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1. You make me wanna meet your family.


POV

Lar, doce lar.
Sentada no banco do carona, eu assistia às ruas de Birmingham passarem pela janela. Eu estava tão contente de estar em casa novamente. Embora eu morasse em Londres desde quando me tornei uma universitária, e, mesmo formada, tivesse optado por permanecer morando lá, era inevitável voltar naquela cidade e não recordar os momentos que eu havia passado ali durante a infância e a adolescência.
- Eu e estudamos naquela escola! - exclamei, apontando para a tão conhecida construção de três andares pela qual passávamos naquele instante. Eu quase conseguia ver a calçada lotada de adolescentes com os hormônios à flor da pele, todos vestidos com o uniforme horroroso que eu odiava usar diariamente. Entretanto, não se via uma viva alma por ali, devido aos feriados de fim de ano.
- Vocês estudaram juntas? - questionou, após olhar rapidamente para o prédio e voltar sua atenção para o trânsito.
- Não. Sou dois anos mais nova do que ela - respondi e observei levantar a sobrancelhas e assentir com um aceno de cabeça, demonstrando ter acabado de se lembrar daquele detalhe. - Fizemos amizade porque éramos vizinhas mesmo - completei.
Foi impossível não notar quão quieto estava naquele dia. Normalmente, era até difícil fazer ele parar de tagarelar e de proferir provocações. A seriedade presente em suas feições também era bastante incomum para alguém que vivia falando gracinhas e rindo. Ele segurava o volante com um pouco de força e eu, preocupada, começava a me questionar se tê-lo levado para passar o Natal com minha família havia sido realmente uma boa ideia. E se ele tivesse aceitado apenas para me agradar?
- Está tudo bem, ?
Ele pareceu se sobressaltar ao escutar minha pergunta e me lançou um olhar de canto.
- Você está estranho desde que saímos de Londres. Tem alguma coisa errada? - questionei.
- Não, - ele negou veemente. - Só estou cansado. Fomos dormir tarde ontem.
Apesar de ser uma desculpa plausível, pois, no dia anterior, havíamos nos reunido com nossos amigos no The Red Wine - o bar onde nos conhecemos e era nosso ponto de encontro oficial -, e voltamos tarde demais para quem tinha que viajar de manhã.
- Tem certeza? - perguntei, estreitando os olhos. - Você não é assim... caladão. Estamos há mais de duas horas na estrada e eu praticamente fiz um monólogo durante a viagem toda.
- Só estou um pouco preocupado - por fim, ele confessou, fazendo uma careta.
- Preocupado com o que, pelo amor de Deus? Nós estamos de folga, é Natal, vamos comer as comidas maravilhosas da minha mãe e das minhas tias mais tarde, vamos ganhar presentes… - eu dizia, enumerando cada item em um dedo. - Não tem nem espaço para preocupações no meio disso tudo.
Ele soltou um longo suspiro, sem tirar os olhos do carro de , que seguia logo à frente do nosso.
- E se eles não gostarem de mim?
- Eles quem? - questionei, confusa, franzindo o cenho.
- Sua família - ele respondeu, desconfortável, e pareceu ainda mais sem graça quando eu gargalhei.
- Que besteira, ! - eu exclamei, ainda rindo. - Por que eles não gostariam de você?
- Você mesma disse que seu pai odiava seu ex-namorado - ele acusou.
- Mas eu também disse que era só implicância, lembra? - me controlei para não rir ainda mais, me ajeitando no banco e notando que entrávamos na rua da casa dos meus pais. - Ronan foi meu primeiro namorado, eu tinha só 15 anos e era a princesinha do papai. Foi difícil para ele ver a filha caçula crescendo, sabe? - tentei explicar. - Mas agora a situação é completamente diferente, então vamos tratar de sumir com essa cara de bunda aí, , quero ver um sorriso enorme. Afinal, é Natal!
- Ok - murmurou.
Abri um sorriso enorme quando, pela janela, avistei a casa onde eu cresci.
- É aqui, - indiquei e ele estacionou o carro em frente à casa.
O carro de já estava parado em frente à casa ao lado e uma escandalosa corria pelo jardim em direção à mãe, que já os esperava com a porta aberta. Saí do carro e, enquanto esperava por na calçada, acenei para a mãe da minha amiga e fiz um sinal indicando que falaria com ela depois. Antes, eu estava louca para rever a minha família.
- , avisa a que depois do almoço a gente se fala - eu disse um pouco mais alto, para que ele pudesse me escutar, e ele levantou o polegar, assentindo.
Quando parou ao meu lado, segurando nossas mochilas e as sacolas com os presentes de Natal, peguei minha mochila e metade das sacolas, para o ajudar, e o puxei até pararmos na varanda da entrada da casa. Apertei a campainha e, poucos segundos depois, a porta foi aberta.
- Feliz Natal, mãe! - exclamei, largando as coisas no chão para dar um abraço bem apertado nela.
- Feliz Natal, querida! Que saudades - ela disse, retribuindo o abraço. - Que bom que chegaram a tempo de almoçar com a gente. Como foi a viagem?
- Tranquila - respondi, dando de ombros. Em seguida, segurei o braço de , fazendo minha mãe o fitar, interessada. - Mãe, esse é o , meu namorado.
- Então esse é o famoso ... Muito prazer.
Minha mãe sorriu, o analisando de cima a baixo, e eu achei aquilo totalmente desnecessário.
- Famoso, é? - ele questionou, com um sorriso de canto, e eu sabia que ele me zoaria por aquilo mais tarde. - O prazer é meu, dona Nancy. Feliz Natal!
- Um feliz Natal para você também. Mas, nada de formalidades - ela abanou o ar. - Pode me chamar só de Nancy. Venham, vou ajudar vocês a levarem essas coisas para o seu quarto, .
- Cadê todo mundo? - questionei, notando que tudo estava silencioso demais. Naquela altura, já era para meus dois irmãos mais velhos estarem ali com as esposas e filhos.
- Seus irmãos só vêm mais tarde, vão passar o dia com as famílias das esposas deles, e seu pai foi no mercado comprar algumas coisas que faltam para a ceia, mas logo estará de volta.
Peguei as coisas que havia largado no chão e subi as escadas, sendo seguida pelos outros dois. Se aproveitando que estava atrás de nós, minha mãe sussurrou perto do meu ouvido:
- Bem bonitinho esse seu namorado, hein?
Soltei uma risada e torci para não ter escutado aquele comentário, ou eu teria que o aguentar se achando o cara mais lindo do mundo até ele encontrar outra coisa pela qual se vangloriar. Fomos até meu quarto com minha mãe tagarelando, perguntando mil coisas para , que respondia a todos os questionamentos muito educadamente. Eu estava encantada por vê-lo se esforçando para conquistar a sogra, mas, pelo visto, ele já tinha conseguido conquistá-la no momento em que botou os pés dentro daquela casa.
- , vocês vão precisar de alguma coisa? - minha mãe questionou assim que entramos no meu quarto. - Preciso terminar o almoço antes do seu pai voltar.
- Não, mãe. A gente se vira aqui.
- Qualquer coisa é só me chamar - ela disse e se retirou do quarto.
Encarei e ri ao ver que ele observava cada canto do meu quarto atentamente. Não me surpreendi por tudo estar exatamente do jeito que eu havia deixado na última vez que estive ali. Tanto eu quanto Eric e Mark, meus dois irmãos mais velhos, mesmo que não morássemos mais na casa dos nossos pais, ainda tínhamos nossos quartos e isso facilitava bastante quando vínhamos visitá-los.
- Sério, ? Pôster do Legolas? - ele perguntou, rindo e fitando o pôster colado na parede.
- Qual é o problema? - questionei, dando um leve empurrão nele. - É provavelmente o personagem mais legal que existe. E é o Orlando Bloom, né? - eu disse, piscando um olho.
Deixei minha mochila e as sacolas com os presentes em cima da minha escrivaninha e fiz sinal para que fizesse o mesmo.
- Orlando Bloom… - ele murmurou, deixando as coisas em cima da escrivaninha. - Sou mais eu.
- Prefiro o Orli - falei em um tom esnobe.
- Orli? - ele questionou, fazendo uma careta.
- Acho que já somos íntimos o bastante para eu me dar a liberdade de chamá-lo de “Orli”. Ele já me viu pelada, já me viu dormindo… Do que mais precisa? - eu disse aos risos, observando a boca escancarada do meu namorado em sinal de indignação.
me puxou pela cintura até que nossos corpos estivessem grudados e enterrou o rosto no meu pescoço, roçando os lábios na minha pele. Em reflexo, fechei os olhos e mordi meu lábio inferior.
- Tem certeza que você prefere o Orli? Acho que não é ele quem te deixa assim, é? - ele questionou e fez um caminho de beijos molhados até chegar à minha boca.
- Para, - eu disse contra os lábios dele, mas sem me mover um centímetro. - Alguém pode aparecer.
- Só um beijinho, - ele falou antes de me puxar pela nuca e contornar meus lábios com a língua.
Mesmo temendo a possibilidade de minha mãe ir até meu quarto a qualquer instante, acabei deixando ele me empurrar até que eu me deitasse na cama. se apoiou em um cotovelo enquanto me beijava e, com a outra a mão, me acariciava por baixo da blusa que eu vestia.
- Aprende como se faz, Orli - ele disse ao afastar os lábios dos meus por alguns segundos, encarando o pôster.
- Você é ridículo - falei em meio a uma gargalhada.
- Mas você me ama - ele rebateu.
- Só um pouquinho - eu disse sorrindo e, em seguida, o puxei pelas bochechas até que nossos lábios estivessem unidos mais uma vez.
Nossas línguas se embolavam e eu sentia um arrepio correr por todo meu corpo. Era incrível como, mesmo depois de beijar tantas vezes, sempre parecia que era a primeira vez. Eu já o conhecia e sabia o modo como ele beijava, até bem demais, mas as sensações que os beijos de me proporcionavam ainda eram as mesmas. Quanto mais nos beijávamos, mais eu queria beijá-lo. Senti sua mão brincar abaixo do meu umbigo, perto do cós da minha calça jeans, e meus músculos se contraíram.
- ! - uma voz grossa exclamou e, sem pensar duas vezes, empurrei de cima de mim. Arregalei os olhos ao ver a figura parada na porta, de braços cruzados e cara fechada.
- Pai! - exclamei e levantei em um pulo, indo em direção a ele. - Como você está? - questionei, envolvendo meu pai com os braços e beijando a bochecha dele.
Apesar de retribuir o abraço, ele não tirou os olhos de e eu estremeci. Eu queria tanto que meu pai não agisse da mesma forma que agia com Ronan, o único namorado que tive antes de , mas definitivamente não havíamos começado com o pé direito e aquilo dificultaria a situação.
- Esse é o , pai - apontei para o garoto, que naquela altura já estava em pé e encarando meu pai como se ele fosse um fantasma. - Meu namorado.
- É, deu para perceber - meu pai falou, analisando de cima a baixo.
- Muito prazer, senhor - ele disse e se aproximou de nós, estendendo a mão e forçando um sorriso.
Um pouco desconfiado, meu pai apertou a mão de , mas sem esboçar qualquer comoção.
- Espero que essa cena não se repita - ele falou, seco, encarando firmemente meu namorado. Em seguida, me encarou também, deixando claro que aquele aviso era para os dois. - Exijo respeito dentro dessa casa.
- Claro, pai - eu disse, tomando partido para que o coitado do não se sentisse mais constrangido do que deveria estar. - Não vai se repetir.
- Assim espero - ele disse, se virando para sair do quarto. - O almoço está pronto.
- Já vamos descer - avisei, observando meu pai até ele desaparecer de vista e, finalmente, respirei aliviada.
- Puta que pariu - xingou baixinho. - Eu sou um fodido mesmo, né?

POV

Seguíamos à frente do carro de na estrada para Birmingham. Eu estava muito ansiosa para rever minha família, mas mais ainda por ser Natal, e com certo receio por ter comigo lá, já que eu nunca tinha apresentado ninguém como namorado à minha família. estava de tão bom humor que, durante as duas horas dentro do carro, eu havia deixado meu receio de lado e tinha aproveitado a sua companhia, apreciando a paisagem, rindo de besteiras e ouvindo música. Assim que entramos na cidade, o guiei pelas ruas, vazias por causa do recesso de final de ano, até a minha casa.
- Aquela é a casa da . - indiquei uma das casas mais à frente. - E a minha é a do lado.
Ele diminuiu a velocidade e mal pude esperar ele estacionar para sair do carro. Minha mãe nos esperava do lado de fora da casa e a saudade era tanta que nem esperei por . Corri pelo jardim e logo a abracei.
- Que saudade, mãe! - beijei sua bochecha, sem soltar o abraço. - Feliz Natal!
- Feliz Natal, filha, e eu também estou com saudade, mas acho que você devia me soltar e ir buscar o lindo rapaz que está olhando para nós, ou ele passará a tarde ali. - rimos daquele comentário e então eu a soltei, caminhando com um sorriso enorme de volta para o carro.
- O entusiasmo de conhecer sua sogra foi embora, é? - cutuquei sua barriga e ele riu, se esquivando e segurando em minha mão.
- Não, eu estava dando a oportunidade de você aproveitar a sua mãe, pois quando ela me conhecer eu vou ser o centro das atenções, sabe…
- Ai, que convencido. - o empurrei de lado enquanto refazia o caminho até a porta. - Mãe, esse é o . , essa é minha mãe. - eles se abraçaram.
- É um prazer te conhecer. Feliz natal, querido. - minha mãe tinha um sorriso enorme no rosto e automaticamente me peguei sorrindo. Minhas preocupações eram inúteis, era impossível alguém não gostar do .
- O prazer é meu, Emma. E obrigado pelo convite de passar o natal com vocês. - ele sorriu. - estava tão ansiosa para vir te ver. - mostrei a língua.
- Não me chamou de senhora, já gostei mais de você. - minha mãe fez uma cara satisfeita e deu uma piscadinha para mim.
- De nada. - falei sem emitir som.
- E eu não sei porque a insiste em morar lá… Bom, agora eu sei. - ela encarou de cima a baixo e riu.
- Mãe! - protestei, mas já estava rindo também e me puxando para um abraço.
- Mia, corre! É a . A chegou! - ouvi a voz do meu irmãozinho e olhei para a rua, vendo ele correndo em nossa direção, e Mia vinha andando mais atrás. Me abaixei para que pudesse abraçá-lo melhor e quase fomos ao chão pela velocidade dele.
- Olly! Que saudade de você, anjinho. - beijei suas bochechas e ele fez uma careta, afinal, ainda tinha 10 anos. - Feliz Natal!
- Eca, . Não precisa babar em mim assim. - ele esfregou as mãos da bochecha. - Feliz Natal pra você também.
- Fala assim agora, quero ver daqui a dois anos.
- Eu vivo falando isso pra ele, . - Mia, minha irmã mais velha me abraçou e retribuí, desejando feliz Natal mais uma vez.
- Mia, Olly, esse é o , meu namorado - pronunciei as últimas palavras um pouco desconfortável, era estranho. Mia sorria como minha mãe tinha feito ao cumprimentá-lo e Oliver fechou a cara.
- Oliver - minha mãe chamou sua atenção e ele murmurou um “oi”, correndo para dentro da casa. - Me desculpe por isso, . Desde que falamos que ia trazer você, ele fica assim quando tocamos no assunto. - sorri fraco e balancei a cabeça.
- Fazer o que se ele contou com a atenção exclusiva da irmã desde a última vez que ela apareceu aqui? - Mia completou e percebi o desconforto de ao meu lado.
- Falo com o Olly depois. - apertei a mão de na minha. - Vamos pegar nossas coisas no carro - anunciei, puxando meu namorado comigo.
Peguei as sacolas com os presentes e deixei nossas malas com . Entramos em casa e fiz o caminho para o meu quarto com ele logo atrás de mim.
- Pode colocar naquela mesa. - apontei para minha antiga escrivaninha e coloquei os presentes na poltrona. O silêncio dele já estava começando a me incomodar. - Hey... - o chamei, ficando de frente para ele. - Desfaz essa carinha, vai. - levei minhas mãos ao rosto dele e fiz um carinho, automaticamente um pequeno sorriso apareceu.
- Confesso que esperava essa reação do seu pai e não do seu irmão.
- Nunca se sabe, ele ainda não te conheceu. - tentei fazer uma cara de medo, mas acabei rindo e ele riu junto. - Fica com esse sorriso que combina muito mais com você do que aquela carinha. - dei um selinho.
- Fico irresistível sorrindo, já entendi.
- Larga de ser convencido e vamos descer antes que pensem besteira e façam comentários desnecessários.
- Ah, a disse que vem pra cá depois do almoço. - concordei com a cabeça.
- Podem se sentar, a lasanha está quase pronta - minha mãe avisou entrando na cozinha e Mia nos chamou para sentar à mesa, onde ela e Oliver já estavam. Me sentei à frente dela, com ao meu lado.
- E o papai?
- Teve que ir na empresa. - Oliver ainda estava emburrado e eu tinha vontade de rir daquela carinha dele, mas eu sabia que só pioraria as coisas.
- Hoje? - estranhei e Olly me chamou com a mão, mostrando que queria contar um segredo.
- Acho que ele foi buscar o presente da mamãe e usou isso de desculpa - ele falou baixinho no meu ouvido.
- Entendi. - sorri para ele. - Você anda muito espertinho. - fiz cócegas e ele riu. Ótimo, o problema era mesmo com .
- Que cheiro bom, Emma - elogiou assim que minha mãe colocou a travessa na mesa.
- Deu até água na boca, mãe. - peguei o refrigerante e servi os copos, entregando um para cada um.
- Obrigada, meus amores. Espero que esteja boa.
- Como se alguma vez não tivesse ficado. - Mia sorriu para mamãe.
- Hum, cheguei na hora certa.
- Pai! - Olly saiu da mesa e correu até ele, sendo pego no colo e jogado pra cima.
- Meu pai ama fazer isso, fazia com a gente quando éramos crianças - Mia contou a .
- Mas acho que ele esquece que não está tão novo assim mais e nem em forma.
- Ah, mãe. O papai está ótimo - elogiei alto o suficiente para que ele escutasse e me levantei para cumprimentá-lo. - Oi, pai. Feliz Natal! - nos abraçamos.
- Como você está, ?
- Estou ótima, pai. - nos soltamos e vi que estava um pouco tenso. - Pai, esse é o .
- Muito prazer, Sr. Harvey. - ele estendeu a mão para o meu pai e ele retribuiu o aperto.
- Até que enfim estou te conhecendo, rapaz. - meu pai sorriu. - Mas sou muito novo ainda para ser chamado de senhor. - ele deu uns tapinhas nas costas de e se sentou. - Emma não parava de falar do rapaz que ia trazer para o Natal. - papai comentou num tom divertido e mamãe começou a servir os pratos.
- Não é culpa da mamãe, né? - Mia falou, atraindo os olhares para ela. - Nem eu mesma acreditei que era verdade. - ela deu de ombros e eu sabia que viria um comentário inapropriado a seguir.
- Mia… - minha mãe chamou, tentando cortar o assunto, mas minha irmã não deu moral.
- A mamãe sempre solta sobre um ou outro encontro seu, mas nunca tive provas. Acho que a inventava isso pra gente não pegar no pé dela. - desviei o olhar para o meu prato e mordi meu lábio com força quando senti lágrimas se formando.
Nem Mia, nem minha mãe, nem ninguém, além de e dos meninos tinha conhecimento de todos os meus rolos e encontros frustrados e, embora eu estivesse muito feliz com o , vê-la falando assim me incomodou, tocou numa ferida ainda não cicatrizada. Mia sempre havia sido popular, namorado os cara mais cobiçados do colégio ou da cidade, inclusive um dos irmãos de , e a família sempre se voltava para mim, esperando o mesmo, que nunca viria. Apesar das semelhanças físicas, sempre fomos bem diferentes no que se referia a gosto e personalidade.
- Mia - minha mãe falou mais forte e eu coloquei um pedaço da lasanha na boca, evitando ter que falar qualquer coisa ou encarar .
- Onde está o Josh? - meu pai perguntou, claramente ajudando minha mãe a mudar de assunto.
- É, onde está o Joshua? - Olly disse o nome dele, sabendo que Mia odiava.
- Já disse que odeio quando o chama de Joshua! Por que você insiste? - ela olhou brava para Oliver e eu sabia que era a forma dele de mostrar que estava do meu lado.
Joshua - ou Josh, como Mia gostava que chamássemos - era seu noivo, rico, bonito, diretor da empresa do pai e um chato. Ele se achava tanto que era difícil aguentar e, sabendo que Mia não gostava, eu e Olly o chamávamos assim quando ela não estava por perto, ou quando queríamos a incomodar.
- Mas é o nome dele, ué. - Olly deu de ombros e eu pisquei pra ele.
O almoço continuou com assuntos mais aleatórios, Mia contou que Josh ia passar o dia com a família para passar a noite conosco e mamãe pediu sugestões de sobremesas e refez a lista dos familiares que apareceriam para a ceia. Enquanto meu pai servia o sorvete, eu e levamos as louças usadas para a cozinha, mas minha mãe disse que ele era visita e que eu devia fazer companhia a ele, o que não reclamei. Peguei dois potinhos já servidos e me sentei ao lado de no sofá, encostando a cabeça em seu ombro.
- . - desencostei minha cabeça para poder olhá-lo. - Está tudo bem? - ele tinha um tom preocupado, mesmo que tentasse disfarçar, e sorri. Aproximei meu rosto do dele e nos beijamos rapidamente.
- Melhor impossível. - voltei a encostar meus lábios nos dele, mas fomos interrompidos por Oliver.
- , quando você vai jogar comigo? - ele perguntou forçando um espaço entre e eu para se sentar. Lancei um olhar de desculpas a , mas ele sorria e de repente uma ideia surgiu.
- Agora, eu andei treinando, sabia? - menti e olhei feio para meu namorado quando ele ameaçou começar a rir. Ele sabia que era mentira, eu era péssima em qualquer jogo de videogame e as poucas vezes que tinha jogado com ele tinha perdido feio.
- Ela está realmente boa - falou e tanto eu como Oliver o encaramos. - Ela andou ganhando de mim, e eu sou muito bom.
- Vamos só ver. - ele ligou a televisão e o jogo e eu me sentei no chão ao lado dele. Logo estávamos numa partida de futebol, eu não conseguia acertar nada e perdi de cinco a zero. - Você continua péssima, .
- Assim você fere meus sentimentos, Olly. - fiz um bico e ele riu.
- Se a ganhou de você, eu ganho fácil - desafiou que sentou no lugar antes ocupado por mim.
- Não conte vitória assim não, Olly. Acho que ele me deixou ganhar - falei no ouvido do meu irmão. Um novo jogo começou e eu não sabia se havia perdido de propósito, mas eu havia torcido para Oliver durante a partida e ele parecia ter esquecido que não gostava de . Primeira fase do meu plano estava completa.
- Quero uma revanche - pediu e, antes de me levantar para atender a porta, pude ouvir a gargalhada do caçula.
- Atrapalho? - perguntou assim que abri a porta e neguei com a cabeça.
- e Oliver estão no videogame, eu estava assistindo.
- Videogame? - perguntou já entrando e seguindo o som do jogo.
- Fique à vontade, - zoei por ele ir na nossa frente.
- Perdeu o namorado para o irmão, ?
- Antes fosse, . Olly está num ciúme danado do . Coloquei eles pra jogar pra ver se ameniza o comportamento dele. - balancei a cabeça vendo os três sentados no chão, vidrados na televisão.
- Tadinho, . Você não avisou que o vinha?
- Avisei, mas não sei o que deu nele.
- Eu sei. - a olhei com a sobrancelha erguida. - Olly está acostumado a ser o homem da sua vida, . Ele espera seis meses pra você voltar pra casa e tem que dividir sua atenção.
- É, mas acho que já deu uma amenizada. - sorri ao ver Olly jogando contra e torcendo a favor dele. - E como foi apresentar o ?

2. You make me wanna be with you.


POV

Comíamos o delicioso espaguete ao molho branco que minha mãe havia preparado para o almoço enquanto conversávamos sobre como estava minha vida em Londres e as novidades da família, e se limitava a apenas responder quando alguém dirigia a palavra a ele. Dava para ver em seu rosto quão constrangido ele estava por meu pai ter pegado nós dois nos amassando, e eu tinha que concordar... Aquela não era a melhor das primeiras impressões para passar ao pai super-protetor da sua namorada. Mas eu também sabia que tinha jogo de cintura para contornar aquela situação.
- Como vocês se conheceram mesmo, ? - minha mãe questionou enquanto tomava um gole de refrigerante. - Não lembro se você me contou.
Em resposta, eu e meu namorado dissemos ao mesmo tempo:
- Em um bar.
- Na universidade.
Encarei com uma sobrancelha arqueada, questionando com o olhar o que diabos ele estava fazendo ao dizer que nos conhecemos na universidade quando, na realidade, ele nem frequentava a universidade.
- No bar da universidade - ele disse, me cutucando por baixo da mesa.
- Tem bar na Universidade de Londres, é? - minha mãe perguntou, estranhando.
- Sabe como são os universitários, né? Adoram uma cervejinha depois da aula - respondi soltando uma risadinha.
Meus pais ficaram me encarando por alguns segundos e eu sabia que eles não tinham acreditado nem um pouco naquele papo. Eu não entendia qual era o problema de meus pais saberem que nos conhecemos em um bar, pois era a verdade e isso não tirava a seriedade do nosso relacionamento, mas, se queria daquela forma...
- O que você estudou na Universidade de Londres, ? - meu pai questionou com um cinismo extremamente perceptível.
- Ele não estudava lá, pai - respondi antes que pudesse dizer qualquer coisa, estreitando meus olhos. - Já falei para vocês que é jogador de futebol e tem uma banda com os amigos. Inclusive, o , namorado da que também veio passar o Natal em Birmingham, faz parte dessa banda também.
- Que legal, - minha mãe falou, sorrindo.
- E você pretende fazer isso pelo resto da vida? - meu pai questionou em um tom de crítica.
Pelo jeito que encarou meu pai, parecia estar pensando em diversas respostas desaforadas e, portanto, decidi intervir antes que ele piorasse a situação.
- Pai… - comecei, mas senti a mão de tocar meu braço e me calei.
- Não sei se vou fazer isso para sempre, mas, no momento, é o que gosto de fazer e o que paga minhas contas. Então, para mim está ótimo - ele respondeu e deu de ombros, voltando a comer.
Meu pai pareceu surpreso com a resposta, pois provavelmente estava esperando que ele ficasse sem graça e abaixasse a cabeça. Ele, definitivamente, não sabia nada sobre . Meu pai, então, pigarreou e, em seguida, falou:
- Ronan se formou em Medicina e está trabalhando no Queen Elizabeth Hospital.
Suspirei, logo percebendo a intenção dele com aquele comentário.
- Que bom para ele, né? - me limitei a falar.
Enfiei uma garfada de macarrão na boca, nem um pouco interessada em comentar qualquer outra coisa a respeito.
- Vocês formavam um belo casal - ele disse e eu rolei os olhos, sem acreditar que ele realmente estava fazendo aquele joguinho infantil.
- Howard - minha mãe o repreendeu.
- Ronan é passado, pai - falei, calmamente, e levei minha mão até a de , que repousava em sua coxa.
- É uma pena - ele disse e soltou um suspiro, fingindo um desapontamento que eu sabia que ele não sentia. - Gostaria de te ver com um rapaz que gosta de estudar e que pensa no futuro.
Cada palavra proferida por ele saiu como uma alfinetada e eu abri a boca em choque. afastou minha mão, que ainda segurava a dele, e largou os talheres no prato.
- O macarrão estava ótimo, Nancy, mas já estou satisfeito. Com licença - ele disse antes de se levantar e se retirar da sala de jantar pisando firme.
- Satisfeito? - perguntei, encarando meu pai, indignada. - Estou muito feliz com o , pai. Seria ótimo se você não atrapalhasse isso.
Também me levantei e, antes de sair da sala de jantar, fiquei satisfeita ao ouvir minha mãe dando uma bronca no meu pai. Já que não estava pela sala de estar, imaginei que ele tivesse ido para o meu quarto, então subi as escadas e encontrei a porta do quarto encostada. Entrei e encostei a porta novamente. Caminhei até , que estava jogado na minha cama com as mãos no cabelo, e me sentei ao seu lado.
- Desculpa pelo meu pai, - falei, fazendo uma careta.
- Você disse que ele não gostava do seu ex-namorado - ele me acusou.
- Ele odiava o Ronan - retruquei. - Você não tem ideia de como ele ficou feliz quando a gente terminou. Ele falou aquilo só para implicar com você.
suspirou.
- Você também acha que deveria estar com um cara que “gosta de estudar e pensa no futuro”? - ele questionou, fazendo gesto de aspas com os dedos.
- Para de besteira, - falei e dei um tapa na testa dele. - Eu quero estar com você. É isso que importa, né?
Com um sorriso nos lábios, ele levantou, ficando sentado, e me puxou pela nuca até que nossas bocas estivessem unidas. O beijo foi lento e cheio de carinho.
- Vamos dar uma passadinha na casa da ? - perguntei assim que paramos de nos beijar.
- Por favor. Qualquer coisa para ficar bem longe do seu pai - ele falou em tom de súplica e eu ri.
- Calma. Vocês ainda vão se dar bem - eu disse e me levantei. - Vamos? - estendi minha mão e ele a pegou, também se levantando.
Descemos juntos, de mãos dadas, e demos de cara com minha mãe ao pé da escada.
- , me desculpa pela indelicadeza do Howard - minha mãe disse com um sorriso sem graça. - é a filha caçula, única filha mulher… Sabe como é, né? É a princesinha dele.
- Eu entendo - ele disse, retribuindo o sorriso. - Mas ele não precisa se preocupar. Ela é a minha princesinha também e nunca vou tratá-la como menos do que isso.
Minha mãe abriu um sorriso maior do que o anterior, com os olhos brilhando, e eu senti minhas bochechas corarem.
- Você não poderia ter arrumado um namorado melhor do que esse, hein, filha?
- Ela me diz isso o tempo todo - rebateu, apontando para mim e piscando um olho.
- Mãe, para de falar essas coisas! - exclamei, a repreendendo. - Ele vai ficar se achando.
gargalhou.
- Vamos antes que ela contribua para o seu ego crescer ainda mais - falei, puxando meu namorado pela mão em direção à porta. - A gente vai à casa da , mãe.
- Tudo bem - ela concordou. - Diz para ela vir dar um oi depois, quero conhecer o namorado dela também. Se é amigo do , deve ser outro gentleman.
- Mãe! - exclamei, quando já passávamos pelo portão, e pude ouvir ela gargalhar antes de fechar a porta da casa.
- Minha sogrinha me ama - falou, fazendo graça, e não consegui controlar a risada.
- Agora só falta o sogrão, né? - rebati e dei dois tapinhas nas costas dele, rindo quando ele mostrou a língua em resposta.
Caminhamos pela calçada até a casa da , o que durou poucos segundos, já que nossas casas ficavam lado a lado.
- Atrapalho? - perguntei assim que abriu a porta e ela negou com a cabeça.
- e Oliver estão no videogame eu estava assistindo.
- Videogame? - perguntou e, intrometido do jeito que era, saiu entrando na casa.
- Fique à vontade, - disse e eu ri.
- Perdeu o namorado para o irmão, ? - questionei, seguindo até a sala de estar, onde nos sentamos em um dos sofás.
- Antes fosse, . Olly está num ciúme danado do . Coloquei eles pra jogar pra ver se ameniza o comportamento dele.
- Tadinho, . Você não avisou que o vinha? - perguntei, observando os três concentrados no jogo.
- Avisei, mas não sei o que deu nele.
- Eu sei - falei e ela me encarou com a sobrancelha erguida. - Olly está acostumado a ser o homem da sua vida, . Ele espera seis meses pra você voltar pra casa e tem que dividir sua atenção.
- É, mas acho que já deu uma amenizada - ela disse sorrindo, observando o irmão caçula jogar contra meu namorado. - E como foi apresentar o ?
Suspirei, me lembrando da ceninha patética que meu pai criou durante o almoço.
- Minha mãe adorou o e encheu ele de elogios - comecei contando a parte boa da história, sorrindo. - Inclusive, ela disse que quer conhecer o .
- Depois a gente passa lá - disse em resposta.
- Já o meu pai… - falei, rolando os olhos. - Ele tinha ido ao mercado e, quando chegou, ele pegou a gente…
- Se beijando? - minha amiga me interrompeu, rindo.
- Aquilo estava mais para um amasso - respondi e escondi meu rosto com as mãos, envergonhada, enquanto ria ainda mais.
- Mas já? Que fogo é esse? - ela perguntou, zoando. - Você e não conseguem se desgrudar um segundo.
- Amiga, é porque nunca enfiou a língua na sua boca. O beijo dele é maravilhoso - eu disse, mordendo meu lábio inferior.
- Os beijos do meu namorado são maravilhosos, querida - falou em um tom esnobe. - Não preciso do seu namorado para nada.
- Acho bom, porque esse já é meu - eu falei, mostrando a língua, e parei para observar ainda jogando videogame com Oliver.
Aposto que eu estava com um sorriso bobo nos lábios, pois me encarou, provavelmente notando que estava sendo observado, e levantou uma sobrancelha, demonstrando dúvida.
- O que as senhoritas tanto cochicham aí, hein? - ele questionou com desconfiança.
- Não queira saber, - respondeu pela gente.
- Estamos falando mal de vocês. O que mais seria? - perguntei e concordou, arrancando risadas irônicas dos nossos namorados.
- Minha sogra já é minha fã, sabia, ? - ele questionou, olhando para o amigo, e eu rolei os olhos. - E a sua?
- Sério? - perguntou, rindo. - Acho que minha sogra gostou de mim. Né, anjo?
- Claro que gostou - respondeu, sorrindo.
- Como não gostar de você, gatão? - questionou em uma voz afetada, alisando o braço de e arrancando gargalhadas de todos, inclusive de Oliver, que já olhava emburrado para a cena.
- Sai fora, cara - disse, empurrando .
- Mas é sério. A mãe da me encheu de elogios - meu namorado continuou, cheio de orgulho.
- Então quer dizer que as mulheres dessa família te amam, é? - perguntou aos risos.
- Pena que os homens da família não, né? - eu me intrometi e fez uma careta.
- O pai da me odiou, cara - ele disse, arregalando os olhos. - E só de pensar que vou conhecer os dois irmãos mais velhos dela mais tarde, já começo a suar frio pensando no que me aguarda.
- Deixa de ser bobo. Meus irmãos são tranquilos - falei, rindo. - Ei, Olly. Você nem falou comigo, né? - chamei a atenção do garoto, fazendo bico.
- Eu estava ocupado acabando com seu namorado no videogame - ele disse, rindo, e abriu os braços, indignado. Oliver se jogou em cima de mim para me dar um abraço e meu namorado se indignou mais ainda.
- Devo ficar com ciúmes? - questionou, nos fazendo rir.
- Acho que sim. Olly está um gato - falei quando Oliver se soltou do abraço e apertei as bochechas dele, que forçou para se esquivar de mim e foi se sentar ao lado de novamente. - E as namoradinhas?
- Não tem essa de namoradinhas, não - falou. - Ele é meu bebê.
- Quem precisa de tia chata quando se tem a e a , né? - questionou e concordou, rindo.
- Tia chata é o passado de vocês - xingou e arremessou uma almofada em cada um.
- Vou te mostrar a tia chata, - o ameacei.
- Me mostra sim - ele rebateu com um sorriso malicioso nos lábios.
Rolei os olhos, tentando me manter séria.
- Pessoal - chamou, atraindo todas as atenções para si -, a gente podia ir ao festival de Natal lá no centro. O que vocês acham?
- Vamos! - Oliver exclamou, animado, enquanto eu, e concordamos.
- Vai trocar de roupa, então - ela falou e o garoto subiu correndo pelas escadas.
- Oliver! O que eu já falei mil vezes sobre correr pelas escadas? - a mãe da apareceu na sala repreendendo o filho caçula. - Não sabia que você estava aí, .
- Oi, tia Emma. Feliz Natal - eu disse, sorrindo, e me levantei para abraçá-la. - Como você está?
- Feliz Natal! Estou ótima, e você? - questionou quando nos separamos.
- Eu também - respondi e olhei para . - Aquele ali é o , meu namorado.
- Nossa, mas em Londres só tem rapazes bonitos, é? - ela falou, rindo, indo cumprimentar , que já estava de pé.
- Só tem eu e o mesmo, na verdade - ele respondeu, fazendo todos rirem. - Por isso elas se apaixonaram pela gente - finalizou, piscando um olho.
- Menos, - falei, rindo.
- Mãe, nós vamos ao festival de Natal e o Oliver vai junto - avisou. - Quer alguma coisa especial de lá?
- Não, querida - ela respondeu, dando de ombros. - Pode comprar alguma coisinha para o seu irmão, se ele quiser. Espera aí, vou pegar dinheiro.
- Não precisa, Emma. Fica por minha conta - falou, sorrindo.
- Então, tá.
A mãe da minha amiga sorriu de volta e era perceptível que ela estava totalmente encantada pelo novo genro.
- Vou passar em casa para avisar meus pais e pegar um casaco - avisei , que concordou com um aceno de cabeça. - Vem, .
- Preciso ir mesmo? Quanto menos eu tiver que encarar seu pai, melhor - ele disse com uma expressão de medo.
- Para de palhaçada e vem logo - falei, indo em direção à porta.
Antes de sair, sendo seguida pelo meu namorado, pude ouvir Emma perguntar sobre o que tinha acontecido entre e meu pai.

POV

Nos encontramos do lado de fora da casa da e começamos a caminhar pelas ruas em direção à praça do centro da cidade, já que não era muito longe. Para minha surpresa, Olly estava em um papo super empolgado com desde que descobrira que o mesmo era jogador de futebol e eles caminhavam um pouco à frente de nós. E a consequência foi um emburrado.
- Desfaz esse bico, . - segurei o riso, mas não. Ela riu alto.
- Fala sério! Nem eu que perdi o namorado estou emburrada.
- Ai que drama vocês dois! - coloquei todo o exagero que consegui naquela frase.
- É porque não é você que está tentando há horas fazer o seu cunhado gostar um pouco de você e aí o seu amigo, sem nem tentar, consegue. - ele realmente estava chateado.
- Ah, ... Não leve tudo tão a sério. - tinha um falso tom consolador na voz. - O não tem culpa de ser irresistível. - foi a minha vez de gargalhar.
- A pessoa já se acha pouco e você ainda faz esses comentários. - rolei os olhos. - Não é à toa que seu pai não gostou dele.
- Isso não vem ao caso agora. O fato, , é que o Olly só está com um ciúme da irmã preferida dele. Releve isso, afinal, ele é uma criança.
- Enrolada estou eu quando for conhecer a sua família amanhã.
- Não sei por quê. - aquela conversa se estenderia com certeza se não tivéssemos chegado ao festival naquele minuto. insistia que eu não tinha motivos para me preocupar, mas é claro que ele não fazia ideia do que as mulheres eram capazes quando queriam e na casa dele tinham três!
- , olha que árvore mais linda! - exclamou e me puxou pela mão até chegarmos à maior árvore no centro da praça.
- Não lembro de uma decoração tão bonita assim - concordei admirando a decoração em geral.
- , eu posso ir na montanha-russa? - meu irmão fez a típica cara que convencia meus pais.
- Montanha-russa? - fiz uma careta involuntária. - Não prefere o trenzinho do Papai Noel? - ofereci ao ouvir o apito do mesmo. - Ou o carrossel?
- , eu não sou mais um bebê. - ele cruzou os braços.
- Deixa ele ir no brinquedo, . O que tem demais? - eu sabia o que meu namorado queria com aquilo, mostrar para meu irmão que ele estava do lado dele.
- É perigoso, . - olhei para os lados procurando por minha amiga, ela entenderia meus motivos, mas ela estava concentrada demais na boca do . - Ei, casal, tem crianças por aqui - falei mais alto separando os dois.
- Eu não sou criança! - Oliver repetiu, visivelmente emburrado.
- Claro que não é. - apareceu o defendendo. - O que sua irmã chatinha fez agora? - rolei os olhos.
- Ela não quer me deixar ir na montanha-russa. Está falando que é perigoso.
- Mas que besteira, não é perigoso. Eu quero ir também. - olhou para o brinquedo. - Vamos aproveitar que a fila não está muito grande.
- Então vamos todos. - passou um braço por meus ombros e começamos a andar em direção ao brinquedo.
- Olha, vão vocês. Eu vou dar uma volta pelo festival e espero vocês aqui. - sorri sem graça.
- Não, senhora. - me segurou. - Vai com a gente sim.
- Vou acabar passando mal e estragando o Natal, podem ir. - agradeci por precisarem entrar logo, já que éramos os próximos da fila.
- Ela está falando isso só porque ela tem medo - Oliver falou baixo para , mas todos nós escutamos.
- O quê? Você tem medo? - apontou para mim e começou a rir.
- Rá, rá. E se eu tiver? - cruzei meus braços e notei que também ria.
- Medo é coisa de criança, .
- Pois fale isso para a sua namorada, então, . - sorri convencida e ela parou de rir no mesmo momento.
- Você também tem medo, amor? - ele balançou a cabeça. - Não acredito.
- Larga de ser chato. - ela empurrou o namorado.
- Vamos logo - Olly chamou. - Já é a nossa vez.
- Eu não vou. - me afastei dos braços do meu namorado.
- Nem eu. - me acompanhou.
- Vai sim. - a puxou pela mão para sentar em um dos lugares. - Eu deixo você apertar meu braço.
- Espero que não conte com ele, pois não sobrará nada. - ela sentou ao lado dele.
- Mudou de ideia rápido demais, traíra! - reclamei não querendo dar o braço a torcer.
- Vamos, , por favor. Vai ficar sozinha aqui? - ele falou baixo, próximo ao meu ouvido, sabendo que eu não era das mais coerentes quando ele fazia isso.
- … - reclamei. - Isso é golpe baixo. - o afastei de mim. - Eu realmente tenho muito medo. Tanto da montanha-russa como de passar mal.
- Não vai acontecer nada, meu anjo. Confia em mim.
- Apelar para confiança não vale, . - ri fraco e o empurrei de leve.
- Eu te seguro o tempo todo e eu vou no que você quiser depois, prometo. - o controlador do brinquedo já demonstrava impaciência e me rendi.
- Tá, mas vai ter que fazer o que eu quiser - reforcei e me sentei deixando por conta dele prender o cinto e me agarrando a ele no instante em que o brinquedo começou a se mexer.

- Acho que estou surdo - falou, apertando o ouvido repetidamente quando saímos do brinquedo. - E sem braço. - estava cheio de marcas de unhas e dedos.
- Você já estava consciente disso, amor, nem reclame. - beijou a bochecha dele e começaram a seguir Oliver, que já tinha ido atrás de algo para comer.
- Te machuquei muito? - perguntei receosa, não me lembrava.
- Nadinha, você praticamente apertou só meu moletom nas mãos. - ele sorriu e num impulso segurei seu rosto entre minhas mãos e dei um selinho.
- Mas eu gritei bastante. - fiz uma careta e foi a vez de ele me beijar.
- Todo mundo grita, anjo, só estava provocando. - desci minhas mãos para o pescoço dele. - Foi tão ruim quanto você imaginava?
- Foi pior. - fiz uma careta, mas não iria mentir. Eu não tinha gostado mesmo da tal montanha-russa, sensação horrível o tempo todo, não pretendia ir novamente.
- Aonde pensa que vai? - me segurou pela cintura quando ia atrás dos outros.
- Procurar o Oliver.
- e podem olhar ele um pouco. - me puxou para mais perto dele. - Estou me segurando desde que chegamos a sua casa. - aproximou a boca da minha. - Não queria causar impressões ruins como o mané do . - rimos. - Além do mais, estamos embaixo do visco, sabe como é a tradição...
- E o que, exatamente, você está esperando? - soprei contra os lábios dele, que no instante seguinte estavam colados aos meus.
De todos os beijos de , esse era o que eu mais gostava, sempre me lembrava do nosso primeiro beijo no nosso primeiro encontro. Uma de suas mãos estava em meu rosto enquanto a outra estava na base da minha coluna, seus dedos brincando com a barra da blusa, fazendo meus batimentos se acelerar. No entanto era um beijo calmo, e eu conseguia sentir todo o carinho dele por mim, o que era retribuído pelo meu carinho em sua nuca. Nossas línguas estavam num ritmo próprio e perfeito como sempre e, embora pudesse ficar ali por muito tempo, mordi seu lábio inferior e finalizei o beijo.
- Prometo que você vai ter muito tempo pra isso mais tarde. - beijei a bochecha dele. - Eu realmente me preocupo com o Olly.
- Vamos lá, só não esquece que vou cobrar a promessa. - ele piscou para mim antes de pegar minha mão, fazendo o caminho até as barracas de comida.
Eles estavam na barraca de crepes e, como bons amigos, já haviam pedido para nós também. Comemos assistindo a uma apresentação do coral infantil e com muito custo havia convencido os meninos a não comerem mais, pois logo seria a ceia e tanto minha mãe como a mãe da ficariam muito ofendidas se não comêssemos.
- Já vamos voltar? - perguntou quando viu alguma coisa no celular, mas fui eu quem respondi.
- Ainda não , alguém tem que cumprir uma promessa. - arqueei as sobrancelhas sugestivamente na direção de .
- O que você prometeu a ela, ? - era curiosa e, a julgar pela cara que fez, ela tinha pensando besteira. Ela e faziam um casal e tanto.
- Ele prometeu que se eu fosse na montanha-russa ele faria o que eu quisesse, e eu quero patinar no gelo - contei com um sorriso. Eu simplesmente amava patinar e nem me lembrava da última vez que tinha ido a uma patinação no gelo.
- Nem se você quisesse tinha acertado tanto. É literalmente a revanche pela montanha-russa. - se fingiu de derrotado e Oliver gargalhava.
- Hoje é o dia do mico - reclamou.
- Também não patina? - a encarou. - Amor, precisamos dar um jeito no lado esportivo da sua vida.
- Sem beijos, por favor - Olly reclamou e nós rimos.
Depois de pagarmos os 30 minutos ao recepcionista, ele nos entregou crachás numerados, os capacetes, joelheiras, cotoveleiras, luvas e os patins na numeração de cada um. Logo uma moça veio ajudar a colocar os itens, liberando a pista para nós em seguida.
- Já vi que vou sair daqui com a bunda roxa - choramingou ao entrar na pista, segurando na barra lateral.
- Sua bunda vai ficar roxa, mas por outros motivos - falou e eu fiquei com vergonha por ela.
- ! - ela reclamou, mas ria com ele e , e Olly já se divertia com outras crianças patinando.
- Vamos logo. - peguei na mão de que, assim como , segurava na barra. - Solta a barra, anjo.
- Eu vou cair. - falou como uma criança e eu ri.
- Cair faz parte e do chão não passa. - mostrei língua. - Ficar o tempo todo se segurando é que não rola. - o soltei e dei uma volta sozinha na pista. Tinha me esquecido do quanto eu adorava aquela sensação.
- Oi. - Olly disse passando por mim e notei que me acompanhava.
- Desistiu da ?
- Ela prefere ficar segurando lá com o . - ele deu de ombros e deu impulso dando um giro na pista.
- Que metido - falei passando por ele e fazendo exatamente o mesmo movimento. Dei mais uma volta e cheguei até os dois, que não haviam saído do lugar.
- Vem, . - puxou a mão dela, de forma que ele segurasse as duas.
- Eu vou cair - ela repetiu, tremendo.
- Eu estou te segurando.
- Vai cair junto comigo.
- Se repetir o discurso da , eu te largo aí até o final, . - estendi as mãos na direção dele.
- Falando assim… - ele segurou nas minhas mãos e comecei a andar de costas para que ele fosse de frente. Ele era melhor de equilíbrio do que eu esperava, e só por isso ainda não tínhamos parado no chão. Na segunda volta ele entendeu que o impulso era melhor do que dar passos e eu estava ao lado dele, ainda segurando uma mão.
Olhei para trás e vi que minha amiga e seu namorado estavam saindo do lugar, ela ainda parecia ter muito medo, mas estava se divertindo e foi olhando para ela que fui parar no chão.
- ! - reclamei entre o riso.
- Desculpa, não consegui parar. - ele ria caído em cima de mim. - Machucou? - neguei com a cabeça me levantei, ajudando-o em seguida.
Trinta minutos depois de muitas quedas, muitos risos e pouca patinação, estávamos fazendo o caminho de volta para casa e agradeci mentalmente por ter pegado o moletom antes de sair. Eu estava molhada por causa do gelo e o vento não estava ajudando. Já na nossa rua, Oliver correu e foi direto pra casa e só quando nos aproximamos é que vi a mãe de na calçada.
- Tia Nancy! - a abracei. - Quanto tempo.
- Achei que não vinha me ver.
- Claro que viria - falei em tom de obviedade. - Esse é o…
- - ela falou e eles se cumprimentaram. - O amigo de , estou certa?
- Eu mesmo, muito prazer.
- O que está fazendo aqui fora, mãe? - interrompeu antes que se tornasse vergonhoso, pelo que deduzi.
- Seus irmãos estão chegando, estou morrendo de saudade dos meus netos. - ela sorria orgulhosa.
- Bom, nós vamos pra casa, se Joshua já tiver chegado meu pai deve estar bem entediado. - abracei novamente a mãe da minha amiga e mandei um beijinho no ar.
- Boa sorte - disse baixo para o amigo e troquei um olhar com , segurando o riso.

3. You make me wanna hold you till the morning light.


POV

- O que será que tem aqui dentro, hein? - questionei, tentando soar misteriosa, chacoalhando a caixa embrulhada com um papel de presente das princesas da Disney. Nora, minha sobrinha de 3 anos de idade, tirou o presente das minhas mãos, empolgada, e tentou rasgar o papel desajeitadamente. A ajudei a desembrulhar a caixa e, quando o presente foi finalmente revelado, ela abriu um sorriso enorme, mostrando seus dentinhos de leite, e não pude deixar de também sorrir com a cena.
- É a Elsa! - ela exclamou com os olhos brilhando.
- Agora você pode assistir a Frozen com a Elsa. Não é demais? - eu falei, rindo, e novamente ajudei minha sobrinha, agora a abrir a embalagem.
Mark, meu irmão do meio, dizia que Nora gostava tanto de Frozen que assistia ao filme incontáveis vezes, sempre cantando todas as músicas. Portanto, quando eu e fomos ao shopping comprar os presentes de Natal, assim que entramos na loja de brinquedos e nos deparamos com bonecas das irmãs Elsa e Anna, eu já sabia qual seria o presente da caçula da família.
- Como é que se diz, filha? - minha cunhada falou, segurando a menina pelos ombros para que ela se virasse para mim.
- Obrigada, tia - Nora disse, segurando a boneca junto ao peito, como se ela pudesse sair correndo a qualquer instante, e se aproximou para estalar um beijo na minha bochecha.
- De nada, querida - respondi, contente por ter acertado no presente.
Como costumava acontecer em todo Natal, a casa estava lotada. Tios e primos - tanto por parte paterna quanto por parte materna -, bem como meus irmãos, suas esposas e seus filhos… A família quase inteira estava reunida. Minha mãe e minhas tias haviam tomado conta da cozinha e preparam uma ceia farta e deliciosa, recheada de comidas natalinas típicas que não podiam faltar no Natal de uma família inglesa. Como prato principal, é claro, foi servido um enorme peru. Comíamos em meio a conversas, comentários constrangedores e muitas risadas. , como eu já esperava, não demorou nada a se enturmar, oferecendo ajuda às mulheres e conversando sobre futebol com os homens. Todos haviam adorado meu namorado “simpático e prestativo”, como eu havia escutado sair da boca de uma das minhas tias. Bom, exceto meu pai, que não estava fazendo esforço algum para esconder seu mau humor toda vez que estava por perto. O que acontecia raramente, já que meu namorado estava fazendo questão de manter a maior distância possível do sogro.
Depois da ceia, como tradicionalmente fazíamos, todos começaram a trocar presentes e cá estávamos nós.
- Adorei meu presente, tia - Brendon, meu sobrinho de 5 anos de idade, filho de Eric, meu irmão mais velho, falou com o boneco do Buzz Lightyear em mãos.
- Que bom, Brend - eu disse, bagunçando os fios de cabelo dele. - Você já tem o Woody, né? - questionei e o menino balançou a cabeça em concordância.
- O papai comprou pra mim.
- Agora você tem os dois, então - falei, piscando um olho e sorrindo.
Segurando a sacola que ainda continha os presentes dos meus pais, deixei meus sobrinhos entretidos com seus novos brinquedos e segui em direção a , que conversava animadamente com meus irmãos. Quem era que estava com medo de conhecer os cunhados mesmo? Quando cheguei mais perto, descobri que eles conversavam sobre música e até fiquei com pena por interrompê-los.
- Amor, vamos entregar os presentes dos meus pais - falei, chamando a atenção dos três para mim.
- Adorei as meias, - Mark falou, implicado comigo, e eu mostrei a língua em resposta.
- Só por causa dessa brincadeirinha, ano que vem vou te dar meias mesmo - ameacei. Na verdade, eu havia presenteado cada um dos meus irmãos com um kit de barbear de uma maravilhosa loja de cosméticos londrina.
- Depois a gente continua a conversa, então - falou, levantando-se da cadeira na qual estava sentado, e meus irmãos assentiram.
Peguei meu namorado pela mão e o levei até minha mãe, que catava os papéis de presente e embalagens que acabaram ficando espalhados pela casa.
- Mãe, deixa isso aí. Depois eu te ajudo a arrumar a bagunça - falei, fazendo ela largar o lixo. - Eu e queremos te entregar nosso presente.
- Fui eu que escolhi - , com toda sua cara de pau, disse e eu o lancei um olhar atravessado. - Ok, ela deu a ideia e eu concordei que era um bom presente e paguei metade - ele confessou, fazendo minha mãe rir.
- Não precisava. Só a presença de vocês já está ótimo - ela falou com toda a elegância que tinha.
- Claro que precisava, mãe - eu disse e enfiei a mão dentro da sacola para pegar o pacote. - Toma.
Ela pegou a caixa e desembrulhou o presente enquanto esperávamos pacientemente para observar seu sorriso ao ver a embalagem do Kindle.
- Nossa, que legal, filha - ela disse, admirando a caixa do aparelho.
- Como você adora ler sempre que tem um tempinho livre, achei que seria um ótimo presente - expliquei, sorrindo. - A gente já comprou alguns livros, até. Quando você ligar, eu te ensino a mexer.
- Alguns livros fui eu quem escolhi. Isso é verdade - ressaltou e eu dei um leve empurrão nele, rindo.
- Eu adorei, muito obrigada - ela disse, retribuindo o sorriso, e abraçou cada um de nós. - Vai ser muito útil quando eu estiver nas filas do banco, do médico…
- Vai mesmo. É bem mais prático carregar por aí um e-reader do que um livro impresso - falei.
- É estranhou ouvir uma bibliotecária falando isso - meu namorado retrucou, franzindo o cenho.
- Existem bibliotecas digitais, sabia? - rebati e ri ao vê-lo rolar os olhos.
- Lá vem ela falar essas coisas de bibliotecários que eu não entendo patavinas - ele disse, fazendo minha mãe gargalhar. - Vem, vamos entregar o presente do seu pai logo.
- Já perdeu o medo dele, é? - questionei, rindo.
- Claro que não. Só é melhor encarar a tortura de uma vez - ele respondeu e eu e minha mãe rimos mais ainda.
- Vamos lá, então.
Mais uma vez, puxei meu namorado pela mão até que estivéssemos na frente do meu pai, que batia papo com meus tios.
- Feliz Natal, pai - falei, após pegar o último pacote dentro da sacola, e meu pai o segurou com curiosidade. - É meu e do .
Ansiosos, aguardamos ele abrir o embrulho.
- Uma camisa do Chelsea… - meu pai disse, olhando de mim para o meu namorado.
- Não é só uma camisa do Chelsea - eu falei e estiquei a camisa para que ele olhasse mais atentamente. - É uma camisa do John Terry autografada pelo próprio - falei, contendo um gritinho animado.
- A contou como o senhor é fanático pelo Chelsea e acabou passando a paixão pelo futebol para ela. Então, como tenho alguns contatos lá dentro, consegui essa camisa - explicou, sorrindo orgulhoso.
- Obrigado - meu pai disse, com um fraco sorriso nos lábios, e me deu um abraço apertado. Em seguida, ele apertou a mão de , nos desejou um feliz Natal e nos deu as costas.
Sim, nos deu as costas.
Eu e nos entreolhamos, ele demonstrando confusão e eu com um sorriso amarelo.
- É, esse aí é um osso duro de roer - falei, suspirando.
- Agora eu sei de onde você puxou essa teimosia - meu namorado disse e riu após levar um tapa no ombro.
- Mas ele adorou o presente, pode ficar tranquilo - eu disse e pisquei um olho.

Depois de todos os presentes terem sido entregues e já passar da meia-noite do dia 26 de dezembro, meus parentes foram, aos poucos, indo embora, até que restou apenas eu, , meus pais, meus irmãos, suas esposas e meus sobrinhos. Todos contentes, depois de um Natal tão divertido com a família toda reunida, mas decepcionados por aquele momento estar acabando. O fim da noite sempre era a pior parte do Natal e me fazia ansiar para que o final do ano seguinte chegasse logo.
- Todo mundo já vai dormir? - questionei, notando que todos já subiam para o segundo andar da casa.
- Acho que sim, as crianças devem estar caindo de sono - minha mãe respondeu e se levantou do sofá.
- A e o estão vindo pra cá, vamos trocar presentes - eu avisei.
- Tudo bem, só não façam muito barulho. Vou ver se seus irmãos precisam de alguma coisa. - ela disse, subindo as escadas. Ao cruzar com a neta, que descia de degrau em degrau, falou: - Vem dormir, Nora.
A menina, entretanto, não deu ouvidos e continuou descendo.
- Tia, posso dormir com você? - me perguntou ao se aproximar de mim.
Naquele instante, voltava da cozinha e, ao escutar o questionamento da garotinha, começou a fazer gestos desesperados e a mexer os lábios para me passar a mensagem de que não, Nora não podia dormir com a gente. Eu já sabia quais eram as segundas intenções dele ao se mostrar tão desesperado daquele jeito, mas eu concordava que aquela não era uma possibilidade, já que dividir uma cama de solteiro com um homem e uma criança não seria assim tão confortável.
- Não tem espaço, querida - eu disse e me abaixei para abraçá-la quando ela fez um biquinho adorável. - Melhor você dormir com seus pais.
- Vem, filha. Você não vai abandonar o papai e a mamãe, né? - a voz de Mark preencheu a sala de estar e só então eu notei que ele estava no topo da escada assistindo à cena. Senti minhas bochechas corarem ao perceber que, provavelmente, meu irmão tinha visto a reação de . - Estou de olho em vocês dois - ele disse em um tom ameaçador, comprovando minhas suspeitas, antes de pegar Nora no colo e subir os degraus novamente.
Lancei um olhar atravessado para o meu namorado, enquanto ele apenas ria. Abri a boca para dar um esporro em , mas batidas na porta me interromperam.
- Sem barulheira, gente. O pessoal já foi dormir - eu disse quando abri a porta e me deparei com minha melhor amiga e seu namorado, dando espaço para eles adentrarem a casa.
- Fale isso para o seu namorado, queridinha. Ele que é o escandaloso aqui - disse e se acomodou no sofá ao lado de , que apenas ria da cara indignada do amigo.
- Depois dessa, vou nem falar nada - respondeu, emburrado.
Peguei as últimas sacolas de presente restantes, que eu havia deixado ao pé da árvore, e sentei ao lado do meu namorado no sofá. Nós quatro nos entreolhamos e rimos.
- Quem começa? - questionei.
- Ok, eu começo - falou, fazendo uma careta, e tirou de dentro da sacola um envelope com desenhos natalinos fofos. - Esse é o seu presente, . - ela sorriu, mostrando os dentes, e abanou o envelope.
Me levantei, curiosa para saber o que tinha lá dentro, mas fui impedida pelos braços de , que me agarraram pela cintura e fizeram com que eu caísse de volta no sofá.
- Fala sério, cadê o discurso? Vai ali no meio, - ele falou, apontado para o meio da sala.
- Você está brincando, né? - perguntou, incrédula, mas, ao ver que ele realmente estava falando sério, bufou e foi até o meio da sala com o envelope em mãos. sorriu, satisfeito. - Bom, , não sei muito o que dizer, afinal, já são tantos anos de amizade que você provavelmente já deve saber como é importante pra mim. Você é a melhor amiga do mundo, seu único defeito é ter esse namorado insuportável - ela disse, fuzilando com o olhar.
- Achei isso ofensivo - ele se limitou a dizer.
- Enfim, espero que goste do presente. Feliz Natal! - finalizou, sorrindo.
Me levantei e, antes de pegar o envelope de suas mãos, dei um abraço apertado na minha amiga.
- Feliz Natal, amiga! - eu disse e comecei a abrir o envelope, morrendo de curiosidade. - Dois ingressos para o show do… HomeTown?! - exclamei e mordi meu lábio para conter um sorriso enorme.
- Você comentou que eles vão fazer show em Londres em janeiro, então me adiantei e comprei pra você - ela disse. - Comprei dois ingressos porque aí você pode ir com o ou comigo… Ou com quem você quiser, sei lá - explicou, rindo.
- Espera aí - chamou nossa atenção. - HomeTown é aquela boyband irlandesa? - questionou e, quando confirmamos, ele disse: - Fala sério, eu é que não vou nesse show.
- Nem pra me fazer companhia? Valeu aí - eu disse, guardando os ingressos de volta no envelope, e me sentei novamente no sofá.
- Estou brincando, meu amor. Claro que por você eu iria - ele disse e me puxou para estalar um beijo nos meus lábios.
- Chega de melação, vocês dois. - tacou uma almofada em . - Quem vai agora?
- Pode ser eu - eu disse, dando de ombros, e tirei uma caixa envolvida por um papel de presente do Batman - Adivinha de quem é esse. - lancei um sorriso esperto para o namorado da minha amiga, que também sorriu, animado.
- Discurso - disse, me cutucando. Mostrei a língua para ele e me levantei.
- Acho que presente nenhum vai superar o que eu já te dei, né, ? Te ajudei a conquistar minha melhor amiga, então… De nada - falei, sorrindo presunçosa.
- Eu concordo. - ele olhou para apaixonadamente e beijou os lábios dela. Pelo menos até levar uma almofada na cabeça de ninguém mais, ninguém menos que meu belo namorado.
- Não falou pra parar de melação? - disse, cruzando os braços.
- Vai cagar, . - rolou os olhos e se levantou para me dar um abraço.
- Feliz Natal, .
- Feliz Natal. Espero que goste do presente.
rasgou o papel até revelar a caixa que continha headphones do Homem de Ferro.
- Que maneiro, ! - ele exclamou e me abraçou mais uma vez. - Obrigado. Eu adorei!
- Que bom que gostou. Tinha do Batman também, mas você já tem coisas demais do Batman, então decidi variar.
- Boa escolha - ele disse e deixou a caixa com a . - Já vou dar o meu presente pra vocês dois, então.
- É meu também! - minha amiga levantou o braço.
mostrou outro envelope igual ao que me deu com os ingressos para o show do HomeTown.
- Ah, não! Agora é o quê? Show dos Backstreet Boys? - questionou, bufando, e todos nós rimos.
Peguei o envelope da mão de e tirei de lá de dentro um cartão que dizia que valia uma reserva no restaurante Gordon Ramsay.
- Uma reserva no Gordon Ramsay? - perguntei, frisando o nome do restaurante. - Mas é um dos restaurantes mais badalados de Londres!
- Tenho meus contatos - rebateu, piscando um olho. - É só vocês ligarem e fazerem a reserva no dia que preferirem.
- Bem melhor do que show dos Backstreet Boys… - meu namorado não deixou de fazer o comentário infame.
- Só assim pra você me levar pra jantar, né, ? - mostrei a língua para o meu namorado. - Obrigada por dar o exemplo de como um namorado fofo é, .
- Ei! Eu sou um namorado… fofo - disse, indignado, fazendo uma careta ao pronunciar a última palavra. - De vez em quando… - ele finalizou, rindo.
- Bem de vez em quando, né? - rolei os olhos e o puxei pelo braço. - Vai entregar seus presentes, vai.
- Qual será que entrego primeiro? - ele pensou alto, olhando dentro da sacola. - Vai o seu primeiro, . Claramente não fui eu que escolhi, já que eu nem sabia o que comprar pra você. Mas essa minha namorada maravilhosa me ajudou, então aqui está.
se levantou e abraçou , antes de pegar o pacote e tirar de lá de dentro a bolsa carteira preta decorada com pedrinhas que eu havia escolhido.
- É, realmente você não teria capacidade de escolher essa bolsa - ela disse, rindo, e deu um leve tapa na cabeça do meu namorado. - Obrigada, seu chato.
- De nada - ele sorriu e se virou para o amigo. - O seu, , só vou poder te entregar em Londres. É um violão novo, já que o seu está quebrado, e não tinha como trazer pra cá.
- Sério? Valeu, cara - falou.
- Mas eu trouxe uma lembrancinha pra não passar em branco - falou e eu arqueei a sobrancelha, estranhando a caixinha quadrada que ele tirou de dentro da sacola e que eu nem sabia da existência.
Quando olhei melhor, pude ver do que se tratava.
- , eu não acredito! - exclamei e ele soltou uma gargalhada.
- São camisinhas que brilham no escuro pra você e se divertirem - ele disse, sorrindo como se fosse a coisa mais incrível do mundo, e o coitado do pegou o pacotinho em meio a risos, enquanto parecia que ia explodir de tão vermelha. - Nunca usei, mas deve ser divertido.
- Você é inacreditável, - disse, rindo.
- Você me mata de vergonha, - complementei a fala da minha amiga e meu namorado apenas riu e deu de ombros.
- Bom, vou entregar meu presente pra , então, pra gente esquecer esse presente incrível do - brinquei, pegando a caixa embrulhada com um papel de presente florido e a entreguei para . - Tenho certeza de que você vai adorar.
- Metida! - ela exclamou, rindo, mas acabou por abrir um sorriso enorme quando viu que era um daqueles porta-joias musicais, que, quando damos corda, a bailarina começa a girar enquanto uma musiquinha toca. - Que fofo! Sempre quis ter uma dessas!
- Eu sei - falei com um sorriso esperto.
- Vou deixar pra abrir em casa, mas obrigada, ! - disse e me deu mais um abraço. - Quem vai agora?
- Pode entregar o seu presente para o - eu falei, já pegando os dois presentes que eu tinha comprado para o meu namorado.
- Querido, é bom você adorar, porque foi muito difícil conseguir essa belezinha - minha amiga falou antes de entregar o presente para .
- Ah, é? O que pode ser tão difícil assim de conseguir? - o outro questionou, rindo, enquanto rasgava o papel. - Eu não acredito! - ele exclamou, em choque, ao se deparar com um boneco do Batman de colecionador dentro da caixa. - Esse boneco é raríssimo!
- Sei bem como é - rebateu, murmurando. - Mas só por ver seus olhos brilhando desse jeito, já valeu.
- Obrigado, anjo - ele disse e puxou a namorada para um beijo. Dessa vez, nem teve coragem de atrapalhar o momento deles. - O seu presente só vou poder te entregar em casa.
- Hum… - murmurou com um sorriso sacana nos lábios. - Aposto que tem a ver com as camisinhas que brilham no escuro.
- Cala a boca, cara - retrucou, rindo. Pegou o celular e procurou por algo, até que mostrou a tela para .
- Meu presente é a Dory?! - minha amiga sorriu e assentiu com um aceno de cabeça. - Olha que gracinha, . - arrancou o celular da mão do namorado e me mostrou a foto do peixe cirurgião-patela nadando em um aquário na casa de . - Já podemos voltar pra Londres? Quero conhecer meu peixinho.
- Calma, , ele não vai fugir - falou e recebeu uma careta em resposta, antes de me cutucar e dizer: - Entrega o meu presente primeiro, quero deixar o seu por último.
Entreguei a caixa maior primeiro e não me surpreendi quando ele rasgou o papel e encarou, maravilhado, a embalagem do FIFA 2016 para Xbox.
- Agora vou poder jogar comigo mesmo na primeira divisão do futebol inglês! - ele disse, fazendo todos rirem. já tinha aparecido em edições anteriores do FIFA, mas apenas na segunda divisão do futebol inglês. Aquele era o primeiro ano que ele estava jogando em um time que disputava a Premier League e aquilo devia ser realmente excitante para ele.
- Nem um pouco narcisista, hein? - zoou o amigo.
- Tem mais um. - estendi a caixa menor e , relutante em soltar seu tão querido jogo, pegou e rasgou o papel com curiosidade.
A expressão dele ao se deparar com um bonequinho dele próprio vestindo a camisa da Seleção Inglesa, em cima de um suporte verde onde era possível ler “”, foi impagável.
- Quando você for convocado pra jogar na Seleção, já tem seu mini-craque - eu disse e pisquei um olho.
- Você que mandou fazer? - ele questionou e eu assenti. - Você é demais, .
me puxou para um beijo rápido, o qual eu correspondi acariciando sua bochecha com carinho.
- Eu também quero um mini-craque - falou fazendo bico.
- Você nem é jogador, queridinho - falei, rindo. - Agora eu quero meu presente! - exclamei, batendo palmas.
- Já aviso que é o melhor presente de todos - meu namorado disse antes de me entregar o embrulho.
Para falar a verdade, não me surpreendi com o presente. Era uma camisa do Chelsea autografada pelo Eden Hazard. Como ele havia dado a mesma coisa para o meu pai, sabendo que eu também era fanática pelo Chelsea, eu já sabia que ele daria um jeito de conseguir uma camisa autografada para mim também. E, obviamente, a camisa seria do Hazard, meu jogador favorito. Mesmo assim, não contive o gritinho animado que soltei ao ver a assinatura do camisa 10 do meu time.
- Meu Deus, o Hazard tocou nessa camisa! - falei, provavelmente soando mais fangirl do que nunca, e arrancando gargalhadas dos outros três presentes.
- E tem mais - começou e eu o encarei atentamente. - Vou te levar a um treino deles.
- É sério? - questionei, de olhos arregalados, e, quando meu namorado assentiu, me joguei em cima dele para abraçá-lo. - Meu Deus, eu vou conhecer o Hazard! Eu te amo, !

- Eu tenho mais um presente pra você - escutei a voz de falar, enquanto eu terminava de escovar meu cabelo.
Deixei a escova em cima da penteadeira e me virei para encará-lo. , já pronto para dormir, vestia apenas uma calça de pijama e estava esparramado na minha cama. A visão era deliciosamente tentadora.
- Tem, é? Que presente?
Sem me responder, ele deu dois tapinhas no espaço vago do colchão e eu, prontamente, o ocupei. Apenas quando ele me estendeu uma caixa de veludo que notei a presença do objeto em suas mãos. Pelo tamanho da caixa, julguei ter um colar em seu interior. Peguei a caixa de suas mãos, encarando seus olhos em um questionamento mudo, e, curiosa, a abri. O que encontrei me deixou maravilhada. Era um colar de ouro super delicado e, como pingente, tinha uma fada pequena e dourada, com asas preenchidas por pedrinhas roxas. Aquele colar era simplesmente lindo.
- Eu queria te dar algo especial - começou e eu me obriguei a tirar os olhos da fadinha para encarar seu rosto.
- Mas eu amei a camisa - retruquei, sem entender que lógica ele estava seguindo. - Ainda vamos em um treino. Não precisava de mais nada.
- Não que a camisa do Chelsea e o treino não sejam especiais, claro, já que você é fanática pelo clube e pelo Hazard - ele começou a explicar e eu não pude deixar de rir da careta que ele fez. - Mas, já que esse é o primeiro Natal que passamos juntos, eu queria te dar algo marcante, entende? Algo que eu tivesse escolhido especialmente pra você e que você possa olhar e se lembrar de mim, do nosso namo...
Antes que tivesse completado o raciocínio que o levou a comprar aquele belo colar, eu o puxei pela nuca e grudei nossos lábios. Não precisou nem de meio segundo para meu namorado entreabrir os lábios e procurar minha língua com sua própria, nem um pouco ofendido por ter sido interrompido. Apesar da maneira súbita como começou, o beijo foi lento e cheio de carinho. Além de ter adorado o colar, eu estava encantada com aquele gesto de .
- Até que você sabe ser fofo de vez em quando, uh? - sussurrei contra seus lábios, quando, finalmente, nos separamos.
Como resposta, meu namorado sorriu e me deu um beijo estalado na boca antes de se afastar e apontar para o presente.
- Gostou?
- Amei, - eu falei, pegando o colar e deixando a caixa de lado. - Essa fadinha é uma graça. Tem certeza que foi você que escolheu? - questionei, rindo.
- Tenho plena capacidade de escolher um presente para a minha namorada, ok? - ele disse após soltar uma risada irônica.
- Eu sei que tem. - mostrei a língua. - Me conta. Por que você escolheu esse pingente?
- Achei que combina com você. - deu de ombros. - Você gosta dessas histórias que tem fadas, elfos… Quando eu vi, já sabia que tinha que ser esse.
- Obrigada - eu disse, sorrindo sem mostrar os dentes. - Me ajuda a colocar.
pegou o colar das minhas mãos, enquanto eu me virava de costas e levantava meus fios de cabelo para deixar meu pescoço exposto. Sem deixar de depositar um beijo na pele da minha nuca antes, colocou o colar.
- Como ficou? - questionei, voltando a ficar de frente para meu namorado.
- Maravilhosa.
- Eu não tenho outro presente pra te dar - falei, fazendo uma careta. Se tivesse ao menos passado pela minha cabeça que me daria um presente extra, também teria pensado em algo simbólico para presenteá-lo.
- Não tem problema, meu amor. É só você me fazer um blowjob e estamos quites - ele rebateu com um sorriso maroto nos lábios, piscando um olho.
- ! - o repreendi, sem conseguir conter o riso. - O que eu disse antes de viajarmos?
- “Nada de sexo na casa dos meus pais” - ele disse com uma voz irritantemente fina, rolando os olhos.
- Ainda bem que você se lembra - falei em um tom esnobe.
- Mas, ! - ele exclamou, suplicante. - A gente já está há mais de uma semana sem fazer nada.
- Você aguenta mais uns dias, amor. - soprei um beijo em sua direção.
Sabendo que não teria argumentos, me empurrou com seu corpo até que eu me deitasse na cama, ficando por cima de mim. Tentei empurrá-lo para o lado, mas fui impedida quando suas mãos prenderam as minhas no topo da minha cabeça, enquanto suas pernas se embolaram às minhas, também impossibilitando que eu as movimentasse.
- … - sussurrei em um tom de repreensão, sentindo sua boca sugar a pele do meu pescoço.
- , a gente tem que comemorar nosso primeiro Natal juntos - ele disse em um tom baixo, raspando seus lábios em mim.
- Eu concordo, mas estamos na casa dos meus pais. - frisei as últimas palavras.
Sua língua quente em contato com minha pele me fez deixar escapar um suspiro.
- Está todo mundo dormindo, a porta está trancada… Qual o problema? - ele perguntou e subiu os beijos molhados até chegar à minha boca.
- … - comecei, novamente tentando o repreender, mas fui calada por um beijo lento que, somado ao seu quadril pressionado ao meu, transbordava sensualidade.
- O que os olhos não veem, o coração não sente.
Foram as últimas palavras de antes de, finalmente, libertar meus braços e tirar a camisola de mangas curtas que eu vestia. Quando senti seus dentes mordiscando um dos meus mamilos descobertos, não tive mais forças para empurrar meu namorado para longe de mim, preferindo enterrar meus dedos em seus fios de cabelo.
- Promete que não vai usar daquelas camisinhas fluorescentes ridículas? - questionei com dificuldade, o fazendo soltar uma gargalhada.
- Relaxa. Eu só comprei aquele pacote pra zoar com a cara deles dois - confessou e eu acabei rindo junto.
- Você não presta, - falei e fechei os olhos ao senti-lo esfregar sua excitação em mim.
- Nem um pouco. Mas você também não está muito melhor do que eu - ele rebateu, descaradamente, com um sorriso cheio de luxúria nos lábios que fez um arrepio correr por todo meu corpo.
Aquele sorriso que sempre precedia ótimos momentos. Mesmo que eu estivesse relutante em deixar que um desses momentos acontecesse na casa dos meus pais, com os quartos do mesmo corredor ocupados por minha família, era fraca demais para resistir a . Ele não precisava de muito para me ter na palma de sua mão. Conformada, empurrei a calça que ele vestia para baixo com os pés.
Fechamos nosso primeiro Natal como namorados com beijos famintos, carícias cheias de desejo e suspiros roubados.
E amor.
O amor tornava tudo aquilo ainda mais prazeroso.

POV

- Definitivamente o melhor presente de natal foi o meu. - tinha um sorriso enorme no rosto quando saímos da casa da minha amiga.
- Definitivamente eu espero que você não esteja se referindo às camisinhas fluorescentes do . - fiz uma careta e ele riu de mim.
- Não tenho lembrança da última vez que te vi tão vermelha de vergonha assim. - dei um tapa no braço dele.
- E você queria o quê? Olha se isso é coisa para se dar de presente a alguém. - balancei a cabeça.
- Acho que já usou. - acompanhei o riso dele.
- Acho que não, pelo menos não com a . Ela teria me contado. - dei de ombros.
- Vocês, mulheres, realmente falam de tudo? - me olhou, intrigado.
- Praticamente. - concordei com a cabeça.
- Você fala pra ela o que a gente faz? - arregalou os olhos e ri novamente.
- Aposto que nada muito diferente do que você fala com seus amigos.
- Claro que não! - respondeu mais alto e o encarei com a sobrancelha erguida. - Tá, a gente fala, mas não é sempre e só por alto - ele confessou.
- Então, é a mesma coisa, só que as vezes usamos alguns detalhes importantes.
- Me sinto constrangido. - colocou as mãos no corpo como se estivesse o tapando.
- Constrangida fiquei eu de ver você ganhando isso. - peguei as camisinhas da mão dele. - Eu vou ficar com isso, afinal, não tenho problema nenhum pra te achar no escuro. - pisquei com um olho só e abri a porta de casa, fazendo sinal de silêncio, sabendo que todos já deveriam ter dormido.
- Sabe de uma coisa? - ele sussurrou logo atrás de mim. - Ia dizer agora que precisamos dar um jeito de você não ficar sem graça com esses assuntos, mas depois desse comentário… - ignorei o arrepio que passou pelo meu corpo e fechei a porta do quarto atrás de mim.
- Eu só estava brincando com você. - mostrei a língua.
- E eu também. - me deu um selinho e seguiu para sua mala. - Mas foi você quem começou, porque, quando falei do melhor presente, eu me referia ao Batman. - tirou uma calça de moletom cinza da mala. - Não acredito até agora que você negociou com um colecionador. - vi o sorriso através do espelho enquanto tirava meus brincos.
- Era praticamente a única coisa dele que você ainda não tinha, eu tive que tentar. - dei de ombros e prendi meu cabelo num coque. - Me ajuda com o zíper do vestido, por favor. - ele se aproximou e abriu o vestido.
- Eu realmente amei - disse, intercalando beijos em minha nuca com as palavras, e o roçar da barba dele com a minha pele fez meu corpo reagir.
- … - reclamei. - Não fica me provocando. - fiz uma cara emburrada e me afastei, trocando o vestido por um baby doll mais comportado.
- Não tenho culpa se você fica me pedindo pra tirar sua roupa. - ele tinha uma expressão safada no rosto e joguei a escova de dente nele.
- Para com isso, , estamos na casa dos meus pais. - tentei parecer séria, mas era impossível. Segui para o banheiro para escovar os dentes e tirar a maquiagem e, assim que ele trocou sua roupa pela calça de moletom, foi escovar também.
- Muita tentação você só com essa calça. - beijei suas costas depois de secar meu rosto. - Então, vamos voltar para a conversa. Como a Dori é? - peguei o celular dele, colocando novamente na foto do aquário.
- É um peixe normal, amor. - riu fraco. - Vai chamar Dori mesmo?
- Não sei, quando eu olhar para ela eu decido. - ele concordou com a cabeça. - E onde você estava com a cabeça em dar uma passagem pro Oliver? - me lembrei do presente surpresa que meu namorado tinha dado ao meu irmão.
- Achei que era um jeito de ele gostar mais de mim. - deu de ombros. - Já que seus pais vão para a Grécia, ele pode ficar com a gente. Quer dizer, com você.
- Já disse o quanto é fofo isso? Você procurando agradar o Olly? - apertei as bochechas dele.
- Eu sou sempre fofo. - fez uma cara convencida.
- Concordo. E falando em Grécia, meus pais amaram ganhar essa viagem. - eu sorria como se quem fosse viajar fosse eu. - Você viu a empolgação deles?
- Acho que nosso presente fez mais sucesso do que o do Joshua. - pronunciou o nome do meu cunhado exatamente como Oliver havia feito mais cedo e voltei a rir.
- Você também não gostou dele, né?
- Eu tentei, . Juro que tentei. Mas ele só sabe falar do que gira em torno dele, isso cansa.
- Eu sei, por isso a gente acaba implicando com ele. Mas ele faz a Mia feliz, então a gente aguenta. - puxei a colcha da cama e comecei a dobrar.
- Mas sua família gostou de mim, né? Eu fui legal com todo mundo.
- Claro que gostaram, minha avó ficou te elogiando durante toda a ceia. - terminei de arrumar a cama de casal e me joguei, sentindo o cansaço.
- Não, quem deixou você deitar? - foi ao pé da cama e começou a me puxar pelos pés.
- Para com isso, . Está tão gostoso aqui. Se eu fosse você, vinha logo deitar.
- Eu vou, depois que você se levantar e parar de estragar minha surpresa. - abri os olhos e o encarei.
- Surpresa? O que você está aprontando? - o olhei desconfiada e me levantei, ficando na frente dele.
- Feche os olhos e me dê a mão. - obedeci, e no instante seguinte o senti colocando uma pulseira em meu pulso. - Pronto. Pode abrir os olhos.
Aproximei o pulso do meu rosto para ver melhor meu presente e eu estava maravilhada. Era uma pulseira prateada com vários pingentes, que logo reconheci terem a ver com a nossa história.
- Obrigada. - murmurei, me jogando nele para um abraço cheio de significados. - Eu amei.
- Se você não gostou de algum, você pode mudar lá na loja. - segurou meu braço. - Escolhi o peixe, por causa do nosso primeiro encontro, óbvio. O coração é mais óbvio ainda, mas caso não esteja claro o suficiente, eu te amo. - meu coração estava acelerado. Não era a primeira vez que falava essas palavras, no entanto, naquele momento, era como eu me sentia. Amada por ele. - E, para não deixar você esquecer mesmo que eu te amo, pedi para colocarem o Ich liebe Dich, porque você ama ensinar alemão. A tacinha de martini e a miniatura do London Eye são de onde te conheci, no Red Wine. - Voltei a abraçá-lo.
- Não tem nada aqui que eu queira mudar, está perfeita assim. - me soltei do abraço e segurei o rosto dele entre minhas mãos. Os olhos dele tinham um brilho, que só aparecia quando ele estava genuinamente feliz. - E caso você também tenha alguma dúvida, eu te amo muito, ! - e então o espaço entre nós era inexistente.
Seu braço contornava minha cintura e me mantinha contra seu corpo, enquanto a outra mão estava em minha nuca, nossas bocas estavam sincronizadas e minhas mãos alternavam os entre seus ombros e braços. Ele me guiou dois passos para trás e senti minhas pernas encostarem na cama de casal. Me deitei e o puxei para a cama comigo. O beijo, antes apaixonado, agora continha desejo e era mais urgente. As mãos dele percorriam as laterais do meu corpo, apertando em lugares estratégicos que eu correspondia por arranhar sua nuca e puxar alguns fios.
A temperatura do quarto tinha elevado e o ar começava a faltar quando passou a distribuir beijos em meu pescoço. Fechei meus olhos, apreciando as sensações que as carícias dele proporcionavam, ao mesmo tempo tentando inutilmente controlar minha respiração. Mas foi só quando senti as mãos dele por dentro do pijama é que me lembrei de onde estava e que aquilo não poderia continuar.
- - chamei, frustrada, e ele me olhou, mais frustrado ainda, entendendo o meu tom de voz ao dizer o nome dele. Respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais e se jogando ao meu lado na cama.
- E eu acreditando que sua promessa do parque era verdadeira - disse em um falso tom emburrado.
- Você sabia que nada além de beijos ia acontecer na casa dos meus pais… - me defendi, chateada por ter cortado o clima.
- Eu sei, meu anjo. - beijou rapidamente meus lábios. - Mas é injusto demais a facilidade que você tem de me deixar assim. - rolou os olhos e não segurei o riso ao notar que ele se referia ao volume evidente em sua calça.
- Me desculpe. - tentei parar de rir.
- Isso, ria da minha situação, pra você é ótimo, ninguém sabe como você está. Ou melhor, ninguém vê.
- Deixa de ser emburradinho. - mordi o queixo dele.
- , me ajuda! Estou aqui lutando para não pensar no seu corpo e você me provoca? - ele riu fraco. - Que namorada eu fui arrumar…
- Já sei! Pensa no com o presente magnífico que ele te deu.
- Eca, ! Agora vou ter pesadelos - reclamou e eu apaguei a luz.
- Vamos dormir, . Vamos sair cedo.
- Não tem outro jeito mesmo. - beijou meu rosto. - Boa noite, .
- Boa noite, anjo. - me aconcheguei, encostando minhas costas no tronco de , que tinha um braço em volta da minha cintura, me mantendo próxima e, sentindo sua respiração em meu ouvido, me entreguei ao sono.
Ainda estava num sono leve quando ouvi batidas fracas na porta do quarto. Afastei o braço de para ir até lá e o mesmo me olhou confuso.
- Alguém bateu na porta - expliquei e abri a porta em seguida. - Olly?! - estranhei. - Aconteceu alguma coisa? - perguntei, preocupada com o caçula, que encarou meu namorado atrás de mim e em seguida coçou os olhos numa atitude típica de quem estava sem graça.
- É que você vai embora amanhã cedo e… - eu sabia aonde ele ia chegar, mas não interrompi. - E eu queria dormir com você como a gente fazia antes. - e esse antes era claramente “antes de você trazer o ”.
- Claro, Olly, vai lá. - fechei a porta em seguida e só então olhei para e o que encontrei não me surpreendeu. Ele tinha um sorriso fofo nos lábios e uma expressão de compreensão, era o melhor namorado do mundo. Me deitei entre os dois e puxei a coberta para que cobrisse nós três.
- Boa noite, . - fiz um carinho em sua cabeça.
- Boa noite, meus amores.

- Sim, mãe, eu prometo que volto antes das próximas férias - repeti enquanto me despedia dela.
- Eu me encarrego disso. - me ajudou a convencê-la e então guardamos a última mala no carro.
- Façam uma boa viagem - meu pai desejou.
- Obrigada, pai. Tchau, Olly. - mandei beijo no ar a todos. - Deixem um beijo para a Mia e o Josh. - abri a porta do carro e entrei. Assim que deu partida no carro, ouvi minha melhor amiga gritando meu nome e correndo para chegar até o carro.
- Eu não acredito que você ia embora sem se despedir. - fez um bico e saí novamente do carro para dar um abraço nela.
- Achei que vocês ainda estivessem dormindo. - encarei bocejando mais atrás. - Bom, seu namorado ainda está.
- Não acredito que vamos passar nosso primeiro ano novo separadas desde que nos conhecemos.
- Ai, não me faça chorar agora - reclamei e a abracei de novo. - Vai ser ótimo, não vai nem sentir minha falta. - beijei a bochecha dela e voltei para o carro, acenando para , que estava parado longe do carro.
- Tchau, . E faça as comemorações de Ano Novo da minha amiga valerem a pena! - ela disse com o dedo apontado para ele, mas sorria.
- Te vejo ano que vem, . - fez a piada mais idiota que existe para o Ano Novo e então acelerou, rumo a Wolverhampton.

4. You make me wanna… How deep is your love?


POV

O carro de virou a esquina, sumindo do alcance de nossos olhos. Depois de acenar brevemente para a família da , dei meia volta e caminhei em direção à um sonolento, que lutava para se manter de olhos abertos. Não que eu estivesse muito diferente, mas ter acordado no susto havia me feito esquecer completamente o sono. Quando abri os olhos e constatei no visor do celular que já passava da hora que havia me dito que ela e iriam para a casa dos , dei um pulo para fora da cama e saí puxando meu namorado junto. Por sorte, me perguntou onde eu estava indo de roupas íntimas antes que eu saísse no corredor e, então, pudesse me vestir devidamente antes de sair correndo pela calçada e chegar a tempo de me despedir da minha melhor amiga ingrata.
- Vamos, - falei, entrelaçando meus dedos aos dele, e caminhei em direção à minha casa, o puxando pela mão.
- Está tudo bem? - ele perguntou em meio a um bocejo. - Você está com aquela cara.
- Que cara? - o encarei, confusa, com a sobrancelha arqueada.
- Aquela cara que você fica quando o Chelsea perde - ele respondeu e soltou uma risadinha.
- Só estou um pouco chateada porque desde que conheço a nós sempre passamos a virada de ano juntas. Essa é a primeira vez que ela não vai estar por perto e isso me assusta um pouco - respondi com sinceridade.
Depois de subirmos os degraus que levavam à varanda da entrada da minha casa, me puxou calmamente até que eu estivesse encarando seus olhos, que estavam pequenininhos devido ao sono.
- Sei que não sou a , não te conheço há tantos anos quanto ela e que não temos nem metade da quantidade de memórias que vocês duas têm juntas… - ele falou enquanto deslizava suas mãos por cima das mangas do meu casaco em uma demonstração de carinho. - Mas prometo que vou fazer de tudo pra ser um Ano Novo inesquecível, ok?
Com um sorriso bobo no rosto, o puxei pelas bochechas até que nossos lábios estivessem unidos para um rápido beijo estalado.
- Eu sei que vai, amor. Sua presença é tão importante quanto a dela - falei, sentindo os braços de me envolverem em um abraço.
- Podemos voltar a dormir agora? - ele questionou deitando a cabeça no meu ombro antes de bocejar mais uma vez.
- Podemos, dorminhoco - eu disse, acariciando seus fios de cabelo desgrenhados. - Vamos entrar. Estou morrendo de frio.
Meio a contragosto, me soltou e deixou que eu o puxasse para dentro de casa. Quando passamos pela porta da sala de jantar, pude ouvir o falatório que indicava que todos - ou quase todos - já estavam acordados e tomando café da manhã.
- Não prefere comer antes? Depois subimos para dormir mais um pouco - falei e, sem deixar meu namorado responder, continuei o puxando até que adentrássemos o cômodo infestado pelo cheiro de café. - Bom dia, família!
- Bom dia, . Bom dia, - minha mãe respondeu com um sorriso enorme que demonstrava toda a felicidade dela por ter a família reunida naquela manhã pós-Natal. - Tem café, suco, chá, bolo, pão, torrada… Podem se servir.
- Obrigado, Nancy - meu namorado falou, sorrindo sem mostrar os dentes.
Nos acomodamos na mesa, perto dos meus sobrinhos, que faziam uma sujeira com o bolo de chocolate. Enquanto passava um pouco de geleia em uma torrada, me estiquei para pegar a jarra de suco de uva.
- Quer? - questionei, após servir um copo, e ele assentiu com a cabeça enquanto dava uma mordida na torrada. Peguei mais um copo e o enchi com o líquido.
Uma voz grave, então, preencheu o ambiente e eu agradeci por já ter deixado a jarra e os copos em cima da mesa, ou teria feito uma grande cagada por causa do susto que levei.
- , depois quero falar com você - meu pai falou e todo mundo encarou a ponta da mesa na qual ele estava sentado.
O único som que se escutava era a tosse de , que tinha se engasgado com o susto. Estendi o copo para ele, que o pegou e deu um gole no suco de uva.
- Tudo bem - ele disse sem sequer levantar os olhos para encarar meu pai.
Aos poucos, todos voltaram a atenção para o café da manhã caprichado que minha mãe havia preparado e conversas aleatórias tomaram conta do ambiente. Enquanto eu mastigava um pedaço de bolo de chocolate, encarei meu namorado e, apenas por me deparar com os olhos arregalados dele que me pediam socorro silenciosamente, pude notar quão apavorado ele estava. E não vou negar… Eu também estava.
Eu e terminamos de comer - ou de engolir a comida, melhor dizendo - e pedimos licença para nos retirarmos. Apenas quando adentramos meu quarto e a porta foi devidamente fechada, meu namorado soltou uma risada descrente e finalmente disse alguma coisa.
- Fui comer a filha do cara na casa dele. Ele vai me matar - ele falou, passando a mão no rosto e demonstrado todo seu desespero.
- Se você falar que me comeu de novo, pode deixar que eu mesma te mato - ameacei, me sentindo realmente ofendida por ouvir meu próprio namorado falar daquele jeito.
- Eu devia ter te escutado - ele continuou, andando de um lado para o outro, ainda em pânico.
- - o chamei, inutilmente.
- Sexo natalino...
- - tentei novamente chamar sua atenção.
- Que ideia mais idiota.
- ! - exclamei e ele, finalmente, parou de falar sozinho e me deu atenção. - Quer parar com isso? Você nem sabe o que ele quer falar com você.
- O que mais pode ser?
- Eu sei lá. Mas, se ele realmente tiver escutado alguma coisa e quiser tirar satisfação, você não vai levar a culpa sozinho, afinal, eu transei com você por livre e espontânea vontade - falei com o intuito de o tranquilizar. - Além do mais, meus irmãos cansaram de dormir com as namoradas aqui em casa e meu pai sabe muito bem disso, vai ser extremamente machista se ele implicar com isso. E nem foi a primeira vez que isso aconteceu comigo… - conforme pronunciei as últimas palavras, minha voz foi morrendo aos poucos e os olhos de se arregalando cada vez mais.
- Não foi a primeira vez que isso aconteceu, é? - ele questionou, sério, cruzando os braços, e eu neguei com a cabeça, sem graça. - Foi o Ronan? - balancei a cabeça novamente, dessa vez assentindo. - Foi nessa cama? - ele apontou para a cama e eu assenti mais uma vez. - O Orli presenciou tudo? - olhei para o poster, prendendo o riso, e confirmei por uma última vez. - Como se não bastasse aquele imbecil do Edward, ainda teve esse seboso do Ronan antes.
Não pude controlar uma leve risada que escapou pelos meus lábios ao ver emburrado por algo tão bobo.
- Isso já tem uns 5 anos. Que besteira, - falei, ainda rindo. - E eu já tinha te contado que minha primeira vez foi com o Ronan. Não falei nada sobre os locais onde transava com ele, mas onde mais poderia ter sido?
- Espera aí - ele falou, levantando as mãos. - Sua primeira vez foi aqui?
- Foi - respondi, simplesmente, dando de ombros. Já fazia tanto tempo e o sexo com era tão melhor que eu mal me lembrava de como tinha sido, para falar a verdade.
- Não acredito que transamos na mesma cama da sua primeira vez… Com outro cara - ele frisou as últimas palavras, parecendo realmente bastante ultrajado por aquela novidade.
- Qual é o problema? Eu nem te conhecia. E já dormimos na sua cama, onde passaram só Deus sabe quantas mulheres, porque nem você deve saber ao certo, e eu nunca reclamei. - rolei os olhos.
- Mas é diferente - ele disse e eu questionei aquela afirmação fazendo um gesto com as mãos. - A maioria delas foi só sexo casual, não significaram muita coisa, mas o Ronan… você confiou à ele a sua primeira vez.
- E daí? Não foi o suficiente pra continuar namorando com ele - retruquei.
- Você ainda vai me deixar maluco, - ele disse em um tom de voz baixo, cerrando os olhos. - Eu sei que isso tudo que acabei de falar é muito idiota, mas você não tem ideia de como esse ciúme que sinto de você me sufoca - falou dramaticamente, pondo uma das mãos no peito.
- Não precisa ficar com ciúme, amor - falei, rindo da confissão boba do meu namorado, e dei alguns passos lentos para me aproximar dele. Eu estava morrendo de vontade de enchê-lo de beijos.
- Não chega perto! - ele exclamou e eu parei onde estava, assustada. - Se você encostar em mim eu não vou conseguir controlar a vontade de te jogar nessa cama, arrancar suas roupas e te fazer gemer até qualquer memória de outro cara pisando dentro desse quarto sumir da sua cabeça.
Arregalei os olhos e não consegui controlar uma gargalhada.
- Até meu pai e meus irmãos?
- Eles tudo bem - meu namorado respondeu e mostrou a língua.
- Não posso nem te dar um beijinho? - questionei, fazendo bico.
estendeu os braços e eu deixei ele me puxar até que nossos corpos estivessem colados e eu pudesse selar meus lábios aos dele. Para a minha surpresa, nosso beijo foi calmo e nos permitiu sentir o gosto um do outro como se não tivéssemos mais nada para fazer além disso pelo resto da vida.
- Vamos dormir um pouquinho? - questionou quando nos separamos. - Preciso estar sem sono para pensar direito quando for ter essa tal conversa com o seu pai.
Apenas assenti com a cabeça e o puxei até que estivéssemos aconchegados debaixo do edredom. Fechei os olhos e apoiei a cabeça no peito dele. Após alguns minutos, um pensamento veio à minha cabeça e não resisti a externá-lo.
- Aquela ideia de arrancar minhas roupas e me fazer gemer loucamente pode se concretizar quando chegarmos em Londres, né?
- Se você pedir uma segunda vez, vai ser aqui mesmo - ele murmurou, já quase dormindo, e eu ri fraco antes de fechar os olhos novamente.

- Gol! - Brendan, meu sobrinho, exclamou e veio correndo pela grama na minha direção. Eu, que estava sentada em um dos degraus da escadinha da varanda da casa dos meus pais, me levantei a tempo de agarrá-lo quando ele se jogou em cima de mim. Até tentei tirá-lo do chão, mas seu tamanho já não me permitia mais fazer isso. - Você viu meu gol, tia ?
- Claro que vi seu golaço. Parabéns! - beijei o topo da cabeça dele e, com um sorriso nos lábios, o observei voltar correndo até o gol que havia improvisado com dois pedaços de galho. Os dois estalaram as mãos em um high five e logo recomeçaram o jogo.
Aquilo tudo, sem dúvidas, havia sido ideia de . Assim como Oliver, o irmão caçula da minha melhor amiga, Brendan ficou impressionado ao saber que era jogador de futebol profissional e que, inclusive, volta e meia enfrentava o Chelsea (assim como toda a família, meu sobrinho também era blue). Para agradar o garotinho, sugeriu que, depois do almoço, eles jogassem futebol no quintal com a bola da Adidas que ele havia o presenteado. Meu sobrinho não apenas havia adorado a ideia como estava se divertindo como nunca, fazendo gols e observando com admiração as brincadeirinhas de com a bola. Mesmo que eles tivessem implorado para que eu jogasse também, preferi ficar sentadinha os assistindo e registrando tudo em fotos e vídeos.
- Brendan, vamos embora! - Eric, meu irmão mais velho, exclamou, aparecendo ao meu lado seguido pela esposa e meus pais.
- Ah, não, papai! Só mais um pouquinho! - meu sobrinho se aproximou com um bico enorme que, se fosse direcionado a mim, ele conseguiria tudo o que quisesse.
- A gente precisa ir embora, filho - meu irmão rebateu sem parecer nem um pouco comovido. - Você vai ter outras oportunidades de jogar com o , né?
- Claro - meu namorado respondeu, também se juntando a nós. - Depois de ter provado a comida maravilhosa da sua avó, com certeza vocês me verão muito aqui nessa casa - ele brincou, passando a mão pelos fios de cabelo de Brendan, e arrancou risadas de todos.
- Pode voltar quando quiser, . Será muito bem-vindo - minha mãe respondeu com um sorriso satisfeito nos lábios.
- Viu? Logo vocês jogam juntos de novo - Eric disse e, mesmo emburrado, Brendan deixou que ele o puxasse pela mão em direção ao carro.
Após nos despedirmos deles com abraços e beijos, só restou eu, , meu pai e minha mãe, já que Mark, sua esposa e Nora, minha sobrinha, já haviam ido embora mais cedo.
- Vamos arrumar nossas coisas, amor. É melhor pegar a estrada antes de anoitecer - falei enquanto adentrávamos a casa com meus pais.
- Antes eu preciso conversar com ele, filha - meu pai nos interrompeu e eu pude sentir meu namorado se estremecer ao meu lado. - Pode ser agora?
me lançou um rápido olhar, pedindo ajuda, mas ele sabia que não teria como fugir daquilo. Por fim, ele disse:
- Claro.
- A sós - meu pai disse, percebendo que nem e eu e nem minha mãe movemos um dedo.
- Ah, ok. Vou arrumar nossas coisas enquanto isso - falei e segui em direção às escadas, enquanto minha mãe se dirigiu para a cozinha. Antes de alcançar o segundo andar da casa, pude ouvir meu pai chamando para o seguir até a sala de jantar, o que me deixou ainda mais em alerta. A sala de jantar era o único cômodo do primeiro andar que era possível fechar a porta, e isso me fez imaginar o que de tão sério meu pai queria conversar com meu namorado, se certificando de que ninguém mais escutaria. Sem pensar duas vezes, dei meia volta e desci os degraus. Após ter certeza de que a porta da sala de jantar já estava fechada, me aproximei sorrateiramente e colei meu ouvido à madeira da porta.
- … ter encontrado vocês naquela situação - escutei, com dificuldade, a voz do meu pai dizer. Por mais que eu me esforçasse, era complicado ouvir uma conversa com total clareza naquela situação. - É difícil pra mim, mas eu entendo que…
- Que coisa feia escutar a conversa dos outros.
Levei um susto ao escutar tais palavras serem ditas ao meu lado e me virei para encontrar minha mãe de braços cruzados.
- Que susto, mulher - sussurrei, pondo a mão no peito, me recuperando do susto. - Só estou tendo certeza de que meu pai não vai matar meu namorado.
- Pode ficar tranquila. Seu pai vai apenas pedir desculpas - minha mãe sussurrou de volta.
- Desculpas? - perguntei, arregalando os olhos em surpresa.
- Pois é. Consegui fazê-lo ver que estava sendo um idiota com o menino e o convenci a pedir desculpas - ela respondeu, dando de ombros.
- Uau - proferi, sem encontrar palavras para expressar quão admirada eu estava.
Sem dizer mais nada, minha mãe sumiu pela porta da cozinha. Não perdi tempo e voltei a encostar meu ouvido à porta, pois, mesmo que eu estivesse mais tranquila em relação ao assunto daquela conversa, eu estava curiosíssima para saber o que seria dito.
- Tudo bem, está desculpado. E eu sei que não vai se repetir. Vocês dois… - a voz do meu pai dizia, mas, mais uma vez, minha mãe se intrometeu na minha espionagem com uma cutucada no meu ombro.
- Isso vai te ajudar a escutar melhor - ela disse e estendeu um copo de vidro para mim, o qual eu peguei em choque.
Ela tinha outro copo em mãos e, sem esperar por qualquer reação minha, ela encostou a borda do copo à madeira e o ouvido ao fundo do objeto. Eu estava pasma com aquela cena. Minha mãe não apenas tinha acabado de me incentivar a escutar a conversa alheia, mas também havia se juntado a mim. Minha curiosidade, entretanto, não me permitiu continuar chocada por mais tempo e acabei por imitar a ação da minha mãe e também usei o copo como meio de ouvir a conversa mais claramente.
- Ainda não te conheço o suficiente, mas conheço minha filha e sei que ela jamais namoraria um cara que não fosse decente. Então, pode ficar tranquilo que não tenho nada contra você. É que, pra mim, é um pouco difícil aceitar que a não é mais a garotinha que me implorava pra levar ela no parque, nos jogos do Chelsea, que cantava comigo quando eu colocava Queen pra tocar aqui em casa ou nas nossas viagens de carro… Ela agora é uma mulher que mora sozinha, trabalha e tem uma vida longe de mim.
Ouvir meu pai abrir o coração daquele jeito fez algumas lágrimas encherem meus olhos, mas respirei fundo e espantei a vontade de chorar.
- Eu te entendo, Howard. - estranhei ao escutar chamar meu pai pelo nome pela primeira vez, mas não contive um sorriso.
- Me desculpa pela forma como te tratei. Sei que acabei te constrangendo e essa não era a intenção. Em vez de aproveitar esse tempo pra conhecer o namorado da minha filha, acabei agindo feito um moleque.
- Está tudo bem. De verdade. A gente vai ter outras oportunidades de conversar melhor.
- Prometo que vou te receber melhor nas próximas vezes - meu pai disse e, por alguns segundos, os dois ficaram em silêncio, antes de ele voltar a falar. - Só quero deixar uma coisa bem clara. Se magoar minha filha, você é um homem morto.
- Quanto a isso você pode ficar tranquilo. A única coisa que quero é fazer a muito feliz.
Minha mãe me cutucou na barriga, sorrindo sugestivamente, e um sorriso bobo iluminou meu rosto.
- Assim espero - meu pai disse e mais alguns segundos de silêncio se seguiram. - Me desculpa também por ter implicado com seus trabalhos. Sei que você faz o que gosta e não tem nada de desmerecedor nisso só por serem coisas que não exigem um curso universitário. Isso não tem nada a ver, já que é necessário muito empenho e dedicação. Inclusive, nem posso te julgar, já que eu, um pouco mais novo do que você, tinha uma banda e pretendia fazer disso minha profissão.
- É sério? A nunca falou nada sobre isso - disse em um tom surpreso.
- É sim. Eu era baterista de uma banda e…
- Senta que lá vem história - minha mãe disse, me fazendo parar de prestar atenção na conversa. - Já vi que essa conversa vai durar horas e tenho mais o que fazer.
Não pude deixar de concordar. Aquela conversa estava com cara de que seria bem longa, então decidi subir e começar a arrumar minhas coisas e as de para que pudéssemos viajar de volta a Londres assim que eles terminassem de conversar. Depois de ter sido liberado do jogo que aconteceria naquele dia, teria que se apresentar no dia seguinte no clube para o treino do time para a última rodada do ano da Premier League, o que tornava nossa volta para casa inadiável. A conversa dos dois não durou horas, afinal, apenas pouco mais de uma hora, mas havia sido suficiente para meu namorado ficar repetindo “o sogrão me adora” incontáveis vezes durante toda a viagem. Só não me aborreci com ele porque eu estava feliz de eles terem se acertado. No futuro, quem sabe, não pudessem ser amigos? Por fim, tudo estava bem.

Tudo estava maravilhosamente bem.
Mas sabe quando tudo está tão bem que você sente que a qualquer momento tudo vai começar a desmoronar? Era exatamente assim que eu me sentia.
Havíamos chegado à Londres no dia anterior e fomos direto para a casa de . Tudo estava correndo perfeitamente bem, até que comecei a pensar sobre o fato de ter abdicado de passar o Natal com a própria família para passar com pessoas que ele nem conhecia. Não achei justo, pois, no lugar dele, eu não sabia se faria o mesmo. Por isso, tive a brilhante ideia de sugerir que passássemos a virada do ano com a família dele, em Doncaster. Entretanto, para a minha surpresa, ele recusou.
Perguntei mais de dez vezes se ele tinha certeza, deixando claro que aquilo não me incomodaria nem um pouco.
Ele negou em todas.
O problema, entretanto, não foi ele ter negado. O problema foi ele ter negado veemente, como se eu estivesse sugerindo algo absurdo. Depois de me dar por vencida e desistir de tentar fazê-lo mudar de ideia, comecei a imaginar todos os motivos que poderiam tornar a ideia de passarmos o Ano Novo com a família de algo absurdo. Entre tantas hipóteses sem pé nem cabeça, a mais plausível era a de que ele não queria que eu conhecesse a família dele. E por qual motivo ele não iria querer me apresentar para a família? Será que, para ele, nosso namoro não era sério o bastante? Por mais que eu não tivesse motivos para isso, o resultado não poderia ter sido diferente. Lá estava eu, novamente insegura e tentando calcular quanto tempo levaria para eu quebrar a cara novamente.
Quando apareceu na minha vida, eu estava muito desacreditada de conseguir me apaixonar novamente. Estava exausta de homens egoístas, que pensavam apenas em seus próprios umbigos e não se importavam com os sentimentos alheios. Homens que usavam as mulheres para o seu bel-prazer e, quando não serviam mais, as dispensavam sem fazer qualquer cerimônia. Se, para ter um relacionamento, eu precisaria me sujeitar àquilo, muito obrigada, mas eu preferia ficar sozinha. Eu não precisava de ninguém para me sentir bem e feliz, por isso, mesmo me sentindo atraída por desde o momento em que coloquei meus olhos nele, e ele deixando claro desde o início seu interesse por mim, eu relutava em me deixar levar por suas cantadas baratas. Eu não queria me deixar levar. Porém, com o tempo, pude perceber que as intenções dele não eram tão ruins assim, ele só tinha um jeito bem torto de demonstrar interesse por uma mulher.
E, até aquele momento, eu não tinha me arrependido. Muito pelo contrário, quando eu estava com sentia como se tivesse tomado uma das melhores decisões da minha vida ao aceitar seu pedido de namoro. Porém, com tantas caraminholas na cabeça, eu começava a temer que estivesse errada.
Eu estava sentada no sofá enorme da sala de estar igualmente enorme da casa de , completamente sozinha. Ele havia ido para o treino do time antes mesmo de eu acordar e só voltaria na hora do almoço. Apesar de agradecer por aquele momento sozinha para que eu pudesse pensar melhor e colocar as ideias no lugar, não ter por perto apenas fazia a agonia no meu peito crescer ainda mais. Eu, definitivamente, precisava conversar com alguém.
Me estiquei para pegar meu celular em cima da mesinha de centro e liguei para minha melhor amiga. Ela atendeu depois de três toques.
- Não vive sem mim, hein?
- Preciso que você me dê um esporro muito bem dado.
- Por que eu faria isso? O que aconteceu?
Soltei um longo suspiro antes de começar a explicar:
- Sugeri para o que nós fôssemos passar o Ano Novo na casa da mãe dele, em Doncaster, mas ele não quis. E estou achando que ele não quer me apresentar pra família dele.
- E por que raios ele não ia querer te apresentar pra família dele?
- Eu que vou saber? Vai ver ele não espera que o nosso namoro dure muito…
- Vamos parando com a palhaçada, . Isso não tem o mínimo sentido. Acho mais provável que ele esteja planejando um Ano Novo que vocês estejam sozinhos pra virar o ano fazendo um sexo selvagem.
- ! - a repreendi, sem conseguir conter uma risada, mas logo estava séria novamente. - Eu tenho medo, sabe? De que ele dê uma de doido como os outros, termine tudo e eu pague de trouxa mais uma vez.
- Você sabe que está sendo boba de pensar assim, né? O é meio maluquinho, mas ele te ama. Eu, sinceramente, não acho que ele vá fazer uma coisa dessas, ainda mais sabendo tudo o que você passou com o Edward.
- Será? - questionei, mordendo o lábio inferior. Em outros momentos, eu mesma diria aquilo tudo que a havia acabado de falar, mas, naquele momento, eu estava realmente cofusa.
- Se você tem alguma dúvida, conversa com ele. A que eu conheço já teria o colocado contra a parede em vez de ficar se martirizando e tentando adivinhar o que está acontecendo.
- Estou agindo como uma idiota, né?
- Como uma apaixonada - ela me corrigiu, rindo. - Pessoas apaixonadas não pensam muito racionalmente mesmo.
- ainda vai me deixar louca. - bufei. - Mas tudo bem, vou conversar com ele, você está certa.
- Faça isso - ela me incentivou e, após alguns segundos em silêncio, continuou a falar: - Vocês já estão em Londres, né? Como foi a viagem?
- Foi ótima. Aliás, tenho uma novidade. Meu pai pediu desculpas para o por ter tratado ele mal e agora eles são melhores amigos de infância - falei e acabei soltando uma gargalhada.
- Mentira! Que ótimo! O deve estar se achando.
- Você nem imagina o quanto - confirmei, fazendo uma careta. - E como está sendo com a família do ?
- Já tive dias melhores…

POV

O caminho até Wolverhampton não costumava durar mais do que quarenta e cinco minutos, trinta quando não tinha trânsito e, pela quantidade de carros nos primeiros dez minutos, nós chegaríamos no máximo em meia hora. A música estava baixa e vi se ajeitando no banco, encostando a cabeça no vidro e fechando os olhos em seguida.
- Não senhora - disse alto, o que a fez abrir os olhos rapidamente.
- O que foi? - ela perguntou visivelmente contrariada, pois estava quase cochilando.
- Por mim nós teríamos ficado na sua casa até a hora do almoço, foi você quem insistiu pra ir cedo e levar o café da manhã pra minha casa, então nada de dormir, vai ficar acordada comigo o caminho todo. - sorri.
- Mas ... - fez aquela cara de cachorro pidão. - Não posso chegar na sua casa horrorosa e cheia de olheiras.
- , em todo o tempo que nos conhecemos eu nunca te vi horrorosa, então nem vou considerar esse argumento. - sorri convencido e apertei a perna dela de leve.
- Mas vai passar rapidinho, você dorme quando chegar lá - ela tentou novamente me fazer mudar de ideia.
- Nada feito. Escolha uma música e se anime. - ela puxou o ar audivelmente antes de concordar com um aceno e aumentar o volume, espantando o sono. Ou tentando.
Passamos na padaria antes de chegarmos em casa e não disfarçou, pelo menos para mim, o espanto ao constatar que a casa em Wolverhampton era tão grande quanto a casa que eu estava morando em Londres.
- , a casa não muda quem nós somos, para de ficar achando que tudo que você faz ou quem você é não é o suficiente - reclamei quando ouvi pela terceira vez que os pães, bolos e sucos não seriam bons o suficiente.
- Eu estou nervosa, ok? - ela tapou os olhos com as mãos.
- Senhorita óbvio, isso eu entendi. O que não consigo entender é o motivo. - afastei as mãos do rosto dela segurando com as minhas e fazendo com que ela me olhasse, ainda dentro do carro. Ela voltou a fechar os olhos e resmungou, dando o braço a torcer.
- O motivo é que eu nunca fiz isso, - ela declarou derrotada. - Nunca tive um relacionamento que chegasse à esse ponto, conhecer a família e ainda mais passar uns dias hospedada com eles.
- … - tentei interromper, mas ela não pararia antes de dizer tudo o que estava entalado.
- Eu sei que pra você é normal, deu pra perceber o quanto você não ficou nem um pouco desconfortável lá em casa e provavelmente até sua família sabe lidar bem com uma intrusa. Claro que sabem, você já deve ter trazido algumas mulheres pra cá. Bom, pelo menos uma eu tenho certeza.
- Você não é uma intrusa, . Para com essas besteiras - interrompi, já não gostando do rumo da conversa. Mesmo sabendo de toda a história do meu último relacionamento, sabendo que Katie terminou comigo quando já estávamos de casamento marcado e como eu fiquei depois que tudo aconteceu, tinha uns momentos de insegurança, onde acabava por se comparar com uma pessoa que ela nem chegou a conhecer.
- Eu só tenho medo de dar tudo errado… - a voz dela sumiu com o final da frase.
- Meu anjo, eu já vejo meu pai te tratando como parte da família, assim como minha mãe, e eles são os únicos que eu me importaria um pouco com a reação. E, mesmo se não gostassem, não me fariam mudar de ideia sobre você, porque eu sei o que eu sinto, , e isso é mais do que suficiente pra mim. - Eu não costumava ser uma pessoa aberta em se tratando dos meus sentimentos, mas mudara isso também em .
- Você não pode ser real. - vi um sorriso tímido nos lábios dela e não hesitei em colar os meus aos dela num beijo rápido.
- Eu sou real e você me ama.
- Amo mesmo - ela concordou.
- Mas agora vamos logo porque se eu entrar com esse tanto de comida e minha mãe já estiver preparando o café, eu vou ficar muito contrariado. - ela concordou com a cabeça e caminhamos com as compras do café da manhã para a casa.
Destranquei a porta e andei pé ante pé até a cozinha, evitando qualquer barulho que pudesse acordar eles. Colocamos as comidas sobre a mesa da sala de jantar e fui separando os pratos, pires, xícaras e talheres enquanto ia fazer o chá. No entanto, fui surpreendido pelo grito dela e corri até a cozinha, soltando alguns talheres audivelmente na mesa.
- O que foi, amor? - ela estava encolhida contra o armário e caminhei para ver o que ela estava encarando tão estática. Não consegui segurar o riso ao ver que todo o susto e medo dela vinha do nosso cachorro, um mastiff adulto preto.
- ... - ela reclamou chorosa.
- É só o Robin, . - fiz um carinho nas orelhas do cachorro. - Ele só quer te conhecer, ele não morde.
- Olha o tamanho dele! - a voz dela estava mais aguda.
- Eu estou segurando ele, anda, vem aqui. - ela negou veementemente. - Depois que ele sentir seu cheiro e ganhar carinho ele já vai ser seu fã. - ela continuava encolhida no canto e eu estendi minha mão na direção dela, ainda segurando Robin no lugar.
- Ai , olha só o que você me faz fazer - ela disse, contrariada, pegando em minha mão e se abaixando ao meu lado, deixando Robin cheirar à vontade. Levei a mão dela que estava segurando a minha até a cabeça dele e, no instante seguinte, ele já estava completamente relaxado no chão, aproveitando do carinho.
- Viu, Robin já gosta de você. - beijei a bochecha dela.
- Estou surpresa pela sua criatividade, esperava que fosse Batman - me zoou.
- Batman foi nosso primeiro cachorro, quando ele morreu nós adotamos o Robin.
- E o próximo vai ser Joker? - ela ia me zoar mais, mas fomos surpreendidos pela minha mãe na cozinha.
- O que está acontecendo aqui? - se levantou rápido e estava visivelmente sem graça.
- Bom dia, mãe. - levei o cachorro para o lado de fora e fechei a porta. - A só se assustou com o Robin.
- Me desculpe - ela murmurou.
- Eu não estava falando disso, estava falando da miragem que tive ao passar pela mesa de jantar. - eu abri um sorriso e me olhou um tanto perdida. Passei o braço pelos ombros dela e caminhamos até minha mãe.
- Não foi miragem mãe. - a abracei forte e a tirei do chão.
- Não faz isso, menino. - ela me deu um tapa no braço.
- Mãe, essa é a , minha namorada. , essa é Katherine, minha mãe. - não se moveu e logo minha mãe a envolveu num abraço.
- Então essa é a famosa garota que conseguiu fazer meu filho dar outra chance ao coração?
- Mãe… - reclamei, mas já tinha um sorriso lindo no rosto e era só o que eu queria.
- É um prazer conhecê-la - minha mãe continuou.
- O prazer é meu em conhecer a responsável por criar um homem como o .
- Ei, eu estou aqui. - balancei minhas mãos em frente à elas.
- Que cheiro delicioso de chá de maçã. - era a voz do meu pai. - Que horas você acordou para fazer tudo isso? - e então ele apareceu coçando os olhos. vivia dizendo que eu era uma graça quando coçava os olhos ao acordar, será que era assim que eu ficava?
- Eu não fiz nada, querido. Quando desci já encontrei a mesa daquele jeito. e trouxeram o café da manhã. - minha mãe tinha um sorriso satisfeito e achei melhor dar os créditos à quem merecia.
- Tudo ideia da , mãe. Por mim teríamos vindo para o almoço e eu estaria dormindo até agora.
- Imaginei. - ela bagunçou meus cabelos como fazia quando eu era criança.
- A propósito, David, essa é a , namorada do - minha mãe a apresentou antes de mim e saiu da cozinha.
- É um prazer conhecer o senhor. - apertou a mão do meu pai.
- O prazer é meu, e - olhei para ele -, já gostei dela, fez o meu sabor preferido de chá.
- Sempre pego pelo estômago, não é mesmo, pai? - dei dois tapinhas na barriga protuberante dele e nos abraçamos em seguida.
Nós quatro tomamos café da manhã e, para meu alívio, nenhum assunto embaraçoso, como, por exemplo, minha infância, surgiu. Minhas irmãs não tinham acordado mesmo com todas as conversas e risos e, depois de meus pais agradecerem novamente pelo café, obedecemos minha mãe e fomos para o meu quarto descansar antes do almoço. Subi com nossas malas e me seguiu em silêncio.
- Acho que alguém conquistou o sogro e a sogra. - a puxei pela cintura e mordi o queixo dela.
- Acho que sim. E não vou mentir, estou aliviada. - ela me deu um beijo rápido e eu a soltei. Tirei minha camiseta e minha calça jeans em seguida. - O que tá fazendo? - ela perguntou, assustada.
- Indo dormir, ué.
- E precisa tirar a roupa toda? - ela trocou a calça por um short e caminhou até a cama, se deitando ao meu lado.
- Eu estou em casa. - dei de ombros e um sorriso de canto surgiu em meu rosto. - Está com medo da tentação ser demais, é? - arqueei a sobrancelha.
- Se enxerga, . - ela me esnobou segurando um riso e ficou por cima de mim, com uma perna de cada lado e sentada no meu quadril. - Só porque você tem essa barriga toda definidinha - passou a ponta dos dedos por meu abdômen -, essa barba que eu adoro e essa boca deliciosa? - aproximou a boca da minha e puxou meu lábio inferior com os dentes. - Não, não é tentação nenhuma. - ela fez menção de sair do meu colo e inverti as posições, a deixando presa pelas minhas pernas.
- É, você quase acertou sobre minhas qualidades físicas, faltou só falar de uma parte muito importante… - sussurrei no ouvido dela e ela se arrepiou com o contato de minha barba com o pescoço dela. - Uma parte que nunca te decepciona. - desci o rosto, roçando a barba e distribuindo beijos pelo pescoço e colo, até o limite da blusa. - Aquela parte que te dá prazer e te faz sussurrar meu nome. - passei a língua pelos lábios dela.
- Sai, . - ela me empurrou para o lado, comecei a rir e ela me acompanhou. - Não vou elogiar o seu desempenho sexual.
- Vai continuar com a greve? - fiz um biquinho na tentativa de fazê-la mudar de ideia. - Mas nós já saímos da casa dos seus pais.
- Sim, mas estamos na casa dos seus - ela disse com aquele olhar de obviedade.
- E o que tem? Eles não se importam. - eles provavelmente se importavam, mas não precisava saber, afinal, não seria mesmo a primeira vez que aconteceria algo do tipo lá.
- Eles pode não se importar, mas eu sim. Não vou transar com você na casa dos seus pais, com toda sua família aqui. - ela falou baixo, já com vergonha provavelmente de alguém nos ouvir.
- Tá bom, amor, vou ficar em abstinência, mas depois você vai ter que me recompensar.
- Acho que você consegue viver sem sexo por alguns dias. - beijou minha bochecha. - Agora vai dormir antes que sua mãe nos chame pra almoçar.

- Anjo? - bati na porta do banheiro e ela abriu no mesmo instante. - Nossa, que cheiro bom.
- Obrigada. - ela me deu um selinho.
- Vim te chamar para almoçar, mas agora já me arrependi, vou ter que tomar banho sozinho depois. - fingi uma cara triste e ela me deu um tapa no braço.
- ! Quer parar? Vai me deixar envergonhada na frente da sua família.
- Parei, eu juro. - ergui as mãos em sinal de rendição. - É que você fica tão fofa quando fica sem graça.
- Não vou nem falar nada. - ela passou por mim e logo a alcancei, entrelacei nossos dedos e entramos juntos na cozinha.
- , querida, conseguiu descansar um pouco? - minha mãe perguntou e colocou a última travessa na mesa.
- Não é como se fosse realmente uma viagem de Birmingham à Wolverhampton, mas foi bom dormir mais um pouco. Ficamos acordados até mais tarde com nossos amigos ontem.
- Sente-se. - meu pai indicou a cadeira ao seu lado, mas, antes que pudesse se sentar, minhas irmãs apareceram.
- , essas são minhas irmãs, Chloe e Delilah. Meninas, essa é minha namorada, . - Chloe deu um sorriso falso e algo me dizia que esse almoço não seria muito agradável.
- Delilah é minha primogênita… - meu pai começou a falar, mas eu desconectei o meu cérebro daquela conversa.
Sentia minha namorada tensa ao meu lado durante toda a refeição e, dessa vez, eu não tirava a razão dela. Minhas irmãs não tiraram os olhos dela, a medindo o tempo todo. Ajudei minha mãe a retirar os pratos quando todos terminaram de comer, para servirmos a sobremesa em seguida, e, quando voltei com o pudim, estava sendo interrogada por Delilah.
- O que é que você faz mesmo? - ela perguntou e eu voltei a me sentar ao lado da .
- Sou professora de língua estrangeira na Universidade de Londres. - para qualquer um deles ela transmitiria calma e confiança nas respostas, mas eu sabia que, no fundo, ela estava nervosa.
- Então você deve ter se formado muito cedo para ter alcançado um posto desse tão nova - Delilah continuou.
- A não ser que seja mais velha que o - Chloe interferiu.
Eu sabia que esse era um assunto que a incomodava, não que a diferença fosse grande, já que ainda era um ano mais nova que Chloe, mas ela não se sentia confortável em ser a mais velha no relacionamento.
- Sou sim - respondeu firme, me surpreendendo. - Dois anos mais velha.
- e sua mania de mulheres mais velhas… - Chloe deu um sorriso descrente.
- Achei que ele tinha aprendido a lição. - Delilah balançou a cabeça em negação, olhando para minhã irmã.
- Achei que ele ia demorar mais a trazer outra aqui pra casa, mas, pelo visto, ele nem sofreu tanto assim com a Katie. Já se entregando à outra pessoa com tão pouco tempo de convivência, só pode estar querendo quebrar a cara de novo. - minha paciência tinha acabado e eu estava prestes a responder quando senti o aperto firme de em minha coxa, indicando que eu deveria ficar na minha. E foi o que fiz.
- Até hoje não vi idade definir a maturidade de uma pessoa e também não acredito que tenha sido esse o motivo do que aconteceu com o . As experiências que cada um passa é que constroem e moldam cada um e tudo que ele passou faz dele quem ele é hoje. - eu nunca tinha visto se comportar daquela forma para defender o que quer que fosse e, como num passe de mágica, o sentimento ruim sumiu de mim. - Eu também passei por problemas em relacionamentos, sabe disso e talvez justamente por isso nós dois, quebrados, funcionamos juntos. - ela se levantou e automaticamente repeti o seu gesto. - O irmão de vocês não é burro, se ele optou por colocar outra pessoa na vida dele, se ele me escolheu, é porque ele viu algo diferente, algo que valesse a pena tentar. - meus pais voltaram à cozinha nesse momento e foi como se tudo estivesse congelado. Meus pais não estavam entendendo o que estava acontecendo, minhas irmãs tinham expressões de choque, eu não conseguia definir quais os sentimentos da nesse momento, mas eu estava orgulhoso da atitude dela. - Talvez vocês devessem tentar aprender algo com ele ao invés de julgarem - ela concluiu e eu queria sorrir, mas permaneci quieto. - Me desculpem, Katherine e David. - saiu da cozinha e subiu as escadas, indo provavelmente para o meu quarto. Eu só esperava que ela não estivesse chorando, ou pior, que quisesse ir embora.
- O que foi que aconteceu aqui? - minha mãe lançou um olhar duro para os três filhos.
- Aconteceu que elas trataram a como se ela fosse a Katie - respondi primeiro, como fazia quando era criança.
- Aconteceu que o não sabe ouvir verdades e a namoradinha dele também não - Chloe revidou.
- Delilah? - meu pai a encarou e eu me senti com cinco anos. Que cena patética.
- Desculpa, . - fui pego de surpresa. - Não que eu tenha dito muita coisa, mas acho que acabei ficando do lado da Chloe.
- O que foi que vocês falaram pra ela? - minha mãe fechou os olhos e puxou o ar audivelmente.
- Nada que valha a pena ser repetido - cortei o assunto que não ia trazer nada de bom. - E, só para vocês saberem, estava muito mais… quebrada - repeti o termo dela - do que eu quando a conheci. Eu sofri sim, uma vez, uma decepção, mas vocês não sabem nada da vida dela. Levou muito tempo até ela se abrir pra mim e eu espero muito que vocês não tenham estragado isso.
- Calma, filho. - meu pai colocou a mão no meu ombro.
- E antes que a julguem pelo número de decepções que ela teve, lembrem que ela pelo menos dá chance à alguém ao invés de ficar encalhada como vocês, com 25 e 27 anos.
- Ei! Eu não estou encalhada!
- ! - balancei a cabeça, encarando minha mãe. Eu não ia ficar ali para escutar mais nada, eu precisava ver minha namorada. Era perceptível que estava chateada pela situação que acontecera na hora do almoço, mas ela não quis tocar no assunto e tudo que eu fiz foi dizer que ela havia sido incrível e que eu estava muito orgulhoso por ela não ter aceitado que a diminuíssem, como ela já havia deixado em tantos outros momentos da vida dela.
Ela sugeriu que fôssemos os responsáveis pelo jantar naquela noite, para mim era uma forma de ser desculpar com meus pais, afinal, tinha ofendido as filhas deles na própria casa, mas concordei em ajudá-la sem questionar. Minhas irmãs não tinham manifestado o menor interesse em se desculpar com a e, para meu alívio, elas tinham saído para uma festa.

O clima estava muito bom para ficar na cama até tarde e foi o que eu fiz, estava completamente descansado e deduzi que já deveria ser perto da hora do almoço. Estiquei meus braços, ainda sem abrir os olhos, e não encontrei na cama. Abri os olhos só para constatar o óbvio, me espreguicei e me forcei a sair da cama. Ela também não estava no banheiro. Tomei um banho rápido, escovei meus dentes, vesti uma roupa qualquer e desci as escadas. Nada de vendo televisão, nada de na cozinha.
- Bom dia, mãe. - beijei a bochecha dela. - Viu a ? - perguntei, pegando uma bolacha no pote.
- Bom dia, filho. - ela me beijou de volta. - Estava me ajudando com o almoço até o telefone dela tocar. Ela foi para o quintal. Abri a porta que dava para o quintal dos fundos e ela estava sentada no degrau da sacada, segurando o telefone com uma das mãos na orelha e com a outra fazia um carinho no Robin, que estava deitado aos pés dela. Ela não me notou e, ao invés de me aproximar, eu fiquei onde estava ao escutar parte de sua ligação.
- Já tive dias melhores… Digo, hoje ainda não aconteceu nada, mas não vim preparada para o que aconteceu ontem. - ela com certeza estava falando com e, apesar de saber que não se deve escutar conversas alheias, não consegui me mover. Eu precisava saber o que ela realmente estava sentindo. - Não, não… Os pais dele são ótimos, foram super gentis comigo e parece tanto com o pai dele… Não tanto fisicamente, estava falando do jeito mesmo. - provavelmente estava falando algo. - Talvez o não esteja fazendo tão mal em não te levar para ver a família dele, afinal, ele tem mais irmãs que o . - ela suspirou. - Elas me fizeram perguntas, o que eu já esperava, mas elas meio que me julgaram, julgaram o por estar em outro relacionamento, e falaram como se nós não estivéssemos presente. Falaram que ele não aprendeu nada quebrando a cara e deram a entender que eu faria a mesma coisa que a outra. - segurei um riso, ela jamais falaria o nome da Katie. - Claro que o ia me defender, mas eu não deixei. Na verdade eu nem sei o que me deu, pela primeira vez eu não aceitei ficar por baixo, falei umas coisas e óbvio que o clima ficou todo estranho. - ela se calou novamente e, por um momento, eu queria saber o que estava falando. Ela estava me defendendo, certo? - Amor… - ela pronunciou a palavra com descrença. - Não sei se é o suficiente. - O que ela estava falando? Ela estava reconsiderando os sentimentos por mim, eu sabia. Devíamos ter voltado a Londres como fez. - É, vou pensar com calma…
Não escutei mais nada, voltei para dentro de casa e segui direto para a pequena biblioteca, esperando encontrar meu pai. Eu precisava de conselhos e não era algo que , ou poderiam me ajudar. Bati na porta anunciando minha entrada e, como eu previra, meu pai baixou o livro que tinha em mãos e sorriu.
- Oi, pai. - dei um sorriso fraco.
- Qual o problema? - ele tirou os óculos do rosto e os colocou na mesa.
- Quem disse que tem um problema? - fechei a porta atrás de mim e me sentei na outra poltrona.
- , você pode ter seus 22 anos e sua vida, mas eu sou seu pai e conheço essa expressão no seu rosto desde que você tinha 5 anos e quebrou o vaso chinês da sua mãe. - sorri pela lembrança.
- Não quebrei nada dessa vez. - ele ficou em silêncio esperando que eu falasse. - Acho que estou perdendo a - confessei, cobrindo meu rosto com as mãos.
- Do que você está falando, ?
- Eu meio que ouvi ela falando com a amiga no telefone e, depois do que Chloe e Delilah falaram pra ela, acho que ela está repensando o que sente por mim.
- Filho, tem uma razão para as pessoas não ouvirem conversas alheias, principalmente escondido. Você não sabe o contexto, pode ter entendido tudo errado, o que eu acho que foi o que aconteceu.
- Não, pai. Eu tenho certeza do que eu ouvi. Ela ficou chateada com o que elas falaram e eu não tiro a razão dela, até agora não entendi porque fizeram aquilo.
- Muitas coisas eu não entendo, , mas qualquer um percebe que essa garota gosta e muito de você.
- Eu preciso ter certeza, pai.
- Então faça algo, a leve para um passeio… E seja menos inseguro e paranoico. - ele levantou e guardou o livro. - Acho que aquele lago é uma boa ideia. - saiu e me deixou sozinho com meus pensamentos.



5. You make me wanna be there for you.


POV

Com a mochila pendurada em um ombro só e uma sensação de dever cumprido no peito, eu caminhava pelos longos corredores do Emirates Stadium. Em minhas narinas, eu sentia o cheiro do shampoo que exalava do meu cabelo recém-lavado; em meus lábios, o doce sabor da vitória. Havia acabado de enfrentar o Arsenal, atual líder do campeonato, disputando o último jogo do ano, e adivinha! Mesmo jogando fora de casa, meu time venceu por 1x0, e aquele resultado havia nos permitido terminar o ano na quarta posição da tabela. Nada mal, uh?
Ah, o único gol da partida havia sido marcado por ninguém mais, ninguém menos do que essa pessoa que vos fala.
fucking .
Chegando no extenso estacionamento do estádio, não demorei à avistar meu carro, e abri um largo sorriso ao enxergar a bela garota que me esperava no banco do carona. Antes de alcançar o automóvel, pude notar que ela me observava atentamente e não pude evitar soltar um riso de canto de boca quando seus olhos desceram e subiram por meu corpo.
- Amei o gol que você fez pra mim - disse assim que me acomodei atrás do volante. - Apesar de ser um grande absurdo fazer gol no Petr Cech.
Joguei a mochila no banco traseiro, de qualquer jeito, e me inclinei para beijar os lábios dela. Aproveitando a boca entreaberta de , enfiei minha língua até que ela se chocasse com a dela e, por alguns segundos, nos beijamos apaixonadamente, até eu me afastar e ligar o carro.
- Só porque ele é ex-goleiro daquele timeco? Eu sou , faço gol em quem eu quiser - falei, fingindo prepotência, mas acabei rindo quando ela rolou os olhos.
- Timeco? - ela questionou, injuriada. - Dobre sua língua pra falar do Chelsea.
- A mesma língua que te fez acordar a vizinhança toda aos gritos ontem à noite? - perguntei, enquanto manobrava o carro para sair do estacionamento.
- Não começa, - ela murmurou e eu acabei soltando uma sonora gargalhada.
- E quem disse que o gol foi pra você, hein? - falei, arqueando uma sobrancelha.
- Ninguém precisa me dizer, eu sei que todos os seus gols são pra mim, amor. - ela se inclinou até estalar um beijo na minha bochecha. - Parabéns. Você foi ótimo hoje.
- Eu sei. - pisquei um olho e minha namorada rolou os olhos.
- Ufa! Me sinto até mais leve depois de sair da casa do inimigo - ela disse assim que o carro finalmente deixou o estádio do Arsenal.
- Isso tudo é amor reprimido? - questionei, prestando atenção no trânsito.
- Amor da minha vida - ela começou, em um tom que transbordava ironia -, cala a boquinha e dirige mais rápido. O jogo do Chelsea vai começar daqui a pouco.
- O jogo que o United vai ganhar, você quer dizer - impliquei. Não que eu fizesse muita questão que o Manchester United ganhasse, mas deixar irritadinha era um dos meus passatempos favoritos.
- Só se for nos seus sonhos.
- Vamos apostar? - perguntei ao parar no sinal. - Se o Chelsea ganhar, você me deixa te fazer uma surpresa mais tarde.
- Que surpresa? - questionou, franzindo o cenho em sinal de dúvida.
- É uma surpresa, ué. - dei de ombros.
- E se o United ganhar?
- Você também me deixa te fazer uma surpresa mais tarde - falei, rindo.
- Então você está preparando uma surpresa pra mais tarde, é?
- Talvez… - respondi, arrancando com o carro.
- Tem alguma chance de eu te convencer a contar que surpresa é essa? - ela questionou, rindo.
- Nenhuma - respondi, a fazendo bufar.
Um silêncio confortável preencheu o ambiente e eu sabia que estava, em sua mente fértil, criando diversos cenários que antecipassem a surpresa que eu havia preparado para aquela noite. Sabendo quão curiosa ela era, senti um pouco de pena, mas optei por não antecipar um detalhe sequer. Foi inevitável não me lembrar do motivo que havia me levado a ter aquela ideia. Ela estava tão cabisbaixa no dia anterior, mais calada do que o normal, já que ela costumava ser bastante tagarela, mas preferi dar espaço e não interrogá-la sobre aquilo. Afinal, era do tipo que, quando queria desabafar, ela mesma te procurava. Depois de passar o dia inteiro distante, à noite ela se deitou ao meu lado na cama e me beijou como se não fizesse isso há décadas. O resultado, como você pode imaginar, foi uma noite muito prazerosa. Mesmo que ela, aparentemente, tivesse voltado ao normal, eu ainda estava intrigado.
- Posso te fazer uma pergunta? - perguntei, quebrando o silêncio.
Seus olhos, confusos, buscaram os meus, antes de responder:
- Claro.
- Por que você estava chateada ontem?
Mesmo que eu tentasse focar minha atenção no trânsito, pude notar seus olhos se arregalarem em sinal de espanto.
- Tem certeza que quer saber? - questionou, soltando um risinho que demonstrava seu nervosismo.
- Absoluta - respondi, mesmo que, depois daquele questionamento, eu estivesse em dúvida sobre realmente querer saber a respeito do que tinha acontecido.
- Eu estava imaginando mil motivos pra você não querer passar o Ano Novo com a sua família - ela disse e eu, alarmado, virei a cabeça rapidamente para encará-la. - Ou pra você não querer que eu conheça a sua família…
Voltei a atenção para o trânsito, já que estávamos em uma avenina e eu não queria correr o risco de provocar um acidente, tentando digerir aquelas palavras.
- Que história é essa? De onde você tirou que eu não quero que você conheça minha família?
- Eu não sei, - ela falou em meio a um suspiro. - Falei mil vezes pra gente passar o Ano Novo com a sua família e você negou como se fosse o maior absurdo. Eu já penso o pior, sabe?
- Não sei, não - retruquei, a observando de canto de olho. Naquele momento, adentrávamos a rua do condomínio onde eu e mais um monte de jogadores de futebol moravamos. - Qual seria o motivo de eu não querer te apresentar pra minha família?
- Você que tem que me dizer. - o tom rude em sua voz me assustou.
- - comecei, tentando manter a calma e deixá-la calma -, não estou entendendo onde você está querendo chegar.
- Imaginei que você não quisesse que eu criasse laços com sua mãe e suas irmãs porque não pretende que nosso namoro assuma tais proporções - ela finalmente explicou, fazendo uma careta. - Eu sei que não tem nada a ver, mas tem uma parte de mim que sempre vai estar esperando o pior.
Eu mal conseguia acreditar no que estava ouvindo. Um sentimento agoniante que eu não consegui identificar em um primeiro momento percorreu todo o meu corpo e eu acabei por descontar minha frustração apertando o volante com força.
Raiva. Esse era o sentimento.
Para evitar que uma briga se desenrolasse e, no final, eu acabasse magoando e piorando a situação, preferi estacionar o carro na garagem da minha casa em silêncio. Saí do carro, batendo a porta com mais força do que o necessário, e entrei na casa sem esperar por ela.
- - ela me chamou, entrando logo atrás de mim.
- Acho melhor a gente conversar quando você parar de me comparar com os babacas com quem você ficou antes de mim - não consegui controlar o rancor quase palpável expresso em cada palavra que proferi.
Subi os degraus que levavam ao segundo andar na esperança de que pudéssemos ficar cada um em seu canto por algum tempo e acalmássemos os ânimos, mas me seguiu.
- Eu sei que você é diferente deles. É só uma precaução que eu acabei criando dentro de mim depois de tantas decepções.
- Porra, . Eu te amo. - me virei bruscamente para encará-la e encontrei seus olhos marejados. - A coisa que eu menos gostaria de fazer na minha vida é te magoar. Sinceramente, eu não sei mais o que fazer pra que você entenda isso.
Soltei um longo e derrotado suspiro.
- Vai assistir ao jogo do Chelsea, já deve ter começado - falei, dando as costas à ela. - Depois a gente conversa.
Sem esperar por uma resposta, entrei no meu quarto e bati a porta.
Dessa vez, ela não me seguiu.

Pouco mais de uma hora e muita reflexão depois, decidi deixar o quarto e ir me juntar à minha namorada no andar de baixo. Eu já estava mais calmo e até mesmo um tanto arrependido. Depois de pensar e repensar aquela pequena discussão, eu havia chegado à conclusão de que foi exagero falar daquele jeito com , ainda mais sabendo de tudo que ela tinha passado. Mesmo que já estivéssemos juntos há alguns meses, ainda era cedo para aquela barreira que ela tinha construído ter sido completamente destruída. Sim, eu havia conseguido derrubar boa parte dela, já que não apenas havia me dado uma chance de mostrar que nós dois era algo que valia a pena, como também havia se entregado para mim. Entretanto, eu precisava entender que não seria de um dia para o outro que ela deixaria todas as decepções para trás. Uma parte dela - mesmo que minúscula - ainda estava preparada, desnecessariamente, para passar por mais sofrimento. Portanto, eu precisava ser mais paciente.
- Ué, não está vendo o jogo? - questionei, surpreso por encontrá-la sentada no sofá, olhando para o nada, e a televisão desligada.
- Não estou no clima - ela respondeu baixo, denunciando que havia chorado recentemente.
Suspirei e me sentei ao seu lado no sofá, em seguida a puxando até que ela estivesse acomodada entre meus braços. Não sei por que exatamente, mas ela voltou a chorar.
- Não precisa chorar, - falei, acariciando seu couro cabeludo. - Está tudo bem.
- Tenho tanto medo de que a minha insegurança acabe te afastando.
- A não ser que você me diga, olhando no fundo dos meus olhos, que não quer mais nada comigo, eu jamais vou me afastar de você - rebati, sendo bastante sincero. - Desculpa por ter ficado tão nervoso. Eu entendo que você ainda se sinta um pouco insegura, afinal, depois de tudo o que você passou, não é pra menos. Vou continuar tentando te fazer confiar em mim.
- Eu confio, - ela falou, se afastando e secando as lágrimas. - Eu só fiquei confusa, achando que você não queria me apresentar pra sua família.
- Não precisa pensar essas besteiras - eu disse, tentando passar tranquilidade através do meu sorriso. - Sobre isso… talvez eu não queira te apresentar pra minha família mesmo - confessei, fazendo-a me olhar de olhos arregalados. - Mas o problema não é você. O problema é justamente a minha família…
- Como assim? - ela perguntou, piscando os olhos, confusa.
- Tenho medo de te decepcionar. - soltei um longo suspiro, antes de continuar. - A minha família não tem nada a ver com a ideia de família que você está acostumada. Desde que meus pais se divorciaram, todo mundo se afastou. Ninguém faz questão de passar Natal e Ano Novo em casa. Minhas irmãs vão pra festas, minha mãe e meu padrasto sempre inventam alguma viagem… Não tem motivo pra eu ir pra casa nessa época do ano, entende?
- Entendi - respondeu, mordendo o lábio inferior, sem saber o que falar. - Mas também não é bem assim, eu sei que cada família é uma, não esperaria encontrar uma igualzinha a minha.
- É, talvez eu esteja sendo bobo de pensar assim… - falei e passei a mão no rosto, frustrado. - Acho que isso me entristece um pouco, eu queria ter uma família que nem a sua. Nem lembro qual foi a última vez que falei com minha mãe. Deve fazer semanas.
- Você precisa ligar pra ela, conversar… Ficar sentado esperando por contato não vai resolver nada.
Fiquei em silêncio por algum tempo, ponderando aquelas palavras. tinha razão, afinal, a atitude precisava ser tomada por mim também.
- Eu te apresentaria com muito orgulho pra eles.
Um sorriso lindo, assim como ela, surgiu nos lábios de antes de ela me puxar pela nuca e unir nossos lábios em um beijo intenso. Beijá-la era tão tranquilizante que, naquele momento, eu me sentia até mais leve.
- A nossa família vai ser perfeita - falei, sorrindo, e senti meu corpo esquentar quando fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, parecendo aprovar aquela ideia.
Não era a primeira vez que eu falava em formar uma família com ela. Sim, eu sabia que ainda era cedo, mas algo me dizia que eu jamais encontraria outra mulher mais perfeita para ser a mãe dos meus filhos. Ou filhas, já que minha namorada vivia dizendo que eu tinha cara de quem só teria filhas para morrer de ciúmes delas.
- Você precisa se arrumar pra minha surpresa - falei, decidindo dar o assunto como encerrado. - Vamos sair.
- Sair? Mas eu nem trouxe roupa pra isso.
- Já providenciei isso, lindinha - pisquei um olho e estalei meus lábios na bochecha dela. - Sua roupa está no quarto de hóspedes.
abriu um sorriso e, como a típica curiosa que era, se levantou do sofá e correu escada acima.
Aproveitei que ela estaria ocupada demais com o vestido que eu tinha escolhido para ela usar especialmente naquele dia e também subi para o segundo andar da casa, me dirigindo para o meu próprio quarto. Tirei a roupa que eu vestia, a calça e a camisa que faziam parte do uniforme do time, e me enfiei debaixo do chuveiro para tomar um banho rápido. Logo eu estava dentro do meu closet, completamente nu, escolhendo uma roupa digna o bastante para ser usada naquela noite.
- Oi, bunda branca.
Tomei um leve susto ao escutar a voz de sussurrar atrás de mim e suas mãos envolverem minhas nádegas.
- Não sou muito chegado a brincadeiras aí atrás não - eu disse, a fazendo soltar uma gargalhada. - Se quiser, pode ficar à vontade pra acariciar o amiguinho aqui da frente.
Para a minha surpresa, ela deslizou as mãos por mim até que estivesse me abraçando por trás, com o corpo totalmente grudado ao meu, e realmente segurou meu amiguinho.
- E agora? - ela soprou contra a minha nuca.
- E agora você tira as mãos daqui antes que a situação fique irreversível.
Mesmo que relutante, tirei suas mãos de mim e me virei para encará-la.
- negando sexo? Que milagre é esse? - ela questionou, rindo, mas, para falar a verdade, eu mal dei atenção.
Corri meus olhos por todo o corpo de , embasbacado. Ela vestia um vestido azul-marinho justo, de mangas longas, que ia até o meio de suas coxas. Ele realçava ainda mais suas curvas e eu nem acreditava que tinha sido o responsável por tê-lo escolhido.
- Você está muito gostosa, - foi tudo o que eu consegui falar. Ela soltou uma gargalhada contagiante.
- Obrigada, eu acho. Foi você que escolheu? - ela questionou, se admirando no espelho.
- Foi uma ótima escolha, uh? - eu ainda não conseguia tirar os olhos da minha namorada. Ela estava estonteante.
- E você? Não vai se vestir?
- Estava tentando escolher uma roupa boa o bastante, que não me deixe com cara de que “estou indo à padaria”, como você diz - falei, fazendo gesto de aspas com os dedos.
- Acho um pouco difícil encontrar nesse closet algo que não tenha cara de padaria. Você é muito esportista até pra se vestir, amor - ela disse passando a mão pelas minhas camisas. - Mas vejamos o lado positivo. Pelo menos você não é daqueles jogadores de futebol que usam tênis com estampa de oncinha e coisas desse tipo. - deu de ombros, rindo.
- Tenho noção do ridículo - rebati, cruzando os braços.
- Aonde nós vamos?
- Gordon Ramsay - respondi, a observando remexer minhas roupas e analisar peça por peça. Quando ela riu, percebi o que tinha acabado de fazer. - Ei! Era pra ser surpresa!
- É muito fácil arrancar as coisas de você, - ela disse, ainda rindo. - Vamos usar o presente de Natal do , então?
- Isso mesmo - falei, emburrado pela surpresa ter ido por água abaixo. - Um jantar romântico no restaurante do Gordon Ramsay… E não acredito que você me fez estragar a surpresa.
- Ah, meu amor, não fica assim - ela disse, se aproximando e envolvendo meu rosto com as mãos. - A noite vai ser maravilhosa do mesmo jeito.
- Acho que você vai ter que me recompensar por isso - eu disse, sem conseguir conter o sorrisinho esperto que surgiu nos meus lábios.
Sorriso que , prontamente, retribuiu.
- Eu também acho - disse, antes de grudar sua boca à minha para um beijo extremamente envolvente.
Enquanto brincávamos um com a língua do outro, enquanto sentíamos um o gosto do outro, as mãos delicadas de fizeram maravilhas até, finalmente, terminarmos de nos arrumar para termos nosso jantar romântico no Gordon Ramsay (obrigado, !). Quando voltamos para casa, entretanto, a noite estava apenas começando.

POV

- Problemas? - Katherine me perguntou com um sorriso enquanto mexia o conteúdo de uma panela.
- Não, é só minha amiga que não está acostumada a passar o final de ano sem mim. - sorri de volta, terminando de ajeitar a salada que eu havia começado antes da ligação.
- Por que não trouxeram ela com vocês? - acabei dando de ombros, já que nenhum de nós tínhamos cogitado essa possibilidade.
- Acho que era esperado que o namorado dela a levasse para passar com a família dele, então nem pensamos nisso. - lavei e sequei minhas mãos no pano mais próximo. - Vou lá em cima acordar aquele dorminhoco - avisei.
- O já acordou, querida.
- Já? - estranhei pelo fato de não ter tido sinal dele.
- Sim, ele até veio aqui quando você estava no telefone, ele até… - ela fez uma cara estranha, olhando atrás de mim, e me virei, notando o pai dele.
- Ele teve que sair para resolver umas coisas, , mas acho melhor não esperarmos por ele para almoçar, ele pode demorar. - Kath levou a última travessa para a mesa.
- Ah… Tudo bem. - dei um sorriso sem graça. - Só vou colocar meu telefone para carregar e volto. - saí da cozinha para o quarto, mas meu celular estava com a bateria quase completa.
Conferi as mensagens e não havia nenhuma dele, custava ter falado comigo? Me deixar sozinha na casa dele sem dizer nada era cruel. Eu não surtaria como a , não tinha nada a ver comigo, tinha? Não. Provavelmente estava resolvendo algo para o pai dele. Eu só esperava que não demorasse tanto assim. Deixei meu telefone sobre a cama e voltei para a cozinha, encontrando apenas os pais dele por ali.
- Sirva-se, querida. Acho que seremos só nós três. - percebi que ela trocou um olhar com significados com meu sogro.
- Tudo bem. - fingi que não tinha percebido nada e almoçamos juntos.

A casa estava em completo silêncio, exceto pela televisão ligada à minha frente. Kath e David subiram para o quarto logo após o almoço e minhas cunhadas não tinham dado as caras ainda, mas o pior era não ter um sinal de vida do . Depois de encarar o celular pela milésima vez, resolvi pegar um copo de água antes de continuar vendo o programa de auditório na TV, no entanto, não esperava encontrar Delilah ali. Era a primeira vez que nos encontrávamos depois da “discussão” do dia anterior e eu realmente torcia para que ela não abrisse a boca, mas é claro que isso não ia acontecer. Já estava quase saindo com meu copo na mão quando ela me chamou.
- , será que a gente podia conversar? - o tom dela me pegou de surpresa, não era o mesmo tom hostil que até então tinha dirigido a mim. - Por favor. - ela completou quando não fiz menção de me mover.
- Claro. - me forcei a responder e encostei as costas no balcão, me mantendo a uma distância.
- Olha, eu quero te pedir desculpas pelas coisas que falamos ontem. - ela não parecia arrependida, mas também não soou falsa e acreditei. - Você estava certa, nenhuma de nós deveria ter te julgado, é só que a gente viu como o ficou quando tudo aconteceu e é meio que inevitável não pensar que pode acontecer de novo.
- Tudo bem - foi a única coisa que consegui dizer, ela riu fraco e continuou.
- Talvez Chloe não te peça desculpas, ela é muito orgulhosa e tem muito ciúme do , sempre teve. Sei que não justifica, mas tente não odiar ela por isso, ela só precisa de um tempo para acostumar e realmente conhecer você.
- Sem problemas, eu também não fui muito educada. - dei um pequeno sorriso.
- Estamos bem, então? - concordei com um aceno. - Sabe, é até meio irônico. - já tinha dado as costas à ela, mas voltei.
- O quê? - curiosidade grande demais.
- Depois que tudo aconteceu, se afastou, afastou todos dele, investiu todo o tempo e dedicação naquele estúdio e no começo parecia uma reação normal, até que ele começou a afastar a gente também, foi quando minha mãe se preocupou. Ela falou com ele um dia e ele admitiu que tinha perdido a vontade de se relacionar com quem quer que fosse. Aos poucos ele voltou a cantar com os amigos e, quando ele contou para mamãe que tinha uma nova garota na vida dele, achamos que ela ia explodir de tanta felicidade. No fundo todos estamos felizes por ele ter saído do estado em que estava, mas, ao mesmo tempo, queríamos que ele estivesse sozinho para que não sofresse. Dá pra entender? - ela fez uma careta engraçada e apenas concordei.
- Acho que entendi, e, bem, se minha palavra servir de alguma coisa, só desejo à ele que seja feliz.
- E onde ele está?
- Excelente pergunta. - minha vez de fazer uma careta.
- Já tomei o seu tempo, mas só queria me desculpar mesmo.
- Desculpas aceitas, Delilah. - lavei meu copo e voltei para a sala, me surpreendendo por finalmente ter uma mensagem de . Ele não havia dito muito, apenas que eu devia me arrumar e esperá-lo em trinta minutos em frente a casa, e foi o que eu fiz.
Exatamente meia hora depois eu estava do lado de fora, tinha escolhido um vestido simples e solto, azul marinho com flores brancas, uma sapatilha preta, quase nada de maquiagem e os cabelos soltos. Me assustei com o som da buzina e vi uma caminhonete mais a frente, onde tinha arrumado aquele carro?
- Está muito brava? - ele perguntou assim que desceu e me ajudou a entrar.
- Só um pouco, você sumiu o dia todo. - ele me deu um beijo rápido e voltou para o lugar do motorista.
- Estava resolvendo algumas coisas. - ele sorriu, mostrando que estava escondendo algo de mim.
- Essa parte seus pais me contaram. - ele vestia uma calça jeans escura, uma camiseta branca e uma camisa xadrez em tons de azul e verde por cima. - Vai me contar sobre essa mudança de visual e de carro? Ou para onde estamos indo?
- Não. - o sorriso dele se alargou e foi impossível não sorrir junto.
- Vai me deixar tirar minhas próprias conclusões? - tentei soar desafiadora, mas provavelmente não funcionou.
- Na verdade elas devem estar correta, mas não vou dizer nada. - mostrei a língua como uma criança birrenta. - A propósito, você está linda. E sabe o que dizem de quem mostra língua assim…
- Obrigada, apesar do visual diferente você está bem galã também. - sorri. - E não me venha com aquela teoria idiota do de “quem põe língua, pede beijo”, por favor. - gargalhamos. Só minha amiga para se entender com alguém como ele.
- Se eu não falar nessa teoria, ainda ganho um beijo?
- Vou pensar no seu caso. - sorri. - Falando em , a me ligou hoje - comentei e se mexeu como se estivesse desconfortável. - Eu estava pensando, o que acha de voltarmos à Londres e passarmos a virada com nossos amigos?
- Eu sabia! - ele exclamou, frustrado. - Eu sabia! Por favor, , já estamos chegando, eu vou te fazer mudar de ideia. - sua expressão era triste e eu não estava entendendo nada.
- , o que está acontecendo? - ele não disse nada, nem me olhou. Estacionou e desceu da caminhonete passando as mãos pelos cabelos, os deixando bagunçados. Desci em seguida e fiquei maravilhada com a vista.
Eu diria que aquilo era parte de uma fazenda, o que combinava com o carro e as roupas dele. A grama se estendia por toda a parte, verdinha, árvores contornavam o lugar e mais à frente havia um lago bem azul, parecia cena de filme. Ao canto, pude ver uma mesa de madeira, coberta com um forro também xadrez e com uma lamparina em cima, em volta haviam dois compridos bancos também de madeira. E, completando tudo isso, o céu estava muito azul, com poucas nuvens e o sol perto de se por.
- , foi por isso que você sumiu o dia todo? - eu devia ter imaginado que ele faria algo assim e meu sorriso não cabia no rosto. Será que algum dia eu ia acostumar com o namorado que eu tinha?
- Foi. - seu tom ainda era derrotado. - Mas pelo visto não adiantou de nada. - eu continuava sem entender, então segurei o rosto dele entre minhas mãos de forma que ele olhasse para mim.
- , você não está fazendo o menor sentido. - sorri. - Quer, por favor, me explicar porque você está assim? - ele fechou os olhos. - Esse lugar é lindo, o que é que não adiantou? Por que você falou daquele jeito no carro? Eu vou mudar de ideia sobre o quê? - ele voltou a abrir os olhos e eu encarei os mesmos.
- Sobre terminar comigo - ele finalmente admitiu e eu não tive outra reação a não ser gargalhar.
- Terminar com você? - balancei a cabeça, ainda rindo. - De onde você tirou isso? - vi o esboço de um sorriso no rosto dele e não resisti a beijá-lo. Era um beijo calmo e apaixonado, as quase 18 horas longe dele já tinham me deixado com saudade, dele e dos lábios macios que eu tanto gostava. As mãos dele automaticamente foram para a minha cintura e arranhei de leve sua nuca, partindo o beijo em seguida. - Satisfeito? Não vou terminar com você, agora me conta de onde você tirou essa história, porque me recuso a acreditar que você ficou o dia todo agoniado sem motivo. - ele parecia uma criança envergonhada.
- Eu ouvi você falando com a mais cedo sobre as minhas irmãs, que não sabia se amor era o suficiente e, agora, disse que quer voltar pra Londres.
- Hum, então o senhor anda escutando conversas alheias… Não é à toa que dizem que não se deve escutar, não é mesmo?
- Meu pai disse a mesma coisa.
- Pois devia tê-lo escutado. Você entendeu tudo errado e agora estou chateada porque você só me trouxe aqui para me convencer a não terminar com você. - fingi uma cara emburrada e ele voltou a coçar a cabeça.
- Bom, é a verdade. - ele deu de ombros. - Eu meio que surtei e conversei com meu pai, e ele me lembrou desse lugar.
- É lindo. Podemos entrar? - estávamos ainda do lado de fora da cerca.
- Claro. - ele abriu a parte traseira da caminhonete e tirou sacos de comida para viagem. - Nosso jantar - ele anunciou e o ajudei a levar até a mesa. Sentei de um lado e ele do outro, ficando na minha frente. - .
- Diga. - parei de abrir os sacos.
- Se eu entendi errado, o que você quis dizer com “Amor… Não sei se é o suficiente.” - ele fez uma voz diferente.
- Ai, meu anjo, esquece isso. Eu nem lembro, me ligou porque estava toda paranoica com o e você está igualzinho a ela. - ele continuou me olhando e falei a verdade. - A se espantou por eu ter me defendido, já que eu sempre fico calada, e disse que foi o “amor” que me fez reagir, e eu não concordei, porque não foi só porque eu te amo, foram muitos sentimentos ao mesmo tempo.
- E por que quer voltar para Londres então?
- Porque nossos amigos vão todos passar a virada na casa do , pensei que seria legal se nós estivéssemos com eles. Poderíamos ficar aqui até o dia, e você só avisa pro que vamos e fazemos uma surpresa pra todos eles - concluí minha ideia, esperando que ele topasse.
- Hum, acho que agora estou convencido.
- Você é muito bobo, . - ele se levantou e colou os lábios nos meus por cima da mesa. - Sabe, se tivesse conversado comigo ao invés de tirar conclusões precipitadas…
- Pelo menos vamos curtir uma coisa diferente nessa cidade. - concordei.
Depois de comermos os sanduíches com batatas e refrigerante, caminhamos pelo lugar, nos sentamos perto do lago, mas a água estava muito fria e, quando a noite chegou, nos sentamos apoiados em uma árvore. Na verdade, estava apoiado na árvore, eu estava sentada entre as suas pernas, com as costas apoiadas em seu peito, e foi quando ele apareceu com uma caixa de bombons diferentes e deliciosos.
Conversamos e rimos bastante. O clima entre nós estava ótimo novamente e passamos o resto da noite dividindo bombons e beijos, até voltarmos para a casa.



6. You make me wanna be in love.


POV

- , para de beijar a e vem logo me ajudar com as cervejas - falei pela quinta vez em menos de dois minutos, já com minha paciência quase esgotada.
- Vai lá, amor. Vou ver se a e o precisam de ajuda na cozinha - escutei a voz da dizer antes de eu passar pela porta de entrada e seguir até meu carro, que estava estacionado na garagem com o porta-malas aberto.
Peguei um dos engradados de madeira lotados de cerveja e voltei para dentro da casa, cruzando com pelo caminho.
- Depois sou eu que não consigo largar minha namorada nem por um minuto, uh? - impliquei e recebi como resposta um dedo médio.
Após deixar o engradado na cozinha, me virei para fazer o trajeto de volta até o carro para buscar o restante das cervejas e, mais uma vez, cruzei com meu amigo.
- Não sei pra que tanta cerveja - ele reclamou.
- Até parece que você não sabe como o fica descontrolado quando vê cervejas irlandesas. - dei um tapa em sua nuca, dando espaço para que ele passasse pela porta.
- , você pode vir aqui um minutinho? - me chamou do segundo andar.
- Já vou, - gritei para que ela me escutasse. - Termina de pegar as cervejas, .
- Você está brincando, né? - ele falou com indignação.
- Cala a boca. Desde que chegou, tudo o que você fez foi beijar a .
O deixei resmungando e subi as escadas de dois em dois degraus.
- O que... - comecei, mas, por meio segundo, as palavras se perderam antes de finalmente serem proferidas. - O que houve, ?
- Me ajuda a fechar esse vestido? Aparentemente só sendo contorcionista para conseguir essa proeza - ela falou e, em seguida, bufou, virando-se de costas.
Mesmo que ainda não estivesse pronta, sem maquiagem e com os fios de cabelo molhados e bagunçados, ela estava linda. Eu não conseguia evitar parecer um babaca.
- O primeiro item da minha lista de metas para 2016 é te levar para fazer uns exercícios físicos. Acho que você está precisando, amor - brinquei, rindo, enquanto puxava o zíper sem fazer qualquer esforço.
- Está me chamando de gorda, ? - ela questionou, se virando para me encarar e semicerrando os olhos.
- Claro que não, - soltei sem nem pensar duas vezes, tentando me corrigir. - Pra mim, você está ótima. Só quis dizer que podemos trabalhar seu alongamento. Mas só se você quiser, é claro. Quem sou eu para dizer o que você deve ou não fazer? - disparei a falar.
- Calma, criatura. Já entendi - ela disse, rindo, e seguiu para o banheiro, onde pegou um pente para começar a ajeitar o cabelo. - Era só isso mesmo. Você já pode ir.
- Estou sendo expulso do meu próprio quarto? É isso mesmo? - questionei, abrindo a boca, indignado.
- Só acho que seria legal manter a expectativa pelo meu visual completo - ela explicou, espalhando um pouco de creme de pentear nas mãos.
- Já eu, acho que seria legal mandar todo mundo embora e passarmos a virada do ano só você e eu… - falei em um tom sugestivo, brincando. Apesar de realmente estar com aquela ideia na cabeça naquele momento, eu não teria coragem de expulsar meus amigos da minha casa naquela altura do dia 31 de dezembro, depois de estar tudo pronto para a nossa festinha particular de Ano Novo.
- Não seria uma má ideia. - ela piscou um olho. - Mas está fora de cogitação, então vá ser um bom anfitrião e fazer companhia para os nossos amigos, enquanto termino de me arrumar.
- Estou indo - falei, dando-me por vencido, e a deixei sozinha no quarto.
Quando estava descendo as escadas, escutei a campainha tocar e, já sabendo quem era, me apressei para abrir a porta.
- Finalmente! - falei ao me deparar com e .
- O trânsito para Londres estava péssimo - meu amigo disse e se aproximou para me cumprimentar com um abraço.
- Oi, seu chato. - me cumprimentou com dois beijos nas bochechas. - Cadê o pessoal?
- e na cozinha, e se pegando no meu sofá, e a lá em cima terminando de se arrumar - falei, dando espaço para que eles adentrassem a casa.
- Vou falar com a , então - falou, ansiosa, e subiu as escadas.
- A sabe que nós viemos? - questionou, enquanto adentrávamos a sala de estar e nos deparávamos com o casal se beijando.
Do segundo andar, veio um grito de surpresa seguido pelo som de algo caindo no chão.
- Acho que isso responde a sua pergunta - falei, rindo, e me acompanhou na risada. - , você botou as cervejas na geladeira?
- Era pra botar na geladeira? - ele questionou, confuso, após se desgrudar da .
- Não, imagina. Vamos todos beber cerveja quente - eu disse ironicamente, já seguindo para a cozinha. - Será que eu tenho que fazer tudo nessa casa?
- ? Não era pra você estar em Wolverhamptom? - questionou, ainda mais confuso.
- Mudamos de ideia e vamos passar o Ano Novo com vocês - pude escutar responder antes de adentrar a cozinha e me deparar com uma com cara de poucos amigos.
- Você faz tudo, é? Que eu saiba, não foi você quem fez a comida, queridinho - ela disse em um tom ofendido.
- Nem você, né? - rebati. - fez a maior parte. Que eu saiba, você mal sabe ferver água - alfinetei, prendendo o riso.
- Vai cagar, .

- Quanto tempo ainda temos em 2015? - perguntou, deitando a cabeça no ombro de .
- Exatamente - comecei, após pegar o celular - uma hora e cinquenta e seis minutos.
Deixei o celular de lado e puxei até que ela se deitasse no meu peito.
- 2015 vai acabar nesse tédio mesmo? - questionou, enquanto acariciava o couro cabeludo de .
Havíamos jantado há poucos minutos e a comida de - não da , vale dizer - estava uma maravilha. Após terminarmos de comer, fomos para a sala de estar da minha casa e nos espalhamos pelos sofás para beber cerveja e conversar, enquanto Maroon 5 tocava ao fundo. O problema é que logo o assunto foi se esgotando e ficamos entendiados. Ou talvez só ainda estivéssemos sóbrios demais.
- Verdade ou consequência! - exclamou e se levantou do colo da namorada, fazendo se assustar com a movimentação repentina. - Vamos jogar verdade ou consequência, galera. É sempre divertido.
- Gostei da ideia - se pronunciou após tomar um longo gole de sua cerveja irlandesa favorita até acabar com o conteúdo da garrafa. Ele a levantou e disse: - Podemos rodar essa garrafa.
- Ah, nem precisa - disse . - A gente pode perguntar aleatoriamente.
- Sim, vai ser mais legal se jogarmos sem regras - concordei.
Notei que as garotas se entreolharam.
- Quantos anos vocês têm? 12? - minha namorada perguntou, incrédula, e eu a cutuquei na barriga.
- Dá uma ideia melhor então, senhorita maturidade - a desafiei. rolou os olhos e ficou quieta. - Alguém tem uma ideia melhor?
Todos ficaram em silêncio e, por fim, deram de ombros.
- Ótimo - disse e esfregou as mãos com um sorriso malicioso no rosto. - Verdade ou consequência, ?
- Por que tenho que ser a primeira? - ela perguntou, emburrada.
- Não seja sem graça, amor - eu disse em meio a risos. - Começa com verdade.
- Tudo bem, tudo bem... Verdade - ela falou e respirou fundo, encarando a expressão pensativa de .
- É verdade que… - ele começou em um tom misterioso. - É verdade que o tem pinto pequeno?
Todos os presentes caíram na gargalhada. Menos eu, é claro, que abri a boca em sinal de ofensa.
- Ei, que pergunta ridícula! - demonstrei toda minha indignação.
- Bom, depende do ponto de vista… - disse, prendendo o riso.
- Que ponto de vista, ? - a cortei, indignado.
- Calma, . Não vou ferir seu orgulho de macho alfa - ela falou, fazendo careta. - Não é verdade, - disse, por fim, sorrindo sem mostrar os dentes. - Digamos que seja... do tamanho ideal.
Não pude deixar de rir ao ver piscar e soltar uma risadinha maliciosa. É claro que era do tamanho ideal… Se ela não soubesse, eu faria questão de mostrá-la como era do tamanho ideal.
- Já que é pra ser escroto... - falei, fuzilando com o olhar. - Verdade ou consequência, ?
- O que é o idiota e no final sempre sobra pra mim - ele disse, bufando. - Verdade.
- Já usou as camisinhas fluorescentes? - perguntei, me controlando para não começar a rir. e caíram na gargalhada.
- Como assim camisinhas fluorescentes? - questionou, confusa.
- Elas brilham no escuro. Eu dei um pacote de presente pra eles no Natal - expliquei, rindo e apontando para e .
- Não acredito que você realmente deu aquilo pra eles - falou ainda aos risos. Ele e estavam comigo quando achamos o bendito pacote de camisinhas fluorescentes. Claro que os dois me incentivaram a comprar e zoar com a cara do .
- Gente, para. A vai explodir! - exclamou, fazendo todo mundo virar a cabeça para encontrar uma quase roxa de tanta vergonha.
- Vocês são ridículos - ela disse antes de esconder o rosto no pescoço de .
- Me desculpa pelos meus amigos babacas, anjo - ele disse, a abraçando de lado, e recebeu como resposta três dedos médios.
- Para de enrolar e responde logo, - falei.
- Não usei as camisinhas fluorescentes ou qualquer outra camisinha - ele respondeu, dando de ombros.
- Então quer dizer que vocês estão brincando com o perigo, é? - perguntei, intrigado, pois não achava que e eram o tipo de casal que gostava de se arriscar desse jeito.
- Não é como se a gente corresse qualquer risco… - respondeu.
Enquanto se afundou no sofá, com suas bochechas corando novamente, todos ficaram em silêncio, digerindo aquela resposta.
- Você está querendo dizer que vocês não…? - deixei o final do questionamento claro mesmo sem pronunciar as palavras.
- Não tinha como rolar nada na casa dos nossos pais - ele explicou e eu soltei uma gargalhada quando deu uma cotovelada na minha barriga.
- , eu vi essa cotovelada! - apontou para a gente, rindo.
- Que safados! - falou, rindo. - Enquanto uns respeitam o ambiente familiar, outros estão nem aí - ela finalizou, fazendo todos rirem e mostrar a língua.
- Mas nem uma rapidinha? - questionou, incrédulo, encarando .
- A vida sexual deles não nos interessa - saiu em defesa da melhor amiga. - Estamos entre amigos, mas tudo tem limite. Quem é o próximo?
- Eu! - exclamou, chamando todas as atenções para si. - Vou me vingar por você, . - ela piscou um olho, nos mostrando um sorriso esperto. - , quantas vezes você se quebrou de propósito só pra ir ao hospital e ser atendido pela , já que não tinha bolas o suficiente pra pedir o número dela ou chamá-la pra sair?
A sala de estar foi preenchida por vários “ais” e “uhs”, e “podia ter acabado 2015 sem essa”. Foi a vez das garotas gargalharem, incluindo a própria , enquanto balançava a cabeça em negação, prendendo o riso.
- Pelo menos, quando criei coragem recebi um sim logo de cara. Diferente do , que levou um milhão de foras até a aceitar ficar com ele. - me olhou com um sorriso debochado e todo mundo caiu na gargalhada. Menos eu, é claro, que soltei uma risada forçada e irônica e taquei uma almofada na cara dele. - E aposto que só aceitou por pena. Você é muito chato, .
- Não seja malvado, ! Não fiquei com ele por pena nada - minha namorada se pronunciou e rolou os olhos para o meu amigo. - Ele é um chato, eu concordo - ela disse e eu a encarei, ofendido, a fazendo rir. - Mas eu amo esse chato.
Ela envolveu minhas bochechas com as mãos e encheu meu rosto de beijos, enquanto eu fingia uma careta. Segurei seu rosto e forcei sua boca a ir de encontro à minha, dando início a um beijo intenso e apaixonado. Infelizmente, não pudemos aproveitar o beijo por muito tempo, já que fomos bombardeados por repreensões e almofadas.
- Já que não posso nem beijar meu namorado, vamos jogar então - falou, se recompondo. - , do que você mais gosta no ?
- Que bosta de pergunta é essa? - questionou, indignado.
- Ah, não, . Você não sabe brincar - falou, apoiando o amigo.
Apesar de também achar a pergunta um tanto boba, mesmo sabendo que ela apenas não queria se comprometer, não pude evitar a piadinha que logo me veio à cabeça:
- Do pau dele é que não é.
Mais uma vez, a sala explodiu em gargalhadas. Até mesmo , que me mostrava o dedo médio, acabou rindo.
Gozações, risos, meus amigos e a mulher que eu amava ao meu lado. 2015 não poderia estar acabando de forma melhor.

POV

Era verdade que a ideia de para nos distrair naquela noite do dia 31 não era nada madura, mas até que estava sendo bem divertido apesar de bem idiota também. Não entendia o motivo de ficar tão envergonhada, já que, perto daqueles pervertidos, nós devíamos ser os mais normais, porém ela insistia em ficar vermelha e não nego que achava isso adorável, embora ainda prefira quando sou eu quem a deixa sem graça.
- Amor, você é péssima em vingança. - balançou a cabeça em direção à namorada. - Aprende com o mestre. - algumas risadas debochadas escaparam tanto da boca de como da minha e do .
- Vai lá. - ela lançou um olhar desafiador. Tudo entre os dois tendia a uma competição, era um milagre ainda estarem juntos.
- , qual ou quais os lugares mais exóticos que você já fez sexo? - tentou ficar sério por alguns segundos, mas acabou rindo e fazendo todos rirem junto.
- Precisando de inspiração, ? - não perdi a oportunidade e outra onda de risos foi ouvida.
- Não é da sua conta, . - voltou a olhar para . - Anda , responde.
- Com a ou em toda a minha vida? - arregalou os olhos em direção a ele. - Ah baby, você sabe que eu tinha uma vida antes de você - ele se defendeu, mas não pareceu amenizar a forma como a namorada o encarava.
- E você não faz ideia da vida - se intrometeu, ganhando outra cotovelada de .
- Não se mete, - ela falou baixo, mas ainda deu para ouvir.
- Já que você deu a ideia, com a e em toda a sua vida. - deu de ombros e soltou o ar, em sinal de derrota.
- Com a minha namorada - ele passou o braço pelos ombros dela -, o lugar mais exótico foi… O quarto! - ele disse com a maior empolgação possível. - gosta das coisas tradicionais.
- Outro casalzinho sem graça… - balançou a cabeça em negação.
- Então vocês são super aventureiros, huh? - devolveu a pergunta para .
- Não foge da pergunta, . - foi quem voltou a atenção para o namorado e alguns “uhs” foram ouvidos.
- Acho que alguém se arrependeu de ter sugerido esse jogo. - sorriu para ele.
- Nunca fujo de um desafio, . - ela fez uma careta pra ele. - E o lugar mais bizarro que fiz sexo foi no trem fantasma num parque de diversões.
- Eu não acredito! - levou as duas mãos à boca.
- Nem pense nisso, ! - o advertiu e troquei um olhar divertido com .
- Foi antes de eu ter um pouco de juízo… - tentou se defender, mas pareceu se lembrar do que havia comentado antes e mudou o foco do jogo. - Mas então, e são aventureiros…
- Com certeza mais que vocês - ele disse com um tom de obviedade. - A topa tudo.
- Ei! - deu um grito.
- Como assim tudo? - gritou quase ao mesmo tempo e todos os olhares se voltaram a ela, que tinha os olhos arregalados para a melhor amiga. Provavelmente era aquele lance de que melhores amigas sabem tudo uma sobre a outra e ela não tinha ouvido essa história.
- Não precisam desse escândalo todo. - rolou os olhos. - Quis dizer que até hoje a nunca recusou nada quando se trata de sexo. E não posso fazer nada se o não é criativo. - rolei os olhos.
- Acho que já está bem claro que não é um problema pra mim - voltou a falar. - Ainda não acredito que você conseguiu fazer ela topar sexo na piscina. Ela fez coisa pior, mas fugia disso.
- Você nunca fez sexo na piscina? - virou a namorada em sua direção, totalmente incrédulo.
- Ops. - fez uma careta que deduzi ser uma mistura de culpa com pedido de desculpas.
- Vamos resolver isso agora. - se levantou puxando pela mão.
- Ficou louco? - ela gargalhou. - Não vou fazer isso agora. - ela voltou a se sentar e puxou ele para se sentar também.
- Acho que a não topa tudo, afinal - provocou.
- Já passamos para os desafios, então. - bateu palmas animadas. - Desafio o casal aventureiro a fazer sexo na piscina. - ela e fizeram um high five.
- Com plateia ou sem? - levantou a sobrancelha.
- Sossega, ! - tentou ser séria, mas acho que pela hora e pelas garrafas de cerveja consumidas, ninguém estava tão sóbrio assim.
- Nunca fujo de um desafio, você já devia ter aprendido.
- Não vamos fugir, mas quero participar da escolha dos desafios deles. - e quando ela terminou de dizer isso deu um sorriso nada agradável.
- Quero desafiar o . - o mesmo devolveu um olhar divertido.
- Manda. - nós já começamos a rir porque não ia sair nada que prestasse, e as meninas se entreolharam tentando achar a graça.
- Já vi que não vou gostar nada disso - soltou, coçando o pescoço.
- Te desafio a ler a última mensagem enviada do seu celular em voz alta. - todos os olhares passaram de para , que tirou o celular do bolso como despreocupadamente.
- Não! - escondeu o rosto nas mãos.
- O que foi? - olhou para a namorada e pareceu entender o desespero dela, mas, como era típico dele, começou a gargalhar.
- , a mensagem - incentivou.
- Vocês não valem nada, viu - comentou e percebi um tom de apreensão em sua voz. Passei meu braço novamente pelos ombros dela, a trazendo para mais perto e depositei um beijo no topo de sua cabeça.
- Não me mate, . - ele deu um rápido beijo na namorada. - Hey Sexy Legs, comprou aquela fantasia que você prometeu? Ps: Não sentiu falta de nada? Esqueceu sua calcinha ontem aqui… Mal posso esperar para repetirmos a dose - ele finalizou e estava espantada, assim como as outras meninas, com exceção de , que tentava disfarçar que estava sem graça. Mas agiu rápido a puxando para um beijo apaixonado.
- Parece que não são tão tradicionais assim, afinal. - sorriu para eles. - Desafio vocês a repetirem a dose, seja lá do que fizeram.
- Na minha casa? - ficou sério.
- Essa casa já viu coisa pior, amor. Nem tente negar. - ele soltou o ar e não gostei nada quando o olhar dele veio para minha direção.
- , te desafio a esvaziar os bolsos e nos dar explicações sobre qualquer coisa que encontrarmos. - para minha surpresa e de todos, na verdade, foi quem surgeriu com o desafio. - Não achou mesmo que eu ia deixar você por conta de todos os desafios, né ? - ela piscou com um ar de vitória em cima dele.
- Tudo bem. - dei de ombros e me levantei do sofá, tirando as minhas chaves, de casa e do carro, minha carteira em seguida, colocando nas mãos dela.
- Chaves não são interessantes, cadê seu celular? - minha vez de sorrir vitorioso.
- Na bolsa da . - ela colocou a língua pra fora.
- Sempre sem graça você, . - ela me entregou as chaves e voltei a me sentar. - Mas deve ter algo interessante ou comprometedor por aqui. - ela abriu a carteira e começou a olhar.
- Você deveria ter pensado melhor, . Se não tiver nada aí a gente gastou um desafio em vão - reclamou, cruzando os braços.
- Odeio quando você me subestima, baby. - ela mandou um beijinho no ar para ele. - Toda carteira sempre tem alguma coisa interessante. - ela tirou um pacote de camisinha.
- Espera aí - disse sério. - Eu conheço esse pacote. Acho que alguém gostou sim das camisinhas fluorescentes no final das contas - ele concluiu e e voltaram a rir.
- Na verdade, vai achar mais delas aí. - me lançou um olhar de incredulidade, mas riu também. - Em minha defesa, num momento de necessidade melhor ter uma dessas do que não ter nenhuma.
- Muito bom, . Não planejo ser tia ainda. - pareceu aquelas mães orgulhosas. - Agora me dá isso aqui que estou curiosa. - ela tomou o pacotinho das mãos de , arrancando gargalhada da maioria de nós.
- Pode ficar com esse, . Deve ter uma pra cada uma de vocês aí. - dei de ombros.
- , você não queria inovar, tá aí. - me surpreendeu por não ter ficado sem graça e, quando estava prestes a beijá-la, voltou a falar.
- Uou! Isso aqui vai ser interessante. - rolei os olhos pela interrupção. - Quem diria que o Sr. teria um cartão fidelidade de um Sex Shop na carteira. - segurou o cartão na frente de todos e me olhou pedindo explicações, mas eu ignorei, não podia comprometer ainda mais a surpresa que eu havia planejado.
- Mais interessante vai ser você descobrir quem é o real dono desse cartão. - ela virou o mesmo para ler a identificação.
- - ela leu.
- Porque eu não estou surpresa? - encarou o namorado.
- De onde você acha que vem tudo aquilo… - ela colocou as mãos na boca dele.
- Você fica bem mais bonitinho de boca fechada. - ela sorriu sem mostrar os dentes, mas começou a gargalhar e nos entreolhamos sem entender.
- Gente. - ela respirou fundo, controlando o riso. - Imagina esses três juntos na loja escolhendo essas camisinhas coloridas. - ela voltou a gargalhar e começamos a rir também.
- A vendedora deve ter olhado e pensado “vai rolar uma suruba louca hoje” - disse e só então notou o que havia dito, levou as duas mãos à boca, mas era tarde demais e já estávamos até sem fôlego de tanto rir.
- Vamos deixar bem claro que eu não faço parte dessas coisas. - eu me pronunciei, pegando minha carteira de volta e devolvendo o cartão ao dono.
- Mas não vai passar batido que o cartão estava com você - voltou a falar. - Por que estava com ele?
- Isso não posso dizer - respondi, tentando soar misterioso, e me encarou com a sobrancelha erguida. - Só digo que estava com ele pra proporcionar uma coisa que deve ser feita entre quatro paredes e com a pessoa certa. - pisquei para que não gostou muito da resposta.
- Então seu desafio é esse - concluiu. - Vai levar a para o quarto e mostrar pra ela.
- Minha casa não é motel não, - que até então só observava, reclamou.
- Adoraria ir agora, , mas tem um casal sem desafio ainda. - apontei para e . - Anjo, alguma ideia? - se aproximou do ouvido para contar a ideia dela e, é claro, que fomos zoados por isso, pra variar.
- , não precisa sussurrar sacanagens para o seu namorado agora não - provocou e mostrou o dedo médio já sentada no lugar.
- A quer te ajudar, - comecei e ele riu debochado.
- Já que você queria inovar com a , seu desafio é postar uma foto só de cueca no Instagram.
- Poxa, , isso é ridículo.
- Cala a boca, . Eu ainda não terminei. - ela jogou uma almofada na cara dele. - Você tem que postar a foto, mas, quando tirar a roupa, tem que ser fazendo um strip-tease para a - ela finalizou e bateu palmas exageradamente.
- Melhor desafio do século, . - ela mandou um beijo no ar para a amiga. - Pode começar, , estou esperando.
- Na frente de todos? - ele arregalou os olhos e voltou ao normal. - Ok, sempre soube que eles invejavam meu corpo. - ele deu de ombros e se levantou, começando a tirar os sapatos.
- Meu Deus, ! Você nunca fez um strip-tease na vida? - o olhou indignada. - Coitada da . - riu fraco ao meu lado e encostou a cabeça em meu ombro.
- Claramente que não - se pronunciou. - Olha a cara de perdido que ele está.
- E você já fez? - encarou o amigo.
- Claro. - ele trocou um olhar com que não passou despercebido. - Como você quer receber as coisas se não fizer também? - foi a vez de bater palmas.
- Ai que orgulho do meu namorado. - se beijaram em seguida.
- Está faltando a música, - explicou como se o amigo fosse um caso perdido.
- Ah, por que não falaram antes? - ele pegou o celular e logo ouvimos o início de Sexy and I know it, o que só serviu para ele ser mais zoado.
- Com licença, . - se levantou e pegou o celular da mão dele e, assim que a música começou, as meninas deram gritinhos empolgados. Era The Hills, do The Weeknd.
- Sou obrigado a discordar, anjo. - me levantei e peguei o celular da mão dela e senti todos os olhares em mim. - Aprendam, essa sim é uma música ideal. - apertei o play e Pony, do Ginuwine, da trilha sonora do filme Magic Mike, começou a tocar.
- É, não queria falar nada não, mas depois dessa acho que sabemos quem sabe bem do strip, huh? - comentou e foi o suficiente para rebater.
- Vou te mostrar quem é que sabe bem do strip. Aliás, te lembrar.
- Cala a boca, - reclamou. - vai começar o meu show. - ela voltou a música para o início e realmente começou a fazer o que deveria ser um strip-tease na cabeça dele. queria rir, mas o impediu.
- Baby, acho que tenho algumas fotos com aquela fantasia, acho melhor vê-las do que ver isso - ela falou baixo e ele a seguiu para outra sala da casa.
- E nós temos um sexo na piscina para fazer. - levantou todo animado e deixou a sala com ao seu lado.
- Não esqueçam da camisinha fluorescente! - joguei um pacote para eles e pegou no ar, rindo.
- Ai , você está atrapalhando - reclamou, pausando a música.
- Aham, queria mesmo um strip com LMFAO? - zoei e peguei a mão de , fazendo com que ela se levantasse.
- Aproveitem. - mandou um beijinho para eles e subimos as escadas em seguida. - , o que você está fazendo? - ela perguntou assim que nos tranquei no quarto de hóspedes.
- Cumprindo meu desafio, ou já esqueceu que só pode ser feito entre quatro paredes? - questionei a mantendo entre meu corpo e a porta.
- Até parece que eu ia esquecer - ela sussurrou contra meus lábios e foi o suficiente para começarmos um beijo.

POV

Ao adentramos a área da piscina, toda fechada por paredes de vidro, os sensores captaram nossa presença e as luzes se acenderam automaticamente. Desentrelacei meus dedos dos de e caminhei até um dos sofás redondos dispostos estrategicamente próximos à beira da piscina para decorar o ambiente. Me sentei sem me importar com o vestido, que subiu ligeiramente, deixando minhas coxas expostas. Não era como se o que tinha ali fosse novidade para meu namorado.
se juntou a mim, cobrindo meu corpo com o seu, e, em seguida distribuiu beijos tão sutis por meu pescoço que eu estava quase sentindo cócegas.
- Não acredito que você nunca fez sexo na piscina - ele disse em meio aos beijos.
- E nem será hoje que vou fazer - alertei, subindo minhas mãos por suas costas em um carinho.
Subitamente, levantou a cabeça até que estivesse encarando meus olhos.
- Mas desafiaram a gente - ele disse e eu dei de ombros.
- Ninguém vai botar uma arma nas nossas cabeças e obrigar a gente a fazer isso.
- Ah, não, . - uma expressão de desolamento tomou conta de seu rosto. - Não acredito que você vai jogar esse balde de água fria em mim agora que fiquei com vontade.
- Você é forte, meu amor. Você supera - falei, rindo, e depositei um selinho em seus lábios.
Ele se jogou para o lado, também deitando-se no sofá.
- Qual é o problema? A água está aquecida - tentou argumentar.
- Não vou conseguir aproveitar com a casa cheia - tentei explicar, passando um braço por seu abdômen para abraçá-lo de lado.
- Eles estão ocupados demais fazendo minha casa de motel - ele disse e fez uma careta, me fazendo rir. - Ninguém vai entrar aqui.
- A gente tenta amanhã - dei minha palavra final.
- Se você der pra trás amanhã… - ele começou, mas, prontamente, me levantei, me apoiando em meu cotovelo, e o interrompi com um beijo. Foi um beijo rápido, já que minha intenção era apenas fazer ele calar a boca.
- Não vou dar pra trás, vou dar pra você - falei e não contive a gargalhada que escapou por meus lábios, o que fez rir também, apesar de emburrado.
- Mas, , é rapidinho…
- ! - exclamei, o interrompendo novamente. Como sempre foi, desde que nos conhecemos, ele tentava me driblar até que eu cedesse às suas vontades. Mas, daquela vez, ele teria que se conformar. - Eu também estou louca pra transar com você na piscina, mas não vai rolar com nossos amigos aqui. Em vez de ficar aqui discutindo, poderíamos estar nos beijando.
Aproximei meu rosto do dele, mas ele virou para o lado contrário ao que eu estava.
- O que adianta? Não vamos ir além disso.
Abri a boca em choque e me levantei do sofá, ajeitando meu vestido.
- Se minha companhia só serve pra sexo, então até 2016, - falei, me distanciando. - Vou voltar pra sala porque ver o striptease do , pelo visto, é mais interessante.
Não fui capaz de dar muitos passos, entretanto, pois logo os braços de me envolveram por trás e me carregaram de volta para o sofá.
- Você não serve só pra sexo, - ele falou, me jogando sobre as almofadas. - Mas se a gente ficar se pegando, não respondo por mim.
Rolei os olhos antes de dizer:
- Ótimo. Então ficamos aqui apenas conversando.
- Não, agora vamos ficar nos beijando - ele disse com um sorriso maldoso nos lábios. - E, se você quiser ir além disso, sou eu quem não vai querer.
A malícia em sua voz era quase palpável e eu não precisei de muitos segundos para saber que estava ferrada. faria de tudo para me deixar excitada de propósito. Antes que eu pudesse protestar, ele se deitou por cima de mim e abocanhou meus lábios. Sua língua não demorou a procurar pela minha, fazendo movimentos lentos e sensuais, exatamente do jeito que ele sabia que me enlouquecia. Ele entrelaçou seus dedos aos meus, impedindo que eu movimentasse meus braços, e desceu os beijos para meu pescoço. Enquanto sentia ele alternar entre mordidinhas e chupões, não pude controlar os suspiros que escapavam por meus lábios. Sem que eu me desse conta, envolvi sua cintura com minhas pernas e fiz nossos quadris se chocarem, constatando que já começava a se excitar.
- Você aí querendo me dar uma lição, mas não é o meu pinto que está duro - falei, rindo, e esfregou a ereção em mim de propósito.
- Até parece que você não está louca pra ter tudo isso aqui dentro de você - ele sussurrou, fazendo eu me arrepiar dos pés a cabeça. - Mas parece que vai ter que ficar pra próxima, né?
- Eu não sou orgulhosa como você, . - o empurrei para o lado e, em seguida, me levantei do sofá. - A gente não vai transar na piscina hoje, mas podemos ir ali na sauna rapidinho. - mostrei um sorriso malicioso, mas ele desviou o olhar.
- Agora eu não quero mais. - cruzou os braços, fingindo indiferença.
- Que pena, então - falei em um tom falso de desapontamento, mordendo o lábio inferior para reprimir uma risada. - Vou ter que ir ali na sauna me satisfazer com meus dedos.
Dei as costas para e caminhei com confiança até a sauna. Como eu já previa, não demorou nem cinco segundos para meu namorado me alcançar e me empurrar para dentro da sauna com urgência, batendo a porta atrás de si.
- Droga de mulher! - ele exclamou, me fazendo soltar uma gargalhada.
Nossas roupas logo estavam espalhadas pelo chão da sauna. A experiência na piscina teve que ficar para depois, mas o ano acabou com outras duas tão inéditas quanto. Eu nunca havia transado em uma sauna antes daquele dia. E nem usado uma camisinha que brilhava no escuro.

A gargalhada do era um dos sons que eu mais gostava de ouvir. Quando ele achava algo engraçado, ria com tanta vontade que era impossível não parar para observá-lo. Seu tronco curvado para a frente, suas mãos tapando sua boca, seus olhos tão pequenininhos… Eu sempre acabava aos risos também, mas não ria da mesma coisa que ele. Eu ria dele. E era exatamente o que estava acontecendo naquele momento.
Estávamos novamente sentados em um dos sofás redondos à beira da piscina, enquanto conversávamos banalidades, ambos bêbados e extasiados com o que havia acabado de acontecer na sauna. fazia comentários sobre como foi emocionante ver seu próprio pênis brilhar no escuro em um tom de azul e não conseguia conter as gargalhadas, que, cada vez que estavam para cessar, retornavam com mais intensidade ainda.
- Vou comprar mais pacotes, essa camisinha é sensacional - ele dizia enquanto secava as lágrimas nos cantos dos olhos.
- Meu amor, eu sei que deve ser uma experiência única ter um pinto colorido, mas não - falei com um sorriso debochado. - Essas camisinhas são bregas demais. Só dá pra usar numa emergência. Tipo hoje.
- Mas, - ele começou, já prestes a cair na gargalhada novamente -, a gente tem que testar uma laranja. É sua cor favorita.
- Não, obrigada. Você é capaz de me agradar de outras formas. - antes que eu tivesse acabado de falar, já estava gargalhando adoravelmente de novo. - Qual é a graça agora?
- A sua cara… - disse meio aos risos. - A sua cara quando eu coloquei a camisinha foi ótima.
- Ah, está rindo de mim, é? - estapeei o braço dele. - Palhaço.
Fomos interrompidos por passos adentrando a área da piscina. Virei a cabeça em direção à movimentação e encontrei um com a mão sobre os olhos.
- Ei, vocês dois. Não estão pelados não, né?
- Nada que você nunca tenha visto, gato - em um tom exageradamente sexy, que de sexy tinha nada, e tirou a mão do rosto para que pudéssemos vê-lo rolar os olhos.
- A barra está limpa, galera! - ele gritou e logo nossos amigos estavam se juntando a nós, segurando taças e garrafas de champanhe. - Faltam menos de cinco minutos para a meia-noite.
- Já? - questionei, espantada, arregalando os olhos. Mal tinha visto o tempo passar.
- Vamos para o jardim - disse e entrelaçou seus dedos aos meus, me puxando em direção à porta de vidro que ligava a área da piscina ao jardim.
O céu estava limpo e estrelado naquela noite. Ainda estávamos no ano velho, mas já podíamos ver os fogos de artifício - provenientes das festanças que os vizinhos de , jogadores de futebol em sua maioria, davam naquela noite - iluminando a vizinhança. e puxaram a contagem regressiva.
Dez.
se atrapalhou para abrir uma das garrafas de champanhe.
Nove.
, impaciente, arrancou a garrafa da mão do amigo e a estourou sem dificuldade.
Oito.
O líquido quase encharcou as roupas de e , o que fez ambos gargalharem.
Sete.
e foram as primeiras a estenderem as taças para que fossem preenchidas pela bebida.
Seis.
resolveu estourar a outra garrafa de champanhe.
Cinco.
As roupas de ficaram ensopadas pela bebida alcoólica.
Quatro.
deu um tapa na testa do namorado enquanto tomava um gole de champanhe e, em seguida, caiu na gargalhada.
Três.
Meu olhar se cruzou com o de , que era abraçada por trás por , e sorrimos uma para outra.
Dois.
Todos levantaram suas taças.
Um.
Fui puxada pelo braço e, antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, os lábios de se chocaram aos meus.
O abracei pelo pescoço, tomando cuidado para não derramar o conteúdo da minha taça, e ele fez o mesmo quando me envolveu pela cintura com seus braços. Eu conseguia ouvir a barulheira que nossos amigos faziam somada ao estouro dos fogos de artifício, mas tudo parecia tão distante. Meu coração batia cada vez mais forte, conforme nos beijávamos sem pressa. Eu estava tão feliz. A certeza de que, depois de um ano tão complicado, um melhor estava começando preenchia meu peito.
- Feliz Ano Novo, amor - falou após finalizarmos o beijo, com os lábios roçando nos meus.
- Feliz Ano Novo - respondi, sorrindo, enquanto recebia alguns selinhos.
- , larga a ! - berrou ao nosso lado e a gente se afastou, rindo. - Feliz Ano Novo, amiga!
Depois disso, fui bombardeada por tantos abraços que eu já nem sabia quem estava abraçando. Quando, finalmente, pude respirar novamente, notei que meu namorado atacava com cascudos e ri.
- - o chamei e ele libertou o coitado do para me dar atenção. - Liga pra sua mãe.
Ele arregalou os olhos minimamente. Era perceptível que ele não esperava por aquilo.
- Agora? - questionou, desviando os olhos dos meus.
- Daqui a pouco a gente vai voltar a beber e você vai ficar sem condições de falar com ela - falei e, apesar de ele não me encarar, eu sabia que ele estava considerando a ligação. - Ela vai ficar feliz, .
Coloquei a mão em seu ombro e ele levantou os olhos. Sorri sem mostrar os dentes, com o intuito de passar confiança, e ele soltou um longo suspiro antes de retribuir o sorriso.
- Já volto.
Enquanto observava ele adentrar a casa, alguém pulou na minha frente e tapou minha visão.
- Não vai falar comigo não, sua ogra?
Ri ao ver a expressão enfezada da minha melhor amiga e a puxei para um abraço apertado.
- Feliz Ano Novo, !
- Você não está merecendo muito, porque fica agarrando o o tempo todo e nem lembra que eu existo, mas... - ela disse, dramatizando. - Feliz Ano Novo!
- Até parece que você não estava muito ocupada com o - falei quando nos separamos e mostrei a língua para ela. - Que bom que vocês vieram passar o ano novo com a gente.
- É claro que viemos. Você não vive sem mim, . - ela deu um sorriso convencido e eu rolei os olhos, sorrindo. - Dá pra acreditar na volta que nossas vidas deram nesse último ano? A gente está aqui com pessoas que nem conhecíamos há um ano.
- E parece que conhecemos eles a vida toda - falei, rindo ao ver correndo atrás de pelo jardim, enquanto falava para eles pararem de agir feito duas crianças.
- E depois de não querermos nos apaixonar por ninguém, aqui estamos… - ela disse e eu segui seu olhar, constatando que ela observava .
- Duas bobas apaixonadas - completei.
Olhamos uma para a outra e rimos.
- Como não se apaixonar pelo ? - questionou, colocando uma mão na cintura e, com a outra, apontou para o namorado. - Olha que coisa mais linda.
- Eu te entendo, amiga. - suspirei, sentindo uma ansiedade crescer no meu peito por querer que voltasse logo.
Permanecemos lado a lado, em silêncio, enquanto observávamos os nossos amigos e bebericávamos nossas taças de champanhe.
- 2016 vai ser o nosso ano. - a certeza na voz da minha melhor amiga me fez encará-la. Ela sorria.
- Já está sendo - rebati, retribuindo o sorriso.
Poucos minutos depois, retornou ao jardim esbanjando alegria.
- Obrigado, . Minha mãe adorou a ligação - ele falou, sorrindo de orelha a orelha, e me puxou pelas bochechas para estalar um beijo nos meus lábios. - Falei que você me aconselhou a ligar e ela disse que não vê a hora de te conhecer.
- Eu também não vejo a hora de conhecer minha sogrinha - falei, rindo, e me acompanhou na risada.
- Ei, vocês - se aproximou, interrompendo nossa conversa. - Vamos dar um mergulho na piscina?
- De roupa? - questionei, mas ninguém me deu atenção.
- Vamos! - meu namorado exclamou e saiu me puxando pela mão.
E foi assim que a nossa primeira comemoração de Ano Novo terminou, com todos pulando na piscina de roupa e tudo, brincando igual crianças. estapeava a água para me molhar e eu tinha certeza de que 2016 seria um ano repleto de momentos como aquele. Claro que, entre esses momentos, teriam dias ruins, muitas discussões e mal entendidos, mas eu sabia que nós dois éramos capazes de superarmos toda e qualquer intempérie juntos, porque nós dois estávamos apaixonados um pelo outro.
E, céus, como me fazia querer estar apaixonada.

POV

- , aqui não! - tentei soar séria, tirando a mão dele de dentro do meu vestido, mas a bebida ingerida me fez embolar as palavras e acabei rindo.
- , ninguém está olhando - ele tentou me fazer mudar de ideia.
- Isso não é justificativa. - coloquei minhas mãos em seus ombros, o afastando de mim. Ele fez uma careta de frustração e, em seguida, pelo olhar eu poderia dizer que ele tinha tido uma ideia.
- Podemos ir pra casa então? Se eu não puder curtir minha namorada nem na noite de Ano Novo vou ficar muito frustrado. - fez um bico de criança emburrada e não resisti em mordê-lo, mas me afastei antes que voltássemos a nos beijar na piscina.
- Estava esperando você dizer isso. - pisquei e sorri de canto, no mesmo momento o sorriso dele aumentou. - Aproveita que nossas malas estão no carro ainda e busque toalha e uma roupa para mim.
- Não vou sair sozinho, vou congelar - ele reclamou. - Não precisa trocar de roupa, vai assim mesmo.
- Devia ter pensado nisso antes de me jogar na piscina com um vestido branco que agora está mais transparente do que eu imaginava.
O olhar dele percorreu meu corpo e um pequeno sorriso cafajeste apareceu.
- ! - bati as mãos na água, jogando no rosto dele, mas rindo em seguida. - Vai logo buscar as coisas.
Ele concordou com um aceno e, com um impulso, saiu da piscina, chamando a atenção dos outros.
- Vocês já vão? - perguntou, ainda abraçada à .
- Vamos sim, a não quer fazer a casa de de motel - falou sem pensar.
- Muito obrigado, . - forçou uma expressão de agradecimento e deu um tapa nele.
- Nos devíamos aproveitar e ir também - disse, caminhando até a borda.
- Para um motel? - perguntou num misto de susto e esperança.
- Para casa! - respondeu mais alto, o que rendeu uma onda de risos na piscina e uma cara decepcionada de , que saiu da piscina logo depois dela. Eu fui a última e e pareciam que não iriam embora tão cedo.
Me sequei e troquei de roupa, o que eu não esperava é que ele fosse me dar apenas uma camiseta dele ao invés de uma roupa minha, mas preferi não comentar. Depois de nos despedirmos de nossos amigos, entramos no carro e, apesar de não ter muita certeza sobre ir dirigindo depois de tantas cervejas e champanhe, acabei entrando do lado do passageiro. Apesar das ruas estarem praticamente vazias, o fato de ele não estar totalmente concentrado na direção me deixava alerta.
- Anjo, por favor, presta atenção - pedi num tom calmo, segurando a mão dele, que estava na minha coxa e ameaçava subir.
- Nunca achei que ia me sentir em abstinência com alguma coisa, mas você definitivamente me tornou um viciado, . - balancei a cabeça e sorri.
- Sabe de uma coisa? - não dei tempo para a resposta. - Você nunca mais vai tomar tanta cerveja e champanhe depois, nunca te vi falando tanta besteira.
- Não é besteira - se defendeu. - Quero só ver quais desculpas você vai dar para fugir quando chegarmos em casa.
- Quem disse que eu quero fugir? - questionei com a sobrancelha arqueada e os braços cruzados, e tudo isso foi o incentivo que eu não queria. começou a dirigir mais rápido, claramente querendo estar em casa logo.
entrou em casa na minha frente, carregando nossas malas, que foram para o chão assim que cruzamos a porta de entrada e, antes que eu pudesse dar um passo, ele já havia me envolvido em seus braços e colado sua boca na minha. Numa fração de segundo minhas mãos já estavam em sua nuca, arranhando levemente o local enquanto eu retribuía o beijo na mesma intensidade.
O frio que eu estava sentindo desde que havia saído da piscina desapareceu num piscar de olhos e o calor que eu sentia irradiava por todo me corpo. Por mais que eu tivesse implicado com ele e o deixado na seca, a verdade era que eu também tinha sentido falta dos nossos momentos íntimos, dos toques, do contato dos nossos corpos, mas me fiz de forte e, então, tudo que eu queria era aproveitar aquele momento com ele. Quando o fôlego começou a nos faltar, os toque mais ousados começaram a surgir, minha perna direita já estava na altura do quadril dele, que apertava minha coxa com vontade e seguia lentamente em direção à minha bunda, praticamente exposta já que ainda vestia a camiseta dele.
- … - ele disse com certa dificuldade quando cortou o beijo e eu apenas murmurei uma resposta. - Por mais que eu queria muito continuar, não acho que queira fazer isso no hall da minha casa.
- É um bom argumento. - ri, voltando a colocar minha perna no chão e normalizando minha respiração.
- Meu quarto nos espera - ele disse galanteador e só então acendeu a luz da casa no interruptor ao meu lado. A primeira coisa que meus olhos focalizaram foi o enorme aquário retangular sobre um aparador.
- Meu aquário! - exclamei, fascinada com o tamanho do mesmo e caminhei até ele. - É tão lindo! - disse, ainda encantada, e senti os braços dele envolvendo minha cintura por trás. - Obrigada. - virei meu rosto com um sorriso gigante e recebi um beijo na bochecha e outro no ombro em seguida.
- Achei que era um bom presente, mas já disse tudo no natal e não vou repetir. - ele riu fraco.
- E eu achando que era um aquário normal para um peixe só… - neguei com a cabeça ao notar que, além da Dori que ele havia mostrado na foto, tinha mais cinco peixes na caixa de vidro.
- Achei que você já tinha acostumado com isso - ele declarou, me fazendo o encarar em dúvida. - Quando se trata de você eu sou muito exagerado. - concordei com a cabeça e me virei, colando nossos lábios num beijo rápido.
- Parece que combinou tanto aqui, não sei se vou ter coragem de levá-lo para o apartamento. Na verdade, nem sei como levar algo desse tamanho pra lá - confessei.
- Você vai ter muito tempo pra pensar nisso depois - ele disse baixo e próximo ao meu ouvido enquanto dedilhava os dedos em minhas costas, por debaixo da camiseta. - Agora espere uns minutos e suba para a sua surpresa.
Um arrepio passou pelo meu corpo e tudo que fiz foi assentir, ele estava falando a verdade quando disse na casa de que tinha uma coisa para ser feita apenas entre quatro paredes. Imediatamente me lembrei das palavras da minha amiga enquanto arrumávamos as malas para a viagem para a casa dos nossos pais e corri até a minha mala que estava ainda no hall. Ela havia insistido para que eu levasse um conjunto de lingerie cor de rosa que ela mesma havia me dado em um aniversário e me impedido de trocar, mesmo sabendo que eu não era muito fã da cor, e, para completar, uma camisola praticamente transparente finalizava o tal conjunto. Abri a mala às pressas e tirei as peças escondidas no fundo da mesma, caminhei até um dos banheiros do primeiro andar e troquei as peças que eu vestia pelas outras. Olhei meu reflexo no espelho e ri fraco, imaginando o quanto se sentiria vitoriosa sabendo que me rendi ao presente, meus cabelos ainda estavam úmidos e eu tentei dar um jeito neles com os dedos, mas acabei desistindo e saindo do banheiro com um enorme frio na barriga.
Subi as escadas devagar, tentando controlar a expectativa. Eu sempre ficava assim quando tinha uma surpresa em jogo e, quando essa surpresa envolvia e sua cama, a expetativa era ainda maior. Respirei fundo e levei minha mão à maçaneta da porta, a abrindo devagar. E a primeira coisa que notei foram velas flutuantes distribuídas pelo chão do quarto e, assim que puxei o ar, senti o aroma de canela. Na mesma hora fechei os olhos, apreciando o clima, e uma música que eu não conhecia começou a tocar. Me virei, procurando pelo som, e encontrei parado ao lado do mesmo, só de boxer preta. Como eu adorava aquele ser! E como eu adorava também aquele corpo. Sorri de lado enquanto ele deu alguns passos até mim, seus olhos haviam percorrido meu corpo e eu conseguia ver, dentre muitas coisas, desejo.
A música era uma mistura de algo relaxante e sensual e eu já me sentia mais leve. Apesar de estarmos próximos, não havia contato físico, eu sentia nossas respirações se misturarem, mas eu não ousaria quebrar o contato visual, e então ele o fez. Depositou um beijo no canto da minha boca suavemente, em seguida em minha bochecha e eu fechei os olhos, apreciando seu toque e todas as outras sensações. A trilha de beijos continuou e, quando passou a beijar meu pescoço, levei a cabeça para trás a fim de deixar a região exposta para mais, e então notei balões de gás, vermelhos e em formato de coração espalhados pelo teto do quarto. Foi inevitável não sorrir.
- O que foi? - ele perguntou se afastando e encarando meu rosto.
- Acabei de ver os balões e estou tentando decidir se você é mesmo real. - levei minhas mãos ao seu rosto, o trazendo novamente para perto de mim. - Isso tudo ficou tão lindo e tão romântico… Como é que fez tudo isso em tão pouco tempo?
- Tive uma ajudinha… - ele confessou, colando a testa na minha. - Ou você acha que o cartão fidelidade do estava comigo à toa? - encostei nossos lábios, mas ele nos afastou novamente. - Agora sobre eu ser real… - ele fez um suspense e tirou minhas mãos de seu rosto, as colocando em seu abdômen. - Você pode tirar suas próprias conclusões.
Ele sabia que apesar de eu admirar muito olhos e sorrisos, eu tinha um ponto fraco em se tratando de abdômen definido, então aproveitei a oportunidade e passei as unhas pelo local, sentindo seus músculos se contraírem. No entanto, o autocontrole de não estava muito bom e, num movimento rápido, ele colou nossos corpos e, assim que nossas bocas voltaram a se encontrar, demos início a um beijo cada vez mais intenso e cheio de sentimentos.
Revezando entre apertar seus ombros e braços durante o beijo, senti quando as mãos dele desceram até alcançar a barra da camisola e levantei meus braços para que ele pudesse terminar de tirá-la. Ele deu dois passos para frente, fazendo com que eu desse dois para trás e, ao sentir a cama atrás de mim, me deitei, o puxando comigo. Com seu corpo em cima do meu pude sentir o volume do seu membro e me mexi na cama, tentando aumentar o contato, e só então percebendo como meu corpo havia sentido a falta do dele.
- Sei que você não gosta de cor de rosa, mas agora quem quer saber se você é real sou eu. - ele sorriu sedutoramente e seu aperto em minha cintura se intensificou. Envolvi seu quadril com as duas pernas, acabando ainda mais com qualquer espaço entre nós e voltamos a nos beijar em seguida.
Aos poucos, entre beijos e carícias, as três peças de roupa que ainda usávamos foram parar em lugares distintos do quarto e, em meio a sussurros e juras de amor, fizemos das primeiras horas do ano as mais prazerosas possíveis.
- Feliz Ano Novo, - ele murmurou e eu abri os olhos. Ele estava deitado de frente para mim e me virei, ficando na mesma posição. Algumas velas ainda iluminavam o quarto e pude ver os seus olhos.
- Feliz Ano Novo. - levei minha mão até a dele, que estava entre nós, e entrelacei nossos dedos.
- Você sabe o que dizem sobre o Ano Novo, não sabe? - eu provavelmente saberia, mas o cansaço e o sono me impediam de pensar.
- O que dizem? - minha pergunta foi o suficiente para fazê-lo se aproximar e sussurrar no meu ouvido.
- Que o que a gente faz no Ano Novo é o que vamos fazer o ano todo.
- Que pervertido! - ri e o empurrei levemente pelo ombro.
- Não foi só isso que eu quis dizer - ele se defendeu, ainda rindo comigo. - Eu quis dizer que o que eu mais quero é poder passar esse ano com você, com meus amigos… Esse ano foi bem inesperado e sei que não vão ser dias 100% perfeitos, mas se estiver com você eles sempre vão valer a pena.
- Obrigada, eu... - fui interrompida.
- Eu ainda não terminei. - se fez de sério e eu sorri fraco. - Eu não achei que fosse querer outro relacionamento e, antes que eu percebesse, eu já queria estar com você. E olha que isso foi antes do sexo.
- ! - reclamei, escondendo meu rosto com as mãos.
- Ah, corta essa. - ele tirou minhas mãos do rosto e distribuiu beijos por todos os lugares que conseguiu. - Eu te amo - ele declarou e me beijou rapidamente.
- Eu também te amo, . - peguei novamente a mão dele e depositei um beijo nas costas da mesma. - Se me dissessem que eu conheceria alguém como você, eu honestamente não acreditaria. Você não queria um relacionamento e eu não queria me apaixonar, e, apesar de ter lutado contra, você me fazia e faz querer estar com você. E mais do que isso, você me faz querer estar apaixonada.

Especial de fim de ano da fanfic I Don’t Wanna Be In Love



Nota da Babi: Hey, gente! O fim do especial demorou, mas chegou! hahahaha. Quando tive a ideia de escrever essa "short" e falei com a Lari, nem imaginava que ia acabar ficando tão grande (mais ou menos 70 páginas!!!). Mas foi tão divertido escrever, que bateu até uma tristeza de finalizar. Mas não tanta assim, porque ainda tem muitaaa coisa pra rolar com esse pessoal aí em I Don't Wanna Be In Love. Espero que vocês continuem se divertindo com a gente! <3
Se quiserem bater um papo, é só seguir no Twitter: @babisotello e/ou entrar no nosso grupo do Facebook.
Beijos e nos vemos na próxima att de IDWBIL. Até mais!

Nota da Lari: E assim termina nosso especial de fim de ano (em fevereiro)! hahahaha
Espero que vocês tenham gostado desses momentos entre os pps e que tenham gargalhado muito porque nós nos divertimos e rimos bastante escrevendo.
Obrigada por estarem acompanhando I don't wanna be in love (continuem porque tem muita história até chegar aqui) e por terem lido You make me wanna! Sem vocês nem teria graça.
E aproveitando os agradecimentos, quero agradecer a Babi por ter tido a ideia de um especial de fim de ano, eu nunca cogitaria a possibilidade de escrevê-lo e até quando ela sugeriu eu fiquei um tempo decidindo se toparia ou não, e adorei! Obrigada, miga Babi! E um obrigada especial também para a Ella Styles por me ajudar a encontrar as palavras certas quando eu não consegui, para a Dany por ter me ajudado na trilha sonora do strip-tease (fail) do Niall e para a Gabi Payne (ainda decidindo se quero dividir ele com você), que além de dicionário me ajudou a transformar minhas ideias iniciais em cenas da fic (como os desafios do ano novo), e ainda me ajudou fora das fics também! <3
Ficou enorme, então vou parar por aqui! Beijinhos!
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Nota da Beta: Que delícia de especial! Muito amor e risadas e presentes e natal e ano novo! Amei bem forte esse especial, foi uma delícia de betar. Parabéns, meninas. Um feliz natal e um ano novo cheio de inspiração, criatividade, tempo para escrever e sucesso, para IDWBIL e para vocês mesmas. Xoxo-A




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