abriu os olhos aquela manhã e não conseguiu evitar sorrir. Deitado de lado na cama, a primeira visão que teve fora a dela, a da pessoa que era a calmaria, enquanto ele o furacão. Acordar com ela observando-o, com aqueles olhos doces e sorriso tranquilo, já estava se tornando rotina, desde que ele a chamou para morarem juntos.
Enquanto ela era uma bióloga chefe de um laboratório de pesquisas, ele trabalhava em una empresa e era um músico iniciante, cantor em um grupo de samba que tocava em alguns barzinhos da cidade aos fins de semana. Ele, em seus recém completos 26 anos, se via inúmeras vezes imerso em uma fumaça densa, fumaça essa que ofuscava sua mente, dificultando que todos aqueles pensamentos e dúvidas conflitantes fossem resolvidos. Ela, por outro lado, era a paz em pessoa, de jeito e olhar doce, cativava a todos e fazia tudo parecer apenas tempestade em copo d'água. E quando ele se perdia em sua fumaça de pensamentos, precisando relaxar, era nela que ele pensava...


e os meninos da banda estavam finalizando sua apresentação quando ele percebeu pedir mais uma cerveja ao garçom, enquanto suas amigas se despediam dela e iam em direção ao caixa do estabelecimento. A morena havia chego com mais três amigas logo que o boteco abriu e ele não conseguia desviar sua atenção dela desde então. Entre músicas, conversas, risadas e sorrisos, a noite dos dois passou rápido e logo a apresentação do grupo de acabou e ele se apressou em direção à mesa da garota, querendo conhecer a pessoa que fisgara sua atenção a noite toda.
Outra garrafa de cerveja estava sendo colocada na mesa de quando um rapaz moreno, de cabelos pretos e olhos cinzas, se aproximou e sorriu para ela. A morena o reconheceu de imediato, era o cantor com quem ficou trocando olhares e sorrisos quase que a noite toda. Esperando algum comentário machista, encarou aqueles olhos tempestuosos, que pareciam refletir o interior do rapaz.

- Sou . - Ele disse, encarando-a também, ainda de pé ao lado da mesa da morena.
- . - Ela respondeu, sem interromper o contato visual.
- Posso te pagar uma cerveja? - apenas concordou com a cabeça, colocando um pouco de cerveja em seu copo, enquanto o rapaz se sentava do outro lado de sua mesa e sinalizava para o garçom pedindo um copo.

A partir daquele dia, os dois não se desgrudaram mais. Ainda que não estivessem juntos, devido ao trabalho corrido de e ensaios do grupo de , estavam sempre trocando mensagens de Whatsapp e a morena sempre tentava ir às apresentações de , fazendo com que a noite de ambos acabasse mais uma vez em algumas garrafas de cerveja em algum boteco.
se via cada vez mais dependendo da garota de jeito doce e pele morena, de forma que, mesmo quando não estava com ela, só de pensar nela ele já conseguia relaxar. ainda se mantinha um pouco receosa da relação dos dois, afinal havia pouco tempo que estava solteira e seu último relacionamento a havia machucado bastante. Porém, não tinha como negar que, naqueles meses que estavam juntos, se sentia bem ao lado do rapaz e adorava poder ir para à casa dele as vezes e esquecer de seus problemas, enquanto ele a envolvia em seus braços e ela enterrava seu rosto na curva do pescoço do rapaz.

Aproveitando a leve brecha em seu horário de trabalho, se dirigiu à cafeteria ao lado do laboratório. A morena precisava de duas coisas: um café e um tempo para pensar.
havia reunido toda sua coragem para ir ao trabalho de , falar com ela; ele tinha uma boa notícia e um assunto sério para tratar. Ao passar pela cafeteria ao lado do laboratório, decidiu entrar e comprar um café para ele e para a morena. Se a conhecia bem, ela devia estar precisando de um café, já que estava trabalhando em uma mesma pesquisa há algumas horas, segundo uma mensagem que ela lhe enviou mais cedo. Ao entrar na cafeteria, passou um olhar rápido pelas mesas e logo a viu ali, segurando uma xícara de café no ar, com olhar meio perdido e um sorriso leve nos lábios. Ele não esperava que ela estivesse ali, queria ter tido alguns minutos a mais para reunir coragem e relembrar o que tinha de tão importante para falar, mas nem sempre as coisas saem como planejado.
O moreno andou em direção à mesa da garota e se sentou à frente dela, que pareceu despertar de seus devaneios no meio do curto caminho dele até a mesa e baixou a xícara de café, passando a encará-lo desde então.

- O que faz aqui? - perguntou surpresa, assim que se sentou do outro lado da mesa.
- Eu precisava falar com você, é importante.
- Ah sim, estranhei você ter vindo, apenas. O que houve?
- Eu... eu... consegui um emprego, fixo. - O rapaz se enroscou um pouco para falar, finalmente conseguindo e ficando levemente sem graça logo depois. - Percebi que se quero ter um futuro com você, igual já conversamos algumas vezes, eu precisava disso.
- , isso é incrível!
- Sim. - Foi tudo o que o rapaz respondeu, nervoso sobre como falaria o restante que havia ensaiado tanto para falar. - Mas não é só isso que eu precisava te falar. - voltou a falar, sem graça, respirando fundo antes de prosseguir. - Nós já estamos juntos faz um tempo e só eu sei o quanto você me faz bem, esse seu jeito doce me conquistou e conquista a cada dia mais. Você conhece meus amigos e todos eles te adoram, meus pais então nem se fala. Adoro o fato de que você gosta do que eu gosto, uma cerveja de garrafa gelada e um boteco, mas odeio passar o dia todo com você e depois ter que te levar embora, para a casa dos seus pais, e odeio ainda mais ter que dormir sozinho e acordar sem o seu sorriso ao meu lado. Eu não consigo mais olhar para minhas blusas do mesmo jeito, depois de vê-las no seu corpo, porque elas ficam bem mais bonitas em você do que em mim. Não vim aqui te pedir em casamento, por mais que eu pense sobre isso, porque agora eu não conseguiria te dar a festa e a vida que você merece. Eu vim aqui saber se você quer vir morar comigo e um dia, quem sabe, ter meu sobrenome no seu RG. - falou tudo de uma vez, baixando o olhar para suas mãos assim que concluiu, respirando fundo algumas vezes.

tentava absorver tudo que escutava, enquanto ainda lidava com o choque. Ela não esperava um pedido daqueles vindo de naquele momento, muito menos naquele local, mas sabia que tinha sido um passo bem grande para ele fazer e, principalmente, falar tudo aquilo. Depois de alguns segundos calada, que para o rapaz pareceram horas, a morena falou:

- Eu aceito morar com você. - Ela falou com um sorriso, fazendo com que o rapaz erguesse o olhar para encará-la, logo sorrindo junto. - Mas a parte do sobrenome pode esperar um pouco, ok? - Os dois riram de leve, assim que concordou com a cabeça.


- Eu te amo. - Ela disse, passando a mão pelo cabelo bagunçado do rapaz ao seu lado na cama, fazendo com que ele fechasse os olhos, apreciando o carinho.
- Eu te amo. - Ele respondeu, reabrindo os olhos e sorrindo de leve.

Nota da autora: Sem nota.





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