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The Reds






Última atualização: 24/12/2016

Capítulo 1


Oito anos atrás
– Mas , você precisa ir. – Eu disse após mais uma discussão.
Oi, prazer. Me chamo e essa é minha história. Tenho dezoito anos e atualmente curso direito em uma cidade do interior de Minas Gerais. Nem sempre quis cursar direito, meu sonho mesmo era a medicina, a ideia de cuidar de pessoas – principalmente crianças – me fascinava. Eventualmente (com isso quero dizer no segundo semestre do último ano do ensino médio) me interessei pelo direito. Acho que posso culpar as séries que eu assistia, elas sempre colocavam os advogados como os fodões e aquilo era simplesmente demais. Outro fator importante é minha louca vontade de fazer justiça. O direito é uma profissão linda e ao entrar nela eu poderia ajudar uma mulher que apanhasse do marido, mas que não podia se separar por causa dos filhos. Ou então eu poderia colocar uma empresa inteira na cadeia, porque eles não agiram de acordo com alguma lei ambiental, e isso é maravilhoso. É claro que a justiça tinha suas falhas, como no caso de OJ Simpson. É obvio que ele matou a mulher, mas ele foi absolvido porque tinha a equipe mais famosa do mundo jurídico, a "equipe dos sonhos", basicamente três advogados dispostos a passar por cima de todos os limites e acabar com toda moral que eles podiam ter para livrar um assassino da cadeia. E claro, eles conseguiram. E era isso que me irritava no direito, a falta de caráter daqueles que deveriam querer fazer justiça, mas não a fazem. Por isso, quando entrei na faculdade, fui com a ideia de me especializar em direto desportivo, eu amava esportes, principalmente o futebol, e se eu conseguisse conciliar os dois eu estaria realizada.
Na mesma época que decidi cursar direito conheci o , quero dizer, já estudávamos juntos havia seis meses, mas nos tornamos amigos mesmo nas últimas semanas de escola. é louco por futebol. Um cruzeirense fanático, assim como eu. É estranho o quanto 22 pessoas correndo por um campo perseguindo uma bola pode te fazer sentir conectado com outros milhões de pessoas. E foi isso que aconteceu quando conversei com o pela primeira, digo realmente conversei, e descobri nosso interesse mútuo pelo Cruzeiro e pelo futebol, foi como se nos conhecêssemos há anos e desde então temos sido inseparáveis. Até o meio desse ano quando finalmente começamos a namorar e tudo mudou. Para melhor. É claro que nossa rotina é corrida, a minha faculdade é à noite, mas às vezes preciso estudar o dia inteiro, e ele, bom, ele quer ser jogador. Não era um sonho impossível claro, até porque após a temporada 2016/2017 o Cruzeiro está procurando uma estrela que o ajude a se reerguer, e o garoto tem talento, tanto que na escola ele era a pessoa que mais fazia gol durante a época de interclasse. Porém, uma coisa é uma partida de futsal uma vez na semana durante dois meses por ano na escola, outra coisa era fazer disso seu ganha pão. Mas eu acreditava, acreditava tanto que mandei um vídeo dele jogando para a comissão do Cruzeiro, e imagina o tamanho da minha surpresa quando recebi um email dizendo que eles tinham interesse em fazer um teste com o . Quase nem acreditei. E pelo visto nem ele, já que estávamos agora tendo a nossa quarta briga a respeito do mesmo assunto.
– Mas , você precisa ir. – Eu disse.
– Eu não quero, . – Ele disse olhando diretamente pra mim.
– Por que não? Você é talentoso. Se não fosse, eles não perderiam tempo com esse teste. – Eu falei, tentado convencer esse cabeça dura de que era o melhor pra ele.
– Posso ser talentoso, mas também há muitas outras pessoas talentosas. Por favor, entenda, eu não quero me encher de esperanças, nem tão pouco a você. Eu não quero que você se decepcione caso eu não consiga.
– Você vai me decepcionar caso resolva não fazer o teste. Se você for lá e conseguir, ótimo. Se não, há muitos outros clubes por esse Brasil que com certeza vão te querer, pode ser até da série B. Por favor, , faça o teste. – Eu disse. Para uma pessoa que estuda direito, ganhar essa discussão não estava sendo fácil. Principalmente porque não tinha certeza que eu queria que ele fizesse o teste, pois a minha parte racional dizia que ele vai passar, e com isso nosso relacionamento que já estava complicado se tornaria ainda mais com ele a quatro horas de distância de mim, enquanto minha parte emocional me dizia que a gente iria dar um jeito e que é o sonho dele. É uma constante briga dentro de mim.
– Você não entende, .
– Pode me falar o que eu não entendo? Porque pra mim parece que você está com medo de tentar.
– Não é só minha vida, ou a sua, ou até mesmo nosso relacionamento que está em jogo aqui. É o meu sonho. É o que eu quero ser desde quando eu era apenas uma criança, é meu futuro. E se eu for lá e eles me disserem que eu não sou bom o suficiente, eu não vou saber lidar com isso. – Ele falou, claramente cansado dessa discussão.
– Lembra do ano passado quando ainda nem éramos amigos, mas todo mundo sabia do meu sonho de ser uma médica? Lembra também da minha decepção quando eu percebi que eu não iria conseguir nota para uma federal? Lembra o tanto que eu fiquei devastada? Pois eu lembro de tudo isso. E com certeza eu vou sempre me perguntar como seria se eu tivesse insistido na medicina. – Na medida em que eu ia dizendo ele apenas assentia. E eu falava isso mais como um desabafo do que para convencê-lo. Ser médica era tudo que eu sempre quis, e ter que desistir disso foi simplesmente devastador. – Mas eu me lembro de outras coisas também. Lembro de quando decidi fazer direito. Lembro de quando eu contei pra minha tia e ela ficou tão feliz, porque eu, a coisa mais próxima de uma filha que ela tem, decidiu fazer o mesmo curso que ela. Lembro também quando eu ficava horas e horas pesquisando sobre o curso e ficava contando os minutos pra poder comprar meu primeiro Vade Mecum e da felicidade imensa que eu senti quando finalmente o comprei. O que eu estou tentando dizer é que o direito não era o meu sonho, a medicina era. E agora eu não me vejo fazendo nada que não envolva o mundo jurídico. E o melhor de tudo é que eu ainda posso ajudar as pessoas. Vá lá, faça o teste, e se não der certo eu tenho certeza que você vai encontrar outro sonho.
– É diferente, . Você é inteligente, se tivesse insistido mais um pouco conseguiria nota pra medicina, mas você não insistiu e de alguma forma isso foi melhor pra você, pois você se encontrou no direito. Agora, eu não sou inteligente, eu não quero fazer uma faculdade e o futebol é o único futuro que eu vejo pra mim, se de alguma forma esse futuro for tirado de mim eu não vou ter nada.
– Do que adianta você ter essa visão de um futuro perfeito se não vai atrás e luta por ele? – Eu perguntei decidida de que era meu último argumento e depois eu iria deixá-lo tomar a decisão sozinho. – E se você não conseguir, eu ainda vou estar com você e juntos nós vamos decidir um novo futuro pra gente. Porque eu e você estamos juntos nessa.
– Tudo bem. – Ele falou, finalmente cedendo. – Mas você vai comigo, eu preciso da minha torcedora número 1 lá. – Ele disse sorrindo.
, você sabe que eu queria, mas... – Eu comecei.
– Sem mas , por favor. – Ele fez um biquinho quase impossível de resistir.
– Eu não posso meu bem, você sabe como é a faculdade nesse fim de semestre, eu tenho milhares de provas e a de penal vai acabar comigo. E você sabe, eu preciso estudar, se eu perder a bolsa minha família me mata. – Eu falei.
– Ultimamente parece que você namora com o direito e não comigo, por favor , vamos comigo. – Ele tentou me convencer.
, não é que eu namore o direito, mas você sabe como é. Minha família concordou em pagar a faculdade pra mim, mas com a condição de que minhas notas sejam boas e que eu não reprove em nenhuma matéria de nenhum período. Eu achei que você estava de boa com isso. – Ele sabia o quão importante era pra mim manter boas notas, na escola eu nunca havia pegado recuperação e eu tinha conseguido passar no vestibular em segundo lugar, o que não era pouca coisa já que era bastante concorrido, mas agora que eu estava aqui no segundo período parecia que era tudo mais difícil. Não que eu fosse precisar da matéria de direito penal, já que eu queria me especializar na área desportiva, mas mesmo assim eu não poderia correr o risco de perder minha bolsa de 50%.
– Eu estou , mas parece que ultimamente tudo que importa pra você é a faculdade. – Ele bufou, o que me deixou com muita raiva. Ele não poderia querer que eu vivesse pra ser tiete dele.
– Você está sendo injusto e sabe disso, por isso vou embora antes que isso vire mais uma discussão. Mas eu te digo isso, vá lá e arrase, se transforme no melhor jogador daquele clube, eu torço por você. – Eu terminei e fui embora. Estava tão chateada com ele que nem olhei para trás ou falei o habitual "eu te amo" antes de sair.

Continua...



Nota da autora: sem nota. (24/12/2016)




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