Prólogo
Mais um dia comum estava para começar, conforme eu podia observar pelo fecho de luz que invadia meu quarto, atingindo meus olhos e me fazendo acordar antes mesmo que algum criado o fizesse.
Se eu não estava enganado, minha agenda hoje reunia compromissos como: treino de luta, aula de políticas internacionais, aula de mandarim, almoço com o Grã-Duque de Luxemburgo, estudo de guerra e ensaio para a coroação. Os dois últimos compromissos me davam arrepios só de pensar. Pensar em guerra nunca foi algo que gostei muito, ainda mais ter que estudar as táticas de guerra, pontos fracos e fortes dos países vizinhos e das nações que são consideradas um risco pelos nossos conselheiros; preferia sempre tentar uma saída mais pacífica, sem derramamento de sangue e desperdício de vidas, o que de acordo com o meu pai era uma bobagem. Ainda não entendia por que Caroline não podia ser a rainha, ela era a filha mais velha e perfeita, a que tinha gosto por liderar e aprender sobre política internacional e guerras, ela que deveria estar tendo que passar pelos ensaios infinitos para a coroação. Mas como ela é mulher e uma mulher nunca poderia ser rainha de Mônaco, na mentalidade do meu pai e seus conselheiros, eu que era submetido à agenda da tortura, diariamente divulgada pela senhora Dots, praticamente minha assistente pessoal.
Um barulho à porta me fez levantar levemente meu corpo da cama, sentindo protestos de meus músculos, pelas poucas horas de sono.
- Pode entrar - falei preguiçosamente, desejando poder fingir que não ouvi nada e voltar a dormir.
- Bom dia, alteza. Deseja que prepare seu banho? - uma de minhas criadas, de voz gentil e sorriso simpático, perguntou, assim que a porta de meu quarto foi aberta.
- Por favor.
Pouco tempo depois, meu banho estava preparado e eu pude relaxar um pouco na banheira. Sendo logo vestido, novamente, pelos meus criados, e conduzido à mesa de café da manhã, onde uma Dots bem agitada me esperava.
- Bom dia, senhora - a cumprimentei, assim que a minha presença podia ser notada no salão - Por favor, me diga que considerou meu pedido de ontem? - olhei-a com minha melhor expressão de criança que quer algo, esperando que ela me permitisse sair escondido do castelo ao menos um pouco naquele dia.
Sei que sair escondido implica em ninguém saber, mas não havia como fazer nada sem a senhora Dots saber e era bem melhor saber que ela estava me dando cobertura a sair em sigilo e correr o risco de meus pais descobrirem.
- Sinto muito, alteza, mas hoje o castelo todo está fechado, ninguém entra ou sai, isso inclui o senhor - ela disse levemente ríspida e pude perceber que a razão de sua agitação não era boa - A família real recebeu outra ameaça do partido democrata ontem, portanto seu almoço de hoje com o Grã Duque foi cancelado e Naigel o acompanhará em todas suas atividades - ela me encarou como quem diz "por favor, não apronte nada" e eu apenas concordei com a cabeça.
Quando se é da família real, ameaças são recebidas a todo momento, o perigo é quase constante, por isso temos tantos guardas e seguranças particulares. Mas as ameaças do partido democrata são mais perigosas pois usam o clamor popular como aliado, defendendo uma Mônaco sem monarquia e com representantes eleitos pelo povo; inflamam as massas a ponto de nos deixarem extremamente preocupados com uma tentativa de derrubada da coroa impulsionada pela ajuda popular. Minha irmã Caroline é quem tem a missão de tentar contornar a situação, se mostrando uma realeza presente em eventos sociais oficiais, dialogando com os democratas e tentando conseguir seu apoio para a monarquia, mas até ela sabe que isso é algo difícil de conseguir, ainda que seu talento para debates e conquista de aliados pelo diálogo seja sem igual. Fato é que nos últimos meses, cada nova ameaça que recebemos deles, o número de guardas aumenta e a quantidade de cabelos brancos nas cabeças da senhora Dots e Naigel, meu principal segurança particular, também.
Após a rápida conversa com a senhora Dots, ela se retirou do salão para que eu pudesse tomar meu café em paz. Porém, minha fome subitamente sumiu e apenas fiquei brincando com os alimentos no meu prato, antes de ser conduzido por Naigel para a sala de treinamento.
Treinar sempre foi um alívio para a minha mente, a sensação de poder focar apenas nos meus exercícios, esquecendo de todos os problemas político-sociais do reino brevemente, sempre foi algo que adorei. Enquanto treinávamos lutas corporais, eu conseguia me recordar de todos os golpes e técnicas que estudei por anos, conseguia montar uma estratégia em minha mente e derrotar meu oponente rapidamente, quase sempre.
- O que acha de treinar comigo hoje, alteza? - ouvi Naigel dizer, enquanto envolvia meus pulsos com faixas e os equipamentos de treino e me preparava para o início do exercício.
- Achei que não fosse permitido, Naigel.
- Sempre podemos abrir exceções - ele sorriu brincalhão e eu entendi que aquilo seria uma forma dele saber se eu estava preparado para me defender em caso de uma ameaça contra a qual ele não pudesse me fazê-lo sozinho.
- Eu não vou pegar leve com você só porque é meu amigo, Naigel - brinquei, já me encaminhando para a arena de combate e me posicionando.
- Não esperava menos do senhor, alteza - Naigel riu, se desfazendo de sua arma e deixando-a junto com parte de seu uniforme em um dos cantos externos da arena e assumindo uma posição de combate como a minha.
Tentei dar o primeiro golpe, assim que percebi que Naigel esperava que eu o fizesse, porém, logo fui bloqueado por ele e recebi um golpe na costela como resposta ao meu golpe fracassado.
- O senhor está distraído, alteza, e isso afeta sua técnica de combate - Naigel falava, enquanto continuávamos na nossa troca de golpes.
- Estou pensando o que aconteceria se a monarquia fosse derrubada pelos democratas - respondi, enquanto deferia-lhe um golpe, que finalmente o acertara.
- O senhor perderia seu trono, o trono para o qual se preparou toda a vida, para o qual nasceu.
Para o qual nasceu. Sim, realmente, eu nasci para aquele trono, porque quando minha mãe, a rainha Charlene, deu à luz a uma menina, ela logo soube que precisaria dar ao reino outro herdeiro, um homem, para que a monarquia da família pudesse continuar. Então eu tive que nascer, o príncipe Philip Eduardo Rainier Grimald, ou simplesmente Philip de Mônaco.
O combate acabou com uma vitória de Naigel, graças às suas incríveis habilidade de combate. Mas pude perceber que não foi uma vitória fácil, pelo estado que ele ficou, quase tão cansado quanto eu.
- O senhor está cada vez melhor, alteza, é uma honra treinar combate com o senhor - Naigel falou, entre respirações profundas, enquanto voltava a colocar seu uniforme completo e guardava sua arma.
- Obrigada, Naigel - apenas agradeci, enquanto criados me secavam e me vestiam para poder sair da sala de treinamento e dar continuidade à minha agenda do dia.
Com Naigel e sua equipe à minha volta, saí da sala de treino, em direção à sala de aula. Estávamos quase chegando, quando um estrondo pode ser ouvido, sendo seguido por uma fumaça densa e pelas estruturas do castelo tremendo.
Uma bomba.
- Fechem o círculo, mantenham posições, protejam o herdeiro - ouvi Naigel gritar a seus guardas, enquanto me sentia ser conduzido às pressas para algum lugar - Marcos, Paschoal, comigo, Nina e Alberto, achem a rainha e fiquem com ela. - as ordens de Naigel continuavam sendo proferidas, enquanto subíamos uma escada. Logo, Nina e Alberto se retiraram às pressas, me deixando apenas com os três guardas.
- Senhor, estamos com a rainha. O rei e as princesas estão a salvos e escondidos, estamos indo para o ponto de encontro - ouvi o rádio de Naigel anunciar a mensagem, que a julgar pelo tom de voz deveria ser de Nina.
- Entendido. - Naigel repondeu, segurando a arma com uma mão, sempre alerta, e o rádio em outra.
Eu ainda não conseguia imaginar onde poderia ser o ponto de encontro, mas confiava em Naigel com a minha vida, então apenas seguia seus comandos e direcionamentos sem questionar.
Outro estrondo pode ser ouvido e mais uma vez senti a estrutura do castelo tremer sob meus pés. Meu corpo inteiro estava arrepiado e eu podia observar pelo conto do olho a expressão de tensão nos rostos de Naigel e Paschoal. Marcos era o que parecia menos tenso, caminhando à frente e checando se nosso caminho estava seguro.
De repente, entendi por quê. Com um clique, Marcos destravou sua arma e mirou em meu peito, assim que chegamos em frente a uma porta que dava para o telhado do castelo.
- Abaixo à monarquia! - o ouvi dizer antes de disparar e apenas pude sentir ser jogado para o lado com força.
Cai no chão pouco antes da bala atingir a parede que estava atrás de mim segundos antes. Segundos depois Naigel estava me levantando às pressas, enquanto eu observava Marcos ser contido por Paschoal. Era quase impossível acreditar que eu havia acabado de sofrer um atentado!
Naigel atravessou às pressas a porta, comigo ainda sendo levemente puxado. No telhado havia um helicóptero já em condições de levantar voo e próximo a ele minha mãe, cercada por 6 guardas com pistolas nas mãos e um olhar assassino.
- Marcos era um agente infiltrado, acabou de ser contido por Paschoal, após tentar assassinar o herdeiro, está na hora de levá-lo - Naigel falava às pressas, enquanto minha mãe apenas concordava, com um pouco de pânico em sua expressão.
- Me levar? Como assim? Para onde? - minha cabeça ainda girava, sem conseguir lidar com tantos acontecimentos em tão pouco tempo, mas eu ainda conseguia processar um pouco o que estavam falando à minha volta.
- Me desculpe, filho. Deveríamos ter protegido mais você, seu pai está extremamente arrependido. Mas você precisa ir, precisa se manter seguro por nós e por você, pelo seu reinado. Confie em Naigel, ele irá protegê-lo a todo custo - minha mãe falava rápido, enquanto me abraçava e me entregava um papel pequeno e duro, uma foto de toda nossa família no último Natal.
- Não, eu vou ficar e lutar, resistir como vocês, treinei muito para isso - eu falava rápido também, enquanto me desfazia de seu abraço, para encará-la.
- Queria que esse dia nunca chegasse... - ela disse apenas, antes de ser arrastada para dentro do castelo novamente e de eu ser conduzido para dentro do helicóptero.
- É para a sua segurança e a de sua família, alteza - Naigel disse, antes de fechar a porta do helicóptero e decolarmos. - Voltaremos quando for seguro. Até lá, irei protegê-lo com minha vida.
Capítulo 1
Durante todo o percurso, para sabe-se onde eu estava indo, enchi Naigel de perguntas, eu precisava saber o que aconteceria com minha família, meu país e comigo. Descobri eu Naigel era de uma agência secreta, especializada em proteger a realeza, não importasse o quão perigoso fosse. Ele me garantiu que minha família ficaria segura, enquanto eu ficasse, pois apesar de meu pai ser o rei, o foco do partido democrata era eu, o futuro da monarquia, então, desde que eu ficasse em segurança, meus pais lidariam com a situação e ficariam bem, garantindo minha coroa e a segurança de todo meu reino.
Apesar de Mônaco ser uma pequena cidade-estado independente, conhecida pelos cassinos de luxo, pelo porto repleto de iates, pelo prestigiado Grande Prêmio de Fórmula 1 e por Monte Carlo, para mim ela sempre foi meu pequeno reino, o local ao qual eu deveria proteger com minha vida, meu destino. Eu me sentia responsável pelas quase 40 mil vidas que lá habitavam, além, claro, dos inúmeros turistas. Por isso, ter que sair quase como um foragido de lá, deixando meu reino e família para trás, era um sofrimento sem igual. Eu me sentia capaz de lutar e proteger a todos, fora para isso que treinei toda uma vida. Porém, entendo a preocupação de meus pais: nossa família que fundou Mônaco, que esteve em seu governo desde sempre, a família Grimaldi, responsável por governá-la e por fazer praticamente tudo, desde a criação de leis até a entrega do troféu do Grande Prêmio de Mônaco de Fórmula 1. Era extremamente necessário proteger a monarquia, proteger as futuras gerações e nossos direitos. Afinal, o que seria de nós sem a monarquia? Como manter a paz, o luxo e o turismo de Mônaco sem ela? Não consigo imaginar uma Mônaco democrática sem derramamento de sangue, prejuízos econômicos e um governo caótico.
- Chegamos, alteza – ouvi Naigel anunciar, assim que o helicóptero pousou e desligou seus motores. Suspirei profundamente, me agarrando ainda mais à foto entregue por minha mãe, saindo do helicóptero logo em seguida.
- Onde estamos exatamente, Naigel? – perguntei, assim que olhei ao redor e não consegui reconhecer nada que já havia estudado.
- Na sede de minha agência, alteza, preciso receber novas instruções. – Naigel respondeu, caminhando até uma porta que eu podia jurar não estar ali dois segundos atrás.
Percebi que ele falou algo para o nada, assim que chegamos à porta e ela logo abriu, provavelmente sendo controlada por voz. Entramos em uma espécie de elevador, onde Naigel apertou o botão C, e logo chegamos a um andar onde várias pessoas andavam com pastas ou tablets em mãos, falando umas com as outras em códigos. Frases como “princesa 137 retirada com sucesso”, “príncipe 869 a caminho, chegando em 15 horas” eram ditas a todo momento; aquele pessoal me fazia questionar se havia realmente apenas 28 monarquias existentes no mundo atual.
- Bem-vindo, agente Naigel – uma mulher o cumprimentou, assim que nos avistou. A julgar pela expressão de Naigel, deveria ser a chefe dele – Bem-vindo, alteza – ela me cumprimentou com um aperto de mão firme, como de quem sabe a posição que tem e se sente confortável em exercê-la – Relatório da missão?
- A extração teve contratempos, mas fora realizada com sucesso. O príncipe 54 está aqui para receber nova identidade e ser realocado.
Nova identidade? Realocação? Que diabos estava acontecendo ali? Eu tinha entendido que precisaria apenas me esconder. Agora teria que assumir ser outra pessoa?
- Sentimos muito pelo ocorrido, alteza. Mas, como pode ver, temos uma excelente estrutura para auxiliá-lo a lidar com isso – a chefe de Naigel disse, se voltando rapidamente para trás, com o braço estendido, mostrando todo seu pessoal e instalações – Por aqui, por favor – ela começou a andar e imaginei que Naigel e eu tínhamos que segui-la, mas ele fez sinal para que fosse, acho que a etapa seguinte eu precisaria lidar sozinho.
- O que acontece agora? O que seria essa “nova identidade”? – perguntei à chefe de Naigel assim que a alcancei.
- Agora, meu príncipe, iremos fornecê-lo roupas novas. – ela começou a me responder e no mesmo instante olhei para as minhas vestimentas. Não que minha roupa de treino fosse meu melhor look, mas eu não me sentia com a necessidade de trocá-la – Além de fornecê-lo um novo corte de cabelo, para que fique o mais irreconhecível possível, quando for realocado.
Eu apenas concordava com a cabeça, pensando em como eu não pude prever nada disso quando acordei de manhã. Queria poder voltar algumas horas e reclamar que meu único problema era o fato da senhora Dots não ter me deixado sair e explorar minha cidade.
- E quanto tempo eu precisarei seguir com todo esse plano? Fingir ser outra pessoa, ficar longe de minha família e povo? – perguntei a única coisa que me importava no momento.
- Isso é relativo, alteza. Mas até ser seguro voltar, depois que os democratas forem contidos ou presos, pelo atentado à família real, e nenhum outro risco à sua vida for encontrado. – Quase ri, mesmo sabendo que seria grosseria. Quando se é da realeza, não ter risco à vida é impossível, sempre haverá um risco, um possível ataque, uma possível guerra, nunca estamos 100% seguros. Acho que ela percebeu minha descrença em sua fala, pois logo a complementou – Voltará quando nenhum risco iminente à sua vida for encontrado, ao menos nada com que não possamos lidar.
Continuamos andando e eu observava atentamente cada um dos espaços que percorríamos. A sede era bem completa, com ambientes tanto para a realeza quando para agentes. Possuíam salas de tiro, de combate, salas com inúmeros monitores e pessoas, provavelmente de onde controlavam tudo. Durante o percurso, observei algumas pessoas que destoavam do estereótipo de agentes, provavelmente sendo pessoas da realeza, já que algumas eu conseguia reconhecer, como o herdeiro do trono da Inglaterra, o príncipe George de Cambridge.
- Chegamos – a mulher que eu acompanhara anunciou, me fazer observar melhor o cômodo à minha frente. Algumas pessoas estavam sobre uma espécie de plataforma, sendo observadas por alguns agentes, enquanto outras estavam em cadeiras, com um agente cortando seus cabelos. Seriam eles todos membros da realeza sobre ataque? – Esse é o príncipe 54, por favor cuide dele – a mulher disse a um dos agentes que estavam próximos a uma das plataformas e ele apenas concordou com a cabeça, antes dela se retirar.
- Por aqui, alteza – o rapaz sorriu e me guiou a uma das plataformas.
Após algumas horas, eu finalmente estava pronto para a realocação, eu acho. Havia recebido roupas novas, totalmente diferentes das que eu estava habituado, bem como sapatos e um penteado com um tpete baixo e meio ‘despojado’, que eu precisaria treinar melhor como fazer e deixá-lo no lugar. De acordo com Naigel, ele conseguira autorização o suficiente para que eu pudesse ficar com ele em sua casa, não necessitando, assim, ser transferido para abrigos em países como Groelândia e Russia ou algum país desértico.
Segundo ele, eu iria para o Brasil, para uma cidade do interior do estado de São Paulo, com cerca de 90 mil habitantes (mais que o dobro da população de Mônaco!) e temperaturas variando entre 13 °C e 31 °C. Realmente seria uma mudança e tanto, principalmente em relação ao clima. Espero que meu português não esteja enferrujado!
A chefe de Naigel havia entregue ao rapaz responsável pela minha transformação uma pasta com a minha nova identidade, que ele logo me informara, assim que terminara todo meu processo de ‘novo visual’. Eu seria , estudante de relações internacionais.
Enquanto estava com Naigel em um avião particular, indo para sua casa, eu não sabia direito o que pensar ou fazer, minha mente divagava sobre tudo, sentindo falta de minha família, desejando que tudo acabasse logo, querendo conhecer minha nova realidade logo... enfim, eu não sabia com o que lidar primeiro.
Busquei no bolso de minha jaqueta a foto de minha família e a observei mais uma vez; já havia perdido as contas de quantas vezes o fizera naquele único dia. Todos sorriam, felizes pelo fato de estarmos juntos, unidos em mais um Natal, tudo ia bem para nós e para Mônaco, então nunca imaginaríamos que as coisas iam chegar ao ponto que estão.
- Sei que sente falta deles, mas não poderá falar com eles, ok, alteza? Seria muito perigoso e poderia expor todo seu disfarce – Naigel me dava as últimas instruções de todo o processo para a vida nova e eu apenas concordava – Espero poder ajudá-lo a lidar com tudo, conte comigo e minha filha para o que precisar – ele sorriu, me fazendo pensar que deveria ser um pai incrível, ausente, mas, ainda sim, incrível.
- Você tem filha, Naigel? Como nunca me contou? – perguntei curioso pelo fato dele trabalhar para nós há tantos anos e eu nunca ter descoberto isso.
- Sim, alteza, ela se chama . É linda e extremamente gentil, adora ajudar as pessoas, especialmente as crianças. Você vai gostar dela, possuem quase a mesma idade – ele sorriu bobo, confirmando ainda mais minha teoria do paizão que deveria ser.
- E como ela lida com tudo isso? Quer dizer, com o fato de você estar sempre viajando para proteger a realeza?
- Ela sabe de tudo, então entende e sabe que meu trabalho é importante, é minha parceira. Além de que sempre foi muito independente, então não tivemos problemas com isso.
- Estou ansioso para conhecê-la – sorri, enquanto minha mente tentava imaginar como seria a filha de Naigel. A julgar pela sua descrição, seríamos bons amigos.
Acabei pegando no sono no voo, sendo acordado por Naigel assim que pousamos. Ainda teríamos algumas horas de viagem, mas essas seriam feitas de carro.
Quando finalmente chegamos à casa de Naigel, uma menina de quase a minha idade veio correndo abraçá-lo, pulando em seu pescoço.
- Oi, sou – sorri assim que senti aquele par de olhos espertos e gentis sobre mim e ela pareceu ficar pálida.
Capítulo 2
PARA MUNDO QUE EU QUERO DESCER!
Quando meu pai me contou, ainda criança, sobre seu trabalho e como ele era importante, eu acreditei, claro, era criança. Quando cresci, ainda acreditava um pouco, achava legal ter um pai agente secreto, ainda mais morando no Brasil (Ahá! Estados Unidos, vocês não são os únicos com agentes espalhados pelo mundo!), mas odiava o fato dele ter que viajar tanto.
Agora, dizer que eu esperava que um dia um dos protegidos de papai viria para casa, isso eu não esperava mesmo. Quer dizer, quem em sã consciência ia pensar que um dia iria aparecer um príncipe, lindo e seu número, diga-se de passagem, na sua porta e falar “Oi, sou ” com aquela naturalidade, com aquele português lindo de quem não era nativo? Eu que não ia!
- Oi, sou , ... mas pode chamar de – consegui responder finalmente, depois de todo meu choque – Seja, hum, bem vindo – tentei sorrir gentil e ele sorriu de volta. Ai, Deus, aquele sorriso!
- Obrigado. Naigel, poderia mostrar meus aposentos, por favor? – ele olhou para meu pai, que até então apenas nos observava.
- Claro, alteza, por aqui – meu pai começou a andar em direção ao interior de nossa casa, sendo seguido por mim e por .
Depois de mostrar a localização de todos os cômodos de nossa casa a , nós o deixamos no quarto de visitas e pude finalmente falar com meu pai a sós.
- COMO ASSIM O SENHOR TRÁS UM PRÍNCIPE PARA NOSSA CASA E NÃO AVISA? – disparei a falar, assim que meu pai parou à minha frente, assim que chegamos à cozinha.
- Eu achei que você acharia legal, conviver com a realeza – ele deu de ombros, como se fosse algo comum ter um príncipe em nosso quarto de visitas.
- Eu acho que uma mensagem de Whatsapp falando “filha, estou indo embora com um hóspede real” não iria matar ninguém – falei, arrancando uma risada de leve do meu pai. Bom saber que ele achava toda a situação engraçada.
- Tudo bem, eu devia ter avisado. Agora, pode tentar me ajudar a fazê-lo se enturmar? Ele precisará ficar por aqui até tudo no país dele se acertar – meu pai pediu gentilmente, colocando uma mão em cada um de meus ombros.
- Claro, eu ajudo, não vai ser problema – sorri gentil, recebendo um abraço de meu pai.
- Hum, perdão, mas... poderiam preparar meu banho, por favor? – apareceu no corredor, sem camisa, levemente desconcertado, com a mão direita coçando a nuca.
Ai, Deus, por que tamanha tentação?
- Desculpe, mas... Isso é algo que você precisa fazer sozinho – comecei a falar, pensando em como explicar para a realeza como ele teria que tomar banho, mas ficando tão desconcertada quanto ele logo depois.
Ouvi meu pai rir ao meu lado e lancei-lhe um olhar sério. – Vem, , vou lhe apresentar ao chuveiro – meu pai disse, ainda rindo levemente, indo em direção a e ao banheiro.
No dia seguinte, acordei por volta das oito da manhã; eu era voluntária no orfanato da cidade aos domingos, então precisava chegar cedo. Ouvi barulhos vindo do quarto de e resolvi ir checar se estava tudo bem. Para minha surpresa, estava acordado e parecia estar travando uma luta com o próprio cabelo em frente ao espelho.
- Bom dia! Já acordado? – falei à porta do quarto, tendo a sensação de tê-lo pego de surpresa.
- Bom dia – ele virou o corpo na minha direção, sorrindo. Será que um dia eu acostumaria com aquele sorriso lindo? – Acho que preciso me acostumar com o fuso horário.
- Provavelmente, Mônaco tem 5 horas a mais que aqui. Hum... está tudo bem por aí? – perguntei me referindo à pequena bagunça próxima ao espelho e a seu cabelo totalmente bagunçado.
- Sim! Eu só... não sei como deixar ele como estava ontem – ele disse meio sem graça.
- Como ele era antes? – perguntei enquanto fazia menção de entrar no quarto, recebendo uma confirmação com a cabeça de .
- Eu não sei o corte, porque eu tinha um criado especialmente para isso – ele falava com naturalidade e eu apenas conseguia pensar “sério mesmo?”, pensando em como aquilo era sem necessidade, mas não para um príncipe, ao que parece – Mas eu só precisava jogá-lo para o lado, para tirá-lo dos meus olhos, e ele ficava arrumado, ainda que meio bagunçado.
- Ah sim, faz sentido não saber arrumá-lo. Quer ajuda com ele? – perguntei quando estava já próxima a ele.
- Por favor – ele respondeu, suspirando derrotado segundos depois.
- Olha, você tem todo um arsenal aqui – me referi aos produtos próximos ao espelho.
- Ah, isso? Eu não sei para que servem, só conheço o shampoo e o desodorante mesmo – ele riu, sem jeito, e eu tive que rir junto.
- Eu te dou um tutorial depois. Mas é fácil deixar seu cabelo igual ontem, só passar um pouco desse creme na mão, assim – peguei um pouco de mousse e espalhei pela palma da minha mão – passar no seu cabelo – eu ia fazendo os movimentos necessários enquanto explicava – e depois, com a mão mesmo, levantar só um pouco ele aqui na frente – logo consegui deixar o cabelo dele conforme estava ontem. – Sem muito mistério – sorri, assim que terminei.
- Eu acho que entendi, vou tentar outro dia
- Sem problemas, eu te ajudo até conseguir fazer sozinho.
- Obrigada – ele sorriu – O que faz acordada tão cedo?
- Eu estava indo para o meu voluntariado no orfanato daqui. O que pretende fazer hoje?
- Hum, não sei. Eu... Posso ir com você? – ele parecia sem jeito -o que na minha mente só o deixava mais fofo ainda- e eu imaginei o quanto difícil era para ele tudo aquilo.
- Claro, vai ser bom para você conhecer a cidade, ainda que não tenha nada demais para ver.
Fui preparar meu café enquanto trocava de roupa, me encontrando na cozinha pouco tempo depois. Ele usava uma roupa grossa, típica de inverno, o que me fez rir, se querer.
- Hum... Tem algo errado? - Ele perguntou sem jeito, enquanto coçava a nuca.
- Não, é que estamos no verão e essa roupa é de inverno. Confie em mim, você vai passar bastante calor se sair de casa assim.
- Acho melhor eu me trocar, então. Não estou acostumado a tomar banho sozinho, muito menos escolher minha própria roupa, como deve ter dado para perceber.
- Relaxa, você também está vindo do inverno europeu, até se acostumar leva um tempo. Se quiser colocar uma bermuda, camiseta e tênis, acho que já vai conseguir lidar melhor com o calor – conforme eu sugeria uma combinação de roupas, pude ver seu rosto se iluminar, como se tivesse recebido uma mensagem divina. Ele era incrivelmente fofo sem parecer se esforçar para isso.
Enquanto tomava meu café, foi se trocar, logo voltando vestido com a combinação de roupas que eu havia sugerido. Eu terminava meu café, enquanto ele tomava o dele e logo estávamos ambos escovando nossos dentes, para podermos ir para o orfanato.
- Você está acostumado a andar? – perguntei enquanto íamos em direção à porta da sala.
- Andar exatamente não, mas eu me exercito bastante, então acho que consigo tentar.
- Okay, vamos a pé então, qualquer coisa chamo um Uber – falei enquanto saíamos de casa e trancava a porta.
- E o que você faz no orfanato, ? Quer dizer, você lê histórias paras as crianças ou algo assim? Minha irmã mais velha, Caroline, adora poder fazer isso, especialmente no Natal - ele sorriu brevemente, logo tendo o sorriso substituído por um lugar triste.
- Sim, eu leio história para as crianças, mas apenas as mais novas. Converso com as meninas mais velhas, as vezes jogo bola com os meninos e ajudo no que precisam no dia; as vezes saio para comprar coisas, as vezes ajudo na cozinha, depende – enquanto eu falava, me olhava atentamente, como se cada palavra que eu falasse valesse muito – E a sua irmã? Ela apenas conta histórias – perguntei sem querer, me arrependendo logo depois. – Desculpe, não queria entrar no assunto, foi sem querer.
- Tudo bem – ele disse, conseguindo deixar de lado a expressão triste – De toda minha família, acho que Caroline é a que tem melhor jeito com o público, é quem realiza a entrega do Grande Prêmio de Mônaco de Fórmula 1, quem ajuda em campanhas sociais oficiais, quem realiza eventos beneficentes para angariação de fundos e quem organiza nossa festa anual de Natal para crianças; um dos maiores eventos que nosso palácio sedia. Todos do reino a adoram. – Enquanto ele falava, percebia a admiração em seu rosto, o carinho e respeito que ele tinha pela irmã mais velha era imenso – Ela seria uma rainha incrível, se não fosse pelo fato de que nunca poderá.
- E por que não?
- Em meu país, nenhuma mulher nunca pode ser eleita rainha, são extremamente conservadores, tanto meu pai, o rei, quanto seus conselheiros.
- Isso é uma bobagem – respondi sem pensar e me olhou sem entender. – Quis dizer que isso, de uma mulher não poder ser algo, é um pensamento antigo, nós mulheres podemos fazer o que quisermos.
- Sim, eu defendo isso também, inclusive tenho certeza de que ela merece o trono bem mais do que eu, ela é muito mais inteligente, uma líder nata, ganha qualquer batalha, sem nem se esforçar, seja ela em combate corporal ou oral. Você precisava conhecê-la.
- Se você tiver alguma foto dela, me mostra depois, ela parece incrível.
- Eu te mostro quando voltarmos – ele sorriu e eu sorri em resposta, percebendo que havíamos chego ao orfanato.
Durante a parte da manhã, dividi meu tempo entre ler “O Pequeno Príncipe” para as crianças e conversar com algumas das meninas mais velhas, uma delas estava grávida e eu estava preocupada com sua recusa em fazer corretamente o Pré Natal.
Vez ou outra, meu olhar buscava o de , que no começo estava meio travado, mas fora logo conquistado por Juju, uma menininha linda de 4 anos que lhe mostrou sua boneca e pediu colo. Apesar de aparentar estar meio perdido, ele se saiu bem e logo conquistou o carinho da garotinha, que tratou de apresentá-lo aos demais. Pouco tempo depois, ele estava jogando bola com os meninos, ou pelo menos tentando.
Depois de conversar com as meninas e me oferecer para acompanhar a futura mamãe ao médico, saí em direção ao quintal, onde ainda tentava jogar bola com os meninos. Assim que me viu, ele veio em minha direção, suando bastante e parecendo estar empolgado.
- Eu achei incrível como você consegue prender a atenção das crianças enquanto conta histórias – ele sorriu, respirando ofegante e logo sentando-se ao meu lado no chão.
- Obrigada – sorri sem graça. Apesar de gostar lidar com crianças, receber comentários sobre meu jeito com elas era estranho.
- Eu estou cansado, percebi que não tenho jeito para jogar bola – ele riu e eu ri junto, concordando, depois de ter assistido alguns minutos de jogo escondida e percebido sua falta de habilidade para o esporte.
- E que tipo de esporte gosta?
- Luta... É um esporte, certo?
- Eu acho que sim, afinal tem Judô nas olimpíadas. Perto de casa tem uma academia de luta, se quiser eu te levo para conhecer.
- Jura? – vi seus olhos brilharem, como uma criança feliz – Quero sim, por favor.
- , ele é seu namorado? – Juju, a menininha que tinha conquistado mais cedo, apareceu à nossa frente e perguntou, sendo sapeca como sempre.
Ri da pequena e logo respondi: - Não, Juju, ele é meu amigo.
- Ele é muito legal – ela sorriu e percebi ficar levemente corado ao meu lado.
- Obrigado – ele sorriu para a pequena.
- Você também é muito legal – brinquei com ela, começando a fazer leve cócegas em sua barriga e arrancando gargalhadas da pequena.
O dia passou rápido, com e eu nos divertindo com as crianças. Mais algumas perguntaram se éramos namorados e eu sempre negava, enquanto ficava sem graça. Quando estávamos nos despedindo, a gestora do orfanato, Margareth, veio falar conosco e agradecer. Voluntários eram difíceis de aparecer por lá, então ela ficou bem feliz quando viu o rosto novo de , o que não deixou de reforçar para nós.
Durante o caminho de volta para casa, aproveitei para mostrar a nossa faculdade, meu açaí preferido, tendo que explicá-lo o que era açaí, bem como minha lanchonete favorita. Como estávamos um pouco cansados e com calor, assim que passamos por uma sorveteria, resolvi entrar e comprar-nos duas casquinhas.
Enquanto estávamos na sorveteria, conversando, pude perceber que algumas meninas passam por nós e olhavam para , provavelmente tendo a mesma impressão que eu tive assim que eu vi, que ele era um gato. não parecia notar ou se importar com isso, o que me deixou intrigada. Será que todo o treinamento que ele teve para rei o deixou despreparado para lidar com situações comuns como essa, de paquera?
Pouco tempo depois, já estávamos de volta ao nosso caminho até minha casa, parando apenas na academia de luta, para que pudesse conferir suas opções de luta e pegar as outras informações que quisesse.
- A moça gentil da recepção me deu uma aula experimental. O que seria isso? Ela disse que posso fazer essa aula até achar uma luta que me identifique.
- Quer dizer que você pode fazer uma aula de graça, até se identificar com algum tipo de luta.
- Ah sim. Estou animado, acho que vou começar por Muay Thai.
- Acho que pode gostar. - E você, , nunca praticou algum esporte? - Eu sou uma atleta dos livros – brinquei, arrancando uma risada leve e gostosa dele – Falando sério, agora... eu acho que nunca pensei em praticar algum esporte por não achar necessário. Meu pai já me ensinou alguns golpes uma vez, então ao menos o básico da autodefesa eu sei. - O básico pode não ser suficiente as vezes. Se quiser, posso te ensinar alguns golpes – ele disse e coçou a nuca, meio sem jeito.
Deus, eu não conseguia lidar com aquele homem!
Logo chegamos em casa, sendo recepcionados por meu pai e duas caixas de pizza. Apostei com que ficaria pronta para dormir antes que ele e logo estávamos os dois correndo em direção a um dos banheiros, nenhum dos dois querendo perder um pedaço de pizza para o outro.
Capítulo 3
Algumas horas haviam transcorrido após o ataque ao meu castelo e à vida de Philip. Meus conselheiros estavam todos reunidos na sala do trono, minha esposa e filhas sob máxima proteção em um dos cômodos do castelo e meu amado filho, meu sucessor, estava em algum lugar do mundo, sendo protegido por Naigel e sua agência.
Sussurros podiam ser percebidos por qualquer um, nobre ou criado, afinal as fofocas rolavam soltas pelas paredes do castelo e todos estavam assustados e preocupados demais para conseguirem manter sua boca fechada e opiniões para si mesmos. Meu único objetivo por hora era entender como um ataque assim pudera ser planejado e executado sem meu conhecimento, além de desejar mais que tudo encontrar os responsáveis por tal ato e puni-los apropriadamente.
- Quero respostas e as quero agora – disparei a falar para meus conselheiros, assim que a porta da sala do trono fora aberta e pude adentrar ao cômodo.
- Majestade... – um de meus conselheiros, Lorde Bocwel, começou a falar, sem parecer que realmente iria me falar algo útil.
- Poupe-me de suas palavras, Bocwel, ao menos que sejam algo que me leve à captura desses irresponsáveis – respondi secamente. Eu era um homem objetivo, ainda mais em tais circunstâncias.
- Eles foram financiados, meu senhor, receberam dinheiro e as bombas pelo porto. Agora, quem os financiou pode ser um problema descobrir, somos a única nação monárquica da França. – Lorde Barac tomou a palavra e dela fez bom uso, felizmente.
- Que temos inimigos eu já sei, Lorde Barac. Quero saber como esses infelizes tiveram a audácia de tentar algo assim contra a coroa.
- Precisamos encarar a realidade, meu rei, o povo não aguenta mais viver com uma coroa para servir, não enquanto cidades, estados e nações à nossa volta são governadas pela democracia.
- Pouco me importa o que o povo quer! Eles nunca estão completamente satisfeitos. Mônaco prospera, o turismo nos fornece dinheiro, nossa nação possui respeito internacional... Se a deixássemos na mão do povo, teriam-na destruído há anos. Quantas democracias vocês conhecem que realmente funcionam, não servindo apenas de apoio para governo autoritários, corruptos e genocidas? – Houve um silêncio na sala, como eu esperava que ocorresse – Se esses baderneiros querem se apoiar nas massas, quem o façam. Mas também serão traídos pelas massas. Quero informações que levem à captura desses irresponsáveis, quero que espalhem por toda Mônaco o seguinte decreto “Qualquer informação que leve à captura dos membros do partido democrata, será recompensada com dinheiro e títulos” – falei firme, recebendo olhares assustados de meus conselheiros e apoiadores. Parte deles temia que tais recompensas saíssem de seus bolsos, outra parte provavelmente temia pelo caos que se espalharia pelo reino.
Deixei-os na sala do trono, sob cochichos e olhares temerosos. Apesar de serem meu conselho, membros de minha confiança, alguns momentos de meu reinado não consegui acatar suas opiniões, como agora, eles não eram como eu, não pensavam como eu e não amavam Mônaco como eu. Minha família lutou muito para erguer Mônaco e fazê-la prosperar, não seria eu, muito menos eles, que iria estragar todos esses anos de história.
- Como foi com o conselho, meu amor? – Charlene, minha amada esposa, perguntou, assim que cheguei ao salão para jantar. Caroline e Stephanie conversavam do outro lado da mesa, enquanto saboreavam a refeição.
- Cansativo, como sempre, eles são um bando de lordes que só pensam em si mesmos e em seus títulos – reclamei, me sentando ao lado dela à mesa, logo após passar a mão em minha nuca.
- Eles não veem as coisas como você, como nós – Charlene me deu um sorriso, logo voltando a comer.
- Papa, alguma notícia de Philip? Já estou sentindo falta dele – Stephanie, minha filha mais nova, perguntou, escondendo o sorriso triste em seu rosto.
- Ainda não entendo por que ele não pode ficar conosco, a quantidade de guardas foi reforçada, a de seguranças também, qualquer serviçal com menos de 2 gerações a serviço da monarquia foi dispensado e nós estamos com a agenda do mês cancelada, tudo para nossa proteção. Não seria mais sensato deixar Philip conosco ao invés de manda-lo para Dieu sabe onde? – Caroline começou a falar, querendo usar de seu poder discursivo para comigo.
- Primeiro, controle essas gírias, senhorita. – falei bravo e ela apenas abaixou a cabeça, em sinal de respeito – Seu irmão é meu sucessor, deve ser protegido a todo custo. Depois que Marcos tentou assassiná-lo, sua mãe e eu percebemos que era melhor ele se esconder, tendo Naigel como protetor. A segurança de todos vocês é minha prioridade, mas seu irmão...
- É sua prioridade maior – Caroline completou, antes de se retirar da mesa e do salão, com alguns guardas em seu encalço.
Espero em Dieu que um dia ela entenda, meu dever como monarca é colocar a nação acima de tudo, logo, a segurança de Philip deve ser meu foco principal, ainda que eu ame todos os meus filhos igualmente.
Capítulo 4
- Eu estou falando sério, , ele é demais para mim – respondi ao comentário da minha melhor amiga, algo sobre eu ter sorte por estar em casa e ter que parar de reclamar, enquanto andávamos pelos corredores da faculdade.
- Aquele ser lindo, que acabamos de deixar na sala de RI, é demais para qualquer uma, – ela comentou e eu tive que concordar.
era minha melhor amiga desde sempre, ela sabia tudo sobre mim, me conhecia melhor do que mim mesma e as vezes bancava até a minha mãe. Era para ela que eu corria para contar tudo, assim que acontecia, logo, ela sabia sobre . Mas somente o necessário, que ele era de outro país e iria ficar um tempo em casa, em uma espécie de intercâmbio.
- Mas, olha, se você não quiser continuar ajudando ele, eu posso assumir isso por você. Considere como um presente, um alívio para o seu fardo. Afinal, eu não teria problema nenhum em ajudá-lo com todas as necessidades nele, não importando quais fossem. – ela comentou, com um sorriso travesso nos lábios e recebeu uma careta de minha parte.
- Burra você não é, né? – comentei irônica e ela pareceu nem ligar.
- É uma questão de saber aproveitar as oportunidades que a vida fornece. Ou você acha que algum outro dia na sua vida irá ter uma oportunidade como essa? – Maria falou e arqueou a sobrancelha, o que me fez ter que bufar e concordar com ela.
- ! – me cumprimentou de longe, assim que me viu, se desvencilhando das pessoas ao redor -que estavam cercando-o ao final do corredor, provavelmente querendo saber tudo sobre o novo aluno estrangeiro- e vindo em minha direção, com um sorriso largo no rosto. – Essa aula agora é de Direito Internacional, junto com a turma de direito. Nem acredito que terei essa matéria com você, já estava pensando em mudar de curso só para poder ter você na mesma sala que eu – ele disse feliz, assim que me alcançou. Ao meu lado ouvi suspirar e desejei fortemente poder matá-la.
- , vem, vamos nos atrasar – ouvi uma voz feminina meio afetada falar atrás dele, provavelmente vindo do grupo de pessoas que ainda o esperava, depois dele tê-los largado para vim até Marisa e eu.
... ... Quem ela achava que era para botar apelido nele?
- Vão sem mim, eu vou depois com a - ele respondeu, olhando rapidamente para trás, e logo voltou a olhar para mim.
Eu adorava o som do meu apelido quando ele falava...
ao meu lado parecia rir, mas nem nem eu notamos.
- então, é? – brinquei com ele, enquanto voltávamos a andar, nós três, em direção à sala de Direito Internacional.
- Nossa, você falando parece bem menos insuportável – ele comentou simplesmente e por um momento senti o ar faltar em meus pulmões. estava preferindo a mim em troca de uma das garotas da sala dele? Toda a faculdade falava que as garotas de Relações Internacionais eram as mais gatas... Meu choque, ao que percebi, não fora o único, já que até parou de digitar no celular e ficou olhando para o aparelho com cara de tacho.
- Fora ela, conheceu alguém mais? – tentei mudar de assunto com a primeira coisa que veio à minha mente.
- Eu estava falando com algumas pessoas – ele respondeu e eu me senti uma lerda. Se ele estava falando com outras pessoas quando apareceu no fim do corredor, é claro que tinha conhecido outras pessoas – Inclusive, um rapaz chamado Nick me convidou para uma festa sábado. A gente devia ir.
- A gente?
- Sim, , a gente, você e eu, até se quiser.
- Eu passo - foi a única coisa que falou, voltando a conversar, provavelmente, com seu namorado no celular e me largando na mão. Eu teria uma séria conversa com a minha melhor amiga depois.
- Ok. O que acha, ? Eu quero ter uma experiência brasileira universitária completa e você precisa me ajudar. – Ele começou a pedir e eu só conseguia pensar que para a experiência brasileira universitária dele ser completa seriam necessárias muito mais coisas que uma simples festa, mas eu considerava tais coisas fora de cogitação para a realeza; pelo menos para a realeza que, como ele, possuía uma família conservadora e um disfarce e imagem a zelar.
- Não sei, , não parece certo – respondi, pensando que meu pai provavelmente não autorizaria, o que eu agradeceria muito, pois poderia comprometer todo o disfarce de .
- E por que não, ? – questionou, parecendo querer incentivar a ideia de . Céus, como eu queria esganá-la!
- Meu pai nunca deixaria. A família de é conservadora demais para sequer pensar que ele teria ido a uma festa universitária, e meu pai precisa corresponder a tal comportamento – tentei argumentar, enquanto olhava intensamente para , para ver se ele entendia a mensagem.
- Pois seu pai já deixou! – ele respondeu simplesmente, erguendo o celular por satélite que meu pai lhe dera, juntamente com um pouco de dinheiro, caso precisasse. Ótimo, lá se vai meu argumento!
- Okay, nós vamos. Mas se você me largar por alguma dessas meninas, vai ter que convencer a a te ajudar na adaptação, porque eu irei sumir para a China. – Tentei ameaçá-lo, mas apenas consegui arrancar risos dele e de .
- Você não gosta de comida Chinesa, sem ser yakissoba, e nem do estilo de governo deles, nunca iria para lá, não para ficar mais que alguns dias – respondeu e ergueu uma das sobrancelhas.
- Que seja! – respondi, entrando na sala e me sentando em uma das carteiras do fundo, sendo seguida pelos dois, que se sentaram cada um de um dos meus lados.
A aula acabou rápido, me fazendo refletir sobre o quanto as melhores aulas acabavam rápido em relação às demais. havia saído assim que a professora anunciou o final da aula, para que pudesse passar mais tempo de intervalo com seu namorado, me deixando na sala com .
- Ei, , apresenta pra gente seu amigo – uma menina morena, de cabelos cacheados e pele meio escura, falou do outro lado da sala, atraindo a atenção de algumas outras pessoas.
- Ele não parece ser daqui – uma das amigas dela comentou, fazendo com que as outras meninas do grupo concordassem.
- Sou , , e sou... – começou a falar, mas acabou se enrolando um pouco.
- Canadense, ele é canadense – completei rapidamente - Está numa espécie de intercâmbio. – falei, terminando de juntar o resto do meu material às pressas
- Ui, gato e gringo, gostei – uma das meninas do grupo da morena comentou e pude perceber ficar sem jeito, passando a mão na nuca logo em seguida.
- Vocês vão na festa sábado? Deveriam ir...
- Vamos sim – respondeu animado e eu fiz uma nota mental de precisar falar com ele sobre flertes, paqueras e variações.
Arrastei para fora da sala, sob protestos baixo das meninas, e fomos em direção à cantina. Minha barriga estava protestando há tempos e tudo que eu queria era uma coxinha e uma Coca.
- Hum... O que é isso? – perguntou, apontando para um dos salgados, assim que chegamos à cantina.
- Esse é um enrolado de presunto e queijo. – Respondi, imaginando como deveria ser a comida em seu país. Talvez eu perguntasse a mais tarde.
- Hum... Presunto? – ele parecia confuso e eu apenas concordei com a cabeça, sem saber ao certo como explicar a ele o que seria um presunto - E isso?
- É uma coxinha, a melhor invenção do homem – sorri abertamente, já sentido o sabor da coxinha em minha boca. Dei o dinheiro à atendente e fiz meu pedido – Eu te deixo experimentar, é muito bom.
Assim que peguei meu salgado e minha Coca, pedi alguns sachês de ketchup e me dirigi a uma das mesas, com ao meu lado.
- Eu poderia deixar você provar sem nada, mas você precisa descobrir a melhor maneira de se comer uma coxinha, e é assim – coloquei uma boa quantidade de ketchup na coxinha e lhe entreguei, para que ele experimentasse. Ele primeiro me olhou e depois olhou para o salgado em suas mãos, talvez com medo da experiência que estava por vir, mas logo deu uma mordida, que me fez rir alto do estado que ele ficou. Devido à quantidade generosa de ketchup que eu havia colocado na coxinha, assim que mordeu, parte de sua boca ficou inteira lambuzada de molho – arriscava até a dizer que havia molho em seu nariz.
Ele não pareceu perceber, já que logo perguntou – Eu, hum, fiz algo errado? – perguntou se jeito, me estendendo de volta o salgado.
Como uma foto vale mais do que mil palavras, tratei de tirar uma foto do estado dele, associado a cara de perdido: - Não, apenas... olhe – mostrei a ele a foto que havia acabado de tirar e ele riu junto comigo, logo pegando alguns guardanapos da mesa para poder se limpar.
- Apesar do meu completo despreparo para comer tal iguaria, a madame tem razão, é realmente uma deliciosa invenção – ele comentou todo formal, assim que terminou de se limpar.
- Deus! Agora eu me senti na França imperial – brinquei e ele riu, sendo acompanhado por mim.
- Me desculpe, as vezes é mais forte que eu – ele sorriu e eu até esqueci porque ele estava se desculpando; aquele sorriso deveria ser considerado a nona maravilha do mundo.
- Mas que bom que gostou da coxinha, é algo que eu amo demais na culinária brasileira. Empata somente com brigadeiro.
- Bre o quê? – tentou repetir o nome do doce, parecendo confuso.
- Ai meu Deus! Você não sabe o que é brigadeiro? Não pode ser – eu comentava incrédula. Como alguém pode não conhecer o melhor doce do mundo? – Vamos embora agora, eu preciso fazer brigadeiro para você! – peguei todo meu material às pressas, assim que terminei de comer meu lanche, e saí puxando pela multidão de alunos, em direção ao estacionamento.
Ele queria uma experiência brasileira completa, certo? Então tínhamos muito trabalho a fazer!
Capítulo 5
Minha vida no Brasil não está sendo um mar de rosas, mas graças a Naigel e , estou tendo uma ótima adaptação. está firme na tentativa de me ajudar a aprender da cultura e culinária local, o que é bem fofo.
Ela e Naigel me fizeram experimentar coisas: um caldo preto com feijão e carne, que eles disseram ser Feijanada, eu acho. Tinha também o doce de , com chocolate, Brejedero, e o caldo roxo doce, que ela come com muitas coisas, esse eu lembro que chama Açaí; ela disse que em alguns lugares do Brasil esse caldo roxo não é doce, que as pessoas comem com peixe, e eu achei bem estranho.
Cheguei a conversar com eles que me sentia na obrigação de fazer alguma comida de meu país para eles, ainda que eu não fosse o melhor cozinheiro, mas disse que queria primeiro me levar para comer lanche, hamburguer. Ela achou um absurdo que eu só tenha comido um McDonald ou Buguer King na vida, e poucas vezes ainda e isso resultou em uma conversa bem engraçada sobre como a realeza de Mônaco era ao mesmo tempo privilegiada e desprivilegiada.
Naigel não ficava muito em casa, ao que parece ele ainda tinha outras realezas para proteger, por isso a maior parte do tempo eu passava com , o que me permitia notar muito sobre ela, sobre como ela se dedica ao sonho de se tornar Juíza e sobre como ela possui um coração imenso, estando sempre envolvida em causas e atividades sociais, tanto presencialmente quanto à distância. Eu esperava que todo esse tempo com ela pudesse me ajudar a me tornar uma pessoa melhor, porque ela era realmente... incrível.
Finalmente consegui arrumar o meu cabelo sozinho, depois de alguns dias treinando e falhando miseravelmente, sempre precisando recorrer ao auxílio de . Me senti tão orgulhoso de mim mesmo que resolvi ir mostrar para , então saí do meu quarto e fui em direção ao quarto dela.
Era sábado a tarde, então aproveitávamos para relaxar, depois de uma longa semana de estudos, e nos preparar para a festa de mais tarde. Ao chegar na porta do quarto de , parei ao batente, aproveitando que a mesma estava aberta. estava sentada em sua cama, enquanto lia Romeu e Julieta, meu favorito, entre os vário livros que li.
- Qu'y a-t-il donc dans un nom? Ce que nous appelons la rose, même sous un autre nom, aurait le même parfum. - citei em meu idioma natal, chamando sua atenção para mim. - O que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, teria igual perfume. – traduzi, depois de concluir que ela não entendera, devido ao olhar confuso que recebi, assim que ela virou o rosto em minha direção.
- Olha só, esbanjando seu francês – ela brincou – Algo mais sobre você que eu deva saber, além de que já leu Romeu e Julieta?
- Sim, deve saber que é meu livro preferido e que além de Francês e do Português enferrujado, eu falo Espanhol, Latim, Inglês e um pouco de Mandarim – sorri brincalhão e ela fez uma expressão de surpresa – O resto você descobre com o tempo.
- Uau, um poliglota... e eu me sentindo por falar Inglês e Espanhol – ela brincou e ambos demos risada.
- É parte das responsabilidades do ofício de ser o herdeiro – cometei e uma pontada de saudade de minha família surgiu em meu peito – O que é aquilo? – perguntei me referindo aos inúmeros papéis de paisagens e monumentos pendurados na parede próxima à cama dela. Minha curiosidade era tanta que nem percebi quando entrei no quarto e me dirigi à parede.
- São fotos, de lugares que quero conhecer um dia – comentou, aparecendo ao meu lado e eu dei um leve pulo para a direção oposta a ela, fazendo-a estranhar a situação – O que foi?
- Não é, ham, educado entrar no quarto da pessoa sem ser convidado, ainda mais de uma dama. Devo me retirar – expliquei, me virando em direção à porta e começando a dar o primeiro passo.
- Espera, tudo bem, você pode ficar – falou, me segurando levemente pelo braço e me fazendo parar, instantaneamente, e virar meu corpo em sua direção – Para as pessoas normais, como meu, se uma porta está aberta, é porque as demais pessoas podem entrar, se não teria um aviso na porta escrito “não perturbe” – ela piscou um dos olhos para mim e senti minhas bochechas esquentarem, por ser tão burro em costumes não reais.
- Ham... sobre as fotos... – tentei voltar ao assunto, para disfarçar meu embaraço, passando levemente minha mão sobre a nuca – achei a ideia incrível! Mas precisa me prometer que não ficará apenas na sua parede, que você realizar se sonho de conhecer esses lugares um dia. Me promete? O mundo é belo demais para ser admirado apenas pela parede do quarto e você precisa fazer isso por mim, já que eu não posso me dar ao luxo de ficar viajando, sem que seja para algum compromisso real.
- Eu prometo – ela sorriu e por algum motivo sorri junto. Eu adorava aquele sorriso em seu rosto, um sorriso meigo e sincero.
- Preparada para a festa? – provoquei e apenas correu em direção à cama e se jogou sobre ela.
- Precisamos ir mesmo? - choramingou, com o rosto enfiado no travesseiro e eu ri nasalado, pensando o quanto ela se parecia com Stephanie quando a mesma não queria participar de algum compromisso real chato. Estava prestes a responder, quando o celular dela tocou, assustando levemente a ambos.
- Eu vou... - fiz menção de sair do quarto, mas acenou como quem pedia que eu esperasse, já com o telefone à orelha.
- Como assim? Onde elas estão? - eu ouvia falar com a pessoa do telefone, sem entender muita coisa, mas imaginava que não era algo muito bom, a julgar por sua expressão pálida e meio trêmula. - Estou indo - ela respondeu firme, pouco antes de encerrar a ligação. Quem quer que fosse, não teve nem direito a resposta. - A bolsa de Samantha parece que estourou e a senhora Margareth correu com ela para o hospital municipal, uma das meninas do abrigo achou por bem me ligar para avisar - narrava o assunto da ligação às pressas, enquanto já corria pelo quarto prendendo o cabelo e pegando sua bolsa. - Sinto muito, , mas não vou poder ir à festa. - ela falou, após parar alguns segundos à minha frente e logo começar a querer correr de novo.
- - fiz menção de segurar seu braço, assim que ela começou a querer correr em direção à porta do quarto. Mas assim que a toquei, ela parou instantaneamente e me olhou. - Nós não vamos à festa. Cadê a chave do carro? - falei começando a andar rápido junto com ela, em direção à porta do quarto e depois à porta da sala.
- E você lá tem carteira? - ela me olhou pelo canto dos olhos, assim que chegamos à saída da casa.
- Tenho - respondi simplesmente e ela se virou para me encarar - Eu precisei tirar para poder sair do castelo as vezes. Anda, me dá a chave, você não vai dirigir nesse estado - tentei ser um pouco autoritário, como era preciso as vezes no castelo, estendendo a mão a ela, esperando pela chave.
- Eu tenho medo de como isso vai acabar - ela disse antes de abrir a porta da sala e me entregar a chave do carro, logo depois de sair da casa e trancá-la.
colocou o endereço do hospital no Wase e logo eu estava dirigindo o mais rápido possível para lá; claro que, respeitando a sinalização, afinal eu não queria que ela tomasse alguma multa e nem chamar a atenção de algum policial ou agente de trânsito.
- Achei que príncipes não dirigissem - ouvi comentar. Era a primeira vez que ela falava algo desde que saímos de casa. Eu sabia que ela estava abalada pela situação, devido ao seu carinho quase que maternal pelas meninas do orfanato, por isso não forçara uma conversa.
- Outros eu não sei, mas eu dirijo... precisei aprender para poder sair do castelo às vezes e ver como meu povo e cidade estavam.
- Quer dizer que você é o tipo rebelde de príncipe? - brincou e eu ri de leve.
- Quem me dera, hein. Até essas escapadas tem alguém que sabe - brinquei de volta - Brincadeiras à parte, essa foi uma das condições da senhora Dots, minha governanta, ela deveria saber e autorizar todas as minhas escapadas.
- Não parece uma condição ruim.
- Também pensei assim... se me permite saber... por que essa preocupação com a Samantha? Quer dizer, ela já tem a senhora Margareth, não?
- Eu sei que a Samantha tem a dona Margareth, mas a dona Margareth ainda tem todas as outras crianças e adolescentes, entende? Eu me solidarizo pelo fardo dela e por Samantha, que no fundo nada mais é do que uma jovem meio perdida e sem sorte, que vai precisar de ainda mais amor e apoio.
- Mas esse apoio não deveria vir, em parte, também do governo?
- É complicado... pra mim o trabalho de governar um país tão grande poderia ser melhor exercido, alguns problemas sociais deveriam ser melhor tratados, como os feminicídios, a escassez de água em algumas regiões e as gravidezes na adolescência, mas nem tudo é perfeito, não é?
- Eu não entendo porque defender tanto algo que pra mim parece tão falho. Não entendo porque tão poucos reinos existem no mundo, se pra mim uma monarquia é tão melhor que uma democracia. - falei sincero, me lembrando da luta intensa do partido democrata em meu país para que a monarquia fosse dissolvida.
- Porque é direito do povo. É direito deles escolherem quem querem na liderança do país, não simplesmente trabalharem para sustentar uma linha de sucessão vitalícia e hereditária. Mas você provavelmente nunca vai entender, você foi criado para achar que está certo viver como vive. - ela disse e deu um sorriso de lado e eu entendi que aquilo não era exatamente um puxão de orelha, estava mais para um fato que ela já aceitara.
Poucos minutos depois, finalmente chegamos ao hospital. Mal estacionei o carro na vaga e já estava saltando para fora do veículo e quase correndo para dentro do local.
Quando a encontrei, ela estava com um grupo de jovens, que imaginei serem do abrigo, esperando na recepção.
- A dona Margareth está com Samantha na sala de parto. As meninas tiveram que esperar aqui por serem menores de idade e por só aceitarem um acompanhante. - veio me explicar, assim que me viu.
- - uma das meninas, uma loira de olhos castanhos e cabelo liso, chamou e nós fomos até elas. - Será que ela vai sobreviver? E o bebê também?
- É claro que vai - falou, saindo do meu lado e indo até a menina, para abraçá-la pelos ombros, de lado. - A Samantha é forte.
- Ela não sabia que estava grávida até começar a passar mal e a dona Margareth insistir para ela fazer o teste, foi uma surpresa para todas. - outra menina, de cabelo cacheado e pele morena clara, comentou.
- Sabem com quanto tempo ela estava? Ela não tinha muita barriga. - perguntou, ainda abraçando a menina.
- Acho que uns seis meses. O teste só funciona para grávidas acima de duas semanas, neh? - uma das meninas perguntou e concordou com a cabeça - Então devia ser isso, uns cinco ou seis meses.
- Se for isso mesmo, a chance dela e do bebê ficarem bem é alta, acima de 90%. - comentei, fazendo com que todas as meninas me olhassem, inclusive , que me deu um sorriso, como que em agradecimento. - Se dermos sorte, ela ficará bem e o bebê será saudável.
- Mas, meninas, quem está cuidando do abrigo? - perguntou alguns minutos depois, quando todos já estavam um pouco mais calmos.
- Eu acho que o Leo, foi tudo muito rápido: Samantha estava com algumas dores, então ficou no quarto. Quando ela gritou, fomos ver o que tinha acontecido e a dona Margareth veio logo em seguida... quando vi, a dona Margareth já tinha chamado uma ambulância, que já tinha chego, e estavam colocando Samantha no carro. Nós só pensamos que tínhamos que vir também, na hora, então saímos correndo pra cá, assim que a ambulância veio.
- Eu preciso ir pra lá - falou preocupada e eu fiquei tentando me lembrar de quem era o Leo. Havia conhecido muitos jovens no dia que estivera no abrigo, eram muitos jovens e nomes para lembrar.
- Mas a gente precisa de você aqui, com a gente - uma das meninas falou triste, se agarrando à blusa de .
- Eu sei, meninas... - ela respondeu triste, afagando a cabeça da menina grudada à sua blusa.
Ver aquela cena era estranha, pois as meninas tinham pouca diferença de idade em comparação com a de , não deveriam ser tão dependentes. Acho que a forma com o que foram criadas e o carinho que tinham por , faziam com o que algumas parecessem crianças em alguns momentos.
- Meninas, isso aqui pode demorar horas, vocês não podem ficar aqui - falou suavemente e as meninas a olharam tristes.
- , é a Samantha, a gente quer ficar e ver se ela vai ficar bem.
- Eu sei, mas é complicado. O abrigo está sem ninguém, vocês estão aqui, a dona Margareth está lá... - falava preocupada e as meninas apenas a encaravam. - Eu prometo que se voltarem pro abrigo, eu ligo a qualquer notícia, respondo todas a mensagens no Whats que me mandarem e tento convencer a dona Margareth a fazer uma noite da pizza, quando tudo voltar ao normal.
- Promete mesmo?
- Prometo! - falou sorrindo, olhando docemente para as meninas - Mas só se me prometerem que vão voltar para o abrigo, cuidar de todo mundo lá e não me arranjarem encrenca. Eu não posso ficar aqui com a cabeça preocupada com lá.
- Sabia que hoje é dia de festa universitária? A gente ia sair escondido da dona Margareth - uma das meninas confessou e a encarou séria.
- O que eu já falei sobre isso? Vocês são menores de idade, podem se meter em problemas, e precisam dar exemplo para os demais. - parecia uma mãe as repreendendo.
- Mas é festa, . Não é porque você não gosta de ir, que a gente também não - uma das meninas comentou, tirando sarro de e ela fez uma careta.
- Está na hora das baladeiras irem - falou, fazendo um sinal com as mãos como se as tocasse dali e as meninas foram.
- Elas gostam de você e te respeitam. - comentei, assim que se sentou ao meu lado.
- Sim, sim. No começo foi um relacionamento complicado, mas agora, depois de quase um ano que as conheço, acho que nos damos bem. - ela comentou, sorrindo orgulhosa.
- Em Mônaco, nós temos uma ajuda monetária para mães solteiras, independentemente da idade. Foi uma ideia da minha irmã Caroline - comentei e uma dorzinha se instalou novamente no meu peito, ao lembrar da minha nação e irmã.
Acho que percebeu, pois logo brincou: - Preparado para passar algumas boas horas sentado aqui?
- Com você? Sem nem reclamar.
Capítulo 6
- Não acredito que finalmente vamos poder colocar um ponto final nisso – Minha amada esposa falava, ao meu lado, enquanto nos dirigíamos à sala do trono, onde boas notícias nos aguardavam.
Devido à nossa pequena pressa, nós passávamos rapidamente pelos corredores do castelo, enquanto alguns criados e seguranças paravam para prestar seu respeito e alguns cômodos ficavam para trás.
Aqueles corredores de paredes beges, levemente amareladas devido ao tempo, eram repletos de quadro de pinturas de minha família, tanto a atual, quanto meus antecessores. Do meu lado esquerdo, algumas das poucas obras, pinturas e esculturas, que sobraram após sermos roubados durante a Revolução Francesa, se juntam às pinturas minha e de minha família, minha esposa e filhos. Enquanto que, do meu lado direito, pinturas de meus antecessores formam com uma espécie de linha do tempo, terminando com uma pintura minha, imponente, sentado ao trono, poucos metros antes de chegarmos à sala do trono. Ao lado de meu quadro há um espaço vazio, aguardando pelo retrato do futuro monarca, o futuro rei, Philip de Mônaco.
Paro diante do espaço vazio, encarando-o alguns minutos. Diante de tantas medidas que tive que tomar e da minha corrida agenda, quase não me permiti tempo suficiente para sentir falta dele. Meu filho. Ainda me lembro do dia em que nasceu, da alegria que tomou conta de mim, pelo simples fato de tê-lo tido em meus braços. Naquele momento, apesar de saber que estava segurando o herdeiro do reino, nada mais importava, apenas aqueles olhinhos puros que me encaravam e o as sensações que eu tinha, apenas segurando-o; fato que já havia acontecido no nascimento de Caroline e se repetira no nascimento de Stephanie.
- Ainda me lembro do baile em comemoração ao nascimento dele, foi uma das festas mais agitadas que esse castelo já sediou – comentei baixo, relembrando daquele tempo bom, onde a alegria reinava neste castelo e inúmeras pessoas eram encontradas em seus corredores, não somente os turistas visitantes da ala Oeste; os quais agora nem mais são permitidos, devido ao protocolo de segurança que tivemos que ativar.
- Sim, querido. Achei que nossos lustres não resistiram no teto e nunca vi tantos pratos, mesas, cadeiras e bandejas espalhados pelo salão - minha amada Charlene disse, rindo levemente, como não fazia há dias.
- Bons tempos, querida – sorri para ela rapidamente, virando meu corpo em direção à sala do trono. Meus guardas logo abriram a porta da sala que, depois que a sala oficial se tornou aberta à visitação do público, era agora a sala do trono da ala Leste, ala de utilização exclusiva à família real, seus serviçais e conselheiros.
- Majestades – meus conselheiros nos cumprimentaram, liderados por Lorde Barac, enquanto se colocavam de pé, em sinal de respeito.
- Senhores – respondi, assim que minha rainha e eu nos acomodamos em nossos tronos e eles se sentaram novamente, para início da reunião – Hoje é um dia de enorme alegria para nosso reino: os responsáveis pelo ataque ao castelo foram capturados, graças aos vossos esforços, lordes e conselheiros. Após os prisioneiros e demais membros do partido democrata terem assinado um acordo de cooperação e de aceitação da monarquia, eles foram liberados e a monarquia se comprometeu a reunir-se periodicamente com representantes do partido, a fim de ouvir suas ideias e propostas. A paz reina novamente em Mônaco! – anunciei e pude ouvir os múrmuros de alguns lordes.
- Proponho um brinde – Lorde Bocwel colocou-se de pé, erguendo um cálice, tomando para sai a fala e atenção de todos – Às majestades e a Mônaco!
- A Mônaco! – todos os lordes responderam, de pé, com cálices erguidos.
Ao final do brinde, me retirei da sala rapidamente, com minha rainha ao meu lado.
- Estou aliviada que nenhum deles criticou diretamente nossa solução diplomática. Imaginei que teriam alguns que irão questionar porque não optamos pela execução – Charlene comentou, quando já estávamos a sós no corredor que ligava a sala do trono ao jardim interno do palácio.
- Imagino que pensaram que se nós, as autoridades que tiveram suas vidas ameaçadas, preferimos agir de tal modo, ainda mais sendo os soberanos, eles não possuíam autoridade para nos questionar. – enquanto falava, Charlene apenas concordava com a cabeça - Devemos avisar Philip que seu retorno já é seguro e deve ser imediato.
- Vou pedir a Naigel que providencie o retorno de Philip assim que possível e a Dots que providencie uma apresentação da Orquestra Filarmónica de Monte Carlo em nosso jardim público, para recepção do herdeiro, bem como autorize a reabertura da ala Oeste para visitação.
- Não, deixe a apresentação para celebrar a coroação, que eles se apresentem após o discurso de Philip na Galeria de Hércules, como recepção para o baile da coroação. Peça a ela que retomem os preparativos para a coroação, ela deve ser realizada o quanto antes. – Charlene concordou com a cabeça, me dirigindo um sorriso delicado, antes de me deixar a sós, assim que chegamos à entrada do jardim. Ela tomou o corredor que ia para a ala Norte, ala dos escritórios administrativos, e eu o corredor para meus aposentos e escritório particular, para me preparar para os demais compromissos de minha agenda.
Capítulo 7
- Posso te fazer uma pergunta meio pessoal? – perguntou, quando já se completavam cerca de quatro horas que esperávamos sozinhos, sentados na recepção do hospital municipal. Durante todo esse tempo esperando, as meninas do orfanato já haviam me mandado inúmeras mensagens, pedindo por notícias, já havia me comprado um café na lanchonete do hospital e voltado em casa, com o auxílio do Wase, para buscar minha powerbank e agasalhos para nós, já que o tempo havia subitamente mudado; típico do outono do interior paulista. A cada dia que passava, eu o considerava cada vez mais fofo e gentil, o que me fazia questionar se aquelas características eram típicas da realeza, ou apenas dele, como que um bônus para o tornar ainda mais cativante e atraente.
- Claro – respondi de imediato, enquanto mordia mais um pedaço do salgado que havia comprado para mim e lhe encarava.
- Porque você é tão apegada às crianças do orfanato? – ele perguntou, me olhando de maneira gentil, com aqueles olhos que para qualquer um não combinariam tanto quanto combinavam com ele; os olhos mais lindos e sinceros que eu já havia visto.
- É uma longa história – comecei a responder, bebericando um pouco de café logo em seguida – Eu sou adotada. Minha mãe me tivera na adolescência e não se sentiu capaz de cuidar de mim, então acabou me entregando à responsável do abrigo na época, a mãe da dona Margareth. Naigel me encontrou um dia que fora levar mantimentos ao local, depois de arrecadá-los em um campeonato de luta. Ele disse que ao me olhar, brincando com as demais crianças, ele sentiu que precisava cuidar de mim, que eu nascera para ser filha dele. Naquela época, acho que ele nem sonhara que um dia se tornaria o que é hoje, digo, profissionalmente; ele era um dono de academia, excelente lutador, aspirando um futuro melhor. Eu tinha cerca de 10 anos na época.
- Então você nunca conheceu sua mãe?
- Não.
- E não tem vontade?
- Em alguns momentos da minha vida, já tive vontade de encontrá-la, conhecê-la, tentar entender o que a levara a fazer aquilo comigo, mas hoje não mais. Eu não a culpo, imagino que deve ter sido uma decisão difícil para ela. Mas eu tenho um pai incrível, entende? É bem mais do que muitas crianças tem em toda a vida. Acho que por isso sou tão ligada às crianças do orfanato e a ações sociais e projetos que envolvam crianças, especialmente as carentes, porque eu conheço um pouco da sensação, do desejo de ter uma vida melhor. - não falou nada. A julgar pelo olhar nebuloso, devia estar perdido em seus próprios pensamentos. Eu apenas terminei meu lanche e me aconcheguei melhor em meu agasalho, desejando saber como estava a situação de Samantha.
Ao final de quase 7 horas de espera, depois de eu acabar cochilando no ombro de -após ele ter insistido muito, ao me ver quase tombando para o lado, tamanho meu sono- pude finalmente reconhecer a pessoa que saía pela porta que separava a recepção das salas de atendimento do hospital, era a acompanhante de Samantha, Margareth. Eram quase 22h e eu, honestamente, achava que não via a hora de poder ir embora.
- ? ? – dona Margareth pergunta, surpresa ao nos ver ali – Assim que saí da sala de parto, recebi a informação de que as meninas do orfanato estavam aqui fora. Onde estão? – agora, a surpresa parecia ter dado lugar à preocupação – Por favor, não me diga que elas foram naquela festa.
- Elas foram para o orfanato, dona Margareth. Queriam ficar aqui esperando Samantha, mas as convenci que era melhor irem para lá e esperar junto com os demais. – assim que disse isso, notei a expressão da mulher parecer relaxar.
- Ai que bom! Fiquei muito preocupada com elas aqui fora todo esse tempo.
- Como está Samantha? E o bebê? – logo perguntou, parecendo realmente preocupado.
- Estão bem. O bebê é um menino, Michael. Como nasceu prematuro, terá que ficar um tempo aqui, mas os médicos acham que não terá complicações de saúde – dona Margareth falava e eu apenas me sentia mais leve; não havia percebido estar tão tensa até aquele momento. – Samantha terá que ficar uns dias também, em observação, mas, por hora, os dois estão ótimos.
- Ai que bom! – a abracei, imensamente feliz pelas boas notícias – Caso precise, eu posso me revezar de acompanhante dela. – disse, assim que a soltei.
- Eu devo precisar, sim. Obrigada, , você é realmente um amor. – dona Margareth me deu um sorriso em agradecimento.
- Podemos entrar e ver o bebê?
- Infelizmente não. Isso que eu vim falar para as meninas. Devido às circunstâncias, tanto Samantha quanto o bebê estão sob restrição de visitas. Eu ia falar que podiam ir embora, pois eu ficarei aqui essa noite.
- Tem algo que possamos fazer? Precisam de alguma coisa? – perguntou.
- Não, queridos, vocês já fizeram muito. Samantha conseguiu algumas doações de roupas e fraldas da irmandade do hospital, então estamos bem. Apenas vão para casa e descansem – dona Margareth falava gentil, ao melhor estilo mãezona.
- Nós vamos então. Mas se precisarem de algo, não hesitem em nos ligar, a hora que for – eu falava, tentando ser firme, e dona Margareth apenas concordava com a cabeça. – No caminho, eu ligo para as meninas para contar as novidades, elas devem estar loucas esperando.
- Obrigada, – dona Margareth falou, me abraçando, se despedindo, fazendo o mesmo com , logo em seguida – Vocês dois são um casal de ouro. – Estava prestes a falar para ela que não éramos um casal, quando ela se virou e caminhou rapidamente de volta para a porta que levava ao interior do hospital.
se ofereceu para dirigir novamente, para que eu pudesse ligar para as meninas e contá-las todas as novidades. Durante a ligação, depois de contar tudo para as meninas e deixá-las mais calmas, descobri que Márcia, a cozinheira fixa do orfanato, havia ido dar uma força para manter o local e as crianças em ordem e havia chego pouco depois que dona Margareth e Samantha saíram de ambulância para o hospital. Aquela notícia me deixava um pouco mais aliviada, pois eu confiava muito mais em um adulto tomando conta de tudo, do que nas meninas; por mais que fossem as mais velhas da casa, nem sempre elas eram as mais responsáveis.
Ao chegarmos em casa, percebi que e eu estávamos com fome novamente, afinal um salgado e um café não é uma refeição que sustente muito tempo. Então pedi dois lanches no delivery e cada um de nós foi para seu quarto, tomar um banho, enquanto esperávamos.
Eu estava na sala, assistindo Quântico, esperando o lanche chegar, quando desceu, de calça de moletom e camiseta, cabelo bagunçado e um papel pequeno em mãos.
- Eu acabei me esquecendo de te mostrar a foto da minha família – ele disse, assim que se sentou ao meu lado no sofá.
- É verdade – eu comentei, me lembrando que eu havia pedido isso a ele semanas atrás e também me esquecera de lembra-lo. Ele me estendeu o pequeno papel e nele eu pude observar juntamente com um casal e outras duas meninas.
- Esse é meu pai, rei Albert II de Mônaco – ele falou, apontando para um homem meio careca, com um terno azul, gravata cinza e algumas medalhas fixadas do lado direito do terno que usava. – Essa é minha mãe, a rainha Charlene – agora ele apontara para uma mulher loira, extremamente elegante em seu vestido tubinho, com uma faixa vermelha e branca transpassada – essas são minhas irmãs, Caroline e Stephanie – por último, ele apontara para as duas meninas mais novas, que possuíam realmente algumas características físicas semelhantes às de . – Caroline é a mais inteligente e altruísta, Stephanie é a que mais me identifico, ela não gosta muito das câmeras e destaques, além de possuir pensamentos bem parecidos com os meus. Você se daria muito bem com elas – ele disse por fim, com um sorriso meio triste nos lábios.
- Você deve estar morrendo de saudade deles.
- Estou sim, mas também estou gostando de ficar aqui com você. Você está me ensinando muito, mesmo que não perceba – ele falava, me olhando nos olhos. Ai, aqueles olhos... eu poderia me perder naquele olhar, facilmente – Eu sentirei sua falta quando tudo isso acabar e eu tiver que voltar, . – ele falou, ainda sem tirar os olhos de mim e eu senti meu coração se aquecer um pouco.
- Eu sentirei saudades suas também, – falei, sentido minhas bochechas corarem um pouco. - Mas por que você fala que se identifica com Stephanie, no sentido de não gostar muito das câmeras e destaques? Achei que isso já era algo quase que intrínseco para alguém da realeza, ainda mais para um príncipe herdeiro.
- E é quase mesmo – ele comentou, rindo de leve, desviando seu olhar do meu para o tapete da sala. – Mas as vezes eu não queria ser, entende? Eu sou obrigado a conviver com a mídia pelo simples fato de ser o herdeiro. Porém, às vezes, acabo pensando em como seria se eu não fosse. Certamente eu iria preferir uma vida como essa, sem holofotes e compromisso reais, podendo ser eu mesmo, o garoto desajeitado, que não sabe nem arrumar o próprio cabelo direito, mas que curte lutas e ler romances clássicos – ele riu e eu tive que acompanhar.
- Não se esqueça do fato de você não ter jeito nenhum para flertes e paquera – eu comentei rindo, fazendo voltar a olhar para mim.
- Como assim? – ele parecia realmente confuso e na mesma hora eu entendi.
- Ai meu Deus! Todo esse seu ‘treinamento’ para príncipe não incluiu conhecimentos sobre isso? Quer dizer, você não consegue perceber quando alguém está dando em cima de você? – eu perguntava chocada e apenas me olhava ainda mais confuso – Meu Deus, ! Isso explica muita coisa!
- O que quer dizer, ?
- Quero dizer, , que você chama atenção das meninas, não por ser um príncipe, mas por.... hum... ser bonito.
- Você me acha bonito?
- Acho – comentei rapidamente, me arrependendo logo depois, ao sentir minhas bochechas corarem e o olhar de sobre mim se intensificar. – A questão é que, eu achava estranho você parecer não se importar com as meninas comentando sobre você, como aquele dia na aula de Direito Internacional, mas agora faz sentido. Você estudou tanto política, leis, guerras, estratégias e línguas e se esqueceu do básico, que é, por exemplo, saber quando alguém está a fim de você.
- A fim de mim? – a confusão voltou ao olhar de e, por um momento, eu desejei não ter iniciado esse tipo de conversa.
- Sim, tipo, gostando de você.
- E você está ‘a fim de mim’, ? – ele perguntou, me encarando mais intensamente e eu juro que senti meu cérebro quase dar pane, meus pulmões pararem de respirar um instante e meu coração dar um salto no meu peito.
Graças a Deus, fui salva de ter que responder pela buzina da moto do entregador e corri até a porta, abrindo-a logo em seguida. Paguei o entregador e peguei os dois sacos de papel com os dois lanches, logo voltando a fechar a porta e trancá-la. estava ainda no sofá, olhando tudo por cima do encosto do mesmo.
- O que é isso? Comida japonesa? – ele perguntou, apontando com a cabeça para os sacos em minha mão.
- Lanche – comentei simplesmente e lá estava de volta o olhar confuso de , me encarando – Hambúrguer? – tentei, sem muita mudança na expressão – Cheeseburguer? – tentei novamente, percebendo que finalmente entendera o que era, já que sua expressão pareceu se iluminar.
- Ah, McDonald’s! – ele falou, e senti como se uma luz tivesse se ascendido acima da cabeça dele.
- Você só conhece Mc Donald’s? – perguntei, depositando os sacos de papel acima da mesa da cozinha e indo em direção à geladeira pegar o refrigerante.
- Conheço o Buguer King também, como te disse outro dia, e pizza – ele comentou, se levantando do sofá e vindo em direção à cozinha. – A senhora Dots, em algumas ocasiões raras, deixa com que Stephanie e eu comamos. – ele falou, enquanto abria o armário para pegar dois copos.
- Não acredito que você nunca comeu um lanche sem ser esses industrializados. – falei, me lembrando da vez que tivera essa mesma conversa com , colocando o refrigerante sobre a mesa e pegando o guardanapo no armário.
- A dieta da realeza é diferenciada e rígida – ele comentou, colocando os copos na mesa e se sentando. – Essas coisas mesmo, fomos comer pouco tempo atrás, depois de Stephanie pedir muito à senhora Dots para comer o lanche que havia visto num outdoor. – finalizou e eu só conseguia pensar “como alguém podia viver anos sem comer um lanche de fast food?”
- Não sei se você vai gostar, eu acabei pedindo um lanche igual ao meu, já que você já tinha ido para seu quarto tomar banho. – comentei, lhe entregando um dos lanches.
- Eu aposto que vou – ele falou, desenrolando o lanche do papel e começando a comer. Eu estava concentrada em retirar o meu lanche e os sachês de molhos do saco, então acabei nem percebendo que não estava segurando corretamente seu lanche. Por isso, acabei me assustando ao ouvir um barulho de leve e olhar, ao para o lado, ver o lanche todo de caído sobre o papel, provocando uma pequena bagunça. Meu primeiro instinto foi rir, pois o que restara do lanche nas mãos dele fora somente os pães; todo o resto havia caído sobre o papel e virara uma pequena lambança. Meu riso foi logo acompanhado pelo dele, depois de para de encarar, com uma expressão um pouco triste, os pães em sua mão.
- Eu esqueci de te falar para não tirar do papel – eu comentei, ainda rindo – Desculpa.
- Eu acho que não levo muito jeito pra coisa – ele falou em meio aos risos.
- Que nada, acontece – eu falei, finalmente conseguindo parar de rir. – Olha, pega o meu – falei, lhe estendendo o lanche que estava em minhas mãos, ainda embrulhado, e pegando o papel com o ex lanche dele e os pães – Eu ‘conserto’ esse e como.
- Não sei o que seria de mim sem você, – ele comentou, dando uma mordida em seu lanche finalmente intacto, depois de eu dar a ele um rápido tutorial de como fazer para comer o lanche sem mais acidentes.
Consegui remontar rapidamente o lanche que era de e logo estávamos os dois comendo, com as vezes falando coisas como “Isso é muito bom”” e olhando para o lanche com os olhos brilhando. Momentos como esses, me faziam desejar que ele nunca fosse embora. Ter aquele garoto comigo me fazia um bem enorme, não só pelo fato de não me sentir mais tão sozinha, mas também pela alegria que eu podia perceber em seus olhos com momentos tão simples.
Depois que comemos, me perguntou o que eu estava assistindo antes, quando ele chegara à sala, e eu lhe expliquei, fazendo com que logo fossemos para o sofá novamente, para voltarmos a assistir a série.
Já devia ser quase de madrugada, pois já tínhamos visto uns 4 episódios. Eu estava tentando achar uma posição nova no sofá, para que me sentisse mais confortável, quando falou:
- Quer encostar no meu ombro? – eu ia responder que não, quando ele logo emendou – Eu sei que você não baba, porque você já dormiu encostada nele no hospital, então acho que isso reduz as cerimônias – ele disse, me olhando com um sorriso maroto nos lábios. Sem mais desculpas, eu aceitei de bom grado o ombro dele, encostando minha cabeça ali e subindo minhas pernas, para que ficassem dobradas sobre o sofá.
- Eu gosto de séries de investigação, porém prefiro as históricas, ainda mais se forem de realeza. Gosto de ver como as pessoas retratam a realeza e de ter ao menos uma noção de como eram os reinados anos atrás, noção essa que não venha somente dos livros.
- Eu tenho Reing, se preferir ver – comentei, erguendo meu olhar para e ele fez um sinal com a cabeça, como quem fala sim, então peguei o controle e mudei de pasta, para que uma cena entre a Rainha Mary e o Rei Francis logo surgisse na tela da TV, devido a eu ter parado o episódio durante seu decorrer. Eu sabia aquela cena de cor, já a havia visto milhares de vezes. Era a cena da dança entre os dois, ao som instrumental de Stay With Me. Uma dança que não deveria ter ocorrido, devido ao fato de Francis já estar doente, mas que ocorrera a pedido das pessoas presentes no salão e pelo fato de Francis querer poder proporcionar o máximo de alegria e momentos felizes e marcantes a Mary. Era início da cena, então a dança dos dois, propriamente dita, ainda não começara, devido a ambos ainda não terem aparecido no salão.
- Você não parece o tipo de pessoa que curte séries históricas de realeza, ainda mais românticas.
- Não muitas, acho que essa é uma das únicas – comentei sem erguer meu olhar para , fixando meus olhos em Mary e Francis que estavam prestes a começar a dançar. Senti um movimento de , como se ele quisesse levantar, e me desencostei dele. Segundos depois estava de pé à minha, com uma das mãos nas costas e outra estendida, pedindo a minha, um perfeito príncipe.
- Eu não – comecei a dizer, quando ele pegou a minha mãe a beijou. Ao som da música da cena, meu coração batia forte em meu peito, parecendo querer ser escutado por entre os violinos. Me deixei ser conduzida por até o meio da sala e logo estávamos girando pelo cômodo, no que eu julgara ser uma perfeita valsa. Nos rostos estavam a centímetros um do outro e eu me perdia no olhar de , sentido que ele também havia se perdido no meu. Um sorriso bobo insistia em se fixar no meu rosto e eu sentia como se respirar tivesse ficado mais difícil.
Em meio a nossa dança, tive um momento de clareza e percebi que aquilo não podia acontecer. Eu não podia me apaixonar pelo futuro rei de Mônaco, não quando ele tinha quase 21 e estava para ser coroado assim que voltasse ao país. Aquilo não era um filme em que ele desistiria de tudo para ficar comigo, era vida real.
Assim que os acordes da música da cena foram diminuindo de volume, minha mente parecia conseguir recobrar a consciência: - , eu – falei me desvencilhando dele e virando rapidamente, para sair dali e correr para o meu quarto. Porém, nem dei o primeiro passo quando me puxou pela mão, me fazendo olhar para ele novamente. No que me virei, ele me beijou.
Nunca senti nada que fosse tão especial quanto aquele beijo, o beijo mais incrível que já tive em toda minha vida. Seus lábios sobre os meus me traziam uma sensação única, como se tivessem sido moldados um para o outro e estivéssemos em uma realidade paralela, só nossa, onde nada mais existia e importava, apenas nós. Meu coração estava a mil, aquecido e agitado de uma forma que nunca sentira, e suas mãos em minha cintura me faziam não querer largá-lo nunca, então apenas pude levar meus braços ao seu pescoço, intensificando aquele beijo que já me parecia intenso demais.
Minha vontade era de que tudo ali, aquele momento e aquele beijo, pudesse ser guardado e congelado, ao mesmo tempo que tudo que eu mais desejava era poder correr e contar para todo mundo.
Fora ali, naquele momento, que eu percebi que estava apaixonada pelo meu príncipe desajeitado.
- Me perdoe, eu – tentou falar, depois que conseguimos nos separar um pouco, após o beijo, mas eu apenas o beijei de novo. Ele não tinha nada que se desculpar.
O segundo beijo durou menos do que eu queria, pois logo ouvimos um barulho de chaves e nos separamos, encarando a porta da sala ser aberta por meu pai.
- Ainda acordados? – ele perguntou surpreso, nos encarando logo depois de trancar a porta.
- Estávamos, hum, vendo TV – falei e olhei para , que apenas me olhava com um brilho nos olhos. – Está tudo bem? – perguntei, desviando meu olhar de para meu pai, de volta.
- Sim, eu trago boas notícias de Mônaco – me pai falou, olhando para , que finalmente o olhou, parecendo ter despertado de um transe.
- O que tem meu reino?
- Seus pais conseguiram resolver a situação com os democratas e você já pode voltar. Partimos amanhã – meu pai falou, colocando suas coisas na mesa próximo à porta e se dirigindo ao que deveria ser seu quarto.
Olhei para na mesma hora, recebendo um olhar de volta, o qual não consegui identificar qual sentimento carregava.
Naquele instante, poucos minutos depois do melhor beijo que já recebi na vida, senti meu castelo desmoronar, como se fosse um castelo de cartas derrubado por um sopro.
Capítulo 8
Deixar tudo para trás, para vir me esconder no desconhecido, nunca fora fácil. Eu senti medo de estragar tudo, por simplesmente não conseguir me acostumar, por dias. Me senti um patinho fora d’água em vários momentos: quando estranhava o clima, achando que iria fazer calor e o tempo esfriava, ou vice versa; quando não conseguia entender alguma coisa que falavam em português; quando simplesmente não me lembrava como falar algo, também em português; quando tinha aulas da faculdade sem ; quando eu ia para a academia treinar e muitas vezes era deixado de lado, pelo simples fato de alguns alunos me considerarem avançado demais para treinar com eles... foram inúmeros momentos em que eu desejei poder desistir de tudo e voltar para meu reino, para os braços de minha família, para meu amado povo. Porém, não o fiz, não o fiz porque sabia que o futuro da minha nação dependia de minha segurança, assim como o bem-estar da minha família.
Ainda é meio surreal pensar em tudo, pensar que um dia eu estava simplesmente mantendo minha rotina real, quando o palácio fora atacado e minha vida mudara da água pro vinho. Se não fosse por Naigel, eu não sei o que seria de mim. E não falo isso apenas pelo fato de que fora ele que me salvara no fatídico dia, mas também pois fora ele que tinha insistido com sua supervisora para que eu pudesse ficar em sua casa, já que ele era a única pessoa que eu conhecia e confiava. Mas Naigel também me ajudou com outra coisa, algo que para ele podia ser pouco, mas que para mim era muito: ele me ajudou me apresentando .
... como começar a falar dela? Como descrever o quanto ela me ensinara nesses três últimos meses e como ela havia se tornado uma pessoa indispensável em minha vida? Quando descobri que viria para o Brasil, sabia que teria um belo choque de realidade, não só pelo clima, idioma e pela população inúmeras vezes maior que a de Mônaco, mas também pela cultura; eu não sabia muita coisa sobre aqui. Claro que já havia escuto histórias sobre ‘o país do futebol e do samba’, mas sabia que o Brasil não era somente aquilo e havia me ajudado a perceber que realmente havia muito mais aqui do que eu sabia. Haviam problemas sociais, mas também muitas diferenças culturais entre os estados, assim como muita cultura, dialetos e culinária local. O que eu comia aqui, no estado de São Paulo, me dizia que era bem diferente do que se comia, por exemplo, na Bahia, e eu amava isso, amava o fato do Brasil ser um país tão grande e rico, em vários aspectos, não somente o monetário e biológico.
Com ao meu lado, meus dias eram melhores, passavam mais rápidos e me faziam desejar com que cada minuto pudesse passar mais devagar, para que cada momento pudesse durar mais. Nós tínhamos quase que uma rotina diária, que além de poucos compromissos, era repleta de risadas e momentos que eu levaria comigo para sempre. Logo pela manhã, eu acordava e me preparava para ir à academia, enquanto ainda dormia (ela gostava de estudar de madrugada, então geralmente acordava um pouco mais tarde que eu); depois do treino, eu voltava e iniciava um treino particular com , que era uma ótima aluna, por sinal; após o almoço, nós estudávamos ou relaxávamos no sofá, vendo TV ou ouvindo música; por último, íamos à faculdade. Esse último, no começo havia sido minha experiência de adaptação mais difícil, até porque eu passava algumas boas horas naquele local e a maioria delas sem , o que me fazia ficar com um medo enorme de acabar estragando tudo, por algo que eu falasse.
Acho que toda essa nossa rotina e momentos que tivemos, especialmente os embaraçosos, que a faziam rir de mim, acabaram me levando à situação que me encontro agora: apaixonado pela brasileira de sorriso fácil, coração doce e olhos tão lindos quanto o entardecer. Eu havia prometido a mim mesmo, havia feito quase um juramento, sem distrações. Mas era mais do isso, ela era... ela. E justamente por isso, eu percebi que, por ela, eu consideraria largar tudo, para podermos viajar pelo mundo juntos e conhecermos todos -e mais alguns- os lugares que ela conhecia apenas pelas fotos na parede do quarto dela.
Ontem a noite, depois de dias convivendo com ela e percebendo o quanto ela era incrível, acabei não resistindo e a beijei. Ainda que eu não tenha muita experiência e parâmetros de comparação para isso, posso dizer que, sem dúvidas, foi o melhor beijo de minha vida. Afinal, era um beijo com ela, com a brasileira que deixava meus dias mais felizes e que parecia gostar de mim também. Se fosse possível eternizar momentos, eu eternizaria aquele, sem sombra de dúvidas.
Porém, como um lobo dilacera um cervo ao se alimentar, meu coração fora dilacerado instantes depois, pela notícia que saía pela boca de Naigel: Seus pais conseguiram resolver a situação com os democratas e você já pode voltar. Partimos amanhã. Seria possível que o destino fosse tão cruel comigo? Quando finalmente consigo tomar coragem para agir, diante da moça que roubou meu coração, minha felicidade precisa ser posta de lado pelo meu dever. Nunca considerei esta coroa que carrego tão indesejada quanto agora.
Eu havia saído cedo da casa de Naigel para vir ao centro, precisava comprar algo especial. Eu ia embora em poucas horas e sentia que precisava me despedir apropriadamente de uma pessoa. Ela precisava saber que eu me lembraria dela e esperava que ela pudesse se lembrar de mim também, com carinho. Nem que para isso, eu precisasse entrar em todas as lojas desse lugar.
Passei em frente a uma pequena loja de esquina, de paredes e toldo roxo e vitrines com vários anéis, relógio, pulseiras e acessórios expostos. Eu já havia entrado em inúmeros estabelecimentos e estava quase desistindo da minha ideia de presente, quando passei pela loja. Minha intuição me dizia para entrar e eu apenas obedeci.
- Acho que temos exatamente o que procura – a atendente me disse, depois de eu descrever o que procurava e antes de sair rapidamente do meu campo de visão e voltar com um mostruário. Olhei para o objeto que ela me mostrava e sorri. Ela tinha razão, era exatamente aquilo que eu procurava.
- Vou levar – disse animado, recebendo um sorriso da mulher como resposta.
- Vou embrulhar para presente. Ela vai amar. - Saí da loja com a sacola roxa de presente em mãos e meu peito com uma sensação boa. Esperava que realmente gostasse do presente e se lembrasse de mim sempre que o observasse.
Quando cheguei à casa de Naigel, ele já não mais estava, devia ter ido resolver algo do trabalho. estava no quarto, diante de um exemplar do Código de Processo Civil, com uma xícara de café ao lado.
- ? – chamei do batente da porta, fazendo com que ela virasse pra mim com uma expressão surpresa.
- Oi, entra – ela respondeu, fazendo sinal com a mão para que eu entrasse e eu obedeci.
- Eu... te comprei algo – falei meio sem jeito, estendendo a sacola em sua direção. Depois que Naigel chegou ontem e nos deu a notícia, e eu não tocamos mais no assunto do beijo; na verdade, não tocamos mais em assunto nenhum, pois acabamos indo cada um para seu quarto, com pensamentos e sentimentos demais para colocar em ordem. Como eu havia saído cedo para procurar o presente, era a primeira vez que eu a via depois de tudo, e possivelmente a última antes de partir.
- Ah! Não precisava! – ela pegou a sacola em minha mão e começou a abrir o pacote. – É lindo! – disse com um sorriso no rosto, me encarando com os olhos brilhando, assim que abriu a pequena caixa.
- Eu queria te dar algo para que se lembrasse de mim, então te comprei esse colar, para que quando você olhá-lo, durante uma das suas inúmeras viagens pelo mundo – ela riu de leve - saiba sempre sua direção, e saiba que eu gostaria de estar com você ali. Eu sei que a bússola desse colar é falsa, mas é que eu gostaria de sempre ser o seu Norte, assim como você é o meu; onde você está é sempre para onde eu quero ir. – assim que terminei de falar, senti todas as minhas forças se esvaírem, graças aos esforços para conseguir falar tudo sem desistir.
- Você sempre será meu Norte – falou baixo, como se fosse um segredo a ser compartilhado apenas entre nós dois, antes de me estender o colar e virar de costas, erguendo os cabelos. Entendi o sinal e logo estava colocando o pequeno colar de prata, com pingente de bússola em seu pescoço. Assim que sentiu o leve peso do colar em sua nuca, soltou os cabelos e se virou, me encarando com os olhos levemente marejados, e eu a beijei, de novo.
Aquele beijo era estranho e eu sabia porquê. Era o beijo que nós sabíamos que tinha que ser dado, o beijo de despedida, o beijo que partiria ainda mais meu coração, assim que acabasse.
- Eu preciso ir... – falei baixinho, ainda mantendo a sensação de estarmos compartilhando segredos um com o outro.
- Eu sei – ela respondeu tão baixo que parecera quase um sopro.
- Mas saiba que o que eu mais queria era ficar – falei, passando meu dedo na área abaixo de seus olhos para secar uma lágrima solitária que começara a escorrer. me abraçou forte, antes de se virar de volta para a mesa onde estava sentada minutos atrás estudando, e eu entendi que aquela tinha sido sua despedida.
Capítulo 9
A luz que passava pela cortina da janela do meu quarto e chegava aos meus olhos era fraca, mas fora o suficiente para me fazer acordar, depois de poucas horas dormidas. Minha cabeça latejava, meu corpo parecia estar sem forças e minha garganta tinha um bolo que parecia que nunca iria embora. A verdade era que, por mais que me doesse admitir: eu havia me apegado tanto a Luke, ou melhor, ao príncipe Philip, que não conseguia suportar o fato de que ele havia partido. Ele trouxe alegria aos meus dias, juntamente com aquele sorriso que me fazia querer sorrir junto e com aquele toc adorável de passar a mão na nuca, sempre que se sentia desconfortável. De um simples hóspede sob os cuidados de meu pai, ele se tornara o garoto que conquistara meu coração.
Eu havia tentado ser forte, eu juro. Diante dele eu segurei as lágrimas o máximo que podia, me despedindo rapidamente, enquanto sentia todo meu corpo protestar. Se eu pudesse, largaria tudo e correria atrás dele, igual em inúmeras cenas de filmes com finais felizes, porém, eu sabia que não era certo. O que nós vivemos, nesses três últimos meses, fora algo que eu me lembraria para sempre, com carinho, mas que eu deveria saber que havia um prazo de validade. Agora, me restara aceitar isso com minha mente e meu coração.
Enquanto eu lutava para me levantar da cama e tentar voltar aos estudos, afinal eu estava em final de semestre e tinha as últimas provas finais para fazer, imagens de nossos momentos juntos começavam a vir em minha mente, me fazendo perder a pouca vontade de levantar que havia conseguido reunir. O dia em que chegou, todo lindo, fofo e simpático; o dia no orfanato, com ele brincando com os meninos com um sorriso no rosto; ele correndo até mim no primeiro dia dele na faculdade; o episódio da coxinha, com ele ainda mais fofo; com o rosto todo sujo de ketchup; ele citando Romeu e Julieta em francês... foram esses momentos, e mais inúmeros outros, que me fizeram me apaixonar por ele, eu tenho certeza.
Ontem a noite, depois que eu ficara sozinha novamente em meu quarto, me peguei olhando o pingente do colar que eu tinha ganho, além de algumas fotos nossas que eu tinha no celular. Nunca agradeci tanto ao universo por ter aquilo tudo para me lembrar dele, um colar que eu usaria pelo resto de minha vida, e algumas fotos que eu poderia revelar e levar comigo para onde fosse. Meu pai havia tentado conversar comigo, depois que voltara para casa e percebera meu estado, pouco antes de sair para levar Luke de voltar para seu país, mas eu não queria conversar com ele, não sobre aquilo; não era o tipo de coisa que eu gostaria de falar com meu pai, ainda que pudéssemos conversar sobre tudo. Então, eu apenas coloquei um filme triste para passar na TV do meu quarto e me permiti chorar a vontade, quando vi meu pai e Lucas atravessarem a porta da sala, com algumas malas e bolsas em mãos.
Quando eu já estava prestes a voltar a dormir, depois de tentar inúmeras vezes sair da cama e desistir, meu celular tocou. Eu não queria falar com ninguém, mas acabei procurando o aparelho pela cama, encontrando-o sob meu travesseiro. O nome de Marisa aparecia na tela e por alguns segundos pensei em ignorar a chamada, mas acabei atendendo:
- Ai, minha amiga, eu sinto muito. Seu pai me ligou e me contou tudo, eu te trouxe chocolate, lenços e um ombro amigo – ela falava com uma voz que parecia meio triste e eu quase voltei a chorar – Abre aqui, vai, me deixa te ajudar a sair da bad – encerrei a ligação e me forcei a levantar, arrastando meu corpo até a porta da sala, permitindo que Marisa entrasse e logo me oferecesse um abraço forte. Em seus braços, acabei não resistindo e voltei a chorar, o que fez com que ela me apertasse mais em seus braços e começasse a afagar meus cabelos.
- Toda vez que eu fecho os olhos, ele me vem à cabeça, Mah – falei em meio às lágrimas e pude ouvir Marisa suspirar.
- Você está apaixonada, Mel, está em uma paixão que finalmente descobriu que foi correspondida e que teve que acabar tão rápido quanto começou. Mas você tem que seguir em frente, tem que levar esse sentimento com você como força para seguir em frente.
- E se eu não conseguir, Mah?
- Não é o fim do mundo, Mel, é uma paixão, você vai conseguir. Agora pode parecer que ele levou metade do seu coração com ele na mala, mas logo você supera. Tem que superar por ele, porque ele não iria te querer triste. Arrisco até a dizer que ele que ele nunca teria te deixado aqui se soubesse que ficaria tão mal quanto ele deve estar agora. Mas você sabe, assim como eu, que era o dever dele voltar e que ele é mais leal ao dever e ao povo dele do que qualquer outra coisa.
- Sim – foi tudo que eu consegui falar, com a voz quase como um suspiro, quando finalmente me soltei de Mah. Fui indo de volta até a sala, com ela em meu encalço, e me sentando no sofá.
- Eu gostei desse seu novo colar aí... – ela comentou marota, me fazendo rir de leve.
- Ele que me deu, disse “eu gostaria de sempre ser o seu Norte, assim como você é o meu; onde você está é sempre para onde eu quero ir” - falei, repetindo exatamente o que Lucas me dissera na noite do dia anterior e Marisa suspirou.
- Ai, minha Nossa Senhora do OTP! Será que é muito tarde para ir atrás dele e ameaçá-lo ficar? – Marisa comentou, finalmente me fazendo rir um pouco – Ele é um fofo – disse, antes cruzar as pernas sobre o sofá e agarrar uma das almofadas, me olhando com olhinhos brilhantes logo em seguida.
- EU SEI! – falei, compartilhando de seu sofrimento e imitando seu gesto, cruzando minhas pernas e agarrando, também, uma almofada do sofá.
- E o que vai fazer agora? Digo, além de terminar o semestre e se afogar em chocolates pensando nele.
- Não sei – falei, suspirando derrotada, recebendo um insight logo em seguida – Mentira, eu sei sim! – foi tudo o que falei, antes de largar às pressas a almofada e correr para o meu quarto, com Marisa vindo atrás poucos segundos depois. Eu sabia muito bem o que tinha que fazer...
- Ham... sobre as fotos... – Luke falava, passando levemente mão sobre a nuca – achei a ideia incrível! Mas precisa me prometer que não ficará apenas na sua parede, que você realizar seu sonho de conhecer esses lugares um dia. Me promete? O mundo é belo demais para ser admirado apenas pela parede do quarto e você precisa fazer isso por mim, já que eu não posso me dar ao luxo de ficar viajando, sem que seja para algum compromisso real.
- Eu prometo – eu falava, sorrindo, fazendo com que ele sorrisse junto.
Me recordava perfeitamente daquele dia e momento, ainda mais agora, que estava parada exatamente onde ele acontecera, encarando, mais uma vez, as fotos em minha parede. Meu coração parecia ter recebido um choque, passando de pesado e tristonho a tão alegre que parecia dar saltos. Sim, eu sabia exatamente o que fazer.
- Vou viajar – falei firme, ainda olhando para a parede à minha frente e imaginei que Marisa estivesse achando que eu tinha enlouquecido.
- Quê? – foi tudo que ela falou, antes de surgir na minha frente, me encarando com uma expressão preocupada – Pelo amor de Deus, não me diga que vai fazer igual filme e ir atrás dele em Mônaco, pedir para casarem e terem filhos – ela falou rápido, levemente nervosa, me fazendo rir.
- Não, claro que não – comentei em meio ao riso e pude vê-la suspirar aliviada. – Eu vou viajar pelo mundo, conhecer esses países e lugares que só conheço por foto.
- Pensando bem, você ir atrás dele na França não me parece mais tão má ideia...
- Idiota – deu-lhe um leve tapa no ombro e ela riu de leve. – Eu prometi a Lucas, entende? Prometi que meus sonhos de conhecer todos esses lugares não ficariam apenas no papel. Eu, meio que, preciso disso.
- Sim, amiga – ela falou, saindo da minha frente e parando ao meu lado, começando a observar minha parede junto comigo – Mas só depois das provas finais, hein? Nada de bombar a faculdade por paixonite – ela comentou séria, como se agora fosse minha mãe.
- Pode deixar, mãe – brinquei, a olhando por cima do ombro, fazendo com que ela desse uma risada leve.
Marisa ficou mais algumas horas comigo, até se certificar de que eu estava melhor, e depois fora embora; ela precisava estudar tanto quando eu. Com o plano de finalmente utilizar o passaporte que eu tirei anos atrás, minha mente e coração pareceram ficar mais leves em relação aos meus sentimentos por Luke. Marisa tinha razão, a minha paixonite em algum momento passaria, não era o fim do mundo. Conseguindo controlar um pouco mais a mim mesma, me forcei a voltar estudar para minhas provas finais. Eu precisava finalizá-las logo, para poder me planejar para minha pequena volta ao mundo.
Capítulo 10
Voltar para Mônaco depois de três meses fora é estranho. Claro que é reconfortante estar aqui, junto à minha família novamente. Mas uma parte de mim sente falta do Brasil, das comidas diferentes, do clima não muito definido, onde no mesmo dia parece acontecer as quatro estações do ano, dos costumes e do povo carismático.
Apesar de tudo parecer igual, sinto como se as coisas estivessem diferentes; talvez pelo fato de eu estar diferente. É inevitável negar que fui contagiado por algumas manias de lá, como falar ‘mano do céu', mas eu fui contagiado especialmente por uma garota de lá, uma que eu adoraria ter trazido para Mônaco junto comigo, mas que eu sabia que ela nunca aceitaria.
Naigel e eu chegamos em Mônaco pela manhã, encontrando um castelo agitado e duas irmãs ansiosas pela minha chegada esperando no portão de acesso exclusivo aos veículos oficiais do castelo.
- Eu senti tanto a sua falta! A senhora Dots até se ofereceu para me comprar um McDonald's, mas não seria a mesma coisa comer sem você. Você precisa me contar tudo o que aconteceu por lá! Conheceu alguém especial? Comeu muitas comidas diferentes? Como são os costumes e as pessoas por lá? Verdade que eles são a terra do samba, do futebol e do churrasco? - Stephanie disparou a falar, após me ver sair do carro e correr em minha direção, me dando um abraço apertado.
- Isso aqui está uma loucura hoje, sua coroação será em poucas horas, então acho que você deve imaginar o porquê da correria toda e de só nós estarmos aqui para lhe receber - Caroline falava, após me abraçar.
- Nossa, sua coroação vai ser o evento da década, mamãe e papai pediram até concerto da orquestra de Mônaco! Além do seu discurso na Galeria Hércules para todo o povo de Mônaco, o seu baile vai ser para mais de 600 pessoas! - Stephanie falava animada - Vai ser incrível!
- Sim, com certeza vai - foi tudo que eu consegui responder.
Eu sabia que esse momento chegaria, o momento em que eu receberia a pesada coroa em minha cabeça e uma nação toda em mãos, para governar. Porém, eu já tinha certeza que não era o que queria pra mim. Esse tempo no Brasil me fez conhecer muitas coisas, mas também perceber e entender muitas coisas sobre mim mesmo; eu já aceitava que meu destino não era o trono e questionava se a monarquia era realmente tudo aquilo que me ensinaram durante toda a minha vida.
Caminhei entre minhas irmãs em direção ao interior do castelo. Naigel protegia nossa retaguarda, enquanto dois agentes de segurança iam à nossa frente. À medida que caminhávamos em direção aos nossos aposentos reais, eu contava para elas tudo sobre minha experiência no Brasil, fazendo algumas pausas para cumprimentar alguns de nossos criados, assim que passavam por nós.
- Altezas, que bom que os encontrei! - senhora Dots falou empolgada, assim que encontramos com ela ao fim de um dos corredores do castelo. - A coroação será em poucas horas e isso aqui está uma loucura, mandei criados lhes preparem um banho, bem como suas vestimentas para o evento. Devem se dirigir aos vossos quartos imediatamente! - ela falava apressada, enquanto observava algo na pasta que carregava.
- Sim, senhora Dots - respondemos quase que em coro e nos despedimos da senhora, voltando a percorrer nosso caminho rumo aos nossos aposentos.
Me separei primeiro de Stephanie, que deveria ser a irmã mais interessada em meu relato, para depois me separar de Caroline e, finalmente, chegar à porta do meu quarto. Dois criados abriram a porta ao notarem minha presença e assim que entrei no cômodo, fui atingido por uma série de lembranças vividas pouco tempo atrás, em um outro cômodo bem diferente daquele, alguns milhares de quilômetros distante.
Respirei fundo, me obrigando a deixar aquelas lembranças de lado, pelo menos por hora, e passei meu olhar pelo quarto todo. Um busto de um manequim com as minhas medidas estava vestido com a parte de cima de um uniforme militar repleto de medalhas, insígnias e fios de ouro, além de um pequeno broche com a bandeira de Mônaco, enquanto que a calça do mesmo estava esticada sobre minha cama, juntamente com a pesada capa que eu deveria usar por sobre a vestimenta. Um criado estava parado ao lado da cama, pronto para me ajudar a me trocar, caso necessário, porém meu corpo ansiava por um banho, então eu apenas me dirigi ao banheiro, onde outro criado me aguardava.
Depois do banho, bem revigorante, descobri que faltava pouco mais de 1 hora para a coroação, o que me fez desistir de qualquer ideia que tive de ir ao Roseraie Princesse Grace. Ainda que um pouco contrariado, deixei que meus criados me vestissem para a cerimônia, faltando somente a capa para ser colocada pouco antes de irmos.
Assim que os criados terminaram, pude observar meu reflexo no espelho. Alto, imponente, como um príncipe deve ser, graças ao traje comemorativo, porém, bem longe da imagem que eu estava acostumado. O pequeno topete, que eu custara um pouco a aprender como deixar no lugar, já não mais existia, dando lugar ao meu antigo penteado com uma espécie de franja lateral bagunçada. O traje azul marinho também não ressaltava tanto minha pele levemente avermelhada, obtida graças ao sol escaldante do Brasil e minha total falta de noção da necessidade de aplicar e reaplicar o protetor solar. Era como se meu reflexo ainda fosse de um príncipe, o Príncipe Philip de Mônaco, enquanto meu interior tivesse assumido permanentemente a identidade de Lucas.
Sou acordado de meu pequeno devaneio por pequenas batidas na porta e por ela logo sendo aberta por um de meus guardas.
- Faltam 25 minutos, alteza, precisamos ir. - o guarda fala, parado do lado de fora do quarto, e eu apenas concordo com a cabeça, indo de encontro a um dos meus criados que já está com a capa que deverei usar na coração em mãos.
O trajeto até a Catedral de São Nicolau é curto, feito em menos de 3 minutos de carro, mas dessa vez precisarei fazê-lo de carruagem e em meio a uma Mônaco de ruas lotadas e população eufórica, por isso a necessidade de sairmos agora.
Assim que a capa é depositada sobre meus ombros, estranho um pouco o peso. Ela é feita de um pano vermelho grosso, bordada a mão com fios de ouro e toda sua volta tem um pano que imita uma espécie de espuma branca, a mesma que há na minha coroa cerimonial, para evitar que o peso da mesma não machuque minha cabeça. Logo após o criado abotoar a capa em meu pescoço, me permito uma última olhada no espelho e respiro fundo, saindo do quarto em seguida. Todos no corredor param suas atividades ao me verem passar e ficam apenas me observando. Há bem menos pessoas do que quando cheguei, entretanto, não deixa de ser menos aterrorizante. Engulo em seco diversas horas, tentando disfarçar meu nervosismo, mas logo avisto quatro imagens familiares e tudo parece melhorar; meus pais e irmãs estão parados a poucos passos de mim, me esperando. Minha mãe abre um sorriso ao me ver, elegante em seu vestido azul marinho, transpassado por uma faixa branca e vermelha. Ela me abraça apertado, assim que me aproximo o suficiente, e deposita um beijo em minha bochecha.
- Sentimos tanto a sua falta! - ela fala assim que me solta, me observando de cima a baixo com olhos gentis e afagando meus ombros.
Meu pai é mais contido, apenas me dá um aceno com a cabeça e um leve sorriso. Ele precisa manter a pose de rei, ainda que seu terno preto, quase tão cheio de medalhas e insígnias quanto o meu, e coroa já o façam.
Stephanie e Caroline me oferecem sorrisos mais abertos, parecendo levemente incomodadas pelos vestidos que usam. Se eu pudesse arriscar uma aposta, seria que Stephanie não vê a hora de tirá-lo.
- Até que você não fica malvestido de rei. - Caroline brincou e nós três rimos de leve.
- Podemos ir? - meu pai perguntou e nós quatro concordamos, enquanto minha mãe passava uma de suas mãos pelo braço dobrado de meu pai, e logo todos íamos em direção a uma das saídas do palácio.
Apesar de estarmos saindo juntos, eu iria para a igreja sozinho, meus pais iriam em um carro e minhas irmãs de outro. Porém, a nossa saída conjunta do palácio era para que o povo, que se amontoava no pátio externo, pudesse nos ver e nós pudéssemos saudá-los.
Assim que atravessamos as grandes portas do palácio, a multidão começou a gritar e alguns cliques de máquinas fotográficas puderam ser ouvidos. Paramos brevemente para acenar, todos sorrindo, tanto para o povo quanto para os fotógrafos, e logo continuamos a caminhar em direção aos nossos veículos.
Ao me separar de minha família e subir na carruagem, o nervosismo de antes voltou a se apoderar de mim. O veículo antigo, folheado a ouro, deslizava lentamente pelas poucas ruas de Mônaco, enquanto eu tentava acenar e sorrir para meu povo, tentando focar em qualquer outra coisa que não fosse que meu pequeno desespero interior. O medo de falhar acho que nunca foi tão grande.
Alguns minutos depois, chegamos à Catedral de São Nicolau. Minha família já havia chego e entrado, para aguardar o início da cerimônia juntamente com as famílias reais de outros países, o clero e alguns grandes chefes de Estado e políticos.
Precisei novamente de auxílio para sair da carruagem e logo eu já estava parado à porta principal da grande igreja. Respirei fundo, enquanto ouvia o órgão de quatro teclados que nela havia começar a tocar e as portas se abrirem, logo começando a adentrar o local, ao som de uma música em latim cantada pelo coral.
A Catedral era a maior igreja de Mônaco, toda decorada em pedra branca e com elegantes retábulos. Ela havia sido palco do casamento de minha avó, a atriz Grace Kelly, e é carregada de histórias, sendo palco de inícios e términos de reinados, uma vez que é onde realizamos as cerimônias de coroação e o velório e sepultamento de toda a família real. No dia de hoje, ela parecia estar mais cheia que o normal, como se fosse possível, e a distância entre a porta e o altar parecia ter se triplicado, o que só aumentava a sensação de bolo em minha garganta, enquanto eu caminhava por entre aqueles bancos repletos de olhares a mim dirigidos.
Quando finalmente cheguei à base do altar, ajoelhei-me diante do arcebispo de Mônaco, inclinando minha cabeça e realizando uma pequena oração. Assim que terminei, apenas levantei minha cabeça e o arcebispo deu início à cerimônia:
- Estamos aqui hoje, neste dia glorioso, para celebrar a instituição de um novo monarca, de uma nova era para Mônaco. - ele falava, em francês, alternando seu olhar entre mim e o povo ali reunido. - Príncipe Philip, vossa alteza jura honrar e ser fiel ao povo, à justiça, às leis e à Igreja? - o arcebispo perguntou, segurando à minha frente uma grande e pesada bíblia.
- Eu juro. - respondi, com a minha mão sobre o livro, o encarando. Assim que o fiz, um dos ajudantes da celebração, pegou a bíblia com o arcebispo e lhe entregou um pequeno frasco com um óleo. Me recordando de todos os intermináveis ensaios, estendi minhas mãos, com as palmas viradas para cima, em direção ao celebrante e fechei meus olhos. Segundos depois, senti um sinal da cruz ser feito com óleo em cada uma de minhas mãos e testa.
Abri novamente meus olhos e pude ver as joias da coroa serem apresentadas ao arcebispo em duas almofadas vermelhas, sendo carregadas por minhas irmãs. Caroline trazia uma espada de ouro, cravejada de diamantes na bainha, que o arcebispo pegou com as duas mãos e estendeu diante de todo o povo, enquanto falava algumas palavras em latim, logo devolvendo a mesma ao seu lugar de origem. Stephanie trazia o orbe, banhado a ouro e também repleto de diamantes e pedras preciosas, e o cetro com a cruz na ponta, que me foram entregues um a um, também enquanto o arcebispo proferia mais algumas palavras em latim.
Minhas irmãs se retiram e logo surge meu pai. Ele para ao lado do arcebispo e retira a coroa cerimonial de sua cabeça, entregando-a ao celebrante. Observo aquele gesto atentamente, respirando fundo e tremendo um pouco. O arcebispo ergue a coroa sobre minha cabeça, enquanto eu paro de encará-la, pensando em tudo que ela representa, e abaixo minha cabeça. O peso do objeto sobre minha cabeça, assim que o arcebispo a coloca, faz meu corpo arrepiar. O arcebispo de Mônaco, em um de seus últimos atos naquela cerimônia, traça um sinal da cruz sobre mim, enquanto eu respiro fundo mais uma vez, e me viro para a multidão ali presente, tentando me manter o mais ereto e firme possível.
- Sua majestade, Rei Philip de Mônaco! - o arcebispo quase grita, às minhas costas.
- Vive le roi! - a multidão responde em coro, dando por encerrada a cerimônia.
- Tem certeza disso, majestade? Seu pai não vai gostar nada, quando souber. - Naigel falava, receoso, encarando o papel que eu estava prestes a assinar.
- Eu não vou contar para ele. Você vai, Naigel? - brinquei e ele apenas fico quieto. Eu havia tomado uma decisão, uma decisão meio drástica, mas que eu tinha certeza que seria para o bem de Mônaco. Não era a hora de voltar atrás. Pensando nisso, eu assino o papel.
Capítulo 11
Alguns dias se passaram desde que voltou para Mônaco. Minha rotina nestes últimos dias fora um tanto quanto conturbada. Eu dividia meu tempo entre estudos, provas, visitas a Samantha no hospital, revezamento de acompanhante dela com a dona Margareth, conversas com e com meu pai, por Skype, além, claro, do meu planejamento pré viagem. É impressão minha ou foi muita coisa? Graças a tudo isso, eu não tive mais tanto tempo para pensar no príncipe, nem para perguntar nada sobre ele para meu pai, para não ter nenhum tipo de gatilho. Eu estava focada em mim.
Assim que terminei a última prova final daquele semestre, me levantei da cadeira com o peito estufado e um sorriso triunfante. Entregar aquela prova era quase como receber minha carta de alforria para poder finalmente ter o meu mês de autodescobrimento. Acho que esqueci de mencionar que meu pai não gostou muito da ideia de ter a filha perambulando sozinha pelo mundo, é claro, o que o fez ter que pensar por alguns dias sobre se eu poderia ir ou não, mas eu já tinha 20 anos, tinha dinheiro guardado que sobrara da minha mesada todo mês e sabia como me virar. Além de que, claro, eu ligaria para ele a cada dois dias, para informá-lo que ainda estava viva, conforme combinado. Eu estava realmente animada para poder visitar os lugares que eu tanto admirei e visitei pelo Google View Street, então, sempre que podia e tinha tempo livre, eu pesquisava alguns hostels e Airbnb’s, por vezes efetuando algumas reservas, e aos poucos ia completando meu roteiro.
Esperei até que Samantha e o bebê saíssem do hospital, para que a noite de pizza pudesse finalmente acontecer no orfanato, conforme eu prometera. Fora difícil explicar para os meninos e, principalmente, para a Juju porque não estava comigo, mas eu consegui fazê-lo sem chorar e sem ficar triste, surpreendentemente. Naquele dia, recebi minha primeira festa de ‘despedida’.
Como eu contei para dona Margareth que passaria o mês viajando, para justificar meu futuro sumiço do orfanato, ela, juntamente com Márcia, organizou uma pequena festa pra mim. Não era nada muito chique, apenas um bolo de chocolate -o preferido da criançada-, cachorro quente e refrigerante, mas já fora o suficiente para me deixar morrendo de saudade deles. Fora um dia bem especial. Todos nos divertimos, até Michael, o bebê, que só tinha sorrisos no colo de Samantha, apesar de não provavelmente não entender o que estava acontecendo.
Depois daquele dia, veio em casa se despedir e acabamos passando a tarde toda juntas, já que era fim de semana. Do jeito que as coisas estavam, parecia que eu estava indo quase que para um intercâmbio de dois anos -ou mais- e não para uma, meio que, viagem de férias. Por sorte, meu pai não quis também ser adepto das longas despedidas e apenas me disse que viria se despedir de mim no aeroporto amanhã, já que ele estava em Mônaco todos esses dias, desde que fora levar embora.
No dia seguinte, acordei antes do despertador tocar, tamanha era minha ansiedade; se bem que, acho que nem dormi, para falar a verdade. Quase que saltitando, fui para o banheiro, tomar um banho e iniciar meus preparativos finais. Minha primeira parada seria Copenhague, na Dinamarca, então eu precisava me preparar para um voo de 15 horas e para estar no aeroporto internacional de Guarulhos com pelo menos 3 horas de antecedência. Pensando em reduzir a maior quantidade de contratempos, eu havia vindo ontem a tarde para a capital e dormido na casa de um tio que mora aqui. Graças a isso, eu tenho pouco mais de 5 horas para me arrumar e ir chegar no aeroporto, o que com certeza vai ser tempo suficiente.
Terminei de me arrumar e comer, ainda estava sobrando mais de 1 hora do meu tempo disponível para isso, então chequei se estava com tudo em ordem, peguei meu celular, mala e bolsa, agradeci e me despedi de meu tio e fiquei esperando pelo Uber que me levaria ao aeroporto no saguão do prédio. Graças ao meu tempo um pouco folgado, cheguei no aeroporto com mais de 3 horas de antecedência, então pude fazer o check in com calma e ficar apenas aguardando pelo meu voo.
Durante meu período de espera, mandei uma mensagem para e para meu pai, avisando que já estava no aeroporto e que estava tudo bem. Logo depois coloquei meus fones e fiquei ouvindo algumas músicas no celular, até receber uma resposta de meu pai:
Pai: Que bom. Acabei de pousar e já te encontro
Onde você está?
Eu: Próximo ao guichê da KLM Cityhopper
Como meu pai apenas visualizou a mensagem e não respondeu, entendi que ele estava ocupado. Eu estava indo bloquear meu celular para guardá-lo na bolsa, quando uma mensagem de chega:
: VOCÊ PRECISA VER ISSO
AGORA
Logo abaixo vinha um link, que eu abri no mesmo instante:
Poucos dias atrás o Rei Philip de Mônaco, filho do Rei Albert II e da Rainha Charlene, de 21 anos, se tornou o primeiro monarca na história a permanecer menos de 24 horas no trono.
Poucas horas depois de ser coroado rei, o príncipe herdeiro assinou um decreto dissolvendo a monarquia e instituindo a República de Mônaco. O decreto fora lido durante seu discurso na Galeria de Hércules e ainda há quem diga que a decisão do príncipe fora errônea e que Mônaco sofrerá duras perdas com isso.
As eleições que devem estar elegendo o primeiro presidente de Mônaco, e seus deputados e senadores, se encerraram há poucos minutos e o resultado deve ser divulgado amanhã.
Minha mente estava a mil, completamente em choque pelo que lera. Mas eu nem me dei tempo de processar nada, apenas cliquei no vídeo, onde aparecia em um traje tão majestoso e postura imponente, que era impossível para qualquer pessoa não se sentir levemente intimidada e focar seus olhos nele.
- O dia de hoje é o marco de um final, mas também de um começo; o fim de um ciclo e início de outro. – falava com a voz firme e respirações profundas, um indício de seu provável nervosismo. – Fora preciso que estivéssemos unidos e gratos, aos esforços até aqui dedicados, para que pudéssemos nos tornar a nação que somos hoje. O apego e os bons momentos vividos ao lado de alguém, às vezes, nos impedem de aceitar o término de mais um capítulo em nossas vidas, pois o futuro é inseguro e o incerto nos amedronta. Entretanto, eu sei, que nosso futuro será glorioso! Um futuro de desafios emocionantes e possibilidades infinitas, no qual nosso o sol nascerá ainda mais brilhante a cada dia e nem o céu será o limite. – ele discursava pausadamente, em meio a aplausos. – Porém, não serei eu a guiá-los para este futuro – os aplausos cessaram e um silêncio se instaurou no local. – Ainda a pouco, eu realizei meu primeiro e último ato como rei. Apesar de, segundo muitos, meu destino e razão para nascimento ser o trono, eu me sinto no dever de abdicar. – o silêncio fora cortado rapidamente por murmúrios baixos, provavelmente de espanto. – Mas não em favor de um outro monarca. - o silêncio total voltara a dominar o ambiente e o vídeo. - Muitos de vocês não sabem, mas durante os últimos três meses eu estive em outro país, em contato com outras pessoas e realidades, onde aprendi muito e pude questionar algumas coisas que acreditei durante minha vida inteira. Por isso, poucos minutos atrás, eu assinei um decreto que determina a dissolução da monarquia. – os murmúrios voltaram, mais altos, mas logo foram calados pela continuação do discurso de Philip. – Durante minha viagem, uma pessoa especial me ensinou que é direito do povo escolher seus governantes – ao ouvir aquela parte, eu sorri. – Por isso, instauro, a partir da data de hoje, a República de Mônaco, onde todos vocês terão direitos e deveres, mas, especialmente, terão voz ativa. Todo aquele que quiser se candidatar para os cargos de presidente, senador ou deputado, deve procurar o escritório do palácio ao término da leitura do decreto. E eu convoco, todos vós, cidadãos de Mônaco, a comparecer na eleição que se dará nos próximos dias, para juntos elegermos nossos representantes. – Philip terminou seu discurso, sobre aplausos e gritos da maioria e alguns olhares assustados e chocados. Ele saiu de cena, sendo escoltado por meu pai e mais um agente, enquanto um senhor assumia o microfone e começava a ler em francês o que deveria ser o decreto real.
Terminei de ler a notícia e fiquei alguns segundos apenas olhando para meu celular, processando tudo. Eu nunca esperaria tal atitude de Philip, assim como nunca esperaria que ele fosse levar em consideração o que eu havia lhe dito para tomar uma decisão tão importante. Como a notícia era de ontem, imaginei que eles estivessem para anunciar o novo presidente em breve e que Philip devia estar em Mônaco, esperando pelo resultado.
- ? – ouvi uma voz chamar atrás de mim, interrompendo meu processamento de informações. – ? – aquela voz... não pode ser, ela deveria estar a milhares de quilômetros distante! Me virei rapidamente, dando de cara com um ‘ex rei’ à minha frente e um pai com sorriso besta logo atrás.
- Você? Mas como, eu, você... – eu tentava falar algo, mas minha mente parecia ter entrado em estado de choque e as palavras se embaralhavam ao serem ditas. Meu pai ria abertamente do meu embaraço, enquanto me encarava, rindo levemente, depois de largar a mala de rodinhas ao lado, e eu alternava meu olhar entre ele e meu celular. Quando finalmente consegui processar o fato de que era ele ali na minha frente, dei a volta correndo na fileira de cadeiras em que eu estava sentada e quase pulei em seus braços. me abraçou forte, encaixando o rosto na curva do meu pescoço, o que me causou um arrepio pelo corpo todo. Nós ficamos ali alguns bons segundos, na nossa realidade paralela -e no emaranhado de corpos e fio de fone de ouvido-, apenas matando a saudade que nem parecia ser de dias, e quando ele me soltou, me deu um beijo na bochecha demorado.
- Vejo que está sabendo das últimas. – comentou brincalhão, se referindo ao celular em minhas mãos, e foi como se eu tivesse tido um estalo. Os últimos minutos vieram à minha mente como um flash e eu ficava abrindo e fechando levemente a boca, tentando achar algo pra falar.
- Como, como fez aquilo?
- Foi fácil, eu só precisei assinar um papel. – ele respondeu simplesmente, me dando um sorriso maroto.
- Não, quer dizer, como teve coragem?
- Ah, isso também foi meio fácil. Eu só precisei falar com Caroline, nós todos sabíamos que ela seria uma governante melhor do que eu. Eu só precisei convencer ela a se candidatar e depois da ajuda de Naigel – ele olhou rapidamente para meu pai e ambos trocaram sorrisos gentis – para achar alguém de confiança para redigir o decreto sem contar que outras pessoas soubessem. No final, a parte difícil foi lidar com meu pai depois.
- Imagino que ele não tenha aceitado muito bem.
- E não aceitou mesmo, ele chamou de... qual era o termo? Capricho juvenil, mas depois de alguns dias de conversa, resolvemos nossas desavenças e eu pude vir atrás da minha garota.
- Sua garota? – falei marota e ele riu.
- É, minha garota. Sabia que ela está para embarcar numa viagem de um mês pelo mundo sem mim? – ele brincou, me encarando.
- Isso não parece o certo a se fazer... – respondi, me aproximando um pouco mais dele, sem interromper o contato visual.
- Também acho, por isso eu vim atrás dela, ela não vai se livrar de mim tão fácil – ele falou brincalhão e diminuiu de vez a distância entre nós dois, me dando um beijo logo em seguida. Deus, como eu desejei ter aquele beijo de novo! – Eu queria ter vindo antes, mas precisei ficar em Mônaco até a eleição, para dar exemplo e ajudar a organizar tudo. – ele falou assim que nos separamos um pouco.
- Não tem problema – foi tudo que eu falei, antes de voltar a beijá-lo.
Ficamos algum tempo nos beijando, matando a saudade um do outro. Quando nos separamos um pouco, olhei por de cima do ombro dele, em busca de meu pai, que havia desaparecido.
- Ele foi tentar me arrumar uma passagem, infelizmente agora eu não tenho mais privilégios reais e não posso conseguir uma passagem para a Dinamarca apenas com uma ligação. – ele deu de ombros, inclinando levemente a cabeça e eu ri.
- Uau! Acho que agora você vai ter que ter a vida de uma pessoa normal. Será que consegue? – brinquei e foi a vez dele rir, de leve.
- Eu já sei comer lanche e coxinha. - ele falou, erguendo uma sobrancelha, com um sorriso maroto.
- Já é um avanço e tanto.
- Se não funcionar, tenho um pouco do dinheiro da minha família, dá para ter alguns privilégios. – ele disse e me deu uma piscadela, brincalhão como sempre.
- Alteza. – ouvimos a voz de meu pai e se virou em sua direção – Quer dizer, Philip. – meu pai emendou rápido, parecendo meio desconfortável por ainda não ter se acostumado com o fato de não ser mais uma realeza. – Eu lhe consegui uma passagem, custou meio caro e algumas chantagens, mas deu certo. – nós três rimos de leve, enquanto meu pai lhe entregava o bilhete. – Ah! Eu trago boas notícias de Mônaco. – assim que meu pai disse aqui, meu corpo gelou. Lembranças do dia que ele anunciou que voltaria para Mônaco invadiram minha mente e eu só conseguia pensar que aquilo não podia acontecer de novo. Graças a Deus, meu sofrimento durou pouco, pois logo meu pai voltou a falar: - Sua irmã é a primeira presidente da República de Mônaco. – meu pai falou e na mesma hora abriu um sorriso enorme. – Ela teve maioria quase absoluta de votos. – Meu pai falou, também sorrindo, porém não tanto quando .
- Eu teria votado nela mais 357.184 vezes, se fosse permitido. – falou, rindo de leve, nos contagiando com sua felicidade.
- Eu preciso de um banho e de descanso. – meu pai falou, vindo em minha direção e me abraçando. – Se divirtam, se cuidem e me liguem a cada dois dias. – ele falava autoritário, intercalando seu olhar entre nós dois – E, rapaz, - ele focou seu olhar em – juízo, hein, ela é minha filha e eu sei usar uma arma. – ele ergueu um dedo em direção a , que apenas concordou com a cabeça, enquanto eu ria da situação. Pais nunca deixam de ser pais! Com um último abraço em nós dois, ele pegou a mala e foi em direção à saída do aeroporto.
- Agora que você não é mais príncipe e nem rei, como eu te chamo? – comentei brincalhona, enquanto voltávamos a nos sentar na fileira de cadeiras que eu estava sentada antes. – , , Philip, ex príncipe, ex rei... são várias possibilidades de ‘nome’. – ele riu de leve.
- Me chame do que quiser, até ‘ex rei’ na sua voz fica incrível. – dito isto ele me beijou novamente.
”Voo 1479, com destino à Dinamarca, embarque no portão 3” uma voz feminina anunciou pelos auto falantes do aeroporto e lá fomos nós, em direção ao nosso futuro incerto, mas bem cheio de paixão e de um pouquinho de magia (afinal estávamos indo para a terra natal de uma série de contos infantis!).
Fim ♡
Nota da autora: Olaaa! Espero que estejam bem e, se possível em casa <3
Eu tentei milhões de vezes pensar no que falar aqui, mas não consegui. UPEMV tem um lugar muito especial no meu coração e eu agradeço imensamente a cada um de vocês que separou um tempinho para lê-la. Gratidão! <3
Pretendo não sumir, mas, qualquer coisa, já sabem, podem me chamar em alguma rede social (eu AMO conhecer vocês e poder ler as opiniões e comentários de vocês sobre minhas histórias).
Espero ver todo mundo daqui lendo The Black Crown, hein? Vamos superar o fim dessa fic juntas, lendo outra.
Milhões de beijos! <3
Outras Fanfics:
» 10. Zerar e Recomeçar [Ficstape NX Zero: 10 anos]
» 5841 [Originais, Shortfic]
» Audição às Cegas [Especial A Whole Lot of History, Shortfic]
» Three Days [Especial A Whole Lot of History, Shortfic]
Nota da beta: O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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