Where Is The Fuck of Love?

Última atualização: 02/07/2019

Prólogo


Era mais uma manhã fria quando acordei morrendo de frio e notei que deixei a janela aberta, era um milagre não ter ficado com hipotermia. Ouvia minha mãe gritar para não me atrasar enquanto tive de me arrastar até a janela e agradeci mentalmente por não ter nevado aquela noite, devia estar fazendo uns 3º. Acabei me despertando com a cena que vi ao me aproximar da janela, estava apenas de samba canção cantando bem empolgado em seu quarto na casa vizinha. é uma das pessoas mais engraçadas que eu conheço e meu melhor amigo, ou melhor, o garoto que atormentava minha infância quebrando meus brinquedos. Fechei a janela entre risos e questionei como alguém pode estar tão animado àquela hora da matina, até que escuto meu irmão cantando no banheiro ao lado de meu quarto. Qualquer dia irei questionar qual o segredo de ambos para tanta hiperatividade pela manhã enquanto tenho de me arrastar até o banheiro de meu quarto.
De banho tomado e cabelo preso em um rabo de cavalo feito de qualquer jeito, fui à cozinha, meu irmão já estava comendo junto a meu pai, um café da manhã caprichado, enquanto eu peguei duas das torradas que minha mãe fazia, sempre com meu fastio matinal.
– Quem vai me levar? – Questionei com esperanças de não ter de pegar metrô ou ônibus da escola na intenção de cochilar um pouco no carro. Eu não era uma pessoa das manhãs.
– Vou levar. – Diz minha mãe. – Mas sabia que acabou de tirar a carteira? Deveria ir com ele agora.
– Ah, isso explica a empolgação matinal dele. – Rio lembrando-se da cena enquanto todos me olhavam estranho. – O que foi? Minha janela estava aberta e quando fui fechar lá estava ele cantando e dançando pelo quarto.
Decidir os poupar de imaginar de samba canção, mas aquele pequeno comentário foi o suficiente para fazer a manhã de todos. Fiz uma nota mental sobre pegar carona com , a questão é que sempre gosto de chegar bem cedo, com ele era provável que isso não acontecesse. Sempre observo a hora que ele chega e é sempre bem em cima do horário. Pontualidade era uma exiguidade para ele. Contudo, não nos falamos muito no colégio, nosso horário não bate muito que poderia vir a ser um problema para as caronas.
Jogando minha mochila para meu lado, já no carro, minha mãe me olhou não acreditando que eu realmente iria daquele jeito para escola. Era 07h da manhã e ela reclamou de meus trajes durante o resto do café da manhã. Mandando-me ajeitar meu coque ou colocar algo mais quente. Meu conjunto azul bebê de moletom parecia não ser suficiente para me esquentar em seu ponto de vista.
– Quando começa as semanas de testes?
– Próxima semana. Esse final de semana é aniversário de , acho que ela vai fazer uma festa. Tenho minhas dúvidas sobre isso por conta da semana de testes.
– Contando que não passem do limite, vai ser bom para relaxar um pouco da tensão dos testes.
– É a , impossível passar dos limites. Certeza que só vai ser apenas as meninas e eu e vamos ficar conversando besteira a noite toda.
– Tranquilo.
Um pouco depois minha mãe estacionou em frente ao colégio. Despedi-me com um aceno e entrei no colégio indo para área livre, onde normalmente me encontro com as meninas, faltavam vinte minutos para a aula começar e aproveitei para me atualizar no mundo das notícias e nas redes sociais.
! – Ouço alguém me chamar e logo vem em minha direção. Ela estava com roupa de líder de torcida, ultimamente nos dias de terça-feira seu treino acontecia antes do primeiro horário, ela costuma dizer que é cansativo, mas um ótimo jeito de se despertar.
– Hey. – A comprimento. – Terminou mais cedo o treino?
– Graças a Deus, mulher, hoje pegaram pesado, então foi justo terminar dez minutos antes. Estava indo me trocar até que te vi aí. – Ela se sentou ao meu lado.
– Esse treino tenso é por conta da temporada de jogos mês que vem?
– Sim, está tenso com esses horários antes das aulas e após aula, a treinadora quer tudo perfeito e isso está nos desgastando. – Ela respira fundo. – Mas então, nenhum plano para festa de ?
– Acho que vai ser o de sempre.
- Tentarei mudar isso.
– Então fale com a própria. – Digo ao avistar e vindo a nosso encontro.
Achava engraçado ver ambas juntas, era notória a diferença de estilos. tinha altura mediana, esbanjava um vestido longo azul marinho, cabelos castanhos longos, com um andar pesado e indiferente para quem estava à sua volta. , é baixinha, com um estilo mais moderno, trajando uma saia jeans um tanto curta e uma camiseta preta, estava com um sorriso no rosto. ao meu lado acenou para elas empolgada, às chamando para que se juntasse mais rápido a nós. é baixinha também, porém mais alta que e mais baixa que . Se ficássemos juntos ficava uma escadinha, tendo em vista que sou um pouco mais alta que , mesmo que coisa mínima.
Aproveitamos o tempo livre para planos da possível festa de , por mais que ela estivesse na negativa, estava difícil acabar com a empolgação de e sobre uma festa neste final de semana. A conversa acabou com concordando, contando que fossem apenas a gente e mais alguns amigos mais próximos.

Aula de português era a última aula do dia durante as terças-feiras. Essa era a aula que eu tinha acompanhada de e nos sentíamos em um reality show. O motivo era dois colegas de classe nunca paravam de nos observar, cada santo movimento que fizéssemos Paul e Raul estava observando. Um deles tinha namorada, o Raul, devo dizer que o mais bonito deles. Estava sempre em uma pose séria e era o único que tentava disfarçar o olhar, o outro não se preocupava com disfarces. Raul é alto, devia ter na faixa de 1,85 ou mais, rosto marcado, olhos castanhos e corpo másculo, era sempre surpreendente quando alguém descobria que era o mais inteligente e nerd do colégio, ele tinha um porte de jogador galanteador, talvez seus olhos pequenos fossem o motivo de dar o ar de sedutor, além do porte físico, quem lhe ver nunca diz ser um nerd.
O outro, o Paul, era baixo, no máximo 1,75, cabelos negros, olhos azuis. Igualmente inteligente, mas um ego elevado e maior do que ele mesmo. Confesso que já cheguei a ter uma queda por esse, mas aquele olhar de superioridade acabou com qualquer resquício de ‘atração’. Naquele colégio, os nerds não era como costumamos ver, fofos e bobinhos, longe disso, eu não duvidava que fossem o mais safados do colégio. Eles tinham mais um amigo, Steffan Fray, tinha aula de filosofia com e seu olhar deixava explícito que ele é louco por ela. Costumo me divertir com seu olhar sobre ela, principalmente com o jeito que ela gosta de provocar o devolvendo o olhar de forma mais intensa. Steffan também é alto, deveria ter uns 1,80, cabelos castanhos escuros e grandes sobre o ombro, um estilo livre como o de e um aspirante a poeta. Com muita lábia, talvez seja o motivo de sua popularidade no colégio e eu não duvidava que vencesse se candidatasse para ser presidente estudantil.
Ao fim da aula eu já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha feito uma cara feia para Paul, na intenção que parasse de olhar, mas aquilo parecia não funcionar com ele, parecia até atiçar o rapaz.
– Fico cansada nas aulas só por conta deles.
– Devem estar de olho para o amigo. – Brinco recebendo uma revirada de .
Estávamos no lado de fora à espera de e . De longe podemos avistar Raul com a namorada encostados a uma árvore. Ela é bonita, com longos cabelos ruivos e feições com detalhes delicados, é colega de , as duas dançam juntas e parecia ser uma boa pessoa, mas eu não posso deixar de sentir pena dela, gostaria de ser sua amiga e lhe alertar sobre Raul, ele tinha cara de ‘anjo’ mas estava mais para um ‘demoniozinho’ sedutor.
Vejo vindo em nossa direção, com o seu habitual sorriso carismático. A imagem que vi pela manhã me veio em mente e eu logo comecei a rir enquanto de nada entendia.
– O que foi, garota? – Ela questionou assim que estava ao seu lado.
-– é o culpado. – Eu digo entre risos.
– O que eu fiz? document.write(Valentina) permanecia de cenho franzido.
– Er... Minha mãe comentou que você queria carona.
– Ah... Não precisa se preocupar com isso. – Digo sem acreditar que minha mãe tenha feito isso sem minha permissão. – Eu vou de ônibus com .
– Eu posso dar carona para as duas.
– Tem certeza que não é incômodo? – Questionei enquanto e chegaram. – Você não vai para o trabalho?
– Pelo amor de Deus , só aceite ok?
– E aí, . – o cumprimentou. – O que está acontecendo?
– Estou oferecendo carona.
– Se morássemos perto já teria aceitado, mas não sabia que tinha tirado carteira.
– Chegou ontem. – Ele sorriu feliz com o feito. – Ainda não caiu a fixa que já posso dirigir.
– A comemoração foi boa. – Digo voltando a rir, eu não era capaz de me conter, recebendo o olhar suspeito de enquanto era vez de e franzir o cenho.
– Você vai ou não vai aceitar? – Seu desconforto foi explícito com suas palavras, estava começando a me sentir culpada, mas não era capaz de me conter. – Eu levo você e .
– Topado. – Ela responde antes que eu diga algo. Não poderia mais negar.
Despedimo-nos das meninas e fomos de encontro ao carro de . Quando lhe vi destravando um carro esportivo fiquei um pouco surpresa, achava o carro bonitinho e a cara de juventude. Apesar de gostar de carros antigos e clássicos, por ser um charme, eu era apaixonada por carros altos e quadrados. Não entendia muito de motores nem nada do gênero, era mais por questões estéticas e este era bem nesse estilo, o tamanho era ideal para jovens adultos, ou nesse caso, adolescentes. E eu já tinha visto o carro algumas vezes em sua casa, mas jurava ser de seu irmão mais velho, ele não tinha me contado nada sobre isso.
– Belo carro. – Digo assim que ele abre a porta para nós.
– E o melhor... todo meu e eu posso dirigir!
começou a conversar com , preferir falar uma vez ou outra. Logo o assunto virou a ‘festa’ de e ficou empolgado.
– Espero ser convidado.
– Claro, são só os mais próximos. – Disse . E pensei, qual o nível de próximos que ela fala. Pensei que seria apenas nos quatro e Faith, outra amiga de . é meu amigo, mas não é tanto das meninas, então não entendi o motivo de sua presença.


Apesar de ser uma semana tensa, ela passou como uma flecha e já era o dia de . A festa já tinha começado há um bom tempo e eu estava surpresa com a quantidade de convidados, dissera convidar apenas alguns amigos, mas aquilo estava ficando cheio e desconfortável. Estava indo à cozinha pegar algum refrigerante e salgados para ir a varanda em busca de paz quando pude ouvir uma conversa entre os avós de . Sua avó comentava sobre a quantidade de jovens em sua sala a dizer estar surpresa por isso.
– Eu fiz alguns aperitivos, mas creio que não dê para todos. nunca foi de querer ter festas grandes, pensei que seriam apenas alguns amigos.
– São jovens, deixem que se divirtam.
Logo depois o casal estava na sala. Os adolescentes ali presentes pararam de fazer o que quer que estejam fazendo e olharam surpresos, creio que a espera de ouvir algo como 'a festa acabou!' Mas não foi exatamente isso que aconteceu.
... – Sua avó lhe chamou sobre os olhares de uma manada de adolescentes. – Estamos indo para casa de sua tia para que fiquem mais à vontade. Divirtam-se!
Ouvisse um coro em comemoração. Aquilo ali significava confiança, mas para os adolescentes eram passe livre para bebidas e relações sexuais, aliás devo conferir se as portas dos quartos estão fechadas. Apesar de ter achado engraçado, eu sabia que aquilo não daria certo.


Aquela semana tinha sido puxada tendo em vista que fora uma semana de revisão que cheguei me esquecer de meu próprio aniversário, o que não era muito difícil de acontecer, se não fosse por e empolgadas por isso eu não teria me recordado que era Birthweek. De longe não imaginei que a festa teria esse resultado, então acabei por apoiar a ideia de e de uma pequena social em minha casa, mas acho que o som estava atraindo as pessoas. Tinha pessoas ali que nunca vi na vida, estavam aproveitando de comida e bebida livre. Não estava uma baderna, estavam até que comportados, bebendo e comendo, mas não deixava de me incomodar aquele amontoado de adolescentes.
Eu apenas tentava manter a ordem, já tinha até perdido as meninas de vista. O som estava baixo, músicas até agradáveis, mas vi um grupo se reunindo para comprar mais bebidas. Meu aniversário de 17 anos não poderia ser mais emocionante.
– Hey! – Ouço alguém dizer e me virei tendo a impressão de ser comigo, me deparando com um rapaz de porte alto e forte. Ele tinha um sorriso galante nos lábios, uma tentativa falha de ser Han Solo, mas ainda conseguiu arrancar suspiros de algumas garotas ao meu redor. Eu não recordava seu nome, mas tinha a impressão de já ter lhe visto no time de futebol americano e se não me engano, ele é do último ano. - Você é a aniversariante, certo?
– Sim, por quê? – Questionei já desconfiada.
– Gostaria de dar meu presente em particular em seu quarto. – Ele sussurrou a última parte me dando repugnância. A minha vontade foi de rir de sua cara de pau, mas coloquei um sorriso insinuativo no rosto e me aproximei dele, apoiando as mãos sobre seu ombro, não deixei de notar que de fato ele era forte, mas a minha intenção era ficar cara a cara, coisa que não conseguir já que ele era bem mais alto. Porém, aquilo não foi o suficiente para me intimidar.
- Não. – Eu digo ainda com o sorriso cretino no rosto. – E trate de sair de minha casa caso não queira que eu desperdice essa bebida na sua cara. – Fiz questão de falar alto e em bom som, chamando a atenção das garotas que há pouco suspirava para ele. Vi o sorriso fajuto de Han Solo sair de seu rosto e ele me olhou confuso. – Não entendeu? Quer que eu desenhe?
As feições de raiva tomaram conta de seu rosto e ele saiu emburrado me dando a liberdade de gargalhar à toa.
– Garota você devia agradecer por alguém como ele dá bola para uma garota como você. - Ouvi uma das garotas dizer e me virei em sua direção. - Ele é do último ano e jogador, enquanto você uma pirralha.
- Pirralha? – Eu ri. – Aparentemente a criança aqui inexperiente chama mais atenção que você. E por favor, sai da minha casa que eu nem sei quem é você. E ah, antes que eu me esqueça, eu sou do último ano também.
Vi-lhe me olhar com superioridade e jogar seu cabelo loiro de farmácia na minha cara, oh, eu só consigo ter pena. Fui atrás de minhas amigas e vi sentada na varanda mexendo em seu celular com o cenho franzido.
– O que aconteceu? – questionei me sentando ao seu lado. – Sua cara está de poucos amigos.
– Você brigou com o Sean?
– Quem é Sean? - Então ela me mostrou seu celular e eu pude ver um curto vídeo de 15 segundos meu dispersando o garoto alto. – Como conseguiu isso?
– Acabei de receber do 'Anônimo das Festas'.
– Quem é esse?
– Eu não sei, é anônimo. – Ela diz o óbvio enquanto reviro os olhos me aproximando para ver melhor o vídeo. – Não dá para ver de novo, eu já vi duas vezes.
– Isso eu já entendi, mas o que ele faz?
– Basicamente compartilha onde está acontecendo às festas mais animadas dos alunos do nosso colégio e redondeza, além dos acontecimentos mais marcantes, é mais uma forma de entretenimento, ele sempre pega os melhores momentos. – Ela diz entre risos.
– Mas ele posta assim sem a liberdade?
– Se não quiser ele tira, ele é politicamente ‘correto’ nesse sentido.
– Se ele fosse correto primeiro pediria antes de postar.
– De fato, só sei que todos o adoram, ou ela, não importa.
– Que merda! Mas foda-se, esse tal de Sean mereceu.
Vi seu celular vibrar anunciando uma nova notificação no mesmo tempo que o meu vibrou no bolso. Peguei meu celular e vi ter uma mensagem de solicitação de mensagem. Ao abrir era um pedido de permissão para a mensagem do tal 'Anônimo das Festas', revirei os olhos antes mesmo de aceitar. A primeira mensagem era o vídeo que há pouco me mostrou e a segunda era uma foto com poucos segundo a qual não consegui identificar nada nas duas vezes que olhei.
– Olha isso! - me mostrou. Sendo mais esperta do que eu, ela claramente tirou um print. A foto deveria ter dois segundos, eu não sei como conseguiu.
Pegando seu celular de suas mãos eu pude ver a foto com calma, logo me reconheci na foto e ao meu lado estava . Era uma foto tirada há pouco tempo, nada demais, se não fosse pelo ângulo parecer que estamos muito próximas. E tinha uma pequena frase.
'Alerta! Novo casal na área!'
Automaticamente olhei a nossa volta e todos que estavam ali próximo nos observavam. Aquilo não seria nada bom e por mais que eu quisesse saber quem era o culpado que tinha tirado a foto, todos estavam com o celular em mãos, era como procurar uma agulha no pinheiro. E isso prova que sim, tinha como meu aniversário de 17 anos ser mais emocionante.


UM



No início do ano, lá bem no início após a virada de ano, meu primeiro pensamento foi, esse ano será incrível, mas eu queria permanecer com a minha invisibilidade. Eu tinha recém completado 16 anos, e mais do que isso, eram os últimos meses no colégio e o ano que começaria o college. Era algo que, de princípio, estava me deixando aflita, essa mudança de Toronto para Montreal me deixou meio desorganizada e mudou todos os meus planos estudantis, o ensino lá era completamente diferente ao que estava habituada e não sabia se me sentia preparada para tão nova ingressar no college.
Então passei os últimos meses me preparando para isso. De alguma maneira queria tornar meus últimos meses no colégio incríveis, e colocar meus planos em ordens, College em Montreal, mas os planos eram voltar para minha Toronto para fazer universidade.
Só não contava que aquilo acontecesse.
Eu sempre fui à garota que nunca se importou com rótulos. Eu tinha todas as características da garota nerd que sofre bullying em um filme de adolescente no colegial. Usava aparelho, mas, ainda bem, me livrei desses há alguns meses, uso óculos, não me importo em arrumar meu cabelo mesmo ele sendo cacheado, cheio de frizz, além de manter notas na média, entender sobre algumas coisas que muitas pessoas não entendem, desde alguma programação a curiosidades e fatos históricos que ninguém se importa. Escuto música de bandas que muitos não conhecem, talvez essa última característica não me classifique como nerd, mas como a esquisita musical, e eu amo jogar vídeo games, séries e filmes de super-heróis. Eu realmente esperava receber o rótulo de nerd. Contudo, o fato de nunca ter sido vista com um garoto e passar muito tempo com minhas amigas, especificamente , me fez ser chamada de lésbica. Sendo honesta, eu não me importo. Ruim mesmo é ser hétera e gostar de homens que são tão complicados e falhos.
Bem, a festa de de 17 anos foi um fracasso total e ainda fomos alvo do “anônimo das festas”. Conhece Gossip Girl? Eu tinha certeza que ele se inspirava na série. De princípio, ele apenas divulgava onde estava acontecendo às festas mais badaladas, mas com sua popularidade repentina, ele começou a falar sobre o que também acontecia nas festas e como consequências, fofocas e mais fofocas. A fofoca fervente deste final de semana foi eu e onde ele revelou para todos que estamos em um relacionamento, sendo que não estamos, nem somos lésbicas ou bissexual, mas isso causou um alvoroço. A questão é, sempre que alguém se assume naquele colégio ou um novo casal surge isso é o assunto da semana, algo como BreakNews, e eu realmente tento entender a razão disso, acho que as pessoas deveriam se preocupar mais com suas próprias vidas ao invés de com quem terceiros está ou não namorando.
A questão é, meus últimos meses no colégio já começou complicado.
Meu celular não parava de vibrar com solicitação para seguir ou mensagens no Instagram. Na última noite ele fez uma publicação em seu Instagram com uma foto minha e de juntas, outra minha sozinha e por último de sozinha na sequência de fotos. Na foto, estamos sentadas juntas, no gramado, eu faço uma cara de tédio enquanto ela manda língua, era uma foto engraçada a qual eu tinha postado há algumas semanas. A minha sozinha estava com o cabelo armado, meus cachos como um verdadeiro leão, usava um par de óculos redondo que lembrava Harry Potter e trajava uma camisa de Star Wars, de queixo apoiados sobre as mãos e um sorriso até que meigo com os olhos fechados. Devo confessar que gosto muito desta foto. Já em sua foto sozinha era uma foto no natal, ela estava sentada próxima à árvore com um olhar sedutor e queixo igualmente apoiado sobre as mãos. Na legenda de sua publicação, dizia:
“Porque não assumir? Muitos já pensaram sobre um possível relacionamento entre e , só não entendemos como duas ativistas em causas como feminismo pode se privar disso. Todos amariam esse casal, assumam, por favor!”
Eu pensei que as pessoas nem soubessem quem eu sou, mas ultimamente acho que nunca li tanta besteira em minha vida. Queria entender de onde surgiu esta ideia, ela de nada me afetava, estava pouco me importando para o que pensam, mas gostaria de entender o que se passa na mente deste povo.
! – Ouço alguém me chamar, já estava me preparando para mais alguma piada até que vir ser . – Você está bem?
– Porque eu não estaria? - Continuei caminhando com ele ao meu lado, estava indo a meu armário para pegar meu livro de física.
– Bem, com tudo o que tem falado de você…
– Olha , eu não me importo com o que falam, deixe que pensem o que quiser.
– Realmente vai deixar que pensem que é lésbica?
– Sim? Eu sei que eu não sou , não tem porque isso me afetar ou ficar tentando provar a todos o que sou ou não deixo de ser.
– É que fico com medo que isso tome outras proporções. – Ele confessa e eu afirmo compreendendo. – Você me conta se algo acontecer?
– Conto sim, obrigada, mas não precisa se incomodar, não pense muito sobre isso. – Sorriu acariciando seu rosto em conforto estava estranhando seu comportamento, mas não deixaria de admirar, era bem do feito de se preocupar com todos, mas suas feições eram de tanta preocupação que me fazia se preocupar por ele. - Logo isso passa, assim que encontrarem um assunto mais interessante do que minha vida amorosa.
– Ok, eu vou para minha aula, nos vemos por aí.
– Sim, nos vemos por aí.
seguiu caminho oposto ao meu e à medida que eu andava mais atenção recebia, eu tinha falhado miseravelmente no quesito de concluir o ano sendo invisível naquele colégio. Respirei fundo e permanecia de cabeça erguida, mesmo ouvindo os comentários mais absurdos da minha vida.

‘Elas não assumem?’
‘Será que são mesmo lésbica?’
‘Olha ela, a outra negou o Sean, você acredita?’
‘Será que elas não se aceitam?’

Eu queria que uma pelo menos uma viesse até mim e perguntasse, mas eles preferiam viver de hipóteses, com suas ideias malucas sem cabimentos. Entrei em minha sala de português e cumprimentei o professor. Ainda tinha alguns minutos para a aula começar, estava à espera de , mas enquanto isso revisava meus assuntos já que teríamos testes. Meu português tem melhorado muito, foi uma péssima escolha semestre passado ter escolhido espanhol, apenas bagunçou minha mente, mas estava finalmente conseguindo normalizar os idiomas em minha cabeça. Aquilo era outro fato sobre Montreal que complicou a minha vida. Como uma cidade bilíngue, eu tive de aprender um pouco de francês, como consequência minha mente embaralhou as línguas romântica que eu sabia, o português e o francês, e semestre passado inventei de aprender espanhol, nunca me arrependi tanto de algo e voltei para meu português, era mais útil em minha vida.
– Que inferno! – Ouço dizer ao se sentar ao meu lado. – Desde meu aniversário não se passa um dia sem ouvir piadinhas. Da vontade de sair gritando que sou lésbica para pararem de encher meu saco.
– Entendo bem desse sentimento. – Digo fechando meu caderno. – Mas logo passa, não é possível que isso permaneça.
– Tenho fé que não.
Observo a sala se encher aos pouco e não falamos muito mais que isso. Quando a aula inicia o professor começa a dizer que o teste será em dupla, eu e nos empolgamos sobre a possível possibilidade de fazermos juntas até o professor acabar com nossas esperanças ao dizer que escolheria as parceiras. Para a minha sorte eu fiquei com Paul. Revirei os olhos em 360º com tal notícia enquanto ouvia a risada de , ela nunca esqueceria que já tive uma queda por aquele indivíduo quando entrei no colégio.
Ele veio até meu encontro e se sentou ao meu lado, lugar antes ocupado por que agora estava com Raul, não perdi a oportunidade de rir de sua cara também, mas a verdade é que o universo adora rir de nós.
Bom dia. – Ele diz em português, sorri amigavelmente para ele.
Bom dia.
– Eu vou passar entregando os testes, sinto em dizer que estão bem complicados.
Ele sempre dizia isso, mas no último tinha me saído muito bem, valeu a pena passar à noite estudando com minha mãe, afinal ela é brasileira.
– Merda! – Ouvi Paul dizer ao meu lado e me virei para saber o que acontecia. – Poderia me emprestar uma caneta? Esqueci meu estojo.
– Claro, pegue uma aí. – Disse apontando o meu. Ele parece incerto sobre e quando o faz derruba algumas canetas no chão, quando vejo que não vai apanhar me abaixo para o fazer enquanto ele apenas sorriu culpado.
Respondemos juntos, tirei algumas dúvidas dele e ele questionou como eu sabia tanto, entramos em uma pequena conversa sobre minha mãe ser brasileira, ele ficou curioso e me perguntou sobre o Rio de Janeiro e se já estive lá. Disse que sim, até falei que era mais bonito pessoalmente, mas não quis me aprofundar, não queria dar tamanha liberdade para ele.
– Acho que terminamos. – Digo avaliando todas as nossas respostas e conferindo se estavam iguais. – Olha, esta aqui está errada.
Digo olhando para uma resposta dele comparando com a minha.
– Por quê?
– A frase está no feminino.
– Nunca vou me acostumar com isso de palavras e frases terem gênero.
– Também achava complicado. - Digo rindo enquanto ele corrige sua frase. - Mas depois de um tempo você pega o jeito.
– Obrigado. – Ele diz colocando meu material dentro do estojo, mas logo pega novamente me deixando confusa – Na verdade, será que eu poderia devolver no fim das aulas? Como tem outros testes…
– Tudo bem, pode ficar com essa. – Digo me levantando, o que foi uma péssima ideia. Minha intenção era ir levar os nossos testes para o professor, mas acabei batendo na banca e derrubando todo meu estojo. – Merda!
– Desculpe-me eu deveria ter fechado.
– Tudo bem, tudo bem… - digo enquanto ele desta vez me ajuda a apanhar parecia até aquelas cenas clichês de filmes de romance, a diferença era que era justo eu ali, se fosse outra garota eu até que acharia fofo.


Raul estava muito concentrado em responder nosso teste, mas uma vez ou outra eu percebia seu olhar sobre mim, aquilo me dava repugnância ao lembrar que ele tem namorada mas naquele momento não faz questão de disfarçar. Eu não entendia esses garotos, ele realmente age como se eu não soubesse que ele tem namorada, acho interessante o fato dele agir assim apenas durante as aulas de Língua Portuguesa, pois fora da sala de aula ele finge que nem existo.
– Está é a oração da palavra. – Digo circulando a palavra, ele olhava duvidoso.
– Tem certeza? Acho que essa também poderia ser. – Lendo novamente fazia sentido, mas eu sabia que ele estava errado.
– Se você ler com calma vai perceber que não faz sentido, professor fez isso justamente para nos deixar confuso. – Digo. Ele ler novamente e depois mais uma vez até perceber que estou certa.
– É, você está certa.
Ouve-se um barulho na sala e quando olho vejo e Raul apanhando os materiais de do chão, era a segunda vez que aquilo acontecia. Raul olhou confuso como se não compreendesse a cena e tive de me forçar a não rir. Eles faziam um casal bonito por mais que ela negasse. Ambos estavam de rosto corado, se alguém me dissesse aquilo nunca que acreditaria que Paul tivesse ficado corado, ele está sempre com uma pose tentando ser macho alfa que era inacreditável saber que ele fica constrangido. Acho que isso é um padrão no sexo masculino baixos. Se comportar como se fossem mais do que realmente é, já repararam em cachorros pequenos? Comportam-se como se fossem O cachorro em grandeza, homens também têm dessas. Vi Raul balançar a cabeça segurando um riso e logo voltar sua atenção para nosso teste. Faltavam duas questões para finalizar.

Encontrei no estacionamento após o fim de todos os testes, era provável que estivesse à espera de . Suas feições mudam a cada segundo, em um momento de cenho franzido em outro com um sorriso brincando nos lábios vendo algo no celular.
– O que aconteceu?
– Estou rindo com os comentários de algumas pessoas em nossas fotos. Tem gente mandando nos assumir, outras nos chamando de homofóbicas, por não aceitarmos o que supostamente sentimos. Minhas tias já até mandaram mensagens perguntando o que estava acontecendo. – Ela diz entre risos. – Estou me sentindo uma celebridade.
– Imagina as manchetes se fossemos famosa “ e renega relacionamento mais uma vez”, “ causa euforia ao rejeitar Sean o aspirante a Tom Brady”. – Rimos de nossa idiotice, mas era engraçado pensar sobre isso porque via claramente acontecendo.
– “ é vista com mais um boy! Relacionamento que é bom, nada”. – Revirei os olhos, mas não deixei de ri. – Odeio esse termo “Famoso” parece ser tão fútil, olhe só, éramos invisíveis no colégio, ao menos eu imaginava ser, agora estamos famosinhas por um relacionamento que não existe.
– O engraçado é as diferenças de comportamento. Tem gente torcendo pelo casal, outros sendo homofóbicos e ainda há aqueles que nos chame de homofóbicas por não assumirmos nosso ‘relacionamento’, tudo isso porque nunca namoramos e passamos muito tempo juntas.
– Acho que deveríamos esclarecer as coisas, sei lá... falou sobre isso levar outras proporções, e pensando bem, ele está certo.
– Verdade. – Digo me encostando a parede. – Mas o que podemos fazer?
– Vou começar mandando uma mensagem para o anônimo. – Observei enquanto desbloqueava o celular e abria seu Instagram. Ela digitava rápido, parecia saber exatamente o que dizer.
– Então... O que você está falando?
– Apenas pedindo que não poste mais nada sobre nós e esclarecendo que não tem nada rolando e não há essa possibilidade.
Em instantes vi que recebeu uma mensagem. Parecia até que já estava à espera.
– Olha só. – Ela diz me mostrando a mensagem.

“Tudo bem, prometo não postar mais nada, não imaginei que fosse tomar tamanha proporção. Tomei uma decisão precipitada, após rejeitar Sean e concluir que vocês tinham algo. Ps. Vocês fariam um belo casal.

– Bem... Acho que solucionamos o problema. – Digo surpresa com tamanha compreensão. – Pensei que fosse ser mais complicado.
– Ninguém nunca falou mal dele ou dela, sua fama é de ser compreensível. Só sei que temos fãs.
– Temos fãs por um relacionamento que não existe.
– E sofremos preconceito por um relacionamento que não existe.

Após conversamos com o tal de anônimo as coisas se acalmaram um pouco mais, pois ele fez uma publicação se desculpando pelo mal entendido, eu realmente tinha achado estranho em como solucionamos o problema tão facilmente. Aquela semana tinha passado rápido, e com o fim da semana de testes, fevereiro chegou e começa a temporada de jogos. O inverno ainda não tinha baixado a guarda, mas todos estavam empolgados com o jogo. Por sorte não há previsões para neve hoje apesar do termômetro não sair dos -2º.
Estava bem aquecida, hoje teria mais um dos grandes jogos e estavam todos empolgados. Fomos dar suporte para que era uma das líderes de torcida. O jogo já tinha começado a 30min e eu já sentia fome novamente, além do refrigerante de 500ml que me fazia ir no banheiro a cada dois minutos.
– Vou ao banheiro. – Digo para ao meu lado.
– De novo? – Ela diz entre risos, ao mesmo tempo em que ao seu lado grita empolgado pelo jogo, não fazia a mínima ideia do que tinha acontecido.
Saí me empresando e fui ao banheiro. Sentir meu estomago roncar, eu já tinha comido um pacote de pipocas, mas não tinha adiantado muito. Resolvi ir até uma barraquinha, revirei os olhos assim que vi quem estava lá. Steffan Fray. Não deixaria de comprar comida por conta dele e ele nunca passa de seus olhares.
Quem seria Steffan? Tivemos algumas aulas juntos ao longo dos anos estudando, mas nunca tivemos contato um com o outro, mas eu gostava de me divertir com ele. Eu sempre o pegava me observando e gostava de retribuir o olhar como forma de provocação e um tanto uma ilusão, pois eu nunca o daria uma chance. Ele é amigo de Paul e Raul, é o trio nerd mais social que conheço. Eles faziam parte do grupo de alunos que tem notas mais alta de todo o colégio, fazem parte de grandes projetos e fazem competição de cálculos. Estava ao seu lado quando fiz meu pedido, podia sentir seu olhar pesado sobre mim enquanto olhava o cardápio. Tinha pedido dois sanduíches um para mim e um para , tinha certeza que negaria e eu não tinha dinheiro suficiente para um terceiro, que dividisse com ele.
– Obrigada. – Agradeci assim que paguei e fui para onde meus amigos estavam.
Para a minha surpresa já estava com comida quando cheguei, mas não rejeitou o sanduíche.

Então tudo pareceu acontecer rápido demais. Em um momento estamos apenas comemorando o jogo, tínhamos feito um touchdown e a plateia foi a loucura. Eu comecei a entender o sucesso de Sean, o garoto a qual neguei e me fez receber a fama de lésbica, era realmente bom e faz jus ao nome. Mas então, fui apenas sussurrar algo para sobre o jogo, tamanho o barulho seria impossível ela ouvir se eu não falasse perto e então eu sinto algo gelado sobre mim. Uma garota sentada atrás de nós tinha acabado de jogar seu refrigerante na gente. O sangue me subiu aos olhos e minha vontade era apenas de esganar a garota.
– Gays! – Ela disse com desdém e eu não podia acreditar. Ela realmente estava fazendo aquilo com a gente por conta disso?
– E daí se fomos? – Disse revoltada. – O que você tem haver com isso? Nos deixa em paz!
Ela se levantou irritada. e olhavam abismados para a situação, todos estavam perplexos e logo vejo um flash em nossa direção. Odeio esse colégio! Respirei fundo e acompanhei para fora. e vieram conosco.
– Que imbecil! Ah que vontade de acabar com a cara dela, é uma pena que eu tenha cortado minhas unhas e deixado a faca em casa. – Diz nos fazendo rir em meio a situação.
– Acho melhor irmos para casa, vou ficar toda grudenta de Coca-Cola.
– Vamos, eu levo vocês. – Oferece .
– Não mesmo, não se incomode com isso e volte para o jogo.
– Acha mesmo que vou deixar vocês aqui? – Diz negando. - Vamos, irei levar todas para casa.
Confesso que pensei que atitudes como essa fossem coisas de filmes, então quando estava no carro ainda não conseguia acreditar no que tinha acontecido, a cena se passava em minha mente e eu tinha vontade de rir da desgraça alheia, de como o povo pode ser tão medíocre a chegar naquele nível. Era como se eu estivesse em uma cena de Rachel Berry, assim comecei a gargalhar enquanto recebia o olhar estranho vindo de meus amigos.
– O que foi? Vocês realmente não conseguem achar graça disso?
– É rir para não chorar. – Diz um pouco antes de se juntar a mim nos risos.
– Só consigo pensar no desperdício de refrigerante. – Após as palavras de , até começou a rir. Devemos ter algum problema. – Espera… Será que vai ficar chateada por termos saído antes?


Estávamos assistindo ao jogo para dar suporte a diante todo o esforço que tem tido nos treinamento. Vestíamos até a camisa do time do colégio. Eu entendia um pouco do jogo por assistir ao Super Bowl, apenas por conta dos trailers de filmes, acabava assistindo ao jogo e aprendendo um pouco sobre, além que há uns dois anos fiz um projeto escolar que era criar uma maquete de algum tipo de estádio, meu grupo ficou com futebol americano e eu pesquisei algumas coisas sobre o jogo, então tinha até um conhecimento amplo sobre o jogo. Nosso time estava em grande vantagem, Sean era um bom jogador e corredor, agora entendo tamanho sucesso, não era apenas beleza e altura, ele jogava muito! Até que um carinha passou vendendo salgados e bebidas, eu estava faminta e tinha acabado de comer um hot-dog.
– Você vai querer? – perguntou ao meu lado e afirmei. – Uma água, um refrigerante e dois desses salgados, por favor.
Ele disse e já ia pagar até que me atrevi a passar a sua frente e pagar. chegou logo depois com dois hot-dogs em mãos.
– Trouxe um para você.
– É hoje que engordo. – Pego feliz com o feito enquanto que estava sentada do outro lado de começou a rir.
– Não sei para onde vai à comida dessa garota.
– Sai da frente gays! – Ouvi alguém gritar atrás da gente, me virei irritada e lhe mostrei meu adotável dedo do meio.
– Homofóbica! – Outra pessoa gritou com ela. Tive de respirar fundo para não dizer algo, mas sorri em agradecimento. – Deixa as garotas em paz.
– Liga não, , eles não sabem o que falam. – Disse . Aquela semana ele tem estado mais próximo que o normal, acho que minha mãe pediu sua aproximação após descobrir o preconceito que tenho sofrido. sempre foi muito presente, mas ele tinha adotado um comportamento protetor a nível mais alto que o habitual. Devo confessar que estava achando fofo, mas era desnecessário.
Sorri para ele e me sentei com minhas comidas. Isso, comidas, aquilo me faria esquecer qualquer problema. Até então essa tinha sido a parte boa do jogo. Em pouco tempo estamos no carro de , rumo para casa e sujas de refrigerante por conta de uma homofóbica, fiquei brevemente irritada, mas logo passou e acabei rindo da situação, não tinha nada a mais que isso a fazer. Após deixar as meninas em suas devidas casas, um silêncio se instalou no carro, e apesar de não olhar, eu sentia uma vez ou outra seu olhar através do retrovisor interno.
– Obrigada. –- Digo quando ele estaciona em frente a minha casa.
... - ele me chama. - Podemos conversar um pouco? Não vai tomar muito do seu tempo.
– Claro. – Volto a me sentar e espero que diga algo. – O que aconteceu?
– Eu só… Não acha que o que aconteceu hoje passou dos limites?
– Claro que passou, mas o que eu posso fazer?
– Sei lá, talvez devesse reclamar com a direção ou apenas alertar. Sei que você está levando a situação na boa, mas isso não é algo que se deva levar na boa.
– Isso não vai mudar o que pensam e eu não me importo.
– Eles vão realmente achar que você é lésbica e comportamentos como o de hoje podem piorar. – Ele diz apertando o volante, parecia realmente chateado com a situação.
– Isso não vai mudar nada na minha vida.
– É que… sei lá. –- Suspirando o vejo fechar os olhos, achando completamente estranha sua atitude. – Eles podem te machucar.
– O que quer que eu faça? Que saia gritando para todos que gosto de dick? Que eu saia beijando vários caras estranhos para provar minha orientação sexual?
– Não! Não mesmo, de forma alguma. – Ele se apressa a dizer. – Só queria que parassem de fazer isso, eles estão humilhando você.
– Só seria humilhação se me atingissem, but… I don't care. – Eu sorrio para ele. – Você é um anjo sabia? Mas não se preocupe comigo, sei me cuidar.
– Mas eu posso…
– Sei que pode. – Digo lhe interrompendo, sabia exatamente o que iria dizer. – Mas não precisa. Relaxe, não quero você estressado por conta de mim, que tipo de amiga eu seria?
– E que tipo de amigo eu sou se não lhe proteger? Eu não posso ficar calado diante essa situação. ... Eles jogaram refrigerante em você, qual será o próximo passo? Não tem como não ficar preocupado.
– Ah … Eu não te mereço, sabia? – Ele sorri. – Mas não pense nessas coisas, se vai te deixar mais calmo, vou ver o que faço. Vou tentar achar uma solução, mas não pense muito sobre isso.
– Tudo, mas se você não resolver, eu vou resolver.

Vi-lhe entrar em sua casa e frustrado bati com a cabeça no volante, o que foi uma péssima escolha no momento que a buzina apitou me assustando, me fazendo se levantar com pressa e atordoado. Dei a ré e parei em frente de minha casa, não guardei o carro porque logo teria de ir trabalhar na Sounds & Books.
Aquele assunto estava me enlouquecendo, e estavam rindo da situação, não eram capaz de enxergar o quão grave aquilo era. A questão não era mais sobre a orientação sexual delas, mas o fato de estarem sofrendo preconceito, mesmo que sejam héteras, as pessoas pensam que são lésbica e estão agredindo elas verbalmente e agora fisicamente.
Desde o início eu tentei alertar ela sobre isso, mas estava mais preocupada em ligar o foda-se como sempre, passando a imagem de quem não se importa com nada e mais, me afastando.
– Chegou mais cedo? – Levei o segundo susto em menos de 1 minuto quando entrei em casa e me deparo com minha mãe.
– Aparentemente a senhora também.
– Que carinha é essa? Ainda vai trabalhar? Parece cansado e preocupado.
– É tão evidente assim? – Me jogo no sofá ao seu lado, me permitindo apoiar a cabeça em suas pernas. – Só estou preocupado com .
– O que aconteceu? – Ela afaga meus cabelos, com seu olhar preocupado atento sobre mim.
– Estão zoando com ela no colégio e ela parece não perceber o quão grave é isso. E eu não sei o que fazer... A senhora sabe como ela é, toda fechada e já vai dizendo que não se importa e que não devo me preocupar, mas eu me preocupo, não sou capaz de evitar isso e isso já estar me dando dor de cabeça.
-–Nora já está sabendo da profundidade disso? Quando conversei com ela, ela falou como se não fosse algo tão importante, mas o jeito que você está e diz me parece o contrário.
– Ela sabe, eu acho. Meu problema é não se importar quando devia se importar, não acho que ela devesse ligar o foda-se para tudo na vida e eu que acabo me preocupando no lugar.
– Você é um bom rapaz. – Ela diz afagando meus cabelos e um sorriso típico de mãe no rosto, parecia até querer insinuar algo. – Relaxe mais, tome um banho, coma algo e vá trabalhar, não pense tanto, só permaneça do lado dela se precisar.
– Não acho que ela queira muito. – Confesso soltando um longo suspiro e me sentando no sofá, mas não deixando de jogar a cabeça para trás no intuito de apoiar. – Às vezes acho que ela só é educada comigo.
... Até parece que não cresceu com ela.
– Ah mãe... Ela me trata como se eu fosse um primo.
– Isso é ruim?
– Não... – porque eu me sentia como se fosse? . – Mas o que tem demais em ser seu amigo também? Quero dizer, somos amigos, somos muito amigos, mas só quando ela quer, pois às vezes sinto que ela me afasta. Ela não ficou muito feliz com as caronas que tenho dado.
– Porque não?
– Fica dizendo que não devo me preocupar que não preciso esperar por ela... Coisas desse tipo entende?
sendo , deve está preocupada em estar sendo inconveniente e não querer lhe incomodar.
– Mas não está!
– Diga isso a ela.
– Não, porque eu sei que vai negar.
– Você complica as coisas.
– Não, Scarlett complica as coisas. – Acabo rindo após pronunciar seu nome completo, desde pequeno achava engraçado por ser tão cumprido, quando criança uma vez perguntei o porquê de dois nomes e sobrenomes, sua mãe entre risos disse ser um costume brasileiro, mas para mim não combinava e era exagero, era tipo os nomes da realiza da Inglaterra.
– Bem, deixe de besteira eu vou sair, vou à casa de Nora.
– O que?! Não conte sobre isso! – Digo apressado. – vai me matar.
– Ok , não vou falar nada sobre isso com Nora, e é você que deve falar sobre isso com .
– Eu já falei, acabamos de conversar sobre isso.
– Bem, eu sei que você vai dar um jeito. – Ela diz antes de me dar um beijo na testa e sair. Eu sabia que ela iria conversar com Nora sobre isso e consequentemente reclamaria comigo sobre isso.

Eu já estava no trabalho arrumando alguns livros na prateleira quando recebi uma mensagem e . Ela dizia sobre seus pais estarem preocupados com a situação e que estava indo conversar com os avós de . Ela não estava me culpando, e de certa forma, me sentir aliviado ao saber que seus pais se posicionaram sobre a situação.
e precisavam enxergar que aquela situação não era tão simples quanto aparentava ser.

“O que vão fazer?” Perguntei parando um pouco meus afazeres para conversar com ela.
“Ainda não sei, mas vamos ver se damos um jeito.”
“Percebeu o quão grave é a situação?”
“Não sei loirinho, pensei que eu tivesse o controle da situação depois que falei com o anônimo”.
“Você não precisa ter sempre o controle de tudo.”
“E talvez eu devesse te ouvir mais vezes.”


Sorri para sua última mensagem e observei meu punho machucado. As luvas de frio me ajudaram a esconder de minha mãe e dela o machucado, mas a verdade é que, após o jogo quando eu e estávamos indo atrás, eu ouvir um cara falar algo sobre ela, mais explicitamente ‘Um instante na minha cama as duas viram mulheres de verdade’. E eu não sei o que tinha na minha cabeça quando o acertei um soco. Mas eu faria qualquer coisa para defender , até mesmo entrar em uma ou duas brigas.


Tinha sido um final de semana complicado. Pais de vieram conversar com meus avós, estavam cogitando solicitar a polícia já que o colégio não estava dando conta do ‘preconceito’, para eles o que aconteceu durante o jogo tinha passado dos limites mesmo eu e não nos importando com isso. Eu fiquei irada com o ocorrido, mas percebi que deveria manter cabeça erguida e rir da situação, não devia me estressar com calúnias, mas não descartaria a ideia de que se agravasse iria solicitar à polícia. Minha tia e o pai de dariam conta disso. Mas há sempre dias melhores. Tinha me inscrito para ser voluntária em um abrigo e em um orfanato, e foi do segundo que recebi uma ligação pela manhã solicitando minha presença pela tarde. Por agora estava indo para um instituto de adoção, tive de pegar um ônibus para ir até o local, eles têm solicitado ajuda pelo inverno está sendo rigoroso, não pensei duas vezes antes de me inscrever. também queria, mas os dias solicitados eram nos mesmo dia de seu Ballet, mas mesmo sem poder ir como voluntária, fez questão de comprar vários suéteres e mantas para doação, devo constar que uma generosa doação. No caminho ouvia algumas músicas dos Queens durante todo o percurso enquanto observava a neve, tem sido um inverno intenso, a qual eu nunca me acostumo mesmo morando em Quebec desde que me entendo por gente, achava insano sempre que via pessoas com poucas roupas caminhando pela rua, eu estava com duas calças e dois casacos, sem contar a camiseta por dentro.
– Boa tarde. – Cumprimentei a senhora na recepção, ela aparentava estar na casa dos 40 apesar de alguns fios de cabelos grisalhos. Tinha um sorriso gentil e seus olhos brilhavam.
– Boa tarde, em que posso ajudar?
– Sou , vim como voluntária.
– Ah sim, estava a sua espera. Pode aguardar ao lado daquele rapaz ali, me chamo Celina e qualquer coisa é só me chamar, vocês logo serão solicitados.
– Obrigada.
Sorri em compreensão e me aproximo do rapaz. Ele aparentava ser um pouco mais velho, deveria ter seus 20 anos no máximo. Cabelos castanhos e olhos igualmente além de ter um sorriso meigo e nariz de ursinho, ele era realmente bonito e alguns sinais em seu rosto o deixava fofo.
– Boa Tarde. – Digo ao me sentar ao seu lado, era o único lugar vago.
– Boa tarde, você também é voluntária?
– Sim, sou , prazer em conhecer. – Lhe estendi a mão a qual ele fez questão de apertar com um sorriso no rosto.
), prazer em conhecê-la, acho que vamos trabalhar juntos.
Não falamos muito e logo Celina disse que Doven nos aguardava. Ela era a diretora do instituto e nos passaria todas as instruções de atividades e trabalhos que poderíamos fazer. Eu tinha uma grande doação para ser entregue e assim que disse também falou que tinha. Ela ficou muito grata ao ver todo o material que trouxemos. Aquilo seria de grande ajuda para as crianças. Em meu primeiro dia de voluntária foi solicitada minha ajuda na cozinha assim como . Ajudei no preparo enquanto ele serviu as crianças uma sopa bem quente, para deixá-las fortes e aquecidas, para a minha surpresa elas fizeram festa ao ver a refeição.
Tivermos um tempo de entretenimento e brincamos com as crianças, na verdade eu tentava, eu não levava muito jeito para isso, era muito atrapalhada e apesar de ao decorrer do dia também ter mostrado ser uma pessoa muito atrapalhada, ele levava mais jeito, colocava as crianças em suas costas e se fazia de avião com direito a imitação de motor e tudo fazendo a diversão das crianças e até mesmo minha, se formos tirar os momentos em que estava aflita imaginando um acidente acontecendo, sim eu me divertir.
Ele era um cara legal, muito carismático, simpático e engraçado. Desdobrou-se em mil para ajudar em tudo que fosse possível e eu tinha admirado tal comportamento. Fomos liberados um pouco tarde e não conseguia me sentir cansada. Um sorriso de satisfação não saia de meu rosto, estava pensando em conseguir um trabalho e ficaria muito feliz de ser ali quando acabar o tempo como voluntária, mas naquele momento, estava apenas torcendo para que o ônibus passasse cedo, não queria ter que chegar mais tarde em casa, pois as ruas já estavam ficando esquisitas.
Um carro parou em frente ao ponto e meu coração já se apertou com medo de quem poderia ser, até que o vidro abaixou revelando um sorridente.
– Quer carona? - Por mais que ele fosse um estranho, parecia ser mais seguro ir com ele do que passar mais um minuto ali sozinha.
– E se ficar longe para você? – Não queria que ele fizesse uma grande volta apenas para me levar.
– Não tem problema, entra aí.
Respirei fundo quando vi mais um ônibus vindo e não sendo o meu, era o destino dizendo para eu ir? Criei coragem e entrei em seu carro. Ele ouvia uma música agradável, na verdade mais que agradável quando reconheço o velho som de a-ha me recordando de meu pai, era uma de suas bandas favoritas.
– Gostei da música. – Comentei chamando sua atenção.
– O velho é sempre melhor. – Acho que vou me apaixonar. – Mas onde você mora?
Dei-lhe meu endereço e para meu alívio ele dissera não ficar tão longe de onde ele mora. Pensei que um silêncio constrangedor fosse se instalar no carro, até que seu celular começou a vibrar.
– Será que você pode ver para mim?
– O quê?
– A mensagem, é possível que seja Mandy e ela odeia quando demoro a responder. – Pude ver que revirou os olhos e mesmo incerta, peguei seu celular e li a mensagem.
– De fato é ela, está pedido para que vá buscá-la na casa de Cole. – A verdade era que ela não pedia, ela praticamente exigia que ele fizesse aquilo, não pude deixar de fazer uma careta sobre isso.
– É minha namorada, ela é um pouco exigente. – Ele deve ter notado a minha cara, eu nunca sei disfarçar, mas as chances de me apaixonar se acabaram naquele segundo, claro que alguém como ele tinha de ter uma namorada e claro que ela tinha de ser, aparentemente, insuportável, aparentemente minha vida está virando um clichê americano.
– Entãmo, , gostou do primeiro dia?
– Amei! – Sou incapaz de conter meu entusiasmo. – Eu preciso fazer isso mais vezes.
– Eu sempre faço, tento conciliar caridade com faculdade, estou sempre procurando lugares que precisam de voluntários, lugares como aquele, ver o sorriso de satisfação do próximo é meu pagamento.
Questiono-me o porquê não aparece um cara como ele, devo frisar que solteiro, em minha vida? O que tenho é apenas um aspirante a Brady que após o rejeitar levo fama de lésbica, Raul o garoto da aula de português que não tira os olhos de mim e Steffan, um amigo de Raul que não para de me encarar nos corredores do colégio. Afirmei completamente encantada, poderíamos ser amigos, não poderíamos?
– Pagamento melhor que esse não há, do que você faz faculdade?
– Engenharia, então é complicado arrumar tempo, mas sempre consigo. E você, o que faz da vida?
– Ah... Ainda estou no ensino médio. – Faço um bico lamentando enquanto ele arregala os olhos.
– Está brincando não é?
– Não. – Eu rio. – Quantos anos acha que eu tenho?
– Sei lá, pensei que tivesse uns 20 como eu.
– Bem, 17 recém completamos. – Volto a rir por ele arregalar os olhos novamente.
– Não é que você se pareça velha, não quis ofender, é que você se comporta como se fosse mais, como se já fosse mulher, não que você não seja mulher. – Ele se embola para falar e me observa ao parar no sinal vermelho, apenas permaneço rindo por ele não ser o primeiro a dizer isso e por conta de seu jeito fofo todo atrapalhado em dizer as palavras.
– Acho que a mente cresceu primeiro do que o corpo e acabou fazendo esse conflito, uma alma velha em um corpo jovem.
– Isso é bom.
– Você acha?
– Sim, não vou dizer que me comporto como se fosse velho, seria a maior mentira. – Ele rir de si mesmo. – Mas é bom ter maturidade nesse mundo perverso.
– Também é questão de momento, não sou uma quarentona a todo momento, na verdade sou bem idiota na maior parte do tempo.
– Idiota como?
– Neste momento estou usando um vestido longo, quando chegar em casa irei tomar meu banho e vou vestir pijamas do Mickey, consegue ter uma ideia agora? – Ele rir.
– Gostei disso, eu tenho uma pantufa do Mickey. – Ele praticamente gargalhou o que causou minha risada.
– Não acredito! Eu sou louca por uma.
– Minha namorada acha ridículo e sempre diz que vai jogar no lixo, sempre tenho de esconder quando ela está por lá, ninguém toca na minha pantufa.
– Sua namorada não sabe o que está perdendo.
– Ah, também tenho uma manta do Pernalongas, a tenho desde pequeno e durmo agarrado a ela, e eu não sei por que estou contando isso. – Rio de suas feições confusa e ruborizadas, parecendo só então se tocar o que estava me dizendo. – Não me julgue, sou um amante de animações.
– Você está falando com a maior amante de todas, acho mais fácil eu roubar essas coisas suas do que lhe julgar por isso.
– Lembre-me de nunca lhe convidar para minha casa.
Um pouco depois estávamos na minha rua e eu lhe disse onde ficava a minha casa.
– Está entregue.
– Obrigada pela carona. – Digo abrindo a porta. – Aquela rua estava bem fantasmagórica e a verdade é que eu estava morrendo de medo.
– Então fique tranquila. -– Ele sorriu. – Posso lhe trazer sempre e não é incômodo.
– Não será preciso, mas obrigada. – Seu celular começa a tocar nos interrompendo e mesmo fora do carro posso ver a foto de sua namorada na tela. – Acho melhor você se apressar.
– Ou vou ficar sem cabeça… ou outra coisa. – Mesmo que tenha sussurrado a última parte, eu pude ouvir e acabei rindo, deixando o coitado mais vermelho, ele era totalmente atrapalhado.
– Até mais .
– Até mais, Minnie.
O observei ir sem conseguir acreditar. era completamente o cara dos meus sonhos, e resolveu aparecer na minha vida junto de uma namorada insuportável. Meu cúpido não anda fazendo um trabalho bem feito, ou ele gosta de brincar comigo.


Quando o sinal tocou anunciando o início das aulas, acabei batendo a cabeça em meu armário em frustração, até que ouço meu nome e de ser anunciado nos alto-falantes. Que merda tinha acontecido? Abri meu armário e guardei algumas coisas. O dia mal tinha começado e nossa presença já tinha sido solicitada. Coisa boa não seria, por mais que eu não tenha feito nada de errado. Encontrei enfrente a sala de direção ainda de cenho franzido, claramente não deveria saber mais do que eu sei.
e ? – Afirmamos para a secretaria. – Pode entrar, estão à sua espera.
Confesso que levei um susto no momento que vi meu pai ali acompanhado dos pais de .
– O que aconteceu? – Perguntou . A diretora apenas pediu para que nos sentássemos e foi justamente isso que fizemos, me sentando ao lado de meu pai enquanto se sentava próxima aos seus pais.
– Eu recebi este vídeo esse final de semana. – Peguei o celular das mãos da diretora e pude ver o vídeo do momento que agrediram eu e no jogo, a mostrei logo em seguida e pudemos compreender o que estava acontecendo. – Porque não vieram até mim?
– Não queremos fazer grande caso. – Diz . – Isso não foi nada demais.
– Sim Srtª Dawter, isso foi sério. Eu quero saber nomes dos alunos que fizeram isso.
– Não acho certo. – Começo a dizer. – Se formos começar a citar nomes, isso vai ser longo e não acho que devam ser castigados por isso. Se quisermos resolver isso, há outras maneiras de fazer.
– Eu não falei o que iria fazer.
– Suspensão, expulsão… o de sempre. – diz .
– Mas não deixa de ser justo. – Diz o pai de . – Porém, concordo com , não podemos sair pegando todos esses alunos.
– Se elas só por serem muito amigas passaram por isso, imagine quem realmente é homossexual. – Diz meu pai. – Ao invés de punir esses jovens, podemos educá-los.
– E o que propõem que façamos?
– Abrir os olhos deles. Já fui educadora, sei bem como são essas coisas. Eventos que proponham respeito pelo próximo já será de grande ajuda. – Diz a mãe de .
– Eventos?
– Sim. – Diz entusiasmada.
– Bem… caso à senhora concorde, as meninas junto ao corpo docente do colégio podem fazer um evento sobre isso.
– Algo como cartazes e palestras, não apenas sobre respeito LGBT, mas religiões, etnias… ampliar mais esse quesito. – Diz o pai de . – Trabalhando temas transversais.
– Ao invés de punir, estariam ensinando sobre respeito para eles. – Diz meu pai.
– Acho que podemos fazer um grande projeto com isso. – Digo já com várias ideias em mente após a ideia de nossos pais.
O resto da reunião foi sobre como faríamos isso, surgia uma ideia atrás da outra. E foi só naquele momento que percebi o quanto eu e estamos erradas em achar que não era nada demais, todos aqueles comportamentos e agressões físicas e principalmente verbais eram erradas. Devemos tomar providência e defender as minorias, apoiá-las, mesmo que não façamos parte delas, usando nossos privilégios para o bem.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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