Finalizada em 10/06/2020
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Capítulo 35

Dean me buscou no aeroporto, contrariando tudo o que sempre afirmávamos que não podia ser feito em hipótese alguma. Mesmo a espera no estacionamento era arriscada demais àquela altura. Eu liguei para meu tio assim que saí do avião e as notícias não eram nem boas nem ruins: simplesmente não havia notícia alguma. Não era o melhor quadro e eu estava de mãos atadas. Meu tio era mil vezes melhor que eu e Austin tinha muito mais tempo de estrada. No final das contas, embora meu coração pedisse o contrário, era realmente ideal que eu fosse a escolhida da equipe para fazer aquele transporte. E como eu agradeci por não ter tido problemas no embarque e no desembarque por conta daquele maldito rádio que meu tio cismara em enviar por mim mas, dadas as circunstâncias, eu não tinha a mínima coragem de negar uma ordem sua.
– Mãe?! – Tentei fazer com que minha voz soasse o mais preocupada possível.
? O que houve?
– Você tá bem?
– To, claro que to. O que houve?
Ufa, ela caiu, álibi preparado.
– Eu estava na Inglaterra com meu pai. Ligaram de casa dizendo que chegou uma ligação avisando do seu falecimento.
– Bem, eu estou tão viva quanto poderia estar numa tarde de quinta. Você veio da Inglaterra só pra isso?
– Merda... – Sussurrei. – Eu... Eu vim, não sabia se era verdade.
– Afinal de contas, o que vocês estavam fazendo por lá?
Terminei a mentira de dentro do carro, já a caminho de casa. Meus poros fediam a estresse, e eu estava prestes a entrar em colapso. Dean, ao meu lado, sentia isso. Ele colocou a mão na minha coxa, próxima ao joelho, em determinado momento e deu um leve aperto.
– Vai ficar bem. – Ele disse pela milésima vez.
– Não vai. – Murmurei, olhando para o longe.
– Você costumava ser menos pessimista. É do seu pai que estamos falando. Ele aprendeu com o meu. Quantas vezes achamos que meu pai não voltaria mais e, no final das contas, ele tava vivo?
– Nós não somos mais crianças.
– Será que fomos crianças um dia?
Eu fui. – Retruquei. – Você, eu já não sei.
O rádio estava sobre as minhas pernas, totalmente à mostra. Eu não queria ter contato com aquilo por nem mais um segundo, mas a necessidade me fazia lutar contra minha vontade. As palavras do meu tio ecoavam na minha cabeça: fazer o que eu tinha que fazer o mais rápido possível. Fechar os olhos e me concentrar nelas parecia o mais adequado.
– O que vamos fazer quando isso acabar?
– Vou voltar à Inglaterra.
– Posso ir com você.
– Não. – Fui bem enfática. – Já estamos enrolados até o pescoço. Explicar porque você, que deveria estar morto, ainda está vivo... Não pretendo ter que lidar com mais isso.
– Tudo bem então, eu fico. E o que você vai fazer quando voltar da Inglaterra?
– Eu nem sei se vou voltar, Dean.
...
– Por favor, não me diga que estou exagerando.
– Não é isso. – Ele disse e pude escutar quando Dean engoliu em seco. – Abre seus olhos.
O céu estava ficando negro ao longe, e estávamos no meio do dia. A escuridão avançava em velocidade alta na nossa direção. Faltava cerca de trinta minutos para o trajeto até a fazenda. Dean fez as contas antes de mim, provavelmente, e arrancou com o carro, reduzindo a marcha e apertando o pedal do acelerador até o final. Enquanto isso, eu começava a discar o número de casa.
– Residência dos Singer.
– Sam, prepara tudo.
?! O que houve?
– Leva o forno elétrico da cozinha pro cofre. Agora. Separa qualquer material inflamável e fósforo, leva pra lá também. Por garantia, leva o que tiver de comida que possa ser usada facilmente lá embaixo. Se nós ainda não tivermos chegado, cobertas e travesseiros. Tem sacos de dormir na despensa. Se você achar, leva.
– O que tá acontecendo, ?
– Eles sabem.
– Eles quem?
– Demônios, Sam, demônios. Estão vindo atrás de nós.
– Puta que pariu... Quando tempo até aqui?
– Vinte e cinco minutos.
– Quinze. – Dean corrigiu ao meu lado, o rosto coberto por pavor. – Vamos fazer em quinze.
– Sam, prepara tudo. – Eu repeti. – A guerra tá vindo até a gente.
Dean fez o carro roncar. Não sabia se estava com mais medo de sermos pegos ou de perdermos o controle em uma manobra e acabarmos mortos de qualquer forma. Só descobriríamos se o risco era real se tentássemos. Por hora, eu só agradecia silenciosamente pela KS-18 não ser uma estrada lotada de curvas.
, se nós não conseguirmos...
– Nós vamos conseguir!
– Se nós não conseguirmos, , – Dean repetiu e olhou nos meus olhos. – eu quero que você saiba que... Que...
Permiti que as primeiras lágrimas escorressem pelo meu rosto. Àquela altura, tinha tantos motivos para estar chorando que nem saberia precisar exatamente qual era o escolhido da vez. Dean também tinha lágrimas em seus olhos, por mais que não fosse admitir isso nem se custasse sua vida. Nós havíamos lutado tantas lutas quanto possível, enfrentado coisas que nem 1% da população mundial teria coragem. Se era injusto estarmos à beira da morte naquele exato momento? Não se conseguíssemos chegar em casa e acabar com aquilo tudo de fato.
Colei meu corpo ao dele, agradecendo mentalmente por estarmos no Impala e isso ser possível. Dean passou o braço direito por cima dos meus ombros e me puxou para si mais ainda, deixando um beijo na minha cabeça e me apertando naquele abraço. Deitei a cabeça em seu ombro e, por mais que estivesse permitindo que meu coração se aquecesse com aquilo, o velocímetro à nossa frente, marcando quase cento e vinte milhas por hora, deixava claro o nosso desespero.
– Eu amo você, .
– Não diz isso como se fosse uma despedida. – Implorei.
– A gente não tem garantia nenhuma de que vamos conseguir passar por isso.
– Nós vamos. – Disse, firme, tirando otimismo de onde eu não tinha. – Porque eu te amei por muito tempo pra deixar meu tempo acabar logo quando você começa a corresponder.
– Eu sinto muito por ter demorado tanto tempo.
– Foi no tempo perfeito, Dean.
Levantei a cabeça e puxei seu rosto para o meu. Beijei Dean sem me importar com ele ainda estar dirigindo. Se fosse para continuarmos vivos, continuaríamos. Ele olhou firme nos meus olhos ainda por uns instantes e, depois, fechou a curva com tudo para entrar na fazenda. A nuvem negra estava próxima demais, o que levou Dean a ignorar completamente o terreno irregular e jogar o Impala na direção da casa de qualquer jeito. Sam nos esperava na varanda. Ele me pegou em um abraço assim que eu entrei correndo. Nós entramos em casa no último segundo. De repente, tudo ficou escuro. As lâmpadas de emergência levaram alguns segundos para se acenderem.
– Você pegou tudo?
– Tudo o que você disse, sim. – Sam respondeu.
Houve um estouro do lado de fora e, posteriormente, pancadas nas laterais da casa. Trocamos um olhar rápido e, com passos mais lentos do que deveríamos, fomos para o nosso suposto quarto do pânico. Eu dei o osso para Sam, que o colocou imediatamente dentro do forno. Antes disso, eu pude visualizar outros pedaços lá dentro, os que tínhamos previamente da freira. Eu senti a temperatura no ambiente cair rapidamente.
– Tem certeza disso, Sam? A gente vai se dar muito mal se não for o que a gente pensa que é.
– A gente já errou um ritual antes?
– É que eu não sei se você notou, mas o negócio lá fora tá bem louco, então não tem muito espaço pra ser a primeira vez hoje porque, se for, vai ser a última também.
– Sam, começa. – Eu disse.
– Não! Espera!
– Você tá maluco, Dean?!
– O que é pra eu fazer? – Sam gritou.
O barulho lá fora ficava mais intenso a cada segundo que se passava e eu escutava coisas se quebrando dentro de casa. Aquela situação, de certa forma, me lembrava muito bem a primeira vez em que demônios destruíram nossa casa. Com o tempo, aquele porão-cofre-quarto do pânico só havia melhorado. Adicionamos mais espaços e mais proteção conforme íamos descobrindo novos métodos. Ainda era um cofre e, como na primeira vez que fomos atacados diretamente ali, eu tinha medo de que meu pai aparecesse justamente naquela hora. Infelizmente, eu não sentia que aquilo tinha a mínima chance de acontecer.
– Parem os dois. Cadê Castiel?
– Ele foi pra Inglaterra.
Olhei para Dean, olhei de volta para o forno. Sem esperar que os irmãos tomassem uma atitude, arranquei o osso da mão de Sam de qualquer forma. Joguei no forno, busquei o fluído de isqueiro que tínhamos para uso contra rugarus e ateei fogo aos ossos. Assistimos como se fosse uma tela de televisão, mas eu estava à beira do colapso. Minha mente estava mais bagunçada que aquela situação toda. Isso em concomitância com o espaço pequeno estava prestes a me provocar uma crise de claustrofobia das fortes e me impedia de continuar respirando direito. Lá fora, algo como uivos se faziam escutar. Nós três estávamos no momento mais aterrorizante das nossas vidas.
! – Eu ouvi meu nome ser grunhido.
Reconhecia aquela voz. Por mais que a parceria forçada houvesse sido bem sucedida – para mim, pelo menos, de certa forma –, eu não confiaria em Crowley nem se fosse a última coisa a se fazer. Ele não era bonzinho, não estava me ajudando por filantropismo. Eu sabia bem, e deveria saber mesmo, que ele era um demônio, e demônios não faziam nada além de pensarem em seu próprio bem, em tirar proveito de tudo e de todos para uso próprio. Havia dito uma das coisas mais certas da minha vida quando disse a Dean que não tinha como Crowley ficar fora do nosso caminho, como prometera. Não que eu confiasse naquilo mas, se nós tínhamos a chance de acabar com aquele mal dentre tantos outros que assolavam o mundo e nos colocavam na estrada secretamente para salvar pessoas que não conhecíamos, qualquer tentativa valia a pena. A julgar pela resposta que estávamos provocando, estávamos no caminho certo.
Fiz questão de caminhar até a porta do nosso “quarto do pânico”, olhando através da pequena viseira composta por vidro blindado. Dei três socos na porta e Crowley se materializou do outro lado.
– O que você está fazendo, sua insolente filha da uma...
– Adeus, Crowley.
– Você vai se arrepender.
– Não se você não estiver vivo pra se vingar.
Observei seu corpo, ou seja lá o que fosse, se transformar em um amontoado de chamas com um sorriso no rosto. Logo, os barulhos pararam e nós julgamos ser seguro correr para fora de casa. Havia muita coisa quebrada, as janelas não haviam sobrevivido ao fenômeno. No final das contas, eu ainda poderia culpar um furacão, então tudo bem. A perda material era um preço simbólico a ser pago, e eu não me importava com isso. Mesmo assim, mesmo tendo uma boa notícia para comemorar, o meu coração ainda estava sendo esmagado dentro do meu peito.
É claro que eu sentia aquilo. Afinal, era do meu pai que estávamos falando. Nós éramos duas granadas prestes a explodir, mas nos amávamos mais do que poderíamos dizer. Nossa ligação de pai e filha era extraordinária por diversos motivos e, mesmo tentando tirar esperança de todos os lugares quando eu já não tinha mais força, sabia, no fundo do meu coração, o que estava por vir. Só não imaginava que seria pior do que estava previsto.
– Alô? – Atendi, ofegante, o telefone identificado com o DDI da Inglaterra.
– Senhorita Singer? – A voz do outro lado soou estranha aos meus ouvidos.
– Sim, – Respondi. – sou eu mesma. Em que posso ajudar?
– Está sozinha? – Eu olhei para Dean imediatamente, observando a alguns metros de distância. – Infelizmente, preciso dar uma notícia não muito boa.
Ouvi as palavras da pessoa do outro lado da linha – Elizabeth Hayes, detetive da Scotland Yard – com cuidado. Respirava fundo, com longas pausas de apneia. Sussurrei alguns sins e nãos conforme me sentia capaz. Segui escutando as instruções e o detalhamento. Ao final, não havia mais interesse em mim, e Dean parecia saber perfeitamente toda a merda que estava acontecendo. Eu só queria finalizar aquela ligação de uma vez por todas e gritar.


Capítulo 36

– Senhorita Singer, tem certeza de que seu pai e seu tio não tinham inimigos?
– Tenho. – Disse, quase sem voz. – O máximo que pode ter acontecido é meu pai ter mexido com a mulher de alguém, mas... Não faz sentido.
Estava prestes a começar a soluçar novamente. Odiava estar ali sozinha com todas as minhas forças.
– Nós temos uma enfermaria à disposição se você não estiver se sentindo bem.
– Prefiro terminar logo e ir embora pra casa.
– Ok então, mas me interrompa assim que pensar ser necessário.
Eu apenas assenti. Foram mil perguntas que nem sabia se estava respondendo de forma conexa. No fundo, dada a situação, não importava. Pela primeira vez, eu tinha a desculpa perfeita e verdadeira para não fazer sentido. Mas os agentes da Scotland Yard que haviam viajado para os Estados Unidos estavam bem solícitos comigo, e era de se esperar. Enquanto isso, do outro lado do mundo, havia gente que não tinha nada a ver com aquilo na cadeia. Àquela altura do campeonato, eu simplesmente não ligava mais. Só queria que aquele pesadelo acabasse.
Minha mãe insistiu em deixar o que estava fazendo em Phoenix para me acompanhar, mas eu realmente queria ficar sozinha. Bem... Sozinha até onde ela sabia. Eu não tinha contato direito com minha mãe, mesmo depois de termos acertado nossas contas no período em que passei com ela. Por parte de pai, meu pai e meu tio eram os únicos filhos. Eles romperam com meus avós paternos por conta de suas respectivas mulheres na época. Por mais que a cena fosse incrivelmente mórbida, não queria que Dean e Sam estivessem ali, até porque seria um risco desnecessário em uma situação que envolvia polícia demais.
Os corpos estavam em caixões modestos. Eu havia recebido autorização da polícia britânica para extraditar e enterrar os corpos na fazenda. Não tinha pressa nem necessidade de correr atrás da documentação legal a respeito de tudo o que a morte do meu pai e do meu tio envolviam. E ainda tinha que lidar com Austin. Não fazia ideia de que Austin tinha, de fato, uma família. Seus pais e irmãos nem sabiam que ele havia viajado para fora do país com a gente. A agente Cooper, da Scotland Yard, que estava me acompanhando por alto, questionou se eu ia falar com a família dele. Desviei da sugestão, dando como desculpa que meu pai que tinha lidado com a contratação dele e eu não tinha nem intimidade nem saúde psicológica para lidar com a situação.
... Eu sei que não é uma boa hora, mas... – Dean sussurrou.
– Tá tudo bem, me dá só mais alguns segundos.
Eu continuava olhando fixo para os dois corpos. Por mais que eu imaginasse – e sofresse ainda mais com isso – que as últimas horas deles em vida haviam sido nada confortáveis, eles pareciam bem calmos. Talvez aquela fosse a primeira vez em que meu tio ficava calmo desde que eu o conhecia, ranzinza como sempre foi. Mas eu também lhe dava certa razão, mediante tudo o que ele teve que passar antes de ficar sozinho de vez. A vida tinha sido bem amarga para Robert Singer e, no final das contas, nós nos entendíamos na nossa amargura. Já meu pai...
O meu coração doía demais. Eu sentia como se, a qualquer momento, tudo em mim fosse quebrar em milhões de pedacinhos minúsculos. Não conseguia beber água, quem diria colocar algum alimento para dentro. Sentia meu corpo desfalecendo aos poucos desde o momento em que recebi a notícia. Os funcionários da fazenda foram dispensados por mim no instante seguinte. Não queria mais ninguém ali, não enquanto não superasse.
Queria que meu pai levantasse, me desse um susto e dissesse que tudo não passava de uma pegadinha de péssimo gosto. Que era ele se vingando de eu ter arrumado um relacionamento amoroso com um dos Winchester. Queria que ele gritasse, brigasse comigo, jurasse me trancar até aquele sentimento desaparecer. Queria que meu pai fizesse da minha vida um inferno. Se bem que o inferno tinha ficado para lá, graças a nós, e era por conta dele que eu estava sofrendo tanto. Por conta dele e do meu tio. Meu pai morreu sem saber o grande feito que nós tínhamos concretizado.
Com o tempo, perdemos conhecidos demais. Estávamos acostumados a lidar com corpos, porque fazia parte do negócio, mas nunca era normal perder um conhecido. Perder Ellen e Jo foi o limite, mesmo pouco tempo depois de perdermos Harold, mas eu jamais imaginaria que teria que fazer o funeral dos dois homens que me criaram. Àquela altura, com toda a história dos portões do inferno terem sido fechados permanentemente, nem sabíamos se, de fato, era necessária a cremação completa. Mas não tínhamos como saber se tinha funcionado, embora tivéssemos certeza de que havia algo naquilo que fizemos. Então Dean e Sam se encarregaram de encharcar os corpos e a pira improvisada com gasolina. Eu não saía do lado deles na esperança de acordar do pesadelo, mas estava sendo derrotada.
Perder um pai... Eu não poderia colocar em palavras qual era a sensação. A menininha Singer, sempre fria, estava despedaçada. Evitava demonstrar sentimentos para que doesse menos na hora de passar por algo como aquilo, mas não parecia ter surtido efeito algum. Havia sido vítima de feitiços, facadas, golpes diversos, até um tiro de raspão eu havia levado, mas nada – nada – se comparava àquela dor.
– Lembra daquele caso das gêmeas no Wisconsin? – Dean disse, e eu não havia percebido sua presença até então. – Você se passou por psicóloga naquela vez pra tentar arrancar tudo o que dava das meninas. Elas tinham acabado de perder os pais e você, mesmo cheia de segundas intenções, conseguiu consolar aquelas garotas e manteve as duas estáveis até os familiares chegarem.
– Isso não é um caso.
– Como não?! É justamente um grande caso! Nossa vida toda é um.
– Eu não consigo enxergar as coisas daquela perspectiva de “seu pai tá num lugar melhor”, “ele não sofreu”, “você vai conseguir passar por isso”, “o tempo vai curar a dor”, “a dor passa”... – Respirei fundo, tentando tomar fôlego para aguentar a minha própria dor. – Será que passa mesmo, Dean?
Ele, então, deu alguns passos para acabar com a distância que nos separava e tomou o meu corpo em seus braços. Eu encostei a testa em seu peito e tentei, com todas as forças que eu tinha, não chorar novamente.
– Então olhe da minha perspectiva. Quantas vidas será que esses dois velhos safados salvaram? Só nós três, foram diversas vezes. Centenas de vidas, ! Se não foram milhares! Eles nos ensinaram muito, e nós podemos usar isso pra salvar mais pessoas ainda. Não é um trabalho fácil, nem reconhecido, mas o que fazemos é extremamente digno e merecedor de respeito. Seu pai foi um ótimo homem, e seu tio não tá longe. Os dois tiveram uma boa vida. Imagina, agora, se eles estiverem vendo a gente de outro lugar. Acho que eles gostariam mais que estivéssemos celebrando a vida deles, de alguma forma, do que aqui, em estado de morbidez.
– Dean, eu quero o meu pai.
– Eu sei, meu amor, – Ele beijou o topo da minha cabeça. – eu sei. Estou aqui pro que você precisar. Qualquer coisa.
– Posso curar a dor, , se for da sua vontade. – Castiel nos interrompeu.
– Eles eram a minha família, Cas, sofrer tá no pacote.
– Nós também somos sua família, não vamos te abandonar. Nem agora nem nunca.
– Eu quero ler a carta, é tudo o que eu te peço no momento.
– Tudo bem. – Seus ombros caíram. – Sobre a carta... , não acho que você devia ver. Não tem necessidade, ainda mais num momento como esse.
– Cas, só traduz pra mim, por favor.
Ele hesitou, mas logo se virou para voltar para a casa.
– Claro. – Castiel murmurou e se foi, me deixando com meus pensamentos mais uma vez.
A agente da Scotland Yard perguntou mil vezes se eu sabia o que aquele pedaço de papel queria dizer. Havia sido deixado no bolso do meu pai, por ele mesmo ou pelo assassino, eles imaginavam. No entanto, ninguém podia identificar que tipo de linguagem era aquela. Eu não menti quando disse que não fazia ideia do que era. O texto, eu realmente não tinha como conhecer, mas sabia de longe que era enoquiano, então pedi para que Castiel o traduzisse imediatamente, pois as possibilidades eram várias quanto àquilo. Sua hesitação me preocupou, mas eu tratei de pegar a tradução da mão dele assim que ficou pronta, pedindo para ficar sozinha novamente.

Você não sabe com o quê está brincando. Age como uma criança inconsequente e não percebe que nós, na verdade, somos o que mantém o balanço no mundo. Quando descobrir isso, será tarde demais, Singer, e você vai pagar, talvez como seu pai está pagando agora. Devia ter pensado mil vezes antes de me trair, mas eu terei um fim glorioso. Seu pai e seu tio, no entanto, não podem dizer o mesmo. E esse é o melhor castigo que posso impor a você, que viva sabendo que eles morreram por sua culpa. Ou que não viva, porque o que acontecer daqui pra frente com o mundo todo é inteiramente culpa sua. Se você não existisse, ou se simplesmente não fosse enxerida, esses dois...


, deixa isso quieto.
– Me deixa terminar de ler.
– Pra quê? Pra você se sentir mal? Não! Eu me nego! Sei o que você passou, meu amor, mas eu preciso saber que você vai ficar bem. Eu não tenho razão pra existir sem você, , então, por favor, não pensa besteira nenhuma agora. Vamos esperar isso...
Dei dois passos para a frente, deixando Dean sem palavras. Não esperei por Sam e Castiel, apenas acendi o isqueiro e incendiei os dois corpos. Eu sabia, lá no fundo, que aquela chama estava transformando mais do que meu pai e meu tio em cinzas. Meu antigo eu também estava ficando para trás ali, estava decidida a deixar aquela vida de lado e procurar uma mudança. Mas, de repente, enquanto eu observava fixamente as chamas e me controlava para não continuar soluçando – porque eu havia chorado tanto que a cabeça doía e não queria derramar mais nenhuma lágrima –, uma luz forte surgiu ao longe. Dean também percebeu, tanto que puxou a pistola do cós de sua calça e a empunhou.
– Vai pra dentro.
– Não. – Rosnei e peguei a arma que estava carregando também.
Os passos na varanda eram altos, Sam correndo para perto de onde estávamos. Castiel se fez presente logo atrás de nós imediatamente. Estávamos os quatro em posição de ataque. Foi então que a minha vista começou a distinguir a figura. Senti, naquele momento, como se a minha alma tivesse deixado meu corpo por um segundo.
– Você sabe quem é? – Dean sussurrou, tentando manter seu corpo um tanto à minha frente.
Eu deixei os ombros caírem, larguei a arma no chão e, incrédula, olhei para Dean.
Você não sabe?
Ele apertou os olhos, não sem antes se mostrar surpreso pela minha reação. Castiel, ao meu lado agora, estava boquiaberto.
– Pai?!
– O que diabos está acontecendo? – John perguntou, andando a passos largos na nossa direção.
Ele tomou os filhos em um abraço apertado. Por um segundo, deixei minha atenção desviar dos corpos e pairar no que parecia impossível. Olhei para Castiel, esperando algum tipo de explicação, mas ele parecia tão perdido quanto eu. Não devia ser surpresa que, mais uma vez, aquela vida dos infernos nos pregasse mais uma peça e colocasse tudo de cabeça para baixo. De novo. Mas então John largou os filhos, olhou para mim e, imediatamente, deixou o olhar repousar nos corpos que, aos poucos, viravam cinzas. Não precisou de muito para que ele entendesse e me puxasse para um abraço, sem dizer uma palavra. Havia tanto para contar para ele... Depois de anos sem John ao nosso lado, era surreal que ele estivesse de volta. Mais surreal ainda que fosse, ironicamente, em um momento tão inoportuno.
, eu sinto muito.
– Vou ficar bem. – Disse, pela milésima vez no dia. – O que houve? Por que o senhor...?
– Eu não faço a mínima ideia. Quando vi, estava aqui. – John olhou Castiel de cima a baixo. – E esse é quem?
– Longa história, mas isso não é bom sinal. – Sam ponderou.
– Ou é. – Dean disse, um fio de esperança na sua voz. – Papai vendeu a alma, nós fechamos o inferno...
– Se todas as almas vendidas voltarem de uma vez só, a Terra vai entrar em colapso.
– Mas isso não é mais problema meu. – Eu murmurei para o espanto de todos e, mesmo atônita com toda a situação, me encaminhei para dentro de casa com passos calmos.


Capítulo 37


Eu encarava aterrorizada o corpo de uma mulher. Era o primeiro corpo que eu havia visto na minha vida inteira. Sam olhava para mim com certa preocupação, mas Dean era o cara do “eu avisei”. Então engoli em seco, segurei mais firme ainda na arma e segui em frente. Os dois eram cuidadosos nos passos, então eu tentava ser, mas ainda estava plenamente consciente de que as folhas secas embaixo dos meus pés faziam bastante barulho.
De repente, houve um som alto atrás de mim. Os irmãos, que estavam à minha frente, se viraram imediatamente, sem hesitar. Eu me assustei com a rapidez, mas acabei me virando e apontando a arma também.
, pro carro.
– Mas Dean...
– Pro carro, . Agora.
O meu cérebro demorou demais para processar a ordem, principalmente porque eu estava disposta a não acatar. Mas então havia o medo, e ele não tinha como esconder no bolso até o final da noite. Disparei na direção do Impala na velocidade mais rápida que consegui, mas não foi o suficiente. Bati em algo – ou algo bateu em mim – e eu caí no chão. Levaram alguns segundos para que eu pudesse raciocinar entre os barulhos e a puta dor que invadiu o meu corpo.
– Dean! Dean! Dean!
Eu não parava de gritar e não sabia o motivo de não ter ninguém me socorrendo. Mais tiros e mais gritos, além dos meus, e eu só conseguia pensar no quanto eu estava sentindo dor. Era, de longe, a dor mais forte que eu já havia sentido na minha vida, isso contando com o coice que tomei sem querer uma vez de Blue, uma de nossas éguas favoritas, porque a assustei. De qualquer forma, naquele dia, meu pai apareceu rapidamente para me socorrer. E onde caralhos estavam Sam e Dean naquela hora?
– Merda, vamos precisar levar ela pra um hospital.
– Você faz ideia da merda que isso pode dar?
– Dean, a gente não tem escolha.
– O Abe vai matar a gente. Puta que pariu...
Passei os instantes que procederam aquele diálogo indo e vindo. A dor fez meu corpo desligar, feliz ou infelizmente, e eu simplesmente não sabia em que pé as coisas estavam. Em um momento, estava dentro do Impala. No outro, sendo carregada. Por último, haviam luzes e mais luzes. E então mais dor. Parecia que eu estava sendo esfaqueada diversas vezes e, nesse momento, nenhum outro sentido do meu corpo funcionava.
– Ela vai precisar de remédios. – Escutei uma voz masculina desconhecida dizer. – Esses são antibióticos, pra ferida, devem ser usados uma vez por dia. Os antinflamatórios são tão importantes quanto, três vezes ao dia. E os analgésicos...
– Dean. – Eu me obriguei a dizer.
Os olhos demoraram a focalizar algo porque a luz forte incomodou.
– Quem é Dean?! – A mesma voz desconhecida perguntou.
– É um apelido carinhoso. – Dean disse, e eu podia ouvir o sorriso forçado na sua voz. – Meu amor, eu to aqui. Você tá bem?
– Eu to com dor. – A voz saiu mais arrastada.
– Rebecah, eu sou o doutor Felix. Você foi medicada, passou por um procedimento meio complicado porque quebrou o braço. Sabe o porquê de estar aqui?
– Não, eu... Eu não... – Respirei fundo, mais dor. – Eu não sei.
– Seu namorado te trouxe aqui e...
Parei mentalmente de escutar o que ele estava falando. Meu o quê?! Dean, por trás dele, fazia careta para que eu deixasse o assunto fluir.
– Vocês precisam se cuidar, garotos. – O médico arrancou uma folha de um bloco de notas que segurava e entregou a Dean. – Já tive essa idade, a gente sempre acha que nada vai acontecer com a gente, mas acontece. Quero vê-la em duas semanas para uma revisão, ok?
Eu fiz que sim sem entender. De repente, olhei para meu braço e ele estava cercado por metal. Comecei a ofegar, piorando porque não sentia o braço. Dean foi rápido em se materializar ao meu lado e colocar a mão na minha cabeça.
– Calma, tá tudo bem.
– Não tá. – Eu disse, a voz de repente mais desperta. – Meu pai vai me matar.
– Não vai não, eu não vou deixar. – Dean sorriu.
– Bem, eu vou deixar vocês dois sozinhos por enquanto. Se precisarem de algo, peçam para uma enfermeira me chamar.
– Obrigado, doutor. – Dean respondeu por mim.
Esperei alguns segundos até que tudo aquilo fizesse sentido na minha cabeça, mas nada. Dean deu uma espiada no corredor e, então, fechou a porta do quarto.
– Quem é Rebecah?
– Eu disse que nós estávamos fazendo trilha e um urso te atacou. Usar seu nome verdadeiro aqui seria furada.
– Dean, cadê meu pai?
– Ele tá em casa e...
– Caralho, Dean, ele vai me matar.
– Vai matar nós três, não sei se você percebeu.
Olhei em volta e senti o que estava faltando.
– Cadê o Sam?! – Perguntei, a voz mais aguda.
– Calma, ele tá no motel. Teoricamente, você tem que ficar aqui ainda mais uns dias pra terem certeza de que você se recuperou bem da cirurgia, mas a gente vai meter o pé amanhã.
– Dean, meu pai vai me matar. – Repeti.
– Eu sei, você já disse isso. Mas a merda tá feita, ok? Não tem nada que a gente possa fazer pra mudar isso. Então você relaxa aí que isso tudo vai terminar bem, de um jeito ou de outro. E, se perguntarem, a culpa é toda minha.
Eu sabia que não era, mas estava com tanto medo que deixei que ele comandasse. Fugimos do hospital na manhã do dia seguinte, porque Dean teoricamente havia arquitetado tudo de forma perfeita. Esperamos pelo momento da troca de turno e, nesse meio tempo, eu mesma arranquei o acesso no braço direito, vesti a roupa que Dean havia pegado na minha bolsa e, disfarçando os ferros no braço machucado, coloquei uma jaqueta dele que ficava enorme em mim por cima dos ombros. O corredor estava ligeiramente vazio, então eu e Dean simplesmente corremos para o carro, onde Sam esperava por nós para dar a partida.
– O Abe ligou. – Sam disse, sério.
Eu me encolhi no banco de trás. Reclamei de dor no caminho, então paramos para comprar os remédios indicados pelo médico do hospital. Seguimos em frente até Lincoln, sem parar, com os irmãos revezando ao volante. Era insano, mas meu pai provavelmente não teria dito coisas legais para Sam, então eu até entendia um pouco da pressa. O que eu não esperava era que fosse ser pior do que eu imaginei.
Fomos recebidos a tiros. Sim. Recebidos a tiros na minha própria casa. Eu estava dormindo no banco de trás, sobre pilhas de roupas e dois travesseiros roubados do motel onde Sam ficou enquanto Dean estava comigo no hospital. Acordei no pulo e, sem querer, bati com o braço no encosto do banco da frente. A dor me acertou em cheio, mas logo foi disfarçada pela imagem do meu pai, andando furiosamente na direção do Impala, segurando uma espingarda.
– Sai do carro, Winchester.
– Abe, calma...
Meu pai deu uma porrada com a ponta do cano do vidro do motorista, o que fez com que a janela estilhaçasse e caísse não só sobre Dean, mas também um pouco sobre mim, que estava logo atrás. Ele nem me viu, ouso dizer. Estava cego de ódio, isso sim estava óbvio. A arma apontada para a cabeça de Dean estava me deixando totalmente desesperada, e eu acabei abrindo a porta do carro de qualquer jeito.
– Pra dentro. – Meu pai rosnou.
– O quê?
– Pra dentro, .
Da última vez que eu recebera uma ordem tão incisiva quanto aquela, terminei com o braço quebrado. No entanto, eu ainda insistia em desobedecer e, naquele instante, eu não sabia qual poderia ser a consequência.
– Pai, eu fui porque quis.
– Eu já mandei você ir pra dentro.
– Não sou mais uma criança, porra!
E então meu pai se virou para mim, ainda apontando a espingarda. Eu congelei.
– Abraham, você tá perdendo o juízo. – Foi a vez de Dean gritar, saindo imediatamente do carro.
Meu pai voltou a apontar a arma para ele, dessa vez a queima roupa.
– Para com isso, pai!
Ele abaixou a arma, finalmente, mas tomou meu braço saudável com a mão livre e, segurando com tanta força que machucava, começou a me puxar na direção da casa. Dean – felizmente ou não, isso nem eu sei dizer – interveio e entrou no caminho. Meu pai não pensou no que fez e acertou a soleira no queixo dele. Foi instantâneo. John se materializou ao nosso lado, e eu nem tinha visto ele chegando. Os dois gritaram alguma coisa incompreensiva e, nessa, meu pai me soltou. Só que ele ainda estava me segurando com força e, consequentemente, me sustentando.
Eu comecei a cair sobre o braço quebrado mas Dean, na velocidade da luz, me impediu de acertar o chão. Nós trocamos um olhar breve de desespero por conta da situação. Sua boca estava sangrando e isso só serviu para me deixar mais nervosa. Mas finalmente meu pai viu a merda que estava fazendo e se virou para me socorrer. O problema é que eu já estava bem puta com o que ele tinha feito até então, e tratei de desviar da atenção dele.
, eu...
– Me deixa. – Rosnei. – Vem, Dean, vamos cuidar dessa merda que tá a sua boca.
, por favor!
Foi nesse exato instante que eu perdi a cabeça.
– Você sabe que é tudo culpa sua, não sabe? – Gritei de volta para ele. – Era só você ter ficado quieto na porra da fazenda que nada disso teria acontecido!
– Os Winchester te levam pra uma armadilha e a culpa é minha?
– É, pai, porque eu só conheci os Winchester por sua causa!
, você não sabe o que tá falando. É apenas uma criança e acha que já pode sair por aí como se não tivesse responsabilidades, como se não corresse riscos? Eu sou o seu pai! Enquanto você estiver sob o meu teto, você vai obedecer às minhas regras.
– Tá me ameaçando?
– Se só assim que você escuta, sim, estou.
– Então ótimo. – Eu disse e caminhei de volta para o Impala. – Dean, vamos embora.
– O quê?! – Ele sussurrou para mim.
– Você não teria coragem. – Meu pai disse.
– Me assista então.



Eu despertei com um pulo. A memória era tão fresca na minha mente que eu demorei a perceber que se tratava de apenas um sonho. Um sonho bom?! Não sei dizer. Eu sonhava com meu pai todas as vezes em que pregava o olho desde que ele havia partido. Aquele sonho, no entanto, havia sido o retrato fiel da primeira vez em que saí para caçar. Alisei o lugar no braço que ainda abrigava as cicatrizes daquele caso. Dean, ao meu lado na cama, estava completamente adormecido ainda. Eu deixei a cama com todo cuidado do mundo para não o acordar. Reforcei meus agasalhos e saí do quarto.
Nunca fui de brigar com meu pai, embora nós dois tivéssemos um gênio bem forte. Quando ele cismava com uma coisa, nada o tiraria do seu alvo, e eu era bem assim também. Era respondona como ele, bruta na mesma medida. Não gostava de moleza, não gostava que pensassem que eu era fraca, e aprendi isso com meu pai. Meu tio me ensinara algumas coisas, de fato, mas ele era um pouco como o avô que eu nunca tive, então houve muita mão na cabeça e muito “vamos varrer para debaixo do tapete”. No final do dia, eu sempre era grata pelos dois, mas sabia que meu pai ainda seria, para sempre, o meu pai.
Uma vez na cozinha, coloquei um bom tanto de leite para ferver. Enquanto isso, fui pegando as coisas que precisava no armário, como a grande caneca térmica de meio litro que meu pai adorava. Joguei um pouco de achocolatado em pó no leite, depois um pouco de café moído. Depois que despejei tudo na caneca e fechei a tampa, sacudi bem. Provei o líquido, estava na medida. Então saí pela porta para a varanda de casa. As armadilhas eram para demônios, e chegava a ser insano pensar que talvez não houvesse mais utilidade para elas. Mesmo assim, eram conferidas, e eu me sentei no balanço de madeira logo em cima de uma delas.
O sol estava longe de nascer, mas o céu já começava a dar sinais de que iria clarear. A neblina estava bem densa, o que me impedia de visualizar qualquer coisa a mais de sete metros de distância. Mesmo assim, o cenário melancólico parecia perfeito para mim. Eu estava sofrendo, mas a dor era necessária para o processo de cicatrização. O divórcio e o braço quebrado foram as primeiras coisas que me ensinaram isso.
– Eu incomodo? – John falou da porta.
Sorri fraco e neguei com a cabeça. Ele se aproximou de mim e sentou ao meu lado no balanço. Em silêncio, ofereci a caneca a ele, que negou.
– Então você e Dean...
Dei de ombros involuntariamente.
– Acho que sim.
– Como ele ficou quando eu...
– Quando você morreu? – Completei a frase que ele hesitou em terminar. – Bem mal, mas nós conseguimos segurar as pontas. Seu filho te idolatrava, você deveria saber disso.
– Eu sei, mas nunca quis que ele soubesse o quanto apreciava isso porque não queria que ele fosse como eu.
– O que quer dizer? – Perguntei, interessada na conversa.
, você acha mesmo que eu penso ser um bom pai? Seu pai também não foi o melhor dos melhores, do meu ponto de vista, mas eu criei os meus nesse mundo. Eles não conhecem nada fora disso. E, quando o Sammy tentou cair fora, eu fui o motivo dele não aguentar muito tempo no mundo “normal”.
Escutei em silêncio, bebendo ocasionalmente um pouco mais do que tinha preparado.
– Seu pai não deveria ter me apresentado pra você. Eu não deveria ter vindo aqui aquela noite.
– Tá tudo bem, John.
– Não tá. O Abe, o Bobby... – Ele fez uma pausa. – Você nunca mereceu nada disso.
– Mas vou sobreviver.
Dei um tapa leve no seu joelho e levantei, levando a caneca comigo para longe da casa. Andei observando o bosque, a planície onde o gado estava, o estábulo com os cavalos. A casa antiga de Harold – que depois se tornou a de Austin – havia ficado completamente abandonada, mas ainda era a mesma da qual me lembrava nas memórias de infância. Eu adorava aquele cheiro de terra molhada com o orvalho, e aquela cena quase que me abraçava, como se me envolvesse por completo para garantir que eu estaria, ao menos naquele instante, consolada. Eram as cicatrizes começando a aparecer no meu coração. E quanto mais doía, mais eu me sentia forte o suficiente para passar por aquilo.


Capítulo 38


– Tem certeza, senhorita Singer?
– Absoluta. – Respondi com um sorriso no rosto e assinei o papel colocado à minha frente.
Levou algum tempo, mas eu consegui resolver a documentação da fazenda. Coloquei setenta por cento dela a venda no outro dia, com as cabeças de gado inclusas. O dinheiro da venda seria suficiente para recomeçar a vida, e eu deveria ser grata por ter aquela chance, mesmo dentro daquelas circunstâncias. Os outros trinta por cento, deixei por lá enquanto decidia o que fazer a respeito. John falou que ficaria de bom grado no local. Ele, ao contrário de nós, não tinha a mínima intenção de abandonar a vida de caçador. Bem, cada um com seus problemas. Então arrumamos a casa do Harold, que depois passou para o Austin e, então, finalizaria com John Winchester. Era um bom fim para a construção, e a gente só esperava que ele tivesse mais sorte que os últimos moradores.
– Sam, já ligou pro Frank?
– Ele vai esperar a gente na estrada, na altura de La Veta, no Colorado.
– Frank Devereaux? – John perguntou. – Esse filho da puta ainda tá vivo?
– Vivíssimo! – Respondi.
– Se não fossem vocês falando, eu não ia acreditar.
– O jantar tá pronto, meninos.
Noites especiais demandavam menus especiais. Tínhamos à nossa disposição gnocchi de batata inglesa, molho branco feito do zero, costela desfiada para acompanhar e, de sobremesa, um bolo de chocolate que certamente estava mais bonito do que gostoso. Era a primeira vez em que eu arrumava a mesa de casa para uma refeição em anos, um hábito que eu e meu pai acabamos perdendo com o tempo.
– Já sabem o trajeto? – John perguntou.
Sam assentiu prontamente.
– Vamos sair daqui, descer até Great Bend e, então, passar por Garden City, entrar no Colorado só pra pegar toda a documentação com o Frank, depois só cruzar o noroeste do Novo México e entrar no Arizona.
– Passam por Navajo?
– Sim, parece uma boa opção
– E é. – John concordou.
– Vou voltar pra faculdade. – Sam disse, um tanto quanto receoso de tocar no assunto que tinha gerado a última briga feia entre eles. – Frank disse que ia arranjar de me colocar na Northern Arizona University. É pública, não é bem falada, mas não seria muito bom colocar os pés numa faculdade de nome agora. Pode atrair riscos que a gente não quer nem pode correr.
– Tenho certeza de que você vai ser um ótimo advogado, Sammy.
John esticou o braço e pegou no ombro do filho. Carregava um sorriso no rosto. Todos nós estávamos estranhando a volta dele – talvez ele, mais que todos. Ver John ser carinhoso era algo extremamente raro e, naqueles poucos dias, John só era amor para cima dos filhos.
– Boa noite. – Castiel falou da porta, me fazendo tremer de susto, como sempre. – Me desculpem o atraso.
– Deu tudo certo por lá, Cas? – Dean perguntou.
– Perfeitamente. Eu chequei a vizinhança inteira, não tem com o que se preocupar. No mais, eu vou ficar de olho sempre.
– Obrigado, Cas. – Sam disse, sorrindo.
– Quer se sentar com a gente? – Convidei.
Castiel veio logo. Era como se ele já fosse parte da família. Quase um Winchester. Quase. Sua ingenuidade sempre o dividira de nós. De tudo na vida de caçador que queríamos deixar para trás, Castiel era a única coisa que, custasse o que custasse, nós brigaríamos para manter por perto. Os quatro passaram o restante da noite conversando alegremente, dividindo risadas que não preenchiam aquela casa havia muito tempo. Eu ainda carregava a dor nas costas, mas sabia que estava do melhor jeito possível dentro daquelas circunstâncias.
Saímos logo depois do café da manhã no outro dia. Para os meninos, só café. Eu estava pronta para mudar minha vida por completo, então tratei de fazer uns ovos mexidos para me reforçar a fim de encarar melhor a viagem. Dei uma última olhada para a casa. Tranquei a porta e entreguei a chave para John.
– Qualquer coisa, pode usar o telefone fixo pra ligar pra gente.
– Pode deixar.
John me puxou, junto com os filhos, para um abraço em grupo. Ele particularmente me apertou e deixou um beijo sobre a minha cabeça.
– Fico feliz de voltar a tempo de ver vocês seguindo em frente.
– Vai dar tudo certo, pai. – Sam disse.
– Eu sei que vai. – Ele sorriu. – Agora peguem logo a estrada e mandem sinais de fumaça pelo caminho.
Nós sorrimos uma última vez para John e descemos a varanda da casa correndo. As primeiras milhas foram feitas com os vidros todos descidos. O ar tinha cheiro e gosto de liberdade. Era algo que eu não lembrava de ter sentido na minha vida inteira. Tinha uma trilha sonora para aquele momento, e era John Bongiovi cantando Livin’ On A Prayer no máximo. Nós só paramos pela primeira vez para encontrar com Frank no acostamento da estrada.
– Meninos... Eu não pensei que os veria vivos novamente.
– Oi, Frank. – Dean foi na frente e trocou um abraço rápido com ele.
! – Frank disse, a voz mais baixa e calma, e um sorriso triste no rosto. – Eu sinto muito.
– Tá tudo bem, Frank, obrigada.
O clima ficou estranho por alguns segundos, nenhum de nós quatro sabia exatamente o que fazer.
– Bem... – Frank retomou a fala, buscando algumas pastas de dentro do carro, entregando uma para Dean, uma para Sam e duas para mim. – Aqui está tudo o que vocês precisam saber. As novas identidades, as histórias por trás delas, tudo o que foi criado, o que vocês teoricamente já fizeram, a vida que tinham até aqui... Ah, e o mais importante! Olha a minha cabeça de velho, quase esqueci. – Ele pegou mais uma pasta e me deu. – O Impala. Seu tio recebeu o carro no ferro velho. Ele não sabia a origem. Você gostava de carros antigos e pegou o carro, reformou e botou pra funcionar. Conheceu Dean quando ia vender o carro e se apaixonaram. É uma história com final feliz, não é?
Olhei para Dean, ele abriu um meio sorriso.
– Vocês agora se chamam Dean e Sam Barlow.
– Não tinha nome mais merda onde você arrumou esse?
– Dean!
– Tá tudo bem, , estou acostumado com esses dois. – Ele brincou. – Cartões de crédito, identidades, licença de motorista... Enfim, todas as informações que estão aí são informações que estão contidas, agora, no sistema, ou que complementam a história um do outro, caso seja necessário. Acho que não seria proveitoso que nós permaneçamos aqui por muito mais tempo.
– Não mesmo. – Eu me aproximei e apertei a mão de Frank. – Obrigada por tudo.
Ele assentiu, limpou as mãos nas calças e aguardou que nos afastássemos. Entramos nos nossos respectivos carros e seguimos para caminhos opostos. Sete horas depois, estávamos encostando em um motel beira de estrada na altura de Socorro, no Novo México. Sem pressa, restava ainda mais seis horas e meia de viagem e, pela primeira vez na vida, nós estávamos curtindo o luxo de poder descansar.
– Você lembra qual foi a última vez em que fizemos isso?
– Fizemos o quê? – Perguntei a Dean.
– Entrar no quarto e não montar uma estação de trabalho.
– Nós ainda temos que decorar páginas e páginas sobre sua nova identidade, mocinho.
– Pode esperar.
– É como se fosse um caso, Dean. – Peguei a pasta correspondente a ele e joguei no seu peito. – Não pode esperar. De jeito nenhum.
Ele bufou mas riu, logo depois, me puxando para um beijo que eu tratei de cortar logo antes que virasse algo mais. Ainda tinha risco. Enquanto não estivéssemos completamente estabelecidos, haveria risco. Então eu coloquei uma roupa confortável e sentei na cama com as pastas em mãos. Quando dei por mim, Dean estava roncando ao meu lado e o céu, lá fora, começava a clarear. Pegamos o carro novamente, Dean no volante do Charger enquanto Sam seguia com o Impala logo atrás. Foi inevitável, eu dormi. Acordei em um cruzamento com um mau pressentimento, comprovado logo que eu assimilei a visão.
– Dean, era pra você ter seguido pela esquerda! – Eu gritei. – Pega o próximo retorno.
– Não será necessário. – Dean disse, os óculos escuros caindo relaxadamente sobre seu rosto.
– Como assim “não será necessário”, Dean? São duas horas a mais por aqui, não tem necessidade. Além disso, eu já to cansada demais. Preciso parar logo.
– Não vai ser nada demais.
– Dean!
Eu gritei, mas ele fingiu que não ouviu. Apertou o botão para ligar o som, aumentou o volume e deixou que Bruce Springsteen inundasse o ambiente com Born To Run.
Just wrap your legs ‘round these velvet rims and strap your hands ‘cross my engines...
– Dean, me responde!
Together we could break this trap, we’ll run ‘till we drop, baby, we’ll never go back...
Diminui o volume, mas ele colocou no máximo de novo no mesmo segundo e ergueu a cabeça, gritando a música a plenos pulmões.
Oh, will you walk with me out on the wire? ‘Cause, baby, I’m just a scared and lonely rider, but I gotta know how it feels...
Dean desmanchou em uma gargalhada que, se eu não estivesse irritada com sua mudança de rumo, seria gostosa de ouvir. Olhei para trás e Sam simplesmente não estava na nossa cola.
– Relaxa, baby, ele tá ciente do plano. Somos só eu, você e a sua máquina. – Ele declarou, alisando a parte de cima do painel do meu carro.
Fiz voto de silêncio, mas não parecia estar fazendo muito efeito. Nós rodamos por mais três horas e alguma coisa, pelo menos o som estava mais baixo, até que eu comecei a observar a paisagem pela janela e liguei os pontos. Minha mãe morava em Phoenix por anos! Como eu nunca havia pensado naquilo?
Dean estacionou o carro no lugar mais perto que conseguiríamos chegar. Atraímos alguns olhares dos outros turistas que estavam por lá. Não era normal, de toda forma, um Charger tão velho e tão bem arrumado como o meu. Ele, particularmente, estava com um sorriso fora de série nos lábios. Fez questão de pegar meu casaco no banco de trás e vestiu em mim. Passou a mão pela minha cintura e puxou meu corpo para si. Andava com a cabeça erguida. Era a primeira vez na minha vida em que eu via Dean Winchester se sentindo tão bem consigo mesmo.
– Pronta pra caminhar um pouco?
– Nem um pouco, mas você inventou de me colocar nessa merda...
– Podemos voltar então. – Ele fez menção de virar o corpo de volta para o carro, mas eu dei um gritinho e segurei seu braço.
Em resposta, Dean sorriu, entrelaçou os dedos nos meus e seguimos para a ponta de um dos cânions.
– Sabe onde estamos?
– No Grand Canyon?! – Perguntei de volta como se fosse óbvio.
– Não, bobinha. Estou falando do ponto específico.
– Nem faço ideia.
– Se chama Powell Point.
– E desde quando você se interessa por essas coisas?
– Desde quando planejei te trazer aqui. – Ele deu de ombros. – Foi aqui que os primeiros visitantes do parque exploraram. Sabe que tem várias minas aqui?
– Não sei, Dean. – Brinquei.
Ao olhar para frente, percebi o motivo pelo qual o exato ponto estava tão lotado de gente. Os cânions à minha frente se tingiam de tons do amarelo ao laranja, indo até um rosa avermelhado em certos pontos, a imagem mais bonita que eu já havia tido a chance de ver. O vento frio não era capaz de acabar com a graça do momento. Na minha cabeça, tocava uma parte de No Worries, música do McFLY, minha banda preferida, que dizia times like these we’ll never forget, staying out to watch the sunset, I’m glad I shared this with you. Eu sorria inconscientemente com a associação. Se ele soubesse, ia reclamar pela milésima vez no ano que McFLY não era música de verdade.
– Visitei minha mãe incontáveis vezes desde que ela veio pra cá e ela nunca nem sequer falou sobre me trazer aqui, sabia?
Quando eu me virei para trás, Dean estava sob um joelho, as mãos tremendo e atraindo a atenção de todos que estavam por perto. Ouvia uns gritinhos contidos de algumas mulheres ao redor. Eu senti um aperto crescer no meu peito enquanto ele virava um pouco e pegava algo no bolso interno do casaco. Merda.
Singer, – A voz de Dean soou a voz mais trêmula que eu já havia escutado na vida. – você quer se casar comigo?


Epílogo


– Dean! – Gritei. – Onde tá a chave 12?
– A catraca?
– Não, a de boca.
– Acho que tá na minha maleta.
Eu saí debaixo do carro que estava no elevador e olhei para ele com raiva.
– Você tem que tomar mais cuidado com as suas ferramentas.
– Eu juro que vou comprar outra amanhã.
– To ouvindo essa desde semana passada.
– Se eu não comprar amanhã, te faço massagem todos os dias por um mês.
– Prefiro que você compre. É melhor do que eu ficar toda hora tendo que ir atrás da minha ferramenta.
– Mamãe, – A voz fina veio logo atrás de mim. – não briga com o papai.
Coloquei as mãos na cabeça, respirei fundo e virei para Mary, abaixando até ficar na sua altura.
– É que o seu pai tá fazendo coisa errada.
– Papai tá fazendo merda?
– O quê?!
Dean começou a rir descontroladamente. Eu olhei para ele com mais raiva ainda.
– Foi seu pai que te ensinou essa palavra, Mary?
– Foi o tio Sam.
Meus ombros caíram.
– Olha só, meu amor, você não pode falar essas coisas. Isso é coisa de adulto. Você sabe, não sabe? – Perguntei e ela assentiu. – Agora vai lá dentro que eu já to indo colocar sua comida.
Mary se aproximou, deixou um beijo no meu rosto e saiu correndo para o escritório da oficina. Eu passei as mãos no pano mais próximo e fui até Dean.
– Nunca pensei que diria isso, mas vou ter que ficar prestando atenção quando deixar a nossa filha com o seu irmão?
– A faculdade não tá fazendo bem pra ele.
– Dean, não é brincadeira.
– Eu sei. – Ele me deu um beijo rápido. – Vou falar com o Sam.
– Obrigada. E vá se limpar. Vou dar almoço pra Mary e levá-la pra minha mãe antes de continuar aqui.
Ele assentiu. Eu tirei o macacão, limpei as mãos e braços com álcool em gel. Fui até a cozinha na nossa casa, no fundo do terreno da oficina. Tirei a lasanha do forno – o prato era o favorito de Mary também, igual ao pai – e coloquei em cima da bancada. Separei o pedaço de Mary, cortei os pedaços logo para que começassem a esfriar e ela pudesse comer sem dificuldades. Dean chegou logo depois e ajudou a levar tudo para a sala de jantar.
– Mary? – Chamei. – Vem logo comer pra eu te levar pra vovó.
– Mamãe, – A voz veio da frente da casa. – tem um moço aqui.
Dean olhou para mim, os olhos arregalados. Saí correndo com uma faca de refeição na mão enquanto Dean foi pegar as armas que ficavam em cima da geladeira. Puxei Mary para trás de mim, imediatamente.
– Pra dentro, filha.
– Mas mãe...
– Pra dentro, agora. – Eu a observei obedecer, mesmo hesitante.
– O que você quer com a minha família? – Dean saiu apontando a arma.
– Calma, Winchester. – O homem falou, a voz tranquila como se não passasse de uma situação casual, então levantou a maleta de couro que levava consigo e tirou uma pasta de lá. – Doddsville, Mississippi. É algo que nenhum caçador jamais viu. Não tem semelhança com nenhum dos casos que eu já vi serem relatados, até seu pai falou que não sabe nada sobre o assunto. Vocês são minha última esperança.
Ele olhou para mim. Eu sabia que Dean amava aquela vida. Por mais que estivéssemos estáveis em nosso trabalho na oficina, tinha medo do dia em que aquilo ia chegar, alguém oferecendo uma aventura que Dean não poderia recusar. Achei que estava garantindo que Dean ficasse por perto quando Mary nasceu mas, exatamente naquele momento, eu senti tudo indo por água abaixo. Principalmente quando Dean abaixou as armas. Engoli em seco. Senti a dor de despedida nos meus músculos.
– Desculpa, amigo, você veio no lugar errado. – Dean disse e me puxou para perto, abraçando a minha cintura. – Nós não mexemos mais com isso.
– Mas disseram...
– Seja lá o que tenham dito sobre nós, não é mais verdade há anos.
– Por favor...
– Por favor digo eu. – Dean insistiu. – Eu preciso pedir que você se retire da minha propriedade e nunca mais apareça aqui ou sonhe em chegar perto da minha esposa ou da minha filha de novo. Porque eu ainda sei atirar como antes e não vou hesitar em estourar os miolos de quem colocar uma delas em risco.
Foi a vez do homem engolir em seco. Ele começou a se afastar, ainda virado para nós. Eu sentia a tensão querendo ir embora, mas estava ainda me acabando no medo. Quando ele desapareceu pelo corredor que levava para a rua, senti minhas pernas bambearem.
– Dean...
– Não vai acontecer. – Ele pareceu ler a minha mente. – Nunca, ok?
– Mas você gostaria. Não diz pra mim que não gostaria.
– Eu tenho uma família agora. Eu amo você, amo nossa filha. Não tem nada no mundo que jamais me fará abandonar isso. – Dean declarou. – Liga pra sua mãe, cancela os planos, fica em casa com a Mary hoje. Eu assumo o trabalho pesado na oficina.
Dean beijou a minha testa e entrou de volta em casa, pegando Mary no colo logo em seguida e começando um discurso carinhoso sobre como ela devia se portar com um desconhecido. Eu observava embasbacada a cena da porta da sala.


I try
Eu tento
To give myself away
Me dar uma oportunidade
To give into the chase
Investir na caçada
Nights turns into days
Noites se transformam em dias
I drive
Eu dirijo
Drive into the moon
Dirijo em direção à Lua
I pray for something new
Eu oro por algo novo
No matter what I do
Não importa o que eu faça
All roads lead to you
Todas as estradas levam a você


Lawson, Roads


Fim!

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Nota da autora: ENFIM, CHEGAMOS! Eu estou sentimental com postar o último capítulo aqui tanto quanto fiquei quando terminei antes de postar. Chorei antes, chorei agora e provavelmente vou chorar de novo depois. Esse história significa muito pra mim porque foi a minha volta ao mundo das fanfics depois de muito tempo longe dele porque não me sentia boa o suficiente para voltar a escrever. Ela e Badges and Guns me trouxeram de volta ao que eu mais amo fazer na vida, e isso é incrível. Eu gostaria de deixar meu singelo agradecimento a TODAS que comentaram aqui, mesmo que uma vez, porque isso significa muito pra mim. Eu espero que possamos nos encontrar várias vezes. Muito obrigada por sua atenção até aqui. Se sentir saudades, pode me visitar nas fanfics listadas aqui embaixo. Vou sempre ser grata por vocês!

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