Capítulo Único.
Minha família veio para Coreia do Sul quando eu tinha uns dez anos, devido a uma oportunidade de emprego para o meu pai na construção civil. Desde então tínhamos nos adaptado relativamente bem com a nova cultura e costumes, mas para uma família brasileira miscigenada com pai preto e mãe branca, o preconceito ainda era bem forte por essas terras, mesmo fazendo quinze anos que estávamos aqui.
Entretanto, tivemos a sorte grande de nos mudarmos para o lado da casa da família Jeon, uma família tipicamente coreana com pai, mãe e dois filhos homens super bem educados, que além de ter nos apresentado a vizinhança e o modo de vida do pessoal, ainda se tornou nossos amigos pra vida. Eu que o diga. Jeon Jungkook, o filho mais novo do casal, se tornou meu melhor amigo, e mesmo sendo um ano mais novo do que eu, me apresentou a escola que passamos a estudar juntos e seu grupo de amigos - que graças a Deus tinha variação na idade e meninas incluídas.
Para mim ele passou a ser o meu melhor amigo, que dormia na minha casa no chão do meu quarto às vezes quando ficávamos jogando videogame até tarde, ou que me acompanhava no shopping quando eu precisava comprar alguma coisa, pois ele nunca se importou em fazer coisas consideradas “femininas” comigo, aliás, ele era bem mais vaidoso do que eu. E essa amizade permaneceu assim até eu completar 21 anos e perceber que a criança que brilhava naqueles olhos de jabuticabas gigantes, e no franzir do nariz quando ele dava aquele sorrisinho sapeca, tinha ficado só nesses detalhes mesmo. Jeon Jungkook tinha virado um homem com 1,79 de músculos definidos, que dava abraços de ursos que mexiam no mais profundo do meu ser. Pois é, me descobri apaixonada pelo meu melhor amigo, e tinha guardado isso dentro de mim pelos últimos cinco anos.
Hoje com 25 anos, Jungkook estava ainda mais lindo, tinha se tornado produtor de vídeos, trabalhava em uma emissora de TV aqui em Busan, e tinha uma vida estável morando sozinho com seu cachorro Bam no centro da cidade. Entretanto apesar de formada em medicina veterinária, e tendo meu próprio consultório, eu ainda morava com meus pais nos bairros residenciais no suburbio da cidade. Eu não me incomodava com isso, porque sabia bem o quão caro era manter um aluguel no centro, e sempre que precisava escapar das asas dos meus pais podia ir para a casa do meu amigo no final de semana.
E era exatamente isso que estava fazendo hoje, na sexta à noite. Jungkook precisava me contar algo, por isso pediu que eu fosse para a casa dele nesse final de semana. Como tinha feriado na segunda, estava fazendo minha malinha de mão para passar sábado e domingo lá, quando minha mãe bateu na porta do meu quarto.
- Hey filha, vai ficar quantos dias na casa do Kook? - Ela perguntou como quem não queria nada, mas eu sabia bem que tinha algo por trás disso.
- Até domingo à tarde mãe. Preciso estar em casa na segunda para fazer a planilha de insumos da clínica. - Respondi enquanto dobrava algumas blusinhas e colocava dentro da bolsa.
- A senhora Jeon falou que ele estava meio estranho pelo telefone, meio ansioso. Você tem alguma ideia do que ele quer falar pra você. - Ela cruzou os braços e se encostou na porta.
- Eita, como é curiosa ein, mãe. - Dei risada enquanto pegava meus produtos de skincare, e colocava junto com as outras coisas. Ela deu uma risada sem graça enquanto dava de ombros. - Ele parecia meio ansioso mesmo, mas não me falou o que seria. Acho que deve querer minha ajuda para comprar a aliança de compromisso para a namorada ou algo assim.
- Acho bem difícil, filha. - Ela desencostou da porta indo sentar na beirada da cama de casal. - Ele gosta de você, e a senhora Jeon concorda comigo.
Não consegui me conter e dei uma gargalhada. - Ai mãe, vocês duas ainda continuam com essa fanfic? Ele já tem uma namorada.
- Que raios de fanfic? - Ela respondeu indignada. - Vocês que são dois bobos e não perceberam a química que vocês tem ainda. Já temos até o enxoval de vocês prontos. Logo ele larga essa daí.
Ela se levantou fingindo limpar a mão na calça, e quando viu minha cara de surpresa saiu do quarto rindo da minha cara. Engoli em seco pois bem queria que ele casasse comigo mesmo, mas sabia que era um sonho longínquo, levando em conta as namoradas perfil de modelo que meu amigo sempre teve - a atual incluída nisso. Não me achava feia, sabia bem que podia chamar alguma atenção quando queria, mas minha pele mais escura, vinda da mistura dos meus pais, seria mais elogiada no norte da europa, do que ali na Coreia do Sul, onde quanto mais branco a pessoa for melhor ela é tratada.
Mesmo que Jungkook nunca tivesse levado nenhum desses relacionamentos a sério o bastante para apresentar aos pais dele, ele sempre apresentava elas para mim, e elas eram sempre no padrão coreano de qualidade. Pele de porcelana e magra demais. Talvez ele quisesse mudar esse costume e finalmente apresentá-la aos pais, isso provavelmente o deixaria ansioso e agoniado.
Suspirei, e voltei minha atenção para o que estava fazendo antes, quando ouvi o meu celular vibrando na mesa da cabeceira e fui ver o que tinham mandado.
Kook
“Já está pronta? Decidi passar aqui nos meus pais e aproveitar e te dar carona”
“aaah, como assim? eu ainda to terminando a minha bolsa e vou tomar um banho, depois ia pedir um uber para lá”
Kook
“estava em uma gravação aqui perto, e aproveitei o caminho para passar aqui, assim você não precisa enfrentar o trânsito desse horário”
“ah sempre tão querido meu ‘dongseang’”
Kook
“aaah cala a boca e desça, você pode tomar banho lá em casa”
Passei então a apenas jogar as coisas de qualquer jeito na mala, fazendo ela estufar, e desci correndo com ela na mão procurando meus pais para me despedir. Estavam na sala deitados no sofá um em cada ponta, não demorei muito, apenas beijei a bochecha de cada um deles dizendo até mais e sai pela porta, mas ainda consegui ouvir meu pai gritar - Se previnam ein. - Fazendo eu sentir as bochechas ardendo.
Jungkook já estava em seu Mercedes na frente da minha casa me aguardando, com um óculos escuro e seu braço direito, totalmente tatuado, apoiado na janela; meu coração deu uma leve acelerada fazendo meu rosto arder mais ainda.
- Que cara é essa? - Consegui ver suas sobrancelhas se franzindo atrás dos óculos.
- Meus pais são uns bocós. - Respondi depois que já estava dentro do carro e colocando o cinto de segurança. - Você sabia que nossas mães acham que vamos nos casar um dia e elas já tem até o enxoval?
A gargalhada do menino ao meu lado me fez ficar ainda mais perplexa quando ele não agiu como se fosse algo estranho ouvir isso.
- Sim. - Ele respondeu simplesmente. - Um dia minha mãe até veio me perguntar que cor eu preferia para as toalhas do banheiro do casal.
Meu coração que já estava acelerado foi parar na garganta e me engasguei com o ar por um momento, fazendo ele bater levemente nas minhas costas.
- Como assim Jungkook? - Respondi brava me virando para ele no banco. - Como você pode permitir eles gastarem dinheiro com essas coisas?
- Aish deixa de bobeira. - Ele deu de ombros. - É engraçado, vai..
- Sim, vai ser bem engraçado quando a Ahreum descobrir isso. - Falei seriamente, citando sua atual namorada. Eles estavam juntos havia sete meses, e acredite ou não, isso era um recorde para tempos de relacionamentos dele.
- Ela não vai precisar falar nada, pois não estamos mais juntos. - Sua voz perdeu levemente o tom da graça, mas ele manteve um sorrisinho no rosto, tentando mostrar como se isso não o afetasse.
- O que? - Acabei falando mais alto do que gostaria, mas ele parecia já estar esperando isso, pois não moveu um músculo e manteve a pose.
- Quando chegarmos no apartamento eu te conto tudo. Temos que pegar o Bam primeiro. Quer pedir comida ou quer me ajudar a fazer algo para comer em casa?
Ele mudou de assunto tão rápido que levei uns segundos para entender sua pergunta. Mas não deixei passar em branco.
- É por isso que me chamou para ficar com você esse final de semana? - Cruzei os braços e dei um sorriso inteligente, porém contido, como se eu tivesse descoberto o mundo.
Ele apenas revirou os olhos e manobrou o carro para um bairro que eu sabia ser próximo de sua casa e onde ficava a creche do seu doberman gigante e fofo.
- Não foi por isso, mas pode ter um pouco a ver sim. Mas é principalmente por causa de outra coisa, que vou te contar quando chegar em casa.
Entramos em uma rua estreita, cheia de casas bonitas, e ele parou em frente de uma sem placas, mas que eu sabia que era uma creche canina. Virou-se em minha direção no banco, apoiando um dos braço no volante, levantou os óculos escuros na cabeça e abriu o sorriso lindo que ele tinha, perguntando.
- Agora responde minha pergunta, você prefere comer fora, comprar comida e comer em casa, ou fazer a própria comida?
Me senti toda mole com o olhar profundo que ele me deu, e abri um sorriso, respondendo com um delay causado pela taquicardia que aquele momento me deu.
- Tudo bem, eu aguardo chegarmos na sua casa. E eu prefiro comprar comida, se puder, ou até pedirmos lá da sua casa mesmo. Como é final de semana pré feriado, hoje foi uma loucura no consultório,e não quero sair.
- Ótimo, então vou pegar o Bam e já volto. - Ele desligou o carro e saiu, fechando a porta suavemente, antes de alcançar a casa e tocar a campanhia.
Poucos momentos depois ele voltou com um cachorro marrom grande na coleira pulando igual um coelho. Incrível como os dois possuíam a mesma personalidade bobona. E eu amava os dois. Sai do carro correndo pra abraçar o cachorro fofo, e fui recebida com lambidas molhadas no rosto e muitos pulos, eu não precisava nem me abaixar pra fazer carinho nele.
- Meu Deus, faz quanto tempo que não vejo ele? Parece muito mais alto hoje. - Falei exageradamente enquanto acariciava sua cabeça.
- Tá vendo? Isso é sinal que você vem pouco aqui em casa. - Jungkook respondeu. - Mas acho que faz pouco mais de dois meses que você não vê ele. E eu não consegui levar ele pra casa dos meus pais, das últimas vezes que fui lá, então acho que é por esse tempo mesmo. E a não ser que seja pros lados, acho que ele não cresceu, não.
- Você tem que parar de dar whey protein para esse cachorro Jungkook, ele não precisa crescer mais. - Tentei fazer piada. Mas ele me esnobou empurrando minha cabeça pra trás.
- Qual é a palavra em português que você usa sempre quando tenta me xingar mesmo? - Ele perguntou quando já tinha colocado o Bam na parte de trás do carro, e prendido sua guia no cinto de segurança.
- Bocó? - Falei sem entender o ponto que ele queria chegar.
- Isso. - Ele abriu a porta pra mim e esperou eu entrar antes de fechar a porta e se abaixar na janela na minha janela.
- Você é a mais bocó que existe, noona.
Revirei os olhos e esperei ele voltar para dentro do carro, para continuarmos o trajeto.
Quando chegamos na casa dele, deixei minhas coisas no quarto de hóspedes, e fui direto para o banheiro social tentar relaxar, depois da semana agitada que eu tinha vivido. Enquanto isso, Jungkook colocou comida para o cachorro e fez o pedido da nossa pelo aplicativo de entregas. Quando saí e passei pelo corredor pude ouvir o chuveiro de sua suíte ligado, e imaginei que ele estava se lavando também. Ouvi a campainha tocar e fui atender a porta, recebendo a comida que ele havia pedido.
Arrumei tudo na mesa de centro da sala, e me joguei no sofá, ligando a tv e procurando algo para vermos, antes do bonito decidir sair do banho. Como já havia falado, Jungkook era bem mais vaidoso do que eu, por isso seu processo de skin care levava pelo menos uns 10 minutos a mais do que o meu.
Quando saiu do quarto estava sem camisa e vestindo uma calça de pijama azul, enquanto secava o cabelo com uma toalha. Dava para observar algumas gotas ainda escorrendo pelos seus ombros fortes e isso fazia minha consciência escorrer junto com elas. Eu às vezes me pegava hipnotizada pelos desenhos que fechavam seu braço direito.
- Ei. - Chamei ele, que levantou a cabeça confuso, mas sorriu quando encontrou meus olhos. - Venha aqui, deixa eu secar seu cabelo direito. Se não, você vai acabar fungando o resto da noite por causa da sua rinite.
Dando pulinhos igual uma criança no prézinho, ele veio ao meu encontro e sentou no chão entre minhas pernas.
- O que você colocou para a gente ver? - Ele perguntou.
- Na verdade não sei muito bem, é só um filme de terror que ainda não assisti antes e tava curiosa. Vamos ver se é bom. - Falei enquanto esfregava a toalha macia em seus fios negros. Eu simplesmente amava quando ele fazia esse corte americanizado, com mais cabelo em cima e as laterais baixinhas. - Será que é melhor usar o secador? - Perguntei a mim mesma, mas em voz alta.
- Ah não, deixa secar sozinho, você já tirou o excesso, vai ser rápido agora.
Ele saiu de entre minhas pernas, tirando a toalha das minhas mãos para estender em um varal de chão na varanda, e depois voltou sentando no tapete com a mesa de centro em sua frente, onde a comida já meio morna nos aguardava. Voltou o corpo para trás e puxou um dos meus pés, me chamando para sentar ao seu lado, e deu play no vídeo.
Eu sabia que ele estava enrolando o máximo que podia para entrarmos no assunto do seu término de namoro, e eu ia respeitar enquanto estivéssemos comendo, mas após isso ele teria que estar preparado para a enxurrada de perguntas que viria.
O filme era relativamente ok, nada muito novo e extraordinário, apenas o comum de insetos gigantes assassinos do terror.
- Aish, que filmezinho ruim, ein, não dá nem pra sentir medo. - Jungkook terminou de comer e empurrou o prato vazio um pouco para frente, se jogando para trás no tapete.
Estava me preparando para engolir a porção final de comida que tinha colocado na boca quando senti a mão dele nas minhas costas, alisando de cima para baixo. E não que fosse estranho ele me fazer carinho ou algo assim, porque Jungkook sempre foi muito carinhoso com todo mundo, mas o choque que senti no meu corpo quando ele me tocou fez a comida que estava em minha boca descer sem permissão nenhuma por minha garganta, fazendo eu me engasgar, causando uma série de tosse desesperada em mim, o levando a se sentar novamente para me ajudar com batidas em minhas costas. A comida desceu lentamente, mas por fim consegui respirar entre uma tosse e outra.
- Merda, . - Ouvi ele dizer em meio aos meus engasgos. - Quer me matar do coração, porra?
Quando eu já tinha desengasgado completamente, bebi um gole água da garrafinha que veio junto com o pedido, e consegui responder ele com a voz meio falha.
- Ai desculpa por me engasgar, senhor supremo. Eu levei um susto quando você me tocou nas costas. Achei que era algum bicho. - Desconversei com uma leve mentira.
- Tudo isso por causa desse filme ruim? Você está destreinada dos filmes de terror, noona. - Ele voltou a se inclinar para trás, deitando novamente no chão.
Revirei os olhos e me virei para ele, com as pernas cruzadas, deixando o resto da comida para poder puxar o assunto que eu tanto estava curiosa.
- Deixa de ser bocó, eu só me assustei porque foi do nada e eu estava de costas. Mas agora me conta a fofoca, porque estou me mordendo de curiosidade.
Jungkook se sentou novamente, indo com o corpo para trás até se escorar no sofá e segurou uma das minhas mãos, me puxando para mais perto dele. Fiquei aguardando ele falar algo, enquanto ainda estava com minhas mãos entre as suas, e quando ele percebeu que eu mesma não iniciaria a conversa, soltou um suspiro e jogou a cabeça para trás, descansando-a no sofá.
- Bom, Ahreum e eu terminamos. Na verdade eu terminei com ela. Foi ontem, então é por isso que você não estava sabendo ainda. Não tive tempo de contar.
Aguardei ele falar mais alguma coisa, mas nada veio. Por isso continuei.
- E porque você terminou com ela?
Passaram-se pelo menos trinta segundos até ele levantar a cabeça e me olhar nos olhos. Engoliu em seco uma vez, e então pareceu ter criado coragem pra contar.
- Eu decidi me alistar no exército. Devo ir no mês que vem. - Senti minha boca secar e minha língua grudar no céu da boca, me impedindo de falar algo. - Mas na verdade eu terminei com ela porque parecia que esse relacionamento estava evoluindo para algo realmente sério, e eu não quero isso. Não com ela.
Me senti confusa por um momento, pois eu jurava que Jungkook gostava o bastante de Ahreum, estavam juntos a tanto tempo, e ele já tinha até postado foto com ela na rede social. Tentei organizar o pensamento e focar no fato que ele iria para o exército, e provavelmente ficaria mais de um ano e meio fora.
- Por que raios você já quer se alistar agora? Você ainda tem alguns anos, seu trabalho está ótimo e você ainda tem um filho canino para cuidar. - Deixei a enxurrada sair, e pensei que talvez era por isso que ele me chamou ali, para pedir que eu ficasse com o Bam por esse tempo. - É por isso que me chamou aqui? Para me pedir que fique com o Bam o tempo em que você estiver fora?
- Claro que não , - ele respondeu indignado - ele vai ficar com meus pais, apesar de eu não ter contado para eles ainda, eu te chamei porque queria que você fosse a primeira a saber.
- Primeira depois da Ahruem, você quer dizer, né?- Cruzei os braços indignada com a cara de pau dele.
- Ela só ficou sabendo porque viu quando eu recebi o email do governo, ela estava do meu lado. E isso foi ótimo na verdade, porque foi a desculpa perfeita para eu terminar com ela. - Ele tentou descruzar meus braços e me puxar para si.
Soltei um suspiro e joguei meu corpo sobre o dele, o abraçando e enfiando meu rosto em seu pescoço, o sentindo me abraçar de volta. Ele tinha o cheiro mais incrivelmente fresco que eu já tinha sentido na vida, eu poderia ficar enfiada ali o resto da minha vida.
- Não quero que você vá agora. - Resmunguei baixinho. - Na verdade não quero que você vá nunca.
Ficamos abraçados por mais uns segundos até que ele me soltasse e empurrasse levemente de seu corpo, para conseguir olhar em meus olhos.
- Eu teria que ir uma hora ou outra, e prefiro ir agora que não tenho nada que realmente me prenda. - Justificou.
- Como não tem nada que o prenda, e seu cachorro? - Tentei argumentar emburrada, sentindo meus olhos lacrimejar.
- Quero dizer algo como uma família, noona. É mais fácil eu vir visitar meu cão na casa dos meus pais de vez em quando, do que ficar longe de um filho ou uma esposa grávida.
Meus olhos se arregalaram, quando entendi o que ele queria dizer. Ele já estava pronto para construir uma família, e enquanto isso, eu sonhava delirantemente sobre eu ser sua esposa grávida. - Nossa, mas você já está querendo casar? Você já tem outra pessoa? Estava traindo a Ahreum? Você acabou de terminar com ela, como já quer casar com outra pessoa?
- Nossa, seu cérebro trabalha realmente rápido, ein. - Ele deu uma risada sem graça e tentou pegar minhas mãos novamente, mas eu me afastei levemente, o fazendo franzir as sobrancelhas. - Eu não traí ninguém, e não tenho outra pessoa… Ainda. Mas sim, já me sinto preparado para ter uma família, minha própria família, então achei melhor arrancar esse band aid de uma vez, do que ter que abandonar alguém aqui por um ano e meio.
- Tudo bem, entendi. Eu só estou triste. - Tentei engolir o choro, mas sabia que ele tinha visto as lágrimas presas nos meus olhos. - E eu posso ficar com o Bam se você quiser, posso deixar e buscar ele na creche, e levar ele pra passear até você ter uma folga e puder vir ver ele.
- Eu sei que sim, e é por isso que eu amo você. - Ele falou com um sorriso gigante, roubando um sorriso mínimo meu também.
- Eu também te amo. Vou sentir sua falta. - Tentei retribuir o sentimento, apesar da amargura do futuro que o aguardava.
- Você não está entendo . - Ele me puxou com tanta força dessa vez que quase fui parar no colo dele, mas consegui ficar ajoelhada ao seu lado, com meu corpo virado para o seu. - Eu falei para Ahreum que eu não a amava, porque eu amo você. Eu quero voltar para você quando acabar meu tempo no exército.
Meu corpo simplesmente gelou. Tenho certeza que a expressão que eu estava fazendo não era muito animadora para ele, provavelmente eu estava com cara de ânsia de vômito ou algo muito próximo disso, porque a próxima coisa que ele falou foi.
- Tudo bem se você não sentir o mesmo, . - Ele arrumou a postura, sentando-se direito, procurando mostrar que não se importava muito com minha reação, mas dava para enxergar um pouco de desapontamento no seu olhar. Só que eu não conseguia falar nada, tentei engolir a saliva na boca, mas parecia que isso tinha se multiplicado e acumulado no fundo da minha garganta. - Eu não quero que nossa amizade mude por eu ter falado isso, eu só achei que tinha sentido alguma coisa diferente entre nós nesses últimos tempos. Eu posso ter ima…
Coloquei minha mão sobre seus lábios, para que parasse de falar, e me dar tempo de organizar meus pensamentos e formular alguma frase. Depois de alguns segundos sentindo meu coração começar a voltar a velocidade normal, consegui responder.
- Calma, eu só… eu… não estava preparada. - Coloquei para fora. - Apenas não foi algo… que eu esperava vir de você assim.
Ele tirou lentamente minhas mãos da sua boca, dando um beijo nos meus dedos por um segundo, e voltou os olhos para mim.
- Eu estou um pouco confusa. - Consegui montar uma sentença coerente. - Você sempre se interessou por garotas totalmente diferentes de mim Kook. Eu apenas não esperava essa declaração hoje a noite. Foram muitas informações para assimilar de uma vez.
- Eu sei. - Ele levou minhas mãos novamente aos lábios e beijou meus dedos. - Está tudo bem. Sei que foi meio enxurrada de coisas. Mas eu quero que você saiba que eu estou indo para o exército, mas meu coração ficará aqui com você. Eu não quero ir, ficar longe por meses e deixar essa vaga para outro cara aleatório que aparecer nesse tempo, eu sou o primeiro da fila. E quando você tiver sua resposta sobre o que sente por mim, eu estarei lá, aguardando…
- Calma Kook. - Dei uma risada sem graça, tentando quebrar um pouco a seriedade do momento. - Eu preciso de te falar algo. Você não precisa aguardar um ano e meio para isso.
Seus olhos se arregalaram e senti suas mãos apertarem a minha com um pouco mais de força.
- Eu meio que… Eu… - não sabia como dizer isso sem parecer estranho, então apenas deixei sair. - Eu meio que gosto de você há um tempo.
- O QUE? - Ele falou mais alto, chamando a atenção de Bam que tinha deitado próximo a varanda momentos atrás. - Desde quando? Porque nunca me falou nada?
- Faz um tempo que eu comecei a sentir umas coisas diferentes quando te via - Dei uma risada sem graça. - Mas nunca recebi nenhum sinal de interesse seu, então nunca deixei nada a mostra também.
- Aish. - Ele resmungou. - Somos dois bocós, na verdade. Então você também sente essa faísca? Essa magia no ar? Essa tensão diferente entre nós?
- Sim. - Eu consegui concordar. - Achava que era apenas meu corpo reagindo à essa mudança de sentimentos meus, não achei que fosse química sexual.
Ele jogou a cabeça para trás em uma gargalhada e me puxou para mais perto, me fazendo deitar parcialmente sobre seu corpo ao abraçar minha cintura meio desajeitado. Apoiei minhas mãos em seu peito, sentindo a musculatura que eu tanto admirava firme sob meus dedos, jamais pensei que um dia estaria assim com ele. Desejei tanto esse momento, mas sempre tive para mim que seria sempre coisas da minha imaginação.
- Eu te amo, . - Ele sussurrou perto do meu rosto, fazendo-me sentir seu hálito quente. - Mais do que como amigo, mais do que você imagina. Minha cabeça tem sido uma loucura como o trânsito dessa cidade em horário de pico. Eu não estava aguentando mais guardar isso para mim. Mas eu vou seguir meu coração agora. Você só precisa dizer sim ou não agora. Você quer ser minha?
- Sim. - Consegui sussurrar de volta. Sentindo meu coração bater como uma bateria de samba. E por um segundo o mundo parou, quando ele encostou seus lábios nos meus. Apenas um selinho e senti meu mundo girar, meu estômago se revirou, e ao mesmo tempo tudo se encaixou no lugar certo. Como se finalmente eu estivesse em casa.
O beijo foi simples, mas puxou algo dentro de mim, uma felicidade que parecia estar guardada, ansiosa para explodir, por isso comecei a sentir lágrimas escorrerem por meus olhos, ao mesmo tempo que eu caia na risada.
- Hey. - Ele levantou meu rosto preocupado. - O que aconteceu? Eu beijo tão mal assim?
Não aguentei sua fala e caí ainda mais em gargalhada.
- Claro que não, seu bobo. - Limpei as lágrimas que caíram, e voltei a olhar seu rosto atentamente, percebendo cada detalhe do seu rosto bonito, as pintas, os piercings e pequena cicatriz no alto da sua bochecha esquerda. - A gente nem se beijou direito, difícil saber se você beija bem com esse beijinho mixuruca que você me deu.
- YA,- ele exclamou exagerado - mixuruca? Eu ‘tô tentando ser romântico aqui, e você começa a chorar do nada.
- Eu só estou sensível, com tanta informação. - Ri sem graça, mas puxei seu rosto para perto do meu novamente, nos levando a mais um selinho.
Não se fazendo rogado, logo suas mãos seguraram meu rosto, e ele aprofundou o beijo, me permitindo sentir pela primeira vez seu gosto. A língua macia trabalhando junto à minha, sugando minha alma naquele beijo. Nos afastamos em poucos segundos para respirar, e logo estávamos a sorver a essência um do outro novamente. Quando percebi eu já estava sentada com as duas pernas em volta de sua cintura, e sua mão apertava minha pele, puxando-me para mais junto de si.
Tentando acalmar meu próprio corpo, refreei nossos beijos com selares, diversos beijos estalados até termos nos acalmado o suficiente para respirar fundo. Nossa respiração acelerada, suas mãos acariciando por onde passava, na cintura, quadril, pescoço, em todos os lugares. Quando seus lábios pararam de beijar meus lábios, desceram avidamente pelo meu pescoço, lambendo e beijando, me causando mais tremores internos, e tirando suspiros meus.
Mas logo diminuiu de intensidade e ele voltou o olhar para o meu. Nossa respiração levemente acelerada, sua mão pousou em meu quadril, e ele abriu o sorriso mais lindo que já pude ver em minha vida. - Esse foi o melhor beijo da minha vida. - Sua voz saiu rouca e ofegante.
- O meu também. - Voltei a abraçá-lo e esconder o rosto na curva macia de seu pescoço. - Nós estávamos a um passo de distância da pessoa ideal esse tempo todo.
Suas mãos começaram a acariciar minhas costas, e entraram por dentro da minha blusa por trás, fazendo me sentir pela primeira vez seu toque aquecido. - Eu sei. Apesar de querer muito isso há um tempo, não me arrependo, porque este momento está sendo perfeito com você. É a realização de um sonho.
- Eu te amo muito. - Consegui dizer com o rosto ainda enfiado em seu pescoço. Ele definitivamente tinha o melhor cheiro do mundo.
Hoje seria o tão esperado dia da volta do meu namorado. Ainda era diferente falar essa palavra pensando sobre o Jungkook. Apesar de eu ter sonhado por muito tempo com isso, ele ainda era, principalmente, meu melhor amigo, para quem eu poderia ligar para desabafar, ou apenas jogar conversas fora, e teríamos mais uma mudança no título do nosso relacionamento se dependesse de mim.
Depois de longos 21 meses, finalmente ele estaria de volta para ficar. Estávamos indo buscá-lo na rodoviária. Tanto meus pais quanto os dele, seu irmão, Junghyun, e Bam, por isso tínhamos ido com a minivan dos meus pais, que tinha oito lugares - apesar de que o cachorro ocupava um lugar e meio. Eu estava muito ansiosa, sentia minha mão suada, apesar do tempo frio devido a ser início do inverno, e também podia sentir meu coração bater em algum lugar próximo ao meu pescoço.
Quando chegamos na estação rodoviária, o letreiro eletrônico no hall principal dizia que seu ônibus estava a dois minutos de distância, que foi tempo suficiente para chegarmos na plataforma e vermos seu ônibus estacionando. Conforme as pessoas iam descendo, sentia a tensão nos cinco em volta de mim aumentar, me levando a levar as mãos à barriga devido ao embrulho no estômago que começou. Não sei porque estávamos tão ansiosos, tínhamos falado com ele no início do dia e sabíamos que ele estava bem. Mas poder ver seu rosto e confirmar que ele estava com a pele hidratada e rosada, e não como um zumbi, iria tirar um peso dos nossos ombros.
Nosso último encontro tinha sido no feriado do Chuseok, 2 meses atrás, quando ele recebeu de presente uma folga por ter se destacado e ganhado uma medalha por ser um soldado exemplar. Ele tinha ido para casa dos pais de dia, e tínhamos passado a noite juntos, fazendo amor nas horas que nos restaram. E me surpreendeu foi seu ânimo para isso, pois ele aparentava estar tão cansado que achei que ia preferir dormir. Mas não, tinha me dito que estava morrendo de saudade, que tinha trabalhado o máximo possível para receber uma honraria e ter uma folga para me ver. Eu amava tanto esse homem Quando vi seu corpo passar pelas portas do ônibus, não consegui me conter e me joguei sobre si. Seus braços envolveram minha cintura, mas tenho certeza que não percebeu nenhuma mudança corporal que eu havia sofrido nas últimas semanas, pois apenas se afastou o bastante para ver meu rosto e me deu o sorriso mais lindo do mundo, com o franzir do nariz que eu tanto amava.
- Como eu estava com saudades, meu amor. - Consegui sussurrar em meio aos gritos de felicidade dos nossos pais e seu irmão.
Seus lábios se encostaram nos meus levemente em um selinho longo, antes dele se afastar, e me soltar, para abraçar nossos familiares e seu cachorro, que estava agoniado por não ter a atenção do dono também. Apenas minha mãe sabia meu segredo, havia descoberto por que disse que meu rosto estava mais redondo e eu estava mais irritada, e ela parecia estar tão ansiosa quanto eu para contar logo para todo mundo, mas tínhamos decidido aguardar a volta do meu namorado.
Jungkook percebendo minha agonia, se virou para mim novamente, com as sobrancelhas arqueadas e um bico de dúvida nos lábios.
- O que está acontecendo, amor? - Ele perguntou preocupado, fazendo todos me olharem também.
Abrindo meu maior sorriso, puxei para baixo o zíper da jaqueta que eu estava usando, e empurrei minha barriga, ainda pequena, para frente, exibindo o desenho na minha blusa cinza. A foto do ultrassom do meu útero, uma imagem de pixels acinzentados com preto, com um desenho ovalado mais escuro no centro, e uma mancha cinza flutuando no meio do nada.
- Você voltou para sua família, papai. - Consegui falar em meios às lágrimas que tomaram meus olhos. Se antes eu era chorona, estava ainda mais nos últimos dois meses.
- Você está grávida? - Ouvi meu cunhado quase gritar ao fundo. Mas meu foco estava totalmente em Jungkook e no sorriso maravilhoso que ele abriu, antes de me abraçar novamente e me beijar apaixonadamente.
Nossos pais nos abraçaram por cima de Jungkook, e apesar da leve falta de ar que aquele abraço grupal me deu, eu nunca tinha me sentido tão amada em toda minha vida. Tudo estava sendo como viver um sonho muito real.
- Eu te amo tanto, eu te amo tanto. - Jungkook sussurrava enquanto enchia meu rosto de beijos.
Nos separamos para podermos abraçar nossos familiares corretamente. Sua mãe estava tão emocionada que não conseguia parar de chorar, e seu irmão já fazia planos para o sobrinho, que ele jurava ser menino.
- Vocês se preparem que eu vou estragar muito essa criança. - Junghyun falou animado.
Consegui ver pelo canto dos olhos, enquanto abraçava meu pai (que também não estava sabendo da surpresa, e estava emocionado), quando Jungkook recebeu um embrulho pequeno das mãos do seu pai e se virou para mim com o maior dos sorrisos do mundo.
- Você me fez uma surpresa maravilhosa, ainda estou impactado, juro para você. - Seus olhos brilhavam enquanto retirava uma caixa preta aveludada de dentro do embrulho que tinha recebido de seu pai.
- O que você está fazendo? - Consegui perguntar trêmula quando o percebi se ajoelhar na minha frente. Pude ouvir gritinhos de felicidade vindos de nossas mães.
- Estou pedindo para você ser minha novamente. - Ele abriu a caixa, revelando um anal dourado com uma pequena pedra no topo. - Mas dessa vez quero que seja minha esposa. Então, meu amor? Sim ou não?
Entretanto, tivemos a sorte grande de nos mudarmos para o lado da casa da família Jeon, uma família tipicamente coreana com pai, mãe e dois filhos homens super bem educados, que além de ter nos apresentado a vizinhança e o modo de vida do pessoal, ainda se tornou nossos amigos pra vida. Eu que o diga. Jeon Jungkook, o filho mais novo do casal, se tornou meu melhor amigo, e mesmo sendo um ano mais novo do que eu, me apresentou a escola que passamos a estudar juntos e seu grupo de amigos - que graças a Deus tinha variação na idade e meninas incluídas.
Para mim ele passou a ser o meu melhor amigo, que dormia na minha casa no chão do meu quarto às vezes quando ficávamos jogando videogame até tarde, ou que me acompanhava no shopping quando eu precisava comprar alguma coisa, pois ele nunca se importou em fazer coisas consideradas “femininas” comigo, aliás, ele era bem mais vaidoso do que eu. E essa amizade permaneceu assim até eu completar 21 anos e perceber que a criança que brilhava naqueles olhos de jabuticabas gigantes, e no franzir do nariz quando ele dava aquele sorrisinho sapeca, tinha ficado só nesses detalhes mesmo. Jeon Jungkook tinha virado um homem com 1,79 de músculos definidos, que dava abraços de ursos que mexiam no mais profundo do meu ser. Pois é, me descobri apaixonada pelo meu melhor amigo, e tinha guardado isso dentro de mim pelos últimos cinco anos.
Hoje com 25 anos, Jungkook estava ainda mais lindo, tinha se tornado produtor de vídeos, trabalhava em uma emissora de TV aqui em Busan, e tinha uma vida estável morando sozinho com seu cachorro Bam no centro da cidade. Entretanto apesar de formada em medicina veterinária, e tendo meu próprio consultório, eu ainda morava com meus pais nos bairros residenciais no suburbio da cidade. Eu não me incomodava com isso, porque sabia bem o quão caro era manter um aluguel no centro, e sempre que precisava escapar das asas dos meus pais podia ir para a casa do meu amigo no final de semana.
E era exatamente isso que estava fazendo hoje, na sexta à noite. Jungkook precisava me contar algo, por isso pediu que eu fosse para a casa dele nesse final de semana. Como tinha feriado na segunda, estava fazendo minha malinha de mão para passar sábado e domingo lá, quando minha mãe bateu na porta do meu quarto.
- Hey filha, vai ficar quantos dias na casa do Kook? - Ela perguntou como quem não queria nada, mas eu sabia bem que tinha algo por trás disso.
- Até domingo à tarde mãe. Preciso estar em casa na segunda para fazer a planilha de insumos da clínica. - Respondi enquanto dobrava algumas blusinhas e colocava dentro da bolsa.
- A senhora Jeon falou que ele estava meio estranho pelo telefone, meio ansioso. Você tem alguma ideia do que ele quer falar pra você. - Ela cruzou os braços e se encostou na porta.
- Eita, como é curiosa ein, mãe. - Dei risada enquanto pegava meus produtos de skincare, e colocava junto com as outras coisas. Ela deu uma risada sem graça enquanto dava de ombros. - Ele parecia meio ansioso mesmo, mas não me falou o que seria. Acho que deve querer minha ajuda para comprar a aliança de compromisso para a namorada ou algo assim.
- Acho bem difícil, filha. - Ela desencostou da porta indo sentar na beirada da cama de casal. - Ele gosta de você, e a senhora Jeon concorda comigo.
Não consegui me conter e dei uma gargalhada. - Ai mãe, vocês duas ainda continuam com essa fanfic? Ele já tem uma namorada.
- Que raios de fanfic? - Ela respondeu indignada. - Vocês que são dois bobos e não perceberam a química que vocês tem ainda. Já temos até o enxoval de vocês prontos. Logo ele larga essa daí.
Ela se levantou fingindo limpar a mão na calça, e quando viu minha cara de surpresa saiu do quarto rindo da minha cara. Engoli em seco pois bem queria que ele casasse comigo mesmo, mas sabia que era um sonho longínquo, levando em conta as namoradas perfil de modelo que meu amigo sempre teve - a atual incluída nisso. Não me achava feia, sabia bem que podia chamar alguma atenção quando queria, mas minha pele mais escura, vinda da mistura dos meus pais, seria mais elogiada no norte da europa, do que ali na Coreia do Sul, onde quanto mais branco a pessoa for melhor ela é tratada.
Mesmo que Jungkook nunca tivesse levado nenhum desses relacionamentos a sério o bastante para apresentar aos pais dele, ele sempre apresentava elas para mim, e elas eram sempre no padrão coreano de qualidade. Pele de porcelana e magra demais. Talvez ele quisesse mudar esse costume e finalmente apresentá-la aos pais, isso provavelmente o deixaria ansioso e agoniado.
Suspirei, e voltei minha atenção para o que estava fazendo antes, quando ouvi o meu celular vibrando na mesa da cabeceira e fui ver o que tinham mandado.
Kook
“Já está pronta? Decidi passar aqui nos meus pais e aproveitar e te dar carona”
“aaah, como assim? eu ainda to terminando a minha bolsa e vou tomar um banho, depois ia pedir um uber para lá”
Kook
“estava em uma gravação aqui perto, e aproveitei o caminho para passar aqui, assim você não precisa enfrentar o trânsito desse horário”
“ah sempre tão querido meu ‘dongseang’”
Kook
“aaah cala a boca e desça, você pode tomar banho lá em casa”
Passei então a apenas jogar as coisas de qualquer jeito na mala, fazendo ela estufar, e desci correndo com ela na mão procurando meus pais para me despedir. Estavam na sala deitados no sofá um em cada ponta, não demorei muito, apenas beijei a bochecha de cada um deles dizendo até mais e sai pela porta, mas ainda consegui ouvir meu pai gritar - Se previnam ein. - Fazendo eu sentir as bochechas ardendo.
Jungkook já estava em seu Mercedes na frente da minha casa me aguardando, com um óculos escuro e seu braço direito, totalmente tatuado, apoiado na janela; meu coração deu uma leve acelerada fazendo meu rosto arder mais ainda.
- Que cara é essa? - Consegui ver suas sobrancelhas se franzindo atrás dos óculos.
- Meus pais são uns bocós. - Respondi depois que já estava dentro do carro e colocando o cinto de segurança. - Você sabia que nossas mães acham que vamos nos casar um dia e elas já tem até o enxoval?
A gargalhada do menino ao meu lado me fez ficar ainda mais perplexa quando ele não agiu como se fosse algo estranho ouvir isso.
- Sim. - Ele respondeu simplesmente. - Um dia minha mãe até veio me perguntar que cor eu preferia para as toalhas do banheiro do casal.
Meu coração que já estava acelerado foi parar na garganta e me engasguei com o ar por um momento, fazendo ele bater levemente nas minhas costas.
- Como assim Jungkook? - Respondi brava me virando para ele no banco. - Como você pode permitir eles gastarem dinheiro com essas coisas?
- Aish deixa de bobeira. - Ele deu de ombros. - É engraçado, vai..
- Sim, vai ser bem engraçado quando a Ahreum descobrir isso. - Falei seriamente, citando sua atual namorada. Eles estavam juntos havia sete meses, e acredite ou não, isso era um recorde para tempos de relacionamentos dele.
- Ela não vai precisar falar nada, pois não estamos mais juntos. - Sua voz perdeu levemente o tom da graça, mas ele manteve um sorrisinho no rosto, tentando mostrar como se isso não o afetasse.
- O que? - Acabei falando mais alto do que gostaria, mas ele parecia já estar esperando isso, pois não moveu um músculo e manteve a pose.
- Quando chegarmos no apartamento eu te conto tudo. Temos que pegar o Bam primeiro. Quer pedir comida ou quer me ajudar a fazer algo para comer em casa?
Ele mudou de assunto tão rápido que levei uns segundos para entender sua pergunta. Mas não deixei passar em branco.
- É por isso que me chamou para ficar com você esse final de semana? - Cruzei os braços e dei um sorriso inteligente, porém contido, como se eu tivesse descoberto o mundo.
Ele apenas revirou os olhos e manobrou o carro para um bairro que eu sabia ser próximo de sua casa e onde ficava a creche do seu doberman gigante e fofo.
- Não foi por isso, mas pode ter um pouco a ver sim. Mas é principalmente por causa de outra coisa, que vou te contar quando chegar em casa.
Entramos em uma rua estreita, cheia de casas bonitas, e ele parou em frente de uma sem placas, mas que eu sabia que era uma creche canina. Virou-se em minha direção no banco, apoiando um dos braço no volante, levantou os óculos escuros na cabeça e abriu o sorriso lindo que ele tinha, perguntando.
- Agora responde minha pergunta, você prefere comer fora, comprar comida e comer em casa, ou fazer a própria comida?
Me senti toda mole com o olhar profundo que ele me deu, e abri um sorriso, respondendo com um delay causado pela taquicardia que aquele momento me deu.
- Tudo bem, eu aguardo chegarmos na sua casa. E eu prefiro comprar comida, se puder, ou até pedirmos lá da sua casa mesmo. Como é final de semana pré feriado, hoje foi uma loucura no consultório,e não quero sair.
- Ótimo, então vou pegar o Bam e já volto. - Ele desligou o carro e saiu, fechando a porta suavemente, antes de alcançar a casa e tocar a campanhia.
Poucos momentos depois ele voltou com um cachorro marrom grande na coleira pulando igual um coelho. Incrível como os dois possuíam a mesma personalidade bobona. E eu amava os dois. Sai do carro correndo pra abraçar o cachorro fofo, e fui recebida com lambidas molhadas no rosto e muitos pulos, eu não precisava nem me abaixar pra fazer carinho nele.
- Meu Deus, faz quanto tempo que não vejo ele? Parece muito mais alto hoje. - Falei exageradamente enquanto acariciava sua cabeça.
- Tá vendo? Isso é sinal que você vem pouco aqui em casa. - Jungkook respondeu. - Mas acho que faz pouco mais de dois meses que você não vê ele. E eu não consegui levar ele pra casa dos meus pais, das últimas vezes que fui lá, então acho que é por esse tempo mesmo. E a não ser que seja pros lados, acho que ele não cresceu, não.
- Você tem que parar de dar whey protein para esse cachorro Jungkook, ele não precisa crescer mais. - Tentei fazer piada. Mas ele me esnobou empurrando minha cabeça pra trás.
- Qual é a palavra em português que você usa sempre quando tenta me xingar mesmo? - Ele perguntou quando já tinha colocado o Bam na parte de trás do carro, e prendido sua guia no cinto de segurança.
- Bocó? - Falei sem entender o ponto que ele queria chegar.
- Isso. - Ele abriu a porta pra mim e esperou eu entrar antes de fechar a porta e se abaixar na janela na minha janela.
- Você é a mais bocó que existe, noona.
Revirei os olhos e esperei ele voltar para dentro do carro, para continuarmos o trajeto.
Quando chegamos na casa dele, deixei minhas coisas no quarto de hóspedes, e fui direto para o banheiro social tentar relaxar, depois da semana agitada que eu tinha vivido. Enquanto isso, Jungkook colocou comida para o cachorro e fez o pedido da nossa pelo aplicativo de entregas. Quando saí e passei pelo corredor pude ouvir o chuveiro de sua suíte ligado, e imaginei que ele estava se lavando também. Ouvi a campainha tocar e fui atender a porta, recebendo a comida que ele havia pedido.
Arrumei tudo na mesa de centro da sala, e me joguei no sofá, ligando a tv e procurando algo para vermos, antes do bonito decidir sair do banho. Como já havia falado, Jungkook era bem mais vaidoso do que eu, por isso seu processo de skin care levava pelo menos uns 10 minutos a mais do que o meu.
Quando saiu do quarto estava sem camisa e vestindo uma calça de pijama azul, enquanto secava o cabelo com uma toalha. Dava para observar algumas gotas ainda escorrendo pelos seus ombros fortes e isso fazia minha consciência escorrer junto com elas. Eu às vezes me pegava hipnotizada pelos desenhos que fechavam seu braço direito.
- Ei. - Chamei ele, que levantou a cabeça confuso, mas sorriu quando encontrou meus olhos. - Venha aqui, deixa eu secar seu cabelo direito. Se não, você vai acabar fungando o resto da noite por causa da sua rinite.
Dando pulinhos igual uma criança no prézinho, ele veio ao meu encontro e sentou no chão entre minhas pernas.
- O que você colocou para a gente ver? - Ele perguntou.
- Na verdade não sei muito bem, é só um filme de terror que ainda não assisti antes e tava curiosa. Vamos ver se é bom. - Falei enquanto esfregava a toalha macia em seus fios negros. Eu simplesmente amava quando ele fazia esse corte americanizado, com mais cabelo em cima e as laterais baixinhas. - Será que é melhor usar o secador? - Perguntei a mim mesma, mas em voz alta.
- Ah não, deixa secar sozinho, você já tirou o excesso, vai ser rápido agora.
Ele saiu de entre minhas pernas, tirando a toalha das minhas mãos para estender em um varal de chão na varanda, e depois voltou sentando no tapete com a mesa de centro em sua frente, onde a comida já meio morna nos aguardava. Voltou o corpo para trás e puxou um dos meus pés, me chamando para sentar ao seu lado, e deu play no vídeo.
Eu sabia que ele estava enrolando o máximo que podia para entrarmos no assunto do seu término de namoro, e eu ia respeitar enquanto estivéssemos comendo, mas após isso ele teria que estar preparado para a enxurrada de perguntas que viria.
O filme era relativamente ok, nada muito novo e extraordinário, apenas o comum de insetos gigantes assassinos do terror.
- Aish, que filmezinho ruim, ein, não dá nem pra sentir medo. - Jungkook terminou de comer e empurrou o prato vazio um pouco para frente, se jogando para trás no tapete.
Estava me preparando para engolir a porção final de comida que tinha colocado na boca quando senti a mão dele nas minhas costas, alisando de cima para baixo. E não que fosse estranho ele me fazer carinho ou algo assim, porque Jungkook sempre foi muito carinhoso com todo mundo, mas o choque que senti no meu corpo quando ele me tocou fez a comida que estava em minha boca descer sem permissão nenhuma por minha garganta, fazendo eu me engasgar, causando uma série de tosse desesperada em mim, o levando a se sentar novamente para me ajudar com batidas em minhas costas. A comida desceu lentamente, mas por fim consegui respirar entre uma tosse e outra.
- Merda, . - Ouvi ele dizer em meio aos meus engasgos. - Quer me matar do coração, porra?
Quando eu já tinha desengasgado completamente, bebi um gole água da garrafinha que veio junto com o pedido, e consegui responder ele com a voz meio falha.
- Ai desculpa por me engasgar, senhor supremo. Eu levei um susto quando você me tocou nas costas. Achei que era algum bicho. - Desconversei com uma leve mentira.
- Tudo isso por causa desse filme ruim? Você está destreinada dos filmes de terror, noona. - Ele voltou a se inclinar para trás, deitando novamente no chão.
Revirei os olhos e me virei para ele, com as pernas cruzadas, deixando o resto da comida para poder puxar o assunto que eu tanto estava curiosa.
- Deixa de ser bocó, eu só me assustei porque foi do nada e eu estava de costas. Mas agora me conta a fofoca, porque estou me mordendo de curiosidade.
Jungkook se sentou novamente, indo com o corpo para trás até se escorar no sofá e segurou uma das minhas mãos, me puxando para mais perto dele. Fiquei aguardando ele falar algo, enquanto ainda estava com minhas mãos entre as suas, e quando ele percebeu que eu mesma não iniciaria a conversa, soltou um suspiro e jogou a cabeça para trás, descansando-a no sofá.
- Bom, Ahreum e eu terminamos. Na verdade eu terminei com ela. Foi ontem, então é por isso que você não estava sabendo ainda. Não tive tempo de contar.
Aguardei ele falar mais alguma coisa, mas nada veio. Por isso continuei.
- E porque você terminou com ela?
Passaram-se pelo menos trinta segundos até ele levantar a cabeça e me olhar nos olhos. Engoliu em seco uma vez, e então pareceu ter criado coragem pra contar.
- Eu decidi me alistar no exército. Devo ir no mês que vem. - Senti minha boca secar e minha língua grudar no céu da boca, me impedindo de falar algo. - Mas na verdade eu terminei com ela porque parecia que esse relacionamento estava evoluindo para algo realmente sério, e eu não quero isso. Não com ela.
Me senti confusa por um momento, pois eu jurava que Jungkook gostava o bastante de Ahreum, estavam juntos a tanto tempo, e ele já tinha até postado foto com ela na rede social. Tentei organizar o pensamento e focar no fato que ele iria para o exército, e provavelmente ficaria mais de um ano e meio fora.
- Por que raios você já quer se alistar agora? Você ainda tem alguns anos, seu trabalho está ótimo e você ainda tem um filho canino para cuidar. - Deixei a enxurrada sair, e pensei que talvez era por isso que ele me chamou ali, para pedir que eu ficasse com o Bam por esse tempo. - É por isso que me chamou aqui? Para me pedir que fique com o Bam o tempo em que você estiver fora?
- Claro que não , - ele respondeu indignado - ele vai ficar com meus pais, apesar de eu não ter contado para eles ainda, eu te chamei porque queria que você fosse a primeira a saber.
- Primeira depois da Ahruem, você quer dizer, né?- Cruzei os braços indignada com a cara de pau dele.
- Ela só ficou sabendo porque viu quando eu recebi o email do governo, ela estava do meu lado. E isso foi ótimo na verdade, porque foi a desculpa perfeita para eu terminar com ela. - Ele tentou descruzar meus braços e me puxar para si.
Soltei um suspiro e joguei meu corpo sobre o dele, o abraçando e enfiando meu rosto em seu pescoço, o sentindo me abraçar de volta. Ele tinha o cheiro mais incrivelmente fresco que eu já tinha sentido na vida, eu poderia ficar enfiada ali o resto da minha vida.
- Não quero que você vá agora. - Resmunguei baixinho. - Na verdade não quero que você vá nunca.
Ficamos abraçados por mais uns segundos até que ele me soltasse e empurrasse levemente de seu corpo, para conseguir olhar em meus olhos.
- Eu teria que ir uma hora ou outra, e prefiro ir agora que não tenho nada que realmente me prenda. - Justificou.
- Como não tem nada que o prenda, e seu cachorro? - Tentei argumentar emburrada, sentindo meus olhos lacrimejar.
- Quero dizer algo como uma família, noona. É mais fácil eu vir visitar meu cão na casa dos meus pais de vez em quando, do que ficar longe de um filho ou uma esposa grávida.
Meus olhos se arregalaram, quando entendi o que ele queria dizer. Ele já estava pronto para construir uma família, e enquanto isso, eu sonhava delirantemente sobre eu ser sua esposa grávida. - Nossa, mas você já está querendo casar? Você já tem outra pessoa? Estava traindo a Ahreum? Você acabou de terminar com ela, como já quer casar com outra pessoa?
- Nossa, seu cérebro trabalha realmente rápido, ein. - Ele deu uma risada sem graça e tentou pegar minhas mãos novamente, mas eu me afastei levemente, o fazendo franzir as sobrancelhas. - Eu não traí ninguém, e não tenho outra pessoa… Ainda. Mas sim, já me sinto preparado para ter uma família, minha própria família, então achei melhor arrancar esse band aid de uma vez, do que ter que abandonar alguém aqui por um ano e meio.
- Tudo bem, entendi. Eu só estou triste. - Tentei engolir o choro, mas sabia que ele tinha visto as lágrimas presas nos meus olhos. - E eu posso ficar com o Bam se você quiser, posso deixar e buscar ele na creche, e levar ele pra passear até você ter uma folga e puder vir ver ele.
- Eu sei que sim, e é por isso que eu amo você. - Ele falou com um sorriso gigante, roubando um sorriso mínimo meu também.
- Eu também te amo. Vou sentir sua falta. - Tentei retribuir o sentimento, apesar da amargura do futuro que o aguardava.
- Você não está entendo . - Ele me puxou com tanta força dessa vez que quase fui parar no colo dele, mas consegui ficar ajoelhada ao seu lado, com meu corpo virado para o seu. - Eu falei para Ahreum que eu não a amava, porque eu amo você. Eu quero voltar para você quando acabar meu tempo no exército.
Meu corpo simplesmente gelou. Tenho certeza que a expressão que eu estava fazendo não era muito animadora para ele, provavelmente eu estava com cara de ânsia de vômito ou algo muito próximo disso, porque a próxima coisa que ele falou foi.
- Tudo bem se você não sentir o mesmo, . - Ele arrumou a postura, sentando-se direito, procurando mostrar que não se importava muito com minha reação, mas dava para enxergar um pouco de desapontamento no seu olhar. Só que eu não conseguia falar nada, tentei engolir a saliva na boca, mas parecia que isso tinha se multiplicado e acumulado no fundo da minha garganta. - Eu não quero que nossa amizade mude por eu ter falado isso, eu só achei que tinha sentido alguma coisa diferente entre nós nesses últimos tempos. Eu posso ter ima…
Coloquei minha mão sobre seus lábios, para que parasse de falar, e me dar tempo de organizar meus pensamentos e formular alguma frase. Depois de alguns segundos sentindo meu coração começar a voltar a velocidade normal, consegui responder.
- Calma, eu só… eu… não estava preparada. - Coloquei para fora. - Apenas não foi algo… que eu esperava vir de você assim.
Ele tirou lentamente minhas mãos da sua boca, dando um beijo nos meus dedos por um segundo, e voltou os olhos para mim.
- Eu estou um pouco confusa. - Consegui montar uma sentença coerente. - Você sempre se interessou por garotas totalmente diferentes de mim Kook. Eu apenas não esperava essa declaração hoje a noite. Foram muitas informações para assimilar de uma vez.
- Eu sei. - Ele levou minhas mãos novamente aos lábios e beijou meus dedos. - Está tudo bem. Sei que foi meio enxurrada de coisas. Mas eu quero que você saiba que eu estou indo para o exército, mas meu coração ficará aqui com você. Eu não quero ir, ficar longe por meses e deixar essa vaga para outro cara aleatório que aparecer nesse tempo, eu sou o primeiro da fila. E quando você tiver sua resposta sobre o que sente por mim, eu estarei lá, aguardando…
- Calma Kook. - Dei uma risada sem graça, tentando quebrar um pouco a seriedade do momento. - Eu preciso de te falar algo. Você não precisa aguardar um ano e meio para isso.
Seus olhos se arregalaram e senti suas mãos apertarem a minha com um pouco mais de força.
- Eu meio que… Eu… - não sabia como dizer isso sem parecer estranho, então apenas deixei sair. - Eu meio que gosto de você há um tempo.
- O QUE? - Ele falou mais alto, chamando a atenção de Bam que tinha deitado próximo a varanda momentos atrás. - Desde quando? Porque nunca me falou nada?
- Faz um tempo que eu comecei a sentir umas coisas diferentes quando te via - Dei uma risada sem graça. - Mas nunca recebi nenhum sinal de interesse seu, então nunca deixei nada a mostra também.
- Aish. - Ele resmungou. - Somos dois bocós, na verdade. Então você também sente essa faísca? Essa magia no ar? Essa tensão diferente entre nós?
- Sim. - Eu consegui concordar. - Achava que era apenas meu corpo reagindo à essa mudança de sentimentos meus, não achei que fosse química sexual.
Ele jogou a cabeça para trás em uma gargalhada e me puxou para mais perto, me fazendo deitar parcialmente sobre seu corpo ao abraçar minha cintura meio desajeitado. Apoiei minhas mãos em seu peito, sentindo a musculatura que eu tanto admirava firme sob meus dedos, jamais pensei que um dia estaria assim com ele. Desejei tanto esse momento, mas sempre tive para mim que seria sempre coisas da minha imaginação.
- Eu te amo, . - Ele sussurrou perto do meu rosto, fazendo-me sentir seu hálito quente. - Mais do que como amigo, mais do que você imagina. Minha cabeça tem sido uma loucura como o trânsito dessa cidade em horário de pico. Eu não estava aguentando mais guardar isso para mim. Mas eu vou seguir meu coração agora. Você só precisa dizer sim ou não agora. Você quer ser minha?
- Sim. - Consegui sussurrar de volta. Sentindo meu coração bater como uma bateria de samba. E por um segundo o mundo parou, quando ele encostou seus lábios nos meus. Apenas um selinho e senti meu mundo girar, meu estômago se revirou, e ao mesmo tempo tudo se encaixou no lugar certo. Como se finalmente eu estivesse em casa.
O beijo foi simples, mas puxou algo dentro de mim, uma felicidade que parecia estar guardada, ansiosa para explodir, por isso comecei a sentir lágrimas escorrerem por meus olhos, ao mesmo tempo que eu caia na risada.
- Hey. - Ele levantou meu rosto preocupado. - O que aconteceu? Eu beijo tão mal assim?
Não aguentei sua fala e caí ainda mais em gargalhada.
- Claro que não, seu bobo. - Limpei as lágrimas que caíram, e voltei a olhar seu rosto atentamente, percebendo cada detalhe do seu rosto bonito, as pintas, os piercings e pequena cicatriz no alto da sua bochecha esquerda. - A gente nem se beijou direito, difícil saber se você beija bem com esse beijinho mixuruca que você me deu.
- YA,- ele exclamou exagerado - mixuruca? Eu ‘tô tentando ser romântico aqui, e você começa a chorar do nada.
- Eu só estou sensível, com tanta informação. - Ri sem graça, mas puxei seu rosto para perto do meu novamente, nos levando a mais um selinho.
Não se fazendo rogado, logo suas mãos seguraram meu rosto, e ele aprofundou o beijo, me permitindo sentir pela primeira vez seu gosto. A língua macia trabalhando junto à minha, sugando minha alma naquele beijo. Nos afastamos em poucos segundos para respirar, e logo estávamos a sorver a essência um do outro novamente. Quando percebi eu já estava sentada com as duas pernas em volta de sua cintura, e sua mão apertava minha pele, puxando-me para mais junto de si.
Tentando acalmar meu próprio corpo, refreei nossos beijos com selares, diversos beijos estalados até termos nos acalmado o suficiente para respirar fundo. Nossa respiração acelerada, suas mãos acariciando por onde passava, na cintura, quadril, pescoço, em todos os lugares. Quando seus lábios pararam de beijar meus lábios, desceram avidamente pelo meu pescoço, lambendo e beijando, me causando mais tremores internos, e tirando suspiros meus.
Mas logo diminuiu de intensidade e ele voltou o olhar para o meu. Nossa respiração levemente acelerada, sua mão pousou em meu quadril, e ele abriu o sorriso mais lindo que já pude ver em minha vida. - Esse foi o melhor beijo da minha vida. - Sua voz saiu rouca e ofegante.
- O meu também. - Voltei a abraçá-lo e esconder o rosto na curva macia de seu pescoço. - Nós estávamos a um passo de distância da pessoa ideal esse tempo todo.
Suas mãos começaram a acariciar minhas costas, e entraram por dentro da minha blusa por trás, fazendo me sentir pela primeira vez seu toque aquecido. - Eu sei. Apesar de querer muito isso há um tempo, não me arrependo, porque este momento está sendo perfeito com você. É a realização de um sonho.
- Eu te amo muito. - Consegui dizer com o rosto ainda enfiado em seu pescoço. Ele definitivamente tinha o melhor cheiro do mundo.
XXX
Hoje seria o tão esperado dia da volta do meu namorado. Ainda era diferente falar essa palavra pensando sobre o Jungkook. Apesar de eu ter sonhado por muito tempo com isso, ele ainda era, principalmente, meu melhor amigo, para quem eu poderia ligar para desabafar, ou apenas jogar conversas fora, e teríamos mais uma mudança no título do nosso relacionamento se dependesse de mim.
Depois de longos 21 meses, finalmente ele estaria de volta para ficar. Estávamos indo buscá-lo na rodoviária. Tanto meus pais quanto os dele, seu irmão, Junghyun, e Bam, por isso tínhamos ido com a minivan dos meus pais, que tinha oito lugares - apesar de que o cachorro ocupava um lugar e meio. Eu estava muito ansiosa, sentia minha mão suada, apesar do tempo frio devido a ser início do inverno, e também podia sentir meu coração bater em algum lugar próximo ao meu pescoço.
Quando chegamos na estação rodoviária, o letreiro eletrônico no hall principal dizia que seu ônibus estava a dois minutos de distância, que foi tempo suficiente para chegarmos na plataforma e vermos seu ônibus estacionando. Conforme as pessoas iam descendo, sentia a tensão nos cinco em volta de mim aumentar, me levando a levar as mãos à barriga devido ao embrulho no estômago que começou. Não sei porque estávamos tão ansiosos, tínhamos falado com ele no início do dia e sabíamos que ele estava bem. Mas poder ver seu rosto e confirmar que ele estava com a pele hidratada e rosada, e não como um zumbi, iria tirar um peso dos nossos ombros.
Nosso último encontro tinha sido no feriado do Chuseok, 2 meses atrás, quando ele recebeu de presente uma folga por ter se destacado e ganhado uma medalha por ser um soldado exemplar. Ele tinha ido para casa dos pais de dia, e tínhamos passado a noite juntos, fazendo amor nas horas que nos restaram. E me surpreendeu foi seu ânimo para isso, pois ele aparentava estar tão cansado que achei que ia preferir dormir. Mas não, tinha me dito que estava morrendo de saudade, que tinha trabalhado o máximo possível para receber uma honraria e ter uma folga para me ver. Eu amava tanto esse homem Quando vi seu corpo passar pelas portas do ônibus, não consegui me conter e me joguei sobre si. Seus braços envolveram minha cintura, mas tenho certeza que não percebeu nenhuma mudança corporal que eu havia sofrido nas últimas semanas, pois apenas se afastou o bastante para ver meu rosto e me deu o sorriso mais lindo do mundo, com o franzir do nariz que eu tanto amava.
- Como eu estava com saudades, meu amor. - Consegui sussurrar em meio aos gritos de felicidade dos nossos pais e seu irmão.
Seus lábios se encostaram nos meus levemente em um selinho longo, antes dele se afastar, e me soltar, para abraçar nossos familiares e seu cachorro, que estava agoniado por não ter a atenção do dono também. Apenas minha mãe sabia meu segredo, havia descoberto por que disse que meu rosto estava mais redondo e eu estava mais irritada, e ela parecia estar tão ansiosa quanto eu para contar logo para todo mundo, mas tínhamos decidido aguardar a volta do meu namorado.
Jungkook percebendo minha agonia, se virou para mim novamente, com as sobrancelhas arqueadas e um bico de dúvida nos lábios.
- O que está acontecendo, amor? - Ele perguntou preocupado, fazendo todos me olharem também.
Abrindo meu maior sorriso, puxei para baixo o zíper da jaqueta que eu estava usando, e empurrei minha barriga, ainda pequena, para frente, exibindo o desenho na minha blusa cinza. A foto do ultrassom do meu útero, uma imagem de pixels acinzentados com preto, com um desenho ovalado mais escuro no centro, e uma mancha cinza flutuando no meio do nada.
- Você voltou para sua família, papai. - Consegui falar em meios às lágrimas que tomaram meus olhos. Se antes eu era chorona, estava ainda mais nos últimos dois meses.
- Você está grávida? - Ouvi meu cunhado quase gritar ao fundo. Mas meu foco estava totalmente em Jungkook e no sorriso maravilhoso que ele abriu, antes de me abraçar novamente e me beijar apaixonadamente.
Nossos pais nos abraçaram por cima de Jungkook, e apesar da leve falta de ar que aquele abraço grupal me deu, eu nunca tinha me sentido tão amada em toda minha vida. Tudo estava sendo como viver um sonho muito real.
- Eu te amo tanto, eu te amo tanto. - Jungkook sussurrava enquanto enchia meu rosto de beijos.
Nos separamos para podermos abraçar nossos familiares corretamente. Sua mãe estava tão emocionada que não conseguia parar de chorar, e seu irmão já fazia planos para o sobrinho, que ele jurava ser menino.
- Vocês se preparem que eu vou estragar muito essa criança. - Junghyun falou animado.
Consegui ver pelo canto dos olhos, enquanto abraçava meu pai (que também não estava sabendo da surpresa, e estava emocionado), quando Jungkook recebeu um embrulho pequeno das mãos do seu pai e se virou para mim com o maior dos sorrisos do mundo.
- Você me fez uma surpresa maravilhosa, ainda estou impactado, juro para você. - Seus olhos brilhavam enquanto retirava uma caixa preta aveludada de dentro do embrulho que tinha recebido de seu pai.
- O que você está fazendo? - Consegui perguntar trêmula quando o percebi se ajoelhar na minha frente. Pude ouvir gritinhos de felicidade vindos de nossas mães.
- Estou pedindo para você ser minha novamente. - Ele abriu a caixa, revelando um anal dourado com uma pequena pedra no topo. - Mas dessa vez quero que seja minha esposa. Então, meu amor? Sim ou não?
Fim
Nota da autora: Sem Nota!
Nota da scripter: GENTEEEEEEEEEEEEES EU BERREI TANTO QUANDO ELE SE DECLAROU PARA ELA QUE EU TO ATÉ AGORA GRITANDO E AQUELA SURPRESA DO MINI KOOK???? MEU DEUS, EU IA SURTAR TAL QUAL O CUNHADINHO, SE EU NÃO FOSSE A MÃE, É CLARO! KKKKKKKK
AH,Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar as autoras felizes com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da scripter: GENTEEEEEEEEEEEEES EU BERREI TANTO QUANDO ELE SE DECLAROU PARA ELA QUE EU TO ATÉ AGORA GRITANDO E AQUELA SURPRESA DO MINI KOOK???? MEU DEUS, EU IA SURTAR TAL QUAL O CUNHADINHO, SE EU NÃO FOSSE A MÃE, É CLARO! KKKKKKKK
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