Última atualização: 25/12/2020

Único

Tem um tempo que não crio nada. Tudo que escrevo é relacionado ao meu trabalho. É uma escrita mais por obrigação do que por qualquer outra coisa. Sinto falta da emoção de imaginar cenários, personagens, enredos, diversos desfechos. Nunca imaginei que isso iria acontecer comigo, justo comigo. Droga!
A música natalina ressoa ao fundo, o som se mistura com o barulho de meus dedos se movendo pelas teclas do notebook enquanto termino de acrescentar as sugestões de mais uma revisão de artigo. Pauso por um instante, para tomar um gole de vinho. Meu olhar se desvia da tela por um momento e observa os flocos de neve caindo lentamente na rua. É um cenário digno de um romance. Romance, aquilo que não escrevo há tempos. Aquilo que não vivo há um bom tempo também. Mas quem liga? Volto a digitar para que possa terminar o mais breve possível. Preciso descansar, meu corpo está cansado depois de várias horas na mesma posição.
Quando finalmente envio a versão revisada para minha colega de laboratório são 23:45. Muitas pessoas devem estar reunidas com suas famílias a essa hora, comemorando a chegada do natal. Que louco trabalha na véspera de Natal? Apenas esse ser amargurado e workaholic. Parker você não tem jeito mesmo!
Me espreguiço lentamente enquanto levanto da cadeira. Estou a caminho do quarto quando meu celular toca. Deus, que não seja ninguém ligando para desejar Feliz Natal, não estou no clima para isso.
Caminho de volta para a mesinha do escritório e pego o celular que havia deixado lá. O nome no identificador de chamadas não pertence a ninguém da minha família, tampouco a algum dos meus colegas ou amigos.
Huet.
De todas as pessoas no mundo, por que diabos meu ex-marido iria me ligar na véspera de Natal praticamente à meia noite?
Aperto ignorar e volto a me encaminhar para o quarto. O telefone torna a tocar. Eu sei que devia deixar para lá, pois não éramos mais nada um do outro. No entanto, a insistência dele devia significar alguma coisa.
- Juro por Deus que se estiver me ligando depois de todo esse tempo para desejar feliz Natal, eu vou desligar na sua cara. É bom que seja importante – Sim, esse não é o modo mais amigável, nem maduro, de se atender uma ligação, eu sei, mas foi mais forte que eu. traz o pior de mim.
Ele pigarreia.
- Talvez tenha sido um erro ligar para você, , mas só conheço você na região. Me desculpe por incomodá-la.
Me sinto um pouco culpada por minha falta de acolhimento ao atender. Mas só um pouco. Continua sendo o .
- Não, agora que ligou, diga o que houve. Sei que você não me chamaria à toa, Huet. Desculpe-me pelo modo como falei.
Quase consigo ouvir o sorriso em sua voz, quando torna a falar.
- Só você, , para me chamar assim. Continua provocadora, pelo jeito.
- Você pode ir direto ao ponto?
- Sim, sim, desculpe. – Ele suspira. – Tive um pequeno acidente há algumas quadras da sua casa, como não conheço mais ninguém na cidade, não sei, você foi a primeira pessoa para quem pensei em ligar e pedir ajuda. Talvez tenha sido insensatez minha.
Sinto o coração acelerar.
- Você está bem?
- Sim, não se preocupe. Não foi nada grave. Eu...
O interrompo antes que continue, se não foi grave, mas mesmo assim ele resolveu me ligar, é porque não tinha para onde ir. Eu o conheço bem.
- Me diga qual a sua localização, estou indo aí te buscar. Você pode me explicar o que houve quando estiver em um ambiente seguro. – Trinco os dentes. – Não acredito que estava pretendendo bater papo comigo por telefone estando ao relento.
*** * ***


- Sério, , muitas vezes você é inacreditável. – Reclamo, quando ele já está acomodado. Dou a partida no carro e sigo em direção a minha casa. – Está nevando, já está tarde, seu carro estava inutilizável, você estava em um bairro comercial, é véspera de Natal, e você estava conversando comigo pelo telefone como se tivesse todo o tempo do mundo! – Enquanto falo, mantenho os olhos na estrada, para não ter que encará-lo.
estava abrigado embaixo do toldo de uma loja de ferragens, o carro com a traseira amassada e ele estava agindo como se não tivesse sido nada demais.
- Sabe de uma coisa, talvez seja melhor te levar ao hospital, você pode ter sofrido uma concussão.
- , é sério, aquilo ali não foi nada – Novamente ele tenta apaziguar a situação. Para um advogado, ele está sem argumentos convincentes. Quem em sã consciência vai acreditar que uma pessoa que acabou de sofrer um acidente está bem, se não tiver sido examinada antes?
- Acho melhor você parar de tentar amenizar isso, Huet. – Aperto o volante com mais força. – Mesmo que agora não esteja sentindo nada fisicamente, ainda pode ser efeito da adrenalina disparada pelo seu corpo quando tudo ocorreu. Você pode ter algum tipo de lesão.
- , é sério. Eu não bati meu corpo em nada. O carro morreu quando eu estava passando pela área. Algum maluco bêbado bateu na traseira do meu carro, quando eu já estava fora dele. Fiquei tão desnorteado que não consegui decorar a placa.
- Você jura que foi assim mesmo que aconteceu e que não está contando isso apenas para me tranquilizar?
- Juro, pode acreditar em mim. Não sou louco, ok. Se eu tivesse batido, eu seria o primeiro a querer ir para o hospital, para checar se estava realmente tudo bem.
Suspiro.
- Okay, vou acreditar em você.
- Mas se a doutora quiser pode me examinar, para verificar se eu realmente estou bem.
Freio bruscamente. Ainda bem que não há nenhum carro atrás de nós e estamos com o cinto de segurança. Ele ficou louco?
- Você bebeu, ?
- Olha, eu pretendo chegar em Nova York com vida. Caramba, que loucura foi essa, ?
Minha respiração está instável. Inspiro profundamente e só falo depois de expirar longamente.
- Loucura foi o que você disse. Sabe muito bem que eu não clinico. Sou cientista, não médica clínica. Se eu não o conhecesse diria que foi uma tentativa de flerte, o que não faria nenhum sentido.
Ele parece um pouco desconcertado com o que digo. Pelo menos obtive algum tipo de reação.
- Só estava brincando, caramba. Não precisa ser tão literal.
Okay, talvez eu tenha entendido errado mesmo. Droga! Por que estava tão tensa? Era só o Huet, meu ex há dois anos. Nos divorciamos porque nossa rotina não era saudável para nenhum de nós. Não fazíamos mais bem um para o outro.
- Desculpa – Falo, engatando a marcha e retomando nosso caminho. – Não sei o que me deu.
Ficamos o restante do caminho em silêncio. Quando paramos em frente à minha casa, descemos ainda mudos.
- Parece que tem um elefante na sala – falo, para quebrar a tensão em que ficamos envolvidos desde minha reação extremamente passional ao comentário do .
- Talvez vir para sua casa não tenha sido uma boa ideia, – Ele pronunciou, ainda da porta. O constrangimento era evidente.
- Não, não. Nada disso. Você precisava de ajuda, naquela região não passa táxi com frequência e eu jamais te deixaria ficar num local inseguro e no frio. Não sou nenhuma ex bruxa, que quer te ver mal. Que tal nos sentarmos um pouco. Posso servir um pouco de vinho?
- Tudo bem, eu acho que exagerei um pouco também. Não devia ter feito aquele comentário. Estava tentando algo engraçado para melhorar o clima e estraguei tudo.
- Não vamos perder tempo analisando a situação, o que poderia ter sido feito diferente e bla bla bla. Vou pegar o vinho que abri mais cedo e a gente bebe um pouco antes de eu mandar você para o quarto de hospedes, okay?
Me dirijo para a cozinha, pego na geladeira a garrafa do vinho, e duas taças no armário. Quando retorno para a sala, está sentado na extremidade de um dos sofás. Entrego uma das taças, encho e em seguida faço o mesmo com a minha. Escolho me sentar no sofá em frente ao que ele está.
Por um tempo, bebemos em silêncio. Não sei o que falar, me sinto um pouco travada.
Depois da segunda taça de vinho, ele finalmente fala alguma coisa.
- Como anda a pesquisa?
- Eu finalmente concluí a análise dos resultados - dei um sorriso, mas não era sincero. Como poderia ser? Passei quase três anos estudando e pensei que descobriria uma alternativa para o tratamento do HIV, não fui bem-sucedida com a ideia que tive. Mas tinha resultados, não é? Então claramente precisava publicar. Quem se importava se não tinha dado em nada, não é? Muito recurso foi investido. Eu precisava dar uma devolutiva para a sociedade. Sim, isso era o que eles diziam para passar a imagem de bonzinhos. A verdade é que fazer ciência não é bonito, não é a carreira que eu imaginava. O que há por trás das pesquisas, o que precisamos fazer.
- Ahh, eu conheço esse sorriso forçado. Não encontrou os resultados que esperava, é isso?
- Não, não encontrei – Aperto a taça de vinho, lembrando do artigo que escrevi com os resultados que obtive.
- Mesmo assim vai precisar publicá-los, não é? Você sempre achou essa parte do seu trabalho um saco, eu lembro como ficava estressada por ter que escrever os artigos e submetê-los a revistas renomadas.
Quanto mais alto o fator de impacto da revista científica onde o pesquisador publicava seu artigo, melhor para a universidade. E a University of Pittsburgh Medical Center, onde eu trabalho, não aceitava que publicássemos nossas melhores descobertas em revistas com o fator de impacto menor que 50.
- Pois é – dei uma risada sem humor. – A parte burocrática do trabalho continua sendo uma droga, mas ainda vale a pena. E você, conseguiu a promoção na JMD Advocacia?
- Melhor que isso, na verdade – ele parecia genuinamente feliz. – Abri meu próprio escritório.
Uau! Isso sim era uma grande surpresa.
- Nossa. Parabéns.
- Obrigada. Já estava na hora de eu seguir meu próprio caminho. Estava me matando de trabalhar naquela empresa. Não tinha tempo para nada, minha vida pessoal estava estagnada, tudo por causa de uma possível promoção pela qual vinha me esforçando, mas que podia nunca acontecer.
Ah, disso eu me lembro bem. passava o dia no escritório, eu mal o via. Como precisava me dividir entre a pesquisa em Pittsburgh e minha vida de casada em Nova York, era complicado de conciliar as coisas. Especialmente porque eu voltava para uma casa vazia. Meu marido chegava tarde da noite, como eu vivia cansada com minha rotina, raramente o via. E quando nos víamos, acabávamos brigando. É, belo jeito de me lembrar porque nos divorciamos, em primeiro lugar.
- Imagino que sua rotina esteja menos intensa, então.
- Tento pensar que sim. Mas pelo menos em alguns dias posso trabalhar de casa, então a vida não fica tão caótica.
De repente o cansaço do dia voltou com força total. Eu já devia ter ido dormir há muito tempo.
- Fico feliz que as coisas estejam dando certo para você, . De verdade. – Falo já me levantando do sofá – Agora vou descansar, meu dia foi longo e tô sentindo o cansaço bater.
- Claro, claro. Não se preocupe.
- O quarto de hóspedes é a segunda porta do lado esquerdo. Fique à vontade.
- Vou dar uma olhada nos voos disponíveis para amanhã enquanto termino o vinho, depois vou descansar. Muito obrigada pela hospitalidade, .
- Eu fiquei feliz em poder ajudar.
Com isso, me retiro para meu quarto.

*** * ***

Não consegui dormir.
Revirei na cama por um bom tempo, sem pregar o olho, até que desisti de tentar dormir. Isso era incomum. Eu tive um dia cheio de trabalho, foi emocionalmente desgastante também, com esse reencontro com . Deveria ter adormecido assim que deitei a cabeça no travesseiro. Mas não. A mente ficava rondando, cheia de pensamentos indesejáveis.
Levanto da cama e resolvo fazer uso da criatividade que minha mente andou exalando nas duas últimas horas, para escrever algo estimulante. Romance! Posso ser médica de formação, por insistência de meus pais, e ter escolhido o ramo cientifico para atuação, mas isso não significa que eu não tenha uma grande paixão por escrever histórias de amor.
Sempre gostei de escrever, desde garotinha. Minha mente sempre foi frenética, então, quando menina, eu criava histórias mirabolantes enquanto brincava de boneca. Verdadeiras novelas. Quando tinha idade suficiente para conseguir passar essas ideias loucas para o papel, comecei a escrever minhas primeiras histórias de amor. Eu certamente teria seguido a carreira de escritora se meus pais não tivessem achado que era um desperdício para minha inteligência.
Posso não ter escolhido a medicina por amor, por isso nunca cliniquei após me formar, mas me envolver com a área científica, ah, isso sim foi por amor. Pensei que poderia encontrar algo que ajudaria as pessoas no futuro. Claro, quando decidi seguir essa área, eu não pensei nas frustrações que poderiam surgir quando minhas hipóteses não fossem confirmadas e mesmo assim precisasse me esforçar para escrever o melhor artigo cientifico sobre o assunto, a fim de manter um bom currículo.
Abro a porta do quarto e me encaminho para o escritório, mas paro na metade do caminho. ainda está acordado.
- Hey – diz ele, ainda do mesmo lugar em que o deixei algumas horas atrás.
- Hey – digo em resposta – Conseguiu a passagem que estava procurando?
- Consegui sim. O voo sai às 14h. Deve ser tempo suficiente para eu encontrar algum lugar que atenda no dia de Natal, para deixar o carro no conserto.
- Que bom – digo, simplesmente.
- Acordei você? Juro que tentei ser o mais silencioso possível, para não te incomodar.
- Não se preocupe quanto a isso. Eu só levantei para beber um pouco de água na verdade. – Mentirosa! Mas eu jamais iria revelar que não tinha conseguido adormecer porque sua presença em minha casa me inquietava.
Sigo para a cozinha, mudando meu trajeto inicial. Pensando bem, até que eu não tinha mentido de todo, realmente preciso de água. Sinto a garganta seca. Talvez eu deva ficar um tempo aqui enquanto ele vai se deitar, quando a barra estiver limpa posso tentar escrever um pouquinho. As palavras estão sussurrando com mais força em minha mente, exigindo que eu as lance no papel. Dê forma ao emaranhado de ideias que me cercam.
Fechando a porta do armário dou de cara com , quando me viro em direção a geladeira.
Minha reação automática foi dar um grito. O copo que eu estava segurando escorregou de minha mão. Por sorte não era de vidro. Ai, caramba. Como eu não o tinha ouvido entrar ali?
- Desculpe, não tive a intenção de te assustar – disse ele, se afastando. – Vim só trazer a garrafa e as taças.
Essa noite está muito regada a pedidos de desculpas. Está me deixando louca. Talvez o copo devesse ser de vidro. Se essa situação fosse como nos livros ou nos filmes, o copo teria quebrado, nós nos abaixaríamos ao mesmo tempo para recolher os cacos, nossos rostos iriam estar muito próximos um do outro, acabaríamos nos aproximando, as bocas se encontrariam em um beijo apaixonado e... Por que estou pensando em beijar meu ex-marido?
- Sem problemas, eu que estava no mundo da lua – Me abaixo para pegar o copo e coloco na pia. Até a sede passou. Quero poder dizer mais alguma coisa, mas não consigo. Me sinto travada.
- Bem, acho que vou deitar agora. Tentar descansar um pouco antes de tentar resolver o problema do carro.
- É uma boa ideia. Bom descanso.
Em vez de sair da cozinha, ele continua encostado na parede ao lado da entrada.
- , por que eu te sinto tão travada perto de mim hoje? Sei que somos divorciados, mas terminamos de modo amigável. Não lembro de as coisas estarem tão tensas entre nós da última vez em que nos vimos. – Agarro a bancada da pia, pois, do contrário, teria me desequilibrado. sempre fora muito direto, estava até estranhando o comportamento pouco invasivo dele antes.
O que posso dizer? Que vê-lo esta noite me deixou confusa? A verdade é que não consigo achar uma explicação plausível para meu próprio comportamento. Mas meias palavras nunca funcionaram bem com ele, então resolvo ser sincera. Além do mais, tem um faro incrível para mentiras.
- Eu não sei o que me deu, realmente. Ver você de novo, numa noite em que eu estava cansada, a preocupação com seu pseudoacidente. Não sei, fiquei um pouco confusa. Só preciso de um bom descanso e isso vai passar.
Ele se aproxima de mim.
- Certo. Vamos botar a culpa apenas no cansaço.
Falei que ia ser sincera, não é? Mas não fui totalmente, quis amenizar o que disse.
Ele ergue meu queixo com uma mão, para que possamos nos encarar. Por um instante, me sinto hipnotizada pelo calor que vejo na íris verde. Como uma mulher de 36 anos pode se sentir abalada como uma adolescente de 15?
- Você ainda mente muito mal, . Eu sei o que você está sentindo, porque também me sinto assim. Essa agonia, sem saber como se portar, o corpo vibrando só por estar perto da outra pessoa. – Sua voz tão próxima me causa arrepios. – Tentei me manter afastado de você o tempo inteiro em que estive aqui. Enquanto esteve no quarto, ocupei a cabeça com outras coisas, para não pensar em você a poucos metros de mim em uma cama. Mas não consigo mais sufocar essa vontade louca de sentir você. Então, se não for isso que você quer também, por favor, me diz agora para parar.
Ai, meu Deus!
Não falo nada. Não consigo. Espero que meus olhos expressem o suficiente. Eu o quero. Com a mesma intensidade que na primeira vez que o vi na festa de despedida de uma das professoras da universidade em que trabalho, nove anos atrás. estava de passagem na cidade com um amigo que conhecia Cinthya e o acompanhou na festa. Assim que nossos olhares se encontraram no bar não consegui prestar atenção em mais nada. Tanto tempo depois e ele ainda podia provocar esse efeito em mim.
Pareceu que uma eternidade havia se passado quando seus lábios tocaram os meus. Primeiro de forma leve, sentindo se era realmente isso que eu queria. Passo meus braços por seu pescoço para aproximar ainda mais nossos corpos. Ele aprofunda o beijo e eu correspondo tão apaixonadamente quanto. Há uma necessidade correndo por nossas veias, é um desejo quase primitivo. Quanto mais nossas bocas saqueiam uma a outra, não parece ser o suficiente.
Quando fazemos uma pausa para recuperar o fôlego, aproveito para me livrar da camisa que cobre seu corpo. O corpo magro de , levemente musculoso por suas corridas matinais, parece ainda mais delicioso do que eu me lembro. A camisa do meu pijama também desaparece. Sentir sua pele quente na minha envia uma onda de desejo ainda maior para meu corpo. Logo estamos nos beijando novamente e ele segura minhas pernas ao redor de seu corpo. Comigo seguramente presa, ele segue às cegas para fora da cozinha. Mas não vamos para muito longe. Paramos na sala.
- O sofá vai ter que servir, a cama está longe demais. – murmura, afastando a boca da minha.
E quem se importa com cama? Eu o quero e tem que ser agora.
- Por mim, está ótimo – digo em resposta, o puxando para outro beijo.
Ele me deita no sofá, seu corpo por cima do meu. De alguma forma, o que estamos prestes a fazer me deixa nervosa, como se fosse minha primeira vez de novo. nota meu corpo tenso e se afasta.
- , nós não precisamos fazer nada, se você não quiser. – Ele dá um suave beijo em meus lábios. – Podemos ficar aqui, abraçados.
Me sinto estúpida, mas quero chorar. O que está acontecendo comigo? Por que ele tem que dizer coisas assim? Coisas que me fazem duvidar da minha tão enraizada decisão de ter me divorciado dele?
Cubro o rosto com as mãos, envergonhada.
- Eu não sei mais o que quero – consigo dizer.
- Você quer que eu vá para o quarto de hóspedes e te deixe descansar em paz?
O quê? Não?!
- Não! Eu quero ficar com você hoje. Eu só...
- Você o que?
- Eu não deveria pensar tanto, é isso. Que se dane as consequências. – Pego seu rosto em minhas mãos e planto um beijo em seus lábios.
Agora que o frenesi inicial passou, nós vamos com mais calma. Um beijo lânguido, que aquece aos poucos. A loucura que tinha sido abandonada agora pouco, volta com força total. Ele deita meu corpo novamente e se fica entre minhas pernas. Tudo o que nos separa agora é sua calça jeans e o short de algodão do meu pijama. O restante das roupas logo desaparece. Eu esperei tanto por esse momento. É como nos velhos tempos, antes de nosso casamento desandar. Nossos corpos unidos, respiração com respiração. A necessidade de estar ainda mais próximo. Minha mente incoerente. Meu corpo comandado pelo desejo. Estou perto, posso sentir. Meus dedos dos pés enrolam, cravo as unhas nas costas dele. É intenso demais. Sinto meu corpo tremer. É tão bom.
Fecho os olhos, a respiração irregular. dá um beijo na junção entre meu pescoço e o ombro, e sai lentamente de mim. Sinto um vazio por essa perca. Meu corpo está esfriando. No entanto, não ficamos longe por muito tempo. Ele me puxa para fora do sofá e, abraçados, nos encaminhamos para meu quarto.

*** * ***


No dia seguinte, acompanho até o aeroporto. A despedida eminente traz uma sensação ruim para a boca do estômago. Sinto-me nauseada. A noite havia sido ótima, mas era só isso. Uma noite, uma recaída com meu ex-marido. Quão estúpida eu sou por isso? Por desejar que tivéssemos mais tempo?
Quando acordei, pude sentir, por poucos instantes, que as coisas eram como antes, no início do nosso relacionamento. havia preparado o café da manhã e me acordou com beijos pelo corpo. Demoramos mais de uma hora para realmente chegar até a cozinha.
- ? – chama, depois que passo um bom tempo calada.
Não sei bem como responder a sua última afirmação. Ele me deixou sem palavras ao dizer o quanto tinha sentido minha falta e como a noite passada havia sido maravilhosa. Que queria voltar.
- Foi uma ótima noite, sim. Não me sentia tão viva há tempos. Mas isso não significa que precisamos voltar. Eu estou bem com minha vida aqui e você está bem estruturado em Nova York – Decido dizer por fim.
- Você não acredita em segundas chances, ?
Eu me sinto presa por seu olhar, é como mergulhar num profundo mar verde e me afogar. Nós tínhamos química suficiente para incendiar a casa, tínhamos história também, mas não possuíamos meio de fazer o relacionamento durar. Já fracassamos uma vez. Para que se encher de esperança de que pode dar certo, para se decepcionar no fim?
Certo, eu estou cética. Mas se trata da vida real. Não é nenhum dos livros de romance que eu tanto amo, nem algum dos filmes que assisto.
- Você realmente acredita que poderíamos fazer um relacionamento a distância durar? Meu emprego é aqui, . Já tentei morar em outro estado uma vez e conciliar as coisas. Não acabou bem. – Eu tinha cinco anos de experiência com o assunto para poder afirmar.
- Certo, não vamos nos precipitar agora. - Ele segura meu queixo e me deixo levar pelas sensações que sua proximidade provoca em mim. – Mas isso não é um adeus definitivo. Eu venho tendo uma demanda cada vez maior de casos da Pensilvânia, então pode ser que vez ou outra você me encontre na cidade. Porque eu certamente quero ver aonde isso vai dar – Seus lábios encostam brevemente nos meus, e sinto minha frequência cardíaca oscilar. – Nos vemos por aí, srta. Parker.
Sorrindo como uma colegial, eu o observo se afastar, indo para o portão de embarque.
- Nos vemos por aí, Huet – murmuro, me dirigindo para o estacionamento do aeroporto. Agora, certamente, tenho muito material para me inspirar na escrita. Mal posso esperar para estar em frente ao computador e dar vazão às ideias em minha mente.




FIM.



Nota da autora: Obrigada por chegar até aqui. Essa história é muito especial para mim. Comecei a escrevê-la no natal de 2018, enquanto estava frustrada com o rumo que minha vida estava tomando. Sempre amei escrever histórias, mas a faculdade estava drenando minha criatividade. Passei anos sem conseguir delimitar os contornos de uma história. Nem cheguei a finalizar essa quando, em meu curto surto de criatividade, consegui transpor algumas palavras para a página do word. Enfim consegui fazer um final digno para essa shortfic. Espero que tenha gostado. Se possível, comentem o que acharam <3



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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