Finalizada em: 24/04/2018

Capítulo Único


Doze e trinta e quatro da noite e a movimentação no pequeno restaurante especializado em Bulgogi continuava agitada. Era um entra e sai constante de pessoas que se aventuravam naquela quinta-feira à noite, regados à boas gargalhadas, chapa esquentando e bastante álcool. Afinal, não há nada melhor do que sair de um expediente exaustivo do trabalho e afrouxar a gravata para apreciar uma cerveja bem gelada.
O barulho da chapa fritando os pedaços grossos da carne de porco agregados aos sons externos dos outros clientes não incomodaram, em nenhum momento, os pensamentos aleatórios – e já alcoolizados – da garota sentada sozinha em uma das mesas. Ao contrário de muitos ali, ela só queria afogar suas mágoas no Soju¹ e passar o restante da madrugada xingando seu ex-namorado de todos os nomes possíveis; e até aquele momento ela estava conseguindo. Seus dedos mal conseguiam segurar corretamente o jeotgarak², enquanto um copo da bebida destilada era virado sem pudor algum garganta à dentro e esvaziando, assim, mais uma garrafa.
não conseguira evitar uma careta quando o líquido desceu rasgando.
– Arr! Unnie, me veja mais uma garrafa de Soju! – gritou de onde estava, erguendo o copo vazio.
A proprietária do estabelecimento que no instante finalizava o pagamento de um cliente, balançou levemente a cabeça em desaprovação ao notar as condições alteradas da estrangeira. Entretanto, como lhe fora pedido, pegou a bebida no expositor e levou até ela.
– Se já está bêbada, por que continua pedindo mais Soju? – perguntou ao deixar a garrafa sobre a mesa, vendo que aquela já era a quarta.
Sem alarde, pegou a garrafa com as mãos e a agitou freneticamente antes de, num movimento rápido e quase automático, retirar a tampinha de metal. Seu indicador seguiu até sua própria cabeça, dando leves batidinhas.
– Porque ainda não consegui esquecer o que quero esquecer – encheu novamente o copo, virando o líquido todo na boca. – Então vou beber até desmaiar, se for preciso.
Jong Mi cruzou os braços em frente ao corpo, revelando com nítida expressividade o que achava sobre aquele comportamento da mais nova. Todavia, definitivamente não se importava com seus julgamentos. Fora, então, que o celular da estrangeira começou a vibrar com insistência sobre a mesa, atraindo a atenção de ambas as mulheres. Mas, assim que vira na tela o nome de quem a ligava, mal deu-se ao trabalho de se importar.
– Não vai atender? Pode ser algo importante.
– Não, não é – disse com certa amargura, deixando outro copo vazio. As maçãs do rosto da garota já estavam coradas devido ao excesso de álcool. – Idiota... ainda tem a ousadia em me ligar... – murmurou quase inaudível a última parte.
Ciente de que não adiantaria dizer mais nada para conscientizar a mais nova, Jong Mi apenas suspirou alto, dando-se por vencida.
– Certo, faça o que quiser – notou que o acompanhamento que assava na chapa já estava no fim. – Só não venha dar um showzinho gratuito depois de beber todas. Vou buscar mais um pouco de porco pra você. Aish, garota desnaturada – falou antes de dar as costas e sair.
mal absorveu as primeiras palavras da mulher, somente se deixou ser levada pelas sensações. Afinal das contas, sua mente turbulenta já estava embriagada demais para raciocinar com clareza. Além de uma embriagues física, seus próprios sentimentos conflituosos deixavam-na totalmente incapacitada, sem rumo. A cada virada do copo, ela implorava para que sumisse de seus pensamentos, mas, no fundo, no seu coração dolorido, sabia que não era exatamente isso que gostaria que acontecesse. Dessa forma, todo seu corpo estava no automático e suas atitudes eram um tanto impulsivas.
Tardaram-se mais alguns minutos, o celular novamente vibrava e a cabeça da estrangeira girava. Havia chegado ao seu limite, seu corpo alertava com evidentes indícios. Mas continuou ali sentada, sem nem ao menos conseguir erguer o copo. O peso do seu corpo vez ou outra vacilava para os lados, oscilando entre o dilema de desmaiar de uma vez por todas ou se manter acordada.
Já era madrugada, a movimentação no restaurante havia diminuído consideravelmente e a maioria dos funcionários já estavam se retirando devido ao fim de turno. Jong Mi lembrou-se da estrangeira e buscou-a com os olhos, a vendo ainda no mesmo lugar. Observou de longe quase caída sobre a mesa, a cabeça oscilando para os lados ao não aguentar sustentar o próprio corpo. E ao mirá-la daquela forma, concluiu que a garota precisava ir embora. Já estava pronta para mandar a amiga para casa quando foi chamada por um de seus funcionários. Incerta, a mulher ponderou por alguns segundos sobre qual dos dois dar prioridade. Bom, a estava tão embriagada que não sairia dali nem tão cedo, disso ela tinha certeza. Então decidiu ir atender ao pedido do funcionário, colocando em mente que seria rápido e logo voltaria para dar uma bronca na outra. Obviamente, não apercebia-se disso e sua atenção era nula para o que ocorria em volta.
Entretanto, o que mais chamava atenção naquele cenário todo, era a figura de três homens que analisavam, há algum tempo, o andamento das coisas. Eles, na verdade, estavam um pouco mais afastados, encostados no balcão do bar. Ora jogavam papo fora, ora observavam as mulheres que por lá passavam. O rapaz do meio, que possuía os cabelos castanhos e um olhar sagaz, logo tomou a iniciativa para chegar na sua atração principal, aquela cuja a noite passou lhe entretendo de forma divertida e instigadora.
A estrangeira bêbada lhe parecia um alvo fácil. Ah, e como ele estava ansioso para se divertir com ela. Aproximou-se com o olhar fixo na garota, sorrindo presunçoso. Quando sua estatura esguia parou ao lado de , ela simplesmente ergueu a cabeça, olhando-o sem realmente compreender suas intenções.
– Com licença. Eu peço desculpas por chegar assim, talvez, um pouco invasivo, mas... eu não pude deixar de notar que você passou a noite toda sozinha – iniciou sua jogada apresentando um inglês de nível quase fluente. , por sua vez, estreitou as sobrancelhas, o vendo ganhar espaço e se sentando na cadeira ao lado. Ela mal entendia o que ele estava querendo dizer com aquilo. – Sabe, eu fiquei o tempo todo me perguntado o que uma garota tão bonita como você estaria fazendo aqui sozinha...
O coreano soltou uma risada baixa, brincando com os olhos que averiguavam o corpo coberto da . Ele se deu a liberdade de despi-la mentalmente, adorando a imagem que obteve. Em contrapartida, deu uma risada fatigada e sem humor.
– Talvez a garota bonita quisesse estar sozinha – balbuciou, sentindo os olhos pesados. – Ah... e-eu estava até conseguindo... mas você apareceu.
As palavras da menor trouxeram um impacto no rapaz, que não esperava ouvi-la responder na sua língua materna, e, muito menos, vindos como um fora. Mas engana-se quem achar que isso fora capaz de o intimidar, pelo contrário, ele estava a fim de delimitar e conhecer até onde ia a caixinha de surpresa que era aquela estrangeira.
– Então você fala em coreano... interessante – mordeu o lábio inferior, encarando-a descaradamente. – Podemos ver o quão boa você é na nossa língua... que tal? – sua mão boba seguiu de encontro ao braço vulnerável de , enquanto ele se aproximava perigosamente até estar bem perto do ouvido da garota – Sei de um lugar incrível e tenho certeza que você vai adorar conhecer. Também posso te pagar uma bebida quando chegarmos lá.
Um calafrio subiu pela espinha da estrangeira, quase como um alerta de perigo. Se ela não estivesse tão fora de si, teria notado o teor malicioso naquela proposta feita pelo rapaz.
– Por que você me pagaria uma bebida? – afastou-se do corpo maior, começando a se incomodar com aquele contato. – Mal nos conhecemos.
– É exatamente para isso! Quero me tornar seu amigo – deu uma pausa, vendo as feições dela mudarem. – Vamos começar corretamente, agora. Me chamo Kim Seo Jun.
Amigo?
A mente da tentava processar aquelas palavras.
Usufruindo da vulnerabilidade na qual a garota estava, o rapaz estampou um sorriso falso no rosto e pegou pela mão quente de a fim de induzi-la a se levantar, assim como ele havia feito segundos antes. Lançou, para os dois amigos que assistiam tudo do bar, um olhar vitorioso e cheio de astúcia. SeoJun estava realmente convencido de que havia conseguido o prêmio daquela noite. E, se não fosse por conta de uma terceira mão agarra-lhe fortemente a sua, ele continuaria convicto daquilo.
– Você não vai a lugar algum com ela – uma voz masculina ditou, autoritário.
SeoJun correu os olhos da sua mão presa no pulso da garota à mão que lhe segurava o braço, subindo a vista até encontrar o rosto mascarado do segundo homem. Analisou o outro superficialmente, detectando apenas características óbvias, do tipo: o homem era alguns centímetros menor que ele e o boné branco e a máscara no rosto tornava mais difícil de atribuir-lhe uma fisionomia concreta. De certa forma, aquilo soou como piada para o Kim, que riu com desdém.
– Quem é você para me dizer o que vou ou não fazer, babaca?
– Eu não sou ninguém importante, na verdade – deu de ombros. – Mas, de qualquer jeito, você não vai sair daqui com essa garota – a fala tranquila e do mesmo modo superior, fez com que a paciência de SeoJun, que já não era muita, se dispersasse pelos ares numa combustão tangível de irritação.
Ele não havia gostado, nem um pouco, que sua diversão tivesse sido interrompida.
– Escuta aqui – soltou o pulso de para empurrar com força o peitoral do rapaz –, eu vou te dar a chance de ir embora com o rostinho inteiro, falou? Mas se você continuar me atrapalhando, eu juro que te arrebento de uma forma que você nunca mais vai conseguir usar essa merda que tem entre as pernas – deu um passo em direção ao rapaz, apertando as duas mãos em punho sobre sua jaqueta jeans. Como um louco, os olhos do mais alto expeliam puro ódio, mas a ameaça não pareceu afetar a postura indiferente do , que sorriu ladino ao notar o temperamento explosivo de SeoJun. – Preciso soletrar essas palavras?
O clima tenso começou a ganhar a atenção das pessoas em volta. Os dois homens, amigos de SeoJun, empertigaram-se ao fato de uma possível briga acontecer a qualquer instante, então ambos se mostraram atentos para caso necessitasse, estavam prontos para ajudarem o amigo. Já , assistia a cena sem saber o que exatamente fazer. Ela ainda estava em choque por ver seu ex-namorado bem ali na sua frente. Ou pior, na frente de todos do restaurante. O que diabos estava acontecendo?! Não, não, aquilo deveria ser uma alucinação. estava em turnê pelo Japão. Não poderia ser ele ali, era o álcool mexendo com sua mente.
– Tsc, seu cachorro miserável – ciciou, puxando com brutalidade as mãos imundas daquele ser desprezível. Agora era possível ver através das nuances de seu olhar o imenso esforço que fazia para não começar uma briga. Segurava-se ao máximo, mas a vontade de socá-lo era quase enlouquecedora. – Eu deveria ter imaginado que você era esse tipo de pessoa. Iria aproveitar a embriagues da garota para levá-la pra cama? Ah, claro... é muito fácil abusar de mulheres que não podem se defender, não é mesmo? – então as posições foram invertidas e quem segurava a camisa do outro era . A proximidade dos rostos fez com que SeoJun tivesse a sensação de já ter visto em algum lugar, mas era uma sensação vaga, da qual não dera importância. – Caras da sua espécie deveriam ser extintos.
Burburinhos começaram em volta, mas ninguém ousava se intrometer na discussão. E talvez as coisas tivessem tomado proporções mais elevadas se não fosse pela chegada de Jong Mi, que trouxe consigo dois funcionários para apartar a briga, caso necessitasse.
– O que os dois senhores pensam que estão fazendo?!
Todos os olhares foram desviados para a mulher que carregava uma expressão aborrecida na face. Aquela não era a primeira – e muito provavelmente não seria a última – briga que acontecia no estabelecimento, por isso, a proprietária já sabia como lidar com aquele tipo de situação incômoda.
E graças aos céus não precisou tomar medidas mais extremas, como expulsá-los do restaurante. Pois, sem que houvesse contestações ou mais desordem de livre e espontânea vontade soltou de uma vez a camisa social de Seo Jun. E, tranquilamente virou-se para a mulher, ignorando por completo o olhar mortífero que recebia do outro rapaz.
– Ah, me desculpe por esse pequeno desentendimento – curvou-se respeitosamente como pedido de desculpas. – Eu realmente não queria causar nenhum tipo de problema para os seus negócios, senhorita. Apenas vim buscar a minha namorada que exagerou na bebida – pousou a mão esquerda sobre o ombro de , que estava literalmente boquiaberta. – Espero que ela não tenha lhe dado prejuízo.
– Na-namorada...? – a adrenalina que lhe subiu ao ouvir aquela palavra fez o estômago da revirar de ansiedade e... raiva? – Não sou mais a sua namorada, Bae-
Prevendo que a garota estragaria seu “disfarce” se completasse aquela frase embolada, rapidamente pôs a mão sobre a boca entreaberta de , calando-a sem machucá-la.
– Como eu disse, ela exagerou no álcool. Não é, querida? – deu uma risadinha forçada, escondendo sua expressão de dor ao ter os dentes afiados da (“ex”) namorada mordendo sua palma. As pessoas observavam aquilo com estranheza enquanto Kim SeoJun tentava digerir aquela nova informação. – Pobrezinha, eu não devia tê-la deixado sozinha... Vamos, jagi³.
Ajudou a a se levantar, deixando sobre a mesa uma nota alta para pagar o que ela havia consumido.
– Espera aí – SeoJun não deixaria as coisas passarem tão facilmente assim. Muito menos seria ele a ficar com o título de aproveitador, por mais que fosse. – Como posso ter certeza que você é mesmo o namorado dela? Está claro que nem tudo o que disse é verdade... Então, e se você for apenas um aproveitador que irá levá-la pra um motel qualquer... assim como me julgou ser.
Sua voz estava num tom onde todos podiam ouvi-lo com nitidez, assim, implantando essa dúvida na mente dos demais clientes que passaram a debater sob cochichos entre si sobre aquela hipótese.
Jong Mi, que observava tudo atentamente, não soube no que acreditar.
, por sua vez, não se abalou com a jogada estratégica do outro. Passou o braço pela cintura da garota bêbada e agora quase sem consciência para ter mais firmeza e não deixá-la cair.
– Acredite, se eu fosse como você já teria me matado.
SeoJun ficou mudo, sentindo o sangue ferver ao ouvir algumas pessoas ovacionarem a resposta bem dada por .
– Seu desgraçado – vociferou entre os dentes. Iria avançar para cima do mais baixo se não fosse por uma voz que fez interromper sua atitude.
– Já chega! – Jong Mi se aproximou, analisando a situação. – Vamos acabar com isso por aqui. Vocês já causaram confusão demais por uma noite, não acham? – olhou para nos braços daquele estranho, amaldiçoando-se pelo o que estava prestes a dizer. Só esperava, encarecidamente, que essa fosse a coisa certa a fazer. – Eu conheço a estrangeira bêbada ao ponto de saber que esse é o namorado dela, então, não há do que desconfiar – até mesmo ficou surpreso com a fala da mais velha, pois, até onde sabia, seu relacionamento com a brasileira existia apenas para um número limitado de pessoas, ao ponto de todos caberem na lista de contato do idol. – Já você – referiu-se a SeoJun –, acho bom tomar mais cuidado de agora em diante. Não o vi tentar desmentir quando te chamaram de pervertido... Agora saia daqui, vamos! E acho bom não tentar voltar aqui novamente.
Fez um sinal com os dedos para que os dois funcionários tratassem de pôr o rapaz para fora.
– O quê?! Eu não vou aceitar essa humilhação! – os dois funcionários tentaram segurá-lo pelos braços, mas SeoJun insistia em continuar ali. – Eu vou processar esse lugar de merda, estão me ouvindo? Isso não vai ficar assim. AISH! – o rapaz se desvencilhou das mãos de seus dois amigos que vieram tentar amenizar aquele constrangimento. – Me soltem!
– Cara, vamos embora – um deles pediu impaciente.
Com um último olhar fulminante lançado em direção a , Kim SeoJun saiu furioso, dando passadas largas e duras e xingando seus amigos e qualquer um que ousasse passar em sua frente. sentiu o ar mais leve depois de não ter mais a presença indesejada do outro rapaz, podendo assim, respirar mais facilmente. Olhou por instinto para o corpo menor em seus braços, vendo de perto as maçãs rosadas e a fisionomia totalmente embriagada de . Aquilo fez o coração do rapaz se aquecer e ao mesmo tempo repreendê-lo. Estava com saudade em vê-la, de ter seu corpo tão próximo de si. Mas também se sentia responsável pela situação embaraçosa na qual a garota havia se metido. Deixou um suspiro escapar, notando o olhar analítico de Jong Mi recaído sobre si. Ela mantinha as mãos dentro do bolso frontal do avental e uma pose julgadora.
– A-ah, bom... Obrigado pela sua ajuda – maneou a cabeça numa simples reverência. – Não sabia que você a conhecia assim...
A proprietária inspecionou mais uma vez o porte do rapaz, subindo seu olhar dos pés à cabeça. Sem dúvidas que achou aquilo intimidador.
– Sim, eu a conheço bem... – deu uma pausa. – Ela costuma vir aqui com bastante frequência. Geralmente está acompanhada dos amigos ou pessoas do trabalho, mas, nunca, nunca a vi com um namorado. Sempre que eu a perguntava sobre isso, ela dizia que era um assunto complicado... E, bom, eu deixei de tocar nesse assunto com ela. Mas agora você aparece do nada dizendo que ela é sua namorada... Isso não parece estranho?
soltou uma risada fraca, meio desconsertado com o questionamento da mulher.
– É que... sobre isso, bom...
– Aigoo, não precisa gaguejar tanto – o interrompeu, sorrindo com a confusão que o próprio rapaz se enfiou. Mirou mais uma vez, antes de dizer. – Não sou eu quem precisa ouvir suas explicações – apontou para a garota, lembrando-se de momentos antes e de como ela parecia aborrecida. – Essa desnaturada parece confortável demais nos seus braços para que eu tivesse mais dúvidas. Leve-a para casa com segurança, por favor.
delimitou-se em apenas assentir. Estava seguindo até a saída do restaurante quando ouviu ser chamado, novamente.
– Yah, por acaso nós já nos encontramos antes? Tenho a sensação de conhece-lo de algum lugar... – estreitou as sobrancelhas, fazendo uma busca em sua mente atrás da resposta de sua própria pergunta.
Não era para menos que Jong Mi tivesse aquela sensação, afinal, em cada esquina do bairro, estampado em outdoors e em telões nos prédios empresariais, vários anúncios do novo álbum japonês ‘Countdown’ que o grupo estava promovendo era reproduzido diariamente.
– Talvez... quem sabe já não nos esbarramos por aí – ele sorriu, mesmo que a proprietária não fosse capaz de ver. Jong Mi apenas deu de ombros, voltando-se para o caixa e dando por encerrado aquela conversa.

xXx


A brisa de dez graus celsius era suficiente para deixar a garota com as mãos frias e o corpo sujeito a leves tremores. Ao senti-la se apertar contra seu corpo, em busca de calor, notou que não usava roupas apropriadas para aquela madrugada gélida. Ele retirou a jaqueta jeans que usava – ficando apenas com a camiseta de baixo – para cobri-la e evitar que a mesma não adoecesse. Por mais que também sentisse frio, sabia que a namorada tinha facilidade em adoecer e preferia evitar. As pernas bambas da estrangeira o acompanhava na vagarosa caminhavam pela calçada, enquanto esperava que algum táxi passasse por eles.
Vez ou outra murmurava palavras soltas, que não faziam nenhum sentido. Ria sozinha ou formava um biquinho de desgosto. Para que se divertia com o comportamento da menor, estava achando tudo aquilo cômico.
– Yah, você é uma péssima apreciadora de álcool – disse , forçando uma falsa repreensão na voz. – Duas garrafas de Soju são suficientes para te deixar assim? Wua... tão fraca com bebidas.
empertigou o corpo, ofendida com o comentário. Olhou-o com uma careta, vendo a face do rapaz se duplicar. Ótimo, já não bastava ter que lidar com um , agora teria que aturar dois.
– Yah! Duas garrafas?! Foram quatro, quatro! – ela praticamente gritava enquanto fazia o número três com os dedos. – Aish... e quem disse que eu estou bêbeda, hã? Foram quatro garrafas de Soju!
segurou a vontade que tinha em gargalhar alto.
– Aigoo, minha bebê está com raiva? – segurou as bochechas roseadas da garota, dando-a uma expressão extremamente fofa. Em contrapartida, odiou ter o rosto amaçado daquela forma.
– Yah... sua bebê? – insinuou que iria batê-lo, mas fora mais rápido em segurá-la pelos braços, a prendendo num abraço desajeitado. – Yah, !
– Um táxi! – ignorou os protestos da garota e caminhou com ela ainda presa em seus braços até o meio fio, dando sinal ao taxista. – Vamos para casa, jagi.
Quando o carro parou ao lado deles, ajudou a a entrar no veículo. Deu o destino da casa da garota ao motorista e se voltou para olhá-la toda esparramada no banco ao seu lado. Achou impressionante a rapidez com a qual a estrangeira pegou no sono. Também agradeceu aos céus pelo aquecedor do carro estar funcionando naquele momento. Com o pouco tráfego, o trajeto não demorou muito e em cerca de quinze minutos eles já estavam parados em frente ao prédio residencial.
– Obrigado, ahjussi – o senhor de meia idade agradeceu de volta, depois de ajudar a tirar a garota praticamente morta de trás do carro.
Com certa dificuldade, colocou em suas costas, deixando que ela descansasse a cabeça em seu ombro direito. Passou sem maiores problemas pela guarita onde teve que se identificar. Por sorte, o segurança do prédio sabia sobre o relacionamento do idol com a moradora do apartamento 303, e sempre conseguiu encobri-lo quando paparazzi o seguia. Pegou o elevador vazio, selecionando o andar desejado. se remexeu, desconfortável, atraindo a atenção do rapaz para si.
– Ach... vou... tar... – balbuciou, com os olhos entreabertos e uma expressão vaga.
O idol franziu o cenho, tentando compreender o que ela estava falando.
– Jagiya, você está bem?
... eu vou vomitar –falou por fim, fazendo os olhos de dobrarem de tamanho.
– Espera só um pouquinho, – olhou para o indicador do elevador, faltando apenas mais dois andares. – Nós já estamos chegando, ok? Aguente só mais um pouco.
Assim que fechou a boca as portas do elevador se abriram no andar da garota. praticamente correu com ela em suas costas até chegar em frente ao apartamento.
– Eu não estou aguentando mais – confessou, pondo a mão sobre a boca.
– Só mais um pouquinho – digitou os cinco dígitos na fechadura da porta e, para o seu desespero, estava dando senha incorreta. – O quê? Por que isso logo agora? – tentou mais uma vez, falhando. – Aish!
...?
O rapaz procurou em volta qualquer coisa que pudesse tirá-los dessa situação. A garota estava praticamente vomitando em cima de si quando ele avistou um vaso de palmeira próximo a eles. Como sua única opção, correu até lá, soltando no exato momento em que ela pôs tudo para fora. Não conseguira evitar formar uma careta ao vê-la vomitar todo álcool e pedaços de porco. tomou o cuidado de segurar os cabelos da garota enquanto sua outra mão acariciava as costas arqueadas da mesma, para que o desconforto não fosse tanto. Depois de mais alguns segundos pondo tudo pra fora, passou o braço sobre a boca, a fim de limpá-la.
– Aigoo, graças a você não precisarão adubar essa planta por um bom tempo – riu sozinho do próprio comentário. Ajudou a se levantar, passando um dos braços da garota por seu pescoço e segurando-a pela cintura. Pararam novamente em frente ao apartamento, que não abriu quando digitou a senha. – Mas eu estou digitando a senha corretamente! Por que não quer...? – olhou desconfiado para a namorada. já estava cedendo outra vez à embriagues. – Yah! Por acaso você mudou a senha?
Ela o encarou risonha.
– Sim.
– Por quê? Por que fez isso? – perguntou indignado.
– Porque nós terminamos! – falou com dificuldade. – Como posso deixar um homem com a senha da minha casa se não somos mais nada um para o outro?
Nervoso com a situação, mordeu o lábio inferior, retirando o boné por instantes e passando de maneira afoita a mão pelos cabelos lisos.
– Desde quando você vem bebendo, ? Não pode estar no seu juízo perfeito. Eu realmente não consigo acreditar que você estava falando sério sobre terminarmos – retrucou, sabendo que nada do que falasse agora seria levado a sério pela garota. Respirou fundo, retomando a calma. – Certo, então vamos fazer do seu jeito. Digite a senha e vamos terminar de uma vez com isso.
A garota olhou confusa para a fechadura eletrônica, deixando ser formado um biquinho nos lábios enquanto tentava se lembrar da nova senha. Pensou e pensou mais um pouco, não tendo êxito com sua mente fraca. Desviou o olhar confuso para o rapaz que a aguardava com uma expressão ressentida. O fato da namorada ter terminado o relacionamento de três anos por algo que nem ele mesmo sabia, o deixara profundamente magoado. Isso, para , soava como se a menina não o amasse na mesma proporção que ele a amava.
– Não vai digitar a senha? – perguntou com certa impaciência. – Ah! – ele soltou uma risada nasalada e sem humor. – Você não quer que eu saiba a sua nova senha, não é? Certo, tudo bem. Não vou olhar você digitando.
Virou o rosto para o lado, cumprindo com o que dissera.
– N-não é isso... – soluçou, prendendo os dedos sobre a boca. voltou a mirá-la. – É que os números não param de se mexer – apontou para a fechadura eletrônica com o indicador. Sua visão meio turva e nada confiável lhe pregava a peça de tornar os dígitos bagunçados, como se estivessem se movimentando. – Aish, como eram os números?
Só de olhar a expressão desnorteada da garota era capaz de compreender que aquilo não era fingimento, e, sim, ela realmente estava perdida. Definitivamente, não poderia exagerar no álcool outra vez senão acompanhada de alguém. E quando diz alguém, ele quer dizer que esse alguém é ele próprio. Mas, como ele faria isso daqui pra frente se a garota não o queria mais por perto? Céus, ele precisava encontrar um modo de reverter isso.
– Você também esqueceu a senha, não foi? – deduziu o óbvio, já certo de qual seria a resposta.
assentiu meio desajeitada, sorrindo como se aquele fato tivesse alguma graça.
– Sim.
respirou fundo, não sabendo mais o que fazer. Ele não poderia levá-la para o dormitório do grupo, esta era uma opção impensável. Até mesmo para que, se meter em enrascadas era sua especialidade, a cota de problemas já havia extrapolado por esta noite. Além de ter fugido do manager assim que pousaram no aeroporto, passado a noite fora e sem comunicar alguém sobre seu paradeiro, aparecer com a (“ex”) namorada lá seria o fim da sua vida nessa Terra, pois não faltariam pessoas querendo matá-lo. Só de ter esses pensamentos rondando sua mente, estremecia todo.
... – fez uma careta ao ouvir seu sobrenome. Não que ele não gostasse do seu sobrenome, nada disso. O que lhe incomodava, na verdade, era ouvi-lo na voz dela. Nada o incomodava mais do que aquilo, principalmente se usado naquele tom de voz. Era formal demais, e isso transpassava uma sensação de distanciamento. Como se ele não fosse capaz de alcançá-la. No entanto, não estava em condições para se atentar a isso. Ela simplesmente só conseguia perceber a inquietação do rapaz. – Você está chateado comigo por eu ter esquecido a senha?
Imediatamente a fisionomia do idol se suavizou. Aquela pergunta inocente denunciava muito mais dos verdadeiros sentimentos da garota do que ela seria capaz de transmitir, estando sóbria. sustentou o olhar trêmulo da estrangeira, se apegando a certeza de que aquilo não era o fim para eles dois. Havia muita coisa a ser esclarecida, ainda. até poderia tentar querer se enganar, afirmando que não se importa mais, que não o quer mais. Porém, por mais que ela tentasse, não conseguia enganar ao próprio coração. Ele dizia explicitamente, através das batidas desesperadas por ter ali, que sentia falta; que estava sofrendo dolorosamente pela razão ter tomado decisões sozinha, sem consultar a emoção.
– Não, ... Eu jamais ficaria chateado com você por causa disso – ele disse depois de um longo tempo. Sutilmente, um sorriso tímido se formou nos lábios de . Ela abaixou o rosto, quebrando o contato visual que os dois mantinham até então. – Oh, o que é isso? –por um momento viu algo estranho no pulso da garota. Curioso, puxou a mão feminina para mais perto a fim de conseguir identificar o que estava tatuado com caneta esferográfica preta, em sua pele. Sorriu largo, quase não acreditando no que via ali. – Parece que você é mais esperta do que eu imaginava – riu alto, vendo a sequência de cinco números no pulso da garota.
também olhou o próprio pulso, arregalando de leve os olhos. Não se lembrava de ter feito aquilo.
– Oh! É mesmo...
Sem delongas, os cinco dígitos tatuados na pele da garota foram digitados na fechadura, que destravou sem mais dificuldades. Somente a estrangeira para pensar numa coisa daquelas. Adentraram no apartamento com pouca luminosidade, impondo ao rapaz a tarefa de ir acendendo os interruptores à medida que iam seguindo em direção ao quarto da moça. A suíte estava do mesmo jeito que se lembrava ser – mesmo fazendo apenas três semanas desde a última vez que estivera ali –, aconchegante e com decorações artesanais que a própria namorada havia produzido. Esse era seu hobby nas horas vagas e, ao se lembrar disso, riu ao constatar que já perdera as contas de quantas vezes tivera que acompanhá-la nas madrugadas para terminarem alguma nova invenção. Seu momento de descontração acabou por ser interrompido com o toque do celular, vindo do bolso de trás da calça. Antes de pegar o aparelho e averiguar quem o ligava em plena duas e meia da manhã, sentou delicadamente o corpo mole de sobre o colchão da cama. Enquanto via o nome de na tela de chamada e ponderava se deveria ou não atendê-lo, por conta própria, a estrangeira começou a retirar os sapatos e a jaqueta jeans, espalhando as peças pelo quarto.
– Oi, hyung –ouviu a exclamação de alívio partindo do outro lado da linha.
Por Deus! Nunca imaginei que escutar sua voz me deixaria tão aliviado quanto agora – o mais velho confessou, fazendo um pequeno sorriso de contentamento estampar o rosto de , acompanhado de um revirar de olhos pelo típico drama do outro. Mas o alívio de logo deu lugar ao timbre irritadiço. – Aish... Qual a porcentagem de consideração você tem por nós, huh? Por mais que você seja um homem adulto e independente, não poderia sair daquele jeito estranho e nos assustando.
– Eu sei, hyung. Mas precisava fazer algo urgente e não podia perder tempo dando explicações – justificou-se. – Além do mais, eu precisava fazer isso sozinho.
Olhou em direção a cama, apaziguando seu olhar sobre a garota que tentava a quase cinco minutos desafivelar o fecho do cinto transado na calça.
Você deve imaginar o quão puto o manager está, né? – perguntou retoricamente, não esperando ouvir por uma resposta. – Se eu fosse você, não voltaria agora para o dormitório. Ele ‘tá jurando espremer os seus miolos assim que pisar os pés aqui.
– Eu já não pretendia voltar, de qualquer forma.
A risada frouxa de pode ser ouvida com clareza.
Imagino que esteja com a a essa altura. Você seria louco o suficiente para ir atrás dela mesmo depois do que aconteceu em Osaka.
Automaticamente foi remetido à lembrança citada.
– Eu prefiro não lembrar disso e fingir que nunca aconteceu – retrucou. Um dia depois daquele incidente, o ligou aborrecida e rompeu com o namoro. amaldiçoou aquele dia em diante. – E, sim, eu sou louco. Completamente louco. Mas por ela.
Aigoo! -ah! Eu poderia dormir sem essa, não acha? – resmungou em tom de diversão. – Não preciso ouvir suas declarações melosas, ok? Sei que ama essa garota ao ponde se tornar um idiota... Ah, espera, isso você já é sem ela.
– Yah! Está me ofendendo em plena madrugada? É isso mesmo?
Irei desligar agora. Boa noite – JunMyeonnão se importou com o drama do mais novo, ele só fazia rir. – Ah, e não esqueça que amanhã cedo teremos um fansign em Daechi-dong. Chegue a tempo! – alertou antes de encerrar a chamada.
riu sem emitir som, guardando novamente o aparelho telefônico no bolso. Subiu os olhos e se deparou com uma meio adormecida, escorada na cabeceira da cama e com a cabeça pendendo para o lado, numa posição nada agradável. Ela também havia desistido de tirar o cinto depois de se frustrar com a fivela. O rapaz não conteve um risinho leve, indo até estar ao seu lado. Encarou profundamente a imagem sonolenta da garota, tendo os batimentos ritmados do seu coração como única trilha sonora. Era inegável, não havia como subestimar o amor verdadeira e intrínseco que guardava no peito. Qualquer um que os vissem naquele momento, facilmente identificariam que ali havia amor. Seja no olhar lançado à ela ou nas atitudes despretensiosas do rapaz. Ele a amava, mais do que a si mesmo. Isso pode até parecer loucura, mas, como ele mesmo disse anteriormente, sua loucura está totalmente enraizada na ardente paixão que possui pela garota. Ela, definitivamente, é sua loucura mais real e prazerosa.
Se ele fosse fazer o que realmente desejava, simplesmente continuaria naquela mesma posição, a vendo se entregar aos poucos ao sono. Porém, ele sabia que a garota necessitava de um banho gelado para tirar o forte cheiro de álcool. E para evitar, também, que a ressaca não seja tanta quando ela acordar pela manhã. Inclinou-se o bastante para conseguir ouvir a respiração fraca e contínua de .
? – o rapaz soprou de forma suave o apelido que tanto gostava de pronunciar com seu sotaque. Fazia de maneira tranquila, acariciando de leve os cabelos um tanto desgrenhados da . – Jagiya, você precisa despertar, huh? – os olhos redondos tipicamente ocidentais se abriram com certa relutância. Demorou poucos segundos até que sua vista se tornasse mais clara e, como se tivesse esquecido de como acordara em seu próprio quarto, tomou um leve susto ao se deparar com a presença tão próxima de . Ele a observava com carinho e sorriu satisfeito quando seus olhares de cruzaram. – Você não pode ficar assim.
Levantou-se ao estender a mão em direção a garota. analisou o gesto do rapaz sem mover um centímetro sequer do corpo. Continuava paralisada, sem conseguir raciocinar com coerência tudo o que estava acontecendo. Sua mente trabalhava em interligar os fios soltos da sua memória, buscando encontrar a origem que os levou a chegar até ali. Ora, ela se recordava de momentos antes; estava enchendo a cara sozinha em um restaurante e esvaziando o coração com xingamentos sem fundamentos. Mas, agora, o que ele estava fazendo ali? Em um relampejo as cenas se repetiram na sua mente, trazendo junto a isso a resposta. Depois de se lembrar de quase tudo, não sabia dizer se sentia grata pelo ex ter aparecido naquela hora quando o Kim lhe perturbava ou se amaldiçoava-se por isso. Quão constrangida ela deveria se sentir? Até onde sua insanidade a levou?
Principalmente, ela deveria fingir que ainda estava sob efeito do álcool?
Sentia-se tão hesitante em revelar ao rapaz que estava – até certo ponto – de volta a lucidez. E se ele quiser conversar sobre o que aconteceu entre eles? Não, não havia conseguido coragem suficiente para lidar de forma honesta sobre o assunto.
– Meu braço está cansando – comentou, mas não acreditava que a garota fosse prestar atenção na sua fala, afinal. Notando que ela não se moveria tão cedo daquele transe, o rapaz se dispôs a levantá-la, segurando-a pelos braços. – Aigoo... você consegue ser ainda mais teimosa quando bêbada.
fixou o olhar atento na face de , não os desviando por nenhum segundo sequer. Seu coração reclamou sob o peito; queria mais do que tudo gritar o quanto sentira falta de olhá-lo daquela maneira, de tê-lo ali, tão presente e exclusivamente para ela. Por céus, como ela queria abraçá-lo e sentir seu perfume mais de perto. Afagar os fios lisos enquanto repetia as palavras “senti a sua falta”, “eu te amo, Baekhyunie” de forma que fossem abafadas por ter o rosto enterrado em seu peito aconchegante.Queria, mais do que tudo, amá-lo livremente.
Ao ter seus sentimentos eximiamente expostos, não teve como continuar a encenação fajuta de que estava bem, porque, na verdade, ela nunca esteve. No início, até tentou se convencer de que a decisão que tomara em afastá-lo fosse sua única opção, mas agora já era tarde, seu coração não aceitava mais sustentar essa mentira. Com a saudade preenchendo seu peito, a não conseguiu evitar que seus olhos se tornassem lustrosos ao marejarem.
– O que foi? Está recuperando a lucidez? – a questionou na mesma hora. Sua palma seguiu como instinto à testa da garota, medindo sua temperatura. – Está um pouco febril... – mordeu o canto do lábio inferior, aparentando preocupação. – Certo, não podemos continuar com essa enrolação. Você precisa tomar um banho e descansar. Vou trazer alguns analgésicos, também.
O toque quente de sobre a pele fria da garota a trouxe bruscamente de volta à realidade.
– N-não... – falou por impulso. prendeu automaticamente a respiração quando os olhos do rapaz caíram sobre si. – Você precisa ir embora...
observou se afastar de seu toque, sem esboçar reação. Ela permanecia acuada, com os olhos fixos no chão.
– Jagi... por que está agindo assim? – estendeu a mão com a intenção de tocá-la novamente, mas, ao se dar conta da própria atitude, parou no meio do caminho. – O que está acontecendo, huh?
pensou rapidamente em uma resposta, e, antes que pudesse desenvolver qualquer argumento, seus lábios já estavam verbalizando a seguinte frase:
– Não vou ficar nua na sua frente! – pôs os braços cruzados sobre os seios, fingindo espanto. Wua! Isso era tudo o que conseguira pensar? Aish, sinceramente... A estrangeira xingou-se mentalmente pela desculpa esfarrapada e que não compraria a ninguém.
Muito menos a , que logo tomou uma expressão humorada.
– Ora, jagi – soltou uma risada, aliviado por não ser algo de maiores proporções. – Se o problema todo está aí, então não precisa se preocupar. Afinal, não há nada que eu já não tenha visto, não é mesmo? – disse num tom provocativo. – Aigoo, com quem você está andando pra ter esses tipos de pensamentos, huh? Eu não ia despi-la totalmente.
Segurou a mão esquerda da garota e começou a puxá-la pelo quarto, rumando ao banheiro.
– Mas... ...
O rapaz não esperou que ela se contrapusesse sobre aquela ideia, muito menos dando a chance dela contra argumentá-lo, outra vez. sentou sobre a tampa do vaso sanitário e sentiu uma leve vertigem nublar sua vista.
– Aqui, apresse-se e retire essa roupa suja. Vou buscar uma toalha pra você – ditou, saindo do banheiro.
segurou a barra da blusa, tomada pela dúvida entre obedecê-lo ou seguir a linha de menina rebelde. Ela realmente estava necessitada de um banho, sabia disso pois sentia seu próprio cheiro desagradável de cachaça pura, além de sua cabeça doer. Mas só de imaginar como seria aquilo... Sua mente projetou imagens um tanto íntimas e embaraçosas, o que acabou por gerar um calor repentino em seu corpo, principalmente nas bochechas.
, por acaso você mudou as toalhas de banho para outro lugar? – ele adentrou perguntando, porém, parou quando a viu.– Yah... você ainda está assim? – aproximou-se, fazendo-a encará-lo. – ...corada? Yah! No que está pensando?
O rapaz fingiu espanto, imitando-a momentos antes. Cruzou os braços em X sobre o peitoral enquanto segurava a risada. rapidamente desviou os olhos para o piso cerâmico, mais envergonhada ainda.
– Você estava tendo pensamentos maliciosos, não era?
– N-não... eu não...
A risada de cortou sua fala atrapalhada.
– Ah, eu sabia que era isso –a mirou com as mãos na cintura. – Até mesmo bêbada eu consigo mexer com você, jagi? – segurou a nuca da garota e a trouxe para perto, prendendo-a num abraço desajeitado, onde seu rosto ficou espremido contra a barriga durinha do rapaz. sentia cócegas cada vez que ele ria. – É, eu também queria estar com você em um lugar mais romântico. Estive até ansioso para voltar da turnê e poder levá-la a um encontro, só nós dois. Você não sabia que eu voltaria hoje, certo? Seria uma surpresa – afastou-se o suficiente para que ela o olhasse. – Mas foi você quem me surpreendeu. Não acredito que ficou bêbada depois de terminar comigo. Isso... isso não se faz, sabia?
Os dois permanecem em silêncio por alguns segundos.
– É mais inacreditável me ver resmungando para uma mulher bêbada. Tsc... – ele estalou a língua, sentindo-se realmente um bobo. – Provavelmente não vai se lembrar de nada do que eu falei.
engoliu em seco, optando por continuar muda. Ela viu a decepção estampando a face expressiva do rapaz, gerando, assim, um sentimento de culpa por tudo o que está fazendo-o passar. era o tipo de pessoa fluída, onde seus sentimentos eram facilmente perceptíveis mas que, em certos momentos, sabia escondê-los. Seu sorriso branco era de longe o que predominava, mas havia momentos que ele não era capaz de mostrá-lo.
Sem que nenhuma outra palavra fosse dita, segurou os cabelos da e os amarrou desajeitadamente num coque alto e começou a retirar as duas peças de roupa que restava, deixando-a com as roupas íntimas, assim como havia dito.A garota não interferiu, aceitando a ajuda de para ir até o box do chuveiro.
– Tome cuidado para não escorregar – ele alertou assim que ligou o registro e a água começou a cair.
– Está gelada! – como reflexo, puxou a camisa de para perto ao sentir o toque frio da água bater sobre suas costas. Fora rápido demais para que conseguisse manter os pés firmes no lugar, e, a consequência disto, era os dois corpos debaixo do chuveiro.
Ambos mantinham os olhos arregalados, tão próximos, que era possível sentir a respiração ofegante de bater contra seu rosto. O frio deu lugar à nostalgia dos momentos que já vivenciaram ali, e que estava retornando em forma de lembranças. Seus corpos se atraíam como imãs, era de um magnetismo genuíno. Os lábios levemente arroxeados do rapaz se contraíram, ficando cada vez mais perto à medida que ele intercalava o olhar, que seguiam dos lábios de ao seus olhos de brilho vívido. Ao se dar conta do que estava prestes a acontecer, os dedos finos da garota se desprenderam da camisa de , soltando-o de uma vez.
– Desculpa, eu acabei te molhando – ela falou sem graça. soltou um suspiro audível, encarando-a.
Com os cabelos molhados e gotículas escorrendo o pescoço, era a visão mais linda que já admirou. Seu rosto estava um pouco mais pálido e a camisa branca, transparente. Sem dúvidas de que era tentador para ela... mas, ela desistiu dele. Aquilo era sua punição. mordeu forte a parte de dentro da bochecha, concentrando-se em terminar o banho o quanto antes.
Ela se virou em direção a parede de azulejos e derramou a quantidade certa do sabonete líquido na bucha macia.
– Deixe que eu faço isso – depois de aceitar que fora outra vez recusado pela garota, obrigou-se a deixar que sua sensatez tomasse lugar em suas ações. Ele pegou a bucha das mãos de e passou a esfregar em suas costas.
– Não precisa fazer isso por mim, – novamente aquele sobrenome. fechou os olhos ao ouvir. – Na verdade, você nem deveria estar aqui... não depois do que eu falei.
De ímpeto, a segurou pelos ombros e a virou rapidamente para que seus olhares se cruzassem.
– Olha só, , a primeira coisa que eu fiz ao pisar o pé aqui na Coreia foi ir atrás de você. Mesmo que tenha dito para não te procurar, eu fui – ele confessou, saturado de ouvi-la repetir as mesmas coisas com a finalidade de afastá-lo. – Eu estou aqui porque quero estar. Não por obrigação, mas porque me preocupo com você. Talvez você não se importe com os anos que dividimos juntos, mas eu sim.
A última frase impactou a garota de forma arrebatadora. Seus lábios se partiram para dizer que aquilo não era verdade, que ela se importava, sim, com tudo o que compartilharam juntos. Mas, como se não houvesse voz suficiente para dizê-lo, nada saiu de sua boca. Ela balbuciou o silêncio. encarou aquilo como uma resposta. Uma terrível e dolorosa resposta. Ele, então, apenas se limitou em aceitar. Sem que nenhum dos dois dissessem alguma coisa, ele voltou a ensaboá-la. Alcançou o recipiente do shampoo e passou a massagear os cabelos de com o líquido, produzindo espuma.Ajudou-a a enxaguá-los e logo em seguida, ao terminar, pegou um roupão e uma toalha pequena para envolver os fios molhados. Também pegou uma toalha para si, saindo juntos de dentro do banheiro.
O clima entre os dois havia se tensionado, um ligeiro ar de desconforto.
– Consegue se vestir ou quer que eu te ajude nisso também? – ele perguntou com certa indiferença, observando a garota se distrair, pensativa, sentada na cama e passando os dedos sobre o nó do roupão.
– N-não precisa – levantou-se, o encarando. , por sua vez, apenas assentiu positivamente.
– Tudo bem.
E assim ele a deixou sozinha no quarto, seguindo para a cozinha a passos lentos.Ao chegar no recinto, suspirou forte, pondo a toalha em torno do pescoço.Sua mente era invadida a todo instante por pensamentos tortuosos. escorou o quadril no mármore frio da pia ao dar pequenos goles na garrafinha de água mineral. Lembrou-se da ligação que lhe fez, dois dias atrás, e, como se essa lembrança o machucasse, ele fechou os olhos com força.Aquilo não podia continuar desse jeito. A essa altura, já havia tomado a decisão em deixá-la finalmente em paz, mas, antes, queria ficar frente a frente com e ouvir sair de sua boca o pedido para que ele fosse embora.
Sim, ele faria isso.
– Eu trouxe uma muda de roupa pra você – a voz baixa e hesitante da fez com que se atentasse a sua presença ali. Seus cabelos ainda estavam molhados, ela usava um moletom rosa como pijama e trazia em seus braços uma camisa simples e uma calça moletom dobrados, para ele. Como era comum que o rapaz dormisse no apartamento da estrangeira, sempre havia roupas masculina ocupando espaço no seu guarda-roupa. – Eu vou deixar aqui, caso você queira se trocar – pôs as roupas sobre o balcão que era a divisória dos dois cômodos.
estava para dar o primeiro passo para se afastar quando a voz grave do pronunciou seu apelido, automaticamente congelando seus possíveis movimentos.
– ela continuou de costas para ele. E ficou assim, até senti-lo parar a poucos centímetros de si. retirou a toalha em torno do pescoço e passou a secar os cabelos compridos da garota, que não esperava por essa atitude.– Eu estava prestes a fazer aquilo que me pediu e sumir da sua vida... – o coração de bateu mais forte. – Mas ainda é difícil pra mim.
fechou os olhos, contendo a vontade súbita de chorar.
– Se você disser pra que eu vá embora, eu irei – parou de secar os cabelos dela para por fim abraçá-la por trás, apoiando a bochecha em sua cabeça. fechou os olhos, respirando o perfume de flores com avelã tão característico da garota. – Se... você disser que não me ama mais, eu vou tentar entender – a apertou mais contra o peito, fazendo-a sentir os batimentos acelerados de seu coração. – Se você pedir que eu desapareça... eu farei por você – ele então a virou de frente para si, vendo suas bochechas rosadas brilhando pelas lágrimas que não conteve mais segurar. – Mas somente se você disser essas palavras olhando diretamente em meus olhos. Se conseguir isso, jagi, eu juro pela minha vida que não volto a te procurar... nunca mais.
Seus olhares estavam fixos um no outro, mas só conseguia chorar e deixar que soluços tímidos escapassem por entre os lábios.
... eu sinto muito – os olhos do rapaz também marejaram. – Sinto muito. E-eu – lembrou-se das punições que o namorado havia sofrido em Osaka, por causa dela. Isso só intensificou seu choro. – não posso fazer isso com você.
deixou que as primeiras lágrimas caíssem.
– Não sabe que me afastar de você é mais doloroso pra mim? Huh? Olhe pra mim, . Você não acha que vai ser mais difícil pra eu seguir em frente sem você?
– Também não é fácil pra mim, ... – ela lamuriou, afastando-se dois passos para trás. – E não foi fácil tomar essa decisão.
Por céus! estava sufocado por aquela inconstância.
– A decisão de me deixar...?– novamente o tom de mágoa tomou a voz do rapaz. – Por quê? Por que está fazendo isso comigo? Só dessa vez, eu gostaria de entender o que te levou a tomar essa decisão.
– Você realmente não sabe?
– Juro que se eu soubesse, estaria fazendo de tudo pra você acreditar que há outras maneiras de se resolver nossos problemas.
assentiu, monótona, passando os dedos finos abaixo dos olhos e limpando as lágrimas que ainda caíam. Entre o intervalo dessas ações um inevitável sorriso débil surgiu na expressão abatida da mesma.
– Talvez o Kyocera Dome te lembre algo... – foi aí, então, que compreendeu onde queria chegar. E por um momento ele se questionou sobre como ela havia descoberto sobre as ocorrências daquele dia. Afinal, ninguém além da equipe de staffs e os membros do grupo sabiam sobre os conflitos internos e de interesses egoístas que por lá se intensificaram. – Você só precisava ter aceitado a proposta que eles te fizeram, . Era apenas encenar o que eles pediram pra você.
– Eu não podia fazer isso, ... – ele negou. – Eu pensei em você, antes de tudo, e não podia aceitar aquela imposição na qual queriam me submeter, principalmente sabendo que aquilo afetaria tanto a você quanto a mim. Eu seria um fantoche nas mãos deles, usado pra encobrir os escândalos que os erros deles causaram.
– Mas o problema foram as consequências que vieram junto a sua decisão. Você não ia me contar sobre as horas excessivas de treino e as punições físicas, não é mesmo? – não a respondeu de primeira instância, dando a compreender o sentido do seu silêncio. – Eu entendo que aquele maldito contrato te faz escravo deles. E se você não atender as exigências deles, estará sujeito a tudo isso.
– Não importa, agora. Eu fiz isso por nós e não me sinto arrependido.
– E é exatamente por isso, . Se não existisse um nós pra atrapalhar a sua vida, você não passaria por situações embaraçosas como aquela! Eu não quero mais continuar sendo egoísta e deixar que você carregue todo o fardo que eu causo na sua carreira como cantor.
– Fardo? Você nunca foi um fardo pra mim, ! Por Deus! De onde tirou isso? – questionou-a descrente. – Nossa relação sempre enfrentou obstáculos devido as nossas escolhas.Sabíamos que não seria fácil. Mas decidimos juntos passar por todos eles, lembra? Agora, você dizer que isso é um fardo pra mim é algo que não posso aceitar... Você, , é aquela que me conforta nos dias exaustivos, me tranquiliza quando estou angustiado e me faz sentir como um homem de verdade, vivo para o mundo.
Ao ouvir a confissão tão genuinamente pura de , apenas deixou que aquelas palavras lhe surtissem efeito. As lágrimas rolaram pelas bochechas coradas enquanto seu coração exprimia uma pluralidade de sentimentos. Cada célula do seu corpo implorava por redenção, afinal, ela estava definhando na própria prisão que criou dentro de si mesma.
– Eu preciso de você, por mais difícil que seja – ele confessou num tom mais baixo.
o encarou com os olhos lustrosos, assentindo e permitindo-se viver aquele amor.
... me desculpe por te machucar...
Um sorriso brando surgiu em meio as lágrimas do rapaz, fazendo-as trilharem um novo percurso. Ele se aproximou vagarosamente até estar a menos de um passo de distância. Inclinou-se, olhando bem fundo dos olhos da sua amada.
– Eu espero que fique claro a partir de hoje. Você é a coisa mais importante da minha vida, a única mulher que consigo imaginar estando ao meu lado – sorriu-lhe. – Prometo que vou mantê-la segura, nem que pra isso eu tenha que me arriscar novamente. Enfrentar outros babacas como aquele ou ter que viajar um oceano até te encontrar... Porque eu te amo, , e por você vale à pena.
E por fim a tomou para si, partindo toda distância entre seus corpos e apossando-se dos lábios quentes da garota. Ela não hesitou em lhe permitir se aconchegar e tornar mais íntimo aquele contato, onde saudade e um pedido mudo de desculpas era expressado. Entregaram-se, finalmente, aos seus mais diversos sentimentos. já possuía a mão firme na cintura de , facilitando ao trazê-la para mais perto e colando seus corpos. E a beijou com volúpia e maestria, um beijo calmo e recheado de desejo.

Glossário:
¹Soju:
bebida destilada originária da Coreia e feita de arroz.
²Jeotgarak: hashi coreano; talher em forma de pauzinho de metal.
³Jagi/Jagiya: forma carinhosa de chamar alguém; usado entre namorados (ex.: querida/bebê)
Bulgogi: prato típico da cozinha coreana, feito de carne marinada grelhada em molho de soja.
Hyung: irmão/amigo mais velho, usado apenas por homens.
Unnie: irmã/amiga mais velha, usado apenas por mulheres.


Fim.



Nota da autora: Juro que essa estória era pra ser uma comédia romântica, mas, como vocês podem ter notado, eu tenho tendência de levar tudo para o lado dramático. Sou canceriana, sim, e meu sobrenome é drama queen (isso foi uma vergonha, eu sei, mas rimou ). Bom, esse é meu segundo trabalho que compartilho aqui no FFOBS e espero revê-los novamente, muito em breve. Obrigada por chegar até aqui! E se não for pedir muito, ficarei imensamente feliz em ler o comentário do que acharam. Críticas construtivas são sempre bem vindas.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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