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Última atualização em: 25/08/2020

1. Her


O porão continuava empoeirado e, portanto, continuava espirrando. Parecia que, para seu avô, não importava quantas vezes espirrava, o velhinho continuaria a desejar saúde. Foi assim que passara a última semana de férias de verão: agradecendo as 6743 vezes que o avô falou “saúde” por causa da maldita rinite, ou seja, limpando o porão do vovô Stefan. Duas festas recusadas e contando.

atravessa o porão, o canto esquerdo era o único que faltava ser organizado, e tudo que pensava era sobre como estaria livre depois que terminasse aquele último pedaço. Talvez não perdesse a festa na casa de Chad, o capitão do time de futebol da escola e, coincidentemente ou não, seu melhor amigo – certo, eles estavam brigados desde que Chad começara a namorar Ashley, crush supremo de desde a quarta série, mas isso não o impediria de ir à festa. Nada o impediria, a não ser seu avô que continuava insistindo para que terminassem hoje, ele com certeza impediria.

O porão era ligeiramente pequeno, mas parecia conter toda a magia de uma lâmpada mágica (perdoem o trocadilho), pois tinha certeza que caberia o Louvre inteiro dentro. Antes de começarem a empreitada de arrumar e caçar os ratos intrusos, que habitavam o cômodo junto com as relíquias dignas do museu, o quarto estava lotado, mal conseguia dar um passo para dentro, mas sabia que nada tiraria da cabeça do vovô Stefan, a faxina naquele lugar. Depois de dar uma vasculhada pelo cômodo, ajudou seu avô a subir e começou a sessão de espirros.

— Precisamos terminar hoje, ! – disse Stefan de sua poltrona, a qual fizera trazer para cima depois de “uma forte dor no quadril”, do lado direito do porão. – Sonhei essa noite com algo que eu tinha quando era um pouco mais velho que você, quero que fique com ela.

— Podemos procurar por isso depois, vovô – ele respondeu, movendo uma caixa pesada de papelão. Empoeirada? Pode-se dizer que completamente feita de pó, já que quebrou o record de quantidade de espirros por minuto, pude ouvir de onde eu estava.
Ah! Certo! Você acha que eu sou um narrador em terceira pessoa ainda. Sinto muito, mas não vou me apresentar ainda, prefiro manter o suspense. Tão misteriosa quanto uma dançarina árabe de dança do ventre... Adoro!
— Deixe-me ver essa caixa – Stefan se inclinou da poltrona vermelha que estava sentado, puxando o ar com os dedos.
— Seu desejo é uma ordem... – murmurou, empurrando a caixa para o outro lado do cômodo com... Ah! Aqueles músculos. Matenha a concentração!
Assim que a caixa chega a seus pés, Stefan abre-a e vasculha as coisas de dentro, retirando apenas um álbum fotográfico roxo do fundo. Ele passa a mão na capa, olha algumas das primeiras fotos e o derruba novamente na caixa:
— Tudo lixo. Pode jogar fora – com um suspiro, joga a caixa no pequeno buraco que conectava o porão com o resto da casa.
Nosso protagonista bonitão estava ficando irritado. Ele amava o avô mais que tudo na vida, mais até que Ashley, mas seu modo sistemático sempre o irritava e, naquela faxina, era o que mais mostrava da personalidade de Stefan. Era sempre assim: nova caixa, nova olhada, tudo lixo. Se o grande motivo dessa arrumação maluca era jogar tudo fora, por que ficar olhando as caixas empoeiradas? Para enlouquecer sua rinite?
— O que está esperando, filho? – seu avô pergunta, analisando brevemente o neto parado há alguns centimetros da portinhola. – Nenhuma dessas caixas vão ser movidas sozinhas. Não tenho força e muito menos telecinese para arrumar tudo isso sozinho.
O grande relógio de pêndulo antigo que vovô Stefan afirmou ser relíquia da família, tiquetaqueava devagar enquanto o celular de tiquetaqueava rapidamente. (Está certo falar assim? Celular tiquetaqueia quando recebe mensagem? Ninguém nunca me contou como realmente era...) Ele tinha certeza que era sobre a festa. Chad convidando mesmo depois da briga? Possivelmente. Chad falando que terminou com Haily? Não tão possível. Haily clamando por chegar na festa porque não sabe viver sem ele? Sonha menos, . Ele queria muito pegar o celular, mesmo sem nenhuma esperança de ser a última opção, mas a última vez que pegara o aparelho, o avô deu um tapa leve em sua mão, dizendo o quanto era irresponsável pegar o celular perto de tantas coisas antigas... “Elas podem se revoltar, menino”.
Não pegou a tecnologia do bolso, era só mais um motivo para briga. Ao invés, pegou a última caixa do chão, atravessou o sótão - não esquecendo de mais um espirro (“saúde”, disse Stefan)– e colocou-a aos pés de seu avô:
— Essa é a última – soltando um suspiro, apoia as mãos nos joelhos. – Seja o que for que o senhor queira me dar de tão urgente ou está aí dentro ou o senhor perdeu junto com a venda de garagem do ano passado.
Stefan olha dentro da caixa de papelão. Se eu estivesse junto, reconheceria todas as mínimas coisas que estavam lá dentro: dois walkie-talkies verdes, uma máquina fotográfica Polaroid, um caderno de capa dura e, por fim, um cobertor vermelho xadrez que, para surpresa de , não estava dobrado como seu avô sempre deixa os cobertores, mas sim embolado.
— É esta – podia jurar que os olhos de seu avô estavam com lágrimas, mas, como rinite é algo passado junto com o DNA, apenas apontou para o bolso da calça de seu avô. Ele sabia que o lenço estava lá. – Leve a caixa para a sala com muito cuidado. Muito. Cuidado. Depois, volte para me ajudar a descer para lá.

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A casa cheirava à macarronada especial do vovô Stefan. Era a primeira vez em anos que o avô de cozinhava, especialmente aquele prato. Era o favorito da filha e, depois que ela se fora, não fazia mais sentido em faze-lo novamente. A mãe de era a faísca de loucura e felicidade da família, desde os tempos da mamadeira. Quando a notícia do acidente de trêm chegara naquele 7 de julho, todo o fogo se extinguiu.
A mesa foi posta e os pratos esvaziados rapidamente, nada poderia ser melhor que a macarronada especial depois de uma longa semana de limpeza. não notou a comida a mais, mesmo sabendo que seu avô nunca errava a quantidade (Stefan se gabava muito por isso, dizia que aprendeu com a esposa), mas nunca foi alguém que repara nos detalhes. Se reparasse, me pouparia de muitos perrengues para saber tim tim por tim tim como foi antes de fazer minha entrada triunfal.
Já estava tirando a louça suja da mesa, quando foi interrompido:
— Pode deixar aí, temos uma coisa mais importante para fazer antes – Stefan se segura nas paredes verdes desbotadas, que já deveriam ter sido pintadas há meses, atravessando a pequena sala de jantar até a sala.
Os cômodos conjugados davam para o neto um pouco de sossego, é mais fácil se locomover sem ajuda, quando não há uma porta atrapalhando. Assim, tudo que precisava fazer era manter as passagens limpas, sem cadeiras ou outros móveis no meio do caminho. Às vezes esquecida? Os vizinhos bem sabiam quando.
assiste o avô sentar na poltrona preta que ficava em frente a televisão, mas, ao contrario de todas as outras noites, ela não é ligada. Puxa para perto a caixa que repousava na mesinha de centro de vidro e revira até pegar o cobertor xadrez.
— O que é isso, vovô? – o neto se aproxima, puxando uma cadeira da salinha de jantar. Sentar no sofá não seria a melhor das opções, quebrara nos últimos dias.
— Isso é o seu presente de aniversário – ele afaga o cobertor lentamente. – Quando eu fiz 17 anos, meu pai me levou em uma loja de relíquias. Eu sei que é estranho, principalmente falando agora, mas tudo que era velho me fascinava. Você me conhece! Quando entramos, a vi prontamente e nada, nada, me fazia mudar de ideia. Meu pai, seu bisavô, tentou até empurrar para mim uma máquina de escrever antiga. Quando levei para casa e esfreguei um pouquinho...
— Vovô! Eu não preciso saber das coisas que o senhor fez quando era adolescente! – fez cara de nojo, colocando uma das mãos no rosto.
— Certo – Stefan riu estrondosamente. Se inclinando para entregar o cobertor velho ao neto, acrescentou: - Tome cuidado, ela é muito importante.
pegou o cobertou com as duas mãos, esperando mais um espirro, que não chegaria ainda. Esperava ser todo macio, mas havia algo dentro e o cobertor “dobrado” começou a fazer mais sentido na sua cabecinha: seu avô não havia sido descuidado, ele havia embrulhado algo. Ao retirar o cobertor, ele descobriu o “algo”.
— Uma molheira? – ele levanta uma sobrancelha, pegando o objeto pela alça. Ultrajante, eu sei, comparar uma lâmpada, a minha lâmpada, com uma molheira.
— Olhe mais perto – seu avô estava sério, mas nada disso transparecia em seus olhos, que pareciam estar sorrindo.
revirou a “molheira”. A alça no fim era a única coisa que deixava esta lâmpada parecida com as demais. Com uma tampa maior que o normal, com o formato de quando a casquinha de sorvete fica perfeita, era incrustrada de pedras roxas na lateral, formando um circulo central, que teve que soprar a poeira para enxergar melhor. Abaixo das pedrinhas, havia algo escrito.
— O que tem aqui em baixo, vovô? – ele chega mais perto, franzindo os olhos.
É aí que tudo começa. Ele leva o polegar direito, o que não estava segurando a alça, já que era canhoto, à lâmpada e passa suavemente pelas palavras gravadas na lateral da relíquia de família. “Que o seu desejo se torne realidade”. Tenho certeza que deve ter pensado que era a frase mais cafona que ele já havia lido e olha que ele já leu todos os romancinhos adolescentes possíveis, para ter o que conversar com a Ashley, claro. Mas o cafona foi substituído por surpresa, assim que olhou para o bico da lâmpada, que soltava uma fumaça tão roxa quanto as pedras da “molheira” – seus olhos também se reviram quando eu digo “molheira”?
A fumaça ia tomando forma e o sorriso do avô também, já sabia, afinal, tim tim por tim tim o que aconteceria. , por outro lado, era uma criança assustada com os palhaços do circo: cheio de cores, mas assustador mesmo assim. Quando a sala toda parecia tomada de fumaça roxa, ela se dissipou rapidamente, como se nunca tivesse existido, deixando uma mulher parada com as costas bem a frente de . Eu!
— As coisas já estavam mesmo ficando mais apertadas – levanto os braços, alongando-os. - Quantos anos se passaram desde que saí pela última vez? Cinquenta? Cem? Não importa quantos foram, sempre passam mais devagar. Ficar na lâmpada, esperar o próximo mestre... As coisas seriam tão mais divertidas se ele aparecesse no minuto que o último tivesse terminado com os desejos... Odeio esperar – me viro, encarando um completamente paralisado no sofá, só que nessa hora eu não sabia que era só o que ele fazia quando estava pensando em fugir ou no que dizer. E claro que nem sabia que ele se chamava . Por que é tão confuso contar uma história depois?
Então, onde eu estava? Certo! Saio da lâmpada e encontro um garoto, 17 anos mais ou menos, belos músculos, mas um olhar de banana e um velhinho de mais de 60 anos, se a cor da dentadura dele não estiver me enganando. Os olhos dos dois são, com certeza, iguais e não estou nem falando da cor, mas o formato, o olhar... Eu conhecia aquele olhar.
— Mestre Stefan? – pisco os olhos, deixando-os um tempo fechados. Não era possível, até era, mas naquele momento não era, que aquele senhor era o meu mestre Stefan. O mestre que tinha os olhos mais serenos e atentos todas as vezes que entrávamos em uma loja de usados. O mestre que deixava qualquer menina de coração derretido, menos uma.
Me ajoelho em frente a mesinha de centro que nos separava:
Como o tempo passou tão rápido assim?
, você está esquecendo nosso trato sobre o “mestre”? – ele respondeu. Era ele.
— Mestre? – franzo a testa levemente, ou achava que era levemente, já que falou mais tarde que havia verdadeiros vincos na minha testa. – Claro! Novo amo! – bato a mão na testa, me virando novamente. Como o garoto não havia falado nada ainda? Com uma voz ridícula de apresentador de televisão repito o discurso memorizado pela décima quinta vez: - Meus parabéns! Você encontrou a lâmpada de , a melhor gênia da lâmpada desde o original! Além da minha convivência magnífica, você ainda ganha mais três, isso mesmo!, três desejos! Meu superior mandou avisar que não pode pedir mais desejos.
Termino com uma piscadinha, que achava que não foi notada pelo novo amo, estupefato demais para notar qualquer coisa. Ele abre e fecha a boca, devagar. O que não faltava em minha cabeça eram comentários engraçadinhos, mas todos eles foram deixados de lado quando Stefan se agarrou nos braços da poltrona e se levantou, vagarosamente:
, pode me deixar na cama? Meu quadril não é mais o mesmo e depois de horas tentando achar a lâmpada... Além disso, vocês precisam de um tempo sozinhos. Explique tudo para meu neto – arregalei os olhos com as últimas palavras. Neto? Stefan já tinha idade para ter um neto?
— Claro, vovô – não pude deixar a risada escapar. Surpresa depois, deboche primeiro. Esse é o meu lema! Estalei os dedos, transportando um dos meus melhores amos para a sua cama. – Então... – circundo a mesinha de vidro, finalmente notando as roupas que usava quando saí da lâmpada.
Com uma calça larga nas pernas terminando em uma tornozeleira de ouro em cada perna, giro levemente para sentir o movimento. As pedras penduradas na minha cintura tintilam, não só agora quando giro, toda vez que me mexo. Um top cobre meus peitos e, nos pulsos, as pulseiras douradas grossas que, na verdade, significavam as minhas algemas. A prisioneira da lâmpada.
— Por que todo esse roxo? – o garoto parece notar que olho para as minhas roupas, já que lilás era a cor de todas as peças. – E por que você está descalça?
— Por que não roxo? Precisa concordar que é a cor mais bonita – sento na poltrona, cruzando as pernas. Responder o porquê de estar descalça só deixaria a conversa repetitiva. – Muito bem... Como é o seu nome? Não acho delicado te chamar de pequeno Stefan.
– ele diz, colocando minha casa em cima da mesinha de centro.
— Certo, , antes de você começar a pedir qualquer coisa, preciso te contar das regras.
— Regras? Você disse três desejos e agora tem regras? Não está certo isso, não!
— Se não te agrada reclama no PROCON, fofo! Regras para que eu não fique de idiota quando não conseguir realizar algum desejo. Nem tudo é permitido para mim – revirei os olhos. Garotos adolescentes, eles nunca iriam mudar? Fazendo um médio quadro de luz LED aparecer ao lado da minha cabeça, listando o que eu dizia, comecei a ditar as regras: - Número 1: Eu não posso matar ninguém. Fica meio complicado depois quando a polícia me investigar. 2: Eu não posso ressussitar ninguém. Não precisamos de nenhum Frankenstein solto por aí. Por fim, mas não menos importante, número 3: não posso obrigar ninguém a se apaixonar. Amor é muito mais complicado do que um simples feitiço de gênio da lâmpada.
Ele se levanta, colocando uma mão na boca e balançando a cabeça. Parecia agitado, como se as regras lhe incomodassem. Minhas regras nunca incomodaram ninguém, só, claro quem queria conquistar o amor – sim, estou falando de você, Stefan querido – ou quem queria matar o inimigo.
— Então você não serve para mim – diz.
— O quê? – eu quase grito, me levantando. Quem ele queria matar? – Você não passa de um garotinho mimado! Te dou a oportunidade de ter o que mais você quiser, menos essas três coisinhas, e você recusa todas elas? Tem noção que pode pedir, sei lá, a paz mundial?
Aí está uma coisa que nunca me pediram. A paz mundial. Quem se preocupa com o mundo quando você pode ter o que quiser só para você? Três pedidos... Três egoísmos, um atrás do outro.
— Tudo que eu quero é minha mãe de volta – ele bufa. – Minha mãe, minha avó e Ashley. Você não pode me dar nenhuma delas – franzo a testa. Vivian havia morrido? Quando? Como? Ah, santa Lâmpada...
— Espera... Quem é Ashley? – minha cabeça cai para a direita, com curiosidade. – Não conheço sua mãe, mas é filha de Stefan. Vivian me deu muito trabalho, sei muito bem quem é, mas... Quem é Ashley. É a menina que você quer matar?
— Matar? – ele grita um pouco baixo. A cara dele não estava muito das boas, estava com medo que ele fosse me mandar ficar na lâmpada... Não seria a primeira vez. – Não! A Ashley é a garota mais doce e linda que eu conheço, por que alguém iria querer matá-la?
— Então você está apaixonado por ela... Interessante – eu ia falar que ele tinha listado dois ótimos motivos, mas achei que ele iria ficar muito bravo. – O que tem com vocês meninos que só querem conquistar uma garota? – ele cerra os olhos e eu suspiro. – Quando eu digo que sua avó me deu trabalho, eu realmente quis dizer isso. A quem você acha que seu avô pediu ajuda para começar a namorar com uma garota como Vivian?
— Mas você disse que... – ele me olha, estarrecido.
— Eu disse que eu não podia obrigar ninguém a se apaixonar. Nunca vi nada nas regras sobre ajudar – eu dou uma piscadela.
— Você pode me ajudar, então?
— Só depois que fizer o pedido oficial – eu levanto, praticamente coçando os dedos, fazia muito tempo desde a última vez que eu tinha aquele puxãozinho no estômago. Claro, os punhos ardiam, já que as algemas esquentavam a fim de me lembrar do compromisso que eu tinha com meu amo.
— Eu desejo que me ajude a conquistar Ashley – ele diz, contornando a mesa de centro para chegar mais perto de mim. Sempre é tão bonitinho o primeiro desejo, o tom formal, quase esperando que alguém saia de algum canto gritando que é uma pegadinha.
— Que o seu desejo se torne realidade – Levanto os dois braços na altura do peito e os cruzo, assentindo com a cabeça logo depois. Completamente teatral, não preciso balançar cabeça nenhuma para fazer com que as coisas aconteçam. Ele parecia desapotado, então completei: - Eu estou com fome, nada vai acontecer antes de eu comer alguma coisa.
E, simples assim, lembrou e entendeu a porção errada de macarrão.

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Empurro o prato vazio, soltando um arroto. O que é? Fazia mais de vinte anos que eu não comia nada do mundo humano! Você não pode me julgar. Enquanto eu estava comendo, não tirou os olhos de mim, não de uma forma romântica, longe disso. Ele esperava, parecia querer falar alguma coisa, a urgência estava em seus olhos, mas eu não queria conversar. Comida antes, desejos e conversas depois.
— Posso falar agora? – ele levanta uma sobrancelha e continua quando aceno, levando o copo de suco de morango aos lábios. – Ashley está numa festa na casa do namorado dela, Chad.
— Você está me dando mais trabalho que eu imaginava, pequeno – bufo. Namorada? Ele não disse nada de namorada antes. – Você foi convidado?
— Você me insulta – coloca a mão no peito, fingindo estar ofendido. – Acha que o meu companheiro de time não me convidaria para uma festa na casa dele?
— Ótimo! Nós vamos – coloco o copo na mesa, puxando o prato para levar até a pia.
A cozinha era minúscula, tão pequena que precisei comer na sala de jantar conjugada com a sala. Parecia quase impossível que Stefan morava na mesma pequena casa que ele comprou logo depois de ter casado. Lembro de quando entrei a primeira vez achando que eles iriam começar a rir e me dizer que o último desejo era uma casa. Claramente não aconteceu.
— Não podemos ir – ele diz, indo atrás de mim.
, querido – depois de colocar a louça na pia, me viro e coloco uma mão em cada ombro, naqueles ombros largos... – Todo mundo pode fazer o que quiser, se aguentar as consequências depois. Isso não vai te gerar consequências ruins, Stefan não vai te deixar de castigo. Não comigo junto.
— O quê? – ele franze a testa. – Não. Quis dizer que não temos uma história. Quem é você? Não posso chegar lá com uma garota que ninguém nunca viu na vida. Vão fazer perguntas.
— Você me insulta – ecôo suas palavras. – Você só precisa se preocupar em me apresentar para ela e o namorado, logo ex. Preciso saber qual é a deles e, principalmente, qual é a sua – faço uma pausa, pensando por um segundo. – O que eu preciso para as pessoas acharem que eu tenho uma vida?
— E você fala para eu não me preocupar – ele se vira, tomando caminho para a escada de madeira da sala de jantar/sala. Para no pé dela e olha para mim. – Um celular, Instagram, os garotos do time vão te procurar, com certeza. Vai precisar de uns domcumentos se quiser ir para nossa escola.
— Vai se arrumar, príncipe encantado. Sua princesa te espera.
— Vai precisar de uma roupa diferente.
– dou um passo para frente. – Vai tomar um banho, você está fedendo.
Ele dá um sorrisinho e sobe o resto das escadas. Posso ouvir o chuveiro ligando, enquanto me concentro para fazer um celular para mim.

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desce as estreitas escadas, invadindo o ambiente com o perfume que usava - era ruim, sendo o nome que seja. Estava bonito, usava uma camiseta vermelha, que se destacava na sua pele, e calça jeans, estava descalço. Será que ele esperava que eu fizesse o estilo fada madrinha e dar para ele tênis de cristal?
— Por que você não está pronta? – ele diz, apontando para minhas roupas. A verdade era que eu já havia trocado a roupa tantas vezes que eu tinha decidido voltar para as roupas que eu saí da lâmpada e esperar ele me ajudar.
— Por que não me ajuda? Eu fiz meu Instagram – eu disse, chegando perto dele, mostrando meu celular na página do meu perfil, agora com 50 fotos muito bem tiradas, algumas na capital da Arábia Saudita e algumas ao redor do mundo. Se eu iria entrar para o colégio de novo, eu faria direito.
— Como você tirou todas essas fotos enquanto eu estava no banho? – ele disse, pegando meu celular e passando o dedo até o fim das minhas fotos. – E em todos esses lugares? Isso aqui é a Arábia Saudita?
— Aham! – digo, animada, olhando o celular por cima dos ombros dele. – Você está olhando para o meu álibe. Você e o seu avô decidiram abrigar uma aluna de intercâmbio! Eu já tenho todos os documentos dentro da escola, plantei lá.
— Como você conseguiu fazer tudo isso em, o quê?, vinte minutos de banho? – ele pergunta, estupefato.
— Eu sou uma gênia, gênio! – respondo, tomando meu celular da mão dele. – Posso fazer o que quiser, quando quiser. Mas, aparentemente, não posso escolher uma roupa pra ir pra essa festinha. Pode me ajudar? Eu achei umas gurias com umas roupas bem legais, mas não sei... – mostro as fotos.
— A saia. Mas troque as blusas, Chad adora a banda. – ele diz, apontando.
— O jurado de Project Runnaway fala, eu aceito – giro, para dar um pouco de drama, novamente. Que gênio não adora um pouquinho de drama. Quando paro na frente dele estou vestindo uma saia preta e uma regata cinza de Green Day com as costas rasgadas.
— Você parece uma garotinha hipster – ele olha para mim. – Muito bonita, verdade, mas ainda hipster. Só falta o coque frouxo para virar uma fanfic.
— Já está abusando do meu bom humor – levanto uma sobrancelha e olho para os pés dele. – Você não está esperando que eu seja sua fada madrinha, certo? Se estiver, errou o ser mágico.
Ele sorri e se senta no sofá da sala para colocar seu sapato. Sento do seu lado, balançando o joelho levemente, até chegar ao ponto em que eu não conseguia mais parar. Quando termina de amarrar os cadarços, coloca a mão direita na minha perna e o silêncio fica mais ensurdecedor do que quando ele colocava os sapatos. Por que humanos demoram tanto para trocar de roupa?
— Certo! – eu falo, antes que fique constrangedor demais. – Vamos com seu carro?
— Qual carro? Não tenho um carro. Vou chamar um Uber para gente – ele pigarreia, pegando o telefone.
— Você não tem um carro? – levanto uma sobrancelha. – Você realmente não está facilitando as coisas para mim.
Levanto do sofá e vou para a porta da frente. Abro, parando na varanda branca e posso escutar vindo atrás de mim, então tombo a cabeça para a esquerda e um Jeep branco aparece na rua. Simples como mágica. Não como, mas é mágica. Atravesso o estreito quintal dos , indo para o lado do carona.
— Você vem ou não? – grito para que ele possa me escutar entre toda a confusão que estava nos seus olhos. Como se tivesse acordado do transe, ele caminha, aos pulinhos, para o lado do motorista.
— Como você sabe tanta coisa? – ele pergunta, assim que entra no carro e afivela o cinto de segurança.
— Eu tenho Netflix, sabia? Eu moro numa lâmpada, não numa caverna.

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A música escapava para fora das janelas abertas da casa. Só pela entrada do condomínio que abrigava a casa do amigo - ou seria colega de time o termo correto? - do meu amo, eu já podia imaginar o quanto a menina gostava do dinheiro, ou melhor, dele. O porteiro já conhecia de outros carnavais, então deixou a gente passar sem problemas, até elogiou o carro novo. Entretanto, foi quando estacionou em frente à casa de Chad, que eu realmente vi o quanto ele era rico. A casa, de três andares, era branca por fora com duas colunas de estilo grego ladeando a porta, e quando eu digo porta eu digo porta de rico, daquelas que a gente olha na internet e pensa “quero ser rico um dia para colocar uma porta dessas na minha casa”.
— Agora eu sei por que ela namora esse cara – murmuro, olhando pela janela.
— O quê? – ele não ouviu o que eu disse, ufa.
— Nada – sorrindo, abro a porta e pulo para alcançar o chão. – Me apresente sua futura namorada, senhor .
pula do carro e vamos juntos até a porta. Sem cerimônias, entramos e eu consigo ver a real fortuna de Chad. A casa era, sem exageros, um palácio. As portas de trás, que davam acesso ao jardim, eram todas de vidro e eu só podia imaginar o trabalho que dava para limpa-las. Mesmo lotada com garotos da idade de , eu podia ver todo o bom gosto de quem havia decorado a sala e, acredite, estava tudo à meia luz.
Fomos entrando e parava para me apresentar como “a nova aluna de intercâmbio da Hawkings”, mas nenhuma delas me interessava, precisava mirar no prêmio final, então fui simpática, sorria e, quando precisava, respondia que eu nasci na Arábia Saudita – o que não era nenhuma mentira, afinal.
Quanto mais íamos para os fundos da casa, mais eu via o luxo. Estatuetas, tapetes persas (reconheço um de longe), quadros enormes e, claro, aquele jardim. No fundo de tudo isso, havia um DJ tocando e, sinceramente, quem contrata um DJ para uma festinha de quintal? Aparentemente o colega de time do meu amo.
— Vou pegar uma coisa para a gente beber! – berra por cima da música e eu só aceno positivamente, poupando-me do esforço de gritar para ser entendida. Eu podia ver que estava nervoso, a bebida serviria para acalmar os nervos dele.
Sei o que está pensando, mas não é bem assim. Ninguém vai voltar para casa dirigindo bêbado. A grande verdade é que álcool não faz efeito em mim. Gênios metabolizam o álcool muito rápido, então nunca poderei ficar bêbada. Sei o que está pensando de novo, mas, às vezes, tudo que um gênio quer fazer é beber até esquecer como é ficar submetido às ordens dos outros. Tomar um porre ajuda. Não sempre.
volta com dois copos vermelhos e me entrega um, pelo menos a cerveja ainda era a barata. Ele entorna o copo quase todo na boca e, quando termina, pega minha mão me arrastando até o jardim:
— Acho que Chad está perto da mesa de ping-pong. Você já tem uma estratégia? – ele não olha para mim para falar, o que dificulta para ouvi-lo. Pego-o pelos ombros e o giro.
— Fica calmo, ! - pego-o pelos ombros e o giro, forçando-o a olhar para mim. – Hoje é só um reconhecimento de campo. Você vai me apresentar para eles e eu vou observar. Só isso. Passeio do maternal.
— Certo – ele diz para si mesmo, posso ver que já esqueceu que estou ali e só está tentando se confortar. – Passeio do maternal.
Ainda segurando minha mão, vamos até a mesa de tênis de mesa e, eu juro, ela está rodeada por adolescentes. Você sabe o que está acontecendo: beerpong. De um lado, o esquerdo, um casal, ela usando um vestido colado no corpo, bordado inteiro com lantejoulas rosas, ele usava uma camiseta de marca e bermuda – o calor do começo de setembro permitia. A garota tinha o cabelo tão loiro, que deixaria qualquer cabelo de milho com inveja, já o garoto, parecia exibir a menina para todos, como um troféu, fazendo-a dar um beijo molhado toda vez que acertava um copo. Já o outro casal, coitados, parecia estar ali apenas para perder.
Meu mestre se aproximou do casal da esquerda, me levando junto pe0la mão. Cumprimentou o cara, que agora eu tinha certeza que era Chad, com um aperto de mão e a garota com um abraço e se vira para mim:
— Ashley, Chad, essa é . Vovô e eu decidimos que era hora do antigo quarto virar de alguém, nos candidatamos para um programa de intercâmbio e cá está ela – ele dá um sorriso amarelo, como se estivesse desconfortável em mentir para Ashley.
— Olá! – sorrio e, com esse gesto, coloco na cabeça da paixonite de que somos melhores amigas, como se tivéssemos crescido juntas.
, , ! Adorei seu nome! – ela grita, jogando os braços à minha volta. Sou invadida pelo cheiro do perfume Channel que ela usava, doce demais para meu gosto. – De onde você é, meu xuxu?
— Eu sou árabe – digo, me desvencilhando dos seus braços. Lanço um sorriso para Chad. – Você deve ser o namorado sortudo.
— Chad, mas o não é educado o suficiente para me apresentar – ele diz, afastando para o lado e levantando a mão para apertar a minha.
— Acho que ele não gosta muito de você, Chad – levo minha mão na dele e pisco de um olho só.
— Por que vocês não jogam com a gente? – Ashley pergunta, apontando para os adversários. – Eles já perderam de qualquer maneira.
— Nunca venceríamos vo... – começa a falar, mas o interrompo:
— Claro! Por que não? – viro-me para meu mestre, piscando os olhos vagarosamente. – Mas eu não sei jogar muito bem, você me ensina?
dá um sorriso pequeno, assentindo, mas o sorriso não chegou aos olhos. Ao invés, fúria era emoldurada pelos cílios. Me puxando até a outra ponta da mesa pelo braço, ele deixa um pouco do sentimento aparecer em sua voz:
— O que você está fazendo? Eles nunca, nunca, perderam uma partida de beerpong.
— Eu já disse para confiar em mim? Caso não: confie em mim. Eu sei o que eu estou fazendo – eu digo, me soltando do aperto das mãos dele. – Além disso, eu tenho uma mira muito boa.
Ao chegarmos à ponta da mesa, me explica rapidamente as regras do jogo, que eu já sabia, e começamos. Claro que Ashley e Chad começam acertando o copo da frente, então, olho para e reviro os olhos. Pego o copo, retiro a bolinha e tomo o conteúdo em um só gole, jogando o copo para o lado ao terminar. Nossa torcida berra, dizendo que árabes são de mais. Não tenho como não dizer que fiquei orgulhosa, principalmente depois da cara feia da Ashley. 1 e Ashley 0.
Com a mesma bolinha laranja que peguei no copo, miro em um copo do outro lado da mesa. Empurro minha mão para frente e para trás e, quando vou lançar a bola, paro no meio do caminho. Me viro para e digo:
, você pode me ajudar? Tenho medo de errar – sorrio, deslumbrante. Ele chega mais perto e eu falo mais baixo. – Abrace meu corpo pelo lado e mexa a sua mão com a minha, vamos acertar essa e ela vai morrer de inveja.
E assim ele fez, encostou o lado esquerdo do corpo no meu e abraçou minhas costas com o lado direito, pegando na minha mão logo depois.
— Assim? – ele sussurra no meu ouvido e, para deixar nosso teatrinho cada vez mais “real”, dou um sorrisinho e abaixo a cabeça, olhando para seus olhos em seguida. Eu juro que podia sentir o olhar fulminante de Ashley.
Jogamos a bolinha juntos e, quando parecia que não ia acertar nenhum copo, um vento misterioso soprou e ela entrou no canto direito. Levanto um braço, dando um beijinho na bochecha de meu parceiro de jogo, que se assusta e se afasta, lentamente.
O jogo continua. A cada copo que perdemos, há um beijo do outro lado da mesa e, quando a situação se inverte, o berro de todos é assustador. Ao que parecia, ninguém havia vencido Ashley e Chad desde que começaram a namorar. Ninguém até uma certa pessoa esfregar uma lâmpada mágica. Éramos bons juntos, quase não precisei usar meus poderes para fazer uma bola entrar no copo, apenas para afugentá-las dos nossos. Como não podia deixar todos intactos, teve que beber vários copos de cerveja e, eu tinha certeza, que não havia apenas isso no copo – e a mistura seria fatal.
Só faltava um copo em ambos os lados e era possível sentir a tensão no ar. Uma grande parte das pessoas que rodeavam a mesa torcia para o fim do reinado de vitórias do casal, não todos... Puxa sacos. Era nossa vez de jogar a bolinha e Ashley passava a mão por cima da boca do copo, completamente ilegal, mas ela não ligava.
— Joga você – disse, rindo. Já estava bêbado a ponto de rir do vento.
Sopro um cabelo rebelde que foi parar na frente dos meus olhos. Eu não ia atirar a última, eu faria ele acertar. Pego a mão direita dele e coloco a bola laranja na palma. Fecho os dedos dele e dou um beijo, dizendo:
— Eu confio em você.
Bre-ega! Eu vomitava no meu cérebro, mas era disso que Ashley gostava. Romântismo excessivo, sendo brega demais. Ela fervia de ciúmes, eu pude ver pelo canto do olho. Mas o bêbado gostou, sorriu e se virou para jogar pela última vez.
Que é óbvio que o álcool afeta a mira da pessoa, todo mundo pode ver quando vai num banheiro público em festa, mas jogou muito torto. Não sei como ninguém suspeitou da curva que a bola fez, talvez porque todo mundo culpou o mesmo culpado da falta de mira. A bolinha caiu e eu pulei, gritando. Meu mestre levantou as duas mãos para um high five e me abraçou logo em seguida, tirando meus pés do chão. Era possível ouvir o grito de frustração de Chad, enquanto Ashley batia palminhas.
— Me beija – sussurro em seu ouvido.
— O quê? – ele olha nos meus olhos.
— Confia em... – interrompida pelos seus lábios, enceno surpresa. Foi rápido, só um toque de bocas, mas eu pude sentir minhas bochechas ficando levemente quentes, como qualquer beijo faria. Claro que isso também poderia ser efeito da fúria do outro lado da mesa, já que ambos, Chad e Ashley, olhavam fixamente para nós, os olhos tão raivosos quanto os de um touro prestes a atacar o toureiro.
As coisas não podiam estar melhores para meu plano.

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Depois de nossa vitória excepcional, com toda modéstia do mundo envolvida, foi arrastado para algum lugar com alguém, mas na verdade eu não prestei atenção, pois eu precisava dançar. Foi o que fiz por um tempo, mas logo desisti e fui procurar um lugar mais quieto. As músicas eram boas, mas o som estava alto demais e eu realmente precisava de um lugar quieto. Depois de passar todos aqueles anos dentro de um lâmpada, sem qualquer barulho a não ser o que eu mesmo fazia, minha sensibilidade para festas havia mudado.
Portanto, subi as escadas com uma das mãos na cabeça, torcendo para que o segundo andar estivesse vazio. Claro que torcer não ajudou em nada, o corredor, que ficava logo a frente das escadas, estava lotado de gente com copos vermelhos de cerveja na mão e casais se beijando. Suspirei, e subi mais um lance de escadas.
Para sorte de , dele porque eu falaria para irmos para casa se não encontrasse um lugar vazio, o terceiro andar estava deserto. Bom, não exatamente deserto, para estar deserto ninguém estaria lá, porque Chad estava sentado no sofá da frente de uma das portas, de costas para as escadas.
O andar era diferente do segundo. Ao sair das escadas, você se depararia com uma sala redonda, daquelas chiques que não há nada além de sofás, um grande branco e três poltronas vermelhas, e uma mesinha de centro, tampo de vidro e pés dourados, em cima de um grande tapete, eu podia ver de longe que foi trançado à mão. Ao longo de toda a circunferência, quatro portas de correr brancas permaneciam fechadas. Chad encarava uma delas.
— Por que está perdendo a própria festa? – dou um sorriso e levo minha mão às costas, estalando um dedo. Ele dá um leve sobresalto, virando a cabeça para trás com um leve sorriso.
— Alguém já te disse que eu odeio perder? – ele toma um gole da garrafa que tinha em mãos. Eu dou a volta no sofá, sentando ao seu lado, e estendo a mão. Ele entrega a bebida sem pestanejar e eu dou um longo gole.
— Deve ser por isso que me disseram que é um ótimo quarterback - levanto uma sobrancelha, entregando a garrafa. Ele dá um sorriso discreto.
— Você e o ... – ele começa, antes de colocar o gargalo na boca novamente.
— Não sei... Eu não esperava que ele correspondesse – olho para baixo. A cada novo mestre mais eu acho que eu estou perdendo meu tempo na lâmpada, quando na verdade eu deveria estar em um filme estrelando junto com DiCaprio.
— Não – ele limpa a boca com as costas da mão. – Ele só fez aquilo por causa da Ashley.
— O que tem ela? – arranco a garrafa, tomando o restinho.
— Esquece eles, está bem? – ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, clássico, e se aproxima lentamente do meu rosto. Eu recuo.
— O que você está fazendo?
— Fica quieta – ele segura o meu rosto pelo queixo com o polegar e o indicador da mão direita. – Eu só quero ver uma coisa.
— Chad, você tem namorada. – eu tento tirar sua mão do meu rosto, virando-o.
— Eu sei que você quer tanto quanto eu – ele chega absurdamente perto. Coloco minha mão direita no seu rosto, cobrindo o que eu conseguia.
— Sai de perto de mim – consigo me desvencilhar. Saio do sofá, ficando atrás dele. – Nunca mais faça isso! Você é nojento.
Desço correndo cinco degraus, tentando deixar minha encenação convincente, e escuto uma das portas acima bater fortemente. Conto até dez, lentamente, e subo de novo. Eu conseguia sentir minhas bochechas se esticando pelo sorriso enorme que eu dava. Nada, nunca, havia sido tão fácil do que manipular Chad. Pego a pequena câmera deixada no corrimão das escadas, colocada com um simples estalar de dedos, prova de tudo o que o quaterback fez naqueles 5 minutos de conversa. Viro a mão e ela se torna fumaça, transportada para um lugar seguro.
Volto a descer os andares, agora com mais calma. Passo pelas pessoas do segundo andar, agora não tão cheio, provavelmente em quartos fazendo a lâmpada sabe o que, e encontro subindo as escadas. Ele agarrava no corrimão, como se não pudesse ficar em pé sozinho, o que eu não duvidava. Quando me viu, levanta um dedo, estreita os olhos e diz:
— Você! Eu preciso conversar com você! – a voz estava meio embolada. Não bebam tanto em festas, crianças.
— Podemos conversar no carro. Precisamos ir – eu digo, colocando um de seus braços em meu ombro, fazendo-o dar meia volta.
— Não! Eu não quero ir. Eu preciso dizer para a Ashley tudo – ele fala o nome da menina puxando o s. Puxo ele mais rápido para a saída.
— Você não vai dizer nada nesse estado – eu cantarolo baixinho, já ligeiramente cansada por causa do peso. Abro a porta da frente e o carrego para o jardim, rumando para o Jeep branco.
— Por que você está estragando tudo? – ele se desvencilha de mim, justo quando já estávamos na frente do carro.
, só entra – eu abro a porta do passageiro, revirando os olhos. Ele está bêbado, não sabe o que está falando, repito em minha cabeça para me impedir de dar um belo soco nos dentes perfeitos dele.
— Não vou entrar em carro nenhum com você! – ele faz bico, fazendo um suspiro sair dos meus lábios.
— Certo. Eu não queria apelar, mas você está me forçando – olho para os lados e constato que ninguém estava prestando atenção. A fumaça roxa aparece e desaparece um instante depois, deixando de braços cruzados no banco do carona.
Ligo o motor e abaixo os vidros o máximo que posso. Eis outra coisa que senti falta dentro da minha prisão/casa: vento. O ar bate no meu cabelo preso, que havia feito antes de sair, e o solta, me fazendo balançar a cabeça. também parece relaxar, fechando os olhos. Entrego uma garrafa de água gelada para ele, no rótulo da garrafa dizia “cordialidades de !”. Aquela frase sempre me fazia dar uma risadinha quando eu fazia garrafas de água, principalmente porque não era culpa minha – a frase simplesmente aparecia. Um tipo de easteregg, já que não era só nas garrafas que aparecia.
Depois de cinco garrafas, parece ter passado de totalmente bêbado para não tanto assim. Estacionei na frente da casa e travei as portas. Ninguém ia sair até conversarmos sobre o que aconteceu hoje. Esperava que estivesse bêbado o suficiente para não mentir.
— O que você queria conversar comigo? – pergunto, virando o torso na sua direção.
— Pensei que gênios faziam o que os “mestres” desejavam – ele levanta as sobrancelhas, desafivelando o cinto de segurança.
— O que você acha que eu estou fazendo? – minha testa franze. O que ele achava que eu estava fazendo naquela festinha? Tomando cerveja barata?
— Ashley veio falar comigo depois da sua ceninha, ela não ficou nada feliz. Você deveria estar me ajudando a conquistar ela, não a deixar enfurecida!
— Aposto que ela estava – cruzo os braços. – Minha lâmpada, ! Como você pode estar brigando comigo ainda?
Como? , você conseguiu destruir minha amizade com ela com um beijo! O que você estava pensando em me beijar? – ele gritou, levantando um dedo. – Se você gosta de toda essa parte de amo e serva, fique sabendo que eu não gosto!
— Se você acha que... – caio na gargalhada. Rio por tanto tempo que minha barriga dói. – Como se algum dia eu fosse me apaixonar por você! Olha para você! Você é patético! Você tinha três desejos para pedir o que quisesse e tudo que conseguiu pensar foi nessa Barbie interesseira, que, se não fosse por mim, você nunca ia conseguir! – ele me olha, estupefato. Eu nunca falei com ninguém assim e acho que ele nunca ouviu alguém falar de Ashley como eu fiz. Suspiro. – Olha, você está bêbado, eu estou cansada e ainda tenho que terminar uma coisinha que eu comecei na festa. É melhor entrarmos e você ir dormir.
— Talvez seja melhor mesmo – ele abre a porta do carro e sai sem olhar para trás.

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As coisas não poderiam estar piores - certo, não estava tão ruim assim, já que depois da festa de ontem eu bati os 3 mil seguidores no Instagram -, eu havia dormido na lâmpada, coisa que eu pensava que não faria por um tempo, e as minhas costas estavam doendo, mais do que já estavam quando eu saí ontem. Eu fui uma babaca, eu sei que fui, mas nada justificava ele vir tirar satisfação comigo. disse que ia confiar em mim e veio brigar sem saber da metade da missa!
Eu estava na cozinha, arrumando as últimas coisas na mesa, quando ouvi as escadas rangerem. Respirei fundo e pedi à lâmpada para que o que eu tinha feito bastasse para tirar as palavras amargas da noite anterior da mente de . Quando uma cabeça grisalha apareceu no alto das escadas, meu coração se acalmou no peito.
— Stefan.
— Pode me ajudar? – ele pediu, sem fôlego. – Esse negócio de ficar velho, são as duas bolas do saco.
— Olha a boca! – eu dou uma risadinha, e observo meu velho amigo, desculpe o trocadilho, ser carregado pela familiar fumaça. – Se sua esposa estivesse aqui, faria você colocar uma nota de cinquenta no Jarro do Palavrão. O que você fez com ele, por falar nisso?
— Peguei o dinheiro e gastei tudo em sorvete para o – ele foi colocado na cadeira da cabeceira da mesa, que estava posta. – O que é tudo isso?
— Pensei que ainda faziam a tradição de domingo – apontei para as panquecas, me sentando na cadeira à sua direita, de frente para as escadas. O cheiro estava maravilhoso. - Desde que você me tirou da lâmpada, sabe? Era uma das coisas que eu mais gostava quando sua mãe ia para a cozinha.
— Não desde que Vivian se foi – os olhos tristes haviam chegado, eu me lembrava deles muito bem, mas logo se foram, sendo substituídos por um sorriso. – Você sabe muito bem o desastre que eu sou na cozinha.
— Desastre? Você era o filho do furacão Katrina e do acidente de Chernobyl na cozinha – levanto as sobrancelhas e sorrindo, tombo o tronco para mais perto dele. – Nem pipoca de microondas você conseguia não queimar.
Ele solta uma risada estrondosa que, acredito, fazia muito tempo que não fazia. Eu transbordava de alegria, quando se esquece que brigou com o neto do seu melhor amigo e que agora era seu “chefe” – nem um pouco confuso - tudo fica melhor. Além disso, eu nunca conversara com meus antigos mestres, eles me abandonavam, escondiam ou me trancafiavam em cofres depois do último pedido. Típicos egoístas de quinta.
Claro que felicidade de gênio dura pouco. desceu as estreitas escadas se apoiando na parede, a ressaca estampada em cada um dos seus passos.
— Eu tive um sonho muito esquisito, vovô. Algo sobre uma garota dentro da lâmpada que realiza... – ele levanta os olhos e solta um gemido de decepção ao me olhar. Ele termina de descer as escadas e senta na outra ponta da mesa.
— Tivemos uma pequena briga ontem à noite – eu digo, me inclinando para perto de Stefan. – Isso deve explicar o mal humor.
— Cala a boca! Minha cabeça está me matando – pega uma panqueca do prato mais perto. Eu tinha feito um ótimo trabalho, modéstia parte. Havia um pequeno vaso com margaridas no centro da mesa e dois pratos com enormes montanhas de panquecas, um de chocolate e outra de baunilha. O suco de laranja estava lá também, junto com uma chaleira fumegante de café fresco.
! – seu avô o repreendeu.
— A ressaca também ajuda no quesito mal humor – meu sorriso sínico não deve ter sido o melhor dos apaziguadores, já que levantou da cadeira rapidamente.
— Não me venha com mal humor! – ele grita, encolhendo-se logo depois, pela dor de cabeça. Levanto da cadeira, pronta para gritar sobre como ele era mimado, mas...
— Já chega, os dois! – Stefan aparta a briga. – Sente, . .
— Ele começou... – digo, baixinho, me sentando e me arrependendo logo depois, pois recebo um tapa na parte de trás da cabeça.
— Eu quero os dois fazendo as pazes – ele se levanta, com uma mão nas costas, e se dirige para a cozinha, deixando um silêncio desconfortável para trás.

Pego uma panqueca dourada do meio da mesa e sinto o gosto leve da manteiga derretida na minha língua. Comer... Ah! Se existe coisa melhor nessa infinita vida minha, eu ainda não encontrei. Com certeza a coisa mais difícil de ficar dentro da lâmpada é essa: sem sabores exóticos ou comuns durante um longo tempo.
me encarava por cima de uma caneca fumegante de café, que colocara enquanto eu fechava os olhos para apreciar minha panqueca.
— Domingo da panqueca... Preciso admitir que você fez um bom trabalho – ele murmura, quebrando o silêncio. Solto o ar estrondosamente pelo nariz como resposta.

O peso da culpa recaía sob meus ombros pouco a pouco. O que ele sabia de tudo? Querendo ou não é só um garoto apaixonado com três desejos a seu dispor. Havia um motivo para ele ter pedido ajuda e eu fui um tanto quanto dura na escolha de palavras. Ele não é patético, apenas um pouco bobinho.
— Eu... – começa.
— Eu... – nos olhamos, um tanto envergonhados pela cena clichê de filme. Sorrio levemente, colocando um pouco de suco de laranja em um copo e entregando para ele. – Toma. Receita especial para acabar com ressacas. Se quiser saber se funciona é só perguntar ao seu avô, ele tomava quase todo fim de semana.
sorri, pegando o copo. Acho que é assim que se faz as pazes de um jeito distorcido, porém eficiente: curando a ressaca do outro. Acho que era assim que o mundo funciona agora: não importa se seu amigo, ou mestre, está bravo ou distante ou o que seja, se você está lá para apoiar nos momentos ruins, nas ressacas, principalmente, nada mais importa. Então sorrio de volta.
— Sabe, antes de toda aquela coisa de ontem... – começo, pegando uma mecha do meu cabelo e olhando as pontas. Sou impedida de continuar a minha artimanha pelo celular tocando na mesinha de centro.
Eu lembro vagamente de ter colocado o celular de lá, ontem. Depois de sair do carro e terminar o que comecei na festa, eu só pensava em dormir, transformar a raiva em sono era uma das minhas especialidades, além de bancar o cupido para meus amos, mas, como nem tudo são rosas, eu não tinha ideia de onde poderia dormir e, quando dei uma girada pela casa, vi que só tinha duas opções naquele momento: a lâmpada e o sofá da sala. Eu não voltaria para uma cela minúscula, não quando acabara de sair. Coloquei o celular de na mesinha de centro e me aconcheguei no sofá maior, sendo logo acolhida pelo sono.
— Alô?! – diz, depois de ter atravessado a pequena sala de jantar e pego o celular, por cima do sofá, de cima da mesa de vidro. Ele olha para mim, arregalando os olhos. – Chad fez o quê? Calma, Ashley. Você sabe quem te mandou o vídeo?
Ah! Meus truques deram resultados mais rápidos que eu pensei que dariam. Eu mandara o vídeo para ela, claro. Não estavam nos meus planos apenas filmar a ceninha que aconteceu ontem. Quando invadi os arquivos da escola ontem à noite antes da festa, para adicionar meu arquivo forjado, roubei uma pequena informação: o email de Ashley. Então, antes de entrar em coma no sofá, enviei-o, anonimamente (ou seja, por um email com letras aleatórias). Ela terminaria com Chad e o caminho estaria livre para .
— Co-como? – ele olha para mim, abestalhado, depois de terminar a ligação, me fazendo rir.
— Simples! Ashley é uma pessoa que sente muitos ciúmes, aquele beijo foi a prova e ela passou. Mas, ela não é a mais interessante, Chad é. Ele quer o que você tem, eu apostaria que é algum problema com a família – levanto da minha cadeira, começando a limpar a mesa.
— Os pais não são os mais presentes – ele admite. Levanto uma sobrancelha, guardando essa informação para mais tarde.
— Mas seu avô é. Logo, se você tem a garota nova, linda, árabe e misteriosa... – ele solta o ar pelo nariz, divertido. Mostro o dedo do meio como resposta. – Ele precisa roubar de você. É provável que ele nem goste da Ashley – faço uma careta. - Eu só precisei mexer uns pauzinhos, na verdade. Pode me agredecer depois.
— Você é uma gênia – ele gargalha, colocando uma mão na cintura.
— Se você não percebeu isso até agora, provavelmente deveria consultar um médico – franzo a testa. Ele chega ao meu lado em duas passadas, atravessando a sala de jantar, e me abraça. Ainda rindo, tira os meus pés do chão. Eu sorrio junto. – Sabe, você deveria ir para a casa dela, ver se está bem.
— Você é minha melhor amiga a partir de agora – ele me dá um beijo na bochecha e sobe as escadas correndo, para trocar de roupa.
Acho que agora é seguro dizer que o primeiro desejo está realizado. Por que, então, não me sinto tão feliz quanto deveria?


2. Peace

Ah! O ensino médio! Ótimo lugar para descobrir o que você realmente quer na vida e o que eu realmente queria nesse momento era sumir daquele lugar. Claro que a maioria dos adolescentes, que agora eram meus colegas (ou seja, credo), também queriam, mas aquele era um momento mais crítico para mim. Claro que eu estava errada! Regra número um da vida: não cante vitória antes do tempo.
Ainda era a segunda semana de aula e eu já me arrependia da minha escolha de voltar para a escola. Quantas vezes eu precisaria passar por isso, de novo e de novo, para ajudar meus mestres? Era realmente humilhante. Eu deveria fazer um adendo às regras da lâmpada: se envolver voltar ao ensino médio, então não pode.
Durante toda a semana eu me fiz de sonsa, fingi que tudo era novidade, encenei um dos melhores sotaques e demonstrei interesse pelo time de chearleeders – esse último por vontade própria, já que dar piruetas e gritar para que os jogadores não façam besteira pareciam ser basicamente o que eu já faço com , por que não oficializar, afinal? Mas mesmo eu preciso admitir que os rumores da primeira semana foram divertidos.
Depois da minha atuação digna de um Oscar para separar o casal de ouro da Hawkings, e Ashley se aproximaram, demais eu diria. Eles passavam todo o tempo livre juntos. Certo, talvez não todo o tempo, já que eu o forçava a passar um tempinho comigo – o laço gênio e mestre deve ser formado. Era a minha desculpa, pelo menos.
Eu estava no corredor, no intervalo entre uma aula e outra da segunda quarta-feira no inferno, em frente ao meu minúsculo armário verde oliva quando apareceu e cutucou meu ombro.
- Finalmente te achei! – ele disse, sem esperar eu me virar. – Ashley tem me deixado maluco.
Termino de guardar meu pesado livro de biologia e fecho o armário, me virando:
- Por que você está me contando isso? – faço uma careta, ajeitando a mochila lilás nos ombros. Viro para a direita, pegando o caminho que eu havia decorado desde a última vez que eu estudara naquele mesmo prédio. Impressionante como o lugar das aulas não mudam, enquanto os professores são descartáveis. – Não preciso ficar sabendo do que vocês fazem juntos ou não.
- Exatamente! O problema é que a gente não está junto – ele me segue, poderia ser porque só queria continuar conversando, mas eu sabia que a próxima aula dele era na sala ao lado da minha.
- Mas todo mundo está comentando como vocês formam um casal lindo e se perguntando como nunca pensaram nos dois juntos antes e... – eu digo, olhando para a jaqueta do time de futebol roxa e preta da escola que ele usava naquele dia (e em todos os outros dias).
- O problema é ela dizendo que quer ir devagar e me conhecer melhor e toda aquela besteira de garotas – ele revira os olhos. – Como se ela não me conhecesse a vida toda.
“Não sei se ela estava prestando atenção em você para realmente te conhecer”, pensei, mas ao invés de partir o coraçãozinho de meu mestre optei por:
- Ela acabou de passar por um término... Bem... Conturbadinho. Dê um tempo para ela.
- É o que eu estou fazendo! – ele abre um pouco os braços e logo os fecha, depois de uma garota do primeiro ano passar e bater a cabeça neles. Ele murmura um desculpe baixinho.
- Então, qual a porra do problema? – pergunto, parando na frente do laboratório de química, minha próxima aula. para ao meu lado, virando para falar comigo.
- Desde quando você fala palavrão? – ele pisca, atônito, e logo balança a cabeça, se livrando da surpresa com um chacoalhão. – Não importa. O problema é que ela fica insunuando as coisas.
- Como assim? – fico de frente para ele e semicerro os olhos. Aquela menina já estava me torrando a paciência e a semana (que seria a pior de todas por causa dela) nem tinha começado.
- Ela fica falando... Por exemplo, hoje ela falou que estava com dor nas costas por causa do treino de líder de torcida de ontem. Disse que precisava de umas boas duas horas dentro do ofurô, mas, que pena, a única pessoa que ele conhecia que tem é o Chad.
- E você...? – a minha cara de desgosto iria sair, estava sentindo ela procurar algum frestinho da prisão que eu levantei para ela não escapar.
Pela primeira vez durante séculos, desejei estar errada semana passada. Torcia para que a leitura que eu fiz da Ashley estivesse completamente equivocada. A garotinha mimada que só namora ou cria laços com alguém por interesse ou ciúmes.
- E... Eu disse que eu tinha uma – ele solta o ar, estreitando os olhos. Solto um grunhido baixo e levo uma das mãos até o rosto.
- Eu adoro a minha vida, eu adoro a minha vida... – eu sussurro, sem tirar a mão. Levanto o indicador para perto do nariz dele. – Certo! Só porque tecnicamente seu primeiro pedido não terminou.
- Ah! Eu te amo! – ele me abraça, abrindo o maior sorriso. Eu sorrio por trás do ombro de , sem deixar ele ver, pois refaço a cara feia antes de terminar o abraço.
- E eu te odeio por me fazer perder a melhor aula – exagerada demais.
- Você me ama.
- Não, eu te odeio – eu digo, me virando, pronta para refazer o meu caminho para casa.
Foi assim que o apertado quintal dos ganhou um ofurô e uma piscina e um helicóptero, que mantemos num heliporto no centro da cidade, e uma fonte e ganharia mais coisas se coubessem. Ashley era incapaz de parar de pedir as coisas. Talvez pedir não seja a palavra certa, já que ela realmente nunca pedia nada, apenas chegava falando que estava com uma vontade absurda de fazer isso ou aquilo e a única pessoa que podia fazer era o ex.
Apesar de todos os pedidos absurdos e das obrigações, não era Ashley quem mais me irritava. poderia parar com tudo aquilo, mas, aparentemente, era feliz em ser apenas o capacho da garotinha mimada.

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Meus óculos escuros recém feitos bloqueavam parcialmente a luz do sol, enquanto eu mantinha a minha cabeça voltada para cima. Eu deitava na parte mais rasa da piscina azul com meu celular aberto nos stories do Instagram. Como uma coisa poderia viciar tanto? Bisbilhotar a vida alheia... Era um dia quente atípico para a época. O sol brilhava, quente, no céu e refletia na nova piscina da casa. As aulas acabaram mais cedo e tudo o que eu queira era sombra e água fresca, literalmente.
As coisas haviam mudado na casa dos , tanto físico quanto familiar. Eu fiquei com o quarto que antes pertencia à mãe de , depois de prometer repetidas vezes que eu voltaria tudo para o mesmo lugar antes de voltar para a lâmpada. Tentei explicar que ele precisava me avisar antes de fazer o terceiro desejo, mas que mestre me dá ouvidos?
Meu novo quarto era brilhante, modéstia parte, se assemelhava com o que eu tinha na lâmpada, mas era completamente diferente ao mesmo tempo. Como?, você me pergunta e vai perceber que a resposta você já sabe: espaço. O novo formato circular dava um aspecto moderno, junto com a enorme cama, sempre bem arrumada, por magia, com lençóis em tons de roxo, formando um degradê. Como eu não precisava de guarda roupas, conjurei uma mesa de madeira para servir de escrivaninha. A cadeira estofada com veludo roxo, constratava com o branco das paredes e dos móveis.
Percebo pela mudança de cor por baixo das minhas pálpebras que uma sombra para bem em cima de mim. Abro um olho, levantando os óculos para ver um muito bem humorado se sentando na beirada da piscina.
- Qual o seu problema? – me viro, colocando minha cabeça nos meus braços cruzados na borda da piscina. – Ninguém sorri para o nada assim.
- Por que você é sempre tão agressiva? – ele se apoia nos braços, levantando o rosto para aproveitar a luz do sol.
- É só o meu jeitinho meigo de ser – volto os óculos para a ponta do meu nariz. – É sério, por que parece que sua vida está melhor que a de uma criança no natal?
- Você já sentiu como se tudo estivesse dando certo na sua vida? – ele solta em um só fôlego.
Não é possível que esse garoto esteja falando de Ashley. Me recuso a continuar mentindo sobre “o quanto ela é maravilhosa”, ou sobre o quanto ela está “sofrendo”. Se eu fosse chutar, a última coisa que aquela menina estava fazendo é se aproveitar de toda a paixonite de . E claramente estava conseguindo.
- Tudo isso por um helicóptero, riquinho?
- Você sabe o que eu quis dizer – ele sorri.
- Isso porque você nem está aproveitando seu desejo direito. Ou a mim – viro meu corpo para ficar de frente para as suas pernas. – Você é a pessoa que mais demorou para me fazer o segundo desejo, sabia?
- Ah é? Deve ser porque você não realizou o primeiro ainda – ele levanta uma sobrancelha.
- Não é minha culpa, mestre – mostro a língua. Quem ele pensava que é? – Eu estou me esforçando muito para chegar a ser a gênia que você merece que eu seja.
- Quem demorou para pedir o segundo desejo? Além de mim – ele diz, depois de revirar os olhos dramaticamente.
- Você nunca acreditaria se eu contasse – eu digo, indo para o meio da piscina. Seguro nos tornozelos de e jogo meu corpo para cima, brincando.
- Bom, você pode tentar – ele diz, puxando os pés para baixo.
- Cleópatra.
- Cala a boca. Você não realizou desejos da Cleópatra – ele diz, cético. – Realizou?
- Na verdade... Eu realizei os dois primeiros para ela e o terceiro foi para o Marco Atonio... Então, sim – puxo os pés de para baixo, fazendo meu mestre cair na água. – Você acabou de ser enganado.
Empurro a cabeça de para baixo, enquanto ele tenta se levantar. Solto- o e nado até a borda rapidamente, antes que ele me alcance.
- Sinceramente, , você realmente achou que eu fosse tão velha a ponto de ser gênia da Cleópatra? – eu saio, colocando uma saída de banho. – Às vezes a sua burrice me impressiona!
- A minha burrice? Sinto muito se não ensinam muito de lâmpadas mágicas na escola – ele diz, chegando mais perto da borda da piscina e se levantando pelos braços para sair. Ele se aproxima de mim, com as calças jeans que usava encharcadas.
- O visual gatinho molhado combina com você – digo, dando alguns passos para trás, prevendo o que aconteceria em seguida. – Você não ousaria...
- Ousaria o que? – Ele diz, chegando mais perto. Levanto minhas mãos, mas é tarde. Ele me pega no colo, se jogando na piscina junto comigo.

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Eu esperava encostada no Jeep. A chuva devagar a minha volta, caindo pesadamente no meu guarda chuva roxo, fazendo barulho. Os dias de verão tinham acabado e com eles o primeiro desejo. pediu Ashley em namoro e todas as garotas suspiraram quando aconteceu. Meu amo não foi nada sutil. Reencenou a famosa de 10 Coisas que Odeio em Você, o fime preferido da garota, o que não foi nada suspirante para mim. Claro que eu tive que fazer todo o trabalho sujo.
Agora, encostada no carro, esperando e a namorada na chuva, me arrependia de ter contado que havia um jeitinho de burlar as regras. Elas existem por algum motivo, . Sejamos francos, o tiro tinha saído completamente errado. Eu acabei colocando meu mestre em uma relação completamente sem qualquer resquício saudável. Gênios deveriam fazer a vida de seus amos melhores, e eu havia falhado, mesmo ele não percebendo.
Ouço a risada estridente de Ashley e me obrigo a colocar um sorriso em meus lábios. Eles chegam perto do carro em apenas um guarda chuva, abraçados para nenhum dos dois se molhar. Ela usava botas de cano alto invejáveis e olhava para de um jeito estranho, como uma leoa satisfeita com a presa que havia acabado de capturar.
- Acho bom você deixar a chave comigo da próxima vez – eu digo, indo para a porta de trás do carro.
- Achei que você ia fazer sua mágica para entrar – ele diz, olhando para Ashley, completamente alheio.
- Eu não sei arrombar portas de carro, – dou um sorriso amarelo, com a voz sugestiva. Ele não devia falar sobre “mágica” na frente da outra, que ri, sem realmente entender o que se passa. – Você pode abrir a porta?
Ele desarma o alarme e leva a namorada até a porta do passageiro, para não se molhar, ao passo que eu entro no carro, revirando os olhos e evitando contato visual. Ele senta em seu lugar atrás do volante e puxa o cinto de segurança.
Toda essa cena virou rotina. Todos os dias o casal se demorava nos corredores e eu ficava igual um poste, esperando os bonitinhos. concordara com a ideia ridícula de levar Ashley e deixa-la em casa todos os dias, mesmo ela morando do outro lado da cidade, depois da primeira briga do casal. “É mais um pretexto para nos vermos! Por que você não quer me ver?” . Eca.
Isso só me deu mais pretextos para odiar mais essa garota. Ela manipulava o som, todos os dias fui obrigada a escutar K-pop ruim. Nada contra K-pop, adoro!, mas tem algumas músicas que não dá. Eram essas músicas todos os dias e eu não aguentava mais. Chega um ponto que qualquer música satura.
Porém, depois da aula e depois de ter deixado ela na fortaleza do desespero – como eu havia apelidado a casa dela, porque realmente deve ser um desespero morar com Ashley -, eu e fazíamos uma busca pelo nosso tesouro: café. Já eram um total de 20 novos experimentados, mas nenhum ficara com o prêmio de melhor café da cidade ainda, mas a busca ainda era intensa.
Ashley tagarelava no banco da frente e só parou quando o carro fez o mesmo na frente da casa dela:
- Você vai me levar até a porta, certo, docinho?
- Claro – se inclinou e deu um beijo no biquinho que ela fazia. Reprimi a careta.
Obsvervo ele sair do banco do motorista e bater a porta, contornando o carro com o guarda chuva sobre a cabeça. abre a porta para a namorada (eca) e a acompanha até a porta. Paro de prestar atenção quando eles chegam na porta. Não quero ver os dois se engolindo. Então, passo para o banco da frente, pelo espaço entre os bancos. Por que parecemos idiotas quando fazemos isso? Seria porque é mais fácil sair do carro?
- Qual a próxima cafeteria da lista? – diz, passando a mão na cabeça para retirar as gotículas de água da chuva dos cabelos.
- Já coloquei o endereço no GPS – sorrio, mudando a música do rádio. Adeus, música ruim. – Só dirige, .
Ficamos em silêncio todo o caminho até uma cafeteria pequena no centro. Os únicos sons dentro do carro eram o GPS e uma música do Justin Bieber. Se fosse com outra pessoa, o silêncio pareceria ensurdecerdor, desconfortável. Com , não. Muitas vezes o silêncio era tudo o que ambos queriam, eu pela minha completa falta de costume com ambientes muito barulhentos e ele por ter uma namorada que fala demais (essa era a justificativa que eu dou e para mim está 100% certa, obrigada).
Ele estaciona na frente da cafeteria e saímos correndo, a fim de não ficarmos tão molhados. Guarda chuva para quê? Ele chega antes na porta e a abre, fazendo o sino logo acima balançar, me deixando passar na sua frente. O cheiro de café misturado com canela me atinge na hora e, instantaneamente, me esqueço de Ashley, e escola. O cheiro da felicidade está entre nós.
- O que você pediria se ganhasse três desejos? – diz, assim que chegamos ao Jeep novamente, eu com um copo grande de capuccino com canela extra e ele com um latte, de mesmo tamanho. Estávamos no estacionamento da frente da cafeteria, escutando a chuva bater na lataria do carro.
- O segredo desse café ser tão gostoso – digo, sem precisar pensar, me arrumando no banco do passageiro para ficar de frente para ele. Cruzo uma perna em cima do banco de couro preto. -Encontramos nossa cafeteria perfeita, .
- Não sei, ainda acho que precisamos procurar mais... – ele diz, tomando um gole do seu copo.
Olho para fora, tomando um gole do meu. Agora, nem a música ou o GPS preenchiam o silêncio, então, resolvi responder, sem olhar para ele:
- Eu pediria para visitar a Austrália. Eu nunca fui para a Austrália. Depois, eu adoraria ver a Terra da lua. Quer dizer, que criança que nunca sonhou em ser astronauta? Se ela existiu, não sou eu – olho para com o canto do olho. Pude ver ele sorrindo, antes de perceber que eu estava olhando e colocar o copo de café na boca. Tomo um gole do meu, apenas por costume. – E depois, como último desejo, libertaria o gênio.
- Como assim? – ele franze a testa.
- Você sabe. Nenhum gênio é gênio por livre e espontânea vontade. Somos escravos da lâmpada. Você achou, realmente, que eu distribuo desejos porque é divertido? Certo, é divertido, mas eu realmente queria fazer outra coisa para variar.
- Sim. Quer dizer... Achei que se tivesse algum jeito de te libertar, meu avô já teria feito isso.
- Ele libertaria, mas... – dou uma pausa, tomando um gole de capuccino, para avaliar o quanto Stefan ficaria bravo comigo se eu contasse o que estava prestes a contar.
- Mas... – diz, se inclinando involuntariamente. Fofoqueiro.
- Não sei se posso te contar. Seu avô não te disse nada?
- Eu nem sabia da sua existência há poucas semanas – ele levanta uma sobrancelha. – Você precisa me contar, sou seu amo.
- Justo – arregalo os olhos levemente por alguns segundos. Esse menino pode ser persuasivo quando quer. – Seu avô só realizou um único desejo para ele.
- Ficar com minha avó – ele acena.
- Não exatamente assim, mas sim, acho que dá para resumir assim.
- O que ele fez com os outros dois?
- Quando eu saí da lâmpada, seu avô prometeu que daria o segundo desejo para sua avó como presente de casamento. E o último... Olha, seu avô era mais esperto que você, ele entendeu na hora que eu só poderia sair da... Minha condição, se algum mestre me libertasse, então ele disse que usaria seu último desejo para isso.
- Mas não usou.
- Vivian ganhou o desejo dela no dia do casamento dos dois. Ela fez o pedido mais tarde, queria reviver aquele dia e, sinceramente, foi um dos desejos mais legais que eu realizei. Sem ofensas – dou um sorriso fraco. – Uns quatro anos depois, eles decidiram que era hora de ter filhos, mas ela não engravidava. Sua avó não podia ter filhos, . O que eu podia fazer? Eles estavam arrasados e ainda havia um desejo.
- Minha mãe foi um desejo – ele diz, colocando o copo, agora vazio, no porta copos do carro.
- Engravidar foi um desejo – digo, olhando para o porta copos, enquanto encara o capô e, pela primeira vez, o silêncio deixa de ser confortável.
- Você se arrepende? – ele pergunta, depois de um tempo.
- Não – digo, de imediato. – Quer dizer, se não fosse sua mãe, eu não estaria aqui com você. Você sabe, tomando esse capuccino.
Vejo um sorriso no canto dos lábios de . O motor é ligado e voltamos para casa, discutindo sobre quantas estrelas a cafeteria nova ganhava.

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Era aula de história e o professor estava falando algumas besteiras sobre Maria Antonieta. Claro que para todos os historiadores, ela era a bruxa dos brioches, mas, sinceramente... Minha cabeça viajava para todas as loucuras que eu fiz durante o período pré-revolucionario na França. Maria foi realmente uma amiga muito divertida. Pena que os melhores perdem a cabeça muito cedo.
Eu mordia a ponta do lápis, quando o dito bilhete encontrou o caminho para cima do meu fichário roxo fechado. Rodei minha cabeça para os dois lados, mas não consegui ver quem o mandou, mas podia adivinhar que não foi ninguém do outro lado da sala, já que a aterrisagem foi perfeita. As minhas iniciais estavam no pequeno pedaço de caderno dobrado.

“Eu sei o que você está escondendo.
Escadas na frente da sala de artes. Hora do almoço.”


Sinto meu coração parar de bater. Se fosse alguma brincadeira ridícula do ele poderia ir escolhendo a cor do caixão, porque o coração dele também pararia de bater, de uma maneira mais literal que o meu. Não vejo nenhuma regra sendo quebrada se eu não usar mágica.
Levanto uma mão e peço o passe para ir ao banheiro, o que o professor imediatamente permite. Você precisa parar de me julgar tanto, não uso minha magia para tudo, às vezes é só charme mesmo. Saio da sala e vou até o banheiro. Paro na frente do espelho sujo de gordura, colocando as mãos na pia molhada de granito, e me olho. Analiso cada traço, tentando acalmar minha respiração, que está muito acelerada para o gosto do meu diploma de 14 temporadas de Greys Anatomy.
- Certo, . Se acalma – digo para mim mesma. – Provavelmente é o . E se não for, você ainda pode negar. Gênios não existem, via de regra.
Negar, negar, negar... Repito a palavra em minha cabeça até ser interiorizada. Negar é sempre a resposta para os problemas. Negar e fingir demência. Vai ficar tudo bem.
Volto para a sala, agora com o pulso normalizado, e sento em minha carteira minúscula e desconfortável. O professor ainda pinta Maria Antonieta como grande vilã da Revolução Francesa, mas eu não escuto nada, “negar, negar, negar” ecoa mais alto em minha cabeça.

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O último sinal da manhã tocou, me fazendo pular da cadeira. Olho para baixo e percebo que estava fazendo círculos e mais círculos no meu caderno de matemática. O nervosismo tomava conta de cada célula nervosa do meu corpo. Levantei da carteira, guardando meu estojo roxo na minha bolsa. Saio da sala, tentando controlar a bagunça do meu cérebro.
A hora havia chego.
Não vi durante a manhã toda, nem nas aulas que tínhamos juntos, então estava ligeiramente mais calma. Agora, mais do que nunca, estava óbvio que era o remetente do bilhete. Quem mais sabia que eu era uma gênia? Só ele. Ele não contaria para Ashley, contaria?
Eu tentava deixar minhas pernas mais firmes a cada passo que eu dava, mas elas pareciam ser feitas de gelatina. Paro na bifurcação, encarando o pôster do baile de outono - “Venha chacoalhar o esqueleto! O Baile de Fantasias de Outono vai ser o melhor!”. Se eu for para a direita agora, posso ir para o refeitório e esquecer o bilhete, mas morrerei de curiosidade. Eu poderia fazer magia e descobrir sem ir lá, mas se usar esse plano, “negar, negar, negar” não vai funcionar. Só tem uma escolha lógica, então pego o caminho da esquerda e seja o que a lâmpada quiser.
O corredor das aulas de artes são geralmente vazios na hora do almoço. Muitos dos alunos da matéria gostam de almoçar no refeitório e fazer rascunhos das frutas ou dos alunos, dependendo do estilo artístico de cada um. Logo, o local era realmente o melhor para confrontar algum colega sobre ser um gênio da lâmpada.
Quanto mais eu me aproximava, mais eu escutava meu coração nos meus ouvidos. Viro na última curva e dou de cara com as escadas. Vazias.
- Haha, , você me pegou – falo, um pouco alto.
- Esperando ver seu namoradinho? – Chad sai da sala de artes.
Estávamos em um espaço pequeno. Era o fim do corredor da ala oeste (como na Bela e a Fera), do meu lado direito estavam as estreitas escadas que levavam para o segundo andar, que muitos diziam ser mal assombrado, e do meu lado direito a porta, marrom com uma janela pequena no meio, da sala de artes. Dei uma olhada pela janelinha e pude ver os trabalhos pendurados em um varal.
- Que namoradinho, o quê? – digo, semicerrando os olhos. – , como você sabe muito bem, namora a Ashley, sua ex, que não quer mais saber de você.
As coisas depois do vídeo não eram muito boas entre mim e Chad. Ele me culpava por tudo o que tinha acontecido, o que, em partes, era verdade. Os rumores eram que ele fora a pessoa que fez com que o namoro do casal de ouro demorar tanto para sair. Disseram que Chad ligava para Ashley toda noite, em prantos. Eu não acredito. Ashley parecia o tipo de pessoa que estava pouco ligando para o que Chad pensava. Eles demoraram porque ela estava querendo testar o quanto era rico.
- O que você quer, Chad? – suspiro, me encostando no corrimão vermelho.
- Você acha que eu não percebo, não é mesmo? – ele diz, chegando mais perto.
- Não percebe essa cabeça grande que tem? – levanto uma sobrancelha, lembrando internamente do meu plano: “negar, negar, negar”. Afinal, Chad não era lá muito inteligente para perceber um segredo tão grande quanto minha real identidade.
- O jeito que você olha para os dois.
- Do que você está falando? Olho pra quem? – reviro meus olhos.
- Para o casalzinho 20 – ele faz aspas com os dedos, revirando os olhos. – Com o mesmo desprezo que eu olho. Você não gosta deles junto tanto quanto eu – solto o ar com a boca. – O que me fez pensar durante um tempo no por quê.
Olho para o lado, desconfortável. Ele está chegando cada vez mais perto de mim. Acho que se ele disser que eu tenho sentimentos pelo . vou vomitar.
- Até que eu fui numa cafeteria bonitinha no centro da cidade ontem. Eu vi vocês conversando no carro e o jeito que você olhou para ele é o mesmo jeito que eu olho para Ashley – ele praticamente encosta meu rosto do dele e se afasta.
- Você está sendo idiota – levanto minha sobrancelha, tentando manter a calma para não descer a mão na cara dele.
- Tenho uma proposta para você – ele diz e eu suspiro. – Precisamos mostrar para o quem ela realmente é. Eu sei muito bem que ela não é aquela coisa fofa que está fingindo ser – faço careta, não conseguindo deixar de concordar. – Você também sabe.
- Por que você continuou com ela?
- Ela me usa. Eu a uso. Somos um bom time – ele diz, fazendo pouco caso. Posso ver e ouvir, ainda assim, a tristeza. – Podemos separá-los.
- Como? – digo, inclinando meu tronco na direção dele.
- Então você tem interesse? – ele diz, com um sorriso no canto dos lábios.
- Eu não disse isso.
- Precisa decidir logo, princesa – ele chega mais perto, pegando uma mecha do meu cabelo. – Meu plano tem data de validade.
Ele dá as costas e sai, me deixando sozinha na escada.

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O dia chegara ao fim, mas o frio só começava. Como sempre, eu esperava e a queridinha na frente do carro, tremendo. O vento cortava meu rosto, enquanto eu tentava mantê-lo escondido. Eles demoravam, mais do que o normal e eu estava ficando sem paciencia.
Desencosto do Jeep branco e vou até a escola, atravessando o estacionamento. Quem eles pensavam que eram para me deixar esperando por meia hora no vento gelado de setembro? Quando chego na metade, posso ver os dois agarradinhos, vindo em minha direção.
- ? – diz, quando me vê.
- Finalmente! Pensei que vocês tinham congelado ou alguma coisa – forço um sorriso, chegando mais perto.
- Você não avisou, docinho? – Ashley diz, piscando os olhos rapidamente. Eca, novamente.
- Avisou o quê? – meu sorriso forçado desmancha.
- Nós vamos sair. não pode te levar para casa hoje.
- Não. Seu docinho não me avisou – digo, sarcástica. – Tanto faz. Eu vou pegar um ônibus ou algo assim.
Saio da frente dos dois, fazendo questão de não olhar para o , que segura o meu braço e diz, olhando nos meus olhos:
- Não tem problema, certo? Quer dizer, eu posso te levar.
- Eu tenho outros jeitos de chegar aos lugares que eu quero, – me afasto, puxando meu celular em seguida. Eu tinha uma decisão a ser notificada.

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Noite de Halloween. Todos estavam preocupados com suas fantasias, mas eu não. Eu já nasci com uma fantasia, baby. Eu olhava para as minhas roupas no espelho de corpo todo, o top roxo combinava com as calças largas. A corrente dourada, com várias contas de ouro, circundava a minha cintura e dava para ouvir o tintilar quando eu andava – como eu havia testado mais cedo. O certo seria ir descalço, mas eu sabia que meus pés congelariam e eu não estava a fim disso, então, coloquei uma sapatilha da cor da minha pele, para, pelo menos, fingir que não usava nada. Sei que você pensa que eu vou morrer de frio de qualquer maneira, considerando o top. Vou usar um sobretudo quando estiver do lado de fora, não se preocupe.
Eu queria deixar minha noite o mais natural possível hoje, então prometi a mim mesma que iria fazer minha maquiagem sem truques – certo, com o mínimo deles, já que eu não comprei nenhuma maquiagem que está na minha escrivaninha. Pego todos os instrumentos de embelezamento (tortura) e vou para o banheiro.
Arrumo minha pele e tento fazer um delineado em meus olhos. Sou muito ruim com essas coisas, minha mão não para de tremer. Quando, finalmente, consigo terminar meu olho direito, parto para o esquerdo, tentando deixar ambos os olhos iguais. Fácil falar. Estou quase terminando e me sentindo orgulhosa, mas claro que nada na vida acontece assim:
- se encosta no batente da porta do banheiro. Pulo ao ouvir sua voz e o aplicador do aparelho de tortura vai junto, fazendo um risco do canto do meu olho até a testa.
- Você sabe quanto tempo eu demorei para fazer essa merda? – eu digo, virando a cabeça para olha-lo, o qual ri instantaneamente. – Eu vou matar você.
- Mas você está bonita – posso sentir minhas bochechas ficarem ligeiramente quentes, mesmo sabendo que ele faria uma brincadeira logo em seguida. – Tão bonita quanto uma pintura do Kandisky.
- Ha – faço um movimento com as mãos e meu rosto está perfeito, o delineador bem feito. Já que eu quebraria muitas promessas hoje, mais uma não seria problema. – O que você quer, ? Eu estou, claramente ocupada.
- Não mais pelo que eu posso ver – ele diz, apontando para meus olhos. – Preciso de ajuda com a minha fantasia. Ashley disse que queria que eu fosse um príncipe. Se você puder dar um nó na gravata da sua majestade...
Realmente olho para ele pela primeira vez. Vestia um terno preto que favorecia perfeitamente os músculos e a cor dos olhos. Abotoaduras e ombreiras douradas enfeitavam o paletó. A gravata azul escura com ricos em branco estava pendurada no pescoço e os sapatos perfeitamente lustrados – tenho certeza que se eu olhasse mais perto, poderia ver meu rosto refletido. O cabelo, penteado para trás com um pouco de gel, aposto que seria escondido por uma cartola. Ele realmente parecia o Duque de Edimburgo, o marido da atual rainha da Inglaterra.
Dou um sorriso e faço uma reverência, me aproximando para dar o nó na gravata. Quem precisa de uma ajudinha de mágica, certo?
- Tirou a roupa da lâmpada? – ele brinca, olhando para o teto para não atrapalhar o meu trabalho.
- Não posso fazer nada se eu sou a melhor fantasia – sorrio.
- Não estava brincando, sabe? – ele pigarreia e olha para mim. Posso sentir sua respiração quente no meu nariz. – Você está mesmo bonita.
- Obrigada – a voz falhou um pouco, mas tenho certeza que ele não percebeu. Mas eu sim, e ainda noto que estou demorando mais que o normal para terminar com a gravata.
- Seja quem for o seu encontro para essa noite, é muito sortudo – ele dá um sorrisinho, que eu retribuo. Juro que eu tentei deixar o sorriso mais no rosto por mais tempo, mas tinha que lembrar com quem eu tinha aceitado ir ao baile. – Quem vai levar você, por falar nisso?
- Nós vamos brigar se eu te contar – digo, dando um passo para trás. – Prefiro deixar isso para a hora que ele chegar.
Ele dá de ombros, porque esse era . Ele sai do banheiro e vai para o quarto dele. Eu volto para a frente do espelho e me apoio na pia. Respiro fundo e penso que vai dar tudo certo, eu só teria que aguentar Chad por algumas horas.
Desço as escadas estreitas, apenas para ver de frente para Stefan, este arrumando a cartola do outro. Consigo enxergar os olhos do meu amigo mais velho cheios de lágrimas do pé da escada. Quando a cartola já está bem reta do jeito que deveria estar desde o começo, as mãos enrugadas pousam nos ombros do mais novo.
- Você já sabe que se sua mãe estivesse aqui ela estaria aos prantos dizendo o quanto o garotinho dela cresceu - ele diz. Tento segurar as minhas lágrimas. Eu realmente gostaria de ter conhecido a filha deles. - E não importa o que te disser que eu fazia, não quero você chegando tarde.
- Cinco horas da manhã é cedo ainda, certo, Stefan? – digo, ecoando a frase dele de anos atrás, segurando a risada.
- Você sabe muito bem que isso não é aceitável – ele diz, me imitando há anos. Mostro-lhe a língua. – As pessoas só vão uma vez para esse baile, mas você consegue ir duas.
- Não posso fazer nada se eu sou especial – chego mais perto, dando um abraço em Stefan.
- Se ele escolher aquelazinha e não você, eu corto a mesada – ele sussurra em meu ouvido. Dou um sorriso.
- E depois eu que sou cupido – sussurro de volta, me afastando.
A campainha toca. Como eu sei que Ashley não suportaria não ser buscada em casa pelo seu “príncipe encantado”, tenho certeza que era meu par, assim como , que logo se prontifica para abrir a porta. Sou mais rápida, no entanto, - ou só mais mágica, já que desapareço numa nuvem roxa e reapareço na frente da porta, mostrando a língua para um atrás de mim. Respiro fundo, dizendo que estou fazendo mais bem do que mal, e abro a porta para encarar um Chad fantasiado de Aladdin.
- Você só pode estar brincando.
- Oi.
Minha voz e de se misturam. Se eu tivesse olhos nas costas, poderia ver completamente estarrecido com a minha “audácia”, como ele me contaria depois. Eu e Chad sabíamos que irmos juntos significaria isso, tanto de quanto de Ashley, então por que não? Mas essa era só uma pequena ponta do “plano diabólico”. Mesmo que a “docinho” ficasse verde de inveja e ciúmes, não seria o suficiente para fazer o “docinho” ver quem ela realmente era. Ir juntos era mais um bônus.
me puxa para trás pelo braço. Sua expressão facial era um misto entre raiva e incompreensão.
- Por que você está indo com esse cara?
- Porque ele é legal quando se passa a conhecer – mentira. – E ele me convidou primeiro. E você vai com a Ashley. E eu cansei de ser a vela de vocês – essa parte era verdade, mas nada que eu não sobreviveria. – Você está me machucando e eu não quero ter um hematoma no dia do baile.
Ele solta a mão do meu braço, bruscamente. Vai até a porta e para ao lado de Chad, apenas para falar, áspero:
- Se acontecer alguma coisa com ela, você está morto.
E sai.
- Fase 1 completa - Chad me olha, divertido. – Acho que ele nunca falou assim comigo.
- Coitadinho – faço cara de pena. Pego meu casaco no gancho ao lado da porta e visto. – Tchau, Stefan! Prometo que chego antes das 5 da manhã. Amo você.
Puxo a porta e pego no pulso de Chad, pronta para entrar no carro e acabar com essa noite logo. Precisava saber como ela acabaria e se eu teria, finalmente, meu final feliz.
Entro no Porsche preto de Chad, sem olhar para ele e assim continuo o caminho todo. Fixo o olhar na rua e respondo com o mínimo de palavras possíveis quando ele me pergunta sobre algum detalhe do plano. Ele revisa todos os passos e começa a tagarelar sobre algum jogo de basquete que assistiu mais cedo. Tudo que consigo pensar é em como ele acha que eu me importo.
Quando estacionamos na frente do ginásio da escola, ele para de falar. Posso sentir o nervosismo saindo em ondas do corpo dele.
- Olha, vai dar tudo certo. Ninguém nunca vai descobrir que fomos nós – viro e falo olhando para ele.
- Certo – Chad respira fundo, com a mão na maçaneta da porta do carro. – Certo.

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O ginásio estava todo decorado. Tecidos laranja e preto forravam o teto, para esconder as vigas metálicas. Em cada remendo entre os panos havia uma teia de aranha e alguns insetos falsos estavam pendurados. A quadra virara uma grande pista de dança e algumas cadeiras e mesas altas circundavam-na. No fundo de tudo, um palco foi montado de onde o DJ cuidaria dos remixes a noite inteira, ao lado da mesa, dois telões passavam fotos do ano tiradas pelo pessoal que cuidava do anuário. Fotos de jogos de futebol, de festinhas e dos corredores lotados faziam piruetas no vídeo. Do lado esquerdo, um mural com uma foto de um cemitério a meia noite havia sido montado, para que os alunos registrassem em seus Instagrams o que estavam fazendo.
Quando eu apareci de braços dados com Chad, pude ver cabeças virando para encarar. Os cochichos não podia escutar, mas tinha certeza que eram vários. Ignorei-os, ninguém sabia o real motivo de estarmos juntos.
Eu quase não ouvia a música alta, já que meus pensamentos estavam a mil por hora. e Ashley chegariam a qualquer momento e eu teria de parecer feliz, eu não queria que percebesse que eu estava tramando algo. Tenho certeza que eu poderia estragar todo o plano se ele fosse ninja o suficiente para ler minhas entrelinhas. Fizemos um esquema juntos e ele já havia descoberto a minha cara de planos diabólicos. Stefan demorou mais do que alguns meses para descobrir como eu ficava com um plano em mente.
Eu estava ao lado do ponche, servindo um copo com a concha transparente, quando todos os olhares se voltaram para a entrada, novamente. Já eu? Não me dei o trabalho de olhar, sabia quem chegara: e o projeto de clone da Britney Spears nos anos 2000. Talvez eu tenha dado uma espiadinha, só para checar o vestido rosa um pouco justo demais e a coroa de plástico que ela usava. Eu deveria avisar que Liz não usaria esse vestidinho nunca na vida? Talvez seja o ciúme falando, já que o braço dela estava muito bem enganchado no de meu amo e ele estava ainda mais bonito no terno embaixo das luzes piscantes do baile.
- Agora falta pouco para anunciarem quem ganhou melhor fantasia. Você tem certeza que garantiu que eles ganhassem? – Chad encosta uma mão na minha cintura, aparendo do nada, quase como um gênio da lâmpada. Confesso que dou um pulinho, considerando que estava para lá de distraida com a minha própria perdição há um segundo atrás.
- Se você me matar de susto antes de anunciarem pode ter certeza que nada vai dar certo – me viro, a fim de olhar nos seus olhos e sorrir. Atuar era a chave para o sucesso nesse caso – relaxa um pouco. Eu já chequei três vezes – o que era completamente mentira, já que eu só iria mudar os nomes nos papeis do diretor. Se necessário.
- Certo – ele pega o copo de ponche da minha mão e toma um gole, fazendo careta com o inesperado gosto de álcool. – Já batizaram? Ah, cara! Essa é a minha função - dou um sorrisinho. Ele realmente estava nervoso e, se não fosse tão irritante, seria bonitinho.

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Já era quase meia noite e não havia falado com desde que ele saira trovoando como uma tempestade de casa. Se eu estava preocupada? Estava suando como um porco, mas não. Preocupação não combina comigo. Eu tenho tudo sobre meu controle o tempo todo. Nada vai dar errado. Ponto.
O diretor sobe no pequeno palco improvisado com duas coroas em mãos - creio eu que Ashley faria uma pequena troca de coroas. Ao ligar o microfone, o DJ para a música e deixa todos com uma dor de ouvidos, por conta de uma microfonia do tamanho do mundo. Coloco uma das mãos, a que não estava ocupada com um copo de plástico, no ouvido direito e encosto o esquerdo no ombro. Chad ao meu lado, faz careta, não sendo tão infantil quanto eu.
- Desculpem por isso, pessoal – ele diz, assim que o barulho para na vida real e continua somente em minha cabeça. Odeio esse “pi” irritante. O diretor levanta as coroas. – Mas aposto que vocês não irão reclamar depois que eu anunciar os ganhadores do cocncurso de Melhor Fantasia do Baile de Haloween de 2019 da escola Hawkings.
Pelo que eu tinha entendido de toda essa palhaçada, o concurso de melhor fantasia, era como ganhar um Oscar do ensino médio na Hawkings. O concurso começou uns dois anos depois de eu ter saído da escola da primeira vez, com Stefan, e era uma coisa que todo mundo sentia orgulho. O baile de Haloween era algo que todos os alunos esperavam no seu último ano, já que apenas seniors e convidados poderiam ir. Era algo sagrado.
O diretor continua falando em cima do palco e eu tento visualizar o que está dentro do envelope que ele carrega junto com as coroas. Fecho os olhos e me imagino pequena o suficiente para caber dentro do envelope. E assim aconteceu, uma mini eu saiu de trás dos meus cabelos e escorregou por minhas calças. Ela se transportou até dentro do envelope e consegui ler os dois nomes escritos no papel. e Chad. Não pude conter o sorriso. Ganhar de Ashley com o ex-namorado dela seria uma ótima lição de vida (ou vingança, chame do que quiser), mas não separaria os dois, então a pequena eu balançou as mãos por cima dos nomes, que mudaram para os de Ashley e .
- Está tudo nos lugares – digo, virando para Chad. Meus olhos encontram com os de meu amo por alguns segundos e levanto meu copo, dando um sorriso. Ele abraça Ashley de lado e vira a cabeça para o diretor. Tenho a sensação que o tratamento de silêncio acabaria daqui a pouco.
- ..., mas acho que vocês não querem saber de números. Aposto que estão mais interessados nos nomes desse pedaço de papel aqui – o diretor levanta o envelope que eu estava há poucos segundos atrás. Remove o lacre com cuidado e lentidão e tenta fazer cara de surpresa ao ler os dois nomes escritos – os ganhadores do concurso de Melhor Fantasia de 2019 são... Uma pausa para o drama... Ashley e ! Nossa realeza inglesa!
Olho para Chad com o canto do olho. Posso sentir os pensamentos de alívio dele ao meu lado, porque era a “única coisa que poderia dar errado no nosso plano”, segundo ele, e se eu estragasse “não teriamos outra chance e ele me esfolaria viva”.
Os gritinhos animados de Ashley eram estridentes e irritantes. Ela puxou para um abraço e eu poderia vomitar naquela hora. Acho que foi isso que me fez soltar o vídeo mais cedo. Logo, a luz dos telões mudaram e uma Ashley, perfeitamente lúcida e sem nenhum encanto (eu juro), apareceu falando em alto e bom tom:
- Sabe, acho que se o não fosse tão rico eu já teria largado dele faz décadas – ela coloca uma mecha de cabelo que soltou do coque alto que usava no treino das líderes de torcida atrás da orelha. Era possível ver, atrás dela, o campo de futebol e as outras meninas treinando. – Não que ele não seja lindo, mas ele não é muito o meu tipo. Juro que se ele fizer mais alguma piadinha ridícula, vou arrancar minhas orelhas e jogar no triturador.
O vídeo rebobina, fazendo-a repetir as primeiras palavras, mas a voz está retorcida e a face também. O diretor corre de um lado para o outro, tentando fazer o vídeo parar e, acredite em mim, teria sido melhor, mas ele não para. A magia que eu coloquei no retroprojetor continua rodando e rodando até chegar até a tela preta. Quando acham que o terror tinha terminado, letras roxas aparecem. Letras malignas escrito “Cortesia da gênia ”.
Prendo a respiração e olho para . Ele olha embasbacado para as duas telas e vira a cabeça lentamente até onde eu estou. Posso sentir todo o sangue sair do meu rosto e ir direto para minhas orelhas, que queimam como o inferno no momento. Ashley está rodopiando em volta de , pedindo mil desculpas, dizendo que não pensou no que disse. Ele a ignora, empurra-a com delicadeza e dá passos largos para chegar até mim.
- , eu... – começo a dizer, mas ele balança a cabeça e pega meu pulso, me arrastando para fora do ginásio.
Eu corro ao seu lado para conseguir alcançar os passos dele e, mesmo assim, posso sentir meu pulso latejar, por ele estar pegando em minhas algemas/braceletes. Não reclamo, no entanto. Sei que ele está chateado e tem todo o direito de ficar e, além disso, é meu mestre, não tenho direito de reclamar.
me puxa até a sala do zelador mais próxima, me empurra para dentro, soltando meu pulso e fecha a porta. Não consigo ver nada, mas posso sentir ele tremendo no espaço apertado. Queria poder sentir o seu cheiro, mas tudo que eu sinto são produtos de limpeza baratos. Ele acende a luz e consigo ver seu rosto. Desdém, raiva e rancor revesam em seu rosto e eu não o reconheço mais.
- ... – digo, tentando colocar a mão em seu rosto, mas ele afasta.
- Eu... – ele diz, segurando meu pulso novamente. – Eu pensei que você me ajudaria a ficar com ela, não me sabotar.
- Eu nunca sabotei Ashley – puxo meu pulso, me desvencilhando de seu aperto. Tento dar um passo para trás, mas sou impedida pelos baldes e esfregões que repousavam no chão. – Tudo que ela falou no vídeo é 100% ela.
- Mas ainda assim você gravou – quando ele percebe que não vou falar nada, continua. – Você estragou toda a minha felicidade.
- Toda ela? Por favor! – franzo a testa. – Se você acha que ela te fazia feliz... Você não tem ideia do que é ser feliz.
- Eu era feliz. Ela me amava
- Não. Não amava – digo, levantando o indicador. – Quantas coisas estúpidas eu fiz para ela finalmente se tocar que você era rico o suficiente para namorar com Ashley, a rainha do Kpop horrível? Eu fiz um helicóptero, ! A porra de um helicóptero! Então, sinto muito, docinho, mas ela amava seu dinheiro.
Por um segundo, ele olha para baixo e tudo que podemos escutar é a nossa respiração e as gotas de água caindo da torneira atrás dele. O silêncio me ensurdecia, então comecei a contar as gotas para passar o tempo. O silêncio confortável sumira e eu queria muito que ele voltasse.
- Por quê? – a voz dele soava chorosa. – Por que você fez tudo isso? Para me ver feliz? Porque não é isso que eu estou sentindo no momento.
- , eu... – suspiro, olhando brevemente para a direita. – Porque eu... Ah! Que se foda.
Venço os dois passos que nos separam e puxo sua cabeça para mim. Ele não reluta, surpreso. Colo nossas bocas e puxo suas mãos para minha cintura descoberta. não reage por um segundo, mas quando coloco minhas mãos em seu pescoço parece entender o que está acontecendo e retribui. Move seus braços e me sinto sendo puxada para mais perto dele até suas pernas se entrelaçarem nas minhas. Isso estava bem longe daquele beijo na casa de Chad meses atrás. O fato do gosto de álcool ter sumido e a certeza que ele me beijava, por minha causa e não pela Ashley, só fazia tudo ser melhor. Pequenos foguetes explodiam em cima da cabeça dele, literalmente, já que eu não consegui controlar minha mágica o suficiente.
- ... – sussurro, quando nos afastamos.
- Não – ele me empurra, levemente. – O que você fez, ? Isso está errado. Você não...
- O que você quer que eu faça?! – quase grito.
- Eu... – ele faz uma pausa, olhando para baixo. Quando continua, seua olhos estão escuros com algo que não consigo identificar. – Eu quero que você me deixe em paz.
- Desculpa, mas isso não vai acontecer – cruzo os braços em cima do peito.
- Vai sim – ele diz, sacando alguma coisa do bolso. – Porque esse é meu desejo número dois.
- Pense bem no que você vai fazer – digo com calma, sussurrando. Os olhos se enchem como uma barragem depois de um temporal. – Não faz isso, por favor.
- Eu desejo... – ele segura a lâmpada com força. – Eu desejo que você fique dentro da lâmpada até eu te chamar novamente.
Olho para baixo, suspirando:
- Que o seu desejo se torne realidade.
Posso ver quando meus pés começam a se tornar neblina roxa. Ela sobe devagar, carregando minhas pernas para a lâmpada e quando chega no meu pescoço, dou uma última olhada no meu amo. Seu rosto está tão molhado por lágrimas quanto o meu, mas fecho meus olhos para que ele não veja o sentimento escondido ali. Quando a fumaça chega ao topo da minha cabeça, tudo que eu consigo ouvir é o tintilar da tampa da lâmpada.
- Presa novamente, velha amiga.


3. Genie

Um fato sobre lâmpadas mágicas: elas não são confortáveis. Claro que eu posso ficar menor e caber dentro dela e andar e decorar as paredes. Porém, as paredes são frias. Não importa o que você tente – cobertores, aquecedor, eu cheguei ao ponto de ter um dragão em miniatura uma vez – o frio sempre volta a te incomodar. Sou gênia, não a Elsa, afinal.
Além disso, os sons de fora alcançam a parte de dentro da lâmpada facilmente. Isso nunca foi um problema. Adorava escutar a conversa dos meus amos de dentro da lâmpada. Porém, quando saiu como uma tempestade da escola naquele fatídico dia de Halloween, voltei para o sótão. Ele não se deu o trabalho de me colocar em uma caixa, ou enrolar a lâmpada em um cobertor, como seu avô. Ele só soltou a relíquia (sim, relíquia! Me respeita) no chão de qualquer jeito. Eu podia escutar alto e claramente os ratos passeando por cima da minha casa. Rude.
Então aqui eu estava. Passando frio e ouvindo ratos. , porém, estava em uma situação muito pior. Ninguém na escola tinha me visto depois do baile, logo a melhor esplicação era a minha volta para a Arábia Saudita. Precisamos lembrar, no entanto, que meu amo não é bom com mentiras. Quando ele voltou para a escola na segunda-feira depois do baile e nossa professora de história perguntou sobre mim, tudo o que ele conseguiu responder foi que eu tinha sofrido um acidente. Sim, é possível ser tonto assim.
O que aconteceu na semana que eu fiquei, bem, de castigo, eu não sei. Sempre que tento perguntar para , assim como fiz nas partes em que eu não estava, ele nunca me conta. Mas, você sabe que eu tenho os meus meios de saber alguma fofoca. Tudo o que eu ouvi, foi que ele terminou de vez com Ashley e que não foi bonito. Se eu deveria comemorar como uma vitória, eu não sabia. Uma coisa eu aprendi no isolamento, entretanto: é horrível não saber das coisas. Como os humanos aguentam?
Por causa de algumas regras idiotas da lâmpada, eu só tinha notícias de quando ele chegava em casa. Minha casa/cantinho do castigo fazia questão de me avisar quando ele chegava. Como se não fosse duro o suficiente.
Assim, se passaram três semanas. Eu, sozinha, sem entender nada. , sozinho, entendendo parcialmente as coisas – parcialmente porque ele nunca foi muito inteligente, para começo de conversa.

+++++++++++++++++


Era o fim da terceira semana no confinamento. Eu já tinha assistido todos, eu repito, todos, os episódios de Grey’s Anatomy pela terceira vez. entra em casa, minha casa toca o sino, avisando que o mestre está no mesmo lugar. Fazia três dias que ele não vinha para casa. Eu estava preocupada? Estava, mas sabia que ele vinha passando por momentos difíceis. Quer dizer, deve ser bem estranho dormir com uma lâmpada mágica, na qual você pôs a sua gênia que pode estar apaixonada por você e que estragou tudo com a menina dos seus sonhos, em cima da cabeça. A situação não era das melhores, realmente.
Ele entra em casa, retirando a etiqueta da camiseta que usava e marcha para o porão. Não que eu soubesse daquilo no momento, mas meu tempinho de descanso havia acabado. Por algumas semanas. Ele não entra no porão, só tateia até encontrar, bem, eu. Puxa a lâmpada e leva para a sala. Por um segundo, o déjà vu chega, relembrando-o da primeira vez que esfregou a lâmpada. Antes de tudo isso acontecer. Ele balança a cabeça, tentando tirar esse sentimento dela.
levanta a lâmpada na altura dos olhos.
- Eu entendo, agora. Por favor, não esteja brava – ele sussurra. Aqui, em pé no meio da sala, sussurrando para uma lâmpada, ele se sentia estranho. Estúpido, até. Ele respira fundo, passando o dedão de leve na lateral da minha casa.
Dentro da lâmpada, eu ouvia os sussurros. Me preparando para a hora que a sirene tocasse dentro do meu cérebro, avisando que o mestre chamava. Hora do dever.
coloca a lâmpada no chão e observa a fumaça roxa se alastrar pela sala. Assim como da primeira vez, ele segura a respiração. Não mais por não entender o que estava acontecendo, mas por não ter ideia de como seria o futuro. A materialização termina. Estou com as mesmas roupas de quando apereci pela primeira vez. E nas outras primeiras vezes de outros mestres. Não que isso seja uma reclamação.
Assim que olho para , a raiva diminui. Mas não a ponto de me fazer descruzar os braços. Levanto uma sobrancelha, ao invés disso.
- Eu disse para não ficar brava – resmunga.
- E eu disse para você não me colocar de castigo na lâmpada igual a uma criancinha! E olha onde eu fiquei esses dias! – digo, apontando com a mão minha “cadeira da Super Nanny” no chão. Ele suspira. – Eu me senti humilhada. Humilhada como nunca antes e isso quer dizer muita coisa!
Ele atravessa a sala, indo até mim. Eu sei ao que isso vai levar, mas, como se nada mais funcionasse, fico parada. Eu sei. É clichê. Cá estou eu, , a pessoa que mais criticou clichê com Agatha Christie, tomando um chá na casa da escritora, me entregando para o maior deles: acabar com uma briga com um beijo. Não sei por que os clichês não são tão horríveis agora, quando acontecem comigo. Talvez o amor seja o culpado de tudo isso.
- Sinto muito – ele sussurra, passando o polegar pela minha bochecha. Minha respiração se mistura com a dele. Estamos tão perto que consigo ver os pontinhos mais escuros dos olhos de .
Minhas pálpebras se fecham, lentamente. Sua boca se aproxima da minha e, eu juro, que toda essa antecipação me dará gastrite, já que meu estômago está mais gelado que o freezer de uma sorveteria. Ele passa seus lábios nos meus vagarosamente e os beija. Eu, embriagada por seu perfume, puxo seu pescoço, fazendo-o se curvar por cima de mim. Luto para não cair, em seguida. Dois segundos depois, os mesmos fogos de artifício voltam a circundar a cabeça de . Ele sorri, sem partir o beijo. Eu o afasto, no entanto:
- Não pense que pode me beijar para se livrar de uma bronca – digo, sem soltar do abraço.
- Ao que parece, acabei de fazer isso – ele ri, levemente.
- Você e sua autoestima... – reviro os olhos. Puxo meus braços, soltando-o. pega minha mão direita no caminho, beijando a palma. – Você é o cúmulo.
- Por ser tão bom amo?
- Por ser tão clichê – levanto a sobrancelha, sorrindo. – E sobre ser “tão bom amo”, eu já vi melhores.
- Mas não beijou nenhum deles, espero – ele levanta a sobrancelha, me espelhando. Eu empurro seu ombro.
- Você se surpreenderia – brinco. Solto minha mão da dele, desesperada por um copo de água e qualquer coisa de comer da geladeira. vem atrás de mim. – Você deveria perguntar pela lista para seu avô. Ele sabe todos os detalhes.
A veia na testa dele fica levemente saltada, mas eu não vejo, já que estava de costas. Abro a geladeira e franzo a testa. As únicas coisas dentro do eletrodoméstico eram uma garrafa de água na metade, algumas verduras murchas na gaveta de baixo e um pote com queijo que parecia ser o mesmo que eu havia comprado três semanas atrás.
Eu franzo a testa. Stefan não deixaria a cozinha assim. Aquele homem amava cozinhar! Vivia dizendo que a cozinha era o coração de uma casa.
- Por que Stefan deixou a cozinha tão vazia? – pergunto, sem olhar para . É quando eu volto a raciocinar. Alguma coisa não estava certa. – , tem alguma coisa errada?
Ele suspira. Coloca a mão atrás da nuca, enquanto eu analiso seu rosto. As olheiras estavam praticamente pretas, foram muitas noites mal dormidas para cultivá-las. Além disso, seu cabelo despenteado estava ligeiramente lustroso no topo da cabeça, o que era estranho, já que meu mestre cuidava muito bem de sua aparência. Como não percebi tudo isso antes?
- Vem. Coloque alguma coisa que não grite “eu sou uma gênia toda poderosa” – disse ele, finalmente, andando de costas até a mesa para pegar um casaco jogado em cima dela. – Vamos comer alguma coisa.
Eu franzo a testa, mas, com um aceno de cabeça, calças jeans e uma camiseta aparecem grudados ao meu corpo. Junto com as roupas, um All Star de cano alto é materializado em meus pés. Posso ouvir sussurrar que nunca vai se acostumar com isso e sorrio, levemente. Mas nem as palavras bobas conseguem me distrair.
- Você pode me contar o que está acontecendo? – pergunto, levantando as sobrancelhas.
Ele finge que não me escuta e começa a procurar as chaves do Jeep. Reviro os olhos e, sem prestar muita atenção no que faço, puxo a chave (que estava no bolso dele) para as minhas mãos, sem enconstar em nada. Ele continua a procurar, sem perceber que eu estava com as chaves na mão. Então, eu seguro seus braços, fazendo-o olhar para mim.
- – digo, olhando em seus olhos. – O que está acontecendo? Você agindo assim não ajuda.
- Podemos ir comer? – ele diz, se desvencilhando de meu aperto. Começa a andar para a porta. – Eu sei que você sai verde de fome da lâmpada e...
- – eu viro fumaça e paro na frente dele, sem me esforçar. – Você pode contar qualquer coisa para mim. Não vou te julgar. Você ainda está com a Ashley? Porque se for isso... – começo a tagarelar.
- Câncer! – grita, interrompendo meu discurso sobre feminismo. Quando vê que minha boca está fechada ele continua, sussurrando – meu avô está com câncer e não tem nada que os médicos possam fazer.
Eu já voei. Já estive em lugares que dão a impressão de não existir pontos cardeais ou um céu e chão. Eu me transformo em fumaça, pelo amor da lâmpada! Mas nada era parecido com aquilo. Parecia que eu estava caindo. Todos os nervos do meu corpo não tão humano assim ficaram amortecidos de uma só vez e não entendo como minhas pernas conseguiram não virar gelatina e me mantiveram em pé. Posso sentir meus pulmões trabalhando mais rapidamente, tentando levar ar para um cérebro acinzentado.
- Onde ele está? – minha boca fala, mas eu não reconheço minha voz. – Não importa. Eu quero ver meu amo.
Não vejo, mas assente. Não conversamos no caminho até o hospital da cidade. O carro em completo silêncio, o que eu aprecio. Eu deveria estar pensando em inúmeros planos, mas não estava. Ao invés disso, lembrava da primeira vez que olhei nos olhos assustados de Stefan quando ele me convocou para fora da lâmpada. Lembrava de como ele estava sentado no chão, como se tivesse caído pelo susto de ver uma mulher em seu quarto tão tarde da noite. O que sua mãe iria pensar se fosse ver se ele estava dormindo? Vizualizava na minha cabeça a primeira vez que eu vi ele falar com Vivian pela primeira vez, depois de um jogo de futebol.
Todas as coisas que eu vivi com Stefan passavam como um filme na minha cabeça. Nada daquilo parecia real. E, eu juro, se for só alguma brincadeirinha idiota dos dois, eu lanço uma maldição para perdurar até a eternidade!
para na frente do hospital e eu rezo para Aladdin para que seja só uma peça idiota. Ele me puxa pela mão e me deixa parada no saguão de entrada para falar com a moça de cara amarrada sentada na recepção. Posso ouvir os sons dos auto-falantes chamando os médicos ocupados, mas não presto atenção. Em outra situação, eu teria hackeado o sistema e chamado um nome fictício qualquer. Mas não era hora para isso.
volta e, novamente, me puxa para o elevador. Quando as portas se fecham, ele gruda um pedaço de adesivo na minha camiseta e diz:
- Vai ficar tudo bem, – a voz dele não parecia tão certa, mas era melhor não comentar.
As portas do elevador se abrem de novo e ele me guia em um imenso corredor branco. Meu amo cumprimenta algumas enfermeiras no caminho, mas eu não reparo em seus rostos. Chegamos até o quarto que Stefan deveria estar. Se isso fosse em casa, eu sentiria o cheiro de nozes que parecia acompanhar meu antigo mestre desde que chegara aos 60 anos. Mas estávamos em um hospital, então tudo que eu conseguia sentir era o cheiro de alvejante.
bate na porta, levemente, e a abre em seguida. Posso ver um quarto não muito grande. As janelas grandes deixavam o quarto bem iluminado, mesmo lançando algumas sombras das grades presas. A cama de hospital ficava bem no centro e, na frente, um pequeno armário marrom.
- Vovô...? – ele pergunta, a voz calma e suave. – Uma pessoa veio te visitar.
- Eu juro que se for a chata da nossa vizinha eu... – posso ouvir a voz de Stefan do meio dos cobertores, mas em momento algum ele se vira para ver quem era. Eu poderia ser fofa e dizer que sua voz me fez sorrir, mas é o comentário que me faz dar risada.
- A senhora Jenkins é realmente insuportável – comento.
Stefan vira a cabeça, finalmente. Ele estava um pouco mais devagar do que o normal, mas tudo bem. Meu amigo ainda estava aqui.
- ! – ele diz, mostrando a dentadura amarelada. – Finalmente esse cabeça dura foi te buscar. Eu quero te ver desde semana passada.
- Os homens e sua teimosia – digo, andando para perto da cama. entra no quarto e fecha a porta, se encostando nela.
- Não somos teimosos! – ele diz, e posso ouvir o sorriso em seu tom de voz.
- Teimoso é quem teima com a gente – completa Stefan. Tenho certeza que eles vêm ensaiando isso há muito tempo. – Como você está, querida? Os ratos te incomodaram muito?
- Você deveria ter ensinado para o que, no mínimo, ele tem que cobrir a lâmpada. Agora seus ratos do porão tem nome – respondo, minha voz soa indignada. Sento no canto da cama, arrumando os lençóis. Meu sorriso murcha ao perceber o cateter em seu braço. – As pessoas estão te tratando bem por aqui? Porque se não, eu posso dar um jeito – levanto as mãos e esfrego os dedos, fazendo um brilho arroxeado sair. Escuto a porta bater e sei que não está mais lá, mas não tiro os olhos do mais velho.
- As enfermeiras são legais. A comida é meio sem sal, mas eu aguento – ele responde, mexendo no edredom branco que o cobria. – Quando vocês se acertaram?
Eu não precisava que ele colocasse pronomes, sabia que falava sobre o neto. Então, respondi:
- Hoje de manhã. Você tinha que ter visto! Ele se ajoelhou e implorou pelo meu perdão – eu sorrio, triunfante, sabendo que seria pega na minha mentira.
Conversamos por horas. Ele me contou as fofocas que ouvia das enfermeiras e relembramos o passado. Rimos relembrando os nossos planos falhos para conseguir a atenção de Vivian no colégio e dos foras que eu dava em Oliver, um colega da turma de Stefan anos atrás.
Mal notei quando entrou no quarto de volta. Pulei de susto quando um saco do Mc Donald’s pousou em meu colo.
- Você precisa comer, diz, olhando para mim. Ele carrega dois copos de refrigerante, um estava com o canudo na boca dele. O outro, ele esticava para mim, que pego rapidamente. – Acredita que ela saiu da lâmpada e não quis comer nada? Acho que o senhor é bem importante, vovô.
- E você deixou ela ficar todo esse tempo sem comer? – Stefan ri do neto. Logo a risada se transforma em uma tosse longa e seca. pega a jarra de água, que estava na mesa ao pé da cama, e enche um copo, entregando-o para o avô. Stefan agradece.
- Vamos – diz para mim. Eu o olho, confusa. – Vamos para o refeitório para você conseguir comer.
- Eu posso comer aqui – respondo, franzindo a testa. Não vou sair do lado do meu amigo, não agora.
- Vai, – diz Stefan, olhando para . – Vocês precisam conversar. A sós – ele acrescentou, vendo que eu estava prestes a discordar.
Mesmo de mal grado, levanto da cama, onde estava sentada, junto com a minha comida e sigo porta a fora. Ele me guia até um salão enorme com várias mesas e nos sentamos em uma delas. Eu abro o pacote e tiro as batatas fritas de dentro, junto com o sanduíche. Começo com as batatas, bebendo do refrigerante junto. Não tinha notado o quanto estava faminta até sentir as batatas na boca.
me olhava, quieto. Eu podia ver a fumaça saindo das suas orelhas, por estar pensando.
- Você consegue, não é mesmo? – ele pergunta, sussurrando. Olha para os lados para garantir que ninguém estava escutando nossa conversa.
- Consigo o quê? – pergunto, com um pedaço do hambúrguer na boca.
- Curar o meu avô – ele responde, como se fosse óbvio.
- Claro.
- Então por que ele ainda está naquela cama? – le parecia irritado e eu não o culpava. Eu suspiro e deixo minha comida de lado antes de responder.
- Eu tentei – dou um sorriso fraco. – Assim que você saiu do quarto. Eu torcia para que a doença não tivesse se espalhado tanto. Do jeito que está... Eu não consigo fazer isso sozinha. Você vai precisar fazer um desejo.
- Eu não posso fazer um desejo. Eu te prometi – ele responde, bufando.
- ... – balanço a cabeça e alcanço a mão dele do outro lado da mesa. – É o Stefan. Eu faria qualquer coisa por seu avô. Qualquer coisa. Tá tudo bem.
- Não! – ele tira a mão debaixo da minha. – Eu não vou desistir.
- Não é desistir, – eu suspiro de volta. Voltando a comer.
- Você consegue me dar mais tempo, pelo menos?
- Uhum – não consigo levantar meus olhos. Não posso ver a cara de desespero que eu tenho certeza que está acima de mim.
- Eu pensei que você fosse super poderosa – ele murmura, depois de um tempo, em um tom divertido. Então, levanto a cabeça e o olho, indignada. Ele ri da minha cara.

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As próximas semanas voam, mas muitas coisas foram resolvidas. Para começo de conversa, tiramos Stefan do hospital. Ele não precisaria de cuidados médicos tão cedo, considerando toda a magia que eu estava colocando no corpo dele para manter o câncer fora do estado terminal. Tivemos que provar para o pessoal do hospital que tinhamos os equipamentos nescessários para manter Stefan em casa e assinou tantos papeis que sua mão ficou doendo ao final do processo.
E por falar em ... O menino nunca mais parou em casa. Ficava correndo de biblioteca em biblioteca atrás de uma forma de burlar as regras da lâmpada e conseguir manter tanto eu quanto o avô em sua vida. Não importava quantas vezes nós conversássemos, ele não deixava de ir atrás de uma resposta que, provavelmente, não existia.
Depois de Stefan já ter embarcado em um sono profundo, um dia desses, eu desci as escadas apertadas para onde ficava horas lendo 1001 Noites todas as noites - era o livro mais confiável em relação à minha espécie -, ou seja, a sala. Vejo-o completamente concentrado, então sento ao seu lado sem falar nada. Ele pega minha mão direita e faz circulos com o polegar. O silêncio durou exatos 12 segundos:
- Tem uma coisa que vem me incomodando há um tempinho... – olho para nossas mãos entrelaçadas. Ele não tira os olhos do livro, mas assente, dizendo para eu continuar. – Por que você mudou de ideia? Digo, quando você me colocou de castigo...
- Eu não te coloquei de castigo – ele esbravejou.
- ...você tava puto da vida – continuo a falar, ignorando completamente sua correção. – O que te fez ir de bravo para... Bom, você sabe – por que eu estava corando? Me sinto uma idiota. solta uma risadinha sem graça e coloca o livro aberto na mesa de centro.
- Você fica extremamente fofa com vergonha – disse, e eu dou um tapa no braço dele. – Eu conversei com o vovô.
- E ele disse que eu estava certa – constatei. Stefan sempre estaria do meu lado em qualquer discussão e disso eu tinha certeza.
- Não.
- O quê?
- Ele disse que você não devia ter feito o que você fez – disse , logo depois de soltar uma risada abafada.
- Mas... – eu respondo. Não fazia sentido voltar a falar comigo se Stefan estava contra mim. Muito menos querer ficar comigo.
- Ele disse que estava chateado contigo – continuou. – Mas, que tudo que você queria era mostrar quem era, realmente, a pessoa que eu estava namorando. Eu devia ter visto antes, sabe?
- Você realmente estava cego – respondo, balançando a cabeça para um lado.
- Vovô me contou das coisas que você tinha deixado para lá por um tempo porque eu estava feliz – me ignorou. – Aqueles dias que você ficou sozinha me esperando no estacionamento, sendo que podia ir para casa quando quisesse. Você queria passar mais tempo comigo. Eu me lembrei de todas as nossas conversas no carro e...
Ele para no meio da frase, como se tivesse se lembrado de uma conversa específica. E ele tinha. Sua cabeça voou para uma das nossas conversas no carro, na frente de uma das inúmeras lojas de café que visitamos depois de nos livrarmos da Ashley. Eu pelo menos me livrava.
- Como gênios nascem? – ele me perguntou naquele dia, depois de entrar no carro e me entregar o copo de cappuccino.
- Depende – eu disse, levando o copo direto na boca. Sinto o calor se espalhando pelo meu corpo. – Existem três tipos de gênios. Os que foram amaldiçoados quando eram humanos. Esses daí são os mais amargurados com a vida. O gênio original era assim. Você conhece ele! Ele é o da história do Aladdin. Nada a ver com o que a Disney mostrou no filme – eu tagarelava. Naquele dia, eu estava de bom humor. – Depois têm os gênios que nascem gênios. Os pais são gênios. Você sabe, dois gênios se apaixonam e o papai coloca uma sementinha na mamãe. Esse tipo de coisa. E, por último, os gênios que pediram para serem gênios. Um humano encontra uma lâmpada, faz dois desejos. O humano se encanta com o poder de ter tudo na mão e pede para ser gênio. Mal sabe o humano das restrições que a lâmpada impõe.
Eu terminei esse monólogo com uma careta, se eu estou lembrada. E pode acreditar, porque minha memória é muito boa.
- E qual dos três tipos que você é? – perguntara, tomando outro gole de seu café.
- O terceiro –respondi, olhando para a janela. se mantivera calado, esperando que eu continuasse a falar. – Eu era a princesa do que hoje você chama de Arábia Saudita, há muito tempo. A lâmpada do meu tatatatata, e muitos tatas depois, avô Aladdin era passada de geração a geração da família – eu conseguia ver a cara de surpresa que fizera à menção de meu antepassado. Eu lembro que achei isso engraçado. – Quando chegou a minha vez, eu estava prestes a me casar com um cara que eu nunca tinha visto na vida. Princesas não podiam governar, então fizeram um casamento arranjado para mim. Eu queria fugir e que maneira mais legal de fugir que virar algo extremamente poderoso? Foi o meu primeiro pedido.
- Eu pensei que o gênio tinha sido liberto e tirado algumas férias no Havaí – brincou depois de um momento de silêncio.
- Você não deveria acreditar muito na Disney, sabe? – eu rira.
Hoje, na sala, soltou uma risada alta. Seus olhos brilharam e ele quase gritou “eureca!”. Eu não entendia essa felicidade. Não estava na sua cabeça para ver do que ele tinha lembrado. Pediu, então, para ficar um pouco sozinho para pensar e eu o deixei. Fui para o meu quarto e dormi.

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Acordo, na manhã seguinte, com a voz alta de Stefan. Levanto rápido, arrumando o cabelo e tirando o mau hálito com mágica. Me transformo em fumaça e me materializo no quarto do meu antigo amigo. Encontro meu mestre e meu antigo mestre rindo juntos.
- Por que não me chamaram para a festa? – pergunto, franzindo a testa.
- A gente não queria te acordar – diz , se levantando e vindo até mim. Ele deposita um beijo rápido em meus lábios e sussurra: - Bom dia.
- Bom dia...? - digo, meio incerta. – Por que estamos tão felizes?
- tem um plano – diz Stefan, sorrindo.
- E eu posso saber qual é? – pergunto, levando meus olhos do mais velho para o mais novo. Esse ri, olhando para o avô.
Depois de Stefan acenar com a cabeça, me puxa para fora do quarto. ¬
- Não tenho certeza se vai dar certo, então... – ele sussurra, parando no meio do corredor estreito.
- Se você me contar... – eu o interrompo.
- Então acho que é a hora da história em que o mocinho fala tudo o que sente pela personagem principal – ele continua, me ignorando.
- Se você não for me dizer qual é o plano para ter mais um momento completamente clichê... – eu balanço a cabeça, mas sorrio do mesmo jeito. tinha certeza do seu plano, disso eu não duvidava.
- Cala a boca – ele disse, soltando uma risada baixa. – , eu...
- Eu sei, – interrompo mais uma vez. – Você não precisa me dizer nada. Eu sinto a mesma coisa – chego mais perto, colocando minha mão direita na sua bochecha. Ele olha em meus olhos e eu correspondo. – Agora que o clichê acabou, você pode fazer seu pedido?
Ele ri. Revira os olhos e diz:
- Você não podia deixar eu ter meu momento romântico? – ele sorri. Abaixa os olhos e os levanta de novo. – , a gênia mais linda que eu já vi...
- Porque, claro, você já viu muitas... – eu sussurro, fazendo meu amo rir.
- ... Eu desejo que meu avô seja um gênio da lâmpada.
Arregalo os olhos. Aquele era o plano errado. Ah, não. Eu queria avisá-lo, mas o último desejo era o mais poderoso de todos. As minhas pulseiras queimavam e eu sabia que, se tentasse abrir a boca, as únicas palavras que sairiam eram “seu desejo é uma ordem”. Então, com os olhos cheios de água, balanço a cabeça e digo:
- Que seu desejo se torne realidade – abaixo a cabeça e sussurro depois: - ...
Não consigo terminar a frase, sou transformada em uma nuvem de poeira roxa.

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Eu deveria me lembrar do que tinha acontecido, mas um grande vazio ocupa o espaço que as memórias deveriam ocupar. Eu só me lembro da lâmpada e, depois, preto. Parecia que a lâmpada estava me mantendo segura.
Consigo me lembrar somente de estar deitada. O lugar não cheira como minha lâmpada, com certeza fui mudada de lugar. O lençol parece macio demais para mim. Fazia tempo que eu não me sentia assim. Os poderes da lâmpada deixavam os sentidos mais aguçados, para escutarmos quando mestres chamavam ou sentirmos os ambientes para deixar os amos seguros.
Não sei quanto tempo depois, vozes. Vozes que eu já estava acostumada a ouvir, mas diferentes. Não as reconheci. Vozes que eu amava, com certeza. Não abri meus olhos, entretanto. Eles estavam pesados demais.
- Ela vai voltar logo? – uma das vozes perguntou, aflita.
- Não sei – respondeu a outra. – Depende. Geralmente demoram algumas horas. Mas, teve uns que foram meses.
- Mas, funcionou, não é? – a primeira voz soa angustiada. – Vovô...
A cada segundo as vozes se tornam mais familiares. Porém, é nesse último “vovô” que minha cabeça estala. Todas as lembranças voltam em uma enxurrada.
- Se você me der um beijo quem sabe eu acorde como a Bela Adormecida – eu digo, sem abrir os olhos.
Risadas aliviadas rondam a sala. chega mais perto de onde estou deitada e beija de leve meus lábios.
- Parece que alguém também é um grande clichê – ele sussurra, deixando outro beijo na minha bochecha.
Finalmente consigo abrir os olhos. As cores pareciam erradas, mas logo me acostumaria. se afasta um pouco, me dando um pouco de espaço. Sento na cama do meu quarto na casa dos . Stefan está em pé no fim da minha cama, me olhando com cuidado. Ele usa as roupas que uma lâmpada daria.
- Como está se sentindo? – ele me pergunta.
- É estranho. Como se uma grande parte de mim não fosse minha mais. Mas, ao mesmo tempo, parece certo – respondo, franzindo os olhos. – Como você está se sentindo?
- Incrível – posso reconhecer o brilho nos olhos. O mesmo brilho que eu tinha quando fui chamada pela primeira vez, pelo meu primeiro mestre. – E estranho ao mesmo tempo.
- Todo poder do mundo – sorrio. – Mas com algumas regras.
- Eu sei. Foi a primeira coisa que apareceu no meu cérebro.
- Foi a primeira coisa que marcou o seu cérebro – eu sorrio, triste. Eu sabia que não tinha sido fácil. – Espera. O que aconteceu? Como eu estou aqui? Minha memória está meio... Embaralhada, para dizer o mínimo.
- Novo gênio – diz , simplesmente. Eu inclino a cabeça, esperando o resto da explicação. – Novo gênio, novos pedidos. 3 novos desejos. Primeiro, eu quero que seja humana. Depois podemos voltar o vovô.
- Genial – eu brinco. – Não acredito que pensou em tudo isso sozinho.
- Você realmente... – ele diz, fingindo raiva. – Enfim, o vovô agora.
Eu viro a cabeça para Stefan. Suas roupas azuis combinavam com os tons em seus olhos. Ele parecia mais feliz do que eu me lembrava. Eu entendia a sensação. Eu entendia.
- Talvez... – começo. – Talvez a gente pudesse fazer isso depois. Na verdade, gênios novos demoram um pouco para se adaptarem com os novos poderes. Os desejos podem sair um pouco errados.
A mentira vem rápido na cabeça. Pelo menos a habilidade de criar planos rápidos não havia sumido.
balança a cabeça e se senta ao meu lado na cama e Stefan vira fumaça azul, dizendo que vai nos dar mais privacidade. Eu deito nos travesseiros novamente. Minha cabeça estava tão leve, como nunca esteve. Checo os meus pulsos com as mãos, minhas pulseiras não estavam mais lá. Liberdade. Pela primeira vez em mais de mil anos.
- Me peça alguma coisa – digo, fechando os olhos.
- Eu desejo um dragão – diz , se deitando ao meu lado.
- Não – eu respondo, me aninhando em seus braços. Solto uma risada. – Eu esperei muito tempo por isso.
se inclina e me beija. Sua boca na minha e o frio na barriga que sempre vai me acompanhar. Abro os olhos e não vejo os foguetes que sempre apareciam. Eu teria que me acostumar a não vê-los mais, apenas senti-los.
Eu poderia terminar essa história contrariando todos os clichês. Dizendo que não existe um “felizes para sempre” como nos contos de fadas. Afinal, felicidade não é um destino. Felicidade é a jornada. Porém, a felicidade é muito mais fácil quando se tem um gênio da lâmpada como amigo.




Fim.



Nota da autora: Oi, pessoas! Fico muito feliz que você tenha acompanhado essa história louca até o fim. Three Wishes é a primeira fanfic que eu realmente terminei de escrever e eu não sei nem como proceder kkk. Primeiro eu preciso agradecer algumas pessoas. A Laura, minha irmã, que sempre leu os capítulos pela metade pra eu parar de me preocupar achando que está horrível. Depois a Fer que me cobrou esse último capítulo toda vez que eu ia falar com ela. Agradecer à Gabi, que foi a beta disso tudo. E por último, mas não menos importante, você que acompanhou a até o fim.
Three Wishes é muito meu nenê e eu to orgulhosa demais dele. Como eu já disse antes, existem algumas ideias para um spin off (dois na realidade), mas eu to atolada em outras ideias por enquanto.
Eu não acredito que eu vou dizer isto, mas é isso. Espero que tenham gostado! Não deixem de conferir as outras fics que eu tenho no site.
Um beijo!

Nota de Beta: Aaaaaa, que coisa mais fofa. Amei demais como tudo deu certo no final. Fico extremamente feliz que ela tenha "se livrado" de ser uma gênia e que o Stefan tenha ficado bem, por um segundo eu achei que eles não iam conseguir. Adorei como eles ficaram juntos no final, com todo esse "clichê", rsrs.
Eu que agradeço por ter feito parte de Three Wishes. Adorei conhecer a Ali, o Andie e o Stefan.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.


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