Última atualização: 10/12/2017

Take On Me...

Que iria imaginar que depois de dois anos de trabalho duro, eu estaria aqui no meu pequeno quarto arrumando minhas malas com destino a Seoul, tinha me tornado uma das mais talentosas escritoras de webtoons. Algo inacreditável, uma ocidental assinando contrato com a Naver, estava sendo mais que um sonho realizado.

Tudo isso se deve aquela noite, que foi um divisor de águas em minha vida, se foi um sonho não sei, mas agradeço a Deus por ter acontecido!

- x -

Dois anos atrás…

Manhã de chuva, era tudo que eu não precisava naquele dia, principalmente porque teria que chegar uma hora mais cedo no trabalho. Era cansativo enfrentar oito horas mais hora extra, em uma cafeteria que não ficava dois minutos vazia, mas era o que pagava minhas contas e financiava meu sonho, ainda mais nesse período de falsa generosidade que o natal trazia para os clientes, até que minhas gorjetas não estavam baixas.

Após enfrentar o que mais parecia um dilúvio, ônibus e metrô lotado, cheguei no Boulevard Shopping já com meu crachá de identificação nas mãos para não perder tempo, em minha mente a imagem da minha cama estava instalada, porém lá no fundo a coragem de mais um dia de trabalho já se manifestava. Fé em Deus, que tudo daria certo aquele dia, quem sabe assim eu não teria mais nenhum problema com minhas crises de bloqueio criativo.

O que me faz voltar ao meu projeto para o futuro! Claro que não seria trabalhar em uma cafeteria para sempre, nem se eu fosse a dona, o que eu realmente queria até há alguns meses atrás era ser mangaká, sonho de consumo de criança que cresceu lendo mangás e vendo animes. Porém, por um desvio de nacionalidade, acabei conhecendo os webtoons coreanos e me apaixonando por eles, me levando a mudar todo o percurso do Japão para a Coreia do Sul.

O que não foi muito fácil para mim, já que nunca tive tanto talento para desenhos como eu tinha para criar as histórias, mas se queria seguir meu sonho, tinha que me esforçar ao máximo, além de mostrar interesse para minha mãe que sempre me dava apoio. E com o passar dos anos, muita técnica, esforço, estudo e prática, meus desenhos começaram a tomar forma. Até que o primeiro obstáculo veio, um maldito bloqueio criativo que não me deixava prosseguir no roteiro de minhas histórias.

Justo agora…

Respirei fundo, voltando a minha realidade atual e segui em direção às mesas para organizá-las adequadamente. Precisava de toda paciência possível para sobreviver aquele sábado chuvoso, quanto mais as horas passavam, mais agoniada eu ficava ao me lembrar que só tinha até a manhã seguinte para enviar meus esboços.

Então você me pergunta, que esboços, ?  

Por acaso, há cinco meses atrás uma amiga minha tinha visto no site do allkpop, que o Naver estava organizando um concurso para descobrir novos talentos de webtoons, o que significava uma oportunidade única em minha vida. E é aí que entra meus esboços, juntamente com meu bloqueio criativo que não me deixava pensar em nenhuma história legal, eu não conseguia nem mesmo finalizar os traços do meu personagem principal.

— Yah! — elevei um pouco minha voz ao deixar um copo cair e quebrar — Não acredito nisso.
— Uau, você está mais distraída que o normal. — comentou Nalla ao se abaixar e me ajudar a catar os cacos.
— Não estou distraída, é minha concentração que está em outro lugar. — expliquei.
— Você anda muito preocupada ultimamente, conseguiu desenhar mais alguma coisa? — perguntou ela já entendendo o que eu estava falando.
— Ainda não, o pior é que desenhar não é o problema, meu bloqueio está exatamente onde nunca tive dificuldade, montar e desenvolver a história.
— Fé no Pai que uma hora sai. — ela sorriu de leve — Quanto mais você ficar ansiosa, menos irá conseguir.
— Ansiosa?! — a olhei — Miga, eu só tenho até amanhã antes do meio dia, para enviar pelo menos o esboço do primeiro volume com no mínimo trinta páginas, eu não desenhei nem o personagem principal.
— Acho que precisamos de um milagre. — ela fez uma cara de pensativa.
— Você só acha?! — suspirei fraco desviando meu olhar para um cliente que tinha acabado de sentar em uma mesa.

Me afastei dela, para retornar aos meus afazeres.

As horas foram se passando e felizmente só tive que fazer duas horas extras, após pegar minha mochila, saí correndo em direção a estação, a boa notícia é que àquela hora teria cadeira vazia para ir sentada. Já que minha parada seria na estação final, assim que me sentei bem ao fundo do vagão e no canto da janela, coloquei meus fones de ouvido e retirando o mangá de Kuroko no Basket da mochila, me concentrei na minha leitura diária.

A chuva que ainda se mantinha firme e forte, me fez correr um pouco assim que desci do ônibus, ao chegar em frente ao prédio onde morava alguém estava saindo de carro da garagem, acelerei para entrar antes que o portão automático de fechasse. Eu não me importava de molhar, mas minha mochila tinha que permanecer intacta, felizmente só tinha alguns respingos nela.

— Ahhh, como é bom chegar em casa. — entrei já jogando a mochila no sofá e me espreguiçando — Será que a unnie já chegou?!

Me perguntei de leve caminhando em direção a cozinha, logo vi um bilhete pregado na geladeira, aquele garrancho era reconhecível.

“Estou de plantão hoje, volto amanhã no almoço.”

Minha irmã mais velha era o orgulho da família, uma residente de medicina formada na UFMG, que já estava no início da sua especialização em cardiologia, e pelo visto passaria a noite trabalhando.

Cada um com seu sonho de vida...

Desde criança Mary já gostava de assuntos desse meio, já era bem previsível que ela seguiria esse caminho. Bem, o futuro dela era garantido, e eu teria que correr atrás do meu, afinal foi para isso que eu tinha aceitado morar com ela em Belo Horizonte, na região do Barreiro, após a formatura do Ensino Médio.

Me voltei para o banheiro, nada como um banho relaxante, quem sabe estando quentinha e confortável sairia alguma coisa da minha mente criativa. Me espreguicei um pouco antes de me sentar em frente a escrivaninha do meu quarto e fiquei longos minutos encarando a tela branca do photoshop no notebook, com a caneta da mesa digitalizadora na mão, o que me deixava ainda mais triste.

— Yah, , pare de esperar pela modernidade, não foi assim que você aprendeu. — me repreendi levantando da cadeira — Vou voltar ao início, quem sabe assim eu consiga, que Deus me ajude.

Olhei para o guarda-roupa tentando me lembrar onde tinha escondido meus lápis de cor, caminhei até ele e abri, vasculhando as gavetas e prateleiras, assim que achei a bolsinha de lápis, peguei o sketchbook espiral e me sentei no chão, escorando minhas costas na beirada da cama. A ordem agora seria ficar o mais confortável possível para que minha mente fluísse.

Após algumas páginas de frustração, tive uma ideia.

— Ok. — respirei fundo — Vamos começar por você, meu personagem principal, e qual será seu nome?

Pensei um pouco…

— Hum, que tal Cho ?! Nada mal.

Assim que escrevi o nome no topo da folha, comecei a esboçar seus traços. Primeiro o corpo inteiro e no canto inferior da mesma página, sua face para que eu pudesse determinar todos os seus traços faciais com mais capricho. Dentro de mim uma certa empolgação começou a despertar, me fazendo ficar ainda mais envolvida naquele esboço, levando-me a partir para as cores e espalhar todos os lápis de cor pelo chão em minha volta.

Aquela sensação de quando criança havia retornado, como uma brincadeira me fazendo divertir de forma surreal. Eu só parei quando finalmente esboço colorido do meu personagem principal estava finalizado, foi aí que senti um fundo no estômago seguido de uma grande fome, olhei no relógio e já marcava meia noite, ou seja, só me restava doze horas para enviar e só tinha um personagem desenhado, acho que isso era o início.

— Como Nalla disse, preciso de um milagre. — sussurrei indo para a cozinha.

Abri a geladeira e olhei, tinha alguns sanduíches que provavelmente Mary tinha comprado para ela, e eu comeria sem nenhum remorso, fiz uma grande xícara de chocolate quente e me joguei em dois sanduíches de frango, acho que ela não sentiria falta, já que havia ficado mais três na geladeira. O lanche estava bom e revigorante, agora minha mente poderia trabalhar sem nenhum empecilho.

Assim que voltei para o quarto, segui distraída para minha cama até que notei o sumiço do meu sketchbook, meu coração acelerou de uma forma louca, até que uma respiração veio de trás de mim, fazendo meu corpo congelar.

— Este sou eu?! — era uma voz grossa, um pouco alta.

Eu me virei lentamente…

Meus olhos não acreditaram no que estava vendo.

Era ele, o meu personagem diante de mim. Eu reconhecia aqueles traços, aquela roupa que tinha acabado de desenhar, aquele sorriso singelo e olhar misterioso.

— O que? — foi a única coisa que saiu da minha boca, que naquele momento estava aberta.
— Oi, . — ele sorriu novamente.
— V-você?! ?! — ainda embasbacada.
— E quem mais seria? — ele riu — Pare de me olhar assim, assustada.
— Como você quer que eu te olhe? Há dez minutos atrás eu estava colorindo você. — o olhei de cima para baixo — Você é real?
— Claro que sou. — ele cruzou os braços fazendo uma cara de indignado — Acha o que? Que sou uma alucinação?
— Talvez, estou tão desesperada por uma história. — respirei fundo e fechei os olhos — É só uma miragem.
— Aish, não sou uma miragem. — ele riu.
— Então, como?! — abri os olhos.
— Não sei. — ele deixou o sketchbook em cima da escrivaninha e caminhou até a porta — O que estava pensando em fazer?!
— Fazer com o que? — fiquei um pouco confusa.
— Com minha vida, minha história, você parece um pouco cansada. — ele veio até mim e segurou em minha mão — Estou com fome, venha e me faça algo para comer.
— O que? — o olhei surpresa.
— É, fome, sou como um recém-nascido, preciso de comida. — ele me puxou para fora do quarto — Onde fica a cozinha.
— Ah yah, que personagem mais folgado eu criei. — reclamei sendo puxada por ele.
— Pare de reclamar, eu vim te ajudar.

Ele ficou rindo de mim, enquanto minhas reclamações vinham ao longo do percurso, minha única alternativa foi finalizar os três sanduíches sobreviventes, que comeu de bom grado com duas xícaras de chocolate quente.

Além de folgado, era guloso.

— Ah, estava gostoso. — disse ele se espreguiçando ao entrar no quarto.
— Que bom que gostou. — sorri de leve me aproximando da escrivaninha e sentando na cadeira.
— O que está fazendo? — perguntou ele cruzando os braços.
— Estou me preparando, vou desenhar você no notebook e depois começar a desenvolver o storyboard, com o enredo.
— Story o que? — seu olhar confuso se desviou para o notebook.
— Storyboard, um pequeno esboço de como ficará a história, você não disse que veio para me ajudar? — que pergunta inocente a minha.

Ele começou a rir alto de mim.

— Não é assim que vou te ajudar. — ele caminhou até mim e pegando minha mão, me levantou da cadeira.
— O que está fazendo? — fiquei um pouco receosa — Como acha que vai me ajudar então.
— Você confia em mim? — ele sorriu de uma forma carismática, a mesma forma que tinha imaginado enquanto o desenhava.
— Gostaria de dizer não, mas não tenho outra escolha.
— Então, relaxe e curta nossa aventura.

Assim que ele terminou de falar, em um piscar de olhos me senti totalmente sendo atraída para a tela do notebook como se fosse um ímã, de repente tudo ficou branco como a folha em branco da página do photoshop, até que rabiscos pretos foram surgindo e tudo escureceu.

- x -

Acordei sentindo dores nas costas e um feixe de luz entrando pela janela direto nos meus olhos, minha cabeça estava com uma sensação de dolorida. Abri os olhos e me vi sentada na cadeira e debruçada sobre a escrivaninha, logo à frente o notebook fechado com a mesa digitalizadora ainda conectada, não acreditava que tinha dormido.

— Yah, , o que você fez?! — respirei fundo para não me xingar.

Abri o notebook e assim que voltou do modo de espera, na tela apareceu o photoshop aberto, esfreguei meus olhos para que pudesse acordar direito e me certificar que o que estava diante de mim era real. Minha webtoon estava pronta, não era um mero storyboard com esboços fracos, era a história real ilustrada com perfeição, cada traço, cada linha, cada cor devidamente posicionada.

E lá estava ele, meu protagonista na capa do webtoon com aquele sorriso bobo que era sua marca registrada.

Stand By Me?! — sussurrei para mim mesma o nome da história, ainda não acreditando, comecei a passar os olhos pelas páginas — Foi real?!

Era um caprichado primeiro volume com trinta e sete páginas, desviei meu olhar para o relógio do notebook e marcava dez minutos para dar meio dia. Respirei fundo e abri o site do concurso, eu ainda tinha dez minutos para a oportunidade da minha vida profissional, salvei o arquivo em dois formatos diferentes, digitei todos os meus dados na página de inscrição e anexei minha história.

— Por favor, dê certo. — sussurrei ao clicar no botão de envio, faltando três minutos para terminar o prazo.

Assim que a mensagem de confirmação apareceu, minha respiração que estava presa voltou ao normal, era inacreditável que tinha mesmo dado certo.

— Que loucura, será que foi um sonho? — me perguntei — Que horas eu dormi? Nem me lembro de ter desenhado tudo isso.

O milagre que eu esperava.

Respirei fundo e abri novamente o photoshop, agora iria salvar novamente em arquivo para impressão, tinha que mostrar aquilo para Nalla e Mary. Parei por um momento em uma das páginas e percebi que um dos personagens era um pouco parecido comigo, achei um pouco estranho, pois nunca me colocava como personagem de minhas histórias, rolei a barra até a capa novamente e parei um pouco a olhando.

— Que estranho. — comentei — Só me lembro de tê-lo desenhado.

Foquei meu olhar nos olhos do meu personagem, em segundos o olho direito dele piscou para mim. Aquela piscada fez os pelos do meu corpo se arrepiarem de uma forma tão intensa, que senti até as pupilas dos meus olhos dilatarem.

Cho , era real!

 

"Não há ninguém como você, mesmo se eu olhar em volta é tudo igual.
Onde mais procurar?
Uma boa pessoa como você, uma boa pessoa como você,
Um coração bom como o seu, um presente bom como você.
Que sorte, a pessoa que irá lutar para proteger você, sou eu.
Onde mais procurar?
Um cara feliz como eu, um cara feliz como eu,
Um cara que ri com felicidade como eu."
- No Other / Super Junior

 

Milagres: Tudo é possível ao que crer, o impossível Deus fará por você!” – by: Pâms



THE END...



Nota da autora:
Confesso que demorei para escrever essa fic, mesmo já tendo todo o plot na cabeça, mas me diverti bastante escrevendo essas poucas linhas e estrofes, espero que tenham gostado de mais essa história e Stand By Me ali apresentado vai virar fic sim kkkkkk estou escrevendo ela para o ficstape de Boys Over Flowers, então aguardem mais fofuras em forma de histórias!
Enfim dedico esta a minha leitora linda Mariana Souza, que fez niver 15 de novembro e esta é a primeira parte do seu presente!!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!


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