Capítulo Único
Robert se olhou no espelho uma última vez antes de fechar a jaqueta que usava por cima da camiseta do time e colocar o boné preto. Talvez fosse verdade que aquele boné era sua marca registrada e era fácil identificá-lo, mas ninguém esperaria vê-lo em uma final de hóquei. Até onde ele sabia, pouquíssimas pessoas sabiam que ele era realmente fã do esporte. Pegou sua carteira, fazendo uma nota mental de sacar mais dinheiro após a partida, já que não daria tempo antes e ele, muito provavelmente, gastaria o que tinha em bebidas e, talvez, um ou dois cachorros-quentes. Após garantir que estava com tudo que precisava, principalmente o ingresso para a final, seguiu para fora do quarto de hotel em direção ao elevador.
Encarou o ingresso em mãos, negando com um aceno antes de tornar a guardá-lo na carteira. Teria sido incrivelmente mais fácil conseguir se tivesse simplesmente pedido para seu agente, é claro que Robert Pattinson conseguiria entrar em uma final de qualquer esporte que quisesse, modéstia à parte. Mas não queria que seu nome estivesse estampado nos tabloides, queria ser apenas mais um fã entre tantos, apoiando e incentivando o . Se fosse sincero consigo mesmo, o que ele evitava ao máximo nesse assunto, era claro que o único motivo de ter tanto interesse na final tinha nome e sobrenome: .
No auge dos seus 30 anos, solteiro e cobiçado por milhares, o ator tinha os olhos voltados para ninguém menos do que a estrela do . Chegava a ser uma situação cômica. Sempre gostou de esportes e, desde a primeira vez que realmente assistiu um jogo de hóquei, virou fã, embora tenha precisado de algumas partidas a mais para realmente entender as regras e treinar os olhos para poder acompanhar o que estava acontecendo no ringue. Após algumas semanas, embora ainda não tivesse nenhum time que gostava mais do que outros, resolveu dar uma chance a uma partida feminina, e foi aí que tudo aconteceu: o jogo já havia começado e não conseguia ver o rosto de ninguém devido aos equipamentos, mas havia achado a número 71 incrivelmente boa. Acompanhou a partida surpreendendo-se positivamente com as jogadas, não havia tanta briga quanto as partidas masculinas, embora volta e meia as jogadoras se empurrassem aqui e ali. Até que ao final, com a vitória do , continuou assistindo para as entrevistas pós-jogo, concordando com alguns comentários sobre as jogadas e sobre a tal , de longe a melhor jogadora do time em sua opinião (baseada apenas nos dois períodos finais do jogo que pode assistir). Foi quando as entrevistas começaram que Robert pode ver a jogadora sem o uniforme e, daí em diante, teve certeza que acompanharia todos os jogos possíveis do time.
A diferença de ver uma jogadora de hóquei era gritante dos jogadores, a principal foi reparar que , aparentemente, tinha todos os dentes, diferente de 80% dos jogadores que havia visto. Parte de si não entendia muito bem como aquela criatura, de pouco mais de 1,65 poderia jogar hóquei tão bem. Ela parecia pequena demais para aquilo, mas era uma das principais jogadoras da liga nacional. Aos poucos foi acompanhando mais e mais, não só o time, mas a jogadora e só não havia realmente a seguido no Instagram para não gerar um burburinho desnecessário (o que sempre acontecia), mas sempre que estava livre aproveitava para ver alguma coisa dela. Uma das vantagens, se é que poderia chamar daquela forma, era que por ser uma jogadora importante do time, estava sempre em alguma postagem deles, e aquilo ele podia acompanhar sem qualquer desconfiança de ninguém, afinal, ele havia gostado do , então não era nada demais seguir ambas as equipes para ver como estavam no campeonato.
Pattinson suspirou ao sentir a neve bater em seu rosto, erguendo a gola da jaqueta e encolhendo-se para se proteger como podia do frio. Andou as poucas quadras que precisava até a arena, vendo a movimentação de fãs ao redor. Mais um ponto positivo por não ter dado seu nome para o ingresso: podia andar livremente sem ser parado para fotos. Assim que passou pela segurança, seguiu até o primeiro quiosque de bebida, comprando uma cerveja antes de seguir para o setor indicado. Parou vez ou outra para olhar a festa ao redor, tirando algumas fotos e filmando, tomando cuidado para continuar a andar despercebido. Com um pretzel e outra bebida em mãos, desta vez com o copo da final para ter de recordação, seguiu para o local marcado no ingresso. Essa parte foi um pouco mais complicada de conseguir, mas ele fez questão de comprar um dos lugares mais caros do local para ter uma boa visão da partida, mais uma vez, única e exclusivamente para ter a chance, mesmo que mínima, de ver de perto.
O que havia começado com uma simples admiração e, não iria mentir sobre isso, atração física, evoluiu gradativamente até chegar ao ponto em que, embora recusasse admitir aquilo em voz alta, estava indubitavelmente apaixonado. Apaixonado por uma mulher com quem nunca havia conversado, nem mesmo havia visto pessoalmente (sem contar, é claro, as poucas partidas que conseguiu acompanhar na arena), mas lá estava ele, suspirando pelos cantos sempre que via alguma foto ou entrevista da canadense. Comemorando cada gol ou assistência que ela dava, não perdendo nenhuma partida em que ela estava presente, mesmo que fosse uma reprise em algum canal esportivo. Talvez fosse assim que suas fãs se sentissem ao declararem um amor eterno por ele, dizendo o número de vezes que foram acompanhar seu trabalho, assistindo mil vezes o mesmo filme, o que sempre o fez rir internamente achando tudo uma loucura, um exagero. Para ele era impossível um amor daqueles, no máximo uma paixão platônica que com o passar do tempo sumiria.
O carma era realmente uma coisa engraçada, agora lá estava ele, na mesma situação.
Contudo, Pattinson não deixaria as coisas ao acaso, estava cansado daquilo e, parte de si, havia gritado para usar seu status para conseguir o ingresso, talvez significasse uma passagem para uma festa da vitória ou, no mínimo, uma conversa com o time, o que era o que ele realmente queria. Apenas uma oportunidade de encontrá-la. Nem mesmo sabia o que diria, e foi apenas por isso que ele resolveu ir anonimamente para o jogo. Com seu ingresso para a primeira fileira, sabia que seria praticamente impossível não ser visto por alguém, mas teria mais liberdade para torcer, pelo menos no começo, e sua maior intenção ao sentar atrás do banco de reservas era ter a possibilidade de vê-la, mesmo que rapidamente, durante uma troca de jogadoras na linha. Obviamente esperava que ela tivesse focada na partida para reparar em qualquer outra coisa, mas não significava que ele não poderia reparar na canadense. Sentiu-se subitamente nervoso ao vê-la entrar no ringue, e logo os dois times se organizaram enquanto cantavam os hinos. Pode reparar na mulher mais a frente, já uniformizada, mas sem o capacete protegendo seu rosto. Era ainda mais bonita pessoalmente, mesmo com a distância em que ele estava dela, do que nas imagens de televisão. Reparou em todos os detalhes, desde a forma que colocava a mecha do cabelo curto atrás da orelha, até a forma em que cobria a boca para falar com a colega de time. aproximou-se do banco para ajustar o cadarço do patins e fez um toque de mãos com outra das companheiras, rindo de algo que haviam dito, logo prestando atenção nas últimas recomendações da técnica, antes da partida começar.
O primeiro período foi mais lento do que o esperado, os dois times dando menos abertura, não querendo precipitar-se e arriscarem tomar um gol de contra-ataque. No segundo as coisas começaram a melhorar, saindo dois gols para cada lado, mas foi no terceiro que começaram a ficar tensas. O recebeu duas punições seguidas após faltas cometidas, assim como o time azul, mas o terceiro gol veio com pouco menos de dez minutos para o final do período, em uma jogada de contra-ataque, conseguiu o puck e não precisou de muito esforço para tirar da goleira e marcar. Um gol e uma assistência da canadense, além do time ganhando o torneio. Pattinson não poderia estar mais feliz naquele momento, mas foi aí que tudo desandou: pouco após a comemoração, na jogada seguinte, caiu machucada depois de uma entrada violenta da defesa adversária. Foi substituída em seguida e, faltando dois minutos para o final, o empate veio. No lance seguinte, um pênalti e Pattinson suspirou derrotado ao ver o outro time comemorando o gol. Virou-se para olhar a jogadora no banco de reservas, a expressão frustrada ao ver os poucos segundos para finalizar a partida e o time sem qualquer reação para tentar um último lance que pudesse resultar em mais um empate e, então, na prorrogação. Os dois gols seguidos acabaram com qualquer chance, o time ficou abalado demais, até mesmo a torcida havia silenciado. Instantes depois o juiz apitou o final da partida e, com isso, o ficou com o vice-campeonato.
Viu as jogadoras se cumprimentarem, claramente decepcionadas com o resultado, enquanto a técnica dizia palavras de consolo. Parabenizaram as vencedoras e permaneceram no ringue para toda a premiação final, antes de darem algumas entrevistas e se retirarem, agradecendo o apoio da torcida no meio tempo. Sentiu-se mal ao ver a reação da mulher, mas a pior parte, e sabia que era um pouco de egoísmo, foi notar que não conseguiria falar com ela.
xxxx
Rob saiu desanimado do local, uma mistura de alegria e tristeza se espalhava ao seu redor, torcedores de ambos os times, comemoravam e consolavam-se. Nada poderia consolá-lo naquele momento, pois o seu plano foi por água abaixo com a derrota do time. Talvez, tudo seria mais fácil, se tivesse aceitado usar a fama para conhecer a jogadora e não ter ido tentar a sorte. Deveria ter usado a própria sensatez, afinal, quantos fãs ele tem ao redor do mundo e que a sorte dificilmente ajudou-os a conhecê-lo? Injusto, mas a vida nunca era justa. Sabia que alguém havia fotografado-o em algum momento, mas com a derrota, aparentemente, foi ignorado e levaria algumas horas até que sua foto rodasse as redes sociais.
Quando aproximou-se de um grupo de jovens, ele puxou a aba do boné para baixo, cobrindo melhor o seu rosto e apressou-se em direção à rua. Sentia-se perdido, sem saber o que fazer já que sua noite não seguia os seus planos. Parou no meio fio, avistou um táxi e fez sinal para que parasse. Entrou, agradeceu ao motorista, tomando cuidado o tempo todo para não mostrar muito de seu rosto e indicou o endereço do seu hotel. Observou a paisagem pela janela, até que algo clicou em sua cabeça e ele puxou a carteira do bolso. Olhou o taxímetro, abriu a carteira e xingou baixinho ao perceber que estava vazia. Fez uma careta e abriu o sorriso mais simpático para momentos de desespero, mirou o olhar do motorista no espelho.
- Meu caro, poderia parar num caixa eletrônico, por favor?
O motorista encarou-o nada simpático, apenas desconfiado e deu um aceno de cabeça. Ele virou o volante repentinamente, trocando o veículo de pista bruscamente e retornaram no caminho que haviam saído. Rob segurou-se para não cair do banco, o corpo torto no assento, o coração galopou em seu peito pela surpresa. Minutos depois, o carro freou bruscamente.
- Vou deixar o taxímetro ligado. - Avisou o motorista com cara de poucos amigos.
- Tudo bem, sem problemas. - O ator confirmou com um aceno de cabeça. Abriu a porta, respirou fundo e soltou o ar. Encarou a calçada, o único caixa eletrônico ficava do lado de fora do banco, acoplado na parede cinzenta de cimento. Ele avistou uma moça que estava sacando dinheiro.
Resolveu aguardar que ela terminasse e se afastasse, antes que ele se aproximasse, mas foram quase cinco minutos esperando e nada. Decidiu ver se algo estava errado. Conforme se aproximava, ouvia murmúrios incompreensíveis da mulher que parecia irritada com algo.
Manteve-se alguns passos de distância para não assustá-la, já que estavam numa rua pouco movimentada e tentou soar o mais tranquilo possível.
- Com licença, precisa de ajuda? - Deixou as mãos caídas ao lado do corpo, escondê-las nos bolsos não seria uma boa ideia ou passaria a situação errada.
A mulher parou de socar a máquina e virou-se assustada.
Mas o susto não foi apenas dela.
O coração de Pattinson foi na lua e voltou mil vezes. Não parecia real a pessoa que estava a sua frente e num caixa eletrônico aleatório. Queria rir de divertimento e incredulidade. estava bem na sua frente, a sua jogadora favorita/crush/paixonite/tudo, bem na sua frente e parecendo estar enfrentando problemas para libertar o seu dinheiro.
A expressão dela tornou-se confusa, pareceu mirá-lo diretamente.
- Ah. - Sacudiu a cabeça levemente e respondeu irritada. - Essa caixa de metal idiota que não quer cuspir o meu dinheiro! - Deu outro soco no painel.
Ele pensou no que responder, mas a boca não funcionou e permaneceu parado como uma estátua.
A mulher não ouviu uma resposta e parou novamente, encarou-o.
- Hã… Acho que você não vai conseguir usar aqui! Não posso abandonar meu dinheiro. - Deu de ombros. Pesar dominou sua expressão. - Que dia! - Resmungou. Socou mais duas vezes e se agachou no chão, abraçou os joelhos e xingou baixinho, colocando sua tristeza com a derrota para fora.
Ele aproximou-se inseguro, sem ao menos saber o que dizer, naquele momento soube exatamente o que seus fãs sentiam, quando o encontravam aleatoriamente pelas ruas.
- Não fique triste! - Soltou afobado.
Ela ergueu a cabeça e encarou-o confusa.
- Você não entende! Eu perdi o campeonato mais importante, o meu time dependia de mim! - Ela escondeu o rosto novamente.
- Eu sei, eu vi.
A jogadora encarou-o novamente, confusa.
- Vem cá, eu te conheço de… - A boca dela abriu num ‘O’ gigante, assombro em seu olhar. Ela desequilibrou-se e caiu de bunda no cimento.
- Sou um grande fã do seu trabalho! Foi triste a derrota de hoje, mas você e o seu time tem um caminho brilhante pela frente. - Ele disse com um sorriso reconfortante.
- Robert Pattinson é meu fã? - Perguntou atordoada.
Ele riu.
- Parece que sim. - Deu de ombros, divertido. Estendeu a mão para ela que aceitou e ajudou-a a levantar do chão.
Ela riu.
- Uau! Pelo menos uma notícia boa nesse dia!
- Eu seria louco, se não me tornasse fã de uma jogadora talentosa como você.
- Uau! - A única coisa que fugiu de seus lábios.
Ele sorriu.
- Posso ajudá-la com o seu problema?
- Claro!
Ela afastou-se para o lado e abriu caminho para que ele pudesse ver o caixa eletrônico que continuava engasgado com seu dinheiro.
Rob observou a máquina e em seguida, socou vários pontos aleatórios até que voltou a fazer barulho, a portinha abriu e cuspiu as notas no ar.
A mulher pegou-as rapidamente e encarou-o.
- Muito obrigada! - Sorriu.
- Não há de quê.
Ela colocou a bolsa do seu taco nas costas e começou a se afastar, um pouco mais animada.
- Ei, .
Ela parou e virou-se.
- Você pode me dar uma camisa autografada? - Ele parecia sem jeito.
- Claro, mas só se você topar um café!
- Com certeza.
Ela pegou a mochila, abriu-a e tirou uma das camisas que tinha de reserva. Atirou-a para ele que agarrou alegremente.
- O autógrafo pode ficar para mais tarde? - perguntou.
Encarou o ingresso em mãos, negando com um aceno antes de tornar a guardá-lo na carteira. Teria sido incrivelmente mais fácil conseguir se tivesse simplesmente pedido para seu agente, é claro que Robert Pattinson conseguiria entrar em uma final de qualquer esporte que quisesse, modéstia à parte. Mas não queria que seu nome estivesse estampado nos tabloides, queria ser apenas mais um fã entre tantos, apoiando e incentivando o . Se fosse sincero consigo mesmo, o que ele evitava ao máximo nesse assunto, era claro que o único motivo de ter tanto interesse na final tinha nome e sobrenome: .
No auge dos seus 30 anos, solteiro e cobiçado por milhares, o ator tinha os olhos voltados para ninguém menos do que a estrela do . Chegava a ser uma situação cômica. Sempre gostou de esportes e, desde a primeira vez que realmente assistiu um jogo de hóquei, virou fã, embora tenha precisado de algumas partidas a mais para realmente entender as regras e treinar os olhos para poder acompanhar o que estava acontecendo no ringue. Após algumas semanas, embora ainda não tivesse nenhum time que gostava mais do que outros, resolveu dar uma chance a uma partida feminina, e foi aí que tudo aconteceu: o jogo já havia começado e não conseguia ver o rosto de ninguém devido aos equipamentos, mas havia achado a número 71 incrivelmente boa. Acompanhou a partida surpreendendo-se positivamente com as jogadas, não havia tanta briga quanto as partidas masculinas, embora volta e meia as jogadoras se empurrassem aqui e ali. Até que ao final, com a vitória do , continuou assistindo para as entrevistas pós-jogo, concordando com alguns comentários sobre as jogadas e sobre a tal , de longe a melhor jogadora do time em sua opinião (baseada apenas nos dois períodos finais do jogo que pode assistir). Foi quando as entrevistas começaram que Robert pode ver a jogadora sem o uniforme e, daí em diante, teve certeza que acompanharia todos os jogos possíveis do time.
A diferença de ver uma jogadora de hóquei era gritante dos jogadores, a principal foi reparar que , aparentemente, tinha todos os dentes, diferente de 80% dos jogadores que havia visto. Parte de si não entendia muito bem como aquela criatura, de pouco mais de 1,65 poderia jogar hóquei tão bem. Ela parecia pequena demais para aquilo, mas era uma das principais jogadoras da liga nacional. Aos poucos foi acompanhando mais e mais, não só o time, mas a jogadora e só não havia realmente a seguido no Instagram para não gerar um burburinho desnecessário (o que sempre acontecia), mas sempre que estava livre aproveitava para ver alguma coisa dela. Uma das vantagens, se é que poderia chamar daquela forma, era que por ser uma jogadora importante do time, estava sempre em alguma postagem deles, e aquilo ele podia acompanhar sem qualquer desconfiança de ninguém, afinal, ele havia gostado do , então não era nada demais seguir ambas as equipes para ver como estavam no campeonato.
Pattinson suspirou ao sentir a neve bater em seu rosto, erguendo a gola da jaqueta e encolhendo-se para se proteger como podia do frio. Andou as poucas quadras que precisava até a arena, vendo a movimentação de fãs ao redor. Mais um ponto positivo por não ter dado seu nome para o ingresso: podia andar livremente sem ser parado para fotos. Assim que passou pela segurança, seguiu até o primeiro quiosque de bebida, comprando uma cerveja antes de seguir para o setor indicado. Parou vez ou outra para olhar a festa ao redor, tirando algumas fotos e filmando, tomando cuidado para continuar a andar despercebido. Com um pretzel e outra bebida em mãos, desta vez com o copo da final para ter de recordação, seguiu para o local marcado no ingresso. Essa parte foi um pouco mais complicada de conseguir, mas ele fez questão de comprar um dos lugares mais caros do local para ter uma boa visão da partida, mais uma vez, única e exclusivamente para ter a chance, mesmo que mínima, de ver de perto.
O que havia começado com uma simples admiração e, não iria mentir sobre isso, atração física, evoluiu gradativamente até chegar ao ponto em que, embora recusasse admitir aquilo em voz alta, estava indubitavelmente apaixonado. Apaixonado por uma mulher com quem nunca havia conversado, nem mesmo havia visto pessoalmente (sem contar, é claro, as poucas partidas que conseguiu acompanhar na arena), mas lá estava ele, suspirando pelos cantos sempre que via alguma foto ou entrevista da canadense. Comemorando cada gol ou assistência que ela dava, não perdendo nenhuma partida em que ela estava presente, mesmo que fosse uma reprise em algum canal esportivo. Talvez fosse assim que suas fãs se sentissem ao declararem um amor eterno por ele, dizendo o número de vezes que foram acompanhar seu trabalho, assistindo mil vezes o mesmo filme, o que sempre o fez rir internamente achando tudo uma loucura, um exagero. Para ele era impossível um amor daqueles, no máximo uma paixão platônica que com o passar do tempo sumiria.
O carma era realmente uma coisa engraçada, agora lá estava ele, na mesma situação.
Contudo, Pattinson não deixaria as coisas ao acaso, estava cansado daquilo e, parte de si, havia gritado para usar seu status para conseguir o ingresso, talvez significasse uma passagem para uma festa da vitória ou, no mínimo, uma conversa com o time, o que era o que ele realmente queria. Apenas uma oportunidade de encontrá-la. Nem mesmo sabia o que diria, e foi apenas por isso que ele resolveu ir anonimamente para o jogo. Com seu ingresso para a primeira fileira, sabia que seria praticamente impossível não ser visto por alguém, mas teria mais liberdade para torcer, pelo menos no começo, e sua maior intenção ao sentar atrás do banco de reservas era ter a possibilidade de vê-la, mesmo que rapidamente, durante uma troca de jogadoras na linha. Obviamente esperava que ela tivesse focada na partida para reparar em qualquer outra coisa, mas não significava que ele não poderia reparar na canadense. Sentiu-se subitamente nervoso ao vê-la entrar no ringue, e logo os dois times se organizaram enquanto cantavam os hinos. Pode reparar na mulher mais a frente, já uniformizada, mas sem o capacete protegendo seu rosto. Era ainda mais bonita pessoalmente, mesmo com a distância em que ele estava dela, do que nas imagens de televisão. Reparou em todos os detalhes, desde a forma que colocava a mecha do cabelo curto atrás da orelha, até a forma em que cobria a boca para falar com a colega de time. aproximou-se do banco para ajustar o cadarço do patins e fez um toque de mãos com outra das companheiras, rindo de algo que haviam dito, logo prestando atenção nas últimas recomendações da técnica, antes da partida começar.
O primeiro período foi mais lento do que o esperado, os dois times dando menos abertura, não querendo precipitar-se e arriscarem tomar um gol de contra-ataque. No segundo as coisas começaram a melhorar, saindo dois gols para cada lado, mas foi no terceiro que começaram a ficar tensas. O recebeu duas punições seguidas após faltas cometidas, assim como o time azul, mas o terceiro gol veio com pouco menos de dez minutos para o final do período, em uma jogada de contra-ataque, conseguiu o puck e não precisou de muito esforço para tirar da goleira e marcar. Um gol e uma assistência da canadense, além do time ganhando o torneio. Pattinson não poderia estar mais feliz naquele momento, mas foi aí que tudo desandou: pouco após a comemoração, na jogada seguinte, caiu machucada depois de uma entrada violenta da defesa adversária. Foi substituída em seguida e, faltando dois minutos para o final, o empate veio. No lance seguinte, um pênalti e Pattinson suspirou derrotado ao ver o outro time comemorando o gol. Virou-se para olhar a jogadora no banco de reservas, a expressão frustrada ao ver os poucos segundos para finalizar a partida e o time sem qualquer reação para tentar um último lance que pudesse resultar em mais um empate e, então, na prorrogação. Os dois gols seguidos acabaram com qualquer chance, o time ficou abalado demais, até mesmo a torcida havia silenciado. Instantes depois o juiz apitou o final da partida e, com isso, o ficou com o vice-campeonato.
Viu as jogadoras se cumprimentarem, claramente decepcionadas com o resultado, enquanto a técnica dizia palavras de consolo. Parabenizaram as vencedoras e permaneceram no ringue para toda a premiação final, antes de darem algumas entrevistas e se retirarem, agradecendo o apoio da torcida no meio tempo. Sentiu-se mal ao ver a reação da mulher, mas a pior parte, e sabia que era um pouco de egoísmo, foi notar que não conseguiria falar com ela.
Rob saiu desanimado do local, uma mistura de alegria e tristeza se espalhava ao seu redor, torcedores de ambos os times, comemoravam e consolavam-se. Nada poderia consolá-lo naquele momento, pois o seu plano foi por água abaixo com a derrota do time. Talvez, tudo seria mais fácil, se tivesse aceitado usar a fama para conhecer a jogadora e não ter ido tentar a sorte. Deveria ter usado a própria sensatez, afinal, quantos fãs ele tem ao redor do mundo e que a sorte dificilmente ajudou-os a conhecê-lo? Injusto, mas a vida nunca era justa. Sabia que alguém havia fotografado-o em algum momento, mas com a derrota, aparentemente, foi ignorado e levaria algumas horas até que sua foto rodasse as redes sociais.
Quando aproximou-se de um grupo de jovens, ele puxou a aba do boné para baixo, cobrindo melhor o seu rosto e apressou-se em direção à rua. Sentia-se perdido, sem saber o que fazer já que sua noite não seguia os seus planos. Parou no meio fio, avistou um táxi e fez sinal para que parasse. Entrou, agradeceu ao motorista, tomando cuidado o tempo todo para não mostrar muito de seu rosto e indicou o endereço do seu hotel. Observou a paisagem pela janela, até que algo clicou em sua cabeça e ele puxou a carteira do bolso. Olhou o taxímetro, abriu a carteira e xingou baixinho ao perceber que estava vazia. Fez uma careta e abriu o sorriso mais simpático para momentos de desespero, mirou o olhar do motorista no espelho.
- Meu caro, poderia parar num caixa eletrônico, por favor?
O motorista encarou-o nada simpático, apenas desconfiado e deu um aceno de cabeça. Ele virou o volante repentinamente, trocando o veículo de pista bruscamente e retornaram no caminho que haviam saído. Rob segurou-se para não cair do banco, o corpo torto no assento, o coração galopou em seu peito pela surpresa. Minutos depois, o carro freou bruscamente.
- Vou deixar o taxímetro ligado. - Avisou o motorista com cara de poucos amigos.
- Tudo bem, sem problemas. - O ator confirmou com um aceno de cabeça. Abriu a porta, respirou fundo e soltou o ar. Encarou a calçada, o único caixa eletrônico ficava do lado de fora do banco, acoplado na parede cinzenta de cimento. Ele avistou uma moça que estava sacando dinheiro.
Resolveu aguardar que ela terminasse e se afastasse, antes que ele se aproximasse, mas foram quase cinco minutos esperando e nada. Decidiu ver se algo estava errado. Conforme se aproximava, ouvia murmúrios incompreensíveis da mulher que parecia irritada com algo.
Manteve-se alguns passos de distância para não assustá-la, já que estavam numa rua pouco movimentada e tentou soar o mais tranquilo possível.
- Com licença, precisa de ajuda? - Deixou as mãos caídas ao lado do corpo, escondê-las nos bolsos não seria uma boa ideia ou passaria a situação errada.
A mulher parou de socar a máquina e virou-se assustada.
Mas o susto não foi apenas dela.
O coração de Pattinson foi na lua e voltou mil vezes. Não parecia real a pessoa que estava a sua frente e num caixa eletrônico aleatório. Queria rir de divertimento e incredulidade. estava bem na sua frente, a sua jogadora favorita/crush/paixonite/tudo, bem na sua frente e parecendo estar enfrentando problemas para libertar o seu dinheiro.
A expressão dela tornou-se confusa, pareceu mirá-lo diretamente.
- Ah. - Sacudiu a cabeça levemente e respondeu irritada. - Essa caixa de metal idiota que não quer cuspir o meu dinheiro! - Deu outro soco no painel.
Ele pensou no que responder, mas a boca não funcionou e permaneceu parado como uma estátua.
A mulher não ouviu uma resposta e parou novamente, encarou-o.
- Hã… Acho que você não vai conseguir usar aqui! Não posso abandonar meu dinheiro. - Deu de ombros. Pesar dominou sua expressão. - Que dia! - Resmungou. Socou mais duas vezes e se agachou no chão, abraçou os joelhos e xingou baixinho, colocando sua tristeza com a derrota para fora.
Ele aproximou-se inseguro, sem ao menos saber o que dizer, naquele momento soube exatamente o que seus fãs sentiam, quando o encontravam aleatoriamente pelas ruas.
- Não fique triste! - Soltou afobado.
Ela ergueu a cabeça e encarou-o confusa.
- Você não entende! Eu perdi o campeonato mais importante, o meu time dependia de mim! - Ela escondeu o rosto novamente.
- Eu sei, eu vi.
A jogadora encarou-o novamente, confusa.
- Vem cá, eu te conheço de… - A boca dela abriu num ‘O’ gigante, assombro em seu olhar. Ela desequilibrou-se e caiu de bunda no cimento.
- Sou um grande fã do seu trabalho! Foi triste a derrota de hoje, mas você e o seu time tem um caminho brilhante pela frente. - Ele disse com um sorriso reconfortante.
- Robert Pattinson é meu fã? - Perguntou atordoada.
Ele riu.
- Parece que sim. - Deu de ombros, divertido. Estendeu a mão para ela que aceitou e ajudou-a a levantar do chão.
Ela riu.
- Uau! Pelo menos uma notícia boa nesse dia!
- Eu seria louco, se não me tornasse fã de uma jogadora talentosa como você.
- Uau! - A única coisa que fugiu de seus lábios.
Ele sorriu.
- Posso ajudá-la com o seu problema?
- Claro!
Ela afastou-se para o lado e abriu caminho para que ele pudesse ver o caixa eletrônico que continuava engasgado com seu dinheiro.
Rob observou a máquina e em seguida, socou vários pontos aleatórios até que voltou a fazer barulho, a portinha abriu e cuspiu as notas no ar.
A mulher pegou-as rapidamente e encarou-o.
- Muito obrigada! - Sorriu.
- Não há de quê.
Ela colocou a bolsa do seu taco nas costas e começou a se afastar, um pouco mais animada.
- Ei, .
Ela parou e virou-se.
- Você pode me dar uma camisa autografada? - Ele parecia sem jeito.
- Claro, mas só se você topar um café!
- Com certeza.
Ela pegou a mochila, abriu-a e tirou uma das camisas que tinha de reserva. Atirou-a para ele que agarrou alegremente.
- O autógrafo pode ficar para mais tarde? - perguntou.
FIM.
Nota da autora: Felizes com nossa primeira parceria <3
Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.