What If I Love You?

Última atualização: 10/12/2024

Prólogo - O natal, 1 apresentação e 4 pneus furados

23 de dezembro. Um dia antes da véspera de Natal.


— Eu não vou trabalhar com ela! — disse .
— E quem disse que eu quero trabalhar com você? — retrucou , devolvendo a provocação.
Os dois se entreolharam, e um verdadeiro fuzilamento mental aconteceu ali mesmo.
— Eu não consigo acreditar que meus dois melhores funcionários agem como duas crianças! — bufou o chefe.
— É natal, senhor Carter! — choramingou .
— Eu sei! — respondeu ele, levantando as mãos em um gesto de defesa. — Vocês serão muito bem remunerados. — tentou persuadi-los.
Já fazia exatamente quarenta e cinco minutos que os três estavam naquela gigantesca sala, tentando chegar a um acordo. A Signature, uma marca de vinhos muito famosa em Nova York, estava desesperada, pois precisava de uma campanha natalina a apenas dois dias do feriado.
— Essa conta é do . Por que ele não pode fazer sozinho? — perguntou , exibindo um sorriso cínico.
— Ele jamais conseguiria terminar uma campanha tão rápido sozinho. — Carter lançou um olhar firme para , que abaixou a cabeça. — É por isso que eu gostaria que vocês trabalhassem juntos. — explicou.
— Você, realmente, é um perdedor! — ela fez questão de provocar.
— E você é tão madura, certo? — perguntou , estreitando os olhos.
— Bem, eu conseguiria fazer sozinha. — rebateu ela, em tom debochado, enquanto arqueava as sobrancelhas.
— Eu não preciso dela. — disse, voltando seu olhar para o chefe e travando o maxilar.
Por um instante, sentiu um desconforto. Desde que chegara à empresa, já havia notado o lado competitivo dele, mas, naquele momento, tudo o que enxergava era alguém disposto a fazê-la se arrepender de cada palavra dita. O sadismo nos olhos dele anunciava que ele sentiria um prazer imenso em provar que era melhor do que ela naquilo que ambos faziam.
— Por que vocês não podem agir como profissionais? — irritou-se Carter. — Essa competição idiota entre vocês é simplesmente ridícula e está atrapalhando a porra do meu trabalho! — gritou.
— Ele que começou! — ela gritou, levantando-se da cadeira. — Desde o dia em que pisei aqui, tudo o que ele faz é encontrar algo para me tirar do meu equilíbrio e me irritar profundamente, ao ponto de eu querer cometer um assassinato e nem pensar nas consequências disso! — falou tudo em uma velocidade absurda, antes de puxar o ar e respirar fundo.
riu, atraindo a atenção dela.
Ele achava engraçado o quão fácil era tirar do sério. Sendo uma pessoa tão volátil, ela estava constantemente suscetível a situações em que podia ser manipulada por outros — e isso acontecia com frequência. Quase sempre, ela acabava caindo no jogo psicológico dele, embora, por vezes, conseguisse sair por cima.
, por outro lado, não entendia o motivo de tanta implicância. Observava constantemente o comportamento de com os outros funcionários, e ele parecia indiferente. Mas, com ela, desde o primeiro dia na agência, era uma perseguição. Ela suspeitava que ele tivesse medo de perder o posto de melhor publicitário, já que ela vinha se destacando cada vez mais.
— Você se acha muito boa, não é, ? — perguntou.
A garota permaneceu em silêncio.
— Eu até deixaria você se colocar nesse lugar de vítima, se não fosse tão insuportável. — disse, revirando os olhos e soltando uma risada fraca.
— Como é? — exasperou, incrédula.
— É isso que você ouviu! — ele se levantou da cadeira, aproximando-se até ficarem frente a frente. — Você é ridícula com esse complexo de perseguição, como se não revidasse tudo o que faço. — gesticulou círculos com o dedo indicador ao redor do rosto dela.
— Complexo de perseguição? — ela o fitou, furiosa.
— É isso mesmo! — confirmou. — É até divertido, porque você talvez seja a única que está no meu nível aqui. — ele umedeceu os lábios. — Mas, acho que acreditei demais no seu potencial! — debochou.
— Você se sente tão ameaçado por mim? — cruzou os braços, exibindo um sorriso intimidador.
— Como eu poderia? — ele retrucou.
— Parece que precisa me diminuir para se sentir alguém bom no que faz. Sabe, já que é um péssimo profissional... — falou, fazendo bico, sarcástica.
— Eu preciso te diminuir para te colocar no seu devido lugar. — ele estufou o peito. — Você não é nada, ! — balançou a cabeça, como se estivesse decepcionado. — É engraçado você dizer que conseguiria fazer essa campanha sozinha, quando quase chorou por ter que trabalhar no natal. Você é fraca! — cuspiu as palavras sem se preocupar com o impacto que teriam.
Após ser bombardeada com tanta rispidez, ficou momentaneamente sem palavras. Ela já sabia que jogava sujo; para enfrentá-lo e sair por cima, muitas vezes precisava vestir uma armadura que não era sua. Tornar-se alguém que não reconhecia em si mesma tornara-se uma estratégia, especialmente para provar a quem estivesse ao redor que ela não era frágil.
O verdadeiro problema dele com parecia estar enraizado em algo muito além de palavras trocadas ou olhares desafiadores. Talvez fosse o fato de ela carregar um comportamento que, para ele, beirava o egoísmo, como se o mundo girasse ao seu redor. Ainda assim, ela era doce e atenciosa na maior parte do tempo. No entanto, bastava um leve empurrão — ou a provocação certa — para que o pior dela viesse à tona. Seu emocional era como um fio desencapado, e , perspicaz, sabia exatamente onde tocar para vê-la perder o controle.
Já para , o rapaz era um mistério difícil de decifrar. Ela não conseguia entender de onde ele tirava a ideia de que superar suas conquistas ou monopolizar todas as contas da agência era uma prova de ser o melhor publicitário. Mais ainda, não fazia ideia de quando ela mesma havia se tornado uma espécie de padrão de medida para ele.
Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de ecoando novamente pela sala, trazendo-a de volta à realidade.
— Eu não preciso dela! — olhou para o senhor Carter que assistia a discussão até o atual momento. — Consigo entregar a campanha amanhã. — assentiu com a cabeça e deu as costas em direção a porta.
— Nós podemos apresentar duas propostas, a melhor vence. — falou sem pensar muito.
, por favor não! — Joseph respirou fundo.
— Eu aceito! — disse voltando o olhar para ela.
— Vale tudo? — sorriu.
— Você quer dizer trapacear? — perguntou ansioso.
— Fracos não trapaceiam, certo? — questionou e a encarou por alguns segundos. — Vou te mostrar que fraqueza e o sobrenome não andam juntos. — aproximou-se dele o suficiente para sentir a respiração pesada em seu rosto. — Você sempre gosta quando eu jogo sujo. — colocou as duas mãos para trás.
De alguma maneira, podia jurar que ela estava tentando seduzi-lo.
— Eu já deveria esperar você querer trapacear. — disse, chegando mais perto dela. — É o único jeito de você ganhar. — mordeu o lábio.
— Ainda bem que você sabe! — o fitou de uma maneira tão sexy que pode sentir seu coração acelerar.
— Vocês dois, eu não vou tolerar...
— Está valendo! — o rapaz interrompeu seu chefe e respondeu .
— Eu desisto! — Carter jogou o corpo na cadeira.
A essa altura, o chefe já havia compreendido que sua presença ali não fazia mais diferença. Observou os funcionários saírem de sua sala sem sequer se despedirem, ansiosos demais com mais um jogo estúpido que haviam inventado. Embora fosse bom vê-los constantemente se desafiando e tentando extrair o melhor — ou o máximo — uns dos outros, ele não conseguia acreditar que esse tipo de comportamento pudesse levar a um desfecho realmente positivo.
Por outro lado, e seguiram para suas respectivas salas, movidos pela mesma determinação implacável: destruir qualquer chance de vitória um do outro.
! — a garota o chamou, antes do mesmo entrar na sala dele. — Só não venha chorar quando perder a Signature para mim. — ele apenas sorriu com o comentário e adentrou ao seu espaço.
Por fora, exalava confiança, mas, por dentro, sentia-se à beira do colapso. Contava os segundos, convencida de que desmoronaria a qualquer momento. Enfrentar daquela forma havia se tornado um hábito que ela não sabia como romper, mesmo que isso a consumisse lentamente. E, por mais que tentasse ignorar, a tensão sexual entre os dois era inegável, quase sufocante, sempre presente quando se encontravam frente a frente.
Assim que fechou a porta de sua sala, sentiu um alívio imediato, como se finalmente pudesse respirar um ar que não estivesse contaminado pela presença dele. Mas, a sensação de liberdade era breve. Era como se um vírus, carregado por um desejo reprimido e persistente, a perseguisse, atravessando qualquer barreira.
— Por que você sempre tem que ser tão burra? — perguntou a si mesma.
O segundo estágio do turbilhão de sentimentos que ele provocava nela era a negação — negar a própria vulnerabilidade e a falta de habilidade para lidar com os jogos psicológicos que , habilidoso como era, adorava jogar. Ainda que tentasse resistir, sempre acabava, de alguma forma, cedendo exatamente ao que ele queria, mesmo sem perceber ou sem querer.
Bastava insinuar que ela não era boa o suficiente ou que não era capaz de realizar algo para que todos os gatilhos possíveis fossem acionados dentro dela. Era como se ele conhecesse, com precisão cirúrgica, cada ponto fraco que a faria reagir. Talvez, no fundo, ela o deixasse acreditar que tinha algum tipo de poder sobre ela — ou, pior ainda, talvez ele realmente tivesse. De forma quase imperceptível, ele a atraía para um jogo que ele mesmo havia iniciado, e ela, como uma peça no tabuleiro, seguia os movimentos, cega pela provocação e pela rivalidade.
O toque do celular a arrancou bruscamente desse transe, trazendo-a de volta à realidade com o mesmo peso sufocante de antes.
— Oi, mãe! — ela atendeu.
— Que animação é essa? — a senhora ironizou do outro lado da linha.
— Eu estou normal, mãe. — resmungou.
— É natal! — Louise disse. — É o seu feriado favorito! — justificou.
— Eu sei! — suspirou.
— Querida, eu sei que não vai conseguir vir à Itália esse ano e que está morrendo de saudades do papai, mas, a família da Olívia vai te acolher exatamente como acolheríamos você. — tentou acalmar a filha.
— Eu sei mãe, eu sei... — respirou fundo. — É só que eu vou ter que trabalhar no natal e...
— O que? — interrompeu a garota. — Isso é um absurdo trabalhar em um feriado tão importante, é quase como se fosse pecado. — riu com o argumento da mãe. — Eu estou falando muito sério!
— Eu poderia recusar, senhora , eu não estou sendo forçada. — fechou os olhos enquanto procurava as palavras certas. — Eu só pensei que, como não estaria indo ver vocês, poderia focar em outra coisa para não sentir tantas saudades. — foi doce e sutil na sua explicação. — E eles vão me remunerar, então, só uni o útil ao agradável.
— Apenas me prometa que não vai ficar trancada nesse escritório. — pediu.
— Eu prometo que irei tentar. — foi sincera.
— Eu amo você, meu bebê! — Louise falou com o coração apertado.
— Eu também, mãe! — repetiu. — Boa noite na Itália! — deu uma risada fraca e finalizou a chamada.
A saudade apertava o coração de . Ter os pais presentes em sua vida era algo que ela nunca imaginou abrir mão, mas, quando eles decidiram voltar ao país de origem do pai, não havia muito o que fazer. Ela já era adulta e sabia se virar sozinha. Nascer e crescer em Nova York provavelmente foi uma das melhores coisas que lhe aconteceram. Apesar de ter visitado a Itália algumas vezes, sentia que nunca conseguiria se encaixar por lá.
Buscando conforto, voltou sua atenção ao notebook à sua frente. Começou a organizar os esquemas da campanha, alinhando as ideias que já tinha em mente. Afinal, jamais entraria em uma competição com sem ter ao menos um esboço.
Enquanto isso, estava em sua sala, um tanto desesperado. Não tinha sequer uma ideia. Resmungava em silêncio sobre como a Signature adorava lançar campanhas de última hora. Era algo que ele detestava profundamente, pois sempre acabava preso no escritório, criando peças para redes sociais ou vídeos comerciais em prazos apertados.
Desta vez, porém, a situação era diferente. tinha decidido se meter mais uma vez, apenas para provar que era melhor do que ele. Era irritante — e, pior ainda, difícil de ignorar quando a intrometida tinha um nariz tão bonito. Não que ele prestasse atenção nesses detalhes. Quer dizer, talvez só nos olhos ou no cabelo dela, que ela insistia em jogar para trás dos ombros toda vez que discutiam. Mas, algumas coisas eram simplesmente impossíveis de não notar.
— Por que você aceita isso? — questionou, apoiando seus cotovelos na mesa a sua frente e escondendo o rosto com a mãos.
Ao mesmo tempo em que pensava no quanto era manipuladora, percebeu que, ironicamente, ele mesmo caía com facilidade nas armadilhas que ela armava. Era quase automático: aceitava suas provocações e embarcava nas confusões que sua colega de trabalho insistia em criar. A convivência recente, mais intensa do que gostaria, começava a deixá-lo com a sensação de que estava prestes a perder o juízo.
Suspirando, ele pegou o celular e posicionou-o à sua frente, ajustando o ângulo para uma chamada de vídeo. Após alguns segundos de espera, a tela revelou o rosto familiar de seu irmão, que parecia ligeiramente surpreso com a ligação inesperada.
— Eu vou matá-la! — disse impaciente.
— Sobre o que você está falando? — Nate perguntou confuso. — Deixa eu adivinhar, é a , não é? — questionou risonho, depois que entendeu sobre o que, ou melhor, quem era o motivo da ligação.
— Ela é tão, tão... — tentou achar as palavras.
— Gata? — o homem provocou.
— Cala a boca seu idiota! — disse irritado.
— Eu não entendo a sua implicância com essa garota. — falou.
— Ela me irrita! — mordeu o interior da bochecha. — Fica andando pelos corredores da agência como se fosse dona de tudo. — bufou.
— Ok! — revirou os olhos. — Bem, eu preciso trabalhar...
— Você acredita que ela agora quer competir para ver quem vai entregar a melhor campanha de natal para Signature? — o fitou incrédulo pela tela do celular. — E por acaso essa é minha conta. — proferiu as palavras arqueando as sobrancelhas.
— Eu acho que é justo! — sorriu.
— O que? — indagou surpreso.
— Você prendeu a garota em um elevador da última vez e fez ela perder a apresentação dela. — Nate expôs sua opinião.
— Você supostamente não era para ser o irmão mais velho? — segurou o celular e aproximou-se da tela. — Por que está defendendo ela? — perguntou.
— Pare de ser um bebê chorão! — pediu. — , mas, campanha de natal? Isso significa que não vai chegar a tempo? — suspirou.
— Eu vou ficar preso por aqui hoje e amanhã só consigo ir depois da minha apresentação. — explicou.
— É o segundo natal seguido, a mamãe vai te matar. — falou ansioso.
— O que eu posso fazer? É o meu trabalho! — coçou a cabeça.
— Poderia dizer não! — retrucou.
— E perder para ? — questionou e o irmão bufou do outro lado da tela. — Eu prometo tentar chegar antes do jantar. — forçou um sorriso. — Eu tenho que ir!
Despediu-se do irmão e desligou o telefone.
O fato é que tentava a todo custo evitar contato com o seu pai desde que havia cancelado o noivado com sua ex, Melissa, no último natal em família. Tudo o que o seu genitor sabia falar quando via o filho era sobre ele ter deixado escapar a única mulher que seria capaz de aguentá-lo. Na verdade, o velho não se importava se ela estava atrás de dinheiro ou não, só queria expor para o resto da família como troféu de filho obediente.
Tornar-se um publicitário, na visão do pai, apenas tinha sido outro erro do filho, o mesmo sempre questionava os motivos de não agir como o irmão e seguir os negócios da família. E a resposta era simples: ele queria paz. E isso significava bater de frente com o senhor e fazer o que gostava. Porém, estava sem tempo para pensar nisso, deveria estar focando na campanha e consequentemente, na apresentação da mesma.
Os problemas de família se dissiparam em sua mente e ele se dedicou apenas a Signature durante o resto da tarde, antes de sentir vontade de importunar a única pessoa dentro daquele lugar que respondia a altura suas implicações. Ficou sabendo que não deixou ninguém entrar no seu escritório, pois não gostaria de ser atrapalhada, então decidiu esperar mais um pouco para poder perturbá-la.
Umas horas depois, conseguiu ouvir a voz da garota pelos corredores, achava impressionante como ela não se esforçava nem um pouco para disfarçar sempre que estava perto da sala dele, era quase como se a mesma gostasse que ele soubesse que ela estava lá. Porém, dessa vez, mal sabia o que a morena estava querendo aprontar.
— Sean, você tem o endereço do ? — perguntou ao seu colega que estava sentado em umas mesas que ficavam do lado de fora da sua sala.
— Para que você quer o endereço dele? — o loiro arqueou uma das sobrancelhas desconfiado.
— O senhor Carter está separando uns documentos confidenciais e quer mandar para casa dele, me falou que eram muito importantes para estarem sendo transferidos via email. — olhou para porta à sua esquerda, que era do dito cujo, e voltou seu olhar com um sorriso falso para o rapaz.
— Porque ele não entrega em mãos? O está na sala dele. — indagou ainda confuso.
— Eu não sei Sean, será que deveríamos perguntar ao nosso chefe os motivos que ele tem para fazer as coisas? — retrucou irritada.
— Jesus! — resmungou. — Me desculpa, eu já te passo. — fez um bico com raiva.
— Obrigado por fazer o seu trabalho! — foi sarcástica. Enquanto isso ouvia toda a conversa por trás da sua porta, como ele já havia dito anteriormente, ela não sabia disfarçar muito bem quando estava por perto.
— Para que merda você quer o endereço da minha casa, ? — perguntou a si mesmo em um sussurro. — Então, está disposta mesmo a trapacear. — sorriu malicioso.
De certa forma, gostava mais desse lado de . Não podia negar que ela se tornava extremamente atraente quando estava arquitetando algo, fosse bom ou ruim. Mas, no seu caso, certamente não seria nada bom. nunca dava um passo sem ter uma intenção por trás; ele sabia que ela logo encontraria um jeito de mandá-lo para fora de sua zona de conforto, talvez até enviando algo para tirá-lo do foco.
Decidiu que o melhor seria pegar o que precisava e ir trabalhar em casa, assim nada poderia interferir no seu caminho rumo à vitória contra ela. Ao abrir a porta do escritório, deparou-se com , que exibia um sorriso cheio de cinismo. Ela definitivamente estava aprontando alguma coisa, pensou , já pressentindo que o jogo estava prestes a mudar.
— Você me assustou! — a garota murmurou.
— Ótimo! — rebateu.
— Onde você está indo? — questionou após observar todo o material sendo carregado por .
— Para bem longe de você. — ajeitou a alça de sua bolsa no ombro e chegou mais perto da garota. — Não importa o que você está tentando fazer, espero que arque com as consequências disso mais tarde. — a encarou por alguns segundos.
— Você entrou nisso por que quis. — aproximou-se mais ainda dele, o suficiente para sentir a respiração dele sobre ela.
Sempre que discutiam, parecia um hábito. Eles faziam isso sem perceber, mas, invariavelmente, ficavam perto um do outro, trocando palavras afiadas enquanto podiam sentir a respiração do outro, envolvente e quase palpável, em cada frase dita. As palavras podiam mentir, mas as ações nunca o fariam. Eles gostavam daquilo — seja lá o que fosse.
se aproximou mais, até quase encostar a boca na orelha dela.
— Quem me dera entrar em você! — sussurrou, malicioso, no ouvido de .
Quando queria tirá-la do eixo, sabia que bastava um simples sussurro, algo bem obsceno, para que ela perdesse toda a pose de durona e mandona. E, para desestabilizá-lo, só precisava ser doce e gentil, como era com os outros — mas nunca com ele. No entanto, na maioria das vezes em que ele adotava esse tipo de atitude, ela não conseguia revidar da mesma forma.
— Pervertido. — disse com raiva, empurrou ele pelo ombro e seguiu caminho de volta para sua sala enquanto o ouvia rir.
— Diga a Carter que eu fui mais cedo para casa para finalizar a proposta da Signature, por favor! — pediu ao colega à sua frente.
— Não precisa se preocupar. — Sean respondeu. — Ele já liberou todos para o natal, só está aqui quem ainda está resolvendo algumas pendências para as campanhas desse fim de ano. — explicou.
— Ele liberou todos para véspera também? — questionou.
— Sim, apenas você e sua rival estarão aqui amanhã para apresentar a campanha para Signature. — bufou. — Ridículo como eles sempre pedem tudo de última hora, não é? — assentiu.
Tentou se concentrar no que poderia estar aprontando, mas logo ignorou o pensamento ao se lembrar de tudo o que ainda tinha para fazer. Precisava ensaiar a apresentação para o dia seguinte. Sem mais delongas, pegou o carro e seguiu em direção à sua casa, decidido a cumprir o cronograma que havia planejado mais cedo.

24 de dezembro. Véspera de natal.


acordou com o barulho da sua campainha tocando absurdamente.
— Eu estou indo! — respondeu enquanto ainda tentava despertar.
Ainda confuso, acabou tropeçando em algo no meio do caminho, o que fez com que o rapaz do lado de fora do apartamento continuasse apertando o botão. Sabia que era véspera de natal, mas, não imaginava alguém bater à sua porta às sete da manhã.
— Entrega especial de natal para . — o entregador a sua frente anunciou.
— Mas, eu não pedi nada. — disse desorientado.
— É por isso que é especial, é uma surpresa! — o jovem rebateu.
— Claro! — ele assentiu, impressionado com a audácia do garoto. — Sabe dizer ao menos quem mandou? — questionou.
— Infelizmente não, mas, imagino que há um bilhete dentro. — sorriu. — Feliz natal, senhor! — agradeceu de maneira terna e deu as costas.
segurou a cesta com cuidado para que não caísse até chegar à cozinha. Não conseguia imaginar quem mandaria um café da manhã com uma temática natalina, especialmente sabendo que ele mesmo detestava o Natal, principalmente por causa dos últimos acontecimentos. Respirou fundo antes de abrir a embalagem, desejando que fosse de qualquer pessoa no mundo, menos de sua ex.
Melissa havia parado de assediá-lo, de tentar conversar ou de insistir para que ele mudasse sua visão sobre eles. Então, não seria surpresa se ela mandasse um presente assim, justamente em um dia como aquele, esperando que ele sentisse alguma compaixão por ela. Apressou-se em colocar a cesta sobre a mesa, retirando o pequeno envelope de dentro e o abrindo com certa ansiedade.
“Feliz natal para meu perdedor favorito!”
.
O primeiro nome que lhe veio à mente foi esse. Óbvio que ela o provocaria de alguma forma. Estranhou o comportamento silencioso da garota de ontem para hoje. Mesmo com o comentário desnecessário, aquilo foi o suficiente para desconcertá-lo um pouco. Era só disso que precisava para desestabilizá-lo: afastá-lo de seu lado mais calculista, sendo doce e gentil da mesma forma como agia com os outros ao seu redor.
— Então... — ficou pensativo ao olhar para o lindo presente. — Era para isso que você queria meu endereço? — posicionou uma mão na cintura enquanto passava levemente o papel pela boca. — Você não seria tão boazinha assim, seria? — indagou.
Esfregou os olhos, ainda sem acreditar na gentileza dela. Conhecia o suficiente para saber que aquilo não era por acaso. Ela sabia exatamente o que estava fazendo; queria tirá-lo da jogada, e como mais poderia fazer isso se não fosse se comportando como a pessoa que desejava que ela fosse? Mesmo assim, por mais que pudesse ser apenas uma jogada, ele não podia negar o sentimento de que havia gostado daquilo.
— Muito fofo, ! — sorriu segurando o bilhete. — É uma pena que eu odeie o natal. — jogou o cartão de volta para dentro da cesta.
Optou por deixar a surpresa de lado e tomou uma grande xícara de café preto, o suficiente para mantê-lo acordado pelo resto do dia. Não demorou muito para preparar a bebida e, enquanto a saboreava, começou a escolher a roupa para a apresentação na Signature.
Após um banho quente, vestiu uma camisa social azul escuro e uma calça jeans preta. Gostava dessa combinação, pois, normalmente, a usava nos dias em que precisava de sorte — e sempre parecia dar certo. Mas, naquele momento, ele não podia imaginar o que ainda estava por vir.
Dirigiu-se para o estacionamento do prédio em busca do seu carro, um tanto ansioso. Sabia que tinha criado uma boa proposta, mas não tinha certeza se era a melhor. Repreendeu-se por ter consumido tanta cafeína; toda a agitação que sentia no corpo poderia ser efeito daquilo. Fechou os olhos, tentou respirar fundo e expelir o ar da maneira mais leve possível, buscando se acalmar.
— Hoje não, por favor! — ele disse após abrir os olhos e ver um dos pneus do seu carro, furado.
Correu em direção ao automóvel, ansioso para entender o que havia acontecido, e foi então que se deu conta de que não era apenas um, mas os quatro pneus haviam sido furados. Não veio outro nome à sua mente, a não ser . Era claro que ela não seria gentil com ele, e talvez ele tivesse se permitido acreditar que poderia ser diferente. O ódio começou a corroê-lo por dentro, uma raiva visceral, como se fosse impossível conter a frustração que sentia.
— Sua vadiazinha de merda! — proferiu as palavras com uma raiva enorme no peito. — Eu sabia que você ia jogar sujo, porque fui tão estupido? — colocou as duas mãos na cabeça, desesperado.
Mesmo que chamasse um carro por aplicativo, sabia que jamais chegaria a tempo, pois havia perdido tempo demais admirando a maldita surpresa que a senhorita problema lhe enviara. Pegou o celular e não hesitou em enviar uma ameaça para a garota.

“Eu vou matar você!”
O celular vibrou em cima da mesa da sala de reuniões, e sorriu ao ver a mensagem na tela. Com a sensação de missão cumprida, soube que não conseguiria apresentar sua proposta. E, independentemente de ser a melhor ideia ou não, ela venceria. Afinal, não havia mais com quem competir.
— Então, senhores, é exatamente isso o que queremos comunicar, que o vinho pode nos trazer esse conforto ao lado da pessoa que amamos. — sorriu serena e utilizou um controle para pular o slide para peça final. — Você pode ter uma noite em família, como também uma noite calorosa com o amor da sua vida, desde que a Signature esteja presente no seu natal. — finalizou a apresentação e aguardou os aplausos dos três homens a sua frente.
— Você é uma grande salva-vidas, senhorita ! — Thomas a elogiou.
— Está sensacional! — Mitchel concordou. — Onde estava escondendo essa preciosidade, Carter? — questionou o amigo ao lado e todos riram, inclusive ela.
— Fico feliz que tenham gostado e acho que realmente o não conseguirá mais comparecer a essa altura do campeonato. — Joseph disse sem graça.
— Sim, teríamos outra proposta para apresentá-los, mas o senhor teve um problema com o carro, infelizmente. — reproduziu uma feição triste com as sobrancelhas.
— De qualquer maneira, ainda escolheríamos esse conceito que nos apresentou, tem tudo a ver com a nossa marca e para algo que pedimos em cima da hora está além de qualquer outra campanha que já tivemos. — Mitchel frisou o motivo de gostar tanto da ideia.
— E a partir de hoje, queremos que tenha o controle da nossa conta aqui na agência. — Thomas sorriu. — Não nos leve a mal, adoramos tudo o que o fez por todos esses anos, mas, a sua ideia nos cativou de um jeito que não conseguimos expressar em palavras.
— Eu não sei nem como agradecer, eu ao menos esperava que vocês fossem gostar tanto assim. — esboçou o maior sorriso que pode.
— Nós amamos, senhorita , e esperamos que a partir de meia noite já esteja rodando em todos os lugares possíveis que foi nos apresentado. — o mais velho entre eles, Mitchel, foi direto. — Bem, feliz natal! — desejou.
— Obrigado novamente, Carter! — o mais novo agradeceu. — Senhorita , espero que nos perdoe por arruinar seu natal! — assentiu com a cabeça e um sorriso no rosto em forma de cumprimentá-la.
Depois de se despedirem, Joseph e levaram os dois até o elevador. O chefe da garota aguardou até que as portas se fechassem para fazer uma pergunta a ela, que ainda mantinha um semblante vitorioso, não por ter conseguido entregar a campanha, mas sim por ter vencido a aposta com .
— O que você fez? — Carter a questionou.
— Eu mandei uma cesta de natal para distraí-lo tempo suficiente e ele não ver que eu havia furado os quatro pneus do carro dele. — não conteve a risada.
— Ele vai matar você! — o senhor à sua frente disse com toda certeza.
— Eu sei! — ela continuou rindo.
— E eu não quero estar aqui quando isso acontecer, então por favor, organize as artes e as envie o mais rápido possível para onde elas devem aparecer a meia noite, ok? — chamou a atenção da sua funcionária.
— Pode deixar! — concordou, gesticulando com a cabeça.
Após desejar boas festas ao chefe, se dirigiu à sua sala. Agora que havia conseguido o que queria — finalmente, , derrotado —, sentia-se estranhamente vazia. Gostaria de entender a razão pela qual seu inimigo parecia ter tanta necessidade de vivenciar essa sensação de derrota repetidamente.
— Você é uma vadia sem coração mesmo! — entrou gritando no escritório dela, fazendo com que a mesma se assustasse e olhasse para trás.
— Quem você pensa que é para me chamar de vadia? — questionou com raiva.
— Quem, você... — apontou o dedo para ela enquanto jogava a sua bolsa em um pufe rosa posicionado ao seu lado esquerdo. — Pensa que é! — travou o maxilar e a garota não pode evitar o frio na barriga.
— Não se atreva a chegar perto de mim! — pediu, afastando-se para trás e batendo na sua escrivaninha.
— Ficar longe de você? — estreitou os olhos enquanto dava passos em direção a ela. — Além de perder a minha conta de anos para alguém como você, eu ainda vou ter um prejuízo enorme com a porra do meu carro. — prendeu a morena contra a mesa que estava atrás dela.
— Você disse que valia tudo. — ela justificou sem encará-lo. — Você já sabia que eu iria jogar sujo. — falou baixinho.
— Jogar sujo? — puxou o queixo dela fazendo com os olhos dela encontrassem os dele. — Jogar sujo é você me fazer acreditar que realmente me mandaria a porra de uma cesta de café da manhã. — alcançou o rosto dela só para que pudesse sentir a respiração, como sempre fazia.
— Eu achei que sempre esperasse o pior de mim, não passou pela minha cabeça que você fosse burro ao ponto de acreditar que era sério. — umedeceu os lábios, nervosa.
— Você me chamou de que? — a pressionou mais forte contra a mesa.
— Eu sinto muito! — choramingou.
— Isso não é suficiente para pagar os danos do meu carro. — ele a suspendeu em um súbito e a colocou sentada na escrivaninha, ficando entres as pernas dela.
estava sem reação.
— O que você vai fazer? — engoliu seco.
A morena não conseguia acreditar no que estava acontecendo. , definitivamente, estava fora de si, mas, ele nem imaginava que estava fazendo o sexo dela latejar com todo aquele comportamento e aquelas frases com duplo sentido, por um momento ela até esqueceu o quanto o odiava.
— O que você acha que eu vou fazer, Vi? — ele sorriu de uma maneira sacana.
E mesmo sem saber, poderia tê-la por inteira naquela mesma hora.
— Não me chame assim! — tentou sair do lugar que estava e a encurralou mais ainda.
— Não gostou do apelido que acabei de criar para você? — segurou o rosto dela para conseguir enxergar o que ela não queria demonstrar.
— O que você quer, ? — perguntou irritada e pôde perceber o quanto suas bocas estavam próximas.
— Tudo o que eu mais quero agora é te enforcar de um jeito que você vai ficar correndo atrás de mim igual a uma cachorra, implorando para que eu acabe com você aqui mesmo nessa mesa, o resto da sua vida! — disparou as palavras sem pensar, apertando a cintura dela com tanta força que, por um segundo, ela não pôde evitar um pequeno gemido.
O silêncio predominou a sala. Era um tanto confuso explicar o que estava acontecendo naquele ambiente, mas, os dois se perguntavam se era normal sentir tanta excitação e desejo em uma questão de segundos, o que poderia ser compreendido, era que não sabia o que estava fazendo, estava repleto de ódio, queria puni-la de alguma forma.
Só não imaginava que ela gostaria de ser punida.
— Então, faça! — sussurrou, esfregando os lábios no dele e partindo para um beijo.
A ação foi tão repentina que ele a correspondeu da mesma maneira. Era evidente que ambos queriam isso há muito tempo, só pelo modo como se devoraram a cada milésimo de segundo. As línguas se encontravam com tanta ferocidade, o ar faltava, o calor se espalhava por seus corpos.
As mãos de , que estavam na cintura dela até aquele momento, subiram para suas costas, deslizando sobre o tecido de seda da blusa de . Ela afastou-se do beijo, jogando a cabeça para trás, um sinal claro para que ele a tocasse no pescoço. Ele não demorou a percorrer sua pele macia com a boca, marcando-a com algumas mordidas.
Rapidamente, o trouxe de volta aos seus lábios, e voltaram a se beijar desesperadamente. Tentavam disfarçar o que estavam sentindo, mas era impossível negar: ambos ansiavam por isso. o puxou mais para perto, comprimindo o corpo dele contra a intimidade dela, sem afastar os lábios dele dos seus. Não demorou muito para ela perceber a ereção dele.
Foi nesse momento que finalmente percebeu o que estava acontecendo e se distanciou abruptamente.
— Não! — falou uma vez. — Não! Não! — continuou a dizer sem parar com a mão na cabeça.
— O quê? — desceu da mesa nervosa.
— O que você fez? — a fitou surpreso.
— Eu achei que era isso que você queria, e-eu... — gaguejou.
— Ai, meu Deus! — disse exasperado, pegou sua bolsa e saiu em disparada do local, deixando a garota completamente perdida.
Ela deve ter ficado paralisada em sua cadeira por pelo menos duas horas após o ocorrido, tentando reconstruir a cena em sua cabeça, perguntando-se em que momento achou coerente beijá-lo. Aquilo simplesmente mudava tudo e poderia prejudicar os dois dentro da empresa.
Começou a se questionar por que, mesmo sem querer, continuava cometendo os maiores erros da sua vida. Dramática? Talvez. Mas, quando se tratava dela, era o que normalmente acontecia: uma imensa quantidade de drama e vitimização por causa de seus próprios erros.
Por mais que tentasse, sair do escritório não parecia uma opção viável. Ela se sentia envergonhada demais para isso. Procurou nos seus pensamentos uma maneira de consertar a burrada que acabara de cometer e, assim que encontrou algo que pudesse amenizar a situação, foi rápida em entrar em contato com quem precisava.
— Eu irei ficar muito agradecida se puderem deixar exatamente nesse endereço que eu disse. — disse com o celular no alto falante já que estava concentrada no seu notebook com as artes da Signature. — Eu já efetuei a transferência, irei mandar o comprovante agora para vocês. — agradeceu e desligou.
Já estava perto das seis da noite quando ela começou a se organizar para ir para a casa da família de sua melhor amiga. Foi então que ouviu três batidas na porta. Uma pequena fresta foi aberta, e ela viu o rosto de com uma expressão triste, o que a surpreendeu, pois esperava que ele não falasse com ela tão cedo.
, me desculpa. — a garota levantou-se da cadeira de supetão. — Eu...
— Pode parar! — ele a interrompeu e abriu a porta, fazendo com que as sacolas que ele segurava entrassem no campo de visão dela. — Nós temos suco de laranja e comida japonesa. — colocou tudo em cima da mesa de centro que tinha na sala enquanto falava.
— Comida japonesa? — ela sorriu.
— Eu sei que é a sua favorita. — conseguiu encará-la após um tempo.
— Como você sabe disso? — questionou chegando mais perto dele.
— Você sempre faz questão de dizer, não importa onde esteja. — debochou da garota que era sempre previsível. — É uma oferta de paz! — disse.
— Não era eu que supostamente deveria estar fazendo isso? — indagou sem graça.
— Eu disse coisas terríveis a você, e te tratei como um objeto. — engoliu seco. — Minha mãe não se orgulharia disso...
— Você voltou aqui por causa da sua mãe? — perguntou confusa.
— Não! — disse impaciente. — Eu voltei aqui porque eu sinto muito, nós fizemos uma aposta, colocamos nossos termos e você ganhou dentro deles, eu não tenho direito algum de vir aqui e tentar te matar. — gesticulou com as mãos.
— Você realmente iria me matar? — questionou desconfiada.
— Se você não tivesse me beijado, eu não sei o que teria acontecido. — ele a encarou.
Ambos riram por um curto período de tempo.
— Sobre isso... — tentou falar algo após cessar sua risada.
— Apenas vamos deixar para lá! — não deu tempo para ela se explicar. — Se eu fosse você também iria querer me beijar. — justificou e a garota sorriu com a resposta, porque era exatamente algo que ele diria se os dois estivessem em uma confusão.
— Claro, não é mesmo? — falou como se fosse algo óbvio.
Eles riram novamente até o silêncio dominar outra vez aquele espaço.
— Bem, aproveite sua refeição! — ele disse com um sorriso e assentiu.
Abriu as sacolas, enquanto observava ir em direção a porta.
— Nossa! — ela riu nasalado e o rapaz olhou para trás. — Você trouxe comida para dois, estava esperando que eu te convidasse? — o encarou de forma irônica.
— Você vai me convidar? — forçou um sorriso.
— Você quer ficar? — respondeu ele com outra pergunta.
— Você está aqui sozinha, não prefere que alguém fique ao seu lado? — retrucou.
— Não iria para casa da sua família? — questionou.
— Eu não curto muito o natal. — tentou se explicar. — Eu... — respirou fundo para encontrar as palavras certas. — Por favor, você pode ser a desculpa a qual eu não precise ir para lá? — pediu, sem graça.
— Porque? — perguntou curiosa.
— Para ser honesto, eu prefiro estar aqui com você do que ter que ver o meu pai. — franziu o cenho, um tanto surpresa com aquela novidade e como ele havia se aberto para ela.
Seu celular vibrou, a impedindo de responder naquele momento.
“Cadê você? Sério que não vem para ceia de natal?”
Era Olívia.
“Me desculpa!!! Presa no trabalho, produzindo aquela campanha que te falei!”
Logo a amiga respondeu.
“Nossa! Que merda, hein?”
“Eu prometo passar por aí amanhã! Te amo! Feliz Natal!
“Feliz natal, babe! Te amo mais!!”

— Quem era? — perguntou após observar ela bloquear o aparelho.
— Minha melhor amiga. — sorriu.
— Você tinha planos com ela? — questionou desconfortável. — Eu posso ir embora, eu não quero...
— Ela só estava me desejando feliz natal. — ela o interrompeu, mentindo.
Por mais que houvesse ódio entre eles, era perceptível que não estava bem. Além do fatídico acontecimento mais cedo, ele ainda havia revelado um lado mais sensível para : problemas com o pai, aversão àquela que talvez fosse a maior festa tradicional do mundo, raiva excessiva… Ou seja, todos os sinais indicavam que ele precisava de uma companhia diferente naquele dia.
— Vamos comer? — questionou sorrindo com os olhos.
— Obrigado! — ele assentiu com a cabeça.
Sentaram-se no chão e começaram a retirar tudo o que havia trazido de dentro das sacolas, organizando sobre a mesa de centro. Não demorou muito para que atacassem a comida diante deles. Ambos estavam famintos, afinal, não haviam comido nada o dia inteiro, sobrevivendo apenas com café preto. Era curioso como não percebiam as semelhanças que compartilhavam em tantos aspectos.
— Ainda deve um pedido de desculpas pelo meu carro! — resmungou de boca cheia.
— Nunca! — riu e foi acompanhada por um sorriso do rapaz a sua frente.
A garota percebeu que era a primeira vez que via sorrindo de forma sincera, tantas vezes, em um único dia, para ela.
— Você beija muito mal, por sinal! — disse. — Eu acho que te odeio mais ainda agora! — foi irônica, o que arrancou mais uma risada dele naquela noite.
De alguma forma, vê-lo feliz a deixou confortável. Ela sabia que quando voltassem ao trabalho após as festas, os dois ainda iriam brigar e quase se matar no dia a dia, mas, o agora estava valendo cada segundo, pois, era natal e parecia ter algum problema não resolvido com seu pai que estava o deixando mal, então se ele estava sorrindo perto dela, significava que ela estava fazendo a coisa certa.
— Você também beija muito mal, não me peça para falar sobre isso. — disse e colocou mais uma peça de sushi na boca.
riu.
Por mais que a odiasse, sentiu que sua noite não poderia ser a mesma se ela não estivesse lá, foi a escolha certa ter voltado e não importava se depois eles iriam continuar discutindo ou pensando em cometer possíveis crimes passíveis, ainda valeria a pena se ele estivesse comendo sushi com ela em uma véspera de natal. Por um breve momento, pensou em como seria ter essa versão de todos os dias e lamentou ter deixado que ela criasse uma imagem tão distorcida dele.
— O que está pensando? — ela o questionou.
— Isso é real? — fez um bico. — Nós dois comendo juntos, em uma véspera de natal, mas, sem facas ou rastros de sangue ao redor. — falou em um tom sarcástico.
— É porque você não tem um carro para colocar um corpo na mala. — retrucou.
— Sim... — olhou desconfiado para ela. — Mas, você tem... Isso significa que ainda pode estar planejando me matar. — falou, fingindo está assustado.
— Definitivamente. — ela respondeu.
E eles riram mais uma vez.
Não havia mais contagem para quantas vezes um fez o outro rir naquela noite.
Passaram horas conversando coisas bobas e sobre o trabalho, preferiram ignorar assuntos sérios, mas, na realidade, só estavam com medo de parecerem vulneráveis o bastante para expressarem o que sentem de verdade. não evitou pensar que se tivesse trazido uma garrafa de gim ao invés de um simples suco de laranja, o beijo poderia ter terminado em outras ações.
Culpou a si mesmo por querer algo com alguém que jamais gostaria de ter algo com ele. Mas, um tanto de perguntas martelavam na cabeça. Se ela o odiava tanto assim, então por que tomou a decisão de beijá-lo? Ela se sentiu pressionada para fazer isso? Ou ela se sentiu coagida, pois também tem desejos carnais assim como ele?
— Olá! — ele acordou de seu devaneio ao ouvir ela estalar os dedos. — Você foi para um lugar bem longe, de novo. — sorriu sem graça. — Tem certeza que está tudo bem? — perguntou preocupada.
— Sim! Sim! — assentiu. — Me desculpa! — pediu.
— Então, vamos? — questionou apontando para a saída do elevador.
— O que? — demonstrou um semblante confuso.
— Eu estava dizendo que ia te dar uma carona, seu esquisito! —
ela riu nasalado.
— É o mínimo que você pode fazer, visto que destruiu meu carro. — arqueou uma das sobrancelhas.
— Você quer que eu te deixe no meio da rua? — provocou.
— Você não quer assumir seus erros. — revirou os olhos.
— Era uma aposta que valia tudo e você aceitou. — disse com uma certa irritação.
— Você está certa! — bufou. — Vai levar um tempo para eu aceitar essa derrota, apenas lide com isso. — deu as costas a garota e seguiu em direção ao estacionamento à sua frente.
Depois de entrarem no carro, dirigiu em direção à casa de . Não podia negar que o dia havia sido diferente. Tê-lo sentado no banco do carona de seu automóvel era algo que nunca imaginara acontecer. Enquanto o conduzia, sua mente vagava. Pensou no quanto ele era imprevisível e se perguntou, por um breve momento, se ele já desejara beijá-la da mesma forma que ela o havia beijado.
Preferiu acreditar que não. Era mais fácil assumir que fora apenas um desejo carnal, uma fagulha do momento. Admitia que ele tinha um charme único, mas tentou se convencer de que aquilo era apenas um impulso da carne. Poderia ter sido qualquer outra pessoa no lugar dele, e o resultado teria sido o mesmo. Ou pelo menos era o que repetia incessantemente em sua mente durante todo o trajeto, tentando manter a lógica à frente das emoções.
Não queria que seu corpo a traísse novamente perto dele. Com esse mantra silencioso, o percurso pareceu breve. Quando finalmente estacionou o carro em frente ao prédio de , seus olhos pousaram no relógio digital do painel. A meia-noite havia acabado de chegar.

25 de dezembro. Dia de natal.


sorriu. Finalmente era Natal, e ela amava essa data.
— É aqui que eu fico. — disse. — Poderia agradecer se não fosse a mesma maluca que rasgou os pneus do meu carro. — reclamou.
— Não vai superar isso, não é mesmo? — ela perguntou.
— Você sabe que não. — sorriu gentil e retribuiu o sorriso.
, sobre o beijo... — tentou trazer o assunto novamente à tona e foi interrompida.
— Como eu disse, vamos fingir que não aconteceu. — pressionou os lábios, nervoso, ao lembrar do toque macio da língua dela. — Foi apenas um momento louco, não sabíamos o que estávamos fazendo. — disse sem graça.
— Não se preocupe! — a garota falou sem jeito. — Eu ainda te odeio! — os dois riram fraco.
Ele abriu a porta do carro para descer e hesitou um pouco.
— Feliz Natal, ! — riu nasalado. — Já faz um tempo que não digo isso de maneira sincera. — ele a encarou. — Obrigado! — agradeceu e desceu do automóvel o mais rápido que pôde para não haver tempo para justificativas.
— Boa noite, ! — gritou enquanto o observava passar pela porta giratória do prédio.
decidiu não olhar para trás ao sair do carro, porque estava se sentindo estranho por dentro e era, sem dúvida, a maior responsável por isso. O dia havia sido um tanto louco e ele não sabia como definir em palavras. Entrou no elevador com a cabeça acelerada nos seus pensamentos em relação a ela, até seu celular tocar.
Era Nate. E ele respirou fundo antes de atender.
— Eu sinto muito! — disse. — Fiquei preso no trabalho, inclusive cheguei em casa agora. — justificou com uma pequena mentira.
Odiava mentir para seu irmão, mas não havia muito o que fazer.
— A mamãe está bem triste, só liguei para fazer essa leve pressão psicológica com você. — o irmão mais velho suspirou.
— Eu vou dormir um pouco e prometo que vou aparecer para o almoço. — tentou persuadir.
— Assim como prometeu ontem? — questionou, triste.
— Eu prometi que tentaria ir e não que eu iria, são coisas diferentes. — bocejou enquanto falava, pois, realmente estava cansado.
— Que seja! — reclamou.
— Amanhã eu estarei aí! — disse.
Quando as portas do elevador se abriram, se deparou com uma visão no mínimo peculiar: quatro pneus perfeitamente alinhados no corredor, adornados por um gigantesco laço vermelho em volta. Eles estavam posicionados bem na frente da porta do seu apartamento, como se fosse algum tipo de presente.
Ele soltou um suspiro carregado de exasperação e alívio simultâneo. Pelo menos ninguém havia roubado os pneus — uma sorte que ele devia ao fato de seu prédio ter apenas um apartamento por andar. Ainda assim, não era preciso ser um gênio para deduzir quem poderia ser a responsável por um gesto tão absurdo.
. Claro que era ela.
? — seu irmão chamou sua atenção.
— O que? — respondeu.
— Você ouviu o que eu disse? — perguntou.
— Eu preciso ir, Nate, podemos nos falar amanhã assim que eu acordar, pode ser? — desligou a chamada antes mesmo de uma resposta.
Ele balançou a cabeça, reprimindo um sorriso de incredulidade.
— Você é realmente uma caixinha de surpresas! — falou para que apenas o universo entendesse.
Foi em direção ao pequeno envelope que estava grudado no laço e retirou o bilhete que estava dentro do mesmo.
“Feliz natal para meu perdedor favorito!”





Continua...



Nota da autora: Sem nota.



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