PARTE 01 | KOBRA 00
São Petersburgo, Rússia.
O gosto do sangue era pungente em sua boca quando a lâmina deslizou pela garganta dele.
Imediatamente, null começou a se afogar. As mãozinhas do garoto de no máximo 9 anos, voou em direção a própria garganta, apavorado, tentando estancar o sangue, enquanto se afogava, hiperventilando mais e mais rápido. Os dedos do menino se fincaram na carne de seu pescoço, sentindo o líquido encorpado e cálido que era seu sangre escorrer, agora como água, por entre seus nós dos dedos, pingando, rapidamente contra o chão. Estava doendo, mais do que a mente aterrorizada do menino era capaz de compreender no momento. Os olhos null, arregalados, os lábios entreabertos do menino escorria o sangue que pingava de seu queixo. O corpo do garotinho se curvou para frente, chocando-se contra o chão, debatendo-se ali. Ele não queria morrer! Ele estava com medo, apavorado com a ideia de morrer, mas não estava conseguido fazer nada. A pressão em seu peito estava ficando gradualmente mais forte, e suas têmporas estavam latejando. Seus ouvidos, lentamente, ficando estranhamente abafados, como quando ele havia apostado com Ygor, seu irmão mais velho, que conseguiria ficar submerso por mais tempo.
Ainda assim, null conseguia ouvir os pedidos de seu pai com clareza.
Sergei null, a personificação antropomórfica da palavra força, o implacável Cossaco, como o chamavam, por algum motivo que null era pequeno demais para entender, mas que sabia que era dito com deferência, e até mesmo medo pelos colegas de trabalho do pai. O homem com inúmeras tatuagens pelo corpo, gravuras intrínsecas e até mesmo dolonull de uma vida que beirava a legalidade, o homem que null achava que era implacável, e, acima de tudo, impenetrável, estava de joelhos agora, a frente de seu velho amigo, com as duas pernas quebradas, o punho esquerdo decepado, revelando apenas o osso branco fraturado, cercado pelos corpos da esposa e seus três filhos, quatro, se fosse considerar que null, agonizando no chão, estava perdendo aos poucos a consciência.
—— Por favor! Por favor, Ilya! Ilya cacete! Por Deus me escuta! Só me escuta! —— A voz de Sergei estava entrecortada, mais aguda que o norma, revelando o desespero por trás da urgência de suas palavras agora. Uma suplica desprovida de quaisquer traços de ego, e tampouco orgulho, apenas implorando para que um deus maior, e mais poderoso, lhe permitisse suplicar por quaisquer mínimas misericórdia que pudesse oferecer a um pecador antes de ser morto como punição. null que nunca havia visto o pai chorar em toda a sua vida, ficou bem mais surpreso em vê-lo aos prantos, implorando para aquele homem engravatado e de expressão austera do que com a possibilidade da morte eminente. E null estava morrendo. —— Poupa o garoto! Pelo menos o menino! Não porra, me escuta! Faço o que você quiser, só salva ele, é só uma criança, por favor, meu irmão, tenha apenas essa... —— Um soco violento vindo de Aleksei Goroshko, o braço direito de Ilya, silenciou Sergei violentamente, jogando-o de volta no chão, antes de Sergei ser arrastado para trás, outra vez, assumindo sua posição de submissão.
Por um segundo, os olhos null de Ilya apenas se focaram nos de null, silenciosamente observando-o como um maldito felino de grande porte. Um predador. O garoto tossiu, o corpo tendo espasmos bruscos e contorcendo-se no chão, tentando se afastar do monstro, mas sem conseguir. Começava a sentir uma dormência assustadora, suas mãos estavam perdendo a força, os músculos começando a ficar dormente e seus olhos se escurecendo nos cantos.
—— Não se preocupe. Você sabe que Sasha é excelente com a faca, o corte não foi fundo, seu garoto ainda pode sobreviver a isso —— a voz de Ilya é distorcida ao chegar aos ouvidos do garoto. Como se ele estivesse afundado mais e mais dentro d’água e não estivesse conseguindo entender mais as palavras de fato, apenas as breves nuances de reações dos dois homens mais velhos. As pálpebras do menino estavam ficando mais e mais pesadas, o peso insuportável em seu peito amortecendo o restante de seu corpo enquanto ele tremia em colapso.
null piscou uma vez, e viu o pai agarrar o colarinho de Ilya null. null piscou uma segunda vez, e então a arma de Ilya null havia sido acionada, explodindo a cabeça de seu pai.
null piscou uma terceira vez. E sua visão se ajusta novamente ao brilho matinal das ruas em São Petersburgo, ao som de Kino e a conversa irritante de seu colega de trabalho, outra vez.
—— Você tá com aquele olhar de novo —— null, ou como apenas deveria ser conhecido por todos Wolf, resmungou com um tom de voz baixo e levemente exasperado, sem desviar o olhar da rua a sua frente. O motor do Mustang 65 preto estava um pouco mais alto do que deveria e null tentou obrigar-se a ignorar o ruído sabendo perfeitamente bem o porquê de estar assim. Sem conseguir conter o impulso, o homem levou a mão direita em direção a gola alta de sua blusa preta, ao em vez de puxá-la para baixo, como era o costume de muitos, null pressionou um pouco mais contra seu pescoço, como se a necessidade de certificar-se de que estava presa no lugar fosse um instinto mais alto do que sua própria descrição para não atrair a visão curiosa de terceiros. —— O grande e mal humorado Viper, agindo como se estivesse constipado outra vez, sabe, se quiser, posso te arrumar um supositório, talvez ajude, ou pelo menos, te faz gozar por algumas horas. Cê tem muito a cara de quem curte plug anal.
null apenas ignorou o colega de trabalho, retirando o aparelho celular do bolso de seu casaco de trincheira pesado, e verificando o endereço pela quarta vez, antes de voltar o olhar para frente, bloqueando a tela, ignorando as mensagens que se acumulavam no topo da barra de tarefas. null ajeitou-se no banco, apoiando o braço esquerdo na porta, estalando um por um de seus dedos em sua mão direita, usando o polegar, em um ritual para conter seu próprio temperamento, e tensão. Era muito mais fácil estalar os dedos do que quebrar o nariz de null, embora a ideia de quebrar o nariz de Wolf fosse o único resultado realmente satisfatório.
—— É a próxima rua.
revirou os olhos null cintilando com uma mistura de impaciência familiar e algo a mais, algo perigoso como a porra de um urubu observando o momento que a carniça deixaria de ser observada para se deleitar.
—— O chefe disse os riscos dessa vez? Ou isso é outro encontro com a Tríade? —— disse retirando do bolso interno de sua jaqueta de couro um palitos de dentes e então prendendo-o no canto de sua boca, mascando-o enquanto os olhos desviavam-se para a curva indicada por null.
null encarou em silêncio por um longo momento. retornou o olhar, exasperado.
—— Gostou? Quer uma foto?
null, mais uma vez, não respondeu.
null, ao em vez disso, apenas deu um soco no porta-luvas do carro, abrindo-o na força, e então, retirando de dentro a pistola automática. O peso da arma é familiar a seu corpo, quase como uma extensão de seu braço, mesmo a falta de balanceamento da arma e a tendência de empurrar havia se tornado quase como uma extensão de si mesmo. null retirou com um movimento rápido o tambor da arma, verificando o quanto de munição eles ainda tinham e anotando mentalmente: 9 balas. null tencionou a mandíbula, voltando o tambor novamente para dentro da arma, destravando-a antes de assegurá-la na lateral de seu quadril, procurando pelos outros cantos do carro por mais cartuchos de munições.
null guarda no interior de seu casaco os dois cartuchos com 12 balas cada que ele havia encontrado no carro de null, sem se importar em pedir autorização ou avisar a que havia os pegado, ignorando o olhar que o outro havia lhe lançando, parecendo mais incomodado com o silêncio de null do que a postura de: “por sua incompetência eu tenho que fazer tudo por aqui” que null sempre possuía quando estava perto de null. Verdade seja dita, mesmo null poderia ver que null e ele estavam a um passo de tentarem se matar com mãos limpas, mas dizer que se importava? Bem... seria pedir demais.
null deixou-se recostar-se contra o estofado do Mustang de , estreitando os olhos enquanto analisava a entrada do prédio amarelo claro extenso com apenas três andares. Um daqueles casarões da época czarina que haviam sido divididos em pequenas lojas e apartamentos pós modernidade.
Na 34 Zastavskaya Ulitsa ficava um conglomerado habitacional. Alguns carros estavam estacionados do outro lado da rua, enquanto a neve parcialmente já boa parte das calçadas e calhas. Carros populares, provavelmente de segunda mão se fosse levar em consideração os riscos e marcas que tinham na lataria de alguns. null tencionou a mandíbula com força estreitando os olhos enquanto inclinava a cabeça para o lado observando as janelas com uma expressão contemplativa.
Não era que ele não gostasse do trabalho. Na verdade null não se importava de fazer o trabalho sujo para a família null. Era bem mais fácil com sua vida quando a única coisa que null precisava se preocupar era justamente um alvo e uma meta visível. Um corpo para se despachado no Nieva, e o descarte das evidências. null sabia trabalhar com isso, era bom nisso. Se não estivesse determinado a chegar à Ilya poderia muito bem ter sido parte de alguma milícia ou simplesmente agir como um assassino de aluguel. Mas a sensação de estar amortecido era pior quando ele estava sozinho, quando precisava esperar de tocaia, por algum alvo, a percepção de que não havia sido apenas sua garganta que havia sido cortada, mas algo intrínseco, cravado em sua alma. Bem, parcialmente, não era como se null tivesse realmente uma alma após vender, propositalmente, sua vida a null.
O sacrifício, ainda assim, era pequeno, tendo em vista seu objetivo final. E bem, se isso fazia com que Ilya null confiasse em null, ele não teria problemas em continuar a levar aquela farsa diante.
—— Ah, merda, que porra Agnes... —— murmurou por entre sua respiração em sua língua materna, e null se esforçou muito para não reagir ao comentário, e muito menos reagir a menção do nome da esposa de Ilya, vinda assim, tão livremente da boca do carniceiro como null, quase sentindo vontade de rir. É claro que havia sujeira ali, mas null não era ansioso, ao contrário, era meticuloso demais para fazer algo impulsivo. Além do mais, o propósito da presença dos dois ali era outra coisa completamente diferente do que extorquir por hora. —— Então é um daqueles trabalhos, huh? Puta merda...
—— Se mexe.
lançou um olhar incomodado na direção de null, mas se pensou em dizer alguma coisa ou demandar alguma coisa, ele não conseguiu dizer, porque null já havia descido do carro.
Estava ventando, apesar do céu limpo, afastando as mechas de cabelo de null para longe de seu rosto, ou jogando-o no canto de seu olho esquerdo, enquanto o nariz de null passava a arder de forma familiar que só o fazia na temperatura baixa do inverno russo. Sua respiração, controlada, se tornava uma fumaça esbranquiçada, elevando-se a frente de seu rosto, enquanto os olhos estreitados, null, moviam-se pelas janelas e entradas do prédio, analisando com cuidado os potenciais testemunhas.
—— Qual é o nome dela? —— questionou assim que conseguiu alcançar os passos pesados e rápidos de null, dirigindo-se para dentro do prédio amarelado. null tencionou a mandíbula, desviando de um idoso, e dois adolescente rindo ao gravar alguma coisa em seus celulares, e instintivamente null inclinou sua cabeça para a esquerda, ocultando seu rosto a qualquer custo de potenciais câmeras, antes de voltar seu olhar para , marchando, agora, mais à frente dele. null tencionou a mandíbula, tentado a ignorar o colega de trabalho, mas bem, ainda precisavam ter o mínimo de comunicação para se certificar que o trabalho seria bem feito.
—— Irina —— null respondeu por fim enquanto ajeitava a lapela de seu casaco de trincheira, agarrando o antebraço do colega de trabalho e puxando-o com força, os dedos fincando-se no braço coberto pela jaqueta de couro do outro, brusco e com força desnecessária, direcionando-o para a escadaria, e não para os elevadores. deveria ter chiado, mas null havia apagado completamente o ruído de sua mente enquanto mantinha seu olhar fixo nas escadas a sua frente. —— Irina Koltsvona. O garoto se chama Lev, tem 4 anos.
pareceu engolir em seco, lançando um olhar tenso na direção de null parecendo estar medindo suas próximas palavras, buscando a forma correta de dizer o que estava pensando, e considerando se seria, como sempre, fechado por null. Mas então o outro homem apenas tencionou a mandíbula, trincando-a com força, enquanto assentia em silêncio para null, seguindo, desta vez, o comando de Viper.
—— Agnes sabe dessa criança? —— É tudo o que havia dito por fim, e null sufocou um bufar meio riso, parando de andar brevemente para encarar por cima do ombro Wolf. Os olhos null de null cintilaram, mas o brilho não era derivado de alguma curiosidade infantil ou até mesmo uma ponta de divertimento em descobrir uma fraqueza na postura de alguém que o irritava profundamente. Não, longe disso. Era um brilho predatório, perigoso, de um animal peçonhento à espera do movimento correto para dar o bote, um animal perigoso assistindo atentamente sua próxima presa.
Se havia ficado com medo, ou não, havia escondido tal coisa com maestria.
—— O que importa é que Ilya null sabe e foi ordem dele. Matar a mulher e o filho, trabalho limpo, rápido e eficiente. Goroshko estará aqui em vinte para retirar os corpos, então, a não ser que tenha uma ideia melhor em otimização de tempo, eu sugiro que se mexa, Wolf —— não havia emoção na voz de null, apenas uma neutralidade angustiante que por ventura começava a ser mais frequente do que deveria. O amortecimento emocional que o deixava sentindo-se como se estivesse envolto em um manto de plástico, conseguia respirar, as vezes até mover-se, mas não parecia estar presente. Não parecia sentir sua pele ou até mesmo o peso que atormentava seu peito. Havia apenas este buraco ao centro de seu peito que se desfazia mais e mais, e por entre as fissuras, esvaiam-se agora vermes robustos e gorgolejantes, contorcendo-se ao corroer o restante que havia ficado de sua pele morta.
Ainda assim, seja lá o que estivesse pensando, isso faz com que o homem de cabelos null e olhos null unisse as sobrancelhas e hesitasse, genuinamente hesitasse desta vez, parecendo adentrar em algum espaço de conflito interno que null null não conseguia dizer que compreendia. Para null, as coisas eram bem mais simples: havia os trabalhos que ele deveria executar para consolidar sua posição naquela máfia, e havia o alvo final que ele queria atingir; qualquer coisa além disso, ele não se importava.
—— Mas é filho dele! Que se dane a mulher, ela sabia o que estava fazendo e com quem estava se envolvendo, mas o garoto, porra, Viper, só tem quatro anos, não precisamos matá-lo, se dermos um susto nele, não vai sequer sonhar em ir atrás do pai... —— até tentou negociar, mas bastava um olhar sobre a expressão sombria de null que ele sabia perfeitamente qual era a resposta e como estava perdendo tempo com aquela conversa.
—— A gente não deixa pontas soltas, Wolf.
null null nunca negociava, ele apenas matava.
Em algum momento, null havia parado de tentar esfregar suas próprias mãos, e simplesmente passado a arrancar pedaços de sua carne.
Suas unhas eram curtas para evitar deixar traços de seu DNA para trás. Mesmo que usasse luvas constantemente para evitar qualquer prova incriminatória, era bem comum que o sangue de suas vítimas acabasse por penetrar o tecido de suas luvas e manchar suas mãos. Ou talvez, ele estivesse sendo apenas, mais uma vez, paranoico. Sentindo-se sujo, pior do que algumas horas antes, mas não pior do que viria a ser nas próximas horas. Arrancar um pedaço da primeira camada de sua pele não é doloroso, ele sequer é capaz de sentir quando suas unhas rasgam a pele, mas é frustrante o suficiente para a fazer com que o próprio sangue manche a bacia da pia de mármore branco a sua frente.
null trincou os dentes com força, um chiado escapando por entre seus lábios, enquanto lutava para limpar a porra de suas mãos. Os olhos fixos em seus dedos retalhados por suas próprias unhas, o sabonete de erva doce fazendo os cortes abertos ardendo, como fogo por sua pele enquanto tentava a fazer com que o tremor de suas mãos diminuíssem.
Não era o grito de Irina que estava o atormentado. Ele havia se acostumado com os fantasmas que pairavam na parte de trás de sua mente, arranhando as barreiras de sua racionalidade e deixando um rastro de destroços e fragmentos de atos que, certamente, não o deixavam orgulhoso —— ainda assim, não fazia diferença, porque era quem ele era, e era o que ele fazia, não havia uma vida diferente para null, e muito menos, um futuro diferente. Ele havia se acostumado em conviver com aquela culpa, mas não havia uma maneira mais fácil de engolir o que havia acontecido naquela manhã. Os olhinhos assustados do garotinho, a maneira com que ele havia se agarrado ao ursinho de pelúcia, e se encolhido. Não havia feito ruído algum. Não havia gritado, não havia implorado, só havia o encarado, com aqueles grandes inocentes olhos null...
null acertou com força o vidro do espelho, enterrando fundo seu punho no vidro, ignorando a maneira com que as lascas de vidro cortaram sua mão. Mas ele ainda conseguia ver seu próprio reflexo, então ele acertou de novo, e de novo, e de novo, até que tivesse um buraco onde deveria estar o rosto dele. A respiração de null havia se tornado irregular, e ele estava tremendo. Os olhos estranhamente marejados, mesmo que não houvesse impulso algum para chorar. Uma parte de null queria começar a chorar, queria aquele alívio ainda que momentâneo que o fizesse sentir alguma coisa —— qualquer coisa —— que fosse, mas seu rosto permanecia seco.
null fechou os olhos com força, inspirando fundo, tremendo, enquanto tentava encontrar uma maneira de diminuir a pulsação que ensurdecia seus ouvidos, que reverberava por sua corrente sanguínea e martelava carótida. Sua respiração pesada, escapando por entre os dentes em grunhidos ofegantes, enquanto o eco da voz de seu pai reverberava, mais e mais alto, sem parar. Por favor, Ilya! Por favor Ilya! POR FAVOR ILYA!
A porta do banheiro se fechou com um som alto e agudo, atrás de null depois de quase vinte minutos tentando enfaixar sua mão da forma que dava, usando suas luvas pretas para ocultar quaisquer indícios do caos que ele havia deixado no banheiro.
Não havia sido sua ideia mais inteligente, mas havia provocado, ainda que momentaneamente, uma pequena sensação que não fosse aquele maldito amortecimento emocional. Havia causado algo entre raiva e dor, familiar, seguro.
null ajeitou a gola de seu casaco de trincheira, desviando de algumas bailarinas vestidas com seus collants e meias calças, os cabelos presos em coques altos e cuidadosos para não terem um fio fora do lugar, as bolsas pendendo pelo ombro esquerdo ou direito, correndo uma atrás da outra para conversarem com suas amigas ou apenas andando rápido para pegar o ônibus.
Tudo naquele estúdio parecia estranhamente delicado. Ao menos, o fazia se destacar como um dedão podre e esquisito. Um homem alto, com ombros largos, expressão de poucos amigos, e cabelos mal cortados, normalmente null sabia que iria se destacar de alguma forma em espaços sociais, era por isso que uma parte dele estava sempre inclinada a apenas aceitar se esgueirar pelas sombras, como a porra de um encosto ou um fantasma, ele não se importava. Às vezes, os locais eram mais condizentes com sua aparência ou espírito. Normalmente não tinham uma boa reputação e a propensão de legalidade era referente a zero. Mas em raros momentos, momentos como aquele, null se pegava buscando por uma saída ou um espaço discreto em que pudesse imitar uma sombra, consciente dos olhares que receberia.
null uniu as sobrancelhas em uma expressão irritadiça quando o olhar de duas bailarinas escoradas no corrimão da escadaria que levava para o quarto andar repousou nele. null sabe que não deveria, mas considerou por alguns breves segundos assustá-las. Não seria muito difícil, se ele fosse ser honesto, a verdade era que bastava uma careta ou um resmungo baixo, mais ríspido e ele tinha certeza que se afastariam. Raramente as pessoas o viam como alguém confiável de se ter por perto. null sabia que tinha algo muito doente dentro de si mesmo, e sabia, igualmente, que as pessoas ao seu redor conseguiam sentir o cheiro desta doença. Negando com sua cabeça para si mesmo, null voltou a linha de seu olhar, observando escorado contra o corrimão em uma das paredes de vidro que se espalhavam pelo estúdio.
As lâmpadas fluorescentes eram claras demais, o porcelanato de mármore era quase espelhado e fazia seus passos mais alto do que null gostava que fossem. O cheiro era uma mistura de produtos de limpeza, um aroma sofisticado e suor. Mas acima de tudo, havia uma ponta de inocência entre as mulheres e garotas que caminhavam pelo espaço. É claro, havia igualmente algo traiçoeiro ali, velado, algo que null não era capaz de identificar apesar de ter a sensação de ser algo esquisito, mas acima de tudo era aquela imagem de rigidez e perfeição que o incomodavam profundamente.
É claro que estava assistindo o ensaio com os olhos null atentos. null sabia perfeitamente bem para o que ele estava encarando e observando ao longe enquanto um grupo pequeno de apenas dez bailarinas dançavam dentro da sala com espelhos na parede e paredes de vidro. sequer parecia querer disfarçar. Porra de ninfomaníaco do caralho.
Diferente de null, que parecia se incomodar até o amago de estar em um lugar como aquele, portava-se como alguém que estava em casa. Os olhos traçando as curvas dos seios, ou o movimento fluído que fazia com que as saias das bailarinas se erguesse.
—— Sobreviveu —— resmungou com um sorriso torto, desviando o olhar de forma preguiçosa enquanto encarava o rosto de null e um instante seguinte estava novamente analisando a maneira com que uma bailarina loira estava erguendo sua perna no ar, elegante quanto um cisne, ou seja lá o que fosse que elas estivessem interpretando. null tinha pouco conhecimento cultural em relação a “artes nobres”. As mãos de , impecavelmente limpas alcançam o bolso interno de sua jaqueta de couro, retirando um cigarro do maço e então prendendo-o entre os dentes, acendendo o cigarro, mesmo que estivesse abaixo de uma placa de “não fumar”. Ninguém iria tentar expulsá-los, todavia, bastava um olhar na direção de null ou null para saber a quem os cães de guarda pertenciam. —— Mais um pouco e já iria chamar os seguranças, eu detestaria encontrar o seu corpo em algum canto.
Pelo tom que usou, null sabia perfeitamente bem que não, ele não detestaria não.
null apenas ignorou o comentário de , cruzando seus braços sobre o peito, e então dando alguns passos para a sua direita, tentando usar a sua vantagem um pilar de concreto que fazia que faziam as divisões do ambiente entre os caminhos de ida e vinda.
—— Ela está ficando melhor —— quebrou o silêncio, novamente, após longos cinco minutos, agora, com um tom de voz mais silencioso, reflexivo. null estreitou os olhos, bufando baixo consigo mesmo, cínico, enquanto os olhos null voltavam-se para Wolf, analisando-o e, sem dúvidas, julgando-o. estava observando através das paredes de vidro, para uma pessoa em específico dentro daquele estúdio, girando graciosamente enquanto parecia flutuar por entre as outras bailarinas.
null null.
null...
null não respondeu, outra vez, os olhos apenas seguindo os de Wolf e repousando em null também. estava dizendo alguma coisa, talvez algum comentário idiota que relacionasse a jovem a sua madrasta, Agnes ou até mesmo a suas meias-irmãs Darya e Nádia. Provavelmente um dos típicos comentários de null que não era cruel ou negativo sobre null, mas que, igualmente, soava de maneira condescendente. Talvez fosse por lealdade, null tinha pouco interesse em descobrir o que relacionava a família null, ou talvez, fosse puramente apenas o desejo sardônico de observar o caos familiar alheio, e a facilidade que se existia em provocar o elo mais fraco daquela família. null sabia que muito do interesse de era exatamente o detalhe de null ser o único fruto extra conjugal de Ilya null que ainda estava respirando.
E era talvez uma das mulheres, não, a mulher mais linda que null já havia visto em toda sua vida.
O que quer que estivesse resmungando ao seu lado sobre o maldito trabalho aquela manhã, null não prestou atenção alguma —— tampouco poderia dizer que se importava tanto assim com as merdas que null costumava falar com frequência.
null null era tentadora. Um convite diabólico. Até mesmo perverso.
Era o calor a alguém congelado. O abraço ao saudoso. O banquete real, ao esfomeado. A água, ao sedento. Um sonho inalcançável. Fossem os olhos null profundos, intensos o suficiente para roubar o fôlego de qualquer um em que repousasse. Fosse pelos cabelos longos, densos, null, que deslizavam por seus ombros, muitas vezes lembrando-o de um manto, agora presos naquele coque alto que fazia seu rosto ficar ainda mais anguloso. Fosse pelo tom convidativo de sua pele, implorando para que fosse tocada ou até mesmo venerada, ou pelos lábios quase sempre retorcidos em um sorriso discreto, torto, completamente null; um contínuo incentivo silencioso para seu expectador tomar como objetivo impressioná-la —— e porra como ele gostaria de o fazer. Fosse pelo corpo com curvas que as roupas de bailarina não faziam sequer o menor esforço para ocultar. Fosse pela voz, aveludada o suficiente para que as palavras gentis e compreensivas fossem capazes de gravar sua carne como remanescentes de brasas. Fosse pelo rosto delicado, que poderia passar falsamente a imagem de uma fragilidade produzida inexistente, apesar de sua inteligência afiada. null era a perfeita concepção artística do que uma sereia, em um corpo humano, poderia, talvez, ser.
Convidativa. Eloquente. Arrebatadora.
Tudo em null null gritava problema. E ao mesmo tempo, null não conseguia deixar de desejar afogar-se e perder-se naquela infinitude atraente que era a jovem mulher. Ele certamente não se importaria com as consequências. Ele não se importaria com nada. Só desejava uma chance que fosse...
Mas então, havia Ilya.
null poderia dizer que estava vivendo diariamente dentro do inferno, tentado diariamente pelo cheiro que o perfume floral misturado com algo que era unicamente essência de null ou como as mãos dele se coçavam para alcançá-la, para sentir a pele dela sob suas palmas calejadas, mesmo sabendo que não deveria, entretanto dizer que estava no inferno por desejar algo, era estupidez.
Não havia inferno se você ansiava pela condenação.
—— Dá pra ver porque o velho gosta dela —— murmurou baixo, exalando a fumaça de seu cigarro, inclinando a cabeça para o lado e observando null como a porra de um lobo.
Algo borbulhou no peito de null.
Quente. Sufocante. Cego.
Pura fúria.
A mão de null deslizou quase como um reflexo de seu corpo para a faca presa na parte de trás de suas costas, os dedos enroscando-se contra o punho de madeira, com força, pressionando o suficiente para fazer com que os cortes em sua mão latejasse. As pupilas de null se contraíram, as narinas, inflaram, puxando o ar para dentro com mais força que deveria. null podia ouvir a pulsação de sua corrente sanguínea martelar, novamente, em seus ouvidos, mas desta vez, não havia desorientação ou incomodo, não, desta vez, era crescente, um alarme em prelúdio ao que estava por vir. Sua mente havia se fixado em apenas uma coisa, a tarefa em mãos, como sempre acontecia durante algum trabalho.
Levaria cinco minutos, talvez três para acabar com null. Olho, carótida, têmpora. Mas null igualmente não queria matar rapidamente. Não, não, null queria aproveitar o momento, fazê-lo para pôr sequer ter ousado na possibilidade de manchar null com sua porra de mãos. Não, null iria começar pela a porra das mãos dele, quebraria um por um dos dedos de , e então os pulsos, e somente quando tivesse a certeza que não havia osso no lugar, null iria decepar as mãos de , e o faria engoli-las, custasse o que custasse. Então iria decepar o pau de null e enfiá-lo no meio do...
—— Viper. —— Vindo de algum ponto a direita de , null reconheceu quase imediatamente a voz de Ilya null.
Os olhos null de null se encontram com os null de null enquanto a expressão de null voltou a se tornar neutra, contida, os olhos levemente estreitados ao observar o mais velho.
Ilya null era um homem com traços austeros e até mesmo grosseiros, o rosto era repleto de ângulos mais agressivos, os cabelos grisalhos misturava-se com os tons null, orgulhosamente não ocultados, assim como a barba grossa que encobria sua mandíbula. O rosto possuía rugas, especialmente na testa e nos cantos dos lábios, mas o que mais chamava atenção era a cicatriz que atravessava a lateral de seu olho esquerdo, e a cor de seus olhos, null, mas não eram como os de null. Os olhos de null eram simplesmente joias preciosas, eram intensos e faziam com que você desejasse se afogar no tom null dele. O de Ilya era opaco, pelo menos três tons mais claros e insípido como a porra de um amontoado de neve na beirada da calçada, descongelado após uma tempestade de neve. Era nojento, sujo e frio.
Mas ao em vez de exibir seu desgosto pela presença do mais velho, null apenas ergueu o queixo, mantendo firmemente o olhar de Ilya enquanto endireitava seus ombros um pouco mais para trás. Se por tentar enfatizar competência ou petulância, a linha mostrava-se tênue demais para uma análise profunda, Ilya assentiu na direção de em um cumprimento silencioso, antes de caminhar, como a porra de um felino de grande porte em uma floresta, até parar ao lado de null.
null observou a maneira com que Ilya verificou null, uma expressão mais sombria e protetora manchando o rosto do homem grisalho, antes deste voltar a encarar null de forma neutra. O impulso de avançar no pescoço de Ilya era grande, mas null tencionou a mandíbula tentando contê-lo, não, ainda não.
—— Como foi o trabalho? —— Ilya questionou discretamente, o rosto voltado para a parte do corredor atrás de null verificando o movimento, enquanto null tencionava a mandíbula com força, mantendo seu olhar fixo à frente, acompanhando o movimento de null sem fazer o gesto ser óbvio.
null queria verificar se ela estava bem, ao mesmo tempo, ter certeza que a jovem mulher não iria se aproximar e correr o risco de escutar algo indevido que pudesse assombrá-la. null null não sofreria aquele destino enquanto null estivesse vivo, isso, null tinha a completa determinação de executar custasse o que custasse.
—— Rápido. Limpo. Goroshko já fez o descarte. Exatamente como disse para que fosse feito —— null relatou esforçando-se para manter sua voz firme, neutra e desprovida de quaisquer emoções possíveis, e, apesar de tudo, ele conseguiu. De alguma forma, talvez, ao passar tanto tempo dizendo a si mesmo que não tinha sentimentos alguns restantes, ele tenha realmente conseguido se convencer de tal coisa, porque não sentiu nada além do maldito buraco de vermes em seu peito.
Ilya apertou os lábios, assentindo com a cabeça por um momento, perdendo-se em pensamentos. null se questionou quais seriam os passos de Ilya agora que tinha se livrado do empecilho da sua amante e filho bastardo. Presentes caros, longos gestos amorosos e demonstrações de afeto públicas para convencer Agnes, certamente.
—— E como você está, filho? —— null por um breve segundo quase perdeu sua racionalidade e avançou no pescoço de Ilya, quando a mão do mais velho, repousou em seu ombro, paternalista.
Olho. Carótida. Têmpora. Têmpora. Têmpora. Têmpora. Carótida. Carótida. Carótida. Carótida. Plexo solar. Plexo soldar. Plexo solar. Mandíbula.
—— Bem.
Ilya estreitou os olhos observando o rosto de null em silêncio por um considerável período de minutos, parecendo buscar alguma coisa no rosto de null, mas quando não o encontrou, Ilya soltou um riso baixo, nasalado, batendo de forma orgulhosa no ombro de null, com ar de aprovação. null enfiou suas mãos dentro dos bolsos de seu casaco de trincheira, puramente para ocultar os espasmos fantasmas ardendo para alcançar sua faca.
—— Sua lealdade será compensada, filho. E suas habilidades também —— Ilya disse com o fantasma de um sorriso satisfeito pairando por seus lábios, mas o que quer que ele fosse acrescentar depois disso, nunca é dito, porque os passos suaves de null ecoam para fora da sala, agarrando a alça de sua bolsa dela, enquanto apressava-se para alcançar onde os três homens se encontravam.
Preocupação manchava o cenho dela, enquanto os olhos null, iam de , para Ilya, então null, e de volta para Ilya. Havia alerta em sua postura, até mesmo uma ponta de medo, mas sobre tudo uma elegância silenciosa, observadora, parecendo tentar entender todos os humores primeiro antes de dizer alguma coisa.
—— Papa —— null disse com um tom de voz hesitante. null conteve sua expressão, neutro e até mesmo desinteressado, mas os olhos null do homem percorreram momentaneamente o rosto de null, notando os pequenos detalhes. Ele teria franzido o cenho se soubesse que ninguém estaria olhando para seu rosto, ao notar as olheiras levemente arroxeadas abaixo dos olhos de null, o canto direito do lábio inferior estava machucado, como se ela tivesse arrancado a pele, e o pequeno tique em seu olho esquerdo, um tremor rápido e discreto, mas que não havia passado despercebidos por null. Ela ofereceu um aceno em cumprimentos a e null, antes de forçar um sorriso calmo e gentil para o pai. —— Disse que te encontraria no restaurante, não precisava...
Ilya caminhou até onde null estava, por favor Ilya, estendendo as mãos na direção do rosto da jovem mulher, por favor Ilya, e acariciando com cuidado a bochecha dela, paternal.
POR FAVOR ILYA!
null desviou os olhos para um ponto invisível à sua frente, incapaz de silenciar a voz de seu próprio pai, implorando por misericórdia, outra vez. Sergei sempre implorava por misericórdia e todos os dias recebia a mesma resposta: uma bala em sua cabeça.
—— E perder a chance de vê-la dançar? Tsc, tsc, não, jamais, malishka —— Ilya riu baixo, consigo mesmo, enquanto assentiu com afeto em seu olhar para a jovem mulher. —— Além disso, é um mundo perigoso, querida, e eu seria um péssimo pai se ousasse deixar você andar por aí sem proteção.
—— Mas...
—— Mas nada, null. Você é minha filha, e isso vem com consequências queira você ou não —— Ilya a corrigiu como se ela fosse uma criança de 8 anos, e não uma jovem mulher em seus quase 20 anos. null poderia concordar com o perigo nas ruas, e a determinação em protegê-la, mas havia algo no tom de Ilya que o incomodava. Se por ser um reflexo de si mesmo, ou algo estrangeiro, null pouco poderia dizer. —— Você e seus irmãos são minha grande obra, malishka, e eu protejo o que é meu. Agora, recordo-me de uma promessa de um almoço feita a semana arás, a qual estou ansioso que seja paga, pedi para que separassem até o seu vinho preferido, e não vou aceitar não como resposta. Sinto falta da minha filha, mesmo que ela seja uma artista tão atarefada ultimamente.
null, desta vez, sorriu com sinceridade, e o coração de null se apertou. O que ele não daria para que fosse para ele aquele sorriso?
—— Incorrigível —— ela resmungou, concordando com o pai mesmo contra gosto, enquanto Ilya sorriu satisfeito por ter convencido a filha e a ter feito aceitar sua proteção.
Indicando com a mão na direção de null, null observou o mais velho estalar os dedos, em um comando silencioso, e banhado pelo instinto, null apenas desabotoou o casaco de trincheira dela, retirando discretamente o celular, chaves e canivete suíço, antes de entregar para Ilya. null praguejou mentalmente por não ter pelo menos limpado o casaco antes, para que null não tivesse que lidar com seu suor ou cheiro de sangue que normalmente tinha suas roupas, mas seus pensamentos evaporam quando Ilya repousou o casaco de null sobre os ombros de null.
Chegava a ser cômico, a certa diferença de tamanho. O casaco a cobre devidamente, ocultando suas curvas de olhares indevidos e pervertidos, mas é bem maior nela. Onde batia nos joelhos de null, chegava quase aos tornozelos de null. As mangas longas o suficiente para que ela tivesse que arregaça-la, enquanto os olhos null, aqueles doces e deslumbrantes olhos se fixaram no rosto de null de forma apologética, uma desculpa velada pela situação.
null desejou morar ali, naquele olhar.
Ilya estava prestes a dispensar e null quando null se interpôs entre o velho homem e seus dois carrascos, com uma expressão preocupada, misturada com genuína gentileza. Os olhos null evidenciando um pedido silencioso ao pai, que, aparentemente, era tão refém dela quanto qualquer um. Um refém voluntário.
—— Deixe que eles pelo menos nos acompanhem, por favor —— ela pediu com um sorriso hesitante, franzindo o cenho enquanto estalava os dedos, nervosamente. e null se entreolharam em silêncio. curioso, null, impossível de ser lida. —— Seria uma... forma de compensação? Por me esperarem aqui, eu imagino que tenha sido pelo menos desconfortável ficar quase quarenta minutos em pé aqui.
null mordeu o lábio inferior, e null se obrigou a pensar em como as lâmpadas fluorescente funcionam adequadamente em qualquer lugar ou como a palavra fluorescentes tinham letras demais, e não na forma em que seu sangue havia fluído para suas calças com o pensamentos vividos e expositivos que ele queria fazer com a boca dela.
—— Tsc, você e esse seu coração —— Ilya resmungou baixo desaprovador, mas os olhos null do mais velho pareceram suavizar após alguns segundos considerando o pedido a filha. Ilya assentiu, e null abriu um sorriso largo, feliz. E o corredor pareceu menos frio para null. —— Mas terá que caminhar comigo, e jantar esta noite com seus outros irmãos, como uma família.
null assentiu, parecendo tomar para seu coração o acordo, colocando as duas mãos para trás e seguindo o pai com passos calmos. bufou baixo, parecendo sarcástico, mas null sequer havia percebido, os olhos null de null estavam focados demais na jovem mulher, sorrateiramente deixando-se caminhar mais devagar para emparelhar com os passos de null. Ela sorriu para null, encarando-o curiosa, deixando-o preso em um limbo entre: dar as costas e sair dali o mais rápido que podia, e apenas parar e admirar. Por via das dúvidas, null desviou os olhos para o chão de porcelanato do estúdio, concentrado, como se sua vida dependesse disso.
—— Desculpa pelo casaco, eu prometo devolvê-lo limpo e em bom estado, será só o tempo de lavar —— null disse, a voz suave, doce como uma carícia que null havia falhado em perceber quando desejava. Ele uniu as sobrancelhas encarando a jovem mulher, apreensiva com a porra de um casaco.
—— É só um casaco —— ele respondeu, sua voz soando estranhamente mais baixa que o normal, mais rouca e... suave?
null apertou os lábios dando de ombros enquanto os olhos se desviavam igualmente para o chão. A diferença entre ela e null, era que quando ela fazia aquilo, ela ficava adorável.
—— Você o usa desde que começou a trabalhar com meu pai, sempre achei que fosse sua peça preferida, por isso —— null disse franzindo o cenho, e null não sabia o que dizer. Era só a porra de um casaco, null nunca havia pensado muito além disso; agora era seu casaco preferido. null assentiu para si mesma, parecendo considerar alguma coisa antes de voltar a falar. —— Tio Aleksei disse que você gostava de comida italiana, não é? Se quiser, posso tentar convencer o cozinheiro a empacotar um pouco mais para viagem —— ela sorriu, com um brilho travesso adorável em seu olhar. Não, ele não gostava de comida italiana, na verdade nunca sequer havia comido uma pizza; era sua comida favorita agora.
null sorriu concordando com null, incapaz de respondê-la.
Continua...

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