Teus trejeitos e covinhas ao rir

Fanfic Finalizada.

Capítulo Único

Dizem que é impossível se apaixonar num só dia, que o amor à primeira vista não existe e que um sorriso não é o suficiente para lhe tirar o fôlego como retratam nos livros. Durante um tempo, isso fora o que deixei guardado em mim, levando a opinião alheia em consideração e nem ao menos imaginando passar por tudo aquilo um dia. No entanto, por mais clichê que isto soe, me apaixonei por um mero olhar. Tão de repente quanto a chuva que decidira cair naquela tarde de verão.

Embaixo da chuva forte e de todos os trovões, me vi tão perdido que o frio não me assolava e meu queixo nem ao menos batia por estar totalmente molhado da cabeça aos pés, pingando nas mangas das roupas e perdendo os cadernos importantes que se encontravam dentro da minha mochila.

Enquanto caminhava distraído, após uma aula que me encantara por completo — era calouro na faculdade, tudo me encantava —, a chuva começara a pingar sobre minha cabeça e decidi correr, mesmo que sorrisse feito um idiota. Estava dando início à vida adulta, porém não imaginava que, junto da faculdade e das responsabilidades, viria um amor de brinde. Pior: um amor inexistente, filosófico, utópico e que completava toda a linha de clichês possíveis. Fora em frente a uma cafeteria, a mais aconchegante e cheirosa do bairro, que sempre me atraía e que nunca tinha tempo para entrar.

Nossos olhares se encontraram por acaso, através do vidro — enquanto eu já me encharcava embaixo da chuva, fazendo com que todos os tecidos grudassem em meu corpo. Ele estava perfeitamente vestido e sequinho, me parecera tão aconchegante e acolhedor que quase pude sentir seu calor contra mim.

Ao ouvir o primeiro trovão, tremi e pulei de maneira automática, fazendo-o rir do outro lado da vitrine. E, naquele instante, me vi perdidamente encantado por suas covinhas fundas e os olhinhos em meias-luas. Não demorou muito para que seus passos fossem em direção à porta e, quando dei por mim, ele estava parado diante de meus olhos, estendendo em direção à minha cabeça o avental que antes estava em sua cintura.

— Você pode acabar doente assim, calouro. — ele murmurou ainda sorrindo de maneira encantadora. — Vem, vamos entrar.

E assim, me deixei levar por suas mãos pela primeira vez, e não me arrependia nem um pouco. Sem sequer entender o motivo, meu coração havia se aquecido repentinamente somente por senti-lo próximo enquanto segurava o avental aberto sobre minha cabeça — e num desvio de pensamento, reparei que ele me conhecia.

Desde então, passamos a dividir canecas de café e os últimos dias ensolarados de verão.

— Eu daria todo o Universo por um mísero devaneio seu. — sua voz ecoou suavemente pelo quarto minúsculo em que estávamos. Seu apê se resumia naquilo, afinal: um quartinho no terceiro e último andar de um prédio na beira da rua.
— E eu lhe daria todos meus devaneios para viver nas suas covinhas. — respondi de volta, rolando sobre a cama e o encarando.

Jooheon riu, deixando ainda mais à mostra os buraquinhos nas bochechas, me encantando pela milésima vez em apenas algumas horas — naquele dia.

Em sua concepção, os furinhos eram ridículos e desnecessários, um defeito genético que se desfaria sem pensar duas vezes caso pudesse e eu não gostasse tanto — “não aguento mais ninguém afundando os dedos nas minhas bochechas”, ele dizia. Em seguida, ria e balançava a cabeça, “porém, jamais tiraria algo que tanto te agrada”, completava. Era humanamente impossível não morrer de amores por ele.

— E que tal viver para sempre aqui no meu apê? — perguntou baixinho, me puxando para si e beijando minha bochecha. — Se quiser, pode viver no meu coração também...

E então fora minha vez de rir, apertando-o ainda mais entre meus braços.

— Mas aí eu já vivo... — respondi, tentando não corar tanto diante de seu romantismo meloso. — Você precisa parar de dizer essas coisas, é vergonhoso.
— Oras, Changkyun, não sou eu quem quer morar nas bochechas de alguém, pelo contrário. — ele me encarou nos olhos, logo voltando a falar: — Eu só quero que more aqui comigo e fique para sempre, não importa o quanto ele dure.

Ouvir aquelas coisas sempre me derretia por inteiro, eu sequer tinha palavras para retribuir. Quando Jooheon acordava inspirado, como naquela manhã, nem mesmo o mais sincero dos eu te amo chegava à altura de suas palavras bonitas. Ele era sempre assim: conquistador, fiel e adorável, um poço de carinho e amor. E sendo desse jeito desde nosso primeiro encontro, ao acaso, me arrancara o primeiro beijo — e, em seguida, cada mísera peça de roupa e toda minha sanidade e teoria sobre o amor repentino não existir — atrás do balcão em que ele costumava entender as pessoas, quando a noite começara a cair e o café precisara ser fechado. Acabamos rindo, no chão, olhando um nos olhos do outro. Talvez pensando no quanto esperamos por algo tão intenso, talvez pensando que sequer imaginávamos algo daquele tipo, talvez pensando que ele era meu veterano e havia pintado todo meu rosto durante a festa de boas-vindas. No fundo, antes deixá-lo selar nossos lábios, eu sentia que conhecia aquelas covinhas e seus trejeitos de algum lugar, e não era dos meus sonhos.

— Aposto que estava se lembrando da primeira vez que te beijei. — Jooheon sussurrou contra a minha orelha, depositando um beijinho ali em seguida. — Você sempre fica com esse sorriso quando pensa em mim.
— Um dia seu ego ainda vai nos sufocar... — revirei os olhos e tentei esconder os arrepios que me tomavam. — Mas não é como se você ficasse muito diferente.

Jooheon riu mais uma vez e me puxou para cima de si, fazendo com que eu, automaticamente, curvasse o corpo em sua direção e deixasse nossos rostos próximos da maneira que ele mais gostava: olhos nos olhos, nariz no nariz e boca na boca. Nos sentíamos de todos os jeitinhos humanamente possíveis, com os corpos encaixando tão perfeitamente que daria inveja em qualquer geometria que existisse. Éramos sempre o encaixe perfeito, bastava constatar aquilo para que todo meu interior queimasse e ansiasse por ele — eu nunca resistia aos seus lábios tão bem desenhados e vermelhinhos. Poucos segundos e eu já me encontrava devorando sua boca com todo o amor que sentia. Eu precisava colocá-lo para fora de algum jeito e se este fosse o prazer, eu o faria com todo meu coração.

Sentir o corpo quente e nu de Jooheon contra o meu era sempre alucinante. Os arrepios me tomavam por inteiro, da cabeça aos pés, fazendo com que meu coração acelerasse ainda mais — muita das vezes, eu chegava a pensar que morreria em seus braços e feliz.

Tê-lo se movendo contra mim, sua boca contra meu pescoço deixando escapar murmúrios de prazer e juras de amor era tão incrível que ao menos tinha palavras para explicar. Eu simplesmente sentia tudo e deixava que meus gemidos falassem por si só, que pedissem por mais, que implorassem por seu corpo cada vez mais próximo e fundo. Seus toques eram capazes de me levar ao mais alto dos céus.

Lee Jooheon me deixava eufórico, perdido e cada vez mais apaixonado; fosse com um sorriso, com um selar de bocas ou com um sexo fervoroso. A cada dia que passava, eu me via mais derretido e entregue, pronto para viver ao seu lado até quando me fosse permitido.

Ainda sobre seu corpo, apertando-o contra meu próprio, encarei seu rosto como pude e me permiti sorrir abertamente enquanto o encontrava totalmente descabelado, suado e com a respiração descompassada, exatamente como eu o adorava encontrar, tão meu e tão maravilhoso que meu coração palpitava. Seus olhos se fecharam com força e suas mãos seguraram meu corpo com tanta intensidade que me vi completamente perdido num universo paralelo de sensações deliciosas. Nossa intensidade era tão bonita e tão sincronizada que nos encontrávamos em outra dimensão.

— Eu te amo. — sussurrei contra sua boca, ainda sem fôlego. — E eu quero viver o quanto puder ao seu lado, o mais próximo possível, seja em suas covinhas ou simplesmente no seu apê.

Jooheon riu com minha fala e me abraçou, enquanto eu me jogava completamente sobre seu corpo, permitindo que ele me acarinhasse as costas com todo carinho e amor que possuía. Senti seus lábios se colarem contra minha orelha e suspirei mais uma vez, aceitando o arrepio que me tomara por inteiro. Devagar e baixinho, como quem não queria nada e com a preguiça pós-sexo presente na voz, murmurou:

— Então case comigo.

Não pude evitar o sorriso idiota que formou em meus lábios, tampouco o tilintar agitado de meu coração. Estava me sentindo no céu, no paraíso, no país das maravilhas, onde quer que fosse mais incrível. Sua frase ressoava em looping na minha cabeça, quase fazendo com que eu chorasse feito um idiota. No entanto, no fim, apenas juntei nossas bocas preguiçosamente, sussurrando enquanto ria feliz:

— Quantas vezes quiser, meu amor.

E a última coisa que vi antes de fechar os olhos e aproveitar seu corpo novamente, fora suas covinhas ao rir.



"E eu vou guardar tuas manias e os teus errados
Teus trejeitos e as covinhas ao rir
Vou guardar os teus sossegos mais agitados
Teu jeitinho de me fazer sorrir."

Café a dois, Ana Larousse.


"Sabe
O meu amor é teu
Não sei o que aconteceu
Nem sei no que vai dar."

Sobre canecas e chá, Leo Fressato.





Fim.



Nota da autora: Espero que tenham gostado!
Fanfic baseada nas músicas:
Café a dois, Ana Larousse.
Sobre canecas e chá, Leo Fressato.




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