Em Andamento: 22/11/2020

Prólogo - Parte Dois

2012. Manhattan, NY 10036, EUA.


Nova York sempre fora um de seus lugares favoritos no mundo todo. Esta cidade é gigantesca até mesmo para padrões de níveis mundial. Já havia visitado muitas outras metrópoles ao redor do mundo e nenhuma se comparava à sua cidade natal. Especialmente a ilha de Manhattan.
Manhattan é o distrito mais poderoso da cidade. De três milhões de pessoas que viviam em Nova York, dois milhões delas estavam em Manhattan. Foi este o lugar onde nascera, crescera e desenvolveu parte de sua vida.
Pode-se dizer que havia feito parte da evolução daquele lugar tanto quando o lugar havia feito parte da sua própria evolução, regada de uma cultura que se construiu por conta de valores nova-iorquinos e os efeitos da cidade grande.
Portanto, era de se esperar que conhecesse cada estabelecimento, cada esquina, cada semáforo, cada rua e grande parte das pessoas que frequentavam os arredores do bairro onde morava e do laboratório onde trabalhava.
No entanto, agora quando caminhava por aquelas ruas, que permaneciam com os mesmos nomes de 68 anos atrás, não reconhecia mais nada. Nenhum dos estabelecimentos ou as pessoas que trabalhavam neles, nenhum dos moradores e, definitivamente, a arquitetura do lugar. Uma mistura do clássico com um modernismo exagerado.

Isso deixava-a completamente frustrada.
Ela amava a antiga Nova York.
Tudo estava tão diferente desde a última vez que esteve presente por aqueles ares.


Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, qual ela não pôde presenciar, Nova York foi afetada por inúmeros problemas. Poluição do ar e da água, ataques terroristas aos seus centros financeiros, congestionamentos em ruas, vias expressas, rodovias e no sistema de transporte público, falta de casas e apartamentos de baixos preços para pessoas de baixa renda mensal e alta taxa de criminalidade.
Contudo, apesar de todos os problemas, também teve grande evolução tecnológica, cientifica, artística e financeira. O que aumentou sua procura e tornou o lugar triplamente mais populoso e repleto de pessoas medíocres que só se importavam com suas vidas particulares e ascensão financeira em suas carreiras.
Os habitantes de agora não sabiam como antes era tão mais estimada e preservada a boa convivência, educação e a gentileza. A cidade era completamente respeitada tanto por aqueles que moravam ali quanto pelos que a visitavam.
Atualmente a cidade é conhecida ao redor do mundo como “a cidade que nunca dorme” que realiza sonhos de empresários, modelos de lingerie e banqueiros.

não os culpava, afinal, muito tempo se passara desde quando tudo era ouro e as pessoas eram menos hipócritas. Mas...

v Gostaria de algo que a provasse que, apesar de todas as mudanças, ela ainda poderia chamar aquela cidade de lar.
Alguns monumentos continuavam os mesmos, sendo restaurados para preservar a arquitetura clássica de época. Assim como, por exemplo, a ponte Brooklyn Bridge.
Este era um de seus lugares favoritos em Nova York. Quando jovem, a mulher costumava visita-lo e observar os barcos e balsas fazendo a travessia no rio East de Manhattan até o Brooklyn e o Queens.
Independente dos milhares de turistas que visitam a ponte diariamente ela adorava cruzá-la a pé. Lá os ventos frescos que vinham do Leste sopravam seus cabelos e a deixava tranquila, a ponto de resolver quaisquer questões frustrantes sobre seus inúmeros projetos estudantis e medicinais.
Fora o lugar onde, também, fora pedida em casamento pela primeira vez.
Ao se apoiar nos ferros da ponte e curvar-se para observar o rio atentamente, recordou-se claramente de James se ajoelhando e declarando seus sentimentos por ela na noite de seu primeiro encontro formal.

“Está louco?” Recordou dizer. “Howard nunca permitiria”.
“Falaremos com ele, então” James disse simplesmente, solucionando a questão.


Se ela soubesse naquele tempo o que aconteceria com ambos, não teria hesitado tanto em aceitar o pedido do rapaz e declarar seu amor por ele.

Arrependia-se tanto por isso.
Agora toda aquela hesitação e medo parecia tão bobo e supérfluo.
Arrependia-se de não ter se declarado todas as vezes que teve a oportunidade a todos aqueles os quais amava e falado o quanto eram importantes para ela.
No entanto, tudo isso estava agora no passado.
Ela não tinha como reverter aquela situação.
E tudo o que lhe restava eram as lembranças.
E o aprendizado.


Para que não cometesse erros os quais cometeu no passado com aqueles presentes no hoje.
Quase deu um salto pelo susto que levou quando o objeto no seu bolso traseiro apitou, em uma sintonia rítmica que fazia-a revirar os olhos. Não suportava aquela musiquinha.
Quando tirou o objeto denominado “celular” do bolso vislumbrou a foto de seu sobrinho na tela, piscando como se não tivesse chamado a atenção o suficiente. Deslizou o dedo sobre a tela para acabar logo com aquele toque incessante.
- Oi Tony.
- Onde diabos você se meteu? – a voz encorpada e grave de seu sobrinho grunhiu pelo aparelho. – Achei que ia dar um auxílio na estrutura elétrica da torre Stark.
- Eu já vou, só sai para respirar um ar fresco – explicou com um sorriso fraco no rosto.
- Ah, é – suspirou desconcertado. – Nova York traz lembranças, certo?
- Muitas – soprou.
Antes que a voz do rapaz voltasse a falar, o toque irritante qual indicava uma chamada, soou novamente. Ela tirou o aparelho do ouvido para verificar e na tela indicava que recebia outra ligação de um número “desconhecido”.
- Tony, tenho que desligar. Daqui a pouco eu apareço por aí.
- Na volta traz para mim um shawarma¹. Tem uma lanchonete na Wall Street...
- Sim, sim, eu levo – e desligou sua chamada rapidamente para acabar com aquele toque estridente. – Alô?
- Estou falando com a Senhorita Stark? – uma voz masculina indagou do outro lado da linha.
franziu o cenho em confusão. Não haviam muitas pessoas que tinham seu número de telefone além de Tony, Pepper, Happy e, claro, J.A.R.V.I.S.
Ainda assim, decidiu responder: - Sim, é ela. Quem é?
- Aqui é Nick Fury - a voz se apresentou, fazendo-a reconhece-lo automaticamente. O órgão em seu peito acelerou consideravelmente. – Precisamos da sua ajuda.
- Não – respondeu de imediato, logo se arrependendo da precipitação. – Desculpe Nick, não posso te ajudar. Agradeço a ajuda que você me deu me trazendo até o Tony assim que eu voltei – Ela mordeu os lábios inferiores ao responder. – A vaga de projetista de armas que me ofereceu há um ano é interessante, mas eu passo. Obrigada – Disse sorrindo entre dentes para o além.
- É a respeito de um outro assunto. Um que tenho conhecimento que lhe interessa.
- Fury - respirou fundo. – Eu realmente agradeço de coração por tudo o que você fez. Pelos arquivos de Howee sobre o novo elemento que salvou a vida de Tony, entre outros, sou eternamente grata. Mas eu não tenho interesse em fazer parte da sua organização de agentes secretos. Portanto, passar bem – e apertou a tela, desligando a ligação com pesar.
Nick Fury é o diretor da S.H.I.E.L.D., uma empresa com objetivo de realizar a contraespionagem e manutenção da lei. Foi fundada por Howard e alguns parceiros depois do fim da Segunda Guerra Mundial, conscientizada pela ONU e financiada pelas potências da OTAN. É destinada a proteger todo o planeta de ameaças de grande porte.
A companhia tem grande influência internacional e têm a confiança dos líderes de diversos países, ao arquivar os mais diversos tipos de segredos nacionais. É constituída por mais de mil agentes secretos quais trabalham arduamente pela proteção de civis.
Fury fora a primeira pessoa que a encontrou quando retornou e estava completamente desorientada. Ele sabia quem ela era e a deu o apoio necessário, afinal, ele é o principal responsável por manter a paz que hoje reinava ao redor do mundo.
Não podia negar, estava orgulhosa da vida que Howard teve e tudo o que construiu depois que ela foi embora. Mas era demais para ela estar em um ambiente qual as lembranças dele eram tão vívidas. Já bastava as Indústrias Stark.
Porque doía.
Deus, como doía.
Doía saber que ele já não estava presente como muitos outros que fizeram parte de sua vida passada.
Exceto por Peggy, quem ela descobriu estar viva assim que retornou à Nova York e mantêm contato frequente. Apesar da amiga estar bem mais velha e menos disposta desde 1944, seus conselhos ainda eram muito válidos.
Assim, ela guardou o telefone de volta no bolso e voltou a observar os barcos no rio.
Menos de um minuto depois, o ranger de um pneu sendo gasto no asfalto soou muito próximo a ela. Fazendo-a virar-se para a rua, espantada.
Parado atrás dela estava um carro preto blindado e de lá saiu a figura incomum que era Nicolas Fury.
- É uma situação urgente. Precisamos de você – ele disse ao se aproximar da jovem.
- Não precisava vir até aqui, minha palavra continua a mesma que a das quinze vezes que você tentou me contatar.
Nick Fury respirou fundo e indicou o carro com a cabeça: - Uma conversa particular, por favor?
As pessoas ao redor deles olhavam-nos intrigadas. Como se fossem um tipo de atração turística da ponte. Afinal, um homem com um tapa olho e inteiramente trajado com vestes pretas não se via todo dia.
Mas aquilo não a intimidava: - A resposta continuará a mesma.
Nick Fury olhou ao seu redor vagarosamente antes de suspirar e murmurar em sua direção: - Uma equipe de uma empresa de petróleo estava fazendo uma exploração no Ártico. Curiosamente onde eles queriam montar a nova sede estava estagnada uma nave não identificada. Há dezoito horas a S.H.I.E.L.D foi ao local e identificou a nave... como uma das Valquírias².
sentiu seu coração petrificar imediatamente. Engoliu em seco.
- O encontraram.
O soar das palavras que saíram da boca do diretor fizeram com que ficasse ofegante imediatamente.
- Precisamos que você venha conosco e faça...
- Acha mesmo que eu conseguiria? – soprou com os olhos já marejados, cortando Nick. – Fazer reconhecimento do corpo dele?
voltou à sua realidade havia dois anos e desde então tem tentado se acostumar com todas as perdas que teve e Steve Rogers era uma delas. Um amigo que se tornou próximo em pouco tempo e mostrava-se tão leal que se sacrificou pelo bem de toda uma nação.
Há anos os profissionais tentam encontrar a nave qual ele estava e se perdeu no mar. Mesmo Howard enquanto vivo tentou encontra-lo. Até alguns dias, seu status era de desaparecido e agora, finalmente o encontraram.
Mas não conseguiria vê-lo desfalecido.
- Nick... eu não sei se consigo vê-lo dessa forma – suplicou com a voz vacilante.
- Preciso informar que a nave fora encontrada com o seu tripulante ainda em vida.

Aquelas palavras silenciaram todos os ruídos do ambiente ao seu redor.
Tudo ficara em completo silêncio.
sentiu o mundo parar naquele instante.
Ela enxugou o resquício de lágrimas e mirou Nick Fury.
- O que foi que disse?
- Ele está vivo.

-x-


As pálpebras se abrem vagarosamente revelando os belos olhos azuis.
Estes foram despertados pelos ruídos de palavras distantes.

Bola curva, alta e fora.


O rapaz piscou os cílios louros algumas vezes consecutivas e sua visão fora aos poucos adaptando-se com a claridade do ambiente.
A voz masculina que parecia estar longe no começo, gradualmente foi se aproximando e tornando-se cada vez mais clara.

O Dodges empatou, 4 a 4.


Steve tentou se orientar quando sua visão finalmente se tornou nítida e evidenciou que estava em um quarto de paredes amareladas do que deduziu ser de um hospital.
Identificou que seu corpo estava deitado sob uma maca, coberto com lençóis macios e brancos. Ao seu lado encontrou algumas aparelhagens médicas como recipientes com medicamentos, agulhas, algodões e alguns fios ligados a máquinas que monitoravam seus batimentos cardíacos.

A multidão sabe que um movimento do taco dele é capaz de mudar o jogo todo.



Sua cabeça latejava e a temperatura de seu corpo parecia abaixo do considerado saudável. Sua boca estava levemente dormente e amarga.

Está um dia maravilhoso aqui em Ebbets Field.



Respirou fundo ao constatar que algo realmente estava errado naquele conjunto de informações recentes quando de repente lembranças de seus últimos momentos consciente invadiram sua cabeça, deixando-o levemente caótico.

O Phillies conseguiu empatar em 4 a 4.



Ele ergueu a cabeça e olhou o ambiente em volta com mais atenção. Notou estar sozinho.

Mas os Dodgers tem 3 homens nas bases.


Aos poucos o homem foi tomando consciência de todas as partes do seu corpo, movimentando-as levemente e causando formigamento em seus membros principais dada a falta de movimentação prolongada.
Ergueu-se devagar e desconectou os fios ligados ao seu corpo num puxão só.

O Pearson golpeou o Reiser no mês passado.


Já sentado, ele notou as roupas que estava trajado. A camisa branca com um símbolo do exército militar dos Estados Unidos e calça camurça, pouco mais larga que seu corpo. Não se lembrava de tê-las vestido.

Será que o rapaz vai querer retribuir o favor?
Pete se inclina para atirar a bola.
Rebateu. Uma bola rasteira. Passa direto pelo Rizzo.


Ao se atentar às informações que a voz do rádio posto sob o móvel ao seu lado pronunciava, sentiu-se um pouco confuso.
Sons de buzinas de carros ao lado de fora do prédio chamaram-lhe a atenção. Através da janela, constatou estar em uma cidade repleta de prédios altos e movimentação constante.
A multidão grita no rádio, desviando sua atenção.

Serão mais 3 pontos.
Raiser vai para a 3ª base. Durocher acena para que corra.
Passada de bola, mas não vão tirá-lo.


A porta do quarto se abre e por ela passa uma mulher de cabelos vermelhos, rosto jovial e pele pálida, trajada com o uniforme militar.
Ela sorri gentilmente ao constatar que ele estava acordado.
- Bom dia – ela diz ao fechar a porta. E, ao conferir o relógio no pulso, se corrige: – Ou devo dizer “boa tarde”?
- Onde estou? – ele indagou sem rodeios.
- Num quarto de hospital em Nova York.

Os Dodgers lideram, 8 a 4.
Oh, Dodgers!
Todos estão comemorando.


Steve franze o cenho, refletindo sobre os recentes acontecimentos e tentando concluir alguma explicação plausível.

Que jogo tivemos hoje, pessoal!


- Onde estou de verdade? – ele questiona à mulher, que sorri antes de responder:
- Acho que não entendi.
- A partida – ele cita, indicando o rádio com a cabeça. – É de maio de 1941. Eu sei porque eu estava lá.
A ruiva fica aturdida e o sorriso acolhedor desaparece de seu rosto em instantes.
Steve se levanta da maca vagarosamente.
- Vou perguntar de novo - diz se aproximando da outra, seus nervos tensionados levemente doloridos. – Onde estou?
- Capitão Rogers...
- Quem é você? – ele esbraveja, a interrompendo.
No mesmo instante, dois homens armados adentram o quarto e Steve automaticamente se coloca em alerta. Eles ameaçam ir para cima do rapaz que joga os dois homens recém-chegados contra a parede. Ela se quebra, revelando que atrás dela, ao invés de corredores de um real hospital, estava, na realidade, um grande estúdio.
Steve fica ainda mais confuso.
- Capitão Rogers, espere! – a ruiva esbraveja, mas ele não dá atenção. Sai correndo atravessando todas as portas que poderia leva-lo a uma saída.
A um certo ponto, ele entra em um hall repleto de pessoas. Umas caminhando, outras conversando distraidamente. Todas trajadas de ternos e gravatas de aparência exorbitantes e carregando maletas. Quando notam sua presença, se assustam.
Pelo alto falante uma voz anuncia: Repetindo. Todos os agentes, código 13!
Ao se darem conta da situação, algumas das pessoas correm de encontro a Steve, que foge para fora daquele lugar antes que pudessem o alcança-lo.
Alguns deles tentam faze-lo parar, mas ele derruba todos sem dificuldade alguma antes que possam segurá-lo.
Já na rua, ele olha a sua volta e seu peito congela.
Prédios em formatos estranhos e carros de cores e modelos quais ele nunca havia visto por toda a sua volta. As pessoas que caminhavam nas calçadas, usando roupas curtas e de modelos diversificados quais ele não estava familiarizado assustaram-no ainda mais.
Assim, continuou correndo no meio da rua por entre aqueles carros anormais.

Ele tinha que sair daquele lugar estranho.


Ao virar em uma rua específica ele nota o compilado de prédios ao seu redor.

Mas aquela era... ele pensou. Não é possível!


A confluência mais conhecida de Nova York e cruzamento de duas grandes avenidas mais famosas do mundo estava completamente reconfigurada. Com diversos letreiros coloridos e vibrantes de imagens que se moviam espalhados pelas faixadas dos prédios e centenas de metros quadrados superlotado de pessoas andando para todos os lados apressadamente. Não era daquela maneira que ele se lembrava da Times Square.

Ele mirou ao seu redor.
Tudo estava mudado!


Em questão de instantes, dois carros pretos pararam bruscamente na frente de Steve e de lá saiu um homem alto, de pele morena, roupas pretas e que usava um tapa-olho no olho esquerdo.
Ele esbravejou: - Descansar soldado!
Outros homens armados o acompanharam e cercaram Steve, que ainda se encontrava completamente desnorteado.
O homem do tapa-olho se aproximou.
- Me desculpe pelo showzinho lá dentro, mas achamos melhor ir contando aos poucos – disse o homem.
- Contar o que? – indagou o loiro ofegante.
O homem indicou com a cabeça um lugar atrás de Steve como resposta. E ao se virar, ele quase engasga ao constatar que ali estava . Aparentemente tão chocada quanto ele.
Ela vestia calças jeans rasgadas nos joelhos, uma regata da cor preta e um casaco igualmente jeans. Nada parecido com as roupas quais costumava usar. Notou também seus cabelos castanhos escuros estarem compridos, soltos e desarrumados, sem nenhum tipo de grampo os moldando.
Parecia a que ele conhecera e ao mesmo tempo uma pessoa completamente diferente.
- Steve – ela soprou estupefata.
- ? – indagou com a boca seca.
A mulher se aproximou lentamente e tocou-lhe o rosto. Steve se retraiu minimamente ao contato de suas peles e aos poucos foi se acalmando. Seus batimentos se regularizaram e a cabeça não latejava mais.
- O que está acontecendo? – ele murmurou.
umedeceu os lábios antes de recolher sua mão e sorrir para o amigo.
- Você andou dormindo, Steve.
- Dormindo? – repetiu com o cenho franzido.
- Por quase 70 anos.
O rapaz fora atingido com a notícia em cheio, respirando fundo para poder assimilar aquelas novas informações.

O gelo.

Recordou-se de mirar o mar congelante do Ártico antes de apagar completamente.
- Você está bem? – indagou o homem do tapa-olho, notando sua falta de palavras.
Steve assentiu e mirou novamente, juntando suas mãos às dela e suplicando com os olhos em um pedido silencioso.
sentiu seu coração doer. Ela sabia exatamente pelo o que ele estava passando. Conhecia aquela sensação como ninguém. Sentir como se estivesse preso em um pesadelo, o qual não conseguia acordar. Sozinho, em um lugar desconhecido, fora de si.

Aquela sensação a aterrorizou por muitos anos.
Ainda a amedrontava, aliás.


- Não se preocupe, - apertou suas mãos contra as dele – eu não vou te abandonar!
Já afastados das ruas, em um lugar mais privado e confortável cedido pela S.H.I.E.L.D., estavam e Steve frente a frente debatendo sobre alguns assuntos importantes.
- Você foi congelado, seu corpo foi conservado por conta do soro. Você sobreviveu todos esses anos porque o soro revitalizou todas as suas células por todo esse tempo – a mulher explicou. – O que é realmente impressionante, porque não sabíamos da potência dessa regeneração com a quantia de raios vita que você recebeu.
- Isso é loucura – Steve comentou rindo anasalado.
A tensão já havia se dissipado uma vez que eram apenas os dois velhos e bons amigos. Steve se sentira mais confortável, fora somente preciso 5 minutos de conversa para constatar que aquela realmente era a sua amiga.
- Nem me fale - riu, analisando os exames que os médicos da S.H.I.E.L.D haviam feito no rapaz. – Põe loucura nisso.
Steve deu um gole na água do copo em suas mãos antes de indagar:
- Quanto ao Howard?
sorriu tristonha e seus olhos se encheram de água automaticamente.
- Morreu já tem alguns anos – ela soprou com a voz engasgada. – Acidente de carro. Ele e a mulher não sobreviveram.
- Eu sinto muito, – disse verdadeiramente, pousando a mão sob o ombro da amiga.
- Fiquei sabendo do James também – ela fungou, segurando-se para não chorar novamente pelo mesmo motivo. – Morreu na missão para me resgatar.
- - ele se levantou e se aproximou para abraça-la. – Não foi sua culpa.
- Foi sim – soltou engasgada. – Você sabe que foi.
- Ele não aceitaria ficar em casa sabendo que você corria perigo – Steve explicou, afastando-se e limpando as lágrimas que escorreram pelo rosto da mulher. – Nenhum de nós aceitaríamos ficar parados enquanto você estava lá. Não há nada que poderia ser feito para impedir isso.
respirou fundo, controlando o nó em sua garganta.
Parecia ainda mais intenso agora que Steve estava ali, sofrendo as perdas com ela.
Procurando mudar de assunto, o louro indagou: - Quanto a você, o que aconteceu?
- Desde que voltei tenho trabalhado com Tony - ela sorriu ao recordar do homem. – Ficaria impressionado com a semelhança. Ele é a cópia do Howard.
- Howard teve filhos? – questionou surpreso.
- Teve. Um. – Revelou sorrindo. – E ele é maravilhoso, Steve. Vai adorar conhece-lo.
- Aposto que vou.
- Ele é um pouco excêntrico, e por vezes vai querer estrangular ele.
- Então ele realmente é filho do Howard – ambos riram.
- Mas é uma boa pessoa e tem um bom coração – ela disse com um sorriso terno nos lábios.
- Creio que sim – concordou.
- Nossa - ela soprou, refletindo sobre os últimos anos. – Tenho tanto o que te contar.
- Que tal começar explicando o que aconteceu depois que nos desencontramos na base de Schmidt? – sugeriu. – Você não envelheceu nada desde então. Isso foi efeito da explosão?
- Sim e não ao mesmo tempo – ela sorriu para a careta confusa que o amigo fez. – Bom, tudo começou quando...


¹ É um prato originalmente do oriente médio, composto de fatias finas de carne de carneiro ou frango, assada em um espeto vertical e servidas no pão árabe com legumes, homus (pasta de grão de bico), labneh (espécie de coalhada parecida com iogurte grego) e outros acompanhamentos.
² As Valquírias foram aviões de bombardeiro avançado usadas pela HYDRA durante a Segunda Guerra Mundial. Foram nomeados desta forma em homenagem as Valquírias da mitologia nórdica, quais serviam Odin.


2.1 - Sacerdotisa

Ano terrestre: 1960. Ponto de salto, Vênus. Via Láctea.


Aquele vácuo imenso de escuridão em conjunto com diversos tipos de corpos celestes, quais reluziam parcialmente toda sua extensão ou formavam linhas luminárias em suas órbitas, eram corriqueiros para os inúmeros seres vivos que por aqueles locais transitavam.
Em suma, existem inúmeros corpos celestes, entre eles asteroides, cometas, estrelas, meteoroides, satélites, planetas, buracos negros, entre outros. Os indivíduos divagantes os reconhecem a anos luz de distância, dada a tecnologia de seus meios de transporte com a função de os protegem de prováveis ameaças do espaço sideral.
No entanto, quando se surge um corpo de diferente estrutura molecular, é necessária uma inspeção próxima para que seja feita o reconhecimento. Este não pode ser identificado previamente, logo sua existência é impossível de ser alertada.
Em uma das suas visitas secretas à Urano Ayesha, a sacerdotisa da raça dourada, nota um corpo não-identificado vagando entre a orbita de Vênus e o ponto de salto1 do mesmo nome. Intrigada com a forma do corpo ela ordena seus súditos recolherem a peça de matéria consistente.

- Provavelmente é lixo sideral, majestade – um deles disse.

- Não estou perguntando o que é, estou ordenando que o recolham – disse a líder fazendo com que automaticamente eles se calassem e cumprissem o que lhes foi determinado.

O corpo foi posto em uma mesa exploratória e o algoritmo2 dá-lhes o diagnóstico em poucos instantes:

- Sujeito ativo não-identificado com sinais vitais consistentes; Raça: terráqueo; Gênero: Feminino; Classificação: Sobre-humana. Atributos primários: Absorção de energia, durabilidade, força – relevou a voz robotizada do algoritmo.
- Uma terráquea com habilidades sobre-humanas? – um dos súditos debochou. – Desacredito que eles possam criar algo como igual. São seres primários.
- Obviamente temos a prova do que são capazes – a sacerdotisa repreendeu. – Nunca julgue a capacidade de uma raça por seus primórdios, você mais que ninguém deveria saber disso.

O súdito se encolheu amedrontado.

- O que faremos com isto, majestade? – indagou outro com desprezo. – Desconheço no que pode vos ser útil.
- Vocês não têm de compreender, desde que eu ordene têm de unicamente obedecer – ela grunhiu. – E eu quero esta terráquea. Sua durabilidade e absorção de energia a guardou sabe-se-lá quanto tempo vagando pelo vácuo, coisa que muitos de vocês não aguentariam segundos.

Ayesha tocou a face congelada da terráquea vagarosamente. Sob sua pele havia uma leve camada de energia cósmica3 de fonte desconhecida conservando sua integridade.
Ela observou seus cabelos desordenados de coloração castanha, trajes rasgados, sujos e cobertos de sangue seco. Contudo, não identificou nenhum sinal de hematomas ou cicatrizes. Tentou imaginar o que poderia ter acontecido a este ser.

- Esta é a razão de toda a minha existência – Ayesha declarou com um sorriso estampado no rosto. – Finalmente encontrei meu propósito. Ela.

Ao passear com a mão sob a pele do braço da terráquea notou que em dos dedos da mão direita, estava um anel metálico com uma pedra vermelha em destaque. Tirou-o e aproximou-o de seus olhos, observando-a atentamente.

- Livre-se disto – ela ordenou, depositando o anel nas mãos de um dos seus súditos, que logo deu-lhe as costas para cumprir o que lhe fora mandado.
Os indivíduos então seguiram para seu planeta, onde todos os seus seres vivos eram característicos por sua pele dourada e tamanho senso de superioridade.
Cada integrante daquele conjunto habitacional é geneticamente alterado, criados por si mesmos como uma espécie perfeita e autossustentável. Toda a sua estrutura provinha de ideais um único ser, qual designava todo o processo de acordo com preceitos narcisistas.
Ayesha.
Ela provinha de poderes maiores e significativos e com seu manuseio de energia cósmica sideral gerava berços, quais programavam essa energia e as convertia em matéria existente de consciência acoplada.
Porém, todo o seu conhecimento e experiência nunca puderam dá-la o ser completo que tanto idealizara em sua mente. Ela queria uma criatura absolutamente perfeita, com habilidades infinitas a qual mudasse toda uma existência e superasse a todos os seres já criados por todo o espaço e seus confins.
E com esta terráquea ela finalmente poderia realiza-lo.
Logo que a nave pousou no solo de Sovereign, Ayesha desembarcou seguida de seus súditos quais carregavam a terráquea desacordada. Seguiu diretamente ao seu laboratório.

- Ponham-na na cápsula embrionária suprema – ordenou apontando a maior caixa dourada, em formato de casulo, carregada de energia das baterias Anulax4.
- Saiam! Agora! – Ayesha ordenou aos súditos, que de imediato deixaram o lugar.

O corpo foi posto no berço, que se fechou.
Ao acionar o comando, suas vestes rasgadas foram incineradas e os cabelos soltos. Em seguida um líquido pastoso passou por todo o corpo, higienizando-o rapidamente.
Raios solares inautênticos projetados pelo casulo aqueceram-na, dispensando a utilidade da camada de energia cósmica de defesa que a protegia da temperatura extremamente baixa do vácuo e revitalizou o funcionamento solo da estrutura interna, despertando o corpo do coma induzido.
Uma malha fina e dourada foi vestida ao corpo. Esta cobriu toda a extensão do corpo, exceto mãos, pés e cabeça.
Ao acionar outro botão no painel de controle de vidro, tubos sintéticos surgiram das laterais da cápsula e se fundiram à terráquea. Adentrando em cada célula e inspecionando o que tinha por ali.
O escaneamento deu-se por completo e logo apresentou-lhe toda a estrutura corporal da terráquea. Seus órgãos vitais intactos, estrutura óssea, líquido que os drenavam e o núcleo, de onde agora emanava maior poder.
O corpo era poderoso e resistente e estava inteiramente conservado. Aceitaria sem dificuldades o novo tipo de energia que ela implantaria.
Antes que ela pudesse acionar a indução de absorção de energia de suas baterias para o corpo terráqueo, o painel lhe alertou da retomada de consciência.
Em poucos segundos, a caixa torácica da terráquea se estufou, em uma puxada de ar profunda, e os olhos se esbugalharam. Ela tossiu, pela perfuração do novo ar que adentrava seus pulmões, e retomou a respiração aos poucos, ainda ofegante.
Ayesha deveria tê-la sedado, mas já era tarde.
A terráquea, por sua vez, notou os tubos conjugados ao seu corpo e os repeliu, em uma única rajada de energia de coloração azul.
O monitor relatou à sacerdotisa que a energia mais poderosa era proveniente de suas mãos.
Assustada por estar presa a uma caixa dourada a terráquea cerrou o punho expandindo os raios azuis energizados e as portas da cápsula explodiram. Voando estilhaços a metros de distância, sem que ela precisasse ao menos tocá-las.
A terráquea olha ao seu redor e nota estar em uma espécie de sala com controles tecnológicos avançadíssimos, algo que nunca havia visto antes. Um ambiente de estrutura completamente branca com painéis em telas de vidro e centenas de casulos dourados com iluminação também dourada espalhados pelo local.
Ela observa também que atrás do maior painel de controle está um ser alto, magro, de estrutura corpórea feminina, com trajes intrigantes e pele inteiramente dourada.
Ela permanece petrificada como olhar sob aquele ser estranho. Mal conseguia respirar.
Ayesha hesitantemente movimentando as mãos em sua direção, dizendo: - Você está sob os cuidados dos soberanos, terráquea. Não têm o que temer.
Contudo a outra desperta de seu transe com os balbucios que saem de sua boca e estica a mão ofegante, ameaçando disparar. Ela estava completamente aterrorizada.

- Como ousa... – e antes que a sacerdotisa terminasse a frase, o jato de raios azuis a lança através das paredes de vidro.

Isso dá a terráquea tempo de fugir.
Ela olha ao seu redor e não nota nenhuma saída, então aproxima-se das paredes e passa a tocá-las. Assim que sua mão encosta na parede branca, essa abre uma espécie de abertura e revela outro cômodo e assim por diante até que ela avança para o ambiente exterior.
Em sua volta um lugar completamente excêntrico tornou a assustá-la, seus olhos ardem pela claridade de um sol da coloração vermelha. Quando sua visão se torna funcional ela vislumbra o que parecia uma cidade, com arranha-céus de estrutura estranha na cor branca, casas com paredes de vidro, arvores de folhas douradas, rios de água cristalina e seres quais manipulam a mais avançada tecnologia parecidos com aquela à qual ela acabara de atacar.
Eles vagavam a pé ou em caixas voadoras de cor dourada, mas pararam assim que notaram sua presença.
Ayesha surgiu logo atrás da terráquea, estava com os fios dourados dos cabelos desordenados e hematomas no peito.
A terráquea, por sua vez, ignorou o fato de estar em um lugar completamente exótico e torna a correr. Por vezes esbarrando nos seres que a analisavam com olhos curiosos.
Não conseguiu prosseguir por muito tempo. Ayesha manipula os átomos do ar, moldando-os num campo de força impenetrável ao redor da terráquea em forma de uma bolha cintilante.
Ela se aproxima cautelosamente.

- Agora consegue me compreender? – indagou, pronunciando palavras na linguagem terráquea: inglês.

A terráquea, ainda mais assustada, tenta disparar energia contra a bolha.
Sem sucesso.

- Não iremos lhe machucar, criatura! – garantiu a sacerdotisa.

A terráquea evita olhá-la nos olhos de coloração amarela e repensa uma maneira de escapar daquela bolha, tateia sua superfície com as mãos. Ela empurra, puxa e a chuta. A estrutura da bolha é completamente flexível e resistente.

- Estamos em paz! – Ayesha continuava.

Depois de muito relutar e concluir que não sairia dali tão facilmente a terráquea, de forma hesitante, a olha nos olhos.
Está tremula e ofegante, mas não perde a postura desafiadora e estica a mão deixando-a completamente energizada a ponto de disparar mais raios, apontando-a na direção da criatura que tentava contê-la. Ainda que soubesse que seus raios não ultrapassariam a barreira.

- Quem são vocês? Alienígenas? – indaga com a voz engasgada.

Ayesha assentiu desgostosa.

- De certa forma, sim.
- Onde estou? – questionou procurando não se abalar com a informação.
- Está em Sovereign, planeta dos soberanos. Seres impecáveis físico e mentalmente. Sovereign está localizado na décima galáxia denominada Via Cósmica.

Imediatamente a energia que ela concentrava em sua mão se apagou e a terráquea pousa a mão sob a boca, em choque. Seus olhos lacrimejaram, mas ela não permitiu que a lágrima escorresse pelo rosto, secando-a antes que caísse.
Vagarosamente olhou ao seu redor, todos os seres de pele dourada a encaravam curiosos/assustados/surpresos. Focou em dois específicos, um de estrutura corpórea feminina agarrada à um outro menor que a encarava aterrorizado. Supôs serem mãe e filho.
Respirou fundo e abaixou a guarda.

- O que aconteceu comigo? – indaga encarando os próprios pés, estes descalços.
- Estávamos vagando pela Via láctea quando encontramos o seu corpo na órbita de Vênus. Estava praticamente sem vida, os batimentos fracos. A recolhemos e trouxemos para cá para cuidarmos de você – Ayesha explicou.

A terráquea se encolheu, abraçando os braços. Ela tentava buscar lembranças em sua mente que pudessem explicar aquele ocorrido. E, de repente, a imagem de um cubo luminoso de cor azul surgiu.

- O Tesseract – ela murmurou para si mesma.
- Não queremos lhe fazer mal algum.

A terráquea fechou os olhos em pesar. Aquilo não podia estar acontecendo.

- Eu vou libertá-la da bolha, só se prometer que não disparará sua energia em nosso povo – Ayesha disse.

A outra então abriu os olhos e respirou fundo, assentindo levemente, e pôs as mãos acima da cabeça onde ficassem evidentes. O campo ao seu redor foi se dissipando até que sumisse por completo.
Ayesha se aproximou da terráquea e garantiu aos demais: - Ela não vai nos machucar, só estava assustada. Por favor retornem aos seus afazeres.
Um dos membros do conselho se aproximou de Ayesha e a confrontou: - O que diabos isso quer dizer, Ayesha? Socializando com humanos?

- Senhor Mitx, espero que não esteja questionando as minhas decisões.

A terráquea os observou de perto ainda assustada, contudo, mais calma.

- Só espero que não gaste recursos desnecessários com esse tipo de raça – esclareceu desgostoso.

- Não se preocupe – disse ao dar as costas à Mitx e, virando-se para a terráquea, pediu: - Me acompanhe e eu responderei todas as suas dúvidas, terráquea.

A terráquea abaixou as mãos vagarosamente e assentiu, então Ayesha a guiou até um dos rios, com plantas e bancos de vidro ao redor. Sentaram-se em um dos bancos e ficaram ali por um tempo, apenas apreciando a paisagem.
O lugar era pacífico, o que permitia à terráquea pensar com maior clareza.

– Meu nome é Ayesha, sou a alta sacerdotisa deste planeta – apresentou-se. - Você está bem?

A terráquea assentiu levemente, sem olhá-la nos olhos, e explicou: - Só estou em choque. Nós, da terra, sequer imaginávamos vida fora de nosso planeta. Quem dirá planetas com seres conscientes e com uma inteligência totalmente avançada.

- Existem bilhões de seres por este espaço afora, a terra se poupa destes contatos conosco desde os primórdios. A nossa galáxia é uma pequena parcela de tudo o que existe.
- Imagino como tudo poderia ser diferente se soubéssemos.

Ayesha assentiu. Elas voltaram a mirar a paisagem.

- Você consegue se lembrar de quem é e o que aconteceu?

A terráquea enruga a testa, buscando fatos em sua memória que se mostram sem dificuldade alguma.

- Meu nome é Stark, eu sou de Nova York. Fica nos Estados Unidos.
- Vejo dentro de você, é uma das minhas várias habilidades. Já estive na presença de um humano comum antes, mas a sua genealogia é um tanto quanto curiosa.

respirou fundo e deu de ombros ao falar: - Não é como se o governo americano fosse me prender por isso... Eu fui mutada acidentalmente.
Ayesha indicou que ela poderia prosseguir.

- Estávamos desenvolvendo um projeto na terra para acoplar os genes de soldados e transformá-los em seres mais fortes e mais inteligentes. Eu era uma das cientistas envolvidas. Na realização do projeto, tive um contato com os raios vita e o soro da mutação, desenvolvido por outro cientista. Eles acabaram fundindo-se a mim, mutados pela radiação tóxica.
- E isto a permitiu jatos de energia pelas mãos? – indagou curiosa.
- Entre outras habilidades – mordeu os lábios em hesitação. Não sabia se podia confiar em um ser qual ela não sabia quais eram as morais. Talvez esse tipo de revelação poderia coloca-la em risco ou os outros humanos.
- Pude identificar a absorção de energia, durabilidade e força. Está correto? – Ayesha indagou, deixando a outra surpresa.
- Isso – soprou incerta. – A primeira que se manifestou foi a regeneração, meu corpo suporta qualquer tipo de ferimentos ou ameaças. Depois vieram os raios, daí descobrimos que meu metabolismo foi completamente reprogramado de uma forma que eu não envelheça, e então a absorção de energia – disse engolindo em seco, ao se recordar dos jatos de energia do Tesseract que eram atirados em sua direção e a dor que provinha da absorção da descarga desta energia para o seu corpo. Ela não percebia na hora, mas seu corpo se tornava mais forte a cada tiro.
- Isso é fantástico.
- Tem seus lados positivos – deu de ombros. E ao se recordar de um fato, indagou: - Por qual razão eu estava naquele casulo esquisito?
- Estava te despertando do coma. Seu corpo trabalhou durante anos para a conversação contra a ameaça do vácuo. A gravidade zero, temperatura extrema e corpos celestiais deveriam ter te matado, mas seu corpo lhe resguardou. A cápsula embrionária reativou os seus órgãos.
- Por quanto tempo eu fiquei simplesmente vagando por lá? – questionou ao notar seus cabelos que, antes estavam na altura de seus ombros, agora batiam na altura de sua cintura.
- Devido ao estado da sua preservação, eu diria que de sol 3.650 a sol 4.380.
- O que isso quer dizer? – Soltou chocada.
- Ah sim, me esqueci que a contagem do tempo terrestre é diferente – Ayesha ri descontraída e passa a mão no queixo pontudo, calculando mentalmente. – O ano de vocês é de 366 dias com 24 horas cada, certo? – ela indaga e a terráquea assente inconscientemente. A sacerdotisa aperta os olhos teatralmente e não demora a revelar: - Digamos que pode ser de 10 a 12 anos terráqueos.
- O que? – engasgou, pasma.
- Sim, infelizmente nós não costumamos visitar aqueles arredores por conta da temperatura do sol. Vênus está muito próximo do sol de seu sistema solar.
- Isso é loucura. Devo estar sonhando – murmurou chacoalhando a cabeça em negação.
- Sei que é muito para se absorver de uma vez só – disse Ayesha. – Deve estar faminta. Vou pedir para meu povo lhe arranjar alimento e em seguida que tal você ir repousar por um tempo em um dos nossos quartos luxuosos?

-x-


virava de um lado ao outro naquela enorme cama dourada. Os tecidos sedosos de cor também dourada em nada ajudavam a sua mente parar de trabalhar.
O quarto super espaçoso era um tanto que exagerado, comparado aos quartos da terra. As paredes eram neutras em um tom branco-gelo e detalhes em dourado destacavam-se. Os únicos móveis presentes eram a cama e um tipo de poltrona em um formato estranho.
Ela não conseguia parar de pensar nas pessoas da terra. Seu irmão Howard, seus amigos Steve e Peggy, e o grande amor de sua vida, James.

Como deve ter sido o desfecho daquela batalha?
Teriam eles ganhado?
Estariam procurando-a até hoje ou fora dada como morta ou desaparecida?
Como estariam neste exato momento?



Seus olhos ficavam facilmente molhados ao se recordar dos fantasmas de seu passado. A tortura, a ira, o mal. Ela achava que ia acabar morrendo naquele cativeiro e quando finalmente é salva, acaba sendo transportada para o espaço.

Quem diria?


Pensava consigo, ainda dera sorte desse povo hospitaleiro tê-la abrigado e cuidado dela. Não sabia como funcionavam as coisas no espaço, mas imaginava que, como em qualquer lugar, havia os seres cobertos pelas trevas que poderiam querer fazê-la algum mal.


Os soberanos a resgataram.


E com este pensamento positivo ela forçou seus olhos se fecharem e sua mente ficar vazia. Para que, finalmente, pudesse descansar.
Não muito longe dali estava Ayesha reunida com o conselho Soberano.

- Estamos incomodados pelos recursos que foram gastos, suma sacerdotisa. Fez o resgate da humana às escondidas, não pensando nas consequências de tal ato. Aquela criatura não é honrosa para ser ajudada por nós.
- Tolos. São o que todos vocês são – disse Ayesha.
- Como ousa? – um dos membros se ergueu, ameaçando avançar.
- Basta, Félix! – uma outra ordenou, fazendo com que ele voltasse ao lugar. Agora, direcionando sua palavra à sacerdotisa, indagou: - Você vê potencial neste ser, Ayesha?
- Quando notarem o que eu irei criar com ela o ódio de vocês se dissipará.
- Vai convertê-la para nossos genes?
- Não, meus queridos. Ela é um passo para a evolução. Será mais poderosa e mais inteligente que todos nós. Será capaz de destruir os Krees5.
- Como a humana aceitará simplesmente destruir toda uma raça? Não vai contra a moral dos terráqueos?
- Ela não tem que aceitar.


¹ Pontos de saltos são portais espaciais transitórios, eles transportam o indivíduo de um ponto do Universo a outro.
² Inteligência artificial dos soberanos.
3 Energia cósmica caracteriza-se por uma vasta e ilimitada fonte de energia proveniente do Espaço; Pode ser encontrada em diferentes tipos de corpos celestes como asteroides, cometas, estrelas, meteoroides, satélites, buracos negros, entre outros; É o que abastece a vida no Universo.
4 As baterias Anulax estão entre as fontes de energia mais poderosas do universo e são muito caras. Apesar de aparentemente pequenas, a quantidade de energia delas é ilimitada, podendo alimentar uma frota de naves inteiras cada uma ou ser usada como fonte de explosivo de alto dano. Os soberanos usam isso como um gerador de energia em seu planeta.
5 Os Krees são uma raça humanoide de extraterrestres que criou um vasto império intergalático. A espécie se originou no planeta Hala, no sistema Pama, muito antes dos primeiros habitantes da terra.


2.2 - Callisto

Segundo planeta da décima galáxia. Sovereign, Via Cósmica.


A escuridão.
Esta tomava posse de todo o cenário em um infinito de breu lastimável.
não enxergava um palmo a sua frente, simplesmente vagava pelo nada de sombras recorrentes.
Ao longe, uma faísca avermelhada irrompeu e destoou toda aquela escuridão. Chamando-lhe a atenção.
A iluminação era fraca, mas já permitia que conferisse o próprio corpo e notasse que estava coberta apenas por um vestido de seda da cor preta, qual batia na altura de suas coxas.
Assim que constatou que seus pés descalços não tocavam o solo abaixo de si, percebeu estar flutuando. Contudo, antes que pudesse se desesperar por tal fato, a iluminação se intensificou piscando vagarosamente em sua direção.
Seu ritmo compassado era hipnótico e sentiu-se imediatamente atraída por tal luz avermelhada. À medida que se aproximava da luz, de suas costas surgiam asas gigantes com penugem negra. Estas, completamente sombrias.
Surpreendentemente, ela não hesitou em seguir em frente e ignorar aquele fato, voando feito um anjo diabólico enfeitiçado pelo ponto brilhante.
Assim que atravessou a faísca iluminada caiu de joelhos em um solo barroso, machucando-os por estarem descobertos.
Percebeu agora estar trajada com o uniforme do exército. Saia da coloração verde musgo, camisa social bege de mangas compridas, adequadamente limpa e passada, gravata enlaçada perfeitamente, cabelos presos em um coque impecável escondidos sob um cape igualmente verde musgo.

As asas haviam desaparecido.

Ao olhar ao seu redor, seu peito congelou.
Soldados ensanguentados caídos aos montes aos seus lados gemendo de dor enquanto outros, ainda sem ferimentos graves, corriam em diversas direções tentando desviar-se das bombas que caiam do céu claro.
se levantou rapidamente e correu.
Corria porque sua vida literalmente dependia disso. Sentiu seu pulmão suplicar por ar, mas não pôde parar, tinha que sair dali ou morreria. Atravessava a floresta densa e úmida ao lado de soldados de rostos desconhecidos.
Dado certo ponto, o silêncio tomou conta do local, como se seus ouvidos tivessem sido arrancados de sua cabeça.
Ela olhou para trás de si, sem parar de correr, e acabou tropeçando nas raízes de uma arvore gigantesca.
Ergueu-se lentamente apoiando-se em suas mãos e notou um anel curioso em seu anelar direito. A pedra da cor vermelha destoava da sua pele pálida e, agora, suja de lama.
Assim que ergueu o rosto, encontrou o homem a quem aquele anel era relacionado.
Ele estava sentado por entre as raízes da árvore e escorado em seu tronco, numa posição consideravelmente confortável. Em suas mãos, o cubo brilhoso de cor azulada, cintilando perigosamente.

- James! – gritou. – Vamos, largue isto! Temos que sair daqui!

O rapaz, que a pouco tinha a atenção voltada para a correria dos soldados por entre as arvores, virou em sua direção e sorriu ternamente.

- Meu amor - ela pronunciou, gatinhando em sua direção. – Querido, precisamos sair daqui!

Assim que sua mão que carregava o anel tocou a mão do rapaz, sua aparência foi se degradando. A sua pele aos poucos apodreceu, adquirindo uma cor esverdeada, um dos globos oculares do rapaz saltou para fora da órbita, de onde escorreu sangue vivo, seu braço direito deslocou-se do ombro, enquanto sua pulsação ia desacelerando até cessar por completo.
Ela gritou em desesperou: - James!

Ele estava morto.

A expressão em sua face representava a dor e o desespero, em uma assustadora sintonia agonizante.
agarrou-se as vestes ensanguentadas do rapaz aos prantos. Ali estava o corpo sem vida do homem por quem jurara seu amor eterno.
A correria ao redor deles cessou à medida que a vida de James se esvaiu. Os soldados pararam e olharam em sua direção para então desaparecerem, evaporando em fumaça cinzenta.
Os olhos de estavam embaçados por conta das lágrimas, portanto demorou a perceber que um dos soldados não evaporara e agora andava em sua direção em passadas firmes.
Ela piscou algumas vezes até que enxergasse quem era.
Steve Rogers a puxou pelo braço com violência, cuspindo com ódio na pronuncia de suas palavras de uma forma que ela nunca havia presenciado: - Olha o que você fez! Você acabou com ele, acabou com todos nós!
Steve puxou o queixo da jovem bruscamente, forçando-a olhar para o próprio rosto.
Metade da face de seu amigo estava desfigurada, como se um animal com garras afiadas tivesse as encravado ali e as puxado, rasgando-o todo. O sangue escorria pelo seu pescoço até chegar em seus pés.

- Você fez isso conosco!

Dito essas palavras, ele a jogou de volta ao chão.
Caída por entra folhas secas notou que o vestido de seda e asas pretas retornaram.
Ela rolou para o seu lado direito e deu de cara com Howard.
A expressão na face do seu irmão era indecifrável, petrificada. tocou-o com as costas da mão trêmula, e notou que sua pele estava gélida além de pálida. Ele estava deitado em posição fetal, agarrado aos próprios joelhos.

- Você não estava lá – ele sussurrou em sua direção. – Te procurei em todos os lugares. Você não estava lá.
- Howard... – murmurou engasgada.
- Anjo da morte – dito isso, ele sacou uma arma e pôs contra a própria cabeça, disparando-a logo em seguida. Seu crânio estourou, espalhando massa encefálica por todos os lados.
- Não! – esbravejou desesperada, abrindo os olhos com a respiração ofegante. Seu coração tamborilava em seu peito quase que o esmurrando, subindo e descendo em uma sintonia estressante.

Notou ter retornado ao quarto de paredes branco-gelo de detalhes em dourado e ergueu-se, sentando na cama com uma a mão sob o peito enquanto a outra apertava os lençóis dourados embaixo de si.
Deslizou a mão que estava no peito para o ombro até chegar em suas costas, constatando que não havia mesmo asa alguma ali.
Suspirou aliviada.
Ao encarar a mão direita ela finalmente notou a ausência do anel de noivado. Anel o qual ela procurava guardar consigo desde que o ganhara. Mesmo na base de Schimdt, onde ela insistiu por ficar com ele.
Procurou por entre os lençóis e até mesmo embaixo dos travesseiros, não encontrando nada apalpou o macacão dourado colado ao seu corpo. Por fim, deu de ombros.
Sua vida havia mudado drasticamente desde então. Imaginou que possa ter se perdido no espaço.
Puxa.
O espaço.

Sim, ela ainda estava em um planeta diferente do seu e cercada por alienígenas hospitaleiros. E aquelas imagens terríveis que rondavam a sua cabeça fora de um de seus pesadelos.
Ela havia se esquecido do efeito que aqueles malditos pesadelos tinham sobre si. Eles eram tão vívidos que podia crer serem reais se não fosse ainda mais crível a sua atual situação.
Passou a mão pelo rosto e tirou os cabelos grudados pelo suor de sua testa, saltando para fora da cama logo em seguida.
Precisava de água, sua boca estava amarga e os lábios ressecados.
Permitiu-se explorar o lugar em busca do líquido. Assim, saiu pela abertura na parede, tentando lembrar-se do caminho que fez até chegar ali.
Passados alguns minutos que estava perdida por aquela casa de formato estranho, ela pôde ouvir alguém cochichar. Antes que se anunciasse e pedisse que a ajudassem com a questão da água, ela entendeu a palavra terráquea e engoliu suas palavras, para que compreendesse o que os seres da sala ao lado conversavam.
Soube que a suma sacerdotisa tem planos para ela” revelou um deles.
Quais planos, torna-la uma de nós? Ainda não sei o que ela possa ter visto de tão interessante naquele ser desagradável. Os humanos são imundos”outro pronunciou com nojo.
O conselho já deu a ordem, Ayesha tem totais poderes sobre a terráquea, assim como todos os recursos que ela bem quiser para explorá-la”.
Espera um pouco, o que?
O que acha que Ayesha vai fazer com ela?”.
“ Fazer dela um ser inigualável
” revelou um deles em tom de deboche.
Então eles não iam leva-la para casa, queriam fazer mais experimentos nela. já devia saber, a partir no momento em que a mulher da pele dourada demonstrara tamanho interesse em seus dons.
E ela não permitiria que outro cientista louco inserisse qualquer coisa que fosse em seu corpo, seja humano ou alienígena.
Se afobou, tinha que sair daquele lugar imediatamente, mas como?
Procurou por uma saída, uma daquelas aberturas tinha que dar lá fora.
Ao virar por um corredor, deu de cara com um dos soberanos que andava tranquilamente por ali. Ele estava vestido com roupas igualmente douradas, contudo estas pareciam ainda mais trabalhadas que as dos demais habitantes. Mesmo as de Ayesha.
Ele se assustou ao constatar no corredor.

- Ora, ora – ele pronunciou surpreso. – Deve ser a terráquea a qual todos estão comentando.

engoliu em seco e respirou fundo.
Eles ainda não sabiam que ela havia descoberto suas intenções com ela, então procurou se acalmar.

- A própria.

O soberano sorriu ainda mais surpreso.

- Já aprendeu a se comunicar na nossa linguagem, legal!

franziu o cenho e abriu a boca algumas vezes antes de indagar:

- Estou falando de forma diferente?
- Se está querendo dizer diferente da sua língua-mãe, sim está – ele sorriu amigavelmente. – Os soberanos tem uma linguagem própria, a maioria dos outros seres galácticos demoram décadas para aprimorá-la. Estou surpreso que tenha aprendido em pouco menos de um dia.
- Como posso falar uma língua diferente se ao menos percebo isso?
- Talvez seja um de seus dons – supôs o rapaz.
- O que sabe sobre os meus dons? – ela retrucou com a pergunta, arqueando a sobrancelha desconfiada.
- Não muito – deu de ombros. – Só sei o que vi pelas ruas. Rajadas cósmicas impressionantes, devo dizer.
- Obrigada. Eu acho – disse hesitante, em dúvida. Então, com a testa franzida, indagou: - Disse cósmicas?
- Sim – ele sorriu. – As propriedades das partículas de seus jatos energizados são provenientes de energia espacial.
- E sabe disso só os vendo? Mesmo de longe?
- Eu não sou só o príncipe de Sovereign, faço parte da equipe laboratorial e estratégica de segurança do nosso planeta.
- Eu ao menos sabia que você era príncipe – riu anasalada. – Quero dizer, vossa alteza?!
- Por favor, isso não é necessário – ele pediu sorrindo gentilmente. - Nós usamos energia cósmica na orbita do nosso planeta para nos proteger de eventuais ataques, então consigo reconhecer a composição á anos luz de distância.
- Então... essas rajadas que saem do meu corpo são energias do espaço sideral? Como isso é possível? – indagou perplexa.
- Esteve em contato direto com algum utensilio proveniente do espaço?
- Claro que n... – ela engoliu a própria fala ao se lembrar do Tesseract. Tal objeto de origem duvidosa que Schmidt endeusava. O cientista louco costumava chama-lo de artefato enviado pelos deuses de outros mundos.

Quem garante que ele não adicionou resíduos do próprio Tesseract no soro que pediu para Alex inserir nela quando ainda estava no hospital se recuperando da explosão da execução do Projeto Renascimento.

- Está tudo bem? – ele indagou.
- Está sim – garantiu ainda com a testa franzida. – Quando fizemos testes lá na terra, não sabíamos dizer ao menos se ficaria viva porque a composição dessa propriedade era de origem duvidosa e estava se alastrando pelo meu organismo. Nunca poderíamos imaginar uma coisa como tal.
- Desculpe dizer, mas era para você estar morta.
- Como disse? – rebateu estupefata.
- Digo, para que você consiga manipular energia cósmica, de duas uma: você fora projetada para nascer com esse dom ou sofreu uma absorção completa de uma quantidade deste resíduo. Na última das alternativas, era para estar morta assim que o resíduo tivesse entrado em contato com o seu organismo. O organismo humano não tem capacidade de suportar esse contato.
- Está dizendo que eu não sou humana? – indagou assustada.
- Não sei – ele riu descontraidamente. – Pode ser, mas se for, algo aconteceu para que suas células se tornassem tão resistentes.

A explosão.

- Nossa! – suspirou aliviada e comentou distraída: – Gostaria de saber o que realmente aconteceu com meu corpo. Digo, eu era completamente normal e a cada dia venho adquirindo habilidades anormais por conta dessa composição.
- Podemos descobrir o porquê – disse. – A cápsula embrionária pode fazer um scanner do seu corpo e dizer exatamente quando e como os resíduos se consolidaram.

mirou o rapaz dourado desconfiada, lembrando-se dos comentários anteriores.

- Por que eu deveria confiar em você? Por que quer me ajudar?

O rapaz sorriu contido.

- Não têm de confiar em mim, eu só estou curioso com essa sua composição celular. Além de te ajudar a saber sobre a origem dos seus dons essa pesquisa poderia me mostrar como desenvolver energia cósmica proveniente de outros princípios além do espaço – ele deu de ombro para explicar em seguida: – Nosso meio de coleta de energia cósmica vem desencadeando alguns problemas tóxicos em nosso povo.

mordeu o lábio inferior duvidosa. Ela não podia confiar em um deles, mesmo que parecesse inofensivo.
Contudo, saber o que andava acontecendo com seu corpo... ela precisava compreender isso.

- Depois que os resultados saírem você pode fazer o que quiser – o rapaz garantiu.
- Até mesmo retornar ao meu planeta? – indagou, perspicaz.
- Nada mais justo – ele sorriu.
- E você vai me ajudar a voltar para lá? – questionou séria. – Se prometer que vai me enviar de volta ao meu planeta assim que saírem os resultados, eu entro naquela coisa esquisita.

O ser dourado analisou as suas opções rapidamente e assentiu, esticando a mão na direção de : - Dou a minha palavra, terráquea.
mira a mão no ar e pensa o quão aquilo era perigoso, mas ela não tinha outra alternativa. Não havia encontrado outra maneira que pudesse leva-la para longe dali. Então apertou a mão do rapaz e assim que o fez, teve uma forte sensação de que ele estava sendo verdadeiro em seus dizeres.
Franziu o cenho e mirou-o nos olhos, tão transparentes quanto as águas cristalinas dos rios de seu planeta. Seu rosto gritava honestidade.
Eles soltaram as mãos e logo o ser dourado a indicou o corredor pelo qual eles poderiam seguir.
Antes que saíssem para o lado externo, o rapaz a parou repentinamente.

- Só um detalhe - disse ao se despir da sua capa de coloração dourada, e jogá-la por cima de . – Coloque isto. Para não chamar a atenção dos seguranças.

Ele arrumou a touca sob a cabeça da terráquea e a capa de modo que a cobrisse por inteiro. observava como delicadamente ele ajeitava seu cabelo para dentro da capa.

- Eu ao menos sei o seu nome, príncipe – ela soprou.
- Por favor, me chame apenas de Callisto – ele sorriu ao finalizar.
- Sou .
- É um prazer, – disse antes de segurá-la pela mão e saírem porta afora.


2.3 - Poder Cósmico

O toque da mão quente na estrutura gélida da cápsula, fez com que recolhesse a mão instintivamente. As pontas de seus dedos pareciam estar cada vez mais sensíveis ao mais simples toque.
Ela percorreu os olhos de seu reflexo que cintilava na superfície da peça à sua frente até a área oposta do cômodo. Estava de volta ao laboratório de paredes exageradamente brancas, bancadas de vidro quais emanavam o tipo mais avançado de tecnologia e repleto daquelas cápsulas douradas, desta vez, na companhia de Callisto.
O rapaz a olhava significantemente, instigando-a a entrar naquele casulo dourado e revelar fundamentos imprescindíveis para a sua existência e sobrevivência.
Vagarosamente ela deslizou seus dedos por toda a extensão da peça com os olhos fechados. Ela podia sentir a energia em seus tubos percorrendo por envolta de sua dimensão.
Sem mais tardar pressionou a porta, que se abriu automaticamente.
Ela se acomodou dentro da cápsula e mirou Callisto, que indicou positivamente com a mão e um sorriso no rosto. Ela observou-o até a porta fecha-la em um espaço limitado.

- Tudo bem, ? – ouviu a voz de Callisto indagar por algum transmissor dentro da capsula.
- Tudo – suspirou fundo. – Podemos começar.
- legal – le respondeu. – Vou pedir que não se mexa.
- Porque eu faria... – antes que ela terminasse sua indagação, sentiu um tubo finíssimo perfurar suas costas e se infiltrar entre suas células e adentrar o seu corpo.

Ela podia identificar o tubo se projetando e multiplicando por entre suas veias e órgãos.
Era angustiante, mas não insuportável.
Os tubos tomaram as suas artérias e articulações desde os seus pés até o seu cérebro, este, por último.
Quando o mais fino dos tubos se infiltrou por entre os seus neurônios, gritou.

- ?! – Callisto chamou-a apreensivo.

Ela não conseguia pronunciar nada além daquele berro contínuo que apresentava toda a potência de suas cordas vocais.
Ela sentiu algo bater contra a porta da cápsula. Era Callisto.

- , acho melhor pararmos por aqui...
- N...ão – conseguiu converter o grito em uma sílaba.
- Certo. Vou tentar ser o mais breve possível – revelou.

Dado certo ponto, não sabia se estava inconsciente por tamanha a dor, ou se ela cessara repentinamente.
A sua frente um holograma reluzente surge e imagens começam a aparecer. Definitivamente era o circuito de artérias e veias de uma pessoa visto por dentro, o que era completamente impressionante visto que ela só vira algo como igual quando abrira um corpo.
Uma combustão ofusca a imagem, contudo, em questão de milésimos de segundo a massa se regenera. Inicialmente está lenta e relutante, como se o próprio organismo estivesse tentando repelir a cura precipitada, mas em seguida, vasos e vasos se reconstituem até pararem em um estágio inacabado.

- Está vendo isto? – a voz de Callisto questionou, mencionando o líquido de coloração azulada que se infiltrou pela veia principal, liga ao coração. – Isto é o composto cósmico com um soro de singularidades e resíduos terráqueos se conectando ao seu organismo.

De repente as artérias começam a se romper completamente, frágeis como seda, para que então renascessem do zero com uma estrutura molecular diferente.

- Quer dizer que minha estrutura molecular simplesmente se refez? – ela indagou já do lado de fora da cápsula, mirando o painel de vidro que repassava as etapas moleculares de seu sistema.
- Ela não só se refez como também é autoimune e agressivo – Callisto explicou apontando para o painel. – Cada vez que seu corpo se sente ameaçado, ele encontra uma forma de se autocriar e se refazer para te defender.
- Me tornando cada vez mais forte – soprou.
- Exatamente.
- Então não existe uma forma de parar? – questionou. – Digo, ele sempre vai estar se autodefendendo então eu sempre estarei aparecendo com novos dons?
- Uma possibilidade infinita de dons. Isso explica como você aprendeu a nossa linguagem tão rapidamente. Sua mente está se adaptando e evoluindo – Callisto ressaltou. – Aconteceu porque se sentiu ameaçada.
- Então, se eu parar de me sentir ameaçada...
- Seu corpo não vai reagir.
- Faz sentido – ela concordou, dando de ombros. – Talvez eu consiga compreender os meus próprios instintos de forma que consiga controlar essas defesas automáticas.
- É possível – o rapaz assentiu – Se conseguir jogar para o seu subconsciente que não corre ameaça alguma, eles desaparecerão.
- Então eu preciso acessar o meu hipocampo¹ para conceituar algumas lembranças que induzam o meu sistema límbico8 a programar o meu corpo em padrões normais.
- Por que faria isso? – Callisto riu anasalado. – Aparentemente você pode ser o ser mais poderoso do universo e está se recusando a isto?

fixou o olhar em um ponto qualquer no chão e franziu a testa, refletindo.

- Desde quando adquiri essas... habilidades – ela sorri triste. – As pessoas ora ou outra perguntavam o porquê de eu não querer ficar com elas, o porquê eu não as aceitava – umedeceu os lábios para ganhar tempo. – Do meu ponto de vista, ninguém pode se dar ao luxo de ter acesso a esse tipo de poder. Qualquer indivíduo nunca será sensato o suficiente para decidir o que fazer com ele. É tão abrangente e tentador que se torna perigoso, algo pelo qual as pessoas lutariam com suas vidas para ter.
- Só para ter repleto controle – Callisto soprou.
- Exato. A ilusão do poder supremo cria a guerra. Superpotências lutam todos os dias para dominarem uns aos outros e defenderem os seus conceitos e fazem de tudo para ganhar. A guerra é cruel. Entre a benevolência e a rebeldia existem os inocentes - ela engoliu em seco ao se recordar do bombardeio na divisão 107. – Eu só não quero ser responsável pela morte deles.
- Mas, é fácil – deu de ombros. - Se alguém tentar ir contra você para ter os seus poderes você pode facilmente lutar para impedir isso. – Sugeriu – as rajadas cósmicas são imbatíveis.
- Não é tão fácil – ela sopra e o rapaz franziu o cenho, confuso. Portanto, ela tratou de explicar: – Apesar da minha capacidade e força. Todos temos nossas fraquezas e bons observadores sabem usá-las e jogá-las contra nós, como estrategistas. São capazes de fazer a nossa cabeça, nos instigar, nos enganar... Seja qualquer a forma de persuasão, força física ou emocional, eles sempre têm como nos fazer colaborar. Concordado ou não. Por bem ou por mal – engoliu em seco – Não seria a primeira vez que aconteceria.

Callisto escorou-se na mesa de controle, virando-se para , e cruzou os braços, indicando que ela poderia continuar.

- As pessoas ficam loucas e fazem tudo pelo poder. É algo que sobe à cabeça. Transforma as pessoas - o rapaz assente lentamente, então ela prossegue: – Pouco antes de ser tele transportada para o vácuo do espaço, eu estava em cativeiro sendo mutada e torturada para criar ainda mais poder para que um falso diplomata conseguisse comandar o nosso mundo.

Callisto engoliu em seco.
“Isso foi um acontecimento. A questão é que o cara que fez isso comigo não é o único líder com ideais disposto a ameaçar, chantagear, torturar e matar. Em qualquer lugar pode-se encontrar alguém disposto a fazer coisas terríveis para conseguir o que quer – mordeu o lábio inferior antes de admitir. – Eu sempre soube que isso ia acabar acontecendo e o que eu mais temia era que pudesse colocar aqueles que eu amo em risco por conta disso – indicou soltando faíscas oscilantes pelas mãos. – A todo momento, enquanto estava naquele cativeiro, ficava me perguntando o que ele seria capaz de fazer com eles caso eu me recusasse a participar dos experimentos dele. Eu poderia muito bem sair de lá, mas ele estava comigo nas palmas de suas mãos.”
puxou uma cadeira e se sentou, passando as mãos pelo rosto e suspirando fundo.

- Desejei morrer, todos os malditos dias que estive naquele lugar.

Callisto puxou uma cadeira também, sentando-se de frente a .
“Fui tele transportada repentinamente então eu não sei como ou se a guerra acabou no meu planeta, nem mesmo a certeza de que aqueles que eu amo estão a salvo. Contudo, eu me recuso permitir que outros usem isso – indicou as mãos – contra mim novamente. Por isso eu tenho que acabar com isso”
Callisto assentiu vagarosamente.

- Com tudo o que se passa na minha cabeça, eu não posso assumir uma responsabilidade tão grande que é ter controle deste tipo de poder. Proteger aqueles que eu amo era o meu propósito. Mas agora que estou aqui, pedida de novo, desnorteada, eu não tenho mais nada – ela suspirou. – Eu não sei o que fazer nem o que pensar e estar assim me torna vulnerável – ela secou a lágrima que escorreu por sua bochecha. – Só mais uma arma.

Callisto respirou fundo.

- Meu irmão costumava dizer: “Nenhuma grana no mundo pode comprar um segundo de tempo” – ela engoliu em seco. – Eu renunciaria a todo esse poder por mais um minuto com eles. Só para saber se estão bem.

O silêncio se apossa do ambiente maçante, ambos perdidos em próprios pensamentos.

- Desculpe, não sei o que há comigo. Não costumo me abrir desta forma com estranhos – sorri sem graça. – Não tem que ficar me ouvindo lamentar minhas perdas.
- Está tudo bem, é sério – Callisto sorriu gentilmente. – Apesar de não poder alterar o seu passado, quem sabe eu não consiga melhorar o seu futuro – ergue uma sobrancelha e o rapaz completa: - Eu já consegui o que queria para a minha pesquisa. Te ajudo ir para casa e ver se estão todos bem.

franziu a testa para em seguida sorrir desacreditada.

- Está falando sério?
- Foi o que eu prometi, não foi? – ele virou-se para o painel e começou a apertar em diversos botões consecutivos. – Só vou apagar os registros desses exames para, você sabe... ninguém ir atrás de você querendo usá-la novamente.

recordou-se da conversa que havia ouvido secretamente há algumas horas e mordeu o lábio inferior, duvidosa. Mas seu instinto afirmava que a aura do rapaz era boa, sincera. Seria o suficiente para confiar nele?
Com o painel sem nenhuma informação, Callisto se vira para e lhe estende a mão.

- Vamos, temos de ser rápidos.

agarra-lhe a mão e aquela sensação de honestidade a domina novamente. Antes que saíssem do laboratório, ela torna a vestir a capa e se cobre da cabeça aos pés.
Quando deram a primeira passada pela abertura para fora do laboratório, foram surpreendidos por dezenas de guardas mirando suas armas em suas direções e Ayesha a frente deles.

- Ora, ora... eu sempre soube que você seria a ruína de Sovereign, Callisto – ela cuspiu rudemente.
- Não compreendo o que fiz agora que implica a pensar isto ao meu respeito, Ayesha – ele respondeu a altura para em seguida ordenar, com calma: - Abaixem as armas, estão ameaçando o herdeiro do trono.
- Infelizmente as armas não estão contra você, príncipe – Ayesha soltou rispidamente para em seguida sorrir ao mirar . – Ela é uma ameaça, deve ser mantida sedada e inconsciente. É tóxica, e o conselho concorda comigo.
- O que? – Callisto indaga desacreditado.
- Prendam-na – a sacerdotisa ordena.
- Não dessa vez – sopra e joga rajadas cósmicas contra os guardas e a própria sacerdotisa.

No entanto, no mesmo instante, Ayesha projeta um campo de força com as moléculas do ar comprimidas e os defende. Assim, não vê outra opção senão correr.
Os guardas tentam segurá-la para então, um por um, caírem ao chão desacordados pela descarga de energia que ela dispara através do próprio corpo.

- Parem! – Callisto pede. – Ela é inofensiva.
- É isto o que veem? – Ayesha retruca indicando os homens ao chão.

Os guardas seguem para cima de , sem tocá-la desta vez, disparando contra seu corpo. As munições nada mais eram que pura energia de coloração dourada. Energia das baterias Anulax.
A cada tiro absorvido pela sua pele, grita de dor, ajoelhando-se.
Ayesha sorri, contudo, por pouco tempo.
Os tiros não eram piores que os tiros das armas da HIDRA, na realidade, a dor passou a diminuir à medida que atingiam o seu corpo. E a medida que o organismo absorvia a energia, era redirecionada ao seu núcleo.
Em meio aos tiros, respira fundo, se levanta vagarosamente e resgata toda aquela energia acumulada. Quando torna a abrir os olhos, eles estão repletos de energia cósmica e, em uma só rajada, ela derruba o restante dos guardas.
Ayesha ergue a sobrancelhas, assustada e grita:

- Agora!

Por trás de um guarda coberto de proteção da cabeça aos pés surge e dispara contra sua nuca, chamando-a a atenção.
se vira para o guarda com seus olhos iluminados o mirando diabolicamente. Este, assustado, se atrapalha ao deixar a arma cair e procurar algo por entre as vestes enquanto se aproximava vagarosamente.
Assim que ele encontra a espécie de um controle minúsculo com um botão só, não hesita em apertá-lo.
Antes que pudesse perceber, aquilo que fora disparado contra sua nuca não era munição como das outras armas e sim um pequeno dispositivo que quando acionado, a derruba imediatamente desacordada.

- Exatamente como o planejado – Ayesha sopra para o corpo imóvel ao chão.
- O que diabos isso significa? – Callisto dispara contra a sacerdotisa. – Ela só queria ir para casa.
- Você é um imbecil, Callisto – ela retrucou. – Estava deixando fugir a nossa arma contra os Krees. Tolo.
- Era isso o que ela temia – rugiu entre dentes. – Devia estar pressentindo que faria isso com ela.
- E você a ajudaria?
- Obviamente, é um indivíduo como você e eu, merece ser tratada com respeito.
- Esse indivíduo não é como você e eu, é infinitamente mais poderoso. Com muita sorte consegui criar um dispositivo que consegue desativar o cérebro dela, com muita sorte conseguimos derrota-la.
- Por que faria isso? – indagou perplexo.
- Para a nossa proteção – ela esbravejou, calando o outro. – Ela vai proteger o nosso povo contra a ameaça dos Krees.
- Ela não tem de fazer isso, já tem os próprios problemas.
- Está colocando as necessidades desse ser acima das de seu povo? – indaga indignada. – Como ousa? Principalmente você, herdeiro do trono.
- Não é o que estou dizendo, quero dizer que conseguimos nos defender sozinhos. Não precisamos dela.
- Precisamos – esbravejou. – E você vai me ajudar. Sei que descobriu coisas sobre ela.
- Eu não...
- Está em débito com seu povo – interrompeu-o. – Tem que fazer isso. Ou terei que entrar em contato com o rei?

Callisto mira com pesar o corpo da terráquea ao chão antes de murmurar:

- Não será necessário.


¹ Hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano, considerada a principal sede da memória e importante componente do sistema límbico, que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais.


2.4 - Vênus

No grande salão oval com tradicional decoração temática em cores dourada e branco, estavam os anfitriões do conselho Soberano sentados em seus tronos majestosamente encarando o ser a sua frente com olhos confusos. Entre murmúrios abafados, comentários ácidos e indecentes, Boland, a líder do conselho, bate seu cetro ao chão pedindo silencio aos demais membros e assim que ecoa por todo ambiente, ela pronuncia:

- Finalmente chegou a sua hora de brilhar, não nos decepcione.

A sacerdotisa respira fundo antes de disparar:

- O indivíduo de origem terráquea foi inicialmente criado para satisfazer os básicos requisitos de seu planeta. Sua evolução deu-se início pelo contato com resíduos cósmicos altamente tóxicos. A partir de então vem avançando física e mentalmente a cada instante. Graças a sua alta capacidade e habilidades imprevisíveis fomos obrigados a usar de um dispositivo altamente tecnológico que se acopla com as próprias células corporais e consequentemente o cérebro. Desta forma temos autonomia de acessarmos o hipocampo de maneira que possamos adicionar, alterar ou modificar qualquer acontecimento que o indivíduo já tenha presenciado.

Ela indicou o dispositivo apresentado em um dos painéis holográficos que lhes transmitia uma imagem ao vivo.

- E por qual razão isto é importante? – um dos mais velhos anciões indagou.
- Desta forma o indivíduo pensará que é um de nós e por ventura passará a ter a responsabilidade para com o nosso povo, o que sempre fora o propósito. A potência do núcleo de poder do indivíduo foi triplamente ampliada, com o auxílio das nossas baterias...
- Ela absorveu a energia das baterias? – Félix interrompeu-a chocado.
- Tão facilmente quanto respirar. Agora que suas células se adaptaram e se fundiram umas nas outras, o seu corpo se tornou uma estrutura imbatível.
- E quando teremos o prazer de estar na presença desse indivíduo tão magnifico? – Boland quem questionara.
- Ela ainda está no estágio final da metamorfose. Amanhã de manhã já estará pronta para as atividades.
- Perfeitamente, sacerdotisa. Bom trabalho, por enquanto. Aguardamos ansiosamente.

Finalizada sua reunião com o conselho, Ayesha retorna imediatamente ao laboratório onde tem estado por meses.

- Como foi?
- Conforme o planejado, é claro – responde indiferente. – E como ela está?
- Pronta para sair do casulo.
- Perfeito – ela sorri maleficamente. – Ativem o dispositivo.

Dito isso um dos súditos aperta alguns botões sob a tela de vidro e a cápsula reluz.
A equipe monitora os batimentos cardíacos enquanto outros observam ansiosamente as portas se abrirem vagarosamente e revelarem o ser maravilhoso.

- Ativando funcionamento solo dos órgãos vitais – informou um deles.
- Sistema com funcionamento excepcional – pronunciou outro. – Ela irá despertar em 3...2...1!

O indivíduo respira fundo antes de abrir os olhos completamente. Estes ainda com a coloração castanha de origem.
Ayesha se aproxima e lhe oferece a mão.
O indivíduo a olha com dúvida, contudo, por fim, a segura para descer da capsula.
Calmamente ela olha ao seu redor e passa a olhar as próprias mãos, estas completamente douradas, e o corpo, coberto por um traje branco de riscas pretas que destacavam seus músculos e curvas. Ao centro do peito um triangulo inverso sobressaia-se.
Enquanto o indivíduo checava seus próprios membros, pela tela do painel de controle os cientistas viam o que ela vê, certificando-se de que o dispositivo realmente funcionara.
Mesmo estando com a cor de pele originaria da terra, o indivíduo pensava ter a pele tão dourada quanto a deles. Pensava estar no meio de colegas de trabalho e, o pior, que devia servir fielmente à sua sacerdotisa.

- Vênus? – indagou Ayesha hesitante.
- Sim, suprema sacerdotisa – ela responde ajoelhando-se aos pés da mulher, que sorri abertamente.

O laboratório entra em euforia.
Havia dado certo.

-x-

2000
. Luganenhum, arredores do Fim do Universo.


Stakar Ogord não é um homem de muitos hobbys e manias convencionais, podia se dizer que era um homem de muitas crenças e morais anormais das demais. No entanto, não se negava aos prazeres como uma boa bebida no bar na companhia de seu grupo de Saqueadores ao final de cada missão.
O homem grande de porte musculoso era uma figura conveniente ao líder mais respeitado e temido de toda legião de Saqueadores, por isso, por onde andava, era aclamado e bajulado. Principalmente no bar do Starlin, seu velho conhecido.
Cercado de seus companheiros e xandarianas, quais os alegravam, ele se divertia como há dias não fazia. Tanto que era a pressão e tensão no cumprimento de suas tarefas.
Realmente estava pensando em solicitar alguma acomodação nos quartos da Lotus de Ferro e alugar uma xandariana que o satisfaça durante a noite para que se divertisse à moda dos velhos tempos.
No entanto, depois de horas de bebedeira o homem decide que é a hora de descansar. Anuncia aos seus seguidores que vai se retirar e caminha calmamente até sua nave, estacionada a algumas ruas de onde estava.
Enquanto marchava, o homem cantarola o ritmo de alguma canção a qual ficara gravada em sua cabeça sem ao menos perceber e entra no beco escuro, atalho até a nave.
Na saída do beco, ao longe, ele pensa ver duas luzes pequeninas de coloração azulada reluzirem. Ele pisca, para focar os olhos, e se certifica de não era nada além da sua criativa imaginação.
Por precaução, ele olha ao seu redor com a mão pousada na arma em sua cintura.
A lata de ferro com lixo á sua direita se mexe de repente e Stakar se assusta, puxando a arma e mirando-a para a lata numa velocidade impressionante.

- Apareça, maldito! – grunhi para o nada.

A lata volta a balançar e Stakar segura firme a arma em sua mão.
Antes que pudesse disparar, no entanto, um gato sai de trás da lata balançando o seu rabo graciosamente, como se não tivesse sido ameaçado de morte há segundos.
Stakar suspira aliviado e guarda a arma de volta na cintura, aos risos por ter se amedrontado com um gatinho indefeso.
Então ele continua seu caminho, atravessando o beco escuro. Quando foi dar sua primeira passada na direção da rua, sentiu uma rajada latente jogá-lo contra a parede do beco.
A coloração da rajada era azul e queimava sua pele.
Stakar gritou.
Mas não de dor, e sim pelo o que ele sabia que viria a seguir.
A mulher de collant branco e com o símbolo do triângulo invertido ao peito aterrissa na frente do homem com os olhos em chamas azuladas e um sorriso diabólico na face.

- Stakar – ela anuncia, libertando-o das rajadas.

Ele cai de joelhos à sua frente.

- Vênus – ele sopra, recuperando-se, erguendo a cabeça levemente para mirá-la nos olhos.
- Fugindo de mim, por acaso? – ela indaga com uma sobrancelha arqueada.
- Jamais, ò grande soberana – ele responde levantando-se vagarosamente.
- Corta essa – ela rugi. – Não sou a Ayesha, pode parar de me bajular. Vamos direto ao assunto – diz erguendo o homem pelo pescoço na altura acima da própria cabeça com uma só mão. – Onde está?
- Não...sei – ele responde com dificuldade, sufocado.

A mulher aperta ainda mais o pescoço do grandalhão.

- Não minta para mim, saqueador – disse calmamente. – Eu sei que você sabe de rumores sobre ele. Eu sei que estão tentando escondê-lo de mim.
- Eu...juro...
- Stakar, não me faça ter que cortar outra parte sua novamente – ameaçou. – Aposto que a vida sem a outra perna é duas vezes mais difícil.
- Tudo bem... tudo bem...

Ela solta-o e ele cai novamente de joelhos no chão, tossindo.

- Então diga-me – ordenou, com sua mão completamente carregada de raios cósmicos apontada em sua direção.
- Há algumas luas ouvi boatos de que a Tropa Nova estava à procura de um buraco negro ou um planeta fora de órbita para resguardá-lo – admitiu aos gritos. A mão de Vênus se apagou.
- Por quê?
- Eles sabem – soprou. – Eles sabem que Ayesha planeja algo grande. Sabem que se caírem na sua mão o massacre está feito.
- Não podem escondê-lo de mim por muito tempo – ela ruge entre dentes. – Quando tê-lo em mãos, estes malditos serão os primeiros a provar toda a minha fúria.
- Bocas sussurram que os xandarianos serão apenas o começo...- incitou.
- Você acha que os soberanos se contentam com migalhas? – Vênus sorri daquela forma maléfica novamente e Stakar sente um arrepio na espinha.

O homem era um lutador valente, eram poucas as coisas que o faziam temer por sua vida, e Vênus, a guardiã de Sovereign, definitivamente era uma delas.
Ninguém sabia por exato como ela surgira há anos atrás, mas desde então tem colocado o Universo de ponta cabeça. O nome Vênus era temido por 90% do Universo, por que os outros 10% sequer mencionavam o nome por medo.

- Você – Vênus aponta para o homem que continua caído aos seus pés. – Faça o que faz de melhor, pesquise, procure, fofoque... apenas, descubra onde está!
- Como? – o homem indaga surpreso.
- Encontre-o e quem sabe eu não pense em poupar sua vida miserável – ela se vira e começa a caminhar para longe dele.
- E quando localizá-lo? O que faço? – questiona.

Vênus vira metade do corpo para mirá-lo e dizer: - Eu saberei e virei até você.
Antes que o homem pudesse sequer refletir sobre o que lhe fora dito, a mulher sai voando, soltando as famosas rajadas cósmicas pelas mãos.
Já longe dos olhos de Stakar, perto da órbita de Luganenhum, estava a nave grande e dourada que Vênus usava rotineiramente. Vênus pousa e se direciona à sala de controle para acessar os comandos centrais da nave, partindo daquele lugar horrendo para de volta à seu planeta, Sovereign.
Seguindo por pontos de saltos estratégicos e a potência da velocidade da Luz, ela chega ao seu destino em questão poucos minutos.

- Identificação – Hank, o guarda da órbita solicita através do comunicador.
- Sem gracinhas Hank, me deixe entrar logo.– respondeu ríspida.
- Só estava testando a nova aparelhagem – pronunciou aos risos. – Vamos, entre.

Liberada a sua entrada, a nave desce graciosamente até o solo do planeta, parando no grande galpão que abrigava diversas naves.
Vênus desce e é recebida por Trevor e Gary, que trabalham na segurança, manutenção e controle de saída e entrada das naves.

- Rapazes – ela cumprimentou.
- Vênus – ambos disseram curvando-se cordialmente, como de costume.

Ela passou por eles e caminhou até seu veículo transportador, que a levaria até o tão conhecido laboratório.
Quando não estava fora de Sovereign em missões, Vênus ficava a maior parte do seu tempo no laboratório. Lá ela criava novas armas potencialmente catastróficas e fazia a manutenção semanal das próprias células.
Chegando lá ela encontra a equipe de desenvolvimento trabalhando em sua última criação e Callisto os supervisionando.

- Vênus – Callisto cumprimenta-a, chamando a atenção dos demais que não haviam notado a sua presença.

Assim que a notaram, todos abandonaram os afazeres para se curvar na direção da guardiã, que assentiu, permitindo que voltassem a suas tarefas.

- Como estamos por aqui? – ela indagou ao príncipe, observando o trabalho braçal dos demais.
- Em perfeita produção – respondeu. – Os comandos subalternos foram calculados perfeitamente, portanto não tivemos problemas com a fusão da sua energia com o cobre do armamento R-20.
- Esplêndido – elogia, para em seguida comentar: – Precisamos conversar sobre aquela G-518, acredito que preciso de auxílio no núcleo dela.

Callisto capta a mensagem e sorri anasalado.

- A hora que quiser, guardiã – respondeu olhando-a diretamente nos olhos.
- Poderia ser agora – Vênus sugere sem hesitar, piscar, nem corar.

Callisto sorri. Contudo, antes que os dois se retirassem da sala abarrotada de cientistas, Ayesha surge.

- Vênus.
- Suma sacerdotisa – a guardiã se curva.
- Preciso que me passe o relatório da missão imediatamente – Ayesha anuncia. E mirando Callisto, ao lado de Vênus, ressalta: - A sós.
- Como queira – Vênus responde e vira-se para Callisto, murmurando: - Por favor, me aguarde por um instante. Não vai se prolongar muito.

Callisto assente enquanto observa a guardiã acompanhar a sacerdotisa até o lado de fora do laboratório de paredes de vidro.
Ayesha parecia demasiadamente ansiosa para não aguardar sequer chegarem à um ambiente fechado e longe dos olhos alheios. Callisto não se move e fica a observar os gestos e expressões das duas mulheres.
Em uma leitura labial muito duvidosa, ele pensa ter visto Vênus dizer “Tropa Nova”, assim como a sacerdotisa responder “Controlar o Universo” no meio de uma frase grande.
Callisto se assusta.
O que?” - pensa.
Ele desconfiava há anos que Ayesha não tinha apenas a intenção de proteger Sovereign, assim como os seus habitantes, quando ordenou que Vênus dizimasse a metade da população Kree. Todos os Soberanos comemoraram a “vitória” de uma batalha, que aos olhos de Callisto, havia sido um completo banho de sangue. Vênus ao menos deu-lhes a chance de lutar.
Em seguida Ayesha ordenou que Vênus ameaçasse os Skrull, uma raça que nunca havia interferido em suas rotinas, e então eles desapareceram.
Depois, com a queda dos Gigantes de Gelo, Ayesha convencera o povo que eles precisavam de auxilio braçal, uma vez que cada indivíduo de Sovereign é considerado superior aos demais indivíduos do Universo e que tarefas braçais não condiziam com sua capacidade.
Assim Vênus os sequestrou e obrigou-lhes a viverem escravizados. Era comum vê-los em casas realizando os serviços domésticos ou na cozinha do palácio, nas fazendas, como soldados e até babás.
Anos depois, quando os Krees já estavam restaurados, Ayesha fez com que Vênus os ameaçasse novamente, obrigando-os a estabelecer um tratado de paz com Xandar de que não voltariam a intimidar qualquer raça do universo novamente.
Ainda assim, dentre as milhares de missões secretas que Ayesha manda Vênus ir, as poucas situações que ele passa a ter conhecimento são para tarefas destruidoras e sanguinárias. E este era um fato que o atormentava dia e noite, uma vez que fora coagido a transformar a humana em Vênus e consequentemente ser responsável por todas essas catástrofes.
Mal percebera que se perdera em pensamento quando Vênus retorna e estala os dedos à frente de seus olhos.

- Dormindo em pé? – ela indaga.

Ele balança a cabeça em negativa.

- Vamos? – a guardiã sugere.
- Sim – ele concorda, seguindo-a.

Eles seguem por um corredor secundário quando Callisto pigarreia um pouco antes de indagar, fingindo desinteresse: - Por que Ayesha estava tão ansiosa?

- Assuntos de missões secretas, desculpe – ela responde com um meio sorriso.
- Tudo bem – ele reponde, dando de ombros.

Vênus nunca, jamais, compartilha assuntos secretos e governamentais que dizem respeito às missões e tarefas que Ayesha a convoca. É um erro fatal para ela, óbvio, uma vez que o próprio Callisto programou sua mente para que fosse assim, dentre outros pontos estridentes da nova personalidade.
Ele sentia falta da honestidade, espontaneidade, inocência e moral de , além do quanto ela era justa e sensata.
Vênus podia habitar o mesmo corpo, mas era um ser completamente diferente. Ela era calculista, sedutora, estrategista, soberana, egocêntrica e fria porque fora programada para tal. Ayesha não queria que nada nem ninguém pudesse fazê-la perder o foco de suas missões.
Ainda que Callisto, as escondidas, tivesse configurado um pouco de empatia, otimismo, desejo, e amor na humana, em consideração à própria , nunca seria o mesmo. estava presa aquele corpo e Callisto se arrependia amargamente por não ser tão corajoso quanto ela e enfrentar o próprio povo e ir contra seu legado.
Se tivesse se negado, se tivesse evitado...
Não era certo. Nunca seria certo o que faziam com a humana.
E Callisto se doía toda vez que a via completamente transformada. Principalmente quando tinham seus momentos íntimos.
Ambos andavam lado a lado em silêncio pelos corredores da central de análises laboratorial quando Vênus o empurra através de uma parede falsa, levando-os diretamente ao depósito de suprimentos.
Lá, longe de testemunhas, ela pôde se desfazer da pose de durona e enlaçar os braços ao redor do pescoço de Callisto como queria desde que o avistara no laboratório. Não se demorou em grudar seus lábios e dançar com a língua pela boca do rapaz.
Quando ofegantes, separam-se minimamente para mirarem os olhos um do outro.

- Senti sua falta – Vênus admite com os olhos brilhando.
- Também sinto a sua – Callisto responde e Vênus sequer desconfia do duplo significado que consistia ali.

Ele precisava fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais.

2.5 Sangue Vermelho

O ambiente está escuro, como se as trevas tivessem engolido a tudo e a todos. No entanto, ela tem plena ciência de seu corpo, sua mente e a energia que flui por dentro do seu ser. Seus pensamentos parecem vazios, tão embaralhados e confusos que ela não pode focar em um específico.
Ao seu redor, um território inabitável e desconhecido lhe causa arrepios, mas não é porque o frio se prolifera ferozmente. Ela esfrega os braços, em uma tentativa fracassada de tentar se esquentar até que uma fresta de luz surge do alto e desponta seu brilho até o chão, a poucos metros de onde ela está. A luz começa a percorrer o ambiente, passando em todos os pontos menos onde ela está, até que ela para e o coração da jovem dá um salto automático.
Havia um homem ali. Um homem que a princípio ela não conhece.
Apesar da hesitação e consciência de que não deve, ela se aproxima, ficando frente a frente com o homem. Ele, por sua vez, a mira diretamente nos olhos e uma conexão tão forte surge que ela não consegue desviar nem mesmo se quisesse. Aqueles olhos completamente azuis estão marejados, não demorando em derramar algumas lágrimas pelo rosto completamente jovial.
Sua mão se ergue, tocando aquela face tristonha e, assim que o faz, o homem aproxima-se e enlaça os braços ao seu redor.
– Por favor, volte. – Ele suplica.
Como se aquelas palavras a despertassem assim que soaram, a mulher se afasta, desviando-se dos braços fortes e confortáveis. Já de longe, o homem estica a mão em sua direção e sopra:
, por favor!
A mulher então percebe que ele mira através dela e gira em seus próprios calcanhares, seguindo o olhar do rapaz. Ali, também iluminada por uma fresta de luz que vinha do alto, estava ela própria. Só que... diferente?!
Ela então se aproxima da sua própria imagem, como um reflexo, e mira-a sem pudor. A mesma estrutura, mesmas curvas, mesma vestimenta e mesma face, exceto a cor da pele. A mulher à sua frente parece humana. Ela segue os seus movimentos e, por um momento, Vênus pensa estar mirando um espelho, até que a imagem segura-a pelos ombros.
– Liberte-me! – Ela esbraveja, com os olhos marejados. – Liberte-me, eu suplico!
Vênus tenta se desviar das mãos de seu reflexo e, ao se afastar, nota que a outra está presa em uma espécie de cubo de vidro.
– Por favor! – O reflexo pede novamente.
Vênus olha ao seu redor e observa que o homem desapareceu. No entanto, ouve passos abafados e, assim que se volta para a direção deles, encontra Ayesha.
– Suma sacerdotisa. – Ela se curva.
Ayesha se move até o cubo de vidro, onde o reflexo de Vênus está aos prantos, e o toca. Assim que sua mão encosta na superfície uma descarga de raios energizados a joga para longe.
– O que você fez? – Vênus indaga à humana, correndo para onde a sacerdotisa foi arremessada.
– O necessário. – Ayesha responde com um sopro sem vida para, em seguida, apontar para o reflexo dentro do cubo de vidro com a mão trêmula e ordenar – Destrua-a.
Sem pensar duas vezes Vênus se levanta e caminha até o cubo de vidro. Seu reflexo se afasta inconscientemente.
– Não faça isso! – Ela pede. – Será o nosso fim!
Vênus para por um instante, confusa.
– Ela quer nos destruir! – O reflexo aponta para Ayesha, que veemente nega.
Vênus torna a olhar para seu reflexo e percebe que, atrás dela, está o homem que vira anteriormente. Ele se aproxima da parede do cubo de vidro.
– Por favor, . – Ele murmura. – Precisamos de você.
Vênus acorda aos gritos e ofegante, senta-se na cama de lençóis brancos e se pergunta: O que diabos tinha sido aquilo?
Callisto, que desperta com os gritos, logo nota que a parceira está suada e com a respiração alterada. Todavia, quando toca o braço da mulher, uma pequena descarga de energia lhe dá um choque e ele afasta a mão imediatamente.
– Vê? – ele chama.
Imediatamente a mulher vira para ele, seus olhos repletos de energia e a face contemplada em dor.
– Vê, você está bem? – Ele indaga, se reaproximando vagarosamente.
– Tem alguma coisa errada comigo. Tem alguma coisa... – ela diz e toca no dispositivo na nuca. – Está doendo.
– Vamos, vamos ao laboratório – Callisto diz e se levanta rapidamente, contornando a cama e parando ao seu lado.
Vênus respira fundo e pega a mão que Callisto a oferece, se levantando. Com ele a sustentando pelos ombros, seguem até o andar inferior e a coloca dentro do transportador, entrando logo em seguida. Rapidamente os conduz até o laboratório e Vênus grita.
– O que foi? – Ele indaga em agonia.
– Minha cabeça... – ela responde, com as mãos sob os olhos. – Está me matando...
Callisto para em frente ao laboratório e pega Vênus no colo. Sem delongas, adentra o lugar e coloca-a na cápsula embrionária.
– Já vai passar, já vai passar... – ele diz, acariciando a bochecha da mulher antes de se direcionar ao painel de controle às pressas.
Frequentemente Vênus tinha que ser colocada na cápsula para ser reprogramada e fazer a troca do dispositivo criado por Ayesha, pois sua energia luta inconscientemente todo o tempo para expulsá-lo de seu organismo e restaurar a própria memória e total poder de . Então eles tinham que substituir o dispositivo antigo por um novo todas as vezes e Vênus não se recorda dos pesadelos, nem mesmo de como fora levada ao laboratório.
No entanto, a frequência com que isso acontecia está desesperadamente diminuindo cada vez mais. Há anos o fenômeno acontece mensalmente, até que reduziu para duas vezes ao mês, para em seguida passar a ocorrer semanalmente. Atualmente já ocorria duas vezes na semana. A mente de está conseguindo retornar aos poucos e cada vez mais poderosa.
E, como um aviso, o hipocampo projeta pesadelos com imagens de um passado de para acionar o seu sistema límbico que desperta os seus poderes. Callisto tinha noção disso porque Vênus sempre acorda gritando nomes específicos: Howard, James, Peggy e Steve. A sequência é a mesma e se repete há anos, sempre os mesmos nomes. Essa noite é a vez de James.
Callisto desconfia que estas sejam pessoas importantes na vida humana de e que, por seu cérebro estar destruindo o dispositivo que impede que ela se lembre deles, tudo volta à tona. Mas a dor, a agonia que ela sente, é demais para ele. Vê-la sofrer o destrói e saber que ela sofre em consequência aos feitos dele mesmo, o faz querer morrer.
Antes de apertar o botão para a restauração, que cessa as dores da amada, ele recorda-se da cena de poucas luas atrás quando Ayesha cita algo como "Controlar o Universo". Desde então ele tenta juntar informações para compreender qual é o real plano da sacerdotisa e ao que ela está submetendo Vênus. Chegou ao ponto de negociar com saqueadores, mas nada lhe foi informado.
Vênus grita dentro da cápsula e Callisto sente seu peito doer. E se...
E se ele não fizer a restauração do dispositivo desta vez? Vênus sentiria dor, mas para poder retornar. Não é isso que ele quer?
Outro grito ensurdecedor vem da cápsula. Callisto engole em seco enquanto mira o botão de restauração. Talvez voltasse. Mas e se ela voltasse? Os planos de Ayesha iriam para o buraco, mas e quanto à eles?
Callisto está enfeitiçado pela beleza e sabedoria de assim que pousou os olhos nela e, com todos esses anos em que cuida de Vênus, está apegado completamente àquela mulher.
Ele a ama.
Talvez quando ela volte a ser não seja mais sua parceira, até porque não é e nunca será depois de saber o que ele fez com ela. Irá perdê-la. Para sempre. Não pode imaginar sua vida sem ela e novamente mira o botão de restauração, suando frio.
O que ele deve fazer?

– Como você está? – Callisto indaga ao oferecer uma caneca de Pólvora quente à mulher.
– Bem – ela responde, aceitando a caneca e dando um gole no líquido de coloração escura. – Só com um pouco de dor de cabeça, mas é suportável.
Callisto sorri.
– Se lembra do pesadelo que teve esta noite? – ele questiona.
Vênus se acomoda por debaixo da manta que o rapaz pôs sobre seus ombros e enruga a testa por um instante. Ela dá uma golada na bebida e responde em seguida:
– Pouca coisa. Sei que tem algo a ver com Ayesha.
– Mesmo? – Callisto questiona, dividido entre a surpresa e excitação.
– Sim. – Afirma. – Ela... ela pediu que eu... que eu destruísse algo. – Revela, hesitante.
– E... O que é? – Callisto indaga esperançoso.
– Eu não... – Ela engole as próprias palavras e mira o rapaz, com um sorriso travesso no rosto. – Você sabe que não posso falar sobre as missões secretas com você.
Callisto suspira decepcionado.
– Bom. – Ela se levanta e joga a manta na cadeira onde há pouco estava sentada. – Tenho que ir, antes que Ayesha venha até aqui. Odeio quando ela vem inspecionar se há algo de errado comigo, como se eu fosse um robô com defeito.
Vênus pousa a caneca sob o balcão de vidro e sela os lábios nos de Callisto rapidamente, antes de se retirar do laboratório, deixando para trás um rapaz confuso. Ele se vira automaticamente para o painel de controle e seleciona a gravação de horas atrás para reprodução. Por que não funcionou?
Na imagem ele vê Vênus dentro da cápsula, se contorcendo de dor. Ele se arrepia como se estivesse revivendo aqueles momentos de agonia novamente. Então, na imagem, ele vê o exato momento em que desiste de fazer a restauração e acompanha os instantes seguintes onde Vênus simplesmente vai se acalmando e sai da cápsula. Completamente renovada. A ruga de dúvida em sua testa cresce. não teria que ter retornado?
Então ele seleciona o relatório do monitoramento cerebral de quando ela estava na máquina e suspira aliviado ao constatar: a imagem mostra os fios quase imperceptíveis do dispositivo se recolhendo e liberando o cérebro aos poucos. Vai funcionar, ele pensa.
Só precisa torcer para que o dispositivo se desinstale do cérebro dela o mais rápido possível antes que Ayesha note e também antes que Vênus consiga cumprir a sua missão de "Controlar o Universo".


-x-
Viscardi, as derivas da Galáxia Divindade.


A distinta nave dourada está pairando a órbita do planeta completamente abandonado quando a voz da sacerdotisa soa calma através do comunicador:
– Preparada?!
Do alto, Vênus faz uma varredura pela superfície do planeta com os olhos antes de sair para a gravidade zero. Vagarosamente, a mulher flutua pelo espaço sem fim e se aproxima do planeta, adentrando sua atmosfera sem grandes problemas. Assim que ultrapassa a camada iônica acende as rajadas cósmicas nas mãos e permanece no ar, uma vez que a gravidade do planeta está em exercício. Aos poucos, ela desce e pisa no solo rochoso do planeta.
Ela caminha, à procura de algo que possa chamar-lhe a atenção ou algum tipo de pista que revele o que acontecera naquele lugar. Casas abandonadas, prédios caindo aos pedaços, vegetação morta e nenhum sinal de água.
– Nenhum sinal de vida. – Vênus pronuncia ao comunicador. – Vou fazer uma varredura mais apurada para me certificar.
"Perfeitamente", Ayesha responde.
Vênus então sobrevoa toda a superfície do planeta para, depois de um longo período, pousar no mesmo lugar e afirma: – Nada por aqui, sacerdotisa. "Deve haver algo que nos leve à onde ele está". Mesmo atenta às palavras que Ayesha pronuncia, Vênus sente que algo se aproxima e consegue desviar a tempo da grande rocha que fora jogada em sua direção. Ao virar, se depara com um ser voador coberto por uma capa preta que esconde toda a sua face.
– Quem é você? – Indaga o recém-chegado, que Vênus nota ser uma mulher pela tonalidade da voz.
– Vênus – ela pronuncia.
Dito o nome, a mulher encapuzada a ataca. De alguma forma, a mente dela projeta que as rochas vão de encontro à guardiã. Vênus desvia de todas elas e levanta voo com as rajadas cósmicas nas mãos. Já no alto, ela concentra toda a sua energia em mãos e dispara contra a mulher. Ao se desviar, o capuz a descobre e revela o ser de aparência humanoide cuja pele era na cor cinza e com faixas roxas ao redor do rosto.
"Vênus?", a voz de Ayesha soa pelo comunicador.
– Tive um contratempo – Ela responde, ofegante. – Já retorno com notícias. Câmbio.
A mulher então se joga contra Vênus e a soca no rosto com uma força que arremessa Vênus no solo do planeta, causando destroços abaixo de si. Antes que ela possa se levantar, a mulher a ataca novamente, direcionando mais rochas em sua direção. Elas massacram Vênus contra o chão. A mulher então, com o pensamento precoce de que aquele ser já está acabado, se aproxima.
Vênus dispara todo o seu poder e as rochas explodem para todos os lados. Com os olhos repletos de energia cósmica e fúria em sua face, ela voa de encontro com a mulher e a ergue pelo pescoço. A mulher, por sua vez, tenta soltar-se da mão forte de sua inimiga. Vênus joga a mulher contra as ruínas de um prédio abandonado, fazendo-a atravessar diversas paredes. O prédio sucumbe e desmorona em cima da mulher cinzenta.
Como se isso não fosse o suficiente Vênus dispara energia por suas mãos contra os destroços do prédio e os derrete, transformando-o em uma única rocha sólida. Ofegante, ela decide pousar no chão e passa a mão sob o nariz, limpando o sangue vermelho que escorria.
Vênus franze a testa ao mirar aquele sangue de coloração diferenciada. O sangue dos soberanos sempre é de cor amarelada, e não vermelha. Distraída pelo fato de seu sangue estar de outra cor, Vênus não percebe que a mulher saíra do casulo de rochas e está a ponto de lhe atacar até que é atingida, em disparada, por vários socos seguidos, sendo derrubada no chão. Vênus nunca vira ser tão forte quanto aquela mulher.
Por fim, já caída e sem conseguir se defender mais, Vênus sente a mulher segurá-la pelo cabelo e bater sua cabeça contra o chão. Tudo fica escuro.

2.6 Gara

Viscardi, as derivas da Galáxia Divindade.


"Vênus"
O nome soou ao longe.
"Guardiã, responda. Câmbio".
As palavras abafadas chegaram à sua consciência junto com a dor, que era diferente das demais que já havia sentido em sua vida. Sua cabeça doía como o inferno e os olhos pesavam tanto que ela mal conseguira abri–los. Assim que o fez, percebeu que estava amarrada por uma espécie de cobra esverdeada em um trono de pedra, dentro de um salão escuro no interior de uma caverna de localização duvidosa. Vênus tentou se soltar usando a força, mas a cobra era deveras forte para ser derrotada facilmente.
"Vênus, responda.", a voz de Ayesha soou pelo comunicador.
– Estou aqui – respondeu aos sussurros.
"Por Sovereign! O que aconteceu?", Ayesha indagou. Vênus percebeu a aflição em sua voz, algo que ela também nunca havia presenciado antes.
– Fui capturada. – Ela revelou. – Há uma mulher que deve ser viscardiana. Ela quem me aprisionou.
"Como?", Ayesha soltou, perplexa. – "Os viscardianos foram extintos há mais de 12 bilhões de anos".
No entanto, quando Vênus ia expressar seu choque, o comunicador foi rudemente arrancado de seu ouvido. Ao virar–se, ela viu a mesma mulher sorrir com o comunicador em mãos, para em seguida jogá–lo no chão e pisar em cima.
– Vai se arrepender disso! – Vênus esbravejou. – Não tem noção de quem você está despertando o ódio...
– Eu sei sim – a mulher respondeu calmamente, posicionando-se à frente da guardiã. – A famosa Vênus, um dos seres mais aterrorizantes do Universo.
– Então sabe que irá sofrer. – Vênus ameaçou, projetando energia azulada pelos olhos. – Vou ter prazer em arrancar a sua cabeça e socá–la no seu traseiro.
– Claro que vai – a mulher respondeu com desdém. – Admito que esperava mais. Por ser tão temida, imaginei que fosse... amedrontadora.
– Espere até eu me livrar dessa maldição e entenderá o porquê do medo deles. – Vênus se mexeu e a cobra a apertou ainda mais.
– O que você é? – A mulher a ignorou, rodeando o trono enquanto a analisava. – Terráquea?
– Soberana. – Vênus rugiu.
– Os soberanos não são todos... dourados? – a mulher indagou com a testa vincada, sem tirar o sorriso egocêntrico do rosto.
– Dourada minha pele é.
– Não é o que meus olhos veem. – A mulher parou novamente em frente à guardiã, com um sorriso no rosto.
Vênus franziu a testa e olhou as próprias mãos atadas sob seu colo. Estas não estavam mais douradas e sim com uma aparência frágil e humana. Automaticamente ela se recordou do seu reflexo no pesadelo.
– O que fez comigo, demônio? – Vênus indagou entre dentes, sua fúria sendo despertada.
A mulher se aproximou de Vênus e soprou em seu ouvido:
– Te dei uma surra.
As palavras foram a gota d'água. Assim que a mulher lhe deu as costas, Vênus focalizou a energia para seus braços e mãos, e as cobras que a prendiam explodiram. Ela voou na direção da mulher cinzenta, que foi pega de surpresa, eletrocutando-a até que ela gritasse por apelo. Vênus encerrou a rajada e a mulher caiu de joelhos.
– Sem gracinhas, mulher. – Vênus cuspiu, erguendo–a pelo pescoço. – Responda. Quem você é, e o que fez comigo?
– Meu nome... meu nome é Gara – a mulher respondeu, ofegante. – Sou uma viscardiana.
– Os viscardianos foram extintos há 12 bilhões de anos. – Vênus a interrompeu.
– Exato – a mulher afirmou. – Por favor, me solte e eu lhe contarei tudo o que quiser.
– Sim, você vai me contar. – Vênus sorriu, maléfica. – Mas será do meu jeito.
Vênus então arremessou a mulher no trono, onde anteriormente estava presa, e enlaçou–a com cordas feitas de sua própria energia. A viscardiana tentou se soltar, porém, em vão.
– Continue. – Vênus sentou–se na rocha à frente do trono e encarou a mulher.
Gara hesitou, mas logo começou a falar quando Vênus acionou leves descargas de energia sobre seu corpo:
– Viscardi era um planeta superlotado, com diversos habitantes saudáveis e intelectualmente capazes de tudo, vivíamos em comunidades, éramos passivos e trabalhávamos bem em conjunto. Nosso planeta era um dos milhares supervisionados pelo Celestial Divindade...
– Espera. O quê? – Vênus indagou, perplexa – Os Celestiais realmente existiram?
– E existem – Gara afirmou, ofegante. – Só que, naquela época, como estavam criando o cosmos e os planetas, eles eram vistos com mais frequência. Um dos maiores desejos dos viscardianos era sair do nosso planeta em viagens espaciais e explorar o resto do Universo. Contudo, todas as tentativas para criação de espaçonaves foram falhas. – Gara engoliu em seco antes de continuar: – Um dia eu decidi confrontar o Celestial e pedir que ele nos fornecesse um poder que nos permitisse realizar nosso desejo supremo e explorar mais além do nosso potencial. O Celestial nunca havia se comunicado com nenhum de nós, muito menos interagido com nossas realizações e pretensões, mas naquele dia decidira e nos presenteou, disse que minha atitude havia sido significante e seria recompensada. Não demorou muito até que o Vórtice Negro simplesmente surgisse na minha frente.
– O que transforma mortais em Deuses. – Vênus soprou.
Gara assentiu e pronunciou:
– O que você tanto tem procurado. Infelizmente o nosso povo sucumbiu ao poder do Vórtice, ele é muito poderoso e perigosamente atraente. Um ano depois os viscardianos estavam tão sedentos por mais poder que uma guerra civil foi travada e extinguiu toda a nossa raça. Exceto por mim.
– Então foi você. Por isso é tão forte. – Vênus arqueou a sobrancelha e sorriu, inconscientemente. – Você o usou.
– Sim, eu fui a primeira. – Assumiu, envergonhada. – Mas os poderes se enfraquecem com o passar dos anos, não sou tão forte quanto antes. As consequências por usá–lo não compensam.
– Sua fraqueza... são efeitos colaterais? – Vênus indagou, ignorando o alerta da viscardiana.
– Não. Por anos eu fiquei parada, sentada, sem ao menos respirar ou mover um dedo sequer. Não senti que estava me petrificando com o passar das décadas e perdendo os meus poderes.
– E por que não abandonou este planeta?
– Cada indivíduo tem a sua consequência por usar o Vórtice e essa é a minha, ficar para sempre presa ao planeta que eu causei a destruição. – Gara revelou.
– Mas ele não está aqui. O Vórtice – Vênus comentou. – A Tropa Nova o recolheu porque souberam que eu viria.
– Meu segundo maior erro – Gara admitiu. – Deveria tê–lo destruído enquanto podia. Agora, nas mãos de outros mortais, ele poderá extinguir todo o Universo.
– A menos que me diga onde ele está. – Vênus sorriu e Gara gargalhou.
– Estou confinada, porém, não desinformada. Sei que não o destruiria, Ayesha tem planos para ele. – Gara cuspiu em sua direção. – Eu nunca cooperaria com isto.
Vênus sorriu diabólica antes de dizer:
– Essa é a minha parte favorita. Quando os mocinhos não cooperam.
Assim que a guardiã concentrou–se em despertar a sua energia nas cordas de modo que eletrocutasse e torturasse Gara, sua cabeça tornou a doer.
– Ai! – Ela pousou a mão na cabeça.
A dor, desta vez, estava infinitamente pior, Vênus gritou de dor e caiu de joelhos. Gara franziu a testa em confusão ao visualizar a guardiã se contorcendo à sua frente. Ela tentou se libertar enquanto isso, usando sua força mental para destruir aquelas cordas. Contudo, à medida que Vênus gritava, as cordas se enfraqueceram até que desaparecessem por completo.
Já liberta, Gara levantou do trono rapidamente e mirou a outra de longe. Vênus gritou e apertou as mãos trêmulas na cabeça. Em um instante sua potência vocal estava alta e, no seguinte, ela se calou completamente e desmaiou, permanecendo desacordada no chão. Gara se aproximou vagarosamente e se assustou quando a guardiã abriu os olhos de repente.
– Onde estou? – A guardiã perguntou, com a voz vacilante e olhos vasculhadores. Estava visualmente assustada e perdida.
– O quê? – Gara questionou, confusa.
A expressão da guardiã se tornou neutra antes que tornasse a gritar e seus olhos se acendessem de energia cósmica.
– O que você fez comigo? – Vênus esbravejou, mirando Gara e tornando a pôr as mãos sob a cabeça.
– Nada.
– Minha cabeça... Parece que vai... explodir! – A guardiã gritou. Entre uma piscada ou outra, Vênus sentiu a presença de uma terceira pessoa e indagou assustada: – Quem é você?
– Vênus? – Gara hesitou, dividida entre atacar a mulher ou ajudá–la.
! Sou ! – A guardiã esbravejou, se contorcendo. – Por favor, me ajude!
As mentes, que anteriormente estavam separadas e desassociadas, se fundiram em uma só. As personalidades, tão distintas, travavam uma luta por espaço para assumirem o controle do corpo. A mulher tornou a gritar, de forma agonizante. Antes que a viscardiana pudesse tomar alguma atitude, a guardiã, com muita dificuldade, soltou rajadas cósmicas e saiu voando. Ela ultrapassou as rochas da caverna que as resguardava, a superfície do planeta, sua atmosfera, e ignorou a nave parada na órbita. Com todo o poder que seu potencial lhe permitia, ela voou pelo cosmos e viajou pelos pontos de salto até retornar ao seu planeta tão rapidamente que mal respirava.
Lá, ela sequer pedira permissão de entrar, mas assim que o fez sentiu sua mente apagar novamente. Em uma caída escandalosa da camada de ozônio até a superfície do planeta, a guardiã explodiu no solo, desacordada. Os habitantes, curiosos pelo que teria adentrado na sua atmosfera, se aproximaram do local onde ela estava. Surpresos por constatarem quem era, burburinhos surgiram em tom de surpresa e espanto, alguns até choraram.
– Segurança para o setor laboratorial. Segurança para o setor laboratorial. – Um dos guardas solicitou através do comunicador ao mirar a mulher ensanguentada e desfalecida ao chão. – A guardiã foi abatida. Repito. A guardiã foi abatida.
Callisto, que estava desde então no laboratório pesquisando formas de reconstituir a consciência de ao corpo o mais rápido possível, assim que ouviu o chamado no autofalante correu até o transportador mais próximo.
– Localização. – Solicitou através do comunicador.
– Leste de Sovereign, próximo à entrada principal.
Callisto acelerou a velocidade e, mesmo que não fosse tão longe, parecia que havia demorado uma eternidade até que ele visualizasse o tumulto de gente. Mal havia parado o veículo e saltou, correndo até a concentração de pessoas. Ele desviou de vários até que pudesse chegar ao núcleo e ver Vênus desfalecida dentro de uma cratera no chão. Ele não hesitou em correr até ela.
– Príncipe Callisto, já chamamos o resgate. – Um dos seguranças, que tentava dispersar a multidão, informou.
– Não será necessário, eu cuido dela – respondeu às pressas, descendo até o buraco onde ela estava.
Quando ele se aproximou o suficiente, passou a ter noção da grandeza do estrago. Sangue escorria de seu nariz, ouvidos e boca, sua roupa estava rasgada e, pelas frestas, podia ver os roxos sob sua pele. O braço direito estava com uma fratura exposta e a cabeça tinha um grande ferimento do qual escorria uma grande quantidade de sangue. Ele pegou–a no colo com cuidado e mirou sua face. Ela parecia estar em constante agonia.
Sem delongas, ele se moveu com ela por entre a multidão, que dispersou para fornecer passagem de volta ao transportador, e correu de volta ao laboratório. Precisava examiná–la antes que Ayesha chegasse. Numa velocidade que ele nunca imaginou que um dia teria, desceu do veículo com ela nos braços e foi até o laboratório.
– Saiam daqui! – ele gritou para todos que trabalhavam nas cápsulas. – Saiam daqui agora!
Assim que a pousou na cápsula embrionária principal, a sala já havia se esvaziado por completo. Ele foi ao painel de controle e acionou o escaneamento completo do corpo. À medida que a imagem se formava, seu peito subia e descia numa constante falta de ar. A maioria dos ossos estava quebrada, para não dizer todos. Contudo, ela ainda estava viva.


Continua...



Nota da autora: Olá, caro leitor.
Primeiramente quero agradecer imensamente por ter clicado em V E N U S para poder ler. Espero que goste do enredo e se divirta ao longo dos capítulos.
Já deixo avisado aqui que o rumo da história pode se alterar e não ter um final como nos filmes ou HQ's da Marvel. Muitas mudanças foram feitas, apesar de baseadas em acontecimentos dos filmes e HQ's, e espero que gostem de cada uma delas tanto quanto eu gostei.
Já deixo claro aos fanáticos pela Marvel, também, que se clicou nessa estória pensando ser uma estória alternativa que segue estritamente os fatos ocorridos em filmes ou HQ's esteja ciente que pode sim haver algumas adaptações e até mesmo erros cronológicos ou controversos com os fatos ocorridos nos filmes ou HQ's. Apesar de estudar muito para não ocorrer.
Erros serão prováveis e por vezes propositais, não somos perfeitos.
Para quem não é fã da Marvel, acredito que seja necessário assistir ao menos o filme "Capitão América: O primeiro vingador" para compreender Venus.
A estória da origem e vida de Venus é de autoria completa minha, Kelly Cristina V. S. Apesar de seu universo ser o mesmo Universo da Marvel. Os personagens e episódios acrescentados são de minha autoria e qualquer semelhança a outras estórias é mera coincidência. Respeito o trabalho alheio assim como espero que respeitem o meu.
Tem sido uma experiência maravilhosa para mim escrevê-lo e eu espero do fundo do meu coração que todos que estão lendo curtam nem que for um pouquinho. Tem muita coisa para rolar e eu espero que você leia tão desesperadamente quanto eu estava enquanto escrevia.

Espero que daqui até o final vocês se divirtam muito e compreendam todas as referências que eu coloquei.
Gostaria de agradecer a capista maravilhosa Flávia Coelho, que foi quem fez essa capa absurdamente perfeita e totalmente representativa a história. Beijos de luz à ela".
Temos um trailer official agora!! Confiram no link abaixo.
Venus - Origin - Trailer Official

Beijos de luz, vejo vocês depois.

Se você gostou deste capítulo, considere deixar seu comentário.

Outras Fanfics:
COLLEGE: UCLA BRUINS (Originais - Em Andamento)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus