. – ela suspirou.
- Eu estou quietinho. – me defendi.
- Para de andar de um lado para o outro, isso me desconcentra.
- Quando é a sua prova?
- Daqui duas semanas.
- Você está brincando comigo, . – me sentei ao seu lado.
- O quê? – ela me olhou indignada.
- Você tem quatorze dias para essa prova e resolve estudar justamente hoje?
- Sim. Eu não gosto de deixar as coisas de última hora.
- Mas também não precisa ser tão adiantada assim. – fechei seu caderno – Vamos sair. Eu vim aqui para te levar para sair, não para te ver estudar.
- Você deveria ter me ligado antes para saber se eu estaria disponível para sair.
- Minha culpa. – sorri de lado – Agora por favorzinho, vamos sair. – fiz bico e ela revirou os olhos – Vamos ao píer, a gente toma sorvete e eu ganho algum bichinho para você.
- Por que eu iria querer um bichinho, ? – ela arqueou a sobrancelha.
- Para você lembrar de mim?
- Mas eu não quero me lem...
- Mais para frente quando estiver totalmente apaixonada por mim você vai querer. – provoquei-a.
- Caramba, você é tão prepotente. – ela resmungou – Eu vou, mas você tem que prometer que na semana da minha prova você não vai nem ousar aparecer ou me ligar, entendido?
- Entendido. – bati continência e ela se levantou – Mas eu vou mandar mensagens.
- Não. – ela me fuzilou com os olhos.
- Você disse para eu não ligar ou aparecer, mas não falou nada sobre mensagens.
- Estou falando agora. – ela entrou em seu closet e ficou lá por alguns minutos.
- Coloca uma roupa bem sensual para mim, eu gosto de ver suas pernas e o decote.
- Cala a sua boca. – ela gritou.
Ela saiu de lá usando um vestido e tênis, com os cabelos amarrados no alto em um rabo de cavalo e óculos de sol. Olhei-a dos pés à cabeça sem vontade alguma de disfarçar. Eu adorava admirá-la quando ela não estava olhando, mas gostava mais ainda de fazer isso quando ela olhava e ficava com as bochechas coradas.
Provoquei-a durante o caminho todo dizendo que pegaria o maior urso de pelúcia que eles tivessem só para ela não conseguir ignorar a presença dele em seu quarto e se lembrar de mim a todo o momento.
Compramos duas casquinhas de sorvete assim que chegamos e ficamos andando por entre os lugares até um lugar com tiro ao alvo ou algo que desse ursinho como prêmio. Depois de finalmente encontrar, paguei cinco dólares para o moço e ele me entregou a arma com sete rolhas das quais só consegui acertar duas e ganhar um ursinho do tamanho da minha mão.
- Você é péssimo nisso. – ela riu.
- Não tem como eu ser perfeitamente incrível em tudo. – falei convencido e ela riu – Não era o que eu queria, mas acho que já vai chamar atenção no seu quarto. – entreguei-lhe a pelúcia e ela abriu um sorriso contente.
- Obrigada. – ela deu um beijo estalado em minha bochecha e senti uma sensação estranha no meu estômago.
Fomos em alguns outros brinquedos e depois ela insistiu para irmos na roda-gigante. Entreguei o dinheiro para o moço que cuidava do lugar e ajudei-a a subir na nossa cabine. Ela parecia uma criancinha quando o brinquedo começou a rodar e olhava a todo momento para baixo.
- Isso é para casais, sabia? – provoquei-a e ela revirou os olhos.
- Claro que não, idiota. Eu vinha com meu pai aqui.
- Casais e pais com seus filhos. – insisti.
- Você é muito cheio dos estereótipos, sabia? – ela riu – Primeiro com vinho e agora com roda-gigante. O que mais você tem aí?
- Você sabe o que dizem sobre garotas como você, não sabe? As boazinhas?
- Boazinhas? – ela perguntou rindo e eu assenti.
- As boas filhas e coisas do tipo.
- O que têm elas? – ela me olhou curiosa.
- Dizem que o tipo favorito delas são os bad boys, garotos como eu. – sorri galanteador e ela gargalhou alto.
- Você é muito cheio de si.
- Só estou falando o que as pessoas dizem e foi você que perguntou se eu tinha algo mais, apenas respondi.
- Pena que você não faz meu tipo. – ela sorriu cínica.
- Não faço? – perguntei tentando não transparecer minha decepção.
- Eu gosto de homens, de preferência o oposto de você.
- Você acabou de afetar minha masculinidade. – coloquei a mão no peito – Eu sou homem, já é um passo no caminho certo.
- Você é um homem com atitudes de garoto. – ela provocou – Eu gosto de homens com atitudes de homem.
- Eu vou me jogar daqui. – segurei na lateral da cabine e a balancei – Eu estou falando sério.
- Que pena, é triste saber que você não aguenta a verdade. – ela olhou para a janela.
- Mas eu mudei, você sabe disso.
- Eu não sei de nada, tudo o que sei é o que você me diz. – ela falou sem olhar para mim.
- Não tem porque eu mentir para você, . – toquei seu braço – Eu parei com praticamente tudo, acho que isso já pode ser considerada uma atitude de homem.
- Depende do ponto de vista. – ela me olhou – Mas eu não saí com você hoje para te julgar. – ela sorriu fraco.
- Agradecido. – acenei com a cabeça – Mas você falou sério quando disse que eu não sou seu tipo?
- Ai, meu Deus. – ela riu – Claro que não, né.
- Então eu sou seu tipo? – perguntei confuso.
- Eu não tenho um tipo, , eu simplesmente acabo gostando da pessoa e pronto. – ela encolheu os ombros – Acho que isso de ter um tipo especifico é algo muito bobo.
- Você faz o meu tipo. – confessei.
- E qual seria? – ela sorriu maliciosa – Qualquer coisa que tenha um par de peitos e uma vagina para você penetrar?
- Não sei se seus pais já te disseram, mas ninguém gosta das sabichonas.
- Pode ter certeza que eu sei. – ela riu.
- Mas eu não menti sobre isso. – falei sério.
- Tudo bem. – ela deu de ombros – Posso te perguntar uma coisa?
- Claro.
- Você já esteve em algum relacionamento sério?
- Como assim?
- Um relacionamento que você fosse a vários lugares com a pessoa, apresentasse ela para a família e os amigos e dissesse ‘eu te amo’.
- Não. – suspirei – E você?
- Também não. – ela deu uma risadinha.
- Por que a pergunta?
- Apenas curiosidade. – ela sorriu – Eu fico feliz que você tenha mudado.
- Mas você não acredita...
- Eu acredito em você e se você diz que mudou então eu acredito. – ela me olhou séria – Você parece diferente.
- Diferente como?
- Não sei, seu olhar está diferente, você não está mais coçando e fungando um nariz feito um louco gripado e também está com uma aparência melhor.
- Eu usava cocaína, , não crack. – falei rindo.
- Só que você mudou desde o dia que me disse que ia parar e isso é bom.
- Você me pediu e eu atendi seu pedido já que não pude realizar aquele de me afastar de você.
- Obrigada por ter insistido em mim.
- Eu não sabia naquele momento, mas depois conforme nos aproximamos depois daquela briga eu percebi que valia a pena abrir mão de algumas coisas por você. – falei carinhoso e suas bochechas ficaram vermelhas.
Fui aproximando meu rosto do seu lentamente e toquei em seus lábios de leve, sugando o inferior e aprofundando o ato em um beijo. Ela ficou parada num primeiro momento apenas correspondendo-me, mas depois entrelaçou seus dedos em meu cabelo acariciando ele enquanto nos beijávamos.
Coloquei uma mão em sua cintura e a outra em seu joelho, subindo meu toque lentamente até o meio da sua coxa. Sua pele foi se arrepiando a medida que a toquei e senti uma vontade de ter minha mão em outros lugares de seu corpo, mas fiz um esforço para me controlar.
Saboreei o gosto de menta e morango que ela tinha nos lábios por causa do sorvete e meu pênis começou a se enrijecer quando ela gemeu fraco contra minha boca por ter apertado o interior de sua coxa.
Estávamos os dois ofegantes quando ela se afastou e pude ver um misto de surpresa e arrependimento em suas pupilas dilatadas.
- ... – ela sussurrou baixinho – Isso não... isso não podia ter acontecido. – ela se sentou para longe.
- Por que não? – perguntei magoado.
- Porque nós somos amigos. – ela falou mais para ela do que para mim – Nós somos amigos. – ela respirou fundo – Isso não pode mais acontecer, você entendeu? – ela me olhou séria.
- Qual o problema, , foi só um beijo.
- Sim, foi só um beijo e eu não quero mais que isso se repita, você entendeu?
- Eu beijo tão mal assim? – falei rindo e ela abaixou a cabeça envergonhada.
- Você é um idiota. – ela virou de costas para mim.
- Tudo bem, isso não vai mais acontecer. – suspirei – Mas e se acontecer de você me beijar?
- Eu vou estar bem fora de mim se fizer isso.
- Não cuspa no prato que comeu, .
- Acho que fui forçada a comer nesse prato, . – ela me olhou cínica.
Nós dois ficamos em silêncio até que o brinquedo parou e nós pudéssemos descer. Eu ajudei-a a descer e depois fiquei encarando-a fingindo estar sério com as mãos na cintura e batendo o pé. Ela me olhou com um sorrisinho no rosto e arqueou uma sobrancelha. Puxei-a para mais perto e a abracei de lado, dando um beijo carinhoso em sua testa.
- Achei que você fosse ficar brava comigo pelo restante do dia. – falei contra a pele da sua bochecha.
- Eu não estava brava. – ela deu uma risadinha – É preciso mais do que um beijo roubado para me deixar brava.
- Calma aí. – parei na sua frente – Não foi um beijo roubado. – me defendi – Você correspondeu.
- Mas não deixa de ter sido um beijo roubado.
- Tudo bem, então se precisa de mais que um beijo roubado... isso significa que eu posso te beijar de novo? – sorri de lado e suas bochechas coraram.
- Não! – ela me empurrou e começou a andar.
- Por que não? – falei seguindo-a – Você disse que não ia ficar brava.
- Eu não disse isso. – ela falou rindo – Você muda praticamente tudo o que eu falo para as coisas ficarem ao seu favor, já percebeu?
- Nunca fiz isso. – fingi indignação e ela me olhou rapidamente com um sorriso nos lábios.
- Você faz isso a todo o momento, . – ela entrelaçou seu braço no meu e bateu em meu peito com o ursinho – E não, você não pode me beijar desse jeito de novo.
- Desse jeito não. – coloquei a mão no queixo – Mas eu posso fazer de outro jeito?
- . – ela falou frustrada.
- Eu tenho mil e uma maneiras das quais poderia te beijar, sabia?
- Não duvido disso.
- Mas o que aconteceria se....
- , não.
- Tudo bem. – suspirei – Mas não fique perto de mim se eu estiver bêbado porque as chances disso acontecer de novo vão ser bem maiores.
- Eu acabo com você. – ela riu.
- Foi exatamente isso que seu pai falou para mim.
- Como? – ela parou subitamente e me olhou – Quando ele falou isso?
- No dia do evento dos meus pais. – cocei a nuca – Ele falou que se eu fizesse algo para você ou a ele ia acabar comigo.
- Eu não acredito nisso. – ela colocou as mãos no rosto – Ai, meu Deus.
- O que foi?
- Meu pai precisa parar de ser superprotetor, isso é um saco. – ela suspirou.
- Ele só estava garantindo que eu não ia fazer nada de ruim para vocês duas. – falei defendendo-o sem nem saber o porquê. O cara tinha me ameaçado e ainda sabia das minhas merdas – Esquece isso, vamos tomar outro sorvete enquanto eu te falo de quais formas eu posso te beijar. – abracei-a pela cintura.
Fomos até uma sorveteria e peguei todos os sabores que nós gostávamos e ficamos sentados no capô do carro comendo enquanto eu falava para ela às formas que poderia beijá-la. Ela ficou revirando os olhos para mim e dizendo que tal coisa não parecia muito legal e eu dizia que se ela não gostava então eu tiraria da lista para ela.
Suas bochechas ficaram vermelhas praticamente o tempo todo e eu não conseguia falar com ela sem olhá-la de um jeito bobo e maravilhado pela sua inocência.
Já estava quase escurecendo quando ela falou para irmos embora e no momento em que fui abrir a porta do carro para ela, um garoto parou do nosso lado com três amigos.
- ? – ele olhou para ela de cima abaixo do mesmo jeito que eu olhava para alguma mulher que eu tinha muito mais do que segundas intenções.
- Bennet? – ela o olhou surpresa e ele assentiu com um sorriso – Caramba, quanto tempo.
- Desde a formatura. – ele sorriu de lado para ela que ficou com as bochechas coradas. O que estava acontecendo ali diante dos meus olhos? – . – ele me olhou desacreditado – Vocês estão... – ele nos apontou com o indicador e uma cara surpresa enquanto parecia assustada ao meu lado.
- Não, não. – ela praticamente gritou – Somos só amigos. – ela sorriu nervosa.
- Ótimo. – ele sorriu para ela – Você merece coisa muito melhor que . – ele deu uma risada alta e seus amigos também.
Olhei para que tinha ainda um sorriso nervoso nos lábios e estava apertando o ursinho em suas mãos tão forte que os nós de seus dedos estavam brancos.
- O que você acha de sairmos na outra semana? – ele apoiou uma mão no carro próximo à cabeça dela e com a outra segurou suas mãos.
- Pode ser. – ela sorriu.
A outra semana seria quando ela não me queria por perto porque ia estudar e agora ia sair com aquele idiota do Bennet. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo bem ali debaixo do meu nariz e eu não conseguia nem abrir a boca para falar nada.
Minhas duas mãos estavam fechadas em punho e me segurei para não o socar no nariz, por mais que depois eu pudesse acabar morto por ele e os amigos.
Vi ele lhe entregar seu celular e ela anotar o número dela, devolvendo-lhe o aparelho com um sorrisinho no rosto. Eu podia morrer ali naquele momento que ela nem ia perceber, era como se eu nem estivesse ali.
- A gente se vê, . – ele deu um beijo estalado nas bochechas vermelhas dela e me deu dois tapinhas no ombro – Legal te ver, , é bom saber que você não se matou ainda. – ele falou malicioso e saiu andando com seus amigos rindo atrás.
Eu queria ter um canivete e estripar ele no meio da praia na frente de todo mundo, principalmente na frente de , mas apenas respirei fundo e deixei que ela abrisse sua própria porta ou que chamasse Bennet para abri-la já que os dois iriam sair juntos na semana em que ela me colocou de castigo para estudar.
Não falei ou olhei para ela durante o caminho todo. Fumei dois cigarros e eu podia vê-la olhar para mim a todo o momento, mas concentrei meus olhos na rua ou eu acabaria fazendo alguma merda. Quando parei em frente à sua casa ela não desceu de imediato como eu esperava, apenas ficou sentada me olhando.
- Tchau. – falei ríspido esperando que ela saísse logo.
- Por que você está assim? – ela perguntou baixinho.
- Eu estou normal. – peguei mais um cigarro no porta-luvas e acendi.
- Não está não. – ela insistiu.
- ... – falei seu nome com dor – Eu não quero te magoar, ok? – finalmente olhei para ela – Só desce do carro antes que eu faça alguma merda, por favor. – falei num suspiro.
- Eu quero saber o porquê você estar assim, .
- Minha vida é uma bosta, , tem dias que eu vou estar numa boa e tem dias que não.
- Você estava normal o dia inteiro, ficou assim na hora de irmos... – ela pareceu ter percebido o que tinha acontecido e me olhou surpresa – Foi por causa do Bennet? – ela perguntou de um jeito inocente e eu dei um murro no volante fazendo-a me olhar assustada.
- O que você acha? – falei nervoso tentando não gritar.
- , não tem porquê...
- É claro que tem. – olhei-a irritado – Você me botou de castigo pela merda de uma semana para poder estudar para a sua maldita prova e agora vai sair com aquele idiota.
- O Bennet não é um idiota, .
- Para você a única pessoa que é idiota nesse mundo sou eu. – falei frustrado.
- Agora você está realmente sendo um. – ela gritou.
- Você ficou toda envergonhada quando ele falou com você e precisou dizer o mais rápido possível que nós dois somos apenas amigos, porra.
- Mas é isso o que nós somos, , amigos. – ela disse chorosa.
Ouvi duas batidas no vidro e abriu a porta olhando para nós dois com uma expressão curiosa.
- O que está acontecendo? – ela perguntou.
- Nós encontramos o Bennet quando estávamos vindo da praia e agora ele está todo irritadinho.
- O seu Bennet? – a olhou surpresa e ela não foi a única.
- Seu Bennet? – olhei-a e ela ficou com as bochechas coradas – Puta merda. – soquei o volante de novo.
- Ele não é meu, droga. – ela disse chorando – Nós... nós dois... – ela colocou a mão no rosto – Eu perdi a minha virgindade com ele no dia da formatura...
- E agora você acha que ele vai querer repetir? – olhei-a surpreso – O cara foi embora para outro estado por todos esses anos e agora está de passagem por aqui, .
- E qual o problema nisso? – ela enxugou o rosto.
- Ele não vai querer nada contigo a não ser transar. – baguncei os cabelos frustrados.
- E não é isso que você faz com as outras garotas? Não foi isso que você fez com a minha irmã? – ela gritou – Só transar e depois não querer mais nada?
- Mas é isso o que essas garotas querem, . – suspirei – Eu não transaria com uma garota que iria esperar um relacionamento depois porque isso não ia acontecer.
- Você é um imbecil. – ela saiu do carro – O problema é meu se eu transar com ele de novo e depois ele sumir, não seu. Eu sei muito bem o que eu faço da minha vida.
- , você pode fazer o que quiser da sua vida, só que... – respirei fundo – Eu já não consigo mais nem pensar direito.
- Você me deu um beijo, , um beijo, mas isso não te dá direito nenhum sobre a minha vida. Nós dois somos amigos, eu esperava que você ficasse feliz por mim, por eu ter um encontro e não começasse a dar uma de louco por isso.
- ... – colocou a mão no ombro dela – Ele... ele...
- Não quero saber, . O é um idiota, nada mais do que isso.
- Me desculpa, porra. – gritei – Eu não queria que a gente brigasse, só que eu fiquei puto porque você vai me afastar por uma semana e vai sair com ele, e porque você.... Você ficou toda envergonhada e meio derretida cada vez que ele te olhava...
- Vai embora e pensa em como você conseguiu estragar o dia super legal que nós dois tivemos. – ela fechou a porta do carro com força.
- . – chamei-a e ela continuou andando.
olhou para mim por cima do ombro algumas vezes, mas a segurou pelo braço e a puxou para dentro da casa. Antes de ela fechar a porta pude ver o ursinho apertado em sua mão e seus olhos vermelhos e decepcionados.
Eu não conseguia acreditar que tinha fodido tudo aquilo mais uma vez. Não conseguia acreditar no meu nível de imbecilidade. Nós tínhamos tido um dia super legal e eu estraguei por causa de um imbecil que estava dando em cima dela. Aquilo só tinha me feito subir de nível na escrotisse humana.
Dirigi feito um louco e tive que parar no caminho para comprar um novo maço de cigarros. As pessoas na loja de conveniência ficaram olhando para mim e me perguntei se eu estava tão acabado assim.
Quando saí da loja, olhei para o restaurante chique do outro lado da rua e vi minha mãe descendo de um carro preto com um homem e beijando-o, entrando com ele de mãos dadas para o restaurante. Era exatamente aquilo que eu precisava para completar o meu dia.
Não esperei os carros pararem e fui atravessando a rua furioso. A moça da entrada tentou me parar, mas apenas a ignorei e procurei minha mãe por entre as mesas.
Ela estava sentada com ele em uma mesa no canto mais escuro do lugar e suas mãos ainda estavam entrelaçadas. Andei até os dois e quando me aproximei o homem me olhou surpreso, fazendo com que minha mãe olhasse na mesma direção.
Eu não queria ouvi-la se explicar e falar várias merdas para mim, apenas juntei todo o meu ódio e dei um soco no idiota na frente dela, fazendo com que ele caísse no chão. Ouvi as pessoas gritarem surpresas e olhei para minha mãe que estava me olhando incrédula.
- Eu vou acabar com você, Abigail. – rosnei para ela – Eu vou acabar com você.
- , filho, eu posso explicar.
- Cala a porra da boca, sua infeliz. – gritei – Eu estou cansado das suas merdas, você entendeu? Cansado.
- Filho. – ela se levantou e eu segurei seu ombro com força fazendo-a se sentar.
- Não. Me. Chame. De. Filho. – falei entredentes – Você me ouviu. Eu vou acabar com você do mesmo jeito que você acabou comigo.
- , espera, vamos conversar.
- Não quero estragar seu jantar. – abaixei-me até ele que ainda estava no chão e com a mão no rosto sangrando.
Segurei-o pelo colarinho da camisa e o puxei para cima, fazendo-o se sentar. Aquele idiota parecia ter quase a mesma idade que eu, o que só fazia as coisas ficarem pior.
- Não quero estragar seu jantar. – dei um tapinha no ombro dele.
Peguei a bolsa dela que estava pendurada na cadeira e tirei de lá sua carteira, pegando todos os cartões de crédito e todo seu dinheiro. Ela ficou me chamando, mas sua voz parecia estar bem longe. Joguei a bolsa em cima da mesa derrubando as taças e olhei para ela com ódio.
- Você não vai usar o dinheiro do meu pai para pagar sua porra de jantar com esse idiota. – falei próximo do seu rosto – Você não vai fazer mais nada com o dinheiro do meu pai, eu vou garantir que você vai sair desse casamento sem nada a não ser os trapos que você tinha quando casou com ele.
- , vamos embora, nós podemos conversar.
- Não tem mais conversa, Abigail. Acabou. – gritei.
Enfiei as coisas no bolso da calça e saí andando com todas as pessoas do lugar me olhando. Como se eles não estivessem adorando o show.
Foi por sorte – ou não – eu não ter batido o carro enquanto ia para o meu apartamento. Não cumprimentei nem o porteiro e muito menos as pessoas que estavam por lá. Fiz questão de subir pelas escadas só para aumentar a minha raiva.
Eu estava cego de ódio e mal conseguia abrir a porta. Procurei por todo o apartamento onde eu tinha escondido as drogas que guardei quando disse à que ia parar de usar e as encontrei no fundo do guarda-roupa em uma caixa de sapatos velha.
Joguei tudo na cama e me surpreendi com o tanto de coisa que eu tinha. Meses atrás aquilo parecia pouco para o tanto que eu usava, mas vendo agora era o suficiente para eu e mais um monte de gente praticamente se matar.
Queria tirar da minha cabeça aquela imagem da minha mãe com um cara muito mais novo que ela e eu sabia que deveria ligar para e conversar sobre isso ao invés de me drogar, mas ela estava puta comigo e não iria me atender tão cedo.
Peguei na cozinha uma colher com uma garrafa de água e a única garrafa de uísque que eu tinha e corri para o quarto. Fiz uma linha grossa do pó branco em cima da caixa de sapatos e enrolei uma nota de cinco dólares, puxando-o todo. Meu nariz ardeu e apertei-o algumas vezes antes de preparar a mistura.
Tomei quase metade do uísque antes de penetrar a agulha em meu braço e pressionar o embolo para baixo, deixando que a mistura de cocaína entrasse na minha veia. Terminei com a garrafa de uísque e cheirei mais duas carreiras grossas de cocaína, fazendo com que meu nariz começasse há sangrar um pouco.
Fiz mais uma mistura de cocaína e água e injetei, sentindo meu corpo ficar mole e minha visão embaçar um pouco. Eu me sentia incrível, como se pudesse pular da janela e cair no chão sem nada acontecer comigo, mas no momento em que me levantei, senti uma tontura e comecei a vomitar.
Não consegui me apoiar em nada e cai no chão. Fiquei tentando descobrir o que tinha feito o puta barulho que ouvi ao cair, mas ouvi-o mais uma vez e gritos do lado de fora. Tentei responder e dizer para me deixarem em paz, mas quando abri a boca vomitei de novo.
Meu corpo começou a se convulsionar e meu peito doía muito fazendo ficar difícil de respirar. As vozes ficaram mais distantes e achei que estivesse alucinando. Tentei me segurar na cama e levantar, mas acabei caindo no meu próprio vômito. Eu não conseguia mais pensar em nada ou sequer abrir a boca para pedir ajuda, meu corpo todo se mexia e eu já não me sentia bem igual antes, eu sentia meu corpo parando de responder e as convulsões piorarem e só tentava pensar em um jeito de sair dali e não morrer na poça de restos de comida e bebida.
Um barulho irritante de ‘bip’ penetrou meus ouvidos e ficou martelando na minha cabeça até que eu abrisse os olhos e ficasse cego novamente com o lugar todo branco e claro demais. Olhei para o meu braço e vi fios em mim e no meu peito. Eu tinha total certeza de que se morresse iria para o inferno, mas aquele não parecia o inferno e eu duvidava muito que tanto Deus ou Satanás iriam me fazer tomar soro depois do que eu tinha feito.
Ouvi um toque de celular e depois sussurros rápidos. Olhei para o lado e vi meu pai sentado em uma poltrona perto da porta com uma expressão acabada e com a calça e camisa sociais sujas. Ele sorriu para mim quando percebeu que eu estava acordado e saiu do quarto, voltando minutos depois com um médico.
- Como você se sente, ? – ele me perguntou com um sorriso no rosto. Olhei para o meu pai nos pés da cama que me olhava sorrindo, mas as olheiras deixavam tudo meio duvidoso.
- Pai, você também morreu? – perguntei para ele que soltou um riso nasalado e negou com a cabeça – Pai, o que aconteceu? Eu achei que estava morrendo. Era horrível, eu ia morrer no meu próprio vomito e depois todo mundo ia ficar sabendo disso. – choraminguei – Onde que eu estou? – perguntei exasperado.
- Se acalma, . – o médico colocou a mão no meu peito – Você está em um quarto de hospital.
- Então eu não morri. – falei mais para mim mesmo do que para eles – Como eu vim parar aqui?
- Você teve uma overdose por excesso de...
- Eu sei o que eu fiz, doutor. – falei irritado – Como eu vim pra cá? Eu não me lembro de ter dirigido até vocês e pedido por ajuda.
- Eu te encontrei. – meu pai suspirou – Sua mãe me ligou e depois eu fui até o seu apartamento e... eu te encontrei inconsciente...
- No meio do meu vômito. – suspirei.
- Você estava no corredor na verdade, mas foi arrastando a sujeira com você. – ele deu um riso fraco.
- E então, como você está se sentindo, ? – o médico olho na prancheta em sua mão e depois para mim.
- Acho que estou bem. – suspirei – Quanto tempo fiquei apagado?
- Três dias. – ele disse – Mas você acordou algumas vezes e depois dormiu de novo.
- Quando vou poder ir pra casa?
- Nós precisamos que você fique aqui por mais alguns dias. – ele olhou para o meu pai que ficou tenso – Acho que é melhor vocês dois conversarem.
Meu pai e eu ficamos olhando o médico sair do quarto e depois encarei meu pai que respirou fundo e se aproximou de mim.
- O que foi?
- Você não vai para casa. – ele suspirou.
- O quê? Como não? – me sentei na cama – Eu vou ficar aqui para o resto da minha vida? Então era melhor você ter me deixado morrer.
- Você vai sair daqui e vai para uma clínica por um tempo.
- Pai... – era estranho chamá-lo assim de novo depois de tanto tempo – Eu não sou um viciado.
- Eu sei que não, , mas é o melhor para você por enquanto.
- Eu não quero, pai. Eu posso parar quando eu quiser. Fazia três meses que eu não fazia outra coisa que não fosse fumar maconha.
- Filho, eu acredito em você, mas..., mas a quantidade que você usou e o que foi achada na sua casa... ficar em um ambiente diferente do que você está acostumado.
- Você quer dizer que eu vou ficar confinado em um lugar com verdadeiros viciados. – suspirei – Quem tomou essa decisão? Foi ela?
- Eu, . Eu quero que você se recupere e volte para casa cem por cento.
- O que te fez pensar que eu vou voltar a morar com vocês dois? – rosnei.
- Ela não está mais em casa, . – ele passou a mão nos cabelos.
- Ela te contou que eu...
- Sim. – ele suspirou – Eu finalmente vi quem era a mulher que eu me casei e o mal que ela fazia não só para mim, mas principalmente para você.
- Você já entrou com os papéis do divórcio?
- Ainda não. Vou esperar você voltar para casa para começar a pensar nisso.
- Aquele cara tinha quase a mesma idade que eu. – falei baixinho.
- Ele é dois anos mais velho que você. Era um dos barmans que foram contratados para o evento.
- Era só ele? – perguntei curioso e ele riu nasalado.
- Não. Tinha mais outro.
- Você a colocou para fora?
- Sim. Eu nem fui para casa ainda, apenas disse para ela no momento em que ela me ligou para falar de você que eu não a queria mais lá.
- E como você sabe que ela não está mais lá?
- Pedi para trocarem as fechaduras e para Catalina colocar as coisas dela para fora.
- Eu disse para ela que ia fazê-la sair desse casamento sem nada. – falei rindo – Você meio que tirou minha autoridade.
- Eu ainda a amo. – ele disse triste – Mas eu amo mais o meu próprio filho do que amo ela. Acho que eu finalmente percebi o que estava na minha frente o tempo todo e eu ignorei.
- Ela deve estar me odiando por isso.
- Na verdade ela está lá fora na sala de espera louca para entrar aqui. – ele riu – Mas eu disse que ela só iria te ver se você quisesse isso.
- Eu não...
- Eu sei que não. – ele sorriu – Mas todos os seus avós estão lá fora e você sabe como os pais dela são. Eles vão dizer que eu estou privando ela de te ver.
- Você conversou com eles sobre ela? – ele assentiu – E o que eles disseram?
- Que eu devia perdoá-la e que um casamento de vinte e cinco anos não podia se acabar assim. – ele falou rindo.
- Ela ficou grávida de outro três anos atrás e eles ainda querem que você a perdoe? – falei irritado.
- Eles são os pais dela, , vão ficar do lado dela independente de qualquer coisa.
- São dois idiotas. – suspirei.
- Você... você vai voltar a morar comigo? – ele perguntou esperançoso – Nós podemos nos mudar de lá e ir para onde você quiser.
- Eu preciso pensar.
- Pensar no quê, ? Não era isso que você queria? Que ela fosse embora da nossa vida?
- Eu gosto de morar sozinho. – encolhi os ombros.
- E o que você acha de eu me mudar com você?
- Não. – neguei rindo – Eu volto, mas com uma condição.
- Qual?
- Você não vai dar nada para ela. Dinheiro, casa, carro... nada. Ela vai sair sem nada, vai ficar só com as roupas e pronto.
- Não sei se isso é possível, ...
- Você tem que me prometer que vai fazer de tudo para conseguir isso, entendeu? – ele assentiu – Ela não vai sair com nada depois do que ela fez para você.
- Tudo bem. – ele assentiu – Então quando você sair da clínica nós veremos isso, ok?
- Eu não posso me tratar em casa? Eu prometo que vou fazer tudo direitinho...
- Não, filho. Eu quero você cem por cento, lembra? Quero o meu filho de volta não...
- Eu não vou parar de fumar. – cruzei os braços – Tanto maconha quanto cigarro, eu não vou.
- Tudo bem. – ele riu – Mas você vai parar com todas as outras coisas?
- Até bebida? – arqueei a sobrancelha.
- Você vai beber casualmente.
- O que é isso? – revirei os olhos – Tudo bem, mas eu quero ir para um lugar legal onde eu possa ter um quarto só para mim e internet.
- Fica tranquilo que você vai ter tudo isso. – ele apertou meu ombro – Agora é melhor descansar, porque tem bastante gente lá fora querendo te ver e te matar.
- Droga. – suspirei – A está aí?
- Não. – ele negou com a cabeça – Mas a irmã dela está e é ela quem quer te colocar em um caixão.
Era óbvio que seria ela. só me xingaria, mas tentaria me matar por ter tido uma overdose, magoado sua irmã e ainda dado um susto nelas.
Cochilei pensando em e no quão brava ela deveria estar comigo tanto por termos brigado quanto por ter quase morrido. Quando acordei vi em pé ao meu lado digitando algo no celular e usando o uniforme da escola.
- Ei.
- Oi. – ela sorriu para mim – Como está se sentindo?
- Parece que um caminhão passou por cima de mim.
- Você nos deu um susto e tanto, sabia? – ela mexeu no lençol – Nós ficamos preocupadas com você.
- Para a sua infelicidade eu ainda estou vivo. – provoquei-a e ela revirou os olhos.
- Nós viemos para cá assim que descobrimos. – ela me olhou séria – Seu pai ligou para minha mãe, mas nós não pudemos entrar para te ver.
- Eu devia estar bem pior do que agora.
- Você não está tão mal assim. – ela deu uma risadinha – Nós também ficamos sabendo do que... do que aconteceu com a sua mãe.
- Uma merda, né? – suspirei.
- Você deveria ter nos ligado, , não precisava ter feito isso.
- A não ia me atender depois de termos brigado.
- Mas você poderia ter ligado para mim. – ela acariciou minha bochecha.
- Nem pensei direito, mas se ela não me atendia, você também não ia.
- Dessa vez não tinha porquê. Você não a magoou por ter feito idiotices, só brigaram porque você ficou com ciúmes. – ela disse com um sorrisinho infantil nos lábios.
- Ela ainda está brava comigo?
- Não. – ela negou com a cabeça – Antes de ficarmos sabendo da sua mãe, ela chorou bastante achando que você tinha feito isso por culpa dela, mas depois nós descobrimos sobre a sua mãe e ela só chorou mais um pouco por vocês terem brigado e você não ter ligado para ela.
- Por que ela não veio me ver?
- Ela veio comigo no primeiro dia, mas depois ela achou melhor só te ver quando você voltar.
- Então vocês também estão sabendo da clínica. – suspirei e ela assentiu.
- Vai ser o melhor para você. – ela sorriu carinhosa – Logo você vai sair e nós vamos poder tomar uísque na praia de madrugada.
- Eu não faço ideia de quanto tempo vou ter que ficar, acho que esse uísque vai demorar.
- Dois meses.
- Como você sabe? – arqueei a sobrancelha e ela deu uma risadinha.
- Seu pai falou. Ele quer que você volte para casa logo.
- Eu não sei se vou morar com ele.
- Por que não? – ela me olhou confusa – Ele disse para e eu que você tinha ido embora por causa da sua mãe e dos maus tratos dela e as traições.
- Ele também te contou da gravidez, é?
- Não. – ela disse surpresa – Agora fiquei curiosa. – ela se sentou ao meu lado na cama – Pode me contar tudinho, .
- Ela estava saindo com um cara fazia um tempão e aí eu descobri e contei pro meu pai. Ela já tinha traído ele várias outras vezes, mas depois eu encontrei um teste de gravidez nas coisas dela e ela confirmou.
- E seu pai?
- Ele não disse nada. Ele sempre perdoava e ela queria que ele assumisse a criança porque ela tinha largado do pai do bebê.
- Caramba. – ela me olhou surpresa – E ela teve o bebê?
- Não, ela o perdeu quando estava com uns três meses. Nós dois brigamos e ela ficou bastante nervosa.
- E você meio que se culpa por isso?
- Claro que não. – neguei com a cabeça – Meu pai teria que criar o filho de outro homem e ela nunca cuidou de mim, sempre me maltratou e queria que eu fosse do jeito dela só para falar que eu era o filho perfeito e essas coisas.
- Então você meio que fez um favor.
- Pode-se dizer que sim. – dei de ombros – Ela ia maltratar a criança também porque ela nunca levou jeito para ser mãe. Quando eu tinha cinco anos ela quebrou meu braço porque me derrubou do trocador. – falei rindo.
- Você não sabia se vestir sozinho? – ela riu.
- Eu ainda usava fraldas nessa época. Ela não deixava a empregada cuidar de mim porque ela tinha medo de eu chamá-la de mãe, mas ela não fazia muita coisa. Na maior parte das vezes quando a empregada não estava por perto, quem cuidava de mim era o meu pai e quando não tinha nenhum dos dois...
- Você ficava todo sujinho de cocô. – ela disse rindo e eu assenti.
- Mesmo assim ela não deixava a empregada cuidar de mim. Ela me amamentou até os quatro meses e depois não quis mais porque ela achava perda de tempo sendo que tinha mamadeira.
- Como você sabe de tudo isso?
- Meus avós, pais do meu pai. Eles a odeiam.
- E com razão. – ela suspirou – Ela está lá fora conversando com a minha mãe.
- Sua mãe também está aí?
- Sim. Ela também ficou preocupada com você. Acho que ela gosta de você perto da gente. – ela riu – Meu pai também era meio assim como a sua mãe.
- A disse que ele é um pintor fracassado.
- Sim. – ela assentiu rindo – Ele não ajudava a minha mãe a cuidar de mim e depois ela largou dele. Quando eu fui crescendo e ele queria sair comigo, minha mãe fazia ir junto só para garantir que teria alguém cuidando de mim.
- Por isso ela está sempre por perto. – ela assentiu.
- Mas pelo menos eu não cresci sem uma presença paterna já que o pai da sempre esteve por perto e cuidando de mim. – ela sorriu triste.
- Ele me ameaçou. – falei rindo.
- Eu sei, ele me contou, mas pediu para eu não falar nada para a minha irmã. – ela riu – Ele disse que você é um bom garoto, mas não sabe se é bom o suficiente para as filhas dele.
- Quais são as chances de ele começar a gostar de mim?
- São pouquíssimas. Sabe, você deveria me agradecer, porque ela não ficou tão brava contigo graças a mim. – ela cruzou os braços.
- E o que você fez de tão especial assim?
- Eu disse a verdade. – ela encolheu os ombros.
- E qual é a verdade que eu nem sei.
- Você é um idiota se não souber. – ela riu – Você gosta dela.
Ela ficou me olhando com um sorrisinho malicioso nos lábios e a encarei surpreso sem saber o que falar.
- Eu...
- Não adianta negar. Você ficou com ciúmes dela, . Você ficou com ciúmes dela lá atrás quando brigou com o amiguinho dela. – ela disse em um tom meio apaixonado – No início eu achei que estava ficando louca, mas depois comecei a prestar atenção nas coisas.
- Ficou tão na cara?
- Não muito porque você também não tinha percebido, acho que só percebeu agora que eu te falei.
- Mais ou menos. – mordi o lábio.
- Foi fofo, sabe, você com ciúmes e também correndo atrás dela por semanas como um cachorrinho.
- A gente meio que tem um trato de que se um dos dois se apaixonasse nós iriamos nos afastar.
- Por que uma idiotice dessas?
- Acho que foi mais para o caso dela se apaixonar e não ter que ficar perto de mim porque eu não iria querer nada e coisa assim, mas eu nunca pensei que isso fosse acabar sendo para mim.
- Isso é besteira.
- Olha para mim, . – suspirei – Eu não estou aqui por um acidente, eu estou aqui porque eu fiz isso comigo mesmo. Você acha que sua irmã merece alguém como eu?
- Não sei. – ela encolheu os ombros – Se você gosta dela e pode fazê-la feliz, não vejo nada de errado.
- A merece algo muito melhor. Ela merece alguém melhor do que eu.
- Você deveria a deixar decidir isso, não você. Ninguém melhor do que a para saber o que é melhor para ela.
- Você não vai contar para ela.
- Por que não? – ela cruzou os braços.
- Porque eu vou ficar longe por dois meses e... e porque isso não é da sua conta.
- Eu não vou contar, mas quando você sair ela vai querer falar com você. Na verdade, eu acho que ela deveria fazer isso agora, antes de você ir, mas ela disse que só quer te ver quando você estiver recuperado.

Eu já não aguentava mais ficar deitado naquela cama de hospital recebendo visitas de enfermeiras e médicos a cada uma hora e quando ele finalmente me deu alta, eu não fiquei tão feliz como esperado. Meu pai já tinha duas malas no carro com as minhas roupas e uma caixa com um notebook novo para que eu pudesse levar. Catalina arrumou uma mochila cheia de doces e outras porcarias que eu tinha certeza que eu não teria lá e uma caixa de cigarros.
Todo mundo estava preparado para eu ir para a reabilitação, menos eu.
Não me despedi de ninguém a não ser meu pai e mesmo minha mãe insistindo para me ver e falar comigo, pedi para que a avisassem que eu só faria aquilo quando eu voltasse.
Quando chegamos uma enfermeira levou meu pai e eu para conhecermos todo o lugar que mais parecia um resort. A última parada foi no meu quarto que diferente de todo o lugar era bastante simples, apenas a cama, um guarda-roupa, uma mesa com cadeira e o banheiro.
- Então é isso. – meu pai suspirou.
- É. – cocei a nuca.
- A gente se vê...
- Daqui dois meses. – falei tenso.
- Eu posso te telefonar uma vez por semana e vir aqui uma vez por mês...
- Não precisa, pai. – segurei seu ombro – Não precisa vir ou ligar, a gente só vai conversar quando eu sair daqui, tudo bem?
- Por que, filho?
- Porque eu quero. Se eu conversar com você ou qualquer outra pessoa, vou ficar pedindo para sair daqui caso eu odeie o lugar.
- Tudo bem. – ele assentiu – Você tem tudo o que precisa?
- Sim.
- Qualquer coisa é só me ligar que eu providencio.
- Pai, eu vou ficar bem. – insisti – Pelo menos enquanto as enfermeiras bonitas continuarem por perto. – falei rindo e a enfermeira ficou com as bochechas coradas e abaixou o rosto – Agora é melhor você ir embora antes que comece a chorar.
- Eu não vou chorar. – ele me abraçou forte.
- Muito menos eu.
- A gente se vê daqui dois meses. – ele segurou meu rosto.
- A não ser que a enfermeira me dê uma chance, aí eu vou querer ficar para sempre. – falei rindo.
- Não conte com isso. – ele riu – Tchau, filho. Eu te amo.
- Tchau. – suspirei.
Esperei que ele e a enfermeira saíssem do quarto e me joguei na cama, enfiando o rosto contra um travesseiro e gritando até minha garganta começar a doer. Isso estava realmente acontecendo. Eu ficaria dois meses naquele lugar para curar o meu “vício”. Aquilo só me dava mais vontade de usar algo para esquecer que eu estava sendo amigavelmente obrigado a ficar ali.

Olhei no relógio da parede da recepção pela milésima vez no dia. Uma hora e quarenta e sete minutos atrasado. Meu pai já deveria ter chegado fazia tempo, ele ligou avisando que estava vindo e arrumei minhas coisas com pressa e fui direto para a recepção esperar ele.
A recepcionista sorriu triste para mim e abaixei a cabeça. Eu não queria que ficassem me olhando daquele jeito, eu queria era ir embora.
Meu pai cumpriu pelos sessenta e um dias o acordo de não ligar ou vir visitar, mas chegou um momento em que eu precisava conversar com alguém que não estivesse na mesma porcaria de situação que eu, então liguei para que passou o telefone para . Nós conversamos por uns vinte minutos, mas tudo o que eu queria era ouvir a voz de .
Dei um pulo do sofá quando vi meu pai entrando pela porta da recepção e corri até ele, abraçando-o com força.
- Você está bem? – ele segurou meu rosto e eu assenti – Desculpe o atraso, aconteceu um imprevisto na empresa e eles não poderiam resolver sem mim.
- Sem problemas, pai. – menti – Vamos embora, por favor.
- O que foi? As enfermeiras não eram tão bonitas igual você achou? – ele disse rindo.
- Não. – neguei com a cabeça – Elas eram lindas, só tem outra pessoa que eu quero ver.
Durante o caminho até em casa ele me fez contar sobre os dois meses em que fiquei internado e o que fiquei fazendo de bom, que na maior parte do tempo foi frequentar os grupos de apoio e permanecer trancado no quarto assistindo série.
Ajudei-o a descer com as minhas coisas e dei uma bela olhada na casa antes de ir até a porta. Eu não conseguia acreditar que depois de três anos eu estava realmente voltando para um lugar que fui feliz pouquíssimas vezes.
No momento em que abri a porta ouvi um barulho de estouro e vários confetes no ar. A casa estava cheia de balões no teto e no chão e fiquei olhando para todos os lados tentando entender o que era aquilo tudo. Olhei para a cozinha e vi Catalina em pé com os olhos marejados e em pé ao lado de .
Fiquei parado no mesmo lugar olhando fixamente nos olhos de que começou a ficar com as bochechas rosadas. Andei até ela e a abracei com força sem acreditar que aquilo era real, que eu finalmente estava vendo-a de novo. Respirei fundo algumas vezes sentindo o cheiro dos seus cabelos misturado com seu perfume e ela apertou seus braços em volta da minha cintura.
- Puta merda, como eu senti sua falta. – sussurrei contra seu cabelo.
- Eu também senti sua falta. – ela soluçou e segurei seu rosto. Enxuguei sua bochecha e beijei a ponta do seu nariz.
- Não precisa chorar, eu estou aqui. – sorri de lado e ela fungou.
- Depois vocês fazem isso. – se enfiou no meio de nós dois – Agora eu quero um abraço também. – ela disse rindo e a abracei com força.
Virei o rosto para Catalina que estava chorando baixinho e a abracei levantando-a e girando-a no ar.
- Sentiu minha falta?
- Claro que sim. – ela choramingou – Está com fome? Nós fizemos várias coisas para você.
- Eu fiz um bolo. – disse orgulhosa e olhei para ela desconfiado – Eu coloquei a cobertura no bolo. – ela revirou os olhos – Não vem me desmerecer, pelo menos eu ajudei.
- E você, , o que você fez? – passei uma mão pela sua cintura e acariciei sua bochecha.
- Eu arrumei seu quarto e joguei todas as tranqueiras que tinha nele. – ela fez uma careta – E fiz palitos de morango com chocolate porque descobri que é seu doce favorito. – as bochechas dela coraram.
- Se foi você quem fez tenho certeza que estão ótimos.
- Eu não vou aguentar essa melação. – disse entediada – Ela só cobriu o morango com chocolate, nada demais.
- Está com ciúmes, ? – puxei-a pela cintura.
- Nem um pouco. – ela revirou os olhos.
- Você sabe que nós dois sempre vamos ter algo especial. – provoquei-a e se afastou.
- Credo, não façam isso na minha frente. – ela disse rindo.
- A gente até poderia ter algo especial, mas você desprezou meu beijo então não merece o restante. – beijei sua bochecha.
- Você deveria escolher só uma e não tentar ficar com as duas chicas. – Catalina disse rindo.
- Eu gosto das duas, mas já escolhi minha favorita. – falei olhando para que abaixou a cabeça envergonhada – Agora eu quero provar esse bolo logo.
Ficamos todos sentados no chão da sala comendo um pouco de cada coisa que Catalina e as meninas fizeram enquanto meu pai contava sobre o estado em que ele me encontrou. ficou rindo de mim por causa do vômito enquanto Catalina parecia preocupada, já apenas me fuzilava com os olhos vez ou outra.
Quando finalmente consegui um tempo, menti para que queria ajuda para guardar as minhas roupas e tranquei a porta assim que ela entrou no meu quarto.
- Você é um imbecil. – ela me empurrou contra o guarda-roupa.
- Hãn? O que eu fiz? – falei inocente – Eu só fechei a porta...
- Você não faz ideia do quanto eu esperei para acabar com você, . – ela deu um soco em meu peito – Você é um idiota. Não devia ter feito o que fez, e se você tivesse morrido?
- Só iria valer a pena se você sentisse minha falta. – falei rindo e ela me deu um soco no estômago – Ei.
- Você deveria ter me ligado. – ela ralhou – Ou mandado uma mensagem. Eu iria ler ela e te ligar mesmo que estivesse brava com você.
- Me desculpa.
- Não. – ela se sentou na cama e cruzou os braços – Você me deu um baita susto, sabia? – ela choramingou – Você não sabe o quão culpada eu me senti achando que era por minha causa.
- Desde quando você é convencida desse jeito? – me sentei ao seu lado e a abracei – Eu estou bem agora, ok? Eu não vou mais te assustar desse jeito ou fazer mais isso.
- Então me prometa. – ela me olhou séria – Me prometa que você nunca mais vai usar nada.
- Nada tipo...?
- Nada que possa te matar, .
- E o que eu ganho com isso? – sorri de lado e ela me deu um soco – Tudo bem, eu prometo.
- Eu vou acreditar em você, mas se eu descobrir...
- Você não precisa falar comigo nunca mais na sua vida. – falei sério.
- Senti tanto a sua falta. – ela me abraçou com força – Eu ligava todos os dias no seu celular só para ouvir sua voz. – ela sussurrou – Quando você me ligou e você disse meu nome... eu precisei me segurar para não falar com você e cumprir minha promessa.
- Fiquei desolado naquele dia. – confessei – Tudo o que eu queria era falar com você nem que fosse só um oi.
- Graças a você eu tirei a primeira nota baixa da minha vida. – ela disse rindo.
- Sério? – perguntei preocupado e ela assentiu.
- Tirei oitenta em uma prova que valia cem.
- Isso não é tão baixo, . – revirei os olhos e ela me deu um tapinha no braço.
- Para mim é.
- Enquanto eu estava lá tinha uma coisa que não saia da minha cabeça. – me deitei na cama e olhei para ela.
- Que coisa? – ela deitou apoiada nos cotovelos.
- Lembra que nós combinamos que se um dos dois se apaixonasse...
- Nós iriamos nos afastar sem dizer nada um para o outro. – ela completou.
- Então... – suspirei – Eu não acho que nós podemos...
- A me contou. – ela sorriu tímida – Logo que você foi embora de casa ela me disse que você estava com ciúmes porque gostava de mim.
- Foi só isso o que ela disse?
- Ela contou tudo na verdade, até a conversa que vocês tiveram no hospital. – ela me encarou – Sabe... eu saí com o Bennet.
- Hum. – murmurei – E como foi? – perguntei sem interesse.
- Nós fomos jantar em um lugar perto do píer e depois ficamos andando por lá mesmo. – ela abaixou o rosto e depois me olhou – Ele ganhou um urso gigante para mim.
- Por que eu não estou surpreso? – suspirei – E o que mais?
- Eu não vou contar tudo se você não quiser. – ela falou de um jeito inocente.
- Está tudo bem, , nós somos amigos, certo? – olhei-a decepcionado – Eu tenho que aprender a ouvir sobre esse tipo de coisa sua.
- Tudo bem. – ela encolheu os ombros – Enfim, depois nós fomos à roda-gigante e ele me beijou. – fechei os olhos lembrando-me de quando era eu naquele lugar com ela beijando-a.
- De surpresa?
- Sim. – ela franziu os lábios – Depois ele me levou para casa e nós nos beijamos no carro mais algumas vezes...
- Algumas vezes. – repeti para mim mesmo.
- Ele falou para nós entrarmos, não tinha ninguém em casa, e aí nós fomos para o meu quarto...
- Acho que eu não quero ouvir o restante. – baguncei os cabelos.
- Nós não fizemos nada. – ela me encarou.
- Não? – perguntei surpreso e ela negou com a cabeça – Então por que você está me contando tudo isso?
- Porque eu quero que você saiba tudo, não quero esconder nada de você, . – ela se sentou e me sentei ao seu lado – Foi estranho. – ela fez uma careta.
- Por que estranho? Ele babou na sua boca? – fiz uma careta de nojo e ela deu risada.
- Mais ou menos. – ela suspirou – Foi estranho porque... porque eu já tinha te beijado uma vez e então eu já sabia como era seu beijo.
- Eu sei que beijo bem. – falei convencido.
- Para de estragar o momento, . – ela disse irritada – Enquanto a gente se beijava eu tentei imaginar que era você, mas eu já sabia como era ter sua boca na minha e... era decepcionante abrir os olhos e não te ver ali.
- E por que você aceitou subir com ele para o seu quarto?
- Eu queria confirmar que aquilo não era só uma questão de beijo, mas sim de que eu não queria nada com uma pessoa que não fosse você. – ela me olhou envergonhada.
- Quero muito te beijar. – falei apaixonado e ela aproximou seu rosto do meu mais, eu coloquei meu indicador em seus lábios – Eu vou esperar.
- Esperar o quê? – ela se afastou decepcionada.
- Eu tenho mil e uma maneiras das quais eu posso te beijar, eu sei já as quais você não gosta, mas eu preciso de um tempinho para pensar na melhor delas.
- Não acredito que você está fazendo isso. – ela disse frustrada.
- Pode acreditar. – me levantei.
- Você é ridículo. – ela foi em direção à porta.
- Pode ficar brava o quanto quiser, mas a hora que eu te beijar você vai ter mais do que borboletas no estômago. – falei convencido e ela me mostrou o dedo do meio.
Guardei minhas roupas com um sorriso enorme no rosto apenas repassando todas as palavras de na minha cabeça em um loop infinito.
Quando saí do quarto a vi conversando com baixinho e as duas me olharam quando me sentei na frente delas. Olhei para com um sorriso malicioso no rosto e ela revirou os olhos.
Fiquei tentando encontrar o melhor momento, mas já estava me sentindo um idiota por não ter lhe beijado quando tive a oportunidade perfeita na minha frente. Vi o momento perfeito quando ela se levantou e foi para o banheiro. Fui atrás dela sem que ela percebesse e esperei até que ela saísse.
Passei um braço pela sua cintura no instante em que ela saiu e me viu, e puxei seu corpo para perto do meu. Rocei meus lábios nos seus e suas mãos foram direto para o meu pescoço, acariciando meus cabelos da nuca. Suguei seu lábio inferior levemente e ela entreabriu os lábios dando passagem para mim.
Levantei-a para cima e ela entrelaçou suas pernas em minha cintura com força enquanto eu caminhava meio descoordenado até meu quarto. Seu peito subia e descia rapidamente quando a coloquei deitada na cama e fiquei por cima dela beijando seu pescoço e mordiscando sua orelha.
Meu pênis doía dentro da calça, mas eu não conseguia pensar em nada para acabar com a ereção. Abaixei-me um pouco sobre ela e sem querer deixei que meu membro tocasse sua barriga e ela se retraiu.
- Relaxa. – sussurrei em seu ouvido – Eu não vou fazer nada, ok? Sem segundas intenções.
- Tudo bem. – ela disse tensa – Mas você está...
- Duro? Sim. – sorri fraco – Mas não vou transar com você agora se você não quiser.
Ela não disse nada então continuei trilhando beijos pelo seu pescoço até chegar novamente em seus lábios.
Meu coração parecia que ia pular para fora do meu peito e eu nunca tinha me sentido tão eufórico na vida assim nem mesmo com drogas. Era maravilhosa a sensação de beijá-la e poder senti-la se arrepiar quando a tocava.
Ouvi duas batidinhas fracas na porta e me empurrou para o seu lado. Olhei para a porta e vi com um sorrisinho malicioso nos lábios.
- Ele beija bem, né? – ela disse rindo e tapou o rosto – O quê? Não precisa se envergonhar, irmãzinha, você ainda nem viu as outras coisas que ele sabe fazer bem.
- Preciso concordar com ela. – falei ofegante e ela deu um tapa em meu peito – Agora por que você nos interrompeu?
- Sua mãe está aí. – ela mordeu o lábio – Achei melhor ser eu a vir aqui assim a não ficaria tão envergonhada de ser pega fazendo safadezas.
- Eu te odeio, . – ela disse chorosa e depois me olhou séria – Você precisa ir lá conversar com ela.
- Tenho mesmo? – fiz bico e ela assentiu.
- Acho que ela não vai embora sem falar contigo. – me encarou – Então é melhor você ir.
- Tudo bem. – levantei-me e arrumei meu membro ainda duro na calça – Desculpa, , mas eu acho que você nunca mais terá para te fazer revirar os olhos de prazer. – dei um tapinha em seu ombro e ela gargalhou alto.
- Está tudo bem, que tipo de irmã eu seria se pegasse o carinha da outra? – ela olhou para que jogou uma almofada nela.
- Senti uma tensão no ar. – olhei para as duas – Se vocês forem realizar meu sonho de ter duas irmãs o momento de se manifestar é agora.
- Vai logo falar com a sua mãe, . – disse rindo.
Respirei fundo várias e várias vezes enquanto andei o mais lentamente possível até a sala. Meus pais estavam sentados no sofá e olhei para os lados atrás de Catalina que não estava em lugar algum. Minha mãe se levantou correndo quando me viu e veio até mim tentando me abraçar, mas eu segurei seus braços e a afastei.
- O que você quer?
- Eu vim te ver, filho. – ela sorriu triste – Eu queria saber como você estava.
- Estou ótimo. Pode ir embora agora.
- , por favor, nós precisamos conversar e nos resolver. Todos nós. – ela olhou para o meu pai rapidamente.
- Não tem nada para resolver, Abigail.
- Como não, ? Eu sou a sua mãe, você não pode fazer isso comigo.
- Fazer o quê, me diz, por favor. – falei irritado – Me diz o que eu estou fazendo que é mais errado do que o que você fez comigo.
- Eu te amo, filho, você não pode me evitar para sempre...
- Quer apostar comigo? – fiquei cara a cara com ela – Eu cansei das suas merdas e meu pai finalmente também se cansou de tudo isso.
- Nós podemos nos resolver, , podemos voltar a ser uma família...
- Que família, caralho? – segurei ela pelos ombros – A gente nunca foi uma família, será que você é tão burra que nunca percebeu isso?
- ... – ela disse chorando.
- Você nunca foi a minha mãe, nunca, nem mesmo quando eu mais precisava de você. – gritei – Por que você quis ser mãe se nem sabia e muito menos queria cuidar de um bebê? Era para poder sair comigo no colo e mostrar para as suas amigas que você tinha conseguido dar um filho ao meu pai?
- Eu te amei desde o primeiro momento em que te tive em meus braços, ...
- Não vem falar de amor agora, Abigail, você não cuidava de mim, me maltratava se eu fazia uma coisinha errada e ainda ficou grávida de outro homem e queria que meu pai e eu aceitássemos você e a criança dentro de casa.
- Eu juro que isso não vai mais acontecer...
- Jure o quanto quiser, eu deixei de acreditar em você faz tempo e precisou eu quase me matar por sua culpa para o meu pai perceber quem você realmente é.
- Eu não te obriguei a usar droga alguma, , você fez isso porque você quis.
- Eu fiz porque eu queria esquecer que você existia. – gritei – Você não precisa mais correr atrás de mim, eu já cresci e envergonhei a família, não tenho mais nada para você, Abigail, mais nada.
- Você não envergonhou a família, filho.
- Claro, você fez isso por mim. – sorri cínico – Em breve você vai receber os papéis do advogado.
- ...
- Eu vou fazer o máximo possível para que você fique sem nada do meu pai.
- ... – ela olhou para o meu pai – Faça-o entender.
- Não tem nada para entender, Abigail. – ele se levantou – Você me traiu várias vezes, maltratou uma criança inocente e machucou o meu filho física e psicologicamente. Quem tem que entender aqui é você. Nós cansamos.
- Você não pode me tratar como se o que a gente teve não foi nada para você.
- É claro que foi algo para mim. Você me deu um filho e nós tivemos bons momentos, eu amava você, mas esse sentimento pelo visto não era recíproco se você tinha que procurar outros homens e não era honesta comigo.
- Eu te amo, . – ela correu até ele e o abraçou – Tudo bem se você não quer mais ficar comigo, mas eu preciso dele, eu preciso do meu .
- Quanto você quer? – falei entediado e ela me olhou confusa – Quanto você quer para ficar longe da gente?
- Eu não quero dinheiro, , eu só quero poder ficar perto de você.
- Eu fiquei perto de você por dezenove anos até você engravidar de outro. Se você não tivesse me negligenciado tanto durante a minha vida toda, quem sabe eu ainda sentisse vontade de ter você como mãe.
- Filho, eu não te negligenciei, eu simplesmente não sabia o que era melhor para você...
- Você nem tentava, porra. – gritei – Você não tentava. Eu chegava da escola e ficava ali. – apontei para o sofá – Eu ficava ali sentado te olhando. Eu pedia para você brincar comigo e você dizia para eu esperar um pouco enquanto você estava no telefone e ali eu ficava. – falei chorando – Eu fazia a minha lição, tomava banho rápido e ficava ali esperando você me chamar, esperando você me dar um pouquinho de atenção.
- Eu sinto muito se não fui uma boa mãe. – ela caminhou até mim – Você me odeia e por mais que eu insista você não vai me desculpar, mas eu preciso que você saiba que eu sinto muito por tudo.
- Tanto faz.
- Eu achei que fosse te perder. – ela me abraçou e não consegui ter coragem de afastá-la – Eu pensei que fosse perder o meu menininho. – ela chorou contra o meu peito – Nunca na minha vida eu senti tanto medo quando seu pai disse que você teve uma overdose. É claro que foi minha culpa, mas eu não... eu não consigo acreditar que eu te causei esse mal, ...
- Então não acredite. – sussurrei – Simplesmente vá embora e finja que eu nunca existi.
- Não peça para uma mãe esquecer da existência do filho, . – ela segurou meu rosto – Eu lembro todos os dias. – ela sorriu triste – Você acordava de manhã e se sentava à mesa para tomar seu café da manhã comigo, sempre quieto, mas sempre me olhando com curiosidade.
- Talvez eu estivesse procurando uma mãe em você.
- Abigail, vai embora. – meu pai disse com uma expressão derrotada – Por favor, só vai embora e deixa o . Ele voltou hoje e você só está estragando o dia dele.
- Tudo bem. – ela suspirou – Mas eu não vou desistir de você, filho.
- Faz o que você quiser, mas eu desisti de você.
- Eu te amo, filho. – ela acariciou minha bochecha e foi em direção à porta – Eu te amo muito.
Esperei que meu pai fechasse a porta e comecei a berrar. Chutei o encosto do sofá até que ele virou e joguei todos os porta-retratos da estante no chão. Eu parecia uma criancinha raivosa, mas eu não me importava, eu só queria quebrar o máximo de coisas que eu encontrasse na minha frente para não sair lá fora e matar a minha própria mãe.
Virei à mesa de centro quebrando todas as louças que estavam lá em cima e meu pai me segurou pelo pescoço com força me arrastando para o chão. Ele ficou sussurrando algo em meu ouvido e acariciando meus cabelos, mas tudo o que eu queria era que o mundo explodisse. Meu peito e garganta doíam e eu não conseguia enxergar nada ao meu redor. Era tudo um grande borrão com sons indistinguíveis.
- , olha para mim. – uma mão delicada tocou meu rosto, mas eu não conseguia saber de quem era a voz – Presta atenção em mim. Vai ficar tudo bem.
Finalmente consegui controlar minha respiração e ver abaixada na minha frente olhando-me preocupada.
- Eu estou aqui com você. – ela me beijou – Eu não vou mais sair de perto de você, vai ficar tudo bem, agora se acalma.
- Ela não vai mais chegar perto de você, , eu prometo. – meu pai beijou minha cabeça – Eu não vou mais a deixar fazer essas coisas para você.
- Me deixa ver sua mão. – sussurrou e lhe mostrei – Você machucou ela um pouco. Está doendo? – neguei com a cabeça – Vem, é melhor você ir para o seu quarto e descansar um pouco.
- Fica comigo. – sussurrei tão baixo que quase não ouvi – Por favor.
- Eu não vou mais sair de perto de você, . – ela sorriu.

Minhas mãos estavam suando e eu não conseguia parar de mexer meus pés de ansiedade e também um pouco de medo. Ansiedade porque não aguentava mais toda aquela enrolação para que chamassem o nome de para receber seu diploma, e medo porque me fez sentar ao lado de Luke que não parava de me olhar pelo canto do olho como se fosse me matar ali mesmo na frente de todo mundo.
- .
Seu pai e eu nos levantamos para vê-la e assoviamos praticamente juntos. Ela pegou seu diploma e sorriu timidamente para a foto, descendo do palco em seguida. Não prestei nem um pouco de atenção no restante da cerimonia, pois tudo o que eu queria era vê-la e lhe parabenizar por ter se formado com honras.
e eu corremos até que estava conversando animadamente com um grupo de pessoas. Nós dois a abraçamos por trás e ela deu um pulinho assustada.
- Seus idiotas. – ela disse rindo.
- Parabéns, irmãzinha. – a abraçou com força – Você estava linda, seu pai estava vibrando ao lado do .
- Vocês sentaram lado a lado? – ela me olhou surpresa e eu assenti.
- Nós somos melhores amigos agora. – puxei-a pela cintura – Parabéns por finalmente ter se formado.
- Finalmente? – ela passou os braços pelo meu pescoço.
- Eu achava que esse dia nunca ia chegar, mas agora eu tenho você só para mim. Chega de livros e trabalhos, agora é só nos dois. – sussurrei para ela.
- Então você tinha segundas intenções sobre eu me formar logo? – ela disse maliciosa.
- Mas é óbvio. – beijei sua bochecha – Você estava maravilhosa lá em cima. – dei-lhe um selinho.
- Filha. – Moira apareceu com um sorriso orgulhoso e me afastei de – Meus parabéns, querida.
- Obrigada. – ela sorriu.
- Vem aqui me dar um abraço, garota. – o pai dela disse rindo e a abraçou, tirando-a do chão – Parabéns, meu amor, você mereceu.
- Eu sei. – ela deu uma risadinha.
- O que você acha que jantarmos juntos hoje à noite para comemorar?
- Tudo bem. – ela me abraçou de lado – Agora nós podemos ir? Não aguento mais esse lugar.
cumprimentou algumas pessoas enquanto íamos para o estacionamento e acabei encontrando conversando com uma garota. Acenei para ele com a cabeça, mas ele disse algo para a garota e depois veio até mim.
- Quanto tempo, cara. – ele me deu um tapinha no ombro – Você está melhor? Fiquei sabendo do que aconteceu contigo um tempo atrás.
- Estou sim. – cocei a nuca e apertou seu braço em minha cintura – E aí, como você está?
- Bem. – ele deu de ombros – Minha prima estava se formando hoje. – ele apontou a garota que ele estava conversando – E você também. – ele sorriu para – Parabéns.
- Obrigada. – ela sorriu envergonhada.
- Vocês... estão juntos? – ele olhou para nós dois.
- Sim. – disse.
- Faz quanto tempo?
- Três meses. – ela sorriu para mim.
- Uau. – ele disse surpreso – Quem diria. – ele deu um tapinha no meu ombro – Por isso que não te vejo mais nos lugares...
- Eu parei com tudo.
- Isso é sério? – ele perguntou rindo.
- Quase morri por causa disso e ainda ia ser no meu próprio vômito.
- Isso ia precisar estar na sua lápide.
- Com certeza.
- Vocês homens falam umas coisas muito idiotas às vezes, sabiam? – disse rindo.
- Tudo o que eu conseguia pensar era que eu não queria morrer deitado no meu vômito.
- Pelo menos isso não aconteceu e agora você está bem. – ele sorriu para mim.
Conversamos mais um pouco sobre o quanto tempo fazia que a gente não se via e combinamos de sair algum dia desses, mas eu sabia que isso não ia acontecer.
- Tenho certeza de que vocês não vão sair e quando se verem de novo vão marcar mais uma vez. – disse quando entramos no carro.
- Você não duvida de mim. – beijei sua bochecha – Você disse que nunca iria sair comigo e olha só o que aconteceu.
- Não começa. – ela riu.
- E que história é essa de que estamos juntos? – sussurrei contra os seus lábios.
- Eu achei que... achei que estivéssemos juntos... – ela disse envergonhada.
- Eu não me lembro de ter te pedido em namoro e também não ouvi um pedido saindo da sua boca. – suguei seu lábio inferior e ela revirou os olhos.
- Ele perguntou se estávamos juntos, não se estávamos namorando, é diferente.
- Para mim é a mesma coisa. – beijei-a.
- Você é um idiota, sabia? – ela disse rindo – Eu não vou te pedir em namoro, não estou louca ainda.
- E se eu te pedisse em namoro? – falei malicioso.
- Só iria aceitar se estivesse bêbada.
- Não cuspa no prato que você come, .
- Eu só tive as entradas e até agora nada de prato principal igual a me prometeu.
- Desde quando vocês duas andam conversando sobre meus dotes sexuais? – perguntei rindo e suas bochechas coraram.
- Ela me contou tudo da primeira vez na casa do pai dela.
- E aí você ficou com vontade e agora quer provar. – liguei o carro e me virei para trás para dar ré.
- Claro que não. – ela disse rindo.
- Mas eu senti uma indireta para mim nesse ‘nada de prato principal’. – olhei-a rapidamente.
- Vamos parar com esse assunto, não quero mais falar sobre isso. – ela disse triste.
Olhei para ela várias vezes durante o caminho e em todas ela ainda estava encarando a rua pela janela com os dedos entrelaçados no colo. Quando parei o carro na garagem de casa ela nem esperou que eu fosse abrir a porta para ela e saiu andando meio brava. Eu não fazia ideia do que podia ter dito para que ela ficasse daquele jeito então corri atrás dela para descobrir antes que eu fizesse algo para piorar as coisas.
Encontrei ela deitada na minha cama descalça e com os pés para o ar, olhando para eles como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Tirei meus sapatos e a camisa e me deitei ao lado dela, passando a ponta dos dedos em seu ombro fazendo com que ela se arrepiasse.
- O que eu fiz ou falei para você estar bravinha?
- Nada. – ela sorriu fraco.
- Jura?
- Não. – ela deu uma risadinha – Mas eu não vou te contar, é coisa minha.
- Tudo bem. – suspirei – Você fica linda brava.
- Você sempre fala isso.
- Porque é a verdade e eu quero que você saiba. – beijei seu ombro – Você é linda de todas as maneiras.
- Eu não me acho tão bonita igual você diz.
- Mas eu acho e é isso o que importa para mim. – trilhei beijos em seu pescoço e ela suspirou – Eu gosto de como sua pele fica arrepiada. – sussurrei em sua orelha e ela suspirou alto.
- Gosta? – ela disse em um gemido e senti meu pênis enrijecer.
- Aham. – murmurei.
Fiquei por cima dela que estava de olhos fechados e os lábios entreabertos respirando ofegante. Segurei sua cintura e acariciei a região com o polegar enquanto beijava seu pescoço e brincava com a sua orelha. Ela gemeu alto quando beijei seu ombro e minhas bolas começaram a doer de tesão.
Levantei sua blusa lentamente e ela abriu os olhos fazendo-me parar. colocou sua mão na minha e voltou a puxar a roupa para cima e depois se levantou um pouco para tirar a peça.
Pela primeira vez na minha vida eu estava com medo de transar com uma garota. Eu tinha medo de machucá-la ou fazer algo errado, pois diferente da irmã, tinha me dito só ter feito aquilo uma única vez na vida e eu queria dar o melhor a ela.
Abaixei minha calça e a cueca e depois a virei para cima me ajudando-a a se livrar de suas roupas. Fiquei em transe por alguns segundos olhando seu corpo nu em cima do meu sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo.
Passei as mãos lentamente pelas suas coxas e subi pelas suas costas trazendo-a para mais perto de mim e beijando-a apaixonadamente. Senti o bico rijo de seus seios contra o meu peito e massageei um deles, fazendo-a gemer alto e me deixando mais excitado e com dor.
- ... – suspirei – Você tem certeza disso? A gente pode esperar mais um...
- Shiu. – ela me beijou – Eu quero você, . – ela me olhou de um jeito meio selvagem e com um sorriso malicioso.
- E se eu te machucar?
- Não sou nenhuma virgem, , apenas relaxa... – ela beijou meu pescoço e mordiscou minha orelha – E faz o que você sabe de melhor. – ela abaixou e tocou seu sexo quente e molhado em meu membro fazendo me arfar.
Tentei fazer tudo com o maior cuidado do mundo, mas ouvir gemendo meu nome me deixou louco e perdi totalmente o controle.
Olhei para ela deitada ao meu lado na cama e com um sorrisinho bobo nos lábios enquanto me olhava. Acariciei sua bochecha e beijei seu queixo, subindo mais um pouco e beijando-a rapidamente.
- Você tem uma cara de pós-sexo que é muito bonita. – falei apaixonado e ela enfiou o rosto no travesseiro – Olha para mim, não me esconda esse rostinho malicioso.
- Quantas vezes eu preciso falar nessa vida que você não presta? – ela disse com a voz abafada.
- Não sei, mas acho que é bastante. – fiz cosquinhas em sua costela e ela virou o corpo gargalhando alto – Eu gosto muito de você. – sussurrei.
- Eu também gosto muito de você. – ela me beijou – Mesmo quando você ficar me atormentando e me tirando do sério.
- Ei, eu não te atormento tanto assim. – fingi estar ofendido e ela deu uma risadinha.
- Atormenta sim. – ela se deitou por cima de mim – Mas aí eu lembro que você é uma criancinha no corpo de um homem e perdoo.
- Um corpo muito bonito por sinal. – falei convencido.
- Sim. – ela beijou meu pescoço – Apenas alguns defeitos, mas são de personalidade.
- Eu sou perfeito.
- É sim. – ela gemeu em meu ouvido e eu arfei – Pena que é convencido demais.
- Não posso evitar. – suspirei – Eu quero você.
- De novo? – ela me olhou surpresa – Ainda nem me recuperei.
- Não desse jeito, pelo menos não agora, você acabou comigo. – falei rindo – Eu quero você para ser minha.
- Eu sou sua. – ela sorriu.
- Porcaria, eu nunca fiz isso na minha vida.
- Fez o quê?
- Eu queria fazer algo romântico e te levar para a roda-gigante onde eu te beijei pela primeira vez, mas você sabe que eu não sou assim.
- Você não precisa fazer nada romântico para mim, .
- Na minha cabeça eu preciso porque eu quero que você se lembre sempre dessas coisas e lembre-se sempre de mim.
- , eu sempre vou lembrar de você. – ela disse carinhosa.
- Eu sei só que eu tenho problemas maternos, tenho medo de você me esquecer.
- E por que eu faria isso?
- Sei lá. – suspirei – Vai que você percebe finalmente que eu não sou bom suficiente para você?
- Você gosta de mim? – assenti – Então isso é suficiente.
- Quer namorar comigo? – olhei fundo em seus olhos e ela sorriu.
- Achei que você nunca fosse perguntar. – ela me beijou – É óbvio que eu aceito.
- Tem certeza? Não vale desistir depois.
- Como você disse uma vez, o tipo preferido de garotas como eu são os bad boys. – ela disse maliciosa.
Eu não precisava de nenhuma droga ou bebida para aliviar minha dor ou me sentir melhor. Tudo o que eu precisava estava ali na minha frente, a melhor garota do planeta com o pior cara da cidade. Seu jeito calmo e delicado se misturava perfeitamente com meu jeito selvagem e nós estávamos sempre na mesma sintonia.
Nenhuma droga no mundo se comparava com os efeitos que sentia ao ter em meus braços. Ela era tudo o que eu nunca quis, mas o que sempre precisei para me manter são enquanto eu era tudo o que ela precisava para ficar louca. Um completando o outro com nossas personalidades totalmente diferentes.



Fim



Nota da autora: (25.06.2017) Essa foi uma shortfic que gostei muito de escrever, abordando um tema que me fez sair da zona de conforto apesar de conhecê-lo com propriedade, e espero muito que vocês gostem.
Qualquer crítica ou sugestões, estou sempre aberta para recebê-las e respondê-las.
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