Um Amor Para Fred Weasley

Finalizada em: 31/01/2021

Capítulo 1

When you hurt under the surface
Like troubled water running cold
Well, time can heal, but this won't


Dias, meses... Semanas, eu não sabia quanto tempo havia se passado desde que tudo virara uma loucura, a batalha havia chegado ao fim, o castelo estava reconstruído, mas eu permanecia quebrada. Nada fazia sentido desde que meus olhos pousaram sobre o corpo inerte no chão, e como poderia? Logo agora...
Molly, Ginny e Arthur insistiram para que eu fosse com eles para A Toca, mas eu não queria, tudo ao redor me lembrava Fred. O cheiro de aconchego e doces que exalava pela casa, os tons de laranja que pareciam ser marca registrada dos Weasley, até mesmo George, um de meus melhores amigos, eu sequer podia encará-lo sem cair no choro.
- , você precisa comer, sai do quarto, por favor. – A voz de ressoou através da porta, eu estava presa em meu quarto na minúscula casa que comprara nos arredores de Ottery St. Catchpole, perto demais da casa dele, todavia eu não tinha forças para arranjar outro lugar no momento. , ou como eu costumava chamar, era uma grande amiga desde meu terceiro ano em Hogwarts, caímos na mesma casa e por consequência no mesmo dormitório, mas ela convivia mais com Angelina Johnson, até que em uma das aulas de Snape fomos selecionadas como dupla. A amizade foi instantânea, assim como aconteceu com os gêmeos.
Lembrar disso aquecia meu coração com a mesma proporção que o fazia doer.
- Estou falando sério, se não sair daí vou derrubar a porta. – Ameaçou, uma risada escapou de meus lábios. Tão passional... Tinha que ser uma Gryffindor. Balancei a cabeça, descrente. Sentei-me sobre o colchão e olhei pela janela, vi as pequenas casas vizinhas serem embaladas pelas decorações natalinas, só então dando-me conta de quanto tempo havia se passado.
- Não chore, seja forte. – Sussurrei ao, finalmente, deixar os lençóis e caminhar até a porta. Esse era o mantra que eu repetia todos os dias quando era obrigada a sair do quarto, Molly, Arthur, Ginny e até Bill vinham me ver todos os dias. Charles havia retornado para Noruega devido a um chamado, George era o único que não aparecia, não o culpo, já que todas as vezes em que o vira eu simplesmente surtei, desde uma crise de choro até um desmaio ele teve que presenciar. Eu culpei a saudade, a dor, o medo, o vazio, a ansiedade, a semelhança entre eles, até mesmo o cheiro que ambos tinham, exceto pelo fato de Fred cheirar a chiclete de menta e cereja, enquanto George cheirava a menta e morangos. Eu culpei a todos, mas depois de algumas semanas de muito sono, apetite e enjoos os surtos tinham outro nome: hormônios.
- Finalmente, eu já estava pronta para arrebentar a porta. – Foram as palavras de assim que a vi, ri fraco ao ver que ela tinha mesmo tomado impulso e se preparava para colocar a pobre madeira abaixo.
- Um alohomora seria o suficiente, . – Respondi, ela deu de ombros e riu antes de passar o braço por sobre meus ombros e guiar-me até a escada que nos levaria a pequena sala. – Você não foi trabalhar hoje? – Questionei ao perceber as horas, ela deveria estar no Ministério.
-Dia de folga. – Piscou, animada.
era noiva de George, na verdade ele havia pedido sua mão na noite da catástrofe enquanto os dois fitavam as proteções serem derrubadas ao redor do castelo. Fred e eu chegamos à tempo de ouvir o pedido e ouvi-la dizer sim, lembro-me de sorrir encantada com aquela cena, eles eram perfeitos um para o outro e nada me deixaria mais feliz do que ver meus dois grandes amigos casados. Fred segurou minha mão e apertou, eu o olhei ele tinha o mesmo sorriso que o meu, nossos pensamentos eram iguais. Um dia, seríamos nós, seus olhos gritavam aquela verdade para mim. Mal sabia que ele esperava o fim da guerra para fazer o pedido, o anel encontrado no bolso de sua calça tinha nossas iniciais gravadas e uma pequena pedra laranja no meio, um diamante raro trazido por Charles à pedido dele.
- Ei, trate de comer. – Ouvi a voz da mulher a minha frente tirando-me do devaneio. O nó instalado na garganta impedia que a sopa preparada por Molly descesse, eu só queria tomar um banho quente e dormir um pouco mais. Pela forma como me olhou, ela sabia exatamente o que eu pensava. – Nem pense em dormir mais, você precisa se alimentar. – Ralhou. Mordi o lábio inferior antes de começar a comer.
Um pouco de cada vez, eu tinha que seguir.
Quando terminei de comer me obrigou a ir tomar um banho e vestir uma roupa para sair, iríamos à Hogsmead e depois ao Beco Diagonal, segundo ela, eu não podia mais adiar a compra das roupinhas e da decoração do quarto. Insisti para que eu lavasse, aleguei que poderíamos ir outro dia, mas nada adiantou. Quando me dei conta estava parada na frente do armário pegando o primeiro vestido que encontrei. Prendi os cabelos, calcei os sapatos, peguei a bolsa e me encaminhei para o andar inferior. Ela estava terminando de preparar alguma coisa que não me dei ao trabalho de ir ver, abri a pequena bolsa para ter certeza de que havia dinheiro e os itens necessários ali dentro quando me deparei com um colar fininho, dourado e com um terço de uma estrela desenhada, meu coração apertou ao lembrar o que aquilo significava.
George havia comprado três colares que se complementavam, em um passeio clandestino que fizemos ao mundo Trouxa para conhecer parte de minha família, na época ainda não era exatamente a melhor amiga dos gêmeos, mas eu já vivia grudada com os dois. Eles haviam visto duas garotas com pulseiras da amizade e acharam aquilo fantástico, me encheram de perguntas e, no fim, enquanto eu apresentava meus primos e tios para Fred, o outro gêmeo fugiu por alguns instantes, e ao retornar tinha em mãos as três peças. Eu ficara com as apontas da direita, Fred com a central que indicava o céu, e George com o lado esquerdo. Com um feitiço nossos nomes foram gravados.
Havia esquecido do objeto, e ao senti-lo por entre os dedos dei-me conta de que esquecera de muito mais. Há sete meses, de acordo com o calendário mágico que se balançava na parede, eu dera as costas a única família que me acolhera com tanto amor quanto a minha própria. Os Weasley se preocupavam comigo, George abrira mão do próprio luto inúmeras vezes para vir me ver, e em meio ao meu egoísmo eu não percebi que, assim como eu havia perdido uma parte de mim, ele também perdera. Eu amava Fred mais do que poderia dizer, porém seu irmão dividira a vida inteira com ele e, no momento em que mais precisara de uma amiga, eu fugi para um mundo ao qual apenas minha própria dor existia, e nada mais.
- Acabei, podemos... Ué, vai pra onde, maluca? – Escutei o grito de enquanto passava apressada pela porta, A Toca não era longe dali, eu poderia aparatar, mas devido aos enjoos preferia não fazê-lo. Corri pela rua de pedra e não tardei a avistar a casa, sabia que minha amiga vinha logo atrás e deveria estar querendo me matar. Não a julgava, faria o mesmo em seu lugar, todavia, naquele momento eu tinha contas a acertar.
A cada passada as coisas pareciam se organizar em minha cabeça. Parei na porta da casa, continuava ameaçadoramente torta e com uma aparência peculiar, entretanto, quando a senhora Weasley surgiu no umbral e sorriu, aquele sorriso acolhedor e maternal percebi que ainda era a mesma casa que eu chamava de minha.
- , querida que bom vê-la aqui. – Puxou-me para um abraço ao qual permiti sentir toda a saudade não dita que havia naquela mulher. A barriga atrapalhava um pouco o contato, e isso a fez rir um pouco. Assim que nos afastamos notei que seus olhos estreitos marejavam. – Entre, venha. – Conduziu-me para pequena cozinha, que como me lembrava, tinha a mesa grande de madeira, o relógio com todas as funções dos filhos e uma pilha de louça ainda se lavava sozinha. Todos estavam em casa, de acordo com o relógio da família, exceto ele, sobre sua cabeça havia um pequeno laço preto e o ponteiro estava parado sobre a imagem que sorria. Engoli o nó, que se formava mais uma vez naquele dia, e voltei minha atenção para a mulher que seria minha sogra.
- Preciso falar com George, ele está? – A surpresa não pode ser disfarçada em suas feições, no momento em que abriu a boca para responder a figura alta, ruiva e tão familiar surgiu.
- Estão procurando por mim? – Perguntou ao descer o último degrau, a atenção voltava para o que parecia ser um dos brinquedos da loja que conduzia com maestria durante todos esses meses. – Pude jurar ouvir a voz da... . – Seus olhos, enfim, pousaram em mim. O vi ficar sem jeito e isso me cortou o coração, aquela figura parada em minha frente era meu melhor amigo, eu não tinha o direito de tirá-lo desse cargo sem mais nem menos, principalmente em um momento como aquele.
- Eu estava... Estou. Preciso falar com você. – Apressei-me em dizer, a mesma surpresa que tomou o rosto de Molly o alcançou.
- vou matar você quando... Oh, oi amor. – chegou afobada e parou apenas ao se dar conta do que acontecia em sua frente. Com uma rápida troca de olhares com a senhora Weasley as duas deixaram a cozinha e permitiram que ficássemos a sós.
O silêncio que se seguiu foi a confirmação de que tudo estava errado, suas mãos dentro dos bolsos e os olhos fixos em mim pareciam pedir para que eu quebrasse aquele mute que se instaurara em nossas vidas. Nenhum de nós tivera culpa do ocorrido, o único culpado fora Voldemort e sua corja sanguinária; ele era meu cunhado e antes de tudo, melhor amigo. Isso precisava acabar.
Trêmula, coloquei a mão no bolso do vestido e tirei de lá o colar, ergui para ficar na altura de seus olhos e o vi abrir a boca em choque. Sentia a ardência que as lágrimas provocavam, não queria chorar, isso o faria se afastar. Caminhei calmamente em sua direção e puxei sua mão até que estivesse estendida diante de mim, coloquei o objeto sobre sua palma e fechei seus dedos para que segurasse o que, há muito, significava a ligação que nós três tínhamos, e graças a chegada de no grupo, agora quatro. Demorou alguns segundos, intermináveis eu diria, para que houvesse alguma reação. George reabriu a mão e olhou primeiro para o pingente que representava minha parte, e depois para mim; franziu as sobrancelhas e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto.
- Você está oficialmente abrindo mão da nossa amizade? – A pergunta me fez recuar um passo.
- O quê? Não! – Adiantei-me. – Pelo contrário, eu vim dizer que achei isso enquanto arrumava a bolsa para sair com , ela me obrigou é claro, mas a questão não é essa. – Tentei manter-me focada antes que os devaneios invadissem a conversa. – Isso me fez lembrar o quão em falta estou com você, com essa família e comigo mesmo. George você é meu melhor amigo desde os onze anos, nós sempre fomos inseparáveis e a partida dele.... Eu. – Percebi que chorava quando um soluço alto escapou por meus lábios. – Eu não sabia o que fazer, parte de mim se foi naquela noite, e tudo o que consegui fazer foi me afundar, não consegui olhar ao redor, não consegui abraçar vocês como sempre fizeram por mim, eu sinto muito. – As palavras se perderam quando as lágrimas tomaram o lugar, senti seus braços puxarem-me para aquele abraço que sempre fora um de meus portos seguros. Percebi que ele também chorava quando senti parte de meu cabelo umedecer.
- Você não nos deve desculpas, baixinha. – Sua voz saiu tão trêmula quanto a minha, o choro só aumentou ao ouvi-lo usar o apelido que me deram ainda no primeiro ano da escola. – Eu sei que não foi fácil, sei que olhar pra mim deve ser impactante, e nem estou falando da minha beleza. – Brincou, arrancando-me uma risada fraca. – Passei três meses sem conseguir me olhar no espelho, . E todas as vezes que o faço é um lembrete que Fred não está aqui. – Engasguei ao ouvir seu nome, havia tanto tempo que ninguém o dizia em voz alta em minha frente. – Tenho feito o melhor que posso para honrar sua memória, as Gemialidades são um sucesso, o memorial com seu nome está sempre em destaque, e.... Eu só quero ser o melhor tio do mundo para esse ou essa bebê que você espera. – A verdade em sua voz me deixou ainda mais emotiva.
Nenhum outro som além de nosso choro foi ouvido no cômodo pelos próximos minutos. Aos nos soltarmos do abraço o vi colocar a mão no bolso em busca de algo que não tardou em achar, unindo sobre a palma em que eu havia depositado o colar da amizade, ele uniu a parte que pertencia a Fred e em seguida a sua, completando a estrela. Olhei-o em choque.
- Vocês estão sempre comigo, baixinha. – Sorriu e eu funguei, o fazendo rir abertamente.
- Obrigada por isso. – Sequei as lágrimas e ergui a cabeça para encará-lo, George era muito mais alto do que eu, o que não facilitava em nada minha vida na hora de discutir com ele, ou com Fred, quando os dois aprontavam e eu precisava colocar ordem em ambos. – Na verdade, eu tenho que agradecer por tudo o que fez por mim...
O vi abrir a boca para responder, mas o som de alguém chorando nos fez olhar em direção a porta onde , Molly, Ginny e Hermione nos olhavam com lágrimas nos olhos. Fitei-as descrente da cara de pau em ouvir toda conversa, mas foi impossível não rir quando se abraçou com a cunhada e as duas iniciaram um choro copioso. Até mesmo a senhora Weasley as olhou assustada, o que só aumentou a graça da situação.
Depois daquele momento, e eu deixamos A Toca e seguimos para Hogsmead na companhia de seu noivo. Ele ficaria na loja de logros, parada obrigatória para qualquer bruxo da Inglaterra, e nós visitaríamos algumas lojas de itens para bebês. A verdade é que um pedacinho do meu coração estava aquecido, como se estivesse de volta ao lugar, mas o vazio causado pela ausência de Fred não poderia ser preenchido. Aquela criança era a lembrança de que ele fora muito importante para mim, e também o lembrete de que não o veria nunca mais.
Ao menos, era isso o que eu acreditava, até aquela noite...


Capítulo 2

Was never the right time, whenever you called
Went little by, little by, little until there was nothing at all
Our every moment, I start to replay it
But all I can think about is seeing that look on your face


Já havíamos entrado em todas as lojas possíveis, estava mais empolgada do que qualquer outra pessoa com a ideia de ser tia, eu me limitava a rir e fingir que não a conhecia quando entrávamos em algum lugar e ela começava a surtar e encher as cestinhas com roupinhas, sapatinhos, até um chapeuzinho bruxo eu a vi pegar. Limitei-me a focar no que seria essencial, o berço já havia sido encomendado, a cômoda e cadeira de amamentar também, tudo seria entregue no dia seguinte.
Passava das seis da tarde quando finalmente consegui tirá-la da última loja e convencê-la que precisava ir para casa, minhas pernas já doíam, assim como as costas. Foi um custo arrastá-la até o Três vassouras, lugar onde George pediu que o encontrássemos, ela estava tão animada com os itens de decoração que suspeitei, uma ou duas vezes, que talvez fosse redecorar minha casa inteira.
- , se você comprar mais alguma coisa, eu juro por Merlin que vou te bater com esses ursos. – Apontei para sacola cheia de bichinhos que trazia presa em um dos braços.
- Ah você é tão chata , eu só quero encher o meu sobrinho de mimos e...
- ... Me deixar louca, acredite em mim, ele ou ela já está sendo muito mimado e eu já estou surtando. – Declarei assim que passamos pela porta que badalou um pequeno sino anunciando nossa entrada. O Weasley nos olhou com um sorriso largo ao perceber a noiva irritada e sustentando um biquinho enquanto eu balançava a cabeça, desacreditada de seu exagero. Após cumprimentá-lo com um beijo e bagunçar meus cabelos, gesto esse que me deixava irada há mais de dez anos, indicou as cadeiras para que pudéssemos sentar.
- Vou querer saber o motivo desse bico, querida? – Ouvi-o perguntar para minha amiga, que lançou-me um olhar matador, demorei dois segundos para perceber e gesticular indicando que não tinha nada a ver com aquilo.
- é a amiga mais chata do mundo. – Soltou, bufando em seguida e arrancando um riso alto do noivo, para quem ela olhou mortalmente fazendo-o se calar. Quando ele perguntou o motivo daquela constatação, a moça desatou a falar de como eu a havia proibido de comprar mais roupinhas, bichinhos, e tudo mais que ela encontrara pelo caminho. – Veja se pode, eu só quero que o bebê tenha o melhor!
Apoiei o cotovelo na mesa e a testa na mão, ela estava tão engraçada que foi impossível conter o riso.
- Não acho que ela queria te impedir, é que pode ser muita coisa para apenas um quarto. – Meu melhor amigo tentou defender-me, o que é óbvio, não surtiu efeito algum.
- , eu adorei tudo o que você comprou, sério mesmo. – Assegurei, vendo uma garota com idade semelhante a nossa se aproximar com três copos de cerveja amanteigada e depositá-los em nossa mesa. George havia pedido antes que chegássemos. – Mas pense comigo, o quarto não é grande, eu vou ter que tirar um monte de coisas de lá, e ainda tem o fato de não sabermos se é um menino ou uma menina. – Peguei em suas mãos na tentativa de acalmá-la. – Eu nem sei se é apenas um bebê.
O choque perpassou as feições dos presentes, em meio a tanta confusão ninguém havia perguntado sobre isso, com certeza não haviam sequer cogitado a hipótese. Em minhas breves idas ao St. Mungos não foi constatado mais do que um feto, todavia, não eram raros os relatos de bebês que se escondem atrás do irmão e não aparecem nos exames. Minha próxima consulta estava marcada para dali dois dias, mas minha vontade de descobrir o sexo do bebê era quase nula, eu só queria ter certeza de que estava tudo bem e para mim, seria o bastante.
- Você.... Quando é a próxima consulta? – George indagou, engasgado com a cerveja e lutando para voz sair audível.
- Em dois dias. – Dei de ombros. – Mas não se animem, quando souber de algo conto pra vocês. – Finalizei o assunto e bebi um pouco do liquido em minha caneca. Os dois trocaram um rápido olhar e, eu sabia, se preparavam para argumentar que eu não deveria ir sozinha. A verdade é que em todas as consultas eu fizera isso, não comuniquei ou chamei ninguém, pode chamar de egoísmo se quiser, mas eu só queria me manter afastada, na minha concepção isso diminuiria a dor.
Não havia dúvidas de que Fred seria o melhor pai do mundo, com referências como Arthur e Bill, o amor que tinha pela família e a forma como acolheu Harry como irmão deixava claro que seu coração era grande e generoso. A ideia de não tê-lo durante esse período, ou imaginar que ele jamais seguraria o bebê nos braços, ou o colocaria para dormir, acordaria no meio da noite para acalmá-lo. Veria seus primeiros passos e sorriria emocionado ao ouvir o bebê chamá-lo de pai pela primeira vez me devastava. Era incompreensível em minha percepção que algo assim realmente estava acontecendo.
- , você não acha melhor...
- Não, nem tentem. – Avisei, limpando o bigode deixado pela espuma. – Está tudo bem, vocês vão trabalhar, quando sair do hospital vou direto para A Toca e encontro todos lá para atualizá-los sobre as novidades. Vou aproveitar para passar n’O Profeta Diário e ver como estão as coisas, não apareço por lá há um tempo. – Sorri constrangida, eles pareceram ceder, ainda que relutante. – Bom, preciso mesmo ir, minhas costas e pernas doem graças a maratona que sua noiva me obrigou a fazer. – Impliquei com a garota ao meu lado e recebi uma careta.
- Posso te levar, é caminho para casa mesmo e...
- Nem pensem nisso, vão aproveitar um pouco, talvez um jantar romântico. – Pisquei e sorri brevemente. – Obrigada por tudo. – Disse mais uma vez antes de dar-lhes as costas e caminhar em direção a porta, estava prestes a sair quando ouvi me chamarem.
- Isso é seu. – George estava parado atrás de mim com o colar em mãos e um sorriso amigável na face, peguei o cordão e agradeci, me despedi com um abraço, soprei um beijo para minha amiga e saí, enfim, do Três Vassouras.
Haviam carruagens dispostas pela cidade, prontas para nos levar a qualquer lugar com uma pequena quantia de galeões. Atravessei a rua e me aproximei de uma, no momento em que toquei a maçaneta um letreiro há duas portas de distância piscou, atraindo minha atenção. Franzi o cenho e segui até lá, mesmo com algumas sacolas consegui empurrar a porta e entrar no que parecia ser uma loja de artigos mágicos antigos, algo de colecionador. Suspirei pesadamente ao pensar que havia sido uma perda de tempo, até me deparar com um espelho quadrado de prata, cheio de adornos na margem grossa. Abaixo dele uma mesinha com um livro de capa dura, velho e desgastado ostentava o título Occultatum Desiderio, reluzindo como um a lanterna na escuridão. Não havia um motivo específico para me interessar por aquele livro, menos ainda para comprá-lo, porém quando me dei conta já deixava a loja com o mesmo numa sacola e alguns galeões a menos. Fiz sinal para uma das carruagens que acabara de aproximar da calçada, e logo estava acomodada a caminho de casa.

Banho quente e cama, era tudo o que eu precisava. Encostei-me nos travesseiros e decidi que seria um bom momento para saber o que havia me levado a comprar aquele livro velho. Folheei rapidamente e descobri que não passava de um livro de história, a história de Merlin nunca contada, com fatos desconhecidos e feitiços que nunca foram vistos, para ser mais exata. Perdi-me entre as páginas por alguns momentos, até minha mente começar a divagar pelo dia e misturar-se com lembranças de meses atrás.
Eu havia sorrido mais hoje do que em dias, saíra de casa com uma amiga, finalmente encarara George e pedira perdão, ainda havia o restante da família, mas eu teria que esperar até o fim da semana quando todos estivessem reunidos. Comprara as coisas para o bebê e, foi nesse momento em a imagem de dois adolescentes sentados nos jardins do castelo, rindo de alguma piada boba, há muito esquecida, dividindo sonhos, surgiu em minha mente.

- Quando nos casarmos teremos uma família grande, seis ou sete filhos... Uma casa espaçosa e...
- O quê? Como assim seis ou sete filhos? – Olhei-o espantada, não havíamos sequer cogitado a ideia de nos casarmos, imagine constituir uma família tão numerosa.
- E por que não? – O vi se aproximar ainda mais, tomando minhas mãos entre as suas e depositando um beijo singelo no dorso de ambas. – Seremos muito bem sucedidos, podemos ter uma casa grande onde vamos reunir a família aos domingos, quem sabe até fazermos uma viagem ao Egito com as crianças? – Balancei a cabeça, rindo da facilidade com que ele expunha a ideia. Parecia tão fácil e perfeito.
- Você está falando sério? – Perguntei e o vi assentir. – Isso significa que o senhor, Fred Weasley, pretende mesmo me tornar sua futura esposa... Não sei... – Mordi o lábio inferior, fingindo pensar se aquela era mesmo uma boa ideia, quando pousei meus olhos nos seus havia preocupação e receio, o que me fez rir. – Não acredito que achou mesmo que eu não aceitaria. – O vi soltar o ar, aliviado e ri mais.
- Acho que você está sendo mal influenciada, eu diria que é culpa de meu irmão e de Lino, mas não quero acusar ninguém. – Ergueu as mãos fingindo inocência, desferi um tapa em seu braço, fingindo indignação. – Mas pense bem na ideia, teremos uma família linda se puxarem a você.
- Oh claro, disse o ruivo bonito e popular da escola. – Ironizei e o senti me puxar para mais perto, prendendo-me contra seu corpo com os braços em minha cintura. Seus lábios roçaram nos meus brevemente, fazendo-me fechar os olhos.
- Então, já que você concorda com a ideia de ser minha esposa e de termos uma família grande...
- Eu não concordei com a segunda parte. – Afastei-me rapidamente vendo-o murchar, frustrado. – Quem sabe dois ou três bebês de cabelos ruivos e olhos castanhos correndo pela casa. – Sugeri vendo aquele sorriso que eu tanto amava ressurgir.
- Imagine se vem gêmeos. – Pensou por um instante. – Não seria ótimo?
- Oh sim, Fred e George 2, a versão melhorada. – Brinquei e o senti fazer cócegas em minha cintura.
- Não há o que melhorar, querida. Eu sou perfeito. – Gabou-se intensificando as cócegas e me obrigando a deitar sobre o banco de pedra, a esta altura minha risada já não podia ser abafada, exceto pelos lábios dele, que num segundo pressionavam os meus e fazia tudo mais sumir ao redor.


Não percebi que chorava, até me assustar com o soluço que irrompeu rasgando meu peito. Olhei para página, agora úmida do livro, onde uma frase parecia se destacar. Eu não fazia ideia do que estava escrito, talvez fossem os olhos marejados, ou o fato de estar em uma língua desconhecida, no fim dei-me por vencida. Fechei e depositei o objeto sobre a mesa de cabeceira, apaguei a luz e me afundei entre os travesseiros, permitindo que o cansaço e as lembranças embalassem o sono que me tomava.


Capítulo 3

Before you go
Was there something I could've said
To make your heartbeat better?
If only I'd have known you had a storm to weather


Um barulho contínuo me despertou, a claridade passava fraca pela janela, mas era o suficiente para fazer meus olhos arderem. Espreguicei-me sentindo o corpo mais relaxado do que em dias, o que era surpreendentemente estranho. Franzi o cenho quanto distingui que o barulho responsável por me acordar era, na verdade, vozes. Que agora riam espalhafatosamente.
Levantei-me, realmente preocupada, já que não me lembrava de ter marcado nada com ou George para hoje. Agarrei a vassoura que mantinha próxima da porta e abri a mesma, passei para o pequeno corredor e o cheiro de café me tomou de assalto. Surpresa e confusa, desci a escada pé ante pé, fazendo o mínimo barulho possível. O som vinha da cozinha, parei na soleira e estava prestes a ameaçar os presentes, quando senti a madeira escorregar por minha mão, dois rostos quase completamente idênticos me fitavam com um semblante confuso enquanto eu sentia meu mundo girar. Fred e George Weasley estavam na minha cozinha, vivos, saudáveis, me olhando como se eu fosse maluca por alguma razão, e tudo o que consegui fazer foi desprender meus pés do chão, que pareciam pesar absurdamente, e correr em direção ao homem que ocupava meus sonhos desde a infância.
- Você está aqui. – Falei com a voz abafada por sua roupa, meu rosto estava pressionado sobre o peito do ruivo, meus braços lhe rodeavam com tanta força que poderia quebrá-lo, ainda que naquele momento nada disso importasse.
- Bom, aparentemente sim. – Brincou, devolvendo o abraço e apertando-me um pouco. No momento em que consegui me afastar minimamente e erguer a cabeça para olhar em seus olhos, as lágrimas surgiram e se tornaram impossíveis de conter. – O que aconteceu, querida?
- Ei, baixinha, está sentindo algo? Fale conosco. – George pediu, gentil como sempre e tocou meu ombro.
- , amor, você precisa dizer o que está havendo. – Fred pediu afastando-me novamente, desta vez para esquadrinhar meu rosto. – Por que está chorando?
- Você está... está aqui. – Não havia coerência alguma em minha fala. – Ah Fred, eu senti tanto a sua falta e...
- Mas eu só fui até A Toca, trouxe os bolinhos que mamãe preparou pra você. – Havia um misto de riso e confusão em sua voz, só então percebi que ele estava mesmo ali, e jamais esteve em outro lugar, que não ao meu lado. A segunda guerra bruxa, que de acordo com o calendário mágico, se passara há sete meses, não o levara de mim. Olhei rapidamente para George, que aparentemente desistira de tentar entender o que se passava, e agora nos olhava encostado na pia, com os braços cruzados e um ar sereno.
Correção: Não o levara de nós.
Fred estava vivo, respirando e ainda era a outra metade de George. Meus melhores amigos, meus ruivos favoritos.
O choro de dois bebês invadiram a casa deixando-me desnorteada. De quem era aquele... Olhei para meu próprio corpo rapidamente, só então, dando-me conta que a barriga protuberante não estava mais ali. Isso só podia significar que...
No momento de devaneio Fred deixou o cômodo por alguns instantes, apenas para retornar com dois bolinhos de pano amarelo, que se mexiam sem parar e pareciam impacientes. Vi-o se aproximar e me entregar uma das crianças, de olhos castanhos e cabelos vermelhos. Duas lindas garotinhas recém-nascidas esperneavam em busca de acalento e comida. Elas precisavam da mãe.
- Acho que acordaram com fome. – Fred brincou apontando para as crianças, olhei para ele, depois para George e então para os bebês. Eram as minhas filhas, as que eu nem sabia da existência quando tudo aconteceu.
Se é que aconteceu...
Fui obrigada a deixar a confusão de lado e me ocupar em amamentar e acalmar as duas, uma tarefa relativamente fácil, já que o pai e o tio delas se ocuparam em fazê-las arrotar e as embalaram em um balançar acolhedor. Era, sem dúvidas, a cena mais adorável que já presenciara na vida. Mas faltava alguém.
- Sentiu minha falta, meu bem? – A voz de nos fez virar para fitá-la, parada na porta da cozinha com uma sacola em mãos e cara de quem havia aprontado, ela sorriu quando percebeu as duas crianças nos braços de Fred e George. – Olha se não são as dorminhocas da titia? – Brincou, logo depois de largar a bolsa sobre a mesa se aproximou e pegou a pequena dos braços de seu noivo.
- Não vai começar a chamar a menina de docinho de novo, vai? – George perguntou franzindo as sobrancelhas, encarei-os confusa.
- Não tenho culpa se Maggie é tão adorável quanto um pequeno docinho, ora essa. – Resmungou minha amiga, fazendo-me rir. Fred caminhou até mim com a outra bebê, tudo estava tão fora dos eixos que até o momento eu só sabia o nome de uma das crianças, e acabara de descobrir por intermédio de minha melhor amiga. – Aonde pensa que vai com a minha pequena Naila?
- Dê um tempo, sim? Você já monopolizou muito delas, ok? – A confusão estava instaurada, e os gêmeos discutiam em tom de brincadeira. Eu adorei aquele ar de tranquilidade e a sensação de estar em casa, mas haviam perguntas sem respostas e isso me deixara inquieta. Tomada pela ânsia de descobrir o que estava acontecendo, peguei as meninas e dei a desculpa de que as colocaria no berço e tomaria um banho, desceria em breve para tomarmos café da manhã.
Apressadamente retornei para o quarto e deixei as bebês sobre a cama, fiz uma barreira com lençóis e travesseiros e quando me dei por satisfeita, voltei a atenção para o quarto. Algo me dizia que a resposta para tudo estava em algum lugar daquele cômodo. Neste exato momento, como se uma luz se ascendesse sobre minha cabeça, a capa do livro que comprara na noite passada, ou o que eu acreditei que fosse noite passada, destacou-se atraindo-me para abri-lo. Não resisti e o fiz, encontrando dentro da última página em que estivera lendo, um bilhete destinado a mim.

Querida e brilhante ,
Vejo que fez bom uso do livro, assim que a vi entrando na loja soube que havia algo especial em você. De todos os pedidos e desejos que este livro é capaz de realizar, e eu já vi muita gente se perder e morrer por isso; você quis o que dinheiro algum pode comprar. O amor.
Espero que viva bem, tenha uma longa vida cheia desse sentimento ao lado do homem que a ama.

M.


Não havia assinatura, apenas uma letra deixada no fim da página de pergaminho. Olhei mais uma vez para o texto na página envelhecida e, só então, dei-me conta do que acontecera. Eu não havia comprado um livro de histórias qualquer, havia relatos históricos sobre aquele artefato. Um feitiço pronunciado era um caminho sem volta, o famoso e ilocalizável livro de Merlin, um dos últimos que restara no mundo.

Cor tuum, et omne votum ut ostensum est. Ask ex toto corde tuo, et dabit tibi restitui iusserit. Ad unum velle et tuum erit. (Deseje de coração e tudo lhe será mostrado. Peça de todo coração e lhe será entregue. Um desejo por vez e será seu.)

Então era isso, eu comprara o livro de desejos que pertencera a Merlin. Pulei da cama ao ver ouvir o barulho da porta se abrindo, rapidamente fechei o objeto e soltei o ar que prendera sem perceber ao ver os olhos castanhos pelos quais eu me apaixonara ainda na adolescência. Fred adentrou o cômodo e sorriu ao me ver sentada próxima das crianças, estivera tão absorta na descoberta que sequer havia notado que sentara sobre a cama.
- Você está bem? Fiquei preocupado quando te vi chorando. – A voz levemente rouca aqueceu meu coração, assim como a preocupação presente ali. Assenti e mordi o lábio inferior numa tentativa falha de evitar que as lágrimas, antes contidas, voltasse a superfície.
- Só tive um sonho ruim. – Murmurei e baixei a cabeça para enxugar a lágrima teimosa que escorrera sem permissão, senti o dedo de Fred pousar sob meu queixo erguendo minha cabeça e, assim, obrigando-me a olhá-lo.
- Tem certeza de que é só isso? – Engoli em seco e assenti. Não valia a pena estragar a felicidade de tê-lo de volta contando tudo o que acontecera. O que importava era que ele estava ali, são e salvo, inteiro e presente. George recuperara sua outra metade, Molly tinha os gêmeos de volta e os Weasley estava completos mais uma vez. Para completar a felicidade tínhamos duas lindas garotinhas que agora bocejavam e se mexiam em busca de melhor posição para um sono tranquilo. Um estalo me fez perceber que se as bebês já haviam nascido, e pelo tamanho não tinham sequer um mês, então era Natal.
Como se lesse minha mente o ruivo retirou do bolso um objeto e estendeu em minha direção. Senti o ar sumir momentaneamente.
- Hoje é véspera de Natal, e como sabe, A Toca é barulhenta demais para que eu possa fazer isso com tranquilidade. – Fred começou seu monólogo enquanto minha atenção estava presa em seus olhos. – Não que eu esteja tranquilo agora, já que existe a possibilidade do não, mas... , você aceita herdar meu sobrenome e ser a esposa que sempre sonhei enquanto planejamos nossos outros filhos? – Foi impossível não sorrir.
A figura ruiva se ajoelhara diante de mim, com a caixinha aberta revelando um anel muito semelhante ao que eu vira na fatídica noite da batalha em Hogwarts. A diferença agora eram duas pedras menores e brancas, tão brilhantes quanto a laranja que permanecia no meio.
- Nunca houve a possibilidade do não, Weasley. – Foi a primeira coisa que consegui falar. – Sempre foi e sempre será você. – Seus olhos marejaram espelhando-se nos meus. – É claro que sim, só não estou tão certa quanto aos outros filhos. – Brinquei e o assisti colocar o pequeno objeto em meu dedo. Fui erguida em seus braços e tive os lábios esmagados pelos seus, e... Como descrever a melhor sensação do mundo onde tudo o que há de bom no universo se mistura e nos deixa entorpecido? Não havia resposta para aquilo.
Fred era meu ponto de paz, caos e alegria. Tudo dele complementava tudo em mim, e presa contra seu corpo eu tinha certeza disso. Fred estava vivo, nossa família estava bem, completa, unida e perfeita. George e eu compartilhamos a mesma amizade de sempre, talvez mais fortalecida pelos anos e pela chegada das crianças. era a amiga mais maluca e perfeita que poderia pedir.
- A gente pode chegar num acordo sobre os bebês, não pode? – Sua pergunta me fez recuar um pouco para ver sua cara travessa. O riso foi incontrolável.
- Pensarei no assunto, Weasley. – Declarei vendo-o rir e me apertar ainda mais.
- Eu te amo. – A frase que me derretia inteira.
- Eu sei, eu também amo você. – Deixei um beijo casto em seus lábios e me permiti abraçá-lo mais uma vez, repousei a cabeça em seu peito para ouvir o martelar contínuo e suave de seu coração.
Tudo estava em seu devido lugar, ele era o amor da minha vida, aquela certeza que só se encontra uma vez. E vendo o brilho de seus olhos não havia dúvida de que eu era esse amor para ele também.


FIM



Nota da autora: Olá lindas da tia Donna, como estão? Eis que trouxe essa fanfic que há muito ansiava por terminar. Espero que tenham gostado dela tanto quanto eu gostei de escrever. Deixem seus comentários e opiniões.
Muito beijos, e até breve.



Qualquer erro no layout dessa fanfic, notifique-me somente por e-mail.


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