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Twinsanity






Prólogo


A vida tem uma mania estranha de colocar pessoas e situações inusitadas quando a gente menos está esperando. Eu já imaginava que havia mais sobre a minha história do que haviam me contado, só não tinha ideia da proporção do que eu não sabia. Fui descobrir já bem tarde que o meu sangue era tão precioso quanto o sangue dele, já que éramos sangue do mesmo sangue.
Ah, como foi difícil entender por que os outros acharam que podiam me privar dessa verdade. Tentei acreditar quando eles me disseram que estavam zelando pela minha vida e a de meu irmão. Mas eu não consegui. Pra mim, foi puro oportunismo, como se, de alguma maneira, eles esperassem que ele falhasse para que eu pudesse terminar o serviço, ou pior, como se eu fosse uma vávula de escape para o caso de tudo dar definitivamente errado.
O universo da bruxaria não era nenhum mistério pra mim, desde pequena eu convivi com seres encantados, atmosferas sobrenaturais e ouvindo os mais estranhos e variados nomes de feitiços. Eu sabia que fazia parte daquele mundo. Só não poderia imaginar que a partir de hoje esse mundo ia me transportar para situações com as quais eu jamais imaginara me deparar.




Capítulo 1 - Uma nova realidade


Paris, França

's POV

- Mas eu não consigo entender, Nicolau - Esbravegei o chamando pelo nome, ele sabia que isso significava que eu estava muito, muito brava.
- Foi para o seu próprio bem, , entenda. Dumbledore e eu não poderíamos deixar vocês juntos sob hipótese alguma, as consequências poderiam ser graves demais.
- Mas por que você esperou tanto tempo? Por que ele teve o direito de saber quem era antes de mim?
Parei por um instante e refleti sobre as minhas próprias perguntas. Eu estava extremamente confusa, sem direção. Já não sabia mais de onde eu havia vindo, quem eu era e até mesmo duvidei que meu nome fosse mesmo . Não queria mais ouvir nenhuma palavra sobre o assunto. Por mais que amasse Nicolau e Dame Perenelle como se fossem meus pais, não podia, não queria aceitar que eles haviam me escondido uma coisa tão séria durante todo esse tempo da minha vida. Principalmente a julgar por tudo o que estava se passando. Bati a porta do meu quarto com força e sabia que não ia precisar de nenhum feitiço para impedir os dois de entrarem. Não era preciso ter nenhum poder especial para saber que, naquele momento, o que eu mais precisava era ficar sozinha com meus pensamentos. Escutei ainda os protestos de minha "mãe", mas minha vontade foi respeitada.
Fazia duas horas que estava sentada no chão do meu quarto sem saber o que fazer, como agir. Não sabia se chorava de tristeza, se ficava alegre, se sentia raiva... Por mais que eu tentasse e conseguisse entender o motivo pelo qual eles haviam me escondido um segredo tão grave, eu me sentia traída. Traída pelas duas únicas pessoas que eu sempre tive a convicção que nunca iriam fazer uma coisa destas comigo. Longe de mim estar indignada com a descoberta da minha verdadeira origem, sempre soube que eu não era uma Flamel. No entanto, a vida que tive ao lado deles foi sempre tão leve e feliz que nunca realmente me importei com quem seriam meus verdadeiros pais.

Até agora.

Por enquanto a raiva da recente descoberta ainda era o sentimento que imperava, mas não impedia que uma certa satisfação fosse tomando conta de mim pouco a pouco. Imaginem só, eu que sempre acompanhei de perto as aventuras de Harry, Rony e Hermione, que sempre tive como um ideal de vida estudar em Hogwarts, descobri que era nada mais nada menos que uma Potter. Potter, Potter, o sobrenome ainda me parecia ser muito estranho ao lado do meu nome, mas eu não podia mentir que sentia uma pontinha de euforia quando pensava nisso.

Ta bem, talvez não fosse só uma pontinha, mas quem estava medindo?

Depois de algumas horas, eu estava mais calma, e até poderia dizer feliz, com a notícia. Mesmo assim, isso não iria salvar meus pais de terem que me dar uma longa e detalhada explicação do por que eles escoderam isso de mim durante 15 anos. Resolvi enxer a banheira e tomar um banho relaxante, apesar da bomba já ter sido solta em meu colo, eu conhecia bem a história dos Potter, ou pelo menos achava que conhecia. Sabia que, se existia esse segredo que me fora revelado, existiam outros, talvez não tão sérios, mas deviam existir. Assim que a banheira ficou cheia, eu entrei e senti aquela água quente cobrindo toda a minha pele fria, me afundei ainda mais e comecei a pensar sobre o que tinha sido a minha vida até agora, e o que seria dela depois de tantas mudanças. Aquela água foi me relaxando cada vez mais e eu me sentia como um bebê, que não precisava se preocupar e apenas aproveitava o calor do colinho de mãe... Colo de mãe, está aí uma coisa que eu nunca poderia ter verdadeiramente, minha mãe não estava mais viva há muitos anos. Não que eu não tenha tido uma mãe, ou um pai. Nicolau e Dame Perenelle Flamel foram os pais mais fantásticos que alguém poderia querer, mas não eram os meus pais de verdade. Demorei mais de uma hora naquele banho ainda um pouco perdida em tudo o que estava pra acontecer. Mas sabia que ia ter que encarar a verdade, sabia que, ao sair daquele quarto, a minha vida mudaria completamente e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito. Além do mais, tinha uma razão para que esse segredo ficasse escondido durante todo esse tempo e, em respeito a minha história, eu precisava saber qual era, algo dentro de mim me dizia que não podia ser nada bom.

Enrolei-me em minha toalha felpuda e me olhei no espelho. Era estranho, mas eu não pude me reconhecer no reflexo, como se eu não fosse mais a mesma pessoa somente por causa de um sobrenome. Talvez não fosse mesmo. Meu rosto estava vermelho e meus olhos inchados, consequência das horas que havia passado chorando e, claro, confinada no banheiro fechado cheio de vapor. Coloquei qualquer suéter que estava jogada no chão do meu quarto, não conseguia pensar em mais nada que não fosse saber toda a verdade. Ao sair, senti um forte aperto no meu coração, no fundo, eu sabia que, gostando ou não, teria que me despedir de tudo aquilo que eu conhecia para me tornar quem realmente eu era.

Quando cheguei à sala da minha casa, meus pais estavam sentados me esperando, como se já soubessem o que se seguiria. Minha mãe ensaiou se levantar para me aninhar, como fazia quando eu era pequena e me machucava brincando, antes de lançar um feitiço que fazia com que a ferida e a dor sumissem instantaneamente. Mas meu pai a conteve, aquele não era o melhor momento para sentimentalismos. Nenhum feitiço que ela pudesse lançar seria capaz de curar aquela ferida e sumir com a dor. Era a hora da verdade.

Nicolau's POV

Eu conhecia como ninguém, sabia que a notícia que demos a ela iria transtorná-la, confudi-la. Preparei-me bastante emocionalmente para aquele momento, desde que eu e Alvo decidimos que o melhor e mais seguro para todos, principalmente para os dois, seria destruir a Pedra Filosofal.
Quando isso ficou decidido, eu preparei a quantidade de elixir necessária para finalizar meus negócios e para que minha esposa ficasse ao lado. Mas, sim, eu iria morrer e estive ciente disso durante os quatro anos que se seguiram depois da destruição da pedra. Eu, como um alquimista de bem, nunca permitiria que ela caísse em mãos erradas para machucar qualquer pessoa, muito menos Harry e .

- Tem certeza disso meu bom amigo? Alvo me olhou com seus olhos penetrantes por cima de seus óculos.
- Você sabe que não temos outra escolha, Alvo. precisa saber de sua verdadeira história, é um direito dela. Ela não vai ter para onde ir, a quantidade de elixir que preparei antes do fim da Pedra Filosofal está perto do fim, ela vai precisar de apoio.
- Tem razão, Nicolau, diante dos últimos acontecimentos no Torneio Tribruxo, não posso continuar fazendo como os tolos do Ministério que se negam a admitir que a volta de Voldemort é eminente.
- E, na verdade, nós nunca soubemos se a existência de é realmente desconhecida pelo Lorde das Trevas, se ele realmente estiver voltando, Dumbledore, é melhor que minha esteja preparada pra enfrentá-lo. E quem melhor para ajudá-la do que Harry?
- De fato, Nicolau – Dumbledore mexeu lentamente a colher enquanto colocava mais um cubo de açúcar dentro da xícara. - irá para Hogwarts comigo e ingressará diretamente na Grifinória para que possa estar sempre próxima a seu irmão, creio que isso irá ajudar na aproximação dos dois e na aceitação da nova situação de vida de ambos. Concederei uma entrada especial para ela, apesar de já estarmos no quinto ano, a educação que ela recebeu em casa de Perenelle é equivalente a que já foi passada aos alunos até esse momento.
- Agradeço imensamente a você, meu amigo. Tenho certeza de que Harry vai adorar a notícia de que ele não tem só Sirius como família. Isso só vai fortalecê-lo para continuar, imagino que não está fácil.
- Nicolau, sou eu quem tem que te agradecer por todos esses anos que você cuidou e instruiu – Ele disse, colocando a mão em meu ombro – Mas é chegado o momento dela assumir seu passado, fazer disso seu presente e se preparar para seu futuro. Quando estiver tudo esclarecido e preparado, mande-me uma coruja e eu virei buscar pessoalmente.

Dumbledore era meu amigo há muitos anos e foi ele mesmo que me entregou , muito pequenina, quando Voldemort começou a reunir seguidores. Da mesma forma que a recebi dos braços dele, agora a entregava, só que eu sabia que quando partisse, seria em definitivo.

Quando ela bateu a porta de seu quarto com toda a força, eu sabia que não seria nem um pouco fácil explicar para ela por que tomamos aquela decisão e por que ela tinha sido a melhor, mas não havia mais alternativas. Em breve, eu morreria e não poderia deixá-la sozinha. Por mais que fosse difícil e doloroso para ela entender, era preciso. Demos um tempo necessário para que ela pudesse reagir à notícia e não a perturbamos até que ela saísse por livre e espontanêa vontade de seu quarto para que pudéssemos esclarecer tudo para ela. Partiu-me o coração vê-la tão arrasada, mas eu entendia seus sentimentos. Perenelle quase se levantou para confortá-la, mas não era isso que queria, muito pelo contrário. Naquele momento, eu nem saberia mais dizer o que ela sentia por nós e, de certa forma, isso me assutava. Mas não poderia me deixar tomar por esse tipo de emoção agora, precisava esclarecer para todo o seu passado e como seria sua vida a partir de agora.

's POV


Afundei na poltrona mais próxima dos meus pais e fiquei esperando que eles iniciassem a conversa, preferi permancer calada já que, afinal de contas, eram eles que me deviam explicações. Nicolau suspirou fundo, como se estivesse se livrando de um peso de muitos anos e disse exatamente tudo o que eu não queria escutar.

- Nós vamos morrer, .
Não consegui controlar a minha risada de deboche diante do que o meu pai havia dito, mas ele permaneceu muito sério, sério demais para alguém que estivesse apenas me dizendo banalidades. Com a voz calma e cheia de ternura, percebi que em seus olhos havia muita tristeza.

- Todos nós vamos um dia, pai. - Dei ênfase na palavra pai numa tentativa de demonstrar pra ele que, por mais que a minha reação tivesse sido agressiva, eu nunca deixaria de vê-los como meus pais.
- Sim, , mas, no nosso caso, sabemos quando será. Por isso a verdade veio a tona somente agora.
- Como assim? Vocês sabem? - Comecei a me sentir um pouco mal diante de tudo aquilo, além de descobrir que era uma Potter ainda ia ter que lidar com a morte das duas pessoas que estiveram sempre ao meu lado?
- Se acalme, – Disse minha mãe, tentando ao máximo parecer tranquila, apesar de estar nítido para mim que tranquila era a última coisa que ela estava.
- Me acalmar? - Eu disse, me levantando imediatamente da poltrona – Como vocês dois querem que eu me acalme diante de tantas informações? O que vocês querem, han? Que eu absorva tudo feito uma esponja e aceite tudo assim, num passe de mágica?
- Sente-se, minha filha, nós vamos te explicar tudo – Meu pai disse com a voz mais calma do mundo, e eu, sem outra opção, me larguei na poltrona para escutar o que eles tinham para me dizer.

Nem vi o tempo passar durante a conversa e, quando terminou, eu me sentia extremamente esgotada, precisava daquele tempo que eu havia tido no meu quarto, para absorver, pensar, refletir. Depois de muito chorar no meu travesseiro, adormeci sem perceber, caí em um sono tão profundo, mas tão profundo que nem ao menos sonhei. Estava cansada demais.

Na manhã seguinte, mal consegui abrir os olhos de tanto que havia chorado na noite anterior. Acordei desejando que tudo aquilo tivesse sido um horrível pesadelo e que a minha vida continuasse sendo da mesma forma que sempre havia sido. Mas eu sabia que se aquilo era um pesadelo, ele tinha acabado de começar. Depois de muito rolar na cama, decidi me levantar, como dizia um antigo ditado "o que não tem remédio, remediado está ". O melhor que eu teria a fazer era enfrentar essa situação de peito aberto. Papai abriu a porta do meu quarto com um sorriso sincero de bom dia, apesar de eu saber que a vontade dele era fazer o contrário. Murmurei um bom dia e fui direito para o banheiro, não queria que eles ficassem me olhando com dó por causa dos meus olhos inchados. Abri a torneira e joguei a água gelada no meu rosto para ajudar no despertar. Maquiei os meus olhos de forma que não parecessem tão inchados e vermelhos. Nunca tive uma varinha própria, praticava feitiços com a varinha da minha mãe, então, tive que me virar com maquiagens convencionais. Apesar de as últimas notícias terem abalado completamente as minhas estruturas, depois de saber toda a verdade muitas coisas sobre a minha vida começaram a fazer sentido. Como, por exemplo, o fato de eu ser educada em casa... Pensando bem, eu não só fui educada em casa como quase não saía. Eu nunca cheguei a ter uma varinha só minha porque o Olivaras conhecia seus clientes, descobriria a minha identidade e poderia revelá-la dependendo da pressão que Voldemort fizesse. Apesar de eu nunca sair de casa, sabia Defesa contra as Artes das Trevas mais do que qualquer outra matéria que iria estudar em Hogwarts. Por pior que a situação parecesse, eu não podia negar que até mesmo as piores situações da nossa vida tem um lado positivo.

Eu achava.

Saí do meu quarto a fim de aproveitar todos os momentos possíveis com os meus pais. O ano letivo em Hogwarts estava próximo de seu início e eu precisava me apressar para comprar tudo o que ia ser necessário para estudar lá. Comecei a empacotar todas as minhas coisas de uma forma totalmente saudozista. Olhava ao meu redor e, a medida que os meus pertences estavam cada vez mais dentro de caixas e malas, eu chorava mais. A maior parte das minhas coisas iria ficar em Gringotes, já que eu não tinha casa, não tinha onde deixar meus móveis. Meus pais haviam tido filhos, mas graças a pedra filosofal viveram bem mais do que eles. No último aniversário do papai, havíamos comemorado seus 670 anos. Graças a esse fato, eu era a única herdeira de todo o patrimônimo Flamel. Apesar de estar muito triste por ter que deixar minha casa e me despedir definitivamente dos meus pais, eu estava confiante de que iria ser feliz na minha nova vida. O meu pai sempre teve a capacidade de me tranquilizar, eu sempre escutei muito o que ele me dizia, pois sempre soube que, no mundo dos bruxos, ele era um homem muito respeitado. Além de sua notoriedade, eu tinha consciência do quão sábio aquele homem era. Depois de refletir muito, eu cheguei a conclusão que a despedida seria, sim, muito dura, mas que o meu tempo com eles havia sido muito feliz.

Como era bom mentir pra nós mesmos, e melhor ainda era quando a gente acreditava na própria mentira.

No fundo, meu coração estava totalmente em frangalhos. Por mais que eu dissesse pra mim mesma que eu devia ver isso como uma nova oportunidade de ser feliz, eu não conseguia. Pelo menos, não por enquanto. Nem sabia como deveria me portar quando chegasse a Hogwarts, e, para ser sincera, tinha medo da reação dos professores, dos alunos e principalmente da reação do meu irmão. Se ele me rejeitasse, o que seria de mim? Não teria mais meus pais adotivos para me acolher. Eram muitas coisas se passando pela minha cabeça de uma vez só.

Já era noite quando eu finalmente terminei a última mala que iria para Hogwarts comigo. Meus móveis e meus outros pertences já estavam todos em miniatura, prontos para serem levados para Gringotes, para o cofre da família Potter. Eu ficava repetindo esse sobrenome pra mim mesma a todo o momento, acho que eu ainda precisava me convencer disso. Antes de me deitar, dei uma volta pela casa e, a cada canto que eu olhava, tinha recordações boas de um tempo feliz. Um tempo que não iria voltar mais. Voltei pro meu quarto, que agora só tinha malas, caixas e a minha cama. Depois que eu saísse, tudo ia ficar vazio, assim como o meu coração.

Nicolau's POV

Ela nem notou a minha presença, mas eu a observei dar uma volta pela casa como se estivesse se despedindo de cada canto, de cada coisa. Era horrível, para mim, assistir o sofrimento de . Eu e minha esposa havíamos criado ela como se fosse nossa própria filha. Já não tínhamos mais nenhum vivo e depois que ela veio para nossa casa, nós nem pensamos em outra criança. era a menina mais linda e mais amada. Às vezes, quando ela ainda era um bebêzinho e eu ia a seu quarto velar seu sono, pensava em como sua mãe, Lilian, teria orgulho de ter uma filha tão linda. Sempre lamentei muito por ela não ter tido a chance de ver seus dois gêmeos crescerem.

Podia soar até meio egoísta naquele momento, mas depois de ter vivido mais de 600 anos, a gente acabava desejando não ter conhecido algumas pessoas, exatamente porque sabemos que teremos de viver a dor de perdê-las. Lilian não conheceu a seus filhos, nunca duvidaria do amor de uma mãe por seu filho desde o minuto que ele era gerado. Mas quando se convive, a dor de perder era muito maior. Eu não tinha medo de morrer, já havia tido que lidar com a situação inúmeras vezes e a ideia de morte já não me assutava. O que estava me apavorando naquele momento era ter que deixar enfrentar tudo o que teria que enfrentar, sozinha. Eu havia criado para ser uma mulher forte, uma mulher que seria exemplo para os outros, assim como foi sua mãe. Mas, no fundo, achava que isso já estava em seu sangue, Harry iria gostar dela logo de primeira, não só por finalmente ter alguém que ele verdadeiramente pudesse chamar de família, mas também porque os dois eram incrivelmente parecidos. Passei o resto da noite em claro. Apesar de confiar muito na proteção de Alvo e nas boas projeções para o futuro de , não pude pregar os olhos depois de cair na realidade que ela iria se envolver com tudo que nós, durante anos, tentamos evitar.
Ao amanhecer, me levantei e fui direto para a cozinha preparar, junto com Perenelle, o café da manhã preferido de ; pudim caramelado e suco de abóbora. Deixamos-na dormir até que tudo ficasse pronto, se nós iriamos embora da vida de , que pelo menos as lembranças deixadas fossem de momentos bons e felizes até o final. Fui até seu quarto e abri sua porta. Imagino que cheguei a ficar mais do que alguns minutos olhando enquanto ela dormia um sono tranquilo e tinha uma expressão serena no rosto. Mandei tudo que estava empacotado para a sala de Dumbledore, já que antes de seus pertences serem colocados no devido lugar, teriam de conversar com Harry.

Apesar de ter postergado aquele momento a todo custo, Dumbledore já devia estar chegando para levar até Londres, lá ela iria ser entregue a Hagrid, que a levaria até o Beco Diagonal para que pudesse comprar tudo que fosse necessário para seu ano letivo em Hogwarts. Depois ela embarcaria no Expresso Hogwarts rumo a sua nova vida. Eu repetia o plano para mim mesmo sem parar, a fim de encontrar alguma falha, alguma situação que colocasse minha em perigo. Mas simplismente não havia, e, no fundo, eu sabia que não seria bom nem pra nós, nem para ela adiar ainda mais o momento da despedida, já que era inevitável. Sentei em sua cama e a chamei bem baixinho para que ela não se assustasse, dormia tão tranquila...

- , vamos filha, levante-se, chegou o dia.

Ela abriu os olhos lentamente e deu um sorriso quando me viu. De todas as imagens belas e emocionantes que já havia me proporcionado, aquela seria a que provavelmente passaria diante dos meu olhos por último antes do meu suspiro final. olhando para mim com seus olhos verdes e sonolentos e um sorriso largo nos lábios. Infelizmente a minha mania de querer sempre me demorar nos últimos momentos me obrigou a apressar do seu despertar para que ela pudesse sentar a mesa conosco e tomar seu último café da manhã em nossa companhia. Nem mesmo parecia ser uma despedida, estava bem humorada, sorridente. Talvez ela também estivesse pensando como nós, em levar apenas o que era bom do nosso dia a dia. Estava tão distraído naquela ilusão de mais um dia feliz, que nem percebi quando alguém bateu a porta com três leves batidas. Prontamente, me levantei e abri para um convidado já esperado.

- Alvo, sempre pontual – Eu disse, tentando parecer contente ao ver meu velho amigo.
- Nicolau, é sempre um prazer lhe rever, mas receio que hoje não sou tão bem-vindo assim – Dumbledore disse com um sorriso sem graça.
- Ora, mas o que é isso, Alvo – Perenelle disse, surpresa – Você sempre será bem-vindo em nossa casa!
- Ah, senhorita , ansiosa para engressar em Hogwarts? - Ele disse, se direcionando a – Todos os preparativos já foram feitos.
- Bom dia, Senhor Dumbledore! Estou, sim, muito obrigada por tudo que o senhor tem feito por mim e pela minha situação – disse, se levantando em um ímpeto da cadeira na qual estava sentada.

Imediatamente Dumbledore riu da forma que lhe era característica, da reação de .

- , não é preciso tantas formalidades comigo, por favor, a partir de agora me chame apenas de professor.
- Sim, senhor. Quer dizer, sim, professor. - disse com uma expressão ainda confusa no rosto.
- Podemos ir? - Dumbledore se direcionou para Perenelle, depois para mim e, por fim, .
hesitou antes de respondê-lo, olhou para mim como se quisesse dizer "me salve", mas ela sabia que eu nada poderia fazer. Sem dar sua resposta, correu na direção em que estávamos e abraçou, a mim e minha esposa. Já havia visto todos os meus outros filhos, os que eram sangue de meu sangue, partirem e havia suportado. Mas trocaria séculos e séculos da minha longa vida para não ter que deixar sozinha nesse mundo. Por fim, depois de alguns minutos abraçados e chorando, ela se voltou para Dumbledore e, decidida a encarar seu destino, respondeu com firmeza na voz.
- Vamos, professor, será uma longa viagem.
- Pois muito bem, acho que Nicolau já revelou a você o roteiro de nossa viagem, sim? - Ele disse simpático enquanto só acenou com a cabeça, afirmando que ela já sabia sua rota.
- Ótimo, ótimo, então chegue mais perto e segure firme em meu braço.
Ela fez como foi pedido e, antes de ela pudesse partir, a abraçamos de novo, seria a última vez que ela nos veria vivos. Da mesma forma, totalmente inesperada e rápida, que ela surgiu em nossas vidas, ela partiu sem deixar rastros aparentes, apenas memórias em nossos corações. Virei-me para minha Perenelle, que não parava de chorar, não poderia julgá-la já que a minha vontade era de fazer a mesma coisa. Mas precisava saber se ela havia conseguido ter sucesso na missão que havia lhe confiado.

- Ela estará segura, Perenelle, você conseguiu?
- Pode ficar tranquilo, meu amor, se nossa precisar, ela sempre terá uma maneira de voltar para casa.





Capítulo 2 - Recomeçar


's POV

Eu pensei que ia ser difícil me despedir dos meus pais adotivos e partir para a minha nova jornada. Mas não foi difícil, foi bem pior. Não vou dizer que foi impossível, pois ali estava, em Londres. Mas foi uma das emoções mais pesadas que eu já senti na vida. Mas era hora de recomeçar, na realidade, hora de retomar uma vida que foi tirada de mim antes mesmo que eu tivesse consciência de qualquer coisa... Graças à bruxaria não tinhamos que passar por viagens extremamente morosas e cansativas como os trouxas, aparatar era uma das minha magias prediletas, sem dúvidas.

Quando chegamos à Londres, já era noite e estava muito frio. Estávamos no fim do verão, pouco antes do começo das aulas, no Outono. Estávamos em uma ruela escura de uma parte mais deserta da cidade, já era tarde e a maior parte dos trouxas já deviam estar em baixo de suas cobertas, cercados de suas famílias...

Ou não, né? Não podia ficar pensando assim agora. Harry Potter era minha família, teria que honrar isso com o mínimo de coragem que fosse.

Não esperamos muito até que a figura de uma pessoa, muito, mas muito grande, começou a tomar suas formas e a se aproximar de nós. Eu não tive medo, sabia que estando com Dumbledore, ou em Hogwarts, estaria mais segura do na minha própria casa. A figura continuou a se aproximar, até que pude vê-lo com clareza, era um gingante, mas não era tão grande assim a ponto de causar o caos andando nas ruas. Talvez as pessoas só achassem que ele era alto demais por causa de uma doença. Mas como eu não era trouxa sabia bem que esse tipo de criatura nascia quando um dos pais era, de fato, um gigante. Ele parecia ser simpático e estava um pouco atrapalhado quando desceu de sua lambreta. Dumbledore se adiantou e resolveu fazer as apresentações.

- Senhorita Potter, esse é Rúbeo Hagrid, guardião das chaves e dos terrenos de Hogwarts. Um velho amigo no qual eu tenho muita confiança.

Dei um passo para frente a fim de fazer o primeiro movimento para que pudesse cumprimentá-lo. Para a minha grande suspresa, Hagrid se abaixou e ficou me encarando por alguns instantes. De repente, algumas lágrimas surgiram em seus olhos e rapidamente ele se levantou, tratando de disfarçá-las. Um gigante sensível, que gracinha. Ele olhou meio pasmo para Dumbledore, que continuava a encarar-nos com uma expressão serena no rosto.

- Professor Dumbledore, parece que estou vendo Lilian Evans em minha frente novamente!

Eu dei uma risada pelo fato de o gigante estar espantado, já havia visto fotos dos meus pais e, de fato, eu era realmente muito parecida com a minha mãe. Tinha herdado seus cabelos ruivos, seus olhos profundos e verdes e a pele bem alva. Apenas nos diferenciávamos no tamanho e no corpo, eu era mais baixa e mais encorpada do que ela.

- Você conheceu minha mãe quando jovem? Evans era seu sobrenome de solteira? - Perguntei a Hagrid com um sorriso.
- Vejo que ainda tem muitas perguntas que serão esclarecidas, fique tranquila – Disse Dumbledore interropendo-nos – Contudo, vocês precisam se apressar, quanto antes a senhorita chegar a Hogwarts mais tempo terá para esclarecer todas as dúvidas que ainda restaram. Deixo-a a seus cuidados, Hagrid, mas creio que não preciso me preocupar, não é? A situação lhe é bem familiar.

Hagrid sorriu, devia estar se lembrando de quando essa mesma situação aconteceu há alguns anos e agora se repetia, dando aquela sensação boa de dejavú. Ele devia estar mesmo muito absorto em suas memórias, pois nem percebeu quando Dumbledore se foi. Partiu-me o coração ter que tirar Hagrid do transe de um momento tão bom, só que Dumbledore disse que eu tinha que ter pressa e eu ainda tinha muitas coisas a esclarecer antes do início das aulas.

- Vamos, Hagrid? - Eu disse com um sorriso simpático, tentando ficar na ponta dos pés para que ele olhasse para mim e não para o nada, como estava fazendo.
- Desculpe, , acho que não pude deixar de viajar um pouco no passado diante do que está acontecendo – Ele disse meio sem graça – Mas, então, vamos, suba na lambreta, ela é um pouco velha, então, você vai ter que segurar firme – E me dizendo isso, entregou-me um capacete.

Sentei, receosa, no carona da pequena, (até demais para seu tamanho) lambreta azul do Hagrid. Coloquei o capacete e logo pude entender por que eu deveria me segurar firme. A lambretinha, apesar de pequena, era potente e rápida. Tão logo subimos, já estavamos aterrizando em uma rua de Londres que, segundo a placa, se chamava Charing Cross. Hagrid escondeu seu meio de locomoção e entrou em um lugar que me parecia ser um barzinho sujo e mal cuidado, o Caldeirão Furado. Logo que entrei, vi que, de fato, era mesmo um bar, mas havia escadas e outras portas, provavelmente era também uma hospedaria. O que eu não conseguia entender era o que estávamos fazendo ali já que, se a agenda pedia pressa, não era hora de parar para tomar uma cerveja! Atravessamos todo o bar e eu pude sentir que todos os olhares estavam em nós. Provavelmente porque a última vez que viram essa mesma cena, Hagrid estava na companhia do meu irmão extremamente famoso. Por mais que a cena fosse curiosa de se ver repetida, ninguém ali sabia quem eu era realmente, ao contrário do meu irmão. Para o resto do mundo bruxo, eu ainda não era ninguém especial.

Ainda.

As coisas ficaram cada vez mais estranhas quando eu me deparei com uma parede, toda feita de tijolos, nos fundos do bar. Era um beco sem saída. Claro que tendo crescido nesse mundo desde pequena, já imaginava que haveria de ter alguma magia envolvida naquele lugar. Prontamente, Hagrid bateu com sua sombrinha nos tijolinhos, em uma ordem que eu não pude acompanhar já que, logo após isso, a parede começou a se desdobrar e se abrir, revelando que não era um beco sem saída. Ainda meio maravilhada com a cena, escutei Hagrid dizer com satisfação na voz:

- Bem-vinda, , ao Beco Diagonal.

Comecei a andar pelas ruas ainda um tanto quanto desnorteada com tantas lojas e pessoas. Senti-me um pouco velha também, enquanto a maioria, que estava fazendo compras ali, era do primeiro ano e deviam ter por volta dos 11 anos, eu já tinha 15. A primeira loja que entramos era de roupas, todas as minhas roupas eram bruxas, mas eu ainda não tinha nenhum uniforme. A dona da loja, Madame Malkin era muito simpática e, quando chegamos, já estava com absolutamente tudo pronto. Sobretudos, cachecóis, saias, blusas, casacos, tudo já com as cores e o brasão da Grifinória. Realmente Dumbledore já havia cuidado de tudo. Seguimos então para a Olivaras, nem estava acreditando que finalmente ia ter a minha própria varinha. Entramos e o dono, o Olivaras, já estava a nossa espera. Quando ele me viu, parou e deu a volta no balcão para me olhar mais de perto, me fitou por alguns instantes e olhou para Hagrid, como quem pede uma explicação. Ao mesmo tempo, vi seus olhos ficarem molhados, não como os de alguém que ia se debulhar em lágrimas, mas como alguém que se lembra de uma coisa boa. Eu devia ser mesmo a cara da minha mãe.

- Boa tarde, Olivaras, a senhorita Potter está aqui para comprar a sua primeira varinha – Disse Hagrid com um olhar que não precisava dar mais nenhuma explicação.
- Senhorita Potter, nunca pensei que esse dia chegaria. Desculpe a minha reação, mas você deve saber que sua mãe foi uma pessoa muito querida no mundo bruxo. E a semelhança entre você e ela é impressionante.
- Acho que vou ter que me acostumar com essa reação nas pessoas que a conheceram, não se preocupe, senhor Olivaras.
- Mas vamos ao que interessa, sim? - Disse ele, subindo uma escada e pegando uma caixinha púrpura.

Ele abriu a caixinha, retirou dela uma varinha e estendeu para mim. Peguei-a e, assim que a toquei, todas as janelas da loja se quebraram.

- Não, não – Ele disse, sacudindo a cabeça enquanto separava mais 3 caixinhas.

Peguei a varinha que estava em uma caixinha preta, já surrada. Segurei a varinha com receio de destruir definitivamente a loja, mas absolutamente nada aconteceu. Depois de já ter testado todas as varinhas que o senhor Olivaras tinha separado para mim, eu comecei a ficar desanimada. Talvez eu não pertencesse verdadeiramente a esse mundo, talvez não tivesse nascido para ser uma bruxa. Como se ele estivesse lendo a minha mente, o senhor Olivaras levantou meu rosto com a mão em meu queixo.

- Não se aflinja, senhorita Potter, não é o bruxo que escolhe a varinha, é a varinha que escolhe o bruxo.
Esbocei um sorriso pelas palavras doces, mas, ainda assim, o medo de não ser escolhida por nenhuma varinha habitava em mim. Peguei mais em duas varinhas, a loja do senhor Olivaras estava completamente de cabeça para baixo. Já estava quase desistindo quando ele adentrou o estreito corredor que levava para o interior da loja. De lá, ele voltou carregando uma caixinha branca, com alguns detalhes dourados.

- Não sei por que não havia pensado nessa varinha antes. Você, sendo tão parecida com sua mãe, deve combinar perfeitamente com esta varinha. Aqui está, pêlo de unicórnio, mogno, 20 cm.

Abri a caixinha e fiquei completamente encantada com o que vi. Eu sabia que o senhor Olivaras disse que quem escolhia o bruxo era a varinha. Mas, desde o primeiro instante que eu coloquei os olhos naquela varinha, sabia que ela era pra ser minha. A retirei da caixinha e, com uma leve sacudida, tudo voltou a seu lugar e a loja estava novamente em ordem. Abri um sorriso largo, e contemplei a minha varinha durante alguns minutos. A madeira dela era em um tom meio rosado e, em sua empunhadura, a varinha se afinava e formava, no seu fim, uma espécie de coração incompleto, que não chegava a se fechar em baixo. Achei um charme.

Apesar de estar completamente encantada com a minha varinha, eu sabia que ainda teria muitas lojas para visitar, me despedi do senhor Olivaras, que olhou pra mim com ternura até que eu sumisse de suas vistas. Seguimos para a Floreios e Borrões, onde encontrei todos os livros que eu poderia precisar, tanto para esse ano quanto para complementar os anos que eu havia perdido. Por fim, fomos até a loja de caldeirões e no Empório das Corujas. Assim como fez com meu irmão, Hagrid me deu uma linda coruja, branca com peito cheio de pintinhas pretas e os olhos tão profundos e azuis como o oceano. Dei a ela o nome de .

Saímos do Beco e fomos diretamente para a estação King Cross, já estava com tudo pronto para embarcar no Expresso Hogwats, Hagrid me deu a passagem que indicava a plataforma 9 ³/ 4. Diferentemente de como fez com meu irmão, Hagrid me mostrou como eu poderia chegar à plataforma. Não tive medo de atravessar a parede, já havia atravessado portais parecidos com aquele. Quando cheguei ao outro lado, me deparei com um trem majestoso, e um frenesi de pessoas de todas as idades se despedindo de seus parentes, acenando das janelas, despachando as malas. De certa forma, aquilo me entristeceu um pouco, todos teriam um lugar para onde voltar quando o Natal chegasse. E eu, bem... Minha situação ainda era incerta. Despachei minhas malas e entrei no trem à procura de uma cabine que estivesse completamente vazia. Harry tinha acabado de ser inocentado em um julgamento do ministério, mas eu não sabia ao certo se ele estava no trem. Eu preferi me isolar, ninguém tinha me orientado quando eu deveria procurar o meu irmão, então preferia chegar a Hogwarts antes de falar qualquer coisa que não devia. Escolhi uma cabine que parecia ser perfeita, estava em uma parte menos movimentada do trem, não corria o risco de ter que me sentar com ninguém.

Ledo engano.

Pouco depois de 20 minutos que o trem havia partido, eu estava distraída olhando a paisagens quando ouvi baterem na porta da cabine, e por ela entrar dois meninos idênticos.

- Eu sou o Fred e ele é o Jorge, podemos te fazer companhia, senhorita...
- – Eu completei prontamente – Prazer!
- O prazer é todo nosso, definitivamente – Eles disseram juntamente.
Abri um sorriso largo, sabia bem que os dois que estavam a minha frente eram os gêmeos Weasley, os mesmos que eram os donos da loja que havia visto em construção no Beco Diagonal. Por mais que fosse muito divertido ficar ali conversando com eles, era também muito perigoso. Não sabia até que ponto as informações tinham circulado, se é que elas tinham circulado. Qualquer coisinha que eu deixasse escapar poderia causar um alvoroço naquele trem e eu queria ser o mais discreta possível.

Ok, eu admitia. Claro que eu queria ser olhada e admirada como meu irmão. Mas isso viria com o tempo.

- Então, , por que nós nunca te vimos por Hogwarts? - Perguntou Fred, me encarando com um olhar curioso.
- Talvez você não tenha olhado atentamente o bastante – Disse com um sorriso tímido.
- Ou, talvez, você preferisse não ser notada... - Completou Jorge, muito pespicaz.
- Se fosse uma questão de preferência, eu iria me decidir por ficar no anonimato, mas chega a um ponto que não é mais uma escolha pessoal...

Soltei essas palavras no ar e só depois fui perceber o quão sugestiva aquela frase poderia parecer em vários sentidos diferentes. Os dois eram muito espertos e muito charmosos, Dame Perenelle costumava dizer que não há nada mais perigoso do que um cara chamoso. Eles iam conseguir tirar informações de mim se eu deixasse que aquela conversa prosseguisse. Rapidamente me levantei e pedi licença a eles, com a desculpa de que iria ao banheiro. Por sorte não carregava pertences de mão, e eles só se dariam conta de que eu não voltaria quando eu já estivesse refugiada em outra cabine.

Fred's POV

A gente já tinha esperado esperado tempo suficiente pra perceber que ela não ia voltar mais. Fiquei imaginando se a gente tinha dito alguma coisa que pudesse ter ofendido ou incomodado ela, mas só agimos como era natural pra nós. Nem tentamos fazer ela experimentar nada das Gemialidades Weasley.... E eu tinha algumas vomitilhas no bolso! De qualquer maneira, tanto eu quanto meu irmão, Jorge, estávamos intrigados com aquela garota. Por mais que ela fosse uma garota discreta em seu modo de ser, achava muito improvável que, em todos esses anos, nós nunca a tivéssemos notado. Ela era muito linda, linda demais para passar anos e anos despercebida. Eu ou qualquer um dos outros meninos teríamos notado-a em algum evento de Hogwarts que se reuniam todas as casas. Tinhamos jogos de Quadribol, aulas junto com outras casas, bailes. Meu Deus, nem que fosse no café da manhã alguém tinha que ter visto aquela garota.

- É, parece que ela não vai mesmo voltar... - Disse Jorge, abrindo o sanduíche que mamãe havia preparado para nossa viagem.
- Não vai, não, eu percebi na hora que batemos na porta que ela escolheu essa cabine pra ficar sozinha. Mas por que uma garota tão linda e tão simpática ia querer se isolar?
- A beleza pode ser um fardo – Disse Jorge em um tom meio convencido e com a boca cheia.
- Tem razão, a gente mesmo tem que viver esse dilema – Completei no mesmo tom que meu irmão.

Já que nossa nova amiga parecia mesmo que não ia voltar, resolvemos procurar o resto da turma pra sabermos se alguém a conhecia e, o mais importante, onde poderíamos encontrá-la na escola. Fomos até a parte do trem onde costumeiramente Harry, nosso irmão Rony e Herminone constumavam se sentar, e os achamos em uma cabine.

- Saudações, meu amigos – Dissemos juntos, como de costume – Podemos nos juntar a vocês?
- Francamente, gente, se vocês vieram aqui pra tentar vender alguma gemialidade....
- Não se preocupe - Eu interrompi Hermione, que estava prestes a começar o seu discurso contra os kits mata aula – Não viemos aqui para isso.
- E a que devemos a honra da companhia? – Herminone disse meio sarcástica e meio brincalhona (se é que essa garota sabe brincar).
- Na verdade, viemos perguntar a vocês sobre uma pessoa em particular – Os três se mostraram interessados, então, eu prossegui – Eu e Jorge acabamos de conhecer uma garota incrivelmente linda!
- Então vocês vieram aqui contar que estão apaixonados? - Hermione ironizou.
- Apaixonados eu não diria, mas impressionados – e Jorge se adiantou para dizer junto comigo – Definitivamente.
- E quem é a vítima? - Perguntou nosso irmão, Rony.
- É ai que está o problema. O nome dela é , ela deve ter a mesma idade que vocês. Ela é ruiva e tem os olhos mais lindos que já vi na vida, verdes de uma maneira incomum. O problema é que, antes de hoje, eu nunca a tinha visto pela escola... A descrição é familiar? - Perguntei na esperança de ser só falta de atenção minha mesmo.

Eles pensaram durante um minuto, um a um eles foram acenando a cabeça negativamente. O mistério que parecia envolver aquela garota a fazia parecer ainda mais atraente.

- Nunca vi ninguém assim, Fred, normalmente os ruivos que circulam pelo castelo têm algum parentesco com a nossa família. - Rony concluiu depois de pensar.
- Pelo amor de Deus, meninos, é tão fácil achá-la! A qual casa ela pertence? - Perguntou Hermione incisivamente. Olhei para o Jorge buscando a informação, mas ele me olhou sem saber.
- Então talvez saibam o ano, o sobrenome? - Novamente sacudimos a cabeça em sinal negativo.

Hermione nos lançou um olhar de negação e de incredulidade. Ela não tinha conseguido compreender que eu e Jorge ficamos tão hipnotizados que não pensamos em mais nada e esquecemos de pensar no futuro.

- Então vocês vão ter que ficar atentos na hora das refeições e das aulas – Concluiu Hermione, abrindo seu livro, se preparando para ignorar o resto da conversa.

Dei com os ombros ao perceber que ela tinha razão, teríamos que achá-la no meio daquele monte de alunos quando tivéssemos oportunidade. Depois de um tempo, o sono falou alto e eu fiquei pensando em até pegar no sono e começar a sonhar com ela.

's POV

Ufa, essa tinha sido por pouco! Não podia continuar ali conversando com eles sem arriscar revelar informações que eu não deveria. Tive sorte, não sabia como eles não se interessaram em saber qual era a minha casa ou mesmo meu sobrenome... Não achava muito educado deixar os dois esperando por mim sendo que eu não voltaria, mas quando tudo se esclarecesse, eles entenderiam, eu esperava. Saí da cabine, procurando algum lugar que eu pudesse ficar sozinha até o fim da viagem. Andei um pouco e resolvi procurar outro corredor, um que não tivesse tantos alunos da Grifinória talvez fosse melhor. Achei um em que a maioria das cabines estavam apagadas, fui olhando uma por uma para me certificar de qual estava realmenta vazia. Achei uma perfeita e me acomodei, tinha sido um dia cheio e eu precisava descançar antes de chegar a Hogwarts. Encostei a cabeça no vidro da janela e fiquei observando o movimento do trem até pegar no sono. Estava tão cansada e com tantas coisas na cabeça que eu simplismente capotei. Fui acordar extremamente assustada, uma hora depois, achando que o trem já havia chegado a seu destino final. Graças a Deus, não, ainda faltava uma boa parte do percurso pra finalmente chegarmos a Hogwarts. Eu já não aguentava mais esperar, queria dar uma volta pelo trem, me distrair, só que não podia arriscar me encontrar com Fred e Jorge, ou mesmo com meu irmão, Harry. Fiquei na cabine, quietinha com meus pensamentos até que não pude mais segurar a vontade de ir ao banheiro. Ora, o que poderia acontecer de ruim? Eu estava em uma parte do trem mais distante da que meu irmão e seus amigos frenquentavam. Além do mais, eu só iria ao banheiro que estava no mesmo corredor que eu, nada poderia dar errado, certo?

Errado.

Não sei por que matinha aquela mania de otimismo na minha vida, tinha que aprender de uma vez por todas que se uma coisa pode dar errado, ela vai dar errado. Acho que o nome do cara que falava isso era Murphy. Não, eu não me encontrei com nenhuma das pessoas com as quais eu não poderia, para o meu alívio. Mas tive uma surpresa ao voltar para minha cabine. Quando abri a porta, dei de cara com um menino de cabelos muito loiros e olhos acinzentados me encarando como se eu o estivesse incomodando de alguma maneira. De repente, ele quebrou o silêncio.

- Quem é você e o que você quer? - Ele me perguntou, mal humorado.

Eu nem o conhecia, e ele já estava se dando ao luxo de ser mal educado comigo. Devido a isso, também não quis gastar o meu francês com ele e retruquei no mesmo tom que ele havia usado.

- Eu é que te pergunto, apenas me levantei para ir ao banheiro e, quando volto, tenho que lidar com falta de educação de um desconhecido.
- Quem você pensa que é para falar comigo dessa maneira? Você sabe com quem está falando? - Ele me respondeu, indignado com a forma que o tratei.
- Se está em um trem indo para Hogwarts, presumo que seja somente um aluno qualquer. - Eu respondi, percebendo que isso o irritaria.
- Eu sou Draco, Draco Malfoy. Minha família é...

Antes mesmo que ele pudesse completar a frase, eu percebi que, antes de serem declaradas fronteiras, eu já estava em território inimigo. O poupei de dar uma explicação do porquê que ele se achava tão melhor e mais importante do que os outros, completando, eu mesma, a sua frase.

- Antiga, aristocrática, muito rica e extremamente orgulhosa de ser sangue-puro. – Disse, olhando fixamente para seus olhos cinzas.

Percebi que logo que Draco se deu conta de que eu conhecia sua origem, eu devia, sim, saber com quem estava falando. Ele deu um sorriso sarcástico, provavelmente porque imaginava que se eu sabia com quem estava falando e ainda o desafiava, devia ter porte igual para isso. Mas não tinha.

Eu era melhor, ele só não sabia disso.

Por maior ódio que eu estivesse sentindo daquela situação, também não poderia deixar escapar nada que pudesse me comprometer. Ainda mais para ele, que eu sabia ser um dos inimigos declarados do meu irmão. Tinha que procurar novamente um lugar sossegado para ficar até o fim da viagem se quisesse evitar as perguntas de Draco.

- De qualquer maneira, Draco, fique à vontade. Não vou perder meu tempo discutindo por causa de uma cabine, o trem está cheio delas. - Eu disse, já fazendo um movimento para fechar a porta, mas antes que eu pudesse fazê-lo, para minha surpresa, ele me impediu.
- Vejo que você é diferente, se quiser ficar na cabine, fique, não irei incomodá-la. Afinal de contas, também não quero ser incomodado. - Disse Draco, abrindo a porta da cabine pra mim.

No primeiro momento, eu hesitei. Não poderia ficar amiga do inimigo logo de cara, mesmo que ele fosse bonito, poderia? Não, não poderia. Mas, ao mesmo tempo, não pude deixar de pensar que estar na mesma cabine com Draco afastaria a possibilidade de qualquer um dos amigos do meu irmão, principalmente Fred e Jorge, se aproximarem de mim, pelo menos até o fim da viagem. Além do mais, não saberia dizer se encontraria outra cabine vazia. Perambulando pelos corredores era que eu não podia ficar, não é?

Vamos fingir que isso não era uma desculpa para ficar olhando o Draco já que, assim que eu chegasse a Hogwarts, qualquer possibilidade de amizade não existiria mais.

Entrei na cabine e me sentei no mesmo lugar que me encontrava antes da minha saída. Já ia pregar os olhos novamente quando ele me interrompeu com uma pergunta.

- Você não é uma Weasley, é? - Ele perguntou com um certo nojo na voz.
- Não, Draco. Meu nome é , e isso é tudo que vai saber, por enquanto.

Depois de dizer isso, eu fechei os olhos. Não, eu não dormi. Apesar de eu ainda estar cansada e ter dormido pouco, todas aquelas situações inesperadas ativaram minha adrenalina, que não ia me deixar domir tão cedo. Além do mais, eu também não podia ficar de papo com o Malfoy e dormir (ou fingir), era a melhor maneira de evitar que acontecesse. Fiquei dessa maneira o resto da viagem, aproveitando pra organizar as ideias, que estavam tão confusas na minha cabeça. Eu nem fiquei olhando pro Draco.

Talvez só um pouquinho.

O estranho foi que eu vi diversas vezes Draco me observar dormindo, por mais que apenas um breve instante. O fato de mal ter chegado na escola (na verdade, nem ter chegado ainda) e já ser objeto de interesse de um garoto, inflou o meu ego. E não era um garoto qualquer, era o Draco, que parecia nem ter coração. Por mais que estivesse me dando gosto, isso tinha que parar por ali. Draco era inimigo do meu irmão e, por consequência, seria meu também... Mas olhar não tirava pedaço, não é mesmo?

Draco's POV

Até agora eu não estava acreditando que eu estava novamente a bordo desse trem pra ir desperdiçar mais um ano da minha vida naquela escola patética que era Hogwarts. E o pior de tudo, ter que lidar com todos aqueles idiotas que estudavam lá. Aquele ano, definitivamente, não estava começando bem pra mim. Além da minha costumeira raiva pré–Hogwarts, eu não conseguia me conformar com o fato do Potter ter sido absolvido no julgamento. Se ele tivesse realmente sido expulso, poderia tornar o meu ano naquela escola suportável. Mas parecia que nada atingia aquele idiota, sempre conseguia se safar, até mesmo quando parecia não ter mais jeito. Meu pai até tentou usar da sua forte influência no ministério e, de fato, conseguiu adiantar o julgamento em três horas. Só que a gente não contava que aquele velho babá do Dumbledore iria ser avisado, se não fosse por ele, acho que não veria mais a cara do Potter em Hogwarts. Nem sabia qual iria ser a minha reação quando isso acontecesse, mais um ano e sempre o Potter.
Eu estava irritado demais pra ficar calmo dentro daquele trem, e aquela conversa das mesmas pessoas de sempre já estava me fazendo passar dos limites. Não aguentava mais Pansy Parkinson se jogando pra cima de mim feito uma vadia, Crabbe e Goyle enchendo as panças com todos os doces que eles haviam comprado e Blásio, que não parava de contar detalhes e mais detalhes de mais um dos casamentos da sua mãe.
Eu precisava espairecer, sair um pouco dali, quem sabe seria melhor terminar a viagem em uma cabine, sozinho? Duvidava que acharia uma aquelas horas, mas se eu não achasse, pelo menos uma volta eu daria. Fui olhando cabine por cabine até finalmente achar uma cabine que tinha as luzes acesas e, para minha surpresa, estava vazia. Entrei e abri o livro que estava lendo para que o tempo passase mais depressa, achei que não ia ser incomodado até o fim da viagem.

Enganei-me.

Em menos de cinco minutos que eu estava na cabine, a porta foi aberta subtamente por uma garota ruiva. Não tive a menor vontade de ser educado com ela, quem ela pensava que era pra sair abrindo a porta da cabine dos outros assim? Depois eu fui perceber que eu era quem estava errado, aquela cabine não estava acesa à toa. Pensei que um pouco de grosseria a assustaria, mas ela me conhecia. Nem precisei dizer nenhum detalhe sobre a minha família, bastou um sobrenome. Ela sabia com quem estava mechendo e não teve medo de me desafiar, diferentemente das outras mulheres que piavam baixinho quando eu elevava a voz. E isso fazia dela atraente aos meus olhos. Sem contar também pela aparência. Ela não era como as bruxinhas esmilinguidas de Hogwarts; tinha peito, tinha bunda e os olhos verdes mais lindos que eu já havia visto, que contrastavam com seu cabelo. Apesar do meu estado de profunda irritação, resolvi tentar ser um pouco educado. De vez em quando não fazia mal a ninguém. Tinha roubado a cabine dela e, se ela estava ali, sozinha, era porque também não queria ser incomodada. Para a minha surpresa, ela resolveu ficar. Estava um tanto impressionado com ela quando me lembrei, cabelos ruivos, Weasley’s. Mas quando a questionei, ela só disse que não, disse que seu nome era e que era isso que eu ia saber por enquanto. Podia estar sendo presunçoso demais, mas pareceu que ela estava dando em cima de mim, me incitando a querer saber mais sobre ela.
Seja o que for, funcionou.

Ela se sentou e rapidamente pegou no sono, eu passei o resto da minha viagem alternando entre momentos de atenção à minha leitura e momentos de contemplação àquela mulher. Dessa maneira, a viagem pareceu bem menos demorada, cheguei até a achar ruim quando o trem parou. Queria pegar o Potter saindo do trem, então, nem me preocupei em acordar , se ela não acordasse sozinha, alguém faria isso. No momento, eu tinha pressa pra fazer o que fazia de melhor, infernizar o Potter.





Capítulo 3 - Enfim, irmãos.


's POV

Quando senti o trem parar, só pude pensar em uma palavra: finalmente. Draco permaneceu na minha cabine até o fim da viagem e eu já não aguentava mais fingir que estava dormindo. Além disso, a forma como ele ficava olhando pra mim, medindo meu corpo, estava começando a me deixar embarassada e eu não conseguiria conter minhas bochechas vermelhas por muito mais tempo. Assim que chegamos, Draco se levantou e foi embora. Eu não poderia esperar mais dele, pela fama era um bruxo prepotente e egoísta. Assim que ele saiu, eu me levantei, passei a mão pelas minhas roupas, que estavam amassadas pela viagem, e fiz um coque no meu cabelo, que estava precisando ser lavado e era já! Saí do trem ainda um pouco zonza com tudo o que estava prestes a acontecer e um tanto confusa também, para onde eu deveria ir? Não ia descobrir se ficasse parada, então, decidi seguir o fluxo de alunos, se estavam todos indo para Hogwarts, eu teria que acabar lá em algum momento. Assim que comecei a andar e a multidão a se desperçar, vi Draco provocar o meu irmão com o resultado do julgamento. Instantaneamente meu instinto de irmã aflorou e eu cheguei a retirar a varinha do bolso, mas uma sábia mão me impediu de fazer qualquer besteira.

- Você não vai querer começar o seu ano dessa maneira, .
- Você me conhece? Sabe quem eu sou? - Perguntei um pouco abismada a senhora que estava a minha frente.
- Sou a Professora McGonagall, diretora da sua casa. Dumbledore está a sua espera, vamos? - Disse ela, me estendendo a mão.
- Mas e as minhas malas? Minha coruja? - Retruquei.
- Tudo já foi levado e acomodado em seu dormitório, senhorita Potter. Acho que agora você tem assuntos mais importantes a tratar. Então, podemos?

Eu estava totalmente perdida naquela situação e não tinha outra alternativa a não ser segui-la. Ela disse que iria me levar a Dumbledore, então, eu supunha que ela soubesse o que estava acontecendo... Mas quando se tratava de Dumbledore, bem, a gente nunca realmente sabia. Seguimos na direção contrária que os alunos seguiram, pegamos uma carruagem e rumamos para o castelo por um caminho alternativo, provavelmente um atalho. Chegamos próximas do castelo e eu pude ver uma ávore imensa, um salgueiro lutador, se não me falhava a memória em herbologia. Entramos no castelo e meu olhar atento foi em todas as direções, estava louca para poder andar por aqueles corredores, me deliciar com os banquetes magicamente servidos no Grande Salão, aproveitar minha sala comunal, assistir jogos de quadribol... Ninguém podia me culpar por eu estar admirada, eu tinha sido educada em casa, estudar em uma escola de magia era um sonho que se tornava real. Eu queria viver tudo o que tinha pra viver, mas antes eu tinha que assumir quem eu realmente era. Chegamos até um corredor e paramos em frente a uma gargula, para ela, a professora sussurrou alguma coisa e uma escada começou a surgir. Esperamos até que a escada estivesse totalmente exposta, e McGonagall fez um sinal com a mão de que eu poderia subir.

Eu estava gelada de medo.

Quando cheguei ao topo da escada, dei de cara com a sala de Dumbledore, a sala do diretor de Hogwarts. Andei um pouco pelo ambiente e avistei uma fênix, devia ser a mesma que salvou Harry no segundo ano quando a Câmara Secreta foi aberta. O que poderia fazer? Era uma grande fã do meu irmão! Antes mesmo que eu pudesse chegar mais perto da fênix, ouvi atrás de mim uma voz familiar.

- Espero que tenha feito uma boa viagem, .
- Oh, sim, claro, professor Dumbledore! - Antes mesmo de eu me virar, eu sabia que era ele, quem mais poderia ser dadas as circunstâncias? – O trem é bastante confortável – Completei.
- Mas imagino que a senhorita deve estar com fome, estou certo? - Ele perguntou com um sorriso amável no rosto.
Confessava que fiquei um pouco envergonhada, será que ele estava escutando o meu estômago roncar? Não tinha me alimentado direito desde o último café da manhã que tinha tomado com meus pais. Depois disso, apenas ingeri algumas distrações para que a fome não me incomodasse. Mas, de fato, eu estava faminta e iria precisar de força nas pernas para o que viria a seguir. Sacudi timidamente com a cabeça, afirmando, Dumbledore riu e me guiou até uma mesa.

- Aqui, sente-se, . É uma situação incomum, portanto, deixei tudo já previamente pensado – Dizendo isso, ele tirou um lenço que estava na mesa e magicamente um delicioso prato de comida e um suco de abóbora apareceram.
- Obrigada, professor, eu nem sei como te agradecer – Disse eu, ainda meio incrédula do que estava vivendo.
- Sou eu quem tem que te agradecer, , por estar lidando com uma situação tão complicada de maneira tão madura. Vou deixar você aproveitar sua refeição, tenho que ir para o Grande Salão dar as boas vindas aos novos alunos. Assim que eu voltar, trarei Harry para esclarecer tudo. Bom apetite e seja bem-vinda! - Dizendo isso, ele se retirou e eu fiquei sozinha em sua sala.

Sinceramente eu não fazia ideia de como os trouxas faziam, como eles viviam. Imaginem só que eu li que quando um trouxa estava com fome, tinha que preparar tudo com as mãos! Eles tinham que ir comprar os ingredientes e depois ainda fazer a refeição. Não sabia como eles conseguiam viver sem magia, por isso achava o mundo deles fascinante. Minha comida estava maravilhosa, já que tinha tempo, resolvi jantar com calma, mesmo porque, era essa a postura que eu teria que ter em alguns instantes. Apreciei cada coisinha que estava em meu prato juntamente com a sobremesa que era minha favorita, pudim caramelizado. Já estava começando a ficar sonolenta quando escutei algumas vozes. Eram meu irmão e Dumbledore abrindo a passagem para a sala. Sem saber o que fazer, eu fiz a primeira coisa que uma pessoa que não sabe o que fazer faz.

Escondi-me.

Eu estava completamente apavorada. Havia esperado por aquele momento com toda a vontade desde que soube que ele iria acontecer. Mas agora que estava tão próximo, eu não pude deixar de ficar com medo de não ser aceita. Um frio subiu gelando a minha espinha quando eu percebi que eles já estavam dentro da sala. Eu tinha me refugiado em uma parte menos iluminada e vi quando Harry e Dumbledore se sentaram à mesa. Acho que era melhor assim, deixar Dumbledore introduzir o assunto e depois fazer as aprensentações. Quando eles começaram a conversar, achei que meu coração não fosse aguentar.

- Professora McGonagall disse que você precisava me ver. - Disse Harry, ansioso.
- De fato, Harry, tenho um assunto muito sério e de extrema importância para discutir com você.
Harry permaneceu calado, esperando Dumbledore começar a tratar do assunto que o levara até sua sala logo no primeiro dia em Hogwarts. Alvo deu um suspiro longo, achava que até ele devia estar com medo da reação de Harry.

- Harry, quando Voldemort deu indícios de que estava reunindo seguidores e exterminando as familias que não cedessem a ele, nós fomos obrigados a tomar sérias providências. Muitas famílias de bruxos estavam sendo extintas por ele e nós não poderíamos permitir isso. As famílias que ele visava eram principalmente as de bruxos poderosos como foram seus pais. Portanto, tomamos a difícil decisão de separar todas as crianças que nascessem gêmeas ou com a diferença de idade pequena. Dessa forma, a família teria uma chance de se perpetuar. Você entende?
- Sim, professor, mas onde exatamente você quer chegar? - Perguntou Harry já um pouco aflito.
- O que eu quero lhe dizer, Harry, é que a sua família foi um desses casos. - Disse ele pausadamente.
- Como assim, professor? - Harry perguntou, apreensivo.
- Quando sua mãe ficou grávida, Harry, ela esperava gêmeos. Um menino, você, e uma menina. Como já lhe disse antes, adotamos essa postura de separação de crianças para proteger sua família de desaparecer.
- Então, eu tenho uma irmã? - Disse Harry em um tom ainda desacreditado, mas um tanto alegre (pelo menos eu quis pensar assim).
- Sim, Harry. Uma irmã gêmea – Dumbledore completou calmamente.
- E onde ela está? Quando poderei conhecê-la? - Agora o tom da sua voz era de fato eufórico, antes mesmo de me conhecer, ele estava feliz com a notícia! Me senti extremamente aliviada.
- Ela está aqui conosco, Harry – E dizendo isso, olhou na direção em que eu me escondia, no escuro.
Percebi que aquela era a minha deixa, meu coração parecia querer bater mais rápido a cada vez que eu respirava, minhas mãos estavam geladas e meio trêmulas. Eu estava muito nervosa. Mas não ia esperar ele me chamar novamente. Andei devagar em direção a luz, onde Harry poderia me ver melhor. Assim que foi possível me enxergar, Harry se levantou abruptamente da cadeira e ficamos nos observando durante um momento.

- Harry, esta é sua irmã, . - Disse Dumbledore quando percebeu que ambos estávamos tão abismados que não conseguíamos proferir nenhuma palavra.

Dei um sorriso tímido para o meu irmão, que continuava a me olhar fixamente. Eu já estava ficando agoniada, estavamos os três parados no mesmo lugar, em um silêncio que estava me sufocando! Eu queria muito ir ao Harry e dizer as milhões de coisas que estavam se passando pela minha cabeça também, mas eu tinha que respeitar sua reação inicial à notícia. De repente, Harry deu três passos na minha direção, eu permaneci no mesmo lugar e ele resolveu se aproximar mais. Chegou bem perto de mim, e eu continuei parada, olhando e, então, ele colocou a mão de leve em meu rosto, e afastou uma mecha do meu cabelo, que estava na frente dos meus olhos. Continuei ali, parada, apenas aproveitando aquele momento único, não coseguia dizer nada.

- Você tem os meus olhos – E dizendo isso, Harry me deu o que eu estava esperando desde que fiquei sabendo de nosso parentesco, um abraço.

Não pude me conter diante do que estava acontecendo. Meu irmão me abraçava como se estivesse recuperando uma coisa que ele havia perdido há muito tempo, ele me abraçava de uma forma que eu sentia que nós nunca mais estaríamos longe. Eu o abracei também e não consegui conter minhas lágrimas. Chorei feito criança e pude perceber que Harry estava se segurando para não fazer o mesmo. Coisa que ele não conseguiu fazer durante muito tempo. Continuamos daquele jeito, até Harry parar de me abraçar e levar as mãos ao meu rosto para limpar as minhas lágrimas. Dumbledore ficou nos observando durante todo o tempo.

- Bom – Disse o professor, nos interrompendo. Acho que vocês tem muito o que conversar, estou certo?
- Claro, professor, mas você não vai explicar nada? - Disse Harry, que com razão queria explicações.
- poderá te contar te contar tudo, Harry, já explicamos tudo o que há para se saber sobre o assunto a ela. Leve sua irmã até o Salão Comunal. Tomei a liberdade de colocá-la na Grifinória para que vocês dois possam estar sempre juntos. - Ele disse, dando uma piscada para nós dois – Agora vão, não querem ser pegos fora da cama logo no primeiro dia, não é?

Eu e Harry sorrimos e saímos da sala. Ele me levou pelas escadas até chegarmos ao sétimo andar, na Ala Norte do castelo, de frente a pintura de uma mulher gorda.

- Do outro lado fica o salão comunal da Grifinória e os dormitórios. Para entrar, você precisa dizer uma das senhas. Como, por exemplo, veneno de acromântula.

Assim que Harry disse a senha combinada, a pintura revelou ser uma passagem, ele me deu a mão para que pudéssemos entrar. Já era bem tarde e eu não esperava encontrar ninguém acordado, eu e Harry tínhamos que conversar. No entanto, por um instante, eu me esqueci de que meu irmão estava sempre acompanhado de Rony e Hermione. Assim que entramos na sala, Rony levantou em um pulo da poltrona e Hermione fechou o livro que estava lendo.

- Então, Harry, o que Dumbledore queria com você? - Disse Hermione afoita – Espere, você estava chorando, Harry?
- O que foi que ele te disse? - Perguntou Rony, preocupado.
- Vocês precisam conhecer uma pessoa – E dizendo isso Harry puxou a minha mão – Essa é minha irmã, . , esses são Rony e Hermione.

Fiquei obeservando os dois olharem um para o outro e depois para Harry, sem entender nada do que estava acontecendo. Já vi que ia ser uma noite longa.

- Sua irmã? Como assim, Harry? Desde quando? - Hermione questionou.
- Também não sei de nada, Hermione, Dumbledore não me explicou nada, deixou isso ao encargo da . - Respondeu Harry.
- Eu sei que estamos todos confusos – interrompeu Rony – Mas vocês estão assustando a menina! Como o Harry já disse antes, eu sou Ronald Weasley, muito prazer, .
- Prefiro que me chamem de – Eu, que estava calada durante todo esse tempo, resolvi abrir a boca – O prazer é todo meu, Rony.
- Eu sou Hermione Granger, me desculpe pelo meu comportamento ,. Você é muito bem-vinda à Grifinória.
- Não tem problema, Hermione, eu passei pelo mesmo choque que vocês todos, e minha reação foi bem pior – Eu disse, rindo – Eu comprendo.
- Será que dá pra você começar, então? A história deve ser longa e... - Antes que Rony pudesse terminar a frase, Hermione o censurou.
- Que isso, Rony, isso é maneira de falar com ela?
- Desculpe, é que eu só estou muito curioso e aposto que o Harry também! - Rony se justificou.
- Tudo bem, Hermione, como eu já disse, eu entendo. Passei por esse momento também.

Não tinha mais niguém acordado além de nós quatro, então, me acomodei onde eu me sentia melhor, no chão. Não sei por que eu gostava tanto de estar no chão, era uma preferência minha que eu nunca conseguia explicar. Depois que todos os outros se acentaram próximos a mim, eu comecei a contar a minha história, que a paritr de hoje se tornaria a nossa história.

- Bem, eu fui criada por um casal de bruxos franceses, Nicolau e Perenelle Flamel. Eu sempre soube que eles não eram meus pais biológicos, no entanto, nunca me preocupei em descobrir sobre a minha real origem. Eu era muito feliz com eles. Vivi durante esses 15 anos com eles e fui educada em casa. Meus pais sempre tiveram um zelo exagerado pela minha segurança e só agora eu fui entender o porquê. Assim como Dumbledore já explicou pra mim e pro meu irmão, toda a família de bruxos que estivesse envolvida no contexto do Lord das Trevas, recebia uma atenção especial.
- Nossos dois pais e meu padrinho faziam parte da Ordem da Fênix... - Refletiu Harry.
- Por estarem envolvidos, os bruxos que tinham gêmeos ou uma diferença de idade pequena, tinham seus filhos separados. Dessa maneira, evitou-se que muitas famílias de bruxos desaparecessem completamente, como, por exemplo, a família Longbottom. E não poderia ser diferente comigo e com Harry.
- Tá, mas por que eles demoraram tanto tempo assim para unir vocês novamente? - Perguntou Rony.
- Questão de segurança, Rony. Quando Harry enfrentou Voldemort no primeiro ano, para o bem de todos e principalmente o nosso, meu pai e Dumbledore decidiram que seria mais seguro destruir a pedra filosofal. Dessa maneira, meu pai preparou uma quantidade de elixir, que daria somente para que ele terminasse de resolver alguns negócios pendentes antes de partir. Estando os dois próximos da morte, eu não teria mais ninguém com quem contar. E eu tenho só 15 anos! Então, meus pais decidiram que seria melhor e mais seguro para mim vir para Hogwarts, onde eu poderia estar perto de você novamente, meu irmão.

Harry me olhou com grande ternura e colocou uma de suas mãos sobre a minha. Eu nem podia dizer o quanto aquele simples gesto significava para mim. Eu sabia que aquilo se dava porque ele nunca tinha tido alguém da família por perto, e também porque eu lembrava, e muito, a nossa mãe. Rony e Hermione ficaram me olhando durante um tempo, tentando processar a grande quantidade de informações que eu havia acabado de dar. Eu sentia que estava sendo aceita e que isso só ia aumentar durante o tempo de convivência, no entanto, eu tinha que respeitar a amizade deles. Eles precisavam conversar, absorver melhor o que estava acontecendo. Sentindo que estava sendo meio intrusa, não disfarcei o meu bocejo. Eu estava realmente cansada e precisava descansar para começar as minhas aulas em Hogwarts da melhor maneira possível.

- Se vocês não se importam, eu preciso me deitar, foram dias muito cansativos. E essa noite em particular terminou de esgotar qualquer energia que ainda restava em mim. - Eu disse, me levantando do chão.
- Tudo bem, , vá se deitar, você vai precisar mesmo de estar descançada. Nossa primeira aula amanhã é junto com a Sonserina com a nova professora de defesa contra as artes das trevas, Umbridge. - Rony me alertou.
- Você quer que eu suba com você? Sabe, pra te ajudar a se situar no dormitório... - Hermione se ofereceu gentilmente.
- Não precisa, Hermione, vocês precisam conversar. Tenho certeza que eu me acho lá!
- Boa noite, minha irmãnzinha. - Disse Harry, se levantando e dando um beijo em minha bochecha.

Fui em direção as escadas e subi para o dormitório ainda meio incrédula. Coloquei minha mão na bochecha, que tinha recebido o beijo do meu irmão e sorri meio abobalhada. Eu não acreditava que tinha feito tanto drama quanto à situação toda, enfim poderia me dizer uma Potter.

Harry's POV

Flashback

Assim como um folder, o prédio começou a se desdobrar na minha frente, sem que ninguém que estivesse dentro dele notasse o movimento. Entrei pela porta e caminhei por um longo e estreito corredor até dar de cara com Sirius, Lupin e o Senhor Weasley discutindo algo que parecia ser importante. Prontamente a Senhora Weasley entrou em minha frente e fechou a porta para que eu não pudesse mais ouvir. Ela me abraçou e pediu para que eu subisse enquanto o jantar não ficava pronto. Assim que eu abri a porta do quarto que Moly havia me indicado, fui surpreendido com um abraço de Hermione. Eles já sabiam do que havia acontecido comigo e Duda, e sobre a audiência também. Eu estava perdido no meio do que estava acontecendo, nem mesmo sabia que lugar era aquele.

- Então o que é esse lugar? - Perguntei
- É a sede – Rony respondeu como se fosse uma coisa óbvia.
- Da Ordem da Fênix – disse Hermione – É uma sociedade secreta – Ela completou ao ver que eu ainda não havia entendido. - Dumbledore a fundou quando lutaram contra Você-Sabe-Quem.

Fiquei muito chateado ao perceber que eu era o único que não sabia de nada. Perguntei por que eles não haviam me escrito, por que haviam me deixado o verão inteiro sem notícias. Para a minha surpresa, eles explicaram que Dumbledore os fez jurar que não contariam nada para mim. De repente, Fred e Jorge surgiram no quarto.

- Harry – Disse Fred, colocando a mão em meu ombro.
- Achamos que era você falando – Completou Jorge.
- Não reprima sua raiva – Disse Fred, olhando para mim. - Desabafe.
- Se já cansou da conversinha... - Disse Jorge, soando sugestivo.
- O que acha de algo mais interessante – Disse Fred com um olhar peculiar.

Eles usaram uma de suas invenções, uma orelha que podia escutar tudo que estava sendo dito na reunião. Eles desceram-na por um fio para que pudéssemos ter um alcance melhor. Estavamos; eu, Hemione, Rony, Fred, Jorge e Gina, tentando ouvir do que se tratava o assunto que parecia ser tão importante.

Como se eu já não imaginasse o que era.

Para minha grande supresa, pude ouvir a voz de Snape, mas antes que eu pudesse tirar qualquer conclusão sobre isso, Bichano, o gato da Hermione, comeu a orelha. Logo depois, Moly nos chamou para o jantar. Assim que descemos, pude finalmente dar um abraço em meu padrinho, Sirius. Então nos sentamos à mesa e o assunto não poderia ser outro que não fosse minha audiência. Eu não estava conseguindo entender o que exatamente o Ministro da Magia tinha contra mim, até ver a manchete do profeta diário. "O menino que mente?", uma foto minha estampada bem na capa do jornal, e Fudge dizendo que "está tudo bem".

- Ele está atacando Dumbledore também – Disse Sirius – Fugde está usando os poderes dele, inclusive a sua influência no Profeta Diário, para sujar o nome de quem disser que o Lorde das Trevas retornou.
- Por quê? - Eu perguntei, indignado.
- O Ministro acha que Dumbledore quer o emprego dele – Me respondeu Lupin.
- Mas isso é loucura! - Eu exclamei – Ninguém em perfeito juízo acreditaria...
- Aí está! Fudge não está em seu juízo perfeito – Disse Lupin antes mesmo que eu pudesse completar minha frase. - Foi pervertido e embotado pelo medo. O medo obriga as pessoas a coisas terríveis, Harry. Da última vez que Voldemort assumiu o poder, ele quase destruiu tudo que mais prezamos. Agora que retornou, temo que o Ministro vá fazer tudo o possível para evitar a terrível verdade – Finalizou ele.
- Achamos que Voldemort quer reunir seu exército outra vez. - Especulou Sirius. - Há 14 anos ele comandava muita gente, não só feiticeiros e bruxos, mas várias criaturas das trevas. Ele anda recrutando muitos e estamos tentando fazer o mesmo – Explicou meu padrinho. - Mas reunir seguidores não é o único interesse dele. Acreditamos que Voldemort está atrás de uma coisa.
- Sirius... - Olho tonto Moddy disse com o objetivo de chamar sua atenção, mas meu padrinho não ligou e continuou.
- Uma coisa que ele não consegiu na última vez – Completou Sirius.
- Quer dizer, uma arma? – Perguntei, envolvido no assunto.
- Não, já chega! – Disse a Senhora Weasley antes mesmo que Sirius pudesse dizer mais alguma coisa – Ele é só um menino! Se disser mais é o mesmo que induzi-lo a entrar na Ordem.
- Ótimo, eu quero entrar – Eu disse interrompendo o sermão de Moly – Se Voldemort está reunindo um exército, então eu quero lutar! - Eu completei com muita convicção.

Sirius sorriu satisfeito com a minha resposta e piscou para mim.

Fim do Flashack.


Depois da minha absolvição na audiência, eu só queria ir para Hogwarts rever meus amigos e continuar a estudar e a jogar Quadribol. Talvez isso me distraísse de toda raiva que eu estava sentindo do Ministério. Eles não queriam admitir que Voldemort estava de volta, e quanto a isso, eu não podia fazer nada. Eu apenas poderia manter o que já disse, Cedrico foi assassinado na minha frente por ele. Os únicos que pareciam acreditar em mim, além de Dumbledore, eram meus amigos mais próximos e Sirius. Eu não deveria ligar e esperar até que eles pudessem ter uma comprovação de que o que eu estava afirmando era a verdade. No entanto, não podia, muitas vidas estariam em risco se eu simplismente deixasse pra lá. Principalmente vidas que eram importantes pra mim.

Eu ainda estava um tanto quanto confuso e sem entender o que estava acontecendo esse ano. Achei que nada ia ser mais surpreendente que o ataque improvável de dementadores em Little Whinging, ser resgatado na casa dos Dusley e levado para a sede da Ordem da Fênix, seguido pela minha audiência disciplinar. Eu provavelmente não estaria ali se o Ministério não subestimasse Dumbledore. Eles adiantaram minha audiência três horas propositalmente. Vi o pai de Draco conversando com Fudge, não estaria me arriscando se eu disesse que ele tinha participação nisso. Mas professor Dumbledore era bem mais inteligente do que eles julgavam. Além de aparecer quando eu precisava, colocou a senhora Figg para ficar de olho em mim. Às vezes, até parecia que ele sabia o que iria acontecer. Graças a ele, ela testemunhou a meu favor. Dumbledore era tão inteligente, que conseguiu esconder uma irmã de mim, e do resto do mundo bruxo, durante 15 anos. Pra ser honesto, eu ainda estava em choque com essa novidade, fui acostumado a ser sozinho durante toda a minha vida. Quando encontrei Sirius, foi um alívio para mim saber que eu ainda tinha uma família, mas agora, com , eu me sentia diferente. Talvez seja porque ela era sangue do meu sangue e não podia negar, ela se parecia muito com nossa mãe quando mais jovem. Agora eu estava começando a descobrir como a gente se sentia quando tinha família, não precisou dizer uma palavra sequer, somente o fato dela ser minha irmã, irmã gêmea, por sinal, já despertou um sentimento que eu nunca havia sentido. Uma necessidade de cuidar, de proteger, como eu nunca havia experimentado. Assim que subiu as escadas e saiu do nosso campo de visão, eu me voltei para Ron e Hermione. Minha irmã tinha razão, precisávamos conversar.

- Então, Harry, como você está se sentindo com tudo isso? - Perguntou Hermione cuidadosamente.
- Eu ainda não sei, Hermione... Quer dizer, na mesma hora em que a vi, não tive dúvidas de que ela é minha irmã. Mas a conheço pouco pra dizer qualquer coisa além disso.
- Você acha que podemos confiar nela? - Questionou Rony.
- Mas é claro que sim, Ron, não seja idiota. Dumbledore não ia colocar ela aqui se não fosse de confiança, Rony – Hermione rapidamente retrucou.
- Hermione tem razão, ela só sabe o que foi contado a ela. Viveu 15 anos alheia da sua verdadeira origem, só sabe o que leu nos jornais ou o que alguém disse. Ela está mais perdida do que todos nós no meio dessa história toda.
- Mesmo assim, vale a pena observar, ela também pode ser de grande ajuda mais tarde – Refletiu Rony.
- Como assim de grande ajuda, Ron? - Hermione disse com uma pontinha de ciúmes na voz.
- Nunca se sabe, Hermione, nunca se sabe. - Rony concluiu sem se comprometer.
- Bom – Disse Hermione, se levantando da poltrona na qual estava sentada – Eu vou dormir, é muita coisa de uma vez só pra eu processar sem uma boa noite de sono. Boa noite, meninos.
- Acho que devemos fazer o mesmo, Harry – Ron se voltou para mim – Não podemos nos esquecer de que amanhã temos aula.

Assenti com a cabeça, Rony tinha razão, eu precisava descansar depois de tudo o que havia acontecido nos últimos dias se quisesse ter alguma chance nos N.O.M.S.. Nós subimos para o dormitório, mas, como era de se esperar, eu demorei a pegar no sono, ainda estava repassando na minha cabeça tudo o que havia acontecido, além de estar agitado demais para dormir. Eu estava confuso, mas confessava que, ao mesmo tempo, muito feliz. Eu precisava falar com Sirius sobre isso (se é que ele já não sabia desde sempre), eu precisava falar pro mundo que eu tinha uma família, só pra que as outras pessoas me ajudassem a me convencer disso. Apesar da minha felicidade, eu achava que era mais conveniente as pessoas irem descobrindo lentamente sobre . Dumbledore tinha seus motivos para mantê-la escondida e expô-la assim, de uma só vez, poderia não ser o melhor. Aquela Rita Skeeter, mesmo, iria aparecer em Hogwarts para estampar a foto da minha irmã em milhões de Profetas Diários. Inevitavelmente isso iria acontecer, mas, no que dependesse de mim, iria proteger minha irmã sempre, até mesmo quando sua maior ameaça fosse a mídia. Apesar de eu ter certeza de que, pelo menos aqui em Hogwarts, meu maior problema iria ser manter o resto dos meninos longe dela. Ela era minha irmã, mas eu não era cego, era muito bonita, e não era da mesma forma que as outras meninas. Talvez porque fosse criada na França, ela era mais como Fleur do que como Gina ou Hermione. Tinha um ar diferente de poder, como se ela fosse consciente de tudo que ela era. tinha um ar de mistério que me assustava, não só por causa das circunstâncias pelas quais ela chegou na minha vida, mas pela aura que a cercava. E eu bem sabia disso porque, assim que a vi na sala de Dumbledore, percebi que era a descrição exata que Fred havia feito da menina misteriosa no trem.





Capítulo 4 - Adaptar-se, necessário.


's POV

Cheguei ao dormitório, e todas as meninas já estavam dormindo. Pude facilmente identificar qual cama era a minha, pois meus pertences e foram colocados ao lado dela. Troquei-me e rapidamente me deitei, eu estava exausta. Mal tinha dormido nos últimos dias, tamanha era a minha ansiedade para encontrar Harry e agora, que tudo estava esclarecido, um peso tinha sido retirado das minhas costas. Rolei um tempo na cama antes de conseguir dormir, eu estava muito eufórica com tudo o que estava acontecendo, Hogwarts, Harry e os novos amigos que eu ia fazer. Por mais que a minha mente não estivesse me permitindo cair no sono, o meu corpo pedia por descanso, dei boa noite a e nem percebi quando o sono chegou.

Acordei no outro dia muito ansiosa para começar logo as aulas. Ajoelhei-me para abrir minha mala e pegar meu uniforme, as meninas estavam dormindo ainda, então, saí para me arrumar no banheiro. Deparei-me com a minha própria imagem vestida com o uniforme de Hogwarts, inevitavelmente vi um sorriso surgir em meus lábios. Pentei meus cabelos e os coloquei do lado esquerdo em meus ombros, escovei meus dentes, passei meu perfume preferido, um leve blush rosado e rímel para destacar levemente os meus olhos.

Ora, era meu primeiro dia de aula, o que você esperava?

Saí do banheiro e caminhei de volta ao dormitório. Naquele dia, pela manhã, a ajuda de Hermione ia ser muito útil, já que eu não sabia onde ficava nada dentro da escola. Eu estava tão boba com a sensação de estar vestida com o uniforme da Grifinória que nem notei que, quando eu abri a porta do quarto, absolutamente todas as meninas estavam olhando para mim. Levantei meus olhos e fiquei estática diante daquela cena. O que eu ia dizer agora? Era mais do que óbvio que elas notaram que eu era uma estranha, todas estavam ali desde o primeiro ano enquanto eu surgi da noite pro dia.

Literalmente.

Continuei parada, sem nenhuma reação, enquanto as meninas continuavam a me olhar, esperando que eu disesse alguma coisa. Mas eu não conseguia dizer nada. Para a minha sorte e salvação, Hermione se adiantou às perguntas das demais e me apresentou.

- Meninas, essa aqui é , Potter, ela é... Hum... A irmã do Harry.

Eu achei que o jeito delas me olharem antes era o mais estranho possível. Até elas ouvirem "irmã do Harry". Eu nunca vi tantas meninas parecerem tão desorientadas e falarem todas ao mesmo tempo, usando expressões de espanto. Ta bem, eu sabia que essa ia ser a reação da grande maioria, pra não dizer de todo mundo... Eu tinha que concordar quando os homens diziam que várias mulheres conversando soavam como soa um galinheiro. Todas elas estavam muito confusas e, ao mesmo tempo, muito curiosas para saber de onde eu havia surgido, Gina Weasley principalmente. Na verdade, ela foi a primeira a se aproximar de mim e se apresentar devidamente.

- Eu sou Gina Weasley, , prazer em conhecê-la! - Ela disse, estendendo a mão para que eu a apertasse.
- Muito prazer, Gina – Eu disse, retribuindo o aperto de mão – Mas prefiro que me chamem de .

E, dessa maneira, uma a uma foi se apresentando a mim, ainda meio desconfiadas. Todas elas queriam saber a minha história, é claro, mas não tínhamos tempo naquela hora. Prometi a todas elas que de noite, após o jantar, eu explicaria tudo, e elas, sem muita opção, aceitaram. Desde quando eu fiquei sabendo que era irmã de Harry, eu comecei a me preparar psicologicamente para as reações dos outros. Eu já imaginava que a maior parte das pessoas ia ficar em choque e ia desconfiar dessa informação. Mas eu não ligava pra opinião das outras pessoas, Dumbledore e o Ministério não iriam brincar com uma coisa tão séria assim. A minha maior preocupação com relação a esse assunto era com o comportamento da mídia a meu respeito. Não ia demorar para que Hogwarts ficasse cheia de jornalistas, principalmente aquela Rita Skeeter, querendo uma entrevista minha para escalarer toda essa história. Mas não teria segredo, eu só sabia o que me contaram, então, era exatamente isso que eu ia dizer a imprensa. Isto era, se eu me sentisse à vontade para falar. O fato era que essa história não ia ficar escondida durante muito tempo. Esperei Hermione terminar de se arrumar para que pudéssemos ir juntas para a sala. Agora que estava aqui, precisava aprender a me situar dentro do castelo para que não fosse parar em nenhum lugar proibido, ou me perder. Assim que ela ficou pronta, nós duas descemos para o Salão Comunal para esperar meu irmão e Rony. Nós descemos as escadas e, de repente, fez-se um silêncio repentino. Além das meninas, que agora não só olhavam como também cochichavam, os meninos também me encaravam de uma forma muito estranha. Será que todo mundo já sabia? Estava impressionada com a velocidade com a qual as notícias voavam! Apesar de um tanto constrangida, eu agi normalmente, Hermione percebeu toda a situação e começou a conversar comigo, de forma que eu pudesse ficar de costas para evitar os olhares indiscretos. Esperamos durante alguns minutos, até que meu irmão finalmente apareceu. Rony havia ido ao corujal enviar uma carta a seus pais e ainda não havia voltado. Fui na direção de Harry e lhe dei uma carinhoso abraço.

- Bom dia, meu irmão – Sussurei em seu ouvido, aproveitando a proximidade que o abraço proporcionava.
- Bom dia, – Ele disse, se afastando um pouco e beijando a minha testa.

Não pude deixar de reparar, é claro, todos os presentes na sala não tiravam os olhos de nós três. Também notei que Harry estava desconfortável. Será que eu havia feito alguma coisa de errado? Olhei ao meu redor e a maioria deles estava segurando um exemplar do Profeta Diário e as manchetes eram sobre o meu irmão. Agora eu havia entendido tudo. Não era nada comigo, mas eu também não sabia exatamente o que estava acontecendo, a única coisa que pude entender era que meu irmão estava sendo acusado de mentiroso. Quebrando o silêncio que se fazia na sala, Harry se dirigiu a dois amigos dele.

- Dino, Simas. Boas férias?
- Boas, melhores que a do Simas – Respondeu o menino que deduzi ser Dino.
- Minha mãe não queria que eu voltasse esse ano – Disse Simas, levantando repentinamente da poltrona e largando o jornal na mesa a sua frente.
- Por que não? - Perguntou Harry, sério.
- Deixa eu ver... Por sua causa! O Profeta Diário tem falado muito de você, Harry. E sobre Dumbledore também – Retrucou Simas.
- E sua mãe acredita? - Harry perguntou ainda sério.
- Bem, ninguém estava lá na noite que Cedrico morreu... - Simas disse, querendo sugerir alguma coisa.
- Então eu imagino que, lendo o Profeta, você e sua mãe burra vão saber tudo que precisam – Respondeu Harry em um tom mais agressivo.
- Não ouse falar da minha mãe assim – Disse Simas, elevando a voz.
- Falarei de qualquer um que me chamar de mentiroso! - Disse meu irmão no mesmo tom usado por Simas.
- O que está acontecendo? - Perguntou Rony, que entrou na sala no momento que a discussão começou a ficar mais acalourada.
- Ele está louco, é isso que entá acontecendo – Disse Simas, apontando para Harry. - Acredita nas mentiras que ele inventou sobre Você-Sabe-Quem?
- Sim, acredito – Disse Rony com tranquilidade. - Mais alguém tem problemas com Harry?
- Porque se tiverem, a gente resolve rapidinho - Eu disse, quebrando o meu silêncio.
- E quem é você para querer resolver qualquer coisa que diga respeito ao Harry? - Me desafiou Simas.
- Ora, Simas. Para alguém que se considera tão bem informado, você deveria saber! Eu sou a irmão dele, seu idiota.

Depois disso, nós quartro saímos do Salão Comunal em direção a sala da professora Umbridge. Ao chegarmos lá, me sentei em qualquer carteira que ficava próxima das poucas pessoas que eu conhecia. Hermione já tinha um dupla fixa, então, não poderia se sentar comigo. Mas a verdade era que eu não me importava de ficar sozinha, achava até melhor para me concentrar. Logo a sala começou a se enxer de alunos da Grifinória e da Sonserina, e uma menina muito bonitinha tomou a liberdade de se sentar ao meu lado. Eu não a conhecia, mas pelo menos ela era da Grifinória, ou seja, não demoraria muito para nos tornamos amigas (assim eu esperava). Fiquei observando as pessoas entrarem pela porta e não demorou para Draco aparecer. Tinha que admitir que eu fiquei estática durante o tempo que ele entrou pela porta, olhou para mim com um sorriso malicioso e se sentou em sua mesa juntamente com Blásio. Mas infelizmente, eu não fui a única a perceber o conteúdo implícito em seu sorriso.

- Ele é mesmo muito bonito, não é? Pena que seja da Sonserina – lamentou a menina que estava ao meu lado.
- Realmente é... - Me limitei antes que dissesse qualquer coisa ainda mais comprometedora. - Eu sou , Potter.
- Eu sei disso, nos apresentamos no dormitório. Eu sou – Ela disse, estendendo sua mão para que eu a apertasse.
- Me desculpe, , é que eram tantas meninas que, bem... - E disse isso, apertando sua mão novamente.
- Tudo bem, , me chame de . Eu imagino que a situação pela qual vocês está passando não é nada fácil. Cair assim de paraquedas no quinto ano... Mas você, sendo uma Potter, não devia nem olhar para um Malfoy – Ela disse em tom risonho.
- Enquanto eu só olhar, , não haverá nenhuma problema. - Eu disse, sorrindo pra mim mesma.

Observamos duas meninas criarem um passáro de papel e este levantar voo, chamando a atenção de toda a sala, que tentava de diversas maneiras derrubar o origami voador. A brincadeira não durou muito, assim que Umbridge adentrou a sala, atingiu o pássaro com um feitiço que o fez queimar por completo.

- Bom dia, crianças. - Ela disse em um tom tranquilo. - Exames de Níveis Ordinários de Magia, mais comumente conhecido como N.O.M.S.! Estudem bastente e serão recompensados. Deixem de fazer isso e as consequências poderão ser severas. - Dizendo isso, ela apontou sua varinha para as pilhas de livros que estavam em sua mesa e eles foram distribuídos um para cada um. - Suas prévias instruções nessa matéria, foram muito inapropriadas... - Ela continuou - Mas ficarão felizes em saber que, de agora em diante, vão seguir um curso cuidadosamente estruturado e aprovado pelo Ministério de magia defensiva.
Hermione levantou sua mão e a professora Umbrigde lhe concedeu a palavra.
- Não há nada aqui sobre o uso de feitiços de defesa – Hermione observou.
- Uso de feitiços? Não consigo imaginar por que precisariam usar feitiços em minha aula! - Exclamou a cara de sapo.
- Não vamos usar magia? - Perguntou Rony surpreso.
- Vocês estarão aprendendo sobre feitiços de defesa, de um forma segura e sem riscos – Disse Dolores com tranquilidade.
- Para que isso? Se formos atacados não será sem riscos – Retrucou Harry.
- Alunos devem levantar a mão para falar na minha aula – Umbridge o repreendeu – É a visão do ministério que um estudo teórico será suficiente para fazê-los passar nos exames. Que, afinal, é do que se trata a escola!
- E como a teoria nos prepara para o que está lá fora? - Agrediu Harry.
- Não há nada lá fora, querido – Disse a professora com um leve tom de irritação na voz. - Quem você imagina que atacaria crianças como vocês?
- Não sei. Talvez Lord Voldemort? - Disse meu irmão ironicamente.
- Agora, vamos deixar isso bem claro. Falaram para vocês que um certo bruxo das trevas está a solta novamente. Isso é um mentira – Disse a sapa já irritada.
- Não é uma mentira, eu vi, lutei com ele! - Harry exclamou já exaltado.
- Detenção, Sr. Potter! - Gritou Umbridge muito irritada.
- Então, segundo a senhora, Cedrico Diggory caiu morto porque quis – Disse meu irmão, indignado.
- A morte de Cedrico Diggory foi um trágico acidente – Ela disse, tentando contornar a situação.
- Ele foi assassinado! Voldemort matou ele! Você sabe... - Disse Harry já bem alterado.
- Chega! - Gritou a professora antes que Harry pudesse terminar sua frase – Venha me ver depois, senhor Potter, na minha sala.

Depois disso, a aula continuou como deveria e ninguém mais colocou a professora em questionamento. Ninguém queria pegar detenção logo assim de cara. Só mesmo meu irmão que não tinha medo de dizer as coisas pra quem quer que fosse. No meio da aula, um papelzinho chegou voando a minha mesa, olhei para os lados e não vi ninguém que estava com cara de autor.

,

Nosso encontro no trem foi interessante, eu quero conhecer mais de você do que seu nome.
Acha que pode me encontrar no campo de Quadribol hoje mais tarde?

Malfoy.


Assim que terminei de ler o papelzinho, olhei para a parte da sala onde Draco se encontrava sentado e percebi que ele também estava olhando para mim. Nem me dei ao trabalho de escrever nada e apenas assenti com a cabeça em resposta a seu bilhete. Eu iria aproveitar a hora que meu irmão estivesse na detenção para isso. Eu sabia que o que estava fazendo era errado, que assim que ele descobrisse que era irmã do Harry, ia me tratar da mesma maneira que o tratava.

Mas e dai?

Eu não estava aceitando um pedido de casamento do Draco, apenas ia esclarecer tudo antes que ele descobrisse abrindo algum jonal. Perceba como minhas intenções eram boas... ou não.

Draco's POV

Assim que cheguei ao Grande Salão de Hogwarts, a primeira providência que tomei foi ficar com os olhos abertos para ver se eu localizava . Fui olhando mesa por mesa, rosto por rosto. Fiquei tão preocupado em encontrá-la que mal toquei na minha comida. E apesar dessa busca detalhista, não tive sucesso, ela não estava em mesa alguma. Comecei a me convencer de que estava ficando louco. Como podia uma pessoa sumir assim? Até cheguei a ficar arrependido por não tê-la acordado e a levado para ir comigo na mesma carruagem. Mas esse tipo de sentimento quando dava em mim passava rápido.

Normalmente.

Dessa vez, eu estava realmente me achando um completo idiota por não ter exigido mais nenhuma informação dela. Pelo menos a casa que ela estudava já ia ajudar. A única coisa que eu sabia era que seu nome era e que ela não era da Sonserina, caso contrário eu já a teria visto, com certeza. Apesar de estar ansioso para vê-la novamente, eu sabia que era só uma questão de tempo, se ela estava no trem, tinha que ter vindo para Hogwarts. Eu não era um daqueles meninos idiotas que não sabiam o sentido das coisas. Eu sabia muito bem por que não parava de pensar naquela garota. Ela, além de ser muito linda e muito gostosa, tinha me desafiado no trem e eu achei essa atitude particularmente muito sexy. Saímos do Grande Salão e todos nos dirigimos para as respectivas casas. Chegamos ao andar da Sonserina, o dormitório ficava atrás de uma parede de pedra nas masmorras. O Salão Comunal era uma longa sala que se encontra abaixo do lago de Hogwarts com paredes de pedra e lâmpadas verdes circulares pendendo do teto. Salazar era um dos bruxos mais ricos da época. Por isso, meu Salão Comunal era luxuoso, ao contrário dos outros. Era isso que acontecia quando você era um puro-sangue, era esse tipo de ambiente que você frequentava. Sentei-me perto da lareira e me lembrei novamente de , será que ela era uma puro-sangue? Eu já estava começando a ficar de saco cheio de mim mesmo com todas aquelas dúvidas. Eu tinha que admitir pra mim mesmo que eu precisava saber mais sobre ela, até mesmo pra saber se eu tirava-a definitivamente da minha cabeça ou não. Estava tão quieto com meus pensamentos que nem percebi quando Pansy entrou no Salão e simplesmente se jogou no meu colo.

- Oi, Draquinho, senti sua falta durante a viagem, por onde você se meteu? - Ela me perguntou, passando a mão pelo meu peito de forma bastante sugestiva.
- Fui me sentar em uma cabine mais quieta, gatinha! Estava cansado do alvoroço de sempre dos nossos colegas idiotas. – Respondi, soando um pouco distante.
- Mas de mim você não se cansou, não é? - Ela, percebendo meu distanciamento, me puxou pelas bochechas para mais perto da boca dela.
- Nunca vou me cansar de você. - E dizendo isso, eu dei um beijo nela.

Não que eu estivesse super afim dela ou coisa parecida. Na verdade, até me irritava quando ela vinha se jogar em cima de mim. Às vezes. O problema era que toda aquela tensão sexual e aquele clima de mistério que havia deixado, fez crescer em mim uma vontade de me aliviar. Além de nós, só havia mais algumas pessoas no Salão Comunal, então ficamos esperando até que todos fossem dormir. Mulher era mulher, e Pansy Parkinson não era daquelas que a gente jogava fora. Pelos menos não sem antes usar um pouco do que ela tinha pra me oferecer.

Fiquei acariciando a parte de dentro das coxas dela com os dedos enquanto a barra não estava limpa. Assim que vi a última luz acesa nos dormitórios se apagar, Parkinson olhou com um olhar sacana e sorriu com o canto da boca. Dessa maneira, eu não quis esperar mais nenhum segundo e a carreguei no colo para um local mais apropriado e discreto. Apesar de ali embaixo ser bem mais frio que o resto do castelo, eu gostava das masmorras porque possuiam várias passagens, que fui descobrindo ao longo dos meus anos em Hogwarts. Carreguei Pansy até um corredor que não tinha saída e, em seguida, a coloquei no chão. Pisei com força em um tijolo específico do piso e uma pequena portinha se abriu no canto da parede. Ela já conhecia bem aquele lugar, não era a primeira vez que usávamos aquela passagem para satisfazer nossos desejos. Sem muitas delongas, eu simplesmente joguei-a em um colchão que ficava ali para o caso de eu precisar e comecei a arrancar suas roupas.

- Isso tudo é saudade de mim, Draquinho? - Ela me perguntou com uma voz safada.
- Uhum – Eu me limitei a murmurar e passei a beijá-la com mais intensidade para ver se ela calava a boca de uma vez.

A verdade era que eu estava ali por tesão puro, eu não queria transar com Pansy, eu simplesmente queria transar. Assim que ela estava totalmente sem roupa, a vi jogar a cabeça para trás como quem estivesse consentindo que eu fizesse tudo o que eu quisesse. E assim eu o fiz. Tirei do bolso da minha calça, que estava em meus joelhos, uma camisinha, e a coloquei tão rápido que Parkinson nem mesmo teve tempo para reclamar. Assim que ela ia levantar a cabeça para se dar conta do que estava acontecendo, eu a penetrei com toda a força que o meu corpo pedia naquele momento. Eu não quis pensar em mais nada naquele momento que não fosse meu próprio prazer. Eu via Pansy arfar, gemer e se contorcer embaixo de mim e, apesar de aquilo me dar a sensação de que eu era o melhor que ela ia ter, não era isso que estava me dando mais prazer. Eu mantinha meus olhos fechados, imaginando como seria quando fosse quem estivesse quase gozando comigo. Permaneci assim para me manter concentrado em meus pensamentos enquanto usava o corpo de outra mulher para me satisfazer e, claro, para não dizer o nome que ecoava em minha cabeça em voz alta. Coloquei Pansy de quatro e aumentei ainda mais a velocidade dos movimentos, eu não estava nem um pouco envolvido com ela naquele momento, eu só queria escutá-la gozar para que ela me desse alguma paz… Apesar de que desconfiava que era assim que ela nunca iria me deixar quieto. Eu já estava começando a me cansar de esperá-la e já sentia que não ia dar mais pra segurar.

Então, não segurei.

Soltei um grunhido alto de prazer quando terminei de me satisfazer e caí sobre o corpo da Parkinson. Se eu bem a conhecia, ela deve estar esperando uma segunda rodada para que pudesse terminar sua noite tão bem quanto eu. Se fosse no ano passado, eu provavelmente teria esperado ela gozar primeiro, ou já teria caído de boca (se é que vocês me entendem) nela. Mas a verdade era que depois que eu me encontrava satisfeito do sexo pelo sexo, eu não estava nem aí para Pansy. Pra falar a verdade, poderia ter sido qualquer uma, só que os homens sempre optavam pelo mais fácil na hora da necessidade. Assim que eu terminei, rapidamente tirei a camisinha e comecei a colocar minhas roupas, enquanto isso Parkinson ficou me olhando com cara de quem tinha sido comida e não gostou.

- Por que você está me olhando desse jeito, gatinha? – Perguntei, tentando disfarçar não saber o motivo.
- Não é nada, não, Draco… - Só havia duas possibilidades para Pansy me chamar pelo meu nome, ou ela estava brava ou com muito tesão. Dessa vez, era a primeira opção, sem dúvidas.
- Eu achei que era isso que você queria, achei que você tinha sentido a minha falta nas férias... – Disse eu, simulando um tom de chateado na voz. - Mas pelo que vejo, eu fui a pessoa que você menos pensou durante o recesso – Completei, cínico.
- Não, não, Draquinho! Você é a pessoa que eu mais sinto falta todo o tempo! Mas é que, bem, você está diferente hoje… - Ela disse com um leve tom de preocupação.
- Ah, então é pior do que eu pensava. Você não sente mais nada por mim… Se você não quer mais ficar comigo, Pansy, não precisa ficar fingindo, é mais fácil me dizer – Eu disse, sabendo exatamente que efeito essas palavras iam causar nela.
- Eu sempre vou querer você, Draco, sempre! Não pense assim de mim, espero durante as férias inteiras pelos nossos momentos, acredite em mim, por favor! - Ela disse já soando desesperada.
- Vou deixar você repensar então, Pansy, você me parece estar confusa e parece estar precisando do seu espaço… Vou te deixar pensar e daqui um tempo a gente conversa. - Disse isso, terminando de amarrar o nó da minha gravata. - Você sabe como fechar a passagem, não sabe?

Ela apenas balançou a cabeça, dizendo que sim, e eu a deixei ali, sem roupas, sentada no colchão. Saí do pequeno aposento, caminhando em direção ao dormitório, tranqüilamente, como se nada houvesse acontecido. Porque, na realidade, era o que havia acontecido. Aquele sexo com Pansy não havia significado absolutamente nada. Eu tinha satisfeito minha necessidade imediata pelo corpo quente de uma mulher, mas não pela minha necessidade específica.
Ah, , por que será que eu não consigo parar de pensar em ter você?

Acordei de manhã mais determinado do que antes, eu precisava achar , nem que para isso eu tivesse que ir ao diretor. Aprontei-me e saí logo em direção a sala de aula de defesa contra as artes das trevas com a nova professora, Umbridge. Meu dia não ia começar bem, normalmente os professores contratados para dar essa matéria eram patéticos, não chegavam a ficar um ano depois do incidente com o Quirrel. Ainda mais pelo fato de que essa aula seria junto com a Grifinória.

Mas isso era o que eu achava, até de fato adentrar a sala.

Nem pude acreditar na visão que tive quando percorri a sala com meus olhos. Em uma das carteiras, rindo e radiante, estava ela, . Acho que ela sentiu a minha presença já que, logo que entrei, ela fixou seu olhar em mim, enquanto eu me limitei a dar um sorriso levemente malicioso para ela. Mal podia me conter, nem tive que me esforçar para achá-la. Infelizmente ela fazia parte da casa que eu mais detestava, a Grifinória, mas assim como eu já havia notado no trem, ela era diferente. Podia ser da Grifinória, mas era diferente. Diante desse fato, eu não podia deixá-la sumir novamente e enviei um bilhete a ela, pedindo para me encontrar. Fiquei esperando a reação dela, que veio na forma de um discreto aceno de cabeça, aceitando o meu convite. Finalmente eu ia chegar perto dela novamente, finalmente.

's POV

O resto do dia demorou muito a passar, as aulas pelas quais eu estava tão ansiosa, agora pareciam não acabar nunca. Eu fiquei o dia tentando pensar em alguma desculpa para despistar meu irmão, Hermione e Rony, e poder me encontrar com Draco. Eu precisava contar a verdade para ele antes que ele descobrisse de outra maneira e me odiasse duplamente, por ser Potter e por ter omitido isso dele. Depois da aula da professora Umbridge, ainda tive que passar pela aula de Herbologia, com a professora Sprout; Feitiços, com o professor Flitwick antes do almoço; pela aula de Vôo, com madame Hooch e de Transfiguração, com a professora McGonagall. Depois de um dia cheio de novidades, nos reunimos para jantar no Grande Salão de Hogwarts, eu estava apreensiva com relação a Draco. Apesar dele não ter amigos na Grifinória, a velocidade com a qual as notícias voavam por ali era impressionante. Meu irmão ia ter que cumprir detenção, então, jantou rapidamente e saiu. Já despistar Ron e Hermione ia ser um pouquinho mais complicado. Passei o dia pensando no que eu diria e encontrei a desculpa perfeita assim que tive acesso ao quadro de todas as aulas que eram oferecidas em Hogwarts. Aula de Astronomia! Era a desculpa perfeita, as aulas eram realizadas durante a noite e fazia total sentido eu fazer essa matéria, tendo sido criada por Flamel, um homem que nunca se cansou de estudar o universo e seus mistérios. Assim que terminei de jantar, me levantei da mesa tentando evitar ter que dar alguma satisfação, mas foi só eu me levantar que Hermione disparou:

- Aonde você vai, ?
- Ah, eu resolvi ver do que se trata a aula de Astronomia. Sempre estudei esse assunto com meu pai e por conta própria, então acho que continuar meus estudos aqui pode ser muito interessante. - Menti tranquilamente.
- Você quer que eu te acompanhe? Quer que eu te ajude a achar a torre? - Hermione se ofereceu gentilmente.
- Não, não precisa, Hermione – Disse um pouco apreensiva – Eu já sei onde fica a sala, e assim como eu disse, eu só quero checar pra ver se vale a pena fazer essa matéria. Não se preocupe comigo – Dei uma piscada e andei calmamente para fora do Grande Salão.
Continuei caminhando no mesmo ritmo até sair das vistas dos amigos do meu irmão, e do resto dos estudantes. Nem me preocupei em olhar na direção da mesa da Sonserina, se Draco não aparecesse, eu não ia me importar muito. Ele já teria que sair da minha vida mais cedo ou mais tarde, certo?

Queria só ver eu me convencer de verdade disso.

Cheguei até o campo de Quadribol, ainda sem saber onde exatamente Draco estava. Mas nem precisei me dar ao trabalho de procurá-lo ou de esperar durante muito tempo.

- Achei que você não ia vir, . - Ele disse atrás de mim.
- E por que eu não viria, Draco? - Eu disse, me virando imediatamente para ficar de frente com ele – E, por favor, me chame de .
- Ora, que fato interessante – Ele disse com o sarcasmo pingando na voz – Mal nos conhecemos e você já esta me dando intimidade… Nem posso imaginar que privilégios eu posso conseguir se continuar a querer te conhecer melhor. - Ele disse, se aproximando ainda mais de mim.
- Draco…
- Shh… - Ele me calou colocando apenas um dedo em minha boca antes que eu pudesse completar a minha frase. - Eu sei, , sei que você está aqui pelos mesmos motivos que eu, não negue. - Ele disse, piscando para mim.
- É mesmo? - Eu disse, tentando não soar apreensiva, será que ele já sabia do meu irmão? - E você pode me dizer qual é esse motivo, exatamente?
- Você quer mesmo que eu seja específico, ? - Ele disse, ficando cada vez mais próximo do meu corpo.
- Seria muito bom se você pudesse me dizer. - Eu disse, tentando me afastar lentamente, sem sucesso, é claro.
- Dizer eu temo que não poderei, mas mostrar… Farei com o maior prazer.

E dizendo isso, ele simplesmente me beijou. Tomou-me em seus braços como se fosse uma coisa totalmente natural entre nós. E eu nem o conhecia. Quer dizer, conhecia suas histórias, sua fama de galinha e os relatos sobre seu comportamento. Mas não o conhecia de fato. Além disso, Draco era inimigo do meu irmão, e da maior parte dos alunos da Grifinória, me arriscaria até a dizer que era inimigo de quase todos os alunos que estudavam em Hogwarts. Com exceção, é claro, dos puro-sangue, que estavam, em sua grande maioria, na Sonserina.

Oh, droga.

Eu estava completamente hipnotizada pelo perfume que Draco exalava, estava adorando as sensações e os calafrios que a língua dele estavam causando em contado com a minha e, principalmente, não queria que aquele momento, dele me segurando em seus braços, acabasse. Eu estava tão encantada com tudo aquilo que havia me esquecido completamente de detalhes pequenos que eram cruciais. Além de eu ser irmã do Harry e uma Grifinória, eu era uma sangue-ruim. A minha situação começava a ficar cada vez mais complicada na medida que eu permitia que o beijo continuasse. Não só complicada por causa de toda a verdade que eu estava escondendo dele, sabendo das consequências. Complicada principalmente pelo estado que se encontrava a minha calcinha no momento.

Flashback

- , eu te amo. Você sabe que é verdade – Ele disse com o olhar suplicante.
- , por favor, pare com isso! Nós já havíamos conversado sobre isso antes mesmo de acontecer o que aconteceu! - Eu disse, um pouco irritada e impaciente.
- Eu sei disso, meu amor, mas eu quero ficar com você e só com você! Será que é difícil pra você entender isso? - Ele disse, socando levemente a mesa.
- , acredite, eu também quero ficar com você! Mas você vai voltar pra Bulgária pra jogar Quadribol, que tempo você vai poder dedicar a nossa relação?
- , eu posso te escrever, vir te visitar nas férias, você sabe que eu faria de tudo pra ter você a meu lado, não sabe? - Ele disse, pegando levemente em minhas mãos.
- Não acho que isso possa dar certo, , pelo menos, não nesse momento. Muitas coisas estão mudando e, ao meu ver, parece que só vão mudar mais … - Eu disse, abaixando os olhos.
- Como assim, , o que você quer dizer? - Ele me perguntou com um olhar triste e apreensivo.
- Nem eu sei te explicar… Meus pais disseram que, depois desse verão, tudo ia ser completamente diferente, a minha vida vai mudar de rumo e eu ainda não sei qual é esse caminho… Não posso assumir nenhum compromisso agora, você entende? Não posso dividir minha vida com você se eu não sei o que vai ser da minha vida! - Eu disse, apertando as mãos dele nas minhas.
- Mais um motivo para eu querer ficar ao seu lado, ! Eu quero te ajudar nessa mudança toda, eu quero estar ao seu lado. Eu nunca senti nada por nenhuma mulher como o que sinto por você, minha linda – Ele dizia, acariciando o meu rosto com as costas das mãos.
- Não complique mais as coisas, eu já estou sofrendo demais com a sua partida, … - Me esquivei rapidamente de seu carinho. - Por isso lhe peço para que simplesmente vá, vai ser mais fácil assim.
- Você acha que vai ser mais fácil para mim te esquecer? Depois de tudo o que nós vivemos, ? O que eu te dei foi uma parte de mim, você não foi só mais uma, , você é a mulher para mim! - Ele disse, me abraçando por trás.
- , você fala como se eu não gostasse de você também! - Eu me virei e encarei seus olhos cor de mel.
- Você pode até gostar, , mas não dá mesma maneira que eu gosto de você…
- E quem você pensa que é para julgar o que sinto ou não? - Me afastei de seu corpo e fui até a janela – As pessoas tem diferentes maneiras de demonstrar seus sentimentos.
- Me desculpe, , não quis ofender você e muito menos duvidar do que você sente. Mas me parece que você quer evitar a todo o custo um relacionamento entre mim e você… - Ele disse, dando dois passos em minha direção.
- Não estou evitando, , que droga! – Disse, começando a ficar realmente irritada – Só não acho que seja o melhor momento agora. As coisas vão mudar e eu nem sei que rumo irão tomar, será que você não pode pensar um instante sequer em como eu estou me sentindo com tudo isso? É demais para eu ter que lidar com tantas coisas diferentes ao mesmo tempo!
- Tudo bem, , tudo bem meu amor. Apesar de me sentir magoado porque você não quer mais a minha presença para te apoiar, eu sou obrigado a entender seus sentimentos… - Eu percebi que sua voz já estava um pouco embargada – Só me resta esperar por um momento menos conturbado em nossas vidas, estou certo? - Ele disse, tentando disfarçar a tristeza contida em sua voz.
- Sim, claro. Espere as coisas se ajustarem e ficarem mais claras. O que é pra ser nosso – Disse, aproximando minha mão de seu peito – Ninguém tira, meu .

Eu sabia que aquele pronome possessivo ia mudar tudo pra ele. Assim que eu disse “meu ”, ele puxou meus braços e me beijou com muita vontade. Tanta vontade que foi muito difícil conter o que aconteceu depois. Eu não o amava, isso era fato. Podia gostar muito dele e de estar com ele, mas eu tinha que admitir que eu não sentia por ele o que ele sentia por mim. me amava, me desejava, me queria pelo resto de sua vida ao seu lado. Enquanto eu, bem, eu queria amá-lo, desejá-lo e tê-lo, mas apenas por algumas horas.

Fim do Flashback


Eu não sabia muito bem o que estava sentindo com relação ao Draco. Afinal, nós nem nos conhecíamos para eu dizer que sentia qualquer coisa por ele, que não fosse atração, é claro. Mas mesmo sem medir as consequências do que eu estava fazendo ali, eu continuei a beijar ele. Por um lado, eu não queria que aquele momento terminasse tão cedo, a língua dele era quente e agora percorria toda a extensão do meu pescoço. Fazendo-me ficar completamente arrepiada, mesmo agasalhada. Por outro lado, porque eu sabia que, assim que tudo ficasse esclarecido, aquela sensação que Draco estava me causando não ia mais se repetir. Eu tinha até medo de pensar em qual seria sua reação… Mas o momento de agora não era de pensar e, sim, de esquecer que eu era um ser racional. Desde o meu último encontro com , eu estava completamente na seca. E era como diziam, depois que você fazia uma vez… Ficava muito difícil controlar os impulsos só no pensamento, imaginem só quando se tinha um loiro maravilhoso levantando a barra da sua saia e…

Ok, essa era a primeira vez que a gente se encontrava e ele já estava pensando que podia tomar esse tipo de liberdade comigo?

Tá bem, devido às circunstâncias futuras, talvez ele pudesse.

Deixei que suas mãos passeassem pela parte exterior da minha coxa, até chegarem bem perto da curva da minha bunda. Senti a mão de Draco hesitar em subir mais as mãos, então, lhe dei um incentivo sutil. Sem mesmo precisar desatar meus braços, que estavam em seu pescoço, eu subi gentilmente nas pontas dos pés, já que assim eu poderia ficar mais alta que ele e suas mãos poderiam alcançar onde lhe interessava. Percebendo a minha intenção, ele não demonstrou nenhuma dúvida ao colocar as duas mãos bem abertas na minha bunda e apertar minhas nádegas com força. Naquele momento, não pude evitar grunhir de prazer entre o beijo e ele, percebendo a minha evidente excitação, mordiscou meu lábio sem dó nenhuma de me provocar ainda mais. Ele continuou a passear com suas mãos pelo meu corpo até chegar a parte interior das minhas coxas. Eu normalmente não deixaria um menino desconhecido explorar essa parte do meu corpo, mas essa situação estava bem longe de ser normal. Levantei uma de minhas pernas na altura de sua cintura e ele me puxou com força pra mais perto de seu corpo. Nossas respirações já estavam aceleradas e eu senti vontade de deixá-lo ainda mais intrigado. Cheguei perto de seu ouvido e sussurrei com a voz rouca.

- Aproveite enquanto a ignorância está a nosso favor, Draco.
- O que você quer dizer com isso, ? - Ele me perguntou, puxando meus cabelos.
- Apenas siga o meu conselho – Sorri, maliciosa, enquanto ele olhava para minha boca.

Aquele clima teria continuado indefinidamente durante toda a noite se eu pudesse permitir. Não me entendam errado, vontade estava sobrando entre nossos corpos. Mas tempo não. Quando concordei em me encontrar com Draco, queria contar a ele o que estava acontecendo antes que a verdade chegasse a ele de outra maneira.

Eu juro que essa era a intenção.

Mas não pude negar a mim mesma o que estava querendo desde o incidente no trem. Eu não tinha fingido dormir à toa. A questão era que eu tinha que voltar para o dormitório. E eu tinha que fazer isso antes que qualquer um de lá desconfiasse de que as constelações que eu havia ficado observando durante a noite estavam bem longe do céu. Para minha grande frustração, eu tive que parar o meu amasso com Malfoy na hora que estava ficando mais gostoso e intenso.

- Tenho que voltar, daqui a pouco vão começar a sentir a minha falta. - Disse com o peito arfante e com as mãos apoiadas em seus ombros.
- Mas agora? Agora que estava começando a ficar realmente… Interessante? - Ele se insinuou passando uma de suas mãos por cima da minha blusa.
- Não pense que é o único que está sendo deixado insatisfeito essa noite, Draco. Você não tem ideia do que está acontecendo aqui dentro de mim – Peguei uma de suas mãos e a pressionei contra o meu peito para que pudesse sentir o quão rápido meu coração estava batendo.
- Eu tenho um lugar bom pra resolvermos esse nosso problema. - Ele disse, descendo a mão que estava em meu coração diretamente para meu seio esquerdo, e fazendo a mesma coisa com o direito. - Você não acha que seria uma boa ideia? - Ele sussurrou, safado, em meu ouvido.

Àquela altura, a vontade que eu tinha era de me deitar ali mesmo, no meio do campo de Quadribol, e transar com ele até meu corpo gritar chega. Mas eu não poderia fazer isso em hipótese alguma. Limitei-me a baixar a minha perna e dar um leve selinho em seu pescoço.

- Hoje não, Malfoy – eu disse baixinho, lambendo o lóbulo de sua orelha.
- Quando então? Eu preciso te ver de novo, .
- Essa pergunta, meu caro, só você pode responder. - Dizendo isso, abaixei-me para pegar meu cachecol, que havia deixado cair no chão, e antes de deixá-lo entregue a seus pensamentos, olhei para trás e ajeitei meu cabelo, que ricocheteava com o vento, deixando-o apenas com a imagem do meu sorriso mais sacana.

Eu caminhei toda a extensão do campo, até chegar ao castelo, sem olhar para trás. Já era tarde e a suposta aula de Astronomia que eu disse que iria assistir já devia estar no fim… Se é que já não tinha acabado. Dei a sorte de pegar o restante dos alunos saindo da sala e me misturei a eles no corredor para que ninguém percebesse que eu não estava entre eles anteriormente.

Ainda bem que eu tinha inteligência.

Assim que estava caminhando em direção ao Salão Comunal, avistei meu irmão me esperando logo no início das escadas.

- Como foi a aula, ? - Ele me perguntou amável e sorridente.
- Foi ótima, Harry… - Eu respondi sem olhar em seus olhos.

Percorremos todo o percurso que nos levaria ao nosso Salão Comunal em silêncio. Harry provavelmente estava cansado do dia cheio que havia tido e ainda tinha feito a gentileza de me escoltar até meu dormitório. Enquanto eu, bem, não queria dizer nada porque o que estava sentindo me impedia.

Vergonha.

Como eu pude ser capaz de me entregar tão inadvertidamente ao meu futuro inimigo. Porque, encarando os fatos como eles realmente deveriam ser encarados, era sobre isso que eu falava ao Draco, quando disse que nosso próximo encontro iria depender única e exclusivamente da vontade ele. Assim que ele descobrisse que eu era irmã de Harry e uma sangue-ruim, iria me tratar como tratava a todos que julgava não serem iguais a ele. Continuei calada, me sentindo a pessoa mais covarde de todas, enquanto Harry parecia querer cuidar de mim até nas coisas mais simples, eu não hesitei em machucá-lo onde eu sabia que doeria mais.

Mas ele não precisava saber.

Logo tudo seria revelado e aquela noite não passaria de uma lembrança estranhamente deliciosa, tanto para mim quanto para o Malfoy.

Infelizmente não era por isso que cada centímetro do meu corpo pedia quando deitei na cama.

Harry's POV

Excelente. Meu ano em Hogwarts mal tinha começado e eu já estava em detenção. Nada que fosse muito fora do comum, mas, ainda assim, um mal começo. Eu permaneci o resto do dia tentando ajudar a minha irmã em qualquer dificuldade que ela tivesse. Com a chegada de , o meu senso de responsabilidade cresceu e muito de uma hora para a outra. Eu já podia ouvir os murmurios sobre a presença da carne nova, minha irmã, na boca da maior parte dos meninos. Isso me incomodava, fato, mas eu preferia que eles dessem atenção a sua beleza, que era inevitável, do que a sua história.

Mas isso não ia durar muito tempo.

Eu estava obeservando minha irmã conversar com Hermione e uma outra garota da Grifinória, ela estava sentada no gramado mesmo com um lugar vazio no banco. Vai entender... Era uma cena muito gostosa de se ver, elas cochichavam e riam entre os segredos, logo Gina se juntou a elas, não pude deixar de ficar ainda mais interessado em continuar observando. No meio de toda a turbulência dentro da qual o meu ano se iniciava, o sorriso de me trazia um grande alívio. Ela devia ter sofrido muito mais do que eu quando tudo veio à tona, e, no entanto, estava demonstrando uma grande maturidade para lidar com tantas mudanças. Nem parecia que era seu primeiro dia de Hogwarts, na verdade, parecia que sempre esteve ali. Reparei no resto do pátio, outros alunos aproveitavam o intervalo para pegar um pouco de sol. Meus olhos passaram por mil rostos até pararem em um, Malfoy. Não era incomum a sua presença, afinal de contas, ele estudava lá também. O que me incomodou profundamente era a direção que seu olhar tomava, . O maldito Malfoy estava olhando, ou melhor, comendo a minha irmã com os olhos. Eu teria continuado a encará-lo até ele desviar o olhar, se não tivesse sido interrompido bruscamente.

- Oi, Harry – Disseram duas vozes iguais ao mesmo tempo.
- Fred, Jorge... Como estão?
- Bem, muito bem na realidade – Disse Fred se adiantando ao irmão.
- Fred está muito feliz, a garota do trem é da Grifinória – Explicou Jorge. - Fred não consegue parar de olhar para ela.
- Já notei... - Disse um pouco distante.
- Como assim, Harry? Não vai me dizer que ela interessa a você também? - Perguntou Fred um tanto indignado – Pensei que você fosse um cara apreciador de uma beleza mais... Corvinal?
Não pude deixar de notar a alfinetada que Fred tinha acabado de me dar. Ele provavelmente já havia me visto trocar olhares com Cho, mas nada além disso.

Pelo menos eu não percebi nada além disso.

Além do mais, Cho tinha acabado de perder um namorado, e até eu, que era ignorante nessa matéria de relacionamento, sabia que não era uma boa hora para ela se comprometer novamente. Eu me perdi por um instante nos meus pensamentos, mas não poderia deixar de tranquilizar Fred.

- Fique tranquilo, Fred, eu sou a última pessoa que você deve encarar como concorrência. - Eu disse a ele, rindo.
- Ora, mas o que é isso, Harry? Está tão apaixonado assim? - Caçoou de mim Jorge.
- Não estou apaixonado. – Retruquei rapidamente.
- Então nos explique, Harry – Disseram os dois juntos – Como aquela garota, , pode não ser interessante para você? - Completou Fred.
- Você se interessa por Gina, Jorge? - Eu disse, rindo da cara que ele me fez.
- Claro que não, Harry, isso chega a ser doentio – Disse Jorge assustado – Ela é nossa irmã, nem chegamos a vê-la como mulher.
- Então, é exatamente o mesmo princípio – Eu disse, rindo, e me voltando a observar Malfoy, que ainda não tinha tirado os olhos de minha irmã.

Fred e Jorge se encararam, confusos. Agora que os dois sabiam, era muito grande a chance da fofoca se espalhar. Eles passaram a me olhar como se esperassem que eu desse uma resposta mais clara. Percebendo que estavam atonitos demais para conseguir raciocinar outra pergunta, eu resolvi clarear a mente deles.

- Você já chegou perto de o suficiente para reparar que ela tem olhos verdes, não já, Fred? - Eu disse, redirecionando meu olhar para ele.
- Foi a primeira coisa na qual reparei – E ele continuou a me olhar cheio de dúvidas.
- E já chegou tão perto de mim para perceber que os olhos dela são como os meus? - Não pude evitar sorrir ao perguntar. - , ou melhor, , é minha irmã.
- Como é que você pode esconder uma coisa dessas por tanto tempo? - perguntou Jorge.
- Eu não escondi, Jorge, ela foi escondida de mim. Na verdade, foi privada durante 15 anos da verdade.
Eu fiz rapidamente um pequeno resumo da história para os dois irmãos. Eu não ia entrar em grande detalhes, mesmo porque eu não sabia nada além do que estava contando para eles. Eles me ouviram e, mesmo depois que eu havia parado de falar, continuaram com a expressão de extrema surpresa.
- Harry, eu não poderia imaginar... - Disse Fred sem graça.
- Não se preocupem, na verdade, fico feliz. Antes você do que alguém que não fará bem para ela – E dizendo isso, desviei meu olhar para o Malfoy. - Sei que é um tanto inútil pedir isso a vocês, mas mantenham isso com descrição.
- Pode deixar, Harry – Os dois disseram se entreolhando com cumplicidade.

Fiquei o resto das aulas relativamente tenso. A cada vez que via alguém cochichar, passar algum bilhete ou simplesmente direcionar seu olhar para , eu ficava em alerta. Logo, logo ela seria alvo de assédio constante da imprensa e de todos os outros curiosos. E eu nada poderia fazer para evitar. Era o preço que teria que ser pago por tantos anos de segredo. Terminei meu jantar rapidamente naquela noite. Eu tinha que cumprir detenção na sala da Umbridge e queria sair a tempo de buscar minha irmã na aula de Astronomia.

Assim que eu bati na porta, ela disse para que eu entrasse. Quando o fiz, no entanto, me deparei com um ambiente completamente divergente com o tipo de pessoa que Umbridge estava mostrando ser. Tudo era muito cor de rosa e havia gatinhos e coisas amáveis por toda a sala. Definitivamente a decoração não refletia a decoradora.

- Boa noite, senhor Potter. Sente-se – ela disse, inclinando sua cabeça na direção da cadeira. - Você vai escrever umas linhas para mim hoje, senhor Potter.

Assentei e, assim que fiz um movimento de abaixar para pegar minha pena, ela me interrompeu.

- Não, não com sua pena. Irá usar uma das minhas, uma especial. - Ela se levantou e colocou a pena na carteira em minha frente. - Agora quero que escreva: "Eu não devo contar mentiras".
- Quantas vezes? - Perguntei antes que eu pudesse expressar a raiva que sentia quando era acusado de mentiroso.
- Vejamos... - Ela pensou por um instante. - O bastante para a mensagem penetrar.
- Você não me deu tinta – Não pude deixar de observar.
- Não precisará de tinta. - Ela disse, se virando para seus pratos com gatinhos que miavam.

Comecei a escrever a frase na folha de papel, mas não foi preciso que eu escrevesse muito para entender que aquela punição não tinha nada de leve. A medida que as palavras eram colocadas no papel, também era escritas no dorso de minha mão. Agora percebia por que não era necessário o uso da tinta, eu estava escrevendo aquelas linhas para ela com meu próprio sangue. Eu queria continuar a escrever, mas começou a ficar doloroso demais para que eu pudesse conter alguns gemidos de dor. Ela, percebendo, voltou a ficar novamente em minha frente.

- Sim? - Ela perguntou e contiunou a me encarar como se não estivesse acontecendo nada de incomum.
- Nada. - Respondi finalmente depois de medir mentalmente todas as consequências que poderiam recair sobre mim se eu reclamasse.
- Isso mesmo. Porque você sabe, lá no fundo, que merece ser punido. Não é, senhor Potter? - Ela disse com um sorrisinho de satisfação – Continue.

Assim que terminei de cumprir meu castigo, eu corri para o Salão Comunal. não tinha dado certeza se iria a aula ou não, e eu não iria me deslocar até a torre mais alta da escola à toa tão tarde da noite. Quando cheguei, vi Fred e Jorge vendendo suas Gemialidades aos alunos mais novos. Outros só estavam ali conversando, não demorou para que eu avistasse Ron e Hermione sentados no sofá em frente a lareira. Sentei e comecei a folhar um dos livros que estava ali por perto. Hermione, sempre muito atenta, não pode deixar de notar a minha mão, machucada pela detenção que havia acabado de cumprir.

- O que tem de errado com a sua mão? - Ela me perguntou, apreensiva.
- Nada – Eu disse lhe mostrando minha mão direita, que estava perfeitamente normal.
- A outra mão! - Disse Hermione, tirando minha mão ferida de baixo do livro que eu estava usando para escondê-la.
- Você deveria contar ao Dumbledore. - Ela disse, examinando minhas feridas.
- Não. Dumbledore já tem muita coisa na cabeça agora – Disse esquivando minha mão das dela. - De qualquer modo, não quero dar essa satisfação à Umbridge.
- Diabos, Harry, a mulher está torturando você – Disse Ron em um tom sóbrio. - Se seus pais soubessem disso...
- Só que eu não tenho pais, tenho, Rony? - Respondi automaticamente.

Os dois ainda tentaram me convencer a reportar o que havia acontecido, mas eu já não estava mais escutando. No minuto em que Ron pronunciou a palavra "pais", eu me levantei e sai sem dar satisfação. Caminhei toda a extensão até a torre de Astronomia, a aula de já devia estar quase no fim. Parei perto do corredor, que dava para as escadas da torre, e não demorou muito para os alunos sairem. Logo a avistei, vinha com um ar de cansada em minha direção. Tratei de apressar o passo, ela estava exausta, mal trocou duas frases comigo. Logo ela se adaptaria a Hogwarts.





Capítulo 5 - A verdade inevitável


's POV

O cansaço de uma dia inteiro de aulas começou a pesar enquando esperávamos a escada se mover. Todo o dia, somado ao meu encontro com o Draco, só me fazia querer uma coisa naquele momento: minha cama. Achei que ia encontrar o Salão Comunal da Grifinória vazio, pois já era tarde.

Ainda estava aprendendo que nada ali era como a gente acha que ia ser.

Assim que passamos pela passagem da mulher gorda, Harry e eu nos deparamos com toda a Grifinória reunida. O ano tinha acabado de começar e ainda não tinha acontecido nenhum evento que reunisse a casa toda da maneira que estava. Dado esse fato, aquela reunião só poderia ser por um motivo, eu.

- Então, Harry, vai apresentar sua irmã para gente como se deve? - Disse Neville, que estava encostado em uma parede.
- Não é necessária apresentação se todos já sabem que sou irmã dele. - Eu disse, sorrindo para todos. - Agora, se o que vocês querem é uma explicação para a minha existência... Sentem-se.

Como se eu fosse uma professora, a maioria se assentou como pode e alguns permaneceram em pé mesmo. Eu não estava com muita disposição para ficar explicando as coisas em seus mínimos detalhes, mesmo porque os mínimos detalhes não eram da conta de mais ninguém além de mim e Harry. Resumi brevemente o que tinha sido a minha vida, contei da minha vida e família na França, dos meus estudos e o que tinha vivido até o momento anterior a revelação. Depois, com a ajuda de Harry, expliquei as decisões que haviam sido tomadas pelo Ministério no passado, no que dizia respeito a nossa família. Durante a explicação, ninguém disse uma só palavra. E, mesmo depois que eu já não tinha mais nada a dizer, a maior parte continuou calada. Aos poucos, a ficha foi caindo e eu comecei a me perder em tantos rostos e nomes diferentes. Todos queriam me cumprimentar e ser cumprimentados. Nunca na minha vida eu tinha recebido tanta atenção quanto naquela noite. Apesar de estar adorando tudo aquilo, eu estava realmente muito cansada. Hermione, graças aos céus, percebeu e me salvou de toda aquela confusão, me levando para o dormitório assim que pode.

Agora já não tinha mais volta, o que antes eram só boatos, eu mesma tinha acabado de confirmar como verdades. Seria só uma questão de horas até que a imprensa chegasse ali para apurar aquela informação. E quando eu digo imprensa, me referia diretamente à Rita Skeeter, que não podia sentir o cheiro de uma fofoca pronta para ser distorcida. Gostaria de ter adiado por pelo menos mais um dia, dessa maneira eu poderia me encontrar com Draco mais uma vez. Mas agora não adiantava ficar pensando no que poderia ter sido, a partir de amanhã, eu passaria a sentir de fato o que significava carregar o sobrenome Potter. E pra aguentar tudo o que estava por vir, eu precisava dormir.

- Levante e se arrume, , Rita Skeeter está aqui! - dizia, me sacudindo do sono.

E foi dessa maneira que eu acordei naquela manhã. Toda aquela agitação logo antes de deitar me deixou elétrica, apesar do meu cançaso, eu não consegui dormir direito. Eu já imaginava que a repercussão seria rápida, mas assim? Logo pela manhã? Me levantei e rapidamente me arrumei, não sabia para onde deveria ir, o que deveria fazer ou falar.

- Hermione, o que eu faço? - Perguntei a ela com olhar suplicante.
- Não sei, , nem mesmo quando Harry veio estudar aqui foi toda essa confusão. - Ela me disse com uma expressão de descontentamento. - Vou procurar a professora McGonagall!
- Venha cá, , você precisa estar arrumada, eles vão tirar fotos suas! - Disse dando pulinhos de alegria.
- , pare com isso – Eu disse, rindo. - Apesar de tudo isso parecer muito emocionante, eu não pretendo fazer disso um grande alarde.
- Receio que isto não está mais em suas mãos, senhorita Potter. - Disse McGonagall colocando a mão em meu ombro.
- Professora – Exclamei surpresa com sua presença – Bom dia!
- Venha comigo, Dumbledore está te esperando, . - Disse McGonagall, se direcionando para a passagem da mulher gorda.

Caminhei com passos duros até o Grande Salão, onde Dumbledore estava com Skeeter e outros jornalistas. Enquanto caminhávamos McGonagall foi conversando comigo.

- Você não precisa se sentir na obrigação de dizer nada, , você não teve controle sobre nada. Não se esqueça de que eles somente escrevem o que é conveniente para eles ser publicado. Sinta-se a vontade para não dizer nada se não quiser.
- Não se preocupe, professora, eu conheço bem a reputação. Além do mais, já sei o que estão fazendo com Harry e Dumbledore no Profeta Diário. Nunca diria nada que pudesse de alguma maneira prejudicá-los.
- Bom, muito bem, senhorita Potter. Boa sorte – E dizendo isso, ela abriu as portas do Grande Salão.

Assim que as portas estavam escancaradas, eu fui cegada por um milhão de flashes vindos de milhares de direções diferentes. Caminhei por aquele corredor certa de aquilo era só o início de tudo. Agora que eu ia sair na capa de todos os jornais, eu ia ser envolvida e engulida cada vez mais pela trama que cercava meu irmão. Subi as escadas e fui para perto de Dumbledore, que eu sabia, ia me ajudar. Assentei-me e respirei profundamente, apesar de nervosa, no fundo, eu estava gostando de ser o centro das atenções.

- A senhorita Potter vai atender a todos vocês, fiquem tranquilos – Então, Dumbledore se abaixou e disse em meu ouvido - Você não precisa responder se não quiser, .
- Não se preocupe, professor – Sussurrei de volta – Eu sei o que estou fazendo.
Ele saiu de perto de mim e a primeira a levantar a mão foi Rita Skeeter, como era de se esperar.
- Senhorita Potter, como foi que a senhorita se sentiu quando ficou sabendo que era irmã de Harry Potter?
- Feliz. - Respondi.
- Você não se sentiu injustiçada? - Ela perguntou olhando por cima de seus pequenos ocúlos redondos.
- Não – Respondi, dando de ombros.
- Como não? Eles lhe roubaram uma vida, ! - Ela disse em tom dramático.
- O que nunca nos pertenceu, não pode ser roubado, senhora Skeeter. - Sorri ao responder.
- Senhorita Skeeter. - Ela disse, ajustando os óculos em seu nariz.
- Você não acha que deve ser compensada pelos anos que passou vivendo uma mentira? - Perguntou um jornalista baixinho e bigodudo perto de Rita.
- Mas a que mentira você se refere? – Disse, arqueando as sobrancelhas.
- A sua família, foram 15 anos passados ao lado de impostores! - Ele disse, elevando o tom de sua voz para me intimidar.
- Dobre a língua para falar dos meus pais. - Respondi sem me alterar – Eu sempre soube que era adotada.
- Então acha desvantagem ser uma Potter? Por que você nunca procurou saber sua origem? - Disse Rita destilando, opa (cuidado aí que veneno pinga)!
- Me diga uma coisa, senhorita Skeeter, quando você está em uma fase da vida evidentemente feliz, você troca isso pelo incerto? – Disse, arqueando uma de minhas sobrancelhas, de uma forma que eu sabia que iam ser mais ofensivas o possível.
- Por que você só da respostas curtas e se esquiva das perguntas? Quem você tem medo de comprometer? - Disse uma mulherzinha magricela com um cabelinho chanel chocolate.
- A verdade, minha cara, se é que é possível ela ficar mais comprometida do que já está ultimamente nos jornais de vocês... - Eu disse ainda olhando fixamente para a mulher.

Depois dessa, vi que era a minha deixa para sair dali, o número de estudantes começou a se aglomerar cada vez mais na porta do Grande Salão. Várias cabecinhas curiosas querendo participar, pelo menos um pouquinho, daquele momento. Eu somente levantei e comecei a andar em direção a saída sem olhar para trás, confiante que tinha feito um bom trabalho. Eu ouvia milhares de vozes, mas não conseguia distinguir quem era quem, via milhares de rostos, mas eram tantos e passavam tão rápido que eu não guardava nenhum em particular. Estava me sentindo bem, aliviada por ter colocado aquilo finalmente pra fora.
Mas as coisas boas nunca duravam por muito tempo.

No meio de toda aquela confusão, o único rosto que eu fui capaz de destacar da multidão foi um só: Malfoy.

Draco's POV

( Música do POV - Secret – Maroon 5 )

Fiquei observando se afastar aos poucos. A noite estava bonita, o céu estava completamente aberto e estrelado. Naquele momento, a minha cabeça só conseguia pensar em uma coisa. Foi a melhor aula de astronomia já ministrada em Hogwarts. Eu nem mesmo precisei de luneta para ver estrelas, constelações. Na verdade, foi só quando eu estava com os olhos fechados que tive essa sensação.

Não me tomem por um imbecil apaixonado.

Isso seria a última coisa que iria acontecer. Eu não era o tipo de pessoa que se apaixonava, muito menos o tipo de pessoa que via o amor como uma força poderosa. O amor pra mim era só uma desculpa infantil para as ansiedades e fraquezas dos homens. Eu não sentia isso. Também não estava falando de paixão. Nunca fui uma pessoa que gostava de definir o que estava sentindo, pra ser honesto. Mas se eu tivesse que dizer em uma palavra o que eu sentia por , não seria nem amor, nem paixão.

Desejo.
Em seu estado mais puro e primitivo.

Eu sabia que era isso que me atraía, que me chamava, que me fazia pensar nela. Eu já havia constatado isso no trem quando ela não hesitou em me desafiar, era diferente. Ela era mais mulher, não só na aparência, mas principalmente na atitude. Eu não podia ser o único a achar que as mulheres daquela escola pareciam meninas que pararam no tempo. Ok, o uniforme não favorecia muito eu sabia, mas até mesmo de uniforme conseguia ficar uma delícia. Existiam muitas garotas bonitas ali, mas poucas com atitude. Fiquei imaginando se, ao invés de , eu tentasse beijar uma outra desconhecida. As reações prováveis seriam apenas duas: Ela ia se sentir terrivelmente ofendida, como se eu tivesse tirado a honra dela, e sairia correndo, ou se ,ela fosse uma das vadias dali, se jogaria em cima de mim, como se transar comigo valesse algum prêmio. Só que não era nenhum desses dois casos.

Diferente delas, ela veio a mim por livre e espontânea vontade. Ela poderia ter ignorado o bilhete. Admitia que isso não era tão relevante, provavelmente qualquer menina iria, levada pela curiosidade. Mas o fato de que ela não só foi, como correspondeu imediatamente a mim, era bastante relevante. Quando a vi chegando no campo de Quadribol, pelo seu comportamento comigo no trem, eu já sabia que ela não ia ser um dos casos que faz a donzela em perigo. Continuei a olhando, já me preparando para encarnar qualquer sedutor barato que conseguisse com que fosse dar uma volta comigo nas masmorras. Ao contrário do que a maior parte das mulheres pensava, conquistar vadia era mais difícil do que conquistar uma menininha. As menininhas gostavam dos caras românticos, que demonstravam se importar com elas, que eram companheiros, inteligentes... Até se conseguir o que realmente interessava, isso era fácil demais de fingir. As menininhas confiavam demais em sentimentos, era fácil enganá-las fingindo sentir o que não se sentia, a maioria das pessoas já fazia isso normalmente... As vadias não. Não se engane, toda vadia sabia que era vadia. Elas sabiam que, quando a gente se aproximava delas, era para conseguir só uma coisa. Só que elas eram desconfiadas, sempre achavam que tinha algo a mais aonde não tinha. Ou tinha, sei lá. As vadias eram mais fáceis de se conseguir porque, para elas, você não precisava fingir nem intenções, nem sentimentos. Mas teria que convencê-las de que dar pra você ia trazer alguma vantagem pra elas, e fazer isso sem ser direto. E aí, amigo, se você não fosse bom, não fodia.

Eu ia tentar seduzir , da mesma maneira que fazia com todas as vadias. Mas eu não contava com a minha própria atitude. Quando eu cheguei perto dela, seu perfume me invadiu. Durante nosso curto diálogo, não consegui tirar atenção por sequer um minuto dela. Os cabelos ruivos, soltos e dançando, como se o vento quisesse brincar com eles; os olhos verdes e profundos, que me chamavam a cada piscada; a pele alva, que refletia a luz da lua, e sua boca, principalmente ela, num tom naturalmente avermelhado, praticamente implorando por um beijo meu.

Foi muito natural.

Eu não estava planejando ficar com ela naquela noite. Era verdade. Eu poderia ser um galinha e nunca perder uma oportunidade, mas não era afobado. Mais cedo ou mais tarde a gente ia acabar ficando, claro, mas queria fazer isso com o mínimo de conhecimento possível. As únicas coisas que eu sabia sobre , além de seu nome, era que ela era incirvelmente gostosa e bonita, era da Grifinória e não tinha medo de mim. Nem mesmo seu sobrenome eu sabia.
Só que eu não pude suportar a vontade. A mulher ficava gostosa de uniforme! Não pensei muito naquele momento, pra falar a verdade, eu não pensei nada. Foi como se eu estivesse sob hipnose, a única coisa que eu queria era beijar ela.

E foi o que eu fiz.

Quando percebi que ela correspondia o meu beijo, me senti aliviado por comprovar minha teoria de que ela não era uma menininha. Agora eu só podia esperar que ela me parasse e tentasse me seduzir para obter qualquer vantagem, como as vadias faziam. E foi aí que ela puxou meu tapete. Ela correspondeu o beijo de uma forma igualitária. Eu supus isso na hora que falei com ela, mas fiz de petulância mesmo. Ela me queria tanto quanto eu a queria. E isso me deixou muito excitado. Mais do que excitado, eu me senti a vontade com ela. Tão a vontade que pensei em tomar algumas liberdades, mesmo sabendo que poderia estragar tudo se ela não gostasse. Comecei a levantar, com cuidado, a barra de sua saia e passar a mão na parte exterior da sua coxa, até chegar bem perto da bunda dela. A partir daquele ponto, eu não sabia se era inteligente continuar. Por mais que ela tivesse me correspondido, não mudava em nada o nosso status de conhecidos. Se eu ultrapasse alguns limites assim, logo de cara, esse status poderia não mais mudar. Mas a era diferente. Assim que ela notou que eu não subiria mais as mãos, sutilmente ficou nas pontas dos pés. Essa mulher era sensacional. Vendo que ela não só não se incomodava, como também queria, eu espalmei as mãos naquela bunda e ainda pude ouvir um gemido dela entre o beijo. Quando eu achei que ela estava sendo generosa demais, eis que ela levanta uma de suas pernas na altura da minha cintura.

Esse tipo de coisa dá problema.

Segurei sua perna para que ela ficasse melhor equilibrada e continuei a beijá-la. Naquele momento, o volume em minha calça começou a forçar o zíper e a me incomodar. Ela sentiu, com certeza. A gente teria continuado ali se ela não tivesse que voltar. Eu também tinha, na verdade, mas estava ignorando o fato propositalmente. Até cheguei a sugerir que fossemos para um lugar mais reservado. Mas não era vadia. Ela acabou indo embora e eu fiquei na mão, literalmente. Mesmo assim, eu estva satisfeito. Eu só podia esperar o momento que nos encontrariamos de novo, ela era um mistério que eu queria desvendar aos poucos. Depois que ela se foi, e eu me pus a caminho do meu Salão Comunal, fiquei tentando entender o que havia me dito, "apoveite enquanto a ignorância está a nosso favor". Deitei em minha cama e fiquei pensando sobre o sentido que essa frase poderia ter, mas não cheguei a nada muito conclusivo.

Talvez não fosse importante.

Ela disse que nosso próximo encontro dependeria de mim, e eu não pretendia perder tempo. Ainda revivi na memória o que tinha acontecido no campo de Quadribol antes de pegar no sono. não era nem menina, nem vadia. Era mulher e safada.

E era disso que eu gostava.

Acordei no outro dia com o dormitório todo numa bagunça. Todos estavam correndo de um lado pro outro no Salão Comunal, principalmente as meninas, se vestindo às pressas.

- Que está acontecendo, Pansy? - Perguntei em meio a um bocejo.
- Ora, Draquinho, você não sabe? Parece que descobriram que o Potter tem uma irmã gêmea, e adivinha só onde a sangue-ruim vai estudar? - Ela disse com desdém.
- Como assim irmã, garota? Quem foi que te disse isso? - Perguntei impaciente.
- Todo mundo está comentando, Draquinho! Parece que ela está lá no Grande Salão com um monte de jornalistas, dando entrevista – Disse, revirando os olhos.
Sem mesmo que ela tivesse parado de falar, eu corri para meu dormitório. Vesti-me o mais rápido que pude e corri junto com o resto da Sonserina para o Grande Salão. Era só o que me faltava, mais um Potter. Como se um só não fosse o bastante, agora eu teria que suportar dois. A porta do salão estava um caos completo. Alunos de todas as casas e idades se amontoando para ver o que estava acontecendo.
Que ridículo.
Não fiz questão nenhuma de participar daquele empurra, empurra. A menina iria sair, mais cedo ou mais tarde, dali e eu poderia dar uma olhada no meu mais novo desafeto. Enquanto ela estava lá, eu ia aproveitar o alvoroço para procurar , precisava me encontrar com ela novamente. Procurei por seus cabelos ruivos, já que era o modo mais fácil de achá-la no meio da multidão. Resolvi chegar mais perto do tumulto, era mulher e qualquer mulher adorava uma fofoca. Precisava dar uma boa olhada na cara da Potter também. No meio do caminho, meus olhos se encontraram com os de , que estava na exata direção que as fotos estavam sendo batidas.

Puta que o pariu.





Capítulo 6 - Não confie em mim.


's POV

Assim que comecei a chegar perto de onde se concentrava o tumulto, os professores vieram pra me acudir. Dumbledore e McGonagall saíram abrindo o caminho enquanto um professor, com o qual eu ainda não tinha tido aulas, me escoltava no meio da multidão. Ele tinha os cabelos bem pretos assim como as vestes que usava. Achei engraçado, pois ele me conduzia com muito cuidado, me protegendo mesmo. Até parece que tinha algum perigo real, eram só um monte de alunos curiosos e alguns outros que queriam aparecer.

-Snape, leve a senhorita para a sala da professora McGonagall – disse Dumbledore, se aproximando do homem que me acompanhava.

Fui sendo levada por aquele homem, que agora eu sabia que se chama Snape, até a sala da diretora da minha casa. Não sabia por que eles simplesmente não me deixavam voltar para o meu Salão Comunal, o que eles achavam que iria acontecer? Quando chegamos até a sala da McGonagall e eu me sentei em uma das cadeiras, logo Dumbledore chegou junto com todos os outros professores.

- Bem, agora que a situação se tornou pública, eu gostaria de apresentar a vocês a nossa nova aluna, Potter – disse Dumbledore, me estendendo a mão para que eu me levantasse.

Todos eles me cumprimentaram e me deram as boas vindas a Hogwarts. Eu deveria estar me sentindo o máximo por estar recebendo toda essa atenção, mas apesar de estar com o maxilar dolorido de tanto sorrir, no fundo, eu estava muito triste. A imagem do rosto de Draco não me saía da cabeça. Foi tudo muito rápido, mas eu pude ver claramente que ele estava olhando pra mim, estava olhando para os meus olhos. Eu não deveria estar me sentindo assim com relação a ele. O que aconteceu entre nós não foi nada, aquele beijo no campo da Quadribol foi desejo.

Só.

Mesmo assim, eu me sentia muito mal por tê-lo enganado. Porque, querendo admitir ou não, era isso que eu tinha feito. Eu já sabia que era irmã do Harry, sabia quem era Draco Malfoy, sabia de suas desavenças com meu irmão e principalmente sabia que era uma mestiça, que tinha o “sangue-ruim” da minha mãe nas veias. Eu estava com vontade de sair correndo até o Salão Comunal da Sonserina (que eu não fazia ideia de onde ficava) para falar com ele.

E foi quase.

Assim que Dumbledore dispensou os professores para voltarem a suas atividades normais (afinal de contas, era só mais um dia de aula), eu saí correndo da sala, sem direção. Eu provavelmente ia fazer a estupidez de ir atrás de Draco se não tivesse ido de encontro a meu irmão, Rony e Hermione no primeiro mudar de escadas.

- ! Estávamos procurando por você! Onde você estava?– Perguntou Harry, me abrançando.
- Dumbledore queria me apresentar oficialmente para todos os professores. – Disse, sorrindo para os três.
- , sua entrevista, você foi brilhante. Simplesmente brilhante! - Disse Ron em um tom empolgado.
- Realmente, , você não poderia ter sido mais inteligente nas suas respostas. Não deu nenhuma brecha para distorções. - Disse Hermione simpática. – Mas receio que sua imagem vai sofrer danos… Porque apesar de você não ter dito isso claramente, você mostrou que está do lado do seu irmão…
- Se for por esse motivo, que seja afetada, Hermione – eu disse olhando para meu irmão. – Harry sabe que acredito nele e em Dumbledore e não tenho por que esconder isso de ninguém.
- Significa muito pra mim, – Harry disse, sorrindo.
- Odeio atrapalhar o momento emoção em família, mas nós temos que ir pra aula – disse Ron.
- Eu ouvi você dizer isso mesmo, Rony? - Disse Hermione em tom de deboche.

Nós quatro rimos e fomos para o Salão Comunal pegar nossas coisas. Com toda aquela confusão de mais cedo, nem parecia que era um dia comum de aula. Mas era. Havíamos perdido todos os horários da manhã por causa da minha entrevista… Bem, se minha imagem ia ficar prejudicada pra ajudar meu irmão, os compradores de Kits Mata Aula estavam agradecidos pelo menos. Com todo aquele assédio da imprensa, eu estava receosa de andar pela escola, todo mundo ia olhar pra mim durante um bom tempo até se acostumarem com minha presença e eu não passar de mais uma aluna nos corredores, não era?

Claro que não.

Se depois de tantos anos as pessoas continuavam a olhar meu irmão como uma pessoa diferente porque de fato ele era, não podai esperar que fosse diferente comigo. Principalmente depois de todo o alarde que minha chegada causou. Eu e Hermione, subimos para o dormitório para pegar nossos livros e nos dirigirmos para o almoço. Quando descemos para nos encontrar com Ron e Harry, meu irmão não estava junto de seu amigo.

- Onde está o Harry, Ron? - Eu perguntei, notando sua ausência de imediato.
- Não sei, , ele desceu antes de mim e disse que estaria aqui embaixo me esperando…
- Não se preocupe, seu irmão às vezes some, mas nunca vai longe – disse Hermione, colocando a mão em meu ombro. – Com tudo o que está acontecendo esse ano, ele deve ter ido dar uma volta pra pensar. Mas logo ele aparece – disse ela, otimista.

Se Hermione estava dizendo, eu não ia questionar. Ela conhecia meu irmão melhor que eu então devia saber do que estava falando. Eu também estava precisando de um tempo pra mim, precisava pensar em tudo o que estava acontecendo.

Tá, isso era mentira.

Tudo o que estava acontecendo estava bem claro. Seria só uma desculpa pra mim mesma não admitir que precisava pensar em como agir com Draco… Não ia adiantar fugir disso, estávamos no mesmo lugar, invariavelmente a gente iria se encontrar. Pra piorar as coisas, estávamos no mesmo ano, situação que, mais cedo ou mais tarde, faria a gente se esbarrar em uma sala de aula. Eu precisava de um tempo pra pensar em como iria reagir quando isso acontecesse.

Medo.

Eu sei que parecia ridículo, mas eu estava com medo da reação do Draco. A personalidade dele não deixava dúvidas que ele iria reagir com agressividade. Eu não tinha medo do que ele podia fazer comigo, com relação aquilo eu me virava. O que eu temia mesmo era aonde a reação dele poderia ricochetear, lia-se meu irmão. Harry nunca aceitaria isso, mesmo que tenha sido só um beijo, mesmo que não tenha sentimentos envolvidos.

Inimigo era inimigo.

Agora que a situação estava exposta, eu conseguia ver claramente o tamanho da cagada que eu tinha feito. Eu e Harry, apesar de sermos irmãos, não éramos amigos, mesmo. Ainda estávamos nos conhecendo e nos acostumando com a ideia de sermos gêmeos. Um só confiava no outro por causa do nosso parentesco, eu ainda não tinha dado nenhuma prova que ele pode confiar em mim… Apesar de eu ter “declarado” publicamente que estava a seu favor nessa questão do Voldemort, isso não era nada. Seria até estranho se eu, sendo irmã dele, dissesse que o que ele disse era mentira. O que eu queria dizer com tudo isso era que minha relação com Harry ainda era muito frágil. E isso não era culpa de nenhum de nós, afinal de contas tinha só dois dias! Não tive nem tempo nem oportunidades para fazer mais do que fiz. Além dos sentimentos do meu irmão, agora eu era uma pessoa pública, ou seja, também tinha que me preocupar com a mídia. Se isso vazasse, eu passaria por tão traidora e mentirosa quanto dizem que Harry era.

Estava fudida.

Maldita a hora que eu resolvi que deveria tomar o controle da minha vida e fazer o que estivesse a fim. Mas era como os trouxas diziam, “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”. Passei a vida inteira sob o controle dos meus pais, não que isso me incomodasse, tive meus namoricos como qualquer adolescente normal. Mas aquela sensação de estar decidindo por mim mesma, aquela sensação de estar desafiando o convencional, somada ao meu desejo específico por Draco Malfoy, me levou a fazer o que eu fiz.

Merda.

Queria saber quem foi o filho da puta que falou que tudo que era proibido era mais gostoso. Essa situação me deixava em uma posição extremamente desconfortável. Eu estava totalmente nas mãos de Draco. E isso não era nada, nada bom. Se pelo menos tivesse algum sentimento, ele até poderia pensar em mim… Mas podia esquecer que Malfoy era um garoto egoísta e vingativo? Não, eu não podia.

Estava muito fudida.

Harry's POV

Acordei no outro dia em meio a uma bagunça generalizada na casa da Grifinória. Não sabia o que estava acontecendo, então decidi descer até o Salão Comunal. Avistei Hermione no meio da confusão e fui até ela.

- Hermione, o que está acontecendo? Qual motivo dessa confusão toda?
- É sua irmã, Harry... - Ela disse apreensiva.
- ? O que aconteceu com ela? Onde ela está, Hermione? - Eu disse, já ficando muito nervoso.
- Calma, Harry, está bem. Ela foi com a professora McGonagall para o Grande Salão, parece que a imprensa ficou sabendo da história toda e bateu ponto cedo na porta de Hogwarts. - Me explicou Hermione.
- O que estamos esperando então? Vamos até lá, Hermione. Não podem deixar minha irmã sozinha com aqueles jornalistas! - Eu disse, mais nervoso ainda.
- Se acalme, Harry – disse Ron atrás de mim – não é nenhuma meninha, ela é muito esperta, vai se sair bem. - Rony disse na tentativa de me tranquilizar.
- Mesmo assim, eu vou até lá.

Saí correndo para o Grande Salão com Rony e Hermione em meu encalço. Mesmo que eu não pudesse fazer nada, eu tinha que estar lá caso precisasse de mim. De longe, pudemos ver a grande confusão que estava acontecendo na porta do Salão, parecia que todos os alunos estavam lá. Eu me aproximei da multidão e saí abrindo caminho. Existiam algumas vantagens em ser Harry Potter e uma delas era ter a capacidade de ir e vir, aumentada pela notoriedade. Nem precisei de muito esforço pra passar, estava ali justamente por ser minha irmã, nada mais justo que eu estivesse lá na frente pra acompanhar a entrevista.

Foi muito divertido!

Rony tinha razão quando disse que eu não devia me preocupar com . Eu não poderia ter feito melhor do que ela. Normalmente eu só responderia da forma que ela fez se eu estivesse muito irritado. Mas foi extremamente educada e perspicaz em suas respostas. Se o Ministro tinha alguma intenção de usar a entrevista dela para prejudicar a mim ou a Dumbledore, se fudeu. Minha irmã não deu nenhuma brecha para que aquela jornalistazinha, Rita Skeeter, distorcesse suas palavras além de dar respostas que deviam estar fazendo a imprensa espumar de raiva até agora. Mesmo assim continuava preocupado com todo aquele assédio, quando resolveu se levantar e não mais responder, a quantidade de flashes que foi disparada chegou a cegar. Nem consegui ver para onde ela tinha ido.

- Harry! Você conseguiu ver? - Disse Hermione, me puxando do meio da confusão.
- E como vi, Hermione! - Disse sorridente. – Minha irmã não poderia ter se saído melhor!
- Ela foi incrível, Harry! Simplesmente brilhante! Aqueles jornalistas devem estar de queixo caído até agora. - Disse Rony, empolgado.
- Tenho que admitir, me surpreendeu – disse Hermione com um pouco de ciúmes na voz.
- Vocês viram pra onde ela foi? - Perguntei ansioso.
- Eu a vi saindo do Grande Salão com Snape, Harry… - Disse Hermione, cautelosa.
- Com Snape? Pra onde ele pode tê-la levado?

Os dois me olharam com a mesma expressão de desconhecimento, e nós resolvemos sair para procurá-la. Fomos primeiro ao Salão Comunal da Grifinória, mas ela não estava lá, sem muitos lugares para procurar, estávamos a caminho da sala de Dumbledore quando demos de cara com correndo, meio perdida pelos corredores. Eu só podia me sentir muito agradecido por ela ter aparecido na minha vida. era apaixonante, acho que não havia como não gostar da minha irmã. Mesmo sem me conhecer muito bem, ela tinha mostrado que confiava em mim mais do que alguns amigos que tinha há anos. Mesmo me sentindo feliz com a presença dela, eu não me sentia em paz. Enquanto eles foram pegar suas coisas para se dirigir pra o almoço, eu resolvi dar uma volta para pensar. Aproveitei para escrever uma carta para Sirius.

Querido Almofadinhas,

Espero que esteja bem. Está começando a ficar frio aqui, definitivamente o inverno está chegando. Apesar de estar de volta a Hogwarts, me sinto mais só do que nunca. Sei que você, acima de todos, irá entender.


Mesmo sabendo que Hagrid não estava, fui dar uma volta nas redondezas da sua casa. Lá, acabei avistando um animal voando e me dirigi aonde ele tinha descido. Entrei na floresta e comecei a caminhar em direção ao lugar onde provavelmente eu encontraria aquela criatura. Assim que cheguei lá, vi que não era só um, mas sim vários, inclusive com filhotes. Minha surpresa foi ver que Luna estava lá, acariciando um deles.

- Olá, Harry Potter – ela disse sem nem mesmo olhar pra trás pra ter certeza de que era eu.
- Seus pés! Não estão frios? – Perguntei, surpreso ao constatar que ela estava descalça, mesmo com o frio que estava fazendo ultimamente.
- Um pouco – ela respondeu tranquilamente. - Infelizmente todos os meus sapatos desapareceram misteriosamente. Suspeito que Narguilés estão por trás disto. - Ela me explicou.
- O que são eles? – Perguntei, curioso para saber que criatura era aquela.
- São chamados de Trestálios. São bem gentis, mas as pessoas os evitam porque são um pouco...
- Diferentes… - Completei antes dela. - Mas por que os outros não conseguem ver? – Disse, me lembrando que havia visto um logo na chegada a Hogwarts enquanto ninguém mais conseguia.
- Só podem ser vistos por pessoas que já viram a morte. - Ela me explicou.
- Então, você conhece alguém que morreu? – Pergunte,i cauteloso.
- Minha mãe. Ela era uma bruxa extraordinária, mas ela gostava de fazer experiências. Um dia um feitiço deu errado, eu tinha nove anos. - Ela disse pausadamente.
- Eu sinto muito.
- É, foi bem horrível... Eu fico muito triste por isso às vezes. Mas eu tenho meu pai. - Ela começou a remexer na bolsa, de lá tirou uma maçã e continuou a falar. – Nós dois acreditamos em você, por falar nisso. Que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltou, que você lutou com ele, e que o Ministro e o Profeta conspiram contra você e Dumbledore.
- Obrigado. – Eu agradeci timidamente. – Parece que vocês são os únicos que acreditam.
- Não acho que isso seja verdade. - Ela disse, jogando a maçã para o pequeno filhote de Trestálio. - Mas suponho que é assim que ele quer que você se sinta – ela continuou.
- O que quer dizer? - Perguntei curioso.
- Bom, se eu fosse Você-Sabe-Quem, iria querer que você se sentisse isolado de todos. Porque se for você sozinho, não seria uma ameaça muito grande.

Eu adorava conversar com a Luna. Ela sempre colocava as coisas de uma maneira que eu não havia enxergado antes. E ela tinha razão, por mais que eu me sentisse isolado de todos, não podia permitir que isso continuasse acontecendo.

Draco's POV

Eu não acreditava.
Não acreditava que eu tinha me deixado levar pela beleza e pelo mistério de e esqueci das coisas que eram mais importantes para mim. Eu nunca poderia imaginar que ela teria qualquer relação próxima com o Potter, muito menos que ela era uma Potter. Eu estava com nojo de mim mesmo por ter desejado aquela mulher.

Desgraçada.

Ela me enganou direitinho. Nada do que ela me dissesse iria justificar. Ela não fez nada na inocência, desde o primeiro momento, no trem, ela sabia quem eu era. Sabia até demais. sabia que eu e seu irmão éramos inimigos, sabia da sua condição e do meu repudio ao que ela era. Eu tinha uma parcela de culpa, não podia negar. Deixei-me enfeitiçar pelos atributos dela e fiquei cego. Tão cego que nem me lembrei de detalhes cruciais que possibilitavam as pessoas de se relacionarem comigo ou não.

Eu queria matar aquela garota.

Saí para o pátio para evitar quebrar o Salão Comunal da Sonserina inteiro. , Potter, ela só podia ter se submetido a isso com algum objetivo de me prejudicar. Era disso que ela estava falando quando disse que eu devia aproveitar enquanto a ignorância estava do nosso lado. Era claro, agora eu podia ver claramente, Potter, ele devia estar por trás de tudo isso. Aproveitou-se do fato de que ninguém a conhecia e a colocou em meu caminho. Sim! Como pude ser tão ingênuo, Potter a colocou perto de mim pra conseguir alguma coisa. Hahaha isso era até interessante, o altruísta Harry Potter oferecendo sua própria irmã para o inimigo para conseguir algo em troca. Era, parecia que ele era exatamente como eu dizia que era. Um escroto disfarçado de herói. Mesmo assim, isso não tirava a parcela de culpa de , por ter me enganado.

Mas isso não iria ficar assim.

Se eles pensavam que iriam brincar comigo daquele jeito, estavam muito enganados. Tinha que fazer alguma coisa para me vingar, isso era fato. Mas antes ia procurar e fazê-la se sentir como o lixo que ela era. Ela iria aprender a nunca mais achar que podia brincar comigo, e iria aprender da pior maneira.

Já era hora do almoço, e eu sabia que ia encontrar no Grande Salão. Sentei de forma que ficasse de frente para a mesa da Grifinória. Não demorou muito até que ela e a sangue-ruim da Hermione entrassem pelo Salão com aquela outra, traidora do sangue, Gina. Eu achei que ela fosse se sentar de costas para a mesa da Sonserina, afinal de contas ela devia imaginar que eu queria tomar satisfações com ela. Para a minha surpresa, fez questão de sentar de frente para mim. E quando eu achei que ela não poderia me surpreender ainda mais, ela olhou para mim e acenou com a cabeça com uma expressão serena no rosto.

Pelo menos covarde ela não era.

Eu tinha que arrumar alguma maneira de me encontrar com ela. Eu não ia bancar o idiota e marcar um encontro, como fiz da primeira vez. Não, daquela vez, era ela quem devia me procurar. Mas eu sabia que ela não iria fazer isso. Eu teria que achar o momento propício para me aproximar dela com descrição. Graças a nova fama que ela adquiriu, aquilo iria ser um tanto quanto difícil, mas não podia perder a oportunidade de humilhá-la.





Capítulo 7 - Conspirações inexistentes


's POV

Fomos almoçar no Grande Salão, e eu fiz questão de me sentar de frente pra mesa da Sonserina. Não que eu não tivesse nada a temer, muito pelo contrário, mas eu não era nenhuma menina. Tinha noção total dos meus atos e das consequências que eles poderiam me trazer, por isso mesmo me assentei de frente para ele. Não para passar uma imagem de petulância ou de desafio, mas para mostrar que eu estava ciente de tudo, tão ciente que estava até tranquila. Quando ele olhou em minha direção, o cumprimentei com um discreto aceno com a cabeça, afinal de contas estava ao lado de toda a Grifinória.

- Você nunca para de comer? - Disse Hermione, indignada, para Rony.
- O que? Estou com fome! - Ron respondeu com a boca cheia.

Eu e Gina nos entreolhamos e rimos. Só esses dois que não conseguiam ver que existia algo a mais entre eles! Lentamente meu irmão foi se aproximando de onde estávamos todos sentados.

- Posso me juntar a vocês? - Em um tom muito triste pro meu gosto.
- Claro, Harry, você não precisa nem pedir! - Disse Gina, que ficou corada depois que Harry a olhou e sorriu.

Eu achava muito engraçado como se davam as relações dentro daquela escola. Eu não sabia se podia chamar isso de poder, mas eu sempre consegui enxergar além do que havia para se ver. Não houve uma só vez que eu tenha dito que um casal ia se formar, e ele não tenha se formado. Acho que eu tinha uma espécie de sensibilidade maior a esse sentimento e sempre consigo perceber que “o amor está no ar”. Eu notei que meu irmão estava meio triste, mas infelizmente estava preocupada demais com meus próprios problemas para poder ajudar. Mesmo porque ele podia ficar ainda mais triste se soubesse de mim e Draco. Eu tinha que me encontrar com ele o mais rápido possível e resolver essa questão de uma maneira que me favorecesse, antes que fosse tarde demais.

A primeira aula depois do almoço era de Poções. Snape, o mesmo homem que tinha me escoltado pelo meio da confusão, era o professor que ministrava essa matéria. A sala era escura e fria, por ele ser o diretor da Sonserina, ela ficava nas masmorras. Assim que entrei, vi se sacudindo toda para que eu a visse e fosse sentar ao seu lado.

- , a sala é pequena, você poderia ser mais discreta! - Exclamei bem humorada.
- Humpf, me deixa ser espalhafatosa, ! Você por um acaso está se escondendo de alguém?- Ela disse, rindo. – Acho que depois de hoje de manhã, você não vai conseguir nem se tentar. - Ela me zoou.

No momento em que ela disse isso, eu desviei meu olhar, sem razão, para a porta. E, por ela, vi entrar de quem eu queria me esconder. Malfoy. Ele entrou pela sala e olhou diretamente para mim, com uma expressão séria. De alguma maneira, eu senti a presença dele e não pude tirar os olhos de sua figura até que me obrigassem a isso.

- Ow, ow! - disse, estalando os dedos na frente de meus olhos. – Acorda, !
- Estou acordada, ! – Disse, sendo desperta daquela hipnose.
- É mesmo? Mas não parece! Não conseguiu tirar os olhos de Draco Malfoy assim que ele entrou na sala… , , isso não vai prestar – ela disse em tom de repressão.
- Isso o que, ? – Disse, levantando uma das sobrancelhas.
- Você ficar olhando dessa maneira pro Draco! - Ela retrucou minha intimidação.
- Eu já disse a você, , enquanto eu só olhar…
- , você não respirou durante os cinco segundos que vocês se encararam! - Ela disse antes que eu pudesse terminar de falar. – O que está acontecendo?

Antes que eu tivesse que responder, Snape entrou na sala. Estava começando a gostar daquele cara, sempre que estava em uma situação complicada era ele quem me salvava. Mesmo assim, eu tinha que tomar mais cuidado, não seria sempre que conseguiria continuar fugindo da raia. e eu ainda não nos conhecíamos muito bem, no entanto, nós estávamos andando grudadas demais para ela não perceber nada. Se ela percebeu, não demoraria muito para que meu irmão, ou alguém próximo a ele, notasse. Tinha que resolver essa situação e era já! Apesar de estar cheia de coisas na cabeça, eu me diverti muito na aula de poções. Eu fazia muitas com meu pai, quando morava na França, então não tive maiores dificuldades.

- Gosta de poções, senhorita Potter? - Me perguntou Snape ao perceber que minha poção estava perfeita e quase pronta.
- Meu pai era alquimista, professor Snape. Era o que nós mais fazíamos juntos – disse, abaixando meu olhar para o caldeirão.
- Muito bem, senhorita Potter. Vejo que as lições de Nicolau foram bem aproveitadas, sua poção não tem erros. - Ele disse sem querer soar animado.
- Obrigada, professor – eu agradeci, me voltando para ele com um sorriso.

Assim que sorri pra ele, Snape virou as costas repentinamente e foi para a mesa de outros alunos. Se não fosse muito absurdo, diria que ele se assustou. Quem sabe? Ele me parecia ser uma pessoa tão fechada e triste, não devia receber muitos sorrisos gratuitos. Ainda mais de uma aluna que ele nem conhecia! Terminei de preparar minha poção e fiquei ajudando a terminar a dela, definitivamente ela não tinha talento pra isso! A poção dela ficou um desastre, mas pelo menos nos divertimos durante a aula.

- , , me espere! - Gritou Hermione ao ver que eu já estava saindo da sala com .
- O que foi que Snape estava falando com você? - Ela me perguntou assim que nos alcançou.
- Nada demais, só elogiou minha habilidade em poções… - Disse, despreocupada.
- Ele te elogiou? - Hermione me perguntou, surpresa.
- Sim, algum problema? - Perguntei a ela.
- Nenhum, , só é um tanto estranho porque Snape nunca foi de elogiar ninguém… E nem usou de nenhuma de suas tradicionais ironias e perguntas constrangedoras, como fez com seu irmão na nossa primeira aula de poções...
- Talvez seja porque não havia ninguém que merecesse os elogios – disse sem pensar.

Continuamos a caminhar para a sala da nossa próxima aula, no entanto, Hermione permaneceu calada depois do que havia dito. Eu não precisava conhecer mais dela para sentir que ela estava com inveja de mim. Mas acho que logo passaria, era só uma questão de tempo e adaptação. Nem prestei muita atenção na aula seguinte, considerando ciúmes ou não, fiquei encucada com o que Hermione me disse. Ele nunca ter elogiado ela era compreensível, Snape foi da Sonserina e era o diretor da casa. Não me admiraria que ele tivesse a mesma mentalidade que a grande maioria dos estudantes da Sonserina tinham. Mesmo assim, existiam alunos, da Sonserina mesmo, que se saiam tão bem quanto eu em poções. Quando eu estava no meio de minhas divagações na aula de História da Magia, me dei conta por que Hermione havia dito aquilo. Se Snape não elogiava nem os alunos que pertenciam a sua casa, não era de se esperar que ele elogiasse Hermione que era da Grifinória e uma sangue-ruim. Mas eu era Grifinória, e apesar de ser só mestiça, era uma Potter! Mesmo que tivesse uma pontinha de inveja, Hermione não disse aquilo só de birra. Isso sem contar a maneira estranha que ele me olhava, não pejorativamente, ele me olhava com um certo... carinho? Enfim, prefiria não pensar nisso naquela hora, já tinha problemas demais com a Sonserina para querer outros. Ao anoitecer, aconteceu uma coisa rara,eu finalmente consegui ficar sozinha. Meu irmão havia sumido mais uma vez, Hermione e Ron estavam ocupados estudando para os N.O.M.S, e havia me deixado no pátio pra correr atrás de um cara da Corvinal. Assentei-me na grama para aproveitar aquele raro momento e senti a brisa, já fria por causa da proximidade do inverno, bater no meu rosto. Assim como a brisa, que veio repentina, pensei em meus pais. Onde será que eles estavam naquele momento? Será que ainda estavam vivos? Queria tanto poder conversar com Dame Perenelle sobre o que estava acontecendo agora. Com certeza, ela saberia me aconselhar sobre Draco...

Diziam que o que você pensava e o que você dizia era o que você atraía para sua vida.

Maldita hora que fui pensar em Draco.

- Potter, quem diria, hein? - Draco disse atrás de mim.
- Ainda estou me acostumando com isso. - Respondi sem me virar.
- Você acha mesmo que eu vou acreditar nisso, ? Seu irmão é mesmo muito babaca, oferecer a própria irmã, recém-descoberta ainda! - Ele disse em um tom profundamente irritante.
- Do que você está falando, Draco? - Disse já me levantando e me colocando de frente pra ele.
- , você pode ser qualquer coisa, mas idiota eu sei que você não é! - Ele exclamou com o sarcasmo pingando da voz. - Você e seu irmãozinho nojento não desconfiaram que essa farsa ia ser rapidamente desmascarada? O que o Potter queria de mim pra te colocar assim, em minhas mãos?
- Draco, sinceramente não estou conseguindo te entender. - Eu disse séria a cruzar os braços no peito.
- Pare de pensar que você vai continuar me enganando, mestiça! - Ele disse com desdém na voz. - Vocês não vão conseguir nada de mim. Mas considere-se com sorte, não estou inclinado a expor essa situação. Potter já tem jornais demais estampados com sua fuça. - Ele disse enquanto ajeitava as mangas da camisa com um ar de superior.

Oh, céus, que braços!

Já estava começando a ficar acuada, como a maior parte das meninas ficava na presença de Draco. Não, não . Aquele não era o momento para ficar com medo, muito menos de reparar em Draco, e sim de acabar com ele. Apesar de eu não estar entendendo muito bem aonde exatamente ele queria chegar com aquela conversa, ele havia me ofendido e eu nunca deixava aquilo barato.

- Sorte? HAHAHA – eu ri malvada. - Não sei mesmo do que você está falando, Draco, quer você acredite ou não. Você pode ameaçar o quanto quiser, não tenho medo de você. - Disse com tranquilidade.
- Você perdeu a noção do perigo, garota? Sabe os prejuízos que posso causar a você, se alguém souber? - Disse ele, começando a ficar realmente irritado.
- Perigo? Que perigo?- Eu disse com muita ironia. – Você tem como provar o que aconteceu, Draco? Até onde eu sei, ninguém viu e nenhum de nós contou para ninguém…
- Mas eu posso contar, mestiça, e não me prejudicaria em nada. Já a sua imagem… - Ele disse em um leve tom de ameaça.
- Não te prejudicaria em nada? Acorda, garotinho. - Disse enfatizando o jeito de chamá-lo. - Quem vai acreditar que isso realmente aconteceu? Ou melhor, quem vai acreditar que não é você que está se bandiando pro lado do meu irmão?
- Eu nunca faria isso. Não tem benefício nenhum em ficar ao lado dos perdedores. - Disse ele com desprezo.
- Você pode contar, Draco. Sinta-se à vontade, meu caro. Mas será a sua palavra contra a minha… E bem, nessa realidade que estamos vivendo onde todos os inimigos do meu irmão estão conspirando contra ele, as pessoas que são importantes para mim acreditariam na minha palavra. – Disse, sorrindo sarcástica.
- Não vou perder mais tempo com você. Está avisada.

Dizendo isso, ele saiu, e eu respirei profundamente.

Ufa!

Por um momento, eu pensei que fosse perder o controle da situação. Talvez se ele não tivesse me ofendido como fez, eu teria mesmo perdido. Eu não queria brigar com Draco, apesar de saber que era inevitável. Tentei manter a calma, mas não funcionou. Assim que ouvi ele me chamar de sangue-ruim, eu perdi as estribeiras e quando eu começava, eu iria até o fim. Era do sangue da minha mãe que ele estava falando! Agora uma coisa eu não poderia ignorar.

Que puta sorte eu tinha!

A neura que Draco tinha com a minha família, mais especificamente com meu irmão, não poderia ter aflorado em hora melhor. Logo de imediato ele achou que eu tinha me aproximado dele de caso pensado, a mando do meu irmão, para tirar vantagem dele de alguma maneira. Draco provavelmente pensou que eu e meu irmão planejamos tudo, desde o trem. Do jeito que ele era psico, deveria estar pensando que, na verdade, eu não estava na cabine e entrei lá de propósito, e que pretendia continuar com isso até que fosse útil para Harry.

Que imbecil.

Nem eu, nem meu irmão faríamos um plano tão tosco, e tão sem sentido. Eu já sabia que assim que chegasse, ia demorar no máximo três dias para que todos descobrissem. Agora me fala, o que eu ia conseguir do Draco em três dias? Mas graças a isso eu estava salva. Se Draco achava que aquilo só aconteceu por causa do meu irmão, e veio tirar satisfação comigo queria dizer que ele não falaria nada com o Harry! Provavelmente não falaria nada pra ninguém depois que ele enxergou que isso podia trazer prejuízos a ele também… Antes que eu pudesse concluir o meu complexo raciocínio sobre o que acabara de acontecer, ouvi alguém chamar meu nome.

- O que você está fazendo aí, sozinha e no frio, ? - Ron disse, se aproximando de onde eu estava.
- Rony! - Exclamei surpresa por vê-lo ali. – Nada demais, só estava aproveitando pra ficar um pouco sozinha… Pra pensar nas coisas sabe? - Disse simpática.
- Você é mesmo irmã do Harry – ele disse, rindo. – Mas escuta, - ele disse, mudando completamente o tom de voz – o que você estava conversando com o Malfoy, ? Você sabe que ele e seu irmão se odeiam, não sabe?
- Claro que sei, Ron! Antes mesmo de vir pra Hogwarts… - Exclamei com veemência. – Ele só está feliz porque agora tem mais alguém pra infernizar a vida. Mas o que você veio fazer aqui? - Desconversei.
- Eu estava procurando você! Se seu irmão chegasse ao Salão Comunal e não te encontrasse… Eu estou tentando amenizar as coisas pra ele. - Ron disse, solidário.
- Nossa, Rony, isso é muito amável da sua parte. Eu fico muito feliz em saber que Harry está cercado de pessoas que o querem bem, apesar de tudo. – Disse, colocando minha mão levemente sobre a sua.
- Então vamos? - Disse Rony, se levantando rapidamente.
Não tão rapidamente a ponto de conseguir disfarçar que estava corado. Será que fiz mal? Afinal de contas foi só um gesto de gratidão, pelo grande apresso que ele tinha pelo meu irmão. Não que Ron não fosse atraente, era e muito pra ser bem honesta, mas não podia fazer isso com Hermione. Fomos caminhando até o Salão Comunal, conversando sobre trivialidades. Ron, além de ter um coração de ouro, era muito engraçado, não pude evitar as gargalhadas junto com ele quando passamos pelo quadro da mulher gorda. Nem precisei olhar pra Hermione, eu senti que o olhar dela estava em mim. Não tinha acontecido nada, então, eu não tinha razão pra ficar apreensiva, me assentei na poltrona que estava em sua frente.

- Onde você estava, ? - Ela perguntou, me olhando por cima do livro que estava lendo.
- Aproveitei que estava todo mundo ocupado e fui pro pátio pensar um pouco… - Disse, cruzando as pernas em cima do braço da poltrona. - Harry ainda não voltou?
- Ainda não, até cheguei a pensar que ele estava com vocês… Daqui a pouco ele aparece. - Ela disse, voltando seus olhos novamente pra o livro.
Percebi que ela não estava pra conversa. Vendo que não estava por ali, eu resolvi subir para o dormitório. Tinha sido um dia ainda mais cheio e se eu não conseguisse dormir direito aquela noite logo, logo estaria parecendo um zumbi.

Rony's POV

Eu ainda não sabia bem como me posicionar diante de tudo o que estava acontecendo. A chegada de mudou completamente o cenário que eu imaginava para esse ano. E mudou em diversos aspectos. Acho que o que estava segurando Harry agora era a presença dela, ele sempre viveu a triste história de se sentir sozinho por não ter família. Quando encontrou Sirius, as coisas melhoraram um pouco, mas querendo ou não ele era só o padrinho dele. Era diferente com , ela era sangue do sangue. Às vezes, eu desconfiava que Dumbledore sabia o que aconteceria, ele não poderia ter escolhido ano mais propício para colocar e Harry juntos novamente. Mesmo com a alegria dela estar conosco, ainda sentia que meu amigo estava muito triste e que só estava fazendo um esforço para não se isolar de todos porque não seria justo com sua irmã.

Era justamente por isso que eu iria contar o que vi naquela noite.

Tinha sempre alguém querendo atrapalhar a nossa felicidade, no caso de Harry, era sempre mais de uma pessoa. Ali em Hogwarts seu nome era Malfoy. Eu poderia apenas contar a ele que Draco andava infernizando a vida de também e me ateria àquele fato.

Antes fosse só isso.

Eu podia não ser o mais experiente em matéria de relacionamento, mas não era um completo idiota. era uma das mulheres mais lindas e atraentes que já vi em minha vida, seria totalmente previsível que Draco olhasse para ela.

Eu olhei.

Admito que olhei, era encantadora. Até mesmo Snape, que praticamente nunca se dirigia aos alunos (a não ser para ironizá-los e humilhá-los ), foi capaz de elogiá-la! Então era perfeitamente compreensível que Draco se interessasse por ela. Mas o fato de ser compreensível não tornava essa possibilidade aceitável. E era por isso que Harry tinha que saber. Se Draco estava tentando se aproximar de , não podia fingir que era só por causa de suas qualidades. era irmã de Harry, portanto um modo fácil e sem erros de conseguir chegar ao meu amigo. Draco queria alguma coisa que pudesse prejudicar Harry, mas se ele pensava que iria usar para conseguir isso, estava muito enganado.
Hermione tinha acabado de subir para o dormitório das meninas quando Harry chegou ao Salão Comunal. Ainda tinha alguns alunos por lá, mas mesmo assim o chamei para conversar.

- Harry, preciso falar com você… - Disse com cautela.
- Pode dizer, Ron, o que está acontecendo? - Ele me perguntou serenamente.
- Bom, hoje quando você sumiu de novo, eu fiquei na biblioteca com Hermione estudando para esse malditos N.O.M.S.... Assim que voltei para o Salão Comunal, vi que nem você e nem estavam. Até cheguei a pensar que vocês estivessem juntos, em alguma reunião com professor Dumbledore, mas aquela amiga dela me disse que ela havia ficado no pátio.
- Vá direto ao ponto, Rony! - Ele disse já soando preocupado.
- Fui até o pátio procurá-la, porque já estava tarde e eu sabia que se você chegasse aqui e ela não estivesse, ia se preocupar. Quando cheguei lá, Malfoy estava falando com ela.
- Malfoy? O que ele queria com ? - Ele disse já soando bastante apreensivo.
- Não sei, Harry, eu não consegui ouvir o teor da conversa. Mas se tratando de Malfoy, boa coisa não pode ser…
- E depois, Ron? Você perguntou a ? - Ele soava ainda mais preocupado.
- Claro, Harry! Assim que ele foi embora, eu fui até onde ela estava. Quando a questionei, ela disse que ele estava “feliz por ter mais uma vida pra infernizar.” - Eu respirei fundo e continuei – Mas quer saber o que eu acho, Harry?
- Provavelmente é a mesma coisa que eu acho, Ron – e eu li em seu rosto a expressão que me dizia tudo, raiva. - Malfoy pode infernizar minha vida, eu não ligo, já estou acostumado e já aprendi a ignorar quando me convém. Mas com a minha irmã, ele não vai mexer. - Disse com mais raiva ainda. - E o que você pretende fazer?
- Eu vou procurá-lo o mais rápido possível, Ron, se ele pensa que vai usar minha irmã para chegar a mim, está muito enganado! Se ele ousar encostar em , eu não respondo por mim. – Completou, fechando os punhos de ódio.

Por mais que eu amasse muito meus irmãos, eu não tinha esse senso de proteção e responsabilidade que Harry tinha com . Talvez fosse porque eu tinha seis enquanto ele só tinha uma. Contei a Harry porque achei que ele precisava saber, mas pessoalmente não achava que precisasse ser protegida.

Eu era que precisava me proteger dela.

Desde o primeiro momento que a vi entrar no Salão Comunal com Harry, eu não me sentia mais o mesmo. Tinha alguma coisa, além da sua evidente beleza, que me instigava nela. Eu ia tirá-la da minha cabeça. Ia mesmo. Eu achei que fosse ser melhor nem começar a nutrir nenhum sentimento por ela, já que ela era irmã do meu melhor amigo e acabou de chegar.

Até aquele dia.

Foi a primeira vez que tive a oportunidade de me aproximar dela, sem que mais ninguém estivesse por perto. A noite que chegava e ela, faziam um lindo contraste de cores. Os azuis escuros do céu, o verde de seus olhos, o brilho da lua, seus cabelos vermelhos e a pele alva. Uma cena tão linda quanto uma pintura, só que real e, o melhor de tudo, palpável. Não sabia quais foram as intenções de quando ela colocou sua mão sobre a minha perna de uma forma tão carinhosa, mas agora já era tarde demais pra mim.

Não conseguia mais parar de pensar naquele momento.

Tinham horas que estava rolando na cama sem ser capaz de pregar os olhos, tudo o que via quando tentava fechá-los eram os olhos dela. , entre todas as meninas que eu poderia ter me interessado, fui me encantar logo por ela. Isso era mau, muito mau. Apesar de eu não estar muito confortável com a ideia de querer a irmã do Harry, eu acho que ele não acharia tão ruim, afinal de contas, eu era seu melhor amigo

Depois as mulheres não queriam ser taxadas como motivo de discórdia.

Harry's POV

Assim que saí da floresta, fui direto para o Grande Salão para almoçar com meus amigos e minha irmã antes das aulas da tarde. Não sabia quem que criava a grade de horários em Hogwarts, mas aula de poções logo após do almoço? Perigoso alguém passar mal com as ironias do Snape.
Nunca imaginei que fosse ver Snape ser simpático com ninguém, afinal ele não era nem com os alunos que pertenciam à Sonserina... Fiquei um tanto em choque quando o vi conversar com e mais em choque ainda quando a vi sorrir para ele. Parecia que não foi só a minha vida que veio mudar.

Depois do jantar, eu resolvi andar um pouco. Deixei que a confusão na saída do Grande Salão me engolisse para despistar a todos. Caminhei durante um bom tempo pelo campo de Quadribol, aproveitando para pensar em jogadas, táticas, estratégias para a próxima temporada, que já se aproximava. Não pude evitar pensar na conversa que eu havia tido com Luna naquela tarde. Ela tinha razão, por mais que o vazio e a solidão estivessem tentando me preencher, eu tinha que reagir. Ganhei um presente especial para conseguir suportar o que tinha que suportar desde que descobri que era um bruxo. Não era justo com que eu me isolasse e sumisse repentinamente, e não era justo comigo, que esperei durante quinze anos para ter uma família. Fui às pressas para o Salão Comunal, queria abraçar minha irmã e dar a ela todo o carinho que nós dois merecíamos compartilhar depois de anos de privação. Quando cheguei, percebi que a maior parte dos alunos já estava nos dormitórios, mas senti um alívio quando vi um rosto amigo. Ron ainda estava acordado, mas seu semblante era sério.Tinha mais medo da frase “preciso falar com você” do que de qualquer outra coisa. Eu quase nunca via Ron preocupado com alguma coisa, então quando isso acontecia, eu sabia que o assunto era sério.

Eu só não imaginava quanto.

Só de pensar em Draco perto da minha irmã, o sangue me subia à cabeça. Eu sabia que era só questão de tempo para que começasse a me dar trabalho. Rony tinha razão, Draco não estava se aproximando da minha irmã à toa. Desde quando eu o vi olhando fixamente para ela, naquele dia no pátio, eu temi que isso fosse acontecer. Iria procurar Malfoy e deixar claro que, se ele voltasse a procurar minha irmã, iria acertar contas comigo.

Acordei extremamente de mau humor no dia seguinte, demorei demais a pegar no sono por causa do que Ron tinha me dito, e quando finalmente consegui dormir, tive o mesmo pesadelo com a porta. Mas uma dose extra de mau humor não iria fazer mal hoje, não era preciso gentilezas para conversar com Malfoy. Sentei pra tomar café da manhã e mal consegui engolir alguma coisa, estava ao meu lado e eu vigiava os olhares de Draco para ela feito um cão de guarda. Engoli um pouco de ovos com bacon e um suco de abóbora, e por mais que não estivesse passando nada pela minha garganta, tamanha era minha raiva, eu precisava comer. Eu ia me reunir com o time de Quadribol, antes que a temporada começasse, para um treino de retorno e os teste do início do ano, então não podia ficar de estômago vazio. Já estávamos na porta do Grande Salão quando ouvimos a voz de Umbridge.

- Me desculpe, professora, mas o que está insinuando? - Perguntou a cara de sapo, indignada.
- Só pedi que, no que diz respeito aos meus alunos, você siga as regras disciplinares prescritas – respondeu a Professora McGonagall com muita firmeza.
- Pode parecer bobagem, mas soou como se estivesse me questionando na minha própria sala de aula, Minerva. - Umbridge retrucou em um tom extremamente irônico.
- De modo algum, Dolores. Apenas seus métodos medievais. - McGonagall disse já soando um pouco irritada.
- Me desculpe, querida, mas questionar minhas práticas é questionar o Ministério. E por extensão, o ministro em pessoa! Sou uma mulher tolerante, mas se tem uma coisa que não tolerarei, é deslealdade. - A cara de sapo disse, se achando a dona da razão.
- Deslealdade? - Professora McGonagall questionou, incrédula.
- As coisas em Hogwarts estão bem piores que eu temia. - Umbridge disse, se dirigindo aos alunos que haviam se aglomerado por causa da discussão. - Cornélio terá que agir imediatamente!

Dizendo isso, ela subiu as escadas e foi em direção à sua sala. Aquilo significava problema, tinha certeza, mas estava muito preocupado com outros assuntos no momento. A ideia de Draco pensar que poderia se aproveitar de me perturbou a manhã inteira. Eu estava tão puto que nem mesmo treinando Quadribol eu conseguia esquecer. Terminei o treino mais cedo e fiquei esperando nos arredores do campo, a Sonserina ia realizar seus testes logo depois de nós, era a minha chance de confrontá-lo.

- Você não tem nenhuma vergonha na cara, não é mesmo, Malfoy? - Disse assim que ele passou por mim sem me notar.
- Do que você está falando, Potter? - Ele disse, se virando para mim.
- Eu não vou te mandar recados, Malfoy, estou vindo te avisar pessoalmente. Se é briga que você quer, é briga que você vai ter. Você está brincando com a sorte e minha paciência com você já se esgotou. Se você não ficar longe de , eu vou transformar sua vida em um inferno. Espero que eu tenha sido suficientemente claro.
Nem dei chance para ele dizer qualquer coisa, depois que o avisei, eu simplesmente saí e o deixei plantado lá. Mesmo que ele tentasse me explicar, eu não ia querer ouvir. A única coisa que eu queria era que ele ficasse longe de , então meu aviso bastava. Saí andando rapidamente até o castelo, sem fazer ideia do que estava me aguardando.

DECRETO EDUCACIONAL 23: DOLORES JOANA UMBRIDGE
FOI NOMEADA PARA O CARGO DE
ALTA INQUISIDORA DE HOGWARTS.


É, agora fudeu.

Draco's POV

Fiquei esperando uma oportunidade para falar com . Agora que eu sabia que ela tinha me enganado, não poderia dar uma de idiota e marcar um encontro com ela ou coisa assim. Passei a observá-la ainda mais do que antes, em busca de um momento que ela estivesse sozinha.

O que não demorou muito, para meu alívio.

Fiquei observando a saída dos alunos da Grifinória durante a última aula do dia. Vi Potter sumir no meio da multidão enquanto Rony e Hermione se dirigiam para as escadas, pensando que seu amigo estava logo atrás deles. Ótimo, agora a única coisa que faltava era aquela amiga de , a tal , se afastar também para que eu pudesse me aproximar…

E tudo conspirou a meu favor.

Abri um sorriso quando vi que a amiga dela tinha saído de perto, conversando com um grupo de alunos da Corvinal. foi para o pátio e se sentou na grama (qual seria o problema daquela garota com bancos?). Eu a observei durante mais alguns minutos até que fiquei convencido que era seguro me aproximar sem que ninguém visse.

Em resumo, ela me desarmou completamente.

Por mais que detestasse admitir, ela tinha razão. Eu simplesmente não podia usar o nosso encontro contra ela, porque ela poderia se apoderar da mesma informação e usá-la contra mim. podia ser qualquer coisa, mas ela não era idiota, conseguiu os argumentos perfeitos para me manter calado.

Pelo menos por hora.

Na manhã seguinte, eu estava determinado a tirar aquela garota da minha cabeça, por mais que ela fosse deliciosa era uma mestiça, tinha sangue-ruim correndo nas veias. E disso eu tinha nojo, isso eu não podia aceitar de jeito nenhum. Talvez fosse melhor me concentrar no meu ano letivo, eu nunca fui um aluno estudioso, mas precisava ocupar a minha cabeça com alguma coisa que não fosse meus pensamentos sujos com . Argh! Sentei-me para tomar café e não pude evitar em levantar um pouco os olhos para a mesa da Grifinória, não podia mais chegar perto dela, mas olhar para ela só faria bem aos meus olhos. Percebi que especialmente naquele dia, Harry não tirou os olhos de mim, o que me obrigou a ser ainda mais discreto com meus olhares. Provavelmente aquele verme devia estar checando se seu plano ainda estava em prática, não devia ter contado ainda que eu já tinha descoberto toda a armação dos dois.

Aproveitei o tempo que eu tinha antes do treino de Quadribol para me adiantar quanto aos N.O.M.S., até mesmo Draco Malfoy precisava estudar. Quando o treino da Grifinória estava quase no fim, eu cheguei ao campo e fiquei observando, de longe, algumas jogadas feitas por eles. Assim que eles terminaram, eu me dirigi ao campo, ainda distraído demais com meus pensamentos, eu nem percebi o Potter me esperando encostado em um dos mastros da arquibancada. Ele estava tão furioso que não me deixou falar nada.

Furioso demais pra quem teoricamente sabia de tudo.

Ele me ameaçou seriamente. Potter não estava com ar nenhum de quem estava representando, eu nunca vi tanto ódio no olhar dele antes. Eu estava tão confuso com meus pensamentos que não estava prestando atenção no treino e resolvi voltar para o Salão Comunal. Se eu não estava ajudando, eu não ia atrapalhar meus colegas de time. Sentei-me em uma das poltronas para tentar colocar as ideias em ordem, eu realmente estava achando que a aproximação de tinha um dedo podre do seu irmão no meio. Mas a maneira que ele falou comigo me fez pensar diferente, o Potter não teria me ameaçado daquela maneira sem razão. Não pude evitar deixar surgir um sorriso malicioso quando finalmente cheguei a uma conclusão dos fatos. Se não se aproximou de mim a mando de Harry, fez isso por sua conta e risco, fez porque me desejava tanto quanto eu a desejava. Foi tão irresponsável, tão inconsequente, tão impulsiva, tão sexy… Não, eu não podia mais pensar assim em relação a ela. Mesmo tendo de admitir pra mim mesmo que ela foi muito corajosa, ou muito safada, por ter ido se encontrar comigo mesmo sabendo de todas as consequências que seu ato poderia acarretar.

E foi então que me ocorreu.

Se todo o meu raciocínio estivesse correto, não fez nada a mando do irmãozinho dela, o que queria dizer que o idiota do Potter realmente não tinha nada a ver com aquilo. O que queria dizer era que ele não sabia de nada. E isso era muito, muito interessante para mim. Por mais que ela tivesse razão quando disse que o vazamento dessa informação prejudicaria a nós dois, o fato de Harry não saber deixava-a em minhas mãos. Na verdade, era uma faca de dois gumes, de certa forma, eu também estava nas mãos de e ela já se deu conta disso.

Que situação inesperada.
Eu estava satisfeito, me queria e isso bastava para que a colocasse em constante aflição. Sem querer, ela me deu o motivo e a oportunidade de infernizar sua vida além do meu ódio, já conhecido pela sua família e pela sua raça. Achei melhor não esperar mais, me levantei da poltrona determinado a achá-la, afinal de contas ela já devia estar sentindo minha falta. Antes que eu pudesse sair do Salão, minha perseguidora cativa resolveu aparecer.

- Draquinho, por onde você andou durante esses dias? - Ela disse, pulando em meu pescoço.
- Pansy… Pois é, andei preocupado com os N.O.M.S.. Com Umbridge aqui eu não posso deixar de estudar… - Inventei a desculpa que me veio mais rápida à cabeça.
- Você? Estudar? - Ela disse em tom de deboche. - Você nunca precisou disso! Ainda mais com a influência que seu pai tem no Ministério, você não precisa ficar se preocupando com essas bobagens. Você devia ocupar seu tempo e seus pensamentos com outro tipo de coisa – ela disse sugestiva, enquanto passava a mão pelas minhas costas e ia subindo até minha nuca.
- Ah, é mesmo? - Disse em um tom desinteressado. – Como o que, por exemplo?
- Ora, Draco, não me diga que você não sabe? - Ela disse, arranhando minhas costas de leve. – Já faz muito tempo que nós não damos um volta pelas masmorras… O que você acha? - Ela olhava para mim como se fosse me engolir.
- Não seja dramática, Parkinson – eu disse, me afastando dela. – Não faz nem uma semana.
- Por isso mesmo! Você quer deixar todo esse tempo passar e vai me deixar na vontade, sem razão? - Ela perguntou enquanto voltava a se aproximar de mim.
- Você está lembrada da última vez? Se lembra por que eu saí de lá sozinho, Pansy? - Eu disse em um tom de sério.
- Sim, eu me lembro que você me pediu para pensar! Mas eu não preciso pensar, Draco! Eu sempre quis e sempre vou querer você. - Ela disse, me abraçando.
- Não sei disso, não, Pansy, - Eu disse desentrelaçando os braços dela de minha cintura. – Da última vez você deu a entender que não tinha gostado…
- Não, Draquinho, mas é claro que eu gostei! Eu sempre gosto… - Ela disse, ensaiando uma cara de pena. - Mas que daquela vez você nem me esperou…
- Então você está me dizendo que eu não sou capaz de te dar prazer? - Permaneci com o mesmo tom sério.
- Não, Draquinho, você está entendendo tudo errado! - Ela disse praticamente miando.
- Não, Pansy, eu estou entendendo muito bem. Saia daqui, você é patética.

Voltei-me até a poltrona e me sentei novamente. Pansy continuou em pé ali por mais alguns instantes, mas saiu sem falar nada. Era bom tê-la aos meus pés, mas, no momento, minha cabeça estava ocupada demais com , então só iria cozinhá-la em banho-maria. Para aqueles momentos de necessidade, sabe?

Se o que eu queria, eu não podia ter, tinha que me virar com o que eu tinha, não era?





Capítulo 8 - Então é isso que é sentimento?


's POV

Na manhã seguinte, eu acordei de muito bom humor. Finalmente eu havia conseguido ter uma boa noite de sono e estava descansada, pronta para começar o dia sem reclamações. Infelizmente, acho que a única pessoa que dormiu bem fui eu. Meu irmão, Hermione, Rony, todos eles estavam com cara de quem não queria ter levantado da cama. Seguimos para o Grande Salão para desfrutar de mais um delicioso café britânico. Eu adorava o café da manhã, além de eu poder comer tanto doces quanto salgados que eu gostava, era uma refeição democrática. Tanto os bruxos quanto os trouxas tradicionalmente tomavam o mesmo café da manhã. Ovos com bacon e uma xícara de chá. Sentei-me na mesa ao lado de , e Harry se apressou para pegar o outro lugar ao meu lado. Tomei meu café da manhã normalmente mesmo com o clima pesado que eu estava sentindo entre Harry e Draco… Eu já falei isso, não é? Que eu sentia as coisas mais do que as outras pessoas… Meu irmão estava tenso ao meu lado, olhava para Draco como uma forma de reprimir os olhares dele em minha direção, enquanto Draco aproveitava os breves momentos de desatenção de Harry para levantar seus olhos para mim. Tratei de comer rápido, aquela situação já estava ficando estranha demais. Harry foi treinar Quadribol enquanto ia para a minha aula de Estudo de Trouxas, a única matéria que eu fazia sozinha… Harry e Hermione haviam nascido e crescido como trouxas então já sabiam de tudo que precisa se saber sobre eles… Rony tinha um pai que trabalhava com isso e era tão bruxa que não considerava estudar isso útil. Eu, tendo sido criada por um estudioso, adquiri um certo gosto pelo conhecimento, além de achar o mundo deles extremamente fascinante!
Quando eu fiquei sabendo que viria para Hogwarts, eu tinha expectativas de que cada dia seria uma aventura.

Eu só não podia prever o quão certa eu estava quando pensei dessa maneira.

Em um minuto, eu estava andando na direção da minha sala, no outro, minhas roupas estavam sendo puxadas e minha boca tampada. Depois disso, me deparei com uma cena que molhava minha calcinha só de lembrar; Draco prensava meu corpo contra a parede enquanto me mantinha calada. Permanecemos daquela maneira durante uns dois minutos, estávamos aproveitando, sim, não seríamos hipócritas. O corpo dele colado no meu, seu perfume me inebriando, sua boca tão próxima da minha, seus braços que me seguravam com firmeza e seus olhos acinzentados que me fitavam com muito desejo. Aquela situação me enlouqueceu de tesão. Por mais que eu sempre tivesse me orgulhado de ser uma mulher forte, na cama eu gostava mesmo era de ser submissa. Diante desse cenário tão erótico, eu não consegui me policiar e suspirei profundamente quando senti o volume dele encostar no meio das minhas pernas.

- Quer que eu te coma aqui mesmo, ou devemos procurar um quarto? - Ele disse, sussurrando em meu ouvido.

Por um segundo, eu pensei em responder o que o meu corpo queria que eu respondesse. Pensei em dizer que sim e levantar minhas pernas na altura da sua cintura, afastar minha calcinha com os dedos e pedir lascivamente para que ele me tivesse.

Por Merlin, ainda bem que foi só um segundo!

No segundo seguinte, eu recuperei a razão e consciência da situação, eu estava quase me atracando com Malfoy em um corredor da escola, em plena luz do dia! Girei seus pulsos para que ele fosse obrigado a me soltar se não quisesse sofrer uma torção, e me afastei.

- O que você pensa que está fazendo, Draco? – Disse, tentando soar com raiva.
- Vai me dizer que você não estava gostando? - Ele disse, colocando as mãos em minha cintura. – Não, não precisa dizer nada. – Ele se adiantou antes que eu pudesse protestar. – Seu suspiro, cheio de vontade, já disse tudo por você.
- Quem você pensa que é, Malfoy? – Disse, tirando suas mãos de minha cintura violentamente – Só pode estar completamente maluco!
- Ah, , cale a boca! – Ele disse com desdém. – Quem é você pra falar de sanidade?
- Por que você acha que eu não tenho moral pra falar disso? – Disse, cruzando os braços.
-Bem, vejamos… Ora, não sei, acho que podemos perguntar a Harry o que ele acha dessa situação toda entre nós. - Ele disse, sarcástico.
- Eu já te falei que se você tentar me fuder, eu te levo junto – disse, tentando soar tranquila. –Estamos em uma Guerra Fria, onde a questão é: quem vai apertar o botão vermelho primeiro?
- Guerra Fria? Botão? Apenas uns dias sem me ter e você já fica assim? Desorientada? Se não fosse ser tão repugnante para mim, eu até te faria uma caridade. - Ele disse com o olhar distante.
- Me desculpe, eu me esqueci que você é tão limitado que gosta de limitar até uma coisa que nunca é demais: Conhecimento. - Disse para inferiorizá-lo, sabia que isso ia deixá-lo puto.
- Esse tipo de conhecimento de sangue-ruim eu faço questão de não ter, Potter. Mas não foi disso que eu vim tratar com você – ele disse enigmático.
- Então, a que devo a honra da vossa atenção? - A ironia pingando da minha voz.
- Eu só vim te avisar, , que se você acha que eu estou em suas mãos saiba que está muito enganada. Você depende bem mais da minha boa vontade, do que eu da sua. - Ele disse com um olhar sugestivo.
- Nós estamos em igual condição…
- De maneira alguma! - Ele exclamou antes mesmo que eu pudesse me defender. – Seu irmãozinho nunca te perdoaria se ele soubesse… Porque ele não sabia, não é mesmo? Potter nunca planejou nada com você, não é? Na verdade, ele não faz a menor ideia da putinha promíscua que a irmã dele é!
- Eu não sou promíscua, Malfoy. - Disse sem me alterar por causa dos xingamentos. - Mas devo admitir que sou caleidoscópica.
- Você está admitindo pra mim que é duas caras então? - Ele disse indignado. – E você acha isso bom?
- Bom mesmo, Draco, é poder fazer algo diferente. Não se trata de ser duas caras, uma loucura às vezes não faz mal a ninguém. Ser vários em um, sabe? - Disse razoável. – Eu não fiz nada demais, não sou a primeira e nem a última pessoa que desejou uma coisa que não podia ter. Se até Eva comeu a maçã…
- Então você admite que me deseja? - Ele disse soando triunfante.
- E você não? Se você não me deseja, então o que foi aquilo naquela noite? - Retruquei no mesmo tom.
- Eu ainda não sabia quem você era, mestiça - ele disse, enfatizando as últimas palavras.
- E os olhares na hora do café? Pensa que eu não vi? Você me come com os olhos, Malfoy – disse, provocando-o. – E qual foi dessa maneira de me abordar? Você só precisava arrumar um desculpa pra si mesmo pra me agarrar sem sentir peso na consciência.
- Você é patética, Potter… - Ele disse com uma cara de nojo.
- Considere o meu aviso reiterado, se eu for pro fundo do poço, eu não vou sozinha – disse em tom de ameaça. – Então você controle o que tem dentro das calças…
- Me poupe, , você é quem vai ter que aprender a se controlar. Eu nunca mais vou chegar perto de você, você me dá nojo.

Dizendo isso, ele foi embora, me deixando parada ali no corredor. Eu não gostava de admitir, mas eu sabia que tinha fraquezas, quem que conseguia ser forte o tempo inteiro? Aquelas últimas palavras do Draco foram duras demais pra mim. Por mais que a gente não tivesse nada, não era bom ouvir de ninguém que você era objeto de desprezo, de asco, principalmente quando era essa pessoa que você mais estava afim...
Fui para a aula e tentei prestar atenção, mas aquelas palavras ficavam se repetindo na minha cabeça. Primeiro eu fiquei sentida, até cheguei a cogitar que talvez eu estivesse sentindo alguma coisa a mais pelo Malfoy… Mas não, tudo o que eu estava sentindo por aquele babaca naquele momento era raiva, muita raiva. Apesar de eu não estar surpresa com o comportamento e a petulância dele, não podia evitar meu sentimento. Se ele pensava que iria ficar constantemente me humilhando, estava muito enganado.
Resolvi voltar meus pensamentos para aula, afinal de contas, foi aquilo que eu fui fazer em Hogwarts; estudar. Talvez fosse aquilo mesmo que eu precisasse fazer, me concentrar em meus estudos e ignorar que a grande maioria dos meninos daquela escola olhava para mim como se eu fosse um pedaço de carne.

Quem me dera se o destino estivesse a fim de me ajudar.

Depois de me esforçar muito tentando entender o que era e como funciona a eletricidade, eu saí da sala com a cabeça latejando. Só queria me sentar um pouco no pátio, tomar um ar e me distrair. Estava a caminho quando, de repente, senti duas mãos pousarem sobre meu olhos, tampando a minha visão. A pessoa não disse nada que pudesse facilitar a adivinhação, então, em um rápido movimento, eu tirei as mãos da pessoa, que temporariamente me impedia de ver, e me virei, sorrindo.

Quase que imediatamente o sorriso sumiu do meu rosto.

- ? - Eu disse extremamente surpresa e sem acreditar no que estava vendo.
- , minha princesa! - Ele disse, me abraçando. – Como eu senti sua falta, minha linda! O que foi? Não está feliz em me ver?
- Claro que estou – disse sem soar muito animada. – Mas estou muito surpresa também! Desde quando? O que você faz aqui?
- Eu cheguei ontem bem tarde da noite. Meu pai conseguiu um excelente emprego como Chefe da Seção de Jogos e Esportes Mágicos no Ministério da Magia! - Ele disse, sorrindo. – Esse sempre foi o emprego dos sonhos dele, então minha mãe e eu o acompanhamos. Mas e você? O que você está fazendo em Hogwarts? E seus pais? Como estão?
- Meus pais? É, temos muito o que conversar então… - Disse com uma expressão séria e triste.

Caminhamos até o pátio e nos sentamos para conversar. Se ele havia chegado ontem, não devia fazer a menor ideia de nada que havia acontecido em minha vida ultimamente.

- Potter, ? Você é irmã de Harry Potter? - Ele disse, espantado.
- Eu fiquei tão surpresa quanto você… Tudo aconteceu muito rápido, nem tive tempo de me acostumar com a ideia e já tive que vir para cá – abaixei os olhos. – Nem mesmo tive tempo de me despedir dos meus pais…
- Sinto muito, , você sabe que eu gostava muito deles – ele disse, pegando em minhas mãos. – Quanto tempo tem que você não tem notícias?
- Pouco menos de uma semana… Mas pra ser honesta, eu prefiro ficar sem saber. Prefiro pensar que eles estão bem e felizes – e ao dizer isso, uma lágrima escorreu contra a minha vontade pelo meu rosto.
- Não chore, meu amor – ele disse, secando a lágrima solitária com o dorso da mão. - Você sabe que daqui um certo tempo você vai ter que aceitar a realidade, não sabe, princesa?
- Eu prefiro assim, , prefiro ficar sem a certeza e me conformar a medida que o tempo passar e ficar inevitável eu aceitar a ideia… - Eu disse, apertando sua mão que ainda segurava a minha.
- Ah, – ele disse, colocando a mão em meu rosto. – E eu cheguei a ficar com raiva de você, porque você não respondeu as minhas cartas… Mas, no fundo, eu sabia – ele disse, aproximando seu rosto do meu. – Sabia que você não me abandonaria.
Ele estava tão próximo da minha boca que eu podia sentir sua respiração quente em meus lábios. Mas antes mesmo que pudéssemos fazer qualquer movimento a mais, como sempre, alguém interrompeu, gritando meu nome. Com o susto, me afastei imediatamente de e fiquei observando Hermione se aproximar.

- , seu irmão está te procurando, ele foi até a sua sala, mas você já não estava mais… - Ela parou de falar, notando a presença de .
- Me desculpe, Hermione, esse é – eu disse, me levantando. – , essa é Hermione Granger.
- Muito prazer – Hermione disse, estendendo a mão para que ele a cumprimentasse.
- O prazer de te conhecer pessoalmente é todo meu, senhorita Granger – ele disse, dando um leve beijo na mão dela.
- Como assim, pessoalmente? - Ela disse, arregalando os olhos.
- É, como assim, ? De onde você conhece Hermione? - Eu disse no mesmo tom de espanto.
- Não precisa ficar com ciúmes, princesinha – ele disse, me roubando um selinho. – Você sabe que meu coração tem só uma dona, não sabe?
Eu e Hermione nos olhamos, perplexas, tanto ela quanto eu fomos surpreendidas com o beijo que ele havia acabado de me dar.

- Mas então, de onde você me conhece? - Hermione perguntou assim que percebeu que tinha ficado um climão no ar.
- Sou primo de Viktor Krum, desde o final do Torneio Tribruxo ele não para de falar de você! Inclusive, foi bom eu te encontrar, ele me pediu para te entregar uma coisa. - Ele disse, abrindo um sorriso simpático enquanto passava um dos braços pela minha cintura.
- Krum? Como esse mundo é pequeno! Faz mesmo tempo que não tenho notícias dele… - Hermione disse, tímida.
- Já que eu vinha para Hogwarts, ele preferiu que eu entregasse a carta juntamente com o presente… - Disse simpático.
- Pre-presente? - Disse Hermione, gaguejando. – Viktor me mandou um presente?
- Mandou sim, Hermione, e eu particularmente acho que você vai gostar muito – ele continuou a sorrir. – Na hora do almoço, eu entrego a você, pode ser?
- Claro, claro – ela disse, ainda ruborizada com a notícia. – Bom, acho que eu vou andando, pode deixar que eu digo a Harry que te encontrei, . Nos vemos na próxima aula?
- Não, Hermione, eu vou com você – disse, me esquivando do braço de .
- Mas, , eu queria conversar com você… - Disse ele com carinha de cão sem dono.
- Eu sei que precisamos conversar, , mas eu ainda não sei bem onde ficam as salas de aula ainda… E você, tendo chegado ontem, não saberia me levar até onde eu preciso ir, saberia? - Eu disse, colocando levemente minha mão em seu rosto.
- É, não saberia… - Ele disse, colocando sua mão sobre a minha que estava em seu rosto.
- Então – disse, acariciando sua pele com meu polegar. – Podemos conversar depois do almoço, o que você acha?
- Tudo bem, princesa, eu vou estar te esperando – ele sorriu, apaixonado.

Eu e Hermione, fomos em direção ao interior do castelo. Eu havia contado uma pequena mentirinha, eu sabia bem onde era a sala da próxima aula. Poções, isso significava que teria que encarar o Draco depois de nosso encontro. Mas mais difícil do que encarar Malfoy, seria explicar o que havia entre mim e para uma Hermione que estava correndo atrás de mim, extremamente curiosa.

- , , pare de correr agora! Venha cá – ela disse, tentando me alcançar, risonha. - Você tem que me explicar que história é essa!
- História? Que história? - eu disse, rindo e apertando o passo.
- Você não nos disse nada de um namorado! - Ela disse, finalmente me alcançando e me parando ao colocar a mão em meu ombro. - A não ser que seja um costume francês beijar os conhecidos na boca, é isso que ele deve ser!
- Ele não é meu namorado… Pelo menos, não agora.
- Então me conte essa história melhor! - Ela disse com os olhos brilhando de curiosidade.
- Mas agora? Nós temos aula, Hermione - saí andando a passos rápidos enquanto eu ria dela logo atrás de mim.

Andei com Hermione correndo atrás de mim até as masmorras. Estávamos nos divertindo tanto naquela perseguição que, ao entrarmos na sala, nem percebemos que Snape já estava lá e já havia iniciado sua aula. Assim que o vimos, paramos imediatamente de rir.

- Você já deveria saber, senhorita Granger, que eu não permito atrasos em minha sala de aula. - Ele disse em um tom muito sério enquanto olhava para Hermione. - Quanto a você, senhorita Potter, procure chegar sempre no horário da aula, e como eu só aviso uma vez, considere-se avisada.

Eu e Hermione nos entreolhamos e fomos nos assentar nos nossos respectivos lugares. ficou olhando pra mim, querendo uma resposta para o meu atraso, mas eu permaneci calada e fiz um sinal para que ela esperasse. Eu já havia chegado atrasada, não queria levar outra bronca por conversa paralela. Assisti à aula calada e concentrada na matéria, era o mínimo que eu podia fazer.

Mas eu sabia que não ia conseguir fugir durante muito tempo.

Tentei sair da sala e ir rapidamente para a próxima, a fim de despistar minhas amigas. Não que eu não quisessse explicar pra elas, mas porque eu não fazia ideia do que dizer. Mesmo assim, elas logo me alcançaram, assim que saímos das masmorras, Hermione e estavam atrás de mim.

- Potter! A senhorita me deve uma explicação. - Disse Hermione em um tom de uma falsa bronca.
- Explicação de quê, ? O que ela sabe que eu não sei? Hein? - Disse curiosa, com as mãos na cintura.
- Está bem, está bem, eu vou explicar. - Eu disse, indicando a muretinha, perto do pátio, para que elas se assentassem.
- Primeiro você vai me contar o que está acontecendo! - disse, se assentando ao lado de Hermione.
- Bom, , pra você entender o que está acontecendo, vou te colocar a par do assunto primeiro. Hoje de manhã, saindo da minha aula de Estudos dos Trouxas, eu dei de cara com um ex-namorado meu.
- Ex? Até onde eu sei, a gente não beija ex-namorado, – disse Hermione, querendo me provocar.
- Quanto a isso, há controvérsias, Hermione, eu já acho que é de lei pegar ex. - Disse , dando uma risada bastante sugestiva.
- Como eu estava dizendo – lancei um olhar de desaprovação por elas estarem me interrompendo. – Eu conheci há mais ou menos dois anos...

Flashback

Era um dia de sol e, por um milagre, Dame Perenelle tinha me dado uma folga dos meus estudos intensivos. Eu não sabia por que meus pais faziam tanta questão que eu estudasse em casa, seria tão mais fácil e menos cansativo pra minha mãe se eu fosse a uma escola de magia! Sem contar que eu iria conhecer tantas pessoas diferentes…
Meu aniversário passou e novamente tive que comemorar com os poucos amigos que tinha, que eram filhos, sobrinhos, netos, parentes de amigos dos meus pais. Eu sentia falta de conhecer uma pessoa nova, fora daquele círculo tão fechado que eu vivia. Aproveitei o tempo bom e saí pra replantar mandrágoras no jardim da frente, papai estava fazendo um estudo sobre elas e eu sabia que isso seria de grande ajuda. Passei a manhã toda cuidando do jardim, eu gostava muito daquele contato com a terra, jardinagem pra mim era como se fosse uma terapia.
Eu estava completamente relaxada quando vi três vassouras chegarem à casa que ficava em frente a minha. Levantei-me e cheguei um pouco mais perto do portão para tentar identificar os rostos. Era um acontecimento muito curioso já que, há anos, ninguém aparecia por ali, a casa estava abandonada desde que tinha acontecido alguma espécie de tragédia com o casal que morava ali. Eu era bem pequena e não sabia muito bem o que aconteceu, só me lembrava de ver dois corpos sendo carregados para fora da mansão, crime passional provavelmente. Desde as mortes, ninguém, nem mesmo um parente, apareceu ali. Havia dois adultos e um garoto, provavelmente na minha faixa de idade, parados na frente do grande portão da mansão. Eles fizeram um movimento de varinhas e o portão, que há muito não era aberto, gemeu alto ao ser forçado depois de anos de ferrugem.

Sabe aquela sensação que você tinha quando sentia que estava sendo observada?

O casal de adultos começou a adentrar naquele jardim triste, cheio de natureza morta, enquanto o garoto permaneceu parado na calçada. Eu já estava me afastando do portão quando resolvi me virar para ver se conseguia ver o seu rosto, assim que o fiz, ele havia atravessado a rua e estava parado na minha porta, me olhando. Ruborizei no ato e deixei isso ser percebido, minhas bochechas ficaram mais coradas que tomates e eu não pude evitar de levar a mão a boca e emitir um suspiro de susto. O menino sorriu e se aproximou mais ainda, colocando uma das mãos nas barras do meu portão. Ficamos nos observando durante um tempo, ele era realmente muito bonito, e o seu sorriso mais ainda. Era a primeira vez que eu via uma pessoa diferente daquelas com as quais estava acostumada, e a primeira vez que eu sentia uma coisa estranha, um frio bom na barriga. O olhei por mais alguns segundos e continuei meu caminho para dentro de casa, no entanto, antes que eu pudesse entrar, ele falou comigo.

- Ei, eu percebi você me observando desse lado da rua… Qual é o seu nome? - Ele disse, sorrindo simpaticamente.

Assim que ouvi a sua voz, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Parei de subir as escadas, que levavam a porta da minha casa, e voltei meu corpo novamente para sua direção. Todas as pessoas que eu conhecia haviam sido apresentadas a mim, eu nunca tinha conhecido uma pessoa dessa maneira, por conta própria.

Muito menos um garoto extremamente lindo.

Eu estava suja de terra da cabeça aos pés, com minhas roupas mais velhas, e não sabia lidar com aquela situação. Fiquei meio atônita e simplesmente não consegui responder nada. Era um péssimo momento pra conhecer meu mais novo e lindo vizinho. Então, para evitar danos em relações futuras, eu abracei a mais nobre e antiga tradição pirata.

Eu fugi.

E fiz isso da maneira mais ridícula possível, entrei correndo e batendo a porta de casa. Estava me sentindo um bicho do mato, até parecia que eu não sabia me socializar! Se eu estava preocupada com nossa relação futura, podia parar de me preocupar naquele momento. No mínimo ele devia estar achando que eu era maluca, doente ou alguma coisa nesse sentido, duvidava que iria querer me cumprimentar novamente.

Merda.

A única chance que tinha de ser minimamente independente nas minha amizades, e eu estragava tudo. Como eu era criança, meu Deus! Infelizmente agora não adiantava lamentar, já foi.

Se eu pudesse ao menos saber seu nome…

Fim do flashback.


- Mas e aí? Como foi que vocês começaram a conversar? -Perguntou , bastante curiosa.
- Bom, eu acabei descobrindo, na noite seguinte, que não seria uma relação tão independente assim. vivia com os tios, e esses eram amicíssimos dos meus pais. Aparentemente, eles não se viam há anos, então Dame Perenelle ofereceu um jantar a eles em nossa casa. Vocês imaginam, eu quis morrer quando o vi entrar pela porta, não sabia aonde enfiar a cara…
- Por quê, ? Ora, você teve sorte que vocês tiveram outra chance de se aproximar… Onde já se viu correr que menino bonito? - disse, me zoando.
- Só você é caça garotos! - Hermione disse, me defendendo.
- Pelo menos eu sei que tenho sangue nas veias – disse um tanto irritada com o que Hermione havia dito.
- Enfim – disse, elevando o tom da voz. – A partir daquele dia, nós ficamos juntos até o fim das férias, quando ele teve que voltar para Durmstrang.
- E ai vocês namoraram a distância? - Disse juntando as mãos próximo do rosto numa expressão tipicamente romântica.
- Eu não diria namoramos, porque ele ainda não havia me pedido… Mas sim, nós mantemos contato até que ele voltasse, no final do ano. – Disse, me lembrando do dia que vi sua vassoura aterrizar na neve fofinha que caía no fim daquele ano.
- E ai ele te pediu em namoro? - Perguntou , tentando antecipar a história.
- Não, . Por mais que estivéssemos nos comunicando durante um certo tempo, conviver, conviver mesmo só aquele mês nas férias de verão… Mesmo porque, nada aconteceu durante esse período.
- O quê? - Exclamou surpresa. – Você passou um mês inteirinho saindo com o mesmo cara e nada rolou? Eu vivo me surpreendendo com você, , sério!
- Com ele era diferente, … Eu já tinha dado alguns beijos escondida, embaixo das escadas com uns caras antes, mas com eu queria que as coisas fossem diferentes. Ele era extremamente carinhoso, amável, dedicado, amigo… Perto dele, eu me sentia guardada, protegida, eu sentia que aquilo era uma paixão que estava nascendo e não queria estragar tudo indo rápido demais. - Disse enquanto as cenas do que vivemos passavam em minha cabeça.
- Mas e aí? O que aconteceu depois? - Disse Hermione, começando a demonstrar a mesma ansiedade de .
- Na noite de ano novo, ele me pediu em namoro e eu aceitei. - Disse como se soasse óbvio.
- A que coisa mais romântica, , esse cara não tem um irmão, um primo… - A voz dela foi sumindo quando ela se deu conta de que Hermione a olhava com uma expressão nada amigável. - Um que não seja o Krum? - Ela se consertou rapidamente.
- Você não se emenda, não é mesmo, ? - Eu disse, rindo.
- Ah, não custa perguntar, não é? - Ela disse, rindo também, fazendo o clima voltar a ficar leve.
- Enfim, depois disso, nós namoramos por durante um ano. Era maravilhoso – disse, me deixando invadir pelas lembranças felizes.
- Nossa, mas o que é isso? Que homem é esse, ? Ele existe mesmo? Aposto que deve ser ruim de cama, não é possível! Ele tem que ter um defeito! - Disse , indignada.
- Pior que não é – disse, rindo sem graça. – Na verdade, é bom demais…
- Então o que você está esperando pra se casar? - Ela disse, rindo.
- Casamento não se resume a só isso, … - Hermione disse timidamente.
- E como você pode saber? Nunca fez! - retrucou, provocando Hermione.
- Então, , por que vocês terminaram? - Perguntou Hermione, rapidamente mudando de assunto.
- Eu já estava cansada dessa situação de namoro à distância, e foi isso que eu disse a ele… Além do mais, eu sentia falta daquele sentimento avassalador, aquele que tira a gente do sério quando estamos apaixonados, sabem? Eu amava , mas era só isso. E relação que não tem paixão não dura, fica monótona demais… Mesmo que o cara seja bom de cama, ! - Já disse antes que ela fizesse algum comentário.
- Nossa, que pena, , ele parece ser o sonho de qualquer mulher – disse Hermione um tanto desapontada.
- Essa é a diferença, Hermione, não é qualquer mulher – disse com um sorriso sincero para mim.

Quando chegou a hora do almoço, eu sabia que estaria lá me esperando, mais ansioso para me ver do que para comer. E não deu outra, quando chegamos ao Grande Salão, ele estava em pé ao lado da mesa da Grifinória conversando com meu irmão.

Ótimo.

Assim que me aproximei, me abraçou, me levantando no ar. Assim que me colocou no chão, eu percebi que ela ia me beijar, então, sutilmente desviei minha boca da sua, o obrigando a depositar seu beijo em minha bochecha. Voltei meu olhar para Draco, que, vejam só que surpresa, estava olhando em minha direção com uma expressão nada amigável. Parei meu olhar no dele e nem percebi que estava falando comigo.

- Hein, ? - Ele soou impaciente.
- Han? Me desculpe, não prestei atenção no que você disse – disse, fazendo uma carinha de pena, aquela que ele sempre cedia quando via.
- Tudo bem, princesa, eu só lhe perguntei se agora nós podemos conversar… Acho que não podemos ficar adiando isso, não é mesmo?! – Ele disse, acariciando meu rosto de leve com os dedos. Eu nem precisava olhar pra ter certeza que Draco estava de olho, eu sentia seu olhar em mim.
- Me deixe só almoçar, sim? Aí podemos resolver nossa situação.
- Te espero no pátio então, linda. – Disse, se despedindo de mim beijando minhas mãos.
- Princesa? Linda? Nossa situação? Qual o seu envolvimento com , ? - Harry me perguntou, enciumado.
- Ah, Harry, não fique com ciúmes! - Eu disse, abrindo um sorriso largo. - Ele foi meu namorado quando eu morava na França.
- E por que você não me contou isso antes? - Ele disse, cruzando os braços.
- E era necessário? Afinal de contas, ele foi meu namorado, não é nesse momento. - Expliquei.
- Mas vai voltar a ser assim que o almoço terminar – disse , me cutucando.
- ! Que amiga é essa que não coopera comigo? - Esbravejei.
- Eu não estou dizendo nenhum absurdo, estou? - Ela disse, dando de ombros e se voltando para o prato de comida a sua frente.

Preferi ficar calada diante da última cortada de . Por mais que me custasse admitir, eu tinha certeza que a conversa que tão desesperadamente queria ter comigo tinha a ver com esse assunto. Afinal de contas, o motivo que eu dei para o nosso término foi o fato de estarmos sempre distantes, um argumento que deixou de ser válido, já que agora podíamos nos ver todos os dias. Eu estava entre um pedaço de bife e um dilema moral. Eu poderia voltar para o e dar uma chance a nós. Ele tinha todas as qualidades que as mulheres procuravam em um homem, além de ser completamente apaixonado por mim. Eu deveria dar uma chance a mim mesma de gostar dele, com a mesma intensidade que ele gostava de mim. Talvez se eu desse tempo e oportunidade, aquele sentimento que eu sentia faltar entre nós, pudesse surgir. Ou talvez eu enumerasse milhares de razões para não ter que admitir que tudo o que eu queria era deixar o Draco doente de ciúmes.

's POV

(Música do POV : Coração Babão – Rita Lee)


Já era bem tarde da noite quando cheguei. Meus pais ainda tinham alguns assuntos pendentes para resolver e, por conta deles, não consegui viajar no tão famoso Expresso Hogwarts. Todos os alunos já estavam em suas camas, somente os professores estavam de pé à espera da definição da minha casa.

Corvinal.

Eu não fiquei nem triste nem feliz quando foi feito o anúncio, apesar de saber que a Corvinal carregava a fama de ter os alunos mais bonitos. Para mim, a casa que eu passaria meus próximos três anos não faria muita diferença. Mesmo com toda admiração que tinha por Hogwarts, por toda história e tradição que a escola carregava, eu fui para lá a contragosto. Eu não queria ter deixado Durmstrang a pouco anos de me formar. Lá, eu já tinha toda uma atmosfera criada com amizades, lugares dentro da escola, horários, professores… Tudo ali era muito novo e muito estranho ainda. A única coisa que me confortava era o fato de que foi por um motivo muito nobre. Minha família sempre esteve intimamente envolvida com o mundo dos esportes, então quando meu pai recebeu a proposta de se tornar o novo Chefe da Seção de Jogos e Esportes Mágicos, no Ministério da Magia, ele não pensou duas vezes em aceitar. Mesmo com o meu desanimo, eu teria que me acostumar a minha nova situação, meu pai estava feliz em seu novo emprego e minha mãe estava adorando a Inglaterra. A única coisa que me consolava era que ali eu teria muita coisa para ocupar minha cabeça, o que evitaria que eu pensasse demais nela.

, minha princesinha.
Até aquele momento, eu não conseguia entender por que ela não respondeu minhas cartas. Desde que eu quebrei o espelho, eu tinha certeza que seria muito difícil a gente se falar. Repassei aquelas últimas horas que passamos juntos, um milhão de vezes, mas não consegui encontrar nada que pudesse ter ofendido ou magoado-a... Insisti até onde foi cabível assumir a culpa de algo que eu nem sabia o que era, até que minha racionalidade não aceitou mais esse comportamento. Eu não havia feito nada que pudesse afastar de mim, portanto, só podia pensar que ela me abandonou por conta própria. Podia parecer idiota, mas eu sentia como se tivesse sido traído. Antes dela, eu só havia tido alguns casos efêmeros com algumas garotas, nada que me envolvesse de verdade. Eu soube que ia ser diferente, desde o primeiro momento que coloquei os olhos nela. Eu me lembrava bem, estava no jardim de sua casa quando eu e meus pais chegamos, ela estava toda suja de terra! E, mesmo assim, ainda era a mulher mais linda que eu já havia visto. Nem mesmo toda desarrumada, deixava de ser encantadora. Eu estava magoado, sim, com seu sumiço, no entanto o que me atrelava a ela era muito mais forte do que as sensações ruins que meu coração estava experimentando naquele período. Amor, puro, simples e verdadeiro. Com as mulheres que vieram antes dela, eu não fui nem menos nem mais o que eu era naquele dia, mas somente ela teve o melhor que havia em mim. O que ligava meu coração ao dela era uma conexão que só podia ser entendida quando sentida.

Com ela não era só sexo.

A nossa primeira vez foi muito além de desejo físico, muito diferente de qualquer coisa que eu já havia sentido com outra garota. Quando eu e transamos, eu, pela primeira vez em minha vida, me senti amado. Sentindo os carinhos dela, eu soube que era mais do que acreditava ser. Pra ela, eu não era só um jogador de Quadribol muito conhecido, eu não era alguém que ia ajudar a aliviar as tensões sexuais dela. Eu era importante.

Pelo menos, era assim que eu pensava antes.

Apesar de estar muito ferido com o descaso dela, eu não queria pensar mal de . Ela era definitivamente a mulher mais incrível que já conheci em toda a minha vida! Chame-me de idiota, apaixonado, cego, o que for… Mas, bem lá no fundo, eu ainda conservava a esperança de que ela não podia ser tão má assim a ponto de me causar o sofrimento que estava causando de graça. Eu só iria me convencer que fez isso com maldade se ela dissesse isso para mim. Se isso não acontecesse, por mais tolo que eu pudesse parecer, iria sempre querer acreditar que ela teve bons motivos para isso…

Se apaixonar era uma merda.

Toda noite, eu perdia horas valiosas de sono pensando nessa questão até cair no sono. E essa noite não seria diferente. Além disso, eu ainda estava tendo que lidar com todo o recente processo de mudança e o fato de estar dormindo em um quarto onde todos eram desconhecidos. Apesar de não estar me sentindo muito confortável naquela situação, fui vencido pelo cansaço e dormi profundamente até o dia seguinte.

Eu não gostava muito de pensar em mim como uma celebridade, mas era forçado a aceitar que era uma por causa do Quadribol. Assim como meu primo, Krum, eu jogava na seleção nacional da Bulgária, e isso, querendo ou não, trazia muita notoriedade para um jogador de Quadribol. Eu mal havia acordado e já estava dando autógrafos. Era um pouco cansativo o assédio dos fãs, mas com o tempo a gente se acostumava e via que o melhor que se podia fazer era ser o mais agradável possível. Mesmo quem não gostava de ser celebridade, não queria perder seus fãs…

Eu nem sabia por onde devia começar a procurar minha sala de aula naquela manhã. O castelo era enorme e eu nunca havia estado lá antes, nem mesmo sabia em que andar ficava a Corvinal. Saí do salão comunal, fiquei parado na frente das escadas enquanto elas mudavam de lugar, sem saber que direção tomar.

- Precisa de ajuda? - Eu ouvi uma voz feminina perguntar.

Eu me virei e me deparei com uma menina de longos cabelos loiros acinzentados, olhos grandes e azulados, e uma expressão distante e sonhadora. Uma bela garota, sem dúvida, mas meio estranha também. Como não estava em posição de escolher nada, era ela mesma que ia me ajudar.

- Seria ótimo, estou sem a menor ideia de para onde devo ir! - Disse um pouco encabulado.
- Ao menos você sabe qual é sua primeira aula? - Ela perguntou com uma voz suave e delicada.
- Estudo dos Trouxas. - Disse com certo receio, já que não dava para saber a opinião dela sobre isso.
- Que engraçado! Eu não esperava que você fosse o tipo de pessoa que se interessasse por uma coisa que não tem a menor utilidade no seu mundo… - Ela disse franca.
- No meu mundo? Como assim? – Perguntei, tentando disfarçar minha “fama”.
- Você é , o goleiro da seleção da Bulgária. Me intriga você se interessar pelo cotidiano trouxa... - Ela respondeu.
- Conheci uma garota que me ensinou que conhecimento nunca é demais. Nunca se sabe quando uma coisa, inicialmente inútil, pode vir a ser útil. – Disse, sorrindo ao me lembrar de quando havia me dito isso.
- Parece muito sábia… - Ela disse, fazendo uma pausa – Então, vamos?
- Claro! Eu só gostaria de saber o seu nome – disse, sendo simpático.
- Luna, Luna Lovegood.

Durante o trajeto até a sala, fomos conversando. Luna era um ano mais nova do que eu, e depois de trocar algumas ideias com ela, vi que minhas suspeitas não estavam erradas. De fato, ela era um tanto quanto estranha e excêntrica, mas de uma forma boa.
Entrei na sala de aula, que já estava cheia de alunos, e me sentei bem na frente. O jeito, já que eu não conseguia tirar da minha cabeça, era ocupá-la com outras coisas. E a melhor delas, fora o Quadribol, era estudar. Nem reparei quem era a pessoa que estava sentada ao meu lado, me concentrei no que estava sendo dito.

Até ouvir aquele nome.

.

Aquele nome ficou ecoando em minha cabeça durante todo o resto da aula. Bastou que eu ouvisse seu nome para que toda a minha determinação para prestar atenção se dissipasse. Isso porque existiam mil e uma 's que possuíam o apelido de .

Eu era mesmo patético.

Só o nome ativou na minha memória uma série de lembranças que eu havia arquivado, já que não conseguia excluir. De repente, eu já não estava mais naquela sala em Hogwarts, eu havia sido transportado na minha mente para um dos momentos que eu havia me sentido mais feliz e completo na vida. O aniversário de quinze anos de , quando dançamos a valsa em cima de uma nuvem e passamos a noite mais perfeita da minha vida, fazendo amor abaixo de um teto estrelado...

Poético, não?

Eu lamentava muito que minha mãe tivesse partido antes que pudesse conhecer a mulher da minha vida. Mas fatalidades aconteciam… Por mais que tivesse sumido, eu não conseguia ficar realmente zangado com ela, nem me arrepender de ter lhe dado o colar. Eu tinha fé que nós iríamos nos encontrar, mais cedo ou mais tarde.

Só não imaginava que seria bem mais cedo do que eu pensava.
Fiquei distraído com meus pensamentos e nem vi o resto da aula correr. Quando despertei do meu transe nostálgico, os alunos já estavam se levantando de suas carteiras e saindo da sala. Eu peguei meus livros e tomei o rumo da porta.

Meus olhos mal podiam acreditar no que viam.

Eu podia jurar que estava ficando maluco, de tanto reviver em minha memória, eu estava tendo alucinações com ela. Eu só acreditei que ela estava, em carne e osso, em minha frente quando eu pousei levemente minhas mãos sobre seus olhos e senti seu corpo perto do meu novamente. Ah, como eu tinha sentido falta daquela proximidade! Continuei a tapar seus olhos, sem dizer uma só palavra, até que ela retirou minhas mãos.

Eu sabia que tinha um bom motivo, tinha que ter!

Eu nem conseguia imaginar como deve ter sido difícil para todo esse processo de mudança que ela vinha enfrentando. Descobrir sua verdadeira identidade, perder os pais, ter que se mudar e se adaptar a todo um cotidiano diferente do qual ela estava acostumada. E eu irritado porque ela não respondeu minhas cartas… Senti até vergonha de ter ficado chateado com ela, no meio de tantos acontecimentos simultâneos, ela não ia tirar tempo só para satisfazer uma carência minha. Fiquei triste por ela, mas, ao mesmo tempo, feliz e aliviado. não havia respondido minhas cartas, porque sequer as tinha recebido! Minha alegria foi tanta ao constatar que ela não estava me desprezando propositalmente que não pude me conter e a beijei. Eu fiquei ainda mais feliz em ver que ela não rejeitava meus carinhos. Finalmente! Finalmente poderíamos viver nosso amor com a intensidade que a distância não permitiu! E ainda de quebra, ela era amiga de Hermione.
Depois do nosso reencontro inusitado, combinamos de nos encontrar depois do almoço para conversarmos sobre nossa situação. Acho que foi a primeira vez que eu não fiquei nervoso ao saber que teria uma conversa desse teor. e eu não tínhamos mais motivos que impediam a gente de ficar juntos, então só podia esperar o melhor. Esse pensamento me deixou tão eufórico que tudo o que eu mais queria era que o tempo passasse logo.

É claro que não passou.

O tempo nunca era gentil conosco quando nos convinha. Muito pelo contrário! Parecia que ele fazia de propósito, pra torturar. Assim que deu a hora, fui correndo direto para o Grande Salão, minha ansiedade para poder chamar de namorada novamente era absurda. Quando adentrei o lugar, olhei diretamente para a mesa da Grifinória, mas ela ainda não havia chegado. Avistei Harry e decidi que era um bom momento para trocar algumas palavras com ele. Nós já havíamos nos conhecido no ano passado, graças à visita de Durmstrang a Hogwarts durante o Torneio Tribruxo. Na época, meu relacionamento com estava abalado por conta de alguns comentários maldosos feitos sobre mim e uma garota da Beauxbatons. Eu fiquei tão triste naquela época que mal participei dos eventos do torneio. Depois, me senti até culpado por não ter apoiado meu primo como ele merecia, mas ele me compreendeu quando eu disse que se tratava de assuntos do coração. Foi naquela mesma época que ele se apaixonou por Hermione…

Surpreendentemente, ele se lembrava de mim e nós ficamos conversando até quando eu a vi entrar pela porta do salão. Era incrível a capacidade que tinha de fazer com que todo o resto do mundo parecesse inexistente diante da sua presença. Preferi não dizer nada sobre nós, ela ainda nem teve tempo de se acostumar com o dia a dia ali, quem diria criar uma intimidade com um irmão que acabara de conhecer! Eu estava tão ansioso que a abracei com toda a vontade que meu corpo pediu. Eu não ia conseguir engolir nada, mas esperei almoçar, já que essa era sua vontade. Assim que vi que ela estava no fim da refeição, eu me dirigi à mesa da Grifinória.

- Terminou, ? – Perguntei, colocando a mão em seu ombro.
- Já sim, – ela disse, limpando delicadamente a boca com um guardanapo. – Já podemos ir, se você quiser – ela disse, sorrindo para mim.
- Ah, mas antes de irmos – disse, me virando na direção de Hermione. – Tenho que te entregar isso, senhorita Granger – e então eu entreguei o pacote e a carta que o acompanhava em suas mãos.
- Obrigada, – ela disse, dando um sorriso tímido. – Você sabe o que é?
- Sei sim, e acho que você vai gostar – disse, piscando para ela. – A carta explica tudo que você precisa saber… Se é que tem alguma coisa que você já não saiba!

O único que não riu da mesa foi Rony. Ele olhava para mim como se eu estivesse atrapalhando seus planos. Desde que não fossem relacionados com , por mim tudo bem, não teríamos problemas, eu pensei enquanto nós caminhávamos para o pátio.

- Você já sabe qual é o assunto dessa conversa, não sabe, linda? - Eu perguntei, me sentando com ela no chão, já que sabia que não a convenceria a aderir aos bancos ainda.
- Claro que sei, … - Ela disse, abaixando a cabeça e unindo as mãos perto de suas pernas.
- , nós fomos abençoados! O nosso maior problema era a distância que nos separava, que agora não existe mais. Tudo o que eu mais quis foi te ter perto de mim… Apesar das circunstâncias tristes que nos trouxeram a esse presente, eu acho que a gente devia aproveitar – disse, pegando suas mãos. - Agora, nós podemos ser felizes, princesa!
- Não é tão simples assim, – ela disse, tirando suas mãos das minhas, mantendo o olhar baixo. – Você é uma das melhores pessoas que eu conheço, então sou obrigada a ser sincera com você mesmo que isso te machuque. Eu já não sinto mais o mesmo por você – ela disse, agora olhando em meus olhos.

Eu não sabia muito bem o que sentir naquele momento. Eu tinha acabado de perder o chão, portanto estava muito triste, ao mesmo tempo, eu estava com raiva dela por não me aceitar quando todas as dificuldades acabaram… Mas eu estava feliz que ela havia sido honesta o suficiente para admitir. Minha cabeça estava latejando, mas eu continuava em silêncio. Eu não conseguia decidir, dentre todas as emoções, qual era a predominante para reagir ao que havia dito.

Mas eu não conseguia.

Queria chorar de tristeza, abraçá-la de gratidão e, até mesmo, lhe dar um tapa na cara. Independente de qualquer sentimento, uma coisa era certa, eu não podia, eu não ia perder . Continuei em silêncio até que eu estivesse me sentido seguro o bastante para não fazer nem falar algo que me custasse minha .

- Como assim, não sente mais o mesmo? – Disse, finalmente quebrando o silêncio. - O que você sente por mim?
- Eu não sei, – ela dizia, olhando continuamente em meus olhos. – Eu sinto uma coisa muito forte por você… E sempre vou sentir, você é uma pessoa que eu admiro muito! Mas não sei se esse sentimento é o bastante para mantermos um relacionamento no qual os dois estejam felizes – disse, acariciando meu rosto com a mão direita.
- Eu sei que muitas coisas aconteceram e que essas coisas podem ter abalado o nosso relacionamento… Mas você tem certeza de que não tem mais volta? – Disse, me aproximando de seu rosto.
- Certeza eu não tenho – ela disse, interrompendo a carícia que fazia em meu rosto. – Mas não quero ferir seus sentimentos, você merece ser feliz! Não seria justo com você, nem mesmo comigo. Por favor – ela disse. – Tente entender.
- Entender ,eu entendo, , mas não me conformo! Tem que haver uma maneira, não é possível que tudo aquilo que você sentia tenha se dissipado no ar... Me diga a verdade, princesa, existe outra pessoa? – Perguntei, hesitante.

Imediatamente ela disse que não e eu pude suspirar de alívio, acho que uma das coisas que eu menos suportaria pensar era que eu tinha que dividir o amor de com outro cara.

- Mas se não há mais ninguém, meu amor, nós podemos tentar! Sempre deu tão certo entre a gente! - Eu disse, me levantando do chão.
- , seja razoável – ela disse, se levantando também. – Você está conscientemente optando por sofrer!
- E qual o problema com isso, amor? Você já sofreu por mim, nada mais justo. Além do mais, como você pode ter tanta certeza que eu vou sofrer, ? - Eu disse, já perdendo um pouco a paciência. – Você sente alguma coisa por mim? Sim ou não, ? Responda a verdade!
- Sinto – ela disse, olhando diretamente em meus olhos.
- Já é motivo suficiente para que eu tenha fé, fé que vou conseguir reascender em você tudo o que está se apagando. Fé que nós seremos felizes, como tantas vezes eu sonhei que seríamos quando estivéssemos juntos. Mesmo que você não concorde, – eu disse, a puxando pela cintura para mais perto de mim – eu não vou desistir de você sem que todas as minhas forças pra lutar tenham acabado. Mas se você tentar junto, tenho certeza que não precisarei chegar a tais extremos.
- Eu preciso pensar, – ela disse, colocando suas mãos em meu ombros. – Não vou tomar uma decisão dessas sem ponderar bem antes, você sabe como eu sou com... – ela engoliu em seco – sentimentos…
- Tudo bem, princesa – eu disse, aproximando meu corpo mais ainda do dela. – Só de você considerar a ideia, eu já tenho boas perspectivas… Mas vou lhe dar uma coisa que te ajudará a pensar na nossa situação.

Então eu a beijei.

Mas não foi um beijo como qualquer outro que já havíamos dado. Naquele momento, eu me preocupei em beijar com toda a intensidade que meu amor por ela fazia meu coração pulsar. Tudo o que eu queria era que ela sentisse, naquele beijo, o quão forte era meu amor por ela. E quem sabe assim, minha princesa se convenceria de que era comigo que ela tinha que ficar. Só a forma com a qual ela me correspondeu me fez pensar que era só questão de tempo, e pouco tempo, para que voltasse a ser de quem sempre foi.

Minha.

Draco's POV

Naquela manhã, eu tinha que tomar uma atitude em relação a . Eu não podia permitir que ela continuasse achando que estava no comando dessa situação. Se tudo o que eu pensei na noite anterior foi o certo, ela tinha muito mais a perder que eu. Eu não sairia ileso se isso fosse descoberto, era claro. Meus pais e meus amigos me repudiariam durante um certo tempo, mas eles iam acabar entendendo, principalmente os homens. Já não tinha tanta certeza sobre as pessoas que rodiavam , acho que o Potter se contorceria de ódio se soubesse que eu toquei sua irmã.

Acho que ele morreria de desgosto se soubesse como eu a toquei.

Pude perceber isso pela forma com a qual ele ficou olhando para mim, durante o café da manhã enquanto sua irmãzinha estava ao seu lado.O primeiro horário da manhã era de matérias opcionais, mas eu deixei livre para poder treinar Quadribol, como a maior parte dos jogadores de todas as casas fazia. Todo início de ano eram realizados testes para o time de Quadribol, e estes seriam realizados naquele dia, o que tornava aquela manhã uma situação atípica que me dava um horário livre. Eu nunca precisava repetir os testes, era o melhor apanhador e não precisava ficar provando isso a ninguém. Além do que, eu tinha planos melhores para minha manhã. Eu tinha que deixar claro para que ela não estava lidando com os almofadinhas românticos da sociedade francesa e sabia onde eu poderia encontrá-la. Eu nunca tinha sequer passado na porta onde aquela matéria era ministrada, mas era a única maneira de pegá-la sozinha sem ter que ficar me escondendo nas sombras como um animalzinho amedrontado. Se ela ainda não tinha percebido com quem se envolveu, era o meu dever naquela manhã fazê-la se dar conta de quem era Draco Malfoy. Para isso, eu não tive melhor opção a não ser ir até aquela sala.

A sala de Estudo dos Trouxas.

Terminei meu café antes dela e me dirigi para o andar que ficava a sala. Logo, passaria por ali e teríamos nosso particular a minha maneira. Minha única preocupação era que alguém mais estivesse no corredor quando ela passasse por onde eu estava escondido. Mas logo que a vi caminhando sozinha, um sorriso sacana se formou em meus lábios quase que automaticamente. E antes mesmo que ela pudesse se dar conta do que estava acontecendo, eu já a tinha sobre controle, prensada contra a parede.

Ou pelo menos eu achei que tinha tudo sob controle.

Aquela posição tinha me excitado e somada ao suspiro de tesão dela quando se deu conta do que estava ocorrendo, eu não pude me controlar. Fui sentindo meu membro enrijecer de uma maneira a ficar bem desconfortável nas calças. E a medida que conversávamos, só ficou pior. Por mais que todos os argumentos que eu tinha na manga estivessem a meu favor, parecia sempre ter algo que me desarmasse. E ao mesmo tempo que isso me irrita de forma extrema, me excita na mesma intensidade. Mas sentir qualquer coisa nesse sentido por ela me dá ânsia. As respostas dela me incitaram mais ainda a raiva e aumentaram consideravelmente a tensão sexual que existe entre nós. Como eu não podia levantar suas saias e fazê-la gritar de tanto prazer, reagi da maneira que é natural para os Malfoy's, eu a humilhei. Na realidade, não disse nada que não seja verdade, eu realmente tenho nojo, mas não dela, tenho nojo de desejá-la só pra mim, mesmo com a condição que nos difere tanto. Mas era melhor assim, se eu a ferisse poderia cortar essa atração quase magnética que existe entre nossos corpos, antes que essa situação comece a me trazer problemas de verdade. Nem mesmo dei tempo para que ela me respondesse, mas pude ver pelo seu modo de me olhar que eu tinha conseguido o que objetivava.

O ódio dela.

Saí de lá tão logo terminamos nossa conversa, eu estava ficando estranhamente excitado com aquilo tudo e, além do mais, ninguém podia nos ver daquela maneira, tão próximos. Acabei indo para o campo de Quadribol assistir aos testes, eu não tinha mais nada de interessante para fazer e estudar não era uma opção. Fiquei assistindo até notar que o horário da minha próxima aula já estava próximo e eu ainda tinha que passar no Salão Comunal da Sonserina. Fui caminhando pela parte exterior de Hogwarts e resolvi passar pelo pátio, pra cortar caminho.

Infelizmente eu não podia imaginar que seria o atalho que me atrasaria.

Comecei a ouvir vozes e percebi que uma delas era conhecida, bem conhecida. Fui me camuflando entre as pilastras do castelo e vi conversando com um cara que me era familiar. Não consegui ouvir o que eles estavam conversando, se eu me aproximasse mais, eles poderiam perceber minha presença. Mesmo sem escutar, eu tive que controlar o impulso que eu senti de socar a cara dele quando ele pegou nas mãos dela. E só ficou mais difícil continuar no mesmo lugar quando eu vi algo que achava improvável de acontecer, chorar. Não durou muito tempo, talvez tenha sido uma lágrima, duas talvez, mas, ainda assim, aquela cena me perturbou profundamente.

Eu tinha que sair dali.

Mas alguma coisa não me deixava. O fato de outro cara estar encostando nela me irritava e me confundia. Porque eu sabia bem que eu não podia, ela não podia. Era aquela história antiga, ela não era minha, mas também não seria de ninguém. Nem mesmo suportava a ideia de beijá-la, mas quando vi que ele estava se aproximando de sua boca, o movimento para pegar minha varinha e impedi-lo foi involuntário. Aquela mulher estava virando meu mundo de cabeça para baixo! Antes que eu fizesse alguma coisa realmente muito idiota, resolvi seguir meu caminho. Mesmo que a vontade de ficar fosse a predominante, eu não sabia como eu reagiria se o beijasse. Corri até a Comunal e, em seguida, para sala, na esperança de que ela já estivesse lá para que eu pudesse perturbá-la com meus olhares. Mesmo que eu não fosse ficar com ela, gostava de vê-la sofrer de desejo. No entanto, naquela manhã, não estava na sala de poções antes da aula começar. Será que ela ainda estava com aquele cara? Não iria ser hipócrita comigo mesmo e dizer que isso não me interessava. Eu e , de certa forma, já admitimos um para o outro que interessava, sim. Assentei-me no fundo da sala, logo Snape entrou e começou a sua aula. Não demorou muito para que entrasse na sala, junto com a Granger, e as duas estavam rindo. Mas não rindo de algo que foi engraçado, foi aquela risadinha, aquela que as mulheres davam quando estavam tramando alguma coisa. Passei o resto da manhã tentando me lembrar de onde eu conhecia o idiota que estava conversando com e tentando apagar da minha cabeça a possibilidade de que existisse algo a mais entre eles.

Mas era claro que existia.

Na hora do almoço, minhas suspeitas ficaram ainda mais fortes. Quando cheguei à mesa da Sonserina, vi o mesmo idiota que estava com , conversando com o Potter. Que merda, não conseguia me lembrar onde já vi aquele cara antes! Comecei a almoçar, mas segui observando a conversa dos dois, até que ela chegou. Já que eu não podia me aproximar dela, descontava tudo nas olhadas, sem ter medo de ser indiscreto, afinal de contas eu não era o único que entortava o pescoço quando ela passava. E ela também não deixava por menos. A primeira coisa que ela fez quando chegou foi abraçar o cara e olhar, sem rodeios, para mim, com um olhar sacana, checando se eu estava vendo a cena.

Ela tinha alguma coisa com aquele cara.

A encarei durante alguns instantes e depois desviei o olhar, não podia ficar dando a ela a satisfação de que eu estava muito incomodado em vê-la com outra pessoa. Não que eu não estivesse, mas não podia dar a ela esse gostinho. Ao fim do almoço, o mesmo cara voltou na mesa da Grifinória e entregou um pacote para a sangue-ruim da Granger. Logo depois, se levantou e saiu andando com ele para fora do Grande Salão.

Eu precisava saber.

Eu queria ir atrás deles, mas teria que fazer isso de uma maneira muito discreta. Disse a Crabbe e Goyle que ia resolver alguns assuntos pessoais, de uma maneira que ficou claro que não queria os dois andando atrás de mim. Ao invés de ficar observando de longe, fiz questão de me aproximar o bastante para que eu pudesse, além de observar, escutar o que eles estavam dizendo. Assim que eles começaram a conversar, o cara mencionou distância e foi então que me ocorreu de onde eu o conhecia. Eu não sabia como não o reconheci antes, , o goleiro da seleção da Bulgária! podia até ter sangue-ruim correndo nas veias, e duplamente ruim já que ela era uma Potter, mas pelo menos ela sabia escolher bons partidos. No meio daquele devaneio de memória, quase perdi o raciocínio da conversa dos dois. Pelo que eu estava entendendo, o objetivo do era fazer com que voltasse a ser sua namorada.

Eu disse que eles tinham alguma coisa.

Antes mesmo que dissesse alguma coisa, senti um aperto estranho no peito, como se o que ela estivessse prestes a dizer, fosse machucar. E machucou, mas não a mim, mesmo porque ela só teria essa capacidade se eu, de fato, sentisse alguma coisa por ela que não fosse tesão. Mas tinha certeza que não devia ter sido nada fácil pra ele escutar de que ela já não sentia mais o mesmo. Continuei a escutar a conversa deles enquanto tentava de todas as maneiras, convencê-la a dar uma nova chance a eles.

Que decepção.

Sempre tive os caras da Durmstrang, principalmente os jogadores de Quadribol, como exemplos. Escutar um dos maiores goleiros da atualidade miando pela atenção de uma mulher foi desacreditante. Eu não fazia ideia de como era ser rejeitado, mas não podia ser tão crítico assim a ponto de levar um cara, que poderia ter qualquer mulher gata a qualquer momento, a humilhar-se por uma específica. Tudo bem que era obrigado a admitir, que dentre as outras, era uma específica que devia valer a pena. Ainda assim, eu nunca me submeteria ao que ele se prestou. , eu gostando de dizer ou não, ganhou meu respeito quando foi honesta dessa maneira. A sinceridade foi tanta que só não chegou a ser brutal porque ela não disse “eu não te amo mais”. Espantou-me o fato dela ter reagido tão imediatamente quando perguntou se havia outra pessoa, o que me fez pensar que talvez eu a tenha subestimado. Seria normal se ela hesitasse ou se atrapalhasse com a resposta, mas foi um claro e em bom tom; não. De alguma maneira, esse “não” me afetou, mas não ousei nem pensar nisso. Era como se eu quisesse ser essa outra pessoa… Mas eu não tinha esse sentimento por e se eu ainda tinha dúvidas sobre o mesmo sentimento vindo da parte dela, não restava mais nenhuma. Eu nem sabia por que eu cheguei a pensar que ela poderia sentir alguma coisa por mim além do evidente, e já comprovado, desejo. Senti raiva de mim ao admitir que isso me feriu. Senti mais raiva ainda quando ela considerou a oportunidade. E senti vontade de matar quando ele a beijou da forma que o fez. Saí tão desnorteado do meu esconderijo, que se eles não estivessem protagonizando aquela cena que me dava asco, eu teria sido descoberto. estava provocando coisas com as quais eu nunca tive que lidar, fazendo uma revolução dentro de mim, um furacão de confusão mental que resultou no surgimento do que cheguei a pensar que eu nunca fosse ter.

Sentimentos.

Agora mais do que nunca, eu tinha agir contra isso. Não podia deixar que aquilo ficasse maior, não podia deixar ela virar um fetiche, muito menos sem nunca tê-la provado. Tinha que curar aquilo da melhor forma que se curava um vício, no início. E para alcançar isso, eu precisava arrumar uma distração, alguma coisa que não mantivesse minha cabeça em , alguma coisa que exigisse minha atenção, que demande a minha presença.

Eu precisava de uma namorada.

Eu não fiquei nada feliz ao chegar a essa conclusão, mas era a solução obvia. Uma namorada demandaria minha atenção e meus cuidados, sabem como era, “mente vazia, oficina do diabo”. Tendo que estar sempre presente, eu mantinha minha cabeça ocupada por mais tempo. E não só a cabeça de cima, porque, afinal de contas, eu precisaria de alguém para aliviar minha tensão sexual. É, eu estava convencido de que não seria uma má ideia namorar alguém, já que daria uma chance ao bebê chorão e isso iria automaticamente afastá-la de mim. Pensando melhor, esse era o momento perfeito para cortar o mal pela raiz. Seria muito fácil arrumar uma namorada, só dentro da Sonserina eu tinha pretendentes de todos as idades! Mas assim que cogitei essa possibilidade, um nome veio como um estalo em minha cabeça: Pansy Parkinson.





Capítulo 9 - Conectores, conectados


's POV

Como sempre, eu não resisti.
Antes mesmo de eu e conversarmos, eu já sabia que ele ia me pedir pra voltar. Era a reação natural das coisas, se antes nós tínhamos a distância nos atrapalhando, agora, sem ela, era o lógico que nós reatássemos. Mas o amor não tinha nada de lógico. Percebi essa situação antes mesmo que sugerisse, pra falar a verdade, esse foi o meu primeiro pensamento naquele fatídico momento que eu me virei pra dar de cara com ele. Eu já havia pensado nessa possibilidade, mas havia feito isso dentro de um universo hipotético de situações improváveis que se realizariam na minha vida real… Mas como eu poderia imaginar, não era mesmo? Quando eu ia pensar que tudo isso teria que acontecer para que eu e ele estivéssemos realmente próximos? De qualquer maneira, mesmo quando essa era uma situação fictícia dentro da minha cabeça, eu já tinha uma opinião bem formada sobre ela. Meu sentimento por nunca foi digno de ser chamado de grande amor, o que eu sentia por ele, principalmente no início, era bem forte, sim, e apesar de continuar existindo, não tinha porte para sustentar um relacionamento. Tinha um carinho muito grande por ele e por tudo o que nós vivemos, foi o meu primeiro homem. Infelizmente, a distância e as brigas acabaram por aumentar nosso afastamento, e assim como acontecia quando alguém morria, a gente acabava se acostumando com a ausência da pessoa.

Mas eu tinha coração de manteiga.

Quando me levantei da mesa da Grifinória, senti como se estivesse indo para a forca. Estava até andando devagar, cada passo meu era como se eu estivesse levantando um trasgo com os joelhos. Eu estava me sentindo a pior e mais burra pessoa de todo o mundo. Eu tinha, a meus pés, um príncipe regenerado, disposto a dar céus e mares por mim, e eu não o queria. E ia dizer isso a ele. Só assim, sendo bem clara, ele entenderia que eu já segui em frente e poderíamos seguir como amigos.

Em tese.

Mas como era de costume, o raciocínio lógico provou que realmente não entendia nada de seres humanos. não me deixou dizer não. Sabia que estava sendo um tanto quanto covarde, colocando a culpa de uma coisa que eu não fui capaz de fazer nele. Mas simplesmente não pude, não queria partir o coração dele de uma maneira tão cruel. O preço pago pela honestidade geralmente era alto e dolorido, e eu não queria essa dor para ele. Por mais que eu estivesse consciente que era o melhor a fazer a longo prazo, me sentia como a grande vilã da história. Além de todas essas razões, ainda havia aquela que eu evitava até de pensar: Malfoy. Eu não tinha controle sobre a atração que sentia por ele, as chances de eu agir impulsivamente, se ele se aproximasse pra isso, eram altíssimas. E o dano causado no coração de e na minha reputação seriam de igual magnitude catastrófica. Aí, sim, eu seria a vilã da história! A decisão mais sábia era não voltar com e evitar qualquer sofrimento além do que já foi vivido. Eu provavelmente teria optado por ela se Draco e eu não tivéssemos conversado naquela mesma manhã. Ele havia me ofendido, e eu estava bem frustrada, somando-se isso ao meu encontro inusitado com , sua insistência em me ter de volta e a minha vontade de provar a Draco que ele não ficaria longe de mim, e teríamos um resultado potencialmente desastroso. Todos esses fatores me levaram a dizer a que eu pensaria sobre o que ele estava me pedindo, ao invés de eu simplesmente dizer o que eu já havia decido. Ou, pelo menos, pensava que tinha decidido. E pior, eu não só dei esperanças a ele ao considerar a proposta, como correspondi ao beijo extremamente apaixonado que ele me deu. Se antes ele já não queria desistir, depois do beijo, eu achava quase impossível.
Depois da nossa conversa, eu saí em direção à sala da sapa, com a cabeça latejando de dor, tamanha era a confusão que eu havia causado no meu cérebro. Eu só precisava ficar um pouco sozinha e me deitar um pouco enquanto eu absorvia tudo o que ele havia me dito hoje e recordava tudo que havia acontecido no passado. Lamentavelmente eu só poderia fazer isso na hora de dormir, eu ainda tinha a tarde inteira pela frente. Queria ir direto para a sala para evitar a pressão de , ela não me deixaria em paz até que eu desse todos os detalhes da conversa, mas eu tinha que ir pegar aquele livro ridículo de Defesa Contra as Artes das Trevas. Subi as escadas que davam acesso ao dormitório, e como eu já havia previsto, logo que me avistou, veio sorridente e saltitante em minha direção.

- ! - Ela exclamou ao me ver. – Finalmente, você não chegava nunca! Ande, eu preciso saber a data do seu casamento para mandar fazer um vestido de madrinha!
- Fale baixo, garota! - Eu disse, fazendo sinal de silêncio. – Não quero que ninguém fique falando sobre isso antes de ser uma situação definida.
- Como assim? - Ela me perguntou sem entender. – Até onde eu sei, vocês foram conversar justamente para definir a situação de vocês, ou eu estou enganada?
- É, a ideia era resolvermos tudo – disse, coçando a cabeça. – Mas eu não soube ser firme. – Disse, entristecendo a face.
- O que você quer dizer com isso, ? - disse já em tom preocupado.
- Ah, , mudou muito e muitas vezes ao longo desse tempo. No início, era doce e gentil, mas assim que nos afastamos, eu sofri muito com seu descaso.
- Descaso? Ele? Mas parece ser tão devotado a você! – disse, incrédula.
- É arrependimento – disse, me lembrando das várias noites que havia passado chorando em meu quarto. – Ele está tentando me compensar por tudo o que eu sofri.
- Arrependimento? Por quê? Ele te traiu? - perguntou, curiosa.
- Não, isso nunca chegou a realmente acontecer, mas os boatos sobre isso existiram, naturalmente.
- E como você teve certeza de que eram só boatos? - Ela perguntou, cautelosa.
- Veritaserum – disse, sorrindo para ela.
- Então o que foi que ele fez?
Antes que eu começasse a contar a ela, Hermione entrou no quarto e foi diretamente até minha cama, onde eu e estávamos sentadas conversando.

- Me disseram que vocês duas estavam aqui. - Disse ela um pouco tímida. – Então, o que vocês decidiram, ?
- Eu estava justamente contando isso a – disse, sorrindo amavelmente. – Eu disse a ele que preciso pensar sobre o assunto… Não sei se quero voltar a ter um compromisso com ele. Mas e você, o que foi que Krum lhe mandou de presente? – Disse, tentando desviar a atenção das duas do assunto.
- Me mandou um Espelho de Dois Sentidos – ela disse sem muito entusiasmo.
- Ah – eu disse sem graça. – Eu também já tive um…
- Vocês me desculpem a ignorância – disse , levantando a mão para pedir a vez de falar. – Mas o que é um Espelho de Dois Sentidos?
- Hum – eu exclamei com surpresa. – Você que se diz tão bruxa deveria saber, – disse ironicamente.
- Sou bruxa, não sou enciclopédia, ! – ela disse, colocando a língua pra fora, respondendo a minha gozação.
- Espelho de Dois Sentidos – disse Hermione, cortando nossa brincadeirinha de discutir. - É um espelho de comunicação, . Eles são feitos em pares, um dos espelhos fica com você e o outro você dá a pessoa com quem quer se comunicar. Para contatar o outro espelho, você diz o nome de quem possui o par, então ela aparecerá no seu espelho e você no dela.
- Ora, mas isso é muito interessante – disse , encantada com o objeto. – Muito mais fácil do que mandar cartas! Onde está o seu, ? Me deixe ver!
- Eu quebrei o meu… - disse, abaixando o tom de voz.

Antes que começasse um escândalo, alegando que eu não era sã o suficiente para viver em sociedade, Gina abriu a porta do quarto.

- Vocês não vão pra aula, não é? - Ela disse da porta.

O tempo tinha passado e nós nem tínhamos nos dado conta! Eu logo me levantei, agradecendo internamente a Gina por ter me salvado de contar uma parte da minha vida que não foi muito, bem, memorável. Sem muita escolha, as duas se levantaram também e todas nós descemos juntas as escadas até chegar ao Salão Comunal. Assim que chegamos, meu irmão veio em nossa direção.

- Como vai minha irmãzinha arrasa corações? - Perguntou meu irmão, colocando um dos braços em volta dos meus ombros.
- De onde foi que você tirou isso, Harry? – Disse, sorrindo e dando um leve beijo em sua bochecha.
- Dos comentários que ando escutando sobre você, entre os meninos… - Ele disse pausadamente.
- Comentários, é? Interessante! - Eu ri enquanto ele me olhava com uma cara feia. - Está com ciúmes, é? – Disse, apertando uma de suas bochechas.
- Confesso que estava, sim, antes, mas agora com a chegada de , eu posso ficar muito mais tranquilo – ele disse um tanto aliviado.
- Ah… o – eu suspirei, me movendo para frente, de maneira que seu braço não ficasse mais apoiado em mim. - É melhor irmos andando. Vamos, Hermione? Não queremos chegar atrasadas novamente.

Assim que saí andando, tomou a frente de todos e me deu um dos braços. Assim permanecemos até quando chegamos em sala, para mais uma aula completamente inútil da Umbridge. Para piorar, além de toda aquela questão com , eu ainda tinha uma aula inteira no mesmo espaço geográfico que Draco Malfoy. Nem sabia por que eu cheguei a pensar em voltar com meu ex para que ele sentisse ciúmes. Aquele garoto não gostava de ninguém a não ser dele mesmo. Era assim que tinha que vê-lo, como alguém que devia ser evitado, uma persona non grata. Por mais que ficar olhando para Draco fosse uma atividade mais prazerosa do que prestar atenção na aula, eu não desviei meu olhar da professora em nenhum instante. Draco tinha sido muito rude e ofensivo, tudo bem que não se podia esperar mais dele, mas nem por isso ele tinha o direito de agir daquela forma. Passei o resto da tarde ignorando sua existência e estava me saindo muito bem.

Até o jantar.

Assim que deu o horário, fomos para o Grande Salão e encontramos na porta, me esperando. Ele estava sendo bem compreensível, apesar de estar sempre atrás de mim, ainda não estava forçando a barra. Ainda. Ele foi se sentar com seus colegas da Corvinal e nós nos dirigimos à mesa da Grifinória. Ia ser mais um típico jantar em Hogwarts se a cena que se seguiu, não tivesse acontecido. Os alunos da Sonserina estavam em meio a protestos pedindo um beijo. Por curiosidade, observei aquilo sem saber que o meu costumeiro lugar na mesa, me fez encarar Draco e Pansy Parkinson atendendo ao pedido de seus colegas. Fiquei paralisada diante do beijo dos dois, mas eu nada podia fazer. Aliás, bem feito para mim porque a culpada disso era eu! Ele estava fazendo isso por despeito já que ele me viu com , naquele dia, e meu modo de olhar para ele entregou que não éramos somente amigos. Eu ainda estava tão em choque que nem mesmo percebi que Hermione falava comigo.

-… Mas eu não estou surpresa, sabe, ? Esses dois se merecem. – Ela disse com desdém.

Só peguei o final da frase que Hermione estava dizendo, eu estava tão estarrecida com aquilo que só me dei conta de que era comigo quando ela disse meu nome. Rapidamente eu balancei a cabeça em concordância, sem fazer a menor ideia do que ela havia dito antes que eu estivesse prestando atenção. Mas se tratando de Hermione, não poderia ser nada de positivo, ou melhor, se tratando de Draco e Pansy não havia nada de positivo a se dizer. Durante o resto do jantar, eu fiquei na minha, agindo da forma mais natural possível, disfarçando com maestria que meu sangue estava talhando em minhas veias. Veja só que absurdo, eu com inveja de Pansy Parkinson! Porque era invej,a sim, ela podia estar com Draco enquanto eu era obrigada a amargar meu desejo e satisfazê-lo com minhas próprias mãos. Minha maior vontade era sair dali, mas eu não estava nem na metade do meu prato. Foi quando chegou e se assentou a meu lado, mesmo com os protestos de . Ele era como uma boia salva vidas em alto mar, por mais que eu não quisesse, era nele que eu teria que segurar naquele momento. Bastou que ele se assentasse para que Draco desviasse sua atenção para nossa direção, comprovando pra mim que era mesmo por despeito que ele estava junto com Pansy. Mas acontece que naquele momento eu também estava despeitada. Eu poderia ter sido extremamente impulsiva, poderia ter beijado ali mesmo e ter dito que era com ele que eu queria ficar. Mas isso chegaria a ser ridículo de tão egoísta, eu não podia ficar brincando com os sentimentos dele, não, eu tinha caráter demais pra optar por isso. Respirei fundo e não fiz nada, se só a presença de perto de mim já incomodava Draco, eu não tinha que me preocupar em atiçar mais nada.

Já ele pensava diferente.

Naquela noite, Malfoy não poupou esforços para perturbar, fez questão de exibir a nova namorada para todos. Mas quanto ele mais fazia, menos eu parecia me importar. Parecia. Eu sabia o que estava acontecendo, mas cordialmente evitava de olhar, como se o fato deles estarem juntos não tivesse a menor relevância. Continuei na mesa a conversar com meus amigos e com , que me levou até o Salão Comunal da Grifinória quando era hora dos alunos se recolherem. No início da noite, o Salão sempre estava cheio, então eu permaneci conversando com as meninas até que elas sentissem sono e se dirigissem para o dormitório. Eu não ia ter sono tão cedo, então esperei até que o ambiente estivesse mais calmo e me assentei em uma das janelas. O vento frio denunciava a presença do inverno, e ao bater na pele quente do meu rosto, me deu um calafrio gostoso de se sentir. Coloquei-me em uma posição confortável e comecei a escrever. Por mais que eu estivesse rodeada de mais pessoas do que jamais estive em minha vida, me sentia muito sozinha ali em Hogwarts. Não tinha confiança e nem intimidade com ninguém para me abrir da maneira que eu precisava, então eu escrevia. Não, eu não fazia diário. A pior estupidez que uma pessoa que tinha segredos irreveláveis poderia fazer, era revelá-los a um pedaço de papel. Assim como ele não se recusava a receber as palavras que você escrevia nele, não impediria ninguém de lê-las. Já que eu escrevia só pra descarregar o que estava sentindo, só eu mesma entendia o que estava em meus cadernos. Eu estava distraída com meus pensamentos, que quase caí da janela quando Harry chamou meu nome.

- , ainda acordada? - Ele disse, se aproximando.
- Essa é a única hora que isso aqui fica em paz, então aproveito pra escrever – disse, sorrindo.
- Não sabia que você escrevia… Na verdade, há muitas coisas que não sei sobre você – ele disse um tanto sem jeito. – Mas posso sentir que algo te incomoda, estou certo?
- Está – disse, abaixando levemente a cabeça.
- Se você quiser conversar sobre isso, você sabe que pode falar comigo, não sabe? Quer dizer, sei que apesar de sermos irmãos, ainda não temos tanta abertura...
- Harry – disse antes que ele terminasse de falar. – Somos irmãos, gêmeos. Temos uma ligação diferente por causa disso. Você nunca ouviu dizer que entre gêmeos existe uma comunicação anormal? – Disse, fechando meu caderninho e o colocando no parapeito da janela onde estava sentada. – Por exemplo, agora, você estava dormindo, não estava? Por que você desceu até aqui?
- Eu não sei, só acordei e senti que precisava descer… - Ele disse um tanto confuso.
- Vê? Há entre nós uma comunicação de pensamentos, que permite que a gente se veja e se compreenda sem a necessidade de dizer nada… Agora, por exemplo, sinto que algo a mais está tirando seu sono, além de sua preocupação comigo.
- É… - Ele disse reticente.
- Venha, sente-se aqui comigo – eu disse, batendo a mão no lugar vazio ao meu lado.

Harry colocou minhas coisas em cima da mesa mais próxima e se assentou ao meu lado, ficamos em silêncio durante um tempo até que eu resolvi disparar.

- É uma menina, não é? – Disse, me debruçando sobre meus joelhos encolhidos para poder olhar seu rosto. – A causa da sua preocupação…
- Nem vou perguntar como é que você sabe, , mas sim, é uma garota. - Ele disse sem graça.
- E o que te impede de falar com ela?
- Falar? Você é maluca, ! Eu nunca teria coragem de dizer pra... – Ele fez uma pausa brusca antes de, sem querer, revelar o nome de sua perturbação.
- Cho Chang – eu completei pra ele.

Bem assustado, Harry permaneceu olhando para mim como uma criança que acabou de ser pega fazendo alguma coisa de errado. Eu dei uma gargalhada pra quebrar o gelo que aquela situação tinha causado.

- Como você sabe? Nem pra Rony e Hermione eu contei! - Ele disse, indignado.
- Bem, além da nossa conexão especial, vamos dizer que tenho um dom, uma sensibilidade maior pra essas coisas – disse, piscando o olho esquerdo para ele.
- Então, o que eu faço? - Ele disse, confuso.
- Você nunca beijou alguém, não é mesmo? – Disse, estendendo minhas pernas que estavam dobradas.
- Eu vou ter que aprender a acessar essa nossa conexão – ele disse, tímido. – Mas é verdade, nunca beijei ninguém.
- Não é preciso de conexão nenhuma para perceber falta de experiência, Harry – eu disse, rindo. – Só o fato de você achar absurdo falar de seus sentimentos para ela, denuncia isso.
- Mas é absurdo! - Ele exclamou, incrédulo com o que eu estava sugerindo a ele.
- Claro que não! De que outra forma ela vai saber o que você sente? – Perguntei, debochada. – Ela não vai adivinhar, e mesmo que alguém conte, se é nessa possibilidade que você está pensando, não será a mesma coisa do que ela saber por você.
- E por que não? - Ele me olhou curioso.
- Dor de cabeça. Você consegue fazer uma pessoa que não está sentindo nada descrever o que você tem só de ouvir você dizer?
- Não, acho que não… - Ele disse, pensativo. – Aonde você quer chegar?
- Com as coisas do coração, é a mesma coisa. – Disse, colocando uma de minhas mãos em seu ombro. – Elas podem até saber o que você sente, mas não são capazes de descrever seus sentimentos como eles de fato são, porque só você tem isso aqui dentro – disse, pousando minha outra mão em seu coração.

Harry sorriu para mim e nós permanecemos um tempo em silêncio. Era a primeira vez, desde quando eu cheguei ali, que nós tínhamos uma conversa só nossa. Continuamos sentados no parapeito, meu irmão continuava pensativo olhando para o nada, enquanto eu balançava os pés no ar. Então, sem aviso, Harry retomou o assunto que primeiramente o havia tirado debaixo das cobertas.

- É que está te fazendo ficar pensativa, ? - Ele disse, voltado seu olhar para mim.
- Sim e não, Harry… - Disse enquanto eu olhava pro céu escuro daquela noite.
- Mas por quê? Você não sabe o que fazer?
- Eu ainda estou caindo em contradição… Mas, por mais que eu tenha um carinho muito grande por ele... Já não é mais como era antes. – Disse, lamentando.
- Tem outra pessoa? - Ele olhou para mim de forma compreensiva.
- Bem, – eu disse, engolindo em seco – também.
- E quem é essa outra pessoa? Eu posso saber? - Perguntou ele, curioso.
- Acho melhor não, Harry… - Eu suspirei ao pensar em Draco. – Mudaria muita coisa entre nós, e é na nossa relação de irmãos que quero investir. - Antes que ele pudesse comentar, eu completei. - Mas não é a única razão pela qual estou hesitando diante do pedido dele.
- Mas se você não vai fazer nada quanto o outro, e a distância não existe mais entre vocês, o que te impede? - Ele disse, ajustando seus óculos no rosto.
- A ausência diminui as pequenas paixões e aumenta as grandes, Harry. Da mesma forma como o vento apaga as velas e atiça as fogueiras… - Eu disse, descendo do parapeito. – Pense no que te falei, sim? Vou subir – disse em meio ao início de um bocejo. – Já está tarde.
- Boa noite, – ele me desejou enquanto dava um beijo em minha testa.
- Boa noite, Harry – disse, ficando na ponta dos pés para lhe dar um beijo na bochecha.

Eu subi as escadas para o dormitório e, assim que caí na cama, peguei no sono. Tinha sido um dia cansativo e eu precisava dar uma paz pra minha cabeça, apesar de que eu sabia que deveria acordar no meio da noite com o mesmo pesadelo de todas as outras vezes.

Harry's POV

Tomei uma ducha fria e fui para minhas aulas da manhã com a cabeça cheia. Além dos assuntos da minha irmã, agora eu estava preocupado com o que se sucederia em Hogwarts. Umbridge estava se aproveitando de sua influência no Ministério e junto a Fudge para prejudicar Dumbledore, e eu tinha que pensar em uma maneira de impedi-la. Eu sempre procurava chegar cedo à sala quando o professor não ia muito com a minha cara. Naturalmente, sendo aula de poções, esse era meu comportamento costumeiro. Ron e eu nos assentamos onde era de costume, logo a sala começou a ficar cheia e, como sempre, Snape entrou pontualmente para começar sua aula.

- Harry, onde estão Hermione e sua irmã? - Ron me perguntou em sussurro.
- Não faço ideia – respondi enquanto as procurava pela sala. - Será que aconteceu alguma coisa? Hermione não é de fazer esse tipo de coisa.

Antes que tomássemos alguma atitude, Hermione e entraram na sala, rindo. Novamente eu vi Snape medir suas palavras com minha irmã, mesmo que o caso fosse o de uma bronca ou até mesmo de tirar pontos da Grifinória. Não sabia o por que esse tratamento diferenciado, mas pra falar a verdade, preferia nem pensar. Ficava feliz em ver que estava se dando bem com meus amigos, principalmente com Hermione, que não era uma pessoa muito fácil de se acessar. E via que elas não só estavam se dando bem, como também estavam ficando amigas! Foram raros os momentos que vi Hermione dar uma risada tão gostosa quanto a que ela estava dando quando entrou na sala com minha irmã. Ao fim da aula, Rony e eu vimos Hermione, minha irmã e irem na direção contrária ao Grande Salão. Eu queria esperar, mas depois dos testes e de dois horários com Snape, meu estômago estava demandando mais a minha atenção. Então saímos direto dali para o almoço, as meninas nos encontrariam lá depois. Eu e Ron nos assentamos, e aguardando enquanto o salão se enchia de alunos. Eu estava distraído observando o ambiente quando alguém falou comigo.

- Harry Potter?

Quando me virei para ver quem era, dei de cara com um conhecido que pensei que nunca mais fosse ver em Hogwarts.

- ! Não pensei que fosse te ver tão cedo! - Disse surpreso em vê-lo novamente. – O que você faz em Hogwarts?

- Meu pai agora é o novo Chefe da Seção de Jogos e Esportes Mágicos. Era o emprego dos sonhos dele, então eu e minha mãe resolvemos acompanhá-lo.
- Bem, dê os parabéns para o seu pai então – disse, sendo simpático. – Uma pena que você caiu na Corvinal, se fosse da Grifinória nem precisaria fazer os testes para ser escalado. Vamos ter trabalho nos jogos contra sua casa!
- Não se preocupe, Harry – ele disse, dando uma risada. – Minha situação com a seleção da Bulgária ainda não está completamente resolvida, vou me dar umas férias nessa temporada e não vou jogar.
- É uma pena e um alívio – disse contente.

Nesse momento, desviou sua atenção para a porta do Grande Salão, e não foi surpresa nenhuma para mim vê-lo olhando para minha irmã, que vinha em nossa direção. Eu já ia mencionar nosso parentesco, meio que querendo inibir qualquer comentário que ele pudesse fazer sobre ela, quando fui pego de surpresa. chegou e deu um abraço muito íntimo e carinhoso em Ao que parecia, eles já se conheciam muito bem, porque eu não chamaria nenhuma menina de quem não era íntimo de “linda” ou de “princesa”, pelo menos não na frente dela. Fiquei com ciúmes quando ele disse que eles tinham que resolver a “situação deles”, mas nada pude fazer a não ser querer uma explicação dela. me disse que os dois haviam sido namorados no passado e, pelo visto, o fim do relacionamento deles não ficou tão claro assim. Ia fazer muito gosto de ver minha irmãzinha namorando com . Desde o ano passado, eu já tinha uma impressão muito positiva sobre aquele cara, e vendo como ele agia com , só podia pensar que devia ser um bom namorado.

Novamente, a grade de horários me decepcionou colocando a aula da Umbridge após o almoço, então assim que terminei, fui direto para a Sala Comunal esperar até que o horário de descanso acabasse. havia saído antes junto com , eles deviam ter a conversa que tanto precisavam. Assim que cheguei, me recostei em uma poltrona e, quando eu acordei assustado, vi que nem Hermione, nem estavam por perto.

- Gina, você sabe onde estão minha irmã, e Hermione? - Perguntei em meio a um bocejo.
- Acho que elas estão lá em cima no dormitório, Harry, quer que eu as chame? - Ela ofereceu, gentil.
- Seria bom, afinal de contas, está quase na hora de irmos para aula – afirmei, aceitando o favor que ela havia se prestado a fazer.

Não demorou muito até que Gina voltasse trazendo as três que estavam cochichando no quarto. Eu queria muito saber o resultado da conversa, mas não me sentia assim tão próximo de a ponto de me intrometer assim na sua vida. Eu poderia, tranquilamente, afinal de contas, era seu irmão, mas acho que não me sentiria bem fazendo isso, a gente ainda não tinha criado a proximidade necessária. Mas não foi preciso ela me contar, a reação dela quando eu disse que, apesar dela estar arrasando corações, eu estava tranquilo com por perto, me disse o que eu precisava saber. Era uma pena, mas eu não podia julgar já que não sabia nada do passado deles. Frequentei normalmente as aulas da tarde mesmo sem ver sentido algum em aprender Defesa Contra as Artes das Trevas em um livro.

Acordei subitamente depois de ter o mesmo pesadelo que vinha tendo há meses. Mas, naquela noite, foi diferente… Eu teria ficado na cama, esperando o sono voltar se alguma coisa não estivesse me dizendo que eu deveria descer até o Salão Comunal. Desci as escadas e vi a luz fraca de uma vela que tremulava e ameaçava se apagar por causa do vento que vinha da janela aberta… Onde estava sentada, observando a noite. Aproximei-me e ela pediu para que eu me juntasse a ela, que estava sentada no parapeito. Pode parecer incrivelmente estranho, mas foi diante desse cenário que e eu tivemos nosso primeiro momento como irmãos, depois que tudo veio à tona. De alguma maneira, ela havia percebido os meus sentimentos por Cho e me aconselhou quanto ao que eu deveria fazer em relação isso. Já que era uma completa negação em matéria de relacionamentos amorosos, eu apenas a escutei falar de seus problemas com . Realmente as coisas eram mais complicadas do que pareciam… Pelo que pude entender, não mais se interessava tanto assim por e ainda havia a presença de um outro cara. Eu conseguia imaginar as várias possíveis razões de por que minha irmã não queria voltar com o ex, mas estava muito intrigado com a identidade do novo amor de . A única coisa que sabia era que devia ser um amigo meu, já que ela se recusou a falar para não mudar nada entre nós.

Boba.

Eu adoraria que ela namorasse um amigo meu. Eu poderia estar sempre de olho e isso me deixaria muito mais tranquilo. Era incrível como meu amor por foi instantâneo, mesmo ela tendo aparecido só naquele momento, parecia que ela sempre esteve presente em minha vida de alguma maneira, eu só não sabia.





Capítulo 10 - Ela tudo contém, mas em nada está contida


Draco's POV

Eu tinha que começar agir e já, fosse o que fosse que havia de errado com a minha cabeça, precisava parar. Durante a aula de Umbridge, eu fiquei na minha, mesmo porque eu não queria que notasse nenhuma movimentação estranha. Desde que ela havia chegado, eu mal me dirigia a Pansy, esperta que só, ia perceber algo se eu ficasse de gracinhas com a Parkinson, que não era do tipo discreta. Esperei até um momento oportuno, na aula de transfiguração, para mandar um bilhete a ela. Fazíamos essa matéria com a Lufa-lufa, e eu não conhecia ninguém daquela casa.

Pansy,

Precisamos conversar, acho que eu me enganei quanto aos seus sentimentos para comigo e quanto aos meus em relação a você. Você pode me esperar hoje, antes do jantar, no Salão Comunal da Sonserina? Draco
.

A resposta dela, ao meu pedido, veio quase que imediatamente.

Draquinho,

É claro que posso, tudo o que você quiser!

Com amor,
Pansy.


Dei uma discreta risada de escárnio ao terminar de ler o bilhete de Pansy. Era engraçado o que os sentimentos podiam fazer com as pessoas, Pansy, que era uma mulher totalmente arredia, ficava completamente derretida e submissa às minhas vontades. Bastava que eu a atiçasse um pouco e pronto, fazia o que bem entender dela. Era justamente por notar isso que dizia a mim mesmo que devia evitar me apaixonar a todo custo. O amor fazia as pessoas parecerem ridículas. Apesar de sua carência excessiva, Pansy não devia ser difícil de se controlar, já que, aos olhos dela, qualquer migalha de atenção que dava era como se fosse um banquete. Além disso, ela era bonita, boa de cama e, principalmente, era uma puro-sangue. Estava decidido. Assim que a última aula terminou, segui direto para as masmorras, já imaginando que, quando eu adentrasse o Salão Comunal, Pansy já estaria lá, ansiosa, me esperando.

E novamente, não me enganei.

Bastou ela me avistar entrando que foi diretamente na minha direção, com um sorriso de todo o tamanho estampado no rosto, como se ela já soubesse o que eu ia dizer.

- Draquinho, eu estava te esperando, assim como você me pediu – ela disse, feliz. – Já posso até imaginar o que é que você quer comigo… Do que você está sentindo falta – ela disse, soando sugestiva.
- Pois eu acho que você está enganada, Pansy, vamos, sente-se aqui – eu disse, a conduzindo para uma das poltronas mais reservadas do Salão.
- Nossa, mas se não é isso… O que você quer comigo? - Ela disse, soando levemente brava.
- Não fique brava, Pansy. Eu estou aqui para te fazer uma pergunta séria – eu disse, ficando de joelhos na sua frente.
- Séria? O que foi que aconteceu? Eu fiz alguma coisa, Draquinho? - Ela disse apreensiva.
- Não, Pansy – disse, rolando os olhos. – Mas eu pensei muito durante esses dias também, e acho que cheguei a uma conclusão sobre nós. - Então eu peguei em suas mãos, em um gesto surpreendentemente romântico para minha pessoa. – Você quer ser a minha namorada?

Pansy permaneceu me olhando sem dizer nada, incrédula. Ela provavelmente estava esperando que logo em seguida viesse alguma patada, humilhação, mas não. Eu permaneci na mesma posição e expressão. Quando ela percebeu que era sério, lentamente foi sendo consumida pela felicidade que estava sentindo, aos poucos, um sorriso foi nascendo e foi crescendo até que não pudesse mais.

Credo, esperava não me arrependesse disso mais tarde…

Pansy se jogou em cima de mim e nós acabamos no chão, abraçados. E ela falava mil coisas de uma vez só em uma voz estridente, de maneira que eu não entendia nada do que ela estava dizendo. Logo aquela cena chamou a atenção de outros alunos da Sonserina, presentes no Salão Comunal naquele momento. Nos levantamos e Pansy começou a espalhar a novidade aos quatro ventos. Não ia demorar para que isso chegasse a .

Na verdade, foi bem mais rápido do que eu estava estimando.

Assim que entrei no Grande Salão de mãos dadas com a Parkinson, toda a mesa da Sonserina ficou em alvoroço. Não era só Pansy que estava contente, mas a casa inteira! Ela enchia tanto o saco das pessoas por minha causa que agora que havia conseguido o que tanto desejara, ia deixar os outros em paz. Nos assentamos lado a lado e logo fez-se um coro, pedindo um beijo do novo casal. Não sabia as pessoas agiam dessa maneira com relacionamentos, pelo amor de Deus, já não éramos mais crianças! Já passamos daquela fase de que meninos odiavam as meninas e um casal se formar era algo extraordinário. Pansy olhou para mim, esperando que eu tomasse a atitude, era o momento dela, o que ela mais queria era exibir seu troféu.

Era meu dever proporcionar esse momento a ela.

Envolvi Pansy em meus braços e não poupei meus esforços em dar nela um beijo cinematográfico. Enquanto eu a beijava, a Sonserina toda gritava, aplaudia e assoviava. Assim que paramos, Pansy me abraçou carinhosamente, e, ao olhar para frente durante o abraço, vi que estava observando tudo o que estava acontecendo. Rapidamente tratei de olhar em outra direção, se eu queria que ela acreditasse no meu suposto sentimento por Pansy, não deveria ficar encarando-a. Mesmo que não fosse diretamente, eu mantinha meus olhos atentos, na expectativa de que reagisse de alguma maneira. Mas tudo o que ela fez foi continuar a comer e conversar com seus amigos. É, talvez eu tivesse mesmo feito a melhor escolha, parecia nem ligar para o que estava acontecendo, nem mesmo olhar ela estava olhando. Passou um tempo, e aquele babaca se assentou ao lado dela, mas se ela estivesse se sentindo despeitada, teria feito algo para me causar ciúmes, no entanto, ela continuou com a mesma postura.

Melhor assim.

A presença dela estava me confundindo quanto a meus próprios valores. E o preço que eu pagaria seria alto se descobrissem o que eu estava guardando. O engraçado era que eu tinha ciúmes e inveja dela. Ficava enciumado em vê-la sendo tomada por outro, e invejava sua inteligência e sapiência. Tanto que fui capaz de uma coisa que jamais pensei que fosse fazer na vida. Fui até a biblioteca e trouxe comigo, para dentro da Sonserina, a casa dos puro-sangue, um livro trouxa. Em minhas conversas com , ela sempre citava alguma coisa relacionada ao mundo trouxa, e eu, naturalmente, sem nenhum conhecimento prévio, não conseguia entender. Fiz isso, não pela minha curiosidade sobre qualquer coisa relacionada a aquelas pessoas imundas, mas porque eu não suportava me sentir inferior diante de ninguém. Muito menos se fosse uma menina.

Muito menos uma Potter.

Eu só queria entender sobre o que ela estava dizendo, quando mencionou Guerra Fria. Então, em um momento oportuno, fui até a biblioteca e sorrateiramente peguei um livro que falava sobre o assunto. Quando já era bem tarde da noite, eu peguei o livro que havia escondido entre as minhas coisas e desci. Àquela hora, todos já estavam dormindo, inclusive Pansy, pra meu alívio. Sentei-me em uma poltrona estratégica, de onde eu podia ver todas as entradas e saídas do Salão Comunal, daquela maneira eu teria tempo para esconder o livro caso fosse necessário. Comecei a ler o livro que contava a história de uma guerra que havia acontecido há pouco tempo, comparada às Guerras Mágicas. Os Estados Unidos e a União Soviética eram fadados a serem inimigos por conta de suas diferentes ideologias. Os dois países começaram então uma corrida armamentista, e construíram um arsenal bélico nuclear que podia destruir o mundo caso o confronto fosse direto, ao invés de ser frio. Continuei lendo toda a história até me deparar com uma foto curiosa, um botão vermelho. Ele havia ficado conhecido por representar o acionamento dos arsenais dos países e, consequentemente, o fim do mundo trouxa, como ele era conhecido. Depois de algumas horas lendo, eu estava caindo de sono e subi para o dormitório. Guardei o livro entre meus pertences e deixei que minha mente absorvesse as informações que eu havia acabado de adquirir. Após minha leitura, as coisas que havia dito faziam mais sentido pra mim. Nós dois estávamos travando uma Guerra Fria, assim como os dois países, em conflito por conta de nossas diferenças, temendo que um apertasse o botão vermelho antes do outro. A diferença era que o que nos colocava em antagonismo era a mesma coisa que nos unia. Enquanto os países disputavam o poder sobre o resto do mundo, e eu combatíamos nossos próprios impulsos. Mas não deixava de ser uma comparação inteligente… Agora que minha dúvida estava sanada, eu tinha que tratar de devolver o livro logo para a biblioteca, antes que ele pudesse me causar problemas de verdade.

Rony's POV

Naquela manhã, fui com Harry até o campo de Quadribol assistir os testes aplicados nos possíveis novos jogadores da Grifinória. Eu tinha uma vontade oculta de entrar para o time, mas não foi naquele ano que consegui tomar coragem para me submeter ao processo de seleção. Apenas fiquei assentado na arquibancada assistindo a tudo. Quando os testes terminaram, Harry disse que tinha um assunto pendente a resolver e pediu para que eu o esperasse no Salão Comunal. Depois da chegada de , Harry tinha andado muito mais quieto e reservado, se eu não o conhecesse bem, até poderia pensar que havia algo de errado com nossa amizade. Mas conhecendo Harry como conhecia, sabia que isso o abalou muito, principalmente pelo fato de que todos os meninos da escola pararem para ver passar.

Inclusive eu.

Eu me sentia até mal por ser, de certa forma, uma parte do problema de Harry. Justamente por isso, eu não dizia nada do que eu estava sentindo por pra ele. Mesmo porque havia pouco tempo que ela tinha entrado em nossas vidas, o que eu sentia era muito mais um encantamento do que um amor. Mas as chances dele crescer eram reais e evidentes. A cada vez que eu tinha a oportunidade de ficar perto dela e observar seu jeito, sua beleza, o sentimento que estava nutrindo por ela ficava mais forte. Eu não sabia bem se deveria deixar isso acontecer, afinal de contas, ela era irmã do Harry, o meu melhor amigo. Seria difícil demais parar isso agora que já havia começado, então eu só permanecia calado enquanto ela me arrancava suspiros. Ela chegou e, sem muito esforço, mudou a vida de muita gente. Até mesmo Hermione ela estava conseguindo cativar! Nunca imaginei que fosse vê-la se divertindo tanto com uma pessoa quanto como eu vi quando as duas se atrasaram para aula do Snape. Até mesmo nosso professor parecia estar se rendendo à maneira encantadora com a qual olhava pra gente. Com o tempo, provavelmente seria inevitável que meu sentimento ficasse mais forte e evidente, mas enquanto isso não ocorria ajudaria Harry a tomar conta dela. Creio que por ser irmã de quem era, os caras teriam um pouco mais de receio de se aproximar dela.

Até a hora do almoço, era isso que eu pensava.

Senti um frio na barriga, mas não daquele gostoso de se sentir, quando vi abraçando-a com tanta liberdade. Doeu mais ainda quando fiquei sabendo que os dois haviam sido namorados no passado. Que chance eu tinha contra aquele cara? Ele era o goleiro da seleção Búlgara e, além de ter fama de inteligente, todas as mulheres ficavam olhando para ele quando estava presente. nunca o trocaria por mim… Eu não me trocaria por mim. Fiquei bem incomodado com o que havia acontecido no almoço e precisava desabafar. O problema era com quem! Harry era meu melhor amigo, e costumeiramente a pessoa com a qual eu dividia esse tipo de coisa. Mas naquela situação, isso era inviável. Quando ela saiu junto com ele, eu não demorei muito pra terminar minha comida e seguir para o Salão Comunal. Harry me acompanhava e falava de suas preocupações, enquanto eu pensava em sua irmã. Sabia que não estava sendo um bom amigo, sabia que devia dar atenção ao que ele estava dizendo, mas não conseguia parar de pensar em e juntos. Harry parecia muito cansado, ele não sabia, mas eu estava vendo que toda noite ele acordava subitamente. Ele se recostou em uma poltrona e não demorou para que cochilasse. Fiquei sentado no sofá, à sua frente, viajando nos meus pensamentos até ser interrompido por uma voz conhecida.

- Você vai dizer pro seu irmão o que está te tirando nesse universo ou vou ter que utilizar outros métodos? - Disse Jorge, que estava em pé atrás de mim.
- Ah, Jorge… Não é nada demais, só estou pensando nos N.O.M.S. - menti.
- Rony, posso não ser o tipo de irmão exemplar, mas eu te conheço. Você nunca gostou de estudar. - Ele disse, se assentando ao meu lado. – Ande, desembuche o que é.
- Não quero que ninguém fique sabendo, prefiro não dizer – eu disse, cruzando meus braços.
- E para quem eu contaria? Vamos, Rony, se você ainda não contou a Harry, a quem pretende dizer? - Ele disse, me encarando.
- A questão é que eu não posso contar pro Harry – eu disse cabisbaixo.
- E por que não? Ande logo, Ron! - Jorge disse impaciente.
- Tudo bem… É , Jorge. É ela que está fazendo com que eu voe longe.

Jorge ficou calado, me olhando com os olhos espantados, será que eu havia feito bem em dizer a ele?

- , Ron? Logo ela! - Jorge disse, coçando a cabeça.
- Eu sei, mas não pude evitar… Você é homem também, Jorge, quando vocês a viram no metro, se encantaram imediatamente por ela, não negue.
- Sim, nisso você tem razão, não há como não se encantar com ela… Mas ela é a irmã recém-descoberta do seu melhor amigo… Você não vai mesmo dizer isso pra ele?
- Não consigo – disse, abaixando a cabeça novamente. – Tenho medo de como ele pode reagir e de qual seria o impacto sobre eles, tem muita coisa acontecendo esse ano.
- Acho que é o melhor que você fará. - Disse meu irmão, colocando a mão em meu ombro. – Tirar da sua cabeça, vai evitar muitos problemas…
- Muitos problemas? – Perguntei, confuso. – Por que você diz isso, Jorge?
- Por nada, irmãozinho, só siga meu conselho. Vai ser melhor pra todo mundo.

Dizendo isso, meu irmão foi atrás de Fred, que estava vendendo mais um dos produtos que eles haviam criado para um aluno do primeiro ano. Não pude deixar de passar o resto do dia pensando por que meu irmão havia dito que seria melhor para todos. Podia não ser tão perspicaz quanto eles, mas não era um completo idiota. Jorge sabia de algo que eu não sabia e não quis me contar. Fosse como fosse, continuaria com a mesma postura diante dessa situação. Por mais que Jorge não tenha me dito o que era, se ele me aconselhou a evitar, deveria ser para o meu próprio bem. Minha primeira prova de resistência foi naquele dia mesmo, durante o jantar, quando ele foi se assentar na mesa da Grifinória. Concentrei-me em uma das coisas que eu mais gostava de fazer, comer. E comi tanto que nem mesmo fiquei muito tempo no Salão Comunal, acho que eu não queria ver a hora que ela fosse chegar, pra evitar ficar imaginando coisas que podiam me machucar.

Ah, como eu queria que ela olhasse pra mim…

Queria dizer, não que ela não olhasse. Em alguns momentos, eu achava que ela olhava, e até rolava um clima, uma troca de olhares. Mas era muito fácil se iludir quando se estava apaixonado. Você podia provar de diversas maneiras, as pessoas enxergavam só o que elas queriam ver. Então, antes que eu pudesse tomar qualquer atitude, eu tinha que ter certeza de que eu não estava vendo coisas, que ela também queria. Mas, além de cansado, eu tinha acabado de me empanturrar de comida, meu corpo pedia uma cama. Fui me deitar e logo depois, pouco antes de cair no sono, vi Harry chegar no quarto. Ele andava tendo pesadelos quase toda noite, eu notei, e naquela não foi diferente. Acordei no meio da noite com um suspiro profundo, aquele típico de quando você acordava de um sonho ruim. Continuei deitado, ele provavelmente deitaria e dormiria novamente como todas as noites. Já estava caindo no sono de novo quando ouvi um leve ranger na porta, e passos na escada do dormitório. Levantei, na hora constatei o que eu não queria.

Harry não estava em sua cama.

Fiquei preocupado e resolvi ir atrás dele, já havia um tempo que eu queria conversar com ele, sentia que ele estava se fechando pra mim e Hermione, e esses pesadelos… Não eram normais. Levantei-me da cama com um certo custo, vesti meu suéter, meus chinelos e saí do quarto. Enquanto eu estava descendo as escadas, comecei a escutar sussurros. Fui me aproximando devagar e, sem abdicar do esconderijo que a parede me oferecia, vi Harry falando com , que estava sentada no parapeito da janela.

O que eu fiz depois foi desonesto.

Mas eu não me arrependia. Se eu não tivesse pegado a capa de invisibilidade do Harry, eu nunca teria escutado a conversa dos dois. Porque foi isso que eu fiz, além de pegar a capa dele sem pedir, eu ainda escutei tudo o que eles falaram enquanto conversavam na janela. E eu não poderia estar mais feliz do que estava naquele momento. Eu tive que correr para que Harry não desconfiasse, mas eu ouvi bem a resposta de quando seu irmão perguntou a ela quem era a pessoa que impedia ela de voltar com . “Acho melhor não, Harry… Mudaria muita coisa entre nós, e é na nossa relação de irmãos que quero investir.” Eu gostaria de poder me desiludir depois que ela disse isso, mas não podia evitar pensar nos possíveis candidatos, muito menos deixar de me incluir entre eles. Pra mudar uma relação entre irmãos assim, teria que ser um amigo… ou inimigo de Harry. Mas aquela possibilidade eu descartei de cara, não parecia o tipo de pessoa que trairia as pessoas que amava, muito menos sua própria família. Além disso, ainda não conhecia tantas pessoas assim em Hogwarts pra gostar de alguém. Eram poucos os que estavam realmente próximos dela... Pra falar a verdade, quase nenhum cara. O que aumentava ainda mais minha ilusão de que realmente poderia ser eu. Por mais que Jorge tenha me aconselhado a esquecer aquela ideia, agora eu já não podia mais. Eu só iria realmente deixar aquela ideia de lado quando eu soubesse com certeza quem era o cara e se ele não fosse eu. mexia demais com meu imaginário, incitava meus pensamentos e estimulava fantasias pra eu tirá-la da cabeça… Não era necessário, não era mesmo?

Nem necessário, nem possível.





Capítulo 11 - Tempos de Inquisição


Harry's POV

Naquela manhã, apesar do sono que estava sentindo, eu estava me sentindo muito bem. A conversa que eu havia tido com minha irmã na madrugada foi muito importante pra mim. Foi a primeira vez, desde que ela chegou, que senti de verdade que éramos irmãos. era muito sensível ao que as outras pessoas sentiam e isso seria um facilitador nesse momento que estávamos construindo uma coisa que sempre esteve dentro de nós e não sabíamos. Depois da nossa conversa, eu também fiquei mais tranquilo em relação ao assédio que ela sofria por parte dos caras da escola. Vamos ser honestos, ela não sofria, eu apostava que ela, assim como a maior parte das mulheres, adorava se sentir admirada. No entanto, o fato de minha irmã ter revelado que gostava de uma pessoa já mudava muita coisa. O fato dessa pessoa ser próxima a mim, mudava mais coisas ainda. Ao mesmo tempo que isso era bom, porque significava que o cara era algum amigo meu, eu não sabia como eu lidaria com a situação de vê-la beijando o Fred, por exemplo. Mas acho que isso era outra coisa que teria que aprender agora que tinha uma irmã, controlar esse tipo de sentimento.
As coisas com , aos poucos, estavam se encaixando no meu cotidiano, o que me dava mais tempo pra pensar sobre as outras questões que estavam dificultando a minha vida. Talvez agora que eu sabia que não faria nada sem pensar e medir muito bem as conseqüências, eu podia me concentrar nas aulas que ainda tinham alguma qualidade, como as de adivinhação com a Professora Trelawney. Mesmo que a casa que acompanhasse a gente nessa matéria fosse a Sonserina, a aula da Sibila conseguia me distrair das presenças desagradáveis na sala. Ela era uma das melhores professoras de Hogwarts, estava ali há anos.
Desde o dia que a cara de sapo foi nomeada Alta Inquisidora, eu sabia que seria só o início dos problemas. Mal sabia eu que eles começariam naquela manhã, na aula mesmo. Sem aviso prévio, Umbridge entrou na sala com uma prancheta e uma pena para acompanhar a aula de adivinhações. Ela começou a fazer perguntas para a Professora Trelawney.

- Só uma pergunta, querida, você está nesse cargo há quanto tempo, exatamente? - Ela perguntou em um tom extremamente prepotente.
- Dezesseis anos – respondeu a professora Trelawney, estranhando a pergunta.
- Você poderia, por favor, prever alguma coisa para mim? - Perguntou Umbridge em um tom de desafio.
- Perdão? - Trelawney disse, incrédula.
- Uma pequenina profecia? - A cara de sapo insistiu enquanto nossa professora continuava sem reagir aos pedidos da alta inquisidora.
- Que pena – Umbrigde disse com ironia, anotando algo em sua prancheta e se dirigindo até a porta.
- Não, não, espere! - Sibila disse, fazendo Umbridge parar aonde estava. – Acho que vi alguma coisa, sim! Eu vejo alguma coisa escura. Você corre grande perigo.
- Adorável – ela disse, sendo ainda mais irritante do que antes.

Umbridge era má e insuportável. Mas ela não era idiota. Assim como ela, todos nós que estávamos na sala notamos que a Professora Trelawney só havia dito aquilo porque ficou com medo de não conseguir provar por que ela lecionava em Hogwarts há tantos anos. Pelo tom de ironia usado pela sapa, deu pra notar que, assim como nós, ela não se convenceu de que Sibila estava realmente tendo uma visão. Nós, como estudantes da arte de adivinhações, sabíamos que essas coisas não funcionavam assim. Não tínhamos visões, revelações ou profecias a nosso bel prazer. E, mesmo assim, os idiotas da Sonserina riram quando notaram que o feitiço virou contra o feiticeiro no caso da nossa professora. E isso foi só o inicio, durante o dia inteiro, ela interrompeu absolutamente todas as aulas com perguntas inconvenientes. Quando ela entrou na sala de poções, Snape a olhava como se ela o tivesse o ofendendo, o desrespeitando. E ela, de fato, estava, não só a ele, mas a todos nós alunos e demais professores. A sapa baixinha se colocou ao lado de Snape, que permaneceu com sua imutável expressão de desgosto pela vida.

- Inscreveu-se antes para o cargo de Defesa contra as artes das trevas, está certo? - Ela perguntou enquanto andava a sua volta.
- Sim. - Ele respondeu sem nenhuma emoção.
- Mas não obteve sucesso? - Ela perguntou em um tom sutil de inferiorização.
- Obviamente. - Ele disse em um tom que praticamente a chamava de idiota.

Ron estava ao lado do professor não conseguiu segurar o riso. Snape só esperou Umbridge, que estava anotando coisas em sua prancheta, se virar e sair para dar com um rolo de pergaminho na cabeça do meu amigo. E quando eu achava que podia ficar pior, comecei a ver um tumulto de alunos se formar quando eu saía da aula de Feitiços, no meio da multidão eu vi Cho.

- Cho, o que está acontecendo? - Perguntei a ela.
- É a Professora Trelawney!

Sem fazer mais perguntas, eu apenas segui o fluxo de alunos que se dirigia para o pátio que ficava à frente do castelo. Quando eu consegui uma brecha, pude ver o que levará todos até lá. No meio do pátio, estava a nossa professora de Adivinhações, com todos os seus pertences embalados em malas. Filtch trazia sua última bagagem enquanto nossa professora parecia estar tão desesperada que nem reagia. De repente, a porta do castelo se abriu e a culpada por aquilo estar acontecendo se apresentou. Umbridge caminhou entre os alunos, se dirigindo até o meio do pátio, Trelawney se aproximou dela.

- Dezesseis anos que moro e leciono aqui, Hogwarts é a minha casa! – Ela disse com a voz falha, carregada de tristeza. - Você não pode fazer isso.
- Na verdade, eu posso – Umbridge replicou sem nenhuma pena, enquanto segurava na frente de todos a carta de demissão da Trelawney.

Assim que ela balançou o pequeno papel no ar, nossa professora não conseguiu mais se conter e começou a chorar. McGonagall passou entre nós e correu para confortá-la.

- Quer dizer alguma coisa, querida? - Umbridge interrompeu-as, perguntando cinicamente.
- Há várias coisas que eu gostaria de dizer. - McGonagall respondeu sem medo, enquanto nossa professora de adivinhações chorava sem parar em seus braços.

Novamente, as portas do castelo se abriram, mas dessa vez, ao invés do carrasco, saiu o juiz. Dumbledore avançou pelo pátio a passos largos, claramente todos nós podíamos ver que a decisão de Umbridge o tinha irritado e muito.

- Professora McGonagall, posso te pedir para levar a Sibila de volta para dentro? - Ele disse em tom verdadeiramente autoritário.
McGonagall se apressou em levar Trelawney novamente para seus aposentos em Hogwarts, enquanto ela agradecia incessantemente a Dumbledore.

- Dumbledore – a sapa disse, chamando sua atenção. – Devo lembrá-lo que, pelos termos do Decreto Educacional Número 23, promulgado pelo ministro…
- Você tem o direito de despedir professores – Dumbledore completou antes dela. – Mas não tem autoridade para bani-los deste local. Esse poder pertence ao Diretor.
- Por enquanto – Umbridge respondeu com petulância.
- Não deveriam estar estudando? - Ele soltou a pergunta no ar enquanto voltava para dentro do castelo.

Chamei por ele algumas vezes, não sei se ele não me ouviu ou se me ignorou, mas quando fui atrás, ele já tinha desaparecido das proximidades. Fui obrigado a compreendê-lo, afinal de contas, o cargo de Diretor significava muito para Dumbledore. Nem podia calcular o ódio que ele devia sentir de Umbridge, que queria tirá-lo de seu posto, e fazia isso de forma escancarada. Eu poderia ter ido procurá-lo em sua sala, mas achei melhor não. Ao invés disso, fui juntamente com Hermione e Rony para o Salão Comunal.

- Aquela maldita gárgula! - Hermione esbravejou quando nos sentamos. - Não estamos aprendendo a nos defender, não estamos aprendendo pra passar nos N.O.M.S.. Ela está se apoderando da escola inteira!

O rádio da sala estava ligado, e, por ironia do destino, Fudge estava dando uma entrevista

. Voz de Fudge no rádio :

Segurança foi e sempre será a maior prioridade do Ministério. Além disso, nós temos provas convincentes de que esses desaparecimentos são obra do notório assassino em massa, Sirius Black.


Mais uma vez, o ministério tinha conseguido jogar a culpa em alguém que não tinha nada a ver com os acontecimentos recentes. E, mais uma vez, o culpado era o meu padrinho. Acho que os trouxas tinham toda razão quando diziam que era só falar do diabo que ele mostrava o rabo. Assim que Fudge disse o nome de Sirius no rádio, a voz de meu padrinho chamou meu nome.

- Harry! - Meu padrinho me chamou.
- Sirius! – Exclamei, surpreso ao ver o rosto do meu padrinho se formar nas brasas da lareira. - O que está fazendo aqui?
- Respondendo a sua carta. Disse que estava preocupado com a Umbridge. O que ela está fazendo? Treinando vocês para matarem mestiços? - Ele perguntou.
- Sirius, ela não nos deixa usar magia nenhuma! – Respondi.
- Isso não me surpreende – disse sem alterar as emoções. – As últimas informações são de que Fudge não quer vocês treinados em combate.
- Combate? - Rony interrompeu surpreso. – O que ele acha? Que estamos formando um exército de bruxos? - Ele perguntou desacreditado.
- É exatamente o que ele acha! - Sirius exclamou. - Que Dumbledore está reunindo todas as forças para tomar o Ministério. Ele se torna mais paranóico a cada minuto. Os outros… não querem que eu conte isso pra você, Harry, mas as coisas não vão nada bem na Ordem – meu padrinho lamentou. - Fudge bloqueia tudo o tempo todo! E esses desaparecimentos… São exatamente do jeito que começou antes. - Ele disse, se lembrando. Voldemort está agindo!
- O que podemos fazer? - Perguntei preocupado.
- Alguém está vindo – Sirius me alertou. – Desculpe não poder ajudar. Mas, por enquanto, pelo menos… Parece que vocês estão por conta própria.

Então, a pequena fogueira se apagou e seu rosto sumiu. Sirius se foi sem responder direito a minha pergunta. Mas nem precisava. Os problemas estavam por todas as partes e todos tínhamos algo com que nos preocupar. A luz dos raios que caíam lá fora, por causa da tempestade, iluminaram a janela. Logo que Sirius nos deixou a sós novamente, Hermione caminhou até ela, muito séria.

- Ele está mesmo lá fora, não é? - Ela disse, observando a chuva que batia na janela. Ela suspirou profundamente e continuou. – Precisamos ser capazes de nos defender, e se Umbridge se recusa a nos ensinar, precisamos de alguém que ensine.

Um clarão invadiu a janela e Hermione se virou, me fitando fixamente. Não era preciso que ela dissesse mais nada, eu sabia quem era a pessoa a quem ela se referia.

Hermione tinha uma maneira nada convencional de convencer as pessoas a fazerem o que ela queria. Diferentemente das pessoas que tinham lábia, ela tinha lógica. Tudo que a Hermione dizia parecia fazer tanto sentido que não havia como surgir com uma ideia melhor. Eu mal tinha me acostumado com a ideia que ela havia me proposto. Quando dei por mim, já estávamos em Hogsmeade a caminho de uma reunião que Hermione havia convocado.

- Isso é loucura - eu disse enquanto caminhávamos pela neve. - Quem iria querer ser ensinado por mim, sou louco lembra?
- Veja pelo lado bom, - Rony disse – você não pode ser pior que a cara de sapo!
- Obrigada, Ron - eu agradeci a franqueza com bom humor.
- Sempre que precisar - ele disse no mesmo tom que eu havia o respondido.
- Quem irá nos encontrar lá? - Eu perguntei apreensivo.
- Só algumas pessoas - Hermione disse, abrindo a porta de um pequeno bar que mais parecia uma casa abandonada.
- Lugar adorável – Ron disse com sarcasmo.
- Achei que seria mais seguro e despistaria as pessoas – Explicou nossa amiga.

Nos dirigimos até os fundos, onde já estavam todos aqueles que Hermione havia convidado, inclusive a minha irmã.

- Oi... Então, vocês sabem por que estamos aqui – Hermione disse na sua tradicional objetividade. - Precisamos de um professor, um professor adequado. Um que tenha experiência em se defender contra as Artes das Trevas.
- Por quê? - Perguntou um garoto ruivo da Lufa-Lufa.
- Por quê? - Ron o questionou incrédulo. – Porque Você-Sabe-Quem voltou, idiota.
- É o que ele diz – retrucou o garoto, direcionando seu olhar desconfiado para mim.
- É o que Dumbledore diz – respondeu uma Hermione, que começava a ficar irritada.
- O Dumbledore diz porque ele diz! - O menino insistia na provocação. - A questão é, onde está a prova?
- Potter, – interrompeu um garoto de cabelos longos, da Corvinal – poderia nos contar mais sobre como o Diggory foi morto? - Ele perguntou, hesitante.

Eu sabia que aquele era um assunto do qual, por mais que eu tentasse, não poderia escapar. No entanto, não era hora nem lugar para falar sobre a morte de Cedrico. Principalmente porque Cho estava lá.

- Não vou falar sobre o Cedrico – eu disse, me levantando. - Se é por isso que estão aqui, podem ir embora. Vamos embora, Hermione – eu disse, indignado. – Eles só vieram aqui porque acham que sou uma aberração.
- É verdade que pode executar o Feitiço do Patrono? - Luna perguntou antes que eu pudesse fazer qualquer movimento para voltar a Hogwarts.
- Sim – Hermione respondeu quando viu que eu não ia dizer nada. - Eu já vi.
- Caramba, Harry – Dino exclamou do outro lado da sala. – Não sabia que conseguia fazer isso!
- E ele matou um Basilisco - Neville lembrou aos outros. – Com uma espada, na câmera secreta.
- É verdade – Gina disse com firmeza, ela sabia, afinal de contas, estava lá.
- No terceiro ano, ele lutou contra centenas de dementadores de uma vez só – disse Ron.
- E, no ano passado, ele lutou com Você-Sabe-Quem em pessoa - Hermione disse, novamente tocando no assunto que era a dúvida da maior parte das pessoas que estava ali.
- Olhem… - Eu disse, antes que eles continuassem a exaltar as coisas pelas quais havia passado. - Parece ótimo quando falado assim, mas a verdade é que tive muita sorte. Eu não sabia o que fazer muitas vezes, e sempre tive ajuda - completei.
- Ele está sendo modesto – Hermione disse logo depois.
- Não, Hermione, não estou - eu disse, engolindo em seco. – Enfrentar essas coisas na vida real, não é como a escola. Na escola, se você errar, pode tentar outra vez amanhã! Mas, lá fora, quando você está a um segundo de ser morto, ou ver um amigo morrer diante de seus olhos, – eu disse, olhando pra Cho – vocês não sabem como é - eu disse, voltando a me sentar.
- Você está certo, Harry - Hermione disse, se sentando ao meu lado. – Não sabemos. Por isso precisamos de sua ajuda! Porque queremos ter a chance de derrotar… Voldemort.
- Ele está mesmo de volta? - Perguntou Colin Creevey.

Eu me limitei a acenar positivamente com a cabeça. Todos se olharam e fez-se um silêncio que parecia interminável na sala. Eu ainda não sabia se tinha conseguido atingir meu objetivo, as expressões iam de assustados a impressionados e indecisos. Hermione posicionou uma velha mesa à nossa frente com uma folha de papel e um lápis. Começando pela minha irmã, um a um, os interessados formaram uma fila e foram escrevendo seu nome para participar da “Armada de Dumbledore ”. Depois disso, todos voltamos juntos para Hogwarts, e eu dei a eles seu primeiro desafio.

- Certo. Primeiro precisamos de um lugar para treinar sem a Umbridge descobrir.
- A casa dos gritos? - Sugeriu Gina.
- Muito pequena – eu respondi.
- A floresta proibida? - disse Hermione.
- Não vai dar certo - eu retruquei.
- Harry, o que acontece se a Umbridge descobrir? - Gina perguntou, mudando o foco do nosso assunto.
- Quem se importa? - Disse Hermione em um tom alegre. – Digo… Até que é emocionante, não é? Quebrar as regras!
- Quem é você e o que fez com a Hermione Granger? - Ron perguntou em tom de brincadeira.
- Enfim, – retomou Hermione – pelo menos sabemos uma coisa, com certeza, dessa reunião.
- Qual? – Perguntei, andando no mesmo ritmo que ela.
- Cho não conseguiu tirar os olhos de você, não é?

Eu mal pude acreditar quando ouvi Hermione fazer esse comentário. Virei-me para , mas ela me olhou de uma forma que dizia que era inocente. Se até mesmo Hermione já havia percebido, não ia demorar para que Cho também notasse. Será que eu estava deixando tão na cara assim? Rapidamente eu tratei de retomar o assunto que estávamos conversando anteriormente, eu não ia ficar discutindo sobre Cho Chang naquele momento, muito menos na frente de outras pessoas. Por mais que a maior parte delas fossem amigos, eu não me sentia a vontade para falar sobre isso assim tão publicamente. Nem mesmo com Hermione eu queria falar sobre isso. A única pessoa com quem eu conseguia falar sobre esse tipo de sentimento era a minha irmã. tinha uma maneira diferente de lidar com os sentimentos, dela e dos outros. Tudo bem que só conversei com ela uma vez sobre isso, mas já foi diferente.

- Nos próximos dias, faremos uma lista de lugares que podemos praticar – disse eu, retomando o que dizíamos antes. - Temos que ter certeza que, seja lá onde for, ninguém descubra…

Não demorou muito para que a sapa desconfiasse de alguma coisa. Na verdade, não demorou nada. Na tarde daquele mesmo dia, vimos Filtch pendurar mais uma placa na parede.

“TODAS AS ORGANIZAÇÕES ESTUDANTIS
ESTÃO, DE AGORA EM DIANTE, DISSOLVIDAS
O ALUNO QUE DESOBEDECER SERÁ EXPULSO.”


Repressão era uma coisa que todos nós já sabíamos que iríamos enfrentar. No entanto, era necessário manter a discrição para que ninguém fosse prejudicado. Já era quase hora do jantar, eu estava deitado em minha cama lendo quando me dei por conta, eu mal havia falado com (. Ela estava em Hogsmeade, mas ela permaneceu calada durante toda a reunião da recém-formada AD. Já que em pouco tempo iríamos jantar, resolvi descer antes para o Salão Comunal, eu provavelmente encontraria minha irmã lá. Fui chegando ao fim da escada e pude ver Hermione subir com passos pesados pela escada do dormitório das meninas, eu sabia que ela estava preocupada com as coisas que estavam acontecendo, mas a maneira com a qual ela subiu escada não foi a mesma. E logo eu ia constatar o que havia feito com que ela fosse tão furiosa para seu quarto. Em frente a lareira, minha irmã e Rony brincavam de feitiços inocentes em um clima diferente do que seria se fosse somente amizade. Eu achava engraçado, tinha pouco tempo que convivia com , mas já notava que estava começando a ficar parecido com ela e ela comigo. Não sabia se ela estava me mudando ou se apenas aflorando coisas que já existiam e estavam adormecidas em mim. Espelhando-me nela e nas coisas que ela dizia, eu passei a observar melhor as pessoas para saber o que elas sentiam e não diziam. Quando eu me aproximei dos dois, pude reparar duas reações curiosamente diferentes. Minha irmã se levantou pra me abraçar, mas agiu com a naturalidade que lhe era característica.

Tensão.

Nem mesmo quando nós fomos à Floresta Proibida, procurar Aragogue, eu havia visto meu amigo tão tenso. Eu ainda não tinha a habilidade que tinha de interpretar o que eu observava, mas eu nem precisava. poderia fazer isso pra mim se ela não fosse o objeto da minha observação. Eu teria que apelar para Luna, já que mesmo na minha condição de ignorante nesse assunto, eu podia ver que causaria problemas. Até mesmo eu era obrigado a admitir que aquilo me deixou desconfortável. Só mesmo parecia não ter notado e continuava com sua leveza de espírito. Ron resolveu subir, disse que ia se trocar para o jantar, ele estava tenso e envergonhado. Eu ia começar uma linha intensa de raciocínio sobre o que estava me cercando, em geral, mas não permitiu.

- O que você tem, Harry? - Ela me perguntou, sentado-se novamente no tapete em frente à lareira.
- Eu? Nada, , esta tudo bem - respondi objetivo, pra não acabar me enrolando.
- Você pensa que eu sou idiota, Harry? - Ela disse, rindo. – Acaso se esqueceu que eu posso ver essas coisas de uma maneira diferente de você? - Ela continuou, colocando as mãos na cintura.
- Ah, só estou preocupado com tudo o que está acontecendo à minha volta, nesse ano - eu disse, não deixando de falar a verdade, afinal de contas era exatamente isso que estava enchendo a minha cabeça. Eu só não especifiquei qual delas me aflingia especialmente naquele momento.
- Eu sei bem, mas não é isso que te incomoda nesse momento - ela disse, praticamente lendo os meus pensamentos. - Você não foi o único a reparar, Harry. Na verdade, eu notei bem antes de você.
- Notar o quê, ? – Disse, me assentando no sofá, fingindo não saber do que ela falava.
- Rony – ela disse, subindo os ombros, como se fosse óbvio o que ela dizia. - E o jeito que ele me olha, o jeito que fala comigo e ultimamente o jeito que ele tem me tratado… - Ela continuou.
- Como assim, ? - Eu disse, tentando evitar conversar com a minha própria irmã sobre aquele assunto.
- Harry, você pode ser um tanto quanto inocente, mas não é bobo. - Ela disse, se ajoelhando à minha frente e apoiando as mãos e minhas pernas. – Ron parecia uma criança que estava fazendo algo errado e foi pega, e você se segurou bem, não é mesmo?
- Como é que você pode perceber essas coisas com tanta nitidez? – Perguntei, indignado. - E ainda ter coragem de falar tão abertamente assim?
- Não sei por que você fica tão impressionado com isso, Harry – ela disse, voltando a se sentar. – É como falar de qualquer coisa, o amor está presente em nossa vida desde o momento que somos gerados - ela disse em meio a um sorriso. – Não há assunto mais banal possível.
- Amor sim, mas relacionamentos não! – Retruquei, achando que estava sendo inteligente.
- E de onde o tipo de relacionamento que estamos falando nasce? - Ela disse triunfante.
- Está bem – disse, sorrindo. – Você venceu, ! Mas então me diga, Rony é o outro cara? - Perguntei sem ter muita certeza se eu queria saber a resposta.
- Não, pode respirar tranquilo meu irmão, não é o Ron – ela disse, rindo do suspiro de alívio profundo que eu dei. - Apesar de eu ter que admitir que ele é atraente…
- ! – Exclamei, abismado com a cara de pau que ela tinha.
- Ué, você também é, Harry! - Ela disse, rindo da minha indignação. – Só passei a considerar você uma possibilidade impossível quando descobri que seria um incesto! - Ela disse, agora gargalhando.
- , você não existe – eu disse, sorrindo pra ela.
- Claro que existo! Olha aqui – Ela disse beliscando a pele do próprio braço – Sou de carne e osso. E é justamente por isso que admito pra você essas coisas, pra mim não tem nada de mal nisso.
- Você não pode calcular o quanto eu estou aliviado por ter tido essa conversa com você - eu disse, colocando uma de minhas mãos no meu peito.
- E com quem você pretendia tê-la? - se levantou do chão e sentou-se ao meu lado no sofá. - Posso te dar um conselho? - Ela me perguntou devido a minha falta de resposta à primeira pergunta.
- Claro que pode – disse, olhando para ela.
- Quando você precisar falar qualquer coisa, fale. Principalmente comigo, Harry, quem melhor pra responder questões pessoais do que a própria pessoa? - Ela sorriu, serena. – Além disso, nesse caso, por mais que Rony não fosse má idéia, – ela disse cuidadosamente – não são só os sentimentos de nós dois que importam.
- O que você quer dizer com isso? - Ela falava de Hermione, essa até eu já tinha percebido. Mas mesmo assim perguntei, jogando verde.
- Você sabe, Harry – ela disse, se levantando e dando um leve beijinho na minha bochecha. - Vamos jantar?

Levantei-me logo em seguida e nós seguimos juntos para o Grande Salão. Rony e Hermione provavelmente iriam se demorar já que eles, por diferentes motivos, não queriam ver nem eu nem minha irmã. Eventualmente eles chegaram, cada um com a expressão da emoção que os tomava. Hermione de cara fechada, mal cumprimentou minha irmã; e Rony estava tão envergonhado que manteve os olhos baixos durante toda a refeição. não disse muito, mas fazia das palavras dela as minhas depois desse jantar. “Não são só os sentimentos de nós dois que importam ”. Na realidade, pensei comigo mesmo quando já estava deitado em minha cama, o sentimento de muita gente mudou e se envolveu, depois que minha irmã chegou.

's POV

Eu já havia notado que alguma coisa estava pesando o ar de Hogwarts. No entanto, eu estava tão preocupada com o meu pequeno mundinho que nem mesmo percebendo fui capaz de dar atenção. Mas não acho que fui egoísta, era sério! Veja bem, eu já sabia que algo estava errado, mas minhas questões cotidianas eram tantas e todas tão urgentes que não me deixavam mais pensar em nada além de resolvê-las. Talvez eu tenha sido negligente, e de fato eu realmente fui. Mas não fiz por maldade.

Mesmo assim me sentia uma má irmã.

Problemas em Hogwarts significavam problemas para Dumbledore, que significavam problemas para Harry.

Egoísta.

Não achava que essa fosse a melhor maneira de definir minhas atitudes, apesar de terem sido exatamente isso, egoístas. Mas nunca era tarde demais pra corrigir um erro. Eu sabia que estava adentrando terrenos perigosos ao começar a me envolver intimamente com todos os problemas que meu irmão tinha que enfrentar. Antes, quando eu só ficava sabendo das histórias, eu não fazia a menor ideia da complexidade e do perigo deles. Por mais que eu quisesse evitar me envolver profundamente, eu não podia. Eu não era mais só , eu era Potter. Eu mesma me consideraria covarde, se não honrasse esse nome como ele devia ser honrado. Até mesmo pra honrar o sobrenome que acreditei ser meu até poucas semanas atrás.

Flamel.

Eles podiam não ter me dado a vida e o sangue deles não correr em minhas veias. Mas o que eram laços sanguíneos, sem o amor? Honraria a família que estava em meu coração, a que estava em meu sangue e a mim mesma. Eu jamais poderia assistir os que eu amava lutarem e sofrerem, e ficar sem fazer nada. Umbridge já demonstrara pra quem quer ver que ela não estava de brincadeira. Voldemort já estava dando sinais que estava ficando farto dessa brincadeira de gato e rato. Todos esses pensamentos estavam passando pela minha cabeça enquanto a reunião, para qual Hermione havia me chamado, estava acontecendo. Eu permaneci calada durante todo o tempo. Todos já esperavam que eu fosse ser a primeira a me prontificar para a Armada Dumbledore, e eu,= meramente correspondi às expectativas. Mas eu não o fiz com grandes discursos sobre o meu irmão, recheados de elogios e incentivos para que os outros se juntassem à causa.

Silêncio.

Assim que Hermione abriu para que os interessados escrevessem seu nome em um pedaço de pergaminho, eu fui sem hesitar. Durante todo o tempo, inclusive enquanto eu assinava, eu permaneci em silêncio. Há vezes que a gente nem precisa mesmo de palavras. Logo após eu, formou-se uma fila para que, um a um, eles se comprometessem. Por mais que tivéssemos consciência de que o que estávamos fazendo era muito perigoso, não dava pra negar que todos estavam empolgados. A única coisa que precisávamos agora era de um lugar onde pudéssemos praticar sem que ninguém soubesse.
Já anoitecia quando voltamos para Hogwarts, o frio estava intenso e tudo o que eu mais queria era o calor de uma lareira quentinha. Fomos todos direto para o Salão Comunal, enquanto o jantar não era servido. Eu me assentei no tapete e me aproximei do fogo, para que seu calor me esquentasse. Algumas pessoas estavam nos dormitórios enquanto outras se espalharam pelo salão. Hermione estava na sua posição costumeira, lendo mais um livro. Eu estava tão entretida olhando as chamas dançarem enquanto ouvia o estalar da lenha sendo queimada, que nem mesmo percebi quando Ron se assentou a meu lado.

- É hipnótico, não é mesmo? - Ele disse, quebrando minha concentração.
- Ron, me desculpe! Nem cheguei a notar quando você se sentou aqui, acabei me distraindo olhando a lareira – disse depois de encará-lo por um instante e voltar a observar o fogo.
- Não tem problema, já estou acostumado com isso… - Ele disse, abaixando a cabeça. - Estou acostumado que as pessoas não me vejam.
- Eu vejo você – eu disse com um sorriso sincero.

Ron levantou sua cabeça, me retribuiu o sorriso. Ele se aproximou mais um pouco de mim e colocou uma mecha de cabelo que caía em meu rosto atrás da minha orelha.

Ele não devia ter feito isso.

Tão logo ele se aproximou do meu rosto, eu ouvi Hermione fechar o livro com força. Tirei minha varinha do bolso e lancei um feitiço inocente, aqueles como os que Fred e Jorge lançam quando querem impressionar seus clientes. Queria desesperadamente que o clima que estava no ar, entre Rony e eu, se dissipasse. No entanto, eu só piorei as coisas. Ron começou a lançar contra mim os mesmos tipos de feitiços, criando uma atmosfera propícia para um beijo, fazendo com que Hermione se levantasse de onde estava sentada e subisse, furiosa, para o dormitório. Continuei a rebater e a desviar das pequenas luzes que Ron lançava em minha direção. De repente, ele ficou duro, como se tivesse sido petrificado. Olhei para trás e vi meu irmão vindo em nossa direção com uma cara de desconfiado. Eu mantive a mesma reação natural de sempre, afinal de contas, eu não estava fazendo nada de errado. Eu não faria isso com Hermione, ela, a sua maneira, era minha amiga. Rony ficou tão sem reação que, assim que meu irmão se juntou a nós, ele também foi para seu dormitório. Harry ficou visivelmente incomodado com a proximidade entre seu melhor amigo e eu. Eu sempre preferi tratar questões delicadas com objetividade, evitar tocar no assunto só pioravam as suposições e os pensamentos em cima do acontecimento. Fui direto ao ponto com meu irmão e acho que ele se sentiu agradecido por eu ter lidado com isso dessa maneira. Deixei o que pensava de Ron bem claro pra Harry, mesmo que ele não tenha gostado de ouvir que achava seu amigo atraente. O fato é que eu mostrei estar bem consciente do que acontecia ao meu redor. Mesmo que nenhum de nós tenha dito as claras, ambos já notamos Hermione. A verdade é que ele deveria estar levantando as mãos para o céu que o interessado da vez era Ron. Nem gostava de imaginar o que ele faria, como ele reagiria se soubesse que o outro cara era o Malfoy.
O jantar daquela noite tinha o clima visivelmente tenso. Hermione e Ron mal abriram a boca na mesa e, logo depois da refeição, seguiram silenciosamente para suas camas. Depois de me deitar, comecei a pensar em uma coisa curiosa. O silêncio era uma coisa só que dizia várias ao mesmo tempo,o silêncio de Hermione era raiva, ciúmes; enquanto o silêncio de Ron era receio, vergonha. Mas e o meu silêncio? O que o meu silêncio queria dizer, que eu não estava escutando? Ou melhor, que eu fingia que não estava escutando. Meu silêncio gritava “Draco Malfoy” com todas as letras. Essa vontade irracional, esse desejo desenfreado que me consumia, principalmente durante as refeições quando era obrigada a vê-lo com Pansy e não reagir. Eu precisava mesmo era disso, problemas. Problemas dos outros pra manter minha mente sã, pensando em coisas que eram, de fato, importantes e não apenas um capricho sexual. Harry precisava de mim, precisava do meu apoio e era nisso que eu focaria agora.
Na manhã seguinte, Hermione já estava mais tranquila, ainda assim ela continuava evitando contatos muito prolongados comigo, tentando fazer isso de uma forma que eu não percebesse sua raiva. Hermione era uma péssima atriz. Durante toda a manhã, ela foi ríspida e seca comigo, mesclando raros momentos que ela dizia alguma coisa agradável pra disfarçar. Eu sabia que não poderia conversar com Hermione sobre esse assunto da mesma forma direta que fiz com meu irmão. Se nem pra ela, Hermione admitia seus sentimentos por Rony, para mim, uma potencial rival, é que ela não se abriria. Eu precisava tranquilizá-la, mas tinha que ser muito sutil para isso. Seria muito mais uma questão de oportunidade, já que eu não podia ser direta e objetiva. E mesmo com toda essa falta de sorte que acometia minha vida naquele momento, não era que a oportunidade que eu esperava surgiu naquele mesmo dia? Lembrei-me que Hermione havia pagado uma cerveja amanteigada pra mim durante nossa breve visita a Hogsmeade. Na hora do almoço, então, eu me assentei ao seu lado e coloquei o dinheiro em cima da mesa à sua frente. Hermione olhou para mim sem entender muito bem.

- É pela cerveja amanteigada – eu disse, explicando.
- Não precisa – ela disse, arrastando o dinheiro pela mesa, o colocando a minha frente. - Foi só uma cerveja amanteigada… - Ela disse, virando os olhos.
- Claro que é preciso, Hermione – eu disse, pegando sua mão e colocando o dinheiro nela. – O que é seu, é seu.

Eu não sei se foi o tom que eu usei, o nosso intenso contato visual ou o fato de eu estar segurando sua mão, mas Hermione mudou completamente de expressão depois que eu disse isso. Não sei exatamente o que foi que a fez compreender, mas tenho certeza que ela entendeu que eu não estava falando só do dinheiro. A ocorrência desse fato me fez refletir sobre todos esses homens que entraram na minha vida de uma vez só! Eu não podia lidar com todos eles ao mesmo tempo. Eu precisava colocar minha cabeça pra funcionar em ordem, precisava estabelecer prioridades. Por mais que eu não tenha muito controle sobre a frequência com a qual pensava no Draco, precisava me controlar, meu irmão precisava de mim, e muito. Acho que aquele ano minha presença estava sendo crucial pra ele poder se abrir e desabafar problemas que o afligiam além dos conhecidos por todo mundo. Harry, ele devia ser a minha maior prioridade. Depois, não podia me esquecer de dar atenção a meus estudos, afinal de contas, eu perturbei minha mãe por anos para que ela me colocasse em uma escola de magia.
Além disso, Umbridge pegaria pesado nos exames e eu queria estar preparada. Em seguida, vinham as amizades. Tinha que me preocupar em cultivar minhas novas amizades, outro fator que ajudava a me afastar dos meus problemas com o sexo masculino. Existiam meninos que pertenciam a meninas, mesmo que eles não soubessem ou compactuassem com isso. Foi como eu disse a Harry, Rony seria uma possibilidade extremamente viável, se eu não tivesse notado os sentimentos de Hermione em relação a ele. Devia ser franca, o sentimento dos dois em relação um ao outro. Hermione era racional demais para admitir para ela mesma que estava lidando com uma coisa que era pura emoção. E Rony, bem, ele era, hum, inocente demais para perceber qualquer coisa nesse sentido, a menos que fosse dita com todas as palavras pra ele. Eu queria poder ajudar, mas a barreira da razão que Hermione colocou a frente de seus sentimentos tinha que ser penetrada com calma, aos poucos. E eles eram só um exemplo! Esse grupo de pessoas estudava junto há 5 anos, com certeza existiam outros casos como aquele, de amores platônicos ainda não percebidos. O que me levava a próxima prioridade, .
Eu era bem ciente da nossa situação e dos meus sentimentos por ele. Tinha quase certeza de que o que tínhamos pra ter, já tivemos. Mas eu tinha quase certeza. A disposição que ele estava demonstrando em querer me fazer feliz mexia com meus sentimentos e não me deixava bater o martelo. Também achava que merecíamos uma nova chance, nossa situação foi complicada por vários aspectos que estavam além do nosso querer. Quem sabe agora, que estávamos tão próximos, as coisas funcionassem como deveria ter funcionado. Além do mais, dar essa chance a , verdadeiramente, afastaria Draco dos meus pensamentos. Eu precisava tirá-lo da minha cabeça, tinha muitas coisas que tinha que vir antes de uma boa trepada.





Capítulo 12 - Vai e vem


Harry's POV

Na manhã seguinte, acordei com Neville me sacudindo, ansioso para me contar alguma coisa. Ele fez questão de acordar o resto dos Grifinórios que faziam parte da AD para compartilhar sua descoberta.

- Muito bem, Neville, você achou a Sala Precisa! - Exclamou uma Hermione contente, ao se abrirem as portas do lugar.
- Que sala? - Neville perguntou sem saber.
- Também é conhecida como a Sala Vem-e-Vai. A Sala Precisa só aparece quando alguém precisa muito dela – esclareceu Hermione. – E é sempre equipada com o que se precisa – ela completou.
- E se eu precisasse muito de um banheiro? - Rony perguntou.
- Encantador, Ronald - Hermione o ironizou. – Mas, sim, é essa a ideia.
- É brilhante – Harry disse, animado. – É como se Hogwarts quisesse que lutássemos.

Começamos os treinamentos naquela mesma tarde. Eu ainda estava um tanto inseguro com essa história toda de ser o professor, mas a sala tinha ajudado bastante, além de prover tudo o que precisávamos para treinarmos, lá nos sentimos mais seguros.

Mas não por muito tempo.

A movimentação dos mesmos grupos de alunos na mesma parte do castelo chamou a atenção depois de um certo tempo. Filtch tentou durante alguns dias nos pegar no flagra, mas a sala sempre provia uma saída longe aos olhos do nosso zelador dedo duro. Sem nenhuma prova que pudesse indicar o que estávamos fazendo, ele procurou Umbridge, que agiu como se tornara costumeiro.

“TODOS OS ALUNOS SERÃO INTERROGADOS
SOBRE ATIVIDADES ILÍCITAS SUSPEITAS”


A placa com esses dizeres foi pregada na frente de um grupo da Armada. Naquele mesmo dia, ela convocou um grupo de alunos e começou os interrogatórios. Nós não podíamos perder tempo, Umbridge chegaria a nós uma hora ou outra, então, mesmo com esse decreto, não paramos nossos treinamentos. Filtch continuou a nos seguir e ficar de tocaia, na parede que ele havia visto se transformar em porta. No entanto, por durante um tempo considerável, nós conseguimos despistá-lo. Já que ele não estava sendo capaz, a sapa resolveu convocar reforços.

“AQUELES QUE QUISEREM SE JUNTAR
À BRIGADA INQUISITORIAL PARA CRÉDITO EXTRA
DEVEM SE INSCREVER NA SALA DE ALTA MAGIA ”

Sequer tivemos tempo de conversar sobre o assunto. Estávamos ficando cada vez mais e melhor treinados, mas dois acontecimentos que tirariam nossas atenções se aproximavam: O baile do dia das bruxas e as férias. Eu mantinha a minha cabeça ocupada com as atividades da armada, mas não podia negar que a proximidade do baile e a minha falta de par me preocupavam em igual magnitude. Eu precisava de ajuda de . Eu não queria admitir isso para mim mesmo, muito menos pra ela. Admitir que eu era incapaz de fazer um simples convite, mesmo ela sendo minha irmã, me envergonhava. Mas nunca precisou que eu dissesse nada. Dizem que para bom entendedor, meia palavra basta. Para minha irmã, um pingo era letra.

- Você pretende convidar Cho logo ou vai esperar que alguém a convide antes de você? – A voz da minha irmã disse logo atrás de mim, quando saíamos de uma aula de poções.
- O que você quer dizer com isso, ? Você sabe se alguém já a convidou? - Perguntei apreensivo.
- Não, Harry – ela disse, rindo da minha aflição. – Acho que os meninos ficam um tanto intimidados pelo fato de que o último namorado dela ter sido o Diggory… Mas você é Harry Potter – ela disse, animada, tentando me incentivar.
- Eu queria confiar tanto em mim quanto você confia – disse um tanto desacreditado. – Mas eu já tentei fazer isso no ano passado e não consegui…
- Não conseguiu porque ela namorava, Harry – disse, elevando um pouco a voz, ela sempre fazia isso quando queria que eu visse da maneira que ela via as coisas .– Você e Cho estão cada vez mais próximos graças a Armada, eu sinceramente não vejo por que ela não aceitaria, já que ela está solteira e sempre lançando olhares furtivos pra você.
- Você acha mesmo? – Perguntei, contente.
- Eu não te encorajaria se não achasse – ela disse, piscando pra mim e, em seguida, sumindo na multidão.

Pensando nos meus próprios problemas, eu até havia me esquecido de perguntar quem havia convidado minha irmã para o baile. Não que eu não imaginasse que vários deveriam ter tentado, mas eu tinha certeza que a escolha da minha irmã seria obvia e tranquilizante para mim: . Por mais que eu fosse inexperiente nessas questões, eu percebia que não estava inteiramente satisfeita por estar com ele. Claro, era sempre bom ter uma pessoa que gostava e cuidava de nós por perto, mas não era aquele grande amor, aquela paixão ensandecida que eu tinha certeza que queria. Provavelmente esse sentimento era do outro cara. Enquanto a maior parte dos alunos já se dirigia a suas salas comunais, eu fiquei a mercê da vontade das escadas esperando a coragem, ou o destino, me levar até a porta da Corvinal. O medo da rejeição me fazia torcer para que esse momento nunca chegasse, mas além do encorajamento de , e Luna me encontraram no meio da minha covardia.

- Estávamos nos perguntando o que há de tão divertido em passear de escada – disse Luna em seu tom sempre sereno. - O que você tem, Harry?
- Luna, – disse, sendo pego de surpresa pela presença deles. – Só estou precisando de um pouco de coragem.
- Você? Precisando de coragem? Não pode ser o mesmo Harry Potter, irmão da minha ! - disse em um tom de brincadeira e zoação.
- Harry tem coragem suficiente para encarar dragões e desafios potencialmente fatais, mas quando se trata de mulheres, tem tanto medo delas quanto um basilisco de uma aranha - Luna disse sem soar ofensiva, apesar das palavras que usou.

Mas a quem eu estava tentando enganar? Ela não poderia ter sido mais certeira em sua comparação quanto foi. Eu nem poderia me ofender!

- E quem vai ter a honra de ser convidada por você para o baile? - disse novamente em seu tom costumeiro de brincadeira.
- Sabe, – Luna começou a dizer, me salvando de responder a pergunta do meu “cunhado.” - Às vezes não sei se você é muito cego ou muito inocente – ela disse, sorrindo. – Vamos, Harry, vou te levar até Cho Chang.

Ela já devia saber! Não era possível que ela não soubesse, se todas as pessoas ao nosso redor pareciam ter notado. Ainda assim, eu não tinha mais como fugir da situação agora, aliás eu nem poderia fazê-lo já que o baile estava cada vez mais próximo. Quando a porta da sala comunal da Corvinal se abriu, senti meus batimentos acelerarem, quando vi Cho descendo as escadas do seu dormitório e vindo em minha direção, achei que meu coração fosse rasgar o meu peito.

- Harry – ela disse, sorrindo pra mim. – Luna me disse que você queria falar comigo, aconteceu alguma coisa? - Ela disse, colocando seu cabelo liso e negro atrás das orelhas.
- Aconteceu! - Eu exclamei sem pensar. –Que dizer, vai acontecer, quero dizer, vai acontecer se você quiser – eu disse, coçando a cabeça de confusão.
Eu era mesmo um idiota. Tinha a chance de convidar a menina de quem gostava há quase dois anos para ser meu par e não conseguia nem mesmo formular uma única frase que fizesse sentido! E ela riu de mim. Tudo bem, eu sabia que estaria rindo da minha falta de traquejo e não de zombaria… Mas isso não me ajudou a ficar mais calmo. Eu não ia conseguir manter um diálogo com ela até que o convite viesse de forma casual, e não desesperada, então resolvi tratar essa questão da mesma maneira que , objetivamente.

- Cho, você quer ir ao baile do Dia das Bruxas comigo? - Disse praticamente vomitando as palavras.

Os segundos entre o sorriso que ela deu após minha pergunta seguida de sua resposta foram eternos para mim. No entanto, quando ela disse que seria um gosto, eu queria que o momento tivesse durado algumas horas. Saí da sala da Corvinal e passei pelas escadas como se estivesse flutuando nas nuvens. Eu mal podia acreditar que, pelo menos nesse aspecto da minha vida, as coisas pareciam estar se encaminhando para uma direção de alegrias. Eu e Cho iríamos ao baile, juntos!

's POV

Quando o quadro que proibia música foi pendurado na parede de normas, eu tive minhas dúvidas sobre o acontecimento ou não do baile de Dia das Bruxas. Mas depois de pensar bem, percebi que sua realização seria mais do que oportuna. Antes mesmo de provar a todos que acreditavam que Hogwarts precisava de melhoras, acho que Umbridge queria provar para ela mesma que suas medidas estavam sendo eficazes. Além disso, acho que ela queria mostrar a nós, e a todos que estavam contra ela, que a sua palavra era lei. Nada melhor do que uma festa, dentro dos padrões dela, para mostrar publicamente que seu papel como Alta Inquisidora era mais do que necessário naquela escola.

Só que não.

Apesar de eu saber que não seria um baile da forma como eu havia sempre imaginado, eu estava feliz que ele ia acontecer. Durante anos da minha vida, eu havia participado majoritariamente de celebrações entre familiares ou conhecidos, podia contar nos dedos as festas onde havia desconhecidos. Mas esse baile ia ser diferente de todas as quais eu já havia atendido. Ia ser uma festa onde eu conhecia e gostava da maior parte das pessoas, uma festa entre amigos. Quando ouvimos o anúncio ser feito pela sapa, estava ao meu lado e não esperou nem mesmo Umbridge terminar de falar.

- Princesa, você me daria a honra de ser meu par? - Ele disse, pegando de leve a minha mão e fazendo uma breve reverência.

A maior parte das meninas que estava por perto, deve ter me invejado mais naquele momento. Apesar do costumeiro tom de brincadeira que usava, elas e eu sabíamos que o convite não era. Qualquer uma daria tudo para ser convidada daquela maneira, menos eu. Não que eu não gostasse de ser bem tratada, longe de mim! Mas eu preferia que a mão que pegava a minha fosse outra. Eu não tinha outra saída, se não fosse com , ele poderia interpretar mal e achar que eu já havia desistido da nova chance que eu resolvi dar a nós dois. E eu daria razão a ele.

- Eu não iria com mais ninguém! – Foi o que eu pude responder, sorrindo da forma mais sincera que podia, enquanto contava uma mentira.

Mas eu iria. Dentro de mim eu me sentia em uma confusão ambivalente. Ao mesmo tempo que eu me sentia mal ao mentir daquela forma, não só para , mas para todos, eu me sentia bem por estar poupando as pessoas que amava das minhas verdadeiras vontades. estava realmente se dedicando o máximo que podia para sempre me agradar, e eu comecei a sentir por ele um sentimento que eu deveria ignorar se quisesse seguir com aquilo adiante.

Pena.

Se existia um sentimento que eu não gostava de sentir por ninguém era pena. No entanto, não podia evitar de senti-lo pelo meu ex-namorado, eu o via fazendo de tudo para se redimir comigo e deixava, mesmo sabendo dentro de mim que tudo aquilo seria em vão. Por mais que eu mentisse para todos, e principalmente para mim mesma, o que eu sentia por não seria mais mesma coisa nunca mais. Eu o amava sim, mas agora de uma maneira diferente. Eu queria cuidar dele, ter sua amizade e sua companhia, mas mais como sua irmã do que como sua mulher. Não que ele não fosse atraente a meus olhos, não podia negar que ele era. Mas meus desejos eram inteiramente de outro homem agora, e se eu bem me conhecia, não deixaria de ser até que ele fosse completamente satisfeito. Não acreditava que o que ssentisse por Draco pudesse se tornar outra coisa, ele não era capaz de se dedicar tanto a uma pessoa, que não fosse ele mesmo, a ponto de se apaixonar por ela. E eu não podia permitir que isso acontecesse comigo. Por isso, apesar de parecer um tanto quanto cruel, manter perto de mim afastava minha vontade de conhecer tudo o que Draco tentava esconder. Eu não seria feliz como mulher com , fato, mas evitaria de fazer muitas outras pessoas infelizes. Eu não tinha escolha, tinha que usar tudo que estava ao meu redor para manter minha mente ocupada e minhas pernas, fechadas.
Passadas algumas semanas, eu percebi, pegando algumas conversas de relance, que meu irmão ainda não havia convidado ninguém. Eu sabia que ele já tinha uma favorita, mas sua inexperiência fazia-o travar sempre que estava perto dela. Cho Chang. Mesmo quando ele estava em uma posição que lhe dava poder, como a de professor nas aulas da Armada, ele não conseguia agir com naturalidade. Como eu não iria ao baile com quem eu realmente queria, ia fazer o possível para que os outros conseguissem isso, principalmente o meu irmão. Eu percebi que se ele não recebesse um empurrãozinho, ele acabaria indo sozinho, ou pior, com uma pessoa completamente aleatória como aconteceu no ano anterior. Depois de conversarmos, eu vi que ele tinha mais medo ainda do que eu imaginava.

Ah, a rejeição.

O medo que sentíamos dela, fosse a situação que fosse, fazia muita gente perder muita coisa boa. Já me fez perder muitas oportunidades de ser feliz. Por saber disso, eu não podia deixar Harry sem saber como seria sem antes tentar, afinal de contas, o máximo que ela poderia fazer era recusar o convite. Mas ela não faria isso. Já havia meses, desde a reunião que formou a Armada de Dumbledore, Cho não conseguia tirar os olhos de Harry. Ela bem que tentava disfarçar, mas de mim ninguém conseguia esconder esse tipo de coisa. A proximidade dos dois nos últimos meses favorecia ainda mais que a resposta dela fosse um sim. E foi. Harry chegou ao salão comunal da Grifinória com um sorriso de orelha a orelha e a respiração ofegante, só pelo jeito que ele sorriu, eu já sabia que se tratava. Ele se sentou ao pés da poltrona onde eu estava sentada lendo um livro, e mal conseguia raciocinar sobre a história que queria me contar.

- , , eu consegui! Ela vai comigo, , Cho! Ela vai comigo, , comigo! - Ele disse, empolgado e ainda desacreditado.
- Calma, Harry – eu disse, rindo da sua excitação. – Eu disse pra você, não disse?
- Disse, , e eu tenho que passar a aceitar que você sempre tem razão! - Ele disse, me dando alguns beijinhos de alegria na bochecha. – Eu não sei como pude passar tanto tempo sem você!
- Fico muito contente, Harry, tenho certeza que vai ser uma noite inesquecível… - Disse em um tom meio desanimado ao lembrar que o meu baile não ia ser tão bom assim.
-O que foi, ? - Ele disse ao perceber meu desanimo e se levantando para sentar no braço da poltrona na qual estava sentada. – Você não parece tão animada com o baile… Afinal de contas, com quem você vai?
- Isso é pergunta? - Olhei para ele de um jeito que não seriam mais precisas outras perguntas.
- Mas por que o desanimo? É o outro cara? - Ele me perguntou, fechando um pouco o semblante.
- É, Harry, é o outro cara… - Eu disse, me entristecendo na hora que Malfoy me veio à mente. – Mas estou cansada, não quero falar sobre isso – eu disse, fechando o livro e me levantando da poltrona. - Preciso descansar, Harry, boa noite – eu disse, depositando um beijo em sua testa e seguindo para as escadas do dormitório.

Eu odiava fazer o que eu estava fazendo, fugindo. Mais do que fugir do assunto e fugir do meu irmão quando ele o mencionava, eu estava fugindo de mim mesma, das minhas próprias vontades. Eu sempre fui verdadeira comigo mesma, mas, nesse caso, eu estava de mãos atadas. Se eu sucumbisse a um simples desejo carnal, podia perder a única família que tinha. Graças a Deus nós mulheres éramos boas nisso, em estampar um sorriso na cara enquanto o coração chorava. Assim que cheguei ao dormitório, me deparei com uma Hermione preocupada aos pés do seu baú de roupas.

- Eu não tenho nada para vestir! - Ela disse, se sentando no chão, derrotada.
- Você quer dizer, pro baile? – Perguntei, me aproximando.
- Eu pensei que poderia fazer alguma coisa com esses vestidos velhos, mas eu sou ridícula fazendo esse tipo de coisa, olhe só meus dedos.
Ela estendeu-me as mãos e eu pude ver que seus dedos estavam cheios de picadinhas de agulha de costura. Eu me ajoelhei à sua frente e peguei o emaranhado de tecidos que estava em seu colo. Tirei do meu soutien uma pequena agulha que guardava pra eventuais emergências.

- Você sabe que mesmo que eu tenha nascido inglesa, ainda não sou muito familiar com todos os costumes daqui. Fui criada a vida inteira dentro dos costumes franceses - eu dizia, cortando um dos panos. - Eu não sei se você sabe, Hermione, mas, na França, nós vemos a maneira de vestir uma mulher diferente dos outros países. Deve ser por isso que surgiu a fama parisiense de ser chique - eu disse, começando a costurar. – O que, na verdade, faz nossas roupas serem tão desejadas é a paixão pelo detalhe que transforma qualquer mulher em uma obra de arte. O objetivo de tudo é realçar os atributos físicos - eu disse enquanto cortava o decote para acentuá-lo na medida certa. - Nenhum outro país era capaz de imitar a qualidade erótica das roupas francesas, a arte de permitir que o corpo expresse todo o seu encanto através da roupa. Na França, eu conheci o valor erótico dos tecidos sedosos, que mais desnudam do que vestem – disse, terminando de aperfeiçoar a barra do vestido. – Aprendi como delinear o contorno dos seios, como fazer as dobras da roupa seguirem os movimentos do corpo. Me ensinaram os mistérios dos véus, da renda sobre a pele, da roupa íntima provocante, de um vestido com um decote ideal. A elegância do contorno de um sapato, o acabamento de um par de luvas, são coisas assim que dão à parisiense uma elegância, um certo ar atrevido que as fazem ultrapassar em muito as outras mulheres.

Estendi o vestido que acabara de costurar com panos de vestidos antigos, no ar. Hermione olhou maravilhada.

- Meu Deus, , é lindo! - Ela disse com os olhos brilhando.
- É seu, Hermione – eu disse em um movimento que deixou o vestido em seu colo.
E então uma coisa que eu realmente não esperava aconteceu. Ela me abraçou. Ficamos ali no chão, ajoelhadas, abraçadas durante um tempo. Depois ela se levantou e começou a desamassar o vestido com as mãos. Senti que era hora de eu me retirar e fui em direção a minha cama, mas antes que eu pudesse alcançá-la, Hermione me chamou.

- , – ela disse em um tom mais alto – obrigada!
- Não foi nada – eu disse, sorrindo sincera. – A propósito, com quem mesmo você vai?- Perguntei sem esperanças que a reposta fosse Ron.
- Edu Carmichael – ela disse sem soar muito animada. - Ele é da Corvinal…
- É, eu sei – eu afirmei enquanto ela me olhava curiosa.
- Você o conhece? - Ela perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas.
- Oh, sim, mas muito superficialmente – disse, dando de ombros. – vivia falando dele e acabou me apresentando… Um belo par, sou obrigada a dizer!

Naquele momento, Hermione sorriu um sorriso que eu acho que ela nunca tinha dado. Não tinha nem uma pontinha de sentimento, aquele sorriso que a gente dava quando já gostava de alguém, sabe? Não, naquela noite eu li nos lábios de Hermione um quê de malícia. Ela sorriu como uma mulher que sabe a qualidade do que tem nas mãos. Sorriu como uma mulher parisiense. Eu sorri de volta e fui me deitar. Nem estava acreditando que, além de selar meu acordo de paz e amizade, eu consegui apenas costurando um vestido despertar na Granger uma parte dela que ela ainda não conhecia: a mulher.





Capítulo 13 - Yo ho e uma garrafa de Hidromel


Harry's POV

Já eram quase dez da noite quando nós finalmente decidimos descer para o Grande Salão, onde aconteceria o baile. Nesse ano, Ron estava com trajes menos pré-históricos, apesar de que a excentricidade de seu par combinaria com o terno que ele tinha usado no ano anterior. Ele não havia conseguido reunir coragem pra convidar ninguém então Luna adotou a causa, como amiga.

- A gente já pode ir agora, Ron? - Eu disse, soando bem impaciente.
- Eu só preciso terminar de ajustar minha gravata, Harry, por que tanta ansiedade? - Ele perguntou como se já não soubesse a resposta. – Ela vai estar lá, Harry, aceitou ir com você, agora se você não manter a calma…
- E quem é você, Ronald Weasley, pra me dar conselhos amorosos? Nem conseguiu seu próprio par! - Disse em tom de brincadeira.
- Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço – ele disse, terminando o nó da sua gravata. – Vamos?

Assenti com a cabeça, sentindo meu coração bater cada vez mais rápido e mais forte dentro do meu peito. Tudo isso podia parecer meio gay de se dizer, mas eu estava apaixonado, que se podia fazer? Assim que desci a escada, Cho e Luna já nos esperavam. Tive que me conter para não parecer um completo idiota na frente dela. Eu nunca a havia visto tão bonita. Diferentemente do ano passado, ela deixou seus cabelos soltos e usava um vestido preto longo, daqueles tradicionais da Coréia, cheio de borboletas coloridas. Eu tentei evitar, mas o sorriso que me deixou com a exata cara de idiota que eu não queria, nasceu involuntariamente.

- Eu e Cho estávamos começando a nos perguntar se vocês tinham desistido. - Luna disse em seu costumeiro e tranquilo tom de voz.
- Nunca, jamais eu iria desistir! - Disse sem pensar muito no que estava dizendo.

Cho deu uma risada e eu ruborizei. Não podia ser tão ruim assim com as mulheres, podia? Comecei a me perguntar onde estaria minha irmã numa hora daquelas pra me salvar de mim mesmo e das merdas que eu fazia quando estava perto da Cho. Mas nem precisei de muito tempo pra ter a resposta da minha pergunta. No meio da minha linha de raciocínio, senti Rony dar um tapa no meu ombro. Eu sabia que ela era minha irmã, mas naquela noite eu desejaria que não fosse. estava tão linda, mas tão linda, que ainda não tinham inventado um adjetivo para descrever o quanto, na real proporção de sua beleza. Ela e formavam um belo casal, era uma pena assistir eles descendo as escadas sabendo que minha irmã, lá no fundo, queria estar de braços dados com outro cara. O salão todo parou pra ver, e logo atrás deles vinha Hermione com Edu Carmichael, e com Michel Corner.

- Harry! - Minha irmã exclamou assim que me viu ao pé da escada, largando a mão de para me dar um abraço. - Você está lindo – ela sorriu ao me elogiar.
- Eu? Obrigado, , mas eu não chego nem perto de estar tão radiante quanto você – eu disse, dando um beijo no rosto dela.
- Hermione, você também está linda! - Disse Luna, mudando um pouco o foco das atenções. – Gostei muito do seu vestido.
- Obrigada, Luna! - Ela retribuiu num sorriso. – Foi quem costurou pra mim.
- Você costurou o vestido dela? - perguntou, espantada. – Existe alguma coisa nesse mundo que você não saiba fazer?
- Não, ela é perfeita – disse, dando um beijo na bochecha da minha irmã.

Fomos para mais perto da pista de dança, o baile já estava cheio e logo a banda deveria começar a tocar. Como parte do padrão Umbridge, não iam servir bebidas alcoólicas, o que pra mim não fazia muita diferença, mas eu podia ver algumas caras emburradas, como a de . Mas, naquela noite, nada mais desviaria minha atenção de Cho, tudo o que eu mais queria era que aquela festa fosse inesquecível pra nós dois. Só que para isso, eu ia ter que ignorar meu papel de irmão e fingir que eu não estava vendo todos olharem para . Ficamos dançando e conversando por um bom tempo, todos nós juntos, até que as meninas decidiram ir ao banheiro, todas juntas.

- Por que será que as mulheres fazem isso? - Ron lançou a pergunta na roda.
- Isso o que? Ir ao banheiro juntas? - Michel rebateu.
- É, parece um ritual, como se fosse um código entre elas - disse Ron.
- Meu caro amigo, – disse no meio da conversa – elas vão todas juntas pra poder falar de nós, é claro.
- E isso deveria ser bom ou ruim? - Perguntou Edu para seu colega de casa.
- Ai vai depender de você, claro. Eu sei bem que minha não tem nada a reclamar de mim, não há nada que eu não faça por ela - disse orgulhoso.
- Mudando um pouco de assunto, como foi que você conseguiu convidar a pra vir com você, Michel? – Perguntei. – Afinal de contas…
- É, eu sei que ela costuma ser bem exigente, mas o que posso fazer? Ela não conseguiu resistir ao meu charme – ele disse convencido.
- E você, Weasley? - Edu perguntou. – O que rola entre você a Lovegood? Ela é meio diferente, de fato, mas não é uma má escolha.
- Não rola nada, Edu, somos só amigos – Ron respondeu meio sem graça.
- De todos nós então, você é o que tem menos chances de conseguir um beijo no fim da noite. - Michel provocou.

Ron ficou calado, por mais que ele quisesse rebater a provocação, ele não podia, afinal de contas, Justino não estava contando nenhuma mentira. Passados alguns minutos, já estava começando a ficar impaciente com a demora da minha irmã e das outras garotas. Eu sabia que isso não podia dar bons resultados. Assim que as meninas voltaram, ele pegou o braço dela, eu não pude ouvir muito bem porque estava distante, mas não estava com cara de quem queria conversar. Estava com cara de quem queria sair dali. Ela veio andando em minha direção com logo atrás.

- Harry, você deveria dar uma olhada na Cho, eu acho que ela não está muito contente – ela disse, apoiando uma de suas mãos no meu ombro.
- Pode ir, Harry – disse, dando um forte abraço por trás na minha irmã. – Eu cuido da agora.

Saí um tanto quanto desorientado de perto de , eu estava vendo que ela não estava em uma situação confortável, que talvez eu devesse ter ficado pra ajudá-la. Mas eu tinha prometido a mim mesmo que seria uma noite que Cho se lembraria pra sempre, e se me dizia que ela precisava de ajuda, então eu nem hesitaria. Depois de andar um pouco pelo salão à procura dela, consegui achá-la em uma das varandas, infelizmente ela realmente não estava contente, na verdade, pude vê-la limpar alguns lágrimas com o dorso das mãos quando viu que eu me aproximava.

- Harry, oi, desculpa ter demorado, vim aqui fora pegar um ar – ela disse, tentando disfarçar os soluços.
- Cho, você estava chorando? Foi alguma coisa que eu fiz? Alguma coisa que eu disse? - Eu disse meio desesperado.
- Não, Harry, por favor, não! - Ela disse, colocando as mãos em meus ombros. – Eu não poderia ter escolhido melhor companhia pra vir ao baile, é só que…
- É só que? - Eu disse, a encorajando a terminar a frase.
- Não sei se é muito legal eu ficar dizendo isso pra você, Harry… É só que, no ano passado, o Cedrico estava aqui… - Ela disse sem conseguir evitar um soluço. – Me desculpe, Harry? - Ela disse com as lágrimas já escorrendo.
- Que isso, Cho, não se desculpe – eu disse, me sentando com ela em um banquinho próximo. – Está tudo bem, vai ficar tudo bem. - Ela recostou a cabeça em meu ombro enquanto eu fazia carinho em seus cabelos.
Eu não estava me sentindo mal por estar ali. Claro, meu ideal de noite estava longe de ser consolar a Cho pela morte do Cedrico, pela saudade do Cedrico. Mas eu gostava tanto dela que se eu puder fazer o bem pra ela e por ela, eu já me sentiria o homem mais sortudo do baile.

Draco's POV

Após umas duas semanas, eu comecei a achar que namorar não era tão ruim assim. Não que eu estivesse gostando dela, isso não era uma possibilidade, mas depois de um certo tempo, eu até aprendi a suportá-la. Além dela não ser de se jogar fora, Pansy dedicava a maior parte de seu tempo para fazer as minhas vontades, quaisquer que elas fossem. Apesar dos meus momentos de paz e solidão terem diminuído vertiginosamente desde o início do meu relacionamento, eu estava gostando de ter alguém à minha disposição a todo o momento.

Mas quem não gostaria?

Naquelas semanas, eu também havia me juntado a Brigada Inquisitorial. Não era todo dia que se tinha a chance de obter crédito extra arruinando a vida do Potter. E essa era uma outra coisa também. Desde que procurei ocupar minha cabeça e minhas horas, parei de pensar tanto na . Tudo bem que eu não havia deixado de sentir um tesão filha da puta quando ela passava por mim, ou quando nossos horários eram na mesma classe. Mas não passava disso. Mesmo porque, se eu ficasse muito tempo olhando pra qualquer direção que não fosse a que Pansy estava, ela me fritava os miolos.
- Draquinho, meu amor! - Pansy veio saltitante em minha direção quando me viu entrar pela porta do salão comunal. – Você ouviu o anuncio de hoje, não ouviu, lindo?
- Qual? – Perguntei, totalmente desinteressado.
- Como assim, qual, Draco? - Ela disse, começando a ficar irritada. – O anuncio do baile!
- Ah, isso, e qual a importância disso? – Perguntei, sabendo que ia deixá-la mais irritada ainda.
- Que tipo de pergunta é essa, Draquinho? É só o que há de mais importante acontecendo nessa escola ridícula! Nosso primeiro evento social como um casal – ela disse, se aproximando de mim pra me abraçar. – Temos que mostrar pros outros como as coisas devem ser no mundo bruxo, puro-sangue sempre com puro-sangue.
- Como você quiser, Pansy – disse, me esquivando do abraço e me sentando na poltrona mais próxima com um livro qualquer sobre herbologia.
- Draco, o que está acontecendo com você hoje? - Ela disse com a voz já esganiçada. – Por que você está tão frio e distante? - Ela disse, colocando as mãos na cintura, já bem irritada.
- Pansy, eu não sei se você tá namorando o cara certo. Você sempre soube que eu não sou e nem vou ser o tipo de cara que fica fazendo gracinhas e paparicos – disse, virando a página do livro despreocupadamente. – Se você quiser terminar, sinta-se à vontade.
- Não, Draquinho, de jeito nenhum – ela disse, voltando a ficar mansinha. – Me desculpe.
- Tudo bem, Pansy, só não espere de mim coisas que você sabe que não vai ter. Já somos namorados, o que mais você quer de mim?
- Nada, meu amor – ela disse, tirando o livro das minhas mãos e se sentando no meu colo. – Se eu tenho você, eu tenho tudo!
- Ótimo – eu disse, tirando o livro, que fingia ler, das mãos dela. – Agora me deixe estudar, sim? Vai achar alguma coisa pra se ocupar, além de mim claro, tipo um vestido pra baile, sei lá.
- Vou agora mesmo, meu neném! - Ela disse, me dando um selinho demorado e se levantando rapidamente do meu colo.

Eu sempre me sentia muito aliviado quando conseguia me livrar dela. Eu podia até achar bom toda essa submissão, porque ela trabalhava totalmente a meu favor. No entanto, era uma coisa que, se feita o tempo todo, me tirava o tesão. Todo homem gostava de uma putinha na cama, que homem iria reclamar tendo alguém que satisfizesse todos os seus desejos? Mas isso era diferente de ter uma escrava. Pansy me seguia feito uma cachorrinha sem dono, e eu tinha que lidar com todos os chiliques que ela dava pelos motivos mais infantis que se podia imaginar. E tudo isso pra tirar da minha cabeça.

De baixo, era claro.

Mesmo tendo Pansy a minha disposição, eu nunca deixava de pensar na única noite que eu pude realmente sentir . Ao contrário da minha namorada, me dava muito tesão. Claro que existia todo o fator “irmã do meu inimigo”, que tornava tudo mais interessante. Mas não era só isso, era uma mulher, uma mulher madura. Sequer precisava de uma oportunidade para me provocar, a sua presença por si só já fazia todo o cenário inteiro se tornar provocante. era inteligente, mas ela possuía uma maneira de ver e falar as coisas que não se viam em muitas bruxas. era sábia. Ela não era como a maior parte das vadias que conhecia, que se insinuavam tanto que, se fosse preciso, tiravam a roupa. era sutil. Era impressionante a maneira com a qual ela esperava o momento certo pra lançar um olhar, pra jogar o cabelo. não era mulher de quantidade, e, sim, de qualidade; não via, observava. Sem nem mesmo me procurar, ela despertava meus sentidos, sabia o que queria, como queria e quando queria. Por Merlin, como eu precisava comer essa garota! Esse tipo de pensamento me atormentava cada vez que eu a via passar, mas ficou pior, bem pior na noite do baile.

Concupiscível.

Essa era a palavra certa pra naquela noite. Ela apareceu no topo da escada feito uma rainha, com um vestido preto e os seios bem à mostra. Ela não era um prato de comida, era um banquete para os olhos. Eu não pude evitar de olhar enquanto ela descia de braços dados com aquele idiota, mas eu não fui o único. Todo o salão parou pra admirar. E eu só conseguia pensar em como seria bom subir a mão pela perna dela até parar na fenda do vestido. Desviei o olhar antes que Pansy começasse a reclamar, mas sempre dava um jeito de observar onde ela estava dentro do salão. O baile estava insuportável, não havia bebidas alcoólicas e minha namorada não desgrudava de mim. Eu até poderia ter arrumado uma maneira clandestina de beber, mas se alguém notasse, eu teria sérios problemas. Agora que eu fazia parta de Brigada Inquisitorial, tinha que agir exatamente da maneira que Umbridge esperava que seus membros agissem. Minha distração enquanto Parkinson se pendurava no meu pescoço feito uma macaca era observar os outros.

- Pansy, fique um pouco com suas amigas, vou dar uma volta e me encontrar com meus amigos, tudo bem? - Eu perguntei, sabendo que não ia ser tão fácil assim convencê-la.
- Eu vou com você, Draquinho! - Ela disse, se pendurando novamente no meu pescoço.
- Olha, amor – disse sem acreditar no que tinha acabado de chamá-la. – Já conversamos sobre isso, preciso de um pouco de espaço, sim? Fique um tempo com suas amigas, elas também querem se divertir com você.
- Você me chamou de amor? - Ela disse, abrindo um largo sorriso. – Tudo bem, amor, pode ir, mas não demore, viu? Ficarei com saudades – ela disse, me dando um beijo e finalmente me deixando ir.

Não seria por muito tempo, mas ainda assim eram sempre preciosos os meus momentos sem Pansy. Saí caminhando pelo salão à procura de um lugar onde pudesse ficar sozinho. Mas o que eu encontrei foi bem melhor do que isso.

- Me deixa um pouco em paz! - esbravejou com o idiota do quadribol.
- , olha só, fique mais tranquila, você está bêbada, nem vou levar em consideração o que você me disser – ele disse, tentando se aproximar dela.
- Ah, não vai? Pois você deveria, ! Eu estou farta já - ela disse, enfurecida. – Você me trata feito uma criança indefesa, que não sabe o que está fazendo, eu não preciso de você o tempo todo!
- Mas pra mim você precisa, sim, dos meus cuidados, do meu carinho… O que você estaria fazendo agora se eu não estivesse aqui cuidando de você?
- Provavelmente estaria com minhas amigas, tentando me divertir, eu não preciso que ninguém cuide de mim – ela disse, se aproximando dele de uma maneira cruelmente sedutora no meio de uma briga. – Eu não sou cachorro pra você me colocar na coleira.
- – ele disse, colocando uma de suas mãos nos cabelos dela – eu vou te levar pro salão comunal e...
- Você não vai me levar pra lugar nenhum! - disse, ficando realmente brava. – Está vendo? Você acha que pode controlar a minha vida, não me dá um minuto de sossego. Você está me sufocando!
- , não, por favor, me desculpe – ele disse da mesma maneira que Pansy diria se a briga fosse entre nós.
- Ta, , tá, vou dar uma volta pra me acalmar. - Ela então se aproximou dele e apontou o dedo. – Não ouse me seguir e nem mesmo mandar alguém fazê-lo por você, se eu descobrir, sua chance acaba aqui.

Ouvi toda a briga dos dois atrás de uma cortina, e vi sair da pequena varanda com passos pesados. Eu poderia dizer que eu não sabia o que me levou a segui-la naquela noite. Mas eu sabia muito bem. Quando eu me deparei com o lado mais rebelde de , eu tive certeza que tudo o que eu pensei sobre ela até hoje era verdade. O meu gosto por esse tipo de força somado ao meu escárnio às atitudes da minha namorada simplesmente me levaram a um lugar bem conhecido na verdade, o mesmo onde aquela sangue-ruim da Granger me deu um soco na cara. Foi ideal, todos estavam muito ocupados no baile pra notar que nós dois havíamos sumido ao mesmo tempo. Se eu queria um momento com ela, era aquele.

's POV

Já estávamos um tanto quando atrasadas, quando finalmente ficamos prontas pra descer para o salão. Eu, e Hermione estávamos de matar… ou de morrer. E mesmo que meu par não fosse exatamente quem eu desejava, e que o baile fosse nos padrões de Umbridge, eu tentaria me divertir o máximo que pudesse. Descemos para o salão comunal da Grifinória onde os três já nos esperavam.

- Meu Deus! – exclamou Edu. – Demorou, mas valeu a espera! Vocês estão lindas, garotas, especialmente você, Hermione – ele disse, dando um beijinho na mão dela.

Troquei um olhar de cumplicidade com ela naquele momento. Tudo o que eu mais queria era que Hermione brilhasse aos olhos dos rapazes, e principalmente aos olhos de Ron. Antes que nós fossemos para o baile, me chamou para um canto da comunal com uma caixinha em mãos.

- Princesa, eu nem consigo dizer o quanto você está maravilhosa hoje – ele disse, pegando uma de minhas mãos. - Feche os olhos, eu tenho uma surpresa pra você. Eu sei que pode parecer um tanto precipitado, afinal de contas, ainda não estamos namorando, mas eu sinto que hoje à noite é o momento certo de ter dar isso.

Fiquei totalmente apavorada quando ele me pediu pra fechar os olhos, simplesmente não podia ser o que eu estava pensando, podia? Fiquei de olhos fechados por apenas alguns segundos, mas que me torturaram com requintes de crueldade. Eu só conseguia pensar que, quando eu os abrisse, encontraria ele ajoelhado aos meus pés. Quando ele disse “abra”, eu desejei por um instante ficar cega. Mas, graças a Deus, não era o que eu estava pensando. Quando abri meus olhos, me deparei com um lindíssimo e enorme colar com uma esmeralda em forma de coração.

- Meu Deus, , é…
- Impressionante, eu sei – ele disse, tirando o colar da caixinha de jóias. – Essa esmeralda está na minha família há anos, e quando ela foi dada a mim, minha avó me pediu para que eu desse esse colar apenas para a mulher que conseguisse sustentar sua grandeza – ele disse, colocando o colar em meu pescoço. – Essa mulher é você, .
- Mas, , eu não posso aceitar isso – disse, emocionada com o gesto.
- Como não, linda? Você já está até usando! - Ele disse, sorrindo. – Aceite como uma lembrança dos meus sentimentos por você.

Eu não poderia agradecer de outra maneira que não fosse com um beijo. O gesto de me dar uma joia tão valiosa de família mexeu comigo. Mas não de uma maneira positiva. Eu já tinha noção dos sentimentos dele, mas aquela esmeralda acabou comigo. Senti-me a pior pessoa do mundo quando desci as escadarias do salão de braços dados com ele. Como eu poderia fazer o que eu estava fazendo com uma pessoa que só queria o meu bem? A verdade é que eu tinha a resposta para as minhas dúvidas, mas isso não impedia que eu me sentisse mal por não estar realmente dando uma chance verdadeira a ele. Eu ia tentar esquecer tudo e fazer com que aquela noite fosse realmente especial pra , mesmo que isso significasse fingir o tempo inteiro. Apesar dele ficar o tempo inteiro grudado em mim e tentando controlar todas as minhas ações e olhares, tudo corria bem, mas a festa estava um pouco desanimada, eu sentia falta de realmente me soltar, e só havia uma coisa que melhoraria isso: álcool.
Como era de lei entre mulheres, chamou todas nós para que a acompanhássemos ao banheiro, o que nenhuma de nós sabia era que seriamos nós cinco. Eu, , Hermione, Cho e uma garrafa de Hidromel. Achei extremamente engraçado o fato de que todas nós, até mesmo Cho Chang,estávamos com uma certa pretensão pro crime naquela noite. Para evitar que alguém nos descobrisse e para que o efeito fosse mais rápido, em poucos minutos, nós quatro acabamos com a garrafa de Hidromel. O consumo de bebidas alcoólicas podia gerar diversas reações, criando em cada pessoa um tipo de bêbado. Infelizmente nem todos os tipos de bêbados eram agradáveis, alguns até precisavam ser cuidados. Assim que saímos do banheiro em direção aonde havíamos deixado nossos pares, eu percebi que Cho não estava nada bem.

- Cho, o que foi? Quer que eu te leve de volta pro banheiro?
- Não, , eu estou bem, mesmo. Só preciso tomar um ar e já vou.

Mas ela não estava, eu percebi, mesmo que ela estivesse tentando esconder que os olhos dela estavam se enchendo de lágrimas, achei melhor avisar Harry antes que ela desabasse no meio do salão. Mas antes que eu pudesse encontrar meu irmão, segurou meu braço de um forma que eu considerei agressiva pros padrões dele.

- Que isso, ? Você está me machucando! - Disse num movimento brusco pra que ele soltasse meu braço.
- Onde você estava, ? - Ele me perguntou sério.
- Meu Deus, eu estava no banheiro com as meninas!
- E no banheiro por acaso tem bebidas? - Ele perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas.
- Sim, trouxe, agora me deixa curtir um pouco a festa?

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, avistei Harry e fui em sua direção para alertá-lo sobre Cho. Ele saiu para procurá-la, preocupado, enquanto mais uma vez usava sua força e tamanho para me manter onde ele queria. Soltei-me do abraço dele, mas antes que pudesse dar mais de dois passos, ele novamente pegou meu braço de uma maneira que eu não gostei.

- Aonde você pensa que vai? - Ele me perguntou bravo.
- Me divertir, oras! - Eu novamente soltei meu braço. – Ou tentar, né?
- Você não vai sair de perto de mim ,!
- Neste caso, eu vou embora.

Eu não ia realmente embora e eu também sabia que não ia deixar que eu o fizesse sem ir atrás de mim. Fui em direção à primeira varanda que vi, rezando para que Harry e Cho não estivessem lá, rezando para não atrapalhar nada que estivesse acontecendo entre eles. Quando vi que o lugar estava vazio, senti uma enorme sensação de alivio, que não durou muito já que meu ex apareceu pouco tempo depois. Mas, naquele ponto, levemente alcoolizada, eu já não tinha paciência nenhuma pra ficar discutindo relação, fui curta e grossa com sobre as atitudes controladoras que ele estava tendo, principalmente durante a festa. A somatória das coisas que estavam me fazendo mal realmente começou a me afetar, eu precisava de espaço, precisava pensar. Saí do salão depois de orientá-lo a não me seguir, e eu sabia que ele ia acatar o meu pedido, que foi quase uma ameaça pra ser bem honesta. Precisava sentir que estava fora daquele alvoroço todo, então fui para o único lugar onde não havia pessoas: fora do castelo. Andei até pouco antes da descida pra casa de Hagrid, nem mesmo ele estava em casa, o que significava que eu não seria incomodada.

Só que não.

Nem mesmo se passaram cinco minutos que estava parada perto das grandes pedras e eu ouvi uma voz chamando meu nome, e essa voz arrepiou até o último fio de cabelo existente no meu corpo, até mesmo, bom…

- Eu fico me perguntando, o que você faz aqui fora numa noite como essa, ?
- Eu não quero soar mal educada, mas com você, não faço questão nenhuma de gastar meu francês, só vá embora, Draco, me deixe em paz - disse ainda de costas pra ele.
- Ora, ora, vejo que você está irritada, o que foi? Seu jogador não está sabendo te satisfazer direito? - Ele perguntou com a voz carregada de sarcasmo.
- Minha vida não é da sua conta, Malfoy – disse, finalmente me virando para encará-lo. – Se você veio aqui me importunar, escolheu um péssimo dia.
- Eu sei o que te chateia, - ele disse, se aproximando de mim. - É mesmo? – Perguntei, desacreditada.
- Sim, porque é o mesmo motivo que também me tirou do baile.

Fiquei olhando pra ele meio sem reação, sem saber o que dizer. Logo eu, que parecia ter sempre uma resposta pra tudo, na situação na qual eu mais precisava das palavras, elas me abandonaram. Até mesmo Draco ficou me encarando, esperando alguma resposta inteligente em vão, maldito álcool.

- Vai te custar admitir isso, , mas somos iguais, eu e você - ele disse, ficando cada vez mais próximo.
- Não sei aonde nós podemos ser considerados iguais, Draco – disse, cruzando meus braços.
- Não disse que ia te custar admitir? Mas, veja bem, eu resolvi dar uma volta porque já não suportava mais Pansy o tempo inteiro me seguindo para todos os lugares e tentando controlar minhas ações… Não foi exatamente esse motivo pelo qual você também resolveu tomar um ar?
- Não, não foi – disse sem soar impressionada com o fato dele ter razão.
- Ah, então quer dizer que você mente pro seu namorado? - Ele disse num tom extremamente irritante.
- Não que isso seja motivo da sua atenção, Draco, mas e eu não somos namorados.
- E não vão ser, não é mesmo? - Ele disse, apoiando-se em uma das pedras e chegando cada vez mais perto de mim.
- E o que você sabe da minha vida pra afirmar isso? – Perguntei, dando um passo à frente e colocando as mãos na cintura.
- Sei o bastante, , o bastante pra saber que se eu fizer isso, – ele disse, me puxando para junto dele com o outro braço – você pode até reclamar... - Então ele desceu com a boca até ao lado da minha orelha… - Mas eu sei que vai gostar.

Eu não podia dizer que me surpreendi com o comportamento dele. Naquela noite, antes que ele descobrisse o meu parentesco com o inimigo, eu vi, ou melhor, eu senti o quanto ele me queria. Mas eu não poderia sair dessa sem uma bela tirada também, afinal de contas, era muito fácil me provocar e colocar a culpa em mim depois. Não, eu queria ver como ele se sairia no seu próprio jogo.

- Já se esqueceu que eu não sou puro-sangue? – Disse, sussurrando em seu ouvido.
- Não – ele disse, me abraçando com o outro braço. – Já se esqueceu que sou inimigo do seu irmãozinho?
- Como eu poderia? – Disse, lentamente passando meus lábios em seu lóbulo.
- Ótimo, então estamos cientes do que estamos fazendo.

Draco me puxou pra ainda mais perto dele, pegou meus cabelos pela nuca e não pensou mais. Ali, ao ar livre, ao vivo e a cores, ele me beijou. Mas não foi um beijo comum, daqueles que ele dá na piranha da namorada dele. Era um beijo com sede, com fome. Fome de mim, fome do meu corpo. Tão logo ele percebeu que eu o correspondi, começou com as mesmas carícias de quando nos encontramos no campo de Quadribol. Carícias das quais eu me lembrava bem. Carícias pelas quais meu corpo gritava silenciosamente cada vez que o via passar ou cada vez que eu percebia seu olhar em mim. Com a mesma facilidade que a palha se incendeia com a menor das faíscas, a gente entrou em combustão. Ele me segurou com força e vigor em seus braços, e eu me vi indefesa. Não pelo fato de estar presa e colada em seu corpo, mas por não conseguir me salvar dos meus próprios pensamentos, ou a falta deles, naquele momento. Fui me deixando levar pela vontade que mais havia tentado reprimir durante todos esses meses, meu corpo adorava cada toque, cada beijo, cada lambida, cada respiração.
Eu sabia, sabia que o prazer que estava sentindo naquele momento seria proporcional ao martírio que minha consciência ia fazer na minha cabeça. Malfoy estava se deleitando tanto quanto eu. Assim como uma criança, ele descobria o meu corpo usando todos os sentidos possíveis. Ele foi descendo bem devagar pelo meu pescoço, mordiscando vez ou outra até chegar a altura dos meus seios. Ele delicadamente afastou um dos lados do meu decote, deixando meu mamilo à mostra. Ele sorriu de satisfação quando sentiu que antes mesmo do toque, do beijo, eles já estavam durinhos. Lentamente ele passeou com a língua pelo meu mamilo, como se quisesse me torturar, me fazer pedir mais. Ele foi lambendo no mesmo ritmo até voltar para o meu pescoço, a merda do meu ponto fraco. Suas mãos, geladas, foram desenhando minhas curvas, e um arrepio delicioso subia pelas minhas costas graças ao choque térmico provocado pelo contato delas com a minha pele quente. Sorrateiramente uma delas aproveitou-se da fenda em meu vestido, e meu tesão aumentou absurdamente quando ela começou a dançar nas minhas coxas e próxima a minha virilha. Como se fosse uma reação automática, cravei minhas unhas de leve em seu peito e lentamente fui descendo-as até chegar a barra de sua calça. Ele me pressionou ainda mais contra seu corpo quando sentiu minhas mãos tão próximas, depois de passar tanta vontade. Eu me vi disposta a matá-la, naquele instante. Não hesitei em continuar descendo, até segurar firme na mão o quanto ele me queria.

Eu só podia estar louca mesmo.

Ao sentir minhas mãos segurando seu membro com vontade, Draco parou de me beijar.

- Vá em frente, Potter, eu sei que você sonha com isso toda noite – ele disse, começando a desabotoar a fivela do cinto de sua calça.
- Não seja tão pretensioso assim, Malfoy – disse, brincando com a barra de sua calça, já mais larga sem o cinto. – Nem mesmo em um milhão de anos, eu me ajoelharia pra você.
- Você vai ter que se render, uma hora ou outra, . Por que não agora? Você não sabe quando eu vou te dar outra oportunidade - ele disse enquanto roçava seu pau entre as minhas pernas.
- Você realmente não se enxerga, não é mesmo, garoto? A única pessoa que vai se arrepender por não aproveitar as oportunidades dadas, é você – disse, devolvendo o tom de deboche. – Aliás, pode começar desde já – disse, tirando minhas mãos da sua calça e me virando para voltar para o baile.

Alguém já te alertou antes que não é sábio dar as costas para o seu inimigo?

Pois é, não é mesmo. Assim que me virei, Draco se aproximou de mim pelas costas, me agarrou com força, colocando uma de suas mãos em meu pescoço. Com a respiração ainda ofegante por causa de toda aquela pegação, senti seu hálito quente à beira da minha orelha. Sua outra mão foi descendo pelo meu corpo até alcançar novamente a maldita fenda. Eu podia esperar tudo naquele momento.

Menos o que aconteceu.

Draco afastou rapidamente minha calcinha com os dedos e escorregou pra dentro. Com o polegar ele acariciava meu clitóris, fazendo movimentos circulares. Eu não pude reagir, eu até poderia, na verdade, mas eu não quis. Ele chegou bem próximo a minha orelha.

- Sinto discordar de você, , mas não é o que estou sentindo aqui embaixo – ele deu uma risadinha sarcástica. – Molhadinha pra mim.
- Você é louco, Malfoy. – Não consegui conter um gemidinho de prazer.
- E ainda gemendo? - Disse com mais satisfação ainda. – Acho que nenhum de nós dois, Potter, devia perder a oportunidade. - Ele colou totalmente seu corpo no meu e seu senti seu pênis entre minhas nádegas, duro feito pedra. – Vamos, , tire essa calcinha – voltou a sussurrar no meu ouvido.

Meu corpo já não respondia aos comandos do meu cérebro, só obedecia a voz e aos movimentos do Draco. Minha reação automática foi me curvar parar tirá-la por debaixo do vestido. Achei que nada poderia me tirar daquele transe erótico que eu estava.

Ainda bem que eu estava errada.

Assim que me abaixei, escutei uma voz muito conhecida gritar meu nome, . Recobrei imediatamente os sentidos e ajeitei meu decote, enquanto Draco abotoava novamente o cinto, surpreendentemente calmo. O olhei questionadora.

- Fique calma, Potter, já estou indo embora – ele disse, se aproximando e roubando mais um beijo. – Nossos interesses são mútuos.

O observei sumir nas sombras enquanto terminava de me recompor. Acompanhei descendo até onde eu estava parada. Lembrei-me do aviso que havia feito a , ele não levou a sério.

- Eu não acredito que mesmo depois de ter pedido, continua com os mesmos comportamentos – eu disse brava. – Foi ele quem mandou você vir atrás de mim, não foi?
- , você é minha amiga o suficiente para saber que eu faço as coisas do jeito que eu quero. Sequer vi depois que nos separamos. Me preocupei com o seu sumiço da festa!
- Se foi isso, tudo bem, me desculpe se fui grossa – disse, tentando disfarçar meu nervosismo.
- Tudo bem, , mas me diga uma coisa, amiga – ela disse, se aproximando. – VOCÊ ESTÁ LOUCA? , está todo mundo atrás de você! Você tem ideia de quanto tempo você sumiu? - Ela me questionou furiosa.
- Tanto tempo assim? – Perguntei, preocupada.
- Tempo o suficiente para perder completamente o juízo, não é mesmo? – Disse, cruzando os braços. - Não sei do que você está falando, você sabe o motivo pelo qual eu saí da festa. Vim aqui justamente para ficar sozinha – disse, tentando disfarçar.
- , disse, dando um sorrisinho malicioso. – Eu vi.

Eu até poderia ter achado que ela estava jogando verde, pra me pegar em uma contradição. Mas algo em seus olhos me dizia que ela tinha realmente visto. Eu fiquei completamente muda. O que eu poderia dizer naquela situação?

- O que você viu? - Questionei sem saída.
- Tudo, - ela disse ainda de braços cruzados. - Nem preciso perguntar como foi, só quero saber, e aí? Gozou ou eu cheguei cedo?
- Você é maluca, ! – Disse, dando uma gargalhada ao sentir um grande alívio no peito. – Achei que você fosse estar realmente muito brava comigo.
- E eu estou - ela disse, descruzando os braços. – Mas admito, fiquei com pena de interromper – disse, dando uma risada.
- Mas como foi que você me achou aqui?
- Eu vou ter que admitir uma coisa pra você, , e espero que você possa me desculpar - ela disse, ficando séria de repente. – Eu queria que todas nós tivéssemos a melhor noite das nossas vidas, então eu misturei um pouco de poção do amor no Hidromel.
- Meu Deus, , e você me pergunta se eu sou maluca? - Perguntei estupefata. – Agora tudo faz sentido! Eu jamais faria o que eu fiz dentro das minhas faculdades mentais! Mas por que então você veio me procurar? Não devia estar com Michel?
- Não, senhora . Se você quer se enganar, tudo bem, faça isso, mas eu já venho notando há muito tempo o seu interesse no Malfoy, chegamos a falar disso uma vez, não lembra? Mas não pensei que estivesse assim… Quanto a mim, vivi pela velha expressão “o feitiço virou contra o feiticeiro”, deixei de colocar um ingrediente, e acho que deu vazão para libertar os desejos já contidos dentro de nós... Acabei pegando o Edu… - disse, abaixando levemente a cabeça.
- O quê? - Disse desacreditada. – Eu deixo vocês por menos de uma hora e acontece tudo isso?
- Vamos subir, tem muita coisa pra você saber – ela disse, me dando o braço. – E pra você me contar.





Capítulo 14 - Só mais essa vez.


's POV

Hogwarts nunca foi um exemplo de escola liberal, mas ficou ainda mais insuportável depois que Umbridge assumiu as rédeas. Eu tinha até medo de passar perto daquela parede, onde ela fez questão de criar e pendurar um milhão de regulamentos diferentes para tornar nossa vida na escola ainda menos divertida.

Yay, palmas.

No entanto, o baile era um acontecimento até interessante. Por mais que ele fosse ser moldado à maneira da sapa, era uma oportunidade para sair um pouco daquela rotina de aula, jogo de quadribol, aula, jogo de quadribol. Ia ser um ótimo dia para ver as pessoas fora deaquel comportamento engessado que me irritava tanto naquela escola. Meu jeito sempre foi muito diferente daqueles inglesezinhos puritanos, devia ser por isso que, assim que chegou, minha identificação com ela foi imediata. Não era como a maior parte das meninas que não tinham experiência de vida e foram criadas em redomas de cristais. Ela tinha uma certa malícia natural, espontânea, feito eu. Mas pra realmente causar naquela festa eu teria que usar um pouco da minha vocação de dona encrenca, e infiltrar um pouco de diversão em garrafa. Não era a melhor aluna de poções, mas tentei ao máximo que eu pude fazer uma poção do amor que chegasse perto de um exemplar perfeito. Até pensei em contar para , mas o meu interesse em firmar o romance dela com era muito maior. Ela pensava que me enganava, que eu não percebia, mas eu via tudo. Talvez se ela desse uma chance sincera pra ele, o que eles tiveram um dia pudesse renascer.
Eu não estava muito animada com o meu próprio par. Não que eu estivesse reclamando, já que ele era absurdamente lindo e jogador de quadribol, mas esse era o quadro de quase todo gato de Hogwarts. Isso me entediava um pouco. Mas, enfim, não podia ficar escolhendo demais, enquanto estava ali tinha que inventar maneiras de me distrair. E nada melhor do que arrumar alguém pra ficar babando por você.

Como se ele fosse o único.

Na noite do baile, estava absolutamente deslumbrante. Uma das melhores coisas que eu aprendi sendo amiga de , foi lidar com o fato de que você sempre vai encontrar alguém melhor que você, em algo que você se considerava insuperável. Sempre fui a garota mais interessante daquela escola, não só em termos de beleza, mas em sabedoria mesmo. Não, eu não tinha a sabedoria que se diria própria de um professor como Minerva ou do próprio Dumbledore.

Tinha a sabedoria que interessava aos garotos.

A maior parte das meninas me odiava por isso. Mas elas me odiavam porque eram meninas. Ainda estavam para dar passos largos para entender o mundo como ele realmente funcionava, fora de suas próprias casas e das paredes daquela escola. E talvez esse tenha sido o maior motivo de identificação com , o fato de que ela, diferentemente das outras garotas dali, era uma mulher, como eu. Poucas eram as mulheres que eu verdadeiramente admirava, e em pouco tempo conseguiu se tornar uma delas. Não só pela sua beleza de fazer inveja até em mim, mas muito mais pela sua postura diante dos acontecimentos que estava sendo obrigada a lidar. Eu não sabia se suportaria saber que fui privada da minha família durante tanto tempo, e muitos menos saber que, tendo sido criada como uma bruxa toda a vida, minha mãe era trouxa.
Tudo bem que ela se descobriu no seio de uma das famílias mais famosas de bruxos de todos os tempos, mas eu tinha esse preconceito contra os trouxas que, por algum motivo, não conseguia superar. Não era uma desequilibrada mental feito Voldemort, que achava que podia “limpar” o mundo dizimando todos eles. Convivia bem com os mestiços, mas não me casaria com um. Isso me fazia admirar ainda mais. Mesmo ela sendo uma coisa com a qual não suportava conviver de muito perto, ela não trazia muitas marcas, mesmo porque foi criada por um casal de alquimistas. Mas, ainda assim, não deixou de incorporar todos os tipos de conhecimentos que a faziam ser aquela mulher, ao mesmo tempo, tão acessível e tão misteriosa.

Eu disse que realmente a admirava.

Na noite do baile, até mesmo Hermione estava linda. havia costurado seu vestido, como se fosse uma bandeira de paz entre as duas. Só Granger ainda não tinha sacado que, apesar de todos os interesses masculinos estarem com a mira em agora, minha amiga era uma mulher que sabia o que queria. E isso não incluía o Rony. Mas incluía possibilidades que me preocupavam. Mas se tudo desse certo com meu plano, eu não teria que voltar minhas atenções novamente para esse problema. Pouco depois que chegamos ao grande salão, eu me preocupei em colocá-lo em prática, se desse certo, todas nós teríamos uma noite absolutamente maravilhosa.

Eu odiava esse negócio de “se”.

Depois que bebemos no banheiro a garrafa adulterada de Hidromel, cada uma saiu para uma direção. Pude ver de relance que e estavam um pouco fora do clima que havia imaginado criar pra eles. Mas, naquele momento, eu não quis saber de outra coisa que não fosse Edu Carmichael. Assim que saí do banheiro, só conseguia pensar em fazê-lo me notar, fazê-lo ficar comigo. Não era uma coisa muito difícil já que minha adversária era Hermione Granger, mas a minha vontade de beijá-lo estava fora do comum naquela noite.

A poção.

Talvez o fato de eu não ter personalizado-a deu a oportunidade para que as paixões e desejos já contidos dentro de cada uma de nós se libertassem. Mas, na hora, eu não me dei conta disso, na hora eu não me dei conta de nada. Com um plano rápido, eu usei a maior fraqueza de Hermione contra ela, Rony. O sentimento a devia estar perturbando por dentro, mas ela estava contida ao lado de Edu, eu só precisava colocar um pouco de lenha para que a faísca se tornasse um incêndio.

- Como está se sentindo, Hermione? Você já tinha ficado bêbada antes? - Disse enquanto balançava meu copo de suco de abóbora e sorria.
- Estou me sentindo estranha, na verdade – ela disse, insegura. – Estou sentindo que estou muito mais propícia a fazer alguma besteira.
- Que isso, Hermione, você tem que se soltar! – Disse, dando um empurrãozinho nela. – Faça o que você tiver vontade de fazer!
- Você acha que eu devo? - Ela me perguntou ainda sem jeito.
- Claro, vai fundo!
- Mas e o Edu? Não posso simplesmente deixá-lo aqui sozinho – ela disse, se rendendo.
- Você é namorada dele por acaso? Vai se divertir, Granger, você nunca faz isso mesmo.

Como eu já havia imaginado, foi necessário somente um pequeno incentivo para ela sair de perto do Edu. Tinha certeza que foi checar se a situação entre Rony e Luna se tratava mesmo de uma simples amizade. Eu aproveitei a ausência dela e usei todas as minhas armas para impressionar Carmichael.

Foi tão fácil.

Nem precisei fazer muito esforço, afinal, era uma das meninas mais bonitas de Hogwarts, foi só jogar um charminho que rapidamente ele percebeu minhas intenções e fomos em busca de um lugar mais reservado. Mesmo que ele não tivesse nenhum compromisso com a Granger, ele tinha noção que seria uma coisa meio vergonhosa para uma mulher ser trocada. Saímos por uma porta que dava para o jardim do castelo, e foi no meio de um beijo apaixonado que eu vi. Não sei o que foi que me deu, mas na hora fiquei muito mais interessada no que estava vendo, do que em Edu.

Precisava me livrar dele.

Não tinha nada que afastasse mais homem do que drama de mulher. Principalmente se a situação fosse parecida com a minha, onde não tinha nem mesmo uma relação de amizade. Só precisei fingir uma súbita crise de consciência, e ameaçar “me retratar” com Hermione que ele saiu fora. Típico comportamento do homem que um dia podia vir a perder a mulher da sua vida, por causa de todas as outras. Mas mesmo que o interesse dele fosse genuíno, o coração de Granger já tinha dono, e qualquer aluno da escola, principalmente os que estudavam na Grifinória, podiam ver claramente quem era. No mesmo momento em que eu estava ali com Edu, ela deveria estar se contorcendo mentalmente para negar que queria Rony. Assim que apavorei Edu com a chance de estragar a chance que ele obviamente queria com Hermione, pude voltar ao que havia me feito parar, para começo de conversa. Fui descendo em direção de onde havia avistado , que não estava sozinha. Posicionei-me de maneira que eu pudesse ficar encoberta pelas sombras e permaneci durante quase todo tempo que a cena se sucedeu, estarrecida.

e Draco.

e Draco se beijando.

e Draco fazendo muito mais do que se beijar! Minha vontade imediata era de fazer alguma coisa para impedir que aquilo continuasse. Mas simplesmente não fui capaz. Pra uma mulher como eu, que não tinha a oportunidade de fazer muito sexo, uma cena como a que estava na minha frente não se veria todo dia. Não mesmo. Vi Malfoy beijar-lhe a boca, o pescoço até chegar nos seios. A cena era tão deliciosamente erótica que eu mal piscava, se eu estava muito excitada só de olhar, nem conseguia imaginar como estava se sentindo. Afinal de contas, tinha toda aquela história de “inimigo do meu recém-descoberto irmão” que ela parecia ter esquecido, e que dava o toque ideal de sensualidade e perigo. Hipnotizada pelos movimentos e sons somados com a luz da lua, que refletia lindamente as peles alvas, eu permaneci ali observando durante um bom tempo, esperando que se desse conta do que estava fazendo e minha intromissão não fosse necessária.

Só que não.

Eu queria mesmo era ter visto os dois rolarem no chão, gemendo de prazer enquanto o baile acontecia há poucos metros, fazendo-os correr um risco absurdo de serem pegos, tornando tudo muito mais gostoso. Fazia um bom tempo que eu não sentia uma vibração sensual tão forte como foi com a deles. E eles quase chegaram a de fato transar. No entanto, por mais que eu quisesse ver aquilo acontecer, era minha amiga e eu sabia que ela depositava em mim muita confiança. Eu não poderia ignorar esse fato só para satisfazer meus próprios desejos voyeuristas. As consequências para ambos seriam muito sérias. Para proteger do que eu tinha em parte causado, resolvi subir um pouco para dar distância e não ficar perceptível que eu havia visto tudo. Gritei o nome de minha amiga para que Draco pudesse sair de cena e ela se recompor. Eu não tinha motivos para estar ali, na realidade eu não queria que ela soubesse porque preferia deixar o episódio do Edu na calada. Mas não pude resistir. Assim como ela tentou se “explicar”, eu acabei entregando que havia sido eu a culpada por todas as confusões daquela noite.

- , você é muito maluca – ela disse enquanto subíamos novamente em direção ao castelo. - Como você coloca uma poção poderosa dessas na bebida sem que a gente saiba? Não quero nem pensar nas consequências que podem ter sido acarretadas para as outras meninas. Mas o que foi que você deixou de colocar? - Ela me perguntou curiosa.
- Bom, como cada uma de nós tinha um par, eu não podia personalizar a poção colocando um fio de cabelo, por exemplo. Acho que foi isso que motivou o despertar das coisas que já estavam no nosso inconsciente - disse pensativa. – E é isso que mais me preocupa, diante do que aconteceu hoje. , desde quando você se sente assim pelo Draco? - Perguntei séria.
- Eu não me sinto assim pelo Draco, - ela disse incomodada. – Foi apenas um deslize, motivado pela sua poção ainda por cima!
- Quanto tempo mais você acha que pode ficar me enganando, amiga? – Disse, achando graça na posição dela. – A poção somente te deu coragem pra fazer uma coisa que você já queria, não é de hoje que eu reparo os olhares que vocês trocam e as provocações silenciosas. Acha que eu não sei que você não consegue mais sentir pelo o que sentia antes? Seu comportamento muda quando Malfoy está por perto , você se agita, parece que a presença dele ao mesmo tempo que te agrada, te perturba – disse, preocupada.
- Foi só um deslize… - Ela disse, ficando sem resposta.
- , preste atenção. Não vou te julgar pelo que você fez, até porque eu te entendo muito mais do que você imagina. Mas, como sua amiga, não posso deixar de te alertar, você está colocando muita coisa em risco, e você sabe - disse séria. – Harry nunca suportaria ver o que eu vi, e essa noite poderia ter sido ele ao invés de mim, na verdade poderia ter sido qualquer um.
- Eu realmente não me dei conta, por mais idiota que essa desculpa possa parecer – disse caindo em si. – Eu estava ciente de tudo que a descoberta desse segredo traria de prejudicial pra minha vida, mas não consegui sair da situação. Talvez tenha sido ai que o efeito da sua poção entrou, por mais que eu soubesse que a decisão racional fosse não ceder, eu não consegui.
- É, isso faz parte do efeito da poção, obsessão. - Constatei. - Bom, espero que você tenha matado sua vontade e curiosidade nessa única vez. Eu confio em você e sei que será sensata, , não vale a pena por uma coisa tão preciosa pra você em perigo, por um capricho, um desejo. E quanto a , não sei se é uma boa ideia você continuar a tentar ter alguma coisa com ele.
- Não posso me dar ao luxo de ficar sem ele, , a presença dele é que me tranquiliza com relação a Malfoy.
- Mas você não acha que isso é usá-lo? - Perguntei meio apreensiva. - Você não se sente mal com isso?
- Um pouco – respondeu dando de ombros. – Mas estou usando ele em prol de um bem maior, além do mais, e eu já tivemos uma relação, eu já o amei muito, , não é como se eu não suportasse ficar do lado dele. - Ela tentou se justificar.
- Ainda assim, , ele pensa que existe uma chance, ainda que remota, de você voltar a sentir as mesmas coisas que sentia por ele antes. E essa chance não existe, não é mesmo? – Perguntei, colocando uma de minhas mãos em seu ombro.
- Não, não existe. - Ela respondeu meio cabisbaixa.
- Não sou eu quem vai dizer o que você deve, ou não fazer. Muito menos eu serei quem vai te julgar pelas escolhas que você fizer. Mas como sua amiga e pessoa que quer o seu bem, não posso deixar você ir por um caminho onde eu sei que vai se machucar, sem pelo menos te alertar dos perigos que você corre.
- Obrigada, , você tem toda razão - ela disse complacente. – Draco não deveria ter nem mesmo minha atenção.
- O que me instiga nessa história inteira é o Malfoy. Pensei que o fato de você ser uma Potter seria um repelente natural. Como foi que isso começou, ? - Perguntei curiosa.
- No trem, antes mesmo dele saber, . Acabamos dividindo uma cabine. - Explicou.
- E foi tudo o que você estava esperando? - Perguntei ao arquear uma das sobrancelhas.
- Melhor. Mas isso não importa agora – ela disse, me dando o braço. – Nunca mais vai acontecer.

Voltamos para o Grande Salão juntas, foi um álibi perfeito e extremamente conveniente. Assim que nos viu, Harry veio praticamente correndo em nossa direção.

- , onde você estava? - Ele disse, abraçando a irmã. – Perguntei pra todo mundo e ninguém sabia onde você estava, fiquei muito preocupado!
- Fique tranquilo – ela disse dando um sorriso que o tranqüilizou. – Só tive uma pequena discussão com , foi me acalmar – ela disse, trocando um olhar de cumplicidade comigo. – Mas agora vai ficar tudo bem.
- Mas e você, Harry? – Perguntei, mudando de assunto. – Onde está Cho?
-Ah – ele exclamou, ficando triste. – Ela não se sentiu bem e preferiu ir mais cedo para a cama.

olhou para mim e não precisou dizer nada. Ambas sabíamos que qualquer que tenha sido o problema que Cho teve, tinha relação direta com a poção do amor que eu tinha colocado no Hidromel. Logo depois de Harry, foi quem avistou e veio andando, tímido, em nossa direção.

- , estávamos preocupados, está tudo bem? - Ele perguntou receoso.
- Está sim, só estava precisando tomar um pouco de ar, espairecer - ela disse, sorrindo serena.
- Eu gostaria de conversar com você, princesa, se você quiser falar comigo, é claro - disse, pegando a mão de e depositando um leve beijo.
- Claro que eu quero falar com você, não seja bobo. Só preferiria que fosse amanhã, pode ser? Estou me sentindo exausta.
- Quando você quiser, , tudo que você quiser - ele disse, beijando-lhe a mão novamente.
Nos despedimos de quem estava por perto e fomos para o alojamento da Grifinória. Tinha sido uma noite no mínimo conturbada e era melhor que depois de ambas termos escapado ilesas das nossas travessuras, que bastasse por hoje.

Draco's POV

Afastei-me o mais rápido que pude. Embrenhando-me entre as árvores e os arbustos ali próximos, observei de longe se aproximar de . Se ela tivesse chegado alguns minutos antes, e sem anuncio, seria um grande problema pra nós dois. Não pude evitar deixar surgir um sorriso malicioso, quando o pensamento de assistindo a mim e quase transando veio à mente. Ainda que ela tivesse visto, tenho certeza de que nada aconteceria, afinal de contas elas eram amigas. E acho que era assim que funciona em uma amizade onde as duas pessoas realmente se gostavam. O meu mundo era o mundo dos interesses, onde laços de lealdade eram obrigatoriamente atrelados a quanto poder você possuía e quanto podia proporcionar para o outro, caso se fizesse uma aliança. Era mais ou menos assim que funcionava meu relacionamento com Pansy, pelo menos da minha parte. Meus pais haviam ficado exultantes de alegria quando contei a eles em uma das cartas que eu estava namorando-a. Para os Malfoy, sempre foi muito importante manter relações somente com os que deviam ser considerados no mundo bruxo, ou seja, somente os puro-sangue. Todo aquele manual em torno das minhas relações pessoais, tornava meus encontros furtivos com uma aventura deliciosa de ser experimentada.
Ainda divagando em meus próprios pensamentos e nas cenas do que tinha acabado de acontecer, me dirigi novamente ao castelo. O perfume de ainda estava em minha roupa, eu ainda podia sentir o gosto dela em minha boca, ainda podia senti-la entre meus dedos. Poderia ficar prolongando essas sensações a noite inteira na minha imaginação, se não fosse por um pequeno detalhe.

Pansy Parkinson.

A oportunidade de experimentar um pouco mais dos sabores de me fizeram esquecer completamente de que eu tinha uma namorada. Nem mesmo tinha ideia de por quanto tempo eu havia sumido, mas mesmo que tivesse sido um minuto ou dois, Pansy já devia estar pirando com a minha ausência. Eu precisaria de um bom álibi se não quisesse ela me fritando até as ultimas instancias da minha paciência para saber onde e com quem estava. Aproximei-me do Grande Salão e tentei avistar com os olhos onde os meus amigos estavam, sem muito sucesso. Todos eles deviam estar aproveitando a única oportunidade que tiveram para ter a atenção das mulheres, já que eram todos uns idiotas e não tinham a mesma capacidade que eu nesse aspecto. Minha outra escapatória seria avistar alguém com quem tivesse pelo menos uma “afinidade”. Mas havia esquecido, não gostava de ninguém naquela escola. Um tanto sem saída e com preguiça de ter que inventar qualquer mentira e ouvir os choramingos de Pansy, eu decidi pela escolha mais livre de dúvidas impossível.

O Salão Comunal da Sonserina.

Mesmo que ela suspeitasse de alguma coisa, ou de alguém, ela nunca iria imaginar que o perfume em minha roupa era da Potter. Ela cogitaria e faria uma pesquisa minuciosa em todos os pescoços das meninas da Sonserina, disso eu tinha certeza, mas logo de cara descartaria todas as sangue-ruim e as mestiças. O baile não estava perto do fim, mas sem mim lá, era um acontecimento totalmente irrelevante para Pansy, para ela interessava muito mais desfilar comigo pelo Grande Salão, como se tivesse conseguido um casamento milionário. De certa forma era, não que minha família fosse muito abastada em termos monetários, mas falando de poder e influência no mundo bruxo, principalmente junto ao Lord da Trevas, o nome Malfoy sempre estava associado aos círculos mais íntimos.
Sentei-me na mesma poltrona de sempre e a direção dos meus pensamentos era clara: . Eu achei que se eu pudesse ter mais um momento com ela, minha vontade se acalmaria um pouco. Mas eu errei, errei feio. Não era um cara que costumava fazer muita questão de mulheres, já que tinha todas que queria aos meus pés, mas estava se tornando uma verdadeira fixação sexual. Não ia conseguir afastar o que tinha acabado de acontecer da minha cabeça tão cedo. tinha um brilho diferente no olhar, um olhar de desafio, como se ela não acreditasse que eu fosse ser realmente capaz de ir contra tudo que acreditava. Sua boca pedia que eu a beijasse e foi o que eu fiz sem que ela nem tentasse protestar. Nossos corpos pareciam atraídos como imãs, quando senti que ela também tinha se rendido ao que desejava, eu fiquei ainda mais excitado. Os mamilos, endurecidos de tanto tesão, pediam por sentir a minha língua quente e molhada contornando-os suavemente.

E aquela maldita fenda.
Eu sabia desde que a havia visto descer as escadas do Grande Salão, que uma fenda como aquela poderia ser a minha ruína. Mas graças às oportunidades que a vida nos deu, eu pude provar a veracidade na minha teoria. O primeiro lugar que eu quis explorar foi ali, subir as mãos por suas pernas e sentir os pelos dela se arrepiarem enquanto eu contornava as suas coxas até que as mãos alcançassem uma região ainda mais interessante. Apenas pensar em como estava molhada e como seu calor emanava entre meus dedos, eu já voltava a ficar tão duro como se estivesse revivendo o momento. Normalmente, não costumava me enganar em relação às mulheres. Mas eu já devia ter me acostumado com o fato da minha situação com fugir completamente dos padrões de normalidade. E talvez se eu não tivesse tido a chance de experimentá-la um pouco melhor, eventualmente eu a tiraria da minha cabeça. Mas tinha sempre uma primeira vez pra gente errar.
O cheiro do perfume estava impregnado no meu corpo, e estava me enlouquecendo enquanto tentava manter as coisas calmas dentro das minhas calças. Tudo o que eu mais queria no momento era estar com embaixo de mim, gemendo de prazer enquanto eu satisfazia meu pequeno capricho. Mas isso não iria acontecer tão cedo quanto a minha vontade me pegava. Se fosse uma garota como todas as outras, ela estaria nesse momento se lamentando pelo que havia acabado de acontecer. Mas , como eu já constatei em situações diversas, era diferente. Mesmo que ela tenha a mesma preocupação que eu em manter isso em absoluto sigilo, não havia como negar que ela gostou. E eu também. Completamente entretido em minhas divagações sobre culpa e prazer, nem percebi quando Pansy entrou no Salão Comunal.

Furiosa.

- Então foi aqui que você se escondeu, Draco – ela disse, parando na minha frente com os braços cruzados.
- Escondido? Você me viu assim que entrou, Pansy – disse, cruzando as pernas para esconder minha excitação. – Então não estou escondido.
- Como você pode fazer uma coisa dessas comigo? - Ela disse, esbravejando de raiva. – Eu fiquei sozinha, te procurando até perder a paciência e te encontrar aqui? Fazendo nada de importante?
- Eu também não estava fazendo nada de importante lá – disse, virando os olhos.
- O quê? - Ela perguntou, aumentando mais ainda o tom de voz. – Como assim, você não estava fazendo nada de importante, Draco?
- Não, não estava. – Continuei sério. – Você sabe muito bem que detesto esse tipo de evento, e que só fui porque você disse que era importante para nós como um casal. – Ponderei. – Além do mais, quem é que suporta ficar em uma festa onde metade dos convidados não deveria estar presente?
- Mas você me deixou sozinha! - Ela gritou. – Abandonada e humilhada na frente das minhas amigas, enquanto você ia ver seus amigos e nunca mais voltou – ela prosseguiu com o tom elevado. – Nunca me senti tão ultrajada em toda a minha vida!
- Então termine, Pansy – disse tranqüilamente. – Você sabe o tipo de cara que está namorando, além do mais, fiz o esforço de ir pra te agradar, e somente para te agradar. – Continuei fitando-a intensamente. – Se não sabe ser agradecida pelas minhas demonstrações de afeto, não é obrigada a continuar comigo.
- Por que você sempre diz isso? - Ela perguntou, ficando mais mansa e se aproximando de mim. – Até parece que não faz questão nenhuma de me namorar.
- Não é isso, Pansy – disse, amolecendo o tom de voz também. – Só acho que as coisas são muito mais simples do que as pessoas as tornam. Você não é obrigada a ficar comigo, e se estiver insatisfeita demais, pode terminar. Mas isso não quer dizer que eu queira.
- A, Draquinho, nem acredito que você está dizendo isso pra mim! - Ela disse com os olhos brilhantes de felicidade. – Então você faz questão de mim?
- Mas que tipo de pergunta é essa. Pansy? – Disse. me levantando do sofá. – Somos namorados! Eu não perderia tempo com uma pessoa da qual não gosto. Um dos motivos pelos quais preferi te esperar aqui foi o fato de que várias delas estavam naquele salão.

Eu não estava mentindo pra ela, eu realmente gostava de Pansy, mas não com a mesma intensidade que ela gostava de mim. Naquele momento, tomada por uma imensa felicidade de ouvir de mim uma “declaração”, ela me abraçou. Fiquei estático quando ela respirou fundo, só uma vez.

O perfume.

Como toda mulher ciumenta que se preze, Pansy aprendeu a ler os rastros deixados depois de uma traição. E o perfume era o único que eu não tinha conseguido, ou desejado, apagar. Assim que ela sentiu o cheiro, imediatamente se soltou do abraço e voltou a me fitar, com mais raiva ainda.

- Que perfume de mulher é esse que está impregnado em você, Draco? - Ela disse, tentando conter a imensa raiva que eu podia ver crescer em seus olhos.
- Que perfume, Pansy? Surtou de vez? O único perfume de mulher que pode estar em mim, é o seu – disse, sem demonstrar nenhuma insegurança.
- Draco Malfoy, você está me traindo? - Ela perguntou curta e grossa.
- É claro que não, ficou maluca? - Disse sem titubear. – Eu acabo de fazer uma declaração do quanto gosto de você e você tem a coragem de me fazer uma pergunta dessas?
- E como você me explica o perfume? - Ela perguntou.
- Cumprimentei umas trezentas amigas suas, Pansy, quando você estava me exibindo como um troféuzinho para elas – disse, pensando rápido em uma desculpa. - Agora para com essas paranoias, e vem fazer um carinho no seu namorado – disse, puxando-a para que pudesse se sentar no meu colo.
- Nossa, Draco! - Pansy exclamou, passando a mão no meu membro por cima das calças. – Como você está duro, meu amor.
- Você toda bravinha, achando que eu estava te traindo – disse, acariciando levemente seu decote com a ponta dos dedos. – Me deixou com muito tesão.

Pansy me olhou com um rostinho diabólico, eram muito raras as situações que eu a intimava. Normalmente, ela era quem sempre provocava e insistia até que minha vontade diária de me aliviar me convencesse que era melhor com ela do que com a minha mão. Mas aquela noite era uma noite diferente, eu estava explodindo de vontade de transar. Pansy não era o principal motivo dessa vontade, mas vê-la reivindicando minha fidelidade, desafiando a posição de conforto e conformismo que ela se colocava sempre, com medo de me desagradar e causar o término, me convenceu rápido que se eu estava com uma vontade, deveria matá-la.





Capítulo 15 - Tempo ao tempo


's POV

Eu estava completamente sem sono. Já fazia mais de uma hora que eu estava rolando na cama sem conseguir fugir de mim mesma e do que eu fizera. A reação de havia sido impressionante, eu esperava que ela fosse ser bem rígida comigo, mas de uma maneira estranha e muito particular, ela me entendia. Sabia que meu segredo estava a salvo com ela, mas não podia parar de pensar no que ela havia dito, como foi ela, poderia ter sido qualquer pessoa. Eu me entreguei irracionalmente aos meus desejos, fiquei cega de vontade, estava a ponto de tirar minha calcinha, e tudo isso sem o menor pudor de estar ao ar livre, que absurdo! O sentimento de culpa, apesar de me consumir a cada minuto que eu pensava sobre o assunto, não era o único que habitando meu ser. Ao mesmo tempo que eu me sentia o ser mais horrível do mundo, eu sentia uma imensa satisfação de experimentar mais uma vez o misto de sentimentos que o beijo e o toque de Malfoy provocavam. As cenas da noite ficavam passando pela minha mente como um filme, e a vontade de me masturbar foi começando a me incomodar de verdade, tanto que eu não pude resistir a só um pouquinho.

Só um pouquinho.

Fechei meus olhos e acariciei os bicos dos meus seios de leve com a mão, por não conseguir parar de pensar nas mãos de Draco, nos beijos e nas carícias, eles já estavam endurecidos, e já estava molhada. Fui descendo passando pela minha barriga, até chegar a minha virilha e era como se a mão de Draco estivesse novamente ali, pronta pra escorregar para minha calcinha e me penetrar. Afastei minha calcinha de leve e comecei a fazer carícias, com movimentos circulares e lentos no meu clitóris, alternando com leves penetrações com o dedo. E quanto mais eu pensava no prazer que havia sentido por um curto espaço de tempo, nas mãos de Malfoy, mais eu aumentava a velocidade dos movimentos e diminuía as alternações. Ainda embriagada de tesão e Hidromel, eu não me contentei em terminar aquela noite sem aproveitar toda a potência sexual que ela continha. Meio presa em uma realidade paralela, eu me esqueci momentaneamente de que não estava mais em meu quarto sozinha, e que assim que gritei, todas as meninas acordaram.

Eu nunca mais iria beber.

Quando me dei por mim, vi vários rostinhos ao pé da minha cama, iluminados por pequenos pontos de luz nas varinhas, me observando com um olhar de preocupação.

- , você está bem? - Perguntou Hermione, se adiantando a todas. – Você teve um pesadelo?
- É sim, pesadelo – disse, aproveitando a excelente deixa que Hermione havia me dado.
- Você está toda suada, – Gina afirmou. – Venha, vamos trocar essa sua roupa, vem tomar um ar – ela me disse, dando a mão. – Respire com calma.
- Obrigada, Gina – disse, olhando-a agradecida, apesar de estar melhor impossível.

ficou me observando de longe, achando graça, dei uma leve piscada para ela, que abriu um largo sorriso e voltou a se deitar. Fui até ao banheiro e passei uma água fria na nuca, senti as gotas escorrerem pelas minhas costas, me dando gostosos e leves calafrios, tomei um copo de água e troquei de pijama antes de voltar pra cama. Bem mais relaxada, eu me deitei e não demorei muito a pegar no sono, afinal depois de um orgasmo, quem não?
Eu gostaria de ter acordado bem tarde no dia seguinte, pretendia ficar o dia mais reclusa, aproveitando para estudar. Eu não queria correr o risco de ver Draco antes de fazer uma reflexão profunda sobre o assunto, sem antes me preparar. Mas é claro que não seria possível. Hermione, e Gina acordaram elas deram um jeito de me tirar do meu repouso.

- , bom dia! - Disse Gina assim que me viu abrir os olhos. – Conseguiu descansar? Como está se sentindo hoje?
- Estou bem, consegui sim – disse, esfregando os olhos.
- Seu irmão quer falar com você, – Hermione disse na lata. – Ele está preocupado.
- Como assim, preocupado? Preocupado com o quê? – Disse, me sentando na cama.
- As meninas comentaram sobre o seu pesadelo de ontem à noite, ele veio nos perguntar e não tivemos como negar – disse Gina.
- Pelo amor de Deus, gente, foi só um pesadelo – disse , rindo pra mim. – Acontece com qualquer pessoa, ainda mais quando a gente bebe.
- , tem razão, gente, não foi nada demais – disse, me levantando da cama. – Foi uma noite muito louca e cheia de emoções.
- Realmente – Hermione disse baixinho enquanto seu olhar foi longe, no ontem. – Mas se fosse uma coisa à toa, você não teria gritado como gritou.
- Tudo bem, gente, vou me arrumar e desço para tranquilizar o Harry, vocês são muito exageradas – disse, sorrindo.

Troquei-me, penteei os cabelos, e desci as escadas para o Salão Comunal, e, assim que meu irmão me viu, ele se levantou do sofá e veio me abraçar. Abracei-o, de maneira a deixá-lo mais tranquilo, e pude sentir que metade da tensão que ele carregava havia se esvaído naquele abraço.

- , você está bem? As meninas me disseram que você teve um pesadelo ontem, gritou… - Meu irmão disse, me olhando solidário. – Você quer me contar com o que sonhou?
- Não se preocupe, meu irmão – disse, passando a mão levemente em seu rosto. – Foi só um sonho bobo, uma coisa minha. Não há nada com o que se preocupar – disse, sorrindo.

Ele ficou me olhando sem acreditar muito no que eu havia dito, mas ele ia fazer o quê? e eu estávamos achando a maior graça em toda essa história, afinal eu não havia tido pesadelo coisa nenhuma. Fomos todas juntas para tomar café no Grande Salão comentando sobre o baile na noite passada, notei que Hermione, no entanto, permaneceu o tempo todo calada enquanto escutava as outras relatando como havia sido a noite. Fiquei muito curiosa para saber o que Hermione fez para conseguir se controlar diante da força do poder da poção, como ela teria se sentido na noite passada? Senti-me tentada a perguntar, mas ela era tão reservada que eu a colocaria em uma posição muito desconfortável, por pura sacanagem. Deixei a pergunta pra uma melhor hora e tomamos café. Nem Draco nem Pansy Parkinson estavam sentados à mesa da Sonserina, e eu imaginava que tinha sido ela quem resolveu o problema dele na noite passada. Depois do café, eu precisava estudar, e então decidi ir até a biblioteca onde eu não ia ser incomodada e poderia estudar em paz, certo?

Errado.

Estava a pouco de terminar o capítulo que estava lendo, quando senti uma mão pousar em meu ombro. Antes mesmo de olhar, eu sorri, só podia ser uma pessoa. Levantei a cabeça e vi o rosto de cachorro sem dono de . Ele, vendo meu sorriso, puxou a cadeira que estava ao meu lado e se sentou, ficou em silêncio me observando com ternura. Permaneci calada, olhando pra ele também, eu já sabia o que ele estava prestes a me dizer, mas ia escutar com paciência tudo de novo. Mas diferentemente da outra vez, eu ia tomar uma decisão diferente nas minhas questões com .

- Como passou o resto da noite, ? - Ele me perguntou, quebrando o silêncio.
- Bem, , estava bem cansada e não demorei a cair no sono - respondi.
- Eu queria te pedir desculpas por ter estragado a sua noite, sei que exagerei nas minhas atitudes ontem – ele disse, abaixando a cabeça.
- Realmente, você exagerou. – Me mantive firme. – Não gostei absolutamente nada da maneira que você falou comigo e principalmente das suas tentativas de me controlar, usando força física – eu disse séria. – Eu fiquei assustada pra falar a verdade.
- Eu sei que agi muito mal, e por isso estou aqui te pedindo desculpas – ele disse, pegando uma de minhas mãos e dando um beijo. – Me dê a chance de me redimir com você, linda?
- Olha, , ontem eu pensei muito sobre a nossa situação. E depois de pensar bastante, eu cheguei a conclusão que nós não devemos continuar como estamos – disse ainda séria.
- O que você quer dizer com isso, ? - Ele me olhou com os olhos pedintes.
- Estou querendo dizer que acho que deveríamos ficar separados. Evidentemente nós dois queremos coisas diferentes, enquanto eu quero tirar proveito da minha liberdade para curtir esse meu novo momento de vida, você acha que ainda podemos viver a vida que uma dia tivemos juntos. Estamos em um contexto diferente agora, e minha atenção está difusa – disse, apertando levemente a mão dele que segurava a minha. – Acho que não é o momento para investirmos em um relacionamento, preferia que isso acontecesse de forma natural, no melhor momento pra nós dois… Entende?
- Eu sei que agi errado, , mas, por favor, não me tire a chance que tenho de ficar com você - ele pediu suplicante.
- A única pessoa que pode destruir suas chances comigo é você mesmo, – disse, soltando sua mão. – Mas é justamente isso que eu quero impedir.
- Como assim, ? Não estou conseguindo te entender.
- Estamos em momentos diferentes, . Você sabe que gosto de você, mas não é o melhor momento da minha vida para assumir um compromisso. Em contrapartida, é exatamente o que você quer. Não dá pra você ficar fingindo que você lida bem com esse conflito, eu não quero que você fique sofrendo pra ganhar migalhas minhas, você não merece isso.
- Então você não quer mais me ver? - ele perguntou com a voz levemente embargada.
- Não é isso, – disse, sorrindo com ternura. – Só acho que devemos ir com calma, pois estamos em uma situação diferente da que vivíamos. Deixe eu me adaptar, curtir um pouco meu irmão, minha escola, minhas novas amigas, eu sempre quis viver essa a realidade… Preciso me estruturar, organizar os meus estudos, não posso priorizar uma relação agora. Mas temos o mesmo círculo de amizades, vamos continuar a nos encontrar pela escola, eu não vou sumir – disse, colocando uma das mãos sobre a dele. – Só não posso te dar todo o valor que você merece agora.
- Eu entendo seu lado – ele disse com a cabeça baixa e controlando as emoções. – Estou triste, não posso negar, você sabe que te amo e que quero estar sempre perto de você. Mas admiro e agradeço a sua sinceridade – ele disse, me olhando nos olhos. – O fato de você se preocupar tanto assim com meus sentimentos, e querer dar o melhor de si, mostra que os seus sentimentos por mim são genuínos. E nada pode me deixar mais feliz do que isso, apesar da notícia que você está me dando.
- Vai ser melhor pra nós dois, pode ter certeza – eu disse, sorrindo aliviada. – Eu nem mesmo sei como será o meu fim de ano! Vamos deixar as coisas acontecerem, sim?
- Tudo bem, , sou obrigado a concordar mesmo que a ideia de ficar longe de você, de não poder me aproximar de você direito, não me agrade nada. Não posso te forçar a fazer uma coisa que você não quer… Vou deixá-la estudar em paz então, só me prometa que não vai sumir, promete?
- Que isso, , não é como se a gente não fosse se ver mais! - Eu disse, me levantando. – Você fez amizade com meu irmão e com as pessoas que estão próximas de nós. Vamos continuar nos vendo, só não quero continuar forçando essa situação e acabar te machucando, agora vamos, levante – disse, estendendo a mão para ele se levantar também. – Me dê um abraço.

Ele se levantou e me abraçou. Pude senti-lo soltar todo o peso que estava carregando quando me entrelaçou em seus braços. Meu coração ficou apertado, mas eu não podia continuar a enganá-lo da maneira que estava fazendo. Não que eu pretendesse ter outros encontros com Draco ou com qualquer outro, mas por saber bem dos meus próprios sentimentos. Fiquei observando-o sumir em meio as estantes e me voltei novamente para os meus livros, eu ia levar essa coisa de focar nos estudos a sério. Já tinha me dado ao luxo de aproveitar o tempo que tinha tido até agora, para minha adaptação. Mas agora eu realmente tinha que concentrar nisso, já que, pela primeira vez na vida, eu ia fazer os N.O.M.s e não queria decepcionar Dame Perenelle, por todos os anos que ela dedicou a me ensinar em casa. Mantendo-me mais quieta, tinha menos chances de me esbarrar com Draco fora os horários de aulas conjuntas e nas refeições, eu não teria que me sujeitar a tortura que meu inconsciente criava cada vez que eu lembrava de tudo.

E gostava de lembrar.

Mantendo-me mais afastada da vida social de Hogwarts, a pouca que existia, talvez eu conseguisse aprender a controlar meus impulsos e dar importância para o que realmente devia ter importância naquele momento.

Harry's POV

Acordei no dia seguinte sem muita noção de quanto tempo havia, de fato, conseguido dormir. A noite havia sido de muitos acontecimentos e novamente eu fui tirado do meu descanso por pesadelos e dores na cicatriz. Acordei pela manhã e, além da costumeira dor na testa, senti uma dor que não era nem um pouco comum em minha vida. Só conseguia me lembrar do quanto Cho havia chorado na noite anterior, com saudades de Cedrico. Eu nunca tive as esperanças muito elevadas com relação a ela, minha coragem veio muito mais dada pelos outros do que de dentro de mim mesmo. Conseguia enfrentar um basilisco sem nem ter conhecimentos prévios, mas não conseguia sequer fazer a garota de quem gostava curtir minha companhia por algumas horas. Troquei-me e desci para o Salão Comunal da Grifinória para esperar o café, e então escutei algumas meninas comentando que minha irmã havia acordado todo o dormitório feminino por causa de um pesadelo. A princípio fiquei em estado de alerta, mas não poderia estar tendo os mesmos pesadelos que eu, afinal de contas, foi pra mantê-la afastada de Voldemort que Dumbledore preferiu que fossemos separados. De qualquer maneira, eu tinha que encontrar minha irmã para que pudéssemos conversar sobre o que tinha acontecido entre mim e Cho no baile, só mesmo ela seria capaz de me aconselhar.
Apesar de tê-la encontrado no salão, disse que o pesadelo não havia sido nada demais e saiu às presas para tomar café da manhã. Eu não sabia muito bem o que exatamente estava incomodando minha irmã, mas eu podia facilmente ver que existia algo. Enquanto eu tomava meu café tranquilamente, a vi praticamente engolir tudo o que estava no prato e sair sozinha do Grande Salão. Terminei de comer e fui até a única pessoa que eu tinha certeza que saberia onde eu poderia encontrá-la.

- , está tudo bem com ? - Perguntei meio inseguro. – Estou a achando tão estranha hoje.
- Ela está mesmo, Harry – respondeu, cruzando as pernas em cima do banco da mesa da Grifinória. – O clima entre ela e não anda muito bom, e ontem no baile também achei que os dois estavam totalmente fora de sintonia. - Ela completou. – Pode ser que tenha acontecido alguma coisa, não sei ao certo. Ela acordou assim, mais quietinha.
- Você sabe com o que ela sonhou na noite passada? – Questionei, voltando a me preocupar.
- Nada demais, não – disse, sorrindo. – Ela não disse, mas fique tranquilo, Harry, que mal pode haver em se ter um pesadelo?
- É, você tem razão… - Concordei, mesmo sabendo que era um simples pesadelo que me causava dores e sensações horríveis. – Sabe onde ela pode estar agora? – Perguntei, mudando de assunto.
- Olha, Harry, não sei se eu poderia estar te dizendo isso, mas como ela é sua irmã, imagino que sua presença vai mudar os ares. Ela está na biblioteca.
- Na biblioteca? - Perguntei surpreso. – O que ela faz lá?
- Não sei, só imagino que seja pra onde uma pessoa carregando livros embaixo dos braços iria pra estudar.

Agradeci e fui andando em direção a parte do castelo onde ficava a biblioteca, e um dos motivos pelos quais eu estava indo conversar com cruzou meu caminho choramingando.

- ? – Disse, parando-o me colocando em sua frente. – Está tudo bem?
- Eu gostaria que estivesse, Harry – Ele disse, tentando disfarçar que limpava algumas lágrimas. – Mas agora vai demorar um tempo até ficar tudo bem.
- Por quê? O que aconteceu? - Olhei bem pra ele e deduzi. - Tem alguma coisa a ver com minha irmã?
- O que mais você acha que me levaria a ficar no estado que estou? – Ele disse, passando as mãos no rosto. - Ela terminou comigo, Harry.
- Olha, não entendo muito bem de relacionamentos, tanto que não consigo sequer ter o meu, mas você e não estavam exatamente namorando, estavam?
- Ah, Harry, por mais que sua irmã não queira dar nome as coisas, para mim nunca deixou de ser um relacionamento, nem mesmo quando estivemos separados. Eu sempre pensava nela e não consegui me envolver com ninguém. Ela foi a primeira mulher que teve importância na minha vida! Foi minha primeira namorada, meu primeiro amor e eu nunca vou deixar de vê-la dessa maneira. - Ele disse emocionado. - Mas foi exatamente essa minha maneira de querer fazê-la enxergar as coisas da mesma maneira que eu que a afastou definitivamente.
- Como assim definitivamente? Ela disse que não quer mais te ver? - Perguntei surpreso.
- Não, muito pelo contrário. Ela disse que vamos continuar a nos ver, ela continuará a estar em vários lugares onde eu estou, só que ela não quer que a gente continue se envolvendo como estamos.
- Puxa, , ainda não tive a oportunidade de conversar com minha irmã depois da noite de ontem – disse, colocando a mão em seu ombro. – Vou conversar com ela e entender o que ela está sentindo, quem sabe não encontramos uma solução?
- A única solução, de fato, será tê-la novamente do meu lado, Harry – disse cabisbaixo.

Fiquei um tanto quanto impressionado com o sentimento de por minha irmã, mas na mesma proporção que ele me encantava, também era um pouco assustador. Mas só saberia me dizer o real motivo dela ter desistido da chance que deu a . Cheguei na biblioteca e fui procurando entre os rostos nas mesas, o que me era familiar, literalmente. Depois de observar as mesas mais da frente, resolvi procurá-la nas mesmas mais afastadas e reservadas.

- Sabia que te encontraria aqui escondida - eu disse, colocando minha mão em seu ombro.
- Harry, meu irmão – ela disse, se levantando pra me abraçar. - Como você me achou? Achei que ninguém viria me procurar na biblioteca, no entanto você já é a segunda pessoa que me acha.
- É, esse é um dos motivos pelos quais eu vim te procurar – disse, me sentando no espaço ao lado do dela. – O que aconteceu entre você e , ? Vocês me pareciam estar tão bem juntos…
- Como você já sabe disso? - Ela me perguntou, visivelmente surpresa.
- Me encontrei com ele no caminho para cá… Ele estava arrasado, nem teria me visto se eu não tivesse me colocado à sua frente. Nunca pensei que fosse ver um cara como ele chorar. Por que você terminou com ele, ?
- Harry, entenda uma coisa, o que eu estava vivendo com não era um namoro. A questão era justamente essa. Eu estava dando uma chance pra gente, mas ninguém assumiu nenhum compromisso e quando conversamos, eu fui bem clara com ele a respeito disso. Não se pode terminar o que nem começou. - Ela explicou. – O erro dele foi transportar essa situação pro passado, quando namorávamos de fato. Sempre sonhei com a minha realidade atual, Harry, quero conhecer as pessoas, viver as novas experiências, me sentir livre. Um relacionamento agora me prenderia em uma determinada rotina e me limitaria de várias maneiras, e não é isso que quero pra mim nesse momento.
- Eu não entendo muito bem, nunca tive uma namorada, mas imagino que surjam algumas limitações… Mas então quer dizer que as chances dele com você acabaram?
- Sinceramente vou te dizer que não sei, meu irmão. Eu realmente não quero ter que ter esse tipo de preocupação, esse tipo de compromisso. Não quero que as coisas se tornem uma obrigação, um fardo. Prefiro preservar minha boa relação com do que desgastá-la, insistindo em uma coisa que não é o que meu coração verdadeiramente quer.
- Isso tem alguma coisa a ver com o outro cara? - Perguntei hesitante.
- Um pouco. Mas eu já disse a você uma vez, Harry, o outro cara está totalmente fora de cogitação. - Ela respondeu meio ríspida.
- Eu gostaria de entender por quê, mas se você sequer quer mencionar o assunto, você não vai me contar quem é. - Vendo a negativa que ela fez com a cabeça, continuei. – Mas eu quero que saiba, , não se impeça de ser feliz por minha causa, a única coisa que posso deduzir é que eu conheço essa pessoa, e eu quero que saiba que não tem o menor problema você se envolver. Mesmo que seja um amigo meu!
- Como você mesmo já notou, eu não quero falar sobre esse assunto, o outro cara está fora de questão – ela disse, me cortando. - Mas e você? O que te trouxe aqui pra falar comigo em primeiro lugar? Espera, nem preciso perguntar… Cho? - Ela disse, respondendo a própria pergunta.
- É… - Eu me limitei a dizer timidamente.
- O que aconteceu na noite passada? - Ela perguntou, virando seu corpo na minha direção.
- Estava tudo bem até a hora que todas vocês foram ao banheiro juntas, assim que vocês voltaram, Cho caiu em um choro que não cessava. Me senti o cara mais idiota do mundo, , ela chorando e eu ali sem poder fazer nada, limpando suas lágrimas. Lágrimas que eu sei que eram por causa de outro…
- Poxa, meu irmão, que chato – ela disse, colocando a mão em meu ombro. – Mas é preciso que você a entenda. Não faz nem um ano que Cedrico se foi, e no ano passado, na mesma ocasião, eles estavam juntos. Se você realmente gosta dela, terá que ter paciência.
- Eu só quero saber o que estou fazendo de errado!
- Nada, Harry – ela disse, dando uma risada. – Você está fazendo tudo certo, respeitando os limites dela e sendo paciente, até enxugando as lágrimas e dando forças a ela numa situação que te enfraquece. Mas, no caso de vocês, só mesmo o tempo pra curar as feridas do coração e dar espaço pra novos sentimentos crescerem. Ela gosta de você, Harry, eu vejo que gosta, – ela ponderou – mas ainda não sei se está sentimentalmente preparada pra se envolver novamente agora.
- E o que eu faço? - Perguntei confuso.
- O que você está fazendo! Ela faz parte do nosso círculo de amizade e está na AD, você tem mil oportunidades para estar perto dela. Aproveite essas oportunidades e vá com calma, fortaleça a amizade que vocês já tem e tenho certeza que ela acabará por não resistir.
- Você sempre sabe o que me dizer, não é? – Disse, sorrindo pra ela. – O que eu fazia da minha vida antes, sem você?
- Você só precisa viver experiências, Harry, logo mais será você me dando conselhos – ela disse, dando um sorrisinho meio triste.
- Mas e você, ? O que vai fazer agora?
- Agora eu vou curtir a minha vida, Harry, me focar em meus estudos e investir nas minhas novas amizades. Vou me centrar nas duas pessoas mais importantes da minha vida, eu mesma e você!

Abracei-a. sempre me parecia muito certa de suas decisões e a serenidade com a qual ela me comunicava suas escolhas acabava me deixando tranquilo também. Levantei-me do banco e me despedi, tinha um treinamento de Quadribol pra comparecer e se estava com o foco em seus estudos, eu não ia continuar ali, atrapalhando-a. Fui caminhando até o campo pensando nas coisas que minha irmã havia me dito sobre minha situação com Cho, e como sempre ela tinha razão. Há menos de um ano, eu vi Cedrico morrer diante dos meus olhos, e o desespero de seu pai e dela quando notaram que ele estava morto. Eu precisava dar tempo ao tempo.



Continua...



Nota da autora: (18/01/2016) Sem nota.




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