Como de costume, o silêncio pelos corredores da base durante a noite era absoluto, por isso seu cuidado a mais para passar despercebida sem produzir nenhum ruído, não querendo perturbar os moradores das portas por que passava. já estava acostumada com missões onde erros não eram permitidos ou perdoados, mas daquele caso específico tinha um peso pessoal: quem estava em risco eram seus filhos, e isso ela não podia permitir.
A porta do casal de irmãos não se diferenciava em nada das dezenas daquele corredor, mas sabia que era aquela mesmo sem prestar muita atenção. Ambas as crianças dormiam tranquilas depois de um dia cheio de testes para a caçula, e treinamento para o mais velho, e ela esperava que o sono deles realmente estivesse pesado, para que não a vissem entrar e sair. Apenas uma luz fraca fingia iluminar o quarto, já que não cumpria aquele papel muito bem - apenas a parte de Dominik recebia um pouco de luz, o que deixava a parte de Petr quase que na completa escuridão.
Seu maior problema ali era Dominik: o que tinha ela de pequena, também tinha de encrenqueira e, mesmo até gostando dessa característica da filha, hoje mais do que nunca precisava que ela ficasse em silêncio, ou ambas estariam com sérios problemas. Já prevendo aquilo, tinha uma pequena seringa escondida em seu uniforme, na esperança que aquele fraco sonífero tivesse efeito no corpo pequeno e desprotegido de sua filha. O bebê choramingara um pouco ao sentir algo estranho perfurar sua pele, mas logo seus olhos grandes giraram para trás e se fecharam. sorriu aliviada: aquilo deveria ser o suficiente para pelo menos metade do trajeto, e então a criança poderia gritar o quanto bem entendesse.
Mesmo com as dezenas de aquecedores pela base para tentar amenizar o frio intenso mesmo naquela época do ano, todos ainda precisavam caprichar nas várias camadas de roupa grossa para se manterem aquecidos, e o bebê não era uma exceção. Em razão disso, não precisava se preocupar com vestimentas para ela por hora, apenas quando chegasse em seu destino, já que ela sim estaria uma temperatura digna de verão.
- Mama?
A voz baixa e infantil fez com que seu sangue gelasse nas veias quando esticou os braços para pegar o bebê adormecido no colo, mesmo sabendo a quem aquela voz pertencia. Seu lado mais medroso temia que Krigor aparecesse às suas costas, rindo da sua ingenuidade por acreditar que podia planejar algo por suas costas. Seu medo era em razão exatamente por não saber os limites do homem: uma vida inteira lado a lado, e ela ainda não sabia do que o marido era capaz. Só que no fundo ela preferia que fosse Krigor a abordando, não seu filho com o rosto amassado e olhos sonolentos.
Petr tinha o sono mais leve do que qualquer um, já que ele que devia avisar caso algo estivesse errado com sua irmã, ou apenas fazer com que ela ficasse quieta quando resolvia começar a berrar no meio da noite. deveria ter imaginado que qualquer movimento faria com que o garoto despertasse, e nem chegara a pegar o bebê no colo antes que isso acontecesse. Com as mãos ainda suspensas sobre o berço, ela se virou para a cama do filho, sua visão aguçada até que identificando sua pequena silhueta no meio da escuridão quase completa do quarto. O cabelo que já precisava cortar há semanas praticamente todo em pé, o semblante confuso enquanto coçava um olho.
- Volte a dormir, meu amor – pediu ela, mesmo duvidando que o garoto fosse obedecer tão facilmente. Petr não era idiota. Já cansara de ouvir o pai ralhando com ela sobre ficar entrando no quarto das crianças sem necessidade, e a mãe estar com seu uniforme completo de missão que ela quase não usava era mais do que uma prova de não deveria estar ali.
- O que você tá fazendo? – perguntou Petr no meio de um bocejo, se sentando melhor na própria cama, as perninhas protegidas por uma grossa calça balançando no ar – Por que tá de uniforme?
- Mamãe vai ter que dar uma saída, querido – suspirou , desistindo do bebê por alguns instantes para se ajoelhar em frente ao filho, tomando seu rosto amassado em suas mãos enluvadas – E eu vou demorar um pouquinho para voltar.
- E vai levar a Nikky? – a mulher assentiu, fazendo com que o garoto ficasse desconfiado. Tinha algo errado, e ele podia sentir isso sem dificuldades. Sua mãe estava tentando de qualquer forma maquiar aquilo, mas ele ainda continuava a sentir – E não vai me levar, não é?
- Agora eu não posso, Pete – contou ela. tentara sorrir para o filho, mas o reflexo que provocara em seu rosto deixara claro que não estava enganando ninguém – Eu só posso proteger um por vez.
- Mas eu posso ajudar – retrucou o garoto, ofendido – Você avalia meus treinos, sabe que sou capaz.
- É claro que eu sei, дорогая... – concordou , apertando afetuosamente as bochechas do filho, que reclamou baixo – Mas eu vou voltar por você, entende? Se não for eu, vai ser a Nikky.
- A Nikky?! – estranhou o garoto, rindo em descrença, até chegando a olhar para o berço para ter certeza que falavam da mesma pessoa – Ela não sabe nem andar ainda!
- Tenha fé em sua irmã, quem sabe um dia ela não precise saber que você acredita nela, hm? – pediu a mulher, puxando o filho para um abraço, algo que ele estranhou apenas nos primeiros instantes, e depois se rendeu aos braços quentes da mãe – Preciso que acredite em mim também, pode ser?
O garoto concordou com a cabeça, mesmo com algo dentro de seu peito tentando lhe dar um aviso, o alertando de um perigo próximo. Antes que Petr pudesse dar atenção àquilo, sentiu algo perfurando o meio de suas costelas e seu corpo ficar mole, logo sua visão também sendo comprometida. O último sentido a abandoná-lo foi a audição, sendo capaz de ainda ouvir mesmo sem muito certeza sua mãe o deitar de volta na cama na posição que ele mais costumava ficar, seguindo para o berço em seguida, e fechando a porta com cuidado ao sair.
O silêncio absoluto que seguiu ele nunca saberia se era por ter entrado na inconsciência, ou por estar completamente sozinho no quarto.
, digo, Lauren revirou os olhos ao encontrar mais um erro no relatório que um dos assistentes de Howard havia feito. Em um primeiro momento ela havia ficado um tanto irritada pelo homem lhe colocar logo naquela tarefa, mas entendeu o motivo já nas primeiras páginas lidas: eram erros tão bobos e discretos de cálculos e suposições que talvez um olhar menos atento que o seu deixasse passar batido, acreditando estar tudo certo. Howard já conhecia e confiava em seu perfeccionismo, mas isso não tornava aquela tarefa mais prazerosa. E ela percebeu que ficaria mais impossível ainda terminar seu trabalho quando notou o filho do chefe entrando no andar, seu sorriso convencido no rosto idiota ao cumprimentar alguns conhecidos enquanto seguia reto. Um desavisado poderia esperar que ele rumasse para a sala do pai – e ele até concordaria com aquilo, caso fosse questionado –, mas sabia qual era seu real destino.
- Te atrapalho? – murmurou ele contra seu ouvido, depois de dar a volta em sua bancada, apoiando as mãos na madeira polida. fingiu ter se assustado com a aproximação “repentina” do garoto, apenas para ele poder soltar sua risada satisfeita de uma vez.
O pirralho Stark não era a melhor fonte de informações que poderia ter ali, mas vai que de repente um dia fosse precisar de seu auxílio? Sem contar que, embora sempre dissesse que não queria o filho perto de sua estagiária, atrapalhando-a em suas funções, Howard tinha um pouco de esperança de que ela acabasse lhe servindo de bom exemplo, já que a idade de ambos era próxima – bom, pelo menos era nisso que ele acreditava, já que os documentos de Lauren Smith diziam que ela tinha vinte anos, não seus quase trinta. Talvez fosse o soro em suas veias, o fato era que seu envelhecimento era bem mais lento que o considerado normal, e ela se aproveitaria disso enquanto pudesse.
- Tony, eu posso até estar desocupada que você sempre me atrapalha – resmungou ela irritada, afastando o garoto com um movimento de ombros, fingindo voltar para sua leitura.
- Amável, como sempre – comentou Tony cínico, afastando alguns papeis da beirada da mesa para se sentar, sob o olhar nada animado da mulher.
- O que você está fazendo aqui? Não deveria estar em aula ou algo do tipo?
- Já estou de férias – contou ele, tentando dar uma espiada no que ela trabalhava enquanto tomava um gole do que quer que tinha na caneca na mesa, fazendo uma careta em seguida. Primeiro que não era nada alcóolico, segundo que estava mais frio do que o coração da garota ao seu lado. Se aquilo fosse mesmo o que ele julgava ser café, deveria estar quente como a pele macia dela – Não é como se faculdade fosse um desafio para mim.
- Não é como se você fosse para lá para realmente estudar, não é? – alfinetou , quase sorrindo ao ouvir a risada surpresa de Tony. Quase.
- Está me monitorando, Srtª Smith?
- Tenho que ouvir seu pai reclamando do filho festeiro, coração – lembrou ela, quase se arrependendo por erguer os olhos para ele. Tony ainda tinha muitos traços infantis e o rosto fofinho de quem ainda não tinha cortado as relações com a puberdade, e até chegava a ser bonito, embora não fosse exatamente isso que a atraia nele: era o potencial. O mais jovem dos Stark tinha uma mente genial, muito parecida com a do pai, embora não tão bem aproveitada. Talvez com o incentivo e direcionamento certo, ele seria capaz de coisas grandiosas.
só não sabia dizer se a história classificaria isso como algo bom ou ruim.
- Talvez você devesse me acompanhar em uma dessas festas... – sugeriu Tony, descendo da mesa e se apoiando contra ela, o tronco curvado para frente para ficar mais próximo da garota, segurando seu queixo com cara de quem não quer nada – Ou talvez nós devêssemos fazer a nossa própria.
- Tentador – se flagrou rindo, entrando no jogo do Stark. Seus colegas estavam ocupados demais em suas tarefas para prestarem atenção do que acontecia mais ao fundo, embora tivessem ciência que o filho do chefe estava mais uma vez dando mais atenção à novata do que ela merecia. A atenção de todos só foi atraída quando um chamado bastante comum foi feito.
- Lauren?! – os berros de Howard passaram pelas pesadas portas de sua sala fechada, praticamente não alterando a intensidade de sua voz.
- Já vou, Sr. Stark – avisou ela, suspirando cansada depois de soltar o botão que permitia a comunicação com o chefe. Ela já estava com os relatórios no braço e de pé quando Tony a puxou pelo braço, a impedindo de continuar seu caminho.
- Te espero quando seu horário acabar – avisou ele, brincando com alguns fios longos de sua franja que escaparam de seu penteado baixo, os colocando atrás da orelha.
- Eu não tenho horário para acabar – lembrou , tentando se afastar novamente, apenas para ser puxada ainda mais para perto pelo rapaz. Mentalmente ela estava rindo: nem em seus sonhos mais ousados o Stark teria forças para a puxar daquele jeito sem que ela permitisse, mas tudo bem. Tony apenas sorriu, sussurrando contra seus lábios:
- Vou estar esperando de qualquer forma.
ainda se lembrava como se fosse ontem do dia que Arnim Zola praticamente obrigou sua versão que mal tinha completado quatro anos a presenciar a preparação do Soldado Invernal para uma missão nos Estados Unidos. A memória do olhar confuso e machucado se tornar gélido e distante ao som das palavras de gatilho na voz infantil e firme da garota ainda era viva em sua mente. Dr. Zola observada tudo ao fundo com um sorriso satisfeito no rosto: sabia reconhecer potencial, e aquela garota transbordava aquilo. Não bastava ser sensitiva, ela ainda tinha uma mente como nunca vira antes. Tudo que ela precisava era de um bom direcionamento, algo que ele próprio garantira que ela tivesse.
Um pouco mais de dez anos depois, agora era a responsável por todo o programa, mesmo sendo a integrante mais jovem da equipe, e ninguém ousava questionar sua capacidade para tal cargo.
Krigor a observava da porta aberta da sala, acompanhando seus menores movimentos, não por receio, mas com admiração. O outro Ivanov estava seguindo exatamente as ordens que recebera de Zola antes de sua “morte”. Ela ainda vai ser uma peça mais importante do que já é para a HYDRA, garoto. Mantenha-a no caminho certo. O rapaz na verdade não entendera de fato o motivo de tamanha preocupação do homem, mas se comprometera de qualquer forma. era de qualquer forma sua responsabilidade, já que eram os últimos membros da família Ivanov vivos, e precisavam dar o bom exemplo. Ele com as burocracias da organização, ela com o desenvolvimento científico e tecnológico.
A HYDRA era deles.
Anton Tchehov observava a jovem dar as ordens, movimentando sua equipe. O homem sabia que em algum momento teria que ceder sua posição de liderança para a menina Ivanov, mas admitia que não esperava que isso fosse acontecer tão cedo. Os quinze anos que se completariam apenas no dia seguinte, uma criança ainda, e mesmo assim ela estava à frente de um dos programas mais importantes da HYDRA. Sua figura pequena e ainda infantil causava um contraste imenso com o porte robusto do Soldado, que mesmo sempre sendo indiferente, também parecia estranhar a presença de alguém tão jovem.
- Me deixem sozinha com ele – pediu a garota, quando suas mãos estavam ocupadas nos circuitos do braço de metal aberto, tentando colocar em prática algumas melhorias que havia planejado dias antes. Quando ninguém da equipe se mexeu, ela deixou seus instrumentos no carrinho ao lado do banco em que estava sentada, seu olhar frio fazendo que todos recuassem um pouco – Eu disse para me deixarem sozinha, sei lidar com ele sozinha.
Depois disso, mais ninguém ousou desobedecer à jovem, deixando os materiais com que trabalhavam da forma mais organizada possível antes de deixar a sala, finalmente tendo o silêncio que tanto precisava para trabalhar. A engenharia do braço era extremamente delicada, e já era difícil conseguir se concentrar estando em uma base tão movimentada como aquela, onde as pessoas pareciam incapazes de ficar paradas por mais de dois segundos. sabia que precisava aprender a lidar melhor com aquilo, mas também precisava ter mais contato com o Invernal sem interferências, já que um dos motivos de ter sido escalada para aquela equipe era seu controle mental.
Se conseguisse estabelecer algum controle sobre ele, talvez um dia as palavras de gatilho e as de desativação se tornariam obsoletas, e possíveis falhas nunca mais precisariam ser consideradas.
- Feche a mão, por favor – pediu ela, olhando para os dedos metálicos do soldado, à espera do movimento. Quando ele não aconteceu, só não se desesperou porque não notara o impulso do comando no braço. Se virando para o Soldado, ela notou seu olhar confuso, logo entendo do que se tratava, revirando os olhos enquanto bufava – Você só entende ordens, hm? Então feche a mão.
O movimento em resposta não foi tão rápido como a garota esperava, mas logo o punho do soldado estava fechado com força, relaxando apenas quando ela ordenou. Como não notara mais o terceiro e quarto dedo não respondendo aos comandos dele, Varelik se voltou para o painel aberto do braço, começando a juntar os últimos circuitos para poder encerrar a sessão. Vez ou outra ela olhava para o rosto do Soldado, esperando o menor esboço de reação. Já havia assistido inúmeras vezes as sessões de reparação, até mesmo saindo em missão junto com ele, e agora mais do que nunca aquela falta de expressividade estava a irritando. O plano era que ela liderasse aquele programa pelo máximo de tempo possível, e, graças seu organismo especial e o soro em suas veias, a expectativa era que ela teria uma longa vida, então precisava pensar em uma forma de conviver com o soldado. Uma pena ela ainda não ter garantia de que conseguiria invadir sua mente sem fazer com que ele tivesse um surto, isso facilitaria muito as coisas.
- Sabe de uma coisa? Vou ter que te dar algum senso de humor algum dia se vamos passar tanto tempo juntos – comentou ela, fechando o painel com cuidado e conferindo algumas vezes para ter certeza que ele não se abriria sozinho. Em seguida, ela devolveu seus instrumentos para a bandeja – Quero manter minha sanidade.
- Alterações são realizadas apenas para melhor desempenho em missões – retrucou o soldado, e não sabia dizer se estava surpresa por ele estar interagindo ou por ouvir sua voz depois de tanto tempo. Aquela voz grave e profunda a deixava inquieta, mesmo que não tivesse uma explicação para aquilo, e isso sempre a intrigara – Você sabe disso, dona.
- Eu sou a chefe agora, amor – lembrou ela, buscando o arquivo que havia sido lhe entregue mais cedo com os detalhes da próxima missão que ele lideraria. Mais uma execução, como de costume – Eu que decido. Você... Só obedece.
- Sim, senhora.
revirou os olhos, sinalizando para que ele a acompanhasse.
- Vai ser uma noite longa...
O soldado se aproximou do berço de madeira gasta sem o menor cuidado, sequer se importar se estava ou não fazendo mais barulho do que o aconselhável, já que sabia que o bebê estava acordado. Os olhos atentos de Dominik estavam travados em sua direção antes mesmo de ele aparecer em seu campo de visão. Bebê atento, pensou ele. Com certeza é ela. Não tinha o menor sinal de naquele quarto, mas ele sabia que estava certo. Conhecia aquela energia que a criança emanava, mesmo que não devesse reconhecer aquele poder.
Havia algumas coisas que os processos de lavagem cerebral não conseguiam apagar por completo, e aquela familiaridade com a essência de sua domadora era uma delas.
- Se afasta dela, Soldado – ordenou assim que entrou no quarto, fechando a porta com o pé como se nada estivesse acontecendo. Ela trazia uma sacola de papel nos braços, a jogando na cama e revelando seu conteúdo: um pacote de fraudas descartáveis e potinhos de papinha para bebê – Você não vai levá-la.
O Soldado a assistiu sentar na beirada da cama e retirar os sapatos, como se sua presença não a incomodasse. Enquanto recebia os detalhes da missão, lhe foi explicado que um dos alvos se tratava de sua antiga domadora, e de alguma forma ele se lembrava dela. A postura séria e ao mesmo tempo relaxada, os gestos calmos de quem sabia que as coisas seguiram o rumo que ela planejara, que só precisava ter paciência. Ao mesmo tempo que aquela mulher era uma estranha para ele, também era a única coisa familiar que tinha.
- Minhas ordens são para te executar – contou ele depois de quase uma eternidade em silêncio, tempo o suficiente para passar por ele e retirar o bebê do berço para alimentá-la, já que a coitada estava faminta – E você já sabe disso.
- Não planejo morrer hoje – retrucou com naturalidade, dando mais importância em como posicionava a filha cercada por travesseiros para garantir que ela ficaria sentada pelos próximos minutos. Dominik hora olhava para a mãe, hora para o homem estranho, uma leve ruguinha em sua testa vez ou outra aparecendo quando se concentrava mais na direção do homem. Ela estava confusa, logo pode notar. A menina podia vê-lo, porém não sentia sua presença, e isso a intrigava. Ela própria esteve naquela posição um dia, sem conseguir entender como podia ver alguém e não sentir sua presença. Era necessário tempo para adquirir tamanha precisão para sentir a presença de alguém aprimorado, nem Petr conseguia ainda.
- Ninguém planeja – respondeu o soldado, e se permitiu imaginar um resquício de sarcasmo em sua voz, apenas para deixar a conversa menos monótona. Mesmo quando ele ficava dias fora do gelo, tendo apenas sua companhia, era difícil conseguir arrancar dele alguma reação, e com certeza não conseguiria agora, já que ele fora tirado da hibernação provavelmente apenas para ir atrás dela.
- Você já deveria ter aprendido que as coisas só acontecem como eu quero, Barnes.
Mesmo para alguém não aprimorado, foi visível a mudança da postura do soldado, sua reação confusa a um sobrenome a que ele já não mais se associava. se esforçou para ignorar aquilo, fazendo um barulhinho com a boca para atrair a atenção da filha que olhava com curiosidade para o Soldado, também sentindo a alteração nele. Quando a mulher que fazia sua preparação, normalmente o deixava ciente do próprio nome, apenas para não ficar o chamando de Soldado o tempo todo. Ninguém mais além de se importava com aquilo, mesmo quando outro alguém passava por um longo período em sua companhia, e essa era uma das maiores acusações que recebia: humanizar demais aquele que não passava de uma arma. Ninguém de fato chegara a dizer isso em sua cara, mas ela sabia que era isso o que todos pensavam. Porém não era sua família importante que a protegia e colocava medo em todos, era Krigor. O homem tinha ultrapassado todos seus ancestrais no quesito de poder, indo além do que qualquer outro Ivanov tinha ido. Ele ainda não era líder da HYDRA, mas provavelmente estava mais perto do que desejava. Tudo que ele precisava era de tempo, já que os recursos estavam todos a seu alcance.
Bom, nem todos. E ela iria garantir de que continuaria assim.
- Sabe... – suspirou , depois que a filha começou a recusar a comida, já satisfeita – Eu até tinha um plano de emergência caso tudo desse errado, mas não posso apostar tudo nisso... Sabia que a paciência é uma virtude? E é o que eu mais tenho. As coisas vão seguir conforme eu quero, embora o prazo me desagrade.
- Do que você está falando? – perguntou o soldado impaciente, quando o silêncio se estendeu um pouco mais, para seu desagrado, o convidando a questioná-la. apenas sorriu para ele, fechando o potinho em suas mãos e o colocando na mesa de cabeceira junto com a pequena colher. Em seguida limpou a boca do bebê com um pano e a deitou em meio aos travesseiros. Dominik continuou a prestar atenção na conversa dos dois mesmo com aquele ângulo ruim, bocejando vez ou outra para tentar afastar o sono, quase como que ciente de que a situação era séria.
- Eu poderia voltar e derrubar a base com você ao meu lado, não seria nada difícil – contou , se sentando de frente para ele – Só que uma sequência simples de palavras e eu perderia o controle sob sua mente, e você se voltaria contra mim. E isso eu não posso arriscar.
Se fosse ser bem sincera, ela teria que admitir que aquele era seu maior desejo. Se pudesse simplesmente lutar com o Soldado ao seu lado sem risco de perder o controle sob ele, não teria motivos para pensar em outra opção. Seria a alternativa mais fácil e com resultado mais rápido, sem tanto desgaste. O problema era que simplesmente não dava. Se fosse apostar naquilo, as chances de perder tudo eram muito maiores do que as de sucesso, e não se resumia apenas a ela. Não era seu futuro que estava em jogo.
- Eu poderia te deixar surdo, mas tenho minhas dúvidas se isso funcionaria de fato – na mesma velocidade que a opção lhe surgiu, a descartou, balançando a cabeça em reprovação por simplesmente ter considerado aquilo – De qualquer forma, meu plano original me soa muito melhor.
- Por que você tirou só ela de lá? – questionou ele, olhando de relance para o bebê que agora estava entretido com a costura de um dos travesseiros – O garoto talvez já pudesse prestar algum auxílio.
- Porque é ela que vai ficar em jogo – contou a mulher, com um sorriso quase orgulhoso no rosto. Feliz por poder finalmente compartilhar aquilo com alguém. Afinal, qual a graça de fazer algo inteligente sem ninguém por perto para presenciar? – Vou deixar que Krigor fique com o menino, já que realmente não tem como eu ir buscá-lo... E duvido que ele fará algum mal grande demais ao próprio filho. Mas ela? Sem mim na HYDRA, ela não tem proteção.
- A garota não é filha dele.
- Também não é sua, antes que você se anime... Mas também não é como se você se lembrasse, então tanto faz – emendou ela revirando os olhos ao notar a expressão confusa do soldado – Uma pequena reviravolta na história que eu não planejei, mas que não posso dizer que não gostei. Ela vai ficar com a família do pai.
- Não entendo. Minhas ordens são para te executar e levá-la de volta – lembrou ele, se adiantando um passo em sua direção, sua voz soando ainda mais fria e firme do que antes – Não importa onde você a deixe.
- Ah se importa! – retrucou , rindo divertida enquanto se colocava de pé. Pronto, aquela era a cereja do bolo, o brilho em seus olhos já adiantava aquilo – Você não tem e nem vai ter permissão de invadir a mansão Stark. Os Stark estão fora de jogo por hora, pelo menos até Howard terminar os projetos que queremos.
- Ela fica sob a proteção da S.H.I.E.L.D. – deduziu ele, parecendo minimamente impressionado depois de fazer as ligações com o nome. parou a sua frente, mordendo o lábio enquanto assentia.
- O que significa que ela também vai estar sob monitoração da HYDRA, então ninguém vai interferir porque não vale a dor de cabeça – continuou ela, sorrindo sugestiva – Não até o momento certo.
- Você quer usar a garota. Quando ela estiver mais velha – concluiu ele sem pestanejar. sorriu em concordância, cancelando a distância de vez entre eles, apoiando os braços nos ombros largos do homem para depois murmurar um divertido “soldado inteligente”. Ele permaneceu imóvel enquanto ela parecia muito confortável, como se aquilo fosse um cenário muito comum. O pior era que ele também sentia certa familiaridade – Por que está me contando tudo isso?
- É o máximo de desculpas que você vai ouvir da minha parte... – murmurou ela, deixando que apenas um braço a mantivesse no lugar, enquanto a outra mão brincava com os fios longos do cabelo do soldado, os colocando atrás da orelha. Ele merecia muito mais do que aquilo, só que não havia o que pudesse ser feito. Logo no começo, quando começou a arquitetar seus planos, tinha notado como Barnes merecia uma chance tanto como as crianças. queria mais do que tudo ser aquela que tentaria redimir os erros que a HYDRA fizera, mas ela já estava praticamente tendo que desistir do próprio filho para salvar outro, não tinha como incluir Barnes naquela equação. Além de que ele desempenhava um papel importante em seus planos – E não é como se você fosse lembrar disso depois. Só estou tentando aquietar minha consciência.
- Você tem algum poder mental... – o comentário do soldado em um primeiro momento lhe pareceu aleatório, mas ela logo compreendeu. Ele mal estava prestando atenção do que ouvia, ocupado com seus próprios questionamentos – Fui instruído a não permitir que você me toque.
- Então por que não está se opondo? – sussurrou contra os lábios entre abertos do soldado, fechando instintivamente os olhos quando ele se adiantou minimamente em sua direção, o nariz dele passando com calma pelo seu. Se não fosse por sua audição privilegiada, ela não teria ouvido Barnes murmurar um confuso “eu não sei” antes de sentir seus dedos humanos se perdendo em meio ao cabelo comprido e escuro, a puxando para mais perto, selando de vez seus lábios.
Exatamente como planejara. Aquele era o momento.
apenas não contava com aquela hesitação de sua parte para aproveitar do breve instante de vulnerabilidade de Barnes, suas mãos pairando próximas à cabeça dele na altura das têmporas, incerta se continuaria com aquilo ou não. Quando finalmente juntara coragem, a mão biônica do soldado se fechou ao redor de seu pescoço, interrompendo de uma vez sua respiração. Ao voltar a abrir os olhos, tudo que ela conseguia ver eram os animalescos de Barnes completamente imunes aos seus pedidos silenciosos para que parasse. Sua sorte era que o soldado a manteve perto o suficiente para tomar a cabeça dele entre suas mãos, dando início ao procedimento.
Não era a coisa mais fácil quando se estava sendo estrangulada, mas teria que dar um jeito.
Mesmo depois de uma vida inteira na HYDRA, estremeceu com a imagem que estava projetando na mente do soldado. Não era a vivacidade dos detalhes de sua suposta execução – ela aproveitara aquela tentativa de estrangulamento para deixar a falsa memória mais concreta –, era aquele sentimento ruim no peito de estar causando ainda mais dores a alguém inocente. Barnes era exatamente como seus filhos: vítima. Ela praticamente estava sacrificando dois para proteger um, os deixando a mercê da boa vontade do destino.
Não demorou muito para que os dedos frios de Barnes escorregassem de seu pescoço, ambos os braços pendentes ao lado do corpo. Seus olhos frios estavam sem foco, e permaneceram dessa forma mesmo depois que ela terminou a tarefa, se movimentando pelo espaço sem procurar algo de fato, sem conseguir compreender o que acontecia ao seu redor. Um choramingo alto de Dominik até colocou seus sentidos para funcionar, mas não chegou a ser um perigo: o soldado com certeza tinha estranhado o som, mas a imagem que tinha do quarto era de caída aos seus pés, sem vida, e já sem nenhum bebê no quarto. Ela teria um pequeno problema com horários, já que Barnes em seu relatório diria que ela deixou Dominik sob a proteção dos Stark bem antes de ela fazer isso de fato, mas não era um detalhe assim tão importante. Duvidava que Krigor fosse realmente acreditar que o Soldado Invernal tinha conseguido finalizá-la, aquilo tudo era apenas para ganhar tempo.
Logo mais, o Soldado lhe deu as costas e deixou o quarto pela saída de incêndio, provavelmente indo se reunir com sua equipe de apoio, equipe essa que não conseguia localizar nas proximidades, mas era melhor não arriscar. Pegara a touca e os óculos escuros que comprara quando saíra em busca de comida, em seguida enrolando Dominik na coberta mais fina que encontrara, já que previa que ela não ficaria nada feliz com o calor que fazia lá fora. Precisava deixá-la com Howard o mais rápido possível, e depois dar uma passada do Departamento de Polícia para oficializar a morte de Lauren Smith mais tarde naquele mesmo dia, depois de reagir a um assalto, talvez. A forma como seria sua suposta morte não importava, aquilo seria apenas para deixar a história um pouco mais fechada. Se apenas desaparecesse, os Stark com certeza não poupariam esforços para a rastrear. Se sofresse uma tentativa de assalto, Krigor ainda poderia facilmente fechar seu caso e dizer para toda HYDRA que havia sido o Soldado Invernal, já que duvidava que ele deixaria todos saberem que ele havia falhado em matar a própria esposa traidora.
riu com aquele pensamento. No final, ainda estava fazendo ao desgraçado um favor.
Mas não tinha problema. Aquilo fazia parte de seu plano. Precisava agora apenas deixar sua filha em segurança e brincar com mais algumas mentes. Depois, desaparecer.
Pelo menos até o momento certo.
Fim!
Nota da autora: OPA HEIN ( ͡° ͜ʖ ͡°)
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