White Dress


Bagagem. Todos nós carregamos. Em algum ponto da vida ela (ou elas) surge e a arrastamos por um período curto, longo ou pelo resto de nossas vidas. Ela vem em diferentes formas e tamanhos. Pode ser pequena como uma mania inconveniente ou no formato de um trauma causado por um evento impactante e doloroso. Ela influenciará sua vida e suas decisões, moldando seu caráter e às vezes reformulando quem você é. Ela sempre está presente, você notando ou não. Algumas são imperceptíveis para as pessoas que te cercam, mas em alguns casos ela é tão chamativa quanto um bufante vestido branco.
não sabia há quanto tempo estava sentada ali. Havia entrado naquele hotel para se esconder da chuva e do mundo e há algum tempo encarava o copo na sua frente. Não era uma hóspede, mas ninguém tinha coragem de pedir para ela se retirar. Seu penteado estava desfeito e a maquiagem estava manchada pelo choro e pela chuva fina que caia lá fora. A barra do vestido suja denunciava a longa caminhada que a levara até ali. Sua situação e olhar perdido geravam curiosidade e até pena, mas não o suficiente para que alguém se sentisse a vontade de fazer perguntas ou tentar consolá-la. Para todos ali, ela era apenas uma figura deprimente recostada ao pequeno bar.
Ainda com os olhos no copo, sentiu alguém se aproximar do bar e pedir uma cerveja. Franziu a sobrancelha ao notar que conhecia aquela voz e imediatamente se virou para o homem que a observava curioso. Os olhos dele se arregalaram quando encontraram os dela.
- ? – foi a única coisa que ela conseguiu falar. Estava surpresa de encontrá-lo ali depois de tanto tempo.
- ! – antes que ela pudesse expressar qualquer reação ele a abraçou. Foi um abraço rápido, mas durou tempo suficiente para que ela se sentisse um pouco melhor e também para que se certificasse que ele continuava cheiroso. – Nossa, é tão bom te ver! – ele separou o abraço, sorrindo. Puxou um banquinho e sentou perto dela. – Nós não nós vemos há...
- Onze anos. – falou, se sentindo um pouco agitada. Desejava que esse reencontro tivesse sido em circunstâncias diferentes. Os olhos dele a analisaram e ela se apressou em falar. – Como você está?
- Bem e você? – apertou os lábios ao perceber que a pergunta havia sido estúpida. O estado em que ela se encontrava deixava bem clara sua situação.
- Eu estou tendo um dia bem porcaria, mas vou ficar bem. – no momento ela não queria falar do quase casamento fracassado, então pensou que se tagarelasse o suficiente poderia evitar que sua situação se tornasse o foco da conversa.
- Você... – começou, ainda tentando encontrar as palavras certas.
- Vamos falar de você. – ela o interrompeu e deu um leve tapa em seu braço. – Me conta da sua vida. O que tem feito? – questionou verdadeiramente interessada. Queria saber tudo que ele tinha feito durante todo esse tempo.
- Viajado bastante.
- É um nômade agora?
- Isso. Sem moradia fixa por mais que poucos meses.
- Deve ser incrível. – suspirou feliz por saber que essa era a vida que ele sempre sonhara. Sonho que por algum tempo foi partilhado por ela. Bom, isso antes de todas as responsabilidades serem jogadas em seu colo.
- Acabo de voltar do Vietnã. As pessoas, a cultura... você ia adorar. – seu sorriso largo a fez sorrir junto.
- Então, o que você faz para bancar essa vida de incríveis férias permanentes?
- Pego qualquer trabalho disponível.
- Qualquer um? Até vender o corpo? – provocou com a sobrancelha arqueada e ele riu. Mais da expressão que ela carregava do que do comentário. – Aposto que fazia muito sucesso no sudeste asiático. – ela comentou sussurrando.
- Não faz ideia. – piscou e ela gargalhou. – A fotografia é meu foco, mas quando não consigo nada na área... bom... preciso usar meus outros dons. – ele levantou um pouco a camisa forçando uma cara sexy.
- E o que está fazendo de volta a nossa humilde cidade natal? – emendou outro assunto antes que ele tivesse a chance de fazer qualquer pergunta.
- Meus pais decidiram se casar de novo. – falou, já esperando uma exagerada reação da parte dela.
- O que? Sério? – ela questionou com os olhos arregalados. Os pais dele haviam se divorciado há quinze anos. – Isso é incrível!
- Eles voltaram há uns meses e decidiram casar de novo na mesma igreja.
- Estou muito feliz por eles. Eles sempre pareceram tão apaixonados, mesmo quando se separaram todo mundo sabia que ainda tinha algo ali. – apoiou o cotovelo sobre a bancada e a cabeça sobre a mão.
- Eles parecem adolescentes apaixonados. Estão até meio irritantes. – revirou os olhos rindo.
- Então você continua anti-romantismo?
- Um pouco, mas você não pode me julgar. Sempre foi coração de pedra.
- Isso é um insulto. No quesito “coração amargo” você ganha. – retrucou com falsa indignação.
- , seu apelido na escola era coração gelado. – acusou com uma careta. – As pessoas te chamavam assim por causa do vilão de ursinhos carinhosos. – ele forçou uma expressão séria e ela riu.
- É, mas não era por eu ser anti-romantismo, mas sim por eu bater em babacas e depois não mostrar arrependimento. – tentou se explicar diante do olhar ainda sério dele.
- Coração gelado era pela falta de coração mesmo. O apelido pelas brigas era Muhammad . – ela começou a rir e tapou o rosto. Havia se esquecido do carinhoso apelido dado por . – O melhor soco foi o que deu no Joe no 1º ano. Ele era um misógino cretino. – completou após tomar um gole da cerveja.
- Apesar da minha política de não violência, eu me orgulho de ter quebrado o nariz dele. Nem me importei com a suspensão. – retirou os brincos e seu delicado colar, queria se livrar logo de tudo relacionado ao casamento. Não via a hora de retirar aquele vestido.
- Você sempre lutou a boa luta. – comentou sorrindo, relembrando o quanto sempre a admirou por isso.
- Você também. – mordeu o lábio enquanto memórias passeavam por sua mente. – Nós passamos muitas horas na detenção. – roeu a unha do polegar esquerdo e apoiou a mão direita na bancada.
- Nós costumávamos lutar juntos por qualquer causa que nos acreditássemos. – deu um sorriso de lado e depositou a mão na bancada, perto da dela.
- Eu posso ver nos seus olhos que você ainda luta.
- Mas e você? O que tem feito para salvar o mundo? – tocou a mão dela e viu ela se afastar.
- Não muito na verdade. – cruzou os braços, se sentindo um pouco envergonhada. Sabia que se sua versão adolescente pudesse ver no que ela se tornou, ficaria decepcionada. – Sou vice-presidente da empresa agora.
- Está trabalhando com o seu pai? – questionou surpreso, franzindo a testa.
- Sim e não me olha com essa cara, não me julgue. – passou a encarar o copo ainda intacto.
- Eu não... é só que... Você está feliz lá? – tocou o braço dela, preocupado.
- Eu estou, lógico, está tudo ótimo, muito bom mesmo. É incrível. – repetiu as palavras que sempre proferia quando alguém perguntava sobre seu trabalho e viu o rosto dele se contorcer numa careta. – Que foi?
- Você sempre fala assim quando está mentindo. – deu um sorriso fraco diante da expressão dela. Mesmo após tanto tempo ele podia notar o quão perdida ela se sentia, e isso não se tratava apenas do quase casamento. Sabia que ela já devia se sentir assim há algum tempo.
- Não estou. Eu estou muito feliz trabalhando com ele. – forçou um sorriso e o viu erguer a sobrancelha.
- Nós precisamos ter uma longa conversa sobre isso, mas no momento eu estou aqui pensando quanto tempo ainda vai demorar para falarmos do grande elefante branco no meio da sala. – gesticulou exageradamente e ela suspirou.
- Está me chamando de gorda? – questionou divertida, tentando espantar a áurea deprimente do assunto.
- Não... Eu nunca... Não foi isso que eu quis dizer. – começou a rir diante do nervosismo dele. Tudo que havia os separado estava muito distante agora. Já estavam muito confortáveis um com o outro.
- Você ainda gagueja quando fica constrangido. Senti falta disso. Senti sua falta. – comentou, encolhendo os ombros e passou a encarar as próprias mãos. pegou sua mão direita e então desenhou um F na palma com o dedo. O gesto gerou risadas. – Eu não estou sendo falsa... e nem acredito que ainda se lembra disso. – sorriu com a memória do gesto bobo que fazia sempre que alguém que considerava falso aparecia.
- Você sempre desenhava um F no meu braço quando a Tracy aparecia. – relembrou, ainda segurando a mão dela.
- Verdade. Eu era tão boba. – tapou o rosto por um instante. – Minha birra com ela parece tão estúpida agora. Eu só a detestava por ser linda e chamar atenção dos caras. – balançou a cabeça, feliz por ter abandonado essa mentalidade idiota de enxergar outras garotas como inimigas ou concorrência.
- Eu sempre falei que ela era legal.
- É, mas isso só servia para eu detestá-la ainda mais.
- Você era muito ciumenta. – acusou, sorrindo de lado.
- Você também era. – revirou os olhos, relembrando a complicada relação de com Troy. odiava seu namorado de adolescência e não escondia isso de ninguém.
- Mas então... sobre o elefante branco na sala? – tocou a mão dela, tentando encorajá-la a falar.
- É. Eu sou uma noiva em fuga. – apontou para o vestido de forma jocosa.
- Isso eu percebi. – riu da pose que ela fazia mostrando o vestido. – Quer conversar sobre? – ela suspirou, se ajeitando no banco.
- Eu me dei conta que estava cometendo um grande erro minutos antes da cerimônia. – encarou o copo novamente e dessa vez bebeu um gole.
- Vamos conversar. Se embebedar não vai ajudar. – tomou o copo da mão dela decidido a beber tudo, mas assim que sentiu o gostou, cuspiu de volta. – O que é isso?
- Chá gelado. – riu das caretas que ele fazia. – Eu não estou bebendo meus problemas. Só estou me escondendo deles.
- Devia experimentar compartilhá-los. – sugeriu e após alguns segundos a viu assentir.
- Ok... Nem sei por onde começar. – suspirou, ajeitando a saia do vestido. – Sabe... era o cara perfeito. Herdeiro de boa família com um ótimo emprego e educação. Perfeito para o parâmetro dos meus pais. – relembrou o momento em que o pai apresentou , já na esperança de que algo acontecesse entre os dois. – Começamos a namorar e tudo ia bem entre a gente. E ai quando ele me pediu em casamento, eu achei que era a coisa certa a se fazer. O próximo passo óbvio. – esfregou a testa e bufou. – Tem noção do quão ruim isso é? Casar simplesmente por ser a coisa certa. Isso não é motivo para se casar com alguém. – seus olhos estavam marejados e a vontade de chorar aumentava. – Eu estava tão cega. Vivendo nessa bolha formada pelos planos e expectativas dos meus pais. – gesticulou, formando uma esfera imaginária. Sua voz já alterada, brava por ter agido segundo a aprovação dos pais por tanto tempo.
- E que aconteceu? O que te fez mudar de ideia? – sua voz estava suave numa tentativa de acalmá-la.
- Eu estava me arrumando em um quarto do melhor hotel da cidade. E a minha mãe e as mulheres da família do estavam tagarelando, fazendo plano para o meu futuro. Falavam sobre os filhos que eu ia ter, como seriam, até escolhendo nomes e tudo mais. Elas até falaram que eu ia precisar ficar sem trabalhar por um bom tempo, para cuidar da criação deles. Eu já tinha falado diversas vezes que não tinha certeza se queria filhos. Elas me olharam como se eu não soubesse do que estava falando. Aí eu disse para elas que o me entendia e.... a mãe dele falou de como ele já tinha planejado toda nossa vida juntos. E aí... ela me olhou de um jeito... seus olhos diziam que ela estava certa de que tudo seria feito do jeito que ela queria. – limpou algumas lágrimas que molhavam sua bochecha. – Aí a verdade me atingiu. Tudo até então era do jeito que ela queria, minha vida era do jeito que meus pais queriam. Eu tinha deixado de tomar minhas decisões há muito tempo. Eu não escolhi nada do casamento. Nem o local, a comida, flores ou esse estúpido vestido princesa bordado. Não escolhi minha carreira. Eu só aceitei as decisões que outras pessoas tomaram. E todos naquela sala estavam tão certos que eu teria um monte de filhos, que mais uma vez eu aceitaria as decisões de outras pessoas. – as lágrimas aumentaram e ela abaixou a cabeça por um instante, tentando conter toda a raiva e frustração. – Eu tive que sair de lá. Precisava ver o e ter certeza que ele era uma decisão minha sem influência da minha família. Aquilo ia muito além de ter filhos ou não. Eu precisava saber se ele seria o tipo de homem que apoiaria minhas decisões. Precisava saber se ele era mais que apenas uma boa decisão. Então eu fui vê-lo e... – abaixou a cabeça para limpar mais lágrimas, mas logo sentiu a mão de erguendo seu queixo. Ele limpou suas bochechas e depois apertou seus ombros. – Eu perguntei o que ele esperava da nossa vida juntos e ele me falou todos os planos que tinha feito. Falou que sabia que eu ia mudar de ideia sobre ter filhos e que eu ia ser uma ótima mãe e me dedicaria a nossa futura família. Isso me fez perceber que aquilo era um erro. Ele estava tão certo de que eu ia mudar de ideia e aceitar todos os planos dele. E eu não posso culpá-lo. Nos últimos anos eu mudei de ideia tantas vezes. Abri mão dos meus valores e escolhas. – fechou os punhos, irritada, e depois depositou as mãos em seu colo. – Quando nós éramos adolescentes, eu lutei pra não ser a filhinha que fazia todas as vontades dos meus pais. Lutei para ser respeitada e tomar minhas próprias decisões. E aí eu abri mão de tudo isso. Tudo na minha vida tem sido exatamente como meus pais quiseram. Eu estou tão envergonhada de quem me tornei. Você deve estar também. – completou, encarando as mãos. Estava diante de um homem corajoso que sempre havia tomado decisões sem se importar com a opinião alheia. Isso a constrangia. Saber que já havia sido como ele e então mudara de tal forma que mal se reconhecia.
- Não estou. – ele envolveu as mãos dela carinhosamente. Ansiava que aquele toque fosse capaz de retirar um pouco da dor e confusão que ela sentia. – Talvez você estivesse se sentindo meio perdida e aceitou a vida que eles impuseram, mas eu estou orgulhoso que tenha decidido mudar isso.
- Eu só queria ter percebido antes. Terminar tudo minutos antes do casamento foi horrível. Todo mundo deve estar me odiando. Depois de falar para o que estava tudo acabado, eu sai correndo de lá. Coloquei meu celular e carteira nessa bolsa ridícula. – mostrou a bolsa de renda com babados que a ex-sogra tinha mandado fazer para as madrinhas. – E sai de lá.
- Essa bolsa não é só ridícula. – pegou a pequena bolsa. – É como se ela tivesse sido feita de decepção e bordada em cafonice. – completou, fazendo-a rir. – Você vai ficar bem. Você é Muhammad . – pegou os ombros dela e os sacudiu levemente. – Você lutou 12 assaltos com o maxilar quebrado. Você lutou contra o racismo e se recusou a lutar na Guerra do Vietnã. – sorriu entre as lágrimas. – É... talvez você não tenha feito exatamente isso, porque você não é o boxeador, mas tem o mesmo espírito. Sempre teve. Sempre lutou pelo que acha certo e nunca foi de desistir facilmente.
- Eu mudei.
- Não te via há onze anos e nesses minutos tudo que eu vi foi a mesma . A garota que eu sempre admirei. – acariciou a bochecha dela por um instante. O momento foi interrompido pelo toque do celular dela.
- É o meu irmão. – falou, após checar o visor e então jogou o celular dentro da bolsa. – Não estou a fim de ouvir mais sermão. – apoiou o cotovelo na mesa e tapou os olhos.
- Como ele está?
- Ótimo. Finalmente amadureceu. Ele se casou ano passado e carrega água na peneira para esposa.
- Amo quando você fala como uma idosa. Tão sexy. – brincou, mordendo o lábio, mas foi ignorado.
- Engraçado você perguntar dele. Da última vez que o viu você praticamente o espancou. – lembrou-se do famigerado baile de formatura e isso a entristeceu.
- Foram só uns quatro socos. - começou se explicando, mas logo se irritou. – E é sério isso? Você vai defendê-lo?
- Você apareceu completamente bêbado no baile e voou em cima dele. É lógico que eu vou defendê-lo.
- Eu só fiz isso por que estava muito puto. Ele estava dormindo com a minha namorada. – cerrou os punhos e bateu na bancada.
- Como que é? – arregalou os olhos, surpresa com a revelação. Essa parte da história seu irmão não tinha contado.
- Agora vai falar que não sabia disso? – questionou irritado.
- É claro que não.
- Ele me falou que você sabia e ainda acobertava.
- O que? Eu nunca faria isso. – sua agitação voltou. A raiva crescia dentro de si. Perceber que a imaturidade e egoísmo do irmão tinha custado sua amizade com era doloroso.
- Então nós nos afastamos porque seu irmão era um babaca egoísta. – o semblante de suavizou. Não havia mais raiva ali, sua voz agora expressava toda a tristeza gerada por aquela revelação.
- Eu vou matar ele. – bateu na bancada, bufando. – Eu te odiei por muito tempo. Eu achei que... – esfregou a testa nervosa. – Eu realmente vou matar ele.
- Me desculpa. Por ter acreditado nele e aí ter decidido te ignorar. Eu nem me despedi antes de viajar. – se aproximou dela, depositando a mão em seu ombro.
- Eu que tenho que me desculpar. Devia ter ido atrás de você. – inclinou a cabeça sobre a mão dele. – Você nunca foi do tipo que se embebeda e faz idiotices. Eu devia... – apoiou os cotovelos na bancada e escondeu o rosto entre as mãos.
- Não podemos mudar o passado. – acariciou o ombro dela. – Mas pelo menos nós tivemos essa oportunidade de colocar tudo em pratos limpos.
- Pena que isso levou onze anos para acontecer. – deu um sorriso triste e colocou a mão sobre a dele. O celular dela voltou a tocar. Tirou ele da bolsa e ficou encarando o visor por algum tempo, considerando atender. – Uma hora eu vou ter que voltar para minha realidade.
- Não precisa ser agora. – pegou o celular da mão dela e desligou. – Fica aqui. – pousou a mão sobre a dela.
- O que?
- Passa a noite aqui. Você tem o direito de se esconder um pouco mais. Colocar as ideias no lugar e refletir sobre tudo.
- Você está certo. Eu preciso disso. – massageou a nuca, sentindo-o observá-la.
- Você também precisa de um banho. – sussurrou, se aproximando, e recebeu um leve empurrão. – Esse cabelo, a maquiagem, o vestido... Está parecendo a noiva do Frankenstein.
- Em minha defesa, meu cabelo está assim porque estava cheio de spray fixador e eu tomei chuva. E você devia medir suas palavras porque eu ainda bato em babacas. – ameaçou, apontando o dedo para o rosto dele.
- Vamos te conseguir um quarto. – ofereceu o braço para ela e caminharam juntos até a recepção.
Combinaram que enquanto ela tomava um banho, ele buscaria algo para comerem. Ainda tinham muito que conversar e sentiam que após tanto tempo separados precisavam aproveitar todo o tempo disponível.

Quando bateu na porta do quarto de , se surpreendeu ao encontrá-la ainda trajando o vestido princesa bordado.
- Por que não tomou banho? – sentou na cama e depositou ali um pote de brownies veganos que tinha encontrado em uma cafeteria perto dali.
- Porque eu não consegui tirar esse vestido. – respondeu bufando, andando de um lado para o outro. Estava vermelha e o cabelo ainda mais bagunçado. pensou em comentar como o cabelo dela parecia o ninho de algum pássaro, mas percebeu o quão irritada ela estava e decidiu evitar uma morte prematura. – Essa porcaria de vestido tem 50 botões e eu só consegui abrir uns 15. – se virou, mostrando os poucos botões espaçados abertos. Ele imediatamente se levantou, foi até ela e começou a abrir os botões. – Considerei rasgar, mas desisti. – comentou, tentando não se afetar pela respiração quente na sua nuca.
- Vai guardar para o próximo casamento? – seu sorriso se alargava à medida que mais pele aparecia.
- Não vai ter próximo. – tratou de segurar a frente do vestido, já largo o suficiente para descer até suas pernas. – Mas eu pretendo doar para alguém. – suspirou ao sentir o toque de em um ponto nas suas costas.
- Lembra o que eu costumava falar? – questionou, se referindo à pequena marca de nascença no formato da Bolívia que ela possuía na base das costas.
- Você dizia que eu tinha La Paz escondida nas minhas costas. – sorriu com a lembrança, mas assim que sentiu ele se aproximar um pouco mais, se apressou em direção ao banheiro e tudo que pode fazer foi seguir seus passos com o olhar.

Quando finalmente saiu do banheiro, trazendo consigo um ar abafado e perfumado, se deparou com confortavelmente deitado em sua cama, zapeando pelas dezenas de canais disponibilizados pelo hotel. Sua atenção foi logo atraída pelo pequeno pote ao lado dele. Não tinha percebido o quão faminta estava até aquele momento. Ajeitou o roupão e pulou na cama.
- O que está assistindo? – perguntou, já atacando os brownies, mas não obteve resposta. Notou que ele a encarava, meio hipnotizado, como se a mulher ali não fosse sua antiga amiga de escola. – ? Você está bem? – ele pareceu finalmente despertar do transe em que se encontrava, piscando os olhos e desviando-os do rosto dela.
- Sim, é que... – ele paralisou, sentindo sua garganta arranhar – Agora eu estou vendo você. – seu tom de voz e sorriso fizeram corar. Encarou os pés e seus olhos focaram na enorme cicatriz presente no seu pé direito.
- Se lembra disso? – ergueu o pé na direção dele.
- Não foi minha culpa. – ele fez uma careta e usou o próprio pé para afastar o dela.
- É claro que foi. – o imitou, dando um pequeno empurrão em com o ombro.
- Eu não mandei você subir naquela árvore. – se defendeu, diante do olhar acusador dela, levantando os braços em sinal de inocência.
- Você estava lá triste e eu quis ser uma boa amiga. Você quase caiu junto quando viu eu me espatifando no chão. – riu da lembrança. Lembrava-se da imensa preocupação de . Ele passou semanas a carregando nas costas para todo lado.
- Se lembra dessa? – inclinou a cabeça para trás mostrando a cicatriz no queixo. – Você achou que era uma boa ideia descer o morro da Ventania de bicicleta.
- E era... até você rasgar o queixo no asfalto. – instintivamente, seus dedos foram para a cicatriz do antigo amigo. Ela passou os dedos por lá, delicadamente, e não pôde deixar de sorrir.
- Pior que uns meses depois você resolveu descer de novo, mas dessa vez de carrinho de rolimã. – balançou a cabeça, apertando os lábios.
- E você desceu também e quebrou o braço. – comentou, tentando não rir. – Tão frágil. – deu leves tapinhas no topo da cabeça dele.
- Vou embora e vou levar os brownies. – fechou a cara, agarrou o pote que estava entre eles e ameaçou levantar, fingindo-se irritado por ter sido sacaneado.
- Não vai não. – puxou o pote e o amigo juntos, ambos caindo de volta na cama – Mas fala sério. Eu era a garantia de diversão para a sua vida.
- Não. Você me garantia visitas ao pronto socorro. – jogou um travesseiro em quando ela começou a rir.
- Não exagere.
- Exagero? – bufou o rapaz – Na reunião de dez anos do colégio, tinha várias fotos espalhadas e na maioria delas um de nós estava com gesso, hematomas ou um band-aid colado na testa.
- Não sabia que tinha ido à reunião. – exclamou, pensativa.
- Todo mundo perguntou por você. – ele comentou, acariciando o joelho dela.
- Eu estava em uma viagem de negócios, mas queria muito ter ido. – coçou a cabeça, incomodada com uma voz em sua cabeça que dizia que se não tivesse priorizado aquele trabalho idiota, teria reencontrado antes.
- Foi divertido. – deu de ombros – Muito bom rever todo mundo... Quase todo mundo. – se corrigiu, relembrando o quão desapontado ficou ao saber que ela não estava presente na festa. – Encontrei a senhora Pratt e ficamos um tempão em frente o mural de fotos do clube de teatro dando risada. – sorriu ao se lembrar do fato.
- Ela devia odiar a gente. – soltou, arregalando os olhos – Estragamos quase todas as peças.
- Lembra a nossa versão de "Sonho de uma noite de verão"? – assim que ouviu aquilo se engasgou com o brownie, por conta de uma risada teimosa que começou a surgir.
- Como esquecer. – comentou, ainda tossindo e rindo. – Foi um desastre.
- Nem foi tão ruim.
- Lógico que foi. Nós dois demos crise de riso no segundo ato. Ah, e logo depois você acertou o olho do Troy.
- Foi um acidente. – rebateu, se defendendo e erguendo as mãos.
- Ele não achou isso. – não conseguia parar de rir. Troy havia ficado tão irritado que deu um soco em . Começaram a brigar no meio da apresentação, destruindo algumas árvores de papelão. Para piorar, em sua tentativa de separar a brigar, rasgou parte do vestido.
- Seu namorado era um babaca.
- Eu sei. Ganhamos uma longa suspensão por culpa dele. Vocês por brigarem e eu por quase ficar sem roupa no palco. O que foi uma injustiça.
- Acho que a única peça que deu certo foi Peter Pan, por que nós éramos parte do cenário.
- Quase deu certo na verdade. Esqueceu que eu tive uma crise de espirros e derrubei a Wendy?
- Tinha me esquecido disso. – riu, tapando os olhos.
- A minha apresentação favorita foi aquela você se vestiu de marinheiro. Como se chamava? – franziu a testa, tentando se lembrar do nome. Felizmente, estava na ponta da língua para .
- Nos tempos do vinil.
- Isso. A sua roupa era meio transparente e você ainda fez questão de usar uma cueca vermelha com desenhos de foguete. – se arrependeu logo depois do comentário. Era vergonhoso contar para ele que se lembrava disso. – Estava hilário. – completou, tentando esconder a vergonha.
- E sexy. – sorriu, diante do tom rosado das bochechas dela.
- E sexy! – repetiu, rindo. Limpou a garganta e saiu do assunto constrangedor – Nem sei como conseguimos entrar para o clube. Éramos péssimos atores. A senhora Pratt ri agora, mas na época devia querer nos matar. O diretor Donovan também odiava a gente.
- Ele perguntou por você. E mencionou que nós dávamos muita dor de cabeça para ele. Falou que nós sempre arrumávamos algo para protestar. – apesar das boas notas, os dois passaram horas na detenção e muitos dias de suspensão.
- Nós sempre tivemos corações revolucionários. – afirmou, em um tom nostálgico. Por que mudara tanto em sua vida, afinal? , por sua vez, limitou-se a assentir, retirando o pote sem mais brownies da cama, e deixando que o silêncio falasse por si mesmo.
- Em quase todas as fotos nós aparecíamos juntos. Menos as do baile. Tínhamos que estar juntos lá também. – colocou a mão sobre a cabeceira da cama, se aproveitando do movimento para se aproximar um pouco mais.
- Tínhamos mesmo. – recostou a cabeça na cabeceira, bem perto da mão dele. – Passei o baile brigando com o Troy e depois com ódio de você por ter aparecido bêbado e socado meu irmão.
- E eu fiquei me embebedando no estacionamento. Eu realmente queria que as coisas tivessem sido diferentes. – estendeu a mão e acariciou os cabelos dela. – Nesses onze anos eu senti a sua falta e... cheguei a te procurar algumas vezes. – ela arregalou os olhos, surpresa por não terem se visto nenhuma vez. – Desencontramos todas as vezes.
- Eu meio que tentei te stalkear na internet, mas não tive muito sucesso porque você é um homem das cavernas que não está em nenhuma rede social. – comentou, contorcendo o rosto em uma careta.
- Minha mãe sempre falou que eu tinha que fazer um perfil no facebook. Agora me arrependo por não ter ouvido. – continuou o carinho e se aproximou um pouco mais. O som da televisão chamou a atenção de . Adam Sandler cantava You spin me around em um casamento.
- Afinado no amor! – deu um tapa no braço de animada. – Seu filme favorito.
- Meu filme favorito é Duro de matar. – discordou, recebendo um olhar debochado.
- Até parece. – ironizou com os olhos cerrados e logo voltou sua atenção para a televisão.
Após poucos minutos de filme chorava. A cena em que Robbie, o protagonista, era abandonado no altar a deixara abalada. Sempre assistia ao filme e sentia raiva de Linda por abandonar Robbie. Sentiu-se mal ao perceber que talvez ela fosse a mulher sem coração que abandonou um cara legal.
- Eu sou a Linda. – sua voz estava embargada e cheia de decepção. – Sou uma pessoa ruim.
- Você não é a vilã. Fez a coisa certa. – segurou o rosto dela entre as mãos e limpou as lágrimas com os polegares. – Casar com ele pelas razões erradas ia fazer mal para vocês dois.
- Então por que eu me sinto tão mal? – questionou, encolhendo os ombros.
- Porque você é uma boa pessoa e se preocupa com os sentimentos alheios. – acariciou o rosto dela. – Mas sabe... até mesmo no filme, a Linda ter abandonado o Robbie foi a melhor coisa que aconteceu. Ele seguiu em frente. O vai ficar bem. E você também. – a encarava com um olhar terno. – Separados, é claro.

O filme terminou e eles nem notaram. Estavam engajados em uma conversa sobre o presente, seus planos para o futuro e o passado juntos. Entre risadas, toques e sorrisos não viram a hora passar. Passaram a madrugada conversando sobre tudo e relembrando cada momento que passaram juntos.
- Melhor viagem? – questionou, sentando de pernas cruzadas. Sua cabeça e costas doíam, mas dormir era a última coisa que queria naquele momento.
- Show do The Killers. – sorriu com a lembrança e viu o rosto dela se contorcer em uma careta.
- O que? – questionou indignada e jogou um travesseiro nele. – Nós nem assistimos ao show. Roubamos o carro do seu pai e ele enguiçou no meio do caminho.
- Mas foi divertido. Uma das nossas últimas aventuras juntos. – bocejou no meio da frase. Também estava tomado pelo cansaço, mas não permitiria que ele vencesse.
- Eu odiava aquele carro. Sempre nos deixava na mão nos piores momentos.
- Eu odiava o fato de você namorar o Troy. – retrucou sem hesitar.
- Só namorei ele para atormentar os meus pais. – se apressou em explicar. Não entendia por que sentia essa necessidade. – Ele era um emo/gótico que pagava de rebelde para atormentar os próprios pais. Perfeito para o meu propósito, mas um péssimo namorado. Ele era tão melancólico. Era como um episódio mal escrito de Dawson's Creek.
- Também era um babaca pretensioso. – acrescentou, revirando os olhos. – Mas vamos lá. Memória favorita? – ela olhou o teto por um momento, mas logo encarou com uma sobrancelha erguida.
- Além de você vestido de marinheiro?
- Segunda favorita? – riu da expressão que ela carregava.
- Eu não sei. – inclinou a cabeça pensativa – Nós vivemos tantas coisas incríveis. Qual a sua?
- Nosso último natal juntos. – suspirou. Lembrava-se perfeitamente daquela noite. – Você estava usando um vestido verde e estava tão mal humorada por seus pais terem te abandonado numa data tão importante.
- Nós saímos da sua casa e fomos para um bar com identidades falsas. – acrescentou, sendo tomada novamente pela tristeza.
- E nós ficamos naquela noite. – buscou o olhar dela, mas ela encarava a parede atrás dele.
- Não devíamos ter feito isso. Foi quando tudo começou a ficar estranho entre a gente. – começou a roer a unha do polegar desconfortável com a conversa.
- Eu não me arrependo... – começou, enterrando a mão nos cabelos, mas foi interrompido.
- Eu sim, e me arrependo de ter me declarado para você dias depois. – se abraçou, estampando um sorriso triste. – As coisas eram melhores antes disso acontecer. Depois parece que fomos ladeira abaixo. Sendo o baile o fundo do poço para nossa amizade.
- Sabe do que eu me arrependo? Ter sido covarde. – se aproximou dela, tocando seu joelho. – Eu estava incerto sobre como me sentia e te afastei.
- Eu abri meu coração e você me rejeitou friamente. – apertou os lábios, lembrando o quão difícil aquilo tinha sido. Quanta coragem teve que reunir para dizer como se sentia para ser duramente rejeitada.
- Eu sei. E foi um erro. – segurou os cotovelos dela. – Quando eu finalmente criei coragem para acertar tudo, fui até a sua casa para te contar como eu me sentia. E te vi com o Troy. Era tarde demais.
- Não era. Tinha que ter me falado. – desviou o olhar e passou a encarar as próprias mãos. Sentiu ele deslizando os dedos de seus cotovelos até seus ombros.
- Acredite em mim, passei muito tempo remoendo esses arrependimentos. E por algum tempo eu me convenci de que isso era estupidez, mas agora, estando aqui com você, eu percebo o quanto aqueles sentimentos eram reais. – confessou, acariciando os ombros dela.
- Parece que tem muitos "E se?" na nossa história. – comentou após um longo suspiro e deu um sorriso triste, sentindo a mão direita dele agora em seu pescoço. – Você acha que se tivesse rolado algo entre a gente teria durado?
- Com certeza. – acariciou seu pescoço e depois a bochecha. sentia seu interior se aquecer, mas uma parte dela ainda achava que se afastar era a melhor opção. – Estaríamos vivendo em alguma comunidade alternativa com uma família bem hippie. Ou então estaríamos viajando o mundo. – completou sorrindo, fazendo-a sorrir junto. Ouviram os primeiros acordes de Only ones who know. Um show da banda Arctic Monkeys passava na TV. levantou, puxando junto. Segurou a cintura da amiga, trazendo-a para perto e logo sentiu seu pescoço ser envolvido pelas mãos dela. – As músicas deles sempre me fizeram pensar em você. – comentou, mas não obteve resposta. Os olhos dela estavam fechados e seus sentidos muito ocupados em aproveitar aquela proximidade.
- Quando vai embora? – ela questionou quando a música acabou. Haviam sido atingidos pela realidade.
- Semana que vem. – respondeu sem se afastar. Estavam na mesma posição. Ele apoiava o queixo na cabeça dela. Não havia música, mas não se importavam.
- Vai para onde?
- Austrália. Vou trabalhar uns meses em uma vinícola.
- Acabamos de nos reencontrar, mas logo vai ter que se afastar de novo. – se afastou um pouco para encará-lo.
- Não pretendo. Dessa vez vamos manter contato. Eu preciso de você. Ainda é a pessoa que eu chamaria se precisasse enterrar um corpo. – sorriram juntos e ele a abraçou. Logo o instrumental de No. 1 party anthem foi ouvido e eles voltaram a se mover. – É minha parceira de crime e de dança. – completou, se aproximando mais. Não estavam realmente dançando, estavam tão concentrados na presença um do outro que se limitavam a dar pequenos passos.
O alarme do celular dele tocou e ela suspirou. lembrou do próprio celular desligado. Lembrou-se de , de sua família, amigos e de todas as coisas que ela tinha abandonado na noite anterior. De tudo que ela estava se escondendo.
- Eu não me arrependo da decisão que eu tomei, mas o que eu faço agora? – questionou de olhos fechados. O nariz dele tocava sua testa enquanto se moviam abraçados.
- Agora você vai fazer o que está destinada a fazer. – sussurrou no ouvido dela.
- Não é tão simples. Primeiro tenho que descobrir o que seria isso.
- É muito simples, é só achar você e ai ser você. O melhor de você. – ele encostou a testa na dela, fazendo com que seus narizes também se tocassem. A mão esquerda dele fazia um carinho nas costas dela, mas logo deslizou até seu pescoço. Antes que qualquer outro movimento pudesse ser feito o instrumental de I bet that you look good on the dancefloor começou e os assustou. se afastou lentamente, alcançou seu celular e o ligou.
- 86 ligações perdidas. – falou, encarando o visor. – Estou cansada demais para lidar com tudo isso. – sentou na cama, jogando o celular ao seu lado.
- Vou deixar você descansar. – murmurou. Estava parado no mesmo lugar onde ela havia o deixado. – Conversamos mais tarde. – caminhou até a porta, mas parou quando a ouviu chamando seu nome.
- Obrigada por tudo. – ela caminhou até a porta e o abraçou. Suas mãos envolveram as costas dele enquanto ele envolvia sua cintura. Requereu muito da sua força de vontade se afastar dele naquele momento. Após beijar a bochecha dela, ele se virou e saiu. Poucos segundos após fechar a porta, ouviu batidas.
- Quer ir no casamento dos meus pais? – perguntou assim que ela abriu a porta.
- É claro que sim. – sorriu animada.
- Ótimo. – ele se virou para sair, mas parou. Encarou-a pensativo.
- Está tudo bem? – estranhou a expressão dele. Era como se estivesse em um dilema interno.
- Quer ir para Austrália? – perguntou após um momento de hesitação.
- Você está falando sério? – ela franziu a testa, sentindo a respiração ligeiramente acelerada.
- É claro que sim. Eu sei que pode parecer loucura e talvez seja. – enterrou as mãos nos cabelos, receoso e ansioso com a resposta dela. – Mas é exatamente disso que precisa. Vai ser um tempo para você decidir o quer. Longe de tudo e de todos que te pressionam e...
- Você está certo. Eu vou.
- Está falando sério? – se assustou com a rapidez com que ela tomara aquela decisão.
- É. Eu preciso disso. Além disso, eu passei muito tempo sem aventuras. – mordeu o lábio e o viu sorrir. – Então, depois combinados tudo.
- Ok. – ele a abraçou novamente e saiu. ficou parada ali com a mente girando, ainda meio incerta e agitada com sua repentina decisão. A única certeza era que tinha passado tempo demais longe de . Ouviu novamente batidas na porta e a abriu sorrindo, pronta para fazer uma piada sobre como agora que se reencontraram, não conseguia manter distância. Mas ela não teve a chance. Quando a porta se abriu, ele levou as mãos até o pescoço dela e a beijou. Assim que se afastaram, ele manteve as mãos no pescoço dela e pressionou a testa na dela por alguns segundos. Enterrou as mãos em seus cabelos antes de beijá-la novamente.
- ... – começou, se afastando. – Eu ia me casar hoje. – completou, tentando acalmar o ritmo de sua respiração.
- Mas não casou. – levou as mãos até as bochechas dela, mantendo a proximidade.
- Nós nem nos conhecemos de verdade. O que temos é só o passado. – tentava não se afetar pela proximidade, pelo perfume e pelos olhos dele que a analisavam.
- Eu estou disposto a gastar muito tempo te conhecendo. E não importa o tempo que ficamos separados. Essa noite eu vi que você ainda é alguém que eu quero manter por perto. – contornou o rosto dela com os dedos, indo de sua testa ao queixo e depois contornou sua boca com o polegar.
Parte dela estava com medo. Medo de que aquilo fosse algo passageiro. De que não fosse algo palpável. Que aquilo fosse só sentimentos inacabados que haviam aflorado momentaneamente, mas iriam embora em poucas semanas. Mas ela decidiu que não se importava. Abraçou o pescoço de e o puxou para perto. Hesitando propositalmente antes de finalmente beijá-lo. Pela primeira vez em muito tempo fazia o que seu instinto dizia. E ele dizia para se arriscar.

Fim



Nota da autora: Fic dedicada a Dudis minha amiga maravilinda que sempre quis fic com cena de dança ao som de No. 1 Party Anthem.
Agradeço a Bruh Avelino que é sempre explorada para me ajudar com as fics, além de ser minha gêmea de cérebro rs
P.S. A fic foi escrita umas duas semanas antes da morte do Ali, essa figura íncrivel está aí devidamente homenageada.




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