CAPÍTULOS: [Capítulo Único]





Where I Leave You






Capítulo Único


A única coisa que eu queria naquele momento era deitar na minha cama e dormir pelo restante do dia, mas graças aos nossos costumes americanos, eu ainda tinha um almoço para participar. Durante todo o enterro eram apenas lágrimas e abraços, mas quando íamos para a casa recepcionar as pessoas, era como se o modo fofoca e destilação de veneno fosse ligado. Já conseguia ouvir os parentes perguntando sobre minha vida em Los Angeles, se eu tinha planos de voltar para Seattle, dentre outras coisas mais.
Olhei para o lado oposto da sala e vi abraçada com minha mãe, consolando-a pela perda do marido. Minha mãe parecia estar muito bem, talvez ela realmente estivesse bem agora que meu pai tinha finalmente morrido e não iria mais sofrer em uma cama de hospital.
Nós todos já sabíamos que uma hora isso iria acontecer. Ele pediu que a quimioterapia fosse interrompida, pois ele sabia que aquilo tudo não iria curá-lo do câncer e era pior para ele. Meu pai nos alertou no dia em que foi interrompido o tratamento. Ele disse que iria morrer e que era para nos prepararmos para isso e sempre lembrar dos momentos bons ao seu lado, e não das vezes em que algum de nós tínhamos de limpá-lo porque ele não conseguiu chegar até o banheiro. Se meu pai não tivesse feito isso, a essa hora tanto minha mãe quanto eu e meus irmãos estaríamos chorando do mesmo jeito que nossos parentes e amigos da família estavam.
- Como estão as coisas? – meu irmão Alfie me deu um tapinha no ombro.
- Bem. – falei confuso.
- Hum. – ele murmurou – E o que é isso? – ele apontou o corte em minha testa.
- Nada demais. – dei de ombros e ele ficou me analisando.
Eu não ia contar para ele que tinha jogado um prato em mim na noite anterior. Minha família gostava muito dela para sequer pensar na hipótese de que ela tinha feito aquilo, apesar de que se eles acreditassem, a primeira coisa que fariam era ficar do lado dela e dizer que aquilo era minha culpa.
Nós dois estávamos juntos a quase sete anos, mas apenas cinco em um relacionamento totalmente sério que consistia em morarmos juntos em um apartamento em Los Angeles que agora mais parecia nosso inferno particular como ela mesma dizia.
Estava ficando tão cansado de todo aquele papo furado com parentes que eu não via desde a infância, que podia sentir que ia começar a ser um idiota com qualquer um que aparecesse na minha frente.
- Tio . – minha sobrinha Louise apareceu com seu cachos loiros balançando.
- Ei, baixinha. – peguei-a no colo e coloquei seus cabelos para trás – Você cresceu.
- Sim. – ela assentiu animada – Já tenho seis anos. A mamãe falou que agora vou crescer bastante.
- Você vai ficar quase do meu tamanho e do tio Alfie.
- Promete? – ela me olhou com seus olhos verdes brilhando.
- Prometo. – dei um beijo em sua testa – Você vai ficar linda igual a tia . Quem sabe até mais que ela.
- Daqui dez anos a gente vê. – ela riu.
Coloquei-a no colo e ela correu até . Ela se abaixou para conversarem e olhou para mim com um sorriso de lado. Senti-me vitorioso em vê-la sorrir para mim pela primeira vez em uma semana.
Depois de muitas horas de conversa fiada, as únicas pessoas restantes na casa eram meus irmãos com suas mulheres e seus filhos. Minhas cunhadas foram ajudar minha mãe e a arrumar as coisas, enquanto fiquei sentado com meus irmãos na sala vendo as crianças brincarem.
- Está tudo bem com você e a ? – Tyler perguntou.
- Sim. – assenti entediado.
Eu odiava ser o irmão caçula pelo simples fato de que eles me conheciam muito bem e sabiam quando tinha algo errado na minha vida.
- Vocês não ficaram perto um do outro desde que chegaram ontem a noite. – Alfie disse – Está tudo bem mesmo?
- Está. – suspirei – Está ótimo, ok?
- E porque você está todo estressado? – ele gargalhou, fazendo-me revirar os olhos.
- Porque vocês ficam questionando as coisas, parece até que querem que tenha algo de errado.
- Nós questionamos porque queremos que você conserta seja lá o que tenha feito de errado, .
- Eu não fiz nada de errado.
- Certeza? – Tyler arqueou a sobrancelha – Porque isso me parece o contrário. – ele apontou o machucado.
- Eu achei que quando vocês tivessem filhos, vocês deixariam de pegar no meu pé, sabia? – levantei-me irritado.
- Não temos culpa se você consegue ser mais infantil que nossos filhos. – Alfie gargalhou.
- Vão se foder. – rosnei.
- Olha a boca. – o pequeno Zack disse.
Subi para o meu antigo quarto e deixei que eles ficassem lá sozinhos falando mal de mim igual eles sempre faziam. Porque o é infantil, é irresponsável, não tem maturidade suficiente e qualquer outra merda que eles costumavam falar.
Joguei o terno e a camisa em cima da cadeira da escrivaninha, e deitei-me na cama com a barriga para baixo.
Estava quase pegando no sono quando ouvi a porta do quarto ser aberta e o barulho de passos leves andando pelo quarto. Virei-me para o lado e vi tirando sua blusa de costas para mim.
Levantei-me o mais silenciosamente possível e passei minhas mãos pela sua cintura, entrelaçando meus dedos em sua barriga. Dei alguns beijos leves em seu ombro e vi sua pele se arrepiar, fazendo-a suspirar fraco. Continuei beijando-a enquanto descia uma mão pela lateral de seu corpo até chegar na barra de sua saia.
- . – ela suspirou.
Ergui a saia lentamente e coloquei sua calcinha de lado, sendo empurrado para trás quando estava prestes a tocá-la.
- Não. – ela rosnou para mim.
- Até quando você vai ficar nessa? – falei derrotado.
- Não sei, mas não é assim que as coisas vão ser. – ela tirou a saia e começou a procurar algo em sua mala.
- Casais brigam o tempo todo. – sentei-me na beirada da cama e fiquei vendo-a colocar um vestido florido que lhe dei de presente meses atrás – Eu te amo, , o que eu tenho que fazer para as coisas voltarem a ser como antes?
- Se as coisas estão assim é por sua culpa, , não minha. – ela me olhou brava – Eu sou a única tentando fazer algo por esse relacionamento.
- Eu também estava até você me...
- Sexo não vai resolver e você sabe disso. Transar com você enquanto estou sentindo um ódio gigantesco só vai piorar a situação. – ela caminhou até a porta e corri atrás dela.
- Então agora você me odeia? – segui-a pelo corredor – Desde quando você deixou de me amar para começar a me odiar?
- Desde quando você se tornou um completo imbecil. – ela desceu as escadas.
- Eu sou um imbecil?
- Sim, você mesmo, . – ela caminhou até a cozinha – Esquece isso, ok? – ela colocou a mão em meu peito e pude ver todo mundo sentado na cozinha conversando.
- Eu não vou esquecer. – falei bravo.
- O que está acontecendo? – minha mãe perguntou preocupada.
- Nada, Jane. – sorriu carinhosamente.
- Nada? – gritei – Vocês queriam saber se as coisas estavam bem e não, não está. – gritei para os meus irmãos – Eu estou sendo um imbecil, mas quem tacou a porra de um prato em mim ontem foi você, .
Meus irmãos começaram a gargalhar e vi minha mãe e minhas cunhadas olharem preocupadas para as crianças. Elas sabiam o que estava por vir, mas não sabiam o que fazer.
- Sorte a sua que o prato era de porcelana, porque se fosse de vidro eu tinha usado um caco para ter cortar no meio. – ela caminhou até meus sobrinhos e acariciou a cabeça de Zack.
- , agora não é hora de vocês falarem sobre isso. – minha mãe indicou as crianças com a cabeça.
- Eu também acho. – murmurou.
- Por que vocês sempre ficam do lado dela? – falei frustrado.
- Porque nós te conhecemos, . – Tyler disse – Nós não ficamos do seu lado porque sabemos como você é, do mesmo jeito que eu não fico do lado do Alfie quando ele e Brianna brigam. Nós somos uma família, , a gente conhece perfeitamente o jeito um do outro.
- Não sei porque eu insisto. – falei derrotado – Eu posso fazer um milhão de coisas certas, mas se eu faço uma errada é só isso que vocês enxergam.
- Não é como se você tivesse feito pelo menos uma coisa certa nos últimos meses. – disse magoada.
- Então me diz o que eu tenho que fazer.
- , agora não é hora de a gente conversar sobre isso. – ela pegou Louise no colo e foi caminhando para a porta que ia para o quintal.
Zack a seguiu e assim que a cozinha virou uma zona livre de crianças, pude sentir o olhar de todos para mim. Eu tinha feito aquilo. Se eu a tivesse segurado no quarto e conversado sobre nossas desavenças lá, eu não teria que me explicar para a minha família o porquê de ela ter jogado um prato em mim.
- Aqui. Agora. – minha mãe puxou uma cadeira ao lado dela e me arrastei até lá.
- O que foi? – suspirei.
- Que diabos está acontecendo com vocês dois? – minha mãe acariciou meu ombro – Está tudo bem lá em Los Angeles?
- Vocês viram o que aconteceu aqui, o que acontece em Los Angeles é muito pior.
- Que merda você fez para ela jogar um prato em você? – Brianna perguntou.
- Ela vai se mudar. – suspirei – Não é mudar de casa. Ela vai para Nova York e ela nem sequer falou comigo sobre isso.
- Filho, talvez ela estivesse esperando o momento certo...
- Eu li as mensagens dela, foi assim que eu descobri. Ela está quase certa sobre a mudança. – baguncei meus cabelos – Ela estava falando com uma amiga do trabalho sobre a mudança e ela disse que queria ver se conseguia resolver as coisas entre a gente.
- E?
- E aí que ela não queria resolver as coisas entre a gente, ela quer que eu resolva porquê... porque ela cansou.
Senti minha garganta se fechar ao lembrar de dizendo que tinha cansado de tentar resolver as coisas entre a gente e que se eu queria continuar, então agora era a minha hora de fazer algo para mudar.
- O que ela disse quando você descobriu?
- Ela disse que eu não devia mexer nas coisas dela e que ela não me contou antes porque eu ia mudar minhas atitudes apenas para que ela reconsiderasse a mudança, mas que depois ia voltar tudo a ser a mesma porcaria que anda sendo.
- Talvez você precise mudar, . – minha mãe me abraçou.
- Eu não sei o que fazer. A gente anda discutindo por coisas tão idiotas. Ela perde a cabeça comigo rápido demais e aí eu não sei o que falar ou fazer e saio de casa para não a deixar mais estressada. – choraminguei – E ainda tem aquele idiota do chefe dela que só piora as coisas.
- Como assim? – Alfie perguntou surpreso.
- O babaca fica dando em cima dela sempre e ele também vai para Nova York pelo visto. É a chance perfeita para ele.
- Mas ela te ama.
- Esse é o problema. – ri descrente – Nossas brigas estão desgastando isso. Eu pensei que vindo para cá com ela pudesse mudar um pouco as coisas, mas ela está me ignorando sempre que pode.
- Porque você não muda, ? – Estela me olhou carinhosa – Tyler e eu também passamos por uma fase onde qualquer coisinha irritava o outro, todo casal passa por isso, mas é só aprender a lidar com isso.
- Ele não vai conseguir. – meu irmão disse triste – Esse é o problema do . Ele nunca admite que está errado e também não tenta consertar as coisas sozinho.
- Agora é minha culpa? – falei irritado – Ela quer ir embora da minha vida e a culpa é minha. Só faltava essa.
- Não é o fim do mundo, . – minha mãe disse – Ela ainda te ama, o que significa que você tem isso a seu favor, agora é só trabalhar um pouquinho a cabeça
- Eu podia engravidar ela. – falei rindo e todos me olharam furiosos – Estou brincando.
- O problema de ela ficar grávida é que enquanto ela seria uma ótima mãe, você seria um péssimo pai. – Alfie sorriu cínico – Aí acabaria que ela criaria duas crianças.
- Vocês falam como se eu fosse o homem mais irresponsável e imaturo do planeta, já perceberam isso?
- Talvez você seja a única pessoa que ainda não percebeu que você é. – minha mãe falou entediada e nos deixou sozinhos.
Se a minha mãe não estava do lado do filhinho dela nem um pouco, isso significava que eu estava realmente sozinho nessa grande merda que estava sendo minha vida amorosa.
Subi para o quarto sem nem falar mais nada para eles e fiquei trancado lá pelo resto da tarde pensando em como melhorar as coisas com .
Eu tinha descoberto sobre a proposta de emprego e a mudança no dia anterior, vinte minutos antes de Estela ligar para contar que meu pai tinha falecido, o que significava que eu não tinha tido tempo para digerir as duas coisas de uma vez.
Tomei um longo banho e fiquei pensando no que meu pai me diria sobre tudo isso. Ele era quem mais ficava contra os filhos, pois segundo eles as mulheres eram corajosas e fortes o suficiente para casar ou namorar um dos . Apesar de não ficar do nosso lado, ele sempre sabia o que nós tínhamos que fazer para reconquistar nossas mulheres.
Me senti um pouco mais aliviado depois de ter chorado no banho ao me dar conta de que meu pai não estava mais ali para nos dar conselhos ou qualquer das outras coisas maravilhosas que ele falava e fazia para os filhos.
Quando sai do banheiro, encontrei deitada na cama digitando algo rapidamente em seu iPhone. Meses atrás ela me olharia e faria alguma gracinha como tentar tirar minha toalha ou apenas me deixar excitado, mas agora ela nem tirou os olhos da tela. Era como se eu não estivesse ali.
Vesti uma camiseta e uma bermuda, e me deitei ao seu lado na cama. Ela continuou digitando e fingindo que eu não estava ali.
Eu já tinha sido esnobado e ignorado por muitas mulheres na minha vida, mas ser ignorado por era como o fim do meu mundo. Queria fazer algo para chamar sua atenção ou que pelo menos fizesse ela parar de me ignorar, mas qualquer coisinha que eu fizesse podia acabar irritando-a e ser o início de uma briga.
- Você pode me levar até a casa dos meus pais daqui a pouco? – ela perguntou sem parar de digitar na tela do celular.
- Claro. – falei empolgado.
- Eu só vou tomar um banho rápido.
Ela deixou o celular em cima da cama e pegou algumas roupas na mala, entrando no banheiro em seguida. Uma parte de mim queria muito mexer em seu celular e ver com quem ela estava conversando e sobre o que, mas nossa briga ontem tinha sido exatamente por eu ter mexido nas suas conversas.
Tomei a atitude dela de deixar o celular perto de mim como um ato de confiança e fiquei me matando internamente para não fazer a idiotice de xeretar suas coisas.
saiu do banheiro uns vinte minutos depois e seu primeiro ato foi olhar para o celular e depois para mim. Agradeci mentalmente por não ter nem retirado aquele aparelho demoníaco do exato lugar onde ela tinha colocado, pois isso fez com que ela desse um sorrisinho de lado.
- Vamos? – perguntei.
Ela pegou o celular em cima da cama e o colocou no bolso do shorts sem nem olhar para mim. Eu tinha sido muito trouxa em pensar que não ter xeretado seu celular ia fazer com que as coisas voltassem a ser exatamente o que eram.
Durante o caminho para a casa dos seus pais, ficou digitando algo no celular sem nem prestar atenção em mim. Era impossível não ficar triste com aquilo, ver a mulher da minha vida me ignorando porque eu estava sendo um babaca xereta e egoísta.
Desci do carro o mais rápido que eu pude, e por sorte consegui abrir a porta antes dela. apenas ficou me olhando de um jeito estranho e caminhou até a entrada da casa.
Ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas quando parei ao seu lado antes que ela tocasse a campainha e tentei imaginar o que se passava pela cabeça dela.
- O quê? – perguntei curioso.
- Você vai entrar?
- Eles ainda são meus sogros. – dei de ombros.
apenas revirou os olhos e esperou impacientemente que alguém viesse atender a porta.
- Oh, meu amorzinho. – a mãe de a abraçou assim que a viu – Que saudades de você.
- Também estava com saudades, mãe.
- , sinto muito pelo seu pai. – ela me abraçou com força – Nós fizemos o possível para chegar em Seattle mais cedo, mas estava um trânsito na saída de Sacramento.
- Sem problemas. – abracei-a.
- E sua mãe como está?
- Por enquanto está bem.
- Diga para ela que amanhã irei visitá-la. – ela sorriu – Agora entrem, Robert está louco para ver vocês.
Assim que entramos na casa, era possível sentir o cheiro de brownie no ar. As confeitarias de Los Angeles jamais conseguiriam fazer um brownie melhor que o da mãe de , isso era um fato.
ficou um pouco na sala comigo e seu pai conversando, mas logo depois subiu para o seu quarto. Fiquei pensando se a mãe dela sabia das coisas que estavam acontecendo entre nós e eu tinha quase certeza de que ela sabia. Ela talvez até soubesse da possível mudança para Nova York.
Subi para o segundo andar atrás de e a encontrei sentada na janela lendo algo. Fechei a porta atrás de mim e caminhei lentamente até ela.
- O que você está lendo? – perguntei curioso.
- Meu antigo diário. – ela disse sem nem olhar para mim.
Sentei na frente dela e fiquei observando as expressões que ela fazia a cada coisa que ia lendo.
Antes de nos mudarmos para Los Angeles a três anos, costumava manter um diário e escrever tudo nele. Eu não sabia se ela ainda tinha um escondido no nosso apartamento, mas eu certamente não iria procurá-lo e dar a ela mais um motivo para brigar comigo.
entregou o diário para mim e vi que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Uma das coisas que eu mais odiava no mundo era vê-la chorar, por isso que eu deixava que ela me batesse e jogasse pratos contra mim, pois quando estava fazendo isso, ela não conseguia chorar mesmo que fosse de raiva.
“31 de outubro de 2013
Quando estava voltando da festa de Halloween da Evelyn, encontrei sentado na calçada em frente à minha casa. Ele estava tenso e ansioso, e quando perguntei o que ele tinha, ele falou que não era nada. Eu fiquei muito curiosa, mas não insisti, apenas o chamei para entrar em casa.
Nós dois ficamos conversando na minha cama por um tempo até que ele disse que ia se mudar para Los Angeles. Era como se meu mundo tivesse desabado ali mesmo.
Seattle não era tão longe de Los Angeles se fosse de avião, mas de carro era quase um dia inteiro de viagem.
Meu primeiro relacionamento sério estava prestes a acabar, pois todo mundo sabe que é extremamente difícil manter um namoro a distância, e eu não seria a idiota que ia pedir para nós dois continuarmos juntos.
Eu estava a ponto de não conseguir mais segurar o choro quando disse que queria que eu fosse com ele e morássemos juntos em um lugar só nosso. Segundo ele, seria extremamente fácil para que eu achasse um emprego por lá, mas eu nem pensei nisso quando aceitei, eu apenas queria ficar perto dele.
Morar com o namorado era quase como estar casados, e embora eu saiba que ambos somos muito novos para isso, eu o amo o suficiente para saber que tomei a decisão certa ao aceitar me mudar com ele para uma cidade totalmente diferente da nossa”
.
Minha garganta estava fechada e eu sentia meus olhos arderem ao terminar de ler aquilo. Parecia que tinha sido ontem que eu fiquei na porta da casa dela esperando que ela chegasse.
- Você se arrepende? – entreguei-lhe o diário.
- Do quê? – ela limpou os olhos.
- De ter ido para Los Angeles comigo?
Eu estava morrendo de medo do que ela fosse me responder. Meu coração parou de bater por alguns segundos até ouvir o som de sua voz.
- Não. – ela negou com a cabeça – Nós podemos ter nossas brigas, mas eu não me arrependo por um segundo sequer das decisões que tomei.
- Você ainda... ainda quer ficar comigo? – perguntei magoado e ela sorriu triste.
- Eu não sei. – ela suspirou.
Eu realmente não esperava aquela resposta. Seria muito mais fácil um ‘sim’ ou ‘não’ do que aquela resposta. Aquilo só mostrava o quão confusa estava em relação a nós dois.
- Mas eu ainda te amo. – ela encolheu os ombros.
- Então por que você vai se mudar?
- Eu ainda não confirmei nada, .
- Mas também não negou.
- Eu amo você, , amo demais, mas eu também me amo e não acho que esteja sendo saudável para nós dois ficarmos em uma relação que já não nos faz feliz.
- , mas eu sou feliz ao seu lado...
- Você já se perguntou se eu sou? – ela deixou que algumas lágrimas rolassem pela sua bochecha – Não é só de amor que vive um relacionamento.
- Me diz o que eu tenho que fazer para te fazer feliz. – segurei seu rosto.
- Não sou eu quem tenho que te dizer isso, é você quem tem que se fazer essa pergunta. – ela acariciou meus cabelos – Eu só preciso de um pouco de espaço, sabe?
- Eu posso ir para um hotel se você quiser. – encostei minha testa na sua – Você fica no apartamento e ai a gente tenta resolver as coisas.
- , não é assim. – ela sorriu triste – Eu não consigo te explicar, eu só preciso de um tempo longe de você. Um tempo para cuidar de mim, sabe? Eu passo a maior parte do meu tempo me preocupando com você, e o restante é com trabalho.
- Você não precisa se preocupar comigo...
- Eu sei disso, mas eu te amo, , não tem como eu não me preocupar com você.
- Me dá mais uma chance, por favor, . – falei chorando – Eu prometo que eu vou mudar. Eu vou lavar todas as louças sujas, não vou mais deixar roupa espalhada pelo quarto. Até aceito comer comida tailandesa com você as sextas-feiras depois do trabalho.
- Já perdi a conta de quantas chances eu já te dei sem você nem perceber. – ela se levantou.
- Então você vai mesmo para Nova York? – andei até ela.
- Eu ainda não sei se vou para Nova York.
- Você vai me contar quando tomar uma decisão? – ela assentiu – Eu te amo, .
Nem esperei por qualquer resposta dela, apenas beijei-a apaixonadamente. Eu já não sentia mais o gosto de seus lábios tinha quase um mês e meu peito se apertou ao lembrar disso.
Se ela fosse embora eu podia nunca mais beijá-la ou sentir seu corpo no meu, e isso era a última coisa que eu queria no mundo. Eu precisava de ao meu lado, podia ser dramático da minha parte, mas eu não sabia mais como existir sem ela. Era como se a razão da minha existência fosse amar .
Guiei nossos corpos até a cama e tirei nossas roupas rapidamente. Aquilo era com certeza um adeus, do contrário ela não teria nem retribuído o beijo.
Passei as mãos lentamente pelo seu corpo, sentindo cada canto dele na esperança de guardá-lo na minha memória. Se essa fosse realmente nossa última transa juntos, então eu precisava fazer com que fosse a melhor e mais memorável de todas.

Acordei com acariciando meus cabelos e sorri com seu gesto. Respirei fundo algumas vezes, sentindo seu cheiro doce que eu tanto gostava e tentando esquecer qualquer coisa que tivesse acontecido entre nós dois fora daquele quarto.
- Que horas são? – perguntei sonolento.
- Uma e quarenta. – ela se levantou e notei que ela estava prontamente vestida – Está com fome?
- Um pouco.
Ela saiu do quarto quando me levantei para colocar minha roupa e eu comecei a rir sozinho. me via pelado todos os dias, mesmo quando estávamos brigados e agora que pelo visto tínhamos terminado, ela achava que isso era estranho.
Encontrei-a na cozinha comendo o resto de lasanha direto da travessa. Sentei-me ao seu lado no balcão e ela me entregou um garfo. Comemos em silêncio e quando terminamos ela subiu para o quarto e eu decidi que talvez eu precisasse ir embora.
Dei a volta no quarteirão de casa umas cinco vezes até criar coragem e estacionar o carro. Obviamente ninguém estaria acordado a essa hora, mas eu ainda estava com um pouco de medo de ter que conversar com alguém quando a única coisa que eu queria era deitar na minha cama e nunca mais acordar.
Abri a porta o mais devagar possível e assim que a fechei ouvi um pigarro atrás de mim. Olhei para o cômodo e vi minha mãe sentada na poltrona de meu pai com um livro no colo.
- Oi. – falei envergonhado.
- Cadê a ?
- Ela resolveu ficar com os pais essa noite. – cocei a nuca – A mãe dela disse que vai vir te ver amanhã de manhã... ou hoje.
- Tudo bem. – ela sorriu carinhosa – Como foi a viagem a Sacramento?
- Nem falamos muito sobre isso.
- Hum. – ela ficou me analisando e depois indicou o sofá com a cabeça.
- O que foi? – perguntei assim que me sentei na frente dela.
- Por que você entrou todo escondidinho?
- Por que você está acordada a essa hora?
- Você primeiro. – ela sorriu.
- Não queria acordar as crianças. – menti e ela revirou os olhos – E você?
- Não consegui dormir. – ela sorriu triste – Fiquei rolando e rolando na cama, como se estivesse esperando que seu pai acordasse para que eu o ajudasse a ir ao banheiro e.... ele não acordou. – ela suspirou – Pelo menos ele está em um lugar melhor, eu espero.
- Eu acho que não. Lembra daquela vez que ele nos levou para caçar e ficou rindo quando Tyler caiu em um monte de merda? – falei na esperança de que ela sorrisse e fiquei feliz quando consegui – Eu acho que ele foi pro inferno por causa disso.
- Seu pai fez várias coisas que garantiriam um lugar especial no inferno. – ela riu – Principalmente quando ele resolvia cozinhar.
- Parecia que ele tentava envenenar toda a família de uma vez só.
- E ainda fingia que estava triste quando falamos mal da comida.
- Em toda a minha vida eu nunca o vi comer qualquer coisa que ele tivesse cozinhado. – falei rindo e ela assentiu.
- Verdade, ele nunca comeu as próprias comidas. Seu pai não se importava em estragar as coisas contanto que isso fosse garantir que nós todos íamos rir no almoço de domingo. – ela disse triste.
- Você vai ficar bem aqui sozinha? – perguntei apreensivo e ela assentiu.
- Seus irmãos moram por perto, e a Estela e Brianna estão aqui todos os dias com as crianças.
- Mesmo assim, mãe. – insisti.
- Vocês têm a vida de vocês, não precisam parar ela por mim.
- Mas você já tem setenta e cinco anos, não é bom ficar sozinha aqui.
- É impressão minha ou você acabou de me chamar de velha, ? – ela falou rindo.
- Talvez. – mordi o lábio e ela riu – Eu posso vir mais vezes...
- Querido, não precisa se preocupar, ok? Eu vou ficar bem. – ela insistiu.
- Você pode vir morar comigo em Los Angeles.
- Não quero atrapalhar você e a , de jeito nenhum.
- Acho que a gente terminou, então estamos os dois sozinhos agora. – sorri triste e ela me olhou atentamente – O quê?
- Você está bem?
- Por enquanto sim. – suspirei – Acho que quando acordar amanhã vou me dar conta de tudo o que aconteceu.
- Vocês vão voltar. – ela disse convicta – Eu tenho quase certeza disso.
- Espero que você esteja certa. – me recostei no sofá.
- Eu sou sua mãe, , as mães sempre estão certas sobre seus filhos. – ela sorriu.
Fiquei sentado no sofá enquanto ela lia o livro que mais parecia um dos que meu pai costumava ler enquanto ficava na varanda vendo as crianças brincarem no jardim.
Acordei com Louise vestida de unicórnio e me cutucando incessantemente.
- Que aconteceu?
- Eu tive um pesadelo e não consegui subir a escada sozinha por causa do escuro.
- Tudo bem. – bocejei – Vamos levar a vovó para cima com a gente.
Peguei minha mãe no colo e notei quão magra ela estava. Minhas cunhadas sempre falavam isso, que ela estava emagrecendo mais a cada dia desde que meu pai tinha ficado doente, mas nós nunca tínhamos prestado atenção nisso.
Louise segurou na minha blusa e subimos as escadas o mais silenciosamente possível. Coloquei minha mãe na cama e Louise entre nós dois para dormir.
- A vovó vai ficar feliz de acordar com a gente. – Louise sussurrou.
- Vai sim.
- A mamãe disse que ela estava triste por causa do vovô e que agora eu poderia vir dormir com ela sempre que eu quisesse.
- Ela vai gostar bastante. – acariciei seus cabelos – Agora você precisa dormir se não sua mãe vai brigar comigo amanhã.
Fiquei acariciando o topo da cabeça dela na esperança de que ela dormisse logo igual quando ela era um bebê, e fiquei feliz quando ouvi sua respiração ficar pesada se juntando a da minha mãe.

- Cadê, papai? – ouvi uma voz infantil falar ao longe.
- Calma, Zack. – Alfie disse.
- O que vocês estão aprontando? – falei sem nem conseguir abrir os olhos.
- Nada. – Zack disse rindo.
Ignorei os dois e quando estava prestes a voltar a dormir, fui atacado por várias vezes seguidas por travesseiros. Zack gargalhava alto junto com meu irmão enquanto eu gritava para eles me deixarem dormir.
- O que está acontecendo aqui? – Brianna falou brava.
- Nadinha. – Zack disse tenso.
- Alfie, deixa o seu irmão dormir. E você, mocinho, espero ansiosamente para ver como seu tio vai se vingar de você.
- Desculpa, tio , desculpa. – ele se deitou nas minhas costas e começou a se desculpar.
- Não, não.
Virei-me para cima dele e o peguei no colo, levando-o comigo para fora do quarto de ponta cabeça.
- Desculpa. – ele gritava rindo – Foi ideia do papai. Perdoa eu, a culpa é dele.
- Primeiro você, depois seu pai.
Desci as escadas com ele rindo e coloquei no sofá da sala, enchendo-o de cosquinhas.
- Tia , pede para ele parar. – Zack gargalhava.
Parei instantaneamente ao ouvir o nome dela. Olhei para trás e estava em pé no batente da cozinha com Louise em seu colo.
Zack aproveitou e saiu correndo, abraçando e usando-a como escudo.
- Oi. – ela sorriu.
- Oi. – falei envergonhado.
- Vamos, crianças, o café hoje é no quintal. – Alfie pegou Louise e Zack o seguiu.
Fiquei me perguntando o porquê de ela estar ali tão cedo, mas ela tinha terminado comigo e não com a minha família que gostava mais dela do que de mim.
- Tudo bem? – ela perguntou e eu assenti – Minha mãe te trouxe brownies. – ela abaixou a cabeça.
- Ah... obrigado. – sorri amarelo e ela me olhou.
- Você não precisa ficar assim, . – ela segurou minha mão – Eu não terminei com você ou fui embora.
- Então ainda... – olhei-a esperançoso e ela assentiu – Você me deu mais uma chance?
- Não. – ela negou com a cabeça – Mas quando eu terminar de verdade com você, vai ser com todas as letras para deixar bem claro.
- Eu achei que ontem foi meio uma... despedida.
- Não. – ela riu – Eu só decidi continuar com você até que eu vá para Nova York.
- Então você vai mesmo. – suspirei.
- Sim. Me decidi hoje enquanto conversava com sua mãe.
- Minha mãe te influenciou a ir embora e terminar comigo? – falei bravo e ela riu.
- Não, , sua mãe disse para eu fazer o que eu achava que era melhor para mim e não para você ou para nós dois.
- Você não acha meio egoísta da sua parte ficar comigo só até ir embora? – arqueei a sobrancelha e ela deu de ombros.
- O que é um pouquinho desse meu egoísmo perto do seu? – ela falou cínica e senti uma pontada no peito.
- Ouch.
- Eu também não quero que as coisas entre nós dois fiquem estranhas, sabe? Que eu vá embora parecendo que você foi um merda de namorado cem por cento do tempo. – ela se aproximou de mim – Nós ainda temos uma semana e meia juntos para... você sabe...
- Transar? – falei com um sorriso enorme no rosto e ela revirou os olhos.
- Não, , para sermos aquele casal que costumávamos ser antes de tudo começar a descer ladeira abaixo.
- A gente transava bastante. – coloquei seu cabelo atrás da orelha e ela riu – De manhã, a noite, as vezes no nosso horário de almoço.
- Nosso relacionamento está chegando ao fim e você está pensando em sexo? – ela deu um soquinho em meu peito e a abracei.
- Quem sabe minhas proezas sexuais te convençam a ficar. – beijei sua bochecha.
- São extremamente poucas as coisas que me convenceriam a ficar, e suas proezas sexuais não são uma delas. – ela me deu um selinho e seguiu para o quintal.
- Então o que é? – caminhei atrás dela – Quem dessa mesa sabe? – falei quando chegamos ao quintal e estavam todos sentado na velha mesa de piquenique.
- Tirando as crianças... – ela colocou a mão no queixo e me olhou pensativa – Todo mundo.
- Você acabou de destruir a família , . – falei rindo.
Nos sentamos lado a lado e durante o café pude notar por diversas vezes minha mãe encarar o lugar de meu pai na mesa.
Ela respondia quando falavam com ela, mas fora isso, ela parecia bastante alheia a tudo. Todo mundo percebeu isso, e ficamos o tempo todo conversando com ela tentando fazer com que ela parasse de encarar o lugar vazio.
- Vovó, a mamãe disse que agora eu posso dormir aqui sempre que quiser. – Louise disse animada.
- Eu vou adorar ter você aqui sempre. – minha mãe sorriu.
- A vovó pode te ensinar a fazer aqueles doces gostosos que ela faz. – Brianna beijou a cabeça da filha.
- Mas eu ainda sou criança.
- Você está crescendo muito rápido. – minha mãe disse – Acho que já pode começar a aprender a cozinhar algumas das coisas que vocês adoram.
- Vovó, quem vai arrumar o jardim agora que o vovô está no céu? – Zack perguntou de boca cheia e Brianna o cutucou.
Procurei minha carteira no bolso da bermuda e fiquei surpreso comigo mesmo por ter conseguido dormir com ela e o celular. Peguei uma nota de 20 dólares e entreguei para Zack que ficou olhando o pedaço de papel com os olhos brilhando.
- É para você arrumar o jardim por duas semanas.
- Quantas vezes por semana? – ele falou empolgado.
- Duas. – falei com a boca cheia.
- Aproveita o dinheiro porque isso é bem mais do que o pai costumava pagar para a gente. – Tyler gargalhou – As outras duas semanas é por minha conta.
- Você vai me dar o dinheiro agora?
- Alfie, seu filho é muito ganancioso, sabia?
- Puxou aos tios. – ele riu.
- E eu? – Louise olhou para mim – Vou ganhar para arrumar o jardim?
- Você ainda é muito pequena para arrumar o jardim. – minha mãe disse.
pegou a carteira de minha mão e retirou de lá mais uma nota de 20 dólares. Pelo visto eu ia ter que passar no banco cada vez que fosse vir para Seattle.
- Para você vigiar o Zack e garantir que ele está fazendo tudo direitinho. – lhe entregou o dinheiro e ela mostrou contente para Estela.
- E eu vou ganhar quanto para vigiar os dois nessas tarefas? – minha mãe perguntou rindo.
- Estou sem dinheiro. – peguei a carteira da mão de e a guardei – Engraçado, por que eu estou dando dinheiro para o filho de vocês? – olhei para Tyler e Alfie e os dois deram de ombros.
- Porque você é o tio legal enquanto nós somos os tios chatos. – Alfie riu.
As crianças ficaram empolgadas falando para minha mãe quantas outras coisas eles poderiam fazer na casa para ganhar dinheiro, e isso pareceu prender totalmente a atenção dela que foi dando outras ideias como construir uma horta e até uma casa na árvore.
Por mais que eu quisesse ficar em Seattle com a minha mãe por um tempo, eu precisava ir trabalhar no dia seguinte. Estela nos levou até o aeroporto e antes de embarcarmos, ela e falaram algo baixinho uma para outra que me deixou mais curioso do que nunca.
Durante o voo fiquei olhando para e tentando descobrir se ela estava tensa assim como eu a cada minuto que nos aproximávamos de Los Angeles. Eu não queria chegar logo. Por mais que ela só fosse embora dali dez dias, era como se ela estivesse indo embora agora. Não tinha mais nada que eu pudesse fazer para convencê-la a ficar, ela já tinha tomado sua decisão. Eu realmente queria que ela fosse feliz em Nova York, mas eu queria que essa felicidade fosse ao meu lado e não a milhares de quilômetros de distância.

Passei em um restaurante japonês assim que sai do trabalho e comprei várias coisas que adorava, na esperança de deixá-la feliz. Eu ia tentar o meu máximo para fazer desses dias restantes os melhores de nossa vida.
Aproveitei para passar em uma floricultura perto de casa e comprar algumas flores para ela, e eu ficava mais ansioso a medida que ia chegando em nosso apartamento.
- . – chamei-a assim que abri a porta.
- Oi. – ela saiu do nosso quarto com uma caixa.
Olhei pela sala e encontrei várias outras coisas pelo lugar. Ela pelo visto já tinha arrumado todas as suas coisas para adiantar o processo de sumir da minha vida.
- O que é isso? – ela caminhou até mim com um sorriso no rosto – Comida japonesa e.... flores. – ela disse me olhou surpresa.
- Por que você já arrumou tudo? Você não foi trabalhar hoje? – questionei e ela apenas mordeu o lábio.
- Eu não queria deixar de última hora. – ela disse sem graça.
- Você poderia ter esperado, eu ia te ajudar.
- Não queria te forçar a me ajudar com a minha mudança, , isso ia te deixar magoado.
- Eu já estou magoado desde quando descobri sobre essa droga de Nova York, , não tem como eu me magoar mais que isso. – gritei.
Coloquei as sacolas com a comida em cima do balcão da cozinha e joguei o buquê de flores no lixo. Pelo visto a tentativa dela de fazer desses dias melhores do que os outros tinha ido por água abaixo.
Eu não tinha motivo para ficar tão irritado daquele jeito porque ela decidiu arrumar todas as suas coisas antes, mas talvez minha irritação fosse porque ver todas aquelas caixas com coisas dela era a confirmação que eu precisava para ter certeza de que estava indo embora não só da minha casa como também da minha vida.
Fiquei horas no banheiro chorando feito uma criança. Chorei pelo meu pai, por , pelas coisas que eu podia ter feito pelo nosso relacionamento e não fiz, e por qualquer outra coisa que fosse minha culpa.
bateu na porta algumas vezes pedindo para conversarmos, mas apenas ignorei seus chamados. Eu não estava nem aí se ela começasse a pensar que eu tinha me matado no banho.
Quando sai, a encontrei sentada na cama conversando com alguém no celular. Uma parte imbecil de mim dizia que ela poderia estar conversando com o babaca do chefe dela sobre quão ansiosa ela estava para ir para Nova York, mas vê-la chorando no telefone calou essa parte.
Eu queria abraçá-la e dizer que sentia muito por ter sido um idiota com ela, mas eu não consegui. Apenas me troquei e peguei um travesseiro e coberta para que eu pudesse dormir no sofá. Pude sentir seu olhar sobre mim enquanto ela sussurrava no telefone, e lutei internamente para não correr até ela.
A comida ainda estava intacta no balcão e do lado estavam as flores em um vaso com água. Elas seriam a contagem do fim dos meus dias.
A medida que a partida de se aproximava, as flores iam murchando e mais distante nós ficávamos. Nos dois primeiros dias nós nos limitamos à ‘bom dia’ e ‘fiz ovos para o café’, mas depois passamos a nos ignorar.
Quando cheguei em casa no penúltimo dia de , a encontrei com algumas amigas do trabalho na sala rindo e tomando vinho. Vi algumas caixas de pizza em cima da mesa de centro e quatro garrafas de vinho. Todas elas pararam de fazer o que estavam fazendo assim que entrei no apartamento e ficaram esperando que eu sumisse da sala para voltarem a conversar.
Nas poucas vezes que fui a cozinha, podia sentir os olhares em minhas costas e ouvir os sussurros. Eu queria mandar todas elas irem se foder, principalmente , mas resolvi ignorá-las.
Era óbvio que elas deviam conversar sobre o quão bem estava fazendo em terminar comigo e se mudar para Nova York, das possibilidades de namorados bem melhores que eu que ela encontraria, quem sabe até divagavam sobre minha namorada e o idiota do chefe que dava em cima dela e ela era a única pessoa que não percebia.
A festinha delas acabou quase três da manhã e me recusei a sair da cama quando entrou no quarto. Fechei meus olhos e fiz o meu máximo para fazê-la acreditar que eu estava dormindo. Minhas costas doíam por causa das noites de insônia no sofá.
Fiquei prestando atenção no barulho de seus passos leves pelo quarto e logo senti o colchão afundar ao meu lado. Ela respirou fundo algumas vezes e senti a ponta de seus dedos passando levemente pela pele das minhas costas. Tentei ignora seu gesto, mas minha pele se arrepiou e trocou os dedos pelos lábios, beijando minha espinha até chegar em meu pescoço.
- . – sussurrei – O que você está fazendo?
- Nada. – ela disse com uma voz infantil e passou a beijar meu pescoço, dando leves chupões.
- .
- Shhh. – ela disse em meu ouvido – Apenas aproveita.
- Você está bêbada? – virei-me para ela e a encarei.
- Não, você sabe que eu não fico bêbada com vinho. – ela deu uma risadinha – Eu fico sonolenta, mas bêbada não.
- Então talvez seja a hora de você dormir.
- Mas eu não quero dormir. – ela arranhou meu peito – Eu quero você.
- , por favor... – murmurei quando ela colocou a mão por dentro da minha cueca.
- Você quer, eu quero, não tem nada para nos impedir... – ela começou a me masturbar.
- Eu não quero. – tentei passar confiança, mas eu estava quase desistindo de resistir.
- Se você não quisesse não ia estar excitado. – ela sussurrou sensualmente em meu ouvido e me arrepiei mais uma vez.
- Isso é uma reação automática do corpo masculino.... Oh, porra. – gemi alto quando ela aumentou a velocidade de sua mão em mim.
- Uma última vez. – ela subiu em cima de mim e quando postei minha mão em sua cintura vi que ela estava sem qualquer peça de roupa – Para eu lembrar de você e você lembrar de mim. – ela disse com a voz embargada.
abaixou minha calça e juntou nossos lábios em um beijo calmo. Meu coração estava mais disparado do que na primeira vez em que nos beijamos e eu não sabia mais o que fazer.
Ela se posicionou em cima de mim e gememos juntos quando a senti. Eu podia cometer um erro enorme em transar com ela, mas eu a amava e não conseguia evitar. Talvez amanhã ou depois eu me arrependesse, mas naquele momento tudo o que eu queria era sentir nossos corpos colados e sua boca na minha sem pensar no depois.

estava dormindo em meu peito quando acordei sentindo uma felicidade indescritível. Levantei-me com cuidado para não a acordar e fui para cozinha preparar o café. Encarei a sala livre de caixas enquanto cozinhava. As caixas tinham sido despachadas para Nova York dois dias atrás e eu não fazia ideia de que horas iria embora.
Coloquei as coisas em uma bandeja e levei para o quarto. Assim que entrei a vi digitando algo no celular com um sorriso no rosto que não se apagou de jeito algum quando me viu.
- Preparei o café. – sorri para ela.
- Estou morrendo de fome. – ela engatinhou até a bandeja quando a coloquei na cama – Hum, ovos, bacon e salada de frutas. – ela me olhou com um sorriso – Obrigada. – ela se levantou até mim e me beijou.
Fiquei sem qualquer reação perante aquilo, mas tentei fingir que não tinha sido nada demais.
- Que horas você vai? – perguntei tentando não mostrar muito interesse.
- As duas. – ela disse com a boca cheia.
- Você... você quer que eu te leve até o aeroporto?
- Não precisa. – ela sorriu – Ryan vai vir de táxi até aqui para irmos juntos.
Senti uma onda de raiva passar pelo meu corpo ao ouvir o nome dele. Se percebeu, ela fingiu que não tinha visto que fiquei tenso ao ouvir o nome dele. Fiquei me questionando mentalmente se ele sabia que nós dois tínhamos terminado ou se estava só desejando isso para que ele pudesse ter a chance dele.
- Está muito bom. – ela disse antes de colocar uma garfada cheia de ovos e bacon na boca.
Observei enquanto ela devorava a comida sem qualquer pesar por comer coisas fritas e gordurosas.
Tentei prolongar ao máximo nosso tempo juntos. Ajudei-a a terminar de fazer as malas, sequei seus cabelos, escolhi uma roupa para ela usar e almoçamos comida tailandesa agarradinhos no sofá. Quem visse aquela cena jamais imaginaria que estávamos prestes ao fim do nosso namoro de cinco anos e ela estava a poucas horas de sua nova vida em outro estado.
Ela já estava com as malas prontas na porta da sala, apenas esperando que o babaca do Ryan falasse que estava esperando por ela na portaria.
Eu queria chorar, espernear feito uma criança no mercado, não estava me importando com o quão másculo aquilo seria, apenas queria que ela percebesse que eu não era ninguém sem ela, porém fazer isso deixaria as coisas mais difíceis para ela.
- Ryan chegou. – ela disse num suspirou e caminhou até a porta.
Peguei suas malas no chão e desci com elas no elevador. parecia ansiosa e ficou olhando para ver quantos andares faltavam até o térreo. Assim que o elevador parou, pude ver o táxi na frente do prédio e respirou fundo.
- Então... – ela me olhou com os olhos marejados – É isso.
- Sim. – suspirei.
- Vou sentir sua falta. – ela me abraçou.
- Também vou sentir a sua. – deixei as malas caírem e a abracei com força, tirando-a do chão – Eu sinto muito, , por tudo.
- Está tudo bem, . – ela beijou minha bochecha – Eu também sinto muito por tudo o que aconteceu de ruim entre a gente, apenas... apenas não deu certo.
- Eu amo você. – acariciei seu rosto – Eu amo muito você, .
- Eu também te amo, . – ela me beijou carinhosamente.
- Eu não sei o que eu vou fazer sem você, . – falei chorando. Eu não tinha conseguido me segurar. Parabéns, – Não tem sentido eu ficar aqui ou em qualquer lugar se não for para ficar com você.
- ... – ela deixou algumas lágrimas rolarem pela sua bochecha – Você achará alguém cedo ou tarde, alguém melhor do que eu e que saiba lidar com você.
- Ninguém sabe lidar comigo, , eu não quero encontrar alguém, eu quero você. – segurei seu rosto – Eu não existo sem você, .
- Deixa disso, ... – ela deu uma risadinha nervosa e limpou a bochecha – Você pode me ligar ou mandar mensagens as vezes.
- Eu não quero mandar a porra de uma mensagem, eu quero falar com você cara a cara, eu quero dormir e acordar com você.
- Por favor, ...
- , eu te amo... não me deixa, por favor. – abracei-a – Eu vou mudar, eu prometo que vou mudar. Eu juro pela morte dos meus sobrinhos que eu vou mudar, não me deixa aqui. – encostei minha testa na sua – Me leva para Nova York com você, eu prometo que vou me comportar, eu não vou mais brigar com você e também não vou dar motivos para você brigar comigo...
- Eu preciso ir, ... – ela disse chorando – Eu te amo, de verdade. Você foi meu primeiro amor e eu nunca vou me esquecer disso, mas está na hora de seguirmos em frente com as nossas vidas e escolher o que é melhor para nós dois...
- Minha vida é você, , o melhor para mim é você. Não tem como eu seguir a minha vida se não for com você.
- Você vai ter que aprender. – ela suspirou – Eu preciso ir. – ela colocou a alça das malas no ombro – Você pode me ligar sempre que quiser, tudo bem? Eu não quero te apagar cem por cento da minha vida.
- ...
- Eu te amo, , eu te amo demais. – ela sorriu triste e foi andando de costas para a saída do prédio – Eu te amo infinitamente. – ela gritou – Para sempre.
- Eu odeio minha vida, sabia? – choraminguei – Se você entrar nesse táxi eu vou me matar. – falei rindo – Eu juro.
- Você não vai se matar e eu sei disso porque você me ama e eu te amo.
O idiota do Ryan veio até ela e pegou as malas para colocá-las no porta-malas do táxi. Eu queria correr até ele e socar tanto seu rosto de playboy que nem o melhor cirurgião plástico do planeta seria capaz de consertar.
Esperei até que o táxi saísse da frente do prédio para que eu pudesse chorar igual um idiota dentro do elevador. Eu não estava me importando nem um pouco se alguém entrasse, eu só queria chorar até morrer de desidratação.
Abri a porta do apartamento com um chute e a fechei do mesmo jeito. Eu nunca tinha percebido antes, mas todos os malditos cômodos tinham o cheiro de . A sala, cozinha, banheiro e principalmente o quarto.
Tirei os lençóis da cama e peguei o travesseiro em que ela dormia e coloquei no sofá em frente ao meu celular que eu ia vigiar dia e noite na espera de alguma notícia de . Peguei todas as garrafas de bebida alcoólica e coloquei na mesinha de centro. Meu pai diria que eu estava fazendo um papel ridículo, mas eu estava que se foda para isso.
Selecionei o número dos meus irmãos e digitei uma mensagem para eles.
foi embora” .
Segundos depois Tyler me respondeu:
“Como você está? ”
Tirei uma foto da mesa com as garrafas e mandei para eles.
“Estou pronto para entrar em coma alcoólico”
“Você tem pouca bebida para entrar em como alcoólico”
Alfie respondeu.
“Foda-se” “Se eu morrer, todo o meu dinheiro é para ser dividido entre a Louise e o Zack” “Apaguem o histórico dos meus computadores antes de darem eles para as crianças”.
“Eu vou ligar para a mamãe”
Tyler enviou.
“Só me deixa morrer”.
“Para de drama, , você tem vinte e cinco anos, não é o fim do mundo”.
“Fala isso quando a sua mulher te der um pé na bunda. O seu vai ser pior porque ela vai levar a Louise com ela”.
“Alfie, dá um jeito nele, você é o mais velho”.
“Você está em Los Angeles, uma das coisas que mais tem aí é droga. Compra uma dose forte de heroína e se mata, mas para de drama”.
“Eu vou contar para a mãe que você mandou eu me matar”
.
Coloquei o celular no silencioso e deixei-o na mesinha de centro. Abri a garrafa semicheia de uísque e fui virando o conteúdo o mais rápido que eu podia. Minha garganta começou a queimar tão forte que eu pensei que fosse morrer. Na verdade, era exatamente isso que eu queria.
Enrolei-me nos lençóis e abracei o travesseiro de , sentindo seu cheiro maravilhoso invadir meu nariz. Eu a queria ali do meu lado e não do outro lado do país com um idiota que ia tentar comer ela na primeira oportunidade. Eu necessitava de ali, sem ela junto de mim eu não tinha mais nada. Não tinha mais porque acordar todas as manhãs ou ir trabalhar cinco dias na semana.
Sem eu não precisava mais comprar absorventes e remédios para cólica quando fosse a farmácia. Não ia ter que ficar vários minutos selecionando qual maçã-verde estava boa, ou quebrar a cabeça para escolher um vinho que ela gostasse.
Parecia até que eu estava listando coisas que eu odiava em ter que fazer por ela, mas, na verdade, eu adorava. Eu não me importava em ter que perguntar para as mulheres da farmácia se tal absorvente era o melhor para dormir à noite, ou ficar olhando na internet a diferença entre vinho seco, tinto e suave, coisa que eu nunca ia aprender. Eu adorava fazer todas essas coisas. Eu amava seu sorriso feliz quando eu chegava em casa com seu remédio para cólica e uma caixa de bombons caros que eu comprava para alegrá-la.
Sem ela, eu não ia saber que materiais de limpeza comprar ou qual o tipo de alface que ela comprava e não tem gosto amargo. Eu ia ter que pendurar a toalha todos os dias, porque ela não estaria mais ali para me encher o saco. Eu agora não tinha mais motivo para deixar a toalha na cama se não fosse para vê-la com as mãos na cintura e batendo o pé incessantemente dizendo que eu precisava pendurar ou ela ia mofar.
Não tinha mais um motivo para eu chegar cedo em casa se não fosse para fazer o jantar para ela, ou sair do trabalho correndo para almoçarmos juntos em algum lugar que ela amava a comida e eu odiava.
Pensei em ligar para ela, mas a essas horas ela deveria estar dentro do avião na primeira classe tomando vinho tinto enquanto come lagosta com o idiota do Ryan. Ele devia falar para ela dá vez em que ele comeu lagosta na costa italiana de frente para o mar da puta que pariu, apenas para tentar impressioná-la.
Meu celular começou a vibrar loucamente em cima da mesa e quis matar a Apple por não me dar a opção de fazer aquela bosta ser totalmente silenciosa quando eu apenas queria chorar pela minha namorada.
- Alô. – falei irritado sem nem olhar quem estava interrompendo meu momento depressivo.
- , você está bem?
- Quem é?
- Brianna. – eu podia vê-la revirando os olhos para mim.
- Oi.
- Você está bem?
- Sim.
- Alfie disse que você estava tentando entrar em coma alcoólico. – ela deu uma risadinha.
- Ele mandou eu comprar uma dose forte de heroína e me matar. – resmunguei.
- Seu irmão é um idiota. Mas você está bem? De verdade?
- Não. – olhei para a mesinha de centro e me assustei por nem ter notado que tinha acabado com o conteúdo das três garrafas – Acabou minha bebida. – choraminguei – Eu vou morrer, Brianna.
- Relaxa, vai ficar tudo bem, ok?
- Ela falou com você esses dias? O que ela disse? Ela vai voltar para mim? Isso é só para eu melhorar meu comportamento, não é?
- , você precisa se dar conta de que ela foi de verdade e você tem que viver sua vida...
- Ela é a minha vida. Eu vou fazer o que nessa cidade maldita sem ela?
- Trabalhar, sair com seus amigos, conhecer pessoas novas, você pode até usar drogas. – ela riu.
- Se você e o Alfie estão falando sobre drogas na esperança de que eu admita algo, vocês estão muito enganados. – resmunguei – Eu não quero conhecer gente nova, eu quero conhecer gente velha.
- Chama os seus amigos para saírem.
- Metade das pessoas que eu conheço em Los Angeles tem namorada, a metade da metade tem filhos, a outra metade da metade vai para baladas.
- Qual o problema com baladas?
- Eu não gosto.
- Vai para outros lugares. Você está em Los Angeles, tem tantos lugares para ir em vez de ficar em casa pensando na .
- Mas eu quero ficar aqui pensando nela.
- E você acha que quando chegar em Nova York ela vai encher a cara e ficar pensando em você?
- É exatamente essa atitude que eu espero dela.
- Não, , ela vai aproveitar a noite com o pessoal novo do trabalho e tentar inutilmente esquecer de você.
- Você ligou aqui para me consolar ou terminar de foder com meu psicológico, porque se for a segunda opção, meus parabéns, você está conseguindo.
- Eu te conheço desde que você nasceu, é como se você fosse meu irmão caçula, , eu te amo e quero o seu bem, não quero que você fique trancado em casa achando que sua vida acabou.
- Mas ela aca...
- Cala a boca. – ela gritou – Estela e eu vamos com as crianças para ai na segunda-feira e você vai sair de casa para se divertir.
- Tudo bem. – respirei fundo – Mas antes de vir passa na mãe da e traga brownies para mim.
- Eu vou usar os malditos brownies para te sufocar, .
- Ok, ok, não precisa trazer os brownies. – suspirei.
- Zack está brigando com Alfie para tomar banho, preciso desligar. Mais tarde Estela vai ligar para saber de você.
- Quanto a minha mãe ta pagando para vocês duas?
- Nós já tiramos os filhos dela de dentro de casa, é a maior alegria que ela teve na vida depois do nascimento de vocês. – ela riu.
Tentei ocupar minha cabeça com o fato deles estarem vindo de Seattle para cá, mas eu não conseguia pensar nisso sem lembrar no quanto as crianças iriam se divertir com em diversos lugares da cidade. Digitei uma mensagem para ela falando que Estela, Brianna e as crianças iam vir para Los Angeles, mas acabei não enviando.
Permaneci deitado no sofá cheirando o travesseiro de e me amaldiçoando por ter bebido de uma vez todas as bebidas e agora não ter forças para ir comprar mais.
Estela ligou para mim por volta das nove horas e ficou insistindo para que eu tomasse um banho e comesse algo. Eu não queria comer ou tomar banho. Eu queria era morrer, mas pelo visto ninguém deles conseguia entender isso.
Quando eu estava quase pegando no sono, minha mãe me ligou e tentei parecer o mais sóbrio possível.
- Oi, querido, como você está?
- Estou bem.
- Jura?
- Não. – suspirei – Eu quero morrer, mãe. Eu não tenho mais porque viver essa vida miserável e idiota que eu tenho.
- Querido, você não tem uma vida miserável. Vocês vão voltar, não agora, mas quem sabe mais para frente. Vocês dois se amam, ela não vai te esquecer tão fácil.
- Eu chorei na frente dela. – falei envergonhado – Eu disse que se ela entrasse no táxi eu ia me matar.
- com certeza não acreditou nisso.
- Mas eu queria que ela tivesse acreditado e não tivesse entrado no carro com aquele playboy imbecil.
- Quem?
- O chefe dela. Quer dizer, todo mundo diz que é chefe, mas, na verdade, ele é só o filho do verdadeiro chefe. Ele é um imbecilzinho.
- Pode ter certeza que ela não vai ficar com ele, .
- Por que não? Ele é rico, vai herdar uma empresa, tem dinheiro para levar ela para comer lagosta na costa italiana, e ele com certeza sabe a diferença entre vinho tinto, suave e seco.
- Você não tinha nada disso e ela ficou com você. O único país que você viajou foi o Canadá e ela adorava te ouvir falar sobre.
- Ela vivia querendo ir para Nova York passar o ano novo lá. – suspirei – Agora ela pode. Vai estar no lugar mais privilegiado da cidade com aquele imbecil, enquanto eu estarei na festa de algum amigo vendo ele e a namorada serem mais felizes do que eu.
- Filho, não adianta você ficar reclamando dessas coisas. Você realmente não conhece a se acha que ela vai ficar com esse moço apenas pelas coisas que ele tem.
- Eu sei que ela não vai ficar, mas eu prefiro pensar que talvez fiquem, porque assim quem sabe eu consigo passar a odiá-la mais do que eu me odeio. Ela me deixou aqui sozinho, no apartamento que ela escolheu, cheio de moveis que ela escolheu, com a merda da parede pintada da cor que ela quis. – falei chorando – O que eu estou fazendo da minha vida, mãe?
- , isso vai passar, não vai ser tão rápido igual você esperava, mas vai passar. Você pensa que eu também não odeio seu pai por ter morrido e me deixado sozinha na casa que ele construiu para criarmos nossos filhos? – ela disse chorando e minha vontade de morrer aumentou – Eu odeio ele, todos os dias eu peço para ter mais um momento com ele e dizer o quanto eu o odeio por ter ido embora e não ter me levado com ele, mas eu continuo a minha vida, porque apesar de eu achar que ele era a minha vida, ele não era. Ele foi apenas a pessoa que dividiu minha vida em três.
- Eu odeio ele. – resmunguei – Isso é tudo culpa dele. Ele quem insistiu para eu chamar ela para sair, eu estava muito feliz vendo ela de longe, mas não, ele precisava dizer que eu tinha que convidar ela para sair.
- Seu pai sabia o que fazia, querido. – ela disse carinhosamente – Ele podia ser velho, teimoso e um péssimo cozinheiro, mas ele ainda sim sabia o que fazia.
- Eu queria que ele estivesse aqui para insistir que eu devia pegar o primeiro avião para Nova York e ir vê-la.
- Você devia pegar o primeiro avião para Nova York, , vai atrás da sua garota. – ela disse chorando.
- Quem sabe amanhã quando eu não estiver mais bêbado e a vontade de me matar tenha passado. – suspirei.
- Promete que vai se cuidar? Que não vai ficar bebendo e esquecer de se alimentar?
- Prometo.
- Estela e Brianna vão para aí ficar com você alguns dias, elas vão cuidar muito bem de você, tudo bem?
- Eu pedi brownies da mãe da e a Brianna disse que ia me sufocar com eles. – falei magoado.
- Pode deixar, querido, eu coloco alguns escondidos na bolsa das crianças para você.
- Obrigado.
- Durma bem, ok? Eu te amo.
- Eu também te amo, mãe.
Finalmente algo que tinha conseguido fazer com que eu parasse de pensar cem por cento em e diminuísse esse número para noventa.
Minha mãe já tinha passado pela mesma coisa do que eu, embora fosse pior. Ela também tinha sido deixada por quem ela amava e também estava sozinha na casa que era deles dois. Se minha mãe com setenta e cinco anos estava conseguindo passar pela dor e sofrimento do luto, eu conseguiria sair da fossa por causa de um namoro.

Já fazia quase uma hora que eu estava esperando por Brianna, Estela e as crianças e a ponto de entrar em desespero por elas terem se perdido no aeroporto. Liguei para o celular delas, mas nenhuma atendia, até que vi minha mãe caminhar até mim com as crianças.
- Tio . – os dois correram até mim e me abraçaram com força.
- Vocês se perderam no caminho?
- Não, é que a gente quis ir no banheiro antes de descer do avião. – Louise disse.
- Oi, mãe. – abracei-a.
- Oi, meu amor. – ela acariciou meu rosto – Como você está?
- Bem, eu acho. – dei de ombros – Cadê a mãe dos pirralhos?
- Elas não iam vir, era só eu e as crianças, mas não queria que você ficasse preocupado comigo. – ela sorriu.
- Cadê a tia ? Ela está trabalhando? – Zack perguntou e Louise cutucou ele – Ih, foi mal. Eles disseram que não éramos para perguntar dela.
- Eles quem?
- Todo mundo. – Louise disse – Mamãe, papai, os papais do Zack.
- Está tudo bem perguntar dela. – baguncei seus cabelos – Eu nem sei como ela está. – suspirei – Vamos pegar as malas de vocês.
Desde que tinha ido embora – a cinco dias atrás –, ela não me deu qualquer notícia de sua existência. Eu até pensei em mandar uma mensagem ou ligar para perguntar como estavam as coisas, mas guardei esse pensamento dentro de mim. Fucei em seu Facebook e não encontrei nada novo, até o ‘relacionamento sério com ’ permanecia lá.
No caminho para casa, paramos no supermercado para fazer as compras do mês que eu procrastinei durante cinco dias para fazer. A comida tinha acabado toda no segundo dia, e quando estava com fome eu pedia alguma coisa ou ia comer um cachorro-quente na rua.
- O que você está precisando? – minha mãe disse enquanto olhava as prateleiras.
- Eu não sei. – suspirei.
- Como assim você não sabe? – ela me olhou.
- Eu apenas comprava as coisas que a colocava na lista.
- E que tipo de coisas tinha nessa lista?
- Absorventes, achocolatado, leite, frutas, coisas de limpeza.
- Ok. Vamos riscar os absorventes dessa lista e comprar essas outras coisas. – ela sorriu carinhosamente.
Deixei que ela fosse pegando as coisas e foi impossível não me lembrar de quando eu era mais novo e ia com ela fazer compras. Passamos pela parte de higiene intima e dei um riso frouxo ao finalmente me lembrar qual era o absorvente que pedia para comprar.
Peguei um pacote automaticamente, mas minha mãe olhou triste para mim e me toquei de que não era mais preciso comprar aquilo.
- Posso levar um? – Louise balançava um saco de cenourinhas.
- Pode. – peguei o saco de sua mão e coloquei no carrinho.
- Você vai levar a gente para passear amanhã?
- Sim, onde vocês querem ir?
- No museu. – Zack gritou – Tem um museu para crianças, a mamãe viu na internet.
- Tudo bem, então vamos no museu.
- A gente pode ir na praia depois? – Louise perguntou com os olhos brilhando.
- Ok, praia e museu.
- E você, mãe?
- Está tendo aquelas feiras anuais?
- Sim. A gente pode ir lá depois do museu e da praia se vocês dois ainda tiverem disposição.
- É só a gente comer bastante açúcar. – Zack disse esfregando as mãos uma na outra.
Deixei que as crianças fossem pegando tudo o que vissem pelo caminho enquanto minha mãe selecionava atentamente os produtos de limpeza e comida.
Prometi um sorvete de três bolas para que as crianças guardassem as compras e fiquei sentado no sofá enquanto minha mãe me colocava a par de tudo o que tinha acontecido em Seattle.
- Eu trouxe seus brownies. – ela tirou uma vasilha da bolsa.
- Obrigado. – tirei a tampa e enfiei um na boca – Ela falou algo?
- Perguntou se estava tudo bem com você, como você estava lidando com as coisas.
- Você podia ter falado que por enquanto ainda estou vivo. – falei com a boca cheia.
- Você não ligou para ela nenhuma vez? – neguei com a cabeça – E por que não?
- Porque se eu ligar, vou acabar me desesperando, então eu prefiro que ela me ligue, coisa que pelo visto não vai acontecer.
- Tenho certeza que ela deve estar ocupada com a mudança, só isso.
- Eu estou ocupando minha cabeça com outras coisas. – dei de ombros.
- Tipo o quê?
- Eu comecei a assistir Keeping Up With The Kardashians, aí eu fico sonhando que sou casado com uma das cinco e tenho dinheiro para comprar meu próprio jatinho para ir até a costa italiana comer lagosta.
- Você invocou com isso de lagosta e costa italiana. – ela riu.
- Você precisa ver ele, mãe, ele tem muita cara de que vai para esses lugares que nenhum dos funcionários tem dinheiro para ir e come essas coisas que custam o salário do mês.
- O lado bom é que não gosta de lagosta.
- Ela nunca comeu lagosta, pelo menos não que eu me lembre.
- Tenho certeza de que ela prefere ficar sentada no telhado da casa dela comendo coxa de peru com você do que lagosta.
Sorri ao lembrar de quando tínhamos feito isso dias antes de começarmos a namorar. Nós tínhamos feito tantas coisas juntos em Seattle e em Los Angeles, que qualquer lugar que eu fosse em uma das duas cidades, eu iria me lembrar dela.

Estava colocando Louise no carro para irmos embora da feira quando meu celular começou a tocar. Nem vi quem era, apenas passei o aparelho para que minha mãe o atendesse. Ela falou algo com a pessoa e nem prestei muita atenção, apenas tentei arrumar um jeito para que minha sobrinha pudesse dormir no banco de trás com o cinto de segurança.
- É a . – ela disse baixinho assim que entrei no carro.
- Quê?
- É a , ela quer falar com você.
Respirei fundo antes de pegar o celular da sua mão e falar o ‘alô’ mais feliz que eu tinha dentro de mim.
- Oi, , desculpa não ter te ligado antes, eu estava arrumando as coisas no meu apartamento.
- Sem problemas.
- Como estão as coisas? Sua mãe e as crianças estão passando alguns dias aí com você?
- Sim.
- Sua mãe disse que as crianças adoraram o Kidspace. – ela disse empolgada – Fala que eu mandei um beijo para eles.
- Pode deixar. – suspirei.
- Você está bem?
- Acho que sim, por enquanto.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos e os bons modos me obrigaram a perguntar sobre sua nova e maravilhosa vida na cidade que nunca dorme.
- E você? Está bem?
- Sim, sim. O escritório novo é bem legal, o pessoal também.
- Que bom. Já teve tempo de conhecer a cidade?
- Não, eu saia do trabalho e vinha direto para a casa terminar de arrumar as coisas. Acabei de esvaziar a última caixa agora e resolvi ligar para você.
- Ah.
Vi minha mãe me olhar apreensiva e respirei fundo, tentando esconder a vontade de chorar ao ouvir sua voz.
- E o apartamento? É legal?
- Na realidade ele é mais um flat, mas eu adorei. Fica numa parte mais calma da cidade, se é que existe essa palavra por aqui. – ela riu – O que você anda fazendo?
- Estou assistindo um reality show.
- Aposto que é aquele do Mark Wahlberg.
- É Keeping Up With The Kardashians. – falei derrotado.
Falar isso para ela era pior do que falar que quando ela foi embora eu fiquei enchendo a cara enquanto cheirava o travesseiro dela.
- Sério? – ela riu.
- Sim.
- Eu vi uma delas essa semana, aquela que é modelo. Eu estava indo para casa e ela estava saindo de um hotel.
- Ela é bonita igual na televisão?
- Não sei, quem vê ela na televisão é você. – ela riu – Você devia começar a assistir o do Mark, é bem legal.
- Talvez eu assista, eu ando um pouco ocupado essa semana.
Minha mãe me olhou confusa e eu apenas dei de ombros. Eu não estava ocupado com porcaria nenhuma, estava até conseguindo sair mais cedo do trabalho.
- Isso é bom. – ela disse contente – Ocupar a cabeça com.... outras coisas.
- Sim. – suspirei – Eu preciso desligar, as crianças estão dormindo no banco de trás.
- Ah, tudo bem. – ela disse triste – Agora que estou desocupada você pode me mandar mensagens ou ligar sempre que quiser.
- Ok. – deitei a cabeça no volante e comecei a chorar silenciosamente.
- , está tudo bem? – ela perguntou preocupada.
- Não, caralho, não está tudo bem. – gritei – Eu estou assistindo um reality show de um monte de mulheres que tem seus próprios aplicativos, quando você foi embora eu fiquei bebendo enquanto cheirava o seu travesseiro e pensava em morrer. Não tem nada bem aqui. Eu estou à beira de um colapso.
- Eu não devia ter te ligado. – ela disse chorando – Eu sinto muito.
- Você devia ter ligado sim. Devia ter me ligado no momento em que desceu da merda do avião para me falar ‘ei, ex-namorado, eu cheguei e está tudo bem’.
- Foi uma pena que eu não liguei, pois se eu falasse que estava tudo bem seria uma mentira. – ela gritou do outro lado – No momento em que entrei naquele táxi eu queria voltar.
- E por que não voltou?
- Porque eu preciso de um tempo para mim, , por isso.
- Ótimo. – gritei – Quando você decidir que não precisa mais de um tempo só para você, é só me ligar que eu vou correndo seja lá onde você esteja porque eu te amo e vou acabar me matando se eu ficar sem ouvir a sua voz.
- Eu te ligo amanhã. – ela disse rindo – E depois, e depois. Até você falar que não quer mais ouvir minha voz.
- Eu nunca vou falar isso. – suspirei – Eu tenho que ir.
- Tudo bem. Posso te ligar amanhã?
- Só não ligue na hora do meu programa.
- Ok. – ela gargalhou – Boa noite. Fica bem.
- Eu só vou ficar bem quando estiver com você, mas por enquanto eu vou levando.
- Tchau. – ela riu.
- Tchau... eu te amo.
- Também te amo. Até amanhã.
Deixei que ela desligasse a ligação e bati a cabeça no volante várias vezes. Minha mãe me puxou para um abraço e ficou sussurrando que ia ficar tudo bem.
- Eu não aguento mais, mãe. – falei chorando – Eu não aguento.
- Filho, vai passar, se acalma.
- Não vai passar. Parece que nunca vai passar. Quando a gente conversou no dia que ela foi embora e pensei que eu fosse conseguir, porque diferente do pai ela pelo menos estava viva, mas eu não consigo.
- Eu odeio te ver assim, . – ela começou a chorar também – Eu queria achar uma solução para o seu coraçãozinho partido.
- Eu quero que ela suma da minha vida, mas eu também não quero. Eu queria ter sido um namorado melhor, ter lutado mais pela gente, mas eu acabei aceitando tudo numa boa.
- Você fez o que era melhor para ela.
- E o que é melhor para mim? – olhei-a – O melhor para mim era ter ela do meu lado.
- Mas ela estaria infeliz se tivesse ficado, as coisas iam continuar as mesmas.
- Eu ia tentar mudar...
- E se você não conseguisse?
- Eu continuaria tentando.
- Uma hora as pessoas cansam e ela se cansou, filho, mas ela te ama e quem sabe logo vocês voltam.
- Droga, droga, droga. – soquei o volante do carro – Eu ficarei louco. – falei para mim mesmo.
- Você vai ficar perfeitamente bem, esquece isso. Tenta focar sua mente em outras coisas.
- Já tentei, mas não consigo. A única coisa que fica na minha cabeça é ela.
Tentei me focar no caminho até em casa e esquecer que tinha me ligado. Fiquei com ódio de mim mesmo por ter confessado para ela sobre ter cheirado seu travesseiro, mas aquilo foi um ato desesperado meu, tanto naquele dia quanto hoje.
Criei um mantra de que aquilo era só nas primeiras semanas e logo depois tudo ia voltar a ser como era... a cinco anos atrás.

Já tínhamos andado por toda a Times Square e visto várias coisas, e o que eu mais queria naquele momento era deitar e descansar. Charlotte e Riley ainda queriam continuar indo em outros lugares, por mais que Malcolm e eu insistíssemos para que continuássemos o passeio mais tarde.
- Deixem de ser velhos. – Riley entrelaçou seu braço no meu – Você vai ter uma boa recompensa mais tarde. – ela sussurrou maliciosa.
- Se a gente continuar a andar desse jeito, eu estarei muito cansado para receber a recompensa. – sussurrei em sua orelha e ela riu.
- Tudo bem, tudo bem, mas vocês vão ter que nos levar para jantar em um lugar bem melhor que Chipotle.
- Chega de comida mexicana por essa semana. – Charlotte riu.
Estávamos fazendo nosso caminho de volta ao hotel enquanto Riley sussurrava em meu ouvido todas as coisas que iriamos fazer na hora que chegássemos, quando eu a vi.
Já fazia quase três meses desde a última vez que eu a vi na portaria do meu antigo prédio prestes a entrar no táxi que a levaria para o aeroporto.
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Poderia ser qualquer pessoa, mas eu reconheceria em qualquer lugar. Seus cabelos longos agora estavam na altura dos ombros e ela vestia um macacão surrado e All Star. Ela estava rindo de algo que uma garota dizia para ela enquanto elas saiam da cafeteria. Fiquei parado no mesmo lugar, encarando-o a rir e caminhar em minha direção enquanto olhava para a amiga.
A garota pelo visto sabia quem eu era, pois assim que me viu seu sorriso sumiu e ela cutucou , que me olhou surpresa, sem saber se ficava feliz ou confusa.
- ? – ela disse com um sorriso enorme no rosto e senti algo estranho no peito – O que você está fazendo por aqui? – ela me abraçou.
- Nada demais. – dei de ombros.
- Uau, você está diferente. – ela passou a mão pelo meu rosto – Mudou o cabelo e deixou a barba crescer, gostei.
- Você também está diferente. E eu que pensava que você não conseguiria ficar mais bonita. – falei apaixonado e suas bochechas coraram.
- Essa é a Maya, a gente divide o apartamento.
- É um prazer finalmente te conhecer. – a garota estendeu a mão e a cumprimentei – sempre falou muito de você, nada de bom, óbvio. – ela riu.
- Não seria a se tivesse algo de bom para falar de mim. – falei rindo.
Eu não conseguia colocar em palavras o que eu estava sentindo. Nós não nos falávamos tinha dois meses e todas as notícias que eu tinha dela era por intermédio das minhas cunhadas que conversavam com ela sempre.
Meu coração estava disparado e comecei a sentir uma enorme necessidade de abraçá-la com força e nunca mais deixá-la partir.
Pude ouvir um pigarro ao meu lado e vi Riley com uma cara de poucos amigos para .
- Ah, , esse é o Malcolm e a namorada dele, Charlotte, e essa é Riley...
- A namorada. – ela disse cínica e estendeu a mão para que a cumprimentou sem nem se abalar.
- Prazer conhecê-los.
Charlotte e Malcolm sabiam sobre , eu tinha os conhecidos semanas depois que ela foi embora, e Charlotte insistiu que eu não falasse sobre para nenhuma garota que eu tivesse intenção de transar, pois mais fofo que pudesse parecer um cara chorando por outra garota, isso não me ajudaria a levar ninguém para a cama.
- Você vai ficar por aqui por quanto tempo? – ela perguntou sem tirar o sorriso do rosto.
- Até o fim dessa semana. – Riley entrelaçou seu braço no meu e apoiou sua cabeça em meu ombro.
- Legal, nós podemos marcar algo.
- Claro. – falei animado.
- Você pode me ligar, meu número continua o mesmo.
- Pode deixar.
- Eu vou esperar, hein. – ela riu e me senti como um adolescente ao ver a garota dos sonhos.
Nos despedimos rapidamente e fiquei toda hora olhando para trás para vê-la. Eu não conseguia acreditar. Nova York era grande suficiente e quando viemos para cá eu nem tinha pensado na possibilidade de que acabaria a encontrando.
- Quem era ela? – Riley disse irritada – Só eu que percebi que ela estava claramente dando em cima de você?
Olhei para Malcolm que revirou os olhos. Eles dois não gostavam nem um pouco de Riley, mas a aturavam porque tinha sido a única garota que consegui manter por mais de uma semana. A ideia toda de vir para Nova York tinha sido dela, e pedi para que Charlotte e Malcolm fossem conosco.
- Ela é minha ex.... – eu estava prestes a falar a verdade quando Charlotte me interrompeu.
- Parceira de laboratório da escola, não é? Você falou dela algumas vezes e de como você deixava que ela fizesse tudo sozinha.
- Sim. – assenti.
- Deve ser daquelas garotas que tem uma quedinha por alguém na época de escola e não consegue esquecer a pessoa nunca mais.
Se ela soubesse que quem gostou de quem na época da escola e não conseguiu mais esquecer era eu, isso provavelmente resultaria em uma briga que eu preferia evitar, dado ao fato de não sermos namorados.
Ela foi o caminho todo falando sobre como tinha dado em cima de mim descaradamente e nem se importou quando ela disse que era minha namorada. Aquele parecia o momento perfeito para eu falar para ela que nós não éramos um casal, mas fiquei quieto.
Quando chegamos ao hotel, Riley foi tomar banho e aproveitei para mandar uma mensagem aos meus irmãos contando sobre meu inesperado encontro com .
- O que você está fazendo? – Riley se deitou ao meu lado enrolada na toalha.
- Nada. – bloqueei a tela do celular e coloquei no criado-mudo.
- Eu tenho uma ideia do que podemos fazer. – ela se levantou e deixou a toalha cair no chão.
Todos os meus atos tinham sido automáticos. Beijá-la, colocar a camisinha, tudo. Eu não conseguia tirar da minha cabeça e também não queria. Fiquei lembrando do seu sorriso ao meu ver, seu novo corte de cabelo, o macacão surrado. Repassei aquele momento várias e várias vezes na minha cabeça.
Riley estava dormindo ao meu lado e corri para o banheiro tomar banho. Antes de entrar, mandei uma mensagem para perguntando se ela estava livre para sairmos hoje à noite e fiquei embaixo da água tentando não parecer desesperado pela sua resposta. Assim que o celular fez barulho, sai tropeçando em tudo para ver se ela tinha respondido.
“O que vocês conversaram? “ Tyler perguntou. Queria matá-lo, mas apenas respondi que não tinha sido nada demais.
Voltei para o banho e novamente meu celular notificou uma nova mensagem, mas dessa vez apenas ignorei, pois era obviamente Tyler.
Coloquei uma roupa para depois ir ver a mensagem e meu coração disparou ao ver o nome de . Respirei fundo algumas vezes e tentei me acalmar, eu precisava parecer normal, como se ter recebido uma mensagem dela não tivesse me deixado eufórico.
“Não tenho nada, o que você acha de nos encontrarmos as sete naquela mesma cafeteria de hoje mais cedo e depois irmos para algum lugar? “
Eu não me importava para onde nós iriamos contanto que eu pudesse passar algumas poucas horas ao seu lado e ouvi-la contar como estava sua vida. Respondi que tudo bem e olhei no relógio para ver quanto tempo faltava. Uma hora e meia. A hora e meia mais longa de toda a minha vida.
Fui até o quarto de Malcolm e ele me olhou com um sorriso no rosto, saindo da frente para que eu entrasse.
- Parece que alguém ganhou na loteria, Charlotte.
- Não consigo nem imaginar quem. – ela apareceu rindo – Porque você está com essa carinha alegre, o que aconteceu?
- Eu vou sair com a e preciso que vocês inventem algo para a Riley.
- Que tal ‘ele saiu com a ex-namorada dele da qual ele ainda não conseguiu superar’?
- Acho que ela não vai acreditar nisso. – falei rindo – Eu preciso estar com um de vocês, do contrário ela vai saber que eu sai com a .
- Em nome da nossa amizade, eu me escondo no quarto e peço para Charlotte dizer que nós dois saímos, mas você vai ficar me devendo uma das grandes.
- Obrigado, cara. – abracei-o com força.
- Agora vai lá encontrar sua garota. – ele me deu um tapinha nas costas.
Por mais que ainda tivesse bastante tempo até as sete, eu fique impaciente dentro do elevador que resolveu parar em todos os andares. Pensei em pegar um táxi para chegar mais rápido, mas isso só iria me deixar mais impaciente enquanto eu esperava com ela, então resolvi andar até a cafeteria o menos desesperado que eu conseguia.
Olhei no relógio quando estava quase chegando e faltavam quarenta minutos para as sete, mas me surpreendi ao ver parada em frente ao lugar olhando impacientemente seu celular.
- Oi. – falei assim que me aproximei dela.
olhou para mim com um sorriso enorme e me abraçou com força. Acariciei seus cabelos e senti seu cheiro gostoso que eu não conseguia esquecer.
- Está me esperando a muito tempo?
- Não. – ela negou envergonhada – Estava aqui por perto e ai resolvi te esperar do que voltar para casa.
- Entendi. Que lugar você sugere para irmos?
- Ia falar para comermos comida tailandesa, mas eu sei que você odeia. – ela riu – Tem um lugar muito legal aqui por perto com comida japonesa, o que você acha?
- Tudo bem. – sorri.
Durante o curto caminho ela foi contando sobre ter se mudado de seu flat porque não conseguia ficar lá sozinha e que encontrar Maya tinha sido a única coisa realmente boa que aconteceu com ela desde que mudou para Nova York.
Nos sentamos em uma mesa de canto e pedimos a mesma coisa de sempre.
- Como está sua vida em Los Angeles? – ela me olhou maravilhada.
- Está bem. Finalmente parei de usar o cheiro do seu travesseiro como sonífero. – falei descontraidamente e ela gargalhou.
- Eu trouxe algumas roupas suas na mala e no começo eu dormia com elas.
- Fico feliz em saber que não sou o único maníaco.
- Eu não fazia ideia de que você estava namorando. – ela falou meio magoada – Brianna e Estela não me contaram. A quanto tempo vocês estão juntos?
- A Riley não é minha namorada. – neguei.
- Mas ela...
- Ela quer, eu acho, mas eu não. – dei de ombros – É só sexo casual.
- Entendi. – ela cutucou a mesa com a unha e notei que ela parecia triste.
- Mas e você? Está namorando?
- Não. – ela riu – Quando eu disse que queria um tempo para mim eu falei a verdade. Não quero um relacionamento com ninguém por um tempo.
- No início as crianças perguntavam bastante de você.
- Eu os vi alguns dias atrás.
- Viu? – perguntei confuso.
- Sim, ninguém te falou? – ela me encarou e neguei com a cabeça – Eu vou para Seattle a cada quinze dias, ai sempre dou uma passada na casa da sua mãe para ver ela e as crianças.
Fiquei me perguntando o porquê de ninguém ter me falado que minha ex-namorada fazia visitas frequentes a casa da minha mãe. Eu tinha que fazer chantagem emocional para Estela e Brianna me falarem sobre , quando na verdade as duas não só conversavam com ela por telefone como também pessoalmente.
- Acho que devem ter até esquecido. – ela disse com um sorriso tenso nos lábios.
- É, talvez. – falei meio aéreo – E como está o trabalho?
- Ótimo. – ela sorriu – Apesar de ser a mesma empresa, as coisas aqui são bem diferentes e mais legais.
- Que bom. Fico feliz que as coisas estejam boas para você.
- Sua mãe disse que você mudou de apartamento.
- Sim, tem umas três semanas mais ou menos. Achei melhor ir para um lugar menor já que era só eu. – falei tentando mostrar que aquilo não era uma provocação – Quando foi a última vez que você foi para Seattle?
- No último fim de semana.
Interessante. Eu estava em Seattle no último fim de semana e ninguém me disse bosta nenhuma de que estava por lá e continuava frequentando a casa dos meus pais. O que mais minha família andava escondendo de mim?
Durante a noite toda eu não conseguia tirar da cabeça que eles sabiam como tinha passado os últimos meses e as únicas coisas que eles falavam para mim era apenas que ela estava bem.
Caminhei com ela até seu apartamento que ficava ali por perto e pensei na possibilidade dela me convidar para subir e quem sabe algo mais, mas conversamos rapidamente na entrada do prédio e só.
- Não some. – ela brincou com meus cabelos.
- Pode deixar. – sorri tentando parecer o menos apaixonado possível.
- Senti falta disso. Ter uma noite legal com você e apenas conversar sobre a vida.
- Nós costumávamos fazer isso com frequência.
- Sim. – ela assentiu triste – Eu tenho que subir, preciso acordar cedo amanhã.
- Tudo bem. – sorri triste.
- Quero te ver mais uma vez antes de você ir embora, hein. – ela cutucou minha barriga.
- Eu te ligo... ou você me liga... não sei. – cocei a nuca.
- Claro. – ela sorriu – A gente se vê. – ela deu um beijo estalado na minha bochecha
Fiquei olhando para ela feito um bobo enquanto ela esperava o elevador e depois sumiu. Suspirei apaixonado e sem conseguir acreditar no que tinha acontecido. Tudo bem que não tinha sido nada demais, foi apenas um jantar entre amigos e só isso, por mais que eu quisesse que fosse só um jantar, não ia deixar que nada demais acontecesse.
Quando entrei no quarto do hotel, dei de cara com uma Riley furiosa andando para todos os lados sem parar.
- Oi. – falei num suspiro.
- Onde você estava? – ela marchou até mim.
- Eu saí com o Malcolm. – dei de ombros e ela deu um soco em meu peito – O que foi?
- Não mente para mim, , onde você estava? – ela gritou.
- Já disse.
- Engraçado que eu acabei encontrando ele saindo escondido do quarto e olhou super assustado para mim, como se estivesse escondendo algo.
- Acho que você deveria perguntar isso para ele.
Comecei a tirar a roupa para ir dormir, mas Riley parecia não querer acabar com aquilo. Era como se ela quisesse muito discutir comigo. Tudo bem que eu tinha mentido e continuava com a minha mentira, mas se ela já sabia que eu estava mentindo, não podia apenas aceitar e pronto? Não éramos um casal e eu não tinha que dar satisfações para ela do mesmo jeito que ela não precisava dar para mim.
- Você foi se encontrar com ela, não foi? – ela se ajoelhou ao meu lado assim que me enfiei embaixo dos lençóis.
- Ela quem? Seja mais especifica. – agora eu precisava admitir que estava dando corda para ela brigar comigo.
- A garota que a gente encontrou hoje, a que ficou dando em cima de você. – ela suspirou.
- Sim. – respirei fundo.
Eu precisava me preparar mentalmente para aquilo. Minha noite tinha sido incrível, por mais que eu tivesse descoberto o segredinho sórdido da minha família, a noite ainda tinha sido ótima e eu não queria estragá-la por causa de Riley e seu ciúme sem sentido.
- Por que você mentiu para mim? – ela disse chorosa – Por que é que você foi encontrar essa garota, ?
- Eu menti para você, porque você ia ficar com ciúme bobo.
- Claro que eu ia, você estaria lá se divertindo com uma garota qualquer enquanto eu ficava aqui chupando dedo.
- Não tem porque você ficar assim, Riley, de verdade.
- Eu vi o jeito que você olhou para ela. – ela se sentou na cama e colocou a cabeça entre as pernas.
- Do que você está falando?
- Eu vi. Você parecia todo apaixonado e encantado por ela naquele macacão enquanto ela sorria para você.
- Claro que não. – neguei.
- Você nunca me olha assim. – ela disse magoada – Na verdade você me olha do mesmo jeito que você olha para qualquer mulher... como se você soubesse que não somos boas para você.
- Para com isso. – falei culpado – Eu não olho desse jeito para você. – segurei seu rosto.
- Olha sim. – ela me encarou com os olhos marejados – Você só não percebe. Foi horrível ver você olhar para ela daquele jeito.
- Eu sinto muito. – acariciei sua bochecha.
- Eu odeio essa sensação de insegurança que eu sinto em relação a você. – ela suspirou – Eu realmente gosto de você, , para mim não é só sexo, e embora eu sei que para você seja só isso, eu continuo porque fico com a esperança de que um dia você sei lá, queira tornar isso algo mais.
Tentei encontrar algo para falar, mas eu não tinha nada para dizer. Ela tinha razão, aquilo para mim era só sexo, mas era horrível pensar que ela continuava com aquilo por gostar de mim e tentar um dia se tornar minha namorada ou coisa do tipo.
- Sabe, desde que a gente se conheceu eu nunca resolvi procurar nada sobre você. – ela me olhou triste – Eu simplesmente não me interessava em saber quem eram seus amigos do Facebook ou o que você costumava fazer antes da gente se conhecer. Eu apenas absorvia toda a informação que você me falava sobre você e elas eram realmente poucas.
- Mas eram todas verdades. – falei na defensiva.
- Quando eu vi o Malcolm daquele jeito, eu tive certeza de que você tinha ido se encontrar com ela. – Riley suspirou – Por que você nunca me contou que tinha dois sobrinhos? Eles são lindos. – ela sorriu magoada.
- Acho que nunca surgiu a oportunidade. – encolhi os ombros.
- Mas você me contou que tinha dois irmãos, embora nunca tenha falado o nome deles. E também me contou que seu pai faleceu tem pouco tempo.
- Zack e Louise. – sorri ao lembrar deles.
- Oi? – ela me olhou confusa.
- São os meus sobrinhos. – sorri carinhoso para ela – O Zack tem dez e é filho do meu irmão mais velho, Alfie. A Louise tem seis e é filha do meu irmão do meio, Tyler.
- Eu... eu vi a foto deles. – ela sorriu envergonhada – Eu fui procurar seu Facebook e vi uma foto de vocês juntos no aniversário da sua mãe.
Se ela tinha visto as coisas do meu perfil, ela provavelmente também tinha visto as fotos que eu tinha com e nenhum dos dois nunca apagou.
- Vocês não precisavam ter mentido. – ela abaixou a cabeça – Ex-parceira de laboratório foi bastante forçado.
- Foi mal. – cocei a nuca envergonhado.
- Por quanto tempo vocês ficaram juntos?
- Cinco anos. – suspirei ao lembrar – Nós moramos juntos por uns três anos, eu acho...
- Foi por isso que você se mudou? – ela perguntou triste – Para tentar esquecer ela?
- Eu mudei, porque por mais que eu tentasse, eu não conseguia tirar o cheiro dela daquele lugar. Na verdade, eu acho que o cheiro em si saiu, mas ele estava impregnado em mim.
Nós ficamos em um silêncio horrível por vários minutos e eu queria falar algo idiota que a fizesse sorrir e esquecer de tudo aquilo, mas como eu ia fazê-la esquecer daquilo sendo que eu também não conseguia?
- Você ainda a ama.
- O quê?
- Eu disse que você ainda a ama. – Riley me olhou com um sorriso no rosto – Você a olhou de um jeito apaixonado e chegou aqui todo feliz. É obvio que você a ama.
- Queria poder dizer que não, mas eu acho que nunca vou conseguir deixar de amá-la. – confessei.
- Vou te deixar descansar. – ela se levantou e caminhou para o banheiro.
Comecei a ficar com peso na consciência ao pensar que ela poderia estar chorando nesse instante, até ponderei se era uma boa ideia ir até lá e tentar conversar, mas tudo o que eu queria naquele momento era dormir.

- Bom dia. – Riley disse com um sorriso no rosto.
- Bom dia.
Ela estava normal, era como se nossa conversa noite passada não tivesse acontecido. Seus olhos não estavam vermelhos e inchados ou qualquer coisa do tipo, o que significava que ela não tinha chorado, apenas ficou um tempo no banheiro me evitando.
- O que você quer fazer hoje? – ela perguntou enquanto digitava algo no celular.
- Não sei. – falei surpreso.
Eu realmente esperava que ela fosse me ignorar ou até ir embora, mas Riley estava muito normal, o que estava me dando um pouco de medo.
- Você está bem? – acariciei a mão que estava apoiada em sua coxa.
- Sim. – ela me olhou rapidamente com um sorriso – Por quê?
- É que sei lá, eu estava esperando que você quisesse me matar ou coisa do tipo.
- Claro que não. – ela riu – Não vou tentar insistir em algo que não vai dar certo e também não vou estragar nossa viagem por isso.
Não consegui esconder o quão surpreso fiquei. Eu realmente subestimei Riley.
- E então, o que você quer fazer hoje? – ela me olhou com um sorriso.
Eu mentiria se dissesse que não procurei por em todos os lugares que fomos pela cidade. Enquanto Charlotte e Riley entraram em uma loja para ver algumas roupas, contei para Malcolm sobre a conversa da noite passada e ele pareceu tão surpreso quanto eu.
Mandei uma mensagem para na esperança de que talvez pudéssemos almoçar juntos, mas a falta de resposta dela só me deixou angustiado. Era óbvio que eu não a tinha esquecido e ia ser difícil esquecer, mas eu tinha aprendido a guardar tudo aquilo que me fazia pensar nela vinte e quatro horas por dia.
Fiquei olhando no celular a todo o momento esperando que ela me respondesse, mas ela não o fez. Antes de dormir, fiquei xeretando em seu Facebook como se aquilo fosse fazer com que ela me respondesse mais rápido.
Encontrei fotos com amigos em festas, bares, piquenique, jantares e até em sessões de cinema no que parecia ser o novo apartamento dela. Tentei imaginar a decoração da sua casa e do seu quarto, se ela tinha colocado alguma foto nossa em algum canto do lugar assim como eu fiz logo depois que me mudei.
Achei uma foto que Maya postou dela quatro dias atrás. estava sentada em frente ao computador no que eu tinha certeza que era seu quarto. Ela estava com os cabelos presos no topo da cabeça e óculos de armação grossa enquanto olhava atentamente para o computador. ‘Funcionária do mês’ estava escrito na legenda. Comecei a analisar todos os detalhes que eu conseguia ver do cômodo. Papel de parede florido, pôsteres de filmes na parede em frente a ela, algumas plantinhas em cima da mesa, uma pilha pequena de papeis... e uma foto meio borrada de duas pessoas em uma moldura ao lado da luminária.
Procurei no meu celular apenas para confirmar o que eu tinha quase certeza. Aquela foto era a mesma que ela tinha tirado nossa com o letreiro de Hollywood ao fundo na vez que ela insistiu para irmos caminhar por aquela parte da cidade.
Fiz um pouco de esforço para não me iludir com aquilo. Era apenas uma foto, não era nada demais. Era apenas uma foto com o ex-namorado dela que ainda a amava e quase entrou em depressão por causa dela. Não era nada demais.
A primeira coisa que fiz ao acordar foi olhar meu celular em busca de uma resposta de , mas a única coisa que tinha era uma mensagem da minha mãe.
“Como está a viagem? “
“Bem. Nós todos precisamos conversar quando eu voltar para casa”.
“Aconteceu algo, querido? “.
“Não sei, me digam vocês”.

Acho que minha mãe entendeu perfeitamente o que eu quis dizer com aquilo, porque ela não respondeu minha mensagem. Meus irmãos começaram a me enviar mensagens loucamente querendo saber como o que eu estava, mas suas esposas não conseguiam ser como eles. Elas foram muito claras ao perguntar o que eu queria conversar quando voltasse para minha casa. Eu podia simplesmente falar, mas eu não queria discutir com nenhum deles agora quando meu maior problema era ver mais uma vez antes de ir embora no dia seguinte.
Malcolm e eu decidimos dar uma volta pela cidade enquanto Charlotte e Riley resolveram fazer um dia de compras em algumas boutiques que elas insistiram que estava em liquidação.
Nós dois fomos em loja de Legos e acabei comprando vários com a desculpa de que eram para meus sobrinhos. Assim que viramos a esquina, vi e Ryan caminhando em nossa direção conversando animadamente. Ela tinha o braço entrelaçado no dele e ria de algo que ele falava. Ver aquilo tinha sido um tiro no meu peito e eu não duvidava de que a qualquer momento cairia no chão com dor.
Até tentei fingir que não tinha visto os dois, mas eu estava com uma cara tão de bosta que Malcolm pediu para eu disfarçar quando os dois se aproximaram.
- Oi, . – disse empolgada.
- Oi. – falei sem vontade.
- Desculpa não ter respondido sua mensagem ontem. Fiquei cheia de coisas o dia todo no trabalho e a noite ainda tive um compromisso.
Ela parecia realmente triste, mas eu não ia me deixar enganar por aquela carinha, ou ia?
- Sem problemas. – sorri forçado.
- Ryan, você lembra do , não é? – ela olhou para o idiota que sorriu cínico para mim e assentiu.
- Quanto tempo. – ele estendeu a mão para mim e a apertei com força. Meu pai sempre dizia que um aperto de mão firme impunha respeito, mas eu só queria mostrar que aquela ali era a minha garota.
- Que horas você vai embora amanhã? – ela perguntou curiosa.
- Na parte da noite.
- O que você acha de sairmos para beber algo hoje à noite? – ela disse com um enorme sorriso e só aquilo foi suficiente para eu esquecer por alguns segundos que Ryan estava ali.
- Hoje nós temos o jantar o pessoal de Vancouver. – Ryan disse e ela deu um tapinha na testa. Foi impossível não notar o tom que ele usou para falar ‘nós’, como se eles fossem a merda de um casal.
- É verdade. – ela deu uma risadinha – Você está livre amanhã na hora do almoço?
- Amanhã não dá. – fingi estar triste – Marquei de ir com Riley ao Jardim Botânico do Brooklyn, mas te ligo se tiver um tempo livre antes de ir embora.
Agora eu precisava admitir que tinha pegado pesado. sempre dizia que queria que quando fossemos para Nova York, ela gostaria de que fizéssemos um passeio romântico pelo Jardim Botânico e que se eu tivesse alguma intenção de pedi-la em casamento, lá seria o lugar perfeito para isso.
Partiu meu coração ao vê-la tentar esconder sua expressão de decepção, mas agora não tinha mais nada que eu pudesse fazer.
- Ah, tudo bem. – ela disse com um sorriso triste – Espero que ela goste, parece ser legal.
- Você nunca foi lá desde que se mudou? – Malcolm perguntou curioso e negou com a cabeça.
- Preciso te levar lá o mais rápido possível. – Ryan disse com seu jeito babaca e apenas sorriu.
Eu queria me matar ali mesmo na frente dela. Eu tentei parecer legal e que não me importava de ir embora ser sair com ela antes, mas no final dei uma ideia de encontro perfeito para aquele otário ter com a minha namorada.
- Vou esperar sua ligação. – ela disse com um sorrisinho fraco.
Malcolm me salvou ao dizer que precisamos ir, porque eu estava prestes a dizer que eu queria que ela fosse comigo na porcaria do jardim, e não com aquele imbecil.
- O que foi isso? – Malcolm perguntou quando já estávamos longe o suficiente deles.
- Não sei. – respirei fundo – Eu fiquei com ciúmes do jeito que aquele idiota falou que eles tinham um jantar.
- Ele é o novo namorado dela? – ele me olhou curioso – Ela não te disse que estava tendo um tempo só para ela?
- Disse, mas acho que ela só falou isso para não me deixar triste. – suspirei.
- Você conhece ele?
- É o filho do dono da empresa que ela trabalha. Ele vivia dando em cima dela, acho que agora que eu estou fora da vida dela ele resolveu aproveitar a oportunidade.
- Se te consola, isso significa que ela não está mais triste com o término de vocês dois e agora está feliz.
- Eu a quero feliz comigo, não com esse otário. – resmunguei – Ela sempre quis ir nessa porcaria de Jardim Botânico. Por que eu falei isso? Eu podia ter falado qualquer outro lugar.
- Você se desesperou, é normal.
- Ela deve estar me odiando. – baguncei os cabelos frustrados – Eu falei que o que eu tinha com Riley era só sexo casual, mas agora ela deve estar pensando que falei isso para poder levar ela para cama.
- Tomara que não.

Acordei super cedo no dia seguinte e fiz uma lista de ‘prós’ e ‘contras’ em ligar para e convidá-la para almoçar.
- O que você está fazendo? – Riley se sentou ao meu lado apenas de roupão.
- Uma lista. – continuei digitando no celular.
- Hum. Sobre?
- Prós e contras em convidar para almoçar comigo.
- Convida, você não tem nada a perder mesmo. – ela deixou a frase no ar e foi se vestir.
Riley tinha razão, eu não tinha mesmo nada a perder.
Disquei o número dela que eu ainda lembrava como se fosse meu nome e senti meu coração se acelerar mais e mais a cada toque. Comecei a pensar que ela devia estar com raiva de mim e por isso não me atendeu, então resolvi ligar mais uma vez.
- Oi, . – senti meu corpo mais leve ao ouvir sua voz.
- Oi. – falei nervoso – Tudo bem?
- Estou cheia de coisas para fazer. – ela deu uma risadinha – E você?
- Estou bem... eu fiquei pensando e.... será que você quer ir almoçar comigo?
- Claro. – ela falou empolgada – Você tem algum lugar em mente?
- Não. – dei uma risadinha nervosa e ela riu junto.
- Vou te levar para um restaurante tailandês que eu tenho certeza que vai mudar sua opinião sobre comida tailandesa.
- Duvido.
- Quer apostar comigo, ? – ela riu.
- Sim.
- Tudo bem. – ela riu – Eu saio daqui a meia-hora, vou te enviar o endereço do lugar, fica aqui pertinho, ok?
- Ok.
- A gente se vê.
Tentei não fazer um grande caso daquilo, mas eu estava ansioso, empolgado e desesperado. Eu precisava causar uma boa impressão e mostrar para ela que eu tinha mudado e que ela podia me dar uma chance que não ia se arrepender, tudo isso sem deixar muito na cara minhas intenções.
Tomei um banho rápido e fiquei muito tempo escolhendo que roupa vestir. Riley estava sentada na cama e apenas ficou me observando com um sorriso no rosto enquanto eu olhava frustrado para tudo o que eu tinha trazido.
- Não é como se fosse o primeiro encontro de vocês dois. – ela riu.
- Mesmo assim. – resmunguei.
- Da licença. – ela me empurrou para o lado e começou a fuçar na minha mala – Vai arrumar o cabelo enquanto isso. – ela gesticulou com a mão sem nem me olhar.
Arrumei o cabelo o menos bagunçado possível e de um jeito que fingia que eu não tinha passado muito tempo tentando me arrumar.
Quando voltei para o quarto, encontrei um jeans preto e uma camisa social branca com um par de All Star.
- Isso é para você ver que um look simples e casual estava ali o tempo todo, mas você ficou cego pelo desespero. – ela disse rindo – Agora se veste logo.
Coloquei a roupa e fiquei me olhando no espelho para ver se estava tudo certo. Riley veio até mim e dobrou as mangas da camisa até meu cotovelo, arrumando em seguida a gola com a maior paciência do mundo.
- Está lindo. – ela deu um tapinha em meu peito.
- Você acha que ela vai olhar para mim e ver o quão gato eu estou e aí insistir para voltarmos? – falei convencido e ela revirou os olhos.
- Acho que ela vai ver que você se esforçou para se arrumar para o almoço de vocês, apenas isso.
- Tudo bem. – suspirei – Me deseje sorte.
- Você já está pedindo demais de mim. – ela deu uma risadinha triste.
Peguei meu celular e a carteira em cima do criado-mudo e dei um beijo estalado em sua bochecha antes de sair.
Fui pedindo informações para as pessoas durante todo o caminho, porque meu celular estava insistindo em me fazer tomar o caminho mais longo. Assim que cheguei na frente do restaurante, pude ver virar a esquina enquanto falava com alguém no celular. Ela acenou para mim e desligou a ligação.
- Foi fácil chegar até aqui? – ela disse depois de beijar meu rosto.
- Sim. – falei descontraidamente. Não foi como se meu celular indicasse para que eu desse quase uma volta por Nova York inteira até chegar.
- Eu reservei uma mesa para a gente, vem. – ela entrelaçou seus dedos no meu e me guiou para dentro.
A decoração do lugar era praticamente a mesma dos outros restaurantes tailandeses que nós íamos em Los Angeles. Ela falou com a hostess que nos levou até uma mesa no que parecia ser uma enorme varanda. Deixei que escolhesse, afinal, era ela quem sempre estava ali e eu não era o maior fã desse tipo de coisa.
- O que aconteceu com seu passeio no Jardim Botânico? – ela perguntou quando o garçom saiu.
- Não tinha passeio nenhum. – falei envergonhado e ela alargou o sorriso, prestes a tirar sarro de mim – Eu só falei aquilo porque fiquei irritado do jeito que aquele babaca falou do jantar.
- Não teve jantar nenhum. – ela encolheu os ombros.
- Por que não?
- Eu não estava a fim. Até pensei em te ligar, mas não queria que você pensasse que eu estava desesperada para te ver ou coisa do tipo. – ela disse com as bochechas coradas.
- Olha o meu cabelo. – apontei – Eu tentei arrumar de um jeito que não parecesse que eu não tinha ficado me arrumando muito.
- Gostei da camisa. – ela sorriu.
- A Riley quem escolheu. – suspirei – Nenhuma roupa parecia boa o suficiente para eu vir almoçar com você.
- Você fica bonito de qualquer jeito, não precisava ter se arrumado tanto. – ela olhou em meus olhos – Eu sai do trabalho na hora em que você me ligou e corri para casa tomar um banho e trocar de roupa. – ela riu.
- Quem você está querendo impressionar, ?
- Ninguém. – ela riu – É só que as duas vezes que nos encontramos na rua eu estava com as piores roupas que eu tinha, ai não queria que você pensasse que virei hippie ou mendiga depois de ter mudado para cá.
- Eu sei que você quis me impressionar, tudo bem. – coloquei as mãos atrás da cabeça – Eu não vou ficar me gabando. – suas bochechas ficaram vermelhas e ela abaixou a cabeça – Até gostei do seu macacão rasgado. – confessei.
- Comprei-o por dois dólares em um brechó. – ela riu – E é bastante confortável se você quer saber.
- Não duvido. – olhei-a apaixonado – E o babaca do Ryan? O que disse sobre você não ter comparecido ao jantar com o pessoal de Vancouver? – imitei-o e ela começou a rir.
- Ele não tem o que falar. – ela deu de ombros – Ele não é meu chefe.
- Mas é seu namorado ou coisa assim. – tentei não demonstrar que estava com ciúmes, mas ela me olhou com uma sobrancelha arqueada.
- Repetindo para você não esquecer: quando eu disse que queria um tempo para mim eu quis realmente dizer aquilo. – ela se apoiou no cotovelo – E faz com que você se sinta melhor, eu não transei com ninguém ou beijei qualquer outra boca que não fosse a sua desde que cheguei aqui.
- Tudo bem, vou tentar não tomar isso como uma indireta. – falei rindo e ela assentiu.
- Cada um supera um relacionamento do jeito que pode. – ela brincou com os guardanapos de papel na mesa.
- E quem disse que eu superei? – falei sério e ela me encarou.
Agradeci pela comida ter chegado antes que ela respondesse algo, porque se eu tivesse que falar sobre não ter superado ela, eu ia chorar e implorar para voltarmos.
esperou que eu experimentasse a comida antes dela começar a comer e começou a rir quando eu fiz careta.
- E aí? – ela falou com um sorriso.
- Não é tão ruim quanto parece. – coloquei mais um pouco na boca.
- Isso é pato cru com molho de peixe, suco de limão e mais umas outras coisinhas.
- Não tem fogão aqui não? – falei descontraído e ela riu.
- Para de graça. Eu pedi a coisa mais “normal” possível para você.
- Pato cru não é normal. – falei com a boca cheia – Mas tudo bem, até que é meio gostoso se você não focar no fato de que tem molho de peixe.
- Sim. – ela sorriu.
A conversa do almoço tinha sido melhor que a do jantar, e tentei não ficar olhando no relógio a toda hora para ver quanto tempo faltava até ela voltar para o trabalho.
insistiu que para a sobremesa nós precisávamos comer um o sorvete de unicórnio que estava sendo uma grande febre na cidade e não me incomodei nem um pouco de ficarmos meia-hora na fila para poder fazer nosso pedido.
Nos sentamos em um dos bancos na entrada do Central Park e tentei não parecer tão apaixonado a cada careta que ela fazia.
- Isso é muito bom. – ela riu – Só pode ter sido feito por unicórnios de verdade.
- Preciso vir para cá mais vezes só por causa desse sorvete. – falei com a boca cheia.
- Você realmente deveria vir para Nova York mais vezes. – ela me olhou – Nós sempre falávamos que iriamos vir para cá, mas nunca viemos.
- Está ansiosa para passar o ano novo aqui?
- Eu vou para casa dos meus pais passar o feriado com eles.
- Mas você sempre quis...
- Não tem sentido eu passar o ano novo em Nova York se não for com você, . – ela me olhou triste – Eu sempre quis isso, realmente, mas eu queria que fosse nós dois, não apenas eu.
Fiquei sem saber o que responder com aquilo. Uma parte de mim dizia que era minha culpa ter sido um idiota que resultou no fim do nosso namoro e agora ela não tinha vontade de fazer algo que sempre quis por minha culpa. A outra parte parecia implorar para que eu a abraçasse e dissesse que se ela quisesse eu passaria o ano novo ali com ela.
- Já está na minha hora de ir. – ela se levantou e arrumou sua saia.
- Eu sinto sua falta. – suspirei.
Passei minhas mãos pela sua cintura e trouxe seu corpo para perto do meu.
- Eu sinto sua falta todos os dias. – coloquei seu cabelo atrás da orelha.
- Eu também sinto, , mas eu... eu ainda não estou pronta para te dar outra chance. – ela acariciou minha bochecha.
- Tá tudo bem. – sorri triste – Eu espero.
- Mas e se eu nunca estiver pronta?
- Eu vou continuar esperando até eu me cansar.
Segurei seu rosto e beijei-a lentamente. Era como se o mundo ao meu redor tivesse parado e a única coisa que existia nele era e eu. Senti uma sensação estranha no estômago como da primeira em que nos beijamos e queria ficar sentindo aquilo para sempre.
passou seus braços pelo meu pescoço e apertou seu corpo contra o meu com vontade. Abracei sua cintura, tirando seus pés do chão e fazendo que ela desse uma risadinha.
- Preciso voltar ao trabalho. – ela disse ofegante e com os olhos fechados.
- Eu quero te ver. – sussurrei contra seus lábios – Quero te ver mais uma vez antes de ir.
- Estou cheia de coisas no trabalho, ...
- Se você quiser eu te espero na frente do seu trabalho e ficamos juntos até a hora do meu voo.
- ... é melhor não. – ela se afastou – Eu tenho que ir.
- . – chamei-a quando ela deu as costas para mim na esperança de vê-la mais uma vez, mas ela me ignorou.
Pelo visto tinha sido um erro gigante beijá-la quando as coisas estavam indo tão bem entre nós dois. Isso nunca ia mostrar para ela que eu tinha mudado e que merecia mais uma chance. Apenas provava que eu continuava o mesmo idiota que achava que conseguiria resolver nosso relacionamento com beijos e sexo.
Voltei para o hotel derrotado e fiquei no quarto pelo restante do dia. Malcolm insistiu para que eu saísse para aproveitar minhas últimas horas na cidade, mas eu só queria era que chegasse logo a hora de ir embora para eu sumir daquele lugar.
Fazia muito tempo que eu não me sentia um lixo por causa de . Eu não fiquei assim nem quando paramos de trocar mensagens depois de sua mudança.
Deixei todas as minhas coisas prontas e fiquei deitado até a hora em que Riley disse que estava na hora de irmos. Não falei nada com ninguém durante o caminho e mal respondi as coisas que eles me perguntavam. Eu estava totalmente alheio a tudo ao meu redor. Só queria chegar em casa e hibernar para sempre.

- Tio , acorda, já é Natal. – Louise e Jack começaram a gritar.
Levantei-me com o maior cansaço do mundo e senti minha cabeça começar a rodar assim que fiquei em pé. Esse era o primeiro Natal em cinco anos que eu passava sem , e o primeiro de toda a minha vida que nós passávamos sem meu pai, então eu obviamente tive uma ideia imbecil e sai com meus irmãos para encher a cara quando todo mundo foi dormir.
Alfie e Tyler conseguiram subir para o quarto, mas eu estava bêbado demais para encarar os degraus e acabei dormindo no sofá e ficando pior ainda. A única coisa que eu consegui fazer depois de me jogar no sofá foi tirar os sapatos e quase quebrar um braço enquanto tirava a blusa.
- Cadê seus pais? – falei cansado.
- É Natal. – Jack gritou – Já podemos abrir os presentes?
- Pergunta para sua mãe primeiro.
- O que comprou para gente? – Louise perguntou.
- O que vocês compraram para mim?
Ela mordeu o lábio e ficou me encarando por um tempo sem saber o que responder e depois subiu correndo as escadas falando que era Natal.
Coloquei as coisas na cafeteira e esperei que ela fizesse um café bom suficiente para tirar pelo menos metade daquela ressaca que tomava conta do meu corpo naquela manhã.
Pude ouvir todo mundo descer as escadas e logo depois ouvi as crianças rasgando as embalagens de presente.
- Feliz Natal. – Estela beijou meu ombro.
- Feliz Natal. – bocejei.
- Você está esperando o café? – assenti – E que horas do dia você tinha planos de ligar a cafeteira?
- Merda. – resmunguei.
Deixei que ela fizesse o café e me sentei no sofá para ver as crianças ficarem empolgadas ou tristes pelos presentes serem o que eles queriam... ou não.
- Quem deu esse? – Jack ergueu o helicóptero de controle remoto.
- Tio . – Brianna falou – Feliz Natal, Grinch. – ela beijou minha bochecha.
- Obrigado, Tio . – ele me abraçou com força e achei que fosse morrer de tanta dor.
- Quando você ficou tão forte assim? – falei rindo.
- Eu agora estou comendo verduras e legumes.
Tyler tinha contado que Louise estava doente por uma casa de bonecas que ela tinha visto em um comercial, mas aparentemente nenhuma loja de brinquedos de Seattle tinha a casinha que ela queria. Acabou que passei um fim de semana rodando Los Angeles atrás da maldita casa até encontrar a última unidade em uma loja. Tive que chorar para uma mulher e sua filha pequena para que elas entendessem que eu precisava daquela casinha, sem contar que eu não tinha muito que dar satisfações para elas já que eu tinha pego primeiro.
- Eu não consigo abrir. – Louise resmungou – Papai, me ajuda.
- Esse é grande, quem será que trouxe? – ele tirou as fitas adesivas da embalagem.
Como eu era o tio e irmão legal, era óbvio que não contei para ninguém, e isso fazia com que eu corresse o risco de mais alguém ter comprado a casinha para ela e estragar meu plano de continuar sendo o tio legal pelo resto da vida.
- O que é? – minha mãe perguntou curiosa.
- AI MEU DEUS. – Louise gritou – É a casinha da televisão, papai. É a casinha da televisão. – ela disse chorando – Zack, olha, eu ganhei a casinha da televisão. – ela ficou pulando pela sala com a caixa no colo e chorando.
- Quem deu esse? – Estela apareceu na sala e me entregou uma xícara de café.
- Eu tenho grandes suspeitas de que foi o melhor tio do planeta. – falei antes de beber um gole de café e Louise me olhou com os olhos estalados.
- Não acredito. – Estela disse surpresa.
- Obrigada, tio , obrigada mil vezes. – Louise pulou em meu colo e ficou beijando meu rosto – Eu prometo que vou cuidar direitinho da casinha, eu juro juradinho. – ela beijou o mindinho.
- Vocês dois tem que me amar para sempre. – falei para Estela e Tyler – Eu chorei de verdade na frente de uma criança de dez anos e da mãe dela.
- Não acredito que você fez isso. – meu irmão gargalhou – Eu daria tudo para ver essa cena.
- Foi péssimo, porque depois a garotinha também começou a chorar, mas eu peguei a caixa primeiro. – me defendi.
- Louise, você tem que cuidar bem da sua casinha para quando tio te der uma priminha você poder falar para ela que ele chorou para conseguir um brinquedo de criança. – Estela disse rindo – Obrigada, , de verdade. – ela deu um beijo em minha cabeça.
As crianças continuaram a abrir os presentes, mas Louise parecia querer terminar tudo logo para poder brincar com a sua casinha de bonecas.
- Como você está? – minha mãe se sentou ao meu lado quando as crianças foram brincar no quintal.
- Estou bem. – tentei parecer convincente, mas era óbvio que ela não ia acreditar – E você?
- Estou tentando ficar bem. – ela suspirou – Seus irmãos contaram que vocês saíram ontem depois que fomos dormir. O que vocês três aprontaram? – ela apertou meu queixo e eu ri.
- Nada demais. Eu queria encher a casa dos pais da de papel higiênico, mas eu não tinha certeza se ela estava lá.
- Bastante maduro.
- Era isso ou ovos. – sorri.
- Você sabe que cedo ou tarde ela vai vir aqui ver as crianças, não sabe?
- E no momento em que ela entrar por essa porta, eu vou subir para o meu quarto e ficar lá até a hora dela ir embora.
- , não precisa ser assim.
- Tem dois meses desde que fui para Nova York. Eu tentei conversar com ela e ela me ignorou todas as vezes. – falei um pouco irritado.
- Ela pode ter ficado um pouco confusa com o que aconteceu...
- Jura? – levantei bravo e Brianna e Estela apareceram – Ela falou isso para você quando? Nas vezes em que ela veio aqui e ninguém me contou ou quando vocês ficavam de conversinha no telefone fingindo que ela não me deu um pé na bunda?
- Isso só ia te deixar mais magoado, . – Brianna disse calma – Você ia ficar insistindo em conversar com ela e não era um bom momento para ela...
- Não era um bom momento para ela? Me poupe. – gritei.
A campainha começou a tocar e minha mãe foi abrir. entrou com duas sacolas enormes e minha mãe a ajudou.
- Pronto, a cereja do bolo chegou. – falei bravo.
- Feliz Natal para você também, . – ela disse grossa.
- Eu até aceitava vocês ficarem do lado dela quando nós éramos um casal, mas quando ela terminou comigo e foi embora da nossa casa, vocês tinham que ter ficado do meu lado.
- Filho, agora não é hora. É Natal, não é momento para discutir isso...
- É o momento perfeito porque eu estou com isso entalado desde que eu descobri que vocês mantinham um clubinho privado contra mim. – gritei.
- Você é muito infantil, . – Brianna disse irritada – Quando você vai crescer? Existem problemas maiores do que tomar um pé na bunda da garota que você gosta.
- Então lista eles para mim, por favor, Brianna, andem mulheres da família , compartilhem de sua sabedoria feminina e expliquem o porquê ninguém ficou do meu lado quando eu estava a ponto de morrer por causa dela. – apontei para que parecia que ia me matar com o olhar a qualquer momento.
- Estar grávida do cara que você acabou de terminar conta? – ela deu um soco em meu peito – Ou isso ainda é pouco para você?
- O quê? – olhei-a surpreso.
- Melhor, eu tenho uma melhor. – ela gargalhou alto – Acho que perder o bebê, a última ligação que você tinha com o cara que você ama, porque você está sob grande estresse porque ele quer se matar. – ela deu outro soco em meu peito, mas suas palavras tinham doído bem mais.
- Do que você está falando, ? – segurei seu braço e ela começou a chorar.
- Obrigada por estragar o meu Natal e o da sua família. – ela tentou se soltar.
- , isso não tem graça. – apertei seu braço.
- Foi por isso que ninguém te contou nada. – Estela disse – Ficar do seu lado era ficar ao lado de uma pessoa só, mas ficar do lado da era ficar do lado de alguém que precisava de apoio muito mais que você.
- Por que você não me contou, ? – soltei-a – Por que não me contou que estava grávida?
- Porque você veria isso como um motivo para ficarmos juntos e eu só via isso como algo que me prendia a você quando na verdade eu só fui embora porque precisava de um tempo e que você crescesse. – ela começou a chorar.
- Então você sabia que estava grávida quando foi embora?
- Não. – ela negou com a cabeça – Eu descobri quando já tinha me mudado e aí... aí que você ainda continuava mal e eu não conseguia parar de pensar que era minha culpa. – ela se sentou – Foi muito estresse por sua causa se juntando com as coisas do trabalho, e.... eu sentia muito a sua falta e parecia que só estava existindo lá sem você. – ela suspirou.
Era muita coisa para absorver e meu corpo ainda não estava nem um pouco recuperado da bebedeira da noite anterior.
Eu não conseguia assimilar nada do que ela falava. Para mim era como se tudo aquilo não passasse de uma brincadeira de muito mau gosto e a qualquer momento meus irmãos entrariam e tirariam sarro de mim por ter acreditado naquilo. tinha ficado grávida. Grávida de um filho meu, mas ela o perdeu porque ambos estávamos sofrendo com o fim do nosso relacionamento.
- Foi por isso que você parou de me ligar. – suspirei e ela assentiu.
- Eu não conseguia mais ouvir sua voz sem passar a noite toda chorando depois. Eu ficava com uma coisa horrível na minha cabeça dizendo que eu perdi o bebê porque terminei com você...
- Não foi sua culpa. – me ajoelhei na sua frente.
- Foi nossa culpa, . – ela segurou meu rosto – Eu não conseguia mais suportar nossas brigas, a sua imaturidade e a única solução foi terminar.
- Chegou a passar pela sua cabeça por um segundo sequer que uma hora ou outra eu ia descobrir?
- Claro que sim, mas eu ia esconder e negar até onde eu conseguisse.
- Você ia me privar de ser pai...
- , você não ia ser pai. – ela disse magoada – Você seria mais como o irmão mais velho enquanto eu seria a mãe dos dois.
- Eu acabaria mudando.
- Quando? Quando ele já tivesse quinze anos e já soubesse se virar sozinho? – ela disse irritada – , ser pai não torna ninguém responsável e adulto da noite para o dia.
- E você ia fazer tudo isso sozinha? – indaguei – Ia criar a criança sozinha em um lugar que você não conhecia ninguém?
- Eu ia para lá. – minha mãe disse.
- O quê?
- Eu ia me mudar para Nova York com ela para ajudá-la a cuidar do bebê.
- Você ia fazer o mesmo que ela? Deixar toda a sua vida para se mudar para Nova York? – olhei-a bravo e ela assentiu.
- Minha vida aqui tinha acabado, . Seu pai tinha morrido, meus filhos já não moravam comigo, meus netos tinham seus dois pais para cuidar deles. – ela deixou uma lágrima rolar pela sua bochecha – Por mais que as crianças venham me ver todos os dias... eu já não sou mais útil aqui.
- Jane. – Brianna a abraçou.
- Em Nova York eu poderia cuidar do meu neto recém-nascido que só teria a mãe...
- Só teria a mãe porque ela escolheu isso. – me levantei irritado.
- O que está acontecendo? – Alfie apareceu.
- Você sabia que a mãe ia se mudar para Nova York para cuidar do meu filho que eu nem sabia?
- Sim. – ele deu de ombros.
- E o que você achava dessa história toda? – gritei.
- A mãe sabe o que faz. Se era isso que ela queria fazer, então nós iriamos apoiá-la. Ponto final.
- E em qual momento dessa história toda eu entraria?
- Quando você parasse de agir como um bebezão e passasse a ser adulto. – ele disse.
- Eu odeio todos vocês. – falei bravo – Todos vocês. Você. Você. Você. Você. Você e o Tyler lá fora também. – fui apontando para todos eles.
- Parabéns pela sua atitude bastante imatura. – Alfie bateu palmas.
- Vai se foder.
Passei por eles e andei até a porta da sala. Eu queria sair de perto deles todos.
- Você está descalço, bebezinho. – Alfie me provocou assim que sai.
- Fala para o meu pai. – gritei – Ah é, a gente não tem mais a porra de um pai. – berrei do jardim.
Fiquei andando pelo bairro sem camisa e de meia, deixando que a raiva borbulhasse dentro de mim. Como ela pode esconder uma gravidez de mim? Como todos eles puderam esconder isso de mim? Eu podia até ser imaturo e irresponsável as vezes, mas eu ainda tinha o direito de saber que seria pai.
Tirei minhas meias e joguei na primeira lata de lixo que vi pela rua. Talvez eu devesse me jogar lá dentro junto.
A meses atrás eu achava que ter terminado comigo era o fim do mundo, mas pelo visto o fim do mundo era agora, saber que toda a minha família tinha ficado contra mim, escondido a gravidez da minha namorada e escondido também quando ela perdeu o bebê.
Passei pela casa de e procurei por uma pedra ou algo que eu pudesse usar para quebrar a janela de seu quarto do mesmo jeito que ela quebrou meu coração. Pensei em invadir seu quarto e procurar pela porcaria de um diário em que ela tenha dito sobre como foi esconder toda essa merda de mim, mas uma das nossas brigas tinha sido por isso, eu ter mexido nas coisas delas.
Como meu pai conseguiu ficar cinquenta anos casado sem ter uma briga feia igual e eu? Por mais que eu tentasse, eu não conseguia me lembrar dos meus pais brigando. As vezes eles discutiam e meu pai dormia na sala, mas assim que ele acordava a primeira coisa que ele fazia era ir se desculpar com a minha mãe, não importava o quão certo ele estava.
Sentei-me na calçada, e fiquei olhando para o fim da rua do mesmo jeito quando pedi que ela fosse morar comigo. Eu queria que ela aparecesse ali vestida de Mulher-Maravilha para que eu pudesse fazer as coisas diferente. Não esperaria que subíssemos para o seu quarto, falaria tudo ali na rua mesmo. Convidar ela para ir morar comigo e dizer que acabaríamos brigando ocasionalmente, mas que eu ainda ia continuar a amando não importasse quantas vezes ela me encurralasse no canto do quarto e socasse meu peito. Diria que não me importaria se ela quebrasse um ou dois pratos na minha cabeça se isso fizesse com que ela se acalmasse, mas que eu faria igual ao meu pai e pediria desculpas, fazendo ela acreditar que eu era o culpado, embora a culpa fosse realmente minha.
Procurei pelo meu celular no bolso da calça, mas não encontrei nada. Porque eu estava sentado na calçada da casa de esperando que ela aparecesse ali para eu falar tudo aquilo, quando na verdade ela estava na minha casa passando o Natal com a minha família que a amava e só queria o bem dela não importasse o quanto isso me magoasse.
Eu corri. Corri como nunca antes na minha vida. A casa dela não era tão longe da minha, mas parecia que era a oceanos de distância. Não importava o quanto eu corria, parecia que nunca ia chegar.
Meus pés doíam, meu peito ardia e já não estava mais conseguindo respirar quando cheguei na rua de casa. Continuei correndo e só parei quando a vi sentada na varanda com todo mundo.
- . – falei ofegante e ela me olhou assustada.
- O que aconteceu? – Alfie perguntou preocupado.
- Eu... – respirei fundo, mas meu peito doía mais ainda – Eu... eu te amo. – me sentei nos degraus da varanda – Eu te amo.
Meu corpo estava tão cansado e destruído que eu não tinha mais nem forças para erguer a cabeça e olhar para ela.
- Eu não... eu não entendo porque vocês todos esconderam a gravidez de mim. – ofeguei – Talvez eu nunca vá entender, mas eu sei que eu te amo, e isso eu entendo. – olhei para ela e seu rosto não tinha qualquer expressão – Droga. – respirei fundo.
- Filho, se acalma e depois...
- Não. – neguei com a cabeça – Eu preciso falar agora. – ergui a mão e meu braço caiu ao meu lado – Meu Deus, eu vou morrer. – falei rindo – Eu não posso morrer agora, por favor.
- Eu vou pegar água para você. – se levantou.
- Não. – gritei – Fica aqui, espera, eu... eu vou conseguir. – respirei fundo – Eu só vim correndo da sua casa aqui.
- O que você estava fazendo lá? – ela me olhou surpresa.
- Eu fiquei pensando em quebrar a janela do seu quarto, e noite passada eu queria muito cobrir a casa de papel higiênico...
- Por quê? – ela me olhou irritada.
- Porque eu sou um idiota. – ergui os braços para o ar – Eu sou um grande idiota, por isso.
- Ainda bem que você sabe. – ela me encarou séria.
- Eu fiquei sentado na calçada da sua casa desejando que você aparecesse fantasiada igual quando eu pedi para você ir para Los Angeles comigo, mas era óbvio que você não ia aparecer. – gargalhei – Mas se eu pudesse voltar no tempo...
- O que você não pode. – ela cruzou as pernas e os braços, e eu só queria beijá-la por ficar tão linda quando estava irritada.
- O que eu não posso... – sorri – Mas se eu pudesse, eu iria te dizer que a gente ia brigar algumas vezes e depois faríamos as pazes, e teria vezes que nós iriamos brigar e ficaríamos dias sem olhar um na cara do outro.
- , fala logo de uma vez. – ela disse irritada – Você some daqui e aparece horas depois, porque caso você não tenha percebido, você ficou fora por umas duas horas, e depois surge falando várias coisas idiotas... Você usou alguma droga?
- O que eu quero dizer é que... eu te amo, e eu sinto muito por ter sido um merda de namorado com você, eu sei que eu poderia e deveria ter sido alguém melhor para você, porque você sempre foi maravilhosa comigo.
Engatinhei até seus pés e ela me olhou de um jeito superior. Eu amava aquela mulher, amava quando ela me olhava daquele jeito como se soubesse exatamente tudo o que eu ia dizer, mas preferia que eu dissesse.
- Eu sei que eu não tenho o direito de te pedir mais uma chance, e eu não vou pedir. – acariciei sua coxa e ela continuou imóvel – Mas eu quero dizer que eu vou mudar, não vou mudar por você, mas eu vou mudar por mim, porque eu te amo e.... e você não merece ficar com um idiota como eu.
- O que você quer dizer com isso? – ela me olhou curiosa.
- Eu quero dizer que eu vou mudar por mim porque se eu mudar, talvez tenha uma pequena chance de eu conseguir te reconquistar e fazer você me amar de novo. – fiz uma cara infantil e ela deu um singelo sorriso de lado. Talvez eu estivesse ganhando.
- Você sabe que eu nunca deixei de te amar, , mas as coisas não são assim.
- Eu sei que não. – segurei seu rosto – Eu sei que não. Você não precisa voltar comigo agora ou amanhã, eu vou esperar, mas primeiro eu quero te provar que eu posso mudar, que eu posso ser alguém melhor. – encostei minha testa na sua – Eu vou ser mais responsável com as minhas obrigações e com tudo. Não vou mais ficar com ciúme idiota daquele imbecil, vou confiar cem por cento em você, não importa quantas vezes ele dê em cima de você.
- Quando eu fui embora foi por diversos motivos, mas também porque eu precisava de um tempo para mim, não foi tudo porque você é irresponsável e infantil. – ela disse triste – Eu precisava redescobrir quem eu era longe de você, entende? – assenti.
- Tudo bem. – suspirei.
Juntei forças nem sei de onde para me levantar. Todo mundo estava me olhando atentamente, como se a qualquer momento eu fosse surtar ou me matar, mas eu não ia.
- Não vou fazer nada idiota se é o que vocês estão esperando.
- ? – me chamou – Eu te amo. – ela sorriu triste e eu assenti.
- Vocês guardaram comida para mim? – falei meio aéreo.
- ... você vai ficar bem? – Tyler perguntou.
- Claro. – sorri falso – Não é como se eu estivesse esperando que ela pulasse nos meus braços e dissesse que nós ficaríamos juntos para sempre. – falei sarcástico.
- Nós podemos ficar juntos, só que... não agora. – ela veio até mim e me afastei.
- Eu entendi, ok?
- Você pode surtar se quiser, é totalmente normal. – ela tentou segurar minha mão e me afastei novamente.
- Não, obrigado. – falei estúpido e entrei para dentro da casa.
Subi para o meu quarto e acabei surtando. Era totalmente normal surtar, não era?
Soquei os travesseiros, a parede, tirei o colchão da cama, joguei todas as roupas fora da mala e quase quebrei o espelho atrás da porta. Minha garganta estava queimando de tanto gritar, e eu podia sentir minha mão latejar e já começar a ficar roxa.
Eu sabia que ela não ia pular nos meus braços e dizer que voltava para mim, seria fácil demais, mas era horrível a sensação que eu tinha de que ela disse aquilo apenas para fazer com que eu me sentisse melhor. Ela podia me amar, mas eu tinha certeza de que ela não acreditou quando eu disse que ia mudar. Depois de vários anos ao lado de alguém que só fazia cagada, eu também não acreditaria se estivesse no lugar dela.
Nem sei por quanto tempo fiquei naquilo de gritar e jogar as coisas, mas quando finalmente me acalmei parecia que um furacão tinha passado pelo meu quarto.
Fiquei deitado no chão em meio a todas as minhas coisas jogadas, apenas olhando para o teto tentando inutilmente não pensar em nada.
- ? – ouvi a voz de me chamar do outro lado da porta.
- Pode entrar.
- A porta não abre.
Empurrei a cômoda que impedia que ela abrisse a porta e me sentei na cama sem colchão.
Ela olhou surpresa para o que eu tinha feito e depois ficou me encarando com os olhos marejados.
- Não é sua culpa. – suspirei – Esse foi meu último ato infantil. O próximo vai ser arrumar tudo isso sozinho, como sendo meu primeiro ato responsável.
- Limpar sua bagunça não te torna responsável. – ela caminhou com dificuldade e se sentou ao meu lado.
- Na minha cabeça sim. – dei uma risadinha e ela sorriu – Eu sinto muito... pelo bebê. – falei tenso. Uma hora nós precisaríamos falar civilizadamente sobre isso.
- Está tudo bem. – ela respirou fundo.
- Quanto tempo ele tinha?
- Quase cinco semanas. – ela mordeu o lábio – Nós fizemos ele no meu quarto. – ela deu uma risadinha.
- Eu sabia que aquela transa ia ser memorável. – falei rindo – Você... já sabia o sexo?
- Não. – ela negou com a cabeça – Eu pensei em te contar, sabe? – ela me olhou triste – Eu fiquei sabendo no meu segundo dia lá. Foi como se tivesse algo falando para mim que eu precisava fazer um teste de gravidez porque minha menstruação estava atrasada e aí eu fiz.... E deu positivo. – ela suspirou – Foi por isso que eu não te liguei antes. Não porque eu tinha coisas para arrumar, mas porque eu fiquei pensando se contava ou não para você.
- E por que não contou?
- Quando eu te liguei foi para contar, mas aí sua mãe atendeu e eu senti aquilo como um sinal para não contar nada para você. – ela baixou a cabeça – Aí acabou que nós fomos conversando, mas eu ficava pensando em você o tempo todo. Eu precisava me cuidar, eu tinha uma vida crescendo dentro de mim, mas meu corpo estava em Nova Iorque enquanto meu pensamento estava em Los Angeles.
- Não foi culpa sua, eu acabei fazendo muito drama em cima daquilo.
- Eu fui seu primeiro amor e namorada, . – ela sorriu triste – Era normal você achar que seu mundo ia acabar.
- Você não precisava ter se preocupado se eu fosse fazer algo estúpido. – coloquei meu braço em seu ombro e a puxei para o meu peito – Foram as minhas atitudes que fizeram que você terminasse comigo.
- Se eu não tivesse terminado... nós poderíamos ser pais agora. – ela falou chorosa e a apertei contra mim – Talvez você tivesse realmente mudado por causa do bebê.
- Ou talvez não. – suspirei – Foi como você disse, eu não ia ficar responsável da noite para o dia só porque ia ser pai.
- Foi horrível. – ela me abraçou – Eu me apeguei naquele carocinho que eu nem conseguia enxergar...
- ...
- Eu saia do trabalho e ia direto para casa. Depois ficava horas passando a mão na barriga e esperando que ela crescesse logo. – ela choramingou – Quando a gente se falava pelo telefone, a primeira coisa que eu fazia era conversar com ele. – ela riu – Eu passava a mão na barriga e dizia para ele que o papai estava fingindo que estava bem, mas fazer isso não foi suficiente para que meu nível de estresse não subisse por causa de você.
- Você nunca mais pensou em me contar?
- Não. – ela negou com a cabeça – Quando a sua mãe foi embora da sua casa, eu vim direto para Seattle e contei para todo mundo. Todo mundo dizia que uma ora ou outra eu ia precisar te contar, não por causa de dinheiro porque seus irmãos disseram que iam pagar tudo o que o bebê precisasse, mas porque as crianças iam contar para você.
- Como eles nunca me contaram que você vinha para cá? – perguntei surpreso – Eles são crianças, não é como se eles pensassem antes de falar.
- Também não sei. – ela riu – Eu não me importaria se eles falassem que eu vinha, mas uma hora a barriga ia aparecer e eles iam perguntar.
- E por que você mudou do seu apartamento? – perguntei curioso – Ia ser melhor para que você cuidasse do bebê em um lugar só seu.
- Eu o perdi lá. – ela suspirou. Eu queria perguntar como, mas isso ia deixá-la mais triste ainda – Aí eu não quis mais ficar lá sozinha e procurei por alguém para dividir o apartamento. – ela sorriu triste.
- A Maya sabia? Sobre mim, o bebê e todo o resto?
- Sim. – ela assentiu – Quando nós saímos para conversar sobre o apartamento, ela me perguntou o porquê eu estava pensando em me mudar e ai contei tudo. Sobre ter perdido o bebê do meu ex-namorado lá e que eu não queria mais ficar naquele lugar.
- Eu nunca vou me acostumar com isso. – beijei sua testa.
- Isso o quê? Eu ter ficado grávida?
- Também, mas... você falar de mim como ex-namorado. – suspirei – Na minha cabeça você ainda é minha namorada. – dei uma risadinha fraca.
- Você pensou mesmo em se matar? – ela perguntou em um tom de culpa e não consegui segurar o riso.
- Sim. Quando eu subi depois de você ter ido embora, eu enchi a cara e fiquei chorando pensando em me matar. – falei rindo – Eu devia ter tentado ai você ia se sentir culpada e ia voltar para mim.
- Eu não ia. – ela falou convicta – Eu tinha certeza do que eu queria. Você viu a mensagem, mas eu realmente só estava pensando na mudança como uma possibilidade, e aí nós viemos para cá e eu li o meu antigo diário. Meu mundo realmente parecia que tinha acabado quando você falou que ia se mudar.
- Eu não ia me mudar sem pedir para você ir comigo.
- Eu sei disso, mas aquilo me fez perceber que meu mundo girava cem por cento ao seu redor e não era assim que as coisas tinham que ser. – ela me encarou – Eu percebi que eu já não saia mais sozinha, não conseguia conversar com as pessoas sem acabar colocando você no meio. Toda vez que eu vestia uma roupa ou fazia algo no cabelo era pensando em você e se você ia gostar.
- Comigo era a mesma coisa, . – segurei seu rosto.
- Mas não era assim que tinha que ser. Apesar de ter me apegado ao bebê, eu também consegui esquecer ele rápido porque eu não tinha uma barriga de gravida e nem nada, e depois disso eu comecei a fazer as coisas para mim. – ela sorriu carinhosa – Eu cortei meu cabelo sem medo e não pensei em você um momento sequer. Eu olhei no espelho e adorei o que eu vi, eu tinha feito aquilo para mim, totalmente para mim. – ela falou contente – Depois eu comecei a comprar roupas em brechós, coisas bem velhinhas que custavam um dólar e aquilo me deixava feliz. Não tinha mais aquela insegurança em você não gostar de um macacão surrado ou de uma camisa de flanela, porque você não estava mais ali e tudo o que importava era a minha opinião.
- Eu te amo do jeito que você é. – acariciei sua bochecha – Você sabe que eu não me importava se suas roupas eram novas ou se o cabelo não estava mais como eu estava acostumado. Se você gostasse para mim estava ótimo.
- Mas você sempre gostava de tudo. – ela riu – E você percebia, não era como os idiotas dos meus outros namorados que não iam perceber se eu raspasse a cabeça. Cada coisinha que eu fazia você percebia. Você pode ser um imbecil, , mas você notava tudo o que eu fazia e acabou que eu passei a fazer tudo isso para você.
- Eu estou me sentindo muito mal agora. – confessei.
- Eu não quero que você se sinta mal. – ela me abraçou – Eu precisava falar isso para que você finalmente entendesse o porquê eu fui embora. Não foi só porque você era um babaca as vezes, mas eu não era mais eu sem você.
- Você está feliz? Cem por cento feliz?
- Muito. – ela sorriu.
- Então é só isso que importa para mim. – beijei sua testa – Eu amo você, , e se você está feliz longe de mim, eu não vou insistir. A única coisa que me resta e voltar a viver a minha vida, e esperar que um dia você me queira na sua.
- Você sabe que eu sempre vou te querer na minha vida, .
- Você entendeu o que eu quis dizer. – falei rindo – Se um dia você precisar de alguém para conversar, fazer sexo casualmente ou só para segurar suas sacolas enquanto você vai de brechó em brechó fazendo compras, é só me ligar.
- Claro. – ela riu – E você vai sair de Los Angeles e vai até Nova York só para carregar minhas sacolas?
- Para isso não. – fiz careta – Mas se você quiser transar ou conversar, é claro que eu vou.
- Obrigada. – ela me abraçou com força – Obrigada por ser o melhor amigo que eu já tive.
- Obrigado por ser a melhor namorada do mundo. – apertei-a.
- Eu te comprei um presente de Natal. – ela se afastou.
- Não estou vendo laço nenhum. – olhei-a dos pés à cabeça e ela revirou os olhos.
- Eu já volto.
Ela saiu correndo do quarto e coloquei o colchão de volta na cama. Ia dar um trabalhão arrumar tudo aquilo. Olhando a bagunça agora, não parecia ter sido uma boa opção surtar.
voltou com um embrulho cheio de emojis em mão e rasguei a embalagem com vontade.
- Sério? – ergui o livro e ela deu uma risadinha – Não acredito que você gastou seu dinheiro para me dar um livro de selfies da Kim Kardashian.
- Quando eu o vi na livraria me pareceu o presente perfeito para você. – ela riu – Eu nem sei se você ainda assiste, mas você foi a primeira coisa que me veio na cabeça quando eu vi. – ela de um jeito meio apaixonada e jurei para mim que aquilo não era alucinação.
- Ela nem é minha preferida. – revirei os olhos – Dá próxima vez me faça um scrapbook com fotos da Kourtney.
- Então ela é sua preferida? – ela perguntou rindo.
- Claro que é. – ri – Aquele namorado dela está sempre fazendo merda e eles sempre voltam, acho que você deveria ser mais Kourtney e voltar comigo. – passei o braço pela sua cintura e a puxei para perto de mim.
Olhei no fundo de seus olhos e ela me pareceu um pouco ansiosa. Primeiro ela pareceu apaixonada, e agora ansiosa porque nossos rostos estavam perto um do outro. estava me fazendo de trouxa, essa era a única explicação plausível.
- Eu concordo. – ela falou ofegante.
- Que você deveria voltar comigo? – sussurrei e ela deu uma risadinha.
- Que ele está sempre fazendo merda. – ela riu – Eu meio que comecei a assistir.
- Eu disse que não ia insistir e blá, blá, blá, mas eu não aguento. – encolhi os ombros – Se você voltar comigo, eu vou ser seu Kanye West. Vou te tratar tão bem, e vou te idolatrar mais do que ele idolatra a Kim. Eu limpo o chão do banheiro com a língua se você me pedir.
- Não é assim, . – ela sorriu de lado.
- Tudo bem. – me afastei – Eu precisava aproveitar o momento para tentar. – sorri – Mas vamos supor que eu consiga fazer com que alguma delas peça para você voltar comigo no Twitter, quais são as chances de você voltar?
- Você não vai conseguir. – ela gargalhou.
- Caso eu consiga? – insisti.
- Eu posso pensar na possibilidade de aceitar sair para um encontro com você, só isso.
- Quem pode te convencer a voltar comigo? – fiz biquinho.
- , eu não sei. – ela riu – O Tom Hardy, eu acho. – ela deu de ombros.
- Vou tentar não levar isso para o lado pessoal. – fingi estar ofendido – Mas tudo bem, não vou insistir mais nisso.
- Ótimo. – ela sorriu.
- Mas eu posso te chamar para um encontro algum dia desses? – falei sério e ela ficou me olhando – Como amigos. – me defendi – Não vou pedir para você voltar comigo.
- Também não vai tentar me beijar? – ela arqueou a sobrancelha.
- Eu já ia tirar o sexo da lista, mas não vou falar que não vou tentar te beijar porque seria mentira. – sorri – Ainda mais se você estiver com aquele macacão de dois dólares.
- Ok. – ela riu – Então... estamos numa boa?
- Não estamos cem por cento numa boa porque eu ainda quero que você seja minha namorada e estou louco para te beijar, mas vou tentar. – sorri de lado e ela revirou os olhos.
- Besta. Agora eu vou dar licença para você arrumar a sua bagunça. – ela caminhou até a porta e encostou no batente – Tudo bem você tentar me beijar, mas sem tentar me levar para cama, ok?
- Eu juro. – coloquei a mão no peito.
Comecei a arrumar o quarto e logo minha mãe apareceu querendo saber como e eu estávamos, e se desculpando por ter escondido a gravidez de mim. Mesmo eu falando mil vezes que não precisava, ela parecia muito culpada pelo que fez.
passou o restante do dia brincando com meus sobrinhos no quintal e fiquei desejando que ela nunca tivesse perdido o bebê e pudesse brincar com ele e as crianças quando viesse a Seattle. Talvez o universo tinha outros planos para ela naquele momento e achou que fez merda ao colocar um mini- na barriga dela e resolveu tirar, mas eu não conseguia parar de imaginar ela com um barrigão andando pelo nosso antigo apartamento enquanto eu pintava o quarto dele.

Fiquei sentado no sofá vendo terminar de decorar a sala com quadros e fotos. Ela estava vestida com o maldito macacão que eu tanto gostava, apenas ele e um top cinza por baixo, me dando uma bela visão da lateral de seu corpo.
Eu não fazia ideia de como ela ainda não tinha se cansado de montar móveis e colocar coisas no lugar o dia todo. Ela já estava nesse processo de arrumar meu apartamento novo uma semana antes de eu me mudar. Ela quem ficou por semanas procurando um lugar legal em um bairro bacana e que fosse perto de tudo, e também foi ela quem escolheu todos os móveis.
Quando se mudou de Los Angeles para Nova Iorque ela trouxe várias caixas cheia de coisas, mas eu resolvi deixar tudo o que era meu lá e só trazer coisas pessoais e roupas. O restante foi tudo vendido ou doado e eu não sentia falta de nada.
- O que você achou? – ela se sentou ao meu lado e apoiou a cabeça no encosto do sofá, encarando-me ansiosa.
- Ficou bom. – fiz careta e ela revirou os olhos – Não é como se você fosse a melhor decoradora do mundo. – provoquei.
- Vai se foder. – ela riu – Eu estou muito feliz que você está em Nova Iorque agora.
- Eu também. – sorri.
- Sabe o que eu andei pensando?
- O quê?
- Esse ano nós podemos ir na Times Square passar o Ano Novo lá, o que você acha?
- Tem certeza que você vai querer encarar?
- Claro que sim. – ela sorriu – Eu estarei com você.
- Você vai ter que me beijar quando der meia-noite.
- Não. – ela gargalhou.
- Qual é, , vai ser minha recompensa por ficar naquele inferno com você quando eu podia transar com alguma garota que conheci em um bar.
- Tudo bem. – ela revirou os olhos – Mas um beijo... de amigo.
- Vai se foder. – deitei-a no sofá – Eu quero um beijo de língua, com direito a pegada na bunda e tudo.
- Não, . – ela riu – Um selinho então.
- Já falei, mulher, eu quero língua. – comecei a fazer cosquinhas – Não é como se você nunca tivesse beijado essa minha boca maravilhosa.
- Deixa de ser convencido. – ela gargalhou – Para de cócegas, eu vou mijar na calça.
- Não mija no meu sofá novo, por favor. – me afastei dela – Eu vou tomar um banho e vou te levar para jantar.
- Hum, onde iremos?
- Estou morrendo de vontade de comer aquele pato cru com molho de peixe. – lambi os lábios e ela riu – E depois... depois eu vou te levar para casa.
- Para quem é apaixonado por mim, até que você está se saindo um amigo maravilhoso. – ela subiu em cima de mim – Sem tentar me beijar quando saímos juntos.
- Você não faz ideia do esforço que é ver sua boca e não poder te beijar. – falei olhando para os seus lábios – Mas eu ainda tenho esperanças de que você ainda vai implorar para eu te beijar, e ai eu vou falar nananinanão, mocinha. – acariciei sua cintura e ela ficou rindo.
- E se isso nunca acontecer? – ela arqueou a sobrancelha.
- Se isso não acontecer até o ano novo, eu vou ter que me contentar com nosso beijo na Times Square. – dei de ombros – Mas você não vai resistir. – levantei com ela no colo – Eu sou lindo demais, você vai implorar por mim, cedo ou tarde. – coloquei-a em cima da mesa de centro.
- Vou é? – ela colocou as mãos na cintura.
- Eu estou contando com isso. – coloquei as mãos atrás de sua coxa – E eu sei que você não vai me decepcionar.
- Por que não vou?
- Porque você é a , você nunca decepciona. – falei sério – Exceto no quesito arrumação de cozinha, porque você ainda não guardou todas as louças.
- Eu não estou sendo paga para isso, sabia? – ela sorriu de lado.
- Vou te pagar um jantar, quer mais que isso?
- Óbvio.
- Eu vou pensar em algo no banho.
Eu parecia um idiota apaixonado vendo do outro lado da mesa gesticular enquanto falava sobre algo que tinha acontecido no trabalho ontem. Não importava quanto tempo ficássemos longe, isso só fazia meu amor por ela ficar mais forte do que eu jamais imaginei.
Quando recebi a proposta para trabalhar em Nova York, ela foi a primeira pessoa para a qual contei. Eu apenas disse que precisava pensar e logo liguei para ela perguntando o que ela achava. gritou um ‘aceita’ tão alto do outro lado da linha que achei que fosse ficar surdo. A verdade era que eu não precisava pensar, eu sabia que queria ir, não tanto pelo valor mais alto, mas porque eu poderia ficar mais perto dela, a única coisa que eu precisava era saber se ela me queria lá.
E ela realmente queria, pois, todos os dias Brianna e Estela ligavam para me contar que não via a hora de eu me mudar para perto dela. Deixei que ela fizesse tudo, escolhesse o lugar, comprasse os móveis e decorasse, como se fosse para ela morar nele, o que poderia acontecer eventualmente, mas depois de um ano separados isso já me parecia impossível.
Mesmo depois de mais de um ano solteira, parecia não ter interesse em ninguém e as vezes eu até brincava que ela estava se tornando assexuada. Era isso que aumentava minha esperança, ela não beijar ou transar com ninguém mais de um ano e não mostrar interesse em ninguém.
Caminhamos abraçados até o prédio dela e quanto mais nos aproximávamos, mais forte ficava a dor no peito em não podermos ficar juntos mais um pouquinho.
- Prontinho. – ela falou assim que chegamos – Obrigada pelo jantar e a escravização. – ela riu.
- Eu te espero lá amanhã cedo para arrumar a cozinha. – apertei seu corpo contra o meu.
- Amanhã é domingo, , eu não acordo antes das onze. – ela deitou a cabeça em meu peito.
- Tudo bem, você pode aparecer depois das onze. – beijei o topo de sua cabeça.
- Você quer fazer algo amanhã? – ela se afastou – Tomar café em algum lugar ou coisa do tipo.
- É impressão minha ou você está me convidando para um encontro? – arqueei a sobrancelha e ela riu.
- Estou te convidando para tomar café, não para transar.
- Eu aceito de bom grado a segunda opção.
- Idiota. – ela beliscou minha barriga – Tem um lugar que serve brunch o dia todo.
- Brunch é coisa de casal, . – falei entediado – Não coisa que ex-namorado iludido faz com a ex-namorada que o ilude.
- Por favor, vamos. – ela passou os braços em volta do meu pescoço.
- Tudo bem. – suspirei.
- Obrigada. – ela ficou beijando meu rosto – Você quer... quer sei lá... subir um pouco? – ela falou meio envergonhada – Está cedo ainda e a Maya sempre sai aos sábados à noite e só volta no dia seguinte.
- Ah, claro. – falei meio sem jeito – Se estiver tudo bem para você. – cocei a nuca.
Nós nunca tínhamos ficado no seu apartamento sozinhos. Todas as vezes que eu vim para Nova York depois da nossa conversa no Natal, eu tinha ficado lá por alguns dias e dormido no sofá, mas Maya sempre estava por lá. Nós ficamos sozinhos no meu apartamento, mas nós estávamos arrumando as coisas e só, agora nós estaríamos sem nada para fazer exceto conversar.
Ficamos em um silêncio meio estranho no elevador como se fossemos dois desconhecidos, e assim continuou até que ela abrisse a porta para entrarmos.
- Arrumei todo seu apartamento e o meu está uma zona. – ela deu uma risadinha e se sentou no sofá – Você quer tomar algo?
- Não, valeu. – sorri de lado e ela ficou me olhando – O que foi?
- Nada. – ela negou com a cabeça – Deita aqui. – ela deu um tapinha na coxa e deitei minha cabeça em seu colo – Eu estou muito feliz que você está aqui agora. – ela sorriu de um jeito fofo.
- Também estou feliz de estar aqui. – olhei em seus olhos e ela ficou me encarando.
Nossos olhos ficaram colados um no outro pelo que pareceu uma eternidade. Olhei atentamente cada detalhe do seu rosto, o formato do seu nariz e o desenho dos seus lábios. O jeito que ela molhava os lábios as vezes, como piscava... tudo.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas meus batimentos foram se acelerando cada vez mais a medida que parecia que seu rosto estava se aproximando do meu. Podia ser eu fazendo aquilo involuntariamente, mas eu tinha absoluta certeza que minha cabeça ainda estava apoiada em sua coxa e quem estava se aproximando era ela e não eu.
- Preciso ir no banheiro. – ela falou nervosa quando seu rosto estava a milímetros de distância do meu.
Sentei-me no sofá e a vi correr para o banheiro.
Aquilo não tinha sido coisa da minha cabeça. Tinha acontecido de verdade. se aproximou de mim em um claro ato de que ia me beijar. Eu ia precisar morrer e nascer de novo para conseguir normalizar meus batimentos cardíacos. Parecia que eu tinha corrido uma maratona.
Ela já estava lá pelo que parecia ser uma hora, mas, na verdade, era só dez minutos. Eu queria saber o que fazer, se eu ia até lá procurar por ela ou ficava na sala esperando.
- ? – chamei-a.
- Oi. – ela apareceu no mesmo instante.
- Está tudo bem? – caminhei até ela.
- Sim, tudo ótimo. – ela disse tentando parecer convincente, mas eu sabia que tinha algo errado.
- Você quer que eu vá...
- NÃO. – ela gritou e depois começou a respirar fundo – Merda.
passou os braços pelo meu pescoço e tocou meus lábios com os seus de um jeito bruto, iniciando um beijo meio selvagem que me deixou sem saber muito o que fazer a não ser retribuir.
Estávamos os dois ofegantes quando ela afastou um pouco seu rosto apenas para me olhar com um sorriso enorme nos lábios.
- O que foi isso? – perguntei sorrindo.
- Só me leva para o quarto.
- Quê?
- Quarto, . Agora.
Peguei-a no colo e fui para o quarto. Durante o curto caminho, não deixou de olhar em meus olhos por um momento sequer. Eu esperei que ela acabasse desistindo em algum momento, mas ela parecia estar mais certa daquilo do que eu.
Quando cheguei em seu quarto, ela não deixou que eu a colocasse na cama e já foi tirando toda sua roupa com pressa antes mesmo que eu conseguisse tirar a minha. deitou-se por cima de mim e colocou a mão em meu peito, sentindo meu coração acelerado. Ela sorriu largamente com aquilo e me beijou, posicionando-me em sua entrada e colocando-me dentro dela.
Não importava com quantas mulheres eu transasse, ninguém nunca ia conseguir fazer com que eu me sentisse daquele jeito igual . O jeito delicado com que ela tocava meu rosto, a sua pele macia na minha, a forma em que ela me apertava contra si e arranhava minhas costas ao chegar em seu ápice. Era como se eu não precisasse de água, comida ou oxigênio, apenas .
Nós não falamos nada um com o outro, ela apenas se deitou em meu peito e adormeceu enquanto eu acariciava seus cabelos.
Eu não fazia ideia do que ia acontecer no dia seguinte, se ela ficaria brava comigo, com ela ou com nós dois, se ia tentar me matar ou coisa do tipo, mas eu não estava pensando muito nisso. A única coisa que eu queria era aproveitar aquele momento pelo qual esperei por um ano e pouco.

- , sua safada. – ouvi Maya sussurrar.
- Shiu. – se remexeu ao meu lado e senti ela se levantar.
- Você finamente tirou a teia de aranha que tinha nesse corpinho. – ela falou rindo baixo – Quem diria que você realmente faz sexo.
- Quieta, você vai acordar ele. – riu.
- Quero muito ver quem é o sortudo que tirou seu atraso. Esse boy vai precisar sair pela janela do seu quarto se você não quiser que eu o veja, porque eu vou ficar naquela sala o dia todo esperando para parabenizar ele.
- Eu vou tomar banho e você nada de tentar espiar.
- Só me diz como foi ter sua virgindade tirada pela segunda vez.
- Credo, Maya. – falou rindo.
- Ele é gato? – Maya perguntou empolgada.
- Sim. – disse com um tom de voz meio envergonhada – Muito gato.
- Boy magia?
- Se na definição de boy magia tivesse uma foto, seria o rosto dele que estaria lá.
- É bom de cama?
- Você vai acordar ele. – a voz de foi ficando mais longe – Depois do banho eu te conto.
Ia ser difícil tirar o sorriso do meu rosto depois do que ela falou.
Eu tinha acordado com Maya batendo na porta e pedindo que ela entrasse, mas continuei com o rosto enfiado embaixo dos lençóis apenas sentindo o cheiro maravilhoso que estava impregnado em toda a cama.
Continuei deitado por mais uns dez minutos e decidi que pelo visto não seria que ia até lá me acordar. Coloquei minha roupa e quando sai no corredor vi de toalha no balcão da cozinha conversando com Maya que estava de frente para mim.
- , eu não acredito. – ela colocou as mãos na boca e me olhou surpresa.
- O que foi? – perguntou curiosa e depois olhou para a mesma direção que Maya – Bom dia. – ela sorriu para mim.
- Bom dia. – tentei parecer menos apaixonado, mas era impossível.
- Tudo bem que o é realmente um magia, mas precisava tirar o atraso com ele? – Maya disse indignada – Nada contra você, . – ela olhou para mim – Mas caramba, , seu ex-namorado?
- Qual o problema? – veio até mim e me abraçou de lado – Não tinha outra opção. – ela deu uma risadinha e a apertei contra mim.
- Obrigado. – fingi estar ofendido.
- Você podia ter transado com ele na primeira vez que ele veio para cá especialmente para te ver.
- Nisso eu concordo. – beijei o topo de sua cabeça – Agora eu quero saber a parte do bom de cama. O que ela disse sobre mim, Maya?
- Ela disse...
- Nada disso. – interrompeu – Isso é coisa de mulheres. Você não pode ficar sabendo.
- Claro que não. – falei rindo – Se você quer saber de você eu falo.
- Não, obrigada.
- Eu quero saber. – Maya disse rindo – Esse é o momento para ver ela toda envergonhada. Como a é na cama?
- . – escondeu o rosto em meu peito e afaguei seus cabelos.
- É indescritível. – segurei seu rosto e ela me olhou com as bochechas coradas.
- Eca, muito romantismo para mim de manhã. – Maya riu – Então vocês dois são tipo um casal de novo ou coisa assim?
Olhei para atrás de uma resposta, porque não seria eu que ia falar que éramos um casal para depois ela falar que não e partir meu coração mais uma vez.
- Você não tinha coisas para fazer hoje? – colocou as mãos na cintura e ficou olhando para Maya que começou a rir – Sei lá, varrer a calçada ou dar comida para os pombos?
- Sim. – Maya caminhou até a porta – Quando vocês pararem de fazer sexo igual dois coelhos, me avisem que eu trarei café da manhã para os pombinhos. – ela falou antes de sair.
- Eu... eu já volto, ok? – ela sorriu para mim e foi até seu quarto.
Sentei-me no sofá e fiquei olhando a janela sem tentar pensar muito no que podia falar para mim quando voltasse. Meus batimentos estavam quase mais acelerados que na noite passada e eu queria saber o porquê ela estava demorando para se vestir. Ela só podia estar tentando me fazer ter um infarto.
- Você quer passar na sua casa antes de irmos? – ela apareceu na sala amarrando o vestido. O mesmo vestido que eu tinha lhe dado.
- Irmos para onde? – levantei-me.
- Brunch, esqueceu? – ela veio até mim.
Então era isso. Nós transamos noite passada e agora íamos fazer algo conhecido por ser um programa de casal como se nada tivesse acontecido.
- Pode ser. – falei meio aéreo.
- Vou chamar um Uber para irmos. – ela voltou para o quarto e fui em direção a porta.
apareceu digitando algo no celular e eu abri a porta para que ela saísse. Ela continuou mexendo no celular dentro do elevador e só parou quando chegamos no térreo.
- Está tudo bem? – ela perguntou.
- Sim. – sorri forçado e ela assentiu.
Não tinha porra nenhuma bem, mas era óbvio que eu ia fingir que estava tudo às mil maravilhas. Eu deveria estar nas nuvens por termos transado, já era meio caminho andado para ter ela de novo, mas era horrível aquela sensação que eu tinha de que noite passada tinha sido só sexo para ela.
Ela ficou arrumando as louças da cozinha enquanto fui tomar um banho gelado que eu esperava que congelasse meu cérebro e meu corpo, levando-me a morte, mas claro que foi em vão.
Eu deveria ter passado mais tempo escolhendo a roupa assim não precisaria ver tão cedo, mas eu apenas peguei a primeira camiseta de manga longa e bermuda que eu encontrei. Não tirei nem dois minutos para amarrar o tênis, apenas enfiei os cadarços de qualquer jeito e fui para sala.
estava mexendo com a colher em algo dentro de uma tigela e pareceu assustada quando eu apareci.
- Sério mesmo que você vai comer aqui e vai comer lá? – perguntei rindo. Por que diabos eu não conseguia ficar irritado com ela?
- É para você. – ela sorriu e empurrou a tigela.
Caminhei até o balcão da cozinha e puxei a tigela mais para frente. Eu podia sentir o olhar de em mim como se esperasse por algo, mas era só uma tigela de cereais, não era como se eu fosse morrer com aquilo.
“Quer namorar comigo” li assim que olhei dentro da tigela.
- Eu acho que eles deveriam colocar pontos de interrogação juntos, fica meio estranho, você não acha? – ela disse com um sorriso enorme no rosto.
- Talvez tenha e você só não achou. – dei de ombros com um sorriso maior que o dela.
- Não sabia quanto tempo você ia demorar no banho.
- Estou começando a achar que meu pedido de namoro foi péssimo perto do seu. – andei até ela e passei os braços em volta de seu corpo.
- Escrever no guardanapo com ketchup não foi a melhor das suas ideias. – ela acariciou minha bochecha – Mas então, o que você me diz?
- Eu não preciso comer o cereal, né? – arqueei a sobrancelha – Porque eu quero muito comer croissant com a minha namorada.
- Seja mais especifico. – ela provocou.
- É obvio que eu aceito namorar com você. – lhe dei um selinho.

A Times Square estava pior do que jamais imaginei na vida e por sorte eu não estava lá. e eu até tentamos ficar por lá e curtir o fim do ano, mas ela acabou desistindo por causa da multidão. No final fomos para um bar perto do meu apartamento com Maya e algumas amigas de .
- Vocês foram corajosos. – Maya disse – Nunca que eu me submeteria a passar o Ano Novo naquele lugar.
- Eu nunca vi tanta gente em um só lugar, e olha que já fui em show de boyband. – riu – Mas quem sabe daqui alguns anos.
- , eu te amo. – segurei seu rosto – Mas eu prefiro te levar ao show do Justin Bieber do que me enfiar naquela multidão no ano que vem.
- Eu não disse que era no ano que vem. – ela arqueou a sobrancelha.
- Ou qualquer outro ano. – insisti.
- Acho que nós poderíamos passar o próximo Ano Novo na Austrália. – Gina disse – Ligar felicitando todos os parentes primeiro que eles.
- Ano que vem quero algo mais calmo. – bebericou seu suco.
- Sério? – olhei-a surpreso e ela assentiu – Tudo bem. – dei de ombros.
- Que fofo ver vocês dois assim. – Maya se apoiou em seus cotovelos – Tão domésticos, tão casal. Parece que já tem cem anos juntos. – ela suspirou – Vocês também já se viram fazendo xixi?
- Às vezes. – riu.
- Aí que nojo de vocês. – ela riu.
- É tão fofo ver o nível de intimidade que vocês chegaram. – Gina sorriu apaixonada – Pena que meu último namorado era um idiota.
- O meu ex também era um completo idiota. – gargalhou – Era irresponsável, imaturo e muito infantil.
- Eu ainda estou aqui. – fingi estar ofendido e elas riram.
- É meio difícil achar um cara que seja tudo isso e esteja disposto a mudar pela gente.
- Depende. – Maya disse.
- Depende do quê? – perguntei.
- Do quanto você faz ele sofrer até que ele realmente mude. – ela provocou.
- Vocês querem que eu saia assim vocês podem continuar me ofendendo?
- Será que eles realmente mudam se fizer sofrer bastante? – Gina perguntou e assentiu – Como você sabe?
- O meu ex-namorado irresponsável, imaturo, infantil e as vezes babaca está aqui hoje. – ela deu um beijo na minha bochecha – Se ele te ama vai mesmo mudar.
- Calma aí. – ela nos olhou surpresa – é seu ex-namorado babaca?
- Sim. – riu.
- Não consigo acreditar. Vocês estão juntos por sei lá... três meses?
- Três meses se você não contar os dois anos namorando e os três morando juntos. – falei.
- Uau. – ela riu – Então é por isso que em tão pouco tempo vocês já se viram fazendo xixi.
Passamos o restante da noite falando de como e eu ficamos separados por um ano e ela fez questão de ressaltar meu momento fundo do poço em que eu fiquei cheirando seu travesseiro minutos depois dela ter ido embora.
- Você está bem? – perguntei a quando ela voltou de sua milionésima vez no banheiro.
- Sim. – ela sorriu – Só fui ao banheiro, amor, está tudo bem. – ela apertou meu joelho.
- Você está indo ao banheiro a noite toda. Tem certeza que está tudo bem? – insisti e ela assentiu.
- , eu estou ótima.
- Ok. – encolhi os ombros – Eu vou pegar mais uma cerveja, o que vocês querem? – levantei-me.
- Guinness? – Maya olhou para Gina e ela assentiu.
- E você? – olhei para .
- Suco. – ela sorriu.
- Sério? – olhei-a surpreso e ela assentiu – Tudo bem.
Fui até o bar e pedi as cervejas e o suco de . Ela só podia estar doente por não ter bebido uma gota de álcool a noite toda. Nem mesmo quando Gina pediu vinho, insistiu que ia ficar só no suco.
Olhei para ela do bar e as vi rindo sobre algo que tinha dito, e quando voltei elas começaram um papo estranho sobre o mercado imobiliário. Desde quando as três se importavam com isso?
- Amor, eu estou meio cansada, nós podemos ir embora? – sussurrou e eu assenti.
Nos despedimos de Maya e Gina que disseram que iam ficar por lá para arrumar um beijo de Ano Novo e chamei um táxi para irmos.
Quando chegamos no meu apartamento, correu para o banheiro e ficou lá por um tempo até sair.
- Você podia se mudar para cá. – falei quando ela se deitou ao meu lado no sofá – Metade das suas coisas está aqui, e você passa a maior parte do tempo aqui do que no seu apartamento.
- Tudo bem. – ela me deu um selinho.
- Sério? – perguntei surpreso e ela assentiu.
- Quanto tempo falta até meia-noite? – ela tateou meu bolso atrás do meu celular – Um minuto. – ela se levantou.
- Que pressa é essa, senhorita ? – fui atrás dela – O encanto vai acabar quando der meia-noite?
- Quem sabe. – ela riu – Ainda tem aquele suco de caixinha? – ela perguntou praticamente dentro da geladeira – Achei. – ela ergueu a caixa.
- Tem vinho também, se você quiser.
- Eu acho que você precisa maneirar seus hábitos, senhor . – ela pegou duas taças no armário – Você está se tornando um bêbado.
- Bêbado de amor por você. – sussurrei em seu ouvido.
- Cita Beyoncé e assiste as Kardashians, eu não podia pedir por alguém melhor. – ela me entregou a taça com suco – Espera os fogos. – ela me segurou quando fui beber.
Ficamos nos encarando por alguns segundos até se iniciou os fogos que anunciavam a virada do ano.
Segurei seu rosto com a mão livre e a beijei apaixonadamente. E pensar que no último Ano Novo eu fiquei sentado no sofá da minha mãe vendo a festa na Times Square enquanto eu sofria internamente por ser a primeira virada do ano em cinco anos que eu passava longe de .
- Feliz Ano Novo. – sussurrei contra os seus lábios.
Nós viramos toda a taça de uma vez e pulou em meu colo quando a colocou no balcão.
- Feliz Ano Novo, papai. – ela falou rindo.
- Isso... isso é sério, ? – perguntei ansioso e ela assentiu – Você jura?
- Eu não ia brincar com isso depois do que aconteceu. – ela me beijou.
- Eu... eu acho que eu vou ter um infarto. – caminhei com ela até a sala e a coloquei sentada no sofá – Meu coração está muito disparado. Quais são as chances de eu morrer agora? – perguntei rindo.
- Para de graça. – ela me cutucou com o pé – Eu estou surpresa que você não desconfiou. – ela riu – Parei de beber álcool, as idas frequentes ao banheiro. Eu já tenho até barriga. – ela ergueu a camiseta.
- O quê? – me ajoelhei na frente dela e passei a mão pela sua barriga.
realmente estava com uma barriguinha de grávida e me odiei por não ter notado isso antes. Como que um cara como eu, que repara até nas unhas cortadas da namorada, não percebeu que ela estava com a barriga daquele jeito?
- Faz quanto tempo?
- Eu descobri já na segunda semana. – ela sorriu – Estamos entrando no terceiro mês. – ela colocou suas mãos em cima da minha na sua barriga.
- Por que você não me contou antes?
- Eu queria te fazer uma surpresa. – ela disse com os olhos marejados – A primeira coisa que eu quis fazer quando descobri foi te ligar, mas ainda era a segunda semana e eu não queria criar muita expectativa.
- Como não criar expectativa com isso? – falei rindo.
- Não sei. – ela deu de ombros – Eu fiquei com medo.
- Quem mais sabe?
- Todo mundo sabe. – ela riu – Menos você.
- Por que não fico surpreso com isso? – beijei a ponta de seu nariz.
- Eu achei que ia ser a surpresa perfeita te contar hoje, porque ia se iniciar um novo ano e com isso uma nova fase na nossa vida.
- Por isso você desistiu tão fácil quando eu pedi para irmos para outro lugar que não fosse a Times Square. – ela assentiu – Você já o viu? – acariciei sua barriga.
- Ainda não fiz nenhuma ultrassom, mas já tem uma marcada para daqui duas semanas.
- E já vai dar para ver ele direitinho e também o sexo?
- Não sei, mas você pode perguntar quando formos.
- Eu posso ir? – perguntei empolgado.
- Claro que você pode ir. – ela riu – Você é o pai. É seu dever estar lá.
- É muito cedo para começarmos a pensar nos nomes?
- Não. É melhor assim, aí a gente não termina com um filho chamado . – ela riu.
- Ok, Junior já está oficialmente excluído da lista de nomes. – passei a mão em sua barriga.
Não era nada grande ainda, mas para mim parecia o mundo. Eu queria ficar acariciando-a até que o bebê nascesse.
- Eu meio que já andei pensando em alguns. – ela disse baixinho.
- Qual? – perguntei curioso – Tem que ser melhor que .
- Thomas . – ela disse com os olhos marejados – Eu achei que por ser o seu primeiro filho e o primeiro neto que seu pai não vai ver, seria um bom jeito de homenagearmos ele.
- É bem melhor que . – abracei-a – Tenho certeza de que ele adoraria. – falei com a voz embargada.
- Ele estaria orgulhoso de você se estivesse aqui hoje. – ela segurou meu rosto – Um filho amoroso, um namorado dedicado e agora pai. – ela me beijou.
- Um pai maravilhoso. – falei rindo.
- Isso a gente vai ver. – ela riu – Depende de quantas vezes você derrubar ele no chão a mais do que eu.
A vida era realmente imprevisível. Há mais de um ano eu perdi meu pai e minha namorada, tudo no mesmo mês. Atingi o que eu achei que fosse o fundo do poço e agora isso. Eu tinha novamente minha namorada, a mulher da minha vida que agora carregava dentro dela um filho nosso.
Não importava quantas vezes me perguntassem, eu jamais saberia explicar o quanto eu amava aquela mulher na minha frente. Eu precisei perdê-la para perceber que o real problema eram as minhas atitudes e que eu precisava mudar se eu quisesse tê-la novamente.
Poderia se passar anos, poderia engordar, ficar com o corpo cheio de estrias ou qualquer outra coisa que o universo tivesse guardado para ela. Eu nunca ia conseguir deixar de amá-la nem um pouquinho. O seu rosto era a primeira coisa que eu via pela manhã, era ela quem tirava do meu rosto o meu primeiro sorriso do dia. Daquele dia e por todos os outros que estivessem por vir.



Fim



Nota da autora: (07.10.2016) Essa é minha terceira shortfic publicada e senti uma necessidade enorme de dedicar ela a uma pessoa que é extremamente especial para mim, a Isabelle. Foi essa garota da foto que ficou ao meu lado todas as madrugadas enquanto eu escrevia e era ela que chegava em mim honestamente e dizia "eu não gostei" "está uma bosta" mesmo que eu tenha passado horas escrevendo, ela quem sempre diz se está bom ou não e é quem eu mais confio para tal julgamento. Não posso creditá-la como co-autora das minhas histórias, mas posso com certeza dizer que é graças a ela que criei coragem e comecei a mostrar as coisas que eu escrevo para o mundo. Obrigada por me fazer apagar mais de dez páginas porque você simplesmente não gostou, ou de ficar indicando minhas histórias para as pessoas lerem. Pensar em publicar um livro é uma coisa que está bem longe por enquanto, mas pode ter certeza que o primeiro nome da dedicatória e o primeiro exemplar é seu porque ninguém me entende como você. É isso, essa fanfic é para você e espero que um dia você encontre um boy maravilhoso que cheire seu travesseiro quando você der um pé na bunda dele porque você é minha diva poderosa e minha maior inimiga <3

Espero que vocês gostem da história assim como eu gostei bastante de escrevê-la :)
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Nota da beta: Mais uma vez uma história muito bem escrita e desenvolvida, você já deve estar cansando do tanto que eu te elogio, né? Hahaha.. Arrasou, Jamille, meus parabéns, linda! <3





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