Prólogo - Parte Dois
Nova York sempre fora um de seus lugares favoritos no mundo todo. Esta cidade é gigantesca até mesmo para padrões de níveis mundial. Já havia visitado muitas outras metrópoles ao redor do mundo e nenhuma se comparava à sua cidade natal. Especialmente a ilha de Manhattan.
Manhattan é o distrito mais poderoso da cidade. De três milhões de pessoas que viviam em Nova York, dois milhões delas estavam em Manhattan. Foi este o lugar onde nascera, crescera e desenvolveu parte de sua vida.
Pode-se dizer que havia feito parte da evolução daquele lugar tanto quando o lugar havia feito parte da sua própria evolução, regada de uma cultura que se construiu por conta de valores nova-iorquinos e os efeitos da cidade grande.
Portanto, era de se esperar que conhecesse cada estabelecimento, cada esquina, cada semáforo, cada rua e grande parte das pessoas que frequentavam os arredores do bairro onde morava e do laboratório onde trabalhava.
No entanto, agora quando caminhava por aquelas ruas, que permaneciam com os mesmos nomes de 68 anos atrás, não reconhecia mais nada. Nenhum dos estabelecimentos ou as pessoas que trabalhavam neles, nenhum dos moradores e, definitivamente, a arquitetura do lugar. Uma mistura do clássico com um modernismo exagerado.
Ela amava a antiga Nova York.
Tudo estava tão diferente desde a última vez que esteve presente por aqueles ares.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, qual ela não pôde presenciar, Nova York foi afetada por inúmeros problemas. Poluição do ar e da água, ataques terroristas aos seus centros financeiros, congestionamentos em ruas, vias expressas, rodovias e no sistema de transporte público, falta de casas e apartamentos de baixos preços para pessoas de baixa renda mensal e alta taxa de criminalidade.
Contudo, apesar de todos os problemas, também teve grande evolução tecnológica, cientifica, artística e financeira. O que aumentou sua procura e tornou o lugar triplamente mais populoso e repleto de pessoas medíocres que só se importavam com suas vidas particulares e ascensão financeira em suas carreiras.
Os habitantes de agora não sabiam como antes era tão mais estimada e preservada a boa convivência, educação e a gentileza. A cidade era completamente respeitada tanto por aqueles que moravam ali quanto pelos que a visitavam.
Atualmente a cidade é conhecida ao redor do mundo como “a cidade que nunca dorme” que realiza sonhos de empresários, modelos de lingerie e banqueiros.
v Gostaria de algo que a provasse que, apesar de todas as mudanças, ela ainda poderia chamar aquela cidade de lar.
Alguns monumentos continuavam os mesmos, sendo restaurados para preservar a arquitetura clássica de época. Assim como, por exemplo, a ponte Brooklyn Bridge.
Este era um de seus lugares favoritos em Nova York. Quando jovem, a mulher costumava visita-lo e observar os barcos e balsas fazendo a travessia no rio East de Manhattan até o Brooklyn e o Queens.
Independente dos milhares de turistas que visitam a ponte diariamente ela adorava cruzá-la a pé. Lá os ventos frescos que vinham do Leste sopravam seus cabelos e a deixava tranquila, a ponto de resolver quaisquer questões frustrantes sobre seus inúmeros projetos estudantis e medicinais.
Fora o lugar onde, também, fora pedida em casamento pela primeira vez.
Ao se apoiar nos ferros da ponte e curvar-se para observar o rio atentamente, recordou-se claramente de James se ajoelhando e declarando seus sentimentos por ela na noite de seu primeiro encontro formal.
“Falaremos com ele, então” James disse simplesmente, solucionando a questão.
Se ela soubesse naquele tempo o que aconteceria com ambos, não teria hesitado tanto em aceitar o pedido do rapaz e declarar seu amor por ele.
Agora toda aquela hesitação e medo parecia tão bobo e supérfluo.
Arrependia-se de não ter se declarado todas as vezes que teve a oportunidade a todos aqueles os quais amava e falado o quanto eram importantes para ela.
No entanto, tudo isso estava agora no passado.
Ela não tinha como reverter aquela situação.
E tudo o que lhe restava eram as lembranças.
E o aprendizado.
Para que não cometesse erros os quais cometeu no passado com aqueles presentes no hoje.
Quase deu um salto pelo susto que levou quando o objeto no seu bolso traseiro apitou, em uma sintonia rítmica que fazia-a revirar os olhos. Não suportava aquela musiquinha.
Quando tirou o objeto denominado “celular” do bolso vislumbrou a foto de seu sobrinho na tela, piscando como se não tivesse chamado a atenção o suficiente. Deslizou o dedo sobre a tela para acabar logo com aquele toque incessante.
- Oi Tony.
- Onde diabos você se meteu? – a voz encorpada e grave de seu sobrinho grunhiu pelo aparelho. – Achei que ia dar um auxílio na estrutura elétrica da torre Stark.
- Eu já vou, só sai para respirar um ar fresco – explicou com um sorriso fraco no rosto.
- Ah, é – suspirou desconcertado. – Nova York traz lembranças, certo?
- Muitas – soprou.
Antes que a voz do rapaz voltasse a falar, o toque irritante qual indicava uma chamada, soou novamente. Ela tirou o aparelho do ouvido para verificar e na tela indicava que recebia outra ligação de um número “desconhecido”.
- Tony, tenho que desligar. Daqui a pouco eu apareço por aí.
- Na volta traz para mim um shawarma¹. Tem uma lanchonete na Wall Street...
- Sim, sim, eu levo – e desligou sua chamada rapidamente para acabar com aquele toque estridente. – Alô?
- Estou falando com a Senhorita Stark? – uma voz masculina indagou do outro lado da linha.
franziu o cenho em confusão. Não haviam muitas pessoas que tinham seu número de telefone além de Tony, Pepper, Happy e, claro, J.A.R.V.I.S.
Ainda assim, decidiu responder: - Sim, é ela. Quem é?
- Aqui é Nick Fury - a voz se apresentou, fazendo-a reconhece-lo automaticamente. O órgão em seu peito acelerou consideravelmente. – Precisamos da sua ajuda.
- Não – respondeu de imediato, logo se arrependendo da precipitação. – Desculpe Nick, não posso te ajudar. Agradeço a ajuda que você me deu me trazendo até o Tony assim que eu voltei – Ela mordeu os lábios inferiores ao responder. – A vaga de projetista de armas que me ofereceu há um ano é interessante, mas eu passo. Obrigada – Disse sorrindo entre dentes para o além.
- É a respeito de um outro assunto. Um que tenho conhecimento que lhe interessa.
- Fury - respirou fundo. – Eu realmente agradeço de coração por tudo o que você fez. Pelos arquivos de Howee sobre o novo elemento que salvou a vida de Tony, entre outros, sou eternamente grata. Mas eu não tenho interesse em fazer parte da sua organização de agentes secretos. Portanto, passar bem – e apertou a tela, desligando a ligação com pesar.
Nick Fury é o diretor da S.H.I.E.L.D., uma empresa com objetivo de realizar a contraespionagem e manutenção da lei. Foi fundada por Howard e alguns parceiros depois do fim da Segunda Guerra Mundial, conscientizada pela ONU e financiada pelas potências da OTAN. É destinada a proteger todo o planeta de ameaças de grande porte.
A companhia tem grande influência internacional e têm a confiança dos líderes de diversos países, ao arquivar os mais diversos tipos de segredos nacionais. É constituída por mais de mil agentes secretos quais trabalham arduamente pela proteção de civis.
Fury fora a primeira pessoa que a encontrou quando retornou e estava completamente desorientada. Ele sabia quem ela era e a deu o apoio necessário, afinal, ele é o principal responsável por manter a paz que hoje reinava ao redor do mundo.
Não podia negar, estava orgulhosa da vida que Howard teve e tudo o que construiu depois que ela foi embora. Mas era demais para ela estar em um ambiente qual as lembranças dele eram tão vívidas. Já bastava as Indústrias Stark.
Porque doía.
Deus, como doía.
Doía saber que ele já não estava presente como muitos outros que fizeram parte de sua vida passada.
Exceto por Peggy, quem ela descobriu estar viva assim que retornou à Nova York e mantêm contato frequente. Apesar da amiga estar bem mais velha e menos disposta desde 1944, seus conselhos ainda eram muito válidos.
Assim, ela guardou o telefone de volta no bolso e voltou a observar os barcos no rio.
Menos de um minuto depois, o ranger de um pneu sendo gasto no asfalto soou muito próximo a ela. Fazendo-a virar-se para a rua, espantada.
Parado atrás dela estava um carro preto blindado e de lá saiu a figura incomum que era Nicolas Fury.
- É uma situação urgente. Precisamos de você – ele disse ao se aproximar da jovem.
- Não precisava vir até aqui, minha palavra continua a mesma que a das quinze vezes que você tentou me contatar.
Nick Fury respirou fundo e indicou o carro com a cabeça: - Uma conversa particular, por favor?
As pessoas ao redor deles olhavam-nos intrigadas. Como se fossem um tipo de atração turística da ponte. Afinal, um homem com um tapa olho e inteiramente trajado com vestes pretas não se via todo dia.
Mas aquilo não a intimidava: - A resposta continuará a mesma.
Nick Fury olhou ao seu redor vagarosamente antes de suspirar e murmurar em sua direção: - Uma equipe de uma empresa de petróleo estava fazendo uma exploração no Ártico. Curiosamente onde eles queriam montar a nova sede estava estagnada uma nave não identificada. Há dezoito horas a S.H.I.E.L.D foi ao local e identificou a nave... como uma das Valquírias².
sentiu seu coração petrificar imediatamente. Engoliu em seco.
- O encontraram.
O soar das palavras que saíram da boca do diretor fizeram com que ficasse ofegante imediatamente.
- Precisamos que você venha conosco e faça...
- Acha mesmo que eu conseguiria? – soprou com os olhos já marejados, cortando Nick. – Fazer reconhecimento do corpo dele?
voltou à sua realidade havia dois anos e desde então tem tentado se acostumar com todas as perdas que teve e Steve Rogers era uma delas. Um amigo que se tornou próximo em pouco tempo e mostrava-se tão leal que se sacrificou pelo bem de toda uma nação.
Há anos os profissionais tentam encontrar a nave qual ele estava e se perdeu no mar. Mesmo Howard enquanto vivo tentou encontra-lo. Até alguns dias, seu status era de desaparecido e agora, finalmente o encontraram.
Mas não conseguiria vê-lo desfalecido.
- Nick... eu não sei se consigo vê-lo dessa forma – suplicou com a voz vacilante.
- Preciso informar que a nave fora encontrada com o seu tripulante ainda em vida.
Tudo ficara em completo silêncio.
sentiu o mundo parar naquele instante.
Ela enxugou o resquício de lágrimas e mirou Nick Fury.
- O que foi que disse?
- Ele está vivo.
-x-
As pálpebras se abrem vagarosamente revelando os belos olhos azuis.
Estes foram despertados pelos ruídos de palavras distantes.
Bola curva, alta e fora.
O rapaz piscou os cílios louros algumas vezes consecutivas e sua visão fora aos poucos adaptando-se com a claridade do ambiente.
A voz masculina que parecia estar longe no começo, gradualmente foi se aproximando e tornando-se cada vez mais clara.
Steve tentou se orientar quando sua visão finalmente se tornou nítida e evidenciou que estava em um quarto de paredes amareladas do que deduziu ser de um hospital.
Identificou que seu corpo estava deitado sob uma maca, coberto com lençóis macios e brancos. Ao seu lado encontrou algumas aparelhagens médicas como recipientes com medicamentos, agulhas, algodões e alguns fios ligados a máquinas que monitoravam seus batimentos cardíacos.
Sua cabeça latejava e a temperatura de seu corpo parecia abaixo do considerado saudável. Sua boca estava levemente dormente e amarga.
Respirou fundo ao constatar que algo realmente estava errado naquele conjunto de informações recentes quando de repente lembranças de seus últimos momentos consciente invadiram sua cabeça, deixando-o levemente caótico.
Ele ergueu a cabeça e olhou o ambiente em volta com mais atenção. Notou estar sozinho.
Aos poucos o homem foi tomando consciência de todas as partes do seu corpo, movimentando-as levemente e causando formigamento em seus membros principais dada a falta de movimentação prolongada.
Ergueu-se devagar e desconectou os fios ligados ao seu corpo num puxão só.
Já sentado, ele notou as roupas que estava trajado. A camisa branca com um símbolo do exército militar dos Estados Unidos e calça camurça, pouco mais larga que seu corpo. Não se lembrava de tê-las vestido.
Pete se inclina para atirar a bola.
Rebateu. Uma bola rasteira. Passa direto pelo Rizzo.
Ao se atentar às informações que a voz do rádio posto sob o móvel ao seu lado pronunciava, sentiu-se um pouco confuso.
Sons de buzinas de carros ao lado de fora do prédio chamaram-lhe a atenção. Através da janela, constatou estar em uma cidade repleta de prédios altos e movimentação constante.
A multidão grita no rádio, desviando sua atenção.
Raiser vai para a 3ª base. Durocher acena para que corra.
Passada de bola, mas não vão tirá-lo.
A porta do quarto se abre e por ela passa uma mulher de cabelos vermelhos, rosto jovial e pele pálida, trajada com o uniforme militar.
Ela sorri gentilmente ao constatar que ele estava acordado.
- Bom dia – ela diz ao fechar a porta. E, ao conferir o relógio no pulso, se corrige: – Ou devo dizer “boa tarde”?
- Onde estou? – ele indagou sem rodeios.
- Num quarto de hospital em Nova York.
Oh, Dodgers!
Todos estão comemorando.
Steve franze o cenho, refletindo sobre os recentes acontecimentos e tentando concluir alguma explicação plausível.
- Onde estou de verdade? – ele questiona à mulher, que sorri antes de responder:
- Acho que não entendi.
- A partida – ele cita, indicando o rádio com a cabeça. – É de maio de 1941. Eu sei porque eu estava lá.
A ruiva fica aturdida e o sorriso acolhedor desaparece de seu rosto em instantes.
Steve se levanta da maca vagarosamente.
- Vou perguntar de novo - diz se aproximando da outra, seus nervos tensionados levemente doloridos. – Onde estou?
- Capitão Rogers...
- Quem é você? – ele esbraveja, a interrompendo.
No mesmo instante, dois homens armados adentram o quarto e Steve automaticamente se coloca em alerta. Eles ameaçam ir para cima do rapaz que joga os dois homens recém-chegados contra a parede. Ela se quebra, revelando que atrás dela, ao invés de corredores de um real hospital, estava, na realidade, um grande estúdio.
Steve fica ainda mais confuso.
- Capitão Rogers, espere! – a ruiva esbraveja, mas ele não dá atenção. Sai correndo atravessando todas as portas que poderia leva-lo a uma saída.
A um certo ponto, ele entra em um hall repleto de pessoas. Umas caminhando, outras conversando distraidamente. Todas trajadas de ternos e gravatas de aparência exorbitantes e carregando maletas. Quando notam sua presença, se assustam.
Pelo alto falante uma voz anuncia: Repetindo. Todos os agentes, código 13!
Ao se darem conta da situação, algumas das pessoas correm de encontro a Steve, que foge para fora daquele lugar antes que pudessem o alcança-lo.
Alguns deles tentam faze-lo parar, mas ele derruba todos sem dificuldade alguma antes que possam segurá-lo.
Já na rua, ele olha a sua volta e seu peito congela.
Prédios em formatos estranhos e carros de cores e modelos quais ele nunca havia visto por toda a sua volta. As pessoas que caminhavam nas calçadas, usando roupas curtas e de modelos diversificados quais ele não estava familiarizado assustaram-no ainda mais.
Assim, continuou correndo no meio da rua por entre aqueles carros anormais.
Ao virar em uma rua específica ele nota o compilado de prédios ao seu redor.
A confluência mais conhecida de Nova York e cruzamento de duas grandes avenidas mais famosas do mundo estava completamente reconfigurada. Com diversos letreiros coloridos e vibrantes de imagens que se moviam espalhados pelas faixadas dos prédios e centenas de metros quadrados superlotado de pessoas andando para todos os lados apressadamente. Não era daquela maneira que ele se lembrava da Times Square.
Tudo estava mudado!
Em questão de instantes, dois carros pretos pararam bruscamente na frente de Steve e de lá saiu um homem alto, de pele morena, roupas pretas e que usava um tapa-olho no olho esquerdo.
Ele esbravejou: - Descansar soldado!
Outros homens armados o acompanharam e cercaram Steve, que ainda se encontrava completamente desnorteado.
O homem do tapa-olho se aproximou.
- Me desculpe pelo showzinho lá dentro, mas achamos melhor ir contando aos poucos – disse o homem.
- Contar o que? – indagou o loiro ofegante.
O homem indicou com a cabeça um lugar atrás de Steve como resposta. E ao se virar, ele quase engasga ao constatar que ali estava . Aparentemente tão chocada quanto ele.
Ela vestia calças jeans rasgadas nos joelhos, uma regata da cor preta e um casaco igualmente jeans. Nada parecido com as roupas quais costumava usar. Notou também seus cabelos castanhos escuros estarem compridos, soltos e desarrumados, sem nenhum tipo de grampo os moldando.
Parecia a que ele conhecera e ao mesmo tempo uma pessoa completamente diferente.
- Steve – ela soprou estupefata.
- ? – indagou com a boca seca.
A mulher se aproximou lentamente e tocou-lhe o rosto. Steve se retraiu minimamente ao contato de suas peles e aos poucos foi se acalmando. Seus batimentos se regularizaram e a cabeça não latejava mais.
- O que está acontecendo? – ele murmurou.
umedeceu os lábios antes de recolher sua mão e sorrir para o amigo.
- Você andou dormindo, Steve.
- Dormindo? – repetiu com o cenho franzido.
- Por quase 70 anos.
O rapaz fora atingido com a notícia em cheio, respirando fundo para poder assimilar aquelas novas informações.
O gelo.
Recordou-se de mirar o mar congelante do Ártico antes de apagar completamente.
- Você está bem? – indagou o homem do tapa-olho, notando sua falta de palavras.
Steve assentiu e mirou novamente, juntando suas mãos às dela e suplicando com os olhos em um pedido silencioso.
sentiu seu coração doer. Ela sabia exatamente pelo o que ele estava passando. Conhecia aquela sensação como ninguém. Sentir como se estivesse preso em um pesadelo, o qual não conseguia acordar. Sozinho, em um lugar desconhecido, fora de si.
Ainda a amedrontava, aliás.
- Não se preocupe, - apertou suas mãos contra as dele – eu não vou te abandonar!
Já afastados das ruas, em um lugar mais privado e confortável cedido pela S.H.I.E.L.D., estavam e Steve frente a frente debatendo sobre alguns assuntos importantes.
- Você foi congelado, seu corpo foi conservado por conta do soro. Você sobreviveu todos esses anos porque o soro revitalizou todas as suas células por todo esse tempo – a mulher explicou. – O que é realmente impressionante, porque não sabíamos da potência dessa regeneração com a quantia de raios vita que você recebeu.
- Isso é loucura – Steve comentou rindo anasalado.
A tensão já havia se dissipado uma vez que eram apenas os dois velhos e bons amigos. Steve se sentira mais confortável, fora somente preciso 5 minutos de conversa para constatar que aquela realmente era a sua amiga.
- Nem me fale - riu, analisando os exames que os médicos da S.H.I.E.L.D haviam feito no rapaz. – Põe loucura nisso.
Steve deu um gole na água do copo em suas mãos antes de indagar:
- Quanto ao Howard?
sorriu tristonha e seus olhos se encheram de água automaticamente.
- Morreu já tem alguns anos – ela soprou com a voz engasgada. – Acidente de carro. Ele e a mulher não sobreviveram.
- Eu sinto muito, – disse verdadeiramente, pousando a mão sob o ombro da amiga.
- Fiquei sabendo do James também – ela fungou, segurando-se para não chorar novamente pelo mesmo motivo. – Morreu na missão para me resgatar.
- - ele se levantou e se aproximou para abraça-la. – Não foi sua culpa.
- Foi sim – soltou engasgada. – Você sabe que foi.
- Ele não aceitaria ficar em casa sabendo que você corria perigo – Steve explicou, afastando-se e limpando as lágrimas que escorreram pelo rosto da mulher. – Nenhum de nós aceitaríamos ficar parados enquanto você estava lá. Não há nada que poderia ser feito para impedir isso.
respirou fundo, controlando o nó em sua garganta.
Parecia ainda mais intenso agora que Steve estava ali, sofrendo as perdas com ela.
Procurando mudar de assunto, o louro indagou: - Quanto a você, o que aconteceu?
- Desde que voltei tenho trabalhado com Tony - ela sorriu ao recordar do homem. – Ficaria impressionado com a semelhança. Ele é a cópia do Howard.
- Howard teve filhos? – questionou surpreso.
- Teve. Um. – Revelou sorrindo. – E ele é maravilhoso, Steve. Vai adorar conhece-lo.
- Aposto que vou.
- Ele é um pouco excêntrico, e por vezes vai querer estrangular ele.
- Então ele realmente é filho do Howard – ambos riram.
- Mas é uma boa pessoa e tem um bom coração – ela disse com um sorriso terno nos lábios.
- Creio que sim – concordou.
- Nossa - ela soprou, refletindo sobre os últimos anos. – Tenho tanto o que te contar.
- Que tal começar explicando o que aconteceu depois que nos desencontramos na base de Schmidt? – sugeriu. – Você não envelheceu nada desde então. Isso foi efeito da explosão?
- Sim e não ao mesmo tempo – ela sorriu para a careta confusa que o amigo fez. – Bom, tudo começou quando...
¹ É um prato originalmente do oriente médio, composto de fatias finas de carne de carneiro ou frango, assada em um espeto vertical e servidas no pão árabe com legumes, homus (pasta de grão de bico), labneh (espécie de coalhada parecida com iogurte grego) e outros acompanhamentos.
² As Valquírias foram aviões de bombardeiro avançado usadas pela HYDRA durante a Segunda Guerra Mundial. Foram nomeados desta forma em homenagem as Valquírias da mitologia nórdica, quais serviam Odin.
2.1 - Sacerdotisa
Aquele vácuo imenso de escuridão em conjunto com diversos tipos de corpos celestes, quais reluziam parcialmente toda sua extensão ou formavam linhas luminárias em suas órbitas, eram corriqueiros para os inúmeros seres vivos que por aqueles locais transitavam.
Em suma, existem inúmeros corpos celestes, entre eles asteroides, cometas, estrelas, meteoroides, satélites, planetas, buracos negros, entre outros. Os indivíduos divagantes os reconhecem a anos luz de distância, dada a tecnologia de seus meios de transporte com a função de os protegem de prováveis ameaças do espaço sideral.
No entanto, quando se surge um corpo de diferente estrutura molecular, é necessária uma inspeção próxima para que seja feita o reconhecimento. Este não pode ser identificado previamente, logo sua existência é impossível de ser alertada.
Em uma das suas visitas secretas à Urano Ayesha, a sacerdotisa da raça dourada, nota um corpo não-identificado vagando entre a orbita de Vênus e o ponto de salto1 do mesmo nome. Intrigada com a forma do corpo ela ordena seus súditos recolherem a peça de matéria consistente.
- Provavelmente é lixo sideral, majestade – um deles disse.
- Não estou perguntando o que é, estou ordenando que o recolham – disse a líder fazendo com que automaticamente eles se calassem e cumprissem o que lhes foi determinado.
O corpo foi posto em uma mesa exploratória e o algoritmo2 dá-lhes o diagnóstico em poucos instantes:
- Sujeito ativo não-identificado com sinais vitais consistentes; Raça: terráqueo; Gênero: Feminino; Classificação: Sobre-humana. Atributos primários: Absorção de energia, durabilidade, força – relevou a voz robotizada do algoritmo.
- Uma terráquea com habilidades sobre-humanas? – um dos súditos debochou. – Desacredito que eles possam criar algo como igual. São seres primários.
- Obviamente temos a prova do que são capazes – a sacerdotisa repreendeu. – Nunca julgue a capacidade de uma raça por seus primórdios, você mais que ninguém deveria saber disso.
O súdito se encolheu amedrontado.
- O que faremos com isto, majestade? – indagou outro com desprezo. – Desconheço no que pode vos ser útil.
- Vocês não têm de compreender, desde que eu ordene têm de unicamente obedecer – ela grunhiu. – E eu quero esta terráquea. Sua durabilidade e absorção de energia a guardou sabe-se-lá quanto tempo vagando pelo vácuo, coisa que muitos de vocês não aguentariam segundos.
Ayesha tocou a face congelada da terráquea vagarosamente. Sob sua pele havia uma leve camada de energia cósmica3 de fonte desconhecida conservando sua integridade.
Ela observou seus cabelos desordenados de coloração castanha, trajes rasgados, sujos e cobertos de sangue seco. Contudo, não identificou nenhum sinal de hematomas ou cicatrizes. Tentou imaginar o que poderia ter acontecido a este ser.
- Esta é a razão de toda a minha existência – Ayesha declarou com um sorriso estampado no rosto. – Finalmente encontrei meu propósito. Ela.
Ao passear com a mão sob a pele do braço da terráquea notou que em dos dedos da mão direita, estava um anel metálico com uma pedra vermelha em destaque. Tirou-o e aproximou-o de seus olhos, observando-a atentamente.
- Livre-se disto – ela ordenou, depositando o anel nas mãos de um dos seus súditos, que logo deu-lhe as costas para cumprir o que lhe fora mandado.
Os indivíduos então seguiram para seu planeta, onde todos os seus seres vivos eram característicos por sua pele dourada e tamanho senso de superioridade.
Cada integrante daquele conjunto habitacional é geneticamente alterado, criados por si mesmos como uma espécie perfeita e autossustentável. Toda a sua estrutura provinha de ideais um único ser, qual designava todo o processo de acordo com preceitos narcisistas.
Ayesha.
Ela provinha de poderes maiores e significativos e com seu manuseio de energia cósmica sideral gerava berços, quais programavam essa energia e as convertia em matéria existente de consciência acoplada.
Porém, todo o seu conhecimento e experiência nunca puderam dá-la o ser completo que tanto idealizara em sua mente. Ela queria uma criatura absolutamente perfeita, com habilidades infinitas a qual mudasse toda uma existência e superasse a todos os seres já criados por todo o espaço e seus confins.
E com esta terráquea ela finalmente poderia realiza-lo.
Logo que a nave pousou no solo de Sovereign, Ayesha desembarcou seguida de seus súditos quais carregavam a terráquea desacordada. Seguiu diretamente ao seu laboratório.
- Ponham-na na cápsula embrionária suprema – ordenou apontando a maior caixa dourada, em formato de casulo, carregada de energia das baterias Anulax4.
- Saiam! Agora! – Ayesha ordenou aos súditos, que de imediato deixaram o lugar.
O corpo foi posto no berço, que se fechou.
Ao acionar o comando, suas vestes rasgadas foram incineradas e os cabelos soltos. Em seguida um líquido pastoso passou por todo o corpo, higienizando-o rapidamente.
Raios solares inautênticos projetados pelo casulo aqueceram-na, dispensando a utilidade da camada de energia cósmica de defesa que a protegia da temperatura extremamente baixa do vácuo e revitalizou o funcionamento solo da estrutura interna, despertando o corpo do coma induzido.
Uma malha fina e dourada foi vestida ao corpo. Esta cobriu toda a extensão do corpo, exceto mãos, pés e cabeça.
Ao acionar outro botão no painel de controle de vidro, tubos sintéticos surgiram das laterais da cápsula e se fundiram à terráquea. Adentrando em cada célula e inspecionando o que tinha por ali.
O escaneamento deu-se por completo e logo apresentou-lhe toda a estrutura corporal da terráquea. Seus órgãos vitais intactos, estrutura óssea, líquido que os drenavam e o núcleo, de onde agora emanava maior poder.
O corpo era poderoso e resistente e estava inteiramente conservado. Aceitaria sem dificuldades o novo tipo de energia que ela implantaria.
Antes que ela pudesse acionar a indução de absorção de energia de suas baterias para o corpo terráqueo, o painel lhe alertou da retomada de consciência.
Em poucos segundos, a caixa torácica da terráquea se estufou, em uma puxada de ar profunda, e os olhos se esbugalharam. Ela tossiu, pela perfuração do novo ar que adentrava seus pulmões, e retomou a respiração aos poucos, ainda ofegante.
Ayesha deveria tê-la sedado, mas já era tarde.
A terráquea, por sua vez, notou os tubos conjugados ao seu corpo e os repeliu, em uma única rajada de energia de coloração azul.
O monitor relatou à sacerdotisa que a energia mais poderosa era proveniente de suas mãos.
Assustada por estar presa a uma caixa dourada a terráquea cerrou o punho expandindo os raios azuis energizados e as portas da cápsula explodiram. Voando estilhaços a metros de distância, sem que ela precisasse ao menos tocá-las.
A terráquea olha ao seu redor e nota estar em uma espécie de sala com controles tecnológicos avançadíssimos, algo que nunca havia visto antes. Um ambiente de estrutura completamente branca com painéis em telas de vidro e centenas de casulos dourados com iluminação também dourada espalhados pelo local.
Ela observa também que atrás do maior painel de controle está um ser alto, magro, de estrutura corpórea feminina, com trajes intrigantes e pele inteiramente dourada.
Ela permanece petrificada como olhar sob aquele ser estranho. Mal conseguia respirar.
Ayesha hesitantemente movimentando as mãos em sua direção, dizendo: - Você está sob os cuidados dos soberanos, terráquea. Não têm o que temer.
Contudo a outra desperta de seu transe com os balbucios que saem de sua boca e estica a mão ofegante, ameaçando disparar. Ela estava completamente aterrorizada.
- Como ousa... – e antes que a sacerdotisa terminasse a frase, o jato de raios azuis a lança através das paredes de vidro.
Isso dá a terráquea tempo de fugir.
Ela olha ao seu redor e não nota nenhuma saída, então aproxima-se das paredes e passa a tocá-las. Assim que sua mão encosta na parede branca, essa abre uma espécie de abertura e revela outro cômodo e assim por diante até que ela avança para o ambiente exterior.
Em sua volta um lugar completamente excêntrico tornou a assustá-la, seus olhos ardem pela claridade de um sol da coloração vermelha. Quando sua visão se torna funcional ela vislumbra o que parecia uma cidade, com arranha-céus de estrutura estranha na cor branca, casas com paredes de vidro, arvores de folhas douradas, rios de água cristalina e seres quais manipulam a mais avançada tecnologia parecidos com aquela à qual ela acabara de atacar.
Eles vagavam a pé ou em caixas voadoras de cor dourada, mas pararam assim que notaram sua presença.
Ayesha surgiu logo atrás da terráquea, estava com os fios dourados dos cabelos desordenados e hematomas no peito.
A terráquea, por sua vez, ignorou o fato de estar em um lugar completamente exótico e torna a correr. Por vezes esbarrando nos seres que a analisavam com olhos curiosos.
Não conseguiu prosseguir por muito tempo. Ayesha manipula os átomos do ar, moldando-os num campo de força impenetrável ao redor da terráquea em forma de uma bolha cintilante.
Ela se aproxima cautelosamente.
- Agora consegue me compreender? – indagou, pronunciando palavras na linguagem terráquea: inglês.
A terráquea, ainda mais assustada, tenta disparar energia contra a bolha.
Sem sucesso.
- Não iremos lhe machucar, criatura! – garantiu a sacerdotisa.
A terráquea evita olhá-la nos olhos de coloração amarela e repensa uma maneira de escapar daquela bolha, tateia sua superfície com as mãos. Ela empurra, puxa e a chuta. A estrutura da bolha é completamente flexível e resistente.
- Estamos em paz! – Ayesha continuava.
Depois de muito relutar e concluir que não sairia dali tão facilmente a terráquea, de forma hesitante, a olha nos olhos.
Está tremula e ofegante, mas não perde a postura desafiadora e estica a mão deixando-a completamente energizada a ponto de disparar mais raios, apontando-a na direção da criatura que tentava contê-la. Ainda que soubesse que seus raios não ultrapassariam a barreira.
- Quem são vocês? Alienígenas? – indaga com a voz engasgada.
Ayesha assentiu desgostosa.
- De certa forma, sim.
- Onde estou? – questionou procurando não se abalar com a informação.
- Está em Sovereign, planeta dos soberanos. Seres impecáveis físico e mentalmente. Sovereign está localizado na décima galáxia denominada Via Cósmica.
Imediatamente a energia que ela concentrava em sua mão se apagou e a terráquea pousa a mão sob a boca, em choque. Seus olhos lacrimejaram, mas ela não permitiu que a lágrima escorresse pelo rosto, secando-a antes que caísse.
Vagarosamente olhou ao seu redor, todos os seres de pele dourada a encaravam curiosos/assustados/surpresos. Focou em dois específicos, um de estrutura corpórea feminina agarrada à um outro menor que a encarava aterrorizado. Supôs serem mãe e filho.
Respirou fundo e abaixou a guarda.
- O que aconteceu comigo? – indaga encarando os próprios pés, estes descalços.
- Estávamos vagando pela Via láctea quando encontramos o seu corpo na órbita de Vênus. Estava praticamente sem vida, os batimentos fracos. A recolhemos e trouxemos para cá para cuidarmos de você – Ayesha explicou.
A terráquea se encolheu, abraçando os braços. Ela tentava buscar lembranças em sua mente que pudessem explicar aquele ocorrido. E, de repente, a imagem de um cubo luminoso de cor azul surgiu.
- O Tesseract – ela murmurou para si mesma.
- Não queremos lhe fazer mal algum.
A terráquea fechou os olhos em pesar. Aquilo não podia estar acontecendo.
- Eu vou libertá-la da bolha, só se prometer que não disparará sua energia em nosso povo – Ayesha disse.
A outra então abriu os olhos e respirou fundo, assentindo levemente, e pôs as mãos acima da cabeça onde ficassem evidentes. O campo ao seu redor foi se dissipando até que sumisse por completo.
Ayesha se aproximou da terráquea e garantiu aos demais: - Ela não vai nos machucar, só estava assustada. Por favor retornem aos seus afazeres.
Um dos membros do conselho se aproximou de Ayesha e a confrontou: - O que diabos isso quer dizer, Ayesha? Socializando com humanos?
- Senhor Mitx, espero que não esteja questionando as minhas decisões.
A terráquea os observou de perto ainda assustada, contudo, mais calma.
- Só espero que não gaste recursos desnecessários com esse tipo de raça – esclareceu desgostoso.
- Não se preocupe – disse ao dar as costas à Mitx e, virando-se para a terráquea, pediu: - Me acompanhe e eu responderei todas as suas dúvidas, terráquea.
A terráquea abaixou as mãos vagarosamente e assentiu, então Ayesha a guiou até um dos rios, com plantas e bancos de vidro ao redor. Sentaram-se em um dos bancos e ficaram ali por um tempo, apenas apreciando a paisagem.
O lugar era pacífico, o que permitia à terráquea pensar com maior clareza.
– Meu nome é Ayesha, sou a alta sacerdotisa deste planeta – apresentou-se. - Você está bem?
A terráquea assentiu levemente, sem olhá-la nos olhos, e explicou: - Só estou em choque. Nós, da terra, sequer imaginávamos vida fora de nosso planeta. Quem dirá planetas com seres conscientes e com uma inteligência totalmente avançada.
- Existem bilhões de seres por este espaço afora, a terra se poupa destes contatos conosco desde os primórdios. A nossa galáxia é uma pequena parcela de tudo o que existe.
- Imagino como tudo poderia ser diferente se soubéssemos.
Ayesha assentiu. Elas voltaram a mirar a paisagem.
- Você consegue se lembrar de quem é e o que aconteceu?
A terráquea enruga a testa, buscando fatos em sua memória que se mostram sem dificuldade alguma.
- Meu nome é Stark, eu sou de Nova York. Fica nos Estados Unidos.
- Vejo dentro de você, é uma das minhas várias habilidades. Já estive na presença de um humano comum antes, mas a sua genealogia é um tanto quanto curiosa.
respirou fundo e deu de ombros ao falar: - Não é como se o governo americano fosse me prender por isso... Eu fui mutada acidentalmente.
Ayesha indicou que ela poderia prosseguir.
- Estávamos desenvolvendo um projeto na terra para acoplar os genes de soldados e transformá-los em seres mais fortes e mais inteligentes. Eu era uma das cientistas envolvidas. Na realização do projeto, tive um contato com os raios vita e o soro da mutação, desenvolvido por outro cientista. Eles acabaram fundindo-se a mim, mutados pela radiação tóxica.
- E isto a permitiu jatos de energia pelas mãos? – indagou curiosa.
- Entre outras habilidades – mordeu os lábios em hesitação. Não sabia se podia confiar em um ser qual ela não sabia quais eram as morais. Talvez esse tipo de revelação poderia coloca-la em risco ou os outros humanos.
- Pude identificar a absorção de energia, durabilidade e força. Está correto? – Ayesha indagou, deixando a outra surpresa.
- Isso – soprou incerta. – A primeira que se manifestou foi a regeneração, meu corpo suporta qualquer tipo de ferimentos ou ameaças. Depois vieram os raios, daí descobrimos que meu metabolismo foi completamente reprogramado de uma forma que eu não envelheça, e então a absorção de energia – disse engolindo em seco, ao se recordar dos jatos de energia do Tesseract que eram atirados em sua direção e a dor que provinha da absorção da descarga desta energia para o seu corpo. Ela não percebia na hora, mas seu corpo se tornava mais forte a cada tiro.
- Isso é fantástico.
- Tem seus lados positivos – deu de ombros. E ao se recordar de um fato, indagou: - Por qual razão eu estava naquele casulo esquisito?
- Estava te despertando do coma. Seu corpo trabalhou durante anos para a conversação contra a ameaça do vácuo. A gravidade zero, temperatura extrema e corpos celestiais deveriam ter te matado, mas seu corpo lhe resguardou. A cápsula embrionária reativou os seus órgãos.
- Por quanto tempo eu fiquei simplesmente vagando por lá? – questionou ao notar seus cabelos que, antes estavam na altura de seus ombros, agora batiam na altura de sua cintura.
- Devido ao estado da sua preservação, eu diria que de sol 3.650 a sol 4.380.
- O que isso quer dizer? – Soltou chocada.
- Ah sim, me esqueci que a contagem do tempo terrestre é diferente – Ayesha ri descontraída e passa a mão no queixo pontudo, calculando mentalmente. – O ano de vocês é de 366 dias com 24 horas cada, certo? – ela indaga e a terráquea assente inconscientemente. A sacerdotisa aperta os olhos teatralmente e não demora a revelar: - Digamos que pode ser de 10 a 12 anos terráqueos.
- O que? – engasgou, pasma.
- Sim, infelizmente nós não costumamos visitar aqueles arredores por conta da temperatura do sol. Vênus está muito próximo do sol de seu sistema solar.
- Isso é loucura. Devo estar sonhando – murmurou chacoalhando a cabeça em negação.
- Sei que é muito para se absorver de uma vez só – disse Ayesha. – Deve estar faminta. Vou pedir para meu povo lhe arranjar alimento e em seguida que tal você ir repousar por um tempo em um dos nossos quartos luxuosos?
virava de um lado ao outro naquela enorme cama dourada. Os tecidos sedosos de cor também dourada em nada ajudavam a sua mente parar de trabalhar.
O quarto super espaçoso era um tanto que exagerado, comparado aos quartos da terra. As paredes eram neutras em um tom branco-gelo e detalhes em dourado destacavam-se. Os únicos móveis presentes eram a cama e um tipo de poltrona em um formato estranho.
Ela não conseguia parar de pensar nas pessoas da terra. Seu irmão Howard, seus amigos Steve e Peggy, e o grande amor de sua vida, James.
Teriam eles ganhado?
Estariam procurando-a até hoje ou fora dada como morta ou desaparecida?
Como estariam neste exato momento?
Seus olhos ficavam facilmente molhados ao se recordar dos fantasmas de seu passado. A tortura, a ira, o mal. Ela achava que ia acabar morrendo naquele cativeiro e quando finalmente é salva, acaba sendo transportada para o espaço.
Pensava consigo, ainda dera sorte desse povo hospitaleiro tê-la abrigado e cuidado dela. Não sabia como funcionavam as coisas no espaço, mas imaginava que, como em qualquer lugar, havia os seres cobertos pelas trevas que poderiam querer fazê-la algum mal.
Os soberanos a resgataram.
E com este pensamento positivo ela forçou seus olhos se fecharem e sua mente ficar vazia. Para que, finalmente, pudesse descansar.
Não muito longe dali estava Ayesha reunida com o conselho Soberano.
- Estamos incomodados pelos recursos que foram gastos, suma sacerdotisa. Fez o resgate da humana às escondidas, não pensando nas consequências de tal ato. Aquela criatura não é honrosa para ser ajudada por nós.
- Tolos. São o que todos vocês são – disse Ayesha.
- Como ousa? – um dos membros se ergueu, ameaçando avançar.
- Basta, Félix! – uma outra ordenou, fazendo com que ele voltasse ao lugar. Agora, direcionando sua palavra à sacerdotisa, indagou: - Você vê potencial neste ser, Ayesha?
- Quando notarem o que eu irei criar com ela o ódio de vocês se dissipará.
- Vai convertê-la para nossos genes?
- Não, meus queridos. Ela é um passo para a evolução. Será mais poderosa e mais inteligente que todos nós. Será capaz de destruir os Krees5.
- Como a humana aceitará simplesmente destruir toda uma raça? Não vai contra a moral dos terráqueos?
- Ela não tem que aceitar.
¹ Pontos de saltos são portais espaciais transitórios, eles transportam o indivíduo de um ponto do Universo a outro.
² Inteligência artificial dos soberanos.
3 Energia cósmica caracteriza-se por uma vasta e ilimitada fonte de energia proveniente do Espaço; Pode ser encontrada em diferentes tipos de corpos celestes como asteroides, cometas, estrelas, meteoroides, satélites, buracos negros, entre outros; É o que abastece a vida no Universo.
4 As baterias Anulax estão entre as fontes de energia mais poderosas do universo e são muito caras. Apesar de aparentemente pequenas, a quantidade de energia delas é ilimitada, podendo alimentar uma frota de naves inteiras cada uma ou ser usada como fonte de explosivo de alto dano. Os soberanos usam isso como um gerador de energia em seu planeta.
5 Os Krees são uma raça humanoide de extraterrestres que criou um vasto império intergalático. A espécie se originou no planeta Hala, no sistema Pama, muito antes dos primeiros habitantes da terra.
2.2 - Callisto
A escuridão.
Esta tomava posse de todo o cenário em um infinito de breu lastimável.
não enxergava um palmo a sua frente, simplesmente vagava pelo nada de sombras recorrentes.
Ao longe, uma faísca avermelhada irrompeu e destoou toda aquela escuridão. Chamando-lhe a atenção.
A iluminação era fraca, mas já permitia que conferisse o próprio corpo e notasse que estava coberta apenas por um vestido de seda da cor preta, qual batia na altura de suas coxas.
Assim que constatou que seus pés descalços não tocavam o solo abaixo de si, percebeu estar flutuando. Contudo, antes que pudesse se desesperar por tal fato, a iluminação se intensificou piscando vagarosamente em sua direção.
Seu ritmo compassado era hipnótico e sentiu-se imediatamente atraída por tal luz avermelhada. À medida que se aproximava da luz, de suas costas surgiam asas gigantes com penugem negra. Estas, completamente sombrias.
Surpreendentemente, ela não hesitou em seguir em frente e ignorar aquele fato, voando feito um anjo diabólico enfeitiçado pelo ponto brilhante.
Assim que atravessou a faísca iluminada caiu de joelhos em um solo barroso, machucando-os por estarem descobertos.
Percebeu agora estar trajada com o uniforme do exército. Saia da coloração verde musgo, camisa social bege de mangas compridas, adequadamente limpa e passada, gravata enlaçada perfeitamente, cabelos presos em um coque impecável escondidos sob um cape igualmente verde musgo.
As asas haviam desaparecido.
Ao olhar ao seu redor, seu peito congelou.
Soldados ensanguentados caídos aos montes aos seus lados gemendo de dor enquanto outros, ainda sem ferimentos graves, corriam em diversas direções tentando desviar-se das bombas que caiam do céu claro.
se levantou rapidamente e correu.
Corria porque sua vida literalmente dependia disso. Sentiu seu pulmão suplicar por ar, mas não pôde parar, tinha que sair dali ou morreria. Atravessava a floresta densa e úmida ao lado de soldados de rostos desconhecidos.
Dado certo ponto, o silêncio tomou conta do local, como se seus ouvidos tivessem sido arrancados de sua cabeça.
Ela olhou para trás de si, sem parar de correr, e acabou tropeçando nas raízes de uma arvore gigantesca.
Ergueu-se lentamente apoiando-se em suas mãos e notou um anel curioso em seu anelar direito. A pedra da cor vermelha destoava da sua pele pálida e, agora, suja de lama.
Assim que ergueu o rosto, encontrou o homem a quem aquele anel era relacionado.
Ele estava sentado por entre as raízes da árvore e escorado em seu tronco, numa posição consideravelmente confortável. Em suas mãos, o cubo brilhoso de cor azulada, cintilando perigosamente.
- James! – gritou. – Vamos, largue isto! Temos que sair daqui!
O rapaz, que a pouco tinha a atenção voltada para a correria dos soldados por entre as arvores, virou em sua direção e sorriu ternamente.
- Meu amor - ela pronunciou, gatinhando em sua direção. – Querido, precisamos sair daqui!
Assim que sua mão que carregava o anel tocou a mão do rapaz, sua aparência foi se degradando. A sua pele aos poucos apodreceu, adquirindo uma cor esverdeada, um dos globos oculares do rapaz saltou para fora da órbita, de onde escorreu sangue vivo, seu braço direito deslocou-se do ombro, enquanto sua pulsação ia desacelerando até cessar por completo.
Ela gritou em desesperou: - James!
Ele estava morto.
A expressão em sua face representava a dor e o desespero, em uma assustadora sintonia agonizante.
agarrou-se as vestes ensanguentadas do rapaz aos prantos. Ali estava o corpo sem vida do homem por quem jurara seu amor eterno.
A correria ao redor deles cessou à medida que a vida de James se esvaiu. Os soldados pararam e olharam em sua direção para então desaparecerem, evaporando em fumaça cinzenta.
Os olhos de estavam embaçados por conta das lágrimas, portanto demorou a perceber que um dos soldados não evaporara e agora andava em sua direção em passadas firmes.
Ela piscou algumas vezes até que enxergasse quem era.
Steve Rogers a puxou pelo braço com violência, cuspindo com ódio na pronuncia de suas palavras de uma forma que ela nunca havia presenciado: - Olha o que você fez! Você acabou com ele, acabou com todos nós!
Steve puxou o queixo da jovem bruscamente, forçando-a olhar para o próprio rosto.
Metade da face de seu amigo estava desfigurada, como se um animal com garras afiadas tivesse as encravado ali e as puxado, rasgando-o todo. O sangue escorria pelo seu pescoço até chegar em seus pés.
- Você fez isso conosco!
Dito essas palavras, ele a jogou de volta ao chão.
Caída por entra folhas secas notou que o vestido de seda e asas pretas retornaram.
Ela rolou para o seu lado direito e deu de cara com Howard.
A expressão na face do seu irmão era indecifrável, petrificada. tocou-o com as costas da mão trêmula, e notou que sua pele estava gélida além de pálida. Ele estava deitado em posição fetal, agarrado aos próprios joelhos.
- Você não estava lá – ele sussurrou em sua direção. – Te procurei em todos os lugares. Você não estava lá.
- Howard... – murmurou engasgada.
- Anjo da morte – dito isso, ele sacou uma arma e pôs contra a própria cabeça, disparando-a logo em seguida. Seu crânio estourou, espalhando massa encefálica por todos os lados.
- Não! – esbravejou desesperada, abrindo os olhos com a respiração ofegante. Seu coração tamborilava em seu peito quase que o esmurrando, subindo e descendo em uma sintonia estressante.
Notou ter retornado ao quarto de paredes branco-gelo de detalhes em dourado e ergueu-se, sentando na cama com uma a mão sob o peito enquanto a outra apertava os lençóis dourados embaixo de si.
Deslizou a mão que estava no peito para o ombro até chegar em suas costas, constatando que não havia mesmo asa alguma ali.
Suspirou aliviada.
Ao encarar a mão direita ela finalmente notou a ausência do anel de noivado. Anel o qual ela procurava guardar consigo desde que o ganhara. Mesmo na base de Schimdt, onde ela insistiu por ficar com ele.
Procurou por entre os lençóis e até mesmo embaixo dos travesseiros, não encontrando nada apalpou o macacão dourado colado ao seu corpo. Por fim, deu de ombros.
Sua vida havia mudado drasticamente desde então. Imaginou que possa ter se perdido no espaço.
Puxa.
O espaço.
Sim, ela ainda estava em um planeta diferente do seu e cercada por alienígenas hospitaleiros. E aquelas imagens terríveis que rondavam a sua cabeça fora de um de seus pesadelos.
Ela havia se esquecido do efeito que aqueles malditos pesadelos tinham sobre si. Eles eram tão vívidos que podia crer serem reais se não fosse ainda mais crível a sua atual situação.
Passou a mão pelo rosto e tirou os cabelos grudados pelo suor de sua testa, saltando para fora da cama logo em seguida.
Precisava de água, sua boca estava amarga e os lábios ressecados.
Permitiu-se explorar o lugar em busca do líquido. Assim, saiu pela abertura na parede, tentando lembrar-se do caminho que fez até chegar ali.
Passados alguns minutos que estava perdida por aquela casa de formato estranho, ela pôde ouvir alguém cochichar. Antes que se anunciasse e pedisse que a ajudassem com a questão da água, ela entendeu a palavra terráquea e engoliu suas palavras, para que compreendesse o que os seres da sala ao lado conversavam.
“Soube que a suma sacerdotisa tem planos para ela” revelou um deles.
“Quais planos, torna-la uma de nós? Ainda não sei o que ela possa ter visto de tão interessante naquele ser desagradável. Os humanos são imundos”outro pronunciou com nojo.
“O conselho já deu a ordem, Ayesha tem totais poderes sobre a terráquea, assim como todos os recursos que ela bem quiser para explorá-la”.
Espera um pouco, o que?
“O que acha que Ayesha vai fazer com ela?”.
“ Fazer dela um ser inigualável” revelou um deles em tom de deboche.
Então eles não iam leva-la para casa, queriam fazer mais experimentos nela. já devia saber, a partir no momento em que a mulher da pele dourada demonstrara tamanho interesse em seus dons.
E ela não permitiria que outro cientista louco inserisse qualquer coisa que fosse em seu corpo, seja humano ou alienígena.
Se afobou, tinha que sair daquele lugar imediatamente, mas como?
Procurou por uma saída, uma daquelas aberturas tinha que dar lá fora.
Ao virar por um corredor, deu de cara com um dos soberanos que andava tranquilamente por ali. Ele estava vestido com roupas igualmente douradas, contudo estas pareciam ainda mais trabalhadas que as dos demais habitantes. Mesmo as de Ayesha.
Ele se assustou ao constatar no corredor.
- Ora, ora – ele pronunciou surpreso. – Deve ser a terráquea a qual todos estão comentando.
engoliu em seco e respirou fundo.
Eles ainda não sabiam que ela havia descoberto suas intenções com ela, então procurou se acalmar.
- A própria.
O soberano sorriu ainda mais surpreso.
- Já aprendeu a se comunicar na nossa linguagem, legal!
franziu o cenho e abriu a boca algumas vezes antes de indagar:
- Estou falando de forma diferente?
- Se está querendo dizer diferente da sua língua-mãe, sim está – ele sorriu amigavelmente. – Os soberanos tem uma linguagem própria, a maioria dos outros seres galácticos demoram décadas para aprimorá-la. Estou surpreso que tenha aprendido em pouco menos de um dia.
- Como posso falar uma língua diferente se ao menos percebo isso?
- Talvez seja um de seus dons – supôs o rapaz.
- O que sabe sobre os meus dons? – ela retrucou com a pergunta, arqueando a sobrancelha desconfiada.
- Não muito – deu de ombros. – Só sei o que vi pelas ruas. Rajadas cósmicas impressionantes, devo dizer.
- Obrigada. Eu acho – disse hesitante, em dúvida. Então, com a testa franzida, indagou: - Disse cósmicas?
- Sim – ele sorriu. – As propriedades das partículas de seus jatos energizados são provenientes de energia espacial.
- E sabe disso só os vendo? Mesmo de longe?
- Eu não sou só o príncipe de Sovereign, faço parte da equipe laboratorial e estratégica de segurança do nosso planeta.
- Eu ao menos sabia que você era príncipe – riu anasalada. – Quero dizer, vossa alteza?!
- Por favor, isso não é necessário – ele pediu sorrindo gentilmente. - Nós usamos energia cósmica na orbita do nosso planeta para nos proteger de eventuais ataques, então consigo reconhecer a composição á anos luz de distância.
- Então... essas rajadas que saem do meu corpo são energias do espaço sideral? Como isso é possível? – indagou perplexa.
- Esteve em contato direto com algum utensilio proveniente do espaço?
- Claro que n... – ela engoliu a própria fala ao se lembrar do Tesseract. Tal objeto de origem duvidosa que Schmidt endeusava. O cientista louco costumava chama-lo de artefato enviado pelos deuses de outros mundos.
Quem garante que ele não adicionou resíduos do próprio Tesseract no soro que pediu para Alex inserir nela quando ainda estava no hospital se recuperando da explosão da execução do Projeto Renascimento.
- Está tudo bem? – ele indagou.
- Está sim – garantiu ainda com a testa franzida. – Quando fizemos testes lá na terra, não sabíamos dizer ao menos se ficaria viva porque a composição dessa propriedade era de origem duvidosa e estava se alastrando pelo meu organismo. Nunca poderíamos imaginar uma coisa como tal.
- Desculpe dizer, mas era para você estar morta.
- Como disse? – rebateu estupefata.
- Digo, para que você consiga manipular energia cósmica, de duas uma: você fora projetada para nascer com esse dom ou sofreu uma absorção completa de uma quantidade deste resíduo. Na última das alternativas, era para estar morta assim que o resíduo tivesse entrado em contato com o seu organismo. O organismo humano não tem capacidade de suportar esse contato.
- Está dizendo que eu não sou humana? – indagou assustada.
- Não sei – ele riu descontraidamente. – Pode ser, mas se for, algo aconteceu para que suas células se tornassem tão resistentes.
A explosão.
- Nossa! – suspirou aliviada e comentou distraída: – Gostaria de saber o que realmente aconteceu com meu corpo. Digo, eu era completamente normal e a cada dia venho adquirindo habilidades anormais por conta dessa composição.
- Podemos descobrir o porquê – disse. – A cápsula embrionária pode fazer um scanner do seu corpo e dizer exatamente quando e como os resíduos se consolidaram.
mirou o rapaz dourado desconfiada, lembrando-se dos comentários anteriores.
- Por que eu deveria confiar em você? Por que quer me ajudar?
O rapaz sorriu contido.
- Não têm de confiar em mim, eu só estou curioso com essa sua composição celular. Além de te ajudar a saber sobre a origem dos seus dons essa pesquisa poderia me mostrar como desenvolver energia cósmica proveniente de outros princípios além do espaço – ele deu de ombro para explicar em seguida: – Nosso meio de coleta de energia cósmica vem desencadeando alguns problemas tóxicos em nosso povo.
mordeu o lábio inferior duvidosa. Ela não podia confiar em um deles, mesmo que parecesse inofensivo.
Contudo, saber o que andava acontecendo com seu corpo... ela precisava compreender isso.
- Depois que os resultados saírem você pode fazer o que quiser – o rapaz garantiu.
- Até mesmo retornar ao meu planeta? – indagou, perspicaz.
- Nada mais justo – ele sorriu.
- E você vai me ajudar a voltar para lá? – questionou séria. – Se prometer que vai me enviar de volta ao meu planeta assim que saírem os resultados, eu entro naquela coisa esquisita.
O ser dourado analisou as suas opções rapidamente e assentiu, esticando a mão na direção de : - Dou a minha palavra, terráquea.
mira a mão no ar e pensa o quão aquilo era perigoso, mas ela não tinha outra alternativa. Não havia encontrado outra maneira que pudesse leva-la para longe dali. Então apertou a mão do rapaz e assim que o fez, teve uma forte sensação de que ele estava sendo verdadeiro em seus dizeres.
Franziu o cenho e mirou-o nos olhos, tão transparentes quanto as águas cristalinas dos rios de seu planeta. Seu rosto gritava honestidade.
Eles soltaram as mãos e logo o ser dourado a indicou o corredor pelo qual eles poderiam seguir.
Antes que saíssem para o lado externo, o rapaz a parou repentinamente.
- Só um detalhe - disse ao se despir da sua capa de coloração dourada, e jogá-la por cima de . – Coloque isto. Para não chamar a atenção dos seguranças.
Ele arrumou a touca sob a cabeça da terráquea e a capa de modo que a cobrisse por inteiro. observava como delicadamente ele ajeitava seu cabelo para dentro da capa.
- Eu ao menos sei o seu nome, príncipe – ela soprou.
- Por favor, me chame apenas de Callisto – ele sorriu ao finalizar.
- Sou .
- É um prazer, – disse antes de segurá-la pela mão e saírem porta afora.
2.3 - Poder Cósmico
O toque da mão quente na estrutura gélida da cápsula, fez com que recolhesse a mão instintivamente. As pontas de seus dedos pareciam estar cada vez mais sensíveis ao mais simples toque.
Ela percorreu os olhos de seu reflexo que cintilava na superfície da peça à sua frente até a área oposta do cômodo. Estava de volta ao laboratório de paredes exageradamente brancas, bancadas de vidro quais emanavam o tipo mais avançado de tecnologia e repleto daquelas cápsulas douradas, desta vez, na companhia de Callisto.
O rapaz a olhava significantemente, instigando-a a entrar naquele casulo dourado e revelar fundamentos imprescindíveis para a sua existência e sobrevivência.
Vagarosamente ela deslizou seus dedos por toda a extensão da peça com os olhos fechados. Ela podia sentir a energia em seus tubos percorrendo por envolta de sua dimensão.
Sem mais tardar pressionou a porta, que se abriu automaticamente.
Ela se acomodou dentro da cápsula e mirou Callisto, que indicou positivamente com a mão e um sorriso no rosto. Ela observou-o até a porta fecha-la em um espaço limitado.
- Tudo bem, ? – ouviu a voz de Callisto indagar por algum transmissor dentro da capsula.
- Tudo – suspirou fundo. – Podemos começar.
- Tá legal – le respondeu. – Vou pedir que não se mexa.
- Porque eu faria... – antes que ela terminasse sua indagação, sentiu um tubo finíssimo perfurar suas costas e se infiltrar entre suas células e adentrar o seu corpo.
Ela podia identificar o tubo se projetando e multiplicando por entre suas veias e órgãos.
Era angustiante, mas não insuportável.
Os tubos tomaram as suas artérias e articulações desde os seus pés até o seu cérebro, este, por último.
Quando o mais fino dos tubos se infiltrou por entre os seus neurônios, gritou.
- ?! – Callisto chamou-a apreensivo.
Ela não conseguia pronunciar nada além daquele berro contínuo que apresentava toda a potência de suas cordas vocais.
Ela sentiu algo bater contra a porta da cápsula. Era Callisto.
- , acho melhor pararmos por aqui...
- N...ão – conseguiu converter o grito em uma sílaba.
- Certo. Vou tentar ser o mais breve possível – revelou.
Dado certo ponto, não sabia se estava inconsciente por tamanha a dor, ou se ela cessara repentinamente.
A sua frente um holograma reluzente surge e imagens começam a aparecer. Definitivamente era o circuito de artérias e veias de uma pessoa visto por dentro, o que era completamente impressionante visto que ela só vira algo como igual quando abrira um corpo.
Uma combustão ofusca a imagem, contudo, em questão de milésimos de segundo a massa se regenera. Inicialmente está lenta e relutante, como se o próprio organismo estivesse tentando repelir a cura precipitada, mas em seguida, vasos e vasos se reconstituem até pararem em um estágio inacabado.
- Está vendo isto? – a voz de Callisto questionou, mencionando o líquido de coloração azulada que se infiltrou pela veia principal, liga ao coração. – Isto é o composto cósmico com um soro de singularidades e resíduos terráqueos se conectando ao seu organismo.
De repente as artérias começam a se romper completamente, frágeis como seda, para que então renascessem do zero com uma estrutura molecular diferente.
- Quer dizer que minha estrutura molecular simplesmente se refez? – ela indagou já do lado de fora da cápsula, mirando o painel de vidro que repassava as etapas moleculares de seu sistema.
- Ela não só se refez como também é autoimune e agressivo – Callisto explicou apontando para o painel. – Cada vez que seu corpo se sente ameaçado, ele encontra uma forma de se autocriar e se refazer para te defender.
- Me tornando cada vez mais forte – soprou.
- Exatamente.
- Então não existe uma forma de parar? – questionou. – Digo, ele sempre vai estar se autodefendendo então eu sempre estarei aparecendo com novos dons?
- Uma possibilidade infinita de dons. Isso explica como você aprendeu a nossa linguagem tão rapidamente. Sua mente está se adaptando e evoluindo – Callisto ressaltou. – Aconteceu porque se sentiu ameaçada.
- Então, se eu parar de me sentir ameaçada...
- Seu corpo não vai reagir.
- Faz sentido – ela concordou, dando de ombros. – Talvez eu consiga compreender os meus próprios instintos de forma que consiga controlar essas defesas automáticas.
- É possível – o rapaz assentiu – Se conseguir jogar para o seu subconsciente que não corre ameaça alguma, eles desaparecerão.
- Então eu preciso acessar o meu hipocampo¹ para conceituar algumas lembranças que induzam o meu sistema límbico8 a programar o meu corpo em padrões normais.
- Por que faria isso? – Callisto riu anasalado. – Aparentemente você pode ser o ser mais poderoso do universo e está se recusando a isto?
fixou o olhar em um ponto qualquer no chão e franziu a testa, refletindo.
- Desde quando adquiri essas... habilidades – ela sorri triste. – As pessoas ora ou outra perguntavam o porquê de eu não querer ficar com elas, o porquê eu não as aceitava – umedeceu os lábios para ganhar tempo. – Do meu ponto de vista, ninguém pode se dar ao luxo de ter acesso a esse tipo de poder. Qualquer indivíduo nunca será sensato o suficiente para decidir o que fazer com ele. É tão abrangente e tentador que se torna perigoso, algo pelo qual as pessoas lutariam com suas vidas para ter.
- Só para ter repleto controle – Callisto soprou.
- Exato. A ilusão do poder supremo cria a guerra. Superpotências lutam todos os dias para dominarem uns aos outros e defenderem os seus conceitos e fazem de tudo para ganhar. A guerra é cruel. Entre a benevolência e a rebeldia existem os inocentes - ela engoliu em seco ao se recordar do bombardeio na divisão 107. – Eu só não quero ser responsável pela morte deles.
- Mas, é fácil – deu de ombros. - Se alguém tentar ir contra você para ter os seus poderes você pode facilmente lutar para impedir isso. – Sugeriu – as rajadas cósmicas são imbatíveis.
- Não é tão fácil – ela sopra e o rapaz franziu o cenho, confuso. Portanto, ela tratou de explicar: – Apesar da minha capacidade e força. Todos temos nossas fraquezas e bons observadores sabem usá-las e jogá-las contra nós, como estrategistas. São capazes de fazer a nossa cabeça, nos instigar, nos enganar... Seja qualquer a forma de persuasão, força física ou emocional, eles sempre têm como nos fazer colaborar. Concordado ou não. Por bem ou por mal – engoliu em seco – Não seria a primeira vez que aconteceria.
Callisto escorou-se na mesa de controle, virando-se para , e cruzou os braços, indicando que ela poderia continuar.
- As pessoas ficam loucas e fazem tudo pelo poder. É algo que sobe à cabeça. Transforma as pessoas - o rapaz assente lentamente, então ela prossegue: – Pouco antes de ser tele transportada para o vácuo do espaço, eu estava em cativeiro sendo mutada e torturada para criar ainda mais poder para que um falso diplomata conseguisse comandar o nosso mundo.
Callisto engoliu em seco.
“Isso foi um acontecimento. A questão é que o cara que fez isso comigo não é o único líder com ideais disposto a ameaçar, chantagear, torturar e matar. Em qualquer lugar pode-se encontrar alguém disposto a fazer coisas terríveis para conseguir o que quer – mordeu o lábio inferior antes de admitir. – Eu sempre soube que isso ia acabar acontecendo e o que eu mais temia era que pudesse colocar aqueles que eu amo em risco por conta disso – indicou soltando faíscas oscilantes pelas mãos. – A todo momento, enquanto estava naquele cativeiro, ficava me perguntando o que ele seria capaz de fazer com eles caso eu me recusasse a participar dos experimentos dele. Eu poderia muito bem sair de lá, mas ele estava comigo nas palmas de suas mãos.”
puxou uma cadeira e se sentou, passando as mãos pelo rosto e suspirando fundo.
- Desejei morrer, todos os malditos dias que estive naquele lugar.
Callisto puxou uma cadeira também, sentando-se de frente a .
“Fui tele transportada repentinamente então eu não sei como ou se a guerra acabou no meu planeta, nem mesmo a certeza de que aqueles que eu amo estão a salvo. Contudo, eu me recuso permitir que outros usem isso – indicou as mãos – contra mim novamente. Por isso eu tenho que acabar com isso”
Callisto assentiu vagarosamente.
- Com tudo o que se passa na minha cabeça, eu não posso assumir uma responsabilidade tão grande que é ter controle deste tipo de poder. Proteger aqueles que eu amo era o meu propósito. Mas agora que estou aqui, pedida de novo, desnorteada, eu não tenho mais nada – ela suspirou. – Eu não sei o que fazer nem o que pensar e estar assim me torna vulnerável – ela secou a lágrima que escorreu por sua bochecha. – Só mais uma arma.
Callisto respirou fundo.
- Meu irmão costumava dizer: “Nenhuma grana no mundo pode comprar um segundo de tempo” – ela engoliu em seco. – Eu renunciaria a todo esse poder por mais um minuto com eles. Só para saber se estão bem.
O silêncio se apossa do ambiente maçante, ambos perdidos em próprios pensamentos.
- Desculpe, não sei o que há comigo. Não costumo me abrir desta forma com estranhos – sorri sem graça. – Não tem que ficar me ouvindo lamentar minhas perdas.
- Está tudo bem, é sério – Callisto sorriu gentilmente. – Apesar de não poder alterar o seu passado, quem sabe eu não consiga melhorar o seu futuro – ergue uma sobrancelha e o rapaz completa: - Eu já consegui o que queria para a minha pesquisa. Te ajudo ir para casa e ver se estão todos bem.
franziu a testa para em seguida sorrir desacreditada.
- Está falando sério?
- Foi o que eu prometi, não foi? – ele virou-se para o painel e começou a apertar em diversos botões consecutivos. – Só vou apagar os registros desses exames para, você sabe... ninguém ir atrás de você querendo usá-la novamente.
recordou-se da conversa que havia ouvido secretamente há algumas horas e mordeu o lábio inferior, duvidosa. Mas seu instinto afirmava que a aura do rapaz era boa, sincera. Seria o suficiente para confiar nele?
Com o painel sem nenhuma informação, Callisto se vira para e lhe estende a mão.
- Vamos, temos de ser rápidos.
agarra-lhe a mão e aquela sensação de honestidade a domina novamente. Antes que saíssem do laboratório, ela torna a vestir a capa e se cobre da cabeça aos pés.
Quando deram a primeira passada pela abertura para fora do laboratório, foram surpreendidos por dezenas de guardas mirando suas armas em suas direções e Ayesha a frente deles.
- Ora, ora... eu sempre soube que você seria a ruína de Sovereign, Callisto – ela cuspiu rudemente.
- Não compreendo o que fiz agora que implica a pensar isto ao meu respeito, Ayesha – ele respondeu a altura para em seguida ordenar, com calma: - Abaixem as armas, estão ameaçando o herdeiro do trono.
- Infelizmente as armas não estão contra você, príncipe – Ayesha soltou rispidamente para em seguida sorrir ao mirar . – Ela é uma ameaça, deve ser mantida sedada e inconsciente. É tóxica, e o conselho concorda comigo.
- O que? – Callisto indaga desacreditado.
- Prendam-na – a sacerdotisa ordena.
- Não dessa vez – sopra e joga rajadas cósmicas contra os guardas e a própria sacerdotisa.
No entanto, no mesmo instante, Ayesha projeta um campo de força com as moléculas do ar comprimidas e os defende. Assim, não vê outra opção senão correr.
Os guardas tentam segurá-la para então, um por um, caírem ao chão desacordados pela descarga de energia que ela dispara através do próprio corpo.
- Parem! – Callisto pede. – Ela é inofensiva.
- É isto o que veem? – Ayesha retruca indicando os homens ao chão.
Os guardas seguem para cima de , sem tocá-la desta vez, disparando contra seu corpo. As munições nada mais eram que pura energia de coloração dourada. Energia das baterias Anulax.
A cada tiro absorvido pela sua pele, grita de dor, ajoelhando-se.
Ayesha sorri, contudo, por pouco tempo.
Os tiros não eram piores que os tiros das armas da HIDRA, na realidade, a dor passou a diminuir à medida que atingiam o seu corpo. E a medida que o organismo absorvia a energia, era redirecionada ao seu núcleo.
Em meio aos tiros, respira fundo, se levanta vagarosamente e resgata toda aquela energia acumulada. Quando torna a abrir os olhos, eles estão repletos de energia cósmica e, em uma só rajada, ela derruba o restante dos guardas.
Ayesha ergue a sobrancelhas, assustada e grita:
- Agora!
Por trás de um guarda coberto de proteção da cabeça aos pés surge e dispara contra sua nuca, chamando-a a atenção.
se vira para o guarda com seus olhos iluminados o mirando diabolicamente. Este, assustado, se atrapalha ao deixar a arma cair e procurar algo por entre as vestes enquanto se aproximava vagarosamente.
Assim que ele encontra a espécie de um controle minúsculo com um botão só, não hesita em apertá-lo.
Antes que pudesse perceber, aquilo que fora disparado contra sua nuca não era munição como das outras armas e sim um pequeno dispositivo que quando acionado, a derruba imediatamente desacordada.
- Exatamente como o planejado – Ayesha sopra para o corpo imóvel ao chão.
- O que diabos isso significa? – Callisto dispara contra a sacerdotisa. – Ela só queria ir para casa.
- Você é um imbecil, Callisto – ela retrucou. – Estava deixando fugir a nossa arma contra os Krees. Tolo.
- Era isso o que ela temia – rugiu entre dentes. – Devia estar pressentindo que faria isso com ela.
- E você a ajudaria?
- Obviamente, é um indivíduo como você e eu, merece ser tratada com respeito.
- Esse indivíduo não é como você e eu, é infinitamente mais poderoso. Com muita sorte consegui criar um dispositivo que consegue desativar o cérebro dela, com muita sorte conseguimos derrota-la.
- Por que faria isso? – indagou perplexo.
- Para a nossa proteção – ela esbravejou, calando o outro. – Ela vai proteger o nosso povo contra a ameaça dos Krees.
- Ela não tem de fazer isso, já tem os próprios problemas.
- Está colocando as necessidades desse ser acima das de seu povo? – indaga indignada. – Como ousa? Principalmente você, herdeiro do trono.
- Não é o que estou dizendo, quero dizer que conseguimos nos defender sozinhos. Não precisamos dela.
- Precisamos – esbravejou. – E você vai me ajudar. Sei que descobriu coisas sobre ela.
- Eu não...
- Está em débito com seu povo – interrompeu-o. – Tem que fazer isso. Ou terei que entrar em contato com o rei?
Callisto mira com pesar o corpo da terráquea ao chão antes de murmurar:
- Não será necessário.
¹ Hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano, considerada a principal sede da memória e importante componente do sistema límbico, que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais.
Ela percorreu os olhos de seu reflexo que cintilava na superfície da peça à sua frente até a área oposta do cômodo. Estava de volta ao laboratório de paredes exageradamente brancas, bancadas de vidro quais emanavam o tipo mais avançado de tecnologia e repleto daquelas cápsulas douradas, desta vez, na companhia de Callisto.
O rapaz a olhava significantemente, instigando-a a entrar naquele casulo dourado e revelar fundamentos imprescindíveis para a sua existência e sobrevivência.
Vagarosamente ela deslizou seus dedos por toda a extensão da peça com os olhos fechados. Ela podia sentir a energia em seus tubos percorrendo por envolta de sua dimensão.
Sem mais tardar pressionou a porta, que se abriu automaticamente.
Ela se acomodou dentro da cápsula e mirou Callisto, que indicou positivamente com a mão e um sorriso no rosto. Ela observou-o até a porta fecha-la em um espaço limitado.
- Tudo bem, ? – ouviu a voz de Callisto indagar por algum transmissor dentro da capsula.
- Tudo – suspirou fundo. – Podemos começar.
- Tá legal – le respondeu. – Vou pedir que não se mexa.
- Porque eu faria... – antes que ela terminasse sua indagação, sentiu um tubo finíssimo perfurar suas costas e se infiltrar entre suas células e adentrar o seu corpo.
Ela podia identificar o tubo se projetando e multiplicando por entre suas veias e órgãos.
Era angustiante, mas não insuportável.
Os tubos tomaram as suas artérias e articulações desde os seus pés até o seu cérebro, este, por último.
Quando o mais fino dos tubos se infiltrou por entre os seus neurônios, gritou.
- ?! – Callisto chamou-a apreensivo.
Ela não conseguia pronunciar nada além daquele berro contínuo que apresentava toda a potência de suas cordas vocais.
Ela sentiu algo bater contra a porta da cápsula. Era Callisto.
- , acho melhor pararmos por aqui...
- N...ão – conseguiu converter o grito em uma sílaba.
- Certo. Vou tentar ser o mais breve possível – revelou.
Dado certo ponto, não sabia se estava inconsciente por tamanha a dor, ou se ela cessara repentinamente.
A sua frente um holograma reluzente surge e imagens começam a aparecer. Definitivamente era o circuito de artérias e veias de uma pessoa visto por dentro, o que era completamente impressionante visto que ela só vira algo como igual quando abrira um corpo.
Uma combustão ofusca a imagem, contudo, em questão de milésimos de segundo a massa se regenera. Inicialmente está lenta e relutante, como se o próprio organismo estivesse tentando repelir a cura precipitada, mas em seguida, vasos e vasos se reconstituem até pararem em um estágio inacabado.
- Está vendo isto? – a voz de Callisto questionou, mencionando o líquido de coloração azulada que se infiltrou pela veia principal, liga ao coração. – Isto é o composto cósmico com um soro de singularidades e resíduos terráqueos se conectando ao seu organismo.
De repente as artérias começam a se romper completamente, frágeis como seda, para que então renascessem do zero com uma estrutura molecular diferente.
- Quer dizer que minha estrutura molecular simplesmente se refez? – ela indagou já do lado de fora da cápsula, mirando o painel de vidro que repassava as etapas moleculares de seu sistema.
- Ela não só se refez como também é autoimune e agressivo – Callisto explicou apontando para o painel. – Cada vez que seu corpo se sente ameaçado, ele encontra uma forma de se autocriar e se refazer para te defender.
- Me tornando cada vez mais forte – soprou.
- Exatamente.
- Então não existe uma forma de parar? – questionou. – Digo, ele sempre vai estar se autodefendendo então eu sempre estarei aparecendo com novos dons?
- Uma possibilidade infinita de dons. Isso explica como você aprendeu a nossa linguagem tão rapidamente. Sua mente está se adaptando e evoluindo – Callisto ressaltou. – Aconteceu porque se sentiu ameaçada.
- Então, se eu parar de me sentir ameaçada...
- Seu corpo não vai reagir.
- Faz sentido – ela concordou, dando de ombros. – Talvez eu consiga compreender os meus próprios instintos de forma que consiga controlar essas defesas automáticas.
- É possível – o rapaz assentiu – Se conseguir jogar para o seu subconsciente que não corre ameaça alguma, eles desaparecerão.
- Então eu preciso acessar o meu hipocampo¹ para conceituar algumas lembranças que induzam o meu sistema límbico8 a programar o meu corpo em padrões normais.
- Por que faria isso? – Callisto riu anasalado. – Aparentemente você pode ser o ser mais poderoso do universo e está se recusando a isto?
fixou o olhar em um ponto qualquer no chão e franziu a testa, refletindo.
- Desde quando adquiri essas... habilidades – ela sorri triste. – As pessoas ora ou outra perguntavam o porquê de eu não querer ficar com elas, o porquê eu não as aceitava – umedeceu os lábios para ganhar tempo. – Do meu ponto de vista, ninguém pode se dar ao luxo de ter acesso a esse tipo de poder. Qualquer indivíduo nunca será sensato o suficiente para decidir o que fazer com ele. É tão abrangente e tentador que se torna perigoso, algo pelo qual as pessoas lutariam com suas vidas para ter.
- Só para ter repleto controle – Callisto soprou.
- Exato. A ilusão do poder supremo cria a guerra. Superpotências lutam todos os dias para dominarem uns aos outros e defenderem os seus conceitos e fazem de tudo para ganhar. A guerra é cruel. Entre a benevolência e a rebeldia existem os inocentes - ela engoliu em seco ao se recordar do bombardeio na divisão 107. – Eu só não quero ser responsável pela morte deles.
- Mas, é fácil – deu de ombros. - Se alguém tentar ir contra você para ter os seus poderes você pode facilmente lutar para impedir isso. – Sugeriu – as rajadas cósmicas são imbatíveis.
- Não é tão fácil – ela sopra e o rapaz franziu o cenho, confuso. Portanto, ela tratou de explicar: – Apesar da minha capacidade e força. Todos temos nossas fraquezas e bons observadores sabem usá-las e jogá-las contra nós, como estrategistas. São capazes de fazer a nossa cabeça, nos instigar, nos enganar... Seja qualquer a forma de persuasão, força física ou emocional, eles sempre têm como nos fazer colaborar. Concordado ou não. Por bem ou por mal – engoliu em seco – Não seria a primeira vez que aconteceria.
Callisto escorou-se na mesa de controle, virando-se para , e cruzou os braços, indicando que ela poderia continuar.
- As pessoas ficam loucas e fazem tudo pelo poder. É algo que sobe à cabeça. Transforma as pessoas - o rapaz assente lentamente, então ela prossegue: – Pouco antes de ser tele transportada para o vácuo do espaço, eu estava em cativeiro sendo mutada e torturada para criar ainda mais poder para que um falso diplomata conseguisse comandar o nosso mundo.
Callisto engoliu em seco.
“Isso foi um acontecimento. A questão é que o cara que fez isso comigo não é o único líder com ideais disposto a ameaçar, chantagear, torturar e matar. Em qualquer lugar pode-se encontrar alguém disposto a fazer coisas terríveis para conseguir o que quer – mordeu o lábio inferior antes de admitir. – Eu sempre soube que isso ia acabar acontecendo e o que eu mais temia era que pudesse colocar aqueles que eu amo em risco por conta disso – indicou soltando faíscas oscilantes pelas mãos. – A todo momento, enquanto estava naquele cativeiro, ficava me perguntando o que ele seria capaz de fazer com eles caso eu me recusasse a participar dos experimentos dele. Eu poderia muito bem sair de lá, mas ele estava comigo nas palmas de suas mãos.”
puxou uma cadeira e se sentou, passando as mãos pelo rosto e suspirando fundo.
- Desejei morrer, todos os malditos dias que estive naquele lugar.
Callisto puxou uma cadeira também, sentando-se de frente a .
“Fui tele transportada repentinamente então eu não sei como ou se a guerra acabou no meu planeta, nem mesmo a certeza de que aqueles que eu amo estão a salvo. Contudo, eu me recuso permitir que outros usem isso – indicou as mãos – contra mim novamente. Por isso eu tenho que acabar com isso”
Callisto assentiu vagarosamente.
- Com tudo o que se passa na minha cabeça, eu não posso assumir uma responsabilidade tão grande que é ter controle deste tipo de poder. Proteger aqueles que eu amo era o meu propósito. Mas agora que estou aqui, pedida de novo, desnorteada, eu não tenho mais nada – ela suspirou. – Eu não sei o que fazer nem o que pensar e estar assim me torna vulnerável – ela secou a lágrima que escorreu por sua bochecha. – Só mais uma arma.
Callisto respirou fundo.
- Meu irmão costumava dizer: “Nenhuma grana no mundo pode comprar um segundo de tempo” – ela engoliu em seco. – Eu renunciaria a todo esse poder por mais um minuto com eles. Só para saber se estão bem.
O silêncio se apossa do ambiente maçante, ambos perdidos em próprios pensamentos.
- Desculpe, não sei o que há comigo. Não costumo me abrir desta forma com estranhos – sorri sem graça. – Não tem que ficar me ouvindo lamentar minhas perdas.
- Está tudo bem, é sério – Callisto sorriu gentilmente. – Apesar de não poder alterar o seu passado, quem sabe eu não consiga melhorar o seu futuro – ergue uma sobrancelha e o rapaz completa: - Eu já consegui o que queria para a minha pesquisa. Te ajudo ir para casa e ver se estão todos bem.
franziu a testa para em seguida sorrir desacreditada.
- Está falando sério?
- Foi o que eu prometi, não foi? – ele virou-se para o painel e começou a apertar em diversos botões consecutivos. – Só vou apagar os registros desses exames para, você sabe... ninguém ir atrás de você querendo usá-la novamente.
recordou-se da conversa que havia ouvido secretamente há algumas horas e mordeu o lábio inferior, duvidosa. Mas seu instinto afirmava que a aura do rapaz era boa, sincera. Seria o suficiente para confiar nele?
Com o painel sem nenhuma informação, Callisto se vira para e lhe estende a mão.
- Vamos, temos de ser rápidos.
agarra-lhe a mão e aquela sensação de honestidade a domina novamente. Antes que saíssem do laboratório, ela torna a vestir a capa e se cobre da cabeça aos pés.
Quando deram a primeira passada pela abertura para fora do laboratório, foram surpreendidos por dezenas de guardas mirando suas armas em suas direções e Ayesha a frente deles.
- Ora, ora... eu sempre soube que você seria a ruína de Sovereign, Callisto – ela cuspiu rudemente.
- Não compreendo o que fiz agora que implica a pensar isto ao meu respeito, Ayesha – ele respondeu a altura para em seguida ordenar, com calma: - Abaixem as armas, estão ameaçando o herdeiro do trono.
- Infelizmente as armas não estão contra você, príncipe – Ayesha soltou rispidamente para em seguida sorrir ao mirar . – Ela é uma ameaça, deve ser mantida sedada e inconsciente. É tóxica, e o conselho concorda comigo.
- O que? – Callisto indaga desacreditado.
- Prendam-na – a sacerdotisa ordena.
- Não dessa vez – sopra e joga rajadas cósmicas contra os guardas e a própria sacerdotisa.
No entanto, no mesmo instante, Ayesha projeta um campo de força com as moléculas do ar comprimidas e os defende. Assim, não vê outra opção senão correr.
Os guardas tentam segurá-la para então, um por um, caírem ao chão desacordados pela descarga de energia que ela dispara através do próprio corpo.
- Parem! – Callisto pede. – Ela é inofensiva.
- É isto o que veem? – Ayesha retruca indicando os homens ao chão.
Os guardas seguem para cima de , sem tocá-la desta vez, disparando contra seu corpo. As munições nada mais eram que pura energia de coloração dourada. Energia das baterias Anulax.
A cada tiro absorvido pela sua pele, grita de dor, ajoelhando-se.
Ayesha sorri, contudo, por pouco tempo.
Os tiros não eram piores que os tiros das armas da HIDRA, na realidade, a dor passou a diminuir à medida que atingiam o seu corpo. E a medida que o organismo absorvia a energia, era redirecionada ao seu núcleo.
Em meio aos tiros, respira fundo, se levanta vagarosamente e resgata toda aquela energia acumulada. Quando torna a abrir os olhos, eles estão repletos de energia cósmica e, em uma só rajada, ela derruba o restante dos guardas.
Ayesha ergue a sobrancelhas, assustada e grita:
- Agora!
Por trás de um guarda coberto de proteção da cabeça aos pés surge e dispara contra sua nuca, chamando-a a atenção.
se vira para o guarda com seus olhos iluminados o mirando diabolicamente. Este, assustado, se atrapalha ao deixar a arma cair e procurar algo por entre as vestes enquanto se aproximava vagarosamente.
Assim que ele encontra a espécie de um controle minúsculo com um botão só, não hesita em apertá-lo.
Antes que pudesse perceber, aquilo que fora disparado contra sua nuca não era munição como das outras armas e sim um pequeno dispositivo que quando acionado, a derruba imediatamente desacordada.
- Exatamente como o planejado – Ayesha sopra para o corpo imóvel ao chão.
- O que diabos isso significa? – Callisto dispara contra a sacerdotisa. – Ela só queria ir para casa.
- Você é um imbecil, Callisto – ela retrucou. – Estava deixando fugir a nossa arma contra os Krees. Tolo.
- Era isso o que ela temia – rugiu entre dentes. – Devia estar pressentindo que faria isso com ela.
- E você a ajudaria?
- Obviamente, é um indivíduo como você e eu, merece ser tratada com respeito.
- Esse indivíduo não é como você e eu, é infinitamente mais poderoso. Com muita sorte consegui criar um dispositivo que consegue desativar o cérebro dela, com muita sorte conseguimos derrota-la.
- Por que faria isso? – indagou perplexo.
- Para a nossa proteção – ela esbravejou, calando o outro. – Ela vai proteger o nosso povo contra a ameaça dos Krees.
- Ela não tem de fazer isso, já tem os próprios problemas.
- Está colocando as necessidades desse ser acima das de seu povo? – indaga indignada. – Como ousa? Principalmente você, herdeiro do trono.
- Não é o que estou dizendo, quero dizer que conseguimos nos defender sozinhos. Não precisamos dela.
- Precisamos – esbravejou. – E você vai me ajudar. Sei que descobriu coisas sobre ela.
- Eu não...
- Está em débito com seu povo – interrompeu-o. – Tem que fazer isso. Ou terei que entrar em contato com o rei?
Callisto mira com pesar o corpo da terráquea ao chão antes de murmurar:
- Não será necessário.
¹ Hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano, considerada a principal sede da memória e importante componente do sistema límbico, que é responsável pelas emoções e comportamentos sociais.
2.4 - Vênus
No grande salão oval com tradicional decoração temática em cores dourada e branco, estavam os anfitriões do conselho Soberano sentados em seus tronos majestosamente encarando o ser a sua frente com olhos confusos. Entre murmúrios abafados, comentários ácidos e indecentes, Boland, a líder do conselho, bate seu cetro ao chão pedindo silencio aos demais membros e assim que ecoa por todo ambiente, ela pronuncia:
- Finalmente chegou a sua hora de brilhar, não nos decepcione.
A sacerdotisa respira fundo antes de disparar:
- O indivíduo de origem terráquea foi inicialmente criado para satisfazer os básicos requisitos de seu planeta. Sua evolução deu-se início pelo contato com resíduos cósmicos altamente tóxicos. A partir de então vem avançando física e mentalmente a cada instante. Graças a sua alta capacidade e habilidades imprevisíveis fomos obrigados a usar de um dispositivo altamente tecnológico que se acopla com as próprias células corporais e consequentemente o cérebro. Desta forma temos autonomia de acessarmos o hipocampo de maneira que possamos adicionar, alterar ou modificar qualquer acontecimento que o indivíduo já tenha presenciado.
Ela indicou o dispositivo apresentado em um dos painéis holográficos que lhes transmitia uma imagem ao vivo.
- E por qual razão isto é importante? – um dos mais velhos anciões indagou.
- Desta forma o indivíduo pensará que é um de nós e por ventura passará a ter a responsabilidade para com o nosso povo, o que sempre fora o propósito. A potência do núcleo de poder do indivíduo foi triplamente ampliada, com o auxílio das nossas baterias...
- Ela absorveu a energia das baterias? – Félix interrompeu-a chocado.
- Tão facilmente quanto respirar. Agora que suas células se adaptaram e se fundiram umas nas outras, o seu corpo se tornou uma estrutura imbatível.
- E quando teremos o prazer de estar na presença desse indivíduo tão magnifico? – Boland quem questionara.
- Ela ainda está no estágio final da metamorfose. Amanhã de manhã já estará pronta para as atividades.
- Perfeitamente, sacerdotisa. Bom trabalho, por enquanto. Aguardamos ansiosamente.
Finalizada sua reunião com o conselho, Ayesha retorna imediatamente ao laboratório onde tem estado por meses.
- Como foi?
- Conforme o planejado, é claro – responde indiferente. – E como ela está?
- Pronta para sair do casulo.
- Perfeito – ela sorri maleficamente. – Ativem o dispositivo.
Dito isso um dos súditos aperta alguns botões sob a tela de vidro e a cápsula reluz.
A equipe monitora os batimentos cardíacos enquanto outros observam ansiosamente as portas se abrirem vagarosamente e revelarem o ser maravilhoso.
- Ativando funcionamento solo dos órgãos vitais – informou um deles.
- Sistema com funcionamento excepcional – pronunciou outro. – Ela irá despertar em 3...2...1!
O indivíduo respira fundo antes de abrir os olhos completamente. Estes ainda com a coloração castanha de origem.
Ayesha se aproxima e lhe oferece a mão.
O indivíduo a olha com dúvida, contudo, por fim, a segura para descer da capsula.
Calmamente ela olha ao seu redor e passa a olhar as próprias mãos, estas completamente douradas, e o corpo, coberto por um traje branco de riscas pretas que destacavam seus músculos e curvas. Ao centro do peito um triangulo inverso sobressaia-se.
Enquanto o indivíduo checava seus próprios membros, pela tela do painel de controle os cientistas viam o que ela vê, certificando-se de que o dispositivo realmente funcionara.
Mesmo estando com a cor de pele originaria da terra, o indivíduo pensava ter a pele tão dourada quanto a deles. Pensava estar no meio de colegas de trabalho e, o pior, que devia servir fielmente à sua sacerdotisa.
- Vênus? – indagou Ayesha hesitante.
- Sim, suprema sacerdotisa – ela responde ajoelhando-se aos pés da mulher, que sorri abertamente.
O laboratório entra em euforia.
Havia dado certo.
-x-
2000. Luganenhum, arredores do Fim do Universo.
Stakar Ogord não é um homem de muitos hobbys e manias convencionais, podia se dizer que era um homem de muitas crenças e morais anormais das demais. No entanto, não se negava aos prazeres como uma boa bebida no bar na companhia de seu grupo de Saqueadores ao final de cada missão.
O homem grande de porte musculoso era uma figura conveniente ao líder mais respeitado e temido de toda legião de Saqueadores, por isso, por onde andava, era aclamado e bajulado. Principalmente no bar do Starlin, seu velho conhecido.
Cercado de seus companheiros e xandarianas, quais os alegravam, ele se divertia como há dias não fazia. Tanto que era a pressão e tensão no cumprimento de suas tarefas.
Realmente estava pensando em solicitar alguma acomodação nos quartos da Lotus de Ferro e alugar uma xandariana que o satisfaça durante a noite para que se divertisse à moda dos velhos tempos.
No entanto, depois de horas de bebedeira o homem decide que é a hora de descansar. Anuncia aos seus seguidores que vai se retirar e caminha calmamente até sua nave, estacionada a algumas ruas de onde estava.
Enquanto marchava, o homem cantarola o ritmo de alguma canção a qual ficara gravada em sua cabeça sem ao menos perceber e entra no beco escuro, atalho até a nave.
Na saída do beco, ao longe, ele pensa ver duas luzes pequeninas de coloração azulada reluzirem. Ele pisca, para focar os olhos, e se certifica de não era nada além da sua criativa imaginação.
Por precaução, ele olha ao seu redor com a mão pousada na arma em sua cintura.
A lata de ferro com lixo á sua direita se mexe de repente e Stakar se assusta, puxando a arma e mirando-a para a lata numa velocidade impressionante.
- Apareça, maldito! – grunhi para o nada.
A lata volta a balançar e Stakar segura firme a arma em sua mão.
Antes que pudesse disparar, no entanto, um gato sai de trás da lata balançando o seu rabo graciosamente, como se não tivesse sido ameaçado de morte há segundos.
Stakar suspira aliviado e guarda a arma de volta na cintura, aos risos por ter se amedrontado com um gatinho indefeso.
Então ele continua seu caminho, atravessando o beco escuro. Quando foi dar sua primeira passada na direção da rua, sentiu uma rajada latente jogá-lo contra a parede do beco.
A coloração da rajada era azul e queimava sua pele.
Stakar gritou.
Mas não de dor, e sim pelo o que ele sabia que viria a seguir.
A mulher de collant branco e com o símbolo do triângulo invertido ao peito aterrissa na frente do homem com os olhos em chamas azuladas e um sorriso diabólico na face.
- Stakar – ela anuncia, libertando-o das rajadas.
Ele cai de joelhos à sua frente.
- Vênus – ele sopra, recuperando-se, erguendo a cabeça levemente para mirá-la nos olhos.
- Fugindo de mim, por acaso? – ela indaga com uma sobrancelha arqueada.
- Jamais, ò grande soberana – ele responde levantando-se vagarosamente.
- Corta essa – ela rugi. – Não sou a Ayesha, pode parar de me bajular. Vamos direto ao assunto – diz erguendo o homem pelo pescoço na altura acima da própria cabeça com uma só mão. – Onde está?
- Não...sei – ele responde com dificuldade, sufocado.
A mulher aperta ainda mais o pescoço do grandalhão.
- Não minta para mim, saqueador – disse calmamente. – Eu sei que você sabe de rumores sobre ele. Eu sei que estão tentando escondê-lo de mim.
- Eu...juro...
- Stakar, não me faça ter que cortar outra parte sua novamente – ameaçou. – Aposto que a vida sem a outra perna é duas vezes mais difícil.
- Tudo bem... tudo bem...
Ela solta-o e ele cai novamente de joelhos no chão, tossindo.
- Então diga-me – ordenou, com sua mão completamente carregada de raios cósmicos apontada em sua direção.
- Há algumas luas ouvi boatos de que a Tropa Nova estava à procura de um buraco negro ou um planeta fora de órbita para resguardá-lo – admitiu aos gritos. A mão de Vênus se apagou.
- Por quê?
- Eles sabem – soprou. – Eles sabem que Ayesha planeja algo grande. Sabem que se caírem na sua mão o massacre está feito.
- Não podem escondê-lo de mim por muito tempo – ela ruge entre dentes. – Quando tê-lo em mãos, estes malditos serão os primeiros a provar toda a minha fúria.
- Bocas sussurram que os xandarianos serão apenas o começo...- incitou.
- Você acha que os soberanos se contentam com migalhas? – Vênus sorri daquela forma maléfica novamente e Stakar sente um arrepio na espinha.
O homem era um lutador valente, eram poucas as coisas que o faziam temer por sua vida, e Vênus, a guardiã de Sovereign, definitivamente era uma delas.
Ninguém sabia por exato como ela surgira há anos atrás, mas desde então tem colocado o Universo de ponta cabeça. O nome Vênus era temido por 90% do Universo, por que os outros 10% sequer mencionavam o nome por medo.
- Você – Vênus aponta para o homem que continua caído aos seus pés. – Faça o que faz de melhor, pesquise, procure, fofoque... apenas, descubra onde está!
- Como? – o homem indaga surpreso.
- Encontre-o e quem sabe eu não pense em poupar sua vida miserável – ela se vira e começa a caminhar para longe dele.
- E quando localizá-lo? O que faço? – questiona.
Vênus vira metade do corpo para mirá-lo e dizer: - Eu saberei e virei até você.
Antes que o homem pudesse sequer refletir sobre o que lhe fora dito, a mulher sai voando, soltando as famosas rajadas cósmicas pelas mãos.
Já longe dos olhos de Stakar, perto da órbita de Luganenhum, estava a nave grande e dourada que Vênus usava rotineiramente. Vênus pousa e se direciona à sala de controle para acessar os comandos centrais da nave, partindo daquele lugar horrendo para de volta à seu planeta, Sovereign.
Seguindo por pontos de saltos estratégicos e a potência da velocidade da Luz, ela chega ao seu destino em questão poucos minutos.
- Identificação – Hank, o guarda da órbita solicita através do comunicador.
- Sem gracinhas Hank, me deixe entrar logo.– respondeu ríspida.
- Só estava testando a nova aparelhagem – pronunciou aos risos. – Vamos, entre.
Liberada a sua entrada, a nave desce graciosamente até o solo do planeta, parando no grande galpão que abrigava diversas naves.
Vênus desce e é recebida por Trevor e Gary, que trabalham na segurança, manutenção e controle de saída e entrada das naves.
- Rapazes – ela cumprimentou.
- Vênus – ambos disseram curvando-se cordialmente, como de costume.
Ela passou por eles e caminhou até seu veículo transportador, que a levaria até o tão conhecido laboratório.
Quando não estava fora de Sovereign em missões, Vênus ficava a maior parte do seu tempo no laboratório. Lá ela criava novas armas potencialmente catastróficas e fazia a manutenção semanal das próprias células.
Chegando lá ela encontra a equipe de desenvolvimento trabalhando em sua última criação e Callisto os supervisionando.
- Vênus – Callisto cumprimenta-a, chamando a atenção dos demais que não haviam notado a sua presença.
Assim que a notaram, todos abandonaram os afazeres para se curvar na direção da guardiã, que assentiu, permitindo que voltassem a suas tarefas.
- Como estamos por aqui? – ela indagou ao príncipe, observando o trabalho braçal dos demais.
- Em perfeita produção – respondeu. – Os comandos subalternos foram calculados perfeitamente, portanto não tivemos problemas com a fusão da sua energia com o cobre do armamento R-20.
- Esplêndido – elogia, para em seguida comentar: – Precisamos conversar sobre aquela G-518, acredito que preciso de auxílio no núcleo dela.
Callisto capta a mensagem e sorri anasalado.
- A hora que quiser, guardiã – respondeu olhando-a diretamente nos olhos.
- Poderia ser agora – Vênus sugere sem hesitar, piscar, nem corar.
Callisto sorri. Contudo, antes que os dois se retirassem da sala abarrotada de cientistas, Ayesha surge.
- Vênus.
- Suma sacerdotisa – a guardiã se curva.
- Preciso que me passe o relatório da missão imediatamente – Ayesha anuncia. E mirando Callisto, ao lado de Vênus, ressalta: - A sós.
- Como queira – Vênus responde e vira-se para Callisto, murmurando: - Por favor, me aguarde por um instante. Não vai se prolongar muito.
Callisto assente enquanto observa a guardiã acompanhar a sacerdotisa até o lado de fora do laboratório de paredes de vidro.
Ayesha parecia demasiadamente ansiosa para não aguardar sequer chegarem à um ambiente fechado e longe dos olhos alheios. Callisto não se move e fica a observar os gestos e expressões das duas mulheres.
Em uma leitura labial muito duvidosa, ele pensa ter visto Vênus dizer “Tropa Nova”, assim como a sacerdotisa responder “Controlar o Universo” no meio de uma frase grande.
Callisto se assusta.
“O que?” - pensa.
Ele desconfiava há anos que Ayesha não tinha apenas a intenção de proteger Sovereign, assim como os seus habitantes, quando ordenou que Vênus dizimasse a metade da população Kree. Todos os Soberanos comemoraram a “vitória” de uma batalha, que aos olhos de Callisto, havia sido um completo banho de sangue. Vênus ao menos deu-lhes a chance de lutar.
Em seguida Ayesha ordenou que Vênus ameaçasse os Skrull, uma raça que nunca havia interferido em suas rotinas, e então eles desapareceram.
Depois, com a queda dos Gigantes de Gelo, Ayesha convencera o povo que eles precisavam de auxilio braçal, uma vez que cada indivíduo de Sovereign é considerado superior aos demais indivíduos do Universo e que tarefas braçais não condiziam com sua capacidade.
Assim Vênus os sequestrou e obrigou-lhes a viverem escravizados. Era comum vê-los em casas realizando os serviços domésticos ou na cozinha do palácio, nas fazendas, como soldados e até babás.
Anos depois, quando os Krees já estavam restaurados, Ayesha fez com que Vênus os ameaçasse novamente, obrigando-os a estabelecer um tratado de paz com Xandar de que não voltariam a intimidar qualquer raça do universo novamente.
Ainda assim, dentre as milhares de missões secretas que Ayesha manda Vênus ir, as poucas situações que ele passa a ter conhecimento são para tarefas destruidoras e sanguinárias. E este era um fato que o atormentava dia e noite, uma vez que fora coagido a transformar a humana em Vênus e consequentemente ser responsável por todas essas catástrofes.
Mal percebera que se perdera em pensamento quando Vênus retorna e estala os dedos à frente de seus olhos.
- Dormindo em pé? – ela indaga.
Ele balança a cabeça em negativa.
- Vamos? – a guardiã sugere.
- Sim – ele concorda, seguindo-a.
Eles seguem por um corredor secundário quando Callisto pigarreia um pouco antes de indagar, fingindo desinteresse: - Por que Ayesha estava tão ansiosa?
- Assuntos de missões secretas, desculpe – ela responde com um meio sorriso.
- Tudo bem – ele reponde, dando de ombros.
Vênus nunca, jamais, compartilha assuntos secretos e governamentais que dizem respeito às missões e tarefas que Ayesha a convoca. É um erro fatal para ela, óbvio, uma vez que o próprio Callisto programou sua mente para que fosse assim, dentre outros pontos estridentes da nova personalidade.
Ele sentia falta da honestidade, espontaneidade, inocência e moral de , além do quanto ela era justa e sensata.
Vênus podia habitar o mesmo corpo, mas era um ser completamente diferente. Ela era calculista, sedutora, estrategista, soberana, egocêntrica e fria porque fora programada para tal. Ayesha não queria que nada nem ninguém pudesse fazê-la perder o foco de suas missões.
Ainda que Callisto, as escondidas, tivesse configurado um pouco de empatia, otimismo, desejo, e amor na humana, em consideração à própria , nunca seria o mesmo. estava presa aquele corpo e Callisto se arrependia amargamente por não ser tão corajoso quanto ela e enfrentar o próprio povo e ir contra seu legado.
Se tivesse se negado, se tivesse evitado...
Não era certo. Nunca seria certo o que faziam com a humana.
E Callisto se doía toda vez que a via completamente transformada. Principalmente quando tinham seus momentos íntimos.
Ambos andavam lado a lado em silêncio pelos corredores da central de análises laboratorial quando Vênus o empurra através de uma parede falsa, levando-os diretamente ao depósito de suprimentos.
Lá, longe de testemunhas, ela pôde se desfazer da pose de durona e enlaçar os braços ao redor do pescoço de Callisto como queria desde que o avistara no laboratório. Não se demorou em grudar seus lábios e dançar com a língua pela boca do rapaz.
Quando ofegantes, separam-se minimamente para mirarem os olhos um do outro.
- Senti sua falta – Vênus admite com os olhos brilhando.
- Também sinto a sua – Callisto responde e Vênus sequer desconfia do duplo significado que consistia ali.
Ele precisava fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais.
- Finalmente chegou a sua hora de brilhar, não nos decepcione.
A sacerdotisa respira fundo antes de disparar:
- O indivíduo de origem terráquea foi inicialmente criado para satisfazer os básicos requisitos de seu planeta. Sua evolução deu-se início pelo contato com resíduos cósmicos altamente tóxicos. A partir de então vem avançando física e mentalmente a cada instante. Graças a sua alta capacidade e habilidades imprevisíveis fomos obrigados a usar de um dispositivo altamente tecnológico que se acopla com as próprias células corporais e consequentemente o cérebro. Desta forma temos autonomia de acessarmos o hipocampo de maneira que possamos adicionar, alterar ou modificar qualquer acontecimento que o indivíduo já tenha presenciado.
Ela indicou o dispositivo apresentado em um dos painéis holográficos que lhes transmitia uma imagem ao vivo.
- E por qual razão isto é importante? – um dos mais velhos anciões indagou.
- Desta forma o indivíduo pensará que é um de nós e por ventura passará a ter a responsabilidade para com o nosso povo, o que sempre fora o propósito. A potência do núcleo de poder do indivíduo foi triplamente ampliada, com o auxílio das nossas baterias...
- Ela absorveu a energia das baterias? – Félix interrompeu-a chocado.
- Tão facilmente quanto respirar. Agora que suas células se adaptaram e se fundiram umas nas outras, o seu corpo se tornou uma estrutura imbatível.
- E quando teremos o prazer de estar na presença desse indivíduo tão magnifico? – Boland quem questionara.
- Ela ainda está no estágio final da metamorfose. Amanhã de manhã já estará pronta para as atividades.
- Perfeitamente, sacerdotisa. Bom trabalho, por enquanto. Aguardamos ansiosamente.
Finalizada sua reunião com o conselho, Ayesha retorna imediatamente ao laboratório onde tem estado por meses.
- Como foi?
- Conforme o planejado, é claro – responde indiferente. – E como ela está?
- Pronta para sair do casulo.
- Perfeito – ela sorri maleficamente. – Ativem o dispositivo.
Dito isso um dos súditos aperta alguns botões sob a tela de vidro e a cápsula reluz.
A equipe monitora os batimentos cardíacos enquanto outros observam ansiosamente as portas se abrirem vagarosamente e revelarem o ser maravilhoso.
- Ativando funcionamento solo dos órgãos vitais – informou um deles.
- Sistema com funcionamento excepcional – pronunciou outro. – Ela irá despertar em 3...2...1!
O indivíduo respira fundo antes de abrir os olhos completamente. Estes ainda com a coloração castanha de origem.
Ayesha se aproxima e lhe oferece a mão.
O indivíduo a olha com dúvida, contudo, por fim, a segura para descer da capsula.
Calmamente ela olha ao seu redor e passa a olhar as próprias mãos, estas completamente douradas, e o corpo, coberto por um traje branco de riscas pretas que destacavam seus músculos e curvas. Ao centro do peito um triangulo inverso sobressaia-se.
Enquanto o indivíduo checava seus próprios membros, pela tela do painel de controle os cientistas viam o que ela vê, certificando-se de que o dispositivo realmente funcionara.
Mesmo estando com a cor de pele originaria da terra, o indivíduo pensava ter a pele tão dourada quanto a deles. Pensava estar no meio de colegas de trabalho e, o pior, que devia servir fielmente à sua sacerdotisa.
- Vênus? – indagou Ayesha hesitante.
- Sim, suprema sacerdotisa – ela responde ajoelhando-se aos pés da mulher, que sorri abertamente.
O laboratório entra em euforia.
Havia dado certo.
2000. Luganenhum, arredores do Fim do Universo.
Stakar Ogord não é um homem de muitos hobbys e manias convencionais, podia se dizer que era um homem de muitas crenças e morais anormais das demais. No entanto, não se negava aos prazeres como uma boa bebida no bar na companhia de seu grupo de Saqueadores ao final de cada missão.
O homem grande de porte musculoso era uma figura conveniente ao líder mais respeitado e temido de toda legião de Saqueadores, por isso, por onde andava, era aclamado e bajulado. Principalmente no bar do Starlin, seu velho conhecido.
Cercado de seus companheiros e xandarianas, quais os alegravam, ele se divertia como há dias não fazia. Tanto que era a pressão e tensão no cumprimento de suas tarefas.
Realmente estava pensando em solicitar alguma acomodação nos quartos da Lotus de Ferro e alugar uma xandariana que o satisfaça durante a noite para que se divertisse à moda dos velhos tempos.
No entanto, depois de horas de bebedeira o homem decide que é a hora de descansar. Anuncia aos seus seguidores que vai se retirar e caminha calmamente até sua nave, estacionada a algumas ruas de onde estava.
Enquanto marchava, o homem cantarola o ritmo de alguma canção a qual ficara gravada em sua cabeça sem ao menos perceber e entra no beco escuro, atalho até a nave.
Na saída do beco, ao longe, ele pensa ver duas luzes pequeninas de coloração azulada reluzirem. Ele pisca, para focar os olhos, e se certifica de não era nada além da sua criativa imaginação.
Por precaução, ele olha ao seu redor com a mão pousada na arma em sua cintura.
A lata de ferro com lixo á sua direita se mexe de repente e Stakar se assusta, puxando a arma e mirando-a para a lata numa velocidade impressionante.
- Apareça, maldito! – grunhi para o nada.
A lata volta a balançar e Stakar segura firme a arma em sua mão.
Antes que pudesse disparar, no entanto, um gato sai de trás da lata balançando o seu rabo graciosamente, como se não tivesse sido ameaçado de morte há segundos.
Stakar suspira aliviado e guarda a arma de volta na cintura, aos risos por ter se amedrontado com um gatinho indefeso.
Então ele continua seu caminho, atravessando o beco escuro. Quando foi dar sua primeira passada na direção da rua, sentiu uma rajada latente jogá-lo contra a parede do beco.
A coloração da rajada era azul e queimava sua pele.
Stakar gritou.
Mas não de dor, e sim pelo o que ele sabia que viria a seguir.
A mulher de collant branco e com o símbolo do triângulo invertido ao peito aterrissa na frente do homem com os olhos em chamas azuladas e um sorriso diabólico na face.
- Stakar – ela anuncia, libertando-o das rajadas.
Ele cai de joelhos à sua frente.
- Vênus – ele sopra, recuperando-se, erguendo a cabeça levemente para mirá-la nos olhos.
- Fugindo de mim, por acaso? – ela indaga com uma sobrancelha arqueada.
- Jamais, ò grande soberana – ele responde levantando-se vagarosamente.
- Corta essa – ela rugi. – Não sou a Ayesha, pode parar de me bajular. Vamos direto ao assunto – diz erguendo o homem pelo pescoço na altura acima da própria cabeça com uma só mão. – Onde está?
- Não...sei – ele responde com dificuldade, sufocado.
A mulher aperta ainda mais o pescoço do grandalhão.
- Não minta para mim, saqueador – disse calmamente. – Eu sei que você sabe de rumores sobre ele. Eu sei que estão tentando escondê-lo de mim.
- Eu...juro...
- Stakar, não me faça ter que cortar outra parte sua novamente – ameaçou. – Aposto que a vida sem a outra perna é duas vezes mais difícil.
- Tudo bem... tudo bem...
Ela solta-o e ele cai novamente de joelhos no chão, tossindo.
- Então diga-me – ordenou, com sua mão completamente carregada de raios cósmicos apontada em sua direção.
- Há algumas luas ouvi boatos de que a Tropa Nova estava à procura de um buraco negro ou um planeta fora de órbita para resguardá-lo – admitiu aos gritos. A mão de Vênus se apagou.
- Por quê?
- Eles sabem – soprou. – Eles sabem que Ayesha planeja algo grande. Sabem que se caírem na sua mão o massacre está feito.
- Não podem escondê-lo de mim por muito tempo – ela ruge entre dentes. – Quando tê-lo em mãos, estes malditos serão os primeiros a provar toda a minha fúria.
- Bocas sussurram que os xandarianos serão apenas o começo...- incitou.
- Você acha que os soberanos se contentam com migalhas? – Vênus sorri daquela forma maléfica novamente e Stakar sente um arrepio na espinha.
O homem era um lutador valente, eram poucas as coisas que o faziam temer por sua vida, e Vênus, a guardiã de Sovereign, definitivamente era uma delas.
Ninguém sabia por exato como ela surgira há anos atrás, mas desde então tem colocado o Universo de ponta cabeça. O nome Vênus era temido por 90% do Universo, por que os outros 10% sequer mencionavam o nome por medo.
- Você – Vênus aponta para o homem que continua caído aos seus pés. – Faça o que faz de melhor, pesquise, procure, fofoque... apenas, descubra onde está!
- Como? – o homem indaga surpreso.
- Encontre-o e quem sabe eu não pense em poupar sua vida miserável – ela se vira e começa a caminhar para longe dele.
- E quando localizá-lo? O que faço? – questiona.
Vênus vira metade do corpo para mirá-lo e dizer: - Eu saberei e virei até você.
Antes que o homem pudesse sequer refletir sobre o que lhe fora dito, a mulher sai voando, soltando as famosas rajadas cósmicas pelas mãos.
Já longe dos olhos de Stakar, perto da órbita de Luganenhum, estava a nave grande e dourada que Vênus usava rotineiramente. Vênus pousa e se direciona à sala de controle para acessar os comandos centrais da nave, partindo daquele lugar horrendo para de volta à seu planeta, Sovereign.
Seguindo por pontos de saltos estratégicos e a potência da velocidade da Luz, ela chega ao seu destino em questão poucos minutos.
- Identificação – Hank, o guarda da órbita solicita através do comunicador.
- Sem gracinhas Hank, me deixe entrar logo.– respondeu ríspida.
- Só estava testando a nova aparelhagem – pronunciou aos risos. – Vamos, entre.
Liberada a sua entrada, a nave desce graciosamente até o solo do planeta, parando no grande galpão que abrigava diversas naves.
Vênus desce e é recebida por Trevor e Gary, que trabalham na segurança, manutenção e controle de saída e entrada das naves.
- Rapazes – ela cumprimentou.
- Vênus – ambos disseram curvando-se cordialmente, como de costume.
Ela passou por eles e caminhou até seu veículo transportador, que a levaria até o tão conhecido laboratório.
Quando não estava fora de Sovereign em missões, Vênus ficava a maior parte do seu tempo no laboratório. Lá ela criava novas armas potencialmente catastróficas e fazia a manutenção semanal das próprias células.
Chegando lá ela encontra a equipe de desenvolvimento trabalhando em sua última criação e Callisto os supervisionando.
- Vênus – Callisto cumprimenta-a, chamando a atenção dos demais que não haviam notado a sua presença.
Assim que a notaram, todos abandonaram os afazeres para se curvar na direção da guardiã, que assentiu, permitindo que voltassem a suas tarefas.
- Como estamos por aqui? – ela indagou ao príncipe, observando o trabalho braçal dos demais.
- Em perfeita produção – respondeu. – Os comandos subalternos foram calculados perfeitamente, portanto não tivemos problemas com a fusão da sua energia com o cobre do armamento R-20.
- Esplêndido – elogia, para em seguida comentar: – Precisamos conversar sobre aquela G-518, acredito que preciso de auxílio no núcleo dela.
Callisto capta a mensagem e sorri anasalado.
- A hora que quiser, guardiã – respondeu olhando-a diretamente nos olhos.
- Poderia ser agora – Vênus sugere sem hesitar, piscar, nem corar.
Callisto sorri. Contudo, antes que os dois se retirassem da sala abarrotada de cientistas, Ayesha surge.
- Vênus.
- Suma sacerdotisa – a guardiã se curva.
- Preciso que me passe o relatório da missão imediatamente – Ayesha anuncia. E mirando Callisto, ao lado de Vênus, ressalta: - A sós.
- Como queira – Vênus responde e vira-se para Callisto, murmurando: - Por favor, me aguarde por um instante. Não vai se prolongar muito.
Callisto assente enquanto observa a guardiã acompanhar a sacerdotisa até o lado de fora do laboratório de paredes de vidro.
Ayesha parecia demasiadamente ansiosa para não aguardar sequer chegarem à um ambiente fechado e longe dos olhos alheios. Callisto não se move e fica a observar os gestos e expressões das duas mulheres.
Em uma leitura labial muito duvidosa, ele pensa ter visto Vênus dizer “Tropa Nova”, assim como a sacerdotisa responder “Controlar o Universo” no meio de uma frase grande.
Callisto se assusta.
“O que?” - pensa.
Ele desconfiava há anos que Ayesha não tinha apenas a intenção de proteger Sovereign, assim como os seus habitantes, quando ordenou que Vênus dizimasse a metade da população Kree. Todos os Soberanos comemoraram a “vitória” de uma batalha, que aos olhos de Callisto, havia sido um completo banho de sangue. Vênus ao menos deu-lhes a chance de lutar.
Em seguida Ayesha ordenou que Vênus ameaçasse os Skrull, uma raça que nunca havia interferido em suas rotinas, e então eles desapareceram.
Depois, com a queda dos Gigantes de Gelo, Ayesha convencera o povo que eles precisavam de auxilio braçal, uma vez que cada indivíduo de Sovereign é considerado superior aos demais indivíduos do Universo e que tarefas braçais não condiziam com sua capacidade.
Assim Vênus os sequestrou e obrigou-lhes a viverem escravizados. Era comum vê-los em casas realizando os serviços domésticos ou na cozinha do palácio, nas fazendas, como soldados e até babás.
Anos depois, quando os Krees já estavam restaurados, Ayesha fez com que Vênus os ameaçasse novamente, obrigando-os a estabelecer um tratado de paz com Xandar de que não voltariam a intimidar qualquer raça do universo novamente.
Ainda assim, dentre as milhares de missões secretas que Ayesha manda Vênus ir, as poucas situações que ele passa a ter conhecimento são para tarefas destruidoras e sanguinárias. E este era um fato que o atormentava dia e noite, uma vez que fora coagido a transformar a humana em Vênus e consequentemente ser responsável por todas essas catástrofes.
Mal percebera que se perdera em pensamento quando Vênus retorna e estala os dedos à frente de seus olhos.
- Dormindo em pé? – ela indaga.
Ele balança a cabeça em negativa.
- Vamos? – a guardiã sugere.
- Sim – ele concorda, seguindo-a.
Eles seguem por um corredor secundário quando Callisto pigarreia um pouco antes de indagar, fingindo desinteresse: - Por que Ayesha estava tão ansiosa?
- Assuntos de missões secretas, desculpe – ela responde com um meio sorriso.
- Tudo bem – ele reponde, dando de ombros.
Vênus nunca, jamais, compartilha assuntos secretos e governamentais que dizem respeito às missões e tarefas que Ayesha a convoca. É um erro fatal para ela, óbvio, uma vez que o próprio Callisto programou sua mente para que fosse assim, dentre outros pontos estridentes da nova personalidade.
Ele sentia falta da honestidade, espontaneidade, inocência e moral de , além do quanto ela era justa e sensata.
Vênus podia habitar o mesmo corpo, mas era um ser completamente diferente. Ela era calculista, sedutora, estrategista, soberana, egocêntrica e fria porque fora programada para tal. Ayesha não queria que nada nem ninguém pudesse fazê-la perder o foco de suas missões.
Ainda que Callisto, as escondidas, tivesse configurado um pouco de empatia, otimismo, desejo, e amor na humana, em consideração à própria , nunca seria o mesmo. estava presa aquele corpo e Callisto se arrependia amargamente por não ser tão corajoso quanto ela e enfrentar o próprio povo e ir contra seu legado.
Se tivesse se negado, se tivesse evitado...
Não era certo. Nunca seria certo o que faziam com a humana.
E Callisto se doía toda vez que a via completamente transformada. Principalmente quando tinham seus momentos íntimos.
Ambos andavam lado a lado em silêncio pelos corredores da central de análises laboratorial quando Vênus o empurra através de uma parede falsa, levando-os diretamente ao depósito de suprimentos.
Lá, longe de testemunhas, ela pôde se desfazer da pose de durona e enlaçar os braços ao redor do pescoço de Callisto como queria desde que o avistara no laboratório. Não se demorou em grudar seus lábios e dançar com a língua pela boca do rapaz.
Quando ofegantes, separam-se minimamente para mirarem os olhos um do outro.
- Senti sua falta – Vênus admite com os olhos brilhando.
- Também sinto a sua – Callisto responde e Vênus sequer desconfia do duplo significado que consistia ali.
Ele precisava fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais.
2.5 Sangue Vermelho
O ambiente está escuro, como se as trevas tivessem engolido a tudo e a todos. No entanto, ela tem plena ciência de seu corpo, sua mente e a energia que flui por dentro do seu ser. Seus pensamentos parecem vazios, tão embaralhados e confusos que ela não pode focar em um específico.
Ao seu redor, um território inabitável e desconhecido lhe causa arrepios, mas não é porque o frio se prolifera ferozmente. Ela esfrega os braços, em uma tentativa fracassada de tentar se esquentar até que uma fresta de luz surge do alto e desponta seu brilho até o chão, a poucos metros de onde ela está. A luz começa a percorrer o ambiente, passando em todos os pontos menos onde ela está, até que ela para e o coração da jovem dá um salto automático.
Havia um homem ali. Um homem que a princípio ela não conhece.
Apesar da hesitação e consciência de que não deve, ela se aproxima, ficando frente a frente com o homem. Ele, por sua vez, a mira diretamente nos olhos e uma conexão tão forte surge que ela não consegue desviar nem mesmo se quisesse. Aqueles olhos completamente azuis estão marejados, não demorando em derramar algumas lágrimas pelo rosto completamente jovial.
Sua mão se ergue, tocando aquela face tristonha e, assim que o faz, o homem aproxima-se e enlaça os braços ao seu redor.
– Por favor, volte. – Ele suplica.
Como se aquelas palavras a despertassem assim que soaram, a mulher se afasta, desviando-se dos braços fortes e confortáveis. Já de longe, o homem estica a mão em sua direção e sopra:
– , por favor!
A mulher então percebe que ele mira através dela e gira em seus próprios calcanhares, seguindo o olhar do rapaz. Ali, também iluminada por uma fresta de luz que vinha do alto, estava ela própria. Só que... diferente?!
Ela então se aproxima da sua própria imagem, como um reflexo, e mira-a sem pudor. A mesma estrutura, mesmas curvas, mesma vestimenta e mesma face, exceto a cor da pele. A mulher à sua frente parece humana. Ela segue os seus movimentos e, por um momento, Vênus pensa estar mirando um espelho, até que a imagem segura-a pelos ombros.
– Liberte-me! – Ela esbraveja, com os olhos marejados. – Liberte-me, eu suplico!
Vênus tenta se desviar das mãos de seu reflexo e, ao se afastar, nota que a outra está presa em uma espécie de cubo de vidro.
– Por favor! – O reflexo pede novamente.
Vênus olha ao seu redor e observa que o homem desapareceu. No entanto, ouve passos abafados e, assim que se volta para a direção deles, encontra Ayesha.
– Suma sacerdotisa. – Ela se curva.
Ayesha se move até o cubo de vidro, onde o reflexo de Vênus está aos prantos, e o toca. Assim que sua mão encosta na superfície uma descarga de raios energizados a joga para longe.
– O que você fez? – Vênus indaga à humana, correndo para onde a sacerdotisa foi arremessada.
– O necessário. – Ayesha responde com um sopro sem vida para, em seguida, apontar para o reflexo dentro do cubo de vidro com a mão trêmula e ordenar – Destrua-a.
Sem pensar duas vezes Vênus se levanta e caminha até o cubo de vidro. Seu reflexo se afasta inconscientemente.
– Não faça isso! – Ela pede. – Será o nosso fim!
Vênus para por um instante, confusa.
– Ela quer nos destruir! – O reflexo aponta para Ayesha, que veemente nega.
Vênus torna a olhar para seu reflexo e percebe que, atrás dela, está o homem que vira anteriormente. Ele se aproxima da parede do cubo de vidro.
– Por favor, . – Ele murmura. – Precisamos de você.
Vênus acorda aos gritos e ofegante, senta-se na cama de lençóis brancos e se pergunta: O que diabos tinha sido aquilo?
Callisto, que desperta com os gritos, logo nota que a parceira está suada e com a respiração alterada. Todavia, quando toca o braço da mulher, uma pequena descarga de energia lhe dá um choque e ele afasta a mão imediatamente.
– Vê? – ele chama.
Imediatamente a mulher vira para ele, seus olhos repletos de energia e a face contemplada em dor.
– Vê, você está bem? – Ele indaga, se reaproximando vagarosamente.
– Tem alguma coisa errada comigo. Tem alguma coisa... – ela diz e toca no dispositivo na nuca. – Está doendo.
– Vamos, vamos ao laboratório – Callisto diz e se levanta rapidamente, contornando a cama e parando ao seu lado.
Vênus respira fundo e pega a mão que Callisto a oferece, se levantando. Com ele a sustentando pelos ombros, seguem até o andar inferior e a coloca dentro do transportador, entrando logo em seguida. Rapidamente os conduz até o laboratório e Vênus grita.
– O que foi? – Ele indaga em agonia.
– Minha cabeça... – ela responde, com as mãos sob os olhos. – Está me matando...
Callisto para em frente ao laboratório e pega Vênus no colo. Sem delongas, adentra o lugar e coloca-a na cápsula embrionária.
– Já vai passar, já vai passar... – ele diz, acariciando a bochecha da mulher antes de se direcionar ao painel de controle às pressas.
Frequentemente Vênus tinha que ser colocada na cápsula para ser reprogramada e fazer a troca do dispositivo criado por Ayesha, pois sua energia luta inconscientemente todo o tempo para expulsá-lo de seu organismo e restaurar a própria memória e total poder de . Então eles tinham que substituir o dispositivo antigo por um novo todas as vezes e Vênus não se recorda dos pesadelos, nem mesmo de como fora levada ao laboratório.
No entanto, a frequência com que isso acontecia está desesperadamente diminuindo cada vez mais. Há anos o fenômeno acontece mensalmente, até que reduziu para duas vezes ao mês, para em seguida passar a ocorrer semanalmente. Atualmente já ocorria duas vezes na semana. A mente de está conseguindo retornar aos poucos e cada vez mais poderosa.
E, como um aviso, o hipocampo projeta pesadelos com imagens de um passado de para acionar o seu sistema límbico que desperta os seus poderes. Callisto tinha noção disso porque Vênus sempre acorda gritando nomes específicos: Howard, James, Peggy e Steve. A sequência é a mesma e se repete há anos, sempre os mesmos nomes. Essa noite é a vez de James.
Callisto desconfia que estas sejam pessoas importantes na vida humana de e que, por seu cérebro estar destruindo o dispositivo que impede que ela se lembre deles, tudo volta à tona. Mas a dor, a agonia que ela sente, é demais para ele. Vê-la sofrer o destrói e saber que ela sofre em consequência aos feitos dele mesmo, o faz querer morrer.
Antes de apertar o botão para a restauração, que cessa as dores da amada, ele recorda-se da cena de poucas luas atrás quando Ayesha cita algo como "Controlar o Universo". Desde então ele tenta juntar informações para compreender qual é o real plano da sacerdotisa e ao que ela está submetendo Vênus. Chegou ao ponto de negociar com saqueadores, mas nada lhe foi informado.
Vênus grita dentro da cápsula e Callisto sente seu peito doer. E se...
E se ele não fizer a restauração do dispositivo desta vez? Vênus sentiria dor, mas para poder retornar. Não é isso que ele quer?
Outro grito ensurdecedor vem da cápsula. Callisto engole em seco enquanto mira o botão de restauração. Talvez voltasse. Mas e se ela voltasse? Os planos de Ayesha iriam para o buraco, mas e quanto à eles?
Callisto está enfeitiçado pela beleza e sabedoria de assim que pousou os olhos nela e, com todos esses anos em que cuida de Vênus, está apegado completamente àquela mulher.
Ele a ama.
Talvez quando ela volte a ser não seja mais sua parceira, até porque não é e nunca será depois de saber o que ele fez com ela. Irá perdê-la. Para sempre. Não pode imaginar sua vida sem ela e novamente mira o botão de restauração, suando frio.
O que ele deve fazer?
– Como você está? – Callisto indaga ao oferecer uma caneca de Pólvora quente à mulher.
– Bem – ela responde, aceitando a caneca e dando um gole no líquido de coloração escura. – Só com um pouco de dor de cabeça, mas é suportável.
Callisto sorri.
– Se lembra do pesadelo que teve esta noite? – ele questiona.
Vênus se acomoda por debaixo da manta que o rapaz pôs sobre seus ombros e enruga a testa por um instante. Ela dá uma golada na bebida e responde em seguida:
– Pouca coisa. Sei que tem algo a ver com Ayesha.
– Mesmo? – Callisto questiona, dividido entre a surpresa e excitação.
– Sim. – Afirma. – Ela... ela pediu que eu... que eu destruísse algo. – Revela, hesitante.
– E... O que é? – Callisto indaga esperançoso.
– Eu não... – Ela engole as próprias palavras e mira o rapaz, com um sorriso travesso no rosto. – Você sabe que não posso falar sobre as missões secretas com você.
Callisto suspira decepcionado.
– Bom. – Ela se levanta e joga a manta na cadeira onde há pouco estava sentada. – Tenho que ir, antes que Ayesha venha até aqui. Odeio quando ela vem inspecionar se há algo de errado comigo, como se eu fosse um robô com defeito.
Vênus pousa a caneca sob o balcão de vidro e sela os lábios nos de Callisto rapidamente, antes de se retirar do laboratório, deixando para trás um rapaz confuso. Ele se vira automaticamente para o painel de controle e seleciona a gravação de horas atrás para reprodução. Por que não funcionou?
Na imagem ele vê Vênus dentro da cápsula, se contorcendo de dor. Ele se arrepia como se estivesse revivendo aqueles momentos de agonia novamente. Então, na imagem, ele vê o exato momento em que desiste de fazer a restauração e acompanha os instantes seguintes onde Vênus simplesmente vai se acalmando e sai da cápsula. Completamente renovada. A ruga de dúvida em sua testa cresce. não teria que ter retornado?
Então ele seleciona o relatório do monitoramento cerebral de quando ela estava na máquina e suspira aliviado ao constatar: a imagem mostra os fios quase imperceptíveis do dispositivo se recolhendo e liberando o cérebro aos poucos. Vai funcionar, ele pensa.
Só precisa torcer para que o dispositivo se desinstale do cérebro dela o mais rápido possível antes que Ayesha note e também antes que Vênus consiga cumprir a sua missão de "Controlar o Universo".
-x-
Viscardi, as derivas da Galáxia Divindade.
A distinta nave dourada está pairando a órbita do planeta completamente abandonado quando a voz da sacerdotisa soa calma através do comunicador:
– Preparada?!
Do alto, Vênus faz uma varredura pela superfície do planeta com os olhos antes de sair para a gravidade zero. Vagarosamente, a mulher flutua pelo espaço sem fim e se aproxima do planeta, adentrando sua atmosfera sem grandes problemas. Assim que ultrapassa a camada iônica acende as rajadas cósmicas nas mãos e permanece no ar, uma vez que a gravidade do planeta está em exercício. Aos poucos, ela desce e pisa no solo rochoso do planeta.
Ela caminha, à procura de algo que possa chamar-lhe a atenção ou algum tipo de pista que revele o que acontecera naquele lugar. Casas abandonadas, prédios caindo aos pedaços, vegetação morta e nenhum sinal de água.
– Nenhum sinal de vida. – Vênus pronuncia ao comunicador. – Vou fazer uma varredura mais apurada para me certificar.
"Perfeitamente", Ayesha responde.
Vênus então sobrevoa toda a superfície do planeta para, depois de um longo período, pousar no mesmo lugar e afirma: – Nada por aqui, sacerdotisa. "Deve haver algo que nos leve à onde ele está". Mesmo atenta às palavras que Ayesha pronuncia, Vênus sente que algo se aproxima e consegue desviar a tempo da grande rocha que fora jogada em sua direção. Ao virar, se depara com um ser voador coberto por uma capa preta que esconde toda a sua face.
– Quem é você? – Indaga o recém-chegado, que Vênus nota ser uma mulher pela tonalidade da voz.
– Vênus – ela pronuncia.
Dito o nome, a mulher encapuzada a ataca. De alguma forma, a mente dela projeta que as rochas vão de encontro à guardiã. Vênus desvia de todas elas e levanta voo com as rajadas cósmicas nas mãos. Já no alto, ela concentra toda a sua energia em mãos e dispara contra a mulher. Ao se desviar, o capuz a descobre e revela o ser de aparência humanoide cuja pele era na cor cinza e com faixas roxas ao redor do rosto.
"Vênus?", a voz de Ayesha soa pelo comunicador.
– Tive um contratempo – Ela responde, ofegante. – Já retorno com notícias. Câmbio.
A mulher então se joga contra Vênus e a soca no rosto com uma força que arremessa Vênus no solo do planeta, causando destroços abaixo de si. Antes que ela possa se levantar, a mulher a ataca novamente, direcionando mais rochas em sua direção. Elas massacram Vênus contra o chão. A mulher então, com o pensamento precoce de que aquele ser já está acabado, se aproxima.
Vênus dispara todo o seu poder e as rochas explodem para todos os lados. Com os olhos repletos de energia cósmica e fúria em sua face, ela voa de encontro com a mulher e a ergue pelo pescoço. A mulher, por sua vez, tenta soltar-se da mão forte de sua inimiga. Vênus joga a mulher contra as ruínas de um prédio abandonado, fazendo-a atravessar diversas paredes. O prédio sucumbe e desmorona em cima da mulher cinzenta.
Como se isso não fosse o suficiente Vênus dispara energia por suas mãos contra os destroços do prédio e os derrete, transformando-o em uma única rocha sólida. Ofegante, ela decide pousar no chão e passa a mão sob o nariz, limpando o sangue vermelho que escorria.
Vênus franze a testa ao mirar aquele sangue de coloração diferenciada. O sangue dos soberanos sempre é de cor amarelada, e não vermelha. Distraída pelo fato de seu sangue estar de outra cor, Vênus não percebe que a mulher saíra do casulo de rochas e está a ponto de lhe atacar até que é atingida, em disparada, por vários socos seguidos, sendo derrubada no chão. Vênus nunca vira ser tão forte quanto aquela mulher.
Por fim, já caída e sem conseguir se defender mais, Vênus sente a mulher segurá-la pelo cabelo e bater sua cabeça contra o chão. Tudo fica escuro.
Ao seu redor, um território inabitável e desconhecido lhe causa arrepios, mas não é porque o frio se prolifera ferozmente. Ela esfrega os braços, em uma tentativa fracassada de tentar se esquentar até que uma fresta de luz surge do alto e desponta seu brilho até o chão, a poucos metros de onde ela está. A luz começa a percorrer o ambiente, passando em todos os pontos menos onde ela está, até que ela para e o coração da jovem dá um salto automático.
Havia um homem ali. Um homem que a princípio ela não conhece.
Apesar da hesitação e consciência de que não deve, ela se aproxima, ficando frente a frente com o homem. Ele, por sua vez, a mira diretamente nos olhos e uma conexão tão forte surge que ela não consegue desviar nem mesmo se quisesse. Aqueles olhos completamente azuis estão marejados, não demorando em derramar algumas lágrimas pelo rosto completamente jovial.
Sua mão se ergue, tocando aquela face tristonha e, assim que o faz, o homem aproxima-se e enlaça os braços ao seu redor.
– Por favor, volte. – Ele suplica.
Como se aquelas palavras a despertassem assim que soaram, a mulher se afasta, desviando-se dos braços fortes e confortáveis. Já de longe, o homem estica a mão em sua direção e sopra:
– , por favor!
A mulher então percebe que ele mira através dela e gira em seus próprios calcanhares, seguindo o olhar do rapaz. Ali, também iluminada por uma fresta de luz que vinha do alto, estava ela própria. Só que... diferente?!
Ela então se aproxima da sua própria imagem, como um reflexo, e mira-a sem pudor. A mesma estrutura, mesmas curvas, mesma vestimenta e mesma face, exceto a cor da pele. A mulher à sua frente parece humana. Ela segue os seus movimentos e, por um momento, Vênus pensa estar mirando um espelho, até que a imagem segura-a pelos ombros.
– Liberte-me! – Ela esbraveja, com os olhos marejados. – Liberte-me, eu suplico!
Vênus tenta se desviar das mãos de seu reflexo e, ao se afastar, nota que a outra está presa em uma espécie de cubo de vidro.
– Por favor! – O reflexo pede novamente.
Vênus olha ao seu redor e observa que o homem desapareceu. No entanto, ouve passos abafados e, assim que se volta para a direção deles, encontra Ayesha.
– Suma sacerdotisa. – Ela se curva.
Ayesha se move até o cubo de vidro, onde o reflexo de Vênus está aos prantos, e o toca. Assim que sua mão encosta na superfície uma descarga de raios energizados a joga para longe.
– O que você fez? – Vênus indaga à humana, correndo para onde a sacerdotisa foi arremessada.
– O necessário. – Ayesha responde com um sopro sem vida para, em seguida, apontar para o reflexo dentro do cubo de vidro com a mão trêmula e ordenar – Destrua-a.
Sem pensar duas vezes Vênus se levanta e caminha até o cubo de vidro. Seu reflexo se afasta inconscientemente.
– Não faça isso! – Ela pede. – Será o nosso fim!
Vênus para por um instante, confusa.
– Ela quer nos destruir! – O reflexo aponta para Ayesha, que veemente nega.
Vênus torna a olhar para seu reflexo e percebe que, atrás dela, está o homem que vira anteriormente. Ele se aproxima da parede do cubo de vidro.
– Por favor, . – Ele murmura. – Precisamos de você.
Vênus acorda aos gritos e ofegante, senta-se na cama de lençóis brancos e se pergunta: O que diabos tinha sido aquilo?
Callisto, que desperta com os gritos, logo nota que a parceira está suada e com a respiração alterada. Todavia, quando toca o braço da mulher, uma pequena descarga de energia lhe dá um choque e ele afasta a mão imediatamente.
– Vê? – ele chama.
Imediatamente a mulher vira para ele, seus olhos repletos de energia e a face contemplada em dor.
– Vê, você está bem? – Ele indaga, se reaproximando vagarosamente.
– Tem alguma coisa errada comigo. Tem alguma coisa... – ela diz e toca no dispositivo na nuca. – Está doendo.
– Vamos, vamos ao laboratório – Callisto diz e se levanta rapidamente, contornando a cama e parando ao seu lado.
Vênus respira fundo e pega a mão que Callisto a oferece, se levantando. Com ele a sustentando pelos ombros, seguem até o andar inferior e a coloca dentro do transportador, entrando logo em seguida. Rapidamente os conduz até o laboratório e Vênus grita.
– O que foi? – Ele indaga em agonia.
– Minha cabeça... – ela responde, com as mãos sob os olhos. – Está me matando...
Callisto para em frente ao laboratório e pega Vênus no colo. Sem delongas, adentra o lugar e coloca-a na cápsula embrionária.
– Já vai passar, já vai passar... – ele diz, acariciando a bochecha da mulher antes de se direcionar ao painel de controle às pressas.
Frequentemente Vênus tinha que ser colocada na cápsula para ser reprogramada e fazer a troca do dispositivo criado por Ayesha, pois sua energia luta inconscientemente todo o tempo para expulsá-lo de seu organismo e restaurar a própria memória e total poder de . Então eles tinham que substituir o dispositivo antigo por um novo todas as vezes e Vênus não se recorda dos pesadelos, nem mesmo de como fora levada ao laboratório.
No entanto, a frequência com que isso acontecia está desesperadamente diminuindo cada vez mais. Há anos o fenômeno acontece mensalmente, até que reduziu para duas vezes ao mês, para em seguida passar a ocorrer semanalmente. Atualmente já ocorria duas vezes na semana. A mente de está conseguindo retornar aos poucos e cada vez mais poderosa.
E, como um aviso, o hipocampo projeta pesadelos com imagens de um passado de para acionar o seu sistema límbico que desperta os seus poderes. Callisto tinha noção disso porque Vênus sempre acorda gritando nomes específicos: Howard, James, Peggy e Steve. A sequência é a mesma e se repete há anos, sempre os mesmos nomes. Essa noite é a vez de James.
Callisto desconfia que estas sejam pessoas importantes na vida humana de e que, por seu cérebro estar destruindo o dispositivo que impede que ela se lembre deles, tudo volta à tona. Mas a dor, a agonia que ela sente, é demais para ele. Vê-la sofrer o destrói e saber que ela sofre em consequência aos feitos dele mesmo, o faz querer morrer.
Antes de apertar o botão para a restauração, que cessa as dores da amada, ele recorda-se da cena de poucas luas atrás quando Ayesha cita algo como "Controlar o Universo". Desde então ele tenta juntar informações para compreender qual é o real plano da sacerdotisa e ao que ela está submetendo Vênus. Chegou ao ponto de negociar com saqueadores, mas nada lhe foi informado.
Vênus grita dentro da cápsula e Callisto sente seu peito doer. E se...
E se ele não fizer a restauração do dispositivo desta vez? Vênus sentiria dor, mas para poder retornar. Não é isso que ele quer?
Outro grito ensurdecedor vem da cápsula. Callisto engole em seco enquanto mira o botão de restauração. Talvez voltasse. Mas e se ela voltasse? Os planos de Ayesha iriam para o buraco, mas e quanto à eles?
Callisto está enfeitiçado pela beleza e sabedoria de assim que pousou os olhos nela e, com todos esses anos em que cuida de Vênus, está apegado completamente àquela mulher.
Ele a ama.
Talvez quando ela volte a ser não seja mais sua parceira, até porque não é e nunca será depois de saber o que ele fez com ela. Irá perdê-la. Para sempre. Não pode imaginar sua vida sem ela e novamente mira o botão de restauração, suando frio.
O que ele deve fazer?
– Como você está? – Callisto indaga ao oferecer uma caneca de Pólvora quente à mulher.
– Bem – ela responde, aceitando a caneca e dando um gole no líquido de coloração escura. – Só com um pouco de dor de cabeça, mas é suportável.
Callisto sorri.
– Se lembra do pesadelo que teve esta noite? – ele questiona.
Vênus se acomoda por debaixo da manta que o rapaz pôs sobre seus ombros e enruga a testa por um instante. Ela dá uma golada na bebida e responde em seguida:
– Pouca coisa. Sei que tem algo a ver com Ayesha.
– Mesmo? – Callisto questiona, dividido entre a surpresa e excitação.
– Sim. – Afirma. – Ela... ela pediu que eu... que eu destruísse algo. – Revela, hesitante.
– E... O que é? – Callisto indaga esperançoso.
– Eu não... – Ela engole as próprias palavras e mira o rapaz, com um sorriso travesso no rosto. – Você sabe que não posso falar sobre as missões secretas com você.
Callisto suspira decepcionado.
– Bom. – Ela se levanta e joga a manta na cadeira onde há pouco estava sentada. – Tenho que ir, antes que Ayesha venha até aqui. Odeio quando ela vem inspecionar se há algo de errado comigo, como se eu fosse um robô com defeito.
Vênus pousa a caneca sob o balcão de vidro e sela os lábios nos de Callisto rapidamente, antes de se retirar do laboratório, deixando para trás um rapaz confuso. Ele se vira automaticamente para o painel de controle e seleciona a gravação de horas atrás para reprodução. Por que não funcionou?
Na imagem ele vê Vênus dentro da cápsula, se contorcendo de dor. Ele se arrepia como se estivesse revivendo aqueles momentos de agonia novamente. Então, na imagem, ele vê o exato momento em que desiste de fazer a restauração e acompanha os instantes seguintes onde Vênus simplesmente vai se acalmando e sai da cápsula. Completamente renovada. A ruga de dúvida em sua testa cresce. não teria que ter retornado?
Então ele seleciona o relatório do monitoramento cerebral de quando ela estava na máquina e suspira aliviado ao constatar: a imagem mostra os fios quase imperceptíveis do dispositivo se recolhendo e liberando o cérebro aos poucos. Vai funcionar, ele pensa.
Só precisa torcer para que o dispositivo se desinstale do cérebro dela o mais rápido possível antes que Ayesha note e também antes que Vênus consiga cumprir a sua missão de "Controlar o Universo".
Viscardi, as derivas da Galáxia Divindade.
A distinta nave dourada está pairando a órbita do planeta completamente abandonado quando a voz da sacerdotisa soa calma através do comunicador:
– Preparada?!
Do alto, Vênus faz uma varredura pela superfície do planeta com os olhos antes de sair para a gravidade zero. Vagarosamente, a mulher flutua pelo espaço sem fim e se aproxima do planeta, adentrando sua atmosfera sem grandes problemas. Assim que ultrapassa a camada iônica acende as rajadas cósmicas nas mãos e permanece no ar, uma vez que a gravidade do planeta está em exercício. Aos poucos, ela desce e pisa no solo rochoso do planeta.
Ela caminha, à procura de algo que possa chamar-lhe a atenção ou algum tipo de pista que revele o que acontecera naquele lugar. Casas abandonadas, prédios caindo aos pedaços, vegetação morta e nenhum sinal de água.
– Nenhum sinal de vida. – Vênus pronuncia ao comunicador. – Vou fazer uma varredura mais apurada para me certificar.
"Perfeitamente", Ayesha responde.
Vênus então sobrevoa toda a superfície do planeta para, depois de um longo período, pousar no mesmo lugar e afirma: – Nada por aqui, sacerdotisa. "Deve haver algo que nos leve à onde ele está". Mesmo atenta às palavras que Ayesha pronuncia, Vênus sente que algo se aproxima e consegue desviar a tempo da grande rocha que fora jogada em sua direção. Ao virar, se depara com um ser voador coberto por uma capa preta que esconde toda a sua face.
– Quem é você? – Indaga o recém-chegado, que Vênus nota ser uma mulher pela tonalidade da voz.
– Vênus – ela pronuncia.
Dito o nome, a mulher encapuzada a ataca. De alguma forma, a mente dela projeta que as rochas vão de encontro à guardiã. Vênus desvia de todas elas e levanta voo com as rajadas cósmicas nas mãos. Já no alto, ela concentra toda a sua energia em mãos e dispara contra a mulher. Ao se desviar, o capuz a descobre e revela o ser de aparência humanoide cuja pele era na cor cinza e com faixas roxas ao redor do rosto.
"Vênus?", a voz de Ayesha soa pelo comunicador.
– Tive um contratempo – Ela responde, ofegante. – Já retorno com notícias. Câmbio.
A mulher então se joga contra Vênus e a soca no rosto com uma força que arremessa Vênus no solo do planeta, causando destroços abaixo de si. Antes que ela possa se levantar, a mulher a ataca novamente, direcionando mais rochas em sua direção. Elas massacram Vênus contra o chão. A mulher então, com o pensamento precoce de que aquele ser já está acabado, se aproxima.
Vênus dispara todo o seu poder e as rochas explodem para todos os lados. Com os olhos repletos de energia cósmica e fúria em sua face, ela voa de encontro com a mulher e a ergue pelo pescoço. A mulher, por sua vez, tenta soltar-se da mão forte de sua inimiga. Vênus joga a mulher contra as ruínas de um prédio abandonado, fazendo-a atravessar diversas paredes. O prédio sucumbe e desmorona em cima da mulher cinzenta.
Como se isso não fosse o suficiente Vênus dispara energia por suas mãos contra os destroços do prédio e os derrete, transformando-o em uma única rocha sólida. Ofegante, ela decide pousar no chão e passa a mão sob o nariz, limpando o sangue vermelho que escorria.
Vênus franze a testa ao mirar aquele sangue de coloração diferenciada. O sangue dos soberanos sempre é de cor amarelada, e não vermelha. Distraída pelo fato de seu sangue estar de outra cor, Vênus não percebe que a mulher saíra do casulo de rochas e está a ponto de lhe atacar até que é atingida, em disparada, por vários socos seguidos, sendo derrubada no chão. Vênus nunca vira ser tão forte quanto aquela mulher.
Por fim, já caída e sem conseguir se defender mais, Vênus sente a mulher segurá-la pelo cabelo e bater sua cabeça contra o chão. Tudo fica escuro.
2.6 Gara
"Vênus"
O nome soou ao longe.
"Guardiã, responda. Câmbio".
As palavras abafadas chegaram à sua consciência junto com a dor, que era diferente das demais que já havia sentido em sua vida. Sua cabeça doía como o inferno e os olhos pesavam tanto que ela mal conseguira abri–los. Assim que o fez, percebeu que estava amarrada por uma espécie de cobra esverdeada em um trono de pedra, dentro de um salão escuro no interior de uma caverna de localização duvidosa. Vênus tentou se soltar usando a força, mas a cobra era deveras forte para ser derrotada facilmente.
"Vênus, responda.", a voz de Ayesha soou pelo comunicador.
– Estou aqui – respondeu aos sussurros.
"Por Sovereign! O que aconteceu?", Ayesha indagou. Vênus percebeu a aflição em sua voz, algo que ela também nunca havia presenciado antes.
– Fui capturada. – Ela revelou. – Há uma mulher que deve ser viscardiana. Ela quem me aprisionou.
"Como?", Ayesha soltou, perplexa. – "Os viscardianos foram extintos há mais de 12 bilhões de anos".
No entanto, quando Vênus ia expressar seu choque, o comunicador foi rudemente arrancado de seu ouvido. Ao virar–se, ela viu a mesma mulher sorrir com o comunicador em mãos, para em seguida jogá–lo no chão e pisar em cima.
– Vai se arrepender disso! – Vênus esbravejou. – Não tem noção de quem você está despertando o ódio...
– Eu sei sim – a mulher respondeu calmamente, posicionando-se à frente da guardiã. – A famosa Vênus, um dos seres mais aterrorizantes do Universo.
– Então sabe que irá sofrer. – Vênus ameaçou, projetando energia azulada pelos olhos. – Vou ter prazer em arrancar a sua cabeça e socá–la no seu traseiro.
– Claro que vai – a mulher respondeu com desdém. – Admito que esperava mais. Por ser tão temida, imaginei que fosse... amedrontadora.
– Espere até eu me livrar dessa maldição e entenderá o porquê do medo deles. – Vênus se mexeu e a cobra a apertou ainda mais.
– O que você é? – A mulher a ignorou, rodeando o trono enquanto a analisava. – Terráquea?
– Soberana. – Vênus rugiu.
– Os soberanos não são todos... dourados? – a mulher indagou com a testa vincada, sem tirar o sorriso egocêntrico do rosto.
– Dourada minha pele é.
– Não é o que meus olhos veem. – A mulher parou novamente em frente à guardiã, com um sorriso no rosto.
Vênus franziu a testa e olhou as próprias mãos atadas sob seu colo. Estas não estavam mais douradas e sim com uma aparência frágil e humana. Automaticamente ela se recordou do seu reflexo no pesadelo.
– O que fez comigo, demônio? – Vênus indagou entre dentes, sua fúria sendo despertada.
A mulher se aproximou de Vênus e soprou em seu ouvido:
– Te dei uma surra.
As palavras foram a gota d'água. Assim que a mulher lhe deu as costas, Vênus focalizou a energia para seus braços e mãos, e as cobras que a prendiam explodiram. Ela voou na direção da mulher cinzenta, que foi pega de surpresa, eletrocutando-a até que ela gritasse por apelo. Vênus encerrou a rajada e a mulher caiu de joelhos.
– Sem gracinhas, mulher. – Vênus cuspiu, erguendo–a pelo pescoço. – Responda. Quem você é, e o que fez comigo?
– Meu nome... meu nome é Gara – a mulher respondeu, ofegante. – Sou uma viscardiana.
– Os viscardianos foram extintos há 12 bilhões de anos. – Vênus a interrompeu.
– Exato – a mulher afirmou. – Por favor, me solte e eu lhe contarei tudo o que quiser.
– Sim, você vai me contar. – Vênus sorriu, maléfica. – Mas será do meu jeito.
Vênus então arremessou a mulher no trono, onde anteriormente estava presa, e enlaçou–a com cordas feitas de sua própria energia. A viscardiana tentou se soltar, porém, em vão.
– Continue. – Vênus sentou–se na rocha à frente do trono e encarou a mulher.
Gara hesitou, mas logo começou a falar quando Vênus acionou leves descargas de energia sobre seu corpo:
– Viscardi era um planeta superlotado, com diversos habitantes saudáveis e intelectualmente capazes de tudo, vivíamos em comunidades, éramos passivos e trabalhávamos bem em conjunto. Nosso planeta era um dos milhares supervisionados pelo Celestial Divindade...
– Espera. O quê? – Vênus indagou, perplexa – Os Celestiais realmente existiram?
– E existem – Gara afirmou, ofegante. – Só que, naquela época, como estavam criando o cosmos e os planetas, eles eram vistos com mais frequência. Um dos maiores desejos dos viscardianos era sair do nosso planeta em viagens espaciais e explorar o resto do Universo. Contudo, todas as tentativas para criação de espaçonaves foram falhas. – Gara engoliu em seco antes de continuar: – Um dia eu decidi confrontar o Celestial e pedir que ele nos fornecesse um poder que nos permitisse realizar nosso desejo supremo e explorar mais além do nosso potencial. O Celestial nunca havia se comunicado com nenhum de nós, muito menos interagido com nossas realizações e pretensões, mas naquele dia decidira e nos presenteou, disse que minha atitude havia sido significante e seria recompensada. Não demorou muito até que o Vórtice Negro simplesmente surgisse na minha frente.
– O que transforma mortais em Deuses. – Vênus soprou.
Gara assentiu e pronunciou:
– O que você tanto tem procurado. Infelizmente o nosso povo sucumbiu ao poder do Vórtice, ele é muito poderoso e perigosamente atraente. Um ano depois os viscardianos estavam tão sedentos por mais poder que uma guerra civil foi travada e extinguiu toda a nossa raça. Exceto por mim.
– Então foi você. Por isso é tão forte. – Vênus arqueou a sobrancelha e sorriu, inconscientemente. – Você o usou.
– Sim, eu fui a primeira. – Assumiu, envergonhada. – Mas os poderes se enfraquecem com o passar dos anos, não sou tão forte quanto antes. As consequências por usá–lo não compensam.
– Sua fraqueza... são efeitos colaterais? – Vênus indagou, ignorando o alerta da viscardiana.
– Não. Por anos eu fiquei parada, sentada, sem ao menos respirar ou mover um dedo sequer. Não senti que estava me petrificando com o passar das décadas e perdendo os meus poderes.
– E por que não abandonou este planeta?
– Cada indivíduo tem a sua consequência por usar o Vórtice e essa é a minha, ficar para sempre presa ao planeta que eu causei a destruição. – Gara revelou.
– Mas ele não está aqui. O Vórtice – Vênus comentou. – A Tropa Nova o recolheu porque souberam que eu viria.
– Meu segundo maior erro – Gara admitiu. – Deveria tê–lo destruído enquanto podia. Agora, nas mãos de outros mortais, ele poderá extinguir todo o Universo.
– A menos que me diga onde ele está. – Vênus sorriu e Gara gargalhou.
– Estou confinada, porém, não desinformada. Sei que não o destruiria, Ayesha tem planos para ele. – Gara cuspiu em sua direção. – Eu nunca cooperaria com isto.
Vênus sorriu diabólica antes de dizer:
– Essa é a minha parte favorita. Quando os mocinhos não cooperam.
Assim que a guardiã concentrou–se em despertar a sua energia nas cordas de modo que eletrocutasse e torturasse Gara, sua cabeça tornou a doer.
– Ai! – Ela pousou a mão na cabeça.
A dor, desta vez, estava infinitamente pior, Vênus gritou de dor e caiu de joelhos. Gara franziu a testa em confusão ao visualizar a guardiã se contorcendo à sua frente. Ela tentou se libertar enquanto isso, usando sua força mental para destruir aquelas cordas. Contudo, à medida que Vênus gritava, as cordas se enfraqueceram até que desaparecessem por completo.
Já liberta, Gara levantou do trono rapidamente e mirou a outra de longe. Vênus gritou e apertou as mãos trêmulas na cabeça. Em um instante sua potência vocal estava alta e, no seguinte, ela se calou completamente e desmaiou, permanecendo desacordada no chão. Gara se aproximou vagarosamente e se assustou quando a guardiã abriu os olhos de repente.
– Onde estou? – A guardiã perguntou, com a voz vacilante e olhos vasculhadores. Estava visualmente assustada e perdida.
– O quê? – Gara questionou, confusa.
A expressão da guardiã se tornou neutra antes que tornasse a gritar e seus olhos se acendessem de energia cósmica.
– O que você fez comigo? – Vênus esbravejou, mirando Gara e tornando a pôr as mãos sob a cabeça.
– Nada.
– Minha cabeça... Parece que vai... explodir! – A guardiã gritou. Entre uma piscada ou outra, Vênus sentiu a presença de uma terceira pessoa e indagou assustada: – Quem é você?
– Vênus? – Gara hesitou, dividida entre atacar a mulher ou ajudá–la.
– ! Sou ! – A guardiã esbravejou, se contorcendo. – Por favor, me ajude!
As mentes, que anteriormente estavam separadas e desassociadas, se fundiram em uma só. As personalidades, tão distintas, travavam uma luta por espaço para assumirem o controle do corpo. A mulher tornou a gritar, de forma agonizante. Antes que a viscardiana pudesse tomar alguma atitude, a guardiã, com muita dificuldade, soltou rajadas cósmicas e saiu voando. Ela ultrapassou as rochas da caverna que as resguardava, a superfície do planeta, sua atmosfera, e ignorou a nave parada na órbita. Com todo o poder que seu potencial lhe permitia, ela voou pelo cosmos e viajou pelos pontos de salto até retornar ao seu planeta tão rapidamente que mal respirava.
Lá, ela sequer pedira permissão de entrar, mas assim que o fez sentiu sua mente apagar novamente. Em uma caída escandalosa da camada de ozônio até a superfície do planeta, a guardiã explodiu no solo, desacordada. Os habitantes, curiosos pelo que teria adentrado na sua atmosfera, se aproximaram do local onde ela estava. Surpresos por constatarem quem era, burburinhos surgiram em tom de surpresa e espanto, alguns até choraram.
– Segurança para o setor laboratorial. Segurança para o setor laboratorial. – Um dos guardas solicitou através do comunicador ao mirar a mulher ensanguentada e desfalecida ao chão. – A guardiã foi abatida. Repito. A guardiã foi abatida.
Callisto, que estava desde então no laboratório pesquisando formas de reconstituir a consciência de ao corpo o mais rápido possível, assim que ouviu o chamado no autofalante correu até o transportador mais próximo.
– Localização. – Solicitou através do comunicador.
– Leste de Sovereign, próximo à entrada principal.
Callisto acelerou a velocidade e, mesmo que não fosse tão longe, parecia que havia demorado uma eternidade até que ele visualizasse o tumulto de gente. Mal havia parado o veículo e saltou, correndo até a concentração de pessoas. Ele desviou de vários até que pudesse chegar ao núcleo e ver Vênus desfalecida dentro de uma cratera no chão. Ele não hesitou em correr até ela.
– Príncipe Callisto, já chamamos o resgate. – Um dos seguranças, que tentava dispersar a multidão, informou.
– Não será necessário, eu cuido dela – respondeu às pressas, descendo até o buraco onde ela estava.
Quando ele se aproximou o suficiente, passou a ter noção da grandeza do estrago. Sangue escorria de seu nariz, ouvidos e boca, sua roupa estava rasgada e, pelas frestas, podia ver os roxos sob sua pele. O braço direito estava com uma fratura exposta e a cabeça tinha um grande ferimento do qual escorria uma grande quantidade de sangue. Ele pegou–a no colo com cuidado e mirou sua face. Ela parecia estar em constante agonia.
Sem delongas, ele se moveu com ela por entre a multidão, que dispersou para fornecer passagem de volta ao transportador, e correu de volta ao laboratório. Precisava examiná–la antes que Ayesha chegasse. Numa velocidade que ele nunca imaginou que um dia teria, desceu do veículo com ela nos braços e foi até o laboratório.
– Saiam daqui! – ele gritou para todos que trabalhavam nas cápsulas. – Saiam daqui agora!
Assim que a pousou na cápsula embrionária principal, a sala já havia se esvaziado por completo. Ele foi ao painel de controle e acionou o escaneamento completo do corpo. À medida que a imagem se formava, seu peito subia e descia numa constante falta de ar. A maioria dos ossos estava quebrada, para não dizer todos. Contudo, ela ainda estava viva.
2.7 A Origem Humanóide
O estoque de ervas anestésicas já havia se dissipado e, ainda assim, o grave som dos gritos de Vênus não havia diminuído uma fração sequer. Por vezes ela desmaiava de dor, mas em seguida despertava aos berros novamente.
Callisto projetava possibilidades aparentes para resolver aquela dor intermitente, no entanto, seus pensamentos se embaralhavam toda vez que o monitor piscava anunciando que os batimentos cardíacos da mulher estavam acima do considerado saudável. Por um instante, Callisto mirou a cápsula embrionária e estranhou a intensidade das luzes que transmitia, as quais só aumentavam a cada instante. O ambiente se tornou completamente iluminado, de forma que fazia os olhos do rapaz arderem e se tornarem incapazes de enxergar um palmo sequer a sua frente.
Uma explosão ocorreu pela sobrecarga dos materiais da cápsula, um dos considerados mais fortes e resistentes, para em seguida uma descarga elétrica causar um blecaute total, deixando não só o laboratório, mas toda Sovereign às escuras. A luz vermelha de emergência se acendeu no mesmo instante em que os gritos cessaram.
Callisto, assustado com o fato de que uma cidade que se alimentava de energia das baterias mais potentes do universo estava pela primeira vez nas trevas, se aproximou da cápsula para conferir Vênus. Antes que chegasse perto o suficiente da cápsula sua porta explodiu, arremessando–o ao chão e de lá uma fumaça cinza saiu, espalhando–se por todo o laboratório lentamente.
Ele tentou enxergar por entre toda aquela fumaça, a escuridão e a luz vermelha que piscava em um ritmo doentio. Junto à fumaça, uma Vênus completamente renovada e livre dos hematomas saiu da cápsula lentamente com a expressão vazia. Ela deu dois passos inconscientes na direção do rapaz e em seguida caiu de joelhos no chão, grunhiu e fechou os olhos pela dor, aparentemente mais controlada. Sua mão direita subiu e se direcionou diretamente para sua nuca e, estando lá, agarrou o dispositivo e o puxou lentamente. Ela não pôde controlar os gritos novamente e, à medida que os fios eram drasticamente arrancados de sua cabeça, diretamente dos nervos de seu cérebro, maior era a dor. Ela tremia, lágrimas saiam de seus olhos, mas nada a impediria de finalmente se livrar daquele objeto que a aprisionou por anos dentro do próprio corpo.
Quando os fios estavam completamente aparentes e o dispositivo absolutamente desativado, ela o esmagou na mão com raiva e o arremessou longe, para em seguida passar as mãos sob o rosto quente. Já com a respiração normalizada prosseguiu com as mãos pelo restante do corpo, incluindo pescoço, braços, tronco, pernas e, por fim, se abraçou com um leve sorriso nos lábios. A sensação de alívio dominou o seu corpo por um milésimo de segundo e, em seguida, as luzes foram restituídas aos poucos, tornando a iluminar o planeta.
Foi quando ela se lembrou de que não estava sozinha naquele laboratório. Seu sangue ferveu. Callisto engoliu em seco ao vislumbrar a amada o mirando com os olhos repletos de energia cósmica e a expressão furiosa.
– Você. – Ela murmurou, levantando–se e caminhando em sua direção. Callisto inconscientemente se arrastou para trás estupidamente, para logo ser erguido pelo colarinho. – Você é o responsável.
– ... – ele soprou, engasgado, as mãos de enlaçavam o seu pescoço.
– Me transformou em um monstro. – À medida que suas palavras cortantes eram ditas, ela apertava mais o pescoço.
– Não...
– Ela me fez aniquilar milhões! – Gritou e o soltou.
Callisto caiu sob seus pés. respirou profundamente por duas vezes consecutivas, enquanto o rapaz tossia desesperado pelo ar arranhando a entrada aos seus pulmões novamente. Ela se agachou lentamente para puxar o queixo do homem e fazê–lo olhar diretamente em seus olhos, já normais, enquanto cuspia.
– O sangue deles está em suas mãos!
– Eu sei...
– Depois de tudo o que eu havia dito a você... – Ela soprou enquanto os olhos marejavam e a voz se tornava falhada. – Homens, mulheres... Crianças inocentes.
– Você via tudo... – ele concluiu assim que ela soltou seu rosto e deu–lhe as costas para esconder as lágrimas.
– Eu senti tudo. – limpou a garganta e virou–se para ele. – De alguma forma agora posso captar o que os indivíduos pensam com o toque. – Umedeceu os lábios em uma pausa – E por isso eu sei exatamente o que cada um deles passou.
– ... – Callisto ergueu–se lentamente. – Eu sinto tanto. Não tenho como imaginar pelo que passou.
– Exatamente. – Cuspiu entre dentes, ficando a centímetros dele. – Você não sentiu na sua pele as queimaduras, os ossos sendo esmagados ou o medo deles causados pelas minhas mãos. Você não sabe como é ter que sentir tudo isso em silêncio durante anos porque metade do seu cérebro está tomado por um ser completamente cruel, sádico e bárbaro.
Callisto acompanhou uma lágrima grossa percorrer a bochecha da mulher e o canto da boca até que ela a secasse no queixo, com as costas da mão.
– Ela gostava do que fazia. – Continuou depois de engolir em seco – Ela sentia prazer e você não fez nada porque é um covarde egoísta!
O peito de Callisto doeu.
– Porque se aproveitava de mim!
– Não, . – Sentiu seus olhos embaçarem.
– Não! – Ela o interrompeu. – Nenhuma desculpa justifica o que você fez.
Dito isso se afastou, encarando–o acusatoriamente.
– Eu sei, eu sei... – ele se exasperou e tornou a diminuir a distância entre os dois. – Sim, eu sou um covarde por não conseguir dar as costas ao trono e tentar agradar ao meu pai. Sou covarde por não ter impedido Ayesha de fazer o que fez com você só para não decepcionar ainda mais o meu povo, mesmo sabendo o quanto eles são soberbos, hipócritas e desprezíveis. – Callisto disparava as palavras em cima de rapidamente – Sim, eu fui egoísta. Egoísta por olhar tanto para o meu próprio umbigo e não ter empatia, palavra que só aprendi porque conheci você. Egoísta por não querer enxergar o que estava acontecendo diante dos meus olhos, por não ter conseguido te ajudar por medo de perdê–la. – Ele ousou agarrar–lhe a mão. – Mas eu consegui. Não estou cem por cento melhor como pessoa, mas você me motivou a mudar e por isso eu não restaurei o dispositivo, por isso recobrei a sua consciência. Só peço perdão por ter demorado tanto para evitar algo que eu sabia que Ayesha faria com você.
O silêncio tomou conta do ambiente, só podia–se ouvir a respiração ofegante do rapaz depois da rajada de dizeres. calmamente recolheu a sua mão e encarou–o mais amena.
– Ela planeja coisas terríveis.
– Sim, eu sei. – Admitiu, envergonhado. – A ouvi dizer sobre querer controlar o Universo.
– E ela vai conseguir, se encontrar o que tanto tem procurado.
– E o que seria?
– O Vortéx negro. – A voz de Ayesha soou grave, respondendo à pergunta. Ambos se viraram para a direção da porta e a encontraram, sorrindo diabolicamente em sua direção. – E você, querida, é quem vai buscá–lo para mim.
– De maneira alguma! – disse com a voz rouca, a ira tomando conta de cada célula sua, gradativamente. – Não tenho mais aquele seu monstro dentro de mim, você não me controla mais.
– Todos nós temos trevas dentro de nós mesmos. E você – ela apontou para a mulher – Annabel Walter Stark, principalmente. Não é nem necessária a Vênus para isso.
sentiu sua garganta secar, as palavras na ponta da língua pela surpresa.
– Como? – Soltou, engasgada. Ela tinha plena certeza que não havia mencionado o seu nome inteiro para a mulher.
– Como se eu não fosse pesquisar quem de fato você realmente é. – Ayesha sorriu – Você é herdeira de uma fortuna embasada na venda de armas para guerras, mais do que ninguém tem sangue inocente nas mãos e vem me falar sobre moral. Quanta hipocrisia, .
Callisto franziu o cenho ao mirar , mas esta ao menos percebera, de tão confusa que estava.
– Como você...? – A sua mente rodopiava e colidia cada vez que tentava buscar por conclusões sobre aquelas novas informações. – Se você tiver encostado um dedo no Howard...
– Não foi necessário. – Ayesha a interrompeu com um sorriso crescente e amedrontador nos lábios. – Os museus têm muito a contar sobre a sua história, doutora Stark. Você é famosa entre os terráqueos.
sentiu um calafrio descer por sua espinha.
– Então, se de fato pesquisou direito, viu que somente me envolvi com projetos necessários para acabar com a guerra. Nunca, em hipótese alguma, teria colaborado para o sofrimento de inocentes como você fez. – umedeceu os lábios. – Como procurar Vórtices para tornar meus poderes em proporções desastrosas para dominar o Universo.
Ayesha soltou uma gargalhada escandalosamente diabólica.
– Não, não, não. Você, não! – Ela olhou fixamente para ao corrigí–la – Você quase acertou a sua suposição, mas já tem tempo que meus interesses deixaram de fazer com que você fique cada vez mais poderosa. Até algum tempo funcionava perfeitamente, eu conseguia me nutrir de suas energias e sustentava os meus dons com base nos seus.
– O quê? – Callisto questionou, estupefato.
– O dispositivo me permitiu ter acesso a uma boa porcentagem de seu poder. Eu consequentemente fiquei cada vez mais poderosa. – Ela revelou. – Mas eu não me contento com migalhas, nunca me contentei. Você se tornou tudo o que o universo nunca permitiu que eu fosse e estava a cuspir na minha cara novamente cada vez que essa sua mente humana tentava recobrar a consciência. Eu pude sentir isso, sentir a transmissão cada vez menor. – Ela sorriu, doentia – E claro que não podia voltar a ser uma simples soberana, inferior à alguém como você. Com o Vórtice eu finalmente vou poder me tornar uma Eterna.
– Eterna? – Callisto indagou, a confusão expressa em cada ruga de seu rosto.
– Sim. – Ayesha cuspiu a afirmação. – E eles finalmente vão ver que não preciso da máquina estúpida deles ou dela. – Apontou para . – Como uma bateria que me recarrega para ser tão poderosa quanto!
– Do que diabos ela está falando? – indagou, voltando–se para Callisto. – O que é uma Eterna?
– Os Eternos. – Callisto pronunciou. – Existe uma lenda sobre uma raça derivada dos primeiros habitantes humanoides da Terra. Trata–se de um grupo de seres manipulados geneticamente pelos Celestiais durante a primeira visita dos deuses espaciais ao planeta. – Callisto explicou à . – São os protetores da Terra e dos seres que lá habitam, mas há milênios não ouvimos sobre eles, dizem que são somente histórias inventadas para que a Terra permanecesse segura das criaturas do espaço. Não há comprovação que eles de fato existam!
– Os humanos certamente saberiam da existência desses seres. – rebateu.
– Eles são tão iguais quanto os humanos, podem facilmente se infiltrar por entre eles e viver uma vida completamente comum. – Callisto explicou. – No entanto, são uns dos seres mais poderosos do cósmico.
– Que não seriam nada se não fosse pelos Celestiais. – Ayesha complementou. – Aquele bando de gigantes incompetentes.
– Então foi isso, eles não quiseram te tornar uma Eterna? – Callisto refletiu. – Mas é anatomicamente impossível, já que você não descende da raça humana.
O silêncio tomou conta do laboratório por alguns instantes.
– A não ser que ela seja. – mirou Ayesha – O que estava fazendo vagando pela Via Láctea quando me encontrou? Tão longe de Sovereign...
– Não sejam ridículos. – Ayesha cuspiu, notavelmente abalada.
– Espreitando a Terra? Saudades de casa? – indagou. – Você é uma humana, ou um dia foi. – concluiu, se aproximando ameaçadoramente de Ayesha. – Pelo jeito deve ter tentado de tudo para se tornar uma Eterna e eles te negaram isso.
– Calada. – Ayesha grunhiu.
– Você foi uma das iniciadoras da Sovereign. – Callisto afirmou, também se aproximando da sacerdotisa. – Você fundou as leis do planeta, diminuindo e menosprezando cada criatura que não fosse como nós, que não fosse como você. Só porque te renegaram?
– Foi isso, não foi, Ayesha? – riu, debochadamente. – Eles te negaram e aí você decidiu brincar de Deus em outro planeta, não foi? Criar a sua própria raça. Mas infelizmente você não tinha o necessário para que eles fossem superdesenvolvidos geneticamente.
Ayesha respirou fundo, o descontrole a ponto de aflorar.
– Você não aguentou que eles te poupassem todo esse poder. – provocou. – Que fosse destinada a ser uma humana frágil e comum. Isso é patético!
Ayesha explodiu de fúria e foi para cima de , lançando–a rajadas de energia cósmica das mãos, como a própria podia lançar.
– Eu não sou frágil e comum!
empurrou Callisto para longe antes que caísse no chão com Ayesha sobre o seu corpo. A sacerdotisa prensou os braços e as pernas da mulher contra o chão, com uma força sobre–humana. Faíscas da energia cósmica percorreram seus dedos.
– Você pode ser poderosa o quanto for, mas definitivamente não é imortal. – Ayesha encarou nos olhos, com os seus transcendendo a maldade. – Será que se eu cortar a sua cabeça, outra vai nascer no lugar?
engoliu em seco.
Callisto projetava possibilidades aparentes para resolver aquela dor intermitente, no entanto, seus pensamentos se embaralhavam toda vez que o monitor piscava anunciando que os batimentos cardíacos da mulher estavam acima do considerado saudável. Por um instante, Callisto mirou a cápsula embrionária e estranhou a intensidade das luzes que transmitia, as quais só aumentavam a cada instante. O ambiente se tornou completamente iluminado, de forma que fazia os olhos do rapaz arderem e se tornarem incapazes de enxergar um palmo sequer a sua frente.
Uma explosão ocorreu pela sobrecarga dos materiais da cápsula, um dos considerados mais fortes e resistentes, para em seguida uma descarga elétrica causar um blecaute total, deixando não só o laboratório, mas toda Sovereign às escuras. A luz vermelha de emergência se acendeu no mesmo instante em que os gritos cessaram.
Callisto, assustado com o fato de que uma cidade que se alimentava de energia das baterias mais potentes do universo estava pela primeira vez nas trevas, se aproximou da cápsula para conferir Vênus. Antes que chegasse perto o suficiente da cápsula sua porta explodiu, arremessando–o ao chão e de lá uma fumaça cinza saiu, espalhando–se por todo o laboratório lentamente.
Ele tentou enxergar por entre toda aquela fumaça, a escuridão e a luz vermelha que piscava em um ritmo doentio. Junto à fumaça, uma Vênus completamente renovada e livre dos hematomas saiu da cápsula lentamente com a expressão vazia. Ela deu dois passos inconscientes na direção do rapaz e em seguida caiu de joelhos no chão, grunhiu e fechou os olhos pela dor, aparentemente mais controlada. Sua mão direita subiu e se direcionou diretamente para sua nuca e, estando lá, agarrou o dispositivo e o puxou lentamente. Ela não pôde controlar os gritos novamente e, à medida que os fios eram drasticamente arrancados de sua cabeça, diretamente dos nervos de seu cérebro, maior era a dor. Ela tremia, lágrimas saiam de seus olhos, mas nada a impediria de finalmente se livrar daquele objeto que a aprisionou por anos dentro do próprio corpo.
Quando os fios estavam completamente aparentes e o dispositivo absolutamente desativado, ela o esmagou na mão com raiva e o arremessou longe, para em seguida passar as mãos sob o rosto quente. Já com a respiração normalizada prosseguiu com as mãos pelo restante do corpo, incluindo pescoço, braços, tronco, pernas e, por fim, se abraçou com um leve sorriso nos lábios. A sensação de alívio dominou o seu corpo por um milésimo de segundo e, em seguida, as luzes foram restituídas aos poucos, tornando a iluminar o planeta.
Foi quando ela se lembrou de que não estava sozinha naquele laboratório. Seu sangue ferveu. Callisto engoliu em seco ao vislumbrar a amada o mirando com os olhos repletos de energia cósmica e a expressão furiosa.
– Você. – Ela murmurou, levantando–se e caminhando em sua direção. Callisto inconscientemente se arrastou para trás estupidamente, para logo ser erguido pelo colarinho. – Você é o responsável.
– ... – ele soprou, engasgado, as mãos de enlaçavam o seu pescoço.
– Me transformou em um monstro. – À medida que suas palavras cortantes eram ditas, ela apertava mais o pescoço.
– Não...
– Ela me fez aniquilar milhões! – Gritou e o soltou.
Callisto caiu sob seus pés. respirou profundamente por duas vezes consecutivas, enquanto o rapaz tossia desesperado pelo ar arranhando a entrada aos seus pulmões novamente. Ela se agachou lentamente para puxar o queixo do homem e fazê–lo olhar diretamente em seus olhos, já normais, enquanto cuspia.
– O sangue deles está em suas mãos!
– Eu sei...
– Depois de tudo o que eu havia dito a você... – Ela soprou enquanto os olhos marejavam e a voz se tornava falhada. – Homens, mulheres... Crianças inocentes.
– Você via tudo... – ele concluiu assim que ela soltou seu rosto e deu–lhe as costas para esconder as lágrimas.
– Eu senti tudo. – limpou a garganta e virou–se para ele. – De alguma forma agora posso captar o que os indivíduos pensam com o toque. – Umedeceu os lábios em uma pausa – E por isso eu sei exatamente o que cada um deles passou.
– ... – Callisto ergueu–se lentamente. – Eu sinto tanto. Não tenho como imaginar pelo que passou.
– Exatamente. – Cuspiu entre dentes, ficando a centímetros dele. – Você não sentiu na sua pele as queimaduras, os ossos sendo esmagados ou o medo deles causados pelas minhas mãos. Você não sabe como é ter que sentir tudo isso em silêncio durante anos porque metade do seu cérebro está tomado por um ser completamente cruel, sádico e bárbaro.
Callisto acompanhou uma lágrima grossa percorrer a bochecha da mulher e o canto da boca até que ela a secasse no queixo, com as costas da mão.
– Ela gostava do que fazia. – Continuou depois de engolir em seco – Ela sentia prazer e você não fez nada porque é um covarde egoísta!
O peito de Callisto doeu.
– Porque se aproveitava de mim!
– Não, . – Sentiu seus olhos embaçarem.
– Não! – Ela o interrompeu. – Nenhuma desculpa justifica o que você fez.
Dito isso se afastou, encarando–o acusatoriamente.
– Eu sei, eu sei... – ele se exasperou e tornou a diminuir a distância entre os dois. – Sim, eu sou um covarde por não conseguir dar as costas ao trono e tentar agradar ao meu pai. Sou covarde por não ter impedido Ayesha de fazer o que fez com você só para não decepcionar ainda mais o meu povo, mesmo sabendo o quanto eles são soberbos, hipócritas e desprezíveis. – Callisto disparava as palavras em cima de rapidamente – Sim, eu fui egoísta. Egoísta por olhar tanto para o meu próprio umbigo e não ter empatia, palavra que só aprendi porque conheci você. Egoísta por não querer enxergar o que estava acontecendo diante dos meus olhos, por não ter conseguido te ajudar por medo de perdê–la. – Ele ousou agarrar–lhe a mão. – Mas eu consegui. Não estou cem por cento melhor como pessoa, mas você me motivou a mudar e por isso eu não restaurei o dispositivo, por isso recobrei a sua consciência. Só peço perdão por ter demorado tanto para evitar algo que eu sabia que Ayesha faria com você.
O silêncio tomou conta do ambiente, só podia–se ouvir a respiração ofegante do rapaz depois da rajada de dizeres. calmamente recolheu a sua mão e encarou–o mais amena.
– Ela planeja coisas terríveis.
– Sim, eu sei. – Admitiu, envergonhado. – A ouvi dizer sobre querer controlar o Universo.
– E ela vai conseguir, se encontrar o que tanto tem procurado.
– E o que seria?
– O Vortéx negro. – A voz de Ayesha soou grave, respondendo à pergunta. Ambos se viraram para a direção da porta e a encontraram, sorrindo diabolicamente em sua direção. – E você, querida, é quem vai buscá–lo para mim.
– De maneira alguma! – disse com a voz rouca, a ira tomando conta de cada célula sua, gradativamente. – Não tenho mais aquele seu monstro dentro de mim, você não me controla mais.
– Todos nós temos trevas dentro de nós mesmos. E você – ela apontou para a mulher – Annabel Walter Stark, principalmente. Não é nem necessária a Vênus para isso.
sentiu sua garganta secar, as palavras na ponta da língua pela surpresa.
– Como? – Soltou, engasgada. Ela tinha plena certeza que não havia mencionado o seu nome inteiro para a mulher.
– Como se eu não fosse pesquisar quem de fato você realmente é. – Ayesha sorriu – Você é herdeira de uma fortuna embasada na venda de armas para guerras, mais do que ninguém tem sangue inocente nas mãos e vem me falar sobre moral. Quanta hipocrisia, .
Callisto franziu o cenho ao mirar , mas esta ao menos percebera, de tão confusa que estava.
– Como você...? – A sua mente rodopiava e colidia cada vez que tentava buscar por conclusões sobre aquelas novas informações. – Se você tiver encostado um dedo no Howard...
– Não foi necessário. – Ayesha a interrompeu com um sorriso crescente e amedrontador nos lábios. – Os museus têm muito a contar sobre a sua história, doutora Stark. Você é famosa entre os terráqueos.
sentiu um calafrio descer por sua espinha.
– Então, se de fato pesquisou direito, viu que somente me envolvi com projetos necessários para acabar com a guerra. Nunca, em hipótese alguma, teria colaborado para o sofrimento de inocentes como você fez. – umedeceu os lábios. – Como procurar Vórtices para tornar meus poderes em proporções desastrosas para dominar o Universo.
Ayesha soltou uma gargalhada escandalosamente diabólica.
– Não, não, não. Você, não! – Ela olhou fixamente para ao corrigí–la – Você quase acertou a sua suposição, mas já tem tempo que meus interesses deixaram de fazer com que você fique cada vez mais poderosa. Até algum tempo funcionava perfeitamente, eu conseguia me nutrir de suas energias e sustentava os meus dons com base nos seus.
– O quê? – Callisto questionou, estupefato.
– O dispositivo me permitiu ter acesso a uma boa porcentagem de seu poder. Eu consequentemente fiquei cada vez mais poderosa. – Ela revelou. – Mas eu não me contento com migalhas, nunca me contentei. Você se tornou tudo o que o universo nunca permitiu que eu fosse e estava a cuspir na minha cara novamente cada vez que essa sua mente humana tentava recobrar a consciência. Eu pude sentir isso, sentir a transmissão cada vez menor. – Ela sorriu, doentia – E claro que não podia voltar a ser uma simples soberana, inferior à alguém como você. Com o Vórtice eu finalmente vou poder me tornar uma Eterna.
– Eterna? – Callisto indagou, a confusão expressa em cada ruga de seu rosto.
– Sim. – Ayesha cuspiu a afirmação. – E eles finalmente vão ver que não preciso da máquina estúpida deles ou dela. – Apontou para . – Como uma bateria que me recarrega para ser tão poderosa quanto!
– Do que diabos ela está falando? – indagou, voltando–se para Callisto. – O que é uma Eterna?
– Os Eternos. – Callisto pronunciou. – Existe uma lenda sobre uma raça derivada dos primeiros habitantes humanoides da Terra. Trata–se de um grupo de seres manipulados geneticamente pelos Celestiais durante a primeira visita dos deuses espaciais ao planeta. – Callisto explicou à . – São os protetores da Terra e dos seres que lá habitam, mas há milênios não ouvimos sobre eles, dizem que são somente histórias inventadas para que a Terra permanecesse segura das criaturas do espaço. Não há comprovação que eles de fato existam!
– Os humanos certamente saberiam da existência desses seres. – rebateu.
– Eles são tão iguais quanto os humanos, podem facilmente se infiltrar por entre eles e viver uma vida completamente comum. – Callisto explicou. – No entanto, são uns dos seres mais poderosos do cósmico.
– Que não seriam nada se não fosse pelos Celestiais. – Ayesha complementou. – Aquele bando de gigantes incompetentes.
– Então foi isso, eles não quiseram te tornar uma Eterna? – Callisto refletiu. – Mas é anatomicamente impossível, já que você não descende da raça humana.
O silêncio tomou conta do laboratório por alguns instantes.
– A não ser que ela seja. – mirou Ayesha – O que estava fazendo vagando pela Via Láctea quando me encontrou? Tão longe de Sovereign...
– Não sejam ridículos. – Ayesha cuspiu, notavelmente abalada.
– Espreitando a Terra? Saudades de casa? – indagou. – Você é uma humana, ou um dia foi. – concluiu, se aproximando ameaçadoramente de Ayesha. – Pelo jeito deve ter tentado de tudo para se tornar uma Eterna e eles te negaram isso.
– Calada. – Ayesha grunhiu.
– Você foi uma das iniciadoras da Sovereign. – Callisto afirmou, também se aproximando da sacerdotisa. – Você fundou as leis do planeta, diminuindo e menosprezando cada criatura que não fosse como nós, que não fosse como você. Só porque te renegaram?
– Foi isso, não foi, Ayesha? – riu, debochadamente. – Eles te negaram e aí você decidiu brincar de Deus em outro planeta, não foi? Criar a sua própria raça. Mas infelizmente você não tinha o necessário para que eles fossem superdesenvolvidos geneticamente.
Ayesha respirou fundo, o descontrole a ponto de aflorar.
– Você não aguentou que eles te poupassem todo esse poder. – provocou. – Que fosse destinada a ser uma humana frágil e comum. Isso é patético!
Ayesha explodiu de fúria e foi para cima de , lançando–a rajadas de energia cósmica das mãos, como a própria podia lançar.
– Eu não sou frágil e comum!
empurrou Callisto para longe antes que caísse no chão com Ayesha sobre o seu corpo. A sacerdotisa prensou os braços e as pernas da mulher contra o chão, com uma força sobre–humana. Faíscas da energia cósmica percorreram seus dedos.
– Você pode ser poderosa o quanto for, mas definitivamente não é imortal. – Ayesha encarou nos olhos, com os seus transcendendo a maldade. – Será que se eu cortar a sua cabeça, outra vai nascer no lugar?
engoliu em seco.
2.8 Richard Rider
A sacerdotisa mirava os murros no rosto da humana, que se desviava, ouvindo o piso do chão se destroçar à medida que a raiva da mulher aumentava. segurou os punhos de Ayesha e fechou os olhos, respirando fundo. Sentia cada glóbulo dentro do seu ser se exaltar dos pés à cabeça e quando tornou a abrir os olhos estes estavam repletos de energia azul a qual ela expeliu, lançando Ayesha contra o teto do laboratório. Presa entre os destroços, ela se mexeu até que parte da estrutura caiu estrondosamente no chão, mas não antes que saísse dali.
– Para fora, agora! – Ela esbravejou na direção de Callisto – Tire o máximo de pessoas de Sovereign. Isso pode ficar feio.
O príncipe não hesitou por um instante sequer antes de assentir e correr para fora do laboratório aos destroços. Ele correu diretamente para o prédio de segurança central, mal vendo os degraus das escadas enquanto passava feito um jato por elas. Chegando à sala principal ele acionou o alarme para a retirada rápida e, no mesmo instante, uma sirene alta e estridente ressoou por cada canto do planeta. Enquanto isso, desviava das rajadas que Ayesha lançava em sua direção, criando um campo de força com a própria carga cósmica que conseguia ricochetear e lançando a sacerdotisa furiosa para longe, atravessando paredes e fazendo com que a estrutura do laboratório ameaçasse ceder.
lançou uma rajada nas paredes rachadas, fazendo–as desabar de vez. Acionou as rajadas na mão e saiu do chão, passando pelo teto quebrado para levantar voo. Subia em alta velocidade, adquirindo cada vez mais altitude para levar a luta para longe daquele lugar que ficava bem no centro da cidade e que era o lugar de maior concentração de habitantes. No entanto, antes que seu corpo atravessasse a camada entre o planeta e a gravidade zero, uma espécie de corda energizada a laçou pela cintura, puxando-a de volta ao chão. A descida foi rápida e dolorosa, o impacto de seu corpo foi capaz de destruir o chão ao seu redor, que se aprofundou em mais de dois metros.
Impactada e com o corpo machucado por completo, ainda tentou se levantar com dificuldade. Apoiou-se nos braços para conseguir se erguer e as pernas, ainda bambas, fizeram–na tropeçar e cair sob as pedras destroçadas. Ela sentia a reconstituição de seus ossos, membro por membro, cada fratura e osso partido não levara mais que dois minutos para se remedarem. No entanto, foram longos dois minutos de dor em diversas partes de seu corpo, nada comparado com o que já havia lhe acontecido.
Por isso, um minuto e meio depois, já estava pronta para aguentar os ataques frequentes de Ayesha. Ela puxou–a da cratera e arremessou–a contra um dos prédios mais altos: a residência da família real. À essa medida, vários membros da população do planeta rodeavam a briga, se questionando sobre o que estava acontecendo e porque o alerta de evacuação fora acionado.
Ayesha puxou de volta para perto de si com sua força do campo magnético e segurou–a pelo pescoço, no alto.
– Olhem bem, meus queridos soberanos. – Ayesha gritou para os que as observavam. – Uma traidora.
Os espectadores se aproximaram, curiosos.
– É isso que fazemos com traidores.
Ayesha lançou a corda energizada para enlaçar o pescoço de , como uma cobra se apoderando do corpo de sua presa, e a entrada de ar para os seus pulmões foi cessada por completo com o aperto. Ayesha aproximou seus lábios do ouvido da humana e sussurrou:
– O Vortéx pela vida deles. Você e eu sabemos bem que basta um estalo para as cabeças rolarem por aqui. Uma dizimação sanguinária e a culpa será sua. De novo! Mas não se você encontrá–lo.
já estava roxa pela falta de ar, mas sua consciência captava cada palavra que a sacerdotisa a dizia e a aproximação cada vez mais evidente dos habitantes de Sovereign a deixava apavorada. Ayesha afrouxou o enlaço e caiu de joelhos, tossindo freneticamente com a entrada repentina do ar em seu organismo. A humana levantou a cabeça e olhou a sacerdotisa nos olhos.
– Seria capaz? – questionou com a voz rouca, falha e baixa. – Seu povo, sua criação. Não são perfeitos. Ninguém é! Mas ainda assim são vidas.
Os soberanos estavam a poucos metros das duas, muitos com expressões confusas e assustadas estampadas na face. Homens, mulheres e crianças.
– Quanta ingenuidade! – Ayesha debochou, apontando as mãos em sua direção. A iluminação das mãos energizadas refletia nos olhos de . – Eu faria tudo pelo poder!
desviou os olhos de Ayesha para o povo, aqueles seres com a maior hipocrisia e ego que já havia visto na vida. No entanto, eram vidas que não mereciam perecer por decisão de algum líder. Eram inocentes, afinal.
Ela assentiu, mesmo que hesitante, e Ayesha sorriu, satisfeita.
– Perfeitamente.
Já na base militar dos soberanos, depois de terem neutralizado toda a confusão e informando à população que fora apenas um alerta falso, Ayesha e estavam ao redor de uma mesa redonda, contemplando todas as pistas que Vênus havia coletado desde então, com Callisto preso sob as cordas cósmicas da sacerdotisa em uma cadeira.
– O Vortéx estava sob a custódia da Tropa Nova, como havíamos imaginado. – disse após engolir em seco. – Eu... Bom, a Vênus tem alguns informantes dentro do exército deles que podem ajudar a identificar onde possam tê–lo escondido.
– Muito bom. – Ayesha elogiou. – Talvez eu não precise mesmo matar os inúteis lá fora.
suspirou.
– Tudo bem, eu encontro este negócio e você não faz nada com os soberanos. – evidenciou. – E depois o quê? Vai fazer de mim prisioneira até o fim dos tempos ou me usar como seu cão de guarda?
– Depois que eu estiver com o Vortéx, você não será mais necessária. – Ayesha relevou. – E finalmente estará livre para voltar para aquele planeta nojento que tanto idolatra.
A imagem de Howard e James automaticamente foi projetada na cabeça de , que não conseguiu evitar sentir um fio de esperança. Tantos anos já haviam se passado e a saudade cravada em suas entranhas a fazia não querer pensar em mais nada, somente em retornar para casa para vê–los.
– Você realmente acredita nisso? – Callisto indagou à humana. – Depois que ela conseguir os poderes pelo Vortéx vai dizimar trilhões e os que sobrarem serão escravos dela. Não se engane, . Eu sei que você é mais esperta que isso.
A humana respirou profundamente com os olhos fechados e, ao abri–los, se virou para Callisto com a expressão neutra.
– Cada galáxia com seus problemas. Eu só quero ir para casa.
– O quê? – Callisto esbravejou enquanto Ayesha abriu um sorriso de orelha a orelha.
– Já estou fazendo muito por vocês depois do que fizeram comigo. Agora só quero rever minha família. – Ela revelou. – E talvez eu ainda consiga viver alguns dias ao lado deles.
– Você acha que ela vai parar por aqui? – Callisto questionou, com a voz rouca. – A terra será a primeira a sofrer as consequências e você sabe disso.
desviou os olhos de Callisto e passou a encarar Ayesha, que arqueou uma de suas sobrancelhas.
– Vou preparar a nave. Xandar será a primeira parada. – A humana informou.
Antes que pudesse dar as costas e sair da sala, o riso de Ayesha interrompeu sua partida.
– Claro que não permitirei que vá nessa missão, Stark. Seria muito tolo de minha parte libertar minha melhor guardiã sem que antes ela me entregue o que quero.
assentiu.
– Não esperava que fosse de outra forma.
– E você... – ela puxou Callisto – Vem junto.
–x–
Xandar, Galáxia Andrômeda.
O centro de controle militar da Tropa Nova, exército de segurança do planeta Xandar, estava em repleta calmaria. Eles estavam há anos encontrando formas de afastar o Vortéx Negro, centro de grande poder cósmico de todo o Universo, das mãos da soldado soberana e finalmente podiam descansar em paz. Tinham escutado rumores sobre a guardiã mais poderosa dos soberanos ter se revoltado contra sua criadora e que as buscas pelo artefato haviam sido encerradas. Ainda assim, apesar de aliviados, se mantinham em constante alerta para o caso de eventualidades discrepantes.
Naquele fatídico dia o céu amanhecera mais claro e os habitantes de Xandar aproveitaram para curtir o clima bom pelos parques, ruas e praças ao redor do hemisfério. Djonga, um dos membros da Tropa Nova em nível Milenar, estava fazendo a varredura do campo de segurança do planeta quando percebeu um ponto peculiar no lado sudeste da barreira de segurança. Como o radar não havia captado ameaça preocupante, o soldado decidira mandar dois recrutas para checar a interferência identificada. Eles prontamente atenderam ao pedido de seu superior e se direcionaram àquela parte do planeta.
– Não acredito que caímos no azar de cobrir patrulhas logo hoje. – Um deles reclamou.
– Só temos que checar o que há de errado com a barreira de segurança. Poderia ser pior. – O outro disse, ao dar de ombros.
Estacionaram a nave regular próxima à base de manutenção e logo notaram algo de errado. Uma parte da barreira estava violada, como se alguém de porte pequeno houvesse aberto um buraco só para entrar em seu planeta. Os soldados logo sacaram as armas e ficaram atentos, em vigia, de modo que identificassem qualquer coisa suspeita.
– Olá, rapazes! – Uma voz surgiu às costas dos soldados, que se viram já acionando as armas. Antes que apertassem o gatilho, duas rajadas conducentes rápidas, mas poderosas os atingiu e eles desmaiaram no mesmo instante.
engoliu em seco. Não queria ter que machucar ninguém, pensou. Mas é um mal necessário.
Ela se adiantou para despir o menor dos soldados, recolhendo o uniforme com o símbolo da Tropa Nova e o vestiu por cima do próprio macacão. Prendeu os cabelos em um nó e vestiu o capacete, tornando–se irreconhecível. Em seguida ela arrastou os corpos dos dois soldados até a sala de manutenção e recolheu seus comunicadores para então sair e derreter a tranca da porta com seu jato fervente. Ela subiu na nave regular dos soldados para não chamar atenção e saiu pelas ruas de Xandar sem que ninguém desconfiasse.
"Muito bem, Stark!". A voz de Ayesha soou em seu ouvido através do comunicador. – "Não é como Vênus agiria, mas está bom. Vocês, humanos, são muito sensíveis".
– Eles não precisavam morrer, só iriam chamar a atenção que não queremos do restante dos soldados. – Ela rebateu.
"Desde que conclua o que planejamos, não me importam os meios".
acelerou a nave usando seu localizador para buscar por quem procurava e seguindo pelas ruas indicadas no painel tecnológico. Quando chegou ao destino, estacionou a nave ao lado de um prédio grande e saiu com o dispositivo de busca em mãos. Ela entrou no prédio, que estava com o hall principal parcialmente vazio, e seguiu em direção às escadas de pedraria branca, assim como todo o ambiente ao seu redor.
Antes das escadas havia barreiras de identificação dos soldados da Tropa Nova. Ela respirou fundo antes de pousar a mão sob o leitor de digital e eletrocutá–lo até que saísse fumaça. A sirene estridente no alto do prédio denunciou sua indiscrição e ela precisou se apressar. Pulou a barreira e, com a ajuda das rajadas, levantou voo para adiantar–se pelas escadas.
Àquela medida a Tropa Nova já teria sido notificada e ela teria pouco tempo para chegar até seu alvo. Entra na sala de supervisão da segurança do planeta e chamou a atenção dos xandarianos, que imediatamente interromperam suas tarefas e sacaram as armas na direção da humana. engoliu em seco antes de disparar as mesmas rajadas conducentes e rápidas, vendo os corpos caírem gradativamente conforme eram atingidos. Ela seguiu até o quadro de controle e desligou o alarme, logo enviando um comunicado através da tela holográfica de que havia sido um alarme falso.
"Entendido, central". Um soldado respondeu através de uma mensagem.
Rapidamente ela seguiu até a última sala, onde ficava o Centurião, um dos maiores níveis hierárquicos de um soldado da Tropa Nova. Ao invadir a sala, explodindo a porta com uma pancada cósmica, ela travou ao mirar a figura atrás da mesa grande e luxuosa. O rapaz de cabelos castanhos, olhos igualmente escuros, jovem e de pele como a sua definitivamente não era um alienígena, muito menos quem ela procurava.
"Por que parou?". A voz de Ayesha indagava no comunicador.
– Você não é Rhomann Dey. – Ela pronunciou na direção do homem, tirando o capacete de seu rosto. O homem levantou–se vagarosamente à medida que a mulher se aproximava.
– E você não é o superintendente da Milenar. – Ele rebateu, levantando–se.
"Abata. Agora!". Ayesha ordenou e avançou para cima do homem, hesitante. Ele rapidamente acionou o próprio capacete, para cobrir seu rosto na batalha.
respirou fundo para concentrar toda a sua energia nas mãos e as espalmou no peito do soldado, que foi arremessado contra a parede de vidro atrás de si. Ele a atravessou, mas logo se levantou, causando espanto em .
– Que tipo de terráqueo é você, afinal? – ela questionou, avançando com socos potentes em sua direção.
– Um que recebeu o poder dos Nova. – Ele rebateu, desviando facilmente dos golpes aplicados pela mulher e a acertando com um soco no rosto, jogando–a ao chão.
cuspiu o sangue que acumulou em sua boca irritada e virou o rosto vagarosamente para o rapaz, com os olhos tomados de luz cósmica. Ele engoliu em seco e, no segundo seguinte, ela avançou novamente em sua direção, que continuou resistindo às investidas. No entanto, o homem abaixou a guarda e encontrou sua fraqueza. Mirando em suas pernas ela as golpeou com um chute forte, fazendo com que o homem caísse de joelhos.
No chão, o homem recebeu diversos disparos das rajadas cósmicas com força total e gemeu, dolorido. o puxou pelo colarinho do uniforme, sem paciência, e perguntou entre dentes:
– Onde está?
– De que droga está falando, mulher? – Ele indagou, com a voz falha.
fez uma varredura nos trajes novos do rapaz até a sala em perfeita arrumação não fosse pelo estrago que haviam acabado de fazer. A identificação na roupa que informava o nome Richard Rider reluzia, sem arranhão algum, e o capacete cheirava a ferro recém-fundido.
– Você é novo por aqui, não é? – indagou, arqueando uma sobrancelha, esperta. – Desculpe – ela disse, soltando–o. – Pensei que fosse um invasor.
– Quem chega à central de segurança dos Nova atacando desta forma? – O homem questionou, desconfiado, enquanto ajeitava o uniforme especial ao corpo. – Pode começar uma guerra desta forma, sua pirada. Não me viu de uniforme?
– Cheguei de uma missão longa, estou desatualizada sobre as novas hierarquias da Tropa. – Ela pronunciou, com a expressão séria. – Peço perdão pelos maus modos.
– E que maus modos! – Ele atenuou. – No entanto, cheguei tem pouco tempo também e não a culpo. Já passei por apuros parecidos.
suspirou, aliviada.
– Olha só o estrago que você fez! – Ele esbravejou, apontando para a parede de vidro da sala. – Os faxineiros não vão gostar!
– Eles nunca gostaram de mim – disse, sorrindo, e o rapaz sorriu também.
– Também não sou o favorito deles. – Admitiu. – Mas não me importo. Minha passagem aqui é temporária, de qualquer forma.
Richard caminhou de volta à sua mesa, ainda intacta, e voltou a se sentar na cadeira de acolchoamento alaranjado.
– A que devo a honra...? – Ele indagou para a mulher à sua frente.
– . – Ela respondeu.
– . – Ele sorriu para comentar distraidamente em seguida. – Parece um nome terráqueo. Sou Richard. – Ele ergueu a mão para cumprimentá–la, mas a humana encarou sua mão e a ignorou.
– Certo. Vocês não têm muito contato físico por aqui – ele disse, recolhendo a mão.
– A Rainha Adora solicitou meu retorno à Xandar para realizar a proteção do Vortéx Negro. – Mentiu.
Richard franziu o cenho, estranhando, mas logo a expressão se suavizou e ele sorriu.
– Ela me mandou isso aqui ontem. – Ele disse, puxando um aparelho de projeção de holograma de uma gaveta da mesa, e mostra–a na palma de sua mão. – Ainda não olhei, mas deve ser sobre isso. Ainda não estou acostumado com toda essa tecnologia alienígena, sabe? Na terra a gente não tem nada disso. O quanto nos ajudaria, hãn?
– Como você se tornou um Nova? – questionou, não evitando a curiosidade.
– Rhomann Dey me passou seus poderes no leito de morte. Foi bem ruim. – Ele fez uma careta. – Ele estava se afugentando na terra depois de uma batalha, mas não resistiu aos ferimentos e depois disso eu tive que me virar para aprender a controlar esse traje e os poderes que ele me dá ainda na Terra. Agora eu fui chamado pela Rainha para dar uma forcinha na proteção daqui. – Ele se aproximou da humana para murmurar. – Os soldados sozinhos parecem não estar dando conta.
– Quanto à guerra na Terra... Ela foi cessada? – Ela indagou, ansiosa.
– Guerra? – Ele rebateu, rindo divertido. – Não entramos em guerra já tem uns cinquenta anos. Eu sequer era nascido.
suspirou e não pode evitar um sorriso de despontar no canto de seus lábios.
– Como...
"... temos pressa.". A voz de Ayesha a interrompeu, pelo comunicador. "Deixe de fofoca e prossiga com a missão. Minha paciência tem limites".
– Quantos anos você tem? – indagou após limpar a garganta e engolir em seco.
– Agora vinte e três. Na época que recebi o traje eu tinha dezessete. – Ele revelou.
suspirou.
– Meu Deus.
– Ei, você é a primeira que ouço falar nele. – Ele diz, sorridente. – Só as pessoas da Terra sabem quem Deus... é – ele se interrompeu, desmanchando o sorriso, confuso com a constatação.
– Me desculpe por isso, Richard. – disse e se aproximou rapidamente do rapaz, segurando sua cabeça com ambas as mãos e liberando energia cósmica, que se impregnou por toda a cabeça do rapaz.
Ela fecha os olhos e se concentrou, focando em toda a sua capacidade. Quando abriu os olhos, as rajadas se encerram e o rapaz caiu desacordado no chão. pegou o aparelho das mãos dele e levantou voo, atravessando o teto e indo em direção à nave na orla do planeta.
Já no interior da nave ela colocou o aparelho sobre a superfície do painel e vários arquivos foram disponibilizados para serem abertos. Entre diversas informações, relatórios sobre a extração do Vortéx de Viscardi e autorizações para seu transporte, estava o nome do local para onde o artefato havia sido destinado.
– Asgard! – Callisto leu de longe, com os olhos brilhando, ainda sobre as amarras de Ayesha. – Vocês nunca vão conseguir se infiltrar e roubar algo dos cofres de Asgard!
desviou os olhos do nome para Ayesha e indagou, séria:
– E agora?
Ayesha, mesmo que intimidada com a nova informação, engoliu em seco e disse:
– Agora nós vamos atrás do meu Vortéx.
Um minuto de silêncio foi o ponto de partida para a explosão de .
– Só pode ter perdido completamente a sanidade que te restava! – Ela declarou à Ayesha.
– Me poupe de suas reclamações. A Tropa Nova será acionada a qualquer momento quando perceberem que foram roubados. – Ayesha afirmou. – São cento e vinte saltos até Asgard e o ponto mais próximo é à uma lua. Temos que ir agora!
– Eu não vou à Asgard. – declarou, cruzando os braços.
– Será que se esqueceu do nosso trato? – A sacerdotisa indagou, apertando as cordas que envolviam Callisto, o sufocando.
– Isso é uma missão suicida, Ayesha! – esbravejou. – Asgard é o lugar dos Deuses nórdicos. Toda a galáxia já ouviu falar deles! Odin, seus filhos e os guerreiros asgardianos... Nós não podemos simplesmente pensar que podemos combatê–los. Isso é fora da nossa realidade! – Se adiantou e completou: – E pare de sufocar o coitado.
– Você é uma deusa tanto quanto eles e com a minha ajuda...
– A ajuda de alguém cujos poderes podem acabar a qualquer momento. – Ela interrompeu a sacerdotisa, aproximando–se ameaçadoramente – Ou se esqueceu de que eu não sou mais a bateria que te recarrega?
Ayesha arqueou uma sobrancelha e interrompeu a força que sufocava Callisto, que tossiu ao voltar a respirar. Ela deu um passo na direção de .
– Se eu fosse você, não ousaria me desafiar, Stark. Ainda tenho duas baterias completamente carregadas com sua energia. Uma em Sovereign e a outra na Terra. – Ela arqueou uma sobrancelha, com um sorriso audacioso no rosto. – Só basta apertar um botão para que tudo vire pedacinhos.
suspirou, surpresa.
– Você não... – A voz da humana falhou, incapaz de terminar a frase.
– Sim. E não hesitarei em apertar este botão. – Ela revelou um dispositivo no bracelete em seu pulso, o qual a terráquea não havia notado anteriormente. – Se eu sequer sentir que você não pretende cumprir com sua parte do acordo... BUM! Estamos entendidas?
assentiu, retraída, e uma lágrima grossa e pesada escorreu de seu olho direito antes que ela a secasse rapidamente. Então se encaminhou ao painel de controle da nave, projetando a viagem para o próximo ponto de salto.
– Para fora, agora! – Ela esbravejou na direção de Callisto – Tire o máximo de pessoas de Sovereign. Isso pode ficar feio.
O príncipe não hesitou por um instante sequer antes de assentir e correr para fora do laboratório aos destroços. Ele correu diretamente para o prédio de segurança central, mal vendo os degraus das escadas enquanto passava feito um jato por elas. Chegando à sala principal ele acionou o alarme para a retirada rápida e, no mesmo instante, uma sirene alta e estridente ressoou por cada canto do planeta. Enquanto isso, desviava das rajadas que Ayesha lançava em sua direção, criando um campo de força com a própria carga cósmica que conseguia ricochetear e lançando a sacerdotisa furiosa para longe, atravessando paredes e fazendo com que a estrutura do laboratório ameaçasse ceder.
lançou uma rajada nas paredes rachadas, fazendo–as desabar de vez. Acionou as rajadas na mão e saiu do chão, passando pelo teto quebrado para levantar voo. Subia em alta velocidade, adquirindo cada vez mais altitude para levar a luta para longe daquele lugar que ficava bem no centro da cidade e que era o lugar de maior concentração de habitantes. No entanto, antes que seu corpo atravessasse a camada entre o planeta e a gravidade zero, uma espécie de corda energizada a laçou pela cintura, puxando-a de volta ao chão. A descida foi rápida e dolorosa, o impacto de seu corpo foi capaz de destruir o chão ao seu redor, que se aprofundou em mais de dois metros.
Impactada e com o corpo machucado por completo, ainda tentou se levantar com dificuldade. Apoiou-se nos braços para conseguir se erguer e as pernas, ainda bambas, fizeram–na tropeçar e cair sob as pedras destroçadas. Ela sentia a reconstituição de seus ossos, membro por membro, cada fratura e osso partido não levara mais que dois minutos para se remedarem. No entanto, foram longos dois minutos de dor em diversas partes de seu corpo, nada comparado com o que já havia lhe acontecido.
Por isso, um minuto e meio depois, já estava pronta para aguentar os ataques frequentes de Ayesha. Ela puxou–a da cratera e arremessou–a contra um dos prédios mais altos: a residência da família real. À essa medida, vários membros da população do planeta rodeavam a briga, se questionando sobre o que estava acontecendo e porque o alerta de evacuação fora acionado.
Ayesha puxou de volta para perto de si com sua força do campo magnético e segurou–a pelo pescoço, no alto.
– Olhem bem, meus queridos soberanos. – Ayesha gritou para os que as observavam. – Uma traidora.
Os espectadores se aproximaram, curiosos.
– É isso que fazemos com traidores.
Ayesha lançou a corda energizada para enlaçar o pescoço de , como uma cobra se apoderando do corpo de sua presa, e a entrada de ar para os seus pulmões foi cessada por completo com o aperto. Ayesha aproximou seus lábios do ouvido da humana e sussurrou:
– O Vortéx pela vida deles. Você e eu sabemos bem que basta um estalo para as cabeças rolarem por aqui. Uma dizimação sanguinária e a culpa será sua. De novo! Mas não se você encontrá–lo.
já estava roxa pela falta de ar, mas sua consciência captava cada palavra que a sacerdotisa a dizia e a aproximação cada vez mais evidente dos habitantes de Sovereign a deixava apavorada. Ayesha afrouxou o enlaço e caiu de joelhos, tossindo freneticamente com a entrada repentina do ar em seu organismo. A humana levantou a cabeça e olhou a sacerdotisa nos olhos.
– Seria capaz? – questionou com a voz rouca, falha e baixa. – Seu povo, sua criação. Não são perfeitos. Ninguém é! Mas ainda assim são vidas.
Os soberanos estavam a poucos metros das duas, muitos com expressões confusas e assustadas estampadas na face. Homens, mulheres e crianças.
– Quanta ingenuidade! – Ayesha debochou, apontando as mãos em sua direção. A iluminação das mãos energizadas refletia nos olhos de . – Eu faria tudo pelo poder!
desviou os olhos de Ayesha para o povo, aqueles seres com a maior hipocrisia e ego que já havia visto na vida. No entanto, eram vidas que não mereciam perecer por decisão de algum líder. Eram inocentes, afinal.
Ela assentiu, mesmo que hesitante, e Ayesha sorriu, satisfeita.
– Perfeitamente.
Já na base militar dos soberanos, depois de terem neutralizado toda a confusão e informando à população que fora apenas um alerta falso, Ayesha e estavam ao redor de uma mesa redonda, contemplando todas as pistas que Vênus havia coletado desde então, com Callisto preso sob as cordas cósmicas da sacerdotisa em uma cadeira.
– O Vortéx estava sob a custódia da Tropa Nova, como havíamos imaginado. – disse após engolir em seco. – Eu... Bom, a Vênus tem alguns informantes dentro do exército deles que podem ajudar a identificar onde possam tê–lo escondido.
– Muito bom. – Ayesha elogiou. – Talvez eu não precise mesmo matar os inúteis lá fora.
suspirou.
– Tudo bem, eu encontro este negócio e você não faz nada com os soberanos. – evidenciou. – E depois o quê? Vai fazer de mim prisioneira até o fim dos tempos ou me usar como seu cão de guarda?
– Depois que eu estiver com o Vortéx, você não será mais necessária. – Ayesha relevou. – E finalmente estará livre para voltar para aquele planeta nojento que tanto idolatra.
A imagem de Howard e James automaticamente foi projetada na cabeça de , que não conseguiu evitar sentir um fio de esperança. Tantos anos já haviam se passado e a saudade cravada em suas entranhas a fazia não querer pensar em mais nada, somente em retornar para casa para vê–los.
– Você realmente acredita nisso? – Callisto indagou à humana. – Depois que ela conseguir os poderes pelo Vortéx vai dizimar trilhões e os que sobrarem serão escravos dela. Não se engane, . Eu sei que você é mais esperta que isso.
A humana respirou profundamente com os olhos fechados e, ao abri–los, se virou para Callisto com a expressão neutra.
– Cada galáxia com seus problemas. Eu só quero ir para casa.
– O quê? – Callisto esbravejou enquanto Ayesha abriu um sorriso de orelha a orelha.
– Já estou fazendo muito por vocês depois do que fizeram comigo. Agora só quero rever minha família. – Ela revelou. – E talvez eu ainda consiga viver alguns dias ao lado deles.
– Você acha que ela vai parar por aqui? – Callisto questionou, com a voz rouca. – A terra será a primeira a sofrer as consequências e você sabe disso.
desviou os olhos de Callisto e passou a encarar Ayesha, que arqueou uma de suas sobrancelhas.
– Vou preparar a nave. Xandar será a primeira parada. – A humana informou.
Antes que pudesse dar as costas e sair da sala, o riso de Ayesha interrompeu sua partida.
– Claro que não permitirei que vá nessa missão, Stark. Seria muito tolo de minha parte libertar minha melhor guardiã sem que antes ela me entregue o que quero.
assentiu.
– Não esperava que fosse de outra forma.
– E você... – ela puxou Callisto – Vem junto.
Xandar, Galáxia Andrômeda.
O centro de controle militar da Tropa Nova, exército de segurança do planeta Xandar, estava em repleta calmaria. Eles estavam há anos encontrando formas de afastar o Vortéx Negro, centro de grande poder cósmico de todo o Universo, das mãos da soldado soberana e finalmente podiam descansar em paz. Tinham escutado rumores sobre a guardiã mais poderosa dos soberanos ter se revoltado contra sua criadora e que as buscas pelo artefato haviam sido encerradas. Ainda assim, apesar de aliviados, se mantinham em constante alerta para o caso de eventualidades discrepantes.
Naquele fatídico dia o céu amanhecera mais claro e os habitantes de Xandar aproveitaram para curtir o clima bom pelos parques, ruas e praças ao redor do hemisfério. Djonga, um dos membros da Tropa Nova em nível Milenar, estava fazendo a varredura do campo de segurança do planeta quando percebeu um ponto peculiar no lado sudeste da barreira de segurança. Como o radar não havia captado ameaça preocupante, o soldado decidira mandar dois recrutas para checar a interferência identificada. Eles prontamente atenderam ao pedido de seu superior e se direcionaram àquela parte do planeta.
– Não acredito que caímos no azar de cobrir patrulhas logo hoje. – Um deles reclamou.
– Só temos que checar o que há de errado com a barreira de segurança. Poderia ser pior. – O outro disse, ao dar de ombros.
Estacionaram a nave regular próxima à base de manutenção e logo notaram algo de errado. Uma parte da barreira estava violada, como se alguém de porte pequeno houvesse aberto um buraco só para entrar em seu planeta. Os soldados logo sacaram as armas e ficaram atentos, em vigia, de modo que identificassem qualquer coisa suspeita.
– Olá, rapazes! – Uma voz surgiu às costas dos soldados, que se viram já acionando as armas. Antes que apertassem o gatilho, duas rajadas conducentes rápidas, mas poderosas os atingiu e eles desmaiaram no mesmo instante.
engoliu em seco. Não queria ter que machucar ninguém, pensou. Mas é um mal necessário.
Ela se adiantou para despir o menor dos soldados, recolhendo o uniforme com o símbolo da Tropa Nova e o vestiu por cima do próprio macacão. Prendeu os cabelos em um nó e vestiu o capacete, tornando–se irreconhecível. Em seguida ela arrastou os corpos dos dois soldados até a sala de manutenção e recolheu seus comunicadores para então sair e derreter a tranca da porta com seu jato fervente. Ela subiu na nave regular dos soldados para não chamar atenção e saiu pelas ruas de Xandar sem que ninguém desconfiasse.
"Muito bem, Stark!". A voz de Ayesha soou em seu ouvido através do comunicador. – "Não é como Vênus agiria, mas está bom. Vocês, humanos, são muito sensíveis".
– Eles não precisavam morrer, só iriam chamar a atenção que não queremos do restante dos soldados. – Ela rebateu.
"Desde que conclua o que planejamos, não me importam os meios".
acelerou a nave usando seu localizador para buscar por quem procurava e seguindo pelas ruas indicadas no painel tecnológico. Quando chegou ao destino, estacionou a nave ao lado de um prédio grande e saiu com o dispositivo de busca em mãos. Ela entrou no prédio, que estava com o hall principal parcialmente vazio, e seguiu em direção às escadas de pedraria branca, assim como todo o ambiente ao seu redor.
Antes das escadas havia barreiras de identificação dos soldados da Tropa Nova. Ela respirou fundo antes de pousar a mão sob o leitor de digital e eletrocutá–lo até que saísse fumaça. A sirene estridente no alto do prédio denunciou sua indiscrição e ela precisou se apressar. Pulou a barreira e, com a ajuda das rajadas, levantou voo para adiantar–se pelas escadas.
Àquela medida a Tropa Nova já teria sido notificada e ela teria pouco tempo para chegar até seu alvo. Entra na sala de supervisão da segurança do planeta e chamou a atenção dos xandarianos, que imediatamente interromperam suas tarefas e sacaram as armas na direção da humana. engoliu em seco antes de disparar as mesmas rajadas conducentes e rápidas, vendo os corpos caírem gradativamente conforme eram atingidos. Ela seguiu até o quadro de controle e desligou o alarme, logo enviando um comunicado através da tela holográfica de que havia sido um alarme falso.
"Entendido, central". Um soldado respondeu através de uma mensagem.
Rapidamente ela seguiu até a última sala, onde ficava o Centurião, um dos maiores níveis hierárquicos de um soldado da Tropa Nova. Ao invadir a sala, explodindo a porta com uma pancada cósmica, ela travou ao mirar a figura atrás da mesa grande e luxuosa. O rapaz de cabelos castanhos, olhos igualmente escuros, jovem e de pele como a sua definitivamente não era um alienígena, muito menos quem ela procurava.
"Por que parou?". A voz de Ayesha indagava no comunicador.
– Você não é Rhomann Dey. – Ela pronunciou na direção do homem, tirando o capacete de seu rosto. O homem levantou–se vagarosamente à medida que a mulher se aproximava.
– E você não é o superintendente da Milenar. – Ele rebateu, levantando–se.
"Abata. Agora!". Ayesha ordenou e avançou para cima do homem, hesitante. Ele rapidamente acionou o próprio capacete, para cobrir seu rosto na batalha.
respirou fundo para concentrar toda a sua energia nas mãos e as espalmou no peito do soldado, que foi arremessado contra a parede de vidro atrás de si. Ele a atravessou, mas logo se levantou, causando espanto em .
– Que tipo de terráqueo é você, afinal? – ela questionou, avançando com socos potentes em sua direção.
– Um que recebeu o poder dos Nova. – Ele rebateu, desviando facilmente dos golpes aplicados pela mulher e a acertando com um soco no rosto, jogando–a ao chão.
cuspiu o sangue que acumulou em sua boca irritada e virou o rosto vagarosamente para o rapaz, com os olhos tomados de luz cósmica. Ele engoliu em seco e, no segundo seguinte, ela avançou novamente em sua direção, que continuou resistindo às investidas. No entanto, o homem abaixou a guarda e encontrou sua fraqueza. Mirando em suas pernas ela as golpeou com um chute forte, fazendo com que o homem caísse de joelhos.
No chão, o homem recebeu diversos disparos das rajadas cósmicas com força total e gemeu, dolorido. o puxou pelo colarinho do uniforme, sem paciência, e perguntou entre dentes:
– Onde está?
– De que droga está falando, mulher? – Ele indagou, com a voz falha.
fez uma varredura nos trajes novos do rapaz até a sala em perfeita arrumação não fosse pelo estrago que haviam acabado de fazer. A identificação na roupa que informava o nome Richard Rider reluzia, sem arranhão algum, e o capacete cheirava a ferro recém-fundido.
– Você é novo por aqui, não é? – indagou, arqueando uma sobrancelha, esperta. – Desculpe – ela disse, soltando–o. – Pensei que fosse um invasor.
– Quem chega à central de segurança dos Nova atacando desta forma? – O homem questionou, desconfiado, enquanto ajeitava o uniforme especial ao corpo. – Pode começar uma guerra desta forma, sua pirada. Não me viu de uniforme?
– Cheguei de uma missão longa, estou desatualizada sobre as novas hierarquias da Tropa. – Ela pronunciou, com a expressão séria. – Peço perdão pelos maus modos.
– E que maus modos! – Ele atenuou. – No entanto, cheguei tem pouco tempo também e não a culpo. Já passei por apuros parecidos.
suspirou, aliviada.
– Olha só o estrago que você fez! – Ele esbravejou, apontando para a parede de vidro da sala. – Os faxineiros não vão gostar!
– Eles nunca gostaram de mim – disse, sorrindo, e o rapaz sorriu também.
– Também não sou o favorito deles. – Admitiu. – Mas não me importo. Minha passagem aqui é temporária, de qualquer forma.
Richard caminhou de volta à sua mesa, ainda intacta, e voltou a se sentar na cadeira de acolchoamento alaranjado.
– A que devo a honra...? – Ele indagou para a mulher à sua frente.
– . – Ela respondeu.
– . – Ele sorriu para comentar distraidamente em seguida. – Parece um nome terráqueo. Sou Richard. – Ele ergueu a mão para cumprimentá–la, mas a humana encarou sua mão e a ignorou.
– Certo. Vocês não têm muito contato físico por aqui – ele disse, recolhendo a mão.
– A Rainha Adora solicitou meu retorno à Xandar para realizar a proteção do Vortéx Negro. – Mentiu.
Richard franziu o cenho, estranhando, mas logo a expressão se suavizou e ele sorriu.
– Ela me mandou isso aqui ontem. – Ele disse, puxando um aparelho de projeção de holograma de uma gaveta da mesa, e mostra–a na palma de sua mão. – Ainda não olhei, mas deve ser sobre isso. Ainda não estou acostumado com toda essa tecnologia alienígena, sabe? Na terra a gente não tem nada disso. O quanto nos ajudaria, hãn?
– Como você se tornou um Nova? – questionou, não evitando a curiosidade.
– Rhomann Dey me passou seus poderes no leito de morte. Foi bem ruim. – Ele fez uma careta. – Ele estava se afugentando na terra depois de uma batalha, mas não resistiu aos ferimentos e depois disso eu tive que me virar para aprender a controlar esse traje e os poderes que ele me dá ainda na Terra. Agora eu fui chamado pela Rainha para dar uma forcinha na proteção daqui. – Ele se aproximou da humana para murmurar. – Os soldados sozinhos parecem não estar dando conta.
– Quanto à guerra na Terra... Ela foi cessada? – Ela indagou, ansiosa.
– Guerra? – Ele rebateu, rindo divertido. – Não entramos em guerra já tem uns cinquenta anos. Eu sequer era nascido.
suspirou e não pode evitar um sorriso de despontar no canto de seus lábios.
– Como...
"... temos pressa.". A voz de Ayesha a interrompeu, pelo comunicador. "Deixe de fofoca e prossiga com a missão. Minha paciência tem limites".
– Quantos anos você tem? – indagou após limpar a garganta e engolir em seco.
– Agora vinte e três. Na época que recebi o traje eu tinha dezessete. – Ele revelou.
suspirou.
– Meu Deus.
– Ei, você é a primeira que ouço falar nele. – Ele diz, sorridente. – Só as pessoas da Terra sabem quem Deus... é – ele se interrompeu, desmanchando o sorriso, confuso com a constatação.
– Me desculpe por isso, Richard. – disse e se aproximou rapidamente do rapaz, segurando sua cabeça com ambas as mãos e liberando energia cósmica, que se impregnou por toda a cabeça do rapaz.
Ela fecha os olhos e se concentrou, focando em toda a sua capacidade. Quando abriu os olhos, as rajadas se encerram e o rapaz caiu desacordado no chão. pegou o aparelho das mãos dele e levantou voo, atravessando o teto e indo em direção à nave na orla do planeta.
Já no interior da nave ela colocou o aparelho sobre a superfície do painel e vários arquivos foram disponibilizados para serem abertos. Entre diversas informações, relatórios sobre a extração do Vortéx de Viscardi e autorizações para seu transporte, estava o nome do local para onde o artefato havia sido destinado.
– Asgard! – Callisto leu de longe, com os olhos brilhando, ainda sobre as amarras de Ayesha. – Vocês nunca vão conseguir se infiltrar e roubar algo dos cofres de Asgard!
desviou os olhos do nome para Ayesha e indagou, séria:
– E agora?
Ayesha, mesmo que intimidada com a nova informação, engoliu em seco e disse:
– Agora nós vamos atrás do meu Vortéx.
Um minuto de silêncio foi o ponto de partida para a explosão de .
– Só pode ter perdido completamente a sanidade que te restava! – Ela declarou à Ayesha.
– Me poupe de suas reclamações. A Tropa Nova será acionada a qualquer momento quando perceberem que foram roubados. – Ayesha afirmou. – São cento e vinte saltos até Asgard e o ponto mais próximo é à uma lua. Temos que ir agora!
– Eu não vou à Asgard. – declarou, cruzando os braços.
– Será que se esqueceu do nosso trato? – A sacerdotisa indagou, apertando as cordas que envolviam Callisto, o sufocando.
– Isso é uma missão suicida, Ayesha! – esbravejou. – Asgard é o lugar dos Deuses nórdicos. Toda a galáxia já ouviu falar deles! Odin, seus filhos e os guerreiros asgardianos... Nós não podemos simplesmente pensar que podemos combatê–los. Isso é fora da nossa realidade! – Se adiantou e completou: – E pare de sufocar o coitado.
– Você é uma deusa tanto quanto eles e com a minha ajuda...
– A ajuda de alguém cujos poderes podem acabar a qualquer momento. – Ela interrompeu a sacerdotisa, aproximando–se ameaçadoramente – Ou se esqueceu de que eu não sou mais a bateria que te recarrega?
Ayesha arqueou uma sobrancelha e interrompeu a força que sufocava Callisto, que tossiu ao voltar a respirar. Ela deu um passo na direção de .
– Se eu fosse você, não ousaria me desafiar, Stark. Ainda tenho duas baterias completamente carregadas com sua energia. Uma em Sovereign e a outra na Terra. – Ela arqueou uma sobrancelha, com um sorriso audacioso no rosto. – Só basta apertar um botão para que tudo vire pedacinhos.
suspirou, surpresa.
– Você não... – A voz da humana falhou, incapaz de terminar a frase.
– Sim. E não hesitarei em apertar este botão. – Ela revelou um dispositivo no bracelete em seu pulso, o qual a terráquea não havia notado anteriormente. – Se eu sequer sentir que você não pretende cumprir com sua parte do acordo... BUM! Estamos entendidas?
assentiu, retraída, e uma lágrima grossa e pesada escorreu de seu olho direito antes que ela a secasse rapidamente. Então se encaminhou ao painel de controle da nave, projetando a viagem para o próximo ponto de salto.
2.9 Asgard
Heimdall era o eterno e fiel guardião do reino de Asgard, além de sentinela da Bifrost, único portal permanente entre os reinos de Asgard e Midgard. Ele possuía poderes inigualáveis por ser um Deus e fora designado a tais cargos justamente pela competência e lealdade para com seu povo.
Um destes poderes eram seu sentido aguçado e habilidades proféticas que o permitiam se anteceder às batalhas que seriam enfrentadas. Deste modo ele calculava previamente suas ações e as de seus inimigos, como ameaças, para evitar ou projetá–las para um fim condizente, seguindo a melhor possibilidade para proteger seu povo e os Nove Reinos.
não sabia muito sobre asgardianos. Os Nove Reinos ficavam em uma Galáxia reclusa e não mantinham muito contato com os externos. No entanto, havia histórias e rumores e até mesmo gente que lhe informou sobre os guerreiros quando ainda estava como Vênus.
A assassina nunca dera muita importância àquele povo, que de fato eram seres que não lhes chamavam a atenção, e muito menos se sentiu amedrontada ou ameaçada com a menção aos mesmos, por mais fortes e poderosos que fossem. Porém, não era Vênus e a cada salto que passava e os deixava mais próximos à Asgard fazia seu estomago revirar. No entanto, ela permanecia inexpressiva e prosseguia com seu plano que fora drasticamente afetado pelo fato de Ayesha ter cartas na manga às quais não esperava: bombas potentes, uma em cada planeta que ela pretendia proteger. Devia ter imaginado que ela jogaria baixo.
Estava perdida, agindo feito um robô automático e torcia para que não estragasse tudo de vez, além de torcer para que seu plano inicial funcionasse porque estaria perdida caso isso não acontecesse.
Quando a espaçonave saltou para o último ponto e a reluzente Asgard apareceu diante de seus olhos ela perdeu a fala por um instante. Como era linda! De fato um dos lugares mais bonitos e ricos que já vira em todo o Universo.
– Vamos prosseguir. O Vortéx não virá até aqui sozinho. – Ayesha a desperta dos devaneios, fazendo com que ela assentisse.
– Para que esse plano tenha a mínima chance de dar certo, a única opção que temos é que eu distraia os guerreiros enquanto você se infiltra em Asgard e invade os cofres. – disse, com a voz levemente trêmula. Ela logo se adiantou em limpar a garganta.
– O cofre deve ser guardado por seguranças poderosos. – Ayesha constatou, entre dentes.
– Você não consegue lidar com eles? – indagou, arqueando uma sobrancelha de modo desafiador.
– Certamente que sim – a sacerdotisa disse, entre dentes.
respirou fundo e se levantou, caminhando até o duto que a levaria ao lado de fora. Assim que voou e se posicionou acima da nave soberana seu contato visual com os prédios dourados foi interrompido drasticamente pela sombra de dezenas de naves da Tropa Nova. quase engasgou de surpresa, seu estômago gelou e as pernas enfraqueceram, mas ela se recompôs no segundo seguinte para questionar no comunicador:
– Ótimo! O que faremos agora?
"Continue com o plano.", Ayesha ordenou, engolindo em seco logo em seguida. "Acabe com todos eles".
Como se tivessem ouvido a ordem da suma sacerdotisa, diversos disparos de armas espaciais foram lançados na direção de .
– Merda! – Ela xingou antes de se desviar dos disparos com maestria enquanto voava para longe dali.
As naves a seguiram, disparando uma chuva torrencial de lasers contra seu corpo pequeno. Ela disparou algumas rajadas na direção das naves, mas pouco as afetou uma vez que a mulher estava mais concentrada em fugir do que atacar.
Além de desviar dos disparos, ela tinha que se desviar também dos asteroides e meteoroides que vagavam pelo espaço. Algumas das pedras eram pequenas como a ponta de seu dedo, mas outras eram tão grandes e pesadas que ultrapassavam seu tamanho. Em uma tentativa de escapar de um disparo duplo ela se chocou com um meteorito dos grandes e perdeu o foco por um instante.
Uma nave se destacou, se aproximando com rapidez ao desviar com perfeição das pedras espaciais. Afobada, ela soltou uma rajada em um asteroide grande, que o fez se mover rapidamente na direção da nave e chocou–se com ela antes que o piloto pudesse agir para evitá-lo. Ao se afastar do campo de pedras ela parou abruptamente, olhando para frente.
Naves silenciosas e velozes deram a volta sem que ela notasse e a mulher se encontrou rodeada por elas, que continuaram a se aproximar, fechando–a no centro de um círculo completamente compactado e sem possibilidades de fuga. mirou as naves ao seu redor deduzindo, pela quantidade delas, que toda a Tropa Nova estivesse presente. Ela sentiu todos os soldados dentro delas encará–la com desprezo e os disparos cessaram para que o aviso fosse entregue.
– Se entregue, Vênus! – Uma voz foi reproduzida de uma das naves. – Ou continuaremos a atacar!
sentiu seu peito queimar e os olhos marejarem.
– Não... me chame... de Vênus – murmurou, engasgada.
– O que foi que disse? – A mesma voz questionou.
então fechou os olhos, concentrando toda a sua energia para que ela fosse focalizada no centro de seu ser. Quando abriu os olhos, flamejantes, deu um sorriso de lado antes de lançar uma rajada ultrassônica que atingiu todos ao seu redor e, com sua potência, desativou todas as naves. Os soldados que estavam dentro delas fizeram tentativas de religá–las, mas o painel evidenciava que o curto que o sistema levou era de proporção grave. O modo de emergência havia sido ativado automaticamente e eles não poderiam disparar ou sequer se movimentar.
Sob os olhares furiosos dos soldados da Tropa Nova ela empurrou algumas naves com a força do campo de energia cósmica que a rodeava e facilmente escapou do círculo que a aprisionava. voltou a se aproximar de Asgard a tempo de ver a nave soberana a poucos metros de invadir o reino.
Quando ficou próxima o suficiente da Bifrost, a ponte de arco–íris, uma faixa reluzente de luz surgiu e cegou–os momentaneamente. A nave soberana perdeu o controle e caiu sob as águas cristalinas de Asgard em um baque estrondoso. A luz diminuiu gradativamente até desaparecer por completo e revelar que em cima daquela ponte havia quatro guerreiros. sentiu seu estômago congelar.
Eram três mulheres e um homem de grande força aparente e repletos de confiança sem que precisassem pronunciar uma palavra sequer. Certamente eram guerreiros, mas desconfiava se sua origem fosse realmente asgardiana considerando o que sabia e a maneira como se comportavam. Estes estavam calmos e despreocupados, sem indício algum de querer atacá–la ou se adiantar em atacar os tripulantes da nave soberana.
Estavam parados observando a nave afundar e, por um breve instante, conseguiu observá–los, mesmo de longe. O homem tinha os cabelos loiros penteados em um topete charmoso, vestia um traje de cor azulada com detalhes em dourado e tinha a expressão firme. Uma das mulheres tinha os cabelos escuros e encaracolados penteados para cima, peso por seu capacete de cor vermelha assim como o resto de seus trajes que compactuavam com a cor branca em algumas particularidades. Outra se vestia inteiramente de branco com algumas listras douradas que realçavam as curvas de seu corpo e combinava com os cabelos igualmente dourados, assemelhando-se facilmente a uma deusa grega. A última, que possuía a face mais amigável entre os quatro, tinha cabelos extensos completamente pretos e usava trajes de coloração verde que reluzia a cor de seus olhos.
Quando notou um chiado sendo proferido do comunicador em seu ouvido, ela indagou:
– Ayesha?
Pelo dispositivo pôde ouvir o barulho da água invadindo o ambiente dentro da nave em meio aos ruídos e a conexão foi cessada. O comunicador central havia sido desativado. Antes que pudesse tomar qualquer atitude um raio de cor alaranjada surgiu de dentro da nave caída direto em direção ao céu de Asgard, fazendo uma abertura em sua lateral. ansiou pelo que estava por vir.
No instante seguinte Callisto apareceu na superfície com a respiração afobada e batendo os braços freneticamente em um nado nada convencional. voou na direção do soberano e, pegando–o pelos braços, o levou na direção da ponte, um pouco afastado de onde os guerreiros ainda estavam. Os quatro observaram a nave afundar cada vez mais nas águas, em silêncio, como se estivessem assistindo a um enterro fúnebre. O que, de fato, pelo bem do Universo, poderia ser.
– Você está bem? – indagou ao pousar na ponte com Callisto.
– Eu sabia! Sabia que não a deixaria chegar até o Vortéx, mas me enganou tão perfeitamente... Eu devia saber que tinha um plano em mente – ele pronunciou, contente. – Como o convenceu?
– Eu o convenci? – questionou, estupefata.
– Sim! – Callisto afirmou – Ele invadiu pelos dutos superiores, lutou com Ayesha e a fez perder o controle da nave. Por isso caímos.
arqueou as sobrancelhas, surpresa, e olhou na direção de onde a nave afundava, constatando que já não era mais possível vê–la. Pouco tempo depois a luz alaranjada despontou novamente no meio das águas e, do fundo daquele mar, um homem surgiu pousando descuidadamente na ponte. Richard Rider. reconheceu, aliviada, e correu na direção do rapaz, imediatamente.
– Richard – ela pronunciou, agachando ao seu lado.
O rapaz tossiu, expelindo a água que havia entrado em seus pulmões e respirou profundamente para, em seguida, mirá–la com um sorriso no rosto.
– Espero ter atrasado Ayesha o suficiente. Demorei a entender o que aquele monte de imagens na minha cabeça queria dizer. – Ele revelou, citando o fato de que ela secretamente transmitiu algumas de suas lembranças e instruções de como invadir a nave soberana diretamente para a mente dele através de sua energia. Era uma tática nova e ela nunca havia feito antes, mal sabia se poderia realizar tal feito. No entanto, havia apostado todas as suas fichas nisto. Este era o seu real plano.
– Não tinha certeza se daria certo. – Ela sorriu, estupenda.
– Definitivamente deu certo. Vi até mais do que devia – ele disse, encarando dela à Callisto, que vinha logo atrás com um semblante envergonhado – Só não precisava ter me apagado. Aquilo foi constrangedor.
– Desculpe, eu não tenho controle disso ainda. – Explicou, não se contendo em abraçá–lo. Ele retribuiu, desajeitadamente – Obrigada! Você era a minha única esperança.
– Só espero que a Tropa Nova não fique muito zangada por ter sido feita de isca. – Ele riu ao se soltarem do aperto. – Eles não acreditariam se eu dissesse que você não era mais a Vênus. Espero que não tenham te machucado.
– Espero que eu não tenha machucado eles. – Ela corrigiu e ambos riram novamente.
No instante seguinte a atenção dos espectadores foi voltada à água, que borbulhava arduamente, e uma claridade anormal despontava de suas profundezas. Não demorou muito para Ayesha surgir ferozmente e levantar voo.
– Não. – engoliu em seco.
Ayesha procurou a humana com os olhos, mas ao passá–los pela extensão da ponte ela notou os quatro guerreiros a observando e sua expressão era de choque.
– O que estão fazendo aqui? – Ela esbravejou na direção deles. – Isso não é da sua conta.
– Quando qualquer ação tiver a possibilidade de afetar o povo da Terra nós certamente iremos interferir – o homem loiro respondeu. – Pensei que já havíamos deixado claro o bastante da última vez.
Ayesha então notou pelo canto dos olhos e seu rosto mudou para completa fúria. Ela se virou completamente para a humana.
– Posso não conseguir o que quero e morrer tentando, mas pela sua traição levo todos aqueles com quem se importa junto comigo. – Ela declarou, não hesitando em apertar o botão no bracelete em seu pulso.
– NÃO! – esbravejou, desesperada. Os olhos se umedeceram automaticamente e sua garganta se fechou.
O silêncio cresceu entre os presentes, interrompido apenas pelos ruídos da movimentação das águas e o sopro dos ventos. A confusão explícita cresceu no rosto da suma sacerdotisa ao encarar os dizeres do dispositivo em seu pulso erro na ativação.
Richard sorriu.
– É isso que procura, sacerdotisa? – o rapaz questionou, levantando–se e revelando alguns fios sintéticos com um botão em suas extremidades na palma de sua mão.
Ayesha abriu o bracelete e constatou a falta da placa do dispositivo, com seus olhos irradiando faíscas furiosas. Quando ela estava para avançar da direção de Richard e o guerreiro se aproximou e congelou o corpo de Ayesha no ar através de um campo de força, com os átomos ao seu redor.
suspirou, em choque, enquanto Richard soltava um palavrão.
– Vocês não são asgardianos. – Ela concluiu ao mirar o homem próximo a ela.
– São os Eternos. – Callisto afirmou e o loiro assentiu, sem parecer fazer esforço algum para aprisionar Ayesha.
– Como conseguiu contatá–los? – Richard indagou na direção de .
– Eu ao menos tentei. – Ela revelou, confusa. – Quando chegaram pensei que eram guerreiros asgardianos. Eu te disse que você foi o único para quem consegui pedir ajuda.
– Fomos notificados por Heimdall. – A eterna loira revelou. –, protetor da Bifrost e, por consequência, de Midgard.
– Midgard... – repetiu, desnorteada.
– É como eles chamam a Terra por aqui. – Callisto relevou.
A atenção deles se voltou para o homem extremamente forte e alto de pele preta, trajado com uma armadura dourada e capa de pele de animal escura. Seus cabelos crespos caiam até suas cosas, mas não o deixavam com ar menos masculino, fosse por ele mesmo ou pela barba que compunha o belo rosto másculo. Os olhos vermelhos não amedrontavam os recém–chegados apenas pela expressão tranquila e bondosa emitida por eles. Os eternos se curvaram rapidamente e logo os demais se adiantaram em copiar o gesto.
– Por favor, não sou nenhum rei. Levantem–se. – Heimdall pediu com a voz rouca e todos se ergueram.
– Sou um profeta. Tenho visões do futuro quando este irá prejudicar qualquer um dos Nove Reinos. – O homem revelou. – Quando Ayesha tomou a decisão de vir para Asgard atrás do Vortéx e dizimar tanto Sovereign como Midgard, eu tive que agir.
– Você sabia de minhas intenções? – questionou.
– Sim. A razão de não ter encontrado uma tropa asgardiana na linha de frente quando chegou aqui foi porque senti a bondade em seu coração. – Revelou e a humana suspirou. – Entrei em contato com os Eternos para evitar maiores feitos, mas já sabia que você, pequena guardiã dos povos, impediria a guerra com louvor.
suspirou novamente e percebeu que sua respiração estava entrecortada.
– Está me dizendo que está tudo bem? – Ela indagou com a voz falha e a água se acumulando em seus olhos.
– Sim. – O homem assentiu, pousando a mão sob a cabeça da humana e a acariciando carinhosamente.
– E as bombas? – Ela questionou, com os olhos alarmados.
– No buraco negro da nossa Galáxia. Não será mais problema. – A eterna de traje verde revelou, com um sorriso no rosto. – Quando soubemos delas a nossa Makkari aqui logo localizou a da Terra. – Indicou a mulher morena, de vestimenta vermelha. – Ela pode ser bem rápida quando quer, sabe? E a outra bomba não funcionará sem o dispositivo completo, então estamos bem por enquanto. Aliás, sou Sersi. – Ergueu a mão na direção de . – Admito vergonhosamente que sou uma grande fã sua desde a época da Segunda Guerra, quando desenvolveu todo aquele maquinário medicinal, e tenho estado uma pilha de ansiedade para te conhecer depois que descobri que estava viva, doutora Stark. Você é uma lenda!
sorriu, envergonhada, enquanto apertava a mão da eterna.
– É um prazer, Sersi.
– Sou Thena, querida. – A loira se pronunciou, aproximando–se também com a mão erguida. – É um imenso prazer te conhecer.
– Igualmente. – soprou, apertando–lhe a mão.
Ela virou–se na direção do homem, que não dava indícios de querer se apresentar e, por isso, Sersi se adiantou: – E este é o Ikaris. Ele é meio carrancudo assim, mas no fundo é um cara legal.
– Cale a boca, Sersi. – ele murmurou na direção da mulher e logo se virou para . – É um prazer!
A humana esticou sua mão para apertar a de Ikaris e, assim que se tocaram, faíscas reluzentes azuis e amarelas fagulharam pelos braços de ambos, fazendo com que fossem repelidos automaticamente.
Ikaris, com a expressão surpresa, encarou a própria mão e depois a da mulher na sua frente, que estava tão confusa e em choque quanto ele mesmo.
– O que foi isso? – Sersi perguntou, divertida.
– Deve ter sido por... – Ikaris suspirou – energias opostas. Não compatíveis.
o encarou com a testa franzida, mas rapidamente reparou acima dos olhos do rapaz que Ayesha estava liberta e seguindo na direção do grupo com olhos ferozes e as mãos cheias de energia. Ela empurrou o homem para o lado e soltou disparos pelas mãos, atingindo Ayesha na cabeça. A suma sacerdotisa, já sem energia alguma, caiu em queda livre na ponte.
– Essa daí sempre nos deu muito trabalho. – Thena revelou, já aliviada pelo susto do momento repentino. – Anos na prisão não seriam o suficiente para ela.
– O quê? – virou–se para Heimdall. – O que vão fazer com ela?
– Enviá–la para uma prisão interestelar seria o mais apropriado – o homem disse. – Tem algo em mente?
desviou os olhos do homem alto em sua frente até Ayesha, caída a poucos metros de distância, voltando na direção de Callisto, que observava a conversa em silêncio, na retaguarda.
– Merecemos seu ódio eterno e o pior dos castigos, . – O soberano murmurou, firme.
Ela respirou fundo, trazendo para seus pulmões aquela brisa fresca com um leve toque salgado do mar. Seus pensamentos estavam embaralhados e suas convicções uma confusão, mas ainda assim aquela decisão fora jogada em seu colo e, como sua responsabilidade, teria que determinar o que seria feito.
relembrou do momento com Callisto no laboratório, anos atrás, quando ele descobrira sobre sua genealogia e do que seria capaz. Ela se recordou também de querer rejeitar seus poderes para que não acontecesse exatamente o mesmo de antes: alguém querer usá-los para o controle supremo.
Naquela época ela estava mais confusa e desorientada do que estava naquele momento, podia afirmar. Teve muito tempo reclusa na própria mente para saber o que queria fazer quando fosse finalmente liberta daquele monstro. Queria fazer o bem, proteger aqueles que não podiam se proteger sozinhos. E com este pensamento, concluiu:
– Eles não podem ir para a prisão.
– O quê? – Richard questionou, incrédulo. – , eles fizeram horrores com você. A prisão perpétua é pouco para o que fizeram todos esses anos.
mirou Callisto nos olhos, os dele úmidos e emocionados.
– Sovereign é um planeta repleto de cidadãos inocentes cuja reprodução depende completa e unicamente de Ayesha. – Ela revelou aos demais. – Sem ela, podem entrar em extinção e, sem ele – indicou Callisto com a cabeça –, eles não estarão seguros. Ele é quem protege aquele povo, quem cuida da segurança e bem-estar da população.
– Os soberanos são a raça mais prepotente deste universo. Se há uma raça que não merece a sua piedade são eles. – Ikaris se pronunciou, atraindo a atenção de todos.
– Mas são mutáveis. – sorriu. – Eles podem se desenvolver e aprender a ser melhores como indivíduos. Todos nós somos provenientes da evolução de algo e eles merecem ter a chance de poder ter essa evolução.
O silêncio cobriu a boca dos presentes, a maioria deles se virando para Heimdall com indignação. Heimdall sorriu de volta para a humana.
– Eu sabia que não me arrependeria de seguir sua sensatez, minha querida.
assentiu. Heimdall então se voltou para Ikaris ao dizer:
– Apague a memória da sacerdotisa. Não precisamos que ela saiba sobre o Vortéx, os Eternos e muito menos sobre a própria .
Ikaris refletiu por um momento e então caminhou em direção a Ayesha, afastando–se dos demais.
– E caberá á você, meu jovem, guiá–la para a evolução da sua própria raça. – Heimdall inspira à Callisto. – E que não precisemos puni–los da forma que realmente merecem, pois se algo parecido voltar a acontecer – o homem reluziu os olhos de forma amedrontadora, para finalizar – eu mesmo irei até lá fazer por merecer.
Callisto engoliu em seco e assentiu freneticamente. Heimdall voltou a sorrir.
– Então é isto. Vocês podem retornar aos seus reinos agora.
Dito isso, sentiu suas pernas fraquejarem e o ar faltar em seus pulmões com a dedução do que aquela frase significava.
– Eu vou para casa?
2.10 Epílogo
Sob o pôr-do-sol, sendo aquecidos pelos últimos raios solares dos sols de Asgard, o grupo de pessoas superdesenvolvidas se reuniam ao redor do interruptor dourado que os concederia a passagem para a Terra assim que acionado pela espada Hofund que Heimdall empunhava em mãos.
As despedidas não seriam muito longas e sequer precisavam ser prolongadas, visto a falta de proximidade entre eles. Os Eternos apenas acenaram a cabeça aos demais, mas sentiu a necessidade de andar até Richard e abraçá-lo.
- Muito obrigada! – ela disse, apertando-o com fervor. – Eu não teria conseguido sem você.
- Foi só uma mãozinha, - ele deu de ombros, modesto, quando se afastaram. – tenho certeza que daria um jeito com ou sem mim.
Ela sorriu.
- Algum conselho para alguém que está longe da Terra há quase cinquenta anos?
Richard franziu a testa, pensativo e de repente arregalou os olhos com ar risonho quando concluiu: - Cara, muita coisa mudou de lá para cá! – ele suspirou. – Mudanças boas, claro. Mas rapidamente você se adapta à elas.
assentiu.
- E quando seremos agraciados com o seu retorno, mesmo? – ela questionou, divertida.
- Já está com saudades? – Richard rebateu, arrancando risos dela. – Eu sei que sou marcante, mas mal nos conhecemos.
Ela empurrou-o levemente pelo ombro em meio à sorrisos.
- No entanto, claro, se você estiver interessada em encontros casuais quando eu retornar não tenho como recusar. – ele continuou, vendo-a corar levemente. E mirando Callisto, que os observava atentamente, ele completou – Assim terá um namorado de verdade.
O soberano revirou os olhos, irritado, dando as costas aos dois, e mordeu os lábios para evitar rir novamente.
- Detesto te decepcionar, Richard. – ela disse. – Mas já tem alguém me esperando lá na Terra. – e adiantou-se em completar com a testa franzida – Pelo menos espero que ainda esteja.
- Se este cara tiver dado bobeira e arrumado outra, ou estiver mais velho que uma múmia, me deixe saber que com certeza eu vou atrás de você. – o rapaz disse e selou um beijo na bochecha quente de antes de se afastar.
Por um instante ela tendeu a refletir sobre o que ele havia lhe dito, mais sobre o que poderia ter acontecido na vida de James do que sobre a proposta. No entanto preferiu espantar os maus pensamentos e deixá-los para depois. Em questão de poucos minutos ela saberia, afinal. Não seria inteligente sofrer por antecedência.
Logo ela virou-se para Callisto, que estava há poucos passos de distância, e se aproximou vagarosamente.
- Eu sei que o que fiz foi errado e absurdamente egoísta. – ele pronunciou, sentindo a presença dela cada vez mais perto. – Mas meu coração não deixa de desejar que tivéssemos ficado verdadeiramente juntos no final. – ele adiantou-se em esclarecer: - Como e Callisto, não como Vênus e Callisto.
O soberano levantou o rosto e revelou os olhos úmidos.
- Eu não poderia. – ela murmurou. – Tudo o que aconteceu não poderia ser apagado a modo que pudéssemos ficar juntos. Há muita mágoa e traições imperdoáveis.
- Eu sei. – ele sorriu, tristonho. – E sei que não importa quantas desculpas eu te peça, nunca serão suficientes. Mas, me desculpe.
engoliu em seco.
- Talvez se eu fosse de um mundo diferente, de uma cultura diferente e não tivesse a machucado tanto... – ele se interrompeu, prensando os lábios um contra o outro. – Se eu tivesse tido tempo suficiente para aprender mais com você...
- Poderia ter sido diferente. – ela assentiu com um sorriso fraco.
- Estou profundamente arrependido. – ele admitiu. – Só não de ter-te trago de volta, claro.
- Você não é como eles. – tocou em sua mão. – Você sempre foi mais... Humano, por assim dizer. – ela sorriu, acariciando as costas de sua mão com o polegar. – E por isso eu sei que pode guiá-los a ser melhores, assim como você mesmo será melhor com o passar do tempo. Eu tenho fé em vocês. Principalmente em você, Callisto.
Ele sorriu e abaixou o olhar para a mão de pousada sobre a sua. Ele respirou fundo e afastou a própria mão da dela para puxar um cordão de couro que estava ao redor de seu pescoço e revelar o que ele havia guardado por todos esses anos.
cobriu a boca com as mãos em surpresa quando o anel surgiu na extremidade do cordão. O mesmo anel com a pedra vermelha que havia recebido de James, ao que parecia, há uma vida.
- No dia em que Ayesha te encontrou ela ordenou que tudo o que havia sido encontrado com você fosse dizimado, para que não pudesse vir a ter lembranças de casa. – ele revelou, desfazendo o nó do cordão para tirar o anel de lá. – Um dos tripulantes da nave achou o objeto bem interessante e decidiu por guardar ao invés de cumprir com a ordem. Havia achado o anel curioso.
Callisto pegou a mão de e pousou o anel na sua palma.
- Há anos eu o vi usando no dedo e soube que seria seu, não temos pedras assim em Sovereign. – ele revelou. – Ele cobrou uma fortuna para me entregar, barganhar não foi uma opção.
pegou o anel, admirando a pedra que ainda reluzia e logo encaixou-o no dedo a qual sempre pertenceu.
- Você realmente pensava em me trazer de volta todo esse tempo, não é? – ela questionou o rapaz com a voz fanha.
Callisto assentiu.
- E sabendo que você iria embora assim que retornasse, queria ter algo para me lembrar de você. – ele indicou o anel. – Mas deve ser de muita importância para você, por isso não me dou esse direito.
sorriu, permitindo que finalmente algumas das lágrimas que estavam presas em seus olhos escorressem e abraçou Callisto. Inicialmente ele se pegou sem reação, surpreso pela atitude dela, mas logo fechou os braços ao seu redor.
Eles ficaram por alguns instantes abraçados, mas o pigarrear de um dos espectadores os fizera se afastar.
Ela mirou Heimdall, que já estava com a espada a postos, e tornou a se virar para Callisto.
- É bem-vindo para me visitar na Terra, se quiser. – ela disse, sorrindo. – Adeus, Callisto.
- Adeus. – ele soprou em resposta, observando-a se afastar e se juntar ao círculo em volta do interruptor, Heimdall e sua espada.
- Todos prontos? – o profeta questionou.
- Sim. – os eternos responderam em coro.
- Sim. – murmurou entre sorrisos e o coração batendo em uma velocidade alucinante. Não acreditava que estava finalmente indo para casa.
Heimdall girou a espada no interruptor e uma forte luz colorida os puxoua para baixo, em uma pressão espantosa. Eles caíram, e conseguiu notar as cores do arco-íris ao seu redor, em um túnel que os encaminhava em alta velocidade em direção ao seu destino.
Seu estômago revirava e ela sentia calafrios pela intensidade da viagem, desta forma prendeu a respiração e fechou os olhos com força. Desmaiar não era uma opção.
-x-
Terra, Via Láctea.
2002
Mais cedo do que esperava sentiu o chão abaixo de seus pés e soltou o ar preso para puxar aquele oxigênio que tanto sentira falta para dentro de seus pulmões.
Ansiosa, ela abriu os olhos e constatou à sua frente um campo de grama verde cercado por pinheiros altíssimos e um lago de águas cristalinas - não muito distante, o céu completamente azul e límpido, e o sol reluzente sob suas cabeças, que nada aquecia, pois o clima estava estupidamente gelado com o vento frio ricocheteando os seus cabelos.
ajoelhou-se para pousar suas mãos sob a grama levemente úmida e fria e teve que controlar o choro que subiu a garganta pela emoção que era finalmente retornar.
- Doutora Stark? – a voz de Sersi a chamou.
limpou os cantos dos olhos umedecidos rapidamente e se levantou para girar nos calcanhares e virar-se em sua direção.
- Sim?
- Vamos, ainda temos que andar mais um pouco para chegarmos a Olímpia. – ela disse, apontando para a montanha há alguns quilômetros de distância.
Aquele certamente era o Monte Olimpo, ela reconhecia aquele pico alto e famoso o qual tanto desejou visitar quando ainda jovem. As rochas serviam como escadas para o céu e o topo estava coberto pelo manto branco que era a neve. Quem diria que as histórias estariam certas, realmente deuses viviam por ai.
- Então vocês se escondem na Grécia. – o comentário escapou de sua boca e Sersi riu.
- Olímpia fica no cume da montanha, para que os humanos não possam nos encontrar com facilidade. – ela informou. – É afastado do mundo da superfície para que possamos aprimorar os nossos poderes e vivermos em paz.
esfregou os braços e se abraçou, havia esquecido como podia ser fria a temperatura com a presença da neve.
- Vamos, Zuras está ansioso para te conhecer. – Sersi a chamou, animada e suspirou.
- Eu adoraria conhecer quem quer que seja esta pessoa que você falou, mas... – ela umedeceu os lábios – eu realmente quero ir para casa.
O sorriso no rosto de Sersi diminuiu gradativamente e ela procurou nos eternos outros apoios com os olhos.
- Agradeço por sua ajuda, mas preciso saber como estão meu irmão, meu noivo, meus amigos... – insistiu, antes mesmo que eles tentassem a convencer. Ela só queria ver sua família.
O silêncio tomou o lugar entre os cinco, somente o chiado do bater de asas de aves que voavam por ali, ou aqui o interrompeu.
poderia simplesmente sair andando, mas não queria ser ingrata e parecer uma má agradecida por eles terem saído de seu conforto para ajudá-la.
- Conte a ela logo, ou eu contarei. – Ikaris disse à Sersi antes de virar-se e começar a caminhar na direção da montanha.
Sersi olhou para Thena e Makkari que apenas assentiram uma vez e tomaram o caminho atrás de Ikaris.
Sersi se aproximou cuidadosamente de com o semblante sério, era a primeira vez que ela presenciava tal seriedade do rosto da mulher.
- Me contar o quê? – indagou, a preocupação crescente em sua voz.
Sersi enlaçou o braço no dela e sorriu, tristonha.
- Vamos dar uma volta? – a eterna questionou e não deu oportunidade para negar, em vista que começou a caminhar assim que sua boca se fechou. Elas seguiram na direção contrária a montanha, adentrando o meio dos pinhais.
Enquanto andavam pelo meio da floresta de pinheiros inúmeras possibilidades correram pela cabeça de , que estava cada vez mais ansiosa, no entanto sabia que a mulher não diria nada até chegarem onde quer que elas estivessem indo.
Sersi parou em uma clareira no meio da floresta, repleta de flores das mais diversas cores e formatos, e com a sua telecinese tirou do alto de um dos pinheiros uma mochila preta, desbotada e empoeirada que estava escondida entre os galhos. Quando a mochila aterrissou na frente de ambas as mulheres, levantou os olhos com ar de questionamento à Sersi.
- Aqui tem algumas roupas dos humanos. – ela revelou ao agachar e abrir a mochila – Não podemos ir à cidade desse jeito. – e indicou os trajes que elas estavam vestindo.
soltou o ar de forma pesada e explodiu: - Não, eu não vou à cidade com você! Não vou a lugar nenhum ao menos se me disser o que tem para dizer logo.
Sersi engoliu em seco e levantou-se para mirar diretamente nos olhos.
- Não posso simplesmente te contar isso, tenho que te mostrar. – e empurrou algumas roupas na direção de .
segurou o olhar no de Sersi por um tempo, mas logo se deu por vencida e bufou alto tomando as roupas de sua mão.
Elas se vestiram em silêncio e viradas de costas uma à outra.
Quando já trocadas da cabeça aos pés Sersi tornou a esconder a mochila no topo do pinheiro e estendeu a mão para uma distraída, que estranhava a modernidade da roupa que vestia. Calças jeans apertadas, uma camiseta preta escrito Nirvana em letras amarelas sob o peito, botas de couro de cano baixo e uma jaqueta igualmente jeans.
- Você vai ter que confiar em mim. – Sersi pronunciou, fazendo perceber a mão estendida.
- E eu lá tenho outra escolha? – ela indagou e segurou a mão da mulher.
Em menos de um minuto a imagem do lugar que estavam ao redor delas é trocada brutalmente. Rodeadas por um campo magnético de luz verde, elas estavam agora em uma viela pequena e apertada, cheia de sacos pretos de lixo e malcheirosa. O campo desapareceu.
girou em seus calcanhares e correu os olhos ao seu redor, as paredes de pedra rústica e brancas denunciavam que elas ainda estariam na Grécia. A mulher caminhou até a saída da viela e constatou uma rua de pedras sob os seus pés e várias casinhas típicas gregas preenchendo-a até o final.
- Estamos em Atenas. – Sersi revelou atrás de .
- Você... nos teletransportou? – questionou, abismada, virando-se para ela.
- Este é um dentre os meus inúmeros dons. – Sersi sorriu.
- E o que viemos fazer aqui?
Sersi apontou uma das casas de pedra atrás de , na placa lia-se Cyber Café e a mulher observou o local mais atentamente.
Na calçada, ao lado de fora, estavam algumas pessoas sentadas nas mesas de madeira redondas com copos de plástico em mãos e conversando animadamente, uma ou outra mexia em um aparelho pequeno cheio de botões com uma tela minúscula que projetavam imagens diversificadas. Pelas janelas de madeira ela podia observar o interior do local. Assemelhava-se a uma cafeteria, mas estava repleta de caixas tecnológicas sob as mesas que também projetavam imagens vivas e claras dispostas para o uso dos clientes.
Ela podia sentir o cheiro de café à distância e sentiu seu estômago roncar. Já havia passado um longo tempo desde que fizera a sua última refeição e ela imediatamente ansiou por qualquer coisa dentro daquela cafeteria.
Elas adentraram o local, não atraindo a atenção de nenhuma das pessoas ao seu redor. Sersi seguiu para o balcão principal com em seu encalço e começou a conversar com a senhora de cabelos grisalhos e sorriso simpático, enquanto observava os diversos doces e salgados dispostos atrás da vitrine.
Logo que finalizado o pedido a senhora agilmente se encaminhou até a máquina industrial de café atrás do balcão, acionou alguns botões, e a deixou trabalhando enquanto colocava dois bolinhos em pratos de porcelana e ofereceu à elas.
Assim que o café ficou pronto a senhora despejou com habilidade nos copos de plástico, os tampou e entregou às duas. Sersi agradeceu à senhora, equilibrando bolinho e café sob uma mão para entregar algumas notas à senhora. Em seguida a eterna indicou à uma mesa lateral, e elas seguiram até lá.
Elas se sentaram e não hesitou em rapidamente dar a primeira mordida no bolinho, que ela constatou ser de chocolate, e tomar um gole do melhor café que já havia provado. Sersi sorriu com a ferocidade do ataque de à comida, mas nada comentou.
Enquanto comia notou que uma das caixas tecnológicas estava disposta na mesa em que elas estavam sentadas e de perto percebeu não ser uma caixa, concluindo que assemelhava-se mais à um livro ultrafino, só que de ferro.
Sersi, ao perceber o olhar curioso de ao objeto, o posicionou na frente da mulher e o abriu, revelando uma tela reluzente frontal e diversos botões com letras e números acoplados à ela. Ela podia ter uma ideia do que era, mas na dúvida questionou Sersi: - O que é isto?
- É um Macbook.
- Parece um computador, mas... – ela olhou a parte de trás do aparelho. – está faltando muitas partes.
- Isto é um computador. – Sersi riu. – É o computador moderno. Eles reduziram o tamanho, mas cabem muito mais informações. Por ele nós podemos pesquisar qualquer coisa e as informações parecem em nossa frente em questão de segundos.
- E estas informações são verídicas? – indagou, claramente interessada.
- São sim. – Sersi afirmou.
- De onde são tiradas? – questionou com curiosidade.
- De livros, jornais, a internet...
- Internet? – indagou com a face distorcida em confusão.
- Certo, como vou te explicar isso? – Sersi indagou para si mesma. Ela umedeceu os lábios demoradamente e voltou à : – A internet é uma rede mundial a qual pessoas no mundo inteiro têm acesso. É por ela que as pessoas se comunicam de forma rápida, trocam informações, noticiam acontecimentos e assim por adiante.
Os olhos da humana brilharam de fascínio.
- Os humanos são incríveis. – sorriu, admirando o minicomputador à sua frente. – e eu achando que os alienígenas eram mais desenvolvidos que nós.
- Cada um é desenvolvido do seu jeito. – Sersi deu de ombros. – Em algumas áreas eles são sim mais desenvolvidos que nós.
- Incrível. – sorriu e olhou ao seu redor, notando novamente uma das pessoas mexendo no aparelho pequeno em suas mãos. Ela se adiantou em perguntar à Sersi: - E o que é aquilo ali?
- Aquilo é um Black Berry. – Sersi explicou. – É um celular, como se fosse um telefone, mas ele tem muito mais funções que os de antigamente. Tira fotos, manda mensagens instantâneas, faz ligações entre outras coisas.
- Fantástico. – elogiou, fascinada.
- Bom, ... – Sersi chamou a sua atenção, desta vez com a expressão séria de volta ao seu rosto. – O que eu queria te mostrar, na verdade...
Sersi sentou na cadeira ao lado de cuidadosamente e puxou o computador levemente para o seu lado, clicou em um dos lugares da tela e no teclado digitou rapidamente: Acidente Howard Stark.
Imediatamente sentiu seu coração gelar e o chão abaixo de seus pés sumir. O falatório ao seu redor se tornou silencioso e de repente ninguém além dela e a tela à sua frente estavam presentes. No instante seguinte diversas imagens e palavras apareceram na tela do computador sob seus olhos.
Ela mal conseguiu ler, o marejo de suas lágrimas embaçavam as palavras e não a permitiam compreender. No entanto ela sabia o que aquelas manchetes diziam, a foto de um carro batido contra uma árvore deixara bastante claro.
Ela deixou o copo de café cair no chão.
- Eu sinto muito. – a voz de Sersi pronunciou distante e abafada.
-x-
Atenas, Grécia.
2010
Nas noites de sexta-feira o bar Lancadona, que ficava em uma das ruas mais movimentadas de Atenas – a Rua Ipitou –, recebia diversos turistas e não havia um instante em que suas mesas não estivessem cheias e o bar completamente lotado, seja pela bela música ao vivo, a bebida ou os petiscos tradicionais gregos que eram servidos.
O bar conhecido pela região como o mais animado de todos, permaneceu aberto até o horário da manhã do outro dia devido à grande demanda de turistas e frequentadores assíduos que se negavam a encerrar a diversão antes das sete AM.
Jorge, que era um dos responsáveis pela supervisão do famoso bar, estava a fechar as portas de madeira com o sol quente batendo em sua face quando se deparou com uma mulher sentada desajeitadamente em uma das banquetas no balcão do barman.
O bar estaria completamente vazio se não fosse por ela. A moça estava com os cotovelos apoiados no balcão e tinha uma caneca de vidro à sua frente, com um resto de cerveja quente no fundo do recipiente.
Gregory, o barman, estava a secar os copos de vidros usados para os drinks com um pano de prato enquanto ouvia os resmungos da mulher encantadora à sua frente.
Jorge soltou o ar e se encaminhou até eles. Ele sentou-se na banqueta ao lado de , uma das suas mais assíduas e fiéis clientes.
- Deseja algo em especial, senhor? – Gregory indagou, notando a presença do chefe.
- Três shots de tequila, meu caro. – Jorge pediu, passando as mãos pelos cabelos grisalhos – Merecemos depois de mais uma noite de casa cheia.
Gregory sorriu, alegre e se virou para preparar o pedido do chefe quando girou na banqueta para parar de frente ao gerente.
- Tequila, hein Jorge? – ela indagou, risonha. – Você sabe que em poucas horas eu tenho que retornar à cafeteria. Aqueles cafés não se preparam sozinhos e a Dona Júlia não gosta quando eu apareço um caco para trabalhar.
- Eu e você sabemos que tequila não é o seu fraco. – Jorge comentou. – Aliás, nestes oito anos que você é uma frequentadora diária do bar, eu ainda não descobri qual bebida é o seu ponto fraco. Costumo conhecer bem todos os meus clientes.
- Sabe como é... – riu e seus olhos brilharam quando os três copinhos foram postos enfileirados à sua frente. – estômago jovem aguenta qualquer tipo de bebida.
- Desculpe a minha intromissão, – Gregory pronunciou, chamando-lhe a atenção – mas me sinto até envergonhado em não saber a sua idade.
pegou um dos copinhos com o líquido ardente e ergueu-o no ar.
- Nunca se deve perguntar a idade de uma mulher, querido Greg.
Os dois homens riram, também pegando cada um o copo de tequila para imitar o gesto na mulher.
- Que a vida de vocês não seja tão desgraçada quanto à minha. – pronunciou e virou o líquido em sua boca, sem sequer fazer uma careta de repulsa.
Os homens também viraram os copos e logo os bateram no balcão.
- Não seja tão dramática, minha querida. – Jorge disse. – Você ainda tem muito a viver. É jovem, bonita e inteligente. Aposto que logo te surge uma oportunidade para trabalhar em uma grande empresa multinacional e deslancha em uma carreira belíssima.
riu anasalado e afirmou, mesmo à contragosto.
- Bom, - ela suspirou levantando-se da banqueta. – já deu a minha hora. Vou deixar vocês descansarem. – ela selou um beijo no rosto do gerente e assoprou um na direção de Gregory. – Vejo vocês à noite.
Os homens observaram a mulher desfilar até a saída do bar e antes que ela atravessasse a porta, acenaram em sua direção.
- Pobre garota. – Jorge comentou quando a porta se fechou. – Vivendo sozinha por essa Grécia afora, aos trancos e barrancos, embebedando-se noite após noite como se não houvesse amanhã.
- Você sabe o que aconteceu com ela, Senhor Jorge? – Gregory indagou.
- Não sei ao certo. – ele deu de ombros – Ela claramente não gosta de falar sobre o assunto, sempre se desvia quando é questionada. Mas... Suspeito que tenha perdido a todos que amava e isso... Meu caro rapaz, é a pior dor existente.
- Sempre a vejo sozinha por aí, cabisbaixa. Acho que somos os únicos com quem ela realmente conversa, senhor, além da Dona Júlia, claro. – Greg observou. – É sempre do trabalho ao bar, do bar ao trabalho. É um ciclo incessante.
- A Dona Júlia me contou certo dia que há alguns anos a encontrou revirando o lixo da cafeteria para poder comer, só com a roupa do corpo, sem identidade, sem dinheiro algum e não pôde deixa-la desamparada. Ela a acolheu e a ofereceu um emprego, foi logo quando ela começou a frequentar aqui. Ela sempre é tão educada e simpática, coitadinha. – Jorge suspirou. – Rezo para que algum dia ela encontre o seu caminho e tenha um propósito para viver. Não há coisa mais triste do que ver um jovem se afundando nas mágoas de seu passado.
Caminhando pelas ruas de pedras já tão conhecidas, cambaleou quando seu pé deslizou por uma das pedras soltas e riu de si mesma ao perceber que quase levara um belo tombo.
Ela girou nos calcanhares, olhou ao seu redor, e constatando que não havia ninguém na rua àquela hora além dela virou-se de volta ao seu caminho para à Cyber Café. No entanto se assustou ao trombar em um corpo parado à sua frente e foi segurada por mãos grandes e fortes encobertas por luvas pretas.
- Voltando de uma noite na gandaia? – a voz grave chamou-a a atenção até o rosto do homem, que ainda a segurava.
Ele tinha a pele aveludada e morena, marrom feito um chocolate, vestia-se inteiramente de preto, o sol reluzia em sua cabeça que carecia de cabelos, e, para a sua estranheza, usava um tapa olho que cobria um dos olhos.
Ela segurou um suspiro surpreso e endireitou sua postura, para livrar-se das mãos do homem.
- De onde você surgiu? – ela questionou, atordoada, mas logo se adiantou em abrir o seu sorriso mais simpático. – Me assustou pra cacete.
- Não fico surpreso por não ter me ouvido aproximar. – ele sorriu sem tirar seu olho dela, como se este a avaliasse silenciosamente – O álcool atrapalha os sentidos e você está coberta dele.
riu pelo nariz.
- Estou mais sóbria do que deveria e cada vez menos embriagada do que gostaria. – ela contornou o homem a sua frente, desviando-se dele, e acenou pronta para sair logo dali: - Obrigada e adeus, estranho. Vai pela sombra.
Antes que ela desse um passo para longe, ele falou e a faz travar no lugar: - Surpresa mesmo é saber que alguém como você, que tem o soro do supersoldado no seu organismo, consiga ser mesmo que minimamente afetada pelo álcool.
Ela engoliu em seco e logo se adiantou em rir descontraidamente.
- Não sei do que está falando.
Quando ela insinuou se afastar novamente, ele agarrou-lhe o braço.
- Muitas foram às vezes que ouvi falar sobre a sua história, mas nunca imaginei que quando nos encontrássemos cara a cara eu me depararia com uma adolescente beberrona.
Ela desvencilhou-se da mão do homem num puxão bruto.
- Deve estar me confundindo com outra pessoa, senhor. – e dito isso saiu caminhando em passadas firmes e sequenciadas, o leve teor do álcool já completamente fora de seu organismo.
- Tenho absoluta certeza que não estou enganado... senhorita Stark. – ele disse em alto e bom tom e ela virou-se, alarmada, em sua direção.
O homem sorriu, satisfeito.
- Quem é você? – ela voltou a se aproximar do homem, agora com serenidade nos olhos. – Como me encontrou?
- Trabalho para a Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão. Uma empresa que teve como co-fundador o seu irmão, Howard. – pronunciado o nome, sentiu seu peito apertar. – Há algumas semanas um agente que estava em campo aqui por Atenas evidenciou uma mulher romper do nada, em meio à fagulhas azuis.
Ela desviou os olhos, desconcertada.
- Podíamos tê-lo internado na ala psiquiatra, mas levando em consideração os últimos acontecimentos ao redor do mundo... Era de se desconfiar. – ele continuou. – O rapaz observou atentamente a sua rotina e puxando pelo nosso banco de dados teve a maior descoberta de toda a sua carreira insignificante. Ele encontrara Stark, a doutora desaparecida há anos.
umedeceu os lábios e respirou fundo antes de estender a palma da mão na direção do homem à sua frente com calma: - Com licença.
O homem observou a mão no ar por alguns instantes e duvidoso pousa a mão sob a dela, que falou: - Sem a luva, por favor.
Mesmo sem compreender o homem tirou a luva da mão direita vagarosamente e a pousou sob a palma fria da mulher, que imediatamente ficou com os olhos opacos e vagos. As írises desapareceram, perdendo-se no branco completo e pode-se notar algumas faíscas azuis fagulharem nele. Meio minuto depois ela suspirou e piscou os olhos grandes duas vezes, voltando ao normal.
- Nicolas Fury. – ela soprou, soltando a mão do homem.
- Como... – ele olhou dela à sua mão erguida no ar e sorriu. – Pelo visto você tem muitos mais dons do que constam nos diários de seu irmão.
deu de ombros.
- Há algum tempo eu pensei que pudesse aperfeiçoar as minhas habilidades para ajudar as pessoas, de alguma forma. – ela balançou a cabeça, desiludida – Mas voltei ao ponto inicial onde não me vejo fazendo qualquer coisa além de afogar as minhas mágoas por uma vida amarga em que todos aqueles que um dia já amei estão mortos.
- E tem funcionado? – ele questionou.
- Nem um pouco. – ela riu, frustrada. – Nunca fico bêbada o suficiente, nem isso essa droga de super-regeneração me permite fazer. Por isso sempre tento ficar o menos sóbria possível para fazer o meu corpo enfraquecer e, com sorte, finalmente sucumbir.
Nicolas a observou em silêncio.
Os olhos estavam inchados e vermelhos, os cabelos desajeitados e soltos, as roupas eram simples e o dobro de seu tamanho – como se pertencessem à outra pessoa – e a face sombria estava marcada por cicatrizes invisíveis.
- É compreensível que queira se afogar nos seus traumas e viver remoendo eles o resto de sua vida. – Nick pronunciou. – Mas não acho que era isto que seu irmão esperava que você fizesse.
sorriu, desacreditada pela petulância e abriu a boca para deslanchar uma porção de más palavras na direção do homem, mas decidiu se conter.
Disse após respirar fundo: - Pelo o que eu li em alguns blogs foi exatamente o que ele fez quando viu que eu não voltaria mais. Virou um alcoólatra. – ela engoliu o bolo que cresceu na garganta – Pelo menos ele conseguiu fazer isso com louvor.
- Não posso mentir e dizer que Howard continuou sendo a mesma pessoa que você conhecia depois que você se foi, a vida dele era rodeada de melancolia. – limpou uma singela lágrima que se atreveu à cair. – Mas, ainda assim, ele fez grandes coisas depois disso. Superou cada expectativa e se tornou o...
- Eu sei o que ele fez! – ela o interrompeu aos gritos. – Não deixo de me orgulhar pelo meu irmão, não pense que sou tão mesquinha. Ele foi brilhante, como já era esperado! Mas eu não sou e nunca fui tão obstinada quanto Howard, não posso simplesmente ignorar o que aconteceu e seguir com uma vida de realizações e feitos importantes. Mereço apreciar uma vida miserável.
limpou as lágrimas causadas pela sua explosão de emoções com as costas da mão e respirou fundo. Já havia algum tempo desde que havia perdido o controle desta forma, sua cabeça latejou.
- Por isso, não adianta querer me levar de volta às Indústrias, à Nova York, onde quer que seja para me ajudar a superar os meus traumas, Fury. – ela pronunciou mais controlada – Eu não quero superar nada.
Nicolas assentiu vagarosamente.
- Só quer dar um fim a essa vida. – ele concluiu.
- Como se fosse tão fácil para mim. – ela lhe deu as costas.
- E quanto ao seu sobrinho? – Nicolas arqueou uma sobrancelha e notou um singelo lampejo reluzir nos olhos da mulher quando ela se virou para ele automaticamente.
engole em seco para declarar: - Ele está bem longe de mim.
- E se eu dissesse que não está?
Ela o encarou com a testa franzida.
- Pode ver, se quiser. – ele esticou a mão em sua direção e a encarou com hesitação em longos minutos.
- Não posso. – disse por fim.
- Ele é parte de Howard. – Nick atenuou. – É sua família.
- E você acha que eu não sei disso? – ela voltou a perder o controle, desta vez, evidenciado na luz azul que flamejou em seus olhos. – Acha que já não pensei em ir atrás dele diversas vezes?
- E por que não foi?
- Porque eu sou um anjo da morte. Por coincidência ou não todas as pessoas que eu me aproximo ou me importo se machucam, ou morrem tragicamente. Eu não quero fazer o mesmo com ele. – as lágrimas caíam livremente de seus olhos.
- Conversa fiada. – o homem rebateu e ela se viu irritada com a arrogância do homem. – Nós dois sabemos que tem medo de ele ser muito parecido com o Howard e suprir, de alguma forma, esse vazio que você não quer que seja suprido. Sente culpa pela possibilidade de se sentir bem quando pensa que isso anularia tudo o que você quer sentir pelo luto ao seu irmão.
As luzes azuis dos olhos se apagaram, a mulher estava com a respiração ofegante.
- Uma coisa não anula a outra, . – Nick continuou. – E, por tudo o que imagino que você deve ter passado, merece um pouco de ar fresco depois de ter atravessado o inferno.
Ela abaixou a cabeça, mirando os próprios pés.
- Você disse que Tony não está bem. – ela observou com a voz rouca. – Veio atrás de mim porque acha que eu posso ajudá-lo?
- Eu sei que você é a única quem pode ajudá-lo. – Nicolas afirmou. – Mas não foi só por isso que eu vim.
Ela ergueu a cabeça, mirando-o nos olhos.
- Por que mais seria?
- Porque ele também é o único quem pode te ajudar.
As despedidas não seriam muito longas e sequer precisavam ser prolongadas, visto a falta de proximidade entre eles. Os Eternos apenas acenaram a cabeça aos demais, mas sentiu a necessidade de andar até Richard e abraçá-lo.
- Muito obrigada! – ela disse, apertando-o com fervor. – Eu não teria conseguido sem você.
- Foi só uma mãozinha, - ele deu de ombros, modesto, quando se afastaram. – tenho certeza que daria um jeito com ou sem mim.
Ela sorriu.
- Algum conselho para alguém que está longe da Terra há quase cinquenta anos?
Richard franziu a testa, pensativo e de repente arregalou os olhos com ar risonho quando concluiu: - Cara, muita coisa mudou de lá para cá! – ele suspirou. – Mudanças boas, claro. Mas rapidamente você se adapta à elas.
assentiu.
- E quando seremos agraciados com o seu retorno, mesmo? – ela questionou, divertida.
- Já está com saudades? – Richard rebateu, arrancando risos dela. – Eu sei que sou marcante, mas mal nos conhecemos.
Ela empurrou-o levemente pelo ombro em meio à sorrisos.
- No entanto, claro, se você estiver interessada em encontros casuais quando eu retornar não tenho como recusar. – ele continuou, vendo-a corar levemente. E mirando Callisto, que os observava atentamente, ele completou – Assim terá um namorado de verdade.
O soberano revirou os olhos, irritado, dando as costas aos dois, e mordeu os lábios para evitar rir novamente.
- Detesto te decepcionar, Richard. – ela disse. – Mas já tem alguém me esperando lá na Terra. – e adiantou-se em completar com a testa franzida – Pelo menos espero que ainda esteja.
- Se este cara tiver dado bobeira e arrumado outra, ou estiver mais velho que uma múmia, me deixe saber que com certeza eu vou atrás de você. – o rapaz disse e selou um beijo na bochecha quente de antes de se afastar.
Por um instante ela tendeu a refletir sobre o que ele havia lhe dito, mais sobre o que poderia ter acontecido na vida de James do que sobre a proposta. No entanto preferiu espantar os maus pensamentos e deixá-los para depois. Em questão de poucos minutos ela saberia, afinal. Não seria inteligente sofrer por antecedência.
Logo ela virou-se para Callisto, que estava há poucos passos de distância, e se aproximou vagarosamente.
- Eu sei que o que fiz foi errado e absurdamente egoísta. – ele pronunciou, sentindo a presença dela cada vez mais perto. – Mas meu coração não deixa de desejar que tivéssemos ficado verdadeiramente juntos no final. – ele adiantou-se em esclarecer: - Como e Callisto, não como Vênus e Callisto.
O soberano levantou o rosto e revelou os olhos úmidos.
- Eu não poderia. – ela murmurou. – Tudo o que aconteceu não poderia ser apagado a modo que pudéssemos ficar juntos. Há muita mágoa e traições imperdoáveis.
- Eu sei. – ele sorriu, tristonho. – E sei que não importa quantas desculpas eu te peça, nunca serão suficientes. Mas, me desculpe.
engoliu em seco.
- Talvez se eu fosse de um mundo diferente, de uma cultura diferente e não tivesse a machucado tanto... – ele se interrompeu, prensando os lábios um contra o outro. – Se eu tivesse tido tempo suficiente para aprender mais com você...
- Poderia ter sido diferente. – ela assentiu com um sorriso fraco.
- Estou profundamente arrependido. – ele admitiu. – Só não de ter-te trago de volta, claro.
- Você não é como eles. – tocou em sua mão. – Você sempre foi mais... Humano, por assim dizer. – ela sorriu, acariciando as costas de sua mão com o polegar. – E por isso eu sei que pode guiá-los a ser melhores, assim como você mesmo será melhor com o passar do tempo. Eu tenho fé em vocês. Principalmente em você, Callisto.
Ele sorriu e abaixou o olhar para a mão de pousada sobre a sua. Ele respirou fundo e afastou a própria mão da dela para puxar um cordão de couro que estava ao redor de seu pescoço e revelar o que ele havia guardado por todos esses anos.
cobriu a boca com as mãos em surpresa quando o anel surgiu na extremidade do cordão. O mesmo anel com a pedra vermelha que havia recebido de James, ao que parecia, há uma vida.
- No dia em que Ayesha te encontrou ela ordenou que tudo o que havia sido encontrado com você fosse dizimado, para que não pudesse vir a ter lembranças de casa. – ele revelou, desfazendo o nó do cordão para tirar o anel de lá. – Um dos tripulantes da nave achou o objeto bem interessante e decidiu por guardar ao invés de cumprir com a ordem. Havia achado o anel curioso.
Callisto pegou a mão de e pousou o anel na sua palma.
- Há anos eu o vi usando no dedo e soube que seria seu, não temos pedras assim em Sovereign. – ele revelou. – Ele cobrou uma fortuna para me entregar, barganhar não foi uma opção.
pegou o anel, admirando a pedra que ainda reluzia e logo encaixou-o no dedo a qual sempre pertenceu.
- Você realmente pensava em me trazer de volta todo esse tempo, não é? – ela questionou o rapaz com a voz fanha.
Callisto assentiu.
- E sabendo que você iria embora assim que retornasse, queria ter algo para me lembrar de você. – ele indicou o anel. – Mas deve ser de muita importância para você, por isso não me dou esse direito.
sorriu, permitindo que finalmente algumas das lágrimas que estavam presas em seus olhos escorressem e abraçou Callisto. Inicialmente ele se pegou sem reação, surpreso pela atitude dela, mas logo fechou os braços ao seu redor.
Eles ficaram por alguns instantes abraçados, mas o pigarrear de um dos espectadores os fizera se afastar.
Ela mirou Heimdall, que já estava com a espada a postos, e tornou a se virar para Callisto.
- É bem-vindo para me visitar na Terra, se quiser. – ela disse, sorrindo. – Adeus, Callisto.
- Adeus. – ele soprou em resposta, observando-a se afastar e se juntar ao círculo em volta do interruptor, Heimdall e sua espada.
- Todos prontos? – o profeta questionou.
- Sim. – os eternos responderam em coro.
- Sim. – murmurou entre sorrisos e o coração batendo em uma velocidade alucinante. Não acreditava que estava finalmente indo para casa.
Heimdall girou a espada no interruptor e uma forte luz colorida os puxoua para baixo, em uma pressão espantosa. Eles caíram, e conseguiu notar as cores do arco-íris ao seu redor, em um túnel que os encaminhava em alta velocidade em direção ao seu destino.
Seu estômago revirava e ela sentia calafrios pela intensidade da viagem, desta forma prendeu a respiração e fechou os olhos com força. Desmaiar não era uma opção.
Terra, Via Láctea.
2002
Ansiosa, ela abriu os olhos e constatou à sua frente um campo de grama verde cercado por pinheiros altíssimos e um lago de águas cristalinas - não muito distante, o céu completamente azul e límpido, e o sol reluzente sob suas cabeças, que nada aquecia, pois o clima estava estupidamente gelado com o vento frio ricocheteando os seus cabelos.
ajoelhou-se para pousar suas mãos sob a grama levemente úmida e fria e teve que controlar o choro que subiu a garganta pela emoção que era finalmente retornar.
- Doutora Stark? – a voz de Sersi a chamou.
limpou os cantos dos olhos umedecidos rapidamente e se levantou para girar nos calcanhares e virar-se em sua direção.
- Sim?
- Vamos, ainda temos que andar mais um pouco para chegarmos a Olímpia. – ela disse, apontando para a montanha há alguns quilômetros de distância.
Aquele certamente era o Monte Olimpo, ela reconhecia aquele pico alto e famoso o qual tanto desejou visitar quando ainda jovem. As rochas serviam como escadas para o céu e o topo estava coberto pelo manto branco que era a neve. Quem diria que as histórias estariam certas, realmente deuses viviam por ai.
- Então vocês se escondem na Grécia. – o comentário escapou de sua boca e Sersi riu.
- Olímpia fica no cume da montanha, para que os humanos não possam nos encontrar com facilidade. – ela informou. – É afastado do mundo da superfície para que possamos aprimorar os nossos poderes e vivermos em paz.
esfregou os braços e se abraçou, havia esquecido como podia ser fria a temperatura com a presença da neve.
- Vamos, Zuras está ansioso para te conhecer. – Sersi a chamou, animada e suspirou.
- Eu adoraria conhecer quem quer que seja esta pessoa que você falou, mas... – ela umedeceu os lábios – eu realmente quero ir para casa.
O sorriso no rosto de Sersi diminuiu gradativamente e ela procurou nos eternos outros apoios com os olhos.
- Agradeço por sua ajuda, mas preciso saber como estão meu irmão, meu noivo, meus amigos... – insistiu, antes mesmo que eles tentassem a convencer. Ela só queria ver sua família.
O silêncio tomou o lugar entre os cinco, somente o chiado do bater de asas de aves que voavam por ali, ou aqui o interrompeu.
poderia simplesmente sair andando, mas não queria ser ingrata e parecer uma má agradecida por eles terem saído de seu conforto para ajudá-la.
- Conte a ela logo, ou eu contarei. – Ikaris disse à Sersi antes de virar-se e começar a caminhar na direção da montanha.
Sersi olhou para Thena e Makkari que apenas assentiram uma vez e tomaram o caminho atrás de Ikaris.
Sersi se aproximou cuidadosamente de com o semblante sério, era a primeira vez que ela presenciava tal seriedade do rosto da mulher.
- Me contar o quê? – indagou, a preocupação crescente em sua voz.
Sersi enlaçou o braço no dela e sorriu, tristonha.
- Vamos dar uma volta? – a eterna questionou e não deu oportunidade para negar, em vista que começou a caminhar assim que sua boca se fechou. Elas seguiram na direção contrária a montanha, adentrando o meio dos pinhais.
Enquanto andavam pelo meio da floresta de pinheiros inúmeras possibilidades correram pela cabeça de , que estava cada vez mais ansiosa, no entanto sabia que a mulher não diria nada até chegarem onde quer que elas estivessem indo.
Sersi parou em uma clareira no meio da floresta, repleta de flores das mais diversas cores e formatos, e com a sua telecinese tirou do alto de um dos pinheiros uma mochila preta, desbotada e empoeirada que estava escondida entre os galhos. Quando a mochila aterrissou na frente de ambas as mulheres, levantou os olhos com ar de questionamento à Sersi.
- Aqui tem algumas roupas dos humanos. – ela revelou ao agachar e abrir a mochila – Não podemos ir à cidade desse jeito. – e indicou os trajes que elas estavam vestindo.
soltou o ar de forma pesada e explodiu: - Não, eu não vou à cidade com você! Não vou a lugar nenhum ao menos se me disser o que tem para dizer logo.
Sersi engoliu em seco e levantou-se para mirar diretamente nos olhos.
- Não posso simplesmente te contar isso, tenho que te mostrar. – e empurrou algumas roupas na direção de .
segurou o olhar no de Sersi por um tempo, mas logo se deu por vencida e bufou alto tomando as roupas de sua mão.
Elas se vestiram em silêncio e viradas de costas uma à outra.
Quando já trocadas da cabeça aos pés Sersi tornou a esconder a mochila no topo do pinheiro e estendeu a mão para uma distraída, que estranhava a modernidade da roupa que vestia. Calças jeans apertadas, uma camiseta preta escrito Nirvana em letras amarelas sob o peito, botas de couro de cano baixo e uma jaqueta igualmente jeans.
- Você vai ter que confiar em mim. – Sersi pronunciou, fazendo perceber a mão estendida.
- E eu lá tenho outra escolha? – ela indagou e segurou a mão da mulher.
Em menos de um minuto a imagem do lugar que estavam ao redor delas é trocada brutalmente. Rodeadas por um campo magnético de luz verde, elas estavam agora em uma viela pequena e apertada, cheia de sacos pretos de lixo e malcheirosa. O campo desapareceu.
girou em seus calcanhares e correu os olhos ao seu redor, as paredes de pedra rústica e brancas denunciavam que elas ainda estariam na Grécia. A mulher caminhou até a saída da viela e constatou uma rua de pedras sob os seus pés e várias casinhas típicas gregas preenchendo-a até o final.
- Estamos em Atenas. – Sersi revelou atrás de .
- Você... nos teletransportou? – questionou, abismada, virando-se para ela.
- Este é um dentre os meus inúmeros dons. – Sersi sorriu.
- E o que viemos fazer aqui?
Sersi apontou uma das casas de pedra atrás de , na placa lia-se Cyber Café e a mulher observou o local mais atentamente.
Na calçada, ao lado de fora, estavam algumas pessoas sentadas nas mesas de madeira redondas com copos de plástico em mãos e conversando animadamente, uma ou outra mexia em um aparelho pequeno cheio de botões com uma tela minúscula que projetavam imagens diversificadas. Pelas janelas de madeira ela podia observar o interior do local. Assemelhava-se a uma cafeteria, mas estava repleta de caixas tecnológicas sob as mesas que também projetavam imagens vivas e claras dispostas para o uso dos clientes.
Ela podia sentir o cheiro de café à distância e sentiu seu estômago roncar. Já havia passado um longo tempo desde que fizera a sua última refeição e ela imediatamente ansiou por qualquer coisa dentro daquela cafeteria.
Elas adentraram o local, não atraindo a atenção de nenhuma das pessoas ao seu redor. Sersi seguiu para o balcão principal com em seu encalço e começou a conversar com a senhora de cabelos grisalhos e sorriso simpático, enquanto observava os diversos doces e salgados dispostos atrás da vitrine.
Logo que finalizado o pedido a senhora agilmente se encaminhou até a máquina industrial de café atrás do balcão, acionou alguns botões, e a deixou trabalhando enquanto colocava dois bolinhos em pratos de porcelana e ofereceu à elas.
Assim que o café ficou pronto a senhora despejou com habilidade nos copos de plástico, os tampou e entregou às duas. Sersi agradeceu à senhora, equilibrando bolinho e café sob uma mão para entregar algumas notas à senhora. Em seguida a eterna indicou à uma mesa lateral, e elas seguiram até lá.
Elas se sentaram e não hesitou em rapidamente dar a primeira mordida no bolinho, que ela constatou ser de chocolate, e tomar um gole do melhor café que já havia provado. Sersi sorriu com a ferocidade do ataque de à comida, mas nada comentou.
Enquanto comia notou que uma das caixas tecnológicas estava disposta na mesa em que elas estavam sentadas e de perto percebeu não ser uma caixa, concluindo que assemelhava-se mais à um livro ultrafino, só que de ferro.
Sersi, ao perceber o olhar curioso de ao objeto, o posicionou na frente da mulher e o abriu, revelando uma tela reluzente frontal e diversos botões com letras e números acoplados à ela. Ela podia ter uma ideia do que era, mas na dúvida questionou Sersi: - O que é isto?
- É um Macbook.
- Parece um computador, mas... – ela olhou a parte de trás do aparelho. – está faltando muitas partes.
- Isto é um computador. – Sersi riu. – É o computador moderno. Eles reduziram o tamanho, mas cabem muito mais informações. Por ele nós podemos pesquisar qualquer coisa e as informações parecem em nossa frente em questão de segundos.
- E estas informações são verídicas? – indagou, claramente interessada.
- São sim. – Sersi afirmou.
- De onde são tiradas? – questionou com curiosidade.
- De livros, jornais, a internet...
- Internet? – indagou com a face distorcida em confusão.
- Certo, como vou te explicar isso? – Sersi indagou para si mesma. Ela umedeceu os lábios demoradamente e voltou à : – A internet é uma rede mundial a qual pessoas no mundo inteiro têm acesso. É por ela que as pessoas se comunicam de forma rápida, trocam informações, noticiam acontecimentos e assim por adiante.
Os olhos da humana brilharam de fascínio.
- Os humanos são incríveis. – sorriu, admirando o minicomputador à sua frente. – e eu achando que os alienígenas eram mais desenvolvidos que nós.
- Cada um é desenvolvido do seu jeito. – Sersi deu de ombros. – Em algumas áreas eles são sim mais desenvolvidos que nós.
- Incrível. – sorriu e olhou ao seu redor, notando novamente uma das pessoas mexendo no aparelho pequeno em suas mãos. Ela se adiantou em perguntar à Sersi: - E o que é aquilo ali?
- Aquilo é um Black Berry. – Sersi explicou. – É um celular, como se fosse um telefone, mas ele tem muito mais funções que os de antigamente. Tira fotos, manda mensagens instantâneas, faz ligações entre outras coisas.
- Fantástico. – elogiou, fascinada.
- Bom, ... – Sersi chamou a sua atenção, desta vez com a expressão séria de volta ao seu rosto. – O que eu queria te mostrar, na verdade...
Sersi sentou na cadeira ao lado de cuidadosamente e puxou o computador levemente para o seu lado, clicou em um dos lugares da tela e no teclado digitou rapidamente: Acidente Howard Stark.
Imediatamente sentiu seu coração gelar e o chão abaixo de seus pés sumir. O falatório ao seu redor se tornou silencioso e de repente ninguém além dela e a tela à sua frente estavam presentes. No instante seguinte diversas imagens e palavras apareceram na tela do computador sob seus olhos.
Ela mal conseguiu ler, o marejo de suas lágrimas embaçavam as palavras e não a permitiam compreender. No entanto ela sabia o que aquelas manchetes diziam, a foto de um carro batido contra uma árvore deixara bastante claro.
Ela deixou o copo de café cair no chão.
- Eu sinto muito. – a voz de Sersi pronunciou distante e abafada.
-x-
Atenas, Grécia.
2010
Nas noites de sexta-feira o bar Lancadona, que ficava em uma das ruas mais movimentadas de Atenas – a Rua Ipitou –, recebia diversos turistas e não havia um instante em que suas mesas não estivessem cheias e o bar completamente lotado, seja pela bela música ao vivo, a bebida ou os petiscos tradicionais gregos que eram servidos.
O bar conhecido pela região como o mais animado de todos, permaneceu aberto até o horário da manhã do outro dia devido à grande demanda de turistas e frequentadores assíduos que se negavam a encerrar a diversão antes das sete AM.
Jorge, que era um dos responsáveis pela supervisão do famoso bar, estava a fechar as portas de madeira com o sol quente batendo em sua face quando se deparou com uma mulher sentada desajeitadamente em uma das banquetas no balcão do barman.
O bar estaria completamente vazio se não fosse por ela. A moça estava com os cotovelos apoiados no balcão e tinha uma caneca de vidro à sua frente, com um resto de cerveja quente no fundo do recipiente.
Gregory, o barman, estava a secar os copos de vidros usados para os drinks com um pano de prato enquanto ouvia os resmungos da mulher encantadora à sua frente.
Jorge soltou o ar e se encaminhou até eles. Ele sentou-se na banqueta ao lado de , uma das suas mais assíduas e fiéis clientes.
- Deseja algo em especial, senhor? – Gregory indagou, notando a presença do chefe.
- Três shots de tequila, meu caro. – Jorge pediu, passando as mãos pelos cabelos grisalhos – Merecemos depois de mais uma noite de casa cheia.
Gregory sorriu, alegre e se virou para preparar o pedido do chefe quando girou na banqueta para parar de frente ao gerente.
- Tequila, hein Jorge? – ela indagou, risonha. – Você sabe que em poucas horas eu tenho que retornar à cafeteria. Aqueles cafés não se preparam sozinhos e a Dona Júlia não gosta quando eu apareço um caco para trabalhar.
- Eu e você sabemos que tequila não é o seu fraco. – Jorge comentou. – Aliás, nestes oito anos que você é uma frequentadora diária do bar, eu ainda não descobri qual bebida é o seu ponto fraco. Costumo conhecer bem todos os meus clientes.
- Sabe como é... – riu e seus olhos brilharam quando os três copinhos foram postos enfileirados à sua frente. – estômago jovem aguenta qualquer tipo de bebida.
- Desculpe a minha intromissão, – Gregory pronunciou, chamando-lhe a atenção – mas me sinto até envergonhado em não saber a sua idade.
pegou um dos copinhos com o líquido ardente e ergueu-o no ar.
- Nunca se deve perguntar a idade de uma mulher, querido Greg.
Os dois homens riram, também pegando cada um o copo de tequila para imitar o gesto na mulher.
- Que a vida de vocês não seja tão desgraçada quanto à minha. – pronunciou e virou o líquido em sua boca, sem sequer fazer uma careta de repulsa.
Os homens também viraram os copos e logo os bateram no balcão.
- Não seja tão dramática, minha querida. – Jorge disse. – Você ainda tem muito a viver. É jovem, bonita e inteligente. Aposto que logo te surge uma oportunidade para trabalhar em uma grande empresa multinacional e deslancha em uma carreira belíssima.
riu anasalado e afirmou, mesmo à contragosto.
- Bom, - ela suspirou levantando-se da banqueta. – já deu a minha hora. Vou deixar vocês descansarem. – ela selou um beijo no rosto do gerente e assoprou um na direção de Gregory. – Vejo vocês à noite.
Os homens observaram a mulher desfilar até a saída do bar e antes que ela atravessasse a porta, acenaram em sua direção.
- Pobre garota. – Jorge comentou quando a porta se fechou. – Vivendo sozinha por essa Grécia afora, aos trancos e barrancos, embebedando-se noite após noite como se não houvesse amanhã.
- Você sabe o que aconteceu com ela, Senhor Jorge? – Gregory indagou.
- Não sei ao certo. – ele deu de ombros – Ela claramente não gosta de falar sobre o assunto, sempre se desvia quando é questionada. Mas... Suspeito que tenha perdido a todos que amava e isso... Meu caro rapaz, é a pior dor existente.
- Sempre a vejo sozinha por aí, cabisbaixa. Acho que somos os únicos com quem ela realmente conversa, senhor, além da Dona Júlia, claro. – Greg observou. – É sempre do trabalho ao bar, do bar ao trabalho. É um ciclo incessante.
- A Dona Júlia me contou certo dia que há alguns anos a encontrou revirando o lixo da cafeteria para poder comer, só com a roupa do corpo, sem identidade, sem dinheiro algum e não pôde deixa-la desamparada. Ela a acolheu e a ofereceu um emprego, foi logo quando ela começou a frequentar aqui. Ela sempre é tão educada e simpática, coitadinha. – Jorge suspirou. – Rezo para que algum dia ela encontre o seu caminho e tenha um propósito para viver. Não há coisa mais triste do que ver um jovem se afundando nas mágoas de seu passado.
Caminhando pelas ruas de pedras já tão conhecidas, cambaleou quando seu pé deslizou por uma das pedras soltas e riu de si mesma ao perceber que quase levara um belo tombo.
Ela girou nos calcanhares, olhou ao seu redor, e constatando que não havia ninguém na rua àquela hora além dela virou-se de volta ao seu caminho para à Cyber Café. No entanto se assustou ao trombar em um corpo parado à sua frente e foi segurada por mãos grandes e fortes encobertas por luvas pretas.
- Voltando de uma noite na gandaia? – a voz grave chamou-a a atenção até o rosto do homem, que ainda a segurava.
Ele tinha a pele aveludada e morena, marrom feito um chocolate, vestia-se inteiramente de preto, o sol reluzia em sua cabeça que carecia de cabelos, e, para a sua estranheza, usava um tapa olho que cobria um dos olhos.
Ela segurou um suspiro surpreso e endireitou sua postura, para livrar-se das mãos do homem.
- De onde você surgiu? – ela questionou, atordoada, mas logo se adiantou em abrir o seu sorriso mais simpático. – Me assustou pra cacete.
- Não fico surpreso por não ter me ouvido aproximar. – ele sorriu sem tirar seu olho dela, como se este a avaliasse silenciosamente – O álcool atrapalha os sentidos e você está coberta dele.
riu pelo nariz.
- Estou mais sóbria do que deveria e cada vez menos embriagada do que gostaria. – ela contornou o homem a sua frente, desviando-se dele, e acenou pronta para sair logo dali: - Obrigada e adeus, estranho. Vai pela sombra.
Antes que ela desse um passo para longe, ele falou e a faz travar no lugar: - Surpresa mesmo é saber que alguém como você, que tem o soro do supersoldado no seu organismo, consiga ser mesmo que minimamente afetada pelo álcool.
Ela engoliu em seco e logo se adiantou em rir descontraidamente.
- Não sei do que está falando.
Quando ela insinuou se afastar novamente, ele agarrou-lhe o braço.
- Muitas foram às vezes que ouvi falar sobre a sua história, mas nunca imaginei que quando nos encontrássemos cara a cara eu me depararia com uma adolescente beberrona.
Ela desvencilhou-se da mão do homem num puxão bruto.
- Deve estar me confundindo com outra pessoa, senhor. – e dito isso saiu caminhando em passadas firmes e sequenciadas, o leve teor do álcool já completamente fora de seu organismo.
- Tenho absoluta certeza que não estou enganado... senhorita Stark. – ele disse em alto e bom tom e ela virou-se, alarmada, em sua direção.
O homem sorriu, satisfeito.
- Quem é você? – ela voltou a se aproximar do homem, agora com serenidade nos olhos. – Como me encontrou?
- Trabalho para a Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão. Uma empresa que teve como co-fundador o seu irmão, Howard. – pronunciado o nome, sentiu seu peito apertar. – Há algumas semanas um agente que estava em campo aqui por Atenas evidenciou uma mulher romper do nada, em meio à fagulhas azuis.
Ela desviou os olhos, desconcertada.
- Podíamos tê-lo internado na ala psiquiatra, mas levando em consideração os últimos acontecimentos ao redor do mundo... Era de se desconfiar. – ele continuou. – O rapaz observou atentamente a sua rotina e puxando pelo nosso banco de dados teve a maior descoberta de toda a sua carreira insignificante. Ele encontrara Stark, a doutora desaparecida há anos.
umedeceu os lábios e respirou fundo antes de estender a palma da mão na direção do homem à sua frente com calma: - Com licença.
O homem observou a mão no ar por alguns instantes e duvidoso pousa a mão sob a dela, que falou: - Sem a luva, por favor.
Mesmo sem compreender o homem tirou a luva da mão direita vagarosamente e a pousou sob a palma fria da mulher, que imediatamente ficou com os olhos opacos e vagos. As írises desapareceram, perdendo-se no branco completo e pode-se notar algumas faíscas azuis fagulharem nele. Meio minuto depois ela suspirou e piscou os olhos grandes duas vezes, voltando ao normal.
- Nicolas Fury. – ela soprou, soltando a mão do homem.
- Como... – ele olhou dela à sua mão erguida no ar e sorriu. – Pelo visto você tem muitos mais dons do que constam nos diários de seu irmão.
deu de ombros.
- Há algum tempo eu pensei que pudesse aperfeiçoar as minhas habilidades para ajudar as pessoas, de alguma forma. – ela balançou a cabeça, desiludida – Mas voltei ao ponto inicial onde não me vejo fazendo qualquer coisa além de afogar as minhas mágoas por uma vida amarga em que todos aqueles que um dia já amei estão mortos.
- E tem funcionado? – ele questionou.
- Nem um pouco. – ela riu, frustrada. – Nunca fico bêbada o suficiente, nem isso essa droga de super-regeneração me permite fazer. Por isso sempre tento ficar o menos sóbria possível para fazer o meu corpo enfraquecer e, com sorte, finalmente sucumbir.
Nicolas a observou em silêncio.
Os olhos estavam inchados e vermelhos, os cabelos desajeitados e soltos, as roupas eram simples e o dobro de seu tamanho – como se pertencessem à outra pessoa – e a face sombria estava marcada por cicatrizes invisíveis.
- É compreensível que queira se afogar nos seus traumas e viver remoendo eles o resto de sua vida. – Nick pronunciou. – Mas não acho que era isto que seu irmão esperava que você fizesse.
sorriu, desacreditada pela petulância e abriu a boca para deslanchar uma porção de más palavras na direção do homem, mas decidiu se conter.
Disse após respirar fundo: - Pelo o que eu li em alguns blogs foi exatamente o que ele fez quando viu que eu não voltaria mais. Virou um alcoólatra. – ela engoliu o bolo que cresceu na garganta – Pelo menos ele conseguiu fazer isso com louvor.
- Não posso mentir e dizer que Howard continuou sendo a mesma pessoa que você conhecia depois que você se foi, a vida dele era rodeada de melancolia. – limpou uma singela lágrima que se atreveu à cair. – Mas, ainda assim, ele fez grandes coisas depois disso. Superou cada expectativa e se tornou o...
- Eu sei o que ele fez! – ela o interrompeu aos gritos. – Não deixo de me orgulhar pelo meu irmão, não pense que sou tão mesquinha. Ele foi brilhante, como já era esperado! Mas eu não sou e nunca fui tão obstinada quanto Howard, não posso simplesmente ignorar o que aconteceu e seguir com uma vida de realizações e feitos importantes. Mereço apreciar uma vida miserável.
limpou as lágrimas causadas pela sua explosão de emoções com as costas da mão e respirou fundo. Já havia algum tempo desde que havia perdido o controle desta forma, sua cabeça latejou.
- Por isso, não adianta querer me levar de volta às Indústrias, à Nova York, onde quer que seja para me ajudar a superar os meus traumas, Fury. – ela pronunciou mais controlada – Eu não quero superar nada.
Nicolas assentiu vagarosamente.
- Só quer dar um fim a essa vida. – ele concluiu.
- Como se fosse tão fácil para mim. – ela lhe deu as costas.
- E quanto ao seu sobrinho? – Nicolas arqueou uma sobrancelha e notou um singelo lampejo reluzir nos olhos da mulher quando ela se virou para ele automaticamente.
engole em seco para declarar: - Ele está bem longe de mim.
- E se eu dissesse que não está?
Ela o encarou com a testa franzida.
- Pode ver, se quiser. – ele esticou a mão em sua direção e a encarou com hesitação em longos minutos.
- Não posso. – disse por fim.
- Ele é parte de Howard. – Nick atenuou. – É sua família.
- E você acha que eu não sei disso? – ela voltou a perder o controle, desta vez, evidenciado na luz azul que flamejou em seus olhos. – Acha que já não pensei em ir atrás dele diversas vezes?
- E por que não foi?
- Porque eu sou um anjo da morte. Por coincidência ou não todas as pessoas que eu me aproximo ou me importo se machucam, ou morrem tragicamente. Eu não quero fazer o mesmo com ele. – as lágrimas caíam livremente de seus olhos.
- Conversa fiada. – o homem rebateu e ela se viu irritada com a arrogância do homem. – Nós dois sabemos que tem medo de ele ser muito parecido com o Howard e suprir, de alguma forma, esse vazio que você não quer que seja suprido. Sente culpa pela possibilidade de se sentir bem quando pensa que isso anularia tudo o que você quer sentir pelo luto ao seu irmão.
As luzes azuis dos olhos se apagaram, a mulher estava com a respiração ofegante.
- Uma coisa não anula a outra, . – Nick continuou. – E, por tudo o que imagino que você deve ter passado, merece um pouco de ar fresco depois de ter atravessado o inferno.
Ela abaixou a cabeça, mirando os próprios pés.
- Você disse que Tony não está bem. – ela observou com a voz rouca. – Veio atrás de mim porque acha que eu posso ajudá-lo?
- Eu sei que você é a única quem pode ajudá-lo. – Nicolas afirmou. – Mas não foi só por isso que eu vim.
Ela ergueu a cabeça, mirando-o nos olhos.
- Por que mais seria?
- Porque ele também é o único quem pode te ajudar.
Cenas Extras
Torre dos Vingadores, Manhattan – Nova York.
2014
Em meio à gritos e reviradas inquietas na cama, acordou, ofegante, e com o corpo coberto de suor – apesar do ar condicionado estar ligado na temperatura mais baixa que pudesse trabalhar. Ela se sentou sob os lençóis brancos e úmidos, pousando a mão gelada sob a testa já fria e respirou fundo, em uma tentativa de controlar a sua respiração.
passou os olhos pela extensão do quarto moderno, notando que deixara a televisão de plasma ligada em algum canal de esportes, o qual agora passava uma reprise de um jogo de basquete qualquer. Ela tornou a respirar fundo e correu os olhos pela cidade abaixo de si, aquela que nunca dormia, que podia ser admirada graças às janelas infinitas de vidro ao seu redor.
Respirando fundo por uma última vez ela se jogou de volta por entre os travesseiros exageradamente almofadados e macios, concluindo que tinha acabado de ter mais um de seus pesadelos. Se perguntava quando ia se ver livre deles, estava cansada de ser atormentada noite sim, noite não.
Supondo que não conseguiria voltar a dormir, como acontecera das demais vezes, ela girou as pernas para fora da cama e se levantou em um salto. Pegou o controle da televisão no móvel de cabeceira, desligando-a, e se direcionou ao closet para pegar o seu robe.
Já vestida, encobrindo o seu pijama de seda selecionado à dedo por uma das assistentes pessoais de Tony Stark – a qual também refez o seu guarda-roupa a cada troca de estação –, ela pegou o seu celular jogado por entre os lençóis e saiu do quarto na direção da cozinha, enquanto abria a página de notícias no navegador da internet.
Distraída com a recente queda de ações na bolsa de valores, ela não percebeu que outra pessoa também estava acordada, e só notou quando se deparou com Tony abrindo a geladeira.
- Qual o pesadelo da vez? – Tony indagou, pegando o pote de sorvete no congelador e fechando a porta da geladeira em seguida – Alienígenas ou militares mortos?
se direcionou ao armário e abriu a primeira gaveta, pegando duas colheres de lá, para então se aproximar do balcão onde Tony pousava o pote de sorvete.
- Com a Vênus, desta vez. – ela confessou, entregando uma das colheres à Tony. Ele a pegou, logo depois de abrir o pote. Os dois não fizeram cerimônia para enfiar a colher e apanhar o sorvete, levando a sobremesa até a boca tranquilamente.
- Pensei que... – ele se interrompeu para limpar os lábios com a língua – pensei que já tivesse à superado depois de ter feito diversos atos heroicos.
- Diversos atos heroicos? – ela indagou, segurando a colher com sorvete no ar, enquanto encarava o sobrinho.
- Sabe, aquela vez com o irmão problemático do playboy e o buraco de minhoca... – ele enfiou a colher cheia de sorvete na boca, para continuar com a boca cheia: - quando foi uma super médica, tirando todos aqueles estilhaços do meu coração... – enfiou a colher no pote novamente – e, claro, quando me ajudou à desvendar o vibrânio mesmo tendo acabado de voltar à nossa realidade.
riu.
- Parando para analisar a situação, - Tony continuou – eu tenho sido uma perfeita donzela em perigo tendo o traseiro salvo diversas vezes por você. Que vergonha. – ele ralhou divertidamente – Supostamente deveria ser o contrário.
- Porque eu aparento ser mais frágil? – indagou, brincalhona. – Você não é machista, Tony. Tudo bem que estamos sozinhos, mas cuidado com as palavras. Já tem um bando de feministas querendo chutar o seu saco por aí.
- Elas vivem cometendo erros de interpretação sobre os meus discursos, não é culpa minha. – ele deu de ombros – Mas, voltando ao assunto, o porquê é que eu tenho que te proteger. – Ele a corrigiu. – Você é minha única família sabe... Sem você e Pepper... – ele limpou a garganta – Enfim, já tem muito sentimentalismo nessa conversa. A questão é a seguinte. – ele endireitou a postura – você é uma mulher poderosa e incrível, com um dos mais bondosos corações que eu já vi. Não pode deixar que aquilo determine quem você realmente é.
- Eu fiz muita coisa errada, Tony. – ela disse, envergonhada.
- Eu também. – ele deu de ombros. – Todos fazem, todos têm traumas, mas isso não nos define. O que realmente nos define é o que escolhemos fazer a partir de então com o que temos.
encarou Tony nos olhos.
- A Vênus pode ter sido um capítulo triste, mas você não é uma história triste, titia.
encarou o rosto tranquilo de Tony e não evitou o sorriso que surgiu na própria face. Eles permaneceram em silêncio até voltarem a comer.
- Mas, afinal, o que vocês está fazendo acordado à essa hora? – questionou.
- Trabalhando, boneca. A legião de ferro não vai ficar pronta sozinha. – Tony respondeu. – Aliás, já que você está nesse humor mórbido, eu tenho uma coisinha lá embaixo que talvez possa te animar. – disse, levantando-se e a indicando o elevador no final da cozinha extensa – Vamos. Já tem um tempo que quero te mostrar isso.
deixou a colher de lado e tampou o pote de sorvete para em seguida seguir Tony até o elevador que os levaria ao andar de manutenção e criação das armaduras, que substituíra a garagem do homem depois que ele teve sua casa destruída por um terrorista fajuto.
Chegando lá, ela seguiu Tony por entre as diversas aparelhagens e partes de armaduras jogadas em cima das bancadas de ferro, protótipos de pernas, braços, compressores, capacetes, luvas entre outras coisas.
Eles se encaminharam até última parede do hangar gigantesco, onde estavam armazenadas as armaduras prontas e de uso rotineiro, e digitou alguns números na placa de identificação a frente da parede.
- J.A.R.V.I.S. trás o projeto V para nós. – Tony disse em voz alta e logo a máquina respondeu:
- Projeto V à caminho, senhor Stark.
- Projeto V? – indagou, com uma sobrancelha arqueada. – Sério, Tony?
- Podemos renomear, se isso te incomodar. – ele sorriu. – Mas, apesar de tudo, é um nome bem marcante. Eu gosto.
Ela riu e revirou os olhos.
As engrenagens se movimentaram, produzindo ruídos agudos de ferro se locomovendo, e logo uma armadura surgiu à sua frente.
Diferente da usuais, esta era proporcionalmente menor e sua estrutura tinha curvas femininas. Ainda estava com a carcaça de fios de ferro mono-cristalinos, refletindo sob as luzes o metal cinza, e faltava-lhe os antebraços e mãos. se aproximou para observar mais atentamente.
- Comecei esse projeto há algum tempo, especificamente depois dos acontecimentos do buraco de minhoca. – Tony começou a explicar visto à falta de fala da mulher. – Ainda estou tentando descobrir uma forma para que ela se acople aos seus poderes e não sirva só para atrapalhar, mas que emita a sua energia e te proteja ao mesmo tempo. É uma forma de você não ficar tão exposta e... Bom, uma maneira de eu pensar que esteja, de alguma forma, te protegendo. Mesmo que não precise.
virou-se para Tony, sorrindo.
- É maravilhosa, Tony. Obrigada.
Ele balançou a mão descontraidamente.
- Eu pensei em cobrir a lataria com branco e preto, as suas cores... Mas, você quem decide. – ele pronunciou, satisfeito.
tocou o metal da sua armadura em fascínio.
- É o melhor presente que alguém já me deu. – revelou.
- Podemos potencializar com o tempo, também. – ele se aproximou. – Colocar mais propulsores para intensificar o voo e você poupar energia para outras funções... Tem tantas possibilidades.
- Você é um gênio, Tony. Muito obrigada, ela é perfeita.
Tony sorriu verdadeiramente em sua direção ao ver o brilho nos olhos da mulher.
- Eu te amo. - pronunciou sem rodeios.
- De onde isso veio? - Tony questionou a risos sem graça, desviando dos olhos da mulher.
- Não só em forma de agradecimento, mas para que você sempre saiba que é muito importante na minha vida. – atenuou, sorrindo. - Eu tenho muito orgulho de você, filho.
Tony Stark sempre foi um rapaz autônomo tanto na sua vida profissional quanto na pessoal, parte desta conduta influenciada pela perda dos pais muito cedo e a obrigação de ter que se virar sozinho. Há anos ele não ouvia tais palavras, em conotação vinda de responsáveis, e duvidara que algum dia havia ouvido do próprio pai tais dizeres.
Por tal razão ouvir de sua tia, mesmo que esta tenha a aparência de uma jovem-mulher, não renderia menos que pura emoção no homem que sempre evitava se expor de tal forma.
Os olhos marejaram e imediatamente percebeu, aproximando-se para abraçá-lo.
Tony enlaçou os braços por volta do corpo pequeno e pousou a testa em seu ombro, feliz de poder ter a representação de seu pai (na melhor versão possível).
- Pode-se considerar recíproco. - Tony disse.
A mulher sorriu e se afastou minimamente do homem. Estavam tão envolvidos no momento que chegou a pular de susto quando seu celular, no bolso do robe, tocou de repente.
Ela franziu o cenho e o puxou para atender, estranhando a ligação àquela hora, 01h30min. No entanto logo sorriu quando leu o nome Steve na tela. Ela desbloqueou a ligação quase que imediatamente.
- Picolé! – saldou, alegre. – O que me contas?
Tony desatou a rir ao seu lado.
" ?" – A voz de Steve estava tensa e rapidamente desmanchou o sorriso da face.
- Sim, sou eu.
Steve respirou pesadamente.
"Não posso prolongar muito a conversa, acredito que essa ligação será rastreada em breve."
- Rastreada? Rastreada por quem? – ela arqueou uma sobrancelha.
"É uma longa história." – ele suspirou. – "Mas a questão é que a S.H.I.E.L.D. está corrompida. Fury foi assassinado.".
O peito de congelou.
- O quê? – soprou sem voz.
"Eu não pediria a sua ajuda se tivesse outra opção, mas só posso confiar em você. Eles provavelmente vão vir atrás de mim agora".
- Onde você está? – indagou, com certa urgência na voz.
"Washington D.C."
- Chego em 3 horas. – disse firme.
"Estou indo atrás do assassino. Não tenho muito sobre ele, sem registros e sem identificações. Mas sei que é da HIDRA e usa um codinome."
- Qual é?
"Soldado Invernal."
2014
Em meio à gritos e reviradas inquietas na cama, acordou, ofegante, e com o corpo coberto de suor – apesar do ar condicionado estar ligado na temperatura mais baixa que pudesse trabalhar. Ela se sentou sob os lençóis brancos e úmidos, pousando a mão gelada sob a testa já fria e respirou fundo, em uma tentativa de controlar a sua respiração.
passou os olhos pela extensão do quarto moderno, notando que deixara a televisão de plasma ligada em algum canal de esportes, o qual agora passava uma reprise de um jogo de basquete qualquer. Ela tornou a respirar fundo e correu os olhos pela cidade abaixo de si, aquela que nunca dormia, que podia ser admirada graças às janelas infinitas de vidro ao seu redor.
Respirando fundo por uma última vez ela se jogou de volta por entre os travesseiros exageradamente almofadados e macios, concluindo que tinha acabado de ter mais um de seus pesadelos. Se perguntava quando ia se ver livre deles, estava cansada de ser atormentada noite sim, noite não.
Supondo que não conseguiria voltar a dormir, como acontecera das demais vezes, ela girou as pernas para fora da cama e se levantou em um salto. Pegou o controle da televisão no móvel de cabeceira, desligando-a, e se direcionou ao closet para pegar o seu robe.
Já vestida, encobrindo o seu pijama de seda selecionado à dedo por uma das assistentes pessoais de Tony Stark – a qual também refez o seu guarda-roupa a cada troca de estação –, ela pegou o seu celular jogado por entre os lençóis e saiu do quarto na direção da cozinha, enquanto abria a página de notícias no navegador da internet.
Distraída com a recente queda de ações na bolsa de valores, ela não percebeu que outra pessoa também estava acordada, e só notou quando se deparou com Tony abrindo a geladeira.
- Qual o pesadelo da vez? – Tony indagou, pegando o pote de sorvete no congelador e fechando a porta da geladeira em seguida – Alienígenas ou militares mortos?
se direcionou ao armário e abriu a primeira gaveta, pegando duas colheres de lá, para então se aproximar do balcão onde Tony pousava o pote de sorvete.
- Com a Vênus, desta vez. – ela confessou, entregando uma das colheres à Tony. Ele a pegou, logo depois de abrir o pote. Os dois não fizeram cerimônia para enfiar a colher e apanhar o sorvete, levando a sobremesa até a boca tranquilamente.
- Pensei que... – ele se interrompeu para limpar os lábios com a língua – pensei que já tivesse à superado depois de ter feito diversos atos heroicos.
- Diversos atos heroicos? – ela indagou, segurando a colher com sorvete no ar, enquanto encarava o sobrinho.
- Sabe, aquela vez com o irmão problemático do playboy e o buraco de minhoca... – ele enfiou a colher cheia de sorvete na boca, para continuar com a boca cheia: - quando foi uma super médica, tirando todos aqueles estilhaços do meu coração... – enfiou a colher no pote novamente – e, claro, quando me ajudou à desvendar o vibrânio mesmo tendo acabado de voltar à nossa realidade.
riu.
- Parando para analisar a situação, - Tony continuou – eu tenho sido uma perfeita donzela em perigo tendo o traseiro salvo diversas vezes por você. Que vergonha. – ele ralhou divertidamente – Supostamente deveria ser o contrário.
- Porque eu aparento ser mais frágil? – indagou, brincalhona. – Você não é machista, Tony. Tudo bem que estamos sozinhos, mas cuidado com as palavras. Já tem um bando de feministas querendo chutar o seu saco por aí.
- Elas vivem cometendo erros de interpretação sobre os meus discursos, não é culpa minha. – ele deu de ombros – Mas, voltando ao assunto, o porquê é que eu tenho que te proteger. – Ele a corrigiu. – Você é minha única família sabe... Sem você e Pepper... – ele limpou a garganta – Enfim, já tem muito sentimentalismo nessa conversa. A questão é a seguinte. – ele endireitou a postura – você é uma mulher poderosa e incrível, com um dos mais bondosos corações que eu já vi. Não pode deixar que aquilo determine quem você realmente é.
- Eu fiz muita coisa errada, Tony. – ela disse, envergonhada.
- Eu também. – ele deu de ombros. – Todos fazem, todos têm traumas, mas isso não nos define. O que realmente nos define é o que escolhemos fazer a partir de então com o que temos.
encarou Tony nos olhos.
- A Vênus pode ter sido um capítulo triste, mas você não é uma história triste, titia.
encarou o rosto tranquilo de Tony e não evitou o sorriso que surgiu na própria face. Eles permaneceram em silêncio até voltarem a comer.
- Mas, afinal, o que vocês está fazendo acordado à essa hora? – questionou.
- Trabalhando, boneca. A legião de ferro não vai ficar pronta sozinha. – Tony respondeu. – Aliás, já que você está nesse humor mórbido, eu tenho uma coisinha lá embaixo que talvez possa te animar. – disse, levantando-se e a indicando o elevador no final da cozinha extensa – Vamos. Já tem um tempo que quero te mostrar isso.
deixou a colher de lado e tampou o pote de sorvete para em seguida seguir Tony até o elevador que os levaria ao andar de manutenção e criação das armaduras, que substituíra a garagem do homem depois que ele teve sua casa destruída por um terrorista fajuto.
Chegando lá, ela seguiu Tony por entre as diversas aparelhagens e partes de armaduras jogadas em cima das bancadas de ferro, protótipos de pernas, braços, compressores, capacetes, luvas entre outras coisas.
Eles se encaminharam até última parede do hangar gigantesco, onde estavam armazenadas as armaduras prontas e de uso rotineiro, e digitou alguns números na placa de identificação a frente da parede.
- J.A.R.V.I.S. trás o projeto V para nós. – Tony disse em voz alta e logo a máquina respondeu:
- Projeto V à caminho, senhor Stark.
- Projeto V? – indagou, com uma sobrancelha arqueada. – Sério, Tony?
- Podemos renomear, se isso te incomodar. – ele sorriu. – Mas, apesar de tudo, é um nome bem marcante. Eu gosto.
Ela riu e revirou os olhos.
As engrenagens se movimentaram, produzindo ruídos agudos de ferro se locomovendo, e logo uma armadura surgiu à sua frente.
Diferente da usuais, esta era proporcionalmente menor e sua estrutura tinha curvas femininas. Ainda estava com a carcaça de fios de ferro mono-cristalinos, refletindo sob as luzes o metal cinza, e faltava-lhe os antebraços e mãos. se aproximou para observar mais atentamente.
- Comecei esse projeto há algum tempo, especificamente depois dos acontecimentos do buraco de minhoca. – Tony começou a explicar visto à falta de fala da mulher. – Ainda estou tentando descobrir uma forma para que ela se acople aos seus poderes e não sirva só para atrapalhar, mas que emita a sua energia e te proteja ao mesmo tempo. É uma forma de você não ficar tão exposta e... Bom, uma maneira de eu pensar que esteja, de alguma forma, te protegendo. Mesmo que não precise.
virou-se para Tony, sorrindo.
- É maravilhosa, Tony. Obrigada.
Ele balançou a mão descontraidamente.
- Eu pensei em cobrir a lataria com branco e preto, as suas cores... Mas, você quem decide. – ele pronunciou, satisfeito.
tocou o metal da sua armadura em fascínio.
- É o melhor presente que alguém já me deu. – revelou.
- Podemos potencializar com o tempo, também. – ele se aproximou. – Colocar mais propulsores para intensificar o voo e você poupar energia para outras funções... Tem tantas possibilidades.
- Você é um gênio, Tony. Muito obrigada, ela é perfeita.
Tony sorriu verdadeiramente em sua direção ao ver o brilho nos olhos da mulher.
- Eu te amo. - pronunciou sem rodeios.
- De onde isso veio? - Tony questionou a risos sem graça, desviando dos olhos da mulher.
- Não só em forma de agradecimento, mas para que você sempre saiba que é muito importante na minha vida. – atenuou, sorrindo. - Eu tenho muito orgulho de você, filho.
Tony Stark sempre foi um rapaz autônomo tanto na sua vida profissional quanto na pessoal, parte desta conduta influenciada pela perda dos pais muito cedo e a obrigação de ter que se virar sozinho. Há anos ele não ouvia tais palavras, em conotação vinda de responsáveis, e duvidara que algum dia havia ouvido do próprio pai tais dizeres.
Por tal razão ouvir de sua tia, mesmo que esta tenha a aparência de uma jovem-mulher, não renderia menos que pura emoção no homem que sempre evitava se expor de tal forma.
Os olhos marejaram e imediatamente percebeu, aproximando-se para abraçá-lo.
Tony enlaçou os braços por volta do corpo pequeno e pousou a testa em seu ombro, feliz de poder ter a representação de seu pai (na melhor versão possível).
- Pode-se considerar recíproco. - Tony disse.
A mulher sorriu e se afastou minimamente do homem. Estavam tão envolvidos no momento que chegou a pular de susto quando seu celular, no bolso do robe, tocou de repente.
Ela franziu o cenho e o puxou para atender, estranhando a ligação àquela hora, 01h30min. No entanto logo sorriu quando leu o nome Steve na tela. Ela desbloqueou a ligação quase que imediatamente.
- Picolé! – saldou, alegre. – O que me contas?
Tony desatou a rir ao seu lado.
" ?" – A voz de Steve estava tensa e rapidamente desmanchou o sorriso da face.
- Sim, sou eu.
Steve respirou pesadamente.
"Não posso prolongar muito a conversa, acredito que essa ligação será rastreada em breve."
- Rastreada? Rastreada por quem? – ela arqueou uma sobrancelha.
"É uma longa história." – ele suspirou. – "Mas a questão é que a S.H.I.E.L.D. está corrompida. Fury foi assassinado.".
O peito de congelou.
- O quê? – soprou sem voz.
"Eu não pediria a sua ajuda se tivesse outra opção, mas só posso confiar em você. Eles provavelmente vão vir atrás de mim agora".
- Onde você está? – indagou, com certa urgência na voz.
"Washington D.C."
- Chego em 3 horas. – disse firme.
"Estou indo atrás do assassino. Não tenho muito sobre ele, sem registros e sem identificações. Mas sei que é da HIDRA e usa um codinome."
- Qual é?
"Soldado Invernal."
Fim.
Nota da autora: Olá, caro leitor.
Primeiramente quero agradecer imensamente por ter clicado em V E N U S para poder ler. Espero que goste do enredo e se divirta ao longo dos capítulos.
Já deixo avisado aqui que o rumo da história pode se alterar e não ter um final como nos filmes ou HQ's da Marvel. Muitas mudanças foram feitas, apesar de baseadas em acontecimentos dos filmes e HQ's, e espero que gostem de cada uma delas tanto quanto eu gostei.
Já deixo claro aos fanáticos pela Marvel, também, que se clicou nessa estória pensando ser uma estória alternativa que segue estritamente os fatos ocorridos em filmes ou HQ's esteja ciente que pode sim haver algumas adaptações e até mesmo erros cronológicos ou controversos com os fatos ocorridos nos filmes ou HQ's. Apesar de estudar muito para não ocorrer.
Erros serão prováveis e por vezes propositais, não somos perfeitos.
Para quem não é fã da Marvel, acredito que seja necessário assistir ao menos o filme "Capitão América: O primeiro vingador" para compreender Venus.
A estória da origem e vida de Venus é de autoria completa minha, Kelly Cristina V. S. Apesar de seu universo ser o mesmo Universo da Marvel. Os personagens e episódios acrescentados são de minha autoria e qualquer semelhança a outras estórias é mera coincidência. Respeito o trabalho alheio assim como espero que respeitem o meu.
Tem sido uma experiência maravilhosa para mim escrevê-lo e eu espero do fundo do meu coração que todos que estão lendo curtam nem que for um pouquinho. Tem muita coisa para rolar e eu espero que você leia tão desesperadamente quanto eu estava enquanto escrevia.
Espero que daqui até o final vocês se divirtam muito e compreendam todas as referências que eu coloquei.
Gostaria de agradecer a capista maravilhosa Flávia Coelho, que foi quem fez essa capa absurdamente perfeita e totalmente representativa a história. Beijos de luz à ela".
Temos um trailer official agora!! Confiram no link abaixo.
Venus - Origin - Trailer Official
Beijos de luz, vejo vocês depois.
Se você gostou deste capítulo, considere deixar seu comentário.
Outras Fanfics:
COLLEGE: UCLA BRUINS (Originais - Em Andamento)
Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Primeiramente quero agradecer imensamente por ter clicado em V E N U S para poder ler. Espero que goste do enredo e se divirta ao longo dos capítulos.
Já deixo avisado aqui que o rumo da história pode se alterar e não ter um final como nos filmes ou HQ's da Marvel. Muitas mudanças foram feitas, apesar de baseadas em acontecimentos dos filmes e HQ's, e espero que gostem de cada uma delas tanto quanto eu gostei.
Já deixo claro aos fanáticos pela Marvel, também, que se clicou nessa estória pensando ser uma estória alternativa que segue estritamente os fatos ocorridos em filmes ou HQ's esteja ciente que pode sim haver algumas adaptações e até mesmo erros cronológicos ou controversos com os fatos ocorridos nos filmes ou HQ's. Apesar de estudar muito para não ocorrer.
Erros serão prováveis e por vezes propositais, não somos perfeitos.
Para quem não é fã da Marvel, acredito que seja necessário assistir ao menos o filme "Capitão América: O primeiro vingador" para compreender Venus.
A estória da origem e vida de Venus é de autoria completa minha, Kelly Cristina V. S. Apesar de seu universo ser o mesmo Universo da Marvel. Os personagens e episódios acrescentados são de minha autoria e qualquer semelhança a outras estórias é mera coincidência. Respeito o trabalho alheio assim como espero que respeitem o meu.
Tem sido uma experiência maravilhosa para mim escrevê-lo e eu espero do fundo do meu coração que todos que estão lendo curtam nem que for um pouquinho. Tem muita coisa para rolar e eu espero que você leia tão desesperadamente quanto eu estava enquanto escrevia.
Espero que daqui até o final vocês se divirtam muito e compreendam todas as referências que eu coloquei.
Gostaria de agradecer a capista maravilhosa Flávia Coelho, que foi quem fez essa capa absurdamente perfeita e totalmente representativa a história. Beijos de luz à ela".
Temos um trailer official agora!! Confiram no link abaixo.
Venus - Origin - Trailer Official
Beijos de luz, vejo vocês depois.
Se você gostou deste capítulo, considere deixar seu comentário.
Outras Fanfics:
COLLEGE: UCLA BRUINS (Originais - Em Andamento)
Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.