Chapter Eight — The Cupid
Rosa e vermelho eram as cores que coloriam a Cuddle High School naquela semana. havia feito de questão de participar da decoração em homenagem a São Valentim, considerado o anjo do amor. As festas do dia de São Valentim, conhecido popularmente como o dia dos namorados, além de serem relembradas por suas cores vermelhas e decorações preenchidas com corações, também mobilizam a maior parte dos restaurantes e bares de todas as cidades inglesas naquele mês.
Ela vinha trabalhando duro no último mês para que tudo saísse perfeito. A decoração pelos corredores da escola fazia parte da divulgação da sua festa para que o máximo de pessoas pudesse comparecer. estava feliz com Elliot, mas acreditava no amor tanto quanto acreditava que mocassins deveriam ser extintos do mundo da moda. E achava que os jovens solteiros daquele colégio também deveriam ter uma chance para encontrar alguém especial.
Antes de sair de casa, usou dez minutos de seu precioso tempo para cortar corações na cartolina rosa de forma que ficassem grudados um no outro. Durante o intervalo das aulas naquela quarta-feira ela começaria a entregar os panfletos com a ideia principal, e logo em seguida espalharia a ideia nas redes sociais. havia lhe mandado uma mensagem para avisá-la que os amigos estavam reunidos em uma das mesas do pátio principal.
— Pronto, pronto, cheguei! — falou ela ao parar de frente para os amigos sentados à mesa. Segurava os corações de cartolina juntamente com um dos panfletos virados voltados para si, para que ninguém visse antes que ela anunciasse. juntou-se ao seu lado.
— Mas já pode ir embora se quiser.
— , cala a boca! — falou para o amigo e agradeceu com o olhar. , assim como , estava curiosa para saber o que tanto e planejavam. Elas não deram pista alguma sobre o que iria rolar no evento.
— Minha tia vai inaugurar o novo estabelecimento dela nesse sábado e e eu decidimos juntar o útil ao agradável. — falou , segurando os corações que havia feito enquanto a outra desvirava o panfleto. Separou seis e entregou para , que estava mais perto dela, para ir passando para o resto dos amigos.
— E eu convido todos vocês a comparecer, vai ser demais! — disse empolgada. fez uma careta.
— Solteiro não comemora dia dos namorados. — falou e concordou com ele.
— Sábado também é aniversário do , proponho darmos uma festa ao invés disso.
— Obrigada por lembrar, . — ironizou . Tudo o que ele menos queria naquele sábado era uma festa para comemorar o aniversário. Mesmo que ainda não houvesse acatado a ideia das garotas.
— Eu apoio. — falou .
— Vai ser um baile dos solteiros, na pista de patinação. Participa quem quiser. — disse cruzando os braços. — Todos vão receber um número totalmente aleatório, e patinar enquanto a música estiver tocando. Quando a música parar, todos param também e falam com a pessoa mais próxima de você. O objetivo é achar a pessoa que tem o número igual ao seu. — explicou ela. não podia ter arquitetado de forma melhor, e não deixaria que nada ou ninguém estragasse. Ela e Elliot haviam planejado de passarem o dia juntos, e à noite prestigiar a inauguração do Ringue&Bar da tia de . Ela havia adorado a ideia da amiga da sobrinha. Era justamente o que estava procurando para que a inauguração fosse memorável, além de ter a pista de patinação sendo usada quase que o tempo todo pelos jovens da Cuddle. O movimento iria ser grande.
— Eu fui lá com a minha tia semana passada. — falou . — O lugar é enorme. Os casais já formados saem da pista e tem livre arbítrio para circular pelas mesas e a pista. Onde já estão os casais que vão juntos. — ela olhou para e , que já haviam assumido para Deus e o mundo que estavam juntos para valer. O último mês havia sido de puro romance entre os dois.
encarava o panfleto que havia entregado. O preto e o vermelho eram as cores dominantes que marcam o nome do evento, o lugar, data e horário. Também destacava que a taxa de entrada de 10 libras seria arrecada em fundos e doados a um orfanato localizado em Londres. Até ouvir a voz de . Ele assim como todos os outros olharam para ela.
— Eu vou. Parece divertido. — e sorriram, agradecendo o apoio.
— É bem melhor do que o plano do . — falou , encarando o namorado.
— Qual o plano dele? — perguntou .
— Ele quer que a gente vá numa exposição de carros antigos no shopping, depois de mais uma sessão de clássicos no cinema e um macarrão em um dos restaurantes italianos.
— Fala sério, . É o dia perfeito. — rebateu .
se divertiu com a cena.
— Só se você quiser que eu morra de tédio, né, baby. — disse , logo depois olhou para e . — Nós vamos. — afirmou e bufou, derrotado.
— E quanto a vocês? — perguntou para os três, mas olhando especificamente para . E, para a surpresa de todos, se pronunciou primeiro.
— Eu vou.
— Dude! — protestou . iria fazer 17 anos e ele tinha planos melhores para poder comemorar. Como ele havia comemorado quando completou 17 no ano passado. só não se lembrava que gostava de festas, mas não de comemorar aniversários.
— Pra evitar que vocês — disse , revezando o olhar entre ele e . —, me arrastem pra qualquer lugar.
— Mas...
— Ah, . Fica quieto. — interrompeu o irmão. — Você só não quer ir porque não tem recordações boas do último dia dos namorados. — , , e riram e olhou com cara feia para .
— Eu devia ter sido filho único.
— Fala isso, mas sabemos que não vive sem mim. — falou assim que o sinal tocou. A aula iria começar e logo os alunos foram se dispersando até a salas.
teve que ir rapidamente ao próprio armário pegar um livro de inglês, ela o havia esquecido ali no dia anterior. Esperava que o professor não lhe chamasse a atenção pelo dever não concluído. Olhou para o calendário preso à porta de metal e fez um X com um marcador vermelho no dia 11 de fevereiro. O dias haviam passado de forma rápida.
Quase um mês do dia em que e haviam assumido o namoro, ela e tinham “feito as pazes” e que o pai lançara a novidade de que ele e Elsie iriam se casar.
No começo havia encarado aquilo como uma bomba que ela não sabia como desarmar. Não sabia se estava preparada para ver o pai se casando novamente, apesar de Elsie estar presente na vida deles há dois anos. Nunca vira o pai tão feliz quanto quando começaram a organizar o casamento que aconteceria em agosto daquele ano. E ele merecia, merecia toda a felicidade do mundo. Elsie era uma pessoa boa, nunca teve o que se queixar da madrasta.
Quando sua mãe morreu, ela e ficaram desolados. Bill, por mais triste que estivesse, ficou do lado dos dois o tempo todo. E era a vez deles de retribuir com todo o apoio possível.
— Pegou o livro errado. — falou Finn Flynn antes que pudesse fechar a porta do armário azul. Ela olhou para o livro em mãos, e ele estava certo. Havia pegado o de história, da aula que teria mais tarde, ao invés do de inglês. Ela sorriu em agradecimento, pegando o livro certo.
— Já não fiz a tarefa que Friedmann pediu, imagine se eu levasse o livro errado.
— Eu deixo você copiar se quiser. — eles começaram a andar lado a lado em direção à sala. imaginou que já deveria estar lá, tinham aquela aula juntas.
— Obrigada, mas eu vou ignorar sua tentativa de compactuar com a minha falta de responsabilidade. — falou de brincadeira, fazendo Finn rir.
— fez isso tudo sozinha? — perguntou e observou as fitas e corações rosas e vermelhas colados nas paredes. Cartazes e pequenos cartões com frases e poemas românticos. Faixas que iam de uma parede à outra divulgando eventos.
— Ela tem ajuda, mas acaba sempre fazendo sozinha.
— Você vai? — indagou Finn mostrando um dos panfletos de a ela.
— Mas você já recebeu? — perguntou , surpresa. — me deu um quase agora.
— Encontrei com ela no estacionamento, ela me deu alguns e pediu pra distribuir entre os caras do time e para o máximo de pessoas que eu conseguisse.
— Ah, claro. — murmurou , ela já deveria ter esperado.
— Então você vai?
— Com certeza.
— A gente pode se encontrar lá? — perguntou Finn enquanto eles entravam na sala. Friedmann ainda não havia chegado. estava sentada em uma das últimas cadeiras no fundo da sala. sorriu para ele em dúvida se aquilo era um convite para sair com ele de forma indireta.
— Eu vou estar na pista. — lhe lançou uma piscadela antes de dar as costas em direção à cadeira vaga ao lado de , que a olhava de forma curiosa.
Instantes depois o professor Friedmann entrou na sala.
e haviam saído do vestiário na tarde do dia seguinte após uma hora e meia de ensaios com o grupo de dança. Grande parte da coreografia, com a ajuda de Lilith, já estava pronta. Os alunos tinham ideias incríveis de passos de dança, eram tantos que tiveram que se organizar para sequenciá-los de forma harmônica. havia decidido não participar da coreografia, apesar de dançar bem e gostar muito, ela preferiu focar apenas na música que iria cantar.
A música fora a primeira coisa que decidiram. Iria ser Make Me Feel, da Janelle Monáe. havia dividido o tempo para ensaiar a música e para prestar atenção na coreografia. Lilith auxiliava os lugares corretos em que a garota deveria estar e na hora certa.
Estavam no corredor vazio da Cuddle. Às tardes de quinta-feira poucos alunos ficavam na escola. e iam em direção à quadra de esportes esperar que saísse do treino do time de vôlei para que pudessem humildemente pedir uma carona. Mas no caminho viram próximo ao bebedouro enchendo uma garrafinha de água no final do corredor. pensou no porquê de o garoto estar ali, afinal os garotos não tinha treino do time de basquete às quintas.
ponderou ir até lá e apenas deu de ombros, dizendo que xícara de chocolate cairia muito bem.
— . — falou ao se aproximar juntamente com .
— . . — respondeu ele, tomando um gole de água.
— Por que está aqui? — perguntou .
— Por que a curiosidade?
— Nada. — disse . — e eu só achamos estranho já que vocês não têm treino hoje. — ele sacou um papel dobrado da jaqueta, mostrando a elas uma advertência assinada pela inspetora.
— Ou eu vinha, ou era suspenso. — falou com neutralidade. o olhou, pensativa.
— Você chamou a gente pra um chocolate que nunca aconteceu, eu e viemos cobrar. — olhou para as duas, surpreso. balançou a cabeça, assentindo.
A mudança de atitude de no último mês fez tanto quanto perceberem que talvez estivesse certa. Dar uma chance a uma relação saudável quem sabe fosse melhor. Afinal, não era de todo o mal, era apenas incompreendido.
havia se sensibilizado quando ele lhe contara a relação com os seus pais, o que acontecia todo santo dia. E, apesar de não cogitar envolver-se romanticamente com o garoto, achou que precisasse de um amigo. Havia discutido aquilo com dias atrás e havia comentado o episódio em que ele aparecera na casa dela. Enfim elas notaram que era apenas um cara protegido por uma armadura de ferro. Como uma tartaruga escondida pelo casco para acastelar-se dos predadores.
— Vocês vão pagar?
— Você dá a carona e a gente paga. — sugeriu e ele concordou.
O Whitworth Cafe ficava no centro da cidade a 25 quilômetros da escola. tinha boas lembranças do lugar, por isso o escolhera. A mãe costumava levá-lo ali quando era mais novo. Tomavam café juntos e conversavam antes de ela deixá-lo na escola e ir trabalhar. Lembrava de como a mulher era extremamente atenciosa e de como as coisas mudaram quando ficou mais velho. Ele ainda ia lá às vezes, talvez e gostassem.
Era um estabelecimento grande e arejado. Um retângulo perfeito com paredes de vidro deixando o lugar iluminado pelo sol da final de tarde que aparecia entre as nuvens. Em fevereiro o inverno gélido ainda era presente e, de acordo com os meteorologistas, a neve estava de volta e ficaria até a chegada da primavera no final de março, fazendo com que aquecedores ficassem ligados. tirou a jaqueta e a pendurou na cadeira, diferentemente das garotas.
— O Slender Man não é tudo isso. — falou . Fazia 20 minutos que os três haviam chegado e se deliciava com os últimos milímetros do chocolate duplo com chantili e canela que tinha pedido. havia começado uma séria discussão sobre fictícios serial killers.
— Claro que é. — rebateu , mordendo um pãozinho que veio acompanhando o seu café. — Os tentáculos dele são aterrorizantes. — pigarreou em negação.
— As garras de Freddy Krueger com certeza conseguem ser melhores. Além de que ele ataca as pessoas enquanto elas dormem. Imagina você não poder fazer a melhor coisa do mundo que é dormir? Isso sim seria terrível.
— Slender Man também causa pesadelos horríveis.
— Mas não é especialidade dele, . — antes que pudesse contrapor, interrompera as duas.
— Vocês com certeza nunca ouviram falar no Jeff The Killer aparentemente.
— Jeff? Ele sequer tem qualquer poder sobrenatural. — falou .
— É no máximo um psicopata que gosta de facas. — disse . rolou os olhos, voltando a sua atenção para o café preto sem açúcar que pediu. e podiam estar uma contra a outra na argumentação, mas pelo visto as duas estavam contra ele.
— Por isso que Freddy Krueger é o melhor. — falou com confiança, empinando o nariz.
— O Krueger é limitado, só pode matar enquanto as vítimas dormem, já o Slender Man é livre. — pegou um guardanapo do porta centralizado na mesa.
— Eu, e assistimos ao Slender Man mês passado no cinema. E eu não achei tudo isso, na verdade é uma porcaria.
— Você, o e o ? Saindo juntos? — perguntou e deu de ombros.
Aquele havia sido um dia divertido, não lembrava-se de ter rido tanto. e eram uma dupla bastante engraçada. Ela nunca havia passado tanto tempo com os dois garotos juntos em um só lugar.
No dia anterior àquele, Elsie e Bill comunicaram aos irmãos que eles iriam entrar juntos no casamento, logo após os padrinhos. Elsie perguntou à se ela não queria ajudá-la a escolher o vestido das madrinhas. ficara com a opção de fotografar alguns modelos das lojas no shopping sem conseguir se livrar de e , que a acompanharam. No final eles tinham aproveitado para ir ao cinema.
— Isso ainda é tão estranho. — falou .
— É mesmo. — concordou, bebendo a última gota de chocolate no copo de isopor.
— O que vamos fazer agora?
Perguntou assim que saíram pagaram a conta, se dirigindo à saída. Lá fora o frio intenso permanecia, ao contrário do sol que terminava de se por.
— Hm, a ideia foi sua . — disse . — Não pensou no que fazer depois?
— Exato. Eu dei uma ideia, é a vez de vocês.
— Falando nisso, eu gostei desse lugar. — falou segurando no ferro de uma placa de ‘PARE’. — Vou vir mais vezes.
— Se quiser companhia... — falou , segurando a barra um pouco acima da onde a mão de estava e se aproximando dela. A garota deu um passo para trás de forma involuntária.
— Já sei! — exclamou . Não havia notado toda a cena dos dois amigos pois estava ocupada demais observando o estabelecimento do outro lado da rua. — Vamos pra lá.
e olharam para onde apontava. Uma enorme placa em neon indicava o nome do lugar.
A primeira coisa que notou quando entrou no lugar foi que era enorme. E não servia apenas como Karaoke.
As amplas janelas de vidro que compunham a fachada davam visão para o entorno de vizinhos icônicos que eram os edifícios iluminados. O ambiente por dentro pegava referência de filmes futuristas como "Blade Runner", ao mesmo tempo em que luzes vermelhas no corredor de entrada remediam a um estabelecimento antigo.
O dono aparentemente quis encher os espaços com luzes de todos os tipos, especialmente os neons coloridos, incluindo o lounge e um karaokê coletivo, com palco e telão — no qual o público podia acompanhar a letra das músicas junto ao cantor da vez — para grandes grupos de até 40 pessoas. Um dos funcionários havia os avisado que, na madrugada, o lugar vira uma festa majoritariamente frequentada por moderninhos. O ambiente grafitado ficava escurinho e ganhava mais clima de balada.
, e chamaram os amigos e esperaram por eles antes de pedirem alguma coisa. , e foram os primeiros a chegar. ainda não havia dado sinal, enquanto e Elliot passavam pela porta naquele momento.
— Que horas que eles estão pensando em ir embora? — perguntou Elliot a assim que entraram no lugar. A garota começou a andar assim que avistou a mesa dos amigos. Estavam perto do palco estrategicamente, já que lá na frente sempre é mais animado.
— Hm, não sei. Aqui fica aberto até mais tarde.
— Tudo bem se eu for embora mais cedo? Não posso ficar até tarde.
— Sem problema. — Respondeu ela, lhe dando um selinho.
— Agora só falta o . — disse assim que Elliot e se juntaram à mesa. Já havia bebidas na mesa e fez questão de se servir. Sentou ao lado de , que estava ao lado de . , , e se encontravam do outro lado da mesa.
— Vamos decidir logo quem vai primeiro? — perguntou .
— Decidir pra quê? Se todo mundo aqui sabe quem vai primeiro. — disse olhando para . Logo todos também olharam para a garota. Claro que ela seria a primeira, era a área dela. Mas, antes que pudesse sequer levantar, Elliot se pronunciou.
— Posso ir primeiro? — olhou para o garoto e deu de ombros.
— Claro.
— Que música você vai cantar? — perguntou , segurando Elliot pelo braço antes que ele se dirigisse até o palco.
— Você vai ver. — lhe lançou uma piscadela e se dirigiu até o palco, onde uma mulher havia acabado de cantar uma música da Whitney Houston.
— Pelo visto há uma declaração a caminho. — falou e concordou.
— Pode ter certeza. — e deram gritinhos e sentiu as bochechas enrubescerem.
— Esse cara tem que ter algum tipo de retardo mental pra fazer declarações pra . — falou e a garota lhe direcionou uma cara debochada.
— É que com você nunca vai acontecer, né? — respondeu ela.
— Quem disse que eu quero? — rolou os olhos e se virou para olhar para o palco quando o início de (Everything I Do) I Do It For You do Bryan Adams iniciou e Elliot começou a cantar olhando especialmente para ela. Os olhos de brilharam, tinha razão, era mesmo uma declaração. e admiraram tamanha fofura.
apoiou a cabeça nas mãos e os cotovelos na mesa acompanhando a letra da música no telão ao mesmo tempo que observava os amigos. parecia entediado enquanto bebia um energético. batia palmas junto a outras pessoas acompanhando a melodia. cantava e incentivava a se juntar a ele, afinal de clássicos ele entendia muito bem. não fazia outra coisa se não morrer de amores e estava ao seu lado mexendo no celular, parecia desinteressado.
Adorava clubes de karaokê, eram os lugares que ela mais gostava de frequentar. Músicas que fizeram sucesso na década de 80, que achava que ninguém lembrava, eram ressuscitadas. Era só um amigo desenterrar algum one-hit wonder ou sucesso perdido na sua escolha que dava para reconhecer a imortalidade do mundo musical. E era o caso da música do Bryan Adams.
— Adoro essa música. — disse ela baixo, mais pra si mesma do que para qualquer outro na mesa, assim que Elliot entrou no refrão.
— Uma lenda, não é mesmo? — perguntou . olhou para o lado, a tela do celular dele ainda estava ligada. A conversa com alguém deveria estar mais interessante.
— Você veio pra ficar o tempo todo no celular?
— Falei com o . — respondeu ignorando a pergunta. — Ele chega já já.
pronunciou um “Ah” quase inaudível.
Quando Elliot terminou de cantar, todos se levantaram para bater palmas e a nota dele apareceu no telão. 87. viu pular de felicidade. A amiga virou para ela, se inclinando na mesa para poder chegar mais perto.
— Lembra quando o Austin tocou essa música pra você cantar? — perguntou ela.
apenas assentiu, ela não esperava que fosse lembrar daquilo. Nem ela mesmo lembrava. Talvez a amiga estivesse feliz demais para ter noção das coisas. não falava ou via Austin desde a festa na fraternidade, há mais de um mês. Pensava em ligar várias vezes para o garoto, mas sempre acabava desistindo.
saiu para dar um beijo em Elliot — que depois daquilo com certeza viraria namorado — na mesma hora em que chegou, sentando-se na ponta da mesa, entre e .
— Pra quem não tinha nada pra fazer hoje você demorou pra chegar, hein. — disse sorrindo para o irmão de forma desconfiada. — Onde você tava?
— Tive aula de tarde e quando cheguei tirei um cochilo. Só vi a mensagem do há pouco tempo.
— Aula? — perguntou . Todos ali estavam confusos, assim como ela. balançou a cabeça para cima e para baixo.
— Reforço de matemática. — respondeu ele abrindo uma garrafa de água tônica na falta de bebida melhor. Apesar de ser um ano mais velho que todos ali, ele ainda não era maior de idade. encarou o amigo com uma sobrancelha arqueada.
— Reforço? Sério mesmo?
— Sério. Acho que ninguém iria querer entrar na situação em que você se encontrava mês passado, não é mesmo, ? — respondeu , se esticando para dar-lhe um tapinha no ombro. — A sua sorte foi que a Sra. Downey é um anjo. — mordeu o lábio inferior e olhou pelo canto do olho para , mas ele sequer a olhou de reflexo, apenas ergueu o copo na direção de .
— E então, quem vai ser o próximo? — perguntou agarrada ao pescoço de Elliot assim que se reaproximaram da mesa. ergueu os olhos na direção deles. Havia percebido a falta de ali, agora já sabia o porquê.
— Anda, , levanta se não alguém chega antes. — falou já de pé atrás do irmão com as mãos nos ombros dele.
— Hein? Eu não vou cantar não! — exclamou ele e o encarou com os olhos semicerrados.
— Ou você canta ou você explica essa história de reforço de matemática, porque convenhamos, isso tá muito mal explicado.
— Espero que a música que você escolheu seja boa, maninha. — falou seguindo até o palco e arrancando risada dos amigos na mesa.
havia escolhido Moves Like Jagger do Maroon 5 em parceria com Xtina. Além de ser uma música que ficava boa na voz de ambos, quase todo mundo conhecia. Se havia uma coisa que tinha aprendido era que a vida é como uma ida ao karaokê: você deve escolher bem seus duetos.
tinha mais facilidade no palco que , apesar de ainda estar um pouco nervosa, aos poucos ia se soltando. Enquanto o irmão fazia graça ao cantar, arrancando risos da plateia e dos amigos — os quais ovacionavam os dois irmãos. Quando chegou na parte da música em que Christina Aguilera canta, o pessoal começou a se animar mais. A euforia provocada por pedaços de nostalgia pop juvenil era incomparável. Ela arriscava alguns passos de dança, arrastando para o embalo. Ele inventava coreografias que se encaixavam com os movimentos de . Não era a dança perfeita, mas estavam se divertindo.
olhou para o telão, no final da música, aguardando esperançosamente por uma nota alta. Para ela, notas boas de karaokê eram tão válidas como os aplausos encorajadores da Paula Abdul nas primeiras temporadas de American Idol. Mas a notícia boa é que ninguém nem olha ou liga para as notas.
Segundos depois a nota apareceu. 89. Não fora ruim, mas ela esperava mais.
saiu do palco rindo e agradeceu por todos os aplausos. A ideia de cantar em público para uma pessoa que, mesmo sendo moderadamente extrovertida por natureza, não consome bebidas alcoólicas, como , podia ser um pouco assustadora. Mas nada que um bom grupo de amigos não resolva. A paixão dela por cantar era muito maior que qualquer nervosismo ou pavor.
Depois de subir ao palco e cantar Bad Romance da Lady Gaga e cantar Live Forever do Oasis, fora a vez de com Oops... I Did It Again da Britney Spears. No momento ficou confuso com os olhares que alternavam de no palco para ele.
— Qual é a de vocês?
— Pelo visto não foi só a que teve uma dedicação essa noite. — falou e todos riram. associou facilmente a letra da música que cantava com a relação dos dois. respondeu algo que não ouviu direito, pois parou para prestar atenção em uma mensagem no seu celular.
[19:48] Finn: Pearl Jam ou Radiohead?
[19:49] : Pearl Jam com certeza.
[19:49] Finn: Sério? Eu tava pensando em uma versão acústica de Fake Plastic Trees.
[19:50] : Acho que Soldier Of Love ficaria melhor na sua voz haha.
[19:50] Finn: Quantos por cento os seus conselhos geralmente são seguidos?
— Há! Eu sabia que uma hora você e o Finn iria acontecer. — disse . não fazia ideia de como a garota teria ido parar do lado dela. ainda cantava e o resto da mesa entrou em conversas paralelas.
— Pois então você se enganou, porque não aconteceu nada. — murmurou olhando para o celular enquanto digitava. Um sorriso tomou seu rosto quando Finn mandou outra mensagem. — Ainda.
— Já é alguma coisa. — falou olhando para Elliot, que trocava ideia com . — Ele e Elliot são do clube de marcenaria, imagine nós quatro saindo juntos.
— Seria interessante. — respondeu segundos após imaginar a possibilidade. Quando estava com Austin, costumava sair com eles às vezes. Eram primos que se davam muito bem, e o clima e a conversa fluíam naturalmente.
— Nossa, mas vocês já beberam tudo? — falou checando as latinhas de energético em cima da mesa. Estavam todas vazias, exceto duas garrafas de água pela metade. — Vou pegar mais.
— Vou com você. — disse se levantando.
— Ah, eu também vou. Pra ver se consigo algo melhor que esses refrigerantes sem açúcar. — falou menosprezando as latinhas de energético em cima da mesa. Os três se levantaram, se dirigiram até a pequena fila que se formava próxima ao bar e aguardaram, formando um quase círculo.
— Qual o problema da hoje? — perguntou . direcionou seus olhos para , sentada à mesa. Ela parecia tentar prestar atenção no que e conversavam, já que e Elliot não se encontravam mais ali e ainda terminava de cantar.
— Como assim problema? — perguntou ela com as sobrancelhas juntas e a testa franzida.
— Ela parece um pouco aflita. — respondeu o namorado e pigarreou.
— Tenho um palpite.
— Você é livre para compartilhar conosco. — piscou três vezes, curiosa, mas não disse nada. Ela o empurrou de lado enquanto avançavam na fila, e riu da impaciência da garota. — Diz logo !
— Sentimento reprimido e necessidade de atenção sem demonstrar. — disse ele olhando para o palco. saía de lá recebendo os aplausos. — O também, mas ele consegue disfarçar melhor que ela.
— Isso quer dizer que... — arriscou .
— Oh, amor, tá na cara. — falou abraçando ele de lado.
— O quê? — perguntou novamente olhando para ela.
— Não seja lerdo. — disse largando ele, riu. — Eles se gostam.
— De quem vocês estão falando? — falou , surgindo de repente e fechando o círculo.
— O e a . — falou . — É a teoria do pra eles estarem agindo estranho.
— E de onde você tirou essa teoria, gênio?
— Vejam só, um mês atrás eles fizeram as pazes, pararam de se chatear e tal, mas preferiram ficar afastados. Principalmente a . Eu saquei tudo hoje de tarde quando ela disse que saiu com o e o pra ver Slenderman. Da era essa a demonstração que eu precisava, do , apesar dele ser essa pedra por fora, eu já tinha uma pista de que ele gostava dela.
— Que pista? — indagou arregalando um pouco os olhos.
— Aconteceu bem antes deles se beijarem, depois eu conto. — respondeu observando rapidamente .
— Vocês estão querendo juntar eles? Porque se for eu também quero ajudar.
— Só se você me der um beijo. — murmurou se inclinando para beijar , mas a garota desviou em direção ao bar, vendo que já era a vez deles de pedir, e acabou beijando o ar.
— Quando vamos fazer isso? — perguntou . observou enquanto tirava uma identidade falsa da carteira e entregava ao barman. Deu um sorriso sacana.
— Digamos que o vai ter um belo presente de aniversário no sábado.
Do outro lado do K2 Karaoke Night, voltava à mesa após acompanhar Elliot até a porta do estabelecimento — que aos poucos começava a ficar meio cheio. Não queria que o namorado tivesse ido, mas entendeu perfeitamente o motivo.
— Quem bom que voltou, , é a sua vez de cantar. — falou se virando para a amiga assim que a avistou.
— Minha vez? Mas e o ? — perguntou com uma das mãos na cintura. levantou as duas sobrancelhas ao ouvir seu nome.
— É mesmo, dude. — falou . — Você não vai cantar?
— Se eu soubesse que estavam tão animados assim pra me ouvir cantar, O Melhor da Noite tinha subido no palco antes.
— Melhor da Noite? — perguntou com tamanho convencimento de . Talvez aquilo nunca mudasse.
— Isso mesmo. — ele afirmou novamente com um sorriso, ignorando o quanto poderiam o achar presunçoso. se divertia com o diálogo entre e até ouvir a voz de citar o seu nome.
— Então a vai depois do .
— Hm, não sei não. — murmurou ela cruzando os braços e encolhendo os ombros.
— O que foi? Está com medo do palco? — perguntou .
— Claro que não! Eu sou uma cheerleader, eu vivo para os holofotes, . — exclamou ela, sentindo-se ofendida. Sentia-se insegura naquele momento para subir ao palco pois estava meio rouca, mas não costumava fugir de desafios. — Faria esse showzinho sem problema algum.
— Até mesmo se eu escolher a música? — perguntou com uma sobrancelha erguida.
— Com toda certeza.
— Já é, então. — falou se levantando e guiando até o livro onde ficavam as músicas disponíveis.
— Não acredito que vão me deixar aqui sozinha! — falou olhando ao redor de si, para os lugares vazios.
— Legal, assim ninguém te distrai para ver a minha apresentação, cupcake. — falou lhe direcionando uma piscadela. riu e rolou os olhos.
apoiou os dois cotovelos na mesa enquanto observava ir até o palco recém vazio, após escolher a música. e se encontravam ali próximos com o livro em mãos. Eles estavam rindo e provavelmente seriam xingados pelas outras pessoas em razão da demora.
Os acordes da guitarra ecoaram e a música se iniciou. Era Sex On Fire, do Kings Of Leon. ouviu um tenor de timbre leve. A voz de não tinha nada a ver com a de Caleb Followill, mas se encaixava na música de um jeito harmônico. Ele com certeza se sentiria mais à vontade com uma guitarra em mãos. Apoiou um dos cotovelos na mesa e imaginou com aquela guitarra vermelha que ficava pendurada na parede do quarto dele.
Cantou juntamente com a plateia, a música era conhecida, o que gerou uma animação geral. Não adiantava dar um show no palco se a plateia estava entediada. Contudo, não parecia ter dificuldade nesse quesito. Os amantes de rock da banda dos anos 00’s cantaram o refrão juntamente com .
Em um dos últimos versos, olhou na direção de enquanto cantou.
(Se não é para sempre, se é só esta noite, continua sendo o melhor)
A atitude a fez parar de olhar para o palco e olhar para o bar, onde os amigos aguardavam para pegar as bebidas. Após cantar o refrão mais duas vezes, a música acabou. virou para ver a nota no telão. 96. Sorriu satisfeito e saiu do palco agradecendo os aplausos da platéia. rolou os olhos ao perceber que o mesmo vinha em sua direção. O sorriso que esbanjava nos lábios dava a a certeza de que ele iria se gabar na nota alta.
— Eu disse, cupcake. — falou sentando ao lado dela. — O Melhor da Noite. — apenas negou, balançando a cabeça para os lados. — Aquele 96 prova.
— O que estragou a minha nota, se não fosse ele eu teria tirado 100, então abaixe a sua bola, .
— Sabe, isso é muito engraçado.
— O quê? — perguntou com uma sobrancelha erguida.
— Só você ter puxado todos os dons musicais da família. — falou com um sorriso. — O Bill tinha uma banda, e a sua mãe cantava, né? — assentiu sem sentir melancolia alguma ao lembrar da mãe por uma frase.
— Ela também tocava piano.
A lembrança da mulher cantando era algo que confortava seu coração em um lugar quentinho e protegido. Era bom recordar de vez em quando. Lembrava das noites de tempestade de quando era apenas uma criança. Phoebe, na impossibilidade de mover um piano de lugar, levava um pequeno teclado até o quarto da filha, e elas tocavam juntas Velerie da Amy Whinehouse até que adormecesse. A mãe lhe contava as loucuras que fazia na época em que era uma adolescente cheia de sonhos e cantoras para se inspirar. adorava a história da vez em que Phoebe saiu de casa escondida dos pais para ir a um show do Nirvana com Bill. Via fotos dos pais juntos em vários festivais de música antes dela e nascerem, eles eram adolescentes apaixonados um pelo outro e pela música.
Todos que haviam conhecido Phoebe no passado diziam que era igualzinha a ela quando jovem. Elas se pareciam muito, tanto na aparência quanto na personalidade. quase nunca via fragilizado com a situação, mas sentia um aperto no coração quando o irmão dizia querer ficar perto dela pois sentia saudades da mãe. Sentia-se assim porque às vezes achava que só ela lembrava que Phoebe existiu.
O sorriso de dela fazia com que se sentisse centenas de vezes melhor. Phoebe tinha um jeitinho de aconchegar a filha que fazia com que se sentisse como uma mão dentro da luva, quentinha e protegida, como se ninguém pudesse lhe pegar. se lembrava de quando ela estava internada no hospital e das agulhas que entravam no braço dela. Havia tantos plugos. Eles pareciam cobras. Na época, aquela visão a apavorava, mas a ideia de perder a mãe lhe amedrontava ainda mais.
Assim como Amy Whinehouse, Phoebe Marie era uma mulher incrível. Elas deixaram um legado como mulher irretocável, mas que infelizmente deixaram o emocional frágil vencer.
— Eu deixo você culpar ele. — disse cruzando os braços e dando um sorriso.
— Certo, mas eu cantaria melhor que você até sem voz, . — rebateu .
— Quer apostar? — perguntou ele e o olhou com falsa indignação. — Eu ainda não esqueci da nossa aposta.
— Que bom, então você vai lembrar bem quando perder.
— Vamos tentar ser bons perdedores, .
— Tudo bem, Slash. — a olhou e riu, lembrando do dia que limparam a bagunça no laboratório e o havia chamado de Jimmi Handrix, e o mesmo a corrigido. — O que foi? Não é Slash?
— É. É sim. — respondeu com um sorriso de lado.
olhou para por um momento, não estava mais ali e o irmão fazia um sinal com as mãos olhando diretamente para , o chamando. Estava rodeado de garotas. foi até onde o amigo estava sem exitar. Pelo visto o Melhor da Noite estaria ocupado, pensou .
Horas mais tarde, estava perdida.
Após as apresentações do karaokê terem sido cessadas, o ambiente deixava de se parecer com um karaokê e dava vida a um pub animado e as garotas viram ali uma ótima oportunidade para irem dançar. Acabaram se separando por completo dos garotos, que preferiram ficar em outro lugar para beber e conversar. Elas aproveitaram para ter pelo menos uma parte da noite só das garotas. havia achado convidativas as garrafas de cerveja — e até mesmo umas doses de tequila — que havia conseguido para elas. Mesmo que evitasse beber quase sempre, elas ajudariam a sua mente a divagar os pensamentos que ela não queria ter naquele momento. Ela iria beber, e que lidasse com as consequências mais tarde.
Tudo ocorria bem, até o momento em que decidira ir para casa e decidiu ocupar o resto do tempo para ficar um pouco com . Com o efeito do álcool sobre o corpo, deu pulinhos de animação ao dizer para que queria ficar com alguém naquela noite e que estava disposta a procurar alguém que lhe interessasse. Tentou convencer a lhe acompanhar, ser solteira sempre tinha o seu lado bom. havia fugido da pergunta ao dizer que precisava usar o banheiro. De certo modo, ela precisava realmente expelir toda aquela cerveja barata.
Quando saiu do banheiro, percebeu que o lugar havia ficado moderadamente mais cheio. E ela não sabia onde havia ido parar e onde o resto de seus amigos se encontravam. começou a andar pelo clube tumultuado de pessoas que andavam e dançavam, equilibrando copos e copos de bebida. talvez estivesse muito ocupada, e a situação lhe deu duas opções: ir embora ou procurar os meninos.
Teve que ter muito cuidado pra não acabar levando um banho alcoólico. Sentia seu braço sendo puxado algumas vezes, algumas mãos no seu cabelo, mas preferia ignorar, quando quisesse ficar com alguém, com certeza ela procuraria. Parou um pouco próximo ao bar. Não porque quis, era o lugar mais cheio e as pessoas não estavam se mexendo, estavam paradas bloqueando o caminho que levava para o canto onde imaginava que os garotos pudessem estar.
— Ei, calma aí, lindona.
Um grandalhão falou depois que tentou passar empurrando um grupo de pessoas para o lado, grupo do qual ele fazia parte. Bufou sem paciência, teria que encontrar outra maneira de passar. Enquanto pensava e olhava ao redor do bar, sentiu algo insistente balançar o seu cabelo de um lado para o outro.
Esses caras são mesmo chatos, pensou.
Virou de frente pronta para começar a xingar a pessoa quando seus olhos dão de cara com , com um sorriso nos lábios e com o braço da mão que segurava um copo de whisky apoiado no balcão do bar. Ele ainda usava a bandana vermelha que o viu colocar assim que saíram de casa.
Talvez as diversas luzes coloridas da boate estivessem afetando o seu psicológico, e ela estivesse vendo coisas, mas o achou incrivelmente sexy daquela maneira. Abominou seus pensamentos naquele instante. Ela precisaria de mais uma cerveja, ou quem sabe uma tequila.
— Ah, é você. — falou com certo tipo de alívio ao ver alguém conhecido, lhe pouparia o tempo que ficaria procurando. com certeza deveria saber onde o irmão e os amigos se encontravam.
— Quem você achou que fosse? — se aproximou um pouco mais de para ouvir melhor o que ele dizia, já que o volume da música abafava o som de suas vozes.
— Não sei, qualquer pessoa. Estão balançando meu cabelo desde a hora que cheguei aqui, eu estava pronta pra xingar. — riu, balançando o copo na sua mão.
— Podia xingar se quisesse, já estou acostumado. — foi a vez de rir. — Você tá sozinha?
— Tava procurando vocês.
— E as meninas? — perguntou ele dando um gole na bebida. O cheiro era forte, conseguia sentir facilmente, mas não a incomodava. Já havia sentido piores. — A eu sei que está com o .
— foi pra casa e a completamente da noite das garotas e decidiu se divertir com outros caras. — Explicou ao lembrar-se do modo totalmente alterado ao dizer que queria se divertir. Ela com certeza pediria ajuda dos amigos para procurá-la, não queria que fizesse nenhuma besteira. Apesar de considerar extremamente responsável, até mesmo bêbada.
— E você não acatou a mudança de planos dela?
— Não achei ninguém que me interessasse. — mentiu. Ela nem sequer havia procurado. evitava olhar nos olhos dele. Afinal, era muito estranho falar sobre aquilo com . Muito estranho.
— Está explicado então porque não vi mais vocês desde que saímos do karaokê. — a cada segundo a música só aumentava ao ponto de terem que se inclinar para falar no ouvido um do outro. mordia os lábios constantemente. Deus o que estava acontecendo com ela.
— Falando assim acho até que você andou procurando por mim... quer dizer, pela gente. — concertou a frase no segundo seguinte, rindo sem jeito. fez o mesmo, coçando a parte de trás da cabeça, como se quisesse dizer alguma coisa, mas não falou. Foi nessa hora que tomou um choque de realidade, percebendo que não podia deixar que o clima ficasse mais estranho do que já estava, então decidiu mudar de assunto. Considerou sorte também estar sob efeito de álcool, e dos fortes.
— Então, cadê o , o e o meu irmão?
— Naquele sofá do outro lado, onde ficam aqueles espelhos. — respondeu apontando para o lado, bem onde a multidão paralisada estava, no meio do caminho. recordava o lugar. Eles haviam ido ali logo depois que todos cantaram para tirar algumas fotos, todos unidos. Entre selfies cheias de caretas e fotos apertadas no espelho, conseguiu capturar uma boa o suficiente para ser postada no Instagram.
— Então eu tava certa. — sorriu consigo mesma, feliz com a própria intuição que não falhava quase nunca.
— Por que achou que iríamos mesmo estar ali?
— Porque lá tem sofás espaçosos e vocês são folgados. — soltou seu terceiro sorriso brincalhão e riu. — Ué, não vai se defender?
— Não tenho como me defender contra isso. É verdade. — falou erguendo uma das mãos para cima, já que a outra ainda segurava o copo.
— Você me dando a razão, não é todo dia mesmo.
— Acho que eu estou perdendo o jeito.
não respondeu nada. Porque a) achava difícil que tivesse mesmo perdido o jeito e b) ela não admitiria aquilo em voz alta. Ele quebrou o silêncio novamente e ela agradeceu por aquilo.
— Então, podemos dar a volta da multidão, ir por cima pelas escadas, passar por trás do palco... Qual você acha que vamos conseguir chegar lá?
— Não sei, vamos tentar todas. — respondeu a ele, dando de ombros.
sentiu um baque em todo o seu corpo a empurrar para o lado, no momento em que se virou, fazendo com que se desequilibrasse e quase caísse de bunda no chão. Por sorte foi rápido o suficiente para largar o copo em cima do balcão e a segurar pelos braços. Por impulso agarrou a blusa dele sem jeito. Aquele lugar com certeza deveria ter um limite máximo de ocupação e com certeza esse limite deveria ter sido excedido.
Suas bochechas enrubesceram levemente, pois, no momento em que a segurou, pode sentir o nariz dele e a boca roçarem na sua bochecha superficialmente. Sentiu o peito peito descer e subir, respirando fundo, pois ainda segurava a camisa dele. Tratou logo de soltá-la e se afastou um pouco. Ele também soltou seus braços.
— Opa.
— Obrigada, eu ia levar uma queda feia. — sorriu verdadeiramente e retribuiu. — Acho melhor irmos logo antes que eles mudem de lugar ou mais alguém tente me derrubar. — fez uma careta, soltou uma risada fraca. Virou de costas para ele, com o intuito de sair daquele furdúncio com a consciência de que a estivesse seguindo, mas, antes que seus pés pudessem dar os primeiros passos, sentiu uma mão em seu braço lhe impedindo de continuar.
— , espera. — virou para ele devagar. Não respondeu nada, o incentivando a continuar. — Você... Você tava certa.
— Como? — perguntou sem entender. O que diabos ele estava fazendo?
— Eu tava mesmo... Procurando por vocês. Quer dizer, por você.
Surpresa. havia lhe pegado se surpresa. Mordeu os lábios fortemente tentando não demonstrar, e sentiu que talvez, só talvez, seu coração tivesse dado uma pequena palpitada. Lembrava de não ter se sentido assim desde... desde o dia da chuva depois que se beijaram. A vontade de correr rapidamente como se o estabelecimento estivesse prestes a desmoronar era a mesma.
— Eu tava procurando por você, é, é isso.
repetiu, tendo certeza do que falava e o abominou por isso, porque deixou mais claro que ela não fazia a mínima ideia do que dizer, e, pela segunda vez naquele ano, havia lhe deixado sem palavras. Ela deveria ter mais controle sobre o que estava acontecendo com aquela relação estranha que tinha com . Não eram amigos, mas também não se odiavam mais tanto assim.
Tinha que admitir para si mesma que, desde que o ouviu cantar Sex On Fire há poucas horas, ela estava fugindo. E havia encontrado uma maneira de encurralá-la. Levantou o olhar para o rosto nele, não para os olhos, mas para o rosto.
— Engraçado, você nunca olha nos meus olhos. — ele falou sorrindo, ignorando o fato de ainda estar calada. O silêncio dela o incomodava, ele só queria saber o que ela teria a dizer naquele momento. Enquanto odiava-se por dentro por continuar quieta. Seu cérebro processava diversas informações e frases, mas que droga ela iria falar? "Ah, é mesmo, mas os seus olhos são muito bonitos, talvez os mais lindos que eu já vi, que ótima genética você tem, ." Patético. — Não olho nos olhos de ninguém, . — foi a única coisa que conseguiu dizer enquanto sua mente divagava meio de fugir dali.
Isso, , haja com total indiferença e não o faça se sentir especial, talvez essa situação constrangedora acabe logo.
— Por quê?
— Por que você tava me procurando? — questionou , cortando a pergunta dele.
— Essa era a hora que eu devia dar uma desculpa para uma coisa que escapuliu da minha boca, que eu disse sem pensar, mas por incrível que pareça eu não tenho nenhuma. — a olhou com toda a sinceridade que podia transmitir pelo olhar, apesar de se recusar a ver. — Acho que tive uns 7 segundos pra decidir se eu falava logo de uma vez ou deixava pra lá e te deixava me guiar até o local dos espelhos onde eu não teria mais chance alguma. Bem, eu sou impulsivo então foi a primeira opção. Você praticamente caiu em cima de mim, aí sim eu tive certeza.
Na cabeça de a voz de e da Rihanna estavam misturadas, estava tocando This Is What Came For no volume máximo. Ela queria ouvir o que ele dizia e ao mesmo tempo fingir que não, e ir para a pista dançar uma das suas músicas favoritas. — Mas eu não posso fazer nada se você não falar alguma coisa. — era justamente a pressão que ela não precisava. Imaginou as diversas coisas que poderia fazer dependendo das próximas palavras dela. Então decidiu dizer o óbvio:
— Você bebeu demais, .
— Quase nada.
Ela riu apenas pra balançar a cabeça e olhar para o chão. Para os pés que, graças ao movimento de , ficaram um passo mais próximos. O toque da sua mão direita na nuca dela fez olhar para cima.
— Certo, confesso que estou curiosa para ver o que você vai fazer, . — respondeu ela em tom de desafio. Se aquele era o modo de acabar logo com aquilo, que assim fosse.
— Tudo bem, mas eu preciso que você me responda uma coisa.
— Pode dizer.
— Não foi atrás dos outros caras com a porque também estava procurando por mim?!
E o beijou. Simplesmente porque não queria responder aquilo. Simplesmente porque talvez já fosse a hora. E ela ficar adiando não ajudaria em nada. As garrafas de cerveja que consumiu, enfim serviram para alguma coisa. Seu pai às vezes que lhe perguntava o que ela faria se tivesse 20 segundos de coragem insana. Era o modo que tentava encorajar os filhos a encarar novos desafios. Evitou a situação até o último minuto que conseguiu, mas a tortura que viria depois ao ficar imaginando o que poderia ter acontecido era maior.
a abraçou completamente contra si, moldando os lábios num ritmo só. Nunca se imaginou nos braços de uma segunda vez, mas havia sido tão bom quanto da primeira. Aquilo não podia mesmo estar acontecendo. Estava entregue aos braços da pessoa que ela mais detestava novamente, e o pior: ela estava gostando.
— Você por acaso lê mentes, ? — perguntou quando uma falta de ar os fez se separar lentamente. abriu os olhos e encarou os dele, dessa vez sem medo.
— É, quando fica o silêncio o cara beija a garota. Mas quando o cara enrola demais é a garota que tem que tomar uma atitude. Ninguém te contou, ?
Na manhã daquele sábado, estava esparramado na cama. Um de seus braços estava caído para o lado de fora e sua mão quase encostava o chão. Sentiu algo molhado lambiscar os seus dedos, que aos poucos ia subindo pelo seu braço. Abriu os olhos curioso, e ficou surpreso ao ver Bud ali, parado na sua frente. O cachorro lambeu-lhe o braço inteiro até que o dono acordasse finalmente.
— O que está fazendo aqui? — falou sentando-se na cama enquanto olhava para Bud, que mantinha uma língua para fora e abanava o rabo. O animal tomou liberdade para subir na cama e deitar a cabeça no colo de , para que o mesmo pudesse acariciá-lo. — Sabe que, se Cindy o ver aqui, estamos ferrados, não é?
Falou ele passando carinho atrás de suas orelhas, lembrando-se de como a mãe odiava quando o cachorro entrava em casa. Ele estava sempre limpo, apesar de as patas sujarem um pouco de lama, Cindy temia a bagunça que o cachorro poderia fazer dentro de casa, mesmo com usando o argumento que um cachorro menos agitado não existia. Ele havia escolhido certo.
Conversar com Bud era algo extremamente normal para e o fazia esquecer da dor muscular que estava sentindo naquele momento pelo castigo que recebera no dia anterior.
Acontece que Cindy não havia gostado nem um pouco da ideia dele e dos amigos de ficarem até tarde da noite em uma balada em plena quinta-feira, deixando sem condição alguma de ir para a escola na sexta, dando a ela maneiras de ocupar o filho desobediente naquele dia. O fez limpar a piscina, tirar o pó da garagem, organizar tudo aquilo que não lhes servia mais e colocar para doação, além de limpar toda a sujeira que Bud fez no quintal, o que já era obrigação dele. No final do dia, ele ainda ajudou a mãe com o jantar. A sorte era que mantinha seu quarto sempre organizado e limpo, ou seria mais uma coisa que ela o obrigaria a fazer. Decidiu maneirar no castigo após ter sido sincero sobre ter ingerido bebidas alcoólicas. Prezava muito que tivessem uma relação sincera de mãe para filho.
Bud deitou de barriga para cima com as patas dianteiras encolhidas e acariciou do pescoço até o peito do animal, enquanto o observava mexer cabeça e o sol que vinha do teto refletir no seu pelo branco. Bud latiu quando a porta, que estava encostada, se abriu completamente. Cindy havia entrado no quarto do filho animada segurando uma coleira nas mãos. Foi em direção à cama dele e em poucos segundos se viu sentado entre o cachorro e a mãe, com a última lhe abraçando pelo pescoço e lhe dando beijos no rosto.
— Feliz aniversário, filho. — sorriu. Por um momento havia até se esquecido do próprio aniversário.
— Obrigado. — respondeu enquanto tirava suas mãos de Bud para retribuir o abraço.
— Anda, vamos descer. Fiz um café da manhã especial pra você. — falou ela e assentiu, ainda um pouco confuso. Ela não estava nem um pouco brava sobre Bud estar ali.
— Não fui que deixei ele entrar! — defendeu-se de imediato e Cindy riu. Quando se levantou, jogou a coleira laranja no colo dele.
— Bud queria te parabenizar comigo, por essa ocasião eu abri uma pequena exceção. — Explicou e os dois observaram o cachorro colocar uma das patas por cima do focinho numa tentativa de esconder o rosto. — Dê um presente a ele também e o leve para dar uma volta. — olhou para coleira em mãos, vendo ali uma ótima oportunidade de correr um pouco até o parque no centro do bairro em que morava. Bud com certeza adoraria o passeio. — Se arruma logo e desce pra tomar café. — finalizou Cindy antes de deixar o quarto.
olhou uma última vez para Bud, que aproveitava todo o espaço da cama ao seu dispor para se esparramar, antes de entrar no banheiro e ficar lá pelos próximos 20 minutos.
Quando saiu do quarto, Bud o acompanhou até a cozinha. Ele ficou deitado próximo à porta com a cabeça em cima das patas dianteiras enquanto sentava-se à ilha. Sentiu seu estômago roncar ao ver todas aquelas coisas ali em cima. Uma grande variedade de pães e acompanhamentos, bolachas, sucrilhos, leite, suco e o bom e velho café preto. Mas o que mais lhe chamou atenção foram os cupcakes e a cesta de bolinhos. Com certeza era muita coisa para os dois comerem sozinhos, admitia que tinha uma mãe exagerada.
— E então, o que vamos fazer hoje? — perguntou ela depositando uma frigideira vinda do fogão na ilha e sentando-se de frente para . Dentro dela havia duas panquecas que Cindy adorava comer com mel. Já não era muito chegado a panquecas, comeu um dos bolinhos e se serviu uma xícara de café preto sem açúcar.
— Você ficaria muito triste caso eu dissesse que já tenho planos pra hoje?
— Oh, claro, meu filho de 17 anos com planos para sair no sábado de aniversário. Por que eu não previ isso antes? — falou ela e riu enquanto mastigava o segundo bolinho. — Ainda em pleno dia dos namorados, vai me trocar por uma garota qualquer.
— Nada a ver, e planejaram uma festa pro dia dos namorados. Eu vou pra dar uma força. — falou ele, dando de ombros.
— Pra dar uma força? — perguntou ela desconfiada e assentiu, murmurando um “isso mesmo” com a boca cheia. Cindy balançou a cabeça negativamente pela falta de modos do filho. Lhe jogou um guardanapo e riu. — Não tente me enganar, , você saiu de dentro de mim.
bebericou o café enquanto observava a mãe colocar mais mel nas panquecas do que deveria. Tirou um dos cupcakes da forminha de papel e mordeu metade. Era um dos seus doces preferidos.
— Eu janto com você antes de sair, está bem? — falou ele mudando de assunto, não queria que aquela conversa chegasse aonde ele estava imaginando que poderia chegar. Cindy suspirou.
— Vou tentar me contentar. — riu, se levantando. Foi até à pia e lavou tudo que havia sujado. Quando Cindy se levantou, lhe deu um abraço e um beijo na bochecha.
— Obrigado pelo café.
— De nada, querido. — respondeu ela com um sorriso. deu sinal de que colocaria a coleira em Bud, o cachorro se levantou imediatamente e latiu.
— Segure-o firme para ele não correr, sabe como ele fica agitado perto das outras pessoas.
assentiu, não era a primeira vez que passeava com Bud, mas a mãe o fazia questão de lembrar daquilo todas as vezes. Pegou três biscoitos para cachorro e os colocou no bolso da short antes de sair, era um ótimo meio de acalmá-lo caso Bud subisse em cima de alguém atrás de carinho. Era um cachorro muito carinhoso, jamais atacaria para machucar, apesar de muitas pessoas duvidarem disso por causa de seu tamanho.
correu 20 minutos sem parar com Bud ao seu encalço. O cão com certeza correria por mais alguns minutos sem problemas, mas o corpo dele clamou por uma desacelerada e ele passou a caminhar. O vento gelado não o incomodava, pois o corpo já transpirava suor. Definitivamente estava com calor enquanto ofegava aos poucos. Caminhava em passos curtos após ter soltado Bud da coleira. Bud às vezes parava para xeretar algum arbusto, mas logo corria em direção ao dono o seguindo. observava os outros cães no parque e só tinha uma coisa na cabeça:
.
Quando saiu de casa e deu de cara com a residência da família , ele se lembrou dos imprevistos da sua vida pessoal. Na sexta-feira havia faltado na escola e passado o dia ocupado, não vira o rosto da garota. Talvez ela o estivesse evitando como da primeira vez, o que não fazia sentido já que a mesma que havia tomado a iniciativa de conversar com ele depois para que as coisas não ficassem estranhas. Controlou a vontade que sentiu de ir até lá antes de sair com Bud.
conseguia ser verdadeiro consigo mesmo para admitir que havia gostado da forma como o beijou. Chegou à conclusão de que precisava parar de fazer coisas que alteravam o seu grau de consciência e começar a encarar a realidade com sobriedade, afinal, só o beijou porque ele a incitou. era quente como o inferno e com poucas palavras conseguia seduzir qualquer um, apesar de às vezes deixar a inocência se sobrepor à sua personalidade.
Queria fazer algo quanto aquilo, mas não conseguia. Repudiava essa covardia que o travava por completo quando pensava em chegar perto dela. As coisas eram muito mais simples quando eles se odiavam e ele não ficava na dúvida se tentava ir em frente, ou deixava pra lá. Os dois eram orgulhosos demais pra admitir certo tipo de coisa, o que acabava os levando àquele clima horrível meio-a-meio que detestava. Teria que ser oito ou oitenta. Caso não concordasse, ótimo, pelo menos eles brigariam e as coisas voltariam ao normal como sempre foram, mas ele não podia continuar se torturando daquela maneira. Se havia começado, ele terminaria.
Ele tinha que fazer aquilo, estava curioso para saber qual seria a reação dela e o que sentia, mesmo que ainda tivesse dúvidas sobre o que ele mesmo sentia.
Estaria ele apaixonado por aquela garota que ele costumava achar insuportável? Ou aquele momento no K2 Karaoke Night fosse só um estímulo causado pela tensão sexual que surgiu após algumas doses de bebida? Era difícil dizer, mas sentia uma extrema vontade de descobrir.
[11:47] : Acreditam que tem gente vindo me perguntar se os garotos vão hoje?
[11:47] : Quais garotos?
[11:48] : e principalmente.
[11:48] : Quem não vai gostar de saber disso é a rs
[11:48] : Bom saber.
[11:49] : EU ADIVINHEI
[11:50] : E você acha que não perguntaram do também, ?
[11:52] : a
desligou o celular e o largou em cima da escrivaninha. Precisou de alguns segundos até pensar no que faria em seguida. Cinquenta Tons de Cinza estava ali em cima de uma pilha pequena de livros. Havia um marcador de pagina localizado em alguma página do livro. Achou uma boa ideia terminá-lo. Colocou os dois pés na cadeira em que estava sentada e apoiou o livro nas coxas e abriu exatamente na página marcada. Ler em posições desconfortáveis era o que mais costumava fazer. E ela leu:
“Tudo bem — gosto dele. Pronto. Confessei a mim mesma. Não posso mais fugir dos meus pensamentos. Nunca me senti assim antes, mas isso não tem futuro eu sei.”
Após terminar o pequeno parágrafo, fechou o livro na mesma hora. Maldita Anastasia Steele. Bufou olhando pro teto. Maldito que não saia da sua cabeça. E universo parecia conspirar para que tudo que ela fizesse lembrasse ele. Primeiro com a maldita mensagem o citando, não era possível que havia sentido algum tipo de ciúme ao ler aquilo. E agora Anastasia Steele parecia narrar o que ela própria estivesse sentindo. Só havia pensado em daquela forma depois que se beijaram pela primeira vez na porta da sua casa um mês atrás e aquilo já estava resolvido, mas aqueles pensamentos rodopiavam feito um furacão na sua mente novamente. tinha cara de novidade, mas cheirava a problema. Era uma mistura de tudo que ela mais queria com o que menos precisava.
Lembrou da hora no Karaokê em que pisou no palco e olhou diretamente para ela por um instante. Aquela música que ele cantou só podia ter entrado pelos seus ouvidos e torturado os seus miolos até que começasse a achar incrivelmente encantador. Desde aquele momento vinha sofrendo uma overdose de lembranças. Não conseguia pensar por 1 segundo em alguma coisa que não estivesse relacionada a ele.
Pensou que poderia negar, de imediato, são coisas de momento oras, esse sentimento, o frio na barriga uma hora iriam passar. Mas lembrou do que havia lhe dito uma vez: a negação é a primeira etapa da paixão. Ela poderia facilmente pular essa etapa, mas mesmo que admitisse que gostasse dele de verdade, assim como Anastasia, sabia que aquilo não teria futuro. Era o , o melhor amigo do seu irmão. O vizinho mal educado e insuportável que na maioria das vezes é inconveniente, que às vezes só sabe falar de sexo, que não entende nem gosta de política, que adora piadas internas e quando algo não lhe interessa se torna apático e grosseiro. O tipo de garoto que sofre de escassez de sensibilidade.
Um estalo na sua mente lhe fez pular da cadeira ao perceber que conhecia melhor do imaginava.
Observou algumas folhas soltas em cima da mesa. Pegou uma delas, a primeira caneta preta que encontrou e começou a escrever um lembrete para si mesma após pensar em tudo isso.
Quando terminou, pegou a folha e a colocou no próprio quadro de avisos que ficava acima da sua escrivaninha. Pregou com alfinetes outros papéis por cima deixando uma única palavra do que havia escrito à mostra: “Declaração”. Assim ela sempre se lembraria daquilo e mais ninguém veria o que havia escrito. A não ser que tirasse os papéis de cima.
Saiu do quarto. Talvez mandar aspirar os tapetes lhe distraísse. Era a vez dele, Bill não ficaria nada contente caso chegasse em casa e visse que ainda estavam cheios de pó. Quando estava prestes a descer o primeiro degrau da escada, ela paralisou de imediato quando ouvir a voz do irmão:
— FELIZ ANIVERSÁRIO, DUDE! — gritou lá de baixo, com sons em seguida que aparentavam ser de um abraço.
— Obrigado, cara! — agradeceu.
desceu o pé, que estava parado no ar, até o degrau mais próximo e deslocou-se pela escada calmamente. Quando chegou ao térreo, só teve tempo de ouvir falar algo como “vou pegar” e sair da sala quando uma bola de pelos brancos lhe atingiu. As patas dianteiras a atingiram bem no lugar em que terminavam as suas costelas, sem a força necessária para lhe derrubar. Suas mãos foram de imediato para trás das orelhas do cachorro que ansiava por um gesto de carinho. Bud era enorme, mas incrivelmente dócil e macio. poderia passar a vida acariciando o animal que não se cansaria.
— . — estava na porta observando a cena. Tinha se dado conta de que não havia segurado a coleira tão fortemente como Cindy lhe avisou.
— . — ficou de joelhos enquanto Bud estava sentado com a língua para fora. não olhava para diretamente.
sorriu de lado com a cena. A garota poderia ter se enfiado no quarto assim que ouviu a voz dele no andar debaixo, mas preferiu descer. Para ele isso era um bom sinal.
— Você sabia que eu sou um ótimo patinador? — falou ele lembrando dos momentos em que gastava horas do seu dia jogando hóquei com no lago congelado. não percebeu quando o mesmo começou a se afastar na porta da casa dela e andou na sua direção. Ela não respondeu, apenas continuou brincando com Bud. — Qual foi, ? Você não vai me falar o quanto está triste por eu ter conseguido completar mais um ano de vida? Como você diz todo ano no dia do meu aniversário? — perguntou olhando para baixo, a apenas um passo de distância de . A garota passou a mão na cabeça de Bud uma última vez antes de olhar para cima. Para o rosto do garoto que há 48 horas ela estava beijando sem ter pensado duas vezes. Levantou sem tirar os olhos dele e deu aquele passo que os distanciava.
Primeiro colocou as mãos nos braços dele. Subiu lentamente para os ombros, até enlaça-las ao redor do pescoço de , deixando seus rostos relativamente próximos, como se ela fosse beijá-lo. sentiu seus braços como se estivessem travados, o impedindo de levá-los até a cintura dela.
— Feliz aniversário, ! — disse ela, sorridente. se perguntou se estaria fazendo a coisa certa, e então lembrou-se do lembrete que havia escrito minutos atrás na escrivaninha do seu quarto. O papel estaria ali para lembrá-la todos os dias, então talvez não houvesse perigo em fazer o que estava fazendo. não quebrava as suas promessas. — Quanto à patinação, espero que você seja rápido o suficiente e chegue antes de qualquer outro.
Ela piscou antes de se livrar dos braços dele e virar-se de costas. Se ele havia mesmo perguntando indiretamente se ela iria à festa do dias dos namorados de , tinha tido uma resposta à altura.
— O está fazendo a parte dele. — respondeu à pergunta de , ela estava animada quanto aquela noite.
O estabelecimento da Tia de era enorme. Como disse, o local havia sido dividido em duas partes: o ring de patinação e o espaço onde ficavam as mesas em ambos os locais já havia um considerável número de pessoas. Do lado de fora, ao redor da pista de patinação, ficavam os bancos para que as pessoas pudessem calçar os patins e entrar no gelo. viu sentada em um daqueles bancos já sozinha, calçando um dos patins. não estava mais ali e Finn se aproximava dela. A música do lugar parava e continuava e assim os casais iam trocando de pares.
— Cadê ele? — perguntou , aparentemente ela também havia percebido que não se encontrava mais ao lado de .
— Aqui. — falou surgindo de repente entre eles. Antes que pudesse resmungar, se adiantou colocando um braço em cima dos ombros de , que o abraçou. — Ela queria falar com o Finn, tive que sair. — explicou ele e os amigos suspiraram.
— Mas você pegou o número, não pegou? — perguntou e assentiu, lhe entregando um papel onde anotou o número de .
Assim que entravam, todos receberam um número, exceto aqueles que já estavam indo devidamente acompanhados como e , como tudo fora programado por e .
olhou para onde se encontrava. Ele estava sentado com em um dos banquinhos de frente para o bar onde a tia de servia alguns clientes. Parecia estar curtindo o aniversário, já que estava rindo sem se importar com qualquer outra coisa. Contudo, virava o corpo e a cabeça de vez em quando de maneira rápida, como se quisesse verificar de tempos em tempos algo em específico. desviou o olhar, não seria possível ser tão difícil fazer aquilo, mas ele precisaria se esforçar mais se quisesse atingir o seu objetivo que era ver e se entendendo bem. Muito bem.
— Caralho, qual é o problema do ? — falou olhando para o teto sem paciência.
— Pelo visto ele vai ficar ali o tempo todo. — disse e todos concordaram.
— Isso pede uma mudança drástica no plano. — respondeu, pedindo para que eles se aproximassem.
8972 era o número que haviam entregado para , um número totalmente aleatório. Ela olhou para o papel antes de terminar de amarrar os patins. Eram patins bonitos, brancos com um único ferro prateado na sola. Assentiu quando Finn disse que precisaria trocar os patins pois os que pegou ficaram pequenos. Levantou devagar e andou até o ring. A música estava parada, logo todos os “casais” ali também estavam. Entrou na pista e ficou parada se apoiando no batente que rodeava a pista, para se acostumar com o gelo até Finn voltar.
Aquela posição lhe de uma visão que não queria ter e sentiu uma pontinha de decepção. não havia falado com ela desde de manhã quando apareceu na sua com casa com o cachorro. Se sentiu boba por ter criado qualquer tipo de expectativa, mas era inevitável, se ele havia ido até a casa dela, então alguma coisa queria. Talvez ele tivesse mudado de ideia, e lembrou o bilhete que escreveu para si mesma naquela manhã que colou no seu quadro de avisos. Pensou naquilo desde a hora que colocou os pés ali e o resto da esperança que tinha desapareceu quando saiu de perto de e deixou o assento vago para que outra garota pudesse se sentar. Naquela manhã, havia percebido que conhecia melhor do que achava e ela sabia que ele não negava uma noite de diversão.
Desviou o olhar quando Finn a chamou. Ele já estava na pista ao lado dela com os patins devidamente calçados. Ela patinou até ele quando a música voltou a tocar.
Por um lado queria ir embora. Havia pedido a para irem para outro lugar, mas o amigo negou enquanto tentava convencer a tia de a lhe vender uma cerveja. lhe disse que ele tinha péssimas ideias e daria a desculpa de que era o seu aniversário para tentar convencê-lo. rolou os olhos e saiu dali, estava estranho, ele não queria ir embora dali e não conseguiu identificar a razão, o que era incomum já que conhecia o amigo tão bem.
Estava distraído o suficiente, procurando alguma coisa para fazer quando algo atrapalhou o seu caminho e ele percebeu ter sido . Levou alguns segundos para ponderar se falava ou não com ela, no final achou que seria uma boa ideia, afinal sempre sabia de tudo.
— . — disse ele logo depois que a garota se desculpou pelo esbarrão que deram.
— Hm, oi, . — disse ela com um sorriso, não tinha o visto ali ainda, achou até mesmo que ele não viria. Porém tinha outras preocupações naquele momento, como cuidar para que nada saísse do controle enquanto procurava por Elliot.
— Sei que é bem aleatório, mas por acaso você sabe o que está acontecendo?
— Acontecendo? Tem alguma coisa que está acontecendo e eu não estou sabendo? — perguntou , começando a ficar preocupada, odiava quando as coisas davam errado. Não era a toa que sempre gostou de planejar tudo nos mínimos detalhes para não ter problemas. — Eu garanti a May que tudo daria certo e que não teríamos confusão de nenhum tipo! — falou ela depressa quase levando as unhas à boca.
— Não é isso, é que... — começou , mas logo foi interrompido por , que apareceu de repente.
— Não está acontecendo nada, , fica calma. — disse e ficou se perguntando o porquê de ter sido interrompido tão repentinamente. — Tá tudo certo, minha tia está gostando, achou a ideia realmente maravilhosa para os negócios.
— Então por que o ...
— Por nada. — respondeu ameaçando com o olhar para que ele ficasse quieto. Segurou pelos braços como se pudesse passar tranquilidade a amiga pelo contato físico. — Relaxa, eu mesma já conferi. Vá procurar o Elliot.
— Certo, mas qualquer coisinha você me avisa. — suspirou e assentiu, concordando. Quando saiu, encarou e falou antes que ele pudesse abrir a boca:
— O que você queria com a ?
— Nada. — ele respondeu, tentando disfarçar quando olhou atentamente ir embora. desejou ter um copo de bebida na mão. — Você não acha que todo mundo está agindo um pouco estranho? Só queria tirar a duvida, porque me frustra não saber o que está acontecendo. — olhou para os lados, não gostava de mentir, mas ainda não sabia se era o certo contar sobre e . Ela até previa a reação de , mas tinha suas dúvidas.
— Eu acho que você devia espairecer, , porque não entra no ring e vê se da sorte? — sugeriu a garota com um sorriso, de forma encorajadora. acabou cedendo e correspondeu ao sorriso, gostava de , ela era uma grande amiga e ótima parceira de laboratório.
olhou para o ring quando apareceu bem na sua frente.
— Quer patinar comigo, ? — perguntou ele entusiasmado esperando que ela dissesse sim, mas ao invés disso, olhou para o lado puxando pelo braço.
— Desculpa, o me chamou primeiro. — e caminhou com ele até o Ring, onde as pessoas estavam paradas e conversando já que a música estava pausada. Caminhou até um dos bancos que rodeavam a pista para que ela e pudesse colocar os patins. a acompanhou, achando graça da situação, e perguntou enquanto eles amarravam firmemente os patins nos pés:
— Por que você faz isso com ele?
— E por que não faria? — respondeu ela com um sorriso de lado enquanto se encaminhava para entrar no ring com atrás dela.
— Sei lá, achei que estavam se dando bem. — falou ele, titubeando para entrar no gelo.
— Não se pode dar muito espaço pro . — disse deslizando no gelo de um lado para o outro. O ring era maior do que aparentava do lado de fora. Ficou parada com as pernas um pouco afastadas uma da outra enquanto observava entrar na pista de patinação. Riu da falha tentativa dele de deslizar um passo para o lado, pois o mesmo quase caiu com tudo no chão ao perder o equilíbrio. Ela patinou até ele ainda rindo enquanto ele fazia uma careta e se apoiava no corrimão.
— Achei que você patinasse bem, . — disse ela o ajudando a ficar de pé sem ter que segurar na grade. bufou, eram poucas as vezes que ele se desequilibrava. ficou ao seu lado e entrelaçou o braço no dele quando a música começou a tocar novamente e todos voltaram a patinar. Ela o incitou a deslizar devagar, acabou cedendo e acompanhando .
— , me responde uma coisa... — disse, agarrando o lábio inferior com os dentes. Aquilo não saia de sua cabeça, ela precisava perguntar.
— Fala, . — respondeu ele, tentando não olhar para os próprios pés, talvez se esquecesse que ele tinha muita chance de cair e acabar levando junto.
— Assim, será que tem chance, mesmo que miníma, de você ser a fim da ? — tentou não parar de patinar, ele não esperava aquela pergunta. Mas parou de andar repentinamente, na cabeça dela era o que também iria fazer a fim de evitar uma queda. Mas , ao invés disso, deu dois passos desajeitados para frente e caiu de bunda do chão com as pernas abertas. riu dele, levando as mãos na boca, e lhe mandou o dedo médio. Maldita pergunta.
e estavam do lado de fora da pista, eles já eram um casal, não queriam atrapalhar os que ainda estavam se formando. Os dois haviam trocado presentes antes e passaram o dia todo juntos. o fez desistir dos clássicos e dar uma chance aos modernos, apesar de ter lhe dado um vinil de presente. lhe comprou headphones novos e finalizou o desenho que vinha fazendo dos dois juntos a um tempo. era uma grande artista, amava os seus desenhos e até mesmo admirá-lo enquanto desenhava. Sempre elogiou o talento que tinha para desenhar e achava que deveria levar mais a sério do que tratar como apenas um hobbie.
olhou para onde e estavam na pista, um pouco próximos de e Finn. estava sentado no mesmo lugar de antes conversando com uma garota. Ela olhou para , que tentava puxar ela para sentar em um dos bancos estofados das mesas.
— , o que o te disse?
— Nada. — respondeu enquanto tentava guiar até uma das mesas com bancos estofados. — Por que está assim?
— Não sei, parece que está tudo errado. — sentou ao lado de na mesa. Uma garçonete apareceu de imediato e pediu dois milk-shakes.
— O disse que tinha um plano.
— Não dá para confiar em tudo que o diz, sinceramente. — olhou diretamente para onde estava e viu se aproximar. A garota, felizmente, tinha sumido. Daria tudo para conseguir ouvir o que eles conversavam. Se ao menos ela soubesse que pista era essa que tinha a respeito de . Conhecia e melhor que qualquer um, eram seus melhores amigos, ela poderia ajudar muito mais com aquele plano.
— Nisso eu vou ter que concordar com você. — disse , se juntando a eles e roubando um dos milk-shakes que a garçonete tinha trazido para a mesa dele. a olhou feio pois havia sido o dele.
— O que foi, ? — perguntou , estranhou ver a amiga ali, e não com Elliot.
— Só estou descansando, eu e Elliot patinamos muito e ele está no banheiro. Também vim porque quero saber o que está acontecendo. — abriu a boca para começar a explicar a história que tanto a incomodava. Ela queria que as coisas dessem certo e não estava confiante no modo em que estava fazendo isso. Mas abriu um sorriso e com toda a calma que habitava em seu corpo, disse:
— O plano vai dar certo, fiquem de boa. — roubou o canudo da namorada e começou a sugar o líquido rosa. enrugou a testa e encarou o casal que disputava o canudo do copo de milk-shake. Estava rolando alguma coisa ali que ela não estava sabendo? Como puderam deixar ela de fora? Ela vinha se esforçando a noite inteira, se dividindo entre dar atenção a Elliot e prestar atenção nos mínimos detalhes, mas que não envolviam os seus amigos. sempre sabia de absolutamente tudo que acontecia por ali, e aquilo era uma afronta. Só podia ser coisa de mesmo. e se entreolharam levemente assustados com a reação de , que tinha um semblante sério ao largar o canudo que segurava na taça, e perguntar:
— Plano? Que plano?
não estava legal, ele queria ir embora, mas ao mesmo tempo não queria. Estava dividido de um jeito estranho. estava do seu lado, enchendo seu ouvido com besteiras, e sobre como o rejeitou para ficar com . E pensou em , no seu melhor amigo, a pessoa que era nada menos que o irmão mais velho de . Se forçou a não rondar o local com os olhos à procura dela, pois estava confuso.
Naquela manhã quando saiu para dar uma volta com Bud, parecia que tinha certeza do que faria, confirmou isso quando foi até a casa dela e agiu... daquele jeito. Mas tudo mudou assim que colocou os pés ali com os amigos. No começo foi puro mormaço, várias cumprimentos de felicitação para pelo seu 17° aniversário. Com exceção de , que estava mais quieta e reservada. Eles trocaram alguns olhares, mas não lhe dirigiu uma sequer palavra. Até decidir sair de perto dos amigos até a pista de patinação. Ficou pensando no que ela havia dito quando se aproximou e colocou os braços ao redor do pescoço dele. Espero que você seja rápido o suficiente e chegue antes de qualquer outro. Bom, àquela altura do campeonato, ele com certeza, já deveria estar atrasado.
Pensou no dia do Karaokê, na quinta feira. só o beijou porque ele tinha admitido que estava procurando por ela. Mas por que tinha dito isso? Até aquele momento não tinha encontrado resposta para aquela pergunta. Só havia sido sincero, o que o levava de volta para o mesmo dilema daquela manhã: ele gostava dela ou era só uma atração física inevitável?
— .
— O que é?
— Dude, vamos embora. — falou , esperando que tudo desse certo e que as coisas que tinha pensado funcionassem. Não sabia ainda porque estava fazendo aquilo, era seu amigo. Já ... percebeu como era divertido. olhou para as garrafas de bebida, na enorme prateleira, que ia do chão ao teto. Bebidas as coisas a tia de se recusava a vender para qualquer menor de 21 anos. A situação não era propícia para continuar 100% sóbrio.
— Embora?
— Sim, estou fazendo nada aqui e muito menos você. Vamos chamar o e cair fora. É o seu aniversário porra — disse a última frase empurrando um dos ombros de com a mão. —, vamos encher a cara, estamos solteiros! — explicou , que logo depois se preparava para vestir a jaqueta. , escondeu um sorriso orgulhoso de si mesmo, ele deveria entrar para o clube de teatro, conseguia ser um ótimo ator quando queria.
Por incrível que pareça, não sentia a mínima vontade de sair e encher a cara, nem de ficar com qualquer garota por aí. Não era só porque era o seu aniversário que ele sentia a necessidade de fazer aquelas coisas. O que acontecia é que, nessas ocasiões, sempre preferiu comemorar mais para os outros do que para si mesmo. Cindy sempre adorou o aniversário dos filhos, por isso concordava em deixá-la fazer festas todos os anos até os seu 12° aniversário, porque isso a deixava feliz. E ele queria ver a mãe feliz, principalmente na época que a sua família começou a ruir.
— Como assim “muito menos eu? ” — perguntou , temendo a resposta, mas não respondeu, ao invés disso, ele deu um giro de 180°. acompanhou a direção do amigo até seus olhos baterem em , sentada perto da pista desamarrando os cadarços dos patins, e estava sozinha. temeu , como se o amigo tivesse o poder de ler mentes. Mas era apenas esperto.
lançou para um olhar significativo, querendo dizer em alto e bom som “vai logo falar com ela, seu filho da puta”, mas ele não podia. Fazia parte do seu plano fazer com que tomasse a atitude. Apesar de ele não fazer nem ideia do que tinha acontecido entre e nos últimos dois dias. O guitarrista não tinha sequer tocado no assunto com qualquer um dos amigos, nem mesmo com , que talvez pudesse o orientar melhor sobre o que fazer. Porém, ele tinha que decidir sozinho.
girou o corpo para a direita e estendeu um pequeno papel, dobrado na metade. o pegou, e, antes que pudesse abrir e perguntar o que era aquilo, disse:
— Você sabe o que fazer, caso contrário, anda logo que damos o fora.
não parou para observar sair dali, ao invés disso, encarou o papel, após 5 minutos nessa mesma posição, antes de abri-lo. De repente, sentiu como se o seu coração tivesse parado por alguns segundos e toda a insegurança foi abaixo, pois tudo era tão intenso e maior.
8769
Enquanto isso, digitava uma rápida mensagem para , e torceu para que a garota ignorasse por alguns minutos e visualiza-se aquilo. Ele caminhava empolgado entre as pessoas até a mesa que , e dividiam. Sentou em um dos bancos estofados ao lado de , que se afastou dele de imediato, chegando mais perto de no exato momento em que abriu os braços, os apoiando no encosto do banco.
— O que você fez? — perguntou assim que colocou os olhos nele. A curiosidade lhe corroía por dentro, como ácido corrói o ferro.
— E por que esse sorriso no rosto? — indagou , ainda aborrecida depois que e lhe explicaram o que estava acontecendo. nem percebeu que estava sorrindo, autoconfiança exacerbada era uma das coisas com a qual ele precisaria trabalhar naquele ano. Iria responder à pergunta de e ignorar completamente quando e apareceram, ambos rindo e de braços dados.
— , qual o intuito daquela mensagem... — começou . se sentou e falou antes que fizesse o mesmo que o amigo.
— Só faça o que eu pedi. — respondeu ele depois de olhar ao redor do estabelecimento conseguindo ver as localizações de e Finn. — Tipo, agora!
murmurou um “tudo bem” e saiu. Todos na mesa encararam por alguns segundos, e logo começaram a falar ao mesmo atrás de explicações. Com exceção de , que parecia completamente perdido, ele tinha um ponto de interrogação bem acima da sua cabeça.
— Calem a boca. — falou , incomodado com aquele falatório ao mesmo tempo. Várias perguntas que ele não queria responder. Às vezes seus amigos esqueciam que era um cara que tinha 0 paciência. Quando eles se calaram, olhou para onde estava, e o viu se levantando. — Vocês estão prestes a ver a cena mais esperada do ano.
Em quase uma hora, já sabia várias coisas sobre Finn. Como o fato de os pais dele serem separados, o pai morar em outra cidade e a mãe namorar com outra mulher. As duas tinham um negócio que simplesmente vendia a melhor batata com bacon e cheddar da cidade. Estava se divertindo, mas alguma coisa dentro de si parecia ferver e a impossibilitava de se sentir satisfeita. Disse a Finn que havia cansado de patinar, e aproveitou quando ele avisou que ia ao banheiro para pensar.
Mas aquele ambiente impossibilitava isso, chegou a conclusão de que talvez precisasse de ar. Levantou devagar e começou a andar até a saída.
usava botas pretas de salto, mas que demandavam certo cuidado ao andar no meio de muita gente. Rolou os olhos ao ver tantos casais juntos em um lugar só, se abraçando, beijando, dando risada. Era o esperado, afinal era justamente o objetivo da ideia de , tinha sido um sucesso, mas estava irritada, e tinha que admitir que sabia o porquê.
Ela tinha saído de casa imaginando aquela noite de um modo diferente, com expectativas que — era duro de admitir — não tinha conseguido suprir. Lhe deixava angustiada todas as vezes que olhava para o bar e o via sentado, fazendo a absolutamente nada. Para que tinha se dado o trabalho de ir até a casa dela naquela manhã então, ela não entendia. Ele conseguia ser mais confuso e complicado que ela, erradicando a imagem que tinha dele, a de um cara simples e direto.
Levou a mão à boca no momento em que percebeu que iria soltar um xingamento. Não porque as pessoas ao redor iriam escutar, mas porque se deu conta de que realmente tinha ficado incomodada. Mas desde quanto ela queria que notasse ela? Desde quando sentiu a necessidade de querer ele por perto? De querer que ele falasse com ela? De querer que ele...
O tempo congelou por alguns segundos e sentiu seu coração parar, depois dar uma pirueta e cair de cara no chão. Em seguida se levantar, limpar as roupas, respirar fundo e anunciar: "Nós precisamos de uma mentora espiritual aqui!" Literalmente, era o seu coração dizendo aquilo e sussurrando pela boca dela. Sentiu uma estranha divisão dentro de si mesma, como se sua mente saísse de seu corpo por um instante, e se virasse de frente para o seu próprio coração e perguntasse atônica e silenciosamente: "Quer MESMO?" E o seu coração respondesse "Quero, quero sim". Então sua mente perguntou ao seu coração, com uma pontinha de sarcasmo: "Desde QUANDO?"
Mas seu coração não precisou responder, pois já sabia a resposta. Ignorou o órgão bombeador de sangue, ele era muito idiota, e a sua mente pareceu satisfeita.
A parte ruim de se envolver muito com música, era que às vezes você se entregava de corpo e alma à melodia, e não pode deixar de sentir quando Khalid cantou “maybe you weren’t the one for me, but deep down I wanted you to be”¹. Droga de DJ com bom gosto para músicas. Aí teve mais certeza de que precisava sair um pouco do ambiente climatizado cheio de pessoas felizes e apaixonadas.
Quando chegou na porta de vidro que levava até à saída, virou abruptamente no momento em que segurou o seu braço graciosamente.
— .
O brilho de uma pequena chama de esperança voltou aos olhos da garota quando se virou para , mas não sabia bem o que expressar no rosto. Ela estava feliz em vê-lo ali, mas não queria demonstrar pois o aborrecimento pelo seu aparecimento tardio ainda existia.
— Já vai embora?
— Sim. — não, ela não ia, mas a mentira escapuliu dos seus lábios sem que ela se desse conta. A imagem da garota sentando ao lado de no bar lhe veio à mente, se questionou sobre o que teria acontecido com ela, se talvez houvesse lhe dado um fora.
— É uma pena, você nem encontrou o seu número par.
— Mas como sabe d....
olhou para um ponto fixo por alguns segundos e recordou do papel que haviam lhe entregado com um número nele. Era basicamente o objetivo daquele evento, e em todo o tempo que ficou na pista de patinação não se deu o trabalho de procurar, até porque não encontraria mesmo, já que o seu número par não havia entrado na pista naquela noite. E entendeu isso quando lhe estendeu um papel meio amassado com um número nele: 8769.
Algo dentro dela se contorceu para evitar que os sentimentos extrapolassem para fora de si e ela teve que respirar fundo. Calma, é só... o .
Não evitou dar um sorriso de lado, mas cruzou os braços no mesmo momento segurando fortemente o papel na mão direita.
— E daí? Você chegou tarde demais.
— É o meu aniversário, você não acha que eu mereço outra chance? — perguntou e olhou para ele, se arrependendo logo em seguida. estava absurdamente lindo e bem vestido. Eram duas de três coisas que ela só tinha admitido para si mesma em todos os anos de convivência. A terceira era que era fácil se perder nos olhos dele, ainda mais quando pareciam tão sinceros. — Além do mais, eu não viria sem ter certeza de que você gosta de mim.
deu um sorriso, extremamente convencido de que o que disse, era verdade. Um instinto dentro de , a fez negar de imediato.
— Oi? Da onde você tirou isso?
— Na quinta-feira, no Karaokê, quando você me beijou. — respondeu ele tranquilo com a cena ainda fresca na memória. Aquilo havia lhe tirado uma noite de sono, e estava feliz que não tinha sido em vão. No mesmo momento, desviou o olhar do dele.
— Não beijei, não. — negou, como uma criança nega após quebrar alguma coisa.
— Beijou sim. — afirmou , novamente, se divertindo com o diálogo.
— , eu não beijei você. A tequila beijou.
— Está apaixonada por mim, mas você não admitiria. — observa enquanto colocou uma das mãos no bolso do jeans e tirou algo pequeno de lá. Pequeno e dourado. Uma coisa com a qual se familiarizava bem. — Nem se eu dissesse que também estou apaixonado por você.
achava que apaixonado era uma palavra muito forte para ele. Porque ele não sabia o que sentia, estava ali justamente para descobrir, mas achou que seria a coisa certa a se dizer para que ficasse. Felizmente, aos olhos dele, ela acabou dando mais importância ao broche recém recuperado.
Contudo, havia ouvido claramente a palavra apaixonado, e isso fez o seu coração quase dar um salto.
— O MEU BROCHE! — ela agarrou o objeto brilhante e em perfeito estado, nem se lembrava a última vez que tinha visto, e olhou atentamente cada detalhe do objeto. O broche estava impecável, e parecia até mais bonito, brilhante. Como se fosse algo de dias, e não de anos. — Onde estava??? — perguntou, ignorando todo o resto. O objeto tinha extremo valor sentimental, e queria saber o que tinha acontecido com ele durantes todo esse tempo, lembrando-se dos dias que o procurou sem obter sucesso.
— Achei no chão no dia que a gente arrumou a bagunça no laboratório. — respondeu, estranhamento ele ficou feliz por ver que estava sorrindo com um ato tão simples. A sensação só lhe deu mais certeza de que o que estava fazendo era a coisa certa, o medo de ter perder a chance de estar com alguém legal lhe abandonou de vez, pois ele estava aproveitando.
— Ficou com ele todo esse tempo?
— Eu sabia que era seu, mas estava quebrado. Eu consertei. — subiu os olhos devagar, para ele, após ouvir a última palavra. Consertado? tinha mesmo se importado ao ponto de concertar aquela velharia que só tinha significado para ela?
— Consertou? — perguntou e assentiu dando um passo para frente e tomando o objeto das mãos dela, os dedos tocaram a ponta dos dedos dela e sentiu calafrios subirem pelos seus braços. observou quando ele abriu o fecho do broche delicadamente, o alfinete foi enfiado no tecido da blusa dela, um pouco abaixo do ombro, onde normalmente o colocava.
— Combina muito com você. Sabia disso? — seguiu o caminho do broche até o rosto dela com os olhos. Se perguntou porque demorou tanto tempo para levantar a bunda daquela cadeira depois que viu a reação de . Talvez sem graça, com a súbita aproximação, porém quieta demais. ficou confuso quando ela se afastou um pouco, na hora em que ele queria beijá-la. Mordeu os lábios e passou uma das mãos no cabelo. — , se você gosta de mim, você está fazendo um terrível trabalho para demostrar isso. Se você não gosta de mim, você está fazendo um terrível trabalho para demostrar isso. Choose your side.
o segurou pelo braço e o guiou para a direita, percebendo que se encontravam bem no meio da porta e estavam atrapalhando um pouco a entrada e saída das pessoas. Pensou um pouco antes de suspirar e começar a falar. Ela tinha mesmo deixado Finn para entrar de cabeça em algo tão incerto e oscilante com ?
— Não. Eu acho melhor não. — disse finalmente quando olhou para ele. estava sério, mas ao mesmo tempo parecia determinado. — Isso não vai dar certo.
— Por que não? — fez a pergunta que gostaria que ele não tivesse feito. Lembrou do que aprendeu com Anastasia Steele de que relacionamentos desse tipo são fadados ao fracasso. Não que já estivesse pensando num relacionamento, mas.... Oh, droga!
— Por que... — começou a falar e as memórias dos últimos dias vieram à tona de um segundo para o outro. — Por que você oscila demais.
— Eu oscilo? — perguntou em falso tom de ofensa, contudo, na visão dele, naquele exato momento, era ali que não sabia mais o que queria. — Você me beija na quinta, quase me beija hoje de manhã na porta da sua casa, passa quase que a noite toda agora com o Finn fingindo que nada aconteceu e eu que oscilo?
— Sim, você! — exclamou animada, pois a velha vontade de rebater qualquer coisa que dissesse estava de volta, mas ela não estava irritada com aquilo, na verdade estava adorando. Se divertindo até, era um jeito legal de discutir, tanto que ela poderia até sorrir. — Eu só te beijei na quinta porque você me incitou depois de dizer todas aquelas coisas, mas tinha colocado na minha cabeça que não tinha futuro. Aí você aparece na minha casa como quem não quer nada, sendo que eram claras as suas intenções, e quando chega de noite, faz absolutamente nada. — sorriu quando ela terminou de falar, tinha gostado de ouvir aquilo tudo, era como se estivessem montando um quebra-cabeça um do outro. Ele, ao invés de bater de volta como todas as outras vezes em que discutiu com , decidiu ceder.
— Mas eu quero, caso contrário teria ido encher a cara com o do outro lado da rua. — desviou o olhar e cruzou os braços ainda incerta. Ela só não imaginava que começaria a falar sem parar até mudar aquela sensação que a corroía por dentro. — Tudo bem, mas entende, , que eu sou do tipo que 21:10 tá tocando músicas do Bon Jovi sobre o amor e desilusão, às 21:12 to vendo pornô e às 21:15 pensando em por que as estrelas piscam. Às vezes eu toco sobre o amor, mesmo que eu não acredite, o que é muito contraditório porque sou muito fã do Stevie Wonder. O fato é que: eu nunca tentei acreditar no amor de forma romântica, mas bem lá no fundo, no fundo mesmo, quase achando petróleo, por trás de tudo isso tem um cara que sente muito, que ama muito, que se importa muito, e que está louco para se sentir seguro com alguém. Por favor, não me faça achar estúpido que esse alguém possa ser você. Eu já quebrei muito a minha cabeça com isso pensando nisso o dia todo.
contou até três antes de colocar um pé para frente e olhar bem no fundo dos olhos dos olhos de , tinha que admitir que aquela, ele tinha ganhado. As palavras manjadas lhe atingiram em cheio, como se pudesse ouvir uma melodia a cada uma delas. Devia ser algum dom que músicos tinham, muito difícil de resistir. Ela sabia o que queria, porém queria prolongar aquele momento, não para torturá-lo com a ansiedade, mas sim pois estava um pouco difícil de acreditar. Era inexplicável a sensação de ter a observando tão atentamente esperando por uma resposta, mas era boa demais. Faíscas pareciam incendiar todo o seu corpo, mas ela não sorriu, evitando demonstrar o júbilo que estava sentindo.
— Você não vai dizer nada? — perguntou e desviou o olhar para a sua boca.
— . — deu outro passo à frente. O dedo dela deslizou pelo braço dele até o ombro. E de repente começou a tocar Fire On Fire. espalmou os dedos por ali quando começou o trecho:
E foi com esse trecho, o olhando de onde estava, que foi ficando mais próximo. E de repente estavam os dois trancados neles mesmos, com todas aquelas luzes e aquele som viciante. Ela e ele, olhos nos olhos, que alternavam para os lábios, se perdendo a cada respiração.
não a tocava, mas ansiava por aquilo.
— Esta esperando o que pra me beijar, ? — o meio suspiro que faltava para caísse em total descontrole veio. Não aguentava mais o olhar de , como o de quem não entende o efeito que causa. Levou apenas um segundo para que colocasse suas mãos no rosto dela e juntasse os seus lábios.
sentiu as mãos dele se movendo sobre seu corpo, elas tocaram seus ombros, depois desceram pelas costas, a pressionando contra ele. Ela sentiu tudo. Seus quadris e os músculos do abdômen. tinha uma mão na lateral dos quadris de e a outra tirava o cabelo que decaia entre os rostos. agarrou os cabelos dele, aperfeiçoando o encaixe que as duas bocas tinham, e aproveitou para aprofundar o beijo, invadindo a boca dela com a língua. Tão profundo, como se seu DNA estivesse sendo bagunçado pelo toque dele. Era gostoso, molhado, e atrevido, capaz de fazer perder todos os sentidos de tanta excitação.
apertou ainda mais contra si, com a mão que estava no seu quadril, ele a queria o mais perto que fosse possível. A outra mão deslizava entre a nuca e o pescoço dela, fazendo um carinho delicado, enfiando os dedos nas raízes do cabelo cheiroso. brincou com lábios dele, separando ambas as bocas algumas vezes e logo em seguida juntando-as novamente em um selinho lento e sensitivo. Em uma delas aproveitou para contornar os lábios dela com a língua, e não se atreveu a abrir os olhos para encará-la nenhuma dessas vezes, pois não duvidava que perderia o controle rapidamente... Não era só a pulsação sanguínea que crescia dentro dele.
O guitarrista soltou e a afastou completamente, quando percebeu que uma terceira pessoa estava parada ali, bem próximo a eles dois, encarando a cena. ficou sem entender nada, e mordeu os lábios, a boca dele se desencostou da dela. estava ali parado, com os braços cruzados e bem sério. O irmão firmou o olhar nos dois, ele não parecia bravo, estava mais para... perdido. apenas deu de ombros, enquanto estava um pouco estarrecido. Por nenhum segundo sequer tinha pensado em .
— O que foi, ? — perguntou, tranquila. Vendo que a expressão do irmão continuaria mesma, ela deslocou o braço esquerdo até que encontrasse o braço direito de , fez questão de entrelaça-los restabelecendo o contato entre os dois que havia cortado quando percebeu que estava ali. Ele gostou do gesto, apesar de continuar imóvel, com os braços junto ao corpo e as mãos dentro dos bolsos da frente do jeans.
— Me diz vocês. Quando foi que isso aconteceu? E por que eu era o único que não sabia?
— Agora sabe. — respondeu com um sorriso singelo, olhou para ela pelo canto dos olhos quando ela deu um aperto no seu antebraço, como se dissesse “relaxe”.
— ? — deu de ombros, e decidiu entrar na onda de , que ficou satisfeita com a atitude. Eles tinham sim o direito de querer ficar juntos, por mais que não fosse gostar.
— Por que essa cara, ?
— , por favor. — encarou o amigo. — Pode nos dar licença por um instante?
— Não?! — murmurou ela, descontente com o pedido. — Por que eu não posso ouvir o que você quer falar pro ?
— Porque é um assunto nosso. Está tudo bem, acredite.
— Eu sei que está tudo bem, não temos motivos para não estar tudo bem, não é? — ela perguntou. estava presenciando um desafio verbal entre os irmãos e ainda não sabia se estava gostando daquilo. cada vez mais estava incitando a dizer logo o que tanto lhe incomodava, e sabia que, se ele fizesse isso, a coisa não iria acabar bem. E ele ficaria totalmente dividido entre os dois lados.
— Por que você escondeu isso de mim? — perguntou olhando para com um pesar de ressentimento na voz. Lembrou que também estava ali, e o encarou do mesmo modo. — Vocês... no caso?
— Eu... — começou ela, olhando para sem saber o que dizer, um pouco chocada com a pergunta dele. também estava surpreso. Não passou pela sua cabeça que poderia ser aquilo que o incomodaria. Eles eram irmãos unidos até demais, logicamente não compartilhavam absolutamente tudo um com o outro, mas sempre as coisas mais importantes. Esqueceu que um caso com o melhor amigo dele poderia estar incluso nas coisas importantes. Mas é claro que estava. Se sentiu idiota por não ter percebido antes. — Sinto muito, é bem recente se ajuda em algo.
encarou o sorriso de lado da irmã, como se ela quisesse amenizar a situação. já tinha a perdoado, contudo achou que eles mereciam que o drama se prolongasse por mais alguns segundos, por esse motivo, continuou sério sem demonstrar reação. Em outro caso, ele não daria a mínima, mas o fato de ser , o seu melhor amigo, lhe incomodou ter ficado às escuras.
— ! — chamou , mas ele continuou na mesma posição, parado e circunspecto. Estava se divertindo por dentro com a aflição dos dois. — Qual é, você não precisa sentir ciúmes de mim?
não aguentou ao ouvir a última frase, e, no momento em que soltou um sorriso, pareceu aliviado. riu quando o amigo disse:
— Ciúmes de você? Estou com ciúmes do . — disse rindo também, olhou feio para o irmão e lhe deu um tapa, mas riu logo em seguida percebendo que estava tudo bem. — Certo, , agora deixa eu falar com o . — ergueu as sobrancelhas sem crer que iria mesmo insistir naquilo. Olhou para para ter algum tipo de apoio, mas ele simplesmente deu de ombros. Ela rolou os olhos e resmungou, mas acabou deixando os dois sozinhos. Lembrou de alguém tinha ficado no meio caminho de toda essa história. Finn.
estava bem mais leve, para não dizer totalmente tranquilo, quando começou a falar.
— Dude, você lembra quando a gente tinha 13 anos e você disse que achava a feia? — perguntou e riu com a lembrança sem saber onde estava com a cabeça quando disse aquilo. Foi a época em que ele e os amigos começaram a ter seus primeiros interesses amorosos.
— Foi, mas... A mudou pra caralho, sabe... — um sorriso devasso brotou nos seus lábios e lhe deu um tapão, segurando a risada.
— Cala essa boca, ! Não é esse o ponto que eu quero chegar. — riu, colocando na mente de nunca mais falar de naquele jeito perto de . E o amigo continuou: — O negócio é que eu nunca imaginei que isso fosse acontecer entre vocês. É estranho, eu vou demorar pra me acostumar, mas me diz que vai entrar de cabeça nisso, vai ser um inferno se não der certo.
— Se quer a minha sinceridade, eu não sei mesmo. É um começo, , não posso te afirmar que vai dar certo só porque é a . Só que, diferente dos outros, eu quero. Caí de paraquedas nessa sensação e ainda estou tentando descobrir o que sinto, deixei isso bem claro para ela, mas acredito que é algo muito bom. É a primeira coisa que eu não sabia como contar pra você.
chegou perto de e o abraçou pelo pescoço antes de finalizar:
— Eu espero não ter não ter que arrebentar a sua cara, dude.
— Eu também espero, mas você sabe que eu sempre fui melhor nas brigas.
o observou todo o ring de patinação e nenhum sinal do garoto, entre as mesas e o bar também. Foi errado o que tinha feito com ele, mas na hora em que puxou o seu braço ela não pensou direito. Esqueceu de todo resto e focou em só uma pessoa. Alguém segurou seu ombro por trás, e ela virou na esperança de que fosse Finn, mas ao invés disso seus olhos deram de cara com .
— , você o viu o Finn? — disparou antes de o garoto começar a falar.
— Acho que foi embora, não tenho certeza do que a falou com ele. — respondeu dando de ombros e fez uma careta com a nova informação.
— Por que a foi falar com ele?
— Porque eu pedi. E aí? Como me saí na missão de abrir os seus olhos? — abriu a boca mas não disse nada, começou a lugar todos os pontos e finalmente concluiu aonde queria chegar com todas aquelas conversas estranhas que tiveram.
— Então, era isso? — confirmou. — Mas como você sabia que ia dar certo?
— Você lembra daquele dia na casa do que eu o e o fomos pra lá beber, que vocês não foram porque foram buscar a no aeroporto? — assentiu com a cabeça, lembrando do agradável dia que tinha passado com as amigas. — Então, nesse dia eu cheguei atrasado e quando vi os otários já tinham bebido tudo. e estavam tão bêbados que dormiam feito pedra e nem notaram quando eu cheguei. Já o estava acordado e eu consegui trocar meias palavras com ele. E uma das coisas que lembro que ele disse foi: "Não acredito que a me desbloqueou" — fez uma imitação engraçada e riu imaginando toda a cena que ele estava narrando. —, naquela hora que você ligou, se eu estou certo, atrás do , ele disse com essas exatas palavras e deu um sorrisinho encarando a tela do celular e fechou a cara quando viu que você não ligaria de volta. E foi aí que eu comecei a sacar a situação. Ele ficou sorrindo que nem um idiota, me perguntando o tempo todo se ele deveria se sentir feliz por isso, e ele também te chamou de linda. Depois disso caiu num sono igual aos outros dois otários. Acho que ele sequer se lembra disso, mas aconteceu de verdade. Mas a minha meta no caso era te ajudar, , fazer você perceber isso, porque eu não sabia se você gostava dele. Descobri quando você não teve resposta pra minha pergunta naquele dia da detenção, demorou um pouco, porém, eu diria que foi até fácil.
finalizou com um sorriso e ficou surpresa, nunca imaginaria que por trás daquela ligação aquilo teria acontecido e finalmente algumas coisas fizeram sentido. Estava tudo relacionado a , mas uma dúvida ainda rondava a cabeça dela.
— Por que você fez isso? — perguntou, pois realmente queria saber a resposta. Juntar ela com ? Era como se ele não tivesse coisas melhores para fazer e se importasse até demais. O que era curioso, já que achava que ele não tinha coração o suficiente para tal atitude.
— Porque foi divertido, . — ele simplesmente disse, passando uma das mãos na cabeça dela, bagunçando alguns fios de cabelo. observou enquanto o mesmo se afastava devagar, não estava completamente satisfeita com a resposta, mas por outro lado ela se sentia incrivelmente grata.
Nas duas horas que se seguiram, e não se desgrudaram e simplesmente ignoraram todos os comentários que os amigos fizeram. parecia normal apesar de comentar “isso é muito estranho” de 5 em 5 minutos, o que fazia rir. não tinha parado um minuto sequer de comentar que sabia que aquilo iria acontecer e jogou na cara da amiga o quanto ela estava errada no dia em que tinha contado para ela e que a tinha beijado. apenas ficou quieta, um pouco sem graça, ainda estava se acostumando a ter ao lado dela de forma carinhosa. O jeito que ele segurava a sua mão ajudava, e muito. estava feliz, na opinião dele tinha tido um ótimo aniversário e ganhando um baita presente. Conseguiu provar mais uma vez para si mesmo que existiam várias formas de se comemorar alguma coisa.
Os oito amigos tinham decidido comer em um fastfood por ali perto que ficava aberto 24h. tinha tido a brilhante ideia de irem a pé, ele queria fumar, mas disse que seria bom caminhar e observar as estrelas e para sua surpresa todos concordaram, até mesmo , que estava sorridente ao lado de Elliot. Amava quando os seus eventos davam certo e estava gostando daquele momento de união, como se naquele ano estivesse nascendo uma coisa maior entre todos eles. Apesar de ainda estar ali, nem tudo era perfeito.
foi o caminho todo com o braço direito entrelaçado no de , e esquerdo no de , ficando no meio dos dois rapazes que tinham começado uma pequena discussão sobre dois jogos de video game. Estava se divertindo com os comentários dos dois e se deu conta de que eram um ótimo trio. Desde o dia em que foram juntos ao cinema. também percebeu que aquilo era muito melhor do que ficar separando brigas de 5 em 5 minutos, apesar de temer o futuro, ele tentava não pensar muito naquilo. Já , viu o vínculo afável que criou com os irmãos , e que nada nunca seria igual aquilo. Não dava para desfazer, e ele lamentaria muito caso alguma coisa o afastasse deles.
Foi um final de noite divertido dentro do fastfood. Eles riram mais do que comeram, e, por incrível que pareça, sem alguma briga. e não estavam mais nessa e estava ocupada demais dando atenção para Eliott para responder qualquer tipo de provocação que viesse de . O último, no qual, percebeu por um instante que não se encontrava junto à mesa. Rondando os olhos pelo local, através das portas e janelas de vidro, conseguiu o encontrar do lado de fora, acendendo um cigarro. Ela levantou, dando a desculpa de ir perguntar se ele não ia comer alguma coisa, mas na verdade sabia bem do porquê estar indo até lá.
talvez estivesse passado o tempo todo, naquela noite, preocupado com ela e e talvez tivesse esquecido dele mesmo. De . E isso lhe lembrou uma coisa que havia lhe dito há algum tempo e que ela tinha todo direito de perguntar.
Pegou uma das porções de batatas que tinha vindo com os lanches e se dirigiu até a saída. Quando empurrou a porta de vidro, percebeu a sua presença ali, olhou para ela e tragou o cigarro.
— Quer? — ela perguntou oferecendo a batata frita enquanto sentava na calçada. Ele negou e se sentou ao lado dele.
— Quer? — ele ofereceu o cigarro, já esperando que fosse recusar, e o silêncio se instalou por alguns instantes até falar: — O que você quer então, ?
— Sabe, uma vez você me disse que se eu abrisse os meus olhos você me contaria o que aconteceu entre você e a . — começou ela, desviando seu olhar do céu para ele. — E, bem, eu já fiz a minha parte. — ela deu de ombros esperando uma resposta.
deu uma longa tragada olhando para a lua, soltou a fumaça pela boca, olhou para e deu um sorriso de lado antes de começar a falar.
¹: “Talvez você não fosse para mim, mas no fundo eu queria que você fosse.”
Chapter Nine — The “Toy Story” Boy
— Você sabe que sou muito grata por toda a sua ajuda, não é querida? — disse a Sra. antes que pudesse sair do carro.
— Claro que sei. — a mais nova respondeu enquanto tirava o cinto de segurança. Olhou pela janela e conseguiu observar Elliot parado próximo ao portão da entrada principal. Estava esperando por ela. direcionou um último sorriso para a mãe, impecavelmente vestida com um terninho azul. O óculos de sol escondia o olhar confiante e os lábios estavam pintados por um vermelho cornalina.
— Mande um abraço para o Elliot, faz tempo que não o vejo lá em casa. — falou Lauren, acenando com os dedos sem tirar a mão do volante.
— Ele sempre vai, você que nunca está lá. — se inclinou para dar um abraço na mãe antes de sair do carro. Apreciava tanto o esforço que Lauren tinha com o seu trabalho e a incrível força de vontade para ajudar a quem precisava.
Isso compensava toda a ausência desproposital, e o orgulho que sentia dela era algo recíproco. Fazia questão de ajudar sempre que podia, seja do mais complicado ao mais simples, como atrair pessoas para os eventos de caridade.
andou em direção ao namorado, que lhe deu um selinho e a abraçou pelos ombros assim que se aproximou o suficiente. Eles iniciaram o trajeto até o interior colégio, 10 minutos adiantados.
— Sua mãe acenou para mim? — Elliot perguntou e a garota assentiu. — Ela anda meio sumida ou é impressão minha?
— Ela anda muito ocupada ultimamente, por causa do evento anual de caridade que normalmente acontece na páscoa, mas neste ano vai acontecer um pouco atrasado. — explicou ela. — Estou tentando ajudar no que posso, mas mesmo assim parece ser insuficiente. — abaixou a cabeça e encarou o chão, meio decepcionada consigo mesma por não poder fazer mais. Ela até queria, mas as ideias não vinham à sua mente.
— Vocês duas são muito parecidas em vários aspectos. Um deles é que, por mais que tenham ajuda para fazer as coisas, acabam fazendo tudo sozinhas. — comentou ele, olhou para o seu rosto. A garota deu um sorriso de lado, percebendo que tinha puxado mais a mãe do que ela imaginava. Talvez devesse ser esse o motivo de não culpar tanto a mulher pelos sumiços.
— É que nós seguimos a mesma lógica: Ninguém nunca vai fazer algo tão bem quanto você mesmo.
Atravessaram um corredor quase cheio e viraram à direita. desejou que naquele dia uma ideia atingisse sua cabeça como um raio atinge uma árvore num dia tempestuoso.
Sorriu sabendo que teria sempre o apoio de Elliot para o que precisasse, e isso era algo importante de se levar em consideração.
— Qual é, , vai ser divertido!
— Acho que você e divertido não combinam na mesma frase.
— Você é má, . — o olhou, dando de ombros, e logo em seguida fechou o armário, com o fichário em mãos. Lembrou do que havia dito a . era alguém que se apossa e se apodera de qualquer espaço que ela pudesse abrir, tinha que lembrar de ser firme.
— Eu só sou direta. Tenho que ir pro ensaio. — explicou, observando passar pelo mesmo corredor em que estavam, e tratou de se apressar para alcançar a amiga. Mas se enfiou no caminho.
— Por favor. — ele pediu e por um instante se perdeu dentro do olhos dela e boca aberta numa linha tênue e disse:
— Vou pensar.
Ele pareceu satisfeito com a resposta. Depois de muito insistir, aquilo já era alguma coisa. Abriu caminho e passou. Não deixou transparecer na sua expressão, mas ela pensaria sim, e com muito carinho, na proposta. Não precisou correr, pois andava extremamente devagar. esbarrou na amiga propositalmente, que tirou um dos fones de ouvido após o contato.
Contudo, continuou concentrada em digitar no seu celular. leu o nome de no visor e deu uma risadinha.
[09:17] : Zacharias quer passar um trabalho em grupo.
[09:17] : E qual o problema? É só você fazer.
[09:18] : O problema é que eu não gosto.
[09:18] : Você não gosta de nada, .
[09:18] : Eu gosto de dormir.
[09:19] : E de você.
— Não sei porquê, mas vocês dois juntos me lembram Joy e Jack.
tentou esconder de a cara de derretida que devia ter expressado no momento. Lembrou que no filme Joy e Jack acabavam se apaixonando depois de uma guerra de sexos pela posse do dinheiro de uma máquina de cassinos em Jogo de Amor em Las Vegas. achava hilário, pois no decorrer daquela “guerra” os dois começaram a enxergar qualidades no outro e se apaixonaram.
Era uma estória que, ao mesmo tempo em que era uma ficção, também podia acontecer na vida real. As pessoas sempre podem estar sujeitas a se apaixonar, seja lá qual for a situação. foi pensando nisso enquanto acompanhava até o auditório.
Os últimos meses em que tinha ficado com foram muito melhores do que imaginou e conseguiu provar que ela mesmo estava errada. As dúvidas e incertezas pareciam ter se esvaído com o tempo e aquele pontapé inicial na direção do amor poderia sim ter um futuro. Se apaixonar de novo era como levar uma injeção de adrenalina que fazia o coração bater acima de 180, e era isso que impulsionava a sua esperança na relação que ela e ele estavam construindo. Tinha sido fácil adaptar à sua vida, de alguma maneira parecia se encaixar.
Ficou apreensiva no dia em que colocou os pés na casa de pela primeira vez desde o dia dos namorados e encontrou Cindy por lá. A mulher havia ficado surpresa e animada, e ainda tentava se acostumar com a ideia de vê-la como “sogra”. Bud também, ele era o melhor animal de estimação que alguém poderia querer, extremamente carinhoso, e poderia passar horas somente observando o cachorro deitar a cabeça no colo de à procura de carinho. De fato, passou a amar tudo na casa vizinha, e o principal: a distância. Vendo por aquele lado, era maravilhoso ser vizinha de .
Parte do clube de teatro estava reunida em um círculo no palco, algumas das panelinhas distribuídas nos assentos da plateia e três garotas do coral estavam perto do palanque aquecendo a voz. lembrou que elas estavam preparando uma performance de Independent Woman, do icônico Destiny’s Child. Próximo a elas, no palco, Finn estava sentado no chão e o detalhe era que tinha um violão nas mãos.
ficou feliz de vê-lo ali, pois o garoto tinha largado o coral há um mês alegando não ter mais tempo para participar. O que no começo duvidou, e, por um momento, até mesmo se sentiu mal achando que a culpa talvez fosse dela.
— Ora, ora, quem está aqui. — disse , de pé de frente para o garoto. Finn parou os dedos nas cordas do violão e subiu os olhos na direção dela, deu um sorriso singelo. não queria ter se afastado dele, apesar de tudo, ainda o achava um bom amigo.
— A Lilith me pediu para tocar e ajudar em ensaios de algumas alunas. — explicou ele antes de levar a palheta até a boca para segurá-la com os dentes enquanto usava as mãos para amarrar o cadarço do tênis. Quando sentou ao seu lado, cruzando as pernas, ele percebeu que o sentimento de precisar se afastar dela se foi. Ficou fácil de aceitar que ela tinha escolhido .
observou enquanto ele dedilhava nas cordas do violão notas de uma música que ela não conhecia e sentiu uma culpa preencher todo o seu âmago. O jeito que lidou com a situação, como se estivesse esquecido de todo resto porque só uma coisa importava, e ela percebeu que devia a ele um pedido de desculpas. De fato, já tinha pensado sobre aquilo algumas vezes, mas não fazia ideia de como iniciar, e na maioria das vezes aparecia e lhe tirava de órbita completamente. Mas aquele momento era o ideal.
— Finn... — ela começou, sendo interrompida de imediato pelo ruído do violão quando ele parou de tocar.
— , você não precisa me explicar o que eu já entendi.
— Eu sei, mas foi errado o que eu fiz com você. — respondeu cutucando as cutículas das unhas, sem saber como encará-lo.
— Não foi errado, a gente não tinha nada.
— Eu sei disso, mas parece que eu te dei esperança e pulei fora.
— Você só seguiu seu coração, esquece isso.
— Mesmo assim, sinto muito.
— Tudo bem, , de verdade. Somos amigos. — ele virou o rosto na direção dela, deu um sorriso e logo voltou sua atenção para o violão. sorriu de volta dando aquele assunto como encerrado, o que era uma alívio, manter alguém como Finn por perto era aprazível. Cantou um pedaço quando reconheceu que a música que Finn tocava era High Hopes, do Pink Floyd. Lembrou da vontade que sempre teve de tocar violão, seria um bom aperfeiçoamento para os seus ensaios se tivesse um instrumento em mãos juntamente com o microfone que tinha ganhado do pai. Só tinha um problema: Ela não sabia tocar.
Mãos habilidosas que manejavam o instrumento perfeitamente lhe vieram à cabeça. A vibração subiu por todo o seu corpo com a ideia que teve e só pensou naquilo, durante todo o ensaio com Lilith Martinez.
"A energia (E) de um corpo corresponde à sua massa (m) multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado (c²)."
desfocou das fórmulas de física no quadro negro. O quarto período mal havia começado e ela já estava entediada daquele dia letivo. Terça-feira era o dia da semana que mais detestava, ela poderia estar fazendo diversas outras coisas ao invés de tentar entender algo que o professor Rollemberg dizia. Até tentou, conseguiu captar algo que Einstein disse a respeito da Teoria da Relatividade, mas não achava interessante o suficiente. Apoiou a mão e olhou para o lado.
estava sentado ao seu lado, e ela invejava a sua serenidade. Ele tinha um lápis na mão e desenhava personagens de filmes no caderno. Na cabeça, o capuz do casaco escondia os fones de ouvido que transmitiam aos seus tímpanos um rock clássico do anos 90. revirou os olhos quando o namorado indicou o quadro com a cabeça, dando a entender que ela deveria prestar atenção. Estava prestes a levantar e pedir para ir ao banheiro quando a única porta daquele cubículo fastidioso se abriu.
, assim como todos os outros presentes, ergueu os olhos na direção de . A garota observou cada detalhe do amigo e soltou uma risada discreta. Ele tinha os cabelos ligeiramente bagunçados, mais do que o habitual. Não tinha nada de errado com as roupas, mas a camisa do uniforme estava um pouco amarrotada.
— Bom dia, posso entrar?
O professor Sergio Rollemberg, que andava pela sala enquanto explicava, parou e o olhou com uma cara feia.
— Atrasado, Sr. ?
— Eu? Atrasado? — dimulou inocência junto de uma careta e falsa indignação. O professor balançou a cabeça para os lados enquanto o restante de classe riu.
— Se me lembro bem, o horário desta aula é às 10:30. — Sergio Rollemberg fez um pausa para checar o relógio de pulso, e logo continuou: — Já são 10:57, então eu diria que, sim, se trata de um atraso.
— Mas, Rollemberg, não foi Einstein que disse que o tempo é relativo? Eu posso não estar atrasado, vocês que estão adiantados demais. — falou com um sorriso descarado e a turma riu mais uma vez. estava adorando, o tédio havia tido uma pausa por pelo menos alguns minutos. Sergio o olhou desconfiado, tentando esconder que na verdade gostara da desculpa que havia dado. Balançou uma das mãos no ar enquanto voltava atenção para sua explicação.
— Apenas sente-se, .
assentiu, escondendo o riso vitorioso. Passou pelas fileiras cumprimentando alguns dos seus colegas de classe, até chegar na banca vazia na frente de . lhe cumprimentou com um tapa de mãos e de imediato se inclinou para frente para cochichar perto de seu ouvido, com cautela para que Sergio não percebesse a conversa paralela.
— Quando você vai me contar com quem está saindo? — perguntou e a olhou por um segundo antes de se virar e abrir o zíper da mochila para tirar o caderno de dentro.
— Eu?
— Eu não sou idiota, ! — falou um pouco mais alto do que deveria e riu. Ela sabia que os sumiços do amigo deveriam ter alguma explicação.
— Se ele está escondendo com quem anda transando da gente, é porque aí tem. — murmurou , sugestivo, e balançou a cabeça concordando. olhou para o quadro com um sorrisinho, convencendo de que tinha razão.
— Desde quando a minha vida sexual diz respeito a vocês?
e riram enquanto a sala pareceu ter entrado num intenso fluxo de conversas paralelas.
— Shhh, silêncio por favor! — pediu Sergio em alto e bom som e a turma se calou de imediato. Os três subiram os olhos para o giz que passeava pelo quadro negro indicando datas. — Vocês já devem ter percebido que o trimestre está acabando, e com isso temos nossa reta terminal de entregas de trabalhos e provas finais de julho. — a sala toda se uniu em um poderoso grunhido de reprovação. — Ora, animem-se, pensei que gostassem das férias de verão. — todos concordaram.
— Com toda a certeza! — falou .
— Imaginei, Sr. . — Rollemberg se posicionou de frente para toda a turma. — Logo, quero que fiquem cientes das datas das provas, vou anotar os assuntos no quadro. E já temos a data do nosso Midnight2Work¹ do ano. Os alunos que desejam participar devem trazer as autorizações assinadas para a coordenação até a tarde da sexta-feira que vem. Tracy vai passar entregando os papéis de autorização.
O professor de física se virou para o quadro, começando a anotar os assuntos, enquanto a garota de cabelos trançados passava entre os alunos. A sala voltou ao seu murmúrio habitual enquanto alguns alunos anotavam o que Rollemberg escrevia.
— Ei! Tive uma ideia. — disse, chamando a atenção de e . pensava no trabalho que ela, e tinham que terminar, o Midnight2Work seria perfeito para isso. Já ansiava pelas férias de verão, não só porque iria até a casa dos tios em época de festival, mas também porque arrastaria seus amigos junto. — A gente podia montar um grupo de estudos. — sugeriu e não conseguiu segurar a risada.
— Isso nunca vai dar certo, . — respondeu ela, já imaginando os 8 se reunindo em algum lugar, a última coisa que fariam seria estudar.
— A gente podia tentar. — insistiu, mas negou com a cabeça. — Pensa, , somos 8. Cada um de nós é melhor em alguma matéria e pode ajudar o outro. Assim ninguém fica precisando de nota e a gente sai de férias ao mesmo tempo, logo ninguém empata a nossa viagem pro sítio do tio do .
— É um bom modo de pensar. — disse, ele e balançaram a cabeça ao mesmo tempo, concordando em todos os sentidos. rolou os olhos, mas deu um sorriso de lado. A ideia era boa, se todos entrassem de férias mais cedo, mais cedo eles viajariam. Contudo, ela também contava com as probabilidades de não dar certo, e eles perderiam o tempo, que poderiam usar para estudar sozinhos, com diversão. Era o que queria, mas no fundo sabia que precisava estudar.
juntou todos os papéis soltos em cima da mesa e os guardou dentro do caderno, empilhando-o juntamente com os dois livros que utilizou naquela aula. Levantou calmamente apesar do júbilo dentro de si crescer, pois sabia que estava do lado de fora esperando por ela.
se encontrava de pé, inteiramente distraído no celular, mas logo que viu saindo da sala desencostou da parede e pegou os livros que ela segurava. sorriu quando a mão livre dele balançou até a dela e os dedos se entrelaçaram. Ela percebia até cada detalhe banal: pupilas dilatadas, bochechas coradas, frio na barriga, ansiedade misturada a uma única sensação de adrenalina, que corria nas veias, e no sentido figurado: braços estendidos, buscando algo pra se segurar, observando o céu ficar mais distante e mergulhando em uma escuridão recheada de desconhecidos. Pequenas atitudes como aquelas conseguiam demonstrar muita coisa, e ela e podiam se permitir ser “humanos”. Coisas de gente apaixonada.
Dizem que se apaixonar é gradual, uma escala. Mas, para , isso era crença de cientista. A ciência podia definir muitas coisas, menos a paixão. A paixão era volátil demais para ter uma definição certa.
— Afonso X, rei de Castela, era foda, sabia disso, ? — perguntou e ergueu uma sobrancelha na sua direção, lembrando do homem ao qual falava. Um rei de Castela conhecido como Afonso, o Sábio. Perguntou, entusiasmada com o assunto, enquanto caminhavam até o refeitório:
— Sabia, mas como você descobriu? — os dedos de se desentrelaçaram dos dela e sentiu a mão dele percorrer a linha reta da sua cintura até os dedos se enfiarem para dentro do bolso traseiro da calça jeans preta que ela usava. depositou ali um papel que foi dobrado quatro vezes. Um fio de arrepio subiu por todo o seu corpo com aquele movimento e ele voltou a segurar a mão dela.
— Fiquei a maior parte da aula montando a playlist, com todas as músicas que toquei essa semana, que agora está no seu bolso. começou a pensar nas músicas que tinha colocado daquela vez. Eles trocavam playlists frequentemente, muitas delas com mensagens subliminares repassadas através das letras e melodias. O que mais gostava naquela brincadeira era o modo que eles davam um ao outro aquelas listas, iam desde de endereços virtuais que encaminhavam a playlists montadas no Spotify até uma folha de caderno dobrada e colocada no bolso de forma natural, sem alarde.
— Mas parei por alguns segundos e prestei atenção na aula quando o professor Ezequiel estava falando sobre Afonso. Sabia que ele criou a Mesta pra impulsionar a economia de Castila, fomentou a repopulação de terras conquistadas aos muçulmanos e fundou escolas que traduziam para as línguas ocidentais obras da antiguidade clássica que foram as principais responsáveis pelo renascimento científico de toda a Europa medieval? — concordou com a cabeça, sem imaginar que fosse ficar tão interessado com aquele assunto. História e literatura estavam longe de ser as matérias preferidas dele, ao contrário dela, que adorava-as. — E a melhor parte: foi nas cantigas dele que se pode identificar ilustrações dos primeiros violões montados.
— Sabia sim, só não dessa parte dos violões.
— Estava em um dos textos que Ezequiel pediu que a gente lesse. Eles conseguiram comprovar a existência de dois instrumentos distintos convivendo juntos, um árabe e um grego. Afonso tocava por aí em algumas de suas cantigas de maldizer e escárnio. — imaginou o rei Afonso tocando seu violão pelas ruas de Castila, na Espanha. Talvez ele e fizessem uma boa dupla.
— Até espanhóis do século XIII sabiam tocar violão e eu não, incrível. — revirou os olhos e enrugou a testa, percebendo que algo a perturbava internamente.
— Como assim?
— Me deu vontade de aprender, na verdade eu queria pedir pra você me ensinar. — os dois pararam quando atingiram as portas do refeitório, ficando de frente um paro o outro.
— Por que pra mim? — indagou e lançou um olhar impaciente para o descaso dele. Ela que não supriria a vontade que ele tinha de ouvir que tocava tão bem quanto Ed Sheeran em uma live acústica de You Need Me I Don’t Need You.
— Porque você mora mais perto da minha casa. — respondeu ironicamente.
— Não é uma justificativa considerável.
— Tudo bem então, eu peço pro Finn. — fez um bico e a puxou no momento em que a garota se virou para se afastar dele.
— Eu ajudo. — ele riu e encarou o seu rosto. — Pra você, qualquer coisa. — soltou um sorrisinho antes lhe dar um selinho. E se afastou rapidamente para ir até a mesa redonda onde seus amigos se encontravam. Ela tinha que aproveitar já que estava segurando seus livros.
Parou por um instante para checar uma notificação no celular e aproveitou a distração para se apossar da maçã que havia trazido. Colocou o braço em cima do encosto da cadeira que sentava e fez um pedido de silêncio para , que o encarava com as sobrancelhas arqueadas. levantou a cabeça e viu que todos ali estavam encarando os dois, olhou para para checar se havia algo errado e quando seus olhos pousaram nele encontrou uma serenidade, como se não se importasse com aquilo. Arregalou os olhos quando viu que ele se mantinha daquele modo enquanto comia a maçã que ela tinha trazido.
— O que vocês estão olhando? — perguntou , dedicada a prestar atenção nos amigos e em para pegar a sua maçã de volta.
— Vocês dois são engraçados e de certo modo fofos. — ignorou o que disse e, assim que percebeu que tinha pegado a maçã de volta, tratou de tirar o braço da cadeira dela e se inclinar para lhe dar um beijo na bochecha, mas que, devido aos movimentos de , acabou sendo na boca. não queria soltá-lo, mas os pigarreio de a obrigou.
— Vocês precisam mesmo se agarrar aqui? Estamos comendo!
— Pelo menos eles não se agarram escondido... — falou fitando o teto e a olhou atônito. e riram.
— Porra, até você, ? — ela riu, encolhendo os ombros e cruzando um olhar cúmplice com . e fizeram a mesma coisa um com o outro e o guitarrista deu um sorrisinho. Um falatório expressamente provocativo começou e percebeu que era a única que não tinha dito algo, ela estava quieta demais. Cutucou por debaixo da mesa com a perna.
matinha os olhos concentrados em algo que não a conversa aleatória de , , e , mas voltou à realidade quando percebeu que e chegaram. Elliot tinha tido uma ideia brilhante e ela viu nos 6 uma forma de ajudar a mãe com seu evento. Não se importaria caso eles negassem, afinal fazer caridade não era a coisa mais divertida do mundo.
— Calem a boca, a quer falar! — gritou e todos se aquietaram, olhando para a capitã das líderes de torcida.
— Quer? — perguntou , incerto, e assentiu.
— Sim, eu só estava esperando que estivesse todo mundo aqui. — explicou ela o motivo do silêncio e uma chegada desagradável a cortou antes que pudesse falar mais.
— Não, agora que eu cheguei está todo mundo aqui e você pode falar, . — falou, sentando no lugar vago ao lado de . — Ou ficar calada, seria a melhor opção. — falsificou um sorriso gentil e revirou os olhos.
— Não, você não está incluído, pode ir embora se quiser.
— Vou ficar. — respondeu colocando as mãos atrás da cabeça e se acomodando na cadeira.
— Que seja. — disse e agradeceu mentalmente por ela ter ignorado. — Não é nada demais, só que a minha mãe faz parte da organização de uma feira de caridade anual, como, pelo menos as meninas, sabem. — disse olhando para as amigas, que assentiram. — O Care Other Self, e, bem, eu estou tentando ajudar arrecadando materiais. Então, se vocês tiverem, sabe, aquelas coisas que vocês não usam mais, como roupas, acessórios, sapatos, e puderem doar, eu ficaria grata.
— Incrível? Um destino para as minhas tranqueiras. — respondeu , ele finalmente se livraria de um armário cheio de coisas inutilizáveis e das reclamações da própria mãe, que quase todos os dias lhe pedia para dar um jeito naquilo. Doar para quem realmente precisasse era uma boa ideia.
— Ah, eu não tenho muita coisa, tudo que eu não usava mais eu deixei em Washington, mas posso ver com os meus tios, talvez eles queiram se desfazer de algo. — falou .
— e eu vamos dar uma olhada lá em casa e te avisamos. — disse , confirmou e agradeceu, balançando a cabeça. lembrou das caixas que a mãe possuía na garagem, infelizmente ele já tinha feito todo aquele processo com as próprias coisas, mas algo ali poderia servir para ajudar.
— Ok, sabia que podia contar com vocês. — respondeu ela com um sorrisinho que irritou internamente, mas ele permaneceu calado. o olhou rapidamente antes que ele pudesse perceber. Algo, além de , parecia o incomodar profundamente. — Menos uma coisa para me preocupar, agora eu só preciso arrumar algumas pessoas para ficar nas barracas.
— ? — perguntou olhando para todos na mesa, como se não fosse óbvio.
— O quê? — perguntou , que, mesmo depois de encarar , continuou sem entender. Já , captou bem a mensagem.
— Você tá cega? E nós aqui? — indagou a última. Ajudar nas barracas não seria sacrifício nenhum e deveria saber que poderia pedir para as amigas. Pensou que talvez poderia precisar de mais pessoas além delas três, mas talvez os garotos também pudessem dar uma força. abriu a boca, finalmente entendendo o que as duas queriam dizer.
— Vocês iam mesmo querer fazer isso? Um dia inteiro atendendo pessoas, entregando e recebendo materiais? — as amigas deram de ombros, assentindo.
— Claro. — respondeu e se animou.
— Certo, mas precisamos de mais gente, só nós 4 não dá pra dar conta de tudo. — respondeu e fez uma careta de ofensa.
— Ei, porque está descartando a gente?
— Também gostaria de saber. — questionou e as garotas os olharam, surpresas. parecia concordar, com exceção de , que permanecia neutro.
— Por que vocês acham?! — ironizou , era meio óbvio. Garotos quase nunca se interessavam por aquele tipo de coisa, e, pelo que conhecia daqueles 4, não imaginava que talvez estivessem dispostos a ajudar. Talvez ela ainda tivesse que trabalhar para evoluir certos tipos de pré-conceitos, principalmente aos relacionados ao sexo masculino, mas era o que dava a entender.
— Nós queremos ajudar também. — falou , ele estava do lado dela e a abraçou pelos ombros. se encolheu em razão do contato involuntário. Ele a olhou com as sobrancelhas erguidas e ela encarou de volta, percebendo que os rostos tinham ficados próximos demais. Sentiu suas bochechas esquentarem e se afastou devagar. mordeu os lábios para não sorrir, porque ficou claro para ela que, ali, tinha rolado um clima, mesmo que por meros segundos.
— Confie em nós, Imperator Furiosa. — piscou e riu com o apelido. Imperator Furiosa era o nome da personagem do filme Mad Max. Visionária, líder, decidida, que sempre coloca o bem estar alheio como prioridade. achou justa a comparação a .
— Tá, tudo bem. — aceitou ela. — Mas eu não quero ouvir reclamações quando eu estiver pegando no pé, é pra levar a sério.
— Pode deixar. — respondeu , sentiu o olhar dele sobre o seu perfil. Não teve coragem de olhar de volta depois daquele meio abraço aproximado.
— Eu quero deixar claro que a barraca dos bichinhos é minha! — anunciou , lembrando da última feira que a mãe de tinha organizado. Foi naquela barraca, há um ano, que ela havia adotado Dexter, um dos seus cachorrinhos. a desafiou com o olhar.
— Não vem não, , já é minha. Fala para ela, . — as duas amigas encararam , que felizmente sabia como sair de situações como aquela.
— Quanto a isso vamos ter que fazer um sorteio. — falou ela. e bufaram. fez uma careta, deitando no ombro de . levantou os olhos do celular e observou todos ali, mas logo voltou o que estava fazendo. semicerrou os olhos na sua direção, mas ele nem deu bola.
— Por que achou que negaríamos caso pedisse? — perguntou e direcionou o rosto para ela. estranhou aquele comportamento vindo de alguém tão pró ativa e persuasiva. sempre acabava arrastando as pessoas para um benefício coletivo, mesmo que muitas negassem de início. Naquele caso, imaginou dando uma lição de moral em todos eles, mas na verdade ela nem sequer perguntou. — Você não é assim.
— Não sei. — respondeu diretamente. — É quase fim de trimestre, vamos ter provas e trabalhos finais, achei que estariam ocupados estudando ou desesperados. — falou ela e todos riram, fez uma careta ao lembrar das provas. Tinha perguntando a , dias atrás, se ela lhe passaria respostas. Um bom e sonoro “não” lhe desanimou na hora.
— Falando em provas, , por que você não compartilha sua grande ideia com o resto de nós? — perguntou encarando o amigo e soltou uma risada.
— Fala sério, .
— O que é? — perguntou , curiosa. — Eu quero saber!
— acha que nós todos conseguimos manter o foco por tempo suficiente para montar um grupo de estudos na casa de alguém. — explicou e se pronunciou.
— Seria uma boa ideia.
bloqueou o celular, começando a se interessar pelo assunto, estava fingindo nem existir até aquele momento. Os outros, principalmente e , começaram a discordar de , afirmando que não iria dar certo. Então disse e girou o pescoço para olhar para ele.
— Eu apoio. — respondeu ele sorrindo e todos o encararam. “Estudar” e “” não eram coisas que que combinavam e todos ali sabiam disso. — Me falem o dia e a hora que eu levo a cerveja. — , , e riram da ideia. apenas soltou uma risadinha enquanto rolava os olhos, até aprovaria a ideia de transformar aquilo em uma festa, mas não queria colocar as suas notas em risco. Ela queria passar de ano.
— Cerveja? Tá vendo! — exclamou para e , demonstrando que tinha total razão. levantou da cadeira, dando a volta na mesa e indo até a cadeira de , onde a abraçou por trás.
— Poxa, , como quer que estudemos sóbrios? — ele perguntou manhoso, o afastou, mas riu também enquanto e ele trocavam um cumprimento.
Logo aquilo tudo se tornou a organização de uma festa, a primeira que não fazia questão de participar da organização. Já esperava que nenhum dos quatro de fato levasse aquela ideia para frente.
The Show Must Go On — Queen
You're The One — Greta Van Fleet
From Your Boy — The Queers
Dear God — Avenged Sevenfold
Eraser — Ed Sheeran (essa foi influenciada por você)
Mr. Brightside — The Killers
Naquela tarde havia feito diversas coisas, uma delas foi escutar a pequena playslist de enquanto estava no banho. Notou que duas delas estavam destacadas com uma cor diferente de caneta. Foram as que mais prestou atenção na letra enquanto se lavava. Gostava de pensar que fazia aquilo de propósito, eram fofas mensagens subliminares.
Ainda estava com apenas uma toalha enrolada no quando sentou à sua escrivaninha e pegou seu caderno de composições. Ela sempre deixava ali registrado os versos que mais tinha gostado das músicas marcadas por .
(Você é quem eu quero. Você é quem eu preciso)
This song is straight from your boy. I always think of you. — From Your Boy by the Queers.
(Essa música é diretamente do seu garoto, e é apenas para você. Eu sempre penso em você.)
Fechou o caderno assim que terminou de anotar os trechos, lhe fazendo uma nota mental de lembrar de montar uma playlist em resposta.
Ficou os próximos 10 minutos encarando o próprio armário até decidir o que ia vestir. Encontrou uma blusa de algodão cinza, as mangas eram longas e na cor azul marinho, letras estampavam a frente dizendo alguma coisa que envolvia a Califórnia. Era de , ela lembrava bem do dia que tinha pegado do armário dele, mas estava limpa, decidiu vesti-la junto a um short jeans. Permaneceu com o chinelo branco e se colocou de frente para o espelho colado na parede. O cabelo já estava penteado, borrifou um pouco de perfume no pescoço, sabia que gostava. Apanhou o broche em cima da mesa e o prendeu na blusa. Após isso, saiu do quarto e desceu a escada.
Antes de ir para a cozinha, viu Bill sentado na sala, deslizava com o lápis na folha do caderno que tinha apoiado em uma perna. Parecia concentrando enquanto escrevia. Havia vários envelopes em cima da mesa de centro. sentou no braço de um dos sofás, de perto conseguiu perceber detalhes nos envelopes. Eram brancos, feitos de papel moeda e uma fita preta de renda rodeava cada um deles. Na frente tinham impresso os nomes com uma letra cursiva caprichada. Eram os convites para o casamento.
Faltava pouco mais de dois meses para a cerimônia e se sentiu como se tivesse se perdido no tempo. As coisas estavam acontecendo rápido demais.
— O que você tá fazendo? — perguntou .
— Elsie pediu para que eu verificasse os endereços dos convites, se estão todos certos. Ela não quer que acabe acontecendo de algum convite ir parar com a pessoa errada. — Bill respondeu e riu da cara de tédio do pai. Ele não parecia estar se divertindo enquanto fazia aquilo.
— Ficaram bonitos. — pegou um deles e observou atentamente. O da mão dela indicava que o convidado era Débora , a irmã de sua mãe. Deu um sorrisinho, apesar de sentir a falta do nome de tio Sheldon ao lado do dela. Isso a lembrou de precisar ligar para sua tia, fazia um tempo que as duas não se falavam.
— Obrigada, eu que escolhi. — vangloriou-se ele e ergueu os olhos para o pai.
— Sério?
— Não, mas o papel moeda foi ideia minha — ele disse rindo e ela o acompanhou. — Deixa eu adivinhar, você vai ficar pra me ajudar?
— Eu adoraria, Bill Chester, mas já tenho algo pra fazer hoje à tarde.
— E tem a ver com aqueles doces que você fez hoje mais cedo?
balançou a cabeça concordando, esperando que a bandeja que deixou na cozinha ainda estivesse intacta. Devolveu o convite a mesa de centro e se levantou. Checou a hora no celular, passava das 16h, deduziu que àquele ponto já estivesse acordado.
— Estou indo, ok? — avisou, começando a se afastar. Bill olhou para trás, em direção a , e avisou:
— Diga ao para ele parar de roubar a minha filha. — gritou e não conseguiu segurar a risada. Estava quase na cozinha quando desceu a escada admiravelmente cheiroso e arrumado. lembrou do que havia dito no refeitório naquela manhã, mas decidiu não perguntar.
— Vocês vão sair? — perguntou Elsie vindo do lado de fora. Ela estava descalça, parecia não ter parado um segundo sequer de arrumar suas coisas. Fazia alguns dias que tinha se mudado para a casa dos e ainda tentava organizar tudo no lugar. e assentiram. — Só queria avisar que deixei marcado prova de roupa pra vocês no domingo que vem, tudo bem?
— Ok. — confirmou novamente e apenas deu de ombros.
— Sabe, — falou Bill de maneira sugestiva, chamando a atenção dos três. — vocês podiam ficar e me ajudar com os convites como bons filhos prestativos.
— Bill, eu lhe dei apenas uma tarefa! — exclamou Elsie indo até a sala, viu o pai rolar os olhos como uma criança mimada e a noiva o repreendeu por pedir ajuda aos filhos.
foi até a cozinha pegar a bandeja de cupcakes, depois disso ela e deixaram a casa de fininho.
— Estamos deixando a casa livre e o velho ainda reclama?! — disse assim que fechou a porta.
— ! — ela deu um tapa no braço dele, mas o acompanhou na risada.
Quando viraram de frente puderam perceber um enorme caminhão de mudanças parado do outro lado da rua, na frente da casa que vinha logo depois a de . Vários homens circulavam entre a casa e o caminhão carregando caixas. Uma mulher de vestido branco aparecia na varanda de vez em quando para acompanhar a movimentação das caixas.
— Vizinhos novos? — perguntou e deu de ombros. O bairro em que moravam era ótimo, não era comum que as pessoas quisessem sair de lá, logo mudanças assim não aconteciam com frequência. Não era à toa que e a família moravam ali desde que ela se entendia por gente.
Desviou o olhar do caminhão e fez o mesmo. Ela foi até a porta da casa de enquanto o irmão foi até o próprio carro. Quando tocou a campainha, escutou-o gritar.
— Não faça nada que eu não faria hein, ! — quando parou para olhar, já estava dentro do carro, ela só teve tempo de lhe mandar o dedo médio e vê-lo rir antes de acelerar com o carro para sabe se lá onde.
fugiu dos olhos da treinadora Jule. A garota adorava jogar vôlei, contudo naquele momento só queria uma pausa para descansar os braços e repor a água do corpo. Coisa que a treinadora não pensava ainda em dar às suas meninas, que se matavam na quadra. saiu de lá de fininho após encher a garrafinha de água. Sentou de borboletinha no chão do lado de fora e encostou a cabeça no portão. Sua mão imediatamente foi de encontro ao seu celular, havia uma mensagem de perguntando a hora que ele deveria buscá-la, o respondeu rapidamente e no segundo seguinte seu celular recebeu uma ligação, era .
— Oi, . — respondeu e bebeu um pouco de água, aguardando que se pronunciasse do outro lado da linha.
— , me responde por que o é assim? Já que, de nós, você é a que mais tem contato com ele. — disparou pelo telefone. notou uma pitada de ansiedade na voz dela.
— Assim como, garota?
— Desse jeito dele. — apesar da pouca explicação, entendeu o que ela quis dizer. Conhecia há bastante tempo para entender toda aquele descaso que o garoto tinha com as coisas.
— Porque é. É complicado entender o , você tem que ir fundo pra tentar arrancar alguma coisa dele, mas ele só é assim por causa dos pais. Ele nunca admitiu isso, mas é o que eu desconfio. Sabe, os pais dele são um porre.
— Sim, eu sei, ele me disse isso uma vez quando me deu uma carona.
— Hm, mas por que você quer saber, hein? — perguntou com um tom sugestivo na voz. parecia muito interessada para dizer que era apenas curiosidade.
— Ele me chamou pra sair hoje. — respondeu .
— E você vai aceitar? — indagou, curiosa pela resposta, já havia percebido o interesse pelo lado de , mas por ela ainda tinha uma incógnita.
— Mais do que isso. — disse e arregalou os olhos pensando nas possibilidades, apesar de utilizar um tom de voz natural. — Quer dizer, ainda estou pensando, mas de qualquer maneira obrigada, .
— Ei, espera aí, ! — disparou antes que a amiga desligasse. — O que você vai fazer?
— Eu conto pra vocês depois, tchau.
desencostou o celular do ouvido sem acreditar que a tinha deixado ali com toda aquela curiosidade. Pensou em ligar para ela de novo e insistir até que ela lhe dissesse, mas no segundo seguinte seu celular foi arrancado da suas mãos e ela olhou para cima. A pessoa atrás do ato era nada menos que a treinadora Jule, gritando para que ela voltasse para a quadra.
tocou a campainha da casa, mas passou um tempo e ninguém atendeu. Ligou para e nada, ele ainda deveria estar dormindo. A ideia não lhe agradava muito, apesar de que, se a porta a estivesse aberta, poderia entrar sem mesmo tocar a campainha, ela ainda não sentia que tinha toda aquela liberdade. Colocou a mão na maçaneta e a girou, a porta abriu.
Ela entrou devagar, equilibrando a bandeja em um mão enquanto a outra fechava a porta. Deu um pulinho de susto quando ouviu o grito de uma mulher, só poderia ser Cindy. Estava longe, como se viesse de um dos quartos. subiu a escada e parou no corredor, para ouvir mais atentamente. Não era de desespero, parecia ser mais de súplica. Depois uma gargalhada e outro grito. Era como se ela estivesse sofrendo, mas estivesse feliz com aquilo? Sentiu que deveria entrar e perguntar se estava tudo bem, mas achou melhor não, ela poderia entender de maneira errada. Caso fosse sério, já estaria ali.
Ignorou aquilo e andou devagar até alcançar a cordinha presa no teto, a puxou revelando a escada. a subiu e parou no último degrau de frente para a porta do quarto de . Bateu três vezes torcendo para que aquilo fosse o suficiente para acordá-lo, ela não queria fazer mais barulho.
Segundos depois, a porta se abriu e um ventinho passou por ali fazendo a sua franja voar. quase deixou a bandeja cair quando olhou para ele. A cara de sono indicava que tinha acabado de sair da cama, e o cabelo estava todo bagunçado. Uma única peça de roupa o impedia de estar completamente pelado: uma cueca preta da American Apparel. percorreu todo o corpo dele com os olhos, pois a vista lhe agradava. Ela já tinha tido tempo suficiente para admitir que, céus, o corpo dele era maravilhoso. Conteve a vontade que teve de largar a bandeja e apalpar as mãos por todos os cantos que lhe fossem permitidos.
deu um sorrisinho depois de bocejar ao perceber que ela o secava. sentiu as bochechas esquentarem ao ver que ele tinha percebido. Decidiu entrar logo e fechou a porta atrás dela.
— , tá tudo bem? — perguntou olhando quarto ao redor, evitando olhar diretamente para ele e o seu corpo magnífico. O fato de estar seminu e a cara de sono contribuia para formar uma imagem incrivelmente fofa e sexy. Mais sexy do que fofa, ela tinha que concordar.
Estava tudo arrumadinho como sempre. Olhou para cima, e através do vidro era possível ver a transição do céu do final da tarde para a noite. Quando o céu mudava de tons laranjas para rosas e roxos até chegar no azul profundo e escuro. Era o que mais gostava ali de cima.
— Comigo? Sim. — ela deixou a bandeja em cima da mesa enquanto entrava no banheiro.
— Com a sua mãe. — ouviu o barulho da torneira sendo aberta, depois fechada, depois aberta de novo. Deduziu que estivesse escovando os dentes e lavando o rosto. — É que eu ouvi uns gritos dela quando cheguei.
Ela esperou uma resposta, mas só obteve silêncio. Sentou na cama e tentou prestar atenção nos detalhes do quarto, seu olhar ficou preso no mapa em cima da escrivaninha por algum tempo. Quando saiu, olhou para ele quase que automaticamente. Ele secou o rosto em uma toalha pendurada atrás da porta, infelizmente tinha vestido uma bermuda de moletom cinza escuro, mas continuou sem camiseta, o que fez sentir uma faisquinha de satisfação. passou por ela lhe dando um beijo na bochecha e atacando um cupcake da bandeja que havia trazido.
— Ela só deve estar nervosa com algum cliente. — respondeu ele, sentando ao lado dela. desconfiava que, na verdade, Cindy estivesse falando com Ethan, seu irmão problemático, em uma daquelas ligações mensais dele, mas preferiu ocultar essa parte de , que pareceu convencida.
achou melhor não se aprofundar naquele assunto. Ela queria que as coisas entre ela e seguissem de maneira natural. Ao invés disso, decidiu seguir por um caminho que levava a um questionamento que martelava na sua cabeça algumas vezes. O quarto dele.
— Posso te fazer uma pergunta? — a garota ajeitou uma das pernas em cima da cama de e se virou de frente para ele.
— Claro — ele disse de boca cheia, se ajeitando para encostar na parede. pegou um cupcake e se acomodou ao lado dele, de forma que os braços ficassem encostados um no outro. Ela levantou uma das pernas e colocou em cima da dele. Com a mão livre, pegou um travesseiro e o lançou contra .
— Não fala de boca cheia. — ele riu da advertência de enquanto mastigava. Ela revirou os olhos. — Então, porque no mapa alguns alfinetes são azuis e outros são vermelhos?
acompanhou o olhar de até o mapa localizado em cima da sua mesa. Ela tinha aquela curiosidade desde que havia ido ali pela primeira vez. Enquanto parecia pensar na resposta, comia o seu cupcake. Dessa vez, ele terminou de engolir para começar a falar.
— Os vermelhos marcam onde eu já fui, e os azuis pra onde eu ainda quero ir.
— Hmm — murmurou terminando de mastigar. Levantou, indo até a escrivaninha. Queria analisar lugar por lugar onde já tinha colocado os pés e quais ele ainda pensava em conhecer. observou o movimento do corpo dela até ali.
Quando chegou perto o suficiente, notou que havia vários alfinetes azuis pelo mapa todo, marcavam desde a América do Sul, passavam pela África e iam até o sul da Ásia. Alfinetes fixados em países como Argentina, Brasil, Chile, Egito, Madagascar, Tailândia, Japão e as Ilhas Maldivas. Na Europa havia poucos alfinetes vermelhos. Na Inglaterra dois marcavam as cidades de Londres e Liverpool. Um na Irlanda demarcando a cidade de Dublin, outros dois em Dortmund e Berlin, na Alemanha, e mais um em Milão, na Itália. O resto do continente era todo marcado com alfinetes azuis, como Espanha, Portugal, Suíça, Bélgica, Rússia. Outros dois vermelhos estavam na América do Norte, nos Estados Unidos, um em Orlando e o outro em Washington, DC. E um único branco, na cidade de Boston.
imaginou que ele era branco porque marcava a cidade que nasceu. Não sentiu necessidade de perguntar, ela tinha quase certeza que era isso.
tinha levantando e no tempo que ficou analisando o mapa havia comido dois cupcakes enquanto a observava.
— Viajou bastante, hein.
— Não tanto quanto eu queria. — ele parou bem atrás dela enquanto passava os dedos pelos alfinetes azuis.
— É, ainda tem muitos vermelhos.
— Eu posso conhecer o mundo de alguma maneira, , mas ele ainda não me conhece.
respondeu a uma dúvida que nem sabia que tinha. Ela vidrou os olhos no mapa e inclinou a cabeça um pouco para a esquerda quando sentiu encostar o queixo no seu ombro direito.
— Se você pudesse ir pra um único lugar agora mesmo, pra onde você iria? — questionou enquanto percorria seus braços com as pontas dos dedos. Ele gostava de ter o nariz tão próximo a curva do pescoço dela, o cheiro era bom demais.
— Hm, acho que o Egito.
— Egito?
— Não gosta? — segurou na cintura dela, e sentiu quando suas costas foram de encontro ao peito dele. Por um momento prendeu a respiração, adorando aquela proximidade com o seu tronco desnudo.
— Gosto, me lembra Cleópatra e Júlio Cesar. — respondeu, dando um giro e ficando de frente para ele, pousou as mãos na sua cintura aplicando ali uma fraca pressão. — Mas eu prefiro Verona, na Itália.
— Romeu e Julieta? Que clichê. — ele disse e logo após lhe deu um selinho. posicionou uma das mãos no ombro dele enquanto a outra deslizava pela nuca.
— Seria o primeiro lugar que eu iria depois de...
— Paris? — perguntou e ela riu, negando com a cabeça.
— Ibiza.
— Tem muita festa, você só vai se eu for.
— E quem disse que eu vou querer te levar? — falou , o encarando com as sobrancelhas arqueadas, ela tinha percebido o tom de brincadeira que usava. Ele respondeu com um beijo no pescoço e deu um passo à frente, enrolando os braços ao redor da cintura dela. sentiu o quadril encostar na mesa devido à pressão que fazia. Mordeu o lábio a cada beijo que dava no local, sentiu algo correr por suas pernas quando recebeu leves mordidas enquanto as mãos invadiam o interior da sua blusa.
— Você tem certeza que não vai querer me levar? — ele disse em meio a uma trilha de beijos.
— Tenho. — ela mentiu somente para não alimentar o ego dele, contudo, virou o pescoço, cortando o contato dos lábios dele com a sua pele, pois queria beijá-lo, mas, quando avançou em direção a sua boca, recuou.
— Se é assim, você não merece beijar esses lábios. — sentiu falta no segundo seguinte em que desgrudou o corpo do dela e se ajeitou na cama, abraçando o travesseiro e escondendo os músculos do peito.
— Eu nem queria mesmo. — rebateu, se virando e fazendo um bico enquanto cruzava os braços, igualmente a uma criança quando não consegue o que quer. Ficou encarando o mapa e gargalhou.
— Não ri. — o bateu com o primeiro travesseiro que conseguiu agarrar e riu mais, recebendo bofetadas do objeto de algodão na cara enquanto tentava segurar os pulsos dela. Quando conseguiu, a puxou para si. riu, relutando ficar entre os braços dele por mais tentador que fosse. Até que cansou e sentou na cama com as pernas dobradas de frente para .
Tirou o cabelo do rosto enquanto respirava fundo para recuperar o ar. observou o rosto dela mudar de cor.
— Tudo bem, já que não vamos nos beijar, me responde algumas perguntas — ele juntou as sobrancelhas e a encarou, tentando decifrar o sentido daquela indagação.
— Você quer arrancar informações de mim por quê?
— Só responde, ! — exclamou , batendo o travesseiro no colchão.
— Tá, tá.
— Qual o seu filme preferido?
— Não sei, acho que Guardiões da Galáxia? — balançou a cabeça pensando, achou que ela fosse questionar a sua resposta, mas ao invés disso pulou para a próxima pergunta.
— Cor preferida?
— Eu gosto de vermelho.
— Os Beatles ou os Rolling Stones?
— Rolling Stones.
— Dia ou noite?
— Dia.
— Futebol ou basquete?
— Basquete, por que todas essas perguntas?
— Mas eu só fiz cinco! — continuou a encarando, insistindo em uma resposta para a sua pergunta, e bufou. — Eu não posso querer saber um pouco mais sobre você? Essas coisinhas bestas fazem toda a diferença. — a encarou sem dizer nada, pensando se aquilo tudo levaria a alguma coisa, mas não tinha nada em mente. — O que foi?
— Nada, pode continuar.
— Tudo bem. Deixa eu pensar. — mordeu a bochecha internamente e olhou ao redor do quarto, achando algo curioso no qual nunca tinha parado para pensar. Boston e Manchester pareciam ser universos completamente diferentes e nunca entendeu o motivo de ter ido parado logo ali. — , por que você se mudou?
pensou bem antes de responder àquilo e chegou à conclusão de que só tinha uma resposta:
— Porque o meu pai é um filho da puta, por isso. — expressou espanto na sua face por uma frase tão direta. Ela nunca soube quem era o pai de ou que havia acontecido com ele. Pelo visto, não tinha sido algo bom. Esperou que continuasse a resposta, mas ele não disse mais nada, dando liberdade à sua imaginação de criar diversas hipóteses a respeito do paradeiro do Sr. . pensou até que podia estar morto, mas algo ruim ele deveria ter feito para ser xingado daquela maneira pelo próprio filho.
O modo que disse a frase deu-lhe a ideia que ele ainda guardasse algo rancoroso ali dentro. Talvez ele gostasse da vida em Boston, gostasse de tudo lá, e ações irresponsáveis do pai haviam lhe arrastado para uma vida em Manchester que talvez, no início, ele não quisesse.
Quando abriu a boca para perguntar as dúvidas que lhe cercavam, afastou os travesseiros de si e levantou. Ela o acompanhou andar até o outro lado do quarto, até as prateleiras paralelas uma a outra. Se esticou até a última para alcançar um objeto, que os olhos de identificaram ser.... um boneco do Buzz Lightyear.
voltou a cama sentando de frente para . Se ela queria saber mais sobre ele, iria lhe contar coisas realmente relevantes. Achou o boneco um jeito bom de começar a falar o que ele queria. Coisas que ele só costumava dialogar com , mas naquele momento se sentia confortável o suficiente com , o jeito que ela parecia interessada ajudava. Nenhuma outra garota havia despertado aquele interesse. Já fazia algum tempo que queria dizer algumas coisas para , ele se sentia seguro. Era uma sensação que a tempos não sentia e era bom. Em certo ponto de todos aqueles meses, finalmente teve respostas para as suas perguntas.
Percebeu algumas coisas nela que antes nem fazia ideia. era bonita, mas não como aqueles estereótipos manjados que estampavam capas de revistas. Ela era bonita pela maneira que pensava. Pela faísca que brotava nos olhos dela quando falava de algo que amava. Ela era bonita pela habilidade que tinha de fazer os outros sorrirem mesmo que estivesse abalada. Não, não era bonita como algo temporário numa vitrine que as pessoas param, olham e dizem “Oh, bonito”, ela era bonita bem no fundo da sua alma. Pequenas coisas que observava calado acabavam lhe despertando uma admiração inexplicável.
Às vezes achava loucura, que estaria melhor sozinho e “livre”, mas cada dia na companhia de o provava o contrário. só estava sendo teimoso consigo mesmo tentando negar um sentimento que já existia. não titubeava em esconder que gostava dele, e queria poder fazer o mesmo de forma simplória como ela fazia. Como tentar ajudar a afinar as cordas da sua guitarra, organizar as palhetas por cor em caixinhas separadas, arrumar a área de trabalho do seu computador, e até mesmo trazer consigo uma bandeja com 7 deliciosos cupcake, sabendo que era o seu doce preferido.
sabia que todo mundo tem a sua maneira de demonstrar afeto, ele só precisava encontrar a dele.
— Esse é o meu filme favorito, Toy Story, não é Guardiões da Galáxia. — pegou o boneco, começando a entender o motivo de ele estar ali. Era um brinquedo de plástico de 30 centímetros de altura exatamente igual ao do filme. Filmes da Disney eram aclamados por pessoas de diversas idades e tamanhos, não poderia ser a exceção. achou até mesmo fofo. — Meu pai me comprou esse boneco quando fomos na Disney, eu tinha 6 anos, nessa época nós ainda éramos uma família feliz com um pouco mais de problemas que uma família normal tem. Inclusive, Orlando foi o primeiro alfinete azul que eu fixei no mapa.
analisou a expressão de . Ela parecia tentar desvendar quais eram esses problemas por conta própria, mas talvez ela jamais imaginasse que tinham a ver com uma pessoa apenas: Ethan. O seu irmão, uma das pessoas mais problemáticas que já teve o desprazer de conviver. Mas ele queria contar aquela história sem citar o irmão, pelo menos por enquanto.
Ele pegou o boneco e o virou de ponta cabeça para que olhasse. Nos pés do brinquedo estava escrito “” pintado com tinta guache preta em uma letra bem fininha. Igual Andy fazia com os seus brinquedos no filme.
— Fofo.
— Não conte pra ninguém.
— O quê? Que você guarda brinquedos da sua infância? — ela indagou rindo e revirou os olhos, dando de ombros. — Tudo bem, já que você não se importa vou levar o Buzz comigo. — ele negou e tentou pegá-lo de volta, contudo relutou e ele acabou puxando-a para si e a abraçou, prendendo em seus braços. encostou a cabeça um pouco acima do peito de , seu nariz tocava a clavícula dele. Ela abraçou Buzz com os dois braços escutando enquanto falava.
— Com 7 ele me deu a fender. — apontou para a guitarra perfeitamente intacta pendurada na parede. olhou na direção e para tudo que havia em volta. Podia ser apenas impressão, mas tudo ali parecia ser perfeito só pelo fato de ser de . — Eu não sabia tocar uma nota, mas nunca babei tanto por uma coisa como por essa guitarra na vitrine da loja. Fui aprendendo a tocar com ajuda do meu tio, o meu pai tentava, mas ele era péssimo. — riu com o ênfase no adjetivo pejorativo.
— Você se mudou com 8, não foi?
— Foi. Nesse ano meu pai tomou algumas decisões erradas e isso afetou a minha mãe profundamente. Ela ainda tem alguns traumas por causa disso que ela tenta esconder a todo custo. Ela é daqui, toda a família dela na verdade, Cindy foi pra Boston fazer faculdade e a única coisa que prendia ela lá era a nossa família, não de modo ruim claro. A gente era feliz. Até que ele fodeu tudo, começou a beber e a fumar demais, seu temperamento ficou completamente alterado e bem a minha mãe decidiu se divorciar dele. Teve muita briga, ameaça, xingamentos nesse processo. Eles meio que decidiram se largar. Minha mãe juntou todas as nossas coisas e de um dia pro outro decidiu que voltaria para a Inglaterra, e o meu pai pouco se importou, só sumiu. De verdade não lembro quando foi a última vez que o vi. E essa é a trágica história.
— Nossa... Deve ter sido difícil.
— Foi horrível, eu era novo demais pra entender. Bati o pé igual aquelas crianças contrariadas, sabe? — riu imaginando um mini bravo e gritando com a própria mãe. E algumas coisas começaram a fazer sentido para ela. Lembrava vagamente do dia em que chegou ali. Ele era uma criança birrenta, chata e mal educada, e por aqueles motivos não gostara do garoto logo de cara. — Fiquei com raiva dela por um tempo, porque não queria ter me mudado, e na minha cabeça ela queria me afastar do meu pai. Meses depois as coisas melhoraram, eu e o ficamos amigos, e quando fiquei um pouco mais velho ela me explicou tudo. Desde então eu agradeço que seja só eu e ela.
— Você acreditou na versão dela assim, de primeira? Sabe, sem ouvir a versão do seu pai? Você parecia gostar muito dele.
— Acreditei. E, sim, eu gostava muito dele, , a gente se dava bem. Mas ele nunca mais apareceu, como eu ia ouvir a versão dele se ele nunca mais deu as caras pra contar? Eu não conto as ligações de ameaça que a minha mãe recebeu como “aparecer”. Isso só me fazia crer mais ainda que a versão dela era a certa.
olhou para ela, que não falou nada, apenas encarava um ponto cego no quarto.
— O que foi?
— Nada, é que... isso explica muita coisa.
— Tipo o quê?
— Tipo o fato de você ter sido uma criança terrível. — soltou uma risadinha, tentando descontrair o clima tenso do quarto.
— Eu era terrível? Você era uma chata que não deixava ninguém brincar daquele lado do parque.
— Isso não era minha culpa, a que dizia que a gente não podia sair dali porque daquele lado não tinha formiga. Nós éramos inteligentes.
— Você e a eram duas egoístas, isso sim. — Bom saber que fomos crianças normais, então.
riu e escorregou até que suas costas estivessem alinhadas com o colchão, por ainda estar abraçada a ele acabou indo junto, mas, ao invés de ficar deitada em cima dele, ela se ajeitou no colchão, saindo dos braços de . Ficou do seu lado, de barriga para cima olhando para o teto que devia existir ali. O boneco estava pousado na sua barriga e as mãos estavam em cima dele.
— Você não acha que esse teto de vidro tira um pouco da sua privacidade? — desviou o olhar do vidro e virou a cabeça em direção a , que a encarou de volta tentando enfiar o braço por debaixo dela para puxá-la para mais perto. gostava da iluminação que aquele final de tarde deixava no quarto, meio alaranjado, mas bonito. — É meio invasivo, não?
— Eu gosto. Não é como se eu fosse famoso e tivesse alguma fã ali em cima para espiar enquanto eu troco de roupa. — riu imaginando a cena. — Aqui, acima de mim, só eu.
Ela sentiu uma pontinha de convencimento na frase de , mas não tinha como negar, aquilo era um fato.
— Talvez eu faça isso algum dia, é uma ideia interessante.
— Teria que escalar a árvore para isso.
— Ou eu pegava uma escada, não tenho medo de altura. Seria aleatório e você nem perceberia que eu estaria lá.
— Tudo isso pra me ver trocar de roupa? — apoiou um cotovelo na cama e a mão na cabeça, enquanto a outra pegava o boneco das mãos de e o afastava. Ele não queria que o agente espacial atrapalhasse. não deixou de notar os músculos do braço dele se contraindo. Dali, ela tinha uma visão do paraíso que estava quase em cima dela. — Você não precisa pedir, ou mesmo se esconder pra isso.
deu um sorrisinho sacana que retribuiu, isso lhe deu a liberdade para se inclinar um pouco mais na direção dela. ficou com a cabeça inteiramente deitada no colchão, e olhava pra cima para que assim seus olhos fossem direcionados somente ao cara na sua frente. .
Ele tinha um antebraço apoiado de cada lado dela, o pingente do colar que usava balançava devagar devido à inércia. alternava o olhar entre o pingente e o rosto dele.
— Eu sei disso. Mas é cativante a ideia de ficar por ali em cima.
— Por quê? Você gosta de ficar por cima? — ele lhe lançou um sorriso libidinoso e mordeu os lábios com o duplo sentido da frase. encostou o corpo todo sobre , de modo que as pernas dele ficassem entre as delas, mas ele queria mais. Deslizou uma mão até a parte interna do joelho dela e o puxou para cima, ficando inteiramente entre ela. Num instinto aleatório levantou a outra perna, acomodando da melhor forma que conseguiu. Ela quase as entrelaçou ao redor da cintura dele, mas manteve os pés no colchão. — Ou por baixo?
O guitarrista observou quando ela riu e aguardou ansiosamente pela resposta. não estava com vergonha, na verdade adorava o modo como conseguia enfiar sexo nas conversas mais banais. tentava lidar com toda aquela tensão sexual, porque, de fato, eles ainda não tinham transado. Queria conversar com ele, e explicar algumas coisas que aconteceram com ela em relação aquilo, mas assim como tinha o tempo dele para lhe contar as coisas da sua vida, ela também tinha o dela, e ainda não havia encontrado o momento ideal.
Já gostava de provocar aquelas situações, gostava de despertar a libido dela. conseguia despertar a dele só com o andar, principalmente quando usava aquelas calças incrivelmente justas delineando fielmente a curva da sua bunda. Porém recuava de imediato quando sentia que estava retraída a dar aquele passo na relação — que ele nem ao menos sabia rotular — deles. queria transar com ela. Que ser no mundo que não tivesse relações de parentescos com não iria querer? Ele não tinha pressa, apesar de algumas vezes partes do seu corpo lhe dissessem o contrário. Ele percebia aquilo em também, mas nela era diferente. O desejo existia, mas junto dele tinha algo que a travava, porém ele não conseguia identificar o que.
— . — disse e ele ergueu os olhos até os dela esperando uma resposta, mas ela utilizou a deixa para juntar os seus lábios.
Acabou puxando para mais perto pela nuca deixando para a tarefa de se concentrar na troca mútua de desejo através daquele beijo e no seu peso em cima dela. Sentiu as unhas de rasparem o seu pescoço e chegando até os seus cabelos quando deixou o beijo cada vez mais intenso.
puxou seus cabelos sutilmente, mas mantendo a controle para que a boca dele não se desencostasse da dela, ela adorava beijá-lo. O jeito como a língua dele procurava pela dela para reafirmar que as bocas combinavam… Ela ainda não tinha provado nada melhor nessa vida. lhe deu mais alguns selinhos demorados antes de descer os lábios até o pescoço dela. Há uns dias ele havia pensado em fazer alguma coisa para mantê-la relaxada, quem sabe ajudasse a lhe falar o que a incomodava. Sexo era tão bom, e ele queria lhe proporcionar o maior prazer que conseguisse, mas toda relação deveria ter uma base: o diálogo.
Achou aquela uma boa ideia e aquele um momento propício para colocá-la em prática, e ele já sabia como. Torcia para que desse certo, pois queria ajudá-la. Caso se retraísse novamente, tudo bem, ele teria toda a paciência do mundo.
soltou um suspiro quando beijou seu pescoço e aquilo o incentivou a continuar. pressionou, com as coxas, as laterais do quadril dele, fazendo com que os corpos dos dois tivesse mais contato ali em baixo, e ficasse duro. Droga. Ele desejava poder ter mais controle do próprio pau naquelas situações. Ignorou as suas vontades para focar nela. Ela primeiro.
voltou a beijar a sua boca e ela sentiu as mãos dele deslizarem pelo seu corpo. Quase deu um pulinho quando o sentiu ficar excitado. O algodão do moletom dele não era rígido como o jeans de uma calça, e ela conseguia sentir bem a rigidez, a grossura, o tamanho... Por alguns segundos esquecia até de beijá-lo de volta. Os dedos frios de encostaram na pele da sua barriga quando ele levantou um pouco a sua blusa, e quando os dedões dele fincaram no cós do seu short ela percebeu que a intenção dele não era subir, era descer. Até lá.
Prendeu a respiração por alguns segundos. Estava excitada, mas ao mesmo tempo queria empurrá-lo para longe dela. Lembrou que estava com as costas nuas e que poderia descontar ali todo o anseio que estava sentindo naquele momento, utilizando as unhas. E foi o que ela fez quando chupou o seu pescoço e mordeu a sua orelha. Ele ergueu um pouco o corpo para conseguir desabotoar o seu short mais facilmente. respirou fundo, ela podia confiar em .
Mas era nela que ela não confiava.
— ! — duas vozes falaram o nome dele, uma mais alta do que a outra, no mesmo momento em que o barulho de um estilhar de vidro. Como se aquilo tivesse sido programado para acontecer ao mesmo tempo.
Ele estava prestes a abrir o zíper do short quando o chamou, parou de imediato quando reconheceu que a dona da outra voz era a sua mãe. Gritou do andar de baixo, e o barulho do vidro poderia ter alguma coisa a ver.
Saiu de cima de e ela ergueu o tronco ficando sentada na cama. deu um sorrisinho de lado para ela, e indicou a porta com os olhos. Ele foi até a porta e a abriu, bateu o pé para que a escada descesse e foi o que aconteceu.
— Mãe? — chamou alto, com certa preocupação na voz. levantou e foi até ele, ficando um passo atrás.
— , desce aqui por favor! — a mulher gritou do andar de baixo, deduziu que vinha da cozinha. Calçou os chinelos e não precisou olhar para trás para ter certeza que o acompanhava. Desceram a escada até o corredor e logo em seguida a escada principal até o térreo.
Quando chegaram na cozinha, havia vidro por toda parte. Cindy estava em um canto isolado do cômodo, descalça e tinha o celular na mão. Os cacos transparentes a rodeavam.
— Pode me ajudar? — perguntou ela, tremia um pouco. viu o jeito que ela buscava amparo em e como aquilo mudou quando viu que também estava ali. — Oi, .
— O que aconteceu? — abriu a boca enquanto olhava todo aquele vidro no chão. O seu palpite era que tudo aquilo tinha a ver com o celular que estava na mão dela, ou melhor com a ligação que tinha recebido. — , pega uma vassoura naquele armário por favor.
A garota assentiu, indo até o armário. trocou um olhar com a mãe, que indicou o celular, e ele estava certo. Tinha a ver com a ligação, tinha a ver com Ethan. Suspirou, passando a mão nos cabelos, e voltou segurando duas vassouras, um pá e uma caixa de papelão pequena que encontrou ali. Lhe entregou uma vassoura enquanto ela ficava com outra. Eles começaram a juntar os cacos.
— Me distrai e as travessas caíram no chão. — a mulher explicou, mas o filho recusou a encará-la, mantendo o olhar firme nos vidros que reunia. fazia o mesmo, mas não pode deixar de notar a expressão de , o jeito que deixava o maxilar travado e os olhos concentrados. — Deixei meus chinelos na sala.
foi até a sala pegar os chinelos da mãe enquanto terminava de varrer todos os cacos para um único lugar.
— Que horas você chegou, ?
— Já faz um tempinho.
— Ainda bem que vocês estavam aqui. — Cindy colocou a mão na boca e riu, retribuiu com um sorriso, mesmo percebendo que aquela risada da mulher parecia forçada. voltou com os chinelos na mão e os entregou a Cindy enquanto catava o vidro com a pá e colocava dentro da caixa.
— Você se machucou?
— Não. Está tudo bem agora — respondeu ela após calçar os chinelos. Passou a mão envolta dos ombros do filho e deu um sorriso que definitivamente não engoliu. — , querida, deixa que eu termino isso.
— Eu faço, termina o que você tava fazendo antes. — falou ele. A mais velha apenas assentiu, olhou para antes de sair da cozinha
. estendeu as mãos para pegar a pá e a vassoura que estavam com . Mas ela só entregou a vassoura, segurando a pá e ele se contentou em apenas varrer.
— . — ela chamou e ele subiu o olhar na direção dela e teve certeza que viu raiva ali. Uma raiva contida pelo autocontrole. Ela não queria se meter nos problemas entre a mãe e o filho, mas os olhos de Cindy, de súplica e alívio quando eles chegaram até ali, não saíam da sua cabeça. — Isso foi mesmo um acidente?
— Foi, , foi sim.
Respondeu baixo, logo em seguida voltando a varrer os cacos até a pá que ela segurava.
— Por que a sempre exclui a gente? — perguntou quando pararam no sinal vermelho na tarde daquele sábado. Estava a caminho da casa de .
— Ela não exclui vocês, é que hoje é um dia só para as garotas. — explicou , ela estava no banco de trás, juntamente com e . ocupava o banco do passageiro.
Lauren iria viajar naquele fim de semana e teve a ideia de chamar as garotas para dormirem na casa dela, após aquela semana pareceu passar se arrastando. Ela ainda odiava ficar sozinha.
— Ela vai é dar uma festa, pode falar. — rebateu o irmão e balançou a mão no ar.
— Bobagem! não dá festas na casa dela.
— Por que não? — perguntou com desdém. — A princesa vive num castelo de vidro?
— Quase isso. — falou, abrindo o vidro do carro quando deu a partida novamente. Olhou para os garotos no carro, todos eles usavam blusas do Manchester United. — E parem de falar como se vocês não tivessem coisas pra fazer hoje também. O United vai jogar contra quem?
— Contra o City, . — respondeu.
— E vocês nem fizeram questão de chamar a gente... — torceu o pescoço, perdendo o foco no cabelo de , que estava na sua frente. gostava de futebol, mas somente quando estava de pé torcendo, sentar e assistir era uma coisa chata para ela. Já odiava. — Eu e a pelo menos.
— Então vem com a gente agora, se tiver muita sorte conseguimos ingresso na bilheteria ainda. — disse sem tirar os olhos do asfalto, faltava menos de uma quadra até a casa de .
— Náh. A me chamou primeiro.
— Então vaza logo do meu carro. — disse o irmão assim que o carro parou na frente da casa. abriu a boca e semicerrou os olhos para . Se inclinou até o buraco que separava os dois bancos da frente, um joelho foi parar na perna de , já que o garoto estava sentado no meio, até ela ficar próximo o suficiente de para lhe dar um tapa.
— Ai! — ele grunhiu.
— Não fala assim comigo, seu babacão. — falou ela, voltando ao seu lugar. , e riram.
— Ele tá te desmerecendo, , porque sabe que a gente prefere você. — falou.
— Ownn. — murmurou rindo.
— , cai fora você também.
deu um sorrisinho, ignorando o irmão, e se inclinou para frente novamente entre o buraco dos bancos, mas dessa vez para dar um beijo em . Seus lábios alcançaram a bochecha dele, já que foi muito lerdo pra virar e ela lhe roubar um selinho. olhou com cara feia para os dois. — Fale por si só, . — disse somente para provocar , que o olhou com cara feia, o observou pelo retrovisor.
— Obrigada, . — agradeceu o mais velho. chutou seu tornozelo e o melhor amigo grunhiu de dor. Ela abriu a porta e saiu do carro com a sua mochila nas costas.
— Eu te amo, , não me deixe. — suplicou , ocupando o lugar dela na janela assim que a porta foi fechada.
— Eu espero que o City ganhe! — ela gritou enquanto se afastava do carro, os garotos riram e gritaram de volta:
— MANCHESTER IS RED!!!! — ela deu o dedo ainda de costas, os garotos gargalharam e revirou os olhos, tocando a companhia. Ouviu uma buzina, mas não se virou. Logo em seguida o carro começou a andar, se afastando.
— Que gritaria é essa? — perguntou quando abriu a porta e deu espaço para que entrasse.
— Os meninos em dia de jogo do United. — a garota limpou os pés no tapete enquanto fechava a porta. Seus olhos ficaram fixos no enorme lustre que havia preso no teto. Existia um em cada cômodo da casa, a definição de para aquele lugar como "castelo de vidro" nunca pareceu tão certa.
No quarto de , e estavam deitadas uma do lado da outra de barriga para baixo, os cotovelos apoiados no colchão fofo.
— Até que enfim, , perdeu o desfile quase todo. — disse e ergueu a sobrancelhas para a amiga. Jogou a mochila em uma poltrona e sentou na cama, deixando os chinelos no chão para se acomodar melhor.
— Que desfile? — questionou e as duas amigas responderam dando gritinhos quando tirou o robe revelando uma lingerie branca inteiramente rendada.
— Gosto desse, valoriza os seus peitos. — falou e lhe mandou um beijo no ar. riu sem entender nada.
— Fui até a Bravíssimo comprar um conjunto, mas não consegui me decidir e acabei trazendo vários. e estavam me ajudando a escolher qual eu vou estrear primeiro. — explicou com um sorrisinho devasso, várias imagens passaram pela sua cabeça no momento. cruzou as pernas e observou a amiga de cima a baixo. Era tão bonito quanto o corpo da própria, tinha aquela coisa de conseguir ficar bem com qualquer coisa e qualquer cor.
— O Elliot vai gostar desse. — disse .
— Claro que ele vai gostar. — colocou o robe novamente e sentou de frente para a sua penteadeira. — Eu estou me agradando com esses presentinhos, não a ele. Ele tem que se contentar até se eu usasse uma tanga e um daqueles sutiãs que deixam os peitos flácidos. — as quatro gargalharam. — Sabe, semana passada tivemos uma séria conversa sobre essa história de sexo sem camisinha. E chegamos juntos à conclusão de que, sim, é possível. Incomoda ele e me dá alergia. Fizemos exames, não é como se transássemos com outras pessoas. — olhou para as três amigas pelo reflexo do espelho. — Ele não está me traindo!
— Ninguém disse que estava, . — falou . — É só que você não tem outros medos? Ter um filho por exemplo?
— O quê? Claro que tenho! Sou paranoica em relação a isso quanto qualquer outra pessoa.
— Ah, fala sério — disse. — A não é o tipo de pessoa que o universo faria ter um filho na adolescência.
— Eu estou tomando todo o cuidado e espero que vocês também! — deu de ombros, já que, por enquanto, não estava se relacionando com alguém. Mas era obrigada a aceitar que vontade não faltava. olhou para o teto e deu um sorrisinho.
— Claro, Dra. . — respondeu a última em tom de brincadeira, riu pelo nariz. — O é engraçado.
— Em que sentido?
— Sou sempre eu que tomo a iniciativa, quando ele tenta... — começou a rir o que atiçou a curiosidade das outras três. — É engraçado por que ele vem com umas ideias de cenas dos filmes que ele vê, às vezes a gente passa mais tempo rindo do que fazendo qualquer outra coisa. Uma vez ele quis imitar o Barnabás e a Angelique, daquele filme com do Johnny Depp. Foi muito engraçado, ele até pintou a cara de branco para simular a aparência do vampiro.
— E você fez o que? — perguntou .
— Entrei na onda, é claro. Encarnei a Angelique, que é uma danada de uma bruxa malvada, e não sobrou tijolo de vidro sobre tijolo de vidro². — deu de ombros rindo e as outras três lhe acompanharam.
— Por que estão me encarando desse jeito? — perguntou minutos depois, sentindo o olhar das amigas sobre si.
— Porque queremos saber o que o casal sensação anda fazendo. — disse , se aproximando.
— Nada.
— Nada? Nadinha? — perguntou e assentiu. — Mas já faz uns três meses?
— Nada, . Ainda.
As cenas daquela tarde de quarta-feira na casa de não saíam da cabeça dela. Coisas que exigiam que separasse um tempo pra pensar no que iria fazer. Ela estava disposta a se abrir com , mas talvez precisasse resolver algo consigo mesma primeiro.
— Eu e o ainda estamos tentando resolver alguns problemas internos. A cada dia a gente fica muito mais próximo, a quarta feira que o diga. Mas teve um momento estranho. — narrou todo acontecimento com Cindy e o vidro, além do fato de ter ficado super estranho com aquilo tudo.
— Você não perguntou? — disse .
— Não consegui, ele também aparentava não querer falar sobre aquilo, decidi não forçar a barra. — p modo que reagiu àquela cena veio à sua cabeça, lembrou de como ele ficou estranho o restante do dia. A cada “a” que Cindy dava ele ia correndo verificar. E isso estava a preocupando. — No dia seguinte pareceu que nada tinha acontecido, pode até parecer que eu to delirando e que devia aceitar a resposta que deu sobre aquilo ter sido um acidente, mas eu vi como eles reagiram um com o outro. E pra mim foi a prova de que ele está mentindo.
— Achei que você odiasse mentira com todas as duas forças, mas até que está lidando bem com isso. — falou .
— E odeio. Mas nesse caso eu entendo, sabe, aparentemente é um problema da mãe dele, o não é obrigado a me contar, apesar de ter que mentir pra isso.
— Eu sei que a mãe dele passou por uns perrengues quando chegou aqui, vai que ela tem algum assunto inacabado. — disse encostando no travesseiro ao lado de , que endireitou a coluna, deixando o celular no colo.
— Eu estou tentando não pensar muito nisso, o deve saber o que está fazendo.
— Ele sabe, . — tranquilizou . — Ele e a Cindy têm um vínculo de extrema cautela e proteção um com o outro. Aqui são só eles dois, entende?
— Sim, percebi isso há um tempo. E é isso que a gente precisa, tempo. Felizmente temos todo o permitido. — deu um sorrisinho e desbloqueou o celular, abrindo a câmera.
— Okay, agora façam algo para este boomerang. — apontou o celular para as amigas e se juntou a elas na cama para gravar o curto vídeo. Elas riram das caretas e o postou nos stories.
— , posso ligar o video game? — perguntou após colocar o celular pra carregar em uma tomada próximo a cama.
— Claro, deve estar na sala, pode trazê-lo aqui pra cima. — assentiu e saiu do quarto rumo à escada. levantou e apertou o laço na cintura, deixando que robe ficasse ainda mais fechado. — Eu vou descer, acho que a nossa comida está quase chegando.
— Vamos comer o quê? Pizza? — perguntou .
— Claro que não, pizza é muito manjado. Vamos comer um banquete do Paris 6, só coisa fina. — empinou o nariz, calçando as suas pantufas, e se entreolharam e riram.
— Chama se precisar de ajuda. — falou e assentiu antes de sair do quarto.
Um "pim" ruiu dos altos falantes do celular de e ela o pegou para checar a mensagem.
[11:36] : Bae, você ainda vai querer que eu te ensine o violão?
[11:37] : Mas é claro que sim, .
[11:37] : Você esqueceu muito fácil 😴
[11:38] : Não esqueci não 😒
[11:38] : 😂
[11:38] : Quando você pode?
[11:38] : Amanhã quando eu voltar da casa da , pode ser?
[11:39] : Pode
[11:40] : O que vocês estão fazendo aí?
[11:40] : Nossa, , o jogo deve estar péssimo
[11:40] : O City tá ganhando de 1x0 😒
[11:41] : 😂 😂 😂
[11:41] : Ri mesmo 😒
[11:41] : To brincando, bobinho
[11:41] : Manchester is RED🛑💯!!
[11:42] : Agora sim 😍
[11:42] : Me avisa quando estiver indo
[11:42] : Aviso sim ✊
enfiou o celular no bolso e foi se juntar ao lado de na cama. também estava presa a tela do próprio aparelho eletrônico. tratou de encostar a cabeça junto à da amiga e espiar o que ela tanto fazia. Seus olhos se abriram quando viu que a mesma estava stalkeando no Instagram e curtindo quase todas as fotos.
— Acho que eu nunca vou entender vocês dois. — comentou e abaixou o celular para olhar a amiga.
— Por quê?
— Ele me contou o que aconteceu entre vocês e a .
— E o que você acha?
molhou os lábios antes de responder. O que lhe contou deu a ela algo para pensar. Naquela noite conseguiu entender o lado dele facilmente e descobriu que tinha um problema simples: ele não sabia se comunicar. Tirou as próprias conclusões de que aquilo que havia atrapalhado quaisquer chances dele com , o que não deixou barato. Achou que na época foi ingênua ao ponto de só acreditar na versão de , mesmo quando o outro insistiu e foi atrás dela. usava as piadas para esconder o estresse que tinha devido aos problemas de casa. Era tão brincalhão que as pessoas não achavam que ele poderia levar alguém a sério, nem que gostasse de verdade desse alguém. O que não era verdade, estava errada. Ele nunca nem sequer cogitou ficar com outra garota quando estava saindo com . Fora apenas um engano e coincidências, mas nada irreparável.
Se naquele momento quisesse, por que não? Talvez fosse a hora dela de ser um cupido e usar um arco e flecha.
Lembrou da aposta que ela e haviam feito e sobre a clara regra de não interferência de ambas as partes. Não entendeu porque aquilo veio à sua mente, já fazia meses, não deveria nem ter mais importância. Ignorou aquele detalhe, ela iria sim retribuir o favor de .
— Eu acho que você deveria dar uma chance para ele.
— Uma chance? — ela perguntou e assentiu. — Calma, , vamos com calma. Eu não quero um namorado agora e, mesmo que quisesse, o não faria esse tipo. Talvez ele fizesse naquela época, mas não mais. Eu só quero me divertir. — deu uma piscadela para , que deu um sorrisinho enquanto ria do jeito danado da amiga.
— Achei que, pelo que aconteceu, você ficaria mais ressentida do que a . Só que ela o odeia e você parece que nem liga mais.
— O estragou o que quase teve comigo e a amizade dele com a .
— Ele me disse que não fez de propósito, vocês viram as coisas de um modo errado, sabe? Ele falou que a fez parecer que ele ficou com todo mundo enquanto estava com você, o que não aconteceu. Por isso ele a odeia.
— Sei sim, depois de um tempo percebi que talvez a tenha exagerado. — ajeitou o travesseiro nas costas e se acomodou ao lado dela. — Não me importo porque não guardo rancor disso. Não entendo porque isso a afetou tanto, ela falava dele para mim com um ódio que eu não sabia de onde tinha surgido.
— Você nunca perguntou?
— Claro que já. Eu já superei há tempos, mas ela insiste nessa birra com o e sempre me dá mesma resposta: “ele não é digno apologia” e depois o xinga de todos os nomes possíveis.
A vontade dela mesma ir falar com sobre aquilo era imensa, mas ponderou e achou melhor não tocar naquele assunto. Tem coisas que é melhor deixar o tempo resolver.
— E o que você vai fazer agora? Porque se estava curtindo as fotos dele tem algum motivo. — empurrou a amiga pelo ombro, que riu.
— Ele me chamou pra sair. Desvendar parece interessante e, bem... Eu tenho andado mesmo um pouco entediada.
— Desvendar? — ergueu uma sobrancelha. — Em que sentido?
— Todos, .
As duas gargalharam e a porta se abriu, batendo com força na parede. havia a aberto com um chute, já que as duas mãos seguravam o video game com uma pilha de jogos em cima que iam até a altura do seu nariz.
— Diz o que vocês vão querer jogar, a tem de tudo!
¹: traduzido do inglês: Noite para trabalhar.
²: tijolo de vidro sobre tijolo de vidro faz referência à cena do filme Sombras da Noite narrada pela personagem. Na cena os personagens principais quebram “tijolos de vidro” durante o ato sexual.
Chapter Ten — Big Ideas
tocou a campainha da própria casa diversas vezes, resultado de ter esquecido as próprias chaves na casa de .
Acordou tarde naquele domingo. Quando despertou já havia ido embora, ela e almoçaram com enquanto Lauren não chegava. Tinha sido um bom fim de semana com as amigas, mas não via a hora de chegar em casa, mais precisamente na casa de , e colocar as mãos em um violão.
Bill atendeu a porta irritado, ele odiava quando tocavam a campainha várias vezes. deu um sorriso amarelo ao ver a reação do pai, ela sabia disso. Ele olhou para filha, tedioso.
— Já não lhe pedi para não fazer isso?
— Foi força do hábito, paizinho. — respondeu entrando na casa, sabia que sempre conseguia amolecer Bill com o termo “paizinho".
— Como foi lá na ? Vocês se divertiram? — Foi legal, estava com saudade de dormir lá. — respondeu ela largando a mochila no sofá da sala e indo até a cozinha, mais especificamente até a geladeira.
— O que vocês fizeram? — perguntou Bill, achava aquela pergunta particularmente tediosa, típica de um intrometido, mas de uma forma boa.
— O padrão, pai. — fechou a geladeira com uma garrafa de suco em mãos, serviu em dois copos. — Cadê a Elsie?
— Está lá em cima conversando com a organizadora de casamentos mais chata da face da Terra.
— Oh, não fale assim da Claire. — disse depois de rir do exagero do pai. — Ela tem boas ideias e ótimo gosto para decoração. Eu preciso ver o milagre que ela vai fazer pra combinar o seu gosto com o da Elsie.
— Confesso que eu também, .
— Pai, Bill!! — e o homem mais velho viraram o pescoço na direção das escadas, de onde vinha e parecia com pressa. Bill piscou com o modo ininterrupto de falar do filho. — Me empresta o seu carro no sábado? — quis rir da reação do pai, deixar outra pessoa usar o seu carro era algo que não lhe agradava nenhum pouco, tanto ela como sabiam disso. Justificava perfeitamente a sua expressão impetrante.
— , me ajude, caso a minha memória esteja falha, mas um ano atrás eu não concordei em dar um carro ao seu irmão para que não tivéssemos esse problema?
— Estou certa que sim. — disse , Bill arqueou as sobrancelhas para o filho e bufou.
— Bem, é que pode ser que eu, acidentalmente, não tenha verificado o reservatório do líquido e tenha dado problema no arrefecimento do carro...
— Oh, que maravilha — falou ele com as mãos nos ombro de —, vejo aqui uma ótima oportunidade para que você assuma a responsabilidade e resolva o problema sozinho. Quem sabe não dá tudo certo para o sábado? — Bill lhe deu uma piscadela e dois tapas nas costas enquanto se dirigia para fora da cozinha. soltou uma risadinha enquanto guardava a jarra de volta na geladeira. apoiou os antebraços no balcão e encarou a irmã.
— ... Vamos comigo?
— Não posso, o vai me ensinar a tocar violão hoje.
— Além de não ir comigo vai roubar o meu melhor amigo. Você não tem mais casa não? — rolou os olhos para o falso drama do irmão.
— Se eu fosse você, eu pararia de me preocupar comigo e com o e iria resolver o seu problema, a não ser que queira sair a pé com a sua namoradinha no sábado.
— Vai se foder, . — xingou e riu, se dirigindo até à porta. olhou para a irmã dos pés à cabeça e juntou as sobrancelhas.
— Espera aí, de quem é essa blusa? — abriu a porta, mas voltou a olhá-lo com a pergunta. Segurou a barra e olhou para a própria camiseta.
— Oh, acho que peguei no guarda-roupa do semana passada. — respondeu dando de ombros, cruzou os braços satisfeito.
— Finalmente arrumou um namorado para pegar as roupas dele.
— Err... Ele não é o meu namorado, mas, sim, tem um ótimo gosto.
Sorriu amarelo e virou-se devagar até sair e fechar a porta. Querendo ou não, havia mexido em um ponto que vinha pensando já fazia alguns dias.
— Sabe o que é ótimo? Você saber tocar piano e já saber todas essas partes chatas da teoria a respeito das notas e eu não precisar de explicar essa parte. — disse indo em direção à cama onde estava sentada, levando consigo o violão da cor de madeira caxeta que havia acabado de tirar do gancho de onde estava pendurado.
Bud estava deitado próximo à porta com a cabeça em cima das patas. Os olhos do cachorro se mantinham abertos e fazia questão de olhá-lo de minuto a minuto para que não saísse escondido e bagunçasse toda a casa. Deixar Bud dentro de casa enquanto Cindy estava fora, aquela regra ele quebrava muito.
— Mas você sabe que tem diferença, não é?
— Claro que sei. — respondeu sentando ao lado dela. — Mas coisas como a diferença entre acorde e nota você sabe, não é? — assentiu e lhe entregou o violão. — Perfeito, você não precisa decorar todas as partes, mas precisa aprender pelo menos as principais, tipo essa é a mão, o braço e o corpo do violão. — explicava enquanto apontava para cada parte e acompanhava com o olhar. — Aqui em cima ficam as tarraxas, a pestana...
— , corta essa parte, vamos para a prática!
— , você não vai aprender a tocar essa coisa de um dia pro outro.
— Eu sei, mas meus dedos estão agoniados. — respondeu, mexendo todas as articulações dos dez dedos e riu.
— Tudo bem, apoia o violão na perna direita e o deixe bem inclinado para que você tenha uma boa postura das duas mãos... Ótimo, agora tenta deixar seu peito reto, assim você vai ter uma boa respiração e movimentação livre dos braços. — orientou e obedeceu a cada instrução. — Tenta deixar seu polegar esquerdo rente ao braço do violão e o resto dos dedos em forma de "gancho" pra evitar que eles encostem nas outras cordas acidentalmente.
— Okay, professor, e agora?
— Presta atenção, você vai colocar o seu dedo indicador na segunda corda, o dedo médio na quarta e o anelar na quinta. — assentiu, olhou dentro da caixa lembrando da última vez que as viu, e lembrava de ter lhes deixado bem organizadas. — Você as bagunçou, !
— Depois você organiza de novo pra mim.
— Falando assim nem parece que tem um tique com arrumação.
— São só palhetas, , a maioria já está velha, e tem umas quebradas. — enfiou a mão dentro da caixinha tirando uma de lá e entregando a . — Toma, usa essa.
— Sabia que o JJ faz palhetas personalizadas? — questionou ela observando cada detalhe da palheta branca.
— Quem? O amigo do seu pai, daquela loja?
— Isso, e ele faz na hora. Coloca qualquer desenho, letra... Preciso te levar lá depois.
— Gostei da ideia, mas vamos tentar de novo. — murmurou, concordando. — Você vai segurar a palheta de forma que ela fique paralela ao seu dedo indicador da mão direita, e vai pressionar com o dedão, como se você tivesse segurando uma pinça.
— Assim?
— Isso, agora tenta de novo. — incentivou otimista, mas mais uma vez não saiu o som esperado. resmungou decepcionada consigo mesma, largando o violão no colo. Postura de quem pensava em desistir, e sabia que não era aquele tipo de pessoa que desistia facilmente. — Escuta, é normal que você sinta um pouco de dificuldade para formar seu primeiro acorde, você não tá acostumada, seu cérebro não sabe otimizar o posicionamento e a pressão, mas vai conseguir com o tempo, relaxa, cupcake.
suspirou e olhou para por alguns segundos antes de sentar na cama com as pernas encolhidas e jogar o violão no seu colo.
— Sério que já quer desistir?
— Não! — negou com a cabeça para os lados. — Eu quero que você toque pra mim, talvez eu também aprenda enquanto te observo.
deu de ombros, posicionando o violão do modo certo com facilidade e olhava atentamente o modo que ele deixava a mão esquerda para fazer os acordes e a direita para o ritmo, e não usava palheta alguma.
tocou a primeira música que lhe veio à cabeça. mantinha seus olhos nele e ele no instrumento enquanto ditava o ritmo da música.
— Não conheço essa.
— É Corduroy Dreams, do Rex Orange County, mas o som dela fica melhor na guitarra já que é o instrumento base. — respondeu ele se levantando, deixando o violão ali e indo até onde estava pendurada a sua Fender Stratocaster.
deu um sorrisinho quando começou a tocar guitarra e ela reconheceu a música, que era boa, mas pareceu incrível quando a tocou. Ele fazia aquilo tão bem, como se tivesse nascido sabendo e ele quem tivesse ensinado a todos os outros. Tinha tanta paixão nos seus olhos, não era preciso chegar muito perto para perceber.
— I'm hanging 'round hoping hard, that you wanna be with me always and always…¹ — cantou um pedacinho do começo que lembrava e sorriu vendo que ela reconhecia. Ela se aproximou mais dele, observando cada detalhezinho da guitarra, que já tinha anos e não possuía um único arranhãozinho na tintura vermelha.
— Essa eu conheço, estava na playlist que você me deu. — disse passando os dedos pelas cordas com uma mão enquanto a outra mexia com as pontas do cabelo dele.
— Gostou?
— Gostei. — respondeu ficando ao lado de e tomando a guitarra dele. A posicionou no seu colo como se soubesse o que fazer com aquilo. Era tão bonita, a única mancha ali era a da tinta do autógrafo. — Você não deveria tocar assim pra mim.
— Por quê?
— Porque... — mordeu os lábios encarando as cordas da fender, encarou o seu perfil esperando pela resposta. Logo mais ela o olhou novamente e continuou: — Você sabe por quê, ! — riu, lhe abraçando pelos ombros e lhe dando um beijo na bochecha.
— Sei, você ama, mas eu queria que você dissesse isso em voz alta. — tentou esconder o sorriso, porque de fato ela amava. Era algo que magnetizava o seu olhar e acalmava seus sentidos. Parecia até exagero, mas sabia que a causa era porque estava apaixonada, por ele e por tudo que fazia. — Tudo bem, eu amo mesmo.
— E por que é uma coisa ruim? — questionou, vendo abaixar a cabeça até que a bochecha encostasse no seu ombro. Ela ficou quieta, encarando o lado oposto de onde estavam encostados, mais especificamente a escadinha vermelha e pequena, que levava até um pequeno terraço no telhado dos . — , você não vai me dizer? — levantou as mãos, ameaçando lhe fazer cócegas. riu e ergueu o rosto para encará-lo por alguns instantes em silêncio, com os olhos bem abertos e os lábios grudados um no outro.
— Por que fico mais apaixonada por você.
puxou o rosto de para cima e afastou bem os cabelos do rosto dela antes de lhe beijar. deixou a guitarra de lado antes de usar as mãos para agarrar seus cabelos. Endireitou o corpo na cama de modo que conseguiu jogar as duas pernas para o lado, em cima das de .
— , você acha que eu aprendo até o dia do Sarau? — perguntou ela a respeito do violão, fazendo uma pequena pausa, já que não queria parar de beijá-la para falar.
— Se você se empenhar... — disse ele rapidamente. — Na verdade, acho que você consegue fazer qualquer coisa, .
acariciou o seu rosto com os dedos, mas a atenção de estava em Bud, que latiu mais uma vez. Ela o olhou com cara feia, o que fez rir. O cachorro foi na direção deles e subiu em cima da cama.
— Bud discorda. — observou quando se afastou dele para brincar com Bud enquanto o xingava carinhosamente. — Pare de implicar comigo, seu pulguento chato.
Encarou os dois ali em cima da sua cama, misturado aos dois instrumentos fazendo movimentos no colchão. Se deu conta de que tinha ali tudo que ele mais gostava na vida.
A palheta que havia usado se encontrava no chão e foi exatamente naquele momento que teve uma ideia incrível. Ele só esperava que fosse gostar.
Na manhã daquela terça-feira tinha um livro nas mãos. A primavera fazia com que o pátio aberto da escola ficasse relativamente mais cheio. Ela lia tranquilamente com o livro entre os antebraços que estavam apoiados em uma das mesas, aguardando até que tocasse o sinal para que fosse para sala.
Demorou segundos para perceber quando sentou ao seu lado. Ele não disse nada, apenas ficou ali ao seu lado, com os braços na mesma posição que os dela. continuou olhando para o livro, mas desfocou da leitura. A presença dele lhe distraía, era instigante senti-lo ali.
Encarou ambas as mãos, tão próximas, uma lado a lado, mas não se encostavam. Nem mesmo os dedos mínimos dos dois se triscavam.
— Desculpe, mas precisa de algo, ? — Acho que você está me devendo uma resposta.
sabia o que queria, mas não queria dizer em voz alta, era esperto o suficiente para perceber por conta própria. Ele não podia ser inteligente para algumas coisas, já para outras o seu raciocínio era bem rápido.
Suspirou, estabelecendo uma tensão ali. levantou os olhos na direção dela, ele não era nem um pouco lerdo para não perceber. lhe deu um sorriso sugestivo, tinha malícia no seu olhar.
Contudo, o encanto pareceu acabar quando algo grande apareceu atrás dos dois, fazendo uma sombra na mesa em que compartilhavam. Era a inspetora Hide. — Sr. , se me lembro bem o senhor tinha uma hora de detenção para cumprir ontem e não compareceu.
alternou seu olhar entre a inspetora e o indivíduo indisciplinado, diferente de , que não consegui tirar seus olhos dela.
— É, eu não fui mesmo.
— Peço, por gentileza, que me acompanhe.
ergueu as sobrancelhas para , que mesmo assim não deixou de encara-lá um segundo até que teve que se virar para acompanhar a inspetora.
sempre adorou geografia, na verdade nunca teve antipatia por qualquer matéria, se dava bem em todas, contudo resolver aquela lista de exercícios estava difícil quando se tinha a mente cheia. Ela e Elliot não costumavam discutir, por esse motivo se sentia tão estranha quando acontecia.
se encontrava sentado uma cadeira atrás na fileira ao lado de . O lápis que caiu da mesa dela lhe chamou a atenção e ele o observou rolar até bater no pé da cadeira da frente e parar. Já tinha terminado a sua lista e qualquer coisa ali poderia prender a sua atenção facilmente, porém não era qualquer coisa. Estranhou pois ela parecia ter dificuldade.
Verificou o senhor Gardner antes de tudo. Ele estava sentado na mesa fazendo anotações e parecia alheio ao que o restante da classe fazia. Havia solicitado que os alunos respondessem aquela lista e poderiam fazer o que quisessem quando terminassem, contanto que o silêncio prevalecesse.
se arrastou até a cadeira da frente ficando ao lado da que estava e com o pé conseguiu trazer o lápis lilás dela para perto e a garota sorriu quando ele lhe estendeu o objeto após pegá-lo.
— Obrigada. — respondeu, abrindo o estojo para guardá-lo.
— Muito difícil? — perguntou indicando a lista com o olhar. balançou a cabeça.
— Talvez nem tanto, eu é que estou distraída.
— E o que te distrai? — a garota suspirou tentando arranjar um jeito de falar sem que envolvesse o nome do namorado.
— Sabe quando você acaba dizendo uma coisa no calor do momento? Uma coisa que você não queria ter dito, mas é difícil de voltar atrás?
— Sei. — respondeu , tentando não pensar muito no que talvez poderia estar falando. — Mas, se você parar pra pensar bem, ser sincero logo de uma vez é sempre o melhor, por mais difícil que seja.
— É, eu também acho. Melhor do que ficar enrolando. — encarou as unhas pintadas e virou o rosto na direção de que a olhava de maneira atenciosa, dava para perceber o jeito como ele parecia interessado na conversa. Ele estava de costas para a janela e era impossível não perceber o contorno que o sol fazia na sua silhueta. — Mas e quando é a outra pessoa que falou?
— Bem, se você sabe que de fato ela não queria dizer o que disse, não fica muito difícil perdoar, não é? — sorriu concordando. Alternou o olhar entre a sua mesa e a de , decidindo mudar o assunto.
— Você já terminou?
— Por que quer saber? Quer colar de mim, ?
— Olha bem para a minha cara de quem cola, . — ela levantou a sobrancelha na direção dele e riu.
— Sim, já terminei. Eu gosto de geopolítica.
— É interessante analisar a relação entre poder político e território, uma pena que a maioria dos ingleses é meio alienado quando se trata desse assunto. — cruzou os braços, dando de ombros, e ergueu as sobrancelhas para ela, tentando compreender se havia mesmo entendido uma possível crítica da garota à atual forma de governo britânica. Um sorrisinho brotou no rosto dele, porque talvez ele concordasse muito com ela.
— Pelo visto alguém aqui não gosta da nossa teocracia.
— E não gosto. — ela cochichou, se aproximando do rosto dele para falar mais baixo. — Faço parte dos 13% que acha que a rainha está ultrapassada.
a olhou com uma falsa indignação, que logo se tornou uma risada.
— Que bom, porque eu também. — por dentro sentiu um alívio, era tão difícil encontrar alguém que concordasse com ela. Ela era uma admiradora dos revolucionários, apaixonada por histórias de independência e gostaria que o Reino Unido virasse uma república num futuro próximo. — Achei que você fosse apaixonada pela família real, como a grande maioria, acho que os ingleses às vezes se alienam demais com ela. — balançou a cabeça, concordando.
— Sem dúvida, há um efeito nada desprezível na consciência de milhões de pessoas que, apesar das mudanças nas políticas públicas orquestradas por uma sucessão de primeiros-ministros, veem sempre, ano após ano, o rosto da mesma mulher nas células.
— God save the queen², . — ironizou e riu. — Então você nunca foi ludibriada em ser uma princesa?
— Acho que a Diana é impossível de não se apreciar, mas acho que o cargo da Theresa May³ me interessa mais.
— É um cargo interessante. — respondeu de forma sugestiva, o fitou desconfiada.
— Oh, , você não iria querer competir comigo.
— Vamos tirar a prova nas próximas eleições do grêmio.
— Às vezes acho que a nossa escola é meio revolucionária. Adoro o fato de termos o grêmio como exemplo, não é como se fosse possível implantar uma monarquia aqui dentro, God save the Queen, mas alô?? Todos concordamos que não dá.
— Imagine a Lila como rainha. — fez uma careta que fez rir imaginando a cena. — O que você acharia se essa pessoa fosse eu?
— Talvez você fosse um péssimo rei, mas um bom presidente. — sorriu de forma amigável, só não conseguiu identificar se aquilo talvez fosse uma brecha para lhe pedir ajuda. Ele nem ao mesmo sabia se ia mesmo se candidatar, mas, caso de fato fosse, não negava que a ajuda de seria um apoio e tanto.
Quando o sinal tocou, e saíram lado a lado da sala. Os olhos da garota se estreitaram quando avistaram Elliot de longe, no final do corredor.
— , acho que vou seguir o seu conselho, obrigada.
Deu um sorriso sem mostrar os dentes e ele observou enquanto ela se afastava, e durou poucos segundos até que algo pulasse nas costas dele sem pudor. perdeu o equilíbrio e quase caiu. Seu corpo foi projetado para frente e ele quis ter protegido os ouvidos do grito de .
— . — resmungou, fingindo estar bravo. riu saindo de cima de suas costas e ficando ao seu lado.
— Que bonito o seu sorriso, . — disse ela e ignorou qualquer sinal significativo que ela pudesse dar. — Posso saber o motivo?
— Nem vem, .
— Mas eu só elogiei o seu sorriso. — a garota apressou o passo e teve que se esforçar um pouco ao tentar passar os braços pelos ombros dele, visto que o amigo era relativamente mais alto. — Você sabe como eu sou, esse é o meu lado insuportável.
— Ainda bem que você conhece esse seu lado. — ele respondeu, retribuindo o abraço. — Você não seria que a gente conhece se não enchesse o nosso saco com a mesma coisa sempre.
coçou a cabeça olhando paras as cordas do violão, não entendia porque estava sentindo tanta dificuldade. Tentava memorizar as notas que havia lhe explicado, mas era como se elas não quisessem ficar na sua mente para que suas mãos a executassem. Estava sentada em cima de uma das mesas do pátio aberto, o clima estava bom e os alunos aproveitavam para ficar mais tempo ao ar livre. estava na sua diagonal, com um pé apoiado no banco, ele parecia ter toda a paciência do mundo.
— Por que isso é tão difícil?!
— Quando você cortar as unhas, acredite, vai ficar bem mais fácil.
tinha a mesma palheta branca que tinha lhe dado na mão direita, contudo coordenar os dedos na esquerda ainda era complicado.
— O que está deixando a com essa cara? — perguntou a , se aproximando repentinamente e sentando ao lado da amiga. virou a cara emburrada e o guitarrista riu.
— Ela está chateada porque não consegue tocar.
trocou um olhar cúmplice com e estendeu a mão para , que lhe entregou o instrumento que estava no seu colo sem pestanejar.
— Todo seu. — respondeu ela apoiando o queixo nas mãos. sustentou o tornozelo direito na perna e colocou o violão ali. Se concentrou na haste e afinou as cordas antes de começar a tocar. ignorou o som harmonioso que saiu, tocava perfeitamente bem uma música do Nickelback.
olhou para e ela revirou os olhos para as risadinhas que ele e soltavam para ela. O que era perturbação para ela, era diversão para os dois.
— Af, eu odeio vocês. — eles riram e puxou seu braço no momento em que ela levantou para sair dali.
— Não, baby, fica aqui. — pediu lhe abraçando e lhe estendeu o violão.
— Acho que eu não tenho coordenação motora suficiente.
— Bobagem, , se consegue tocar um piano de 88 teclas o violão não vai ser nada difícil, só se concentre um pouco mais. — aconselhou o amigo e se deu por vencida, o pegando novamente e voltado a posição em que estava. Ela olhou para as cordas por um instante e para , que observa atentamente.
— Esqueci. — ele sorriu sentando ao seu lado, lhe abraçando e colocando as mãos dele em cima das dela, posicionando os seus dedos da maneira correta conforme ia falando.
— Os acordes básicos primeiro, assim você faz o dó maior... assim o lá... e assim o sol maior. — balançou a cabeça relembrando a primeira aula que teve na casa dele a dois dias atrás. Mexeu os braços para se livrar dos braços de , pois queria fazer sozinha. — Faça devagar, repetidas vezes, quando você pegar o jeito você vai acelerando.
começou a tocar os acordes, lembrando de não colocar muita pressão e ficou feliz com o som que estava saindo. Percebeu que não era tão difícil e arriscou ir mais rápido. Um júbilo lhe acertou em cheio quando percebeu que tinha conseguido e um sorriso incendiou o seu rosto.
— Consegui!
e soltaram gritos exagerados e aplaudiram e ela riu com a palhaçada.
— !! — exclamou quando o garoto se juntou aos três. — Quer ouvir o que eu aprendi?
— Eu ouvi, , ficou bom, mas a minha parada com música é outra.
— Por que você não volta a fazer os seus remix? — perguntou , lembrando que tinha um talento inigualável para criar mixagens de músicas.
— Ah, não sei.
— Deveria, quando eu for uma cantora famosa posso deixar você relançar um remix do meu maior sucesso.
— Claro. — sorriu amigavelmente para , que retribuiu. Não entendia a simpatia que estava sentindo por ele, mas era bom. Não pode deixar de notar que ele não conseguia disfarçar as olhadas que dava para de longe, meio alheia segurando um livro e com fones de ouvido.
Começou a se aproximar percebendo que os amigos estavam perto, eles ainda tinham 10 minutos até o início da próxima aula.
— Nossa, , que cara é essa? — perguntou quando a garota chegou ali, ficando ao lado de .
— Cara de quem não quer tirar nota baixa, hoje já é dia 20, falta menos de um mês para a semana de provas, mas, puta que pariu, essa matéria de estequiometria que o Collins está dando agora é um inferno. Não consigo entendê-la bem. Estou com medo de não ter tempo suficiente para estudar tudo.
— Deixa eu ver. — falou tomando os livros da mão dela. — Não é tão difícil, se resume a regra de três basicamente.
— Por que a gente não tira um dia pra estudar em grupo como o meu irmão sugeriu?
— Ótimo, vamos todos pra casa do nessa quinta-feira, já que é feriado. — disse .
— Quinta é a feira da mãe da , . — lembrou .
— Na sexta, então.
— Ei, por que tem que ser na minha casa? — perguntou .
— Porque você é o nerd. — respondeu e os amigos riram enquanto o xingava. O sinal tocou e levantou da mesa, devolvendo o violão para . — Ok, tenho que ir para a aula.
— Nós também. — disse apontando para , que deu um beijo em antes de sair.
— Alguém avisa para e para o combinado, eu falo com o .
— Eu aviso. — disse , observando se afastar. Sentiu seu perfil sendo fitado por e perguntou sem olhá-lo: — Você não vai pra aula, ? Hide deve estar louca para lhe dar outra advertência.
— Achei que você quisesse... — ela interrompeu, lhe lançando um olhar matador em todo bom sentido possível e apalpando uma mão em seu peito.
— Amanhã, , amanhã.
o deixou ali se dirigindo para dentro do edifício. Seja o que fosse que aquela garota tinha em mente, estava ansioso para descobrir.
Na manhã de quarta despertou com a luz do sol no seu rosto. Estranhou, pois aquilo raramente acontecia, já que ela mesmo fazia questão de verificar que as cortinas fossem bem fechadas antes de dormir. Só existia uma pessoa no mundo que adorava tanto o sol da manhã ao ponto de abrir todas as cortinas e janelas antes das 8. Quando abriu os olhos viu a mulher de costas, amarrando cordinhas nas cortinas para que não se fechassem novamente. Levou segundos para se levantar e ir até ela.
— Tia Deby!
— Oh, querida, não queria te acordar. — respondeu a mais velha, retribuindo o abraço e ali percebeu o quanto tinha sentido falta daquela mulher.
— Tudo bem, tenho que me arrumar para ir à escola, eu acordaria de qualquer jeito. — falou, sentando-se na cama e dando espaço para que Deby se sentasse ao seu lado. — Por que não me disse que vinha?
— Queria fazer uma surpresa. — respondeu sorrindo. — A primavera chegou e trouxe com ela a loucura para a floricultura. Tive que vir aqui para fazer encomendas de flores e, claro, aproveitar para visitar os meus sobrinhos queridos.
A presença dela não conseguia fazer com que tirasse o sorriso do rosto, era tão bom tê-la ali. Debora era a irmã mais velha de sua mãe e o fato de ela ser única família materna que havia lhe restado fazia com que quisesse aproveitar cada segundo ao lado da tia.
— E o tio Sheldon? — perguntou , animada. Ela adorava o seu tio Sheldon, ele era a pessoa mais engraçada do mundo. Os dois eram casados há algum tempo e não conseguia enxergar outra pessoa melhor que ele para sua tia, é como se tivessem sido feitos um para o outro, ela amava a relação dos dois.
— Deixei ele lá. — respondeu a mais velha de forma ríspida. fez uma careta imaginando o que poderia ter acontecido. A relação dos dois, apesar de ter muito amor, não era perfeita. O negócio era que eles viviam em pé de guerra, um sempre provocando o outro, mas sempre conseguiam achar o caminho de volta para toda a paixão que tinham. sabia que Sheldon era doido pela sua tia, e que a sua tia também não o largaria por nada. Ela só gostava de bancar a durona. — Nada de Sheldon para me frustrar enquanto fico aqui.
— Meu Deus, o que aconteceu dessa vez?
— Seu tio perturbando o meu juízo, juro que tive vontade de colocar fogo naquela casa com ele amarrado na cabeceira da cama. — riu.
— Que nada, já já vocês voltam ao normal. — Deby revirou os olhos, ela não gostava de admitir, mas aquela era a rotina dos dois.
— Mas vamos, me fale de você, como você está?
— Eu tô legal, as coisas estão bem, não tem nada de muito emocionante acontecendo no momento. — deu de ombros e Deby lhe lançou um olhar desconfiado.
— Seu pai vai se casar novamente em alguns meses, e você está me dizendo que está tudo tranquilo por aqui?
— Mas não é nada demais, eu e o estamos bem com isso. — insistiu ignorando o olhar da tia que não parecia nada convencida.
— E como está sendo morar com ela? Está tudo bem? Você não me ligou nenhuma vez desde que ela começou a morar aqui...
Apesar de não ter motivos, Deby tinha uma incrível implicância com Elsie que nunca entendeu. Ela simplesmente não confiava na nova mulher do seu pai, talvez fosse por causa da sua mãe, mas ambas se tratavam decentemente, sem escândalos ou brigas. sempre deixou claro que não tinha porque ela se preocupar, mas Deby sempre ficou com um pé atrás quando o assunto era Elsie.
— Deby, Elsie não é ameaça, acredite em mim. Ela é legal, trata eu e o bem. Tire essa imagem de madrasta má dos contos da Disney que você tem dela da sua cabeça!
— Tudo bem, mas sabe que pode me chamar com qualquer coisinha que acontecer, não sabe?
— Sim, eu sei.
— Certo, agora quero que você me diga quando você ia me contar que começou a brincar no quintal do ? — por um segundo ficou confusa, não entendendo direito o que a tia queria dizer, mas logo em seguida percebeu que talvez ela estivesse falando do seu envolvimento com .
— Tia! Quem te contou?
— Seu pai comentou comigo quando cheguei. Anda, desembucha, ainda são frescas na minha cabeça as memórias de você o xingando de nomes mais feios que o cabelo do seu tio Sheldon quando ele teimou em fazer um permanente no nosso baile de formatura. — não conseguiu conter uma risada.
— Depois eu te conto a história toda em detalhes.
— Acho bom, você me lembra muito eu e sua mãe quando éramos adolescentes. Nunca perca a oportunidade de dar uns beijos no seu vizinho, ainda mais se ele for um gostoso.
— Meu deus, o nem é tudo isso. — falou encarando as paredes, Deby arqueou as sobrancelhas para a sobrinha e cruzou os braços. Ela não acreditou nem um pouco naquela frase e se deu por vencida. — Tudo bem, ele é sim tudo isso, não me faça ficar sem graça. Me deixou curiosa essa sua história sobre vizinhos.
— Oh, época muito boa aquela, . Eram os irmãos Mitchels, eles tinham acabado de se mudar para a casa do lado da que eu e sua mãe morávamos, deu um irmão pra cada uma. Aprontamos demais com esses garotos, sua avó ficava maluca. Ai... depois disso veio o seu tio pra desgraçar a minha vida. Mas depois a gente pode sentar e conversar melhor, você não tem aula?
balançou a cabeça e levantou da cama, Deby fez o mesmo porém se dirigiu até a porta e disse antes de sair:
— Vou lá acordar o seu irmão. — assentiu e começou a se arrumar.
Meia hora depois estava pronta e como sempre e já estavam no andar de baixo esperando por ela. Era a vez de dirigir, foi no banco da frente e no de trás como de costume.
em particular, adorava quartas-feiras. Ela tinha aula de história com no segundo período e estavam se dando bem naquela matéria. adorava, e aprendeu a compartilhar do seu gosto, e era adorável o jeito que ele pedia para lhe explicar quando não entendia o que a professora Downey dizia.
Os três passaram pelos portões principais em direção ao prédio após deixar o carro no estacionamento. Estavam 10 minutos adiantados e foi uma surpresa para ambos que estivesse ali antes do horário.
O garoto foi em direção aos três amigos e não vacilou ao se dirigir para os dois amigos.
— e , Max quer o time todo na quadra, agora! — virou para enquanto se prontificava em seguir .
— Nos vemos na aula da Downey?
assentiu, recebendo um beijo apressado na bochecha. Eles pareciam levar bem a sério quando se tratava dessas reuniões de time convocadas pelo treinador.
Ela pegou a direção contrária da dos garotos no corredor, encontrando no lugar de sempre. Ela tinha a porta do armário aberta e se dedicava a passar bem o gloss nos lábios com o auxílio de um espelho pequeno, grudado na porta do seu armário.
— !
— Eu.
— Por que você nunca responde às mensagens que te mando de manhã?
— Porque tenho dois jogadores chatos mandando eu me apressar pra gente não se atrasar todos os dias, não dá nem tempo de checar o celular. E hoje minha tia chegou de Londres, fiquei conversando com ela um pouco.
— Certo, é que eu queria a sua ajuda. Estou fazendo a coreografia da torcida pro campeonato, mas não estou satisfeita, queria passos novos de dança, mas não tenho tempo para criá-los e muitos menos fazer uma busca atrás de inspirações no Youtube.
— Tudo bem, eu posso pensar em alguma coisa e fazer algumas pesquisas, mas a é do clube de dança, acho que ela pode fazer isso bem melhor do eu, criar coreografia não é problema pra ela.
— Eu sei, mas ela disse que anda meio ocupada estudando para as provas e quando sobra algum tempo livre ajuda a tia dela com o bar.
— Ah sim, mas eu te ajudo então.
— Perfeito!
sorriu satisfeita e fechou o armário. Seguiu ao lado de até a sala de aula.
Naquela tarde passou mais da metade do ensaio com os grupos de arte, dividida entre absorver as dicas que Lilith dava ao pessoal do canto e prestar atenção na coreografia do pessoal da dança. Estava sendo mais difícil do que imaginava focar nos dois, e ela pensava seriamente em fazer a sua apresentação separadamente do grupo de dança, o lado musical sempre iria ser o mais forte para ela. Contudo era legal tentar, saía mais cansada do que o habitual, porém nada preocupante. Tinha consciência de que tinha que se decidir logo, antes que fosse tarde demais.
Achava legal como se divertia ali e naquele dia ela parecia mais animada do que o usual. Estava curiosa para perguntar, por mais que já desconfiasse de alguma coisa.
As duas saíram do auditório contentes com o dia produtivo.
— , o está vindo me buscar, quer uma carona? — perguntou assim que atravessaram os portões principais chegando ao estacionamento.
— Obrigada, mas já tenho uma carona. — respondeu ela e franziu o cenho, curiosa.
No momento seguinte um Ford Mustang apareceu na frente das duas garotas. Os vidros fumês estavam sendo abertos e dividiu a sua atenção entre identificar o motorista como sendo e retribuir ao aceno que lhe deu antes de entrar no carro. Foi possível ouvir a música que saía das caixas de som assim que os vidros foram abertos totalmente.
— Tchau, , até amanhã.
O queixo de foi no chão, quando, , após entrar no carro, se aproximou do garoto e lhe deu um beijo obsceno. Ela nem conseguiu dizer nada de tão chocada que ficou. Foi um beijo tão natural, cheio de desejo e pegada, foi como se eles fizessem aquilo a tempos.
encarou por cima dos óculos escuros, buzinou uma vez e partiu com o carro sem dizer nada.
Apesar da surpresa, estava feliz com aquilo. havia ganhado aquela aposta, e aquele era um segredo que ela guardaria. Pelo menos por enquanto.
¹: Em português: Eu estou esperando por você, que você quer estar comigo sempre e sempre.
²: Deus salve a rainha!
³: Primeira Ministra da Inglaterra.
Chapter Eleven — Brother Issues
— Aquele sorteio foi o maior roubo! — pigarreou de frente para a barraca onde , e cuidavam de filhotes de cães, gatos e algumas tartarugas que vinham de lares adotivos. Ela estava indignada por não ter ficado naquela barraca.
— , a mesmo que fez o sorteio. — respondeu saindo e indo até , que cruzou os braços enquanto o amigo lhe empurrava pelos ombros. — Pare de ser chata e vá para a sua barraca ajudar a .
— Mas é tedioso cuidar de roupas. — desvencilhou as mãos de de seus ombros, se virou para e perguntou manhosa: — , você não quer trocar comigo?
— Desculpa, baby, mas como você disse: é tedioso cuidar de roupas. — ele deu ombros e ela revirou os olhos e saiu marchando até a barraca que estava compartilhando com . Esbarrou com no caminho e resmungou. não entendeu nada, mas preferiu ficar quieto. Ele apoiou as mãos na barreira que separava os atendentes das pessoas que iam até a barraca e olhou para , que estava de costas brincando com um cachorrinho.
— Dou 1 minuto pra vir aqui te mandar voltar, . — falou entregando um formulário para a mãe de uma menina que queria adotar um gatinho.
— Ela está com o , não vai nem notar que eu saí.
virou na direção de segurando um cachorrinho e se aproximou.
— Você veio adotar um não foi, ?
— Não, na verdade eu vim te ver mesmo. — deu um sorriso na direção dele e lhe beijou, segurando o seu rosto com as duas mãos. O cachorrinho no colo de pulou no sem ombro e lambeu o rosto dele.
— Acho que ele gostou de você.
— O que é triste, já que não posso levá-lo.
— Ah, vamos, , ele gostou de você. — insistiu erguendo o cachorro na sua direção.
— Ficou doida, ? A minha mãe me mata, ela já faz o que pode com o Bud. — fez um bico triste, colocando o filhote novamente na caixa.
— Se ele ficar triste o dia todo a culpa vai ser sua... — advertiu fazendo e rirem.
— ! — gritou a voz de .
— E lá vem ela. — apontou, dando as costas e organizando as caixas em que não haviam mais animais, provando que estava certo. olhou, espantado, quando a garota apareceu na sua frente.
— Volte para aquela barraca agora mesmo, você me disse que veio até aqui para ajudar e não para ficar namorando com a !
— Todo mundo precisa tirar um intervalo de você, mesmo que por dois minutos, então dê um tempo, ! — provocou e a olhou para o garoto, que tinha um gatinho em mãos.
— Não é só porque você segura um gatinho que isso vai me impedir de te bater, porque não vai, , então cale a boca! — esbravejou, arrancando risadas de . aproveitou o momento dos dois para puxar e lhe dar outro beijo enquanto apenas observava.
— Anda, ! — ela reclamou e resmungou, a seguindo enquanto ria. Dali observou o movimento das pessoas entre as barracas e viu cruzando o caminho até a lanchonete. Virou a cabeça em direção a , que observava a amiga de longe. Ele olhou para enquanto acariciava o gato de forma sugestiva, mas a garota não disse nada, se virando e dando atenção novamente aos cachorrinhos. Ela só não esperava que ele fosse se abaixar ao lado dela enquanto atendia uma garotinha que queria adotar um cágado.
— .
— .
— Porque estava me encarando daquele jeito?
— Eu preciso mesmo falar? — ergueu as sobrancelhas na sua direção e se acomodou no chão, sentando de borboletinha. — O que tá rolando?
— De verdade? — ele perguntou e o encarou bem, porém deu de ombros. — Eu não sei.
— Você tá todo felizinho, não é, ? — sorriu, o empurrando pelo ombro, e tentou esconder o seu sorriso, se equilibrando para que não caísse.
— ‘Felizinho’? Estou normal. — respondeu fingindo indiferença.
— Eu sei que você está, vamos, admita. — cutucou sua barriga e ele deixou um pequeno sorriso escapar pelo canto do lábio.
— Não sei, mas vou descobrir. — ele piscou pra ela e levantou.
saiu da barraca depressa, nem dando tempo para sequer perceber, enquanto o acompanhava atentamente com os olhos. Ele sentou ao lado da garota, que mantinha os antebraços apoiados no balcão daquela lanchonete improvisada enquanto aguardava o seu lanche. Lhe abraçou pelo pescoço com um dos braços, lhe dando um beijo no rosto. olhou na sua direção.
— .
— Achei que não ia falar comigo hoje, .
— Mas eu nem te vi. — respondeu dando de ombros e olhou para ele, que roubava um pouco do seu refrigerante.
— Sabe, eu não tava esperando.
— O quê?
— Você me beijar daquele jeito ontem! Ainda mais na frente da . — disse de maneira rápida, mas extremamente positiva. pegou o seu refrigerante de volta e começou a comer quando uma das atendentes deixou ali o seu pedido.
— Ah, não me venha dizer que ficou surpreso.
— Mas eu fiquei, sério mesmo! — insistiu, se inclinando na direção dela, e assentiu como se não acreditasse e desviou de um possível abraço. — Achei que a gente só ia sair.
— Sair? — ela perguntou cerrando os dentes e fez uma pequena pausa, cautelosa, antes de continuar. — Escuta, você quer que a gente fique agindo como casal? Sinto muito, mas isso não vai acontecer.
— A gente não tem nada sério, então?
— E nem vai ter. — deu um sorrisinho e assentiu sem dizer nada. Ele queria perguntar por que eles não podiam ter algo sério, mas o seu jeito de negligenciar sentimentos o impediu. Mas para si mesmo, ele não podia negar que estava se sentindo estranho com aquela resposta.
— Tudo bem então, . — murmurou, levantando de onde estava sentado para voltar à barraca e ajudar e .
— , você pode me ver como a amiga que você sempre quis ter. — lançou um sorriso lascivo na direção dele, sorriu de volta com menos intensidade antes de se retirar dali. O movimento deu a deixa para que e se juntassem à amiga, sentaram nos bancos deixando no meio.
— Me dá duas águas por favor. — pediu à atendente. olhou para , que tinha os braços cruzados em cima do balcão.
— Que cara é essa?
— Ela só está insatisfeita com a barraca dela. — disse por , que continuava calada. — Fazer o quê se a não tem muita sorte no jogo.
— Pelo menos no amor eu tenho muita. — falou observando de longe, que passava por ali e logo olhou para , que deu um sorrisinho. Ela estava plena, era ótimo tomar uma decisão com absoluta certeza. — Mas e você? Que cara é essa?
Automaticamente, se lembrou de .
— Qual é a de vocês? — questionou e ela e fitaram a amiga, atentas.
— É um lance sem compromisso, não precisa fazer alarde. — disse ela após dar uma última mordida no seu lanche e deu de ombros. e se entreolharam.
— Ele está bem com isso? — Perguntou .
— Está, já conversamos. — respondeu, ela não tinha tanta convicção daquilo, mas acreditava que, se tivesse algum problema, ele com certeza teria falado alguma coisa. Ela pagou o seu lanche no caixa ao mesmo tempo que e pagavam pelas suas águas, seguindo cada uma para a sua barraca.
— , aonde você pensa que vai? — perguntou , após a rápida fugida de , naquele dia ela tinha ficado mais esperta. Ela, e estavam cooperando na barraca que ela gostou de nomear de “Treco-treco” já que eles cuidavam dos demais materiais que não envolvessem vestuário.
— Ao banheiro. — respondeu tranquilo, ele realmente precisava ir ao banheiro. olhou para onde estava, na lanchonete, e lhe apontou o dedo médio e o indicador ao mesmo tempo enquanto ria.
— Eu estou de olho em você! — ele assentiu e saiu. cruzou os braços e olhou para , que havia parado de organizar as coisas para encará-la. — O que foi?
— Nada, só é engraçado. — ele disse e descruzou os braços, voltando a organizar tudo por ali. Eles estavam recebendo várias doações e arrecadando dinheiro com as que conseguiam vender. — E bem, você meio que está fazendo o meu trabalho.
deu uma rápida olhada na irmã.
— É sério que você se importa? — se aproximou dele, empilhando algumas caixas. — Sabe, eles dois.
— Claro que não, estou brincando. — falou sorrindo e riu. — Quer dizer, depende... — murmurou e garota franziu o cenho. Ele se inclinou na direção dela, falando baixinho, uma pilha de caixas separava os dois. — Sabe, eu prefiro que eles façam as coisas escondido.
— , não coloca essas cenas da e do na minha cabeça!
— Bom saber que eu tenho tanto controle da sua imaginação com poucas palavras, . — ele disse sorridente e abriu a boca, sentindo as bochechas esquentarem, mas logo semicerrou os olhos na direção dele, lhe estapeando no braço.
— !
— Eu tô brincando! — falou rindo e ela acabou sendo contagiada pela risada dele. De repente, ficou sério, não entendeu por um momento, mas assim que se virou para trás entendeu o que havia chamado a atenção dele. Elliot estava parado ali. revirou os olhos e continuou o que estava fazendo, ignorando a presença do outro ali.
— O que está fazendo aqui? — perguntou . Pelo tom de sua voz ela não parecia brava, estava mais pra cansada. Aquilo deixou confuso, porque pelo visto as coisas não estavam tão bem entre eles como ele achava. Isso quase o fez sorrir. Quase.
— Eu vim fazer uma contribuição. — Deu um sorriso, mas não foi o suficiente para desfazer a feição de de quem não acreditava nem um pouco na história. — Pra ajudar as pessoas carentes.
— Sério mesmo? — ironizou.
— Escuta, podemos conversar? — ela suspirou, pensando no pedido, e olhou para , como se perguntasse mentalmente se ela podia ir, não queria deixá-lo sozinho ali cuidando da barraca, já que ainda não havia voltado.
— Pode ir, eu me viro aqui. — ele disse e deu um sorriso de lado como se dissesse obrigada, e acompanhou Elliot até um lugar mais afastado.
os observou até certo ponto, quando percebeu que era melhor continuar trabalhando ali e parar de pensar naquilo.
— Ué, cadê a ? — perguntou quando voltou à barraca encontrando ali sozinho.
— Foi se resolver com o namorado dela. — arqueou as sobrancelhas como se não acreditasse, indignado.
— Pera, quê?! — assentiu. — Ah, então eu posso ir lá falar pra ela voltar! — exclamou com toda a entonação de direitos iguais que ele poderia ter.
— , deixa ela. — o chamou antes que ele pudesse se afastar muito. — Vai lá falar com a , vai. Eu sei que você tá doido pra voltar lá. — completou revirando os olhos e começou a tirar algumas caixas que estavam no balcão.
— Sério mesmo? Posso ir?
— Vá logo antes que eu desista e peça pra você ficar e me ajudar! — sorriu e saiu dali, não podendo deixar a oportunidade passar.
voltou ao que estava fazendo e ficou ali algum tempo, sem movimento, até um cara parar segurando uma enorme caixa informando que estava entregando para a doação. espiou por cima, era uma caixa abarrotada de roupas.
— Cara, tem uma barraca específica para vestimentas, fica ali do outro lado. — falou ele apontando para a barraca onde estava.
— Ah, valeu. — o olhou atentamente pela primeira vez e franziu o cenho, aquele cara não lhe era estranho.
— Espera aí, eu conheço você?
— Já jogamos Beer Pong juntos, não foi? — o outro perguntou, o que clareou a mente de , que lembrou vagamente daquela festa em uma das fraternidades da MMU. Eles haviam jogado juntos um bom tempo até que arrastou para jogar com eles também quando já estava bem mais alterado por conta do álcool. — Você mora no Didsbury¹?
— Moro, por quê?
— Acho que te vi saindo de uma das casas esses dias por lá, é que eu acabei de me mudar. Os meus pais, na verdade.
— Agora sei de quem é o caminhão de mudança, é que lá mudanças não são nada comuns.
— Acho que você não lembra, mas sou o Liam. — riu, porque com certeza ele não se lembrava, mas logo se apresentou também.
— .
— Você tem uma irmã, não tem?
— Tenho sim, a .
— Lembro que ela jogou com a gente, ela era mesmo boa de pontaria. — sorriu e riu com a lembrança. havia acertado no mínimo três copos, não tinha sido o suficiente para que ganhassem, mas havia sido divertido. Algo no celular de Liam o chamou atenção por alguns instantes, ele o guardou no bolso e segurou a caixa que havia apoiado no balcão improvisado de madeira. — Falando em irmã, preciso ajudar a minha. A gente se vê por aí.
— Até mais.
— Hoje é dia 23, vinte e três, sabem o que significa? — perguntou olhando para , e , que estavam na cozinha da casa de . Ela não deu a chance de nenhum deles responder antes de continuar. — significa que faltam apenas duas semanas para as provas e vocês estão aí, parados, olhando um para a cara do outro!
Os três se entreolharam, não conseguindo segurar uma risada. levantou as mãos para cima.
— Eu disse que isso não ia dar certo, !
Na tarde daquela sexta feira eles haviam combinado de sair da escola e ir direto para casa de tentar estudar. Mas o máximo que fizeram foi jogar os livros e cadernos pela mesa da cozinha e pela sala sem resultado algum, mas tinham dado muitas gargalhadas. Até mesmo , que se encontrava um pouco chateada, conseguia lhe arrancar risos com as suas piadas ruins. era a única ali que tentava fazer com que todos voltassem ao foco, mas até ela se dispersava facilmente. Os garotos puxavam um assunto totalmente aleatório e ninguém se concentrava.
— Tudo bem, desisto! — falou, largando o lápis ali e se levantando para ir até a sala onde e estavam. Trombou com na entrada da cozinha os chamando para ir até a sala.
sentou ao lado de , que jogava Far Cry 5 com . e a seguiram enquanto decidiu ir ao banheiro. No caminho, esbarrou com no corredor, que estava saindo de lá.
— Hey, tá todo mundo na sala. — disse sorridente. forçou o seu melhor sorriso, mas conseguia sentir como ela estava tensa. — O que foi?
— É o Elliot, ele quer que a gente se encontre pra conversar. — suspirou, como se já estivesse cansada daquilo. — Eu não sei se quero ir, pelo menos agora, porque queria ficar aqui. Mas estou muito chateada, e quando fico chateada eu fico....
— Rabugenta. — completou , conhecia melhor do que ninguém. A outra concordou com a cabeça.
— Exato, e não quero estragar o clima divertido que está.
— Você quer conversar?
— Agora não. — respondeu cruzando os braços e recusando a chamada no seu celular pela 10° vez naquela tarde.
— Tudo bem, qualquer coisa fala comigo, tá? — lhe deu um sorriso de lado e assentiu. Seguiu seu caminho até o banheiro enquanto ia até a sala.
Depois de esvaziar a bexiga e lavar bem as mãos, voltou a sala. , e estavam sentados juntos no sofá enquanto e disputavam uma corrida no X Box One. , , e estavam no chão sentados no tapete jogando truco.
— , a pizza que você falou que ia pedir?
— Putz, , esqueci. — ele levantou rapidamente para sacar o celular e foi xingado pelos amigos famintos. — Um problema: aqui não tem nada pra gente beber.
— Isso você deixa que eu resolvo. — observou largar as cartas e ficar de pé, normalmente ela se voluntaria para comprar bebidas, mas não naquele dia.
— Vou com você. — se levantou, também saindo com . , vendo que ficaria ali sentada sozinha, foi pro sofá, ficando ao lado de .
— Esse jogo é chato! — exclamou .
— Chato porque você só morre! — rebateu , lhe empurrando com o ombro e rindo. Ela cruzou os braços e olhou para .
— , você não tem outros não?
— É o que eu mais tenho, . — respondeu sem tirar os olhos do celular. — Espera só um pouco que eu já vou...
— Deixa que eu pego. — se pronunciou , já que ela já estava de pé e próxima à escada. — Onde estão?
— No meu quarto.
— , pega o FIFA e o Rocket League. — pediu . — Need For Speed pra mim, por favor! — falou . Ela olhou para , só que ele deu de ombros, não tendo nenhum pedido específico.
Foi em direção à escada da casa que conhecia tão bem. era o seu melhor amigo, já tinha ido na casa dele diversas vezes e sabia bem onde ficava o seu quarto. Era a segunda porta à direita.
falava sério quando disse que jogos eram coisas o que ele mais tinha. Tinha duas prateleiras altas cheia deles e mais algumas caixas organizadoras pretas que ficavam no chão. Ela teria um pequeno trabalho para procurar os jogos requisitados. Imaginou se aquilo tudo fosse de , eles poderiam até estar organizados em ordem alfabética, só que pro azar dela não estavam.
Lá embaixo resmungava frustrada enquanto e riam da sua derrota para em outra corrida de Speed Racer.
— Você só joga um jogo que você sabe, por isso só você ganha! — falou indiferente à situação, mas ela precisava alfinetar de algum modo.
— Olhe só, , não sei se é falta de noção dos objetos no espaço, da sua parte, mas o só trouxe este e estamos esperando a dona voltar com outros. — revirou os olhos, odiava o modo formal mas ao mesmo tempo debochado que tinha de falar.
— O que pelo visto está demorando pra cacete. — pigarreou , entediada, deitando a cabeça no ombro de . Ela estava ali pela bebida e pelos jogos depois da fracassada tentativa de estudar.
— , se importa de checar por que a demora tanto? — pediu esparramado no sofá, assentiu sem pestanejar e saiu da sala em direção a escada.
Encostou no batente da porta e ficou observando em cima de duas caixas enquanto tentava alcançar os jogos da prateleira de cima. Ela olhava um por um, procurando o certo, e não parecia ter sucesso.
— Você vai cair daí. — quase pulou de susto ao ouvir a voz de , segurou as duas mãos na borda da prateleira e suspirou de alívio. Olhou para trás e lhe lançou uma careta pelo susto.
— Se você não ficar me assustando assim!
— Por que está demorando tanto? — ele perguntou adentrando o quarto e se aproximou.
— Porque não estou encontrando, o não é a pessoa mais organizado do mundo quando se trata disso. — voltou a olhar a prateleira. — Só achei o FIFA. — apontou para o jogo em cima da cama.
— Vou te ajudar então.
começou a procurar nas caixas enquanto insistia com a prateleira. De vez ou outra ele olhava para ela, para o esforço em se esticar um pouco, mesmo em cima daquelas caixas mal empilhadas. Ele tentava, mas não conseguia resistir em ficar olhando para as pernas dela, ainda mais quando se usava shorts tão curtos. Bendita seja a primavera e que venha o verão.
olhou para trás, de um modo de ou de outro conseguia sentir o olhar de queimar sobre si. Olhou para ele, que mantinha um sorriso descarado deixando claro que ele gostava do que via.
— O que é que você tá olhando...
mal conseguiu terminar a frase, um desequilíbrio ao se virar quase a fez cair e ela teve que agarrar novamente na borda da prateleira. Por um reflexo, foi para onde ela estava e segurou no seu quadril. Ela já estava instável e sem perigo de se esborrachar no chão, mas apreciou a atitude dele em se preocupar com ela.
— Eu acho que você devia procurar nas caixas e eu na prateleira. — olhou para baixo sem medo, já que ele a segurava, e olhou pra cima e sorriu pra ela, que retribuiu o gesto como se agradecesse mentalmente pela atitude dele. Ela concordou com a ideia dele e estava prestes a descer dali.
A cabeça de estava na altura da sua cintura e pode perceber bem quando ele abaixou o olhar para as suas pernas novamente. Dali de baixo tinha uma visão legal do corpo dela e não gostava de deixar despercebido nenhum pedacinho enquanto observava.
— Você não devia usar esse short perto de mim. — arqueou a sobrancelha e deu um sorrisinho sacana correspondendo ao devasso dele, cheio de segundas intenções. No momento que afastou um pouco para trás, as suas mãos que se encontravam na lateral do corpo de , apenas os dedos apalpavam a sua bunda.
— Ainda bem que você não manda em mim. — ela desceu das caixas, se apoiando nos ombros de e ficando de frente para ele que, intensificou o aperto das mãos nela.
— Ainda bem mesmo. — disse encarando o seu rosto. Puxou para mais perto pela cintura com um dos braços e com a outra mão apertou a sua bunda. Se esqueceu da procura pelos jogos há algum tempo, ele só pensava em beijá-la. deu um sorrisinho com a súbita e rápida aproximação de ambos e corpos. Ela compartilhava da vontade dele e não demorou em segurar o seu rosto e beijá-lo. Ela adorava aquilo que tinha. Se não existisse clima, ele criava um, mesmo que sem querer. E a vontade que crescia nele pareceria até uma endemia contagiosa.
Bagunçou todo o cabelo dele e hora ou outra suas mãos passeavam pelos braços dele. tinha um problema com aquele short jeans, ela tinha que ficar abaixando-o às vezes para que não aparecesse a polpa da sua bunda, mas naquele momento não se importou em fazer isso. passava os dedos na barra e na parte da sua bunda que ficava de fora e logo em seguida apertava com vontade. adorava quando ele a pegava daquele jeito. Mordeu o lábio dela e sentiu que talvez estivesse perdendo a noção do lugar em que estavam, e também, já que se deslocou até a cama onde se sentou e puxou ela para que ficasse por cima, no colo dele.
— Devíamos estar procurando os jogos. — ela disse rente a boca dele e em seguida o beijou novamente. a sustentava na perna direita e usava as mãos para tocar as pernas que ele tanto ficou olhando.
— É, devíamos.
conseguia sentir a respiração misturar com a dela, ambos estavam de olhos fechados aproveitando o momento. passou a língua pelos lábios dela, mas não a beijou. Ele queria testar o seu autocontrole.
— Você quer parar?
abriu os olhos por um momento, ela poderia bater nele depois daquele tipo de pergunta.
— Você me puxa pra ficar aqui — disse, se referenciando ao colo dele com as mãos. —, e me pergunta se eu quero parar? Vá a merda, .
riu e deu um beijo no seu pescoço. Ele a inclinou e acabou deitando na cama com ele por cima dela.
— Eu só estava querendo testar o seu autocontrole e senso de juízo.
— Mas eu não tenho quando tô com você. Você é uma péssima influência, sabia? — Uhum. — ele murmurou antes de beijar ela de volta. Mas o barulho da porta não deixou que aquilo durasse muito tempo. Ela já estava aberta, porém bateu na parede quando a empurrou forte demais.
— Por que vocês estão demorando tant.... Puta que pariu! — exclamou e empurrou de cima de si, que começou a rir. Ela ficou sentada ao seu lado um pouco sem graça. — Se vocês quisessem um quarto, era só ter me falado, sério, é o que mais tem nessa casa.
— . — chamou e soltou uma risada, escondendo o rosto na curva do pescoço de .
— Pegaram os jogos, pelo menos?
— Não, não encontramos! — exclamou .
— Se vocês tivessem chegado a procurar, pelo menos.
— , você não é nada organizado. — disse se levantando.
— Tá, você vai ficar e me ajudar a procurar. — apontou para e logo depois se dirigiu a , segurando o braço dela e lhe guiando até a porta. — E você vai descer. Péssima ideia pedir logo pro vir aqui te buscar.
gargalhou e saiu do quarto. Ela ria também, mas tinha ficado um pouco sem graça.
— . — disse assim que a amiga chegou ao térreo.
— O que foi?
— e o ainda não chegaram e a e o estão naquele clima lá na sala. — Ela fez um careta. — E o Elliot não para de me ligar!
— Okay, vamos conversar.
puxou pela mão até a porta da frente, por onde saíram e ficaram na varanda da casa de . não fazia ideia, mas naquele momento também precisava de uma amiga ouvinte.
— Me dá o seu celular. — pediu e lhe obedeceu. o pegou e na mesma hora ele começou a tocar, ela aceitou a chamada e atendeu sem hesitar. — Oi, Elliot, é a , tudo bem? Eu espero que sim. Olha, está comigo aqui na minha casa me ajudando com um problema, não se preocupa que ela vai retornar, tá bem? Tchau, tchau.
desligou, sem dar chance para que o outro respondesse e abriu a boca, mas não disse nada enquanto a outra colocava o seu celular no modo noturno para que não recebesse ligações por algum tempo.
— Pronto, agora você desembucha.
olhou para os lados e em seguida para novamente.
— A gente pode? Sabe, ir para sua casa?
— Vamos, no caminho a gente conversa.
[17:43] : Onde vocês estão?
[17:44] : Viemos comprar sorvete.
bloqueou o celular. Estava no banco do passageiro do conversível de comendo uma casquinha de baunilha. No caminho para sua casa elas haviam parado no drive thru do McDonalds só para comprar sorvete.
, após terminar a sua, deu a partida no carro com o caminho até a residência dos em mente.
— Era o , queria saber onde estamos.
— Você disse?
— Sim, só não falei que não íamos mais voltar. — deu de ombros e se virou para a amiga, abaixando o som da música que saía do rádio. — Agora você já pode me contar.
— Semana passada nós estávamos na casa dele e estava tudo perfeito e, bem... — soltou uma risadinha. — A gente não teve o pudor de subir pro quarto e começamos a transar no sofá da sala. — abriu a boca, surpresa e atenta, acompanhando na risada. — E como eu tenho uma intuição muito foda, eu comecei a sentir que alguém tava vindo e pedi pra ele sair.
— Ele não saiu?
— Não, ele saiu na mesma hora. Nos trocamos rapidamente, e quando a porta abriu eu percebi que tava certa. , por pouco a madrasta dele não pega a gente!
— Desculpa, , mas isso é muito engraçado. — falou , colocando a mão na boca para não colocar para fora toda a casquinha que ela mastigava.
— É, eu sei, ele ficou segurando a risada enquanto eu tentava não morrer de alívio e vergonha. — rolou os olhos enquanto ainda ria. — O problema veio depois disso.
— O que rolou?
— Elliot tem um problema com o pai dele e consequentemente também tem com a mulher dele. Mas a mulher é uma cadela, ! E falo no sentido de ser extremamente egocêntrica ao ponto de ser uma total narcisista. Além de ser muito soberba, você tem que ver como ela fala, é de dar desgosto.
— O que ela fez?
— Ela basicamente trata mal todo mundo que não seja o pai dele, eu meio que já estou acostumada, mas me irrita porque o Elliot se submete a esse tipo de tratamento! Ele não se impõe, apenas abaixa a cabeça e concorda ou não diz nada, principalmente nas vezes em que ela me ofende. — segurou no volante, olhando apenas para sua frente. — Sabe, eu não preciso que ele me defenda, eu não me ofendo com o que vem daquela mulher, mas ao mesmo tempo me incomoda esse comportamento dele, porque achei que ele tivesse muito mais atitude.
— Vai parecer meio idiota o que vou perguntar, mas você já tentou aconselhar ele a, sabe, ter mais posicionamento?
— Claro que já. E ele foi grosso comigo, até entendo porquê, ele age assim por causa do pai dele e falar daquele homem o frustra.
— Nossa, mas e a mãe dele?
— Elliot não tem um pingo de resiliência, . Ele tem a mãe dele, pode muito bem ir morar com ela, mas ele não quer. Quando eu toco nesse assunto a gente discute.
sabia que era uma pessoa muito flexível e lidar com alguém que não fosse assim poderia ser um desafio para ela. O lado bom era que ela gostava de desafios.
— E você está meio confusa porque não sabe se está exagerando ou se está com razão?
— Exatamente.
— Eu acho que por um lado você tá certa, porém penso que o Elliot ainda precisa de ajuda, e ele só vai encontrar essa ajuda em você.
— Eu não quero que ele me defenda, eu quero que ele defenda a si mesmo. — disse virando numa curva se aproximando do bairro em que morava. Ela suspirou e não pode deixar de notar a expressão da melhor amiga. era tão bem decidida e para era raro vê-la daquele jeito.
— O que foi? Você parece arrependida.
— Eu só estou... decepcionada. Eu gosto de caras que berrem que está todo mundo doido, que sejam honestos consigo mesmos e que não tenham medo de se posicionar e alguma coisa me diz que ele não é assim.
— , vocês precisam conversar, não pode tomar uma decisão sem escutar o lado dele.
— Eu sei, mas só vou fazer isso porque gosto muito desse filho da puta! — ela disse dando um soco leve no volante quando estacionou o carro na frente da casa de , que riu da sua atitude. A última voltou sua atenção para o celular, que começou a tocar. Estavam tão confortáveis no carro de aproveitando o sol de fim de tarde que não se incomodaram de imediato entrar na casa.
— Por que você foi embora? — disparou quando a garota atendeu e levou o celular a orelha.
— Eu e a viemos comprar sorvete e aproveitar pra conversar um pouco, só que nos distraímos, acabamos vindo pra minha casa.
— Ah, não foi pelo que aconteceu no quarto do não, né? — percebeu pelo sem tom que tinha ficado preocupado e algo dentro dela se contorceu, de uma forma positiva, porque pelo que parecia, ele se importava muito com ela.
— Não, tá tudo bem. — respondeu por fim, dando um sorriso para si mesma. — Ela precisava de mim pra conversar, sabe?
murmurou, concordando. — Acho que a gente não vai demorar muito aqui.
— Nos vemos mais tarde?
— Eu passo aí na sua casa.
— Ok, então tchau, .
— Tchau, .
desligou, dando um sorrisinho de lado, e olhou para , que a encarava com o cenho franzido.
— Sério, ? Não mandou nem um beijinho no final? — revirou os olhos e resmungou.
— Ah, cale a boca, .
— Que tipo de namorados vocês são?
— Nós não somos namorados! — mordeu a parte interna da bochecha pensando em uma palavra que definisse ela e . — Nós só estamos... juntos. E está dando certo assim, sabe quanto tempo faz que não brigamos?
— Você parece bem feliz. — observou tirando o cinto de segurança e se acomodando melhor no banco. — Principalmente agora.
— Acho que eu tô mesmo. — ela se virou para , sentando do mesmo modo que ela. — Bem, o meio que pegou a gente no maior amasso no quarto dele e na ligação o perguntou se eu meio que tinha me sentido incomodada. Achei fofo ele ter a preocupação de se lembrar de mim.
achou fofa a atitude e queria gracejar com a cara de derretida que estava fazendo sem perceber, mas ela preferiu seguir outro caminho.
— No quarto do , ? — acusou, quase rindo. — Cadê o apreço pelo seu melhor amigo? — deu de ombros dando uma risadinha. Uma parte do seu cérebro a fez esquecer completamente o lugar em que estavam e ela não fez esforço para resgatar a memória. — Você e o tem uma casa inteira para aproveitar e não usufruem porque não querem!
— Como é?
— O mora só com a mãe dele naquela casa enorme e ela nem sempre está lá porque trabalha. O fato de ele ser filho único deveria ser uma oportunidade de deleite pra vocês.
— E quem disse que a gente não aproveita?
— Não tanto quanto você fazia com o Austin. — deu uma risadinha com a lembrança. deu um sorriso de lado para disfarçar e decidiu logo mudar de assunto, pois não queria falar de Austin, não queria entrar numa comparação entre os dois garotos. O que ela tinha com nunca ia se comparar ao que teve com o ex namorado e, infelizmente, ela tinha que admitir para si que alguma coisa ainda a afetava.
— Tudo bem, acho melhor a gente entrar. — falou , pronta para abrir a porta do carro. ia fazendo o mesmo quando duas vozes lhe chamaram atenção. Elas vinham do outro lado da rua, mais precisamente da entrada da casa que ficava ao lado da de .
olhou naquela direção, podendo ver duas pessoas, uma garota e um rapaz entrando na casa enquanto conversavam.
— Então esses aí são os seus novos vizinhos? — deduziu que sim e concordou, estreitando os olhos naquela direção.
— Parece que sim, mas aquele cara ali não me é estranho.
— Se eu estivesse solteira, com certeza pediria pra você me apresentar. — ela riu saindo do carro e a seguiu até a porta da própria casa, que, por sorte, ela tinha levado a chave.
Elsie havia marcado a prova de roupas para os irmãos naquele domingo às 15h. tinha acordado um pouco tarde naquele dia, ficou esperando por ela para poderem almoçar e irem juntos até o shopping, onde ficava a loja que estava confeccionando os vestidos e ternos para a cerimônia. Deby se convidou para ir junto, alegando querer ficar mais tempo com os sobrinhos antes de ir embora. provou o terno enquanto se virava com o vestido.
O primeiro se sentiu estranho dentro de um, mas gostou da sua aparência elegante que lhe deu um charme especial. teve que rolar os olhos com o exibicionismo do irmão para as moças da loja. Deby fez questão de arrumar os mínimos detalhes da roupa dele, tanto quanto abotoar todos os botões da camisa, que ele insistia em deixar alguns abertos, quanto fazer o nó da gravata. Já , estava esperando que fosse odiar o vestido.
Já até havia imaginado o impasse que entraria entre usar um vestido escolhido a dedo pela madrasta que odiou ou fazer birra e pedir para trocá-lo. Mas ao contrário do que imaginava, ela abriu a boca e os seus olhos brilharam quando o viu, pois o achara lindo. Era da mesma cor para combinar com a gravata de , já que eles entrariam juntos. O vestido longo no tom vermelho rubi era quase uma obra de arte por si só. Confeccionado em seda e veludo, o modelo tinha um corpete justinho, coberto com alguns cristais ligados a uma saia rodada e bem ampla, decorada com um rico bordado floral. Feito sob medida e encomendado pela grife Atelier Versace, pela própria madrasta. Deby teve que admitir, mas naquele quesito Elsie havia acerto em cheio e riu do desgosto que a tia usou para dizer aquela frase, mas a sobrinha dela estava linda e apenas aquilo importava.
Tinha ficado bom na primeira prova, só faltando alguns ajustes nos ombros, na cintura e na barra. ficou sem graça na frente do próprio irmão, que fez questão de elogiá-la, e, por mais que tivesse ficado bonito, ela não demorou em tirá-lo logo para que fossem para casa. Ela começava a se animar um pouco mais com aquele casamento, percebia como o pai estava gostando de organizá-lo com Elsie.
as deixou em casa e partiu com o carro, alegando que tinha um compromisso. sabia bem que compromisso era aquele.
Bill e Elsie usavam os fins de semana, principalmente os domingos, para resolver o que fariam durante a semana, as lojas que visitariam para comprar as coisas que faltavam. Os dois estavam na cozinha concentrados quando e Deby adentraram a casa.
Depois de perguntar se a tia iria querer ajuda com alguma coisa, subiu para o seu quarto. Pelo visto todos ali já tinham algo para fazer, sorte a dela que tinha para animar os seus domingos tediosos.
Tirou o celular do bolso para lhe mandar uma mensagem. tinha ficado em casa até aquele momento, ele costumava andar de skate com aos sábados, mas os planos tinham sido mudados por conta da prova de roupa que o teria que fazer.
[16:14] :
[16:14] : O que você tá fazendo?
[16:15] : Nada, eu ia andar com o Bud agora
[16:15] : Posso ir junto?
[16:15] : saiu e me deixou aqui, estou entediada
[16:16] : Eu já ia te perguntar se você já tinha chegado pra gente fazer alguma coisa
[16:16] : Me encontra aqui em baixo
desceu e passou na cozinha antes de sair para avisar a Bill que estaria com . Ela abriu a porta, podendo vê-lo do outro lado da rua, de pé. Com uma mão segurava a coleira de Bud, que estava sentado na calçada junto ao dono, perfeitamente comportado, e com a outra segurava o seu celular. se aproximou e ele guardou o aparelho assim que a viu, Bud levantou ficando ao lado da perna dela, o que foi uma surpresa para que ele não tenha pulado em cima de si como de costume.
— Ele sabia que você tava me esperando? — perguntou ela, olhando para o cachorro. e começaram a caminhar lado a lado, com o seguindo pelo caminho que estava acostumado a fazer quando saía com Bud.
— Claro que sabia, ele é muito inteligente. Igual ao dono. — respondeu, orgulhoso de si mesmo, quase fazendo rir com a sua presunção.
— Eu não estou discordando. — disse ela rápido depois de perceber o olhar dele.
— Acho bom, .
— Ou o quê?
— Não contrarie quem guia um cão desse tamanho. — olhou de Bud para e revirou os olhos.
— Fala sério, Bud não faria mal a uma mosca.
— Verdade, você quer levar ele? — olhou para a guia que segurava, pensando seriamente se aquilo era uma boa ideia.
— , se esse cachorro decidir começar a correr ele com certeza vai me levar junto e eu não quero ter a minha cara arrastada no asfalto. — riu e entrelaçou o braço no dela.
— Eu te seguro.
Ela fitou seus braços entrelaçados e a mão de que oferecia a guia, pensou por alguns segundos antes de pegá-la. Bud era bem tranquilo, andava em passos lerdos e calmos, parava vez ou outra para cheirar alguma plantinha que nascia na calçada e era mais devagar ainda quando o seu focinho quase encostava no chão quando ele decidia seguir algum rastro.
— , você precisa deixar ele se aliviar. — falou rindo. A garota tinha começado a andar rápido demais sem perceber que Bud tinha ficado para trás, o que a consequentemente a puxou na direção dele e ela quase caiu. Sorte é que ainda a segurava. Ela bufou e olhou para , que ainda ria enquanto o cachorro fazia xixi em um poste.
— Seu cachorro não tem modos.
— Normalmente ele espera até chegar no parque, e pare de insultá-lo, vai ferir os sentimentos dele e os meus! — riu e voltou a andar com quando Bud terminou. — Você viu as músicas que eu te enviei?
— Vi e adivinha? — o guitarrista a olhou curioso e esbanjou a sua faceta animada em querer compartilhar as coisas com ele. Era um sentimento novo, mas que ela estava gostando. — Tentei tocar algumas.
— Rápido assim? — ela assentiu, orgulhosa. Para quem não conseguia fazer uns acordes a uns dias atrás aquilo era maravilhoso.
— Tudo bem que o meu pai tá me ajudando um pouco, mas eu desconfio que seja mais pra ficar de olho em mim com o violão dele do que da sua boa vontade.
— Pode pegar o meu se quiser.
— Na verdade eu queria comprar um pra mim.
lembrou da ideia que teve no domingo passado na casa dele, estava vendo um dia para que pudesse colocá-la em prática. Aquele poderia ser o dia perfeito ele só teria que ter cuidado para que não desconfiasse de nada. Ah, se ela pudesse sequer sonhar, estragaria toda a surpresa. Ele se colocou na frente dela caminhando de costas.
— A gente podia ir na...
— Loja do JJ! — completou animada, pois ela adorava aquele lugar, e assentiu. Eles se aproximavam do parque e ele conseguia avistar o banco no qual ficava sentado. — Sabe, eu adorei aquela música do Super Furry Animals.
— Hello Sunshine? — perguntou quando eles chegaram no banco, ele se sentou primeiro para tirar a coleira de Bud para que ele corresse livre um pouco como sempre fazia. sentou ao seu lado, sentindo lhe abraçar pelos ombros com a guia do cachorro no colo.
— Essa mesmo. — ela olhou para ele, se aconchegando melhor naquele abraço.
— Te dou uma semana pra você aprender e tocar ela pra mim. — levantou a sobrancelha na direção dela e pode ver que ele estava a desafiando e, não, ela não iria fugir. — Pra mim, pro Bud e pra Cindy.
— Vai mesmo me fazer passar vergonha na frente da sua mãe?
— Vou. — ele disse no ouvido dela. — Você vai gostar do que ganhar se conseguir.
— Tá bem, eu aceito. — respondeu dando um sorrisinho sapeca antes de sentir lhe beijar. Ela segurou os cabelos dele como adorava fazer e o guitarrista lhe trouxe para mais perto dele com as mãos na sua cintura.
se sentia confortável e tranquilo e percebeu que talvez não existisse momento melhor que aquele para dizer o que não tinha dito a . Estavam a sós naquele banco e o clima não era tenso, e não tinha pressão alguma sobre os seus ombros. Ele odiava falar sobre aquele assunto e não era à toa que não gostava de deixar as pessoas saberem que tinha um irmão problemático. Era tão mais fácil fingir que ele não existia, mas para ela era complicado fingir. Em alguns momentos sentia-se angustiado e ele queria poder compartilhar todos os seus sentimentos com sem que existissem barreiras. Era para aquilo que ele estava ali, que ele estava tentando. Era por uma relação saudável e honesta que ele tinha se declarado para ela no dia dos namorados. Era para aquilo que aquele que não se apaixonava estava deixando de existir.
— . — ela se afastou para olhá-lo. — Posso te contar uma coisa?
— Hã, claro.
— Sabe naquele dia que você foi lá em casa e teve todo aquele acidente com o vidro e tals? — assentiu, lembrando perfeitamente do dia, e decidiu falar aquilo de vez sem ficar enrolando muito. — Então, eu disse pra você que tinha sido um acidente e de fato eu acho que foi, mas eu sei o motivo. Foi por causa do meu irmão.
franziu a testa, confusa, tentando assimilar as palavras da boca dele. Irmão? Desde quando tinha um irmão?
— Espera aí, irmão? Você tem irmão? — ela perguntou para ter certeza de que tinha escutado bem. Nunca passou pela sua cabeça que pudesse ter um irmão, era estranho já que desde que o conheceu o via como filho único de uma mãe inglesa e divorciada.
— Tenho, o nome dele é Ethan. Ele é 6 anos mais velho.
— E por que eu nunca soube da existência dele?
— Porque eu não queria que você soubesse, na verdade, ninguém. — pesou o olhar na direção dela, queria olhar para quando estivesse falando aquilo, como tantas vezes simulou aquele momento na sua cabeça. Para ele, coisas com certo nível de seriedade tinham que ser ditas cara a cara. E não lhe abalava falar daquele assunto, ele se sentia meio melancólico, mas nada preocupante.
— Por quê?
— Quando eu te disse o motivo de eu ter me mudado, bem, eu menti em algumas partes porque ficou parecendo que a culpa foi toda do meu pai, e não foi isso que aconteceu. — franziu o cenho, tentando combinar na sua cabeça todas aquelas partes da história, a briga, da mudança e como tudo aquilo se encaixa com o recém descoberto por ela, Ethan.
— Tem a ver com o seu irmão então? — ele assentiu, dando uma procurada com os olhos por Bud, que ainda explorava o parque, tranquilo, naquele momento estava do lado de uma árvore próxima.
— Ethan tem sérios problemas, não gosto da expressão, mas ele é “louco”, perturbado mentalmente, e muito manipulador. — respondeu com o tom de voz mais elevado do que gostaria, e era claro o incômodo que sentia com todas as características ruins que o irmão possuía. — Nós não éramos nem um pouco próximos. Eu era uma criança que teve que se esforçar pra entender rápido o que acontecia na casa em que eu morava, e, apesar de ser bastante novo, eu sabia que o Ethan vivia com ódio do mundo e não gostava de mim.
— Ele não gostava de você? — perguntou . Às vezes ela achava que vivia em uma bolha, a relação dela e de era tão incrível que ela se esquecia que nem em todas as famílias era assim.
— Não, e a nossa diferença de 6 anos não ajudava em nada. — respondeu ele convicto com as poucas lembranças que tinha daquela época. — Eu tinha medo dele, , ele ameaçava me bater constantemente nas vezes em que eu tentava me aproximar. Eu queria que nós fôssemos mais amigos, eu via as relações entre irmãos dos meus colegas da escola e queria a mesma coisa. Ele era o meu irmão mais velho e deveria ser o meu espelho. Demorou um tempinho para eu perceber que não era.
— Mas não tinha um porquê? Ele simplesmente te odiava?
— Na verdade, , eu tenho uma hipótese da razão. Acho que só eu percebia o quanto ele odiava todos aqueles tratamentos e idas a psiquiátricas e psicólogos aos quais ele era submetido e queria descontar em mim esse ódio, porque eu não tinha que passar por aquilo. — mantinha os olhos fixos nele, nem se quisesse sua atenção seria desviada. Ela se aproximou um pouco mais de , o que, de certa forma, o confortou mais. — Meus pais perceberam rápido que ele tinha algo de diferente das outras crianças e o sujeitavam a essas consultas desde cedo. Quando ele fez 15 anos, o que já não estava bom ficou pior.
— O que aconteceu? — suspirou e foi ali que percebeu que aquela era a parte mais séria da história.
— Tudo o que ele fazia quando criança, as travessuras, os xingamentos e o comportamento devasso para uma criança pareciam besteira perto do que ele fazia quando chegou na adolescência. Não respeitava ninguém, batia nas pessoas sem motivo, destruía objetos apenas por diversão. Ele detonou um carro com um taco de baseball, além de ter sido pego furtando lojas várias vezes pelo seu sério desvio de conduta. Houve um incêndio no refeitório da escola dele e praticamente todo mundo desconfiou que foi ele quem começou.
— E foi?
— Jamais vamos saber, não tinham provas, mas quando perguntavam ele não negava mas também não admitia, e, bem, meus pais estavam começando a concordar com o que os outros diziam, que o Ethan era um perigo e que poderia colocar a vida de outras pessoas em risco. Eles estavam se vendo sem opção, porque nada funcionava, nenhum remédio, nenhuma conversa, nenhum tratamento. E descobriram porque: ele estava se envolvendo com drogas.
sentiu uma sensação ruim invadir o seu peito, ela não tinha uma história boa para contar envolvendo drogas e a sua família. Ela e as abominavam profundamente por terem sido a causa principal da morte da sua mãe. sabia disso e sabia também o quanto aquilo podia mexer com ela, por esse motivo, pensou meticulosamente no peso das suas palavras.
— Eles já brigavam antes, porque eles divergiam muito sobre a forma que ele devia ser tratado, quando descobriram isso foi o auge. A minha mãe tinha um pouco de medo do Ethan ao mesmo tempo que morria de preocupação e ela queria interná-lo, já o meu pai discordava muito dessa ideia.
Foi impossível para não lembrar do período em que a sua mãe esteve internada. Ela tinha tido uma overdose e odiava ter que encarar aquela falsa paz de espírito em que a sua progenitora se encontrava. Ela estava estável, mas sabia que não estava nada bem e nunca sentiu tanto medo.
— E... o que eles decidiram? — perguntou sem muita convicção, por algum motivo parecia temer a resposta. Ela percebeu que estava descobrindo muitas coisas a respeito da vida de em tão pouco tempo, principalmente fatos que ocorreram na sua infância. Ela não era nenhuma psicóloga, mas tinha noção de que eram coisas capazes de criar traumas para uma vida inteira. E ali estava a surpreendendo mais uma vez, porque, apesar de tudo, ele não parecia traumatizado com nada.
— Aí é que está, decidiram nada porque o Ethan fugiu. E foi nesse cenário que se desenvolveu toda a briga que os meus pais tiveram, ao invés de se apoiarem, eles brigavam. Meu pai colocava a culpa na minha mãe por ele ter fugido e a minha mãe não media esforços em afirmar que estava certa na decisão de interná-lo. Era a mesma coisa todo dia, tudo era desgastante demais. Até que um dia deixou de ser. O fato de ele beber e fumar demais que eu te falei era verdade, ele, para evitar brigar com a minha mãe, se afundou nas drogas lícitas.
abriu a boca em choque, parecia que o relato só piorava. Ela nem conseguia imaginar como deveria ter ficado a mãe dele com aquilo tudo, por isso decidiu perguntar.
— E a Cindy?
— Ela ficou deprimida, eu ficava triste por ela, porque mesmo assim ela tentava cuidar de mim, coisa que o meu pai já tinha desistido de fazer, principalmente quando ele foi embora de vez. E até aí não tivemos um sequer sinal de vida de Ethan, achamos até mesmo que ele podia ter morrido.
— E aí você veio pra cá. — deduziu e confirmou com a cabeça.
— A minha tia Donna disse pra ela que ela devia voltar pra Inglaterra e nós fomos na mesma semana. — falou, lembrando-se da forma como a sua tia havia lhe convencido a acatar a ideia de ele morar ali com a tia. Apesar dos problemas, não queria ter se mudado, mas entendeu bem quando Donna lhe disse que seria melhor, para cuidar dele e da mãe dele. — A minha mãe quis esconder isso de todo mundo, da família dos amigos e pediu para que eu não contasse nada. Por isso viemos pra cá ao invés de Liverpool, que é onde a minha tia e parte da família da minha mãe mora. Eu não entendia muito bem nada do que estava acontecendo, mas me assustava. A sabe que o Ethan existe, mas de vocês só o sabe de toda essa história. Não é uma coisa que eu gosto de ficar contando pra todo mundo, mas achei que você devesse saber.
— Poxa... Mas ele apareceu em algum momento, né?
— Ele tinha 15 anos quando fugiu, ficamos sem saber dele por 3 anos e no dia em que fez 18 ele finalmente ligou. Eu tinha 12 anos na época, não sei o que ele falou nesse dia, minha mãe nunca me disse, mas depois disso ele começou a ligar sempre em algum dia aleatório do mês. Odeio quando ela atende essas ligações porque sempre chora no final, e o pior é que eu sei que ela quer que ele volte.
— E se ele voltasse?
— Seria péssimo, , eu odeio ele e queria que sumisse de vez. Ele não é uma boa pessoa, tenho certeza disso. — encarou o parque que havia na sua frente, a partir daquele dado momento ele falava mais para si mesmo do que para , que estava ao seu lado, brincando com a palma da sua mão enquanto fazia círculos com os dedos. — O que ele fez para se virar tanto tempo assim por conta própria? Sem apoio de família, nem amigos? Eu até tenho um palpite, mas não é nada legal.
— Você nunca quis falar com ele?
— Não, só que uma vez eu tentei, mas ele não disse nada, apenas desligou. Acho que ele ainda me odeia. — soltou uma risada sarcástica ao pensar naquilo, ao pensar que o irmão com o qual mal conviveu o odiava. Era totalmente recíproco, mas ele gostava de saber que pelo menos ele tinha motivos válidos.
— Nossa, eu ficaria muito preocupada no seu lugar com essas ligações dele.
— E eu fico, mas ela me garante que está tudo bem, fico com um pé atrás, mas acho melhor deixar pra lá. Eu sinto que ele não quer que eu me meta, sabe? — balançou a cabeça e Bud atraiu a atenção dos dois dando um impulso e colocando as patas no colo de , que acariciou a sua cabeça. Ele respirava freneticamente com a língua para fora. — E se não me meter signifique manter ele longe daqui, então eu posso viver com isso.
— Mesmo com aquele episódio na cozinha? Ela podia ter se machucado.
— Ele provavelmente deve ter dito alguma coisa que ela não tava esperando e ela se distraiu com as vidraças. Minha mãe é muito emocionada quando se trata do Ethan. — respondeu , abaixando o tronco para colocar a guia novamente em Bud, e se levantou. fez o mesmo, entendendo que era a hora de voltar. — Mas vamos mudar de assunto, por favor. Já tive uma dose demais de “Ethan” pra um ano inteiro.
— Claro. — concordou, caminhando ao lado de para que pudessem voltar para casa. Ela olhou para Bud, que os acompanhava, ele parecia feliz e calmo. — Em alguns quesitos o Bud é muito educado, como você conseguiu?
— Ou eu educava ele ou ele ia embora. Palavras da Cindy. — respondeu ele sorrindo para o cachorro. tirou dois biscoitos do bolso e os jogou para o animal, que os pegou no ar. Parou para mastigá-los, mas logo voltou a andar.
— Tá, e o que a gente vai fazer agora? — perguntou assim que se aproximaram mais de ambas as casas, já estava quase escurecendo. O tempo realmente voava quando ela estava com .
— Não íamos na loja de música? — deu um sorriso, grata por ter lembrado. Ela estava animada para comprar o seu violão e ajudar com fosse lá o que tivesse pra comprar lá. Contudo, na sua mente, ela queria mais, logo tratou de imaginar aquele dia como o encontro perfeito, que só poderia terminar em comida.
— A gente podia ir comer depois. — sugeriu e acatou a ideia, concordando. — Sushi. — ele fez uma careta e riu, franzindo o cenho. — O que foi? Você não gosta?
— Ah, sei não. Acho que não sei comer com aqueles pauzinhos.
— Se chamam hashis, — lhe corrigiu, com a paciência de uma professorinha do primário. Ela adorava comida japonesa e tinha certeza que também gostaria caso provasse. Segurou no seu braço e sentiu lhe abraçar pelos ombros com a mãos que não usava para guiar Bud.
— É, isso aí. Não sei pegar as comidas com aqueles troços.
— Você nunca experimentou, não é?
— Não. — admitiu, dando os ombros.
— Você vai adorar, confia em mim.
— Não tenho certeza.
— Você é um músico, . Precisa de novidades, conhecer as culturas. Se não, vai escrever sempre sobre as mesmas coisas. — insistiu.
— Eu não me importaria de escrever sempre sobre as mesmas coisas... — ele disse baixinho olhando para com o canto dos olhos, lembrando-se do seu caderno de composições, mas a garota pareceu não ter ouvido.
— Considere isso como uma experiência, você precisa de novas experiências.
— Se é assim, não podemos simplesmente ir lá pra casa e transar? Estou certo de que daria numa experiência e tanto. — disse com um sorriso sacana e riu logo em seguida, não respondeu a sua provocação, mas deixou um sorriso escapar dos seus lábios. Ela tinha gostado de escutar aquilo e não tinha ficado sem graça.
Eles pararam do lado da rua em que ficava a casa de , se virou para ela antes de atravessar.
— Em meia hora eu vou estar aqui te esperando pra gente ir, fique pronta até lá ou eu vou sem você.
— Ah, , eu nem demoro pra me arrumar.
— Mas você sempre se atrasa.
— Pode deixar que eu não vou perder a chance de fazer você gostar de sushi. — Ela lhe deu um beijo no rosto, o que não contentou nem um pouco e fez ele soltar a guia de Bud para lhe puxar para um beijo na boca.
Bud atravessou a rua até a casa da frente e sentou na varanda da casa dos , dando um latido, o que atrapalhou o momento íntimo dos dois que não queriam se largar. riu, se afastando de .
— Até daqui a pouco. — deu-lhe um último selinho antes de ir para casar para poder se arrumar.
Em 30 minutos ficou pronto, se dirigiu até o carro estacionado em frente à garagem e entrou no banco do motorista. Ele ligou o carro e acendeu os faróis e enquanto colocava o cinto. Um minuto atrasada, entrou, ficando no banco do passageiro. A garota pestanejou por ele ter pensado mesmo em sair sem ela. apenas riu e iniciou a partida enquanto ela lhe dava as coordenadas para chegar até a loja.
Uma das coisas que mais gostava em JJ talvez fosse a sua independência, lhe dava autorresponsabilidade de decidir quando ele abriria a loja de música. Só aquilo poderia explicar estar aberto numa noite de domingo.
estava olhando alguns discos de colecionador dos anos 80 quando o chamou, ela estava indecisa escolhendo os violões. gostava de cores, por essa razão não titubeou em ir em direção à sessão dos coloridos. Segurava um azul bebê numa mão e um lilás na outra e os levantou na direção de para que ele pudesse vê-los melhor.
— Gostei desses, mas você que entende qual o melhor para iniciantes.
Ele sorriu, se sentindo importante por ela querer a opinião dele, analisou os instrumentos por algum instante e depois voltou a olhá-la.
— São bonitos, , mas acho melhor você pegar um que tenha cordas de nylon, esses não tem. — o sorriso de murchou, ela tinha gostado muito deles. Colocou-os de volta no lugar, pronta para escolher outro. — Na verdade, nenhum desses aí são.
— Af, sério? — ele balançou a cabeça. — Quais então?
a abraçou pelos ombros, lhe girando na direção que ele queria, e apontou para os violões corretos. — Aqueles.
olhou e infelizmente os de lá não eram coloridos, eles tinham tons pastéis. observou enquanto ela caminhava até lá sem a mesma animação de antes e aproveitou o tempo que teria enquanto estivesse ocupada.
Foi até o balcão onde as pessoas pagavam pelos produtos adquiridos, na parte de baixo havia uma vitrine com organizadores repletos de palhetas de todas as cores, modelos e tamanhos. Ele nem conseguia chutar quantas deveriam ter ali. acenou com a cabeça para o sujeito atrás do balcão, deduzindo ser o dito cujo JJ.
Ele era um sujeito de pele morena que tinha os cabelos platinados. Usava roupas largas e um boné preto do Sum 41.
— Você é o JJ?
— Eu mesmo. — ele respondeu simpático. — Vi que você está acompanhando a pequena .
— É, a me disse que você personaliza palhetas?
Ele assentiu sorrindo e começou a imaginar o quão foda deveria ser trabalhar em uma loja de música, ser o dono dela então, deveria ser perfeito.
— Sim, o que você tem em mente?
olhou para uma última vez antes de começar a explicar para o outro o que queria que ele fizesse.
Do outro lado, estava em um impasse. Os violões daquela sessão não eram feios, só não eram coloridos como ela queria. Achou um, cor de madeira maxeta, igual ao que tinha, ponderou pegá-lo, mas outra coisa lhe chamou atenção antes. Ao lado havia uma sessão especial dos Rolling Stones com instrumentos personalizados, e entre eles havia dois modelos de violão: um preto e um vermelho jam. Seus olhos brilharam quase tanto quanto os objetos que emitiam som, parecia que tinham acabado de sair de um banho em verniz.
Ela se certificou em verificar se eles estavam na sessão dos violões de nylon, seria péssimo escutar dos lábios de que não eram, e não hesitou em pegar um deles. O vermelho. Eles, consequentemente, eram um pouco mais caros do que todos os outros, mas foi como amor à primeira vista e tinha que levá-lo. Por um momento ela achou que sentiu a mesma coisa que tinha em relação à guitarra dele.
Foi ao encontro dele, que recebia uma sacolinha de JJ e imaginou que fossem as palhetas. Ele já havia pagado e parecia satisfeito.
— ! ! ! — exclamou, mostrando o instrumento que tinha nas mãos.
— Uau, é muito bonito, . — disse ele, surpreso com a escolha dela, e sorriu balançando a cabeça, orgulhosa. — Oh, peguei essa pra você. — lembrou-se ele, enfiando a mão na sacola e tomando cuidado para tirar a palheta certa dali de dentro. Entregou para ela o pedaço de plástico na cor preto fosco com uma nota musical ilustrada.
— Obrigada. — agradeceu com um beijo na bochecha dele e se dirigiu para o balcão. — Hey, JJ.
— Pequena , faz tempo que você não vem aqui, hein.
— O meu pai que não faz questão de me trazer quando ele vem! — deu de ombros.
— E o que vai ser hoje? — ela colocou o violão escolhido em cima do balcão e o homem sorriu, o analisando. — Alguém aqui tem bom gosto.
— É, eu sei. — ainda olhava para o instrumento, embasbacada. JJ, aproveitando o momento de distração dela, olhou para , lhe lançando uma piscadinha e sorriu.
Depois de pagarem, fez questão de ela mesma carregar o seu mais novo instrumento e puxar pela mão, para fora da loja.
— Anda, , eu ainda tenho um desafio japonês pra cumprir hoje!
Na quarta-feira se despediu de e , com quem tinha tido aula de sociologia, a última do período, e caminhou em direção ao estacionamento, esperando encontrar e pelo caminho. Não viu nenhum dos dois, logo decidiu esperar encostada no carro de deduzindo que eles não fossem demorar.
Pegou o celular, pensando em lhes mandar uma mensagem quando apareceu bem na sua frente. Ele segurou as laterais do seu rosto para lhe dar um beijo sem que pudesse fazer nada, ela apenas correspondeu.
— Já ia te mandar uma mensagem.
— Ficou esperando muito? — ela balançou a cabeça negando e, antes que pudesse questionar a respeito de , lhe abraçou pela cintura, lhe beijando novamente. Naquele momento pensou que poderia demorar mais o quanto ele quisesse. — Vai lá em casa hoje.
— Você não tem treino dia de quarta?
— Cancelado para amanhã. — o olhou como se esperasse uma explicação e ele continuou. — Vamos ter um jogo na sexta, tipo um amistoso antes da final do campeonato, e o treinador quis passar o treino de hoje pra quinta.
— Ahh.
— E então...? — insistiu, esperando uma resposta para a sua pergunta.
— Hoje não vai dar.
— Por quê?
— Porque vamos ter prova dia 9 e eu preciso estudar! — exclamou , havia percebido que passava tempo demais com nas tardes livres em que não tinha ensaio. Não que fosse uma coisa ruim, ela adorava o tempo que ficavam juntos, mas ainda não estava disposta a abrir mãos das suas boas notas por uma tarde de beijos.
— Podemos estudar juntos. — sugeriu, beijando o seu pescoço.
— Nós já tentamos isso. — respondeu rindo, lembrando do episódio na casa de . — E não deu certo, além do mais, a minha tia já está para ir embora e eu queria ficar um pouco com ela.
— Hm, ok.
— , eu tô falando sério. — disse e se afastou dela tentando conter a risada. — Não é pra você aparecer lá em casa!
— Tá, tudo bem, eu entendi. — ele levantou os braços e duvidou que ele, de fato, tivesse entendido.
— Cadê o pra gente ir embora?
— Não sei, acho que ele deve estar com a Susie. — respondeu ele, colocando na cabeça o boné do time. franziu o cenho estranhando a informação.
— Susie? Que Susie? A professora Gamaliel? — questionou e riu, olhando para os lados.
— É, , ela mesmo.
— Em que sentido eles estão juntos? — indagou e riu novamente se aproximando dela.
— No mesmo que a gente. — respondeu, lhe dando um selinho, e abriu a boca, em choque, precisando de um tempo para processar aquela informação. Finalmente os sumiços do irmão pareceram ter justificativa.
— Puta que pariu, , que história é essa de você estar ficando com a nossa professora de matemática? — disparou na direção do irmão, que se aproximava. Ele estreitou os olhos, levando a mão na boca da irmã.
— Cala a boca, , você quer que todo mundo escute?
— Então agora tá explicado as suas notas terem melhorada misteriosamente. — debochou e olhou feio para , que se movia em direção ao banco do motorista após destrancar o carro e desativar o alarme.
— Valeu aí, .
— Desculpa, dude, mas ela perguntou, eu tive que dizer. — deu de ombros, rindo e entrando no carro. fez a mesma coisa, ficando no banco do passageiro, e no de trás.
— Vai ficar me olhando com essa cara agora? — perguntou .
— Você não acha isso antiético? — perguntou , se virando para o banco de trás.
— Você não vai me dar lição de moral agora. — falou o irmão, encostando a cabeça no encosto do banco e encarando o teto estofado enquanto o carro se movia.
— Fala sério, ela tem quantos anos?
— Ela nem é tão velha, tem 26.
— E você 17!
— 18 nesse sábado. — sorriu, fazendo questão de lembrar o próprio aniversário. rolou os olhos e se endireitou no banco após cutucar a sua barriga.
Ele dirigiu o caminho todo se divertindo com a discussão dos irmãos.
O notebook estava do seu lado enquanto se mantinha deitada ali de barriga para baixo, os cotovelos apoiados na cama com um livro entre si. Desabotoou dois botões da camiseta e tinha as pernas cruzadas para cima. Sabia que aquela era uma péssima posição para estudar, ela deveria estar sentada à mesa, mas não se importou muito. Ela iria lidar com a dor nas costas depois.
Estava tão concentrada lendo o livro de sociologia que só percebeu que alguém tinha entrado no seu quarto quando o mesmo já estava lá dentro e já havia fechado a porta.
— O que você tá fazendo aqui, ? — perguntou soturna e o encarou seriamente, mas o moreno não respondeu. Ele se aproximou, subindo na cama, ficando em cima dela e lhe dando três beijos no pescoço. virou a cabeça para olhá-lo. — Saia.
Ele bufou, mas obedeceu, ficando deitado de lado, com um dos cotovelos apoiados no colchão, e a mão na cabeça.
— Você não trocou o uniforme ainda? — ele perguntou e olhou para o próprio vestuário. A blusa branca amassada e a saia jeans que tinha escolhido para usar naquele dia.
— Esqueci. Eu ia tomar banho e me trocar, mas a minha tia me chamou pra comer com ela e eu me distrai. E você não respondeu a minha pergunta.
— Ué, eu vim te ver, mesmo contra a sua vontade. — ergueu a sobrancelhas na direção dele e riu.
— Tudo bem, então me dê motivos pra eu não te expulsar agora mesmo.
— Vou estudar com você. — ele disse, abrindo o caderno de numa página qualquer que sequer correspondia à matéria a qual ela estava lendo. Ela o olhou incrédula, balançando a cabeça para os lados.
Se aproximou de para trazer para perto o notebook que ele havia afastado e o garoto entendeu aquilo como um convite para beijá-la. lhe repreendeu com o olhar quando ele lhe deu um selinho. Ela ignorou, voltando a posição inicial. Despausou a vídeo aula e voltou a ler.
— Você não vai me ensinar?
— Eu preciso ler primeiro, . — abriu outro livro de frente para ele. — Lê essa parte.
fitou as páginas do livro, que falavam alguma coisa de sociedade e política, sem ter a mínima vontade de começar a ler aqui. Olhou para novamente, que lia concentrada. Deu um sorrisinho de lado, tirando da vídeo-aula que ela havia selecionado e abrindo outra aba de pesquisa do YouTube. levantou os olhos para a tela e o som de Closer do Kings Of Leon ecoou pelo quarto. Ela o olhou feio, pausando a música. Mesmo adorando uma das bandas das quais era fanático.
— ! — exclamou, o repreendendo, e riu. tirou o notebook de perto dele e voltou na aba da aula. — Eu vou te por pra fora.
— Não vai nada. — falou despreocupado, girando uma das almofadas de passarinho que tinha na cama.
Ele se inclinou na direção dela para tentar alcançar o notebook e colocar na música novamente. o afastou com o braço. Ele riu, segurando o braço dela e afastando o livro que ela tinha ali. fez com que se virasse ficando por cima dela.
— Eu vou te bater. — ameaçou depois de um beijo que haviam trocado.
— E eu vou te beijar. — encostou ambos os lábios novamente, demorou alguns segundos até que correspondesse e agarrasse os seus cabelos.
usou uma mão para despausar a música. prestou atenção no teor sexual sonoro daquela música e percebeu que era tudo proposital, mas era bom demais ouvi-la enquanto lhe beijava. Ele enfiou a língua na boca dela e enrolou a dela na dele. repetia um ciclo de beijos molhados e intensos e algumas mordidas no seu lábio de baixo. Ela teve que apertar uma perna na outra para tentar disfarçar onde toda aquela provocação estava chegando. Só que tinha percebido aquilo.
Sua mão desceu pelo corpo dela indo até a suas coxas, foram para a parte interna, implorou mentalmente para que subissem mais um pouco ao passo que Caleb Followill cantava. Mas apenas as separou o suficiente para que conseguisse ficar entre elas. O movimento fez com que a sua saia subisse um pouco. Se não tivesse com os lábios colados aos de ela teria bufado. Descontou a frustração agarrando mais fortemente seus cabelos deixando as unhas rasparem na sua nuca.
sorriu logo depois que o mordeu. Ele arriscou e desceu a mão até uma de suas pernas, fazendo certa pressão ali. O polegar acariciava a sua pele e o beijava com vontade, querendo que ele entendesse que ela queria que ele a tocasse. Ele apertou a parte interna da sua coxa e foi subindo com os dedos até o seu polegar atingir a sua intimidade.
Naquele momento algo na cabeça de desligou, como se tivesse um interruptor e ela esqueceu de todo o resto. Envolvida com a emoção, vivenciando uma sensação crescente deliciosa criada por que lhe conduzia a uma espécie de transe. E ela estava adorando.
Ele se deitou ao seu lado, deixando que aproveitasse os últimos momentos daquela sensação inebriante. A garota respirava forte e olhou para no exato momento em que o garoto chupou os dedos que estavam dentro dela e deu um sorriso. Ela segurou o seu rosto e o beijou em seguida.
— .
— Oi, .
— Obrigada por ter vindo. — sorriu, deixando claro que não era só por aquilo que ela se sentia grata.
— De nada, cupcake.
¹: Bairro residencial da cidade.
Chapter Twelve — Drunk
Na manhã daquela quinta-feira tinha acordado mais cedo para se arrumar com mais calma, o que não adiantou em nada, já que, para o horário de e , ela sabia que estava em cima da hora. Mais uma vez. Menos de cinco minutos era o tempo que estipulou para pegar tudo que precisava e descer, tudo para não ouvir xingamentos.
Certificou-se de que havia pegado tudo quando fechou a porta do próprio quarto. Só faltava uma coisinha que ela encontraria no quarto de . Ela tinha ensaio até mais tarde naquele dia e achou sensato levar um casaco, nas tardes sempre batia um vento mais frio. Foi em direção ao armário do irmão, tirando de lá um moletom branco e o enfiando na mochila.
A janela do quarto de dava vista para o outro lado da rua, e uma movimentação estranha chamou a atenção de quando ela olhou para lá. Se aproximou da janela para ver melhor. Ela reconheceu a garota que estava parada na frente da casa de como sendo a vizinha nova da casa do lado. lembrava vagamente do seu rosto de quando estava no carro de e a viu com o irmão. havia lhe contado que o garoto com o qual haviam jogado Beer Pong na festa era o seu mais novo vizinho, Liam, e ela se recordou de onde o conhecia.
Estreitou os olhos naquela direção, pois a garota acenava para alguém na porta dos , mas não conseguiu identificar quem era, pois a porta já estava sendo fechada. pulou de susto quando apertou a sua barriga.
— Você vai descer ou...? — Perguntou e sorriu quando se virou para olhar para ele, meio surpresa.
— Eu já tava indo. — Respondeu, fechando o zíper da mochila que tinha deixado aberto.
— Claro que tava. — Ironizou ele e o olhou com cara feia por não acreditar nela. — Eu e estamos esperando lá embaixo já faz mais de 10 minutos.
— É sério, eu até acordei mais cedo pra me arrumar.
— Eu disse que você demora pra se arrumar. — revirou os olhos, sentindo lhe abraçar, os guiando para fora do quarto e esquecendo-se da cena que tinha visto.
Na aula de Inglês daquele mesmo dia, chamou a atenção de , , e , que estavam sentados próximos formando um grupo. O professor Friedmann havia solicitado que eles formassem grupos para responder algumas questões e entregar no final da aula. A sala se dispersava em conversas paralelas, pouco interessadas em realizar a atividade com rapidez, e na panelinha dos cinco não era diferente.
— Cacete, será que dá pra alguém prestar atenção em mim aqui! — Murmurou , depois da quarta vez tentando chamar a atenção dos amigos. Eles olharam para ela e se inclinou na sua direção, já que estava sentado ao seu lado. Ele bateu a mão no livro, fazendo o barulho necessário para que os amigos olhassem para ele.
— Escutem aqui, caralho, a ladylace aqui quer falar!
gritou e eles riram do apelido. revirou os olhos. sorriu para ele em agradecimento, já imaginando o que iria querer em troca pelo favor. Ele estava levando aquela história de amizade colorida a sério, sério até demais.
ficou se perguntando qual teria sido a origem daquele apelido. Ela tinha uma curiosidade e ansiedade imensas quando se tratava da relação de e . Percebeu que eles não iam mesmo evoluir para algo mais sério e o jeito que lidavam com aquilo era diferente. Ela gostava de comentar com , já que falar com estava fora de cogitação. Eles tinham feito uma aposta e aparentemente havia se esquecido completamente dela, e que não queria fazê-lo lembrar.
— O que foi? — Perguntou , curioso.
— Não sei se vocês lembram, mas o faz aniversário no sábado e no domingo.
— Como esquecer? Ele não para de repetir a semana inteira. — Disse e concordou. Sendo as duas pessoas que mais conviviam com , eles sabiam o quanto ele estava ansioso para o décimo oitavo aniversário.
— Eu e estivemos pensando em fazer uma festa surpresa para eles. No sábado, na minha casa. Os meus tios vão sair e liberaram. — continuou, deduzindo que todos concordavam. Ninguém ali recusava uma boa festa.
— Vamos ter que dar um jeito, porque o com certeza vai querer fazer alguma coisa no aniversário dele, ainda mais porque cai justo no sábado. — Disse . conhecendo o irmão que tinha. Se ele ficava animado com o aniversário dos outros, com o próprio então.
— Por isso vocês precisam dar um jeito de eles não descobrirem, enquanto eu e organizamos. — Rebateu , olhando para o casal sentado lado a lado. — O vai nos chamar para fazer alguma coisa e vocês têm que negar, alegar ter algum compromisso eu sei lá. Menos a e o , que vão sugerir fazer outra coisa e levar ele pra festa. — Depois, se direcionou para e . — E vocês dois cuidam da .
e assentiram em pleno acordo e criou um grupo com os seis para que pudessem conversar sobre o assunto.
Quando o sinal tocou, se despediu de no corredor e seguiu para a sua próxima aula.
Lilith a parou na metade do caminho e ela parecia apressada.
— ! — Exclamou a mulher. parou de imediato com próximo observando a cena. — Queria avisar que o ensaio de hoje está cancelado, vou ter que resolver uma emergência à tarde. Poderia, por favor, passar a informação aos outros alunos? Essa escola possui tantos, não consigo encontrar todos.
— Claro, pode deixar que eu aviso. — Ela afirmou e a professora só faltou abraçá-la em gratidão.
— Obrigada, querida. — Deu um último sorriso antes de se retirar. bufou, os planos dela para aquela tarde eram ficar na escola até o ensaio acabar.
— Droga. — Murmurou para si mesma.
— O que foi? — Perguntou , percebendo o seu descontentamento. Ele estava parado ali, perto da porta da sala, pensando em acender um cigarro e se certificando que a inspetora Hide não estava por perto quando parou para prestar atenção em e na professora.
— Eu ia ficar ensaiando hoje até mais tarde. Agora que não vou ter mais ensaio vou ter que ir pra casa, e, como o e o vão ter treino, eu não tenho com quem ir pra casa!
— Você quer que eu te leve? — Perguntou e arqueou as sobrancelhas para ele.
— Você não tem treino também?
— Tenho... — Ele respondeu baixo, como se não quisesse dizer aquilo. — Mas esqueci o meu uniforme em casa, vou ter que ir em casa buscar, eu posso te deixar na sua.
— Sério? — Perguntou animada e ele assentiu. sorriu. — Bem, obrigada então.
— . — Chamou e olhou na sua direção, já que ele não encarava mais os armários, desconcertado. — Eu tenho um apelido pra você também.
Ela revirou os olhos para o seu sorriso soturno. — Lá vem.
— Grande Estrela. — Fez um movimento com as mãos e riu do gesto engraçado. Ele abria as no ar como se fosse surgir um letreiro enorme com luzes brilhantes com o nome sugerido.
— Ah, fala sério.
— Mas eu to falando. – Insistiu enquanto eles andavam juntos no corredor. — Você gosta de cantar e toda essa coisa, então eu acredito que você vá ser, um dia, uma grande estrela. Logo, não estou mentindo, só me adiantando.
piscou na sua direção e ela não pode evitar sorrir com aquilo, ao mesmo tempo que as suas bochechas enrubesceram um pouco. Lhe lançou um olhar afetuoso.
— Bem, obrigada pelo apoio, .
— Disponha, .
parou um segundo, lembrando do dia em que tocou violão no pátio e sugeriu a que ele voltasse a fazer os remixes dele. Ela sabia que tinha uma paixão por ser DJ, mas que por algum motivo ele havia desistido. Será que ele não tinha apoio nenhum? Ficou pensando a quão desmotivada ela seria se não tivesse apoio nenhum para seguir o sonho dela.
— . — Ela chamou antes de entrar na sala.
— Hm?
— Queria que você soubesse que também tem o meu apoio e que você devia continuar.
Ela disse sem especificar, tendo a certeza que ele tinha entendido. Lhe deu as costas, entrando na sala.
parou pra pensar alguns segundos. Com certeza ele tinha entendido.
Naquela tarde, após lhe deixar em casa, decidiu que aquele momento seria dela. Ficou duas horas batendo papo com Debby enquanto pintavam as unhas uma da outra. A mulher iria embora na manhã do dia seguinte e sentia como se não tivesse aproveitado o suficiente, mas levou a sério o pedido da tia de ela e lhe visitarem em Londres nas férias de verão, que por sinal estavam bem próximas. Lembrou-se dos livros em cima da mesa e que sequer tinha triscado neles, e aproveitou aquele momento de serenidade para estudar enquanto os cabelos secavam naturalmente.
Separou os livros e cadernos de cada matéria, calculando bem o tempo que queria gastar com cada uma delas. Não conseguiu focar por muito tempo, era muita coisa para estudar em apenas uma tarde. Fez um cronograma para que conseguisse se organizar melhor em relação àquilo durante a semana até a data de início das provas, esperando que, assim, conseguisse notas boas. Baixou o PDF de Robinson Crusoe, o livro que cairia na sua prova de literatura, e o transferiu para o celular, deduzindo que seria mais ágil quando conseguisse parar para lê-lo.
Deu uma geral no quarto e arrumou algumas roupas no armário, não fazendo questão de separar as de para devolver a ele. havia separado um cantinho específico do próprio quarto para deixar os seus instrumentos, que até então eram apenas o microfone de pé e o violão rubi – levando em conta que um piano não caberia nos espaços vazios do quarto dela. Ficavam próximos à porta que levava à varanda, ela tinha tido a ideia de colocar ali um pequeno sofá branco para entrar em harmonia com a cor encarnada. Posicionou o violão no colo com muita mais praticidade para deixá-lo na posição correta, ela já tinha o pegado algumas vezes desde que o comprou com no domingo, mas era a primeira vez que arriscava tocar uma música sem olhar na partitura. Errou algumas vezes, mas não desistiu até que saísse algum som agradável.
Um júbilo cresceu dentro de si quando ela reafirmou o que já sabia, fazer aquilo. A música corria pelas suas veias, era a sua maior paixão e era nela que a garota gostaria de se apoiar pelo resto da sua vida. Contudo, não era tocando sozinha dentro de um quarto que ela alcançaria o seu sonho. Lhe incomodava às vezes sentir que não estivesse fazendo nada para tornar aquilo realidade. Nenhuma gravadora renomada saía por aí perguntando para as pessoas se elas queriam ser cantoras. Ela tinha que ser vista e ouvida, e achou na internet uma opção.
Sentou de frente para a mesa e posicionou o celular de modo que gravasse da cintura para cima. Tentou várias vezes cantar Fade Into You enquanto tocava a cifra, mas errava em algumas partes e tinha que recomeçar a gravação. Até que em uma delas conseguiu ir até o final do 2 verso sem errar nada e ficou feliz consigo mesma, mas o desânimo estampou a sua face quando viu o vídeo inteiro e detestou. Talvez fosse um surto de baixa autoestima, mas nada naquele vídeo lhe agradou. Deixou o celular ali e deitou na cama, derrotada, encarando o teto e falando consigo mesma.
— Eu não consigo fazer isso.
O som de novas mensagens lhe roubou dos seus pensamentos que torneavam a palavra “fracasso”. Ela pegou o aparelho, lendo as mensagens por cima sobre a festa surpresa de e . Algumas delas se dirigiam diretamente para ela.
[17:43] : , você pode comprar o presente da ?
[17:43] : Eu ia fazer isso, mas é muito difícil organizar uma festa em tão pouco tempo
[17:44] : Claro, acho que consigo amanhã, aproveito e vou atrás de algo pro também
[17:44] : Eu vou tentar, quem sabe consigo ir com você
Às 18h, Bill bateu na porta do quarto de . A garota apenas murmurou, concordando com a entrada do mais velho. A porta rangeu quando foi aberta.
— .
— Oi, pai. — Respondeu, sentando-se na cama.
— Poderia avisar ao pra voltar às 19h? Vamos jantar todos juntos hoje.
— Claro, mas ele ainda tá no treino?
— Na verdade, acho que ele já chegou, está na frente da casa do , com ele. — abriu a boca, concordando com a cabeça. Bill se virou para sair do quarto, mas parou no batente, virando para ela novamente. — Ah, e pode chamar o também.
Ele fechou a porta e levantou da cama para calçar os chinelos. Ficou de frente para o espelho para abaixar alguns fios rebeldes com a mão antes de tomar o mesmo caminho.
— Mais três pontos, ! — Vangloriou-se , quicando a bola laranja no chão. Os dois estavam em frente à garagem dos jogando basquete. — Me dando uma vitória de 17 a 5.
— Injusto, eu estou mais cansado que você. — respondeu, indo na sua direção para tentar recuperar a bola.
— Você conseguiu resolver o que queria? — Perguntou , olhando para ele enquanto sua mão se mexia. por outro lado só conseguia encarar a bola.
— Consegui. — Respondeu sem querer prolongar aquilo. Naquela tarde, tinha feito muito mais do que ter ido ao treino de basquete.
— Dude, você pode falar comigo, sabe?
— Eu sei. — aproveitou o rápido momento de distração do amigo para lhe roubar a bola e marcar uma cesta de um ponto.
, vendo que não pretendia dizer mais nada, focou no jogo. Ele focou na irmã parada na varanda da casa deles, observando enquanto os dois jogavam. aproveitou para marcar uma cesta de três pontos, fazendo com que aquela derrota não fosse tão amarga.
— ? — Ele perguntou, pegando a bola quando ela caiu da cesta.
— , é pra você voltar às sete, pra gente jantar juntos. — Ele assentiu, confirmando, e olhou para , que estava ao lado dele.
— E eu? — Perguntou , acostumado a participar dos eventos da família , muitos deles contra a vontade de .
— Eu já ia te chamar, . — Ela disse, revirando os olhos. — Às 19h, e tomem um banho antes, pelo amor de Deus. — reforçou, se virando para entrar em casa ao som das risadas de e .
bateu a porta do seu armário quando o sinal, que indicava o final do dia letivo naquela sexta-feira, tocou. Ela andou em passos nada lentos pelos corredores da Cuddle na direção contrária de muitos alunos até chegar nos vestiários. Se colocou para dentro do masculino e fechou a porta devagar. Ela havia seguido até ali e gostou de saber que estava vazio. Ele estava de costas vasculhando no próprio armário, certamente procurando alguma coisa.
— ! — Ela exclamou, o abraçando de costas. se virou, surpreso, era a última pessoa que ele esperava encontrar ali. Ele não conseguiu dizer uma sequer palavra antes que ela juntasse ambos os lábios.
— , o que você tá fazendo aqui?
— Eu só vim te desejar boa sorte. — Respondeu ela, sorrindo, e franziu o cenho.
— Sorte?
— É, pro amistoso, não é hoje? — praguejou a si mesmo mentalmente, sorrindo de lado e concordando com a cabeça.
— Ah, é só um amistoso, .
— É, mas mesmo assim. Com qual escola vocês vão jogar mesmo?
— A Hyperion High.
— Aquela que a mascote é um golfinho?
— Essa mesmo.
— Putz, eu queria ver vocês.... — riu, lhe abraçando pela cintura.
— O próximo jogo vai ser aqui e aí você vai poder assistir.
— Inclusive, cadê o resto do time?
Ele seguiu o olhar dela vendo o vestiário vazio e posicionou as mãos no maxilar de , fazendo com que ela voltasse a olhá-lo.
— Eles já devem estar vindo, eu saí um pouco mais cedo da sala.
— Hm, até que não foi má ideia... – Ela disse, abrindo um sorriso sapeca e distribuindo beijos no pescoço do guitarrista.
— ... alguém pode chegar.
pigarreou e com um pouco de esforço se afastou dele.
— Escuta... vou com a amanhã comprar os presentes pro e pra , depois eu te espero lá em casa pra gente conversar?
encarava o chão e os seus cadarços sujos quando usou o dedo indicador para fazê-la olhar para ele. Ele a encarou por poucos segundos e lhe deu um beijo na testa.
— Como você quiser, cupcake.
— Boa sorte! — Ela lhe abraçou após sorrir e sair do vestiário masculino.
encostou as costas no armário gélido e suspirou.
A luz da televisão era a única coisa que iluminava o quarto de naquela noite. estava sentando no tapete enquanto estava deitado de barriga para baixo, ambos seguravam um controle do videogame. Passava pouco mais da meia noite e eles estavam ali fazia algum tempo.
olhava para a TV concentrado, e largou o controle em cima do colo quando viu que tinha vencido aquela partida.
— Dude, você não acha que a tá demorando demais não?
— Por quê? Você tá esperando ela, é? — perguntou depois de se levantar e foi em direção ao banheiro, não preocupado com a resposta. largou o controle para checar o celular. não havia ainda respondido a sua última mensagem e no topo haviam três da sua mãe. Em uma delas lhe perguntava se voltaria para casa ou dormiria na casa de , pois precisava trancar a porta antes de dormir. Lhe mandou outra mensagem negando antes de se levantar.
— , estou indo.
— Tá, vai lá, depois eu desço e tranco tudo.
foi em direção à saída, passando pela porta do banheiro do quarto de , ouvindo os barulhos que vinham de lá. No corredor passou em frente à porta do quarto de , checando que estava mesmo vazio. Ele sabia que ela estava com e , então nada sério devia ter acontecido. A casa já estava toda escura e ele teve que ligar a lanterna do celular para evitar cair na escada. Quando chegou no térreo e teve a menção de abrir a porta quando apertou a maçaneta, a mesma se projetou para dentro.
havia aberto pelo lado de fora e quase tropeçou em cima de quando entrou. Soltou uma risada estridente seguida de um “Ops!”.
— Isso são horas, moça? — Ela se virou para ele, visualizando o seu rosto naquela meia luz provinda da lanterna. sorriu, segurando os seus braços para manter o equilíbrio.
— Ah, , nem tá tão tarde assim. E o que você tá fazendo aqui? Tava me esperando, é?
— Claro que não. — cruzou os braços, orgulhoso, e ergueu uma sobrancelha na sua direção.
— Tá bom, acredito.
virou o corpo em direção à escada, mas a mão de não deixou que completasse o movimento, a segurou pelo pulso puxando-a para si.
— Caramba, eu te espero a noite toda e não ganho nem um beijo?
Ela sorriu entusiasmada, como se tivesse dito tudo que ela mais queria ouvir, antes de abraçá-lo, próximos o suficiente para que os lábios se tocassem.
— E como foi o jogo?
— Ótimo. Ganhamos. — respondeu depressa, abrindo os lábios no final da frase, dando um sorriso afobado, mas pareceu não ter percebido. Ela estava ocupada tentando esconder os resquícios do álcool no seu organismo. Até ali estava funcionando. — Você demorou, hein?
— A gente... eu e as meninas acabamos nos distraindo um pouco.
riu, desviando o seu olhar do dele. Estava mais risonha do que o normal lembrando dos momentos na casa de . Ela estava alterada por conta das doses que dividiram e fazia de tudo para que não percebesse. O que de fato não aconteceu, tinha outra preocupação em mente. Se não fosse por isso, os dois perceberiam que estavam agindo tão estranhos um com outro.
Ela segurou o rosto dele com as duas mãos e a abraçou mais firme, com os dois braços em volta da sua cintura. As mãos alternavam de lugar enquanto eles se beijavam aproveitando a presença um do outro, compensando ausência de um dia inteiro. Uma porta sendo aberta bruscamente os separou inesperadamente.
— Ei! Que pouca vergonha é essa aí embaixo? — falou do topo da escada, segurando a risada. riu, se afastando de , e tomou a dianteira.
— O já ta indo, . — Avisou e o irmão revirou os olhos antes de dar a volta seguindo para o próprio quarto.
deu um sorriso sapeca e ergueu as sobrancelhas para ela, sem entender. A garota fez um gesto com o dedo indicador, pedindo que o guitarrista fizesse silêncio.
abriu a porta de entrada, olhou para o lado de fora e disse em alto e bom som: — Tchau, !
Ela segurou o riso e trancou a porta logo depois de fechá-la.
— Mas que porr...
— Shhhh, ! Vem. — Sussurrou. Pegou na mão dele para que os guiasse escada acima e pareceu perceber o que estava fazendo.
— ... — Ele disse baixo quando chegaram ao corredor dos quartos, mas o repreendeu com o olhar e ele decidiu ficar calado. Ela se virou para a porta de , bateu duas vezes e, após ouvir uma resposta afirmativa, ela a abriu, apenas o suficiente para que a sua cabeça conseguisse visualizar o interior.
— O já foi. – olhou para ela rapidamente, confirmando com a cabeça, enquanto do lado de fora, tentava segurar a risada. — E... não conta pro papai que eu cheguei tarde, tá?
— Uhum. — O irmão murmurou, concentrado demais no próprio celular. às vezes adorava o descaso de , aquele era um dos momentos.
Sorriu vitoriosa, e, depois de fechar a porta, puxou até o próprio quarto. De maneira bem rápida, fechou a porta atrás dele enquanto se virava na sua direção. Os pés meio tortos, tentando não tropeçar, o quarto girava um pouco e ela sorriu relaxadamente antes de beijá-lo, com a pressa em sintonia com a sua vontade. Ela só não queria fazer barulho, também era algo com o qual estava preocupado. A presença de Bill e ali era a última coisa que os dois queriam.
— Você é maluca, . — disse quando os lábios da menina se afastaram.
— Se você ficar quietinho, ninguém vai ouvir.
— Como eu faço isso?
— Não sei, me surpreenda, baby.
Ele começou a beijar o seu pescoço enquanto tateava a falange dos dedos por todo o tronco dele com o intuito de despir o seu moletom. Ela quis poder colocar alguma música ali, lembrando da brincadeira que ela e tinham ao fazer playlist, tinha uma perfeita para o momento. Se tinha uma coisa que os conectava era a música.
Fechou os olhos, bagunçando as mãos no tecido da camiseta dele enquanto sentia o toque da boca de em contato assíduo. Ele usava as mãos para abrir o zíper da jaqueta que usava, deixando a clavícula mais exposta, o início dos ombros e o busto. Seus lábios desciam cada vez mais e sentia cada segundo como se fosse único enquanto tentava controlar a respiração.
Ela abominou o momento desastrada que tivera na casa de junto com e as garrafas de bebida quando aquilo parou. tirou as mãos e boca de perto dela. sentiu o cheiro impregnado nas roupas dela disfarçado pelo perfume de baunilha.
— Por que você parou de me beijar? — perguntou quando a fitou.
— Você bebeu? — Ela não respondeu, querendo rir para disfarçar o nervosismo quando afrouxou o toque na sua cintura. Não que fosse o fim do mundo estar meio bêbada, ela só não queria que ele soubesse.
Riu por dentro, já devendo saber que não dava para enganar alguém que bebia muito mais do que ela. Ela nem era chegada a beber, mas no andar daquele ano foi sendo levado junto a e suas bebedeiras.
— Só um pouquinho assim. — fez um gesto com o indicador e o polegar e se sentiu um inútil por não ter percebido antes. — A queria abrir uma garrafa que de uma hora pra outra virou três e talvez a gente tenha passado um pouquinho da conta, mas só um pouquinho.
— Quem te trouxe?
— A mãe da me deixou aqui.
— .
resmungou, jogando todo o seu peso para frente, com os braços ao redor de . Na cabeça dela, não entendia porque ele estava fazendo tantas perguntas ao invés de aproveitar o momento. Ele a segurou antes que escorregasse e caísse no chão.
— Argh.... A minha cabeça tá girando tanto.
— Parece que não foi só um pouquinho, então. — Ele riu pelo nariz quando ela gemeu de dor.
— Me desculpa por isso, a gente ficou de conversar e.... eu preciso te explicar algumas coisas.
— Ei, não vamos fazer nada com você assim. Acho que você precisa deitar, depois a gente conversa. — assentiu e o guitarrista a guiou até a porta do armário dela. — Vai trocar de roupa ou vai dormir assim?
não respondeu, apenas começou a tirar os tênis e indicou com a cabeça que trocaria de roupa. assentiu e foi até a janela, ficando de costas para lhe dar espaço. A cortina estava aberta e a luz de fora era a única que entrava. Ele tentava, mas era impossível não olhar pelo canto do olho na direção de enquanto se trocava.
Ela apertou os olhos para as próprias roupas tentando achar algo confortável. insistia em tirar as blusas de manga do modo mais difícil sem ignorar as risadinhas que soltava. Ela sabia que ele a observava e gostava disso.
— Eu sei que você tá olhando, .
Ele riu de novo, olhando para a janela antes que fosse pego no flagra, e instantes depois sentiu se aproximar, vestindo um moletom que ele duvidava que fosse dela.
— Você pode ficar aqui comigo?
— Pra você, qualquer coisa.
A ressaca era a pior coisa que sentia naquela manhã de sábado.
estava desperta e, ao mesmo tempo que ficar de pé era horrível, deitar também era. Parecia que a sua cabeça ia se afundar no colchão. Ela abriu os olhos e levantou o suficiente para perceber que estava sozinha, não estava mais ali, mesmo jurando que ele tinha ficado para dormir com ela.
Checou a hora no celular, notando que haviam duas mensagens dele recebidas às 5 da manhã. Deduziu que deveria ser a hora que ele tinha ido.
[05:23] : “Sai pela varanda, acho que ninguém me viu.
[05:23] : “Me liga quando acordar, por favor.”
soltou o celular na cama e foi até o banheiro, não conseguia pensar com a cabeça latejando de dor e a bexiga cheia.
Após se aliviar, encheu um copo com água da torneira e tomou 2 aspirinas que encontrou na cômoda do quarto.
pensava até nisso.
Voltou para o quarto e pegou seu celular começando a discar os números para iniciar uma nova chamada.
— Oi, Austin... Sim, é a .
Chapter Thirteen — The Accidental Surprise
O dia 31 de junho daquele ano era o dia que esperava por 17 anos e 12 meses. Ele havia acordado animado naquele sábado e recebido um café da manhã especial feito pelo pai. Apesar de a irmã estar estranha, tudo ali parecia normal.
Depois do almoço foi até a casa de , ele precisava de ideias sobre o que fazer para comemorar o décimo oitavo aniversário e a sua maioridade. Tocou a campainha depressa, felizmente não tardou em atendê-la e ele entrou direto.
— Puta que pariu pra que tocar tantas vezes assim. — Xingou o dono da casa com os latidos de Bud ao fundo.
— Foi mal, , é que HOJE É O DIA! Eu tô super animado. — Respondeu . Ele ponderava se tivesse esquecido o dia dele. Impossível. era o seu melhor amigo, jamais esqueceria.
— Eu sei disso. Feliz aniversário, seu idiota.
riu sentando na ponta do encosto do sofá.
— É? Cadê o meu beijo?
— Vai se fuder. — disse empurrando pelo peito, fazendo o melhor amigo cair de costas no sofá fofo.
— É, a você beija, né. Falso.
— A é mais bonita que você.
disse sentando no outro sofá e rindo.
— Falando nela… O que nós vamos fazer hoje? me disse que você e ela tinham pensado em algo.
encarou o chão e a sua mente viajou, lembrando-se de e de que ela ainda não havia lhe ligado de volta, nem mesmo tinham respondido as mensagens que ele enviou assim que saiu da casa dela na madrugada.
— A ? Mas e a fes… — o olhou confuso quando se interrompeu subitamente. Ele quase deixava escapar sobre a festa surpresa que e estavam planejando a semana inteira para ele e para . Quis dar um tapa na própria cara, nos últimos dias outros problemas vinham preenchendo a sua mente ao invés de pensar em coisas que ajudassem as meninas para que não descobrisse nada. — Hm, é claro, a gente tava mesmo. Inclusive cadê ela? Ela ainda ta dormindo?
— Dormindo? A acordou tem umas duas horas e saiu de casa sem falar com ninguém.
— Que estranho, eu pedi que me ligasse quando acordasse.
— O que aconteceu? — perguntou pegando o console do vídeo game e o controle da TV.
— A sua irmã tomou um belo de um porre ontem, foi isso que aconteceu.
Admitiu, se lembrando da noite anterior, e o olhou desconfiado levantando uma sobrancelha.
— . Que horas você saiu lá de casa ontem?
juntou os lábios numa linha, se recusando a responder e ceder àquela falsa pressão que estava impondo ali. Ele quase riu antes de responder:
— Vou ver por que Bud está latindo tanto. — Disse depressa e se levantou. riu jogando uma almofada na cabeça dele enquanto ele saia da sala.
— Seu cabeça de pica.
iniciou uma partida de FIFA quando ficou sozinho na sala, a campainha da casa tocou um pouco depois. Percebeu que seria dele a tarefa de atender, visto que Bud ainda estava latindo no quintal.
abriu a porta e era que estava ali. Ele nem deveria estar surpreso, afinal aquela era a casa do namorado dela. Ou quase namorado. Ele gostaria muito de saber o que estava acontecendo com a irmã, mas pelo menos naquele momento parecia de bom humor.
— .
O mais velho cruzou os braços e ergueu o queixo fingindo uma expressão brava.
— Mocinha, que história é essa que você tomou um porre ontem?
rolou os olhos, odiava quando ele bancava o irmão mandão super protetor, mesmo sabendo que vivia de brincadeiras e zoações.
— Ah, vai se fuder, não me diga que está com esse humor por causa disso?
— Mas é claro, você não me chamou.
puxou os lábios para baixo tentando deixar o rosto o mais próximo de triste e riu imaginando o convite que faria: “Ei, maninho, vamos beber na casa da enquanto elas organizam sua festa surpresa.” Ao mesmo tempo ela estava aliviada, o seu estado bêbado não deixou escapar nenhuma informação sobre a festa e o irmão não parecia desconfiado.
— Besta.
— Sem falar que você que você saiu hoje de casa e nem me deu parabéns.
olhou para o irmão, aquele era um ponto que poderia ter o chateado de verdade. Para eles aniversários eram importantes, eles comemoravam juntos todos os anos, seja para fazer o que fosse.
— Desculpa, é que eu tava focada numa coisa. — puxou o irmão para um abraço pela cintura. sorriu, a abraçando de volta. — Feliz aniversário, seu trouxa.
— Agora sim o meu dia vai começar.
— Mamãe ficaria orgulhosa da gente, né? — Falou ela entrando na casa e se dirigindo à sala, procurando com os olhos o buraco que estava escondido. — Com todo esse amor e compaixão que a gente tem.
— É, , ela ficaria. — a seguiu e fechou a porta. Voltou para o seu lugar de origem, no sofá para jogar. — Você veio aqui nos dizer o que vamos fazer hoje à noite?
— Quase. Antes preciso falar com o , cadê ele?
— Nos fundos com o cachorro.
Ele respondeu sem tirar os olhos da tela e aproveitou para sair dali. Passou pela cozinha até chegar a porta que levaria ao quintal dos fundos. estava na grama sentado, e Bud estava deitado ao seu lado.
— Hey. — Disse se aproximando. — Tudo bem com vocês?
— Comigo sim, com ele não tenho certeza. — respondeu olhando para ela. Curioso, imaginando que apareceria em alguma hora, mas ele não queria ser chato em começar a perguntar. — Ele tava latindo sem parar quando vi, tinha um espinho na pata dele.
— Coitado. O me disse que você tava aqui fora. — abaixou para se sentar ao lado dele na grama, com Bud ficando entre os dois.
— Fiquei esperando você me ligar.
— É, eu sei. — acariciou a barriga do cachorro, que tinha a boca aberta e a língua de fora, nada melhor que dois seres humanos lhe dando atenção. Ela sabia para que tinha ido até ali, e sabia o que ia falar, mas começar parecia tão difícil.
— Ah, e contei pro que você tomou um porre ontem. — abriu a boca, surpresa, mas logo a fechou, mordendo os dentes e se aproximando de para estapeá-lo no braço.
— Seu linguarudo, . — Ele apenas riu da reação dela.
— O que aconteceu? — Perguntou e achou ótimo, era com as perguntas dele que ela começaria. ficou satisfeito, pois não achou que seguiu um tom de cobrança absurdo.
— Hã, sobre isso que eu vim te falar. Fui na casa do Austin hoje de manhã. — mordeu o lado interno de uma das bochechas, então era isso? Uma pontinha de ciúme beliscou o seu estômago.
— Hm, você foi na casa do seu ex-namorado, interessante, continue.
— Não pelos motivos errados! — Ela respondeu rápido com medo que ele começasse a pensar outras coisas.
— Eu tô ouvindo, , relaxa. — deitou na grama com a cabeça apoiada nas mãos e observou no céu. Tudo que ele mais queria era ouvir sem parecer um desesperado e sorriu ao vê-lo levar na boa.
— , eu tô pra te falar isso tem um tempo já. — Começou a falar pensando que deveria ter ensaiado aquilo para o espelho antes, mas a sua mãe sempre dizia que o melhor é o que vem naturalmente. — Não sei se deu pra perceber ou se você achou estranho, mas eu estava irritantemente incomodada porque todas as vezes que eu tava com você durante esse tempo eu não conseguia ser eu.
ergueu as sobrancelhas para ela.
— Como assim?
suspirou para a gigante história que ela começaria a contar.
— Eu e o Austin namoramos por um bom tempo, isso você sabe, né? — Ele assentiu e ela continuou. — Eu perdi a virgindade com ele e foi tranquilo, mas depois disso uma coisa esquisita aconteceu, não sei direito o que foi, ele continuou o mesmo, eu continuei sendo a mesma, mas a gente não tava dando certo. Era como se não estivéssemos mais na mesma sintonia. Até tentamos por algum tempo, mas eu decidi terminar com ele achando que ia ser melhor, só não me expliquei muito bem, eu só pedi pra ele parar de falar comigo. Ele aceitou parcialmente porque eu não lhe dei uma justificativa justa, por isso não saía do meu pé. Ele só queria que eu explicasse a razão desse término e eu nunca dei isso pro Austin, mesmo sabendo que ele merecia. Então eu liguei para ele perguntando se eu podia ir lá para dizer justamente isso e acabar de vez com essa coisa. — respirou fundo. já não olhava para o céu, olhava para ela, e a expressão no seu rosto era indecifrável. — Era por isso que eu sempre travava quando, sei lá, a gente tava quase transando, tinha uma insegurança enorme porque eu nunca terminei de fato o que eu tinha com o Austin usando as palavras certas, e morria de medo que fosse acontecer a mesma coisa com você. Não queria passar por isso de novo. Só quando você me contou sobre o seu irmão que eu percebi que já tava na hora de eu resolver isso, eu enrolei por tempo demais. Desculpa ter demorado tanto.
ficou em silêncio olhando para ela, e uma ansiedade gritante cresceu dentro de porque queria que ele falasse logo alguma coisa, mas, antes que ela pudesse contestar, ele levantou somente o suficiente para puxá-la. caiu em cima dele. colocou todo o cabelo dela que estava caindo para trás das orelhas e fitou bem o seu rosto antes de beijá-la. não segurou um sorriso no meio.
— Obrigado por me contar.
— Assim? Tranquilo?
— É, você resolveu o problema, não tenho o que contestar. — Falou deixando que os dedos subissem e descessem pela coluna dela, sorria involuntariamente pois era uma sensação gostosa. — Ah, e eu entendi o convite sexual implícito, e aceito.
deu uma piscadela e calou a risada dela com outro beijo.
— Você não tá pensando em fazer isso aqui, né? — perguntou quando percebeu que, se continuassem a ficar daquele jeito, Bud teria muitas roupas no chão com as quais brincar.
— Não, tô brincando. — Ele riu e acariciou o rosto dela com o polegar. — A não ser que você queria…
riu e saiu de cima dele quando Bud latiu para os dois. Levantou e começou a andar em direção a casa.
— Anda, vamos logo, , temos que pensar no que a gente vai dizer pro pra levar ele pra festa.
a seguiu com um sorriso no rosto. Aquela festa seria perfeita, nem imaginava que não era só ou que teriam uma surpresa naquela noite.
Aquela era uma cena que com certeza já tinha visto antes.
A festa surpresa de e já estava rolando há algum tempo e não era nem preciso perguntar para perceber que eles adoraram a surpresa. principalmente, adorava festas e não tinha modo melhor de ficar muito louco para comemorar seus 18 anos.
sentou ao lado de depois de vê-lo ali sozinho.
— Ih, eu já vi essa cena. — Pegou uma das latas de cerveja fechada que estavam em cima do balcão que havia lhe pedido, felizmente ainda estava gelada.
— Que cena? — Ele perguntou. tinha os dois cotovelos na mesa e estava rodeado de latas de cerveja abertas e copos de shots vazios.
— Você se acabando de beber enquanto resmunga que o amor não existe.
— Bebe comigo então, . — Deslizou um copo na direção de , que não o pegou.
— É, só faltava você tentar me convencer a me juntar. — Riu.
— Isso já aconteceu mesmo? Estou bêbado demais para me lembrar.
— Tenho certeza que sim, mas diz, me conta o que aconteceu. — perguntou mesmo achando quase improvável que fosse do nada começar a desabafar com ela. Eles tinham se tornado uma espécie de amigos, mas ele não fazia muito o tipo de quem saía falando dos seus sentimentos por aí. Contudo, foi necessário apenas uma virada de cabeça dele para entender. Ele olhou para onde estava, entretida demais conversando com um colega da escola. Jurava tê-los visto se beijando um pouco mais cedo. — Até hoje não entendi qual é a de vocês dois.
— É simples, , e eu não temos um compromisso, a gente fica às vezes, mas não é nada sério.
— Se não tem compromisso, então não tem problema ela querer ficar com outro cara?
— Exato.
— Só que você não parece muito bem com isso. — olhou para as latas vazia e todos os shots que ele tinha tomado na última hora.
— Porque não estou! — soltou aquilo de uma vez após virar outro shot. Era duro de dizer.
— Meu Deus, , você tá com ciúme. — abriu a boca, chocada com a revelação.
— Merda. — Ele xingou, amassando uma latinha quando começou a rir sem parar. — Para de rir de mim.
— “Sentir ciúmes é uma coisa tão idiota e sem sentido, uma bobeira.” — falou engrossando um pouco a voz e ele revirou os olhos.
— É, jogue as minhas próprias palavras contra mim, paguei com a língua mesmo. Estou me corroendo de ciúmes e descontando nessa cerveja barata. — Resmungou, mas riu. o acompanhou achando tudo tão engraçado.
— , toma uma atitude, você tem 17 anos, vai dizer isso pra ela.
— Você acha que eu já não tentei? Eu propus que fôssemos exclusivos, mas não quer saber de compromisso comigo.
— Se sabia que não ia aguentar essa coisa de relacionamento aberto, por que entrou nessa?
— Porque eu não sabia, , achei que podia ser o cara mau que venera relacionamentos abertos, sem cobranças, com a pegação liberada, mas não posso. Eu queria ficar com ela fosse qual fosse o jeito.
— Uau, nunca achei que você fosse gostar de alguém assim, e ficar bebendo desse jeito não vai ajudar.
— Discordo. , eu quero um novo fígado para substituir o meu coração. — Ele disse segurando a haste de uma garrafa de vodka. — Porque aí eu poderia beber mais e me importar menos. — , isso é o que a metade da população quer também, e, sinto informar, mas não é possível. — Então me dê um conselho melhor. — fala e vira o copo que antes tinha oferecido para .
— Você não vai gostar do que vou dizer.
— Eu aguento.
— , sai dessa. A pode até gostar de você, mas, se vocês não querem a mesma coisa e isso está te incomodando, é melhor acabar, assim você para de beber e o seu fígado pode respirar aliviado.
— Não posso, gosto muito dela pra fazer isso. — Disse com uma voz arrastada, abaixando a cabeça até que a testa alcançasse o balcão. virou os olhos, era difícil conversar com um bêbado, mas festas existiam justamente para aquilo: distrair as pessoas.
— Tá, então levanta a bunda daí e vem se divertir com a gente. — saiu do banco pegando as duas latas de cerveja com uma mão, com a outra puxou o braço do garoto, mas ele sequer se moveu. — , e eu estamos no quintal.
— Tá, vai indo. Daqui a pouco encontro vocês. — Balançou a mão no ar. cedeu, mas fez uma nota mental de voltar ali caso demorasse demais.
— , sua namorada, a qual você ainda cisma em não me dizer quem é, não veio? — Perguntou . Ela e tinham passado a última meia hora cumprimentando todos que tinham comparecido à festa. Agora estavam no quintal enquanto tentava ajudá-lo a recrutar pessoas para o Beer Pong.
— Nós não podemos ser vistos em público, . — Respondeu ele segurando o copo vermelho com os dentes.
— Por quê? — Questionou curiosa e esticou os pés na grama.
— Porque...
— Porque é a professora de matemática. — disse colocando as mãos nos ombros dos amigos e aparecendo entre os dois. Sentou entre eles enquanto dava a volta para ficar ao lado de . A última parecia chocada.
— Quê? A Sra. Gamaliel? — abriu a boca e assentiu, roubando o copo dela e bebendo o conteúdo. — Todo mundo já sabia menos eu? , eu te odeio.
— Eu só descobri porque vi. — Disse e revirou os olhos.
— E eu escutei a conversa deles. — Falou dando de ombros.
— É, vocês são péssimos amigos e, , devolve a minha bebida. — Disse ela tentando pegar o copo de volta.
— Não, a ficou de trazer mais e não voltou até agora. — Se desvencilhou das mãos dela e desistiu, se voltando para novamente enquanto encostava no namorado, que a abraçou.
— Então, , vai, diz que eu tava certa esse tempo todo. — Falou ela e lembrou do porquê tentou guardar aquele segredo pelo maior tempo possível. Ele não conseguiria fugir de para sempre.
No caminho até o quintal, esbarrou com antes mesmo que chegasse até a porta. O bom humor das duas iniciou uma conversa e explicava para como estava resolvendo as coisas com Elliot. Mas uma coisa fez com que elas parassem com a falação e prestassem atenção em . Ela dançava muito, bebia muito, dava em cima de todo mundo que passasse perto dela, era como se aquela festa fosse dela. E o melhor, estava gargalhando de tão feliz. e estavam surpresas e ao mesmo tempo orgulhosas. se aproximou quando percebeu o insistente olhar das duas.
— O que foi?
e se olharam e deram de ombros.
— Nada. — Responderam juntas.
— Então por que estão me olhando assim?
— A gente só tá achando o máximo que você esteja aproveitando a festa com toda a liberdade que tem direito. — Disse e concordou com a cabeça.
— E por que sinto que a está preocupada? — suspirou, não queria falar de . Sabia que o amigo estava sofrendo, mas aquele era o momento dela, não estava fazendo nada de errado, não queria estragar isso. Mas suas feições sempre a entregavam.
— É que... Eu tava conversando com o e ele não parece muito legal, não para de beber. Eu sei que você tá de boa e também sei que vocês tem um rolo aí que não é sério. — rolou os olhos ao ouvir a última parte, ainda era difícil se acostumar com aquilo. — Mas você podia ir lá ficar com ele um pouquinho, né? Antes que ele faça alguma besteira.
— Onde ele tá? — perguntou o que não esperava. Achou que ela iria fazer pouco caso e continuar a curtir a festa, mas se importava mais com ele que imaginava. — Vou conversar com ele.
olhou para o balcão onde estava sentando anteriormente, que agora se encontrava vazio.
— Merda, ele tava bem ali.
— Certo, vou procurá-lo.
— Vou com você. — Disse , mas teve uma ideia melhor.
— Não, vê se ele tá lá no quintal com os meninos e a . Eu procuro no resto da festa com a , se ele pensa em fazer alguma besteira pra estragar a festa que eu levei tanto tempo organizando, eu quero ser a primeira a impedir.
deu de ombros seguindo para o quintal enquanto e tomavam a direção contrária. No caminho passou por um montinho de gente que roubou a cervejas que estavam na sua mão, mas não ia voltar para buscar mais. Avistou > sentando com , e na grama e foi até lá.
— É, , você é um idiota.
— E qual é a novidade, . — Disse sentando ao lado de . Não fazia ideia do contexto da conversa, mas não perdia uma chance de tirar uma com a cara do irmão.
— Não dá pra vocês pararem de me insultar? É o meu aniversário. — Defendeu-se.
— Tecnicamente não, já passou da meia noite, o dia agora é da . — Disse beijando o rosto da garota, que sorriu e virou para beijar a sua boca. fez uma careta e olhou de para , já que ele estava entre eles.
— Vocês não vão começar a se beijar também não, né?
— Que ótima ideia, , vem aqui, cupcake. — Disse rindo, a chamando com o indicador, ela riu também e se aproximou para alcançar seu lábios passando por cima de .
— Puta que pariu. Vou procurar gente pra jogar Beer Pong comigo, por favor não se sintam convidados. — O garoto levantou revoltado, se recusando a ficar ali de vela. riu vendo se afastar e se aproximou dela.
— , cadê a minha cerveja?
— Eu perdi no caminho. — encolheu os ombros e lhe deu um beijo na bochecha. passou a mão em cima do bolso da calça sentindo as palhetas que tinha trazido e pra que elas serviriam naquela noite.
— Tá bom, vamos buscar mais. Eu tenho uma coisa pra te dar.
mordeu os lábios curiosa e olhou para e , que ainda se beijavam intensamente.
— Eles não vão se importar mesmo, né? — Disse e concordou. Eles levantaram e andaram abraçados até a cozinha. imaginava que e estivessem lidando bem com a situação a respeito de e tentou não se preocupar.
Eles foram até a cozinha com cantando baixinho a música que estava tocando. Ela sentou no único banco disponível próximo ao balcão e foi até a geladeira. Ele pegou duas latas geladas e as colocou em cima do balcão, ficando de frente para . Não estava se importando muito para bebida no momento, estava quase suando frio e nem era pelo ambiente abafado. Fazia algum tempo que ele não fazia aquela pergunta para alguma garota e estava um pouco nervoso. Mesmo que, daquela vez, ele não fosse de fato falar as palavras, mas sim deixar que as lesse.
— O que foi? Você não vai beber? — Ela perguntou ficando sem graça com o intensivo olhar dele sobre si.
— Na verdade... vem aqui.
fez um gesto a chamando com a cabeça e levantou do banco, deu a volta no balcão e foi até ele. posicionou as mãos na sua cintura e encostou ambos os lábios enquanto o abraçava pelo pescoço. De um jeito leve e delicado como se fosse a primeira vez que se beijavam. Aos poucos seguia o instinto de de intensificar aquilo, conforme ele a apertava cada vez mais contra si, consoante ao movimento das suas mãos, que desciam e tocavam cada parte do corpo dela. Acendendo uma chama que fazia com que ambos quisessem tirar todas as roupas enquanto as línguas se bagunçavam.
Mas queria fazer uma coisa antes que eles se enfiassem em algum quarto.
Deslizou uma das mãos para dentro do bolso frontal da calça jeans e a deixou ali. por outro lado não deixou de segurar o seu rosto quando ele parou de beijá-la para poder falar.
— , quero te dar uma coisa. — Falou, mas não conseguia parar de beijar todas as áreas do seu rosto e o pescoço. Ele segurou o rosto dela mantendo as bocas próximas. — Escuta.
— Eu tô ouvindo.
Uma mão amparou no braço de com tanta força que ele tirou a própria do bolso, por sorte nenhuma das palhetas havia caído no chão, mas isso de certo modo o irritou. Tinha dias que ele estava esperando por aquele momento.
— Achei vocês finalmente! — disse afobada. Num alto nível de preocupação, estava tremendo e mal conseguia falar direito. odiou ser interrompido até perceber o estado da amiga.
— O que foi? — foi capaz de perguntar.
— A acabou de me dizer, me pediu para procurar vocês...
— , diz logo de uma vez! — Falou .
— A e o ... Parece que eles bateram o carro.
Continua...
Nota da autora: Olá minhas queridas leitoras! Queria dizer que por um tempo confesso que eu deixei a fic meio de lado, principalmente nos meses de dezembro do ano passado e no começo desse ano. Ficou tudo tão parado, tanto na fic quanto na minha vida, isso explica pq demorei tanto pra enviar o capítulo 13 que já estava quase pronto. Eu passei por alguns problemas e a última coisa que eu tinha era vontade pra escrever, por isso não tava atualizando a fic, ou não tão rápido como eu gostaria. Mas sei lá, a minha vontade volta sempre que eu leio algum comentário, principalmente no grupo do facebook do FFOBS. Me enfiei num monte de ficstape e to ralando pra dar conta de tudo (fanfics, faculdade, etc,) pq é o que me resta nessa pandemia. Essa NA tá ficando enorme então vou ficando por aqui, espero que vcs estejam gostando da história e até a próxima att!
Nota da beta: Aaah, eu fico tão feliz quando recebo att dessa fic no meu e-mail!! Tadinho do , parece que nunca vai conseguir pedir a em namoro. Aposto que vai ser em um momento que ninguém espera, inclusive ele hahahaha. E e , meu Deus?? Espero que estejam bem. Amo demais essa fanfic.
Espero que você esteja melhor agora, Triz! Obrigada por essa att! <3
Não esqueçam de comentar!! (Lara)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da beta: Aaah, eu fico tão feliz quando recebo att dessa fic no meu e-mail!! Tadinho do , parece que nunca vai conseguir pedir a em namoro. Aposto que vai ser em um momento que ninguém espera, inclusive ele hahahaha. E e , meu Deus?? Espero que estejam bem. Amo demais essa fanfic.
Espero que você esteja melhor agora, Triz! Obrigada por essa att! <3
Não esqueçam de comentar!! (Lara)