Um Amor Perigoso Para Chamar De Meu

Última atualização: 15/07/2019

Capítulo 01

Hoje estava um dia ensolarado, era tão quente que acordei antes do despertador e aproveitei para tomar um banho e lavar meus cabelos. Algo me dizia que esse dia será longo e bem cansativo, meu corpo estava em alerta, minha mente ia e voltava nas mensagens de , tentei ao máximo não me estressar, pois o teste para a dança do próximo jogo de futebol era hoje e eu precisava com todas as minhas forças estar bem, caso contrário iria pegar novamente a liderança.
Ao terminar, desci as grandes escadas pensando o porquê citaria tal informação. Eu sabia que naquela faculdade algo muito sujo acontecia, mas não que vários daqueles meninos ricos até a sua quinta geração estavam envolvidos até o pescoço. Eu não queria estar no meio dessa sujeira, mas algo estava para acontecer e não ia ser agradável.
Encontro minha mãe tomando seu café e lendo mais um de seus livros de direito penal para resolver mais um caso de lavagem de dinheiro de um suposto bilionário. A cumprimentei com um singelo beijo no rosto e ela sussurrou um “bom dia”. Meu pai... provavelmente está a horas longe de casa enfurnado em um escritório resolvendo sobre sua empresa e alguns assuntos burocráticos do seu segundo emprego como ministro.
Basicamente minha vida era essa, eu era a melhor, mas quem me incentivava ou observava era os empregados. Certamente meus pais estavam focados nos seus serviços o que eu não ousaria a atrapalhar. Então tratei de adiantar meu café e sair sem ser percebida. Precisava resolver meu caso com , então assim que entrei no carro, iniciei a nossa conversa.
— Bom dia , achei que não ia ligar.
— Corta o papo furado e me explica o porquê daquela mensagem. Não se pode jogar tamanha bomba e não responder.
— Quando chegar me encontra no gramado e te explico.
— Caramba me responde logo.
— Tchau!
Filho da puta!
e eu namorávamos a um tempo mas tudo arranjado pela família e milimetricamente calculado pensando no bem dos negócios, no fundo eu sabia que ele me traía, mas a pressão era tanta que eu resolvia fingir ser a boazinha. Como sempre ultimamente!
Mas eu faço o mesmo com ele. Na última viagem de negócios da minha mãe, fiz questão de pegar o filho do caso dela, porém queria ter a coragem de terminar meu namoro e viver aquilo que eu quisesse. Coragem que a cada dia é mais tirada de mim...
Estacionei o carro no estacionamento dos fundos e fui direto em direção ao gramado. De longe avistei de papinho com uma menina qualquer, típico dele. Me enoja somente de olhar mas, coloquei aquele sorriso no rosto.
— Fala agora! — exclamo.
— Oi... seria legal cumprimentar — ele responde.
— Sem papo furado — ignorei a cara feia dele e da menina qualquer que emitiu um sorriso falso e saiu despercebida.
— Estão falando que você é a mula que está trazendo drogas para a faculdade... estou te contando porque afinal isso me afeta, sou seu namorado e não quero meu nome envolvido.
— Obrigada! Achei que fosse pela tamanha mentira que estão me acusando — falei incrédula e meu coração acelerou. Isso é ruim, muito ruim.
— Isso é errado porra! Como colocaram meu nome nisso? Eu não fiz nada.
— Exatamente! Eu conheço você e sei que não está nisso, mas é melhor dar um jeito, pois o diretor já está sabendo e quer falar com você.
Simplesmente saí andando nem o deixando terminar, as lágrimas estavam prestes a sair, a garganta estava entalada de palavras que não valiam a pena. Quem queria me ferrar? Eu não fazia ideia. Todo mundo naquele lugar era uma cobra, mas algo deste tamanho era surreal, se minha mãe sonhar com algo disso certamente faria um escândalo. Meus pés foram no automático até a sala do diretor e quando cheguei eu simplesmente abri a porta sem bater. Havia uns alunos que olharam espantados (nessa altura as lágrimas já caiam sem meu controle), e logo se retiraram. Quando ouvi o barulho da porta fechando, eu comecei a falar.
— Eu fiquei sabendo que estão falando uma mentira sobre mim. Então antes que você me chamasse e eu parecesse culpada, vim aqui me explicar. Eu não sei quem te falou, mas eu não tenho nada a ver com drogas nessa faculdade, pelo contrário, sou obrigada a dar meu melhor, não posso me envolver em tal assunto... pelo amor de Deus diretor Rodrigues, você me conhece, me diz que não acredita nisso, o que eu preciso provar? — As lágrimas estavam sem controle e eu soluçava tanto que não conseguia ouvir minha voz, sabia que era humilhante, mas eu estaria muito ferrada se essa conversa fosse adiante, meu coração batia tão forte que era possível ouvir. O diretor ficou um bom tempo me olhando até que me acalmei.
— Enfim... — ele se levanta e me traz um copo d’água — Eu já suspeitava. Estávamos procurando por quais alunos eram envolvidos e tivemos umas respostas. Você não era parte da lista, mas de uma hora para outras citaram você como a mandante... acalme-se, já sabemos que alguém quer te prejudicar e sair ileso. Mas preciso que você finja que recebeu uma punição para podermos concluir quem são os responsáveis. Você poderia fazer isso? Sei que é pedir muito.
— Aí meu Deus... sim eu ajudo, obrigada muito obrigada! — o abracei sentindo meu corpo mais leve. — Eu não entendo quem queira fazer isso comigo, mas me deixou muito assustada.
— Eu sei querida, vamos dar um jeito. Mas precisamos de você, se for demais pode me procurar, agora quero que me escute e faça deste jeito.
Escutei cada palavra dele mas, absorver era outro assunto... sabia que alguém estava atrás de mim há um tempo, não era de hoje que minhas coisas sumiam, assuntos sobre minha relação sexual vazavam, até fotos minhas tentaram forjar, alguém queria acabar comigo de vez mas eu não sabia quem... Isso me preocupava. E se tentarem dar um fim em mim? E se um dia esses assuntos chegarem até meus pais? Eles não queriam problemas, mas isso já estava passando dos limites, eu deveria envolvê-los. Prometi a mim mesma que seria a última vez que iria lidar com isso sozinha, caso contrário iria contar tudo a eles. Saí da sala perplexa, não lembrava uma palavra, mas sabia que tinha que fingir estar ferrada e realmente eu sentia isso.
Fui para a aula de direito civil, já não aguentava mais esse assunto, mas decidi assistir a aula. Essa faculdade é a mesma que minha família frequentou, eu não podia sair daqui e acabar a tradição, direito era a especialidade da família. Basicamente todos são formados, só meu primo de segundo grau que decidiu fazer artes, e virou a ovelha negra. Eu não queria a fama de ser a próxima, por isso aguentei todo comentário até aqui, neste quarto semestre. Falta pouco e eu vou conseguir, mas está ficando cada vez pior...
A professora apresentou o projeto para o próximo trabalho quando eu decidi ir ao banheiro. Saí da sala no modo aéreo, não sabia bem o que minha mente pensava e a vontade de chorar era enorme, meus olhos doíam, eu estava cansada, não sei se o motivo eram os comentários ou pelo fato de que amanhã seria o aniversário do meu falecido avô, o cara mais legal desse mundo, o único que um dia se importou comigo. Ele me tratava como uma princesa. Era cheio de amor para dar e sua morte levou com ele metade do meu coração. Eu basicamente deixei de existir quando ele se foi, minha alegria ou o resto dela se foi totalmente, então desde aquele dia eu existo, sigo os planos que me empunham e tento manter aquelas lembranças que me deixam aquecida por dentro.
Estava tão cega e perdida em meus pensamentos que não vi o momento em que esbarrei em um homem mediano de cabelos raspados, piercing na boca e tatuagens no rosto. Ele deixou cair uma caixa pequena no chão e dela saiu pequenos pacotinhos plásticos com um pó branco. Meus olhos na hora se arregalaram, meu cérebro avisava para eu correr e não olhar para trás, mas minhas pernas não obedeciam, o homem perplexo começou a pegar tudo rápido e levantou mais rápido ainda voando em minha direção. Eu dei um passo para trás e antes que ele falasse, minha boca desacatou a falar.
— Olha aqui, eu não sei quem você é, mas um de seus capangas idiotas que estudam nessa faculdade inútil estão tentado me ferrar, se eu descobrir quem foi eu juro entregar você para a pessoa mais poderosa que esse país já teve... — minha voz já estava alta, meu dedo estava totalmente apontado na cara do sujeito e nossos corpos estavam tão perto que podia sentir seu cheiro. Ele abriu um meio sorriso e emitiu uma risada fria.
— Então vá e faça...
— Não duvide! É bom você falar com eles — respondi.
— Você não sabe quem eu sou? Sou simplesmente o dono da mercadoria que abastece a cantina, nada mais, você está inventando história.
— Não ouse... — ameacei pegar a caixa dele, mas ela já havia sumido. A raiva tomou conta de mim e eu queria voar naquele homem, mas não podia confiar em meus pensamentos muito menos nas minhas ações. Puxei o ar pela boca usando todo o meu autocontrole para me acalmar. — Me perdoe se eu te confundi, estou passando por uns problemas. Tenha um bom dia.
Sai andando para voltar para a sala de aula, mas um homem de meia idade me chamou, fazendo meu corpo virar sem que eu ao menos notar — Irei resolver seu problema, tenha um bom dia querida.
E assim ele saiu andando também e ali eu soube quem ele realmente era.
Havia o boato que as terças feiras da primeira e última semana do mês o dono do esquema vinha entregar a carga e depois pegar o dinheiro, uns falavam que era o segurança, outros o cozinheiro e até o jardineiro foi suspeito... mas até hoje eu não me lembro de vê-lo aqui, afinal parecia que ele nunca esteve aqui e como eu achei este lugar? Eu parei um minuto e assimilei que eu estava na parte do estoque de alimentos e ao lado os produtos de limpeza e higiene. Mas era óbvio ninguém nunca o notou, pois ninguém nunca vem neste local.
Era como se fosse o destino, eu me sentia leve como se ele realmente fosse me ajudar, eu não planejei andar por aqui, mas eu estava aqui, parecendo como mágica, bem no momento em que precisava dele. Algo me dizia que não foi por acaso, mas segui para aula para tentar absorver algo e colocar a cabeça no lugar, pois mais tarde haveria a competição.
Passaram todas as aulas e eu simplesmente não saí da sala, não queria ouvir e ver ninguém, queria processar aquilo e focar por uns minutos no que importava.
Chegou a hora do show e eu precisava passar. As meninas já estavam todas arrumadas quando entrei no vestiário, logo encontrei Chloe e , minhas melhores amigas que sorriram ao me ver e vieram me abraçar.
—Achei que você não iria aparecer para acabar com aquela vaca.
— Verdade, não vejo a hora de ver ela perder aquele postinho dela.
— Desculpa meninas, estava resolvendo uns trabalhos e até me esqueci de falar com vocês. Enfim, como estamos?
— Ela já chegou daquele jeito se achando a rainha.
— Exibida não vejo a hora de ver a cara dela de otária.
— Calma meninas, não vamos matá-la com o olhar, queremos ser sorrateiras, deixa para dar o bote na hora certa.
— Vem, vamos te arrumar, senta aí, sua cara tá um o!
Me deixei ser cuidada e comecei a colocar todos aqueles sentimentos em um só: raiva! Raiva em destruir aquela megera, estava na hora de acabar com ela, chega de humilhar as pessoas, de se achar a mais importante, de querer ser o destaque, hoje isso tudo iria mudar. Eu me sentia outra pessoa ao colocar minha roupa de líder de torcida e a maquiagem bem feita. A treinadora chamou todas nós para se arrumar em posição e passar as instruções da competição.
e vocês serão as últimas e as meninas escolhidas para a nova fase irão decidir a líder do grupo.
Todas soaram um ok em uníssono e se coloram em posição. Sentei ao lado da treinadora sentindo meu sangue ir às alturas quando o tal cara tatuado olhava do último banco da arquibancada, bem escondido ao lado esquerdo, ele me deu uma singela piscadela. Fiquei o encarando até que a treinadora chamasse minha atenção mostrando que já se passaram os testes e agora seria e eu.
Me levantei determinada a ganhar aquela coisa, caso contrário daria um belo de um murro naquela cara de cínica dela. Quando a música começou nas primeiras batidas, meu coração acompanhou e deixei me envolver ao máximo, seria questão de honra, treinei por meses essa coreografia, dei meu melhor junto às minhas amigas para termos esse momento e nada iria me abalar. Quando finalizou a música, meu corpo todo tremia, sentia o suor escorrer pela minha blusa e meus pulmões estavam frenéticos.
Todas aplaudiram entusiasmadas e logo minhas amigas correram para me abraçar, dei uma olhada para trás, mas ele já não se encontrava mais e fora substituído por e seus amigos, que pareciam crianças ao verem meninas dançando.
A professora logo pediu para cada uma votar, deixando minhas meninas por último. — Bom, e , seus votos por favor!
— Ah, pelo amor né? ! Óbvio! — a cara da ao notar o deboche e que havia perdido foi impagável. Ela nem esperou a resposta final e saiu andando com suas amigas.
— Então será a nova líder, parabéns! — Eram todos comemorando, naquele pequeno instante eu senti alegria e foi tão bom.
— Olha só, devo me ajoelhar à nova líder de torcida? — veio até mim quase na porta do vestuário, enquanto as outras meninas entravam, eu o puxei pela mão para um lugar reservado.
— Eu conversei com o diretor.
— Tá ok. — respondeu ele.
— Você não quer saber?
— Não, mas agora venha aqui, vamos comemorar sua vitória — me segurando pela cintura, ele me forçou um beijo.
— Me solta, eu realmente preciso ir embora.
O empurrei com toda a minha força e sai às pressas em direção ao estacionamento, com a roupa do treino ainda e toda suada, sentei ao lado do meu carro e me deixei chorar... eu não esperava realmente nada de , mas meu coração ficou menor ao ver o desprezo dele. Ele quer status, quer viver fácil e eu quero algo sólido e romântico, está mais que na hora disso acabar, tenho que avisar meus pais e por um basta nisso.
Sinto uma mão segurar uma mecha do meu cabelo e dou um salto.
— O que você quer? Já me desculpei e agora parece doido me seguindo. — falei.
— Menina, eu não deveria te deixar viva, mas algo em você me chamou a atenção, agora abra o carro e entre nele que vamos conversar.
— O quê?
— Abra.
Abri o carro com certa dúvida, ele poderia realmente me matar... eu sentei no banco do motorista e ele no passageiro.
— Agora será assim que nós vamos nos encontrar. Eu tenho umas respostas para a sua dúvida e eu preciso de alguém para ver quem está queimando meu esquema. Esses jovens ricos são a minha fonte de ouro, ou seja, não estou a fim de perder esse posto.
— Por que você não vende do lado de fora? Pouparia muita coisa.
— A história é longa garota, e outra, temos um trato ou não?
— Eu tenho que fazer o quê?
— Preciso de alguém de olho nessas pessoas — ele me entrega uma lista — meu número de celular está logo abaixo, então vamos manter contato para discutir como anda o negócio e em troca disso eu tiro seu nome dessa sujeira. Parece que o destino nos uniu princesa, estava para perder esse belo lugar e você veio e me entregou de bandeja.
Minha boca não fechava, eu estava com medo mas sabia que queria aquilo, meu corpo estava todo arrepiado, meus instintos não negam, eu queria aquilo.
— Ok, eu faço isso, mas se eu perceber que está ficando perigoso, eu vou sair, está combinado?
— Claro! — disse em espanhol.
Aquilo me chamou a atenção, soou até sexy o jeitinho que falou em outro idioma, dando uma piscadinha meio sem jeito com seus dedos tocando levemente seus lábios. Percebia que aquele homem me daria trabalho, eu queria aventura, queria largar , pais e obrigações e viver uma aventura e cai assim de paraquedas a própria aventura em pessoa. Fiquei determinada em ajudá-lo e, antes que eu falasse algo, ele sai do carro e caminha rumo a uma minivan preta.
Então ali começa o meu novo começo, aquela sensação que tive essa manhã não estava errada. Como dizia meu avô: “nosso sexto sentido para a encrenca não falha”, mas se eu senti isso, por que não neguei? Por que não saí antes de me enfurnar mais? Estranho. Talvez eu seja a ovelha negra da família.
— Afinal qual é o seu nome? — perguntei.
— Depende... e o seu?
e você?
... ao seu dispor!


Capítulo 02

Estava deitada entre os cobertores, o quarto completamente escuro e a única luz que vinha era do meu celular. Disquei o mesmo número do papel diversas vezes, mas a coragem não vinha. Acabei mudando a tela para o meu Instagram e uma foto conveniente me aparece logo de cara, era de Sarah, uma das pessoas da lista. Entrei em seu perfil e via um padrão de fotos sensuais em frente ao espelho, mas uma bem no final me chamou a atenção, era de uma festa com a luz de fundo em azul e muitos homens rodeando ela com bebidas em suas mãos e um bem ao fundo era conhecido... era ele com toda certeza, tirei um print, pois lá havia uma localização de um salão onde ocorria esses tipos de eventos. Continuei olhando e acabei buscando pelas outras pessoas como o Dean, Jonas, Raphael e Michael, todos da faculdade, mas com uma personalidade duvidosa: os estilos simplesmente não eram iguais os da maioria daquele local... nomes como os da , Gina e Jane se encontravam lá, aquilo era... meu Deus! e seus amigos, Ruan e Pablo estavam sendo observados por . Meu cérebro não parava de rodar, parecia até que eu iria desmaiar. E se essas pessoas são as envolvidas em repassar as drogas, então tecnicamente sabe quem me entregou, mas por que ele não me falou? Eu não era especial para ele? E a consideração em deixar meu nome rodar assim? Então eu chorei mais ainda. O relógio mostrava ser 1h30 da madrugada.
Eu chorava, chorava tanto que meus olhos doíam, meu rosto estava encharcado e minha garganta já doía. Logo meu celular toca e um número desconhecido aparece.
— Alô?
— Estava te esperando docinho, porque a demora em me ligar? - A voz rouca de chama minha atenção.
— Você disse que só era para combinarmos um local. - Indago surpresa pela ligação inesperada.
— E isso seria o quê? Eu não gosto de demoras e muito menos enrolação.
— Espera aí, onde você achou meu número?
— Não vem ao caso, e a sua listinha? Tem algo a me falar?
— O que essas pessoas fizeram para você?
— Já disse, é uma longa história, querida.
— Eu exijo saber, tem pessoas aqui que eu conheço.
— Então deveria rever suas opções, pois nenhuma delas é o que parece — ele soou alterado no outro lado da linha. — Te vejo amanhã, depois das aulas, na quarta esquina após a biblioteca da faculdade, e eu não gosto de esperar.
Ele desliga sem me deixar contestar ou pedir mais informações. Como eu iria me comunicar com ele? O que eu iria apresentar a ele? Muitas dessas pessoas eu mal conheço, me enfiei em algo que não cheira bem, mas mesmo assim não quero sair.
Volto a pesquisar um nome no Instagram "", mas me aparecem vários. Entro em um por um, mas não acho nada e acabo sendo vencida pelo sono.
Acordei quando minha mãe abria minhas cortinas com tanta força que jurava ouvir um dos prendedores quebrar, logo ela veio perto da cama e puxou meus edredons fazendo tudo encima dele cair pelo quarto.
— Agora você não vai mais a faculdade sem me avisar? Acha que é quem?
— Do que você está falando?
— Você já viu o horário garota? Saia desta cama agora.
— Mas...
— Sem mas.
Ela saiu batendo os pés com os seus saltos caros. Hana entra em seguida com meu café da manhã e uma xícara com chocolate quente.
— Me perdoe querida, falei para deixá-la dormir mas ela...
— Eu sei.
— Eu li seu bilhete pedindo para que não lhe acordasse.
— Obrigada, você já fez demais até... olha só quanta coisa gostosa.
— Hoje é um dia especial, você merece. — essas palavras eram exatamente como meu avô me dizia em meus aniversários. Quando aprendi a falar corretamente, eu repetia nos seus, basicamente foi tradição em nossos dias juntos. "É um dia especial só por você estar aqui comigo".
Antes de morrer, ele me chamou e suas últimas palavras foram essas: "tenha um dia especial toda vez ao acordar", e eu juro que tento, mas na maioria dos dias eu só tenho... um dia.
Não preciso dizer que chorei mais uma vez naquela mesma semana... são os malditos hormônios da tpm que nos fazem ficar vulnerável. Hana, doce como sempre, me acomodou em seus braços e disse que tudo ficaria bem. Ela sempre foi uma mãe dentro desta fortaleza, e especialmente hoje, me deixei receber amor.
Comi todas aquelas guloseimas de Hana sem pensar nos quilos a mais, tratei de me arrumar para arrasar, cansei de sentir pena de mim mesma, deixei todas aquelas mensagens de e as pessoas fúteis de lado, e fui direto ao encontro marcado. Claro que cheguei mega cedo, então aproveitei para entrar em uma livraria que se encontrava do outro lado da rua. Lá eu escolhi um livro e pedi um café. Não vi o tempo passar, realmente o amor de Stefanyne e Louis era cativante, tinham castelos e guerras, um amor proibido... Louis foi contra sua família por ela e ela largou sua posição de futura rainha por ele... sensacional, tanto que não notei quando sentou em minha frente com um café na mão e outro na mesa.
— Boa escolha... parece interessante, suas caras e bocas não me dizem o contrário.
— Oi, você poderia ter me chamado. Vamos para fora?
— Não! Aqui está bom... mantém as aparências.
— Tudo bem... então, o que você quer com essas pessoas?
— Meu pessoal disse que esses são os principais compradores, mas ultimamente eles estão comprando de outra pessoa na mesma faculdade e de repente você me aparece dizendo que estão comentando que você quem vendia, então provavelmente eles estão querendo me entregar, mas meu pessoal e eu nunca mostramos a cara, certamente quero saber o porque. Está bom para você, docinho?
— Por hora... sim!
— Agora me fala você, como são essas pessoas? Entregariam umas às outras se eu as expusesse?
— Te garanto que e seu pessoal seriam os primeiros. —dou uma risada que chama a atenção de alguns.
— Hm... seu namoradinho? Fofoqueiro, bem o tipinho dele, você afinal merece coisa bem melhor do que um engomadinho mimado.
— Obrigada, estou trabalhando nisso, mas enfim, as outras pessoas eu não conheço bem, você me dá alguma dica do que precisa e eu ficarei de olho.
— Estou vendo que irá se empenhar nesse serviço, gostei... querida te mando o que preciso pelo celular, até amanhã no mesmo local e horário.
— Para quê?
— Quero te ver. — Ele sai antes mesmo que eu conseguisse assimilar se aquilo foi real ou uma ilusão da minha cabeça.
Ele passa no balcão e paga a conta, apontando para mim, ainda sentada. Então ele sai e entra na minivan, tudo como se fosse um flash.
Saio da livraria e descubro que ele comprou o livro para mim. Ao entrar no carro, mando uma mensagem agradecendo o livro, mas quando me arrependo, já era tarde, ele havia visualizado e não respondido, bem legal!
Perdida em meus pensamentos dirijo para a casa de uma das minhas melhores amigas e, quando percebo, estou sentada na escada conversando com , ela sabia que dia era hoje e basicamente estava esperando pela visita.
— Nós deveríamos sair, hoje é sexta feira e, por favor, chama a ! - Vou ao seu encontro já resmungando para que cedesse dessa vez.
— Já disse que amanhã temos uma audiência para ir, e vai valer nota lembra? - como sempre preocupado.
— A essa altura estou cagando para faculdade. Bom, eu irei com ou sem você, só estou chamando e falando que irei levar e pagar para ti. — não tinha muita grana, entrou na faculdade por puro esforço e é mais merecedora de estar lá do que eu mesma. Sabia que as notas eram sua principal meta, mas eu realmente precisava sair, além de que audiências na minha vida eram normais, sempre que minha mãe não achava uma babá, lá ia eu sentar no cantinho e de boca fechada, se ousasse falar algo, certamente ao chegar em casa ficava sem meus brinquedos, mas como disse não era desse meio. — Vamos, eu faço a sua parte, caso você fique com dúvidas. Por favor!
— Ok... chame a e vamos nos arrumar, você continua um caco! - Animada, pego meu celular ligando para indo ao porta malas do carro.
— Aeeee! — comemoro, ao pegar uma bolsa reserva no porta malas do carro, atende.
— Qual é ? Me diz que tem noitada hoje... estou de saco cheio.
— Sim! Me encontra nesse local que irei te mandar, estou levando a .
— Milagre!!! Pode deixar gatinha, te vejo lá.
é a doida do grupo, e é rica pra caralho! Mas não liga para tudo isso, ela preza muito o caráter das pessoas, pois sempre se aproveitaram do seu dinheiro (nosso ponto em comum), por isso suas únicas amigas somos nós. Além de ser muito observadora, ela já fez psicologia e agora está cursando direito, basicamente ela analisa todo mundo antes de ter uma conversa, às vezes tento ser como ela, livre e despreocupada como se não se importasse com o que falassem dela.
— E então aquela baladeira vai? - pergunta abrindo a porta de seu quarto.
— Como você disse, a baladeira com certeza vai. - Falo rindo.
— Novidade! — se joga na cama. — Esse lugar é aqueles chiques que vocês vão ou é algo digno de minhas roupas?
— Primeiro que tudo é digno de ti, não de suas roupas, e sim é algo meio "adolescente". — Ela riu indo procurar uma roupa sua para usar. Inclusive, vou com algo seu, se não se importa.
— Fique a vontade.
— Eu trouxe isso na bolsa há muito tempo atrás e acho que seria válido você usar hoje. — tiro um vestido de brilho na cor preta mega decotado e curto.
— Aaaa, nem pense nisso! Olha só essa roupa, não tem nem um palmo! Obrigada mas não.
— Por favor! Vai ficar lindo em você, e outra, já fazia tempos que queria lhe dar, lembro que uma vez você viu um vestido quase igual a esse mas não comprou por poupar para o seu futuro, então toma e aceite, vá vesti-lo.
Sem jeito ela o pega e entra em seu banheiro, então escuto um gritinho de felicidade e volto a procurar uma roupa para mim.
Após nos arrumar, saímos atrasadas e ainda tivemos que ouvir nos xingar avisando que já estava lá e que não havia gostado do lugar.
— Vocês não tem jeito.
— Desculpa amore, mas demora ficar linda... o que tem que fazer para entrar?
— Você sabia , que isso é reservado por uma tal de gangue? Onde você achou isso? O "Clubs" é bem mais animado.
— Qual é ! Vem, eu sei como entrar.
Elas se olham, mas me seguem. Vou até um homem grande e careca.
— Oi, o me chamou aqui, disse que era importante, pode deixar eu e minhas amigas entrar?
O grandão não fala nada, ele só abre a porta e nós passamos. Então aqui é um lugar dele. Eu precisava procurar Sarah, pelo jeito ela vem muito aqui. As meninas de primeiro não acreditam, e ficam me perguntando o que eu disse lá, mas as despisto falando que paguei a mais para entrarmos e elas aceitam. Vamos direto para o bar e pedimos nossas bebidas.
— Queremos uma margarita, por favor.
— Aqui só temos a tequila.
— Pode ser. — vira para mim, incrédula. — Onde você foi meter a gente? Não tem nem um Triple sec ou Cointreau nesse lugar.
— Calma, por favor, e aproveite.
Dou uma olhada pelo local, mas não vejo nada, talvez hoje ele não venha... opa ela! Eu vim ver Sarah.
Bebemos umas quatro margaritas só de tequila e limão, o que sobe mais rápido que o esperado e, quando nos damos conta, estamos dançando que nem umas doidas. Quando vejo a hora, já é 3h30 e nada de nenhum dos dois.
— Meninas, eu vou no banheiro, me esperem no bar.
Esbarro em umas pessoas, meus pés já não respondiam como antes, estava meio alterada pela bebida e precisava urgentemente ir ao banheiro. Quando enfim o acho, entro sem olhar e corro para me aliviar. Dou uma olhada em meu celular e só há uma mensagem de Hana perguntando onde eu estava, respondo rápido que estava na casa de e só voltaria para o almoço, então saio da cabine e enquanto lavo minhas mãos, olho no espelho e vejo encostado na parede me observando, minhas pernas começam a tremer e meu coração acelera.
— Me falaram que uma menina loira estava atrás de mim, mas não achei que fosse você! — ele se aproxima com aquele toque dele, com a mão apoiada na boca. — Então, me fale o que deseja? — malditas palavras em espanhol que fizeram minha respiração falhar.
— Eu... eu achei que Sarah estaria aqui, levando em conta que ela vem muitas vezes aqui.
— Hm... entendi! Na próxima pode entrar falando seu nome que já irão liberar.
— Sim, anotado.
— E as bebidas ficam por conta da casa.
— Sim... — ele está muito próximo, minha bunda toca a pia, e me segurei nela, juntando todas as forças para não cair no chão. Eu estava tão mole que se ele tocasse em mim eu desmancharia.
— Gosto de você assim! Mais casual. — Ele dá um singelo beijo em meu pescoço e se vira indo em direção à porta. — Deve apostar no branco lhe deixa sexy.
E sai... deixando o local tão quente que não havia ar, minha boca estava seca, minhas mãos e pernas tremiam e minha pele ardia. Me volto para o espelho e vejo que a blusa branca estava molhada e mostrava toda a minha cintura, quase chegando nos seios, joguei uma água no rosto tentando ao máximo me acalmar. Saio do banheiro determinada a irmos embora, mas encontro minhas amigas estavam com três homens em uma conversa muito empolgante.
— Aí está ela... . - me puxa para sentar junto aos rapazes que fizeram amizade.
— Oi — respondo e me sento perto delas com um sorriso. — Vamos embora, por favor.
— Agora que a festa começou!
— Aproveita , é um para cada uma. — totalmente alterada estava entretida com um deles e já se agarrava com o outro. Me levanto e vou ao bar.
— Vodka pura, por favor.
— Oi, meu nome é Noah, prazer. — Levanto o copo em resposta. — Você tem namorado?
— Direto e não, eu não tenho.
— Sempre, isso facilita muita coisa.
— Mas preciso ir embora.
— Por quê? Podemos aproveitar essa noite.
— Pera aí grandinho, o máximo que eu faço com você é lhe dar uns beijos.
— Para mim já está ótimo. — Ele se aproxima e eu o deixo, sinto sua mão passar de minha cintura para o começo da bunda, coloco minhas mãos em seu pescoço e inicio o beijo, afinal ele era gato e eu já estava bêbada.
Não vemos a hora passar, mas quando meu despertador toca, indica ser 6 horas da manhã, dou um pulo do beijo e corro chamando as meninas.
— Gente são 6 horas, temos que ir direto para a audiência, começa às 7 e é meio longe daqui. — Elas demoram assimilar, mas quando vejo, cai em si e corre para a saída.
— Vamos... temos que ir logo, preciso tomar um banho e me trocar. - fala começando a entrar em desespero.
— Bom... não vai dar, vamos ter que ir assim — digo, abrindo o carro.
— Mas eu pareço uma puta. - quase grita indignada com a situação.
— Paciência, o que vale nota é a escrita não a sua roupa. - Falo rindo daquela reação, era desesperador ao ponto que chegamos mas bem cômico.
— Calma, acho que eu tenho uns sobretudos no carro, vai na frente que eu te sigo. - tenta amenizar aquela situação.


Capítulo 03

Estacionei o carro o mais rápido possível, foi a primeira a descer e ir em direção a que carregava os sobretudos.
— Bom isso tem que funcionar — disse vestindo o sobretudo.
— É bom mesmo. Meu deus esse vestido é muito curto, maldita hora que te escutei. – reclama desesperada.
— Desculpe! Mas éramos para ter saído aquele horário.
— Chega, meninas. Vamos fazer isso logo e meter o pé daqui. — disse e nos passou o desodorante. — Vamos precisar!
Todas nós rimos mais aliviadas, e entramos como se não estivesse um calor forte aquele horário da manhã. Logo alguns dos alunos começaram a nos olhar, e percebi que a maquiagem ainda estava forte. Chamei as garotas para irmos ao banheiro dar um jeito nisso, e aproveitamos para arrumar o cabelo. Acabei sendo vencida por de trocarmos de roupa.
— Tá feliz agora? – respondo com ironia.
— Me sinto normal, obrigada! – responde mais calma fazendo nós rirmos. .
— Vão na frente, vou fazer uma ligação. – falo pegando meu celular.
Mas a verdade era que um dos meninos da lista estava no mesmo lugar, procurei pelos perfis do Instagram até chegar em Raphael, um menino desleixado que se encontrava totalmente diferente naquela manhã, com um terno azul escuro e cabelos cortados que demorei assimilar. Saí do banheiro um pouco insegura, havia me contado que essas pessoas eram compradoras, mas no momento estavam atrás de outro e queriam alguém para entregar, não lembro o momento que o conheci, mas se ele estava aqui provavelmente tínhamos aulas juntos... mas por que eu?
Quando me aproximei das meninas, já na sala da audiência, parecia que eu estava no modo aéreo, havia acabado de começar e notei nervosa escrevendo cada palavra, já parecia estar em seu segundo sono e Raphael vacilou em um pequeno momento que olhei para ele, e meu corpo todo ficou em alerta, ele me conhece? Será que foi ele que me entregou?
O ar já não passava pelo nariz e fui ficando cada vez mais sonolenta, senti uma mão apoiar por minhas costas, e virei o rosto para identificar a pessoa: um homem alto de cabelos claros estava sinalizando para eu o seguir. Nesse momento, acordou e ouvi ela perguntar o que houve. Eu estava no modo automático, não vi que estava em pânico fazia alguns minutos e que a audiência já entrava em recesso de 15 minutos. Sentei-me no banco e comecei a respirar com dificuldade. Como eu iria fazer algo para se nem conseguia ficar no mesmo local com as pessoas daquela lista?
— Você está bem? – o homem alto senta-se ao meu lado.
— Sim, obrigada! – respondo.
— O que houve? Eu olhei para você e estava parcialmente roxa quando me aproximei já estava para desmaiar. – coloca sua mão em minha testa verificando a temperatura.
— Eu sei... eu acho que minha pressão caiu?
— Vamos ao hospital. Você está fria e suando. — Não, por favor — levantei-me rápido demais e tudo começou a girar, senti alguém me segurar e voltar a me sentar.
— Ok, mas pelo menos posso fazer algo? – pergunta preocupado.
— Uma água cairia bem. — sorri torto, e ouvi minhas amigas perguntando, desesperadas, o que aconteceu e se eu estava bem, me deixando sem jeito.
Logo depois volta com uma água e uma barrinha de cereal, eu agradeço e insisto que aceite o pagamento, mas é em vão.
— Me desculpe, mas o senhor não dá as aulas teóricas, né?
— Não, eu fico com as práticas. O professor Cloves não tem paciência em explicar essa parte, ele é mais na lei.
— Percebi, me perdoe, mas a aula dele é um saco.
— Imagino, já fui aluno dele, hoje eu sou estagiário. – solta uma risada que anima meu interior fazendo eu o acompanhar.
— Qual é o seu nome? – pergunto ao me lembrar que não o conhecia.
— Elton, prazer .
— Oh, você sabe meu nome.
— Tive que dar uma estudada antes de assumir.
— Então, obrigada Elton, já estou me sentindo melhor. —levanto-me e saio em direção ao carro.
— Você vai embora?
— Sim, isso aí já é normal para mim, só precisamos da parte escrita não é?
— Sim, claro.
— Tchau.
Entro no carro, e logo envio uma mensagem para as meninas, estava muito nervosa, precisava sair de lá, caso contrário estragaria todo o plano.
Paro em um motel qualquer e pego as chaves do quarto, aviso a Hana que não voltaria para o almoço, mas aceitaria o jantar; ela logo me responde perguntando se estava tudo bem, mas decido ignorar. Peço uma garrafa de vodka e um lanche qualquer do cardápio. Logo chega meu pedido, e quando termino de comer e beber, estou deitada no chão com o número de na tela esperando que ele atenda minha chamada.
— O que foi, docinho?
— Entrei em pânico, um dos meninos da lista está na mesma sala que eu, não faço ideia da existência dele até esse maldito plano... acho que não irei conseguir, estou evitando há dias porque agora não sei como olhar na cara dele, e não pensar que ele poderia ter me ferrado. E outra: o que essas pessoas podem me fazer se elas já compram drogas, o que mais fariam?
— Te matar.
— Oh Céus! Você não ajuda em nada, estou cansada disso.
— Então pede para sair. — Mas eu não conseguia dizer, afinal não queria sair... eu só queria , mas para tê-lo, eu tinha que seguir esse plano.
— Foi o que imaginei. Agora princesa, quem compra droga geralmente só fica nisso, você tem que ter medo de quem vende. Esse moleque da sua sala nem se quer fala com você e está aí surtada, quero ver quando te passar o segundo passo.
— Chega. — desligo o celular, logo depois ele retorna, mas não atendo e é assim por mais 6 chamadas recusadas.
Quando acordo e levanto, percebo que dormi no chão. Na porta, alguém bate tão forte que sinto o quarto tremer, , levanto e abro, gritando um “espera” e, quando vejo quem é, levo um susto. Nenhum momento eu disse onde estava, então que diabos ele faz aqui?
— Você só sai quando eu disser que sai, você desliga o telefone quando eu já ter terminado.
— E você jura que manda em mim?
— Não, mas é de mim quem você tem de ter medo.
— Então me mata, não faz diferença mesmo — me jogo na cama, eu estava muito cansada, meu corpo estava pesado e doendo e a última coisa que precisava naquele momento, era brigar com um gângster que se acha.
— Você tem que se decidir, vai me ajudar a te ajudar?
— Já disse que vou... só preciso de mais tempo, te passo as informações e logo depois acabamos.
— Fechado.
— Como você me achou? — falei rápido, antes que ele saísse e aquilo me comesse por dentro.
— Rastreador — respondeu ele.
— Por quê? Você me trata com desprezo, mas aparece na minha porta por eu desligar na sua cara.
— Você está cansada, amanhã nos falamos.
— Bêbada é diferente. — ele para uns segundos e me olha diferente, daquele jeito dele e antes de fechar a porta sussurra um “não sei”.
Acordo com uma baita dor de cabeça, e olho para o meu relógio, vendo que já eram 3 horas da madrugada. Tento assimilar se foi um sonho ou real, não tem vestígios dele nesse quarto e a porta estava trancada, será que eu estou imaginado coisas? Antes que eu fique doida, saio daquele quarto de motel e pago as despesas. Dirijo em direção a minha casa, e por poucos minutos suspeito ser seguida pela minivan preta, mas talvez seja coincidência, afinal há varias no mundo igual a dele.
Abro a porta de casa, e encontro Hana dormindo na escadaria de casa, meu coração se aperta. Meus pais devem estar festejando em algum lugar e ela aqui perdendo seu sono. Toco em seu braço e ela desperta, preocupada. Recebo um abraço forte, ela não me diz nada, somente me dá um beijo no rosto, e fala para eu descansar, que amanhã teria um compromisso de família, concordo e vou rumo ao meu quarto.
Acordo mais animada, tomo um banho, e coloco uma roupa da seção reservada para os domingos na presença do meu pai. Eu ri quando Hana deu esta ideia, mas hoje vejo que é útil; afinal não preciso ficar escolhendo o que ele gosta ou não que eu vista. Desço para a mesa do café e sou a primeira a chegar, aproveito para entrar na biblioteca que fica ao lado e pegar um livro para ler. Vejo as fotos de meu avô e aquele ligeiro aperto no peito volta, eu seguro as lágrimas antes de caírem, hoje preciso ser a filha perfeita.
Escuto a voz de Grace ecoar pela sala de jantar “onde está aquela menina?”, respiro fundo e saio da biblioteca com um livro qualquer.
— Bom dia para a senhora!
— Já disse menina, eu sou sua mãe, mas não sou senhora — ela responde.
— Bom dia, filha — ouço a voz do meu pai atrás de mim.
— Bom dia, pai — aceno com a cabeça, me sentando.
— Hana lhe passou as informações? – meu pai pergunta ríspido.
— Sim, disse que teríamos um compromisso.
— Somente isso? — Fico em silêncio e ele a xinga baixo. —enfim vamos para a casa de um tio, parece que alguém está fazendo aniversário e temos que manter as aparências, você consegue se comportar?
— Sim.
Depois da tortura do café da manhã, vamos nos arrumar. Uma mensagem de aparece no meu celular, mas decido ignorar. Hoje tenho que ser correta. Hana vem ajudar a me arrumar fazendo um rabo de cavalo e eu faço uma maquiagem leve, coloco um vestido rosa bebê com saltos médios e desço para o carro no horário estipulado.
A viagem toda é deprimente, não trocamos uma palavra sequer. A nossa relação é complicada, nunca tivemos vínculos de pais e filhos, raramente meu pai tinha algum gesto de amor, e minha mãe ultimamente está uma megera. Hoje ela se vestiu como fosse se encontrar com um de seus casinhos secretos: roupas decotadas e apertadas. Às vezes, tenho a impressão de que não saí dela, mas em algo somos parecidas: ambas gostam de um mau caráter e meu pai certamente era um. Eu já sabia há muitos anos que ele não era um simples empresário ou político. Já ouvi boatos de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e até prostituição, mas nunca fui a fundo disso, afinal não queria saber a verdade. Seria demais para mim, por mais que não me tratasse bem, eu sabia que ele me amava e achar este outro lado dele iria me destruir. Enfim, sempre acreditei que eram somente boatos e assim será até o fim.
Chegamos ao local e logo avisto meu primo (a ovelha negra da família) saindo de seu carro. Mal espero estacionar e já saio em sua direção, nós éramos os únicos a se dar bem, talvez pelo fato de não aceitarmos tudo daquela família.
— Se não é a minha única prima favorita. — ele estica seus braços e eu me aconchego em seu abraço.
— Se não é meu único primo favorito barra artista famoso.
— Então você viu?
— Mas é claro! Já segui, curti e comentei. Parabéns, está maravilhoso.
Nós rimos e ignoramos quando meus pais passam e mal o cumprimenta.
— Você ainda está com eles?
— Preciso primo, estou tão ligada à lá quanto pensam.
A verdade era que eu podia ser podre de rica, mas se saísse de casa não teria nada e, por mais que eu seja filha de um empresário, ele não me permite crescer. Ele basicamente obrigou as empresas para não me contratarem como estagiária, isso me matava por dentro, mas meu objetivo era acabar minha faculdade e me mudar dali. — Tá tudo bem, não precisa fazer essa cara agora, vamos antes que comecem a falar.
Passamos a tarde juntos, conversamos com um ou outro primo. Meus tios insistem em me chamarem para trabalhar em seus negócios, e meu pai desconversa. Minha tia avó até me chama de lado e me entrega seu número, quem sabe?
Meu primo fala mais uma vez que estava lá para me ajudar, todos ali suspeitavam do jeito que eu cresci, meu avô após morrer fez todos prometerem não me deixar sozinha. Meu pai já tinha fama de agressor com uma de suas amantes, porém, a verdade é que algum segredo rodava ali, e meu pai conseguiu calar todos.
Nas primeiras semanas, meu tio Ivo ia me visitar e perguntava constantemente se meu pai fazia algo comigo, depois fora substituído por minha prima mais velha, Amelia. Nós éramos muito próximas, mas um dia ela nunca mais veio ou ligou. Minha tia avó Queila me pegava aos fins de semana e então parou... todos ali pararam e depois disso meu pai ficava pior, não voltava para casa, e sempre com malas em quartos trancados.

Eu estava distraída no jardim da grande mansão, tudo aquilo me cansava: as falsidades, os segredos e as mentiras. Eu simplesmente não aguentava mais, sempre que vinham falar comigo, era sobre como eu estava e quando iria ser independente, é estranho viver no escuro, mas eu quero viver assim, não quero saber se algo sujo vem da companhia. Eu só quero viver minha vida e me desvincular disso tudo, talvez receber ajuda de alguém não seja tão ruim.
— O que houve, docinho? — eu conhecia essa voz, era como se fosse o vento quente me enrolando, meu corpo ficava em alerta, pois já sabia o que vinha pela frente.
— O que você faz aqui? — perguntei.
— Já disse, eu tenho uma empresa de abastecimento de alimentos e parece que sua família me contratou.
— Ah sei, uma “empresa”... — me viro e continuo andando pelo jardim.
— Você está muito triste, o que houve?
— Como se você se importasse. — Mas eu me importo, se você está mal, meus negócios vão mal.
— Obrigada, mas não é nada.
— Quer ver uma coisa?
— Tipo?
— Só vem.
Ele me puxa pela mão em direção à sua minivan, nos guia até a parte traseira e abre uma das portas, sinaliza para que eu entre primeiro e assim faço.
— O que foi? — questiono.
— Aqui você tem privacidade, e pode usar quando quiser, inclusive na faculdade. Geralmente ela fica lá para parecer uma entrega constante.
— Obrigada, isso ajuda muito. — Sento-me em uma das almofadas. — Você pode me dizer como está aqui? É somente coincidência?
— Te dou minha palavra.
— Ok, e ontem você me seguiu?
— O quê?
— Sim ou não? É sério, sem segredos entre nós, se você quer que dê certo, precisa ser sincero.
— Tá bom. Pedi para um dos meus contatos ficar de olho em você, não estava em condições de ficar sozinha e eu tinha outros compromissos.
— Bom, da próxima vez pode me avisar. Poupa todo o nervosismo.
— Anotado.
Ficamos ali em silêncio até meu celular tocar.
— Preciso ir.
— Quer que eu te leve?
— Melhor não, teria muitas perguntas e hoje não estou a fim de conversar com eles.
— Fique bem.
Deixo a minivan e vou em direção ao carro. Eu só queria sair dali. Eram muitas lembranças de um passado que não quero ficar revivendo no momento, só minha cama basta.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.


Essa fanfic é de total responsabilidade da autora. Eu não a escrevo e não a corrijo, apenas faço o script. Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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