Última atualização: 04/01/2024

Chapter Fourteen — We Don’t Have Nothing


N/A: Esse capítulo tem uma playslit, se vocês quiserem ouvir e dar o play quando aparecer a primeira música é só clicar aqui.

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Não era possível, para , prestar atenção em fórmulas moleculares na aula de química daquela segunda-feira quando dois dos seus melhores amigos estavam num hospital. Mesmo que nenhum deles tenha tido ferimentos sérios.
os havia contado a última coisa que viu antes de tudo acontecer: indo atrás de , que se dirigia ao próprio carro girando as chaves no dedo, visivelmente alcoolizado.
não esperava que ele tivesse feito uma coisa tão idiota. O resto do fim de semana foi calamitosamente ruim, nenhum pai ou mãe dos oito amigos ficou feliz com o que aconteceu. Os tios de quase tiveram um colapso nervoso e Bill garantiu a e que os dois ficariam um bom tempo sem ir a alguma festa.
estava sentado ao seu lado na sala de aula, acariciava a sua mão e hora ou outra dizia que ia ficar tudo bem enquanto tremia a perna e contava os segundos para aquela aula terminar. Era a última do dia e dali eles poderiam finalmente visitar os amigos no hospital.
— Meu Deus, finalmente! — disse quando tocou o sinal, ela e juntaram as suas coisas rapidamente para encontrar o resto dos amigos para irem juntos até o hospital. Já estava mais calmo, apesar da preocupação conjunta.
. — Ele chamou quando os três saíram da sala.
— Hã… vou indo na frente, encontro vocês no estacionamento. — Disse deduzindo que a conversa ali devia ser particular.
— O que foi? — Perguntou sem conseguir disfarçar a sua ansiedade.
— Não vou poder ir com vocês agora, lembrei que marquei uma consulta de veterinário pro Bud.
— Veterinário? Ele tá bem?
— Sim, ele tá. Não é nada, só uma consulta de rotina. Senti ele meio triste esses dias.
— Vai ser com a mãe da ?
— Ela mesma.
— Tudo bem então, a gente se encontra lá.
Se despediram com um beijo e foi correndo atrás de encontrar com , e .

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As enfermeiras tinham avisado que estava dormindo e só receberia visita naquele horário. Estavam estáveis, felizmente o carro não ia a uma velocidade muito grande, a batida detonou o capô, mas ambos só tinham sofrido contusões na cabeça e no pulmão por conta do impacto, além de ferimentos nos braços por conta do vidro do para-brisa que escapou do airbag. O médico informou que teriam alta dentro de uma semana
e aguardavam com na sala de espera a sua vez, já que o controle de visitas era rígido e só permitiam duas pessoas por vez. e eram quem estavam no quarto no momento.
e levantaram simultaneamente quando os garotos apareceram ali. seria a próxima, mesmo que a apatia permanecesse quando se tratava de , ela esperava que ele estivesse bem.
— Meninas, acho que o pai do entrou, só esperem ele sair. — disse e assentiu e caminhou com até o corredor. Elas ficaram no corredor e aguardaram, mas era impossível não ouvir o que se passava dentro do quarto, já que haviam deixado a porta entreaberta. e se entreolharam assustadas pelas falas duras do Sr. .
— Eu sabia que essa ideia da sua mãe de relaxar os seus limites não ia dar certo! , eu não te dei um carro para você sair brincando de Hot Wheels com garotas enquanto bebe e causa todo esse prejuízo.
— Eu não tava brincando... — Ele começou, mas desistiu de se explicar vendo que não adiantaria de nada. — Agora você se importa? Juro que todos esses anos achei que estivesse nem aí.
— Eu sou o seu pai. Acha mesmo que vou ficar passando a mão para todas as besteiras que faz? — Ele gritou não muito feliz em ser questionado, mas o barulho irritante do seu celular tocando prendeu sua atenção. O homem olhou a tela e depois para o filho deitado na cama. — Preciso resolver isso agora, mas vou trazer sua mãe aqui e nós três vamos ter uma conversa séria.
— Tá, tanto faz. — Respondeu ele e revirou os olhos quando ele saiu pela porta.
e tentaram disfarçar quando o Sr. saiu do quarto, mas ele passou tão rápido e parecia com tanta raiva que sequer notou as duas ali. Ambas colocaram somente a cabeça para dentro do quarto.
— Oi, … A gente pode entrar? — Perguntou e ele sorriu ao ver as duas ali, assentindo.
— Tá tudo bem? A gente meio que… ouviu o seu pai. — Disse ficando de um lado enquanto dava a volta até o outro.
— Mais ou menos. Eu sabia que eles não iam ficar felizes, claro, e têm razão, eu fiz besteira, mas o meu pai está brigando direto com a minha mãe por causa de mim.
— Nossa, por isso que ele ficou assim?
— É… eles têm brigado por outros motivos e nisso a minha mãe passou a me dar mais atenção, sabe? Eu fiquei feliz com isso, mas pro meu pai ela só tá passando a mão na minha cabeça, deixando eu fazer tudo que eu quero e me mimando. Sendo que não é isso, vocês não viram o esporro que eu tomei assim que acordei, ela nem deixou o médico falar comigo primeiro.
— Sinto muito por isso. — Lamentou . — Mas pelo amor de Deus, tem como você contar pra gente o que aconteceu?
— Eu deixei você lá e você disse que ia pro quintal encontrar com a gente e não foi! — disse.
— A pancada na cabeça não foi bonita, mas eu lembro o que aconteceu. — Respondeu ele e e quase riram. — Eu ia te encontrar, mas decidi ir embora, não tava mais no clima pra festa. Quando tava quase chegando no carro, a me chamou, ela tava junto da e me perguntaram aonde eu ia. Eu disse que embora e ela cismou que eu não deveria dirigir porque estava muito bêbado, mas, como eu estava chateado com ela, não me importei de ouvir, só que ela veio atrás depois de falar pra deixar a gente se resolver. entrou no carro comigo e disse que não ia me deixar dirigir daquele jeito e que só sairia dali quando eu também saísse. A gente ficou um tempo discutindo até que eu fiquei de saco cheio e decidi que ia levar ela comigo de vez. Eu tava bêbado e abalado, nada me tirava da cabeça que, se ela era livre para fazer o que quisesse, eu também era. No caminho a gente não parava de falar porque ela queria que eu parasse o carro e descesse e eu me negava a fazer isso. Até que me distrai enquanto a gente discutia, veio outro carro e ao desviar perdi o controle e batemos em uma árvore.
bateu no braço dele quando terminou de ouvir toda a explicação por tamanha idiotice. disse um “ai”, mas se calou no momento que recebeu um inesperado abraço da mesma.
— Não sabia se te batia ou se te abraçava, então decidi fazer os dois. — Falou ela.
, qual o seu problema? — estava com a mesma reação de .
— Não sei, e, se vocês forem dizer que eu tava errado, não precisa, eu já sei disso.
— O importante é que vocês estão bem. — Disse e repetiu o ato dela de bater no outro braço do garoto.
— É. — Falou e o outro praguejou a pequena dor e segurou os dois braços no lugar que as duas tinham batido. — Deram o maior susto na gente.
— Promete nunca mais fazer isso.
— Não vou, , prometo.
— Acho bom.
— Escuta. — Disse olhando diretamente para . — Eu pensei bem desde a hora que eu acordei e eu vou seguir o seu conselho, você tinha razão.
— Pera, que conselho? — Perguntou , confusa.
— Só faz o que você achar melhor. — Disse com um sorriso amigável. Era algo tão melancólico, mas parecia ser a coisa certa a fazer.
— Meninas, o tempo de vocês acabou. — Disse a enfermeira entrando no quarto.
— A gente volta nessa semana. — Disse .
e se despediram de e saíram do quarto.
, que negócio de conselho é esse? Achei que eu que dava conselho pros meninos, me senti trocada. — riu de leve enquanto as duas seguiam pelo corredor.
— É uma pequena história, depois eu te conto.
Quando voltaram para a sala de espera, ficou na frente da irmã e tirou um celular do bolso.
, celular do ficou no carro, devolve pra ele quando ele chegar. — Ele a disse entregando e pegou o aparelho. — O tá na lanchonete e eu vou entrar com a só para garantir que o não fique mais ferido do que já está. — Brincou. e prenderam a risada.
— Não é todo dia que a gente vê a se importando com o . — Falou no caminho para a lanchonete.
— Não mesmo, mas acredito que ela queira dar um sermão nele isso sim.
De longe elas avistaram sentado numa mesa perto das enormes janelas. O hospital inteiro era arejado e tinha um pé direito alto, sem falar que nunca estava vazio. Vários médicos, enfermeiros e outros funcionários, além das famílias de pacientes faziam refeições no lugar. parou de acompanhar quando reconheceu uma pessoa próximo ao caixa e desviou da trajetória que seguiam. — Já vou lá encontrar você e o .
murmurou um ‘ok’ e caminhou até a pequena fila formada. Ela cutucou o garoto que tentava equilibrar uma bandeja com uma mão e tentava tirar a carteira do bolso da outra.
— Quer uma ajudinha? — Disse ela.
?! — Perguntou Finn quando a viu ali. sorriu e segurou a bandeja para ele. — O que você tá fazendo aqui?
— Eu é que te pergunto.
— Ah, eu vim visitar a minha avó, ela teve um AVC ontem à noite.
— Nossa, melhoras pra ela. — Respondeu se sentindo estranha, fazia dias que não falava com o amigo.
— Ela já tá melhor agora, obrigado. Mas e você? — Perguntou enquanto avançavam na fila.
— A e o
— Ah, é mesmo, eu fiquei sabendo. Pensei até em ver como a estava, mas quando apareci não tinham liberado visita ainda e achei que a família e os amigos mais próximos iam ser priorizados.
— É, já liberaram só que ela tá dormindo agora. Eles estão bem, vão ter alta semana que vem.
— Fico feliz com isso.
— Eu também. — sorriu para aquela boa notícia devolvendo a bandeja ao garoto. Lembrou da sexta-feira e do jogo que o time de basquete tinha ganhado e achou um bom assunto para puxar conversa. — Mas queria falar com você, não consegui nem te parabenizar pelo jogo na sexta.
Finn franziu a testa, não fazia ideia do que a garota estava falando. Por isso perguntou devagar, com a incerteza se tinha escutado direito.
— Jogo na sexta, ?
— É, de basquete. — Disse, ela tinha certeza que Finn ainda fazia parte daquele time, mas ele ainda a olhava confuso. — Na sexta-feira contra a Hyperion High, eu sei que foi só um amistoso, mas uma vitória é uma vitória, né?
… não teve jogo na sexta. A Hyperion High saiu do campeonato nas oitavas.
— Mas como assim, os meninos me falaram… O … — tentou dizer, mas desistiu já que a única pessoa que parecia não fazer sentido ali era somente ela e era ruim perceber que talvez tivesse sido enganada.
— Não sei o que eles te disseram, mas eu tenho certeza que isso não aconteceu. Até porque a final é semana que vem antes do Sarau e logo depois do término das provas, não faz sentido fazer um amistoso nesse meio.
— É… acho que você tem razão, talvez eu tenha ouvido errado. — disse a primeira coisa que veio à mente e mordeu os lábios fitando um ponto fixo no chão enquanto Finn se dirigia ao caixa para pagar a refeição.
Ela repassou toda a última semana na sua cabeça e tinha certeza que não tinha ouvido errado coisa nenhuma. O que disse, o que confirmou, o que e fizeram questão de omitir, afinal todos eram do time. Não era possível que esse jogo tivesse acontecido só com aqueles quatro. Pensou em , mas lembrou que as líderes de torcida não acompanhavam mais o time em jogos fora de casa, ela deveria estar totalmente alheia a situação.
— Finn, eu preciso encontrar os meus amigos ali na mesa, a gente se fala na escola?
— Beleza, , sem problema.
deu os passos mais lentos que conseguia quando avistou a mesa onde estavam e . Não queria acreditar que tinha sido enganada por uma… mentira. Para ela tudo que envolvia mentiras eram aumentadas cem por cento, e o que não passasse de um mal entendido poderia virar um drama.
Antes que pudesse chegar até o casal, sentiu o celular no bolso vibrar, mas não era o dela. O celular de estava tocando, na tela conseguiu visualizar o nome de “Liam Heyward”, forçou seu cérebro a lembrar de onde conhecia aquele nome e só foi se recordar de onde era quando uma outra pessoa ligou, e dessa vez o nome que apareceu foi “Alisson Heyward”.
Eram os irmãos da família nova que tinha se mudado há pouco tempo para a casa ao lado de . Ela não sabia que eram amigos nem que conversavam. Não atendeu nenhuma das ligações, afinal o celular não era dela, logo o assunto não lhe dizia respeito, mas aquilo era tudo tão estranho.
Quando chegou à mesa tentou ao máximo esconder a quão irritada estava. Não queria falar com porque ele a havia omitido uma mentira. e ele estavam sentados um ao lado do outro e riam de alguma coisa.
— Vocês sabem se a acordou? — Perguntou, pois queria saber ao mesmo tempo que não queria que percebessem que estava chateada. Os dois cessaram alguma piada e a olharam.
— Não, esbarrei com a tia dela antes de vir para cá, mas lá vou perguntar de novo. — Disse e tentou não o olhar muito feio e ficou feliz quando ele levantou e saiu.
, o chegou? — balançou a cabeça negando e bufou. — Vou ligar para ele.
— Eu tô com o celular dele, esqueceu? — respondeu colocando o celular na mesa e cruzou os braços em cima.
— Tá bom, , o que foi? — Falou tendo a certeza de que estava acontecendo alguma coisa. Ela puxou a sua cadeira para ficar mais perto da amiga. decidiu falar porque não dava para esconder nada de .
e me disseram que eles iam ter um jogo na sexta à noite, eu não sei se você tá sabendo ou se o te disse alguma coisa, mas aparentemente isso era mentira. O Finn acabou de me falar que isso não aconteceu e tipo? Também acabei de ver sem querer duas ligações esquisitas no celular do . Eu não sei o que que tá acontecendo e nem ligo de não saber, o que me incomoda é eles terem que mentir pra isso, sabe? não apareceu até agora e eu queria muito falar com ele sobre. — escutou tudo enquanto mordia a ponta da unha do dedão. Aquilo não era nada bom, ela sabia o quanto a amiga odiava mentiras. — Desculpa, eu não consigo não exagerar quando alguém tá mentindo pra mim. , diz alguma coisa.
— Bem... acabei de perceber, o mentiu pra mim também. Chamei ele pra ir lá em casa na sexta e ele disse que não podia por causa desse jogo. O que você acha que eles estão escondendo?
— Não acho que seja eles... Infelizmente tenho dúvidas que o esteja fazendo alguma coisa, , e só tão acobertando. Que ódio.
— Você acha que ele tá...
— Não sei, . — Respondeu antes que pudesse terminar a frase. — Não quero ficar criando paranoia na minha cabeça.
— Então vamos chamar o e o agora e vamos perguntar.
— Não, queria que ele dissesse primeiro, mas ele não aparece. Tô ficando preocupada, o negócio com Bud pode ter sido sério.
— Como assim?
disse que marcou uma consulta com a sua mãe pro cachorro hoje, por isso ele não veio com a gente.
— Beleza, então, vou ligar pra lá e perguntar se ele já saiu.
esperou pacientemente enquanto digitava os números e falava com a mãe. Ela dobrava um guardanapo tentando se distrair. Levou uns cinco minutos até que a garota desligasse e se voltasse para novamente.
— E aí? — Perguntou, pois estava travada igual a trava de uma bicicleta para falar e presumiu que não teria notícias boas.
, minha mãe disse que o não foi lá hoje...
— Mas ele me disse...
— Acho que ele mentiu de novo. — disse revirando os olhos para a atitude do amigo, pois sabia que não ficaria chateada, ela ficaria enfurecida, e a última coisa que queria era ver os dois brigando de novo. Ela conhecia muito bem e entendia o seu histórico de mentiras que não fazia por mal, mas o garoto tinha uma grande pretensão a esconder e guardar as coisas para si sem pensar no modo que isso afetaria outras pessoas. Era relutante até para pedir ajuda quando precisava.
até tentou ser paciente e compreensiva, mas aquilo era algo que mexia profundamente com o seu interior. Ela se sentia mal por sentir raiva, mas não conseguia evitar. Tudo parecia tão maior e importante. Levantou da mesa sem dizer mais nada. se apressou para segui-la.
, onde você vai?
— Ver a e depois disso vou pra casa. — Foi a única coisa que se permitiu responder. Quando chegou próximo à porta deu de cara com , e . Ela se dirigiu diretamente ao irmão quando lhe devolveu o celular de .
— Entrega você pra ele.
Curta e grossa, não queria falar com o e muito menos explicar alguma coisa e ficou satisfeita quanto ninguém a seguiu.
Por outro lado, , e olharam para procurando por respostas para aquilo.

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No dia seguinte saiu do carro e caminhou até a entrada do colégio. e ficaram lado a lado observando enquanto ela se afastava.
— Dude, você sabe me dizer porque ela não ta falando comigo? — Perguntou e deu de ombros.
Ele já tinha percebido que estava lhe dando um gelo desde a noite passada quando foi até a casa dela e Bill lhe avisou que ela estava fazendo ‘algo importante’ no quarto e não queria ser atrapalhada. Quando tentou mandar mensagens e foi ignorado, se deu conta de que aquilo era uma desculpa farrapa. Naquela manhã, ela mal o olhou.
— Não faço ideia, mas, acredite, não é só com você.
Os dois fizeram o mesmo caminho que , a encontraram próximo dos armários conversando com e . lançou uma mirada de desdém quando e se aproximaram e saiu dali antes que pudessem iniciar qualquer conversa, indo até onde estava com Elliot. Segundos depois, Finn apareceu ali e os quatro ficaram conversando.
mordeu o interior na bochecha, incomodado, porque ele conhecia muito bem aquele olhar e, depois de um tempo, passou a odiá-lo. Era olhar de desapreço e indiferença que lhe deu a vida toda quando o via em algum lugar na época em que eles não se suportavam, porque não gostava dele. odiou sentir aquilo sobre si de novo.
, conta logo o que tá acontecendo.
— Eu já disse, , você vai ter que perguntar pra . — lhe deu as costas para guardar um livro no armário.
— Eu bem queria, mas ela tá me ignorando. — Respondeu inquieto.
— Se vira, querido. — estava disposta a não facilitar as coisas, nem tinha pedido nada a ela, mas sentiu que devia.
— Nem pra mim?
— Você também não é nenhum santo, né, ? — Proferiu se virando para o namorado, que foi pego de surpresa.
— Eita, calma. — Falou e lhe lançou um olhar amuado.
— Você também não, .
— Mas o que... — Ele rebateu e o interrompeu.
— Mas que caralho, vou resolver essa porra.
Ele deu passos decididos até o outro lado do corredor até o ponto em que se encontrava, já de saco cheio daquele ‘fala não fala’. Ele se meteu entre o grupo dos quatro e ficou de frente para ela. e Elliot se entreolharam e, junto dos outros, passaram a ser meros espectadores. se manteve séria e os dois se encararam por alguns segundos, não pretendia falar nada e sabia disso.
— Oi, . — Ele disse firme tentando transmitir todo o seu descontentamento com todo aquele desprezo e ignorância. Se ela tinha motivos para não falar com ele, deveria dizer. — Você não tá esquecendo de nada, não?
— De quê? — Ela perguntou olhando para tudo que não fossem os olhos deles e achava tão injusto se achar no direito de ficar chateado.
— Ah, não sei, de falar comigo, quem sabe?
— Eu deveria?
— Por que não? — Se tinha uma coisa que odiava era a insolência das pessoas. E a petulância de naquele momento a estava tirando do sério, ele estava sendo arrogante e na cabeça dela ele não tinha motivos. — Não vai responder?
— Eu não tenho que ficar apontando os seus vacilos se você mesmo não consegue enxergá-los.
— Você vai ficar nesse jogo de adivinhação, ? Queria te avisar que eu tenho zero paciência.
— Que pena. — cuspiu ironia e saiu dali direto para a sala quando o sinal tocou. foi xingando até o banheiro, a última coisa que iria fazer era acompanhá-la até a sala, já que infelizmente teriam aquela aula juntos.
, e estavam um do lado do outro ainda pensando a respeito da discussão dos dois.
— Caralho, o que rolou aqui. — Disse . olhou para ambos.
— Não sei ainda, mas se o odeia ser ignorado sem lhe darem um motivo tanto quanto a odeia mentiras...
— Esse barril de pólvora vai explodir, e vai ser feio.
escolheu um lugar da sala bem afastado de onde costumava sentar com e . entrou primeiro e ela evitou o contato visual com o irmão. entrou um pouco antes da professora, que fechou a porta. Ela levantou os olhos para a Sra. Downey pois eles não tinham aula de História às terças, mas nas quartas. Ela esperava ver sua professora de francês.
— Bom dia, turma, sei que não esperavam me ver aqui hoje, mas a Professora Beaufort teve que se ausentar por um problema de saúde e vou substituí-la. — Ela começou a escrever no quadro o que os olhos de identificaram como sendo “Idade Moderna”. Revirou os olhos para o assunto evidenciando uma mistura de tédio e impaciência. — Já que conseguimos essa aula extra, decidi fazer uma revisão para o teste da semana que vem, mas queria fazer isso de modo que vocês também participassem.
Sra. Downey escreveu “Henrique VIII” logo abaixo da outra palavra no quadro e se virou para a turma.
— Vamos ver.... — A professora procurou entre todos os alunos focando no mais absorto entre eles. — Ei, . Por que não me fala da relação entre Catarina e Henrique?
ergueu os olhos na sua direção, geralmente ele nunca era escolhido para responder aquelas perguntas e no momento nem sentia vontade, mas ele lembrava de cada coisa que estudou sobre Idade Moderna na Inglaterra para fazer aquele trabalho e consequentemente o que o tinha ensinado. Ele olhou para ela, mesas a frente, mas retribuiu o olhar.
— Ela era louca por ele. — Respondeu a primeira coisa que veio à mente, sem querer se prolongar naquilo. A última coisa que estava pensando era elaborar uma resposta inteligente para a pergunta, mas uma voz surgiu para contrariá-lo.
virou a cabeça para trás no instante que ouviu a frase sair da boca dele.
— Não era nada! — Exclamou confiante e apertou os olhos quando ele rebateu:
— Era sim.
— Os dois mal se comunicavam no início. Ele falava um francês horrível e ela não falava inglês.
— Claro que era. — Insistiu fazendo questão de contestá-la. — O enlace deles, como qualquer outro entre as grandes famílias da época, foi de cunho político, só que isso foi perdendo força pra ele por causa de toda aquela disputa com a Espanha. Mas o Henrique VIII era um mercenário, ele queria o pagamento do dote da Catarina mesmo que a relação não interessasse mais tanto pra ele.
— Não era! — Persistiu disposta a defender o seu ponto de vista. Ela não conseguia evitar ter um pensamento pretencioso de que não saberia nada naquilo se não fosse por ela. — Ela passou oito anos na Inglaterra e na carta que escreveu ao pai disse que preferia morrer a sofrer tudo que sofreu todos os dias ao lado dele. Ele era cruel, negava comida aos servos e até mesmo a ela.
— Mas isso mudou depois que ela virou rainha, né? — deu um sorriso transmitindo toda a sua arrogância e cerrou os olhos. Odiava quando ele sorria daquele jeito, todo cheio de si tentando impor as próprias verdades como absolutas. — Já que o pai do Henrique morreu, ele assumiu como rei e ela adorou. Foi o casamento mais feliz da vida dela. Era uma relação de interesses tanto pra ele como pra ela porque os casamentos entre países dos reinos absolutistas só serviam para agregar em acordos econômicos e políticos. E ela acabou se apaixonando.
cruzou os dedos atrás da cabeça, estava se divertindo mesmo que estivesse levando a discussão para o lado pessoal. Se aquilo estava irritando , ele estava adorando. , que assistia aquele confronto direto como se estivesse acompanhando um round do UFC, ficou calado, não queria nem imaginar como seria o fim daquele round.
— Henrique e Catarina tiveram um começo difícil onde a Catarina passou pelo mais triste episódio de sua espera solitária, amarga e frenética que terminou quando eles enfim se casaram. — disse. Para ela, a melhor parte dos debates era dizer que o oponente estava certo até certo ponto, mas refutá-lo logo em seguida. Dava uma sensação satisfatória vê-los inconformados com uma suposta derrota. Principalmente os que eram tão confiantes como . — E é verdade, eles até tiveram uma união feliz, mas você erra ao dizer que só houve sentimentalismo da parte da Catarina. Henrique ficou tão apaixonado que até chegou a escrever que Catarina era tão grande que, se ainda estivesse livre, ele ainda a escolheria entre todas as outras. Eles compartilharam uma educação semelhante, um amor pela erudição e passatempos da corte. Porém, em algum momento entre a tragédia privada dos abortos e natimortos e as ambições políticas, dinásticas e públicas de Henrique VIII, o enlace fracassou. Catarina sofreu, mas viveu e foi amada todos os dias por ele.
virou para a frente voltando a lhe dar as costas e encarando o quadro. A Professora levantou da mesa e começou a andar pela sala.
— Uau, e , muito bem, vocês estão animados com esse debate. — Interrompeu a Sra. Downey antes que pudesse destoar. Ela nem imaginava que, para , aquele debate não passou de um de um meio para descontar sua frustração com . Não dava a mínima para como de fato tinha sido a relação de Henrique e Catarina. A professora estava animada e feliz com o interesse dos alunos, mas os protagonistas do debate não viam motivos para sorrir. — Entendemos então que o Henrique é um hedonista, certo? Mas não tem amigos próximos. Por que, Thomas? — Ela disse se dirigindo a um aluno sentado na primeira fileira.
— Porque ele está indo para a guerra contra os franceses, e ser íntimo de alguém não é bom.
— Explique.
— Porque assim não será difícil dizer adeus.
A conversa continuou com toda a classe, mas não fez mais questão de participar, ela sequer prestou atenção no que eles diziam. Decidiu abrir o livro e tentar ler o discurso do Dia de São Crispim que cairia na prova.
Os olhos estavam presos no texto, mas os seus pensamentos em alguém algumas cadeiras de distância.

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, o que você tá fazendo aí? — Perguntou na hora do almoço. estava comendo numa mesa isolada.
— Estou comendo, o que mais poderia ser. — Respondeu e logo em seguida enfiou a colher com purê de batatas na boca.
— Aqui sozinha? Porque não veio sentar com a gente?
— Eu cheguei aqui primeiro, vocês que não vieram sentar comigo. — Deu de ombros e revirou os olhos para aquela segregação de mesas entre os amigos. Ia começar tudo de novo.
— Vamos logo. — Mesmo contrariada, cedeu e levantou segurando seu prato enquanto acompanhava . — Até a deixou de sentar com o Elliot pra sentar com a gente.
— Você vai me fazer sentar junto com aqueles três? — olhou para , e , não era um clima engraçado e divertido como costumava ser a hora do almoço.
— Também estou chateada com o , mas não vamos resolver nada se não conversarmos.
estava sentada na ponta da mesa, , e estavam sentados lado a lado nessa ordem. sentou de frente para , com ao seu lado.
— Falei com a tia da , ela me disse que a queria ver a gente hoje. — Disse . — Nem que fosse por um tempinho, porque ela sabe que a gente precisa estudar para as provas da semana que vem, mas vocês nem estudam mesmo então disse que sim.
deu de ombros olhando para os garotos.
— Fale por eles. — Contestou .
— Claro, a gente mal conseguiu falar com ela ontem. — Respondeu olhando para , mas seus olhos não saiam mesmo de , incomodado pela irmã não estar falando com ele.
— Fala pra ela por favor não dormir tanto dessa vez, é muito dorminhoca. — Disse .
— Pois é, aquela enfermeira deve ter pegado raiva de mim de tantas vezes que perguntei se ela já tinha acordado. — Respondeu sorrindo, ela parecia ser a única com um bom humor por ali.
— Tá, vamos depois da aula. Não consegui ir lá ainda. — falou.
estava tentando se manter quieta o tempo todo, mas não conseguiu segurar um pigarreio quando ouviu a voz dele. Ela lembrou de tudo e do motivo de estar tão irritada.
Sua exuberância parecia refletir na de , que odiava o fato de ela não saber, ou não querer, se comunicar direito. Ele detestava ser ignorado, sempre preferiu que as coisas fossem resolvidas às claras. Um jogo de silêncio não era o seu preferido.
— Espero que você não deixe todo mundo esperando igual ontem.
— O que foi? — levantou a cabeça para ela sentindo a indireta. Perguntou pela última vez, na esperança que parasse com aquilo, mas ela persistiu em se calar.
— Nada.
— Vai ficar agindo como criança? Se tem algo te incomodando, , FALE.
, , e ficaram quietos e olharam para esperando qual seria sua atitude. Não ia ser nada bonito se eles voltassem a discutir e, conhecendo bem os dois, coisa boa não sairia daquela conversa.
— Parece que você que tá mais incomodado do que eu.
— E não devia? Tá me tratando assim e eu nem fiz nada.
Aquele foi ápice para , pois nada mais a incomodava do que quando alguém mente para ela e logo se faz de dissimulado.
— Você nunca faz nada, né, ? É incrível. — Ironizou.
— Posso afirmar quando a minha consciência está tranquila.
— Por que você mentiu pra mim? — Ela disse por fim quase atropelando as palavras dele. Eles se olhavam intensamente ignorando o resto da mesa. Era aquele ‘confronto’ que estava esperando e não conseguiu desvendar o olhar dele.
sentiu a boca seca lembrando dos acontecimentos. Ela mantinha a expressão neutra porque era difícil sequer pensar naquele problema.
— Eu tava... resolvendo uns problemas pessoais. — Disse baixo, a única coisa que quis responder.
— Nossa, a consideração de falar você enfiou no rabo, né? Inventou uma historinha e ainda colocou os meninos no meio. — Ela olhou para e um pouco decepcionada.
Só não esperava que fosse interpretar tão erroneamente e precipitadamente a sua frase.
— Eu tenho que te contar tudo só porque estamos juntos? A gente nem tem nada.
Quando percebeu, já tinha falado. Deixou toda a sua comoção falar por si e as palavras apenas saíram. Ficou tão chateado que procurou no fundo da sua mente alguma forma de atacá-la e errou friamente. Fechou a mão com raiva de si mesmo, era tarde demais para voltar atrás.
— Não! Só não precisa mentir. — levantou, mesmo que o peso daquelas palavras insistisse em lhe puxar para baixo. Definitivamente, não estava esperando. — Mas você tá certo, a gente não tem nada. Não sei porque estou fazendo isso.
deixou a mesa colocando toda a força nas pernas para andar para fora do refeitório. Aquilo havia sido estressante e melancólico. Ter que lidar novamente com o lado insuportável de era uma experiência tão habitual, mas ao mesmo tempo tão estranha depois de quase 4 meses.
“Nada”.
Era algo vazio.
E mesmo que ela não soubesse dizer direito o que eles dois tinham, sabia que era sim alguma coisa.
Era.

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jogou a mochila pela janela do banco do passageiro do carro de , depois da última aula daquele dia terrível. As discussões com tinham afetado todo o seu humor e ele se manteve calado a maior parte do dia para não descontar a raiva em outra pessoa que não merecesse.
sentou no banco do motorista e olhou para o perfil do melhor amigo, que apertava bem os lábios e fitava a paisagem por trás do para-brisa.
, precisa falar com ela explicar logo o que aconteceu. Eu vou pedir desculpa até porque, né, não consigo ficar sem falar com a por muito tempo, mas contar o que aconteceu é com você. — Disse colocando o cinto e dando a partida no carro.
pensou no que havia acontecido, ele mesmo nem sabia do que se tratava os tais problemas que tinha ido resolver a respeito do irmão dele, achava que era uma parte da vida dele que não devia se intrometer, a não ser que decidisse lhe contar espontaneamente. Ele e não hesitaram em aceitar quando pediu a ajuda, afirmando ser algo importante, mas sabia que não ia gostar nada se soubesse que estavam mentindo para ela. Conhecia a irmã que tinha e sabia também que ela tinha um motivo válido para odiar tanto mentiras.
— Eu preciso? Se ela quisesse saber estaria aqui, e não tinha se enfiado no carro de outro cara.
— Ela está chateada, claro que ia fazer alguma coisa pra te atingir. — começou a dirigir seguindo o carro de até o hospital. e vinham logo atrás.
— Parabéns, ela conseguiu.
rolou os olhos. Achava os dois tão maduros para algumas coisas, mas tão infantis para outras. Aparentemente eles ainda não sabiam como lidar quando um problema surgia entre os dois de forma racional e prudente.
não conseguiu deixar de evidenciar o ciúme que estava sentindo e lembrou de como odiava aquela sensação. Era horrível, tinha se prometido nunca mais sofrer daquilo, quase sentiu falta de quando estava sozinho, mas bem acompanhado quase sempre.

~~x~~


— O que aconteceu? — Perguntou Finn enquanto dirigia até a casa de . A garota tinha o queixo apoiado na janela do carro olhando a paisagem conforme o carro andava.
Ela teve que ter muita cara de pau para pedir uma carona a Finn visto que não queria conviver no carro de com lá. O evitou o dia inteiro desde o momento no refeitório e prometeu a que iria a ver mais tarde no hospital. Diferente do que pensava, ela não tinha feito aquilo para atingi-lo, não estava pensando nele quando pediu a carona, estava pensando nela. Ela explicou tudo, se sentindo confortável para falar enquanto o amigo ouvia atentamente.
— Entendo o seu lado, , mas...
— Você vai dizer que exagerei? — o interrompeu. — Pode ser que tenha parecido, mas depois do que aconteceu eu nunca mais consegui lidar bem com isso.
— E o que aconteceu?
— Não sei se já te contei que a minha mãe morreu, né?
— Você mencionou em algum momento.
— Ela era dependente química, Finn. Era uma boa pessoa, mas infernizada com esse vício de anos. — começou a falar do que se recordava de todos os problemas que a sua mãe teve e como aquilo tinha a afetado durante a vida. — Ela queria se livrar dele, mas simplesmente não conseguia.
— Ela fez tratamento?
— Tentou. Minha mãe foi internada na reabilitação duas vezes, quase foram três. Na primeira ela ficou internada por meses, quando finalmente saiu teve uma recaída duas semanas depois e ficou dias nisso sem falar nada para o meu pai. Quando ele finalmente descobriu, ela foi internada de novo. Ela dizia que queria ficar bem, que queria ficar limpa pela gente e por ela mesma porque o vício atrapalhava tudo na vida dela, deixava tudo que era importante em segundo plano. Quando ela saiu, os médicos e os psicólogos afirmaram que, se ela tivesse qualquer outra recaída, ela tinha que ser sincera com o meu pai, ela não podia ficar escondendo isso.
— Ela não conseguiu, não é? — Finn perguntou percebendo que o rumo da história não seria feliz.
— Não... — Disse ela baixo. — Ela ficou bem por um tempo, foram os momentos mais felizes que a gente já teve. — sorriu lembrando do último aniversário que teve antes que a mãe morresse. Foi um momento tão único e bonito, ela nem imaginava na época que seria seguido de uma tragédia. — Ela teve outra recaída e, quando o meu pai perguntava se estava tudo bem, ela mentia. No momento em que o meu pai começou a perceber que as coisas não andavam bem, era tarde demais para uma terceira rehab. Ela teve uma overdose e morreu quando tava no hospital.
lembrava como tinha sido difícil tanto para ela e para ver a mãe daquele estado durante o tempo que ficou internada. As visitas à clínica eram tristes, mas traziam um alívio por saber que a mãe ainda estava viva por mais que fosse naquele estado vegetativo. via bem todo o esforço que o pai fazia para cuidar dos filhos e ajudar a esposa. Ela, mesmo uma criança e estando tão desolada quanto, tentava reconforta-lo. Secou uma lágrima que desceu pela sua bochecha e olhou para Finn.
— Poxa, , eu sinto muito mesmo.
— Sabe, não foi a overdose que matou ela, foi a mentira. — estava sentindo algo horrível, como se a garganta começasse a coçar e ela não fizesse ideia de como se livrar da coceira. — Me sinto mal por pensar assim, mas isso nunca saiu da minha cabeça. Você entende agora porque tudo parece tão grande pra mim?
— Entendo. Isso mexeu com o seu psicológico uma vida toda e te marcou. Não é culpa sua se sentir assim.
— Meu pai disse que eu deveria fazer um esforço para mudar, mas simplesmente não consigo. — deu um sorriso triste. Quando finalmente o carro parou em frente à sua casa, se despediu de Finn e agradeceu o apoio do amigo pensando em fazer algo para distrair a mente naquela tarde.

~~x~~


baby really hurt me
(meu amor realmente me magoou)
crying in the taxi
(estou chorando no táxi)
he don't wanna know me
(ele não quer me conhecer)
says he made the big mistake
(diz que cometeu o grande erro)
of dancing in my storm
(de dançar na minha tempestade)
says it was poison
(diz que era veneno)

tocava cada tecla do piano e cantava Liability, da Lorde, como em muito tempo não fazia. Ela tinha ficado tanto tempo focada em aprender o violão e praticar com que mal tocava no instrumento clássico.
e tinham sido guiados pela música quando chegaram do hospital. Eles ficaram na porta observando enquanto ela cantava por dois motivos: gostavam de ouvir tocar e temiam o que aconteceria caso a interrompessem.

the truth is I am a toy
(a verdade é que sou um brinquedo)
that people enjoy
(que as pessoas aproveitam)
'til all of the tricks don't work anymore
(até que todos os truques não funcionem mais)
and then they are bored of me
(e então elas se cansam de mim)
I know that it's exciting
(eu sei que é emocionante)
running through the night, but
(correndo pela noite, mas)
every perfect summer's
(cada verão perfeito está)
eating me alive until you're gone
(me devorando viva até que você vá embora)
better on my own
(estou melhor sozinha)

— O que é que vocês querem? — Perguntou quando terminou de cantar, mas sem olhar para trás. sempre sentia quando tinha alguém parado naquela porta enquanto ela tocava. Quantas vezes foi pega de surpresa, o que resultou no som de uma nota errada no piano.
e olharam um para o outro. foi o primeiro a dar um passo na direção dela. Sentaram um de cada lado da garota, que fechava a tampa do piano.
— Como sabia que a gente tava aqui?
— Eu escutei a respiração de vocês. — Ela deu um sorriso cínico. — O que querem?
— Pedir desculpa, né? — Falou .
— Nossa, sério?
— Claro, você sabe, nem se faz de sonsa que não gostamos quando fica sem falar com a gente. — disse tentando se aproximar da melhor amiga, que não aceitou bem a aproximação.
— Só isso mesmo ou vocês também vieram defender o amigo de vocês? — passeava os dedos nas teclas do piano. Aquela situação era incrivelmente chata.
— Não porque a gente sabe que vai ficar mais difícil de você perdoar a gente se fizermos isso.
— Verdade, o que se vire. — Concordou e o comentário deixou feliz.
— Mas, em nossa defesa, ele queria a nossa ajuda e disse que era importante, não era a nossa intenção, mas chegamos à conclusão que valia a pena. — tentou, mesmo que não fosse fazer muita diferença.
— O tem essa mania de guardar as coisas pra ele. Acho que só você é capaz de tirar isso dele, .
— Eu, ? Você tem certeza? — achava aquilo uma ironia. não sabia o que responder, ela estava certa, não fazia sentido. era incrivelmente fechado quando queria. — Quer saber, não importa, tá. Vocês estão desculpados.
Ela disse de uma vez, estava cheia daquele assunto para um dia inteiro. Eles com certeza não a deixariam em paz até que os perdoasse e, quando estava tocando, gostava de se dedicar àquilo sem pausas interruptas.
— Sério mesmo?
— Sim, . Mas me deixem tocar antes que eu me arrependa de ter perdoado.
— Espera aí, se perdoou a gente, deixa a gente ficar um pouco então. — insistiu.
— Oh, meu Deus. Tá legal, só vamos parar de falar disso. — olhou para a irmã e, antes que ela tocasse em alguma tecla novamente, ele disse:
— Mas, ... sei que não quer que eu defenda, mas tenta dar uma chance pro se explicar, sei lá. Ele não teve intenções ruins.
— Pare de dar uma de advogado dele. E pra quê? Ele nem tem essa obrigação. deixou bem claro que não temos mais nada. — bufou com os olhares que a acusavam de estar sendo teimosa e decidiu ceder em partes. — Eu posso até dar uma chance, mas a iniciativa tem que vir dele, caso contrário... Fim de papo.
e se entreolharam sabendo que aquela era a sua decisão final.

~~x~~


Heartbreaker — Led Zeppelin
Stranglehold — Ted Nugent
All Along The Watchover — Jimi Hendrix
November Rain — Guns N' Roses
Elevated — Very Alora
Cause We've Ended As Lovers — Jeff Beck


Foram aquelas músicas que começou a tocar na guitarra. Ele a tinha plugado no amplificador e aumentado o volume no máximo pouco importando se o barulho fosse estourar os seus tímpanos ou incomodar os vizinhos. Tocou cada nota das músicas fazendo solos de guitarras, como se realmente estivesse em show de rock, mudava de uma música para a outra porque nada parecia agradar os seus ouvidos. Ele gostava de extravasar seus sentimentos conturbados tocando a sua Fender vermelha dentro das paredes do seu quarto, onde aquele mundo era único e extremamente dele.
Não tinha instrumento com uma melhor melodia do que uma guitarra na sua opinião. Ele se jogava dentro do som toda vez que tocava.
Quando os acordes de From Your Boy, do The Queers, vieram à sua mente, ele tocou o início, e somente naquela música ele cantou:
I'm hanging 'round hoping hard... that you wanna be with me always and always... It's my way of saying won't you stick around me... for the rest of your life...
Quando ia partir para o refrão, ouviu batucadas vindo do chão e logo em seguida o grito da sua mãe:
, pare agora com essa barulheira!
Ele parou de imediato largando a guitarra em cima de si e se jogando na cama de barriga para cima. Contra a sua vontade, mas não estava a fim de enfrentar a ira da mãe se a desobedece, ela poderia fazer um furo no teto do corredor com seja lá o que estivesse usando para martelar o local.
Colocou uma mão atrás da cabeça e com a outra ficou girando nos dedos a palheta que estava usando para tocar aquelas músicas.

.

Era o nome que tinha sido gravado ali, realmente JJ fazia um trabalho incrível.

", você quer namorar comigo?"


Era a frase que formaria caso juntasse todas as palhetas que ele tinha pedido para customizar. Uma palavra em cada. Cinco palavras de uma frase que ele não conseguiu dizer, e naquele momento não fazia mais questão.
Não tinha achado aquilo perda de tempo, mas de sentimentalismo. Hora e outra ele procurava um jeito de demonstrar os seus sentimentos, igual fazia, e achava que tinha achado a forma perfeita. Ele queria namorar com ela, entrar no compromisso de um relacionamento sério, coisa que não fazia há um tempo. só tinha tido um relacionamento sério a vida toda, mas naquele momento não tinha mais certeza se ainda queria aquilo.
Bufou passando os dedos nas letras cravadas do nome dela. Depois fitou o céu através do vidro do teto.
, pelo amor de Deus, sei que está sofrendo por amor e gosta de fazer essa barulheira para extravasar os sentimentos, mas preciso me concentrar lá em baixo e esse barulho não me ajuda. — Disse Cindy após entrar no quarto, sem bater ou avisar que estava subindo, mas estava muito indisposto para discutir aquele ponto com a mãe no momento. Ele se prendeu às coisas que ela tinha afirmado.
— Sofrendo? Não estou sofrendo.
O jeito de se manter na defensiva era uma coisa que ele jamais largaria mão. E até perguntava a si mesmo: Eu estou sofrendo?
Ele sentou e a mulher andou até a cama sentando ao lado dele.
— Filho, você tava tocando cause "We've Endeded as Lovers", conheço uma música do Jeff Beck a quilômetros. — Ela disse passando a mão no seu cabelo, e o puxando todo para trás. não respondeu nada, o silêncio era melhor do que afirmar ou negar aquilo. Mas a mulher conhecia o filho que tinha e já imaginava que ele não admitiria. — O está lá na sala, posso falar pra ele subir?
? — perguntou pegando a guitarra novamente e se encostando na cabeceira da cama. Ele olhava para as cordas do instrumento quando falou. — Tanto faz.
— Tudo bem. — Cindy se levantou. — Não ligue essa coisa no amplificador, se não o jogo daquela janela, entendido?
assentiu e observou enquanto a mãe saía do quarto. Passou os dedos nas cordas e girou as tarraxas da guitarra tentando mudar a sua afinação. apareceu na porta que Cindy tinha deixado aberta segundos depois. levantou os olhos para ele e não disse nada.
— Quer saber da onde eu to vindo? — Perguntou entrando no quarto e sentando na cadeira de rodinhas próximo à cama. Ele tinha acabado de sair da casa dos se sentindo bem por voltar a falar com , mas pensou que se sentiria melhor ainda caso ela também se resolvesse com .
— Eu sei da onde você tá vindo, te vi entrando lá. — disse, não fazia questão de olhá-lo. Segurava a palheta puxando algumas cordas que entonavam um som aleatório.
— Por que não entrou com a gente?
— Porque eu não queria e ainda não quero, se é isso que veio fazer aqui.
era uma pessoa detalhista e as lentes dos óculos o ajudavam a enxergar bem. Ele deu uma boa conferida na palheta que segurava e conseguia ler o nome de ali, por isso desconfiava muito que o amigo não estivesse tão certo.
— Tem certeza?
— Tenho.
— Tá tudo bem, não vou ficar insistindo e pedindo pra você fazer uma coisa que não quer. — Ele disse se levantando da cadeira. — Só pensa que no mundo existem realidades alternativas. — Ele levantou os dois dedos indicadores chamando a atenção de , que ficou curioso a respeito de qual asneira envolvendo suas teorias sairia da boca de . — Para cada decisão que você faz, você enfrenta uma consequência diferente. Escolha bem qual consequência você quer enfrentar, .
— Beleza, , obrigada pelas suas sábias palavras de nerd.
— De nada. To indo nessa.
Quando fechou a porta, plugou os fones na guitarra, tirando o amplificador. Mesmo que odiasse tocar com fones, era o único jeito de ele voltar para o seu mundo de rock barulhento sem incomodar a sua mãe. E, no momento, precisava muito daquilo.

~~x~~




Chapter Fifteen — Kiss Me Now If It’s True



~~x~~


, tem como você segurar isso aqui pra mim enquanto eu colo o outro lado? — Perguntou para . A última estava de braços cruzados virada para a janela do quarto de , focada em observar o outro lado da rua. Os três estavam deixando tudo pronto para terminar o último trabalho daquele ano letivo. Era de biologia, uma perfeita representação do sistema circulatório humano.
Aquela era uma quinta-feira e o que podia estar sendo animado para estava sendo quase que uma dor de cabeça. Já fazia duas semanas que ela e não se falavam direito e quando tentavam só trocavam farpas. Ela desconfiava que talvez ele já tivesse seguido em frente, afinal tinha ficado bem claro que os dois não tinham mais nada. Estava difícil para o coração dela aceitar, mas disfarçava bem.
Mas, se para ela as coisas não iam bem, pelo menos para os amigos elas estavam entrando nos eixos. e tinham tido alta do hospital na semana anterior, eles conseguiram se recuperar para fazer as provas finais da segunda chamada sem maiores problemas. O dia seguinte seria o último dia de aula e também a noite do Midnight2Work e eles finalmente entrariam de férias.
, você tá me ouvindo? — Insistiu e finalmente saiu da sua órbita e olhou para ela. levantou e ficou ao seu lado. estava sentado no chão ouvindo música com os fones enquanto cortava canudos que serviriam para representar as artérias e veias do projeto.
— Hã, tô sim, desculpa. — Ela respondeu ainda de braços cruzados e se segurando para não voltar a olhar para a janela. A janela do quarto de dava uma vista privilegiada para a casa de . — Tava pensando no Sarau.
Disse e de certo modo aquilo não era mentira. A apresentação seria dali três dias, no domingo, e era uma das suas preocupações, já que nas últimas semanas ela tinha decidido mudar sua apresentação inteira.
— Só no Sarau? — olhou para onde olhava e as duas passaram a fitar o mesmo ponto. Minutos atrás tinha visto os irmãos Heyward entrarem na casa de , mas depois de um tempo só Liam tinha saído. Aquilo apertou o seu estômago de um jeito horrível. Aquela aproximação repentina com os vizinhos era inusitada, mas meio que entendia, nunca teve problemas para fazer amigos ou amigas. Inutilmente, ele conseguia fazer todo mundo gostar dele.
— E eu tenho alguma outra coisa com a qual me preocupar? Estou aprovada, amanhã vamos terminar esse trabalho na escola, e depois do Sarau é liberdade.
— Bem, é que sei lá né... Você e o ... Você não quer que eu fale com ele?
— Pra quê? Não dá pra resolver o que já se resolveu sozinho, ficar insistindo é como dar murro em ponta de faca.
— Então, acabou mesmo?
— Isso aí responde a sua pergunta?
ergueu os olhos para o lugar que apontava. estava saindo com Alisson Heyward da casa dele e a levando até a dela. tinha chamado um dos seus melhores amigos para conversar e, mesmo que fosse difícil arrancar informações de quando ele se fechava, ele admitiu que não tinha ficado com ninguém desde que ele e tinham se desentendido, já que, aparentemente, ele estava livre e acreditava na palavra dele. Era uma cena simples, nada demais, mas sabia que mesmo assim aquilo afetava .
...
— Relaxa, . — sorriu e se virou de volta para arrumar as coisas para o projeto. — Eu tive duas semanas pra realinhar os meus chacras e substituir essa angústia por uma energia positiva.
— Tudo bem então, se você diz. — Ela deu de ombros. Se aproximou de , sentou ao lado dele e deu um tapa na perna dele, que tirou os fones para xingá-la. — , tira esses fones e conversa com a gente.
sentou de borboletinha no chão, ela mesma estava tentando acreditar no que tinha dito para .

~~x~~


Na manhã daquela sexta-feira os alunos da Cuddle High estavam agitados, apenas um sinal e um pronunciamento da diretora os separavam das férias de verão. Todos caminham na direção do pátio, com exceção de , que caminhava contra o fluxo de gradação. Ela tentava alcançar a professora de artes cênicas, Lilith Martinez.
— Professora! — Ela chamou, felizmente a mulher a ouviu e se virou na sua direção. — Professora. — repetiu quando finalmente a alcançou.
— Oi, , estou ouvindo.
— Precisava falar com você sobre o Sarau.
— Claro, acredito que já esteja tudo certo, não é? Meses de ensaio, mal posso esperar a apresentação de todos vocês!
— Então... Eu meio que queria mudar toda a minha apresentação, a música no caso. — A professora franziu o cenho para o papel que a entregou indicando a música nova.
— Você tem certeza, querida?
— Sim, eu já tô ensaiando há um tempo.
preferiu omitir que aquele tempo eram apenas duas semanas, quando teve a ideia de mudar tudo. Ela queria fazer uma apresentação acústica com o violão, não estava cem por cento segura, afinal tinha acabado de aprender a tocar o instrumento, mas era o que ela queria fazer. E um músico tinha que se arriscar de vez em quando. Era o que o seu pai sempre dizia quando queria encorajá-la.
— Certo, então, se você está bem com isso, tudo bem. — Ela sorriu guardando a folha que lhe entregou. a agradeceu e, antes de seguir os outros alunos até o pátio, ela queria encontrar os amigos. Olhou naquele corredor primeiro, era onde ficava o armário de , mas daquele lado só achou a pessoa que menos queria ver. estava ali 'limpando' o próprio armário e colocando todas as coisas na mochila. Ela virou a cara sem intenção alguma de ir até lá. Quando seus olhos bateram em no bebedouro, ela caminhou até lá.
. — Cutucou o ombro da garota que estava curvada bebendo água. limpou a boca com as costas da mão e disse:
— Oi, .
— Nossa, finalmente encontrei alguém pra ir comigo no pátio. Não sei o que acontece com vocês que somem do nada.
riu e, antes que pudesse responder, uma terceira voz as chamou atenção.
— O seu namorado tava ocupado demais pra te acompanhar?
estava atrás dela, mal dava para ver seus olhos de tanto que ele tinha abaixado aquele boné do time da escola, mas o sorriso provocativo era claro e impossível de não se irritar com ele.
Os últimos dias foram um inferno quando se convivia com quase que 24 horas por dia. Ele insistia em fazer piadinhas a respeito dela e Finn, sendo que todo mundo sabia que entre os dois não estava rolando nada. Como se ele não estivesse fazendo muito diferente, pelo que parecia para ela.
No início tinha decidido que ela ficaria quieta, que rebater aquelas provocações era perda de tempo, mas não conseguia se segurar.
observava de fora ainda sem acreditar em como os dois tinham passado de felizes e apaixonados para obcecados com a ideia de tornar infeliz um ao outro em tão pouco tempo.
— Ele não é meu namorado, mas pode ter certeza que é uma companhia bem melhor que a sua. — Rebateu e riu pelo nariz como se não acreditasse em uma palavra.
— Vocês vão ficar nesse corredor sozinhos se preferirem ficar aí discutindo. — Falou e os dois perceberam que de fato o corredor estava cada vez mais vazio e a seguiram até o pátio mantendo o máximo de distância um do outro.
O pátio estava movimentado, quase todos os alunos estavam ali. Os três se juntaram com e , que estavam próximos a uma árvore. também estava ali, só um pouco mais afastado. A diretora estava em cima de um palanque improvisado com alguns professores. Todos ficaram em silêncio quando ela começou a falar no microfone.
— Acredito que já estejam todos aqui. Gostaria de fazer alguns comunicados a respeito das últimas atividades desse semestre, e lembrar a todos que não entregaram a autorização assinada pelos responsáveis para o Midnight2Work deste ano para trazerem hoje às 18h. Os portões da escola serão fechados às 19h e abertos às 8h do dia seguinte. Todos estão convidados para o jogo final do nosso time de basquete amanhã... — Ela fez um sinal para todos os jogadores do time, que levantaram as mãos em apoio juntamente com as líderes de torcida. — E as apresentações do nosso Sarau no domingo. Imagino que não há ninguém mais feliz que os nossos formandos desse ano para a formatura na segunda-feira. — Os formandos daquele ano comemoraram como se a seleção inglesa estivesse na final de uma copa do mundo. — Estou muito feliz com a conclusão de mais um ano letivo e orgulhosa com o esforço de todos alunos, professores e funcionários desse corpo docente. Seria gratificante receber a presença de todos no ano que vem, estão dispensados!
Gritos de euforia se espalharam e logo todos ali começaram a se dispersar. viu próxima das líderes de torcida.
— Ei, , você viu o resto do pessoal? Preciso achar a e o .
— Oi, , na verdade não. Tava indo procurar. — Ela respondeu sorrindo de lado e retribuiu. Não sabia, mas tinha algo de diferente em que ele reconhecia. Era aquela vontade de querer ficar perto dela mesmo sabendo que não podia. Os dois olharam ao mesmo tempo para Lila, a atual presidenta do grêmio, que chamava atenção por estar animada.
— Vamos nos livrar dela. — Disse e sorriu.
— Dela e da sua péssima gestão. — Os dois se entreolharam e gargalharam.
— Isso é muito errado? Ficar rindo dela assim?
— Se é ou não, que Deus nos perdoe. — colocou a mão na boca.
— Prometo que vou ser melhor.
— Eu vou cobrar, hein, ?

~~x~~


Em casa, e levaram uma bronca de Bill, que os mandou ter mais responsabilidade e fazer as coisas com antecedência quando os dois lhe pediram que assinasse a autorização para que pudesse dormir na escola e participar do programa de projetos.
O Midnight2Work era um evento organizado anualmente pela Cuddle High School, onde os alunos, no último dia de aula, passavam uma noite inteira no colégio. Usavam o tempo ali para tanto para terminar trabalhos extracurriculares e fazer experiências como também para se divertir um pouco e concluir de vez aquele ano.
Uma hora depois que os alunos tinham chegado e do fechamento dos portões, a diretora dava avisos através do alto-falante.

“Boa noite, alunos. Gostaria de reforçar que os portões da escola estão fechados e só serão abertos pela manhã às 8h, a partir daí estão liberados para irem para casa mediante aviso aos responsáveis. Se dividam entre as salas do térreo para as realizações dos trabalhos e experiências. Os meninos dormirão nas salas do primeiro andar e as meninas nas do segundo. Os professores do nosso corpo docente estão preparados e atentos caso precisem de alguma coisa, assim como também nossa enfermaria e refeitório estão à disposição.”

Na sala 1 do térreo estavam , e , que tentavam finalizar o projeto do sistema circulatório que tinham começado. Ao lado deles, e Finn trabalhavam em uma cadeira de balanço como projeto do clube de marcenaria, além de outros 5 alunos que cuidavam de seus projetos.
— Tá, isso aqui tá ficando muito bom. — Disse após lixar um dos braços da cadeira e o seu parceiro, Finn, concordou plenamente.
— Obrigada, . — Disse , mas a amiga a olhou.
— Eu tava falando da nossa cadeira. — Disse apontando para Finn e riu. — Mas o de vocês também está legal.
— O nosso não está nada bom. — reclamou. — Esteticamente está feio. Eu disse que essa ideia de usar canudos para fazer as veias e as artérias era ruim.
— Ei! — Protestou , já que aquela ideia tinha sido dele. — Eu perguntei se vocês tinham outras sugestões, mas vocês duas se calaram.
revirou os olhos.
— Alguém aí tá precisando de uma dupla nova? Arranjo um insuportável em dois segundos. — apareceu na porta. Os amigos olham para ela sabendo do que se tratava a situação. Ela e estavam fazendo um trabalho do professor Ezequiel na sala 2. — Aquele inferno de professor, tinha que me colocar de dupla justo com o .
— É tão difícil trabalhar com o ? — Perguntou .
— Você nem imagina. — Disse . tentava não prestar atenção naquela conversa centrada em , eles mal tinham se falado desde aquela festa e sabia que precisavam conversar. Só era meio difícil quando o garoto fazia o possível para evitá-la a todo custo. — Bom, preciso ir no depósito pegar papel vegetal pro nosso trabalho. Peguei a chave com a Downey. Alguém quer ir comigo?
vai com você. — Diz . — Eu?!
— Sim, você. Pegue arames vermelhos e azuis para as nossas artérias e veias, com certeza vão ficar melhor do que esses canudos.
levantou de má vontade, mas acabou saindo com .
, pode me passar o refilador? — Perguntou Finn, mas ele teve resposta alguma. — ?
— Ah, desculpa. — Ela procurou na mesa e, quando achou a ferramenta, ela o entregou. — Você... pode ir arrumando aqui, acho que preciso falar com uma pessoa. — Ela olhou para e .
— Claro. — Concordou Finn.
? — Perguntou e assentiu antes de sair.
— Nossa, essa sala tá muito bem frequentada. — Disse quando apareceu na porta, segundos depois de sair. Ela olhou para , tendo certeza que estava ali para ver a namorada. — Acho que vou no banheiro.
— O banheiro do terceiro andar tá vazio, , sem filas. — Disse ele dando de ombros e entrando na sala, lembrando que só ele e estavam naquele andar gastando tempo na sala de música.
— Ótimo, vou dar um tempo ao casal. — largou todo o material que usava para fazer as partes do coração e partiu em direção à porta.
— Você fala como se não tivesse mais ninguém aqui. — Falou olhando todos os outros alunos que também estavam na sala.
riu e abraçou a namorada por trás enquanto saía. estava tentando colar as partes do coração do seu projeto.
— Mandou mesmo a pra um corredor onde a única alma viva é o ?
— Tecnicamente eu não tava lembrando disso, mas eles já são grandinhos demais, que se virem lá em cima. — deu de ombros e riu.
— E o que você veio fazer aqui, hein?
— Te perguntar o que vamos fazer no verão, tive umas ideias, mas queria saber de você.
— Ué, vamos pro sítio do seu tio com todo mundo, né?
— É, mas vocês só vão ficar lá uma semana, eu queria mais... Com você.
— Ah, não sei. — abriu a boca com a proposta inesperada. Na cabeça dela as coisas já tinham sido planejadas para aquele verão.
— Por quê? — ergueu as sobrancelhas, imaginava que fosse ficar mais animada. — Você não quer?
, eu não sei, eu preciso ir pra Liverpool ver a minha família.
— E você vai ficar o verão todo em Liverpool? — deu de ombros. Ela geralmente costumava ficar bastante tempo na cidade vizinha.
— E talvez os meus pais queiram viajar se o meu pai entrar de férias.
— Tá, beleza, entendi.
Disse ele se afastando. tinha um jeito diferente de ver as coisas.
. Achei que você já soubesse que a gente não ia passar o verão inteiro grudados.
— Mas uma semana só é muito pouco. Você diz que não, mas é a primeira vez que toco no assunto e você não parece querer se esforçar pra dar um jeito.
— Eu não disse que não, eu disse que não sei! — Exclamou irritada, odiava quando colocavam palavras na sua boa e concluíam coisas a seu respeito como estava fazendo naquele momento. — E não fale como se você também não tivesse planos.
— E eu tinha, ia passar um tempo a mais no sítio do meu tio e ia viajar com os meus pais. Ia te chamar pra ir junto com a gente, mas você não quer passar as férias comigo, entendi.
quis descontar toda aquela frustração nos pulmões que estava fazendo para o trabalho enquanto observava sair da sala chateado.

andou até o outro lado do corredor, até a sala número 2 onde sabia que e estavam trabalhando em um projeto. Da porta ela procurou por , que estava sentado no chão, encostado na parede com um notebook no colo. Nas salas do térreo, a maioria das cadeiras tinham sido removidas e as mesas tinham sido acopladas de forma que ficassem maiores. A sala estava relativamente vazia, ficou parada na porta até que ele notasse a sua presença.
subiu os olhos do notebook para ela por segundos, mas voltou a prestar atenção na tela. andou até ele e se sentou de borboletinha ao seu lado sabendo que aquilo não ia ser fácil. Ela estava atrás de respostas para todo aquele silêncio. Desde o acidente, andou meio afastado de todos, principalmente dela.
.
? — Ele perguntou normalmente.
— Tudo bem?
— Claro. Estou inteiro, não tá vendo?
— Eu quis dizer entre a gente.
fechou o notebook e olhou para ela quando ouviu a frase. Ele havia dito para que seguiria o conselho dela, mas precisou de tempo para pensar naquilo.
— Sim, está.
Toda aquela calmaria dele estava irritando . Uma pessoa não te ignora completamente se está tudo bem.
— Então por que você não quer falar comigo?
— Exatamente. Tá tudo bem, ok? Somos amigos, desculpa a ignorância, precisava pensar.
— Amigos?
Foi a única palavra na qual focou.
— É, só amigos.
Só amigos. Ela estava se sentindo estranha. estava terminando tudo que eles tinham começado, toda a sua brincadeira com benefícios. Não era como se estivesse triste, ela sabia que o sentimento que nutria por ele não era tão profundo, sequer raspava a paixão. Explicar como estava se sentindo com aquilo era impossível.
Não estava triste por não estar apaixonada, mas talvez ela estivesse sentindo falta, mesmo naquele minuto.
— Amigos. — Repetiu molhando os lábios.
— Escuta, te devo desculpas. — Ele olhou para baixo. Para , dizer desculpas parecia um desafio do Ultimate Beastmaster. — Eu devia ter te escutado, parado o carro, ter saído com você e nada daquilo teria acontecido.
— Tudo bem, já passou, estamos bem. Não tô com raiva de você apesar de ter sido muito idiota. — Ela riu fraco tentando quebrar aquele clima, mas passou bem longe de rir.
— Não, você não entende. Estou me sentindo tão mal, coloquei a sua e a minha vida em risco naquele dia e é por isso que não podemos continuar com isso. Eu não posso. Mas gosto muito de ter você na minha vida, por isso queria que ainda fossemos amigos.
preferiu deixar todo o sentimentalismo de fora daquela conversa. Estava claro que não correspondia os seus sentimentos no mesmo nível e não queria prolongar mais aquilo.
não viu porque contestar se era realmente o que ele queria.
Mas, se aquilo era realmente a melhor coisa a ser feita, por que ela não tinha certeza?
— Certo, se você quer assim, eu respeito e aceito as suas desculpas. Ela estendeu a mão na direção dele. — E também gosto da sua amizade.
sorriu e olhou para a mão dela estendida, mas, ao invés de pegá-la, ele decidiu abraçá-la de lado.
— Fico feliz com isso, .
— O que é isso que você e a estão fazendo?
— Um mapa da Ásia e do Oriente Médio. — Disse ele entediado, não deixando que aquele abraço durasse muito mais. — Chato. Foi ideia dela pra aula de geografia. Ela quer fazer tudo em papel vegetal, sabe como é difícil desenhar em papel vegetal? É muito fino.
— Bem a cara dela. Falando nisso, ela não voltou ainda?
— Parece que não. O que será que a tá aprontando?

Do outro lado do colégio, e estavam procurando os materiais no depósito. O depósito era como uma biblioteca, as diversas caixas de plástico estavam empilhadas em estantes e fileiras alinhadas, mas achar o que eles queriam estava sendo uma tarefa árdua. O acervo da escola era grande e diverso, mas os professores não se preocupavam muito em manter as coisas ali organizadas.
— Mas que inferno, não tem uma etiqueta nessas caixas. — disse empilhando a última caixa que tinha aberto, infeliz pois ali dentro não tinha papel vegetal, muito menos os arames dos quais precisava.
— Mas tem muita poeira. — Falou logo depois de um espirro depois de abrir e fechar a quinta caixa. — Vai amanhecer e a gente ainda não saiu daqui.
espiou entre uma fileira e outra e enxergou se esticar para pegar uma caixa alta. Olhou para cima vendo as caixas de cima, pensou em pedir ajuda do garoto, mas convenceu a si de que conseguia pegá-las sozinha. Subiu na primeira base da prateleira e apoiou as mãos nas laterais, se esticou o máximo que conseguiu até colocar as mãos no objeto de plástico. Se sentiu satisfeita por um mísero segundo, pois logo em seguida todas as luzes da sala foram apagadas e perdeu todo o seu apoio.
— Puta merda. — Xingou quando caiu levando a caixa consigo. A tampa acabou abrindo e todas as coisas que estavam ali dentro caíram em cima dela, felizmente não havia nada pontiagudo ou perigoso.
? — chamou em meio ao breu da sala preocupado com o grito dela. A balbúrdia externa dos alunos no andar de baixo evidenciava que a falta de luz não havia acontecido apenas na sala em que eles estavam.
— Que droga, eu caí.
— Tô indo aí. — tentou se guiar através das estantes até onde estava, não enxergava absolutamente nada. A sala estava escura pois as cortinas estavam todas fechadas e naquele momento sentiu falta do celular no bolso do short e da útil lanterna do aparelho.
Quando chegou ao último corredor formado pelas prateleiras, que era onde tinha certeza que estava, pisou em cima de alguns objetos que deduziu serem da caixa que caiu. Algo foi puxado rapidamente debaixo dos seus pés quando ouviu o grito de .
— Aí, caralho, a minha mão. — Ela gritou puxando o braço e massageando os dedos pisados sem querer por . estava sentada ainda sentindo dor no quadril e no braço pelo impacto no chão e em uma das bases da prateleira, respectivamente.
— Eita, desculpa. — se ajoelhou e tateou com as mãos até encontrar os ombros da garota e descer os dedos pelos seus braços sentindo a sua pele macia. Ele queria se certificar que ela estava bem. — Pronto, te achei. Se machucou muito? Consegue levantar? Andar?
, eu tô legal. — quase riu e apreciou o jeito que ele estava se preocupando. Não fazia ideia do quão perto eles estavam até inclinar a cabeça para frente e bater a testa na dele de um jeito nada delicado.
— Ou! — Os dois resmungaram levando a mão à cabeça e riram logo em seguida. Era cômica a situação pois, quanto mais eles tentavam se ajudar, mais eles machucavam um ao outro.
sabia que eles estavam perto, pois ele conseguia sentir . Ele sabia, pois conseguia sentir a respiração dela bater no seu rosto. Conseguia sentir o cheiro do perfume dela, que era diferente do cabelo. A pele do braço dela roçar no seu e as pontas do cabelo solto. E conseguia sentir que tudo aquilo o estava puxando para uma atração sem igual para a garota.
Mesmo não tendo certeza dos centímetros que os separavam, ele sabia e era tão... bom ficar perto dela. E naquele momento ele só queria saber de sentir um pouco mais.
se perguntou qual foi a última vez que tinha se sentido tão presa a um momento como aquele. Ela estava apreciando a presença de , ao toque dele desenhando a curva da sua bochecha e mexendo nas mechas do seu cabelo, a aproximação dele até que as testas voltassem a se encostar, mas daquela vez de um jeito suave. Até se dar conta de que sabia exatamente o que ia acontecer se permitisse que aquilo continuasse, e era algo que não podia rolar de maneira alguma. Se esquivou do garoto sem muita delicadeza para se colocar de pé e se afastar daquele corredor de fileiras. Os pés quase torceram ao pisar em tantos objetos, mas ela se manteve firme.
— Nossa, mas o que aconteceu com os geradores dessa escola? — Perguntou tentando cortar aquele clima e ignorando o que tinha acontecido. se levantou e seguiu, mas não se aproximou muito se dando conta de que não era o que ela queria. — A gente tem que descer pra saber o que aconteceu.
Caminhou até onde ela achava que era a porta e, quando finalmente a encontrou, tentou puxá-la, mas a porta não abria por nada.
— O que foi?
— A porta não quer abrir.
seguiu o som da sua voz e tentou abrir a porta com um pouco mais de força, mas a tentativa foi em vão.
, você deixou a chave do lado de fora?
— Deixei? — Disse odiando a própria estupidez. suspirou. — Ah, qual é, que tipo de porta não abre por dentro?
— Bem vinda a Cuddle. — ironizou encostando na parede e deslizando até sentar no chão. — Cadê o seu celular?
— Dentro da minha bolsa, na sala. — Ela decidiu sentar ao lado.
— Logo você que não vive sem o celular?
— Eu tava tentando focar no projeto, mas e o seu? — Deixei na sala também.
Derrotados, o silêncio pairou.
se perguntava como ia conseguir conviver com ali sem comunicação ou luz e ainda tendo que lidar com aquela situação estranha entre os dois.

No banheiro do terceiro andar, lavava as mãos quando a luz acabou. Xingou baixinho quando, já no corredor daquele mesmo vazio andar, acabou a bateria do seu celular a deixando sem uma lanterna. Felizmente todos os corredores da Cuddle possuíam janelas altas e ali não estava um completo breu.
— Merda de bateria. — Resmungou ao se abaixar para pegar o celular que acabou caindo no chão.
— Buh! — Quando levantou, pulou de susto. estava na sua frente, com a lanterna do próprio celular no rosto. — Tá perdida, cupcake?
— Puta merda, , vai se foder! — Exclamou por conta do susto, odiava tomar sustos e sabia bem disso.
— Te assustei? Sério mesmo?
— É difícil não se assustar com essa sua cara.
Proferiu cruzando os braços, sabia que o melhor jeito de irritar era mirando no ego dele, mesmo que não fosse fácil abalá-lo.
— Esse rostinho lindo aqui geralmente costuma fazer outras coisas. — Disse segurando e alisando o próprio rosto, como um modelo de capa de revista.
— Então por que você não vai fazer essas outras coisas e me deixa em paz?
— Foi você que veio até aqui, eu tô na minha área. — indicou a porta sala de música onde ele e estavam fazendo arranjos, visto que não tinham outros trabalhos para terminar. lhe deu as costas determinada a sair dali com o mínimo de estresse possível. — Mas tudo bem, pode ir, o Flynn deve estar te esperando lá em baixo.
Ela virou na mesma hora, ainda a passos de distância de , que estava encostado na parede. Não entendia aquela infinita provocação de a respeito de Finn, lhe disse que era puro ciúmes. Talvez fosse mesmo, mas de algum jeito só acreditaria 100% se o próprio lhe dissesse. Mas aquilo não ia acontecer.
— Qual o seu problema? Você tá obcecado?
— Você tem um mal gosto do caralho.
— Tenho mesmo, isso explica como eu fiquei com você. — Ele sorriu e deu de ombros, despreocupado.
— Eu nunca disse que era bom.
— É verdade, você mostrou. — Seu rosto desabou como um castelo de cartas, mas preferiu manter a perseverança. — Mas tudo bem, não é difícil achar alguém que seja um pouquinho menos idiota do que você, .
— Também não é difícil achar alguém que seja um pouquinho mais madura do que você, . Que saiba falar dos problemas quando se tem um.
— Ah, não, o crianção não está me chamando de imatura, não acredito.
— Estou sim e poderia falar mais. Tenho até uma lista, posso te falar agora mesmo ou mandar por e-mail?
— Por que você não pega essa sua lista e....
— Ei, o que tá acontecendo aqui? Voltamos pro maternal e eu não to sabendo? — Falou se aproximando de , ele colocou uma mão na boca dela e quase foi mordido em resposta. Olhou para , que girava a lanterna do celular. — , você quer que a inspetora nos expulse da sala?
— Ah, , nada, o só tava dizendo que infelizmente não vai poder viajar com a gente pro sítio do seu tio na segunda. — deu o seu melhor sorriso e ficou ao lado de para cutucá-lo.
— Claro que não, eu jamais te pouparia do prazer da minha ilustre presença, cupcake. — apertou uma das bochechas dela e se desvencilhou dos seus dedos. — Se bem que uns dias a mais longe de você não fariam mal algum.
preferiu ignorar o comentário.
— Quer saber, eu vou descer. O ar desse andar tá meio poluído. — Fez uma careta e riu enquanto revirava os olhos. fitou o amigo enquanto ele observava se afastar cada vez mais até as escadas.
— Qual foi, .
— Vocês dois adoram isso, né?
encolheu os ombros. Talvez ele adorasse aquilo, achasse divertido mesmo que fosse de certo modo ruim e estivesse mesmo incomodado com o fato de ter alguma coisa com o companheiro de time, por isso levava as coisas na brincadeira para aquilo não o atingir tanto. Era bom escutar quando ela negava. A partir dali, sossego era uma palavra que não existia mais no vocabulário de ambos e ele jamais deixaria que o tirasse do sério sem fazer a mesma coisa com ela.
— E também sabem que os problemas de vocês poderiam ser resolvidos com uma conversa de 5 minutos, não é?
— Sei, só que eu não quero resolver nada. Estou melhor assim.
entrou na sala de música e o seguiu entendendo que aquele assunto estava encerrado.
tinha tomado aquela verdade para si de que estava melhor daquele jeito, mesmo que a dúvida ainda permeasse sua mente.

De volta ao térreo, entrou na sala número um encontrando ainda sozinha. Todos os alunos tinham recebido lanternas dadas pelos professores com o aviso de que os geradores estavam sendo verificados e logo a energia voltaria.
— Olha, se eu soubesse que lá em cima eu teria que lidar com um Tifão, eu preferia ter pegado fila pro banheiro aqui de baixo. — Disse cruzando os braços, mas não pareceu lhe dar muita atenção ou sequer riu da comparação que fez de com o monstro da mitologia grega, ainda estava presa na discussão que teve com . — !
— Oi, , desculpa. Deixa aqueles dois lá em cima, vamos terminar isso daqui.
— Beleza, mas... Cadê o ? Achei que ele já teria voltado a uma hora dessas. — ligou uma lanterna que estava em cima da mesa, certamente tinha reservado uma para ela. Antes que pudesse perceber, Elliot apareceu na porta e, logo em seguida, seguida de . Os três seguravam lanternas e apontavam para o interior da sala.
— Oi, meninas, vocês viram a ? — Perguntou o primeiro. passou na frente dos dois.
— Verdade, onde é que tá a , ela me largou pra fazer aquele mapa asiático sozinho.
— Ela e não desceram ainda, acho melhor a gente ir lá. — Disse deixando tudo que segurava ali e levantando do chão até a porta. Os quatro seguiram até as escadas enquanto preferiu ficar para terminar a sua cadeira com Finn.

— E se a gente gritar? — Perguntou . Fazia minutos que ela e estavam presos e um silêncio havia preenchido toda a sala.
— Estamos no último andar, ninguém vai ouvir. E, mesmo se ouvissem, não acho que é necessário, vão sentir a nossa falta logo.
— Verdade, não consegue fazer nada sozinho mesmo. — Ela riu imaginando tendo que lidar com o trabalho sozinho. Ele jamais faria aquilo, mas ela sabia que também não deixaria barato se fosse ao contrário.
viu aquilo como uma abertura, depois do momento estranho que tiveram e que preferiu fingir que não aconteceu. Quer dizer, era estranho somente para ela, para ele parecia muito... certo.
...
Só pelo tom de voz a garota percebeu o que ele ia falar. Achou que ele também ia preferir ignorar aquele momento, mas não era o caso. queria conversar e ela queria fingir que aquilo não aconteceu. Que eles quase se beijaram. Tinha medo do que ele ia dizer, por isso preferiu cortá-lo.
, eu sei o que você vai falar e não faz mais isso, tá legal? — Disse firme, mas estava aliviada por ele não conseguir ver o seu rosto naquele momento. — Eu tenho namorado e você tem... um rolo aí.
pensou bem nas palavras dela e percebeu todos os seus motivos para ficar afastada. tinha razão e ele ia mesmo beijá-la caso ela tivesse permitido.
— É, eu sei, é que...
? ?
não sabia expressar a quão aliviada ficou quando ouviu a voz de vinda do corredor e logo em seguida a porta sendo aberta pela mesma.
— SALVAÇÃO. — Levantou rapidamente a ponto de ver , e Elliot junto a ela. Caminhou até o namorado e o abraçou, mas o mesmo não parecia muito feliz. explicou que os dois tinham ficado presos pois tinha deixado a chave para o lado de fora enquanto eles saiam da sala e desciam as escadas de volta ao térreo.

~~x~~


As meninas da Cuddle conseguiram se organizar bem, o “dormitório” do segundo andar estava cheio de sacos de dormir e garotas de pijama perambulando pelos corredores enquanto metade dos professores tentavam organizar tudo. Os geradores da escola começaram a funcionar e a diretora ficou feliz de não ter que mandar ninguém para casa.
— O que rolou com essas duas? — Perguntou se aproximando de , que estava sentada no seu saco de dormir enquanto amarrava o cabelo. Os sacos das amigas estavam colados um do lado do outro e e não estavam com caras lá muito boas. deu de ombros, pois não fazia ideia.
— A talvez eu tenha uma ideia.
— É, , é exatamente isso que você tá pensando. — Disse . arregalou os olhos, a sua intuição dizia que tinha rolado alguma coisa entre a amiga e o irmão e quase foi ao delírio por aquela confirmação.
— MEU DEUS! ENTÃO É SÉRIO? VOCÊS FICARAM MESMO? — pulou para o saco de e quase a derrubou. — Eu adoro o Elliot, mas sabe há quanto tempo estou esperando por isso? Sou Team .
balançou as mãos como se balançasse bandeirinhas imaginárias e e esperavam pelo desfecho, já que a cara de não era das melhores, era como se alguém estivesse tentando arrancar um chiclete grudado do seu cabelo e ela não estivesse gostando nada.
— NÃO! Não rolou nada, , não viaja. — fez um bico triste com a notícia, pois queria muito ver aquele romance acontecer. — Eu não gosto do desse jeito, mas confesso que foi quase.
— Peraí, quase? — Uma dose de esperança renasceu nos olhos de como uma fênix.
— É, mas eu não deixei, desista desse shippe, .
— Jamais! — cruzou os braços e fez um bico, chateada.
— Enfim, Elliot está chateado, ele claramente ficou com ciúmes, acho que vou lá falar com ele ainda hoje. Mas eu não fui a única que brigou com o namorado hoje...
cutucou com o pé, que fez uma careta. e olharam para bem atentas.
— Af, foi uma besteira. — abraçou um travesseiro. — mal deixou que eu falasse direito, mas vou conversar com ele.
— Bom, se vocês pensam em fazer isso ainda hoje, é melhor irem antes que os professores não deixem mais que a gente fique transitando entre os andares. — Disse puxando o lençol para que cobrisse suas pernas e abrindo um livro.
e levantaram ao mesmo tempo, tendo o 1º andar como destino.

No “dormitório” dos garotos não havia ninguém ali com sono ou cansado, mas, entre os amigos, era o mais quieto. Ele olhava um ponto fixo no teto tentando tirar da cabeça e ficando alheio ao jogo de cartas do qual estava participando. Já ainda estava chateado com . e eram os únicos realmente se divertindo ali.
, você é péssimo. — Falou jogando suas cartas no chão.
— Eu sou péssimo? Pelo menos eu estou no jogo, diferente do , que tá no mundo da Lua. — jogou um travesseiro que , no reflexo, pegou antes que atingisse o seu rosto. Ele largou as cartas e deitou no saco de dormir virando para o outro lado.
— Vou dormir.
— O que deu nele? — Sussurrou para os outros dois.
— Está chateado porque a deu um fora nele. — sussurrou de volta, mas ouviu mesmo assim e levantou a mão o suficiente para lhe mostrar o dedo médio.
— Não tem nada a ver com a . Chamem a pra ficar no meu lugar.
— Nem fodendo. — largou suas cartas e o olhou curioso, mas apareceu na porta da sala antes que ele pudesse perguntar.
— Que pena, porque eu já cheguei. — A garota entrou e caminhou até o saco de dormir, sentando-se ao lado de , que preferiu fingir que ela não estava ali. — , fala sério, você nem me deu a chance de falar.
— Tá tudo bem, diz. — falou, mas ele não olhava para , ele olhava para , que parecia um pouco interessado na DR do casal.
— Sabe, a gente fica grudado o tempo inteiro, se vê todos os dias e não achei que ia ser assim nas férias, mas não ia virar a cara pro lado caso você viesse me convidar pra viajar com a sua família, eu só ia precisar de tempo pra organizar tudo. Por isso que disse que não sabia quando você falou, e não porque não quero ficar com você, seu idiota!
tentou segurar o sorriso enquanto segurava os seus ombros. — Talvez eu tenha exagerado um pouco.
— Um pouco? — ergueu as sobrancelhas.
— Tá, foi muito, desculpa. — revirou os olhos, mas deixou que ele a beijasse.
— Argh, amor. — Resmungou cobrindo o rosto com o travesseiro.
e riram, mas ela não se importou com as reclamações de e voltou a beijar o namorado até que achou melhor voltar ao dormitório feminino antes que algum professor viesse expulsá-la.
— Tá vendo, , como é fácil? — cruzou os braços observando a namorada ir embora.
— O quê?
— Resolver as coisas.
— Ah, não, você com isso de novo não.
— Eu vi muito bem como você ficou olhando pra gente, nem tente negar. — bufou se dando por vencido, de fato ele ficou olhando a reconciliação dos dois, nem sabia direito o que pensar a respeito daquilo. Já tinha certeza que ele estava pensando em .
— E daí?
— E daí que é pra você fazer a mesma coisa com a . — Disse , a voz abafada pois o travesseiro ainda cobria o rosto.
— Obrigado pela sugestão, eu passo.
— Para de agir assim, como se não ligasse. — disse quase perdendo a paciência com a teimosia de .
— Não estou fingindo, eu devia... — começou, mas achou que já estava na hora de dizer o que ele realmente estava pensando. — Quer saber? Não boto fé em garotas, e a acha que só eu tenho defeitos não erradicados. Sabe como é insuportável conviver com alguém assim?
— E você coloca fé em quem, então? Em garotos? — se intrometeu novamente e jogou um travesseiro na sua direção enquanto ria.
— Fica na sua, .
— Eu e a tivemos alguns problemas desde que começamos a namorar, mas se não tivéssemos insistido não estaríamos juntos agora. Já você e a , que desistiram no primeiro desentendimento, não vêm com a desculpa de que é difícil porque acabei de mostrar como é fácil. — o cutucou.
não disse nada, pois sabia que o amigo tinha razão e odiava quando ele tinha razão. E aquele olhar dele em cima de si não ajudava em nada, era como se não fosse parar de olhá-lo daquele jeito até que decidisse fazer alguma coisa.
levantou como se dissesse “você venceu” e saiu da sala sem dizer nada. Se ele ia mesmo fazer alguma coisa, seria do jeito dele.

No andar de cima saiu da sala assim que voltou, no caminho do bebedouro encontrou com Finn falando com a professora. Ela conversou com o garoto por algum tempo, que lhe contou alguns detalhes da sua apresentação pro Sarau, seria conjunta de outros músicos. lhe deu a brilhante ideia de montarem uma banda.
Quando era menor ela imaginava que talvez pudesse ser vocalista de uma banda ou girlgroup, mas seu pai sempre dizia que ela nasceu para o solo, brilhar sozinha, e desde então nunca mais considerou a possibilidade, mas via em Finn o perfil de baixista e quem sabe vocalista em uma. Ele lhe prometeu levar a ideia em consideração, já que não era nada mal.
Quando ele foi embora ela finalmente pode se concentrar em beber água, a boca seca clamava por aquilo, não lembrava a última vez que tinha ingerido o líquido naquele dia. Não era preciso muito para perceber que tinha alguém atrás dela e receou estar deixando que uma fila se formasse para usar o bebedouro.
— Vai acabar com toda a água do mundo, hein? — disse no momento que se levantou, ele estava tão perto que acabou batendo as costas no seu peito.
, você tem mesmo que agir como se fosse uma assombração atrás de mim? — Indagou se afastando. Ela encarou sua face, mas ele não disse nada. — O que foi? O gato comeu a sua língua?
— Tava esperando o Flynn sair pra falar contigo, mas ele parece ocupar bastante o seu tempo.
Cansada. Era exatamente assim que estava se sentindo. Ela só parava para falar com sobre aquilo e era a mesma maldita provocação, estava ficando repetitivo, antigamente ela não ligava, mas daquela vez era diferente. Era diferente porque não era para aquilo que sentia vontade de ficar perto dele, mas aí ela lembrava de o porquê estar tão chateada com o guitarrista e a vontade passava.
— Você fala de um jeito tão confiante essas suas afirmações sem cabimento. Se quer tanto que eu fique com o Finn, talvez eu devesse.
— Não ligo para o que você faz, mas você não consegue ficar com ele. — se sentiu afrontada. Detestava quando as pessoas diziam o que ela conseguia ou não fazer.
— E por que você acha isso? — Colocou tanto peso naquelas palavras e achou que fosse afundar no chão, mas não queria amenizar a sua incredulidade. teria que ter um argumento muito bom para justificar toda a sua prepotência.
— Porque ainda é apaixonada por mim. Não é, ? — disse tão rápido quanto se aproximou e forçou os pés dela a andar para trás, em direção à parede. Suas costas chocaram tão gentilmente quanto as mãos dele no seu quadril e a respiração no rosto. sentiu juntar seu corpo ao dele como ele semanas não fazia e suas mãos estavam posicionadas como se só esperassem um sinal para avançar. — Me beija agora se for verdade.
A boca dele estava a centímetros de distância enquanto ele segurava o seu corpo. percebeu que o próximo passo era dela, era ela quem ia decidir o que fazer com os próprios braços, que estavam colados com o próprio corpo, e com a boca. Se ela queria beijá-lo? Muito, mas resistiu porque tinha uma coisa que a incomodava profundamente e era o jeito que estava fazendo aquilo, pondo à frente o seu ego. Ele, era sempre ele. Ele em primeiro lugar. Respirou fundo com aquilo em mente, se ele queria mesmo resolver aquilo, tinha que aprender a ceder às vezes.
— Para de me chamar de . Pra você é .
Ela se livrou das mãos dele como se fosse a coisa mais fácil do mundo e voltou para o dormitório sem olhar para trás.

~~x~~


tinha plena noção de que ajudar a organizar aquele Sarau naquela tarde de domingo não seria nada fácil enquanto Lila Saltman estivesse ali. Ela jurava que a sênior não apareceria mais ali, mas a garota quis honrar sua última tarefa como presidenta do grêmio, e, na concepção de , Lila estava fazendo tudo errado.
A vice tinha em mãos uma prancheta com a ordem dos nomes de todos os alunos que iam se apresentar enquanto a professora Lilith Martinez ajudava os alunos que ainda não tinha entrado no palco a se prepararem e ficarem mais calmos.
Lila estava apresentando, mas o problema era que a formanda não chamava os nomes na ordem que lhe passava, e alunos que ainda não estavam prontos tinham que entrar no palco apressados.
, sabe que horas o meu grupo vai entrar? — Perguntou nos bastidores. A garota tinha os cabelos presos e usava um collant encorpado. Suas pálpebras brilhavam em razão do glitter, ela estava linda. — Estou procurando minhas sapatilhas.
— Mais duas apresentações e a próxima é vocês. — checou a prancheta. confirmou e voltou ao camarim. virou para a entrada do palco no mesmo instante que Lila saiu dele segurando o microfone. — Lila, o próximo é o grupo de jazz, você tem que anunciar na ordem que eu te digo!
— Ah, mas a sua ordem não faz sentido, . Na minha o show fica emocionante, Lilith me pediu que isso fosse um espetáculo e é isso que estou dando a ela e ao público.
— Você não pode chamar os alunos sem eles estarem prontos! — Insistiu se perguntando onde a professora Martinez estava naquele momento.
— Ah, fala sério, estão ensaiando por meses, todo mundo aqui já devia estar preparado.
— Para de ser ignorante e faz do jeito certo.
— Eu ainda sou a presidente, então acho melhor você deixar e fazer as coisas do meu jeito, vice.
— Não é mais! — Disse roubando o microfone dela. — Seu mandato acaba aqui.
— Você não pode fazer isso!
— Ah, posso sim. Não sabe quanto tempo esperei até que você finalmente se formasse e eu não tivesse mais que aturar você e a sua péssima gestão.
correu para sair dos bastidores pensando que naquela hora precisava achar um novo apresentador e rápido. O Sarau acontecia no pátio, ao ar livre, e toda platéia foi montada com cadeiras de plástico. Ela olhou para todos ali até seus olhos chegarem na quinta fileira, onde estavam os seus amigos. , , , e estavam lado a lado aguardando o momento que e fossem se apresentar.
Ela andou até eles se abaixando o máximo possível para não atrapalhar a visão de ninguém para o show de sapateado que um grupo do segundo ano estava apresentando.
? — Perguntou e todos olharam para a vice-presidente.
— Preciso de um apresentador, agora! — estendeu o microfone para , que a olhou confuso.
— O quê? E a Lila?
— Mandei ela vazar, não tava aguentando mais. — Insistiu em lhe entregar o microfone, mas ainda hesitava.
— E você quer que eu suba lá? — Ela assentiu como se fosse óbvia sua escolha. — Por que eu? Tem uma plateia toda pra escolher.
— Porque eu acho que você é perfeito. — disse sincera, sabia se comunicar bem e com certeza ele apresentaria os alunos na ordem que ela indicasse. Lembrou-se de quando ele tinha lhe pedido ajuda caso fosse se inscrever para as próximas eleições, e aquele argumento era perfeito para convencê-lo. — Quer governar essa escola no ano que vem? Comece caindo no gosto do público, é a minha primeira dica.
— Ela tem razão, dude. — lhe acotovelou de leve.
— É, , vai logo. — pegou o microfone de e colocou na mão dele. , vendo que não tinha escolha, decidiu aceitar, o que gerou uma onda de alívio e animação em . Ele ficou feliz que a garota estava tratando-o normalmente, e, por hora, daquele jeito era melhor.

Atrás do palco, aquecia a voz e tentava controlar o nervosismo quando apareceu ao seu lado. Todos os dançarinos já tinham se apresentado e era a vez dos cantores. estava apresentando perfeitamente bem depois da saída de Lila.
, você a próxima. — disse se aproximando e logo sumindo com a sua prancheta.
— Vai dar tudo certo, só fazer o que você sabe. — lhe abraçou de lado e se sentiu grata pelo conforto. Ela já tinha feito aquilo diversas vezes, mas seguia um ritual que a sua mãe lhe ensinou.
nunca dizia nada minutos antes de fazer alguma apresentação, assim sempre teria voz quando entrasse no palco. Ela acreditava que assim jamais iria travar, e, até ali, sempre deu certo.
Ela tinha tudo em mãos e na garganta, a plateia não era assustadora, mas o medo de fracassar ainda era nauseante, sempre seria. Dali conseguia ver seu pai, Elsie e todos os seus amigos, estavam ali para apoiá-la. Agarrou bem firme a haste do violão quando Finn e a banda dele saíram do palco e chamou o seu nome. Uma salva de palmas a recebeu quando apareceu no mesmo instante que saía e sussurrava na sua direção algo como “arrasa”.
Começou os primeiros acordes conforme os aplausos cessavam e a música tomava conta do lugar antes que o silêncio completo se instalasse.

Now that she's back in the atmosphere
(Agora que ela está de volta à atmosfera)
With drops of Jupiter in her hair
(Com gotas de Júpiter em seu cabelo)
She acts like summer and walks like rain
(Ela age como o verão e anda como a chuva)
Reminds me that there's a time to change
(Me lembra que há tempo para mudar)
Since the return of her stay on the moon
(Desde o retorno da temporada dela na lua)
She listens like spring and she talks like June
(Ela ouve como a primavera e conversa como junho)


A sua voz e os acordes do violão eram as únicas coisas audíveis no momento em que cantou o primeiro verso e o primeiro refrão. Logo em seguida, a plateia soltou gritos e palmas quando o ritmo acelerou. nem imaginava, dali era impossível para ela ver, mas , sentado na plateia, tinha um pequeno sorriso de orgulho por ela estar tocando tão bem.

But tell me, did you sail across the sun?
(Mas me diga, você velejou através do sol?)
Did you make it to the Milky Way
(Você chegou até a Via Láctea)
To see the lights all faded
(Para ver as luzes todas apagadas)
And that heaven is overrated?
(E que o céu está superestimado?)
Tell me, did you fall for a shooting star?
(Me diga, você se apaixonou por uma estrela cadente?)
One without a permanent scar?
(Uma sem uma cicatriz permanente?)
And did you miss me
(E você sentiu minha falta)
While you were looking for yourself out there? )
(Enquanto você estava buscando por si mesma lá fora?)

Aquela era uma música especial pois era uma das favoritas de sua mãe, a mulher vivia cantando pela casa. se lembrava bem, jamais iria esquecer do momento em que Bill chamou os dois filhos para ter uma conversa de ‘gente grande’. Ela lembrava de como perguntou insistentemente a respeito da mãe e o modo como seu pai os explicou que ela tinha ido dar uma volta na galáxia e que não iria voltar mais. Ela chorou como qualquer garotinha de 8 anos choraria, chorou pensando que não era justo, que nada daquilo era justo e que viajar no espaço não era uma boa ideia. Quando cresceu, criou nas músicas as suas próprias viagens, e a sua mente viajava por lugares longes quando ela cantava.
Quando enfim terminou não deixou de ser ovacionada por sequer uma alma presente naquele evento. Seus olhos passearam por toda a plateia enquanto agradecia os aplausos pouco antes de sair do palco para tomar o seu lugar e reassumir o show. Nos bastidores ela se sentia incrível por ter mesmo conseguido e abraçou a primeira pessoa que lhe dirigiu a palavra.
— Parabéns, , você foi incrível!
— Obrigada, Finn, vocês também foram incríveis.
— A sua ideia da banda foi genial, talvez a gente dê continuidade.
— É... genial. — Somente quando o soltou foi quando percebeu o quão próximos os dois estavam. Tinha ficado tão imersa naquela euforia de querer extravasar, foi a sua primeira apresentação acústica com o violão e tinha sido bem sucedida. Sua mente não parava de martelar com a ideia de que não tinha ensaiado o suficiente, de que seria um fracasso, de que ela cometeria um erro banal e tudo mais que lhe tivesse a ver com se prejudicar de forma deliberada. Autossabotagem: inimiga da produtividade e do sucesso de 90% dos cantores em ascensão. queria compartilhar aquele contentamento e orgulho com alguém e Finn teve a sorte de ser a primeira pessoa a aparecer na sua frente.
— Desculpa, . — Ele disse se afastando meio sem graça por ainda a estar segurando e não gostou daquilo, não gostou de ele ter se afastado. No início se assustou quando percebeu a aproximação, mas depois começou a se perguntar por que não? E aí ela lembrou por que não.
Lembrou do vizinho chato que costumava importunar os seus dias e logo depois sentiu um pouco de raiva porque tinha razão. Aquele metidinho insuportável tinha toda razão quando disse que ela se fechava a Finn por causa do que sentia por ele. pensou em todas as provações que lhe fez nos últimos dias e o seu sangue ferveu, ela não achava que ele tinha o direito de fazer aqueles comentários tão egocêntricos.
— Não! — Exclamou certa como nunca esteve antes e o puxou de volta até que ambos os lábios se encostassem.

, , e decidiram se juntar a e atrás do palco para parabenizar as meninas no segundo em que saiu do palco. Ambos formaram uma rodinha em volta de primeiro a uns quatro metros de distância de onde estava com Finn. olhou para os lados procurando a garota com os olhos. Quando finalmente encontrou, não poderia ter sido pior. Foi o timing perfeito de vê-la se inclinar na direção de Finn e lhe dar um beijo. Antes tivesse ficado sentado naquela cadeira, teria sido muito melhor do que saber que o que antes ela tanto negava tinha virado verdade.
Quando enfim o beijo terminou, não sabia o que dizer então sorriu, contente por Finn ter retribuído. Ela viu os amigos correndo na sua direção e foi como ser atingida por um exército de amor e carinho, nada poderia estragar aquilo.
não ficou para a selfie que os chamou para tirar e saiu de fininho, sem que ninguém percebesse.

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Chapter Sixteen — Jolly Jumper, Khartoum, Aquilante & Seabiscuit

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Hawkshead era uma vila repleta de casas brancas e ruas paralelepípedas. Localizada no meio da natureza no distrito de Lake, a 150 quilômetros do norte de Manchester, era onde os tios de tinham um rancho.
Era uma manhã ensolarada do dia seguinte quando os amigos se dividiram em dois carros para chegar à cidade. Estavam de férias e o lugar para relaxar durante quinze dias parecia perfeito. Eles não planejavam passar o verão inteiro juntos e julgavam aquele tempo o suficiente para que pudessem curtir um pouco sem se preocupar com deveres escolares. O carro de ia à frente levando , e . , que tinha passado para buscar os irmãos e , vinha logo atrás.
tinha ido o caminho todo observando a paisagem que gradualmente deixava os prédios e toda a arquitetura urbana para trás, dando lugar aos campos e árvores de uma vida mais pastoril. Ela tentava ignorar constantemente as péssimas músicas que colocava para tocar no rádio, ele tinha sido rápido ao entrar no banco do passageiro ao lado de , que não se importou muito, lembrando do que tinha lhes falado antes de pegarem estrada. estava estranho, calado, ao menos com ela. Ele lhe dava as costas como se fosse fácil demais ignorar e não respondia a nenhum pigarreio que ela dava. No início quase se conformou, eles não estavam juntos e não eram amigos, nem tinha motivo para se comunicarem, mas depois um choque de indocilidade lhe tomou. Aquele não era o normal deles.
Os amigos passaram por uma das aldeias principais antes de seguirem até o rancho. Hawkshead tinha uma atmosfera intemporal e consistia em uma série de becos característicos, frontões pendentes e uma série de praças medievais. A agricultura tradicional era contínua e rodeava toda a vila. Os moradores locais trabalhavam o mais rápido possível para algo que parecia ser grande, de acordo com , eles estavam em época de um festival que acontecia anualmente na cidade. Pegaram uma estrada de terra e em 10 minutos chegaram na entrada do sítio, rumo ao casarão.
— Pai, nós literalmente acabamos de chegar! — Falou assim que desceu do carro quando atendeu o celular. Contando com aquela, era a terceira vez que Bill lhe ligava e a garota achava aquilo um exagero.
— Eu sei, filha, só queria ter certeza que estão bem.
— Nós vamos ficar bem, são só duas semanas, vai passar bem rápido. Você não precisa ligar o tempo todo. — Repetiu ela pela milésima vez achando uma desvantagem naquele lugar por ter sinal para celular.
— Tá tudo bem, mas mande fotos, eu e Elsie ficamos entediados sem vocês aqui. — Quase riu da afirmação do pai, a última coisa que eles deviam estar era entediados.
— Vocês não têm que, tipo, terminar de organizar um casamento?
— Sua madrasta quase não deixa eu tocar em nada.
— Imagino… — Ela olhou para os tênis pisando na terra fofa, eles estavam quase em agosto, o casamento seria no fim daquele mês e Elsie deveria estar na maior correria para terminar de organizar tudo. — Pai, preciso desligar. — Disse quando percebeu que estava ficando para trás.
— Tudo bem, , se cuidem, e não esqueçam das fotos. Amo vocês.
— Pode deixar pai, também te amo. — guardou o celular e se apressou para chegar ao lado de . — Da próxima vez que o papai ligar, é você quem vai atender.
Ele riu e revirou os olhos sabendo que o irmão tinha deixado o celular no modo avião de propósito.
, quantas pessoas moram nesta casa? — Perguntou surpresa com o tamanho do imóvel. De perto o lugar era muito maior.
— Dentro da casa, oito, se você contar com as cadelas. — Respondeu contando nos dedos. — Meus tios, meus dois primos e o meu avô.
— São eles ali na varanda? — Perguntou após quatro pessoas surgirem através da porta.
— Isso. E... Não liguem pro jeito da Maggie, ela é assim mesmo, mas é muito legal. — Respondeu percebendo a animação da prima, de longe era a pessoa da sua família que mais chamava atenção. Quando os oito se aproximaram o suficiente, a loira correu na direção deles e aleatoriamente abraçou .
— Ai meu Deus, finalmente vocês chegaram! — Exclamou segurando tão rápido que a garota não sabia como retribuir. — Você deve ser a , né? Namorada do . E vocês... — Maggie puxou uma de suas marias-chiquinhas e olhou para cada um enquanto apontava e dizia os seus nomes na ordem. — , , , , e ! me falou muito de vocês, eu sou a Magnólia, mas vocês podem me chamar de Maggie.
analisou bem a prima de , ela era uma moça pequena, mas com uma personalidade marcante, assim como seu cabelo (uma bonita e imensa juba de cachos dourados).
— Maggie, para com isso, vai assustá-los. — Disse uma outra voz mais grossa. — Eu sou o Henry, bem vindos ao nosso rancho.
Um garoto que aparentava ter a mesma idade que eles disse do topo dos degraus da varanda. Ele e possuíam os mesmos traços e cor de pele, mas os cabelos de Henry eram mais longos e desalinhados. O trabalho na fazenda lhe recompensava com músculos definidos, tão bonitos quanto aquele lugar.
O sol parecia que brilhava só para deixar tudo mais esplêndido, iluminando as terras cobertas por uma grama verdinha e os animais ao redor em seus respectivos cercados. Dali dava para ver as montanhas ao fundo, tão harmoniosas que ornavam com tudo no cenário.
— Esse é o meu primo, galera. — Disse desanimado, Henry não era sua pessoa favorita no mundo. Ele foi até a varanda para abraçar os tios — Minha tia Ellen, e o meu tio Nathaniel, vovô Antoine deve estar lá dentro.
O casal acenou com um belo sorriso no rosto. Ellen e Maggie eram praticamente iguais, sendo que os anos a mais de Ellen estavam presentes na sua face, mas os fios do seu cabelo eram curtos, nem de longe parecidos com a espetacular juba da filha. Já Nathaniel vivia para camisas de flanela e botas de couro, era um homem com uns bons anos de roça e os cabelos brancos já tomavam conta das laterais do couro cabeludo. realmente os considerava como seus segundos pais.
— Que maravilha recebê-los na minha casa, podem ficar à vontade! — Exclamou Ellen.
— Ah, jovens! Espero que tenham muita energia nesses corpos. Vida de fazendeiro não é nem um pouco fácil! — Disse Nathaniel dando um tapa nas costas do sobrinho, riu da careta que o namorado fez.
— Poxa, tio, tava pensando em levar eles na cachoeira. — respondeu, antes do trabalho ele queria poder se divertir com os amigos.
— Ótima ideia, primo! — Respondeu Henry e virou os olhos para aquela falsa simpatia. Henry desviou seu olho do primo para as garotas. — Do jeito que tá quente...
— Oh, se tá. — Maggie olhou para os amigos de e parou em quando ele tirou os óculos e olhou para ela, percebendo uma leve irritação de , que estava próxima.
— Ah, mas vocês não vão sem comer alguma coisa, entrem, por favor, o almoço está quase pronto. — Disse Ellen batendo palmas e incentivando que todos a seguissem.
O grupo começou a se mover em direção à casa, , que estava um pouco atrás, se apressou e deu uma esbarrada proposital no braço de . O corpo da garota foi projetado para frente e ela quase deixou cair o celular que tinha nas mãos.
— Eu, hein, , você tá cego? — Mas o guitarrista simplesmente ignorou e seguiu para dentro da casa como se nada tivesse acontecido, em situações normais ele retrucaria de um jeito irônico. Ali, soube que estava mesmo fingindo que ela não existia, o que devia ser uma coisa boa, mas não se sentia feliz com aquilo.
— O que deu nele? — Cochichou ao seu lado, as duas acabaram ficando mais atrás na varanda enquanto os outros já tinham entrado.
— Não faço ideia, e, seja o que for, não quero saber! — Exclamou cruzando os braços.
— Bom, só não deixa isso te afetar tanto, não quero te ver tristinha. — fez um carinho na bochecha da amiga.
— É ruim, hein, , que eu vou deixar essa pirraça do me afetar. — Respondeu decidida antes de seguir o caminho dos seus amigos. — Já dizia a minha xará Demi Lovato, eu estou de boa para o verão!

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Depois de almoçarem, o grupo partiu para um tour pelo rancho, Maggie ia à frente não deixando passar nenhum detalhe com seus comentários divertidos, sendo seguida por Henry e , que implicavam o tempo todo entre si para assumir a dianteira. Os mostraram para os amigos o estábulo com alguns dos cavalos, a pequena chafurda, o galinheiro, o celeiro, os enormes cercados onde o gado pastava e, por último, o imenso lago que fazia parte da propriedade que abrigava alguns patos e gansos.
— Vamos a pé? — Perguntou quando Maggie falou que enfim iriam em direção à cachoeira. Era um lugar mais reservado dentro da posse, mas mais afastado e fácil de ser encontrado se seguissem o caminho do rio.
— Sim, são só 10 minutos de caminhada. — Respondeu a loira já tomando rumo super animada. Ela adorava visitas e ter com quem tagarelar.
resmungou e riu ao seu lado, ele sabia que tinha uma namorada que, apesar de gostar de esportes, podia ser bem sedentária quando queria.
, você precisa mesmo levar todas essas coisas? — questionou, ele segurava uma das bolsas que a garota tinha organizado para o passeio, e ‘leve’ não era bem a característica ideal, parecia que ali dentro tinham duas bolas de boliche feitas pela borracha mais dura que existia. olhou para os dois percebendo uma leve mudança em , ele estava amigável demais com todo mundo, pelo visto o problema dele era com ela mesmo. O problema dele sempre iria ser com ela.
— Claro, , olha o calor que está fazendo, quero pegar o maior sol possível e não vou sentar na terra e no mato, aí dentro também estão as toalhas de todo mundo.
, é uma cachoeira, não uma praia. — Alfinetou .
— Eu não te perguntei nada, .
— Tem umas rochas grandes e planas lá, vai conseguir pegar todo o sol que quiser. — Henry piscou e revirou os olhos para o primo. Se Henry quisesse, daria em cima de todas as suas amigas, e aquilo o incomodava.

Os dez minutos passaram voando e eles chegaram na clareira depois de atravessar um caminho curto entre árvores e plantas menores. Enormes rochas de pedra formavam uma cascata espetacular e as rochas planas estavam ali como Henry tinha prometido. não perdeu tempo em estender suas cangas lá.
, tira uma foto minha! — tirou a camiseta deixando a mostra o seu biquíni verde, entregou o celular para e posou em frente à queda d'água.
— Ai, como eu amo o verão! — Falou entre e . O primeiro não tirava os olhos de arrumando o seu espaço, e o segundo das diversas poses que fazia, ambos com os olhos bem concentrados nos biquínis que elas escolheram.
— Não é só você, . — disse, concordou plenamente e deu uma cotovelada em ambos.
— Parem de babar, vocês dois!
— Maggie, pega a corda! — Gritou para a prima, que balançou a cabeça para cima e para baixo.
— Que corda? — Perguntou .
— Tem uma corda ali em cima que a gente usa pra se pendurar e cair na água. — Respondeu Henry.
se intrometeu no caminho de Maggie após ela subir em um dos galhos de uma árvore mais baixa para desamarrar a corda.
— Quer ajuda? — Perguntou com o sorriso mais encantador do mundo. desfocou das fotos que tirava para e olhou os dois pelo canto do olho, claro que jamais perderia a oportunidade de dar em cima de outra pessoa na frente dela.
— Não precisa, , eu faço isso sempre.
não conteve um sorriso no canto da boca quando a garota o deixou falando sozinho e subiu na árvore com toda a facilidade do mundo para soltar a corda. Aquela garota era uma aventureira motivada.

Três horas depois o sol já tinha ido embora praticamente escondido atrás das nuvens. Os dez jovens tinham aproveitado tudo que tinham para aproveitar e se molhar. Todos continuavam na água, com exceção de , que tinha se juntado a na pedra para descansar um pouco.
— Você disse que não ia deixar a pirraça do te atingir. — Falou depois de perceber como olhava para conversando com os primos de , com Maggie principalmente.
— E não estou! — Respondeu, mudando de foco. Ela deitou ao lado da amiga sentindo o corpo molhado aos poucos começar a secar e a água do cabelo encharcado evaporar. As nuvens bonitas do céu pareciam mais atraentes naquele momento.
Enquanto parecia uma cobaia depois de ser torturada por dias, estava extremamente confortável com seus óculos escuros na cabeça e o corpo repousando em cima das duas mantas florais, numa pose plácida, como se ninguém no mundo fosse capaz de perturbar a sua paz.
— Então por que está olhando pra ele como se tivesse laser nos olhos?
Ao invés de responder, preferiu prestar atenção em e , que se aproximavam saindo da água.
— Sério, , você devia ter pulado pela corda. — Disse ele balançando os cabelos como um cachorro sacudindo os pelos depois de entrar em contato com água.
— Pela milésima vez, , tenho medo de altura! — rebateu torcendo os fios do cabelo para se livrar do excesso de água e sentou na ponta da pedra entre e . — Meninas, me ajudem.
— Vou ter que concordar com o , , nem é tão alto assim, foi bem divertido e até a pulou. — se intrometeu.
— É, a gente bem viu como você se divertiu com o Henry. — Provocou , riu e olhou torto enquanto limpava as lentes do óculos de grau.
— Ah, fala sério, vocês não tem outro solteiro pra importunar? — Disse e os amigos riram. Claro que tinham que fazer piada com a única solteira daquela pedra.
— Enfim, pelo visto você não vai chegar nem perto da Arena Florestal do festival. — Falou pondo os óculos e sentando ao lado da namorada. — Vai perder, baby, é a melhor área do lugar. Tem arvorismo, tirolesa, parede de escalada….
— Com toda certeza, eu não vou perder nada mesmo. — Respondeu , ela achava que tudo que tivesse a ver com altura não era nenhum pouco atrativo.
, como é esse festival? — Questionou , interessada.
— É o Festival Anual de South Lakeland. Os moradores da vila organizam todo ano no primeiro final de semana de agosto. Começa nesta sexta e vai até domingo. Hawkshead é a cidade sede, vem gente de todo lugar pra conferir.
— Ah, então era pra isso. No caminho pra cá vi tanta gente trabalhando, parece ser o evento do ano. — falou.
— Porque é! Não se engane pelo tamanho da cidade, é um evento relativamente grande por aqui, é tipo o Super Bowl pros americanos.
— E o que tem pra fazer lá? — Perguntou .
— Bastante coisa, vocês vão ver! — Respondeu animado. — Praticamente já temos programação pro final de semana inteiro.
, tem uma toalha aí? — Perguntou saindo da água e olhando diretamente para as bolsas da amiga tão criticadas por . Atrás dela vinham Maggie e os outros garotos.
— Também quero uma. — Disse tentando roubar a que estava deitada e recebendo um tapa da irmã.
— E você, , vai querer uma também ou vai falar mal das minhas malas de novo? — levantou para pegar as toalhas e jogar para os amigos. riu balançando os braços.
— Vou querer uma também, e nunca mais reclamo das suas bagagens. Feliz, ?
— Muito. — Respondeu ela jogando uma toalha que ele pegou no ar e voltou a posição que estava.
ainda estava de pé na água e como os outros tinha começado a se secar, passando a toalha pelo tronco e os cabelos. olhou de canto, a simpatia dele era um terror para ela, da onde ele tinha tirado o direito de ser tão legal? Ele olhou de volta quando percebeu que ela estava olhando e sorriu satisfeito. De imediato quis fugir dali desviando o olhar, cruzando os braços e fingindo desinteresse no naquele físico encorpado onde ela um dia já passou tanto as mãos.
— Será que dá pra gente voltar? Eu to cheio de fome. — lamuriou-se jurando que o barulho do seu estômago pudesse ser ouvido do outro lado do país.
— E quando é que você não tá cheio de fome, ? — respondeu enrolando a toalha e mirando nele, o atingiu em cheio já cara arrancando risada do resto dos amigos.

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As janelas e as portas da casa eram todas feitas de toras de eucalipto tratado, não tinha nada moderno ali, estava mais para rústico e clássico como A Toca dos Weasleys em Harry Potter, mas muito bem organizada. Era o lugar perfeito pois poderia ser quentinho e confortável durante uma tempestade, mas fresco e arejado nos dias mais quentes. Era um dia quente, mas a brisa que soprava pelas várias janelas e portas era temperada.
Depois de jantarem e passarem horas conversando e jogando jogos, Ellen dividiu os quatro quartos disponíveis de modo que acomodasse todo mundo confortavelmente. Entre as meninas, e ficaram no quarto de Maggie e e dividiam um dos quartos de hóspede. Já os meninos, ficou com Henry no quarto dele e , e dividiam o segundo quarto de hóspedes. Ela teve o cuidado de não colocar no mesmo quarto que o primo, pois sabia dos possíveis incômodos que aquilo poderia trazer.
estava no banheiro escovando os dentes enquanto e Maggie conversavam e arrumavam as camas para poderem dormir. Era um improviso de colchões infláveis Jilong, com dezenas de edredons forrados, estava calor demais para se envolver com eles, o objetivo era que tudo ficasse o mais almofadado possível com muitos travesseiros.
— O que vocês estão achando daqui? — Perguntou Maggie segurando um lado de uma coberta vermelha enquanto segurava a outra ponta.
— Melhor do que o comentou. — Ambas abaixaram e esticaram a coberta de forma que ficasse perfeito. — Vocês são muito legais e receptivos.
— Ficamos tão felizes quando o perguntou se vocês podiam vir, sério, a animação foi grande aqui em casa, mamãe e papai adoram receber visitas, e eu, né, nem preciso comentar. — riu sentindo-se bem vinda ali, ela nunca tinha conhecido uma família tão amiga e agradável, não é todo mundo que aceita receber oito adolescentes na sua casa de total bom grado por duas semanas inteiras. Infelizmente, diferente dos amigos, só ficaria ali durante uma semana. Era o combinado que tinha feito com a sua mãe, ela iria embora antes de todo mundo e queria aproveitar o máximo. — Vocês são interessantes, cada um tem a sua personalidade própria, mas são tão amigos.
— O te falou? Eu fiquei surpresa quando você não errou o nome de ninguém hoje, incrível.
— Ah, ele disse por cima, eu fui percebendo o jeito de vocês, conforme o dia foi passando. Tipo a parece que não se dá com o , não os vi trocando uma palavra nem mesmo na mesa pra pedir pra passar o sal no jantar.
— A odeia o … ou gosta até demais.
— Como assim?
— Ela vai saber te explicar melhor. — Ela levantou admirando o trabalho que ela e Maggie tinham feito.
— E você tem uma hostilidade com o , mas se dá bem com o e...
— Gosta do . — Falou desocupando o banheiro.
— E eu tenho um namorado que se chama Elliot, muito obrigada por lembrar, . — a corrigiu, passou por ela e entrou no cômodo.
— Você empurra ela pro seu irmão? — Perguntou Maggie e tirou os chinelos para que pudesse subir na sua ‘cama’ recém montada. O vento vindo da janela balançava as bonitas cortinas do quarto de Maggie, era um sinal de que elas não passariam calor naquela primeira noite.
— Eu tento, é o meu dream couple, sabe?
— Sei, já tentei fazer o Henry namorar uma das minhas amigas, mas não deu muito certo, ninguém suporta ele por muito tempo. — Maggie revirou os olhos e riu da súbita implicância entre os irmãos. — Se os amigos dele fossem um pouco mais velhos, quem sabe, né.
— Você tem 19, né?
— Isso! — Assentiu Maggie.
— Os amigos do são meus amigos, com exceção do insuportável do … — Falou percebendo no final o rumo que aquela conversa estava levando. Ela não queria levar por aquele caminho, mas quando percebeu já tinha falado, não contendo uma interjeição ao falar o nome de . — Olha, se você for mesmo ficar com ele, eu já te aviso que vai ser uma experiência desagradável.
— Vai ser ruim porque o é chato, ou por que você ainda gosta dele? — Naquele momento pareceu que a voz de sumiu por ter sido pega, se estava claro até pra uma pessoa que ela tinha acabado de conhecer, quem ela estava tentando enganar? Mas não tinha nada que ela pudesse ou quisesse fazer quanto a isso, não estava falando com ela, e a ideia de ficar correndo atrás dele como o Coiote atrás do Papa-léguas lhe corroía o cérebro. — E da onde você tirou isso?
— O jeito que ele dá em cima de você, não percebeu? E estamos aqui faz nem um dia! — Exclamou esboçando todo o seu incômodo, já que não era mais possível tentar esconder.
— Claro que eu percebi, não sou nenhuma bobinha, , mas também captei o jeito que você reagia a isso.
— Nossa… — suspirou percebendo o jeito que estava agindo, como se tivesse algum direito e aquilo não era legal. Se sentiu uma hipócrita ao lembrar de Finn, quando conseguia uma pontinha de sinal ela sempre lhe mandava uma mensagem para saber como estavam indo as coisas. Aquele beijo no final do Sarau pareceu ter aberto um mar de possibilidades para ela. — Me desculpa, eu nem sei porque to fazendo isso, a gente “terminou” e o não me deve nada. Ele está totalmente livre.
deitou a cabeça no travesseiro olhando pro teto decorado do quarto de Magnólia, pensando que aquele assunto se encerraria ali, mas a loirinha talvez ainda a surpreendesse bastante.
— Só por que vocês terminaram, não significa que não se importem mais. — Maggie caiu para cama de baixo e as duas ficaram deitadas lado a lado. — Não quero causar intrigas, é pra ser um verão divertido e não cheio de brigas por motivos mínimos.
— Eu concordo, falei pra que não ia deixar isso me afetar, mas está mais difícil do que parece.
— Você acha que não tem mais volta?
— É complicado, e também tem outra pessoa… — Ela se lembrou de Finn, mesmo sem saber se aquilo realmente significava alguma coisa. — tá me ignorando e sinceramente acho que talvez seja melhor assim.
— A minha mãe acha que eu tenho “O Poder Da Intuição”, diz que puxei isso do meu pai porque ele sempre acerta quando faz apostas na corrida de cavalos do festival. — Maggie levantou quando ouviu a porta do banheiro abrindo, sinalizando que estava voltando. — E, , alguma coisa me diz que essa história de vocês ainda não terminou.
Ela sussurrou e foi para a própria cama, em seguida, saiu do banheiro e ocupou o seu lugar.
não respondeu nada enquanto as duas trocavam um ‘boa noite’, ela tinha muita coisa para pensar. Percebeu que por um lado talvez tivesse feito uma nova amiga tão incrível quanto as que já tinha e pelo outro pensou no silêncio de . Era para ser um verão divertido, pelo menos naquelas duas semanas seguidas, e supôs que talvez aquilo que ele vinha fazendo fosse para não brigar com ela, afinal, quais seriam os outros motivos?
Só o que não sabia, era que , na verdade, estava magoado.

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No dia seguinte e Maggie acordaram ao mesmo tempo, já percebendo que não estava no quarto. Se trocaram e, após escovar os dentes, desceram até o térreo em conceito aberto. O avô de conversava com e na mesa da cozinha, Ellen coava café enquanto Nathaniel cortava pães artesanais e servia aos mais jovens, estava na sala em frente a uma enorme estante de discos.
— Bom dia, meninas! Finalmente desceram, só faltavam vocês. — Disse Ellen com um sorriso.
— Fomos as últimas? — Perguntou Maggie sentando ao lado de e se servindo uma xícara de café. ficou ao lado de pegando um pedaço dos pães e levando a boca. Ali tudo era muito bom e do melhor.
— Cadê os outros? — Perguntou sentindo falta dos amigos.
— Acho que estão no celeiro e o Henry...
— O Henry está bem aqui! — Falou o mais novo interrompendo o pai, surgindo na cozinha depois de descer as escadas. — Bom dia, família.
O rapaz usava uma blusa de flanela e calças, apesar do calor, parecia bastante confortável. Ele roubou um pedaço de pão da mão de , que protestou o olhando em desaprovação.
— Eu e Maggie ficamos de ir na cidade comprar algumas coisas, vou confiar em vocês pra receber bem os nossos convidados hoje! — Disse Ellen tirando o seu avental se dirigindo especificamente ao marido e ao filho. Henry, que comia o pão roubado de , se posicionou entre as cadeiras de e , arrancando um ciumento olhar vindo de .
— Pode deixar, Dona Ellen, aqui todo mundo vai estar em boas mãos!
— Eu queria ver os cavalos. — Comentou desistindo dos pães e pegando uma maçã. As diversas cores da pelagem dos cavalos daquele estábulo, que viu quanto estavam fazendo o tour no dia anterior, não saíram da sua cabeça. Os tios de , além de cuidar de vários animais, produziam bastante coisa.
— Boa escolha, , tenho trabalho no celeiro, mas nunca é um mau dia para cavalgar. — Murmurou Henry olhando tão fundo nos olhos de que ela teve que dar um sorriso sem graça. Henry parecia legal, mas muitas vezes invasivo. Definitivamente, entre os primos , preferia Maggie e aos poucos ia entendendo o desprezo que sentia sempre que falava do primo. — E você, ?
— Não sou muito chegada a cavalos, eu queria ver os outros animais.
— Pode ajudar o papai e o vovô, eles que ficam responsável por dar comida aos bichos e cuidar deles. — Comentou Maggie terminando seu café rapidamente para que pudesse acompanhar a mãe à cidade, apesar de querer ficar e fazer companhia às visitas.
— Posso ir também? — Se intrometeu .
— Toda ajuda é bem-vinda, filho! — Respondeu Antoine, ele poderia ser velho, mas tinha bastante disposição ainda.

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Naquela manhã, foi uma das primeiras a acordar e a curiosidade falou mais alto quando encontrou na cozinha. O mesmo lhe disse que tinha acordado e não estava no quarto. Eles decidiram ir atrás do amigo, começando pelo sumptuoso estábulo.
— Acha que eles estão aqui?
— Eu tenho certeza. — Respondeu olhando para o cadeado aberto da imensa porta do estábulo. Ele fez um pouco de força e a porta abriu, ele e entraram. De início estava tudo calmo, apenas a movimentação da cabeça dos cavalos em cada baia era visível. Até a cabeça de surgir no último boxe, assustado com o barulho, seguido de um pigarreio de .
— Aí, , você pisou no meu pé!
— Desculpa, linda.
levantou e ambos ficaram lado a lado tentando dar um jeito na roupa engomada, cheia de fios de feno com os cabelos desgrenhados.
— Pelo visto um casal aqui acordou mais cedo. — Provocou se aproximando com , que soltava uma risada baixa. — Ou nem dormiu.
riu de vergonha com , tinha tido respostas para suas dúvidas quanto ao súbito sumiço do amigo do quarto que dividiam.
— Eu falei, , que a gente devia ter voltado antes!
— Você não achou o feno super confortável? — Rebateu e uma égua azulego relinchou. foi até o seu boxe e acariciou a sua crina. — Tá vendo, a Jolly Jumper concorda.
olhou para o animal. Cavalos e éguas azulegos tinham uma cor azulada bonita com uma mancha branca na pelagem, tão esbelto e gracioso, dava um ar sofisticado ao bicho.
— Eu e queríamos andar um pouco, , tem como? — Perguntou ainda se divertindo com o desconforto dos amigos.
— Claro! — estalou os dedos na sua direção. Ele abriu a baía de onde Celeste estava, a égua mansa ficou parada enquanto afivelou sua cela. — Você vai andar com a Jolly Jumper, e o com o Khartoum.
Apontou para um cavalo zaino negro, a crina cor de creme destacava no seu pelo escuro e brilhoso. afivelou a cela nos dois e os guiou para fora do estábulo, para que e pudessem subir.
— Que nomes exóticos.
— Obrigado, eu mesmo escolhi. São de filmes, Jolly Jumper é o grande companheiro do cowboy Lucky Luke, e Khartoum a pobre vítima d’O Poderoso Chefão, clássicos dos anos 90. — Comentou animado, ele amava quando tinha a oportunidade de falar de filmes clássicos, eram uma de suas paixões.
montava como uma verdadeira hipista, já parecia ter mais dificuldade conforme iam se afastando de e .
, não precisa puxar a guia dele muito forte, um simples movimento e ele vai obedecer. — Aconselhou.
— Caramba, é como se você fizesse isso todos os dias.
— Tive aulas de hipismo quando era pequena. Meus avós tinham uma fazenda em Marselha, e antes de a venderem eu costumava ter um cavalo. O melhor amigo do homem costuma ser o cachorro, mas o meu era o Guloso.
— Guloso, esse era o nome dele?
— Sim, ele comia muitas maçãs. Vivia roubando as que eu levava no bolso, era um bom cavalo.
— O que houve com ele? — virou rosto para olhar para ela tentando manter os movimentos mais suaves possíveis enquanto segurava a guia do cavalo. Khartoum não parecia ser um animal nervoso, mas não tinha quase nenhum jeito com bichos.
— Foi vendido, não tinha como cuidarmos dele sem o estábulo. — respondeu com pesar. — Meu avô morreu e a minha avó achou melhor vender tudo, ela não ia dar conta de cuidar sozinha e voltou a morar na cidade.
Apesar do relato melancólico, ficou feliz. Era uma sensação boa saber daquelas pequenas histórias a respeito da infância de . Sinal de que os constrangimentos tinham ficado para trás e que eles poderiam voltar a ser amigos.

Entre o celeiro e o estábulo ficava um enorme castelo de blocos de feno que era trabalho exclusivo de Henry arrumá-los e mudá-los de lugar. Antes de começar, ele deixou ali, que aproveitou para falar com e .
— Ei, casal. — chamou, fazendo e se separarem de um beijo. — Quanto amor.
— Que bom que você apareceu, , precisava de mais uma pessoa para me ajudar a convencer a cavalgar com a gente. — Disse . — O seu irmão e a já foram na frente.
— Nem morta eu vou subir nesses bichos, são altos demais e não quero cair. — Protestou e revirou os olhos com a falta de vontade da namorada.
— Ah, , vamos, você já não pulou com a gente na cachoeira. — Insistiu fazendo um biquinho, mas a amiga manteve a postura firme.
— Nem fodendo, vou ver se o seu primo precisa de ajuda, divirtam-se. — deu um selinho em e partiu em direção ao celeiro enquanto seu namorado e pegavam a direção contrária.
suspirou tentando esconder a cara amarrada.
seguiu o amigo e o ajudou a tirar os cavalos das baias. Eles eram tão bonitos e bem tratados, mas imaginou como deveria ser difícil tomar conta de todos, precisava de muita responsabilidade.
, você vai montar com a lobuno Seabiscuit — Disse ele passando a mão em um esbelto cavalo cinza-escuro —, e eu com o alazão Aquilante.
ajudou a guiar os cavalos para fora do estábulo, e a ajudou a montar em Seabiscuit. simplesmente adorava aqueles cavalos e os nomes dele, para ele, eram geniais. Aquilante era o ingênuo e atrapalhado cavalo de Don Quixote no filme “O Incrível Exército de Brancaleone” e Seabiscuit o admirável cavalo pronto para corridas de “Alma de Herói”. Eles começaram a andar lado a lado pela mesma trilha que e seguiram.
— Eles são muito mansos. — Disse e concordou.
— Claro, a minha tia não ia permitir nenhum cavalo bravo, ela morre de medo de acidentes.
— Qual é o dela?
— A Jolly Jumper, Khartoum é o do Henry, Aquilante é do meu tio, e a Seabiscuit que tá com você é da Maggie. — respondeu lembrando que ele jamais andaria no cavalo de Henry.
— Falando em Maggie, a sua prima é muito legal, e tirando a parte que o não para de come-la com os olhos, é, acho que fiz uma nova amiga.
— Maggie jamais ficaria com o , ela sabe do rolo que vocês têm e o não faz o tipo dela.
— Do rolo que nós tivemos, não temos mais!
— Tanto faz.
— Mas tá tudo bem, nós conversamos sobre isso ontem.
— Que ótimo, fico feliz com isso.
— E olha, até que o seu primo também não é nada mal apesar de alguns detalhes...
— Ah não, se quer mesmo fazer ciúmes no , tente com algum agroboy lá da feira, o meu primo não! — Exclamou e enrugou a testa para o ataque de ao citar o primo, mas ela apenas riu ao invés de questionar.
— Para de ataque, , eu só to dizendo que a família dos ’s tem ótimos genes!
— Muito obrigado. — Respondeu pomposo. — Eu sei que sou lindo e gostoso!
— Para de se achar, seu mané. — chegou próximo o suficiente com Seabiscuit para que conseguisse chutar a perna dele, percebeu uma coisa branca parecida com espuma, saindo do bolso do seu short.
— Ei! Foi você quem disse eu só estou concordando.
— Sei… O que é isso no seu bolso?
— Ah, é lã de ovelha. — falou enfiando a mão no bolso e tirando de lá um pedaço. Ele entregou para , que o apertou para sentir a fofura. — O que você mais vai encontrar por aqui é ovelha, . Hawkshead cresceu para ser um importante mercado de lã nos tempos medievais e mais tarde como uma cidade mercantil após a dissolução dos mosteiros em 1532.
Uma das coisas que mais gostava em é que ele podia soltar fatos históricos de forma completamente aleatória.
— Mas por que você tem lã de ovelha no bolso?
— Porque servem como protetores de ouvido e, de acordo com , são bons travesseiros. — Ele respondeu lembrando-se da noite passada. Com a casa cheia parecia impossível ter um momento a sós com a namorada e não achou ruim quando teve a ideia de acordá-la no meio da noite para que pudessem ficar juntos no estábulo visto que o celeiro estava muito sujo.
— Nem imagino como vocês descobriram isso. — riu. — Vocês tosam as ovelhas aqui, que dó.
— A gente tosquia, , por causa do calor excessivo. Se a gente não fizer, o excesso de lã impede que a temperatura corporal seja reduzida, dá mal-estar e desconforto nelas se a gente não fizer.
— Eu achei que você não sabia nada dessas coisas.
— E não sabia, passo o verão aqui de vez em quando, uma hora tinha que aprender.
Eles pararam para apreciar a paisagem, viu e a poucos metros também estacionados, eles pareciam ter uma conversa agradável. O lugar era bem bonito e calmo, chegou a conclusão que poderia passar horas embaixo de uma árvore ali compondo canções.
, os outros não quiseram vir?
— Outros?
, e .
e devem estar vendo os outros animais com o seu tio, e o eu não faço ideia.
— Acho que eu vou lá chamar o . — Disse dando a volta com Aquilante. — E nem adianta fazer cara feia, viemos aqui pra isso, não é pra ninguém ficar isolado.
Antes que pudesse expressar seu descontentamento, ela olhou para a lã na sua mão e guiou Seabiscuit na direção do amigo. Foi ali que ela teve uma ideia.
— Não! Pode ir lá com a e o , deixa que eu chamo ele. — piscou os olhos da maneira mais angelical que conseguiu e a olhou desconfiado.
— Você? Chamar o pra ficar com a gente?
— Isso mesmo. — Ela balançou a cabeça.
— Tá tudo bem… vou fingir que você não tá aprontando alguma e vou lá estragar o clima daqueles dois. — lhe direcionou um sorriso cúmplice antes de guiar Aquilante para a outra direção e sorriu tentando segurar o riso. O melhor amigo a conhecia bem demais, era quase impossível enganá-lo, mas estava esperançoso que aquilo fosse dar em algo positivo.
Então, cavalgou depressa de volta à casa, e a égua obedeceu, como se Seabiscuit já fosse uma grande amiga.

~~x~~


— Ti, ti, ti, ti, ti! — Exclamou tentando chamar atenção do máximo de galinhas que conseguia enquanto a mão direita jogava milho pelos ares no galinheiro. Antoine havia lhe dado um balde cheio para alimentar as aves enquanto ele colhia os ovos dela.
Ela se dispersou para se juntar a , que estava apoiado na grade do chiqueiro observando Nathaniel despejar um saco de comida nos comedouros dos suínos.
— Por que aquele ali tá sozinho? — Disse apontando para o médio leitão repousando no cercado.
— Porque esse é especial. Ele vai ser o porquinho usado na competição de caça ao porco na feira. — Respondeu o mais velho observando o porquinho. Os sempre tinham o próprio meio de participar do festival.
— Oh meu Deus, como ele é fofinho. — se apoiou na cerca para que pudesse olhar mais de perto. — Não machucam o bichinho nessas competições não é?
— Ah não, na verdade, as pessoas é quem costumam se machucar. — Explicou Nathaniel rindo lembrando das trombadas que os participantes sempre davam um nos outros.
— Qual o nome dele? — perguntou.
— Ele não tem, porque vocês não dão um pra ele?
— Claro, já tive até ideias.
desviou seu olhar para ele assim que ouviu a frase.
— Não mesmo, seus nomes são péssimos, .
— Não são não! Escuta só: — Ele se aproximou dela parcialmente ofendido. — Harry Pigter, Tommy Hilpigger e William Shakespig. São essas as opções, só você escolher.
não conseguiu segurar o riso, tinha que admitir que a mente de era um poço de fertilidade. talvez fosse uma das pessoas mais criativas que ela já conheceu, tanto para pensar em planos e soluções para problemas difíceis quanto para criar nomes para porcos. Então ela teve uma ideia que poderia animar a sua manhã.
— Tudo bem, a gente pode usar um dos nomes que você escolheu…
— Legal!
— Com uma condição! — Ele juntou as sobrancelhas. — Que você pegue ele primeiro! — sorriu animada, pronta para pegar o celular e gravar a cena.
— Nathaniel, posso?
O mais velho não respondeu, apenas se moveu para perto do portão e o abriu para que pudesse entrar. apoiou os cotovelos no cercado com a câmera ligada e o tio de se juntou ao seu lado para que pudesse assistir.
— Você não perde uma oportunidade de me fazer pagar mico, né, ?
— Não mesmo. — Murmurou sorrindo.
olhou para o porco e começou a dar passos lentos na direção dele, que estava quase imóvel cheirando algo no chão.
— Porquinho, porquinho! Vem pra cá pra eu te fazer um carinho. — sussurrava como se aquele animal tivesse alguma capacidade especial para entender os humanos. Ele se aproximava devagar, quando chegou a uma distância considerável, se preparou para saltar e mergulhar na direção do animal. até conseguiu encostar nele, mas o porco correu escorregando pelas mãos dele e caiu em cima de uma poça de lama. Na sua cabeça, ele jurava que a tentativa seria tão sucedida quanto o bote de uma cobra píton a um camundongo.
e Nathaniel gargalharam juntos.
— Vem aqui, seu porco idiota! — Ele exclamou frustrado começando correr e escorregando diversas vezes, o suíno era muito mais ágil do que as suas enormes pernas e o chiqueiro não parecia ser um lugar pequeno demais para ele. só conseguia rir mais e mais sentindo os músculos abdominais contraírem e a sua barriga começar a doer. — Ah! Consegui! — segurava o porco com as duas mãos e o aproximou no seu rosto, para que de algum modo pudesse fazer contato visual com ele. — Você não parece tão rapidinho agora, né?
Ele caminhou em direção a com o porco no colo, ele não se mexia e não era tão pesado.
— Não acredito que conseguiu mesmo.
— Nunca duvide da minha habilidade de pegar porcos, . — Ele piscou soltando o animal e logo em seguida abrindo o portão para sair do cercado, ficando ao lado de e inteiramente sujo de lama enquanto o tio de voltava para dentro do cercado para terminar o seu trabalho. — E então, qual nome você escolheu?
— Harry Pigter. Imaginei ele com óculos redondos e uma cicatriz na testa, agora a imagem não sai da minha cabeça.
— Nomes ótimos, eu disse. — Gabou-se, encostando sem querer a mão suja de lama no braço da amiga.
! Cuidado com essa mão. — repeliu o contato limpando o lugar manchado.
— Desculp... — se interrompeu com uma ideia borbulhando na mente. — Ah, você não tá com nojo de um pouquinho de lama, ? — Ele se aproximou enquanto ela dava passos para trás.
, sai pra lá!
— É só terra e água, e se eu te desse um abraço? — Ele abriu os braços, era a vez dele divertir-se.
— Nem pense nisso!
Ele riu e lhe deu as costas para correr, mas foi mais rápido conseguindo abraçá-la por trás. se debatia e ria tentando se livrar enquanto tentava sujar cada parte do corpo dela com a lama também.
— Tarde demais. — Ele disse com a cabeça encaixada na curva do pescoço dela e suas mãos atacaram a barriga limpando os vestígios de lama e lhe fazendo cócegas.
— Para, ! — Exclamou sem fôlego depois de tanto rir.
Eles ficaram na mesma posição enquanto ofegavam. tentava afastar as mãos dele usando as próprias e apesar de ser um momento tão curto ela conseguia sentir aquele toque por cada canto do seu corpo. Ela se perguntou se tinha sido a única a sentir aquilo quando as suas mãos entraram em contato com a pele dele, um arrepio efêmero e uma saudade antiga. Que não devia fazer sentido já que eram só amigos, mas não era possível evitar. Algumas coisas nunca vão estar no nosso controle.
A vontade de continuar brincando um com o outro naquela traquinagem de se soltar era grande e continuou até ambos cansarem, mas continuaram abraçados enquanto recuperavam o fôlego. olhou o sol no horizonte achando que aquilo já tinha durado tempo o suficiente.
… Você pode me soltar agora. — Ela inclinou a cabeça para baixo sentindo ele se afastar devagar e os seus braços libertarem seu corpo.
— Ah, claro, desculpa.
— Qual bichinho vocês querem ver agora? — Nathaniel surgiu ali quebrando qualquer clima que existisse e e trocaram um sorriso refreado.

~~x~~


Paz.
estava gostando daquele lugar porque ali ele tinha paz e tranquilidade que todo músico queria quando decidiam compor suas músicas. Ele decidiu aproveitar que a casa estava vazia para fazer isso naquela manhã. Preferiu trazer seu violão ao invés da guitarra porque achou que era o que o ambiente pedia. Ele gostava do som de uma guitarra barulhenta, mas a placidez do acústico era sempre bem-vinda também.
Ele estava deitado, mas com os pés no chão, a pior posição possível para suas costas e tinha alguns papéis riscados e amassados do seu caderno de composição. Em algum momento a inspiração tinha ido embora e ele estava esperando que algum respingo de criatividade caísse dos céus diretamente na sua cabeça para dar continuidade àquela música que girava em torno de tragédia, amor e decepção. gostava de escrever sobre tudo, mas o fato de só conseguir focar naqueles temas o incomodava, mas ele não podia brigar com o seu estro e forçar um processo criativo sobre outros assuntos, não era assim que as coisas funcionavam. Por esse lado, às vezes, ele odiava ser músico.
Ele acreditava que seria algo passageiro, e nem imaginava que passageiro seria o tempo que ele tinha ali sozinho.
Depois de deixar Seabiscuit no estábulo, andou em passos tranquilos até a casa, que estava bem silenciosa. Ela passou pela porta da frente e da cozinha, viu na sala, deitado de mal jeito e olhando para o teto, com folhas jogadas e o violão de lado. Compositores não desperdiçam lugares tranquilos, eles tinham aquilo em convergente.
Ela observou o resto do ambiente, tendo certeza que não estava vendo ela. Na estante, em meio a vários livros empoeirados e CDs de vinis, ela conseguiu enxergar um espectro de áudio. A lembrança do avô de dizendo no jantar da noite passada que era um professor de física aposentado lhe veio à mente, e também explicava o porquê dele ter aquele aparelho. Andou até ali e percebeu que ligava, logo deveria estar funcionando. Depois de colocar os pedaços de lã de ovelha nos ouvidos, ela decidiu que era hora de colocar seus conhecimentos de física em prática.
Ela girou o botão central do aparelho e levou as mãos à cabeça quando o desprezível som chegou aos seus ouvidos. Tamanho era o desconforto daquele ruído. De início foi incômodo, mas quando ele viu ali, achou que a situação merecia um teatrinho.
— Puta merda, . — Ele xingou quando a viu e sorriu satisfeita, girando o botão para que o barulho findasse e ela pudesse retirar a lã do ouvido.
— Sons na frequência de 1.000 a 3.000Hz são os mais desconfortáveis ao ouvido humano. Eles ativam a amígdala cerebral e é um pesadelo. — Ela sorriu porque adorava dar uma de sabidinha e também porque sabia que odiava quando ela fazia aquilo.
— O que você quer? Veio me encher? — Ele respondeu, não a estava evitando um dia inteiro sem motivo.
— Só você que pode?
— Ah tá, já entendi tudo.
— Entendeu o quê? — enrugou a testa e nesse momento ajeitou a postura no sofá, apoiando as mãos atrás da cabeça.
— Você veio aqui me tirar da minha paz e tranquilidade pra não ter que conversar comigo. Ela hesitou por um momento pensando que o tempo de ter aquela conversa com já tinha esgotado há muito tempo. Depois de duas semanas nem parecia fazer mais sentido.
— Você acha que a gente precisa conversar?
— Não. — Não mais. No conceito dele. — Você me odeia porque menti pra você. — E eu te odeio porque te vi beijando o Finn. Era o que ele queria poder completar, mas odiava se expor demais e escancarar seus sentimentos sem motivo, e aquela era uma das situações. — Não acho que precisamos conversar, mas a gente devia, apesar de eu não querer trocar uma palavra contigo agora.
Àquela altura nem sabia direito o que sentia, mas no momento era uma raiva diferente, sem emoção, uma virtude que a colocava de pé, ficando alerta e centrada. A sua mãe costumava lhe dizer que com aquele tipo de raiva se usava ousadia e saber para enfrentar o que é mais difícil. Ousadia ela até tinha bastante, contudo não sabia direito o que estava fazendo.
E se fosse no início, até poderia estar certo.
— Você fala como se fosse a pessoa mais agradável do mundo, mas só está sendo enfadonho. — deu de ombros. — E pra que isso agora? Eu não falei nada durante todo esse tempo, só que você também não falou! Faz diferença?
— Faz, porque eu não sou o babaca que você acha que eu sou! — Exclamou , ele achava que tinha o direito de defender o seu caráter. — Você quer saber o que eu tava fazendo? Eu tava procurando o meu irmão, queria encontrar ele de algum jeito. O Liam e a Alisson conheciam ele da cidade que eles se mudaram no Canadá, que era onde ele tava morando. Eles têm um tio que mora em Nova York que conhece o Ethan, eu tava tentando conseguir informação.
O silêncio perdurou por alguns segundos até conseguir falar alguma coisa. Ele não olhava para ela em nenhum momento, mas não conseguia tirar os olhos dele.
— Você é um idiota.
— O quê? — Questionou ao ouvir o súbito insulto, não era bem o que estava esperando.
— Não era só você ligar pra ele?! — Ela disse indignada, era mais complicado que equações com logaritmo. — Ele não vive ligando pra sua mãe?
Desconfortável, cruzou os braços, aquele era o tipo de conversa decente que ela não estava acostumada a ter com . Ele também, visto que ainda ignorava o seu rosto. Ele respondeu tentando formar uma linha de raciocínio, mas explicar seus pensamentos era mais difícil que dividir uma maçã ao meio com as próprias mãos sem esfarelar-lá.
— Não queria que ele soubesse que tava tentando encontrar ele, e era uma coisa que tinha que fazer sozinho porque... — interrompeu aquela linha que estava dando voz a suas razões porque começou a pensar, de que aquilo adiantava? E sentiu que a conversa decente tinha ido para o ralo naquele momento. — Quer saber? Esquece, eu já desisti mesmo.
Ele levantou decidido a sair da sala em passos firmes, mas deu um passo para o lado atrapalhando o seu caminho.
— Não, não esqueço. Fica aqui.
Ela falou firme, conseguindo pará-lo, e quando finalmente pôs os olhos nela, ela começou a duvidar se realmente era aquilo que ela queria. O olhar dele parecia tirar grande parte da sua ousadia e da sua raiva.
— Você queria a verdade, tá aí.
— Eu não queria a mentira.
— Que diferença isso faz, você já seguiu em frente até que rápido, né. — Alfinetou. estava mais seco do que o solo do deserto do Saara. Ele abriu espaço para continuar seu caminho se aproximando do espectro de áudio que antes estava no poder dela. — E a frequência certa seria de 2.000 a 5.000Hz.
girou o botão e o barulho voltou, dessa vez pior, mas ele não parecia se afetar mais, diferente de , que cobriu as orelhas com as palmas da mão enquanto ele saía do recinto. Depois de desligar aquela porcaria insuportável, ficou 30 segundos naquela sala sentindo que a raiva não tinha ido embora e que ela ainda tinha coisas para dizer. Ela tinha uma boa resposta para aquela afirmação, só não sabia direito se era só mais um jeito para atingi-lo ou a mais pura verdade. A verdade dura de admitir.
Ela correu seguindo o caminho dele, chegou no parapeito da varanda, eram duras toras de madeira que circundam a plataforma. Apoiou as mãos dali enquanto se afastava cada vez mais, por isso ela gritou alto para ter a certeza de que ele ia escutar:
— Você não serve pra mim, !
parou. Seus pés frearam imediatamente e ele esperou alguns segundos antes virar e, mesmo de longe, ficar de frente para ela.
— A gente não serve um pro outro.
Ele não precisou gritar, mas sabia que ela tinha entendido. E naquele instante pela primeira vez deixou de sentir raiva e passou a sentir tristeza, mas a tristeza era um sentimento muito difícil de se lidar. A raiva era melhor e muito mais útil, apesar de não ser a verdade. E talvez os dois fossem muito parecidos, porque, para , daquele jeito também era mais fácil.
— Você tem razão, . Eu te odeio mesmo.
— A recíproca é verdadeira, cupcake.
Eles não estavam prontos para lidar um com o outro. Não sabiam a hora de falar e a de se resguardar. A hora de ser gentil e a hora de ser inteligente. Eles não sabiam conversar sobre uma relação na hora certa. e eram teimosos, eles queriam que absolutamente tudo fosse na hora deles, e a hora deles nem sempre era a mesma e nem sempre era a hora certa. Se tem uma coisa que nunca espera para sempre, essa coisa é o tempo.
E por essas razões, achava que a intuição de Maggie estava muito errada.
lhe deu as costas novamente e voltou a caminhar tranquilo. nem sabia direito para onde estava indo, mas se afastar dali era a melhor coisa a se fazer. Já ficou alguns minutos de pé na varanda esperando que ele olhasse para trás pelo menos uma vez.
Ele não olhou.

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Chapter Seventeen — The End


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— São cisnes, !
— São patos, !
— Cisnes!
— Patos!
— Você tá vendo algum pato por aqui? — questionou, estava naquela discussão com há minutos a respeito dos filhotes que nadavam no lago. — Só vejo cisnes adultos, logo são os filhotes dele.
— São bonitos demais pra serem cisnes.
Aquela semana passou rápido e enfim a sexta-feira chegou. Seria o primeiro dia de festival e todos estavam bastante animados. Eles estavam do lado de fora, matando tempo antes do horário de ir. , , , , e estavam perto do lago jogando pão para as aves ornamentais.
, pelo amor de Deus, acaba logo com essa discussão. — disse.
— Sim, são patos ou cisnes? — perguntou, mas o amigo não respondeu. estava rígido, com os braços cruzados e a cara fechada observando o limite onde o céu encontrava o lago. Tudo para não ter que olhar para trás, onde estava com , ambas sentadas na grama com uma mamadeira nas mãos alimentando a égua Pepita com Henry as ajudando. Um pouco mais cedo, o casal tinha tido uma pequena discussão e ainda não tinha conversado para fazer as pazes.
! — gritou. — Dá pra dizer logo que eu estou certa?
— Até com isso você quer ser a dona da razão, ?
— Nenhum dos dois está certo, caralho. São gansos, são a porra de filhotes de gansos, está bem?
— Ei, cara, calma aí. — Disse , mas lhe deu as costas. Ele passou pelo amigo, irado, e duvidou que a força dos seus passos fosse capaz de criar buracos na terra. Decidiu ir atrás do amigo.
— Que grosseria. — cruzou os braços e piscou quando um pedaço de pão atingiu o seu rosto. riu, ele tinha o saco nas mãos e a garota estava sendo a sua mira favorita. — , dá pra parar? Você tem quantos anos?
— Não! — Ele disse jogando outro pedaço e rolou os olhos.
— Que inferno, tá sujando todo o meu cabelo de migalhas.
— São esses os grandes problemas da humanidade pra você? — Debochou e pegou o último resquício de paciência que tinha e o jogou longe. Ela foi para cima de , que dava passos para trás até ter que parar, caso contrário cairia na água. agarrou o pulso de e o virou dando uma linda chave de braço.
— Joga esse pão em mim de novo que eu te atiro nesse lago, !
— Eu sei nadar, bebê! — Ele riu e , tomada pela raiva, forçou mais ainda o braço imobilizado dele. Podia não parecer, mas a garota tinha muita força nos membros superiores.
— Quem disse que você vai estar acordado.
e apenas assistiam enquanto riam. Os olhos de suplicaram na direção do amigo.
— Uma ajudinha aqui, dude.
— Quem mandou você mexer com a garota, cara? Agora aguente. — disse e sorriu na direção dele.
— Tá bom, foi mal, . — Cedeu . — Não faço mais.
— Eu tenho certeza que você não vai fazer mais. — sorriu satisfeita, o soltando.
— Você poderia ir embora hoje, pra que esperar até segunda? — Ele disse, arrumando a barra da camisa, e fechou a cara ao ouvir a frase.
— Seria o seu sonho. — arrancou o saco de pão das mãos dela e caminhou para o outro lado do lago. apenas acenou com os dedos, dando um “tchauzinho” elegante.
— Confesso que eu queria ter visto você jogando ele no lago. — se aproximou.
— Sério?
— Claro, às vezes é um pé no saco. — Ele disse, jogando uma pedrinha no lago de um modo que a fizesse pular três vezes na superfície, e riu, concordando.
— Que pena, quem sabe na próxima quando o chamar a gente pra vir aqui de novo.
— Muito chato, você vai antes de todo mundo.
— Eu sei. — abaixou a cabeça, lembrando que aquele era o último final de semana junto com os amigos. Depois dali só os veria em dias, pouco antes do retorno das aulas, mas, apesar disso, ela estava com saudade do namorado e queria viajar com a mãe como sempre fazia nos verões. — Mas já tinha combinado com a minha mãe e o Elliot.
— Poxa, é uma pena.
decidiu deixar e jogando pedras ali e se aproximou de , que estava abaixado na margem do lago. De alguma forma ou de outra, ele tentava mirar os pedacinhos de pão dentro dos bicos dos gansos, mas não estava dando muito certo.
— Essa sua amiga, , ela é o diabo. — Ele resmungou quando a viu se aproximando.
— Você também provoca, né?
— E estou errado? — ergueu a cabeça na direção dela e foi impossível para não rir. Mesmo tendo esperança que aquela birra entre os amigos um dia acabaria, ela tinha que admitir que às vezes achava divertido.
— Sim, está. Isso perturba a paz.
— Paz? — Questionou, incrédulo. — Com aquele anticristo? Jamais.
— Para de chamá-la assim. — revirou os olhos, mas riu logo em seguida.
— Vá, continue defendendo a sua amiguinha. — focou bem na sua missão de alimentar aqueles gansos e aproximou sua mão do bico de um deles, mais do que deveria, e pequena ave não teve a mínima compaixão ao bicar o seu dedo. O susto foi grande ao ponto de derrubar o saco na água. — Puta merda! Seu filho da putinha. — Ele xingou e o ganso esganiçou na direção dele. — Vai bicar a sua mãe. — O bicho chiou novamente e rebateu como se discutir com o animal fosse algo significativo. — Bicho feio do caralho.
— Eu não acredito que você tá mesmo brigando com um ganso. — Falou tentando afastá-lo da beira do lago. — A bicada atingiu a sua cabeça?
— Tá doendo pra caralho, . Me lembre de não chegar mais perto desse lago.
— Pode deixar. — pegou a mão dele, observando o lugar da bicada avermelhado. — Mas você já sabe pra onde vai quando a gente for embora daqui? Você não me falou mais como estão as coisas com os seus pais.
— Minha mãe me chamou pra viajar com ela. — , mais calmo, observou o singelo movimento da mão dela na dele. Ele gostava quando ela o tocava, mas sabia que não podia se iludir com aquilo. — Meus pais não estão morando mais juntos, eles vão dar entrada no processo de divórcio.
— E isso é ruim?
— Não. É bom, muito bom. Estou animado. — Ele sorriu. — E você?
— Estou com saudade da minha mãe. Quando ela me ligou no último dia de aula e eu disse que ia demorar mais duas semanas pra chegar lá, ela quase surtou.
sentou na grama e se aconchegou ao seu lado.
— Vocês vão ter bastante tempo pra matar a saudade.
O silêncio prevaleceu por alguns segundos. O tipo de silêncio que você só conseguia em um lugar como aquele. olhou para a água cristalina, feliz com aquele momento. Ela gostava do jeito que ela e estavam lidando com as coisas, nenhuma mágoa havia ficado ali e ele ainda se sentia seguro para lhe contar as coisas. Percebeu que tinha mudado muito desde a primeira vez que se reencontraram. Ela até sentia falta de algumas coisas.
— Sabe o que eu percebi? — Cortou o silêncio e ele a olhou interessado.
— O quê?
— Você parou de fumar.
deu de ombros, aquilo era verdade. Ele gostava de fumar para não se sentir estressado e porque tinha liberdade para aquilo, mas, desde que os pais decidiram se separar e pararam de brigar, ele vinha diminuindo cada vez mais o ritmo da nicotina. Porém levantou a barra da blusa, deixando à mostra a caixa de Lucky Strike presa no cós da calça. — Está lacrada. Eu deixo ela aí, mas não pego nenhum.
— Perdeu a graça?
— Não sei, quem sabe não achei outras formas de prazer? — Ele piscou.

nunca achou que teria uma bezerra no colo. Ela estava sentada na grama, com as pernas abertas, com a cabeça da bezerra, Pepita, apoiada na sua coxa enquanto estava ao seu lado segurando uma mamadeira. Henry e Maggie estavam ao lado ensinando às duas o jeito certo de fazer. Pepita tinha alguns meses de vida e era a queridinha da fazenda. Para alguns, o melhor amigo do homem era o cachorro, mas, para os irmãos , era a égua Pepita.
— Meu Deus, ela é tão fofinha. — Comentou e teve que concordar, acariciando a sua cabeça.
— Demais!
— Vocês estão fazendo certinho. — Disse Henry satisfeito, ele adorava ter a atenção das duas garotas. não pode deixar de perceber o sorriso dele mais direcionado à , que fingiu não perceber. Ele arrumava o chapéu de forma tão encantadora que era impossível não perceber que aquilo era um flerte. Mas, antes que ela pudesse estreitar os olhos, o clima gostoso que estavam tendo pareceu se esvair quando , seguido de , passou por eles, indo em direção à casa, já que eles estavam próximos da escada da varanda.
— É aí, primo! — Falou Henry quando o viu.
— Anda, Maggie, precisamos apressar seus pais. — falou, ignorando Henry, e a garota levantou, o seguindo.
mal conseguiu julgar o olhar desdenhoso de ao namorado e como ele lhe deu as costas facilmente, porque ela teve que perder um bom tempo naquela troca de olhares que teve com . Os olhos da garota estavam em estado de alerta e, por eles, ela queria transmitir uma mensagem, como se ali houvesse uma grande placa de “fique longe!”, como o aviso de ‘cão bravo’ no portão de um quintal. Já reprimiu a vontade de lhe implicar com alguma coisa, se contentando com o olhar.
A última discussão deles ainda estava bem viva e era tão real que os dois estavam prontos para cruzar aquela linha novamente e restabelecer o caos naquela relação, se fosse preciso.

~~x~~


O Festival Anual de South Lakeland era uma explosão de acontecimentos. não fazia ideia de para onde olhar primeiro, o lugar era enorme, a céu aberto e sem muros delimitando o espaço. Havia tantas pessoas; a média de público costumava girar em torno de quarenta mil cabeças, de acordo com os primos de , o que justificava a variedade de atividades. Tudo era perfeitamente divido: a agricultura, música, áreas de lazer e entretenimento que focavam na vida rural da Europa, mostrando o gado de primeira qualidade, as comidas e bebidas excepcionais e as tradições rurais.
comentava, enquanto eles andavam pelo espaço, que o evento todo foi criado há muitos anos e era inspirado no Highland Showground da Escócia e adaptado ao modo de vida inglês. Ambos espaços eram dominados por produtores ingleses, mas havia uma presença significativa de outras partes do Reino Unido e se formavam mais além; como viticultores europeus, fabricantes de salames alemães e escoceses.
Sem falar na música, o festival de South Lakeland era uma festividade barulhenta. Bandas e grupos musicais diferentes tocavam em dois bandstands; bandas menores e conhecidas na região, com uma ou outra grande atração. Normalmente, mais de 50 bandas e grupos musicais diferentes, incluindo bandas escolares e de rock, tocavam no show. não via a hora de pôr os pés em cada lugar, ela queria conhecer tudo; já viu o evento como uma boa forma de distração. Apesar de ele não conhecer as bandas, a música não era ruim e as melodias eram boas para acompanhar.
A paixão por queijo era uma premissa daquela solenidade, então Maggie tratou de arrastar todo mundo para a corrida que dava início ao festival. Ela envolvia pessoas audaciosas se arremessando pelas encostas íngremes e gramadas de Hawkshead, na busca por queijos Double Gloucester. Havia corridas morro abaixo ao longo da tarde, com baterias para homens e mulheres, mas a primeira era sempre a que importava.
— Seu avô vai mesmo correr? — Perguntou a quando chegaram na grade.
— Ele participa todo ano, seria estranho se não corresse.
apertou os olhos e de longe conseguiu enxergar o Sr. se alongando. Os amigos se juntaram lado a lado na grade quando o mestre de cerimônias deu início à corrida rolando um queijo Double Gloucester de 4 kg abaixo. Dezenas de competidores começaram a correr atrás dele, saltando entre as pedras atrás do prêmio. ficou uns minutos acompanhando o avô de até olhar entre os amigos e perceber que faltavam dois.
— Cadê a ?
Ela perguntou e deu de ombros não se dando o trabalho de olhar também para conferir.
— O Henry também não está aqui, será que eles se perderam? — Perguntou , que estava do outro lado de . conseguia sentir o olhar das duas amigas sobre si.
— Eu não sou a melhor pessoa para ir atrás da nesse momento.
— O sinal aqui é horrível. — Falou olhando o celular e descartando a ideia de mandar uma mensagem para a amiga. — Vou atrás deles.
— Vou com você, preciso ir ao banheiro. — Anunciou e os dois se afastaram.
não estava mais interessada na corrida, diferente de Maggie e os outros, censurou com os olhos o seu melhor amigo. Ela era o tipo de amiga que gostava de saber o que estava acontecendo e percebia facilmente quando as coisas não estavam bem. E, principalmente, quando tinha as suas aborrecíveis mudanças de humor.
— Eu odeio quando você faz isso.
— O quê?
— Quando acontece uma coisa ruim e você despeja em cima de todo mundo.
— Você está com raiva de mim agora?
— Não, mas… Seja agradável ou fique quieto, .
Aconselhou e decidiu voltar a sua atenção à corrida, enquanto começava a se preocupar. Quando dava aqueles conselhos mais firmes, ele sabia que estava fazendo alguma coisa errada.
— Cadê o e o ?
perguntou quando a corrida terminou.
Todos estavam surpresos com Antoine, que, apesar de não ter ganhado, chegou bem perto para a sua idade, competindo com pessoas tão mais jovens.
— Estão ali. — Apontou Maggie ao ver os dois garotos andando em direção a uma enorme exposição de máquinas, suprimentos agrícolas e artigos esportivos ao ar livre.
— Será que dá pra vocês não saírem assim? Já perdemos dois. — Disse os alcançando.
— Desculpa, . — gracejou e fez algo inesperado: a mão dele subiu gentilmente pelas suas costas até lhe abraçar pelos ombros e lhe puxar para perto. — Esqueci que você ia morrer de saudade.
A primeira reação que teve foi paralisar por completo. Ela não esperava aquilo e demorou certo tempo até os seus braços voltarem a vida e ela tomar a iniciativa de se afastar.
sabia dos seus encantos. Conhecia seus impulsos, por mais que não os conseguisse dominar. Ele sabia bem do que era capaz e dos efeitos que podia causar. E estava se aproveitando muito bem daquilo.
Babaca ridículo!, ela pensou.
— Com toda certeza, tanto é que estou imaginando dirigir esse trator enquanto passo por cima de você.
riu, adorando o fato de tê-la pegado desprevenida, e ao invés de bater ele mandou um beijinho no ar. Já era quase automático para revirar os olhos de desinteresse achando aquela uma péssima atitude, pois, na visão dela, quem vivia se achando demais uma hora acabava se perdendo.
— Meu Deus! Precisamos de uma foto ali, vamos, só as meninas. — puxou Maggie e pelo braço quando bateu os olhos em um dos tratores da exposição.
Um jovem rapaz se aproximou, vestia um macacão largo jeans, sem camisa por baixo, exibindo seus braços e tronco corpulento. Um crachá pendurado no seu macacão indicava que ele era um dos responsáveis por fiscalizar o local e fornecer informações. Aos poucos foram percebendo que haviam outros vestidos exatamente iguais a ele espalhados pelo gramado.
— Boa tarde, garotas, posso ajudar?
Ele perguntou com seu sotaque marcante do interior.
— Nós podemos entrar pra tirar uma foto? — apontou para o trator. Seria uma bela foto para o seu feed no Instagram.
Ele sorriu e concordou com a cabeça. observou bem o homem, ele era bonito, tinha uma barba rala e um chapéu que protegia sua cabeça do sol quente. Ela olhou para rapidamente e viu ali uma oportunidade.
— Quem vai tirar? — Disse estendendo o celular. o pegou, indo na direção do homem.
— Se importa de tirar uma foto para a gente?
Deu o seu melhor sorriso simpático, era o que ela usava quando estava interessada em garotos.
era bom em fazer várias coisas, mas esconder os seus ciúmes não era uma delas. Ele odiava admitir, mas era um cara ciumento; não tinha atitudes extremas, mas ele não conseguia assumir quando se sentia incomodado com algo e por esse motivo se enfiou entre a mão de e o cara antes que ele conseguisse pegar o celular.
, você não tem vergonha de atrapalhar o pobre homem no trabalho dele? Eu tiro a foto.
sorriu, tentando ser o mais convincente possível sobre aquele ser o único motivo para ele preferir bater aquela foto; já estava satisfeita por dentro. Se aquilo era um jogo, ela tinha conseguido marcar um ponto.
1x1 .
, , Maggie e apenas observavam, porque quando se tratava de e você sempre poderia esperar um show. Maggie cochichou:
— Eles sempre são assim?
— Sempre. — Os outros três falaram ao mesmo tempo e balançaram a cabeça, já estavam tão acostumados.
tomou o celular da mão de e ela seguiu para dentro do trator com e Maggie. As três se juntaram e sorriram para a câmera. posicionou o celular para tirar a foto, logo depois de pensar em um jeito de sacanear a irmã mais nova de . Era algo pequeno e idiota, mas ele sabia que a incomodaria.

~~x~~


Naquele momento, se perder dos amigos, para , pareceu a melhor coisa que tinha lhe acontecido. Um pequeno desespero bateu quando olhou para os lados e não encontrou nenhum deles, mas o alívio veio em seguida quando Henry movimentou-se na sua direção. Ela queria ficar longe de , não planejava estragar o ânimo dos amigos com o seu péssimo humor. De início, a dupla até tentou procurá-los, mas desistiram e estava muito mais interessada no modo como Henry a apresentava para as coisas que ele conhecia do festival. E o tempo que passaram juntos, eles se divertiram.
Quando e saíram para procurá-los, não esperavam ficar rodeados de crianças. O Kid Field era um festival para crianças dentro do festival principal, com brinquedos para todas as idades. Uma grande área verde era incorporada, a The Green Kids Area, com atividades de aventura, como muros de escalada, barcos de madeira, corrida de sacos, cabo de guerra, corrida de ovos e colheres, e diversos espaços para gastar energia. Workshops e shows de teatro e circo completavam a programação e era um ótimo lugar para pais deixarem as crianças quando quisessem aproveitar alguma atração mais adulta. Havia diversos carrinhos de doces, e Henry estavam próximos a um de algodão-doce.
— Nossa, , finalmente! — Falou , ela estava ligeiramente preocupada imaginando que Lari estaria desesperada, mas não podia estar mais tranquila comendo um pedaço de açúcar cristalizado.
— Vocês estão fazendo o que aqui?
— Ué, nós viemos atrás de vocês. — Disse como se aquilo fosse evidente. — Esse lugar é enorme, não dá pra gente ficar andando dividido assim.
— Tava preocupada, pensei que você estivesse totalmente perdida.
— Relaxa, , estou com o Henry, ele conhece isso aqui como a palma da mão dele. Não é, caubói?
Henry sorriu e assentiu.
— Certo, então não vai ser difícil pra gente achar os outros, vamos! — Exclamou , esperando que os outros o seguissem, mas não tirou os pés do lugar.
— Pra quê? Não quero olhar pra cara do agora, ele que pegue o complexo de superioridade dele e vá pra casa do caralho!
— Ah, então foi isso, vocês brigaram. — falou e concordou, firme, sem nenhum arrependimento.
.
— Não, ! — Ela exclamou antes que o amigo pudesse argumentar. — Não quero encontrar ele agora e o Henry ia me mostrar o RHET.
— Isso mesmo.
— O que é o RHET? — Perguntou .
— É o Centro de Descoberta do RHET. Eles organizam uma variedade de atividades práticas para crianças com uma seleção especial dos parceiros do festival. — Respondeu Henry começando a andar com ao seu lado em direção à tenda.
— Tá, então vamos com vocês. — Disse de má vontade. Ele não queria fazer isso e estranhou muito que Henry, ao invés de querer ajudar, preferia que as coisas continuassem daquele jeito.
— Você não precisa ir lá só porque eles querem. — Henry murmurou a , ela estava ao seu lado, o maxilar travado indicava que ela não estava aproveitando o que era para estar sendo divertido.
— Eu sei.
— Já que o não tá nem aí.
— O que quer dizer?
Parou de andar e levantou uma sobrancelha para ele. Henry era legal, mas já tinha percebido que às vezes ele agia somente em prol dos seus interesses.
— Nada, só que… se ele se importasse mesmo, viria atrás de você.
— Henry, o é o meu namorado e eu conheço dele. Não gosta de resolver nada de cabeça quente. E sinto dizer, mas se ele viesse agora eu o mandaria embora de novo.
Ela decidiu continuar andando, decidida a matar aquele assunto de vez.
e vinham logo atrás enquanto repreendia a cara feia que fazia para o primo de , mas ele não se sentia nem um pouco errado. Quando não, um grupo de crianças os cercou e os arrastou para uma disputa de cabo de guerra.
.
— O que foi? — Respondeu ela do outro lado da corda. Os dois estavam um de frente para o outro enquanto um bando de crianças dividas por gênero de cada lado colocavam a maior força que tinham nos braços para puxar a corda. — Quer me distrair pra vocês vencerem?
— Não. Quer dizer, também. — sorriu, divertido. — Mas por favor, me diga que eu não fui o único que não foi com a cara do Henry.
balançou a cabeça segurando a corda firmemente, o time dela era só de meninas e elas estavam ali para mostrar do que eram capazes. — Não sei, ele pareceu bem legal. Acho que você só tá comprando as dores do .
— É, deve ser isso.
respondeu, mas não estava cem por cento convencido, ele ainda tinha suas desconfianças e pensar muito naquilo lhe distraiu da brincadeira, os dedos escorregaram da corda e todo o time masculino foi puxado para frente. riu caído no chão e pulou com a vitória das meninas.

~~x~~


A Marquise de Mel era o lugar favorito de Maggie em todo o festival, primeiro porque ela gostava de degustações e mais ainda de doces. Por esse motivo implorou a para que fossem lá em seguida. O primo foi resistente no início porque não era chegado a doces, sem falar na sua alergia à picada de abelhas, mas acabou cedendo. Além do mel, a vitrine de produtos agrícolas oferecia degustações de queijo, manteiga e sorvete que chamaram bem a atenção de .
estava colada ao lado de enquanto Maggie e estavam na fila, a amiga tinha o celular ligado passando todas as fotos que tiraram até o momento, chegando na imagem das três garotas dentro do trator.
— Não acredito! — Exclamou ao ver que tinha colocado um filtro de palhaço na cara dela. Só na cara dela. Ela achava impressionante que, mesmo na tarefa mais banal quanto tirar uma foto, ele achava um jeito de sacaneá-la. Mas no jogo e no amor valia tudo, por mais idiota que fosse.
1x2 .
E mais uma vez ela estava perdendo.
— Esquece isso, .
— Esquecer? A minha vontade é esfregar uma galinha doente na cara dele e torcer pra que o morra de gripe aviária!
— Não, seu coração explodiria. — Riu e decidiu permanecer quieta, pois ali tinha um quê de verdade na frase. — Que besteira, podemos tirar outra.
— Quando se trata de mim e do , nada é uma pequena besteira, . — foi até o outro lado da Marquise, onde estava observando um apiário de abelhas protegido por um vidro transparente para que os visitantes pudessem observar os insetos sem ter contato com eles.
— Aquilo foi o melhor que você pode fazer, ?
se aproximou o suficiente e deslizou o dedo para dentro do pote pequeno de mel que ele tinha pego com Maggie. Sujou o dedo o bastante para tocar o nariz de e deixar ali um doce ponto de mel.
— Gostou da homenagem, palhacinha?
Ele sorriu e ela ficou sem reação, porque eles estavam perto demais para a atual situação de ambos, mas logo se recompôs, limpando o lugar sujo com a palma da mão.
— Olha, eu não vou entrar nesse seu jogo esquisito de sedução.
— Más notícias, você já entrou. — Ele se aproximou. — Espero que esteja gostando, porque senão… Isso seria trágico.
Ela olhou para o apiário.
— Trágico seria se eu ‘acidentalmente’ derrubasse esse vidro de abelhas em cima de você...
— Me atropelar com um trator, jogar um apiário em cima de mim, o que mais? — Ele piscou e levou as pontas dos dedos até o queixo dela, mantendo firme todo o seu maxilar na ponta das suas falanges. Foi o suficiente para manter um contato visual que misturava desejo com repulsa. — Vamos com calma, cupcake, vão começar a achar que você me odeia.
— Que inferno, !
Ela o empurrou virando de costas, decidindo olhar para Maggie, que tinha algo interessante nas mãos. tinha provado mel diretamente de um pedaço da colmeia e era tão diferente e melhor do que os industrializados que ela costumava comer em Manchester.
, vem aqui! Consegui outro um pedaço da colmeia pra você.
a observou se afastar com um belo sorriso. Mudar a sua estratégia foi a melhor coisa que fez.
estava ocupado demais com as degustações de sorvete, então ele foi até , que estava do lado de fora da Marquise, se mantendo o mais longe das abelhas possível.
, você está quieto demais.
, me diga palavras de encorajamento para que eu não mate ninguém hoje.
— Não tem Netflix na cadeia?
— Bom argumento, e preciso ficar quieto. Um certo alguém me disse que era essa uma das minhas opções e não vou dizer quem é esse alguém.
— Por quê?
— Porque isso vai me fazer falar de garotas. E não quero falar de garotas agora. Pelo menos não com você.
— Ei! Por que não eu?
— Seus conselhos são péssimos, .
— Não são, não… Tá, talvez sejam. — o olhou como se dissesse “eu disse” e lhe deu um tapinha nas costas de consolação. — Mas posso dizer uma coisa genérica: tudo vai ficar bem, . Você tem um cabelo legal. As coisas geralmente funcionam pras pessoas que tem um cabelo legal.
, eu uso óculos. O cara que usa óculos sempre se dá mal.
— Na verdade, é o contrário. Ele pode se dar mal no começo, mas não no final. Você não assiste comédias clichês? Cinéfilo de merda.
— Vai se foder! — Xingou e soltou uma risada. — Desde quando você assiste comédias clichês?
— Não posso falar.
— Por quê?
— Vai nos levar ao assunto ‘garotas’.
balançou a cabeça entendendo, os amigos entraram em um repouso silencioso enquanto terminava o que tinha dentro do seu potinho de mel quando o grito de chamou a atenção dos dois.
— Você não fez isso, não fez, VOCÊ NÃO FEZ ISSO, . — Ela exclamou. tinha uma colher cheia de mel presa no cabelo e cada vez que ela mexia a cabeça mas a colher se misturava nos fios. tapou a boca com a mão esquerda com vontade de rir. Não que ele tenha feito de propósito, não cem por cento de propósito, mas a cena era hilária.
— Eu não fiz! Você não pode provar! — Soltou ele correndo para se proteger atrás de uma prateleira.
— A MINHA MÃO NA SUA CARA QUE NÃO FOI VOCÊ. — Ela disse do outro lado, encarando o seu rosto pelas frestas. A Marquise não era um local muito grande, mas mesmo assim os dois começaram uma pequena demonstração de Tom&Jerry.
— Foi sem querer, ! Eu juro! — exclamou decidindo confessar, mas ele não conseguia parar de rir, o que só aumentava a raiva de enquanto o perseguia. Para ela, o seu cabelo era o seu patrimônio sagrado, ela esmagaria com as próprias mãos quem ousasse destruí-lo.
Maggie, vendo que as coisas não iam bem, decidiu interferir.
— Parem com isso! Vão colocar a gente pra fora daqui.
— Viu, , pare com isso. — Disse . Ele aproveitou a deixa para se esconder atrás de Maggie, se protegendo de .
— Vou parar depois que eu te matar! — Ela rosnou, querendo arrancar , que parecia um gatinho assustado atrás do corpo de Maggie, pelos cabelos.
, calma!
— Vou ter mais calma se você me disser que existe um ringue de UFC neste festival.
— Pode ser que tenha algo parecido na Arena Florestal.
Maggie riu e engoliu em seco.
— Vamos pra lá! — se intrometeu porque a ideia também a agradava.
se afastou, pegou uma última degustação na Marquise e se dirigiu para fora da loja. Os outros seis vinham logo atrás dela. gostava de ir na frente, mas naquela ocasião ela não conhecia o lugar e não sabia o caminho para a Arena, então logo teve que esperar para acompanhar os outros. Usou seus dotes de atriz para fingir um tropeço na direção de e fez questão de derrubar todo o mel do copo na camisa cinza dele. Uma obra de arte, ela diria.
— Ops!
— Porra! — Ele esticou a barra da camisa sentindo a pele da barriga e do peito começar a ficar grudenta enquanto fazia a maior cara de inocente que conseguia.
— Foi sem querer, .
Ela sorriu exultante caminhando para perto de , sentindo que o seu cabelo foi vingado.

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Fora dos salões de exposição e anéis de gado, ficava Arena Florestal: uma ampla gama de eventos competitivos e de exibição. Se a Marquise de Mel era o lugar favorito de Maggie, amava a Arena. Aquele era o lugar perfeito para jovens cheios de adrenalina, e também porque ele sabia que não iria querer colocar os pés ali tão cedo. Os seis se divertiram bastante por algum tempo. Duas horas depois, , , e Henry finalmente os encontraram e todos decidiram continuar explorando a arena, mas em grupos menores. Eles se dividiram em trios ou duplas para acompanhar os concursos de obediência de cães, fazer falcoaria, tirolesa, escalada e outras atividades rurais e não rurais.
estava andando com e para todos os lugares. A cada nova atração elas tiravam fotos e gravavam vídeos. As duas tinham conseguido convencer a descer na tirolesa. A menor tinha início em um alta árvore com aterrissagem na grama. Super tranquilo e seguro, não era como se estivessem atravessando um rio a seis metros de altura da água, mas agiu como se fosse. Quando finalmente desceu, já estava pronta. O instrutor se certificou de prender bem o equipamento e de lhe dar um capacete.
A descida, apesar de curta, foi recreadora. só não esperava que, quando ainda estava escorregando, alguém se enfiasse no caminho da aterrissagem. A pessoa estava de costas e distraída, mas ela sabia bem quem era. Ela até tentou parar, mas era impossível frear aquilo sem antes colocar os pés no chão.
Quando se deu conta, estava em cima de . O corpo dele projetou para frente e caiu em cima do próprio pulso dobrado.
— Caralho, , você ficou louca? — disse alto quando se deu conta do que tinha acontecido e todos os amigos viraram para olhar a confusão e se aproximaram. saiu de cima dele depressa, um pouco preocupada e ao mesmo tempo assustada com a reação dele. levantou sentindo a dor aguda nas articulações do pulso. Podia ter sido só uma torção, mas para um guitarrista aquela era a pior coisa do mundo.
— Eu? Louca? Você fica bem no meio do fio, na área de aterrissagem, e a culpa é minha?
— Foda-se! Olha o que você fez. — Ele rosnou, deixando à vista o pulso imóvel, quase gemendo de dor.
— O quê? Eu não fiz de propósito. Eu falo demais, , mas eu jamais faria algo pra te machucar.
— Claro que sim. — Ironizou, dessa vez ele estava bravo de verdade. Pressionou o pulso contra o próprio abdômen numa tentativa de imobilizá-lo. procurou um dos com os olhos, se naquele evento tivesse alguma tenda hospitalar eles saberiam onde.
— É isso que você pensa de mim? — O tom de acusação era sério demais, ela jamais imaginava que pudesse pensar assim, mas a mágoa já tinha se instalado no seu corpo ao mesmo tempo que estava cansada de se culpar. — Quer saber? Eu até teria pena e pediria desculpas, mas pela sua grosseria eu quero mais é que se foda.
deu as costas e se afastou, se precisasse de ajuda ele teria oito pessoas à sua disposição. Ela não estava mais afim de encarar aquilo. O placar não importava mais porque aquele não era o jogo que ela queria jogar.

~~x~~


A arena de comida e bebida oferecia oportunidades consideráveis ​​para testes de sabor e tinha uma cozinha de demonstração que oferecia aos visitantes sugestões em casa para preparar e servir os produtos oferecidos. Os oito decidiram parar para comer em uma das tendas temáticas que promovia um delicioso banquete medieval. fez questão de sentar o mais longe possível de , que resmungava o tempo todo sobre não conseguir segurar o garfo direito com a mão esquerda.
o acompanhou até a tenda hospitalar e os paramédicos e enfermeiros auxiliaram com um tala no pulso e um analgésico, avaliando que de fato foi apenas uma torção.
não estava interessada nas suas dificuldades e muito menos em se desculpar por elas, e jogou na cara de que ele estava fazendo um drama desnecessário; mas o clima pesou quando Henry tentou contar piadas e não conseguiu se segurar ao dizer que aquilo era inútil e horrível. A facada veio quando defendeu seu primo. E logo o jantar se transformou no momento mais desagradável do dia.
No fim da tarde, a corrida de cavalos era o grande festejo que encerrava o primeiro dia de festival. Uma arquibancada rodeava a enorme arena. Ellen e Nathaniel conseguiram lugares exclusivos para que toda a família e os amigos do sobrinho pudessem apreciar a maratona confortavelmente.
Maggie, Henry, , , e sentaram juntos, eles eram os únicos ali realmente empolgados com a corrida.
— O que aconteceu com a sua blusa? — perguntou quando notou a enorme mancha na camisa de .
— O que você acha? Foi aquele anticristo. — Ele olhou para o lado, três pessoas o separavam de e ela mandou um tchauzinho quando o viu e deu risada.
queria sentar com , mas desistiu quando viu que a garota estava conversando com , então ela decidiu sentar com , que se encontrava um pouco mais afastado dos outros.
, você ficou chateado? Pelo jeito que eu falei hoje? — Ela perguntou assim que se sentou. — Acho que fui muito seca e direta em um momento que eu sabia que não era muito bom.
— Não, , não fiquei chateado. Você, na verdade, estava com a razão. — Ele sorriu e sentiu um certo alívio. Resolver as coisas com era muito fácil. — E eu segui o seu conselho.
— Ótimo. — Ela segurou a mão dele e apertou, tinha uma parceria ali que ela sentia que não fosse encontrar em lugar nenhum no mundo. — Muito drama.
— Olha quem fala!
— Exatamente por isso. — Suspirou.
— O que quer dizer?
— Sei lá... acho que eu só tô ficando cansada... — Ela olhou para onde estava sentado com . e tinham um ar tão alegre, era uma amizade admirável. Talvez ele tivesse o que ela tinha com . — De tanto drama.
— De verdade? Não acho que ele pense isso. Que você o machucou de propósito, aquilo foi a dor falando por ele.
— Eu não sei mais de nada. — Lamentou. No fundo queria que estivesse certo, mas quem tinha que se redimir era . Não estava na mão dela a obrigação de começar nenhuma conversa. — Afinal, o que estamos fazendo? Essa coisa toda foi ridícula.
— Que coisa?
— Não viu como nos tratamos o dia inteiro?
— E daí?
— E daí que não era pra acontecer. Não era pra ele achar que pode ficar tão perto de mim. Nós rompemos.
— Talvez… — Ele começou, não sabendo bem se deveria dizer aquilo à , mas talvez fosse o melhor. — Vocês tenham rompido, mas não colocaram um fim nisso.
arregalou os olhos porque o que disse fazia sentido. Cruzou os braços, inquieta, observando a fileira de cavalos que se estendia lado a lado.
— Por isso estou cansada de dramas!
— O que tem a ver, ?
— O fim, . — respondeu. — Dramas retardam o fim. Dão uma falsa sensação de que colocamos um fim em algo, quando, na verdade, nada acabou. E nos confundem ao ponto de não sabermos quando devemos acabar.
E foi aquilo que decidiu que faria em diante: colocar um fim. A vida não é um jogo, mas, se você continuar achando que é, chega um dia que você simplesmente perde. Ela queria falar aquilo para , mas decidiu que não precisava da ajuda dele para tomar aquela decisão, muito menos conversar com ele sobre.
olhou para , percebendo que a escolha de era boa, mas ele não queria fazer a mesma coisa. Pediu licença à , que foi se sentar com os outros, e foi em direção aonde estava. se retirou quando viu que ali ia ter uma DR.
— Oi.
Ele falou sentando ao lado dela.
— Oi.
— Estava tendo uma conversa com a . Sobre drama e fins.
— E chegaram a que conclusão?
Seus olhos estavam esperançosos e decidiu segurar as suas mãos.
— Que eu não quero isso pra gente.
— Legal, eu também não! Mas é difícil quando a gente não consegue se entender.
— Então vamos nos entender. — disse antes que aquilo virasse uma discussão e suspirou.
— Você pode começar respeitando as minhas escolhas. Passar as férias com a minha família não significa que eu não goste mais de você.
— Não é que eu não respeite as suas escolhas, eu entendo isso.
— Então o que é?
— É que… Estou sentindo falta de um companheirismo aqui.
abriu a boca um pouco surpresa, porque aquilo não fazia sentido para ela; mas era o sentimento de , por mais que ele não quisesse sentir aquilo, ele sentia.
— Como é?
— Uma semana, você recusou todas as vezes que eu te chamava pra fazer alguma coisa, mas ia com o Henry pra todo lugar.
revirou os olhos. não era ciumento, mas tinha uma implicância enorme com o primo. Na visão dela não tinha feito nada de errado, apenas recusado planos que ela não tinha vontade de fazer. Já achava que ela podia se doar um pouco mais. Estava ali um grande impasse que eles estavam enfrentando por serem tão diferentes.
— Você não confia em mim, já entendi. — Acusou. Ela soltou as mãos dele para cruzar os braços.
— Eu não disse isso, !
— Quer saber? Não vamos chegar a lugar nenhum. — levantou, descendo um degrau na arquibancada; ela olhou para novamente antes de se mover. — Eu vou manter o plano original. Vou com os meus pais pra Liverpool e depois...
— Depois o quê?
— Eu não sei. — Ela olhou para baixo. — Acho que a gente precisa de um tempo. Até colocar as coisas no lugar.
— Ótimo.
deu um sorriso triste, e levantou antes que ela pudesse se mover. Ele voltou para o lugar que estava antes. Não estava com raiva, apenas conformado, talvez aquela fosse a melhor solução no momento. Se achava que ele não respeitava suas decisões, ela estava muito enganada.

~~x~~


[16:46] : Vou voltar para Manchester dia 16 provavelmente. O casamento é dia 25, você acha que consegue vir?
[16:47] Finn: Putz , estou na casa do meu pai. Acho que só vou voltar no início das aulas, mesmo.
[16:47] : Ah que pena 😕 Te vejo na escola então.
[16:47] Finn: Estou ansioso por isso! 😜😜😜

bloqueou o celular e decidiu sair do quarto para ajudar a sua tia um pouco. Os dias no rancho não poderiam ter sido melhores para ela, mas era uma pena que passaram tão depressa. Faltavam duas semanas para a cerimônia de casamento do seu pai com Elsie e ela e decidiram fazer uma visita à sua tia Debby na casa dela em Londres. Cinco dias muito especiais, pois as férias estavam passando rápido demais, as aulas voltariam no início de setembro e dali faltava menos de um mês.
Débora morava em um apartamento em cima da sua floricultura. O lugar dava a uma sensação boa, porque sua mãe costumava morar ali com a irmã enquanto as duas ainda eram solteiras.
Antes de descer as escadas, passou pelo quarto de . Era um privilégio para eles ali não ter que dividir o quarto, já que a vida toda cada um sempre teve o seu próprio quarto. Quando passou na frente, foi impossível não ouvir quando disse:
, fala devagar, porra, não to entendendo.
Deduziu que estavam falando pelo celular. Ela não era de ouvir conversa atrás da porta e nada que tivesse o nome de valia a pena escutar, então continuou o seu caminho até o andar de baixo. Debby estava rodeada e abarrotada de flores até o pescoço. Era sábado e a loja estava fechada, mas Bill e Elsie fizeram toda a encomenda de flores para o casamento com Debby, e por isso a florista estava tendo trabalho em dobro.
— Quer ajuda, tia?
sentou no balcão de frente para a mulher, que balançou a cabeça. logo começou a montar um arranjo de gérberas vermelhas.
, estava aqui pensando, vocês não querem voltar pra cá depois do casamento? Seu pai vai sair em lua de mel e, se não me engano, ainda vão ter uma semana de férias.
— Ah, não vai dar. Eu e prometemos à Nana que passaríamos o restinho das férias na casa dela. Depois da festa, quando ela voltar para Glasgow nós vamos junto.
— Ah, que pena, mas vocês sabem que as minhas portas estarão sempre abertas.
— Com certeza.
sorriu, ela adorava a energia da floricultura. Tudo ali era mais romântico, delicado e colorido. As flores e plantas deixavam tudo mais bonito.
— E os seus amigos? — Debby questionou e a sobrinha quase ficou embasbacada com o alto e imponente arranjo de copo de leite que a sua tia estava montando. — O que eles estão fazendo?
— Bom, o continuou no rancho dos tios. foi pra Washington ficar com a mãe dela, está viajando com os pais, assim como o está com a mãe, e visitando a família em Liverpool. Esqueci de alguém? — fez uma cara pensativa e logo depois negou, balançando a cabeça. — Acho que não.
— O quê? Você não vai me dizer onde está o ?
— Não? Você perguntou a respeito dos meus amigos. São esses.
Fez questão de deixar aquilo muito claro, a ideia do “Fim” ainda estava na cabeça dela e foi a melhor decisão que tomou. A voz de tomou o ambiente quando ele saiu da escada.
— O está em Boston visitando os avós paternos dele.
revirou os olhos.
— Claro que está.
Debby adorava acompanhar a vida adolescente dos sobrinhos. Era como se estivesse assistindo a uma telenovela teen.
— Vocês não querem fazer um favor pra tia de vocês, não?
Antes que os sobrinhos pudessem responder um sonoro “sim”, o sininho da porta tocou e as três cabeças viraram para olhar. arregalou os olhos quando viu quem estava ali e tratou de se levantar para correr e abraçar o homem.
— TIO SHELDON!
— Foi daqui que pediram três porções de yakissoba? — O homem riu abraçando a sobrinha de volta. tinha uma relação especial com ele. Ele e a sua tia não estavam mais juntos, não compartilhavam nenhum laço de sangue, mas para ela ele sempre seria o seu tio.
— Não, Sheldon, não foi daqui! — A mais velha resmungou, não queria aquela visita.
— Ops, acho que foi engano. — Ele riu encolhendo os ombros e Debby revirou os olhos. Sheldon era dono de um restaurante de comida chinesa e sempre usava a mesma desculpa quando queria fazer alguma visita inesperada.
— Azar de quem perdeu. — Disse roubando uma das caixinhas de macarrão e abrindo. — Hmm… Melhor. Yakissoba. De. Toda. A. Cidade.
— Tem uma placa de “fechado” na porta, você não sabe ler? — Questionou Debby e ele sorriu amarelo.
— Eu li, sim, mas ignorei.
— Não sei como você mantém aquele negócio de pé. Passa mais tempo vindo aqui inutilmente do que administrando as coisas por lá.
— Ela fala desse jeito como se me odiasse, mas todo mundo sabe que não vive sem mim. — Gabou-se o homem mais velho olhando para e , que riram divertidos enquanto Debby fuzilava o ex. — Vamos juntos no casamento. — Não vamos, não! — Ela negou de imediato. — Aliás, o que você veio fazer aqui dessa vez?
— Ver os meus sobrinhos, claro, e… resolver aquele problema.
Ele não sabia se podia falar aquilo em voz alta na frente dos sobrinhos e, pelo olhar de Debby, estava certo em não comentar. Ela o olhou meio assustada e, naquela situação, não sabia o que fazer.
— Vocês precisam conversar? Eu e o saímos se for o caso. — Disse , se os tios fossem reatar não seria ela que iria atrapalhar. levantou o dedão de positivo enquanto tinha a boca cheia de macarrão. — Você disse que precisava de ajuda, tia?
— Sim, preciso de bolas de acrílico para fazer o arco. Tem uma loja no final da esquina.
concordou enquanto a tia abria a caixa registradora para entregar a eles o dinheiro.
Debora até pensou em impedi-los de deixá-la ali sozinha com o homem que amou praticamente a vida inteira, mas sabia que aquele era um assunto que ela não podia fugir de resolver. seguiu a irmã mais nova para fora da loja sem deixar para trás a embalagem com o yakissoba.
— O que você acha que eles precisam resolver? — Perguntou enquanto eles caminhavam lado a lado na rua.
Covent Garden era um bairro comercial, logo dava para ir a pé comprar qualquer coisa que você estivesse precisando.
— Não faço ideia, mas espero que apareçam nesse casamento, juntos de novo.
Eles ficaram quietos e por alguns momentos o único barulho audível era o de mastigando o macarrão. A garota arranhava as próprias unhas. estava atordoada e sabia disso.
, tá tudo bem?
— Claro que tá. E você?
— Também, tudo ótimo.
O silêncio voltou, mas logo tratou de quebrá-lo, porque, se sabia que ela não estava bem, ela também sabia quando acontecia com ele.
— Estamos os dois mentindo, não é?
— Com certeza.
Confirmou e eles riram. olhou para o irmão amassando a caixinha de yakissoba.
— Você chamou a Susan? Sabe, pro casamento. — Perguntou com certo desconforto. A dúvida estava arranhando a sua garganta.
Ele riu.
— Não, . Não estamos mais juntos.
— O quê? Por quê? — Ela quase parou de andar com o choque da resposta.
— Ela saiu da escola e disse que seria melhor assim.
— Nossa, isso é um alívio. Não sei se estava pronta pra ver a Sra. Gamaliel como cunhada. — Suspirou, mas logo lembrou que não estava bem e aquele poderia ser um dos motivos. — Eita! Desculpa.
— Tudo bem, . Talvez eu só estivesse me enganando mesmo.
— Claro.
— E você?
— Eu? — achou mesmo que por um momento esqueceria dela.
— Sim.
Ela não tinha parado de pensar no modo que estava falando com no telefone, o irmão parecia preocupado e tudo que o preocupava preocupava ela também. No entanto o assunto envolvia , e, se ela tinha decidido pelo fim, então a escolha certa era não perguntar.
— Eu queria te fazer uma pergunta, mas acho que vai ser melhor se eu não saber.
— Certeza?
abriu a porta da loja e encostou na porta para que pudesse entrar. Ela passou por ele com um sorriso ameno, mas cheio de confiança.
— Absoluta.

~~x~~




Chapter Eighteen — Beware Of What You Want


~ ~x~~



6 ligações perdidas de “Pai”.



Era isso que a tela do celular de indicava quando ele acordou. Eram 10h da manhã de sábado. Vinte e cinco de agosto. Dia do casamento do seu pai.
e voltaram da casa da tia, em Londres, no dia anterior, e na mesma noite os irmãos Heyward fizeram um convite para ele e para irem beber e jogar jogos no porão da casa deles. Não era o plano de nenhum dos dois dormir ali, mas acabaram cochilando em um dos sofás do porão, o que se estendeu durante toda a noite.
— Puta que pariu.
Ele acordou assustado, lembrando que o próprio pai ia casar naquele dia. Ele e tinham um papel importante, não podiam decepcionar o pai com a falta de apoio e compromisso.
— Tudo bem, cara? — Perguntou Liam, um pouco sonolento, se apoiando nos cotovelos.
— Não mesmo, acho que estou muito atrasado. — Ele levantou, ignorando as roupas amassadas e procurando os tênis. Olhou ao redor do lugar e achou dormindo ao lado de Allison. Ele deu um chute leve no melhor amigo. — .
— O que foi? — Ele perguntou abrindo um pouco os olhos, percebendo que ele e Allison dormiram juntos. Ela deu um sorriso tímido quando acordou.
— Tô saindo, antes que o meu pai venha aqui me matar. Você vai ficar?
— Não, eu… — coçou os olhos e olhou para a garota em cima dele, que começou a se recompor. A noite foi divertida apesar dos problemas que trouxe consigo desde que voltou para a Inglaterra. — Vou com você.
— Beleza.
Os dois se despediram rapidamente de Liam e Allison e foram em direção às escadas que davam acesso à saída do porão. Quando estavam quase alcançando, ouviu a voz feminina o chamar.
— Ei, . — Allison chamou da porta e parou enquanto continuava a subir. — Volte mais vezes pra beber e jogar. Quem sabe sem o e o Liam. — Ela piscou, dócil, e ele apenas retribuiu com um sorriso, lembrando de pensar no convite com carinho. seguiu o resto do caminho até encontrar do lado de fora.
— Hm, Allisson.
— Nada a ver, .
— Nada a ver o quê, vocês dormiram ontem juntos. — Eles conversavam enquanto faziam o caminho de volta para casa. — Ficou com ela ontem?
— O quê? Não. — Ele respondeu com sinceridade, mas ficou na cabeça de que aquela não era uma ideia tão ruim. Allison podia ser um potencial esquema amoroso, ela era bonita e eles tinham se dado bem. Não pensava em ninguém assim desde que ele e romperam, mas, se até ela já tinha seguido em frente, por que ele não podia?
— Vocês passaram um tempão conversando ontem.
— É, o tio deles me ajudou muito quando eu tava em Boston, mas… Merda, deu tudo errado, . — Ele mesmo se interrompeu ao lembrar da viagem desastrosa. Se soubesse que seria tão ruim, não teria tirado os pés de Manchester.
havia percebido que, desde que voltaram de viagem, estava diferente, mais quieto e irritado, e o seu instinto dizia que algo aconteceu com o amigo. Mas ele conhecia o seu melhor amigo e, no momento, ele não parecia muito a fim de falar.
— Não é um bom assunto agora?
— Não é um bom assunto para agora.
concordou silenciosamente, entendendo o seu lado. Primeiro ele tinha que mostrar ao pai que estava ali para lhe dar todo o apoio necessário, e faria o mesmo com quando ele se sentisse confortável para se abrir. Uma coisa de cada vez.



~~x~~


Phoebe Marie

★12/11/1972 - ✞ 29/12/2009

“Existe uma luz no céu acima de nós que apenas quem ama a consegue ver.”
Saudades eternas de seu marido, filhos e irmã.



se ajoelhou em frente ao túmulo e depositou uma rosa ali. Ela recolheu as flores mortas da lápide e limpou qualquer vestígio de folhas e terra que estivesse ali. Sua mãe merecia uma lápide limpa. Aquele era um dia importante para a sua família em geral, mas desde que o verão começou, em meio a tantas viagens, não encontrou tempo para visitar a sua mãe.
Saiu cedo naquela manhã, o plano era só dar uma volta, comprar um Mocha Branco na Starbucks, porque aquele era um dia quente, e voltar para casa. Quando percebeu, já estava na entrada do cemitério. Algumas pessoas usando preto perambulavam por ali, dando a ideia que algum velório deveria ter sido recente. Era cômico pensar que o dia mais feliz de uns poderia ser o mais triste de outros.
— Oi, mãe, como estão as coisas aí? — Ela gostava de falar com a lápide acreditando firmemente que a sua mãe estivesse ouvindo. — Aqui, alguns dias têm sido bons, outros nem tanto. O papai vai casar de novo, hoje inclusive. A Elsie é bem legal, mas isso eu já te contei, né? As férias foram legais, me diverti bastante, desculpe não ter vindo antes. — Um suspiro, pois ela daria tudo para ouvir a mulher respondendo a todas as suas confissões. — Às vezes é muito difícil lidar com a sua ausência, hoje eu acordei assustada, sentindo a sua falta. Na verdade, sinto sua falta todos os dias. Eu te amo muito, queria que estivesse aqui.
Uma lágrima teimosa escorreu no seu rosto e ela secou rapidamente com a mão. O dia estava bonito demais para chorar, no céu não existia uma nuvem e os pássaros quase formavam um coro para cantar.
— Te achei! — disse quando a encontrou e virou para o lado para olhar para o irmão. — Porra, , acho que todas as mulheres daquela casa estão loucas atrás de você.
— Quem?
— Tia Deby, Elsie, a vovó. Quase todo mundo.
— Como sabia que eu estava aqui?
— Adivinhei. — ajoelhou ao lado dela e deu de ombros. — Você não atendia o celular.
— Deixei em casa. — Ela deu de ombros. — Acordei e você não tava em casa.
— É, eu fiquei nos nossos vizinhos. Levei uma bronca da Tia Deby quando cheguei em casa e ela me pediu pra vir atrás de você.
— Papai está chateado? — Ela olhou para a lápide da mãe, agora enfeitada de flores. seguiu o olhar de , ele sofria quase tanto quanto a irmã com a saudade da mulher. — Não fiz de propósito, aqui é um lugar livre de distrações. Eu só consigo pensar nela, esqueci completamente do tempo.
— Não. Acho que ele sabe que não faríamos uma coisa dessas.
— Realmente.
— Você tá legal?
— Estou sim.
— Então vamos. — levantou e estendeu a mão para ajudar a irmã a levantar. — Estamos atrasados pra caralho. — Ela segurou na mão dele e levantou concordando. Analisou as expressões do irmão, ele com certeza não estava no seu melhor dia, como se a luz do sol fosse o seu maior inimigo naquele momento.
, você tá de ressaca? — perguntou no caminho para o portão do cemitério.
— Talvez.
— Se o papai descobrir, ele te mata.
— E você que não vai contar. Tentei esconder ao máximo dele.
Os dois logo chegaram no carro e dirigiu até a casa deles para buscar o vestido de . Ela preferiu esperar no carro enquanto ele descia para buscar. Sabia que seu pai estava se arrumando lá dentro, com os outros padrinhos. Em algum momento da festa, ela e teriam que falar algumas palavras em prol dos noivos, mas não era nisso que estava pensando no momento. Pelo vidro do retrovisor, dava para ver a casa de . Cada vez que ela olhava para a residência do outro lado da rua, ela se obrigava a lembrar do “Fim”, e cada dia se convencia mais. Pelo menos era no que ela queria acreditar. Foram semanas sem vê-lo, o que deu uma certa paz para o seu coração; ela queria que continuasse assim, mas voltar ali parecia dar uma palpitação a mais.
Seu irmão logo voltou com o vestido na capa, ele ligou o carro e partiu em direção à casa da mãe de Elsie. Era onde as mulheres estavam se arrumando.
— Vá, , fique linda. — disse quando estacionou e abriu a porta do carro.
— Eu já não sou? — fechou a porta e se apoiou na janela do passageiro.
forçou uma careta. — Hm, mais ou menos.
— Então eu puxei você mesmo, idiota.
Os dois riram e revirou os olhos, deu as costas para o carro quando deu a partida. Ela caminhou até a varanda e respirou fundo antes de tocar a campainha.
Não demorou e a porta abriu segundos depois. Sua Tia apareceu em cena puxando a sobrinha para dentro de imediato.
, onde foi que você se meteu?
— An… Eu fui dar uma volta e me distraí.
parou por um momento para olhar ao redor e a casa estava lotada de mulheres. Algumas eram da família de Elsie, já outras faziam parte de uma equipe de cabeleireiras e maquiadoras contratadas pela noiva. Era muita conversa, pessoas andando de um lado para o outro seminuas. Sua tia mesmo usava um roupão e bobs no cabelo preto.
— Eu percebi! — Exclamou ela, guiando a sobrinha pela casa. — Vá se arrumar lá em cima, no quarto tem um banheiro e uma surpresa pra você.
Ela desconfiou, mas, sabendo que a tia não lhe daria mais pistas, decidiu ir correndo até o quarto. Quando abriu a porta, viu e enroladas em toalhas e mais algumas mulheres da equipe de cabelo e maquiagem.
! — Elas disseram juntas e se apressaram para um abraço.
— Que saudade! — Disse retribuindo o abraço. — Por que não me avisaram que iam estar aqui?
— Surpresa! Foi ideia da sua tia. — Falou quando se soltaram.
— E a ?
— Ela teve alguns probleminhas, vai encontrar com a gente lá, acho que ela vai buscar o Elliot. — disse, voltando à cadeira para que Amélia pudesse continuar a enrolar o seu cabelo com o babyliss.
— Vamos encontrar os garotos lá. — completou.
— É, os garotos. — viu revirar os olhos e começou a tirar os tênis, ela precisava tomar um banho e começar a se apressar. Se o cabelo e a maquiagem fossem demorar tanto, era capaz de se atrasar mais que a noiva.
— Você falou com o ?
— Não. Nadinha. Nem uma palavra.
— Ela está evitando ele. — passou por para organizar a capa dos vestidos em cima da cama.
— Não estou nada. — Se defendeu .
— Está. Ele te ligou e você não atendeu! — Acusou , mostrando a tela do celular de . Existiam três ligações perdidas de .
— Pra que vou atender? Vamos nos ver hoje.
— Aí você não vai poder mais fugir. — Disse enquanto se despia, ficando só de calcinha e sutiã. se juntou a numa cadeira ao seu lado para que as profissionais pudessem arrumar o seu cabelo também.
— Não vou. Pensei muito nessas últimas semanas, vamos resolver isso.
— Acho bom viu, odeio ver vocês brigados. — olhou para elas antes de ir até à cama e pegou a capa do seu vestido.
, vai tomar banho! — Ordenou . — Você já tá bem atrasada.
— Eu sei, só quero checar uma coisa.
Ela deslizou um zíper para baixo, revelando o vestido que ela provou por tantos meses até chegar naquele momento. Era um belo vestido mesmo, talvez o mais bonito que ela iria usar até aquele momento de sua vida. Passou a mão pela seda e pelo corpete coberto de cristais.
— Esse é o seu vestido, ? — abriu a boca, encantada.
— Sim, bonito, né?
— Bonito? Não devia ir ao casamento, vai humilhar a noiva.
deu risada e deixou o vestido ali para pegar uma das toalhas enroladas em cima da cômoda.
— Não é pra tanto, . — Ela falou antes de entrar no banheiro.
Dias atrás ela descobriu que tanto ela quanto teriam que falar algumas palavras em algum momento da festa de casamento. Foi um pedido do seu pai, ela teve tempo para pensar, mas ainda não sabia direito o que ia falar. com certeza daria um jeito, mesmo que no improviso, ele era melhor naquelas coisas do que ela. Até tinha uma ideia plantada na cabeça, mas precisava de um acessório especial se quisesse colocá-la em prática.



~~x~~


Na porta da igreja e ao redor dela, uma quantia significativa de pessoas circulava. Todos bastante arrumados, exibindo seus ternos e vestidos bem passados. Era uma manhã bonita, perfeita para um casamento. estava parado nos primeiros degraus com e , mas ele não se sentia tão animado ou no clima de festas. Desde que voltou para a Inglaterra estava atordoado. Não conseguia parar de pensar naquilo e o silêncio estava sendo o seu melhor amigo no momento.
Um burburinho se formou quando um carro estacionou e o noivo saiu de dentro dele. saiu de lá também acompanhando o pai, e, após cumprimentar algumas pessoas, ele foi em direção aos amigos.
— Vocês viram a ? — Perguntou quando se aproximou. — Quero falar com ela.
— Não. Ela não chegou, nenhuma das meninas, na verdade. — Respondeu analisando o espaço, não encontrando nenhuma figura feminina mais próxima.
— Quanto tempo faz que vocês não se falam? — Perguntou , curioso.
— A última vez foi no sítio. — respondeu com pesar. Nunca, em tantos anos, ficou tanto tempo sem falar com . Eram amigos a tanto tempo e já brigaram várias vezes, mas nunca a reconciliação demorou mais do que um dia.
— Vocês terminaram?
— Vou descobrir isso hoje, . — olhou para a rua onde os carros dos convidados estavam estacionando, ansiando pelo momento em que estacionaria aquele em que estivesse dentro.
— Aparentemente, só quem está bem aqui é o . — disse vagamente, se segurando para não desfazer o nó da gravata.
— Mas ele não sai da friendzone. — Completou com um sorriso para provocar o amigo.
— Pelo menos a está solteira, né. — cantarolou. Ele jamais ia se permitir ser zoado por um daqueles três quando o assunto era as garotas.
— O quê? — arregalou os olhos e quase engasgou com a própria saliva.
— Vocês são patéticos! — exclamou impaciente, na opinião dele era hora de jogar umas boas verdades na cara dos amigos. , e o olharam surpresos com a acusação. — Um está em uma constante guerra de amor e ódio com a garota e não sabe qual ganha. — Ele apontou para , que virou a cara, amuado. olhou para em seguida. — O outro briga com a namorada por causa do primo caipira que não deveria ter um pingo de moral. — Por fim, ele falou para : — E você está apaixonado por uma garota que tem namorado.
Ele ficou satisfeito com o desconforto que causou nos amigos, pois aquele sentimento comprovava tudo que ele falara.
— Cala a boca, . — Falou .
— Eu menti? Não menti.
— Não mentiu mesmo. — concordou e todos viraram para olhá-lo. esperava que admitisse aquilo, não . Ele não tinha certeza sobre a tal guerra com , mas sentia que, de tudo que tinham e sentiam, não restara quase nada.
— É verdade. — suspirou. Na opinião dele, escola tinha que ensinar a esquecer e não se importar, não adiantava saber tudo de física se qualquer coisa podia acabar com você.
— Não estou apaixonado pela . — manteve-se firme.
— Tem razão, você não está, você é. Tenho que frisar o péssimo gosto, inclusive. — Falou segurando seus ombros.
— Estou começando a me arrepender de ter te convidado, .
soltou-se do aperto do amigo e se afastou; ele se aproximou de , que parecia um pouco distante.
— Você está estranho, , desde que voltou dessa viagem. O que aconteceu?
— Eu vou te contar, ok? Apenas me dê mais um tempo.
— Tudo bem. — Concordou . Forçar a barra naquele momento não iria ajudar em nada.
— Ei, vocês duas! Aqui. — gritou quando avistou e saindo de um carro. Elas acenaram empolgadas e caminharam na direção deles balançando seus vestidos. Na opinião dele, elas estavam mais bonitas do que já eram com os cabelos arrumados em penteados trabalhados e roupas de modelos parecidos, mas preservando a personalidade de cada uma. usava uma estampa florida com uma flor no cabelo, já optou por um estampa lisa.
— Meninos! — Disse abraçando e pelo pescoço ao mesmo tempo. Os garotos retribuíram o abraço, felizes em vê-la. Aqueles garotos eram seus melhores amigos, convivia com eles quase que o tempo todo e, apesar da sua situação com , jamais deixaria de cumprimentá-los.
Ela deu um abraço em , e cumprimentou cada um deles também, mas quando chegou em ela paralisou, não sabia que fazer. Ele também não tinha muita certeza sobre tocá-la.
— Oi, .
— Oi, .
— Você tá bonita.
— Obrigada. Você também. — Ela desviou o olhar dele para observar os amigos. Todos usavam ternos pretos, parecidos, apenas a cor da gravata se diferenciava. Se se organizassem, fariam um bom cosplay dos Beatles. — Todos vocês, na verdade, podiam se vestir assim todo dia.
— Tá maluca, ? Estou quase sufocando aqui dentro. — Diz afrouxando a gravata.
— Não, meu Deus! — Exclama olhando para os lados quando se deu conta que apenas e estavam ali. — Não me diga que a sumiu de novo.
Ele também sentia falta de , mas decidiu comentar apenas sobre , não queria dar mais munição às provocações de .
— Relaxa, , ela já vai chegar.
— Por que não veio com vocês?
— Ela falou que ia precisar voltar na casa de vocês pra pegar algo e não daria tempo de vir conosco. — Respondeu .
— Relaxa nada! Eu que vou ter que aguentar o surto da minha tia se ela não chegar na hora.
— Bom, a não chegou, mas a . — Comentou quando visualizou a garota. Todos os viraram o rosto para checar.
— Com o namorado. — Frisou próximo de para tentar lhe provocar.
tentou disfarçadamente procurar um ponto de visão que lhe desse uma boa imagem de sem tantas cabeças na sua frente que se moviam frequentemente; ela deu um aceno na direção dele, mas quando ele pensou em retribuir a imagem de Elliot tomou conta da sua visão e ele perdeu a vontade. Quando virou o rosto, deu de cara com a sua tia.
— O que vocês ainda estão fazendo aqui? — Deby questionou encarando os amigos. — Vão, entrem logo. Céus, já deviam estar lá dentro.
Ela bate palmas e os amigos começam a se mover, ela deteve pelo braço antes que ele pudesse ir junto.
— Você não, mocinho, por favor não me diga que a sua irmã sumiu de novo.
— Então... — Ele deu um sorriso amarelo e a sua tia resmungou, pegando o celular.
Elsie saiu do carro exibindo o seu longo e brilhante vestido branco acompanhada de seu pai. Daminhas de honra estavam correndo em volta de , que começou a rir, mas logo parou quando o olhar severo de Deby caiu em cima de si.
— Então, vamos começar? — Diz Elsie se aproximando deles. Dali dava para escutar organizadora do casamento repetindo através de um Walkie Talkie “a noiva chegou, a noiva chegou” e chiou.
— Então, Elsie, é que a ... — Ele começa sem jeito quando um grito o interrompe.
— Estou bem aqui! — A garota disse ofegante, aparecendo de repente e segurando seu vestido para a barra não arrastar no chão.
— Graças a Deus! — Deby suspira de alívio e dá um abraço na sobrinha, que retribui. — O que deu em você pra ficar sumindo desse jeito hoje? Logo hoje?
— Sinto muito, é que eu tinha que pegar uma coisa...
— Está tudo bem! — Interrompe Elsie com bom humor antes que possa começar a se lamentar. — O importante é que estamos todos aqui.
Repentinamente se viu entre a madrasta e a tia, e aquele pareceu ser um bom lugar para estar. Era para ser um dia feliz e ela não queria ser a causadora principal de complicações.
— Elsie. — chamou e a mulher olhou para ela, que estendeu uma moeda de seis cents. — Para você, escutei sua mãe procurando por uma.
Elise pegou a moeda sorrindo. — Obrigada, .
Algo velho, algo novo, algo emprestado, algo azul. Uma moeda de seis centavos no seu sapato. percebeu que a futura esposa de seu pai tinha todas aquelas coisas e era legal seguir a tradição completa sem deixar a fortuna e prosperidade de fora, que era o que a moeda significava.
se posicionou ao lado de , que entrelaçou o braço com o seu enquanto Elsie colocava a moeda entre o pé e a sola do salto.
— Uau. — Ele abriu a boca, embasbacado.
— O quê?
— Você tá muito bonita.
— Obrigada, . — Ela sorriu. — Você também não tá nada mal, hein.
— Obrigado, .
A marcha nupcial começou a tocar e as portas da igreja se abriram. Ao entrar na igreja, percebeu tudo: o olhar de todos sobre si, o pai no altar junto ao padre, as amigas nos bancos sorridentes para ela. Aquele era um dia especial e ela não poderia estar mais feliz por estar fazendo parte daquilo.



~~x~~


O casamento foi uma linda cerimônia, Bill e Elsie casaram sem mais problemas ou imprevistos. Já para a festa, a família havia alugado o The Monastery, um mosteiro franciscano do século XIX de tirar o fôlego e a não perder. Era um edifício cheio de história, charme e romance. O lugar tinha uma atmosfera mágica com impressionantes janelas grandes, tetos altos e encantadoras arcadas que criavam um verdadeiro ponto de vista sensacional, os claustros remetiam o espaço aos tempos da idade média sem os deslumbrantes Jardins do Arcanjo que o lugar dava acesso.
estava feliz pela sua família. Ela estava na mesa dos noivos, ao lado de , com sua tia e os seus avós. Era aquele momento da festa em que os convidados subiam no palanque e falavam algumas palavras a respeito dos noivos.
Estava na vez de Sheldon, o seu tio, que contava algumas piadas que faziam sua tia querer enfiar a cabeça dentro de um buraco. segurava firme o microfone vermelho que seu pai tinha lhe dado, era por causa dele e da moeda que ela tinha se atrasado para o início da cerimônia. Todos ali já tinham falado no palanque, da família mais próxima só faltava apenas ela.
— Bem, acredito que a minha sobrinha tenha palavras melhores para esse momento, então vou deixar o microfone com ela.
riu, levantando da mesa enquanto seu tio lhe dava espaço. Ela observou todas aquelas pessoas sentadas, olhando diretamente para ela, e decidiu ignorar a maioria, focando apenas nos noivos.
— Bom, eu ia ler um poema de uma das minhas escritoras favoritas, mas depois pensei que era pouco. Então pensei na letra de alguma música para cantar, porque é a melhor coisa que eu sei fazer e queria que fosse a música que iniciasse a dança dos noivos, mas antes disso quero dizer algumas palavras que eu criei, desculpem se sair tudo errado. — Ela olhou para o lado onde a banda se encontrava. Seu pai havia contratado a Blue Lion Band, simplesmente a melhor orquestra de toda Manchester para tocar ali. tinha feito um acordo para eles seguirem os acordes do seu piano quando a hora chegasse. O mestre de orquestra confirmou com a cabeça só para certificá-la de que estava tudo certo e ele e a banda estavam prontos para quando ela quisesse começar. — O papai e a Elsie passaram por muitas coisas e é um pequeno milagre eles estarem sentados aqui hoje, mais milagre do que vocês podem imaginar. A Elsie diz que nós só temos algumas chances de ser felizes e estou feliz que tenham aproveitado a deles. Então é isso, espero que gostem.
Bill olhou para filha, orgulhoso, enquanto puxava sua recém-mulher para uma dança. se sentou ao piano ao lado da banda, conectando o seu microfone ali, e iniciou os primeiros acordes de One And Only. Aquela música da Adele era uma das favoritas de Elsie, lembrava como ela vivia cantando pela casa quase todos os dias e combinava muito com a história dos dois. estava cantando aquela música especialmente para eles.



You've been on my mind
I grow fonder every day
Lose myself in time
Just thinking of your face


A dor de uma perna nunca é fácil de superar, ainda mais quando se ama muito a pessoa. Recomeçar de novo parece tão impossível, mas Bill tinha conseguido fazer isso sem nunca esquecer da memória e da importância que a mãe de e tinha para eles.



God only knows
Why it's taken me so long
To let my doubts go
You're the only one that I want


Conforme Bill e Elsie dançavam, outros casais também se juntavam à dança. estava dançando com Elliot, puxou depois de sumir atrás de uma bebida. era o único que permanecia na mesa, ele não estava no clima para festas, mas estava apreciando música. Ele gostava de ver tocar, ela tinha um dom e uma técnica somente dela. Era espetacular somente vê-la ou escutá-la. Nada que ele admitiria em voz alta naquele momento. As coisas entre eles tinham terminado e não pareciam que iam mudar.
foi um dos primeiros a ir até à cadeira onde estava sentada. Não trocaram uma palavra durante a cerimônia e até aquele momento na festa, onde os amigos estavam dividindo a mesa.



I don't know why I'm scared
'Cause I've been here before
Every feeling, every word
I've imagined it all
You'll never know if you never try
To forget your past and simply be mine


— Ei, , quer dançar?
A garota não pensou muito antes de segurar na sua mão e aceitar. Os dois foram juntos em direção à pista e começaram com passos devagar.
— Passa ano, vem ano e você continua com esses dois pés esquerdos, . — riu após sentir pisando no seu pé sem querer.
— Desculpa!
— Tudo bem. Seu forte nunca foi a dança mesmo.
Frederick gostava do jeito humorado com que lidava com as coisas, ele tinha sentido muita falta daquilo enquanto estavam separados.
— E qual é o meu forte?
— Você sabe. A arte, a música, ser um cinéfilo chato. — riu, o conhecia tão bem, ele não tinha dúvidas daquilo.
— Ei! — Exclamou, fingindo estar ofendido. — Que preconceito é esse que a sociedade tem com cinéfilos.
— São insuportáveis querendo pagar de cult por assistir coisa antiga, mas que possui alguma profunda análise.
— Eu não sou assim!
— Não, só é chato quando quer que eu veja esses filmes com você. — A memória vem à cabeça de , lhe fazendo sorrir. Ela nunca pensou que sentiria tanta saudade de ter a perturbando para assistir a um daqueles filmes chatos com ele. — Mas, se você quer saber, teve uma sessão de clássicos em Liverpool quando eu ainda estava por lá. Fui com a minha mãe um dia.
— Sério? — Ele perguntou surpreso.
— Sim. Nós vimos O Poderoso Chefão, não achei tão ruim.
— Nossa, então você vai ver a parte dois comigo.



I dare you to let me be your, your one and only
I promise, I'm worthy
To hold in your arms


— Talvez.
olhou para e sorriu. Ela se abraçou mais a ele, feliz por aquele momento. Odiava brigar com , sempre odiou muito antes de namorarem, porque além de tudo eles eram amigos.
— Então... você tava pensando na gente. — Falou , esperançoso.
— Todos os dias.
— Que bom! Porque eu senti sua falta, .
Ela olhou para ele, percebendo que aquele era o momento de ter aquela conversa.
— Eu também, na verdade... Racionalizei a minha culpa e percebi que estava sendo idiota. O que separa o passado inaceitável do recomeço inevitável é o período em que você para de negar e se permite sentir raiva. Muita raiva. E sei lá, não quero mais sentir isso. — Ela deu de ombros e sorriu com aquilo.
— Isso é bom, não é?
— Sim. — Ela sorriu de volta. — O que estou dizendo é que não quero mais brigar com você, ou ficar longe, quero nossa sintonia de volta. Estou disposta a tentar de novo se você quiser também.
— Tá brincando, ? É lógico que eu quero.
Ele disse segurando o rosto dela e a puxando para um beijo urgente. Nos últimos dias era tudo que mais se perguntava, quando ele beijaria aquela boca de novo.
— Eu te amo, .
Os olhos dela brilharam ao ouvir a frase porque também nunca sentiu nada tão genuíno e puro como o amor e era a melhor sensação de todas.
— Eu também te amo, .
o abraçou de volta, aproveitando o final daquela música com , que naquele momento, sem dúvida nenhuma, continuava sendo o seu namorado.



I know it ain't easy giving up your heart
(Trust me, I've learned it)
(Nobody's perfect)


finalizou a música e foi ovacionada com uma salva de palmas. A banda continuou tocando e mantendo a animação do salão. Ela viu seu pai a olhando satisfeito enquanto dançava com Elsie, não precisava ouvir palavras saindo da boca dele para sentir as ondas de ufania lhe atingindo.
Começou a procurar por rostos conhecidos dos seus melhores amigos. Achou dançando com Elliot; com , ficou feliz de saber que os últimos dois pareciam ter se acertado. estava saindo do salão em direção ao jardim após deixar conversando com na mesa. Já não se encontrava em lugar algum, mas ela preferiu deixar para lá. A festa estava boa demais para ele estragar o seu humor.
Quando decidiu ir na direção de e , seu tio bloqueou sua passagem.
— Será se eu posso dançar com a minha sobrinha preferida?
— Eu sou sua única sobrinha, tio Sheldon. — Ela riu, aceitando e pegando na sua mão.
— É a mais bonita da festa, depois, é claro, da sua tia.
— Por favor me diga que vocês resolveram o que tinham para resolver. — Disse conforme se moviam no ritmo da música. lembrou que os tios estavam passando por uma crise que ela só queria que fosse resolvida logo. Amava os seus tios e juntos eles ficavam melhor ainda.
Sheldon procurou Deby com o olhar pelo salão, depois olhou para a face curiosa da sua sobrinha.
— Acho que não vai ter problema se eu contar pra você.
— Contar o quê?
— Sua tia está grávida, .
— O QUÊ? — Ela gritou pasma, tentando absorver aquela informação. — Isso é sério?
— Sim, eu descobri há poucos dias.
— Meu Deus! Eu vou ter um priminho?
— Sim, você vai!
nem podia acreditar, aquela era com certeza a segunda melhor notícia do dia, ela queria espalhar para todo mundo e compartilhar aquela felicidade com outras pessoas, mas decidiu procurar a sua tia primeiro e tirar aquela história a limpo.



~~x~~


Do lado de fora, não havia uma nuvem no céu no final daquela tarde. O jardim era bonito, decorado com esculturas feitas de plantas e nos arbustos não havia sequer uma folha fora do lugar. estava encostado na enorme fonte de água, a estátua do Arcanjo São Miguel era de onde saía a água e estava centralizada. queria poder ter tanta paz quanto aquela escultura.
— Eu te vi saindo, . — deu as costas para a fonte quando ouviu a voz de .
— Precisava de ar. — Disse ele afrouxando a gravata.
— Anda, fala logo. Deu merda, não foi? — Perguntou , preocupado. Desde que tinha recebido aquela ligação do amigo quando ainda estava na casa da sua tia em Londres, ele sabia que algo não estava certo. Desde que conhecia , algo nunca estava certo com ele, o garoto parecia ser um ímã de problemas. Parecia que nunca tinha experimentado um estado com cem por centro de paz de espírito. — Eu sabia que essa ideia sua de ir atrás do Ethan sozinho não ia dar certo.
— E não deu mesmo.
— Você achou ele?
— Achei. — pareceu mais atento após àquela informação. — Na verdade, ele me achou primeiro.
— O que aconteceu?
— Eu falei com o tio dos Heyward. Ele tem um bar no Brooklyn, bem famoso, e disse que via o meu irmão direto porque faziam várias festas nos prédios ao redor e os aviões1 do Ethan viviam bebendo por lá. Esperei ele aparecer, ia fazer uma denúncia, mas ele foi mais rápido. — Riu sem humor, aquilo era tão trágico que ele só pensava em rir. não fazia ideia de como o irmão descobriu da sua presença ali, às vezes desconfiava que Ethan talvez estivesse espionando a sua família inteira como se fossem condenados. — Eu vi ele, , depois de tanto tempo, não sei como ele descobriu que eu estava lá e sobre a denúncia. Ele não gostou nada.
— Mas e aí? Ele fez alguma coisa?
— Não, mas prometeu que faria. — A lembrança não era boa. Aguarde a minha carta na manga. Eram as palavras que tinham saído da boca de Ethan. Ficaram grudadas no cérebro de e toda hora ele se perguntava o que o seu irmão desequilibrado faria. — Nós discutimos, minha vontade era de arrebentar a cara dele e eu quase fiz.
Ele encarou , quase não podia acreditar em cada palavra. Ele estava bravo com por correr tanto risco.
— Porra, , o que você acha que ia fazer contra um traficante? Sozinho?
— Eu tinha que tentar fazer alguma coisa, .
— Não tinha não. Vai se foder, você não é a porra da CIA, o FBI, a GMP2.
— Relaxa, .
— Não relaxo, porque se estivesse tudo bem você não estaria desse jeito. — estava inquieto e odiava, mas ele tinha que concordar, estava absolutamente certo. — Da próxima vez que você me disser que vai fazer uma merda dessa, eu quebro aquela guitarra na sua cabeça, mas não deixo você ir.
— Só queria que ele deixasse a minha família em paz e fosse viver a vida dele bem longe. — Lamentou, sabendo merecer o sermão do melhor amigo.
. — chamou firme e olhou para ele. — Preciso que você me prometa uma coisa.
— O quê?
— Me promete que, quando ele aparecer de novo, seja ligação, pessoalmente, foto, vídeo, qualquer coisa, você vai me contar! Eu já tô de saco cheio de te ver lidar com isso sozinho. Se a nossa amizade vale de alguma coisa, me promete que você vai me falar.
o olhou um pouco assustado, nunca viu falar tão sério em todos aqueles anos de amizade e ele sabia que, dependendo do que respondesse, poderia desencadear uma briga entre os dois, mas quando estava prestes a responder, uma voz distante surgiu.
! ! Pelo amor de Deus, você não vai acreditar.
ouviu a voz irritante de se aproximar. Em outro momento a mandaria embora por interromper a conversa com o seu melhor amigo e eles entrariam numa discussão imatura, mas nem naquilo ele conseguia reagir. Sua cabeça estava apenas concentrada nos seus futuros problemas com o seu irmão.
— O que foi? — olhou para a irmã cheia de euforia e a segurou quando ela se aproximou ignorando por alguns momentos.
— Vai lá dentro agora!
— Por quê?
— Acabei de descobrir qual era o problema que os nossos tios tinham que resolver. Vai lá pro tio Sheldon te contar.
— Certo, , daqui a pouco eu vou.
— Não! Vai agora antes que eles sumam, você não tava curioso? — olhou de para , felizmente a irmã ainda não tinha percebido que interrompeu um momento sério e para evitar desconfianças, ele decidiu fazer o que ela estava pedindo.
— Tudo bem. — Ele encarou como se dissesse que aquela conversa não acabara, mas preferiu interferir antes que ele fosse.
— Ei, . Eu prometo.
Falou sincero, sorriu de lado entendendo bem antes de voltar para dentro do salão. encarou os dois garotos tentando descobrir o que se passava ali. Nem tinha percebido o quanto estava perto. Não conseguia parar de analisá-lo, era como se vestisse uma capa transparente de aflição e tormento. O pulso que ela torceu sem querer naquela tirolesa já estava bom novamente e ela lembrou que aquela briga havia sido a última conversa que teve com .
— Quer uma foto, ? — Ironizou com um sorriso. — Dura mais tempo.
— O que deu em você? Está estranho.
— Do tipo?
— Anormalmente suportável. — Ela franziu a testa, talvez aquela fosse a conversa mais normal que eles teriam em meses.
— Você quer estragar a festa de casamento do seu pai, ? Tudo bem, podemos brigar.
— Eu não disse isso, só que podia ser sempre assim. — No mesmo momento quis engolir aquelas palavras, poderiam ser interpretadas de outra maneira. — Sabe, vai ser complicado ter que te aturar por mais um ano.
— Eu tinha que voltar, sabe, pra garantir que ninguém tome o meu lugar. — Afirmou com um sorriso, nem parecia mais que parecia tão tenso quanto antes. tinha o poder de mudar o humor dele, era uma coisa que ele ainda não conseguia entender direito.
— Não acho, você podia ter ficado por lá mesmo. — Ela virou de costas, se recusando a olhar para ele. soltou uma risada baixa e aproveitou a deixa para se aproximar. Ele não a tocou, mas conseguia sentir a respiração dele arrepiar a sua nuca. As palavras foram ditas bem próximas do seu ouvido:
— Cuidado com o que deseja, , você pode se arrepender.
levou um tempo para assimilar aquelas palavras. Quando se virou para perguntar o que ele queria dizer com aquilo, já tinha lhe dado as costas e estava andando de voltar para o salão segurando o terno nas costas.
Decidiu esperar um tempo antes de fazer o mesmo caminho, não queria que pensasse que ela foi atrás dele.
não queria mais fazer parte de e os seus segredos.



~~x~~


1: indivíduo que entrega drogas
2: sigla inglesa para “Greater Manchester Police”, a polícia inglesa na cidade de Manchester.

Chapter Nineteen - Back To School

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A volta às aulas não estava sendo muito boa para . Os corredores da Cuddle estavam com aquela mesma energia do primeiro dia de aula de todos os anos, ele devia estar um pouco animado, ele era um veterano a um ano de se formar, mas no momento que soube que dividiria uma casa com o seu primo Henry e consequentemente a sua escola, tudo pareceu minar para terrível.
estava conferindo seu novo armário quando os viu, andando lado a lado.
! — Ela correu para abraçá-lo, era o primeiro dos amigos que ela viu chegando naquele dia. — E... Henry?
— Olá, ! — Ao contrário de , Henry respondeu com um sorriso no rosto e lhe abraçando pelos ombros.
— Você está estudando aqui agora? — Ela perguntou notando a mochila nas costas dele.
— Sim, gostou?
— É... fiquei surpresa.
— Henry você precisa passar na secretaria. — Falou sem paciência, ele não aguentava mais um segundo sequer dos sorrisos e falsas simpatias do primo.
— Vamos comigo?
— Não.
— Que mau-humor, hein, primo. Pode deixar, eu consigo encontrar a sala sozinho.
olhou para cada um dos tentando entender as faíscas que vinham daquela relação, a carranca na cara de lhe dava uma breve ideia.
— Por que essa cara, ?
— Não deu para perceber, ? — Ele deu um sorriso irônico. — O filho da puta do Henry, ele agora está morando na minha casa e também vai estudar aqui.
— Ué! Você não tá feliz?
— Feliz? Por quê? Ele vive correndo atrás da minha namorada e eu deveria estar feliz?
Só de lembrar do jeito que Henry se jogava para cima de no tempo em que eles tinham ficado no rancho fazia o seu sangue ferver. Ele mal acreditou quando Henry pediu aos seus pais para morar com eles em Manchester até a formatura. A desculpa dele era que ia ter mais oportunidades para ingressar em uma faculdade, mas nem de longe caia nesse papinho.
— Você e a não estão bem? Achei que isso tivesse ficado no passado.
— Meus problemas com o Henry são muito mais antigos que meu namoro com a ...
Antes que pudesse perguntar mais a respeito daquilo, uma voz surgiu no início do corredor chamando a atenção de todos.
PRESIDENTE, PRESIDENTE. — vinha gritando com um braço nos ombros de enquanto , e os acompanhavam.
— Para de fazer campanha antes de hora, idiota! — o repreendeu, batendo no seu braço.
— Não existe hora para fazer campanha quando se quer vencer, !
— Bom, se o pediu a minha ajuda ao invés da sua, deve ter sido por algum motivo.
— Sim, ele bateu a cabeça muito forte antes de tomar essa decisão.
estava prestes a interromper a discussão, quando se intrometeu puxando . Eles não se viam há dias e aquele momento era especial para matar a saudade antes que as aulas iniciassem.
— Ei, pessoal! Bom saber que as coisas continuam as mesmas.
Uma onda de abraços surgiu depois que levantou nos braços, ela tinha ido para o outro lado do mundo e ele tinha realmente sentido falta dela. Os sete submergiram numa intensa conversa sobre o fim das suas férias e e quase tiveram que mandar calar a boca, pois ela era a única que não parava de falar. Isso inclusive, começou a aumentar o mau humor de .
— Cadê a ? — perguntou, olhando para , sentindo falta da melhor amiga. Ela costumava chegar cedo.
— Ela está atrasada, me mandou mensagem dizendo que dormiu demais, talvez só chegue depois do sinal.
— Típico de .
— Enfim, quais são os horários de vocês? — Falou sacando o celular. A rotina do primeiro dia era sempre saber com quem eles teriam aula durante a semana.
— Literatura com… — começou checando seu celular onde o novo horário foi postado no portal do aluno. — Uma tal de Felicity Carmel. Não acredito que eles trocaram a professora de literatura.
— Mas que merda, primeiro horário do primeiro dia e tenho aula logo com você? — falou, ele não estava mesmo animado com a escola e menos ainda após saber que teria várias aulas para dividir a sala com .
— Que maravilha, vamos ser nós três então. — Falou abraçando os dois amigos pelos ombros. Ele adorava como o caos dos amigos o distraía dos seus problemas.
, e seguiram para a aula história, enquanto foi para química, ele poderia esperar naquela aula.
Na sala, estava sentada na mesa de , analisando os desenhos do caderno dele, tão distraída que mal percebeu quando a professora entrou. Não havia um fio de cabelo fora do lugar e a mulher exalava uma energia séria e exigente.
— Achei que as cadeiras fossem o lugar certo para se sentar. — tomou um susto quando ouviu a voz atrás dela. Uma mulher de uns 35 anos estava de pé ali, ela imaginou que fosse a tal da Sra. Carmel. A sala estava em silêncio e todos os olhos estavam voltados para ela. , que ouvia música no fundo da sala, não evitou sorrir ao ver a cena. — Sente-se direito, senhorita.
abaixou a cabeça e fez o que a professora pediu. Ela se acomodou na cadeira na frente da de e aí pode analisar a mulher. Não parecia ser muito simpática, ela só esperava que não estragasse o amor que sentia pela matéria.
— Bom dia! Hoje é um dia lindo para um teste surpresa. Vou fazer para cada um de vocês uma pergunta. Suas notas vão variar de acordo com suas respostas. — Ela continuou em meio aos resmungos da classe.
— Teste? Mas é só o primeiro dia. — Uma aluna na terceira fileira protestou.
— Todos vocês já deviam ter terminado de ler “Hamlet” pelo menos até hoje, são formandos! — Ela explicou começando a escrever na lousa. Cinco minutos e podia dizer com convicção que odiava Felicity Carmel. — Mas para provar que sou legal, vou dar 20 minutos para fazerem alguma revisão, quem não trouxe o livro ou abrir a boca durante esse tempo está convidado a se retirar da sala e não voltar mais.
observava indignada, de legal aquela mulher não tinha nada.
— Ainda bem que é Hamlet. - Ela sussurrou para , que concordou. virou para frente e a professora olhava feio para ela, ela decidiu afundar o rosto no livro porque ter um professor chato era ruim, mas ter um professor chato que te odiava era pior ainda.
Os vinte minutos passaram depressa e Felicity logo chamou a atenção de todos para começar com as perguntas.
— Senhor... — A mulher deslizou o dedo pela lista de chamada parando em um aleatoriamente. — .
levantou a cabeça quando ouviu o seu nome. Já não bastava ter que dividir a sala com , ele ainda teria que ser o primeiro a responder às perguntas da professora cruel. Felicity Cruel parecia bem mais adequado para ser o nome dela. Aquele não era mesmo o dia dele. — Sou eu.
— Descreva o personagem de Hamlet para mim.
O primeiro dia não podia começar pior. Era óbvio que ele tinha nem sequer aberto o livro de Hamlet, talvez dizer coisas óbvias e andar em círculos com suas respostas pudesse livrá-lo daquela.
— Hamlet... é um dos personagens principais. — Falou e teve vontade de rir, pelo menos ela não seria a única a se dar mal com aquela professora. — Quero dizer, ele é o Hamlet. Ele tá desorientadão. Não sabe qual é. O cara não tem uma pista.
— Você quer dizer que ele é um homem que não conseguia se decidir? — A professora andava pela sala, seguida pelos olhos dos alunos.
— Exatamente. — Ele disse tentando parecer confiante, mas sem fazer ideia do que estava fazendo.
— Bom. Oito. — Anuncia e sorri satisfeito, aquilo tinha sido estranho, normalmente ele sempre se dava mal naqueles testes surpresas. balançava a cabeça negativamente, aquela resposta tinha sido ridícula, apenas o famoso encher linguiça.
? — levantou a mão quando ouviu o seu nome. — Quais são os conflitos centrais em Hamlet?
sorriu porque felizmente sabia a resposta para aquela pergunta.
— Você pode pensar no conflito homem versus homem onde os Laertes e Hamlet discutem e, eventualmente, lutam pelas mortes de Polônio e Ofélia. No conflito homem versus sociedade onde Hamlet luta com a corte dinamarquesa. E o de homem versus ele mesmo, onde entra a eterna questão da insanidade. Estará ele vendo realmente o fantasma de seu pai ou simplesmente enlouqueceu? — Ela fez a pergunta retórica sorrindo, orgulhosa de si. sorriu para ela como se dissesse “mandou bem, .” Aquilo tinha sido fácil demais, só não esperava que a professora achasse o contrário.
— Conclusões seriamente exageradas. Zero.
— Zero? — Perguntou inconformada, mas foi completamente ignorada pela mulher mais velha de cabelos curtos.
— Senhor Jones, quem é Fortinbras? — A professora continuou a aula fazendo perguntas a outros alunos enquanto continuava indignada. Ela olhou para procurando algum conforto, ela nunca tinha tirado zero na vida, aquilo não fazia sentido.
— Não faço ideia, . — O amigo deu de ombros, do ponto de vista de , tinha dado uma resposta bem coerente.
Ela decidiu se afundar na cadeira, pensando que contestar seria bem pior.

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Na aula de história, quase do outro lado do prédio, a Sra. Downey falava sobre democracia, era um dos assuntos que eles iam estudar naquele trimestre, para uma turma até que bem interessada. tinha decidido sentar perto de , ele imaginou que por conta do grêmio eles teriam bastante coisa para conversar enquanto reclamava atrás deles constantemente.
A aula seguiu tranquila e a professora decidiu reservar os minutos finais para conversar com os alunos sobre o grêmio estudantil.
— Como vocês sabem, todos os anos realizamos nossas eleições para o grêmio estudantil. Uma oportunidade para os alunos interagirem, estudarem e reconhecerem a importância das relações interpessoais, além de valer como atividade extracurricular. — Ela sorriu enquanto andava pela sala. — Esse ano eu vou ser uma das professoras responsáveis, e então? Existe alguém aqui nessa sala interessado em se candidatar?
— Levanta a mão, . — Cochichou , batendo no seu braço. tossiu e levantou a mão.
— Sr. , muito bem.
vai ser a minha vice. — Ele sorriu para ela e, momentaneamente, sentiu as bochechas corarem quando percebeu que eles eram o centro de atenções da sala, mas isso não durou muito tempo. A mão de uma garota no fundo da sala surgiu e os alunos olharam para trás. Ela tinha olhos cor de avelã e os cabelos da cor de mel e cacheados estavam presos em um rabo de cavalo perfeito. Ela devia ser nova, não se lembrava de já ter visto a garota por ali.
— Eu pretendo me candidatar professora e derrotar qualquer imbecil. — Proferiu audaciosamente olhando para com o nariz empinado. O sangue de ferveu com a provocação, ela estava prestes a responder, mas foi quem se pronunciou:
— E quem é você, mesmo, garota? — Ele perguntou. e podiam ter muitas avenças, mas eles protegiam seus amigos sempre.
, se ela fosse relevante saberíamos o nome dela. — debochou e não se sentiu estranha por estar do lado de pelo menos uma vez. A turma riu, o que a deixou satisfeita. Aquela escola era de , ela jamais se deixaria vencer por uma novata.
sentiu uma estranha sensação com os dois o defendendo, mas por parte de principalmente.
— Vou ser relevante o suficiente quando ganhar a presidência, a oposição não parece ser lá essas coisas mesmo. Na verdade, parece ser bem fraca e com um intelecto abaixo do que eu considero essencial. — A garota replicou e a sala se agitou aguardando a resposta de , que sem muita paciência, levantou da cadeira para encará-la.
— Intelecto baixo vai ficar você depois que eu der um jeitinho nesse teu ego inflado.
— Que medo! — A garota ironizou erguendo as mãos insinuando um falso pavor. — Diz aí, Barbie, qual foi a última rebeldia que você fez depois de pintar as unhas?
— A última eu não sei, mas tenho uma ideia de qual vai ser a próxima se você não calar essa sua boca. — estava tão irritada que a sua vontade era partir para cima dela, mas segurou o seu braço e ela recuou. Ela olhou para a mão dele depois para o seu olhar que parecia tão acalentador. decidiu sentar na cadeira novamente quando a professora retomou o controle da sala e interrompeu a discussão.
— GAROTAS, QUIETAS. Eu não tolerarei esse tipo de atitude na minha sala de aula e na eleição do grêmio! — Ela exclamou alto o suficiente para cessar a gritaria da sala. — Se o senhor e a senhorita…
— Destiny Lancaster. — A garota respondeu e fez uma careta para o seu nome que fez e rirem.
— Se o senhor e a senhorita Lancaster forem mesmo se candidatar à presidência eu sugiro que tenham modos e se tratem com respeito. — Eles se entreolharam sem muita simpatia aparente. — Isso vale para os seus devidos vices também. — A Sra. Downey olhou bem para como um sinal de aviso e antes que ela pudesse responder o sinal tocou indicando o fim da aula. — Vocês devem ir até à diretoria fazer a declaração de campanha formalmente.

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Depois do almoço, , , e estavam indo para a secretaria fazer a inscrição. Estava sendo uma árdua tarefa para manter calada, ela não conseguia ficar mais do que cinco minutos sem falar um palavrão. Ela achou que aquela seria uma eleição fácil, mas mesmo que não fosse, ela não estava com medo da concorrência, inclusive pensava que trabalhava melhor sob pressão, ela só não suportava pessoas soberbas como Destiny.
E por falar em Destiny, quando eles estavam passando pela porta da secretaria, a garota estava saindo, rodeada de outras garotas que deveriam ser o apoio da sua chapa. quase abriu a boca em descrença, era o seu primeiro dia ali, como poderia ter qualquer tipo de apoio?
— Hm pelo visto você vai mesmo me encarar, hein? — Ela falou olhando para , mas não ficou para discutir. ficou mais preocupado em segurar pelos ombros antes que as mãos dela pudessem puxar o perfeito rabo de cavalo de Destiny e a deixassem careca.
— É dessa garota que vocês estão com medo? Não achei grande coisa. — deu de ombros.
— Não tem ninguém aqui com medo, ! — gritou e ele deu um passo para trás.
A pauta do almoço tinha sido o incidente na aula de história, o que deixou feliz. Ela ainda não esqueceu o que aconteceu na aula de Literatura e não estava a fim de ficar ouvindo se gabar durante todo o intervalo.
— Ela é bem arrogante, arrogância não ganha eleições. — Falou , mas isso não pareceu acalmar .
— Pelo visto, vai ter que segurar você o tempo todo durante essa eleição pra te impedir de pular no pescoço dela…. ou no meu.
— Eu acho que vai. — Ela resmungou e os dedos de apertaram mais os seus ombros. caminhou até ele e sussurrou na sua direção.
— Bom pra você, dude!
— Cala a boca, ! — exclamou, mas parou para pensar um pouco, aquela não era uma má ideia. Ele soltou e se virou para o amigo antes que ele sumisse de vista. — E volte aqui, temos que procurar o para falar com o treinador.
— Por quê? — questiona curiosa.
— Vamos sair do time. — respondeu. Aquela era uma decisão que ele já estava pensando em tomar há algum tempo, ele gostava de esportes como uma forma de passar o tempo, mas aquela não era a sua paixão. Foi quando comentou sobre isso que ele determinou que seria melhor sair dos times.
— O quê? Por quê?
— Com o grêmio e os estudos, não vou ter tempo pra isso.
— Já eu quero focar em outras coisas. — levou as mãos à cabeça e o comentário chamou atenção de . Uma leve curiosidade a respeito dele ainda existia e tudo que ela queria era reprimi-la até ela não existir mais, por isso, quando viu Finn no final do corredor ela se afastou dos amigos sorrateiramente para ir até ele.
— Ei, Flynn, você está indo até à sala de música? — Ela perguntou quando se aproximou um pouco mais dele. Era estranho estar perto de Finn de novo depois de tanto tempo, mas estava gostando. Ela não tinha esquecido daquele beijo e esperava que ele também não.
— Hey, , oi! — Ele sorriu, desencadeando um sorriso dela. Eles começaram a andar lado a lado no corredor. — Sim, estou indo pra sala de música.
— Ótimo, mas agora você não tem muita escolha, vai ter que deixar eu te acompanhar. — Ele riu. gostava da risada dele.
— Isso não é um problema para mim.
— Então, como foram as suas férias?
— Ótimas. Segui seu conselho de montar uma banda com os caras com quem eu toquei no Sarau. — arregalou os olhos e pulou na frente dele segurando os seus pulsos, mas animada do que realmente esperava que fosse ficar.
— Sério mesmo? Que demais! — Ela sentiu o rosto esquentar quando percebeu o quão próximo eles estavam e o soltou sem jeito, voltando a caminhar do seu lado.
— É mesmo. E como foram as suas? Se divertiu no sítio da família do .
— É claro, foi bem legal. — Ela torceu o nariz, teve boas memórias naquele lugar, mas as partes ruins envolvendo ela queria poder apagar da memória. — Não dá pra tudo ser perfeito com o insuportável do do lado, mas no geral foi bem legal.
Eles continuaram o caminho no corredor trocando mais algumas das suas experiências durante as férias. Finn lhe contou que trabalhou alguns períodos na lanchonete da sua família e explicou que passou os últimos dias na casa da sua tia em Londres praticando violão. A conversa se estendeu até que eles alcançassem a porta da sala de música. se sentia tão bem com Finn, tão relaxada, com ele era tudo mais fácil.
— Então, eu tava querendo te convidar pra ver um ensaio da banda qualquer dia desses. — Finn perguntou encostando na porta antes que eles pudessem entrar. Tinham pessoas na sala de música e ele não queria compartilhar aqueles momentos com com mais ninguém. O convite deixou levemente surpresa.
— Nossa… Eu adoraria.
Ela sorriu com a ideia de que aquilo fosse um encontro real. Um encontro com Finn. Então aquilo seria seguir em frente? Ela ficou animada com a ideia. A ideia de finalmente deixar para trás.
— Perfeito, quem sabe depois que você ver a gente tocando… — Ele se interrompeu se aproximando sorrateiramente dela. Um de seus dedos enrolou ao redor de uma mecha do cabelo dela e podia sentir seu hálito quente bater no seu rosto. — Eu consiga te beijar de novo.
Ela piscou atordoada e mordeu os lábios. Finn deu um sorrisinho de lado e piscou para ela antes de entrar na sala de música. ficou um tempo no corredor antes de seguir ele. Aquilo foi inesperado e possivelmente chocante. Finn nunca tinha sido tão direto, mas na opinião dele já estava na hora de tomar uma atitude. era uma garota incrível que na visão dele, não merecia sofrer por .
Se ele era um peão naquele jogo de tabuleiro, ele iria jogar.

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Após um primeiro dia de aula cheio, os irmãos finalmente estavam em casa, mas o clima em casa não estava muito diferente. Bill e Elsie decidiram redecorar os cômodos e não era para menos que a residência dos estivesse uma bagunça. Tinha tinta para todos lado e móveis para serem montados, desmontados ou trocados de lugar.
havia dito a que se ele quisesse vencer a eleição, os preparos da campanha tinham que começar quanto antes, por isso ela se convidou para a casa dele e se voluntariou para ajudar. Ela e estavam sentados no chão do quarto dele fazendo cartazes enquanto e estavam confeccionando broches para eles usarem nas roupas em apoio à e . A eleição duraria durante todo o mês de setembro e as votações seriam em outubro.
— Você não tinha treino hoje, ? — perguntou da cama, achou estranho que estivesse livre. No primeiro dia ela sempre costumava fazer reunião com as cheers.
— Reformulei todo o meu horário. Eu vou dar tudo de mim nessas eleições. — Ela explicou sem tirar os olhos dos cartazes. observava, ela tinha uma letra melhor que a dele então enquanto ela escrevia ele apenas coloria com canetas. — Nós vamos ganhar isso, ! — Ela sorriu para ele confiante. — Imprime mais fotos para mim.
Pediu e levantou. Ele foi até o computador, estava ao lado dele tirando papéis da impressora e começando a cortar os círculos para colocar nos broches.
— Ela está empenhada. — Ela falou baixo o suficiente para que somente ouvisse. — Você tá amando tudo isso né, ?
— O que...? — Ele perguntou segurando um sorriso, olhando para a tela do notebook.
— Para de fingir pra mim caralho. — bagunçou o seu cabelo e ele desviou a cabeça da sua mão.
— Eu... só não quero estragar tudo.
— Você não vai. Deixe as coisas fluírem, você tem todo o meu apoio. — sorriu para ele antes de voltar para cama com . respirou fundo. Ele queria muito mais do que só ganhar aquele cargo.

Chapter Twenty - The Enemy Of My Enemy Is My Friend

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— Como você aguenta levar tudo isso sozinha? — Perguntou saindo da biblioteca ao lado de . Ele tinha visto ela entrando no lugar com uma pilha de livros e se ofereceu para ajudá-la a carregá-los. Eles dividiam uma pilha de dez livros, cada um carregando cinco.
— Eu sou mais forte do que você pensa. — Ela sorriu convencida guiando até o seu armário.
abriu a porta de metal tentando dar um jeito de fazer todos os livros caberem ali depois que entregou os que ele estava carregando. Ele pegou seu celular no bolso e olhou para ela.
— Quer ouvir uma coisa, ? — Ela ergueu a sobrancelha para ele interessada e ele lhe estendeu um lado do fone de ouvido. o colocou no ouvido e deu play na música. Ela sorriu balançando a cabeça no ritmo da batida conforme escutava.
— Nossa, você que fez, ?
— Você gostou?
— Sim, ficou muito boa.
— Fiz mais algumas que deixei salvo no meu computador, se você quiser ir lá em casa hoje eu posso te mostrar. — Não era um convite com segundas intenções, gostava da amizade que ele tinha com , mas não conseguia evitar sentir falta dela de outro jeito.
— Até queria, mas eu não tenho tempo, preciso ler isso e terminar um trabalho de história. — Ela revirou os olhos lembrando da sua rotina. Aquele era o último ano e estava se esforçando para ser uma aluna brilhante e conseguir entrar em uma boa faculdade da Ivy League. Era o acordo que ela fez com a mãe, se morasse na Inglaterra com os seus tios até o fim do ensino médio, ela teria que fazer faculdade lá.
estava começando a ficar preocupado com o estado da garota, desde que as aulas começaram ela sempre estava com a cara em algum livro e bebendo muito café. Ele estava prestes a contestar quando ouviu a voz irritante de se aproximando. Ela estava com e ao seu encalço.
— Isso é irregular! Essa garota vai se ver comigo!
— Que bicho picou ela? — perguntou olhando para os irmãos .
Duas semanas tinham se passado e as coisas na Cudle estavam intensas. Desde que as campanhas foram formalizadas, o colégio estava dividido entre os polos eleitorais. As paredes estavam todas decoradas com cartazes e fotos da campanha. vinha sendo o principal beneficiado, sendo cumprimentado por todos os apoiadores quando passava com do seu lado. A popularidade dele não estava agradando à oposição e estava satisfeita com tudo que ela e construíram naquele pouco tempo.
— Fizeram uma conta no Instagram com notícias falsas para difamar o . — Respondeu por , que só faltava soltar fogo pelas narinas.
— Foi a Destiny, eu tenho certeza! Eu vou fazer uma reclamação formal!
— Calma, , você também não pode sair acusando assim. Você está muito envolvida e alterada com essas eleições. — Falou de forma suave e subitamente pareceu se acalmar um pouco. se impressionou levemente.
Mas isso não pareceu durar muito quando Destiny apareceu no corredor. Até que estava a poucos metros dali, no seu armário trocando mensagens com Allison, parou para prestar atenção na confusão quando a confrontou.
— Ei, garota! Qual o seu problema?
— Pelo visto vocês já estão sabendo das novas. — Desdenhou Destiny com uma risadinha.
— Quem você pensa que é pra falar assim do meu irmão? — Foi a vez de se meter se deixando levar pelos seus instintos fraternos.
— Isso foge do regulamento do grêmio. Eu posso te denunciar para a Sra. Downey e a sua candidatura pode ser cancelada. — cruzou os braços na altura do peito, mas a ameaça não pareceu afetar Destiny de nenhum modo.
— Você não tem provas que fui eu, , qualquer pessoa que não goste do nessa escola pode ter feito isso, e mesmo que tivesse não teria capacidade de saber usá-las com esse isopor que você tem na cabeça que chama de cérebro.
— Ora sua… — cerrou os dentes, ela estava tão irritada que podia sentir seus dedos dos pés se contorcerem nos sapatos.
— Sua o quê? — Desafiou ela encarando . As duas garotas começaram a bater boca e trocar insultos até um burburinho de gente começar a se formar em volta comentando e gravando com seus celulares.
— Garotas, parem com isso! — interrompeu puxando para o seu lado antes que algum professor interviesse e todo mundo fosse parar na diretoria.
— Nossa, , finalmente parou de se esconder atrás da ?
— Eu e temos uma parceria muito forte — olhou para com os olhos brilhando enquanto ele falava segurando a mão dela. Os olhos dele estavam em Destiny e ele não hesitou nem por um segundo. —, eu não preciso de ninguém pra me defender, mas acho que você devia saber que na política, um mentiroso sempre se dá mal. Nos vemos no debate!
Ele finalizou deixando a garota para trás e puxando a irmã e . e vinham atrás impressionados.
— Meu Deus! ! Isso foi demais. — Exclamou sem evitar agarrar os ombros do garoto.
— Vocês têm que parar de bater boca com essa garota. — Disse ele, tanto para quanto para a irmão. — Sei que estão me defendendo, mas não vale a pena.
— Ela me tira do sério, principalmente com suas comparações.
— Você sabe que não é nada disso.
observou como e se olharam. Eles estavam de frente para o outro, com a mão dele no ombro dela, tinha algo tão protetor e sentimental. Deus, ela não via a hora daquilo acontecer logo.
— É claro que sabemos, vamos tentar nos controlar. Por você. — falou e olhou para a amiga. — Certo, ?
mordeu a parte interna da bochecha enquanto dava um sorriso de lado. Ela queria chutar a perna de , mas não poderia negar ou estragar aquilo. estava a apoiando, eles eram um time e precisavam se ajudar.
— Certo, .

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Destiny Lancaster era uma garota que não se abalava facilmente e era determinada o suficiente para ir atrás de todos os seus objetivos sozinha. Talvez ela não tivesse uma rede de apoio e um grupo de amigos tão forte e unido como a de , mas ela não desistia facilmente. Esse era o pensamento que estava acalmando ela um pouco enquanto organizava os livros no seu armário.
— Está fazendo tudo errado. — Uma voz a tirou de seus pensamentos, quando ela virou e viu ser Henry, franziu a testa. Aquele garoto nunca falou com ela antes.
— O que você quer dizer?
Ele deu uma risadinha, como se soubesse todos os seus planos. A ideia da conta no Instagram para difamar tinha sido toda dela, mas não pareceu ser tão efetiva quanto ela achava. tinha uma reputação consolidada, e muitas pessoas daquela escola não se deixavam levar por fofocas sem provas decentes. Ela teria que trabalhar mais se quisesse derrubá-lo.
— Atacar um diretamente é uma estratégia péssima. Eles são um grupo estabilizado, são muito fortes juntos, se você mirar em um, todos vêm pra cima de você.
E Henry tinha razão. não era o que ela podia descrever como algo fácil, mas uma coisa ela ainda não entendia.
— E o que você tem a ver com isso?
— Eu quero te ajudar a ganhar e a desestabilizá-los. — Os olhos de Destiny se abriram em surpresa, mas levou apenas alguns segundos para ela ligar os pontos lembrando das poucas histórias que escutou de conversas soltas nos corredores. Henry era o primo de , que tinha algum conflito com ele e estava interessado em . Apenas isso já lhe dava várias ideias.
— Está fazendo isso porque quer a namorada do seu primo?"
— Todos aqui temos algum objetivo. — Ele deu de ombros como se não se envergonhasse nenhum um pouco. Destiny se aproximou, ficando mais interessada na proposta.
— O que você sabe?
— O bastante convivi duas semanas com todos eles.
— E qual é o seu plano?
— Escute, a parece ser o pedregulho. Vá um por um, que você chega nela e no , mas você tem que ser sutil.
Ser sútil era a última coisa que ela estava fazendo, pelo visto Henry tinha um bom ponto.
— Estou ouvindo, continue.
e são a liga deles, basicamente amam todos e todos amam eles, terá que quebrar isso e nessa parte nós dois nos damos bem. — Ele sorriu satisfeito. — é inofensiva. pode ser um problema, mas se você usar a consegue manipular ele facilmente e deixar ele distraído. Enfim, a gosta de ter tudo sob controle, mas ela faz mil e uma tarefas, pode atacar no ponto fraco dela, seu relacionamento com o Elliot. Pelo pouco que observei e pelo que descobri, é basicamente isso.
— Como fazer tudo isso, sendo sutil?
— Eu tenho algumas ideias. — Ele se gabou com um sorriso convencido.
— Certo, mas e a e o ?
e já estão fragilmente desestabilizados, são ex que se odeiam, não é preciso muito pra fazer eles explodirem então não precisamos nos preocupar com eles. — Desdenhou. — E bem, se eles mesmos se sabotarem não é trapaça.
Henry piscou para ela, tão confiante que Destiny pareceu pensar a respeito. Aquele era um bom plano, mas ela seria burra para subestimar tanto e .
ainda estava no seu armário e não passou despercebido por ele quando viu Henry chamar a garota para conversar. No rancho, ele não conversou muito com o primo de , mas o suficiente para Henry saber que se tinha uma coisa nessa vida que não era, essa coisa era idiota.

~~x~~

O final daquele dia estava sendo maçante para . Ela tinha mil coisas pra resolver e não parecia encontrar tempo suficiente para fazer tudo. Ela estava no estacionamento da Cuddle com , procurando as chaves do carro na bolsa quando sentiu alguém se aproximar. Era o seu namorado, Elliot.
— Hey, baby. — Ele disse abraçando-a pelo pescoço. — Eu quase não te vi hoje.
— É, eu andei meio ocupada. — Ela cerrou os dentes tentando disfarçar o desconforto.
— Eu percebi. — Ele riu sem humor. — A gente podia sair agora, o que acha?
olhou para , desconfortável. Não era a primeira vez que ela dispensava o namorado naquela semana.
— Não vai dar… Vou me reunir com a chapa do grêmio daqui a pouco. — Ela podia ver a carranca se formando no rosto de Elliot. Ela já imaginava que ele não ia ficar feliz, mas não era como se ela pudesse cancelar seus compromissos. Quando iniciou a campanha com ela se comprometeu e não podia deixá-lo na mão.
— Com a chapa do grêmio ou com o ? — O garoto franziu a testa dando um passo para trás.
— Como é?
— Vocês só andam grudados. Parece até que ele é que é o seu namorado.
— Isso é compromisso profissional. — cruzou os braços vendo o namorado revirar os olhos. Ele não fazia o tipo ciumento, mas realmente não sabia discernir se ele estava exagerando ou com a razão.
— Profissional? Sei. — Foi a última coisa que ele disse antes de lhe dar as costas e começar a se afastar.
— Elliot!
Ela gritou, mas isso não o fez ficar. Elliot virou para ela momentaneamente apenas para dizer:
— Não, , me liga quando você decidir parar de mentir pra si mesma.
olhou para , seu rosto inexpressivo enquanto ela observava o garoto se afastar, sem a mínima capacidade de dizer algo ou mover os pés na direção dela. coçou a cabeça, ela estava tão confusa com milhão de sentimentos atormentando seu cérebro.
? — chamou com cautela, tentando tirar a amiga do transe. suspirou e se virou lentamente para abrir a porta do carro. — Tá tudo bem?
queria ajudar, mas ela não fazia ideia do que dizer. Nada parecia ser o conselho certo, então ela apenas acompanhou a amiga quando ela entrou no carro.
— Não, mas vai ficar.

~~x~~

No final daquela semana, na sexta-feira, tinha um compromisso. Ela prometeu a Finn que iria a um ensaio da banda dele. Eles eram quatro garotos bastante talentosos que estavam se reunindo na garagem da casa de Finn.
sempre achou essa coisa de banda de colegial algo muito interessante e mágico, parecia que ela estava presenciando o começo de algo grande. Finn, Josh, Drake e Will tinham potencial para ser uma boyband britânica de sucesso, como os Beatles, a One Direction e várias outras.
O ensaio foi tranquilo, ela tinha assistido tudo sentada em um dos sofás da garagem bebendo enérgico. Os garotos eram legais e conhecia todas as músicas que eles tocaram. Perto do final ela foi surpreendida com um convite para cantar um pouco também. Finn era o vocalista principal e ela gostou de dividir o microfone com ele, a parte ruim foi lembrar de quando ela cantava com , nas tardes que eles passavam presos no próprio mundo no quarto dele, cantando aquelas canções e trocando playlists.
No final, Finn e ficaram conversando um pouco mais afastados dos outros três garotos. Ele realmente sabia como fazê-la rir e teve vontade de repetir aquela tarde quando pudesse, foi quase uma zona de conforto.
Quando Josh e Will saíram para pegar comida e Drake foi ao banheiro, Finn aproveitou o curto momento solitário com para se aproximar mais dela. Ela deixou que ele a beijasse pela segunda vez. Foi um beijo bom como o primeiro, ela realmente gostava da sua companhia, mas uma ponta do seu cérebro achou decepcionante não ser nada arrebatador, contudo também queria acreditar ser tudo uma questão de tempo.
Alguns amores podiam te derrubar com um pequeno toque. Outros não, e estava tudo bem.
— Sabe, a gente queria te perguntar uma coisa. — Ele disse escovando a bochecha dela com o dorso da mão.
— O quê? — estava esparramada naquele sofá com Finn ao seu lado como se aquela fosse a sua casa.
— Eu e os garotos, estávamos pensando se você não queria entrar pra banda? Ser a vocalista principal.
No momento em que ouviu aquilo, ela levantou e ele a acompanhou.
— Vocês querem que eu entre pra banda?
— Sim. Sabe os caras acham que você canta melhor que eu. — Ele brincou e riu. — Não sério, com cinco poderíamos funcionar bem melhor! Já era uma ideia antiga minha, a ideia de formar a banda foi sua, os caras queriam te conhecer e fazer um teste.
— Nossa, nem sei o que te dizer, Finn.
— Você podia aceitar. — Ele cantarolou mexendo com o cabelo dela e deixando um beijo no seu pescoço.
— Eu vou pensar, ok?
se sentia lisonjeada, mas entrar em um banda exigia compromisso e dedicação, e ela pensaria naquilo com calma antes de tomar qualquer decisão, não queria decepcionar ninguém.
Uma hora mais tarde, eles decidiram ir embora e Finn deixou na casa dela com o seu carro.
Por coincidência, o momento em que estava na varanda da sua casa, era o mesmo em que chegava na dele. Ela virou a cabeça para ver o garoto do outro lado da rua e podia apostar que ele estava vindo da casa dos Hayward. Ela perguntou mentalmente ao universo se ele não poderia ter lhe dado vizinhos melhores.
virou a cabeça e os seus olhares se encontraram. parecia odiá-lo mais agora que ele aparentava ser o aluno preferido da professora Cruel. Talvez ‘preferido’ fosse uma palavra muito forte, mas em todo questionário que a mulher fazia, sempre tirava uma nota boa enquanto ela se ferrava. O que não era nem um pouco justo porque ela sabia que mal estudava.
— Cuidado com essa fumaça, , vão pensar que está tendo um incêndio. — Ele falou da borda da varanda. deu dois passos para frente se afastando da porta.
— Que diabos você está falando, ?
— A fumaça que sai das suas narinas toda vez que você olha pra mim. Sério, toda essa raiva não faz bem pro coração. — Ele balançou a cabeça com uma falsa preocupação. E sorriu. odiava aquele sorriso. Era tão cínico.
— E você quer que eu sinta algo diferente quando você só tira nota alta em literatura enquanto eu me mato de estudar pra tirar um três?! — Ela esbravejou. Desde que Felicity assumiu a turma, começou a odiar a matéria. Ela não aguentava mais o sorriso contente de toda vez que recebia um nove por falar qualquer bobagem. Ela bufou e cruzou os braços.
— Você tem que aceitar melhor quando alguém é superior a você em algo, Cupcake.
— Sério, me fala aí como você está conseguindo isso. Suborno? Chantagem? Você só funciona na base da pilantragem mesmo.
revirou os olhos. Ele estava cansado de ser acusado de coisas que ele não era. Pensou em negar tudo, mas além de provocá-la, o que mais gostava de fazer era deixar quebrando seus miolos para entendê-lo.
— Você jamais vai saber, . — Ele riu e deu as costas a ela para entrar em casa.
Não deu tempo de ficar indignada, pois, se desse, aquela discussão viraria um verdadeiro show para toda a vizinhança. A garota abriu a porta da própria casa e entrou, encostando na madeira de carvalho-branco.
Ela tinha que começar a evitar . Não gostava nenhum pouco do que ainda sentia quando os olhos deles se encontravam daquela forma.

~~x~~

Para o mês de setembro estava passando tão rápido quanto ela gostaria. Naquele ano ela tinha o objetivo de entrar em uma boa faculdade, por isso que naquele domingo, ela e estavam na Feira de Universidades que a Cudle High estava oferecendo naquele domingo. O espaço tinha stands de várias faculdades, tanto do Reino Unido como algumas de fora do país.
Ela estava meio triste de ter que deixar os amigos para trás, mas foi o combinado que ela fez com a mãe dela, sem falar que as universidades dos Estados Unidos eram ótimas instituições. Ela sempre poderia voltar para a Inglaterra para visitar.
— Sabe que eu vou morrer de saudades de você? Você voltou há muito pouco tempo. — Disse andando ao seu lado. Elas tinham acabado de sair da tenda da UCLA e caminhavam em direção a Oxford. Elas também estavam procurando por que tinha se perdido, e estava esperando aparecer.
Ele estava atrasado e não respondia suas mensagens. Só aquilo era o suficiente para aborrecê-la.
— Eu sei, , também vou morrer de saudade.
— Será que vamos continuar amigos? Com a formatura chegando e todo mundo seguindo seu caminho… — Perguntou com a cabeça baixa. Aquele era o assunto que conseguia fazer ela se sentir mal.
— A formatura ainda está longe demais. Pare de pensar nisso, ! — Exclamou batendo o ombro no dela. — E é claro que vamos continuar sendo amigos, já passamos por coisa demais pra deixar que a distância atrapalhe isso.
Elas entraram na tenda de Oxford para pegar brindes como canetas, chaveiros, copos, e enquanto falava com alguns dos representantes, aproveitou para checar o seu celular. Havia umas três ligações perdidas da sua mãe, mas o sinal ali era péssimo.
, vou lá fora procurar sinal.
assentiu e saiu da tenda com o celular em mãos. Deveria haver algum bloqueador de sinais por ali para dificultar tanto a sua comunicação.
A duas tendas de distância, estava Henry, observando atentamente. Ele acenou para Destiny que estava saindo da tenda da Universidade de Edimburgo. A garota arqueou as sobrancelhas para ele, segurando as alças da mochila um pouco confusa, mas quando viu , ela entendeu. A rival de balançou a cabeça concordando e deu um sorriso. Henry estava mesmo fazendo a parte dele.
Ele caminhou até que estava distraída o suficiente com o seu celular e parou bem atrás dela, para causar um esbarrão de propósito. Quando se virou seu corpo colidiu com o do garoto. Seu celular acabou indo ao chão com o movimento.
— Meu Deus, Henry! Sinto muito. — Ela disse quando viu quem era. Ele sorriu em resposta.
— Tudo bem, . — Ele se abaixou para pegar o celular dela. estava carregando várias coisas. Bolsas, papéis, panfletos, copos, todo tipo de brinde que ela e tinham conseguido pegar das universidades. — Pelo visto você rodou bastante, hein.
Ele lhe estendeu o celular e sorriu como agradecimento.
— Sim, vi ótimas opções. Os brindes também são legais. — Ela riu.
— Confesso que ainda estou meio perdido. — Ele coçou a cabeça teatralmente.
— Quer ajuda? E a andamos bastante.
não veio? — Perguntou. Henry queria ter certeza que o seu primo não estaria por perto para estragar seus planos. Pelo menos por enquanto.
— Não, ele teve que se reunir com o time de futebol. Sei lá, parece que é só isso que ele faz agora.
estava um pouco aborrecida. Parecia que o seu namorado tinha entrado em modo automático e ela não fazia parte das configurações. Por uns momentos ela desejou muito que tivesse largado os esportes como e . Ela ainda treinava vôlei, mas conseguia dividir muito bem os seus horários.
— Olha, eu não queria te contar…
Ele começou e pareceu ficar em alerta. Como se a próxima coisa que Henry dissesse fosse a mais importante do mundo.
— O quê?
está meio instável esses dias.
— Como assim? — Um pouco de preocupação a conturbava. Ela suspeitava que algo estivesse acontecendo. Henry deveria saber bem já que agora eles moravam juntos.
— Ele está brigando muito com os pais.
— Os pais dele não são muito fáceis de lidar. — Disse ela, pensando que, apesar de sempre ser muito bem tratada pelos ela sabia que eles quase sempre projetavam suas frustrações no filho deles.
— Acho que o buraco é mais embaixo. Sabe, seu humor está bem mais alterado, sinto mais explosivo.
— Não, acho que você está sendo um pouco precipitado.
, estamos morando juntos, eu sei do que eu estou falando, você vai ver. — não queria acreditar, mas Henry falava com tanta convicção que lhe gerava uma ponta de dúvida. — Mas enquanto isso, me mostre o que você conseguiu ai.

Perto dali, ainda estava perdida.
Apesar de possuir boas notas e um currículo escolar excelente, nunca passou pela cabeça dela o que ela iria fazer depois do colégio, ela nunca encontrou uma área profissional que conseguisse se ver cem por cento realizada. Ela gostava de cantar, mas sabia que as chances daquilo dar certo eram quase mínimas. Quando e chamaram ela para ir até à feira, ela não estava muito animada no início, mas acabou aceitando quem sabe o lugar lhe desse um ponto de referência para seguir.
De algum modo, a ideia acabou sendo boa. Ela estava fascinada com as faculdades de artes e perambulando de stand em stand enquanto procurava as suas amigas. Em uma delas, ela se encontrou com Finn saindo da Royal College Of Art. Ele estava junto de Josh e Will.
— Hey, . — Ele disse abraçando seus ombros e deixando um beijo na sua bochecha. O beijo ainda lhe dava calafrios. Gradualmente ia caindo a ficha que ela e Finn realmente estavam indo para algum lugar e que os toques carinhosos em público ficariam cada vez mais constantes. — Achei que você não viesse pra feira.
— E não ia, mas e conseguiram me convencer de alguma forma. — Ela respondeu.
Finn se despediu dos garotos para poder ficar com ela, o que gostou de alguma forma isso a fez segurar a sua mão.
— Em quais universidades você está pensando? — Ele perguntou enquanto eles andavam.
— Não decidi nada ainda. E você?
— Anglia, Cambridge, Imperial, Loughborough e Kingston são opções.
Finn respondeu tão naturalmente e rápido. não fazia ideia se conseguiria dar essa resposta sem gaguejar. Quando se tratava do seu futuro ela se sentia completamente perdida. Ela estava pensando em questioná-lo a respeito. Com exceção de , Finn era a única pessoa que ela conhecia e tinha proximidade que poderia estar naquele mesmo dilema. E ela preferia morrer sem saber que falar com .
— Finn, você tem esperança na banda?
— Eu amo a banda. É meio confuso, às vezes eu acho que isso é só um hobbie de colégio e outras eu penso: ‘caralho, nós realmente temos futuro com isso.’ Sabe o que quero dizer?
— E como sei, eu penso nisso o tempo todo.
— Não fique aflita, você ainda tem bastante tempo pra pensar, , não fique se preocupando tanto. — Ele deu um beijo na cabeça dela e o abraçou mais forte na cintura, agradecida. — Por falar nisso, você pensou na nossa proposta?
— Eu ainda estou pensando. — Ela retribuiu o sorriso de Finn ficando na frente dele e segurando suas mãos. De repente, aquela feira parecia ser a coisa mais emocionante do mundo. — Posso ver outro ensaio?
— É claro que você pode.

~~x~~

sabia que estava bem atrasado, mas ele só começou a andar mais rápido quando encontrou com e Finn que já estavam indo embora. tinha achado conversando com Henry e disse aos amigos onde eles estavam. Ela sabia como era cansativo ficar procurando as pessoas naquela feira.
— Se manda! — Foi a primeira coisa que ele disse quando se aproximou, olhando diretamente para o primo.
!? — perguntou confusa, ela nem viu sequer a sombra do namorado se aproximando. — Ei! — Ela o puxou pelo ombro para fazê-lo prestar atenção nela, ele olhou para ela momentaneamente. — Oi, né?
quase ficou chocada quando ele não respondeu de volta, ao invés disso olhou para Henry mais uma vez. parecia ter fogo nos olhos ao olhar para o primo.
— O quê foi que você fez?
— Eu? — Ser cínico era a sua especialidade e Henry deu de ombros. — Nada.
— Você não me engana. Eu te conheço muito bem. — Ele cerrou os olhos e olhou para ele emburrada. Ela se enfiou entre os dois e empurrou o namorado levemente para trás para que ele se afastasse do primo. Ela odiava pensar que Henry estava certo. E Henry adorava saber que a sua lavagem cerebral estava dando certo.
dá um tempo. Você não consegue mais ficar em um lugar sem começar uma briga ou uma discussão?
— Eu?
— Sim, é sempre você que começa. — Ela cruzou os braços chateada. O que era para ser uma feira divertida estava sendo enfadonho. Por que não conseguia mais agir como uma pessoa normal cujo único objetivo era se divertir um pouco? Ela queria o antigo de volta. — Que necessidade é essa de brigar com todo mundo?
— Com quem porra eu estou brigando ? Só falei pra esse cara sair daqui.
ainda não olhava para ela, ele olhava com ódio para o sorriso que Henry escondia atrás de . Deus, ela não podia ser tão cega assim.
— Agora é comigo? — Perguntou indignada.
— O quê? Não! — Ele se aprontou para se justificar, finalmente encontrando os desapontados olhos da namorada. — Eu só vim aqui por causa de você.
— Talvez você nem devesse ter vindo. — Ela admitiu antes de sair dali, era com certeza uma companhia melhor.
— Tá vendo! Olha o que você fez! — Exclamou .
— Eu não fiz nada, estava tudo bem até você aparecer aqui, .
Henry estava quase saindo, seguindo pelo mesmo caminho de , mas agarrou o seu braço de maneira nada sutil.
— Você pode enganar todo mundo, mas eu não sou esse tolo. Eu acho bom você ficar longe da gente, ou dou um jeito de te mandar de volta para Hawkshead.
Foi a última coisa que disse antes de tentar ir atrás de . Ele esperava que a sua mensagem para o primo fosse efetiva, mas Henry não estava nem um pouco intimidado. Obstinado seria uma palavra melhor.

~~x~~

nunca pensou que passaria tanto tempo na casa dos sem ser por causa de . Naquele dia ela estava no quarto de desde a hora do almoço revisando com ele todas as suas estratégias de campanha e ensaiando com ele para o debate. Apesar de achar que as coisas estavam mais favoráveis para o lado deles, aquele debate seria o divisor de águas, ele quem decidiria tudo no final das contas e eles não podiam vacilar.
não se sentia muito diferente, mas ele tinha outros interesses. Ele gostava de ficar com , e eles se divertiam juntos, muito mais quando não estavam falando sobre o grêmio e as eleições. Ele sempre dava um jeito de arrastá-la para fazer algo diferente ou conversar sobre algo que não fosse a escola. Naquela tarde, não ia ser diferente.
Elsie teve a ideia de redecorar a casa quase inteira e isso estava envolvendo muita tinta nas paredes. O piso inferior estava todo coberto com plástico enquanto o pai dele passava as camadas de tinta nas paredes. teve a brilhante ideia de ajudar o pai e arrastar junto. Ela reclamou que iria sujar suas roupas e isso o fez lhe emprestar uma camiseta velha dele. Ficou perfeita nela, e ele tinha que disfarçar melhor não ficar olhando o tempo todo.
Pintar a parede com e o pai dele estava sendo divertido e uma ótima distração. estava se sentindo mal pela situação com Elliot e aquilo a fazia esquecer um pouco dos problemas com o namorado e com a desordem que a sua vida estava.
— Tudo bem, aí? — Perguntou percebendo que hora ou outra a garota suspirava quando olhava para o celular.
— Sim, está tudo bem. — Ela disse. Bill tinha dado um pincel para cada enquanto ele fazia a parte mais difícil em cima da escada com o rolo.
— Você parece meio triste.
— É impressão sua. — Ela forçou um sorriso, mas não olhou para ele. riu tendo uma ideia. Ele aproveitou seu momento de distração e passou o pincel sujo de azul no braço dela. o olhou indignada, mas ele fingiu que nada aconteceu. — Você pintou meu braço, ?
— Impressão sua. — Ele deu de ombros segurando a risada.
não fez mais que revidar e passou o pincel na bochecha dele. olhou para o sorriso satisfeito dela.
— Você quer uma guerra, ?
não esperou ela responder ou lhe deu oportunidade para se afastar, ele passou o pincel no rosto dela pintando uma longa faixa desde o seu nariz até o seu queixo, revidou e uma verdadeira guerra de tinta começou. Bill olhava para toda aquela bagunça que e estavam fazendo de cima da escada, mas ele não se atrevia a interromper. Era até engraçado.
— Tá, , chega! Você vai acabar com o meu cabelo. — Ela pediu recuperando o fôlego e se afastando enquanto ria. Seus braços estavam coloridos e a camiseta que ele lhe emprestou inteiramente manchada.
— Eu duvido que Elsie vá deixar vocês comerem os brownies que ela está assando com vocês todos sujos de tinta. — Bill assobiou.
— Brownies? — De repente, o estômago de roncou e riu. — To indo tomar banho agora!
— É tá ficando meio tarde. — disse olhando a hora no celular e ignorando as mensagens de Elliot. Elas não eram muito gentis então era melhor ignorar.
— Pode usar o banheiro da para se limpar se quiser. — ofereceu e assentiu, o seguindo escada acima.
Poucos segundos depois, estava em casa. Tinha aproveitado bem a feira com Finn, mas ela estava exausta e faminta. Não só o cheiro dos brownies a guiou até a cozinha, mas também as vozes do pai e de Elsie.
— O que há com vocês? — Questionou interrompendo a pequena discussão.
— Elsie não aceita que vermelho crimson é uma cor bonita para a parede do nosso quarto.
— Não vai combinar com as cortinas Bill! — Exclamou a mulher tirando a forma do forno. pegou um copo de água e sentou em um dos bancos da ilha.
— Esta vendo como redecorar é difícil? — Falou Bill, recebendo um tapa na mão ao tentar roubar um brownie.
— Eu posso ajudar se vocês quiserem.
— Você vai fazer a bagunça que e fizeram não é?
— Não vou. — riu tendo um leve vislumbre da baderna quando passou pela sala. — ainda está aqui?
— Acredito que no seu quarto, chame ela para comer com a gente. — Falou Elsie e começou a se mover na direção da escada.
Ela passou pela porta de , mas estava completamente fechada. Foi até o próprio quarto a procura da amiga. estava no seu banheiro, a porta entreaberta relevava uma linha do seu quarto. empurrou a porta levemente quando ouviu um soluço.
A imagem de de frente para o espelho se revelou. Ela estava tentando desembaraçar o seu cabelo molhado sem nenhuma sutileza, além das lágrimas que caíam dos seus olhos.
?! — se aproximou entrando completamente no banheiro e abraçado a amiga por trás. — O que aconteceu? fez alguma coisa?
— Não! — Negou de imediato. limpou as lágrimas com o dorso da mão e soluçou. — Pelo contrário.
tinha um jeito diferente de chorar. Ela não era escandalosa. Suas lágrimas eram espaçadas e os seus grunhidos quase silenciosos. Era quase bonito vê-la chorar.
pegou o pente da mão dela e guiou até o vaso. Ela fechou a tampa e a líder de torcida sentou ali enquanto desembaraçava as mechas do seu cabelo com delicadeza.
— Por que você está chorando?
— Eu… E-eu não sei. — admitiu entre soluços. — É só… M-muita coisa… Argh! Eu realmente não sei, !
viu seu corpo sendo projetado para frente quando abraçou sua cintura. Até aquele momento ela não tinha ideia do quanto precisava de um abraço.
— Ei! Está tudo bem.
— Não está! Eu sinto que estou perdendo o controle de tudo, mas não sinto que estou fazendo algo errado. Isso está me consumindo, .
soltou a escova na pia e se ajoelhou de frente para a amiga, segurando suas mãos.
, você tem que entender que você não precisa estar no controle de tudo. — Ela suspirou lembrando de quanta coisa estava acontecendo naquele momento. — Você pediu ajuda ao ? Eu sei como o meu irmão pode ser preguiçoso às vezes, espero que ele não esteja te sobrecarregando.
— Isso não tem a ver com , na verdade, ele está sendo maravilhoso. — Por um momento até conseguiu sorrir.
— Hm, acho que você está colocando carga demais nos seus ombros. — podia sentir a tensão nos ombros de ao apertá-los e de maneira alguma podia deixar que isso continuasse. — Não seja orgulhosa, peça nossa ajuda.
— Eu vou tentar.
— Você vai dormir aqui hoje. — levantou para sair do banheiro e puxou consigo de volta ao quarto. — De maneira nenhuma vou te deixar dirigir nesse estado.
— Obrigada, .
foi pega de surpresa com o forte abraço que recebeu ao redor dos ombros. Ela levou apenas segundos para retribuí-lo com um sorriso.
— De nada, . Estou sempre aqui se você precisar.
Antes de descerem novamente, tomou um banho. Quando ela voltou para o quarto, estava deitada na sua cama, olhando para o teto. começou a trocar de roupa quando ouviu a voz de dizer seu nome:

— Hm?
— Você acha que o Elliot tem razão em ficar chateado comigo?
— Você quer que eu seja bem sincera? — Ela respondeu após passar a camiseta pela cabeça e assentiu. — , você não é cinco ou quatro, você é só uma. Só existe uma no mundo, e ela precisa saber definir suas prioridades. — se aproximou da cama e se sentou. — Tudo bem ser isso ou aquilo e tudo bem também perder o interesse nas coisas. Ninguém vai te sacrificar por isso.
— Então você acha que ele tem. — Ela disse enquanto observava levantar e ir até à penteadeira para arrumar o cabelo.
— Talvez. As coisas mudaram e ele não se acostumou. Bem, acho que você precisa conversar com ele e ser completamente sincera.
não respondeu, apenas olhou para a tela do seu celular. Para as ligações e mensagens das quais ela não sabia o que fazer. Ela ficou pensando nisso enquanto terminava de se arrumar.
— Você quer comer aqui? Posso trazer os brownies para cá. — perguntou da porta e levantou da cama.
— Não, vamos descer.
— Ah ótimo então vamos agora porque eu estou morrendo de fome.

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Chapter Twenty One - Forever Halloween

[N/A]: Esse capítulo tem uma playlist, se você quiser ouvir é só clicar no icone abaixo quando a primeira música aparecer ;)



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Líderes de torcida furiosas cercaram naquela sexta-feira de meados de outubro. Por um segundo, ela engoliu em seco, sem saber o que fazer. Era o dia do debate entre os candidatos do grêmio e ela definitivamente não precisava de mais um problema para deixá-la nervosa.
Por outro lado, as garotas da torcida não estavam nada satisfeitas com a falta de comprometimento da sua capitã.
— E então, , dá pra você nos dizer ou tá difícil? — Becky, uma das bases da pirâmide, perguntou.
— Er… Bem…
De longe, conseguiu perceber claramente que a sua amiga estava em uma saia justa.
— Garotas! Eu sei que as coisas estão um pouco desagradáveis, mas a precisa estar no debate agora. Eu prometo que assim que acabar, ela vai estar com tudo resolvido para vocês. — tentou argumentar, mas isso não pareceu alterar o humor das líderes.
— Vai ter sorte se nesse tempo, nós não encontrarmos outra capitã, . Vamos garotas.
Becky se despediu com um olhar de desdém, seguida pelas outras e com isso nunca se sentiu tão diminuída. Ela tinha saudade de quando conseguia administrar bem suas atividades escolares e ter um namorado. Nesse tempo ela se viu afastada tanto de Elliot quanto de . A sua mente era um completo caos sobre não saber o que fazer.
E apesar disso, alguém estava se divertindo com o que estava acontecendo. Quando e entraram no auditório, Destiny aproveitou para se aproximar de Henry, que também estava ali perto no corredor.
— Foi você quem causou isso?
— Fiz uma pequena confusão nos horários dos treinos e mandei umas fotos pro namorado dela.
— Garoto, você é bom. — Ela sorriu.
— Sou o melhor. — Henry se gabou, subindo a gola da camisa do uniforme. — Agora, termine de acabar com eles nesse debate.
O auditório estava lotado de estudantes. foi se encontrar com nos bastidores e procurou os seus amigos na plateia.
era o mais animado. Ele tinha o rosto pintado com as iniciais de e não parava de gritar em apoio ao amigo. estava ao seu lado, com a bochecha pintada, mas mais quieta, lendo um livro. estava no meio de uma ignorada de e . O clima entre os dois não estava bom e não tinha indícios de que iria melhorar. O único lugar próximo a eles era uma cadeira na frente de e se viu sem opção senão sentar-se ali.
Quando ela olhou para trás, seus olhos se encontraram. Ela sentia raiva de si mesma por achar tão bonito. Até os pelos da curva da sua sobrancelha eram perfeitos.
— Perdeu alguma coisa aqui, Cupcake? Eu posso sentar do seu lado, assim você pode me admirar mais de perto.
A provocação foi quase inesperada. estava gastando os seus dias saindo com Finn ou tentando ajudar a não enlouquecer, tanto que ela mal interagia com , nem mesmo para brigar. Não que ela sentisse falta de se desentender com ele, mas com isso ela percebeu que eles ultimamente não vinham compartilhando os mesmos espaços e ela não se lembrava da última vez que os oito saíram todos juntos. e não paravam de brigar. colocava os seus estudos acima de qualquer coisa. e tinham uma estranha dinâmica de se ajudarem durante a campanha ao mesmo tempo que parecia fugir do garoto. E até parecia mais distante por motivos que preferia ignorar.
Ter noção de tudo aquilo, só por causa dele, era demais para ela. Então se calou, ela abstraiu a presença de e olhou para .
, você pode pintar a minha bochecha também?
— Com prazer, .
Ele sorriu se inclinando para deixar as bochechas de brancas e azuis com as iniciais do irmão.
O debate começou com cinco perguntas para cada lado e não sabia dizer por quê, mas as coisas não estavam bem para o lado de e . A amiga parecia meio perdida, o que era estranho, pois era raro perder o argumento para alguém.
No intervalo, ela tentou levantar o humor de todo mundo, mas ninguém estava no clima. Os amigos foram até os bastidores dar apoio para e até que teve uma ideia brilhante para tentar reverter aquele jogo.
— Vocês já apresentaram as propostas soltas?
— Ainda não. — suspirou deslizando na parede até sentar no chão.
— Bem, eu achei aquela ideia que vocês tiveram de juntar a viagem de fim de ano durante o recesso com o trabalho que os professores de história e geografia querem fazer para ajudar com pontos extras e atividades extracurriculares, bem legal. — deu de ombros, recordando que em uma das vezes que estava ajudando e ela ouviu.
— Puta merda, ! — exclamou se aproximando da amiga e agarrando seus ombros e ficou feliz por se sentir útil. — Por que eu não pensei nisso antes?
estava quase concordando quando um barulho irrompeu no ambiente.
— Finalmente eu achei vocês. — Henry coloca a cabeça para dentro da sala e isso chamou atenção de .
— Eu te mandei uma mensagem, você não viu? — disse olhando para o garoto e fazendo revirar os olhos.
— Você não pode ficar aqui, Henry!
— Por que não? — Foi quem perguntou. estava de saco cheio de ver a sua namorada do lado do seu primo sempre.
— Somos o grupo de apoio presidencial do , e o Henry não faz parte.
— Fala sério, , isso não é um grupo exclusivo. Tenho certeza que o seu primo só quer ajudar.
— Ajudar até demais. — sussurrou mais para si mesmo, mas que estava próximo não deixou de escutar, mas ela se calou quando continuou.
— As informações que trocamos aqui são confidenciais!
Foi a vez de revirar os olhos e cruzar os braços.
— Ah, faça-me o favor!
— Galera, sem drama! — decidiu interromper. — De qualquer forma, já vamos ter que voltar para o debate. Se acalmem.
O mais velho se recolheu em um canto para discutir os últimos detalhes com . Querendo ou não, ele concordava com que as informações trocadas ali não podiam ser compartilhadas com qualquer um. Henry era um cara legal, mas ele não tinha a sua confiança, e muito menos a de .

~~x~~

Duas semanas depois os alunos da Cuddle foram liberados mais cedo por causa da votação do grêmio. O resultado seria divulgado no mesmo dia e a coordenação queria tempo suficiente para fazer toda a contagem dos votos com calma. Aquela ainda era uma sexta-feira do dia trinta e um de outubro. não aceitava que ela e perdessem, estragaria todo o clima para a festa a fantasia.
tinha acabado de depositar o seu voto, ela foi uma das últimas e quando terminou saiu da sala para procurar os seus amigos. Achou no pátio, sentado no chão e encostado numa pilastra. Ela se aproximou o suficiente para ver que ele estava desenhando.
! — Ela exclamou, sentando-se ao seu lado. apenas continuou rabiscando o lápis no papel, ele não parecia muito animado.
— Oi, .
— Que cara é essa?
— Nada.
— Nada? Esqueceu que eu sou sua melhor amiga e te conheço melhor do que todo mundo? — Ela bateu o ombro no dele, mas isso apenas o fez largar o lápis e tirar sua atenção do desenho. — É a ?
sabia que a relação dos amigos não ia bem, por isso perguntou com cautela. Ela odiava vê-los brigando.
— Quem mais poderia ser. — Ele suspirou cansado. — Você não sabe como é difícil morar com o Henry. Ele a levou para casa todos os dias nas últimas duas semanas e eu tenho que assistir a isso calado, já que ela não quer falar comigo.
Sem falar dos problemas que vinha enfrentando em casa, ele definitivamente não precisava de outro com , mas na sua cabeça, o namoro deles já estava fadado ao fracasso.
— Você quer que eu fale com ela?
não sabia se queria fazer aquilo, ela queria ver os amigos bem, mas não sabia se conseguia realmente tomar um partido. Ela tinha medo de piorar tudo que já estava ruim.
— Não. Estou cansado de brigar com a e não quero meter nenhum de vocês nisso.
— Não gosto de te ver assim, principalmente hoje que o vai assumir a posse vamos ter a festa de dia das bruxas.
— Quanto a isso você pode relaxar, lá vai ter muita bebida para me fazer esquecer os problemas. — finalmente esboçou um sorriso e revirou os olhos. Ela olhou para o caderno jogado na perna do garoto e o pegou para analisar melhor o seu desenho muito realista do Homem de Ferro
— Eu adoro os seus desenhos. — Ela comentou enquanto folheava o caderno. — Acho que a comentou que em Londres tem uma ótima faculdade de artes, parece o lugar perfeito para você.
ficava meio triste ao pensar naquilo, parecia que todos tinham um lugar perfeito para seguir a vida, menos ela.
— Artes, ? Eu já estou destinado a cursar direito em Oxford. — resmungou, fechando o caderno. Aquilo era o que ele menos queria, mas quanto antes ele se conformasse seria melhor.
tentou o seu melhor para esconder o seu olhar de pena, ela sabia que odiava pena. Cursar direito não era o sonho dele, era o sonho dos seus pais, quase tudo que o amigo era obrigado a fazer era por causa dos seus pais. Ela só queria achar uma maneira de ajudar o seu melhor amigo, mas enquanto não encontrava ela, tentou distraí-lo e fazê-lo rir. sabia que era uma amiga em que ele realmente podia contar.
Eles ficaram conversando até a diretora pedir que todos se reunissem no ginásio para o resultado. e se juntaram aos amigos com exceção de e , que estavam no palanque junto de Destiny, da diretora e de alguns outros professores.
— Vamos começar a contagem. — A diretora disse quando viu que grande parte dos alunos estavam ali para testemunhar.
Conforme a contagem ia acontecendo, ia ficando impaciente, tanta tecnologia para fazer uma votação e contar papeizinhos era cômico, mas, por outro lado, ela estava animada porque estava com uma boa vantagem sobre Destiny, que não estava gostando nada daquilo.
— Duzentos e cinquenta e quatro votos contra centro e trinta e seis, parabéns ao senhor , novo presidente do grêmio e , a vice.
As últimas palavras da diretora foram um pivô para os gritos e os aplausos se iniciarem no ginásio. soltou todo o confete que ele conseguiu, ele estava ansioso para fazer aquilo o dia todo.
Logo os amigos invadiram o palanque para parabenizá-lo, mas não podia deixar de dar um abraço caloroso em primeiro. Foi quase automático como os dois se olharam e sorriram assim que escutaram o resultado. Ele deu-lhe um abraço forte o suficiente para tirar os seus pés do ar.
— Conseguimos! — Exclamou ele e olhou para ele sem realmente soltar o seu pescoço.
— É... Conseguimos! — Ela sorriu e por um instante era como se só existissem os dois ali. nem sentiu vontade de checar a expressão de derrota no rosto de Destiny, só aquele momento era especial e o bastante para ela. — … Sinto muito pelo jeito que agi nos últimos dias, acho que me afastei quando não deveria, não quase no fim das eleições.
Ele queria dizer que estava tudo bem e prendê-la no abraço de novo, mas não conseguiu. No segundo seguinte ele estava rodeado de pessoas, ou melhor, rodeado de garotas interessadas em bajulá-lo, algumas delas até faziam parte da equipe de torcida que comandava.
Ela observou como cada vez mais ficava distante dela e dava atenção para as outras, mas ela já imaginava que ganhar aquela eleição dispararia os seus níveis de popularidade. Porém, o que realmente a preocupava era o quanto ficou enciumada ao ver aquela cena. E não era um ciúme nada inocente.

~~x~~

, será que dá pra você parar de se mexer? — pigarreou. Ela estava no quarto de , se esforçando ao máximo para que o rosto dele tivesse uma maquiagem de caveira decente. Eles estavam quase prontos para a festa a fantasia, faltando apenas aquele detalhe. não tinha de fato escolhido uma fantasia, mas ele queria algo assustador. Já decidiu ir de um clássico, Elvira Hancock.
bufou, mas tentou manter o rosto o mais parado possível enquanto sua irmã espalhava a tinta pelo seu rosto.
— Você acha que tudo vai voltar ao normal agora que essas eleições acabaram?
— Tudo o quê?
— Sei lá… — Divagou olhando para o teto. O jeito que ele e se despediram na escola foi um pouco esquisito. — Tudo.
ergueu uma sobrancelha, focalizando os olhos do irmão e perguntou sugestivamente procurando alguma reação neles. — Tudo você e a ?
Ele suspirou, não querendo afirmar aquilo, mas também não podia negar. Em meio a indecisão, ele decidiu perguntar de uma vez:
— Tá, , seja sincera comigo. Quais são as minhas chances com a ?
— Eu, hm… Não sei. — deu de ombros e os olhos de se arregalaram.
— Não sabe? Vocês são melhores amigas e você não sabe?
— Eu não faço ideia de como está a cabeça da agora, , mas eu acho que ela não gostou de te ver no meio daquele monte de garotas. — fez uma careta ao lembrar da cena e não evitou um sorriso convencido.
— É mesmo?
— É, mas não fica se achando! — chutou a perna do irmão levemente e riu. Ela ficou um tempo admirando a obra de arte que estava fazendo no rosto de com as tintas antes de continuar. — Olha eu não posso te dar a porcentagem exata, mas acredite em mim, elas não são nulas.
— Ela ainda está namorando o Elliot?
— Isso é outra coisa que eu também não sei, as coisas entre eles estão meio confusas, mas não acho que a goste tanto dele do jeito que gostava antes. — O sorriso de cresceu um pouquinho mais. Aquilo era bom. Muito bom. — Mas se você gosta mesmo dela, demostre isso e tenha paciência, esse é o meu conselho pra você.
— Você podia perguntar se ela gosta de mim né…
ficou surpresa, ela achava que nunca ia ouvir aquilo saindo da boca de . Se ele estava disposto a tomar uma atitude, ela podia dar uma ajudinha. Ela não teve muita oportunidade de responder, um barulho veio da porta e uma pessoa entrou no quarto.
, vamos logo… — Essa pessoa era . Ele parou de falar quando viu ali e abriu levemente a boca. Ela estava com uma peruca loira de franja, mas não era só a peruca, eram as pérolas no pescoço, as pulseiras de strass no braço, os brincos de gota turquesa, o anel de prata esterlina em formato de lágrima, era o vestido sexy de cetim verde turquesa com decote em V e barra profunda. Era ela toda. revirou os olhos para desviar o olhar do dela quando eles se encontraram. — Ah, claro tinha que ser.
parecia que jamais se acostumaria a dividir o mesmo carro com todo dia. Ele estava vestido de Jigsaw, de terno, com espirais vermelhas pintadas nas bochechas, incrivelmente lindo. Ela achou como era uma ótima fantasia, apesar de sempre ter odiado aquele filme.
— Tinha que ser o quê, ? — cruzou os braços.
— Você o motivo do estar atrasado.
— Eu já terminei, tá bem?! — Ela bufou fechando as tintas e limpando o pincel. pensou ter várias formas de dar continuidade aquela troca de farpas com , mas ela não queria.
levantou da cadeira para se olhar no espelho, ficando muito satisfeito com o resultado. — Porra, , ficou incrível. Obrigada!
— De nada! — Ela sorriu de volta para o irmão.
— Só vou pegar a jaqueta. — Disse abrindo o armário. Ele olhou para e , que tentavam se ignorar o máximo possível. — Somos apenas nós três?
— Vou encontrar com o Finn lá. — Ela respondeu e saiu do quarto, concluindo ser muito difícil de respirar com o perfume de ‘contaminando’ o ambiente.
— Chamou os Heyward? — olhou para que tentava disfarçar ao máximo o jeito demorado que ficou olhando para porta quando saiu.
— Allison disse que tem uma prova para estudar. — Ele zombou e seguiu para fora do quarto. — Imagine, estudar para provas.
riu e concordou.

~~x~~

Billie Eilish tocava e a primeira coisa que fez quando chegou na festa, foi ir atrás de . A casa em questão era de um garoto popular que tinha convidado basicamente a escola toda. Ela estava ansiosa com o singelo pedido de ajuda do irmão e felizmente não tardou a encontrar com . Ela estava encostada no corrimão, perto da escada que levava para o primeiro andar, com um copo americano vermelho na mão. Sua fantasia de Feiticeira Escarlate estava divina, mas o humor no seu rosto não parecia tão bom assim.
! — Ela chamou e olhou na sua direção.
— Oi, .
— Que cara é essa? Achei que você ia estar mais feliz.
— É, eu também achei. — bufou e virou o resto da sua bebida antes de cruzar os braços.
— Escuta… — começou pensando em perguntar aquilo que lhe pediu, mas ela não podia fazer isso após notar que estava sozinha. Sem qualquer um dos amigos por perto e sem Elliot. — O Elliot não veio?
— Não… Eu… — admitiu com pesar. — Eu realmente não sei se ele vem.
— Ah, que bom. — falou sem pensar muito, com um certo tipo de alívio, era melhor mesmo que Elliot não estivesse ali, mas quando franziu a testa para ela sem entender muito bem, tentou se retratar. Aquilo não era a melhor coisa para se dizer quando sua melhor amiga estava sofrendo por isso. — Quer dizer… Desculpa.
— Tudo bem, , as coisas entre nós estão complicadas.
— Complicadas do tipo?
— Se viéssemos juntos talvez só ficássemos brigando a noite toda igual e . Ainda não consegui ter aquela conversa sincera com ele que você disse para mim ter.
pensou em perguntar sobre e , mas isso desviaria do seu objetivo, então ela decidiu manter o foco em e resolver qualquer coisa de e depois.
— Hm… — Foi o que ela conseguiu murmurar pensando no melhor jeito de começar a abordar aquele tópico.
, anda, desembucha, o que você quer perguntar?
— Eu? Nada! — Exclamou e a olhou como se dissesse “você acha que me engana?”. — Certo, vou direto ao ponto então. Estava aqui pensando e… Seus problemas com Elliot tem a ver com ?
ficou alguns segundos pensando, mordendo a beirada do copo de plástico, ela não ia ganhar nada negando aquilo.
— Sim… Tem.
— Você gosta dele? — perguntou com toda a expectativa do mundo. não respondeu, mas o sorriso que ela não conseguiu segurar deu a todas as respostas do mundo. — Aí meu Deus!
— Isso é loucura demais, .
— Não é, não. — agarrou seus ombros sem conseguir parar de sorrir e tentava esconder o seu rosto vermelho. — Você devia falar com ele sobre isso, agora mesmo.
— Ficou maluca? Até parece que o gosta de mim. — encarou o chão. Ela e juntos… Tudo parecia irreal e confuso demais, mas ela tinha certeza de uma pequena parte dos seus sentimentos quando suas peles se encostavam, quando ele a fazia rir, como ela o achava ridiculamente atraente e como ela fazia questão de dormir todos os dias com a camiseta que ele lhe emprestou e ela propositalmente esqueceu de devolver.
— Jura, , que só você não percebe como o idiota do meu irmão é bobo por você? — soltou uma risada fraca, era muito bom saber daquilo.
— Tem certeza?
— Você ficaria surpresa. — lhe deu um sorriso cúmplice e só de imaginar falando dela com , quase fez o estômago de revirar de um jeito bom. Talvez estivesse na hora de fazer algo.
— Bem, onde ele está?
não conseguia esconder a animação ao ouvir aquela pergunta e começou a puxar pela mão até onde ela lembrava que tinha deixado e . Quando chegaram lá, não estava mais ali, mas não estava sozinho. Ele estava com Destiny e o pior, eles estavam se beijando.
O queixo de quase foi no chão quando ela viu a cena e os seus olhos estavam arregalados. Já tentava manter uma reação neutra, apesar de os seus dedos estarem quase esmagando o copo na sua mão.
— MAS QUE MERDA É ESSA, ? — Foi quem gritou tentando vencer a música Cherry Bomb do The Runaways que tocava no momento. se afastou de Destiny no momento em que ouviu o grito. Ele simplesmente estava beijando a garota que vinha tentando arruiná-lo nos últimos dois meses. olhou para , mas foi pior quando ele olhou para um pouco mais afastada e amuada. Ela vira tudo e aquilo era ruim.
— Eu… Eu posso explicar. — Ele começou, mas não ficou ali para ouvir. — !
— Que climão! — Destiny soltou uma risadinha e quis ter raio laser nos olhos só para transformar a garota em pó.
— Se manda daqui!
— É, , você realmente precisa melhorar o seu ciclo social feminino. A gente se vê depois. — Ela ficou na ponta dos pés para deixar um beijo na bochecha dele e saiu antes que pudesse reagir. Isso só fez com que olhasse mais feio para ele.
, que porra foi essa? Você me pede para te ajudar com a e faz isso?
— Ela me pegou desprevenido, ok?
— Ah claro que sim! — Ironizou cruzando os braços. — Eu vou atrás dela.
As mãos de pararam nos seus ombros antes que ela pudesse se mover.
— Não! Você devia ir atrás do Finn, alguém aqui merece se divertir. Eu vou tentar me resolver com a .
— Não sei, não. — Murmurou , ela realmente tinha ficado incomodada com aquele beijo. Não era nada legal da parte de dizer para ela que gostava de e beijar outra garota.
— Por favor, , me dê esse voto de confiança.
— Tudo bem! — Ela cedeu. — Mas se você estragar tudo eu nunca mais te ajudo com nada.
— Eu sei, obrigado.
deixou um beijo na bochecha da irmã antes de enfrentar a multidão e ir atrás de .

~~x~~

— Não acredito que vocês fizeram isso! — Exclamou com a mão no peito. Ela ainda tentava se recuperar do susto que levou de e , mas a face aterrorizada talvez fizesse jus a sua fantasia de noiva cadáver. Os garotos, por outro lado, ainda tentavam se recuperar da gargalhada exagerada.
— Você tinha que ter visto a sua cara, ! — Falou ainda rindo e concordou. Os dois adoravam o dia das bruxas para dar sustos nas pessoas. Era o que estavam fazendo desde o início da festa.
— Podem acreditar que vai ter troco, viu. — Ela respondeu cruzando os braços, ainda inconformada com o susto. a abraçou pelos ombros, segurando sua serra elétrica falsa com a outra mão. Sua fantasia de Jason estava simplesmente perfeita. — , não acredito que você me tirou de casa pra passar por isso!
— Tirei mesmo, diga que você está adorando.
Foi quase um sacrifício convencer a ir para aquela festa, ela tinha decidido que naquele ano não podia se dar ao luxo de ficar saindo tanto, mas o garoto foi tão insistente aparecendo na casa dela para buscá-la que ela teve que ceder, sem falar que se não o tivesse feito, suas amigas com certeza encheriam o seu saco até que ela começasse a se arrumar.
ficou meio alheio à conversa do casal quando viu passar rapidamente por trás dos amigos.
— Realmente estou gostando, agradeço por ter me feito vir eu tava precisando.
Não só a festa, mas a companhia de estava sendo prazerosa. Ele jogou o cabelo dela para trás e sorriu. subiu os olhos para o seu rosto, ela não lembrava da última vez que tinham ficado tão perto, mas ela lembrava o quanto beijava bem…
Se ela soubesse que ficaria a noite toda pensando nisso, não teria deixado ele se aproximar tanto, mas o seu corpo parecia impossibilitado de se mover para longe, tanto que quem o fez foi . Ele também tinha percebido a aproximação exagerada e a soltou sabendo que aquilo, eles, não era o que queria.
— Não seja por isso, você precisa se divertir. Não é, ?
Quem quase tomou um susto foi que ainda estava meio alheio seguindo os passos de com os olhos, uma ideia estava borbulhando no cérebro dele.
— É claro. Vou pegar bebidas, vocês querem?
Os dois assentiram e deixou e conversando. Ele perambulou pela festa atrás de , mas esbarrou com alguém melhor.
. Viu a ? — Era Finn quem perguntava. o encarou e quando estava quase respondendo ele viu, atrás do corpo de Finn, o corpo de , se dirigindo até a cozinha, chegou à conclusão que eles deviam estar se procurando. Um sorriso involuntário surgiu no rosto dele.
— Vi ela lá no jardim. — Ele respondeu naturalmente, colocando as mãos nos bolsos.
Finn deu um tapa no seu ombro e sorriu. — Obrigado!
esperou até o garoto sumir para fora da casa antes de ir até à cozinha. Ele pegou copos para as bebidas de e e falou atrás de que abria a geladeira.
— Você parece uma barata tonta andando pela casa. — Ele riu, enchendo os copos com cerveja e bebendo um pouco deles. se virou o olhou com cara de tédio. — Mas se está procurando seu namorado ele está lá no sótão.
arqueou as sobrancelhas na sua direção. Ela não queria conversar com ao mesmo tempo que queria saber qual era o interesse dele em ceder aquela informação para ela, ela não havia perguntado nada a ele. o encarou, mas apenas virou o seu copo sem tirar os olhos dela e se virou para sair dali, sem dizer nada.
deu um sorrisinho quando inclinou o corpo e viu ela subindo a escada até o sótão.
nightmare

~~x~~

— O que eu odeio, é isso que você está fazendo, ! — Exclamou com raiva. Desde o momento que pisou os pés naquela festa ela não parava de discutir com . Ela estava se arrependendo de ter saído de casa, a única coisa que queria era curtir a festa com um pouco de paz, mas aquela situação com tornava tudo impossível.
— Você que começou vindo com esse cara para a festa. — resmungou, indicando Henry com a cabeça.
— E isso te dá o direito de dar em cima de outras garotas? — cuspiu as palavras, tamanha era a sua raiva naquele momento. Ela mal pode acreditar quando Henry lhe mostrou aquelas fotos de se engraçando com outras garotas na festa um pouco antes de ela chegar. Por um momento ela até achou que o namoro deles iria voltar ao normal, ela até decidiu ir fantasiada de Irene Adler, a parceira de Sherlock Holmes, que no caso era a fantasia de . Ela tinha esperanças que eles pudessem fazer as pazes na festa, mas pelo visto aquilo não ia acontecer.
— Eu não estava dando em cima de ninguém!
— As fotos não mentem!
— Estão descontextualizadas! Eu só estava dizendo a Becky onde ficava o banheiro. — se frustrou tendo que repetir aquilo novamente. O seu olhar para Henry era colérico, aquilo era tudo culpa dele e doía não acreditar na sua palavra. Aquela música do Chase Atlantic tocando só o fazia ficar com mais raiva, parecia que a letra de Too Late o estava desafiando.
— Ah claro, o banheiro que você provavelmente estava planejando levar ela pra vocês se atracarem. — revirou os olhos e deu as costas para ele, olhando para o jardim. Eles estavam na varanda da casa, tinham algumas pessoas passando por ali, mas ninguém suficientemente interessado para prestar atenção naquele showzinho.
— Isso é ridículo, . — encostou na parede ao lado da janela. Ele estava cansado daquilo.
— Sim, , é ridículo mesmo. — cruzou os braços se recusando a virar para ele. Ela mordeu os lábios tentando segurar a mágoa de escorrer pelas suas bochechas.
— Você não confia mais em mim.
— Digo o mesmo de você.
olhou para Henry, que apenas assistia tudo sem interromper, mas também sem conter um meio sorriso.
— Como você pode ser tão burra desse jeito e não enxergar isso?
— Como é? — deu um passo para frente na sua direção e ela olha olhou indignada.
— É isso mesmo. — Ele falou, dessa vez mais firme. Era horrível fazer aquilo, mas não sabia demais se conseguia continuar. — Você se recusa, e eu cansei.
— Eu estou duplamente cansada, .
— Então é isso, , ótimo. — Eles se encaram e por um segundo procuraram algum sinal de que iriam ceder, mas não achou nada, então decidiu fazer aquilo de vez. — Acabou.
Se de um lado estava triste, do outro ela estava com raiva. lhe deu as costas, mas ela segurou o braço dele.
— Você não vai terminar comigo, eu estou terminando com você!
— Adeus, , boa volta para casa com o Henry. — Ele rosnou, sem coragem de olhar para o rosto dela e tentando controlar a ardência nos olhos.
Ele sabia que amava , era horrível terminar tudo daquele jeito, mas já estava feito, então apenas soltou seu braço dos dedos dela e seguiu seu caminho.
— Onde diabos você está indo?
— Verificar se a Becky encontrou o banheiro.
Ele não ia de fato fazer aquilo, para a festa tinha acabado naquele momento, mas ele estava com tanta raiva de que não se importava em deixar que a cabeça dela ficasse pensando naquilo. Era um pouco triste e estranho, porque ele não se lembrava de ela ser alguém tão ingênua e manipulável.
— Eu te odeio, !

Na parte de trás da casa, no jardim, foi onde encontrou . Estava relativamente mais vazio que o interior e a música também era mais baixa, mas vários jovens ainda estavam pelo gramado bebendo, fazendo pegadinhas e conversando.
A garota encarava a piscina, se perguntando como as pessoas conseguiam se jogar na água com aquele frio, quando sentiu a mão no seu ombro. Seu corpo ficou estático quando virou a cabeça e viu que era .
. — Ele disse finalmente parando na frente dela, mas o olhar de desviava do dele, focando na piscina atrás, tentando ignorar como o seu ombro formigava no local em contato com a mão dele.
— Você tinha uma queda pela nossa rival, quem diria. Eu te ajudei a campanha inteira, pra no final você enfiar a língua na garganta dela. — Ela cuspiu as palavras ainda enjoada pela cena que tinha visto a pouco tempo. jamais esperava aquilo vindo de .
— Não tenho uma queda por ela, .
— Então o que foi aquilo? — Ela cedeu colocando as mãos na cintura e olhando para ele.
— Eu não sei. — coçou a cabeça sem jeito. Aquela tinha sido a coisa mais inesperada de toda a sua vida e, para piorar, tinha visto tudo. — Ela apareceu do nada e começou a me provocar. Ela disse que você não ligava para mim e me beijou. Eu nem sequer beijei de volta. , eu não gosto dela! — tentou se explicar, as palavras saíram rápidas e um pouco emboladas, mas mesmo assim ele deu um passo para frente.
— Por que você não beijou de volta? — pendeu o queixo para baixo, encarando os pés na grama. Ela não sabia explicar aquela sensação. — Dá pra beijar alguém sem precisar gostar dela. - Falou baixo, segurou sua mandíbula trazendo o olhar dela para o seu rosto lentamente. — Eu preciso realmente responder?
prendeu a respiração por um momento. Seu peito acelerava cada vez que inspirava mais do perfume de e ela não sabia explicar aquela sensação, mas sentiu algo parecido no dia que ficou presa com ele no depósito de materiais da escola. Já fazia meses, mas ela nunca esqueceria da sensação de ter o seu rosto perto. parecia mais bonito cada vez que ela olhava para ele, mas ela não conseguiu reagir quando ele segurou o seu rosto até os lábios se tocarem.
Foi um beijo rápido, mas eficiente para fazer os músculos do rosto dela se separarem. Eles se afastaram momentaneamente e se encararam, meio assustados, era uma coisa nova, mas uma coisa que queria há muito tempo, por isso, e vendo que dessa vez não ia fugir, ele não teve timidez alguma ao puxar o corpo da garota na sua direção, dessa vez de forma mais firme para um beijo de verdade que não teve que se esforçar muito para retribuir. Suas mãos se perderam no cabelo dele enquanto as mãos dele seguravam firmemente a sua cintura e não soube por quanto tempo ficou perdida naquele beijo, Gigantic do Pixies tocando ao fundo. Se antes ela gostava daquela música, agora teria um motivo especial.
Isso até ela abrir os olhos e ver Elliot parado ali, encarando os dois com o pior olhar de mágoa que ela já tinha visto antes de dar as costas e começar a se afastar.
levou apenas um segundo para processar que deveria ir atrás dele, afinal era para ele que ela devia explicações, não para .
ficou desacreditado quando a viu correr atrás de Elliot.
Pelo visto, ela nunca o escolheria.

~~x~~

Quando chegou ao sótão, tudo que ela encontrou foi um local silencioso e desguarnecido. Não era possível que Finn tinha se enfiado em um lugar tão escuro e com tanta poeira. Estava tocando Tear You Apart e ela queria voltar para a festa, aquilo não era nem um pouco romântico. O sótão estava com uma aparência de sótão, mas decorado com bizarros enfeites de Halloween, alguns móveis cobertos com lençóis brancos e a única iluminação era de algumas velas. Tudo bem que era Halloween, mas o lugar não precisava parecer tão assustador assim.
— Finn? — Ela chamou da porta, decidindo entrar no cômodo. Talvez ele quisesse um lugar para eles ficarem sozinhos e aquele parecia o único possível naquela festa.
abraçou o próprio corpo quando um vento gelado tomou conta do ambiente fazendo os seus pelos se arrepiarem e todas as velas se apagaram. — Isso não é engraçado, Finn, aparece logo!
Um barulho agonizante surgiu do nada, era como se estivessem arranhando garras de metal em um quadro negro. Um assovio percorreu o ar e o som de rodinhas passando pelo quarto fizeram se virar, mas estava escuro demais para constatar o que era.
Algo bateu nas suas panturrilhas e quando se virou deu de cara com o rosto pálido de , mas exposto a super iluminação da sua lanterna, dizendo com uma voz grave:
— Eu quero jogar um jogo!
Ela deu um grito e alguns passos para trás, quase tropeçando em um baú e caindo. ligou as luzes e desatou a rir com as reações de . Ele incorporara tão bem o Jigsaw que até aquela merda do triciclo vermelho ele levou. mentalmente o amaldiçoou por dez gerações.
— Isso já está ficando chato, , você não acha? — Ela revirou os olhos enquanto ele ainda ria do seu susto. Era sempre isso, ele nunca perdia uma oportunidade para assustá-la.
— É Halloween, Cupcake, entre no espírito da coisa. — Respondeu ele, levantando do triciclo e apagando a lanterna.
— O problema é que pra você parece que é sempre Halloween. — Suspirou cansada. — Você me trouxe até aqui pra fazer essa brincadeirinha sem graça?
passou por ele, mas segurou o seu braço.
— Ei, pra onde você vai, Cupcake?
— Vou procurar o Finn, porque com certeza ele não está aqui! — Ela disse livrando o braço da mão gelada dele.
— Espere, quero te falar uma coisa. — Ele disse ficando na frente dela a impedindo de passar pela porta.
— O que é? — olhou para interessada. Fazia um tempo que ela não falava com ele assim, tão a sós, tão perto sem ser para discutir, e não parecia querer discutir.
— Você por acaso tem percebido algo estranho?
— Algo estranho? — Ela franziu a testa.
— É, com o Henry.
— O Henry? Bem, ele é o pivô das brigas do e da .
— Mas eu não acho que seja só isso. — o olhou mais interessada, aquele sótão não parecia mais tão assustador e nem a presença de era tão desagradável. — Vi ele, várias vezes, conversando com aquela Destiny, não sei, parece que eles têm uma vontade bizarra de querer nos desestabilizar e arruinar a nossa amizade.
falhou ridiculamente em desprestigiar as palavras de .
Nossa. Eles eram oito. Eles sempre seriam oito. Não importava o quanto ela odiasse ou ele a odiasse. E ninguém deveria sequer se atrever a querer mudar isso.
— Eles não fizeram nada comigo.
— Nem comigo, por que será? — ergueu uma sobrancelha, desconfiado.
— Bem, não é muito difícil me fazer ficar longe de você. — deu a ele um pequeno olhar de desprezo que foi obrigado a retribuir.
— Digo o mesmo, mas enfim... Precisamos fazer algo.
— Ah, você quer a minha ajuda? Sério mesmo? — Ela cruzou os braços. Trabalhar com era uma coisa que ela não sabia ainda se queria fazer. — Ou isso é mais uma das suas brincadeiras sem graça?
— Eu tô falando sério, . — Ele segurou os ombros dela, num impulso, temendo que o ignorasse e saísse dali. — Você não percebeu como todo mundo tem andado meio afastado?
— Claro que eu percebi, porque consequentemente eu fiquei mais longe de você, e quer saber? — Ela fez uma pausa vertiginosa antes de continuar. — Foi maravilhoso.
Era para doer ouvir aquilo, ou não, não sabia mais, mas tentou ignorar os seus sentimentos. Ele não tinha feito ir até ali para discutir uma questão deles.
— Pare de trazer isso pra gente, , tô falando da nossa amizade, você não odeia ver isso ruir?
E ela odiava, mas ela também odiava como o toque de nos seus ombros formigava a região, odiava como os olhos dele eram tão bonitos, como a cor deles era tão profunda e igual à dos cabelos que caíam na testa.
— Desculpa, não dá, , agora não.
Ela queria fugir dali, mas não deixou. Ele se enfiou no seu caminho, engenhosamente bloqueando a porta, sequer conseguiu desviar pois no mesmo instante um blecaute se instalou na casa inteira, mas a música do Cults não havia parado, o que justificava os gritos dos jovens vindos lá de baixo.
O seu pé escorregou e ela quase caiu, mas no segundo seguinte se sentiu firme nas mãos de . Sentiu cada pelo do seu corpo arrepiar conforme a respiração dele batia no seu rosto, tão perto. As mãos de desceram para a sua cintura quando ele se certificou que estava firme e que ela não ia cair.
— Não vai embora. — O pedido dele foi quase como uma súplica.
O único foco de naquele momento era aproximar o rosto do dela. Era como se aquele apagão lhe desse a coragem e o empurrãozinho necessário. A música ainda estava alta e a sua visão cheia de pontos pretos, mas era como se conseguisse enxergar perfeitamente e o contorno dos lábios dele antes de encostarem nos dela.
E não tinha nada de terno naquele beijo, ele era profundo e exigente como eles estivessem em débito um com o outro por tanto tempo separados. guiou passos para trás até o corpo dela atingir a parede mais próxima, com menos delicadeza do que ele planejava, mas isso não foi um problema para ela. estava mais interessada em puxar os cabelos dele enquanto aquele familiar formigamento subia pelas suas pernas cada vez que apertava as suas coxas e a sua língua explorava cada área da sua boca.
Ela quase tinha se esquecido como o cheiro de era bom. Tudo nele era bom. Insuportavelmente bom.
segurou o rosto de com as duas mãos e a beijou mais contundentemente, ele pensou que poderia ficar daquele jeito para sempre, mas a necessidade de puxar ar para os pulmões o fez quebrar o beijo e descer os beijos para o pescoço dela.
mordeu os lábios, abafando um gemido, ela queria que ele descesse mais, que moldasse o seu corpo nas mãos e que as pernas dela abraçassem a sua cintura. Entorpecida era a palavra, e como ela tinha sentido falta daquilo por tanto tempo?
Os seus olhos se abriram gradativamente e sentiu-se menos zonza, como se aquele encanto estivesse sendo quebrado aos poucos, conforme os lábios de passavam mais tempo longe dos dela.
No início, achou que jamais poderia ir embora daquele jeito, jamais poderia recusar aquele pedido, mas ela precisava ir.
Ela ouviu chamar o seu nome enquanto ela tropeçava no escuro em direção a porta. saiu tão rápido dali que sentiu uma dor insuportável quando desceu a escada e o seu pé virou levemente para o lado. Ela tentou ignorar a dor e continuou com os seus passos rápidos. O andar de baixo estava agitado e aterrorizante com as lanternas coloridas e as pessoas dançando por toda a casa, mas poucos segundos depois a energia voltou. Ela se jogou no meio da multidão, esperando se misturar o suficiente para que não pudesse achá-la até alcançar o lado de fora.
No jardim da frente as coisas estavam mais tranquilas e ela sentiu um alívio no peito quando encontrou , sentado na calçada.
— Vamos embora. — Ela falou sem enrolar muito.
— Agora mesmo. — olhou para cima e levantou, feliz em ver a irmã. Para ele aquela festa já estava mais que acabada, ele só estava esperando encontrar e para ir. — Mas o
— Não, só nós dois. O se vira.
Ela começou a puxar pela mão em direção ao carro.
— Mas
se virou para ele, ela não estava pedindo, ela estava exigindo. —— Só nós dois ou você vai ter que me explicar agora o que rolou com a .
até podia estar um pouco abalada com o que acabara de acontecer, mas ela não era uma imbecil. Se estava ali sozinho e cabisbaixo, o lance com talvez não tivesse sido tão legal.
Ele por fim, concordou.
— Ok, só nós dois.

~~x~~

Chapter Twenty Two - Heartbreak Anniversary

~~x~~

Na segunda, olhava para o seu prato sem nenhuma intenção de tocar nele. Era o horário do almoço e ela estava dividindo uma mesa com Finn e . Aquele estava sendo um dia horrível por vários motivos, mas o principal deles era que quase ninguém estava se falando e isso a incomodava em níveis estratosféricos, mas ela mesma não podia ser hipócrita em dizer que não estava evitando desde a festa, porque ela estava.
Ela até tinha ido dormir na casa de para evitá-lo, não era do tipo que insistia, mas ele não costumava desperdiçar oportunidades. não fazia ideia do que fazer em relação àquele beijo, por isso mal conseguia olhar Finn nos olhos. Pelo menos o garoto agia normalmente, e ele não parecia desconfiar de nada.
— O que vamos fazer no sábado? — perguntou quando Finn levantou para pegar mais comida. Ela estava lendo um livro já que os três na mesa não conversavam muito e olhou para a amiga, meio alheia.
— Sábado?
— Seu aniversário, !
— Meu aniversário… — falou calmamente, eram tantas coisas acontecendo que ela nem se lembrava do próprio aniversário, mas ficou feliz de saber que lembrou.
— Vai ser o quê? Outra festa pra vocês me arrastarem?
— Festa, ? Com esse clima péssimo? — olhou ao redor da cantina, vendo todos os seus amigos espalhados pelo lugar em mesas separadas. Aquilo não era normal.
— É, realmente o clima está péssimo. — Falou repetindo o gesto de . — Mas você vai me dizer porque o não para de olhar pra cá?
arqueou uma sobrancelha e piscou atordoada.
— E-ele tá olhando...? — Ela falou baixo e se inclinou na sua direção balançando a cabeça.
— Sim está.
não conseguiu evitar e olhou para trás. estava em uma mesa com e , que conversavam distraidamente, mas olhava diretamente para ela. Seus olhos se encontraram e ela rapidamente virou a cabeça. encostou na cadeira e cruzou os braços.
o que rolou naquela festa? — bufou e começou a contar, não ia adiantar muita coisa mentir para . — Meu Deus! Que demais! Você gostou não foi?
— Demais? Tá louca? — Por mais que não fosse possível que alguém ouvisse, continuava sussurrando. — E se eu gostei, ? Tô me fazendo de doida fingindo que aquilo não aconteceu.
— Jura? Porque o não parece estar agindo do mesmo jeito. — riu baixinho olhando para o garoto que desviava de um pedaço de pão que jogou nele, mas logo voltava a olhar para .
— Isso… É problema dele. — suspirou. — Beijar o significa reiniciar um círculo vicioso que eu mesma coloquei um fim, isso não vai acontecer, eu não quero isso! — Ela cruzou os braços em cima da mesa e olhou para Finn na fila. — O que eu quero é que todo mundo fique bem de novo, e não arrumar mais problemas por causa do .
— Então faça isso na sua casa no sábado. Pro seu aniversário, ninguém vai poder dar desculpa pra não ir. — decidiu mudar de assunto. sempre seria um assunto complicado e ela tinha que respeitar como preferia lidar com ele.
— Meu Deus, isso é genial! — Era disso que eles precisavam, um tempo só deles, não existia data melhor do que o seu aniversário para isso. — Eu vou chamar os meninos, você fala com a e a .

— Você vai mesmo ficar com essa cara o dia todo, dude? A não vale tudo isso. — Falou ao amigo. Aquele era o seu primeiro dia como presidente eleito, mas não estava nada animado, tentando ao máximo evitar a mesa em que estava sentada com as líderes de torcida.
— Ela me beija e sai correndo. Quem entende isso? — Disse olhando para .
Naquele momento, viu se levantar e caminhar pela cantina. Ele poderia facilmente dizer o mesmo e concordar com o melhor amigo. Ele não conseguia parar de tentar decifrar os movimentos daquela garota, por sorte estava distraído demais no drama de para poder perceber qualquer coisa. Ele quase levantou quando achou que estava indo até eles, mas ela mudou a direção no último minuto.
— A é complicada, eu já falei pra você. — Falou mordendo uma pera. — O concorda comigo.
— Na verdade, não. — negou. Quem dera ele estivesse na situação de , comparado com a dele, resolver aquilo parecia tão fácil quanto andar de bicicleta. — Você ainda não viu o que é complicado.
Ele disse antes de olhar de relance uma última vez.

foi obrigada a mudar a direção quando percebeu que seria péssimo chamar os meninos agora. , e estavam juntos e de maneira nenhuma ela iria até lá naquele momento. Poderia falar com em casa e com depois, então ela se dirigiu para a mesa que estava com o time de futebol.
Ele estava sentado na ponta, então não foi difícil puxar o braço dele e prender a sua atenção.
— O que é, ?
— ‘O que é ’? Desde quando você fala assim comigo, ? — Perguntou indignada e ele se levantou a puxando para um abraço como uma forma para se redimir.
— Desculpa é que…
— Não quero saber. — Ela balançou a cabeça, sabia que e tinham terminado e o humor dele sempre ficava péssimo nesses casos. — Te perdoo se for na minha casa sábado a noite.
— Sábado? Seu aniversário! — Ele sorriu e sorriu de volta. Ela sabia que nunca esqueceria o seu aniversário.
— Que lindo, ele lembrou. — Disse apertando a bochecha dele.
— Claro que lembrei, mas não estou num clima pra festa, .
— Não vai ser uma festa, é pra ser só a gente. — Explicou, mas não sabia se aquela informação melhorava ou não a situação. — Você não tem direito de escolha, ou você vai ou vai. Agora me dê um abraço e pare de ser um cuzão.
Ela o puxou para um abraço e retribuiu, ele não tinha como dizer não para , por mais que fosse difícil dividir espaços com .
Quase no final do intervalo, encontrou com do lado de fora da cantina, torcendo para que não tivesse sido muito difícil convencer e . Poxa, era o aniversário dela, os seus amigos bem que podiam fazer um pouco de esforço. Felizmente, tinha voltado com um sorriso no rosto.
— Elas vão, tudo certo.
— O que está tudo certo? — apareceu de repente abraçando os ombros da garota, o que foi um alívio para , com ele ali ela só precisava falar com .
— Hm que carinho todo é esse? — Disse olhando para o braço dele ao redor dela, mas ela não quis se esquivar.
— Carinho de amigos.— Ele disse fazendo um bico e riu.
— Meu aniversário. Sábado na minha casa. — Falou indo direto ao ponto.
— Ótimo. — sorriu, ele não negava uma festa. — Mas… Você conseguiu reunir todo mundo, por que…?
— Não diga nada! — Ela o interrompeu. Na sua cabeça tudo daria certo e não queria saber de energias negativas. — Todo mundo vai! Eu já sentenciei o , coisas ruins vão acontecer se ele não for.
— Até mesmo o…
— Todos! — Ela o interrompeu novamente sabendo que diria o nome de . riu divertido.
— Pelo visto, , somos o único casal normal por aqui. — Ele cantarolou deixando um beijo na bochecha dela e seguindo pelo corredor. foi atrás dele sem entender direito.
— Casal?
Depois que percebeu que confirmou a presença de , ela não conseguiu focar no drama de e . Ela teria que convidá-lo, afinal, eles não seriam oito sem o .
Tirou o celular e decidiu mandar uma mensagem.

[12:16] :
[12:18] : ????
[12:18] : Eu sei que você visualizou, responde, praga
[12:22] : Que droga, qual o seu problema?
[12:23] : Se você quer uma resposta de mim, vai ter que me encarar pessoalmente,

Merda.

~~x~~

— Não destrua a casa filha, eu te amo.
Aquela foi a última coisa que Bill disse a na noite daquele sábado. Ela havia pedido ao pai, como presente de aniversário, que ele e Elsie liberassem a casa para que pudesse se reunir com os seus amigos. As coisas não mudaram muito durante a semana, mas ela esperava que a noite terminasse de outra forma.
estava arrumando a sala quando apareceu ali.
— O que você está fazendo?
— Chamei todo mundo pra vir pra cá.
Ela decidiu esperar até o último minuto para contar para , apenas para ele não inventar de fazer qualquer outra coisa para não ter que ver .
— Não. — Ele negou começando a se dirigir para a escada, mas interceptou o seu caminho.
vai se foder, são seus amigos e é meu aniversário poxa. — Ela choramingou. — Não pode ignorá-los e me ignorar só por causa da .
revirou os olhos. Ele estava estressado com a situação com . Na cabeça dele, ele simplesmente não conseguia entender o que queria.
— E daí? Vai todo mundo ficar brigando, você e o pra começar. — Ele acusou porque sabia que aquilo era verdade. Em todas às vezes que o grupo se reunia e aparentava estar em paz, era sempre ela e que decidiam começar uma discussão.
— Não vamos não.
— Vão, sim, disso eu não duvido nada. — soltou uma risada sarcástica antes de passar por para subir os degraus.
— Vou provar pra você!
não tinha certeza de nada. Era tudo muito instável, mas ela tinha que parecer ao menos convincente e para isso, ela precisava de .
Assim como , ela esperou até o último minuto para encarar . Ele tinha sido claro quando disse querer um encontro pessoalmente caso ela quisesse conversar. Tanto que durante a semana, ficou um pouco mais discreto, ele não olhava mais para ela como olhou na cantina, mas também não tinha sumido. sempre se fazia presente o suficiente para saber que ele estava lá e as cartas estavam na mão dela.
Ela não teve muito tempo para pensar, quando viu já estava atravessando a rua e batendo na porta da casa da frente. Foi Cindy quem abriu a porta, com um sorriso, ela desejou feliz aniversário para antes de dizer que ela poderia subir, já que estava lá em cima, no quarto dele.
ficou meio apreensiva, pois fazia meses que não colocava os pés ali. Ela subiu a escada e no corredor, a escada que levava para o quarto de estava aberta igual à porta dele. Dava para ouvir uma música vindo de lá, ele estava tocando, ela tinha certeza.
Ela subiu os degraus antes de parar no batente.
.
estava encostado na cama, sem camisa e com a sua Fender no colo tocando Dig do Incunbus com uma palheta na boca. Ele ergueu o olhar levemente surpreso por encontrar ali. Ele tirou a palheta da boca e apertou na mão firmemente, escondendo para que não visse o nome dela gravado ali.
.
— Preciso de você lá em casa pra convencer o a ficar. — foi direto ao ponto olhando para os próprios pés. Ela ainda estava no batente se recusando a entrar.
franziu a testa. — Precisa?
— Preciso.
— Veio até aqui pra isso?
— Sim... — Ela olhou para ele. — É o meu aniversário e eu tô tentando fazer com que todo mundo fique de boa e você tem que estar lá para isso acontecer.
quase sorriu. Ele sabia que era o aniversário de , jamais poderia esquecer e gostava de saber que naquele momento, para ela ele era necessário.
— Tudo bem. — Ele disse com as mãos atrás da cabeça, decidindo concordar. Talvez aquela fosse uma forma de presenteá-la, mas também via como um oportunidade. — Eu vou e você fala comigo sobre aquele beijo — abriu a boca para falar, mas ele continuou. — E nem pense em dizer que não sabe do que estou falando.
Ela encarou o seu teto de vidro, já deveria esperar que não seria tão fácil e decidiu se dar por vencida. Era pelo bem do grupo.
— Certo. Não podemos brigar, então por favor tente não encher a minha paciência.
— Mas encher a sua paciência é que é engraçado! — riu e ela o repreendeu com o olhar. — Tá tudo bem, eu vou me segurar. — Ele levantou as mãos em sinal de rendição.
— Ótimo. — disse, mas quando estava virando para ir embora, a voz dele a chamando a fez ficar.
. — saiu da cama, ficando de pé e caminhando na sua direção. Só aí que notou o quão nu da cintura para cima estava, com aquela calça de moletom e o quanto gostoso ele ficava. — Feliz aniversário, cupcake!
Ela não teve tempo de reagir quando a abraçou pelos ombros e deixou um beijo na sua bochecha, mas, meu Deus, como o toque dele era bom. Ela não sabia o que falar ou fazer quando ele se afastou.
deu um sorriso sacana. — Eu já tô indo.
não falou mais nada, apenas se virou e foi embora enquanto tentava regularizar sua respiração.

Para sua surpresa, quando voltou para a sua casa, e já estavam lá esperando por ela. Os dois a cumprimentaram com um grande abraço de feliz aniversário e entregaram os seus presentes. acabou descendo e ficando na sala com eles.
— Onde você foi? — Ele perguntou para .
— Fui chamar o . Nós não vamos brigar. — Ela disse, trocando olhares com , que se acomodava na ponta do sofá abrindo um livro.
As coisas só começaram a ficar tensas quando chegou e ela e começaram a trocar farpas. já não aguentava mais aquilo enquanto recebia olhares de que expressavam um “eu te avisei”.
chegou um pouco depois com no seu encalço. não pode deixar de reparar na mochila que tinha nas costas e que ele tinha trazido a sua Fender. Não pode negar o alívio que sentiu quando cruzou a porta. Esperança. era a sua esperança para que aquela noite não fosse um desastre como ela estava sentindo que seria.
foi o responsável por levar as bebidas até a sala e foi a primeira a pegar uma garrafa da opção mais forte trazida por
— Certo, qual é a sua grande ideia. — olhando pro teto.
— Eu não sei, a gente nunca precisou mais do que isso pra se divertir.
— Admiro, , mas o clima não está dos melhores. — Foi quem comentou.
— Se você não fosse tão desagradável, talvez tivéssemos um clima bom. — murmurou com o gargalo na boca.
era o único mais quieto. Ele tinha sua Fender no colo e dedilhava algumas notas enquanto prestava atenção no caos que se instalava aos poucos, mas a cabeça dele mesmo estava em .
— Ei, parem com isso! — interrompeu antes que pudesse rebater. — Vocês já discutiram demais hoje.
queria continuar rebatendo, mas foi interrompida pela campainha e levantou. — Deve ser a .
Imediatamente revirou os olhos enquanto a irmã se levantava para abrir a porta. Assim como todos os outros, não parecia tão feliz, mas ela tentou sorrir ao dar parabéns para a sua melhor amiga e entregar o seu presente. Ela olhou todos na sala, procurando por que se recusava a olhar para ela, muito mais interessado no videogame que estava ligando.
— Vocês estão bebendo? — Perguntou ao chegar na sala. Ela sentou na ponta do sofá ao lado de .
— Claro, você acha que dá pra aguentar o numa sala por muito tempo estando sóbria? — Disse virando a garrada.
porque você não cala a boca por pelo menos um segundo?
— Por que vocês não calam a boca por pelo menos um segundo? — interveio e o agradeceu mentalmente por isso. Às vezes era um saco para ele que os amigos discutissem tanto o tempo todo. Ele tinha os seus problemas com , mas reconhecia que isso mudou um pouco com o tempo. Claro que não era a sua melhor amiga, mas eles não brigavam mais como antigamente. Achava ridículo que os amigos brigavam por coisas tão inúteis e complicam os sentimentos que deveriam ser fáceis.
— Eu vou buscar o bolo, se vocês não agirem como duas pessoas normais, nenhum dos dois vai comer. — Disse olhando para e . Eles pareciam duas crianças de braços cruzados se ignorando.
, vem aqui comigo me ajudar a escolher uma música. — puxou pela mão até o notebook de que estava conectado a caixa de som e olhou para para que ele distraísse do mesmo jeito.
até pensou em acompanhar até a cozinha, mas olhou ao redor, olhou para ela fingindo estar muito concentrado na sua guitarra e indicou sutilmente, seja o que for o que ela pretendia, ele não iria atrapalhar. Aquela parecia uma boa hora para chamar ele para conversar. Ela ficou de joelhos no tapete e rastejou até onde estava.
— Que merda! — Ele praguejou baixinho e por um instante ela achou que fosse por causa dela, mas logo percebeu o controle na mão dele infestado de formigas.
, a gente pode conversar?
olhou para ela levemente surpreso e, ao mesmo tempo, sem jeito.
— Eu… Preciso dar um jeito nisso aqui. — Ele indicou o formigueiro que tinha virado o seu controle antes de se levantar e ir em direção à área de serviço. entendeu aquilo como um sim e o seguiu.
Eles passaram por que trazia o bolo e ela queria questionar, pois eles iam perder os parabéns, mas achou melhor não interromper e deixar que eles se resolvessem de uma vez. Para variar, e estavam discutindo novamente.
— Claro que tinha que ter sido a pra ter escolhido essa música horrível dos anos 2000.
— Antes anos 2000 que o seu gosto de velho dos anos 50.
— Eu tenho personalidade, não sou genérico como alguns. — O comentário fez se levantar e bater acidentalmente em que estava vindo com o bolo. A garota se desequilibrou um pouco, mas o suficiente para que o prato fosse para no chão. arregalou os olhos para a cena e só aquilo foi o suficiente para que ela ficasse ainda mais furiosa com . Já não bastasse arruinar parte da sua vida, ele tinha que arruinar o aniversário da sua melhor amiga também.
— Olha o que você fez? Destruiu o bolo. Você destrói tudo que toca, !
— Por que você sente necessidade de me culpar por tudo que acontece?
— Porque talvez seja tudo a sua culpa mesmo.
olhou triste para os amigos discutindo. Nem o aniversário dela parecia capaz de parar aquilo.
— Meu Deus, , você deveria dar parabéns ao Henry, ele merece. — Todos olharam confusos para , que finalmente decidiu falar alguma coisa. parecia indignado e não aguentava mais ouvir tudo aquilo calado.
— Qual foi, ?
— Ele e aquela garota irritante, a Destiny, eu vi os dois conversando. Eu não sei qual a real intenção que eles tinham, mas se era criar algum incômodo na nossa amizade, eles conseguiram.
— Por que vocês gostam de ficar vilanizando o pobre coitado? — Perguntou . Ela não conseguia acreditar naquela história. — Nossa , uma conversa, grande coisa.
— Achei que você fosse menos ingênua, . — Respondeu , ele era o seu melhor amigo e por isso tinha que ser honesto. Nunca em anos viu se deixar levar tão facilmente por alguém que ela mal conhecia.
— Vá se foder, !
Em outro momento teria adorado aquela atitude da amiga, mas agora era tudo que ela menos queria presenciar.
— Falei que ele não era confiável, ninguém acreditou em mim! — Exclamou , olhando fixamente para , satisfeito da verdade finalmente revisitar.
— Você não me falou nada, cara. — Disse .
— Você estava todo preocupado com a .
— Ela tava precisando de ajuda.
— Ei! Eu não preciso que ninguém cuide de mim.
Em meio aos gritos, pensou em e , eles ainda não tinham voltado e ela não sabia se aquilo era uma coisa boa ou ruim. Mas ele não conseguiu focar nos dois por muito tempo, logo as vozes se alteram novamente entre uma discussão de e e Rebeca frisando para que ele não era obrigado a nada.
olhava para todos eles sem saber em quem focar primeiro para acabar com aquela discussão, mas ela não precisou fazer nada porque antes que conseguisse pensar, sua atenção, assim como a de todos os outros, foi parar em . Ele tinha começado a tocar uma música que ela conhecia, era Best Friend do Rex Orange County.
E apesar de a música ter cessado a discussão, não foi por isso que se sentiu encantada. Ela lembrou sem querer de como gostava de ver tocar. Aquela guitarra vermelha era tão a cara de que ela tinha vontade de quebrá-la na cabeça dele.
foi a primeira a fazer um movimento. Ela pegou a sua bolsa e foi até a porta da frente, batendo quando saiu.
— Que desastre. — comentou baixinho para , que limpou a garganta.
— Já entendi que você não precisa de ajuda, mas queria dizer só vim pela , e por você.
sorriu, ficando levemente surpresa com a revelação.
— Eu vou ver como a está. — Foi o que ela disse antes de sair da sala.
— Quer carona, ? — perguntou se levantando e concordou. — Feliz aniversário, , desculpe por isso. — Ele passou o braço pelos ombros dela, deixando um beijo na sua testa antes de ir embora com .
Quando voltou para a sala, sentou derrotada no braço do sofá. era o único que tinha sobrado ali e ele ainda terminava de tocar a música. Ela queria que ele parasse porque quanto mais ele tocava mais ela sentia coisas que não deveria sentir.
— O que você está fazendo?
— Essa festa virou um enterro, estou tocando a música dos créditos finais. — Ele sorriu arrancando uma risada fraca de .
, obrigada por não dificultar as coisas mais ainda.
Ela tinha tentado, mas sabia que tudo ia piorar caso, ela e também se enfiassem em uma discussão.
— Você ainda tem que cumprir a sua parte.
Ele diz começando a revirar a sua mochila, mas antes que pudesse ver o que ele tiraria de lá, voltou a sala.
, pelo amor de Deus, tenta tirar a de dentro daquele banheiro. Eu to indo pra casa. — levantou segurando o braço de e sussurrou no ouvido da amiga:
— Você não pode ir embora e me deixar sozinha com ele, . — Ela disse entredentes e olhou para , que não parava de encarar .
— Desde quando você tem medo do , ? E você não está sozinha.
— Oh Deus. — Ela suspirou, deixou um beijo na sua bochecha antes de sair e olhou para . — Eu já volto, .
— Tenho a noite toda, .
subiu rapidamente até o primeiro andar. A porta de estava fechada com uma música alta saindo de lá e ela duvidava que ele fosse sair do quarto tão cedo. Ela foi até o seu quarto, já tinha saído do banheiro.
— O ainda tá trancado no quarto?
— Sim, mas o que diabos acontece entre vocês?
— Nada… Nada… — olhou para o chão tentando desconversar. Ela nem sabia como dizer aquilo ou se deveria dizer. queria entender tudo, mas não com a tensão de saber que estava lá embaixo esperando por ela.
— Já, já, você me conta tudo, deixa só eu resolver esse problema primeiro.
Ela disse aflita, deixando curiosa, mas antes que pudesse sair, deu de cara com o seu mural, onde ela costumava colar bilhetes, fotos e post it com lembretes. Havia um em especial, meio perdido entre tantos papéis.
Nossa eu já tinha até esquecido disso.
Ela tinha colado aquele bilhete ali em fevereiro, bem no início, no dia do aniversário dele, quando os seus sentimentos por viraram uma bagunça que ela não conseguia controlar mais. Quando ela descolou o papel do mural, lembrou da declaração que tinha feito para si mesma e que pretendia cumprir.

"Eu, , prometo que não vou me apaixonar por , quando ele tocar aquela guitarra e/ou cantar para mim."

Data: 14 de fevereiro de 2018
Lugar: meu quarto

assinatura

Coloquem pra tocar Feel Like Shit - Tate McRae

Quando voltou para a sala, já tinha ido embora e estava na sala, no mesmo lugar do sofá com a guitarra no colo, mas com um diferencial. A mesa de centro, antes vazia e respingada com os resquícios do bolo estrago, agora tinha um pequeno cupcake de morango com uma vela acessa em cima.
Ela não estava com medo, mas também não sabia se tinha coragem o suficiente para dizer o que pretendia. Ela não se importava em cumprir a parte dela no trato, mas aquilo era muito maior.
preferiu ficar de pé encostada na parede e a uma distância segura.
— Tá tudo bem lá em cima?
— Não muito. — Disse ela encarando o chão. Parecia mais seguro. — Mas uma hora vão melhorar. Eu acho que todo mundo precisa de um tempo pra esfriar a cabeça.
O silêncio se instalou por alguns segundos e resolveu olhar para para saber o que aquilo significava. Ela não fazia ideia de como começar a falar sobre, mas parecia ter outro tipo de estratégia porque quando ela olhou para cima ele estava bem na frente dela.
. — Ela falou baixo, sentindo seu estomago afundar conforme ele se aproximava e tocava o seu rosto. Os polegares dele circulavam sua bochecha e tentou falar sem gaguejar e ignorando as batidas rápidas do seu coração: — O que está fazendo?
— Por que você saiu correndo? — perguntou segurando a cintura dela, como se temesse que ela fugisse de novo. Ele beijou o pescoço de calmamente e inspirou o máximo do perfume dela que ele conseguiu. Ele sentiu tanta falta disso. — Depois que a gente se beijou?
— Por que… Era a coisa certa a se fazer. — conseguiu falar aquilo com muito esforço, os seus sentimentos estavam misturados no meio das palavras. Ela tinha tomado uma decisão após julgar que aquilo nunca ia dar certo.
Porém, naquele momento era cético demais para suas palavras, não quando o corpo dela dizia o contrário. Não quando a sua boca se inclinava cada vez e quase implorasse para que ele a beijasse de novo. Então ele o fez, como da última vez, como se nada os tivessem interrompido na festa de Halloween. Nada entre eles funcionava na base de palavras, a relação deles era moldada em atitudes, e ele já estava cansado de não fazer nada.
— Isso parece errado pra você? Porque pra mim não parece, .
olhou para ele recuperando o folego e praguejando seus lábios por formigarem tanto por causa daquele beijo. Ela queria dizer que não, ela queria gritar que, porra, não mesmo, mas o seu cérebro rebobinava para a direção contrária. sentiu um aperto quando ela começou a se afastar dele calmamente.
— Eu tenho namorado, .
revirou os olhos. Claro que era aquilo. Como ela poderia largar o cara ‘perfeito’ para ficar com ele?
— Você está fazendo uma escolha, ?
mordeu os lábios postergando a resposta. estava sendo sincero e aquilo era muito difícil. Afastar e manter afastado. Ela podia explodir seus sentimentos para perceber que foi a coisa mais intensa que já aconteceu com ela. era uma carga de emoção muito grande. Seu coração, seu corpo, sua alma, ela tentava encontrar uma parte nela que não tocou. Taylor Swift tinha razão, dizer adeus era mesmo uma morte por mil cortes.
— Você não tá cansado disso? — Ela suspirou. Todas aquelas brigas bestas, os conflitos… Parecia que uma relação pacifica entre ela e só poderia existir de forma romântica.
Não. Eu nunca vou me cansar de você. Foi o que pensou. Afinal, quem eles queriam enganar? Era óbvio que ainda se gostavam, era óbvio que ainda eram apaixonados um pelo outro, e você não destrói um sentimento tão depressa que cresceu gradativamente por anos.
— Eu tô cansado de fingir que não sinto as coisas.
— Eu acho que estamos bem como estamos... Não quero mudar isso, .
Bem?
— Eu estou em um bom relacionamento. — Era isso. Aquelas cinco palavras foram capazes de partir o coração dele. Como se ele e ‘bom relacionamento’ não pudessem coexistir na mesma frase. só não sabia que aquilo doía igual em também. — E você também… seja lá o que estiver tendo.
completou ao lembrar do rolo que tinha com a vizinha. Talvez ele se sentisse mais confortável com ela. riu desacreditado.
— Quantas vezes por dia você repetiu essa mentira pra si mesma até acreditar?
Ele falou conduzido pelo seu ego ferido, antes que pudesse evitar, mas não queria fazer aquilo. Apesar de não dizer, ele sabia o que ela sentia por ele. Os dois sabiam, mas ele não iria induzi-la a demonstrar. Tinha que ser natural, e não algo que ela externaria por ser provocada. A relação deles era baseada naquelas provocações inúteis e não queria mais que fosse daquele jeito.
— Quer saber? Tudo bem. Eu acho que você tem razão. — Ele engoliu aquela mentira da forma mais serena que conseguiu interpretar.
— Eu não quero que seja assim… — tentou dizer, tremendo que aquilo virasse uma discussão no final. — A gente podia seguir em frente sem ressentimentos. Sabe, daqui a pouco a gente se forma e eu não queria levar isso pro resto da vida.
Era bom dizer aquilo. Era bom ter a mínima esperança de que talvez ficasse tudo bem depois daquele dia. Mesmo que levasse tempo. não queria mais brigar com , ela nunca quis, na verdade. ficou quieto, ela olhou para ele sem fazer a menor ideia do que ele estava pensando. era cabeça dura demais, para aquilo funcionar, ela precisava que ele também estivesse de acordo. O seu rosto era inexpressivo e aquilo aumentava relativamente seus níveis de ansiedade.
… — Arriscou quando ele suspirou.
E ela esperava tudo. Ironia. Deboche. Qualquer coisa afiada o suficiente que poderia vingá-lo pelo ego ferido. Mas sorriu, um sorriso que a deixou estranhamente desconfortável. Ele deixou um beijo no topo da sua cabeça e disse antes de sair: — Sem ressentimentos, .
Ela ficou olhando até ele sair completamente da sua casa. Encarou a porta por mais alguns segundos antes de sentar na poltrona que estava minutos antes. A sala parecia um lugar ridiculamente solitário naquele ponto. Ela pegou o Cupcake no prato e apagou a vela, fazendo um pedido que ela torcia para que se realizasse.

~~x~~

atravessou a rua rapidamente e voltou para casa. Era como se a dor no seu peito pudesse se espalhar pelo seu corpo como um maldito vírus e agora a sua cabeça também ardia. Até pensar doía. Tudo que ele queria agora era desaparecer alguns bons-dias no seu quarto, tendo apenas a sua guitarra como companhia. Ele nunca pensou que poderia lhe dar um banho de água fria em todos os seus planos. Ela tomou a decisão dela e ele não podia fazer nada a respeito.
De uma forma ou de outra, ele sempre pensou que uma hora ou outra eles voltariam a ficar juntos. Era questão de tempo até eles começarem a pensar com mais cautela, amadurecessem seus corações e estivessem prontos pare tentar de novo. Era duro saber que realmente colocou um ponto final em tudo.
— Oi filho… Como foi o aniversário da ? — Sua mãe perguntou da cozinha. Ele foi até a geladeira pegar um pouco de água.
— Nada de mais. — Simplificou. Não precisava encher a sua mãe com os seus problemas amorosos e os dos seus amigos aquela hora da noite. Cindy se aproximou meio sem jeito, não era uma conversa que ela queria ter com no momento.
— Não tenho uma boa notícia pra te dar…
— Tem a ver com o Ethan? — Ele finalmente a olhou já imaginando o que o seu irmão psicopata estaria aprontando. A única coisa capaz de abalar o psicológico da sua mãe era o seu maldito filho primogênito.
— Talvez a gente precise ficar um tempo fora.
— Um tempo… — encarou a borda do copo. Aquela era a forma eufemista da sua mãe dar a notícia. Ele já tinha passado por aquilo antes, mas com 8 ou 17 a sensação horrível ainda era a mesma. — A gente não vai mais voltar né?
Foi a mesma coisa que a sua mãe disse quando eles mudaram para a Inglaterra. ‘Passar um tempo fora’ era um coisa definitiva no seu dicionário. Estava aí o grande plano do seu irmão para terminar de ferrar com a sua vida. nunca se sentiu tão imponente em todos os anos de sua existência.
— Não vai ser agora, não precisa se preocupar. Eu só queria te contar logo. — Saber que não precisaria acordar no dia seguinte e já fazer as malas deveria consolá-lo, pelo menos um pouco, assim pensava Cindy, mas o filho continuava mudo. Ela segurou as lágrimas e abraçou por trás. — , eu sinto muito! Eu sei que aqui é a sua casa, sua escola, seus amigos… Mas eu preciso fazer isso, pelo seu irmão.
a abraçou de volta, reprimindo as piores coisas que ele podia sentir.
— Tá tudo bem, mãe. Eu vou dormir tá? Boa noite. — Ele deixou um beijo no topo da cabeça dela, não deixando muito tempo para que ela pudesse dizer algo de volta e foi para o seu quarto.
Ele podia repetir aquilo quantas vezes quisesse, mas não estava nada bem.

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Chapter Twenty Three - The Way I Loved You

~~x~~

O natal era a época favorita de porque era o feriado favorito de sua mãe. Dessa vez a casa da família estava cheia, tinham algumas pessoas da família de Elsie e sua tia Deby também estava ali, com a sua barriga de 5 meses e com seu tio Sheldon, todos reunidos para a melhor ceia que a sua avó poderia ter feito. estava no sofá, descansando depois de horas cantando as melhores músicas de natal no karaokê.

[21:37] Finn: Feliz Natal, ❤️ To ansioso pra te ver
[21:38] : Feliz Natal, também estou ❤️❤️
[21:38] : O baile é em três dias, relaxa

decidiu bloquear o celular quando ouviu a voz de sua tia no outro sofá.
— Ele está chutando, , você não quer sentir? — A garota se animou sentando do lado da tia e colocando a mão na barriga dela, sentindo os chutes ritmados do bebê.
Ela olhou para o seu tio, ele estava perto da cozinha conversando com . Ela e estavam usando os seus suéteres de natal, costurados pela sua mãe. Phoebe tinha o costume de fazer um para cada todo ano e desde que ela se fora, os irmãos os usavam, todo o natal em sua homenagem.
— Meu Deus… não vejo a hora de conhecer o meu priminho!
— Estamos todos ansiosos! — Sua tia sorriu e ela sorriu de volta. queria focar naquilo ao invés dos seus pensamentos, mas Deby parecia conhecer bem demais a sua sobrinha. — Mas com quem você estava conversando naquele celular?
— Era o meu namorado.
— Ah, o Finn? Perguntei porque você não parecia muito animada, aconteceu alguma coisa?
— Não… Tá tudo bem. — tentou sorrir.
A verdade era que realmente estava tudo bem. Os últimos dois meses desde o dia do seu aniversário foram os mais tranquilos de todos e ela não se via em paz em muito tempo. Mas a monotonia era estranha demais para ela, afinal, ela devia estar feliz com o seu relacionamento, com as suas escolhas, mas alguma coisa não deixava que ela se sentisse completa. O que achava um absurdo, ela se recusava a se sentir assim.
Ela ainda não sabia dizer se o tempo melhorava as coisas, mas conseguia deixar menos pior. Os seus amigos aos poucos voltaram a se falar e as coisas voltavam a ser como eram, com exceção de e , que vez ou outra arrumavam motivos para se bicar. Até cumpriu a sua palavra e os ressentimentos ficaram no passado, mesmo ele se mantendo afastado na maioria do tempo. E talvez esse fosse problema.
— Sabe , quando eu engravidei, não sabia quem era o pai, eu e o seu tio nos separamos, eu tive alguns pequenos encontros, e estava me recusando a fazer um teste de DNA, mas acho que eu só estava tentando adiar o inevitável.
— Ele é mesmo o pai?
— Não ficaria surpresa se eu carregasse esse bebê por 9 meses e ele nascesse igualzinho ao seu tio.
— Eu fico feliz que vocês tenham conseguido se acertar.
— Eu também, apesar de no começo eu não querer isso, mas tem coisa que a gente não consegue evitar, sabe?
— Como assim? — Ela franziu a testa.
— Teve uma hora que eu apenas caí na real de que amava aquele homem. Ele sempre esteve em momentos marcantes da minha vida, não importasse o quanto a gente brigasse. — tentou manter o sorriso, coçando a palma das mãos um pouco ansiosa. Ela pediu licença para a sua tia quando viu perto da porta, vestindo os casacos como se fosse sair, ela queria perguntar, mas o seu pai os interrompeu.
— Vocês dois, se forem sair, não voltem tão tarde e não se esqueçam de responder os cartões de Natal. — Ele acenou com uma taça de vinho na mão, o que fez enrugar o nariz olhando para , que respondeu ao pai sem pensar muito.
— Pode deixar, pai. — acenou.
— Inclusive, , o não vem?
Era quase tradição. sempre aparecia na casa da família em alguma hora da noite no Natal. Mas não daquela vez
— Hoje não, mas ele disse que vem amanhã, e desejou feliz Natal pra todo mundo.
— Fale o mesmo para ele e pra família dele.
— Eu digo.
O senhor concordou sem fazer mais perguntas e olhou para o irmão, finalmente entendendo que ele ia de fato sair.
— Onde você vai?
— Ice Village.
— E não ia me chamar?
estava estranho quando se tratava não só de , mas também de outras coisas. Aparentemente as coisas com também não caminharam bem, ela não entendia direito porque nenhum dos dois quis conversar a respeito e isso influenciava nas atitudes do irmão. Ele parecia o mesmo de sempre, o mesmo melhor irmão mais velho que ela poderia ter, mas, ao mesmo tempo, parecia outra pessoa. Em alguns momentos ele aparentava estar feliz demais, em outras nem tanto. E aí ela se questionava se estava realmente tudo bem. Parecia que todo mundo mascarava alguma coisa.
— Ia jogar hóquei com o e o . Não achei que você iria querer ir.
— É claro que eu quero ir! — ficou surpresa com a rapidez da resposta da irmã. respondeu tão rapidamente que surpreendeu até ela mesmo. Num passado não tão distante ela jamais faria questão de ser convidada para passar uma noite ao lado de , mas naquele momento ela estava aceitando qualquer distração.
— Quer saber, chama logo todo mundo então.

~~x~~

O Ice Village ficava em Cathedral Gardens e era uma das atrações favoritas de Manchester. marcou para que todos se encontrassem na caverna de gelo, perto da pista de patinação e do mercado de Natal. Estava sendo uma noite agradável até com a sua família e os seus melhores amigos, apesar da angústia estranha que sentia.
estava patinando de um lado do gelo com , enquanto os garotos jogavam do outro. até estava se divertindo com os garotos, até o momento que perdeu o equilíbrio nos patins e caiu em cima de . Foi quase constrangedor e ela tratou de levantar depressa, sem dizer uma palavra, mas arrumando uma bela desculpa para ir até o Ice Tiki Bar, que era onde estava desfrutando de cocktails exóticos.
— Você não vai patinar? — Perguntou se apoiando ao lado da amiga no balcão.
— Estou muito bem aqui. — respondeu sutilmente com um meio sorriso antes de sugar o conteúdo do seu copo com o canudo.
Ultimamente era o que sempre respondia para tudo. Mesmo depois de ter saído da torcida e terminado o seu relacionamento com Elliot. Era como se tudo tivesse dado errado para dar certo e parecia mais leve.
— Esse natal tá sendo diferente, né? — tentou puxar assunto, sem saber bem onde queria chegar.
— Um pouco. — deu de ombros. — Foi um ano diferente.
— Pra melhor?
— Não sei… Acho que sim, você não acha?
— Acho, mas tudo poderia estar mais perfeito…
achou que a conversa terminaria ali, mas o pequeno suspiro que soltou prendeu a atenção da melhor amiga que ergueu as sobrancelhas e tocou o seu braço chamando a sua atenção.
— Você quer me falar alguma coisa, ?
— Não sei, , acho que fiz besteira.
— Em relação à? — direcionou o seu olhar para . Falar aquilo em voz alta era uma coisa séria para ela. Era dar voz aos seus pensamentos para alguém além do seu subconsciente e admitir que sentia que algo estava errado. Era quase impossível controlar aqueles sentimentos. Mas o olhar de era tão acolhedor, tão compreensível a qualquer atrocidade que ela pudesse lhe falar que ela se sentiu confortável para dizer. E lhe contou tudo o que aconteceu nos últimos meses envolvendo e sobre principalmente o dia do seu aniversário. — Eu acho que errei. Eu devia ter ouvido, eu queri muito ouvir o que ele tinha pra dizer… Porque acho que também tinha muita coisa pra falar, . — patinou perigosamente perto de onde elas estavam e claro que o seu olhar tinha que cair no dela. teve que desviar rapidamente, mesmo que ainda ficasse marcado na sua memória como ele ficava bem em cima daqueles patins, com as roupas de frio e o vento balançando o seu cabelo. Ela odiava tanto gostar dele que alterava a voz sem ao menos perceber. — Na hora eu não pensei direito. Pensei em Finn e em como eu estava feliz e eu não queria que o destruísse isso, mas de uns dias pra cá, sei lá... sinto como se alguma coisa não estivesse certa. Isso é terrível!
, calma, por que você está tão irritada?
— Por que não parece ilógico mudar tudo que está perfeitamente bem?
— Você não precisa ser lógica o tempo todo e sabe… nunca é tarde demais.
lhe lançou uma piscadela, mas a confusão ainda era presente na face de . Baseado em que estava falando aquilo? Mas antes que ela pudesse perguntar, apareceu entre as duas.
— Vocês também não odeiam gente apaixonada? — Ela perguntou apoiando os cotovelos no balcão. enrugou a testa tentando entender a quem ela estava se referindo, mas foi que perguntou.
— De quem você tá falando?
e . — Imediatamente as três olharam para o casal que patinavam lado a lado. — Senti que eu estava atrapalhando alguma coisa ali.
— Desde quando você é tão amarga quando se trata de amor? — questionou.
— Desde quando… — começou.
— Nem se atreva, ! — a olhou mortalmente, o que fez se calar na mesma hora. Ambas sabiam que aquilo tinha relação com seu término com Frederick. — Ele teve a cara de me ajudar com os patins.
— Isso é ruim?
— Claro que é ruim. Por culpa dele tudo isso começou. Me faz lembrar porque eu desisti de vez da família , sabe o tinha razão. São muito complicados.
— Você ainda gosta do . — Afirmou e revirou os olhos.
— Mas é claro que eu ainda gosto dele. — Afinal, eles tinham trocado “eu te amos” aquele sentimento nunca iria sumir tão rápido e era o que deixava com mais raiva ainda. E de certa forma, conseguia compreendê-la perfeitamente. — Que ódio, por que são tão maravilhosos? Por que não tiveram a honra de serem os piores? — comenta e as garotas riem enquanto observavam os garotos. — Acho que vou voltar pro jogo, quem sabe tenho a chance de derrubar o .
— Acho que vou com você. — se levantou do banco. — Você vem, ?
olhou para o ringue. Para . E balançou a cabeça negativamente.
— Sem chance.
revirou os olhos. Ela nem queria jogar, mas sentia ter a missão de tirar dali e resolver qualquer impasse que envolvesse os seus sentimentos, então se deu o trabalho de calçar os patins e entrar no gelo. Ela patinava bem e conseguiu passar por despretensiosamente e apenas dizer:
— Fala com a .
Ele a olhou enquanto ela patinava graciosamente para longe, se perguntando o que ela queria dizer com aquilo. o encarou torcendo para que ele tivesse entendido, mas ele ainda a olhava confuso. Então ela indicou com a cabeça todos os possíveis problemas, o que fez refletir sozinho por alguns segundos.
Porque tinham duas coisas que vinha escondendo muito bem e alguma ele ia precisar contar para sua irmã.
Ele aproveitou que e entraram em uma pequena discussão sobre quem ficaria no gol, atraindo a atenção de , e , para ir até a irmã que brincava com o canudo do copo.
Ela ergueu o olhar quando se aproximou.
, tenho que te contar uma coisa.
— O quê?
— Você tinha razão, eu tenho andado meio estranho, esses dias, mas é que aconteceram algumas coisas.
ergueu uma sobrancelha, sentindo que ela não ia gostar muito do que estava por vir e não tinha paciência para enrolação do irmão.
— Fala logo, !
— O . — Ele soltou sem pensar muito, ainda sem saber se era uma boa ideia. Mas ele ouviu o conselho de , ela lhe disse para contar, então ele faria. — Eu não sei se eu devia te contar, mas…
Mencionar o nome de deixou a situação mil vezes mais complicada para ela. Seus sentimentos estavam confusos, sua mente pior ainda, e aquilo era como se fosse o sinal que ela precisava para organizar tudo. Sua atenção ficou sensível a cada palavra que saia da boa do irmão.
— O que tem ele?
— O vai embora, e eu sei que pra você pode não ter tanta importância, mas pra mim tá um pouco difícil me acostumar com essa ideia e…
não conseguia encará-la, mas quando finalmente teve coragem para tal ato enquanto falava, olhou para como nunca olhou nos últimos meses, atraindo o olhar dele. Ele encarou de volta tentando entender tudo aquilo. Olhou para também, mas nem o irmão poderia imaginar o que se passava na cabeça de .
Ele estava tão errado. Para ela tinha muita importância. Tanta importância que as suas mãos tremiam e ela espremeu os dedos dos pés dentro do tênis, agradecendo por não estar no gelo, caso contrário ela não saberia se com o baque da informação conseguiria ficar de pé.
Ela saiu do transe poucos segundos depois enquanto tentava chamar inutilmente a sua atenção, assim como também saiu do estabelecimento, sem que pudesse se quer ter a intenção de ir até ela.

~~x~~

— Vai, pode falar. — Foi a primeira coisa que disse naquela noite quando James, o seu par para o baile, saiu para buscar bebidas e deixou as duas garotas sozinhas. já deveria prever as palavras da melhor amiga depois de tanto tempo sob o olhar desaprovador de sobre o seu par. A verdade era que desde que rompeu com , escolhia os piores encontros possíveis. , naquela noite, estava aflita, e decidiu focar em e seus relacionamentos para tentar sair do choque que se encontrava desde a noite de natal, três dias atrás.
— Não acredito que se prestou ao papel de vir ao baile com o James.
— Eu não tinha mais alternativa.
— Eu tinha insistido pro vir com você.
— Ele realmente ficou em casa?
— Ficou.
Na cabeça de , estava abalado, sem desconfiar dos outros motivos que mantinham o irmão em casa naquela noite.
Era o que também queria ter feito. Ela se manteve isolada nos últimos três dias e o seu plano era só sair do quarto quando soubesse o que fazer, mas o que ela mais temia era nunca saber. E ela teve que fingir. Fingir para o seu namorado que estava tudo bem e para todo mundo. E até aquele momento ela ainda estava fingindo. E pensando.
estava abalado. Ela olhou para a amiga. Será que sabia? Será que todos sabiam e ela era a única pessoa de quem escondeu aquele segredo?

No palco, não achou que pudesse começar a surtar no dia do baile. Não do baile que ela passou meses organizando, mas que agora estava terrivelmente ameaçado já que o DJ que ela contratou avisou minutos antes que não ia poder comparecer.
— O que ela tem? — perguntou para e enquanto observava andar de um lado para o outro. Eles estavam atrás do palco ouvindo a banda contratada iniciar a sua última música e até aquele momento estava dando tudo certo.
tinha acabado de chegar. Ele nem sabia direito o que tinha ido fazer ali. desistiu de ir e ele nem mesmo tinha um par. As coisas com Allison não acabaram bem. Ele achava a ideia de se mudar tão péssima que não conseguia sentir animo para mais nada.
Muito menos ficar horas vendo a garota dele dançar a noite inteira com outro cara.
— Ela está surtando. — cochichou, mas tinha os ouvidos apurados.
— Não estou surtando! Eu vou surtar se não conseguir um DJ em dez minutos.
— O pode tocar. Ele é DJ. — Sugeriu olhando para ele. Ela lembrava de todas as músicas que tinha lhe mostrado e aquela parecia uma boa ideia para resolver o problema de .
— DJ é uma palavra muito forte.
— Pelo amor de Deus, , faça isso. — Disse ela. A estrutura já estava toda montada, ele só precisava subir no palco e dar o melhor de si.
— A fica com você o resto da noite. — sorriu sugestivamente, fazendo querer matá-lo com os olhos e corar imediatamente. Não era uma ideia nada má para ela. Eles concordaram em ir ao baile como amigos caso não encontrassem ninguém, mas começava a desconfiar de que aquilo era só uma desculpa para não admitir que usar o rótulo de ‘amigos’ era melhor do que ver o outro com outra pessoa naquela noite.
— O que…?
olhou para o incentivando. Afinal, todos os garotos sabiam que se separar de nunca foi a vontade de , mas depois do acidente ele tinha que respeitar a vontade dela, passar todos aqueles meses na friendzone não foi nada fácil para ele. sabia que apesar de não admitir, ainda possuía esperanças que aquele status entre eles fosse mudar. Isso foi o suficiente para assumir uma postura mais confiante.
— Ai eu vejo vantagem. — Disse ele sorrindo para ela, que surpreendentemente sorriu de volta. — Eu ficaria mesmo sem a pedir.

Na pista de dança, sentia e podia ver uma verdadeira guerra fria acontecendo. e dançavam com os seus pares, mas eles não conseguiam tirar os olhos um do outro. Já , mal conseguia olhar Finn nos olhos enquanto dançava com ele. E dizer que ela não procurou com os olhos nenhuma vez naquela noite era uma falácia das grandes.
— Você tá se divertindo? — Ele perguntou atraindo o olhar de para ele.
— Claro.
— Não senti muita confiança.
— Só estou um pouco nervosa para cantar, só isso. — Ela tentou disfarçar, mais uma vez desviando o olhar. O que talvez tivesse sido um erro, porque foi no mesmo momento que viu sair de trás do palco com . Ele estava tão bonito com aquele terno despojado que ela quis disparar na sua direção. Vê-lo ali era difícil porque todo o tempo que passou tentando esquecer, voltou para a sua mente novamente. Mas as lembranças não voltavam sozinhas, elas traziam de brinde a saudade e os sentimentos. Voltava tudo o que esteve tentando esquecer. Ela não queria vê-lo de novo. Não queria que aquela louca vontade de tê-lo só para ele voltasse. Mas querendo ou não, era uma de suas maiores vontades. E como ela poderia se sentir assim encarando Finn enquanto dançava com ele?
Aquela situação estava ficando insustentável para ela.
— Eu preciso ir ao banheiro.
Não esperou uma resposta vindo dele e saiu correndo em direção ao corredor do banheiro, finalmente encontrando no caminho que estava entre dois rapazes na escada arrumando a faixa da entrada principal, mas ela não parecia nada paciente.
— Já chega! Não recrutei vocês para filmar “A Vadia de Blair”. Agora ao trabalho, ou amarro vocês e os faço assistir filmes de autoajuda até sangrarem empatia. — Ela falou, batendo palmas enquanto os garotos se dispersavam.
— Por que os atura? — tentou perguntar calmamente. Naquele nível, em um pico de adrenalina, seu coração estava disparado, ela estava transbordando e no momento só precisava derramar tudo.
— Porque são bons. Lidar com talento é um pesadelo. — bufou coçando a têmpora. — Acredita que quase ficamos sem música? A sorte é que o aparentemente sabe fazer algo que preste e temos um novo DJ. — Comentou empolgada. sabia que se deixasse não ia parar de falar. Ela segurou suas mãos puxando sua atenção junto.
Quando viu, já tinha despejado tudo em cima da amiga.
, o me contou tudo.
A primeira reação de foi puxar para dentro do banheiro e só começar a falar após conferir se as cabines estavam vazias.
— Contou? — Questionou, apreensiva sobre o que ‘tudo’ queria dizer.
— Você sabia que o vai embora? Ele vai embora. — reafirmou. Ela tinha que dizer várias vezes porque se recusava a acreditar. — E eu estou surtando com isso.
Assim que externou aquilo, ela lembrou do que lhe disse no Ice Village, no que aquela conversa significou para ela e a ficha pareceu cair. Nos últimos três dias ela ficou refletindo que jamais voltaria para a escola, eles jamais continuariam a ter aula de literatura juntos. Eles não iam se formar juntos. Uma cadeira no refeitório da mesa deles sempre ficaria vazia. Eles não tocariam mais juntos. Ela nunca mais ia deitar na cama dele e observar o por do sol no teto de vidro do seu quarto. Ou brincar com o seu cachorro.
Ela percebeu que ia perder para sempre o vizinho insuportável que ela mais odiava na vida.
, eu não quero que ele vá embora.
abriu a boca em choque. Primeiro porque não era o que ela esperava ouvir, mas para a sorte de , ela sabia o que fazer. sabia da influência que podia ter nas atitudes da amiga, e se aquele ano ensinou alguma coisa para ela, foi ser uma pessoa mais direta. A vida não espera por ninguém. Ela não estaria feliz e satisfeita se não tivesse feito isso meses atrás. Na sua opinião, era o que e mereciam.
— Então diz isso pra ele. E diz agora.
— Não posso. — arregalou os olhos. Nunca em um milhão de anos ela achou que fosse dizer aquilo. Afinal, tinha namorado que era a melhor coisa que ela poderia pedir… E mesmo assim, não estava satisfeita.
— Pode e deve. Chega de desculpas, . — Reafirmou . — O é uma pessoa importante pra gente e aposto que ele tá sofrendo muito com isso. Ele merece saber. Acho que faria toda a diferença.
queria poder dizer que tinha certo medo de todo aquele apoio, porque parecia o empurrão necessário para ela mudar todas as suas certezas. Afinal, Finn era perfeito, como ela poderia não amar alguém perfeito?
Um barulho abrupto vindo da porta as interrompeu e as duas olharam para a porta ao mesmo tempo. entrou no banheiro quase tão aflita como .
— Estou surtando. — Foi o que ela disse antes de se juntar as amigas perto da pia.
— Lá vem a outra confusa. — Falou . Ela sabia que muito mais além de organizar todo o baile, ela também teria que reservar algum tempo para ser uma boa amiga.
me beijou. — abriu a boca, quase em choque de felicidade, mas foi quem falou primeiro.
— Você queria que ele fizesse! Ficou esperando por isso. — a olhou feio e lhe deu um tapa no braço. ? Apoiar um romance entre e ? Quem era o que tinham feito com a sua amiga?
— Isso é algo bom, certo? — Perguntou ainda confusa.
— Achei que ele nunca mais faria isso…
— Não pode culpá-lo, você quis assim. — relembrou.
— Eu sei… Eu sei disso. — abaixou a cabeça pensando. — Só não imaginava que esse beijo ia reacender tanta coisa dentro de mim… E por que diabos você está defendendo o ?
— Não sei, realmente não sei! Nesse ponto do ano eu só quero que todo mundo seja feliz. — Ela sorriu e trocou um olhar com pensando no que teria acontecido para que mudasse tanto em tão pouco tempo.
— Você usou alguma droga por acaso? Você está esquisita. — segurou o rosto da amiga tentando checar os olhos dela.
— Eu não usei nada, e se eu fosse vocês eu parava de perder tempo aqui nesse banheiro. — riu se livrando das mãos de e começando a se afastar.
, você vai sair? Nós estamos no meio de uma crise aqui! — Perguntou .
— Vocês duas já sabem o que fazer! Eu vou la tentar impedir o e a de estragarem a noite. Boa sorte! — gritou antes de sair do banheiro.
olhou para e deu de ombros. a olhou incrédula.
, onde você vai?
— Fazer o que a disse. Ela tem razão, sabe, acho que já perdi tempo demais.
— Você vai me deixar aqui sozinha?
— Você não tem que ficar aí sozinha. E se eu fosse você… — Ela se aproximou o suficiente para falar no ouvido de quando algumas garotas entraram no banheiro. — Iria logo antes que o fosse embora. Ele nos disse que não ia ficar muito tempo.
piscou e saiu logo em seguida, deixando pensando que ela não tinha mais tempo nenhum para pensar.

Quando saiu do banheiro, procurou pelo namorado por todos os lugares. Se ela ia fazer aquilo, precisava fazer direito, ou pelo menos o que causasse menos danos. Ela finalmente o encontrou quando abriu a porta que levava à saída do ginásio pelo corredor principal. Finn estava parado ali, encostado na parede. Ele a olhou compreensivo, e saiu de onde estava, deixando a porta se fechar, privando o corredor do barulho da música agitada que começara a tocar. Assim que se aproximou, ele a abraçou.
— Finn… — Disse ela com o rosto encostado no peito dele. Finn passou a mão pelos seus cabelos e a pousou delicadamente na nuca dela. — Eu preciso…
— Não precisa. — Ela se afastou o suficiente para olhar para ele.
— Mas você nem sabe o que eu ia falar.
— Eu sei, e tá tudo bem. — Ele deu de ombros, apesar daquilo ser difícil. Não passou despercebido por ele como parecia estar avulsa naquela noite e ela só pareceu se encontrar quando seus olhos encontraram . E pareciam procurar por ele o tempo todo. — Eu já deveria ter percebido que não dá pra competir com o . Mas que ele é muito idiota, desculpe, isso eu não posso deixar de ressaltar. — Por um momento, quase riu. Para quem estava levando um fora, até que Finn parecia bem.
— Você foi uma das melhores pessoas que eu conheci esse ano.
— Você também foi uma das melhores pessoas que eu conheci esse ano, , espero que a gente possa continuar amigos.
— Claro que sim. — Ela sorriu e pulou nos ombros dele conseguindo um forte abraço.
— Certo, vai logo fazer o que você tem que fazer.
Com um último beijo na bochecha, ela se despediu de Finn e voltou para o baile.

~~x~~

— Espero que vocês estejam curtindo muito, mas fiquem perto dos seus pares porque é a hora de desacelerar o ritmo. — Falou ao microfone quando se aproximou. Era a vez dela cantar e ele finalmente teria um tempinho para despejar qualquer resquício de sentimento em cima de . — Boa sorte, grande estrela!
Ele passou por , entregando o microfone para ela, que parecia mais nervosa que o habitual.
— Obrigada, . — Ela sorriu de volta para ele e entrou no palco.
Nos fundos, veio correndo na sua direção e pulou em cima dele, o abraçando forte pelos ombros.
— Você tá arrasando. — Ela disse o segurando enquanto ele retribuia o abraço.
— Eu sei.
— Convencido.
— Quer dançar?
— Claro. — segurou a mão de e eles se dirigiram até a pista de dança, ouvindo a música que cantava, mas alheios a todo resto. — Mas você ta usando isso de desculpa pra ficar mais perto de mim e me beijar de novo?
Beijá-la naquela noite foi arriscado, mas ele não se arrependeu nenhum segundo, ainda mais pelo jeito que ela tinha correspondido.
ergueu a sobrancelha e sorriu involuntariamente.
— Não preciso de desculpa nenhuma, você tá agarrada em mim a noite inteira por pura espontânea vontade. — Ele se gabou e ela deu um tapinha no seu ombro.
— Não tô nada!
— Claro que tá. — Ele sussurrou, descendo uma mão pelas costas dela e usando o apoio na sua lombar para grudar mais o corpo no dela. — E eu acho que sei por quê.
— Você é o meu par. — respondeu simplesmente virando o pescoço, sem perceber o espaço que deu a com isso. A boca dele colocou na sua pele arrepiando seu corpo inteiro.
— Você tinha outras opções de par, , vamos lá.
— Onde você quer chegar com isso?
Ela girou a cabeça novamente e olhou para a sua boca rosa, e ele não pensou duas vezes.
— Aqui. — Seu beijo foi calmo e curto, curto o suficiente para quase fazê-la implorar por mais. — Bem aqui.
Ele a beijou de novo, de forma mais profunda e apaixonada. E dali, não era mais preciso dizer nada.

Clique aqui para ouvir a música

Avulsa a qualquer situação que pudesse estar acontecendo com e na pista de dança, segurava o microfone enquanto encarava o violão por alguns segundos até começar a cantar. O chão poderia ser um bom amigo enquanto ela começava as primeiras notas no instrumento, mas a realidade pareceu mudar de forma quando as palavras saíram da sua boca no mesmo instante que os seus olhos encontraram os de , quase, no fundo do espaço. Ela olhou para naquela noite como nunca olhou na vida e por um momento foi como se só existissem os dois naquele espaço inteiro.

He is sensible and so incredible
(Ele é sensato e tão incrível)
And all my single friends are jealous
(E todas as minhas amigas solteiras têm inveja)
He says everything I need to hear
(Ele diz tudo que eu preciso ouvir)
And it's like I couldn't ask for anything better
(E é como se eu não pudesse pedir por nada melhor)

He opens up my door and I get into his car
(Ele abre a minha porta e eu entro em seu carro)
And he says: You look beautiful tonight
(E ele diz: Você está linda esta noite)
And I feel perfectly fine
(E eu me sinto perfeitamente bem)

Para ser honesto consigo mesmo, queria ir embora daquele lugar desde o momento que pisou os pés nele. Desde o dia que soube que teria que se mudar, tudo pareceu ficar cinza para ele. A escola era terrível porque o lembrava toda hora de tudo que ele teria que se afastar. Ser o vizinho de era terrível porque o lugar para o qual ele se mudaria não teria ela como vizinha. E quando ela começou a cantar para ele, ele se lembrou que a única coisa que poderia absorver de tudo aquilo, era lembrá-lo como ela não era mais dele.

But I miss screaming and fighting and kissing in the rain
(Mas eu sinto falta de gritar e brigar e beijar na chuva)
And it's 2AM and I'm cursing your name
(E são duas da manhã e eu estou amaldiçoando o seu nome)
So in love that you act insane
(Você está tão apaixonada que age insana)
And that's the way I loved you
(E esse é o jeito que eu te amei)

Breakin' down and coming undone
(Desmoronando e se desfazendo)
It's a roller coaster kinda rush
(É uma montanha-russa meio que rápida)
And I never knew I could feel that much
(E eu nunca soube que eu podia sentir tudo isso)
And that's the way I loved you
(E esse é o jeito que eu te amei)

Mas isso mudou quando ela chegou no refrão da música. O seu coração pareceu errar as batidas por algum momento. Ela já tinha se perguntado às vezes. Se ela um dia cantaria para ele. Se ela um dia direcionaria sua voz doce e angelical para expressar seus sentimentos. E era uma merda, porque, apesar de ser o que ele mais queria, sentia que era inútil. Na cabeça dele, eles não tinham mais tempo.

He can't see the smile I'm faking
(Ele não consegue ver o sorriso que eu estou fingindo)
And my heart's not breaking
(E meu coração não está quebrando)
'Cause I'm not feeling anything at all
(Porque eu não estou sentindo nada mesmo)
And you were wild and crazy
(E você era selvagem e louco)
Just so frustrating
(Apenas tão frustrante)
Intoxicating, complicated
(Intoxicante, complicado)
Got away by some mistake and now
(Fugi de um erro e agora)

cantou com todo o seu coração. Sentimento. Verdade. Quando a música terminou, deu um último suspiro olhando nos alunos que começavam a aplaudir e saiu do palco. Ela não sabia o que iria fazer dali para frente e sentia uma mistura estranha de apreensão, esperança e ansiedade. Então ela firmou o olhar em , mas a única coisa que ele fez foi virar e sair dali, quebrando o misto de sentimentos bons que ela tinha.
Ela congelou se perguntando o intuito de tudo aquilo. Só voltou em si quando tocou o seu ombro e reassumiu seu lugar de DJ. aproveitou o momento para lhe receber com um sorriso e um abraço forte que não conseguiu retribuir, pois na sua cabeça a imagem de se afastando repetia sem parar, mas não era daquela vez que ele ia conseguir fugir. Ela se esquivou de , deixando a amiga confusa, mas deixou ela ir, e atravessou um mundo de pernas e braços até a saída principal.
É claro que o enredo iria colaborar para o seu momento trágico, pois lá fora chovia, pequenas gotas ameaçadas pelos trovões. Ela olhou em volta antes de se molhar, encontrando no meio do estacionamento, caminhando em passos largos até o seu carro. Respirando fundo, ela colocou o primeiro pé para fora da calçada.
! — Ela chamou primeiro, sentindo as gotas da chuva escorrerem pelo seu rosto, mas ele pareceu não ouvir. — Será que dá pra parar? É difícil correr com esses saltos. — Ele apenas parou quando a mão delicada dela encostou no seu ombro, ficando frente a frente. a olhou espantado, ele não esperava que viesse atrás dele. — Pra onde você tá indo?
— Como me achou aqui?
— Eu perguntei primeiro. — Ela cruzou os braços, destemida.
— Faz diferença?
— Claro que faz!
— Eu preciso ir. — Ele a ignorou se virando para ir embora, mas estava sem paciência. Ela se colocou no caminho dele. Odiando estar ali. Odiando estar toda molhada. Odiando que por mais que ela tentasse, ela não conseguia fugir daquele sentimento.
!
— Não começa com isso de novo, , por favor. — Ele abaixou a voz, sabendo o que estava tentando fazer. Aquela música disse muita coisa. — Nós estamos bem. Você mesma disse.
— Não estamos não. Eu não to. — Admitiu suspirando e levantou o olhar até o dele. — Eu odeio quando você me ignora, você sabe disso.
— O que você quer que eu faça?
— Fala alguma, mas não fica nesse silêncio. Seus gritos me irritam, mas seu silêncio me enfurece, ainda mais sabendo que esse silêncio tá cheio de gritos.
Ele engoliu em seco. Precisava fazer alguma coisa para que se afastasse. Naquele ponto do campeonato, por mais que eles ainda compartilhassem um sentimento verdadeiro e digno, as coisas não seriam fáceis e talvez eles apenas se machucassem mais. E estava cansado de deixar as coisas difíceis para .
— Você não vai gostar do que eu vou falar.
— Você já me disse muitas coisas ruins, estou acostumada.
Ela segurou seu braço firmemente quando ameaçou sair para longe dali e o olhou seriamente como quem dissesse: se tem algo para me falar , fale agora! E foi o que ele fez:
— Quando voltarmos de viagem, você pode esquecer o meu nome. Eu não sou o seu amor, . Nem nunca vou ser. Larga o meu braço.
Ele olhou dolorosamente para a mão dela, e na mesma medida que quase implorava para ela o soltar, ele não queria que aquele aperto morresse nunca. Era preciso muita coragem para amar alguém, e mais ainda para deixar esse mesmo alguém ir.
Mas não sabia de nada. engoliu aquela falsa tentativa de mágoa e ficou firme. Ela não queria ir embora e não o deixaria ir para lugar algum.
— Para de mentir pra mim. Eu sei que você vai embora. — E nesse momento ela pareceu perder as forças. Pois era aquele ponto que mais doía nela e só então percebeu na sua voz embargada. — Quando é que você ia me contar, hein? Você se quer ia contar? Ou só ia… sumir?
Ele se aproximou segurando o seu rosto, sem saber distinguir as lágrimas das gotas de chuva. É claro que aquela informação uma hora ou outra chegaria em e ele não sabia se estava preparado para aquele momento.
— Eu queria te contar, só não queria usar isso… — Aquilo era uma droga. E era um golpe baixo. estava cansado de jogar assim com . — Descobri no dia do seu aniversário. Você tava feliz, eu não queria estragar isso. Você me pediu uma coisa, eu quis respeitar.
E foram aquelas palavras que doeram mais. se perguntou o que teria acontecido naquela noite se ela tivesse mudado de ideia. O que seria diferente.
Ela subiu a mão pelo rosto dele, mexendo no seu cabelo grudado na testa, pensando que era inútil lembrar do passado, não dava para retroceder e refazer tudo, mas eles ainda podiam construir toda a trilha do seu futuro.
— Desde quando você faz o que eu peço?
— Desde quando percebi que fingir que não me importo só te afasta mais de mim, . Esse vai e vem, acaba comigo.
entendia tanto aquelas palavras que era impossível sentir raiva, porque o mesmo acontecia com ela.
— Tá legal. — Ela suspirou, chegando aquela conclusão inevitável. — Talvez a gente nunca se acerte no tempo certo, mas eu queria que você soubesse que não quero que você vá embora.
— Por quê?
perguntou mesmo já tendo uma ideia, mas ele precisava saber, precisava escutar da boca dela. sabia que aquele era o seu vai ou racha. E ela decidiu ir sabendo que assim o seu coração estaria em paz.
— Porque... Eu... acho que te amo. — estava momentaneamente preocupada quando essas palavras saíram da sua boca porque não tinham estado juntos, o que seria considerado suficiente para ter sentimentos como amor, mas ela não podia evitar. Foi um fato que , sinceramente, sabia que o amava. O sentimento tinha lhe batido com força total, e decidiu que nunca quis ficar sem ele. era isso para e o olhar de espanto em seu rosto tocou o seu coração, tanto que ela só precisava estar com ele completamente, em todos os sentidos. Ela deveria sentir medo de que tal fato tenha acontecido, mas ela não sentiu. Parecia incrível se sentir assim por alguém. Mas o amor tinha dessas, ele te fazia sentir incrível, no mesmo nível que uma tremenda idiota. — Como pode ser, eu ter uma pessoa incrível do meu lado e só pensar em você? Eu sinto falta até de brigar com você e acho que te amo tanto que é insano sentir falta disso. Eu nunca achei que pudesse sentir tanta coisa. Você estraga tudo até quando não quer, .
Ela lhe deu um tapa no peito e riu levemente.
— Não ria, ! — Ela ficou séria. — Eu terminei com um cara incrível, me declarei na porra daquele palco pra você sair correndo logo depois. — Arquitetou aquele pensamento sabendo como podia ser orgulhoso. No dia do seu aniversário, ele queria tentar de novo, mas ela não, não naquele momento, e talvez parecesse presunçoso aos olhos dele que ela tinha um poder, como se pudesse voltar quando quisesse e ele tivesse que aceitar. Seria muita hipocrisia. — E tudo bem, talvez eu não tenha mesmo o direito de vir aqui pedir por isso… mas é que eu não aguento mais isso, essa necessidade nossa de complicar tudo, não dá mais pra mim.
— Eu saí correndo porque não queria que você tomasse a decisão errada. É isso, eu vou embora, e achava que você devia seguir a sua vida sem mim no seu caminho pra te atrapalhar. — Talvez fosse a primeira vez que o orgulho não tomava conta de todas as suas decisões. Em outras circunstâncias, tinha certeza de que voltaria para ela em qualquer outra oportunidade que tivesse. — Eu sei que a maioria dos nossos problemas foi culpa minha e que eu sempre fiz tudo errado, é que eu não sou você, ok? Não sei demonstrar afeto, não sei lidar com as pessoas ou com os sentimentos delas, nem com os meus eu sei lidar. Eu não sei deixar as pessoas se aproximarem, eu não sou bom com esse lance de gostar. Eu não sei ser como você, achei que sabia, mas ainda tenho muita coisa pra aprender.
Não era justo que jogasse toda a culpa para os seus ombros, sabia que também tinha complicado as coisas. No final não era ele nem ela. Era o conjunto de todas as coisas que ainda assim não era grande o suficiente para explicar toda a questão que os envolvia. Porém, ela ainda tinha algo a contestar.
— Desde o início, você deixou que o seu irmão e os seus problemas com ele ficassem entre a gente. Talvez tenha feito sem perceber, e eu até entendo porque não me falou tudo logo no começo. É triste porque você não conseguiu impedir que uma coisa interferisse na outra, e eu teria te ajudado e talvez a gente não tivesse perdido tanto tempo. — Ela segurou a mão dele e sorriu tristemente. — Mas você sabe o que doeu? — Ele franziu a testa. — Você colocou a decisão na minha mão e tirou dois segundos depois. E doeu, porque eu teria escolhido você, ao invés da distância. Não teria desistido. , você tem medo do futuro porque teme não saber lidar com situações e com os seus sentimentos. — Ela desviou o olhar dele por alguns segundos encarando a rua molhada, aquilo era difícil. — Mas eu não te culpo por tudo, eu também compliquei as coisas. Sabe, no final acho que tanto eu quanto você temos muita coisa para aprender ainda.
se moveu ficando de frente para ela, acariciando o seu rosto. Naquele ponto, era quase impossível manter as mãos longe dela.
… você se arrepende?
— Do quê?
— Não sei. — A voz dele chocou. — De tudo.
deu outro passo, segurando o rosto dele com as suas mãos frias. pensou que nada no mundo pudesse tirar a atenção dele naquele momento, as palavras dela fizeram o tempo congelar. podia sentir seu próprio batimento cardíaco acelerar e ouvir o dele fazer o mesmo. Era isso, todo o acúmulo dos últimos meses estava chegando ao auge bem ali. Ela observou enquanto os olhos dele a examinavam de cima a baixo, absorvendo cada centímetro dela, olhando para como se nunca mais fosse vê-la.
— Se eu me arrependo? São escolhas, . Essa, foi um erro, mas o melhor que eu já cometi.
E então, depois de uma pausa que pareceu durar um milhão de anos, mas também milissegundos, os lábios dela encontraram os dele, lembrando de todas as outras vezes, e naquele ponto a chuva nem incomodava mais.
— Também foi o melhor erro que eu já cometi.
— Ah, , seja mais original.
— É só outro jeito de falar que eu também te amo, Cupcake.

~~x~~

A chuva lá fora não tinha parado e a cada minuto parecia piorar, mas isso não importava para quando ele tinha pressionada na porta da sua casa e a boca na dela. Uma pequena parte das suas roupas se perderam e se amassaram pelo caminho e eles nem sabia mais diferenciar o que era suor do que era água da chuva escorrendo pelos seus corpos.
— Cadê a sua mãe? — A pergunta baixa foi feita no pequeno intervalo que tirou para beijar o pescoço dela. Ela poderia já começar a gemer baixinho, conforme o seu corpo começava a queimar pelo garoto na sua frente, mas aquela ainda era uma curta preocupação. não saberia onde enfiar a cara de Cindy aparecesse ali e os pegasse naquela situação.
— Ela não tá. — murmurou e a resposta deixou satisfeita o suficiente para ela direcionar as mãos para o peito dele.
— Acho que a gente devia subir e tirar essas roupas molhadas… — Sugeriu abrindo os botões da camisa dele. não deixou de sorrir antes de beijá-la novamente.
— Com certeza.
Ela sorriu e saiu correndo em direção ao quarto de no andar de cima. Assim que entraram, ele entrou puxando ela pela cintura de volta para ele e beijando sua boca de forma menos lenta que antes.
— Eu preciso dizer, você fica muito lindo de terno. — suspirou, tanto pelas lembranças dele com aquela roupa a noite inteira, tanto pela forma que as mãos de subiam pelas suas costas e puxavam o zíper do seu vestido para baixo.
— E você fica muito linda assim… — Ele disse com a boca perto da dela, subindo as mãos pelos seus braços, até alcançar os seus ombros e empurrar alças, fazendo o vestido cair no chão e formar uma poça nos pés de .
mordeu o interior da bochecha ao abaixar a cabeça e observar cada pedaço do corpo de naquela lingerie. Empurrou os cabelos do rosto de para trás da orelha e ficou observando cada detalhe do rosto dela. achava uma tortura ter o rosto tão próximo ao dele e não beijar a sua boca. Felizmente não tardou a lhe beijar, mas incrivelmente lento. Aquele beijou representava muito mais do que o desespero que colar sua boca na dela, representava um certo tipo de recomeço, ele queria aproveitar cada segundo. Os braços de deslizaram na sua cintura enquanto ela se moveu com a intenção de colar o peito no de , os dedos dele roçavam nas tiras da sua calcinha. Precisou quebrar o beijo para ir até a cama, deixando por cima com uma perna de cada lado do quadril dele.
beijou com vontade, o segurando pela nuca, enquanto as mãos dele passeavam pelas suas curvas. colocou uma mão em cada coxa de , nas partes desnudas. Dava pequenos apertos por ali e subia até os seus quadris, na direção sua bunda. Porra ele adorava aquela bunda, principalmente quando tinha ela em mãos e tão próxima do seu pau.
puxou o seu cabelo com força e arqueou um pouco o tronco de modo que a sua postura ficasse mais ereta e aproveitou aquilo para reforçar o aperto no quadril dele, sentindo sua ereção em contato com o seu núcleo dolorido.
beijava a sua clavícula e o seu pescoço enquanto as mãos acariciavam sua barriga e subiam até as suas costas, até encontrar o fecho do sutiã. soltou um suspiro e mordeu a região em baixo da orelha de , deixando uma marca ali antes de afastar os braços para se livrar do sutiã. Soltou uma risadinha ao perceber que parecia “hipnotizado” pelos seus seios.
— Gostou foi? — Perguntou e ele lambeu os lábios antes de responder:
— Você ainda pergunta? — riu e logo em seguida sentiu agarrar um de seus seios com a mão enquanto a boca descia beijando do seu pescoço até o outro. segurou o cabelo dele e fechou os olhos aproveitando o carinho. alternava entre os dois seios, beijando, lambendo, dando leves chupadas, circulou cada mamilo enrijecido com a língua. Ele estava no paraíso e não queria voltar tão cedo.
— Me beija, . — Ela disse entre um suspiro e respondeu sem desencostar os lábios da sua pele.
— O que você acha que estou fazendo? — Ela revirou os olhos descendo as mãos que estavam no seu cabelo até o pescoço, ergueu sua cabeça pelo queixo para olhar para ela.
— Me beija na boca, idiota.
— Sinto muito, eles estão me distraindo enquanto meu pau lateja ali atrás esperando que você sente nele. — ergueu as sobrancelhas na direção dele e gargalhou.
— Continue com a sua petulância que eu desisto e pulo fora daqui. — tinha os braços relaxados, mas voltou a abraçá-la forte ao ouvir aquilo.
— Você não se atreveria.
— Não, não me atreveria, mas não por você, por mim. — balançou o quadril querendo provocá-lo e se perguntando porque ele ainda usava aquela maldita calça. Ela queria tirá-la, mas foi mais rápido. Ele a beijou e ela segurou o rosto dele com as duas mãos. Seu corpo se arrepiou todo quando uma das mãos dele trilhou um caminho até a sua intimidade. Empinou a bunda e arqueou as costas quando colocou sua calcinha de lado, e esfregou o indicador e o dedo médio entre os lábios do seu sexo e soltou um suspiro com a devida atenção que o seu clitóris estava recebendo dos dedos dele.
sorriu com os gemidos que dava no pé do seu ouvido e isso o incentivou a continuar. estremeceu ao sentir a ponta do dedo dele penetrar de leve a sua abertura úmida e deslizou o dedo indicador para dentro dela. Ser penetrada com tanta suavidade e de forma lenta havia a deixado sem fala.
— É bom quando eu toco em você aqui, ? — Ele disse baixinho.
— Humm.
O dedo de foi um pouco mais fundo e um calor inigualável se espalhou por toda a pele de , como se estivesse febril. Com o polegar, ele massageava deliciosamente o seu clitóris, lhe tocando por dentro e por fora. O prazer do toque dele espalhou, fazendo com que encolhesse a barriga e sentisse seus mamilos.
— Você está tão molhada. — sussurrou com a voz rouca. — Olha como você aceita bem.
Ele queria que se sentisse o centro do mundo ali, como se nada mais importasse. Ele ficou satisfeito quando, sem vergonha alguma, ela começou a se mover em torno do dedo dele e aproveitou para enfiar mais um dedo dentro dela. Deu uma mordidinha no seu pescoço, onde seus lábios alcançavam antes de descer até o seu peito, abocanhando o seu mamilo com uma mordida, seguida por uma sucção suave. sentiu uma dor leve, mas agradável, julgando que ainda faltava alguma coisa conforme os movimentos iam ficando mais intensos. Queria que ele sentisse tanto prazer quanto ela.
parou de se mexer, firmando as mãos nos ombros dele e abaixando a cabeça até que ambos os olhos estivessem na mesma linha. Juntou os braços no corpo e flexionou o cotovelo levando as mãos a suas bochechas. Ela beijou cada pedacinho do rosto dele, adorando estar tudo molhado, antes de encará-lo profundamente nos olhos. O olhar dela podia ter feito com que o corpo de produzisse toda a oxitocina permitida, já que ele se sentia extremamente feliz e estava amando compartilhar com ela um momento tão íntimo.
— Isso é tão gostoso.
— Puta merda, você gozou muito rápido. — Ele murmurou e abriu um sorriso malicioso. mordeu os lábios, se esquecendo de qualquer filtro que podia ter entre a sua mente e a sua boca e puxou sua nuca com as duas mãos até que os lábios de ambos se chocassem e ele iniciasse um beijo energético.
Ela levantou rapidamente, apenas para deslizar a calcinha para fora do seu corpo enquanto fazia o mesmo com o resto das suas roupas. mal o esperou terminar para pular em cima dele.
— Eu sabia que você gostava de ficar por cima. — riu com o desespero dela e quando quase perdeu o equilíbrio.
— Você tá falando demais. — apenas o calou com outro beijo.
Ela endireitou a coluna e firmou o olhar no dele quando as suas mãos foram ao encontro do seu pau, posicionando-o na entrada da sua vagina. fechou os olhos ao sentir a sensação enquanto ela descia, e o seu pau deslizava para dentro dela, foi melhor ainda quando começou a se mover devagar. Levou as mãos até os quadris dela, de modo que conseguisse participar do ritmo e do movimento.
gemia baixinho fazendo questão de deixar o rosto perto do dele e foi divino quando agarrou um dos seus seios e o sentiu inchar. Cada simples toque dele era pura magia. Como pode ficar sem aquilo por tanto tempo? Decidiu acelerar e entrou em êxtase com os movimentos de sobe e desce. Soltava alguns suspiros pesados e os gemidos vinham se arrastando pela garganta quando meneou prazerosamente, dava para sentir cada centímetro do contato e era incrível.
— Como você quer que eu fique quieto com você sentando no meu pau desse jeito?
usou uma das mãos para virar o rosto de , deteve-se nos seus lábios macios, o rosto angelical e o olhar penetrante antes de beijá-la, com as mãos firmes nos cabelos molhados. Era um beijo faminto de conexão, de calor humano e de... amor.
Amor e sexo, perfeita era a combinação, parecia que o seu corpo ia explodir de tanto tesão. Era intenso, molhado e verdadeiro. Ele mal esperava o momento em que os dois atingissem o ápice, como também o momento em que diria para ela tudo que estava sentindo.
o arranhava no peito, como se quisesse puni-lo por toda a descrença, por seus medos e por suas inseguranças enquanto ia e vinha, no ritmo certo e com a pressão perfeita e estava deixando maluco.
Até que se desgrudou dele com os braços suspensos no ar, mordeu os lábios contendo possíveis gemidos altos de mais altos e fechou os olhos sentando no pau dele de maneira mais forte e rápida. Já sentia dor nas coxas e nos joelhos devido ao movimento repetitivo, mas naquele instante só se importava com a vista que os seus peitos balançando deveriam estar dando a . Queria chegar no tão esperado orgasmo, estava quase lá, mas queria que ele fizesse aquilo. Deu uma última rebolada e falou perto da orelha dele:
— Termine, .
sorriu libertino, aquilo despertou a sua luxúria, era a vez dele.
— Então levante, cupcake. — Falou e a garota obedeceu saindo de cima dele. — Vem aqui.
Disse após levantar e se aproximou. a virou de costas pelos ombros e empurrou pelos ombros até que as mãos dela e os seus joelhos se apoiassem no colchão. Mordeu os lábios e arqueou as costas quando ele alisou a sua bunda, os dedos descendo pelo espaço até a sua buceta. usou um dos joelhos para separar mais as pernas de e se encaixar ali.
Segurou o próprio pênis, com as veias saltadas em razão da pressão do sangue que as percorria, para colocar a camisinha. soltou um gemido sôfrego quando deslizou para dentro dela, lentamente, sentindo cada centímetro do seu corpo, do seu calor, da sua unidade. O suor se misturava facilmente com a água e a lubrificação natural que saia de dentro dela.
Enfiou seu pau com toda a força e desejo, não queria enrolar e pelo visto, também não. Seus movimentos eram intensos e tinham certo nível de selvageria. A segurou pela cintura, sentindo que mexia o quadril juntamente com ele, criando certo ritmo sincronizado. continuava os gemidos mordendo os próprios lábios, o que, de certo modo, incomodava , já que ele fazia questão de deixar os deles claro.
inclinou o seu tronco, colocando seu peito nas costas dela. As mãos saíram da cintura descendo até a parte interna das coxas, massageando o lugar e subindo novamente, parando num ponto sensível.
— Estamos sozinhos, , pode fazer barulho. — Ele agarrou um de seus seios com a outra mão e os dentes morderam a sua orelha e logo após sussurrou: — Eu quero ouvir você gritar.
Sorriu e se afastou, voltando a se movimentar com a mesma velocidade de antes. fez o que ele pediu, soltando sons mais altos a cada investida.
encarou o espelho na parede a sua frente pela primeira vez, podendo claramente ver o que estavam fazendo e aquilo lhe deixou louca de tanto tesão. Ver ali, atrás dela, dando tudo de si para que os dois chegassem ao ápice era maravilhoso. Foi melhor ainda quando ele a encarou através do espelho com um sorriso maroto enquanto xingava vários nomes. Ela queria ter a visão que tinha, do pau dele entrando e saindo dela, mas se contentava com aquela. Não aguentou e jogou a cabeça para trás.
puxou um emaranhado dos cabelos dela para trás, levando a cabeça dela consigo. adorou aquilo. Os lábios dele atingiram o seu pescoço no exato momento em que o seu corpo atingiu o ápice. Suas moléculas pareciam desmanchar com cada onda prazerosa que percorria seus vértices.
beijou toda a extensão do seu pescoço, ainda agarrando a sua nuca, dando as últimas estocadas antes de gozar.
deitou exausta, ficou do seu lado e o braço dele foi parar em cima dos seus ombros e da sua cintura num abraço aconchegante. Eles ficaram em silêncio, apenas recuperando o fôlego. Depois de um tempo, virou para ficar de frente para . Era muito bom olhar para ele daquele jeito, apenas por olhar enquanto ele fazia um carinho no seu rosto.
, eu fui a última a saber? — Ela quebrou o silêncio sem tirar os olhos do rosto dele, a luz da lua.
— Não. — Era bobo, mas importante para saber daquilo. Saber que ela não tinha ficado no escuro enquanto todo mundo escondia aquele segredo de que o amor da sua vida iria embora.
— Fui a segunda? — Ela pensou no irmão, só poderia ter sido a primeira pessoa a saber.
— A terceira. — franziu a testa quando ele respondeu, ponderando quem mais saberia.
— Quem além de mim e do sabe? Ah já sei, a … Ela sorriu imaginando. e eram os dois melhores amigos de , era normal que se ele contasse para alguém seria para eles, mas o que falou a seguir, deixou ela completamente confusa.
— A .
— A ? Por que a ? — Sua voz ficou estridente. Aquela revelação era esquisita. Não se lembrava de e serem tão próximos a esse ponto. Pensou na conversa que teve com ela na pista de patinação. — Então quando eu contei pra ela, ela já sabia… mas como? Por que você contou pra ela?
— Ah, porque o sabia e como eles estão namorando não ia dar pra esconder dela. — olhou para o céu rindo, tudo aquilo parecia um caos, mas era tão engraçado e ele sentiu um alívio tremendo. Não tinha mais nada no mundo que ele estivesse escondendo de e aquela sensação era ótima. A partir daquele momento, ele não pretendia mais esconder nada. — Meu Deus, como é bom poder dividir esse segredo com alguém. Você não sabe como foi chato segurar vela pra esses dois…
estava se sentindo tão leve que nem se ligou que enquanto ele falava e falava, estava em choque ao seu lado e ela se sentou atordoada com a última revelação.
— Espera… O QUÊ?

~~x~~



Continua...

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Nota da autora: (04/01/24) Finalmente, acho que esse era o capítulo mais esperado do mundo e também o que eu mais queria escrever. Best Mistake tá chegando no final e eu nem sei o que dizer, talvez só tenhamos mais dois capitulos então vou guardar as minhas palavras pq quero ouvir de vcs!! Até a prox att, cupcakes!!





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.



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