Última atualização: 13/02/2020

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Capítulo 13



06 de Julho de 2013 – 14:30hrs

! Cadê você, mulher? – A voz do Luan estava em um tom preocupada, bem diferente da sua última ligação onde nós mais brincamos e ficamos fazendo planos idiotas pra depois, olhei mais uma vez pela janela do apartamento antes de responder.
– Eu sei que já deveria estar aí, amor, mas a Bella, que vai comigo, resolveu buscar um negócio na casa dela e tentar trazer JP pra ir com a gente também, mas não voltou até agora!
– Amor, tenta não vim muito tarde! Não quer mesmo que eu mande alguém aí?! – Luan insistiu e eu sorri com sua preocupação mas neguei com a cabeça, mesmo sabendo que ele não poderia me ver – Eu ficaria mil vezes mais tranquilo, uai!
– Eu tô indo! Não se preocupe, nós vamos chegar aí antes que você consiga pensar em se preocupar, o.k.?! Relaxa, meu bem!
! Não demora, eu preciso de você aqui também, poxa!
– Luan Rafael, estarei aí do seu ladinho, agora vai trabalhar que eu preciso pegar a estrada!
Mandei um beijo pra ele pelo telefone e a campainha tocou, me despedi rápido e abri a porta, esperando ver meus dois amigos da faculdade ali, mas encontrei somente Isabella com uma cara nada animadora me encarando.
– João Pedro é a pessoa mais chata que eu conheço! Não sei como eu aguento esse idiota!
– Não conseguiu mesmo?! – Perguntei enquanto pegava a única mala que ainda faltava, Bella apenas bufou de raiva e balançou a cabeça – Então vamos seguir sem ele, certo?! Luan já ligou de novo....
Peguei minha chave e antes de trancar o apartamento olhei para Isabella, seu sorriso voltou e ela deu uma piscadinha pra mim correndo para chamar o elevador.

Nossa viagem até Itu tinha tudo pra ser o mais divertida possível, mas o único problema era Bella ainda chateada com JP por ele não querer ir conosco pra gravação do DVD do Luan, assim que saí do meu prédio Bella olhou seu celular, eu sabia que ela estava esperando um último sinal de vida dele.
– Bella, o que o JP disse?! Por que você parece estar tão brava com ele?
– Sabe o que é, , eu não gosto quando ele se exclui assim, não sai pra nada, se esconde no mundo dele e não deixa ninguém entrar e ainda pra completar é um grosso quando eu tento conversar com ele! Isso me irrita demais! – Bella disse deixando sua voz carregada de mágoa surgir, sabia que ela gostava muito de JP e era inegável, nos últimos dias ele mal falava comigo também, quando os convidei para irem comigo para a gravação do DVD, João Pedro apenas fingiu um sorriso e disse que pensaria no caso.
– Será que esse comportamento dele tem a ver com a garota que ele gosta? – Olhei para Bella e ela arregalou os olhos para mim, ficando levemente vermelha antes de me perguntar meio sem jeito.
– Você sabe quem é a garota? – Isabella me olhou de lado e eu dei de ombros negando com a cabeça.
– Não! Um dia ele disse que queria chamar essa menina pra sair, tentei arrancar dele quem era mas JP nunca me disse…
– Ah sim, pode ser que ela seja o motivo, mas, mesmo assim, acho muito injusto eu pagar por isso, a gente é amigo há um tempão e ele me afasta como se eu fosse a culpada e me trata super mal, ele sabe o quanto eu não suporto isso! – Bella bateu na própria perna tentando descontar a raiva de João Pedro e eu olhei para ela assustada.
– Bella, não adianta você querer resolver isso agora, ele não quis vir com a gente, então pelo menos por enquanto esquece esse assunto, se concentra no que a gente tá indo fazer e se divirta! Essa oportunidade não volta mais, e quando nós voltarmos pra São Paulo eu te ajudo a dar uma bela bronca no JP, com tudo que tem direito! Combinado?! – Por sorte o sinal tinha fechado e eu pude dizer tudo aquilo olhando pra ela, Bella respirou bem fundo antes de responder com um sorriso bem grande no rosto.
– Combinadíssimo! – Ela deu uma piscadinha pra mim antes de começar a vasculhar sua bolsa, depois de alguns minutos ela puxou de lá um mp3 e começou a escolher as músicas para nossa viagem. Começando com Beyoncé porque era sempre o melhor jeito de começar qualquer “festa”.

Já tínhamos passado da metade do caminho quando Bella riu ao ouvir a música que estava começando: “Te Esperando” do Luan, ela sorriu e começou a estragar totalmente a música com a minha ajuda na desafinação, foi um dos momentos mais épicos da viagem com direito a muita interpretação da parte dela e muita falta de ar da minha. Quando a música acabou eu estava mais vermelha que um pimentão e Bella gargalhava igual uma doida ao meu lado.
– Essa música ganhou um novo nível de amor na minha vida agora – Filosofou ao meu lado e eu ri chacoalhando a cabeça, negando totalmente aquilo.
– Quando tocar ela no DVD não vou conseguir nem me emocionar – Dei um empurrãozinho nela de leve, que deu de ombros antes de me olhar um pouco mais séria.
, como é pra você namorar o “Luan Santana”? É como você esperava? – A cara de jornalista que Bella fazia me dava vontade de rir mas eu me concentrei para poder respondê-la do jeito certo.
– Não é nada que eu já tivesse imaginado antes, Luan é mais do que o cantor, ele é um cara muito legal, com coração de ouro e que vive me surpreendendo, e não é no sentido de presentes nem nada disso, mas nas atitudes, eu pensei que teríamos mais problemas por ele ser famoso, com fãs e tudo mais, mas não...
– Então, senhoras e senhores, esse foi o programa ‘ apaixonada por Luan’ de hoje! – Bella fingia segurar um microfone e apresentar um programa, não aguentei e cai na gargalhada.
– Aí, idiota! – Mudei de música e Bella apenas disse um ‘me engana que eu gosto’ antes de começar a cantar a música da Ivete Sangalo que tinha acabado de começar.

Conforme fomos chegando perto do hotel parecia que a atmosfera da cidade estava totalmente diferente, como se estivesse se preparando pro evento gigante que estava por vir. Não consegui passar perto da Arena, mas consegui ver vários fãs do Luan na cidade. Quando cheguei no hotel a sensação era a mesma, todos estavam se preparando para aquele DVD. Bella estava tão impressionada quanto eu, depois do nosso check-in, fui com ela até seu quarto, onde deixou suas coisas e disse que logo sairia pra explorar o hotel e a cidade, já eu tinha outros planos. Luan já tinha me avisado que nós ficaríamos em um andar fechado, para evitar confusões desnecessárias, perguntei na recepção se Luan estava no hotel mas me avisaram que ele tinha saído há um bom tempo. Como nem adiantaria querer fazer qualquer surpresa, decidi descansar um pouco, tomei um banho rápido, coloquei meu jeans favorito, uma regata preta e comecei a procurar um filme qualquer para assistir na TV. Quando Bruna ligou perguntando se eu já tinha chegado foi um alívio, eu realmente não queria ficar sozinha num quarto de hotel. Foi engraçado perceber que ela estava no quarto em frente ao nosso.
– Oi, vizinha! Tudo bem? – Bruna me deu um abraço e dois beijinhos no rosto antes de me puxar pra dentro.
– Isso vai ser bem interessante, só imagine a bagunça.... – Comece a rir e Bruna concordou me puxando para dentro da suíte, sua cama estava cheia de maquiagens, ao pé da cama tinham duas caixas bem grandes e Bruna sorrindo como criança.
– A gente chegou faz pouco tempo sabe e eu estava muito na dúvida de que cor vai combinar com meu vestido, então eu ia começar a testar umas sombras, só pra ver mesmo, nada sério – Bruna deu uma piscadinha marota e apontou para as sombras e maquiagens espalhadas pela cama.
– Ahan, sei, que cor vai ser seu vestido? – Me sentei na cama e comecei a fuçar nas paletas de sombras, uma cor mais linda do que a outra e Bruna fez uma careta e sorriu colocando as mãos para trás.
– Então.... Eu tenho duas opções e não faço a miníma ideia de qual fica melhor – Bruna foi até o banheiro da suíte e eu podia apenas ouvir sua voz lá de dentro.
– Eu já disse que o azul fica melhor, filha! – Uma voz doce veio de trás de mim e eu dei um pulo, me assustei e me virei para trás, vendo uma mulher muito bonita, jovem e sorridente olhando para mim. Bruna saiu do banheiro segurando dois cabides dentro de suas capas e só consegui ouvir sua risada se aproximando de nós.
– Mãe, essa é a famosa ! – Levantei da cama e sorri nervosa pra mulher a minha frente.
essa é a nossa mãe, Marizete! – Bruna piscou para mim e eu estendi minha mão, mas ela veio e me abraçou apertado, pude ver Bruna ao nosso redor fazendo várias brincadeirinhas.
– Eu já estava prestes a ficar muito, muito brava com o Luan por nunca te levar lá em casa, onde já se viu! – Ela saiu do abraço mas continuou segurando uma das minhas mãos com carinho – Luan fala muito bem de você, fico feliz de poder te conhecer – Ela sorriu toda envergonhada e eu a abracei mais uma vez, ela era extremamente gentil e carinhosa, sorri para ela e Bruna veio no nosso meio.
– Agora sim! Depois eu chamo o pai e fecho a conta! – Bruna riu e sua mãe olhou a repreendendo.
– Deixa que o seu irmão resolve isso! – Bruna apenas fez uma careta pra ela antes de puxá-la até a cama, pelo que eu pude entender, nós seríamos as juradas que ajudaríamos Bruna a escolher o melhor vestido pra noite do DVD.
– Eu tenho esse dourado e esse azul-marinho, vou experimentar os dois e vocês me ajudam, o.k.?! – Bruna disse mostrando os dois cabides mas sem revelar os vestidos, concordamos com a cabeça e ela pegou o primeiro e foi se trocar.
Em pouquíssimos minutos Bruna estava de volta ao quarto com o vestido dourado, deu uma voltinha e nos olhou curiosa.
– E aí?! – Bruna fez algumas poses exibindo o vestido.
– Esse é lindo! Mas eu quero ver o outro pra dar minha opinião depois – Dei uma piscadinha pra ela e Bruna apenas apontou para sua mãe ao meu lado que riu concordando comigo antes de responder.
– Vamos ver os dois!
– Gente, pensa bem hein! – Bruna lá de dentro do banheiro ia nos pressionando enquanto eu e Marizete começamos a olhar as paletas de sombras cheia de cores lindas e diferentes, Bruna fingiu uma tosse para chamar nossa atenção. Assim que bati os olhos nela, sabia que aquele vestido era o certo.
– Incrível! Tem que ser esse Bruna! Ficou maravilhoso! – Fiz Bruna dar uma voltinha e ela riu envergonhada.
– Eu disse, esse é lindo, filha – Marizete continuou sentada nos observando com um sorriso no rosto – E você, ? Como é o seu vestido? – Seu olhar parou em mim e eu dei de ombros, me lembrando que isso era algo que eu precisava resolver.
– Na realidade, não tenho nada ainda, pedi umas dicas pra minha tia mas com a correria, nós não conseguimos parar e falar sobre isso! Provavelmente é quem vai me salvar nessa – Sorri pra ela e vi Bruna ao meu lado bater na própria testa e rolar os olhos quase dramaticamente, não entendi nada até ela ir até aquelas caixonas que estavam ao pé da cama, e puxar a última. Reconheci o símbolo da marca da minha tia em cima da caixa mas ainda não estava entendendo nada, Bruna a colocou no centro da cama e me olhou.
– Eu sei que ele vai me matar, mas abre! – Ela sorriu cúmplice pra mãe dela e piscou para mim antes de eu realmente abrir a caixa.
Como se fosse Natal abri a caixa morrendo de curiosidade pra ver, era um vestido curto que vinha até o meio das coxas, rendado em um tom perolado, de manga comprida e o detalhe incrível do decote nas costas, eu nunca tinha visto ele, o que me deixava mais impressionada ainda por ele ser um dos inéditos da coleção da minha tia Carla.
– Eu tô chocada, nem sei o que dizer! – Olhei para as duas e elas riram apontando para algo atrás de mim, assim que me virei dei de cara com Luan encostado na parede nos observando.
– Diz primeiro se você gostou, né?! – Ele veio até mim sorrindo e eu apenas acenei que sim com a cabeça, Luan me deu um beijo rápido mas continuou com as mãos envolta da minha cintura.
– Como conseguiu isso? Minha tia nem parou em casa nesse último mês!
– Dei meu jeito, né! Mas eu queria que você estivesse linda e sei que você adora esses vestidos, ninguém melhor que a própria criadora pra deixar o vestido com a sua cara – Luan sorriu e se aproximou do meu ouvido, sussurrando ali - Esse é só seu, exclusivo!
Ele beijou meu pescoço me fazendo rir e só então me dei conta que tinha gente nos observando, inclusive a mãe dele! Me afastei um pouco e Bruna riu parando de prestar atenção em nós.
– Foi mal, Pi! Mas eu não resisti....
– Eu vi, dona Bruna! Isso que eu deixei aqui pra não achar no meu quarto! – Luan encarou Bruna com um sorriso irônico e ela apenas deu de ombros, sem se importar muito com a situação, Bruna voltou sua atenção para os sapatos que teria que escolher agora.
– Sua irmã queria ver a reação da quando visse o vestido, menino! – Marizete se aproximou e mexeu no vestido enquanto falava calmamente com Luan – Você demorou pra voltar – Ela olhou para ele preocupada e Luan a abraçou de lado.
– Tinha que arrumar todos os detalhes, é o último ensaio, ainda tinha uns ajustes pra fazer mas deram uma folguinha e eu corri pra cá – Ele a apertou em seu abraço fazendo-a rir e dar um tapinha nele.
– Se cuida, filho! – Ela fez um carinho rápido no rosto dele, em seguida olhou pra mim sorrindo – Adorei te conhecer, depois do DVD você precisa ir lá em casa!
– Pode deixar, que eu vou sim – Pisquei para ela e senti Luan se aproximando, me abraçou por trás e pela risada da mãe dele alguma palhaçada ele deveria fazer porque ela riu e escondia o rosto.
– Para com isso, menino!
Ficamos um bom tempo ali no quarto com Bruna e Marizete, Luan adorava ficar pegando no pé da Bruna e nós nos divertimos com as duas, quando estávamos saindo do quarto demos de cara com o pai dele e fui finalmente apresentada ao Sr. Amarildo Santana.
Fiquei impressionada com o quanto Luan e ele são parecidos e o quanto ele ajuda Luan em tudo.
Nosso jantar não foi nada quieto. A família do Luan inteira era muito simpática e divertida, e ver o relacionamento deles me faziam entender ainda mais Luan, o cuidado, as brincadeiras, o jeito de falar e até algumas manias, estavam ali. Aquela era a raiz de tudo.

07 de Julho de 2013 – 09hrs

Quando finalmente o dia chegou, lindo e ensolarado, Luan já estava acordado quando me virei para olhá-lo, seus pensamentos ao longe, a expressão quase séria mas aquela paz que era só dele estava ali também, naquele sorriso tímido de quando ele reparou que eu o estava observando.
– Chegou o grande dia! – Disse baixo, passando minha mão pelo braço dele e chegando mais perto, beijei seu pescoço e senti as mãos de Luan passeando pela minha cintura e por meu braço – Conseguiu dormir?
Luan negou balançando a cabeça e me abraçou apertado, senti ele respirando fundo e apertei meu abraço ao seu redor.
– Eu tô muito feliz que você tá aqui comigo agora! Sonhei com a gente! – Luan riu e se afastou me olhando com um sorrisinho cheio de malícia no rosto.
– Acho que eu nem quero que você me conte! – Empurrei ele e Luan gargalhou antes de me atacar com cócegas quase me fazendo cair da cama.
– Socorro, que eu vou morrer sem ar aqui – Consegui escapar das mãos dele e fui direto pro banheiro, ouvindo a risada dele do lado de fora.
Mal conseguimos tomar café direito e o Rober já apareceu cheio de coisas que eles tinham que fazer, Bruna e Bella já estavam juntas me esperando e, segundo elas, nosso dia já estava cheio. Nós três iriamos nos arrumar em um dos quartos, junto com a Dona Marizete. Antes de ir encontrá-las resolvi dar uma volta pelo hotel mesmo, e parecia que todo mundo por ali estava super agitado pelo show. Todo mundo mesmo, algumas meninas me reconheceram e acenaram, elas já estavam prontas pro show, estavam mais felizes do nunca e aquilo me deixou feliz, por ver que tudo aquilo era um sonho do Luan compartilhado e realizado junto com cada um daqueles fãs. Aquele seria um dia épico, eu tinha certeza.
Quando cheguei no quarto das garotas a animação era incontrolável, Bruna fazendo cabelo de um lado, Bella sendo maquiada de outro, música alta e animada sendo cantada totalmente errada por elas e por mim que me empolguei assim que entrei ali. O tempo voou, e quando nos demos conta todas já estavam prontas e a hora de ir pra arena Maeda tinha finalmente chegado.
– Vocês estão lindas! Todas vocês! – Marizete sorriu assim que paramos no hall do hotel, esperando o carro que viria nos buscar.
– Concordo plenamente! – Seu Amarildo, apareceu atrás dela fazendo-a pular de susto, ela olhou pra ele que deu um selinho nela e a abraçou pelos ombros – Podemos ir?!
– Claro! – Bruna disse cheia de animação, fomos todas em direção a van, cheias de ansiedade e expectativa, agora faltava muito, muito pouco mesmo.

A Arena Maeda estava simplesmente incrível, a estrutura agora toda montada, as flores de lótus, os fãs, o palco, o telão. Tudo. Tudo estava ficando maravilhoso, assim que chegamos na área que dava acesso ao palco e ao local que nós ficaríamos durante o show, muitos fãs gritaram, principalmente pela Bruna que sorriu e continuou seguindo ao lado de um dos seguranças até o camarim. Na área da imprensa, eu pensei que nós fossemos passar reto mas não, a equipe do Luan toda estava por ali também e, quando me dei conta, Bruna estava posando para alguns fotógrafos, alguns cantores amigos do Luan que estavam por ali também davam entrevistas e posavam para fotos, até que eu senti uma mão tocando no meu ombro, era um rapaz sorridente de alguma revista.
, uma foto para a Revista Caras! Pode ser? – Acenei que sim com a cabeça, tentei ser o mais natural possível mas aquela ainda era uma situação inusitada para mim, depois dele vieram mais alguns fotógrafos e por sorte com eles vieram Bruna e a Marizete, depois de alguns minutos a assessora do Luan nos tirou dali indicando a direção para o camarim.
Estava atrás de todos eles, no meio do caminho meu celular começou a tocar e eu parei pra atender, era que tinha acabado de chegar com Matheus e eu avisei onde era para eles ficarem me esperando, avisei que Bella tinha ficado por ali também e que logo eu voltaria pra lá. Quando voltei a andar, não vi que três garotas vinham por aquele corredor e acabei esbarrando em uma delas, quase fazendo ela derrubar o celular.
– Desculpa, eu estava distraída – Sorri tentando ser o mais simpática possível mas a loira alta e com porte de modelo profissional apenas me olhou de cima a baixo, rolando os olhos em seguida e passando por mim como se eu nem estivesse ali.
Olhei para trás totalmente chocada com a falta de educação e ouvi uma de suas amigas dizendo “Audrey, nós ainda temos que falar com a imprensa, amiga”.
Audrey. Era um nome diferente mas que não me parecia estranho.

Pela risada que vinha dali de dentro eu sabia que tinha encontrado o camarim, cheio de amigos e equipe, Luan estava falando com Sorocaba quando eu entrei, Bruna me olhou confusa.
– Onde você tava, guria?
– Eu estava falando com a no celular, eles acabaram de chegar também!
Cumprimentei várias pessoas que estavam ali por perto até sentir uma mão se entrelaçar a minha sorrateiramente, olhei para trás e Luan sorriu de lado, quando terminei aquela conversa ele me puxou de lado e me deu beijo rápido.
– Você está linda, ! Demais! – Fiquei na ponta dos pés e o abracei.
– Você também está, maravilhoso! – Beijei seu pescoço e ele sorriu – Muito ansioso?
– Pior que eu tô, mas tô tentando segurar a onda – Ele deixou suas mãos na minha cintura, me segurando ali naquele cantinho.
– Vai dar tudo certo! Você vai ver! – Segurei em seu rosto e beijei seus lábios, sentindo Luan me abraçar em seguida.
– Vamos lá, minha mãe tá chamando – Luan saiu do abraço e me levou com ele para perto de sua família.
Marizete abraçou Luan e falou algo em seu ouvido, fiquei ao lado da Bruna conversando com algumas meninas da equipe até que uma voz que eu nem sei de quem é soou bem alta “TUDO PRONTO, LUAN”, olhei para ele e aquele era o sinal. Nós logo teríamos que sair dali para a gravação começar, Luan respirou fundo e deu as mãos para sua mãe, todos ali presentes no camarim fizeram o mesmo, nos reunimos em uma corrente, Luan agradeceu e puxou a oração do Pai Nosso, todos rezamos juntos, mandando as mais boas intenções e energias para ele e toda sua equipe, aquela era a hora, finalmente a noite chegou.
Depois de abraçar sua família, foi a minha vez de ir até Luan, coloquei minhas mãos ao seu redor e o apertei em meu abraço, estava tão feliz e ansiosa por ele mas sabia que daria tudo certo, fui até sua orelha e sussurrei: “Boa sorte, amor! Vai lá e arrebenta” Luan riu e me deu um beijo rápido, dando uma piscadinha sorrindo de lado antes que eu saísse dali, Bruna estava me esperando para gente seguir para a área do show.
Assim que chegamos ali vi e Isabella conversando com Matheus, tão empolgados quanto nós, só paramos de falar quando as luzes apagaram, e os fãs começaram a gritar, os telões iluminados como se fossem confetes coloridos, e surgindo de uma capsula, lá estava ele. Luan. Os efeitos, as músicas, os fãs, a banda, tudo sincronizado, tudo muito lindo. De verdade. Estava incrível poder ver tudo aquilo acontecendo, todas nós nos divertimos demais, Bruna dançava perfeitamente junto com , Bella até tentou mas desistiu no meio da música decidindo só assistir o show mesmo.
Quando começou a tocar ‘Tudo que você quiser’ só conseguia sorrir e sentir muito orgulho, todo mundo cantava, muita gente chorando, e aquela música linda criando vida, eu sabia que ela seria um sucesso por onde quer que tocasse, Luan levaria ainda mais amor pelo mundo com aquela música. Não sei nem como aconteceu, mas quando Luan começou a cantar ‘Promete’, eu me arrepiei inteira, sentindo aquela letra me atingir em cheio:
“É impressão minha ou metade do meu peito mora em você?
Se o mal chegar, entro na frente pra te proteger”

Senti meus olhos cheios de lágrimas mas consegui me controlar, tentou me zoar mas eu apenas joguei ela pro lado do Matheus de novo e fiquei focada apenas no palco. As lágrimas que não caíram em Promete caíram sem permissão em ‘Te Vivo’, dando a munição que minhas amigas precisavam pra ficarem me zoando por um tempão.
Nós rimos, nos divertimos, nos emocionamos e quando a gravação acabou, Bruna sorriu e disse: A noite só tá começando, !
Voltamos para o camarim, com Bella, e Matheus conosco desta vez, Luan já estava ali para se trocar e atender a imprensa. Quando finalmente foi liberado nós pegamos uma van que nos levaria para um local próximo dali, onde seria a festa pós DVD e pela animação de todos ali, aquela festa tinha tudo pra virar noite a dentro.
Luan estava sentado ao meu lado, sorrindo o tempo todo, comentando, brincando, feliz por tudo ter dado certo. Ele merecia toda aquela alegria.
Quando chegamos no lugar, já dava para ouvir as conversas e gargalhadas, todos desceram o mais rápido possível da van e quando eu fui segui-los senti Luan me segurando, ele me encostou na lateral do carro e eu ri quando minhas costas encostaram ali.
– Que gelado! – Luan sorriu sacana e veio me dar um beijo no pescoço, colocando suas mãos nas minhas costas como uma barreira entre minhas costas e a lataria fria do carro.
– Melhor assim? – Ele me deu um beijo rápido e eu ri, colocando minhas mãos ao redor do seu pescoço.
– Parabéns! O DVD ficou maravilhoso! Sério! – Fiz carinho em sua nuca e senti Luan sorrir ainda mais – Até chorei...
Luan abriu a boca espantado antes de começar a rir, escondi meu rosto na curva de seu pescoço e ele me apertou em seu abraço.
– Ai, que linda! – Senti um beijo em minha cabeça, levantei meu olhar e Luan se aproximou juntando nossas bocas, ele nos girou e ficou encostado no carro, comigo entre suas pernas, enquanto suas mãos entravam no decote das minhas costas, eu arranhava de leve sua nuca, sentindo-o morder meus lábios e sorrir em meio ao beijo, seu celular infelizmente começou a tocar e nós nos separamos, Luan bufou de leve e eu não consegui segurar o riso, enquanto ele mandava alguma mensagem eu beijei seu pescoço e entrelacei nossas mãos.
– Temos que ir, né?! – O puxei comigo e ele balançou a cabeça negando – Depois eu dou um jeito de te roubar um pouquinho pra mim! – Prometi dando uma piscadinha pra ele que riu piscando de volta, e finalmente me acompanhou pra dentro da festa.
A família e quase todos os amigos de Luan estavam ali, tinha muita música, muita comida e conversas pra todos os lados. Fiquei com as meninas perto de um balcão e mal via Luan no meio das pessoas. nos contou a reação de todo mundo quando souberam do pedido de casamento, contamos até para Marizete como tinha sido e ela adorou, dizendo que Matheus era um amor de pessoa. Assim que Dona Marizete parou de falar dele, Matheus apareceu ali, de surpresa.
– Você não morre tão cedo! – riu e Matheus fez uma careta a abraçando por trás, nos olhando meio perdido.
– Por que você veio pra cá? Vocês não iam começar a cantoria ou alguma coisa assim? – perguntou e Matheus acenou que sim com a cabeça, olhando em seguida para o outro lado daquele salão. Várias pessoas começaram a chegar junto da assessoria de Luan, pessoas elegantes que não pareciam tão à vontade quanto nós naquela baguncinha organizada.
– Ouvi Luan dizendo que o pessoal da gravadora ia chegar, preferi não atrapalhar e vim pra cá né! Depois eu volto pra lá…
– Mas tá usando a gente de tapa buraco sem nem disfarçar! Olha, Matheus, francamente.... – fez sua cena dramática e todas nós começamos a rir.
Outros amigos de Luan acabaram se juntando ao grupo enquanto ele atendia a galera que tinha acabado de chegar, e a única coisa que a gente fazia era rir e comer, como se não houvesse amanhã. Bruna nos contou algumas histórias de infância dela e dos amigos de Luan, que eram crianças que aprontavam bastante, e eu senti falta do Luan ali com a gente.
Peguei minha bolsa e fui atrás de um banheiro, provavelmente já estava quase sem maquiagem mas precisava dar uma conferida, antes de chegar no banheiro meu celular vibrou me fazendo parar no meio do caminho. Era meu irmão que estava me enchendo a paciência o dia todo e eu respondi que falaria com ele só amanhã, quando guardei de novo o celular na bolsa e olhei para o lado, reparei em Luan sentado numa banqueta daquelas mais alta, apoiado no balcão conversando com um cara e três garotas, reparei que uma delas parecia muito com a loira que eu acabei esbarrando hoje mais cedo, mas não achei que fosse mesmo ela. Eu ia sair dali e seguir meu caminho rumo ao banheiro, mas algo me segurou parada naquele ponto, como um poste idiota, olhei novamente para eles e vi aquela loira indo até Luan sorrindo abertamente, pegou na gola da camisa dele e foi até seu ouvido, cochichou algo que o fez sorrir e, por fim, deu um beijo no canto da boca dele, e o que mais doeu foi ver ele sorrindo de volta quando ela fez isso. Filho da mãe!
Forcei minhas pernas a se moverem, não interessava se a sensação de levar um soco no estômago estava querendo me sufocar, eu não ficaria ali parada esperando que as pessoas começassem a reparar em mim, na minha vontade louca de ir até lá e acabar com eles. Quando finalmente cheguei ao banheiro, me olhei no espelho e senti minhas bochechas começarem a esquentar de raiva, e meus olhos começarem a ficar vermelhos. Argh, que raiva!!!
Antes que alguém me encontrasse ali, em plena transformação do Hulk, entrei em uma das cabines e comecei a respirar fundo, dando tudo de mim pra me acalmar sem fazer nenhum escândalo na noite. Ouvi a porta principal abrindo e esperei pra ouvir quem era, para o meu azar não era nenhuma das meninas que eu conhecia, eram a pior coisa que podia acontecer naquele momento:
“Você viu com quem ele tava dando entrevista, né? Com a EX dele! Esse Luan....”
A garota riu e eu consegui ouvir barulho de água, depois de uma bolsa sendo aberta e não tive coragem de sair dali.
“Viu como ela tava linda! Aliás, ela é maravilhosa! Audrey está cada dia mais incrível, olha essa foto aqui, casal de capa de revista!”
Outra voz disse e a sensação de chute bem na boca do estômago voltou, elas aparentemente estavam retocando a maquiagem, ficaram mais alguns minutos por ali e saíram.
Foi quase involuntário ou foi burrice mesmo, mas, acabei cedendo a curiosidade e entrei no instagram procurando apenas por “Luan e Audrey”, e foi a pior sensação do mundo. Me sentia como uma formiguinha sendo esmagada, muita gente divulgando a mesma foto de Luan de rosto colado com Audrey, sorridentes e quase cúmplices pelas lentes de algum fotografo que estava na festa, aparentemente a matéria tinha acabado de sair em algum lugar e não era nem a foto que me incomodava mais, era ler os comentários quase unânimes os elogiando como um casal, dizendo que Luan ficava ótimo ao lado dela e que se não fosse por minha causa, a ‘namoradinha sem graça’, talvez eles pudessem voltar e dar certo. Era com ela que ele estava antes de eu me mudar pra São Paulo, era por isso que eu conhecia esse nome. Quando sai do banheiro a música já estava mais alta, os amigos do Luan mais animados que nunca voltaram para perto da churrasqueira e recomeçaram com toda a força, o pessoal da gravadora ainda estava por ali, quando cheguei na nossa mesa Bruna e Bella estavam rindo e fazendo um brinde. – Nossa, amiga! Por que você demorou? – Bella me puxou para sentar ao seu lado e eu quase cai em seu colo.
– Acabei me distraindo e nem percebi, vou pegar uma água, querem alguma coisa? – As duas negaram e eu fui para perto do bar, peguei uma garrafa de água e fiquei por ali mesmo. Quando me dei conta meu olhar se fixou em Luan e lá ia mais uma vez aquela tal de Audrey pra cima dele e de seus amigos, nem reparei em Bruna vindo na minha direção me olhando desconfiada.
– Que foi, Dona ? Você tá muito séria pra uma festa moça! – Bruna parou em minha frente e mexeu em meu cabelo, tentando me fazer sorrir mas eu simplesmente não conseguia.
– Nada não, uma dor de cabeça insuportável que chegou, mas acho que logo passa – Tentei sorrir para ela e Bruna seguiu meu olhar, vendo Luan lá do outro lado daquele salão.
– Daqui a pouco ele fica livre da imprensa.... – Ela disse baixinho e eu neguei com a cabeça, sabendo que se Luan talvez estivesse livre, ainda assim eu não o queria por perto pra não causar nenhuma cena, pra não deixar todo aquele estresse estragar a festa.
– Imagina, deixa ele trabalhar – Ri de leve e terminei de tomar minha água – Vou ficar bem, Bruna!
Dei um beijo em seu rosto e me afastei antes que ela tentasse tirar mais informações de mim. Eu só queria ficar quieta no meu canto.
Alguém puxou Isabella pra dançar, logo Bruna foi puxada por pra dançar também e eu consegui sair de fininho, estava sufocando em ficar naquela festa, como se não fizesse sentido algum. Precisava sair dali e foi Deus quem mandou um dos funcionários do Luan, que eu sempre via com ele nas turnês, estava indo pro estacionamento quando eu sai e pedi uma carona até o hotel.
Assim que eu fechei a porta do quarto aquele sentimento horrível só fez crescer dentro de mim, tirei toda aquela maquiagem e fui pra debaixo do chuveiro para ver se aquele peso que parecia estar sobre as minhas costas ia embora junto com a água do banho, toda aquela situação levou embora qualquer vontade de ficar rindo pras pessoas, ou de fingir estar tudo bem quando pra mim não estava. Vesti apenas calcinha e uma camiseta enorme que eu sempre usava como pijama, sai do banheiro e quando estava prestes a ligar o secador uma voz me fez parar, quase petrificada no meu lugar.
– Se você soubesse o quanto fica linda com essa roupa, eu teria muitos problemas.... – Luan estava escondido na escuridão do quarto, com o susto a toalha que eu estava segurando caiu e meu coração deu um pulo.
– Misericórdia! Você quer me matar do coração garoto! – Levei a mão ao meu peito e senti Luan se aproximando pelas minhas costas, ele me abraçou, beijou minha nuca e pescoço, ficamos assim por alguns segundos antes que qualquer um de nós falasse algo.
– Posso saber porque uma das minhas convidadas de honra saiu da festa sem nem se despedir?! O que houve, ?! – Sem nem me dar tempo de pensar, ele me virou e tentou fixar seu olhar ao meu, mas eu desviei.
– A Bruna disse que viu você me olhando com a modelo.... – Me afastei mas Luan me puxou de volta, fazendo com que eu batesse de frente com ele – Você sabe que aquilo é só trabalho, não sabe?! A gravadora convidou ela....
– Sei, mas não gosto de me sentir vulnerável, não gosto de ver outra quase te beijando e você sorrindo com isso Luan! Pode ser trabalho, mas também pode machucar! Espero que você também saiba disso! – Mantive minha voz firme mas me afastei para que Luan não conseguisse ver meus olhos quase marejados, eu não faria uma cena de ciúmes, não choraria por isso nem a pau.
– Desculpa, eu jamais faria alguma coisa assim pra te machucar, !
– E pra ajudar, tem toda uma legião de pessoas torcendo por vocês, pra que o casal dê certo.... – Soltei uma risada irônica mas o nó em minha garganta era real, só eu sabia o quanto doeu aquilo.
– Ei! Olha pra mim! – Luan colocou as mãos em minha cintura novamente me girando, tentei não olhá-lo nos olhos mas foi inevitável. Luan colocou as mãos uma de cada lado do meu rosto e secou uma lágrima fujona, fiz uma careta irritada, minhas lágrimas podiam me ajudar pelo menos naquela hora né! Eu não queria chorar ali, não podia.
– O que eles dizem não me interessa, só me interessa o que eu quero e o que eu quero está nas minhas mãos nesse momento, tentando fingir que não quer chorar mas deixa eu te dizer uma coisa, dona teimosa.... – Luan me levou até a parede, desceu suas mãos pra minha cintura e as colocou por dentro da minha camiseta, senti minha pele se arrepiando, reagindo ao seu toque, minha respiração descompassada batia em seu rosto e seu olhar fixo ao meu me desmontava inteira – Eu amo você e quero que o mundo saiba disso! Você é o que eu quero, ! Só você!
Sentia meus olhos transbordarem, meu coração acelerar e minhas pernas bambearem, agradecendo aos céus por Luan estar me segurando com firmeza, caso contrário eu cairia como um saco de batatas bem ali, sorri tentando não deixar minhas lágrimas caírem mas era mais difícil do que eu imaginava, Luan aproximou seu rosto ainda mais do meu e me beijou como nunca antes, um beijo forte, quente, cheio de intenções e muito sentimento, me sentia fora de órbita, enlouquecendo a cada toque dele, sem saber como reagir a tudo aquilo que estávamos sentindo, simplesmente me deixei levar. Luan me ergueu do chão e eu entrelacei minhas pernas ao redor de sua cintura, desceu seus beijos para o meu pescoço enquanto nos levava para a cama. Assim que ele me deitou na cama e retirou a camiseta que eu vestia ele sorriu, deixando suas mãos passearem pelo meu corpo, me deixando levemente envergonhada, puxei Luan para mim e ele riu com a boca encostada em meu ouvido.
– Não quero que você se sinta vulnerável, quero que se sinta forte como eu me sinto com você do meu lado, você é incrível e nada pode ofuscar isso! Nada, nem ninguém! – Arqueei as costas e Luan aproveitou para distribuir beijos e mordidas por todo meu colo e pescoço, me deixando ainda mais corada, tirei a camisa dele com certa violência e Luan gargalhou antes de voltar a se juntar a mim com vontade.

Era madrugada quando acordei e Luan estava com a voz rouca falando no celular, o abracei por trás e senti Luan sorrindo antes de se livrar da ligação e se virar para mim rindo de leve.
– Eu esqueci completamente e acabei dando um bolo numa galera!
– Como assim? Esqueceu, Luan! – Me sentei na cama o olhando chocada.
– Meu plano era te levar comigo de volta pra festa, uai, mas as coisas mudaram e eu literalmente esqueci o que eu tinha que fazer depois…. – Ele voltou a deitar na cama e me puxou para junto dele.
– Meu Deus! Você é doido! E agora?
– Nada que eles não continuaram sem mim, relaxa, ! – Ri do jeito dele falar e me escondi em seu peitoral, ouvindo ele rir também. Luan estava brincando com uma mecha do meu cabelo quando eu estava quase caindo no sono, ele me chamou baixinho.
– Ei…. – Me virei para olhá-lo e Luan me olhou sério – Promete que vai me falar quando algo estiver te incomodando? Mesmo que seja algo que você ache que não é nada…. – Era real aquela promessa, ele falava muito sério.
– Hmm…. Prometo! – O abracei e ele sorriu antes de começar a cantarolar aquela que agora era uma das minhas músicas favoritas dele. Promete.
‘Se o mal chegar, entro na frente pra te proteger’, foi a última coisa que eu ouvi antes de cair no sono, feliz por como o dia terminou mas, com medo do tamanho dos meus sentimentos por ele. Ele se tornava cada dia mais importante pra mim, de um jeito que eu já não sabia mais controlar.


Capítulo 14

LUAN

Das coisas que aprendi quando aceitou passar suas férias da faculdade ao meu lado, era que tudo ficava mais divertido com ela e minha família, que os dias da semana eram ótimos, os fins de semana melhores ainda com ela me acompanhando nos shows, e principalmente vê-la ali, no dia a dia, o que geralmente era difícil pela distância e a correria, eram coisas que eu nem sabia que sentia falta. andando pra cima e pra baixo de shorts jeans era das coisas mais maravilhosas dos meus dias.
Estávamos na minha casa em Londrina, aproveitando uma terça-feira de folga quando e Matheus ligaram perguntando quando a gente poderia se encontrar porque eles queriam muito conversar comigo e com a juntos, marcamos para quinta-feira na chácara que fica no interior da cidade, e os dois adoraram a ideia. Nós decidimos ir antes pra lá, pra aproveitar nosso tempo, e com ali ao meu lado no carro, eu só conseguia lembrar do dia em que ela me levou para o meu lugar favorito no mundo.

Flashback On

Faltava muito pouco para a gravação DVD, mas parecia que o mundo resolveu virar de ponta cabeça naquele final de semana. O show de sábado foi cheio de falhas técnicas, o de domingo teve que ser cancelado por causa do mau tempo e da estrutura que estava muito insegura para sustentar todo o equipamento e pra completar, foi por muito pouco que eu não acabei indo parar nos jornais por me estressar com um jornalista sem noção, especulando sobre meu namoro com , enchendo de intriga, brigas e até mesmo uma separação nossa como grande responsável pelos meus “problemas profissionais”. Sim, ele escreveu isso e eu só queria voar pra cima dele mas não deu.
Segundas e terças costumam ser os dias mais tranquilos, mas naquela semana a segunda também estava cheia de compromissos e quando eu consegui fugir da última reunião do dia, às 5 da tarde, a única pessoa que eu queria ver era . A minha .
Liguei várias vezes mas ela não me atendeu, passei no apartamento da tia dela e ela me deixou ficar ali esperando por enquanto ela saia pra resolver umas coisas. E eu fiquei.

Nem sei quanto tempo se passou mas quando aquele perfume dominou o ambiente, e eu senti me abraçando pelas costas foi como se meus músculos relaxassem automaticamente e tudo ficasse mais fácil. Estava no seu quarto, veio para minha frente e sem dizer nada, apenas olhou nos meus olhos antes de me abraçar forte, muito forte. E era tudo que eu queria.
– Você me assustou, sabia?! – Estava com os rosto quase afundado em seu pescoço e acabei sorrindo, sentindo a preocupação dela na voz.
– Foi sem querer, eu só queria ver você – Me afastei minimamente e me olhou desconfiada, com as duas mãos no meu rosto, hora ou outra acariciando ali, ela me apertou mais uma vez em seus braços antes de perguntar em meu ouvido.
– O que houve, Luan? Tá tudo bem?
Apenas afirmei com a cabeça e me olhou mais séria, se afastando mais do que eu gostaria.
– Confia em mim, poxa! Eu só quero o seu bem, te ajudar no que eu puder, ou só te ouvir.... Sei lá!
Puxei ela de volta pra mim e me olhou com a testa levemente enrugada, quase brava, e aquele olhar que tinha um poder gigante sobre mim. Eu sabia que não precisava falar, eu só precisava da presença dela ali, suspirou e balançou a cabeça antes de ficar na ponta dos pés para me dar um beijo rápido, mas eu a segurei e roubei um beijo de verdade dela.
Pedimos comida e decidimos ver um filme qualquer, tudo que eu mais queria era desligar minha mente, mas estava mais difícil do que de costume, eu ainda sentia como se tudo estivesse se acumulando e pesando nas minhas costas, tudo de uma vez só. Estava com a cabeça em cima das pernas dela quando começou a mexer no meu cabelo sorrindo, me zoando dizendo que era uma vitória mexer ali e eu baguncei com gosto o cabelo dela por vingança, mas não nego que por nada eu pediria que ela parasse. Nem vi em que momento isso aconteceu, mas eu simplesmente apaguei.
Acordei sentindo um peso em cima de mim e achei aquilo estranho, abri os olhos e vi dormindo de qualquer jeito sobre mim, uma mala aberta ao pé da cama, o notebook ligado na escrivaninha e a luminária de seus estudos ainda ligada com alguns livros abertos.
! , acorda! Deita direito, amor – Chacoalhei-a de leve apenas pra fazê-la deitar direito.
– Droga! – Ela resmungou ainda de olhos fechados, sorri com o mau humor dela e fiquei esperando ela aos poucos endireitar a postura e percebi que havia dormido meio sentada, metade do corpo pra fora da cama e assim que sentou fez uma careta – Minhas costas vão doer até depois de amanhã!
Ela parecia exausta, se espreguiçou e fez outra careta olhando para mim em seguida, me encostei na cabeceira da cama, a olhava, me divertindo enquanto ela só resmungava palavras ininteligíveis e parecia procurar alguma coisa no meio das cobertas. Senti um celular nas minhas costas e sabia que era isso que ela queria.
– Tá procurando alguma coisa? – Sorri segurando o celular dela, e me olhou aliviada, quando ela veio pegá-lo das minhas mãos eu a enganei e fiquei provocando sem deixar ela pegar o aparelho de mim, até que ele começou a tocar e se desesperou, quase o arrancando das minhas mãos.
– Bom dia! Sim, então vai dar certo? É possível?! Meio-dia? O.k., o.k., estaremos aí. Muito Obrigada!
mais sorridente do que nunca, começou a pular em cima de mim que a estava observando sem entender nada, cruzei meus braços e ela riu, parando ajoelhada sobre mim, com uma perna de cada lado do meu corpo.
– Amor, eu tenho uma surpresa pra você – distribuía vários beijos pelo meu rosto me fazendo rir, coloquei minhas mãos por dentro da camiseta dela, sentindo-a arrepiar e parar de repente com a brincadeira.
– Nada disso, Luan, presta atenção senão vamos perder a hora! – Ela sorria como quem estava pronta pra aprontar alguma coisa, tentei atacá-la com cócegas mas me parou – Olha pra mim! – Tentando se manter séria a qualquer custo, achei graça e tentei imitá-la fazendo minha cara mais séria possível, escondendo um sorriso torto enquanto ela se endireitava em cima das minhas pernas.
– Sou todo ouvidos, madame! – O sorriso dela se abriu, os olhos brilhando e eu não resisti, passei minhas mãos pelas pernas descobertas dela, querendo trazê-la para mais perto naquele momento.
– Estou te convocando para “fugir” comigo por três dias! Tem que ser já, imediatamente! – Sorri achando fofa a animação dela para algo tão impossível, pelo menos, pra mim.
– Seria ótimo, pareceria até um sonho – tirou aquele sorrisinho do rosto, me olhando realmente séria.
– Topa ou não topa, Luan? – Comecei a rir, mas não me acompanhou, continuou me olhando séria e eu tentei entender o que estava acontecendo ali.
– Espera, você tá falando sério? – apenas rolou os olhos em resposta e assentiu, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
, não dá, tá uma correria no escritório, seria impossível sair agora...
– Não será impossível, Luan! Já arranjei TUDO, tudinho! Eu só preciso que você leve essa sua bundona pro aeroporto até o meio-dia, só isso!
– Aeroporto?! – Olhei para ela ainda mais surpreso, ela simplesmente odiava voar de avião – , você praticamente só voa sedada, amor, pra quê você quer fazer isso? – Passei a mão em seu braço e apenas deu de ombros.
– Luan, é agora ou nunca, eu já avisei quem tinha que avisar, fiz tudo que precisava fazer e estou te perguntando se você vem comigo ou não! Vou terminar de arrumar as minhas malas e se você topar, nós passamos pegar as suas no escritório da Central.
– Mas.... – colocou as mãos no meu pescoço e me puxou pra mais perto, e começou a beijar meu pescoço da maneira que ela sabia que eu não conseguia pensar direito, eu só prestava atenção nela, e sua boca próxima ao meu ouvido apenas me desconcentrava ainda mais.
– Vamos?! Você vai gostar! – Ela sussurrou cheia de malícia na voz e eu a apertei em meus braços – Confia em mim! – Ela sorriu e se afastou, me deixando mais curioso e rendido a ela.

Não sei como mas ela conseguiu deixar tudo perfeito pra nossa fuga, passei no escritório e o Rober me entregou minha mala desejando boa viagem, o piloto do jatinho também não questionou nada e eu era o único com cara de dúvida durante todo o trajeto. Assim que o avião decolou dormiu no meu ombro, aparentava estar exausta, o que me dava mais certeza ainda que ela deveria ter passado a noite em claro arrumando tudo, cada detalhe pra que tudo saísse como o planejado. Assim que aterrissamos no aeroporto de Londrina e eu desci do avião, mal podia acreditar que realmente tinha me levado para um dos meus lugares favoritos sem eu nunca ter contado isso a ela. A chácara da minha família que fica no interior de Londrina era um dos meus refúgios, quando eu queria ficar em paz, com a minha família, eu sempre vinha pra cá, ou iria pescar no Pantanal, era um dos locais que eu estava mais ansioso para que conhecesse, mas a bagunça que estava na minha vida nos últimos tempos tornou esse desejo um dos mais complicados de realizar.
– Como você sabia? – Olhei desconfiado para enquanto saíamos do aeroporto e ela riu fingindo surpresa.
– Sabia do quê, menino?! – abriu o vidro do carro e soltou o cabelo, como se eu não estivesse olhando pra ela.
... – Chamei ela que apenas me deu uma piscadinha como resposta e acenou com a cabeça para a rua.
– Você sabe o caminho, né?!
Apenas rolei os olhos e a peguei de surpresa com um pouco de cócegas que fizeram gargalhar e tentar me bater antes que eu realmente começasse a dirigir.
foi a DJ da miniviagem, colocando todo tipo de música e tentando cantar sem ficar com vergonha, fomos de axé até música romântica, e várias trilhas sonoras de novela, que eu mais ria do que prestava atenção na música, mas acho que talvez eu nunca me esqueça de quando nós acabamos ficando em silêncio e sorriu quando a próxima música começou a tocar, eu nunca tinha ouvido aquela música mas pela letra e por quem estava bem do meu lado, ela fazia todo o sentido do mundo pra mim.
nem percebeu meu olhar sobre ela cantarolando a música, dentro do seu mundinho, ela sorria e acompanhava cada batida da música, de repente ela se virou pra mim e sorriu tímida, cantou bem baixinho fazendo carinho no meu braço, me deixando vidrado nela:
I guess there’s so much more (Acho que existe muito mais)
I have to learn (Que eu tenho a aprender)
But if you’re here with me (Mas se você está aqui comigo)
I know which way to turn (Eu sei qual direção seguir)
You always give me somewhere, (Você sempre me dá algum lugar)
Somewhere I can run (Algum lugar para onde eu posso correr)
You make it real for me... (Você torna as coisas reais pra mim)
Ela riu e virou novamente para a janela, me deixando com aquela cena na cabeça, se tinha alguém que tornava tudo real pra mim, era ela! Só ela.
Quando finalmente chegamos na chácara, eu nem me lembrava mais de toda a chateação do dia anterior, como se agora nada mais importasse, só conseguia sentir a calma, a tranquilidade daquele lugar e o perfume de se misturando a brisa.
Depois de apresentar toda a casa pra ela e vê-la ficar fascinada pelo lago e pela nossa varanda, descobri que quem cozinharia durante aqueles três dias seria eu e ela seria responsável pelos brigadeiros de panela. me pediu pra esquecer do mundo lá fora e me concentrar ali, estar presente no momento e não antecipar nenhum problema foi a parte mais difícil dessa fuga, mas foi o que me fez relaxar para poder aproveitar cada instante da nossa viagem.

XXX


Era nossa segunda noite ali, estava na varanda deitada na rede lendo um livro e eu já a estava observando por alguns minutos sem ela perceber, joguei uma bolinha de papel nela que me olhou por cima do livro.
– Que foi, garoto?! – Me aproximei da rede e ergui a sobrancelha indicando o espaço ao lado dela.
– Dá um espacinho aí!
– Aff…. Lá vem ele – Ela fingiu estar indignada mas foi mais para o lado, me deixando deitar ao seu lado, se aconchegou no meu abraço e continuou sua leitura.
Comecei a provocá-la tampando a página em que ela estava lendo e me olhou rindo tentando ficar brava sem sucesso.
– Quer parar com isso! – Ela deu um cutucão na minha cintura e tentou voltar a ler, mas eu voltei a atrapalhar, puxei o livro e perdeu a página, me olhando exasperada.
– Luan! Sua coisa chata! Estava na melhor parte! – Ela se virou para me olhar e eu ri passando minhas mãos por sua cintura.
– Essa é a melhor parte – riu do que eu disse, a puxei para mais perto e juntei nossas bocas, sentindo ela sorrir em meio ao beijo, aprofundando nosso contato, me fazendo parar quando já nos faltava o fôlego, ela continuou abraçada a mim mas se virou para frente, olhando o céu desta vez.
– Incrível como aqui tudo fica diferente, olha esse céu! Acho que eu nunca vi a lua tão linda como agora – Eu podia ver o brilho nos olhos dela, podia ver o quão fascinada estava e naquele momento eu me sentia o cara mais sortudo do mundo por tê-la na minha vida.
– Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu? Se você me pedir eu vou buscar só pra te dar, se bem que o brilho dela nem se compara ao seu…. – Comecei a cantarolar de brincadeira a música do Exaltasamba e começou a gargalhar alto, me fazendo rir junto dela.
– Ai, Luan…. – ergueu o corpo para me olhar e eu apenas dei de ombros como resposta.
– Combinava com o momento, ué – Ri voltando a me ajeitar ao lado dela e puxou a manta que estava ao seu lado para nos cobrir.
– Obrigada! – Sussurrei em seu ouvido depois de alguns minutos, onde a única coisa que se ouvia era a natureza.
– Pelo que? – perguntou, baixinho, quase como que para não atrapalhar o silêncio.
– Por ter feito isso por mim, por ter insistido!
– Você já faz o mesmo por mim, sem nem perceber – Ela me olhou com uma intensidade que eu sabia que significava algo forte, algo que antes eu já tive muito medo de admitir, mas que com foi inevitável. Eu a amava de um jeito que não dava mais pra fugir ou negar, era diferente de tudo, era forte demais. E meu único pedido era para que nunca acabasse.
Flashback Off

Mal chegamos na chácara, Matheus ligou dizendo que tiveram um imprevisto e não conseguiriam viajar, mas que ainda queriam muito conversar com a gente. Assim que voltássemos a São Paulo eles queriam nos ver com urgência, mesmo sem entender nada nós concordamos e resolvemos chamar o resto da minha família pra nos encontrar ali, iriamos aproveitar aquele tempinho que nos restava naquele nosso paraíso particular.

Já eram os últimos dias das férias de , quando ela entrou na sala toda sorridente falando no celular com Isabella, sua amiga da faculdade.
– Tá, Bella! Amanhã eu vou direto pra sua casa então...
– Fala pro JP que se ele não for, eu é que vou atrás dele! Tchau, amore! Até amanhã!
se jogou ao meu lado no sofá, sorrindo abertamente, me fazendo encará-la desconfiado.
– Quer ir comigo em uma festa amanhã?
– Festa? De quem?
– Da Bella, pra comemorar o aniversário dela e também pra reunir o povo da faculdade, pela animação dela ao telefone vai ser ótimo!
– São Paulo, ? Do nada... – É né, passei todo esse tempo longe deles e nós já vamos voltar a ativa! Tô com saudades! – Ela me deu uma piscadinha e eu sorri fraco passando minhas mãos por sua cintura.
– É melhor você ir sem mim, amor! Amanhã já tem compromisso na agenda e eu acabaria te atrapalhando lá – me olhou um pouco mais séria e eu fiz uma careta pra ela.
– Você sabe que isso não é verdade, né! Eu adoraria ter você do meu lado!
– Linda.... – Beijei seus lábios rapidamente e riu, me puxando para um beijo mais intenso – Bem que eu queria mas não vai rolar, de verdade mesmo.
– Tá bom, então! Vou comprar minha passagem e arrumar minhas coisas – levantou rápido mas eu a segurei em meus braços – Nem pense que vai me convencer a deixar você pagar…
– Você é muito teimosa, ! Nunca vi.… – Ela conseguiu escapar dos meus braços e parou me olhando.
– Você é um chatinho também, estamos quites – Ela deu uma piscadinha e foi na direção do quarto. Quando a encontrei mais tarde, todas as suas coisas estavam arrumadas e sua passagem comprada.

Estava deitado com na cama, atrapalhando ela de terminar seu seriado favorito, quando ela começou a me jogar os travesseiros que estavam ao seu redor, me fazendo gargalhar e a puxar para mais perto, a prendendo em meus braços.
– Olha, série eu só consigo assistir com o JP mesmo! Você.... – rolou os olhos e eu a olhei indignado, ficando de joelhos em cima da cama.
– Você só finge que não gosta – Me aproximei mais dela, e beijei de leve seu pescoço, vendo se arrepiar – A gente assiste depois, ué! – Subi minha boca até sua orelha e sorriu, me dando permissão para beijá-la, antes que a gente se empolgasse muito, cortei nosso beijo e me olhou sem entender direito.
– Como nossa última noite aqui, por enquanto, estava pensando em aproveitar, e não ficar assistindo, né ! – Ajeitei uma mecha de seu cabelo que eu tinha acabado de bagunçar e sorriu sem graça, me olhou arqueando uma sobrancelha antes de perguntar.
– O que você tem em mente?! – Levantei da cama e a puxei para me acompanhar.
– Vamos fazer o jantar e depois...
– Corrigindo, vo-cê vai né! – riu e me abraçou por trás – Lembra que da última vez, eu consegui queimar a carne e eu só precisava desligar ela na hora certa – Senti ela escondendo o rosto nas minhas costas e eu ri lembrando de toda a fumaça que dominou a cozinha naquele dia.
– Você vai ajudar, só um pouquinho, nada grave! – Dei um selinho nela e levantou as mãos já se inocentando dos possíveis acidentes.

com um avental apenas para fazer pose ao redor da cozinha, colocou Madonna pra tocar e começou a tentar cortar tomate ao ritmo de Like A Virgin, quase queimei a massa que estava preparando por estar distraído com aquela cena, partiu para as próximas músicas e etapas, deixando aquela cozinha o mais musical possível. Como só estávamos nós dois ali, não tinha ninguém para nos apressar, o jantar que nós preparamos demorou o triplo de tempo pra ficar pronto, arrumou a mesa na varanda e aquele foi um dos nossos momentos mais em paz, só os dois ali.
– Hoje a noite tá maravilhosa! – Ela disse quando estava quase terminando de comer.
– Tá mesmo! Olha esse céu, acho que o mais bonito de todos – Disse deixando meu prato de lado e tomando um gole de vinho, sorriu e balançou a cabeça negando.
– O céu daquela noite, da segunda noite de quando a gente veio pra cá estava incrível, mais até do que o de hoje – olhava para o céu com um sorriso no rosto e eu ri.
– Acho que eu deveria ter feito isso naquela noite, mas como foi uma surpresa sua pra mim eu não trouxe o necessário, e agora eu espero que você goste, mesmo não sendo a noite mais linda – Brinquei rolando os olhos e me olhou séria desta vez, tentando decifrar o que eu estava fazendo.
, eu sei que nossa história não precisa dessas coisas, e acredite, nunca pensei que teria uma história tão incrível como a nossa, mas eu quero te dar isso apenas como um símbolo, como as nossas medalhinhas que agora sempre que eu olho para a minha, eu vejo você e proteção, juntos.… Ela sorriu e balançou a cabeça ficando tímida, pegou em seu pescoço a medalha de Nossa Senhora Aparecida que eu dei a ela e deu uma piscadinha.
– Quando eu bati os olhos nela, imaginei seu rosto, te imaginei com ela…. – Peguei a caixinha que eu vinha escondendo há algum tempo e entreguei a que me olhava surpresa e desconfiada.
– Ah, Luan, não precisa dessas coisas – Ela segurou a caixinha de veludo e me encarou do outro lado da mesa, e eu apenas neguei com a cabeça e sorri esperando que ela abrisse a caixinha.
Era uma pulseira de prata, linda e simples, com duas alianças pequenas entrelaçadas, com uma pedrinha em cada um dos anéis, e eu sabia que combinaria com . Simples e cheia de significado.
– Gostou?! – Ela pegou a pulseira na mão e começou a olhar os detalhes, os anéis que não se desgrudavam nunca e sorriu.
– É linda demais! Você acertou mesmo sem precisar, né... – Ela riu e eu respondi com uma piscadinha marota, estendeu a mão e eu coloquei a pulseira em seu pulso, mantendo a mão dela junto a minha, brincando com a ponta de seus dedos como eu adorava fazer.
– Nossas vidas entrelaçadas, nossa história, todos esses dias, tem feito toda a diferença pra mim.... E eu só queria que você soubesse disso!
– Você é tão importante pra mim! Acho que você ainda não sabe e eu sei que as vezes eu não deixo muito claro, mas a maneira como você vem mudando tudo, os detalhes, os medos, os pequenos passos que você aceitou por minha causa, ah garoto – levantou e veio até mim, sentou no meu colo e sorriu antes de ir com a mão direto no meu cabelo, levantei meu olhar e ela sorriu torto antes de olhar diretamente nos meus olhos e sussurrar: “Eu amo você”.
A sensação de paz que ela me transmitia, poder abraçá-la, encontrar seu lugar e saber que é recíproco, era maravilhoso.
Ela riu quando ouviu Bruna gritando da porta da copa, nos avisando de sua chegada.
– Se vistam! Estamos entrando! – Rolei os olhos e tentei segurar em meu colo, sem sucesso.
– Ai que exagerada! – disse assim que Bruna apareceu na porta da varanda, nos espiando, ficou sentada ao meu lado desta vez, enquanto Bruna vinha até a mesa e sentava de frente pra nós.
– O cheiro tá ótimo, só vim atrapalhar pela comida mesmo – Bruna olhou dentro da panela em seguida olhou pra gente.
– Pega um prato, vem comer com a gente, ué! – deu uma piscadinha pra ela, que me olhou pra ter certeza e eu fiz uma careta como resposta. Ela sabia que era bem-vinda ali.
– Eu tô morrendo de fome, gente! – e Bruna começaram a falar sobre fazer algum tipo de sobremesa e eu só fiquei ali ouvindo as duas rindo e jantando como velhas amigas, e percebi o quanto se encaixava em tudo. Quando me dei conta, minha mãe e meu pai também vieram para a varanda e aquele virou o nosso jantar de despedida das férias. voltaria para São Paulo e eu ia pro Rio de Janeiro cumprir alguns compromissos, mas não esqueceria de nenhum daqueles dias.

teimosa como sempre, não quis ir comigo e foi direto para o aeroporto, quando cheguei no Rio de Janeiro ela já estava na casa de sua amiga Bella. Combinamos de nos ver no dia seguinte, já que assim que eu terminasse com meus compromissos, eu já voltaria pra São Paulo e ela iria me ajudar com algumas coisas da minha mudança.
Eram umas 10:30 da noite e eu sabia que a festa onde estava deveria estar super movimentada e animada, ela me mandou uma foto rindo abraçada a JP e Bella, e eu achei engraçado perceber levemente bêbada junto deles.
Já estava em São Paulo e indo direto para o meu hotel, quando ligou, menos de duas horas depois da última vez em que falei com ela e a ligação estava horrível, cheia de chiados e barulhos esquisitos, retornei a ligação e quem atendeu foi Isabella, tinha caído totalmente de mau jeito e torcido o tornozelo e eles estavam levando-a para o pronto-socorro. Pedi que Bella me mandasse o endereço de onde eles estavam e fui com o Rober pra lá.
O trânsito não ajudou muito mas quando finalmente consegui chegar no hospital, Bella estava me esperando, enquanto Rober resolvia algumas questões de segurança ela me levou até , quando entramos JP segurava uma mão dela e sorria olhando para seu rosto, quando me viu sorriu e soltou a mão dele, passou a mão no cabelo de forma exagerada antes de me chamar para mais perto.
Olhei para Bella sem entender nada, ela riu antes de se aproximar e cochichar no meu ouvido:
– Deram remédios muito, muito fortes por causa da dor e agora ela tá meio grogue, daqui a pouco passa.
– E você hein, foi tentar dançar, bonitona? Como machucou o pé? – Sentei na beirada da cama e balançou a cabeça insatisfeita, me pedindo pra chegar mais perto ainda.
– Dois grandões foram brigar, eu tava por perto, fui fugir da confusão e pow! – riu de leve imitando o barulho do seu tombo – Estamos aí, fingindo que não vai doer depois – Ela colocou a mão no meu rosto e começou a fazer carinho ali, como se há muito tempo ela não me visse.
– Levei um susto, de repente você aparece no pronto-socorro…
– Acho que vou ter que enfaixar.... – olhou para o pé e fez um bico – Vamos pra casa? Eu não gosto muito de hospitais – Ela sussurrou como um segredo e eu sorri assentindo, só naquela hora reparei que Isabella e João Pedro não estavam mais no quarto conosco.
Sai do quarto para ver se encontrava o médico, quando antes de virar em um corredor ouvi Isabella dando uma bronca em JP.
– Garoto! Presta atenção! – Pelo tom de voz dela dava para perceber o quanto estava brava – Você diz que está gostando dela mas não se esqueça, ela tem namorado! E ama ele, mesmo que você ache que pode ser melhor opção pra ela, aquela doidinha naquele quarto gosta daquele cara que tá lá com ela! E você só pode ficar na sua, João Pedro!
– O que foi que eu fiz?! Bella, você pirou?! – Eu queria me meter naquela conversa e saber exatamente sobre o que eles estavam falando, mesmo tendo quase certeza de que eu odiaria aquela conversa.
– Eu e aquela festa toda não somos cegos, o jeito que você olhava pra ! Constrangedor, garoto! – Eu via os braços de Bella se agitarem, ela gesticulava bastante e João Pedro parecia nem ligar.
– Para de pegar no meu pé, Isabella…
– Cara, eu gosto de vocês dois e nós somos parceiros na faculdade.... Percebe a bagunça que tudo isso pode virar – Dei um passo em direção ao corredor mas Rober começou a me ligar e eu sabia que precisava atender, mas não esqueceria desse assunto, não mesmo. Tudo estava pronto para que o médico nos liberasse e só estavam me esperando para que isso acontecesse.
O médico nos deu as instruções de como cuidar do tornozelo da , por pouco ela não teria que enfaixar mas teria que manter os pés pra cima o quanto fosse possível. Ela mal se despediu dos amigos e nós fomos pra casa de sua tia, que se assustou quando me viu chegar carregando praticamente no colo, mas depois que pude explicar toda a situação, ela ficou mais calma e dormiu por causa dos remédios.

Todos os nossos planos mudaram, não poderia voltar pra faculdade na data prevista, e justamente nesses dias eu estaria em turnê longe de São Paulo, mas o que mais me deixava irritado era o quanto parecia que a única pessoa daquela faculdade, era aquele tal de João Pedro. Estava vendo uma foto de com João Pedro, abraçados e com suas camisetas de seus heróis favoritos com a legenda “Nossa liga da justiça” e eu sabia que eles deveriam ter passado a tarde toda juntos.

– Como você tá, ? Já está conseguindo firmar o pé?
– Pior que não, ainda dói muito quando eu tento. Hoje eu quase caí acredita, se não fosse o JP, provavelmente e...
– Ele tá aí, de novo? – Não consegui me segurar e minha voz denunciava a minha impaciência e irritação.
– Como assim, de novo? Ele é meu amigo, Luan, e vem quantas vezes quiser, oras!
– Não... Eu só acho estranho.
– Ele e a Bella virão provavelmente todos os dias me fazer companhia, algum problema? – A voz de que até então estava calma, começou a ficar mais firme e eu já sábia que ela estava ficando brava, mas já que eu tinha começado, iria até o fim.
– Na verdade, tem um sim...
– Não acredito nisso, você agora vai querer implicar com o JP? Justamente agora? – Eu conseguia imaginar perfeitamente o olhar de impaciência dela, mas eu não estava louco, eu tinha minhas razões pra tudo aquilo.
– Você não sabe, ! Eu tenho meus motivos pra não gostar mais desse cara, pra odiar ele aí do seu lado.
– Qual é, Luan! Você vai mesmo ter uma crise de ciúme por telefone? Enquanto a porcaria do meu tornozelo tá latejando? – disse super irritada, eu sabia que ela estava se controlando lá do outro lado, eu não queria brigar, só não queria aquele cara tão perto dela assim.
– Não é crise de ciúme... Eu ouvi ele dizendo que gosta de você...
– Quando? Tá louco?
– Quando você torceu o pé, sua amiga estava dando uma bronca porque ele não sabe disfarçar! – Ri irônico tentando ao máximo não me exaltar, mas estava praticamente impossível, tudo o que eu vinha guardando sobre o assunto veio a tona, tudo de uma vez – Porra, o que você quer que faça, fique feliz porque ele tá aí do seu ladinho?
– Porra, confia em mim, oras! Se ele gosta mesmo de mim, é um problema dele! – estava furiosa, eu conseguia sentir através de suas palavras.
– Ah, sim! Que fácil dizer isso, parece que ele fica me provocando, eu já saquei qual é a dele, ! Você prec…
– Argh!!! – Ela deu grito exasperada e eu me calei – Sabe qual é a minha, Luan? É não ficar aqui te convencendo de algo que você já sabe, caramba! Tchau!
simplesmente desligou o telefone na minha cara e eu não podia acreditar naquilo, ela ia mesmo me ignorar dessa maneira?!
A tarde eu liguei mas ela não me atendeu, e eu sabia que nós não estávamos bem. Mas o que me deu mais certeza ainda, foi saber através da Bruna, que decidiu voltar ao pronto-socorro pra enfaixar o pé e que segundo ela, eu não precisava saber de nada.
Argh, eu não queria que fosse daquela maneira! Eu não podia deixar que aquilo ficasse assim!


Capítulo 15



Já passava das quatro da manhã e eu ainda não conseguia achar um jeito confortável de ficar naquela cama, sem me incomodar com a dor no meu pé ou com Luan indo e vindo, passeando pela minha mente cada hora que eu tentava dormir sem nenhum sucesso. Pensando na nossa discussão, querendo esganá-lo cada vez que me lembrava da sua crise de ciúme por telefone. Não queria me estressar, mas era impossível, apenas em me lembrar sentia a dor de cabeça voltando.
Senti uma luz muito forte incomodar e quando comecei a tapar os olhos, ouvi a risada da minha tia Carla perto da janela.
– Bom dia, florzinha! Adivinha quem vai tomar café comigo hoje?
– Ah, não! Tia, que horas são? – Escondi meu rosto com o travesseiro e senti ela fazendo cócegas no meu pé ‘sem dor’ e gargalhando, dizendo que me esperava na cozinha.
Olhei no relógio que marcava 09:30 da manhã, coloquei minha mais nova companheira: a bota ortopédica e fui quase me arrastando até o cômodo de onde vinha o incrível cheiro de café.
– Esse cheiro.... Por causa dele, eu te perdoo, Dona Carla! – Me sentei de frente para minha tia que me estendeu um pão de queijo, e me deu uma piscadinha enquanto eu me servia café.
– Desculpa, meu amor! Mas eu preciso falar com você, é assunto sério e dependendo do que a gente decida, teremos que tomar providências rápidas.
Olhei apreensiva e confusa para minha tia, enquanto ela ria levantando da mesa e indo até o armário pegar mais bolo.
– Calma, não me olha assim, vou explicar! – Ela sorriu antes de se sentar novamente a minha frente.
– Por favor! Tô sem entender nada....
– Então, , já tem um tempo que o pessoal do meu escritório de Nova York tem pedido mais minha atenção, vários problemas surgiram lá e cada dia fica mais complicado de resolver tudo remotamente, mesmo tentando ao máximo evitar, não dá mais pra esperar, meu bem!
Assenti vendo minha tia suspirar antes de se ajeitar na cadeira e me olhar um pouco mais séria.
– E agora, entra você na história, eu vou passar no mínimo um ano fora, esse apartamento tem contrato fechado por mais quatro meses, depois disso eu não posso mais garantir que vou continuar a manter esse apartamento aqui no Brasil – Olhei para minhas mãos e senti a ficha cair, olhei para minha tia e acenei com a cabeça lentamente, entendendo aos poucos o que aquela notícia significava.
– Eu preciso me mudar, certo?! Em no máximo quatro meses...
– Na realidade, se sua mãe concordar e quiser te manter aqui, eu posso organizar a papelada do aluguel pra passar para o seu nome…
– Não! Ficaria pesado demais e, com certeza, meu pai exigiria que eu voltasse pra Campinas, eu vou dar um jeito!
– Eu não quero te expulsar, eu só estou te avisando pra você ver o que é melhor pra você, não precisa correr, o.k.?! – Minha tia pegou minha mão e esperou que eu olhasse pra ela, deu seu melhor sorriso e piscou pra mim.
– Quando você vai pra lá?
– Fico até o final de agosto aqui, depois vou pra lá em “definitivo” – Fez aspas com a mão e eu sorri triste pra ela.
– Vou sentir sua falta, isso vai ficar muito grande só pra mim – Fiz uma careta e minha tia me olhou desconfiada.
– Acha que eu não sei que você e o Luan vão aproveitar até o último segundo esse apartamento?! Me engana que eu gosto, dona ! – Ela riu e me deu uma piscadinha marota, devolvi balançando minha cabeça em negativa e dando de ombros.
– Olha, não garanto isso não…
– Ai, não me diga que vocês brigaram, ?
– Mais ou menos. Nos desentendemos, mas acho que vamos conseguir resolver a situação – Tomei um gole do meu café e ela sorriu muito animada.
– Que bom, meu bem! Vocês são simplesmente lindos juntos, o Luan parece gostar muito de você – Olhei para minha tia do outro lado da mesa fazendo uma cara de apaixonada e um coração meio deformado com as mãos, piscou um olho pra mim e riu logo em seguida.
– Nem vou comentar, Dona Carla – Balancei a cabeça reprovando aquilo.
– E eu nem vou poder ficar aqui te fazendo companhia – Ela limpou a boca com o guardanapo e se levantou vindo me dar um beijo no topo da cabeça antes de seguir para seu quarto.
Continuei tomando meu café, poucos minutos depois ouvi minha tia avisando que já estava saindo, me dei conta de que agora eu estava sozinha ali e tinha muita coisa pra pensar. Voltei ao meu quarto apenas para pegar meu notebook, me joguei no sofá e comecei as minhas pesquisas.
Precisava encontrar um emprego e um lugar pra morar que não fosse um absurdo de caro e perto da faculdade, só de pensar nisso eu sabia que teria uma longa jornada pela frente, fiquei tão concentrada na minha mais nova tarefa que quando o interfone tocou eu dei um pulo no sofá e olhei no relógio, me tocando que já era uma da tarde e eu nem tinha visto o tempo passar.

Abri a porta e dei de cara com Bella, carregada de sacolas do McDonald’s, e seu sorriso largo no rosto.
– Foi daqui que pediram comida para um batalhão?
– Olha, se isso não é transmissão de pensamento, eu não faço a mínima ideia do que seja! Entra!!!
Puxei-a para dentro e Bella gargalhou me acompanhando até a cozinha.
– Pensei que fosse estar com fome, e como cozinha não é seu forte…
– Lá vem ela! Bella, isso é coisa que se diga para uma pessoa imobilizada? Você não tem dó, não?!
Coloquei a mão no peito fingindo estar ofendida e Bella apenas rolou os olhos me jogando uma batata frita como resposta.
– Sério, você veio salvar a pátria! – Peguei meu lanche e dei uma bela mordida, Bella pegou o seu e fez o mesmo, olhando ao redor.
– Pensei que Luan estaria aqui hoje, você disse que ia pedir pra ele vir... – Ela disse dando mais uma mordida enquanto eu fiz uma careta em resposta, tomei um gole do meu refrigerante antes de começar a falar.
– Me estressei com ele ontem! Bella, eu não entendo. – Olhei séria pra ela, que parecia espantada e só então percebi que minha voz tinha se alterado, respirei fundo antes de continuar, tentando ao máximo não me exaltar com aquele assunto.
– Essa implicância agora, Luan disse que ouviu JP dizendo que gosta de mim, mas não faz sentido! Caramba! – Mordi com força meu sanduíche e Isabella ficou me olhando, como se estivesse me analisando e eu devolvi aquele olhar, mesmo sem entender o motivo.
– Que foi, Bella? Por que você tá me olhando assim?
, seja sincera, você nunca reparou no JP? Nem por um segundo? Como ele é perto de você?
Eu vi um pouco de desconfiança naquele olhar da minha amiga e a olhei atônita, sem querer acreditar que até Isabella concordaria com Luan.
– Quê? Do que você tá falando? João Pedro é meu amigo, apenas! É assim que eu vejo ele – Me mantive séria e Bella suspirou comendo algumas batatinhas antes de continuar a falar.
– Ai, …. – Cada instante ela parecia mais e mais incomodada, e eu mais perdida, o que estava acontecendo afinal de contas?
– Isabella, quer fazer o favor de falar menina?
, eu percebi faz muito tempo mas tive certeza depois da nossa viagem para a gravação do DVD do Luan! João Pedro é apaixonado por você, desde o dia que te conheceu e achava que você sentia algo por ele também. Quando você contou pra ele sobre o Luan, JP ficou desnorteado, mas, ainda assim, tinha esperança que não fosse pra valer, que você tivesse saído com o Luan uma vez só e pronto, mas então o Luan veio aqui e ele viu vocês juntos e soube que era de verdade!
– Não, Bella! Como assim? Nada a ver.... – Olhei totalmente perdida para ela e Isabella apenas confirmou com um aceno de cabeça, aquela era a realidade que eu nunca tinha percebido.
, eu apertei ele, o fiz confessar naquele dia que eu fui buscá-lo pra ir com a gente pra Itu, e briguei com ele no dia do hospital, porque aquele idiota tinha bebido horrores e ficava te olhando de uma forma constrangedora, eu não ia tolerar isso! Meu amigo não pode ser esse tipo escroto de pessoa! – Bella terminou cerrando os punhos e rolando os olhos de impaciência, enquanto eu olhava para a mesa a minha frente sem saber como agir dali pra frente.
– Meu Deus!!! Bella, e agora? – Desviei meu olhar novamente para ela, que suspirou soltando os ombros de uma maneira quase triste antes de me responder.
– Conversa com ele, deixa tudo claro para o JP não confundir as coisas e vamos ver no que tudo isso vai dar...
– Tem mais coisa, Bella? Fala, meu bem! – Aquele olhar não passou despercebido, nem sua voz meio tristonha.
– Eu queria que a gente continuasse a ser amigo sabe, não quero perder nenhum dos dois, não agora!! Finalmente eu tenho vocês e isso é muito difícil de conseguir – Bella tomou um gole de seu refrigerante e eu a olhei com todo carinho, pegando em sua mão, fazendo seu olhar vir de encontro ao meu.
– Eu sei, mas eu vou fazer todo o possível pra não deixar essa situação super esquisita e constrangedora.... Fica tranquila, Bella, vai dar tudo certo – Apertei sua mão e ela apenas assentiu.
– O.k.! Vou confiar em vocês, hein! – Ela me deu uma piscadinha antes de voltar a atacar suas batatas fritas.

No começo da tarde, depois que Bella me passou todo o conteúdo da aula e nós tentamos assistir a um filme qualquer na TV, acabamos desistindo e ficamos conversando sobre a festa dela e todas as coisas que aconteceram depois que eu tive que ir para o médico. Aparentemente, várias pessoas da nossa sala resolveram ir além naquela noite e Bella queria me bater por ter caído e feito ela perder grande parte da formação dos casais. Como se fosse um reality show ela dizia:
, eu perdi os grandes babados daquela noite”
“Só fico feliz que até o vexame do Paulo eu perdi, não aguentaria ver aquela criatura passando mal no meu banheiro”
“Ninguém ficou pelado, mas dançaram em cima de uma das mesas depois que nós saímos”
Pelo resumo, para Isabella aquela festa foi incrível, mas a próxima seria ainda melhor.
O tempo passou voando com ela me mostrando todas as suas ideias para a próxima festa, onde ela queria um espaço maior e muito mais convidados.
Fomos interrompidas por uma mensagem de , me avisando que ela viria passar aquela semana em São Paulo, Bella também recebeu uma mensagem de sua mãe e decidiu ir embora quase que imediatamente. Tentei saber o motivo, mas ela se esquivou e apenas me disse que nós nos falávamos mais tarde.

A mensagem de dizia que às sete da noite ela e Matheus viriam conversar comigo e com o Luan, sem falta. Logo depois que Bella foi embora, fui tomar banho para evitar atrasos já que o fato de usar essa bota ortopédica me atrapalhava e muito. Ainda estava de roupão e cabelo molhado quando a campainha começou a tocar loucamente, como se a pessoa estivesse apenas querendo me irritar mesmo, saí cambaleando até a sala e sem nem olhar pelo olho mágico escancarei a porta dando de cara com Luan, escorado no batente, sorrindo de lado para mim.
– Mas que... – Estava com um xingamento na ponta da língua, mas acabei por engolir em seco, não esperava por aquilo.
– Saudade? – Luan colocou as mãos no bolso e me olhou com uma sobrancelha erguida.
– A reunião está marcada para as sete! Ainda são cinco! – Cruzei os braços e vi o olhar dele descer para o que eu vestia.
– Qual o problema de chegar antes? Matheus pediu que estivéssemos os dois, juntos! – Luan sorriu irônico pra mim, dando de ombros e eu rolei os olhos.
– Minha vontade é te deixar aí no corredor, esperando mais de duas horas até eles chegarem – Falei séria e Luan abriu a boca para retrucar, mas antes mesmo que nós pensássemos em fazer qualquer coisa, a vizinha do lado abriu a porta de seu apartamento e olhou espantada para nós, depois seu olhar se fixou em Luan e ela veio sorrindo até ele e pediu uma foto, assim que ela entrou no elevador, ele me olhou com seu ar vitorioso e sorrisinho irritante.
– Entra logo, coisa chata! – Abri espaço para ele passar e percebi seu olhar na direção do meu pé imobilizado, tentei ao máximo andar parecendo que nada doía mas era muito difícil, principalmente depois de ter vindo totalmente desajeitada e quase correndo para a sala, meu pé estava quase latejando.
– Como está seu pé? – Luan me deu passagem e ficou me observando com preocupação.
– Ótimo! – A resposta automática saiu assim que me sentei de frente para ele, Luan se aproximou me olhando.
.... Podemos conversar, por favor?! – Pediu passando uma das mãos em meu braço.
Olhei-o esperando que ele começasse e Luan passou a mão no rosto, me olhando de lado.
– Sei que você ficou muito chateada por eu falar do seu amigo, mas eu ou-vi a Bella brigando por ele não saber disfarçar os sentimentos por vo-cê! Tem noção disso? Não dá pra engolir isso, é foda!! Como você quer que eu reaja?! – Luan estava sério, assim como eu, me ajeitei no sofá antes de olhar no fundo de seus olhos e começar aquela conversa que eu esperava que fosse a última sobre o assunto.
– Luan, você tem que entender que eu sou a sua namorada, eu escolhi ser e vou te respeitar, assim como você deve me respeitar! Imagina se você for fazer um clipe, ou algo assim, e tiver que beijar alguém, o que eu faço? E se eu fosse atriz e tivesse que beijar o Caio Castro, ainda assim você teria de confiar em mim, caramba! – Ele fechou a cara e fez uma careta antes de respirar fundo para me responder.
– Mas, ! Ele vive colado em você, é difícil não pensar, não imaginar ele querendo algo a mais com você.... – Levantei do sofá onde estava e Luan me acompanhou com seu olhar, tentei ao máximo me manter calma, mas aquela situação me irritava por Luan simplesmente não entender que ciúmes era horrível e não levava a lugar nenhum.
– Luan, nessa situação interessa o que eu quero, porque eu nunca te dei nenhum motivo pra desconfiar de mim! João Pedro é meu amigo e vai continuar a ser! E você?
– Eu, o quê? – Luan me olhou assustado e eu o olhei mais séria ainda.
– Vai confiar em mim? Porque essa é a única forma da gente continuar namorando…
– Não fala isso, eu confio em você! Sempre confiei – Luan levantou e veio até mim, encarei-o muito séria antes de continuar.
– Olha, Luan, eu não quero ter que brigar sempre pelo mesmo motivo, só pode dar certo se a gente confiar um no outro, se a gente se ama mesmo…. – Ele colocou as mãos na minha cintura me puxando para mais perto, deixando seu rosto colado ao meu.
– Eu não quero te perder por causa disso, não fala assim.... – Luan me abraçou forte, senti ele afundando seu rosto na curva do meu pescoço, me fazendo arrepiar com o beijo que ele depositou ali – Eu vou me comportar, meu amor!
Luan se afastou apenas para me olhar nos olhos e eu sentia sua sinceridade, mesmo querendo bancar a durona, era difícil não me deixar abalar por ele ali tão perto, me olhando daquela maneira.
– Eu preciso me trocar.... – Dei um passo para trás e Luan continuou a me olhar fixamente, me virei e fui lentamente em direção ao final do corredor, me sentindo idiota por mancar, um pouco antes de entrar no meu quarto senti as mãos de Luan me puxando para ele com força.
– Eu te ajudo – Luan soprou em meu ouvido causando arrepios involuntários por todo meu corpo, virando-me de frente para ele, beijou minha boca com vontade, tirando o folego, me fazendo sentir suas mãos passeando pelas minhas coxas até senti-lo me erguendo do chão, me pressionando contra a parede.
– Luan! – Eu ri quando ele chutou a porta do meu quarto e enfiou as mãos por dentro do meu roupão – Daqui a pouco a e o Matheus vão chegar…. – Ele começou a beijar meu pescoço e apenas balançou a cabeça negando, me deitando com cuidado na cama.
– Nós temos tempo, relaxa, – Ele sorriu torto e me lançou uma piscadinha antes de voltar sua atenção ao meu pescoço, me fazendo arfar ao sentir suas mãos passando pela minha barriga e quando fiz menção de falar mais alguma coisa, ele me calou com outro beijo, me fazendo esquecer do tempo, lugar ou qualquer outra coisa.

Meu telefone começou a tocar, o celular do Luan também não parava de fazer barulho e quando eu olhei no relógio já eram sete e meia da noite e deveria querer me matar naquele momento.
– Luan! Levanta! – Dei um pulo na cama e senti meu pé doer devido ao movimento brusco e me xinguei mentalmente.
– Ai, ! Volta aqui – Luan tentou me fazer voltar a deitar, mas eu comecei a chacoalhá-lo como uma louca até ele me olhar mau humorado.
– Onde é o incêndio? – Ele coçou os olhos e eu fiz sinal para que ouvisse a campainha tocando sem parar, ele demorou alguns segundos pra entender a situação.
– Vai abrir a porta! Enquanto eu coloco qualquer roupa aqui! – Luan se vestiu rapidamente enquanto eu tentava fazer o mesmo, só que um pouco mais lenta por causa do meu pé – A vai me matar!!
Antes que eu pudesse reclamar, Luan saiu do quarto sem camisa, o que eu sabia renderia comentários durante a noite toda sobre nós dois.
Coloquei um vestido qualquer, tentei prender o cabelo e catei a camisa do Luan do chão, indo com toda a minha lentidão até a sala, ouvindo Matheus rindo e dando uma bronca em Luan.
– Muito bonito, dona ! – Ela disse assim que percebeu minha movimentação – Fica fazendo coisinhas com o Sr. Luan e me esquece na soleira da porta! – Joguei a camisa para Luan e fui até ela dando meu sorriso mais largo possível, ainda me olhava brava, e eu a apertei em meus braços até ela corresponder meu abraço.
– Desculpa, a gente acabou caindo no sono – Disse tentando não deixar aquilo mais constrangedor.
– Ficaram cansados, né…. – Matheus disse o mais debochado possível e Luan deu um empurrão nele, que apenas o fez gargalhar ainda mais.
– Quieto, Matheus! – Disse tentando me manter séria, mas Matheus apenas deu de ombros apontando para o meu pé imobilizado.
– O que houve? Saiu pra dançar, ?!
– Mas tá cheio de graça, né?! – Sentei ao seu lado e joguei uma almofada nele.
– Estava em uma festa, fui fugir de uma confusão e caí de mau jeito, torci o tornozelo – olhou para minha bota imobilizadora e fez uma careta.
– Você vai ter que ficar com isso muito tempo? – Ela sentou na poltrona ao meu lado e eu neguei com a cabeça.
– Não, acho que semana que vem vou poder tirar, não foi grave…
– Que bom! Isso já me deixa aliviada – Olhei para ela sem entender nada e olhou para Matheus toda sorridente – Vai, Matheus!
Matheus levantou chamando nossa atenção e Luan veio sentar ao meu lado, com o mesmo semblante que eu.
– Essa reunião que nós marcamos é por uma razão muito importante! Como os dois safadinhos aí sabem – Matheus olhou para nós dois sorrindo de lado e deu uma piscadinha antes de continuar, me deixando morrendo de vergonha – Nós estamos noivos e já marcamos a data do nosso casamento!
Ele sorriu para ao meu lado, que sorria orgulhosa exibindo propositalmente seu anel de noivado enquanto eu a olhava totalmente surpresa.
– Vamos nos casar em Agosto do ano que vem!!! – Ele disse rápido e eu os olhei mais boquiaberta ainda, ter uma data tornava aquilo mil vezes mais real e pelos olhares entre eles era essa a sensação para todos ali.
– Wow!! Aí meu Deus!!!
– Eu sei! Isso é muito louco! – ao meu lado riu nervosa e se levantou indo até Matheus e entrelaçando sua mão a dele.
– E agora, nós queríamos falar com vocês sobre isso…
, você é simplesmente a maior testemunha de toda nossa história, Luan é um dos melhores amigos da vida do Matheus e agora que vocês são nosso casal favorito – deu uma de suas piscadinhas marotas para Luan e continuou – Nada nos faria mais felizes do que poder ter vocês ali, como nossos padrinhos, o que vocês acham?
– Ai, minha nossa! Eu. – Senti meus olhos marejarem e meu coração se aquecer quase que imediatamente, me olhou emocionada também e eu já sabia que nós ficaríamos impossíveis durante todo esse processo de planejar casamento.
– Não posso começar a planejar um casamento sem saber se você estará ali do meu lado, e então?
! Eu te amo, garota! Pode contar comigo! – Chamei ela para um abraço e nós quase caímos do sofá, totalmente desastradas e emotivas.
– Pode contar comigo também – Luan fez um coração para Matheus que riu antes de devolver um dedo do meio, sempre sendo muito educado.
Saímos pra jantar e comemorar e eu enchi de perguntas sobre o casamento, enquanto os dois apenas pensavam em como seria a despedida de solteiro de Matheus. Eu mal podia esperar pra ver aquilo se concretizando, o sonho da desde sempre foi casar, e desde que ela começou a namorar com Matheus aquele era seu desejo mais secreto. Minha melhor amiga vai casar!!!

No dia seguinte, fui com Bella e no médico, depois de muito insistir, consegui convencer as duas a curtirem o passeio enquanto eu lidava com a avaliação do médico sobre meu tornozelo. Como todo esse processo demorou mais do que o esperado, avisei as duas que iria sozinha pra casa, que a gente se encontrava lá, mesmo ficando furiosa com isso, consegui um tempinho para resolver aquela situação que estava me deixando mais do que incomodada.
Estava no café do hospital, mexendo distraída em algum perfil do instagram quando senti um par de mãos tapando meus olhos e o dono delas rindo perto do meu ouvido.
– Adivinha quem é...
– O carinha que veio me resgatar! – Disse sorrindo, senti meus olhos serem descobertos e João Pedro parou ao meu lado na mesa – E comprar uma coxinha pra mim – Pisquei pra ele que riu e foi até o balcão fazer seu pedido, e voltou a mesa segurando uma coxinha.
– Só trouxe porque vi que a Srta. ainda não tirou esse negócio do pé – Ele apontou para o meu pé ainda imobilizado e entortou a boca.
– Nem me fale, só vou tirar daqui uns 5 dias, mais ou menos – Fiz uma careta e João Pedro se sentou na cadeira a minha frente, uma moça veio trazer o pedido dele e ficou nos olhando como se fossemos dois ETs e eu não gostei nada daquilo, JP sorriu pra ela que demorou a se afastar, em seguida me olhou com curiosidade no olhar.
– O que você anda aprontando, dona ? Onde você enfiou a Bella…. – Ele olhou ao nosso redor e eu ri um pouco nervosa, dando uma mordida na minha coxinha, tentando ganhar tempo.
– A Bella está ajudando a , já que até eu conseguir acompanhar o ritmo delas vai demorar um bom tempo – Ele riu e apenas concordou com a cabeça, tomando um gole de seu café, me olhando por cima de sua xícara intrigado.
, fala logo! Eu tô sentindo seu nervosismo daqui…. – Ele colocou sua xícara de novo na mesa e ficou me olhando, analisando cada respiração que eu deixava escapar e eu odiava ser observada desse jeito.
– Quer parar com isso! É que eu não sei por onde começar….. – Peguei o cardápio que estava em cima da mesa e o ergui, antes que JP o puxasse da minha mão, eu despejei – Bellamecontouquevocêgostademim! – É o quê?! Eu não entendi nenhuma palavra! – Ele riu e tirou o cardápio da minha mão, me encarou esperando que eu repetisse.
– Droga! Bella me contou que você gosta de mim, mas…. – Parei de falar assim que seu sorriso se desmanchou, João Pedro que até então estava quase debruçado sobre a mesa pra entender o que eu falava, voltou bruscamente para trás, ficando com a expressão vazia.
– Ela não tem culpa, eu a fiz confessar, e eu precisava falar com você! João Pedro…. – Tentei pegar em suas mãos mas ele se esquivou, com a expressão furiosa.
– Isabella, me paga! Ela não tinha esse direito!!! – JP estava extremamente sério e bravo, pelo seu tom de voz dava para perceber que seria muito mais difícil do que eu pensei.
– Mas ela só confirmou o que o Luan me disse, ele ouviu vocês conversando sobre isso e esse não é o ponto aqui, caramba! – Me sentia a cada minuto mais enrolada naquela situação, e João Pedro não parecia nem um pouco feliz nem comigo, muito menos com Bella.
– O ponto é você me dispensar pra sempre, me mandar pro espaço – Ele me olhou cheio de mágoa no olhar e vergonha, e eu balancei a cabeça veementemente negando.
– NÃO! – Minha voz saiu muito alta, chamando a atenção de todo mundo ao redor, inclusive da moça que tinha nos servido agora pouco – Não! Eu só quero que você saiba que eu sinto muito, que não posso corresponder seus sentimentos, mas que eu te amo como meu amigo, e que se pra você não for a pior coisa do mundo, eu quero continuar a ser sua amiga, mas não quero ser uma ferida…
– Para, ! Eu não queria que fosse assim, eu sei que infelizmente pra mim, você gosta daquele sertanejo sem graça…
– JP – Ri de leve e ele deu de ombros fazendo uma careta super exagerada.
– Eu não quero te iludir de forma alguma, por isso eu entenderei se você quiser que eu me afaste, afinal, fui eu que me meti no grupo de vocês, né!
João Pedro estendeu a mão e fez sinal para que eu desse minha mão a ele.
– Fica com a gente, posso ter me embaralhado aqui dentro – Ele apontou com a mão livre para a cabeça e soltou um sorriso triste antes de continuar – Mas sei que não quero te ver longe! Eu vou dar um jeito, agora, pelo menos, eu já sei a resposta né…. – João Pedro beijou as costas da minha mão ligada a sua e meus olhos se encheram de lágrimas, eu sabia que não queria perder sua amizade, nem a de Bella, e o alívio foi quase instantâneo quando ele sorriu para mim do seu jeito habitual.
– Vai demorar pra você se livrar de mim, ! – Ele riu e deu uma piscadinha antes de soltar minha mão e voltar sua atenção ao seu café que já deveria estar quase gelado.
Depois que terminamos nossos cafés e pedimos a conta, João Pedro me ajudou a levantar e me ofereceu seu braço para caminharmos até a saída do hospital, tudo sendo meticulosamente observado pela garota do café que simplesmente nem piscava nos “espiando”.
João Pedro me deixou em casa, já no elevador eu me sentia muito mais leve depois de finalmente ter resolvido aquela situação e me peguei rindo igual uma idiota, assim que entrei em casa me deparei com aos prantos, encolhida no sofá, ouvindo Jorge e Mateus a todo volume com as cortinas fechadas em plenas quatro da tarde.
– Meu Deus, ! O que houve?! – Tentei ser o mais rápida possível e assim que me viu chorou ainda mais, veio até mim me apertando em um abraço e em meio aos soluços, a única coisa que eu consegui entender foi: “Não vai mais ter casamento!!!”.

Capítulo 16



Terceiro dia consecutivo que me fazia ouvir o DVD do Jorge e Mateus, e chorava em todas as suas músicas favoritas, sempre lembrando de Matheus, magoada, cheia de tristeza em seu olhar.
– Matheus é um idiota! E eu, uma burra.... – abraçada a uma almofada voltava a falar com a televisão, desliguei meu notebook e fui até ela, pausando o DVD e sentando ao seu lado.
– Vamos falar sobre isso.... Chega de ficar só xingando a TV, chega de guardar pra você – Puxei uma almofada para mim também e fiquei esperando começar. Já fazia uma semana desde o dia em que a encontrei aos prantos, mas ela não me contou realmente tudo que aconteceu entre ela e Matheus, apenas mostrava toda sua raiva sempre que qualquer coisa a lembrava dele.
– Depois que nós te deixamos no médico aquele dia, eu decidi fazer uma surpresa pro Matheus. Fui até o escritório que ele trabalha aqui em São Paulo, apenas para chamá-lo para um passeio no fim do expediente, mas ele tinha acabado de entrar em uma reunião e eu fiquei lá esperando na sala, até que chegou uma das sócias dele e me olhou de cima a baixo como se eu fosse quase uma inimiga, eu achei super estranho...
– Que doida, eu hein! Como ela sabia quem você era... – Comentei vendo apenas concordar com a cabeça.
– Só espere... – olhou para cima, respirou fundo e continuou – Eu a cumprimentei normalmente e ela só me respondendo de má vontade, eu ia deixar pra lá, cada doido com a sua mania, não é mesmo! – Concordei com e ela riu irônica.
– Quando ela já estava saindo de lá, eu olhei pra secretária que tinha visto aquele encontro super esquisito e não resisti, perguntei se tinha alguma coisa errada, se ela era assim com todo mundo e a secretária deixou escapar a seguinte frase: “A Dra. Roberta ainda está muito chateada pelo Dr. Matheus ter desistido do Canadá, ela tinha grandes planos e esperanças nele no escritório de lá...”
, eu fiquei sem reação, como se eu nem conhecesse a pessoa de quem ela estava falando, mas eu fingi que sabia de tudo sobre o assunto e fui dando corda. O Matheus era o meu Matheus, e a razão dela me tratar assim era porque ao que tudo indicava a razão dele ter recusado era única e exclusivamente eu...
– Meu Deus, como assim, ?!
– Essa era a minha maior pergunta, quando Matheus chegou e me viu ali na recepção, pelo jeito que ele me olhou eu soube que era tudo verdade. Quando voltamos pra cá e eu o confrontei, ele confirmou toda a história: Matheus recebeu uma proposta para trabalhar no Canadá por um ano e meio, e recusou por mim. Ele me disse que pensou que eu não fosse querer morar lá por tanto tempo, que ele não queria me fazer sofrer e doeu tanto saber dessa história.... – As lágrimas grossas de voltaram a rolar com toda força, e ela se deixou chorar por um bom tempo até voltar a me contar como tudo aconteceu.
– Ele simplesmente não confiou em mim em algo tão sério, decidiu no meu lugar e aparentemente, pra ele isso tudo tá super de boa, mas eu não quero isso, nunca quis e Matheus sabe disso... Nós sempre fomos parceiros de vida! Sempre contamos as coisas um pro outro, e agora isso... Eu não posso casar com alguém que não confia em mim, !
– Calma, ! Vocês podem conversar melhor sobre isso, vocês são incríveis juntos... – Puxei-a para deitar no meu colo e deixei que chorasse tudo que ela precisava – Eu tenho certeza que vocês vão encontrar um jeito!
não conseguia parar de chorar, ela estava muito magoada com Matheus, mas eu ainda sentia que não era o fim definitivo daqueles dois. Eu sabia que ele faria qualquer coisa por ela, e não demoraria.
Minha amiga acabou dormindo no sofá mesmo e eu voltei aos meus trabalhos da faculdade, parecia que toda a matéria estava ainda mais acumulada por eu não ir até a faculdade e aquilo me tirava o sossego. A noite caiu e só então eu me toquei que nós não tínhamos comido quase nada o dia todo, pedi uma pizza e deixei esperando enquanto eu ia tomar banho.
Ainda estava no banheiro, quando parei de cantarolar e ouvi conversando com alguém na sala, e pelo tom de voz só podia ser Matheus. Me vesti o mais rápido que pude, coloquei a roupa mais simples que encontrei, peguei minha bolsa e fui até a sala, esperando não chamar a atenção deles, afinal não queria atrapalhar e sabia que seria uma longa conversa.
– Não sei se quero conversar com você agora, ainda estou muito magoada, Matheus! – A voz de já estava embargada e Matheus tentou se aproximar, mas ela deu um passo pra trás, ele a pegou pela mão e levou até o sofá, aproveitei e comecei a ir até a porta sem eles repararem em mim.
– Você queria saber de tudo, queria ter o direito de decidir junto... Então é isso que vamos fazer! – Matheus estava com uma maleta na mão, colocou-a sobre a mesinha de centro e começou a tirar vários papéis dali, a noite deles seria longa e eu estava, ao que tudo indicava, desabrigada.
Fui até a portaria me sentindo meio perdida e faminta ao mesmo tempo, estava decidindo se saía em busca de algum fast-food ou não, quando reparei em um carro preto do lado de fora do prédio, pensei ter visto Luan ali, mas seria muita sorte e providência divina que fosse ele de verdade. Perguntei ao porteiro onde ficava o restaurante mais próximo e ele me deu todas as direções que eu precisava, fui até o portão e mal pude acreditar que aquele ali do lado de fora era realmente Luan, encostado em seu carro, com as mãos no bolso e aquele sorriso de quem tinha aprontado.
– Não acredito! O que você está fazendo aqui?! – Não consegui esconder minha empolgação e surpresa, fui sorrindo até ele que sorriu de volta, aquele sorriso metido e irresistível que eu conhecia muito bem, Luan me abraçou e deu um beijo rápido.
– Vim te ver, ué... – Ele riu antes de me pegar de surpresa e me girar, pressionando-me contra o carro, com suas mãos em minha cintura e seu olhar sobre mim, o mesmo olhar de quem ainda ia aprontar – Na verdade, vim te levar pra jantar, fazer companhia durante essas horinhas – Ele deu uma piscadinha marota e eu entendi o que ele quis dizer com aquilo, dei um tapa em seu braço que só fez gargalhar com a situação.
– Já vi que hoje tô sem lugar pra voltar, né?!
– Aí que exagerada, você tem, pelo menos, o meu carro como abrigo – Luan me abraçou e começou a beijar meu pescoço me fazendo rir e sentir leves arrepios, neguei com a cabeça e o afastei levemente.
– Vamos logo, tô com fome!
Já estávamos andando há uns 10 minutos, quando eu me dei conta de uma coisa.
– Como você sabia que eu ia ser “expulsa” de casa, exatamente naquela hora? – Olhei pra Luan e ele sorriu torto antes de me dar uma piscadinha e responder.
– Eu ajudei o Matheus e o trouxe até sua casa, daí imaginei que você fosse fugir do casal, você não ia querer ficar de vela, né?! – Luan me olhou de lado e parou o carro no sinal, me dando um beijo rápido antes que o sinal abrisse.
– Será que é o certo? E se eles não se acertarem, Luan?! – Mal terminei de falar e meu coração ficou aflito com aquele pensamento, eu não podia deixar sozinha, caso não desse certo.
– Calma, amor! O Matheus sabe muito bem que estamos confiando nele, e ele mais do que ninguém quer que eles voltem a ficar bem... – Luan esticou o braço e entrelaçou sua mão a minha, enquanto dirigia com a outra – Passei a tarde com ele hoje e deu pra ver meu amigo fazendo de um tudo pra achar a melhor solução...
– Melhor solução?! Como assim?
– Eu não posso falar porque eu prometi pra ele e tudo vai depender da ! – Olhei para ele ainda mais curiosa e Luan começou a rir – Vamos deixar, eles sabem como resolver tudo isso...
– Ai, não sei se gosto completamente dessa ideia.
– Relaxa, eu já deixei o Matheus ciente, caso precise, ele avisa e a gente volta!
Fiquei mais aliviada e tentei não ficar pensando no que poderia ser esse papo misterioso do Matheus, contanto que não magoasse mais minha amiga eu já ficaria bem.
Perdi a conta de quantas vezes tentei adivinhar onde era o restaurante, mas Luan não dava nenhuma pista.
– Luan, que restaurante é esse? Não é meio longe não?
– Eles vão precisar de tempo, sabe... – Luan riu e deu uma piscadinha marota, me fazendo rir.
– Aí que ridículo! Vocês só pensam nisso, impressionante! – Gargalhei junto com Luan que começou a diminuir a velocidade mas não estávamos nos aproximando de nenhum restaurante, mas sim do que parecia ser um condomínio. Liberaram rapidamente a nossa passagem e eu estava sem entender nada, enquanto via pela janela as casas lindas e enormes daquele lugar. Uma ideia passou pela minha cabeça mas eu ia bater nele se aquilo fosse verdade.
– Onde estamos indo, criatura?! – Luan sorriu e eu tive quase certeza de onde nós estávamos. – Você não está me levando pra jantar com os seus pais, está?! – Automaticamente olhei para minhas roupas, totalmente despreparada e Luan começou a gargalhar enquanto eu apenas desejava ter vestido algo melhor do que calça jeans, uma regata e minha jaqueta preta favorita.
– Não acredito, Luan Rafael!
– Relaxa, ! É tudo simples, você já conhece todo mundo e vai comer a melhor comida do mundo com as melhores companhias, tudo em uma noite só – Luan me deu uma de suas piscadinhas marotas e parou o carro, peguei minha bolsa e me olhei uma última vez no espelho. – Vamos! – Ele me esperava do lado de fora com aquele risinho irritante no rosto enquanto eu me aproximava tentando não ficar nervosa.

Luan entrelaçou sua mão a minha e só então eu me toquei que minhas mãos estavam geladas, ele abriu aquela porta enorme e a primeira pessoa que eu vi foi o pai dele, Amarildo Santana, conversando com um amigo da família. Assim que nos viram, sorriram e nos chamaram pra perto, cumprimentei os dois e Luan começou a explicar a nossa demora.
– Até eu convencer a a vir, até chegar aqui demorou um pouco – Ele fez uma careta segurando o riso e eu queria estar mais perto para poder pisar no pé dele.
– Ai que mentira, ele só me disse onde seria o jantar agora, desculpem a demora, eu realmente não sabia – Encarei Luan que parecia se divertir ainda mais, antes que eu dissesse qualquer coisa a mais o pai dele colocou a mão no meu ombro e disse:
– Nem liga, ! Ele gosta de aprontar com você! – Amarildo disse olhando para Luan que apenas riu e me puxou pela mão, segundo ele, para apresentar o resto da casa.
A casa era simplesmente muito linda e espaçosa, grande o suficiente para toda a família de Luan e quem mais eles quisessem, reparei em alguns porta-retratos na sala e fui até eles, com Luan me observando durante todo o tempo.
– Que lindinhos – Era uma foto de Luan e seus primos, todos pequenos e fazendo pose, com aquelas carinhas que dava vontade de apertar de tão fofos.
– Que tempo bom! Dá até saudade! – Ouvi a voz calma de Marizete logo atrás de mim e me virei, vendo ela junto a Luan me observando.
– Como vai, minha querida? – Ela me chamou para um abraço apertado e disse ao meu ouvido – Seja bem-vinda!
– Obrigada! A casa de vocês é linda, de verdade! – Marizete sorriu tímida e Luan a abraçou de lado rindo.
– Ela vai ficar com vergonha, ! – Ele apertou a mãe em seu abraço e ela apenas riu, meneando a cabeça se afastando logo em seguida.
– Chega de conversa, vamos jantar! – Ela chamou a todos e Luan me levou até a sala de jantar, que era tão bonita quanto o resto da casa.
Mas o melhor era o cheiro que dominava o ambiente, o jantar parecia estar uma delicia e pela alegria de todos ali, eu só ficava mais curiosa ainda. Estava realmente muito bom, daquelas comidas que se come e repete o prato várias vezes, e pelo jeito era exatamente isso que aconteceria naquela noite. As risadas eram constantes e só aumentaram quando Bruna finalmente chegou querendo implicar com Luan.
– Não acredito que vocês deixaram o Luan acabar com tudo, nem me esperaram…. – Bruna foi cumprimentando as pessoas e eu acabei rindo, quase me afogando quando Luan me olhou sério.
– Muito engraçadinhas! – Joguei um beijinho pra ele enquanto Bruna mostrava a língua.
– Vem comer logo, filha! – Marizete apontou para a cadeira reservada para Bruna e agora com a mesa completa, ninguém mais ficou quieto durante aquele jantar.
Saímos da mesa e uma sessão de cantoria no sofá, que era simplesmente incrível de se ver, começou, Luan cantou junto com seu pai e seus amigos alguns clássicos de Bruno e Marrone, Zezé Di Camargo e Luciano e tantos outros que nos fizeram perder a hora, que me fizeram esquecer de tudo ao meu redor.

Estava rindo de Bruna tentando dançar com seu Amarildo sem conseguir acompanhar o ritmo da música, quando recebi uma mensagem de JP me pedindo para ligar para ele assim que possível. E achei aquilo muito estranho, afinal nós não tínhamos nada tão urgente assim na faculdade e já eram quase onze da noite. Me afastei um pouco do barulho e liguei para ele, que me atendeu com a voz bem baixa, quase sussurrada.
– Oi, ! Desculpa, te acordei com a mensagem?!
– Não, tudo bem, o que houve? Achei estranho pela hora…
– É a Bella, agora ela dormiu mas chegou aqui em casa chorando, super triste, o pai dela tá doente, e pelo que eu entendi ela estava tentando não deixar transparecer a situação, mas… – A voz de João Pedro estava mais pesada, mostrando toda sua preocupação.
– Mas, o quê?! – Já estava angustiada em apenas imaginar como Bella estaria.
– Eu não sei a situação dele, mas eu sei que Bella precisa de nós porque ela está acostumada a ser a mais divertida, a mais leve e como eu a vi hoje... Ela vai precisar de todo nosso apoio, nossa força, por isso te mandei mensagem, ela só confia em na gente!
– Ai meu Deus! JP, eu quero ir até vocês, me passa seu endereço…
– Vem amanhã, agora ela finalmente dormiu e pelo cansaço, acho que só acorda amanhã mesmo.
– Qualquer coisa, me avisa, JP! Amanhã eu passo aí antes da faculdade, o.k.?!
– O.k.! Até amanhã! – Desliguei meu celular, mas não consegui me desligar da Bella, sentindo muita vontade de ir até ela mas sabendo que não tinha nada que eu pudesse fazer naquele momento. Estava perdida em pensamentos quando senti dois braços em minha cintura, Luan beijou meu pescoço e me apertou em seu abraço, antes de me virar de frente para ele.
– Por que essa carinha, Dona ?! – Ele apertou de leve a ponta do meu nariz e eu sorri fraco pra ele, passando meus braços por seu ombro.
– Acabei de descobrir que tem uma amiga precisando de mim, mas não posso fazer nada agora…
– Você pode mandar todo pensamento positivo pra ela agora e amanhã você vai lá e faz o que estiver ao seu alcance – Luan deu uma piscadinha antes de se aproximar e me dar um beijo, senti ele me conduzindo pra algum lugar, sem que eu nem visse onde estava indo. Ele nos fez parar e me puxou pela mão, subimos a escada e Luan me levou até uma das portas do andar de cima com um sorrisinho no rosto.
– Esse é o melhor lugar – Ele riu e abriu a porta, revelando um quarto muito grande, com uma decoração muito incrível, em tons mais escuros, com o jeitinho dele, mas ainda dava pra ver que ele estava arrumando algumas coisas, como alguns livros que eu vi por ali.
– Ainda não tá ‘no jeito’, mas o essencial já chegou! – Luan se jogou na cama quando disse isso e sorriu cheio de malícia me chamando pra deitar ao seu lado e eu gargalhei, rolando os olhos apenas para implicar com ele.
Levantei e voltei a observar o quarto dele de perto, me aproximei de alguns porta-retratos, eram poucos mas um deles me fez parar totalmente, era uma foto nossa que eu nunca tinha visto.
– Luan, dá onde veio isso? Que foto é essa?! – Peguei o porta-retrato e fui até Luan na cama, na foto eu estava sentada no colo dele, com a mão no seu cabelo, olhando em seus olhos e sorrindo pra ele. E pra mim, era impossível ter uma foto daquele momento, porque eu me lembrava dele, nós estávamos sozinhos na chácara, foi na noite em que eu disse que o amava, eu nunca esqueceria aquela noite. Como essa foto poderia existir?
– Relaxa! – Luan sorriu e passou seu dedo sobre minha testa, onde provavelmente uma ruga de preocupação se formava – Lembra que a Bruna chegou logo em seguida desse momento?!
Acenei que sim com a cabeça e Luan pegou o porta-retrato da minha mão, tirando a foto de lá antes de me olhar e sorrir quase envergonhado.
– Dona Bruna conseguiu chegar de fininho e ficou nos observando, tirou essa foto sem a gente perceber, e me deu o porta-retrato de presente ontem!
Luan me mostrou atrás da foto, com sua letra ele escreveu: You make it real for me… (Você torna as coisas reais pra mim)
– Ah, Luan… – Senti meu coração se aquecer com algo tão simples como ver que ele lembrava da minha música favorita, que ele prestou atenção naquilo.

Me encostei na cabeceira da cama, ao lado dele e Luan me contou como demorou para escolherem aquela casa, me contou sobre o condomínio e vizinhos, mas o que me travou foi quando o assunto foi para o futuro que eu não estava preparada, nem ao menos para sonhar.
– Depois que a gente fechou o contrato, eu fiquei pensando que uma casa grande assim é boa pra viver em família, com espaço pra bastante bagunça – Luan riu mas o meu rosto simplesmente travou, sério e impassível.
– Você diz... Filhos? – Tentei não deixar minha voz se alterar de mais, mas não deu certo, Luan notou a mudança e me olhou confuso.
– Não agora, né, óbvio, mas um dia…. – Ele sorriu e mexeu no meu cabelo, me puxando para mais perto, mas eu já estava inquieta, eu não conseguiria seguir em frente sem falar aquilo.
– Luan… – Sentei direito na cama e respirei fundo antes de falar – Eu nunca pensei em ter filhos!
– Nunca… Nunquinha? – Ele me olhou nos olhos e disse em tom leve, como se não fosse realmente sério mas pra mim era, balancei a cabeça negando.
– Não é algo essencial na minha vida, nunca foi! – Eu podia ver um pedacinho de decepção no olhar de Luan mas ele disfarçou, segurando minha mão e levando para mais perto novamente.
– O.k.! Não estou dizendo que quero ter filhos AGORA! Treinar sim, mas ter agora não – O sorriso dele se encheu de malícia, belisquei de leve a barriga dele que riu, mordendo de leve minha mão antes de continuar – Quando chegar a hora, a gente fala sobre isso mas qualquer coisa eu dou meu jeito depois – Luan usou seu tom mais inocente, como se aquilo não fosse o maior cúmulo do universo, o fuzilei com os olhos, ele tentava continuar sério enquanto eu dei um tapa em seu braço, mas em segundos tudo que eu conseguia ouvir era a gargalhada dele preenchendo o quarto.
– Você vai ver, Sr. Luan Santana! Eu já vou dar um jeitinho, que você não vai gostar, no seu amigo aí embaixo... – Luan gargalhou mais alto e conseguiu me girar na cama, ficando por cima de mim, que ainda o olhava furiosa.
– Que mulher mais brava! , eu jamais faria isso! – Ele segurava minhas mãos acima da cabeça, me deixando imobilizada, com ele me encarando tentando se manter sério, mas com aquele sorrisinho de canto ali, me provocando.
Ele começou a se aproximar para tentar me beijar mas só de birra, virei meu rosto antes que sua boca tocasse na minha, com uma mão ele pegou meu queixo e me fez olhá-lo, aquele olhar que parecia ler minha alma, que me deixava até sem graça.
– Eu amo você, sua bobona, e mesmo se não tivermos filhos, eu vou te amar – Luan se aproximou e me deu um beijo na testa. – E quero que meus filhos venham de você – Outro beijo na ponta do nariz. – Porque sei que já serão incríveis – Beijou meu queixo. – Lindos – Beijos nas bochechas. – E bravos! – Ele riu e veio até minha boca, me deu um beijo e eu mordi de leve seu lábio inferior antes que ele se afastasse.
Luan sorriu torto, dei uma piscadinha marota pra ele que voltou a se aproximar, soltou minhas mãos e uniu nossas bocas com muito mais vontade, desceu suas mãos pelo meu corpo, uma delas encontrou minha nuca e me puxou para ainda mais perto e a outra invadiu minha blusa, me fazendo arrepiar com seu toque, me fazendo esquecer que estávamos com toda a família dele no andar debaixo.
– A gente pode até não ter filhos agora, mas eu quero treinar bastante, bastante mesmo! – Luan sussurrou em meu ouvido, sorri sem que ele percebesse e coloquei minhas mãos por dentro de sua camiseta, deixando minhas unhas riscarem levemente suas costas, o pegando de surpresa. Senti Luan sorrindo e mordiscando o lóbulo da minha orelha, o puxei para outro beijo, sentindo que os planos para o futuro não interessavam muito naquele momento, o mais importante ainda era ele para mim, e eu para ele no agora. E só.

Nem me lembrava de ter colocado meu celular para despertar, mas agradeci aos céus por ele ter funcionado, acordei no horário e me arrumei o mais silenciosamente possível para não acordar Luan que dormia tranquilamente. Desci as escadas e pensei que não teria ninguém acordado aquele horário, mas assim que entrei na cozinha vi Marizete, de costas pegando algo no armário.
– Bom dia! – Disse baixo pra não assustá-la mas mesmo assim, ela se virou surpresa.
– Bom dia, ! Já de pé?! – Ela pegou uma xícara para mim e outra para ela, e veio até a mesa onde o café da manhã estava servido.
– Pois é, tenho algumas aulas importantes hoje, não posso me atrasar – Fiz uma careta e ela sorriu assentindo. Nos sentamos uma de frente para outra na mesa e enquanto eu me servia café, reparei que ela me observava.
– Sabe, …. – Olhei para ela que parecia tão serena, tão calma que não fiquei apreensiva, só parei para prestar toda atenção ao que ela queria me falar – Eu já queria te falar isso desde quando nós fomos para Londrina, mas nunca achei uma boa ocasião – Ela riu envergonhada e balancei a cabeça negando.
– Pode falar, sem cerimônias – Dei uma piscadinha pra ela, e esperei para ouvi-la.
– Eu sinto que você faz muito bem ao meu menino, o dia que ele não tava muito legal e foi até sua casa, depois você deu um jeitinho de levar ele pra Londrina e isso fez tão bem pro Luan, fez toda a diferença! E eu só quero que você saiba que nós somos um time, você é parte do nosso time também.
Sorri pra ela que estendeu a mão e pegou na minha, olhando em meus olhos antes de continuar.
– Nós cuidamos uns dos outros, nos protegemos e principalmente somos o reforço do Luan, assim como você! Então saiba, que quando precisar de qualquer coisa mesmo, tem a nós também! O.k.?! – Ela sorria com seu jeitinho maternal de sempre e eu só pude sorrir de volta, assentindo, me sentindo parte de verdade, daquele grupo ao qual pouquíssimos tinham acesso, mas que era a base de tudo. Base dele.

Terminei de tomar meu café com a Marizete e pedi um táxi até a casa de João Pedro, quando cheguei os dois estavam terminando de se arrumar e assim que meus olhos se encontraram com os de Bella, eu vi que minha amiga não estava em seus melhores dias. Fui até ela e a abracei o mais apertado que pude, sentindo ela começar a chorar, JP veio se juntar ao nosso abraço até que Bella se acalmasse.
– Eu tenho medo de perder meu pai, sabe… – Ela se afastou apenas para nos olhar, e eu sequei suas lágrimas.
– Calma, meu amor! Não se desespere, o que ele tem? – Tentei manter a calma, como aprendi vendo meu pai e meu irmão lidando com seus pacientes.
– Ele teve um AVC e agora está na UTI!
– Qual é o estado dele? Está estável? – Perguntei segurando a mão dela, que apenas balançou a cabeça afirmando.
– Isso já é bom, vamos acompanhar de perto com você, ele vai sair dessa – A puxei para mais um abraço e senti Bella suspirando, mostrando todo seu cansaço e tensão.
– Se você quiser podemos falar com a minha família, meu pai pode acompanhar o caso também, assim você fica mais aliviada…
– Eu quero, , porque as vezes eu não entendo o que eles falam, e parece que eles estão me enganando – Bella disse me lançando aquele olhar perdido, de quem não sabia o que fazer, de quem não sabia lidar com aquilo, me afastei deles para poder ligar para meu pai.
Ele era sempre rígido, me desaprovava em muitas coisas, mas nesses casos ele não me negava ajuda. Ele sabia que já era muito raro eu realmente pedir qualquer coisa assim, e nesses momentos ele sempre me deu a segurança de saber que podia contar com ele como pai e profissional, como alguém que se importava comigo.
Passei o nome do pai de Isabella pra ele, e pedi que acompanhasse o caso, afinal Dr. Sérgio tinha amigos no hospital onde ele estava internado e disse que faria o que estivesse ao seu alcance, e aquilo já era um alívio pra mim e pra Bella também.

Bella se animou um pouco e fomos pra faculdade, hoje nosso professor passaria o trabalho para a conclusão do semestre e pela cara de tensão da sala toda, não seria nenhum pouco fácil fazê-lo.
Teríamos que fazer uma reportagem completa, usando todos os recursos de audiovisual, colocar literalmente em prática tudo que aprendemos. E só de começarmos a fazer isso, minha cabeça já estava quase explodindo quando a aula acabou.
– Precisamos pensar em um tema… – Disse para Bella e JP que estavam do outro lado da estante da biblioteca, também olhando os trabalhos dos alunos dos anos anteriores, a cada hora esse trabalho ficava ainda mais assustador.
– Sim, um tema importante, de relevância! – Bella me estendeu um dos trabalhos que ela estava lendo e JP ao seu lado soltou uma risadinha.
– Vocês já estão começando a ficar com rugas de tanto pensar – Ele riu mais ainda quando Bella o olhou totalmente chocada, JP tocou suavemente a testa dela, vendo a sua expressão de preocupação se desfazer.
– Idiota! – Bella tentou bater nele, mas a bibliotecária apareceu atrás dela bem na hora. Resolvemos sair de lá e continuar nossas pesquisas outro dia.
– Onde nos encontramos pra continuar? Tenho alguns materiais que podem ser uteis pra gente começar… – JP disse assim que saímos do prédio da faculdade.
– Se quiserem, pode ser lá em casa – Sugeri e JP fez uma cara séria antes de perguntar meio sem jeito.
– O Luan não vai achar ruim eu estar lá?
– Claro que não, nosso trabalho é nosso trabalho, oras… – Sorri pra ele tentando mostrar que realmente estava tudo bem, Bella concordou e JP mesmo não achando a melhor ideia do mundo disse que as três da tarde estaria lá em casa.

Assim que cheguei ao apartamento da minha tia, dei de cara com um amontoado de malas e um casal em pleno amasso no sofá. Fingi uma tosse e os dois quase caíram, derrubando algumas almofadas.
– Que bonito, hein! – Cruzei os braços e Matheus gargalhou puxando para seu colo, me fazendo rolar os olhos de brincadeira – Usando o sofá da minha tia de motel! Olha, esperava mais da Srta. !
– Ai, fica quieta, ! – Matheus jogou uma almofada em mim e levantou rindo, se aproximando de braços abertos para me apertar em um de seus abraços de urso.
– Amiga, obrigada pela estádia! Eu não queria te expulsar de casa, na verdade, eu nem sabia de nada – Ela disse ainda abraçada a mim.
– Eu também não sabia, esses dois aprontam tudo sem a gente nem desconfiar – Dei uma piscadinha pra ela enquanto Matheus ria nos olhando e dando de ombros.
– Mas pelo visto o plano deu certo, estão noivos de novo?! – Perguntei olhando para os dois que apenas balançaram a cabeça confirmando.
– Tô mais noiva do que nunca, mas... – pegou em minhas mãos e fez uma careta.
– Mas, o quê? Lá vem bomba! – Fechei os olhos e Matheus me jogou outra almofada, me fazendo abrir os olhos e mandar o dedo do meio pra ele.
– Nós vamos nos mudar pro Canadá depois do casamento!
– Sério, ?! Um ano e meio, né?! – Ela assentiu sorrindo e senti um aperto no peito em apenas pensar na minha amiga tão longe por tanto tempo, mas aquele sorriso dela mostrava que a minha queria aquilo mais do que tudo, então era o que eu queria também.
– Eu vou morrer de saudades, mas eu tô muito feliz por vocês! – Chamei Matheus para um abraço triplo que quase terminou em um tombo enorme.
– Tem mais… – Matheus disse rindo, saiu do abraço enquanto eu fingia um desmaio à la Mia Colucci, quase caindo no chão de desespero.
– Nós vamos adiantar o casamento, antes ele seria em Agosto, agora será em Maio – sorriu como se fosse a coisa mais prática do mundo e eu olhei para eles perplexa.
, é em menos de um ano! Socorro! Vai dar tempo de ver tudo? – Sentei na poltrona enquanto continuava pleníssima, inabalável.
– Vai, amiga! Confia! O Matheus me deu o principal, o resto damos um jeito…
– Que principal?! – Olhei para ele que deu uma voltinha, como se ele fosse o item principal e eu ri vendo rolar os olhos.
– Ai, mas é palhaço mesmo! Matheus conseguiu a pousada em Santa Catarina, eu sempre sonhei em casar lá e nunca tinha data, mas agora, se quisessem que fosse amanhã eu dava um jeito – Gargalhei junto com que não se continha de felicidade em realizar dois sonhos de uma vez, casar com Matheus e ainda perto do mar.
– Então, mãos a obra! – Matheus levantou e pegou na mão de – Precisamos voltar pra Campinas, ! A correria vai começar…
Abracei os dois bem apertado e avisei que sempre que desse eu iria pra lá, e o que precisassem de São Paulo eu estaria aqui pra ajudar.

XXX


Enquanto a correria deles com o casamento lá em Campinas ia começar, a nossa aqui em São Paulo com nosso trabalho enorme a ser feito também só estava começando. Bella, JP e eu decidimos que nosso tema seria as crianças que vivem em casas de apoio e orfanatos. Um tema tão delicado e forte que exigiria o máximo de cada um de nós.
O tempo voava, os meses passavam e sem nem me dar conta eu via mais os dois do que qualquer outra pessoa, entrevistamos muitas pessoas, conversamos com muitas assistentes sociais e cada dia que passava desse nosso projeto parecia que a exaustão era mais uma integrante fixa do grupo. Mas a paixão pelo jornalismo, e por tudo que vivíamos realizando nosso trabalho só aumentava.
Eu já estava morrendo de saudades do Luan, mal conseguia ver ou até falar com , minha tia já estava mais nos Estados Unidos do que no Brasil, e quando dezembro chegou, me dei conta que depois das férias eu nem teria local pra morar em São Paulo.
Quando entregamos nossa reportagem/documentário para nosso professor no final do semestre a sensação era de puro alívio e missão cumprida. Bella só queria ficar com sua família enquanto seu pai se recuperava, JP viajaria pra fora do país durante as férias e eu pretendia ficar com minha família em Campinas, e sempre que conseguisse, estar perto de Luan também, afinal, tudo podia estar uma bagunça nos últimos tempos mas nós ainda tínhamos um ao outro. Sempre.

– Prontinho! Agora sou uma garota livre! – Liguei pra Luan assim que recebi minhas últimas notas na faculdade.
– Então agora você pode ser todinha minha! – Ele riu e eu ri junto, concordando com a cabeça mesmo que ele não pudesse me ver.
– Onde você tá? Se você não estivesse longe, eu poderia ir te encontrar… – Sai do prédio da faculdade e comecei a ir até o portão. – Ah, se você soubesse… – Luan disse baixo ao telefone, nem tive tempo de tentar adivinhar seu paradeiro, as mãos que senti na minha cintura me puxando de leve, a risada que escapou dos meus lábios apenas por saber que ele estava bem ali.
– Luan, seu doido! – Ele riu antes de juntar sua boca a minha, no meio do pátio da saída da faculdade, no meio de uma galera que também saía da aula mas eu não estava ligando pra nada disso agora, só me importava em ter ele por perto de novo.
– Você me deixou de lado por meses, Dona , precisava tomar medidas drásticas! – Ele riu antes de entrelaçar sua mão a minha. – Agora sim, pra onde vamos? – Luan perguntou depois de me dar um beijo, cheio de saudade, cheio de toda vontade que eu também sentia de estar com ele.
– Tô livre, sem planos pra nada!
– Então deixa comigo!
Luan deu partida no carro e eu apenas me deixei levar por ele, esperando o melhor para as férias e para o novo ano que viria.


Capítulo 17

LUAN

Fevereiro de 2014


Saudade sempre foi um sentimento difícil de lidar, as vezes você só quer resolver logo e matar de vez a vontade de estar perto, outras por mais que você faça todo o possível, não tem jeito. Vai demorar pra acabar aquela sensação, vai demorar pra conseguir finalmente ter quem você quer.
Mesmo com as férias, eu mal pude ficar com a , ela passou a maior parte desse período em Campinas, completamente imersa nos preparativos do casamento de e Matheus, tentamos viajar juntos logo depois do Natal mas, mais uma vez, os problemas e imprevistos venceram e agora aqui estamos, voltei para a rotina de shows e está longe demais para que eu possa correr até ela.
Era quase 01:00 da manhã, estava no camarim terminando de me arrumar para o último show da noite quando uma mensagem de texto me fez parar completamente segurando o celular, eu nunca recebia mensagem aquela hora, não dela.
“Queria tanto te ver, quando você volta, amor?!”
Instantaneamente, a imagem de e seu olhar capaz de arrancar tudo que ela quisesse de mim surgiram bem a minha frente, me fazendo sorrir em apenas imaginá-la.
“Você me faz querer voltar agora, ! Talvez daqui uns três dias, segunda ou terça”
“Que droga, ainda é sexta!”
Conseguia imaginar a careta que fazia, contrariada e ansiosa, não estava diferente de mim que se pudesse daria um jeito de tê-la ao meu lado todos os dias.
“Não faz isso comigo, , vou aí te roubar pra mim!”
“Desculpa, vou esperar bem quietinha aqui, que esse final de semana acabe logo então”
A produção do show bateu à porta do camarim no exato momento em que ela me mandou a última mensagem.
“Te amo, se cuida! Volta logo!!!”
Nossas ligações e mensagens estavam mais frequentes, mas, ainda assim, faltava o toque, o olhar, o cheiro, e quando me avisou que já estava de volta a São Paulo, ainda morando no apartamento de sua tia, eu sabia exatamente pra onde ir quando cheguei ao aeroporto. Tentei ligar e avisar que estava chegando, mas não atendia o celular de jeito nenhum, estava ansioso e cheguei de mala e cuia direto na porta do seu apartamento, sem tempo pra passar em escritório, em casa ou em hotel. Toquei a campainha algumas vezes e soube que estava ficando irritada pelo grito dela vindo lá de dentro “CALMA! JÁ VAI!”, segundos depois a porta se escancarou e tudo que eu tinha pra dizer sumiu. me deixou boquiaberto por vê-la vestindo uma camiseta minha e um shorts curto, o cabelo preso em um coque bagunçado e aquela carinha de brava dela que logo se desfez ao me ver.
Estava encostado ao batente da porta sem conseguir desviar meus olhos do seu corpo, sem nenhum pudor em desejá-la ainda mais naquele momento, vendo me encarar levemente corada, sorri torto me aproximando dela, deixando minha mala ali mesmo, passei meus braços ao redor de sua cintura vendo ela sorrir pra mim.
– Eu diria ‘SURPRESA’ – Disse fingindo mais entusiasmo do que o necessário – Mas acho que essa fala é sua! – Usei meu tom mais provocativo, com a boca colada em sua orelha que riu constrangida escondendo o rosto na curva do meu pescoço.
– Fica quieto e entra logo! – disse saindo de perto da porta e indicando a mala que ainda estava do lado de fora. Peguei minha mala e fechei a porta da sala com o pé.
Meus olhos estavam conectados aos dela que ainda estava incrédula, sorrindo e balançando a cabeça quando fui novamente ao seu encontro.
– Agora sim, surpresa, ! – Ri abrindo os braços para ela que me surpreendeu pulando em meu colo, fazendo com que seu shorts subisse ainda mais e eu tivesse livre acesso à sua coxa.
– Eu senti tanto a sua falta! – Sussurrei ao pé de seu ouvido, se encolheu levemente e com as duas mãos na minha nuca começou a massagear ali e sorrir, me puxando ainda mais para ela, quase juntando nossas bocas.
– Se você sentisse meu coração batendo agora, saberia que eu também senti a sua – disse baixinho, piscando um olho para mim, me deixando sem palavras, surpreso, abracei-a mais forte e em segundos acabei com a distância entre nossas bocas.
Um beijo urgente e cheio de saudade, daqueles onde é o corpo quem fala, quem demonstra toda a necessidade e prazer em reconhecer ao outro. Quase quebramos toda a mobília da casa no caminho até o quarto, por muito pouco não caímos no meio do trajeto, mas assim que chegamos, em meio a gargalhadas e tentativas de não derrubar mais nada, fui parando de rir com ainda em meu colo, com um sorriso brincando em meus lábios a coloquei sobre a cama, me inclinei sobre ela e a beijei com toda a calma que consegui, como se pudesse quebrar se eu não cuidasse direito dela, como se a qualquer movimento brusco ela pudesse desaparecer.
Eu sentia meus olhos brilhando, uma ansiedade na ponta dos dedos, passeei com minhas mãos pelo corpo de , querendo reconhecer com o toque cada pedacinho, ignorando toda e qualquer coisa fora daquele quarto. Aquele era o tempo de matar a saudade que sufocamos por tanto tempo, que maltratou e não me deixou em paz.
Acordei de madrugada, passei a mão ao meu lado a fim de puxar para mais perto mas ela não estava ali, me sentei na cama e percebi que nem no quarto tinha sinal dela.
! Cadê você? – Chamei-a num tom baixinho, olhei no relógio que marcava 04:30 da manhã e fui atrás dela pela casa, e a encontrei olhando pela janela da sala e cantarolando algo bem baixinho.
– Por que está aqui? – Cheguei de mansinho, me sentei com ela no sofá, sorriu levemente e esticou suas pernas, colocando seus pés sobre meu colo.
– Perdi o sono – A olhei desconfiado, sorri tentando decifrar seu olhar e adivinhar seus pensamentos, riu envergonhada e tentou me afastar empurrando de leve com os pés.
– Tem certeza que é só isso? – Segurei seus pés, me aproximei ainda a olhando nos olhos, percebendo que não era só insônia.
– Tenho sim e você tá fazendo o que aqui? Vai dormir! – Ela me deu língua e indicou a direção do quarto tentando me expulsar da sala, apenas balancei a cabeça negando.
– Quero você, nem que pra isso eu tenha que dormir na sala, jogado, com frio, doendo as costas – Enumerei nos dedos cada uma das situações e me olhava indignada tentando esconder o sorriso em seu rosto – Quero ver fazer show desse jeito!
– Mas é dramático! Sai daqui então, nem no meu sofá eu vou deixar você ficar mais – tentou em vão permanecer séria enquanto eu a imitava, exagerando em seus trejeitos apenas para fazê-la rir, fui me aproximando mais e mais, até conseguir encostar minha testa a dela que ria cada vez mais.
– Idiota! – Apenas concordei enquanto a envolvia em meus braços e ela ria em meio ao nosso beijo todo atrapalhado.
– O que a senhorita estava cantarolando quando eu cheguei... – Me sentei atrás dela que fechou os olhos tentando esconder o rosto com as mãos. – Fala, vai! – Cutuquei de leve sua cintura e riu segurando minhas mãos.
– Uma música que ficou me perturbando durante toda a semana, um sentimento que nunca foi tão forte e as vezes até me assusta – se aconchegou em meus braços enquanto falava tudo isso, esperei que ela falasse o nome da música mas ela fez melhor que isso, bem baixinho recomeçou a cantarolar:

– Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Ela não conseguia me ver emocionado em sentir o tamanho daquele amor crescer a cada palavra que saia de sua boca, ela não podia ver meus olhos brilhando por saber que a maneira como eu me sentia longe dela era exatamente igual, apertei meu abraço ao seu redor e continuei a música da Marisa Monte, cantando ao pé do ouvido de , sentindo ela sorrir assim que comecei:

– Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
Como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

se virou para poder me olhar, seus olhos brilhantes devido as lágrimas e seu sorriso tão sincero me fizeram sorrir da mesma maneira, entrelaçando sua mão a minha.
– Eu também morri de saudades de você, meu amor – Cheguei mais perto e fiquei brincando com seus lábios, sem de fato beijá-la, deixando levemente impaciente, ela se afastou indo direto a minha orelha para dizer:
– Não me provoca, Luan! – Ela riu e começou beijar meu pescoço, puxando de leve meu cabelo, me fazendo sorrir e a puxar ainda mais para perto.
– Pode deixar – Uni nossas bocas sentindo sorrir em meio ao beijo, deitei sobre ela no sofá e por pouco quase caímos. Os beijos cada vez mais quentes, bagunçando meu cabelo com toda vontade e minhas mãos passeando sobre seu corpo. Meu coração sentindo que estava em casa no exato momento em que nos afastou e ficou me olhando, com seu dedo brincando de desenhar minha boca e um sorriso inocente em seu rosto, aquela sensação de paz preenchendo aquele apartamento, nos completando. Ela era a minha paz, e cada dia que passava isso ficava ainda mais claro pra mim.
A primeira coisa que vi quando acordei foi na cozinha, dançando e rindo ao som de Sandy e Júnior, tentei me esconder pra ela não me ver e nem parar com sua ‘performance’, mas quando estava chegando mais perto seu olhar encontrou o meu e ela sorriu, envergonhada.
– Desculpa pelo despertador aqui! Não resisti quando a música começou....
– Adorei, por mim esse seria meu despertador diário! – Pisquei para , me aproximei e a fiz rodar, pegando em sua mão e dançando fora do ritmo enquanto ria, e negava com a cabeça.
– Que mentira, garoto! – se virou, me olhando de frente e acariciando meu rosto – Dormiu bem? Não tá morrendo de dor nas costas não?
– Não, não! A melhor parte compensou tudo! – começou a ficar corada, a envolvi pela cintura e beijei seu pescoço, sentindo se arrepiar e fugir dos meus braços, ela gargalhou quando eu a encarei sério, com os olhos semicerrados e fiz menção de correr até ali.
– Bom dia, pra você também – soprou vários beijos no ar e apontou para a mesa do café, que só agora reparei já estava posta e praticamente pronta – Senta aí, vamos tomar café!
, não corremos o risco da sua tia chegar? Preciso colocar uma roupa... – Olhei para minha calça de moletom, e meu tronco totalmente descoberto e acompanhou meu olhar, rindo de leve da minha preocupação.
– Relaxa, segundo minha mãe e minha tia, o contrato desse apê foi renovado por elas por, pelo menos, mais seis meses, o que me dá mais tempo de achar outro lugar.... – Ela deu de ombros e encheu sua xícara com café.
– Você sabe que tem a minha casa e tudo mais a sua disposição... Basta a srta. querer – Dei uma piscadinha pra ela que sorriu torto antes de responder
– Eu sei, qualquer coisa eu te falo, o.k.?!
Passamos o dia todo fazendo planos para nossas futuras férias, já que as próximas semanas mesmo que ainda estivesse livre, minha agenda estava muito cheia, começamos a pesquisar lugares, pontos turísticos que queríamos conhecer, climas e tudo mais, nos distraímos tanto em nossos planos que por pouco não nos atrasamos para a sessão de cinema (quase secreta). e seus olhos brilhantes cheios de planos, tudo que ela queria realizar durante esse ano de 2014, os cursos, viagens e nós, passamos a madrugada toda falando sobre tudo que queremos viver juntos. Ela me fazia sonhar além do profissional, além dos palcos, complementando tudo que eu já imaginei pra minha vida.
No dia seguinte, e Bruna me acompanharam até o Rio de Janeiro, elas aproveitaram a maior parte da miniviagem enquanto eu participava de alguns programas de TV e de algumas reuniões, junto delas só pude ficar um dia. Aproveitamos pra curtir a piscina do hotel e sair pra jantar, elas me fizeram rir durante o dia todo, quando voltamos para o hotel Bruna me avisou que ia pra Londrina no dia seguinte e meu desejo era poder ir também mas sabia que seria impossível.
estava cheia de sorrisinhos quando voltamos para nosso quarto e assim que fechei a porta, ela pulou no meu colo, me enchendo de beijos por todo rosto.
– Que animação é essa?! – Gargalhei com ela ainda em meu colo, com o sorriso mais lindo do mundo iluminando sua face.
– Você não vai acreditar, amor! – desceu dos meus braços e pegou seu celular, mal se contendo de felicidade ela respirou fundo antes de me sentar na cama.
– Sabe aquele trabalho que eu fiz ano passado junto da minha equipe, sobre as crianças que vivem em casas de apoio e orfanatos?! – Me lembrei do fim do ano passado, que mal consegui ver , que a vida dela se tornou esse trabalho.
– Claro que lembro, meu amor! – sorriu e veio se sentar ao meu lado, com os olhos brilhando.
– Nós entregamos pro nosso professor e ele gostou, inscreveu a gente pra participar de uma seleção interna, e nós fomos os escolhidos pra representar a faculdade! – sorria ainda mais, pulando de felicidade no colchão como uma criança que acaba de receber seu presente tão esperado, olhei para ela sorrindo – Bella, acabou de me avisar! Eu tô em êxtase! – jogou seus braços sobre meu pescoço e me beijou sorrindo em meio ao beijo.
– Tô muito feliz por você, ! Você merece amor! – Apertei ela em meu abraço e a senti rindo.
– Meu Deus, isso vai ser demais! – se jogou no colchão e me puxou pra junto dela, me deixando ansioso pela comemoração, mas seu celular atrapalhou meus planos, viu quem era e deu um pulo, ficando em pé em segundos.
– JP! Você viu? Eu tô sem acreditar até agora, garoto! Nós conseguimos! – Ela disse emocionada e ainda mais sorridente, foi inevitável não fazer uma careta ao ouvir quem era, não conseguia mais engolir esse cara por perto de .
– Eu só sei que ganhamos pra representar a faculdade, mas nem sei onde.... – começou a rir cheia de cumplicidade com ele e eu já estava quase indo para o banheiro pra não me irritar demais com aquela ligação mas as palavras seguintes dela me fizeram congelar ali – Viajar pra onde? Aracaju?! Tá brincando, né?! – deu um gritinho de animação e eu senti aquela sensação amarga de ciúmes me abraçar com toda força.
– Preciso voltar pra casa e me arrumar, tem noção que eu já tô atrasada! – Ela voltou a dar sua gargalhada e eu me senti invisível ali, tentando a todo custo não demonstrar o quanto aquela ligação acabou com a noite pra mim, fui direto pra debaixo do chuveiro pra ver se a água gelada me fazia esfriar a cabeça.
Sai do banheiro e lá estava ela sentada na cama, me esperando com seu sorriso de lado.
– Tá fugindo de mim, Sr. Luan? Porque sumiu.... – veio até mim, com a fala suave me fazendo esquecer um pouco da irritação de antes.
– Não quis atrapalhar.... – Com seus braços ao redor do me pescoço, ela negou com a cabeça, ficando na ponta dos pés e beijando meu pescoço.
– Você NUNCA me atrapalha, seu besta! Nunca, nunquinha – sussurrou ao pé do meu ouvido, me fazendo fechar os olhos as sentir suas unhas passeando pelos meus braços e peitoral, me provocando de um jeito que só ela sabia fazia.
– Quanto tempo você vai ficar longe? – Deixei a curiosidade falar mais alto e ainda com em meus braços perguntei, ela sorriu antes de responder.
– Uma semana! Estamos pensando nos lugares... – O sorriso dela continuava ali, e eu comecei a imaginar os lugares incríveis que ela iria com o tal João Pedro e foi inevitável, não consegui mais esconder minha infelicidade.
– Tudo isso?! – Fiz uma careta, tentei disfarçar depois mas percebeu – Quanto tempo dura esse... – Tentei lembrar o nome do evento que ela iria mas não consegui, meu tom de voz já não estava dos mais amigáveis e quando me dei conta já era tarde demais, seu olhar antes cheio de brilho, endureceu na hora.
– Simpósio! – respondeu séria, se afastando e cruzando os braços – Por quê? Qual é o problema no meu simpósio? Fala, Luan!
– Uma semana com aquele mala, nas praias, não gosto dessa ideia, odeio imaginar vocês ali...
– É o quê?! – me olhou furiosa, se afastando o máximo possível de mim, seu olhar me dizia tantas coisas. – Primeiro, que é pelo NOSSO trabalho, meu e do João Pedro, sim senhor! – Ela fez questão de enfatizar ele, contando nos dedos quem eram os membros do seu grupo – E da Bella, três pessoas que se mataram pra dar o seu melhor e vão mostrar esse trabalho nesse simpósio, somos amigos e provavelmente vamos aproveitar um pouco do que nos resta de férias e é só, a sua imaginação é problema seu!
, acha que é fácil saber que o cara que já confessou que gosta da sua namorada, vai ficar andando grudado nela por uma semana e provavelmente pra cima e pra baixo de biquíni, e eu não posso ficar com ciúme, supertranquilo – Usei meu tom mais irônico e irritado, também já estava visivelmente brava.
– Eu já disse, caramba, você tem que confiar em mim, como eu tenho que confiar em você, ué! JP já tá bem mais tranquilo com essa história, nós convivemos na faculdade o tempo todo e está tudo bem! Você que quer achar pelo em ovo a uma hora dessas!
– Ah, que irritante... Você ainda defende, eu odeio esse cara!
– Você vai ter que lidar com isso, nós vamos viajar e ele é meu amigo, ponto! Não há nada a se fazer quanto a isso... – arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços me encarando, seu olhar duro, seu rosto sem nem um rastro da alegria de poucos minutos atrás e aquela sensação de culpa que chegava tão rápida quanto o ciúme, eu a estava magoando e via em seu olhar toda a decepção, a encarei sério e tentei me aproximar, mas desviou, indo direto para o banheiro, segundos depois ouvi o barulho do chuveiro e sabia que ela iria me ignorar o resto da noite se pudesse.
Ela era teimosa, brava e a mulher que eu amava demais pra dormir daquele jeito, sem se falar direito, jamais seria o meu desejo. Apaguei todas as luzes do quarto, deixando apenas a luz da lua que entrava pela janela como única fonte de luminosidade, quando saiu do banheiro ouvi seu suspiro antes de tentar enxergar alguma coisa ali.
– Luan! O que você tá fazendo? – foi para perto da janela, onde tudo estava mais visível.
– Eu quero fazer as pazes, quero você do meu lado, não você fugindo de mim.... – Cheguei por trás dela e a abracei, sentindo se arrepiar.
– Não quero brigar pelo mesmo motivo sempre, Luan.... – se virou de frente pra mim e mesmo com a pouca luz vi que seus olhos estavam vermelhos e levemente inchados.
– Desculpa o descontrole, eu vou parar com as imaginações, vou confiar como te prometi... – Ergui seu rosto e a olhei no fundo dos olhos antes de tomar sua boca pra mim e beijar como eu queria, meu coração se tranquilizou quando ela sorriu pra mim, me empurrando de leve e me chamando de idiota, sabia que estávamos bem.
A manhã do dia seguinte foi cheia de despedidas, voltaria pra São Paulo e logo em seguida iria para o Nordeste com seus amigos, Bruna foi direto pra Londrina enquanto eu permaneci com minha equipe no hotel do Rio de Janeiro.
Estava cada dia mais difícil me desligar de em sua viagem, tentei me enfiar totalmente no trabalho, me distrair, nos falávamos quase todos os dias, no segundo dia ela me ligou pra contar que aquele seria o dia em que seria exibido o minidocumentário que eles fizeram, que era o dia da grande apresentação, e principalmente nesse dia eu conseguia sentir o sorriso dela em sua voz e meu coração se enchendo de orgulho por ela, estava se realizando, crescendo e provando a si mesma o quanto era capaz, aquele era seu caminho.
– Amor, eu definitivamente amo o meu curso! Tudo sobre comunicação me encanta, vou ficar insuportável quando voltar – riu ao telefone quando liguei pra ela antes de viajar para mais um show.
– Que nada, vou amar te ouvir, você vai ser uma excelente jornalista! Já dá pra sentir – Ela me mandou ficar quieto daquele seu jeitinho encabulado – Ainda vão assistir a muitas palestras?
– Amanhã só vamos na parte da manhã, depois decidimos que vamos dar uma passeada, conhecer alguns lugares que nos indicaram, o pessoal daqui é bem legal... – começou a me falar sobre as pessoas de fora que eles conheceram, e eu me deixei levar pela voz dela e não pelo fato de que a partir de amanhã eu preferiria não saber de nenhum detalhe, nem mesmo com quem ela saiu pra não me perder na minha própria mente.
E foi o que eu fiz, tentei ignorar quase tudo sobre aquelas ‘férias’, mas como nada é realmente tão fácil assim... Tinha acabado de voltar pra São Paulo, cheguei em casa exausto e praticamente desmaiei na cama, quando acordei já era mais de cinco da tarde e a única coisa que eu realmente queria era descansar e ter de volta logo, e foi esse pensamento que me levou direto ao instagram dela e as benditas fotos que eu tentei evitar estavam bem ali. e seus amigos rindo em uma praia, um vídeo de Bella e JP fazendo uma guerrinha de água e atacando minha namorada que gargalhava como uma criança, e a última foto me fez lembrar porque eu deveria evitar por um bom tempo as fotos daquela viagem, os três estavam jogados no chão de algum quarto, sorrindo, e sujos de chocolate com a legenda que escreveu: Amo vocês, obrigada por me acolherem e estarem do meu lado em tudo! Melhor equipe!
Obviamente, não gostei nenhum pouco daquela foto mas odiei mais ainda o fato de JP estar se derretendo pela minha namorada nos comentários, cheio de brincadeirinhas e códigos entre eles que só me fizeram largar o meu celular o mais longe possível de mim, e sair daquele quarto que já estava me sufocando.
Estava jogado no sofá da sala quando minha mãe me entregou algumas correspondências que tinham chegado pra mim e um envelope me chamou a atenção, era um convite pra inauguração de uma nova casa de show que seria exatamente naquela noite, meu dia já estava chato demais, ir a uma festa que teriam meus amigos não poderia piorar, não é mesmo?!
Por mais que eu estivesse por fora das baladas de São Paulo, sabia que aquela inauguração era um evento muito esperado, mas, ainda assim, me assustei com a quantidade de famosos e de imprensas presentes, tentei passar despercebido mas não deu certo, assim que terminei de cumprimentar algumas pessoas ainda na porta do lugar, um repórter daqueles canais de fofoca me abordou com perguntas sobre meu namoro, porque não estava comigo, se estava tudo bem, se eu ainda estava namorando mas preferi não dar nenhuma declaração, apenas sorri e entrei na boate.
O lugar era muito legal, bem grande e pra minha sorte muitos conhecidos estavam por ali, encontrei com Zeca, um amigo empresário que sempre ajudava nas negociações de shows e tudo mais, ficamos conversando por um bom tempo até que em determinado momento um grupo de quatro mulheres muito bonitas se aproximou e ele parecia conhecer todas ali, resolvi deixar eles a vontade e fui até o bar buscar uma bebida pra mim.
– Tá fugindo da gente, Luan? – Senti uma mão em meu ombro e me virei pra ver quem era, uma mulher loira muito bonita, olhos azuis, sorriso provocante e corpo escultural estava muito perto de mim, praticamente grudada, olhando como se me conhecesse, sorri sem graça pra ela que veio para a minha frente passando a mão em meu ombro.
– Todo mundo sabe quem é você, né?! – Ela riu e deu uma piscadinha antes de continuar – Mas você nem deixou a gente se apresentar ali atrás, chegamos e você foi embora.... – Ela fez um bico e balançou a cabeça em negativa, fingindo tristeza – Poxa, a gente não morde, gatinho!
Ela veio mais pra frente, me olhando mais provocativa do que nunca e eu pigarreei me afastando.
– Eu… – Aquela mulher voltou a se aproximar com as duas mãos em meu peitoral – Tenho namorada! Não faça isso! – Tentei fazer com que minha voz soasse séria mas aquela situação era perturbadora e inesperada demais, minha voz saiu sem nenhuma força e ela sorriu mais ainda, ficando na ponta dos pés e subindo suas mãos para o meu pescoço, ela estava prestes a tentar me beijar como se fosse o esperado, dei dois passos pra trás vendo-a rir debochada.
Seu sorriso continuava ali, ela se aproximou quando eu peguei a bebida que o barman me entregou e ficou na ponta dos pés novamente, chegando com a boca em meu ouvido, me pegando de surpresa mais uma vez.
– Prazer, Hellen! – Ao se afastar, ela tentou chegar perto da minha boca mas eu desviei, achando cada segundo ali complicado demais.
Terminei minha bebida e resolvi ir embora antes que a noite me trouxesse mais surpresas, a única surpresa que eu de verdade queria era chegando mais cedo de sua viagem, mas eu sabia que o programado seria amanhã a tarde e era o meu consolo, saber que ela logo estaria nos meus braços de novo.

“Luan, nós te amamooos!” – Acordei com um vídeo de e mais duas criancinhas, rindo e mandando vários beijos pra câmera.
Logo abaixo do vídeo. me mandou uma mensagem de texto:
“Amor! Encontrei essas coisinhas mais lindas aqui, são seus fãs e pediram pra mandar uma mensagem pra você, como também te amo, estamos aí! Se cuida, logo estou chegando com as cartinhas deles e cheia de saudade! Agora ficarei off por um tempo, espero te ver logo.
Beijos, sua .”

Ela sorria como as crianças e parecia estar tão feliz que minha saudade só aumentou, aquilo bastou pra fazer meu dia começar bem, entrei no chuveiro e as imagens da boate de ontem vieram com toda força assim como uma dor de cabeça terrível, tinha sido um erro me deixar levar, mas eu esperava esquecer aquilo tão rápido quanto lembrei.
Ainda estava no banheiro quando ouvi meu celular tocando sem parar, logo em seguida o telefone do meu quarto tocou também e aquela era a coisa mais estranha pra uma manhã, me enrolei na toalha e sai em busca do meu celular, mais de sete chamadas só do escritório, duas da minha assessora de imprensa e uma da Bruna, minha irmã, seja lá o que fosse já me assustou pela quantidade de gente tentando falar comigo ao mesmo tempo, meu celular tocou mais uma vez, e era a Bruna mais uma vez
– Luan! Até que enfim! – Bruna estava séria e aflita ao telefone, e eu já fiquei preocupado – Pi, já abriu a internet hoje?
– Não, por quê? O que está acontecendo?! – Um pressentimento ruim chegou com toda a força e eu tentei ignorá-lo em vão.
– Eu vou te mandar o link, se prepara Luan, a não vai gostar de nada disso.... – Meu celular vibrou segundos depois – Nos vemos depois, boa sorte!
Bruna desligou e eu abri o tal link que ela me mandou, apenas em ver a foto eu sabia que estava com graves problemas, mas a matéria publicada finalizou de vez toda e qualquer chance que eu pudesse ter.

E a Fila Andou.... Será?

Essas são fotos de um flagra surpreendente feito na noite de ontem por um de nossos correspondentes. Nosso querido astro sertanejo, Luan Santana compareceu a inauguração de uma boate na noite de quinta-feira, evento badaladíssimo onde ele apareceu sem sua, até então, namorada, a estudante . Perguntado sobre ela, Luan não respondeu as perguntas e foi direto para dentro do estabelecimento, lá dentro fontes nos asseguram que Luan estava no maior clima de romance com a modelo Hellen Moretti. Tentamos contato com a assessoria do cantor mas não conseguimos retorno, já com a modelo Hellen, ao sair da festa de ontem ela declarou que Luan é um cavalheiro, muito carinhoso, que foi só uma vez e que eles são apenas amigos. O que será que ela quis dizer com isso? Façam suas apostas:
Será que a fila andou mesmo, meus queridos? Ou foi um deslize do nosso meteoro?
Fiquem ligados que essa história só está começando!

Nas fotos, a tal Hellen estava com as mãos no meu pescoço, em outra com as mãos em meu peito e na pior delas, que foi tirada quando eu desviei do beijo que ela tentou me dar, parecia claramente que eu estava indo dar um selinho nela.
Eu congelei no lugar, me sentia petrificado em apenas imaginar o que pensaria quando visse aquela porcaria publicada na internet, eu estava fodido, ela me mataria, e com toda a razão do mundo, me vesti o mais rápido que pude, peguei meu celular e sai, eu precisava falar primeiro com , explicar tudo, ela precisava saber por mim que toda aquela merda era mentira!
Fui direto pro apartamento da tia dela, sabia que era pra lá que iria assim que desembarcasse, o porteiro me liberou e eu fiquei naquela sala contando os segundos pra que ela chegasse, tentando acalmar aquela maldita ansiedade, tentando não imaginar a reação dela, eu só queria que tudo ficasse bem logo, eu precisava disso.
Demorou uma eternidade, horas que pareciam anos mas o trinco da porta da sala virou e eu pude vê-la, meu coração cheio de esperança que ela ainda não tivesse lido nada, que pudesse ser o primeiro a falar com ela sobre aquilo mas quando seu olhar veio de encontro ao meu, soube que não estava nenhum pouco surpresa por me ver ali.
, eu preciso falar com você!
– Poupe o discurso, eu já sei de tudo – Ela pegou sua bolsa e tirou de dentro duas revistas, as jogou na mesinha de centro e eu me vi ali naquelas capas com aquela loira, olhei dela pras revistas boquiaberto, e suspirei forte tentando me acalmar.
– Eu posso explicar! Não aconteceu nada entre eu e essa mulher, isso…. – Comecei a falar mantendo a voz branda, tentando não deixar meu nervosismo se sobressair.
– Você só estava lá, como quem não quer nada né, Luan, totalmente inocente....Que dó! – me olhou séria, o mais séria que eu já tinha visto e usou seu tom mais irônico possível.
– Eu juro, não aconteceu nada! – Me exaltei e levantei rápido do sofá indo na direção dela.
– Luan tem FOTO, ela contou a TODO MUNDO que ficou com você, tem noção do que isso significa?! – Ela andava de um lado pro outro, se contendo, eu sabia porque sua voz estava rouca, ela estava segurando o choro.
– MAS EU NÃO FIQUEI COM ELA! – Tentei chegar mais perto dela mas se esquivou, em todas as minhas tentativas – Acredita em mim, eu jamais faria isso com você!
– Não parece, Luan, não parece, olha isso…. – pegou a revista e a abriu na matéria, e apontou para onde a mulher dava sua declaração sobre mim, sobre ter gostado de me ‘conhecer melhor’ – Você tem noção do quanto machuca ver isso? Você gostaria de me ver aqui nessa revista? Gostaria de saber que eu estive com outra pessoa e isso é um fato registrado por toda a imprensa? – enfatizou a última parte sem me olhar, ela simplesmente não me encarava.
– Não, claro que não, eu vou a imprensa, vou desmentir isso, vai ficar tudo bem – Estava agoniado, queria abraçá-la, queria fazer com que ela me olhasse nos olhos e visse a verdade, mas só conseguia ver o olhar frio de , ela nunca tinha me olhado daquela maneira, com tanto desprezo, e de repente senti mais medo do que nunca do que poderia acontecer.
– Não vai ficar tudo bem, Luan, não vai…. – parou e sentou no sofá.
– Não diz isso, olha pra mim – Me ajoelhei ficando na altura de seus olhos e suspirou forte antes de finalmente me olhar nos olhos.
– Você acredita em mim, não é? Eu não fiquei com ela, , eu juro! – Peguei em suas mãos, que estavam extremamente frias e as beijei, deixou uma lágrima escapar e acenou que sim com a cabeça, meu coração finalmente voltou a bater em seu ritmo normal, sorri aliviado pra ela mas não sorriu de volta, ao contrário, tirou suas mãos das minhas e secou rapidamente os olhos.
– Mas isso não muda muita coisa, não é simples assim! – Ela limpou a garganta e me olhou novamente antes de falar:
– Do aeroporto até aqui, eu lembrei de tanta coisa Luan, eu posso ter que te dividir com milhares de garotas, eu posso ter que aparecer pra mil câmeras e blá, blá, blá, posso ser paciente, ser tudo que essa relação precisasse mas a única coisa que eu queria era respeito.... Que fizesse valer a pena todo o esforço, saber que você estava comigo e não importasse o que o futuro nos reservasse eu estaria com você também, mas eu não consigo, não mais!
– O que você quer dizer com isso, ? – Até então estava encostado no sofá a olhando em dúvida, mas quando comecei a entender, levantei e a encarei sério – Você está desistindo? É isso? Fácil assim? – Não queria acreditar no que ela estava dizendo, assim que me ouviu olhou magoada, enquanto eu cruzava os braços tentando não me exceder.
– Nada disso é fácil, NUNCA foi, Luan – Ela apontou o dedo para mim que já estava ficando nervoso – Mas eu poderia lutar contra tudo e todos, por anos, PRA SEMPRE mas quando é em VO-CÊ que eu não posso confiar, me diz pra quê que eu vou continuar aguentando? Por que eu vou me sujeitar a essas coisas? – Os olhos dela tinham aquele brilho triste das lágrimas que a todo custo segurava, sua voz carregada de tristeza e decepção me machucavam um pouco mais a cada momento.
– Pare de dizer besteiras, você sabe que pode confiar em mim, , foi só um erro, foi um deslize, isso não pode acabar com tudo meu amor, não pode – Cheguei mais perto e nos olhos dela eu só via tristeza, meu coração apertou de um jeito inexplicável, eu podia sentir que ela já tinha acabado tudo. Aquela conversa e aquele namoro – Não faz isso, ! Pelo amor de Deus! – Sem nem perceber, eu já estava implorando, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas enquanto ela olhava para qualquer lugar menos para mim.
– Eu estou tão cansada! – A voz dela saiu embargada, um suspiro forte escapou como se ela finalmente fosse se abrir, deixar a dor escapar de seus lábios, me aproximei novamente do sofá onde ela estava – Depois de toda a briga na semana passada e agora isso, eu simplesmente não consigo mais…. – Mesmo com os olhos marejados, ela endireitou a postura, passou a mão pelo cabelo e me olhou firmemente – Acabou, Luan, pra mim chega!
Olhei pra ela boquiaberto, sem acreditar, o golpe certeiro e forte me atingiu em cheio, levantei rápido e olhei-a indignado.
– NÃO! Eu não aceito isso! – se levantou e foi para longe de mim, como se eu não fosse ninguém pra ela.
– Você vai continuar a namorar sozinho? Se for, fique à vontade, mas o nós pra mim acabou! – Ela cruzou os braços me encarando, com seu olhar cheio de ironia, levei as mãos à cabeça, tentando me acalmar, tentando raciocinar.
, para com isso, você não pode decidir isso assim, você vai jogar tudo fora? Você não pode estar falando sério! Vamos conversar direito!
– Eu estou conversando e estou falando sério, Luan! – Ela se irritou comigo e rolou os olhos, como fazia sempre que achava que o que eu falava era idiota – Pra mim, acabou!
– Mas…. – Me aproximei dela, em uma última tentativa de fazê-la ao menos repensar sua decisão – , eu te amo! Não pode acabar assim – Só queria que ela entendesse, oscilou um pouquinho, mas respirou fundo e se manteve firme.
– Eu também te amo…. Mas espero que isso passe – Ela disse dura, e aquilo doeu mais do que tudo, a olhei indignado por saber que tudo era teimosia e falta de diálogo, a encarei uma última vez antes de finalmente voltar a falar.
– Então é isso mesmo? Essa é a sua última palavra? – Eu podia ler em seus olhos a verdade, através deles saber de tudo, piscou e deixou uma lágrima cair antes de acenar que sim, era o que ela queria realmente.
– Eu vou dar um jeito de te esquecer, isso não vai ficar assim! – A mágoa que estava brotando em mim, e machucando pra caramba saiu da minha boca naquele momento, mas fui traído pelo meu coração e no momento em que cravou seus olhos nos meus, uma lágrima filha da mãe escapou, nós estávamos nos machucando pra valer e até mesmo no ar dava pra sentir.
se afastou e abriu a porta pra mim, aquele era um fim que eu não esperava, quando sai dali sem olhar pra trás minha única certeza era de que aquela dor crescendo dentro do meu peito era a pior coisa do mundo, e eu não estava preparado para o futuro doloroso que me aguardava. Não mesmo.


Capítulo 18 - Parte I

LUAN

Dirigir até a minha casa parecia uma tortura, minha visão já estava turva por causa das malditas lágrimas mas eu precisava ter cuidado, nem me lembro ao certo como cheguei, só me lembro de ver um vulto da minha mãe e da minha irmã na sala, subi correndo pro meu quarto e lá eu senti o mundo literalmente desabar.
Cada palavra, cada gesto, cada olhar tudo voltando com nitidez a minha mente, tudo me ferindo duplamente e a raiva chegando com força total, passei o braço derrubando tudo que estava em cima do rack, quebrando várias recordações, esperando que as coisas se assemelhassem ao meu coração mas o universo queria tirar sarro da minha cara e de todas as coisas quebradas ali naquele quarto, justamente a nossa foto veio parar no meu pé, a foto do dia que ela disse que me amava, a minha foto favorita.
“You make it real for me…”

Era a maior brincadeira de mal gosto no pior momento possível, nós dois ali, o sorriso da ali me dando certeza de que eu era o cara mais sortudo do mundo me derrubaram de vez, eu tinha acabado de perder a mulher da minha vida. E não podia acreditar, não podia ser verdade.
Fui direto pro chuveiro antes que alguém aparecesse, precisava me acalmar, precisava tentar me recompor, debaixo da ducha fria, tentando esquecer tudo. Até ali tinha um pouco dela, seu shampoo ao lado do meu, minha camisa que ela tinha adotado como seu pijama e sua escova de dentes e eu não aguentei. Me deixei chorar, toda a dor que apertava meu peito, toda a raiva por tudo que aconteceu e pela teimosia dela. Assim que desliguei o chuveiro, eu decidi que se era assim que queria, então assim seria.
Eu esqueceria , nem que fosse a última coisa que eu fizesse.
Mas foi deitar a cabeça no travesseiro e sentir o cheiro dela que parecia morar ali, me senti o maior dos idiotas, com meu coração berrando que bastava ela ligar, mandar qualquer mensagem, eu correria até e nunca mais desgrudaria dela, mas ela não ligou.

Acordei sentindo todo meu corpo doer, sentei na cama e tudo que eu pensei ter sido um pesadelo se mostrou realidade, ao ver o estrago que eu mesmo fiz em meu quarto cheio de cacos de vidro no chão e a nossa foto amassada. Ouvi algumas batidas na porta e vi o rosto da minha mãe ali.
– Posso entrar, filho? – Acenei que sim e vi o olhar dela ir para o chão depois vir para o meu rosto. – O que houve? Como foi?
– Acabou tudo, mãe. Ela terminou comigo – Ouvi minha voz sair rouca e meio fraca, mas não imaginava que dizer aquilo em voz alta trouxesse uma nova fisgada em meu peito. Como se a aquela dor criasse outra vida e agora me assombrasse do lado de fora.
– Eu sinto tanto meu amor, eu realmente sinto muito! – Minha mãe que estava sentada do meu lado na cama, me abraçou apertado, e mesmo tentando ser forte, senti meus olhos marejarem, ela me deu um beijo carinhoso no rosto e eu tentei sorrir.
– É definitivo, mesmo? Mesmo? – Ela perguntou com seu jeitinho calmo de sempre e eu dei de ombros.
– Eu não sei, mas.... – Toda a insônia, cada minuto que eu passei tentando achar uma maneira de esquecer, tentando fingir que seria fácil só me faziam chegar a mesma conclusão – Eu ainda não desisti, mas não sei o que fazer!
– Dá um tempo pra ela, meu amor! Deixa a pensar, se acalmar.... – Ela deu um beijo na minha testa e levantou – Vai ficar tudo bem, você vai ver!
Ela me deu mais um abraço e saiu.

O dia começou com a minha assessora de imprensa em cima de mim querendo saber o que dizer aos jornais sobre o meu namoro, sobre o meu “caso”, sobre a suposta traição e isso me fez acordar para o fato de que aquilo era um problema bem maior do que eu imaginava.
Pedi que ela emitisse uma nota à imprensa dizendo que não houve traição nenhuma, muito menos caso e que eu não me pronunciaria sobre meu namoro, não sabia o que aconteceria dali pra frente, mas cumpri o que tinha dito a , eu desmenti aquela porcaria de história.
Estava com esperança de novo, eu esperaria, queria ficar com a podia demorar o tempo que fosse.
Por mais que tentasse parecer estar bem, eu não era bom naquilo, e os shows daquela semana exigiram muito mais de mim, as perguntas sobre ficaram sem resposta e o meu falso sorriso sempre que isso acontecia não era dos melhores, mas nem eu sabia ao certo a nossa situação, eu só queria conversar com ela de novo, eu precisava vê-la mais uma vez.
E na minha segunda-feira de folga foi o que eu fiz, fui até o seu apartamento.
– Oi, a está? – O porteiro que já me conhecia, me olhou cheio de pena e eu não gostei nenhum pouco daquilo.
– Oi, Seu Luan! A menina foi viajar! – Olhei pra ele sem acreditar, duvidando totalmente, arqueei uma sobrancelha e ele entendeu meu olhar – E é verdade mesmo, ela foi faz alguns dias – Engoli em seco e tentei ter mais informações.
– E você sabe me dizer se ela demora a voltar? – O olhar de pena dele se intensificou e aquele aperto em meu peito voltou com tudo, só esperando o golpe fatal.
– Olha.... A Dona Carla já colocou o apartamento pra sublocação, então acredito que ela não vá voltar tão cedo….
– Obrigada!
O maior balde de água fria, o fio de esperança ao qual eu me agarrava durante esses dias simplesmente sumiu e eu cai no abismo, era real e definitivo. Era o fim. E tudo que eu consegui fingi que estava bem foi pro saco também. Assim que eu entrei no carro, berrei.
– PORRA! Eu não acredito nisso!!! – As lágrimas vieram como uma avalanche e eu taquei o foda-se, quando me dei conta eu estava com o rosto entre as mãos chorando igual um idiota porque eu nem sabia onde ela estava, eu estava oficialmente sem rumo e sem ela.
Sei lá quanto dias se passaram, eu tentava imaginar onde pudesse estar, se ela realmente não estaria mais em São Paulo e aquela dúvida estava me corroendo, eu tinha consciência que minha cara não estava das melhores, assim como meu humor, mas eu já não conseguia me importar com o que as pessoas estavam pensando, pelo menos não no meu dia a dia. Matheus me mandou uma mensagem avisando que viria a São Paulo e era tudo que eu precisava, talvez ele ou soubessem de , eles eram seus confidentes afinal.
Cheguei no hotel de Matheus e assim que ele abriu a porta do seu quarto pra mim, seu olhar assustado apareceu, talvez fosse minhas olheiras fundas, ou a minha cara fechada, ou até mesmo o moletom cobrindo parte do meu rosto mas aquela expressão no rosto dele demorou um pouco a sumir.
– Matheus, me ajuda! Eu preciso encontrar a , falar com ela.... – Entrei e me virei pra ele, ansioso demais pra não ser objetivo – Toda aquela história é mentira, eu nunca trai a , seria incapaz de fazer isso com ela.
Matheus apenas me deu um tapinha nos ombros e apontou para o sofá, sentando a minha frente antes de começar.
– Olha, o negócio tá feio pro teu lado, até minha mãe quer brigar com você por causa das revistas!
– Argh!!! Mas que merda, eu não vou deixar isso me impedir, eu amo ela, cacete! Mais do que tudo, eu só quero conversar com a , é pedir muito? – Ele me olhou cheio de piedade e balançou a cabeça, antes de começar:
– Acho que a nunca te contou porque ela e o Henrique terminaram, né?! O trauma que ele causou.... – Apenas balancei a cabeça negando e fechei meus olhos com força, só imaginando o tamanho do machucado, a profundidade daquela ferida.
era a pessoa mais apaixonada que eu conhecia, o que Henrique quisesse ela fazia, sempre! Mas não ligava, ela só queria ele por perto e foi num dia que ele sumiu, ligava e ele não atendia, e a noite quando resolveu ir até o apartamento dele, que ficava do lado da faculdade ela descobriu que ele a traía e toda a faculdade sabia! o ouviu com uma garota na cama, o Henrique ria e falava que não tinha problema, ele dava um jeito se a namoradinha descobrisse e ela apareceu pra eles e fez o maior barraco, todos na faculdade também souberam do término mas jurou que nunca mais passaria por aquela humilhação! Eu sei de tudo isso, porque foi lá pra casa que a levou e até hoje nós nunca vamos esquecer a maneira que ela ficou, Luan.... – Pela expressão no rosto de Matheus eu pude ter uma noção que deve ter sido muito difícil, que deve ter ficado extremamente mal.
– Não!! Eu não sou esse bosta, eu não trai ela! Eu não fiz isso.... – Me levantei rápido e tentei me defender.
– Luan, você vai ter que respeitar o tempo dela! Até minha mãe tem uma revista com você e aquela modelo na capa! Imagine pra como é isso...
– Cadê ela, Matheus?! – Uma urgência me tomou, eu só queria saber como ela estava naquele exato momento.
– Eu não sei!! – Matheus disse sério e eu deixei uma risada irônica e amarga escapar.
– Para de mentir! É claro que você sabe, caralho! – Levei as mãos ao cabelo e descontei nele minha frustração, bagunçando tudo.
– Juro que não sei, e isso me preocupa pra caramba, cara! Ela se escondeu de todos nós desta vez, todos nós! – Ele me olhou muito sério e realmente preocupado e eu me senti ainda pior.
– Matheus, eu não sei o que fazer cara! – Passei a mão no rosto, realmente sem saber de mais nada, perdido.
– Luan, você vai ter que esperar, vai te que ficar quietinho no seu canto, deixa ela, Véio...
Matheus levantou e foi até a sua mala, mexeu lá por um tempinho e voltou para perto de mim, estendeu sua mão para mim e o que eu vi ali doeu mais do que se fosse um soco na cara, a correntinha com a Medalha de N. Sra. Aparecida que eu dei a , que era como o símbolo do nosso amor e da nossa proteção. Era dela, pra sempre! E doeu saber que aquela situação foi tão grave que se desfez até do colar.
Acreditar que ninguém sabia onde estava era impossível, mas eu dei espaço. Esperei que ela aparecesse em alguma foto, em algum lugar, qualquer coisa, mas nada. O tempo foi passando e eu só sentia aquele vazio ficar enorme, toda a imprensa percebeu que não estávamos mais juntos e eu falava de o mínimo possível, não que isso ajudasse em algo já que eu poderia viver no mais absoluto silêncio e ainda assim conseguiria ouvir sua risada e sua voz sempre que pensasse nela.
Já fazia mais de um mês que eu não via e de todas as coisas que aprendi enquanto ela estava longe foi que aquela falta, aquele vácuo que até então não existia era meu abismo particular, ali eu me perdia e deixava de prestar atenção no que me diziam, fosse importante ou não, eu estava perdido em suas lembranças sem a menor vontade de voltar a realidade, pálida e sem graça. Não tinha calor, não tinha ELA.
Perdi a conta de quantas vezes eu tentei dar um jeito de ir parar em Campinas, torcer por uma entrevista, um show, qualquer desculpa já seria válida para simplesmente escapar de tudo e tentar encontrá-la, cheguei até a um dia passar perto da faculdade dela mas a única coisa que consegui ver foi que nem lá estava, quando eu vi o JP e Bella sozinhos, me dei conta que estava muito mais perdido do que achava.
– Oi, Pi! E aí, tá livre hoje de noite? – Bruna chegou se jogando ao meu lado no sofá, era uma quinta-feira mais tranquila e eu decidi aproveitar aquele milagre e tentar me atualizar nas minhas séries. Olhei para ela desconfiado antes de responder e Bruna deu um sorriso de lado.
– Tô de boa, por que, dona Bruna? – Me ajeitei no sofá e minha irmã sorriu ainda mais.
– Então a noite você vai sair com a gente! Já tinha marcado com uns amigos de ir a um barzinho, você vai gostar! – Franzi o cenho e Bruna levantou balançando a cabeça em negativa. – Nem queira arranjar desculpa! Você precisa sair um pouco, sei que nem seus amigos você tem visto direito, eu só te vejo trabalhando e trabalhando....
– Bruna, eu não.... – Comecei a negar e Bruna voltou e sentou na ponta do sofá, me olhando nos olhos, bem mais séria que o normal mas calma como sempre.
– Olha, Luan, eu sei que você ainda tá esperando algum tipo de sinal da , e de verdade, se for pra vocês ficarem juntos, vai acontecer – Ela deu um tapinha nas minhas costas e roubou a almofada que estava em minhas mãos – Mas você não pode ficar assim, quase que num esconderijo, vamos tentar nos divertir um pouco, que tal?! – Bruna sorriu mais abertamente e deu uma piscadinha antes de começar a sair da sala, não sem antes tentar me acertar com a almofada, me fazendo rir e fingir que ia atrás dela.
Resolvi seguir seu conselho e a noite lá fomos nós até o tal barzinho, que parecia mais uma balada, mas, mesmo assim, muito mais tranquilo que a última vez.
– Hoje vai ter show! - Bruna chegou ao meu lado e indicou o bar do outro do local – Vamos pra lá, daqui a pouco isso aqui vai encher.
Os amigos dela estavam muito animados, peguei uma cerveja e fui pra perto deles, esperar o show começar. Era uma dupla que eu não conhecia, muito boa por sinal, quando começaram a tocar todos foram pra frente, e eu continuei perto do bar.
Ainda estava no começo do show quando eu senti algo gelado nas minhas costas, virei e dei de cara com uma garota segurando seu copo quase vazio.
– Meu Deus! Desculpa! Eu sou o desastre em pessoa, sério! – Ela ainda não tinha olhado pra mim, só pra minha camiseta e pro balcão procurando algo que pudesse ajudar a limpar, segurei sua mão e a fiz parar, consequentemente seus olhos subiram e ela me reconheceu, sorrindo ainda mais sem graça.
– Agora eu me superei, não tinha mesmo ninguém menos famoso pra eu encharcar?! – Ela começou a falar mais baixo, mas eu ainda conseguia ouvi-la e acabei dando risada.
– Tranquilo, nem vai aparecer – Pisquei pra ela que riu e deu de ombros ficando ao meu lado – Quer outra bebida? – Ofereci vendo ela terminar de beber o pouco que ainda restava no copo.
– Deixa comigo – Foi a vez dela piscar pra mim e chamar o barman, disse algo em seu ouvido e ele voltou com um balde cheio de bebida e colocou a nossa frente, recebendo um sorriso dela como resposta.
– Wow! – Sentei ao seu lado no bar e ela me entregou um copo com whiskey – Clarice!
– Luan! – Ela riu antes de brindar comigo e beber seu whiskey.
Clarice não parecia ser uma garota comum por ali, ela não ligava pra música ou para os olhares que muitos homens direcionavam a ela, até mesmo sua roupa não era uma roupa de “balada”, calça jeans, regata preta e um coturno, seu cabelo ruivo era lindo mas seus olhos eram tão marcantes que o resto se tornava secundário.
– Quem diria que encontraria Luan Santana no show do meu irmão! – Ela sorriu e brincou me dando um tapinha no braço – Nem ele sabe disso, o que te traz a esse lugar perdido e quase esquecido?
– Minha irmã me arrastou, mas ser um lugar mais distante é bom pra mim, deve ter pensado nisso também…
– Seja lá do que você está fugindo, aqui nós sempre acolhemos os perdidos e desesperados! – Ela gargalhou antes de erguer seu copo.
– Você se encaixa em qual das categorias? – Ergui meu copo também e Clarice me olhou desconfiada antes de responder.
– Um pouco das duas coisas, nunca se sabe o que é mais forte – Ela virou seu copo e fez uma careta logo em seguida.
Clarice deu uma olhada a nossa volta e se aproximou pra falar em meu ouvido.
– Quer sair daqui? Sei onde ninguém pode achar a gente! – Ela deu uma piscadinha e pegou o balde com as bebidas, nem precisei responder e já estava a seguindo por aquele bar, ela passou pela área de fumantes e entrou em uma porta, era uma área que parecia ser do dono daquele lugar, não tinha ninguém ali, Clarice sentou no sofá e me puxou para sentar com ela.
– Bem melhor assim! – Ela disse rindo e eu a olhei mais de perto, ela tinha se inclinado para encher seu copo e eu pude ver com clareza seus olhos e sua boca a centímetros de mim e em um impulso cheguei ainda mais perto, Clarice sentiu minha aproximação e sorriu largando a garrafa de bebida, larguei meu copo e coloquei a mão em sua nuca, vendo ela reclamar pelo contato com meus dedos gelados antes de fechar os olhos e beijá-la.
Entre perdido e desesperado, eu estava uma mistura dos dois durante aquele beijo/amasso, eu sentia ela mordiscar meu lábio, puxei o cabelo dela que só fez gemer e me puxar ainda mais para si, tinha muita energia ali, muito tesão, e quase nada se passava pela minha mente, a não ser quando nós quase avançamos, ela subiu no meu colo e começou a distribuir beijos pelo meu pescoço, foi até minha orelha e sussurrou: “Relaxa, você tá muito tenso.... Eu não mordo, meu bem!”.
E como um flash, aquela fatídica noite na boate veio em minha mente, aquela tal Hellen falando a mesma coisa pra mim em meu ouvido, me fez lembrar do porquê eu estava ali, do porquê eu não estava mais com . E eu travei, Clarice me olhou estranhando e nesse exato momento meu celular começou a tocar, era Bruna querendo saber onde eu estava e se eu iria embora com ela.
Dei um último selinho em Clarice e fui ao encontro da minha irmã, me sentindo péssimo novamente.
Assim que cheguei em casa peguei mais uma cerveja pra tentar esquecer aquela noite e fui direto pro meu quarto, peguei uma camiseta pra usar como pijama mas acabei pegando uma camiseta que já era “dela”, tinha se apropriado dela há alguns meses e o cheiro inconfundível do seu perfume me invadiu completamente, junto das lembranças de ali naquele quarto comigo, ela amando a decoração, ela dançando por ali.... em todos os lugares.
Decidi ir pra sala e tentar me concentrar em qualquer coisa na TV que me fizesse esquecer, eu precisava esquecer.
As mãos dela percorriam meus cabelos como costumava fazer, seus beijos em meu pescoço eram frios e ela tentava alcançar minha boca a todo custo mas eu não deixava, eu não conhecia aquele cheiro, e nem mesmo seu rosto eu podia ver, aquela mulher voltou a tentar me beijar e foi direto em meu ouvido e disse: “Ela não volta!”, “Você é só meu agora”.
Quando aquela boca fria finalmente tocou a minha eu acordei, suando e sentindo meu coração acelerado, sentei no sofá e senti aquela presença me rondando, era a minha solidão me fazendo companhia novamente junto da minha ferida aberta, roubando o lugar que era só de .


Capítulo 18 - Parte II



O único poder que eu gostaria de ter nesse momento era o de conseguir rasgar meu peito e tirar meu coração de dentro, para que respirar direito não doesse tanto quanto agora. Assim que bati a porta e espiei pelo olho mágico, vi Luan indo embora sem olhar pra trás e desabei completamente, como se estivessem me sufocando e eu não conseguisse escapar, aquela lágrima e aquele eu te amo que Luan disse quase me fizeram fraquejar, eu quase cedi. Quase. Mas mesmo com a dor que me esmurrava nesse momento, eu sabia que não aguentaria mais tanta pressão sobre mim, não sem conseguir confiar em Luan.
E foi pensando nele e em tudo que aconteceu, na suposta traição, nas matérias das revistas, no que nossa vida se tornaria, que tomei uma decisão que doeria mais em mim do que em qualquer pessoa. Mal conseguindo enxergar as coisas a minha frente corri para o meu quarto, puxei a maior mala que consegui achar e comecei a jogar minhas coisas dentro dela, mas tive de parar quando encontrei uma camiseta dele ali, uma que Luan tinha esquecido ali há algum tempo e ainda tinha seu cheiro, seu perfume marcante e que agora me maltratava como nunca e tudo que restava eram as lágrimas, chorei como um bebê, me sentia desamparada como um, sem conseguir chamar por ninguém. Nunca doeu tanto, chorei por lembrar de Luan naquela revista, por ter de terminar o meu namoro, por ter que me deixar aqui.... Eu sentia uma parte de mim indo embora junto dele e eu não sabia o que ia sobrar de tudo isso. Durante toda a madrugada eu chorei, escrevi uma carta para e tirei meu amado colar do pescoço. Tudo doía mas tinha prometido a mim mesma que ia deixá-lo, se ia fazer isso, o faria direito.
Liguei para a única pessoa que podia me ajudar naquele momento e foi difícil segurar as lágrimas pra conseguir falar:
– Eu preciso de você!
– O que foi, ? O que houve?
– Vem me buscar, Rod! Por favor!
Ele deve ter voado na estrada porque chegou em tempo recorde, assim que eu o vi na minha porta, me deixei desabar nos braços do meu irmão e chorei ainda mais, sentindo a realidade me atingir em cheio quando ele me afastou para entrar no apartamento e foi direto a mesinha de centro, onde as malditas revistas ainda estavam escancaradas nas matérias sobre Luan e aquela garota.
– Ele fez isso com você?! Filho da mãe, ele vai ver... – Rodrigo pegou as revistas e leu os destaques da matéria, começando a ficar vermelho em segundos e amassando a revista com uma das mãos.
– Shhhh... Eu quero ir pra casa! Por favor! – Peguei minha chave do apartamento e acenei pra minha mala, ele a pegou e não questionou minha decisão.
– Vem, baixinha! Vamos! – Eu vi o quanto ele estava se segurando pra não explodir de raiva, estendeu a mão para mim e assim que eu a peguei, ele beijou as costas das minhas mãos e me abraçou muito apertado, passei na portaria e deixei a carta pra .
Voltamos pra Campinas em um silêncio quase ensurdecedor, não queria falar sobre o ocorrido mas também não conseguia fazer parar de doer, e quando me dei conta algumas lágrimas surgiam, as memórias da noite anterior maltratavam e eu não podia fazer nada a não ser fingir que ia ficar tudo bem. Mesmo quando nem eu mesma acreditava nisso.

Foram dois dias horríveis que acabaram em uma decisão que eu via como a minha única saída, liguei pra minha tia em Nova York e depois de quase meia hora via Skype ela concordou em me receber nos Estados Unidos, ela ligou pra resolver a situação do apartamento e me disse que quando eu quisesse podia ir ao seu encontro.
Pela primeira vez voaria sem meu amuleto, mas era necessário, eu sabia que se ficasse “perto” e acessível a Luan eu cederia e isso me destruiria ainda mais, destruiria meu sentimento por ele, a imprensa viria com sua crueldade pra cima de mim e eu não estava com força pra enfrentar isso.
Talvez estivesse sendo mesmo covarde e egoísta mas era o único jeito que eu sabia de me proteger de mim mesma e da persuasão de Luan, pelo menos foi isso que eu fui mentalizando do Brasil até Nova York, esperando do fundo do meu coração que aquilo me ajudasse a superar.
Cheguei aos Estados Unidos determinada a não ficar pensando em Luan, em não deixar a saudade ditar minha vida e tentar voltar a me concentrar no que era melhor pra mim, meu pai por incrível que pareça me deu todo o apoio nessa viagem (diferente de minha mãe) e ainda me indicou alguns cursos rápidos de inglês para que eu melhorasse o meu desempenho no idioma estrangeiro, outro sobre comunicação e até me ajudou a conseguir mudar meu curso de jornalismo para que eu continuasse minha faculdade a distância, assim não sobrava espaço na agenda pra mais nada a não ser estudar.

Abril de 2014

Já havia passado um mês desde que vim para Nova York, e tentar me distrair era quase uma missão impossível, justamente hoje meu cérebro resolveu pregar várias peças e estava mais difícil esquecer tudo que eu deixei no Brasil, principalmente a parte que ainda doía. Cheguei na sala de aula e Rachel, uma das meninas que sempre sentava perto de mim, acenou me chamando.
– Hey, ! Vamos pra um barzinho depois daqui? Hoje a noite é super especial!
– Hmm... Não sei, não tô muito a fim.
– Ah para, você nunca veio com a gente! Só hoje, por favor! – Rachel enganchou seu braço ao meu e começou a se aproximar ainda mais piscando rápido, tentando parecer angelical, me fazendo rir.
– O.k.! Mas não garanto que vou ficar muito tempo, está bem?! – Disse a ela assim que encontrei meu lugar.
– Perfeito!

A aula passou normalmente e quando me dei conta Rachel já estava me esperando no lado de fora da sala pra irmos ao tal barzinho. Para a minha total falta de sorte, justamente naquela noite eles escolheram um bar que tocava músicas brasileiras, e não havia nada que eu pudesse fazer. Lucas, um dos garotos da nossa sala que também era brasileiro, estava mais do que animado e já chegou pedindo uma rodada de tequila pra nós.
– Vem, vamos dançar essa! – Lucas puxou Rachel para o meio da pista de dança que começava a tocar alguma música animada que eu desconhecia, fiquei perto do bar observando as pessoas e meu coração parou quando eu vi um cara MUITO parecido com Luan, me olhando do outro lado da pista, ele me olhava muito concentrado e eu sentia o nervosismo crescendo a cada instante. Balancei a cabeça e olhei novamente naquela direção mas ele não estava mais lá.
Me assustei quando dei de cara com Lucas estendendo a mão pra mim, sorrindo abertamente.
– Sua vez! – Tentei negar mas quando me dei conta já estava no meio da pista de dança, me balançando ao som de algum remix brasileiro, e aquele cara voltou.
Lucas colocou as mãos na minha cintura e meus olhos procuraram involuntariamente aquele olhar, eu não sabia nem se era real mas os arrepios em meu corpo respondiam a ele, respondiam a expectativa.
Levantei meus braços e continuei a me balançar no ritmo da música, olhei ao meu redor mas não vi mais aquele cara me observando, e me dei conta que aquele remix era de uma música do Luan, que aquilo era uma miragem e que ele estava mais presente do que eu pensava na minha vida.
Ao voltar pra casa achei estranho ter recebido uma mensagem da minha tia Carla, afinal ela sempre deixava algum bilhete espalhado pela casa mas nunca mensagem, a primeira delas era assim:
“Eu te amo e estou sempre do seu lado, mas não deixe passar nem um segundo de felicidade, ! Pense nisso!”
Logo em seguida tinham dois vídeos, no primeiro Luan estava em sua casa com uma luz semiapagada, violão no colo e touca de moletom na cabeça, o vídeo era comprido e Luan cantava várias músicas mas não pude deixar de reparar em suas olheiras e em sua voz cansada, quando depois de umas duas músicas ele começou a tocar uma que parecia ser importante, pigarreou e antes de começar disse:
“Presta atenção nessa letra, é de machucar o coração hein!”
Luan deu um meio sorriso, fechou os olhos e dedilhou o violão:
Você ainda nem me disse
Por que tudo terminou
Admita, nada fiz de tão errado
Eu te amei bem mais que tudo
Só Deus sabe como
Te amei e foi demais te amar
Se você pensar um pouco
E parar pra refletir
Não pode esquecer de mim

Seu olhar veio diretamente para a câmera e sentia como se ele pudesse me ver ali, sentindo tudo de novo, com mais força ainda.
A relva, as flores, a roupa, detalhes
O vento, a brisa, o frio, o orvalho
Eu não vou te esquecer, não vou
Te esquecer é impossível,
Meu amor…
Terminou com a voz embargada e disfarçando para secar os olhos, quando me dei conta as lágrimas que escapavam dos meus olhos, junto ao meu coração acelerado me fizeram morrer de saudade de ouvi-lo cantar e de tê-lo por perto.
O segundo vídeo terminou de me machucar, era a continuação do anterior e não deixava dúvidas sobre o tipo de recado que Luan estava mandando diretamente pra mim, ele sabia que aquela música do Sandy e Júnior mexia comigo e principalmente agora, na nossa situação atual era como se ela tivesse sido feita para nós:
“Essa vai pra uma pessoa muito especial, que gosta demais dessa música”

Quanta bobagem
Tudo o que se falou
Me olho no espelho
E já nem sei mais quem sou

Quanto talento
Pra discutir em vão
Será tão frágil
Nossa ligação

Não tem que ser assim
Tanto desencontro, mágoa e dor
Pra quê que a gente tem que
Se arriscar

Então volta pra mim
Deixa o tempo curar
Esse estranho jeito de amar

Luan não disse mais nada, desligou a câmera e eu fui atingida com toda a força pela saudade que vinha reprimindo, podia sentir sua dor, através da sua voz sabia que ele estava tão machucado quanto eu, mas, ao mesmo tempo, sentia em meu coração aquela dor e o medo de deixar acontecer, medo de sofrer ainda mais. Sem nem me dar conta já estava no instagram dele, em uma foto qualquer, cheia de comentários de seus fãs sobre os vídeos, cheia de pessoas querendo saber se eram para mim, se Luan estava bem, ele tinha apagado a maioria dos vídeos, mas, ainda assim, os fãs não deixaram passar.
Me assustei quando meu celular tocou, sequei meu rosto e atendi sem nem ver quem era, mas a voz do outro lado era o que eu mais precisava naquele momento:
– Não briga comigo! Nem com o Rodrigo! – A voz brincalhona de se fez ouvir e meu coração se aliviou imediatamente.
– Dona , então você me achou!
– Eu tô a beira de um colapso, mas.... – A voz dela vacilou e depois de alguns momentos de silêncio voltou a falar – tá chegando o dia do casamento, você vem né?! – Eu sabia que estava dando seu máximo pra segurar as lágrimas e isso só me fez chorar mais ainda.
, nada no mundo me impediria de estar ao seu lado nesse dia, eu vou, guarda meu lugarzinho! – Tentei segurar mas minha voz entregou toda a emoção e sabia o quanto era difícil me fazer chorar e isso a deixou ainda mais emotiva.
– Ai, ! Eu tô morrendo de saudades! Volta logo!
– Calma! Nós vamos nos reencontrar! Confia em mim!
Depois de um tempo, desliguei o telefone sabendo que não dava mais pra adiar, eu veria Luan novamente, eu estaria a pouquíssimos metros dele e só me restava pedir a Deus para resistir. Eu precisava resistir!


Capítulo 19



O fato de até o ar parecer diferente, ouvir as pessoas conversando em português a minha volta e sentir o calor maravilhoso assim que cheguei ao aeroporto de Santa Catarina fizeram a ficha cair ainda mais, eu estava no Brasil prestes a reencontrar meus amigos e talvez sem nenhuma estrutura pra realmente enfrentar os próximos quatro dias.
A pousada escolhida por Matheus e ficava em uma ilha mais afastada de Florianópolis, perto do mar e rodeada de natureza, parecia ser o lugar perfeito pra celebrar a união do meu casal favorito, o lugar perfeito pra se sentir em paz, mas assim que desci do carro, um arrepio subiu pela minha espinha e aquela inquietação que há tempos não sentia ressurgiu com toda força. Respirei fundo até a entrada da pousada, tentando acalmar meu coração, esperando que ele não vacilasse.
– MANU! – Ainda estava na porta quando Matheus gritou meu nome, atraindo não só minha atenção como de algumas pessoas que estavam por ali, fui com minha mala até ele que abriu os braços me acolhendo em seu abraço super apertado, do qual eu estava morrendo de saudade. – Você demorou demais, garota! Já estava pronto pra ir atrás de você com minha equipe de resgaste!
Gargalhei perto de sua orelha, sentindo ele rir também e me erguer do chão.
– Senti muito sua falta, de verdade! – Ele se afastou um pouco para conseguir me observar melhor e vi em seus olhos que ele estava com vontade de chorar assim como eu, mas resolvi fazer uma careta que o fez revirar os olhos e me abraçar novamente.
– Sempre chata, nunca vi igual! – Ele me chacoalhou quase me fazendo cair e eu ri da maneira idiota que estávamos agindo, meu olhar desviou de Matheus fazendo cena a minha frente para o outro lado da recepção, parado, com os olhos cravados em nós, lá estava Luan, sem fazer a mínima questão de disfarçar, mas também sem se atrever a vir até nós.
Desviei meu olhar para a recepcionista que pedia meus documentos enquanto Matheus continuava com suas palhaçadas. A moça me entregou a chave e sem que eu percebesse meu amigo já estava com minha mala em mãos, me abraçou pelos ombros e foi caminhando comigo.
– As mulheres estão ocupando todo o lado direito da pousada e a está morrendo de saudade, então já sabe.... Vai te trancar por umas cinco horas e arrancar todos os segredos da sua alma – Ele me conduzia em direção as escadas, exatamente onde Luan estava, exatamente onde não queria ir tão cedo. Tentei resistir e desviar o olhar, mas quando me dei conta, lá estávamos nós.
Nossos olhares que não conseguiam se desgrudar, tão perto, cada detalhe ali, toda a saudade que não consegui sufocar voltando sem pedir licença, graças a Deus Matheus estava me abraçando, graças a Deus ele me puxou de leve e eu segui ao seu lado escada acima, sentindo que aqueles olhos ainda estavam me observando, sabendo que se eu obedecesse a vontade de parar e só observar, eu ficaria perdida ali por mais tempo do que aguentaria.
– Você tá bem?! – Assim que chegamos ao topo da escada, Matheus parou na minha frente e ficou me observando, sentia minhas mãos levemente trêmulas e o coração acelerado, não sei como estava minha aparência mas sabia que não estava totalmente bem e meu amigo percebeu, sem que eu precisasse responder ele me abraçou novamente.
– Vamos lá, tô bem! – Sorri tentando acreditar em minhas próprias palavras, mesmo sabendo que não funcionaria por muito tempo mas era preciso tentar.
, por favor, você precisa confiar em mim e na , a gente te quer bem aqui, ouviu?! – Paramos na frente de uma das portas e eu sorri para ele, sentindo todo o carinho dos meus amigos ali – Jura que você vai falar se algo ou alguém te incomodar? – Matheus me estendeu o dedo mindinho e eu ri antes de fazer o nosso juramento.
Olhei o número da porta e me dei conta que aquele era de fato o meu quarto, Matheus me ajudou com a mala e logo saiu, assim que fiquei sozinha tirei meu sapato e dei uma olhada no quarto, aconchegante e lindo, com uma vista incrível para o jardim, parei de frente para o espelho e foi impossível conter os pensamentos. Ali encarando o meu reflexo eu tentava imaginar como seriam os próximos dias, como agir com tanta gente ao meu redor mas me sentindo sozinha. Era o meu amor pela e por Matheus que me trouxe até aqui, só por eles para eu encarar tudo isso de novo.

Ouvi as típicas seis batidinhas na porta, aquele ritmo que só uma pessoa fazia e vi sua cabeça aparecer na porta.
– Pode entrar, coisa chata?! – perguntou enquanto já abria a porta por completo e entrava no quarto.
– Não ia deixar, mas já invadiu, vou fazer o quê?! – Ri vendo me olhar com os olhos semicerrados, antes que a bronca viesse, fui até ela e a abracei tão forte que nós caímos na cama gargalhando.
– Eu te odeio sabia, porque você sumiu assim, ?! Eu também te amo, poxa! – Sentamos na cama e ela me olhava como se pudesse me ler por completo, e eu sabia que realmente podia. Seu olhar preocupado se intensificou, me analisava com seu jeito protetor e só eu sabia o quanto correr pra ela era a única coisa que eu queria fazer nos dias mais difíceis, mas não pude.
– Não dava pra continuar aqui, , eu seria triturada pelas notícias, me renderia e simplesmente acabaria comigo mesma, eu não ia suportar – A cada palavra parecia que eu mesma enfiava tachinhas em meu coração. Era como reviver os três piores meses da minha vida.
Me assustei quando vi trazendo sua mão para o meu rosto, ela secou as lágrimas que eu nem tinha sentido cair e também mexeu no meu cabelo, como se estivesse me recompondo.
– Eu só queria te cuidar, mas você fugiu de mim, sua doida! – Ri de leve e ela cutucou minha barriga tentando me fazer cócegas mas logo voltou a ficar séria.
– Quase infartei quando fui até seu apartamento atrás de você, e seu porteiro me entrega aquele envelope. , me escrever que vai sumir por um tempo, e eu não conseguir nem te ver, só me mata por dentro menina! Não faz mais isso! Promete?! – E mais uma vez lá estava o dedo mindinho estendido pra mim, sorri pela coincidência e cruzei nossos dedos em uma nova promessa.
– Prometidíssimo!
pareceu se lembrar de algo e começou a me puxar na direção da porta.
– Vem ver meu vestido! Preciso muito da sua opinião, tenho que arrasar com ele, né?! – Ri do jeito exagerado dela e a segui, atravessamos o corredor, enquanto lutava com a trava da porta, fui pega de surpresa pelo som daquela gargalhada inconfundível de Luan. Aquela que eu adorava ouvir pertinho do meu ouvido até pouco tempo atrás.
?! – já estava dentro do quarto me esperando, balancei a cabeça pra tentar afastar aquelas lembranças e entrei na enorme suíte da minha amiga.
Ela demorou um tempo se trocando mas quando surgiu naquele vestido branco, digno de princesa, como nos sonhos mais lindos, tive que segurar a emoção assim como ela que se virou para o espelho e me olhando pelo reflexo perguntou:
– O que achou? – Os olhos dela brilhavam de emoção e eu me aproximei com todo o cuidado e a abracei por trás, nos encarando pelo espelho, com os olhos cheios de lágrimas.
– A noiva mais incrível que eu já vi!
– Então quer dizer que a dupla imbatível já se encontrou! Devo ter medo dessa união – A voz de Dona Cristina, mãe da , surgiu atrás de nós e eu me virei assustada.
– Que saudade, ! – Ela abriu os braços para mim e eu a abracei apertado, fazendo-a rir.
– Nós temos o ensaio e o jantar amanhã! Vocês duas me ajudem a resolver os detalhes de tudo, pelo amor de Deus! – nos olhou pelo espelho e nós duas batemos continência enquanto nosso xerife ia retirar seu vestido de noiva.
– Como você está? Fiquei muito feliz em saber que você vinha, estava quase infartando… – Ela sorriu com seu jeito doce para mim e eu balancei a cabeça negando.
– Eu jamais faltaria…. – Fomos até a janela, dali dava pra ver um pouco da praia e do jardim incrível e florido da pousada – É a nossa , né!
– Eu sei, nunca duvidei, só foi difícil convencer a se acalmar – Nós rimos no exato momento em que voltava para perto de nós.
– Do que as madames estão rindo?
– Nada não, na realidade vim chamar vocês para a piscina, algumas meninas já estão lá, e tá tão calor que acho que vale a pena! – Cristina piscou para nós e aquela ideia maravilhosa veio como uma luz pra mim. Estava morrendo de saudades de me divertir com as minhas amigas e piscina era sempre uma boa pedida.

Nos arrumamos na velocidade da luz e descemos ao encontro das outras madrinhas, assim que entrei na piscina aquela sensação de liberdade me dominou e a cada mergulho era como se um peso enorme saísse de mim e eu ganhasse vida. Liberdade. Algo que parecia estar longe, que eu havia esquecido como era.
Brincamos e ficamos à beira da piscina por horas, me apresentou as mulheres que eu não conhecia, revi algumas e fui atualizada de todas as coisas que aconteceram enquanto estive fora.
Já passava das quatro da tarde quando decidi voltar para o meu quarto e descansar até a hora do jantar, estava distraída amarrando minha saída de praia, sem perceber que vinha gente na minha direção, só me toquei disso quando senti um perfume muito familiar e por pouco não bati em cheio contra Luan que caminhava mexendo em seu celular.
– Wow! – Saiu involuntariamente e eu quis me socar por isso, Luan me olhou surpreso e eu não sabia o que fazer.
– Oi! – Ele disse tímido, sorrindo de lado e me analisando, seus olhos passeavam por todo meu rosto e eu me sentia despreparada para aquele encontro – , eu preciso falar com você!
Luan começou a tentar falar mas eu o cortei.
– Não, agora não, deixe as coisas como estão…. Por favor! – Desviei dele e segui para meu quarto, sem olhar para trás, resistindo a observá-lo, a deixar aquele sentimento voltar.

xxx


O dia seguinte amanheceu agitado, mal acordei e já recebi uma mensagem de me lembrando do ensaio e do jantar. Aproveitei para ir andar pela praia, conheci alguns outros convidados no meio do caminho, almocei com os pais de e depois fui pra piscina pegar sol e ler um pouco. passava as vezes como um borrão, correndo pra lá e pra cá com a cerimonialista.
Tomei um banho e dormi feito uma pedra, acordei em cima da hora do ensaio, me arrumei rápido e fui atrás de todo mundo, encontrei toda a família de no salão da festa que já estava quase pronto para o grande dia.
– Que bom que você chegou, vem ver isso! – me olhou surpresa e animada, pegou em minha mão e me levou até algumas mesas que já estavam prontas, me mostrou os arranjos e até o que seria distribuído aos convidados. Estranhei tanto empenho em me mostrar decorações, como estava fazendo, mas assim que ouvi um microfone sendo plugado e aquela voz enchendo o ambiente, eu entendi tudo.
Luan tocaria algumas músicas no casamento, entre elas a música ‘Tudo Que Você Quiser’, a preferida de , tentei ao máximo me conter, ele tocou mais umas duas músicas animadas e me olhando de longe, como se só estivéssemos nós dois ali, ele começou a dedilhar o violão como quem não quer nada e sorriu de leve antes de cantar ‘Promete’.

É impressão minha
Ou o Sol brilhou mais forte quando olhou pra mim?
O brilho desceu das estrelas e no meu olhar ficou até o fim


Ele sabia que aquela era uma das minhas favoritas, as lembranças que essa música me trazia, os beijos e os abraços que trocamos enquanto ele falava ao pé do meu ouvido que iria me proteger, tudo voltando como um rolo compressor esmagando meu coração, aqueles olhos fixos ao meu enquanto as lágrimas queriam escapar de qualquer jeito. Mas eu tentei ser forte. Tentei.

É impressão minha ou metade do meu peito mora em você?
Se o mal chegar, entro na frente pra te proteger


Luan continuou a música mas eu não tinha mais condições de ficar ali, ele me viu saindo daquele salão quase correndo, sufocada por tantas coisas ao mesmo tempo. Fui para o jardim e me sentei no primeiro banco que encontrei, olhei para cima para evitar que aquelas benditas lágrimas descessem e senti uma mão pegando na minha, me fazendo pular de susto.
– Dá um espacinho aí! – A mãe da apareceu sorrindo, dei espaço pra ela sentar e Dona Cristina me abraçou de lado, fiquei ali por um bom tempo até ela se afastar para poder me olhar com seu jeitinho maternal de sempre.
– Ah, ! Sei que deve ser difícil pra você, mas… – Ela segurou minhas mãos e me fez olhá-la nos olhos – Tudo tem um motivo, não queira correr quando precisa apenas caminhar, viva o agora! Não fuja do momento, se você está aqui é pra realmente viver esses dias, se permita meu bem!
Algumas lágrimas escaparam, enquanto Cristina levantava para me dar um beijo na testa e logo em seguida sair, me deixando ainda mais pensativa.
Eu sabia que estava fugindo de Luan, queria evitar aquele conflito, queria evitar os sentimentos e aquela música acordou todos eles, tudo que eu tentava evitar a meses foi por água abaixo ao ouvi-lo cantar “para mim”. Eu estava perdida, já não me restava dúvidas quanto a isso.
Quando voltei ao salão estava me esperando para o ensaio, fomos até o local onde seria a cerimônia em que todos os padrinhos e madrinhas estavam, a cerimonialista organizava os casais segundo uma lista que minha amiga entregou a ela, congelei no lugar quando vi Luan ali sem par olhando para mim, mas me fez andar e me colocou no começo da fila.
– Andrew! – chamou um dos rapazes que estavam fora da formação e ele veio sorrindo até nós – Lembra da ?!
Nos cumprimentamos e sorriu pra mim com seu jeito nada discreto quando queria me juntar com alguém, embora ele fosse muito bonito, ela sabia que eu não ia ficar com ninguém naquele casamento.
, o Andrew é meu primo lá do Canadá e será seu par! Por favor, se comportem que vocês serão os primeiros a entrar! – Ela deu uma piscadinha para nós e saiu, me deixando mais vermelha que um tomate enquanto o tal primo riu achando graça. Ele era lindo, sorriso largo, cheiroso, cabelo curto e com algumas tatuagens que não ficavam completamente escondidas por sua camiseta e que o deixavam ainda mais interessante.
, é doida, mas…. – Ele se aproximou para sussurrar em meu ouvido: “Ela disse que é pra eu grudar em ti, e não deixar nenhum cantor se aproximar”. – Se quiser mesmo isso, pode contar comigo – Ele sorriu cheio de charme e eu quis estrangular tanto quanto Andrew, mas nem deu tempo, a cerimonialista apareceu para nos instruir e nos indicar como seria nossa entrada e que lado seguir depois.
E lá fomos nós, a música começou a tocar e eu pensei que entraria de braço dado a Andrew mas ele, de última hora, entrelaçou sua mão a minha e entramos. Eu sentia o olhar de Luan nas minhas costas e minha teoria se confirmou quando ele entrou com outra amiga de , fuzilando Andrew com os olhos, quando ele viu a mão de Andrew em minha cintura Luan fechou mais a cara e caminhou mais rápido recebendo uma bronca da cerimonialista.
Depois da entrada maravilhosa de , onde deu pra ver o amor ali, palpável, inegável mesmo que fosse apenas um ensaio, Matheus pediu um microfone e o olhou em alerta.
– Eu sei que isso não está no script, mas eu queria aproveitar que estamos aqui entre os amigos mais íntimos, nossos pais e padrinhos e que talvez amanhã eu não tenha tanta coragem assim…
Matheus deu uma tossidela e tirou o celular do bolso, olhou para e começou:
– Sei que já disse o quanto você é importante pra mim, mas não te disse que o que você fez para ficarmos juntos agora me fez te amar mais e reconhecer sua força. Eu pensava que a mulher ao meu lado era frágil e não saberia lidar com a pressão, eu quis esconder, fingir, e quase te perdi por isso…
já estava com os olhos cheios de lágrimas e eu nem mais disfarçava meus olhos marejados, assim como Cristina já chorava discretamente.
– Mas eu conheci a que não tem medo de desafios, que se transforma e faz com que eu me transforme numa versão melhor do que eu poderia sonhar em ser. Obrigada, meu amor por me escolher, porque você é a razão de eu me sentir o cara mais sortudo do mundo e nunca esquecer datas importantes, porque se são importantes pra você, se tornam para mim. Você é o que importa e eu quero ser seu, pra sempre de agora em diante.
Minha amiga não conseguiu aguentar e já estava com as lágrimas correndo livremente por seu rosto, ela deu um selinho nele, olhando mais do que apaixonada para Matheus, que tentava a todo custo não chorar ali, pegou o microfone dele e olhou para nós, rindo em meio as lágrimas.
– Guardem cada palavra, vamos fazer ele repetir amanhã na frente do padre!
Ela deu uma piscadinha e todos caíram na risada enquanto Matheus balançava a cabeça veementemente negando.
– Bem, sacanagem você preparar algo e nem me avisar! Mas…. – levou a mão até o bolso mas não tirou nada de lá, e Matheus riu dando de ombros – Vou improvisar mesmo! Se ficar feio, eu tento melhorar depois – Ela deu um sorrisão pra ele e pigarreou antes de começar seu discurso: – Eu descobri nesse período de correria, depois que decidimos adiantar tudo, mudar nossa vida de lugar, que o tempo tem que ser nosso melhor amigo, quando eu sentia que não tínhamos tempo pra mais nada eu fazia questão de parar tudo e ir até você, de sentir você e o tempo juntos, nós, porque é o que realmente vale a pena, se não fosse nossa história, eu não faria, se fosse outra pessoa não valeria, se não fosse o nosso amor, tenho certeza que não lutaria com tanta garra. Você faz valer a pena, Matheus, o que já temos e o que estamos construindo não me deixam esquecer que eu tenho o melhor cara do mundo do meu ladinho. Te amo!
sorriu em meio as lágrimas e Matheus abaixou a cabeça chorando como nunca tinha visto antes, tentei secar meus olhos mas a emoção me fazia chorar ainda mais. Andrew começou a me zoar e eu virei o rosto, me deparei com Luan me encarando, não sei por quanto tempo ele estava me olhando do outro lado do corredor mas aquele olhar me fez arrepiar e fraquejar, era como uma conversa não-verbal, como se só estivéssemos nós ali e tudo que eu não deixei ele falar viesse aos seus olhos. Eu me via nele, vi uma mágoa enorme e o que eu mais tentava esconder também apareceu, o amor. Impossível disfarçar nossa conexão, impossível negar que nós precisávamos conversar de verdade e que a saudade era algo presente.
Só cortamos contato visual porque e Matheus começaram a fazer graça no altar e todo mundo começou a gritar enquanto eles se beijavam.
Depois desse momento incrível fomos para o jantar, e ali Andrew foi a melhor companhia de todas, conversamos o tempo todo sobre a vida dele no Canadá e sobre a minha em Nova York, sobre como ele estava feliz em saber que agora estaria mais próxima e obviamente ele adorava provocar Luan. Quando me dava conta Andrew estava perto demais, segurando minha mão sobre a mesa, agindo como se tivéssemos algo a mais e em seguida se afastava com um sorriso no rosto.
– Já vou, Andrew! Foi muito bom te reencontrar, amanhã nos vemos no…. – Andrew levantou e estendeu a mão para me ajudar a fazer o mesmo.
– Te acompanho, Srta.! É um perigo esses lugares a noite! – Ele disse baixo cheio de sarcasmo me fazendo rir.
– Vamos! Trouxe um facão ou algo assim pra nossa segurança?! – Aceitei o braço que ele me oferecia, já que meus pés pediam socorro aquela altura do campeonato, e me apoiei nele indo até a saída.
– Claro que sim! Meu estilingue é tudo que precisamos! – Andrew disse sério e a única coisa que pude fazer foi gargalhar da nossa idiotice, perto da porta Luan nos observava com seu semblante mais sério que o normal, seus olhos indo diretamente onde meu braço estava entrelaçado ao de Andrew e eu apenas dei de ombros, não ia me importar por ele não gostar, eu já não tinha mais nada a ver com aquilo.
Passamos reto por ele e Andrew me ajudou com o caminho de pedras até a entrada dos fundos da pousada, assim que pisei ali arranquei aquelas benditas sandálias e segui ao lado dele até meu quarto.
– Prontinho, tá entregue! – Andrew deu uma piscadinha marota para mim e se encostou no batente da porta – Mas se quiser, posso ficar…. – Ele me lançou seu sorriso mais lindo e eu sorri sem graça.
– Agora, não! Boa noite, Andrew – Me aproximei e dei um beijo demorado em sua bochecha, sentindo uma de suas mãos em minha cintura, quando me afastei ele apenas assentiu e ficou me observando entrar no quarto.
A única coisa que eu realmente queria e precisava era dormir, tentar descansar para o casamento, para estar sem olheiras, consegui por muito menos tempo do que gostaria, olhei no meu relógio e era uma da manhã e eu não tinha conseguido dormir praticamente nada. Pensei que fosse o calor, ou algum bichinho, mas aquela sensação de sufocamento e um aperto no peito me fizeram levantar da cama. Coloquei um casaquinho qualquer que encontrei por ali, peguei meu celular pra iluminar o caminho e coloquei meus chinelos e saí dali.
Como suspeitava não tinha ninguém por ali, um breu total, usei meu celular pra conseguir chegar até a cozinha, peguei um copo de água e reparei em outra luminosidade que vinha de fora, da varanda dos fundos onde havia uma rede e vários banquinhos, muitas flores e árvores e a Lua, linda e enorme iluminando toda aquela área.
Decidi ficar por ali, sentei no murinho que cercava aquela varanda e respirei fundo. Sentindo aos poucos a falta de ar ir embora e o aperto no peito dar uma aliviada. Levei minha mão ao meu peito e sem nem perceber a subi indo direto para o meu pescoço vazio. Repetindo minha mania de sempre segurar a medalhinha de N. Sra. que eu tinha e me ajudava a ficar mais calma, mas há três meses eu ainda cometia esse ato falho de buscar algo que já não me pertencia mais.
Fechei os olhos e respirei fundo novamente, só que desta vez senti o cheiro do meu perfume favorito junto a brisa. Era o perfume dele, mas não tinha coragem de olhar pra trás e confirmar se era real ou não.
– A lua está tão linda hoje – Aquela voz inconfundível se aproximou e eu tive de me esforçar para esconder um arrepio que tomou conta de mim.
Luan sentou na outra ponta do murinho e olhou para o céu.
– Está mesmo – Respondi fazendo o mesmo que ele – Ainda mais hoje… – Escapou da minha boca algo que eu vinha pensando desde o discurso da , “se não fosse nosso amor, não teria lutado com tanta garra”, se Luan e eu ainda estivéssemos juntos estaríamos fazendo um ano desde o nosso reencontro em São Paulo, onde nós realmente ficamos juntos, onde decidi lutar por aquele amor mas agora já não valia de nada essa lembrança.
Luan se virou de frente pra mim, olhando como se tivesse ouvido o que eu falei.
– Você lembra que dia é hoje? – Luan perguntou sério, com o olhar cheio de expectativas e aquilo doeu, ele não tinha que lembrar de nada, abaixei minha cabeça preferindo o silêncio.
– Por hoje ser um dia tão especial pra mim, será que você poderia aceitar um presente, em nome do nosso quase aniversário?
Luan se levantou enquanto eu observava cada um de seus passos. O coração acelerado, o receio e principalmente a saudade, e o que todos esses fatores juntos seriam capazes de causar me fizeram segurar a respiração.
Ele esticou a mão para mim, a peguei receosa e Luan me levou para mais perto dele, me parando de costas, vi por cima de meu ombro ele tirando algo de seu pescoço e trazendo para o meu, a medalhinha que eu tinha devolvido agora voltava a meu pescoço.
– O lugar dela é com você, por favor não se desfaça dela nunca! – Sentia as mãos de Luan em minha nuca e conforme tudo que ele dizia baixinho perto do meu ouvido chegava a mim, arrepios involuntários surgiam. Segurei a respiração ao sentir Luan suspirando próximo a minha nuca e fechei os olhos ao sentir os lábios dele dando dois beijos, um na minha nuca e outro em meu pescoço.
Nem sabia que meu coração conseguia bater tão rápido assim, dei um passo para frente e Luan segurou minha cintura com delicadeza, minha respiração já estava desregulada e pelo que sentia em minha nuca a dele estava da mesma maneira. Luan me virou de frente para ele e eu senti o mundo parar, estávamos tão perto, tão perto, mas, ao mesmo tempo, todo aquele sofrimento também estava entre nós.
Luan me lia, como só ele sabia fazer, e quando sua mão subiu da minha cintura para meu cabelo, eu já não sabia mais o que fazer. Os arrepios em meu corpo eram mais do que perceptíveis e Luan veio. Antes que eu pensasse em falar algo, senti sua boca na minha e por poucos segundos minha mente tentou vencer essa batalha e me fazer resistir, mas a saudade falou mais alto e foi apenas o toque de Luan em meus cabelos, como ele fazia quando me queria só pra ele, nos momentos mais íntimos, que eu cedi e o beijo que começou calmo, cheio de medo, de ambas as partes agora ganhava intensidade e nos tirava o fôlego. Luan com uma das mãos na minha cintura, me trouxe ainda mais pra perto enquanto eu passava a deixar marcas em sua nuca e pescoço.
Até que eu acordei, e percebi que eu estava quebrando as promessas que fiz a mim mesma, quebrei o beijo e afastei Luan, que tentava me puxar de volta, e assim como a saudade veio rápida as lágrimas por de ter sido fraca também chegaram.
“Isso está errado, não podia acontecer, não podia”.
Sai correndo dali, vendo no rosto de Luan a expressão de total confusão e sentindo a bagunça que eu mesma tinha feito ao me deixar levar.


Capítulo 20

LUAN

Por um segundo me senti paralisado por tudo que tinha acabado de acontecer, mas a certeza de que aquela poderia ser a única oportunidade de realmente conversar com , me fez correr atrás dela, cheguei antes que sua porta fechasse.
– Sai daqui! – Ela disse brava tentando fechar a porta na minha cara, mas tudo que eu queria naquele momento era resolver a nossa história, precisava daquilo, segurei sua porta e me encarou desafiadora.
– Nós precisamos conversar! Se quiser, falo daqui mesmo do corredor! – A encarei da mesma maneira e deu de ombros, no final do corredor uma luz se acendeu e alguém começou a perguntar ‘quem estava ali’, mais alguns passos e a tal pessoa me veria ali, mais alguns passos e nós estaríamos no centro de alguma confusão da madrugada. deve ter pensado o mesmo que eu, bufou irritada e me puxou para dentro de seu quarto.
– Argh! Que raiva! – Ela fechou a porta e encostou a orelha ali, pra ouvir a pessoa passando no corredor.
…. – Chamei-a e tive como resposta sua mão erguida pedindo para esperar.
– Shhhh! É a vó da ! – Dava pra ouvir a voz de duas pessoas do lado de fora, falando muito baixo mas perto demais da porta.
! – Ela me olhou e cruzando os braços se virou para a frente – Eu quero falar com você!
– Quem disse que eu quero falar com você? – Seu rosto totalmente sério, ela se afastou da porta e começou a mostrar toda sua impaciência, batendo levemente os pés e sem saber o que fazer com as mãos – Sai daqui! Eu vou gritar! – Ela ameaçou enquanto eu cruzava os braços como ela fazia a pouco, e arqueei uma sobrancelha a encarando novamente.
– Por que você fugiu de mim esse tempo todo? Nós merecíamos tentar de novo, ter, pelo menos, uma conversa decente…. – Tentei me aproximar mas se esquivou, forçando uma risada em seguida.
– Eu fiz o que era melhor, era um fim, não tinha nada de segunda chance! – Ela usava toda sua ironia e amargura na voz.
– Quem disse que isso seria o melhor?! – Olhei pra ela, sendo o mais sincero possível, eu queria respostas pelo menos – , eu te procurei em todo lugar, até perto da sua faculdade eu tentei te ver, mas você desapareceu…
– Eu sabia que seria o melhor e não era mesmo pra você me achar! Você só está me vendo hoje graças a , e é a última vez – aumentava o tom de voz e gesticulava a toda hora, parou por um segundo e apontou o dedo indicador para mim – E não me chame assim! Pra você, é !
– Por que não? Te incomoda lembrar toda vez que eu te chamava assim, ? Você já esqueceu de tudo que nós fizemos?
– Não! – Ela usou seu tom de voz mais sério, e o sorriso que começava a surgir em meu rosto murchou ao ouvi-la continuar – Eu não esqueci o que você fez, Luan Santana, se é isso que você quer saber! Vai embora, por favor! – acabou deixando sua voz falhar ao me mandar embora, mas não se permitiu continuar a me olhar.
– Eu já te pedi e posso continuar a pedir perdão quantas vezes você quiser, mas nós não somos só isso, é impossível que você se lembre só do que foi ruim, olha pra mim, ! – Levei minha mão até seu queixo e com calma virei seu rosto para mim, eu precisava perguntar aquilo olhando em seus olhos – Foi tão ruim assim?! Você me odeia mesmo o tanto que faz parecer?
Meus olhos me entregavam, eu sabia que ela estava vendo toda aquela mágoa que sua fuga vinha me causando, mesmo que eu controlasse minha voz, meus olhos não mentiriam nem que eu quisesse, assim como os dela, logo que me ouviu pude ver as lágrimas surgirem em seu olhar. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela me empurrou e se afastou, secando os olhos para que eu não a visse chorando.
Com calma voltei para perto dela, pude ver seu peito subindo e descendo rápido demais, tentava se acalmar, controlar sua respiração e a vi buscando a correntinha em seu pescoço, os olhos fechados com força e lágrimas se espalhando por seu rosto.
– Você me humilhou, Luan, você me expôs, você conseguiu quebrar e destruir tudo que eu mais adorava no mundo! E o que mais me magoou foi ver que por mais que eu tentasse, eu não conseguia odiar você! E eu ainda estou muito brava comigo por isso, porque não é justo eu magoar todo mundo que me ama por você, pra fugir e isso continuar dentro de mim! Então sim, eu te odeio o tanto que parece! Eu não consigo seguir…. – agora já estava com o rosto lavado pelas lágrimas, seu olhar cheio de dor e mágoa me fez chegar ainda mais perto, coloquei meu dedo sobre seus lábios para que ela parasse e só quando tentei falar percebi minha voz embargada, meus olhos carregados de lágrimas, sem me importar em parecer fraco naquele momento.
– Você acha que por um segundo que seja, isso foi fácil pra mim? Saber que por minha culpa, tudo estava ruindo ao meu redor, que eu podia procurar o quanto fosse nos meus shows, você não estaria lá! Eu seria capaz de deixar tudo, qualquer compromisso, se fosse pra te encontrar, só pra olhar você de novo, porque nada me assustava mais do que perceber que todo mundo estava escondendo a mulher que eu amo de mim! Que eu significava um mal tão grande pra pessoa que eu mais queria ver bem! Eu parei de pressionar, só pra ver se você voltava, só pra eu poder te ver de novo, se eu te visse sorrindo já me bastaria, , porque eu te amo demais pra ficar sem pelo menos te ver de longe!
– PARA, LUAN! – gritou me assustando, tentei pedir silêncio mas ela me empurrou para longe mais uma vez e continuou – Não é dizendo coisas bonitas que você vai me convencer, eu não quero ouvir! – Ela estava furiosa comigo e em negação, balançando a cabeça sem querer acreditar em mim.
– Não são palavras bonitas, ! É o fato de eu nunca ter me sentido tão fraco por causa de alguém, como se tivessem tirado a maior parte do meu coração e eu estivesse vagando com o que me restou! O fato de eu saber que era você, e só você quem podia salvar o que eu tinha, meu Deus todos podem achar que eu faria algum tipo de mal, mas eu sei que isso aqui…. – Mesmo a contragosto peguei sua mão e coloquei sobre meu peito, meu coração estava acelerado como nunca, desde o momento em que entrei naquele quarto – Não pode ser tão errado assim, que se a gente está chorando é porque ainda tem alguma coisa aí dentro e eu não estou ficando louco por querer lutar por você, por tudo que a gente viveu.
Seus olhos cheios de lágrimas, mas ainda não queria acreditar em mim, balançava a cabeça com mais força, de um lado pro outro, quase como uma criança birrenta, continuei segurando sua mão em meu peito e ela fechou os olhos com força, puxando sua mão de volta bruscamente, e virando de costas para mim, secando o rosto.
– Não, não e não – Ela dizia para si mesma, eu a vi colocar a mão em seu peito e sabia que o que eu estava sentindo ela também sentia, que o que doía e acelerava meu coração naquele exato momento, causava o mesmo efeito nela.
– Argh! ! – Peguei em seus ombros e a virei de volta para mim, mas se recusava a me olhar, seus olhos eram capazes de varrer aquele quarto mas não me olhavam nem por decreto, ergui seu rosto e senti que estávamos perto demais, sua respiração descompassada batia contra meu rosto. – Então só diz que você não me ama mais, que eu não te encho mais o saco! Só isso, – Seu olhar parou de encontro ao meu, se ela queria ser teimosa, eu também sabia como fazer isso! me olhou furiosa, mas eu sabia que ela poderia tentar mas não conseguiria dizer. Que a força do que tivemos iria impedi-la de dizer tal besteira assim como sempre que eu tentava esquecê-la nunca conseguia, porque sempre tinha algo mais forte me mantendo ligado a ela.
– Eu não sou obrigada a nada disso, Luan, me solta! – Ela disse baixo tirando seu rosto de minhas mãos, sem coragem nenhuma de olhar nos meus olhos, me fazendo soltar uma risada irônica e amarga por saber que estávamos os dois fugindo da nossa verdade.
– Vamos lá, você só precisa dizer – Cruzei os braços e me encarou desafiadora, não recuei e a vi começando a mexer no cabelo impaciente, só faltava ela morder o lábio inferior sem saber o que responder.
– Sai daqui! Você é muito irritante! – Dei um passo em sua direção e ela deu um para trás batendo contra a parede, olhando para o outro lado – Coisa chata, viu!
– Só diz…. – Pedi baixinho sentindo um arrepio passando por minhas costas, podia sentir o perfume de seu cabelo, e vê-la arrepiar ao sentir minhas mãos segurando as suas –
Minha voz saiu rouca, eu estava cansado de brigar, só queria ficar com ela, nem que fosse só por aquela noite, e como se ouvisse meus pensamentos, ergueu seu rosto e eu a vi mordendo o lábio inferior, e seu olhar cheio de perguntas que não davam para serem respondidas agora.
Puxei suas mãos levemente para mim e bateu seu corpo contra o meu, aproximei nossas bocas e vi que ela não se esquivou, seus olhos fecharam me dando a permissão que eu precisava para acabar com qualquer distância entre nós.
Não foi um beijo calmo e apaixonado, era como uma explosão acontecendo, algo que já era previsto, mas, ainda assim, assustava pela intensidade, soltou nossas mãos e eu a abracei pela cintura, unindo nossas bocas com avidez, a encostei na parede e deixei minhas mãos passearem sem o menor pudor por seu corpo, mordeu meu lábio inferior com força, soltando um riso em seguida, me fazendo sorrir e voltar com ainda mais vontade a beijá-la.
Aquele beijo tinha gosto de saudade, desespero pela falta que sentimos e medo, o meu maior medo: Que aquela fosse a última vez. Apenas em imaginar que aquele encontro poderia ser uma despedida me fez vacilar e eu parei de beijá-la.
me olhou sem entender nada, levei minha mão até seu rosto e acariciei sua bochecha vendo-a fechar os olhos ao sentir meu toque e toda a urgência que me consumia até há pouco, foi embora. Naquele momento decidi fazer daquela a melhor noite possível, aquela mulher a minha frente não merecia nada menos do que isso e agora que eu podia tê-la de volta em meus braços, meu coração implorava para que aquele momento durasse, tudo em mim a queria mais perto.
Me aproximei dela de novo com uma calma que até eu desconhecia, peguei em seus cabelos e a trouxe para frente, a beijei bem devagar, explorando cada canto de sua boca enquanto puxava com leveza seus cabelos, sentindo que lhe causei alguns arrepios pelo corpo, com a outra mão por dentro de sua camiseta, acariciei sua barriga e a puxei para mais perto. Ainda segurando o cabelo dela desgrudei nossas bocas e desci com meus beijos pelo pescoço exposto de , que estava ofegante devido ao beijo.
Os beijos molhados e os carinhos que fazia naquela região causavam arrepios e inevitáveis sorrisos escapavam de que bagunçava sem piedade meu cabelo. Me afastei apenas para tirar sua camiseta do meu caminho, beijei o colo e os seios dela ainda cobertos pelo sutiã, desci para a barriga e distribui beijos e lambidas por onde quer que passasse. me puxou para cima novamente e me beijou com voracidade, cheia de saudade e urgência, ela inverteu as posições e me encostou na parede, tirou rapidamente minha camisa e com as unhas compridas marcou com vontade minha pele, intercalando entre carinhos e arranhões em minhas costas e peitoral. Até que eu a ergui e a levei até a cama, ouvindo ela rir em meu ouvido quando a peguei no colo.
O mundo parecia um borrão, a pouca luz vinda da janela aberta me dava flashes mais nítidos de tudo que minha mão tocava, estava linda, o mais linda que já vi e jamais me permitiria esquecer daquele momento, ela agarrada a mim, nós dois completamente conectados de corpo e alma, aquela era a razão de tudo parecer tão errado quando estávamos separados. O suor, as unhas de deixando fortes marcas por onde passava, eu a segurava com toda a força junto a mim porque não havia nada mais importante do que tê-la comigo como nunca antes.
Não sabia dizer ao certo o tempo que durou, mas sabia que tudo que não foi dito antes acabava de ser entendido por nossos corpos que se reconheciam um no outro. Na nossa conexão incomparável.
descansava ao meu lado, com o cabelo espalhado no travesseiro, e eu simplesmente não conseguia parar de admirá-la, não podia dormir e acordar e talvez não tê-la ao meu lado, me sentia incapaz de descansar, a luz da lua iluminando o corpo de fez com que me lembrasse de uma música nova na qual estávamos trabalhando, a música que me fez ficar mal, uma daquelas que exibiam sua dor a quem conseguisse entender de corações partidos.
A ponta dos meus dedos passeavam pelo corpo dela, queria amá-la mais e mais, mas tinha medo do futuro, de quando ela acordasse e arrependida me expulsasse de lá. Meu coração apertava em apenas imaginar a cena, não saberia o que fazer depois daquela noite. Como prosseguir sem ela?
Como se Deus estivesse ouvindo os meus pensamentos e me dando uma força, o brilho da lua se intensificou, ainda eram três da manhã e sem nem perceber comecei a cantarolar tudo que estava sentindo, todos os medos que aquela música escancarava, todo o medo de me deixar dominar pela solidão. Minha velha companheira.

Trouxe o meu colchão pra sala
Hoje eu vou dormir aqui
Pois não quero relembrar
Os momentos que vivi
O lençol que a gente usava
Tem perfume de jasmim
O que tanto me agradava
Hoje não faz bem pra mim

Depois que você foi embora
Entrou outra em seu lugar
E é só quando eu me deito
Que ela vem me visitar
Passa a mão em meus cabelos
Insiste muito em me beijar
E eu com delicadeza
Peço pra se afastar

(….)
Tenho medo de acordar de madrugada
E uma luz semiapagada refletir ela pra mim
Sei que está tão curiosa e louca pra me perguntar
Quem está no seu lugar
Quem roubou meu coração
Se chama solidão

Como se estivesse memorizando com a ponta dos dedos cada centímetro de , sussurrei a música e guardei aquela imagem no mais profundo da minha mente, com o único pensamento me rondando:
“Não posso te deixar ir, menina, eu não aguento mais viver sem você”
Fui ‘acordado’ de meus devaneios por um soluço baixinho, desviei meu olhar da cintura de e o subi, encontrando os olhos tristes dela, que deixava lágrimas rolarem livremente por seu rosto.
– Meu amor! – Instintivamente a puxei para meu peito, e foi como se uma barreira inteira tivesse se quebrado, seu choro doído, ela se agarrando a mim e um reconhecimento quase instantâneo, como um espelho eu me via nela.
– Essa música….. – tentou falar em meio ao choro, ainda com o rosto escondido em meu peito, enquanto eu tentava acalmá-la – A letra toda, foi como me ver ao longo desses três meses, evitando a TV, evitando ver fotos, as vezes que chorei escondida, tentando fingir que não doeu tanto assim, que mesmo fugindo, você estava presente demais na minha vida e a solidão era a maior representante de tudo isso…
Ela não aguentou segurar o choro e eu a apertei ainda mais em meus braços, balançando de leve, quase a ninando como uma criança, entendendo tanto tudo que ela estava sentindo, só nós sabíamos o que tudo aquilo significava.
– Eu tô aqui, , pra você, por você! – Ela já sabia disso, o meu amor por ela sempre estaria aqui, e agora ela sentia isso, fiz carinho em seus cabelos, beijava sua testa a todo instante, e me lembrei de quando ela fez isso por mim, quando eu precisei de colo e ela foi o melhor do mundo. Meu ponto de paz.
foi se acalmando aos poucos, voltou a respirar normalmente, e mesmo com o rosto todo inchado e os olhos vermelhos devido ao choro, seus olhos pareciam estar mais vivos e brilhantes naquele momento.
Nos sentamos na cama e eu a puxei para o meu colo, e olhando no fundo dos olhos eu disse o que estava mais do que certo em meu coração:
– Eu amo você e mesmo que isso possa nos machucar, eu não consigo e não quero ficar longe de você, ! – Afastei seu cabelo e passei a mão delicadamente sobre sua bochecha acabando com os rastros de qualquer lágrima que ainda estivesse por ali, a trouxe levemente para mais perto e a beijei, com todo amor que estava guardando só para ela, que era só dela por direito, abracei com força e ela sorriu em meio ao nosso beijo.
– Chega! Daqui a pouco você se anima de novo e complica pro meu lado – com a boca vermelha piscou marota pra mim e eu ri achando graça, quando ela se distraiu comecei a fazer cócegas, ouvindo sua gargalhada e vendo-a se debater em meus braços, sem conseguir escapar. – Para! – me empurrou e conseguiu escapar para o banheiro do seu quarto. Ouvi ela rindo e me chamando de idiota, pouco tempo depois ela voltou para a cama, com o cabelo preso em um coque frouxo, rosto lavado e vestindo somente sua calcinha, era impossível não observar cada movimento dela, pouco antes de chegar a cama ela parou e pegou minha camiseta que estava jogada por ali e a vestiu, como era seu costume desde que ficamos juntos pela primeira vez e ver aquela cena me fez sorrir.
se jogou ao meu lado na cama, logo se aconchegando em meu abraço, fiquei acariciando seus braços e seu cabelo, achando que ela logo cairia no sono, fechei meus olhos apenas pra ter certeza de que tudo aquilo era verdade e senti uma leveza tão grande que me peguei sorrindo para o nada, abri os olhos e senti me observando, com seu sorriso doce, ela acariciou meu rosto.
– Pensei que já tinha dormido, mulher.... – Ri a abraçando mais apertado e fez uma careta negando, lembrei de mais um ‘presente’ que gostaria de mostrar a ela mas não tinha certeza se era realmente uma boa ideia e acabei rindo ainda mais só de imaginar.
– Do que está rindo? – se afastou para me olhar e eu abaixei a cabeça – Anda, Luan!
Sabia que ela odiava ficar curiosa e tentei sem sucesso esconder minha risada.
– Lembrei que eu tinha outra coisa pra te mostrar mas não vou, porque você vai começar a chorar de novo e eu não quero isso! – Dei de ombros e ergui as sobrancelhas, me olhou com os olhos quase brilhando de tanta curiosidade enquanto eu já dava o assunto por encerrado.
– Me mostra, eu juro que vou me controlar! Por favor?! – Ela sorriu toda angelical, se ajoelhou na cama e começou a distribuir beijos por todo meu rosto, me fazendo rir e segurá-la pela cintura, roubei um beijo antes que ela se afastasse por completo.
– Tá bom! Acho que você mais do que ninguém vai entender ela, e tudo que a gente viveu pra chegar aqui! Preparada?! – Perguntei vendo sentar com as pernas cruzadas de frente pra mim, totalmente atenta, assim como eu me senti ajudando a criar aquela música, sabia que entenderia cada linha, cada pedaço. Fingi uma tossezinha e ela sorriu, peguei sua mão e comecei a cantar, bem baixinho, enquanto brincava com a ponta de seus dedos e olhava em seus olhos.

Te falo tanta coisa
Enquanto tento segurar a lágrima
Que insiste em cair
Entro no meu carro, abro o vidro
E antes de ir embora eu te digo olha aqui
Ainda vou te esquecer, escreve aí
Chego em casa e dou de cara com a sua foto
Uma ducha e um vinho pra acalmar
E eu penso vou partir pra outra logo
Mas quem é que eu tô tentando enganar?
Mas quem é que eu tô tentando enganar?

Eu me lembrava de cada momento em que pensei que seria fácil esquecê-la, que ela não tinha me machucado tanto assim, não doeria daquela maneira pra sempre…. Mas também sabia que em cada um desses momentos era seguido de uma risada amarga e irônica da minha consciência, jogando na minha cara que ela estava em cada canto, que aquela seria a tarefa mais difícil do mundo.

É que eu te amo e falo na sua cara
Se tirar você de mim não sobra nada

O teu sorriso me desmonta inteiro
Até um simples estalar de dedos
Talvez você tenha deixado eu ir
Pra ter o gosto de me ver aqui
Fraco demais para continuar
Juntando forças para poder falar
Que eu volto, é só você sorrir
Que eu volto, é só fazer assim
Que eu volto

Das maiores verdades que tinha medo de admitir pra mim mesmo aquela era a mais assustadora, quando eu realmente vi que o ‘nós’ não existia mais, eu me senti perdido, com um vazio que se tornava meu melhor amigo, que me recordava dela o tempo todo e me maltratava com a lembrança da nossa briga, do último ‘eu te amo’ e do quanto doeu.
No último verso, mesmo com as lágrimas que já molhavam seu rosto sorriu e estalou os dedos junto a mim, sem que eu esperasse, ela se jogou em meus braços em um abraço forte e desajeitado, senti-a escondendo seu rosto na curva do meu pescoço.
– Que música incrível, Luan! Ela é tão linda – saiu do abraço desajeitado e me deu um selinho, sorrindo daquele jeito que me deixava sem graça de tão lindo que era.
– Gostou, mesmo?! – Sequei suas lágrimas que não paravam de cair – Não chora, amor! – Ri tentando fazer com que ela me acompanhasse mas não funcionou, seus olhos que falavam mais do que qualquer coisa naquele momento me encaravam cheios de dúvidas, levantou da cama e foi até a varanda de seu quarto.
Fui atrás dela, enrolado no lençol mesmo, a abracei por trás e senti suspirar e descansar a cabeça em meu peito, ela estava se acalmando, ficamos ali por um tempo até que ela secou o rosto e com calma começou a falar, ainda encarando o jardim do lado de fora.
– Eu não pretendia dizer isso tão cedo, na realidade eu nem sei o que será de nós daqui pra frente mas eu ainda amo muito você, Luan! E não sei se isso vai ser bom, se vamos conseguir desta vez mas.... – abaixou a cabeça levemente mas eu a virei de frente pra mim, e ergui seu rosto para que ela me olhasse nos olhos e ela continuou: – Mas não há nada que meu coração peça mais do que para tentar – A voz embargada dela fez com que um arrepio passasse pelas minhas costas, e ali, naquele instante eu tive certeza de que aquela era a minha última chance, última chance de tentar tê-la de volta.
– Isso pode nos curar ou acabar de vez com tudo que nós somos, Luan, você entende isso?! – me encarou com toda sinceridade, olhando no fundo dos meus olhos e eu concordei com um aceno de cabeça, tendo plena consciência do que aquilo significava.
– Eu estou pronto para isso, venha o que vier, eu estou preparado! – Peguei as duas mãos dela e beijei, uma a uma, com toda calma e delicadeza – Nós vamos passar por isso juntos, não vou deixar NADA tirar você de mim, nós vamos ficar bem! – Dei um beijo em sua testa, depois desci com meus lábios até sua boca, lhe beijando com calma. Segurando em meus braços a única coisa que me importava agora.
Nossa noite demorou a acabar, a sensação de paz quando se aninhou ao meu lado, senti meus músculos relaxarem só em perceber que o dia já estava quase nascendo mas eu não precisava mais temer o que seria de nós no dia seguinte, ela ainda estaria do meu lado.

Uma luz muito forte entrava pela janela, não me deixando dormir direito, virei meu rosto para o outro lado e me deparei com o rosto de , dormindo serena com seu braço sobre minhas costas, fechei os olhos novamente tentando dormir, mas alguém resolveu esmurrar a porta sem parar nem por um segundo, antes que acordasse com aquela barulheira, levantei rápido e coloquei só a calça do pijama antes de chegar a bendita porta.
– Que foi, caramba? – O mau humor e a vontade de mandar quem quer que fosse embora, foram mais fortes que eu, abri bruscamente a porta com minha cara nada amigável mas só quando o olhar chocado de Matheus veio ao meu encontro que percebi: aquele não era meu quarto e talvez o ideal seria que atendesse a porta, para que não tivéssemos que nos justificar tão cedo.
Fiz sinal para que Matheus esperasse e voltei para pegar minha camiseta.
– Meu Deus! – Ouvi a voz dele espantada e o percebi olhando para as minhas costas, deixou algumas marcas por ali na noite anterior e pela cara de Matheus ele estava indignado, saímos e fomos para o final do corredor onde não tinha ninguém.
– Porra, Luan! O que é isso?! – Matheus com os braços cruzados me encarava de perto, com a mesma expressão de quando ele ficava muito bravo comigo na nossa infância, totalmente desconfortável com aquela situação, baguncei meu cabelo procurando as palavras certas mas não as encontrando.
– Nós estamos nos acertando, Matheus! Nós vamos ficar bem! – Disse me encostando na parede vendo Matheus me olhar indignado.
– Cara, você tem noção do que pode acontecer se “isso” der errado – Aparentemente, Matheus tentava controlar seu tom de voz mas sua expressão permanecia dura, impassível e totalmente zangada – Luan, não sei se ela aguenta, meu Deus, eu tive que implorar tanto pra ela quanto para o Rodrigo para estar aqui hoje, porque você também estaria aqui! Você sabe o que é isso?!
A maneira nervosa como Matheus parecia querer explicar para uma criança porque era impossível comprar uma bomba, porque uma granada era perigosa e aquilo só estava me irritando cada segundo mais, tentei ao máximo me segurar enquanto o encarava.
– Eu já entendi, Matheus! Porra! Será que NÓS podemos tentar resolver isso?! Será que ela pode tentar fazer isso sozinha?! – Meu tom de voz saiu firme e tentei não parecer tão estressado quanto realmente estava, encarei um de meus melhores amigos, mesmo sabendo de toda a cautela que tinham em relação ao meu relacionamento com , apenas queria um pouco de confiança, um pouco de apoio não faria mal algum.
– O.k., Luan! Eu só espero que você como homem já tenha medido todas as consequências que podem atingir a ela porque, do fundo do meu coração, eu não vou deixar você magoar a minha amiga de novo! Isso aqui não pode ser brincadeira! – Era como se o próprio irmão de estivesse a minha frente, Matheus parecia aqueles leões em defesa dos seus, eu entendia mas sabia que estava totalmente ciente, o que é nosso, só nós entendemos.
– Ninguém está brincando aqui, Matheus! Eu jamais faria isso e tô disposto a enfrentar quem quer que seja por ela! Se eu a magoar de novo, você pode me bater se quiser, mas será que dá pra ter um pouco de fé na gente?! – Deixei de lado toda a paciência que estava tentando manter e olhei para ele indignado – Você é meu amigo ou não? Você me conhece, não conhece?! Então você sabe muito bem que eu cumpro o que eu digo e que eu amo a , cacete! Será que dá pra parar com isso? Que saco! – Encarei Matheus uma última vez e sai dali indo em direção ao meu quarto.
Entendia a intenção de todo mundo de proteger de mim, de mantê-la por perto mas já estava me estressando com tanta intervenção, ser tratado como um criminoso de alta periculosidade. Eu era apenas o cara que a amava mais que tudo e só queria viver aquele momento em paz, me permitir tentar mais uma vez.
Mandei uma mensagem para e fui tomar banho, já que a possibilidade de dormir ou relaxar tinha ido para o espaço. Mesmo quase brigando com Matheus, não consegui conter a gargalhada ao me lembrar da noite passada, das razões pelas quais minhas costas estavam marcadas e porque eu queria encontrá-la logo, tê-la por perto livremente, sem olhares e fugas, só a que eu amo.
Aquele era o grande dia de e Matheus, mas por incrível que pareça a hora que desci pra tomar café toda a agitação era somente do lado de fora da pousada, senti uma paz e uma tranquilidade ao descer as escadas que quando cheguei aos últimos degraus achei até estanho ouvir gargalhadas vindas da cozinha, entre elas a minha risada favorita, que me fez sorrir só de ouvi-la.
– Luan! – Matheus que vinha de uma das portas laterais me assustou e fez sinal para que o esperasse – Quero falar com você – Olhei sério pra ele e respirei fundo, me preparando mentalmente para não discutir.
– Não vim brigar, na realidade eu vim me desculpar, sei que peguei pesado hoje, mas eu só não quero ver ninguém mal! Entende?! – Matheus parecia mais calmo e até arrependido, colocou a mão no meu ombro e sorriu de leve – Vou ficar na minha! – Ele esticou a mão pra que eu apertasse, selando nossa “paz”.
– Tudo certo, cara, sei que vocês estão com medo, eu também tenho medo, mas eu quero ser feliz, eu quero tentar de novo! Vamos ver onde isso vai dar, o.k.?! – Ri e apertei sua mão, logo virou um abraço rápido. Fomos em direção a cozinha, descobrir porque afinal elas estavam rindo tanto.

Capítulo 21



O vento que entrava pela janela e a luz do sol me fizeram acordar, virei na cama a procura dele mas não o encontrei. Sorri em lembrar da noite passada, de cada detalhe e de como aquilo podia mudar tudo, para o bem ou para o mal.
Sentei na cama a procura de algum vestígio de Luan, nem que fosse um bilhetinho mas não tinha nada. Quando já estava preparada pra ficar brava com ele e perguntar se tinha sido apenas uma aventura qualquer, uma notificação chegou no celular me fazendo sorrir em apenas ler as primeiras palavras:

“Bom dia, Amor!
Desculpe não estar te acordando com muitos e muitos beijos, mas Matheus me viu aí...
E achei melhor voltar para o meu quarto antes que mais gente quisesse se meter na nossa história.
Te vejo mais tarde!
Beijos”

Fui direto pra debaixo do chuveiro, o dia prometia ser bem intenso e eu queria aproveitar cada segundo. Conforme a água caia e me ajudava a acordar, vários flashes da noite com Luan começaram a passar como um filme em minha mente, aquecendo meu coração e me deixando ansiosa pelo que viria dali pra frente.
Era inegável que ainda existia o medo de dar tudo errado e aquilo acabar de vez comigo, mas aquela sensação de paz que tomava meu coração de assalto toda vez que eu lembrava dele cantando pra mim, daqueles olhos me decifrando mesmo contra minha vontade, aquilo era o que me impedia de ouvir meus medos. Assim que saí do banho e me olhei no espelho comecei a rir da minha cara de idiota, mal abri a porta e quase infartei com sentada na cama me olhando desconfiada.
– Hmm, alguém acordou de bom humor hoje! – começou a me zoar e eu mandei o dedo do meio pra ela.
– Calada, ! Você não tinha que estar uma pilha de nervos pro seu casamento, não? – Olhei para ela através do espelho enquanto passava a toalha no meu cabelo e me olhou sorrindo.
– Vim te chamar pra tomar café comigo, vamos?! – Ela levantou cheia de animação e eu a olhei desconfiada, esperando mais explicações – Hoje é o grande dia e eu só consigo pensar em comida! Socorro!
Comecei a rir e pedi cinco minutos pra trocar de roupa e pentear meu cabelo.
Fomos direto pra cozinha da pousada, que por incrível que pareça, estava vazia, enquanto eu pegava alguns bolos e pães pra gente, pegou seu celular e colocou Ragatanga pra tocar, dublando perfeitamente enquanto eu tentava conter minha crise de riso.
– Vem, ! – Ela me chamou assim que chegou no refrão pra dançar com ela mas eu recusei – Não é possível que você não saiba essa! !
– Desculpa, eu sou péssima pra dançar!
– Então, essa…. – Ela voltou a escolher músicas na sua playlist e me olhou antes de selecionar – Você sabe!
, vem tomar café! – Tentei fazê-la desistir mas ela apenas negou com a cabeça vindo até mim.
– Esse é nosso esquenta, ! Pensa assim, é como um ensaio! – Ela deu uma piscadinha pra mim e a música começou.
‘Whisky a Gogo’ do Roupa Nova era um clássico de todas as festas da minha família, sempre tocava e todo mundo pirava em um karaokê coletivo e amava ver aquela bagunça.
Começamos a dançar e cantar, ela cantava como se estivesse na maior festa e eu tentava cantar a minha parte sem morrer de rir no meio, quando a música entrou no refrão resolveu começar a me girar na cozinha.

– Eu perguntava, do you wanna dance?
E te abraçava, do you wanna dance?
Lembrar você
Um sonho a mais não faz mal

– Aí meu Deus, minha barriga está doendo – Parei de girar e me apoiei na mesa pra rir. Enquanto continuava a cantar o refrão despreocupadamente, ouvi uma risadinha atrás de nós e me assustei ao ver Matheus e Luan nos espiando. que ainda estava dançando também os percebeu ali.
– Saí daí, Matheus! – Parei de rir e vi os dois saindo de trás da parede, assim que meu olhar cruzou com o de Luan senti meu rosto esquentar conforme aquele sorrisinho de lado dele aumentava.
– Estava ótimo amor, não queríamos atrapalhar! – Matheus foi ao encontro de que tentava se manter séria mas deixou uma risada escapar quando ele a abraçou e continuou a música animada como se estivesse em uma festa.
Luan veio se sentar na mesa de frente pra mim, com aquele sorrisinho em seu rosto e a pose de que nada aconteceu.
– Bom dia! – Ele cochichou enquanto eu via Matheus girar pela cozinha, arrancando gargalhadas dela – Dormiu bem? – Desviei meu olhar pra ele que roubava um pedaço de bolo do meu prato.
– Mas é folgado…. – Enchi minha xícara de café sentindo o olhar dele sobre mim – Que foi?!
Ele me encarava esperando uma resposta, e eu tentei não dar tanta bandeira, sentindo voltar para a mesa.
– Dormi muito bem, obrigada!
sentou ao meu lado e nos encarou, um pouco desconfiada.
– Também não tomaram café ainda? – Ela perguntou enquanto pegava uma xícara para si, Matheus acenou com a cabeça em resposta e apontou para Luan.
– A gente tá com fome! Até a hora do casamento vai demorar…. – Matheus disse tranquilo e só naquela hora arregalou os olhos e pegou na minha mão.
– Meu Deus! A gente vai casar! – Sua mão estava ficando gelada, me virei para ela e entendi que a ficha tinha realmente acabado de cair.
– O.k.! Vai dar tudo certo, ! – Disse fazendo carinho em sua mão, Matheus se levantou e estendeu a mão pra ela, colocou uma música do Lulu Santos pra tocar e a tirou novamente pra dançar.
Aquilo foi acalmando , enquanto eles dançavam uma das músicas preferidas do casal, Luan ficava me provocando no nosso café da manhã.
– Preciso dizer que a Srta. está especialmente linda hoje – Luan falava baixinho enquanto eu queria que ele parasse de me deixar envergonhada, parecendo um pimentão e desconfiasse ainda mais – Quero conversar…
– Ali estão as duas! – A mãe da e a cerimonialista apareceram na porta da cozinha, pelo tom de voz pareciam estar aliviadas e agora conforme elas se aproximavam pareciam bravas – Vocês querem nos matar do coração?!
– Credo, mãe! Que foi? – parou de dançar e encarou as duas.
– Vocês já estão atrasadas pra maquiagem e cabelo! E você é a noiva! – Tia Cristina apontou para indignada e eu tentei não rir, ela pegou pela mão e a entregou pra cerimonialista, em seguida nos olhou, seu olhar foi até Luan e depois voltou pra mim.
– Bom, você tem 20 minutos pra ir pro quarto, o.k.? – Antes de sair ela deu uma piscadinha pra mim que só fez Luan rir e meu rosto esquentar de vez.
– 20 minutinhos…. – Matheus disse fingindo uma tosse, Luan arqueou as sobrancelhas e eu apenas rolei os olhos em resposta, fazendo os dois rirem.
– Vocês também não tem que se arrumar, não?
– Na verdade, ainda não….. – Matheus finalmente voltou a se sentar a mesa e começou a tomar café conosco.
Levantei pra pegar mais bolo e fiquei ouvindo Matheus querendo me zoar dizendo que sairia da cozinha pra nos dar privacidade, já estava pronta pra mandar o dedo do meio pra ele quando senti alguém chegando por trás e colocando as mãos nos meus olhos.
– Posso te acompanhar, linda? – Congelei no lugar ao reconhecer a voz de Andrew sussurrada em meu ouvido – Bom dia! – Sorri sem graça quando ele tirou as mãos dos meus olhos, virei para olhá-lo sendo surpreendida por um beijo no rosto.
– Oi, bom dia! – Dei um passo pra trás que passou despercebido por Andrew – Se quiser sentar com a gente… – Apontei para mesa atrás de mim onde os garotos estavam, imaginei que Luan prestaria atenção em cada movimento e reparei nele nos observando e sorrindo sacana, esperando para ver o que eu faria.
– Ah, não! Senta aqui comigo, ! – Andrew fez uma careta discreta e apontou para o outro lado da mesa, não queria ser indelicada com ele mas também queria me sentar com os meninos enquanto ainda tinha aquele tempo livre – Não vai se arrepender! – Andrew piscou pra mim e eu ouvi os meninos se movimentarem, Andrew chegou mais perto enquanto observava os dois, Luan veio e me deu um beijo no topo da cabeça rindo sozinho e saindo da cozinha junto de Matheus.
– Mas…. – Andrew me olhou sem entender nada e eu dei de ombros sorrindo pra ele.
– Nem queira saber, Andrew! –Voltei pra mesa e ele se sentou à minha frente – As coisas ainda estão se ajeitando, nem eu sei direito o que está acontecendo.
– Bem, se precisar de mim sabe que é só chamar! – Andrew mesmo assim continuou todo galanteador durante o café da manhã, me fazendo rir em grande parte do tempo até que a cerimonialista apareceu com uma cara não muito amigável me procurando.

Aquele quarto que separaram para nós parecia pequeno de tanta gente transitando por ali, no canto perto da janela uma nervosa e ansiosa tentava a todo custo enlouquecer a maquiadora e principalmente o cabeleireiro que tentava terminar o penteado no cabelo dela.
– Cheguei! – Disse alto pra que me ouvisse e ela me chamou com a mão, a maquiadora se afastou um pouco e se virou, pegando em minha mão.
– Como o Matheus está? Já começou a querer desistir? Ele não tá com cara de que vai fugir, né?!
– Claro que não, meu amor! Ele está sereníssimo porque sabe que está fazendo o certo! E você? Já decidiu qual o arranjo vai colocar no cabelo? – Falei o mais calma que pude e respirou fundo antes de me mostrar qual acessório ela tinha escolhido.
– Hey! – Chamei-a e disse olhando em seus olhos – Já está tudo incrível, vai dar tudo certo! Calma, o.k.! – Dei um beijo em seu rosto e a abracei como pude.
Comecei a me arrumar, vendo a movimentação no quarto aumentar consideravelmente conforme a hora marcada pra cerimônia se aproximava. Quando finalmente consegui me olhar no espelho fiquei ainda mais apaixonada pelo vestido que minha tia Carla tinha desenhado pras madrinhas, mesmo já o tendo provado, agora que finalmente estava pronta conseguia reparar em cada detalhe. Longo, com a parte de cima destacando o decote, seguindo bem colado ao corpo até a cintura, onde o vestido se tornava fluido, leve, a parte das costas também possuía um decote incrível, que era delimitado por rendas, sem contar que escolheu a cor marsala para nós e isso me deixava ainda mais encantada por tudo.
Depois dos últimos detalhes, peguei meu celular pra tirar uma foto e vi que Luan tinha me mandado uma mensagem e achei aquilo estranho:
, você já está pronta?”
“Tô… Por quê?”
“Será que você consegue me encontrar na capelinha?! É importante!”
“Ai meu Deus! Terá que ser na velocidade da luz! Me encontre lá daqui cinco minutos”
A cerimonialista entrou como um foguete no quarto dizendo para mim e Tia Cristina que só faltavam quinze minutos, fui até que ria de algo que a maquiadora lhe dizia e a cutuquei.
– Amiga, preciso descer antes, tudo bem?! – acenou que sim e eu peguei minha bolsinha saindo dali rapidamente.
Toda a calmaria que antes pairava no ambiente, agora já dava lugar a muita animação e ansiedade, saí de dentro da pousada e fui até a grande capela onde seria a cerimônia e já se concentravam parte dos convidados. As assistentes que ajudavam a organizar nossa pequena confusão já começavam a chamar os padrinhos pra ficarem posicionados, uma delas sorriu para mim e apontou para o grupo de garotas que estavam com o mesmo tom de vestido que o meu, mas o que eu queria realmente era encontrar uma certa pessoa.
Olhei ao meu redor e só então eu reparei que alguém me observava um pouco afastado dali, sorrindo de lado, com as mãos no bolso da calça social apenas me esperando, mais lindo do que o normal naquele terno escuro, ele fez um sinal com a cabeça para eu segui-lo e foi o que eu fiz.
Luan foi pela lateral, parou na frente da capela pequena que estava vazia e ficou me encarando com um sorriso, assim que parei em sua frente ele pegou minhas mãos e as beijou, sem desviar seus olhos nem por um segundo dos meus, ele disse:
– Você está incrível! – Aquele olhar dele me deixava sem fôlego, sem saber como reagir a tanta intensidade.
– Você também está lindo, Luan! – Sorri pra ele e o olhei curiosa para saber qual o propósito daquele encontro, ele entendeu meu olhar e começou:
…. – Luan estava um pouco tímido, desviou o olhar e mesmo tentando disfarçar eu o vi respirando fundo antes de me olhar novamente – Não conseguimos conversar direito depois de ontem, eu quero saber se estamos bem? Fiquei com medo que você tivesse mud…
Dei um passo para ficar ainda mais perto dele e o beijei, suave, simples e verdadeiramente, encostei minha testa na dele e fiquei um tempo ali, senti as mãos de Luan na minha cintura e sorri.
– Eu só tenho que contar pra primeiro, mas não mudei de ideia…. – Me afastei apenas para poder olhá-lo mais de perto – Você mudou?
– Tá louco, rapaz! – Luan me puxou ainda mais pela cintura, me fazendo rir, naquele abraço ele me ergueu e tentou me girar mas eu o parei.
– Luan! Pelo amor de Deus, cuidado! Meu vestido, criatura! – Ele me colocou de volta no chão rindo, dei um selinho nele e ouvi alguém me procurando, já estava quase na hora da cerimônia e precisávamos voltar.
Assim que chegamos perto dos outros, a mesma assistente de pouco tempo atrás me pediu pra ir ao encontro de , todos já estavam a postos e eu tentei ir o mais rápido possível. Cheguei ao saguão da pousada e estava ali, ansiosa, aparentemente, só me esperando.
– Menina, você não tem que casar, não?! – Coloquei as mãos na cintura e sorri para ela, me chamou com as mãos e ficou me olhando por algum tempo antes de finalmente começar a falar.
, você tá feliz? De verdade? Nesse momento...
A olhei estranhando sua pergunta e continuou esperando minha resposta com seriedade.
– Tô! Muito feliz! – Sorri pra ela e peguei em suas mãos e elas estavam relaxadas, sem nenhum sinal de nervosismo.
– Eu quero que tudo seja perfeito, quero que a gente possa lembrar de tudo com muito amor! O.k.?!
– Vai dar tudo certo, ! – Ainda não entendi muito bem o que minha amiga queria dizer mas a abracei com todo carinho enquanto ela me mandava voltar para o meu lugar.
Assim que cheguei todos estavam enfileirados, Matheus e sua mãe estavam prontos para começar, estava indo para o meu lugar no começo da fila dos padrinhos mas a cerimonialista me impediu.
– Você vai ficar mais ao fundo agora – Olhei-a estranhando e ela me guiou para o final da fila, obedeci e a vi indo até Luan e o tirando do seu lugar, o trazendo para ser o meu par – Pronto! Atenção que os padrinhos vão começar a entrar…
Olhei para ele sem entender nada e Luan apenas riu dando de ombros, a música começou, meu coração já batia mais forte de emoção e quando senti a mão de Luan na minha cintura, olhei para ele e sorri entrelaçando nossas mãos seguindo a fila.
Estar ali, ver o sorriso e as lágrimas de Matheus quando a marcha nupcial começou a tocar me fizeram arrepiar, começando sua caminhada em direção ao altar e aquela expressão de felicidade que sempre aparecia quando se tratava do encontro daqueles dois, desde o começo do namoro aquela cara de apaixonada, quando ela chegou ao altar Matheus tentou se conter mas as lágrimas já estavam incontroláveis e que aparentava estar tranquila balançou a cabeça e deixou algumas lágrimas escaparem. Tio Roberto deu um beijo na testa de sua filha e a entregou ao noivo.
Toda a cerimônia, os votos, eles trocando alianças e aquele olhar de um pro outro encheram o meu coração de felicidade por poder fazer parte daquele momento sem igual ao lado dos meus melhores amigos. As lágrimas e os sorrisos estiveram presentes na mesma proporção, e Matheus mereciam toda aquela alegria e amor envolta deles.
Quando chegou a hora da festa, e recepcionamos os noivos no salão, a bagunça foi enorme. Depois do jantar e da primeira valsa do casal, senti Tia Cristina nos empurrando para a pista de dança e Luan que não é bobo nem nada, aproveitou a oportunidade.
Outros casais se juntaram a nós, abrindo a pista pra todos os convidados, Luan conseguiu evitar os meus pisões em seu pé e, pelo menos, naquela música lenta, nossos corpos colados e seguindo o ritmo da música eram tudo que importava. Quando Luan virou meu rosto para si e estava prestes a me beijar a música mudou bruscamente, e a pista de dança foi tomada por todas as outras pessoas que estavam ao redor. E eu ri da careta que ele fez, logo sendo puxado por alguém da festa para tirar foto.
Fui até o bar pegar mais uma bebida quando senti duas mãos cobrirem meus olhos, pensei que fosse Andrew novamente mas me enganei ao reconhecer a risada de atrás de mim.
– Bú! – Ela gargalhou ao vir para minha frente e pedir um drinque para o garçom – Aí, !
Seus olhos brilhando me encararam por alguns segundos antes dela estreitar seu olhar.
– Eu sei o que a Srta. andou aprontando…. – sussurrou como se eu não pudesse ouvi-la e eu a encarei sem entender nada, cutuquei sua cintura e minha amiga começou a rir ainda mais.
Pegamos nossos drinks e nos sentamos em uma mesa perto do bar, com sempre me analisando com aquele olhar misterioso dela.
– Eu vi você dando uma escapadinha pra encontrar om o Luan! Como isso aconteceu? – Ela com sua curiosidade de sempre e uma leve pitada de preocupação na voz me fizeram entender tudo, desde quando ela me chamou antes do casamento até agora.
– Tentei ao máximo evitar qualquer contato, mas ontem acabamos nos esbarrando de madrugada e mesmo não querendo deixar nenhum tipo de afeto voltar, tudo estava ali ainda, foi uma conversa difícil, dissemos coisas demais mas, ainda assim… – Procurei as palavras certas e olhei ao meu redor e o vi ali, me observando de longe e sorrindo de lado – Eu ainda o amo, mais do que deveria…
– Você está em paz com toda essa situação? Tem Nova York também…
– Eu sei... – Suspirei e sorriu em solidariedade pegando em uma das minhas mãos – Mas eu acredito em nós, acho que Luan também, é agora ou nunca!
– Só quero que saiba que torço por você, amiga! Que seus olhos e seu sorriso brilhando agora permaneçam e que mesmo se não permanecerem, eu estarei aqui! Sempre!
– É sua festa e a gente aqui falando de mim… – Rolei os olhos toda teatral e mostrou a língua rindo em seguida.
– Não haveria esse casal sem você! Então pode pegar o tempo que precisar – Ela piscou para mim e pegou sua bebida, antes de sairmos dali dei um forte abraço em que sorriu me puxando para a pista de dança.
Encontramos Luan no meio do caminho e já o empurrou para o palco dizendo que ele ainda não tinha entregado o presente de casamento dela, obviamente todos se voltaram para o palco e o pocket show começou cheio de empolgação.
– Vamos começar com um modão então…. – Luan que já estava sem gravata e a camisa pra fora da calça falou com a banda e puxou ‘Boate Azul’, a reação automática de Matheus foi subir no palco e cantar abraçado a Luan, achando que estava arrasando.
ao meu lado ajudando a tietar ‘nossos’ cantores e tentando não rir demais da situação.
Luan cantou Ivete Sangalo logo depois, e foi variando os estilos até chegar na última música.
– Bem, essa é a minha saideira e o presente de verdade pro casal. Que vocês sejam muito felizes, que sempre tenha muito amor e que eu possa sempre ir improvisar algum churrasco na companhia de vocês! – Luan sorriu e olhou na minha direção, me fazendo rir ao entender do que ele falava. subiu no palco pra dançar com Matheus enquanto Luan começava a cantar ‘Tudo Que Você Quiser’ e a emocionar todos os convidados.
O DJ voltou a cuidar da música da festa e os três voltaram pra pista de dança, e Matheus se divertiam como nunca, Luan veio dançar comigo, com sua mão em minha cintura nós tentávamos nos acertar no ritmo, sabia que minhas coreografias não eram tão boas assim mas eu me divertia vendo Luan tentar segui-las.
Em um desses momentos Luan me surpreendeu, senti ele me puxando para mais perto e ainda dançando colocou uma das mãos em minha nuca, causando arrepios e sorrisos antes de unir nossas bocas. Eu nem me lembrava onde estávamos, só sentia a música e aquele beijo, cheio de intensidade e animação, o sorriso de Luan quando mordisquei seu lábio inferior e ao puxar os cabelinhos de sua nuca, fui parando o beijo aos pouquinhos, rindo das tentativas dele de beijar meu pescoço.
– Vão pra um quarto! – Me assustei com Matheus tão perto de nós, Luan apenas mostrou o dedo do meio em resposta a ele que gargalhou ainda nos zoando.
– Amiga, solta o menino um pouco! Deixa ele respirar! – chegou me assustando, se juntou a Matheus e os dois ficaram soltando piadinhas e risinhos sobre nós.
– Vai te catar, ! – Luan ficou atrás de mim com sua mão em minha cintura, junto com alguns outros amigos do casal nós formamos uma rodinha que acabou nem durando muito.
No meio da música apareceu uma mulher nervosa falando algo no ouvido de Matheus, ele saiu apressado para o lado de fora do salão e automaticamente nós o seguimos. Um dos amigos dele, bêbado e sem a mínima noção do que estava fazendo, se jogou na piscina e antes que se afogasse Matheus foi até a beira e estendeu a mão tentando puxá-lo, mas acabou caindo lá dentro e foi a primeira a rir ao ver a cara de decepção do seu, agora, marido.
– Aí, que dó! Maridinho vai ficar gripado desse jeito! – Ela fingia uma preocupação enquanto Matheus empurrava seu amigo pra fora da piscina. Ele aproveitou que se distraiu, saiu da piscina e veio na nossa direção, a pegando de surpresa por chegar tão perto encharcado daquele jeito.
Ele estava com aquela cara de quem ia aprontar e entendeu as intenções dele em pouco tempo dando alguns passos pra trás, tentando usar a mim e a Luan como escudo.
– Matheus! Não ouse! Saí daqui! – Ele a alcançou e mesmo tentando fugir, Matheus pegou no colo e correu com ela até a piscina. A última coisa que eu consegui ver foi ele correndo porque Luan me ergueu em seu colo e começou a fazer o mesmo que Matheus, enquanto minha ficha caía e eu começava a me debater, Luan gargalhava.
– Luan, não faz isso! Meu vestido vai estrag…
Ele correu mais e tudo que eu fiz foi gritar e fechar os olhos antes de sentir a água gelada da piscina me ensopar.
– Seus filhos da mãe! – Assim que emergi pulei em cima do Luan, tentando afundá-lo mas não deu resultado, comecei a jogar água nele e em Matheus, gargalhava ao me ver perder pros dois marmanjos.
– Vem, ! – Ela mergulhou e veio me ajudar, nossa ‘guerrinha’ de água ganhou mais alguns integrantes que pularam na piscina pra fazer ainda mais bagunça. E a partir desse momento tudo que eu via era um jogando água no outro sem a menor distinção.
Me assustei quando senti uma mão em minha cintura, girei na piscina e dei de cara com Luan e seu sorriso sacana, me puxando ainda mais pra perto dele.
– Te peguei! – Luan sussurrou em meu ouvido, causando arrepios por todo meu corpo – Lembra que tudo começou assim, naquela piscina do hotel em Sorocaba?! – Ele se afastou apenas para me olhar e eu sorri com aquela lembrança, a primeira vez que eu realmente baixei a guarda.
Me aproximei para beijá-lo e senti uma mão entre nossas testas, olhei indignada e vi Matheus gargalhando.
– Podem parar de casalzinho aí! – Soltei Luan e pulei em cima de Matheus, o afundando com toda minha força.
! Sua doida! – Comecei a rir enquanto Matheus me perseguia na piscina, só paramos porque nos chamou para posar para algumas fotos. Fui para perto de Luan, pulei em seu colo e beijei sua bochecha. ao meu lado pulou nas costas de Matheus e só vimos o fotografo fazendo mil fotos daquele momento.
Tia Cristina nos descobriu na piscina e quase enlouqueceu, nos expulsando de lá.
Como a festa já estava acabando, nós decidimos voltar para o quarto, pensei que Luan iria para o dele, mas quando me dei conta já estávamos trancados dentro do meu quarto, com direito a ele me ajudar a tirar aquele vestido encharcado no meio do caminho para o banheiro.
– Luan... – Estava de costas para ele e sentia os beijos em meu pescoço e nuca enquanto eu tentava pará-lo para chegar ao chuveiro sem nenhuma queda – A gente precisa de um banho quente pra não…
– Não se preocupe, é o que nós estamos indo fazer! – Ele soprou em meu ouvido, finalmente conseguiu se desfazer do meu vestido e eu virei de frente para ele, contemplando seu olhar e seu sorriso. Ajudei-o a tirar toda a roupa molhada e entramos debaixo do chuveiro sentindo o choque térmico, sentindo nossa temperatura aumentar e a certeza de que nossa noite estava apenas começando.

Acordei meio desnorteada, às nove da manhã sentindo Luan se mexer ao meu lado, e isso me fez virar para observá-lo, eu tinha me desacostumado a isso, a vê-lo assim tão em paz, tão perto. Só reparei que estava encarando demais quando ele começou a falar com sua voz rouca de sono, ainda de olhos fechados.
... Não fica me vendo dormir, deve tá uma maravilha – Luan abriu só um olho e eu ri fazendo uma careta ao ver ele cobrir seu rosto com a mão.
– Até que tá bem boa minha paisagem! – Dei uma bela olhada no homem ao meu lado, apreciando cada parte dele e Luan riu, me fazendo rolar na cama e parar em cima de seu corpo.
, … – Ele subiu suas mãos por minhas coxas e eu ri não o deixando fazer nada além daquilo.
– Nem pense nisso… – Sai da cama ouvindo protestos dele e fui procurar algo pra vestir – Nós temos que ir nos despedir dos nossos noivinhos, esqueceu?!
Fiz Luan sair da cama mais rápido do que ele gostaria, tentamos nos arrumar na maior agilidade mas quase perdemos a saída dos noivos direto para o aeroporto.
Desejamos boa viagem e fizemos um tapete de pétalas de rosa até a saída da pousada, pelo olhar dos dois eu via o tamanho da felicidade e animação pela vida nova que começava ali.
Depois que os noivos partiram, nos sentamos para tomar café da manhã com os pais de e Tia Cristina não parava de nos observar, com seu jeitinho todo maternal e orgulhosa ela sussurrou pra mim quando Luan se afastou:
“Viu, só! Que bom que você ouviu seu coração, !”
No meio do café, peguei meu celular para mostrar uma foto para Cristina quando notei que Rodrigo, meu irmão, estava me enchendo de mensagens e ligações, e pelo conteúdo das mensagens ele não estava muito satisfeito comigo. Foi só pensar nisso que ele me ligou de novo, resolvi atender logo, pra acabar de vez com aquilo.
Pedi licença e fui atender do lado de fora do salão.
– Alô?!
– Bom dia, ! – O tom de voz de Rodrigo era o mais sério possível, e o fato dele não me chamar pelo apelido me deram a certeza de que ele estava bravo – Se divertindo?
– O que foi, Rod? – Disse desanimada, imaginando que viria alguma bronca a seguir.
– Eu sempre odiei ter que fazer o papel do irmão mais velho e chato, mas, ... Por que cargas d’água você voltou com o idiota do Luan? Tem certeza que você vai querer passar por aquilo de novo? Sério?
– Rodrigo, eu te amo, mas deixa que disso eu cuido...
– E quem vai cuidar de você quando ele aprontar? Eu não quero ser como o papai, mas eu não vou me aguentar se eu te ver daquela maneira de novo, vou pessoalmente encher esse cara de porrada e não há segurança que me impeça.
– Rodrigo! – O repreendi séria tentando não imaginar aquela briga em hipótese alguma.
– Eu tô falando sério! A única razão de eu apoiar a sua permanência lá nos Estados Unidos era pra você se recuperar longe de tudo, pra ele não ter como te machucar mais... Porém eu te vejo numa piscina aos beijos com ele, ! Me ajuda a te ajudar!
– Rod, se o se coração estivesse vivo e transbordando de novo, você conseguiria negar? Deixaria o medo vencer?!
Ele ficou em silêncio por um bom tempo, sem saber o que falar até que eu mesma voltei:
– Fica tranquilo, eu não vou largar tudo e voltar pra cá por causa dele, vai ficar tudo bem!
… – Rodrigo suspirou, desanimado, parecia ter desistido de me fazer mudar de ideia.
– Rod… – Sorri e ouvi ele falando com alguém do outro lado da linha.
– Preciso ir, se cuida! Por favor!
– Pode deixar, te amo!
– Te amo também, baixinha!
Depois do café, fomos cada um para o seu quarto, não esqueci que aquele era meu último dia no Brasil e que eu precisa refazer minhas malas, e mais importante do que isso, precisava conversar com Luan. Como se ele ouvisse meus pensamentos, aquelas típicas batidas na porta me tiraram dos meus devaneios.
– Bora pra piscina?! – Mal abri a porta e Luan já com a toalha no ombro, cheio de animação, pediu passagem e eu dei, vendo o olhar dele parar imediatamente na minha mala em cima da cama.
– Ué?! Você já vai pra casa?! – Fechei a porta atrás dele e o puxei para sentar em um sofazinho que ficava perto da sacada.
– Precisamos conversar… – Me virei para ficar de frente pra ele e Luan fez uma careta ao ouvir aquelas palavras, me fazendo rir – Não é o que você está pensando, mas, ainda assim, acho que você não vai gostar.
– Ih, não entendi, fala logo mulher!
– Luan, eu só vim pro casamento da e do Matheus, eu vou voltar mas... É pra Nova York.
Ele ficou me encarando por um bom tempo, quase sem piscar, me deixando mais nervosa ainda com aquele silêncio.
– Era lá que você estava? – Luan parecia em choque e eu me lembrei que até hoje ele não fazia ideia de onde eu passei todo esse tempo – Meu Deus,
– Eu estou estudando lá, fazendo um curso de comunicação, me aperfeiçoando e continuo com o curso da minha faculdade também.
– Você não precisa mais fugir de mim… – Luan disse baixo como se seu pensamento tivesse escapado em voz alta, peguei em seu queixo e o fiz olhar em meus olhos.
– Eu sei que não, mas esse tempo lá fora não é mais apenas sobre você, eu aprendi a gostar de tudo que eu tô vivendo lá também, me fez crescer em todos os sentidos e eu vou terminar.
– Mas...
– É importante pra mim, Luan! Nós vamos ficar bem! – Me aproximei de seu rosto e o beijei com toda calma do mundo, me ajeitando em seu colo, sentindo ele me abraçar apertado.
– Sei que acabamos de voltar, mas é agora que nosso amor tem que ser o mais forte, indissolúvel, a distância não vai acabar com nada do que é nosso – Falei próximo ao seu ouvido, sentindo Luan se arrepiar.
– Ah, ! – Ele sorriu se afastando para poder me olhar – Eu já tô com saudades!
– Eu também, vou morrer de saudades! – Afundei meu rosto na curva de seu pescoço e me deixei ficar ali sentindo o cheiro dele, me abastecendo e evitando ao máximo pensar na hora da despedida.
Passamos o resto do dia juntos, ignorando todo tipo de relógio, qualquer tipo de aviso que lembrasse que a hora de acabar estava próxima, mas infelizmente a hora chegou, e às dez da noite eu desci com mala e tudo pra recepção. Luan estava lá esperando para nos despedirmos, depois de fazer o checkout fui até ele e abri os braços.
– Vai onde com esse braço aberto?! – Ele perguntou rindo e eu o olhei sem entender nada.
– Vou pro aeroporto! Nem tchau eu recebo? – Coloquei minhas mãos na cintura e Luan foi até minha mala, a pegou e estendeu a mão livre pra mim.
– Eu vou te levar – Ele piscou e entrelaçou nossas mãos, o puxei levemente fazendo-o parar.
– Luan, não precisa, não quero te causar problemas! – Disse baixo tentando não chamar a atenção de ninguém da pousada e Luan apenas sorriu e me puxou pela mão.
, eu faço questão de te levar dona teimosa… – Ele continuou nosso trajeto até a entrada da pousada.
Me despedi dos pais da e do Matheus, de mais algumas pessoas conhecidas e entrei no táxi junto de Luan. No meio do caminho, a Bruna ligou para ele e Luan colocou no viva voz, pedindo silêncio pra mim.
– Pi, é verdade? – Pela voz dava pra perceber sua animação.
– Boa noite, Bruna! O que é verdade? – Luan usou seu tom de voz sério e eu queria rir, já desconfiava do que se tratava, mas em segundos Bruna confirmou.
– Você e a ?! É real? – Ela riu e Luan me olhou, acenei com a cabeça e só então ele confirmou para ela.
– É! Nós estamos juntos de novo…
– Tô muito feliz por você... – Ela parecia genuinamente contente, vi Luan sorrindo ao meu lado por isso.
– E por mim, você não tá – Me enfiei na conversa, ouvindo Bruna soltar um gritinho de surpresa.
– Ah! ! Seus sacanas eu poderia ter falado alguma besteira aqui – Bruna desatou a rir e Luan riu mais ainda.
– Era essa a intenção – Ele disse ainda rindo só para provocá-la.
– Olha, eu tô muito feliz que vocês se acertaram e muito brava porque o Luan não fala nada pra gente, né…
– Como você soube, falando nisso? – Luan perguntou cheio de curiosidade e não nego que também estava querendo saber como a notícia já tinha se espalhado.
– Teve a foto da , uma que vocês estavam na piscina, mas o que todo mundo começou a me perguntar era sobre um vídeo que vocês aparecem na pista de dança, no fundo do vídeo se beijando... Como não sabia de nada, achei melhor perguntar né!
– Eita! – Tinha me esquecido dessa parte, de que nem tudo a gente vai conseguir controlar – Obrigada por avisar, Bru!
– Imagina, divirtam-se – Ela disse ainda animada e nós dois apenas nos entreolhamos, o taxista tinha acabado de estacionar no aeroporto, nos despedimos dela e saímos do carro.
Conforme o horário do meu voo se aproximava meu coração ficava mais apertado e a vontade era ficar mas eu sabia que não podia.
– Não acredito que estamos aqui… – Luan estava sentado ao meu lado, com o braço por cima do meu ombro me aconchegando em seu abraço e a voz baixa, só eu conseguia ouvi-lo.
– Nem eu! – Disse sentindo que as lágrimas já estavam a pouquíssimos minutos de distância – Se cuida, não vai aprontar nada, hein! – Ergui meu rosto para olhar em seus olhos e Luan fez uma careta em resposta.
– Você também, cuidado com esses gringos! Não vai me esquecer aqui…
– Jamais! – Sorri pra ele e aproximei nossas bocas, Luan desceu suas mãos e me puxou pela cintura, me beijando devagar, fazendo durar aquele momento, deixando saudades antes da hora. Olhei no relógio e era hora de embarcar, com o coração apertado levantei daquele banco e Luan me acompanhou até o limite, até a área de embarque.
Essa foi a única hora que eu percebi as pessoas olhando espantadas por ele estar ali, mas nós continuamos nosso caminho.
– Eu te amo, não esquece tá – Ele me abraçou pela cintura, com a testa colada a minha, sussurrou aquelas palavras que mexiam diretamente em meu coração.
– Eu também te amo! – Minha voz embargada dificultava a despedida, levei minha mão até seu rosto e acariciei ali, guardando cada detalhe, os olhos dele e seu sorriso triste – Vou morrer de saudades!
Luan secou minhas lágrimas fujonas e me beijou uma última vez. O abracei o mais forte que pude e tentei segurar minha emoção, sem sucesso.
– Se cuida! – Mesmo com o coração pequenininho, me soltei dele e peguei minha mala.
– Pode deixar – Ele deu uma piscadinha e colocou as mãos nos bolsos da calça – Me liga quando chegar, tá?! – Assenti e olhei o painel, não dava mais pra adiar.
Olhei para Luan uma última vez e sorri, ele gesticulou um ‘amo você’ e aquilo bastou.
Fiz o mesmo que ele e me virei, segui em direção ao portão de embarque, sabendo que tudo seria diferente de agora em diante.


Capítulo 22

LUAN

Que sensação mais estranha era aquela, que misturava muita felicidade e tristeza, de ter em meus braços por dois dias e em seguida vê-la embarcando para outro país. De já estar com saudade de tudo nela, mas, ainda assim, feliz porque agora eu sei onde ela está, sei que estamos juntos e que ainda me ama como eu a amo.
No dia em que a levei para o aeroporto sabia que poderia ser reconhecido, mas nada me impediria de aproveitar até o último segundo ao lado dela, por isso no momento que fui abordado por algumas pessoas quando estava indo embora, apesar de a minha cara não estar das melhores, tirei fotos, dei autógrafos e consegui evitar tumulto. Só não tinha como evitar as perguntas do dia seguinte, fotos que alguém conseguiu tirar de nós dois nos despedindo e as notícias que saíam a cada hora questionando se era apenas uma recaída ou se estávamos realmente juntos novamente.
– Então agora vocês estão em um relacionamento a distância? – Estava na cozinha de casa vendo minha irmã fazer um bolo de chocolate, ela me pediu ajuda na cobertura mas eu ainda estava meio dormindo pra entender que estava pegando todas as coisas erradas da receita – Luan, isso não é leite condensado!
Bruna começou a rir e me chamou pra gente trocar de lugar, fiquei na batedeira enquanto ela pegava o resto dos ingredientes.
– Quanto tempo a vai ficar fora? – Bruna ainda estava tentando entender tudo que aconteceu na minha viagem até Florianópolis.
– Pelo que entendi, ela vai terminar esse semestre lá, então nosso relacionamento a distância não será longo… Mas ainda assim não é a minha parte favorita! – Desliguei a batedeira e voltei para a bancada da cozinha. Enquanto o bolo assava, Bruna veio sentar de frente pra mim com aquele olhar dela cheio de perguntas.
– Vocês conversaram, tipo, colocaram os pingos nos is, bem direitinho? – Olhei para ela falando igual nossa mãe e sorri achando fofo aquele cuidado comigo.
– Não vou negar que descobrir onde esteve durante todo esse tempo foi um balde de água fria, mas foi mais difícil ver ela embarcando, nunca pensei que me sentiria assim…
– Ficou com medo? – Bruna perguntou num tom mais baixo e eu assenti, admitindo pra mim mesmo que aquele medo dela desistir de tudo me rondava.
– Estou me agarrando a algo que ela disse: “a distância não vai acabar com nada do que é nosso” e sei que agora é como se fosse nossa prova final, minha nesse caso, é agora ou nunca e isso assusta! – Tomei um gole do meu suco e minha irmã me olhou impressionada.
– Isso significa que você vai fazer de tudo pra dar certo desta vez? – Ela perguntou escondendo um sorrisinho de lado e eu a olhei desconfiado.
– Mais do que nunca! Que cara é essa, ô doida?! – Baguncei o cabelo dela com vontade e Bruna reclamou xingando e saindo de perto de mim.
– Eu tava aqui vendo a cara de bobão que você estava fazendo, acho que só consegue esse feito mesmo, impressionante! – Ela riu mais ainda tirando onda com a minha cara e saiu correndo ao me ver levantar para ir na sua direção.
– Sai daqui! – Bruna deu a volta na mesa e soltou um gritinho quando fingi que correria atrás dela, paramos por causa do timer do forno, voltamos para perto do fogão para terminar a cobertura do bolo, e aos poucos a cozinha ficou cheia, todos querendo um pedaço.

Voltei a rotina de shows, e a primeira pergunta que a minha assessora de imprensa fez foi:“Posso confirmar a volta do namoro”, seguida de: “Cadê a ?”, todos queriam saber onde ela estava e eu só a queria por perto.
– Bú! – me ligou via Skype, com sua cara de sono e seu cabelo bagunçado, sabia que ela estava quase indo dormir – Pensei que não ia conseguir ver você hoje!
– Tá doido! Eu já ia me esconder aqui em alguma porta pra falar com você! Como estão as coisas aí? – Me joguei no sofá do camarim, que estava vazio dando ainda mais privacidade para nossa conversa.
– Falta pouco pras provas finais e eu acho que vou ter um treco, parece que a ficha vai caindo e com ela vai minha pressão também! – fez uma careta desanimada e eu ri, sabia que ela dava conta, tinha certeza disso.
– Calma, amor! Você vai se sair super bem, tá tudo aí dentro, você sabe… – Dei uma piscadinha pra ela que sorriu tímida – Todos me perguntam de você e ninguém quer acreditar que você tá em Nova York!
gargalhou escondendo o rosto com as mãos em seguida, me dando mais vontade de ter ela por perto apenas para agarrá-la e fazê-la rir ainda mais.
– Luan acho que você não tá explicando direito pra eles que estamos juntos, só não estamos no mesmo lugar, ué… – Ela deu uma piscadinha e um sorriso torto me fazendo fechar os olhos pra não sofrer demais com aquela saudade terrível.
– Que foi? – perguntou num tom mais baixo.
– Eu queria te beijar agora, depois dessa sua carinha, é uma tortura essa distância, ô coisa difícil viu…– Olhei para ela do outro lado daquela tela, tão linda e tão distante, e ela sorriu cheia de calma.
– É pouco tempo, meu amor! Nós vamos conseguir, vai passar rápido... Já se passaram 15 dias desde que eu voltei...
– Você também está contando?! – Perguntei baixinho e afirmou com a cabeça.
– Todos os dias! – Aquele tom de voz e aquele olhar, só ela entendia aquela saudade e a vontade de estar junto, que nenhuma ligação ou vídeo resolviam, mas era necessário, e eu sabia que precisava segurar a onda, não podia deixar minha saudade atrapalhar.
– Te amo – Olhei naqueles olhos que me deixavam hipnotizados e os vi se iluminarem antes dela sorrir e dizer “Eu amo você”.
Alguém bateu à porta do camarim, desviei meu olhar e vi o pessoal da produção me chamando, fez uma careta e nós nos despedimos rápido. Já esperando ansiosamente para vê-la novamente.
Nossas ligações eram quase diárias, na maior parte do tempo eram por vídeo, até participação da Bruna já teve, assim como da tia dela que toda feliz me contou que torcia pra gente voltar desde o início. Tentamos ao máximo acertar nossos horários, mas durou pouco tempo, estava participando de um grupo de estudos e a minha agenda lotada praticamente a semana inteira devido ao início das festas juninas, nos deixaram apenas com as mensagens de textos ao longo do dia e raríssimas ligações. O que só fez a saudade aumentar.
Nós já estávamos numa chamada de vídeo de mais de meia hora quando me olhou cheia de expectativa.
– Amor, conseguiu ver se dá pra gente escapar por uma semana em julho? – Ela sorriu e eu escondi o rosto com a almofada em meu colo, querendo mais do que tudo que aquela nossa ‘fuga’ fosse possível, mas infelizmente não era.
– Não tenho boas notícias… – Tirei a almofada do meu rosto e vi o sorriso dela murchar – Impossível sair do Brasil por mais de quatro dias nessa época e ficar aí menos do que isso não daria pra aproveitar nada, desculpa ! Só agosto pra ter mais tempo livre.
– Tudo bem, final de julho acabo esse semestre aqui e posso voltar, era mais pra gente conseguir fazer esse turismo juntos, como a gente queria, lembra?! – Ela me olhou desconfiada e eu fingi que nem sabia do que ela falava.
– Lembro, claro… – Ri vendo ela semicerrar os olhos e abrir a boca estupefata, antes que começasse a me dar uma bronca, continuei – Estava doido pra ir com você explorar a 5ª Avenida!
Pisquei para ela e deixei um sorriso escapar por lembrar de quando eu disse que não queria ir para as compras, só passear mesmo, e prometeu que me faria ficar cansado de tanto andar com ela pela famosa 5ª Avenida, olhando loja por loja.
– Vamos ter que voltar pra cá, fazer isso juntos! Promete?! – sorria como uma criança que esperava que o Natal chegasse logo e eu só consegui concordar com a cabeça e sorrir de volta.
– Prometo!
Reparei que estava bocejando demais e já estava na segunda xícara de café, só enquanto falava comigo, e aquilo não era normal, não para ela.
– Você tem dormido direito, dona ?
– Ei, sou eu que sempre te pergunto essas coisas – Ela riu e quase derrubou o celular enquanto tentava alcançar sua xícara – Mas esse grupo de estudos está me matando, tenho dormido muito pouco pra dar conta, as provas me deixam nervosa – disse baixinho a última parte e eu sorri.
– Vai descansar então, aproveita essas horinhas e tenta só repor seu sono.
– Não, aqui tá bom, não quero desligar…
– Por mim também ficaria aqui a noite toda, mas você precisa dormir!
fez uma careta e acabou bocejando me fazendo rir de leve.
– Tchau, ! Te amo!
– Até amanhã?! – Antes de tudo ela perguntou e eu fiz continência afirmando.
– Positivo, Srta. ! –Ela sorriu cansada e me jogou um beijinho pelo vídeo.
– Te amo, tchau Luan!
Desliguei a chamada de vídeo desejando mais que tudo estar ao seu lado e poder cuidar de , ficar só observando ela mergulhada em seu mundo, tão concentrada, tão dedicada que esquece até mesmo de se cuidar. Eu queria surpreendê-la com uma visita, ficar andando pra cima e pra baixo em todos os lugares que ela quisesse me mostrar, mas justamente nessa época do ano eu não podia viajar pra longe e isso só me frustrava. Nunca pensei que relacionamento a distância fosse tão difícil.
Já estava perto do fim do mês de junho, o que significava que em breve poderia ter em meus braços de novo e eu mal podia esperar por isso. Os shows no nordeste estavam a todo vapor e junto das várias viagens acabava dormindo até ainda mais tarde do que o costume, o show da noite anterior tinha me deixado exausto, mal acordei e fui ao encontro da minha equipe na van, tinha consciência que por mais que tentasse minha cara ainda estava totalmente amassada, e meu óculos escuro não deveria estar me camuflando o suficiente.
– Noite difícil?! – Meu assistente perguntou rindo e eu sorri de leve mandando o dedo do meio pra ele.
– Fica quietinho aí! Pra onde a gente tá indo mesmo? – Me ajeitei no fundo da van e vi que as meninas da produção se aproximavam da van.
– Nós vamos pra uma entrevista no jornal da emissora local, depois vamos pra um pocket show na rádio com encontro de fãs e depois aero…. – Beleza!
Peguei meu celular e tentei falar com por mensagem mas não consegui, minha bateria acabou quase que instantaneamente, me deixando sem comunicação direta ou acesso a qualquer coisa vinda das redes sociais temporariamente.
– Ô, Testa! Vou deixar meu celular com você pra carregar, o.k.?! Depois da rádio eu pego!
A entrevista foi rápida, na saída para o prédio da rádio alguns fãs esperavam na porta e estava tudo seguindo tranquilamente até algumas pessoas perguntarem se eu ainda estava namorando , achei estranho aquela pergunta mas segui pra rádio.
No pocket show tinha uma quantidade maior de fãs, na hora que liberaram o microfone para as perguntas a grande maioria eram sobre a minha vida pessoal, coisas como:
“Você está namorando?”
“É ruim namorar a distância?”
“Você não sente ciúmes dela, lá tão longe?”
E tudo aquilo me deixou muito desconfiado. Afinal, as pessoas já tinham parado de perguntar tanto sobre meu relacionamento e agora o foco era na música, mas o que me deu certeza de que algo estava estranho era a cara da minha assessora, sempre desconfortável quando a pergunta era sobre namoro e eu não gostei nada daquilo.
Já estava quase anoitecendo quando nós voltamos para a van e a primeira coisa que eu fiz foi pedir meu celular pro Rober, seja lá o que fosse eu ia descobrir. Abri o instagram e vi que me marcaram em uma foto de que eu nunca tinha visto.
A foto era linda, em preto e branco, ela sorrindo e olhando para o lado, atrás vários prédios, mas o que me fez entender todas aquelas perguntas durante o dia foi saber quem tirou a foto. Fui no perfil marcado só pra ter certeza e a vontade de desligar o celular veio quase que instantaneamente.
João Pedro estava em Nova York com , as últimas fotos do perfil dele eram de vários pontos turísticos nova iorquinos e a mais recente era a foto da minha namorada com a seguinte legenda: “Minha modelo, finalmente”.
Era pra provocar, não era possível, esse cara estava querendo me fazer perder a cabeça. A raiva veio automática só em saber que ele estava vendo e fotografando minha namorada por aí enquanto eu nem ao menos podia tocá-la. E também o fato de ter falado com há poucos dias e ela nem ter mencionado a “ilustríssima” visita desse mala, só me deixou pior, me sentia o mais idiota de todos.
Já estava puto com aquela situação, quando chegamos no aeroporto eu só queria ficar na minha e se possível falar com , mas só dava caixa postal, eu tinha aprendido a controlar meu ciúme principalmente por causa das brigas onde JP foi o pivô, mas o fato de não conseguir falar com ela durante o dia todo, só alimentava ainda mais os monstros da minha cabeça.
Era difícil levar a situação numa boa mas desta vez eu me mantive bem no meu canto, mesmo estando bravo não fiz nenhuma merda, porque eu me lembrava o quanto doeu, como eu quase a perdi de vez. O que mais me irritava era aquele cara postando várias fotos dos dois juntos, das férias deles, dos lugares que eu já tinha feito planos junto dela pra gente visitar e agora ele tava lá, e eu contando nos dedos os dias pra finalmente ver ela de novo.
Eram quatro da tarde no Brasil quando ela me ligou via Skype, e pela primeira vez minha ansiedade não era exatamente só alegria, e também sabia disso já que quando atendi ela me olhava séria.
– Bom dia, tudo bem?
– Tudo certo e aí?
– Tudo bem… Luan…
– Você sumiu ontem, já estava bem estranho, mas seu amigo fez o favor de mostrar cada passo…
– Não quero brigar, Luan!
– Eu muito menos, né! Mas pensa em não conseguir falar com você de jeito nenhum, e te achar através dele, justamente dele! – Era impossível esconder minha irritação, aquele soco na boca do estômago que era lembrar de JP em NY.
– Você sabe que ele é meu amigo e apenas isso…
Assenti, meio a contragosto mas concordei.
– Eu chamei eles pra virem, aproveitar as férias e só deu pro JP vim…
– Você chamou e nem pra me dar um aviso prévio, tipo: olha ele estará aqui, segura tua onda!
riu e eu comecei a sorrir junto mas a porta do quarto dela se abriu e eu vi JP entrar no quarto com uma panela na mão, sorrindo com um pano de prato no ombro e fiquei sério na hora.
, fiz uma surpresa… – olhou para trás e o viu, minha vontade era ir até lá e o expulsar nem que fosse na base da força mas não podia. Eu estava simplesmente em outro país.
– Luan... – Não conseguia esconder o descontentamento em ver ele ali e respondi apenas com um aceno de cabeça, não queria brigar, não podia brigar mas também não me forçaria a ficar assistindo ele ali.
– Preciso ir... – Disse rápido pra que voltou a me olhar desconfiada.
– Tem certeza? – Ela sorriu e eu sorri sem graça afirmando com a cabeça.
– Vamos sair daqui a pouco pra outro estado, época de São João, sabe como é né!
– Tudo bem, te ligo depois, o.k.?!
Esperei pela ligação de mas não aconteceu, pelo menos desta vez nem JP postou mais nada e só me restava as minhas paranoias e frustrações de companhia mesmo.
Bruna tinha acabado de chegar de viagem junto com nossos pais para aproveitarem o período das férias e estava me acompanhando no show daquela noite.
– Que cara é essa? – Me assustei quando ela jogou uma bolinha de papel em mim assim que entrou no camarim, olhei para ela que estava toda sorridente e devolvi a bolinha – Tudo bem?
– Tudo bem, na medida do possível... – Fiz uma careta, levantei do sofá e fui até a mesa cheia de comida.
– Por que “na medida do possível”, algum problema? – Quando me dei conta Bruna estava ao meu lado, observando atentamente e eu ri me afastando.
– Um amigo da que resolveu brotar em Nova York, to tentando segurar ao máximo o ciúme mas é difícil, principalmente com ele!
– Por que? – Bruna pegou algumas frutas para comer e sentou no sofá de frente para mim.
– Porque esse é o mesmo cara que já causou algumas discussões, o mesmo cara que já confessou gostar dela e... O cara que me faz lembrar de quando eu me deixei levar e vacilei com a , foi por uma idiotice que eu fiz e quase a perdi de vez! Não quero isso nunca mais, foi horrível!
– Bem, só posso te dizer que você tem que confiar nela, no que vocês tem e são um pro outro! jamais faria nada desse tipo e você sabe, não sabe? – Bruna me encarou séria e eu apenas assenti, eu tinha plena confiança nisso, só precisava fazer minha mente idiota parar com as paranoias. – Então, pronto! – Bruna deu uma piscadinha pra mim antes de continuar – Você só tem que dar uma segurada nessa saudade aí! Vai ficar tudo bem.
– Argh!!! – Suspirei exasperado e Bruna me olhou assustada.
– Que foi, garoto?!
– Eu só queria estar perto pra fazer as pazes como se deve, nem isso eu posso…
Bruna me olhou indignada fazendo careta e jogou uma uva na minha cabeça.
– Ah, vai dormir, Luan!
Comecei a rir da cara dela que balançava a cabeça em reprovação.
Quando voltei do show ainda estava muito ligado, cheio de energia, acabei confundindo os horários e só me dei conta quando o telefone já chamava e tinha certeza que acordaria . Quando já estava prestes a cancelar a ligação, ela atendeu, surpreendentemente sem a voz de sono que eu esperava.
– Ué, tá acordada ainda, ?! – Perguntei me jogando na cama do hotel e olhando no relógio de novo, eram 01:30 da manhã em Nova York.
– Eu não estava muito bem e agora estava tentando dar um jeito na vida.
– O que houve? – Sentei na cama e parei pra prestar atenção na sua voz.
– Não sei direito, tá tudo meio estranho, eu ia sair hoje com o JP mas nem isso eu consegui, tô péssima… – Ela riu de si mesma mas eu não consegui acompanhá-la, não costumava ficar doente.
– Já foi ao médico? Tomou algum remédio?
– Calma! Já me entupi de chá e melhorei, agora voltei para as minhas parceirinhas de sempre, as matérias acumuladas! – A voz dela aparentava estar serena como sempre mas eu ainda não estava convencido sobre seu estado de saúde.
! ! Vai ao médico, leva essa mala junto qualquer coisa…..
– A mala, seria no caso, o João Pedro? – Fiz uma careta antes de responder, sabendo que pegaria no meu pé por isso.
– Esse mesmo, não me peça pra ser simpático com ele, mas já que está aí, pode ser útil.
caiu na gargalhada e eu rolei os olhos, imaginando a cara de vitoriosa que ela fazia.
– Quem diria, você querendo que eu leve JP junto... Tô chocada! Mas... – Seu tom de voz perdeu a animação quase que instantaneamente.
– Ih, lá vem…
– Já levei ele para o aeroporto, está seguindo viagem pra outra parte dos Estados Unidos, vou ficar te devendo essa! – Ela disse como se eu realmente fizesse questão de ver os dois juntos e eu apenas balancei a cabeça.
– Vai provocando, engraçadinha! – Fingi uma risada e continuou rindo do outro lado – Tô falando sério quanto ao médico! Você tem que se cuidar também, !
– Queria era alguém pra me fazer companhia, tô bem abandonada aqui – começou a fazer charme e eu que antes estava chateado e preocupado, me vi repassando minha agenda mentalmente tentando achar alguma brecha pra fugir pra NY.
– Isso é um convite?!
– Poderia ser, se eu não estivesse a beira de pirar, enfurnada nessa sala estudando o tempo todo…
, você tem que se cuidar aí, não pensar só em estudar, o que você comeu hoje? – Perguntei olhando para o relógio, era madrugada mas eu poderia apostar que pela maneira que ela falava provavelmente nem deveria ter comido direito.
– Um macarrão, com carne... Droga! – Aparentemente tinha saído correndo e a ligação caiu me deixando mais preocupado ainda.
Liguei de volta mas ela não atendeu, só depois de muito tempo ela mandou uma mensagem avisando que estava melhor mas que já ia dormir.

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O dia seguinte já começou mais movimentado do que o normal, estava repassando minha agenda com Rober quando meu celular tocou e surpreendentemente o nome que surgiu na tela era o de Matheus:
– Fala, Meu Guri! E aí, beleza?
– Oi, Luan! Tudo certo, você pode falar agora? – Reparei que a voz dele não tinha nenhuma animação como o habitual, com um gesto pedi para o Rober sair.
– Posso sim, que foi? Por que sua voz está tão séria?
– Tenho uma péssima notícia. O Rodrigo, irmão da , sofreu um acidente de madrugada e está em estado grave no hospital.
– Meu Deus, a vai ficar arrasada…
– Esse é um problema… – Matheus disse baixo do outro lado da linha e eu fiquei sem entender – O pai dela não quer que a gente conte nada!
– Quê?! Cara, como assim? Se a gente não falar nada a vai ficar furiosa!!! E com toda razão!
– Tá foda, cara! Não sei o que fazer também! O pai dela pediu uns dois dias até os exames que fizeram no Rodrigo saírem e eles terão mais noção de como ele está realmente!
– Mas por que não falar? Não me entra na cabeça isso…
– A mãe da , que foi quem me contou tudo, disse que o Dr. Sérgio não acha necessário abandonar tudo lá e voltar pra cá agora, faltando tão pouco! – Pelo tom de voz de Matheus dava para sentir o quanto ele reprovava aquela atitude.
– Mas são os filhos dele! – Eu estava ainda mais chocado com a frieza do meu sogro.
– Eu já desisti de entender! Sinceramente! – Vou falar com eles, isso não tá certo, Matheus!
– Faz isso, eu preciso voltar ao trabalho agora, mas qualquer coisa me liga. Até mais!
Não consegui ter sossego a partir daquele momento, toda hora em meu pensamento e o fato de não saber como agir me deixava mais agoniado ainda, estava distraído ouvindo o pessoal da banda conversar no nosso camarim que quando meu celular tocou, eu atendi no automático sem nem ver quem era.
– Oie! Tudo bem? – Era ela, com sua voz não tão animada como de costume, me fez congelar no lugar.
– Oi, amor! Tudo sim e você, tá melhor?
– Mais ou menos, tá bem esquisito esse dia, não tô nem a fim de ir pro curso…
Engoli em seco e forcei minha voz a sair o mais normal possível.
– Por que, ? Tá sentindo mais alguma coisa?
– Ah, sei lá, não tô sentindo nenhuma dor física mas tá ruim, hoje eu te queria aqui… Mais do que nunca – Fechei meus olhos com força, deixando o instinto de proteção falar mais forte dentro de mim e a decisão de contar tudo a ela me dominar.
… – Comecei sem encontrar a melhor maneira de fazer aquilo, respirei fundo e a porta do camarim abriu de supetão:
“Prontos?!”
“Luan Santana no palco em dois minutos”
O pessoal da produção do programa de TV apareceu me trazendo de volta para onde eu estava, voltei minha atenção novamente para a ligação e ainda estava ali.
– Tô te atrapalhando, né?! Ligo mais tarde, o.k.?!
– Você nunca atrapalha! Eu te amo, assim que acabar aqui eu te ligo, prometo!
Ela deu uma risadinha do outro lado da linha e sussurrou um ‘te amo’ antes de desligar.
Não posso dizer que estava 100% presente durante a gravação do programa, meu coração estava apertado e a culpa me fazia brigar internamente com minha consciência a todo momento, algo me dizia que eu já deveria ter contado, mas não queria causar ainda mais atrito entre e sua família. A gravação só terminou a noite, quando peguei meu celular tinha várias ligações perdidas de um número que eu não conhecia e que não fazia ideia de como conseguiu meu contato.
– Ah, Luan! Uma mulher ligou umas três vezes pra você lá no escritório e disse que é mãe da !
– Pegaram o número? – Rober me passou o número do telefone que era o mesmo que ficou me ligando a tarde toda, assim que cheguei ao hotel retornei a ligação já imaginando qual seria o assunto:
– Alô?!
– Que bom que ligou, Luan! Eu preciso falar com você… – Reconheci a voz da mãe de , mesmo com a voz abatida seu tom passava uma seriedade que não me lembrava em nada a mulher que eu conheci.
– Fiquei sabendo do acidente do Rodrigo. Sinto muito, Dona Rose, como ele está?
– Estável mas farão mais procedimentos amanhã, ainda não dá pra saber ao certo…
– Espero que ele… – Comecei a falar sentindo que nada poderia trazer alívio a ela e não pude deixar de pensar em . Ela precisava saber urgentemente!
– Você não contou nada a ? Contou?! – Rose me interrompeu com a voz ainda mais séria que antes e eu rolei os olhos antes de responder.
– Ainda não! – Fui o mais firme possível – Mas pretendo falar amanhã!
– Não, você não pode! – Pela primeira vez durante toda a ligação a voz dela falhou, me deixando ainda mais sem saber o que fazer.
– Porque não?! É o irmão dela! A senhora mais do que ninguém conhece a ligação deles…
Ela fungou do outro lado e o telefone fez uns barulhos estranhos até que uma voz forte e imponente se fez ouvir:
– Rapaz, não conte nada a ela! Nós decidimos que só vamos falar se necessário – O pai de , era mil vezes mais frio que sua esposa, distante e totalmente profissional.
– Com todo respeito, Dr. Sérgio, mas merece saber o que está acontecendo!
– Ela não precisa, vamos deixá-la em paz!
– Isso não é paz, isso é mentir sobre algo muito sério… vai nos odiar... - Continuei com a postura convicta de que aquela era a melhor solução, ela merecia saber.
– Eu falo com ela! Sou o pai e sei o que é melhor pra ela! Passar bem…
Sem mais ele desligou o telefone na minha cara, dando a certeza de que se eu obedecesse seu pedido magoaria ainda mais minha namorada. Ele era irredutível e nenhum apelo o faria ceder, era a minha certeza. Decidi ligar para ela na manhã seguinte, já era uma da manhã em Nova York e ela estaria dormindo, quanto mais descansasse era melhor.

Não consegui dormir de jeito nenhum, não teve técnica de relaxamento que me fizesse parar de pensar em e sua família. Quando o relógio marcou oito da manhã, peguei meu celular e liguei para ela mas estava fora de área. O que era totalmente esquisito.
Tentei mais algumas vezes sem sucesso, liguei para o telefone da casa onde ela morava com sua tia em Nova York e depois de alguns toques, uma voz sonolenta atendeu.
– Alô?! ?!
– Luan? – Era a tia dela, Carla, que parecia não ter reconhecido minha voz de primeira.
– A está? Preciso falar com ela!
– Luan… – Ela disse mais séria e eu não gostei daquele tom, podia sentir que tinha algo errado acontecendo – A já sabe, está a caminho do Brasil…
– Mas… – Só de imaginar como ela estava meu coração se apertou e as palavras sumiram.
– Vai atrás dela, talvez só você possa cuidar dela agora!


Capítulo 23



Minha intuição não falhava, fiquei inquieta durante todo aquele dia, perdida em meus pensamentos sem saber o que era aquele aperto no peito até o momento em que minha tia chegou de viagem, seu olhar apreensivo na minha direção só me deu a certeza de que algo estava realmente acontecendo.
– Seu pai não queria que você soubesse mas não é justo, minha irmã que me perdoe... – Ela apenas deixou suas malas na soleira da porta e veio até mim, fiquei de pé imediatamente abandonando tudo que estava fazendo.
– Fala, tia! Pelo amor de Deus! Eu sinto que tem... – Senti um calafrio passando pelas minhas costas e segurei a respiração esperando que aquele desconforto passasse.
– Senta, ! E mantenha a calma, o.k.?! – Tia Carla me pegou pelas mãos e me fez sentar de frente para ela no sofá da sala, apertei sua mão e implorei com o olhar para que falasse de uma vez seja lá o que fosse.
– Na madrugada, por volta de umas 02:30 da manhã, o Rodrigo sofreu um acidente de carro, algum irresponsável bêbado resolveu acelerar de mais achando que era dono da rua e infelizmente o carro do Rodrigo estava no caminho...
Eu sentia meu coração falhando, as batidas descompassadas e um medo enorme do que viria a seguir, fora a vontade de vomitar que ficava mais forte a cada minuto.
– Rodrigo está em estado considerado grave no hospital, passou por uma cirurgia hoje mais cedo e é a partir da recuperação dele que o quadro pode melhorar ou não... – Minha tia me olhava nos olhos e falava o mais calmamente possível enquanto eu só tinha vontade de gritar e chorar.
Ah, mas que droga! O mundo caindo sobre minha cabeça e meu estômago revirando como se estivesse em uma montanha-russa, comecei a chorar e corri para o banheiro, sentindo minha tia em meu encalço.
Botei tudo para fora e chorei ainda mais, eu precisava ver o Rodrigo, eu queria estar perto dele. Dei descarga e fiquei sentada no chão do banheiro, encostada na parede olhando os azulejos e sentindo um medo enorme consumir meu coração, meu melhor amigo estava no hospital!
– Por que ninguém me disse nada? – Tia Carla sentou ao lado e puxou meu cabelo para trás, me encarando de perto, preocupada.
– Eu soube por acaso, liguei para falar alguma coisa boba com sua mãe e depois de uma prensa ela me contou, pelo visto não queriam que nós duas soubéssemos, mas eu não acho certo Dr. Sérgio achar que pode fazer isso...
– Eu não posso perder o Rod, ele é minha vida, o melhor irmão do mundo! – Chorei sentindo o abraço da minha tia tentar me segurar mas parecia que aquela dor pesava uma tonelada, eu só sentia meu peito doendo e os soluços que acompanhavam minhas lágrimas escapando entre meus lábios.
– Hey! – Minha tia ergueu minha cabeça e secou meu rosto – Preste atenção, o.k.?!
Afirmei tentando me manter firme, embora achasse que não conseguiria parar de chorar tão cedo.
– Eu não consigo ir imediatamente para o Brasil, mas com minhas milhas eu consigo uma passagem para você... – Nem deixei ela terminar de falar e a abracei apertado, sentindo um alívio por saber que não precisaria ficar longe do meu irmão naquele momento – Mas eu tenho uma condição!
A olhei e aquele semblante preocupado voltou ao seu rosto, tia Carla me olhava atentamente antes de falar.
– Depois que você ver o Rodrigo, quero que você vá a um médico ver a sua saúde, ! Esses enjoos, essa fraqueza, nada disso é normal... Me prometa! – Sorri para ela e estendi meu dedinho para cruzar com o seu e selar aquela promessa.
Comprei a primeira passagem que encontrei para o Brasil, minha ansiedade estava muito mais forte devido as circunstâncias, tudo doía e ainda assim parecia que eu tinha que me concentrar em não me desfazer em caos antes de chegar ao Brasil. Tinha que engolir meu medo de avião, as dores cada vez mais fortes nas costas e um desconforto abdominal que me fazia parecer louca a cada careta de dor que tentava disfarçar. Foi o pior voo da minha vida, quase imobilizada naquela poltrona, rezando baixinho pra que acabasse de uma vez, mas principalmente rezando para que Rodrigo melhorasse. Eu só queria meu irmão por perto novamente mas eu ainda precisava enfrentar aquela bendita escala.

Estava no Aeroporto Fort Lauderdale (FLL) esperando minha mala, quando senti uma pontada na barriga e não consegui conter um gemido de dor, sentindo uma moça que também estava esperando por sua bagagem se aproximar.
– Moça, você está bem? – Ela tocou nas minhas costas e eu não consegui disfarçar a cara de dor, vinda daquela cólica totalmente inesperada e intensa.
– Tô só sentindo uma cólica, já vai passar – Sorri para ela e vi minha mala na esteira, peguei-a com a ajuda daquela moça e agradeci, achei um bom lugar no aeroporto e fiquei tentando me distrair com meu livro da Série A Seleção, sabia que Luan estaria dormindo naquele horário e não tinha ninguém para falar comigo. Quando o tempo de escala estava quase acabando decidi tomar um calmante para aguentar o resto da viagem, dormir e só acordar no aeroporto de Viracopos, odiava fazer isso mas estava simplesmente insuportável.
A aeromoça me acordou quando estávamos prestes a aterrissar e eu mal podia acreditar que eu estava finalmente no Brasil, perto de casa e do meu melhor amigo.
Toda minha emoção fez meu estômago se agitar e lá fui eu pro primeiro banheiro que encontrei, não queria admitir mas já estava ficando assustada com aqueles enjoos, eu não era tão frágil assim, só em grandes turbulências mas aquilo estava além do muito estranho.
Peguei um táxi e fui direto para o Hospital Santa Luzia, lugar onde meu pai sempre sonhou que eu trabalhasse, o grande legado da família e onde eu mais evitava pisar.
Antes de entrar avisei minha tia Carla que eu já estava no Brasil, que depois ligava para ela.
– Bom dia! Queria informações de um paciente… Rodrigo – A recepcionista que me encarava de um jeito nada discreto digitou algo em seu computar e me olhou novamente.
– As visitas não estão autorizadas para esse paciente – Encarei aquela moça já me preparando pra brigar do jeito que fosse, eu não ia arredar o pé dali antes de ao menos ver de longe meu irmão.
– Ana, deixa comigo! – Ouvi uma voz atrás de mim que me lembrava vagamente uma das amigas da nossa família – ?
Me virei e vi o rosto inconfundível e animado da Dra. Helena, amiga de longa data da família e minha ginecologista há muitos anos, quase chorei de felicidade em finalmente ver um rosto familiar em tantas horas.
– Querida! Quanto tempo! – Ela me deu um abraço apertado e sorriu – Você tá bem? Tá tão pálida!
Sorri sem graça pra ela e tentei ajeitar meu cabelo que também deveria estar uma coisa medonha.
– Fiz uma viagem muito longa, vim direto pra cá…. Onde está meu irmão?
– Vem comigo! Vamos deixar sua mala na minha sala e depois eu te levo ao CTI – Aquilo foi um baque, era grave, CTI sempre me assustou mas nada se comparava ao arrepio macabro que eu senti ao ouvir aquelas três letrinhas naquele momento.
– Você sabe como ele está? – Perguntei para Dra. Helena e ela negou com a cabeça.
– Eu só sei que a primeira cirurgia foi boa e ele precisa se fortalecer para a próxima. Mas é melhor você falar com quem tá realmente cuidando do caso dele!
– O.k.! – Chegamos a sala dela e eu deixei minhas coisas ali, olhei no espelho perto da porta e realmente vi que meu estado não estava nem um pouco animador, minhas olheiras estavam fundas, boca seca e o rosto pálido, se bobeasse alguém passava e já tentava me colocar no soro direto.
Assim que chegamos na área do Centro de Terapia Intensiva eu vi minha mãe sentada em uma das cadeiras perto da porta que dava acesso aos leitos, depois que a Dra. Helena conseguiu minha liberação e eu passei pela primeira porta, Dona Rose também me viu e chorou vindo na minha direção.
– Eu sinto muito, filha! – Ela me abraçou apertado e eu senti meu coração falhando algumas batidas, ela estava sozinha ali, que dor ouvir aquele choro.
– Mãe, depois a gente conversa, eu preciso ver o Rod! – Ela assentiu e me soltou, fui até a porta que dava acesso aos leitos, um enfermeiro me deu as instruções e me indicou a cama do Rodrigo e ali eu senti minhas pernas bambearem.
Fui tão devagar até aquela cama que parecia que eu podia adiar aquilo ao máximo, mas quando eu vi a mão dele eu senti aquele mesmo soco no estômago de quando eu recebi a notícia. O meu irmão estava deitado com o rosto cheio de hematomas, ligado a vários fios, todo entubado e aquilo me quebrou ao meio.
Peguei em sua mão e chorei, deixei toda a dor e até mesmo meu medo saírem naquele momento. Fui até seu cabelo, seu xodó e mexi ali, tão devagar quanto era possível e me inclinei para falar em seu ouvido, tinha certeza que ele me ouvia.
– Cheguei, Rod! Pode tratar de ficar bom logo pra sua maninha! – Segurei o choro e beijei sua testa me demorando alguns segundos ali, apenas curtindo o fato de estar ao lado dele – Não vou sair de perto de você! Nem que você queira…
Sorri secando meu rosto, beijei seu rosto mais uma vez e vi o enfermeiro me avisando que eu precisava sair.

Ainda estava saindo daquela área restrita quando vi meu pai discutindo com minha mãe do lado de fora, e toda a raiva que estava em segundo plano veio como uma avalanche sobre mim, fui até eles e olhei furiosa para o Dr. Sérgio que me olhava tão bravo quanto. Cruzei os braços e ele indicou o lado de fora do CTI, e fomos os três até a sala dele.
– O que você está fazendo aqui, ? – Pelo seu tom de voz totalmente descontente, sabia que ele estava doido pra me dar uma bronca.
– O que eu estou fazendo? – Forcei uma risada sendo o mais irônica possível, o olhando mais brava do que nunca – O que vocês acham que estão fazendo? Que direito você acha que tem de decidir as coisas por mim, eu merecia saber, é o meu irmão naquela cama!
– Eu sei o real estado dele, sabia que não era tão grave a ponto de você estar aqui agora, !
– Meu Deus! Se você é frio, é um problema seu, mas eu não sou como você…
… – Minha mãe tentou apaziguar mas eu estava tão brava que nem ela conseguia me manter centrada, eu já estava além do meu limite.
– Você não pode querer que todos estejam sobre seu poder! É a minha relação com as pessoas, você não tem o direito de interferir!
– Ah, ! Chega! – Meu pai vociferou e bateu com força na mesa, assustando minha mãe, a vontade de rolar os olhos era imensa mas sabia que Dr. Sérgio ia apenas dar mais bronca por isso.
– Não é porque seu namoradinho te contou sobre o acidente que ele se transformou no par ideal. Sou seu pai! E vou interferir sempre que achar necessário!
Olhei sem reação para o meu pai, cruzei os braços e fingi um sorriso, escondendo no fundo da mente o baque de descobrir que até Luan já sabia do que aconteceu e não me falou N-A-D-A.
– Você não pode abandonar seus estudos nos Estados Unidos…
– Ah, por favor! Vê se eu tenho paciência pra pensar em estudos agora?! Depois eu vejo isso, faço segunda chamada, dou um jeito... Mas não volto pra lá até Rodrigo estar totalmente recuperado!
Encarei meu pai com toda firmeza que consegui, ele me encarava como se eu fosse um E.T., mas desta vez nada que ele fizesse ou falasse me afastaria dali. O celular dele apitou, depois de verificar o que era ele desviou seu olhar novamente para mim, ainda bravo.
– Tenho que ver um paciente agora, mas esse assunto não acabou! – Seu tom de voz impassível voltou, sem emoção nenhuma ele saiu daquela sala nos deixando sozinhas.

– Mãe... – Eu ia brigar mas aquele olhar dela me quebrou, Dona Rose estava visivelmente exausta, suas roupas impecáveis viraram um conjunto qualquer de moletom, seu cabelo milimetricamente arrumado para aparecer no trabalho do papai, hoje era um coque mal ajeitado, sem nenhuma maquiagem, mas eu via no olhar dela que a parte mais difícil era por dentro.
Não tive coragem de falar nada, me sentei ao seu lado e a abracei, sentindo ela me apertar e chorar, talvez o que ninguém deixou ela chorar até aquele momento. Afinal, era o ‘filhinho da mamãe’ que estava na cama do hospital, o príncipe que ela criou.
– O Rod vai sair dessa…
– Obrigada por estar aqui! – Ela sussurrou no meu ouvido e meu coração se acalmou, era isso, nós precisávamos uma da outra e ninguém entenderia isso, minha maior ligação era com ela e com o Rod. Minha maior saudade eram os dois. A base de tudo.
– Hoje ele vai fazer outra cirurgia, disseram que ele está mais forte pra aguentar... Mas eu tenho medo… – Apertei sua mão e olhei em seus olhos.
– Mãe, até parece que não conhece seus filhos, nós somos teimosos, chatos e adoramos uma boa briga! Rodrigo vai lutar e nós estaremos aqui pra enchê-lo de beijos e ele nos expulsar de casa – Pisquei pra ela e vi os olhinhos dela um pouco mais iluminados, ouvimos alguém bater à porta, era Júlia, namorada do Rod que sorriu ao me ver.
– Te achei!!! – Ela veio me abraçar, em seguida abraçou minha mãe por um bom tempo – A Dra. Helena me disse que você estava aqui e eu precisava ver de perto… – Sorriu e eu ri fazendo uma careta.
– Que exagero, Jú! Ainda parece que eu tô naquele avião, nem cheguei direito… – Ela ficou me observando por um tempo e concordou balançando a cabeça.
– Desculpa, mas sua cara não está mesmo das melhores, Cunhadinha! – Júlia disse baixo e eu apenas rolei os olhos vendo minha mãe me analisar como minha cunhada fazia há segundos.
– Sem paranoias, foi apenas um voo horrível, só preciso descansar! – Antes que as duas começassem com a bronca, já me adiantei e vi as duas me olharem desconfiadas.
– Bem, eu vim chamar minha sogrinha pra ir comigo a lanchonete, vamos?! – Júlia disse nos olhando, eu neguei e minha mãe me olhou novamente desconfiada.
– Mãe, eu preciso fazer uma coisa antes, mas vai na frente com a Jú, por favor! – Sorri pra elas e levantei abrindo a porta da sala da diretoria que meu pai ocupava.

Depois que elas sumiram no corredor do hospital, fui na direção oposta, sentindo tudo que eu tentei esconder lá dentro me consumir sem piedade nenhuma, discutir com meu pai era exaustivo, me machucava e principalmente nesse momento, aquele jeito intransigente e frio, machucava não só a mim mas a minha mãe também. E descobrir que até Luan sabia do acidente do Rodrigo e não me falou, era como levar uma rasteira, não queria acreditar naquilo mas lembrei que falei com ele ontem… E nada.
Só de lembrar disso senti mais dor, fora todas as dores que senti enquanto discutia com meu pai, tudo aquilo estava simplesmente acabando comigo, me deixando em frangalhos. Faziam quase dois meses que nós voltamos, tão pouco tempo, eu não queria brigar de novo. Só dois meses.
Meu Deus.
Meu coração foi muito mais rápido do que a minha mente, eu não sabia nem o que dizer, não era possível, era loucura, minha mente tentava se enganar mas meu coração já batia acelerado. Será que eu estava mesmo grávida?! Era surreal demais, era tudo demais naquele momento. Estava tentando voltar a respirar normalmente quando eu o vi, caminhando calmamente na minha direção me dando vontade de bater e abraçá-lo ao mesmo tempo.
– Meu amor! Finalmente, te achei! – Ele abriu os braços mas eu ainda estava muito brava pra ser carinhosa, eu estava me sentindo totalmente enganada.
– Você sabia! Sabia e não me falou nada… – Tentei conter minha voz mas foi inevitável, aquilo estava entalado na minha garganta e quando percebi, já estava o olhando furiosa.
, vamos conversar… – Luan me olhava surpreso enquanto eu cruzava os braços, esperando as desculpas que ele me daria.
– Querida! – A Dra. Helena apareceu atrás de mim, tocou meu ombro nos fazendo olhar para ela – Vamos até a minha sala, lá vocês podem conversar com mais privacidade! – Ela sorriu e apontou com a cabeça para o andar debaixo, dava para perceber as pessoas nos olhando, não queria ninguém cuidando da nossa vida, já bastava os paparazzis de plantão.
Fomos andando lado a lado até a sala que ela indicou, onde pudemos ficar mais à vontade.
– A primeira coisa que eu fiz hoje foi te ligar pra contar, sua mãe me implorou ontem, dei um dia de prazo... – Luan disse vindo na minha direção, me deixando mais nervosa em ver que eu tinha razão, ele sabia mesmo.
Uma pontada forte na barriga, totalmente inesperada me fez gemer de dor e segurar na cadeira ao meu lado para não cair.
, o que foi?! – Em segundos Luan estava me segurando pelos ombros, seu olhar assustado sobre mim e aquela dor ficando mais forte.
– Eu não... Luan! – Meus olhos já estavam transbordando de lágrimas e sem forças pra me sustentar, eu caí de joelhos sentindo que minhas suspeitas estavam certas, e aquilo só fez a dor ser ainda maior. Se era mesmo verdade, aquela dor não era um bom sinal.
– Meu Deus! Você está sangrando! – Eu ouvia o desespero em sua voz, ele me pegou no colo e colocou sobre o sofá, eu me encolhi tentado evitar qualquer movimento brusco.
Mas assim que Luan saiu da sala para buscar ajuda, eu gritei de dor e senti a pontada mais forte, e só consegui chorar e segurar a medalhinha que Luan me deu, rezando baixinho pra aquele pesadelo terminar, pra não ser verdade, pra que nós pudéssemos permanecer fortes e juntos.

Minha visão ficou turva, a dor sumiu e a última coisa que me lembro foi de ver o rosto do Luan apavorado e sentir que estava perdendo uma batalha.
Não sei quanto tempo fiquei apagada, mas quando acordei eu estava em um quarto de hospital, com camisola hospitalar, tomando alguma coisa na veia e Luan estava sentado ao lado da cama, fazendo carinho em minha mão.
– Oi, meu Amor! – Luan sorriu triste assim que sentiu que eu estava o observando, seus olhos estavam vermelhos, cheios de tristeza e eu me senti afundar naquela maca – Você me assustou tanto.... – Sua voz estava rouca e fraca. Eu nunca tinha o visto daquela maneira.
– O que houve? – Ele estava me encarando tão de perto, levei minha mão ao seu rosto e fiquei fazendo carinho em sua bochecha, ele beijou a palma da minha mão e fechou os olhos antes de me encarar novamente.
... – Ele parecia estar se segurando para não chorar e aquilo só me deixou ainda mais preocupada – Você estava grávida, meu amor...
Por um segundo eu me senti a pessoa mais feliz do mundo, mas o fato de perceber o verbo no passado me destroçou, estava... Estava...
– A Dra. Helena disse que essa fase da gestação é muito delicada mesmo, e que devido a todas essas emoções e coisas que vem acontecendo, vocês foram muito guerreiros… – A voz dele embargou, meu coração ficou pequenininho só de imaginar o que viria a seguir – Mas o bebê não resistiu e as dores que você sentiu mais cedo eram um aborto espontâneo...
– O quê? – Minha voz saiu como um sussurro, a confirmação das minhas suspeitas junto com uma dor excruciante, não era possível, não podia ser verdade. Senti as lágrimas chegando com toda força e num gesto automático levei a mão a barriga, sentindo um vazio me engolir, a realidade me bater sem dó e saber que eu nem pude lutar direito, tudo me fez desmoronar.
Senti Luan sentando na cama ao meu lado e me amparando em seus braços.
– Eu sinto muito... – Disse a ele em meio as lágrimas e soluços, sabendo que ele também chorava, mais silencioso mas com a mesma ferida.
– Eu também amor, eu também sinto muito, ! – Luan beijou o topo da minha cabeça e eu o abracei o mais forte que pude. – Nós vamos ficar bem, o.k.?! – Ele se afastou apenas para me olhar nos olhos e me dar um selinho.
O tempo parou, eu não sentia nada, todas as dores, toda tristeza, preocupação, tudo parecia sem sentido naquele momento, Luan era a única coisa que me prendia a realidade daquele quarto, eu o sentia segurando a emoção toda vez que eu caia no choro, ele segurando minha mão como se dependesse daquilo e sinceramente, naquele momento, eu dependia.
Acabei caindo no sono e acordei quando Luan voltava para o quarto, secando os olhos discretamente e o chamei pra ficar ao meu lado na cama. Nós éramos um para o outro naquele momento.
– Contei para o meu pai… E minha mãe ouviu, ela quer muito ver você! – Luan disse deitado em meu ombro e eu senti como aquilo deve ter sido difícil pra ele, afinal era o maior sonho da vida dele que se adiava, e esse quase era o que mais doía. Quase deu certo. Quase.
– Pedi para ele cancelar os shows desse fim de semana – Ele disse fazendo carinho na minha mão, beijei as dele e me aninhei em seu peito novamente.

Antes mesmo de receber alta, pedi informações sobre Rodrigo e, graças a Deus, ele já tinha passado pela cirurgia sem nenhuma complicação, iam começar a tirar a medicação que o mantinha em coma induzido e ele poderia acordar muito em breve.
Assim que fui liberada Luan e eu fomos para minha antiga casa, e aquela era a sensação mais estranha de todas, não me sentia “em casa” sem os verdadeiros moradores ali.
Já estávamos sentados naquela sala grande demais há algumas horas sem comer nada além de pipoca quando Luan levantou e acendeu a luz perguntando:
– Posso usar a cozinha?
– Claro que pode, só não sei onde ficam as coisas! – Sorri e apontei a direção para Luan que me puxou para ir com ele.
– Você vai me ajudar, dona !
Fiz uma careta e Luan ameaçou me atacar com cócegas, segurei suas mãos e levantei para seguir com ele até a cozinha antes que ele de fato me atacasse.
– O que o chef vai precisar?! – Me sentei na bancada e Luan colocou a mão no queixo analisando seu cardápio imaginário fazendo caras e bocas até me olhar novamente sorrindo.
– Sanduíche!!!
– WOW!!! Agora senti firmeza – Usei toda minha ironia vendo Luan me encarar de longe fazendo uma cara de ofendido.
– Você nunca experimentou o MEU sanduíche! Vai se apaixonar, nunca mais vai querer outro…
Ele veio lentamente até mim e ficou entre minhas pernas, me olhando atentamente.
– Tudo bem? Não está sentindo mais nenhuma dor?
Neguei balançando a cabeça, passei minhas mãos por seus ombros e o trouxe para perto, deixando nossos rostos a poucos centímetros de distância e beijei seu pescoço, sentindo Luan se arrepiar e colocar as mãos em minha cintura, acabando om qualquer distância entre nós ele me beijou, trazendo paz, calma e todo carinho que aquele momento pedia, quando nos separamos Luan sorriu e se afastou balançando a cabeça indignado.
– Você fica me seduzindo, não vou conseguir nem começar nossa comida… – Luan se manteve sério e eu ri entrando em sua brincadeira.
– Sei que vai, hoje sai o melhor sanduíche de Campinas, será um arraso! – Aplaudi cheia de falsa empolgação e Luan se virou para me encarar novamente.
– Vai, fica zoando meus dotes culinários, vou deixar você de jejum! – Ele me jogou um pano de prato e eu ri de verdade pela cara indignada que ele fazia.
– O.k.! Não tá mais aqui quem falou…. – Desci da bancada e fui até Luan para ajudá-lo a pegar todas as coisas, enquanto ele se concentrava em realmente transformar aquele monte de itens em um sanduíche, peguei meu celular e deixei algumas músicas tocando.
Até que começou a tocar uma das minhas favoritas, a que eu considerava ser a nossa música, ‘You Make It Real’ do James Morrison, Luan olhou sorrindo e estendeu a mão, me convidando para dançar, ri e fui até ele, sentindo sua mão em minha cintura, nos balançávamos devagar, enquanto eu o abraçava pelo pescoço.
– Minha mãe disse que nem sempre vamos entender os planos de Deus, mas Ele sabe o que é melhor…
Deitei em seu ombro e deixei um suspiro escapar, ainda doeria muito até tudo aquilo cicatrizar.
– O que é estranho para mim é que eu nem sabia que queria ser mãe, nunca tinha pensado sobre isso.
– Lembro disso… – Luan sorriu e me girou pela cozinha, me fazendo rir.
– Mas acho que entendi porque doeu tanto, ainda dói – Disse baixo quando voltei a olhar em seus olhos.
– Por quê?
– Porque era nosso, é da nossa história, e mesmo sem nem conhecer direito não queria deixar passar nada que foi feito por nós… – Luan me olhou com um sorriso tímido no canto dos lábios e foi até meu ouvido e sussurrou.
– Nós faremos mais, ainda não acabou, só não era nossa hora!
A música continuava e estar ali com ele, aquele momento tão nosso, nossos olhares, nossa cumplicidade me fizeram estar em casa, ali com ele eu estava em casa.
– Obrigada! – Sussurrei de volta e Luan se afastou para me olhar.
– Pelo quê?
– Mesmo com nossos altos e baixos, você me faz acreditar em nós, que nós vamos sobreviver, que teremos um ao outro…
– Eu te amo, ! Mais do que sonhei um dia ser possível… – Até seus olhos eram iluminados, seu sorriso me desconcertava, ele me girou algumas vezes só para me fazer rir e reclamar por estar tonta.
– Te amo, Luan! Vamos juntos, até o final – Disse baixinho, me deixei descansar em seu abraço, sentindo ele me abraçar de volta.
– E além dele – Luan disse da mesma maneira, nós ficamos assim até o fim da música e até meu celular acabar com o clima tocando um pout-pourri do ‘É o Tchan’ na sequência, nos fazendo cair na gargalhada.
Depois do jantar, decidimos subir e ficar na sala, peguei algumas mantas do meu antigo quarto, alguns travesseiros e coloquei um filme qualquer, nem vi o começo direito, a última coisa que me lembro foi virar para abraçar Luan e apagar.

Quando acordei Luan já não estava mais comigo no sofá, mas, ainda assim, senti olhares sobre mim, me virei e dei de cara com minha mãe me ‘assistindo’ dormir de longe e pelo olhar dela, já deveria saber de tudo que aconteceu no hospital.
– Ai filha, eu sinto muito, eu… – Ela veio me abraçar e como quando eu era criança, ela me embalava e cantarolava, ela fez a mesma coisa só que com o abraço mais apertado que já senti, chorando baixinho dizendo que queria ter cuidado mais de mim.
– Mãe! Ninguém tinha como saber de nada, ninguém… – Mesmo com a voz embargada fiz questão de secar suas lágrimas e sorrir pra ela.
– Nós vamos ficar bem… – Vi Luan nos observando da porta e mesmo triste como nós, ele sorriu pra mim para me dar a força que precisava – Você é a melhor mãe do mundo, o Rod e eu somos a prova viva disso!
– Vocês que me fazem forte, vocês são tudo pra mim!
– Chega, Dona Rose! Não quero mais chorar… – Me joguei em mais um abraço em cima dela, fazendo-a cair deitada no sofá e ouvi ela gargalhar em meu ouvido.
– Você é doida, menina!
Ela se sentou novamente e só então reparou em Luan ali perto da porta.
– Bom dia, meninas! – Ele sorriu todo charmoso, minha mãe ficou levemente vermelha enquanto eu segurava a risada em ver Luan todo metido.
– Bom dia! – Respondemos juntas sem querer e ele veio para perto cumprimentou minha mãe e me deu um beijo rápido.
– Vamos tomar café! Pedi para que fizessem tudo que você gosta – Minha mãe levantou e deu uma piscadinha pra mim, saindo em seguida nos deixando a sós.
– Como você está? Dormiu bem? Não está sentindo nada? – Luan sentou à minha frente no sofá e ficou me analisando minuciosamente e eu ri achando graça dele estar a milímetros de mim procurando talvez por hematomas.
– Luan! Tô bem! – Segurei em seus ombros e o fiz parar – O máximo que estou sentindo agora é fome.
– Engraçadinha – Ele fez uma careta e forçou uma risada passando a mão em minha perna – Agora é sério… Só consigo ficar mais dois dias aqui com você, preciso voltar pra cumprir a agenda.
– Vou ficar por aqui até o Rodrigo acordar, pode ir tranquilo… – Passei a mão por seu braço e Luan me puxou para mais perto.
– Se precisar de mim é só falar que eu venho correndo – Luan distribuía vários beijos por meu pescoço e ombro.
– Vem mesmo?! Posso ficar muito mal acostumada assim… – Ele parou de me beijar e se afastou sorrindo.
– Por mim, seria ótimo – Ele deu uma piscadinha e me puxou para sair do sofá.

Depois do café da manhã, fui dar uma volta com Luan pela cidade, passar pelos lugares que foram muito especiais para mim e o mais importante, eu precisava ligar para minha tia e contar tudo que aconteceu, ela estava cuidando de mim antes mesmo de eu saber que precisava de cuidados.
– Hey, ! Como estão todos aí? – Minha tia atendeu animada ao telefone, provavelmente de dentro de seu ateliê. Luan e eu estávamos sentados na antiga pracinha do condomínio, em um dos bancos que ainda restaram, onde ninguém podia nos atrapalhar.
– Rod fez uma grande cirurgia e os médicos disseram que ele está indo muito bem, já estão pensando em começar a reduzir a medicação e tirá-lo do coma induzido.
– Que maravilha! Isso são boas notícias, certo?! – Sua animação ficou ainda mais forte e eu sorri triste, olhando para Luan ao meu lado, prestando atenção na nossa conversa, me dando forças pra falar sobre aquele assunto que ainda era tão delicado para nós.
– Sim, são as melhores possíveis para esse caso, mas eu tenho que te contar outra coisa… – Tentei me conter mas senti minha voz ficando mais rouca e as lágrimas tentando voltar à tona com tudo, Luan apertou minha mão.
– Eu descobri algo sobre mim, os enjoos, algumas dores que eu vinha sentindo, e até mesmo meu sono fora de ordem eram por que eu estava grávida…– Falar em voz alta deixava tudo pior, eram como colocar aquela verdade sentada a minha frente, me encarando sem piedade e eu tive que me segurar para conseguir terminar – Mas… Mas infelizmente, eu perdi o bebê, tia! Ele não resistiu…
Ela ficou um bom tempo em silêncio e quando falou senti sua voz diferente, a tristeza presente.
– Ah, ! Eu sinto muito mesmo, meu amor! Se eu soubesse teria feito muito mais por vocês…
Chorei ao ouvi-la dizer aquilo e senti Luan me abraçar de lado, enquanto eu secava o rosto tentando me recompor.
– Eu também teria feito muita coisa diferente… Eu nem sequer sabia, desconfiei quando já era muto tarde… – Confessei baixinho e ouvi tia Carla suspirar do outro lado da linha.
– Passou pela minha cabeça mas preferi que você fosse ver um médico de verdade…
– Eu sei que você teria cuidado muito bem de nós, não se culpe, não podemos nos culpar! – Disse para ela, mas para que Luan e eu também ouvíssemos, eu sei que tudo que sentíamos agora era culpa e vontade de voltar no tempo, mas não seria possível.
– Ai, ! Você não existe – Ouvi ela fungando e rindo ao mesmo tempo – Luan está aí com você?
– Está sim, se não estivesse comigo quando tudo aconteceu acho que seria muito pior… – Olhei para Luan e ele sorriu, beijando minha mão que estava entrelaçada a sua – Eu tomei uma decisão e preciso da sua ajuda, o.k.?! – Percebi o olhar de Luan sobre mim e pisquei pra ele.
– Pode falar.
– Decidi voltar para o Brasil de vez, mandei um e-mail pro pessoal do meu curso aí de Nova York e depois que eu conseguir completar todas as provas, você poderia pegar meu certificado?
– Claro que sim, só me avise o dia certinho!
– Obrigada por tudo, você me ajudou demais!
– Sempre estarei presente, sabe disso! – Minha tia mandou vários beijos pelo telefone me fazendo rir, começaram a chamá-la e eu logo me despedi deixando ela voltar ao seu trabalho.
Assim que desliguei Luan me olhou de lado, ainda tão perto que eu podia sentir o cheiro de seu perfume, observar seu sorriso se formando e sentir seu abraço me envolvendo.
– Então quer dizer que a Srta. vai voltar em definitivo para pertinho de mim?! – Luan sussurrou em meu ouvido causando arrepios e me fazendo rir.
– Olha… Agora vou ver de perto se você anda de comportando, ficará mais complicado, isso sim – Me afastei dele e coloquei minhas mãos em seu rosto, tão perto quanto era possível e ele fez uma careta negando.
– Acredite, ter você por perto só me faz bem! – Luan acabou com qualquer distância entre nós e me beijou. A sensação de paz, de estar em casa mesmo que as coisas não estivessem da maneira que eu desejava era tão real. Se lar é onde nosso coração habita, eu tinha mais do que certeza que estava no meu lugar. Com a minha pessoa favorita, deixando o mundo em silêncio por um momento. Agora tudo que precisaríamos era um do outro.


Capítulo 24



Aos pouquinhos a vida voltava ao normal, consegui entrar em contato com os professores do meu curso em Nova York, eles me passaram alguns trabalhos e uma prova que seria feita por Skype. Liguei para a faculdade em São Paulo e vi toda a documentação que precisava pra regulamentar a situação da minha matrícula. Estava morrendo de saudade daquela cidade e dos meus amigos de lá. Tanto que quase por instinto liguei para Bella que por pouco não caiu no meio da rua ao ouvir minha voz, me fazendo rir:
! Quanto tempo! Quando você voltou, garota?! – Isabella parecia realmente surpresa ao me ouvir, sorri só de lembrar do jeito amoroso e animado dela, sentia falta disso.
– Faz algumas semanas, voltei antes por causa de alguns problemas de família mas agora tudo está voltando ao normal... – Disse em um tom mais sério mas logo resolvi mudar o rumo da conversa – Mas só vai ficar normal de verdade quando eu voltar pra faculdade, pra correria de São Paulo, como estão as coisas aí?
– Nem me fale em correria, estamos entregando os trabalhos pra acabar esse semestre e pelo visto nem vou aproveitar as férias de julho – Bella disse meio desanimada e eu achei aquilo estranho, afinal, Bella não deixava passar nenhum feriado sem aproveitá-lo ao máximo, imagine as férias.
– Por que não?! Tá tudo bem? Algum problema?
– Meus pais resolveram se mudar e eu vou ter que achar um apê pra morar, mas com a correria desse final de semestre sem chance de sair pra procurar né, por isso a mudança de planos.
– Ah, sim! Agora entendi!
– Falando nisso, quando você volta pra São Paulo?
– Acho que em duas semanas, no máximo!
– Você podia me ajudar a procurar um apê, né?! Ir comigo olhar tudo, o que acha? – Eu podia sentir o sorriso dela na voz e ri só de imaginar como seria isso.
– Por mim, tá fechado!
– Já quero você aqui pra gente virar essa cidade! – Bella me fez sorrir só de ouvi-la toda ansiosa e animada – E você e o Luan? Estão de boa, amiga?
– Estamos! Quando for pra São Paulo vou matar ainda mais as saudades dele – Disse alegre, tentando não soar tão brega, mas acho que não funcionou.
– Hmm, assim que é bom! – Isabella riu, sabendo que estava me deixando morrendo de vergonha.
– Chega, Bella! Vou me enfiar embaixo do sofá daqui a pouco – Antes que ela começasse com aquele papo de ‘ Apaixonada’ e eu quisesse desligar o telefone antes da hora.
– Que bobagem, amiga! Se você tá feliz, não precisa esconder, ué…
Por essa eu não esperava, sem nenhuma brincadeirinha, Isabella me fez parar e reparar no seu tom de voz, ela parecia bem feliz por telefone, e eu resolvi arriscar um palpite:
– Que sábia! Tá entendida do assunto a Srta. Bella! Será que tem alguém apaixonada e eu não tô sabendo?! – Aqueles segundos de silêncio me deram a certeza de que mesmo sem querer eu acertei o alvo.
– Menos, ! Nada a ver, é só a verdade oras!
– Aham, sei! Quando nos vermos pessoalmente quero saber de tudo, quem é esse garoto misterioso, que está deixando essa futura jornalista sem fala!
O silêncio voltou e eu ri um pouquinho mais, ouvindo Isabella apenas gaguejar, sem conseguir encontrar uma resposta.
– Meu Deus, ! Ninguém tá apaixonada aqui não…
– Bella… – Ela resmungou do outro lado e eu apenas sorri imaginando ela toda envergonhada – Parei!
– Obrigada!
– Mas só até eu chegar aí! – Ri ouvindo Bella dizer que eu era insuportável.
Fomos interrompidas pelo telefone da casa, tive que me despedir rápido de Bella antes que a ligação caísse, atendi no último toque, ofegante por causa da corrida pela casa, e Júlia, namorada do Rod, riu ao me ouvir sem ar no telefone.
– Estava malhando, ?
– Aí, garota! Se eu pensar em correr, meu pulmão já reclama! – Me joguei no sofá tentando descansar por poucos minutos – A que devo a honra da vossa ligação, dona Júlia?! – Disse irônica ouvindo ela gargalhar do outro lado da linha.
– Tá sentada?! – Me olhei quase deitada no sofá e ri internamente, antes de me endireitar no sofá e focar na voz de Júlia.
– Tô! Fala logo, garota!
– O.k.! O Rod ACORDOU!!!! – Ela tentou se conter mas eu tenho certeza que a vontade dela era sair berrando de felicidade pelo hospital, pelo menos essa era a minha, sentia o sorriso crescer em meu rosto junto da vontade de sair correndo.
– QUE MARAVILHA! AÍ MEU DEUS!!!! Tô indo aí!
– Não corre, doida! Ele tá passando por alguns exames e só daqui a pouco vai ser liberado a visita!
– Beleza! Mas só vou me trocar e já vou!

Nunca fui tão feliz para o hospital, em tempo recorde já estava passando pela recepção em direção ao CTI, logo na porta estava Júlia toda emocionada e sorridente conversando com um enfermeiro. Depois que ele se afastou, fui até ela que me abraçou apertado, sorrindo como uma criança.
– Juro que ainda nem acredito, quando vi os dedos dele se mexerem na minha mão, eu quase passei mal – Ela sentou ao meu lado em um dos bancos daquela sala de espera.
– E como ele está? Teve alguma sequela? – Não conseguia deixar de me preocupar com tudo que esse acidente causou em Rodrigo.
– Calma, ele está sendo avaliado agora, precisamos esperar o parecer do médico!
– Vocês – médicos – amam me enrolar! – Fiz uma careta para ela e senti Júlia desviando o olhar para trás de mim.
– Como assim, ? – Dra. Helena de braços cruzados, fingindo estar brava, me encarava tentando disfarçar um sorriso – Eu não te enrolo, Srta.!
Sorri para ela e a cumprimentei, incluindo ela na nossa roda de conversa, não a via desde quando ela cuidou de mim, há uma semana atrás.
– Demoram demais pra dizer os diagnósticos, fico agoniada! – Olhei para as duas e elas negaram com a cabeça.
– Precisamos ser cautelosos, você sabe disso, ! – Helena respondeu com uma piscadinha ao final e me olhou mais atentamente, com aquele olhar de médica – E você? Como está?
– Estou bem, um pouco melhor a cada dia!
– Fico muito feliz em ouvir isso, sabe que qualquer coisa pode contar comigo, o.k.?! – Aquele tom de voz e o olhar eram o mesmo de quando ela me deu alta, sua preocupação e carinho velados por aquele jeito todo profissional me deixavam muito agradecida por ter sido ela a cuidar de mim naquele momento horrível que Luan e eu vivemos.
– Sempre que vier a Campinas, apareça por aqui! – Ela deu uma piscadinha pra mim e fez sinal para o enfermeiro que a estava chamando – Preciso ir, até mais, meninas.
Outro enfermeiro saiu de dentro do CTI e falou algo em tom muito baixo só para Júlia que assentiu e ele se afastou.
– Não podemos demorar! E só pode ir uma por vez até ele ir para um quarto, o.k.?! – Júlia sorriu para mim e eu concordei com a cabeça, indo com ela até a porta – Vai primeiro, !
Meu coração acelerou e o frio na barriga aumentou, quando comecei a caminhar ela me chamou de volta para mais perto.
– Ele não sabe que você voltou… Vai com calma – Pisquei para ela e voltei a me direcionar até o leito que Rodrigo estava, ele não me viu chegar e eu sorri em apenas saber que ele estava acordado.
– Ei!! Foi daqui que chamaram uma irmã pra te encher de beijos e a paciência também? – Chamei Rodrigo do canto da cama e ele me olhou surpreso.
– Não acredito!! – Ele disse com a voz rouca e fraca, me chamando com a mão para chegar mais perto, as lágrimas querendo escapar dos meus olhos e um sorriso quase rasgando rosto – , como assim?!
Me sentei na cadeira ao lado da sua cama, segurando sua mão e tentando ao máximo conter a emoção, era tão bom vê-lo acordado, sentir seus dedos se mexendo junto aos meus.
– Sou uma rebelde, até parece que não me conhece, Rod! Como está se sentindo?
– Estou zonzo, parece que levei uma pancada na cabeça e tudo dói! – Ele fez uma careta e eu mexi em seu cabelo, observando seu olhar acompanhar o movimento das minhas mãos.
– Seu cabelo está uma bagunça, garoto! Precisa cuidar disso – Disse apenas para irritá-lo e Rodrigo conseguiu alcançar minha mão e a levou para baixo, para perto de seu rosto.
– Estou feliz em te ver aqui! Mamãe fica muito mais tranquila…
– Você assim, me deixa muito mais tranquila, isso sim – Passei a mão em seu rosto e ele sorriu fazendo uma careta.
– Mal vejo a hora de sair daqui.
– Vamos com calma, né! Vai aquietando esse coração aí, agora vamos pegar mil vezes mais no seu pé!
– Ih, já vi tudo… – Ele riu e fez uma careta de dor – Mal voltou e quer puxar minha orelha.
– Mas mal acordou e já tá reclamando – Balancei a cabeça de um lado pro outro fingindo indignação e senti meus olhos cheios de lágrimas de felicidade – Só aceito porque até disso eu estava com saudade!
Não resisti e o abracei da maneira que consegui, com toda a delicadeza que pude, ouvindo as batidas do seu coração e agradecendo a Deus por isso.
– Não me assusta mais assim, por favor! – Peguei em sua mão e sorri ao ver ele piscar pra mim.
– Pode deixar, baixinha! Você não vai ficar livre de mim tão cedo!
O enfermeiro me avisou que eu precisava sair e eu assenti.
– Vou voltar todos os dias pra te encher o saco! – Dei um beijo em sua testa e outro em sua bochecha antes de soltar sua mão.
– Ah, não! – Ele fez uma careta e me jogou um beijo antes que eu saísse de lá.
Assim que sai de lá, Júlia entrou no meu lugar, sentei na sala de espera e senti meu rosto molhado pelas lágrimas que escaparam, um sorriso bobo e a vontade de sair berrando aos quatro ventos que estava tudo bem com meu irmão, que estava finalmente tudo se encaixando. Peguei meu celular e liguei para Luan, mas ele não atendeu. Mesmo assim deixei uma mensagem contando tudo pra ele.

Uma semana depois Rodrigo estava muito melhor, quase sem nenhuma dor, mais falante do que nunca e feliz por não ter ficado nenhuma sequela grave, apenas algumas lesões que precisariam de fisioterapia pra ajudar na total recuperação. Mal sabia ele que o fato de apenas vê-lo bem me dava muita força e coragem pra seguir com cada um dos meus sonhos.
Quando o visitei pra contar que voltaria pra capital, Rodrigo me olhou todo sorridente antes de falar.
– Lá vai minha baixinha bater asas novamente, faz muito bem – Eu ri e Rodrigo puxou minha mão para perto de si – Se precisar de mim, não hesite em chamar, posso demorar pra chegar mas dou um jeito!
Ele piscou me fazendo lembrar de quando eu o chamei para me socorrer no dia que briguei com Luan e ele chegou em tempo recorde no apartamento da nossa tia.
Já estava com as malas prontas pra voltar a São Paulo, até mesmo um quarto bonitinho eu já tinha em vista pra ficar enquanto encontrava outro lugar, tentei ligar para Luan mas mais uma vez não consegui, então partiria pra capital sem ele saber mesmo.
Me despedi de todos na minha casa, prometi a minha mãe que assim que estivesse instalada e com tudo arrumado ligaria pra ela, meu pai ainda não estava feliz comigo, mesmo depois de tudo que houve, ele não mudou sua atitude de desaprovação por eu ter voltado para o Brasil, nossa despedida foi um simples abraço mais frio que a Antártida e um até logo.
Do lado de fora, onde eu pensei que teria um táxi à minha espera, lá estava ele, encostado na lateral do seu carro, jaqueta de couro preta e uma pose de badboy que me fez sorrir só de vê-lo ali, espalhando charme com aquele sorriso torto estampado em seu rosto.
– A gata precisa de carona? – Luan tirou seus óculos escuros e olhou na minha direção, vindo lentamente para mais perto.
– Olha eu até preciso, mas deve ser perigoso pegar carona com um cara bonito como você! Vai que eu me apaixono… – Eu disse vendo ele parar a centímetros de mim e seu sorriso ficando mais largo.
– Tomara que se apaixone! Assim ficamos quites! – Luan deu uma piscadinha antes de me puxar para um beijo ainda na frente da minha casa.
– Como você sabia que eu estava indo embora agora? Eu pensando que ia fazer uma surpresa e você me pegou direitinho – Perguntei assim que entramos no carro e ele sorriu todo misterioso.
– Tenho minhas fontes, eu vi que você ligou mas estava visitando seu irmão naquela hora, que bom que ele já está bem melhor, né?! – Luan disse simplesmente, enquanto meu coração ficava ainda mais feliz em saber que Luan e Rodrigo estavam juntos até agora há pouco.
Pegamos a estrada, Luan me contou que tinha feito um show ali perto e decidiu fazer uma visita surpresa mas soube pela minha mãe que eu já estava pensando em voltar de vez pra São Paulo, então uniu as duas coisas em uma só. Fomos cantando algumas músicas e rindo das brincadeiras idiotas que inventávamos durante todo o trajeto, antes de finalmente chegarmos no meu novo endereço.

Luan colocou um boné para ninguém o reconhecer e entrou junto comigo no prédio, pedi a chave do quarto a garota que cuidava da portaria e ela entregou sem nem ao menos olhar na nossa cara.
Era no quinto andar, como se fosse uma república com muita gente pelos corredores, passamos por algumas pessoas até finalmente chegar em frente ao quarto 517.
Abri a porta e senti um cheiro forte de mofo tomar conta do meu nariz, corri para abrir a janela e percebi que o trinco dela estava quebrado e ela emperrada, Luan me ajudou a abri-la totalmente e ficou parado ao meu lado julgando o quarto em silêncio.
Uma cama de solteiro, um colchão muito mais fino do que o esperado, as paredes cheias de mofo e mesmo depois de acendermos a luz, a escuridão parecia não sair daquele lugar.
– O.k.! Não tem nada a ver com as fotos do anúncio…. – Me virei para mexer nas cortinas e acabei tossindo por causa do pó que saiu dela – Mas talvez com um colchão novo, fique habitável!
Comecei a andar pelo quarto e fiquei pensando na super faxina que teria de fazer ali, mal terminei de listar mentalmente tudo que precisaria para conseguir dormir ali pelo menos naquela noite e tive uma crise de espirro ridiculamente interminável.
– Droga! – Espirrei pela quinta vez e fui até a mesa que seria minha nova escrivaninha procurar por tomadas e Luan segurou minha mão antes que eu pudesse afastar o móvel da parede.
… – Ele olhava desconfiado para todo o quarto e fez uma careta antes de começar a falar calmamente – Aqui não é um bom lugar pra você ficar, não confiei nenhum pouco na segurança daqui e fora o estado do quarto… Podemos achar uma solução melhor do que essa!
– Mas é por muito pouco tempo, é quase um hostel, uma coisa só pra passar a noite…
– Eu sei, amor! Posso sugerir outra coisa?! – Olhei desconfiada pra ele e Luan sorriu de leve.
– Fica esses dias lá em casa, é tudo enorme naquela casa, você pode fazer suas coisas em paz e eu ficaria um milhão de vezes mais calmo de saber que você não tá correndo nenhum perigo.
– Não, não quero atrapalhar, imagina… – Balancei a cabeça negando, pega de surpresa por aquele convite.
– Posso te garantir que minha mãe amaria cuidar um pouquinho de você, nem que fosse por poucos dias! Aqui tem perigos demais pra gente fingir que tá tudo bem!
Estava pronta pra dar mais uma resposta mas fui interrompida pela minha nova crise de espirro.
– Por favor, ! – Luan olhou sorrindo e me abraçou pelos ombros.
Ponderei por alguns minutos e senti Luan tentando disfarçar uma risada.
– Que foi? – Olhei para ele que se virou completamente para mim, nos deixando frente a frente de uma maneira nada sutil.
– Não sei se você tem medo, mas eu vi alguma coisa indo na direção da mesa que você quer mexer…
– QUÊ? – Minha voz saiu mais aguda que o necessário, senti um arrepio só de imaginar o que poderia ser – Tipo uma barata? Ou mais grave do que isso?
– Não consegui ver direito, mas definitivamente se você mexer a mesa a coisa vai sair do seu esconderijo!
– Ah, não!!!! – Fiz uma careta e peguei na mão de Luan nos tirando daquele lugar, nem tinha fechado contrato ainda e já tinha “visitas”. Aquilo sim era demais pra mim.
O caminho todo para a casa de Luan ele foi rindo da minha reação ao ver o quarto e saber que poderia ter ratos e baratas ali, Dona Marizete foi super acolhedora na minha breve temporada na casa dos Santana, assim como Bruna que logo que soube que eu ficaria alguns dias ali já me convocou para nossa noite das garotas.
– Viu só! Alguns dias aqui serão ótimos pra matar a saudade que todo mundo estava de você – Luan disse enquanto eu o observava caminhar em direção a cama com um sorriso brincando em seus lábios – Eu principalmente!
Luan que estava somente com a calça do pijama, veio se inclinando sobre mim, pegou o livro que até há pouco eu lia e o empurrou para um canto qualquer, suas mãos adentraram a camiseta enorme que eu fazia de pijama e riu quando eu fiz uma careta pelo toque gelado de seus dedos com meu corpo. Me olhando nos olhos antes de tirar minha roupa.
– Estou tão feliz de te ter de novo nesse quarto! Você fez falta… – Ele beijou meu pescoço e queixo, descendo para os ombros me fazendo arrepiar e rir ao ouvir sua voz ao pé do ouvido – Minha !
Coloquei minhas mãos uma de cada lado de seu rosto e puxei Luan para mais perto sentindo o sorriso dele em meio ao beijo, desci as mãos por suas costas, traçando uma rota imaginária com minhas unhas sabendo que ele entenderia cada um dos sinais. Em meio a beijos, amassos e uma dose extra de animação nem vimos a noite passar. Acordei antes de Luan e observei onde estávamos, também senti saudade daquele quarto, da nossa vida em São Paulo e do nosso jeitinho, era bom saber que apesar de tudo que aconteceu, as coisas estavam realmente voltando ao normal.
Avisei Isabella que já estava de volta a São Paulo e ela me passou o endereço onde nos encontraríamos antes de começar a busca pelo seu novo apartamento.
– Cheguei!!! – Assustei Bella e JP que nem me viram chegar perto da mesa.
, quer me matar do coração sua coisa chata! – Isabella levantou para me abraçar e JP quase derramou seu suco na mesa pelo movimento rápido dela.
– Finalmente, você voltou – João Pedro me deu um abraço rápido em seguida me deu espaço para sentar ao seu lado – Espero que esteja super de boa pra andar pra cima e pra baixo com a Bella, ela é incansável! – Ri do que ele disse e Bella ficou super vermelha do nada, escondeu o rosto com as mãos e eu gargalhei ainda mais.
– Agora vai ficar tímida, Bella? Nunca foi assim… – Olhei para JP que deu de ombros mexendo seu suco, poderia ser maluquice minha mas ele também parecia ter ficado sem graça e eu não entendi nada daquela situação.
, você come alguma coisa logo que nós precisamos ir, marquei umas quatro visitas, só hoje! – Bella decidiu ignorar a situação e chamou a garçonete para nos atender, pedi um sanduíche e um suco, JP avisou que não poderia nos acompanhar durante todo o dia, só até o início da tarde.
Enquanto eu comia, Bella e JP iam me atualizando sobre como estava a faculdade, os nossos professores, os colegas e os projetos que em breve teríamos que fazer.
Saímos rumo ao primeiro apartamento, era bem próximo da faculdade, não tão grande mas muito caro, segundo o orçamento que Bella já tinha. O segundo apartamento era bem mais longe, lindo, mas absolutamente pequeno demais pra mais de uma pessoa viver ali, e isso foi o que o colocou no último lugar da lista. Paramos por um tempo e JP disse que precisava voltar pra casa.
Quando fomos almoçar, aproveitei que estávamos somente nós duas e fiquei encarando Isabella.
– Quer parar com isso, ? – Bella se escondeu atrás do cardápio, sempre que eu tentava encará-la, ela mudava de posição.
– Chegou a sua hora, srta. Bella, quem é o responsável por esse sorrisinho todo bobo no seu rosto? Eu conheço? – Ergui uma sobrancelha vendo Bella ficar consideravelmente vermelha de uma hora pra outra.
– Não tem nada disso!
– Isabella, você nem consegue negar sem rir! Garota, presta atenção!
Nossos pratos chegaram e Bella desandou a comer pra não ter que falar e eu ri balançando a cabeça.
– Não acredito que terei de usar meus dotes jornalísticos pra descobrir… – Dei de ombros e Bella arregalou os olhos balançando seus cachos negando com toda força.
, você fique bem quietinha no seu canto! Já quer chegar aprontando, me deixando doida!
– Te amo, meu bem – Dei uma piscadinha pra ela e mandei um beijo pelo ar, vendo ela responder com uma careta.
Seguimos com nossa busca, os dois últimos apartamentos eram as situações mais complicadas, um estava além do muito longe e o outro em estado quase precário, com tantos reparos a serem feitos que não compensava.
Marcamos de nos encontrar no dia seguinte e continuar, Bella tinha uma lista bem grande que eu esperava não aumentar com o tempo e que ela encontrasse logo seu novo lar.
Quando cheguei à noite na casa de Luan, ele já tinha saído para o estúdio e logo voltaria. Fui até o quarto deixar minha bolsa e encontrei com Marizete no meio do caminho.
! Que bom que já chegou! – Ela sorriu pra mim e ficou me olhando por alguns segundos em silêncio, aquele olhar que eu não conseguia decifrar.
– Tudo bem, Marizete? – Ela acenou que sim e foi a minha vez de observá-la, só que desconfiando daquela resposta.
– Sabe…– Dona Marizete resolveu me acompanhar até o quarto e eu não estava preparada para aquilo, sorri nervosa e caminhei lado a lado com ela – Eu queria falar com você! Há um tempinho já…
– Pode falar! – Sentei na cama tentando não deixar meu nervosismo transparecer.
– Eu queria muito saber como você está depois de tudo que houve, com seu irmão, com o bebê de vocês, seus pais… – Uma onda de alívio passou por mim quando percebi que não era nada grave.
– Agora eu estou bem, mas quando tudo aconteceu ao mesmo tempo foi bem difícil, como se as dores se unissem e eu estivesse sem saída… – Sorri fraco e senti as mãos dela segurando as minhas.
– Quando Luan contou pra gente, não conseguia deixar de pensar em você, na sua família! Eu vi como ele ficou por causa do bebê e, como mãe, imagino que deve ter sido muito difícil pra você!
Por essa eu não esperava, “como mãe” ainda era algo que eu não sabia lidar, era uma ferida recente, que as vezes eu me pegava pensando no que teria sido, se nós conseguiríamos e na grande maioria das vezes dói só de pensar.
– Eu só queria que você soubesse que eu estou aqui para o que precisar, viu! Pode chamar!
Ela apertou minhas mãos e eu olhei para Dona Marizete, tão doce e gentil, e sem nem pensar lá estava eu deixando escapar as perguntas que só deixava vagando pela minha mente.
– Você acha que daria certo? Que a gente ia conseguir? – Senti o nó na garganta mas tentei ao máximo me manter forte.
– Sendo sincera – Dona Marizete ficou séria e logo em seguida abriu um lindo sorriso, chegando mais perto e me abraçando pelos ombros – Tenho certeza que quando chegar a hora, vocês serão pais incríveis, esse amor tão forte que vocês têm vai ser a base de uma família linda!
Não consegui mais segurar a emoção e quando me dei conta já estava abraçada a minha sogra deixando as lágrimas correrem livremente por meu rosto.
– Obrigada! Você é uma mulher incrível, Luan é muito sortudo de ter sido criado com tanto amor!
Ela ficou corada e me abraçou de novo, no meio do abraço senti mais um par de braços ali nos derrubando na cama e rindo da gente.
– Posso saber porque as moças não descem para a janta? A Bruna tá quase roendo as paredes de fome! Tá difícil segurar o povo lá… – Luan olhava para nós fingindo indignação, ri e tentei secar rapidamente meus olhos, Dona Marizete saiu tão rápido achando que era verdade que foi a minha vez de olhar indignada para ele.
– Ai, Luan! Só pra deixar ela preocupada…– Levantei da cama e já ia sair do quarto quando Luan segurou minha mão e me puxou para seu colo.
– Tá tudo bem, ?! – Ele me olhava daquela maneira que parecia decifrar até meus pensamentos, secou uma lágrima bem no canto dos meus olhos e ficou mexendo no meu cabelo esperando uma resposta.
– Tudo bem, só estava conversando com sua mãe uns assuntos do coração, ela sabe mexer com a gente – Disse sorrindo e Luan me abraçou apertado, ficamos assim por algum tempo até ele começar com a palhaçada de tentar me fazer cócegas.
– Chega! Vamos jantar… – Consegui escapar das mãos dele que riu ainda mais quando eu o puxei para sair do quarto de uma vez.

No dia seguinte, já estava esperando Bella pra gente continuar as visitas aos apartamentos quando ela chegou quase meia hora depois com o cabelo levemente bagunçado, assim como sua blusa e tentando esconder um sorriso.
– Bom dia, Bella! Dormiu bem?! – A cumprimentei e ela me olhou sem entender.
– Dormi… Por quê? – Eu ri e arrumei alguns cachos dela que estavam fora do lugar, entreguei meu batom pra ela retocar e Bella apenas semicerrou os olhos e balançou a cabeça em negação, mas passou o batom, ficando impecável como sempre. Tentei disfarçar meu sorriso mas ela o viu pelo espelho que usava.
– Você é impossível, ! Vamos logo antes que não dê tempo de ver todos os apartamentos, pronta?! – Ela pegou seu celular com o endereço e já foi andando, sem tempo para perguntas ou especulações.
Quando chegamos ao primeiro apê não era tão bom quanto parecia no anúncio que Bella me mostrou, ela já estava muito frustrada de tanto se iludir e decidiu que o próximo seria um que ela só sabia o endereço, sem fotos e expectativas visuais.
Não ficava longe da faculdade, no terceiro andar de um prédio sem elevador que fez Bella logo pensar duas vezes, assim que entramos no apartamento eu fiquei apaixonada, ele era lindo e aconchegante, com dois quartos, uma cozinha toda bonitinha com os armários parecidos com os da cozinha da Mônica de ‘Friends’ e tinha espaço até pra uma varanda que conquistou de imediato Isabella.
do céu, imagina ter umas plantinhas nessa área, ver o pôr do sol daqui.... Eu consigo me ver morando nesse lugar!
Ela olhava cada canto com entusiasmo, até o que ela via que precisava de reparos, era anotado em seu caderninho sem perder a animação.
– Achei incrível também! Você vai amar decorar esse apê! – Disse e sai olhando os demais cômodos.
– E você?! Não?! – Estava olhando a porta de um dos quartos e paralisei no lugar, não sei se tinha entendido direito ou era loucura minha. Olhei para trás e lá estava Isabella toda sorridente me olhando.
, você aceita dividir comigo o aluguel desse apê?! Eu não quero morar sozinha e prefiro que seja com alguém que eu confie...
– Aí meu Deus! Bella, eu não esperava por isso… – Eu ainda sentia meu queixo caído em um Ó perfeito, chocada com o convite, comecei rir e Bella riu junto.
– E aí?! O que me diz? – Ela arqueou a sobrancelha, com as mãos na cintura, me olhando.
– Sim! Claro que sim!! – A abracei apertado sentindo Bella rir perto do meu ouvido.
– Agora que você sabe que vai ser minha parceira de casa, gostou mesmo desse?! Podemos fechar negócio?!
Eu ri do jeito que Bella incorporou uma mulher de negócios e chamamos o corretor para negociarmos as condições de pagamento, as datas e todos os detalhes que precisavam ser acertados.
Quando voltei para casa de Luan, o encontrei jogado no sofá quase dormindo assistindo qualquer coisa na TV.
Fui até ele, o mais silenciosamente possível e comecei a dar leves beijinhos em seu rosto, sentindo ele sorrir antes de me puxar para junto dele.
– Você demorou, ! – Ele resmungou quando cortei nosso beijo e me ajeitei ao seu lado no sofá – Já ia mandar o resgate atrás da Srta.
– Nossa, que exagero garoto – Ri ao ver a cara que ele fazia, tentando me convencer a ficar com pena. Ele passou seu braço por minha cintura e nos aconchegou ainda mais no sofá, podia apostar que acabaríamos dormindo ali daquele jeito.
– Luan? – Chamei baixinho pra verificar se ele ainda estava acordado.
– Oi? – Ele respondeu da mesma maneira, mas com a voz muito mais sonolenta.
– Tenho que te contar uma novidade...
– Pode falar, amor! – Quase não deu pra escutar, me virei de frente pra ele e vi que já estava realmente quase dormindo, fiz carinho em seu rosto e ele sorriu de olhos fechados.
– Achei um lugar pra morar, vou me mudar no mês que vem! – Sussurrei e vi seus olhos abrirem surpresos, olhando pra mim. Ele balançou a cabeça negando e pediu:
– Fica comigo...
– Eu fico, só não vou mais morar aqui…– Sorri e o beijei, sabia que Luan tentaria me fazer ficar mas era importante pra mim ter o meu espaço.
– Chata! – Luan disse quando nós voltamos ao estado anterior de sonolência, eu ri e me encaixei ainda mais em seu abraço, me permitindo cair no sono junto dele, tranquila por saber que aquilo não seria uma questão para nós. Que agora ele também entendia isso.


Capítulo 25

LUAN

Segundas-feiras costumam ser os dias mais tranquilos da minha semana, mas a primeira segunda de setembro de 2014 sempre será lembrada por nós como o dia mais cansativo do ano.
e Bella alugaram o apartamento no finzinho de julho, durante o mês de agosto enquanto alguns reparos eram feitos, mal consegui ver . Ela estava tão determinada a encontrar um trabalho ou um estágio que até em casa a gente acabava se desencontrando, eu a via mais na correria do que qualquer coisa.
, cadê você?! – Liguei para ela assim que terminei de tomar café, e depois de ter tentado encontrá-la pela casa mas sem ver nem sinal.
– Tô chegando! Você está pronto? – Ela parou no batente da porta, vestida com um jeans surrado, uma camiseta velha e um boné horrível, a mão na cintura e a outra segurando o celular – Se não é meu melhor visual em anos, não faço ideia de qual será?
deu uma voltinha gargalhando e eu ri balançando a cabeça, aquele era o visual de trabalho mais simples e charmoso que ela poderia vestir. Minha roupa estava quase igual a dela com apenas alguns detalhes diferentes, a puxei para um beijo e me pegou pela mão, em pouquíssimo tempo já estávamos no carro rumo a nova moradia da minha namorada.
– Vamos nos dividir nos quartos, depois pintamos juntos a sala, o que acham? – Bella sugeriu enquanto prendia o cabelo dentro do boné, todos concordamos e pegamos os baldinhos de tinta, os rolos e pinceis levando tudo para os quartos.
– Você fica naquela parede e eu nessa, combinado?! – me deu a parede perto da janela enquanto ela ficava perto da porta. Fiz continência vendo-a rolar os olhos e fazer uma careta.
Poucos minutos depois que começamos a pintura ouvi um cantarolar baixinho, tão baixinho que eu tive de olhar para trás para ter certeza de que tinha alguém ali comigo.
dançava e pintava ao mesmo tempo, cantarolando algo que eu não conseguia entender, cheguei mais perto sem ela perceber e pude ouvir melhor:
Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o Sol quarando nossas roupas no varal...
Ela sorria cantando Alceu Valença e me dava apenas mais vontade de trazê-la para perto, sua felicidade de estar ali, se sujando toda de tinta, pintando seu novo quarto com aquele olhar de expectativa me fizeram não mais resistir, cheguei por trás dela e a puxei para mais perto.
Tu vens, Tu vens, eu já escuto os teus sinais… – Cantei baixinho em seu ouvido e gargalhou pelo susto, virou de frente e me abraçou com sua mão livre.
A voz do anjo sussurrou no meu ouvido – Ela me olhou nos olhos e sorriu toda tímida continuando a música, me deixando ainda mais encantado por ela.
Eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais…

Estávamos dançando a música imaginária, no nosso ritmo desajeitado e meio lento, mas talvez eu nunca esqueça esse forrózinho improvisado.
Quando voltamos ao trabalho, depois de um tempinho e de ter terminado uma das paredes resolvi provocar .
– Então ela canta, durante todo esse tempo escondeu de mim esse talento…. – Continuei a pintar, sabendo que ela me ouviu e provavelmente estava me observando – Um dia, acho que podemos fazer um dueto…
Me virei e dei de cara com me encarando boquiaberta, apontando o pincel que estava usando na minha direção.
– Aham, vai nessa! Imagina o tamanho do mico que não seria… – Ela balançava a cabeça em negação, em um desses movimentos sua mão chacoalhou e voou tinta em mim, no meio da camiseta.
– Ah, … – Tirei a tinta com o dedo e me olhou desconfiada, assim que dei um passo em sua direção, ela saiu correndo, tentando fugir de mim e do pincel que eu segurava.
– Sai daqui, Luan! Foi sem querer, você viu! – Ela deu a volta na lata de tinta no meio do quarto e quando estava quase conseguindo fugir dali, eu a peguei pela cintura, a erguendo do chão e a encostando na única parede sem nenhuma mão de tinta.
– Você sabe que eu te amo, né? – Passei meu pincel nas duas bochechas dela e me olhou furiosa.
– Você me paga, Luan Rafael! – Ela fingiu que ia escapar dos meus braços mas conseguiu me enganar e roubar o pincel, passando tinta no meu braço e no meu rosto.
– Ah, não…. – Me afastei dela para limpar meu rosto e saiu correndo pela casa.
Fui atrás dela rindo e procurando em cada canto, até que a encontrei parada perto da porta da lavanderia, com uma mão na boca e cara de espanto, cheguei mais perto e ela me viu, pediu silêncio e me chamou pra chegar mais perto, para ver algo lá dentro da lavanderia.
Pelo visto, e eu não éramos os únicos brincando com a tinta, Isabella e João Pedro estavam perto do tanque tirando tinta dos braços mas o detalhe era que a cada passada de mão no braço, lá iam eles se beijar, JP esqueceu a torneira aberta umas duas vezes só enquanto estávamos observando. parecia aquelas crianças vendo os adultos se beijarem, ela ria e tampava a boca quase que imediatamente para eles não saberem que ela estava ali, mas nosso disfarce não durou muito, já que quando decidiu me puxar para a gente voltar nós derrubamos os dois pinceis e um pouco da tinta que eu segurava foi direto para a camiseta dela, que soltou um gritinho pela temperatura gelada da tinta, chamando a atenção do novo casal.
?! – Os dois disseram em uníssono, paralisando no lugar, queria rir mas sabia que teria de deixar essa parte para mais tarde.
– Oi, gente! – se virou para eles sorrindo sem graça e os dois ficaram automaticamente mais vermelhos que qualquer tomate, sem fala e distantes – Não queria atrapalhar, de verdade! Mas é que acabamos nos enrolando aqui.
– Ai meu Pai, o Luan tá aí? – Bella perguntou e me puxou pela camiseta, me mostrando para eles que se entreolharam levemente constrangidos.
– Foi mal aí, galera! – Tentei esconder meu sorriso mas estava impossível.
O silêncio durou quase um minuto inteiro, acho que eles estavam ponderando o que deveria ser feito ou não, mas pelo olhar de Isabella nem ela esperava que JP entrelaçasse sua mão a dela, e a trouxesse para sua frente, em um abraço, com direito a um beijo quase cinematográfico se não fosse pelo ataque de fofura que fez, pulando em cima dos dois mais empolgada do que nunca.
– Ah, que lindos! Que incrível! Ainda tô sem acreditar! – abraçou os dois ao mesmo tempo e sorriu, como uma mãe orgulhosa e babona. Bella saiu do abraço e pegou na mão da minha namorada, rindo de nervoso ela olhou na minha direção.
– O.k.! Vamos voltar ao trabalho, meu bem? – Isabella foi empurrando pra fora da lavanderia, nos fazendo rir pela careta de insatisfação dela.
– Depois vamos conversar sobre isso, hein! – Peguei minha namorada pela cintura e nos conduzi de volta ao quarto. Assim que fechei a porta, caiu na gargalhada indo para perto da janela.
– Luan, nós pegamos eles no flagra! Quem diria, né?! – Ela começou tirar todo seu cabelo do boné, amarrou a barra da camiseta a deixando consideravelmente mais curta e colada ao corpo, seu sorriso largo e aquele olhar de quem tinha aprontado me deixaram hipnotizado, vidrado em cada movimento dela.
– Você não desconfiou, tipo nenhuma vez?! – Cheguei mais perto e ela apenas balançou a cabeça em negação, parando tudo que estava fazendo para me encarar.
– O que está fazendo, Luan? – A enlacei pela cintura, juntando nossos corpos, ouvindo dar risada e olhar para a janela, como se nada estivesse acontecendo.
– Você está linda assim, deixa eu aproveitar, só um pouquinho! – Beijei seu pescoço sentindo se arrepiar, a encostei na parede e ela reclamou da força e da temperatura, minha boca subiu até a sua e quando a tomei para mim senti as mãos geladas de por dentro da minha camiseta, me arrepiando e arranhando, ela sabia me provocar e se divertia com isso.
– Nem se empolga, temos muita coisa pra fazer ainda, amor…. – Ela riu no meu ouvido, quando eu desci minhas mãos até suas pernas, prestes a erguê-la do chão, mandando todo o trabalho pra longe, nos girou e segurou minhas mãos, com todo desejo acumulado em nós ela me deu um beijo demorado, malicioso, cheio de provocação e sem o menor pudor ela nos separou bruscamente, me fazendo olhá-la indignado.
– Continuamos mais tarde! – Ela saiu do quarto sorrindo torto, me deixando desnorteado e ansioso pela noite, por finalmente poder ficar com sem nada para nos atrapalhar.
Depois que terminamos de pintar as paredes foi a vez de começar a colocar os móveis no lugar, arrastamos sofá, estante, até guarda-roupa, todos em uma força-tarefa pra tentar terminar tudo naquele dia. Quando finalizamos dava pra ver no nosso rosto o cansaço estampado, deu a ideia de pedir uma pizza e foi assim mesmo que inauguramos o delivery do apê, mal comemos e capotamos, exaustos.
No dia seguinte, assim que acordei no novo quarto de , ainda sem cortina, a primeira coisa que pude ver foi o sol batendo em seu rosto e cabelo, ela se encolheu e virou na minha direção, me abraçando pela cintura tentando escapar da claridade.
Sabia que eu sentiria falta de acordar todos os dias ao lado dela, de voltar pra casa e encontrá-la, o período que ela passou morando lá em casa foi tão curtinho, mas mexeu comigo experimentar aquela rotina que eu nunca imaginei realmente como seria, mas a prática foi boa. Mesmo com a correria das nossas vidas eu amava flagrar cantando durante o banho, ela toda concentrada estudando, as risadas que vinham da cozinha das tentativas de não queimar algumas coisas ou simplesmente chegar na madrugada e descansar ao lado dela.
Foi um período importante e fortalecedor depois de tudo que passamos nos últimos meses, eu me sentia mais unido a ela, mais cúmplice e por mais estranho que pareça, até para mim, me fazia desejar mais para nós, ir além junto dela era um dos meus grandes sonhos. Que eu mal via a hora de realizar.
Ela se remexeu ao meu lado e eu aproveitei para sair da cama, mesmo sabendo que ela nem deveria estar me ouvindo direito avisei que sairia rapidinho e fui até uma panificadora que ficava na esquina, como ainda era muito cedo quase ninguém me reconheceu, e os poucos olhares curiosos que recebi eram mais de confusão do que qualquer coisa. Pensei que tinha sido rápido mas quando voltei ao apê os três estavam na sala conversando sobre o meu paradeiro.
– Aí está ele! – JP apontou para mim, Bella que parecia dormir de volta em seu colo apenas ergueu a cabeça pra me ver, que estava de costas para a porta me olhou aliviada, vindo ao meu encontro rápido, me abraçando apertado.
– Ei, que foi? – Passei meu braço por sua cintura e senti escondendo o rosto em meu peito – Que houve?
– Tive um pesadelo horrível com você, eu me assustei quando não te encontrei.... – Ela me deu um beijo no rosto demorado e voltou a me abraçar.
– Depois a gente fala sobre isso, vamos tomar café, amor?! – Tentei animá-la mas fez um careta. JP e Bella que ainda estavam caindo de sono, fizeram um sinal avisando que estavam voltando para o quarto, deixei as compras em cima da mesa e em seguida puxei para o sofá. Fiquei encarando-a por alguns segundos, timidamente ela chegou mais perto e juntou nossas mãos, levemente envergonhada.
– Me conta, ! O que aconteceu no seu sonho? – Depois de um tempo ela me olhou, com os olhos marejados, segurou a medalhinha que eu tinha dado a ela e respirou fundo antes de falar.
– Nós estávamos em um carro, eu dormi e quando acordei você estava em outro carro, eu te chamava e você não me ouvia, eu tentava escapar, te alcançar mas não conseguia! No final, quando eu finalmente consegui te alcançar, eu chamei e você me olhou, seu olhar totalmente vazio e a última coisa que lembro era você dizendo: Eu não te conheço!... Foi horrível...
Algumas lágrimas conseguiram escapar de seus olhos e aquele olhar assustado de quando a vi a primeira vez hoje voltou ao seu rosto.
– Era como se... Eu tivesse perdido você! – escondeu o rosto com as mãos e eu não consegui me conter, passei meus braços ao redor dela e a trouxe para mais perto, para o meu colo para ser preciso.
– Foi só um sonho, amor! Eu tô aqui, com você – Beijei seu rosto e pescoço, e esperei até que seu olhar encontrasse com o meu – Você não vai me perder, eu já sou seu e digo mais, mesmo se um dia eu me perdesse de ti, acho que meu coração daria um jeito de te encontrar de novo, !
Segurei seu rosto em minhas mãos e a beijei com calma, sentindo uma paz me invadir, meus braços voltaram a ficar ao seu redor, como uma proteção do nosso mundo. Sorri ao me separar dela e vi tentar esconder o rosto na curva do meu pescoço novamente.
– Tô me sentindo bem idiota! Assim, pra caramba... – Eu ri e senti um leve beliscão em meu braço, seguido de alguma reclamação que não dava pra entender de .
– Achei bonitinho, você toda preocupada... Vou colocar na minha lista de coisas favoritas...
se endireitou em meu colo e me olhou estreitando os olhos.
– Aí, Luan! – Quando ia começar a protestar eu coloquei minha mão por dentro de sua camiseta e comecei a fazer cócegas nela, sentindo-a se debater em meu colo e gargalhar sem fôlego. – Sai daqui, garoto!
fugiu de mim, correndo para seu quarto rindo sem parar tentando me deixar para fora. Quando a joguei na cama o rosto dela já estava todo vermelho, a segurei sentindo sua respiração descompassada batendo contra o meu rosto e ela aos pouquinhos ir parando de rir, seus olhos brilhantes tão perto dos meus só transmitiam paz, uma alegria que era só nossa, que eu só sentia assim.
– Você é linda, ! De tantos jeitos…. – Cheguei mais perto, nos misturando ainda mais, beijando-a como se tivéssemos todo tempo do mundo, senti me puxar ainda mais pra ela e já estava prestes a finalmente arrancar aquele pijama que ela vestia quando ouvimos algumas batidas na porta.
– Amiga, você vai pra aula hoje? – Não era possível! Afundei meu rosto no pescoço de e senti ela rindo baixinho antes de responder Isabella.
– Vou sim, já saio! – conseguiu morder meu ombro, rindo enquanto eu tentava segurá-la na cama.
Fiquei jogado na cama dela tentando pensar numa maneira de convencer a ficar comigo naquela manhã, enquanto ela saia do quarto se juntando a Bella e JP. Tinha até me esquecido das coisas do café da manhã, só reparei que conversava tão animadamente com os dois sobre uma surpresa que eu tinha esquecido de mostrar a ela quando cheguei na mesa posta, com a torta de limão no centro e quase furando seus amigos para não comerem tudo.
– Gostou? – Perguntei enquanto me sentava ao seu lado vendo pegar o maior pedaço da torta sorrindo como uma criança que ganha seu doce favorito. Todos nós rimos da maneira “super justa” que dividiu a torta, o café foi rápido mas muito animado. As duas novas donas do lugar, ainda estavam encantadas com cada detalhe e com cada ideia a ser executada. Eles foram rumo a faculdade e eu fui direto para o escritório, naquela semana sabia que seria complicado ver , já que a noite já embarcaria para o Nordeste e só voltaria na próxima semana.

Os shows em festivais grandes estavam cada vez mais cheios, a demanda aumentando junto com a saudade, eu no Nordeste esperando ansiosamente uma folguinha para ver em São Paulo enquanto ela sempre me ligava e mandava fotos, nossas mensagens cada dia mais necessárias pra tentar amenizar. Ainda estava em Salvador quando chegou a confirmação de uma viagem que estava programada para os Estados Unidos no mês que vem, para conhecer alguns produtores de shows, estúdios e tudo mais, e mal via a hora de poder conhecer mais um pouco desse país.
Era meu último final de semana ali antes de voltar pra casa, no meio da manhã de sexta-feira, recebi uma mensagem de um número privado:
– Ei, soube que esse gato tá solto por aí…
– Quem é?! – Perguntei desconfiando daquela mensagem, poderia ser alguém me sacaneando ou até mesmo alguma fã, não fazia ideia de quem era mas eu não daria corda.
– Ah, para! Você não vai me dar uma chance?! Posso te fazer um convite… – A pessoa insistiu sem se identificar, eu já imaginava os prints daquela conversa por aí, e não pagaria pra ver até aonde aquilo daria.
– Tenho namorada, não estou...
Nem terminei de digitar e aquele número ligou, me assustando, ainda estava deitado, meio sonolento quando meu celular não parou de tocar, eu desligava e ligavam de novo, quando resolvi atender e brigar com quem quer que fosse do outro lado da linha a única coisa que consegui ouvir foi uma gargalhada. Muito familiar. A minha risada favorita.
– Que homem difícil! Me dá uma chance! – usou sua voz mais sensual misturada a suas risadinhas incontroláveis, me fazendo afundar no travesseiro sentindo alívio e vontade de estar perto só para poder ver aquele sorriso sacana dela.
, isso é um teste! Quase morri do coração aqui!
– Na verdade, é um convite, superimportante! – Me endireitei na cama e olhei para o teto, me concentrando na voz dela.
– Um convite, Srta. ?! Que tipo de convite? Vai me levar de novo pra Londrina? Se for isso, já tá mais do que aceito… – Palpitei tentando adivinhar o que poderia ser e riu do outro lado da linha.
– Sabia que você ia ficar mal acostumado, Luan Rafael! É algo um pouco diferente mas espero que você aceite da mesma forma – O tom de voz dela voltou a ficar sereno, a minha curiosidade cada vez maior e limpou a garganta antes de voltar a falar – Te convido para comer uma pizza no chão do meu quarto, o mais aconchegante possível, porque quero comemorar algo com você…
– O que vamos comemorar? – Não consegui conter minha curiosidade e apenas resmungou do outro lado antes de responder.
– Só conto aqui!
– Ah, ! Assim não vale…
– Vale sim, você adora me deixar curiosa – Ela riu e disse que tinha que voltar pra aula, sem me dar mais nenhuma pista desligando o celular logo em seguida.
Só porque eu queria que a segunda-feira chegasse logo, o fim de semana se arrastou, longa e dolorosamente, cada minuto parecia infinito. Quando finalmente chegou o horário marcado fui até o apartamento de , levei um vinho para nós e toda a saudade acumulada dessas duas semanas sem vê-la. Toquei a campainha e logo senti aquele perfume familiar se fazer presente.
com um vestido de alcinha verde-escuro e florido, descalça, cabelo solto e um sorriso lindo estampado em seu rosto me esperando na porta.
– UAU!! Você tá linda... – Entrei no apartamento e a segurei pela cintura, dando um beijo rápido em sua boca e sem perder a chance de dar um beijo em seu pescoço e sentir ainda mais de perto seu perfume – E cheirosa! Oh, que mulher cheirosa!
sorriu e eu peguei em sua mão fazendo-a dar uma voltinha.
– Gostou da surpresa?! – Ela mostrou a sala e só então eu percebi que a luz estava baixa, tinha velas na mesa de centro e uma música de fundo muito gostosinha de ouvir. Olhei para impressionado e ela riu dando uma piscadinha pra mim, pegou o vinho da minha mão e foi caminhando comigo até o centro da sala.
– Tá incrível aqui, o que vamos comemorar hoje, Srta. ? – Me sentei ao lado dela no tapete da sala, vendo que ela tinha deixado as taças ali, o controle do aparelho de som, e tudo mais que talvez ela fosse precisar. Ela pediu que eu servisse o vinho primeiro, só então ela se virou completamente para mim, sorrindo abertamente, um dos sorrisos mais bonitos que já vi.
– Eu sou a mais nova estagiária da Revista Marie Claire!
– Sério? Que incrível, amor! – Ela sorriu e deu uma piscadinha pra mim, chegando mais perto – Tô muito orgulhoso de você! Era o que você mais queria, né…. – Puxei para um abraço e senti ela toda sorridente em meus braços.
– Sim!! Quando a moça me ligou dizendo que eu passei na última etapa, eu quase caí pra trás, levei toda a documentação hoje lá, começo quarta-feira! – Os olhos dela brilhavam e eu só sentia felicidade e orgulho por vê-la tão animada e feliz com aquela conquista.
– Realmente a ocasião pede uma comemoração! Podemos ficar aqui? – Olhei para a sala toda arrumada e veio para mais perto, se aconchegando em cima das minhas pernas com um sorriso sacana nos lábios.
– Hoje nós combinamos que meu novo casal favorito vai ficar lá pela casa do JP! – Ela sussurrou, mordiscando o lóbulo da minha orelha em seguida, me causando arrepios.
– Aí, sim! – Puxei-a para um beijo de verdade, aproveitando aquela proximidade, beijando seus ombros e o pescoço, sentindo arrepiar e sorrir.
– Calma aí! Nossa pizza está chegando… – Ela riu, e eu tentei ignorar aquela informação mas a campainha tocou no exato momento, e eu tive que deixar ir.
Comemos pizza, tomamos vinho e me lembrei da viagem que faria em menos de uma semana para os Estados Unidos, ficou superempolgada e me fez prometer que se passasse por Nova York visitaria sua tia e seguiria o roteiro de diversão de , que obviamente incluía vários e vários cafés e livrarias.

No primeiro dia de trabalho de , pedi que entregassem uma minitorta de limão no apartamento dela, já que eu não estaria nem mesmo no mesmo estado que ela, gostaria de estar por perto nem que fosse em uma boa lembrança do dia. A noite, no horário combinado liguei para e ficamos conversando por mais de uma hora sobre o novo trabalho dela, sobre o quanto ela estava mais do que empolgada e aquela era a certeza de que ela estava no caminho certo. Era muita coisa para um primeiro dia, mas pela voz dela, pelas risadas, em cada momento de “já te contei que na redação eles fazem isso....” eu ouvia a alegria e empolgação genuína me deixando cheio de orgulho da mulher que estava ao meu lado.

O dia da minha viagem para os Estados Unidos chegou e nem me despedir de eu consegui, fui com alguns amigos e produtores cumprir alguns compromissos e conhecer as novidades. Fiquei a maior parte do meu tempo em Nova York dentro de estúdios e lojas de instrumentos, buscando tudo que existia de mais moderno e inovador pra levar aos meus shows, pra nova turnê.
Assim que tive um tempo livre fui seguir algumas dicas que me mandou, era impressionante como cada um desses cantinhos me lembravam dela, mesmo sem estar ao seu lado era como ver um pedacinho daquele lugar aos olhos dela.
Passei em uma loja e comprei perfumes pra ela, para minha mãe e pra Bruna, entrei na famosa loja Tiffany & Co. Tudo ali brilhava, mas um item em específico parecia me chamar pra ser visto de perto. Como já era algo que eu pensava a um tempo, quando eu vi aquele anel e imaginei a cara da dona dele ao recebê-lo, eu tive certeza. Era o que eu queria fazer, sem precisar pensar duas vezes.

Um pouco antes da minha volta ao Brasil, avisou que tinha uma surpresa para mim mas não quis dar nenhuma pista. Depois de ver meus pais, entregar presentes e tudo mais, fui direto pro apartamento de , estava morrendo de saudade e de curiosidade também.
– Amor!! Que saudade! – já abriu a porta sabendo que era eu ali, a puxei pela cintura e senti ela rindo da minha afobação, me abraçando apertado – Como foi a viagem?
– Foi como se eu te visse lá, os cafés que você indicou, os parques… Precisamos voltar pra Nova York juntos! – Nos afastei um pouco para poder ver os olhos de , ela parecia muito feliz e animada, quando consegui beijá-la senti me puxando pra dentro de seu apartamento mas sem deixar a empolgação tomar conta.
– Nada disso – não me deixou avançar com minhas mãos, nem beijar seu pescoço e antes que eu protestasse ela se afastou rindo – Lembra da surpresa?
– Ah, !! Volta aqui! – Tentei pegá-la de novo mas apenas balançou a cabeça sorrindo torto, me provocando – A surpresa não pode ser depois?
– Não, pode chegar a qualquer momento, amor! – Ela saiu andando enquanto eu ia atrás de qualquer pista, ou apenas para provocá-la a ficar comigo e esquecer o resto.
O celular dela tocou, atendeu toda feliz e ficou me olhando, poucos minutos depois ela foi até a porta antes mesmo da campainha tocar e eu fiquei sentado no sofá sem entender nada.
– Já falei que vou cobrar indenização pelos danos que esse sobe e desce estão me causando, né!
Olhei sem entender para que sorriu dando uma piscadinha, não podia acreditar que estava realmente ouvindo a voz de do outro lado da porta.
– Ai, amor! – Matheus riu e cumprimentou que estava esperando por eles na porta toda empolgada.
– Não acredito!! – Levantei do sofá e fui até meu amigo que pelo visto já sabia que eu estaria ali – Dae, meu Guri! – Matheus me deu um abraço apertado e eu ouvi rindo com ao fundo.
– Finalmente! Matheus já estava impaciente em só ver a ! – balançava a cabeça fingindo estar emocionada, saí do abraço e fui até ela, abraçando aquela pequena criatura com um ciúme enorme.
– Também senti sua falta, ! – Girei ela que gargalhou me dando um tapinha no braço logo em seguida.
– Olha aqui, Sr. Luan Santana, como você viaja justo nos míseros dias que temos pra ficar no Brasil?! – Fomos para o sofá, ao meu lado ficava rindo das caras e bocas que fazia de vez em quando ao olhar pra nós, Matheus me contou como era viver no Canadá, enfrentar o frio e ter que falar inglês por tanto tempo. por sua vez já se sentia mais do que adaptada e superfeliz de poder rever seus amigos, beber cerveja e churrasco, o melhor jeito de matar a saudade.
– Churrasco acho que não conseguiremos fazer aqui…. – deu de ombros e levantou rápido cheia de animação – Mas podemos fazer tipo uma lasanha ou outro tipo de massa, o que vocês acham?
– Maravilha! Por isso que te amo, amiga, leu meu pensamento! – levantou e foi para o lado de .
– Espera, a gente que vai cozinhar? – Matheus perguntou com a sobrancelha franzida e apenas balançou a cabeça afirmando.
– Posso ajudar a cortar e tal…. – piscou pra mim e eu ri já sabendo das intenções dela.
– E eu quero uma folguinha né, meu amor – soprou um beijo para Matheus que riu meio perdido enquanto eu tentava não gargalhar da cara de desespero dele – Já voltamos, o.k.?!
As duas saíram quase correndo me dando ainda mais certeza de que iam aprontar alguma coisa, fui com Matheus pra cozinha e enquanto eu me achava ali com os ingredientes, ele pegou algumas cervejas pra nós.
Agora que estávamos sozinhos Matheus aproveitou pra me contar como estava a vida de casado, como ele via as coisas de maneira diferente agora, as dificuldades e maravilhas da vida que escolheram. Na maneira dele de falar, eu percebia o quanto meu amigo estava feliz por construir algo real.
– E aí, como você está depois de tudo que aconteceu? – Matheus que me olhava atentamente enquanto eu me abaixava pra pegar uma panela quase me fez bater a cabeça pelo susto daquela pergunta repentina.
– De tudo o quê?
nos contou sobre tudo, até sobre o bebê e fiquei muito surpreso, que barra hein!
– Nem me fale, foi rápido demais mas não significa que não doeu sabe.... Eu vi o quanto isso mexeu com a , perder nosso filho, o acidente do Rodrigo e, mesmo com tudo isso, o pai dela não dá uma folga! Ela é forte, eu sei, mas não gosto da ideia de deixá-la, de ficar muito tempo longe, quero estar por perto agora mais do que nunca.
– Foi mal não estarmos aqui pra ajudar, dar suporte e tal… Só posso imaginar como foi…
– Fica tranquilo, a contou só pra vocês na verdade, é uma coisa que graças a Deus não vazou pra imprensa e assim podemos nos recuperar em paz, no nosso ritmo.
– Pelo menos fico feliz que vocês têm um ao outro, isso me parece cada dia mais forte, né?!
– Olha... Por mim fica ainda mais forte – Ri tomando um gole de cerveja vendo Matheus praticamente engasgar na minha frente.
– Não acredito, Luan!!! Esse momento finalmente chegou!!
Matheus com os braços abertos, olhando pra cima como se estivesse falando com Deus, ergueu a cerveja e estávamos prestes a brindar quando a porta abriu em um rompante quase me fazendo engasgar.
– Oi, gente!! – Bella entrou segurando uma sacola, logo atrás JP, e carregados de sacolas também apareceram, ofegantes, gargalhando de algo.
– Uma ajudinha, por favor?! – sorriu e Matheus mais do que depressa foi até ela ajudar a carregar as compras.
– Nossa, quanta coisa! – Fui ajudá-los também e deu de ombros tentando esconder uma risadinha.
– Acabamos nos encontrando no mercado, eles vão almoçar com a gente então tivemos que aumentar um pouquinho as medidas! – Ela me deu um beijo no rosto enquanto Bella apenas balançava a cabeça negando.
que é exagerada, se parar pra ver, com tudo isso dá pra alimentar um batalhão e ainda sobra! – Ela disse deixando sua sacola sobre o balcão.
– Vocês vão me ajudar, né?! – Olhei pra todos ao meu redor e eles riram achando que era brincadeira.
– To falando sério! As meninas cortam os temperos e tudo mais, vocês preparam as massas e eu vou fazer a carne, beleza?!
Depois de um pouco de protesto todos começaram a fazer sua parte. Era engraçado ver tanta gente naquela cozinha pequena, mas era bom perceber que todo momento que meus olhos passavam por ela estava rindo, tagarelando ou simplesmente abraçada a alguém ali, eram momentos assim que faziam toda a diferença.
Depois do almoço, e de muita zoação pela quantidade de comida que apenas seis pessoas comeram, João Pedro veio pra sala com uns flyers na mão, entregou alguns pra nós antes de começar a falar.
– Sei que está em cima da hora, mas hoje terá o show da banda do meu amigo, vai ser num barzinho meio afastado, vai ter bastante rock e acho que não tem problema Luan ir, a galera de lá é bem tranquila.
– Boa, JP!! Assim vocês aproveitam a noite também ao lado dessas pessoas incríveis! – deu uma piscadinha pra Matheus e , apontando para nós com um sorriso mais largo que o normal – O que me dizem?
– Eu topo! Mas preciso me arrumar, né… – deu uma piscadinha e jogou o cabelo para o lado.
– Como ainda temos tempo, podemos nos arrumar e marcamos pra daqui umas duas horas, e vamos todos pra lá, pode ser? – Bella disse pegando o último pedaço de bolo, JP roubou metade do doce e eles começaram a brigar pela cobertura, fazendo e se olharem cheias de orgulho por ver aquele novo casal no nosso meio.

Assim que pisei naquele barzinho uma sensação de déjà-vu me tomou, era como se eu já conhecesse ali só não conseguia me lembrar se era algo real ou não, amou o lugar logo de cara, uma banda fazendo vários covers já aquecia o povo para a banda do amigo do João Pedro.
Quando eles começaram a tocar abracei por trás e ficamos curtindo o som dos caras, que mandavam muito bem, no meio do show tive que ir buscar outra bebida já que a minha tinha acabado há um bom tempo.
– Amor, quer alguma coisa do bar? – Perguntei antes de me afastar e negou.
Tentei ser o mais breve possível, mas com o show e todo mundo querendo pegar logo sua bebida o acesso ao bar estava praticamente impossível.
– Oh, amigo…. – Tentei chamar a atenção do barman mas ele foi para o lado oposto ao que eu estava, reparei que tinha uma garota ali também, de costas mas com uma roupa muito parecida com a dele.
– Ei, moça… – Ela estava bem mais perto então ouviu quando a chamei e olhou para trás. Assim que eu a vi, lembrei exatamente que lugar era aquele e que eu conhecia aquela garota.
– Luan! – Ela disse meio alto demais e eu sorri sem graça, torcendo muito para que ninguém resolvesse me reconhecer.
– Shhhh, Clarice quer estragar meu disfarce – Ri e ela veio até o balcão me cumprimentar com um beijo no rosto.
– Gostou mesmo do bar ou foi acidente de novo?!
Era muito diferente estar ali novamente, a primeira e única vez que eu estive nesse bar foi quando Bruna tentou me animar depois do meu término com , por ser tão diferente do que eu estava acostumado foi bom pra respirar novos ares e foi assim que eu conheci Clarice e seu jeito todo despojado.
– Desta vez foram outros amigos que me trouxeram, sabia que esse lugar não me era estranho.
– Pensei que eu fosse inesquecível! – Ela disse fazendo charme e fingindo uma tristeza que me fez rir.
– Só não lembrava do lugar mesmo! Mas você é uma boa lembrança, de tempos não tão bons assim…
Clarice me entregou a cerveja e pegou outra pra si, brindamos e ela ficou me olhando por um tempo com uma sobrancelha arqueada.
– E agora?
– O que? – Olhei pra ela sem entender e ela estreitou seu olhar, me analisando.
– As coisas melhoraram?
– Sim! Estão muito melhores! – Mesmo sem a intenção, senti que um sorriso escapava dos meus lábios e Clarice riu ao perceber isso.
– Quem é ela? Ela é famosa? – Ri e balancei a cabeça negando.
– Não é famosa, mas pra mim é a pessoa mais importante... – Dei uma piscadinha e Clarice colocou a mão na boca chocada e veio para apertar minha bochecha.
– Ah, que coisa mais... – Ela me zoava fazendo voz de criança, mas parou no meio do caminho até meu rosto ficando séria de repente.
– Me diz que não é aquela moça que estava olhando pra cá agor, e pode ter achado coisas a mais…
Ela disse baixo me fazendo arregalar os olhos só de imaginar que talvez fosse , olhei rápido para trás vendo apenas o cabelo da minha namorada voando em direção ao palco novamente.
– MERDAAA!!! – Eu simplesmente não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, de novo não.
– Desculpa, eu só percebi agora ela ali... – Clarice me olhou culpada e eu apenas balancei a cabeça, sinalizando que ela não tinha nenhuma culpa naquilo, deixei o dinheiro da minha bebida e sai atrás de .

! – Cheguei até ela que estava mais séria do que nunca e não me olhava nem por decreto – Por favor!
– Agora não, Luan! – Matheus me olhou igualmente sério e eu ignorei qualquer bronca que ele quisesse me dar naquele momento, só me interessava ficar bem com meu amor.
O show da banda do amigo do JP continuava a encher e eu deixei ter seu momento, fui até o banheiro, ver se esfriava a minha cabeça e quando saí lá estava , com aquele olhar que eu já conhecia, toda preocupada e pronta pra me dar bronca também.
– O que houve? – Ela me puxou para o canto e eu só conseguia imaginar o que deve ter dito ou apenas a maneira como ela estava, eu só não queria reviver aquele pesadelo.
– Eu estava falando com uma amiga minha que trabalha aqui, viu e deve ter pensado besteira...
– Ai, gente... – me olhou desconfiada e eu peguei em sua mão a surpreendendo.
– Não teve nada de mais! Eu só preciso explicar isso pra , me ajuda!
– Não deveria mas vou te ajudar porque sinto que é verdade! – Ela sorriu pra mim e explicou seu plano pra mandar pra lá, sorri cheio de alívio e gratidão e fiquei ali por perto esperando.
Poucos minutos depois veio para o banheiro, esperei ela sair e a percebi me procurando, quando parei em sua frente ela soltou um gritinho de susto colocando logo em seguida a mão no coração.
– Cacete! Quer me matar do coração?
– Não, quero falar com você! – Cheguei mais perto mas ela me afastou com a mão.
– Ah, Luan! Volta pra lá, você estava tão confortável, me deixa com meus amigos – Reparei que já tinha gente nos observando, antes que resolvessem nos gravar peguei pela cintura e a conduzi até um canto mais escuro, geralmente usado muito pela galera que quer mais “privacidade”.
– Não, você entendeu errado! Ela é só uma amiga, não esperava encontrar ela aqui, acabei demorando mais do que o esperado, foi SÓ ISSO! – que estava de braços cruzados me olhando desconfiada, chegou mais perto.
– Amiga? Tem certeza? – Abaixei a cabeça e preferi falar logo a verdade antes que isso no futuro virasse motivo de mais briga.
– Conheço ela há pouco tempo, nós ficamos uma vez e nunca mais a vi!
– Luan.... – O tom de descrença e aquele olhar furioso, me deixavam com a certeza de que ainda estava brava com tudo aquilo.
– É sério! Eu juro, hoje foi pura coincidência a gente vir justamente aqui! – Do lugar em que estávamos ela conseguia ver meus olhos, peguei em sua mão e beijei-as – Eu tava falando de você pra ela...
Ela me olhou surpresa e incrédula ao mesmo tempo.
– Falando o quê, Luan Rafael?!
– Que você era a pessoa mais importante pra mim! O motivo da minha cara de bobo!
Cheguei mais perto dela que apenas rolou os olhos balançando a cabeça em negação.
– Ridículo! – Ela disse quando eu a peguei pela cintura e a encostei na parede.
– Ciumentinha! – Disse em seu ouvido, mordiscando sua orelha sentindo arrepiar e ao mesmo tempo me dar um soquinho no braço.
– Eu só não quero ter... – Eu sabia exatamente o que ela diria, eu também não queria reviver aquele pesadelo, de jeito nenhum.
– Também não quero mais brigar – Com a boca colada a dela eu disse, sentindo se entregar aos pouquinhos aos beijinhos que eu dava em sua boca, até que eu não aguentei mais e a beijei de verdade, agradecendo pela pouca iluminação daquela área. Trouxe ainda mais para perto, ela subiu suas mãos para meu pescoço e cabelo e ficou ali, me torturando de leve com suas unhas e alguns puxões de cabelo. Desci meus beijos para seu pescoço e minhas mãos entraram em sua blusa, brincando com a situação e nos maltratando já que a vontade era tirar tudo do caminho. também já não estava mais aguentando, quando cortei nosso beijo ela estava com a boca tão vermelha quanto a minha, as bochechas rosadas e uma inegável cara de quero mais.
– Vamos sair daqui! – Disse em seu ouvido e ela sorriu em resposta, tentando arrumar meu cabelo.
– Por favor! – Eu ri e peguei em sua mão, entrelaçando nossos dedos e nos guiando pra fora daquele lugar.
Chegamos tão rápido ao carro, enquanto eu dirigia avisava que estávamos voltando pra casa, que amanhã nos encontrávamos de novo.
– Vamos pra minha casa? – Perguntei e me olhou desconfiada – Foi todo mundo viajar hoje de manhã!
– Então, bora!
Ri e ela recomeçou a fazer carinhos em mim enquanto eu me esforçava pra chegar o mais rápido possível em casa. Cada beijo dava vontade de não parar nunca mais, e ver se divertindo com a minha tortura só me instigava a chegar e revidar cada um daqueles beijos, cada provocação.
Assim que chegamos, a puxei para mim sentindo o sorriso dela em meio ao beijo, meu quarto parecia mil vezes mais longe que o normal, depois das escadas tudo que eu via era só ela e nosso desejo tomando conta de cada canto da minha mente.
Acordei de madrugada, com mil ideias na cabeça e uma vontade ainda maior de tornar real o meu maior desejo. Desci e fiquei na sala, com meu violão dedilhando algumas melodias, tentando colocar no papel o que rondava minha mente. Sorri quando senti duas mãos descendo por meu peitoral e um beijo no meu ombro, seguido de uma gargalhada da minha pessoa favorita.
– Tá fugindo de mim?!
– Eu não, minha Ciumentinha! – Afastei meu violão e a puxei para o meu colo, vendo ela tentar me fazer cócegas, segurei suas mãos e ela semicerrou os olhos ao me encarar.
– Vai dormir, Luan! – Ela tentou ficar séria mas não conseguiu manter a pose por muito tempo, roubei um beijo dela e se ajeitou comigo no sofá.
– Vamos ficar aqui agora?! – Sugeri sentindo que ainda estava com sono, mas ali estava tão bom.
– Vamos, mas eu vou pegar mais uma blusa sua, pode ser?
– Claro que sim! Vou pegar umas cobertas aqui debaixo também – Levantamos e cada um foi para um lado.
Voltei para a sala com os cobertores e nem sinal, resolvi subir atrás dela, meu quarto estava silencioso demais e eu até pensei que ela pudesse ter dormido de novo, quando cheguei na porta fiquei paralisado em ver o que tinha ao seu lado. Era uma caixa de madeira que geralmente eu guardava algumas coisas importantes, estava com uma folha de caderno que eu rabisquei muito nos últimos dias, onde eu ensaiava o que dizer a ela, onde eu tentava expressar um pouco do que eu sentia por ela e o principal, onde eu criava a coragem pra finalmente perguntar...

, minha
Até hoje eu me lembro o quanto era engraçado te deixar irritadinha por te chamar pelo seu apelido, o quanto a gente implicava um com o outro, o quanto valeu a pena cada pisão no meu pé apenas pra sentir você mais perto, o quanto você fez tantas coisas valerem a pena de uma maneira que me assustou, de um jeito que eu nunca experimentei e hoje eu sei, só você tem e sempre terá esse efeito sobre mim.
Tô enrolando porque dá um medo de estar me apressando, medo de você não querer agora, medo de te assustar, mas te amar me ensinou que mesmo quando eu sinto medo, eu posso arriscar, eu posso confiar, ter o seu amor me faz mais forte e eu não quero ser egoísta e te forçar a nada...
Por isso que eu vou mudar um pouquinho a letra da música, só pra você saber que:
E se você quiser (e quando você quiser) te dou meu sobrenome
Pode não ser agora, pode ser até quem sabe daqui uns anos mas eu só quero que você saiba que é de verdade... CAS


Eu via os olhos dela cheio de lágrimas e um sorriso bobo surgindo, segurava a medalhinha que eu dei a ela enquanto lia, tomei coragem e sai do meu esconderijo, quando ela ergueu seu olhar, e me viu ali, parado no batente da porta, meio perdido e atônito eu senti o maior frio na barriga do mundo.
...
– Isso é real?! Desculpa, essa caixa de madeira caiu quando peguei a blusa e tudo se espalhou e eu não deveria ter lido mas... – Ela tentou esconder as lágrimas que escorriam por seu rosto, fui até ela com uma calma que nem eu sabia explicar e me agachei ao seu lado, sentindo acompanhar cada um dos meus gestos com os olhos cheios de lágrimas, peguei em uma de suas mãos.
– Eu achei que ainda não estava bom, porque quando eu quero falar sobre você, sobre nós, tudo se mistura, você me mudou, me transformou e eu só quero que você saiba que eu te quero na minha vida pra sempre, que nós vamos casar se você quiser assim, que se preferir esperar, nós vamos esperar, que a minha única condição é poder dividir minha vida com você do jeito que for...
Sentia meu coração querendo sair pela boca, dei tudo de mim pra não travar ali, mas sabia que era aquilo que queria dizer e muito mais, sua mão gelada junto a minha só me davam ainda mais certeza de que era um passo importante para nós dois.
– Luan! – Ela começou a chorar quando eu soltei sua mão, ajeitei minha postura e peguei a caixinha azul da Tiffany’s, desfazendo seu laço e revelando o anel de brilhantes que eu comprei pra ela em NY, o diamante principal em formato oval, com vários diamantes menores ao redor, lindo e delicado, desde o primeiro segundo que o vi, eu sabia que tinha que ser ele.
, você aceita casar comigo?
Ela chorou ainda mais e acenou que sim com a cabeça.
– Sim! Meu Deus, sim! – Ri e tirei o anel da caixa, o colocando no dedo de e beijando sua mão, a puxei para mim e senti aquele choque gostoso de quando nossas bocas se encontravam, explorando cada canto como se fosse a primeira vez, sentindo me arranhar no pescoço e minhas mãos se juntarem ao seu redor. Intenso, cheio de verdade e ainda mais certeza, era ela que eu queria todos os dias, da maneira que fosse. Quando quebrei o beijo, sentindo o sorriso dela nos lábios e aquela paz, eu ri dela pegando a minha blusa que estava no chão e colocando como se nada tivesse acontecido.
– Eu pretendia fazer isso num restaurante, até quem sabe em algum lugar paradisíaco, bem surpresa mas...
– Foi no seu quarto, com a gente quase de pijama e eu descobrindo tudo acidentalmente – riu olhando para o anel enquanto eu a esperava pra gente sair dali e voltar pra sala.
– Ai, que beleza! – Sorri cheio de ironia e só nesse momento quando nos tocamos que estávamos de mãos dadas, e eu vi o anel no dedo dela eu senti algo diferente, acabávamos de dar mais um passo, juntos.
Dormimos no sofá da sala abraçados, vendo série e comendo besteira, quando acordei e a vi ali ao meu lado, fiz carinho em seu rosto e apenas sorriu, eu tive a plena certeza que era exatamente daquela maneira que eu queria que nossa vida fosse dali pra frente, simples e do nosso jeitinho.
Depois de todas as lutas, eu sabia que lutaria sempre por aquele amor. Pela minha .
Ela era tudo que eu sempre quis.


Epílogo

2 anos e meio depois...,/b>

– Calma, calma! Nada de pânico! – Ouvi a voz de extremamente nervosa vindo do quarto onde estávamos nos arrumando.
– Calminha, Mamãe! – A voz doce e alegre de Vivian foi o tiro certo no meu coração quando abri a porta da suíte, vendo aquele quarto de hotel transformado num verdadeiro salão de beleza, com mais nervosa que todos nós juntos andando pra lá e pra cá em seu vestido deslumbrante de madrinha.
– É mamãe, calminha aí – Imitei minha afilhada que veio ao meu encontro segurando sua boneca favorita e sua chupeta, me pedindo colo.
– Dinda, tá linda! – Vivi me abraçou e deitou a cabeça em meu ombro, a filhinha de e Matheus já morava no meu coração desde quando soube que minha melhor amiga estava grávida, quando ela nasceu eu só sabia babar e amá-la como se fosse minha.
– Tá linda mas não tá pronta! – pegou Vivi do meu colo e me olhou indignada – Cadê seu vestido, criatura?!
– Tcharam!! – Minha tia Carla que era a principal responsável por todos os vestidos abriu a outra porta da suíte com meu vestido na mão – Agora tá pronto! Logo voltamos!
Minha tia me chamou pra voltar a outra suíte e me trocar, enquanto ouvia ensaiando com Vivi pra entrada da daminha de honra, eu só sabia sorrir e sentir paz, já era a segunda vez que minha tia precisava ajustar o vestido de noiva mas nada me tirava daquela felicidade.
Quando finalmente eu me vi ali no espelho toda de branco, com o vestido mais incrível que já vi, pronta e preparada pra dar aquele passo, meu coração parecia dançar no peito, de um jeito tão bom que eu só queria que acontecesse logo.
– Uauuu!! – Vivi colocou as duas mãos nas bochechas gordinhas e sorriu para mim com seus dentinhos pequenos.
– Meu Deus, eu vou chorar! – Bella que até então estava terminando sua maquiagem começou a se abanar e virou para o outro lado tentando não chorar.
– Você está incrível, ! – sorriu e me jogou um beijo, também emocionada.
– Radiante, filha! – Minha mãe que estava ali, sempre quietinha, veio me abraçar, segurando a vontade de chorar e eu dei um beijo em seu rosto, sentindo o coração quentinho de felicidade.
– Ai, mãe! Nem acredito...
– Eu sempre soube – Minha tia chegou de fininho e sussurrou nos fazendo rir.
A cerimonialista bateu à porta nos avisando que precisávamos ir para os carros e lá fomos nós.

Do caminho do hotel até a igreja eu só pensava na nossa história, nas promessas que cumprimos e nas que deixamos de cumprir, no quanto aprendemos um com o outro, o quanto nos respeitamos e queremos crescer juntos.
Depois do pedido de casamento muita coisa aconteceu, mesmo a imprensa pressionando Luan depois da notícia do noivado, eu pedi que só nos casássemos depois que eu terminasse minha faculdade. Consegui ser efetivada no trabalho e me tornar uma das repórteres oficiais da Revista, Luan cresceu ainda mais em sua carreira e nada disso fez nosso amor diminuir ou atrapalhou os planos.
No meio de tudo isso e Matheus ficaram grávidos e nós cuidamos, mimamos e amamos cada segundo dessa fase com eles, até meu pai finalmente entendeu o que me faz feliz e aceitou que ser jornalista é parte fundamental do que eu sou e aprendeu a gostar disso.
E hoje o grande dia chegou, sem afobação, sem pressão dos outros, da maneira que Luan disse que seria.... Do nosso jeitinho.

Quando o carro parou na frente da igreja uma paz me invadiu, a paz de ter a certeza de que estava fazendo o certo, com a pessoa certa, meu pai já me esperava na porta todo preocupado com o horário e minha mãe tentava não chorar antes da hora.
– Meu Deus, você está linda, Maninha! – Rodrigo conseguiu escapar da cerimonialista e me abraçou rápido antes de entrar com nossa mãe na igreja.
Respirei fundo e senti meu pai pegando na minha mão, me passando confiança.
– Pronta? – Ele sorriu e eu acenei que sim com a cabeça vendo ele se aproximar e me dar um abraço apertado, me pegando de surpresa.
– Então, vamos!
Assim que as portas se abriram e começamos a caminhar, meus olhos se encheram de lágrimas quando vi Luan no altar sorrindo emocionado pra mim.
O mundo podia estar de olho em nós, mas eu já não me importava, estar ao lado de Luan me fez perceber que o que um significava pro outro era o mais importante, não a opinião dos outros.
O olhar que trocamos antes de nos virarmos para o padre já dizia tudo e era aquele sentimento que eu mais queria na vida.
Saber que mesmo quando o medo chegava, quando tudo era contra, até mesmo eu era, o amor encontrou seu caminho pra acontecer, e me fez lutar e vencer barreiras, me fez querer tudo que a vida podia oferecer.... Até mesmo um certo sobrenome, de um certo cantor!

Na hora dos votos, me virei para Luan e vi seus olhos cheios de lágrimas, ele tentando segurar a emoção assim como eu que tentava a todo custo não deixar minha voz falhar.
, prometo insistir, te ouvir, respeitar, deixar você ficar com o maior pedaço das tortas de limão, te fazer rir e até cozinhar pra você! Ser seu melhor amigo, implicar com sua teimosia e amá-la ao mesmo tempo, te amar com cada pedacinho de mim! Obrigada por confiar em mim e me mostrar que é possível aprender e construir um amor real e forte! Eu amo você!
– Obrigada por ter insistido, por cuidar de mim e prometo fazer o mesmo por você, cuidar dos seus sonhos, das suas dores, estar ao seu lado e crescer junto contigo! Sou extremamente grata a Deus por ter cruzado nossos caminhos, por ter feito daquele encontro desastroso brotar algo tão verdadeiro. Você ilumina minha vida e eu só espero poder retribuir pelo menos um pouco de tudo que você faz por mim! Te amo, Luan Rafael! Que nunca acabe, que nosso amor seja sempre leve e simples.
Depois da chuva de arroz e toda a bagunça na porta da igreja, pegamos o carro novamente para irmos em direção a nossa festa. E meu coração já batia acelerado só em saber que tudo aquilo foi real.
– Te amo, minha ! – Luan me beijou, e eu senti que era a hora de contar pra ele logo o que meu coração queria gritar a muito tempo, meus olhos se encheram de lágrimas e ele reparou – Que foi? Não chora...
Eu sentia a emoção ficar mais forte e antes que eu não conseguisse falar, nem fazer mais nada, peguei sua mão e beijei levemente, levando ela até minha barriga vendo os olhos de Luan se encherem de lágrimas como os meus, assim que ele entendeu o que aquilo significava. O nosso maior sonho se tornaria realidade, a família ia aumentar.
– Nós te amamos! Muito! – Sussurrei no ouvido dele sentindo seu abraço apertado, ele beijou minha barriga, depois a boca, me fazendo rir.
Aquilo era tudo que nós queríamos, nossos corações acelerados e uma felicidade estampada em nossos olhares. Aquele era só o começo. E era incrível saber disso.




FIM



Nota da autora: Oieee, ainda nem acredito que acabou só queria dizer que amo demais essa história e só tenho a agradecer por cada um de vocês que deram uma chance a ela, foi feita com tanto amor, com tanta vontade que eu só espero que ela tenha tocado o coração de alguém e feito vocês sorrirem (nem que seja um pouquinho).
Obrigada pelo feedback, ‘Tudo Que Você Quiser’ não seria a mesma coisa sem vocês!
Todo o meu amor e gratidão a vocês!
Me contem o que acharam do final, o.k.?!
Qoualquer coisa, sempre estou no twitter
Miiiiil Beijoos
E até a próxima, Meus Amores!







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07. Happier - Ficstape Ed Sheeran/Finalizada
12. O Que Eu Tava Falando - Ficstape Jorge e Mateus/Finalizada
12. Quisiera Ser - Ficstape RBD/Finalizada.
08. She Falls Asleep
- Ficstape McFly: Wonderland.

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